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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


OPPOSITION / Jennifer L. Armentrout
OPPOSITION / Jennifer L. Armentrout

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

                       Katy sabia que o mundo mudou na noite em que os Luxen chegaram. Não podia acreditar que Daemon deu as boas-vindas à sua raça ou não fizesse nada em relação à ameaça de seus iguais de destruir a todos os humanos e híbridos da Terra. Mas as linhas entre o bem e o mal se turvaram, e o amor se converteu em uma emoção que poderia destrui-la… destruir a todos.
Daemon fará qualquer coisa para salvar aos que ama, inclusive se isto implica em traição. Deverão formar uma equipe com um inimigo improvável, se quiserem ter alguma possibilidade de sobreviver à invasão. Mas quando rapidamente se torna impossível distinguir o amigo do inimigo, e o mundo se desmorona a seu redor, talvez percam tudo, inclusive aquilo que mais amam, para assegurar a sobrevivência de seus amigos… e da humanidade. A guerra chegou à Terra. E não importa o resultado, o futuro nunca será o mesmo para os que ficarem.

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CAPÍTULO 1
               Faz um tempo, eu tinha um plano para a remota possibilidade de me encontrar em toda essa coisa do — fim do mundo—. Consistia em subir ao teto com a canção —It’s the End of the World as We Know It (And I Feel Fine) do R.E.M, tão forte como fosse humanamente possível. Mas na vida real, raramente isso poderia ser legal. Estava acontecendo. Tudo relacionado com o mundo tal como o conhecíamos estava terminando, e posso assegurar que não parecia bem. Ou legal. Abri os olhos e me aproximei de um lado da frágil cortina branca. Olhei para fora, vendo além da entrada e o limpo pátio, dentro dos espessos bosques que rodeavam a cabana que Luc tinha escondida nos bosques de Coeur d’Alene, uma cidade em Idaho que nem sequer podia começar a pronunciar ou escrever. O pátio se encontrava vazio. Não havia nenhuma piscada, nenhuma luz branca brilhando através das árvores. Não havia ninguém por aí. Correção. Não havia nada por aí. Os pássaros não cantavam ou batiam as asas, movendo-se de ramo em ramo. Nenhum único sinal de alguma criatura do bosque correndo para qualquer lugar. Não se escutava sequer o leve zumbido dos insetos. Tudo se achava em silêncio e quieto, tranquilo, de uma forma totalmente aterradora. Fixei o olhar no bosque, no último lugar onde tinha visto Daemon. Uma palpitante e profunda dor iluminou meu peito. A noite em que tinha ficado adormecida no sofá parecia ter acontecido há séculos, mas só tinham transcorrido quarenta e oito horas, ou algo assim, desde que despertei sobressaltada, e quase cega, pela verdadeira forma de Daemon. Não tinha sido capaz de controlá-lo, embora se tivéssemos sabido o que significava, provavelmente não teria mudado nada.    Assim muitos outros de sua espécie, centenas, se não milhares de Luxen, tinham chegado à Terra, e Daemon… se foi, junto com seus irmãos. Nós ainda estávamos aqui, nesta cabana.
Uma pressão se fechou sobre meu peito, como se alguém estivesse apertando meu coração e meus pulmões com apertos de torno deles. A cada certo tempo, a advertência do Sargento Dasher voltava a me atormentar. De verdade, eu tinha acreditado que o homem, que todo Daedalus, montava um trem louco para Insonolândia, mas ele tinha razão. Deus, eles tinham tanta razão.   Os Luxen chegaram como o Daedalus tinha advertido, como se tivessem estado se preparando para fazê-lo, e Daemon… A dor golpeou e tirou o ar de meus pulmões, e apertei os olhos com força. Não tinha ideia de por que se foi com eles ou por que não tinha visto, ou ouvido nada dele ou de sua família. O terror e a confusão em torno de seu desaparecimento eram uma constante sombra que rondava cada momento, inclusive os poucos minutos que tinha sido capaz de dormir. De que lado ficaria Daemon? Dasher tinha me perguntado isso uma vez, enquanto me mantinham na muito real Área 51, e não podia deixar de acreditar que tinha essa resposta agora. Nos últimos dois dias, mais Luxen tinham caído do céu. Continuavam vindo e vindo como um fluxo interminável de estrelas fugazes, e logo houve… —Nada. Meus olhos se abriram de repente, e a cortina se deslizou de meus dedos, voltando a cair brandamente em seu lugar.  —Fora de minha cabeça! —Não posso evitar. —respondeu Archer de onde se encontrava sentado no sofá. — Está transmitindo seus pensamentos tão malditamente forte, que sinto que devo ir sentar-me em um lugar e começar a me balançar, sussurrando o nome de Daemon uma e outra vez. A irritação picou minha pele, e não importou o muito que tentei esconder meus pensamentos, minhas preocupações e temores para mim, era inútil quando não só havia um, mas também dois Origens na casa. Sua pequena e engenhosa capacidade de ler os pensamentos se tornou rapidamente aborrecida. Peguei a cortina novamente, observando o bosque. —Ainda não há sinais de nenhum Luxen?
—Não. Nenhuma só luz intensamente brilhante chocando-se contra a Terra nas últimas cinco horas. — Archer soava tão cansado como eu me sentia. Ele tampouco esteve dormindo muito. Enquanto me encontrava obcecada mantendo um olho no exterior, ele se concentrou no televisor. Notícias em todo mundo informavam sem parar sobre o “fenômeno”. —Alguns dos canais de notícias estão tentando dizer que foi uma chuva maciça de meteoritos. Soltei um resmungo. —Tentar ocultar algo é inútil neste momento. —Archer suspirou cansado, e tinha razão. O que aconteceu em Las Vegas, o que tínhamos feito, tinha sido gravado e espalhado por toda Internet em questão de horas. Em algum momento do dia posterior à destruição absoluta de Las Vegas, todos os vídeos tinham sido retirados, mas o estrago já tinha sido feito. Do que o helicóptero de notícias conseguiu capturar antes que Daedalus o derrubasse, até tudo o que tinham gravado com seus telefones celulares aqueles que se encontravam na cena, nada podia parar a verdade. Apesar de tudo, a Internet era um lugar divertido. Enquanto que algumas pessoas colocavam em seus blogs que era o final dos tempos, outros tomaram um enfoque mais criativo. Aparentemente, até tinham criado um meme. O meme do brilhante alienígena incrivelmente fotogênico. O que em realidade era Daemon em sua verdadeira forma. Seus traços humanos estavam velados até o irreconhecível, mas eu sabia que era ele. Se ele estivesse aqui para ver isso, realmente teria apreciado. Mas não estava… —Pare —disse Archer suavemente. — Não sabemos que demônios estão fazendo, Daemon, ou qualquer deles neste momento, ou por quê. Eles vão voltar. Separei-me da janela, por fim enfrentando Archer. Seu cabelo, de uma cor castanha clara, encontrava-se curto perto do couro cabeludo, ao típico estilo militar. Era alto e de ombros largos, alguém que se parecia como quem poderia derrubar a qualquer um quando precisasse, e eu sabia que podia. Archer podia ser francamente mortal. Quando o conheci na Área 51, acreditei que só era um soldado. Não foi até que Daemon chegou que descobrimos que era o infiltrado de Luc dentro do
Daedalus e também, como Luc, um Origem, o filho de um Luxen macho e uma mulher híbrida. Meus punhos se fecharam.  —De verdade acredita nisso? Que vão voltar? Seus olhos cor ametista se moveram do televisor para os meus.  —É tudo o que posso acreditar neste momento. É tudo o que qualquer um de nós pode acreditar no momento.  Isso não era muito tranquilizador. —Sinto muito—respondeu, me fazendo saber que tinha lido meus pensamentos uma vez mais. Ele acenou para a televisão antes que eu pudesse ficar incomodada. — Algo está acontecendo. Por que razão os Luxen teriam chegado à Terra e então permanecido em silêncio? Essa também era a pergunta do ano. —Acredito que é bastante óbvio —disse uma voz do corredor. Girei-me enquanto Luc entrava na sala de estar. Alto e esbelto, com o cabelo cor marrom preso em um rabo-de-cavalo na parte posterior de seu pescoço. Luc era mais jovem que nós, tinha por volta de quatorze ou quinze anos, mas era como um pequeno líder adolescente da máfia e, às vezes, dava mais medo que Archer. — E sabe exatamente do que estou falando —adicionou, olhando para o Origem mais velho. Enquanto Archer e Luc tinham uma batalha de olhares, algo que estiveram fazendo bastante durante os últimos dois dias, sentei no braço de uma poltrona junto à janela.  —Importariam de explicar em voz alta? Luc tinha um bonito rosto de criança, como se ainda não tivesse perdido a redondez da infância, mas havia uma sabedoria em seus olhos violeta que estava além dos anos. Apoiou-se na moldura da porta, cruzando os braços.  —Estão planejando. Formulando uma estratégia. Esperando. Isso não soava bem, mas não me surpreendeu. Uma dor se formou entre minhas têmporas. Archer não disse nada, voltando a olhar para o televisor. —Por que mais eles vieram aqui? —continuou Luc enquanto inclinava a cabeça, olhando pela janela cortinada perto de mim. — Estou seguro de que não é para apertar mãos e beijar bochechas de bebês. Estão aqui por uma razão, e não é bom. —Daedalus sempre acreditou que invadiriam. —Archer se sentou, cruzando as mãos sobre os joelhos. —A iniciativa dos Origens foi em resposta a essa preocupação. Depois de tudo, os Luxen não têm um histórico de jogar limpo com outras formas de vida inteligente. Mas, por que agora? Estremecendo, esfreguei as têmporas. Não tinha acreditado no Dr. Roth quando me disse a respeito de como os Luxen eram, em realidade, a causa da guerra entre eles e os Arum, uma guerra que tinha destruído ambos os planetas. E eu que pensava que o Sargento Dasher e Nancy Husher, a cadela principal Daedalus, eram monstros loucos. Estava equivocada. E também Daemon. Luc arqueou uma sobrancelha enquanto tossia uma gargalhada.  —Oh, não sei, poderia ter a ver com o espetáculo muito público que montamos em Las Vegas. Sabemos que havia infiltrados aqui, Luxen que não eram tão afeiçoados aos seres humanos. Como se comunicavam com os Luxen fora deste planeta está além de mim, mas, realmente importa agora? Este era o momento perfeito para fazer uma entrada. Meus olhos se estreitaram.  — Disse que era uma ideia brilhante. — Acredito que muitas coisas são ideias brilhantes. Como as armas nucleares, os refrigerantes com zero calorias, e os coletes de brim azul. — respondeu — Isso não quer dizer que deveríamos bombardear as pessoas, ou que as bebidas dietéticas têm bom sabor, ou que deveria correr ao Walmart local e comprar um colete de brim. Nem sempre têm que me escutar. Girei meus olhos com tanta força que quase caíram da parte posterior de minha cabeça.  —Bom, e o que mais iríamos fazer? Se Daemon e os outros não tivessem expostos a si mesmos, teríamos sido capturados. Nenhum dos rapazes respondeu, mas as palavras não ditas penduravam entre nós. Se tivéssemos sido capturados, teria sido uma porcaria e algo mais, mas
Paris, Ash, e Andrew provavelmente ainda estariam vivos. Assim como também os seres humanos inocentes que perderam a vida quando tudo se descontrolou. Mas não havia nada que pudéssemos fazer a respeito agora. O tempo poderia congelar-se durante períodos curtos, mas ninguém podia voltar atrás e mudar as coisas. O fato, feito estava, e Daemon tinha tomado essa decisão para proteger a todos. Condenariam-me antes que alguém o jogasse debaixo da espaçonave. —Você parece exausta. —comentou Archer, e levou um momento para eu perceber que ele estava falando comigo. Luc virou esses olhos inquietantes sobre mim.  —Em realidade, você parece uma porcaria. Deus. Obrigada. Archer não fez conta.  — Eu acho que você deveria tentar dormir. Só por um pouco de tempo. Se alguma coisa acontecer, nós vamos te pegar. —Não. —Neguei com a cabeça no caso de meu sinal verbal não ser suficiente — Estou bem. — A verdade era que eu estava longe de estar bem. Provavelmente estava a um passo de ir para um canto escuro do quarto e me balançar para frente e para trás, mas não podia me quebrar, e não podia dormir. Não quando Daemon se encontrava lá fora em alguma parte, e não quando o mundo inteiro estava à beira de… inferno, converter-se em uma distopía, como um daqueles romances que eu costumava ler. Suspirei. Livros. Sentia saudades. Archer franziu o cenho e isso tornou seu belo rosto um pouco mais assustador, mas antes que pudesse pô-lo sobre mim, Luc se separou da porta e falou.  — Na verdade, acredito que ela tem que ir falar com Beth. Surpreendida, joguei uma olhada à escada no corredor fora do quarto. A última vez que verifiquei, a garota dormia. Isso era tudo o que Beth parecia fazer. Quase sentia inveja de sua capacidade para dormir tanto tempo. —Por que? —perguntei— Está acordada? Luc se encaminhou para a sala.  —Acredito que vocês duas precisam de um pouco de “bate-papo de garotas”. Meus ombros se afundaram quando suspirei. 
— Luc, realmente não acredito que este seja o momento para uma união entre as garotas. —Não é? —deixou-se cair no sofá junto de Archer e apoiou os pés em cima da mesa de café. — O que mais você está fazendo além de olhar pela janela e tentar se esgueirar por nós para poder ir ao bosque, procurar Daemon, e provavelmente ser comida por um leão de montanha? A ira perfurou através de mim enquanto girava meu longo rabo-de-cavalo por cima de meu ombro.  — Em primeiro lugar, eu não gostaria de ser comida por um leão de montanha. Em segundo lugar, pelo menos estou tentando fazer algo mais que me sentar sobre meu traseiro. Archer suspirou. Mas Luc só sorriu para mim.  —Vamos ter esta discussão outra vez? —Olhou para um Archer com cara de pedra— Porque eu gosto quando os dois brigam. É como ver uma mamãe e um papai tendo um desentendimento conjugal. Sinto que tenho que ir esconder-me em algum dormitório ou algo assim, para que seja mais autêntico. Talvez fechar uma porta de repente ou… —Se cale, Luc —grunhiu Archer, e logo voltou seu olhar em mim— Passamos por isso mais vezes do que sequer posso pensar. Ir atrás deles não é inteligente. Haverá muitos, e não sabemos se… — Daemon não é um deles! —gritei, saltando de pé e respirando com dificuldade. — Não se uniu a eles. Tampouco o fariam Dee ou Dawson. Não sei o que está acontecendo. —Minha voz falhou, e uma onda de emoção subiu por minha garganta— Mas eles não fariam isso. Ele não o faria. Archer se inclinou para frente, com os olhos reluzentes.  —Não sabe isso. Não sabemos. —Acabou de dizer que voltariam! —disparei contra ele. Não respondeu enquanto retornava seu olhar à televisão, e isso me disse o que no fundo já sabia. Archer não esperava que Daemon, ou qualquer um deles, voltasse.
Apertando meus lábios, balancei a cabeça tão rápido que meu rabo-de-cavalo se converteu em um chicote. Virei-me, indo para a porta antes que começássemos a brigar de novo. —Aonde vai? —perguntou Archer. Resisti o impulso de me girar.  —Aparentemente, vou ter um bate-papo de garotas com Beth. —Parece como um plano —comentou Luc. Ignorando-o, rodeei as escadas e fiz qualquer coisa, menos me aproximar deles. Odiava me sentar e não fazer nada. Odiava que cada vez que abria a porta da frente, Luc ou Archer estivessem lá para me deter. E o que mais odiava de tudo era o fato que podiam me deter. Eu poderia ser uma híbrida, uma mutante com tudo esse poder Luxen, mas eles eram Origens, e podiam chutar meu traseiro daqui até a Califórnia se chegasse o momento. O andar de cima estava calmo e escuro, eu não gostava de estar ali. Não estava segura de por que, mas os diminutos cabelos de minha nuca se elevavam cada vez que vinha aqui e caminhava pelo longo e estreito corredor. Beth e Dawson tinham requisitado o último quarto à direita, na primeira noite que chegamos aqui, e ali era onde Beth ficava desde que… bom, desde que ele se foi. Não conhecia bem a garota, mas sabia que tinha passado por muito quando se encontrou sob o controle do Daedalus, e tampouco acreditava que ela fosse a mais estável de todos os híbridos por aí, embora não fosse sua culpa. E odiava admitir, mas às vezes, ela, tipo, me assustava. Parando em frente à sua porta, bati com os nódulos do dedo em vez de entrar diretamente no quarto. —Sim? — Veio a voz fina e esganiçada. Fiz uma careta enquanto empurrava a porta. Beth parecia terrível, e quando consegui vê-la… não era lindo. Sentada contra a cabeceira com uma montanha de mantas empilhadas ao redor dela, tinha círculos escuros sob os olhos. Suas feições pálidas e esqueléticas estavam afiados, e seu cabelo um emaranhado sujo. Tentei não respirar muito profundamente, porque o quarto cheirava a vômito e a suor. Parei na cama, chocada até o âmago. — Está doente?
Seu olhar desfocado se afastou de mim, aterrissando na porta do banheiro contiguo. Não tinha sentido. Os híbridos — nós não podíamos adoecer. Nem de resfriado comum nem do mais perigoso câncer. Como os Luxen, somos imunes a tudo o que existia em termos de enfermidades, mas Beth? Sim, ela não parecia muito bem. Uma enorme sensação de desconforto floresceu na minha barriga, endurecendo os músculos. —Beth? Seu olhar lacrimejante finalmente flutuou de volta a mim.  —Dawson já retornou? Meu coração deu um tombo muito forte, quase dolorosamente. Eles dois tinham passado por muitas coisas, mais do que Damon e eu passamos, e isto… Deus, isto não era justo.  —Não, não retornou ainda, mas, você? Parece doente. Levantou uma magra e pálida mão à sua garganta enquanto engoliu.  —Não me sinto muito bem. Não sabia em que nível de sentir-se mal estava, e quase tinha medo de descobrir. —O que está ruim? Levantou um ombro e pareceu haver tomado um grande esforço.  —Não deveria estar preocupada —disse em voz baixa, enquanto pegava a bainha do seu cobertor. — Não é grande coisa. Vou estar bem uma vez que Dawson retornar. —Seu olhar flutuou de novo, e quando deixou a bainha do cobertor cair, agachou-se, pôs sua mão sobre seu ventre coberto pelo cobertor e disse: — Nós estaremos bem quando Dawson retornar. —Nós estaremos…? —Me calei enquanto meus olhos se abriam como pratos. Minha mandíbula se afrouxou e caiu enquanto a olhava boquiaberta. Fiquei olhando onde estava sua mão e vi com crescente horror enquanto esfregava a barriga em círculos lentos e firmes. Oh, não. Oh, demônios não à décima potencializa. Comecei a avançar e logo parei.  —Beth, está… está grávida? Ela jogou a cabeça para trás contra a parede e fechou os olhos. 
— Deveríamos ter tido mais cuidado. Minhas pernas se sentiram fracas de repente.  O sono. O esgotamento. Tudo isso tinha sentido. Beth estava grávida, mas a princípio, como uma idiota, eu não entendi como. Em seguida, o senso comum tomou conta, e eu queria gritar, Onde estavam os preservativos? Mas isso era uma espécie de um ponto discutível.            Uma imagem de Micah apareceu em minha cabeça, a criança que tinha tentado escapar do Daedalus. Micah, o garoto que tinha quebrado pescoços e destruído cérebros com um só pensamento. Santos bebês alienígenas, ela estava carregando um deles? Uma dessas assustadoras crianças — horripilantes, perigosas e extremamente mortais? É óbvio, Archer e Luc tinham sido provavelmente uma dessas horripilantes crianças em seu tempo, mas nada sobre esse pensamento era tranquilizador, porque o novo lote do Origens que o Daedalus tinha preparado era diferente ao que Luc e Archer saíram. E Luc e Archer ainda são um pouco horripilantes. — Você está olhando para mim como se estivesse chateada. — disse ela em voz baixa Forcei um sorriso em meu rosto, sabendo que provavelmente parecia um pouco louca.  —Não. Estou surpresa. Um frágil sorriso apareceu em seus lábios.  —Sim, estávamos também. Realmente é um mau momento, não? Ha. O eufemismo do ano. Enquanto a olhava, o sorriso lentamente se deslizou de seus lábios. Não tinha nem ideia do que lhe dizer. Felicidades? Por alguma razão, isso não parecia apropriado, mas também parecia mal não dizê-lo. Sequer sabiam a respeito dos Origens, de todas essas crianças que Daedalus tinha? E este bebê seria como Micah? Deus, sério? Não tínhamos suficientes coisas para nos preocupar neste momento? Meu peito se apertou e pensei que poderia estar tendo um ataque de pânico. —O… quanto tempo você está?
—Três meses —disse, engolindo em seco. Precisava me sentar. Inferno, eu precisava de um adulto. Visões de fraldas sujas e pequenos rostos vermelhos zangados dançavam em minha cabeça. Seria um bebê, ou três? Isso era algo que nunca pensamos quando se tratava dos Origens, mas os Luxen sempre vinham em três. Oh, santa lama do drama, três bebês? O olhar do Beth se encontrou com os meus de novo e algo em seus olhos me fez estremecer. Inclinou-se para frente, sua mão acalmando seu ventre.  —Não estão retornando por si mesmos, verdade? —O que? —Eles —disse— Dawson, Daemon e Dee. Não vão voltar por si mesmos, verdade?
 
Cerca de trinta minutos mais tarde, eu desci as escadas em transe. Os caras estavam onde eu os deixei, sentado no sofá, assistindo ao noticiário. Quando entrei na sala, Luc olhou para mim, e Archer parecia como se alguém tivesse enfiado um poste em algum lugar muito desconfortável. E eu sabia. — Vocês dois sabiam sobre Beth? — Eu queria bater neles quando olharam fixamente para mim. —E ninguém pensou em me dizer? Archer deu de ombros.  —Nós estávamos esperando que isso não se tornasse um problema. —Oh meu Deus. — Não se tornar um problema? Como estar grávida de um bebê híbrido alienígena não era um grande problema e que só, eu não sei, iria embora? Eu caí na cadeira, colocando meu rosto em minhas mãos. Qual seria a próxima? Sério. —Ela vai ter um bebê. —Isso é geralmente o que acontece quando você tem relações sexuais desprotegidas. — comentou Luc. —Embora fico feliz que vocês duas conversaram, porque eu não queria ser o portador dessa notícia.
—Ela vai ter uma daquelas crianças assustadoras. — eu continuei, alisando as pontas dos meus dedos sobre minha testa. —Ela vai ter um bebê e Dawson nem sequer está aqui e todo mundo está caindo em pedaços. —Ela está apenas de três meses. —Archer pigarreou. — Não vamos entrar em pânico. —Pânico. — eu sussurrei. A dor de cabeça estava piorando. —Existem coisas que ela precisa, tipo, eu não sei, um médico para ter certeza de que a gravidez está indo bem. Ela precisa de vitaminas pré-natais e de alimentos e biscoitos água e sal e, provavelmente, picles e... — E podemos conseguir essas coisas para ela. — Archer respondeu, e eu levantei minha cabeça. —Tudo, exceto o médico. Se alguém examinar seu sangue, bem, isso seria problemático, especialmente tendo em conta o que está acontecendo.  Olhei para ele.  —Espere. Minha mãe... —Não. — A cabeça de Luc virou na minha direção. —Você não pode contatar sua mãe. Minha coluna endureceu.  —Ela poderia nos ajudar. Pelo menos dá-nos a ideia geral de como cuidar de Beth. —Uma vez que a ideia surgiu na minha cabeça, eu apeguei-me a ela. Eu estava totalmente honesta comigo mesma. Algumas das razões pelas quais isso parecia uma grande ideia era porque eu queria falar com ela. Eu precisava falar com ela. —Nós já sabemos o que Beth precisa, e a menos que a sua mãe tenha informação relevante sobre como cuidar de híbridas grávidas, não há muito mais que que o Google não pode nos dizer. — Luc tirou os pés da mesa de café e os bateu no chão. —E vai ser perigoso entrar em contato com sua mãe. O telefone pode estar monitorado. É muito perigoso para nós e ela. —De verdade acha que ao Daedalus importa onde estamos justo agora? —É algo que você quer correr o risco? — perguntou Archer, encontrando meu olhar. —Você está disposta a colocar todos nós em perigo, incluindo Beth, tudo baseado em uma esperança que eles têm as mãos ocupadas? Você está disposto a fazer isso com a sua mãe? 
Minha boca se fechou enquanto olhava para ele, mas a luta vazou de dentro de mim como um balão desinflando. Não. Não, eu não arriscaria isso. Eu não faria isso para nós ou para a minha mãe. Lágrimas picaram meus olhos e eu forcei um profundo suspiro. —Estou trabalhando em algo que venha a cuidar do problema Nancy. — Luc anunciou, mas a única coisa que eu tinha visto ele trabalhar era a arte de sentarse em sua bunda. —Ok. — eu disse, a voz rouca enquanto desejava que dor de cabeça fosse embora e que as bordas amargas do pânico diminuíssem. Eu tinha que manter a calma, mas esse canto escuro estava parecendo melhor e melhor. —Precisamos conseguir as coisas para Beth Archer assentiu.  —Nós o faremos. Menos de uma hora depois, Luc entregou uma lista de itens que ele tinha procurado na internet. A situação toda me fez sentir como se eu estivesse em algum tipo de torcida depois da escola especial. Eu queria rir quando dobrei o pedaço de papel no bolso de trás da minha calça jeans, mas então eu provavelmente não iria parar de rir. Luc ficaria com Beth no caso de... bem, no caso de algo ainda pior acontecer, e eu iria com Archer. Principalmente porque pensava que seria uma boa ideia sair da cabana. Pelo menos parecia que eu estava fazendo alguma coisa, e talvez, talvez indo para a cidade iria dar-nos algumas pistas de onde Daemon e sua família tinham desaparecido. Meu cabelo estava escondido sob um boné de beisebol que escondia a maior parte do meu rosto, por isso as chances que eu seria reconhecida eram escassas. Eu não tinha ideia se alguém faria, mas eu não queria correr esse risco. Era fim de tarde, e o ar exterior carregava um frio que me deixou grata por estar usando uma das volumosos camisetas de manga longa de Daemon. Mesmo no ar perfumado em grande medida com pinheiro, se eu respirasse profundamente, eu poderia pegar o seu aroma único, uma mistura de especiarias e ar livre. Meu lábio inferior tremeu enquanto eu subia no banco do passageiro e me curvei com as mãos trêmulas. Archer deu-me um olhar rápido, e eu me forcei a
parar de pensar em Daemon, sobre qualquer coisa que eu não queria compartilhar com Archer, que era praticamente tudo agora. Então eu pensei sobre raposas dançando a dança do ventre vestindo saias de capim. Archer bufou.  —Você é estranha. —E você é rude. — Eu me inclinei para a frente, olhando pela janela enquanto viajávamos pelo caminho, tentando ver por entre as árvores, mas não havia nada. —Eu disse a você antes. É difícil não fazê-lo às vezes. —Ele parou no final da estrada de cascalho, verificando os dois lados antes de avançar. —Confie em mim. Há momentos em que eu desejo não poder ver a cabeça das pessoas.  —Eu imagino que estar preso comigo nos últimos dois dias foi um deles. —Honestamente? Você não tem sido ruim. —Ele olhou para mim quando eu levantei minhas sobrancelhas. —Você esteve mantendo a calma. Eu não sabia como responder a isso em primeiro lugar, porque uma vez que os outros Luxen tinham chegado, eu senti como se estivesse a segundos de me romper. E eu não tinha certeza do que exatamente estava me mantendo calma. Um ano atrás, eu teria me apavorado e um canto teria sido o meu melhor amigo, mas não era a mesma garora que tinha batido na porta de Daemon. Eu provavelmente nunca seria aquela garota novamente. Eu tinha passado por muita coisa, especialmente quando eu tinha estado nas mãos do Daedalus. Coisas que eu tinha experimentado que não podia me debruçar sobre, mas o tempo com Daemon, e esses meses com Daedalus, fizeramme mais forte. Ou pelo menos eu gostava de pensar que fizeram. —Eu tenho que manter a calma. —disse finalmente, cruzando meus braços em volta de mim enquanto olhava para os pinheiros passando rapidamente. Os ramos agulhas tornando-se imprecisos. —Porque eu sei que Daemon não a perdeu quando eu... quando eu fui embora. Então, eu não posso, tampouco. —Mas... —Você se preocupa com Dee? — Eu o interrompi, voltando minha atenção totalmente para ele. Um músculo palpitava ao longo de sua mandíbula, mas ele não respondeu, e enquanto fazíamos a viagem tranquila para a maior cidade em Idaho, não pude
evitar pensar que isto não era o que realmente precisava estar fazendo. Que em vez disso, eu precisava fazer o que Daemon tinha feito por mim. Ele veio para mim quando eu tinha sido levada. —Isso foi diferente. — disse Archer, cortando meus pensamentos quando ele virou em direção ao supermercado mais próximo. —Ele sabia no que estava se metendo. Você não.  —Será que ele sabia? — Eu perguntei quando ele encontrou um lugar no estacionamento perto da entrada. —Ele poderia ter tido uma ideia, mas eu não acho que ele realmente sabia, e ele ainda fez isso. Ele foi corajoso.  Archer me lançou um longo olhar quando ele tirou as chaves.  —E você é valente, mas não é estúpida. Pelo menos eu espero que você continue provando que não é estúpida. —Ele abriu a porta. —Fique perto de mim. Eu fiz uma careta para ele, mas sai. O estacionamento estava bastante cheio, e me perguntei se todos estavam estocando para o próximo apocalipse. No noticiário, não tinha havido tumultos em muitas das grandes cidades depois de os “meteoritos” caírem. Policiais e militares locais haviam bloqueado, mas não havia um programa de TV chamado Doomsday Preppers por uma razão. Na maior parte, Coeur d'Alene apareceu praticamente intocado pelo que estava acontecendo, apesar de tantos Luxen terem desembarcado nas florestas próximas. Havia um monte de pessoas na loja, seus carrinhos empilhados com produtos enlatados e água engarrafada. Eu tentei manter o meu olhar para baixo quando eu retirei a lista e Archer pegou uma cesta, embora eu não pude deixar de notar que ninguém estava pegando papel higiênico. Essa seria a primeira coisa que eu pegaria se eu pensasse que era o fim do mundo. Fiquei perto do lado de Archer quando fomos para a seção de farmácia e começamos a explorar as intermináveis filas de garrafas marrons com tampas amarelas. Suspirando, olhou para a lista.  —Não era possível essa porcaria estar em ordem alfabética? —Isso seria muito fácil. — Seu braço bloqueou minha visão quando ele pegou uma garrafa. —Ferro está na lista, certo?
—Sim — Meus dedos pairavam sobre o ácido fólico e eu peguei, sem ter ideias do que inferno era ou o que ele fazia. Archer se ajoelhou.  —E a resposta é sim a sua pergunta anterior. —Huh? Ele olhou através de seus cílios.  —Você perguntou se eu estava preocupado com Dee. Eu estou. Meus dedos se apertaram sobre a garrafa enquanto prendia minha respiração. —Você gosta dela, não é? —Sim. — Ele voltou sua atenção para as garrafas de tamanho grande de vitaminas pré-natais. —Apesar do fato de que seu irmão é Daemon. Enquanto eu olhava para ele, meus lábios tremeram no primeiro sorriso desde os Luxen tinham... O boom, como uma salva de palmas sonora de um trovão, veio do nada, balançando a prateleira de pílulas e assustando-me a dar um passo para trás. Archer se levantou com fluidez, seu olhar astuto oscilando em torno do mercado lotado. As pessoas pararam no meio dos corredores, algumas mãos apertando em seus carrinhos, outros deixando-os ir, as rodas rangendo quando os carros lentamente rolaram. —O que foi isso? — Uma mulher perguntou a um homem que estava ao lado dela. Ela se virou, pegando uma menina que tinha que ter não mais do que três anos. Segurando a criança perto de seu peito, ela virou-se, com o rosto pálido. — O que é que foi isso...? O estrondo de som rugiu através da loja novamente. Alguém gritou. Garrafas caíram das prateleiras. Passos bateram pelo chão de linóleo. Meu coração deu um pulo quando virei em direção à frente da loja. Algo brilhou no estacionamento, como um relâmpago atingindo o solo. —Droga. — Archer rosnou. Os minúsculos pelos em meus braços subiram enquanto eu caminhava em direção ao final do corredor, esquecendo todas as pretensões de manter minha cabeça para baixo.
Um segundo de silêncio se passou, e trovão explodiu uma e outra vez, sacudindo os ossos do meu corpo quando raios de luz iluminou o parque de estacionamento, um após o outro, depois outro. A janela de vidro na frente rachou, e os gritos... os gritos ficaram mais altos, rompendo com terror quando as janelas se quebraram, jogando vidro nos corredores de saída. Os raios de luz ofuscantes formaram formas no estacionamento, alongandose e tendo pernas e braços. Seus altos corpos ágeis tingidos de vermelho, como o Daemon, mas mais profundo, mais vermelho. — Oh Deus. — eu sussurrei, o frasco de comprimidos escorregando dos meus dedos, batendo no chão. Eles estavam por toda parte, dezenas deles. Luxen.  
CAPÍTULO 2
E toda pessoa, inclusive eu, parecia ter congelado por um momento, como se o tempo tivesse sido interrompido, mas eu sabia que isso não tinha acontecido. As formas no estacionamento viraram, esticando o pescoço e inclinando-o para um lado, os seus passos fluídos e parecidos com uma serpente. Os movimentos eram antinaturais e nada como os Luxam que tinham estado na Terra durante anos. Um caminhão vermelho chiou seus pneus, uma vez que virava no espaço do estacionamento, espalhando fumaça e o cheiro de borracha queimada no ar. Ele se virou, como se o motorista tivesse planejado passar através do Luxen. —Oh, não— eu sussurrei, meu coração batendo fortemente. Archer agarrou a minha mão.  —Precisamos sair daqui. Mas eu estava enraizada para onde estava, e eu finalmente entendi por que as pessoas bisbilhotavam nos acidentes de carro. Eu sabia o que estava por vir, e eu sabia que era algo que eu não queria ver, mas não conseguia desviar o olhar. Uma das formas avançou, as bordas de seu corpo pulsando vermelho, uma vez que levantou um braço brilhante. O caminhão se sacudiu para a frente; a sombra de um homem ao volante e um corpo muito menor ao lado dele ficaria para sempre gravada na minha memória. Faíscas minúsculas de eletricidade voaram da mão do Luxen quando uma luz brilhante tingida de vermelho envolveu seu braço. Um segundo depois, um raio de luz irradiou a partir dele, estalando no ar, com cheiro de ozônio queimado. A luz, uma explosão direta da Source da qual tinha que ser a espécie mais pura, chocou-se contra o caminhão.   A explosão sacudiu a loja quando o caminhão se acendeu, derrubando-se sobre a fila de carros junto a ele. Um inferno transbordou do pára-brisa quebrado, enquanto o caminhão se derrubava sobre seu teto, aros girando sem rumo.
O caos se desatou. Gritos romperam o silêncio e as pessoas corriam a partir da frente da loja. Como uma manada, empurravam aos carros e outras pessoas. Corpos caíram sobre mãos e joelhos, e os gritos se tornaram mais fortes, misturando-se com o pranto das crianças pequenas. Num bater de coração gaguejante, e um abrir e fechar de olhos, os Luxen estavam na loja e estavam por toda parte. Archer me puxou ao redor do fim da prateleira, pressionando nossos corpos contra as bordas. Um adolescente correu mais à nossa frente, e tudo o que eu podia pensar era como seu cabelo era vermelho, como escarlate, e então me dei conta de que não era a cor de seu cabelo, mas sim sangue. Chegou à seção de sabão corporal antes que uma explosão de luz o acertasse nas costas. O moço caiu de bruços e imóvel, um buraco carbonizado fumegando do centro de sua coluna vertebral.   —Jesus — ofeguei quando meu estômago se revolveu. Archer ficou olhando, os olhos muito abertos e as fossas nasais dilatadas.  —Isto é ruim. Aproximei-me do fim do corredor e olhei ao redor, meu estômago se desabou quando vi a mulher que tinha estado segurando à pequena menina minutos antes. Encontrava-se de pé em frente a um dos Luxen, sua boca muito aberta, aparentemente congelada de medo. A pequena menina se pressionava contra a prateleira de livros do supermercado, encolhida em uma bola pequena, gemendo e balançando para frente e para trás. Levei um momento para me dar conta do que gritava uma e outra vez. —Papai! Papai! O homem estava deitado em um atoleiro de sangue a seus pés. Energia crepitava por minha pele, estalando contra Archer quando o Luxen estendeu a mão e a colocou no centro do peito da mulher. —O que…? —sussurrei. A coluna vertebral da mulher se endireitou como se alguém tivesse deixado cair aço pelo centro de suas costas. Ela arregalou os olhos, as pupilas dilatandose. Uma brilhante luz branca irradiou da palma do Luxen, e logo a deixou cair sobre a mulher como uma cascata. Quando a luz alcançou seus saltos de bico fino, desvaneceu-se, penetrando no chão. De repente, a cabeça da mulher caiu para trás e sua boca se abriu em um grito silencioso. Suas veias se iluminaram do interior, uma rede branca brilhando intensamente sobre a testa, enchendo seus olhos, e logo as bochechas e garganta. O que estava acontecendo? Podia sentir Archer pressionando-se contra mim quando o Luxen se separou da mulher que tremia violentamente. À medida que a luz se desvanecia de suas veias, a cor se drenava de sua pele, e a luz rodeando ao Luxen palpitava como um batimento cardíaco. Tudo ocorreu no mesmo momento, a pele da mulher se franziu e enrugou como se estivesse envelhecendo décadas em questão de segundos, e a forma do Luxen se moveu e se retorceu. O corpo da mulher ruiu e se desabou sobre si mesmo, como se toda a força da vida tivesse sido sugada dela. Enquanto se rendia como uma folha de papel, pele cinza e feições irreconhecíveis, a luz do Luxen recuou, revelando sua nova forma. Era idêntica à mulher, a mesma pele morena e nariz fino. Cabelo castanho claro lhe caía sobre os ombros nus, mas seus olhos… eram de um azul brilhante pouco natural, como se duas safiras polidas tivessem sido colocados em seu rosto. Olhos como os de Ash e Andrew. Estão assimilando DNA. A voz do Archer flutuava entre meus pensamentos. Rapidamente. Nunca vi fazer isso ou soube que era possível. Tinha um nível de temor perturbado em seu tom. Era como A Invasão dos Ladrões de Corpos, versão Luxen. Também era mortal, e ocorria em todo o supermercado. Corpos caíam ao chão por toda parte. —Temos que ir. —A mão de Archer se apertou ao redor da minha e me atraiu de volta para ele. — Agora. —Não! —Tentei não ceder— Nós… —Nós não temos que fazer nada mais que sair correndo daqui. —Arrastoume ao redor das bordas das prateleiras, me puxando para ele até que me encontrei grudada a seu lado uma vez mais. Lutei enquanto me guiava pelo corredor.  —Podemos ajudá-los. —Não podemos. —Apertou os dentes. —É um Origem —o espetei— Você deveria ser um bebê aliem proveta incrível, mas está… —Correndo? Diabos, sim. Origem ou não, há dúzias de Luxen, e são poderosos. —Empurrou-me ao redor das prateleiras de pasta de dente. Em sua
mão esquerda ainda levava a caixa cheia de pílulas que eu já tinha esquecido— Não viu o que acabam de fazer? Bati minha mão em seu estômago, empurrando-o para trás e me livrei do seu alcance.  —Estão matando gente! Podemos ajudá-los. Archer se apressou para frente, com o rosto retorcendo-se de frustração.  —Não há Luxen nesta Terra que possa tomar o DNA dessa maneira. Estes são mais fortes. Temos que sair daqui, voltar para a cabana, e logo obter o… Um grito me fez girar. Do final do corredor, pude ver que o Luxen que tomou a aparência da mulher olhava à pequena menina, seus lábios curvados em um sorriso zombador. Não. De maneira nenhuma podia deixá-la. Não tinha ideia do que planejava o Luxen, mas duvidava que envolvesse um teste de maternidade. Joguei uma olhada a Archer, que amaldiçoou entre dentes. —Katy —grunhiu, deixando cair a caixa. — Não. Tarde demais. Separei-me dele, as pernas e os braços bombeando enquanto me lançava para o seguinte corredor e corria para a parte da frente da loja. Um trovão chegou de novo quando alcancei a prateleira de livros de bolso, e o estacionamento se iluminou à medida que mais Luxen chegavam, uma e outra vez, o trovão ressoando até que pensei que meu coração explodiria. Derrabei ao redor do final do corredor. O Luxen se congelou frente à menina, e logo sua cabeça se inclinou para onde eu me encontrava. Olhos brilhantes se cravaram nos meus. Seus lábios vermelhos pintados de rosa se separaram. A frieza de seu olhar era como entrar em uma temperatura abaixo de zero. Não existia nada humano nela, nem sequer uma pitada de compaixão, só cálculo frio. Soube nesse pequeno segundo que nos olhamos uma a outra, que este era o princípio e também o final. Os Luxen estavam verdadeiramente invadindo. Engolindo um bocado de terror gelado, lancei-me para frente, agarrando a garota por trás. Seu grito ricocheteou através de mim e se tornou louca, me dando chutes na perna. Apertei meus braços ao redor dela, segurando-a tão forte quanto pude quando comecei a andar para trás.
O Luxen se levantou como uma coluna de água. Pequenas explosões de energia estalou ao longo de seus braços. Ele olhou para mim como se pudesse ver em meu interior. Cada palavra que disse saiu de sua língua como se estivesse aprendendo inglês a velocidade vertiginosa —O que você é? Oh, merda, porcaria. Aprendi duas coisas muito rapidamente. O Luxen podia sentir que eu não estava andando nos céus humanos amigáveis, e pela forma como se preparou, levantando uma mão, dei-me conta de que não era algo bom. Também aprendi que não tinha ideia do que era um híbrido. A menina em meus braços se retorceu, conseguindo livrar um braço. Balançando-se sobre mim, tirou meu boné de beisebol, e meu cabelo se estendeu por minhas costas. O Luxen deu um passo adiante, lábios afastando-se para deixar os dentes descobertos. Não era bom. Com meus braços ocupados por uma menina gritando e esperneando, soube quando me retirar. Girando, saí disparada pelo corredor mais próximo. O aroma de carne queimada e plástico era forte quando dobrei a esquina, chutando rolos de pão fora do caminho. Detive-me. Uau. Santos alienígenas nus por toda parte. Inclusive se não fosse uma híbrida e soubesse checar os olhos para ver se alguém era um aliem disfarçado, seria bastante fácil identificar os luxen agora mesmo, considerando que aparentemente não tinham problemas de modéstia quando se tratava de estar completamente nus. Bobamente, percebi de que via mais carne masculina e feminina do que alguma vez quis ver, mas quando me virei, observando Archer chegar a meu lado, uma preocupação maior se apoderou de mim. Encontrávamo-nos rodeados. —Feliz? —disse Archer entre dentes, seus olhos ametistas brilhando ardentemente. Ao menos seis Luxen nos olhavam, tentando averiguar exatamente o que éramos. Três se achavam em forma humana, de pé junto aos corpos enrugados daqueles que assimilaram. Outros três estavam em suas formas verdadeiras, seus
corpos tingidos de luz branca avermelhada. Detrás de nós, o Luxen feminino da frente da loja apareceu. Nenhum parecia querer nos abraçar e nos amar. Meu coração chutou contra minhas costelas quando me ajoelhei lentamente, observando o rosto da menina cheio de lágrimas.  —Quando te deixar ir, corra —sussurrei— Corra tão rápido como pode e não pare. Não estava segura de se me entendia, mas rezei para que o fizesse. Exalando duramente, soltei-a e lhe dei um pequeno empurrão para o espaço entre dois corredores. A menina não me decepcionou. Girando-se, correu para o espaço, e embora eu tivesse gostado de poder fazer mais por ela, coloquei-me pé. Um dos Luxen brilhantes se deslizou para frente e logo se deteve, inclinando a cabeça para um lado. O resto deles, os de formas reais e humanas, todos olhavam à mulher de quem arrebatei a menina. Isto vai terminar mau. A voz de Archer se intrometeu. É assumir muito que se te disser que corra, você correrá? Tomei uma respiração profunda. Não vou deixá-lo. Um dos lados de seus lábios se curvou para cima. Imaginei que nao. Vamos à ofensiva. Limpar o caminho para a frente. Durante meu tempo com o Daedalus, ensinaram-me a lutar não só em forma muito humana, mas também usando a Source. Aproveitei esse treinamento quando estava em Las Vegas, e enquanto existia uma parte de mim que se sentia segura de que podia vencer ao melhor deles, uma rajada ártica de medo se deslizou por minhas costas. Sem prévio aviso, Archer se tornou todo fodão. Apressando-se para frente, atirou seu braço para trás. Uma bola de energia pura viajou por ele, fazendo erupção desde sua palma e batendo contra o centro do peito nu do Luxen, tirando os aliem de sua forma humana e enviando-o à porta de vidro da seção de produtos lácteos. Contêineres explodiram, enviando rios de leite pelo chão. Um dos Luxen brilhantes disparou para o Archer e ele se virou e apontou à mulher nua. Acessei à Source. A luz que girou por meu braço estava longe de ser
tão intensa como a de Archer, mas enganava. Riscou um arco através do corredor, batendo no ombro do Luxen, girando-o. Preparava-me para soltar outro raio de energia quando a dor explodiu em meu ombro. Em um segundo me encontrava de pé, e ao seguinte me achava de joelhos, meu ombro esquerdo fumegando. Alcancei-o, tocando-o brandamente, e me obriguei a me pôr de pé. Minha mão retornou manchada de vermelho. Me girando, quase acertei meu rosto no punho carnudo de um Luxen em sua forma humana, um macho jovem. Tropeçando vários passos, firmei a mim mesma e levantei o joelho. Ar se agitou ao redor de mim quando plantei meu pé em uma área que não queria olhar. O macho Luxen se dobrou. Sorrindo tristemente, agarrei seu cabelo castanho justo quando começava a mover-se, esquentando minhas mãos quando bati meu joelho em seu nariz. Os ossos racharam, mas sabia que isso não manteria o Luxen no chão. E sabia o que tinha que fazer. Archer soltou outra explosão e eu acessei à Source. Fluía por meu braço, em cascata sobre o topo da cabeça do Luxen enquanto ele a levantava, com os olhos brilhando como círculos brancos. Um segundo depois, eu era lançada para trás como se um automóvel tivesse me acertado. O ar rangeu com estática e bati minhas costas no chão duro, momentaneamente aturdida quando olhei para a quebrada bandeja de luz fluorescente balançando-se. Santo ai. Gemendo, rodei sobre meu flanco e pisquei com força. O Luxen também se encontrava sobre suas costas, a vários metros de distância. Lutando para me pôr de pé, vi o Archer jogar em um Luxen na seção de congelados. Girou-se para mim, viu-me de pé e assentiu. Havia um caminho espaçoso, pelas caixas de sorvete derramado. Não era um caminho muito claro. Luxen se achavam estendidos no chão, piscando e apagando, caídos por um momento, mas não fora de combate. Uma explosão de algum lugar da loja sacudiu as prateleiras altas. As portas do congelador explodiram enquanto Archer e eu corremos pelo corredor, a centímetros de vidros quebrados detrás de nós. Deslizando pelo piso escorregadio
da padaria, chegamos à parte da frente. Ao redor de nós, os seres humanos correram para as janelas quebradas, ensanguentados e em choque. Meu coração caiu a meu estômago quando o estacionamento e os edifícios mais à frente apareceram à vista. Fumaça se vertia no ar, atirando-se em grandes plumas sobre chamas vermelhas alaranjadas. Um poste elétrico tinha caído sobre uma fila de veículos com tetos desmoronados. Sirenes soavam ao longe. Um carro passou zumbindo através do estacionamento, chocando-se contra outro. O metal rangia e cedia. —É como um apocalipse —murmurou Archer. Engoli em seco.  — Tudo o que está faltando são os zumbis. Olhou-me, com as sobrancelhas levantadas, e abriu a boca, mas os aperitivos do corredor voaram por todo o lugar. Batatas fritas e pretzels voavam pelos ares, junto com bolinhas de queijo e pacotes de papel alumínio. Caíram, ressoando no chão. Havia um buraco na metade do corredor agora. —Vamos sair daqui —disse, e desta vez não discuti. Guardava todas minhas palavras para uma batalha diferente, porque sabia que quando retornássemos à cabana, se pudéssemos, Archer ia pressionar para sairmos correndo de Idaho. Compreendia que já não era seguro aqui, e se ele queria partir, que assim fosse. Levando em consideração a condição de Beth, seria inteligente afastá-la de tudo isto, mas não havia maneira de eu partir daqui sem o Daemon. Ao diabo isso. Lançamo-nos debaixo de uma linha de caixas demolidas. Archer se achava na minha frente quando me paralisei, todos os músculos de meu corpo se travaram e uma série de calafrios tensos viajaram sobre a base de meu pescoço. Meus joelhos enfraqueceram e o ar escapou de meus pulmões. O formigamento se encontrava ali, quente e familiar, uma sensação que tinha estado ausente por dois dias. Em meu peito, meu coração bateu a uma hipervelocidade, enviando o sangue rugindo por minhas veias. Daemon.
Virei-me lentamente, como se estivesse me movendo em areias movediças, escaneando os corredores destruídos. Luz aparecia e pulsava através da destruição do mercado. O tempo parecia ir mais devagar, espessando o ar até que não pude inalar o suficiente. Enjoada, e muito otimista com a crescente onda de emoções emaranhadas, movi-me de novo para as luzes. —Katy! —A voz de Archer viajou das portas quebradas. — O que está fazendo? Meu ritmo se acelerou ao me aproximar do aparador desmoronado de barras de caramelo. Pacotes de aperitivos rangiam sob meus pés. Minha boca seca e meus olhos imprecisos. A dor ardente irradiando de meu ombro se desvaneceu junto com todo o resto. O vento se levantou, açoitando as longas mechas de cabelo soltos ao redor de meu rosto, e não estava segura de onde vinha, mas segui adiante, me aproximando da borda do corredor de aperitivos destruído. Dei um passo para um lado, só um passo ou dois, e olhei pelo corredor até o final. Meu coração parou. Todo meu mundo chegou a uma pausa surpreendente. —Maldição! —gritou Archer, com a voz mais perto— Não! Mas já era muito tarde. Eu o tinha visto. E ele me viu. Estava de pé ao final do corredor, em sua verdadeira forma, brilhando tanto como um diamante. Não se parecia diferente do resto dos Luxen, mas cada grama de meu ser sabia que era ele. As mesmas células que me faziam quem era estalaram vivas e clamavam por ele. Ainda era a coisa mais bonita que já vi. Alto e brilhando como mil sóis, bordas resplandecentes de um vermelho tênue. Dei um passo para frente no mesmo momento que ele o fez, e me aproximei dele da forma em que podíamos, porque quando ele me curou tanto tempo atrás, nos conectamos. Para sempre. Daemon? Chamei-o através da conexão. Ele desapareceu diante de mim, movendo-se muito rápido, inclusive para que eu pudesse segui-lo.
—Kat —gritou Archer. Ao mesmo tempo, jurei que ouvi meu nome ressoar em minha cabeça em uma voz mais profunda, mais suave, que fez meu ventre se virar e as ataduras de meu coração se esticarem. O calor percorreu minhas costas e me virei, me encontrando cara a cara com deslumbrantes olhos cor esmeralda; pele que parecia estar sempre bronzeada, não importa a época do ano, amplas maçãs do rosto, e o cabelo negro rebelde que roçava as sobrancelhas igualmente escuras. Lábios grossos se levantaram firmemente nos cantos. Não era Daemon. Uma boa cabeça e meia mais alto, Dawson travou seus olhos com os meus. Pareceu-me ver um lampejo de remorso, mas poderia ter sido simplesmente uma ilusão. Luz correu através de suas pupilas, tornando todo o círculo de seus olhos branco. Estática percorreu suas bochechas, formando diminutos dedos de eletricidade. Houve um brilho de luz intensa, uma onda terrível de calor que pareceu levantar meus pés, e logo não houve nada.
CAPÍTULO 3
             O fluxo constante de vozes em minha verdadeira língua, junto com uma dúzia de outros idiomas humanos, provocou uma intensa dor em minhas têmporas. As palavras. As orações. As ameaças. As promessas. O maldito falatório sem parar de meus recém chegados e tão extensos familiares quando descobriam algo novo para eles, que era aproximadamente A cada malditos cinco segundos. OH! Um liquidificador. OH! Um automóvel. OH! Os humanos certamente sangram muito e se quebram com facilidade. Infernos, assim que abriam os olhos, que estavam vendo algo pela primeira vez, e enquanto seu temor quando brincavam com eletrodomésticos ou com a anatomia humana era um pouco infantil, também era um pouco sobre o lado demente das coisas. Os recém-chegados eram os filhos da puta mais frios que jamais tinha visto. Nas últimas quarenta e oito horas, literalmente, milhares de minha espécie tinham vindo à Terra pela primeira vez, e era como uma colmeia gigante. Todos estávamos conectados, a uma onda de distância do outro, como pequenas abelhas operárias para a rainha. Quem quer que fosse. A conexão era esmagadora às vezes, as necessidades, desejos e vontades de milhares, tudo unido junto no frente da mente de cada Luxen. Apoderar-se. Controlar. Governar. Dominar. Subjugar. A única vez que havia inclusive um pouco de alívio era quando me encontrava em minha forma humana. Parecia apagar a conexão, retrai-la, mas não para todos. Caminhando através dos pisos de madeira polida de um átrio em uma mansão que poderia abrigar uma milícia e ainda ter espaço para festas do pijama, vi minha visão se tornar vermelha quando avistei meu gêmeo. Apoiado na parede, perto de uma série de portas duplas fechadas. Seu queixo inclinado para baixo, o cenho franzido em concentração enquanto seus dedos passavam sobre a tela de
um telefone celular. Quando estava no meio da sala bem iluminada que cheirava a rosas e um leve aroma metálico de sangue derramado, ele levantou a cabeça. Dawson respirou profundamente quando me aproximei dele.  —Olá —disse— Aí está. Eles…. Agarrei o telefone de suas mãos, girei, e o joguei tão forte como pude. O pequeno objeto quadrado voou direto através da sala e se chocou contra a parede oposta. —Que demônios, homem? —explodiu Dawson, suas mãos elevando-se. — Estava no nível sessenta e nove do Candy Crush, bastardo. Sabe o difícil que…? Depois de levar para trás o braço, bati meu punho em sua mandíbula. Ele  tropeçou na parede, levantando uma mão ao rosto. Um doente sentido de satisfação torceu minhas entranhas. Levantou a cabeça, inclinando-a para um lado.  —Jesus — grunhiu enquanto baixava sua mão. — Não a matei. Obviamente. Meus pensamentos se esvaziaram como uma terrina de água sendo virada enquanto respirei fundo. —Sabia o que estava fazendo, Daemon. —Olhou para a porta, baixando a voz— Não havia nada mais que pudesse fazer. Me lançando para frente, agarrei o pescoço de sua camisa e o elevei na ponta de suas botas. As razões não eram o suficientemente boas.  —Você nunca teve nenhuma medida de controle quando se trata de usar a Source. Por que diabos ia ser diferente agora? As pupilas de seus olhos começaram a brilhar branco. Colocou os braços entre meus, quebrando a contenção. —Não tinha outra opção. —Sim, qualquer coisa. —Caminhei a seu redor, me obrigando a me afastar de meu irmão antes que o atirasse através de uma parede e frente a um tanque. Dawson se girou, e podia sentir seu olhar sagaz em minhas costas.  —Precisa ter controle de si mesmo, irmão. Detive-me frente às portas fechadas e o olhei por cima do ombro. Ele balançou a cabeça.  —Eu… —Não —o adverti.
Os olhos de Dawson se fecharam fortemente por um momento, e quando voltaram a se abrir, olhava para a porta fechada, quase devastado.  —Quanto tempo mais? —sussurrou. Medo real me deu um soco no estômago. Era demais. Sabia que suas defesas estavam baixas e tinha sido posto em uma má posição. Não tinha outra opção. —Não sei, porque… Não tive que dar mais detalhes. Entendimento iluminou seu rosto.  —Dee… Meus olhos se encontraram e mantiveram os seus, e não havia nada mais a dizer. Olhando para frente, abri a porta, e o zumbido constante golpeando meu crânio se fez mais forte quando entrei no largo escritório circular. Os recém chegados se encontravam na sala, mas era o do assento de costas a mim, que importava, ao que tínhamos sido atraídos no momento em que apareceram na cabana. Estava sentado em uma cadeira de couro, vendo uma grande tela plana na parede. Era uma estação de televisão local de notícias transmitindo imagens do centro de Coeur d’Alene. Um lugar totalmente diferente ao que tinha sido faz três dias. Fumaça se elevava dos edifícios. Fogo cobria o oeste como um pôr-do-sol ardente. As ruas eram um desastre. Zona de guerra completa. —Olhe para eles. — disse ele, sua voz carregando uma melodia estranha enquanto ele navegava no novo idioma. —Correndo ao redor no chão sem rumo.            Parecia que a metade dos seres humanos saqueavam uma loja de eletrônicos. —São tão indefesos, sem organização. Inferiores. —Sua risada era profunda, quase contagiosa— Este vai ser o planeta mais fácil que dominaremos. Ainda me surpreende que tenham estado ali fora todo este tempo, geração após geração, desde a destruição de nosso planeta, escondidos em algum universo esquecido por Deus que ao aparentemente não era tão confortável como a Terra. Balançou a cabeça, quase com espanto, enquanto a tela trocava a imagens de tanques rodando na cidade. Riu de novo.  —Não podem defender a si mesmos. Outra recém-chegada, uma alta ruiva, vestida com uma saia negra justa e camisa branca engomada, limpou a garganta. Seu nome era Sadi, o que era justo, porque referia-se a ela como Sadi, a Sádica.
Ela não parecia se importar, já que no pouco tempo que a tinha conhecido, o apelido era bem merecido, e a única outra coisa que eu sabia sobre ela era que seu olhar estava geralmente grudado em meu traseiro. —Em realidade, eles têm armas — ela disse. —Não é suficiente, querida. Isso está acontecendo em algumas das maiores cidades em cada estado, em cada país. Deixe-os ter suas armas pequenas. Podemos perder alguns, mas essas perdas não terão impacto sobre a nossa iniciativa. — A cadeira girou, e os músculos de minhas costas ficaram tensos. A forma humana que tinha escolhido era a de um homem magro de uns quarenta anos, com o cabelo marrom escuro separado cuidadosamente e um largo sorriso branco, perfeitamente reto. Tinha tomado a forma do prefeito da cidade, e gostava de ser chamado pelo nome do ser humano morto: Rolland Slone. Algo estranho.  —Nosso objetivo ainda seria alcançado. Não é assim, Daemon Black? Encontrei seu olhar.  —Realmente não acredito que serão capaz de pará-lo. —É óbvio que não. —Seus dedos se uniram sob o queixo— Escutei que trouxe algo com você? Expôs isso como uma pergunta, mas a resposta já era conhecida. Assenti. O corpo de Sadi se inclinou para mim com interesse enquanto seu olhar verde azulado brilhante se iluminava, e junto à parede, o outro se moveu. —Uma mulher? —perguntou Sadi, que deve ter visto a imagem fugaz que piscou através de meus pensamentos. —A última vez que comprovei, sim. —Sorri quando seus olhos se estreitaram— Mas ainda não estou convencido de que está levando bem todas as partes corretas de garota. Os dedos de Sadi se endireitaram aos flancos.  —Quer comprovar? Sorri.  —Não, acho que vou passar isso. Rolland riu entre dentes enquanto enganchava um joelho sobre o outro.  —Esta fêmea. Não é exatamente humana, não é?
Sadi afastou a atenção de mim quando neguei com a cabeça. Um músculo ou um nervo ou outra coisa igualmente irritante começou a tremer sob meus olhos. —Não. Ela não é. Suas mãos descansavam em seu colo, uma dobrada em cima da outra.  —O que ela é exatamente?             —Uma mutante —respondeu Dee quando entrou na sala, seus longos cachos escuros espalhados por trás dela. Um doce sorriso se formou em seus lábios enquanto olhava para Rolland— Em realidade, foi transformada por meu irmão. —Qual? —perguntou Rolland. —Este daqui. — Dee acenou para mim enquanto ela baia as mãos nos quadris. —Ele a curou cerca de um ano atrás. A menina é uma híbrida.             Os olhos dele se moveram de novo aos meus.  —Estava tentando nos ocultar isso, Daemon? —Realmente tive a oportunidade de responder a essa pergunta? —É verdade —murmurou Rolland, me olhando de perto— É muito difícil de ler, Daemon. Não como sua encantadora irmã aqui. Cruzando os braços sobre meu peito, dei de ombros.  —Eu gosto de pensar que sou um livro aberto. —De todos nós, ele sempre teve pouca utilidade para os seres humanos — disse Dee. As sobrancelhas de Rolland se elevaram.  —Com exceção desta garota, imagino. —Exceto por ela. —Suponho que Dee era agora meu próprio porta-voz pessoal. — Daemon estava apaixonado por ela. —Amor? —Sadi soltou uma risada surpreendentemente delicada. — Isso não é muito…? —Parecia procurar a palavra correta— Fraco? Meus ombros ficaram rígidos quando murmurei:  — “Estava” é a palavra-chave. —Me explique isto da cura e mutação —ordenou Rolland, inclinando-se para frente. Esperei que Dee começasse a falar, mas pela primeira vez, parecia feliz em permanecer em silêncio.
—Ela sofreu uma ferida mortal, e a curei sem saber que ia transformá-la. Algumas de minhas habilidades foram transferidas para ela, e ficamos conectados a partir desde esse momento. — O que fez que a quisesse curá-la? —Curiosidade coloria seu tom. Dee bufou.  — Não acredito que estivesse pensando com a cabeça sobre seus ombros quando fez isso, se entende o que quero dizer.  Enquanto eu resistia ao impulso de atirar a minha irmã um olhar, Rolland olhou para mim por um momento, e então sorriu como ele não só entendeu o que Dee queria dizer, mas também estava muito interessado em um monte de detalhes.        — Interessante. — murmurou Sadi enquanto passava uma grande quantidade de cabelo acobreado sobre um ombro magro— Como estreito é este vínculo ou conexão entre vocês? Troquei meu peso, olhando ao silencioso Luxen masculino que continuava apoiado na parede.  — Ela morre; eu morro. O suficientemente estreito para você? Os olhos do Rolland se arregalaram.  — Bom, isso não é bom… para você. — Sim —arrastei as palavras. Uma lenta curva dos lábios de Sadi a fez parecer faminta.  —E ela sente o que sente? E vice-versa? —Só se for uma ferida quase mortal —respondi, voz baixa como o piso. Sadi olhou para Rolland, e sabia que estavam se comunicando. Suas palavras se perderam no zumbido dos outros, mas o entusiasmo que de repente se apoderou do rosto de Sadi fez meus punhos apertar. Não confiava nela. Não confiava no Tipo Calado, tampouco. —Não tem que confiar nela —disse Rolland, sorrindo amplamente. — Só temos que confiar em você. Dee ficou rígida.  —Podemos ser de confiança. —Sei. —Sua cabeça inclinou para o outro lado. — E havia outra coisa mais ali, não era? Ele fugiu?
Voltando a ser uma serva sempre útil, Dee assentiu enquanto se sentava em uma poltrona, acomodando a si mesma.  —Um Origem, um produto de um macho Luxen e uma fêmea híbrida. Espero que não tenhamos que matá-lo. Acho que ele é bonitinho. —Interessante. —Rolland olhou para Sadi, e outra vez, sabia que estavam tendo todo tipo de conversa secreta entre eles. Levantando-se, ele abotoou a frente de seu paletó bege. —Há muito que não sabemos. Estes híbridos são novos para nós —disse, o que quase me fez rir. Para uma raça de seres que nunca estiveram na Terra, eles pareciam ter muito conhecimento sobre o local. Havia algo mais que eu não tinha descoberto. Algo, ou um montão de algo, esteve trabalhando do interior. Parecia importante. — Contamos com você e sua família, outros como você, para nos ajudar nessas situações. Assenti de maneira cortante, como o fez Dee. —Agora. Tenho coisas a fazer. —Veio pelo lado da mesa de carvalho, e o macho Luxen finalmente se separou da parede. — Pessoas com as quais me reunir e colocar à vontade. Surpresa me apanhou.  —Colocar as pessoas à vontade? Quando Rolland passeou por mim com Sadi e o Homem de Poucas Palavras, pisando em seus calcanhares, sorriu uma vez mais.  — Vejo vocês daqui a pouco, Daemon. As portas se fecharam atrás deles, reforçando o fato de que eu não estava a par de todos os pensamentos e caprichos. Havia muito escondido. Suspirando, girei para onde minha irmã se sentou, e por um segundo, a compreensão saiu livre. Quase não a reconheci. Dee olhou para cima, seus olhos se encontraram com os meus. —Pensei que você deveria estar vigiando-a? — Disse.           
 Ela deu de ombros.  — Ela não vai a lugar nenhum tão cedo. Dawson a nocauteou até na próxima semana, acredito. A parte de atrás de meu pescoço ficou tensa.  —Assim ninguém está com ela?
—Realmente não sei. —Franziu o cenho para suas unhas— E realmente não me importo. Fiquei olhando-a um momento, palavras impensáveis se formaram em meus lábios, mas as afastei.  —Surpreende-me que não tenha falado sobre Beth. Ela arqueou uma sobrancelha.  —Beth é fraca, mais fraca que Katy. Provavelmente teria escapado no segundo que nos visse, caído, e matando-se, levando Dawson no processo. Acredito que temos que mantê-la em segredo pelo bem de Dawson. — Você vai mentir para Rolland? —Já não estamos mentindo para ele? Obviamente Dawson está mantendo esse pequeno segredo profundamente enterrado, assim como você, e eu também. Não sabem a respeito de Beth e não sabiam nada de Kat até pouco tempo atrás. A pressão se fechou sobre meu peito, e a obriguei a sair de meu sistema enquanto Dee inclinava a cabeça para um lado para me olhar.  —Se pensar que é o melhor. —Penso —respondi com frieza. Não havia nada mais a dizer, assim girei para a porta.  —Você vai para ela. Eu parei, mas não me virei.  —Então? —Por que você faria?— Ela perguntou. —Se a ferida se infectar e ela morrer, bom, já sabe onde me deixa isso. O tilintar da risada de Dee me lembrou os pedaços de gelo que caíam do teto do alpendre ao redor da nossa casa durante o inverno.  —Desde quando os híbridos têm feridas infectadas? —Os híbridos não se resfriam ou têm cânceres, Dee, mas quem sabe o que um buraco carbonizado em sua carne faz? Você sim? —Ah, isso é uma espécie de bom ponto, mas… Virei para ela, minhas mãos apertadas aos lados. —O que está tentando dizer? Seus lábios se curvaram.  —A pior coisa que poderia acontecer é que seu braço apodrecesse.
Olhei-a fixamente. Inclinando a cabeça para trás, pôs-se a rir enquanto juntava suas mãos.  —Devia ver sua cara. Olha, tudo o que eu estou tentando dizer é que parece que há outra razão pela qual você quer ir vê-la. Um músculo contraiu-se se movendo de debaixo do meu olho para o meu queixo.  —Você estava certa mais cedo. Ela franziu o cenho.  —Huh?             Deixei que o tipo de sorriso que era meu fazia uma eternidade puxasse meus lábios.  —Pensando com um tipo diferente de cabeça. —Eca! —Seu nariz se franziu— Deus, sim, não preciso saber mais. Adeus. Piscando um olho para ela, girei e saí da sala. Dawson já não estava no átrio, e eu não gostava de não ter nem ideia de onde estava ou que fazia. Nada bom pode sair disso, mas eu realmente não tinha as células do cérebro para lidar com isso em cima do que esperava no andar de cima. Eu não havia trazido-a até aqui. Dawson o fez, e não tinha estado com ele quando a levou para cima, mas sabia onde ela estava sem perguntar. Terceiro andar. Último quarto à direita. Fotos emolduradas do verdadeiro prefeito Rolland Slone e sua família adornavam a escada, uma bonita esposa loira e dois filhos pequenos de dez anos. Não tinha visto a esposa ou as crianças quando chegamos aqui. A última foto no patamar do segundo andar estava quebrada, manchada de sangre seco. Segui adiante. Meus passos eram mais rápidos do que pretendia, mas os andares superiores se encontravam virtualmente vazios, e enquanto caminhava pelo amplo corredor com pinturas de lagos dos arredores da cidade que cobriam as paredes verdefloresta, o zumbido e o bate-papo se desvaneceu até que quase parecia como se fosse só eu em minha cabeça. Quase. Passando uma mão pelo cabelo, deixei escapar uma respiração irregular que imediatamente se converteu em uma rápida maldição quando vi a última porta. Estava aberta.
Dee a deixou dessa maneira? Possivelmente. Minha mão caiu a meu lado enquanto me dirigia para a porta. Meu coração martelou contra minhas costelas quando estendi a mão, empurrando para abri-la. Luz anormalmente brilhante se derramou no corredor. Um Luxen estava no quarto com ela, inclinando-se sobre a cama, sua forma bloqueando-a completamente. Não havia um único pensamento em minha cabeça.                                    
CAPÍTULO 4
As bordas de minha visão se tingiram de vermelho, e como uma serpente zangada pronta para atacar, saí correndo para o outro lado do quarto quando o Luxen sentiu minha presença e se endireitou. Girou-se trocando à forma humana que tinha adotado —um homem perto dos vinte anos. Acredito que se chamava Quincy. Não que me importasse uma merda seu nome. — Você não deveria… Meu punho bateu no espaço justo debaixo das costelas, dobrando-o. Antes que ele pudesse cair novamente na cama, agarrei-o pelos ombros e o joguei para o lado. Quincy ricocheteou na parede, o impacto sacudindo os quadros emoldurados pendurados nesta. Seus olhos azuis cintilaram branco, mas avancei pata frente, dando murros em seus ombros, açoitando-o de volta à parede outra vez. Aproximei-me ameaçadoramente para seu rosto.  — O que estava fazendo aqui? Os lábios de Quincy puxaram para trás sobre seus dentes.  — Eu não tenho que responder a você. — Se você não quiser saber qual é a sensação de ter sua pele humana arrancada, uma faixa de cada vez— eu respondi, meus dedos perfurando através da camisa que ele usava — você vai. Ele riu. — Você não me assusta. Fúria girou através de mim, misturando-se com frustração e uma puta tormenta de outras mil coisas. Não queria nada mais que dar uma surra no idiota.  —Você deveria estar. E se você chegar perto dela novamente, se você sequer olhar em sua direção ou respirar sobre ela, eu vou te matar.  — Por quê? — Seu olhar começou a se mover sobre o meu ombro, em direção à cama. Segurei seu queixo, forçando seus olhos nos meus. Sua forma brilhava. — Você está protegendo-a? Eu posso sentir que ela não é apenas um ser humano, mas ela não é uma de nós. 
—Nada disso é realmente importante. —Sua pele e osso enterrados sob meu domínio sobre seu queixo. Ele livrou-se do meu alcance. Rindo, ele inclinou sua cabeça contra a parede.  —Você esteve com os seres humanos por muito tempo. É isso aí. Você é muito humano. E você acha que eu não vejo? Que os outros não notaram isso?             Meus lábios se curvaram em um frio sorriso.  —Tem que ser um tipo especial de estúpido se acha que ter sido criado na Terra me impedirá de te matar. Se afaste dela e de minha família. Quincy engoliu em seco quando ele encontrou meu olhar. Tudo o que ele viu no meu olhar o fez recuar. Meu sorriso se estendeu e o resplendor branco saiu de seus olhos.  —Contarei ao Rolland —disse entre dentes. Me afastando dele, dei tapinhas em sua bochecha. —Faça isso. Ele hesitou por um momento, e então ele afastou-se da parede. Espreitando através do quarto, foi, e não olhou atrás para essa cama. Nenhuma só vez. O cara sabia melhor agora. Agitando minha mão, vi a porta fechar-se lentamente. O estalo da fechadura trovejou através de minhas veias. Fechar a porta não tinha sentido em uma casa cheia de Luxen, mas era uma coisa tão humana de fazer. Fechando os olhos, passei as mãos pelo rosto, repentinamente exausto a um nível até os ossos. Vir aqui não poderia ter sido a mais inteligente de todas minhas ideias, mas não havia maneira de que não pudesse fazer isso. A partir do momento que eu tinha voltado para a casa, imaginei este quarto, e a tentação era tão poderosa quanto a força de minha própria espécie. Eu não podia sequer pensar seu nome. Meus muros caíram e eu tentei manter meus pensamentos vazios, mas quando me virei em direção à cama, foi como um soco no estômago. Eu não podia mover-me ou respirar. Eu fiquei ali, como se suspenso no ar. Dois dias se passaram desde a última vez que a vi, mas parecia uma eternidade. E tinha sido uma vida inteira —em um mundo diferente com um futuro diferente. Olhando-a, lembrei-me de entrar em Área 51 e encontrá-la dormindo depois de meses de separação, mas as coisas tinham sido estranhas depois —melhores,
inclusive. Quase ri ao pensar que estar sob o controle do Daedalus era um resultado mais feliz para ela, mas era verdade. Estava deitada de costas, e era óbvio que quando alguém que não foi Dawson a trouxe até aqui, ninguém deu atenção alguma para seu conforto. Só a tinham deixado cair ali, como um saco de roupa suja. Ela teve sorte que tinha colocado-a em uma cama em vez do chão. Continuava calçada com os tênis. Uma perna estava dobrada e escondida debaixo da outra. Os joelhos de seu jeans azuis estavam manchadas com sangue seco. Seu braço direito dobrado nos cotovelos e o resto descansando contra a parte inferior de seu estômago. A camiseta de grande tamanho —minha camiseta—, subiu, expondo uma olhada de pálida pele. Minhas mãos se crisparam, tão fortemente que meus nódulos doeram. O que Quincy esteve fazendo neste quarto? Foi a curiosidade o que tinha atraído o Luxen? Duvidava que tivesse visto ou sentido um híbrido antes, e estes Luxen recém-chegados deixariam Curious George com vergonha. Mas era outra coisa? Cristo. Não podia nem sequer pensar em todas as possibilidades, porque nenhuma delas era boa. Se Rolland continuasse valorizando minha presença, ela se manteria com vida, mas depois de passar dois dias com eles, sabia que havia coisas piores que a morte. Eu estava em pé ao lado da cama, sem perceber que eu mesmo me movi. Eu não deveria estar aqui; este era o último lugar que eu deveria estar, mas em vez de me virar como se eu tivesse duas células funcionando no cérebro, eu me sentei ao lado dela, com os olhos grudados na mão descansando um pouco acima do umbigo. Sua mão estava tão pálida, tão pequena. Tão frágil, apesar do fato de que ela não era uma humana comum. Meu olhar viajou por seu braço. A camisa estava rasgada e o material estava carbonizado sobre o ombro, o azul marinho escuro com sangue. Inclinei-me sobre ela, colocando uma mão ao lado da dela ainda no quadril. O sangue havia vazado no edredom branco e lençóis. Não é estranho que sua pele estivesse tão desbotada. Meu coração pulsava com força enquanto meu olhar se arrastava pelo longo comprimento do seu cabelo castanho que se derramava sobre o travesseiro.
Meus dedos queimavam para tocar o cabelo dela, para tocá-la, mas todos os músculos travaram em meu corpo quando meu olhar se deteve em seus lábios entreabertos. Muitas lembranças bateram contra mim, e lutei através delas, meu pulso palpitando alto. A única coisa que parecia diminuir o barulho em minhas veias e o endurecimento de todos os músculos de meu corpo era o golpe escarlate chocante sob o canto de seu lábio. Sangue. Arrastei meus olhos, sentindo a pressão reprimir abaixo em meu peito enquanto olhava o feio hematoma de cor vermelho-púrpura ao longo de sua têmpora. Quando Dawson a tinha atingido, ela caiu, batendo a cabeça no chão, e o som ainda ressoava em meus pensamentos, como se me provocando. A verdade é que iria me assombrar. Para sempre. Seus cílios eram grossos estavam imóveis, a pele debaixo dos olhos sombreada. Havia outra contusão ao longo da linha do seu cabelo, mas ela ainda era a mais… Cortei o pensamento, fechando os olhos e exalando lentamente. Por alguma razão, vi o rosto de Archer, sua expressão enquanto nossos olhares se encontraram no segundo depois que ela caiu. No meio do caos e da confusão sangrenta, tinha sido como se o tempo tivesse parado. Então Archer tinha caminhado em sua direção, e eu... eu queria deixá-la ir. Eu sabia que tinha que deixá-la ir, mas alguém a tinha agarrado. E eu não o impedi. Abri os olhos e vi meu braço tremer enquanto levantava sua mão direita. No momento em que nossa carne se encontrou, uma carga saltou de sua pele à minha, me agitando. Com cuidado, puxei para baixo a barra de sua camisa, meus nódulos roçando através de seu estômago enquanto a cobria, o contato breve, mas tortuoso. Então a acariciei, e estava malditamente perdido. Meus dedos vagaram sobre sua fria bochecha, roçando uma mecha de suave cabelo em seu rosto. Não sei quanto tempo fiquei ali sentado, seguindo a linha de sua mandíbula e a curva de seus lábios, e realmente não estava consciente da cura, mas os hematomas se desvaneceram de sua pele e sabia que a hemorragia parou. Queria levantá-la, limpá-la, mas isso seria demais.
Já poderia ser demais, e depois? A cor agora infundia suas bochechas, um rubor rosa doce se espalhando por todo o rosto, e eu percebi que ela iria acordar em breve. Eu não poderia estar aqui. Delicadamente, tirei seus sapatos e, em seguida, levantei suas pernas, colocando-as sob o cobertor. Havia mais que poderia ter sido feito, deveria ter sido feito, mas isso... isso tinha que ser suficiente. Fechando os olhos, eu abaixei a cabeça, inalando o perfume doce, único que era apenas dela, e então beijei seus lábios entreabertos.  Sensações correram sobre mim, um choque de algo perto de ser descrito como sublime, e eu me forcei a levantar a cabeça e ficar de pé e ir para bem longe dela antes que fosse tarde demais, apesar de que uma voz escura sussurrou que provavelmente já era. Havia centenas de formas em que tudo isto poderia desenvolver-se, e não podia ver um final feliz em nenhuma delas.
Tive que lutar através da névoa da inconsciência e meu cérebro demorou para ficar on line. Permaneci imóvel por vários momentos, estava um pouco surpresa pelo fato de que não sentia nenhuma dor grave. Havia uma dor incômoda no meu ombro, e em algum lugar profundo atrás dos meus olhos, havia um leve latejar, mas eu esperava mais. Confusão rodou dentro de mim enquanto retornava àqueles preciosos minutos antes de aterrissar de cabeça em la-la-lândia. A merda tinha atingido o ventilador proverbial no mercado e havia Luxen por todos os lados tomando o DNA humano a um ritmo tão rápido que tinha feito algo nos humanos, matando-os. Rezei para que essa garotinha tenha ficado em segurança, mas, onde era seguro? Tinham estado por toda parte e… Meu coração se acelerou enquanto recordei sentir Daemon, vendo-o em sua verdadeira forma, sabendo que ele tinha me visto, mas então tinha desaparecido e… e Dawson tinha me atingido com uma explosão da Source. Por que teria feito isso? Melhor ainda, por que Daemon não tinha vindo a mim?
Nos confins da minha consciência, havia um sussurro insidioso que descrevia a resposta. Luc e Archer tinham suspeitado tanto, mas eu não podia me deixar acreditar que estavam certos e que o nosso maior medo se tornou realidade. Só de pensar que Daemon poderia ser diferente agora, poderia ser um deles, o que eles realmente eram... tornou-se como se um punho houvesse tomado meu coração. Respirando fundo, eu abri os olhos e logo ofeguei assustada, sobressaltando tão rápido que minha cabeça parecia que iria cair dos meus ombros. Dois olhos cor esmeralda me devolveram o olhar, emoldurado com pesados cílios negros. De repente fui lançada de volta ao verão anterior, à manhã seguinte em que tinha descoberto que Daemon Black não era muito humano —quando ele tinha congelado o tempo, parando um caminhão de me converter em um animal atropelado. Tinha despertado para encontrar Dee me olhando. Assim como agora. Situada aos pés da cama, Dee estava sentada com as pernas recolhidas contra o peito e o queixo apoiado nos joelhos. Uma cortina de cabelo escuro lhe caía sobre os ombros em cachos grossos. Hoje em dia era, provavelmente, a mulher mais bonita que já vi na vida real, assim como Ash, mas Ash… já não estava conosco. Mas Dee estava aqui. O alívio afrouxou os tensos músculos em minhas costas enquanto a olhava, a garota que se converteu em minha melhor amiga, continuava sendo minha melhor amiga, inclusive depois da tragédia com Adam. Dee estava aqui, e tinha que significar algo bom, algo grande. Comecei a me mover para ela, deixando cair o cobertor até a cintura, mas parei. Dee olhava para mim, sem piscar, da mesma maneira que ela tinha feito naquela manhã. Mas algo estava errado com ela.             Com a garganta seca, engoli.  —Dee? Levantou uma sobrancelha perfeitamente formada. —Katy?
A inquietação aumentou ao ouvir o som de sua voz. Era diferente, mais fria e plana. O instinto me advertiu ficar para trás, apesar de que isso não tinha sentido para mim. —Eu estava começando a me perguntar se você jamais acordaria. — disse ela, soltando os braços em torno de suas pernas. —Você dorme como uma morta. Pisquei lentamente, olhando em volta do quarto. Eu não reconheci as paredes verdes ou as fotos emolduradas de paisagens de tirar o fôlego. Nenhum dos móveis parecia familiar. Nem Dee. Puxando as pernas para cima, para longe dela, eu tentei engolir de novo quando olhei para a porta fechada, perto de um grande armário de carvalho.  —Eu estou... Estou com tanta sede. —E? Meu olhar se moveu para ela, reagindo à nitidez em seu tom. —O que? —Seus olhos rodaram enquanto ela desdobrava suas pernas longas e esbeltas. —Você espera que eu vá te buscar uma bebida? — Ela riu, e meus olhos se arregalaram com a estranheza do som. —Sim, pense novamente. Você não vai morrer de sede em breve.  Estupefata com sua atitude, tudo o que eu podia fazer era olhar para ela quando ela se levantou e alisou suas mãos para baixo aos lados das coxas vestidas de jeans escuros. Possivelmente havia realmente prejudicado meu cérebro no mercado, ou despertado em um universo alternativo onde a doce Desse tinha se convertido em uma mal-intencionada Dee. Ela me encarou, seus olhos se estreitando de uma forma que me fez lembrar da mulher no supermercado após o Luxen ter arrancado seu corpo.  —Você cheira a sangue e suor. Minhas sobrancelhas se ergueram ao topo de minha testa. —É algo repulsivo —parou, enrugando seu nariz. —Só estou dizendo. Oookay. Eu caí de costas contra a cabeceira da cama.  —O que há de errado com você? —Errado comigo? — Dee riu novamente. —Pela primeira vez, não há nada de errado comigo. Olhei para ela. 
—Eu ... eu não entendo. —Claro que você entende. Você não é estúpida. E sabe o que mais você não
é? 
—O quê? — Eu sussurrei. Os lábios de Dee se curvaram em um sorriso cruel, quase zombeteiro, que transferiu sua beleza em algo venenoso.  —Você também, é... Ela se lançou em minha direção, sua mão subindo, e eu reagi sem pensar. Meu braço direito se ergueu, e eu peguei seu pulso antes de sua palma se conectar com o meu rosto.             —Você também não é fraca —— disse ela, facilmente puxando o braço livre do meu alcance. Recuando, colocou suas mãos em seus quadris magros. — Assim pode continuar sentada ai e me olhar como se fosse meio estúpida, mas não tenho muito tempo para colocá-la em dia, especialmente desde que parece que Daemon a curou. Abalada pela sua atitude e percepção de que eu tinha sido atingida pela Source em duas ocasiões, e de que provavelmente deveria me preocupar com isso, baixei o olhar a minha mão. Linhas de sangue seco arruinavam minha palma. Levantei a mão a meu ombro esquerdo. A camisa estava queimada e a carne tenra, mas estava inteiro. Levantei o olhar.  —Ele… ele esteve aqui? —Esteve. Meu coração bateu mais fortemente, e logo me movi. Esquecendo Dee e sua má atitude ou o fato de que, aparentemente, eu fedia. Precisava ver Daemon. Lançando fora os lençóis, passei as pernas pela borda da cama. Sem sapatos. Sem meias. O que? Não importava. —Onde ele está agora? —Realmente não sei. —Com um suspiro, afastou a cortina cobrindo a janela e olhou para fora— Mas a última vez que o vi, dirigia-se a um dos quartos. — A cortina se deslizou de seus dedos, movendo-se à deriva enquanto me olhava com um sorriso arrepiante— Não estava sozinho. Parei.
— Sadi o estava seguindo. Algo que tem feito rapidamente um hábito. Provavelmente está no processo de tentar molestá-lo — fez uma pausa, dando batidinhas com o dedo no queixo — Por outra parte, não acredito que realmente seja molestar quando se deseja. Pequenas bolas de gelo se formaram em meu estômago.  —Sadi? —Está certo. Você não a conhece. Tenho certeza que você vai conhecer, no entanto.  Eu balancei minha cabeça, quando todo o meu ser se rebelou contra o que ela estava insinuando.  —Não. De jeito nenhum. —Eu estava com as pernas trêmulas. —Eu não sei qual é seu problema ou o que aconteceu com você, mas Daemon nunca faria algo assim. Nunca mais.  O olhar do Dee se aguçou enquanto me olhava como se não valesse a pena o chão que ela pisava.  — As coisas não são do jeito que costumavam ser, Katy. Quanto mais cedo você começar com o programa melhor, porque agora, você é seu elo mais fraco. Isso é tudo que você é para ele. — Deu um passo calculado para frente, e me mantive em meu lugar. — A única razão que você está viva agora é por causa dele. E não porque ele te ama, porque esse navio navegou ao grande oceano azul no momento em que abrimos os olhos. Graças a Deus. Estremeci ante suas palavras, e o gelo se fez maior, espalhando-se em minhas veias. —E já era hora —continuou, inclinando a cabeça para um lado— Desde que chegou à sua vida, à nossa vida, tudo se danificou. Se pudesse acabar com você neste momento, sem matá-lo, faria. Deleitaria-me. Assim o faria. Você não é nada para nós mais, ou para ele. Nada mais do que um problema que precisamos descobrir como lidar.              Eu respirei fundo, o que não pareceu me fazer nenhum bem. Um nó se formou na minha garganta, o que tornou difícil de engolir, e eu disse a mim mesma que não importava o que Dee estava dizendo. Algo estava definitivamente errado com ela, porque Daemon não só gostava de mim; ele estava apaixonado por mim, e ele faria qualquer coisa para estar comigo. Assim como eu faria por ele, e nada
poderia mudar isso. O compromisso que tínhamos feito um para o outro em Vegas podia não ter sido tecnicamente legal, mas ele tinha sido real para mim, para nós. Mas suas palavras... elas ainda cortavam pior do que qualquer lâmina poderia infligir. Os cílios de Dee baixaram quando seu rosto ficou tenso.  —Então…? Abri a boca, mas a bola de emoção me interrompeu por um momento, e quando falei, minha voz era rouca. —O que quer que diga a isso? Ela deu de ombros.  —Em realidade nada, mas tenho que te levar para vê-lo. —Daemon? —Estique-me. —Não. — Ela riu, o som leve e arejado, e por um momento, parecia com a Dee que eu conhecia. — Não a ele. Quando não deu mais detalhe e não se moveu, estalou a língua em sinal de frustração e logo apareceu frente a mim. Agarrou meu braço fortemente, virtualmente me arrasando para fora do quarto a um amplo corredor. —Vamos —insistiu, impaciente. Lutei para seguir seu ritmo de pernas longas. Descalça e esgotada e mais que confusa, sentia-me mais humana que híbrida, mas quando chegamos ao patamar, quase tinha tirado meu braço de meu corpo e tinha meu ombro dolorido ferozmente. —Posso caminhar. Não tem que me arrastar. —Atirei e me soltei, sabendo que simplesmente me deixava. — Eu posso… —A foto emoldurada de uma família atrativa na escada me chamou a atenção. O vidro estava quebrado e havia algo escuro e oxidado manchado através dela. Meu estômago se revolveu. — Pode simplesmente ficar aqui? —Seus olhos se estreitaram em mim— Se não se mover, a jogarei pelas escadas. Vai doer. Você pode quebrar o pescoço. São três níveis. Alguém vai te curar. Ou talvez nós vamos deixá-la assim, viva, mas incapaz... —Entendo seu ponto —a espetei de volta, respirando profundamente, para assim não tentar empurrá-la pelas escadas.
—Bem —ela cantarolou, sorrindo. Por alguma razão, foi nesse momento, enquanto tentava reconciliar à garota que tinha estado na cozinha comigo fazia uns dias fazendo espaguetes com esta desagradável criatura diante de mim, que me lembrei de Archer.  —O que aconteceu…? — Eu parei de repente, e provavelmente com razão, com medo de trazer qualquer coisa que levasse de volta para quem permaneceu na cabine. —Archer? Ele escapou. — Começou a descer os degraus. Olhei para ela de volta, o meu coração a trabalhar horas extras. —Estou falando sério— ela chamou. —Eu vou jogá-lo para baixo destes malditos degraus.              Levei um segundo para pensar na ideia de dar um chute na nuca dela. A única coisa que me deteve foi o fato de que estava convencida de que tinha que ter um inseto alienígena unido a ela em alguma parte que mudou sua personalidade e sua atitude não era sua culpa. Descendo as escadas, obriguei a meu cérebro que começasse a trabalhar corretamente enquanto me precavia de meu entorno. Encontrava-me em uma casa grande, dessas em que a opulência seria invejada. Havia um monte de quartos e salas, e quando chegamos ao segundo patamar, eu podia ver para dentro do hall de entrada, iluminado por um lustre de cristal. Como, cristais reais. Mas mais abaixo também podia ver Luxen, todos em formas humanas. Nenhum deles parecia familiar para mim. Pelo menos estes Luxen descobriram a utilidade da roupa, mas enquanto os examinava, percebi que não havia nenhum dos outros trigêmeos Blacks. Cada um deles era diferente. Tinha os dedos intumescidos pela força com a que eu apertava minhas mãos. O Luxen me olhou da mesma maneira como Dee o fazia. Alguns se separaram da parede quando passávamos, inclinando suas cabeças nessa forma estranha que recordava a uma serpente. Outro se levantou de uma poltrona de couro; todos eles pareciam estar entre vinte e quarenta anos, apesar de que ninguém sabia sua idade verdadeira. O que eu tinha visto no mercado não tinha sido nada como Daemon e Dee me explicaram. O que os Luxen fizeram tinha sido diferente. Uma mulher de cabelo claro pela cadeira de couro zombou, e parecia que queria saltar da mesa pesada de carvalho, colocar-se escarranchada em meus
ombros, e me arrancar a cabeça. Tão duro como era, obriguei-me a ter o queixo erguido, apesar de que meu coração pulsava tão rápido que pensei que adoeceria. Caminhamos através de um longo átrio, e da escuridão além das paredes de vidro, percebi que era noite lá fora. Ao chegar na metade, senti-o. Um formigamento fez cócegas em todo meu pescoço. Meu coração parou e, em seguida, pulou uma batida. Daemon estava ali, atrás daquelas portas duplas. Eu sabia disso, e a perigosa esperança e a incerteza lutaram dentro de mim. As portas se abriram antes que as alcançássemos, revelando o tipo de escritório que nunca tinha visto em uma casa antes, e meu olhar foi atraído para uma mesa no meio da sala. Um homem se sentava detrás da mesma com um sorriso, mas o mais impactante era o fato de que o tinha visto antes, fazia uns segundos. Ele era o homem da foto quebrada, mas sabia que não era humano. Seus olhos brilhavam de um azul brilhante antinatural. Levantou-se de maneira fluída ao momento que entramos no escritório, as portas se fecharam detrás de nós, mas minha atenção se desviou imediatamente. Eu não me importava com qualquer um deles. De pé ao lado da ruiva, à direita do homem atrás da mesa, estava Daemon.             Meu coração fez algo desagradável em meu peito quando uma onda de arrepios dançaram sobre a minha pele. Nossos olhos se encontraram, e eu me senti tonta, mais uma vez. Tanto se elevou dentro de mim quando caminhei para ele… minha língua formando seu nome, mas minha voz se foi. Nossos olhares se encontraram por um segundo mais e logo ele… ele afastou o olhar, seu perfil estoico e em branco. Meu coração pulsando no peito, olhei-o fixamente. —Daemon? — disse, e quando não respondeu, quando olhou o homem atrás da mesa como se… como se ele estivesse entediado com tudo, eu tentei de novo — Daemon? Como a noite em que os Luxen chegaram, não houve resposta.
CAPÍTULO 5
Eu ainda olhava para Daemon, completamente ciente de que todos os outros, exceto ele, estava me observando. Intimamente. Mas por que ele não olhava para mim? Um pânico afiado arranhou minhas entranhas. Não. Isso não podia estar acontecendo. De jeito nenhum.  Meu corpo estava em movimento antes mesmo de saber o que eu estava fazendo. Com o canto do meu olho, eu vi Dee sacudir a cabeça e um dos homens Luxen passou a frente, mas eu fui impulsionada por uma necessidade inerente de provar que meus piores temores não estavam se tornando realidade.  Afinal de contas, ele havia me curado, mas depois eu pensei no que Dee havia dito, de como Dee se comportou comigo. E se Daemon estivesse como ela? Transformado em algo tão estranho e frio? Ele teria me curado apenas para certificar-se de que ele estivesse bem.  Eu ainda não havia parado.  Por favor, eu pensei mais uma vez. Por favor. Por favor. Por favor.  Com as pernas trêmulas, eu cruzei a sala comprida, e mesmo que Daemon não parecesse mesmo reconhecer minha existência, eu andei até ele, minhas mãos tremendo enquanto eu colocava no peito dele.  — Daemon? —Eu sussurrei, com a voz rouca.  Sua cabeça girou, e de repente ele olhou para mim. Nossos olhares se chocaram mais uma vez, e por um segundo eu vi algo tão cru, tão doloroso em seus lindos olhos. E então suas mãos grandes envolveram meus braços. O contato queimou através da camisa que eu usava, marcando minha pele, e eu pensei - eu esperava- que ele me puxaria contra ele, que ele iria me abraçar, e mesmo que nada ficasse bem, seria melhor.  As mãos de Daemon tremeram em torno de meus braços, e eu fiquei em uma respiração instável.  Seus olhos brilharam de um verde intenso quando ele colocou-me para longe dele, me deixando ao menos a um metro de distância. Olhei para ele, algo profundo em meu peito se quebrou. 
— Daemon? Ele não disse nada quando ele me soltou, um dedo de cada vez, ao que parece, e as suas mãos escorregaram por meus braços. Ele deu um passo para trás, voltando sua atenção para o homem atrás da mesa.  — Então... estranho — murmurou a ruiva, sorrindo.  Eu estava presa ao chão, com a dor da rejeição queimando minha pele, rasgando minhas entranhas como se eu fosse nada mais do que um papel marché.  — Eu acho que esperávamos mais deste encontro. — o Luxen atrás da mesa disse, sua voz soando com diversão. — O que você acha, Daemon? Um ombro subiu e desceu de forma negligente.  — Eu não acho qualquer coisa. Minha boca se abriu, mas não havia palavras. Sua voz, seu tom de voz, não era como sua irmã, mas como tinha sido quando nos conhecemos. Ele costumava falar comigo com irritação mal controlada, onde um fino véu de tolerância escorria de cada palavra.  A rachadura do meu peito se aprofundou.  Pela centésima vez, desde que os Luxen chegaram, o aviso do sargento Dasher voltou para mim. De que lado ficaria Daemon e sua família? Um frio percorreu minha espinha. Eu passei meus braços em volta da minha cintura, incapaz de processar o que realmente estava acontecendo.  — E você? — perguntou o homem. Quando ninguém respondeu, ele tentou novamente. — Katy? Eu fui forçada a olhar para ele, e eu queria recuar a partir de seu olhar.  — O quê? — Eu estava além de preocupada quando minha voz rompeu nessa única palavra.  O homem sorriu enquanto caminhava ao redor da mesa. Meu olhar vacilou trocando entre Daemon, quando ele se moveu, chamando a atenção da bela ruiva.  — Você estava esperando uma saudação mais pessoal? — perguntou. — Talvez algo mais íntimo? Eu não tinha ideia de como responder. Eu senti como se tivesse caído no buraco do coelho, e avisos estavam disparando à esquerda e à direita. Algo primordial dentro de mim reconheceu que eu estava cercada por predadores.  Completamente. 
— Eu não sei o que fazer... o que pensar. — Havia uma linha de lágrimas queimando horrivelmente por minha garganta.  — Isso tudo é irreconhecível para você, eu imagino. O mundo inteiro como você conhece está à beira de grandes mudanças, e você está aqui e nem sequer sabe o meu nome. —O homem sorriu de forma tão amplamente, eu me perguntei se ele me machucaria. — Você pode me chamar de Rolland. Então ele estendeu a mão.  Meu olhar caiu sobre ela e eu não fiz nenhuma tentativa de segurá-la.  Rolland riu quando ele se virou e caminhou de volta para a mesa.  — Então, você é uma híbrida? Mutada e ligada a ele em um nível tão intenso que, se um de vocês morre, o mesmo acontece com o outro? Sua pergunta me pegou de surpresa, mas fiquei quieta.  Ele se sentou na beirada da mesa.  — Você é realmente a primeira híbrida que já vi. — Ela realmente não é nada de especial. —A ruiva zombou. — Francamente, ela está um pouco suja, como um animal imundo. Como a estúpida que eu era, meu rosto se aqueceu, porque eu estava imunda, e Daemon tinha acabado de me rejeitar fisicamente. Meu orgulho, meu tudo, foram oficialmente feridos.  Rolland riu.  — Ela teve um dia difícil, Sadi. Ao ouvir seu nome, cada músculo do meu corpo ficou tenso, e meu olhar se virou de volta para ela. Essa era Sadi? A Luxen que Dee disse que estava tentando molestar Daemon, meu Daemon? A raiva me socou no meio da confusão e da dor. É claro que teria que ser uma puta maldita modelo falando e não uma bruxa.  — Dia difícil ou não, eu não posso imagina-la melhor limpa. —Sadi olhou para Daemon quando ela colocou a mão em seu peito. —Estou um pouco desapontada. — Você está? —Daemon respondeu.  Cada pelo de meu corpo se arrepiou enquanto desdobrava os braços. — Sim — ela ronronou. — Eu realmente acho que você pode fazer melhor. Coisas melhores. —Enquanto ela falava, ela passou uma unha pintada de vermelho
abaixo do centro do seu peito, sobre seu abdômen, indo direto para o botão de sua calça jeans.  E oh, inferno, com ele não.  — Tire as mãos de cima dele. A cabeça de Sadi se virou em minha direção. — Desculpe? — Eu acho que guaguejei. — Eu dei um passo para a frente. — Mas parece que você precisa ouvir novamente. Tire suas mãos malditas fora dele. Um lado de seus lábios vermelhos se curvaram.  — O que você vai me fazer?  No fundo da minha mente, eu estava ciente de que Sadi não se moveu ou falou como os outros Luxen. Sua pose era muito humana, mas, em seguida, o pensamento foi rapidamente expulso quando Daemon se abaixou e puxou a mão.  — Pare com isso — ele murmurou, a voz ficando baixa de uma forma provocante.  Eu vi vermelho.  Os quadros na parede começaram a sacudir e os papéis sobre a mesa começaram a levantar-se. Estática correu sobre minha pele. Eu estava prestes de dar uma de Beth aqui, a poucos segundos de flutuar para o teto e arrancar cada fio ruivo...  — E você pare — disse Daemon, mas a provocação havia ido embora de suas palavras. Havia uma advertência que me deixou sem ar. As pinturas se assentaram enquanto eu o olhava boquiaberta. Levar um tapa na cara teria sido melhor. — Incrível — disse Rolland, olhando-me como eu imaginava que todos os cientistas da Daedalus tinha feito quando eles entraram em contato com o Luxen. — Você adaptou muitas de suas habilidades. Incrível e ainda preocupante.  — Eu tenho que concordar com isso. — disse um dos homens Luxen.  Rolland inclinou a cabeça.  —Somos uma forma de vida mais elevada, e se misturar intimamente com algo como você é... bem, uma abominação das grandes. Você não deveria existir. Seja qual for a lesão que você sofreu, deveria ter morrido. Um músculo começou a palpitar ao longo do queixo de Daemon. 
— Afinal de contas, é a sobrevivência do mais apto, não é isso que os seres humanos dizem? Você não estava apta a sobreviver sem a nossa interferência.  Bem, isso foi todo tipo de insulto.  — E ainda assim, não pode ser desfeita, pode? —Seu olhar piscou para Daemon. — Há tanta coisa que desconhecemos. Todos nós éramos muito jovens quando o nosso planeta foi destruído e fomos divididos no universo. Nunca estivemos aqui e, aparentemente, muitos dos nosso que residiam na Terra também não sabiam. Muitos Luxen não sabiam sobre híbridos. Daemon não soube até que eu estava mutada, por isso não precisava ser um gênio para que aqueles que morassem na Terra não tivessem ideia. Ele também me fez pensar se eles estavam cientes das fraquezas que existiam aqui, o ônix e os escudos de diamantes? Será que essas coisas existiam em qualquer buraco que eles viveram? Eu duvidava que eles tivessem visto armas PEP, ou algo parecido, que o governo havia criado que poderia detonar um Luxen para outra vida com uma explosão.  — Somos curiosos por natureza. Você sabia? —Perguntou ele, e então deslizou um olhar compreensivo em direção a Daemon. — Tenho certeza de que você sabia. Afinal, não foi isso que o atraiu para ela? Ou haveria algo mais? Os lábios de Daemon formaram uma linha fina, mas se isso fosse uma isca pendendo à frente de seu rosto, ele não pegaria.  — Amo — murmurou Rolland com uma risada.  Dee olhou para o irmão.  — Isso foi antes. — Foi? —Perguntou.  Passou um momento enquanto Daemon sustentava o olhar de Rolland.  — Isso foi antes. A rachadura estrondosa no meu peito deveria ter sido ouvido nas cidades próximas. Eu aspirei uma respiração aguda, e Daemon finalmente olhou para mim. Ele estava com as costas anormalmente endurecidas quando seus olhos encontraram os meus, mas era como se estivesse vendo através de mim.  — Eu me pergunto se isso está realmente no passado — Sadi desafiou, e quando Daemon a ignorou abertamente, suas feições ficaram tensas, tornando-a azeda. 
O cabelo na parte de trás do meu pescoço estava de pé novamente, mas por uma razão muito diferente quando o sorriso de Rolland aumentou.  — Como eu disse, nós somos criaturas curiosas. Quincy? — Ele olhou por cima do ombro, e depois de um momento, o outro homem acenou com a cabeça.  Meus olhos se arregalaram enquanto o outro Luxen caminhava para a frente. Ele não era tão alto quanto Daemon, mas ele era mais largo, e ele caminhava como se estivesse deslizando sobre a água. Quando passou por Daemon, ele enviou-lhe um sorriso zombeteiro.  Dei um passo para trás, minhas mãos abrindo e fechando ao meu lado. Eu não tinha ideia do que esperar de qualquer um deles, mesmo Daemon neste momento. O horror se revolveu em meu estômago. Quincy era largo como um linebacker, e o olhar de seus olhos enviou um torvelinho de vento gelado sobre mim. Meus pés se deslizaram sobre o frio chão de madeira quando a energia fez uma bola em meu estômago. Olhei para Daemon, meu coração batendo. Seus olhos encontraram os meus, quando Quincy parou na minha frente, scom suas notáveis feições rígidas. O sorriso de Quincy me assustou quando ele se inclinou para frente. Saltando para trás, bati no braço dele.  — Não me toque — eu avisei, sentindo uma onda de estática sobre a minha pele.  O sorriso desapareceu do rosto de Quincy quando seus olhos se estreitaram.  — O que é isso? —Perguntou Daemon.  — Estou curioso para saber — disse Rolland, sua voz quase melosa quando seu olhar cintilou sobre Daemon. — Contenha-a.  Meu coração caiu quando meu olhar oscilou entre Daemon e o Luxen. Houve um momento em que Daemon não se mexeu, enquanto olhava para Rolland, e depois girou nos calcanhares. Fiquei rígida, garganta seca, quando ele caminhou para nós.  Ele deu a Quincy um olhar perigoso quando ele andou em torno de mim. No momento em que ele cruzou minhas mãos sobre meus ombros por trás, me segurando no lugar, eu pensei que eu ia vomitar. Literalmente, sobre o Luxen presunçoso diante de mim.
Pressionei-me contra Daemon quando Quincy estendeu a mão para mim mais uma vez, segurando meu queixo com os dedos frios, mas eu não podia fugir. Daemon era um muro inabalável.  Daemon endureceu atrás de mim quando Quincy abaixou a cabeça para que ficássemos ao nível dos olhos. Eu nunca pensei que estaria nesta situação, que ao invés de Daemon me proteger, permitia que um repugnante Luxen se abatesse sobre meu rosto. Não desde esse dia no lago, quando pela primeira vez se abriu e me falou de seu irmão. — Ela parece diferente. — Quincy anunciou, suas mãos deslizando-se por meu pescoço até onde meu pulso pulsava rapidamente. — Não é como os outros seres humanos. Além de detectar algo neles, somos capazes de notá-los pelo tato. — Ele fez uma pausa, com o olhar movendo-se para Daemon. O sorriso do Luxen se crispou quando seus dedos longos e afilados circularam meu pescoço. — Você está com muita raiva. — Sério? —As mãos de Daemon flexionaram em torno de meus braços. — Lembra-se do que eu disse antes? Esta afirmação continua de pé. — É mesmo? —Quincy hesitou, e então ele colocou a mão por cima do meu peito, no mesmo lugar em que vi o Luxen tocar no supermercado. Um ruído surdo reverberou ao longo de minhas costas, e eu não tinha certeza se era de Daemon ou se era eu tremendo muito. As sobrancelhas do Luxen se uniram em concentração, e então ele olhou para Rolland.  — Nada — disse ele. — Eu não posso assimilar seu DNA. Meus olhos se arregalaram em entendimento. Meu Deus, eu tinha visto o que tinha acontecido com os seres humanos após o DNA ser assimilado a um ritmo veloz. Ele teria me matado! E a Daemon, embora neste instante, queria dar um joelhada na virilha dele. Raiva queimou através de mim quando eu retorci em suas mãos, tentando me libertar, porque eu precisava de espaço, mas seu aperto aumentou e as lágrimas ardiam furiosamente em meus olhos.  — Isso é um desenvolvimento interessante — comentou Rolland. — O que mais vocês dois podem fazer? Sabemos que, se um morrer, o outro também. Ela obviamente tem acesso a Source. Há mais alguma coisa? — Ela não fica doente. Tal como nós. —As palavras de Daemon eram curtas, diretas ao ponto. — E ela é rápida e forte.
Eu aspirei uma respiração profunda quando a bolha de algo feio, de traição, enroscou-se em volta do meu coração.  — Notável. — Rolland bateu palmas como se tivéssemos representado a obra “O Lago dos Cisnes”, ao invés de apenas estarmos ali na frente dele.  — E isso é tudo? —Perguntou Sadi, parecendo pouco impressionada.  — Sim. — respondeu Daemon, e meus olhos se arregalaram, mas eu instruí as minhas feições para ficaram em branco.  Prendi a respiração, mas Dee não discordou. Ambos tinham apenas descaradamente mentido por omissão. Havia mais. Quando ele estava em sua forma verdadeira, Daemon e eu nos comunicávamos, assim como ele fazia com os outros Luxen. Eu não sabia o que pensar sobre isso, mas a esperança acendeu no fundo do meu peito. Meu olhar correu para Dee, mas ela estava olhando para a parede, como se houvesse algo incrível acontecendo lá.  O que estava acontecendo aqui? Havia mais... Meus pensamentos caminharam para longe, colidindo impetuosamente quando Quincy, quem nem sequer me olhava, mas observava Daemon, deslizou sua mão por meu peito, diretamente sobre meu seio. Choque percorreu-me, rapidamente seguido por raiva em brasa e desgosto amargo. Cada parte de mim recuou.  De repente, eu estava deslizando pelo piso de madeira e batendo em uma poltrona de couro vazia. Assustada, eu levantei a cabeça e olhei através do meu cabelo emaranhado que tinha caído no meu rosto.  Os dois Luxen travavam uma épica batalha de olhares e frente a mim, Dee já não olhava à parede, mas sim estava focada em seu irmão. A sala estava tão silenciosa que era possível ouvir o soluço de uma mosca.  E então Daemon explodiu como um foguete. 
 
Coléra tinha gosto de uma poça de sangue na parte de trás da minha boca, e eu era incapaz de ver ou pensar além disso. Havia um monte de coisas que eu
poderia lidar, que eu poderia me forçar a tolerar e que eu poderia esperar. Mas ele tocá-la assim, não só cruzou a linha, ele abriu um buraco maldito nele.  Mudando para minha verdadeira forma, senti o rápido bombardeio de outros de minha espécie, suas necessidades e desejos, crescendo em um feroz ciclone, mas minha raiva os afligia. Pegando Quincy um segundo antes que ele pudesse mudar, eu o atirei na parede oposta, mas desta vez com um inferno de muito mais esforço do que quando eu o encontrei em seu quarto.  Corpo diz olá a parede.  Ele bateu nela sem mudar. Gesso rachou e cedeu sob o impacto. Pó branco voou pelo ar. Quincy começou a deslizar pela parede. Essa era a coisa engraçada sobre os Luxen. Eles ainda não tinham percebido o quão fracos eles estavam em suas formas humanas.  Eu estava sobre ele antes de bater no chão.  Batendo o meu punho em seu queixo, eu me alegrava com o estalo de sua cabeça batendo para trás. Nem perto de terminar, levantei-o, e logo virtualmente o passei pela parede, todo o caminho até as vigas de apoio.  Então o soltei.  Quincy desceu, amassado no chão, vacilando entre aceso e apagado como um vagalume esmagado. Líquido azul cintilante saía da sua nuca, e enquanto eu olhava para ele, debatendo sobre se eu deveria ou não lançá-lo como uma bola de futebol através de uma janela próxima, eu percebi o quão silenciosa a sala estava.  Deixando Quincy, ou o que restava dele, eu sai da minha verdadeira forma quando eu me virei. Eu poderia ter ido longe demais com isso, mas não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso agora.  Rolland arqueou uma sobrancelha.  — Bem, então...  Peito subindo e descendo rapidamente, poupei-lhe um olhar rápido antes de voltar-se para onde ela estava. Suas mãos estavam segurando o encosto de uma cadeira enquanto ela olhava para mim, seus olhos cinzentos tão grande e tão arregalados em seu rosto pálido.  Nossos olhares se encontraram, e eu podia dizer pelo olhar aflito em seu rosto que ela não tinha certeza do que fazer com tudo isso. Houve confusão e mágoa e fúria crua derramando dela, sufocando o ar, me sufocando. 
Demorou alguns momentos para me acalmar. Minha respiração estava sob controle quando eu me forcei a virar para onde Rolland estava, encontrando seu olhar curioso.  — Eu lhe disse antes para não tocá-la e que, se ele fizesse, eu o mataria. Eu não sou um mentiroso. O olhar de Sadi se virou para onde Quincy estava.  — Ele não está morto. — Por enquanto. — eu prometi.  Um olhar de expectativa, de ansiedade pura, varreu o rosto de Sadi quando ela molhou o lábio inferior.  — Por que você se importa se ele a toca ou não?  Havia milhares de razões infinitas.  — Ela pertence a mim. —Eu praticamente podia sentir os punhais que ela estava dirigindo em minhas costas, mas eu não olhei para ela. — Ninguém mais. É tão simples quanto isso. Rolland me olhou atentamente, e então ele se afastou da mesa. Endireitandose, bateu palmas.  — Todo mundo. Ouçam. Eu endureci, sabendo que isso poderia ser muito ruim.  — Você. —Ele fez sinal para o outro Luxen. —Leve Quincy daqui. Deixe-me saber se ele acordar. Parte de mim esperava que ele acordasse, para que eu pudesse bater nele novamente, até a morte. Para Sadi, Rolland a imobilizou com um olhar penetrante.  — Leve esta jovem... senhorita aqui e tenha certeza que ela fique limpa e confortável. Oh, inferno não. Abri a boca, mas Sadi disparou para frente, com os olhos brilhando de prazer malicioso.  — Claro. — disse ela, lançando um meio sorriso em minha direção enquanto ela praticamente saltitava ao passar por mim. Eu dei um passo para frente para interceptá-la e fazer bom uso da janela. 
— Você — Rolland dirigiu a mim — vai ficar bem aqui. —Então, para Dee, ele sorriu. — Está tarde. Descobri que ficar nessa forma de deixa incrivelmente com fome. Será que você consegue algo para eu comer? Dee hesitou, mas depois assentiu. Virando-se, ela me lançou um olhar preocupado, enquanto se apressava para fora da sala para cumprir as ordens de Rolland.  Havia uma boa chance de que eu iria bater em alguém mais quando eu observei Sadi forçá-la para fora da sala. A parte de trás do meu pescoço formigava e minha pele se arrepiou quando a porta se fechou atrás delas, deixando-me com Rolland e um cara cujo nome eu me recusei a aprender.  Rolland deu uma volta em torno da mesa e sentou-se.  — Quincy estava bastante descontente com você antes. Disse que você... foi atrás dele porque ele estava no quarto com isso... essa garota. —Inclinando-se para trás na cadeira, ele enganchou uma perna sobre a outra. Ele apontou para a parede danificada. — Não que a sua raiva parece ser um problema no momento.  Dei de ombros.  — Tenho certeza de que ele não é o único. E eu não confio em Sadi com ela. Suas sobrancelhas subiram.  — Não?  — Não  Cruzando as mãos, ele me estudou.  — Eu quero que você responda uma pergunta para mim, Daemon Black, e eu quero uma resposta honesta. Meu queixo doía de quão duro eu estava apertando meus molares. Eu não tinha necessidade de estar nesta sala. Eu precisava estar com Sadi neste momento, mas eu assenti.  — Como eu disse, você é difícil de ler. Não é como seu irmão ou irmã, mas você é diferente. — As pessoas dizem que eu sou especial. Ele riu baixinho.  — O que essa garota significa para você, Daemon? E eu quero uma resposta honesta. Minhas mãos se fecharam em punhos. O tempo foi passando. 
— Ela pertence a mim. — Você já disse isso. Forcei ar em meus pulmões com uma respiração profunda.  — Ela é minha e ela é uma parte de mim. Então, sim, ela significa muito, mas o que eu sinto por ela não muda nada aqui, com você. —Eu encontrei o seu olhar com o meu próprio, inabalável. — Eu apoio o que você está fazendo. — Eu? —Ele riu. — Não é a mim que você deve se reportar. Eu sou apenas um... operário, como você.  Bem, então.  — Você ainda a ama? —Ele perguntou, mudando o assunto. — Você ainda a quer? O que ele estava fazendo era ver se eu ainda tinha alguma emoção humana ou se abandonei todas as emoções desde a sua chegada, ou eu estava em sintonia com a colmeia como o resto deles.  — Eu a quero. — Fisicamente? Com a minha mandíbula doendo ferozmente, eu forcei meu queixo para cima e para baixo.  — Você quer mais do que isso? Eu escolhi minhas palavras com cuidado.  — O que eu quero é uma casa onde minha família fique segura, e só nós podemos nos prover disso. Chegamos primeiro. A cabeça de Rolland inclinou para o lado, seu olhar nunca deixando o meu rosto.     — Nós faremos. E em breve você terá a casa segura para sua família. Isso já está a caminho. Eu queria perguntar exatamente como isto estava a caminho, porque tudo o que eu vi a partir deles até agora foi um monte de morte desagradável.  Um silencio tenso se estendeu entre nós, e então ele sacudiu a mão para a porta.   — Vá fazer o que você precisa fazer, mas por favor, não jogue Sadi contra nada. Ela tem usos que eu poderia querer participar mais tarde.  Para cavalo dado não se olha os dentes, eu me virei e fui para a porta. 
— Oh. E Daemon? Merda. Eu parei, virando-me para ele.  O maldito sorriso estava em seu rosto, o mesmo sorriso que ele tinha usado quando ele se dirigiu ao público no começo do dia no noticiário local. Quando ele disse a cidade, ou o que restava dela, que tudo ficaria bem, que a humanidade iria prevalecer e toda uma porcaria que ele realmente fez soar crível.  — Não me faça me arrepender de não extinguir sua vida na clareira, porque se você é um trataaie — disse ele, entrando em nossa língua nativa — não serei eu de quem deverá temer, mas do senitraaie. Você não só vai perder a sua família, mas aquela menina lá em cima vai sofrer uma morte muito lenta e muito dolorosa, e seu horror será a última coisa que você verá. Inteliaaie?  Virei-me, assentindo novamente.  — Eu não sou um traidor e eu só responderei ao nosso líder. Entendo.  — Bom — ele disse, levantando a mão. Um controle remoto voou da mesa para ele. — Lembre-se. Não arremesse Sadi. Dispensado com o tipo de advertência “mordida no traseiro”, saí do escritório e quase bati direto em minha irmã enquanto eu saía para o átrio. Ela agarrou meu braço, os dedos se enfiando em minha pele.  — Que diabos você estava pensando? — Você não deveria estar fazendo um lanche de fim de noite? Os olhos dela brilharam.  — Você poderia ter conseguido se matar para protegê-la. Olhei para ela por um momento, em busca de algo, qualquer coisa nela, e veio com nada. Tirei delicadamente sua mão.  — Eu não tenho tempo para isso. — Daemon. Ignorando-a, dirigi-me à área de estar e, em seguida, subi dois degraus de cada vez. Quando cheguei ao segundo andar, eu já podia ouvir os gritos vindo do terceiro andar.  Jesus.  Alguma coisa explodiu sobre mim, e arrastei minha bunda até lá. Cheguei a última porta no terceiro andar em menos de um segundo. Abrindo-a, dei uma
olhada no quarto enquanto eu me perguntava o que me impediria de jogar Sadi dali. O quarto estava vazio, mas parecia que um furacão havia passado por lá. A poltrona verde-oliva estava tombada para o lado, uma das pernas de madeira estava quebrada. As cortinas brancas tinham sido puxadas para baixo da janela. Os travesseiros sujos e ensanguentados estavam espalhados pelo chão.  E a camisa que ela estava usando - minha camisa - estava em farrapos rasgada aos pés da cama. Que diabos?  Meu olhar voou contra a porta do banheiro quando ouvi o que parecia ser um corpo saltando dentro dele, e em seguida, um grito explodiu nele. Chutei a porta do banheiro e tudo ficou completamente parado. O banheiro era grande, do tipo que tinha uma banheira e chuveiro separados, mas este ambiente também tinha visto melhores dias. O espelho acima da pia dupla foi quebrado. Várias garrafas abertas estavam derrubadas. Creme branco cobria o chão como uma piscina de leite.  Ela estava na frente da grande banheira, com o cabelo em um emaranhado em torno de seu rosto corado. Olhos cinzentos lançavam fogo enquanto ela estava com as pernas bem abertas. Um filete de sangue escorria de seu nariz. Na mão ela segurava um pedaço irregular de vidro.  E ela estava apenas de sutiã e calça jeans -um sutiã branco com pequenos margaridas amarelas nele. Seu peito arfava com indignação e fúria.  Aparentemente, Sadi tinha levado a coisa da limpeza para um nível totalmente diferente. Meu olhar se arrastou até onde Sadi estava a poucos metros dela, respirando pesadamente. A blusa branca estava rasgada. Botões estourados e desaparecidos. Seu cabelo normalmente penteado parecia que tinha passado por um túnel de vento, mas a melhor parte?  Marcas de unha estavam gravadas ao lado do rosto e o sangue azulavermelhado de Sadi estava escorrendo. Um nível preocupante de orgulho me percorreu. Kitten tinha garras e algo mais.  — Ela não joga limpo com os outros — Sadi bufou. — Então, eu estou no processo de ajustar a sua atitude. 
— E eu estou no processo de me preparar para cortar o seu coração, sua puta.
Apesar de tudo estar tão malditamente confuso, meus lábios tremeram em um pequeno sorriso. — Saia.  Sadi voltou seu olhar de ódio para mim.  — Estou... — Caia fora. —Quando Sadi não se mexeu, eu caminhei até onde ela estava, peguei-a e a empurrei para fora do banheiro. Ela se conteve e começou a voltar para nós. — Rolland tem trabalho para você hoje à noite, por isso, se você quer ser capaz de ir até ele, não dê mais um passo em minha direção.  Suas narinas dilataram quando as bochechas se manchavam com raiva, mas ela parou enquanto suas mãos se curvavam em garras. Um segundo se passou e ela não se moveu da porta. Sadi estava me testando, seriamente estava. Bati a porta do banheiro na cara de Sadi e depois virei. Meu coração martelava, quando eu a vi de novo e imediatamente me esqueci de Sadi.  Ela ficou parada na frente da banheira, o pedaço de vidro em sua mão, e ela olhou para mim como um animal encurralado. Naquele momento ela não me lembrou de um gatinho inofensivo.  Ela era uma tigresa adulta, e ainda parecia que ela queria fazer algum dano. Para mim. Eu poderia realmente culpá-la? Aqueles olhos mudaram quanto mais olhávamos um para o outro, ficando molhados com um brilho de lágrimas, e isso era pior do que um chute entre as pernas.  Eu estava tão envolvido. Profundamente, e eu não a queria aqui. Eu queria ela longe, muito longe de tudo isso, mas já era tarde demais.  Tarde demais para nós dois, e talvez para todos os outros também.  Seu lábio inferior tremeu quando ela mudou seu peso de um pé para o outro, os dedos dos pés afundando no condicionador ou shampoo derramado. Uma eternidade se estendeu entre nós enquanto eu a absorvia com meu olhar. Uma colagem de memórias — do dia em que ela bateu na minha porta da frente e mudou a minha vida, a primeira vez que ela disse aquelas três palavras que mudaram minha vida — foram me bombardeando. Mas foi mais do que apenas lembranças.
Eu soube então que eu não deveria estar sentindo o que eu estava, mas cada célula a exigia. Meu sangue fervia.  Eu a queria.  Eu precisava dela.  Eu a amava.  Ela deu um passo para trás, batendo na borda da banheira.  —Kat. — eu disse, falando o nome dela pela primeira vez em dias, realmente me permitindo pensar nela, e no momento que aconteceu, o selo dentro de mim se rompeu.
CAPÍTULO 6
As bordas do pedaço de vidro perfuravam minha mão enquanto eu olhava para Daemon. Depois de tudo o que tinha acontecido no escritório, e depois com aquela mulher horrível, eu não conseguia recuperar o fôlego ou parar os tremores que corriam ao longo do meu braço. Eu o vi dar um passo adiante. Seu olhar incandescente e a intenção em seus passos enviou um arrepio por minha espinha.  — Não. Seus olhos se estreitaram.  Muita mágoa cresceu em meu peito, misturando-se com todas as coisas terríveis que Sadi havia dito que planejava fazer com Daemon, coisas que, quando ele esteve no escritório, não parecia ser contra desfrutar.  Minha pele estava áspera, o meu interior estava aberto e dilacerado. Eu queria atacar e ferir algo, alguém. Lágrimas queimaram através da minha garganta.  — Tem certeza que você não quer sair com o sua nova amiga? Só uma pequena porção de cor verde se mostrou.  — Sim, eu tenho certeza. — Isso não é o que pareceu no início. Vocês dois...  — Não diga outra palavra. — ele quase rosnou.  Pisquei enquanto a raiva gritando dentro de mim como um tufão.  — Desculpe? Com quem...? Daemon estava de um lado do banheiro, e então ele estava bem na minha frente, no próximo segundo, fazendo-me tropeçar para o lado e dar um passo na bagunça pegajosa no chão.  Eu gritei.  — Eu odeio quando você faz isso...  Ele apertou minhas bochechas, e no momento que sua pele entrou em contato com a minha, todo meu cérebro pareceu entrar em curto-circuito. O pedaço de vidro caiu de meus dedos, pousando sem causar danos em um tapete macio do banheiro que estava próximo. 
Ele abaixou a cabeça até nossas bocas ficarem tão perto que estávamos compartilhando o mesmo ar. Era tudo tão injusto. A partir do momento em que ele desapareceu, tudo o que eu queria era vê-lo novamente, para tocá-lo e amá-lo, e agora eu realmente não sabia o que estava na minha frente.  Nada desde que os Luxen chegaram fazia sentido.  Ele não se moveu. Em vez disso, o seu luminoso olhar esmeralda viajou por cima do meu rosto como se estivesse guardando cada polegada em sua memória. Havia um calor que seguiu seu olhar, e a dor latejante no meu nariz, onde essa cadela hedionda tinha me dado um tapa, desapareceu.  Ele estava me curando. Mais uma vez. Depois de me empurrar para longe dele e dizer que me amava, em tempo passado, e depois de se associar com o pior tipo de monstro. Eu não podia suportar isso.  — Isso é tão errado — eu disse, minha voz embargada. — Tudo é tão confuso...  Daemon me beijou.  Não havia nada suave ou vacilante sobre isso. Sua boca estava pressionada contra a minha, corajosamente separando meus lábios, e ele beijou como se estivesse morrendo de fome. A sensação de urgência quase me derrubou. Meu estômago afundou quando um som profundo retumbou em sua garganta, vibrando através de mim.  A centelha de esperança no meu peito ficou mais forte, mas a confusão e a raiva deram saltos como um cão chato. Daemon inclinou a cabeça, quando uma mão escorregou em minha bochecha. Seus dedos se enroscaram no meu cabelo na minha nuca. Meu coração batia forte, e foi demais.  Eu coloquei minhas mãos em seu peito e o empurrei.  — Kitten — ele rosnou, mordendo meu lábio inferior.  A respiração estremeceu através de mim.  — Você... — Ela ainda está fora do banheiro — ele sussurrou contra meus lábios, e então ele estava me beijando novamente.  Suas palavras foram perdidas por um momento enquanto a outra mão percorreu meu corpo, fixando-se na curva da minha cintura. Ele me puxou contra ele, encaixando nossos corpos juntos, e a sensação era de alguma forma surpreendentemente nova e docemente familiar. O beijo se aprofundou até que senti seu gosto por toda parte.  Minhas mãos tremiam enquanto meus dedos agarravam o material macio de sua camisa. Um som ofegante me escapou. O tremor viajou até meus braços e continuou até que cada parte do meu corpo tremia.  — Ela se foi. —Daemon levantou a cabeça para longe, mas eu mantive meus olhos bem fechados. Eu não conseguia parar de tremer. — Oh, Kitten... Eu queria dizer a ele para não me chamar assim se isso não era real, mas um soluço subiu na minha garganta. Eu apertei minha boca, porque neste momento, lágrimas não ajudariam, e já tinha havido muitas lágrimas entre nós.  O braço de Daemon circulou em volta de mim e seus dedos se estenderam na parte de trás da minha cabeça, guiando minha bochecha contra seu peito. Ele me segurou em um abraço tão apertado que eu podia sentir seu coração batendo forte através dele.  — Eu sinto muito — ele sussurrou contra o topo da minha cabeça. — Eu sinto muito, Kitten.  — É... Este é você? —Minha voz falhou. — Isso é real? — Tão real como sempre serei. — Sua voz era quase inaudível, um sussurro rouco como o meu. — Deus, Kat, eu...  Parecia que meu peito tinha implodido, e eu estendi a mão, agarrando uma mecha de cabelo na nuca de seu pescoço. Minhas bochechas estavam úmidas.  — Eu sinto muito — disse ele de novo, e por um momento, era tudo o que parecia ser capaz de dizer. Ele virou-se de modo que estava de costas para a parede, e então ele deslizou para baixo, me puxando para o seu colo, aninhado-me entre os joelhos dobrados e contra a extensão dura de seu peito. — Eu não sei o quanto eu posso dizer ou quanto tempo eu posso mantê-los fora da minha cabeça.  Mantê-los fora de sua cabeça? Eu pisquei entre as lágrimas quando eu abri meus olhos.  — Eu não... entendo o que está acontecendo.  — Eu sei. —A dor atravessou seu rosto impressionante quando ele descansou sua testa contra a minha. — Todos nós estamos ligados. A partir do momento que chegaram aqui, estivemos dentro da cabeça um do outro. Eu não tenho certeza de como isso funciona. Nunca foi assim antes. Talvez seja porque há muitos de nós
aqui, mas quando eu estou na minha forma verdadeira, não há esconderijo deles. Não é tão ruim... agora. Há coisas que eles não sabem, que temos sido capazes de esconder deles, mas eu não tenho certeza de quanto tempo isso vai funcionar. — Nós? —Eu sussurrei.  Ele acenou com a cabeça.  — Dawson e eu. Eu fiz uma careta, claramente não me lembrando dele de forma amistosa.  — Mas ele me bateu com a Source. E eu também tenho certeza que ele rachou meu crânio no processo.  Os olhos de Daemon aprofundaram em um verde musgo vibrante.  — Sim, e sua mandíbula já foi agradecida por isso. Ele não tinha escolha, no entanto. Outro estava se dirigindo para você, e ele fez o que fez para evitar que um deles a matasse.  — E matar você. —Meus pensamentos correram para acompanhar tudo. Foi um ato tudo ou nada. — Dee? Os cílios grossos de Daemon abaixaram, e ele balançou a cabeça.  — O quê? — Minha respiração se tornou instável quando a decepção me acertou. Suas palavras me machucaram, mas tinha que ser pior para Daemon e Dawson. — Ela não está... fingindo? — Não. Ela foi absorvida por eles. É como uma espécie de colmeia. —Ele balançou a cabeça de novo, e eu podia ver o cansaço estabelecendo-se nas linhas ao redor dos lábios carnudos. — Eu não sei por que Dawson e eu somos capazes de pensar por nós mesmos... mas ela não. Eu coloquei as pontas dos meus dedos em sua bochecha, sentindo a tênue barba.  — Eu acho que sei. Suas sobrancelhas subiram.  — Dawson tem Beth — eu disse calmamente, encontrando seus olhos. — E você me tem. Talvez seja isso. Assim como a coisa da mutação. É algo tão simples. — Não há nada sobre você que é simples.  Um leve sorriso cruzou meus lábios.  — Eu estava com tanto medo — eu admiti depois de alguns instantes. — Quando você foi embora com eles, e, em seguida, vê-lo novamente como... como se não fosse você. Eu pensei que tinha te perdido. — Emoção entupiu minha garganta, e levou alguns segundos para conseguir as palavras. — Que depois de tudo o que passamos, tinha te perdido de qualquer maneira. — Você não me perdeu, Kitten. Você nunca poderia me perder. — Ele me curvou contra ele, e quando ele falou em voz baixa, seus lábios roçaram meu rosto. — Mas eu não quero você aqui, em qualquer lugar aqui perto. Não é seguro para você.  A dor intensa no meu peito diminuiu um pouco quando suas palavras caíram, mas o amargo sabor de mágoa e do medo pairavam no fundo da minha garganta. Ainda havia tanta coisa que eu não entendia, coisas que eu não acho que mesmo Daemon compreendia.  Ele pegou uma das minhas mãos e colocou-a contra seu peito, acima do coração.  — Você realmente pensou que eu tinha esquecido você?  Abaixei meu queixo, e foi muito fácil de lembrar a frieza em seu olhar.  — Eu não sabia o que pensar. Você... você olhou para mim como fazia, quando nos conhecemos. — Kat. — Ele pronunciou o meu nome como se fosse algum tipo de oração, e então ele me deu um beijo atrás da minha orelha. — Eu quebrei todas as regras da minha espécie para curá-la e mantê-la comigo. Eu me casei com você e incendiei uma cidade inteira para mantê-la segura. Eu matei por você. Você acha que eu ia esquecer o que você significa para mim? Que qualquer coisa neste mundo... em qualquer mundo... seria mais forte do que o meu amor por você?  Um soluço sufocado escapou dos meus lábios enquanto eu enterrei meu rosto no espaço entre o ombro e o pescoço dele. Circulando meus braços ao redor de seus ombros, eu me agarrei a ele como um bebê macaco necessitado. Eu o apertei até sua risada baixa sussurrar contra minha bochecha.  — Você está me estrangulando. — disse ele, alisando a mão nas minhas costas. — Só um pouco.  — Desculpe. — eu murmurei contra seu ombro, mas eu não o deixava ir. Ele beijou o topo da minha cabeça, e um suspiro escapou de mim. Deus, nada estava bem. Longe disso, mas Daemon estava bem. Era ele mesmo, e caramba, juntos poderíamos enfrentar qualquer coisa. Faríamos o que tivesse que ser feito. — O que vamos fazer?  Ele colocou meu emaranhado cabelos para trás, expondo meu rosto para o caminho de seus lábios.  — Continuaremos a fingir. Existirão coisas que terei que dizer ou, talvez até mesmo fazer... — Eu entendo. —Meu coração parou de qualquer maneira. Eu não queria reviver a coisa toda de novo do escritório, mas eu faria, se necessário. Eu precisaria.  — Claro que você entende. —Ele deu um beijo no canto dos meus lábios. — Mas não é algo que quero que tenha que entender. —Seus lábios seguiram a curva do meu maxilar, provocando um arrepio em mim. — Vamos sair daqui, mas eu não posso ir sem Dee.  Eu balancei a cabeça. Eu nunca esperaria que ele a deixasse para trás, mesmo quando ela se transformou em uma cadela furiosa que, aparentemente, queria me jogar por um lance de escadas ou três.  — E não antes de eu saber o que eles estão planejando — acrescentou. — Eles estão aprontando alguma coisa grande. — Obviamente. —Eu sorri fracamente. — Toda essa coisa de invasão da Terra dá essa ideia. — Espertinha. —Seus dentes pegaram a ponta da minha orelha, e a pequena mordida enviou um tremor por todo meu corpo.  Engoli em seco, e sua risada em resposta foi francamente má e totalmente inadequado, dada a situação. Recuei, minhas bochechas ficando róseas.  — Só você pode se comportar assim com tudo o que está acontecendo.  Um lado de sua boca se levantou enquanto seu olhar caía para os meus lábios.           — Bem, você está sentada em meu colo vestindo apenas jeans e um sutiã — um bonito sutiã — depois de chutar a bunda de uma garota. Isso é quente. E eu estou muito excitado com isso.  Rubor viajou até a borda rendada do meu sutiã, porque eu poderia dizer que ele estava muito excitado com isso.  — Você é ridículo.  — Você é linda.
— Estou fedendo — eu murmurei.  Daemon riu com voz rouca.  — Posso ajudá-la a corrigir isso. Quero dizer, eu posso ser muito útil nesse departamento.  — Oh, Senhor, é sério?  — Ei, eu supostamente sei tudo sobre física. Ele fez uma pausa enquanto eu olhava para ele. — Ok, provavelmente não, supostamente. Quando se trata de você, sinto-me físico praticamente o tempo todo. —Suas mãos se moveram por meus braços nus, deixando uma onda de pequenos arrepios atrás deles.  Inclinei a cabeça para trás.  — Então, além do óbvio se eu morrer você morre, o outro Luxen acha que você quer me manter por perto porque você só gosta...?  — De ter sexo selvagem, e animalesco com você? —Sugeriu.  Meus lábios franziram.  — Algo como isso. —Sua boca roçou a minha quando ele falou, e suas mãos pararam em meus quadris. — Embora depois de tudo no escritório, não acredito que pensem que estaria de acordo com isso.  — Não estou de acordo com isso agora mesmo, seu idiota. Uma sobrancelha se levantou.  — Eu aposto que eu poderia mudar isso. — Daemon. —Eu coloquei minhas mãos em seus ombros. — Eu acho que realmente precisamos nos concentrar em outras coisas. —E havia tanto. — Será que eles sabem sobre Beth, sobre...?  — Eles não sabem sobre ela ou Luc. Precisamos mantê-los assim. —Suas mãos deslizaram em torno das minhas costas até a alça do sutiã.  — Mas eles sabem o que é Archer. — Eu mordi meu lábio quando dois de seus dedos mergulharam sob a alça. — Beth está grávida. Sua cabeça caiu para meu ombro nu.  — Eu sei. Meu queixo caiu.  — O quê? —Ele não respondeu, porque ele estava muito ocupado lambendo meus ombros, meu doce Jesus. Peguei um punhado de cabelo dele e levantei sua cabeça. — E não me disse isso?
Ele capturou minha boca em um beijo profundamente abrasador que quase me fez esquecer o que estávamos falando e onde estávamos. Seus beijos tinham esse tipo de poder mágico.  — Eu não tive a chance de dizer a você. — Ele enganchou seu dedo mindinho debaixo de uma das alças, deslizando-a uma ou duas polegadas. — Lembre-se. Santa Invasão alienígena em todos os lugares. — Oh. Sim. Certo. — Meus cílios baixaram enquanto seus lábios perseguiam a alça. Tensão rolou no meu estômago. — Beth está doente, no entanto. Eu não sei se é normal ou não. Era isso... era por isso que nós estávamos no supermercado. Estávamos procurando por medicamentos — Archer nunca deveria ter deixado você sair daquela casa. —A cabeça de Daemon se ergueu de repente, girando em direção a porta do banheiro fechada. Suas pupilas brilhavam como diamantes. — Alguém está vindo. Fiquei rígida em seus braços, coração batendo na minha garganta.  Ele voltou sua atenção para mim. Cobrindo meu rosto, ele baixou a boca mais uma vez, me beijando profundamente e girando meus sentidos tão rápido e com tanta fúria que, quando ele levantou a cabeça, eu choraminguei. De verdade choraminguei.  — Aja como se estivesse com raiva de mim. Lute comigo.  Ainda perdida desde o último beijo, fiquei olhando para ele.  — O quê? De repente, eu estava de costas, perigosamente perto do vidro quebrado. Frascos de condicionador e xampu derramados. Daemon pairava sobre mim, com as mãos capturando meus pulsos e mantendo-os no chão com uma de suas pernas enfiadas entre as minhas.  Meu peito deu uma guinada.  — O quê...? Ele baixou a cabeça à minha, a voz baixa.  — Finja que eu sou Sadi. Se eu fizesse isso, eu poderia cortá-lo.  Meus olhos se estreitaram, mas a porta do banheiro se abriu, e um tranquilo macho Luxen — o calado do escritório — estava na porta. Calor se estendeu por meu rosto, em parte devido à forma como eu estava sem roupa, e em parte por causa de como estávamos parecendo naquele momento.  — Está tudo bem aqui? —Perguntou ele, dessa forma estranha, cadenciada.  — Só passando um tempo corpo-a-corpo com ela. — respondeu Daemon, e minha respiração ficou presa com a mudança em sua voz. Ele estava de volta à maneira presunçosa e zombadora, que me fez querer apresentar o meu joelho para uma parte importante de seu corpo.  Sobre a cabeça de Daemon, eu vi o Luxen inclinar a cabeça para o lado.  — Não parece que está indo muito bem.  — Bem... — Ele abriu um sorriso. — Seria mais fácil se ela não estivesse tão chateada. Não é mesmo? —Ele me perguntou. — Mas isso é bom. Gosto da maneira como ela tenta lutar. — Tenta? —Eu cuspi, meus dedos se apertando. — Eu vou...  —Silêncio — ele murmurou preguiçosamente. E então ele se moveu muito rápido, e de um ângulo que o Luxen podia ver, ele mordiscou minha orelha novamente. Eu tive que morder meu lábio para me impedir de gritar e socá-lo nos testículos.  Eu chutaria a bunda dele mais tarde.  Daemon fez um show me olhando como se eu estivesse em um buffet tipo tudo-que-você-pode-comer, em seguida, olhou para o outro Luxen.  — Você se importa? Ou você está planejando assistir? O lampejo de interesse no rosto do Luxen revirou meu estômago.  — Por mais sedutor que pareça, eu vou ter de passar. Desta vez. Oh, eca. Balançando a perna livre, eu bati o calcanhar na panturrilha de Daemon por ter iniciado essa linha de conversa.  — Ai! —Ele me lançou um olhar.  Meus lábios tremeram em satisfação.  — Rolland só queria ter certeza de que estava tudo bem. — disse o Luxen, seu olhar calmo, cristalizado se afastando para outras áreas, com as quais eu não estava tão feliz.  Daemon se moveu, casualmente bloqueando uma boa parte do meu corpo.  — Isso é tudo?
— Não. — foi a resposta. — Rolland gostaria que você participasse da conferência de imprensa amanhã. E ele quer que você traga a garota com você.  Conferência de imprensa? Levar-me? Oh... um arrepio dançou sobre a minha pele. Eu, portanto, não estava gostando do som de tudo isto.  Daemon conseguiu dar um sorriso.  — Parece divertido. O Luxen hesitou, depois assentiu. Depois de mais de uma vez olhar em minha direção, ele saiu do banheiro.  — Diverta-se. Nenhum de nós se moveu ou falou por um bom minuto após o Luxen ter deixado o banheiro, e depois Daemon olhou para mim.  Eu dei uma respiração profunda.  — Eu não gosto da forma como o amanhã parece.  — Eu também não. Molhei meus lábios.  — Você não acha que Rolland sabe que você está fingindo? — Não. — Ele parecia tão certo. — Eu tive muito cuidado. — Então o que você acha que eles estão planejando?  Ele balançou a cabeça, fazendo com que várias ondas negras roçassem suas sobrancelhas.  — Ele filmou um comunicado para a imprensa mais cedo. Ele está fingindo ser o prefeito...  Quando Daemon parou, e soltou meus pulsos e se levantou, sua expressão estava distante, e eu tinha a sensação de que ele estava pensando a mesma coisa que eu. Sentada, eu passei meus braços em volta da minha cintura. Ele me olhou e nossos olhares se encontraram.  — Você acha que ele está fingindo? —Perguntei. — Que ele está realmente fingindo ser o prefeito, como que... Como trabalhar de dentro para assumir. — E se houverem mais como ele? Aqueles que tomaram conta dos corpos de pessoas importantes? Ele xingou baixinho quando ele empurrou as duas mãos pelos cabelos.  — Eu deveria ter visto isso de imediato. Quer dizer, eu achava que ele estava fingindo ser prefeito, mas eu não pensei nada além disso. Estão matando apenas algumas pessoas, sem assimilá-las. Eles estão mirando as pessoas certas. Mesma faixa etária. Pessoas com idade suficiente para ter...  — Famílias — eu sussurrei. E isso seria ainda pior do que assimilar aqueles em posições de poder, porque se eles fingirem ser mães, pais e professores, eles estariam em todos os lugares, e ninguém seria capaz de dizer, mesmo que houvesse testemunhas. Relatos dos órgãos arrebatando Luxen não conseguiria parar algo tão grande.  Olhei para Daemon.  Os Luxen já estavam no planeta há décadas e algo mais, e ninguém sabia.  — Será que a TV do quarto funciona? —Eu perguntei.  — Acho que sim. — Eu acho que precisamos ligá-la. Depois de me ajudar, Daemon esfregou as mãos para cima e para baixo nos meus braços, afastando o frio.  — Tome um banho, e eu vou encontrar algo para você usar.  Olhei para a porta, hesitando. Ficar nua com um grupo de Luxen perto, que não tinha noção de espaço pessoal me fez querer vomitar.  Daemon baixou a cabeça, roçando seus lábios nos meus.  — Eu não vou deixar ninguém entrar aqui. Você está segura. Você está segura.  Três palavras que eu não poderia esperar até precisar ouvi-las de novo. Fechando os olhos, eu estiquei e o beijou suavemente.  — Ok. Ele me puxou para um abraço, e então foi para a porta. Parando, ele girou de volta, e seu olhar se desviou de mim, aquecendo a minha pele fria.  — Kitten?  — Sim? Seus olhos eram bonitos quando eles encontraram os meus, luminosos e claros, e um longo momento se estendeu entre nós.  — Eu te amo.
CAPÍTULO 7
   Daemon tinha a televisão ligado no quarto, volume baixo, quando entrei com um toalha envolta a meu redor. Ergueu o olhar para mim, e seus cílios baixaram enquanto seu olhar se movia da ponta dos meus agora limpos pés, todo o caminho até a parte superior de minha cabeça molhada.  —Olá. Parecia ter esquecido o que estava vendo, um dos canais mais populares de notícias. Eu não tinha visto todos os noticiários desde que eu tinha deixado a cabana. —Venha aqui. —Estendeu um braço de onde se encontrava sentado na beira da cama. O quarto foi restaurado a como parecia antes que Sadi e eu tivéssemos entrado, com a exceção das cortinas e a cadeira. Eles ainda estavam em uma pilha no chão. Os lençóis e fronhas tinham sido substituídos. Segurando a toalha onde estava amarrada, dirigi-me à cama. Comecei a me sentar a seu lado, mas envolveu um braço ao redor de minha cintura e me puxou para suas pernas. O quarto estava frio, mas o calor de seu corpo imediatamente penetrou em mim. Era como uma caminhante e falante cobertor elétrico. Na televisão, um apresentador de notícias com cabelo prateado olhou solenemente à câmara enquanto falava. No topo da tela, havia um vídeo ao vivo de uma sucursal associada em Los Angeles. Filmados do que parecia ser um helicóptero rondando a cidade aflita de cima, flashes de fumaça saindo de prédios, trânsito com carros parados nas principais avenidas, e ruas lotadas de gente não prediziam coisas boas. Em seguida, a pequena tela do lado direito se ligou a uma transmissão ao vivo de Nova York, mostrando o mesmo tipo de imagens.          —Fontes acreditam que o ataque inicial começou em Las Vegas, e estamos tentando obter confirmação disso. —O cansaço se gravava nas linhas do rosto do apresentador e nublava seu tom— Acredita-se agora que o meteorito que apareceu três noites atrás não foi, de fato, um meteorito, mas... — limpou sua garganta e parecia lutar com as palavras seguintes. — Mas foi a primeira chegada de uma ampla... invasão extraterrestre. — Eu acho que ele se engasgou com a palavra “extraterrestre” —comentou Daemon secamente. Assenti. O cara parecia como se não pudesse acreditar que acabava de dizer isso em televisão nacional. O apresentador olhou para os papéis à sua frente, balançando a cabeça lentamente.  —Ainda estamos esperando o Dr. Kapur para ver se podemos obter alguma ideia da biologia… e o possível final do jogo em questão, mas neste momento, o que sim sabemos é que houve um período de silêncio depois da chegada em massa e logo — ele olhou para a tela, suas feições tensas —, uma estratégia, um ataque dirigido ao redor do mundo, em todas as grandes cidades. Não há números definitivos, mas nós cogitamos que a perda de vidas sejam substanciais nas áreas e as cidades vizinhas.  Estremeci com a esmagadora horror de tudo isso. Mesmo sendo o que eu era e vendo muito no último ano ou assim, era quase muito para lidar plenamente com tudo. Não era somente meu mundo o que tinha mudado já. Todo o mundo mudou. Os braços de Daemon se apertaram ao redor da minha cintura, enquanto observava a TV. Ele não disse nada, porque era um daqueles momentos em que não havia qualquer palavra poderosa o suficiente para descrever o que qualquer um de nós estava sentindo.             Na televisão, os dedos do homem se curvaram ao redor das folhas de papel em suas mãos.  — O que nós sabemos é que os ataques contra as cidades durou algumas horas, mas isto ... esta forma de vida alienígena não foi visto desde então.            Olhando para o Daemon, observei um músculo ao longo da sua mandíbula palpitando. Eu tinha um pressentimento de porque eles não tinham visto qualquer Luxen. Eles já não estavam em suas formas verdadeiras.             — Nós também recebemos a notícia de um desenvolvimento muito assustador e ... e francamente perturbador. Honestamente não há palavras para isso, e se você não viu este vídeo ainda, vou avisá-lo que ele pode não ser adequado para os espectadores mais jovens. —Olhou fora da tela e assentiu— Isto foi enviado por um espectador na área de Miami, Flórida. Acreditam que foi capturado em uma câmara de telefone em algum momento de ontem, durante os ataques. A tela à direita mudou para uma gravação instável e, em seguida, expandiu, enchendo a televisão. Meus olhos se arregalaram. Parecia que quem é que estivesse filmando se escondeu detrás de um automóvel. Um Luxen estava na tela, em seu modo pirilampo enquanto atacava a um humano que parecia ter uns vinte anos. Os movimentos do Luxen eram tão fluídos como água esculpida quando ele empurrou o humano em um ônibus municipal abandonado. O horror estava gravado no rosto do rapaz enquanto o Luxen ia para ele e colocava uma brilhante mão branca no centro de seu peito. Eu sabia o que estava prestes a acontecer. —Meu Deus. Oh meu Deus — quem estava filmando sussurrou uma e outra vez quando o Luxen rapidamente assimilou o DNA do macho humano, tomando a forma física e características, até não sobrar nada do ser humano, somente uma casca seca amassada no chão.             O vídeo começou a tremer mais, e logo se podia dizer que a pessoa se afastou correndo do que tinha ocorrido. Quando o vídeo terminou, o apresentador parecia ter envelhecido uma década.  —Ainda estamos esperando a conferência de imprensa do presidente dos Estados Unidos, mas recebemos notícias de que muitas figuras do governo nas cidades sitiadas vão fazer declarações ao final do dia. —Como eles estão fazendo isso? — Perguntei. Daemon sabia o que eu estava perguntando. —Quando chegamos e fomos trazidos pelo Deadalus, fomos adaptados. — Suas mãos se deslizaram por meus braços a minhas mãos frias. Cruzou-as sobre as minhas. — Fomos expostos a um humano, nós três, por um período de tempo. Levou vários meses, e quando finalmente mudamos às nossas formas humanas, tínhamos estas características… o cabelo escuro, a cor da pele, os traços do rosto. Era como um substituto, mas nós não o matamos. Ao menos isso sei. Uma vez que mudamos, junto com... Matthew e os Thompsons, nunca o vimos de novo. Daemon nunca tinha ido para este tipo de detalhe antes, e tentar imaginar três pequenas crianças alienígenas assimilando um humano por um período de
tempo fez que minha cabeça doesse. Como no mundo o Daedalus conseguiu humanos para se inscrever para isso? —Então, estes Luxen estão fazendo o que você fez mas mais rápido… muito rápido? — disse. Assentiu.  —Estão fazendo exatamente o que nos foi ensinado a fazer. — Ele levou nossas mãos unidas aos lábios e pressionou um beijo contra meus dedos. —É estranho. Eles sabem muito, muito por não terem estado aqui, mas depois há muito que não sei. Alguém ou alguma coisa tinha que trabalhar com eles a partir daqui.             —Sadi? Suas sobrancelhas se elevaram. —Eu não me refiro apenas a ela, mas ainda não percebeu? Ela não se move ou fala como os outros Luxen — eu expliquei. —Ela é mais humana. Eu acho que ela esteve aqui.  Os cantos de seus lábios baixaram.  ——Eu não tinha notado, mas eu tento ficar longe dela. Ela é um pouco delicada.             Um fogo lento ardeu através de minhas veias.  —Realmente eu não gosto dela. —Sei. — Ele beijou meu rosto e, em seguida, delicadamente me tirou de seu colo. Cambaleei um pouco sobre meus pés, atraindo um olhar preocupado dele. — Precisa descansar. Temos algumas horas mais antes que o sol saia e a conferência de imprensa aconteça. Eu cruzei os braços sobre a borda da toalha.  —Por que ele nos quer lá?             —Isso não consigo descobrir. Rolland diz que não pode me ler, e eu tampouco posso lê-lo. —Daemon se estendeu detrás de mim, pegando uma camisa longa. — Encontrei isso para você dormir. Era uma camisa de homem, e eu realmente tentei não pensar sobre de onde veio, quando eu peguei e as deslizei por cima da minha cabeça.  Desembrulhei-me da toalha, e a camisa quase chegou a meus joelhos.
—Eu vou ficar com você. — Ele se levantou, olhando para a porta. —Eu não acho que vai levantar quaisquer suspeitas.             Não quando achavam que Daemon e eu estávamos trepando feito coelhos. Minhas bochechas queimaram, inclusive apesar de que era estúpido me sentir envergonhada sobre isso, mas era como se os Luxen me vissem simplesmente como a propriedade de Daemon e nada mais. Isso fez com que minha pele comichasse e o estômago doesse. Eu subi na cama e descansei do meu lado. Daemon se deslocava ao redor do quarto, verificando a porta e as janelas, mesmo que nós dois sabíamos que era inútil, e então ele desligou a TV. A cama afundou atrás de mim enquanto ele acomodou seu peso. Um braço se deslizou em volta da minha cintura, atraindo-me contra seu peito e em todo o seu calor.             Alisou meu cabelo detrás da minha orelha enquanto sua respiração dançava ao longo de minha têmpora. Meus olhos se fecharam quando seus lábios roçaram sobre minha pele.  —Estivemos em piores situações —sussurrou— Conseguiremos sair desta. Tínhamos estado em piores? Ao menos com o Daedalus sabíamos que nos queriam vivos. Vivos para fazer horríveis coisas para eles, mas isso de alguma forma soava melhor. Com os Luxen sabia profundamente que não se importavam se despertávamos mortos manhã. Acho que Daemon percebeu isso, também. —Precisamos sair daqui. — Eu olhei para a escuridão do quarto. —Amanhã, quando nos levar para fora, será a oportunidade perfeita. Daemon não respondeu, e depois de alguns momentos, eu fechei os olhos. Amanhã poderia ser nossa única oportunidade de sair daqui, mas havia uma grande coisa em nosso caminho, uma coisa que pararia Daemon em seco. E isso era Dee.              
 
Dawson parecia tão impaciente como eu me sentia do lado de fora do quarto onde Kat dormia. Eu não estava surpreso que ele viria me encontrar nas primeiras horas da manhã, quando a maioria, se não todos os Luxen estavam dormindo, Sem medo algum de que alguém fosse tentar matá-los. As pessoas sempre pensaram que eu era arrogante, mas infernos, nada tocava estes Luxen.             Matá-los enquanto dormiam foi algo que falamos desde a primeira manhã em que nos demos conta de que todos caíam inconscientes, mas nenhum dos dois era tão estúpido. Seríamos capazes de acabar com alguns deles, mas existiam mais de duas dúzias de Luxen na propriedade, e não eram só nossas vidas as que estaríamos arriscando. —Como vai? —perguntou Dawson, em voz baixa enquanto assentia olhando a porta fechada. —Ela finalmente caiu no sono. — Debrucei-me contra a parede, observando o final do corredor. Ninguém dormia aqui em cima, nem mesmo Dee, mas a guarda era mantida.  —Eu realmente sinto muito. Ela sabe disso, certo? —Dawson enfiou a mão pelo cabelo, fazendo uma careta. —Devo-lhe tudo, e...             —Sabe. —Mudei meu peso de pé. — Você sabe por que ela estava no supermercado com Archer? Acontece que eles estavam pegando coisas pré-natais para Beth.              O sangue se drenou de seu rosto. —Esteve doente, e não sei se é normal ou é algo mais. — Eu pensei sobre essas crianças malditas na Área 51, mas eu duvidava que este era o momento para perguntar a Dawson se sabia a respeito delas sem assustá-lo. — Tampouco Kat está segura. Nenhum de nós sabe algo sobre a gravidez. Ele fechou os olhos enquanto deixava escapar um suspiro.  —Sei que não podemos ir sem Dee, mas… Mas por quanto tempo estaria Dawson esperando ficar longe de Beth, a garota que ele ama, a garota que estava carregando o filho dele? A garota que precisava dele agora mais do que tudo? Quanto tempo eu poderia esperar?           
 Antes de Kat ter terminado aqui, eu estava disposto a ficar por perto para descobrir quem estava liderando os Luxen e como ele ou ela planejava levar a cabo a estratégia final, porque eu sabia que Kat estava a salvo com Luc e Archer. Eu odiava não estar com ela, assustava-me e preocupava todo o tempo, mas nem sequer podia pensar nela por medo de que outros o notassem. Mas agora? Que se fodam os Luxen. Que se foda a humanidade. Queria ao Kat fora. Cada célula de meu ser me exigia que a protegesse, apesar de que sabia que era muito capaz de fazer isso sozinha, mas a queria longe daqui. Inferno, eu a manteria em plástico bolha, se não fosse tão assustador e também inconveniente, considerando que eu tinha um terrível hábito de obsessivamente estourar as malditas coisas até que nem uma única bocha sobrasse. Como poderíamos sair com Dee desta maneira? Precisávamos quebrar seu domínio sobre ela, mas nenhum de nós sabia a chave mágica para fazê-lo. E de que estaríamos fugindo Kat e eu? Que futuro esperava Dawson, Bethany, e… e o seu bebê? Não sabia. Nos minutos que falei com Dawson sobre Beth estando doente, escuras sombras de preocupação floresceram sob seus olhos, e me perguntei se devia ter mantido essa parte só para mim. Afastando-me da parede, pus uma mão no ombro de meu irmão e o apertei. Quando nossos olhares se encontraram, a pressão apertou fortemente meu peito. Não era a primeira vez que sentia essa pressão em mim. Desde que soube que Kat seria trazida de retorno ao complexo, tinha estado ali, na periferia de minha consciência. Sabia que era o mesmo para Dawson. Ele estremeceu enquanto colocava sua mão sobre meu ombro.  —Não posso esperar muito mais tempo. Significando que mais cedo que tarde, ia tomar uma decisão por ele, por Beth, com ou sem nossa irmã. —Sei. —Uma forte dor atravessou meu peito ante a ideia de deixar Dee com estas coisas que realmente eu não queria ter nenhuma relação. Dawson assentiu enquanto dava um passo para trás, baixando seu braço.  —Isto é uma merda. Eu sufoquei uma risada quando olhei para a porta fechada. 
—Você pode ficar aqui por alguns minutos, enquanto eu encontrar algo para ela vestir? —Claro. Deixei Dawson ao lado da porta e me dirigi para um quarto nas proximidades, onde Dee havia roubado roupas. O quarto era uma bagunça. A cama destruída. Armários virados e com os artigos derramados. Passei por cima dos frascos de perfume e fotos, e em seguida, entrei no closet. Procurando por algo que parecia que caberia em Kat, percebi que não havia muitas opções. A mulher original da casa era, obviamente, uma pequena mulher. Provavelmente nunca comeu um cheeseburger duplo, com base no tamanho e estilo dos vestidos. Eu retirei um deslumbrante, brilhante vestido azul. Havia uma fenda todo o caminho até o quadril, e apesar de tudo, eu imaginei Kat vestindo-o. E então eu imaginei Kat fora dele. Essa imagem me atingiu como um soco no estômago.             Perfeito. Agora estaria caminhando com uma ereção durante toda a manhã. Justo o que precisava. Finalmente, eu encontrei um par de calças brancas que parecia que iria caber e um suéter preto de manga curta. Havia também um par de sapatilhas de seu tamanho. Depois de pegar as coisas, virei-me e voltei para a sala principal, olhando para o criado-mudo ao lado da cama.             Fiz uma parada completa. As gavetas estavam abertas. Uma delas tinha uma boa quantidade de brinquedos para adultos. Cara, o prefeito e sua esposa certamente gostavam de ficar loucos. Na gaveta de cima havia outras… coisas interessantes. Entre eles se encontrava uma caixa preta cheia de pacotes selados. Realmente não era necessário, mas...             Agarrei um punhado e os deslizei em meu bolso de trás. Não há nada como estar preparado. Sorrindo para mim mesmo, girei e voltei apressado para onde Dawson esperava. —O que há com esse seu sorriso tolo? — Questionou. —Nada.             
—Você precisa de mais alguma coisa? — Quando eu balancei a cabeça, ele começou a se afastar e então parou. —Rolland quer você na conferência de hoje? Minha mão livre na maçaneta da porta, eu assenti. —Ele quer Kat lá, também. Dawson fez uma careta. —Precisamos estar preparados para tudo. — disse ele. Respirando fundo, ele balançou a cabeça, e eu o assisti recuar para o corredor. Deslizando para o quarto, fiquei surpreso ao ver Kat sentada na cama. O cabelo secado ao ar, caindo em ondas desordenadas, logo sobre seus ombros e por seus braços. —Está tudo bem? — ela esfregou-se os olhos com os punhos fechados. —Sim. Encontrei um pouco de roupa para você. —Por um momento, fiquei olhando-a enquanto baixava suas mãos, afastava os lençóis e se levantou. Meu coração pulsava. Às vezes, e isso acontecia em momentos aleatórios, eu ficava encantado com o fato de que ela era minha e eu era dela. Este foi um desses momentos. Eu ofereci as roupas roubadas.  —Para você— acrescentei, como um completo idiota. Um sorriso cansado apareceu em seu rosto quando ela pegou as roupas de mim.  —Obrigada.             Vi-a arrastar os pés junto a mim e desaparecer no banheiro, e fiquei ali enquanto a água foi aberta. Ainda era muito cedo e ela poderia ter dormido mais, mas sendo o estúpido egoísta que poderia ser, estava feliz de que estivesse acordada. Mas, que droga que eu não ia vê-la trocar de roupa. Isso realmente teria me dado o ânimo que precisava. Mas logo a porta se abriu, e eu continuava de pé no centro do quarto quando ela saiu. Para minha sorte, a calça que lhe tinha dado realmente não se encaixava nela. Eram de um tamanho menor, abraçando sua bunda bem formada como uma luva, e isso me fez um homem muito feliz. Kat captou meu olhar e rodou os olhos. 
—Graças a Deus estas calças são elásticas. —Eu estou tendo pensamentos de forma inadequada cronometrados agora mesmo —disse. Ela cruzou os braços sob o peito, atraindo minha atenção para outro lugar em seu corpo que eu poderia ser um pouquinho fascinado. —Não estou muito surpresa. —Só pensei que deveria saber disso. Enquanto caminhava a meu lado e se abaixou para colocar os sapatos no chão, realmente obtive uma boa visão, e deixei de pensar. Talvez estivesse esgotado e não me preocupava com ter minhas prioridades em ordem enquanto a tranquilidade do amanhecer se filtrava. Talvez fosse o vestido que vi no armário ou todo o lixo na gaveta. Possivelmente quando tudo se reduz a isto, eu era um homem e tinha o sexo no cérebro sem importar a situação. De qualquer maneira, deixei de pensar, e isso era um problema comum em mim cada vez que me achava perto dela. Fui até ela, levantando-a com um braço ao redor de sua cintura. Um som de surpresa escapou de seus lábios quando a arrastei contra meu peito, afundando minha mão por seu cabelo enquanto pressionava minha boca contra a dela. Beijei-a profundamente, tomando tudo o que pude dentro mim, seu sabor, sua língua, e cada som suave que fizesse contra minha boca. No fundo de minha cabeça, sabia que isto não era algo que deveria estar fazendo. Diabos, devíamos estar fazendo planos e toda essa merda, mas ao diabo. Como sempre, desejava-a. Deixei-a sobre seus pés, risquei um caminho de pequenos beijos a esse pequeno lóbulo de orelha enquanto deslizava meus dedos sob a bainha da camiseta. Sua pele era cálida e suave como fios de seda. Afastei-me, levantando a camiseta sobre a cabeça dela, deixando-a cair no chão. Desci a sua garganta por uma nova trilha ardente, beijando cada uma daquelas margaridas amarelinhas, atrasando-me em alguns mais que outros. Então, a virei, e o ar em meus pulmões se acalmou. As cicatrizes. Uma coisa baixa, um som desumano subiu por minha garganta. —Daemon? —Ela me olhou por cima do ombro.
Engoli em seco.  —Eu ... Está tudo bem.             Mas não estava bem. Odiava ver as cicatrizes, mesmo que elas não fossem nada mais que um rosa pálido com bordas suavizadas, mas sempre ia ser um aviso da dor que sofreu e a impotência que senti. Maus tempos. Tocando seus ombros levemente, baixei minha boca até um pouco abaixo de seus ombros e de um beijo reverente contra cada uma das cicatrizes, com o desejo de que de algum jeito poderia removê-las, apagar a lembrança de toda a maldita coisa. Fechei os olhos e movi minha boca até a base de seu pescoço e me fiz uma promessa que ia fazer qualquer coisa para recompensá-la. Não haveria outra cicatriz em seu corpo. Nem uma. Com dedos trêmulos, desabotoei os pequenos fechos e deslizei as alças de seu sutiã por seus braços. Ela respirou fundo quando me endireitei e deslizei o comprimento de meu corpo contra o dela. Me esticando a seu redor, girei rapidamente o pequeno botão de pérola em sua calça enquanto pegava o lóbulo de sua orelha entre os dentes. Eu adorava o pequeno pedaço de carne e o som que ela fazia incendiava meu sangue. —Não posso me controlar quando estou perto de você —sussurrei em seu ouvido. — Mas eu acho que isso é algo que você já sabe. A parte de trás de sua cabeça descansou contra o meu peito enquanto eu deslizava minhas mãos para cima. Ela mordeu o lábio inferior inchado.  Senti meu pulso em cada parte de meu corpo e queria retardar tudo, adorar cada centímetro dela, mas a luxúria e o amor me dominavam. A verdade era que o tempo não estava de nosso lado. Haveria tempo mais adiante. Porra, haveria tanto tempo, precisaríamos de uma reta de três meses de paz, tempo de qualidade um-a-um. Uma vez eu tive ela de frente para mim, levantei-a em meus braços e a sentei na cama enquanto tomava sua boca em um beijo profundo, abrasador, que me deixou instável sobre meus pés. Quando me afastei, pude ver o resplendor branco de ardor em seus olhos e sabia, assim como nossos batimentos cardíacos, que seus olhos refletiam os meus. Tirei-lhe as malditas calças brancas apertadas e quase
me perdi ali mesmo. Olhando para ela, eu levantei minhas sobrancelhas em questão. —O que? —ruborizou-se com a sombra mais bonita de cor rosa. — Você não me trouxe nenhuma calcinha. E, honestamente, eu não vou usar a de qualquer outra pessoa.  Minhas mãos se deslizaram até suas panturrilhas. —Não tenho absolutamente nenhum problema com isso. Absolutamente. Não acredito ter nunca. E nunca. Para sempre. Entendeu-me? Uma risada suave separou seus lábios.  —Acredito que entendo seu ponto. —Está segura? —Beijei o lugar detrás de seu joelho, sorrindo quando sua perna estremeceu. — Por que poderia fazer disso uma regra. —Não acredito que seja necessário. Ri entre dentes enquanto me afastava da cama e tirava a roupa mais rápido que nunca. Seu olhar caiu e ficou sem fôlego enquanto seus olhos se iluminaram. Uma quantidade ridícula de orgulho trouxe um sorriso a meus lábios.  —Você gosta? Seus cílios se elevaram.  —O que pensa? —Acredito que você gosta muito. Com um profundo suspiro, seu peito se levantou. — Mas não temos nenhuma proteção, e considerando que eu quase desmaiei quando me dei conta que Beth estava grávida, acho que realmente precisamos disso.             —Entendi. — Agarrando meu jeans, peguei uma das embalagens de alumínio. Curiosamente, porém, quando olhei para ela, vendo-a na cama, esperando por mim, só por mim, eu quase esqueci como colocar um. Isso teria sido estranho.             —Oh meu Deus —disse, pondo sua cabeça na cama. Divertida exasperação coloria seu tom, mas parecia uma maldita deusa posicionada assim. — É como se tivesse uma habilidade especial quando se trata de encontrar camisinhas. Sério. Eles devem apenas cair do céu, sempre que você está por perto.  Eu pisquei um olho quando rasguei a borda da embalagem com os dentes. 
—Eu tenho as habilidades que contam, Kitten.             Sorriu, e essa sexy olhar pesado me conduziu direto até a borda. Subi sobre ela, passando pelas partes nas quais tomaria um montão de tempo mais tarde, uma e outra vez. Abri a boca, provavelmente para dizer algo escandalosamente petulante e abertamente sexual, mas tudo o que eu estava prestes a dizer se perdeu. Kat se aproximou e tomou minha mandíbula, me trazendo para baixo para um beijo que me destroçou de dentro para fora da maneira mais perfeita. Surpreso, impactado por como uma só palavra, um olhar ou uma carícia, ou simplesmente um doce beijo seu poderia me colocar em meu lugar, completamente humilhado por ela. Logo não houve nada do que falar nem do que pensar. Minha boca se encontrava em todas as partes. Nossas mãos em movimento. Descobri que estava preparada, e eu condenado desde o segundo que nos beijamos. Movemo-nos juntos, nossas mãos unidas firmemente quando a levantei e olhei nos olhos cinzas salpicados de luz branca. Apaixonei-me de novo. Uma luz bruxuleante percorreu as paredes enquanto nossos corações pulsavam em conjunto. Ela me segurou firme, envolvendo suas pernas ao redor de mim, me puxando, e bebi seu grito com um beijo enquanto um torvelinho demolidor de sensações passava por minha espinha dorsal. Não sei quanto tempo passou, mas enquanto a abraçava, envolvendo cada parte de meu corpo ao redor do dela para que não existisse nem sequer um centímetro entre nós, finalmente fechei os olhos. E apesar de toda a merda que acontecia a nosso redor, encontrei a paz.
CAPÍTULO 8
Mantive meus lábios firmemente selados enquanto o Luxen, o mesmo que apareceu no banheiro para checar Daemon na noite anterior, afastava-me do veículo onde Daemon e Dawson se encontravam apertados ao lado de sua irmã. A polícia rodeou a frota de automóveis, e enquanto isso parecia uma coisa normal durante uma guerra ou invasão alienígena, cada policial que vi que não usava óculos de sol, exibia olhos Luxen. É óbvio. Quando percebi que o Luxen de cabelo escuro me conduzia para a limusine negra matizada, apertados nós se formaram na boca de meu estômago. Atrevi-me a jogar uma rápida olhada à linha de automóveis e vi Daemon parado ao lado de uma caminhonete Hummer. A expressão em seu rosto me disse que se achava a segundos de deixar cair o ato e corrigir as atribuições de automóveis, e isso seria mal, muito mal. Dei uma pequena sacudida de cabeça e logo me apressei para a porta aberta do automóvel esperando. A pressão contra o centro de minhas costas por parte do Luxen de cabelo escuro não era amável, e virtualmente caí sobre o assento de couro. Subiu a meu lado enquanto eu me endireitava, tirando mechas de cabelo de meu rosto. Sentados à minha frente a mim estavam Rolland e a cadela Sadi, cuja bochecha se encontrava completamente impecável. Maldita Luxen e sua capacidade para curar. Adoraria ver minha marca em sua cara no lugar do sorriso melosamente doce que me dirigia. A porta se fechou, e me senti como se fosse um ataúde fechando-se sobre mim. Rolland tinha um joelho dobrado sobre o outro, as mãos cruzadas em seu colo, como um político perfeito em um terno azul marinho. Junto a ele, Sadi vestiase igual no dia anterior: uma saia e um terno riscado, e o cabelo em um perfeito coque. Eles pareciam perfeitos de uma forma plástica assustadora.
Uma fina capa de suor cobria minha palmas enquanto eu olhava pela janela, me perguntando com que rapidez eu poderia convocar a Source e quebrar uma janela se tivesse que fazer uma fuga precipitada. —Provavelmente esteja se perguntado por que está viajando conosco —disse Rolland. Desloquei meu olhar para ele, olhando seus surpreendentes olhos azuis. Não havia nenhum pingo de humanidade nesse frio olhar.  —Estou. Um lento sorriso puxou seus lábios. —Tenho curiosidade sobre sua espécie, Katy Swartz, sobre você e Daemon. Ele sente uma forte conexão física com você. O que sente por ele? A limusine começou a mover-se, e supus que provavelmente o melhor era ser o mais honesta que pudesse com Rolland. Nenhum de nós sabia realmente a quantidade de informação que tinha a respeito de nós, o que Dee ou os irmãos poderiam inadvertidamente ter compartilhado com ele. —Sinto uma forte conexão com ele —disse, e pensando em como ele tinha sido, esta manhã, que por isso não era uma mentira. —Entretanto, esteve brigando com ele ontem à noite. —Rolland acenou para o tranquilo Luxen a meu lado. — Por que? —Eu não gostei da forma como me tratou no escritório. — Isso também era a verdade. —Ama-o —acrescentou Sadi, e pela forma como o disse, fez soar como se amar alguém equivalesse a caminhar diante de um ônibus. Respirando profundamente, assenti.  —Amo-o. —E você acha que ele te ama? — Rolland ajeitou a gravata.             —Eu achava, mas… — Eu forcei lágrimas aos meus olhos, o que não foi difícil, considerando a forma como ele agiu antes que eu percebesse o que estava acontecendo. Isso ainda ardia como uma picada de uma vespa. —Mas eu não sei mais. As coisas que ele disse e... e como ele agiu depois. —Eu adicionei em um tremor ao espetáculo. Alguém me dê um Oscar. —Eu não sei de mais nada. Houve um momento de silêncio, e então Rolland riu profundamente. Não era isso que eu estava esperando.
—Você é bonita. — disse ele finalmente. Uh. Ele riu de novo.  —Senta-se ai, tão tímida e tão pequena, mas fez Sadi sangrar faz umas poucas horas. Sadi fechou a cara e dava para ver que prometia uma retaliação. Minhas mãos se apertaram em meu colo, e eu morri de vontade de gritar um "pode vir" para ela. Melhor ainda, queria me lançar através do espaço e envolver minhas mãos ao redor de seu magro pescoço. — Você estava diante de mim e utilizou a Source com tanta facilidade, e apesar de tudo, senta-se à minha frente como uma pequena e tímida criatura — continuou enquanto se inclinava para trás, esticando as pernas até que sua panturrilha pressionava contra a minha. Endureci. Seu sorriso se expandiu.  —Eu só queria mostrar isso para você.             A limusine se sacudiu por um buraco, me empurrando contra o silencioso Luxen. Nesse momento, senti-me como um camundongo que era espreitado por um gato. Um gato muito grande e muito faminto. Meu coração pulsava com força em meu peito. Possivelmente não deveria estar escrevendo mentalmente meu discurso de aceitação do Oscar.  —Ok. —Quero saber mais sobre a Origem que estava com você na loja —ordenou— Quem é? Não respondi. Balançando a cabeça com um sorriso humorado, ele olhou para o Luxen ao meu lado. Antes que eu pudesse tomar um fôlego, uma mão envolveu minha garganta, os dedos cravando em minha pele e cortando o ar. Um tremor de pânico subiu por meu esterno enquanto meus olhos se arregalaram. Eu tinha levado o meu último suspiro antes de eu sequer perceber.             Rolland se inclinou para frente, colocando suas duas mãos sobre meus joelhos. 
—Quero que isto seja fácil e não desagradável. Tudo o que tem que fazer é responder as minhas perguntas. Eu agarrei a mão do Luxen, mas ele começou a mudar, e calor queimou a minha pele, a luz me cegou. —E se você quer manter Daemon vivo, é melhor você valoriza sua vida—, disse ele em um tom que soava como se estivéssemos discutindo o que tem para o jantar.  —Ok? Eu balancei a cabeça o melhor que pude.             O Luxen me soltou e sua luz se desvaneceu. Sentado no assento junto a mim, reajustou as mangas com tranquilidade. Rolland não se moveu. Ainda inclinado para frente, suas mãos se encontravam fechadas ao redor de meus joelhos, forçando uma de onda de desgosto sobre mim. —Quem era? Eu odiava o que eu estava prestes a fazer, mas não era só a mi que tinha a considerar. Mesmo que eu estivesse protegendo Daemon salvando meu próprio pescoço, sabia que poderia estar potencialmente jogando Archer e Deus sabe quem mais sob um ônibus.             —Seu nome é Archer. Não sei seu sobrenome ou se inclusive tem um. — Minha pele se arrepiou. —E como é que você entra em contato com ele? — Perguntou Rolland. Quando ele se inclinou para trás, Sadi deslocou-se do assento ao lado dele para o meu lado.             Cada músculo de meu corpo se travou enquanto sua mão substituía as de Rolland.  —Não minta, Katy. —inclinou-se, sua boca perto de meu ouvido. — Sabemos mais do que pensa. —Por que esteve aqui todo este tempo? —perguntei. Ela riu em voz baixa.  —Bom, não é tão astuta? —Suas afiadas unhas pareciam escavar através do fino tecido de minhas calças— Vamos, não seja tímida. Dei uma curta respiração.  —Conheci-o no Daedalus.
—E que seria isso? —perguntou Rolland. Por mais que eu quisesse me afastar de Sadi, fiquei onde estava sentada.  —Eles são um grupo dentro do governo que tem trabalhado em adaptar os Luxen. Eles os vigiam, mantém o controle sobre eles. —Controla-os? —Até certo ponto. —Tomei ar enquanto Sadi estendia um braço detrás de mim e se inclinava, invadindo meu espaço pessoal. — Eles fizeram experimentos. — Enquanto contava a eles sobre o Daedalus, lutei contra a tentação de afundar as unhas em sua cara. Rolland ouvia enquanto a limusine continuava avançando.  —Obrigado por ser tão comunicativa, Katy. Estaria muito decepcionado se tivesse mentido. —E sabemos. —A mão do Sadi estava em algum lugar ao redor de meu umbigo— Veja, sabemos de suas pequenas armas e o ônix. Essas coisas ainda podem nos afetar, mas sabemos que estão aí. Estaremos preparados para elas. Confusa, olhei dela para Rolland. Ele estendeu os braços sobre o respaldo de seu assento, conseguindo todo tipo de comodidade.  —Tivemos ajuda. Estou bastante seguro de que percebeu isso a estas alturas. Pressão apreendeu meu peito enquanto eu tive um mau pressentimento real sobre tudo.  —Alguém como ela? Sua risada gutural levantou os pelos em meus braços.  —Sim, alguém como eu. Como seu Archer. Oh. E quem mais que você não nos contou?              O ar saiu de meus pulmões. Rolland estalou a língua suavemente.  —Está ocultando algo ou alguém de nós, Katy? —Sim. —Sadi passou um dedo por meu braço. Diminutas protuberâncias perseguiram a carícia perturbadora. — Seu nome é Luc, acredito. Oh, Deus. —Mas isso não é tudo. —Sadi olhou para Rolland. Ele sorriu. 
—É óbvio que não é. O dedo de Sadi se arrastou por minha mandíbula. —Há Beth… e o bebê. —Oh, não —murmurou Rolland. Olhei-o, meu cérebro negando-se a calcular o giro. Ele bateu com os dedos na parte de trás do assento.  —Realmente pensou que viríamos aqui sem um convite? Que os humanos, com toda sua inteligência e avanço, não seriam a fonte de sua própria destruição no final? — Afinal de contas, nomearam um soro depois de Prometheus? — a respiração de Sadi dançou contra minha bochecha. — Quero dizer, não é, tipo, óbvio? Porque, na mitologia grega, Prometeu criou o homem a partir do barro e, desobedecendo os deuses, deu à humanidade o fogo, portanto, começando a civilização. Ele havia sido punido por sua própria ingenuidade. Assim como o Daedalus, sussurrou a voz de Sadi entre meus turbulentos pensamentos. O horror me inundou enquanto pouco a pouco girava a cabeça para ela. Seus olhos, de um brilhante azul, não eram reais. Lentes de contato. Assim como Archer tinha escondido seus olhos de nós, fazendo-os parecerem humanos. Sadi tinha ido na direção oposta, usando as lentes que a faziam parecer Luxen.             Mas não era. Era uma Origem. E não só era capaz de captar meus pensamentos todo o tempo, deveria ter escutado os de Dawson e Daemon, dentro e fora de suas verdadeiras formas. E não somente ela tinha sido capaz de pegar meus pensamentos o tempo todo, ela teria ouvido de Dawson e Daemon de, dentro e fora de suas verdadeiras formas. —Sim— ela sussurrou, seus lábios roçando a curva da minha bochecha, enviando um arrepio pela minha espinha. —Vocês estão ferrados.           O interior da limusine ficou subitamente muito pequeno.  —Por quê? — Eu disse ofegante a única coisa que eu conseguia pensar.         —Por que te dizer? — Rolland levantou os braços à toa. —Ou por que fazer
lhe perguntas? Você vê, não poderíamos descobrir. Os dois irmãos eram espertos. Mesmo quando eles estavam em suas formas humanas, não achava nada.  —São extraordinariamente bonitos, quando a maioria não é abençoada com boa aparência e inteligência —disse Sadi, rindo quando minha mandíbula se apertou. — Duvidava que suas cabeças fossem tão vazias —Havia coisas que Sadi podia captar de vez em quando, breves lampejos de pensamentos que elevaram nossas suspeitas quando se tratava de se estavam sendo honestos conosco —continuou Rolland— Mas não podíamos decifrá-los, o que fazia a ambos bastante resistentes a nossa causa, quando a irmã caiu na armadilha com muita rapidez. Mas então chegou você. Sadi bateu a ponta de meu nariz com uma unha. —Que sorte para nós. —Você é a resposta. Porque você foi transformada, um vínculo inquebrável foi formado entre você e Daemon             —E sabíamos que Dawson ocultava algo de nós —adicionou Sadi. — Ou alguém. Essa seria Beth. —Assim agora sabemos que há outros Luxen por aí, alguns como Daemon e Dawson, que podem estar unidos aos humanos de uma maneira que será problemática para nossa causa. Não é como que vocês quatro sejam os únicos. Tem que haver mais, e é sobre o que isso é hoje. Merda. Merda. Merda. Sadi riu. —Precisamos acalmar os pobres e pequenos humanos, que pensam que suas líderes os estão protegendo, mas você e eu, bom, nós sabemos que isso não é o que realmente vai acontecer. —Sorriu com esse encantador sorriso dela. — Mas também precisamos dar uma mensagem a qualquer outro Luxen por aí que pode estar pensando que a nossa causa não é algo que eles desejam apoiar. Meu pulso na minha garganta parecia como um beija-flor tentando bicar o seu caminho para fora.  —E isso é o que nós somos? Uma mensagem? —Garota esperta. — ele respondeu enquanto a limusine se inclinava bruscamente à direita.
—Ela quer saber como. — Sadi interrompeu, e eu atirei-lhe um olhar escuro. Ela acariciou meu rosto. —Devemos dizer a ela?             Ele deu de ombros. —Veja, haverá Luxen que estarão assistindo, e até mesmo através da TV e todos os canais transmitindo, eles vão saber o que somos— explicou ela. —Vamos lançar os irmãos bem debaixo do ônibus que você estava preocupada antes. Vamos expô-los como Luxen. Santa merda. —Mataremos dois pássaros com um tiro. —Rolland se inclinou para frente de novo— Quando os humanos verem sem dúvida alguma que os Luxen se parecem com eles e que há humanos trabalhando junto a alguns deles, causará pânico. Fazendo para eles mais fácil para tomar o controle. Tornando mais fácil para eles assumir o controle. —Exatamente. — Sadi murmurou, traçando meu lábio inferior com o dedo.           —E também enviará uma mensagem clara aos Luxen de que não vamos tolerar a qualquer um que possa ter a menor noção de estar contra nós. —O sorriso se desvaneceu do rosto de Rolland enquanto suas pupilas se transformavam em luz. — Como disse, dois pássaros com um tiro. Meu Deus. O pânico que iriam incitar seria astronômico. Mesmo que apenas uma pequena porcentagem do mundo visse o vídeo em primeiro lugar, iria ser viral. Se houvesse Luxen lá fora, como Daemon e Dawson, eles entenderiam a mensagem. Tinha que haver algo que eu pudesse fazer. —Não há nada que você pode fazer— disse Sadi, lendo meus pensamentos. Mas havia. Ela jogou a cabeça para trás e começou a rir, e eu comecei a imaginar as pessoas movendo-se, todos na limusine. O Luxen tranquilo. Rolland. Sadi. Todos eles dobrando-se, cabeceando no ar, parecendo idiotas. Sadi recuou, franzindo o cenho. —Que são…? Me girando no assento, agi sem pensar sobre isso, deixando que o instinto assumisse. O risco era grande, mas não podia deixar que chegassem a seu destino.
Sadi gritou algo quando convoquei a Source, tirando-a do profundo de mim. O Luxen tranquilo fechou sua mão ao redor de minha garganta enquanto a energia se deslizava de meu braço, girando rapidamente enquanto soltava uma descarga. O ar foi cortado, e não podia respirar, mas a descarga de energia que gerei se chocou contra a parte de trás da cabeça do condutor. A limusine se desviou bruscamente para a direita e seguiu seu caminho, acelerando quando o condutor caiu sobre o volante. O automóvel se levantou sobre duas rodas, e enquanto o domínio ao redor de minha garanta se apertava, a limusine entrou no ar.
CAPÍTULO 9
              Eu não gostava desta arrumação absolutamente. Ter Kat em um automóvel diferente era o suficientemente ruim, mas deixá-la com Sadi e Rolland me dava vontade de querer bater meu punho na cabeça de alguém. Dee se encontrava sentada na parte da frente, ao lado de um dos recémchegados, vestida como uma mini-Sadi, vestindo um terninho. Deus, isso me fazia querer arrancar a pele dos meus ossos. Havia pelo menos uma centena de coisas que eu não gostava sobre isso, e todas elas me faziam querer me dar um soco no rosto.             Eu estava com um humor de pancadas.             Isso era tão confuso após a felicidade que eu tinha experimentado esta manhã com Kat. O tempo gasto com ela, nela, agora parecia ter acontecido uma eternidade atrás. Havia uma estranha e desesperada inquietação em meus pensamentos que eu não conseguia afastar. Como a sensação de seus lábios, e como que quase parecia ser algo do passado. Meu irmão me lançou um longo olhar antes de dirigir sua atenção para a janela. Encontrava-se tenso, virtualmente tão tenso como um arco. O prefeito vivia nos quintos dos infernos, e nós ainda estávamos pelo menos cinco milhas ou mais da cidade. Eu queria dizer ao cara atrás do volante para se apressar de uma vez. De repente, o automóvel de polícia diante de nós freou, e saltei para frente quando o Hummer fez o mesmo. Agarrando a parte de trás do assento diante de mim, amaldiçoei em voz baixa. —O que está acontecendo? —perguntou Dee, franzindo a resta. — Não deveríamos estar parando. Mais adiante, um Sedan negro girou bruscamente para a esquerda sem nenhuma advertência, e vi algo que fez meu coração parar um maldito segundo. O horror formou uma bola na boca de meu estômago.
A limusine em que Kat viajava se desviou para a faixa direita, e logo subiu para um lado. Bateu em uma motocicleta da polícia, e enquanto girava, justo na direção de outra, o condutor mudou de direção um segundo muito tarde e se chocou contra o para-brisa do Sedan. A limusine se encontrava no ar, indo em ponto morto, vários metros antes de cair invertida. O metal destroçado. —Pare o automóvel! —gritou Dawson. Já estava em busca da porta quando a Hummer se sacudiu até parar. Abrindo a porta de um puxão, não parei para pensar como parecia mais de uma dúzia de Luxen saindo de seus respectivos veículos. Não me importava. Empurrando um de uniforme do caminho, corri até a limusine destruída. Só sabia que Kat continuava viva porque eu também respirava, mas isso não significava absolutamente nada. Podia estar machucada, e pensar que podia estar gravemente ferida era suficiente para quase me pôr de joelhos. Dawson e Dee se encontravam logo atrás de mim enquanto rodeava o mutilado corpo cintilante do Luxen que tinha estado na motocicleta. Uma brilhante luz branca explodiu dentro da limusine. Derrapei até parar. A porta de trás saiu voando para o outro lado da estrada com tal força que rasgou direto pela metade um Luxen em um uniforme de polícia. Como se um Luxen de repente se convertesse em dois Luxen não-tão-unidos. —Santos híbridos —murmurou Dawson. Não antes de que essas palavras saíssem da boca de meu irmão, uma forma azul, vermelha e branca seguiu o caminho da porta, voando ao outro lado da estrada e batendo contra um pinheiro. A velha árvore se balançou. Agulhas de pinheiro caíram na terra, enquanto o borrão caía de bruços no chão. Sadi. Meus olhos arregalados se moveram de retorno à limusine quando uma pequena mão delicada apareceu no asfalto, e logo a seguiu um braço magro, revelando a curta manga de um suéter negro. Kat saiu da abertura arruinada onde costumava estar a porta. Ficando de pé, tirou seu longo cabelo do rosto. Sangue brotava de sua boca, e a calça em sua perna direita estava rasgada ao redor de sua coxa, coberta de sangue. Comecei a caminhar para ela. Duas palavras me pararam.
Olhou-me, aspirando profundamente enquanto a luz branca, tingida de vermelho se apagava em seus braços.  —Eles sabem. Dawson amaldiçoou enquanto a compreensão se propagava sobre nós. Dee gritou quando eu saí da minha forma humana. Foi como tirar um casaco. O jogo terminou. A única coisa em que era capaz de pensar nesse momento era em tirar quem me importava o mais breve possível dali. Virei-me, desencadeando a Source no condutor antes de que tivesse uma oportunidade de ficar todo Luxen especial sobre nós. Nossa espécie não era muito fácil de matar. Éramos como coelhos Energizer alienígenas. Continuávamos nos levantando e nos levantando. O golpe tinha que ser catastrófico para o sistema. Mais ou menos como com os zumbis — uma analogia que Kat aprovaria —. Arrancar a cabeça era uma forma. Um golpe no coração era outra. Uma explosão da Source nem sempre nos matava. O condutor cambaleou ficando de pé, recuando para soltar sua pequena bola de felicidade, e o golpeei de novo, e logo outra vez, direto sobre seu peito. Múltiplos golpes da Source resolveriam o problema. Luz branca brilhou sobre o condutor, ondeando através da rede de veias, e logo toda a luz se apagou quando o condutor tombou como um saco de papel no vento. Dawson estava tirando um monte de agressão reprimida enquanto ia atrás de um Luxen vestido de oficial. Katy tinha reornando à limousine, braços levantados, lançando o carro amassado de volta em suas rodas. Dayum. O alto Luxen, que com muita dificuldade falava, saiu correndo do automóvel, e eu comecei a caminhar para ele, facilmente esquivando uma rajada de luz, mas parei de súbito quando o grande comprimento do cabelo de Kat se levantou de seus ombros. A estática crepitava no ar a seu redor. Uma explosão da Source saiu de sua mão batendo no Luxen e lançando-o ao ar. Não parou, enviando outra e outra até que ele caiu de novo no capô. Uma brilhante piscina líquida incandescente se formou rapidamente debaixo da forma imóvel. Oh, partes de meu corpo sentiram todo tipo de formigamentos vendo isso.
Kat se girou para mim, seus olhos brilhavam do interior. Nesse momento, parecia-se como uma deusa, uma deusa da vingança. Se não estivéssemos no meio de uma briga, teria você contra uma árvore agora. Um lado de seus lábios se curvou.  Você é um  … atrás de você! Girei, pegando o braço do Luxen. Trataaie, ele bufou, me marcando como traidor. Tanto faz. Girando-me para um lado, agarrei fortemente o Luxen enquanto o levantava e o atirava como um Frisbee de diversão. O Luxen girou pelo ar, acertando um poste telefônico. A madeira se lascou. As linhas se quebraram e a eletricidade se moveu riscando um arco, enviando faíscas. Kat passou correndo junto a mim, unindo-se a um Luxen que se aproximava sigilosamente para Dawson, enquanto ele finalizava outros dois. O mais recente se virou na direção dela, apertando o braço, gritando de dor, e então a atacou. Tinha a situação dominada. Inclinando para um lado no último minuto, ela bateu seu joelho no abdômen dele e logo golpeou com as mãos sua cabeça inclinada. A Source crepitou de sua palmas, sobre o Luxen, em um tiro direto à cabeça. Outro caído. Porra, ela era gloriosa. Junto à estrada, Sadi se erguia cambaleando. Plantou uma mão no capô de um automóvel de polícia, levantando-se. Kat andou até ela, determinação fixa nas linhas de seu pálido rosto. Equilibrou-se, agarrou a porta do automóvel danificado, e a balançou como um taco de beisebol. A porta acertou Sadi no peito, afastando-a do automóvel e derrubando-a sobre uma só perna. —Isso foi por ser uma completa cadela! —Acertou Sadi pelas costas, empurrando-a para frente. — E isto é para sequer pensar que estava tudo bem me tocar. —O último golpe veio de frente, batendo a cabeça de Sadi, deixando-a fraca. — E isto é só por dizer o nome de Daemon. Sadi caiu sobre seu traseiro, com os joelhos dobrados debaixo dela. Kat respirou profundamente e se girou para mim.
Maldição, Kitten, você é foda, quase assustadora, e ainda assim muito gostosa. Atirou a porta no chão.  —Não acredito que esteja morta. Ela parece morta. Seus lábios se curvaram.  —É uma Origem. Nem se quisesse sei como matar um deles, mas realmente quero saber. Antes que eu pudesse processar essa revelação, um Luxen correu pela parte de trás de nossa pequena Caravana, querendo entrar em nosso grupo de incrível surra. Dando um passo para trás, olhei ao redor e medi o poder dentro de mim enquanto divisava a arma perfeita. Uma intensa onda saiu de mim, quebrando o asfalto e virando um automóvel de polícia para um lado. As sirenas soaram quando a onda bateu nos pinheiros que bordeavam o caminho. Dois tremeram violentamente e logo foram arrancados. Grossas raízes penduravam enlameadas, e o aroma da velha terra fértil encheu o ar. Abaixem-se! Enviei a mensagem, e Kat e Dawson se atiraram ao chão como profissionais. Os pinheiros voaram pela estrada como um gigante varal, apanhando e elevando a linha de figuras brilhantes, levando-os pela estrada para o outro lado onde se localizavam outros pinheiros grossos. Baixando meus braços, sacudi a tensão arrastando-se por meus ombros e dei um passo para frente. Alguns pareciam como insetos esmagados em um parabrisa, cobertos em líquido brilhante. Não se levantariam de novo em um futuro próximo, mas os outros o fariam. Kat ficou de pé. Endireitando-se, apontou a limusine. Rolland cambaleava para fora, ainda em sua forma humana.  —Mate-os! — gritou, logo todos ficaram repetindo em nossa língua materna. Havia ao menos uns sete de pé, e enquanto me lançava para Dawson e Kat, sabia que as possibilidades não pareciam boas. Estávamos fazendo um pouco de dano, matando alguns aqui e lá, mas ainda restavam muitos. Muitos.
Durante tudo isto, Dee ficou parada ali. Não se meteu na briga, e não veio em nossa ajuda tampouco. Só ficou parada de um lado da estrada, com suas mãos fechadas em punhos, observando os Luxen que ainda nos rodeavam. Levantei minha mão e a estendi para ela. Ela tinha que se juntar a nós. Não havia nenhuma maneira. Não importava quão forte era a atração, nós éramos sua verdadeira família. Mas não se moveu quando os outros se aproximaram. Dee? Olhou-me e balançou a cabeça em negativa, afastando-se. Não podia acreditar. Meu peito se oprimiu enquanto a olhava. Não podia estar tomando esta decisão. De maneira nenhuma. Os Luxen estavam se aproximando. Isto é mau. A voz de Dawson flutuou através de mim. Isto é realmente mau. Era, mas não iam nos derrubar desta maneira. Envolvi minha mão ao redor da de Kat e ela a apertou em resposta, fazendo com que a luz pulsasse pelo meu braço. Puxei-a para mais perto quando Dawson se moveu para ficar na frente dela. Não era que nenhum de nós pensássemos que ela não podia defender-se por sua própria conta. Mas em última instância, éramos mais fortes do que ela era. Podíamos suportar mais golpes, definitivamente havia alguns golpes vindo em nossa… O que soou como centenas de pássaros de grandes asas, desceu no bosque que nos rodeava. Giramo-nos, como os outros Luxen, enquanto seis helicópteros de cor escura coroaram os altos pinheiros. Inclinaram-se enquanto se aproximavam da estrada, com as portas abertas em todos exceto um, o qual voou em círculos, abrindo as portas. Tinha visto o filme A Queda do Falcão Negro algumas vezes. Sabia o que via. Cordas caíram sobre a borda, dando voltas até a estrada. Em questão de segundos, soldados apareceram nas portas dos helicópteros, vestidos completamente de negro, com os rostos escondidos detrás de capacetes protetores. Alguns foram pelas cordas, descendendo em rapel. Outros se ajoelharam nas bordas dos helicópteros, apontando suas armas, as que recordavam a um pequeno lançador de foguetes.
Era a mesma arma amarrada ao longo das costas dos soldados correndo pela rua — armas PEP, Projéteis de Energia Pura. Armas mortais para Luxen, híbridos e origens. Oh inferno.
Cada parte de meu corpo doía. As coisas passaram de “Oh, inferno” a “Estamos ferrados” em questão de segundos. De verdade estávamos ferrados de cada maneira possível. Os irmãos voltaram para suas formas humanas, me empurrando para trás contra um automóvel de polícia destroçado enquanto os soldados caíam na rua. Não tínhamos nenhuma possibilidade. Não com tantos soldados descendo como chuva ao redor de nós. A mão de Daemon se apertou ao redor da minha enquanto um dos Luxen recuava, enviando um raio da Source ao helicóptero mais próximo. A energia bateu logo debaixo das hélices. Faíscas voaram quando o helicóptero virou bruscamente, girando fora de controle para os pinheiros. O impacto fez o chão tremer, e a onda de calor proveniente da bola de fogo me obrigou a ir mais para trás contra o automóvel de polícia. Um soldado desceu em um joelho, levantando sua arma. Houve um clarão azul ao final do cano, e logo a luz saiu, muito parecida com a da Source, mas era de um radiante brilho azul. Ela se chocou contra o Luxen, iluminando-o como se tivesse sido atingido por um raio. Houve uma vibrante onda de cor vermelhoesbranquiçado, e logo o Luxen caiu para trás. Enquanto o brilho se apagava nele, era óbvio de que não restava mais vida. O inferno começou.             Ondas das armas de energia saíram sem parar para o outro lado da rua, como o fazia a luz da Source. Ambos os lados caíam rapidamente, caindo como uma fila de dominó. —Jesus —grunhiu Daemon quando me empurrou para um lado. Bati no peito de Dawson quando um raio perdido de energia bateu no automóvel de polícia. Empurrou-me ao redor do capô e continuou me empurrando, mas cravei meus calcanhares, me esticando ao redor do automóvel para que eu pudesse ver Daemon. Ele se movia ao redor dos automóveis abandonados, luzes azuis e brancas piscavam através de sua forma. —Dee! —gritou. Meus olhos procuraram a sua irmã, encontrando-a mais longe da estrada, perto de Rolland, que se retirava rapidamente. Dirigia-se para ela, esquivando por pouco das rajadas de luz. Meu coração saltou em meu peito quando uma explosão da arma de energia bateu no chão a só uns poucos centímetros de seus pés. —Daemon! —Comecei a caminhar para ele, mas fui agarrada por trás. —Você vai se matar! — Dawson me puxou contra seu peito duro, e enquanto eu lutava para me libertar, ele levantou meus pés do chão. Agarrei seus braços, esperneando.  —Deixe-me ir! Dawson ficou me puxando para o lado da estrada quando Daemon saltou sobre um sedan, correndo em direção a sua irmã. Dawson se virou, e perto da limusine, os flashes de luz eram quase ofuscantes. —Meu Deus. — Dawson murmurou em meu ouvido. —Olhe para eles. Por um momento, tudo o que podíamos fazer era olhar. Ele me colocou para baixo, afrouxando seu aperto. Nós compartilhamos o mesmo objetivo, talvez mórbida fascinação. Um por um, os Luxen atacaram e foram atingidos por uma explosão de PEP vinda dos soldados que tinham formado uma fila quase que impenetrável. Todos os Luxen eram bem conscientes das armas, mas eles não pareciam compreender o fato fundamental de que tudo o que se precisava era uma rajada. Mas, no que me dizia respeito, podiam seguir correndo direto para os soldados o quanto quisessem. Fiquem à vontade!! No entanto, dois soldados corriam pelo centro da estrada, entre os automóveis, procurando os Luxen que pareciam ter um pingo de bom senso e fugiam. Um dos soldados se dirigiu direto para Deamon, quem tinha apanhado Dee e a tinha pelos ombros, sacudindo-a. Rolland se encontrava a um lado da estrada,
muito perto deles. Um grupo com nada mais que más coisas escritas por toda parte estava prestes a descer. Tudo o que eu conseguia pensar era em chegar a Daemon. Bati com o meu pé o de Dawson, surpreendendo-o, e me libertei, correndo para o lado da estrada, suas maldições seguindo cada um de meus passos. A dor perfurou minha perna enquanto corria a toda velocidade entre um Hummer e um automóvel de polícia. O soldado ficou sobre um joelho, nivelando a arma. Mais adiante e diante do soldado, Dee se libertou de seu irmão, com o rosto contorcido.  —Não! —Por favor…! —A agarrou outra vez. —Não. Você não entende! —Empurrou-o, e ele tropeçou, mais de choque do que de sua força. — Pela primeira vez, eu não me machuco. Eu não me preocupo. Eu quero isso.  Uma luz azul ondeava no extremo da ponta da arma, mas já não podia utilizar mais a Source. Eu estava drenada, aniquilada. Corri com todas minhas forças, mais que disposta a ir no corpo a corpo. Eu não estava mais do que três metros do soldado ajoelhado quando outro soldado abruptamente apareceu diante de mim. Derrapando até parar, perdi o equilíbrio e caí sobre meu traseiro. A ponta de uma arma PEP foi plantada em meu rosto. —Não se mova— veio uma voz abafada por trás do capacete.             Uma luz azul se acendeu da outra arma, e o horror zumbiu através de mim enquanto gritava. Daemon se virou, protegendo a sua irmã, mesmo quando se libertou dele uma vez mais. A arma de energia disparou uma rajada através dos automóveis, forjando a distância entre a arma e onde Daemon e Dee se encontravam parados, atingindo o seu alvo no peito. Detrás deles, Rolland foi jogado para trás, entrando e saindo de sua forma humana. Sua cabeça bateu na estrada enquanto gritava. O brilho em torno dele pulsou uma vez, e logo não havia nada. O soldado não tinha apontado para Daemon… e Daemon ficou olhando fixamente, com os olhos arregalados e seu peito subindo e descendo bruscamente.
Dee hesitou, e então ela se virou, passando para a sua forma de luz e desapareceu entre os grossos pinheiros. Luz azul ricocheteou nos troncos das árvores, seguindo sua retirada. Daemon começou a girar-se, para ir atrás dela, mas parou quando me viu. Pela extremidade de meu olho, vi Dawson caminhar para onde eu continuava sentada. — Eu lhe disse para não se mover. —disse entre dentes sem afastar o olhar do soldado com a arma apontando para mim. — Parece que funcionou bem para você. — eu respondi.             O outro soldado agora estava com Daemon na mira, conduzindo-o de volta para onde nos encontrávamos. Quando chegou a nós, lentamente se agachou. —Fique aquieto! —gritou o soldado. A ira saiu de Daemon enquanto continuava avançando, atirando um olhar ao soldado que gritava que tentasse detê-lo. O dedo no gatilho convulsionou quando Daemon envolveu suas mãos debaixo de meus ombros e me levantou. Colocou-me no refúgio de seus braços, inclinando seu corpo para que muito pouco de mim se mostrasse. Um músculo vibrou ao longo da mandíbula de Dawson.  —Bom, porcaria. As hélices do helicóptero golpearam o ar, e em questão de segundos, outro Falcão Negro coroou os pinheiros, descendo no meio da rua, a alguns metros de nós, levantando vento e fazendo que meu cabelo saísse de debaixo dos braços de Daemon enquanto me pressionava com mais força contra ele. Exausta e golpeada, drenada como uma esponja torcida, sabia que estávamos acabados. Os três. Se eles abrissem fogo, tudo terminaria. Uma sensação de mal-estar se arrastou por minha garganta. Queria fechar os olhos, mas isso parecia como a escapatória de um covarde. Houve um som suave de metal, e logo a porta do helicóptero se abriu, lentamente revelando quem se encontrava ajoelhada no interior, nos olhando. Esperando. Como sempre. Nancy Husher.                                             
CAPÍTULO 10
Houve momentos em minha vida em que eu realmente não podia acreditar que as coisas poderiam ficar mais ferradas do que já eram, especialmente com Dee correndo para se juntar ao maldito circo Luxen.  Mas cada vez, me provava, de novo, quão errado esse pensamento era. Nancy olhou para nós com olhos escuros, o rosto desprovido de qualquer emoção, uma lousa em branco total. Dawson xingou e começou a mudar, mas Nancy falou antes que ele pudesse fazer algo que iria acabar com um monte de explosões e caos geral.            — Se querem viver — disse com voz cortante—, entrarão neste maldito helicóptero. Agora. Realmente não tínhamos muitas opções. Ou começávamos uma luta onde  nos venceriam com uma de suas armas, ou entrar no helicóptero. Então o que? Saíamos da frigideira e logo caíamos no meio do fogo. Mas uma opção mais provável envolvia morrer agora, enquanto o outro era, provavelmente, morrer mais tarde. Mais tarde, dava-nos algum tempo para descobrir uma maneira de sair desse desastre mais recente.             Enviei a Dawson um olhar que dizia: Calma aí. Por um momento, pensei que ele diria ao diabo com isso, mas seus ombros se endireitaram, e logo subiu ao helicóptero. Virando-me para Kat, encontrei seus olhos, e o receio em seu olhar cinza, a exaustão e a dor, estavam tingidas de medo.  Feriu-me profundamente ver isso e saber que não havia nada que pudesse fazer neste momento para mudar isso. Inclinei a cabeça e rocei meus lábios com os seus. —Isso vai ficar bem. Kat assentiu. —Que bonito. —disse Nancy. Meu lábio se curvou quando voltei meu olhar para ela. 
— Recorda como terminou a última vez que pensou que nos tinha sob controle? Um brilho de ira se arrastou por seu rosto que de outra maneira era estoico.  —Confie em mim. Não é algo que esqueci. —Bem. — grunhi, levantando Kat exatamente onde Dawson esperava dentro do helicóptero. Ele a puxou em direção a ele enquanto eu saltava para entrar, empurrando Nancy. A mulher recuou, caindo sobre um banco enquanto encontrava meu olhar.  — Mas desta vez terminará diferente. —Será? Enfoquei-me completamente em seu rosto e baixei a voz para que só ela pudesse escutar enquanto as hélices de helicóptero bloqueavam minhas palavras para outros.  — Sim, porque, desta vez, eu vou ter certeza que você esteja morta.   Nancy ficou tensa quando recuei e peguei Kat. Meu irmão a entregou para mim, e Nancy não disse nada. Em troca, jogou sua cabeça para trás e fechou os olhos. A mulher tinha as bolas maiores que eu, considerando todas as coisas. Coloquei Kat contra mim quando Dawson se sentou do outro lado dela. Dois dos soldados subiram, tomando os assentos ao lado de Nancy. Alguém se inclinou para trás, fazendo um gesto com o braço ao piloto para que nos elevasse. No momento que a ave deixou o chão, Kat fechou os olhos com força. Um estremecimento a sacudiu enquanto apertava seu punho em minha camisa. Seu coração batia muito rápido. Ela não era uma grande fã de voar, assim encontrarse em um helicóptero, provavelmente estava fazendo-a enlouquecer completamente. Mantendo meus olhos fixos em Nancy e seus pequenos asseclas, levantei Kat e a sentei em meu colo. Envolvi meus braços a seu redor, curvando uma mão contra sua nuca, colocando-a de maneira que seu coração descansava contra o meu. Um dos soldados apoiou sua pistola entre suas pernas e levantou os braços para tirar o capacete. Passou uma mão por seu cabelo cor de areia, marrom, torceu o pescoço e abriu seus olhos. Ametista. Maldita Origem.
Obviamente um dos bem-sucedidos produtos de Nancy, como Archer e Luc. Eu não conseguia pegar merda nenhuma do cara, mas eu não tinha pegado nada de Archer, antes que ele revelasse o que ele era. O mesmo com Luc. Eu sempre soube que havia algo estranho com o garoto, mas nunca pude investigá-lo. E Sadi se parecia como um Luxen para mim. Outro talento Origem, supus, misturar-se perfeitamente em algo que não são. Havia uma grande quantidade deles que não conhecia, e agora, não dava a mínima.             Baixando a cabeça, mantive-me observando aos três na minha frente enquanto falava no ouvido de Kat. Falei de coisas absolutamente sem sentido. O último programa do Ghost Hunters que vi e como eu queria verificar o asilo abandonado um dia. Eu disse a ela sobre o tempo que eu tinha convencido Adam que eu tinha visto o Mothman uma noite quando estive fora vigiando Arum. Então, lembrei-lhe faltando apenas um mês para o Halloween tínhamos que encontrar nossas fantasias de Gizmo e Gremlin. Falei com ela sobre qualquer coisa, tentando manter sua mente fora do fato de que estávamos voando pelo ar, indo para Deus sabe onde. Funcionou até certo ponto. Sua frequência cardíaca diminuiu um pouco e ela soltou o aperto da morte. Ninguém falou durante a viagem, exceto pelo que eu dizia a Kat. Não era como se realmente pudesse ouvir nada, a menos que estivesse diretamente em cima de alguém. O zumbido do helicóptero viajava através de nossos corpos, fazendo que parecesse como se nos encontrássemos em um tambor de aço. Não tinha nem ideia de quanto tempo permanecemos no ar. Talvez mais ou menos uma hora antes de que o helicóptero começasse a inclinar-se para um lado, e eu tinha quase certeza de Kat começou a rezar em voz baixa. Em qualquer outro momento eu teria rido, mas a cautela se instalou em cada célula. O que estávamos a ponto de enfrentar agora? Sermos presos? Enquanto olhava Nancy abrir seus olhos e passar as mãos por suas calças negras, duvidei de que ela queria nos manter com vida. Sua obsessão com a criação entre Luxen e híbridos para criar a raça perfeita só podia ir muito longe. Tinha grandes motivos para estar zangada conosco. Afinal, nós escapamos, matando um monte de soldados para isso; fomos meio culpados pela destruição de uma cidade inteira; e revelamos o que éramos antes dos Luxen decidirem.
Diabos, o que fizemos talvez teve algo a ver com o porquê os outros escolheram este momento para chegar. Então, novamente, se ela nos queria mortos, teria sido uma tarefa fácil de realizar na estrada fora de Coeur d'Alene, então eu não tinha ideia do que ela estava fazendo.             O helicóptero aterrissou, e as portas se abriram imediatamente. Quando Kat se afastou, eu tive o meu primeiro vislumbre do lado de fora. Tudo o que eu vi foi uma cerca de arame alta, e, além disso, uma montanha cinza à distância. Talvez as Montanhas Rochosas?             Um soldado desceu, nos fazendo gestos. Dawson desceu e logo Kat. A mantivemos entre nós, e no momento em que meus pés tocaram o chão, peguei sua mão. Ao conseguir uma melhor visão de tudo, eu não gostei do que vi. Era óbvio que estávamos em uma base militar, uma enorme que se estendia até onde se podia ver. Fila após fila de bunkers, aviões, tanques e outros inconvenientes importantes na hora de formular um plano de fuga. Mais adiante, encontrava-se um edifício largo e alto em forma de U. E toda uma porrada de soldados. Alguns vestidos com traje de camuflagem. Outros vestidos de negro como os soldados na estrada. Eu tinha a sensação de que eram ainda mais especiais. —Bem-vindos à Base da Força Aérea de Malmstrom —disse Nancy, nos observando ao passar junto a nós. Enquanto passávamos as filas de soldados, esperava que saudassem Nancy. Não o fizeram. — Toda a base está bloqueada. Ninguém entra nem sai, incluindo os Luxen. Meus olhos se estreitaram em suas costas. Deus, essa mulher tinha um tiro ao alvo em sua cabeça. Não só pelo que fez a Kat, mas também a meu irmão, a Beth, e por cada outra vida que suas mãos pervertidas tocaram. Eu não me animava com a ideia de dar um fim na vida de alguém, nem mesmo a de alguém como ela. Mas, e ai, se eu não estava ansiando que o momento em que eu fosse lhe dar o troco por tudo e mais um tanto chegasse. —Por que nos trouxe aqui? — exigiu Dawson. Nancy continuou andando em um ritmo acelerado. —Descobrirão que a base está preparada para lutar com sua espécie.
Significava que havia armas com ônix, diamantes e uma tonelada de outras pequenas coisas deliciosas que Daedalus fabricou ao longo dos anos. —Isso não responde a minha pergunta —replicou Dawson. Nancy parou na frente de portas duplas de aço. Nós, obviamente, não entraríamos pela entrada principal. Girou-se para um lado, olhando para trás, a nós, e pela primeira vez desde que conheci a mulher, vi algo em seus olhos escuros que nunca vi antes. Vi medo. Que que…? As portas de aço se abriram, o metal chiou enquanto se abriam, revelando um túnel muito iluminado e uma pessoa de pé no centro. Suas mãos dentro dos bolsos de seu jeans rasgados e desbotados. Kat recuou, surpresa, esbarrando em mim. —Já estava na hora de chegarem aqui. Eu estava ficando muito entediado. — Luc balançou para trás nos saltos de suas botas, sorrindo amplamente. —Mas eu acho que está faltando um, Nancy.             Nancy ficou tensa quando ela respirou profundamente pelas narinas.  —Dee se foi com os Luxen. Encontra-se sob seu controle. O sorriso se desvaneceu do rosto de Luc.  —Bom, isso é uma merda.  “Merda” não começava a cobrir tudo, mas não tinha nem ideia do que fazer com tudo isto. Eu balancei minha cabeça enquanto eu olhava para ele. —O que diabos está acontecendo, Luc? Ele arqueou uma sobrancelha.  —Que tal um agradecimento em primeiro lugar?  Talvez? Quero dizer, consegui ter seus traseiros fora de problemas, não? Realmente eu gostaria de um obrigado. Talvez um abraço? Sinto-me um pouco necessitado. —Onde está Beth? —Dawson deu um passo adiante, parecendo esquecer que Nancy se encontrava bem ali. Não é que ele parecesse se importar— Por favor, me diga que não… —Acalme-se —respondeu Luc, tirando as mãos dos bolsos— Ela está indo bem. Ela realmente está aqui. Tenho certeza de que uma destas úteis… pessoas —
fez um gesto para os soldados com uniforme de camuflagem fora das portas—, que não sei qual diabos é seu trabalho, pode levá-lo aonde se encontra. Dawson começou a girar quando um dos soldados se aproximou. Lancei-me para frente, agarrando seu ombro.  —Espera um minuto. —O parei antes que meu irmão pudesse sair correndo às cegas. — Que diabos está fazendo aqui com ela, Luc? O sorriso de Luc retornou.  — Vamos passar para o próximo item da agenda, Daemon. Não há necessidade de lançar seu Hulk em ninguém. Está a salvo aqui. Nancy não será um problema. Ou será? —perguntou à mulher de lábios apertados. Parecia que ela tinha algo muito desconfortável dentro de um lugar muito vergonhoso. Sua falta de resposta não me acalmou, mas mesmo se ela tivesse dito não, eu não teria sido convencido. Não se mexeu. Tampouco Kat, mas Dawson estava pronto para sair como um Papa-léguas sobre nós. Luc suspirou enquanto elevava suas mãos.  —Olhe, isto não é uma armadilha, um teste, ou um treinamento. Archer está aqui também. Está nos esperando, na realidade, e estou mais que disposto a explicar tudo a vocês, mas não farei isso aqui de pé. Não quando eu encontrei um Lunchables apenas alguns minutos antes de vocês aparecerem, e estou preparado para fazer um delicioso bufê de presunto e queijo sobre bolachas para mim. Fiquei olhando-o. — O quê? É o tipo que tem biscoitos Oreo incluído. —respondeu— Essa merda está fantástica. —Deus, você tinha tanto potencial— Nancy murmurou baixinho. Luc dirigiu os olhos violeta para ela e falou com uma voz que era quase inaudível para aqueles que nos rodeiavam.  —E você está me enchendo a paciência. Não acredito que queira isso, não é? Caramba, se essa mulher não se tornou tão branca como uma folha de papel novinha em folha. Voltei a olhar para Kat, vendo se ela tinha notado, e os olhos arregalados me disse que ela tinha. Ainda hesitei. Eu ainda hesitei.
—O Lunchables também vem com um Capri Sun— acrescentou Luc. —Suco de fruta mixta. Esses impressionantes Lunchables não estão brincando.  Cara, sem importar o que fizesse ou decidisse de agora em diante, havia um risco, e não saberia aonde me encontrava com o Luc. Acredito que ninguém sabia. O fato era que realmente não tínhamos muita opção. Meu olhar se fixou em Luc.  — Se você estiver ferrando com a gente, eu juro... —Deus, Jesus e o Espírito Santo que me matará ou o que for — interrompeu— O entendo. E embora não aparente apropriadamente que me sinto ameaçado, estou. Assim, crianças, podemos mover este grupo juntos? Deixando sair um suspiro, soltei o ombro de Dawson. O soldado esperou até que Dawson se uniu a ele. Nancy Nancy afastou-se, permitindo a ambos passar. Eu não gostava, mas ele tinha um foco — Bethany. Não olhou para trás, nem uma vez. Assim como Dee não tinha olhado para trás.             Pensar em minha irmã bateu um peso sobre meus ombros, e soltei outro suspiro enquanto alcançava a mão de Kat. Ela já estava ali, entrelaçando seus dedos com os meus. —Tudo bem— eu disse. —Vamos fazer isso. Luc bateu palmas enquanto girava nos calcanhares. Dirigimo-nos para o túnel, virando à direita, apesar de que Dawson foi para a outra direção. O lugar me recordou à Área 51. Corredores largos. Muitas portas fechadas. Estranho aroma de antisséptico. De certa forma, era melhor que estar com os outros Luxen. Pelo menos esse era o inimigo que conhecíamos e tudo mais. Luc deu um joelhada a umas portas duplas para abri-las e pegou um lado com sua mão. Nancy o seguiu para dentro, e como havia dito, a um lado de uma longa mesa havia um pacote de Lunchables. Archer se encontrava sentado ao outro lado, com as pernas levantadas e os braços cruzados atrás do pescoço. Quando a porta se fechou detrás de nós e só Nancy entrou, sabia que algo muito estranho estava acontecendo. Antes, a mulher viajava com uma comitiva. —Está tudo bem? — Kat suspirou quando ela se soltou, mancando em torno do lado da mesa. —Eu estive tão preocupada.
Archer tirou suas longas pernas para fora da mesa e se levantou. Um segundo depois, ele envolveu Kat em um abraço.  —Eu lhe disse para ficar onde estava. Mas, oh não, você não me ouviu. —Ele olhou sobre a cabeça dela para mim. —Eu disse a ela totalmente para ficar. Luc fez uma careta.  —Por que não recebo um abraço? Ele foi ignorado. —Sinto muito. — A voz de Kat era abafada. — Tive que fazer isso, sabe? —Entendo. Mas, caramba garota, talvez não teria funcionado tão bem — respondeu Archer— Tudo poderia ter ido à merda, e então quem me levaria ao Olive Garden e assim poder provar os palitos de pão intermináveis? Kat riu, mas o som era grosso e embargado. Eu fiquei onde eu estava, dizendo a mim mesmo que o calor feio invadindo minhas veias era indigestão e não inveja. Totalmente não isso, porque Archer tinha nada contra mim. Mas ele precisa abraçá-la por tanto tempo? E tão forte?  Vamos, maldição. Olhar roxo de Archer encontraram os meus por cima do ombro dela. É. Sim, eu meio que preciso. Meus olhos se estreitaram. Eu ainda não gosto de você.             Sorrindo, afastou-se, abandonando seu abraço, e, em seguida, estendeu a mão para uma cadeira.  —Parece que você está prestes a cair. Por que você não pega um lugar?             Kat parecia esgotada enquanto se acomodava em uma das cadeiras dobradiças de metal.  —O que está acontecendo, pessoal? Por que vocês estão aqui e com ela?  Archer me olhou de novo enquanto se sentava.  —Onde está Dee? A pressão aumentou quando me movi para o assento ao lado de Kat. Enquanto eu me sentava, tensão cintilou no rosto de Archer, reunindo-se em torno de seus olhos.   —Ela… — Eu balancei minha cabeça, sem saber a forma de explicar o que acontecia com ela. Suas mãos se apertaram em cima da mesa. 
—Ela não está… ela não está morta, não é? —Não. —Kat tomou a palavra— Ela não é a mesma. Ela, tipo, está jogando em outro time nesse momento. Archer abriu a boca, mas quando se recostou contra o respaldo, fechou-a de repente. Eu não tinha certeza de quanto eles sabiam sobre tudo, mas não podia me colocar nessas coisas até que soubesse que diabos acontecia aqui. Virei-me para Luc, arqueando uma sobrancelha enquanto o olhava empilhar fatias de queijo e presunto em uma bolacha.  —O que está acontecendo? —Nancy vai ser agradável —disse, empurrando o queijo no centro. Ela se sentou ao lado de Luc e parecia que queria começar a quebrar as coisas. Seu olhar se encontrou com o meu.  —Confiem em mim, se tivesse que escolher agora mesmo, todos vocês estariam mortos. Luc estalou a língua suavemente.  — Agora, isso não é muito agradável. Não entendi. Quando Luc mordeu seu sanduíche, inclinei-me para frente.  —O que te impede de nos matar? —Digamos que todo mundo tem um calcanhar de Aquiles, e encontrei o dela. —Luc começou a fazer outro biscoito. — Não é bonito. Não é algo ao que inclusive eu queria me rebaixar. Mas, oh, raios! Isso não revelava nada. Kat se aproximou mais.  —Como todos vocês terminaram juntos? —Retornei à cabana. E depois que disse ao Luc o que aconteceu no supermercado, consideramos pegar a estrada. —explicou Archer— Mas não tivemos a oportunidade antes que Daedalus aparecesse. Os lábios do Nancy formaram uma linha apertada. —Ela pensou que nos tinha. —Luc deixou cair uma mini Oreo na parte superior de seu biscoito de presunto e queijo, e bom, isso era estranho. — Mas… —Disse que trabalhava nisso —disse Kat, olhando para uma silenciosa Nancy. — Uma maneira de lidar com o Daedalus? Encontrou alguma coisa?
— Eu sou uma pessoa muito bem relacionada—, disse Luc com a boca cheia de lixo. — Quando derrubaram nossa porta e Nancy entrou como se fosse a maior e malvada coisa deste lado do país, eu provei o bem que conectado eu sou. —Como? —Observei Nancy. —Como disse, todo mundo tem um Calcanhar de Aquiles. Nancy é bastante óbvia. —Luc cravou um canudinho através de seu Capri sol. — Há apenas uma coisa que ela se preocupa em todo este mundo inteiro, que ela jogaria sua família na frente de um tanque — se ela ainda tem uma família, porque eu tenho certeza que ela foi idealizada a partir de um ovo — é aqueles Bebês Origens.  —Bebês Origens? — Eu repeti. —Micah? Esses? — perguntou Kat. Luc assentiu.  —Sim.            —O dado curioso é que a maioria dos híbridos e os Origens mais antigos, os que partiram com ela para recuperar vocês, não estão realmente encantados com o tratamento Daedalus. —Archer sorriu, mas sem humor. — Os que eram leais, bom… —Bastardos — sibilou Nancy— Sabe quanto tempo levou cultivar algo que fosse tão leal e tão experiente…? —Algo? —Kat elevou a voz— Veja, é por isso que você está tão perturbada. Os híbridos e as Origens, eles não são uma coisa. São pessoas que vivem e respiram. —Você não entende. —Nancy dirigiu um olhar escuro para o Kat. — Nunca criou nada. — E você sim? Só porque você forçou duas pessoas a ter filhos e, em seguida, os tirou delas, não significa que você criou nada. —Kat apertou os lábios com ira. — Você não é sua mãe. Você não é nada, mas um monstro para eles.             Algo semelhante a dor cintilou no rosto de Nancy. —De qualquer maneira, eles significam muito para ela, e sei onde eles estão sendo mantidos. — explicou Luc, terminando seu último biscoito. —Diga a eles o que os figurões queriam, Elegante Nancy.              Ela agarrou a borda da mesa. 
— Após a chegada do Luxen, disseram-me para desmontar o projeto Daedalus. —Desmontar? —sussurrou Kat, e eu já sabia o que queria dizer. Acredito que Kat também sabia, mas não queria acreditar. —Disseram-me para limpar o programa, apagar tudo, — explicou Nancy. —Oh meu Deus— Kat murmurou. Fechei os olhos. Desmontar. Apagar tudo. Em outras palavras, alguém mais acima que ela na cadeia alimentar, deu-lhe a ordem para eliminar qualquer prova do programa.  —Queriam que os matasse? Ela exalou ruidosamente enquanto assentia.  ——Plausível negação, disseram. Que o público não podia saber que não só tínhamos conhecimento de formas de vida alienígenas, mas também estivemos trabalhando com eles por décadas. —Jesus. — Eu esfreguei a mão na minha testa. —Não apenas os filhos, certo? Cada Luxen que se encontrava lá por sua própria vontade? Os que permitiram que vocês fizessem testes? E inclusive os que não estiveram de acordo com suas normas? —Sim —respondeu ela. —É claro, ela não teve nenhum problema em eliminá-los. Eles eram dispensáveis depois de tudo, ao menos de acordo com ela. Mas esses Origens? — Luc balançou a cabeça lentamente. —Ela não poderia fazer isso. Minhas sobrancelhas se elevaram. A mulher tinha um coração em algum lugar de seu peito? Luc riu enquanto pegava meus pensamentos.  —Não, Daemon, ela não tem um coração. Não na forma em que uma pessoa normal cresceria unida a uma sala-de-aula cheia de pequenos fenômenos, e ainda assim, adoráveis crianças. Não queria que todo seu trabalho se perdesse, por isso os tirou da Área 51, e pensou que os deixava ocultos. —Mas ela não o fez? — Kat colocou o cabelo atrás da orelha. Ele balançou a cabeça. 
—Como disse, estou muito bem conectado. Sei onde estão e sei o muito que Nancy quer retornar a eles quando tudo isto terminar, uma vez que alguns de nós ainda estamos vivos, e cultivar os pequenos fenômenos em grandes fenômenos. —Como eu fiz com vocês? —perguntou Nancy. Luc a calou.  —Nancy, sabe que se ela machucar um fio cabelo de qualquer de nossos corpos, se inclusive nos olhar de uma maneira que eu achar chato… A indiferença casual que ele sempre mostrava, desvaneceu-se de seu rosto como uma máscara caindo. Inclinou-se para frente, com seus olhos brilhando como diamantes de cor púrpura, quando Nancy se girou para ele. Nesse momento, via o Luc que provocassem que homens adultos se mijassem, o Luc que eu não queria ter no lado errado, e esse Luc era francamente inquietante quando suas feições se aguçavam. —Ela sabe que terei a todos e cada um deles mortos em segundos —disse, em voz baixa— E se minha gente não ouvir de mim, inclusive se não poder fazer uma chamada a tempo, todos eles morrerão. E então Nancy fica sem nada. Bom Deus. Kat ficou olhando o garoto como se nunca o tivesse visto antes. Não havia dúvida em minha mente de que Luc era capaz de fazer algo assim. Tão confuso e errado que fosse, faria, mas tampouco acreditava que deixaria que as crianças voltassem a cair nas mãos de Nancy. E me perguntei se ela realmente acreditava nisso. Então, de novo, que outra opção tinha?  —Por que simplesmente não a mata? —perguntei. —Nós meio que precisamos dela. —explicou Archer. — Pelo menos, precisamos do governo, um lugar seguro até que… bom, esperemos que não haja um “até” e sim um para sempre. Também precisávamos conseguir a todos vocês e nós… —Tão incrivelmente impressionante como somos. —soltou Luc, voltando para sua forma mafiosa Origem não tão perturbadora. Archer lhe enviou um olhar suave.  —Ir contra muitos Luxen seria difícil. Nesse momento, ela é um mal necessário. 
—E menino, queremos dizer mau. —Sorriu Luc. Me inclinando para trás, passei minha mão por meu cabelo. Parecia como se Luc tivesse Nancy com uma correia. Muitas coisas passavam por minha cabeça. —E agora o que? —perguntou Kat, encontrando meu olhar— Temos que afastar Dee deles. Aquilo me fez querer tatuar o nome dela na porra da testa. —E nós precisamos encontrar uma maneira de parar o que está acontecendo, o que... E isso me fez querer trancá-la em um armário ou algo assim. —O que você precisa é de descanso e provavelmente algo para comer. — Archer interrompeu, olhando para mim. —Os dois. Essa é a prioridade.             —Há coisas que estão piorando. Coisas que eu tenho certeza que Nancy terá prazer em compartilhar com você, mas isso é para um dia diferente. —Luc estendeu a mão, acariciando a mão de Nancy como se ela fosse uma criança pequena. —Mas há outra coisa que ela precisa dizer-lhes.           
 A mandíbula de Nancy se sobressaiu. Sorri.  — Duvido que haja qualquer coisa que ela pode me dizer que eu vou dar a mínima. —Em realidade —Luc tomou a palavra— Eu acho que você e Katy se preocupam com isso.             Kat ficou tensa.  —E agora o que? —Diga a eles. — ele incitou, e quando Nancy não falou, ele disse em uma voz dura —Diga-lhes a verdade. Oh, merda. Meu estômago fez um descida rápida. —A verdade sobre o que? Os lábios do Nancy se franziram. Archer ficou de pé, cruzando os braços como se estivesse prestes a ser o valentão na sala, e eu realmente não gostava de onde nada disto estava indo.  —Que diabos? Apenas cuspa. —Minha paciência estava por um fio. Nancy respirou fundo e logo endireitou os ombros.
— Como você sabe, Daedalus trabalhou em muitos soros antes de termos qualquer quantidade de sucesso e, em alguns casos ...— Ela fez uma pausa, olhando incisivamente para Luc, que sorriu. —Os sucessos provaram ter falhas no final. Havia o soro Daedalus, que foi dado a Beth e Blake e assim por diante.            Kat tomou uma respiração profunda ante o nome do filho da puta que eu esperava que estivesse apodrecendo em um canto especial do inferno. Eu odiava a simples menção dele em sua presença. Kat o matou, defendendo-se, mas sabia que o que teve que fazer ainda a afetava. —Logo, é claro, havia o soro Prometheus —disse, com os olhos iluminados como uma menina encontrando os ovos escondidos do Coelho de Páscoa. — O soro que foi dado aos homens que sofreram mutação por você. —Quer dizer os homens que me forçaram a serem transformados? —desafiei. — Os voluntários que você transformou receberam o soro Prometheus, assim como os híbridos a partir dos quais foi criado o último lote de Origens —explicou, me surpreendendo. —Espera —interveio Kat— Você só estava testando o soro quando estávamos lá.             Luc meneou a cabeça.  —O que quer dizer é que os seres humanos que foram mudados acidentalmente por intervalos ao longo dos anos, foi dado o soro Prometheus em lotes de teste. Não como os que Daemon transformou, mas pessoas como você e Beth e qualquer outra pessoa lá fora que foi curada por um Luxen. Confusão se derramou em mim.  —Assim testaram o soro Prometheus, pela primeira vez nas mutações forçadas? —Como disse, eram voluntários —corrigiu ela.   Encontrava-me a ponto de ser voluntário para elevar meu pé e bater na cabeça de alguém.  —Ok. Esta é uma grande informação, mas basicamente inútil para mim. Um sorriso enfeitou os lábios de Nancy, pela primeira vez desde a nossa linda reunião.  —O soro Prometeu é diferente do soro Daedalus. Ele garante que o ser humano mutante, que o híbrido, não seja ligado ao Luxen.
Minha cabeça inclinou para um lado.  —Bem? —Quando curou Kat, e o Doutor Michaels nos alertou de quando ela adoeceu, não usamos o soro Daedalus. Kat ficou rígida.  —O que? Ele disse… — Você acha que ele realmente sabia o que estávamos entregando-lhe?— Seu olhar se ficou no escuro de Kat. —Ele acreditava no que dizíamos isso foi tudo. Dei a ele o soro Prometheus, que é o que foi dado a você. —Sua atenção se moveu de novo a mim— Foi o mesmo dado àqueles que também transformou, Daemon. —Não. —Inclinei-me para frente. — Isso não tem nenhum sentido. Quando Kat foi baleada… —Você ficou doente. Pensou que estava morrendo? Oh, livrai-nos do teatro. —Seus olhos rolaram. —É porque você realmente está ligado a ela em um nível emocional. Você a ama. —Cuspiu a palavra com A como se fosse uma doença sexualmente transmissível. — Sim, já descobrimos isso. Toda essa merda de querer e necessitar verdadeiro. —Bom, hurra! por você, mas eu estava morrendo. Ela balançou a cabeça.  —Você estava enfraquecido e que estava doente, mas se ela tivesse morrido, teria sobrevivido. Teria melhorado. A vida teria continuado. Você simplesmente não chegaria a esse ponto porque, obviamente, alguém a curou. Kat ficou sem fôlego. Fiquei de pé. O chão sob meus pés parecia se mover. Juntei meus joelhos. Fui abalado por completo, quase incapaz de acreditar nela. Nancy respirou fundo.  —Suas vidas não estão unidas como pensam que estão. Se um dos dois morre, o outro vai sentir isso; sentir tudo, até o último, a última batida do coração; mas o outro tomará outro fôlego e seu coração vai bater de novo.
CAPÍTULO 11
Logo depois de que essa pequena bomba foi lançada sobre nós, nenhum tinha nada mais a dizer. Tínhamos chegado a nosso limite quando se tratava de mentiras e de falar com todos. Meu cérebro se sentia sobrecarregado, correndo em círculos ao redor do que Nancy nos disse, pelo que Dee fazia, de onde se encontravam minha mãe e meus amigos, a respeito de se Luc realmente tinha o controle sobre Nancy, e o que o futuro proporcionava para todos nós. Sentia-me cansada. Daemon estava cansado. Archer fez uma parada no caminho para nos mostrar nosso quarto. Batendo os nós dos dedos na porta uma vez, ele abriu-a sem esperar por uma resposta. Por sorte nenhum de nós foi marcado pela vida. Dawson estava parado aos pés da cama, perto de onde Beth estava. Provavelmente estávamos interrompendo algo, mas o sorriso que transformou o rosto de Beth quando Archer se afastou e entramos, fez-me tropeçar em meus pés. Daemon me olhou, com as sobrancelhas arqueadas, mas eu estava focada em Beth. Ela… parecia normal, sentada na cama, com as pernas cruzadas, as mãos apoiadas em seu colo. O cansaço ainda era notável em seu bonito rosto. Sua pele era tão pálida e as sombras debaixo dos olhos destacadas, mas seu olhar era claro e focado.  —Estou tão feliz de vê-los, meninos —disse, colocando uma mão na parte baixa de seu ventre. — Estava muito preocupada. —Nós estamos indo bem. —respondeu Daemon, olhando para seu irmão. Apesar de estarmos em pé na frente de seu irmão e Beth, que parecia ilesa, tensão irradiava de Daemon. —E está tudo bem com você?              Seu irmão assentiu quando ele se sentou ao lado dela.  —Sim. Beth foi ao médico na base já. —Ele curvou uma mão em torno de seu joelho. —Eles pareciam ter experiência com isso. Meio estranho, mas eu acho que é uma coisa boa. 
Daemon lançou um olhar na direção de Archer, e, em seguida, seu olhar pousou em Beth.              —O doutor te tratou bem? —Ela, a Doutora Ramsey, foi muito amável e disse que… a gravidez está progredindo como deveria. Ela disse que eu precisava descansar e eu tenho que começar a tomar vitaminas. —Fazendo uma pausa, ela apontou para uma cômoda. Nela se achavam três grandes frascos que eram como os que Archer e eu tínhamos tentado conseguir para ela. Ela seguiu meu olhar. — Obrigada por sair naquele dia. Você arriscou muito. Mais uma vez.  Eu pisquei, não percebendo a princípio, que ela estava falando comigo. Dei de ombros.  — Nada demais. Eu gostaria que pudéssemos tê-los conseguido para você. —Foi uma grande coisa —corrigiu Dawson— Você e Archer poderiam ter… —Sua voz se desvaneceu enquanto seu irmão ficava rígido. — Sim, você sabe o que poderia ter acontecido. —Mas nada de ruim aconteceu, não é? — Archer inclinou-se contra a porta, cruzando os braços. —Isso deu certo no final. —Estamos todos aqui. ——As sobrancelhas de Beth se franziram enquanto baixava o queixo. — Bom, quase todos. Dee não. Eu… sinto muito. —Olhou para Daemon, que agora observava a parede detrás da cama. —Vamos trazê-la de volta —eu disse, e maldição, tínhamos que fazê-lo. Só precisávamos descobrir como. —Então… —Archer limpou a garganta. — Vocês sabem se é um menino ou uma menina? A mudança de assunto não podia chegar em um melhor momento, e podia jurar que as bochechas de Dawson se ruborizaram um pouco.  —Não sabemos —disse, girando-se para Beth. — A doutora disse algo a respeito de uma ultrassom?? —Esta semana —respondeu, apoiando a bochecha em seu ombro— Eles querem fazer uma ultrassom. Talvez seja muito cedo para dizer. Um pequeno sorriso apareceu no rosto de Archer. —Se for um menino, deveriam chamá-lo de Archer. Eu ri.
Daemon enfrentou o Origem.  —Eles deveriam chamá-lo de Daemon.             —Daemon 2.o? Eu não sei se o mundo pode lidar com isso. —Dawson riu baixinho, sacudindo a cabeça. —Honestamente, eu não acho que isso é algo que nós realmente pensamos neste momento. —Não. — ela concordou. —Mas eu acho que nós precisamos.             Seus olhos se encontraram então, e foi como se esquecessem de que havia alguém mais no quarto. Era só eles. Compreendi o tipo de conexão que tinham. Era igual ao que sentia com Daemon, mas me perguntava se parecíamos tão apaixonados como eles o faziam. —Parecem. —comentou Archer em voz baixa. Ah, bom, isso foi um pouco embaraçoso. —Sim, é —adicionou. Lancei-lhe um olhar por cima do ombro enquanto Daemon grunhia.  —Saia de sua cabeça. Archer sorriu.  —Sinto muito. Não posso evitar. Rodando os olhos, não intervim quando os dois começaram a discutir, e logo chegou o momento de dar a Beth e Dawson um pouco de privacidade. Depois de deixar seu quarto, deram-nos um quarto que me recordou muito ao da Área 51. Tanto é assim, não pude reprimir o estremecimento que percorreu minha coluna vertebral. —Há basicamente uma cidade nesta base —disse Archer da porta. — Casa, uma escola, lojas, e inclusive um centro médico. Tem um refeitório no andar de cima. Peguei umas roupas de moletom para você mais cedo e as coloquei na cômoda. Daemon assentiu enquanto examinava o quarto, seu olhar mergulhando no televisor na parede, a porta que conduzia a um banheiro, e a única cômoda e a mesa de metal. —É realmente seguro aqui? —Perguntei, tentando pentear com meus dedos o desastre que era meu cabelo. —Tão seguro como é qualquer lugar agora. Sem dúvida o melhor lugar para Beth, considerando todas as coisas.
Sim, ter um centro médico perto era bom para ela. Daemon cruzou os braços.  —Luc realmente matará aquelas crianças? —Luc é capaz de qualquer coisa. Me sentando na beira da cama, estirei minha perna dolorida. Não podia imaginar Luc fazendo isso. Não porque não acreditasse que o faria, mas sim porque não queria acreditar que fosse capaz uma coisa assim. —E realmente entregará essas crianças no final? —Perguntou. Archer levantou um ombro.  —Como disse, Luc é capaz de tudo, sobretudo quando se trata de conseguir o que quer. Por sorte para nós, ele nos quer vivos. —separou-se do batente da porta. — Não há muito mais o que discutir. Então, eu vou estar de volta mais tarde.            Quando começou a sair, recordei algo, me congelando.  —Espera. Trouxe algumas de nossas coisas com você? Ele assentiu.  —Trouxe tudo o que parecia importante, incluindo esses papéis. Esses papéis. Deixei escapar a respiração que eu não sabia que estava segurando. Os papéis eram a nossa certidão de casamento e identidades falsas. Embora o casamento não fosse tecnicamente real, era legítimo para Daemon e eu. —Obrigada. — eu disse. Ele acenou com a cabeça. Com isso, Archer saiu e fechou a porta atrás de si. Esforcei-me para escutar uma fechadura girando, mas quando isso não aconteceu, meus ombros caíram com alívio. Daemon se voltou para mim.  —Pensou que estaríamos presos aqui, não é assim? Meu olhar percorreu seu marcante rosto, demorando-se nas tênues sombras formando-se debaixo de seus olhos.  —Realmente não sei o que pensar. Confio em Archer e Luc, mas confiei em monte de gente e logo acabou mau. Espero que isso não faça de mim uma louca. —Acredito que confiar em alguém faz a todos um pouco loucos. Vi-o mover-se pelo quarto, parando em frente à cômoda e inspecionando o que havia dentro, e logo se moveu à mesa. Levantou uma mão e esfregou os dedos pela confusão de ondas castanho escuro. Cada passo cheio de tensão.
Sabendo que seus pensamentos deviam estar com sua irmã, senti uma dor em meu peito por ele. Sabia como se sentia perder alguém que em realidade ainda estava perto. Não passava nenhuma hora sem que pensasse em minha mãe.  —Teremos Dee de volta. Não sei como, mas o faremos. Lentamente baixou a mão, mas seus ombros ficaram tensos quando se virou para mim.  —Se realmente estivermos seguros aqui, deixaria isto para entrar em um ninho de víboras e recuperar a minha irmã? —De verdade tem que perguntar isso? Sabe que o faria. Daemon se aproximou aonde me encontrava.  —Não quero que você se coloque em perigo. —Estou terrivelmente segura de que não vou ficar para trás se você sair correndo para encontrá-la. Um lado de seus lábios se levantou, e foi incrível como um simples meio sorriso podia retorcer minhas entranhas.  —Não acreditei que o faria, e não te deixaria aqui. Aonde eu vou, você vai, e vice-versa. Você não vai se livrar de mim por qualquer período de tempo tão facilmente.  —Fico feliz que realmente concordarmos com isso. — Não muito tempo atrás, Daemon teria tentado proteger-me, mas eu acho que ele tinha aprendido que não funcionou muito bem. Essa era a primeira vez em vários dias que estávamos juntos e podíamos falar abertamente um com o outro, e como o via, sabia que tinha algo mais em sua cabeça que sua irmã. Com tantas coisas como tínhamos para destacar, seria como procurar uma maçã em uma grande pilha delas. —O que? —perguntei a ele. Nossos olhares se encontraram e se sustentaram, e tomei uma instável respiração. Aqueles olhos esmeralda, que eram de um verde tão brilhante e irreal, nunca deixavam de captar minha atenção. Daemon era bonito de uma maneira que não parecia possível, mas essa beleza era profunda, além da pele que realmente não era sua verdadeira forma, e no âmago de seu ser.  Quando o conheci, não acreditei isso. Agora o entendia. Seus espessos cílios baixaram. 
—Só estou pensando no que disse Nancy sobre o soro, sobre nós. —Sobre nós não estarmos conectados como pensávamos? —Sim. —Isso é bom, acredito. — Eu sorri quando ele olhou para cima.  Não sabia o que pensar, além do fato de que nossas vidas realmente não estando unidas tinha que ser uma boa notícia, e que isso não mudava nada entre nós— Quero dizer, não me interprete mal. Aborrece-me que Nancy mentiu para nós, que testasse algo tão volátil em mim, mas está… está bem. Sei que posso chutar alguns traseiros e utilizar a Source, mas você é mais forte que eu. Sou a mais fraca… —Você não é fraca, Kitten. Nunca foi fraca, antes ou depois da mutação. —Obrigada por isso, mas sabe o que quero dizer. Sejamos realistas. Sou uma passiva até certo ponto quando se trata de lutar. Só posso seguir por um tempo antes de me esgotar. Você não. —Entendo. — Ele enfiou as mãos pelo cabelo de novo, franzindo a testa.            Eu procurei seu rosto.  —Então, o quê?             —É só que… —Daemon se ajoelhou na minha frente, franzindo suas sobrancelhas. Estendeu os braços e envolveu suas mãos sobre os joelhos. — É só que do momento em que eu percebi que a curá-la significava, ou o que acreditava que significava, nunca pensei que enfrentaria um dia sem você. Que nunca teria que me preocupar de continuar no caso de você não estivesse ali. E não estou tentando converter isto em algum tipo de besteira de Romeo e Julieta, mas agora sei que há uma possibilidade disso e… me aterroriza pra caralho, Kat. Realmente o faz. Pisquei para contar uma repentina onda de lágrimas enquanto envolvia suas bochechas com as mãos. a leve barba fazendo cócegas em meus polegares. — A ideia de você não estar lá me aterroriza, também. Ele se inclinou e pressionou sua testa contra a minha.  —Sei que é uma boa notícia, e sei que é estúpido. Eu deveria ter mais medo de morrer, em geral, do que não, mas... —Sei. —Fechei os olhos e apertei meus lábios contra os seus. — Só vamos tentar não morrer, ok? A risada de Daemon brincou em meus lábios. 
—Eu gosto desse plano. —Você não vai deixar que nada aconteça a mim. — eu disse a ele, apoiando as mãos em seus ombros enquanto recuava. —E eu não vou deixar nada acontecer com você. —Essa é minha Kitten —murmurou enquanto me olhava. — Falando de não deixar nada acontecer, como você está se sentindo?             —Cansada. Um pouco de açúcar seria bom. —Por alguma razão, o consumo de açúcar ajudava depois de usar a Source. Isso sempre me faz lembrar de Harry Potter. —Vou me assegurar de que Archer traga algo disso quando retornar. —ficou de pé e logo subiu à cama de modo que estava sentado detrás de mim. — Mas, por enquanto… Ele agarrou meus quadris e me puxou de costas contra seu peito.            —O que está fazendo? —Quando sua mão direita se deslizou na parte superior de minha coxa, minha respiração parou. —Oh. Sua profunda risada retumbou através de mim.  —Acredite ou não, eu não estou pensando em coisas impróprias. Virei a cabeça para olhar para ele, uma sobrancelha levantada.             Seu malicioso meio sorriso converteu meu coração em purê.  —Ok. Noventa e nove ponto nove por cento do tempo estou pensando em algo que tornaria as pontas de suas orelhas de cor rosa. —E não está agora? Seus lábios se franziram.  ——Sim, tudo bem. Cem por cento do tempo, mas eu realmente tenho razões totalmente apropriados para tocar em você.              —Uh-huh. — Eu descansei minha cabeça contra sua bochecha. E então senti sua mão deslizar por cima da minha coxa direita. —O que você está fazendo? —Cuidando de você. O calor de seus dedos irradiava ao longo de minha coxa.  —Você não precisa fazer isso. É só um arranhão.              —Mais como uma ferida superficial, e esteve coxeando desde que aconteceu. Teria feito isso enquanto estávamos no helicóptero, mas estava muito ocupado impedindo que se lançasse da cabine.
—Eu não estava tão ruim assim.— Um pequeno sorriso puxou meus lábios. —Mas agradeço por isso. Eu estava com medo de vomitar em cima de você.  —Eu estou feliz que você não fez. — ele respondeu secamente.             Uma vez que a dor surda em minha coxa se aliviou até que não foi mais que uma lembrança, comecei a me afastar, porque me curar cobrava seu preço, mas em vez de me deixar ir, deslizou-se para fora da cama comigo diante dele. No momento em que seus pés tocaram o chão, levantou-me em seus braços. —Uau. O que você está fazendo agora?  —Ainda cuidando de você. — caminhou para o banheiro, com os olhos quase fechados, mas tinha uma inclinação maliciosa em seus lábios. — Só pensei que poderíamos nos limpar. Essa era a verdade. Mais uma vez, eu estava manchada com sujeira e sangue seco, e assim estava Daemon. Ele nos levou para um surpreendentemente grande banheiro, gentilmente me colocando para baixo na frente de uma banheira. Não era tão grande quanto a da mansão do prefeito, mas ainda parecia anormalmente grande. Baixando as luzes, ele se virou para mim, balançando os dedos. Eu dei um passo na direção dele. Ele sorriu.  —Mais perto. Dei outro passo. —Levante os braços. Dizer a ele que era capaz de me despir sozinha, estava na ponta de minha língua, mas o nervosismo engoliu as palavras. Levantei os braços e ele tirou o suéter arruinado, parando para deslizar meu cabelo antes de deixá-lo cair ao chão. Não falou enquanto abria o pequeno botão de minha calça e também a tirava. Eu coloquei minha mão em seu ombro para equilibrar-me enquanto liberava uma perna. Rubor se estendeu por minhas bochechas e por todo meu corpo. Sem importar tudo o que tínhamos compartilhado juntos, ainda era tímida a seu redor. Não sabia por que, mas possivelmente era porque não parecia possuir nem um só defeito enquanto que eu tinha um corpo muito humano, cheio deles. A última peça de roupa que restava também bateu no chão, e logo estava de pé completamente nua na frente dele, completamente vestido. Dobrei os braços sobre meu peito enquanto ele se esticava, abrindo a água.
Vapor quente fluiu imediatamente no banheiro. Quando ele se endireitou, seus lábios roçaram a curva da minha bochecha, enviando um arrepio à minha espinha. Eu nunca tinha visto um cara tirar a roupa tão rapidamente como Daemon, e antes que eu percebesse, encontrava-me cara a cara com seus fortes peitorais. Meu olhar vagou por seus rígidos abdominais e logo mais abaixo… Dois dedos se pressionaram em meu queixo, levantando meu olhar até um par de brilhantes olhos verdes que pareciam levar um brilho de cor branca detrás deles.  —Os olhos aqui em cima, ou começarei a me sentir como um doce humano. Minhas bochechas se esquentaram, mas ri.  —Tanto faz. Ele piscou um olho depois de afastar a cortina.  —Depois de você. Nunca tomei banho com um cara antes. Obviamente. Mas, mesmo se eu tivesse, não acredito que nem remotamente se aproximasse de banhar-se com Daemon Black. Minhas mãos tremiam enquanto me colocava sob o jorro de água quente. Um segundo depois, ele também estava na banheira, e de repente já não parecia nada grande. Suas mãos eram amáveis, a pressão apenas ali, enquanto me girava para que minhas costas estivesse contra o spray. Respirando entrecortadamente, levantei a cabeça. Esperava que me beijasse e fizesse algo que definitivamente faria que meus joelhos ficasse fracos, mas não fez isso. Seus olhos se encontraram com os meus, e ele pegou cuidadosamente os fios do meu cabelo molhados sobre meu ombro. Logo, suas mãos subiram por meu braço e passaram por minhas costas. Seus braços se dobraram a meu redor, me arrastando contra seu peito, selando nossos corpos. Fechei os olhos com força enquanto outro tipo diferente de necessidade bateu em mim. A crescente onda de emoção foi além do físico, e quando ele me segurou com tanta força que não havia espaço entre nós de qualquer forma, eu sabia que era o mesmo para ele.
Eu não sei quanto tempo ficamos assim, apenas abraçados enquanto a água batia em nós, mas havia algo intensamente poderoso entre nós que transcende as palavras. Meus joelhos ficaram fracos quando ele deixou cair sua bochecha para o topo da minha cabeça e de alguma forma conseguiu me abraçar. Deus, eu amava Daemon. Eu era apaixonada por ele, tanto quanto eu tinha sido a primeira vez que reconheci o que aquele ardor era, o que o choque quase elétrico cada vez que nos tocávamos significava. Foi difícil olhar para trás e pensar em todo o tempo que tínhamos desperdiçado lutando contra o que havia entre nós, lutando entre si, especialmente quando o futuro parecia terrivelmente curto, mas eu não conseguia me concentrar nisso agora, porque estávamos juntos. Não importava quantas horas, dias, meses ou anos, tínhamos à nossa frente; sempre estaríamos juntos. Este tipo de amor era o que importava, mais forte que todo o planeta cheio de alienígenas psicóticos e o governo inteiro. Permanecemos juntos por um longo tempo, envoltos ao redor do outro, antes de realmente fez bom uso do chuveiro bom, uso adequado do chuveiro. Mas tomar banho com Daemon era como ... bem, tomar banho com Daemon. Nós finalmente saímos, nos secamos, e nos vestimos com moletons e camisas de algodão de tamanho grande, que não eram tão grandes nas dimensões de Daemon. A camiseta branca se esticava sobre seus ombros, seguindo cada profundidade de seus abdominais. Minha pele estava muito sensível apesar de que não houve travessuras no banheiro. Encontrei um pente e me sentei no meio da cama desembaraçando os nós, enquanto Daemon ligava a televisão, colocando em um canal de notícias. Lançando o controle remoto para os pés da cama, sentou-se atrás de mim. Ele pegou o pente de meus dedos.  —Deixe-me fazer isso.             Eu fiz uma careta, mas fiquei quieta quando ele começou a passar o pente por meu cabelo. Olhei a televisão, vi outra cidade em ruínas, e logo afastei o olhar. Não queria pensar nisso, porque não sabia onde estava minha mãe, ou como se encontravam meus amigos durante tudo isto. Daemon era surpreendentemente bom desembaraçando nós. 
—Existe alguma coisa que você não pode fazer? — Perguntei. Ele riu.  —Você sabe a resposta para isso. Eu sorri. Uma vez que ele tinha terminado com o meu cabelo, eu senti a ponta do pente picar-me na região lombar. Com as sobrancelhas levantadas, olhei-o sobre o ombro.  —O que? Ele inclinou-se, beijando-me suavemente. As pontas de seu cabelo úmido roçaram meu rosto quando ele inclinou a cabeça, aprofundando o beijo até que meu coração estava acelerado. Coloquei uma mão em seu peito, sobre seu coração, e o senti acompanhar o ritmo do meu. Levantei o olhar, e nossos olhos se encontraram. De alguma forma acabamos estendidos na cama, minhas costas contra sua parte da frente. —Eu não terminei de curar você. — disse ele, a voz rouca. Seus dedos em torno de um ponto sensível ao longo do minha têmpora. Fechei os olhos, deixando-o fazer o que ele queria. Afinal de contas, o fazia se sentir melhor. Mas o calor curador lentamente se transformou em algo mais quando as pontas de seus dedos desceram por meu braço, debaixo da camiseta e sobre meu estômago. Não havia nada entre sua pele e a minha. —Você esteve usando muito a Source. —Suas mãos se se abriram contra meu baixo ventre, seu mindinho encontrando o caminho debaixo da cintura de minha calça. — Deve tê-la esgotado. Outro dedo viajou sob a cintura, e não acredito que estivesse esgotada. Toda a minha consciência estava focada em sua mão o peso e o calor dele, o posicionamento exato. —Kitten? —Mmm? Sua voz era profunda e suave.  —Só vendo se você desmaiou sobre mim. —Nunca faria algo como isso. Ele ficou em silêncio por um momento.  —Sabe o que estive pensando?
Com ele, era uma incógnita.  —O quê? —Eu estava pensando em quando tudo isso acabar, para onde iremos. — Metade de sua mão estava sob a cintura agora. —O que nós vamos fazer. —Você tem alguma ideia? —Eu tenho um monte de ideias. Um sentimento quente, doce, tomou conta de mim. —Eu aposto que você tem.  Daemon riu enquanto seu polegar se movia em um lento e vago círculo por debaixo de meu umbigo.  —Eu estava pensando na faculdade. —Você acha que vai haver faculdades depois de tudo isso? —Acho que sim.             As pontas de dois de seus dedos foram mais abaixo, fazendo minha respiração acelerar. —Por que você acha isso? —Resposta fácil. — Ele deu um beijo na minha bochecha. —Se você me ensinou algo, é que os seres humanos são resistentes, mais do que a minha espécie.  Sem importar o que, continuarão avançando. Então, eu não posso acreditar que não haverá faculdades e postos de trabalho ou qualquer coisa assim.            Meus lábios se curvaram em um pequeno sorriso enquanto decidia como seguir seu jogo.  —A universidade seria algo bom, acredito. — Eu acho que você mencionou a Universidade do Colorado antes— disse ele, seus dedos rastejando mais ao sul, fazendo com que os músculos do meu baixo ventre tensos. —E quanto a isso?             Lembrei-me da primeira vez que tinha falado sobre a universidade, e eu estava tão preocupada que tinha ultrapassando as linhas da relação. Parecia uma eternidade atrás. —Eu acho que é perfeito. —Tenho certeza de Dawson e Beth gostariam de lá. — Ele fez uma pausa. — Dee também.
—Sim, ela gostaria. —Especialmente se Archer estiver perto, mas para isso precisaríamos acomodar a cabeça do Dee antes. — Talvez… talvez poderia fazer que minha mãe também se mude. —É claro —murmurou, e mordi o lábio o suficientemente forte para provar o sangue enquanto ele conseguia pôr seu joelho entre os meus. — Sua mãe tem que estar lá, porque nós vamos fazer isso.             Meus olhos se arregalaram.  —Uh, eu não tenho certeza que é algo que eu quero que minha mãe faça parte. A risada de Daemon me fez cócegas.  —Tire sua mente suja daí, Kitten. Nós vamos fazer um casamento de verdade. As coisa toda: damas de honra, padrinho, o vestido branco bonito, e a cerimônia. Mesmo uma recepção. Tudo. Minha boca se abriu, mas não havia palavras. Eu fui pega na fantasia de um casamento de verdade, de minha mãe estar lá para me ajudar a entrar em um lindo vestido tipo Cinderela; de Dee e Lesa em pé ao meu lado; de Dawson, Archer, e até mesmo Luc como padrinhos. Em seguida, haveria Daemon em um smoking, e caramba, era algo que eu queria ver de novo.             Tiraríamos fotos e serviríamos carne assada na recepção. Haveria um DJ tocando música questionável, e então Daemon e eu teríamos nossa primeira dança como marido e mulher. Meu coração bateu com força em meu peito, e eu não tinha percebido até aquele momento o quanto eu queria isso. Era tão de menina, mas não me importava. —Kitten? —Eu gosto disto —sussurrei enquanto meu peito se apertava. — Falar disto, quero dizer. É uma sensação normal. Parece que temos um...             Daemon se inclinou sobre mim, capturando minha boca com a sua. O beijo chegou ao profundo de meu ser, acendendo cada célula.  —Temos um futuro. Deixei de pensar enquanto seus lábios voltaram para os meus, e com suavidade me deitava sobre minhas costas. O resto do mundo, todas as preocupações e perigos, desapareceram até que só ficamos nós dois. Ele fez coisas completamente loucas com sua mão, e houve uma corrente de sensações que me sacudiu como se montasse uma onda. E quando voltei para terra, empurrei-o a de costas. As sobrancelhas de Daemon se ergueram enquanto eu pairava sobre ele.  —O que está…? Ele entendeu a intenção bastante rápido, e as bordas de seu corpo começaram a brilhar com essa luz branca avermelhada enquanto sua mão se envolvia ao redor de meu cabelo molhado. Antes de que seus cílios baixassem, seus olhos eram como diamantes brutos, e a expressão era uma espécie de reverência, inclusive quando em realidade não tinha ideia do que fazia. Mas parecia que ele amava, e acredito que era porque me amava. Mais tarde, nos deitamos de frente para o outro e ficamos em silêncio. Risquei a linha de seu lábio inferior, juntando coragem para perguntar a ele algo que me dava curiosidade.  —Por que foi com eles quando vieram? Seus olhos estavam fechados, seu rosto relaxado. — Quando eles saíram do bosque, eu podia ouvir tudo o que estavam pensando, o que eles queriam. Era o mesmo para Dawson e Dee. Estivemos conectados imediatamente. E no princípio, foi esmagador. Queria ir com eles. — Fez uma pausa, abrindo os olhos. Nossos olhares se travaram. — Era como se tivesse esquecido tudo, exceto eles. Tornaram-se em tudo. Não podia entender isso.  —Ouve-os agora? —Não. Se alguma coisa, é um zumbido baixo, de fundo. —Fez uma pausa— Não é a primeira vez que algo assim acontece. Quando muitos de nós estamos juntos, pode ficar difícil, porque é como um rádio com milhões de canais. É por isso que nunca gostei de estar na colônia. Quando há tantos de nós, todos nós estamos conectados, quase como um só ser, e você está influenciado em coisas que você não quer. Você não é um indivíduo. Você é um todo. Eu só não sabia que poderia ser tão forte como foi quando eles vieram.  —Mas você venceu isso. —lembrei-o, porque ele parecia quase decepcionado com ele mesmo.            
— Por causa do que eu sentia por você. Mesmo com Dawson, e, obviamente, qualquer outro Luxen que está ligado a outra pessoa, mas Dee ... — Ele parou de falar, balançando a cabeça. — Os que vieram são diferentes do resto de nós. Sei que isso é óbvio agora, mas eles… são tão frios. Sem empatia ou compaixão. —Um suspiro estremeceu através dele— Não lembro dos meus pais, mas não posso acreditar que fossem desta forma. Eu acho que nós não somos assim porque estivemos rodeados de humanos. A falta de compaixão e empatia os faz perigosos, Kat. Mais do que eu acho que nós sequer percebemos. Enquanto roçava o polegar por sua mandíbula, girou a cabeça, deixando um beijo no centro de minha palma.  —Entretanto, têm que ter um ponto fraco. Tudo no universo tem uma. Daemon capturou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus. —Em cada colônia, há um Ancião que praticamente lidera todo o grupo. Sei que, dos que chegaram, tem que haver um deles que seja como… como seu sargento. Sua rainha na colmeia. Eliminar essa pessoa não vai acabar com isso, mas enfraquecerá o domínio que têm sobre outros Luxen. Como Dee. —Alguma ideia de quem é esta pessoa? —perguntei. Seus lábios se levantaram de um lado.  —Não. Rolland o manteve oculto, e agora tem sentido. Por causa de Sadi, ele sabia que não devia compartilhar esse pequeno pedaço de informação. Droga de Sadi. Eu não tinha ideia de que ela era uma origem, mas acho que ela não é a única que tem estado fingindo e se escondendo entre os Luxen. Eu fiz uma careta.  —Quem mais?  —É algo que nunca notei de verdade até que deixei a colônia, quando fui para você. O estranho é, nunca confiei neste cara. Havia algo estranho nele, e disse algumas coisas loucas e difíceis de entender quando parti. Coisas que nunca tiveram sentido então, e não decifrei nada até que Archer revelou o que era… você sabe, a cor de olhos. —Rodou sobre suas costas, exalando lentamente. — Ethan Smith. Levei um momento para lembrar quem ele era. —O Ancião de sua colônia?
Assentiu.  —Seus olhos são iguais aos de Archer e Luc. —Puta merda — sussurrei. Me sentando, dobrei as pernas debaixo de mim. — Mas se ele for uma Origem, e se os Origens de alguma forma ajudaram a trazer o resto dos Luxen até aqui, a pergunta é: por que? O olhar do Daemon se moveu ao meu.  —A pergunta de toda uma vida, não? Por que alguns dos Origens estariam trabalhando com os Luxen?                        
CAPÍTULO 12
               Kat estava com uma cara de quem estava com o cérebro doendo. Não podia culpá-la. Havia muitas coisas sendo jogadas para nós, senti como se precisasse usar um traje de receptor. Toda a coisa sobre Ethan continuava dando voltas em minha cabeça enquanto permanecíamos deitados na cama, juntos, tentando descansar um pouco antes de Archer retornar, e, provavelmente, jogar ainda mais notícias confusas em nossos colos. Podia dizer que embora Kat estivesse quieta em meus braços, não dormia. Como eu, tinha muito no que pensar. Pensar em Dee me fazia querer bater meu rosto contra uma parede, então eu preferia descobrir o que diabos Ethan poderia ter a ver com a invasão Luxen.             Essa era realmente a pergunta de um milhão de dólares. Por que faria que os Origens e os Luxen trabalhassem juntos? Foi algo que perguntei a Archer logo depois que ele voltou com bolsas de roupa. Quando ele jogou para Kat uma barra de chocolate, franzi a testa, imaginando o quanto ele podia pegar em nossos pensamentos. Archer arqueou uma sobrancelha.  —O suficiente para saber que imagina bater em minha cabeça até tirá-la de meus ombros quando estamos perto. Sorri por isso enquanto Kat levantava o olhar de sua barra de chocolate. Ela perguntou: —O que? —perguntou. —Nada — disse a ela enquanto procurava em uma das bolsas e encontrava calça jeans de meu tamanho. Isso era estranho a um nível preocupante. —De volta a sua pergunta. A respeito dos Origens e os Luxen. —Archer se apoiou contra a mesa e cruzou os braços. — Eu honestamente não tenho nenhuma ideia do que poderiam conseguir com isso, além do típico, unir forças poderosas para a dominação do mundo e bla, bla, bla. —Isso é um clichê — eu disse.
—E muito óbvio — ele concordou. Olhei para Kat. A expressão em seu rosto enquanto devorava a barra, como se provasse o céu pela primeira vez e estivesse a segundos de ter um orgasmo em sua boca, fez-me desejar que Archer não estivesse no quarto. Seu sorriso aumentou um pouco. E também me fez desejar que ele caísse fora da minha cabeça. —Sabia sobre o Ethan? —perguntei, me reorientando. Sacudiu a cabeça.  —Não somos como vocês, aberrações alienígenas, não temos elo mental ou sabemos onde estão os outros em cada segundo determinado. —A última vez que verifiquei, você era parte de nossa estranha família de alienígenas, assim… Kat quebrou uma pequena barra e me ofereceu. Neguei com a cabeça, e ela o colocou entre seus lábios.  — Então você nunca conheceu Ethan ou ouviu falar dele? —perguntou ela. —Há um monte de Origens que eu nunca entrei em contato ou vi desde que foram transferidos a outras bases. O Daedalus tem muitos estabelecidos em todo mundo, em posições muito poderosas. Se inclusive uns poucos deles estão trabalhando com os Luxen, estamos realmente em apuros. —Nós já não estão? — eu apontei. —Sim, bom, aqui está o problema com isso. Podemos fingir ser humano ou Luxen ou mesmo híbrido. Podemos ler seus pensamentos. Já teve seu feliz traseiro queimado por um que pensou que era um Luxen. Provavelmente inclusive duas vezes se contar esse Ethan que está falando, o que faz que confiar no que pensa que sabe ou vê seja um grande e verdadeiro problema —explicou Archer— Digamos que um punhado de origens que são políticos, médicos ou membros das forças armadas estão realmente trabalhando com os Luxen. Isso vai se transformar em um grupo… —Então o que devemos fazer? — Kat deslizou para fora da cama e jogou a embalagem no lixo. — Quero dizer, não podemos simplesmente deixar que nos ferrem. Tem que haver algo que possamos fazer. Uma dura tensão cruzou o rosto do Archer. —Estamos fazendo algo a respeito.
Kat parou no meio do quarto, sua expressão uma mistura de esperança e de mau presságio.  —O quê?             Archer me olhou, e esse olhar me disse que simples palavras não iam explicar nada, e eu estava apanhando em suas vibrações de que isto não ia ser algo bom.  —Por que vocês dois não se trocam e me encontram no corredor? —ele sugeriu.             As pequenas mãos de Kat se tornaram punhos.  —O que não está nos dizendo? —Não é que não esteja disposto a lhes dizer. —separou-se da mesa e se dirigiu para a porta— É algo que acredito que vocês precisam ver para acreditar. —Bom, isso não é necessariamente misterioso nem nada, mas o que seja. — Levantei-me e peguei o suéter que estava usando. Archer continuava na porta, e me arqueou uma sobrancelha. — A menos que queira me ver em toda minha gloriosa nudez, sugiro que vá agora. Archer rodou os olhos.  —Não, obrigado. Kat e eu nos trocamos rapidamente, e o fato de que sua calça jeans caber perfeitamente me teve imaginando a fantasia muito familiar sobre bater na cara de Archer, mas ela parecia bem, mais como ela mesma no jeans escuro e leve suéter cinza. Seu cabelo tinha secado em ondas suaves, e parecia que estávamos saindo para pegar algo para comer ou talvez ver um filme. O que fazíamos estava tão longe dessa fantasia, que parecia muito triste. Nossos olhos se encontraram logo depois que abotoei o botão de minha calça.  —Está pronta para fazer isto, o que seja que “isto” for? Assentiu.  —Estou um pouco assustada de ver o que quer nos mostrar. —Entendo-a. Neste ponto, qualquer coisa é possível. —Parei na porta fechada e lhe estendi uma mão. Quando a pegou, arrastei-a para mim. Envolvendo meus braços ao redor de sua cintura, levantei-a e lhe dei um bom aperto. Sua suave risada dançando em meu ouvido era muito rara.  —Está me esmagando.
— Uh-huh. —Baixando-a, coloquei um beijo em sua testa. — Sem importar o que, não se esqueça de nossos planos. —Senti que era importante lembrá-la sobre eles. Seus olhos eram de um cinza suave quando ela olhou para mim.  —Os planos de casamento? —Esses. —Inclinei-me e sussurrei ao ouvido dela— Porque quando nos mostrarem algo absolutamente confuso, o qual tenho certeza que vamos ver, vou começar a me enfocar nesses planos e em levantar seu vestido de noiva e ficar de joelhos. —Oh, meu Deus —sussurrou, e quando me afastei com um sorriso, suas bochechas estavam da cor vermelha brilhante. — Você é… você é… —O que? Ela balançou a cabeça e engoliu em seco.  —Um monte para lidar.             Sorri enquanto abria a porta.  —Depois de você, Kitten. Quando ela passou por mim, dei-lhe uma bonita palmada no traseiro que a fez saltar e girar-se. Kat me lançou um olhar assassino, e sorri, totalmente não arrependido. Eram as pequenas coisas da vida que me mantinham feliz. Archer ignorou isso, o que significava que devia valorizar certas partes de seu corpo. O seguimos pelo corredor, logo por uma escada e entramos em outro corredor. Mais adiante havia um conjunto de portas duplas de vidro e o que parecia um centro de comando nível Nasa no interior. —O que é isto? —perguntei. —O que pensa que é. —O sorriso de Archer não alcançou seus estranhos olhos quando o olhei. — É o centro de comando da base. Eles estão ligados a satélites, mísseis, e todos os tipos de coisas divertidas por aqui.  Kat torceu o nariz, mas permaneceu em silêncio. Archer abriu a porta, e não me surpreendi ao ver Luc sentado em uma cadeira em frente, suas pernas levantadas em um suporte branco, seus tornozelos cruzados. Tinha uma caixa de suco de frutas em suas mãos. Eu balancei a cabeça.
Nancy se encontrava perto da frente, seus braços cruzados sobre seu estreito peito, seu rosto tenso, como se estivesse chupando algo azedo. Um homem estava ao lado dela, em um completo traje militar com suficientes botões brilhantes e escudos para me dizer que ele poderia ser um problema. A sala estava comporta com pessoal militar, todos usando fones de ouvido e conectados para o que diabos eles estavam fazendo nos monitores na frente deles. Alguns olharam em nossa direção quando entramos. Nenhum parecia surpreso. Havia uma grande tela na parede diante de Luc. Girei meu olhar para o homem dos olhos cinzas inflexíveis e o cabelo curto e castanho.  —Quem é este idiota? Os olhos de Kat arregalaram, e parecia que Luc se engasgou com sua risada quando ele se virou para nos encarar.  — Deus, eu sabia que havia uma razão para eu gostar de você.          — Yupi — murmurei. Nancy não parecia divertida quando o homem nos enfrentou, seus ombros erguidos.  —Este é o General Jonathan Eaton, o oficial da mais alta patente da Força Aérea dos Estados Unidos —disse Nancy, as palavras ríspidas como socos. — Talvez você possa mostrar algum respeito.             Arqueei uma sobrancelha.  —Claro. Tinha que dar isso ao General Seja-Qual-For-Seu-Nome. Não havia um único lampejo de qualquer pitada de aborrecimento quando seus olhos cinzas pousaram em mim.  — Eu sei que você não tem uma muito alta... opinião de membros do governo. — disse ele. — Mas posso garantir, agora, nós não somos o inimigo.             —Reservo-me o direito a decidir isso —Eu disse, olhando para a tela. Pelo que parecia, era uma vista aérea distante de uma grande cidade. Podia distinguir os topos dos arranha-céu e uma mancha azul que poderia ser um oceano. —Isso é compreensível —respondeu, chamando minha atenção. — Mas sabe, nunca tive nenhum problema com sua espécie.
—Nunca tive um problema com a sua — disse a ele — Não até que basicamente nos sequestraram, começaram a fazer experimentos horríveis conosco, afastaram a minha família, e se tornou uma dor generalizada em nossas bundas. Um leve rubor de chateação manchou o rosto de Nancy, mas ela permaneceu em silêncio.             O General, entretanto, não o fez.  — Muitos de nós não tínhamos plena consciência do que Daedalus estava realizando ou como eles estavam adquirindo os Luxen e híbridos. Haverá uma série de mudanças no futuro            —Ele é um dos grandes caras que enfrentou o Daedalus. —Luc cruzou os braços detrás de sua cabeça, e não tinha ideia de aonde tinha ido sua caixa de suco. Seu olhar se deslizou para Nancy, e um sorriso arrepiante curvou seus lábios— Eu acho que ele é legal. —Isso significa muito para mim —respondeu o General secamente, e a tosse do Archer soou suspeitosamente como uma risada. — Podemos não nos entender nem ter opiniões parecidas —me disse—, e nunca serei capaz de dizer algo que possa compensar o que fizeram a sua família e àqueles que se importa. —Com isso, deu um severo olhar em direção a Nancy— Os que foram responsáveis pelos aspectos mais desagradáveis do Daedalus serão punidos em conformidade. Kat o olhou boquiaberta. —Espera. —Aproximei-me dela, não é que estivesse muito longe, de qualquer forma. Agora me encontrava virtualmente parado sobre ela. — É bastante genial que você goste um pouco dos Luxen, mas por que demônios confiaria em algum de nós neste momento? Por que confiaríamos em você? O General levantou seu queixo.  — Sei que não acha que você e seu irmão são os únicos luxen que já mutaram? Um humano de quem realmente gosta se importa. De fato, acredito que também sabe que há muitos Luxen por aí que fariam qualquer coisa para proteger aos humanos que se importam. Sei que esse vínculo é mais forte que a influência dos que chegaram recentemente. Sei que é um fato. —Como? —perguntou Kat.
—Porque minha filha e seu marido estão aqui na base —disse, me olhando— E sim, ele é um Luxen. Pude sentir os olhos de Kat em mim enquanto olhava o General. Por alguma maldita razão, fora de tudo, tinha que ser a merda mais chocante que tinha ouvido. Ri. Não pude evitar.  —Sua filha está casada com um Luxen? Nancy apertou os lábios, e pensei que seu rosto pudesse desmoronar. —Eles estão casados há cinco anos— disse ele, e quando ele cruzou os braços, o uniforme azul escuro esticou sobre seus ombros. —Sua filha é casada com um Luxen, e você está bem com o que Nancy esteve fazendo com eles? Para nós? —A ira cruzou pelo rosto de Kat. Um largo olhar de desgosto se instalou em seus olhos.  —Como disse, havia coisas que desconhecíamos. —Isso não é uma desculpa —disse ela, disse ela, e caramba, eu sabia que ela estava prestes a ficar um pouquinho mal-humorada.             Seus lábios tremeram como se quisesse sorrir.  —Você me faz lembrar da minha filha. Nancy virou a rosto, e eu poderia jurar que rolou seus olhos. —Sei que não há nada que possa fazer para mudar o que foi feito no passado, exceto me assegurar de que nunca volte a acontecer. E o farei. —Soltou um suspiro— Mas neste momento, temos uma catástrofe global sem precedentes em nossas mãos. Isso é em tudo o que posso me enfocar. —Catástrofe global. —Luc arqueou uma sobrancelha— Isso soa tão incrivelmente dramático e como há… —Um som abafado o interrompeu. Colocou a mão em seu bolso e tirou seu telefone. Luc deixou baixou o tênis ao chão, com uma expressão austera enquanto se levantava.  —Tem algo que preciso cuidar. Dirigiu-se para a porta sem olhar para trás, sua mão livre em um punho, e disparou advertências, uma de uma vez. Nunca tinha visto Luc parecer tão… tão instável. Está tudo bem. A voz de Archer se filtrou através de meus pensamentos. O que ele está passando neste momento não tem nada a ver com isto.
Me chame de paranoico se isso não significa nada para mim, respondi-lhe. Em geral isso é certo, disse Archer, seu olhar travado com o meu. E como disse, com o que Luc está lutando, não tem nada a ver com isto. Ainda não estava cem por cento a bordo, assim coloquei meu braço ao redor dos ombros de Kat, apenas no caso. Meu olhar cintilou sobre o General e Nancy. Não estava seguro do que realmente ocorria ali.  —Onde está o outro? —perguntei— O Sargento Dasher? Nancy se girou para mim.  —Está morto. Contra meu lado, Kat ficou rígida.  —Como? —perguntou. —Em uma briga com um Luxen nos subúrbios de Las Vegas. —Os olhos escuros de Nancy se estreitaram sobre nós— Isso deveria fazê-los felizes. —Não posso dizer que vai me tirar o sono. —Sustentei seu olhar até que ela afastou o dela. Dasher poderia não ter sido um completo sociopata como ela, mas se encontrava em minha lista de “A Matar”. Pelo menos podia riscar seu nome dela. —General Eaton. —A voz saiu de um homem perto da grande tela. Estava de pé, com os braços colados às laterais do corpo. — Restam cinco minutos. Cinco minutos para que? Logo que terminou esse pensamento, a imagem no monitor ampliou e os topos dos edifícios ficaram mais claros, como as ruas congestionadas. Algumas áreas não eram mais que manchas de fumaça cinza. —O que é isto? —perguntou Kat, avançando e saindo de debaixo do meu braço. Joguei uma olhada para Archer, e imediatamente, soube que isto era o que ele queria que víssemos.  —O que está acontecendo? O General avançou pelo centro da sala, além das linhas de monitores menores e das pessoas saindo de seus computadores.  —Isto é o que vamos fazer para parar a invasão. Girei o olhar para a tela. Cara, tinha um mau pressentimento sobre tudo isto.
—Quatro minutos —anunciou outro homem em frente. Sim. Quando as pessoas começavam a contagem regressiva, nenhuma boa merda podia sair disso. Kat pediu um esclarecimento, mas enquanto olhava as luzes cintilantes da cidade, uma ideia começou a tomar forma em minha cabeça. —O que se vê na tela é Los Angeles —explicou o General— Havia um número significativo de Luxen invadindo ali, todos tomaram forma humana, em sua maioria funcionários do governo e outros em posições de poder. Assimilaram rapidamente o DNA humano das pessoas que estão ao redor da idade necessária para ter uma família. Temos pessoas ali que estiveram nos mantendo atualizados, mas a partir da noite de ontem, perdemos o controle completo da cidade. —Oh, uau. —Kat cruzou os braços envolta dela enquanto olhava o monitor. —Também perdemos Houston, Chicago e Kansas City —interveio Nancy— Pelo que sabemos neste ponto. A única cidade que fomos capazes de manter sem nenhum Luxen é D.C., mas os invasores estão acumulando enormes força ao redor da cidade… Alexandria, Arlington, Mount Rainier, e Silver Spring, quase todas estão completamente sob seu controle. Maldição. —E não sabemos de nenhum Origem dentro de D.C. que poderia ter unido forças com a invasão Luxen — adicionou ele. Esperamos que não seja o caso, mas temos que nos planejar para isso. —Três minutos. Meu olhar pousou nas costas do homem contando.  —O que acontece em três minutos? Kat se girou, seu rosto pálido, e sabia que sua mente ia para onde se encontrava a minha, e nada disso se dirigia a um lugar agradável. —Temos que parar os Luxen por qualquer meio necessário que resulte em perdas mínimas de vidas humanas. —Os ombros do General subiram enquanto respirava fundo. — Obviamente, isso limita o que podemos fazer. Archer se afastou da parede, deslizando mais perto, como se esperasse que enlouquecesse quando minhas suspeitas fossem confirmadas. —O Presidente dos Estados Unidos, junto com o Secretário de Defesa, aprovaram uma prova de ataque com EMP sobre a cidade de Los Angeles. Olhei para o General.
—EMP? —perguntou Kat, seus olhos muito abertos. —Um Pulso Eletromagnético convertido em arma, em forma de várias bombas não nucleares —explicou, e meu estômago caiu a meus pés— Funcionará como uma arma PEP, uma vez que a bomba detone em torno de uma elevação de trezentos metros, mas a um nível mais amplo. A perda esperada de vida humana é nominal, limitadas àqueles com doenças cardíacas ou outros transtornos que poderiam ser suscetíveis a um pulso elétrico dessa magnitude… e em si, pessoas cujas vidas dependem de sistemas de suporte à vida. —Dois minutos, elevação a mais de duzentos metros —alguém disse da parte da frente, seguido de uma voz cheia de estática que anunciava a localização através de um sinal de rádio. Archer se encontrava perto de mim agora. —A maioria dos humanos experimentará uma onda de dor e paralisia momentânea —continuou enquanto Kat se girava para a tela— O EMP age como uma arma letal imediata para qualquer Luxen, híbrido, ou Origem na área de ataque. Santa merda. Entendi a necessidade disso — tinham que fazer algo contra a invasão Luxen, mas minha irmã estava lá fora em algum lugar, espero que em nenhuma parte perto de Los Angeles, e devia haver Luxen e híbridos inocentes ali, inclusive Origens, e eles não tinham ideia do que estava indo em sua direção. —Inocentes morrerão por isso, tanto humanos quanto Luxen —disse o General, como se pudesse ler minha mente. — Mas temos que sacrificar a uns poucos para salvar a muitos. Girei-me para a tela, já que piscavam rapidamente por um segundo antes de apagarem-se. A imagem se aproximou uma vez mais, o suficiente para que pudesse seguir o movimento no chão. —Isso não é tudo o que faz —disse Archer em voz baixa— O EMP foi projetado para uma finalidade diferente. O General assentiu.  —Em um princípio, foi criado como uma arma de destruição maciça que limitaria a perda de vidas humanas. O EMP danifica irreversivelmente todos e cada um dos dispositivos eletrônicos e fontes de energia.
Santa merda. Isso era tudo no que era capaz de pensar. —Isso é tudo —sussurrou Kat — Isso é absolutamente tudo na cidade… telefones, automóveis, hospitais, comunicações… tudo. —Um minuto, elevação a mais de cem metros. —Será virtualmente como enviar Los Angeles de volta à Idade Média. — Archer ficou olhando a grande tela. — Está a ponto de ver a história repetir-se, mas o tipo de história que nunca se pode reescrever. —Não podem fazer isto — eu disse. Kat sacudia a cabeça.  —Não podem. Há pessoas lá fora que precisam de eletricidade… Há pessoas inocentes, e todo seu modo de vida está a ponto de ser terminado. Não podem… —Obviamente é muito tarde —espetou Nancy, seus olhos escuros fuzilando. — Esta é nossa única opção para detê-los. Para que inclusive haja um amanhã onde a humanidade esteja a salvo. Abri a boca mas a transmissão do rádio quebrado iniciou numa contagem regressiva de vinte segundos, e não havia nenhuma maneira de deter isto. Acontecia, bem na nossa frente. Me aproximando de Kat, continuei cravando meu olhar na tela, nos automóveis viajando pela autoestrada, tentando sair da cidade. Poderia haver Luxen nesses automóveis, bons e maus. Poderia haver humanos com enfermidades no coração. Também havia hospitais em algum lugar dessa tela, pessoas cuja próxima respiração nunca chegaria. E então aconteceu. Kat bateu a mão sobre sua boca, quando um flash de luz ofuscante provocou que a imagem na tela cambaleasse por um momento ou dois, e logo se estabelecesse novamente. Tudo parecia como tinha estado segundos antes, exceto que nenhum dos automóveis se movia pela autoestrada. Nada se movia, em realidade, e… Toda a cidade escureceu.
CAPÍTULO 13
               Oh, meu Deus. Sentia como se precisasse me sentar ou ia cair. Não podia afastar o olhar da tela. Não acontecia nada. É óbvio que não. Milhões de pessoas em Los Angeles se encontravam atordoados. E, além deles, quantos alguma vez conseguiriam retornar? Centenas? Milhares? Não podia acreditar no que acabava de presenciar. Uma voz estalou no rádio, declarando a queda bem-sucedida das bombas de pulso eletromagnético. Ninguém aplaudiu na sala. Alegrei-me de que não o fizessem, porque estava segura de que Daemon ou eu teríamos terminado com ônix pulverizado na cara. —Nós estaremos iniciando uma varredura por quaisquer impulsos elétricos. — anunciou o homem que tinha feito a contagem regressiva mais cedo. — Em dois minutos eu devo ter os dados.             O General Eaton assentiu.  — Obrigado. — Os Luxen e suas muitas cisões emanam uma resposta elétrica —explicou Nancy, mas já sabia. Por isso as armas PEP e EMF eram tão perigosas. Fritariam-nos em um nível maciço. Daemon passou um braço ao redor de meus ombros, arrastando-me contra seu lado. Quando coloquei minha mão em seu peito, pude sentir o zumbido de seu corpo. Estava zangado, como eu. A fúria rodando dentro de mim provocou que uma onda de estática estalasse através de minha pele. Havia tanta frustração, porque sabia que nossas opções eram limitadas, mas isto…? A magnitude do que acabava de acontecer se achava além de perder vidas. Hoje, não importa a data, afundaria em vergonha como o dia em que a Cidade de Los Angeles parou. Nada mais funcionaria como antes. Nada voltaria a ser como antes. Todas as redes elétricas, as redes e a complexa infraestrutura que estavam tão fora de meu âmbito de conhecimento tinham desaparecido. —Não é possível recuperar isso, não? —perguntei e minha voz soava rouca. A mandíbula de Archer se endureceu. 
—Levaria décadas, se não mais, para reconstruir o que era. Fechei os olhos, perplexa pelas ramificações disto. —Não há nenhuma atividade —anunciou o homem— Nem sequer uma luz de alerta. Daemon ficou rígido a meu lado e pressionei a mão contra seu peito. Teve que haver uma grande quantidade de pessoas inocentes que pereceram.   E isso foi só o começo. Eu sabia. Eles fariam em mais cidades, em todo o mundo, e mais pessoas inocentes iriam morrer e o mundo se tornaria... Caramba, a vida como nós conhecíamos seria um romance de distopia assustador, como eu tinha pensado antes, mas agora era real.           
 Afastando-me, virei-me e enfrentei o General Eaton.  —Não pode continuar fazendo isto. Seus profundos olhos cinza encontraram os meus e sabia o que tinha que estar pensando: Quem demônios é esta garota para pensar que pode dizer algo? E talvez não tinha nenhum direito de fazê-lo. Diabos, no grande esquema das coisas eu não era ninguém, só um fenômeno da natureza, mas não podia estar aqui e não dizer algo, enquanto, literalmente, destruíam o mundo, uma cidade de cada vez. —Está destruindo milhões de modos de vida e sem nem sequer levar em conta as pessoas que morreram quando essas bombas foram lançadas. —disse a ela com voz trêmula. — Não pode continuar fazendo isto. —Esta não foi uma decisão que apareceu de um nada. Acredite em mim quando digo que houve e haverá muitas horas de sono perdidas. —respondeu— Mas não há outro caminho. Daemon cruzou os braços sobre seu peito.  —O que está fazendo é basicamente genocídio. Ninguém respondeu, porque, o que poderiam dizer a isso? Isto era genocídio, porque essas bombas iriam acabar com a maioria dos Luxen do planeta. Archer passou uma mão pela mandíbula.  —O questão é, garotos, que outra opção eles têm? Sabem tão bem quanto eu que se os Luxen invasores não forem parados, os Origens que estão trabalhando com eles forem capturados, levará apenas umas semanas antes que tenham o controle total do planeta.
—Talvez nem sequer tanto tempo —comentou Nancy quando se deixou cair em uma cadeira vazia. Sua expressão era tão impassível como sempre, mas me perguntava se temia, que aonde quer que os Origens estivessem escondidos, não fosse perto de uma das cidades nas quais se lançaram as bombas. — Se os Origens estiverem nisto… —Estão — eu disse a ela, pensando em Sadi e no Ancião que Daemon mencionou. — Alguns deles estão. Seu frio e escuro olhar pousou em mim.  —Então, não há outra opção. Os Origens foram criados como a espécie perfeita, com capacidades cognitivas além do que qualquer humano comum são capazes. Os Origens… —Entendemos isso —espetou Daemon. Seus olhos brilhavam como esmeraldas afiadas. — Talvez se não tivesse mexido com a mãe natureza e criado os Origens… —Hei —murmurou Archer— Há um de pé aqui mesmo. Daemon o ignorou.  —Talvez se não tivesse feito isto, os Luxens não teriam vindo. —Você não sabe disso —disse ela, encolhendo os ombros— Eles poderiam… —O que eu sei é que estão trabalhando com os Luxen —disse ele, interrompendo-a— E não precisa de uma grande salto de lógica para pensar que tiveram algo a ver com os Luxen vindo para cá. Essa merda está sobre suas mãos… e do Daedalus. —O que é terrivelmente irônico, não acha? —disse Archer, e quando Daemon lhe lançou um olhar inexpressivo, pensei por um segundo que poderia rodar os olhos— Daedalus foi o pai de Icarus na mitologia grega. Ele construiu as asas que Icarus utilizava para voar, e o menino tolo se aproximou muito do sol. As asas se derreteram e voltou a cair à Terra, afogando-se no mar. Tipo assim, como seu invento foi sua própria perdição. O mesmo com o Prometheus. Daemon olhou para Archer por um longo momento e logo se virou para Nancy.  —De todos os modos, não importa como o relacione, esta confusão é sua responsabilidade.
—E estamos tentando corrigi-la —respondeu o General Eaton— A menos que todos vocês tenham algo em que não pensamos, não há outra opção. —Não sei. —Apertei os dedos contra minhas têmporas— Nós realmente poderíamos usar Os Vingadores agora mesmo. —Ao diabo com isso. Precisamos de Loki —replicou Daemon. O General Eaton arqueou uma sobrancelha.  —Bom, infelizmente, o universo Marvel não é real, então… Eu comecei a rir, porque me encontrava a segundos de começar com a risada louca e nunca parar, mas logo Daemon piscou como se algo o tivesse ocorrido a ele. —Espera —disse passando uma mão por seu cabelo rebelde— Precisamos ao equivalente de Loki. —Não compreendo — eu disse. Ele balançou negativamente a cabeça.  —Há algo que podemos usar, que eu sei que podemos utilizar. O General Eaton inclinou a cabeça quando o olhar de Archer se tornou perspicaz. Ele apertou os lábios e soube que tinha lido os pensamentos de Daemon. O que seja que viu, não parecia um grande admirador disso. Quando Archer falou em um sussurro, confirmou minha suspeita.  —É uma loucura insana, completamente sem sentido, mas poderia funcionar. Daemon lhe lançou um olhar assassino.  —Puxa, por que não vai em frente e diz a eles o que estou pensando? —Oh, não. —Archer agitou a mão com desdém— Eu não quero roubar seu protagonismo. —Acredito que já fez isso, assim… —Vamos —saltei, impaciente— Diga ao restante de nós que não tem a excelente capacidade para ler mentes. Os lábios de Daemon se torceram em um indício de sorriso.  —Há uma coisa que os Luxen invasores não têm defesa. —Bom, obviamente a arma de pulso eletromagnético —comentou Nancy teimosamente. Suas narinas alargaram. 
—Além de algo que destrói tudo o que conhecemos na Terra. Ela afastou o olhar, centrando-se no monitor como se estivesse aborrecida com toda a conversa. Perguntei-me se alguém se zangaria se lhe desse um chute na nuca. —Os Arum —disse Daemon. Pisquei lentamente, pensando que meu cérebro acabava de se destruir.  —O que? —Os Luxen invasores sabem dos Arum. Mas há outra coisa que aprendi deles —explicou Daemon— Não têm experiência com eles. —Mas sabem deles —disse o General Eaton— Acaba de dizer isso. —Sim, mas desde minha experiência pessoal, saber dos Arum e escutar a respeito deles é totalmente diferente do que realmente lidar com eles, especialmente se nunca viu um cara a cara… e eles não fizeram isso. Os Arum se foram faz um tempo, e estes Luxen partiram na direção oposta. Mesmo que eles tenham visto um antes, eram apenas crianças, então.              Alguns dos oficiais na sala, os que se encontravam nos mini monitores, giraram-se em seus assentos e prestaram muita atenção a Daemon. —A primeira vez que me defrontei com um Arum, eu teria morrido se Matthew… —Tomou uma respiração e os outros poderiam não ter notado o brilho de dor, mas eu o vi, e meu peito doeu. Matthew, que tinha sido uma figura paterna para todos eles, tinha-os traído e sabia que doeria neles por um tempo muito longo. — Se Matthew não estivesse lá, uma pessoa mais velha e mais experiente com relação aos Aurum, eu teria morrido. Inferno, várias vezes antes de eu finalmente aprender a lutar com eles. —Os Arum foram criados pelas malditas leis da natureza para manter os Luxen sob controle e lutar contra eles —disse Archer e a emoção vibrava em sua voz— Eles são os únicos verdadeiros predadores dos Luxen. Uma pequena faísca de esperança se acendeu em meu peito, mas não queria lhe dar muito espaço para crescer.  —Mas os Origens saberão como lutar contra eles. —Sim, mas não há milhares e milhares —disse Daemon— E não há maneira de que possam ensinar aos Luxen tão rapidamente como defender-se. Inferno,
duvido que inclusive pensem que os Arum sejam um problema. Os luxen são arrogantes por natureza. —Puxa, realmente? —murmurei. Um lado de seus lábios se curvou em um sexy e presunçoso meio sorriso quando Archer riu. —Os origens são provavelmente mais arrogantes, já sabe — disse Daemon — , chegando ao limite do estúpido. O sorriso desapareceu do rosto de Archer. —Uau. Parece que Morgan Freeman deveria estar narrando isso aqui agora, tipo, "O elo mais fraco deles é algo que já está aqui” —declarei, e quando vários pares de olhos pousaram em mim com olhares idênticos de confusão, ruborizeime— O que? É da guerra dos Mundos, e acredito que é muito adequada para a situação. Um verdadeiro sorriso cruzou o rosto de Daemon, e apesar de tudo, minhas entranhas se derreteram em gosma, como cada vez que sorria dessa maneira, porque era tão incrivelmente raro. — Eu adoro como funciona seu cérebro. Aí está essa coisa de apaixonados sobre a qual se perguntava no quarto de Beth e Dawson. As palavras de Archer flutuaram através de minha cabeça e me encolhi. O calor envolveu minhas bochechas quando limpei a garganta.  —Acha que isto vai funcionar? —Quantos Arum há aqui? —Daemon dirigiu a pergunta ao General e a Nancy. Uma das principais coisas que mais nos surpreendeu nos últimos anos foi o fato de que Daedalus tivesse estado trabalhando com os Arum para manter sob controle os Luxen, por razões brutais e infames. Os lábios de Nancy se franziram.  —Não temos números exatos, não como com os Luxen que foram integrados. Muitos dos Arum passaram à obscuridade quando vieram aqui. —Passaram à obscuridade? —Franzi o cenho. —Passaram à clandestinidade —explicou o General Eaton— Se movem de cidade em cidade. É muito difícil não perdê-los de vista. —E vocês estavam mais preocupados conosco e as coisas interessantes que podemos fazer. —Daemon sorriu— Que lindo.
—Então, quantos sabemos que estão aqui? —perguntei antes que a conversa fosse por água abaixo. —Umas centenas trabalharam para nós —disse Nancy. —Espera. —Os olhos do Daemon se estreitaram— Isso está no passado. Oh, não. O General Eaton parecia que queria tirar sua jaqueta.  —Muitos deles se foram quando os Luxen chegaram. —Muitos? —Nancy desafiou. — Todos se foram. Nenhum de nós deveria nos surpreender. Não são as mais fieis de todas as criaturas. Essa pequena faísca de esperança começou a minguar quando Archer falou.  —Mas ainda estão aqui, neste planeta. —E o que? —desafiou Nancy— Vai conseguir que ajudem? Um sorriso misterioso passou pelo rosto de Archer.  —Eu não, mas conheço alguém que deve a alguém um favor muito grande. Nancy revirou os olhos.  —Inclusive se pudesse conseguir que ajudem, não teria sentido. Há muitos dispersos e… —Em realidade, se me permite falar —disse uma voz do centro da sala. Era uma mulher de meia idade com o cabelo loiro escuro preso em um coque apertado. Encontrava-se de pé, com as mãos entrelaçadas detrás das costas. O General Eaton assentiu para que continuasse. —A maioria dos Luxen invasores aterrissaram nos Estados Unidos com números manejáveis no exterior. Acreditamos que isto se deve à quantidade de Luxen que já temos aqui no país. Como vocês sabem, nós estivemos acompanhando o movimento nas últimas dez ou mais horas. Muitos dos Luxen invasores estiveram se movendo para o leste, em direção à capital. Se nossas suspeitas forem corretas, eles se unirão às forças ali e se converterão em uma unidade de tamanho considerável —disse, olhando para Daemon e Archer— Alguns se integraram às cidades que já perdemos, mas se formos capazes de fazer um ataque contra a capital, tiraríamos muitos deles. —E isso é o que estamos planejando —disse o General Eaton. —Mas você está pensando em deixar cair uma bomba elétrica… o que for, na capital do país —disse, apertando as mãos a meus lados.
—Na verdade, se aparecer uma massa ainda mais considerável de Luxen, serão várias bombas —disse Nancy— O suficiente para que a maior parte de Virginia, Maryland, e inclusive o corredor da interestadual 81 na Virginia Ocidental seriam atingidos —Jesus —sussurrei, fechando os olhos. Ali era onde se encontravam minha mãe e meus amigos— O que vão fazer com as cidades já perdidas: Houston, Chicago e Kansas? —Durante as próximas vinte e quatro horas, descartaremos os ataques de pulso eletromagnéticos. —A empatia se infiltrou em sua voz— Essas cidades desapareceram, senhorita Swartz. A maioria dos Luxen tomou forma humana e matou os seres humanos que acharam impróprios. Há pouco ou nenhum contato sobre eles de qualquer fonte em que confiamos. Rezo pelos seres humanos que ficam nesses lugares. —Bem. Essas cidades desapareceram, mas até agora nenhum outro lugar mais. E se podemos detê-los? —disse Daemon— E se podemos fazer o mesmo sem matar as pessoas inocentes, e sem destruir as cidades até o ponto em que fiquem inabitáveis? Nancy sufocou uma gargalhada enquanto sacudia a cabeça com incredulidade. —Pense nisso. —interveio Archer— Vai ter milhões de americanos completamente deslocados em só essas três cidades, sem contar Los Angeles, e quanto mais fizer isto, mais refugiados vai criar. O país se arruinaria. Um músculo se flexionou na mandíbula do General Eaton.  —Acha que isto não é algo em que pensamos ou para o que nos preparamos? Justo nestes momentos, preparamo-nos para um resultado ainda pior que perder as cidades principais. Preparamo-nos para uma perda total no caso de que, de algum jeito, os ataques de pulso eletromagnéticos falharem de alguma maneira. O General descreveu as precauções que tomavam, movendo os computadores e outros equipamentos valiosos baseados em eletrônicos em búnkeres subterrâneos repletos de artigos não perecíveis, e continuou falando até que me sentia como se de verdade fosse vomitar. Se eu pensava que os Luxen invasores eram maus, não tinha nem ideia. Nós realmente estávamos à beira de um desastre catastrófico.
—Podemos trazer os Arum —disse Archer— Sei que podemos. Meu coração caiu. Será que poderíamos realmente conseguir os Arum? Duvidava que fosse fácil e quase não podia acreditar nisso quando o General Eaton disse as palavras mágicas.  —Se puder conseguir que os Arum briguem, então vamos adiar a neutralização da força fora da capital. —Obrigada. —Quase pulei. Quase fui abraçar o homem e me alegrei de não ter feito, porque iria ser todos os tipos de estranho. —Mas não temos muito tempo. Contaremos com uns seis dias, talvez sete e logo teremos que recorrer ao EMP —disse o General— Vou ter que fazer um monte de chamadas telefônicas. —Isto é ridículo. —Nancy ficou de pé, lançando as mãos ao ar— Não posso acreditar que pense sequer em permitir que eles… —Se esquece de seu lugar, Husher. Como sempre —espetou o General Eaton. Ergueu-se em toda sua estatura, derramando autoridade no ar. — Eu, como o presidente dos Estados Unidos, estou disposto a aprovar diferentes táticas. O General Eaton continuou repreendendo Nancy, e pensei que estaria feliz de ver isso acontecer, mas terminei experimentando um caso louco de vergonha alheia e desejava seriamente não estar ali para ver isso. Daemon, pelo contrário, parecia positivamente alegre quando me movi para estar junto a ele, enquanto Nancy fazia a caminhada da vergonha. Archer começou a falar sobre as diferentes formas nas quais os Arum poderiam mutilar e matar os Luxen em menos de cinco segundos, uma conversa em que nunca pensei que escutaria Daemon participar de forma tão entusiasta. Por último, Nancy saiu para provavelmente ir a algum lugar com intenções de tramar sua vingança, e o General Eaton começou a fazer chamadas telefônicas. Foi então quando meu estômago decidiu anunciar que podia necessitar enormes quantidades de mantimentos. Surpreendida de que pudesse comer depois de ver e ouvir o que aconteceu, pressionei a palma de minha mão contra meu ventre e sorri timidamente quando os rapazes me olharam.  —Desculpe? Os lábios de Daemon se curvaram para cima. 
—Faminta? —Talvez. Um pouco. —Há comida no refeitório perto de seus quartos—disse Archer— Pensei que disse a vocês sobre isso. —Não tivemos tempo… —me calei e comecei a imaginar bebês nus dançando, para não ter que pensar na razão pela qual não tivemos tempo. As sobrancelhas de Archer se arquearam.  —Que inferno? Com as bochechas ruborizadas, virei-me para Daemon. Tinha que sair dali antes que Archer conseguisse um espetáculo.  —Acho que vou procurar algo para comer. —Está bem. —Roçou minha testa com os lábios— A encontrarei no quarto. Não olhei para Archer quando me virei. Deixando os rapazes na sala de controle, corri para o corredor. Não só tinha que encher com comida meu estômago, mas também precisava de algo que me fizesse se sentir normal. Considerei visitar Dawson e Beth de novo enquanto subia a escada vazia e entrava no amplo corredor do nível principal. Quando dobrei a esquina quase tropecei quando parei em surpresa. Luc se encontrava de pé, a alguns metros de onde Dawson e Beth estavam, mas não estava sozinho. Uma garota estava com ele, talvez de aproximadamente sua idade ou um ano menos. Era pequena, e ele a diminuía mais. Ridiculamente magra, suas pernas cobertas com calças jeans eram tão esquálidas como meus braços. Seu cabelo parecia fios de ouro e era incrivelmente bonita, com um rosto em forma de coração cheio de sardas mal visíveis, e olhos que eram de uma cor chocolate quente. E a tinha visto antes. Quando Daemon e eu fomos com… com o Blake para conhecer Luc. Ela tinha estado no palco, tão bonita e fluída como uma bailarina, e logo mais tarde, tinha mostrado a cabeça no escritório de Luc, e ele se zangou a respeito. Mas agora parecia diferente. Uma humana muito bonita, mas tinha manchas escuras debaixo dos olhos, os maçãs do rosto estavam destacadas, o rosto magro e pálido; toda sua aparência era excessivamente frágil, como se tomasse tudo de si estar erguida sobre dois pés.
E tampouco ela estava realmente em pé sozinha. As mãos de Luc estavam envoltas ao redor de seus braços, quase como se ele sustentasse seu peso. Não precisava ser médico para saber que ela emanava alguma enfermidade grave no ar a seu redor. Não era um resfriado nem a gripe, mas algo ruim. Algo que recordava o meu pai. Mordi o lábio. Luc parecia não perceber que eu estava ali enquanto passava as mãos de cima a baixo pelos braços da garota.  —Agora vai ficar bem —disse ele— Assim como prometi. Um sorriso fraco curvou seus lábios para cima.  —Tem alguma ideia do que acontece lá fora? Não acho que nada nunca vai ficar bem de novo, Luc. —Eu não me importo com isso agora —disse em sua maneira típica— Lembra o que te disse sobre esse medicamento novo? —Oh, Luc. —Ela envolveu suas ossudas e pálidas mãos ao redor de seus pulsos. — Acho que estamos mais à frente do ponto em que algo funcione… —Não diga isso. —A força e a determinação se vertiam em sua voz— Vai funcionar. Tem que funcionar. Ou se verá comigo. A garota não parecia muito convencida, mas seu sorriso se estendeu enquanto se inclinava para frente, deslizando os braços ao redor da cintura de Luc. Luc fechou os olhos, e seus lábios se abriram enquanto deixava escapar um lento suspiro.  —Por que não vai descansar um pouco, Nadia? —Ele recuou, sorrindo sobre o topo de sua cabeça. — Eu tenho algumas coisas que eu preciso cuidar e logo estarei de volta. Ok? Eu sabia que ele estava então totalmente ciente de mim, e ainda assim eu não me senti mal por espiar, considerando quantas vezes ele nos espreitou.            Ela olhou em minha direção, seus olhos curiosos começaram a subir dos dedos de meus pés, e quando chegou ao meu rosto, o reconhecimento brilhou em seus grandes olhos. Hesitou por um momento, e logo se moveu silenciosamente para o quarto. Luc fechou a porta e me olhou. Uma vez mais, chamou-me a atenção a sabedoria em seus olhos roxos ímpares e o conjunto de seu rosto, como se ele fosse muito, muito mais velho do que aparentava.
—Quem é ela? —perguntei a ele. —Já me ouviu dizer seu nome. —Não foi isso que eu quis dizer. —Olhei para a porta fechada— Lembro dela. Estava no clube, dançando no palco. Inclinou a cabeça para um lado.  —Matei pessoas só por olhá-la, e quer saber quem é ela? Luc podia fazer isso em um abrir e fechar de olhos, e também poderia me fazer grasnar como uma galinha se quisesse, mas queria saber quem era esta garota para ele, e duvidava seriamente que ele mexesse comigo. Ou ao menos esperava que não o fizesse. Colocando as mãos em seus bolsos, ele se aproximou de mim.  —Depois de tudo o que já viu e ouvido, quer realmente que eu fale sobre ela? Cruzei os braços.  —Neste momento, eu gostaria de pensar em outra coisa que não seja o que acabei de ver e ouvir. Ele ficou em silêncio por um longo momento enquanto me estudava, e então apoiou um ombro contra a parede.  —Nadia acaba de chegar de Maryland… Hagerstown, para ser exato. Liguei para alguns favores quando cheguei a esta base. O garoto tinha mais favores devidos a ele do que um jogador tinha uma dívida. —Claro. Sorriu levemente.  —Conheço Nadia por alguns anos, conheci-a quando visitei pela primeira vez a maravilhosa e selvagem Virginia do Leste. Era uma fugitiva… vivia em uma casa abusiva, tinha um pai que a deixaria doente. No momento em que essas palavras saíram, o pior cenário tomou forma. —O que está pensando nem sequer se aproxima do que realmente passou — disse Luc, com voz dura—. Não se preocupe. Ele recebeu seu castigo de uma maneira muito lenta e dolorosa. Meu coração deu um tombo ante o frio e sombrio sorriso que apareceu em seu rosto. Nem sequer tive que perguntar o que fez. Já sabia.
—Ela era jovem e vivia nas ruas quando a conheci, assim a levei comigo. Paris não estava muito entusiasmado com isso. Ela é humana depois de tudo, mas há algo… Bom, Nadia é especial. —Um olhar distante se deslizou em sua expressão. —É sua namorada? Luc soltou uma risada seca.  —Não. Nunca teria tanta sorte. Minhas sobrancelhas se elevaram, e não pude evitar pensar nisso. Ele estava apaixonado por ela. Se Luc pegou o pensamento, não o confirmou.  —Faz dois anos e meio começaram a sair hematomas por todo o corpo dela, cansava-se facilmente, e não podia reter nenhum alimento. É um câncer no sangue, um rótulo com muitas palavras que não importam. —Seus olhos se estreitaram— É fatal. Fechei os olhos.  —Luc, eu… sinto muito. —Não sinta —disse e quando o olhei de novo, observava-me outra vez— Seu pai morreu, uma grande quantidade de pessoas morrem de câncer. Entendo isso. Mas Nadia não morrerá. —É por ela que queria o soro Prometheus. —Desde o momento em que a vi, estive somando dois mais dois. — Luc, disseram que não funcionava para… —Funciona em algumas enfermidades e alguns tipos de câncer. Eles não tiveram a oportunidade de testar o medicamento em cada enfermidade lá fora — me interrompeu, me calando— No desastre que era Daedalus, também fizeram algumas coisas boas. E esperançosamente, este seja outro ponto no carma para eles. Queria que fosse assim. Não conhecia a garota, mas depois de perder alguém para o câncer, e perder todo contato com minha mãe, sabia como difícil era a perda. Nunca ia embora, mas ficava com você como uma sombra fraca que alguns dias era mais espessa que outros. —Espero que funcione —eu disse finalmente. Ele assentiu brevemente. Passou um momento e logo disse—: Então, querem utilizar os Arum para lutar contra os Luxen? Pisquei. 
—Será que nunca se cansa em ser um sabe-tudo? Luc riu baixinho.  —Nenhuma só vez. Meu olhar se tornou procupado. — Você sabe que usar os Arum é o último dos últimos recursos, certo? Suspirei.  —Assim é. Archer disse que conhecia alguém a quem lhe deviam um favor. Vou pegar um palpite arriscado e dizer que é você. Ele riu de novo enquanto inclinava a cabeça contra a parede, parecendo com um adolescente descansando fora de uma sala de aula. —Sim, um dos Arum me deve um favor. —Sorriu de forma encantadora— E seu nome é Hunter.
CAPÍTULO14
—Hunter? Luc suspirou e repetiu— Hunter. —O ser desprezível que estava em seu clube? —Luc e Kat tinham vindo e me encontrado em nosso quarto. Eu não gostava para onde se dirigia isto. —Hmm. —Luc tamborilou sua bochecha com um dedo e olhou para onde Kat se sentou na cama. — Havia dois seres desprezíveis lá. Ele era um deles. Assim que você seria… —Engraçado — eu disse. —Foi o que pensei. —Luc quando caiu na cama ao lado de Kat— Conhece aquele ditado que diz: a cavalo dado não se olha os dentes? Meus olhos se entrecerraram.  —Nunca sou o que recebe. —Rapazes. —Kat colocou cabelo por trás de ambas orelhas. — Então, o que você não gosta sobre esse cara, Hunter? —Vamos ver. —Fingi pensar sobre isso — É um Arum, para começar. Ela rodou seus olhos cinzas.  —Além disso? —Tem que haver outra razão? —Para mim, isso bom o suficiente para minha aversão irracional do cara. Luc cutucou Kat com seu braço.  —Não importa se ele gosta de Hunter ou não. O Arum me deve um favor, e se alguém sabe onde todos nossos assassinos natos estão escondidos, ele vai saber. —E podemos confiar nele? —perguntou ela. Eu bufei. Confiar em um Arum? Sim. Claro. Luc me ignorou.  —Ele não ousaria me enganar, não quando tem muito a perder. Algo ignorante estava na ponta da minha língua, mas desapareceu como uma lembrança fora de alcance. Pensei na mulher que tinha visto com ele no clube, uma mulher humana. Definitivamente tinham uma relação.
Quase vomitei em minha boca ao pensar nisso. —Já falei com ele —disse Luc, esticando os braços acima de sua cabeça como um gato à luz do sol— Ele vai nos encontrar em Atlanta. —Atlanta? —A surpresa coloriu a voz de Katy— E como vamos chegar até lá? —Provavelmente teremos que conduzir. —deu de ombros— Não há aviões no ar, não desde que ET chamou casa e derrubaram um voo comercial. Kat empalideceu. Ainda não tínhamos escutado essas notícias. —Então, sim, não sugiro voar em céus pouco amistosos. Eu já verifiquei isso. —continuou— Vai levar cerca de trinta horas dirigindo, assim será uma viagem épica. Entretanto, Hunter se encontrará contigo no aeroporto… no lado doméstico. —Então sorriu, como se algo o divertisse. Recostei-me contra a cômoda.  —Então, como é que Hunter nos ajudará a ir atrás dos Arum? Não tinha percebido que o cara era tão importante. —Hunter é importante, mas nem tanto. —Luc esticou os pés para que suas pernas ficassem retas. Não tinha ideia se o garoto alguma vez poderia ficar parado. — Ele é sua entrada ao campo de jogo dos Arum. Sabe onde estão todos esfriando seus pés. Fazer que Hunter os leve até seu líder-amo-seja o que for, não será o problema. Arqueei uma sobrancelha. —Vai ser preciso convencer o Chefão Todo-Poderoso a concordar com isso. Os Arum se parecem muito com vocês. Tudo o que precisam é um líder, e o seguirão até o fim do mundo se for necessário. —parou, enrugando o nariz— Nunca conheci o cara. Já ouvi algumas coisas sobre ele. —Que coisas? —perguntou Kat. Ele encolheu os ombros.  —Não importa. As sobrancelhas de Kat se uniram quando ela franziu a testa. —De qualquer maneira, terei que ficar aqui. Estou bastante seguro de que minha presença é necessária para evitar que Nancy faça algo que perturbe o equilíbrio do universo. Archer irá com vocês. Ambos vão, certo? —Luc olhou entre nós— Na verdade, duvido que algum dos dois fique para trás.
—Não é provável. —Esfreguei minha mão pelo meu queixo. Trinta horas em um automóvel com Kat poderiam ser interessantes, realmente divertidas, mas com Archer? Talvez eu machucasse a mim mesmo. —Falando de Nancy… —Kat olhou para a porta fechada antes de continuar— Não pode permitir que aquelas crianças voltem para ela, não importa o que prometeu. Os cantos de sua boca subiram em um sorriso largo que era um pouquinho aterrador. —Não se preocupe. Ela não é problema. A coisa toda com ela definitivamente vai se resolver no final.               
 
À manhã seguinte, sentei-me à mesa retangular branca que me recordava ao refeitório de uma escola. Não tinha certeza do que pensar sobre isso. Sentia saudades da escola? Não realmente. Sentia saudades da vida que tinha antes de toda esta merda, quando simplesmente éramos eu, minha caneta de confiança, e Kat sentada na minha frente? Sim. Às vezes. Mas não era como se alguém pudesse voltar no tempo. Dawson estava na minha frente, despejando os ovos mexidos de seu prato ao prato de Beth. A garota definitivamente comia por dois, considerando a quantidade de mantimentos que acabava de ingerir, e ela ainda estava indo por mais. Gravidez era estranha. Kat roubou um pedaço de bacon de meu prato. Ela não tinha outra razão para comer tanto, exceto seu amor pela comida… e pelo bacon. Sorriu para mim enquanto o partia em dois, soltando a metade outra vez em meu prato. —Realmente acho que você deveria ficar aqui —disse, voltando minha atenção para meu irmão enquanto pegava o miserável pedaço de toucinho compartilhado.
Dawson franziu o cenho enquanto brincava com a garrafa de um leite achocolatado. Sabia o que pensava. Podia lê-lo como um livro aberto com grandes palavras e imagens. —Olhe, tem que ficar aqui. —Meu olhar voou para Beth, quem levava à boca uma porção enorme de ovos— Aqui é onde precisa estar. Lá fora há muito perigo para você ou para Beth. Beth me olhou.  —Não há perigo para você e para Kat? —Há. —Kat me olhou, mordendo o lábio inferior. Ainda não havíamos dito a Dawson ou a Beth o que Nancy nos disse, que nós não estávamos conectados da mesma maneira em que eles dois estavam. Kat respirou fundo, abriu a boca, e logo Archer apareceu de um nada. Sentou-se do outro lado de Kat.  —Estes dois —disse, apontando para nós com um movimento de sua mão— , não estão conectados… não como você e Beth estão. Dawson franziu o cenho enquanto olhava para Kat e para mim.  —O que quer dizer? Ele a curou. Ela é híbrida, exatamente como Beth. —Sim, mas aparentemente Daedalus colocou em Beth um soro e testou o outro novo, o soro Prometheus, em Kat —explicou Archer— O qual significa que não estão conectados como você e Beth. Como era de esperar, Dawson argumentou que isso era impossível, mas depois que eu expliquei o que Nancy tinha-nos dito, meu irmão recostou-se, absolutamente atordoado. —Então, você vê? Tem muito em risco — disse a ele— Você tem Beth e você tem esse bebê para se preocupar. Dawson amaldiçoou em voz baixa e se recostou, esfregando as mãos contra sua nuca.  —Vocês estão realmente indo atrás do Arum? —Sim. — Parecia loucura, mas era melhor do que não fazer nada.  Ele balançou a cabeça.  —Nunca pensei que chegaria o dia que íamos para os Arum para obter ajuda. Bufei.  —Sem dúvida.
—Luc ficará aqui —disse Kat, brincando com o que restava de ovos em seu prato— Para certificar-se de que Nancy se comporte. Partiremos em algumas horas. Logo, uma vez que conseguirmos o… que conseguirmos que os Arum nos ajudem, notificaremos ao General Eaton. Eu acho que nesse ponto nós teremos retornado para cá. —Mas têm que ir tão cedo? —Beth lançou um olhar nervoso a Dawson. —Nós não temos muito tempo para conseguir este feito. — eu disse. —Mas vocês dois estarão seguros aqui.             —Não estou preocupado conosco — disse Dawson, e queria bater nele na cabeça, porque ele precisava preocupar-se com eles. — Permitir que vocês saiam, se encontrem com os malditos Arum, para tentar convencê-los a nos ajudar? Isso é totalmente perigoso. Era. Não havia forma de negar isso, e nunca tinha sido um mentiroso antes, então eu não ia começar agora. Archer se inclinou para frente, apoiando seu peso sobre seus braços. Seu olhar se encontrou com o de meu irmão.  —Entendo que você e eu na verdade não nos conhecemos, e que não tem razões para acreditar em nada do que digo, mas eu prometo que vou ter certeza de que Daemon e Katy retornem com Dee. Pode confiar em mim. Sentado atrás, eu olhava o Origem. Nunca admitiria isso, nem em um milhão de malditos anos, mas Archer… sim, às vezes era genial, e eu gostava da maneira como ele parecia. Ver como estava determinado a cumprir com essa promessa e a nos trazer de volta, não só a nós, mas também a Dee. Simplesmente não tinha que saber que me sentia assim. Terminamos de tomar o café da manhã como se fosse qualquer outro dia, tentando nos esquecer de que, sem importar as promessas que Luc e Archer fizessem, poderia ser a última vez que nos víamos.
 
Kat e eu empacotamos as mudas de roupa que Archer havia nos trazido. Meu coração batia com força dentro de meu peito enquanto a via guardar o último suéter
na bolsa que tínhamos encontrado dentro do armário. Uma vez que fôssemos, tudo aconteceria rápido, e não tinha nem ideia do que enfrentaríamos no caminho, ou quando nos encontraríamos com Hunter. Literalmente, aquela seria a última vez que Kat e eu estaríamos sozinhos. Não estava sendo um pessimista. A verdade era que ficaríamos presos com Archer. Os três estaríamos colados durante um tempo, e se as coisas saíssem errado, bom, esta de verdade seria a última vez que teríamos uns minutos a sós. Kat fechou a bolsa e se girou. Seu cabelo estava solto, e sempre gostei assim. Havia um leve rubor rosado nas suas bochechas e os olhos cinza-claro parecia ocupar todo o seu rosto.             Os cantos de seus lábios se elevaram, e isso dizia algo poderoso, que ela ainda poderia sorrir, tipo, realmente sorrir, quando toda esta porcaria estava a ponto de cair sobre nós.  —O que? — ela perguntou. —Nada. —Dei um passo para frente, e logo outro, até que estava bem na frente dela, por isso ela devia jogar a cabeça para trás para poder me olhar. Lentamente, percorri seu rosto com o olhar enquanto segurava suas bochechas, memorizando seus maçãs do rosto altas, a margem mais grossa de seus cílios nos cantos de seus olhos, descendo pelo leve relevo de seu nariz até seu carnudo lábio inferior. Demônios, não queria desperdiçar estes minutos. Queria passá-los adorando-a. Mais que tudo, desejava que nossos caminhos tivessem sido diferentes. Não para que não estivéssemos juntos nem nada dessa porcaria, mas sim pela primeira vez, desejei ser humano, e que minha espécie fosse a sua e que não existissem alienígenas tentando invadi-los. Que tivéssemos nos graduado no ensino médio como adolescentes normais, para logo irmos juntos à universidade, ao invés de arrumar a mala para entrar com tudo num covil de sociopatas, estivéssemos planejando um fim de semana na praia ou o que seja que os humanos normais faziam quando seu planeta não estava em guerra. Mas passar tempo desejando coisas que nunca acontecerão de verdade era para perdedores. E estava perdendo um tempo muito limitado.
Eu abaixei minha boca para a dela, beijando-a suavemente no início, e quando pousou as mãos sobre os meus ombros, deslizando para trás ao redor do meu pescoço, eu aprofundei o beijo. Deus, eu poderia viver do sabor dela.       
 Tomando meu tempo — tempo que realmente não tínhamos — tracei o padrão de seus lábios, preservando sua sensação em minha memória. Um pequeno gemido saiu de Kat enquanto se inclinava para mim, e seus dedos encontrando o caminho até o cabelo em minha nuca. A necessidade bateu em mim, invadindo cada célula de meu corpo. Minhas mãos se deslizaram por seus lados, demorando um momento em sua cintura para logo mover-se até seus quadris, docemente arredondados. Queria mais intimidade, queria estar nela. Era um bastardo necessitado, mas ela gostou. —Dois minutos? —perguntou ela. Sorri contra sua boca, e logo forjei um caminho de beijos até seu ouvido.  —Hmm, eu gosto como pensa. —Não me surpreende. —Conhece-me bem. Kat recuou, escorregando para fora do meu alcance. Encontrando meus olhos e vestindo um sorriso travesso, ela se abaixou e puxou o suéter sobre sua cabeça.   Infernos, sim.             Logo todo pensamento racional fugiu quando sua calça foi a seguinte, juntamente com tudo o mais que ela estava vestindo. O tom de rosa mais adorável cobriu sua pele, mas não baixou o queixo nem se escondeu de mim. Cara, Kat me fascinava, cada pedaço dela. Era linda, mas ia muito além disso. Era incrivelmente forte, e exibia as cicatrizes de sua força como uma pugilista. Era inteligente e teimosa, mas principalmente, era gentil, e tinha me dado o melhor presente quando me amou de volta. Isso era o mais importante que ficava de tudo isto. O amor era um presente. Também tirei as minhas roupas e passei os braços em volta dela. Não precisava dizer que a amava. As palavras perdiam significado ao serem ditas tantas vezes. Uma ação sempre falava muito mais, sempre era mais potente. Demonstrei a ela.
Sobre meus joelhos, e logo na pequena cama, com seus seios esmagados contra meu peito, e logo me movi para baixo de novo. Queria fazer mais, muito mais, mas não tive a prudência de trazer qualquer proteção da mansão do prefeito, e a última coisa que precisávamos era nos preocupar com a chegada de algum pequeno Daemon ou uma pequena Kat. Mas assim como antes, havia outras… coisas que podíamos fazer. E as fizemos até que meus sentidos estiveram completamente em curto-circuito, e me apaixonei por ela uma e outra vez. Tínhamos sede um do outro, ávidos para saciar essa sede até quase parecermos bobos em nossas ações, desacelerando no último momento, e então caindo juntos no abismo, abraçados e com as bocas coladas. Foi perfeito. Ela era perfeita. E eu era o cara mais sortudo. Quando finalmente saímos para nos encontrar com Archer, Dawson estava esperando nas portas de saída, com um braço sobre os ombros de Beth. Eu realmente não sabia o que dizer a ele. Um adeus não soava bem, era muito implacável. Então eu parei e olhei para os dois, esperando que, mesmo se falhássemos da pior maneira, meu irmão e sua garota seguirão adiante. Estariam a salvo. Estariam bem. Kat se aproximou primeiro. Deu um abraço em Dawson e logo outro em Beth. A garota disse algo a ela, e Kat lhe sorriu em resposta. Tive que respirar fundo quando me aproximei de Dawson e bati a mão em seu ombro.  —Ficará bem aqui. Inclinou-se até que sua testa pressionou contra a minha.  —Você também ficará. —Já sabe. Dawson sorriu, e logo me abraçou. Ambos sabíamos os riscos e como poderia terminar isto. Mas não o dissemos em voz alta enquanto nos despedíamos. Me afastar de Dawson, deixá-lo no mesmo edifício com a mulher que arruinou tanto sua vida, ia contra tudo o que conhecia.
Mas tinha que fazer isso. Tinha que deixar que Dawson cuidasse de si mesmo, de Beth, e do seu filho. Esse era seu trabalho agora. Minha pele coçava com a necessidade de voltar quando eu saí pelas malditas portas, mas ignorei e me enfoquei para frente. O General Eaton estava nos esperando junto a uma Explorer negra, o tipo de automóvel que Daedalus estava acostumado a mover-se. Eu meio que sentia vontade de explodir essa coisa, mas isso não traria nada bom. Controlei meu impulso. Sentia-me orgulhoso de mim mesmo. —Estaremos esperando notícias de vocês —disse, encontrando nossos olhares— Não acredito ter que lembrar a você, garotos, como isso é importante e a carga que têm sobre seus ombros, mas se conseguirem levar até o fim, passarão o resto de suas vidas sem ter que se preocuparem com nenhum de nós. Vou ter certeza de que, sem importar que precauções sejam tomadas no futuro, vocês terão imunidade de todas as leis e sanções. Serão livres de tudo isto. Enquanto me encontrava com o olhar surpreendido de Kat, levei um momento processar o que dizia. Uma vez que meu cérebro voltou a funcionar, sabia o que estava pensando.  —Não só para nós. O General me olhou. —Quero que minha família e amigos tenham o mesmo —eu disse, olhando para Archer. Não sabia quais eram seus planos uma vez que tudo isso tivesse acabado, mas não me importava— E também quero que a família de Kat, sua mãe, esteja a salvo e não tenha que lutar com nada desta porcaria por causo do que somos. Os lábios de Kat tremeram quando ela os apertou. Uma fina névoa cobriu seus olhos. —Entende o que digo? —perguntei. —Entendi. — ele assentiu— Posso fazer isso por vocês. —Vou cobrar isso de você. Assentiu de novo, e logo já não houve tempo para nada mais. Rodeei o General e abri a porta do passageiro para Kat. Gostasse ou não, Archer ele iria no banco traseiro.
—O que Beth disse para você? — Perguntei enquanto segurava a porta do carro.             Kat me sorriu ligeiramente quando nossos olhares se encontraram.  —Disse o mesmo que eu quero te dizer. —Que eu sou impressionante?   Ela riu, e esse som fez que um sorriso enorme aparecesse em meu rosto.  —Não. Disse obrigada.                                                            
CAPÍTULO 15
               —Sabia que… —começou Archer e fechei os olhos, reprimindo um suspiro. Aqui vão eles. Dez horas de direção, meu traseiro começava a doer e eles discutiam como um velho casal de casados —, normalmente há um limite de velocidade nestas estradas? —finalizou. —Sim —foi a resposta de Daemon. —Estava apenas curioso. —Archer estava sentado atrás de nós, mas bem poderia estar em nossos colos. Ele se posicionou de modo que estava entre os nossos assentos, os braços pendurados aos largos das costas deles. — Porque tenho certeza que esse sinal dali diz cinquenta e cinco. Não oitenta e cinco. —Você pode ler? —Daemon o observou pelo espelho retrovisor— Puta merda. Estou tão surpreso. Archer suspirou.  —Bem, isso foi inteligente. —Houve uma pausa—. Não quero terminar batendo em uma bola de fogo. —É um Origem. Ficará bem. —Não quero ser um Origem com marca de derrapagem ou um Origem crocante. —Mmm —murmurou Daemon— Origem crocante lembra frango frito. Poderia ir por um pouco neste momento. —KFC? —perguntou Archer, e me surpreendeu que soubesse o sabor do frango KFC. — Ou o do Popeye? Oh. Ele também sabia do Popeye. O lábio de Daemon se curvou.  —Não. Falo do frango frito caseiro. Imersos em ovo e farinha, frito em um frigideira. Dee pode fritar alguns rolinhos de frango. —Nunca provei frango caseiro. Seus olhos rolaram.  —Deus, você é uma aberração.
—Pergunto-me se posso conseguir que Dee me faça um pouco —respondeu Archer com indiferença, ignorando Daemon— Já sabe, quando não estiver no time matar todo mundo. —Não vai cozinhar qualquer frango para você. —replicou Daemon. —Oh, sim, ela vai me fazer frango frito. —Archer riu profundamente— Me fará todo o frango que eu quiser. Um som de advertência retumbou de Daemon e não podia acreditar que estivessem discutindo sobre a situação hipotética de Dee fazer frango frito ou não. Mas não me surpreendia. Fazia uma hora ou mais, estavam discutindo acaloradamente sobre se Shane teria sido melhor pai que Rick em The Walking Dead. De alguma forma isso levou a um desacordo em que Daemon discutia que o governador, deixando de lado suas tendências sociopatas, era uma melhor figura paterna. O fato de que Archer nunca ter comido em Olive Garden, mas conhecesse The Walking Dead, me deixou absolutamente perplexa. Archer suspirou como um adolescente petulante preso em um automóvel por muito tempo. Houve um instante de silêncio.  —Já chegamos? Daemon gemeu.  —Vou costurar seus malditos lábios. Cobri um sorriso com minha mão enquanto olhava pela janela. Entretanto, esse sorriso se desvaneceu enquanto observava a paisagem. Não tinha ideia em que Estado estávamos. Tudo a partir de cerca de cem milhas fora de Billings parecia o mesmo.             Terrenos baldios. Destruição absoluta. Pelas últimas duas horas, não tínhamos visto nenhum outro carro na estrada principal. Ao menos não em movimento. Havia um monte ao longo da estrada. Alguns foram abandonados com seus assentos traseiros empilhadas com itens pessoais, como se os donos pararam ao lado da estrada, desceram e deixaram tudo para trás ao grande desconhecido. Os outros… os outros eram assustadores. Havia armações queimadas de automóveis. Um cemitério triste de restos de metal torcido, destruído e carbonizado. Nunca tinha visto algo assim. Li sobre isso em livros, vi filmes, mas ver, quilômetro após quilometro na vida real é algo diferente. —O que acha que aconteceu com eles? —perguntei quando houve um silêncio na discussão. Archer se separou de nossos assentos, inclinando-se para assim poder ver pela sua própria janela.  — Parece que alguns deles se encontraram com alienígenas hostis. Outros correram.         Passamos um SUV com o porta-malas aberto. Roupas espalhadas sobre ele. Um pequeno urso de pelúcia esquecido no caminho. Pensei na garotinha no supermercado, e quis perguntar se eles acreditavam que os que fugiram estavam a salvo, mas não fiz isso, porque tinha certeza que já sabia a resposta. Os humanos não podiam fugir dos Luxen. —Enquanto vocês faziam coisas em seu quarto que não quero saber, algumas coisas estavam acontecendo aqui fora. Daemon não parecia perturbado com essa afirmação, mas meu rosto se transformou em um tomate maduro.  —Fale. — Sabe quando eles diziam que existiam cidades completamente perdidas, sob controle dos Luxen? Bem, essas cidades estão funcionando tudo bem com as televisões, a internet está ótima, e as linhas telefônicas funcionam. É como se nada tivesse acontecido ali, só que mais da metade da população é formada por alienígenas que odeiam os humanos —disse Archer, retomando para sua posição entre nossos assentos— Mas há um monte de cidades que só… foram destruídas. —Por que fizeram isso? —Inclinei-me para trás, me movendo no assento— Não querem as cidades praticamente intocadas para ele habitá-las? —Assim era. —Daemon olhou no retrovisor— Mas se os humanos encontraram uma forma de lutar, inclusive se a luta é inútil, então… —As cidades foram tomadas no processo —terminou Archer— As coisas vão ser duras depois, inclusive se os detemos. Um monte de reconstruções. Haverá muitas mudanças.
—Muitas não — disse enquanto passávamos ao lado de um ônibus escolar queimado que era muito mais negro que laranja. Não queria pensar se tinha estado cheio ou não, mas por trás dos meus olhos, ardia. — Tudo vai mudar. Nós pegamos o caminho mais longo para Kansas City, já que não queríamos ficar dentro de milhares de milhões de cidades controladas pelos Luxen, e acabamos parando em uma pequena e desconhecida cidade no Missouri para que Daemon e Archer pudessem trocar assentos. O sono foi irregular ao longo das próximas horas, e não era apenas por estar desconfortável ou o gosto duvidoso de Archer para música. Meu corpo estava uma pilha de nervos muito tensa. Estávamos literalmente a ponto de nos dirigir para uma fortaleza Arum e enquanto Luc jurava de pé junto que estava tudo bem com Hunter, eu ainda não tinha conhecido um Arum que realmente fosse e não queria conhecer. Mas era mais que isso. Perdi a minha mãe. Perdi Dee e Lesa. Perdi meus livros e meu blog, e nas horas nas quais não podia dormir e Daemon dormia no assento de trás, olhei pela janela sem poder imaginar como seriam as coisas amanhã ou em um mês ou agora. —Você está bem? —perguntou Archer em voz baixa. Não tinha percebido que estive me mexendo, inquieta.  —Sim. —Não consegue dormir? —Não. —Ele não parece ter problemas. Olhando atrás de mim, sorri. Daemon estava deitado de costas e um braço jogado sobre seu rosto. Seu peito subia e descia, em respirações profundas. Vireime.  —Ele precisa disso. —Você também. Eu dei de ombros.  —E quanto a você? Ele me observou com um longo olhar astuto.  —Não passo todo meu tempo livre pensando que o mundo vai se acabar o dia seguinte. Minhas bochechas avermelharam. 
—Você realmente não precisa continuar me lembrando que não existe nenhuma privacidade perto de você. Um rápido sorriso brilhou por seu rosto enquanto se concentrava na estrada escura, mas desapareceu rapidamente, como a estrela que eu estive acompanhando no céu antes. Estudei-o com o canto de meu olho, a mandíbula forte e seu perfil. —Pare de olhar para mim. — ele se zangou. —Sinto muito. —Mas continuei observando-o, e pensei em… —Sim. Franzi o cenho. —Como te disse antes, preocupo-me com ela e penso nela. Muito. —Seus dedos tamborilavam no volante— Eu gosto dela. Esta garota é… bom é especial. Provavelmente era algo bom que Daemon estivesse desmaiado enquanto tínhamos esta conversa.  —Ela gosta de você também. —Eu sei. — Ele riu baixinho. —Dee não é realmente boa em esconder seus pensamentos. Na verdade, eu não acho mesmo que ela tenta. Essa é uma das coisas que gosto sobre ela.   —E ela é absolutamente impressionante. — Eu sorri.   —Sim, isso tem algo a ver com isso. — Suas mãos apertaram em torno do volante. Cruzei os braços e voltei a olhar para a frente, lembrando do jardim que eu e Dee criamos em torno da varanda da frente da minha casa. Um sentimento de tristeza perfurou meu peito. —Nós vamos trazê-la de volta. —disse de uma maneira que não deixou espaço para nada mais que isso. Nenhum de nós falou por um longo tempo depois disso, e eu devo ter cochilado um pouco, porque quando abri os olhos, Daemon estava acordado e tinha amanhecido. —Onde estamos? —perguntei, com voz rouca, assim procurei uma garrafa de água.
—Acabamos de cruzar Kentucky. — Os dedos de Daemon encontraram um caminho entre o encosto de cabeça e o assento. Apertou meus ombros enquanto eu plhava pela janela. A estrada estava cheia de automóveis descartados, nos fazendo reduzir um pouco a velocidade enquanto Archer passava cuidadosamente pelo caminho. Apertava o cinto de segurança cada vez que nos aproximávamos de um grupo de veículos. Quando mais avançávamos, pior ficava. Os automóveis não só tinham sido abandonados aqui. Muitos estavam destruídos. Daemon de repente agarrou meus ombros por trás.  —Não olhe, Kitten.             Mas era muito tarde. Enquanto rodeávamos uma minivan chamuscada, tive que fazer isso, porque havia algo inato, tão humano, que exigia que olhasse quando tudo dentro de você gritava que não. A van tinha sido incendiada, o mais provável é que tenha sido com a Source, mas diferente dos outros que vi ou podia ver, a van não estava vazia. Oh Deus, não, não estava vazia absolutamente. Havia quatro formas na van. Duas à frente e duas atrás. Uma estava retorcida sobre o volante, a outra pressionada contra a porta do passageiro como se tivesse tentado desesperadamente sair, mas ficaram sem tempo. Os corpos na parte de trás… Oh Deus, eram pequenos, tão pequenos. Todos foram queimados além do reconhecimento. E não era o único carro assim. Um após o outro, os veículos foram incendiados, e havia corpos dentro.             Horrorizada, pressionei a mão contra minha garganta como se tentasse parar a bílis de subir. Além de tudo o que tinha visto, isto era o pior. Isto era terrível. As emoções me inundaram, apertando meu peito. —Kitten —disse Daemon suavemente, puxando meus ombros— Kat. Pare. Obriguei-me a afastar o olhar e vi um músculo pulsando no queixo de Archer. Daemon tinha a mão em minha bochecha enquanto enviava um olhar escuro para Archer.  —Poderíamos rodear estes carros um pouco mais rápido? —Estou indo tão rápido como posso —respondeu— A menos que queira levar essa Explorer para fora da estrada, não tenho certeza de quanto inteligente se...
—Merda. —Daemon de repente retirou a mão quando estreitou seu olhar no caminho congestionada em frente. Archer amaldiçoou. Fiquei rígida. —O que? —Quando nenhum respondeu, saltei sobre meu assento— O quê? —Sinto isso. —disse Archer. A única coisa que sentia foi a confusão e a irritação aumentando.  —Juro por Deus, se vocês não me disserem, vou dar um soco em ambos. Um sorriso irônico puxou os lábios de Daemon.  —Há Luxen nas proximidades. Oh, não. Inclinei-me para a frente, colocando as mãos contra o painel. Mais à frente, havia uma pista vazia na rodovia de quatro pistas, tanto quanto eu podia ver. —Não vejo nada. —Está olhando na direção errado, Kitten. Meu coração virou fortemente quando me virei em meu assento, olhando pela janela de trás.  —Oh, santo traseiro alienígena quebrado. Uma grande Hummer estava a toda velocidade, descendo a colina que tínhamos acabado de passar, sulcando pelos destroços dos carros descartados. — Eu vou dar um palpite e dizer que eles não são amigáveis. — Meu estômago caiu sobre si mesmo.             —O que te deu essa pista? —perguntou Archer, movendo rapidamente a Explorer ao redor de um caminhão. Daemon amaldiçoou de novo.  —Definitivamente não. Posso senti-los bicando em minha cabeça. Estão me chamando e não estou respondendo. —Está deixando-os furiosos? —perguntou Archer, franzindo a testa enquanto pisava no acelerador e fazia os pneus chiarem. —Sim. —Esta coisa Luxen de comunicar-se como rádios bidirecionais é muito estranho — ele disse, porque alguém precisava dizer isso.
—Não tem nem ideia. —Daemon se inclinou para frente, estendendo-se entre os dois assentos dianteiros. Archer gritou e fez uma careta para ele, mas ele era um homem em uma missão. Segurou meu rosto com as mãos e me beijou. O contato foi tão repentino e inesperado que de certo modo fiquei ali sentada enquanto ele ficava todo tipo de amigável em minha boca. —Sério? Beijá-la neste momento é o que precisamos fazer quando há alíens irritados nos perseguindo? —Beijá-la sempre é o correto. — ele se afastou e apertou os assentos— Precisamos parar e cuidar deles. Não é como se pudéssemos ultrapassá-los e não precisamos deles nos seguindo direto aos Arum. Archer suspirou.  —Isto não vai ser divertido. Continuei sentada ali, com os lábios formigando, como uma idiota. —Oh, isso vai ser muito divertido. —Daemon me lançou um olhar— Está pronta para jogar, Kitten? —Sim —murmurei— Claro. Ok. Daemon riu.  —Vamos fazer isso. Archer puxou o volante para a direita, fazendo uma parada brusca em um lado do caminho. Portas de carros se abriram e por mais que fosse uma droga, eu fui a última a destravar a porcaria do cinto de segurança e a sair do carro —Mantenha-se abaixada. —me ordenou Daemon. Ah? Quando viu a expressão de meu rosto, indicou-me que me agachasse. Envie-lhe um olhar reprovador.  —O que? Não sou uma ninja esquisita. —Eu vi você lutar. —Archer rodeou a frente do Explorer como se estivéssemos caminhando em um posto de gasolina ou algo assim. — Poderia ser um pouco ninja. Dei a ele um rápido sorriso.  —Obrigada. —Você seria uma ninja sexy —disse Daemon, piscando para mim quando olhei para ele. — Preciso que vocês dois fiquem para trás por um momento.
Sim. Só não iria escutar isso, mas antes que pudesse saltar à rua, Archer me agarrou pelo braço. —De verdade —disse, me devolvendo a meu lugar— Fique aqui. Comecei a me libertar, mas a Hummer se chocou contra um veículo e o trovão ensurdecedor de metais tinindo me obrigou a ficar parada. A Hummer estava correndo em alta velocidade para nós enquanto Daemon caminhava direto para o meio da estrada, com a cabeça inclinada enquanto estirava seus braços. A concentração marcava sua expressão. Criou uma imagem impressionante enquanto permanecia de pé ali, com as pernas abertas e os ombros retos. Como um deus a ponto de encontrar-se com um Titã de cabeça erguida. Um brilho de cor branca o envolveu e de onde eu estava, podia ver suas veias brilhando, um brilho branco que seguia as linhas das bochechas até a garganta, desaparecendo sob o pescoço de sua camisa e reaparecendo em seus braços. Tinha-o visto assim antes, não totalmente, mas sim quando parou o caminhão que quase me transformou em um animal atropelado. Daemon estava congelando o tempo. A Hummer parou repentinamente, lançando seus ocupantes para frente enquanto o ar ao redor do carro cantarolava com o poder. Ele tinha parado o automóvel — mas não podia congelar os Luxen dentro. Não importava quantas vezes o visse fazendo isso, impressionava-me sua capacidade. Tinha que absorver um monte de energia para poder congelar o tempo e eu só tinha feito isso uma vez por acidente. Daemon acenou com a mão para trás e era como se a Hummer estivesse unida a uma corda invisível. Ele descongelou o tempo e a força do veículo rebateu, mas era um pouco mais que a coisa chamada gravidade. O Hummer subiu nas duas rodas dianteiras em uma parada de mão perfeita e pairou lá por um segundo, e então tombou com a força de um elefante. Metal rangeu quando o teto desabou. —Yuuu-huuu —murmurou Archer. Os Luxen não ficaram parados por muito tempo. As portas rangeram e voaram em uma explosão de luz branca-avermelhada. Saíram — cinco deles — correndo em nossa direção em suas formas humanas.
—Eu cuido disso —disse Daemon enquanto se agachava, preparando-se para o enorme impacto dos cinco Luxen. —Que diabos? —Eu olhei para Archer. Ele assentiu.  —Sim, não nos vamos ficar parados aqui enquanto ele tem toda a diversão. Archer se foi e corri para longe da SUV, em direção a briga, bem quando um capô foi arrancado de um Sedan próximo e atravessou a barreira como uma grande faca. Acertou um dos Luxen, partindo-o em dois, e disso não havia como voltar atrás, alien ou não. Maldição. Derrapei até parar quando vi o sorriso totalmente malvado de Archer.  —Ponto. — Isso foi muito legal — disse Daemon, pegando um dos Luxen pela cintura. Levantando-o, Ele literalmente atirou o filho da mãe na estrada. O asfalto se rachou. Um resplandecente líquido azul salpicou através da estrada. Eca. Uma Luxen girou bruscamente, contra mim. Convocando a Source, levantei o braço e me concentrei no que queria que acontecesse. Recordei o dia em que usei pela primeira vez a Source, um monte de coisas batendo em meu rosto ou caindo no chão. Agora? Nem tanto. Quando o Luxem esteve a uns metros de mim, lancei-a contra o lado de um caminhão. Houve um rangido repugnante que quis esquecer, mas tinha que me prender a isso. Lancei-me para ele, antes que o imbecil voltasse a ficar em pé deixei que a Source chicoteasse através de mim. Bateu em seu peito, acima do coração, como um raio. O Luxen se iluminou como um fogo de artifício que fracassou rapidamente. Daemon tinha o que chocou contra o chão pelos ombros. Levantou-lhe o joelho, fazendo contato com seu peito. Os ossos se quebraram e o Luxen uivou. Virei-me quando o braço de Daemon se elevou e a Source descia por seu braço. Encontrei-me cara a cara com Archer e a Glock que segurava na mão. Nossos olhares colidiram e o medo explodiu em meu peito como chumbo grosso. Minha
respiração ficou presa em minha garganta enquanto me congelava. Tudo o que podia ver era o cano da arma, e logo a faísca do gatilho ao ser puxado. Preparei-me para a dor de metal me rasgando a pele e ossos. Mas nunca chegou. Um corpo caiu com um ruído surdo no chão detrás de mim e me virei, ofegando quando vi o Luxen de bruços na estrada sobre um atoleiro de líquido brilhante. —Bala na cabeça —disse Archer— Nem sequer eles sobrevivem a isso. —Isso é trapaça. —disse Daemon enquanto se girava, capturando o último Luxen com uma rajada da Source, esmagando-o contra um caminhão próximo. —Que seja. —Archer colocou a arma detrás de suas costas. — Estou a favor de conservar a energia tudo o que puder. Afastando o cabelo de meu rosto, contemplei a cena triste.  —Esses eram todos? Archer olhou ao redor.  —Acredito que por agora sim. Por agora?  Não tinha certeza se poderia suportar outra rodada enquanto me virava para onde Daemon estava de pé. Meu coração parou no peito. Um líquido vermelho azulado se deslizava por um dos cantos de sua boca. Corri para ele. Nunca o tinha visto machucado.  —Está ferido! —Estou bem —me assegurou, mas essa visão —do Daemon sangrando— me fez tremer até a medula — Me deu um golpe, mas estou bem. Em alguns minutos será como se nada tivesse acontecido. Isso aliviou um pouco o pânico crescente. —Ele está realmente bem. —Archer se uniu a ele. — Vai curar rápido, especialmente porque é de dia. A princípio não entendi muito bem o que dizia, mas logo lembrei que Daemon me explicou, faz algum tempo, como o sol fazia milagres com os Luxen, enquanto grandes quantidades de açúcar funcionavam para os híbridos.
—Temos que nos apressar. —Daemon segurou a minha mão, me puxando de volta para o Explorer. — Nos sentirão viajando e só é questão de tempo antes que eles descubram o que estamos fazendo. E isso seria ruim… realmente ruim.
CAPÍTULO 16
Tinha acabado com três barras de chocolate no momento em que nos aproximamos de Atlanta e experimentei uma grande elevação de açúcar. Com Daemon atrás do volante, e como disse, completamente bem e maravilhoso logo depois de receber o golpe, compensamos o tempo gasto lutando com o Luxen na estrada em Kentucky e poderia ter gasto uns anos de minha vida e a de Archer  Não vimos mais Luxen, e não sabíamos exatamente onde nos sentiram ou se comunicaram com outros que estavam em movimento, ou se sequer sabiam quem éramos, mas para estar seguros ao invés de lamentarmos isso, eventualmente, assumimos que eventualmente viriam mais. Enquanto cruzávamos a Georgia, vi algo que parecia saído diretamente de um filme. As árvores a cada lado da estrada foram partidas em duas, carbonizados e quebradas. Restos de um acidente de avião podiam ser vistos entre a espessa vegetação. A parte do meio com as pequenas janelas estouradas. Afastei o olhar, com o coração quebrado por toda a violência desnecessária e destruição. Quanto mais via, mais difícil era acreditar o que seria para nós —para o mundo— seguir em frente sem importar o que acontecesse com a invasão dos Luxen. Agora que os humanos sabiam que eles estavam ao nosso redor, como poderiam seguir em frente? Como poderiam sequer confiar em um Luxen logo depois disto? Não podia me permitir me debruçar sobre essas preocupações, como forma de não cruzar essa maldita ponte com um monte de buracos até chegarmos a ela. Sério, não conseguia entender como seria a vida para ninguém. Surpreendentemente, os caminhos estavam liberados em sua maior parte. Qualquer automóvel abandonado havia sido empurrado para o acostamento, e a cidade, do circuito exterior da estrada principal, parecia bem, considerando as coisas. Provavelmente tinha algo a ver com a pesada presença militar e a Guarda Nacional, mas só conteriam os Luxen por um tempo. Eram perto das sete da noite quando chegamos ao extenso aeroporto, e parecia que um toque de recolher tinha
sido colocado em prática, porque dificilmente havia alguém em alguma parte. Então, novamente, ninguém subia a um avião agora. —Lá vamos nós. —Archer apontou o elegante carro estrangeiro com todas as janelas negras. — É o que disse que conduziria. Lindo automóvel. —Sei que é muito te pedir que fique no carro, mas por favor, fique perto de mim. — Daemon reduziu a velocidade enquanto cruzava o estacionamento, dirigindo-se para o sofisticado automóvel negro. — Luc pode confiar no idiota, mas eu não. Eu resisti à vontade de rodar os olhos.  —Não é como se eu fosse correr e abraçá-lo. Sua expressão ficou sem graça.  —Eu realmente espero que não. Eu poderia ficar com ciúmes. —Ficaria com ciúmes se ela abraçasse uma árvore —deixou escapar Archer. —Talvez. —Daemon foi encostando até parar em um espaço de estacionamento atrás do carro. — Eu sou assim carente. Perdi o desejo de não rodar os olhos enquanto abria a porta do passageiro.  —Vocês dois são ridículos. À medida que saíamos da SUV, três portas do ostentoso automóvel se abriram. A curiosidade me picou. Nunca realmente vi um Arum que não tentasse fazer um lanche de minha energia. Assim havia certo nível de novidade em realmente ter uma oportunidade de ver e interagir com um que, tomara, não fosse se transformar em outra coisa que tentaria nos matar. Concentrei-me na forma alta se revelando do lado do condutor. Santo Arum… O homem de cabelo escuro era tão alto como Daemon, mas mais largo. A camisa negra que usava se estendia por seus braços e peito, o que me lembrou a constituição de um boxeador. Só por isso, parecia que podia fazer um pouco de dano. Pelo que pude ver da mandíbula esculpida e o perfil, sua pele era pálida, como todos os Arum, mas não uma cor fantasmal. Mais como porcelana ou alabastro. Seus olhos estavam ocultos detrás dos óculos negros. Vestindo jeans escuro, parecia mais como um desses homens da revista GQ que a versão desalmada de um aliem chupacabra.
Uma réplica idêntica dele saiu do assento traseiro do automóvel. Exceto que usava calças e uma camisa de botões que parecia cansado de abotoá-la. Dura pele pálida aparecia. Os Arum vinham em quatro: três homens e uma mulher. Esperava ver outro irmão ou irmã, mas o que estava esperando ao lado da porta do passageiro não era nenhum. Era uma humana. Fiquei boquiaberta ante o variado grupo. Que demônios fazia uma humana com eles? Ela se girou para onde nós paramos, e tive uma boa visão da loira. Era bonita —muito bonita— e não pude decifrar por que estava aqui. Então, Daemon falou:  —Qual é, idiota? Meu queixo caiu no chão. —Você realmente sabe como cumprimentar as pessoas. —murmurou Archer. O Arum que esteve atrás do volante inclinou sua cabeça com um suspiro.  —Você outra vez. —Você parece tão feliz quanto eu, em vê-lo. —Os lábios de Daemon se torceram em uma paródia de sorriso enquanto cruzava os braços— Vamos deixar uma coisa clara antes de continuarmos. Se está pensando em nos ferrar de alguma maneira, será a última coisa que você pretende fazer. Hunter sorriu enquanto virava a cabeça em direção a seu irmão.  —Eu disse que ele é um fofo. O outro Arum apoiou os braços sobre o teto do carro e uma sobrancelha ergueu-se sobre os óculos escuros que ele também usava.  —Fofinho como um maldito porco-espinho.             Daemon levantou o dedo do meio. Isto ia sair bem. Mesmo que Hunter estivesse usando óculos de sol, podia sentir seu olhar de repente deslocar-se para mim.  —Já vejo que tirou sua garota do Daedalus. Como é?
—E vejo que ainda, de alguma forma, continua tendo uma humana com você —respondeu Daemon— Sinto que preciso perguntar se ela está aqui contra sua vontade. Hunter soltou uma sílaba rindo.  —Está, Serena? A loira rodou os olhos enquanto sacudia a cabeça.  —Não. —Aí está sua resposta —acrescentou Hunter. —Tão surpreendentemente bem como este encontro e saudação está indo, acredito que deveríamos chegar ao ponto —sugeriu Archer— Fomos avisados de que está disposto a nos levar aonde se encontram os Arum. —Estou. —Hunter cruzou os braços, imitando Daemon. Houve um golpe de silêncio, e juraria que senti seu olhar em mim de novo— Têm certeza de que querem fazer isto? Oh, isso não soava bem. Mudei meu peso de pé. —Temos que fazer isso. O sol finamente desapareceu detrás de espessas nuvens, e o crepúsculo se estendeu rapidamente sobre o estacionamento. Hunter levantou a mão, tirando seus óculos de sol. A tonalidade pálida de seus olhos azul gelo era enervante como o inferno. —Algum de vocês já ouviu falar de Lotho? —Além de que é como seu pequeno líder ou algo assim? —disse Daemon— Não. —Pequeno líder? —O outro Arum abaixou o queixo e riu— Mais como um pequeno louco. —Ou muito louco, Lore. —Lore? —disse, me sentindo estúpida— Espera. Esse é seu nome? Lore. Ele mostrou os dentes brancos retos.  —Espere até você encontrar o nosso outro irmão, Sin. Sin? Lore? Uau, o nome de Hunter realmente destacava. Balancei a cabeça, porque a sério, nada disso era importante.  —O que quer dizer, Lotho é um pouco louco? —Bom. Ele é muito louco —disse Hunter, inclinando-se contra o automóvel enquanto Serena vinha para o lado dele. — Pessoalmente, acredito que é um
lunático e psicopata para os padrões dos humanos. Não o deixaria em nenhum lugar perto de Serena. Diabos, não o deixaria em nenhum lugar perto de uma barata de estimação se tivesse uma. Oh. Uau. Daemon franziu o cenho.  —Isto parece realmente divertido. —E também é muito poderoso —continuou Hunter— Se alimenta de Luxen como se houvesse um armazém deles, e é todo enfeitado com opala. Como se estivesse costurado a sua pele. Meus olhos se arregalaram.  —Ouch. —Odeia os humanos —interveio Lore— Mas odeia mais os Luxen. E tampouco é um grande admirador dos Origens ou híbridos. Tudo isto começava a ficar ruim. —Parece que isso vai ser um grande momento —disse Daemon secamente. Hunter riu, mas foi um som arrepiante.  —Os Arum são leais a ele. Farão o que ele quiser, inclusive se significar sua morte. —E vocês não? —perguntou Daemon. —Inferno, não —respondeu Hunter enquanto passava um braço extremamente protetor sobre os ombros de Serena e a puxou para perto. — Acredite ou não, garoto, não tenho vontade de fazer guerra com os Luxen antes de que toda essa porcaria caia. Agora parece uma necessidade, mas quando tudo estiver dito e feito, não dou a mínima ao que você, ou qualquer de seu sua espécie, estão fazendo. —Fez uma pausa, olhando a mulher em seus braços— Tenho coisas melhores para me concentrar. E Lore também. Choque se espalhou pelo rosto de Daemon, reproduzindo exatamente o que eu sentia no interior. A forma como Hunter olhava Serena? Uau. Realmente estava apaixonado pela mulher, uma humana. Daemon o olhou um momento, e logo deixou cair a cabeça para trás e riu.  —Bem. Posso respeitar isso.
Hunter não respondeu pelo que pareceu uma eternidade. —Se pode fazê-lo aceitar a ajudar, terá um inferno de um exército. Só não tenho certeza de que vai achar Lotho muito agradável. —Sim, bom, vamos nos preocupar com isso. —Demon inclinou sua cabeça para um lado enquanto eu, a sério, começava a se preocupar com isso. — Quantos Arum tem? —Milhares —disse Hunter, e senti que o chão se movia sob meus pés— Uns que ficaram sob o radar, e inclusive esses que estiveram com o Daedalus até que os Luxen apareceram. —E agora todos eles estão com ele? —Archer esfregou uma mão sobre seu cabelo de corte militar que agora começava a crescer. —Sim.  —Lore deixou sair a palavra, rindo— Vai ser como entrar em um culto. Prepare-se. —É realmente estranho. —Serena torceu seu cabelo e o lançou sobre seu ombro enquanto falava— Todos eles olham para você como se estivessem planejando comer você no jantar. A coisa toda Arum é meio estranha, para ser honesta. —Ela olhou para Hunter e, em seguida, Lore. —Sem ofensa. Lore levantou o braço do teto do automóvel com um sorriso fácil.  —Não há problema. —Então, garotos, preparados para fazer isto? —perguntou Hunter. Não realmente, mas não gritei, não quando Daemon assentiu. Tudo que fiz foi observar Hunter virar-se para Serena e apertar suas bochechas com as mãos enormes. O aperto era tão incrivelmente gentil, que fiquei surpreendida que um Arum fosse capaz disso. Ele abaixou a cabeça, beijou-a, e ela se inclinou para ele como se fosse sua segunda natureza. Senti-me como um ogro total por olhar, mas não podia afastar o olhar. Um Arum e uma humana. Uau. Me ocorreu logo que provavelmente pensavam o mesmo quando viam Luxen e um humano juntos. —Retornarei logo —ele disse a ela quando levantou sua cabeça. Serena franziu o cenho.  —Posso ir com… —Sabe que não a quero perto de Lotho e Sin, e sabe que estarei bem —a assegurou— Lore prometeu te manter entretida.
Lore assentiu enquanto franzia os lábios. Serena ainda não parecia feliz, e se temia por Hunter e o que estava ponto de embarcar, eu pensei que nós precisávamos repensar seriamente isso. Mas não tínhamos outras opções. Abraçou-o fortemente, agarrando-se a ele uns momentos, e logo o deixou ir. Caminhando a seu redor, deu um tapa em seu traseiro.  —Estarei esperando. O olhar que Hunter enviou a ela provocou que minhas bochechas se ruborizassem, mas Serena parou e nos confrontou.  —Olhem, tive experiências realmente ruins com os Luxen no passado, do tipo de Luxen que sabiam que todos os outros vinham. Daemon e eu trocamos olhares.  —Importaria-se de nos dar mais detalhe? —perguntou. Ela respirou fundo.  —Houve um senador que era Luxen, e tinha dois filhos. Minha melhor amiga… acidentalmente os viu fazendo sua coisa brilhosa, e a mataram para mantê-la calada. Tentaram me matar. —Oh, Deus —sussurrei. —Hunter foi contratado pelo governo para me manter a salvo. Não porque realmente se preocupassem comigo, mas sim porque não gostavam de como os Luxen pensavam que podiam matar sempre que quisessem, sem seguir as regras. —Um olhar triste encheu seus olhos— Mas foi mais que isso. Minha amiga escutou os irmãos falarem disto, do Projeto Águia. Algo que tinha a ver com a Pennsylvania e algumas crianças. —Algo mais? —perguntou Archer, seu olhar astutamente aguçado. Ela olhou para Hunter antes de assentir.  —O projeto Águia foi em resposta a Daedalus, era sobre contactar os outros Luxen que estavam lá fora, onde quer que seja. Era sobre a dominação mundial. Estiveram planejando isto, e estavam usando os Origens para fazer isso. Pensamos que falavam de crianças — como pessoas pequenas agora. —Mas não o faziam —disse Hunter, franzindo o cenho— Fizemos um pouco de investigação. Falavam de origens como ele. Um músculo palpitou na mandíbula de Archer.
—Como, Origens crescidos? Ele assentiu.  —Sim. Caramba, estávamos totalmente certos. —Sabíamos que algo como isto ia acontecer, ou ao menos que iam tentar, mas não podíamos fazer nada — disse ela. —Temos preço em nossas cabeças —explicou Hunter— Vamos apenas dizer que zanguei os Luxen, alguns Arum, e o Daedalus. Estamos entre uma rocha e um lugar realmente duro e ferrado. —Queríamos fazer algo, mas não pudemos, então ajudar a vocês, caras… bom, isso é melhor que não fazer nada de novo. —E de repente, soube que Serena provavelmente era a força impulsora por trás de Hunter cumprindo o favor que devia a Luc. Seu olhava vagou para Daemon— Sei que você não confia no Hunter, mas nós tampouco confiamos em você. Assim, se fizer algo que o coloque em perigo, sei como eliminar um Luxen, e não tenho medo de fazer isso. O peito de Daemon se levantou com uma respiração profunda.  —Entendo. —Bem —respondeu ela. Eu gostava dela. Hunter sorriu.  —Vamos, rapazes. Não temos muito a fazer. Nós três seguimos Hunter até um poste de luz, o qual se encontrava a dez metros de distância do carro, e então ele parou.  —Chegamos. Minhas sobrancelhas se levantaram enquanto jogava uma olhada ao redor, vendo nada.  —É como algum tipo de porta mágica como as do Harry Potter? Ou algo assim? Ele me olhou fixamente. —O que? —perguntei timidamente— Você sabe, como a Sala Precisa? A porta aparece só… Oh, esqueça. —Certo. —Fez um gesto para baixo a nossos pés— Nós vamos descer.
Tudo o que vi foi uma tampa de boca-de-lobo, e depois se inclinou, levantando o pesado aço, e meu coração caiu. Literalmente íamos para baixo. —Aqui? —perguntou Archer. Ele assentiu com um sorriso tenso.  —Por que outra razão acredita que sugeri o aeroporto? Não é como se eu gostasse de ficar aqui. —Como iríamos saber? —respondeu Daemon, olhando a boca-de-lobo como se fosse a última coisa em que queria entrar. Idem— É um Arum, assim… — Eu realmente estava esperando que você deixasse cair esta maldita atitude por agora.  —Daemon sorriu.  —Vá se danar. —Não, obrigado —respondeu, mas nenhum deles tinha verdadeiro calor por trás de suas palavras. Levantando o olhar, Hunter me olhou, logo para Daemon. — Suponho que você vai querer descer antes dela. Eu resisti à vontade de rodar os olhos enquanto prendia meu cabelo em uma rabo-de-cavalo rápido. Archer se moveu até a borda, saudou-nos, e logo desapareceu pela escada. Uns segundos depois, sua voz viajou do mais à frente. — Fede. Muito mal. Genial. Descemos rapidamente, e Archer não mentia. O túnel mal iluminado cheirava a mofo e traseiro —a traseiro mofado. Hunter foi o último a descer. Sem sequer tomar a escada, aterrissou agilmente agachado a nosso lado, desde que ele era todos os tipos de especial, aparentemente.             Endireitando-se, olhou sobre seu ombro enquanto caminhava.  —Temos um longo caminho a andar. Descobriu-se que “um longo caminho a andar” equivalia a cento e cinquenta quilômetros para Hunter. Apesar de meus genes mutados, minhas pernas doíam enquanto caminhávamos por toda a eternidade no metrô vazio, que estava em silencio com a exceção de nossos passos. Viajamos de um túnel a outro, passando os trens subterrâneos que tinham sido abandonadas e pareciam ser a fonte do aroma desagradável. Olhava as janelas sujas e quebradas de um dos trens quando Hunter apareceu na minha frente. Assustada, tropecei um passo para o lado
Olhos pálidos encontraram meus.  —Não olharia muito de perto esses trens. Não estão vazios. Alguns Luxen se apropriaram deles. Iluminaram o interior. As pessoas estavam a bordo e este é o lugar onde os trens pararam. Entende o que estou dizendo? Meu estômago se agitou enquanto assentia. Tanta morte desnecessária — era horrível, e demorou muito tempo para que eu limpasse minha cabeça. Entramos no labirinto de túneis, passando por portas de aço que pareciam como se não tivessem estado abertas na última década, e entrei em um túnel amplo brilhantemente iluminado com tochas enfiadas nas ranhuras da parede. Hunter parou em frente a uma porta mais adiante, uma de aço circular. Mordi o lábio, sentindo algo estranho. Como se o ar de repente se tornou enfraquecido, e fosse difícil tomar a respiração seguinte. Uma nervosa sensação se arrastou por meu interior como centenas de pequenas formigas. Daemon parou na minha frente, estirando um braço enquanto inclinava a cabeça para um lado. Os músculos de sua coluna rolaram com tensão.  —Há um monte de Arum detrás dessa porta. Hunter sorriu enquanto ficava de frente para nós.  —Disse-lhe isso. Existem milhares aqui embaixo. Não podia acreditar nisso.  —Como pode haver tantos? Estes são apenas metrôs. O Arum pôs uma grande mão na porta.  —Criaram um mundo aqui, um pequeno. Eu me desliguei no termo estranho. “Pequeno” era o último adjetivo que usaria para descrever isso. —Lotho esteve aqui embaixo por anos com muitos Arum, esculpindo uma cidade subterrânea com a ajuda dos que são leais a ele. Vão e vêm como bem entendem, mas sempre voltam. —Pegou uma alavanca pesada— A forma em que vivem é um pouco arcaica, assim que o que estão por ver… —Provavelmente terminaremos precisando de terapia? —Assenti com um suspiro— O entendo. Um lado de seus lábios se levantou, e logo olhou para Daemon.  —Preparados?
—Vamos terminar com isto. —Daemon pegou minha mão, envolvendo a sua ao redor da minha, e não me importei. Sabia que o que estávamos prestes a fazer, o que estávamos prestes a entrar, era além de perigoso, e íamos fazer isso juntos. Hunter hesitou por um momento, como se realmente não queria fazer isto, e logo seus bíceps se flexionaram enquanto abria a porta. Ali havia outro corredor, mas este era diferente. As paredes eram de vigas de madeira cheias com painéis de gesso. As tochas estavam postes, algo assim como totens com estranhas gravuras sinuosas que lembravam nós celtas. Ao final do amplo corredor havia uma porta de madeira que me recordava algo saído de uma feira renascentista. No momento em que entramos no corredor, e antes que Hunter alcançasse a porta, abriu-se de repente, ressoando contra a parede quando outro Hunter apareceu. Ah, ali estava o terceiro tripleto. Mesmo que ele se parecesse como outro Hunter, com a exceção do cabelo que era mais longo e puxado para trás na nuca, ele me lembrou um pirata. E não a versão divertida da Disney, também. Este irmão sangrava animosidade no ar e respirava ódio. Ele deu um largo olhar a seu irmão, e logo seu olhar gelado vagou sobre nós. Tremi enquanto a temperatura baixava. Arrepios percorreram minha pele, e expulsei minha próxima respiração, que formou uma nebulosa nuvem branca. —Realmente não devia tê-los trazido aqui —disse o irmão. Ouvir sua voz era como ser atingida por uma chuva congelante. Hunter inclinou a cabeça.  —E eu na verdade não preciso de sua permissão, Sin. Sin olhou para seu irmão fixamente por um momento e logo riu.  —O que seja. Daemon ficou tenso, como se estivesse se preparando para uma batalha para passar por aquela porta, e não relaxou quando Sin girou sobre seus calcanhares e desapareceu. Tampouco eu. A má sensação que tinha desde o momento em que Hunter começou a falar sobre Lotho aumentou a níveis épicos. Archer apareceu no meu outro lado, e nós três seguimos Hunter pela porta. Nada podia ter nos preparado para o que vimos.
Uma cidade subterrânea? Não era brincadeira. Era como entrar em um mundo diferente. Parecia não haver teto, inclusive embora sabia que continuávamos profundamente sob o chão. Tão longe como o olho podia ver havia um andaime alto, criando dúzias e dúzias de atalhos que circulavam pela ampla câmara. As portas eram visíveis no nível de baixo, e um grosso material que parecia peludo pendurava dos corrimões. Toda a instalação em certa forma recordou uma prisão feita de madeira. Deus me livre alguém desajeitado com um fósforo.             Meus olhos estavam arregalados enquanto caminhávamos até o centro da sala. Havia mesas artesanais com detalhes incrivelmente ricos e silos espalhados ao longo das bordas da sala, misturados entre armários altos e largos. Alguns estavam abertos, revelando conteúdos normais —comida enlatada, toalhas de papel, refrigerantes. —Isto é tão estranho —sussurrei ao Daemon. Ele assentiu.  —Não tinha ideia de que isto existia. —Deve continuar dessa forma —disse Hunter por cima do ombro. — Por mais que não seja um fã do Lotho, ele construiu algo para nossa espécie - algo assim como um santuário. Não importa o que acontecer, não pode compartilhar isto com ninguém. —Não o faremos —jurou Archer— Não temos necessidade de contar a ninguém sobre isso. —Ok. —Hunter chegou à porta— Me deixem falar. Isso significa que não abra a boca, Daemon. Sério. Daemon franziu o cenho.  —Isso não é um insulto. —Levantei as sobrancelhas para ele, e ele suspirou. — Bem, ficarei calado. Deixamos a sala, entramos em outro corredor e passamos por outra porta, mas podíamos ouvir conversações e risadas misturadas com gritos e o que soava como golpes. Não tinha ideia do que íamos ver além dessa porta, e tentei me preparar para o que fosse enquanto Hunter a abria, revelando uma enorme câmara.
Santos bebês Arum, havia uma quantidade incrível de Arum aqui. Estavam por todos os lados, sentados em longas mesas de madeira e de pé entre eles. Meus passos paralisaram, e a mão de Daemon ficou tensa sobre a minha. Cada Arum na sala deixou de falar e literalmente pareceram congelar-se. Alguns tinham estado em processo de levantar-se. Outros tinham grandes copos que pareciam como cálices medievais. Todos eles eram pálidos. A maioria tinha cabelo negro, e combinado com seus pálidos olhos azuis, era uma combinação surpreendente. Alguns tinham o cabelo loiro ou inclusive de um forte vermelho. Todos nos olhavam fixamente. Oh, cara, o cabelo da minha nuca se levantou como se dedos gelados viajassem por minha coluna. —Que diabos, Hunter? —trovejou uma voz profunda detrás de nós. Virei-me e respirei fundo enquanto meus olhos quase saíam de minha cabeça. Havia um grande estrado de madeira que dava ao era, obviamente, uma sala de jantar. Os degraus que conduziam a ela eram poucos mas íngremes, como que provavelmente eu quebraria meu pescoço descendo. Um homem estava sentado lá em cima, e embora não estivesse de pé, podia ver que era do tamanho de Jolly Gigante Verde. O Arum era imenso, largo nos ombros, no peito e nas grossas coxas. Sentava-se preguiçosamente, como se mal estivesse acordado, mas havia um senso de observação aguçada em seus pálidos olhos azuis. Ele era… era bonito de uma forma fria e irreal. Suas feições eram afiadas como se tivessem sido esculpidas em mármore, seus lábios cheios e expressivos, nariz reto e maçãs do rosto altas. Seu cabelo era branco, mas suas sobrancelhas escuras. De alguma forma, a estranha combinação funcionava. Olhou-nos enquanto segurava um cálice cheio de um líquido ambarino na mão direita. Assim que este era o Grande Chefão, como Luc o chamava? Estava relutantemente impressionada. Hunter deu um passo à frente enquanto eu olhava aonde se sentava Lotho, o qual parecia ser um trono feito de… Santa corrida pelas malditas colinas e sem olhar atrás, eram ossos de verdade? Eram estranhos, embora definitivamente não humanos. Eram mais finos
e pareciam mais flexíveis, como se a cartilagem tivesse mudado uma e outra vez, e tinham um tênue brilho de luz azul… Oh, Deus. Eram ossos de Luxen. Isto era ruim, muito ruim. —Sabe o que está ocorrendo lá fora —começou Hunter, mas não chegou muito longe— Os Luxen te… —Sei o que está ocorrendo lá fora —interrompeu Lotho, bebendo de sua bebida quando esperava que ele descesse. — Os Luxen vieram. Mataram um punhado de humanos e blá, blá, e uma tonelada de outra merda que não me importa. Mas isso não explica por que os trouxe aqui. Hunter abriu a boca. — A menos que você os esteja trazendo para o jantar. — Lotho sorriu, exibindo dentes brancos e estranhamente afiados. —Se esse for o caso, agradeço a você e ao que trouxe. —Não estamos aqui para o jantar —disse Daemon, a voz tão fria como a sala, e fiz uma careta—Também não somos a sobremesa. Viemos aqui para pedir sua ajuda para lutar contra a invasão de Luxen. Uau. Olhei para Daemon, de certa forma orgulhosa de que sequer tenha pronunciado essas palavras sem uma pitada de sarcasmo. Mas Lotho parecia como se pudesse se engasgar com a bebida que acabava de tomar.  —Ajuda? Houve um rumor de risos ao nosso redor que ecoou nas paredes e causou que meu coração batesse muito rápido. —Sim. —Daemon levantou a cabeça enquanto sorria— Ajuda. É uma palavra bastante simples. Poderia te dar a definição se quiser. Uff, lá se foi o Daemon livre de sarcasmo. O vidro se quebrou na mão de Lotho. Daemon franziu o cenho enquanto os pedaços de vidro tilintavam no chão.  —E esta é a razão pela qual não podemos ter coisas lindas. Engasguei com meu riso, porque eu tinha certeza de que se risse, o Arum poderia decidir nos lanchar.
Houve um longo silêncio, e podia sentir os Arum levantando-se de seus assentos detrás de nós e aproximando-se. Calafrios correram por minha coluna e essa sufocante sensação tinha retornado, pesando em meu peito. Sin cruzou em minha linha de visão e parou na parte inferior das escadas.  —O que quer que façamos com eles? —O afã em sua voz quando nos olhou me assustou. Lotho sorriu.  —Matem-nos e deixem que seu Deus se encarregue deles.
CAPÍTULO 17
               Bem, bolinhos de merda para o jantar do domingo.  Essa era a resposta na pior situação possível. Movi-me para frente, posicionando Kat entre Archer e eu. Se tinha que destruir esta sala para tirá-la daqui, que assim fosse. E então o que? Esta missão seria um absoluto fracasso, o governo começaria a bombardear todas as cidades, o mundo se reduziria a um lugar que eu com certeza não queria ser, e pior ainda, eu perderia minha irmã. Para sempre. Talvez devesse ter mantido a boca fechada. Lotho se levantou em toda sua altura, o que tinha que ser malditamente perto dos dois metros, e me olhou de cima a baixo como se quisesse me mastigar e me cuspir.  —Você esperava realmente uma resposta diferente de mim? —Inclinou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada. Vários dos Arum riram a nosso redor— Que qualquer um de nós ajudaria um Luxen? Ou um híbrido ou o que diabos seja essa coisa? —Assinalou Archer— Ou é incrivelmente arrogante ou gravemente estúpido. A irritação picou na parte de trás de meu pescoço, fazendo que minha pele vibrasse com eletricidade. Sabia que precisava me manter calmo, ao menos até que fizessem um movimento real contra nós. Por mais que ele fosse ruim, precisávamos dele. —O que? —Lotho desceu um degrau, e fiquei tenso. — Não tem algo espertinho que queira acrescentar? Meus olhos se estreitaram.  —Dê-me um segundo. Eu vou pensar em alguma coisa.             Hunter gemeu. Umas pequenas mãos empurraram minhas costas em sinal de advertência.  —Não esperava que algum de vocês segurasse nossas mãos e cantasse Kumbaya —disse, e Lotho arqueou uma sobrancelha— Não esperava que algum de
vocês na realidade nos recebesse aqui, mas esperava que não fossem um monte de idiotas. —Oh, Deus —murmurou Kat detrás de mim enquanto afundava as unhas em minhas costas. —Isso não te faz ganhar nenhum amigo. —Hunter me olhou como se tivesse neurônios insuficientes. Seu irmão, Pinky ou Binky — não tinha ideia, porque esqueci o nome de ambos — parecia como se estivesse preparado para sair e procurar um babador. Eu tomei uma respiração profunda.  — Vocês perceberam o que vai acontecer uma vez que os Luxen dominarem a Terra, certo?             A expressão de Lotho dizia que não podia se importar menos.  — Você acha que nós nos preocupamos com os seres humanos? Eles são... inúteis para nós. Eu comecei seriamente a questionar sua inteligência. — Uma vez que eles tomarem o poder e subjugarem todos os seres humanos aqui, eles vão vir atrás de vocês. Talvez não estejam preocupados com vocês agora, mas estarão. E a última vez que verifiquei, os Luxen dominaram os Arum. Lotho bufou.  —Eles não nos possuem. —É isso mesmo? —interveio Archer— Porque vocês estão aqui na Terra, no subterrâneo, vivendo em túneis do metrô. Só pensei em apontar isso. —Ele meio que tem um ponto de lá. — acrescentei, sorrindo. —Até então, eles aprenderam a lutar contra a sua espécie. — eu continuei, esperando que pelo menos um dos Arum aqui poderia ter senso de lógica. —Agora, eles não têm ideia. Será como um maldito buffet para vocês. Mas depois? Depois de terem lidado com um Arum aqui e ali? A história vai se repetir.  —A história nunca vai se repetir— zombou um Arum feminino. —Eles nunca terão o controle de nós novamente. —Mantenha-se dizendo isso, enquanto você se esconde aqui em baixo — retorqui.             Pinky —acredito que era Pinky— começou a mudar.  —Não estamos nos escondendo.
—Parece totalmente como vocês estão se escondendo. — Kat espiou por cima do meu ombro, e o olhar de Lotho bateu nela de uma maneira que me fez querer tirar sua laringe e empurrá-la por sua boca abaixo. —Quero dizer, a partir de um observador de fora, eu diria que vocês estavam se escondendo. Hunter fechou os olhos como se ele de repente tivesse uma dor de cabeça.  Depois de uma pesada pisada, Lotho estava ao alcance de um chute no traseiro. Não me olhava. Minhas mãos se fecharam em punhos. Calma, Archer me alertou. —Você não é apenas um observador casual. — disse Lotho a Kat, a voz tão grossa quanto as sombras que se reunião em torno dele. —Você é uma prostituta de Luxen que se esconde por trás deles. Eu endureci.  —O que... —Primeiro, a última vez que verifiquei, eu não sou uma prostituta de ninguém. Em segundo lugar, eu não me acovardei atrás dele. Ao contrário de algumas pessoas.  Lotho inclinou a cabeça para o lado. —E em terceiro lugar? Nenhum nesta sala —nenhum só de vocês— causou a destruição de seus planetas, certo? Alguém aqui é o suficientemente velho para ter participado da guerra entre suas espécies? —Quando ninguém respondeu, ela balançou a cabeça. —Vocês são ridículos! Todos vocês.              Explosões de ar frio estalaram de várias direções. Não era bom.  —Hmm, Kitten… —Cale a boca— ela retrucou, e meus olhos se arregalaram. —Você é tão ruim quanto eles são. —O quê?— Eu disse. O clone de Hunter ergueu as sobrancelhas. —Eu meio que quero ouvir onde isso vai dar.             Mais risadas vieram da plateia. —Vocês se odeiam somente pelo que são — quase gritou Kat. —Bem, eles eram uma espécie criada para nos destruir, assim... — Eu parei. —E eles cometeram genocídio com nossa espécie e essscravizaram nosso povo. — disse Lotho, sua voz como a de uma cobra.
—Waah, waah, waah. Lamentações. Isso é tudo o que escuto. —Kat levantou as mãos— Deixe-me te dar uma breve história da humanidade. Estamos constante e sistematicamente ferrando uns aos outros por religião e raça, fazendo coisas muito piores do que suas espécies fizeram uma a outra, e tão frequentemente que um professor de história mal tem tempo para dar em sala de aula. Desde o início, temos machucar uns aos outros sobre as coisas mais estúpidas.             —Bem, isso é um efusivo endosso dos seres humanos. — disse o irmão de Hunter secamente. —Você não entende. —Por um segundo, pensei realmente que ela ia bater o pé. — Apesar de tantas raças neste planeta, tem muita hostilidade entre elas, mas quando algo acontece, sempre estamos juntos. Sempre. Por quê? Porque sabemos que há alguns momentos nos quais temos que brigar juntos, e assim o fazemos. Logo, quando tudo acaba, voltamos para ódio o mútuo. E tudo volta a estar bem no mundo. A forma de Lotho se solidificava à medida que a olhava. —Deus!— Kat bateu o pé então. —Porque você não pode agir como todos os seres humanos apenas uma vez? Silêncio, e depois Lotho perguntou:  —Você está querendo que esqueçamos tudo o que eles nos fizeram e continuam a fazer?             —Não. Eu quero que você se lembre —disse ela. —Eu quero que você se lembre de tudo o que foi feito para você, porque estes Luxen, os que acabaram de chegar aqui, eles são do tipo que te ferrou totalmente. Não Daemon. Não eu. Não a maioria dos Luxen que têm vivido aqui. Os invasores são os seus inimigos. Eu quero que você se lembre disso. Seus lábios se curvaram.  —Como se houvesse uma diferença entre eles. Kat balançou a cabeça em descrença.  —As coisas nem sempre são preto e branca. E se você realmente acha que ir atrás dos Luxen invasores não é de seu maior interesse, então… bom, boa sorte com isso.
Lotho desviou os olhos, o olhar percorrendo a massa de seus asseclas. Esteve tão quieto como o ar que nos rodeava por um momento. Os pelos em meus braços se elevaram, e então, lançou-se para frente, indo direto para Kat. Virei-me, mudando para minha verdadeira forma quando Lotho agarrou Kat. Bateu-a contra a parede mais próxima, uma mão ao redor de seu pescoço. Uma raiva em vermelho vivo explodiu dentro de mim. O som que subiu por minha garganta era cru e animal. Lancei-me para frente, gritando com fúria enquanto o irmão de Hunter e outro Arum me agarravam pelos braços. Um instante depois, um Arum adicional se encontrava às minhas costas, me empurrando sobre o chão lamacento e frio. Não precisava olhar para saber que Archer também estava cercado. Lutei, recorrendo à Source, mas os três Arum eram grandes —caras definitivamente jovens— e eram fortes, como se recentemente se alimentaram de uns poucos Luxen. A luz pulsava e cintilava, estalando no ar. Levantei a cabeça, vendo o mundo em branco e vermelho. —O que você acha que está me impedindo de acabar com sua vida agora?— Lotho rosnou, a centímetros do rosto dela. —Nada— ela disse ofegante. —Mas o que... resolve me matar?             —Vai me divertir. —Lotho se inclinou para ela, tipo, em todo seu espaço pessoal. Moveu a cabeça para um lado, e inclusive de onde estava, podia ver seu olhar deslizar-se ao longo de Kat— E eu tenho certeza que vou gostar. Perdi o controle. Energia pura me percorreu, expandindo-se em uma explosão de luz. O Arum às minhas costas saiu voando como um saquinho de feijão. Levantei-me, arrastando o irmão de Hunter e seu companheiro comigo. O poder circulou em mim em uma onda tumultuosa à medida que levava os braços para o centro, acertando as cabeças dos dois Arum. Caíram no chão. Comecei a avançar, parando o tempo suficiente para dar uma surra em um Arum que mudava lentamente, e logo a outro que agarrei por debaixo do queixo, lançando-o à multidão de Arum.
—Deixa-a ir —disse, mudando à minha forma humana enquanto a Source crepitava e rugia por meu braço. Meu coração batia com força e o chão sob meus pés começava a sacudir-se. — Ou destruirei todo este maldito lugar. Lotho olhou por cima do ombro para mim. –Olhe para você e seu grande, lado mau. Rawr. –Ele largou-a e me enfrentou plenamente.  –Você ainda não viu nada ainda. – eu rosnei. –Eu estou te dando cinco segundos para se afastar dela. Um. Quatro. Cin... —Eu não acho que você sabe como contar. —E eu não acho que você queira viver. Lotho olhou para mim um momento e então jogou a cabeça para trás, soltando uma gargalhada enquanto o irmão de Hunter se levantava. —Uh... — Hunter franziu a testa, olhando para seu irmão quando ele cambaleou para o lado. —Não esperava isso. Tampouco eu, mas não afastei os olhos de Lotho à medida que me aproximava dele, batendo seu ombro com o meu quando cheguei junto a Kat.  —Está bem? —Sim. — ela disse, engolindo em seco, enquanto observava Lotho. —Ele está rindo...? Eu me dirigi a Lotho, minha visão ainda tingida em branco-vermelho. Eu ia colocar a minha mão em seu peito, mas Kat agarrou meu braço, obrigando-me a parar. —Eu meio que gosto deles. — disse Lotho para Hunter, que parecia tão confuso quanto o resto de nós. —O que é uma ótima notícia para você, já que eu não vou te matar por trazê-los aqui.             Hunter franziu o cenho profundamente e cruzou os braços.  —É bom saber disso. —Se afastem da aberração —ordenou aos que cercavam Archer. Subiu os degraus do trono improvisado e logo se deixou cair em uma arrogante e desajeitada postura, com as pernas abertas— De acordo, então. Querem um exército. Darei a vocês um exército.
A massa de Arum a nosso redor se moveu enquanto que alguma, mas não quase toda, da tensão se dissipava de meus ombros. Sentia que devia agradecer, mas nem sequer podia formar as palavras. —Te darei minha palavra, mas há uma condição —disse, levantando o queixo. —É óbvio —murmurei. Lotho me olhou como se eu fosse uma espécie de inseto sob um microscópio.  —Só uma pequena coisa. Archer assentiu, mas pela extremidade do olho, vi que os ombros do Hunter se endireitavam enquanto apertava os olhos. Murmurou uma maldição em voz baixa. —Me deixe me alimentar dela. Fiquei rígido.  —Sei que o escutei mal. —Não. Não escutei —respondeu Lotho com frieza. —Me deixe me alimentar dela. —Acenou para Kat. O sangue foi drenado de seu rosto, mas ele correu para cada parte do meu corpo, como um dilúvio de fogo — Não a matarei. Só uma provada. Ou duas. Talvez três. Um longo momento se passou enquanto eu olhava para o filho de uma cadela em breve-a-ser-morto. Parte da minha cabeça não poderia registrar que ele ousou até fazer esse pedido. Fúria fervia no meu intestino, espalhando-se em um inferno. Minha visão se tornou imprecisa quando o mundo mudou de cor. Hunter balançou a cabeça enquanto ele esfregava a parte de trás do seu pescoço.  —Isso é tão confuso, cara. —Sim. Eu sou assim mentalmente perturbado. —Lotho sorriu, e minha raiva não conhecia limite nesse ponto. —Essa é minha condição. Pegue-a ou dê o fora.
CAPÍTULO 18
Ia vomitar em cima dos meus tênis. Esta… esta coisa queria alimentar-se de mim? Essa era sua condição? O pânico crescia rapidamente, afundando seu veneno venenoso em minha corrente sanguínea. Daemon explodiu. Lançou-se para frente, alcançando o primeiro degrau antes que Hunter e Archer pudessem pegá-lo. As palavras que fluíam de sua boca eram um firme bombardear de várias combinações de palavras com F que nem sequer sabia que existiam. —Está completamente louco! —gritou Daemon. Seus olhos estavam completamente brancos, brilhantes como diamantes, enquanto lutava contra os dois homens. — Seu filho da puta doente! Lotho arqueou uma sobrancelha. As bordas do corpo de Daemon vibravam, projetando frenéticos raios de luz na escuridão do submundo.  —Esqueça isso. Isso nunca vai acontecer, e nunca mais vai caminhar quando eu acabar com você. Um amplo ombro se elevou quando Lotho o olhou friamente.  —Como eu disse, pegue ou… Outro bombardear de força foi jogado em sua direção.  —Se você acha que vai chegar perto dela, você está louco.             Meu estômago caiu quando Lotho continuou sorrindo.  —Ouça, se você não quiser jogar junto, não deixe que a porta acerte seu traseiro. Daemon se jogou para frente, quase arrastando Archer e Hunter ao chão. Outro discurso explosivo escapou de sua boca enquanto meu coração batia como um trovão em meu peito. —Essa é realmente a sua condição?— Minha voz estava rouca. —Você não vai ajudar, sem que a condição seja cumprida?
Ele assentiu. Seus olhos sem vida aterrissaram em mim, e sabia que não ia ceder. Partiríamos sem nenhum apoio do Arum. Os militares lançariam seus mísseis por todos os Estados Unidos. Humanos inocentes e Luxen morreriam, junto com híbridos e Origens. Dee seria perdida, provavelmente morta. O mundo rapidamente retrocederia ao passado, perdendo anos de tecnologia e avanços. Não podíamos deixar que isso acontecesse. Meu estômago se retorceu quando a realidade me acertou com a força de um vagão de carga cheio de dinamite. Eu ia ter que deixá-lo fazer isso. Era isso. Nós não tivemos nenhuma outra escolha. Archer e Hunter conseguiram arrastar Daemon de volta alguns passos, mas a expressão em seu rosto era absolutamente assassina quando ele olhou para o líder Arum. Eu sabia que se ele ficasse livre, iria para ele com tudo o que tinha. Talvez isso fosse o que Lotho realmente queria.            Ou talvez Lotho só fosse um bastardo doente. Não sabia, e realmente não importava. Minhas mãos tremeram quando as alisei em meus lados.  —Daemon. Era como se ele não me escutasse; ele estava tão focado no Arum. Violência se derramava no ar ao seu redor. Seu peito arfava com cada respiração profunda, irregular que dava. Ele era uma garrafa com a tampa prestes a ser completamente arrancada. —Pode nos dar uns minutos? —Perguntei. Lotho fez um gesto despreocupado com sua mão. —Tenho todo o tempo do mundo. Vocês? Nem tanto. Daemon começou a mover-se.  —Tem menos tempo do que pensa, sua aberração estúpida, filho da… —Daemon! —Coloquei minha mão em seu braço e sua cabeça girou para mim, seus olhos em chamas— Nós precisamos… —Não precisamos da ajuda desse macaco —grunhiu— Mas preciso acabar com sua vida justo… —Pare. — eu disse, olhando em seus olhos ardentes. —Precisamos conversar sobre isso.
—Não há nada para falar. — Seu olhar girou de volta para Lotho. —A menos que você queira ouvir em detalhes o que eu pretendo fazer para o bastardo. Então, podemos falar tudo o que quiser.              Os olhos de Archer se encontraram com meu do outro lado de Daemon.  É nossa única opção. Eu sei, enviei em resposta. Então precisa fazê-lo raciocinar. Que diabos Archer achava que eu estava fazendo?  —Vocês podem me ajudar a levá-lo do lado de fora desta sala? —Falar aqui só iria piorar, com ele xingando Lotho novamente. Hunter assentiu.  — Vamos lá, garotão. Vamos dar um passeio e deixá-lo esfriar.       Levou uma quantidade de tempo incrível conseguir que Daemon entrasse no túnel que levava para a sala. Ambos os caras hesitaram em deixá-lo sozinho comigo, como se pensassem que investiria contra Lotho através da sala principal. Pelo modo em que olhava a porta fechada de metal, havia uma boa possibilidade de que poderia fazer um buraco através dela e ir todo Rambo com esteroides sobre Lotho. Observei-o parar a alguns metros de distância, seu peito subindo e descendo profundamente. As bordas do seu corpo ainda estavam embaçadas, e virtualmente podia sentir o amargo sabor metálico de sua ira. —Não posso acreditar que ele tenha mesmo sugerido isso —disse, sua voz como uma navalha tão afiada que poderia cortar um vidro. —Eu também não, mas... — Eu respirei fundo quando o seu olhar luminoso encontrou o meu. —Mas essa é a sua condição.             Daemon abriu sua boca, fechou-a e logo a abriu de novo.  —Não me importa se pode franzir seu maldito nariz e fazer que os Luxen desapareçam, não vai se alimentar de você. —Se não fizer isso, então não vai nos ajudar. —raciocinei cuidadosamente— Nenhum Arum vai nos ajudar. —Não. Me. Importa. —Sim, importa. Sei que se importa. Há muito em risco para que não se importe.
Ele riu asperamente quando me encarou.  —Conhece-me melhor que isso. —Exato! Conheço-o, e sei que está com raiva agora… —Raiva não é uma palavra forte o suficiente para o que eu estou sentindo agora —disparou em resposta. —Tudo bem. — Eu levantei minhas mãos. —Mas temos que conseguir que nos ajude.             —Não que isso significa que você tem que passar por isso. — Ele começou a andar. —Eu não posso permitir isso. Não posso permitir. Não há maneira de permitir que ele se alimente de você. Nada neste mundo vale isso. Não tem ideia… —Eu sei como é quando se alimentam de você —lembrei a ele, e fez uma careta de dor. Jurei que era a primeira vez que o via fazer isso. — Quando me capturaram em Mount Wather, alimentaram-se de mim. Sei que não é divertido, e não será bonito e vai doer, mas… —Não! —gritou, suas mãos se enrolando em punhos. Ele xingou de novo, passando os dedos em seu cabelo enquanto girava seu corpo para mim. — Me mata que inclusive saiba como se sente, que teve que experimentar isso e não pudesse te proteger. —Daemon… —Não vou permitir que isso aconteça de novo. De jeito nenhum, por isso nem sequer pense que pode me convencer. —Então o que vamos fazer? Basta dizer dane-se? —Soa como um plano para mim. Olhei para ele.             —O que? Podemos viver em uma maldita caverna. —disse, caminhando de novo— Olha, eu sou uma pessoa egoísta. Você sabe disso. E eu não quero que você passe por isso, por isso estou disposto a dizer dane-se e renunciar a isto. —Sério? Que tipo de vida isso nos daria? —Não traga lógica para esta conversa. A frustração se desdobrou em meu interior quando parei na frente dele, apertando suas bochechas. A barba por fazer arranhou minhas palmas.  —Daemon, não há vida para qualquer um de nós, se não conseguir que nos ajude.
—Nós podemos fazer isso funcionar. Eu sei que nós podemos.  —Daemon... Ele se separou.  —Eu não posso acreditar que estamos tendo essa conversa. —Eu sei que a ideia é perturbadora. —Para você? Parece que não. Meus olhos se estreitaram e plantei minhas mãos em meus quadris.  —Vamos lá, você sabe que eu não quero fazer isso. A própria ideia de... de sentir algo assim de novo me assusta e me faz mal, mas se isso é o que é preciso para conseguir que eles nos ajudem, então é isso que eu preciso fazer. Isso é o que precisamos fazer.  —Você não precisa— ele retrucou.             Inalei várias respirações profundas.  —Claro que sim. Por sua irmã. —Você vai me fazer escolher entre você e ela? — Ele gritou, os olhos completamente brancos. —Eu não estou fazendo você escolher. — Segui-o ao redor do círculo estreito que ele andava. —Você está fazendo essa escolha. Ao tentar proteger-me, você a deixa ir.  Ele parou e me olhou. Pensei que voltaria a refutar, mas fechou seus olhos, seu rosto ficou tenso e seu impressionante corpo rígido. Soube nesse momento que o tinha pensando em lugar de sentir. Me apeguei a isso.  —Está preparado para abandonar a sua irmã? Porque provavelmente ela morrerá. E odeio dizer isso, inclusive pensar nisso, mas é a verdade. Franzindo os lábios, ele afastou-se de mim, sua cabeça encurvada. Vários minutos se passaram.  —Ele te tocará. Ele… —Não é como se Lotho quisesse fazer sexo comigo. Ele me encarou, narinas infladas.  —Deus, eu vou matá-lo. Só mesmo ouvir seu nome e a palavra “sexo” na mesma frase...             —Daemon…
—O que?— Ele virou-se, empurrando as duas mãos pelos cabelos. —Como você pode me pedir para ficar bem com isso?             —Eu não estou! Eu não estou pedindo para você ficar bem com isso, mas eu estou pedindo para você entender por que nós temos que fazer isso, reconhecer o quanto está em jogo e que está em jogo. Eu estou pedindo que você não pense em mim ou pense sobre si mesmo nisso. Estou pedindo... —Você está pedindo o impossível. Daemon se lançou para frente, e um segundo depois, minhas costas estavam encostadas na parede e sua boca estava na minha. O beijo… Santos bebês alienígenas, o beijo era uma dura combinação de paixão e posse. Tinha sabor de desespero e ira enquanto nossos dentes colidiam, mas a mão contra minha bochecha era tão amável, apenas ali, e todas essas emoções estavam no beijo, mas o amor era mais forte que qualquer outra coisa. À medida que sua boca se movia sobre a minha e o profundo som vindo do fundo de sua garganta reverberava através de meu crânio, não sentia o frio da úmida parede ou a borda amarga de pânico que tinha começado a rasgar minhas entranhas no momento em que Lotho disse sua condição. Daemon me beijava como se estivesse reclamando um direito, mas ele já me tinha — tudo de mim. Meu coração. Minha alma. Todo o meu ser.             Quando levantou sua cabeça, sua respiração era cálida contra meus lábios.  —Não posso te prometer que vou deixar que isto aconteça. Também não posso prometer que não vou retornar àquela sala e tentar matá-lo. Mas tem razão. Precisamos deles. —Essas três palavras soaram dolorosas para ele dizer. — Tudo o que posso te prometer é que tentarei. Fechei meus olhos, descansando minha testa contra a dele. O que estávamos prestes a fazer —porque não se tratava somente do que eu estivesse sentindo ou pensando, mas sim de ambos — não ia ser fácil. Além de tudo o que já tínhamos passado, sabia que isto era o mais difícil, o teste mais verdadeiro que nenhum de nós jamais havia enfrentado.    
 
Os nervos iam conseguir o melhor de mim. Entre a alimentação que vinha — Deus, não queria sequer pensar nisso— e o modo como Daemon rodava o comprimento de uma grande câmara para onde fomos levados depois de acordo em aceitar a condição de Lotho, senti-me como se estivesse a segundos de enlouquecer. Mas Daemon tinha uma de suas próprias condições —exigiu estar conosco. Lotho sorriu ampla e brilhantemente ante isso. Ao invés de se negar, virtualmente fez estender o tapete vermelho. Archer estava lá fora, ainda na câmara principal, e enquanto sabia que ele poderia lidar com isso, muitos Arum estiveram olhando-o como se fosse um aperitivo. Daemon parou no meio do quarto, olhando com fúria para frente. Com o coração no chão, segui seu olhar para a enorme cama coberta com o que parecia ser pele de animal. —Seu quarto —disse, levantando os ombros— O filho da puta só tinha que fazer isso em seu quarto. Sim. Tinha que fazer. Eu estava começando a pensar que essa coisa toda foi só para mexer com nossas cabeças. Havia muitos lugares Lotho poderia fazer a sua coisa. Tremi, agora insegura de se seria capaz de passar por isso. Mas eu tinha que fazer. Nós dois tínhamos que ir até o fim. Bílis se assentou na base de minha garganta, pronto para sair a qualquer segundo. Sacudindo os braços, fechei os olhos e tentei soltar parte da tensão construindo-se em meus músculos. Posso fazer isto. Posso fazer isto. Posso fazer isto. —O que está fazendo? Parei o que havia se tornado uma dança improvisada. —Desculpe. Nervos. —Não se desculpe. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Era interessante. De certa forma me lembrou de um Muppet Baby agitado. Uma risada irônica me escapou.  —Sério? Daemon assentiu. 
—Sim. — Ele olhou para a cama de novo e praguejou. —Kat, isso... isso é asneira. — Minha garganta apertou quando eu sussurrei:  —Eu sei.          Seu olhar esmeralda brilhante se concentrou em mim. —Alguma vez pensou que terminaria aqui quando bateu minha porta pedindo direções? Eu balancei minha cabeça enquanto eu caminhava até onde ele estava.  —Não. Nem em um milhão de anos. Eu não poderia imaginar nada disso quando eu bati em sua porta. —Fiz uma pausa e forcei um sorriso enquanto eu olhava para ele. —Tudo o que eu estava realmente pensando no dia era em seus abdominais. Daemon soltou uma gargalhada.             —E que era um maldito idiota. — adicionei. Um sorriso cínico se formou em seus lábios.  —Às vezes eu me pergunto se você nunca se arrependerá. —Se arrepender do quê? — Meu sorriso preocupado desapareceu de meus lábios. —Isso... tudo isso. — disse ele, a voz baixa. —Nós. —O quê? — Eu pressionei minhas mãos abertas contra o peito dele. —Não. Nem uma vez.  —De verdade? —Brincadeira gotejava de sua voz. — Tenho certeza de que tinha de haver momentos em que você se arrependeu de ter pisado em West Virginia.             –Houve vezes em que ficou horrível, horrível mesmo, e eu nunca vou querer voltar a viver esses momentos, mas não me arrependo de nós. —Meus dedos se envolveram ao redor de sua camisa. — Eu não poderia, porque eu te amo. Eu realmente te amo, e amor... ele vem com o ruim e o bom. Certo? Quer dizer, eu sei que minha mãe nunca quis experimentar tudo o que ela passou com meu pai e depois perdê-lo, mas ela não se arrependeu de amá-lo. Nem mesmo com toda essa dor e desgosto, e eu não posso...  Daemon me beijou, capturando minhas palavras com pressão macia e suave de seus lábios.
—Eu sei que houve muitas vezes em que eu não te merecia, especialmente com a maneira como eu te tratei no início, mas, pretendo usar cada segundo para compensar isso. —Você já tem. — Eu o beijei de volta. —Muitas vezes.            Enquanto nos separávamos, a pesada porta da câmara se abriu, batendo contra a parede. Girei-me nos braços de Daemon e recebi um olhar indesejável. Lotho entrou, as calças de couro pendurado baixa –muito baixa – em seus quadris estreitos. Havia um monte de pele pálida em exibição. Barriga. Peito. Mas essa não era a única coisa. Quando ele passou por nós, eu vi sobre o que Hunter e Lore tinha falado antes de virmos para cá. Opala. As pedras brilhavam de onde estavam incrustadas em suas costas, seguindo a linha reta da coluna vertebral. As vendo verdadeiramente costuradas em sua pele era uma loucura. Fechei os olhos com força.  —Oh, caramba. —Sua camisa caiu? —Perguntou Daemon, seus braços apertando-se a meu redor. Lotho riu.  —Não. —Então, por que tirou sua camisa para se alimentar? — Mesmo que Daemon soou perfeitamente calmo, sabia que estava a segundos de se transformar no Exterminador alienígena drogado. —Alimentar-se pode ser uma bagunça. —respondeu com indiferença— Não quero arruinar minha camisa favorita. Calor explodiu de Daemon como chuva radiativa. Abrindo os olhos, observei Lotho cruzar o quarto e logo lançar-se sobre a cama. Deitou-se no meio, de lado. Lotho piscou um olho quando ele deu um tapinha no lugar a seu lado.  —Vamos fazer isso. Meus pés estavam presos no chão.  —Eu ...             Os braços do Daemon eram como barras de ferro ao meu redor.  —Não. Assim não.
—Mas eu quero assim— Lotho ronronou quando ele descansou a cabeça em seu punho fechado. —Depois de tudo, isso vai ser muito confortável. Eu ia vomitar. —Você está levando isso longe demais— advertiu Daemon. —Eu ainda nem comecei a levar muito longe. — Os olhos claros de Lotho brilharam. — Não é sobre mim, agora, não é? É sobre o quanto você está disposto a ir para obter a minha ajuda.             Um som baixo e desumano retumbou das profundidades de Daemon enquanto eu tentava arrastar ar para dentro de meus pulmões, mas o oxigênio não chegou além de minha garganta. —Preciso lembrá-lo sobre o fato de que eu não preciso de nada de qualquer um de vocês? — Disse ele com um leve sorriso quase lúdico. —Eu não sou a pessoa pedindo um favor. Você não quer fazer isso do meu jeito, tudo bem. Mas não há outra maneira. Assim, pode ir embora… —Não. — A palavra explodiu de mim. —Nós podemos fazer isso. —Nós não podemos. — disse Daemon. Lotho arqueou as sobrancelhas.  —Estou confuso.            Eu girei em seus braços até que eu encarei Daemon.  —Você prometeu que tentaria. —Eu fiz. — Ele estava olhando por cima de mim, os olhos branco mais uma vez. —Tentei. Ele está sendo um...             —Nem sequer aconteceu nada — o interrompi, tentando raciocinar com ele— Assim não tentamos. Ainda não. —Eu realmente desejava que Lotho não estivesse deitado na cama detrás de nós, sorrindo, porque isso não ia ajudar. —Por favor. —apertei as bochechas de Daemon, obrigando-o a me olhar. Minhas palavras carregavam o peso de todo esse assunto. — Temos que fazer isso. Daemon fechou os olhos, e um longo momento se passou antes que ele falasse com uma voz que rasgou minhas entranhas. Ele só disse uma palavra.  —Vá.             Deixei escapar uma respiração que não sabia que estava segurando e, em seguida, logo tomei outra que não precisava. Tentei dar um passo atrás, mas seu
aperto era feroz. Segurei suavemente seus braços, e tomou tudo de mim obrigá-lo a me soltar. Ele fez, e pela forma como o calor fluiu dele, parecia que o matou. E o inferno, isso me rasgou. Olhos ardendo de lágrimas que eu não poderia deixar cair, eu me virei e dei um passo em direção a Lotho. Eu tinha que fazer isso.             Haveria dor —muita. Haveria repulsa —toneladas dela. Enquanto obrigava meus pés em direção à beira da cama, uma brilhante luz branca se refletiu nas paredes. Daemon tinha mudado à sua verdadeira forma. Kitten… Aspirando uma respiração instável, sentei-me na cama, minhas mãos tremendo tanto que eu não conseguia sentir as pontas dos meus dedos. Isso estava errado, muito errado. Lotho estendeu a mão, e eu tive que me forçar a ficar parada quando ele colocou a mão na minha bochecha. Seus dedos eram tão amargamente frios, e eu vacilei quando ele sentou-se, pressionando a outra mão na cama ao lado do meu quadril. Ele se inclinou, e sua mão escorregou pela minha garganta abaixo, enviando ondas de repulsa e medo ondulando através de mim. Lotho nem estava me observando. Seu olhar estava fixo onde Daemon estava, seus lábios se esticando em um sorriso sarcástico. Sinto muito. Essas duas palavras arderam através da minha consciência. Eu não posso permitir isso. Meu corpo se travou enquanto me preparava para que as coisas saíssem muito mal, e logo aconteceram. Daemon era uma mancha de luz quando avançou em nossa direção. Tudo aconteceu tão rápido. Eu fui puxada para fora da cama, jogada para longe do frio de gelar os ossos, e Daemon estava inclinado sobre Lotho. O horror se instalou quando me percebi que era Lotho que o segurava sem sequer tocá-lo. Vento rugia atrás de mim, soprando meu cabelo em meu rosto. Era como se o Arum fosse um vácuo, sugando tudo para ele. De repente, Daemon foi jogado contra a parede, e ele foi mantido lá, a vários metros do chão, quando Lotho ficou ao pé da cama.
Eu não podia deixar isso acontecer com Daemon, mas não podíamos sair daqui sem a ajuda de Lotho.             —Pare! —gritei, correndo sem pensar realmente. —Por favor! Faça agora. Lotho me olhou, uma expressão incrédula em seu rosto, e logo um sorriso apareceu. Ergui os ombros. Mas ele não o fez. Lotho… se deixou cair de barriga para cima na cama e soltou uma gargalhada ruidosa enquanto ficava de joelhos e plantava as botas na cama. A força que segurava Daemon contra a parede se abrandou e ele aterrissou no chão. Uh. Eu virei para onde Daemon estava em sua verdadeira forma, ameio metro da cama. Via isto também? Lotho continuou rindo, uma risada profunda que ecoava nas paredes de cimento. Afastando-me da cama, caminhei até Daemon enquanto ele voltava para sua forma humana uma vez mais. Não entendia isso. Não. Não fazia sentido. Finalmente, depois do que pareceu como uma eternidade dele rindo até a morte, Lotho se calou e se sentou em um movimento fluido.  —Oh, Deus, vocês são geniais. —Bateu a mão em suas grossas coxas— Homem, de verdade. —Sim. —Daemon arrastou a palavra— Não estou entendendo isso. De nenhuma forma. Um amplo sorriso se estendeu no rosto de Lotho e ele quase parecia… normal. Ainda um pouquinho assustador, mas uma espécie de normal. —Vocês dois iam realmente passar por isso, não iam?  Pisquei. —Puta merda, de verdade ia deixar que a saboreasse. —ficou de pé, levantando os braços sobre a cabeça, estirando-se. Suas costas se arquearam enquanto fazia uma careta— Realmente acredita que eu ia me alimentar de uma híbrida? Claro, vocês são um aperitivo delicioso, mas só como Luxen nível A. E um certo tipo. Poucos dispostos fazem isso para mim. Pisquei de novo. —Que porra é essa? —Daemon explodiu como um canhão.
Lotho jogou a cabeça para trás e riu de novo, e esperamos... novamente.  —Eu realmente só queria ver até onde vocês estavam dispostos a ir.            Pisquei para ele pela terceira vez.  —Espere um minuto. Você nunca planejou alimentando-se de mim?  —Não leve a mal, querida. Você é bonita, mas não é meu tipo.            Deveria me sentir ofendida?  —E se não aceitávamos, de todas as formas nos teria deixado ir sem nos ajudar. —Sim. —deu de ombros enquanto se aproximava de uma mesa alta e pegava uma garrafa do Jack. Tomando um gole, ele nos encarou. Oh, meu deus, acabamos de ser arrastados a um espremedor emocional, e para que? Só para que pudesse mexer com nossas cabeças? De repente exausta, tudo o que eu queria fazer era enfiar a cabeça sob uma dessas peles de animais. —Eu quero te dar um soco— disse Daemon. —Na face. E em outros lugares.  Lotho deu de ombros novamente.  —A maioria das pessoas quer. A boa notícia é que eu sei que vocês dois realmente estão dispostos a fazer qualquer coisa. Eu respeito isso. Assim, você tem o seu exército Arum.              Realmente não sabia o que dizer. Com os ombros caídos, senti tantas emoções de uma vez que estava além das palavras. Lotho tomou dois copos da mesa, encheu-os e nos deu. Peguei um em um estado virtual de choque. —Brindemos —disse, os olhos tão frios como uma manhã de janeiro— Por uma parceria pouco provável e muito temporária.
CAPÍTULO 19
             Tomou todo meu controle não introduzir minha bota no rosto de Lotho. O Arum estava louco. Absolutamente fora de si e deveria ser preso em um quarto acolchoado. Melhor ainda, deveria estar preso em um quarto cheio de pontas de metal e logo empurrá-lo por todo o lugar. Eu queria dar um soco nele. Mas eu também não era estúpido. Hunter e seu irmão não estavam brincando quando disse que Lotho era poderoso. O pouco que ele tinha exibido no quarto me contou que ele era capaz de muito mais, e se a sério tivéssemos que brigar, seria feio e muito desastroso. Estávamos agora sentados em uma pequena sala que parecia que alguém tinha escavado em rocha e terra. O cheiro era de mofo e as tochas metidas na parede não proporcionavam muita luz. Tinha Kat onde eu queria, no meu colo com meus dedos trabalhando os músculos tensos em seus ombros e pescoço. Ela estava tranquila desde que saímos do quarto de Lotho, e eu poderia dizer que ela só queria dar o fora daqui.           Eu também. —Levará um dia ou dois agrupar a todos. —Lotho tinha progredido em diminuir o conteúdo de sua garrafa de vodca desde que nos movemos a esta sala, em aproximadamente trinta minutos consumiu a metade da garrafa. Tinha curiosidade por ver se os Arum podiam intoxicar-se com álcool. —Alguns de meus rapazes estão fora explorando. Hunter ficou perto da porta, apoiado contra a parede. Ele parecia completamente à vontade, mas a nitidez em seus olhos disse que estava pronto para entrar em ação.  —Quanto tempo eles estão dando a vocês? Tínhamos explicado a eles os planos do governo, como estavam excessivamente estimulados com as e-bombas. 
—Temos tempo —respondeu Archer de onde estava sentado em um tamborete junto a nós. — Cerca de quatro ou mais dias, mas quanto mais cedo nós podermos contra-atacar, melhor.             —Sim… —Lotho tomou outro grande gole— Preocupado com eles apertando o gatilho facilmente, não é? Archer assentiu enquanto olhava o líder Arum. —Como eu disse, preciso de apenas um dia ou dois. Diga a seus mestres humanos, que vamos estar lá.  Mestres humanos? Revirei os olhos quando eu deixei cair os braços para rodear a cintura de Kat.             Lotho franziu o cenho quando olhou a garrafa agora vazia de vodca.  —Aonde vamos outra vez? Kat suspirou. —Agora mesmo, eles os querem em Mount Weather na Virginia —explicou Archer. Uma vez mais. — Se isso mudar… —Você vai avisar. — Lotho bateu no bolso de trás da calça de couro. O idiota ainda não tinha encontrado sua camisa. —Entendi. — Ele fez uma pausa quando jogou a garrafa no chão em algum lugar à sua esquerda. Vidro quebrou. Ele sorriu. —Você tem a minha palavra de que vamos estar lá. Isso é algo que eu não brinco.             Meu olhar cintilou para Hunter, e ele assentiu. —Não é como se minha espécie ou eu vamos perder a oportunidade de contribuir com uma pequena vingança e nos alimentar ao mesmo tempo. — Lotho gesticulou para a porta fechada. — Foi muito legal conversar com vocês e estaremos nos vendo outra vez, mas vocês têm que ir. Nenhum de vocês é bem-vindo aqui, inclusive você — disse a Hunter.             Ele parecia realmente emocionado sobre isso. Afastando-se da parede, ele não se preocupou em esconder o seu sorriso.  —Estaremos em contato.             Kat se levantou e eu a segui, mais do que pronto para sair rápido de Dodge, mas à medida que passava por Lotho, de repente ele entrou na frente de Kat. Eu comecei a puxá-la para trás, mas ele foi rápido.        —Tem as bolas maiores que os machos nesta sala. — disse Lotho, seu rosto a centímetros do dela. — Eu gosto de você. E a manteria comigo se não fosse pelo
fato de que é parte Luxen. Então, isso é provavelmente uma boa notícia para você. Não para mim. E então a beijou. O maldito filho da mãe a beijou completamente. Antes de qualquer um de nós pudesse reagir e eu pudesse desencadear minha fúria, Lotho se transformou em algo que não era nada mais que fumaça e sombras, e foi embora. —Vou matá-lo. —Jurei, sentindo a Source crepitar ao longo de minha pele. Kat se afastou do meu agarre, com o rosto pálido e os lábios tingidos de azul, como se tivesse sido tomada por um picolé, e se girou para Hunter e Archer.  — Eu quero sair agora. Hunter olhou para Archer.  —Sim, acredito que é uma boa ideia, antes que toda esta viagem vá para o lixo.
 
Uma hora mais tarde, estávamos finalmente na superfície. Era madrugada do dia seguinte, e eu ainda estava com tanta raiva que o gosto amargo metálico enchia minha boca a cada respiração que eu tomava. —Vocês são mais do que bem-vindos para ir para a casa de Lore se quiserem relaxar por algumas horas antes de pegarem a estrada novamente. — Hunter oferecido. —Descansem um pouco. Pegue algo para comer. Qualquer coisa. Quando Kat entrou no banco de trás do Explorer, olhei para Archer. Realmente poderíamos usar o tempo para descansar antes de voltar para a estrada. Kat mal tinha falado todo o tempo que nos demoramos em sair do maldito labirinto de túneis subterrâneos, e sabia que estava esgotada. Provavelmente perturbada, também. O que você acha? Eu dirigi a questão para Archer. Ele abriu a porta do motorista. Penso que nos viria bem um descanso, e acredito que Lore e Hunter são, hmm, pessoas boas, mas só para que saiba, Kat não quer voltar para a base. Minhas sobrancelhas subiram enquanto eu olhava para o interior do banco traseiro. Ela estava atrapalhada com o cinto de segurança. Sorrindo um pouco, eu me inclinei, tirei seus dedos fora do caminho, e travei o cinto de segurança dela. Diga? Quer ir para casa. Quer ver sua mãe. É tudo o que esteve pensando na última hora ou assim. Suspirei. Não tinha o coração para abordar esse assunto com Kat. Visitar sua mãe seria arriscado —muito arriscado. —Obrigado pela oferta —disse Archer, voltando-se para Arum— Nos viria bem esse descanso. Hunter rapidamente deu-lhe as instruções antes de fazer aquela coisa de sombra e tomando o método extraordinariamente rápido de viajar. Quando Archer subiu no banco do motorista e eu fiquei na parte de trás, em vez de no banco do passageiro da frente, ele puxou o telefone fora do compartimento no console central e tocou a tela. Ele franziu o cenho. —O que está acontecendo? — Eu perguntei. Ele balançou a cabeça.  —Há uma chamada não atendida de Luc. Deixe-me verificar isso, mas ele está provavelmente apenas impaciente, querendo saber como tudo correu com o Arum. —Acomodando-se bem em seu assento, verificou seu correio de voz. No momento que seu olhar piscou e se encontrou com o meu, soube que o que escutava não era bom. Quando baixou o telefone, linhas se formaram ao redor de sua boca. — Luc disse… disse que Nancy está desaparecida. —O que? —perguntou Kat, levantando seu queixo. —Não sei. Tenho que ligar para ele. —respondeu Archer. Uma semente de inquietação brotou no meu intestino e cresceu enquanto eu ouvia a conversa unilateral. Enquanto Archer explicava rapidamente o que aconteceu com Lotho e que o Arum estava a bordo, a preocupação pelo desaparecimento de Nancy não diminuiu. Archer desligou, deixando o telefone cair em seu colo e se girou para nós.  —Muito bem, parece que Nancy está desaparecida. Algum tempo depois que saímos foi a última vez que alguém na base a viu. Luc e General Eaton não têm ideia de onde ela está. Kat olhou para mim.  —Mas o que isso quer dizer?
—Eu não sei. — admitiu. —Luc parece pensar que ela provavelmente está indo para onde essas crianças estão escondidas e ele tem algumas pessoas à procura dela, mas com Nancy... cara, você nunca sabe com ela.             Verdade. Eu não sabia o que pensar sobre isso. Se tudo desse certo com os Arum e tivéssemos sucesso com os invasores Luxen, mas Nancy desaparecia da face da Terra, isso não seria nada bom. De maneira nenhuma queria viver o resto de minha vida me perguntando onde diabos estava e se ia aparecer algum dia, quando menos esperávamos. —Não é o maior de nossos problemas neste momento. —Os olhos de Archer se encontraram com meus, e por um segundo breve, piscaram jogando uma olhada em Kat— Nada como isto. Isso também era verdade.  —Luc vai encontrá-la. — eu disse, e tinha que confiar nisso. Mas enquanto me acomodava mais perto de Kat, manobrando seu surpreendente e flexível corpo para que assim pudesse estirar-se no assento e colocar sua cabeça em meu colo, não podia deixar de pensar em Nancy Husher. Realmente foi atrás dessas crianças? Ou havia algo mais? Se algo tinha aprendido estando perto dela era que não havia nada que a mulher pudesse fazer que me surpreendesse. Inclinei-me, roçando meus lábios em toda a bochecha de Kat.  —Descanse um pouco, ok? Ela sorriu um pouco.  —Isso parece autoritário.             —Tudo bem. —Eu tentei novamente enquanto Archer colocava o Explorer em movimento. —Tire uma soneca. Uma sobrancelha se arqueou.  —Isso continua sendo autoritário. Ri entre dentes e afastei o cabelo de sua bochecha, deslizando-o detrás da sua orelha.  —Vá dormir. —Você realmente tem um mau entendimento do que significa autoritário. — Mas ela fechou os olhos, e eu juro pelo tempo que Archer descobriu como sair do aeroporto, caramba, ela adormeceu.
Lore vivia nos subúrbios de Atlanta, e inclusive com o fraco tráfego da cidade, tomou um tempo chegar ali. Eu inclinei minha cabeça para trás contra o banco e fechei os olhos enquanto Archer ficava em silêncio e minha mão ficava toda brincalhona no cabelo de Kat. Nancy fugiu, planejando fazer Deus sabe o que, e Kat… queria ir para casa e ver sua mãe. Inferno. Entendia porque ela queria, e a última coisa que queria fazer era quebrar seu coração dizendo a ela que não havia maneira de que pudéssemos correr o risco de fazer isso agora mesmo. O mais inteligente que podíamos fazer seria levar nossos traseiro de novo à base e deixar que o Arum fizesse as suas coisas, especialmente agora que Nancy estava desaparecida. Entretanto, isso não me caiu bem, caiu em meu estômago como leite vencido. Retornar à base significava não ter o controle sobre minhas mãos, e também significava deixar que Dee… bom, que fizesse o que seja que o destino tivesse preparando para ela, que bem poderia ser o alimento de milhares de Arum. Deus, eu não sabia se eu poderia fazer isso.             Mas como eu poderia procurá-la? Fazer isso significaria ir direto ao centro da zona de perigo, e isso era mais que um simples risco. Era suicida. E inferno, como eu poderia até sugerir fazer isso quando eu não queria que Kat retornasse a Petersburgo? Era ir direto para o inferno. Estiquei-me enquanto o Explorer desacelerava, dirigindo-se a uma entrada estreita que era quase invisível da estrada. Vislumbrei enquanto conduzíamos por um longo caminho uma espaçosa casa ao longe. O Porsche de Hunter estava estacionado em frente à garagem. Tinha um enorme pórtico coberto com planta em vasos de barro e trepadeiras. Oh. A casa era uma monstruosidade em termos de tamanho, mas surpreendentemente acolhedora. Eu estava esperando algo frio, degradado, em outras palavras, um lugar de merda. Isso estava longe de ser isso.            
Kat se sentou, empurrando o cabelo para trás enquanto Archer desligava o motor. Sua boca caiu quando ela olhou para fora da janela. Obviamente, ela não esperava algo tão bom como isto, também. Eu deixei cair meu braço sobre os ombros dela enquanto subíamos os degraus da varanda. Todo o lugar cheirava como uma flor gigante. A cor me surpreendeu um pouco mais. A porta se abriu antes de chegarmos a ela, revelando Lore. Ele entrecerrou os olhos, e percebi que era devido aos fracos raios de sol entrando pela varanda. —Vamos, entrem. Não havia dúvidas, estava a ponto de ter outra experiência em minha vida entrando na toca do Arum, primeiro fazia parceria com eles, e agora me alojaria na casa de um Arum que parecia tirada de uma revista da Better Homes and Gardens. Eu tinha desistido de tentar descobrir algo neste momento. Archer entrou primeiro, e logo fiz Kat passar ao interior. Lore fechou a porta detrás de nós e caminhou pelo vestíbulo com os pés descalços, em uma sala de estar com as persianas baixadas. Serena estava de pé no meio da sala, olhando para um pedaço de papel.  —Isso é tudo o que precisamos para começar? Lore examinou o papel e assentiu.  —Parece bom para mim. —Vamos correr para conseguir alguma comida. — anunciou Serena, sorrindo. —Lore está com vontade de cozinhar, e confie em mim, você vai querer comer o que ele prepara. Eu arqueei uma sobrancelha.  —Ele... cozinha? Ele passou por nós, lançando as chaves para Hunter, que tinha aparecido do maldito nada, parecia.  —Eu também cozinho. Sou como um chef mestre de culinária, já sabe, quando não estou lá fora matando os inocentes bebês Luxen. Eu não tinha ideia do que dizer em resposta a tudo aquele sarcasmo. Serena se aproximou mais, e eu estava consciente de Hunter também vindo em nossa direção, como se ele desconfiasse de nós, perto de sua mulher. A inversão de papeis era… estranha. 
—Temos dois banheiros no segundo andar que ninguém usa. Eu coloquei um pouco de xampu, sabão e toalhas limpas neles. —Obrigada —disse Kat, sorrindo. Ela olhou para Lore e Hunter. —Obrigada por nos deixar vir aqui, e por todo o resto. Lore deu de ombros. Hunter deu de ombros. Todo mundo estava encolhendo os ombros. Serena abriu um grande sorriso.  —Está tudo bem. Estou feliz de poder ajudar de alguma forma. E já era hora de todos nós começamos a trabalhar juntos.  Hunter olhou para o teto. Lore começou a brincar com um vaso de palmeira de aparência gigante. —Bom, está bem então. —Serena bateu palmas quando o silêncio cresceu a um nível desconfortável. — Vamos sair. —Isto não deve demorar mais de uma hora. —disse Lore, e por alguma razão foi percebido como uma advertência. O que faríamos? Corríamos e reorganizaríamos as numerosas plantas e flores que pareciam crescer das paredes? Saíram pelas portas, deixando a nós três na casa. Archer foi o primeiro em dizer o que provavelmente todos estávamos pensando. —Não posso acreditar que nos deixaram aqui —disse ele, elevando suas sobrancelhas. Sorri.  —Sinto que nós devemos começar a reorganizar quartos ou algo assim. — Eu lancei um longo olhar sobre a sala de estar decorada com habilidade e à sala contigua. — Acredito que Lore realmente apreciaria isso. —Não. — disse Kat, estreitando os olhos para mim. — Sei que um Arum e Luxen são MIPS, mas sério, estão sendo super agradáveis ao nos deixar ficar aqui. —MIPS? —Franzi o cenho para ela. —Melhores inimigos Para Sempre —replicou ela, encolhendo um ombro. — De qualquer forma, vamos todos jogar bonito com o outro. Seria uma boa mudança de ritmo.  —Sim, especialmente se um deles não acabar beijando você. — disse Archer.            
Puxando o cabelo para trás de seu rosto em um rabo de cavalo baixo, lançou um olhar aborrecido a ele enquanto o calor me percorria. —Realmente tinha que lembrar disso? Ele abriu um sorriso rápido, e eu queria dar um soco do rosto. A lembrança me deixou todo preparado para a briga, e o maldito Origem parecia completamente sem vergonha. —Vou buscar nossas malas. —ofereceu ele. Eu olhei para ele. —Sim, faça isso. Enquanto se girava e deixava a sala, Kat caminhou para mim. Sem dizer uma palavra, plantou suas mãos em meu peito, as deslizando para cima, e me beijou suavemente. Isso virou minha furiosa agressão a algo muito mais divertido. Envolvi um braço ao redor dela, encaixando nossos corpos o mais perto que podíamos conseguir ao estar de pé. Minha outra mão mergulhou fundo em seu cabelo, e eu levei o beijo a um nível totalmente diferente. O sabor dela nunca deixava de fazer minha mente voar, e assim fez o som suave que ela fez como eu mordiscava o lábio inferior. —Sério, gente? Lentamente, eu levantei a minha boca de Kat e estreitei os olhos enquanto ela pressionava o rosto contra meu peito.  —Você não pode ir a algum lugar?             —Oh, não sei. E quanto a vocês? Que tal um desses quartos no andar de cima que têm portas e outras coisas? Hey! Isso seria uma boa...             Eu senti isso no mesmo momento que Archer sentiu. Meus sentidos se aguçaram quando consciência caiu sobre mim como um manto muito quente.  Acomodei Kat atrás de mim, amaldiçoando em voz baixa. —O que? —perguntou ela. Archer se virou para a porta que acabara de passar, largando as malas.  —Há Luxen aqui.             —Não. — ela disse, arrastando uma respiração profunda. —Você acha que eles vão ser amigáveis, não querendo...?             A grande janela na sala explodiu. Pedaços de plástico e vidro se converteram em pequenos projéteis desagradáveis. Kat se agachou, erguendo os braços para proteger o rosto enquanto eu dava um passo adiante, convocando a Source para empurrar para trás a explosão de coisas afiadas e dolorosas.             Caíram no piso a centímetros de onde estávamos nós três. —Acredito que essa é sua resposta, Kitten. Ela se levantou, as mãos convertendo-se em punhos.  —Droga. Tudo o que eu quero fazer é tomar um banho, tirar um cochilo e comer um pouco de bacon!             Archer deslizou um olhar para ela. —Bem, acredito que isso será… Um Luxen entrou pela janela, um borrão de luz brilhante, e me lancei para ele, colidindo enquanto eu mudava de forma. Nós batemos em uma cadeira de aparência antiga. As pernas cederam sob nosso repentino peso. Saímos em disparada diretamente para a parte de trás. As coisas voaram pelo ar. A palmeira acabou como sendo lançada acidentalmente. Aterrissando duro contra o chão, joguei-me para trás e fechei minha mão no peito do Luxen, deixando sair a Source e enviando um firme disparo no coração do bastardo, fritando-o de dentro para fora. A luz se tornou menos intensa enquanto me erguia, girando na sala. Quantos? Não sei. Kat estava se dirigindo ao arco que conduzia ao vestíbulo. Mudando de volta à minha forma humana, eu me juntei a ela e Archer na arcada um segundo antes de a porta da frente, literalmente, explodir fora de suas dobradiças e voar através da porta de entrada, incrustando-se profundamente na parede oposta. Eu sabia antes mesmo de olhar. Eu senti isso nos meus ossos; em todas as células que era eu, sabia antes de eu olhar. Minha irmã estava na porta em sua forma humana, e quando seu olhar nos percorreu, ela sorriu de um modo que era tão estranho para ela. –Peguei vocês. – ela disse.
 
Dee parecia como uma deusa da vingança diretamente saída de um dos livros que eu tinha lido e amado. Ela estava ali com suas pernas magras abertas e seus ombros para trás. Com o sol detrás dela, formando um halo sobre seu corpo, e seus olhos brilhando brancos, ela parecia feroz e assustadora. Bem. Poderia ter lido muitos livros, mas isto era real e ela parecia como se quisesse nos matar. Ou nos machucar. Archer começou a avançar.  —Dee... Ela levantou sua mão, e ele devia ter sido capaz de mover-se a tempo, mas ficou como Daemon, preso ao chão. Um raio da Source alcançou Archer no ombro, fazendo-o recuar. Oh, ela, portanto, não estava brincando. Dee virou-se para onde estávamos e depois, casualmente, como se nada estivesse acontecendo, entrou na casa. Atrás dela, eu vi mais Luxen. Isso estava prestes a ficar ruim.             —Convivendo com Arum? — perguntou Dee estalando a língua enquanto lançava um rápido olhar para Archer, enquanto ele se levantava. —Até onde você caiu, irmão. Daemon avançou.  —Dee...             Ela pulou em cima dele, voando os vários metros que os separavam enquanto meu coração vinha à garganta. Tudo que Daemon fez foi segurá-la pelos ombros. Ele não fez nenhum movimento para fazer qualquer outra coisa, e ela se aproveitou por completo disso. Dee meteu a mão no peito dele. Ele só se moveu no último segundo para evitar um golpe certeiro no coração, mas de todo jeito levou um potente. Eu gritei quando ele caiu, com a irmã bem em cima.  Soube naquele instante que ela ou ia feri-lo para valer ou matá-lo, a não ser que ele a tratasse como tratou o Luxen que tinha acabado de matar.
Archer estava ocupado com o outro Luxen quando eu corri, tomando uma decisão. Daemon me odiaria se eu acabasse matando a sua irmã, mas preferia seu desprezo a tê-lo odiando a si mesmo machucá-la pior. Peguei um punhado de seus longos cabelos e puxei-a para longe de Daemon. Ela caiu no chão, braços e pernas esparramados como um caranguejo. Ela olhou para cima, com os olhos brilhando como diamantes. —Você não quer fazer isso. — eu disse. —Você...             Dee se levantou. Como se não tivesse sido atacada, só se levantou e me encarou.  —Oh, não tem ideia do quanto quero fazer isto. Logo, jogou seu braço para trás e me golpeou bem no rosto. O impacto me lançou longe, e aterrissei sobre meu traseiro enquanto a dor atravessava pela mandíbula e no pescoço. Piscando para reter as lágrimas de meus olhos, olhei-a. —Isso me faz sentir tão bem— disse ela, inclinando a cabeça para o lado. — Eu acho que eu preciso fazer isso de novo. Ah, era como em Donkey Kong1. Fiquei pesadamente de pé, nem de longe com tanta graça como Dee. Detrás dela, um Luxen entrava na sala bem quando Daemon se levantava. Os dois colidiram no mesmo momento que bati meu punho contra a mandíbula de Dee. Sua cabeça caiu para trás, mechas voaram a seu redor de uma maneira que a fazia parecer-se com as serpentes da Medusa. Dor surda estalou junto com meus nódulos, mas não havia tempo para realmente prestar atenção a isso.             Dee lançou-se para mim, agarrando o meu rabo de cavalo e jogando-se para meu pescoço. Uma sensação ardente percorreu a minha espinha, e eu estendi a mão, enfiando meus dedos em seus braços. Ela não me soltou, e havia uma boa chance de ela arrancar minha cabeça.             Hora de brigar sujo. Girando em seu agarre, tomei seus braços enquanto levantava meu joelho, empurrando-o bem em suas partes femininas.
                                              
 1 Donkey Kong é uma série de jogos eletrônicos criada por Shigeru Miyamoto que gira em torno do personagem Donkey Kong
Dee gritou com voz rouca e me soltou, flexionando-se sobre mim enquanto eu me endireitava. Agarrei seu cabelo e ergui meu joelho uma vez mais, conectando com seu rosto. Caiu ajoelhada enquanto tropeçava para trás, respirando pesadamente. —Por favor — Ofeguei — Esta não é você, Dee. Seja o que for, não é você... Ela se levantou e sua mão foi à minha bochecha em um épico golpe, me fazendo girar em um pequeno círculo. Caramba, essa doeu. Dee bateu as mãos nas minhas costas, me fazendo cair sobre meus joelhos enquanto envolvia um magro braço ao redor de meu pescoço e apertava. Ofeguei, lutando por ar. O pequeno treinamento que Deadalus tinha me ensinado me veio à mente, e eu agarrei a mão dela e, em seguida, joguei meu peso para frente. Ela foi para a direita sobre o meu ombro, aterrissando com força sobre suas costas.             Ela gritou algo muito furiosamente para eu entender, e eu lutava para não encontrar alguma coisa afiada e mergulhá-la em seu globo ocular.  —Nós somos melhores amigas. — eu disse a ela, levantando-me enquanto ela se levantava. —Não se lembra? Nós somos melhores amigos, Dee.             —Você é apenas uma humana estúpida. — Sangue vermelho-azulado escorria de seu lábio. —Porque isso é tudo que você é, no fundo, apenas um ser humano frágil, inútil, que sangra facilmente.             — Jesus. É como se eu fosse uma trouxa para o seu puro-sangue ou algo assim? Ela apenas olhou para mim. Eu recuei, mantendo um olho nela. Este, portanto, não era o momento para referências de Harry Potter.  —Plantamos flores juntas e você pediu um monte de meus livros e nunca os devolveu. Você fez Daemon falar comigo e ser agradável, você escondeu as chaves dele. E você...             Ela me derrubou no chão, agarrando e puxando meu cabelo. Estávamos em pleno modo luta de garotas. Ambas de nós estávamos agarradas no cabelo uma da outra à medida que rolávamos pelo chão. Ganhei a vantagem por um segundo. 
—Nós saímos juntas no Dia das Bruxas e assistimos a filmes idiotas. E lutamos juntas contra Baruck… Dee me virou, suas unhas rasgando a gola do meu suéter.  —Nada disso significa alguma coisa.— Ela agarrou meus ombros e me batia contra o chão com força suficiente para que eu estivesse atordoada por um segundo.             Por um segundo suficientemente longo. Transportando-me para cima, ela gritou quando ela virou-me, girou e no segundo seguinte eu estava voando pelo ar. Eu bati na parede. Gesso rachou e cedeu. Por um segundo, eu podia ver nuvens de poeira branca voando por toda parte e, em seguida, eu estava na sala, caindo sobre as costas de um sofá, batendo no chão.             Aquela... que puta! Tinha me jogado através de uma parede! Eu fiquei deitada no chão, incapaz de me mover enquanto olhava para o teto, piscando as pequenas estrelas nublando a minha visão. Havia um zumbido nos meus ouvidos enquanto eu forçava meu corpo para ficar de lado. Dee caminhou através do buraco do tamanho de Katy, que era bastante grande. Meu deus, ela não ia desistir. Com as mãos tremendo, fiquei de pé, respirando através da terrível queimação de minhas costelas e costas. Havia uma probabilidade de que um monte delas estivessem quebradas, e outras coisas. Ela caminhou pelo sofá e logo se lançou para mim com uma expressão assassina. Movi-me fora de seu caminho no segundo último, e ela bateu mesa detrás de mim. O vidro se quebrou. Agora ela parecia atordoada enquanto olhava para o teto, o peito arfando. Eu não dei a ela uma chance de se recuperar.             Aterrissei sobre ela, meus joelhos pressionando-se nos vidros quebrados, e plantei minhas mãos sobre seus ombros.  —Somos melhores amigas — Tentei uma vez mais, sem saber o que mais fazer. — Escolheu meu apelido… de um de meus livros favoritos. Deu a Daemon o novo nome. —Sacudi-a, sacudindo sua cabeça para frente e para trás. — Esteve imaginando Archer nu recentemente e queria uma noite perfeita com ele. —Suas mãos bateram em meu rosto de novo, tirando um grunhido cheio de dor de mim.
— Nós já passamos por muitas coisas duras, mas nós sempre conseguimos sair juntas, mesmo depois do que aconteceu com Adam. Ela foi à loucura, como uma espécie de demônio saído de um pesadelo, batendo e se contrariando, chutando e arranhando. —Você e Adam tentaram me ajudar — eu gritei para ela enquanto a prendia com todo o meu peso, esforçando-se para evitar as mãos se agitando que me atingia no rosto e no peito. —Você se lembra de Adam? —Sim. — ela gritou. —Lembro-me dele! E eu lembro... —Eu ser a razão para ele morrer? — Cada parte do meu corpo doía, e eu podia sentir o sangue em um monte de lugares, alguns lugares muito desconfortáveis, mas eu tinha que chegar até ela. Eu precisava. —A culpa foi minha. Eu sei disso! E eu nunca vou me perdoar totalmente pelo que isso fez para você e para a nossa amizade. Mas superamos isso, porque você é como uma irmã para mim. Dee se congelou com seus dedos enroscados ao longo da gola rasgada do meu suéter, como se estivesse a ponto de arrancá-lo de mim, e naquele momento eu sinceramente não teria ficado surpresa se ela fizesse.             — Você acha que ele ia ser assim agora? Adam amava a todo mundo, e teria odiado esta guerra… odiado o que sua espécie está fazendo às pessoas inocentes. —Observei a branca luz apagando-se de seus olhos verdes. — Ele teria odiado no que se transformou. Pode ver isso? Você é melhor que isto. Você… Dee jogou a cabeça para trás e gritou —gritou como se eu estivesse tentando matá-la, e afrouxei meu domínio, levantando minhas mãos. O som era horrível, miserável, como um animal ferido, algo moribundo. Ela estremeceu debaixo de mim e fechou os olhos. Ambas estávamos ainda estávamos enredadas, e logo ela voltou a gritar, até que o som se tornou cru e doloroso, até que pensei que havia uma boa probabilidade de que ela pudesse estar morrendo. –Eu sinto muito —sussurrou Dee enquanto outro grande tremor sacudia sua figura esbelta. Enquanto descia o olhar para ela, tentando recuperar o fôlego, tentando processar as duas palavras, seu belo rosto de franziu e grandes, grossas lágrimas correram por suas bochechas. — Eu sinto muito.
CAPÍTULO 20
              Quando o último Luxen caiu ao chão em uma pilha desordenada, virei para ver pela última vez Kat e Dee. Havia um buraco enorme no reboco, expondo a estrutura de madeira no interior da parede, demonstrando que também teve um inferno de surra. Elas tinham atravessado da parede. —Meu Deus. — Meu estômago caiu quando eu pisei sobre os Luxen mortos e corri em direção à porta aberta que dava para a outra sala.             Eu ficava dizendo a mim mesmo que tinham que estar vivas, ambas, porque eu teria sentido se uma delas tivesse sofrido uma ferida mortal. Não fez nada para diminuir meu coração acelerado ou para aliviar a sensação doente de meu estômago. Archer estava de pé do lado de fora da sala, os ombros subindo e descendo em respirações profundas. Ele não disse nada, quando passei por ele, tropeçando quando parei bruscamente. A sala estava destruída, o sofá absolutamente quebrado, a televisão destroçada, e vasos quebrados no chão. Pilhas de sujeira e pétalas desfiadas estavam incorporadas no tapete. Meu olhar desesperado se concentrou no meio da sala, e caramba, se meus joelhos quase desabam. Estavam em uma mesa de café quebrada, Kat em cima de minha irmã. Não brigavam, mas ambas pareciam congeladas. Eu estava congelado. Então ouvi. Os profundos sons destruídos de uma pessoa se quebrando. Kat, com metade de seu cabelo em um rabo-de-cavalo e metade fora, levantou a cabeça e estremeceu, logo se separou de minha irmã e, lentamente, ficou de pé. Ela se afastou, correndo as mãos trêmulas sobre seu cabelo bagunçado. Ela olhou para mim com os olhos arregalados. O sangue escorria de seu nariz e boca, e cada respiração que ela expelia parecia com dificuldade. Comecei a caminhar para ela, mas parei. Meu olhar voltou de novo para minha irmã. Quando Kat tinha saiu de cima dela, ela virou de lado, enrolada em uma pequena bola. Os sons... os sons vinham dela.
—Dee? —Minha voz se quebrou. —Sinto muito. —disse, com os braços cruzados sobre sua cabeça—Sinto muito. Sinto muito. —E isso era tudo o que dizia, uma e outra vez, entre soluços. Vidro rangeu sob meus pés enquanto eu caminhava para onde ela estava, e quando cheguei a seu lado, meus joelhos se desabaram. Aterrissei a seu lado e suavemente coloquei uma mão em seu ombro trêmulo.  —É realmente você, Dee? Seus soluços ficaram mais irregulares, e havia um fluxo de palavras ricocheteando em minha cabeça. A maior parte era incoerente, uma enorme corrente de pensamentos, mas não havia dúvida do que significava. De algum jeito a conexão com o resto dos Luxen se quebrou. Não sabia como, mas não importava. Levantei-a da mesa e me sentei, puxando-a contra mim, e ela ficou mais perto, como estava acostumada a fazer quando era pequena e tinha medo de tudo. Enquanto a abraçava forte, cuidadosamente tirei os pedaços de vidro grudados em seu cabelo, em sua roupa. Ela estava tremendo quando seus dedos seguraram meus braços.  —Eu não sei o que aconteceu. Eles vieram, e o que eles queriam era tudo que eu conseguia pensar.              —Sei. —Fechei os olhos, acariciando suas costas com minha mão. — Está bem agora. Tudo está bem agora. Dee não pareceu me ouvir.  —Não sabe as coisas que fiz ou o que pensava, ou que me parecia bem o que eles faziam às pessoas. Mas eu sabia. Pelo menos uma parte dele, no curto período de tempo que estive ao redor dela enquanto ela estava ligada a eles. As coisas que eu vi e ouvi-a fazer eram coisas que eu me forcei a não reconhecer, porque não tinha sido culpa dela. E então eu disse a ela, mais e mais, que nada disso importava e nada disso foi culpa dela. Ela começou soltando merda, dizendo que era má, e essa porcaria quebrou meu coração. Rasgou-me. — O que você fez foi culpa deles. Não a sua. Se alguma vez acreditou em qualquer coisa que eu disse a você, acredite nisso. —Eu dobrei a minha mão sobre
a parte de trás de sua cabeça, desejando que ela aceitasse minhas palavras. —Você não tem um osso mal em seu corpo. Nunca, Dee. Nunca.  O tremor aliviou um pouco enquanto eu a abraçava, e eu não sei quanto tempo ficamos em meio aos destroços, mas quando abri os olhos, finalmente, a sala estava um pouco embaçada. —Foi Kat— disse ela, sua respiração não vindo tão rápido como tinha sido antes. —Ela fez isso. Eu queria matá-la. Oh Deus, Daemon, eu realmente queria matá-la, mas...  —Mas o quê? —Quando estávamos lutando, ela continuou a falar comigo, me forçando a lembrar como era... antes de eles chegarem. — Dee se afastou, seus cílios grossos com lágrimas. —E foi sobre Adam. — Sua respiração ficou presa em seu nome. — Ela estava falando sobre ele, e lembrei-me mais do que apenas a dor e a raiva. Eu não sei, mas simplesmente se quebrou, e de repente eu estava olhando para ela, e eu não estava ouvindo nenhum deles mais. Meus pensamentos... eles eram meus.  Fechei os olhos de novo brevemente, prometendo a mim mesmo que eu iria pagar Kat um milhão de vezes, assim que tivesse a chance.           
 Uma vez que Dee se acalmou o suficiente e sabia que estava bem e não estava ferida gravemente, olhei ao redor da sala. Não percebi que Archer e Kat se foram. Agora me preocupava com o Kat sabendo que Dee ia estar bem. Ajudei-a levantar-se.  —Como está? Dee secou as lágrimas e o sangue —de cor vermelha, brilhante sangue que não podia pertencer a ela— de suas bochechas com as mangas de seu suéter escuro. Meu coração retumbava em meu peito enquanto tomava uma respiração profunda.  —Estou bem, mas Kat… ficou bastante difícil entre nós. Oh Deus, ela provavelmente me odeia agora. Tipo, realmente… —Não. Ela não te odeia. Se ela a odiasse, não teria tentado trazê-la de volta. Kat ama você como uma irmã, Dee. Na verdade, ela é tipo como sua irmã agora.             Essa declaração tirou Dee de seus pensamentos conturbados. Seu nariz se franziu.
 —O que quer dizer? Porque isso parece um pouco… estranho tendo em conta o que você e ela fazem e tudo isso. Eu ri, e caramba, era bom estar de pé na frente da minha irmã novamente e rindo.  —Kat e eu estamos casados. Dee olhou para mim e, em seguida, piscou os olhos arregalados.  —O quê? —Bem, nós não somos realmente casados, porque casamos com as nossas identidades falsas quando estávamos em Vegas... Ow!— Dei um passo atrás, esfregando o meu braço direito no local onde Dee tinha me dado um soco. —O que foi isso?             —Vocês dois se casaram e nenhum me disse? — Ela bateu o pé, os brilhantes olhos em chamas. —Isso é tão errado! Eu deveria ter sido uma parte disso. —Ela virou-se. — Realmente vou bater nela de novo. —Uau. — Eu ri quando eu agarrei o braço dela. —Você pode esperar para bater nela novamente até ter certeza de que ela está bem? —Ah, sim, provavelmente uma boa ideia. — Então, ela se virou e atirou-se para mim, circulando seus longos braços em volta de meu pescoço, e eu tropecei um passo para trás. —Vocês dois realmente fizeram isso? Os lábios do Dee tremeram em um pequeno sorriso e não do tipo que tinha visto nela ultimamente. Não frio. Totalmente ela.  —Isso é incrível —sussurrou enquanto me soltava. — Estou feliz por você, por ela. Mas ainda vou bater nela. Depois de se certificar de que ela está bem. Oh Deus. —O rosto dela escarcéu. —E se ela...?             —Vai ficar tudo bem. — Eu coloquei a mão nas costas dela, conduzindo-a para fora da sala. A primeira pessoa que eu vi foi Archer. Claro. E ele não estava olhando para mim. Oh, não. Seu rosto estava pálido, os olhos arregalados e pupilas dilatadas. Emocionado. Nunca o tinha visto assim antes, e eu com certeza não queria reconhecer o por quê. —Ela está lá fora. — ele murmurou, olhando para Dee, que também estava olhando para ele, e eram como duas pessoas que nunca tinham visto uma outra pessoa antes. Droga. —Ela está bem. 
Dee olhava para Archer, e reprimi uma maldição. Sua voz era baixa em sua garganta. —Vá.  Ao menos se esqueceu de bater em Kat. Eu resisti à vontade para avisar Archer para fazer... bem, para não fazer nada, mas enquanto eu caminhava em direção à porta de entrada e parei para olhá-los por cima de meu ombro, o que vi deveria ter me feito sair como um foguete. Eu não tinha ouvido nenhum deles se mover, mas eles estavam frente a frente, e Archer estava tocando seu rosto com apenas as pontas dos dedos enquanto olhava nos olhos dela.  Havia algo comovedor sobre o momento. Sim, parecia que eu estaria escrevendo sonetos de amor até o final do ano, mas em um momento de empatia e de maturidade que eu realmente não tinha percebido que eu era capaz, não perdi a calma.             Ela precisava disso, ela precisava de Archer, e quem diabos era eu para invejar seu consolo quando eu tinha a minha Kat? Soltando um suspiro, eu fui para frente da casa e me arrepiei quando vi a porta da frente do outro lado da sala. Oh, Lore e Hunter iam ficar putos. Kat estava sentada no topo da escada, ligeiramente curvada para si. Enquanto caminhava a seu redor e descia as escadas, ficando na frente dela, ela lentamente levantou a cabeça e seus olhos cinzas encontraram os meus, atingindo bem dentro de mim, e apertando meu coração. —Ela está bem. —Não era uma pergunta, mas sim uma afirmação. Assenti enquanto me ajoelhava na frente dela.  —Graças a você. Ela balançou a cabeça. —Sim. Ela me contou o que você fez. Ela poderia ter matado você, Kat.            —Sei, mas… não queria que tivesse que lutar contra sua irmã, ter que machucá-la. Não queria que tivesse nunca que fazer essa escolha e viver com o que aconteceu. Isso me fez amá-la mais do que acreditava possível. Eu coloquei minhas mãos sobre os joelhos dela e me inclinei, pressionando meus lábios contra sua testa.  —Obrigado. Isso não é suficiente, mas obrigado é o melhor que eu tenho. 
—Você não precisa nem dizer isso. — Kat descansou a testa contra a minha e sussurrou: —Eu te amo. Movi-me para sentar ao seu lado, querendo puxá-la para meus braços, mas eu resisti, porque eu poderia dizer que ela estava sofrendo.  —Onde? Ela sabia o que eu estava perguntando.  —Estou muito bem. —Parece que você está com dor. Venha. Você sabe que eu vou te curar. Não lute comigo sobre isso.  Por um momento, ela olhou para mim, e, em seguida, mostrou a língua, o que me fez sorrir.  —Praticamente em todos os lugares, especialmente minhas costelas. Ela me jogou através de uma parede.  Eu respirei contornando o acesso de raiva, dizendo a mim mesmo que Dee não sabia o que fazia, assim não me pus todo “cara de raiva” como Kat diria. Com cuidado, toquei seus lados e deixei a cura começar.  —Bem, eu preciso de você de volta à perfeição, porque, provavelmente, Dee vai bater em você de novo. Kat fez uma careta.  —Eu ainda quero saber por quê? —Fique quieta —disse— Disse a ela que nos casamos. Está feliz, mas quer te dar um soco, porque não chegou a fazer parte disso. —Oh. — Ela riu e, em seguida, se encolheu. —Ela estava feliz com isso? Quero dizer, ela estava bem?              —É óbvio. —À medida que o calor de minha habilidade começou a fazer seu caminho através de Kat, seus olhos se fecharam e sua bochecha terminou em meu ombro. Eu gostava. Tipo, me fazia sentir quente e macia quando ela se aninhava conta mim. — Ela está emocionada, na verdade. Basta esperar até que eu diga a ela que está pensando em fazer a grande cerimônia real. Ela pode não bater em você, então.              Quando ela riu, desta vez, não terminou com ela fazendo uma careta de dor. Movendo a mão para tocar seu rosto, eu cuidei dos hematomas lá.  —Ela está lá com Archer agora— eu disse.
Kat suspirou.  —Ele não é um cara mau. —Ele é um Origem. Ela revirou os olhos.  —Archer pode ser um origem, mas ele ainda é um cara bom, e ele se preocupa com ela, Daemon. Ele realmente se preocupa, e ele esteve preocupado com ela todo esse tempo.  Ugh. —Você sabe que ele pode protegê-la. E ele vai ser bom para ela, assim… —Vou deixá-los em paz. Sei que ela precisa dele, sobretudo neste momento, quando está… Bom, ela tem muita coisa acontecendo na cabeça dela para lidar. Os olhos de Kat procuraram os meus, e então ela abriu um largo sorriso. O sangue em seu queixo não tirava a beleza dela, mas passei meu polegar sobre o vermelho, limpando-a.  —Uau. Estou quase orgulhosa de você, Daemon. —Não esteja tão orgulhosa, porque eu ainda não gosto dele. —Sabe o que penso? —Ela baixou a voz como se estivesse compartilhando um segredo. — Acredito que você gosta de Archer, e simplesmente não quer admitir que está na etapa inicial de um bromance2 para acabar com todos os bromances. Eu bufei.  —Tanto faz. Kat riu de novo, e o silêncio se estendia entre nós enquanto meu olhar vagava por sua face. Eu comecei a me inclinar, mas o som de um carro que se deslizava pelo longo caminho de entrada nos obrigou a nos separar. Era o carro d Lore. —Oh, não —murmurei. Kat se encolheu.  —Nós destruímos sua casa. —Foi um acidente —disse, ficando em pé e descendo um degrau, no caso de que Lore ficasse legitimamente aborrecido. — Ele vai entender. Em outras palavras, eu o faria entender.            
                                              
 2 Expressão em língua inglesa utilizada para designar um relacionamento íntimo, mas não sexual, entre dois, ou mais homens.
Lore rodou até parar junto ao Explorer, e Hunter e Serena foram os primeiros a sair do carro, carregando um par de bolsas. Rodearam a varanda e pararam completamente ao verem a porta… faltando a porta. Hunter me olhou.  —Vou querer saber? —Bem ...— Eu comecei devagar. Suspirando, Hunter se virou e pegou seu irmão pelo braço. Lore tinha conseguido uma boa olhada na frente de sua casa, a porta que faltava, janelas arrebentadas, e ele só ficou parado lá. —Tivemos um pequeno problema —começou Kat. —O que fizeram com a minha casa? —Perguntou Lore. —Os deixamos sozinhos durante uma hora no máximo. Apenas uma hora. Sério. Se ele achava que isso era ruim, espere até que ele visse por dentro. Mas logo ele estava subindo os degraus ruidosamente, e pensei que ele iria descobrir muito em breve quando entrasse na casa Eu coloquei minha mão na parte inferior das costas de Kat enquanto nós o seguimos para dentro.             Hunter deu um assobio baixo, quando entrou.  —Caramba, gente, isso é, tipo, impressionante. Meus lábios tremeram, mas eu era inteligente o suficiente para tirar o sorriso do meu rosto quando Lore se girou para nós.  —Alguém vai limpar isso, e não vai ser eu. Ele estava lidando com isso surpreendentemente bem, mas pensei que por ser um Arum e tudo isso, esta não era a primeira vez que sua casa parecia como se uma bola de demolição tivesse passado sobre ela. Inclinei-me para Hunter, percorrendo o olhar na última sala onde deixei Dee, mas quando eu não a vi ou Archer lá, olhei para a escada em espiral.             Meus olhos se estreitaram. Eu estava tentando ser aberto e compreensivo e não um idiota sobre eles, mas melhor para seus traseiros que não estivessem no andar de cima. Minha repentina mudança de coração era nova para mim e não chegava tão longe. Hunter pôs as sacolas no chão, tomando cuidado com os vidros quebrados enquanto olhava a um dos corpos.  —Isto é uma bagunça.
Serena se apertou contra ele enquanto inspecionava os danos.  —O fato de que eu não estou totalmente que perturbada por isso realmente me incomoda mais. Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Kat quando ela se virou para a mulher. —Conheço o sentimento. Antes de que o momento de união pudesse ir mais longe, Dee e Archer vieram da cozinha. Meu alívio que eles não estivessem no andar de cima transando como coelhos foi de curta duração. O rosto da minha irmã estava pálido, e ela abriu a boca, mas depois ela viu Hunter e Lore. Seus olhos se arregalaram.             Archer envolveu uma mão ao redor de seu ombro. —Disse a você que os Arum nos ajudavam. —Sei, mas é uma coisa ouvir e outra ver isso com meus próprios olhos. — respondeu. Lore franziu a testa quando cruzou os braços.  —Você destruiu a minha casa. Dee corou.  —Sinto muito. Realmente, sinto! É uma linda casa e eu amo todas as plantas e... —Ele entende isso. —Interrompi antes que isto acabasse em um dos largos bate-papos do Dee— O que você precisa falar?             Ela olhou para Archer, e então tudo se derramou fora dela. Tudo em um só fôlego gigante. —É Ethan ele é um origem e a colônia inteira sabia disso. Ele estava trabalhando com um senador e um grupo de Luxen na Pensilvânia.  Ele acha que se conseguirem controlar a capital terão tudo. Ele quer que você e Dawson sejam levados para lá ou desapareçam. Ethan Smith. Ancião extraordinário. A lembrança da primeira vez que ele conheceu Kat percorreu meu pensamento, a forma como a olhou com desgosto mal contido. Ele nunca foi um grande fã dos humanos, limitando as interações com eles, e embora suspeitasse
que Ethan era um Origem, isso ainda me abalou. Os Luxen com os que crescemos tinham estado trabalhando para dominar a humanidade por quanto tempo? Bem debaixo dos nossos narizes desde o princípio? —Eu aposto que sei quem é o senador. — disse Serena, visivelmente pálida. —Isso não importa. — A voz de Hunter foi dura. —Porque o senador não é mais um problema, graças a mim. —Por que? — perguntou Kat. —Você sabe por que Ethan fez isto? Hunter bufou.  —A dominação do mundo? Afinal, está no sangue de um Luxen governar e dominar.  Eu atirei-lhe um olhar. —Eu não sei. — respondeu Dee, torcendo uma grande mecha de seu cabelo entre as mãos. —Mas eu tenho a sensação de que era mais do que apenas isso. —Bom, o inferno… —Deixei cair minha mão e olhei para o teto. —Archer me falou dos Arum. —Emoção vibrava em sua voz— Tinha razão, Daemon. Nenhum dos Luxen invasores lutou contra os Arum. Vão ser capazes de eliminar a esses bastardos como nada. A testa de Archer se levantou pelo palavrão dela. —Mas Ethan sabe, não é? — Kat olhou para seus tênis, expressão tensa. — E a colônia em casa e a da Pennsylvania sabem como lutar contra os Arum, vão senti-los vir, e vão… —Vão correr —terminou Lore por ela. Ela fechou os olhos, seus ombros afundando-se na compreensão.  —Eles vão se esconder. Em outras palavras, nosso plano brilhante de utilizar os Arum já não era tão brilhante. Tinha um buraco nele de dois quilômetros de largura. Hunter olhou ao redor do grupo.  —Se me perguntarem minha opinião, o que não fizeram, mas eu vou dar a vocês de qualquer maneira, diria que não esperem Lotho para chegar até lá. Peguem esse cara antes de vê-lo chegando. Porque se este Ethan é tão bom e inteligente como todos vocês dizem, vai correr quando a merda explodir. Então o que? Lotho e a tripulação podem tomar a maior parte dos Luxen, mas se ele continuar vivo, isso é um grande problema.
Archer assentiu.  — Seria como tapar uma ferida de bala com um Band-Aid e esperar pelo melhor. Ele estava certo, os dois estavam. Olhei para Kat, e nossos olhares colidiram.  —Ir atrás de Ethan não é uma parte do negócio. — eu disse a ela, e eu realmente não me importava com o que o resto do grupo pensava. Eu me importava com o que ela pensava. — Temos que ajudar os Arum e logo podíamos voltar... poderíamos ir a qualquer lugar. Você sabe o que Eaton nos prometeu. Nós não temos que fazer isso.  Seus lábios se separaram.  —Eu sei. —Mas... Kat respirou profundamente e endireitou os ombros.  —Nós não temos que fazer isso. Mas se Ethan cair na estrada, antes que alguém chegue lá ou se ele escapar, e depois? Estaremos feitos. Então você sabe o quê? Vamos acabar com isso.             
CAPÍTULO 21
               Recém tomada banho e o bastante descansada para que os dores de minha batalha real com Dee desaparecessem, me reuni a todos na sala. Antes de eu ter ido tirar o sangue e a sujeira, e tirar um cochilo, tínhamos arrumado a sala de estar e o estúdio de novo. Exceto pela porta faltando, janelas desaparecidas, móveis quebrados e vasos de plantas destroçados —ah, e é claro, o buraco na parede. Eu realmente me senti mal com tudo isso. Lore era um cara bom. Sua casa tinha sido boa. Na verdade, ele era muito bom, considerando que ele não gritou conosco ou tentou nos comer depois de descobrir o que aconteceu com sua casa. Eu estava começando a gostar do Arum. Bem, pelo menos estes dois Arum. O resto deles, especialmente Lotho, ainda me assustava. Dee já se desculpou um milhão de vezes, desde o segundo em que terminamos de falar sobre Ethan até o momento em que deixei a ducha e tirei um poderoso cochilo. Então, eu não fiquei surpresa quando ela virou imediatamente aqueles grandes olhos verdes para mim quando entrei na sala de estar. —Katy. — começou ela, começando a se levantar, e eu sabia o que ia acontecer a seguir. Ela ia começar a chorar, e então iria começar a pedir desculpas. Fui até onde ela estava sentada na única peça de mobiliário não destruído —uma poltrona — e abracei-a.  —Está tudo bem— eu sussurrei em seu ouvido. —Está tudo bem entre nós. E falava a sério. A vida era realmente muito curta e confusa para guardar rancor, especialmente sobre algo que ela realmente não tinha controle. Ela apertou o meu braço e sussurrou de volta:  —Obrigada. Agora eu não vou bater em você por não me dizer que você se casou com meu irmão —O sorriso de Dee se estendeu, transformando sua beleza em algo que era realmente fora deste mundo, e Deus, como tinha sentido saudades desse cálido sorriso. —Nós estávamos falando sobre o nosso plano. — Daemon caminhou até mim e acariciou minha bochecha um segundo antes de levantar a cabeça. — Vamos retornar, o o que nos coloca a menos de um dia à frente, quando Lotho disse que teria seu exército Arum. Olhei ao redor da sala, esperando mais de um plano.  —Bem? —Mas isso não é tudo. — Archer cruzou os braços. —É simples. — respondeu Daemon, sua mão escorregando do meu ombro e enroscando no meu cabelo úmido. —Nós vamos para casa... e eles virão até nós. Eu arqueei uma sobrancelha.  —Isso é um pouco simples demais. —Ele está sendo preguiçoso em suas descrições. — Hunter respondeu. —Ou totalmente distraído. — comentou Lore.             Ruborizei-me de novo, porque quando seus dedos encontraram a maneira de sair de meu cabelo e logo os passou por minha coluna, realmente acreditei que estava distraído. —Nós vamos ter que fingir que somos um deles. — Dee se virou para onde estávamos. —Eu sei que, provavelmente, é uma porcaria de ouvir, mas nós podemos fazer isso. Nós podemos fazê-los acreditar.  Oh, eu realmente não gosto do som disso, e eu estava tentando não prestar atenção à mão nas minhas costas. Dee molhou os lábios.  —Eles não sabem que eu sai sem permissão ou que os outros ... bem, que eles não estão mais por perto. —Como?             —Falaram para Dee não dar notícias até que resolvesse o problema com Daemon... ou desaparecer com ele ou levá-lo lá.  —explicou Archer e pela forma como Dee destroçou a casa, não acreditava que estivesse interessada em levá-lo a alguma parte, e, exceto a vida após a morte. — Estarão esperando escutar notícias dela logo, mas não há a mínima boa oportunidade que eles não saibam o que aconteceu ainda.
—Uma boa oportunidade? —repeti estupidamente. A mão de Daemon estava ao sul na faixa de trás de minhas calças.  —A melhor oportunidade que temos, querida. —Então, vamos para casa, fingimos que todos somos malvados e logo esperar o melhor? —Chegaremos a Ethan usando Dee e Daemon. Temos que chegar a ele antes dos militares ou os Arum —disse Archer, seus olhos de ametista letais. — Antes que possa fugir. Entendi essa parte, mas isto… isto era um plano arriscado e pouco confiável… unido com fita adesiva, uma lambida e um monte de desejos de boa sorte. A parte boa de tudo era o fato de que íamos para casa e veria minha mãe. Se ela Se ela estivesse mesmo lá. —Mas e quanto a Nancy? — perguntei a Daemon. Dee olhou ao redor da sala.  —O que tem ela?             —Ela fugiu —informei à sua irmã— Ninguém sabe onde está, mas duvido que ela vá para onde toda ação está acontecendo. Isso não tem nenhum sentido, por isso acredito que é o último lugar aonde iria. Daemon puxou a cintura de minhas calça, mas não respondeu. —Tem razão. Estão procurando-a, mas é remota a probabilidade de sua partida a São Petersburgo. Vou entrar em contato com Luc, para ele saber o que está acontecendo e que os Luxen por trás disso estão escondidos em Petersburg, juntamente com Ethan. — continuou o Archer. —E então nós vamos entrar em contato com Lotho, que ele saiba onde precisaremos dele primeiro. Isso fazia sentido. Se a informação que Dee tinha era correta, precisávamos chegar a eles e eliminar a colônia, mas mesmo assim tínhamos muitos Origens para lutar com eles mais tarde. Fiz uma careta. Eliminar. Lutar. Começava a soar como uma mafiosa. Ou Luc. —Bom, então —disse finalmente—, é um plano. Daemon deu tapinhas nas minhas costas.
—Vocês vão precisar de algumas coisas. — disse Hunter, e então ele olhou para cabeça loira de Serena. —Este é o fim do caminho para nós. Assenti. Nós poderíamos usar a sua ajuda, toda a ajuda que pudéssemos conseguir, na verdade, mas chegar à cidade com dois Arum provavelmente revelaria nossa carta sob a manga. —Não nos interprete mal —disse Serena, seus olhos procurando os nossos. — Queremos fazer mais, mas… —Mas como disse antes, tenho um monte de inimigos no governo. Embora o Daedalus possa ter desaparecido, não confio em ninguém associado a ele. —O braço de Hunter se apertou ao redor de Serena. — E não vou colocá-la na mira novamente. —Totalmente compreensível —anunciou Daemon, me surpreendendo, já que não deu sua resposta espertinha. Lore se levantou e caminhou até um armário que ainda tinha uma porta. Quando o abriu, consegui uma olhada de um mini-arsenal. Pistolas anexadas a ganchos nas paredes internas. Rifles estavam encostado na parede do mais alto para o mais baixo. Havia outras armas que não reconheci fixada à parede, armas que pareciam Glocks... mas não eram. —Uau. — eu murmurei. —Provavelmente devia ter dito a vocês que isto estava aqui. — disse ele, estendo uma mão para dentro. — Fiz um estoque e tanto ao passar dos anos. — Ele pegou uma arma, entregando-a para Archer. — A única coisa que todas as pessoas parecem esquecer é que Luxen, e até mesmo nós, são suscetíveis a certas feridas. —Bala na cabeça ou no coração é catastrófica, não importa a espécie. — Hunter sorriu, e foi meio assustador. —O problema é que as nossas duas espécies são um pouco rápida, então acertá-las na cabeça ou no coração é meio difícil. —Agora não. —Lore também sorria da mesma forma horripilante. —Puta merda — murmurou Archer ao repassar a arma de aparência estranha. —Como conseguiu uma dessas? Lore sorriu.  —Tenho meus meios. Archer balançou a cabeça. 
—Inferno, essas coisas nunca foram aprovados para uso generalizado. Daedalus tinha, mas eu nunca pensei que veria uma do lado de fora.              A mão de Daemon me deixou.  —O que há de tão especial sobre a arma? —É especialmente concebida para Luxen. Não é uma arma PEP, não realmente. —Agora Archer também sorria de maneira quase assustadora. — A arma é manipulada para funcionar com balas carregadas com uma corrente do mesmo tipo da PEP. Não é uma MI. —MI? —perguntou Dee. —Morte intantânea —explicou— Mas você atirar em um Luxen, híbridos, ou Origens em qualquer lugar com um deles, eles caem. É principalmente fatal, especialmente se a bala não sair do corpo ou se não poderem tirá-la rapidamente. Ele mata mais lentamente, e foi por isso que as armas nunca foram aprovadas.  —Porque isso seria como torturar alguém. — Eu me senti doente.            —Sim, mas você não tem que ter realmente uma boa pontaria com isso. Ainda precisa ser rápida, mas em vez de reunir a energia e convocar a Source, isso vai vir a calhar. —Archer parecia um garoto a quem tinhas acabado de entregar a ele um bolo de aniversário com seu sabor favorito. —Realmente útil. —Cada um de vocês receberá uma — disse Lore. —Por isso, nunca digam que eu não dei nada a vocês. E eu espero um cartão de Natal deste ano.  Sorrindo um pouco, peguei minha arma —minha arma mais perigosa que o normal— e tentei me acostumar ao peso e a sensação do frio plástico e metal. Eu estava segurando uma arma na minha mão. Mais uma vez. E eu realmente me sentia como uma mafiosa.
 
Estávamos de volta na varanda, com as posições ligeiramente alteradas. Daemon estava sentado no degrau mais alto e suas pernas se estendiam aos lados. Eu estava entre elas, um pouco virada para poder ver seu rosto à luz do sol. No início, nós realmente não falamos muito. Ele estava brincando com o meu cabelo, torcendo o comprimento em torno de seus dedos e roçando as pontas contra minha bochecha. Não tinha ideia do que acontecia com Daemon e o uso das coisas —meu cabelo, canetas, lápis, o que fosse— para me tocar, mas eu não me importava. Havia algo relaxante sobre isso agora, quando costumava ser ridiculamente irritante. Eu estava recostada contra a sua perna esquerda, deixando-o fazer o que ele estava fazendo. Nós teríamos que sair logo para que pudéssemos chegar em algum momento da manhã. Archer deu uma pista a Luc sobre a mudança de planos, e ele ia retransmitir as informações aos poderes constituídos. Havia divisões das forças armadas em São Petersburgo, sobretudo ao norte da Virginia, mas pelo que pudemos captar da conversa de Archer, não seríamos capazes de confiar neles, porque não podiam permitir-se deixar D.C. Teríamos que esperar em outras bases espaçadas pelos Estados Unidos, a maioria escondidos em Montana —uma boa meia hora de carro mais ou menos, nos deixando em Petersburgo em torno do mesmo tempo que os Arum deverim estar chegando. Archer entraria em contato com o Lotho, quer dizer, se Lotho não nos ferrasse e aparecesse de verdade. Assim, basicamente, se as coisas fossem ao sul, estaríamos ferrados por todos os lados. Mas eu estaria em casa em São Petersburgo, onde deveria estar minha mãe… Pus os freios nesses pensamentos. Mamãe estaria bem. Tinha que estar lá me esperando, porque ela nunca renunciaria a mim, sem importar quanto tempo eu tivesse partido ou o que estava acontecendo no mundo. Mas não podia me permitir pensar em mamãe neste momentos. Tinha que me concentrar no que estávamos a ponto de fazer. —Pensamentos? —Este é um plano muito ruim —admiti depois de uns segundos, olhando-o. —Assim é. Olhei em seus olhos.  —Isso não é reconfortante. Um lado de seus lábios se ergueu.  —Você tem uma ideia melhor? Eu pensei sobre isso por alguns segundos e então suspirei.               —Não, na realidade não. Sempre e quando não souberem que Dee e a equipe saíram dos trilhos, então vão estar nos esperando para matar felizmente a todos. Ele baixou a cabeça, roçando seus lábios sobre os meus. 
—Você está preocupada. —Uh, duh. —Você sabe que eu vou cuidar de você. —Não é com isso que estou preocupada. —Não é? — Antes que eu pudesse responder, ele me beijou suavemente, fazendo com que minha respiração ficasse presa.   —Então com que está preocupada? — Questionou. —Com vocês. Dee. Archer. Dawson e Beth, mesmo que eles estejam seguros por enquanto. Estou até mesmo preocupada com Luc. —Fiz uma pausa, franzindo a testa. —Ainda que Luc é, provavelmente, a última pessoa que deveria me preocupar porque ele é Luc, mas estou com medo por ele e até mesmo por Hunter e Lore e Serena. Estou preocupada que... Daemon beijou-me profundamente, cortando minhas palavras, e ele levou aquele beijo para uma estratosfera completamente nova.  —Você tem um coração grande, Kitten. — Seus lábios roçavam sobre os meus enquanto ele falava. —Isso é o que eu mais amo sobre você. Bem, isso e que sou um grande fã do seu corpo doce, mas o seu coração? Sim, Sim, isso completa todo o pacote, envolvido com um belo lacinho. Isso faz você perfeita para mim.  —Às vezes ...— Eu olhei para ele, piscando a umidade. —Às vezes você diz as coisas mais incríveis. —E eu amo a visão de minhas mãos em sua bunda, também. Uma gargalhada explodiu de mim.  —Oh meu Deus, e então você diz coisas desse tipo. —Tenho de ser eu mesmo. — Ele me beijou novamente. —Kitten, não há problema em estar preocupada com todos, mas todos nós podemos cuidar de nós mesmos. — Ele descansou sua testa contra a minha. —E também sei que não importa o quão ruim essa idéia é, como é perigosa, vamos sair dessa juntos. Todos nós. Eu vou ter certeza disso.  —Promete? — Eu sussurrei. —Prometo. — Ele inclinou o queixo e beijou a ponta do meu nariz. —E eu nunca quebro uma promessa a você, não é? —Não. Você não quebra.                       
CAPÍTULO 22
               A viagem ao Petersburg foi muito mais tranquila que a viagem a Atlanta, com a exceção das discussões entre Daemon e Archer e o estado de algumas das estradas nas quais viajamos. Sabia que era melhor não olhar fora dos automóveis esta vez, mas Dee aparentemente não. De vez em quando, via-a no assento da frente, olhando pela janela à destruição, e fazia um som suave, como um gruto abafado. Ela fez parte disso? Talvez não fisicamente, mas fez algo que teve um efeito dominó que terminou com muitas, muitas vidas perdidas?  Eu sentia por ela, e estava feliz quando eu vi a mão de Archer gravitar em direção a dela sempre que ela parecia se perder olhando pela janela. Mas quanto mais perto chegamos a West Virginia, o mais perto de casa, eu não conseguia mais pensar em Dee. Meu coração começou a bater no meu peito como se quisesse saltar para fora e fazer uma pequena dança no minuto em que entramos em Petersburgo pela rodovia. Tudo parecia normal, como se este pequeno pedaço de mundo, uma cidade de poucos semáforos, de alguma forma, tivesse sido deixada de fora dos eventos que o resto do mundo enfrentava. Exceto quando atravessamos a rua principal da cidade, não havia ninguém nas ruas. Nem uma única alma andava sobre as calçadas. Havia alguns carros, mas parecia que todo mundo estava escondido dentro de suas casas. E essa não era a única coisa. —Deus. — ofegou Archer, os nós dos dedos ficando brancos ao redor do volante, quando ele rapidamente se virou para a estrada mais próxima que nos levou para onde precisava ir. —Eles estão em toda parte. Eu não precisava de uma explicação. Ele estava falando sobre os Luxen. Daemon inclinou-se entre os dois bancos da frente e colocou a mão no ombro de sua irmã. Ele não falou em voz alta, mas quando eu vi Dee virar-se para ele, seus lábios estavam apertados com força e seu rosto estava pálido. Meu estômago ficou em conjunto com o meu coração, caindo como se corresse.
Dee balançou a cabeça e disse em voz alta:  —Eu posso ouvi-los, mas eu estou bem. Eu estou com vocês. —Ela olhou para Archer de uma forma que quase me fez desmaiar e esquecer o que estava acontecendo. —Eu vou ficar bem. Eu só esperava que fosse esse o caso. Nós, obviamente, estávamos profundamente em território inimigo, e não passaria muito tempo antes que eles soubessem que estávamos aqui. Eles já deviam saber que estamos aqui. E com o apoio em forma de Arum e os militares ainda muitas horas de distância. Isto tudo podia ir muito mal, e muito rapidamente, porque nós estávamos intencionalmente caindo em uma armadilha. Dee e Daemon realmente iam ter que ser convincentes quando chegasse a hora de jogar com o inimigo para aproximar-se de Ethan. Tão convincente que eu realmente esperava que eles não mudassem de lado. Podia ser um medo desnecessário, porque eu acreditava seriamente que o que Daemon sentia por mim era forte o suficiente para vencer isso, mas a preocupação ainda estava lá. Era como uma sombra em meu sangue, um pensamento constante na parte de trás da minha cabeça, uma pequena pedra no meu estômago que não ia embora. Isso podia realmente explodir na nossa cara. Enquanto nos aproximávamos da saída que não tinha visto em muito tempo, inclinei-me e segurei a parte de trás do assento de Dee. Minha respiração ficou presa em minha garganta quando o Explorer diminuiu a velocidade na entrada. A grama parecia descuidada, cobrindo o caminho com caules altos; era claro que ninguém se preocupava com a jardinagem, mas disse a mim mesma que estava bem, com o mundo enfrentando um apocalipse alienígena e tudo. Qualquer outra opção para mim era inaceitável a considerar. Mamãe devia estar bem, devia estar esperando por mim. Ela estava em casa, porque seu Prius estava estacionado na entrada, em frente da varanda onde o balanço de madeira ainda se balançava para frente e para trás com a brisa. Archer girou a chave na ignição, desligando o motor enquanto eu observava o vaso de barro que rodeava a varanda. Eram mais ervas daninhas que flores, mas isso também estava bem, porque mamãe tinha uma filha perdida e um apocalipse alienígena com que lutar. Além disso, ela não era realmente boa com as flores e tudo isso. Meus dedos tremiam enquanto destravava meu cinto de segurança. Mamãe devia estar dentro da casa. Já nos tinha visto estacionar? A porta se abriria a qualquer momento e sairia? Uma versão mais bonita, com mais classe, e mais agradável que eu —uma versão que esperava ser quando envelhecesse. Mal podia tomar suficiente ar para manter meus pulmões funcionando. De nosso plano, sabia que Daemon estaria liderando o espetáculo aqui, e a última coisa que algum de nós precisava era que eu saísse correndo para minha mãe. Mas queria vê-la. Precisava fazer isso, porque sentia saudades desesperadamente e devia ter certeza que ela estava bem. Eu era tudo o que restava, e ela precisava saber que eu ainda estava aqui.            Daemon pegou meu braço, mantendo-me no banco de trás, enquanto Dee e Archer pulavam para fora e olhavam para a casa dela com expressões desconfiados. —Há Luxen nas proximidades— disse ele, alisando seu polegar ao longo da borda da manga, em meu pulso. —Eu não sei se eles estão em qualquer uma das casas. —Por que eles estariam em nossas casas? — No momento em que a questão saiu da minha boca, eu sabia o quão estúpido isso soou, porque podia haver qualquer número de razões pelas quais eles estariam em minha casa ou na de Daemon. Ele sorriu rigidamente, mas a preocupação em seus olhos causou que os pequenos nós em meu estômago se expandissem.  —Sei que quer ver sua mamãe. Entendo isso, mas preciso que não corra. Vamos lá, mas se algo estiver estranho e te disser que saia dali… —Por que as coisas estariam estranhas? Daemon inclinou a cabeça para um lado.  —Kat… —Sei —sussurrei. A estupidez continuava saindo de minha boca. —Não esqueça a arma. —encontrava-se enfiada na parte de trás de meu jeans, como uma gânster. Seus olhos procuraram os meus e logo assentiu. —Vou sair depois de você, e Kat… —Seu olhar se tornou intenso, profundo e minucioso.
— Se eu tiver que falar com você de uma certa maneira ou agir como eu fiz antes em Idaho, eu sinto muito. —Eu entendo por quê. Eu posso lidar com isso.  Daemon segurou o meu olhar por mais um momento e depois assentiu. Inalando uma respiração superficial, virei-me e abri a porta do carro. Ele saiu depois de mim e imediatamente curvou uma mão na base de meu pescoço. Eu imaginei que o gesto parecia um de controle e dominação, mas havia algo de calmante no peso de sua mão. Eu sabia que ele estava lá. Sua irmã segurava o braço de Archer enquanto o guiava para os degraus na varanda da frente que levava à sua casa. Dee parou somente para olhar Daemon, se eles estavam se comunicando ou não, já que havia uma chance de outro Luxen poder ouvir. Daemon me guiou em torno da frente do SUV, e enquanto nós andamos mais perto da minha casa, notei as ervas daninhas mais uma vez. Trepadeiras se formaram, e eram tão grossas e numerosas que começaram a subir pelos lados do pórtico, envolvendo-se ao redor das grades. Meu olhar piscou em direção à porta. Estava aberto, só com a porta de vidro fechada. Meu coração realmente martelava em meu peito e eu tive que me forçar a caminhar lentamente, como se Daemon estivesse me levando, em vez de me guiando.             Os degraus rangeram debaixo de nossos pés e o chiado familiar de uma tábua solta na varanda me fez tremer um pouco. —Há definitivamente Luxen nas proximidades— disse ele em voz baixa. Significava que poderiam estar em qualquer parte, no bosque dos arredores ou dentro da casa. Com suas presenças tão fortes e densas, poderiam estão sentados na sala por tudo o que sabíamos. Calafrios subiram e desceram por meu corpo quando ele estirou sua mão livre e abriu a porta. Nossas pegadas silenciosas, entramos e fomos bem-vindos pelo ar ligeiramente quente do interior e a essência que tinha sentido saudade —lençóis limpos. As lágrimas picaram em meus olhos enquanto meu olhar percorria o saguão. As coisas pareciam iguais. Oh Deus, havia caixas do Amazon pela porta, juntamente com os envelopes de correio, e sabia que estavam cheios de livros que provavelmente continuariam chegando até que os publicitários percebessem que não atualizei meu blog em muitos, muitos meses. Minha mochila estava ao lado da bela pilha de correspondência fechada, junto com minhas sandálias. Mamãe tinha deixado lá, como ela soubesse que eu ia voltar. Que ela queria que eles estivessem lá para mim. Meu lábio inferior começou a tremer, e eu pisquei furiosamente para afastar as lágrimas. Entramos mais na casa, sem fazer nenhum som quando passamos da entrada à sala vazia. Eu olhei para cima da escada e, em seguida, no final do corredor, em direção a lavanderia. A lembrança de estar dançando com meias e cair sobre meu traseiro quando Daemon entrou sem ser convidado, me surpreendendo, chegou para mim. A respiração que tomei foi muita trêmula. Tantas lembranças. Doíam de boa e má maneira, totalmente agridoce. Daemon apertou suavemente a parte de trás do meu pescoço, e então entramos na sala de jantar. De onde estávamos, eu podia ver a cozinha. Meu coração parou no meu peito e depois acelerou. A mão de Daemon apertou. Eu a vi... vi mamãe.             Ela estava em pé na pia, de costas para nós, e oh meu Deus, era ela — brilhante cabelo loiro puxado para cima em um coque arrumado na parte de trás de sua cabeça. Não usava nenhum robe, mas sim jeans escuros e um suéter claro. As lágrimas se derramaram de meus olhos. Não podia detê-las. —Mãe? —Minha voz se quebrou. Mamãe virou. Ela esteve aqui. Ela estava bem. Ela estava viva. —Kat— Daemon gritou. Em um borrão de lágrimas que eu não podia nem mesmo ver através dele, eu era um caldeirão emocional enquanto eu corria pela cozinha, em volta da mesa, alcançando-a em segundos, e a abracei, envolvi meus braços ao redor dela.  —Mãe! Segurei-a com força, inalando o aroma de seu perfume, deixando que me alagasse, aliviando alguns dos nós no meu...             De repente, braços se encontravam ao redor de minha cintura e fui puxada contra um peito e um estômago duro. Meu cérebro corria. Não entendia que acontecia. Logo meus pés escorregavam sobre o chão e fui empurrada detrás de Daemon. Ele mantinha seus braços estendidos, me protegendo. —Daemon, pare. —Lutei para rodeá-lo, sabendo que eu deveria jogar com calma, mas isso era diferente. Não havia ninguém aqui, a não ser nós. Nós estávamos bem e queria a minha mamãe. —Katy. —Daemon disse meu nome, e a rouquidão nisto, a forma como parecia sair dele, me fez ficar muito quieta. Levantei a cabeça, respirando pesadamente e olhei ao redor do Daemon e… e pude dar uma olhada em mamãe, realmente uma boa olhada real. Todo meu mundo explodiu —se quebrou em pequenos pedaços que eram irregulares e afiados e cortavam profundo, fatiando meu interior em pedaços e me esfolando. Seus olhos... eram de um brilhante azul não natural. Tão azuis que pareciam como duas safiras recém polidas, e os olhos de mamãe… deveriam ter sido cor avelã, mais verdes que marrons, dependendo de seu humor. —Não —sussurrei, sacudindo a cabeça. — Não. Não. Mamãe inclinou a cabeça para o lado enquanto ela olhava de mim para Daemon, e então ela moveu os lábios em um sorriso que não tinha qualquer calor.  —Nós estávamos esperando por vocês. Não. Não. Não.             Libertei-me de Daemon, indo para trás enquanto olhava a mamãe —não, não a mamãe. Esta não era minha mãe. Não era ela. Os frios olhos azuis seguiam meus movimentos e seus lábios se curvaram enquanto me observava com tanta apatia que podia saboreá-la. —Não. —Minha voz era um disco riscado. Era tudo o que podia dizer e meu peito se partindo quando o horror da realidade se assentou. Mamãe não estava aqui. Ela nunca estaria aqui. Nunca mais. Porque ela tinha sido assimilada. Mamãe tinha ido embora. Para sempre.
Eu devia saber. No profundo de minha mente, isso era tudo o que podia pensar. Devia ter sabido que isto era possível. Que os Luxen invasores procurariam à mãe de Kat e fariam algo tão horrível com a esperança que Kat ou eu ou algum retornasse aqui. Ou talvez realmente não tivessem estado nos esperando, mas sim fizeram isto só para serem cruéis, porque Ethan teria conhecido a mãe de Kat, teria previsto o que ele teria feito.             No momento em que o coração de Kat se partiu, senti isso em meu peito como se tivesse sido meu, e eu tinha experimentado esse tipo de dor crua antes, quando me disseram que Dawson tinha morrido. Eu nunca quis que ela passasse pelo que ela estava sentindo, mas não havia como parar isso.             Seus olhos estavam arregalados enquanto ela cambaleava para trás, tropeçando na parede como se ela nem soubesse que estava lá, e ela não parava de dizer a mesma palavra várias vezes.             Não. As lágrimas corriam por seu rosto enquanto levantava as mãos, como se quisesse evitar a realidade, afastá-la. Em seguida se dobrou, envolvendo os braços ao redor de seu abdômen. Meu olhar foi para o Luxen de pé perto da pia, sorrindo friamente enquanto via Kat enlouquecer. Os bastardos fizeram isto com ela. A fúria me iluminou de dentro, injetando cada célula em meu corpo. Não usei a arma —o disparo, o som era muito equivocado para usar nesta situação, porque apesar de não ser a mãe dela, parecia como ela. A fêmea à minha frente reconheceu o que estava a ponto de acontecer um segundo muito tarde. Começou a mudar quando deixei sair a fúria e uma rajada da Source acertou seu peito, fazendo-a girar contra o balcão. Ela segurou-se na pia, cambaleou, mas soltei outro raio e a atingi na parte de trás de sua cabeça. A luz do Luxen explodiu com uma brilhante luz branca uma vez, e logo duas vezes, antes de apagar-se como uma lâmpada. Ela caiu sobre um saco de batatas, batendo no chão com um baque pesado. Em sua forma verdadeira, a última da luz desapareceu da rede de veias, deixando para trás uma casca de uma forma humanóide. Kat caiu sobre os joelhos, clamando enquanto inclinava seu queixo contra seu peito. Virei-me em sua direção.  —Katy… meu bem, eu… —Não haviam mais palavras exceto—: Estou tão... tão triste... Ela moveu-se de repente, plantando as mãos contra o chão da cozinha. Lançando sua cabeça para trás, gritou, e esse som estava cheio de tristeza e dor. Começou como um leve tremor debaixo de meus pés e depois aumentou, agitando a mesa da cozinha e chacoalhando os pratos e copos nos armários. Então foi um estrondo, fazendo com que a casa gemesse e pequenas nuvens de poeira caísse do teto. A mesa afundou no chão. A cadeira tombou e depois outra. Em algum lugar na sala de estar, uma janela quebrou. Kat ia levar a casa abaixo. —Merda.             Caí a seu lado, envolvendo os braços ao redor dela e recolhendo-a mais perto. Todo seu corpo tremia enquanto me sentava, aterrissando sobre meu traseiro. Puxei-a para meu colo, colocando uma mão em seu cabelo, pressionando seu rosto contra meu peito. Isso não fez nada para amortecer os soluços poderosos que agitavam todo seu corpo. Deus, eu não sabia o que fazer. Eu não sabia como aliviar isso, que era a única coisa que me preocupava no momento.             —Querida, vai ficar bem —disse por cima de sua cabeça. — Estou aqui, Kitten. Estou com você. Estou aqui. Não havia nenhum sinal de que ela me escutava enquanto se agarrava a mim, seu peito subindo e descendo rapidamente, seu pulso muito rápido. Ela se curvou sobre si mesma, seu pranto dilacerador e irregular, me destroçando. Eu deveria ter sabido. Mas não houve maneira de decifrar a presença de um Luxen aqui ou no exterior. Outros estaria vindo, mas tudo que eu podia fazer era abraçá-la, aproximá-la tanto como fosse possível enquanto olhava o teto. Uma rachadura se abriu, no meio do teto, mas a casa estava estável, além de um leve tremor dos alicerces a cada poucos segundos. Passei minha mão de cima a baixo por suas costas e pressionei um beijo no topo de sua cabeça, apesar da sensação de outro Luxen aproximando-se. Quando a porta principal se abriu de repente, escutei Dee chamando meu nome. —Aqui. Kat ainda estava tremendo em meus braços, e enquanto os soluços haviam acalmado, a explosão de emoção crua estava longe de acabar.             —O que está acontecendo…? —Dee parou fora da cozinha, no corredor. Seu olhar passava do Luxen morto do para onde nós estávamos sentados no chão.  —Kat?             Archer estava detrás dela, curvando uma mão sobre seu ombro. Ele compreendeu o que aconteceu quando eu voltei minha atenção para Kat. Colocando uma mão na parte de trás de sua cabeça, baixei a minha para que descansasse sobre a sua e esperei. Soube o momento em que Archer contou a Dee o que aconteceu, porque ela gritou e logo estava atrás de Kat, colocando as mãos sobre ela, trantando encontrar um caminho, mas eu não podia soltar Kat. —Sentimos a casa tremer —disse Dee quando seus olhos se encontraram com os meus por cima da cabeça de Kat— Sei que não devia ter vindo aqui. Que não era o plano, mas me senti preocupada. O plano se foi pela janela. Não havia forma que pudesse continuar com nada disto depois do que acabava de acontecer. Não podia tratá-la como precisaria fazer. Devia tirá-la daqui. —Dane-se isso — disse Archer em uma voz rouca, ecoando meus pensamentos. —Precisamos sair daqui, chegar a algum lugar seguro e nos reagrupar. Não podemos...              Não podíamos fazer Kat passar por isso, sem importar como acabaria. Estava me preparando para ir ao Explorer e tirá-la rápido daqui. Dane-se não só com o plano, mas sim com tudo. Fizemos nossa parte. Os Arum estavam vindo, e tudo que tínhamos conseguido fazer agora — tudo que eu tinha feito — era expor Kat a uma das piores dores que existia, a de perder um ente querido, de ver em primeira mão.
Quando Dee se afastou lentamente, deslizei minhas mãos pelos braços de Kat. 
—Devemos ir.  — disse a ele quando gradualmente fiquei de pé, levantando-a.
Suas pernas pareciam não estar funcionando quando a tive de pé, e seu rosto estava vermelho de tanto chorar, os lábios tremendo quando ela levantou a cabeça. Aqueles lindos olhos estavam frágeis. —Ir? —Sua voz falhou. Comecei a assentir, mas Kat se libertou de mim. Virou-se, e quando a segurei, girou e me bateu bem no estômago. Mal senti isso.  —Kat… — Não— ela disse, me batendo de novo. Sua mão bateu no meu braço. — Não!— Ela golpeou mais uma vez, a palma da mão acertando minha bochecha. Com os olhos muito abertos, Dee se aproximou dela, mas eu levantei a minha mão, afastando-a. Ela balançou a cabeça, quando mais um dos golpes principalmente ineficazes de Kat se conectou com outra parte do meu corpo. —Está tudo bem— eu disse a eles. —Eu os encontrarei lá fora. As sobrancelhas de Dee se franziram.  —Mas... —Vão!             Dee hesitou, mas Archer se aproximou e segurou a mão dela. Eles foram para a porta, enquanto eu me concentrava em Kat. Não tinha certeza se me via. As pupilas de seus olhos brilham branco. Moveu-se para me bater de novo e permiti a ela fazer isso. —Faça o que precisa fazer —disse, dizendo a sério. Os punhos de Kat bateram em meu peito, primeiro com alguma energia detrás deles, mas me mantive ali, e deixei que continuasse até que seus golpes diminuíram e seus ombros tremeram. Não havia nenhuma quantidade de dor que ela poderia infligir-me que seria igual o que ela estava sentindo.             —Oh, Deus —sussurrou, deixando a testa cair sobre o meu peito. — Oh Deus, ela está morta, ela está realmente morta. —Seus braços caíram aos seus lados. —Eles fizeram... isso com ela. Por quê? Eu circulei meus braços ao redor dela
—Eu não sei, querida, mas eu sinto muito, sinto muito. Ela estremeceu enquanto permanecia de pé, e eu odiava que eu não poderia dar-lhe tempo para se adaptar, para lamentar.  —Nós temos que...             O calafrio da consciência escorregou sobre minha pele, e ali estava, o sempre presente zumbido aumentando em meu crânio. Merda. Eu me virei, protegendo o corpo de Kat com o meu enquanto a porta principal se abria de repente novamente. Passos pesados fizeram o seu caminho através do hall, a sala de jantar. Eu fiquei tenso, sabendo que não era Dee ou Archer. O plano de ir para casa e eles virem até nós tinha funcionado muito bem. Ethan Smith entrou na cozinha.                                                                  
CAPÍTULO 23
O bastardo entrou como se fosse dono do lugar, completamente à vontade e sem qualquer medo. Suas malditas calça e camiseta branca inclusive pareciam engomadas. Enfiada na parte de trás de meu jeans, a pistola queimava minha pele, mas antes que pudesse pegá-la, ele falou:  —Nem sequer pense em fazer algo. Sei que nem você, nem sua irmã são bons obedecendo. Eu sabia que você seria difícil, mas sua irmã me surpreendeu. O jogo acabou. —Mal nos deu um olhar enquanto caminhava para a mesa, endireitava uma cadeira e se sentava. —Sua irmã e aquele com ela serão abatidos antes de poder piscar um olho se você me desagradar. Tenha isso em mente. Um rugido profundo subiu por minha garganta. Ele olhou para o Luxen morto e, em seguida, seus olhos violeta deslizaram de volta para nós. Ele fez um baixo som de desgosto.  —Daemon Black, eu tinha tanta esperança para você. Tomou toda minha força de vontade não explodir seu traseiro para o espaço.  —Engraçado. Você parece muito com alguém que conheci. Também a desapontei. Uma sobrancelha escura se levantou.  —Hmm. Deixe-me adivinhar. Nancy Husher? Eu apertei os dentes.  —Você está se comunicando com ela? Ethan roçou despreocupadamente as pontas de seus dedos por suas calças, e logo passou um joelho por cima da outro. —Não é bem assim, Daemon. Por favor. —Ele estendeu a mão, e duas das cadeiras capotou se elevaram na posição vertical. —Sentem-se. —Não, obrigado. — eu disse enquanto Kat se aproximava de mim. Eu não tinha ideia de que tipo de estado de espírito ela estava agora. Ethan sorriu firmemente. 
—Eu realmente não estava dando a nenhum de vocês uma opção. Sente-se ou eu vou enviar a mensagem para os outros de fora para matar a sua irmã. Lentamente.  A raiva era como um ácido amargo no meu sangue enquanto eu olhava o Ancião, ou seja lá o que ele realmente era para nossa espécie. Foi Kat quem falou, com a voz surpreendentemente tranquila, considerando o que ela tinha acabado de passar. —Vamos sentar. Olhando para ela, vi que seu rosto estava pálido e os olhos levemente inchados, mas seu olhar cinza estava aguçado. Eu peguei a mão dela. Ethan riu enquanto nos olhava.  —Diga-me, Daemon, o que fez você se apaixonar por uma humana? Como diabos eu deveria responder a isso? Sentei-me na cadeira mais próxima de Ethan, o que obrigou Kat mais a senar na mais distante.  —Por que você ainda quer saber? —Estou curioso para saber. — Ele inclinou a cabeça para o lado. — Responda-me. Meus dentes iam se quebrar. —O que há sobre ela para eu não amar? —Bem, ela é uma humana. — Seu olhar se deslizou sobre ela, seu lábio superior curvando-se. —Ela está mutada, mas no final, ela é uma humana por baixo de tudo. —Então? — Desafiou Kat. Ele a ignorou.  —Ela é humana, Daemon. —Isso não importa para mim. —Sério? Porque eu me lembro do Daemon que odiava os humanos, odiava o que eles tinham feito a seu irmão e o que provocaram para sua família — Ethan respondeu. —Eu me lembro do Daemon ao qual eu albergava enormes esperanças. —Eu estava errado em odiar os seres humanos pelo que aconteceu com Dawson. Não foi culpa de Beth ou o fato de que ele se apaixonou por ela. Foi culpa do Daedalus. —Uma organização dirigida completamente por seres humanos.
Apertei os olhos. Tudo o que eu podia fazer era mantê-lo falando, manter meu cérebro vazio de tudo que planejamos.  —Sim, obrigado pelo esclarecimento sobre isso. Ele parecia impassível.  —Você não pode me dizer que se o seu irmão nunca tivesse encontrado a garota humana, as coisas teriam sido diferentes. Mesmo com você. Talvez até mesmo o mundo inteiro teria sido diferente. Afinal, suas ações em Las Vegas nos deram a oportunidade perfeita. Um músculo ao longo da minha mandíbula começou a palpitar. Aquela garota humana. Lembrei-me dele chamando Kat assim duas vezes e eu realmente não tinha percebido o ódio puro, então, só desgosto, mas percebi agora. Oh sim, eu realmente estava sentindo agora.  —E adivinhe, Ethan? — Eu podia sentir os olhos de Kat em mim. —Eu não mudaria nada. Nem Dawson. Então, engula isso. Um clarão de luz branca cintilou por trás de seus olhos roxos. —E se eu lhe disse que seus pais estavam vivos quando chegaram aqui? Por um momento, não pensei — não podia. Suas palavras não tinham sentido. —O que? —exigiu Kat. Ethan nem sequer olhou em sua direção. Ele estava concentrado em mim como se fosse me levar para jantar mais tarde. —Seus pais, Daemon. E se eles vieram para a Terra, mas os seres humanos os mataram? Como você se sente sobre a sua preciosa humana, então? Ou qualquer ser humano? Incapaz de me impedir de reagir ao que ele estava dizendo, eu me sentei para trás e olhei para ele. Mais uma vez, eu podia sentir os olhos de Kat em mim, e eu não tinha necessidade de pensar profundamente para encontrar a resposta.  —Sim. Eu me sentiria da mesma maneira.  Ele olhou para mim com curiosidade. —Estavam... estavam vivos? — perguntou Kat. —Isso não importa. — eu respondi. E era verdade. Nada disso importava agora. —Isso é besteira. Tudo isso. —Minhas mãos se fecharam em punhos em
cima da mesa da cozinha. —O que você quer, Ethan? Por que isso? Você quer dominar o mundo ou algo assim?  —A dominação do mundo? — Ethan riu. —Isso é tão clichê. Tão malditamente estúpido. Eu não dou a mínima para governar este planeta ou qualquer planeta.  Eu levantei minhas sobrancelhas. —Meus pais foram mortos, Daemon. Mas você provavelmente já sabe disso, desde que sabe exatamente o que sou e tenho certeza que Nancy lhe disse... Bem, disse-lhe a metade da verdade. —Ethan cruzou as mãos no colo. —Eu era uma parte do primeiro grupo de Origens, antes de Nancy entrar em uma jovem e tenra idade para liderar Daedalus. Um dos primeiros grupos? É, se o que Nancy disse sobre eles fosse verdade, o primeiro grupo realmente não eram muito bons. —Quando eles perceberam que meu pai havia transformado a minha mãe, eles o capturaram. Começaram a fazer experimentos. Qualquer que seja o amor que esses dois poderiam ter tido um para o outro foi destruído pelas coisas que eles fizeram para eles e os fizeram fazer, incluindo a minha criação —, explicou, sem uma gota de emoção. — Eu era uma parte de um grupo restrito de origens, e eu cresci em um laboratório. —Isso é uma merda. Aquele sorriso tenso apareceu.  —Você não tem ideia. Eu vivi durante anos, sabendo que eles poderiam acabar com a minha vida, se eu fizesse uma coisa errada. Mais e mais, eu assisti outras origens, muito jovens para realmente entenderem o que realmente eram, serem levados e nunca mais foram visto. Eles foram mortos. E então eu os assisti matar meus pais por uma infração que cometi.  Minhas mãos, inferno, todo o meu ser, coçavam para acabar com isso.  —Como eu disse, isso é uma merda, mas eu realmente não entendo por que você está me dizendo. —Você não? — Ethan riu, e pela primeira vez, a emoção real, se espalhou pelo seu rosto. —Eu morava no laboratório de Daedalus, até que eu era velho o suficiente para ser colocado do lado de fora, em uma posição controlada. Não é como alguns que foram colocados como senadores ou médicos. Não. Eu fui
colocado dentro da comunidade Luxen, condenado a ficar de olho neles. —Ele riu. —Como se eu pudesse ajudá-los com qualquer coisa. Ou qualquer origem da minha classe faria. —Classe? —Sim. Há cerca de cinco classe. Eu era uma parte da primeira. Seu amigo lá fora estava no segundo lote, e então houve mais três. Eu estava achando que esses dois últimos eram os que incluíam o Luc e a essas malditas crianças. —Todos os Origens do seu grupo são como você? —Como eu. — ele bufou, balançando a cabeça. —Você quer dizer, se eles desejam a mesma coisa que eu, o que eu quero, já não estão sob o controle do Daedalus? A resposta é a mesma. Nenhum Origem pode realmente ser controlado por qualquer um. Somos praticamente as coisas mais próximas de deuses. Uau, murmurou Kat. —E aqueles que restam de nossa classe, que são poucos, desejam o mesmo que eu. Kat sentou para frente, deslizando as mãos fora da mesa.  —Poucos? Não resta muitos da sua... uh, classe?     Seu olhar se deslizou para ela, e eu não gostei. Nem sequer um pouco.  —Quando vocês dois escaparam do Daedalus e depois o que aconteceu em Vegas, o Daedalus começou a limpar... erradicar os origens. Suas sobrancelhas se franziram.  —Eles disseram que eles começaram a fazer isso quando os Luxen chegaram. —E você acredita em qualquer coisa que um humano diz? Claro que sim, porque é isso que você é. —Ele zombou, seu desgosto evidente, e ele estava realmente começando a me irritar. —Eles começaram a limpar a casa quando todos decidiram derrubar Vegas. Em todo o país, começamos a cair como moscas, e simplesmente se tornou o momento de acabar com isso.  —Acabar com isso. — Eu estava começando a ver onde isso estava indo. — Você encontrou uma maneira de se comunicar com os Luxen que não estivessem aqui. —Estivemos trabalhando em uma maneira de fazer isso, e vamos apenas dizer que abrimos as portas para eles. Foi um timing perfeito. —Ele abriu as mãos
amplamente. —E aqui estamos nós. A maior parte dos Luxen, tanto aqui como aqueles que chegaram recentemente, seguem minhas ordens. —O sorriso dele se transformou em uma careta. —Eu posso ser muito convincente. Kat olhou para ele. Um segundo passou.  —Você odeia os seres humanos. —Detesto-os. — ele confirmou. —Eles me enojam. Eles são fracos e frágeis. Eles são inconstantes e perigosos. Eles merecem tudo o que está vindo para eles. Os Luxen querem governá-los, e eles vão. Eles já estão, e isso é bom pra mim. Eu não ligo para o que eles fazem, desde que os seres humanos sofram e experimentem tudo o que experimentei. —Tudo isso... tudo isso é por causa do que aconteceu com você? — Perguntou ela, balançando a cabeça lentamente. Descrença colorido seu tom. Eu não a culpo. Eu também fiquei chocado. Ao menos, apoderar-se do mundo era algo ao que aspirar. Isso? Isso era apenas o ódio e uma vingança desagradável e ... sim, louco. Como ele conseguiu que tantos Luxen o seguisse, estava além da minha compreensão. Como poderia não ter visto através do que ele era? Embora, inferno, eu nunca o tinha visto pelo que ele era. —Você está fazendo isso só por causa do que foi feito para você. — Kat repetiu. —E o que fizeram com os outros de minha espécie. — Seus olhos brilharam novamente. —E o que eles teriam continuado a fazer, mesmo após o desmantelamento do Daedalus e seus projetos. —Mas há pessoas que nunca fizeram nada parecido com isso. Que teriam dado as boas-vindas aos Luxen — argumentou. —Você não pode julgar toda uma raça de seres pelo que uma pequena porcentagem de pessoas têm feito. —Já fiz isso. — respondeu ele. Jesus. Não havia palavras para isso. —Isso é loucura! — As bochechas de Kat ficaram vermelho de raiva, e caramba, ela estava certa. —Isso é pior do que a forma como os Luxen se sentem sobre os Arum e vice-versa. Isso é absolutamente...
Ethan se moveu mais rápido do que eu poderia seguir por um momento. Um segundo ele estava sentado, e no segundo seguinte ele estava bem ao lado de Kat, seus dedos se enroscando em torno de sua garganta. Eu levantei da minha cadeira, derrubando-a. Minha forma começou a mudar. Deixe-a ir. Seu agarre se apertou em seu pescoço.  —Dê um passo em minha direção. Mude ou convoque a Source, e eu vou quebrar seu pescoço. Vamos ver se você pode curá-la disso.  Meu coração — caramba — meu coração parou no meu peito enquanto eu olhava para eles. Ele me pegou pelo pescoço, porque ele tinha o meu mundo inteiro em suas mãos. Forcei a mudança a recuar e disse uma palavra que eu pensei que nunca proferiria ao bastardo. —Por favor. — Engoli em seco, mas as palavras saíram mais fácil do que eu poderia ter imaginado. —Por favor, não a machuque. Ethan zombou em seu rosto.  —Você implora por uma humana que não faria o mesmo por você? —Eu faria qualquer coisa por ela. —E eu gostaria de fazer... o mesmo por ele. — Kat disse ofegante, as mãos se apertando em seu colo. —E eu ... nunca serei tão insana como você. —Kat. — eu avisei. Os dedos de Ethan se apertaram, e ela estremeceu.  —Como? —Você é pior do que um ... Luxen. Você julgou bilhões de pessoas por algo que não fizeram. —Sua voz falhou. —Você machucou a minha mãe. Ela nunca te fez nada, e você provavelmente nem sequer sabia o nome dela.  —Aquela vadia? — Ethan cuspiu de volta. —Nem sequer vale a pena saber o nome dela. Várias coisas aconteceram ao mesmo tempo. A luz azul brilhou do lado de fora, um halo que iluminou todas as janelas e dançou sobre as paredes. O som de asas gigantes batendo no telhado. Houve gritos de quase todas as direções. Ethan levantou a cabeça, franzindo as sobrancelhas com um olhar confuso. Kat chutou a cadeira para trás, lançando uma perna para cima. Seu pé acertou na barriga de Ethan. Ela tropeçou para trás e ele caiu contra a mesa. Eu corri em direção a ela, agarrando-a pelos ombros antes que ela pudesse cair. Envolvi-a em meus braços e a levei para longe de Ethan enquanto mudava. As janelas viradas para o jardim da frente, em cima da pia, explodiram. Girei Kat para trás de mim, protegendo-a dos cacos de vidro voando. Homens de preto com protetores faciais pousaram na cozinha como algo saído de um filme de ação, suas botas esmagando o vidro quebrado. Bom, supus que o exército já tinha chegado ou que um grupo da SWAT acabava de entrar na casa errada. As enormes arma que carregavam —pistolas de energia— me disseram que minha conjetura estava correta. Fiz Kat ir para trás, não querendo que ela fosse pega no meio do fogo cruzado que estava prestes a começar, mas eu não era o único preocupado a sair do meio disso. Ethan girou, e o bastardo fugiu.
Muitas emoções estavam rodando dentro de mim. Eu era como um furacão, a ponto de acabar com tudo em meu caminho. Os meus sentidos estavam em sobrecarga e eu estava oprimida por tudo que tinha acontecido, estava acontecendo. Homens acabavam de invadir a casa através das janelas. Mamãe estava morta. O mundo inteiro parecia estar fora do seu eixo. Tudo por causa de vingança. Isso foi tudo. Nada de importante. Apenas vingança louca, e isso tinha mudado todo o mundo, o meu mundo. Não havia nenhum ponto por trás disso. Sem motivo real. Quando Ethan se virou para correr, eu não parei para pensar nisso. Eu não hesitei quando estiquei a mãos para minhas costas, puxei a coronha da pistola — a pistola modificada. Aconteceu tão rápido. Apontei enquanto os homens gritavam para Ethan. Ele já estava na pia, a ponto de desaparecer para fora da janela, e eu sabia que se ele chegasse lá nós nunca o encontraríamos. Nós teríamos que começar tudo de novo e ele nunca pagaria por tudo o que ele tinha feito.
Eu mirei na cabeça e puxei o gatilho. Tudo isso aconteceu dentro de um ou talvez dois segundos e os meses e anos que o antecederam acabaram num piscar de olhos. Ethan tombou de cara no chão da cozinha. Acabado. Morto. Tudo terminou para ele no espaço de tempo que levou para mover um dedo. O que aconteceu com a minha mãe teria levado mais tempo, foi mais doloroso. Ethan teve sorte, eu pensei entorpecida. Ele estava ali um segundo e, em seguida, partiu em um piscar de olhos. Minha mão tremia quando eu abaixei a arma, e eu estava vagamente consciente de Daemon olhando para mim e os homens estranhos se virando em minha direção, com os rostos escondidos atrás das suas máscaras, mas eu podia sentir seus olhares. Ethan estava morto. Não aconteceu o mesmo com os Luxen. Não houve show de luz antes de morrer. Ironicamente, ele deixou esta terra como os seres humanos que ele odiava — como os seres humanos que ele era, na verdade, uma parte, e como errado era isso? Sua mãe tinha sido uma híbrida, em parte humana. Ele odiava a si mesmo, também? Por que eu estava mesmo pensando sobre isso? Porque não importava. Tentei tomar um fôlego, mas ficou preso, e eu me senti fria e depois quente, muito quente. Um dos homens se virou, uma mão enluvada subindo para o lado de seu capacete. Houve uma explosão de estática e ele disse:  —Eles estão aqui. No começo eu pensei que ele queria dizer o Arum, mas os pulsos de luz que de repente iluminou-se do lado de fora me disse que não eram os Arum. —Vão! Vão! —Ordenou um dos rapazes de aparência da SWAT. Os homens — cinco deles —saiu da mesma forma que vieram, através das janelas. Atordoada, eu queria salientar a porta a meros poucos metros deles, mas depois Daemon estava estendendo o braço para mim, indo para a arma que eu ainda estava segurando. Eu me afastei dele, apertando o meu domínio sobre a arma.
—Kat... Meu olhar se deslizou de Ethan para o Luxen morto que havia assimilado a minha mãe, e enquanto eu estava ali, gritos se elevaram do lado de fora. Apesar de que era de dia, parecia como se a luz estivesse entrando pelo horizonte. Daemon amaldiçoou, sua atenção dividida entre mim e onde estava sua irmã, e tomei a decisão por ele. —Isso ainda não acabou— disse a ele em uma voz que foi lançada muito alta. Ele deu um passo calculado em minha direção, e seu queixo abaixou quando seu olhar colidiu com o meu.  —Para nós sim, Kat. Terminou. —Não. — Isso não tinha acabado. Havia muito construindo-se em mim, uma quantidade insensata de energia e raiva e mil outras emoções. —Não. —Kat... Eu me virei e corri para fora da cozinha, em direção à porta da frente. Daemon estava bem em meus calcanhares, quando eu abri a porta. Caos. Quase uma dúzia de Luxen tinham saído do espesso grupo de árvores rodeando nossas casas, e com eles havia ao menos três Origens. Eu não podia ver Dee ou Archer, mas havia corpos espalhados pelo chão, tanto Luxen quanto humanos. Explosões de armas PEP e da Source cintilavam de frente e para trás em todo o quintal. Havia mais Luxen que humanos de pé, e em suas verdadeiras formas, a sua luz era tão brilhante como o sol rompendo nuvens sobrecarregadas. Foi uma cena completa de guerra, muito parecido com o que tinha acontecido em Las Vegas. As árvores mais próximas ao pátio foram chamuscadas, e alguns dos ramos nus estavam queimando, cheio de fumaça preta no ar. Um cheiro queimado distintivo pairava no ar, gelando o meu estômago. Os Luxen estavam lançando raios nos homens de preto como se estivessem jogando bolas de beisebol, um após o outro. Uma atingiu um homem no peito, girando-o de costas no chão perto da varanda. A arma PEP bateu no chão e disparou, enviando uma explosão mortal em nossa direção. Daemon me empurrou para o lado, quando a explosão da arma rachou a porta atrás de nós, quebrando o vidro.
Com o canto da minha visão, vi o Archer correr através da entrada, disparando descargas de tiro da arma que ele tinha na mão — o mesmo tipo que eu tinha usado em Ethan. Ele acertou um Luxen, disparando como um fodão total. Um caiu... e depois outro e outro. Suas formas cintilavam, apagando e acendendo quando batiam no chão, desvanecendo-se na casca de algo parecido com um ser humano. Então eu vi Dee atrás do carro da mamãe. A cada dois segundos, ela se levantava e enviava uma explosão da Source na direção dos Luxen. Daemon se moveu ao meu redor, quando um Origem correu para a varanda, recuando enquanto uma luz branca se envolvia por seu braço em um ritmo alarmante. Daemon saltou do parapeito, abordando o Origem, antes que ele pudesse fazer uma coisa dessas. Porra, ele era como um ninja, totalmente fodão, também. Incapaz de ficar lá e não fazer nada, eu mirei com a arma e continuei disparando na direção dos Luxen até que eu puxei o gatilho e nada saiu do cano. Eu acertei dois, talvez três. Não eram disparos mortíferos, mas Archer acabou com eles com a Source. Eu desci correndo os degraus, jogando a arma de lado quando outro Origem se dirigiu para onde Daemon e o outro lutavam corpo a corpo. Daemon estava por cima, montado no imbecil, o braço dobrado para trás antes de dar um soco. Meu coração subiu até a minha garganta quando um flash de luz brancoavermelhada veio de uma direção diferente, por cima da casa de Daemon. Eu gritei o nome dele, mas era tarde demais. A energia bateu em seu ombro, derrubando-o de costas. Seu rosto se contorceu de dor quando ele agarrou seu braço, seus lábios formando uma série de maldições. Então ele mudou para sua forma verdadeira e se ergueu, sua luz branca com listras vermelhas vibrantes através dele. Ele estava prestes a desencadear todo um nível diferente de invencibilidade, mas algo profundo e cruel ainda estava se construindo dentro de mim. Meu olhar centrou no Origem no outro quintal. Estática estalou na minha pele. Fúria se fundiu com minhas células, misturando-se com a raiva e a dor que já estava lá. Isso explodiu de mim como uma onda de choque, liberando-se em uma onda de energia.
O carro de mamãe tremeu, obrigando Dee a saltar para trás. Seus olhos arregalados se voltaram para mim quando seus cachos negros explodiram em volta da cabeça dela. Sua boca se abriu, mas suas palavras foram atiradas de volta em seu rosto. A força do poder era como os ventos do furacão. Ele bateu no Explorer, ergueu-se sobre dois pneus, e, em seguida, virou de ponta cabeça. O veículo rolou para o origem, que girou e correu. Correu. Meu cérebro tinha desligado e minhas botas cavaram no chão quando tomei impulso e avancei, começando a perseguição. Eu ouvi o meu nome ser gritado, mas eu não conseguia parar e eu não podia ouvir. Meus pés ganharam velocidade, e a explosão de poder e energia rolou através de mim. Alcancei a borda da floresta, quando eu ouvi meu nome gritado através dos meus pensamentos, mas eu não parei. Eu continuei, ganhando mais e mais velocidade. Meu coração batia forte como uma britadeira batendo cimento, e meu pulso estava tão frenético como as asas batendo de um pássaro preso. Calor percorreu minha pele enquanto o meu cabelo ondeava atrás de mim. Os ramos se agarravam ao meu corpo, pegando pedaços da minha roupa, chicoteando de volta ao meu rosto e braços, como chicotes finos. Eles não me impediram. Saltei sobre rochas e troncos de árvores caídas, meus músculos gritando enquanto eu me impulsionava cada vez mais forte. Eu persegui o Origem, que permanecia um ou dois metros à minha frente pela floresta, correndo ao redor de árvores e grandes pedras. No fundo da minha mente, eu me perguntava sobre a energia violenta em meu interior e se eu teria sido testada o suficiente para garantir que eu não fosse me auto-destruir como alguns híbridos, como Carissa. E se eles não tinham, e isso... isso que eu sentia era a auto-destruição? Eu estava queimando por dentro, cheia de fúria assassina e frustração e tristeza que cortavam tão profundamente que era como um poço sem fim de ferida. E eu não podia acreditar que meu coração poderia bater tão rápido e ainda continuar. Kat!
Eu ouvi a sua voz de novo, mas eu estava focada no origem, sobre a necessidade de matá-lo, para acabar com isso, com nenhum deles fugindo. Eu não tinha ideia de quão longe eu corri, mas as árvores começaram a espaçar quando o origem olhou por cima do ombro. Algo em seu olhar fez que meus pés tropeçassem por um momento. Mas já era tarde demais. Mais à frente, eu podia ver a base do Seneca Rocks, suas manchas de quartzito brilhante à luz do sol, subindo tão alto quanto eu podia ver, seus picos, como dedos irregulares que alcançaram o céu, e eu percebi que tinha corrido por quilômetros. O Origem se liberou das árvores, e me encontrava só a alguns segundos detrás dele, quase chegando ao final do bosque, quando parei, ou tentei. Me deslizando pelo chão, levantei grama e terra enquanto olhava o terraço das casas na base das rochas, e logo meu olhar caiu, viajando freneticamente através da massa de pessoas na minha frente. Centenas, se não milhares, e na realidade não eram pessoas. Não. Eram Luxen. Talvez inclusive alguns Origens. Não importava. Meu coração quase saiu do meu peito enquanto a horrível realidade se assentava. —Oh, merda — eu disse ofegante. Um dos Luxen, uma fêmea, sorriu, enquanto eu começava a recuar, engolindo o pânico crescente. Estúpida. Estúpida. Estúpida. Eu era tão incrivelmente estúpida e imprudente e mais estúpida. Eu corri direto para a colônia de Luxen. Nem sequer tive oportunidade de escapar. Uma descarga de luz esbranquiçada me cegou por um segundo, e logo uma intensa dor se disparou por meu ombro. O poder do golpe me lançou de costas. Meus pés abandonaram o chão e vi o céu de cor azul elevando-se por cima de mim. Oh, Deus. Não havia sequer um segundo para dar o fora de lá. A explosão de luz brancovermelho me cegou por um segundo, e então a dor de fogo iluminou meu ombro. O poder do hit me bateu para trás. Meus pés saíram do chão e vi o céu azul acima de mim. Oh Deus.
Mas eu nunca bati no chão. Calor me envolveu. Braços fortes me rodearam. Fiquei suspensa por um momento, não tocando o chão, e então eu estava pressionada contra Daemon, que estava diante da colônia em sua verdadeira forma. Ele me protegia contra a sua própria espécie. Eles começaram a mudar, um após o outro, como luzes de Natal acendendo sucessivamente. Havia tantos deles, muitos. Nós não seríamos capazes de combater todos. Nós não iríamos ser capazes de escapar. E isso foi minha culpa. Eu sinto muito, eu disse para Daemon. A única coisa que eu conseguia pensar era que talvez um de nós pudesse fugir se o outro causasse a distração. Ele não merecia isso. Com o ombro palpitando e possivelmente fumegando, comecei a afastar-se dele. Sinto muito. O braço de Daemon se apertaram ao meu redor, evitando que eu me afastasse. Não. Sua voz me envolveu. Nem pense nisso. Se isso for tudo, então vamos enfrentar juntos. Sua luz recuou, revelando a forma que eu me apaixonei no princípio. As ondas rebeldes escuras, maçãs do rosto largas e brilhantes olhos cor de esmeralda.  —Juntos. — repetiu ele em voz alta. Minha respiração ficou presa, e estática acumulando no ar ao nosso redor. Meu corpo tremia da energia não utilizada e o conhecimento de que não havia escapatória. —Juntos. — eu sussurrei. Daemon abaixou a cabeça, descendo sua boca para a minha, quando uma súbita onda de ruído fez o sangue congelar nas minhas veias. Eu temia que fosse isso... o final. Os grandes carvalhos e pinheiros maciços em torno de nós se sacudiram, os ramos temendo, e os pássaros —milhares deles —, levantou voo, suas asas batendo no ar quando eles circularam muito acima da colônia de casas, virando bruscamente na direção de onde nós tínhamos vindo. Mas o que ...? A coisa mais estranha aconteceu. Nuvens, grossas e tão escuras que eram quase pretas, caíram do céu sobre Seneca Rocks, e elas continuaram a cair no chão em um ritmo rápido.
Só que isso não eram nuvens. —Oh meu Deus. — eu sussurrei. Daemon nos arrastou para trás, mais longe da linha de Luxen, quando eles começaram a mudar intermitentemente suas formas. Alguém —tinha que ser um Luxen que tinha estado na Terra ou um Origem —gritou:  —Arum!             
CAPÍTULO 24
A massa de Arum atingiu o chão, suas formas se solidificando ao subirem por cima das casas como sombras oleosas, e então cobrirem tudo como uma neve negra. Uma rajada de ar ártico soprou em nossas costas. Nos viramos e havia mais, descendo por entre as árvores, vindo rápido, quase batendo em nós ao se espalharem pelo solo como um exército de formigas. — Estão aqui — disse Daemon. — Ele está aqui. Ai, caramba, sério? Os Arum estavam por toda parte. Era como ver umas cem bolas de boliche derrubarem uns mil pinos. Os Arum do chão bateram na linha de frente, aparecendo para sugá-los inteiros quando se encontraram com os Luxen. Descendo do céu, eles pegavam Luxen, atirando-os no ar, onde eram pegos por outros Arum antes que caíssem, quando alguns se transformavam em algo que nem era sólido nem líquido. Quase tropecei para trás quando um Luxen passou voando por mim, se chocando contra uma árvore. Antes que pudesse cair, um Arum apareceu, em um borrão negro, capturando o Luxen e o atirando na árvore com força suficiente para rachar o tronco. Pedacinhos de madeira voaram pelo ar.  O Arum se solidificou em uma mulher alta com cabelo bem preto. Ela jogou o braço para trás e meteu a mão no peito do Luxen. O grito perfurou o rugir em meus ouvidos enquanto ela voltava à forma de fumaça oleosa. Um Origem caiu de... nem sei dizer onde. O impacto sacudiu os galhos acima, e uma chuva de folhas caiu quando o Origem deslizou pelo chão, levantando terra e pedras. O macho lutou para ficar de pé, soltando um raio da Source que voou sem rumo certo quando uma sombra espessa o trouxe de volta ao chão. A explosão de luz branca atingiu uma árvore, partindo o olmo grosso ao meio. Ela caiu na massa de Arum e Luxen. Alguns correram para os lados, e as luzes brilhantes dos Luxen se apagaram quando outra onda de Arum desceu para a luta. — Caramba... — respirei, mãos tremendo. Me virando, vi outro Luxen ser capturado no ar. O derramamento de sangue tinham começado a toda prova, e eu... Eu nunca vi nada como aquilo. Era uma confusão de brutalidade, e ainda assim, admirável de uma maneira perturbadora— os flashes de luzes e as sombras densas. Um contraste tão grande. Uma das formas se separou e se solidificou na nossa frente, uma criatura alta com a pele de uma obsidiana polida, e então tomou forma. Maçãs do rosto bem definidas. Lábios. Nariz reto. Um peito nu e calça de couro. Cabelo descolorido. Lotho ficou na nossa frente, cabeça jogada para trás. Líquido azul brilhante cobria seu peitoral de alabastro. Ele sorriu que nem um maníaco.  — Hora do jantar. Antes que qualquer um de nós pudesse reagir, ele foi direto para a... Deus, nem sei como chamar isso. Imaginava que foi igual a quando os índios americanos decidiram que já estavam fartos dos Peregrinos e os aniquilaram com facilidade e habilidade. Um massacre total—bem merecido, mas ainda assim um massacre. Sangue cintilante azul jorrava em todas as direções, manchando a grama e as calçadas do pequeno vilarejo. Luzes se apagavam como vaga-lumes esmagados. A luta se estendeu ainda mais, na direção do aglomerado de casas que antes eram protegidas pelo quartzo beta encrustado nas montanhas.  Telhados afundavam quando Luxen e Arum se chocavam com eles. Faíscas voaram quando fios da rede elétrica caíram no chão. Chamas surgiram de dentro das casas. Um prédio explodiu mais longe, me fazendo encolher quando uma onda de calor varreu a clareira, mas a explosão incandescente esfriou rapidamente. Outra casa explodiu—madeira e pedaços de vidros voando pelos ares. Dei um pulo, pensando ouvir Daemon me chamar, mas não conseguia dar as costas à destruição. Fogo cortou o céu. Os gritos... Vinham de todo lugar ao nosso redor, soando em minha cabeça e se arrastando pela minha pele mais que tensa. Meu estômago embrulhou. O que era idiota e um sinal de fraqueza, porque eu já tinha matado. Esse pensamento foi como uma segunda rajada de ar gélido caindo na minha cabeça. O cenário na minha frente ficou turvo. Quantas vezes matei? Deus, acho que perdi a conta. — Kat, o seu coração... — disse Daemon, tocando a minha bochecha. Seu aperto na minha cintura ficou mais frouxo, e quando os nossos olhares se encontraram e assim ficaram, não consegui acreditar que poderia haver tanta beleza no meio de tamanha carnificina. — Calma, Katy. Já passou. Sério mesmo? A energia cresceu em mim quando voltei a olhar para o... Horror que acontecia, e então me soltei. De repente, eu precisava... Não sabia do que precisava. Minha pele ainda estava tão tensa que formigava. O calor voltou, queimando de dentro. Precisava sair dali, para longe de Daemon, para longe de tudo. Minha cabeça estava uma bagunça quando me virei e comecei a correr de novo, mas dessa vez não perseguia algo. Ou talvez perseguisse a mim mesma. Não sabia nem entendia. Só corri, e não foi até sair da colônia e começar uma subida íngreme, um caminho cheio de terra e rochas, que percebi que corria na direção de Seneca Rocks. A subida foi difícil, penosa, e meus pés escorregaram várias vezes. A pressão apertava o meu peito quanto mais alto subia, até que ficou difícil respirar ou pensar de fato no que diabos eu estava fazendo. E eu realmente não queria pensar nisso, porque era loucura. Sabia que não estava tentando me autodestruir. Acho que sabia disso porque enquanto subia aquele caminho tortuoso, tropeçando em mato e escorregando em pedregulhos, lembrei de como foi com Carissa. Ela ficou como um objeto colocado em um micro-ondas que não foi feito para isso. Minhas pernas quase cederam quando alcancei o primeiro dos picos, uma parte que não era nada mais que uma saliência acima de um declive íngreme. Parei... parei de andar, parei de pensar e de subir. Respirando fundo, levantei o queixo e olhei para cima, e juro que vi fantasmas do passado. Achei que vi Dawson e Bethany me olhando de cima. Meu olhar viajou para o outro pico, abaixo do qual estava. Não vi fantasmas. Era uma lembrança, uma conversa sobre o que tinha acontecido com eles. Tudo tinha começado aqui. Dawson tinha curado Beth depois dela ter caído das rochas, o que fez com que o seu tio entrasse em contato com o Daedalus, e então, tudo, a partir daquele momento, nos levou até isso. Tudo começou com Dawson e Beth. — Kat? Prendi a respiração quando ouvi sua voz. Meu queixo tocou meu peito quando me virei, devagar. E tudo terminava com Daemon e eu. Ele me olhava da trilha, os olhos brilhantes ao me observar. Seu peito subia e descia tão rápido quanto o meu.  — Kat — falou outra vez. Minha cabeça ainda não parecia funcionar normalmente quando ele deu um passo e subiu na elevação. Recuei pela rocha lisa, a respiração pesada. Fechei os olhos e vi minha mãe — eu a vi sem os olhos azuis, mas com belos olhos cor de mel, e quando inspirei, o ar ficou preso em um soluço na minha garganta. Vi Ethan sentado na minha cozinha e depois de pé na varanda de Daemon, na primeira vez que o vi. Vi Blake, com aquele sorriso descontraído e charmoso que tinha ocultado tantos segredos. Vi Carissa, de quem nunca obteríamos respostas, e então vi incontáveis rostos cujos nomes desconhecia. — Kitten — Daemon tentou novamente, e eu abri os olhos. Eu o vi. — O que estamos fazendo? Nós. Não você. Nós. — Eu não sei — admiti com um sussurro rouco. — Eu pensei... Só precisava me afastar daquilo. — Isso é compreensível. Era, não era? Dei outro passo para trás, sem nunca tirar os olhos dos seus. Era óbvio. Eu não estava me autodestruindo. Me sentei. Ou caí no chão. Não tinha certeza. Vários momentos se passaram e lembrei da coisa mais estranha.  — Isso... Isso é que nem Snowbird. Ele me olhou como se estivesse preocupado que eu tivesse mesmo enlouquecido. Talvez tivesse.  — O quê? — A lenda que você me contou. — Me virei, olhando por cima do pico. Cada músculo em meu corpo doía. Havia uma boa chance de eu ter um buraco no ombro, e estava tão, tão cansada. — Isso é igual a Princesa Snowbird. Daemon não respondeu. — Ela subiu nessas rochas e apenas um bravo guerreiro conseguiu acompanhá-la até o fim. — Molhei os lábios secos, forçando os pulmões a se abrirem com outra inspiração farta. — Você me contou tudo quando demos aquela caminhada, antes de vermos o urso. — Meu olhar foi até ele e a sua expressão tinha suavizado. — Você me contou... Me contou sobre umas pessoas estonteantes e sobre o que havia dentro delas. — Parei, franzindo a testa. — Do modo que contou parecia tão lindo.    Ele se aproximou mais, parando na minha frente. Se ajoelhou, os olhos brilhando.  — Eu lembro. Eu disse “As pessoas mais lindas, cuja beleza só competem com o que existe dentro delas, são as que não tem ciência disso.” Ou algo assim. — Foi assim. — Assenti.  Ele inclinou a cabeça de lado.  — Estava falando de você. Aquelas palavras eram para você. Meus olhos encontraram os seus e eu engoli. Em seco. — Não tinha ideia do quanto era linda. Nem acho que tenha agora, mas é o que tem dentro de você. — Com cuidado, ele estendeu a mão e a colocou entre os meus seios. — É a coisa mais linda do mundo. O que há dentro de você. Lágrimas surgiram, e eu soltei o ar de forma estremecida. Aquelas palavras... Bem, elas fizeram algo dentro de mim. Eu não era uma assassina. Não era louca. Estava cansada e era um milhão de outras coisas, e para Daemon, também era bonita por dentro e por fora. — Obrigada. Ele fez um som na garganta ao se mover e passar os braços em volta dos meus ombros.  — Nunca precisa me agradecer por falar a verdade. Apertei sua camisa.  — Ao menos não ri da sua cara dessa vez. — Tem sempre isso. — Havia um sorriso em sua voz. — Oh, Kitten... De onde estávamos, parecia que nuvens grossas e escuras passavam, apagando pequenas estrelas, só que a massa não era de nuvens e as luzes se apagando não eram estrelas. Daemon descansou o queixo na minha cabeça ao alisar minhas costas, e eu senti o calor familiar do seu toque. — Acabou. Finalmente, eu relaxei e fechei os meus olhos, abraçada a ele. Acabou.
 
  Eu não tinha certeza se cheguei a fechar os olhos durante a noite. Talvez tivesse dormido um pouco, mas não saberia confirmar. Ficar olhando para Kat era a primeira e a última coisa que me lembrava. Ela estava enroscada junto a mim, a bochecha descansando no meu braço agora dormente. Estávamos em minha casa e antes dela ter desabado na cama, tinha vestido uma das minhas camisas que foram deixadas, intocáveis, no meu armário. Era muito grande para ela, com a gola caindo pelo ombro, expondo uma quantidade de pele tentadora. Eu era totalmente fascinado por aquela pele. Com o meu braço não dormente, passei os dedos pelo seu ombro, seguindo a sua clavícula. Passei a metade da noite fazendo isso. De vez em quando, ela conseguia se aconchegar mais, jogando uma perna por cima da minha ou apertando mais o corpo contra o meu. Me preocupava com ela. Me preocupava seriamente. Mesmo depois de descobrir o que aconteceu com a sua mãe, ela tinha aguentado firme ontem, neutralizado Ethan, e testemunhado o enxame de Arum. É, tinha surtado e fugido. Mas inferno, ela se controlou quando os Arum deram no pé da colônia depois, sofrendo pouquíssimas perdas antes de se dirigirem a Virgínia do Norte para destruí-la. Quando a notícia chegou mais tarde da noite de que os Luxen invasores tinham virado um bufê gigante para os Arum, ela tinha sorrido enquanto os outros, à nossa volta, celebravam a vitória, o fim daquela loucura. Mas não houve muito tempo para confortá-la nem para conversar de verdade sobre tudo. Tudo que fui capaz de fazer foi abraçá-la enquanto ela dormia. Não parecia o suficiente. De fato, o suficiente nunca existiu. Meu peito estava pesado pela perda, com a dor de saber que ela tinha sofrido por tanto tempo para acabar com uma morte tão desnecessária e cruel. Sua família foi arrancada dela. Seu pai perdido para o câncer e sua mãe para um da minha própria espécie. Ainda assim, como algum tipo de milagre, suas últimas palavras antes de adormecer tinham sido Eu te amo. O fato dela ainda conseguir sentir algo assim me deixava estupefato. Eu teria feito qualquer coisa para protegê-la dessa dor, mas como tantas outras coisas que eu queria voltar no tempo e apagar, essa era uma que eu teria que aprender a aceitar, que teríamos que encarar juntos. Kat se mexeu, se espreguiçando de um jeito que me lembrava demais do apelido que lhe dei. Um sorriso puxou os cantos dos meus lábios quando suas pálpebras se abriram. Sono nublava os seus olhos lindos quando eles encontraram os meus.  — Ei. — Ei pra você também. Ela tocou o meu peito nu ao varrer o meu rosto com os olhos. — Acordou faz tempo? — Nem tenho certeza se dormi. — Então, ficou me olhando dormir? Levantei um canto da boca.  — Talvez. — Bem, olha só quem está sendo o louco dessa vez. — Me chame do que quiser, eu não ligo. — Passei o polegar pelo seu lábio inferior. — Passei horas fitando o meu cenário mais lindo. Suas bochechas coraram.  — Elogios vão te conseguir tudo. — Eu já tenho tudo. — Foi fofo da sua parte. — Ela deu tapinhas no meu peito como se eu tivesse me comportado como um bom garoto, e eu ignorei as partes minhas que ficaram todas felizes com o contato. Seu olhar se afastou e circulou o quarto antes de voltar para mim. — Acabou mesmo, não foi?  Passei o braço em volta dela, ignorando a sensação de ser espetado por mil agulhas.  — Acho que sim. Quer dizer, a maior parte. As coisas vão ser diferentes. A vida vai ser diferente, mas acabou. As pálpebras de Kat baixaram quando ela mordeu o lábio de um jeito que fez aquelas partes minhas prestarem bastante atenção. — O que vamos fazer agora? — ela sussurrou.
— O que quisermos. Ela rolou de costas, mas não foi muito longe.  — Isso parece ótimo. O barulho repentino de panelas batendo na cozinha lá embaixo trouxe um sorriso cativante ao seu rosto.  — Acho que Dee e Archer acordaram. — É. Acho que os ouvi não faz muito tempo. Provavelmente estão se aproveitando do fato de que quem quer que tenha morado aqui tenha deixado a cozinha abastecida. — Franzi a testa. — Era para Archer dormir no quarto de Dawson, mas ouvi um quarto... — Daemon. — Ela riu. Suspirei.  — Eu sei. Virando uma nova página e blá, blá, blá. — Comecei a levantar. — É melhor eu ir ver... Seu braço me prendeu em volta do pescoço e me puxou para baixo. É, não resisti. Força de vontade não existia quando o assunto era ela, especialmente quando ela levantou a cabeça e me beijou. Kat estava toda quentinha e macia debaixo de mim, e aquele beijo rápido rapidamente se transformou em algo diferente. Ela enroscou a perna em volta da minha panturrilha e passou as mãos pelas minhas costas, chegando ao elástico da calça de pijama que eu tinha encontrado e deslizando embaixo. Puta merda. Esqueci que poderiam entrar no quarto, esqueci quem estava lá embaixo, e de quase tudo quando ela fez aquele som com a respiração que fez a minha pele tencionar. Suas unhas rasparam a minha pele quando coloquei as mãos debaixo daquela camisa emprestada, em toda aquela pele macia. Ela arqueou as costas para mim, e eu a queria. Eu sempre a queria. Inferno, passaria a eternidade a desejando, mas tínhamos tempo. Hoje à noite. Amanhã. Tínhamos uma semana, um mês, e um ano agora. Finalmente tínhamos um futuro e muitos mais momentos como este. Mas agora, ela precisava de mim. Suas mãos tomaram o caminho da minha frente, e um som rasgado ficou preso na minha garganta. Ok. Esclarecimento. Ela precisava de mais que isso.
Encontrando a força de vontade que achei que não tinha, mas descobri que poderia exercer quando realmente importava, me afastei dela, só um pouco, e trouxe suas mãos para onde conseguia vê-las.  Ela franziu a testa ao me olhar, os olhos de um cinza escuro e esfumaçado. Dei-lhe um beijo suave, me demorando mais do que deveria.  — Como você está? — perguntei, a voz grossa até para mim. —Um, bem, eu estava... — Não isso. — Sentei, colocando um pouco de espaço entre nós para não mudar de ideia e fazer todo tipo de coisa com ela. — Como está se sentindo depois de... depois de ontem? Ela ficou imóvel por um momento, então seu peito subiu alto quando fechou os olhos com força.  — Não quero pensar nisso agora. — Kat... — Não quero. —Ela sentou com as pernas dobradas. Tocando minhas bochechas, ela se inclinou até nossos olhos estarem no mesmo nível. Quando falou, juro que o meu coração se partiu dentro do peito. A dor das suas palavras era mais que real. — Sei o que você está fazendo, e Deus, amo você por isso, mas eu não estou pronta, Daemon. Não estou, porque não consigo nem pensar nisso sem querer derrubar essa casa ou me colocar em posição fetal. Não quero sentir nada disso. Quando perdi o meu pai, doeu... doeu muito, e eu não quero vivenciar aquela dor. A única coisa que eu quero sentir agora é você. A única coisa em que quero pensar é em como você me faz sentir. É disso que eu preciso de você. Fiquei imóvel por talvez cinco segundos, e então pulei da cama, encontrei o meu estoque, felizmente ainda preservado, peguei um pacotinho, e voltei para a cama, na frente dela, em um segundo.  — Posso lhe dar isso. Ficamos nos olhando por mais um segundo, daí ela se endireitou de leve para tirar a camisa. Esqueci como se respirava. Só com as pontas dos dedos, segui o mapa das suas curvas.  — Você é tão linda. — Beijei o buraquinho entre as suas clavículas. — É mais forte do que faz ideia. — Outro beijo no ponto atrás da sua orelha. — Para mim, você é perfeita. Coloquei tudo o que sentia no gesto que eu nunca a veria como algo garantido. Fazendo com que deitasse de costas e me colocando entre suas pernas, eu a ajudei a conter a escuridão para que a única coisa que sentisse fosse as minhas mãos, minha pele, e tudo que eu sentia por ela.
 
Depois de um banho e com outras roupas, descemos bem em tempo de comer o que sobrou dos ovos com bacon. A comida estava fria e Archer e a minha irmã nos olhavam como se soubessem exatamente por que demoramos tanto a descer, mas eu não liguei. Havia uma pontada de tristeza no sorriso que Kat deu ao olhar para eles, mas ela estava sorrindo, e eu tinha lhe dado o que queria quando precisou. Depois de terminarmos de comer, ela pediu licença e se levantou. De trás da minha cadeira, ela se abaixou e beijou minha bochecha.  — Vou ficar um pouco lá fora. Certo? Comecei a segui-la, mas percebi que ela provavelmente queria ficar sozinha por uns minutos e me disse para colar a bunda na cadeira. Mas, quando ela se virou para ir, peguei seu braço e a puxei para baixo, até conseguir lhe dar um beijo demorado e fogoso que possivelmente fez sua mente voltar ao que fizemos no quarto. Archer tossiu.  — Podem ficar à vontade, nem tem ninguém aqui. — Não ligo — murmurei ao soltar Kat, e ela olhou em volta com o rosto vermelho. Acenando sem jeito, ela se virou e correu da cozinha. Apoiei as costas na cadeira, mandando um cala a boca para Archer. Ele levantou as mãos ao se afastar da mesa e pegar o lixo, indo direto até onde a lata ficava, debaixo da pia, dentro do armário. Franzi o cenho.  — Você está bem familiarizado com a minha cozinha. Archer bufou. — Como ela está? — Dee perguntou ao sentar ao meu lado.
Suspirei.  — Como é de se esperar. Simpatia derramou de seus olhos.  — Eu não sabia que Ethan tinha matado a mãe dela, eu juro. Teria falado se soubesse. — Eu sei. — Dei tapinhas de consolação em seu braço. — Kat também sabe disso. — Que droga — disse Archer, fechando a porta do armário e endireitando a postura. — É provável que seja bom ir embora daqui. — É — murmurei, esperando que ela revelasse logo o que estava sentindo. Sabia por experiência própria como esse tipo de dor podia acabar com uma pessoa. — Vou ver... O celular de Archer tocou em seu bolso. Franzindo o cenho, ele o pegou e rapidamente atendeu.  — E aí, Luc? — falou ao voltar à pia e pegar um pano de prato. Quem diria que Archer era tão doméstico? Olhei para a minha irmã, e ela estava sorrindo olhando para ele como se ele fosse a última Coca-Cola do deserto. — O que? — Archer se virou devagar na nossa direção, a testa enrugada. — Não. De jeito nenhum. Fiquei ereto na cadeira, em alerta. Seus olhos encontraram os meus.  — É, eu sei o que você planejava fazer. Ainda vai rolar. — Houve uma pausa, e um desconforto repentino se formou nas minhas vísceras. — Eu te ligo se surgir algo por aqui. Estava de pé e Dee também na altura que ele encerrou a chamada.  — O que está acontecendo? Ele colocou o telefone no bolso.  — Nancy foi vista. — O que? — A pergunta explodiu de mim. — Mais detalhes. Archer veio até a mesa e agarrou as costas de uma cadeira.  — Luc não sabe a hora exata. Foi ontem à noite. Com tudo que está acontecendo, ele só veio saber agora. Foi perto da Geórgia. Talvez estivesse atrás da gente.
— Merda — falei, não gostando nada disso e sabendo que aquela... aquela merda tinha mesmo acabado. Não com ela... — Ele está bem irritado. Planejava matá-la. — O quê? — Você ouviu direito. Assim que isso tudo acabasse, ele mesmo queria matála. Nunca teve intenção de entregar os Origens a ela. Não havia parte dentro de mim que tenha ficado triste ao ouvir desses planos, e eu não ligava que fosse feio. Archer coçou o queixo.  — Deus, aquela mulher pode estar, literalmente, em qualquer lugar, e sabe o que, ela é imprevisível— Ele parou de falar ao se virar para olhar o relógio da parede. — Geórgia... A nossa viagem não demorou muito... Oh, merda. — Ele girou. Eu já corria para a porta da frente. Houve mais que tempo suficiente para Nancy chegar até ali, mas eu não conseguia imaginar que aquela mulher seria tão estúpida a ponto de tentar se vingar de nós. Escancarei a porta e corri para a varanda, procurando no jardim. Uma leva de ar me deixou quando avistei Kat em frente à sua casa. Ela estava ajoelhada, o cabelo preso num coque, tirando as ervas daninhas dos vasos de flores. Francamente, estava arrancando. Ela levantou a cabeça quando corri até onde ela estava. Sem dizer uma palavra, eu a levantei, colocando-a nos braços e abraçando até que ficasse sem conseguir respirar. — Ei. — Sua voz estava abafada. — Está tudo bem? Continuando o abraço, tirei seus pés do chão.  — Tá, — respondi contra o topo de sua cabeça. — Só fiquei com saudade. — Só saí tem uns minutos. Coloquei-a de volta ao chão, incerto de como contar de Nancy e na dúvida se deveria tocar no assunto. Isso podia ser mais que errado, mas Deus, não queria mencionar aquela má notícia. Não depois de tudo que ela tinha acabado de passar e do fato de eu saber que ela estava tentando se concentrar num futuro que dias atrás não tinha acreditado ser possível.  — Você é tão esquisito, às vezes — ela disse, sorrindo ao me olhar. — Mas eu ainda te... — O que quer que estivesse dizendo acabou quando alguém gritou um aviso.
O tempo se arrastou quando me virei, e mais certo que tudo, lá estava Nancy, parecendo uma louca, o cabelo escuro apontando para todas as direções, aquele terno horrível todo amassado. Ela tinha uma arma na mão, mas não parecia uma pistola comum. Parecia uma Glock transformada em outra coisa. Algo realmente mortal. Houve um momento em que o meu cérebro registrou o que estava acontecendo, o que estava prestes a acontecer, e esse momento pareceu uma eternidade quando encontrei o olhar de Nancy e o ódio lá me falou tudo o que eu precisava saber. Ela não ia me matar. Não. Ela queria que eu — um dos seus maiores prêmios — sofresse. A arma não estava apontada para mim. Nancy sorriu.  — Você destruiu tudo. O tempo que levaria para invocar a Source, um punhado de segundos, não era um risco que eu estava disposto a correr. Antes mesmo de concluir esse pensamento, eu já me movia. Minhas mãos circularam os braços de Kat quando ela levantou uma mão, preparando-se para usar sua habilidade. Eu a derrubei quando uma luz azul foi disparada, seguida por um estouro. Meus olhos encontraram os seus. Disparos explodiram da minha casa e eu ouvi Dee gritar—uma mistura de horror e do tipo de fúria que tirava vidas. Houve um estrondo da Source, um urro curto de dor, e o som de Nancy caindo no chão — morta. E então, silêncio. Olhei para baixo, entre os nossos corpos. A frente do suéter creme dela parecia errada, como se tivesse sido manchada por um pincel com tinta vermelha e... — Kitten? — falei de um sopro. O sangue não era dela. Graças a Deus, o sangue não era dela. Mas não entendia o que tinha acontecido. Nem ao menos senti. O quanto estranho era isso? Nunca levei um tiro, mas pensei que teria que doer no momento em que a bala entrasse em mim, mão não.
Agora minhas costas e meu peito queimavam. — Daemon? — ela sussurrou. Oh, merda. Meus pulmões tentavam se expandir, mas pareciam presos. Não tirei os olhos dos dela quando me levantei, tentei ficar em pé, mas percebi que meu cérebro não estava mais conectado com as minhas pernas. Eu caí em uma mão, sentindo o líquido morno correndo pela minha barriga. Meu braço cedeu e eu caí de lado. Kat, de repente, apareceu em cima de mim, e eu estava de costas, tudo o que conseguia ver eram os seus lindos olhos cinzentos—olhos que tinham se tornado toda a minha vida, provavelmente mesmo antes que eu percebesse. Mas aqueles olhos estavam arregalados de medo e brilhavam de um jeito que me fez sentir vontade de tocá-la, de ter certeza de que estava bem. Consegui levantar o braço e passar as pontas dos dedos pela sua bochecha, mas não consegui segurá-lo. Era como se o membro estivesse morto. — Daemon! Tentei responder, mas tudo que pude fazer foi me concentrar naqueles olhos. Quando ela se abaixou, seus lábios doces tão perto dos meus, meu nome em sua língua, pensei que se tivesse que morrer, se esse fosse o fim, então ao menos era ela quem eu via, e nada mais. 
CAPÍTULO 25
— Daemon? — Meu coração martelava minhas costelas, mas parecia estranho—parecia letárgico e esgotado. Fogo subia e descia correndo as minhas costas, mas eu sabia que não estava ferida. Era Daemon. Oh, Deus, era ele. Deslizei a mão pelo seu peito, gritando quando minha mão voltou encharcada de sangue azul avermelhado.  — Oh. Não... Meu nome foi chamado. Bem como o de Daemon, mas não olhei para ver o que acontecia. Meus olhos estavam presos aos de Daemon. Seus lábios, ausentes de toda cor, se mexeram, mas palavras não saíram. Isso não estava acontecendo! Não podia estar acontecendo! Não tínhamos sobrevivido a tudo o que enfrentamos, além de uma invasão alienígena, para que Daemon morresse assim. — Não! Não. Não! — procurei a fonte do ferimento, mas ele tinha levado o tiro nas costas. Aquela não era uma arma comum. A forma de Daemon começou a tremeluzir, e terror me chutou no peito. Agarrei suas bochechas quando os meus pulmões tentaram, desesperadamente, forçar o ar a entrar. Seus olhos estavam fechados.  — Abra os olhos! Droga, abra os olhos! Minhas pernas começaram a tremer com o esforço de me manter numa posição ajoelhada, e então Acher e Dee apareceram, e eu não pude evitar pensar naquela época horrível na minha casa, quando a situação foi invertida e era eu deitada no chão. Na época, pensamos que éramos puramente conectados, e que se um morresse, o outro também morreria, mas agora sabíamos a verdade. Ignorei a dor gritando pelo meu corpo e a fraqueza dominando meus músculos, invadindo o meu ser, seguido por uma frieza, um calafrio de morte. Meu coração esgotado se revirou.
— Não! — Dee gritou, caindo perto da cabeça de Daemon. Suas mãos tocaram os ombros do irmão e ela imediatamente ficou em sus forma real. Sua luz era brilhante, muito parecida com o halo de um anjo. — Cura ele, por favor. — Minha visão borrou quando comecei a me inclinar na direção do chão. — Por favor, por favor, cura ele. Archer me pegou, mas eu o empurrei, me agarrando a Daemon enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. — O que... faremos? — Não conseguia parar de olhar Daemon mudando repetitivamente de forma, sua luz belamente forte enfraquecendo, e a frieza se espalhando como uma doença dentro de mim. — Não era uma... arma comum. Era uma daquelas... armas que nos deram. Por favor... façam alguma coisa...    — É a PEP modificada. — Archer colocou as mãos em cima das minhas, o rosto retorcido em concentração. — Droga. Precisamos ter certeza que a bala saiu. Se não saiu, então. As palavras penetraram quando deslizei para o lado, incapaz de me manter erguida. Uma das minhas mãos caiu de sua bochecha. Eu não conseguia mais fazer minha língua funcionar, e arfava para conseguir respirar. Dei tudo de mim para poder alcançar Daemon. Não... Me deixe. Oh, Deus... Por favor, não... Me deixe. Eu te amo. Daemon, eu te amo. Por favor, não desista. Por favor! Acher soltou um palavrão baixo enquanto seu olhar ia e voltava, de Dee a mim.  — Kat, eu... — céu azul sem nuvens. Um céu tão lindo, mas meu coração doía. Meu peito apertou e meu corpo inteiro ficou rijo. Não. Não. Não. Era para termos essa noite e amanhã, e muitas semanas e meses, mas não tínhamos mais nem um minuto. Meu rosto estava molhado, encharcado, e meu coração diminuindo o ritmo. O mundo começou a sumir. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Então, Daemon e eu... Não tínhamos mais nada e tudo se acabou.
 
Meu corpo voltou a ligar devagar, formigando e doendo como se tivesse corrido em uma maratona zumbi e sido mordida no processo. Havia um bipe estranho. Ele me irritava, porque tudo o que eu queria era voltar àquele esquecimento, onde nada existia. Não queria lembrar exatamente por que não queria abrir os olhos. A realidade existia nas extremidades da minha consciência, uma realidade que seria fria e esmagadora e dolorosa, e eu não queria chegar perto dela. Queria continuar onde nada existia. Mas aquele bipe não me deixava retornar. Era um som fraco, e cada bipe vinha acompanhado de outro, como se perseguisse o primeiro, ou ao contrário, então fiquei ouvindo enquanto os meus dedos mexiam. Um tremor subiu pelo meu braço e fez caminho pelo meu corpo.  — Katy? Reconheci a voz e a voz era doída, porque ela me lembrava de... Não. Não podia pensar nisso. Não queria. Uma mão morna cobriu a minha e apertou com gentileza. — Katy? O bipe aumentou a velocidade, e o segundo também. O segundo. Algo se acendeu no meu peito, como uma chama minúscula criando vida. Meus sentidos se apresentaram rapidamente. Consegui sentir algo frio contra o peito —preso lá. Os bipes começaram a ficar loucos. E então, soube o que era. Um monitor cardíaco. E havia dois, um praticamente colado no outro. Dois. Isso tinha que significar que... Cercada por um aroma familiar, forcei meus olhos a abrirem e inspirei fundo. Dee estava perto de mim, seus olhos verdes brilhando de alívio.  — Apareceu. Estava começando a me perguntar se ia acordar. Minha boca ficou seca de pânico quando olhei para ela. Ela parecia bem — talvez um pouco estressada. Seu cabelo estava meio desgrenhado, o rosto um pouco pálido, mas ela sorria. Sua mão voltou a apertar a minha. Inspirei outra vez e virei a cabeça, lentamente, para a esquerda. Meu coração explodiu no peito e eu ofeguei.
Ele estava deitado lá, sua pele normal, bem bronzeada, um ou dois tons mais clara. Eu só conseguia ver metade do seu rosto, mas era um perfil forte e lindo — a mandíbula pronunciada e o nariz reto. Voltei a olhar para Dee, em confusão, e então rapidamente retornei os olhos para a cama próxima a minha, temendo piscar por medo dele desaparecer. Estava tremendo quando me apoiei para sentar.  — Eu... Eu estou acordada? — Sim. Minha respiração ficou presa, mas não daquele jeito doloroso.  — Eu não entendo. Ela se levantou da cama, me dando espaço para colocar as pernas do lado. — Você devia ir com calma. Eu a ignorei, puxando as coisas coladas ao meu peito quando coloquei os pés no chão frio. Percebi que estava usando uma bata hospitalar e que estávamos em um quarto de hospital.  — Eu não entendo. — repeti. Dee foi para os pés da cama dele e sorriu de modo cansado.  — A bala era normal, mas tinha corrente elétrica, meio que tipo em uma cápsula. Se tivesse ficado por mais tempo dentro dele, teria matado ele... — Ela parou de falar, sacudindo a cabeça. — Ela devia ter matado ele, mas ele aguentou.  Ele aguentou. Minhas pernas estavam bambas quando fui a tropeços até a cama, olhando para o subir e descer estável do seu peito. Ele estava vivo. Ele estava respirando. Meu coração estava querendo sair do peito. Fiquei sem palavras quando coloquei os dedos em seu braço. A pele estava morna e seca. Minha respiração ficou presa mais uma vez. — Archer ligou para o general e contou o que aconteceu. Ainda tinha muitos militares por perto, e ele mandou um helicóptero ir pegar vocês. Minha mão tremia quando a deslizei pelo seu braço. — Eles trouxeram vocês aqui. Estamos numa base militar em Maryland. Eles tem médicos aqui — ela explicou. — Eles conseguiram tirar a bala. Dizem que... Que ele vai ficar bem, Katy. Baixei a cabeça até o seu peito e ouvi — as batidas do coração de Daemon tão rápidas quanto as minhas.  — Oh, meu Deus... — Sentei na beirada da cama, com o ouvido preso ao seu peito. — Por favor... Me diga que isso é verdade — sussurrei, os olhos se enchendo de lágrimas. — Que eu não vou acordar outra vez e descobrir que isso é um sonho cruel. Por favor. — Não é um sonho. Eu te prometo. — Ela veio até onde eu estava e se inclinou, me abraçando de leve. — É verdade. Ele vai ficar bem, Katy. — Obrigada — falei, a voz rouca de emoção. — Diga a Archer que eu agradeço. Dee respondeu, mas eu estava concentrada no som do coração de Daemon. Só fiquei vagamente ciente que, depois de um tempo, Dee saiu do quarto. Continuei onde estava e não havia como parar as lágrimas. Elas continuavam vindo, correndo pelo meu rosto, encharcando o cobertor azul fino colocado debaixo dos seus braços.  Minutos se passaram. Talvez horas. Eu não me movi... não era capaz e não queria. Meu coração finalmente desacelerou. Bem como o dele, e então voltou a toda quando um braço pesado me abraçou a cintura. Assustada e cheia de esperança, levantei a cabeça.  Meus olhos se prenderam a um par de esmeraldas brilhantes. — Daemon — exalei. As lágrimas vieram com tudo, e o seu belo rosto ficou desfocado. Seus lábios se abriram devagar.  — Não chora, Kitten. — Como se fosse preciso muito esforço, ele levantou o outro braço, enxugando as lágrimas das minhas bochechas com as costas da mão. — Vamos. Meu peito se torceu.  — Nunca pensei... Que ouviria você falar isso de novo. Achei que tivesse ido embora e que... — Minha garganta se fechou quando coloquei a mão em cima da sua, puxando-a para a boca. Beijei as saliências dos seus ossos. Ele fez um som com a garganta.  — Achou que eu ia te deixar? Estremeci. — Eu te ouvi — ele falou, e então tentou se sentar. — Não — eu disse, os olhos se arregalando. Ele voltou a fazer aquele som, desta vez mais frustrado. 
— Ouvi você no jardim. Eu não te deixaria, Kat. Nunca faria isso. Agora... Se abaixe e me beije. — Mas você... Você levou um tiro por mim, Daemon. — Minha respiração voltou a ficar presa. — Ela ia atirar em mim e você... Você podia ter morrido. Eu achei que tinha morrido. Um momento se passou com ele me olhando como se tivesse crescido outra cabeça no meu pescoço.  — O que mais era para eu ter feito? Agora, eu que o olhava de boca aberta com mais lágrimas se formando.  — Eu te amo — ele disse, os olhos incrivelmente brilhantes ao falar essas palavras. — Se sua vida correr perigo eu vou fazer tudo o que puder para te livrar. É isso que o amor faz você fazer. Certo? — Certo — sussurrei, ainda meio que estupefata. Ele falava como se não fosse grande coisa. — Faria de novo.  Oh, Deus.  — Daemon, eu... Obrigada. Ele franziu a testa.  — Não precisa me agradecer. — Preciso sim. O canto dos seus lábios levantou.  — Ok. Me agradeça se abaixando aqui e me beijando. Foi exatamente o que fiz. Baixei a cabeça para beijá-lo com cuidado, me alegrando com o seu gosto e com o morno dos seus lábios.  — Eu te amo tanto, e vou passar todos os meus segundos te provando isso. — Gosto disso. — Ele puxou meu cabelo quando levantei a cabeça. — Onde... Nós estamos? Eu lhe dei a versão mais rápida do que Dee me contou.  — Eles não sabem ao certo como você sobreviveu. — puxei o ar para desentupir o nariz, usando o ombro para enxugar as lágrimas da minha bochecha. — Mas você é tão teimoso. Daemon tossiu uma risada seca e seu toque em minha mão apertou.  — Sabe como eu amo um desafio.
Meu coração deu um solavanco quando lembrei daquelas palavras do dia que soubemos que éramos conectados, e eu o recusei quando ele sugeriu que ficássemos juntos. Me inclinei em cima dele, passando os lábios pela sua testa. Fechei os olhos, mandei o máximo de agradecimentos que podia a todos os deuses, divindades e profetas que conhecia.  — Eu também, Daemon. Eu também.  
EPÍLOGO
  Onze meses depois…
Luz do sol forte entrava pela janela do quarto da casa conjugada na região montanhosa nos Flatirons3. Um acesso antecipado de neve de outubro tinha coberto os picos das montanhas, tornando-as brancas. Era realmente belo ali, no Colorado — o ar fresco e árvores por todo lugar. Me fazia lembrar de casa, da minha antiga casa, mas com um acesso mais fácil a coisas bem mais legais. Como o Starbucks. Que havia reaberto dois meses mais cedo, bem na época do retorno do pumpkin spice latte, um sinal certo de que a humanidade prosseguiria. Humanos provavelmente eram as criaturas mais resilientes e teimosas de todos os universos. Algo que os Luxen invasores, aqueles que tinham conseguido escapar dos Arum, tinham aprendido bem rápido. Dias depois da batalha, enquanto o nosso pequeno grupo tinha se escondido na Virgínia do Norte tentando decidir como e para onde ir, os Luxen invasores remanescentes foram embora. Tinha sido como um dia D ao contrário. Luzes tinham subido, em correntes fixas, pelo mundo inteiro, durante várias horas. Foi uma visão e tanto, igual a quando eles tinham chegado. Algo que eu jamais esqueceria. Mas todos nós sabíamos que ainda poderia haver alguns por aqui, e não havia como impedi-los de voltar. Talvez um dia voltassem, mas se aprendi alguma coisa nos últimos dois anos, foi que eu não poderia olhar na direção do futuro se vivesse no passado. Era difícil. Não se passou um dia em que não pensasse na minha mãe. Como com o
 3 Formações rochosas próximas à cidade de Bolder, Colorado. 
meu pai, ficou um pouco mais fácil, mas tinha dias em que algo acontecia ou em que eu simplesmente ficava entediada ou queria conversar com ela, e eu pegava o meu telefone, a segundos de chamar o número dela quando percebia que ela não estava mais aqui, que nunca mais estaria. Esses dias eram difíceis, cheios de lágrimas e de raiva. Eu queria ressuscitar Ethan só para poder chutar as suas partes e matá-lo mais uma vez. A fúria e a impotência e, oh Deus, a dor, eram tão recentes nesses dias. Se não fosse por Daemon e pelos meus amigos—minha nova família—seria insuportável. Olhei por cima do ombro. Daemon descansava na cabeceira da cama king-size—uma cama grande que cabia metade da minha classe de economia. Seus braços estavam cruzados debaixo da cabeça, uma perna dobrada. Sem camisa. Só um jeans desbotado, e eu sabia com certeza que só havia o jeans. O bíceps delineado atraiu o meu olhar e eu me embebedei na largura naturalmente bronzeada do seu peitoral e nos músculos marcados da sua barriga. Até hoje, eu não fazia ideia de como ele ficou com aquelas covinhas ao lado do quadril. Como, que tipo de abdominal uma pessoa faz para ganhar essa definição? A única vez que eu fazia algum tipo de abdominal era quando estava deitada e me sentava para sair da cama. Ou para pegar um chocolate. Ou um livro. Mas é Daemon Black... Bem, ele totalmente tornava tudo suportável. Ele me piscou um olho verde, e de algum modo, quando a maioria dos caras pareceria ridículo fazendo isso, ele fazendo ficava sexy.  — Gosta do que vê? Nem me dignei a responder. Ao invés disso, olhei para o meu computador, meus dedos flutuando acima das teclas—para ser exata, da tecla enter. Meu coração corria como correu quando Daemon e eu tínhamos dado entrada para as vagas, no dia que a Universidade do Colorado finalmente abriu para matrículas e voltou às aulas.  Aquilo foi demais. Ainda parecia épico. Nós dois estávamos fazendo algo que eu achei que nunca seríamos capazes de fazer. Ir a universidade parecia uma fantasia, mas tinha se tornado realidade.
Éramos universitários—Daemon e eu. Nenhum de nós tinha decidido no que íamos realmente nos formar. Não tínhamos ideia do que queríamos fazer, mas tudo bem. Descobriríamos no momento certo. — Anda logo — Daemon disse, a voz mais próxima do que eu esperava, me fazendo dar um pulo. Sua risada soprou os fios soltos de cabelo na minha testa. Ele puxou o meu rabo de cavalo, levando minha cabeça um pouco para trás. Ele me beijou, quase me fazendo esquecer o que estava fazendo, e quando levantou a cabeça, sorriu para mim.  — Você está obcecada há semanas com isso. Anda.   Mordi o lábio, sentindo o gosto dele. — Qual é. — Ele pegou uma caneta da minha escrivaninha e bateu na ponta do meu nariz com ela. Eu bati na sua mão, e ele riu. — Sua nerd leitora interior vai ter um orgasmo literário.  Franzi a testa.  — Isso... É meio estranho de se falar além de meio nojento. Ele riu ao soltar o meu cabelo. Seu olhar parou na tela do meu Mack Book novinho que eu protegeria até o fim da minha existência. Até lhe dei o nome de Brittany, porque ela tinha que ser uma garota, e era brilhante e vermelha e perfeita, e podia não ter dez dedinhos nas mãos e nos pés, mas era a minha bebê. E eu a amava. Respirando fundo, dobrei os dedos. Daemon colocou as mãos nos braços da minha cadeira e se inclinou por cima de mim. O calor que vinha dele e corria pelas minhas costas fez os cantos da minha boca subirem. Cliquei em publicar e então prendi o fôlego quando tudo na tela atualizou em um blog novinho em folha.  — Katy’s Krazy Book Obsession voltou à vida. — Ele beijou minha bochecha. — Sua nerd. Eu dei risada quando uma espécie de peso saiu dos meus ombros.  — Acho que o rosa e o marrom combinam bem. Ele deu algum tipo de resposta quando o meu sorriso cresceu em proporções maníacas. Eu quase bati palmas. E quase levantei, derrubei Daemon e corri para o nosso quarto extra, onde todos os meus livros—todas as minhas belezinhas—estavam. Depois de tudo que tinha acontecido, Daemon e eu voltamos à minha casa. Archer tinha aparecido com Dee, e nós quatro empacotamos todas as coisas. Conseguimos enviar os meus livros para o Colorado assim que decidimos que era onde íamos tentar estabelecer raízes dali para frente. O blog era muito importante para mim. Não era só fingir que tudo estava bem ou me agarrar à normalidade, mas puxá-la pelas olheiras e colocá-la em seu devido lugar. Blogar sobre livros era algo que eu amava fazer e do qual sentia uma falta imensa. Livros eram uma parte minha que eu recuperaria, começando de agora. — Ei. — Daemon apontou para a tela. — Você já tem um seguidor. — Uma sobrancelha escura arqueou. — The YA Sisterhood4? Hum. Parece ser divertido. Rolei meus olhos tanto que chegou a doer.  — Você é tão depravado. Ele mordiscou a minha orelha, me fazendo remexer na cadeira. Inclinando para frente, fechei o meu laptop para não ficar seguindo obsessivamente todos os bloggers existentes. Deixaria isso para outro dia, quando tivesse mais tempo. Quando Daemon se afastou e eu saí da cadeira, meu olhar dançou pela pilha de revistas no canto da escrivaninha, vestidos e mais vestidos de casamento me encarando, roubando um pouco do meu fôlego. Meus olhos caíram na minha mão esquerda. O diamante cintilante no meu dedo anelar chamava bastante atenção. Tinha dias que a luz batia nele do jeito certo, e ele literalmente me ofuscava, e eu me pegava olhando por vários minutos. Nós íamos casar, com direito a tudo - vestido branco, cerimônia, madrinhas e padrinhos, recepção, DJ, e o mais importante, o bolo de casamento. Dessa vez, de verdade, usando os nossos nomes verdadeiros. As identidades falsas foram deixadas para trás, embora eu meio que sentisse falta delas. Kaidan Rowe era um Hottie McHotters. Mas o General Eaton tinha mantido sua promessa. O PRA—Programa de Registro Alienígena—não nos afetou, e até o momento, ninguém nos tinha
                                              
 4 A Irmandade do YA, abreviação de Young Adult, gênero de romance com personagens no final da adolescência e/ou começo da vida adulta.
reconhecido do curto tempo em que os vídeos de Vegas ficaram disponíveis na Internet. O PRA foi a resposta do General Eaton e do governo para eliminar qualquer Luxen ou Origem que pudesse estar em espaço aéreo inimigo. Todos os Luxen, híbridos, Origens e Arum eram obrigados a se registrarem—todos com exceção de nós. Alguns dias eu me perguntava se isso mudaria, e eu acabava com nós desconfortáveis na barriga. Agora que os alienígenas tinham realmente saído do armário, e com todas as coisas terríveis que os Luxen invasores tinham feito, alienígenas não eram muito... Aceitos dentro de comunidades. Todos os dias, havia alguma notícia sobre um ataque a um suspeito Luxen ou a uma colônia. Muitos Luxen inocentes foram feridos nos últimos meses e alguns... Foram mortos só por serem o que eram. Aquilo era assustador, saber que alguém que você via todo dia, que achava que você era um humano legal e normal, poderia se voltar tão rápido contra você assim que descobrisse que não era assim. E que Deus nos livrasse da população descobrir como ônix e diamante, ou até um Taser com uma corrente baixa, poderiam nos afetar. As coisas não eram fáceis nem perfeitas, e o futuro parecia abalado às vezes, mas a vida não vinha em lindas caixas de presente. Corri os dedos pelos marcadores multicoloridos na parte de cima das revistas que separavam as páginas com os vestidos, decorações e bolos que me agradavam. Daemon não gostava muito de planejar no que dizia respeito a festa do casamento, mesmo que tenha sido sua ideia, mas sempre que eu pegava uma daquelas revistas enormes, ele não gemia nem reclamava quando via comigo. Embora parecesse fascinado, de um jeito perturbador, com as seleções de cintas-ligas. Quando levantei os olhos, ele estava me olhando com uma intensidade, daquele jeito total e absoluto que sempre me deixava sentindo como se estivesse nua na sua frente. Um calor correu pelas minhas veias. Mordi o lábio ao olhar para o relógio na parede. — Temos tempo — disse Daemon, a voz áspera como uma lixa. Arqueei a sobrancelha, mesmo quando meu coração pulou uma batida. 
— Tempo para quê?  — Oh-oh. Não dê uma de tímida comigo. — Ele arrodeou a minha cadeira vazia, fazendo o meu estômago afundar do jeito mais prazeroso possível quando veio atrás de mim. — Sei no que você está pensando. — Sabe nada. — Dei um passo para trás, enterrando os dedos no carpete. — Sei sim — ele murmurou, um lado dos lábios subindo. — É só o seu ego inflado e o seu pensamento positivo em ação. Sobrancelhas negras se ergueram.  — É mesmo, Kitten? Lutando para não sorrir, assenti ao voltar a olhar para o relógio. Tínhamos muito tempo. Encolhi os ombros.  O desafio atiçava, escurecendo o tom dos seus olhos em um verde floresta, e uma explosão de excitação dentro de mim como um fogo de artifício.  — Acho que posso provar que não é o caso. — Sei. Num piscar de olhos, Daemon estava na minha frente. Comecei a gritar com ele, porque ainda odiava isso, mas ele capturou a minha boca em um beijo ardente que mexeu diretamente com os meus joelhos.  — Só preciso de dez minutos — ele disse, a voz rouca. — O que aconteceu com o “só preciso de dois minutos” de antes? Daemon riu ao descer as mãos, pegando a bainha da minha camisa e tirando a peça do meu corpo.  — Bem, o que eu planejo fazer vai demorar mais do que isso. Ele era admiravelmente habilidoso para tirar as minhas roupas em tempo recorde. Antes que me desse conta, estava ali em pé, me sentindo um pouquinho exposta. Daemon deu um passo para trás, como se quisesse admirar o seu trabalho.  — Se não lhe disse isso antes... — Ele levantou os olhos, se demorando em meus seios até parecer um toque físico. — Eu te desejo. Sempre vou te desejar. — Sempre? — sussurrei. Ele voltou a ficar perto, as mãos se fechando em volta dos meus braços ao abaixar a cabeça, roçando os lábios pela curva da minha bochecha.  — Sempre.
Meu peito subiu, encostando no seu. A sensação me abalou. Ele emitiu um som com a garganta que retorceu as minhas entranhas. Me beijou novamente enquanto suas mãos desciam pelos meus braços para ficarem em volta da minha cintura. Estremeci, e àquela altura, não achava que precisasse nem de dois minutos. Daemon me levantou, e eu passei as pernas pela sua cintura. Ele não interrompeu o beijo em nenhum momento, e quando minhas costas tocaram o colchão, já estava sem fôlego e mil tipos de necessitada. — Quantos minutos faltam? — ele perguntou ao tirar a calça. Sorri quando ele engatinhou para cima de mim, e se abaixou, as pontas do cabelo fazendo cócegas na minha bochecha.  — Esqueci totalmente da contagem dos minutos. — Uau. Já? — ele murmurou contra os meus lábios e enroscou um braço em torno da minha cintura, me levantando para que os nossos corpos se colassem em todos aqueles pontos maravilhosos. — Estou um pouco impressionado com a minha própria habilidade. Uma risada saiu de mim e ele capturou o som com um riso e um beijo, e depois não me deu mais motivos para rir. Ele traçou um caminho de beijos ardentes pela minha testa e foi descendo, bem mais embaixo, onde se demorou até apagar completamente toda noção de tempo e do fato de que tínhamos coisas a fazer. Quando voltou a se levantar, meu corpo estremeceu assim que nossos quadris se encontraram.  — Kat, Deus... Eu te amo. Nunca chegaria o momento em que me cansaria de ouvir aquelas palavras ou de vivenciar o quanto realmente me amava. Passei os braços em volta dos seus ombros, fazendo chover beijos pela sua bochecha, lábios, e quando seu controle despedaçou, continuei. Não sei por quanto tempo se moveu enquanto eu me inundava em uma profusão de sensações, mas quando abri os olhos e seu rosto estava colado em meu pescoço, sua luz brilhante iluminava o teto. Um sorriso preguiçoso e contente me puxou os lábios quando ele levantou a cabeça e deu um beijo na minha testa molhada, e eu voltei a me apaixonar novamente. Quando ele virou para o lado, me levou junto, e eu descansei a cabeça  em seu peito, ouvindo as batidas rápidas do seu coração imitarem o ritmo do meu. Em certo momento, Daemon olhou por cima do ombro e soltou um palavrão.  — Temos dez minutos antes deles aparecerem. — Porcaria! — gritei, batendo em seu peito. Ele riu quando eu saí da cama.  — Onde está indo? — Preciso de um banho. — Tirei o cabelo do rabo de cavalo e o prendi num coque alto. Correndo em volta da cama, olhei sério para ele. Seu olhar estava fixo num ponto bem abaixo do meu rosto.  — Não precisa tomar um banho. — Sim, preciso! — abri a porta do banheiro. — Estou com cheiro de... de você! A risada alta de Daemon me seguiu no banho mais rápido que já tomei na vida, o que foi surpreendente, porque ele se juntou a mim e se banhou tipicamente como um cara. Um pouco de sabonete aqui. Um pouco ali. E pronto. Odiava homens. Houve tempo suficiente de pegar a sacola de presente da minha livraria provisória de livros maravilhosos e de descer a escada antes da campainha tocar.  Daemon passou por mim, alcançando a porta quando eu coloquei a sacola rosa de presente no sofá. Ele me lançou um olhar.  — Ainda tem o meu cheiro. Meu queixo caiu. Ele abriu a porta antes que eu pudesse gritar e subir correndo. E eu tinha certeza que minha aparência estava bem esquisitona, porque nossos convidados ficaram parados na porta, com expressões idênticas de “mas que porra é essa.” Ou podia ser que a droga do Archer estivesse espionando a minha cabeça. Seus olhos de cor ametista brilhavam de divertimento.  — Talvez. — Ele falou arrastando, e eu estreitei os olhos. — Precisa mesmo parar de fazer isso. — Dee passou por ele, seu cabelo farto e cacheado a seguindo como uma capa brilhosa em alta definição. — Sabe o que ele fez ontem? — Quero mesmo saber? — murmurou Daemon. Acher respondeu. 
— Não. — Ótimo. — Estávamos no Olive Garden, e a propósito, obrigada por voltar com a porcaria discussão sem fim sobre o pão-palito, porque acho que comemos lá, tipo umas dez vezes esse mês, e estou começando a cheirar a alho — Dee continuou, sentando na poltrona reclinável e batendo as sapatilhas no chão. — Gosto da sopa e da salada deles — ele falou, encolhendo os ombros ao caminhar até uma cadeira e sentar. Daemon enrugou a testa. — Continuando — falou Dee. — Eu achei que a nossa garçonete estava dando uma secada nele. Tipo, sem parar. Como se eu nem estivesse presente. Isso era difícil de imaginar, tratar Dee como se ela não estivesse presente. — Então eu estava, sabe como é, fazendo algo normal — ela disse. — Normal? — Archer soltou uma risada curta. — Ela estava fantasiando passar com o carro por cima da coitada da garçonete. Tipo completo, com detalhes sangrentos.  Um ombro elegante levantou quando ela deu de ombros.  — Como eu disse, não devia ler os pensamentos das outras pessoas e depois reclamar do que viu. — Não estava necessariamente reclamando — ele disse, se abaixando para tocar a curva da orelha dela com a boca. — Se me lembro bem, falei para você que era meio sexy e que me deixava com vontade de... — Tá bom — gritou Daemon. — Isso é o tipo de coisa que eu nem quero pensar. Dee franziu a testa para o irmão.  — O que foi? Acha que a gente não tem sessões selvagens... — Pare — ele avisou, usando a mão. — Sério. Eu mal gosto dele, então por favor, não me deixe com vontade de dar uma surra nele. — Mas eu gosto de você — Archer respondeu. Daemon lhe deu um olhar que faria a maior parte das pessoas correr na direção oposta.  — Eu me arrependo seriamente de sugerir que Dee arrumasse um lugar aqui. Não teria feito isso se soubesse que seria um convite, no que diz respeito a você.
— Aonde eu vou — Dee gorjeou —, ele vai. Somos como uma especial, leve dois, pague um. Se conforme e supere. Meu sorriso cresceu quando os olhos de Dee, tão parecidos com os do irmão, encontraram os meus. Era outra coisa na qual pensava muito. Os “e se” de tudo, como e se Dee não tivesse se libertado do domínio que os Luxen tiveram sobre ela. Ela teria morrido na luta ou teria sobrevivido, só para abandonar a terra ou ser caçada? Perder Dee, além do que aconteceu com a minha mãe, era algo que eu acho que nunca seria capaz de superar. E Daemon? Não queria nem pensar como ele teria sido afetado. Ele teria enlouquecido, como quase fez quando Dee se colocou contra nós.  Ela olhou para a sacolinha rosa ao colocar o cabelo para trás. — O que tem aí? — Oh! — peguei a sacola. — Uma coisa que eu encomendei. Daemon deu de ombros quando Archer olhou para ele.  — Não sei o que é. Ela não me disse. Animada com a minha descoberta, coloquei a mão dentro da sacola e tirei o pijama macaquinho para que o vissem.  — O que acham? As sobrancelhas de Daemon se ergueram quando ele leu as palavras estampadas na roupinha.  — Namorados são Melhores nos Livros? Rindo, coloquei a peça no braço da cadeira.  — Acho que Dawson e Beth vão gostar. Archer parecia confuso.  — Não entendi. — Não me surpreende — Dee respondeu com secura. — Achei lindo. — Eu também. — Eu o dobrei e voltei a guardá-lo na sacola. — Vou fazer com que ela se vicie em namorados literários bem novinha. — Ela. — Acher sacudiu a cabeça e soltou o ar. — Não sei quanto tempo vai levar para que eu me acostume a ouvir isso. — Vai precisar, porque duvido que isso vá mudar — respondeu Daemon. — Como sabe? — Archer encolheu os ombros. — Ela é uma das primeiras Origens do sexo feminino na existência. Quem sabe que coisas essa criança será capaz de fazer? — Bem, eu duvido seriamente que troca de gêneros seja uma delas. — Dee enrugou o nariz. — Pelo menos, espero que não, porque seria esquisito. Dawson e Beth tinham revelado a surpresa das surpresas quando Beth deu à luz a uma garotinha, tanto que a primeira coisa que pensei foi no Nessie5, e depois não consegui parar de gargalhar por tipo quinze minutos. — Vocês estão prontos? — perguntou Archer. Ele já estava na porta, segurando-a aberta. —Advinha quem deu notícias hoje de manhã? — Ele fez uma pausa quando Daemon passou por ele. — Não, idiota, não foi o Justin Bieber e eu não estou apaixonado por ele. Mas que merda? Daemon riu. — Quem? —eu perguntei antes que toda a conversa seguisse outro caminho. Ele sorriu para mim quando a porta se fechou, trancando-se atrás de mim. Dee já estava entrando na frente, no Jeep que Archer dirigia.  —Hunter ligou. Ele queria saber como todos estavam. Troquei um olhar com Daemon quando ele pegou em minha mão. Tivemos notícias dele e de Serena há uns meses. Eles planejavam se mudar da casa do irmão dele, queriam ir para o oeste.  — Ele se mudou? — Sim, na verdade, não está tão longe daqui. Acho que ele está em Boulder ou em algum lugar perto, já que Serena é daqui. — Archer pegou as chaves do carro e continuamos com a conversa assim que Daemon e eu entramos no carro. — Imagino que recebam uma visita deles, mais cedo ou mais tarde. — Ótimo — murmurou Daemon. Todos os sábados íamos até a casa deles. Mesmo que o bebê já tivesse idade para sair, não seria... Hmm, a melhor das ideias. O bebê tinha o hábito estranho de movimentar as coisas sem tocar nelas, fazer aquela coisa dos olhos brilhantes, e na semana passada, ela tinha levitado. Levitado do chão. A casa ficava em um acre de terra, e árvores enormes davam à frente a
                                              
 5 Monstro do Lago Ness.
privacidade mais que necessária. Dawson abriu a porta, sorrindo ao nos deixar entrar. Franzi a testa, porque ele parecia diferente. Dee ficou na ponta dos pés, esfregando sua cabeça.  — Esse é um corte de cabelo estilo papai? Ah. Era isso. Seu cabelo agora estava mais curto, bem curtinho dos lados e um pouco mais comprido no topo. Ficou bom nele. Mas também, os irmãos poderiam ficar carecas e ainda seriam lindos. — Gostei — falou Archer, sorrindo porque o corte era quase idêntico ao seu. Beth apareceu na porta que levava à sala de estar. Apoiada em seu quadril estava um bebê sorridente com uma cabeça cheia de cachinhos escuros.  — Pedi comida chinesa — ela disse, fazendo careta. — Eu ia fazer lasanha, mas... — Oh! A gente adora comida chinesa. — Dee me deu uma olhada ao se apressar para dentro da casa, imediatamente apertando as bochechas do bebê. Todos aprendemos bem rápido que Beth não conseguia nem ferver água. Pedir comida fora era a melhor opção. Fomos levados até a sala de estar, e eu não pude deixar de me admirar de como Beth estava diferente. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto, o rosto fresco e radiante. Ela ainda tinha momentos de... Escuridão e quando não parecia ter uma noção de realidade, mas ela estava muito, muito melhor. Daemon colocou a sacola de presente na mesa cheia de brinquedos da sala. No meio dos animais de pelúcia e das bonecas tinha blocos de letrinhas de bebês formando um nome. Ashley. Era mais que lindo e perfeito Dawson e Beth decidirem dar um nome em homenagem a Ash. Se não fosse pelo seu sacrifício, os três não estariam aqui hoje. — Vê isso? — o olhar de Dawson seguiu o meu, e seu sorriso cheio de orgulho era difícil de não notar. — Ela fez hoje de manhã. Meu queixo caiu.  —Ela sabe como se escreve o próprio nome? — Sim. — Beth olhou para Dawson. — Ash estava no tapete, com os brinquedos, e depois, só vimos que ela tinha soletrado o nome. Dee sentou no sofá de dois lugares, ao lado de Archer, fazendo bico. 
— Não consegui soletrar o meu nome até estar, tipo, na alfabetização, e isso é bem triste, porque meu nome tem, tipo, três letras.  Eu ri. — Quer colocar ela no braço? — perguntou Beth. Seria mal educado dizer não, então eu assenti e levantei os braços, de um jeito estranho. Eu não era boa com essa coisa de segurar bebês, mesmo depois que não eram mais recém-nascidos e tinham força nos pescoços para segurarem as cabeças. Eu simplesmente nunca sabia o que fazer com eles assim que os tinha em mãos. Tipo, devo balançar? Dar pulinhos? E santo Deus, o que eu devia dizer para eles? Um segundo depois, o pacotinho de Origem estava em minhas mãos, com os olhos roxos grandes fixos nos meus, e eu seriamente esperava que a menina não estivesse lendo os meus pensamentos e entendendo qualquer coisa que eu estava pensando. Porque eu estava um pouco preocupada em derrubá-la por acidente. Quando levantei Ashley mais perto do peito, ela foi rápida em segurar dois dos meus dedos e apertá-los. Com força. Eu dei risada.  — Uau. Ela tem força. — Ela é bem forte. — Dawson sorriu quando Beth sentou ao seu lado no sofá. —Outro dia, ela jogou o ursinho da sala até a cozinha. — Caramba — murmurou Archer. — Talvez possa ser jogadora de softbol — sugeriu Dee. A risada de Beth era leve e surpreendentemente despreocupada. — Se ela ficar mais forte, tenho medo que faça as coisas atravessarem as paredes. — Bem, isso seria bem estranho — falei para Ashley, que só fez dar uma risadinha em resposta. Seu olhar passou por cima do meu ombro, e eu pude sentir Daemon se aproximar. O olhar dela era sério, curioso, ao estudá-lo. — Não tenho certeza se ela gosta de você. Ele deu risada.  — Todo mundo gosta de mim. Archer bufou. Daemon passou os lábios pela minha bochecha ao passar os braços pela minha cintura, me abraçando enquanto eu segurava a filha de Dawson e Beth. Ashley estendeu um bracinho, abrindo os dedos gordinhos em sua mandíbula. Como sempre, ela ficava absolutamente fascinada tocando o seu rosto. Talvez um dia, eu segurasse o nosso filho. Quem sabe? Mas demoraria muito, muito tempo, tipo décadas, e eu não tinha certeza se esse dia realmente viria. A ideia de criar um filho ainda era muito alheia a nós dois, e preferíamos assim. Quando os braços de Daemon apertaram a minha cintura, soube que seríamos felizes se fosse só nós dois, ou se houvessem três. Mas eu realmente esperava que o terceiro membro da nossa família fosse um cachorrinho ou um gatinho. Bebês pareciam dar muito trabalho. O olhar de Ashley voltou ao meu, e enquanto em brincava e sorria para ela, seus lábios em formato de arco se abriram em um sorriso largo e as pupilas escuras no centro dos seus olhos clarearam de repente, ficando em um tom brilhante de branco. — Ela é especial — murmurou Daemon. Isso era. — Você é ainda mais — ele sussurrou no meu ouvido e eu ri ao me apoiar em seu abraço. Levantei os olhos, meu olhar viajando pelos rostos daqueles sentados na sala. Dee. Archer. Dawson. Beth. E então, me vi fitando os olhos brilhantes de Ashley. Ela finalmente tinha parado de apalpar o rosto de Daemon e descansou a cabeça debaixo do meu queixo, murmurando sons baixos enquanto parecia absorver tudo, como uma esponja. Dee e Beth começaram a falar sobre o casamento—meu casamento—e que cores elas esperavam que eu escolhesse. Acho que Dee estava rezando por rosa. Archer e Dawson sentaram entre elas e pareciam completamente confusos com toda aquela conversa. Meu sorriso parecia fixado, de maneira permanente, em meu rosto. Não importava o quanto o futuro ficasse difícil, essa era a minha família, e eu faria de tudo para que ficassem a salvo, mesmo se um deles no momento estivesse babando toda a minha camisa. Uma batida na porta me afastou dos meus pensamentos, e quando meu olhar varreu a sala, parou em Archer. Ele sorria que nem um idiota.
— Quem pode ser? — perguntou Daemon. — Estamos todos aqui. Dawson se levantou.  — Não tenho ideia. Deixe-me ver. Continuei olhando para Archer e o meu estômago afundou. É verdade? O sorriso de Archer aumentou. Me virando para a entrada, com a respiração presa, vi Dawson voltar à sala. Atrás dele estava alguém que não víamos desde que deixamos Montana. Luc entrou na sala, seu passo largo fácil e fluido, e caramba, tinha ficado ainda mais alto desde a última vez que o vi.  — Como ousam ter uma reuniãozinha e nem me convidar? Meus lábios se abriram em um sorriso largo, e eu quase – quase - corri e o abracei, por tantos motivos. Mas não corri, porque sabia que Luc não era dado a abraços. Dee, contudo, não entendia isso. Ela pulou de onde estava sentada como se houvesse uma mola debaixo dela, e chegou em Luc antes que ele pudesse reagir, envolvendo-o em um dos seus abraços épicos. Seus olhos levemente arregalados encontraram os meus, por cima do ombro de Dee. Era difícil chamar Luc de amigo, mas eu gostava de pensar que ele era um, e meu coração doía por ele. Até onde sabíamos, o soro—o soro Prometheus—não tinha feito o que ele esperava que fizesse com Nadia. Essa era a coisa ruim dos Daedalus. De certas maneiras, eles tiveram boas intenções, e talvez se tivessem tido mais tempo, teriam sido capazes de criar um medicamento que conseguiria erradicar a maior parte das doenças humanas. Mas nem todo mundo teve o seu final feliz. Quando ele finalmente conseguiu se libertar de Dee, ele acabou na frente de Daemon e de mim. Ele não olhava realmente para a gente, mas estudava Ashley como se eu segurasse uma nova espécie nos braços. O que era totalmente verdade. Em uma voz baixa, perguntei: — Como você está? Luc deu de ombros.  — Sabe como é, estou na minha como uma asa de galinha.
Arqueei as sobrancelhas. Daemon parecia ter engasgado.  — Falou mesmo isso? — Falei e não estou nem aí.  Eu sorri enquanto o observava inclinar a cabeça de lado.  — Ainda está com os Origens? Ele assentiu ao estreitar os olhos para Ashley.  — Por enquanto. Acho que é bom para eles, porque, como eu disse, eu sou o máximo e eles estão aprendendo com o melhor. Ninguém na sala respondeu, porque, bem, Luc era... Luc. É, os garotos Origens estavam bem melhor agora que Nancy não estava por perto e nem os Daedalus, mas o que diabos Luc estava ensinando a eles? Eu tinha certeza de que não queria saber. E também não queria saber quem estava tomando conta deles enquanto ele estava aqui. — Posso? — Luc perguntou, estendendo os braços. Meus olhos encontraram os de Beth e ela assentiu.  — Claro. Luc pegou Ashley como se tivesse muita experiência segurando pessoinhas pequenas. Ele a levantou, e Ashley parecia olhar para ele como se fosse ela estudando ele. —Olá — falou Luc. Ashley respondeu colocando uma palma de bebê na sua bochecha e agarrando seu cabelo com a outra. — Isso quer dizer que ela gosta de você — falou Dawson, entre Beth e Luc. — Interessante — ele murmurou. Ashley assoviou ou deu algum tipo estranho de risada de bebê, e Luc deu um sorriso.  — Que coisinha especial. — disse, ecoando o que Daemon falou antes. Vendo Luc se virar com Ashley para ficar de frente a Dawson e Beth, escutei vagamente a conversa que começaram. Algo a ver com batata frita, maionese, e lugares desconfortáveis, e já era tudo o que eu desejava ouvir a respeito. — Kitten? — murmurou Daemon. Virei a cabeça de leve e, como sempre, fiquei impressionada com ele, como
fiquei desde a primeira vez que bati em sua porta e quis lhe dar um soco na cara. Ele era meu, ele todo—o lado espinhoso e o carinhoso, brincalhão e amoroso. — O que foi? Seus lábios roçaram minha orelha quando ele sussurrou um monte de palavras que arregalaram os meus olhos e queimaram minhas bochechas. E eu reconheci as palavras. Eram as que ele escreveu no bilhete que tinha me passado na sala de aula há tanto tempo atrás. — Que tal, topa? — ele perguntou, os olhos ardendo em um verde luminoso. — Espero mesmo que sim. Estou pensando nisso faz, tipo, dois anos. Não me decepcione, Kitten. Meu coração estrondou que nem um trovão em meu peito quando disse as palavras mais sinceras que já pronunciei na vida. — Eu topo qualquer coisa com você, Daemon Black.

 

 

                                                                                                    Jennifer L. Armentrout

 

 

 

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