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Series & Trilogias Literarias
Lorde Drake Boscastle tem tudo, boa aparência, grande riqueza e um encanto que beira ao malvado. Certamente parece que tem tudo, exceto a felicidade. Esperando apaziguar seu crescente descontentamento, está preparado para seu apaixonado encontro com uma das mais celebres cortesãs de Londres. Mas a programada noite de prazer, e o mundo de Lorde Drake, ficam de pernas para o ar por Eloise Goodwin,
uma correta preceptora, com voluptuosas curvas e uma ingênua sedução. Ainda com uma experimentada cortesã disposta a satisfazer cada um de seus caprichos, Lorde Drake não pode esquecer seu encontro com Eloise.
Embora se sinta atraída por esse misterioso e atraente libertino, Eloise tem assuntos mais prementes para se concentrar. Sua jovem e rebelde tutelada escapou durante a noite a um local de duvidosa reputação e não aparece em nenhum lugar. Disposto a ajudar, Lorde Drake deve tentar resistir a seu desejo de cair na ofegante paixão que sente por Eloise. Um libertino não muda nunca... Ou o indomável Lorde Drake está sendo por fim domesticado?
CAPÍTULO 01
Londres, 1815.
Lorde Drake Boscastle tinha pelo menos duas horas de sofrimento na festa antes de seu encontro com uma das mulheres mais sensuais de toda a Europa. Se pela tarde corresse tudo bem como esperava, faria da famosa cortesã inglesa, Maribela St. Ives, sua próxima amante.
Certamente esperava que ela demonstrasse valer o falatório requerido por seu encontro amoroso, ou se sentiria como um maldito idiota. Tinha passado um mês trocando correspondência com ela e gastou em
presentes uma soma considerável para demonstrar sua sinceridade. Os procuradores privados de Maribela tinham levado a cabo uma investigação para analisar seu caráter. Pelas últimas notícias que Drake escutou, até seu cozinheiro foi interrogado sobre o que seu amo comia para jantar.
Seus olhos cor índigo se escureceram com ironia ante o pensamento. Qualquer minuciosa análise de seu passado teria produzido o encontro de uma joia de escândalos e indiscrições. Parecia, entretanto, que a Senhorita St. Ives não se desalentou com sua reputação. Aparentemente ele reunia qualquer aptidão que ela desejasse em um protetor. Foi convocado para conhecê-la esta noite em uma suíte privada no salão de Audrey Watson em Bruton Street. Salão, que é claro, era um eufemismo para o exclusivo bordel que sua quase mundana anfitriã, Audrey, mantinha.
Seu criado de quarto eficazmente empacotou alguns artigos pessoais e uma troca limpa de roupa, sem incomodar-se em perguntar se seu amo estaria em casa antes da manhã. Drake tinha a esperança de não retornar durante ao menos uma semana. Sua vida estava curiosamente desprovida de prazer ultimamente, incluindo o sexo.
Sua capacidade para desfrutar parecia estar minguando nestes dias.
Não poderia indicar a razão precisa por seu sentido de insatisfação, mas estava decidido que se este assunto com Maribela não melhorasse sua situação, voltaria a servir como soldado.
- Contando os minutos? - perguntou seu irmão mais novo Lorde Devon Boscastle atrás dele.
Drake olhou a seu redor, sorrindo abertamente em resposta. Um pequeno grupo de debutantes estava contemplando com ofegante antecipação Devon, cujo encanto abertamente brincalhão o fazia parecer muito menos ameaçador que seu irmão mais velho e mais intenso.
- Os segundos, chegados a este ponto. - disse secamente.
Devon diminuiu sua voz.
- Conte-me depois se a Senhorita St. Ives tem alguma irmã no mercado em busca de um protetor. Quer dizer, se pude falar coerentemente ao final da tarde.
Drake negou com a cabeça e lhe lançou um olhar sardônico através da sala.
- Vou falar toda a noite. Não ouviu que ela tem fama por sua inteligência?
- E por isso é que está interessado nela? Pela conversa?
Deu um soco no ombro de seu irmão.
- Vá dançar com as debutantes, Devon. Estão morrendo de vontade que você peça.
- Não posso dançar com todas elas de uma vez. Por que não me dá uma mão?
Ele negou com a cabeça, divertido.
- Deixarei às inocentes para você. De qualquer maneira, acredito que devo conservar minhas forças.
Um de seus amigos em comum caminhou relaxadamente atrás deles.
- Suponho que não o veremos no leilão amanhã, Boscastle. - disse a Drake em uma voz invejosa. - Condenado diabo afortunado.
A risada em resposta de Drake foi repentinamente abafada pelos ânimos que alvoroçavam as pessoas em um baile folclórico. Lançou um olhar sem entusiasmo a seu companheiro. Preferia à irmã ou esposa de um amigo a uma debutante tímida que o contemplasse com esperançoso temor ou que tagarelasse sem sentido depois da dança.
Seu olhar inquieto bateu em uma jovem morena, agradavelmente bem formada, com um simples vestido lilás e que estava olhando através da pista de baile. Mostrava-se desorientada e... talvez um pouco frenética. Tinha uma sensação interessante de pânico em seu rosto e
sua silhueta era até mais interessante. Muito boa para o que tinha em mente. Só queria passar alguns minutos agradáveis com a mulher, não casar-se com ela.
Caminhou tranquilamente para ela, limpando a voz ante o olhar superficial que lhe concedeu antes de afastar-se. Ignorou-o, foi isso que fez? Essa era uma provocação que seus impulsos malvados não poderiam recusar.
- Perdeu uma ovelha? - perguntou calmamente, seu queixo roçando seu ouvido.
Seus brancos ombros suaves ficaram rígidos. Sabia perfeitamente bem que era consciente dele, mas se recusava a voltar-se para encontrar sua atenção.
- Sim, é uma maneira de dizer - ela respondeu distraidamente.
Nesse momento outro homem poderia ter desistido. Em lugar disso, estudou seu perfil, o imperfeito nariz patrício, seu queixo teimoso, uma boca exuberantemente bem formada. Seus olhos se desviaram avaliando preguiçosamente seus ombros e as curvas de marfim de seus seios cheios por cima de seu decote.
- Procuramos juntos? - Ele perguntou, mascarando seus pensamentos atrás de um sorriso educado.
Ela inclinou sua cabeça ligeiramente para avaliá-lo. Seu rosto oval tinha uma expressão de estudado desdém que se evaporou quando seus olhos lentamente se encontraram com os dele. Pestanejou. Ele cravou os olhos nela, desfrutando com sua agradável surpresa. Era na realidade muito bonita. Viu-a morder nervosamente a seu lábio inferior antes de retirar-se com um passo curto. Não o ignoraria agora.
Reconhecia uma ameaça à virtude feminina quando a via.
- Vamos - disse ele suavemente tomando seu braço. - iremos caçar suas ovelhas na pista de baile. Por casualidade sou hábil na caça.
Ela ficou olhando cautelosamente para sua mão antes de pousar o
olhar sagaz em seu rosto. A sombra de um sorriso ergueu esses lábios exuberantemente curvados.
- Os lobos costumam sê-lo.
Ele riu surpreso com sua resposta, e a empurrou para frente. Ela combateu, resistindo, embora não houvesse espaço para que pudesse escapulir. Os convidados já tinham preenchido o espaço onde estavam parados. O salão de baile estava lotado com damas e cavalheiros elegantes. Ruidosos, também. A Drake recordava uma fazenda cheia de galinhas cacarejando e asnos zurrando, o que não falava exatamente bem de sua opinião sobre a Sociedade em seu conjunto. Mal podia ouvir o que sua relutante companheira estava tentando lhe dizer entre o falatório e a música da orquestra.
- Fale-me sobre ele mais tarde - disse ele em resposta a seu olhar angustiado.
Ele realmente não queria conversar, ou dançar neste caso.
Simplesmente queria passar tempo com esta linda desconhecida antes de uma noite de felicidade induzida pelo sexo com uma cortesã que tinha visto apenas uma vez. E até durante essa reunião ele e Maribela não tinham trocado mais que algumas palavras provocantes. Todo este assunto estava vinculado ao rumor e a insinuação, pelo que provavelmente era o que o tornava mais intrigante.
- Não é um ele - sua companheira disse forçadamente enquanto ele atraía a relutante figura aos passos da dança. Uma onda inesperada de excitação avivou seus sentidos ante o calor flexível de seu corpo. Havia uma firmeza agradável nela que o atraía. Era uma bailarina suficientemente competente para seguir a pauta sem parecer prestar atenção. Parecia mais preocupada em procurar a quem quer que seja que tivesse perdido que em seus esforços por desarmá-la. Seu olhar dissimulado a estudou enquanto ela enfrentava a pista de baile. Usava seu cabelo para trás, um pesado grupo de cachos de cabelo café
marrom realçavam sua pele cremosa. Sem joias exceto por um par de brincos de pérola. Seu vestido lilás de musselina não foi desenhado para impressionar a ninguém, tampouco. De fato, parecia uma preceptora, ou a acompanhante de uma senhora. O que explicaria porque estava procurando à ovelha perdida. Provavelmente ele causaria que a despedissem por dançar com ele.
Um cavalheiro de meia idade tropeçou nela enquanto o grupo se formava. Drake dirigiu ao homem um olhar e estendeu seu braço sem pensar para estabilizá-la. Seus seios cheios pressionaram através da lingerie branca de seu decote, outra descarga flagrante em seus sentidos. Deixou cair sua mão sobre a elevação de seu bem formado traseiro. Oh, sim. Ela parecia muito agradável, muito prometedora. Ele preferia uma mulher com formas em sua cama.
- Rogo-lhe que me perdoe - disse ela, esticando-se para trás para retirar a mão afastando-a - os dedos de alguém estão desviando-se de onde não pertenciam. - Seu bonito rosto oval refletiu uma desaprovação séria que o fez sorrir. Ela tinha os olhos de cor avelã, percebeu. De cor café escuro com ligeiras bolinhas verdes dentro. Pareciam inteligentes e não inteiramente inocentes.
- Não precisa me rogar por nada. - De repente seus pensamentos ficaram um pouco selvagens. - Por que não desfrutar por um momento?
Ela o olhou como se ele tivesse engolido uma cebola inteira.
- Desfrutar?
Ele segurou seu pulso.
- Não se permite qualquer prazer absolutamente?
- Perdi minha cliente - disse irritada antes da dança os separar outra vez, - e não estou aqui para passar um bom momento.
- Quer sair e procurá-la? -perguntou ele calmamente, a epítome da cavalheiresca preocupação. Estava tão quente como um inferno no salão de baile, e não lhe importaria induzi-la ao mau caminho na
escuridão durante um minuto ou dois.
- Lá fora - ela resmungou suas sobrancelhas arqueadas em um cenho profundo - a estrangularei se foi por ali.
Ele começou a rir. Na realidade não estava fazendo muito para impressioná-la. Confiava em ter melhor sorte mais tarde nessa noite.
- Tem sempre tantos problemas para manter sob controle seu cordeiro perdido?
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- Um exército de hussares não poderia ter sob controle essa garota
- disse ela exasperada. - Não é que ela não desfrutasse em desafiá-los, você entende.
- É isso o que faz? - Seguiu-a a porta que dava para o jardim, dando a boas-vindas à desculpa para deixar a mal ventilada sala. -Manter sob controle às pessoas revoltosas?
- Isso descreve minha atual posição. - parou bruscamente, esticando-se para trás para alcançar a porta.
Um cavalheiro teria dado um passo atrás para permitir uma distância respeitável entre eles. Drake não perdeu tempo com aparências.
- Possivelmente poderia manter a mim sob controle? - disse, provocado por algum demônio interior para atormentá-la. - Muitas pessoas me acham revoltoso.
- Estou certa de que sim. Entretanto...
Ele deslizou a mão ao redor de sua cintura para lhe abrir a porta.
Durante um momento pensou que ela finalmente reagiria.
- Você é aproximadamente duas décadas mais velho que meus clientes mais revoltosos. - Terminou de fato com uma voz depreciativa. -
Temo que você busque liberdade. Autodisciplina e tudo isso.
Ele riu com ofensa fingida.
- Duas décadas? De repente me sinto como Matusalém.
As portas se abriram. O ar úmido da noite rebateu o calor que se
erguia entre eles.
- Na realidade - murmurou ela percorrendo com o olhar à zona dos arbustos com um sorriso apenas perceptível - acredito que Mefistófeles é mais o que tinha em mente.
- Mefistófeles? - perguntou, guiando-a para fora.
- Sim. - Ela saiu para o terraço onde vários casais conversavam. - O
Diabo.
- Sei quem é - respondeu Drake. Conduziu-a casualmente para uma esquina iluminada pela brumosa luz da lua - Não acredito que seja justo me etiquetar desta maneira com tão pouco conhecimento, entretanto. -
Se ela conseguisse conhecê-lo melhor, indubitavelmente teria argumentos abundantes para chamá-lo de numerosos nomes.
- As primeiras impressões são realmente fidedignas em minha experiência. - Ela olhou com atenção sobre seu ombro enquanto um grupo de convidados desviava além deles.
- Não pareço dar muita importância a uma impressão absolutamente
- disse ele com um sorriso aberto de bom humor.
Tocou sua face ruborizada com seus dedos enluvados. Ele demandou... E repentinamente recebeu completa atenção.
- Seu dever não poderia atrasar-se por alguns momentos?
Ela levantou o olhar para seu rosto, seus olhos avelã dando a entender que não era tão imune a ele como queria fazê-lo acreditar.
- Você tem alguma ideia de quantos problemas poderia encontrar uma mulher em poucos momentos? - Ela negou com a cabeça, uma nota de diversão relutante em sua voz.
- Esse não foi um convite. Referia-se a minha cliente.
Ele inclinou sua cabeça à curva de seu queixo.
- Posso beijá-la ao menos antes que se vá? - perguntou ele, determinado a satisfazer sua curiosidade se não pudesse fazer nada mais. Essa boca suave não poderia ser tão deliciosa como parecia. Ele
não esperou sua permissão. Capturando fortemente seu queixo em seus dedos, inclinou sua boca sobre a dela e tomou posse de seus lábios tentadores. Ela ficou sem fôlego e imóvel, silenciosa, e Oh! Tão encantada. Ele sentiu como resultado um rápido toque de ardor em seu sangue. Ela suspirou uma mera exalação de fôlego, enquanto movia seu peso, amoldando-o aos contornos duros de seu corpo. Quanto tempo tinha passado desde que havia sentido o mais leve impulso de tentação?
- Isso - sussurrou ela em uma voz desigual, inclinando sua cabeça de lado - é o suficiente, obrigada.
- De nada. - Ele subiu a mão a seu suave ombro arredondado. -
Mais não foi suficiente.
- Sim, foi.
- Não, não foi.
- Isso...
- Não foi - disse ele em uma voz baixa persuasiva. - Olhe, demonstrarei.
Ela virou seu rosto lentamente de volta para ele. Desta vez quando ele a beijou, ela abriu seus lábios, permitindo que sua língua penetrasse em sua boca. Ela relaxou inesperadamente. Prendeu sem vacilar um segundo, consciente do perigo de esquecer onde estavam.
- Eu disse - murmurou ele em voz rouca.
Ela tremeu ligeiramente, parecendo deslumbrada e desejável.
- Disse o que?
Ele fechou os olhos e convocou seu controle, atraindo-a para ele durante um segundo final de autotortura. Quando a deixou ir, seus olhos brilhavam com uma paixão desconcertante e seus seios subiam tentadoramente com seu fôlego.
- Se não se importa - sussurrou-lhe, colocando a mão no coração -
Vou deixá-lo agora. Agradeço-lhe muitíssimo a dança, mas por casualidade estarei ocupada pelo resto da noite.
- Assim como eu. - Ele sorriu com tristeza em seu rosto iluminado pela lua. A plenitude úmida de sua boca convidava a outro beijo. -
Embora os prazeres imprevistos sejam os mais gratificantes, em minha experiência - disse ele, desejando tomá-la de volta nos braços.
Sua risada em resposta o assombrou.
- Estou certa de que experimentou muitos deles.
Ele sorriu abertamente enquanto ela recolhia sua saia na mão para passar ao redor dele. Ele se alegrou de que se separassem como amigos.
- Não negarei.
- Duvido que negue alguma coisa a si mesmo - replicou ela.
Ele pegou a delicada renda de sua manga, suavemente voltando-a em direção a ele.
- Então por que me nego agora? - Perguntou ele, satisfeito com o tremor que sentia nela enquanto seus corpos se tocavam.
Olhou de novo para ele como se visse diretamente através de seu convite ao vazio central de seu coração.
- Às vezes a negação é boa para a alma.
- Espere... ao menos me diga quem é. Meu nome é Drake.
Ela titubeou. Ele desceu sua mão e se apoiou contra o muro de pedra, percebendo que iria perdê-la. Parecia que ao menos deveria saber seu nome. Agradou-lhe que ela tivesse uma mente própria assim como uma sensualidade que rogava a um homem que a levasse para cama, e que não fosse nem dolorosamente insegura nem segura de si mesma, como as outras damas que eram suficientemente valentes para paquerar com ele. Fez ele se perguntar se ela alguma vez teve um amante. Diabos, não lhe importaria ser o primeiro.
- Não tenho tempo para o tipo de jogos que os cavalheiros perversos gostam de jogar - disse ela com sorriso depreciativo -trabalho muito duro para ceder à tentação.
Ao menos ele pensou que isso foi o que ela disse. Observou-a enquanto retornava sigilosamente ao salão de baile, desaparecendo na aglomeração de convidados. Por um momento considerou ir atrás dela.
Mas não queria colocá-la em problemas. Se não tivesse grandes planos previstos para a noite, poderia tê-la seguido. Deus sabia que estava cansado de putas e jovenzinhas insípidas que soltavam risinhos ou coravam por cada palavra que ele pronunciava.
Deus sabia que estava cansado da vida, na verdade.
CAPÍTULO 02
Eloise Goodwin parou no interior do salão de baile, levando um segundo
para
recuperar
a
prudência.
Sentia-se
quente
e
agradavelmente incômoda por dentro e por fora. Os bailarinos que se moviam nas sombras cambiantes e douradas da luz das velas só faziam com sua cabeça girasse em outra onda vertiginosa. Bom, essa encantadora diversão não tinha ajudado à situação absolutamente. Sua cliente poderia ter escapulido para qualquer lugar e com qualquer um, durante os momentos ilícitos que sua muito exigente acompanhante passou com esse vagabundo.
Um bruto impressionantemente bonito pensou a contra gosto. Seu coração se agitou contra suas costelas. Soube no minuto em que olhou esses sedutores olhos azuis escuro e esse rosto fortemente esculpido, que seu sorriso convidava a prazeres caprichosos. Acaso não lhe importava dançar com uma simples acompanhante? Uma dama empobrecida que estava ao limite de sua prudência e não tinha tempo para a sedução? Ou talvez por isso a tinha escolhido em primeiro lugar.
Era uma pomba gordinha, pronta para depenar muito cisne agraciado.
Soltou um suspiro triste. Ao menos, ele era um perito na arte. Eloise não recordava um só caso durante sua carreira no qual tivesse estado, nem de perto, tão tentada a render-se. É claro, nenhum dos latifundiários que lhe tinham beliscado o traseiro ou a seguido à despensa para lhe roubar um beijo, possuía uma fração da fineza deste homem. Seu beijo a tinha devastado totalmente.
Sem querer, olhou para trás, para as portas de acesso ao jardim, perguntando-se se ele teria retornado ao salão de baile. Tinha vislumbrado uma disposição temperamental atrás de seu aspecto atraente. Atraía-a, como a escuridão frequentemente o fazia, mas também a deixava em guarda. A pessoa não devia sentir nenhuma simpatia pelo diabo.
Tampouco a pessoa teria simpatia por uma mulher que galopava pela pista de baile quando tinha sido contratada para atuar como acompanhante. Deus não permitisse que um futuro cliente pudesse observar um comportamento tão indecoroso. Felizmente para Eloise, parecia pouco provável que alguém a recordasse nessa aglomeração.
Uma mulher em sua posição desejava o anonimato. Tinha passado anos deliberadamente escondida entre as sombras e não tinha nenhum desejo de atrair alguma atenção indevida sobre si mesma. Entretanto, sentiu o desejo furioso de estrangular a senhorita Thalia Thornton com suas próprias mãos por sair às escondidas do salão de baile. Eloise se limitou a se agachar para recolher um leque que uma corpulenta baronesa tinha jogado no chão. Quando olhou de novo, Thalia tinha desaparecido de sua vista.
Mordeu o lábio. Agora que pensava nisso, sua jovem cliente tinha parecido excessivamente ansiosa por assistir ao baile dessa noite, o que significava que havia um homem em questão. Na experiência de Eloise, em geral havia um quando os problemas chegavam, e os problemas pareciam definir a vida de Thalia Thornton. De fato, Eloise nunca escolheria trabalhar para sua cliente. Mais ou menos, tinha herdado a posição. Dois anos antes, esteve contente por trabalhar como acompanhante da tia avó de Thalia, Udela Thornton. Quando Udela faleceu pacificamente em uma festa de Natal no ano anterior, Eloise se preparou para empacotar suas malas e procurar emprego em outra parte.
Mas o sobrinho de Udela, Lorde Horace Thornton, intercedeu e rogou a Eloise para que servisse de acompanhante de sua irmã solteira, Thalia. Tinha-lhe prometido que a situação iria durar apenas até que Thalia se casasse. Eloise deveria ter ouvido seu instinto inicial que lhe advertiu que recusasse.
Thalia, sem pais para que a guiassem em sua condição de mulher e
um irmão que já se jogou e jogou por terra sua herança, era, bom, não havia palavras agradáveis para descrevê-la, uma garota petulante.
- Encontrou-a? - Perguntou uma preocupada voz feminina a suas costas.
Eloise afastou seu olhar das portas do jardim com uma pontada de prazer culpado. Já era hora de esquecer seu vagabundo e seus beijos roubados. A realidade se apresentou ante ela na forma pouco elegante da senhorita Mary Weston, uma acompanhante de trinta anos, empregada pela corpulenta baronesa, que por deixar cair seu leque, pôs em movimento a cadeia de acontecimentos da noite.
- Não - disse Eloise, um novo pânico inundando-a. - Não estava nos quartos de asseio?
Mary negou com a cabeça, murmurando.
- Ninguém a viu. Acha que deveria tentar na estufa? Ou em uma das salas de cima?
- Não saberia por onde começar - disse Eloise, empalidecendo ante a mera sugestão de irromper em aposentos privados. - E o que diria se surpreendesse Thalia no ato?
- Ela não seria tão tola, não é verdade? - perguntou Mary em um tom preocupado.
- É claro que sim - disse Eloise com sombria certeza.
- Mas ela está comprometida para casar-se...
- Com um homem que afirma não amar. - E tem este pobre barão tão apaixonado, que deu uma generosa bonificação à Eloise para manter um olho em sua "fogosa noiva", até que retornasse de Amsterdã. O
homem era pouco atraente, e sem dúvida, era consciente de que não tinha uma galharda figura em comparação com os homens jovens da alta sociedade que atraíam a Thalia. Eloise não se surpreenderia absolutamente se Thalia estivesse deliberadamente tentando sabotar seu próprio compromisso.
- E seu irmão? - Mary olhou a seu redor. - Lorde Thornton as acompanhou aqui, não?
- Duvido que sua senhoria recorde sequer que tem uma irmã, e muito menos lhe importe que tenha desaparecido.
Eloise se interrompeu com agitação. Uma jovem mulher acabava de voltar discretamente do jardim para o salão de baile, seu rosto radiante de segredos íntimos enquanto se afastavam. Ela soube imediatamente que a dama que voltava ao salão não era Thalia. Tampouco o cavalheiro alto a seu lado era o cafajeste de olhos azuis que distraiu Eloise de seus deveres. Por alguma razão irracional, isto acalmou seu ânimo inquieto.
Era agradável pensar que ele era um pouco exigente com quem escolhia para atrair ao mau caminho.
Mary lhe deu uma suave cotovelada.
- Vai ter que encontra-la antes que alguém mais o faça.
O pensamento estimulou Eloise para voltar à ação, lhe recordando que uma acompanhante não tinha nada que ficar fantasiando com libertinos.
- Acredite, tenho a intenção de fazê-lo.
¨¨¨¨¨¨
Drake passeava tranquilamente pela sala de jogos, em busca de seu irmão mais novo. Talvez o moço tivesse tido melhor sorte com alguém seu rebanho apaixonado de pardais, que a que ele teve, com sua encantadora, mas esquiva dama de disciplinada abnegação. Admirava seu controle, divertido de que o tivesse excitado ao mesmo tempo em que sua pequena preciosa se excitava.
Sorriu ante a lembrança prazerosa de seu breve encontro. A cálida tentação de seu corpo contra o dele ficou em seu sangue como a fumaça. Com mais tempo teria encontrado uma maneira de penetrar suas defesas. Bom, ela estava em melhor situação ter escapado. Com os falatórios da alta sociedade, no momento em que uma jovem fosse
vista em companhia de Drake, sua reputação já estava arruinada.
- Boa noite, Boscastle - murmurou um homem em uma poltrona. - É
esta a última vez que algum de nós o verá vivo?
- Se tiver sorte - disse Drake, sem parar para satisfazer sua curiosidade ociosa. Maribela St. Ives raramente toma um amante sem fanfarronar, e seu comportamento temperamental é informado frequentemente nos jornais. Ele preferia manter seus romances em uma esfera privada.
Olhou a seu redor. Um intenso jogo de cartas estava em marcha em uma mesa da janela. Um jogo de cartas para dois jogadores originário da França, o nome do jogo literalmente significa descarte. Um jogo de voltas, similar ao whist, mas com uma fase de descartes especial. Écarté foi popular no século XIX.
Reconheceu os dois jogadores à luz das velas. Um deles era um primo seu recém-chegado, Sir Gabriel Boscastle, um soldado escuro, endurecido pela experiência, que foi ferido na Espanha; o homem frente a ele era Lorde Horace Thornton, o irmão mais novo, bom para nada, de um dos últimos amigos de Drake.
Gabriel parecia tão indiferente e imperturbável como só um Boscastle podia parecer, Horace estava pálido e bebendo em excesso, perdendo, também, a julgar pelo desespero em seus olhos. Competitivo por natureza, Gabriel provavelmente lhe tiraria até o último penny. Drake deu a volta, envergonhado por Thornton. Não tinha vontade de presenciar a queda de um homem que não conhecia especialmente.
Não tinha muita vontade de nada, o que parecia ser o centro de seu dilema. Nos últimos meses tinha começado a perceber que seu descontentamento estava ficando cada vez mais agudo. Não estava seguro do por que, embora isso remontasse vagamente ao aniversário da brutal morte de seu irmão mais novo, Brandon. Drake e sua última amante se separaram nesse mesmo mês. Pensou que seu mau humor
provavelmente tinha contribuído à morte de seu romance. Ela o tinha acusado de ser um bastardo insensível. Ele não negou.
O silêncio profundo e palpitante que se estendeu pela sala, arrancou-o repentinamente de seus pensamentos. Antes que ele se virasse para investigar, o choque de furiosas vozes masculinas ressoou da mesa de jogo junto à janela.
Seu primo se levantou de sua cadeira para pegar Horace pela gravata de seda. A expressão nos lábios finos de Gabriel revelava uma fúria implacável. Horace se sacudia visivelmente como se estivesse lutando contra as lágrimas. Drake avaliou a situação com um olhar enfastiado. Tinha que haver mais na vida que isto.
- Ele estava roubando - disse Gabriel ante o cenho interrogador de Drake. - Olhe as bordas de suas cartas. Exijo uma satisfação.
Horace se liberou facilmente, golpeando uma taça de vinho sobre a mesa.
- Você servirá como meu segundo, Drake? Sei que meu irmão o defendeu uma vez no campo.
Por um instante, Drake ficou surpreso ante a presunção de Horace para reagir. Sem esquecer sua estupidez de meter-se nesta situação em primeiro lugar. Que tipo de idiota pensava que podia enganar um Boscastle e não acabar na prisão? E por que em nome de Deus, Drake desejaria envolver-se em um duelo de desonra contra seu próprio primo?
Certo, ele não gostava de Gabriel especialmente, e tinha todas as razões para supor que o sentimento fosse mútuo.
Um ano atrás ou algo assim, imediatamente teria dado uma surra em Horace por implicá-lo em uma exibição pública. Depois de tudo, Gabriel era um parente consanguíneo, embora um desumano que parecia sentir prazer em chatear Drake. Roubar era inaceitável de todo ponto de vista. Entretanto, havia algo tão patético em Horace, e seu irmão foi um bom amigo, um homem com o qual se podia contar até que
perdeu a vida na cavalaria.
Gabriel olhou para Drake sombriamente.
- É bom vê-lo de novo, primo. Sinto ter perdido o casamento de Heath. Por certo, não me ofenderei se aceitar o pedido deste tolo.
Drake não pôde conter a risada.
- Por que não?
- Juntamo-nos para o café da manhã se ambos sobrevivermos? -
perguntou Gabriel, indicando a um criado que lhe trouxesse seu casaco.
- Não estou em Londres com frequência.
Drake hesitou; não estava de todo seguro a respeito de seus planos para o dia seguinte. Supôs que seria uma continuação de sexo excitante e estimulante conversa com Maribela. Além disso, não estava certo de querer passar tempo com Gabriel. Suspeitava que fossem muito parecidos para confiar um no outro.
- Já veremos.
A boca de Gabriel se curvou em um duro sorriso. Ele tinha herdado os mesmos olhos azuis Boscastle de Drake, mas de um tom mais escuro.
- Divirta-se esta noite.
Drake assentiu com ironia. Perguntou-se se não havia um só homem em seu grupo de amigos que não tivesse ouvido que Drake Boscastle tinha sido selecionado para a invejável posição de novo protetor de Maribela. Só podia esperar que ela merecesse sua reputação, e que ele pudesse estar à altura da sua.
Gabriel ficou de lado enquanto Horace dirigia-se à porta. O homem mais jovem parecia tão patético em sua vergonha auto infligida que Drake quase se compadeceu.
- Vá para casa e durma um pouco, pelo amor de Deus. Necessitará isso amanhã.
Horace engoliu em seco.
- Com um pouco de sorte estarei morto antes do amanhecer.
Gabriel começou a rir. Drake sacudiu a cabeça com desgosto.
- Seu irmão mais velho provavelmente o mataria por uma questão de orgulho. É só por respeito a ele, que lhe estou falando.
- Já sei - disse Horace com uma voz carregada de auto reprovação.
- Suponho que não posso lhe pedir um favor mais?
- Não o faça. - Advertiu Gabriel a Drake, com divertido desprezo.
- Não vou lhe emprestar dinheiro - disse Drake rotundamente. - Suas dívidas eram uma desgraça antes desta noite.
- Não é isso - Horace diminuiu a voz. - Só quero que leve para casa minha irmã. Recorda-se de Thalia, não?
Drake se queixou.
- Refere-se à garotinha espantosa que golpeava todos no tornozelo com sua escova de cabelo a última vez que a vi?
Horace esboçou um débil sorriso.
- Ela continua sendo uma garota espantosa. Entretanto, vai se casar logo, e não golpeou ninguém com uma escova de cabelo em vários anos.
- Tenho planos para a noite, Thornton - disse Drake friamente. Era consciente de que Gabriel estava desfrutando de tudo isto.
- A única coisa que lhe peço é que a leve para casa - disse Horace com cansaço. - Não tenho coração para enfrentá-la. Pode deixá-la no caminho. - Aproximou-se lentamente à figura imóvel de Drake, e acrescentou no último momento. - Embora seja possível que deseje tomar cuidado com seu dragão. A mulher cospe fogo. Eu mesmo sinto um medo de morte.
Drake viu o sorriso que se desenhou no rosto de seu primo.
- Não tenho ideia do que está falando. Onde está Thalia, de todo modo?
Horace pareceu encolher-se de tamanho ao chegar à porta. Cada
par de olhos na sala o olhava com desprezo. Sua desgraça desta noite marcava seu final na sociedade.
- Está na festa - murmurou. - Dançando, pelo que eu sei.
Gabriel prorrompeu em um sorriso enquanto Horace desaparecia de vista.
- Acredito que você e eu nos enfrentaremos pela manhã, Drake.
- Bem - disse Drake, com humor negro - Dar-me-á a oportunidade de me vingar de você por me incomodar todos estes anos.
CAPÍTULO 03
Drake tossiu forte atrás de sua mão, depois deu um passo às sombras do conservatório para permitir a Thalia e ao homem beijarem-se em liberdade. Depois de uns momentos, entretanto ficou às claras mais o casal não se importou em ter audiência. Ao vê-los, Drake se sentiu claramente incômodo. Recordou-se que teve esses mesmos prazeres. Golpeou ao distraído Otelo no ombro.
- Muito bem. Isso é suficiente.
- Não agora - murmurou o homem agitando sua mão para ele.
Drake lhe passou o braço ao redor. Não se surpreendeu ao descobrir que era o pícaro Percy Chapman, um jovem presumido galante, cujo encanto juvenil escondia um cruel desprezo pelos outros.
Percy lhe fulminou com o olhar com uma beligerância que rapidamente se converteu em respeito quando percebeu quem o tinha interrompido.
- Infernos, Boscastle. É você. Não vê que estou um pouco ocupado neste momento?
- Acabou - disse Drake sorrindo com frieza.
- Por favor... Não é como se fosse uma de suas irmãs. -endireitou-se, puxando a mão de Thalia com seu braço e sorriu fracamente. -
Acredito que de todos os homens, você pode me entender.
- Entendo que terminou - disse Drake sem deixar rastro de simpatia.
- Agora vá embora. Sozinho. Ela não retornará ao baile em sua companhia para que todos a vejam.
- Bem. - Percy encolheu os ombros, com seu sorriso furioso. -Tudo o que quiser.
Drake se voltou com impaciência para Thalia que estava em pé com uma expressão petulante diante do vaso de barro de samambaia. Seu xale de cachemira estava no chão de ladrilhos. Recolheu-o.
- Coloque-o
- Para que?
- Para que? - Ele ergueu sua sobrancelha. - Tenho que contar até três?
- Sabe como?
Ele começou a rir.
- Realmente está procurando problemas.
Ela pegou uma folha de samambaia e lhe tocou o nariz com ela.
- Mas não pedi sua intervenção, fiz isso?
¨¨¨¨¨Ëloise apertou sua mão sentindo um ponto de dor do lado. A estufa era o último lugar da festa que olharia. Correu além da figura de cabelo claro que caminhava para ela fazendo virar o relógio de bolso. Percy Chapman pensou com desprezo fingindo que não o reconhecia. Bom, ao menos não estava com a Thalia. Tinha-os encontrado um par de vezes às escondidas em outra festa juntos.
Entrou na estufa, seu olhar se foi diretamente à sombra do homem em pé com Thalia entre um grupo de samambaias. Seu perfil cinzelado e ombros amplos enviou uma sensação de ira. Oh! O muito canalha. Seu canalha. Os olhos azuis formosos do canalha que havia descaradamente a beijado no terraço. Certamente, não tinha perdido o tempo em procurar outra oportunidade de sedução. Olhá-lo tentando colocar em Thalia o xale sobre seus braços. Quando provavelmente foi ele quem o tirou em primeiro lugar.
- Você! - exclamou caminhando entre as duas figuras e as folhagens de samambaia frisadas. Agarrou o xale de suas mãos. - Não é uma surpresa? Deveria saber.
Ele se voltou e lhe deu um sorriso indolente.
- E eu deveria saber que esta é a imbecil que estava procurando antes. - Um humor escuro se acendeu em seus olhos enquanto olhava para Eloise. - Meu deus, é você o dragão.
- Desculpe. - Thalia estreitou os olhos com indignação. - A quem chama imbecil?
- A você - disse Drake sem olhá-la.
- Acredito que merece uma boa bofetada por isso. - Olhou para Eloise com um olhar suplicante. -Eloise tem minha permissão para lhe dar uma bofetada.
- Oh, lhe dê uma bofetada você mesma - disse Eloise, ainda tentando recuperar o fôlego. O ponto de lado não lhe incomodava nem a metade que a decepção de encontrar seu sedutor escuro no meio de outra sedução e com Thalia entre todas as pessoas. Era sua pupila os planos que tinha mencionado para esta noite?
Ele cruzou os braços sobre o peito e olhou desafiante para Thalia.
- Acredito que deve ser você a açoitada já que estamos com o tema dos castigos corporais. Senhorita dragão, pegue sua pupila.
- Parece-me que é você quem está pedindo um pouco de disciplina,
- disse Eloise em voz baixa.
- Não coloquei a mão sobre ela, obrigado por perguntar. - Olhou para Thalia com um cenho franzido. - É possível que queira, neste ponto, confessar a verdade.
Thalia obstinadamente se negou a pronunciar uma só palavra.
Eloise o estudou com suspeita dissimulada. Ele devolveu o olhar, um pouco desafiante e também com todo seu atrativo. Bom que se supunha que tinha que acreditar.
- A verdade - disse com uma voz rangente - é que encontrei você e a senhorita Thornton visivelmente desalinhada. Estou equivocada?
Drake sentiu-se insultado na realidade pela mera sugestão de seduzir um pássaro ingênuo como Thalia. Sabia que o lindo dragão só estava fazendo seu trabalho e um muito desagradável que deveria ser.
Não havia dúvida de que trabalhava em excesso e era mal paga. Sua difícil situação despertou a pouca simpatia que era capaz de sentir estes
dias. De fato a mulher tinha um talento para despertar nele alguma coisa.
- Pergunte à senhorita Thornton - disse apoiando seu quadril contra a parede. - E enquanto está nisso pode perguntar a garota quem estava fazendo um curso completo de comidas em seu rosto.
Ela franziu sua exuberante boca em uma recriminação.
- Esse não seria Percy Chapman, não é? - exigiu de sua pupila que nesse momento batia a ponta de sua sapatilha. - Estou muito decepcionada. O que lhe disse antes de sair de casa?
Thalia a olhou desafiante.
- Pediu-me que não dançasse com Percy. E não o fiz. - Lançou um ardiloso olhar para Drake. - Estava dançando?
- É difícil dizer - falou com voz aborrecida recolhendo uma folha de samambaia da manga. - De onde eu estava se moviam juntos como um só.
O dragão empalideceu e fechou os olhos. Drake rogava ao céu que não desmaiasse sobre ele. Iria chegar tarde a sua entrevista amorosa; e seria terrivelmente incômodo procurar um lacaio para que se ocupasse dela.
Decidiu que não seria demais lhe dar uma sacudida suave para ter certeza. No momento em que a tocou, entretanto, desejou ter ignorado o impulso. Seus ombros eram suaves em suas mãos e uma agradável perturbação em seus sentidos. Sabia quando a tinha beijado no jardim e que queria abraçá-la outra vez. Isto não era o que tinha tido em mente.
- Dragão - disse com um suave alarme - Está bem?
- Como estaria você nessas circunstâncias? - sussurrou e logo abriu os olhos para ver seu rosto. - Estavam completamente vestidos, não é verdade?
- Estavam quando os encontrei - disse com calma. - Não tenho nem ideia do que fizeram antes.
- Isso não é tranquilizador. - Olhou de repente para baixo, suas mãos unidas. - Por que me agarra com tanta força?
- Pensei que iria desmaiar.
- O que lhe fez pensar isso? - exigiu ela.
Sentia-se um pouco estúpido por se incomodar.
- Devido a ter ficado branca e fechar os olhos e isso é o que fazem as mulheres quando começam a desmaiar.
Ela diminuiu a voz.
- Pode ser que se sentisse como se pudesse desmaiar se lhe tivessem confiado cuidar da senhorita Thornton até seu casamento em três semanas.
- Por seu irmão? - perguntou ele divertido afastando-se de Thalia para falar em privado.
- Seu noivo. - Ela hesitou. - Não deveria lhe revelar isto, mas sentia um pouco de medo que desaparecesse no último momento e fugisse com um libertino. - Fez uma pausa significativa. - Parece que há um montão deles em Londres esta temporada.
Drake olhou além dela para a jovem em seda amarela, quem era uma libertina em formação se nunca tivesse conhecido a uma, e tinha conhecido algumas. De fato, uma libertina profissional estava esperando-o neste momento. Libertou sua sujeição sobre os ombros da atraente acompanhante. Não podia imaginar qualquer um que desejasse casar-se com uma imbecil como Thalia, mas o que sabia ele? Sentia-se atraído pelo dragão.
- Desejo-lhe sorte em sua árdua tarefa. Menos mal que falte apenas três semanas para o casamento.
O brilho frio de cinismo em seus olhos o pegou com a guarda baixa.
- Tem alguma ideia de quantos problemas um homem e uma mulher pode encontrar quando seguem seus instintos indisciplinados? Tem alguma ideia de todos os pecados que podem cometer em vinte e um
dias? Não é que esteja contando.
Drake decidiu não responder, poderia ter escrito uma enciclopédia sobre o tema seguindo os mais baixos instintos. Por agora, entretanto era mais seguro ser um cavalheiro. Estendeu seu braço para a escada.
- Senhoras, o Senhor Thornton me pediu que as acompanhasse a casa.
Thalia o olhou com um sorriso malévolo.
- Eloise acho que sei aonde vai esta noite - disse em voz baixa. -
Todo mundo na festa falava sobre seu encontro amoroso.
Deu uma olhada à outra mulher pelo canto dos olhos. Seu dragão tinha um nome bonito. Eloise.
O olhar dela se ergueu para seu rosto para avaliá-lo em silêncio.
Percebeu então que uma mulher tão formosa como ela e em sua posição comum provavelmente ofereceria uma oportunidade mais que o próprio pecado. Não teve a oportunidade de prová-lo recentemente?
Perguntou-se o que teria que fazer para persuadi-la.
- Seu irmão foi surpreendido roubando nas cartas esta noite, Thalia -
ele disse com um tom de desaprovação em sua voz. - Vai duelar pela manhã e me pediu servir como seu segundo.
Thalia olhou impotente para seu acompanhante, que Drake quase se sentiu como um cão por lhe dizer a desgraça de seu irmão.
- Fez de novo, Eloise.
- Ficamos nesta festa o tempo suficiente - disse Eloise logo pegando à menina pelo braço. - Não esqueça que amanhã vai tomar o café da manhã com sua futura sogra. - Fez uma pausa antes de murmurar. -
Caso seu irmão consiga sobreviver a este duelo não só com sua vida se não com sua dignidade.
CAPÍTULO 04
Eloise tirou seu manto ante a janela do dormitório de Thalia enquanto a carruagem negra, mais abaixo passava pelas sombras da rua London. Esteve totalmente enfocada em conseguir pôr à garota a salvo em casa que não tinha agradecido apropriadamente ao cavalheiro por sua cortesia. Chegaria tarde a seu encontro, pensou. Apesar de sua paquera no jardim, lhe tinha dado a impressão durante o breve passeio na casa da cidade alugada de Lorde Thornton em Hill Street que ele não podia esperar para desfazer-se de seu dever.
Infelizmente Eloise sabia exatamente como se sentia. Apenas três longas semanas, no máximo, desta tortura, consolou-se. As três semanas mais angustiosas para proteger a Senhorita Thornton da tentação antes de entregá-la em estado casadouro a seu ingênuo noivo.
Eloise esperava fervorosamente que seu "anjo loiro" chegasse impoluta junto ao apaixonado mercador de meia idade, Sir Thomas Heaton, a quem obviamente não tinha ideia de que demônio feminino o esperava.
O baronete lançou um olhar para Thalia através de uma abarrotada sala de sessões e fez uma proposta a seu irmão no ato. Thalia zombou de seu ardente interesse com suas amigas até que percebeu que seu admirador tinha uma fortuna no comércio dos condimentos. Eloise pensava que o pobre homem merecia algo melhor, mas a beleza da Thalia o tinha deslumbrado por suas imperfeições. Não era assunto seu, de qualquer modo.
Depois de tudo, a opinião de uma acompanhante não era nem procurada nem apreciada. E ela tinha seu próprio futuro incerto para considerar. Já tinha solicitado seu seguinte posto, esse de instrutora na academia privada que Emma Boscastle, Viscondessa de Lyons, abriu em Londres depois de fechar sua pequena mais aclamada escola na Escócia. Sua entrevista preliminar com Lady Lyons, algumas semanas atrás, foi bem. Eloise foi convidada de novo a tomar o chá e se
assegurou de que ela estava debaixo de séria ponderação.
Bobamente, possivelmente, colocado todas suas esperanças em trabalhar para a viscondessa, cujos altos padrões em relação às obrigações sociais eram admirados amplamente por aqueles que apreciavam muito o refinamento. Eloise aspirava desenvolver tais padrões de comportamento ela mesma, até que sua cliente desafiasse essa dedicação a cada hora.
Tinha conseguido frustrar a inclinação da Senhorita Thornton pelo julgamento pobre a cada passo. Ao menos até agora. Mas o esforço tinha esgotado suas reservas emocionais. Vivia em um estado constante de terror se por acaso Thalia encontrasse uma maneira de desonrar ambas antes do casamento.
Olhou por cima de seu ombro. Infelizmente Eloise entendia muito bem as escolhas que uma garota podia encontrar no caminho ao matrimônio, tendo caído em um buraco sujo ela mesma uma vez. E
tendo saído de uma situação difícil com pura determinação. Estava absolutamente decidida a acompanhar Thalia ao altar com algemas se fosse necessário. O esforço requerido para isto, a fazia considerar que merecia o dinheiro que o baronete lhe tinha prometido, uma indenização prevista se fosse necessário, embora Sir Thomas desse a entender que desejaria seus serviços quando ele e Thalia tivessem um herdeiro.
Que perspectiva tão pouco atraente. Eloise preferiria esfregar pisos na academia de elite de Lady Lyons antes que perseguir meninas selvagens por uma casa de campo enquanto se esquivava dos avanços dos carinhosos vizinhos que pensavam que uma preceptora era presa fácil.
Uma suave batida seca atrás dela cortou seus pensamentos aflitos.
Deu uma olhada ao redor com uma débil irritação. Thalia estava arrastando um pequeno baú através do aposento para seu armário.
Eloise a observou durante um momento.
- Que diabos está fazendo?
Thalia fez uma pausa, mas não se virou. Se Eloise não tivesse estado tão profundamente confundida em seus pensamentos, teria sentido algo se deslocado.
Mas suas defesas estavam reduzidas. A hora era tardia, e Lorde Thornton ainda não tinha retornado para sua desgraça. Poderia haver um duelo na manhã, e tomaria o café da manhã com a mãe do baronete em seu hotel. Eloise requeria o descanso de uma noite completa para confrontar as provocações do dia seguinte.
- O que está fazendo? - Repetiu um pouco bruscamente. Perguntou-se no que pensaria o baronete se amarrasse sua futura esposa ao poste de sua cama até o dia de seu casamento.
- Estou procurando algo adequado para pôr no café da manhã de amanhã.
Eloise se voltou enquanto Thalía jogava um vestido de malha fina prateada em cima da cama.
- Sem dúvida alguma não usará o lenço desse chapéu. As pessoas quase podiam ver suas extremidades através da saia.
- Então as pessoas não deveriam olhar. - Thalía deu meia volta, seu rosto bonito petulante. - Pode se retirar agora, Eloise. Sou perfeitamente capaz de selecionar minha própria roupa.
Eloise se retirou para a porta. O relógio na mesa de noite mostrava que era além da meia-noite. Só vinte dias mais. Estava tão eufórica com o pensamento que não fez uma pausa para considerar as atividades de Thalía nem sequer um pouco suspeitas.
É claro que poderia atribuir sua perturbada disposição de ânimo ao homem que havia as levado para casa. Veria-o alguma outra vez?
Possivelmente quando se acomodasse na cama teria a privacidade para pensar no bonito desconhecido que tinha deixado uma marca permanente em seus lábios com seus beijos.
Ela esteve pensando nele por uma hora completa mais tarde, depois lavou o rosto, esfregou os dentes com pó dentifrício, e fez suas orações.
Uma ominosa confusão de ruídos do jardim perturbou seus prazerosos desejos. Ela saiu voando da cama para abrir sua janela. Ficou olhando cegamente para o jardim sobre a erva, seu coração afundando-se de temor. Querido Deus, a garota fugiu, justo debaixo de seu nariz.
Enquanto Eloise esteve sonhando com os beijos de um libertino, sua cliente escapou.
E com ela fugia sua gratificação dada pelo ingênuo baronete. Sem mencionar sua reputação como uma acompanhante responsável.
Caminhou furiosa através de seu quarto e desceu ao vestíbulo e daí para o quarto de Lorde Thornton, entrando precipitadamente sem pensar nos bons costumes. Não é que ele merecesse os bons costumes, ou que importasse muito no momento. Ele não estava ali para notar. As gavetas de seu quarto estavam jogadas sobre o chão e vazias. A porta do armário guarda-roupa estava aberta. Só podia assumir que ele tinha decidido entrar às escondidas na casa para tirar suas coisas essenciais, tomando a saída do covarde de sua desonra por fugir. Agarrou uma de suas pistolas de duelo do chão.
- O matarei - disse em voz alta. - Matarei a todos e serei presa como uma louca.
Com os lábios brancos, ela desceu a escada para o vestíbulo dos pequenos criados onde Freddie, o único lacaio que Lorde Thornton podia permitir-se, estava parado mostrando seu ar noturno.
- Céus, Senhorita Goodwin - exclamou enquanto a reconhecia. -
Onde é o fogo? E, Meu deus, isso em sua mão é uma arma de fogo?
- Ela se foi. - Olhou-o com pânico antes de deixar cair à arma de fogo sobre a toalha de mesa. - Ambos se foram. Lorde Thornton fugiu para evitar um duelo, e sua irmã finalmente cumpriu sua ameaça de fugir do noivo. Pelo menos acredito que ela o fez.
- Mãe de Deus. - Golpeou sua grande taça sobre a mesa ao lado da pistola. - Aí vai meu dinheiro.
Bluebell, a criada da cozinha raramente alegre, pôs sua cabeça desgrenhada pela porta.
- Calem-se, vocês dois. Despertarão toda a bendita casa.
- Toda a bendita casa se foi - disse Eloise com voz perturbada.
A criada olhou alarmada ao lacaio. A Senhorita Goodwin nunca amaldiçoava.
- Qual é o problema? -Perguntou, apertando-se contra a porta com um preocupado cenho franzido.
- Aonde foram então, senhorita?
- Só Deus sabe. - Eloise se afundou abaixo desconsoladamente em cima de uma dura cadeira de carvalho. - Tenho que pensar. Essa garota estúpida não pôde ter ido longe.
- Garota estúpida? - Bluebell repetiu, intrigada com esta descrição de sua desconsiderada senhorita. Sobrava dizer que todos compartilhavam esta opinião, mas a serena acompanhante falou tão abertamente antes. - Com quem fugiu a senhorita?
- Um libertino chamado Percy Chapman. Não sei onde vive, ou o que faz. - Golpeou seu punho na parede. - Como pôde fazer isto?
- Lorde Thornton tem que retornar para arrumar tudo - disse Bluebell em uma voz esperançosa. - Simplesmente não pode afastar-se de tudo o que possui.
- Perdeu tudo, sabe o que significa - disse Eloise, sua cabeça estava começando a doer. - Apostou tudo menos sua gravata esta noite, e foi pego roubando por cima de tudo. Foi embora com todo o dinheiro que pediu emprestado ao baronete.
- Roubou e mesmo assim perdeu? - perguntou Freddie com um olhar enojado.
Eloise estreitou seus olhos.
- Incrível, não é verdade? Ele...
Os três levantaram o olhar simultaneamente ante as discretas, mas persistentes batidinhas na porta principal. A casa era pouco pretensiosa, seu pessoal era pouco e batalhavam com salário pobre. Nenhum deles tinha outro posto decente esperando-os. Os criados estavam contando com que Eloise encontrasse emprego na academia de Lady Lyons e se conectasse com casas ricas nas quais pudessem trabalhar.
Se a Senhorita Thornton tinha fugido e ficou ela mesma na ruína, então bem poderiam estar vagabundeando nas ruas juntos em busca de emprego. O escândalo mancharia todos. Era muito ruim ser empregados de um homem que roubava nas cartas.
- Quem estará aqui há esta hora? - perguntou Bluebell, sem mover-se uma polegada para descobrir.
Freddie olhou para Eloise procurando orientação.
- Poderiam ser os credores. Sua Senhoria esteve mantendo-os a distância durante semanas. O que deveríamos fazer?
Eloise se levantou da cadeira, suas costas rígidas pelo temor.
- Possivelmente algo tenha ocorrido ao Senhor Thornton ou sua irmã. Não podemos ser covardes.
- Por que não? - perguntou Freddie em voz alta. - Não é como se tivéssemos feito nada ruim. Não é o objetivo arriscar nossos pescoços, na verdade.
Ela passou roçando-o, recusando-se a render-se ao medo. Ela poderia sacudir Thalía como uma galinha por sua escandalosa fuga.
Como explicaria alguma vez sua fuga ao baronete, ou o comportamento do irmão de Thalía, que diria respeito a isso? Mais importante, como sobreviveriam ela e os criados? Eloise não tinha amigos em Londres que a ajudassem. Seus parentes a tinham deserdado há quase seis anos atrás por seu escândalo secreto. Seu escândalo secreto.
Assim era como tinha chegado a chamar à desgraça que lhe levou a
esta posição atual. Só poucas vezes pensava a respeito de seu compromisso rompido, e seu posterior lapso de demência momentânea.
Uma jovenzinha de dezenove anos, a quem faltava confiança e experiência, sentiu-se destroçada quando descobriu que seu pretendente a traía com outra jovem com quem ele estava comprometido em um povoado próximo. Seus pais tinham esperado que ela engolisse o engano de seu noivo com um sorriso dolorido e graciosamente desvanecer-se no celibato. Esperavam dela, como filha de um magistrado simples, que somente sofresse em silêncio quando se descobriu que o bonito Ralph Hawkins a estava fazendo de idiota. A outra mulher, que descobriu a traição e contou a Eloise, era uma furiosa e rabugenta mulher chamada Mildred Hammersmith. Tinha o temperamento de uma tigresa e fez Eloise parecer calma em contraste.
Juntas, as duas tinham desatado uma fúria compartilhada sobre seu traidor como anjos vingadores antes de deixarem o povoado separadas.
Ralph teve a sorte de escapar com sua vida miserável depois que ela e Mildred terminaram com ele. Ante a urgência de Mildred, as duas mulheres o tinham confrontado na igreja diante de uma muda congregação paroquial. Na verdade Eloise nunca se envergonhou tanto em sua vida, mas Mildred não quis parar ante a vergonha pública. Ela e seus primos tinham despido Ralph e o tinham amarrado a um barraco de cão na encruzilhada para que todos os vissem. Se por acaso isso fosse pouco, Mildred então tinha arrastado Eloise à cabana de Ralph para pôr fogo em sua cama.
No dia seguinte as duas escandalosas mulheres deixaram o vilarejo em diligências separadas e nunca se viram nem tiveram contato entre si outra vez.
- Pelo amor de Deus, Eloise - disse Mildred enquanto se afastavam -
não chore mais por Ralph. O homem não vale a lágrima de um sapo. -
Mildred tirou um lenço enrugado de sua bolsa. - Não é como se
estivesse completamente arruinada, não é verdade?
- Não. - Eloise assuou o nariz e contemplou Mildred além da lareira negra de fumaça da cabana de Ralph.
Ela ficou pensando se tivesse se casado com ele, teriam dormido em sua cama queimada todas as noites.
- Está arruinada, Mildred? - perguntou, sem realmente querer saber a resposta.
- Não se preocupe por mim. -Mildred lançou para trás sua cascata de cabelos negros como o carvão. Mesmo assim parecia madura e formosa, e Eloise sentiu-se um pouco atemorizada com ela. Não era realmente surpreendente que Ralph houvesse se sentido atraído por ela.
- Não desejo ficar estancada neste aborrecido pequeno buraco, de todos os modos. Posso ser apenas a filha de um taberneiro, mas não tolerarei a traição, Ellie, e deve me prometer que não o fará, tampouco. Encontre um homem que a ame o suficiente para que lhe seja fiel.
Durante os primeiros meses seguintes a sua partida de Titchbury, Eloise escreveu frequentes cartas a casa para sua família. Nunca a convidaram de novo, ou sequer responderam, e enquanto os dias passavam tinha cada vez menos desejos de voltar. Finalmente chegou à decisão de que preferiria trabalhar pelo resto de sua vida antes que confrontar a falação que engendraria retornar de novo. Não é que alguém parecesse sentir saudades dela. Era como se tivesse deixado de existir para sua família.
Ganhava a vida como preceptora e tinha trabalhado duramente para obter boas referências. Poucas vezes pensava em Ralph, embora se perguntasse um pouco afetuosamente o que tinha acontecido com Mildred Hammersmith.
Seu escândalo secreto estava todo no passado, de qualquer modo.
Entretanto, se não se sobrepunha a sua presente crise, não estaria melhor do que tinha estado seis anos atrás.
Passou rapidamente pelo corredor estreito para a porta principal, o mordomo de joelhos artríticos, Heston, coxeava alguns passos adiante dela.
- Eu abrirei, senhorita - disse com voz rouca - podem ser más notícias.
Más notícias. As incontáveis possibilidades desagradáveis se amontoaram em sua mente. Lorde Thornton havia se suicidado. Thalía tinha se chocado com a carruagem de Percy. Os credores tinham vindo reclamar os poucos artigos de valor da casa, a maioria dos quais já tinha sido liquidado para resolver as dívidas.
Fez uma pausa no corredor, contendo o fôlego com expectativa enquanto Heston cautelosamente abria a porta. A sombra de um homem parado contra a luz da lua, uma magra figura atraente. Seu coração deu um salto um pouco assustado em resposta. Não podia distinguir suas feições, mas havia algo familiar, autoritário, e intensamente masculino em sua postura.
Ela respirou de alívio, correndo para frente para empurrar o mordomo imóvel na ação.
- Não fique aí parado olhando estupidamente, Heston. Bom, onde estão suas maneiras? Faça passar o cavalheiro para dentro.
- Mas é um desconhecido, e é passada a meia-noite...
Eloise teve que conter-se para não arrancar a porta de suas dobradiças. Era ele, pensou com aturdido alívio. O seguro de si mesmo, de aparência agradável e patife amigo de Lorde Thornton, quem a tinha beijado e a levado para casa. Reconheceu o cabelo encrespado, negro, o físico impressionante em um capote elegantemente feito à medida, o qual lhe recordava que devia fazer frio fora com este tempo, de noite, porque estava usando só uma jaqueta de noite mais cedo... assumiu o controle de seus dispersos pensamentos e olhou para o mordomo alarmado.
- Não seja imbecil - disse em voz baixa. - Ele não estaria aqui a esta hora a menos que tenha um assunto urgente. Faça-o entrar neste instante.
CAPÍTULO 05
Drake permitiu a uma sorridente jovem criada tirar sua jaqueta de noite enquanto saudava um grupo de conhecidos no vestíbulo da recepção do exclusivo salão de Audrey Watson. Era um visitante frequente na casa; certamente, apenas um dos poucos favorecidos da Sociedade de Londres a quem tinha concedido o privilégio.
Audrey se apegava a umas drásticas restrições de admissão, inclusive mais que as do Almack, mas então os prazeres que oferecia chegavam a um preço mais alto. Durante anos Audrey tinha albergado um apego genuíno pela família Boscastle, assim como pelos homens e mulheres da elite, em todos os âmbitos da sociedade, que possuíam grande riqueza, engenho ou beleza. Drake Boscastle reclamava os três atributos, como à maioria das pessoas com a quais se relacionava. Não era um segredo para Audrey que ele estava descontente ultimamente, e que considerava reincorporar-se às forças armadas. Murmurava-se que viajaria à Índia. Ela e seus fervorosos admiradores tinham discutido a fundo quão preocupados estavam de perder um de seus visitantes favoritos.
Drake pegou o copo de Borgonha que um lacaio lhe trouxe. Vinho fino, comida excelente, estimulante conversa, deleite sexual... tudo podia ser experimentado neste estabelecimento privado.
De repente não estava de humor para quase nada, só era consciente da necessidade de apaziguar ou entorpecer a dor aguda em seu interior. No passado, sabia como aliviá-la. Esta noite, bom, não estava certo do que lhe satisfaria. Talvez a mulher que tinha esperado com tanto prazer?
Audrey se aproximou dele, seu cabelo castanho avermelhado penteado para trás elegantemente sobre sua nuca. Estudou-o com evidente prazer enquanto tomava a taça de suas fortes mãos.
- Drake - disse ela em uma combinação de deleite e desespero, não
estava certa se ele tinha mudado de ideia. É terrivelmente lento.
- Surgiu um problema. - Seus olhos azuis escuro esquadrinharam o aposento. - Seus sentimentos foram feridos?
- Está ofendida. Uma mulher de seu valor não costuma esperar. Isto não é de bom tom.
Sua boca firme se curvou em um sorriso malvado.
- Terei que ressarci-la, não é assim?
- Afortunada Maribela - murmurou ela. Colocou as pontas de seus dedos contra seu braço. - Pensou bem nisto? Ela é difícil de satisfazer.
Seus olhos brilharam diabolicamente.
- Assim como eu.
- Ela é muito cara.
- Então é algo bom que me possa permitir isso. - Endireitou os ombros. - Onde está?
- No pequeno quarto junto à câmara veneziana que tinha pedido.
Não se preocupou com a vista.
Ele não estava de todo surpreso.
- Uma dama que pede o que quer. Terei que fazer meu melhor esforço.
Audrey o examinou com uma risada sardônica.
- Somente terá que respirar e ser você mesmo. Algumas mulheres que conheço lhe pagariam pelo privilégio.
Ele se inclinou até roçar sua boca contra sua face em um beijo carinhoso. Contava-a entre seus amigos mais verdadeiros.
- Um exagero, certamente. Nem sequer posso suportar a mim mesmo ultimamente. Espero poder convencê-la para que seu temperamento fique agradável.
Deu-lhe uma relutante cotovelada dentro do vestíbulo iluminado com tochas delineado com tapeçarias.
- Nem sequer a verá se a fizer esperar ainda mais. Vá, querido. Há
uma pequena fortuna envolvida no resultado. Todos estão apostando sobre como se desenvolverá esta aventura.
Drake soltou uma risada profunda.
- Eu mesmo tenho curiosidade para ver o que acontecerá.
E, entretanto sentia algo mais que uma inquieta curiosidade enquanto caminhava pelo vestíbulo e parava ante a porta fechada atrás da qual seu destino, ou ao menos um parêntese sexual, esperava-o. Não estava certo do por que de sua antecipação se debilitar nas últimas horas. Bom, ele sempre estava de humor para o sexo.
Abriu a porta.
Maribela estava recostada de costas a ele em uma cama Duquesa, coberta de seda carmim, seu cabelo vermelho bronze solto e seus brancos ombros nus foi o primeiro detalhe que atraiu sua atenção. Era surpreendentemente magra, mais frágil do que tinha imaginado que seria, mas não se podia negar a sexualidade latente em seus olhos cinza como a fumaça quando se voltaram para estudá-lo. Seus lábios vermelhos e cheios se elevaram em um sorriso praticado.
- Pensei que poderia ter mudado de ideia.
Tinha uma voz baixa, sensual, e a maioria dos homens teria respondido a ela no ato. Drake não poderia negar sua atração física, mas era consciente de uma fugaz sensação de decepção. Era bela, sim, com uma coloração dramática e traços refinadamente esculpidos. Era também fria como o gelo e um tanto abstraída apesar dos rumores de sua natureza volátil. Sua última amante estaria jogando travesseiros ou facas sobre ele por atrasar-se.
Ele estava calmo, também. Algumas pessoas o consideravam frio.
- Desculpo-me por me atrasar. Não tinha a intenção de ofendê-la.
Ela se endireitou lentamente, seu traje de noite de fino tecido de marfim aferrando-se às curvas de seu corpo.
- Contanto que não houvesse uma mulher envolvida.
Foram duas delas, na verdade, mas Drake não tinha intenção de dizer a ela. Não quando teve tantos problemas para organizar esta reunião.
Seria o bobo de seus amigos se estragasse seu encontro amoroso por ajudar a acompanhante de uma dama. Senhorita Eloise Goodwin, recordou sua imagem repentinamente vívida em sua mente.
Sorriu interiormente enquanto recordava o desgosto em seu rosto quando ela pensou que ele estava com sua pupila. E seu olhar de vergonha ao perceber seu engano. O bonito dragão o fulminaria com o olhar se pudesse vê-lo agora. Provavelmente tinha só uma vaga ideia de que existissem estabelecimentos como este.
Não obstante, poderia tê-la subestimado. Foi suficientemente esperta para tratar com ele. Possivelmente ela sabia. E tinha aroma de sabão. Não a alguma custosa e elaborada fragrância francesa, mas um puro e antiquado sabão de Castela que mantinha fora os pecados do mundo. Ela não parecia uma pecadora.
Embora, ele o fosse. Duvidava que todo o sabão do mundo pudesse lavar sua alma por completo. Prostituiu-se e tinha matado em uma guerra infernal. Bebeu até o atordoamento mais vezes do que poderia recordar. Bebeu de pesar quando perdeu seus pais e o irmão caçula que a família inteira adorava. Bebeu celebrando quando seus irmãos tinham abandonado seus costumes hedonistas pelo matrimônio.
O toque sensual dos dedos de uma mulher em seu peito interrompeu seu sonho. Inspirou profundamente, fechando sua mão sobre seu pulso.
- Procurando algo?
Sorriu-lhe, mas havia um desapego em seus olhos que a maioria dos homens nunca notaria.
- Pensei que o faria se sentir mais cômodo.
- Poderíamos começar por falar de você.
Viu a piscada de vacilação em seus olhos.
- Tive três amantes a longo prazo no curso de minha carreira.
Qualquer outra coisa que possa ter escutado sobre meus assuntos provavelmente é falsa. Que mais quer saber?
Ela se deixou cair contra o travesseiro decorado com bolinhas douradas. O topo de seus seios se inchou sobre sua blusa, e ele viu que seus mamilos tinham a cor carmesim. No passado, a mera vista de uma mulher como ela teria avivado seus sentidos de negra luxúria. Esta noite, sem uma razão que pudesse nomear, seus esforços para excitá-lo pareceram mundanos. Se iria ser sua amante, poderia ter se informado de que suas preferências se inclinavam mais ao não declarado.
Suprimiu um desejo repentino de sorrir. Tinha lido que ela tinha dado fastuosas festas em sua casa de campo em Nápoles e tinha deixado seus porcos e frangos vagar a vontade no salão de baile. Não pensou que fosse um comentário apropriado para iniciar um romance, assim somente disse.
- Li que recentemente voltou do Continente. É isso verdade?
Notou o leve endurecimento de sua boca. Decidiu que havia mais dela do que o tinham feito acreditar.
- Li que é um homem perigoso, Drake Boscastle. É isso verdade?
Ele sorriu.
- Isso decidirá você.
¨¨¨¨¨Ëloise cobriu sua decepção atrás de um olhar cauteloso enquanto a pessoa que tinha batido dava um passo dentro na entrada. Tinha uma semelhança superficial com o outro cavalheiro e era bonito por próprio direito, com seu curto cabelo negro e seu escuro rosto ameaçador. Mas nunca o tinha visto antes em sua vida. Deu um instintivo passo atrás na porta.
Céus, acabava de permitir a um completo desconhecido entrar na
casa à uma hora inoportuna. O que significava que Heston, o antigo oráculo tinha razão. Este homem só poderia ser portador de más notícias. Preparou-se para suportar o golpe. Ele não tinha vindo à porta para lhes roubar; perguntou-se velozmente se era um amigo da família que ela nunca tinha conhecido.
- Sou a Senhorita Goodwin, empregada nesta família - disse com cautelosa formalidade. - É algo ruim? Encontrou à senhorita Thornton?
As sobrancelhas negras do desconhecido subiram rapidamente. Ele acolheu seu significado com estranha percepção.
- Está perdida?
Poderia ter mordido a língua.
- Quero dizer, foi encontrado seu leque? Extraviou-o esta noite na festa.
- Já vejo - disse ele depois de uma pausa.
O que ele via era que ela estava mentindo entre dentes, pensou Eloise, embora parecesse ser suficientemente gentil para deixar passar o engano.
- Veio ver lorde Thornton?
Ele olhou avaliando todo o corredor. Eloise e Freddie trocaram um olhar inquieto. Ele não se comportava como um oficial, mas, nestas ocasiões incertas, quem poderia dizê-lo?
- Não sei se Thornton mencionou meu nome. Sou Sir Gabriel - ante seu olhar em branco acrescentou. - supõe-se que seu patrão duelaria comigo pela manhã.
Eloise ergueu seu queixo com desdém. Assim este era o outro apostador, o duelista.
- Ele não está aqui - disse ela, engolindo sua aversão. - Não estou certa de quando retornará.
- Ah. - Seu olhar a avaliou com educada curiosidade. - Que lástima.
Desejava lhe dar uma oportunidade para se desculpar publicamente por
roubar. Talvez devesse esperar?
Ela se deixou cair contra a parede, notando sem vir ao caso que o empapelado tinha começado a cortar-se e devia ser substituído. Não é que ela, nem sequer seu empregador estariam pressentes para vê-lo realizado.
- Ele se foi. - Repetiu, negando com a cabeça. - Não sei quando retornará, ou aonde se foi.
- O desespero tira o pior em um homem - disse ele de má maneira.
Saca o pior em uma mulher, também, tinha descoberto Eloise.
Nenhum futuro empregador ficaria impressionado por seu histórico quando fosse revelado que ela tinha trabalhado para um devedor, um trapaceiro, nada menos, e tinha perdido sua irmã, a seu cargo, além disso. Quantas acompanhantes competentes perdiam suas pupilas?
Ninguém levava em consideração que Thalia estivesse resolvida por completo a arruinar sua reputação. Eloise seria culpada; no mínimo não seria impressionante em um Curriculum. Nem poderia utilizar como referência um empregador que tinha desaparecido.
Ela olhou além de Sir Gabriel para a rua brumosa iluminada com luzes. Só vinte dias.
- Estarei arruinada se ela não voltar para casa logo - pensou em voz alta. - Seu noivo ficará furioso, e sua mãe... meu deus, o que lhe direi pela manhã?
Sir Gabriel a olhou perplexo.
- Está se referindo a Senhorita Thornton outra vez?
Franziu o cenho. Não era educado, mas não tinha sentido continuar fingindo indefinidamente.
- Sim. Ela fugiu e também o fez seu irmão. Deveria estar casada em algumas semanas, mas conheceu um homem no baile desta noite...
- Percy Chapman?
Eloise assentiu com a cabeça com resignação. A autocompaixão
nunca servia. Se fosse para a prisão, poderia sentir lástima por si mesma durante todo o dia.
- Sim. Acredito que é com quem estava.
Gabriel pareceu conter um sorriso. Realmente era um homem atraente, pensou, embora ela tivesse chegado à conclusão de que era um pouco cafajeste. Conhecia Percy em primeiro lugar. Apostava e duelava, e ela suspeitava pela maneira como a olhava que não era estranho à sedução, tampouco.
- Não sei o que fazer - disse ela, negando com a cabeça. - Talvez o cavalheiro que trouxe a Senhorita Thornton e a mim a casa tenha uma ideia de onde encontrar Sua Senhoria. Mas não sei onde encontrá-lo, tampouco. Seu nome era Drake...
Sir Gabriel a olhou com incredulidade.
- Drake? Você fala de meu primo. É claro. Horace se lançou ante a misericórdia de Drake. Estava ali.
- Tem seu primo um sobrenome?
Sua risada continha um timbre sombrio que enviou um pequeno calafrio de apreensão por suas costas.
- Sim. Ele é um Boscastle. Ambos o somos, mas ele está vários passos mais acima de mim na escada familiar. Sir Drake Boscastle. -
refletiu, seus olhos brilhando com ironia. - O irmão mais velho de Horace era um amigo próximo.
Uma sacudida de distante horror se apoderou de Eloise. Bom, não era essa a joia em sua coroa de sorte péssima? Sir Drake Boscastle, um dos irmãos notórios da viscondessa.
Tinha beijado, insultado, e virtualmente assaltado o irmão da única pessoa em Londres que estava desesperada por impressionar. O que aconteceria se Lorde Drake mencionasse os acontecimentos esta noite à Lady Lyons em um jantar familiar? O canalha discutiria suas tentativas frustradas de sedução com suas irmãs? Por que ele entre todas as
pessoas a que tinha escolhido? E por que o tinha permitido?
- Escutei a respeito de sua família. - Murmurou ela aturdida.
- Não o fez todo mundo? - Perguntou ele com uma voz seca.
Ela assentiu com a cabeça, sua mente devaneando. Era Drake o irmão Boscastle que frequentemente estava envolvido em escândalos?
Ou todos eles eram malvados a sua maneira? Drake Boscastle. Drake, Drake, Drake. Qual irmão era ele, de todos os modos?
O irmão mais velho, cujo nome lhe escapava, casou-se no ano passado depois de um tipo de escândalo matrimonial. Ela pensava que havia outros três irmãos. Ou eram quatro? Um tinha morrido, não é verdade? Procurou entre os arquivos de sua mente todo conhecimento social corriqueiro que tinha acumulado. Todos os varões Boscastle eram supostamente mal criados, populares na alta sociedade e na metade do mundo. Um deles tinha conseguido arrasar em notoriedade apenas há uns meses.
Havia uma caricatura nas páginas de intrigas de certo irmão Boscastle. Uma caricatura nua que tinha esboçado partes de sua anatomia masculina com detalhes escandalosos.
Eloise pegou Thalia e suas amigas rindo dissimuladamente deleitadas com a malvada caricatura, e ela lhes tinha ordenado lançar os papéis ao fogo. Agora desejava lhe ter dado uma melhor olhada. Não é que ela pudesse extrair algumas similitudes entre o homem na caricatura e o que tinha beijado.
- Suponho que Drake poderia saber onde está Lorde Thornton -
disse Sir Gabriel com voz prudente.
- Mas tem alguma ideia de onde poderíamos encontrar seu primo? -
Perguntou, mordendo o lábio inferior.
O olhar de Gabriel pousou em sua boca. Se Eloise não estivesse tão totalmente enfocada em implorar sua ajuda, teria escutado a pequena voz interior que lhe advertia que não confiasse nele.
- Ele está em uma festa privada em uma casa em Bruton Street -
disse lentamente. - Eu tinha a intenção de retornar ali. É possível que possa persuadi-lo para que se ocupe do que a preocupa. Por razões de tempo, você poderia... bom, suponho que poderia me acompanhar ali.
- Isso é muito amável de sua parte, senhor - disse Freddie com um olhar ansioso em direção à Eloise. - Não é assim, Senhorita Goodwin?
- Por favor cuide de sua linguagem, Freddie. - percebeu que desmoronava mais cedo esta tarde. Era impróprio, inclusive perigoso, aventurar-se fora a tão altas horas da noite, e com um estranho. Mas se não trouxesse Thalia, ou ao menos seu irmão, a casa, então sua reputação não importaria. Sua máxima preocupação era que a garota sofresse um grande dano, e sua ruína cairia na consciência de Eloise.
Colocou a capa e as luvas que Heston havia lhe trazido. A governanta, a senhora Barnes, e dois dos outros criados, se despertaram pelo som das vozes, reunidos nas sombras do vestíbulo, ao redor dela preocupados. Eloise lhes assentiu com a cabeça como um soldado a ponto de partir para a batalha.
- Tome cuidado, senhorita - disse então a senhora Barnes com voz ansiosa. - Oh, essa malvada jovenzinha, nos fazer passar por toda esta preocupação.
Eloise fez uma inclinação de cabeça e se voltou para a porta. Estava tão preocupada que tinha esquecido de prender seu cabelo que caía descuidado sobre seus ombros de um modo que só poderia descrever como caprichoso. Não importava. Não era uma mulher para ser notada, e tinha uma missão... conseguir resgatar uma jovenzinha confusa da sedução de um canalha. Sentia seus lábios apertados em uma linha sombria. Ninguém nesta família suspeitava que ela tivesse experiência pessoal para tratar com um canalha. Ou que seu coração foi partido por um homem mentiroso e se fortaleceu com a experiência.
CAPÍTULO 06
Por regra geral, o Coronel Sir Gabriel Boscastle não fazia um exame de consciência. Quando pecava, era usualmente com uma mulher disposta, e quando apostava, o fazia contra um competidor igual. Podia não ser um dos Boscastle londrinos apaixonados e populares, mas o endiabrado sangue familiar corria cálido através de suas veias, e ele fez sua parte para contribuir à reputação da linha pela busca dos prazeres perversos.
Por alguma razão ele e Drake repetidamente se encontravam em competições diversas vezes em suas vidas, frequentemente por uma mulher desejável. Apenas na noite anterior, ocorreu a Gabriel, que não eram tanto suas diferenças, mas suas similaridades que os tinham colocado um contra o outro. A deles era uma rivalidade alegre.
Embora, para a divertida repugnância de Gabriel, Drake sempre conseguia ganhar ao chegar à meta. Era difícil competir com um professor, tão devoto como Gabriel o era pelos deleites hedonistas.
Irônico que dois deles se encontrariam sobre um campo de duelo mais tarde essa manhã, pela pretensão de satisfazer a honra. Deus sabia que nem ele nem Drake desejavam atirar um no outro. Ele não tinha interesse em atirar em Horace, tampouco, e suspeitava que Drake provavelmente sentisse o mesmo. Ou talvez Drake se esqueceria completamente do duelo, perdido sem dúvidas, como estava no esplendor sexual de sua última amante. Gabriel tinha visto momentaneamente Maribela St. Ives uma vez em sua carruagem e ficou instantaneamente impactado. Não conseguiu passar através de seu grupo de guarda-costas para apresentar-se, entretanto.
- Não posso lhe dizer o quanto aprecio sua ajuda - a senhorita Goodwin murmurou enquanto se sentava na borda do assento da carruagem à frente dele. - E sua discrição. - Acrescentou ela com uma voz ansiosa.
- Não direi a nenhuma alma. -Assegurou-lhe Gabriel. Não o faria, tampouco, e quanto mais a contemplava à luz da lua, mais notava o quão bonita era, especialmente com essa massa de cabelo castanho ondulado caindo caprichosamente sobre seus ombros. Sentiu que poderia haver uma figura voluptuosa debaixo desse vestuário tão simples. Seu primo deveria ter notado. Gabriel não perdeu o rubor apenas perceptível em suas faces quando tinha falado de Drake.
Demônios, não lhe importaria ter uma acompanhante como ela para si mesmo. Ou como Maribela St. Ives, uma mulher que estudou as artes sensuais de sua vocação.
- Bruton Street - disse a senhorita Goodwin, olhando pela janela. -
Suponho que deveria agradecer que estejamos nos dirigindo a um bairro decente.
Gabriel olhou para fora pela janela. O bairro poderia ser decente.
Mas seu destino? Ele tinha conseguido ser admitido no salão de Audrey Watson mais cedo esta noite, mas a ninguém era permitido entrar no santuário do andar superior de quartos privados sem um convite especial. O estabelecimento alcovitava uma grande variedade de prazeres, deleites terrestres que a Senhorita Goodwin provavelmente nunca sonhou que pudessem ser provados. O jovem lacaio inexperiente a quem ela havia levado para seu amparo, sem dúvida pensaria que ele tinha morrido e tinha ido ao céu se vislumbrasse alguns dos entretenimentos de Audrey.
O cocheiro desacelerou ao final da rua atrás de outra carruagem estacionada. Gabriel escutou a senhorita Goodwin soltar um suspiro de alívio.
- É esta a casa? - perguntou enquanto avaliava a elegante fachada de tijolo.
Ele se sentou.
- Sim.
- Bom, parece muito agradável. Muito respeitável.
Ele mascarou um sorriso.
- Assim é não é verdade?
- Não posso lhe dizer quão aliviada estou - ela acrescentou, dobrando suas mãos em seu colo. -Algumas possibilidades desagradáveis passaram por minha mente.
Ele a contemplou. Seu primo iria matá-lo por isso.
- De verdade?
- Londres tem seu lado decadente - disse, voltando sua cabeça lentamente para olhá-lo; por um momento incômodo ele teve a suspeita de que ela sabia que tinha caminhado sobre o lado decadente umas poucas vezes ele mesmo.
- Bem, então. - Ele ignorou a culpa que tinha ameaçado desviar o prazer da má jogada que tentava fazer a Drake. - Irei buscar meu primo e o trarei para você a toda pressa.
As comissuras da boca cheia de Eloise se apertaram em uma linha preocupada.
- Espero que não se importe ser perturbado.
Gabriel suprimiu um malvado sorriso. Importar-se? Drake estaria desarticulado com resplandecente cólera. Ainda assim, esta era uma oportunidade muito boa para que Gabriel lançasse um olhar sobre Maribela, se não conseguisse uma apresentação pessoal. Vingança e sexo. Poderia haver alguma coisa mais doce?
- Bem. Irei pela senhora Watson.
- Senhora Watson? - disse Eloise, franzindo o cenho. - Onde ouvi esse nome antes?
Ele se inclinou para a porta. Seu lacaio e Freddie já estavam parados sobre o pavimento, contemplando atemorizados a casa.
- Provavelmente nos jornais -respondeu vagamente.
- Jornais? - perguntou em voz reflexiva. - É uma anfitriã da
sociedade?
Gabriel deu um passo abaixo sobre o pavimento e endireitou seu casaco. Muito longe estava de sua parte, lhe informar que seu herói Lorde Drake estava provavelmente neste momento profundamente dentro do paroxismo da paixão em um dos bordéis mais exclusivos de Londres. Isso era dificilmente um segredo. Ainda assim, deixaria seu primo informar a ela. E tomar vantagem da situação de qualquer modo que pudesse. Depois de tudo, Gabriel era um Boscastle, também, e era tempo de que se apontasse um tanto a seu favor.
¨¨¨¨¨¨
Drake se levantou da cama para servir-se a si mesmo e a Maribela um copo de vinho do gabinete laqueado que estava debaixo da janela com pesadas cortinas. Maribela estava tocando uma harpa, sobre um tamborete no canto. Seu longo cabelo vermelho fogo, fluía por suas costas como se fosse uma feiticeira celta. Tinha lhe massageado os ombros com um ligeiro, mas perito erotismo, dizendo que ele precisava relaxar. Não havia como negar sua habilidade para tranquilizar um homem ou despertar seus sentidos, mas algo vital faltava.
Era ele? Ou ela? Era ela somente muito experimentada ou era cínica além da redenção? Nunca quis ser redimido particularmente.
Pecar era algo no qual se sobressaía, apenas desfrutava e se sentia muito ambivalente a respeito da perda recente de seus três irmãos por um destino que sempre tinha considerado pior que a morte: Amor.
Perder esse pouco controle que alguém tinha sobre sua própria vida.
Maribela tocou uma nota falsa na harpa, xingou em voz alta, e se levantou do tamborete. Para conter o desejo de rir abriu as cortinas para estudar a rua abaixo.
Ela deslizou atrás dele, escorregando os dedos ágeis para dentro de seu cinto.
- Por que chegou tarde, de qualquer maneira? - Perguntou com voz
rouca. - Eu não gosto quando um amante me faz esperar.
- Nada pessoal, linda - murmurou, sem mover um músculo, - estava fazendo a um amigo um favor.
Mas estranhamente não era em Horace Thornton ou em sua impertinente irmã em quem pensava enquanto respondia. Era na acompanhante, e o doce aperto de seu corpo contra o dele. Esses olhos, sua cor avelã, entraram diretamente em sua memória. Recordou a pontada inesperada de excitação que havia sentido quando a beijou.
Sua imagem estava tão claramente impressa em sua mente que foi quase como se ela estivesse com ele neste momento...
Pestanejou. Sacudiu a cabeça. Havia uma carruagem estacionada debaixo da janela, e podia ver o rosto de uma mulher olhando com atenção para fora das dobras da cortina de couro. Não era possível, é claro. Era uma ilusão. Era isso, ou alguém tinha deslizado um cogumelo alucinógeno no vinho. Mas estreitou os olhos. Poderia jurar que a mulher sentada na carruagem era a Senhorita Eloise Goodwin. O que não podia ser possível porque uma correta jovem dama não devia ser apanhada dentro da distância de um grito de semelhante estabelecimento a menos... querido Deus, que possibilidade ridícula tinha que ela levasse uma vida secreta como cortesã?
Estaria complementando seu escasso ingresso como uma das garotas de Audrey? Percebeu que alguma coisa ocorria, mas era uma verdadeira coincidência que a tivesse conhecido mais cedo na posição comedida de acompanhante só para perceber que levava uma vida dupla como uma provocadora contraparte. As pontas dos dedos de Maribela traçaram uma rota através de sua caixa torácica para seu antebraço.
- Por que tenho a sensação de que não tenho sua completa atenção? - sussurrou.
Ele sacudiu a cabeça outra vez.
- Porque estou... - o murmúrio de vozes no corredor, completado por discretos, mas insistentes toques, interromperam sua frase - estou escutando isso - disse, levantando suavemente a mão de seu braço. -
Dei instruções de que não deveria ser perturbado a menos que houvesse uma emergência.
- Ou uma guerra.
As únicas pessoas que se atreveriam a lhe perturbar ali eram seus irmãos. Os integrantes de sua família reconheciam poucas regras ou limites, e ele teria a cabeça de alguém a menos que a interrupção fosse uma verdadeira crise. Ele olhou de novo com curiosidade para a carruagem estacionada fora, mas a mulher misteriosa se retirou para trás das cortinas. Ou estava dentro.
Dirigiu a Maribela um sorriso de desculpa enquanto caminhava a grandes passos para a porta. Ela tinha retornado à cama com dossel, meio recostada atrás das cortinas. Mostrava-se dramática, atraente, e mais que um pouco aborrecida. Fazia o papel de cortesã mimada por completo. Abriu a porta, seu rosto tão amigável como a geada.
- Que seja algo justificado. O que é em nome de Deus?
Seu primo Gabriel estava diante dele, um descarado sorriso em seu rosto duro, bronzeado pelo sol. Atrás dele revoava Audrey Watson, a proprietária da casa, e dois dos sérios guarda-costas de Maribela, que flexionavam os braços em gesto de retirar Gabriel ante o estalo dos dedos de sua empregadora.
- Que diabos está fazendo aqui, Gabriel? - demandou.
Audrey empurrou seu ombro a sua maneira entre os dois guarda-costas.
- O que podia fazer? Ele insistiu que era uma emergência, e ele é um familiar.
- Apenas - disse Drake, olhando seu primo que, percebeu, esmerava-se em lançar um olhar para dentro do quarto. Encaixando seu
corpo contra a porta para impedir a vista. - Isto deverá ser importante, Gabriel.
- Cheguei em um mau momento? - perguntou Gabriel candidamente.
- Possivelmente deveria me deixar entrar no quarto para que possa falar meu assunto em privado. Não precisa que todo mundo se inteire de nosso assunto.
O rosto de Drake se obscureceu perigosamente.
- Quer que te dê uma surra? Não seria a primeira vez, segundo me lembro.
- Sou maior agora - disse Gabriel satisfeito. - Na realidade acredito que deveria me permitir...
Audrey o interrompeu.
- Não há brigas em minha casa, e isso vale para o Príncipe Regente assim como também para os Boscastles. A seguinte coisa que sei é que duelarão, e minha dignidade poderia ser ofendida.
- Duelaremos - Drake disse com uma voz contrariada - Acredito que poderia seguir adiante e matá-lo depois disto.
Audrey olhou por cima de seu ombro, sussurrando:
- Por Maribela?
- Não - disse Drake. - Por um homem.
- Um...
Gabriel lançou para cima suas mãos em gesto de rendição.
- É por isso que estou aqui -disse em voz baixa para que só Drake pudesse escutar - fui à casa de Thornton para ver se ele se desculparia em público para não ter que atirar nele esta manhã, e acontece que desapareceu, assim como também o fez sua irmã.
- O que quer, que faça os titulares? - perguntou Drake com incredulidade.
- A mim particularmente não importa, mas essa acompanhante de Thalía ficou histérica por isso e me rogou muito agradecidamente que o
encontrasse.
- Bom, não vou - disse Drake, consciente de que Maribela se levantara da cama para olhá-lo. E que Gabriel virtualmente fraturava o pescoço para cravar os olhos nela. - Diga-lhe que a visitarei amanhã.
Drake voltou o olhar de novo para a janela. Não poderia ser, mas agora sabia o que era. O rosto tão atraente, bonito. A mulher que estava pronta para lhe dar uma surra porque pensava que tinha seduzido sua pupila e a quem tinha roubado um beijo no baile. Ela queria vê-lo agora.
- Trouxe essa jovem, a acompanhante de uma dama, a um bordel? -
Perguntou a Gabriel com voz cortante e baixa.
Gabriel lhe lançou um olhar superficial.
- Trouxe-a para você.
- É um bastardo, Gabriel -disse-lhe.
- Sou um Boscastle. - Gabriel se retirou alguns passos enquanto Drake começava a aproximar-se de modo ameaçador a ele. - Um momento. O que devia fazer um cavalheiro? Senti pena dela. Ela é fácil de olhar, você sabe, e nunca pude resistir a uma dama em apuros.
Drake lhe deu empurrões no corredor.
- Sendo uma alma tão compassiva.
- Bem, devido a ter ajudado mais cedo, ela pensou que poderia ser partidário a ajudá-la outra vez, assumi que iria quer que eu perpetue o mito de sua santidade.
- Perpetuarei a você, primo ou não.
Drake franziu o cenho e parou com hesitação. Audrey e os dois guardas estavam de pé ao final do vestíbulo em gesto para impedir os dois homens continuarem seu argumento diante de seus outros convidados. Maribela tinha cruzado seus brancos braços magros sobre seu peito e cravou os olhos nele com glacial indignação.
- Má chère - disse ele, dando de ombros impotentemente - não tenho culpa. Voltarei em seguida para explicar tudo.
- Não se incomode - disse ela entre dentes. Então bateu aporta com tanta força que inclusive Gabriel saltou para trás alarmado, e o eco reverberou através das paredes.
CAPÍTULO 07
Eloise levou vários minutos para perceber exatamente a classe de estabelecimento que se ocultava atrás dessa fachada de aspecto respeitável. Tinha visto com uma pontada de suspeita como Gabriel corria pelas escadas da casa, para ser admitido só depois de um longo interrogatório realizado pelos dois criados com libré que estavam na porta. Tinha conseguido ver uma elegante parede à luz das velas com cavidades providas de espelhos. Com um lento e nascente alarme recordou que quando os nomes da "Senhora Watson" e "Bruton Street"
mencionavam-se juntos nos jornais, não era em referência a uma leitura de poesia ou a um musical.
Bom, frequentemente apareciam, mas sempre com a implicação subjacente de outro tipo de entretenimento mais carnal. Sexo, puro e simples. Caro. Exclusivo. Excessivo. Suspirou suavemente, puxando Freddie de seu torpor enquanto ela saía da carruagem aproximando-se dele.
- É um-um...?
- Bordel. - disse ele em um tom melancólico. - Está entre os mais elegantes de sua classe em Londres.
- O que é um pequeno consolo moral.
- Daria meu braço direito para trabalhar aqui.
- Oh! De verdade, Freddie?
- Sim, de verdade - disse enquanto alisava a massa de cabelo loiro avermelhado que, Eloise sempre tinha pensado que lhe dava o aspecto surpreendentemente parecido a uma vassoura humana. - Sir Gabriel esta muito tempo dentro. Acha que devo ir comprovar se esqueceu da senhorita?
Agarrou-o pelas abas de sua jaqueta.
- Não se atreva a entrar nessa casa - disse com o tom de voz autoritário de preceptora que reservava para momentos de emergência. -
Viemos aqui por uma só razão, e é a de pedir ajuda para achar Lorde Thornton e sua irmã, depois do qual o mais provável é que os sacuda até deixá-los inconscientes.
Freddie a olhou com preocupação.
- Nunca a tinha ouvido tão aborrecida, senhorita. Esta noite tem a todos alterados.
Sua voz se ergueu.
- Não ajuda que tive que rogar para que me trouxesse a uma Casa de Vênus. Ou... - se interrompeu, soltando as abas da jaqueta de Freddie e entrando de novo na carruagem.
Reconheceu-o no momento em que apareceu pela porta principal, sua figura esbelta avançando com poderosos passos. Seu rosto magro estava escondido nas sombras,
Eloise se viu tão perdida apreciando sua presença magnética que não notou imediatamente que lhe faltava sua jaqueta de noite. E sua gravata perfeitamente engomada.
Ele descia em direção à carruagem com a cólera elegante de um anjo caído; quanto mais perto chegava, mais evidente era a irritação em seu rosto duro e cinzelado. Com um olhar surpreso, Eloise percebeu que seu branco colete feito à medida estava desabotoado, assim como a maior parte da camisa que levava debaixo.
- Está meio nu - sussurrou com voz decepcionada através da porta, incapaz de afastar o olhar de sua imagem. - Que diabos esteve fazendo?
Freddie limpou a garganta.
- Talvez estivesse boxeando, senhorita. Esse esporte é muito popular entre os jovens cavalheiros.
- Box, Freddie? Em um bordel, a esta hora da noite. Pareço ser uma idiota?
Eloise não escutou sua resposta, nem estava certa de que houvesse uma. Toda sua atenção se concentrou de repente no homem de rosto
duro que abriu a portinhola e se aproximou do interior da carruagem. Por um momento, todo pensamento sensato saiu voando de sua cabeça.
Estava muito sério e compreensivelmente perplexo. Entretanto, enquanto cruzaram seus olhares, pareceu dominar seu temperamento. A dureza ameaçadora se apagou de sua expressão, só para ser substituída por uma velada exasperação graças a sua experiência e controle pessoal.
- Tenho que lhe pedir desculpas - disse envergonhada. - Não estaria aqui se a situação não fosse desesperadora - ou pensou, se Sir Gabriel lhe tivesse advertido exatamente onde a estava levando, esse homem era um demônio!
Sentiu como controlava sua respiração.
- Senhorita Goodwin.
Ela se entregou ao momento de prazer ilícito do som de seu nome pronunciado em um suave, embora exasperado, tom de voz. Na realidade, Goodwin não era seu sobrenome, mas Eloise quis iniciar uma nova vida em Londres. Goodwin era um sobrenome familiar, o sobrenome de uma tia idosa do lado de seu pai, para ser preciso.
Certamente se poderia perdoar a distorção da verdade pelo bem de enterrar suas transgressões no passado.
Ela balançou a cabeça.
- Nunca o teria incomodado se soubesse...
Se soubesse o que? Ante seu estado um pouco desalinhado, talvez fosse melhor que ela não soubesse exatamente o que tinha interrompido. Por desgraça, havia mais de um indício. Não era certamente tão mundana como a maioria das pessoas supunha. A ingenuidade em uma acompanhante era mais uma carga que uma vantagem.
De uma mulher em sua profissão se esperava que antecipasse os perigos morais sem ter caído neles. Tinha aprendido uma amarga lição
por experiência própria, embora não entendesse completamente que lição tinha sido. Que uma mulher tinha que estar permanentemente em guarda contra o engano? Acaso todos os homens que proclamavam um amor imperecível eram suspeitos?
- Qual é o problema? - Perguntou-lhe Lorde Drake, enquanto seu olhar escuro a percorria preguiçosamente antes que pudesse responder.
Eloise abaixou o olhar enquanto ele subia para entrar na carruagem e sentar-se em frente a ela. Quem acreditaria que iria pedir ajuda a um homem que acabava de sair de um bordel, sem tão somente incomodar-se em terminar de vestir-se adequadamente? Não podia deixar de olhar sua forte garganta nua. Sua audácia por aparecer em público desabotoado era surpreendente. É claro, saía de uma casa onde as inibições se descartavam, junto com a roupa, na porta. Tinha sorte que ele não estivesse mais despido.
Sem prévio aviso se inclinou para ela, roçando seus joelhos. Eloise sentiu que seu pulso saltava quando voltou a perguntar em voz baixa, mas compreensivelmente impaciente.
- O que aconteceu?
Ela levantou os olhos de sua inapropriada contemplação de seu pescoço. A proximidade de seu rosto, seus desconcertantes olhos azuis, confundiam seus pensamentos.
- Você não está corretamente abotoado - disse-lhe como se ele fosse inconsciente desse fato.
Suas poderosas sobrancelhas se elevaram uma fração.
- Veio até aqui, a estas horas da noite, para me dizer isso?
Ela se recostou contra o espaldar.
- É claro que não. Como poderia saber o estado de sua roupa de antemão?
- Percebe a que tipo de estabelecimento veio, senhorita Goodwin? -
perguntou, e em seu favor, não havia sarcasmo na pergunta.
Engoliu saliva, desconfortável.
- Sim.
Seus olhos a percorreram com renovado interesse. Sua voz profunda se reduziu a um tom sedutor que enviou um calafrio ao longo de sua coluna.
- E ainda assim veio até aqui?
Inclinou-se para frente antes que pudesse responder e se sentou a seu lado.
- Está procurando um trabalho diferente ao de acompanhante de uma jovem mimada?
- Pode ter certeza que não é o tipo de trabalho ao que se refere.
- Como sabe até que não o solicite?
- Não estou solicitando uma mudança de trabalho!
- Bom, veio a um bordel.
O fogo que dançava no profundo de seus olhos azuis escuro fez com que um ardor fluísse de repente através de seu corpo. E de algum jeito ele soube. Com um leve sorriso de reconhecimento, aproximou-a puxou-a e a beijou.
Ela se esticou contra seu braço, logo cedeu, tremendo ligeiramente.
Ele a atraiu para a parede quente e sólida de seu peito. Ela sentiu que sua própria mão se erguia lentamente até seu ombro enquanto fechava os olhos. Seus lábios roçaram os seus, abrandando sua boca, até que lhe respondeu, abrindo-a ante sua insistência.
Ele murmurou sua aprovação e aprofundou seu beijo em um claro convite para prazeres mais escuros. Sentiu como luzes e sombras revoavam atrás de suas pálpebras fechadas. Colocou a mão sob sua capa e a roçou com os dedos justo por debaixo de seus seios, na mais íntima das carícias.
- Talvez um dia - sussurrou contra seus lábios entreabertos -
reuniremos nos em um lugar e tempo mais apropriado para que eu
possa, apropriadamente ou inapropriadamente tentá-la.
- Você já me tentou o suficiente - sussurrou.
Sua voz vibrou com humor malicioso quando voltou a reclinar-se no assento de frente.
- Me perdoe à expressão, mas por que diabos está você aqui? E o que quer de mim?
De repente sentiu desejos de estrangulá-lo. Queria golpear a porta da carruagem e dizer a todos os senhores e senhoras irracionais de Londres que se fossem ao diabo. Mas a prudência e seu desespero prevaleceram.
- Lorde Thornton se foi - disse, a voz quebrando-se ao final.
- Não me surpreende.
- E também o fez sua irmã - as palavras saíram depressa. Tinha medo de que tivesse perdido sua oportunidade de conseguir sua ajuda. -
Temo que fugiu com o cafajeste que conheceu na festa. Sua vida ficará completamente arruinada, a menos que a encontre. Seu noivo nunca a perdoará se souber. Ela não sabe o que está fazendo.
Estudou-a absolutamente em silêncio. Talvez estivesse consternado por seu desajuizado. Talvez o tivesse deixado sem palavras, embora o brilho de seus olhos indicava uma resposta mais complexa.
- Sinto muito - acrescentou para encher o silêncio incômodo que tinha caído entre eles. - Você me ajudou antes, e não sabia a quem mais acudir. Não quero ver nenhum deles ferido por seus comportamentos imprudentes. Nunca teria vindo lhe pedir ajuda se... - se não tivesse dançado comigo esta noite, pensou. - Bom, se não fosse amigo de Lorde Thornton.
Voltou o rosto para a janela da carruagem, com as faces ardendo.
Quem poderia imaginar que estaria sentada frente a uma Escola de Vênus. Se alguém a reconhecesse, nunca seria capaz de poder explicar.
- Senhorita Goodwin, - ofereceu-lhe um sorriso malandro quando ela
ergueu seu vacilante olhar.
Sentiu uma sensação de tensão, de dor na boca do estômago. Seu sorriso brandia uma vantagem injusta. Com que frequência lhe tinha advertido Thalía a respeito de não sucumbir à sedução de um homem bonito?
- Achei que poderia saber onde encontrá-los - acrescentou enquanto pensava, como se lhe importasse, que ela vivesse na miséria, que não pudesse permitir-se nem sequer o luxo de comprar um bonito vestido.
Ou que a Thalía provavelmente a estivessem seduzindo para lhe tirar seu bonito vestido neste mesmo momento, enquanto sua esgotada acompanhante estava sentada ali, suplicando a um libertino cavalheiro, que provavelmente estava ansioso para voltar para o interior do bordel e tirar o vestido de uma prostituta. Caso não o tivesse feito já.
- Nunca deveria ter vindo.
Um sorriso ficou nas comissuras de sua firme boca masculina.
- Não, você não devia fazê-lo. Mas agora que está aqui, suponho que sou obrigado a ajudá-la.
Mal pôde ocultar seu alívio.
- Oh, obrigada... Lorde Drake. Antes não sabia como me dirigir a você corretamente. Tampouco sabia que era um Boscastle.
O que lhe recordou que ele era tão diferente de sua respeitável irmã como um leão e um cordeiro. Quase não era preciso dizer que Lady Lyons se surpreenderia de saber que Eloise tinha tirado seu irmão de um harém para ajudá-la a encontrar sua pupila perdida. Seu tom divertido a tirou de suas aflitas reflexões.
- Há algo mais de mim que queira saber? Poderia lhe economizar um pouco de vergonha no futuro.
Sustentou seu irônico olhar. Não podia imaginar uma situação mais embaraçosa.
- Acredito que sei tudo o que é necessário por agora - disse com um
leve suspiro.
- Um bordel fala muito eloquentemente por si mesmo.
¨¨¨¨¨¨
Por sua vida, que Drake não podia entender por que não estava mais aborrecido com ela depois de ter lhe arruinado a noite. Tinha a célebre senhorita St. Ives esperando-o, uma mulher que podia pôr um homem de joelhos com seu olhar e ele tinha pagado uma quantidade extravagante por esse acordo. Quase não podia culpar Maribela por lhe fechar a porta no nariz. Também seria insultante para ele se ela o abandonasse em meio de uma sedução para... para que? Em que exatamente se colocou?
Estudou Eloise dentro da carruagem. Seu cabelo caía solto sobre seus ombros em grossos cachos que lhe faziam pensar em sexo.
Infernos, não era surpreendente, tendo em conta que estavam estacionados fora de uma casa de prazer. Tinha vontade de dar um murro em Gabriel por havê-la trazido ali.
Seu olhar se escureceu, especulativo. Não sabia muito bem o que pensar dela. Por fora, era sensata, e por dentro, bom, havia tantas coisas de Eloise que ninguém conhecia. Não lhe importaria passar um tempo a sós com ela para satisfazer sua curiosidade. Esfregou o queixo.
Deus, devia estar mais que enfastiado se achava tentadora uma senhorita de companhia quando tinha uma cortesã profissional esperando-o. Ou não. Teria que conseguir fazer as pazes com Maribela se alguma vez conseguisse que voltasse a lhe dirigir a palavra.
Inclinou-se para a porta. Tinha notado que seu primo Gabriel acabava de sair da casa de Audrey, o que significava que o bode escorregadio não tinha conseguido um encontro com Maribela como desejava. Bem merecido para o canalha.
- Perdoe-me, senhorita Goodwin? - Disse. - Tenho um assunto privado que ficou pendente.
Ela soltou um profundo suspiro. Drake teve a surpreendente sensação de que tinha captado a insinuação rapidamente.
Gabriel parou ante a porta da carruagem justo no momento em que Drake saiu para enfrentá-lo.
- Não se incomode, Drake - disse, sacudindo a cabeça. - Sua passarinha acaba de sair pelo corredor do fundo com seu guarda-costas.
Drake amaldiçoou entre dentes.
Gabriel sorriu.
- Oh, ela me disse que lhe desse uma mensagem: Ninguém a abandona por outra mulher. Ninguém.
Eloise colocou a cabeça pela portinhola da carruagem, estudando Drake com desgosto.
- Você tem outra mulher? Duas na mesma noite?
Gabriel limpou a garganta.
- Você é a outra mulher, senhorita Goodwin.
Ela abriu a boca, mas não pôde emitir nenhum som. Pelo menos, não durante vários segundos até que conseguiu dizer, com uma voz um pouco entrecortada:
- Sua vida pessoal não é meu assunto, Lorde Drake. E odeio parecer tão persistente, mas estou um pouco desesperada para levar para casa à senhorita Thornton.
- Estive de acordo, não? - Olhou-a com seu sorriso mais ameaçador.
- Embora sem querer soar grosseiro, mas devo ser curto de entendimento para aceitar este acordo sem tirar nada de tudo isto.
Ele tinha que lhe dar crédito. Sua voz soou muito firme quando ela respondeu.
- A bondade é sua própria recompensa.
- Não em minha experiência, embora honestamente não possa dizer que tenha muita prática. E não deveria, mas tenho que perguntar, pensou por um momento que Thalía talvez não queira que a encontrem?
- assim como ele não queria ser recompensado. Só queria que a escuridão que se abatia sobre ele desaparecesse.
Ele afogou a faísca de culpa que estalou em seu interior quando Eloise olhou para seu colo, presumivelmente consternada ante seu arrebato de cinismo. Poderia ter lhe dito que viver uma boa vida não lhe importava o mínimo. Sua mãe tinha sido a mulher mais doce do mundo e tinha sofrido uma morte lenta devido a uma enfermidade crônica. Seu irmão Brandon tinha sido valente e jovem, mas foi brutalmente assassinado depois de sofrer uma emboscada. Aparentemente, a senhorita Goodwin se enganava pensando que era uma espécie de cavalheiro, apesar de seu acalorado interlúdio no jardim. Bom, melhor que enfrentasse à verdade agora que mais tarde, porque a achava muito atraente para seu próprio bem.
- Está bem - disse. - Concordei em ajudar. Vou tentar encontrar seus patrões perdidos, mas enquanto isso, insisto em que retorne a casa e espere minha notícias.
Lentamente, ela levantou a cabeça. Uma sensação desconcertante se apoderou dele quando seus olhares se encontraram. Meu deus, devo ter perdido meu cérebro na guerra. Era um idiota por ajudá-la sem esperar nada em troca. O que podia lhe dar uma mulher em sua posição, de todos os modos? Seus demônios internos se agitaram. Sabia o que podia lhe oferecer.
- Obrigada, - disse simplesmente, seu alívio era evidente.
Seu primo se afastou da carruagem.
- Aonde vai? Quer companhia?
Drake franziu o cenho com desgosto. Sabia por que Gabriel havia levado Eloise Goodwin ali, tinha-a utilizado como desculpa para conhecer Maribela. Poderia atirar no bastardo no joelho para lhe demonstrar que não apreciava os golpes baixos.
Ele afastou seu olhar do rosto de Eloise.
- Percy é conhecido por frequentar a casa de um amigo em comum que vive perto - acrescentou. - Possivelmente o encontre ali com a idiota fugitiva. E, não, não quero companhia. Em particular, não quero a sua.
- Talvez deseje vestir sua jaqueta de noite - murmurou à senhorita Goodwin do fundo da carruagem.
Drake olhou para o jovem lacaio com cabelo de palha que estava em pé na calçada, absorvendo cada palavra que se dizia.
- Poderia levá-la para sua casa? Este não é um lugar para ser frequentado por uma dama.
Afastou-se vários passos de distância da carruagem quando ouviu sua voz de novo, com um tom de suave menosprezo.
- Tampouco é um lugar para que esteja um cavalheiro.
Drake não se incomodou em defender-se, mas sim acelerou o passo. Não estava orgulhoso disso, mas o fato era que provavelmente tinha passado tantas noites na casa de Audrey como na sua. A ninguém devia uma explicação por seu comportamento. Se alguns de seus amigos mais próximos se atrevessem a questionar seus hábitos, não teria respondido. Entretanto, ele esteve bastante tentado a contra-atacar quando uma voz malvada dentro dele, insistiu: “Pergunte-lhe aonde pertence então”. Pergunte-lhe se teria um lugar para você sobre esses seios brancos e suaves, ou melhor, ainda, em sua cama. Pergunte-lhe.
Levantou seu rosto moreno e anguloso para o céu e percebeu que tinha começado a chover. Decidiu que não voltaria para a casa para recuperar sua jaqueta. O frio não o incomodava. Nem estava certo de senti-lo. Ou se alguma vez sentiu algo novo.
- Arrependa-se pecador - um homem com um manto cinza e esfarrapado lhe gritou da esquina da rua. - Arrependa-se ou irá para o inferno.
Drake lhe obsequiou um sorriso mordaz.
- Um pouco tarde para isso, meu amigo.
CAPÍTULO 08
Eloise dormiu em intervalos durante o resto da noite, despertando cada meia hora aproximadamente para comprovar se, Thalía ou seu irmão, tinham retornado a casa.
Logo antes do amanhecer por fim se levantou, lavou-se rapidamente com sabão de Castela e água fria e se vestiu na escuridão. Não tinha ideia de como iria explicar o desaparecimento da Thalía à mãe de sir Thomas. Preparou uma xícara de chá de salvia e se dirigiu ao quarto de Thalía que parecia vazio e abandonado. Apesar de todo o trabalho que causava, tinha chegado a apreciar a moça e estava preocupada com ela.
Quando, por fim Thalía retornasse de sua impetuosa aventura, nunca voltaria a ser a mesma. Sua inocência se veria comprometida, ou talvez, perdida. Eloise e Lorde Thornton não tinham conseguido protegê-la. Não importava que Thalía procurasse sua própria destruição. Eloise aceitou uma responsabilidade e tinha fracassado.
Colocou chá sobre o toucador e perambulou até o alto armário de nogueira no qual Thalía colocou desordenadamente suas coleções de cartas e revistas. Em poucos minutos tinha acumulado em seus braços uma pilha de folhetins de intrigas muito gastas. Levou-os escada abaixo para a sala. Não teve que ler muito para descobrir que se referiam à família Boscastle. Lorde Drake ocupava um lugar destacado em uma série de escândalos passados. Uma mulher prudente teria jogado toda essa porcaria no fogo.
Uma hora mais tarde, Eloise continuava lendo, com cãibras, rígida e completamente absorta, quando ouviu um golpe insistente na porta.
Sentou-se e sentiu como o sangue fluía de novo por suas extremidades.
O duelo tinha terminado? Tinha retornado Thalía ou pior ainda, tinham-na descoberto em um beco?
Levantou-se com vários dos folhetins ainda em sua mão. Quando se aproximou da porta, estava hesitando em abri-la. Quem devia chamar
tão cedo quando nem os criados estavam levantados? Com cuidado, abriu a porta e soube imediatamente que a figura desajeitada com um puído casaco café não era Lorde Drake, nem sequer seu primo. O rosto da pessoa que batia, voltou-se para a rua cinza sombria, mas pôde dizer por sua postura furtiva que levava más notícias.
O duelo no parque. Sem dúvida não se livrou. Ela se preparou, com a garganta seca, enquanto o homem voltava à cabeça para lhe sorrir.
Um calafrio de reconhecimento deslizou por suas costas. Foi fechar a porta, mas Ralph se antecipou a sua reação, colocando a ponta gasta de sua bota contra o batente. Empurrou mais forte a porta, mas ele nem se moveu.
- Olá Ellie - disse com voz maliciosa, olhando além de seu rosto comissionado e branco através do corredor. - Caramba, é bom voltar a vê-la. Sentiu saudades?
Ela retrocedeu um passo para o bengaleiro.
- Saia daqui agora mesmo ou sua senhoria terá que expulsá-lo. Vou chamar um agente de polícia.
- Cale-se boba. Nós dois sabemos que sua senhoria não está em casa - esticou seu corpo enxuto pela fresta fechando a porta atrás dele. -
E você teve sem dúvida uma noite agitada. Caramba, Caramba, Ellie.
Um baile de fantasia, logo foi em busca de um cavalheiro e em um bordel. E pensar que sempre foi tão tímida.
O eco de uns passos ressoou pelo escuro corredor atrás deles.
Eloise olhou a seu redor aturdida quando viu Freddie que parou, com uma expressão sonolenta em seu rosto pálido e sardento que lentamente foi substituído por uma de suspeita.
- O que se passa senhorita Goodwin? Algo está mau?
Ela respirou fundo, resistindo à vontade de contar-lhe tudo. Freddie era um jovem doce, no fundo um bom cavalheiro mesmo sendo lacaio e filho de um bêbado. Tinha aflorado apesar de sua sórdida educação e
não o envolveria em seus problemas.
- Tudo está bem - disse, esperando que não notasse o tremor em sua voz. - Vá fazer suas tarefas.
O homem em pé frente a ela começou a rir, um crispante som áspero que arrepiou os pelos de sua nuca.
- Nos deixe em paz, moço. Eloise e eu somos velhos amigos. Estará bem comigo.
Eloise endireitou seus ombros, não permitindo que Freddie visse quão alterada estava. Talvez se parecesse forte, Ralph se iria.
- Atenda suas obrigações, Freddie. Tudo está bem.
¨¨¨¨¨¨
Como Drake havia predito Horace não se incomodou em aparecer em Hyde Park para o duelo ao amanhecer. Drake mal tinha descansado, depois de ter passado a maior parte da noite rondando pela cidade. Tinha o pressentimento de que Percy e Thalía provavelmente não tinham saído de Londres, depois de terem sido vistos juntos em uma festa tardia e sabendo que Horace não tinha visitado nenhuma de suas casas de jogo clandestino favoritos. A opinião entre seus conhecidos era que tinha fugido para uma prolongada estadia no campo. Drake apostava que isso significava que o maldito covarde tinha abandonado às pessoas a seu cargo sem o menor escrúpulo.
Iria dar a notícia à senhorita Goodwin depois de tomar um café da manhã e uma forte bebida para conseguir que seu sangue circulasse. A carta com suas desculpas que enviou na noite anterior para Maribela foi devolvida sem ser aberta. Poderia realmente matar seu primo no campo de honra e considerar um favor à humanidade.
Gabriel lhe sorriu com expectativa de sua posição sob uma árvore.
O sol se levantava sobre o parque, e uma pequena multidão de curiosos se reunia já na grama coberta de orvalho, em previsão ao derramamento de sangue. A audiência incluía atrasados que voltavam para casa depois
de uma noite de excessos, um trapeiro, um marido e sua esposa em uma carruagem com uma criança dormindo. Também dois cirurgiões preparados com seus estojos de instrumentos.
Drake e Gabriel se colocaram em posição, deram seus passos e esperaram o sinal para disparar.
Gabriel falou sem mover-se.
- Voltou a ver Maribela ontem à noite?
Drake franziu o cenho.
- Não, bode retorcido. E você?
- Só em meus sonhos - disse Gabriel e riu.
- Sabe... - disse Drake, com um sorriso desumano - que posso não falhar o primeiro tiro absolutamente? Poderia apenas atirar na cabeça e me salvar de futuras ofensas.
- Está bem, primo. Desde que não atire em uma parte que uso regularmente. Especialmente a parte que necessitaria se alguma vez me encontro a sós com a senhorita St. Ives.
Ao sinal, ambos se voltaram languidamente e dispararam diretamente para o ar. Os espectadores expressaram sua decepção porque nenhum dos duelistas tinha caído morto sobre a erva e se dispersaram em todas as direções para começar o dia.
- Maldição - disse Drake enquanto um criado se apressava a lhe levar suas luvas e sua jaqueta da manhã cinza estanho - Falhei. Ainda tem sua cabeça.
Gabriel lhe dedicou um sorriso.
- E você ainda tem suas admiradoras - assinalando uma pequena carruagem de quatro rodas que parou atrás de um pequeno arvoredo.
- Ao menos uma delas chegou para assegurar-se que sobreviveu.
Sem pressa, Drake se dedicou a abotoar o casaco.
- Não gosto nunca de decepcionar uma dama. Que lástima que devo faltar a nosso café da manhã juntos. Em outra ocasião?
- Tirarei Maribela de suas mãos se decidir que não a deseja - disse Gabriel, enquanto seu primo começava a caminhar para o veículo estacionado. - Ou acaso é sua outra acompanhante. Talvez esteja outra vez na carruagem. Ou ontem à noite a afugentou para sempre?
Drake sabia, é claro, que não era Eloise quem tinha chegado ao parque. Provavelmente não se recuperou ainda dos acontecimentos da noite anterior. Sorriu ante a lembrança. Pena que não teve a oportunidade de recolher o pagamento por seus esforços. Quem teria imaginado que a iria achar tão condenadamente atraente, de qualquer forma? Não tinha a menor ideia de como paquerar ou jogar os jogos que ele estava acostumado a jogar.
Isso só demonstrava que o desejo surgia de forma tão imprevisível como o demônio. E que ele não sabia tanto da paixão como pensava.
Dois lacaios com peruca em calças justas escarlates lhe abriram a porta da carruagem. Entrou, levantando seu olhar à única mulher que o ocupava. Ah, a bela senhorita St. Ives. Observou que seu guarda-costas estava ao final do caminho, fingindo olhar para outro lado. Teve que perguntar-se se ela não teria criado a maior parte de seu próprio mistério.
Estava vestida de brilhante seda azul marinha, e o aroma de essência de rosas flutuou no ar quando se deslocou languidamente pelo assento.
- Ganhou o duelo? - perguntou-lhe com um frio olhar percorrendo seu corpo, supostamente em busca de feridas.
Sentou-se de frente a ela.
- Foi uma farsa - fez uma pausa. - Pensei que nunca iria querer voltar a ver-me.
- Ainda não estou certa de querer voltar a vê-lo.
Um sorriso zombeteiro curvou os lábios dela. Era uma mulher atraente, não podia negar. Mesmo à luz do dia se parecia com uma
deusa de uma lua distante com seus traços perfeitamente simétricos e uma graciosa frieza. Mas faltava algo. Entretanto se era em seu interior ou no dela, ainda não sabia. Sua boca se ergueu em um sorriso cínico.
- Então, a que devo a honra desta visita inesperada?
- Ainda tenho dúvidas se quero vê-lo de novo. Poderia me convencer de que o perdoe.
Ele começou a rir.
- É muito generosa, Maribela.
- Não o sou, na realidade. Sou ambiciosa e egoísta.
- Ninguém é perfeito, querida.
Seu sorriso se desvaneceu e ele sentiu que ela o examinava com uma intensidade que não falava tanto de sexualidade como de uma inteligente avaliação. As feições da senhorita St. Ives eram muito mais que as de uma mulher extraordinariamente formosa que se converteu em uma cortesã exclusiva.
Ele inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos. Perguntou-se de repente, quando a personalidade de uma mulher tinha começado a lhe importar e por que, quando deveria estar pensando em aproveitar a experiência amorosa de Maribela, sua mente vagava de novo para essa outra mulher. Era uma loucura perseguir uma mulher que estaria mais inclinada a colocá-lo em uma cama que a compartilhá-la com ele. Talvez estivesse ficando louco.
Abriu os olhos, divertido ante o toque de uma mão em seu joelho.
- O que... ? - perguntou Maribela, com a boca fazendo beicinho? Vai fazer para me compensar?
Ficou olhando essa mão e por um momento pensou que tinha detectado um curioso acento de dialeto campestre em sua voz. Não tinham afirmado os jornais que se criou nos Alpes italianos? Supôs que deveria saber. Com todo o mistério que a envolvia, seria prudente não tomá-la como sua amante sem investigar um pouco mais seus
antecedentes, embora Audrey nunca o tivesse enganado antes.
Certamente, Maribela não era uma espiã e Drake não albergava segredos de muito valor para o mundo político. Tinha desfrutado de um pequeno subterfúgio quando seu país esteve em jogo. Entretanto, não tinha especial interesse em justificar-se a uma mulher em quem não confiava. Uma amante servia como confidente tanto como amante. Ele não queria dormir com uma mulher em quem não podia confiar. Bom, ao menos não com regularidade.
- Que tipo de retribuição deseja, Maribela? Monetária?
Ela colocou a mão de novo em seu colo que ainda se achava incrivelmente indiferente. É claro que podia dever-se ao cansaço, ou...
- Meu guarda-roupa requer uma renovação? - Disse-lhe com um desafiante olhar.
Ele começou a rir. O terreno familiar de uma frívola e exigente mulher era algo que entendia e podia inclusive apreciar.
- Bom, por que não?
Pareceu vagamente apaziguada.
- Hoje?
Hesitou. A verdade era que não poderia dizer exatamente por que demorava. O vacilar aumentava o resultado final, realçando o sentido da antecipação que precedia a uma aventura sexual? Possivelmente, mas sentia que não era essa a razão. Suspeitava que ela tivesse um lado escuro em sua alma igual à sua. Não estava certo se isso seria propício para uma aventura satisfatória.
- Hoje não - murmurou. - Cometi a estupidez de aceitar ajudar um amigo
- Essa sua amizade é uma mulher? - perguntou diretamente.
Ele riu de novo. Pensou que tinha percebido um vislumbre de seu famoso temperamento em seu olhar.
- Que mente mais perspicaz tem. A verdade é que estou tentando
encontrar o homem que causou a farsa do duelo que acabo de ter. - E se ela sentia que havia algo mais em sua história que sua simples explicação, foi suficientemente sábia para não perguntar.
CAPÍTULO 09
Eloise se obrigou a olhar fixamente o rosto do homem com quem quase se casou. Sentiu que demonstrar temor lhe outorgaria uma vantagem. Entretanto, teve que refrear-se para não segurá-lo pelas lapelas de seu puído casaco castanho e sacudi-lo como o rato que era.
Como a tinha encontrado? Tinha mudado sua identidade e se encontrava finalmente perdida se não feliz entre a massa de humanidade de classe baixa que povoava Londres. Pela primeira vez em anos, tinha começado a ter a esperança de estar livre de sua vida passada.
- Meu deus, Ellie - disse, esticando seus braços sobre o espaldar do sofá de Lorde Thornton, - é bom vê-la depois de tantos anos.
Ela franziu o cenho ante os traços lamacentos que tinha deixado no tapete.
- Não posso dizer que o sentimento seja recíproco.
Ele soltou um grunhido.
- Ainda usando todas essas palavras rebuscadas, não é? Bom, vejo que vale a pena. Tem feito bem para uma garota de campo, tem feito bem.
Eloise observou a pálida luz do amanhecer que penetrava as cortinas do salão. Um duelo acontecia nesse momento entre dois dos mais estimulantes jovens que tinha conhecido em sua vida. Lorde Drake Boscastle e seu primo. Não havia comparação entre eles e o vulgar intruso que se esticava tão grosseiramente ante ela.
- Ellie, Ellie, Ellie. - disse com um sorriso desagradável enquanto a olhava de cima abaixo. - É bom voltar a vê-la. Emagreceu, parece bem pelo que vejo.
Olhou além dele para a janela. Uma carreta de madeira retumbava pelas ruas enquanto os vendedores se apressavam para chegar ao mercado. Era um dia em Londres como qualquer outro, e, entretanto,
Eloise sabia que com o reaparecimento de Ralph, sua vida nunca voltaria a ser a mesma outra vez. Na noite passada foi arrastada a um mundo brilhante que sempre soube que existia, mas só o tinha visto de longe, como se estivesse vendo uma peça de teatro. Tinha dançado temerariamente com um homem que jamais esqueceria. Não, ela não era a garota tímida e vulnerável que foi há seis anos.
- O que quer, Ralph? - perguntou com voz tranquila.
Ela notou a incerteza em seus olhos enquanto seu olhar sustentava o dele. Quem teria pensado que sua experiência como preceptora e acompanhante lhe teria dado tanta confiança? Esperava humilhá-la?
Tinha suportado anos de humilhação e tirado forças de suas experiências.
- O que quer? - perguntou de novo.
- Só um pouco de dinheiro aqui e ali. Não queria estragar as coisas para você, mas os tempos são duros, com outra criança a caminho.
- Quantas são agora, Ralph?
- Cinco - disse vagamente, forçando outro sorriso. - Poderíamos ter sido você e eu juntos, levantando garotas. Alguma vez pensa nisso? -
levantou-se torpemente quando ela não reagiu. Tinha que perceber de que não estavam sozinhos na casa.
- Ouviu algo de Mildred?
- Não, Ralph. Não ouvi nada. -Ela franziu o cenho, percebendo que ainda segurava os folhetins que tinha encontrado no quarto de Thalía. -
E desejaria tampouco ter ouvido de você.
Ele estudou a pintura por cima da lareira.
- Estive observando-a em privado durante uma semana. E era um cavalheiro elegante o que encontrou na noite anterior. Mas, Por Deus, Ellie. Um bordel. Se seu pai soubesse. Não é que vá dizer a alguém quando voltar a casa. Será nosso pequeno segredo, não é?
Por absurdo que fosse, estava aferrando-se ao folhetim como um
escudo que descrevia o irmão de Lorde Drake Boscastle. Que tolice pensar na paquera de um libertino como em uma espécie de talismã contra um homem como Ralph Hawkins. Entretanto, o fazia. Tinha magia nos beijos desse homem. Magia e poder.
- Vá agora - disse, com voz quebrada.
Ele sacudiu seu maltratado chapéu de feltro contra seu joelho.
- Muito bem então. Virei em outro momento.
Sua boca se endureceu.
- Não, não o fará.
Ele sorriu, mostrando seus bicudos dentes de furão. Como pôde alguma vez ter pensado que era bonito e atraente?
- Claro que o farei, querida. E me pagará, Ellie, se não...
Ela ficou olhando o bule sobre a mesa e desfrutou com a ideia de golpeá-lo na cabeça com ele.
- Ou se não, o que?
- Bom, desentupirei a panela, isso é o que farei. Contarei a seus finos patrões a coisa malvada que me fizeram Mildred e você. Ninguém quer ter uma louca a seu serviço, Ellie. Ninguém quer uma empregada assim em sua casa.
Surpreendentemente, voltou a dormir não muito depois de sua partida. A emoção da noite anterior, junto com a ansiedade de encontrar Ralph Hawkins em sua porta depois de tantos anos, como algo desagradável que um cão de rua tivesse depositado, tinha-a deixado morta. Simplesmente se preocupado até ao esgotamento, ao ponto de não lhe importar nada.
Thalía poderia ter fugido com um limpador de chaminés. Lorde Thornton poderia ter arrojado sua própria pessoa inútil ao Tâmisa, junto a outros refugos viventes. Bem poderia acabar vendendo empanadas na esquina, ou jogando-se a empregadores anteriores. Estava, felizmente, muito fatigada para levar a sua imaginação desesperadora a uma infeliz
conclusão. Não ganhava nada ficando histérica. Assim dormiu. Dormiu profundamente, sem sonhar, desabada sobre a mesa do salão da manhã onde todos na casa podiam vê-la. Dormiu como um homem condenado à morte que percebeu que tinha perdido toda esperança. Havia um profundo alívio em não lutar já pela vida. Estava... o homem mais bonito de toda a Inglaterra de joelhos ante ela, sacudindo-a pelos ombros e ordenando com voz de urgência?
- Senhorita Goodwin, pelo amor de Deus, está bem? Fale comigo, mulher. Pode ouvir minha voz?
- Hummm...o que...o que...
- Não tomou uma overdose de láudano, não é verdade?
- Que tomei o que? - murmurou, olhando-o com o cenho franzido como uma toupeira.
Enfocou seu rosto. Eloise se endireitou de um salto, de repente acordada e incapaz de respirar adequadamente. Os papéis em seu colo se esparramaram até o chão. Tentou ficar em pé, só para sentir suas mãos firmes deslizar-se sob seus braços para apoiá-la, e foi algo bom porque se sentia bastante trêmula ao tê-lo em frente. Lorde Drake Boscastle, de joelhos ante ela. Céus, teria roncado? Babado?
- Eu... Oh, vá - disse, quase golpeando a cabeça contra a dele. -
Que horas são? Levou-se a cabo o duelo? Está bem?
Estava mais que bem. Estava absolutamente esplêndido, bem barbeado e elegante com um casaco de manhã de estanho e calça negra. Inclusive depois de uma longa noite, apresentava a imagem da elegância inata, exceto talvez pelas manchas tênues de fatiga sob os olhos, que só aumentavam seu ar de encanto perverso. Seu maxilar quadrado estava emoldurado por linhas firmes.
Franziu o cenho quando ela se endireitou na cadeira. Sua mente estava começando a esclarecer-se. Repassou em silêncio os perturbadores
fatos
que
conduziram
a
este
momento.
Os
desaparecimentos de Lorde Thornton e de Thalía. Ralph à porta como um animal que cheirava a morte iminente.
- Sinto tanto - disse ela. - Não tinha ideia de que estivesse aqui.
Quer um pouco de chá? Algo... Oh, céus, perguntei-lhe se terminou o duelo?
- Sim, e nenhuma gota de sangue derramado - respondeu, visivelmente relaxado. Quanto tempo esteve tentando despertá-la, de todo modo?
- Estava lá Lorde Thornton? - perguntou com hesitação.
Ele negou com a cabeça.
- Temo que não.
- Você enfrentou sozinho seu primo?
- Dificilmente o chamaria enfrentamento. Provavelmente estive mais perto de matá-lo durante uma corrida de sacos do que estive hoje.
- Uma o que? - não pôde tê-lo ouvido com clareza. Continuava preocupada se, por acaso, ele a tinha encontrado roncando.
Ele sorriu.
- Uma corrida de sacos. Uma ou duas vezes ao ano, toda a família Boscastle se reúne no campo durante quinze dias de tortura. Gabriel sempre tenta ser melhor que eu. Até agora nunca conseguiu.
Eloise sorriu um pouco nostálgica, embora suspeitasse que houvesse algo mais nesta rivalidade do que ele tinha compartilhado. Sua própria família raramente tomava tempo para atividades prazerosas. Seu pai tinha muitas responsabilidades como um ocupado magistrado para brincar com seus filhos e sua mãe tinha trabalhado longas horas como costureira para complementar os ganhos. Inclusive agora, Eloise se sentia um pouco culpada quando tinha um pouco de tempo livre. Mas havia novamente calidez em sua voz quando falava de sua família. Isso o deixava mais atraente que um mero libertino que roubava beijos em um baile. Não podia ser um completo demônio se importava tanto sua
família, não é verdade?
Ficou em um silêncio inseguro, perguntando-se por um selvagem momento o que se supunha que tinha de dizer a seguir. Ele resolveu seu problema, embora de uma maneira inesperadamente embaraçosa.
- Bom, bom - murmurou, com voz profunda, irônica - O que temos aqui?
Ela piscou. Não tinha ideia do que queria dizer até que ele se inclinou para recuperar um dos papéis espalhados pelo chão. Os folhetins. A caricatura do escandalosamente proporcionado Lorde Heath Boscastle como Apolo. Esqueceu por completo que dormiu sustentando em seu colo uma imagem nua de seu irmão. Ela só podia esperar que não o reconhecesse.
Ele o fez. Uma escura sobrancelha se ergueu pela surpresa.
Apertou os lábios e estudou o desenho sem dizer uma palavra. Eloise não estava segura do que era pior, que a tivesse surpreendido com uma caricatura de um homem nu, ou que o homem nu fosse seu irmão.
- Meu deus! - exclamou. - Disse à senhorita Thornton mais de uma vez, disse cem vezes que não deveria ler esta porcaria. E deixá-la jogada por aí.
- Acredito que estava em seu colo - indicou, um sorriso brincando em seus lábios cinzelados. - Vá, vá, senhorita Goodwin. No que estava sonhando quando despertou?
Limpou a garganta. Que o céu proibisse que ele pensasse que era uma dessas mulheres que pretendiam ser corretas, mas que desfrutavam vendo desenhos pornográficos em segredo.
- Tinha curiosidade - disse, arrancando o papel de sua mão.
Seu olhar capturou e sustentou o dela, escuro de assombro.
- A respeito de meu irmão?
- Estava olhando entre as coisas da senhorita Thornton - replicou. -
Tinha a esperança de encontrar uma nota de Percy dando a entender
onde poderiam ter ido - bom, essa não era a verdade absoluta, de fato, nem sequer se aproximava. Mas não podia admitir muito bem que quis encontrar umas poucas intrigas a respeito dele.
Ele fez uma pausa.
- Pessoalmente não acho nada de mau que uma mulher goste de olhar ilustrações eróticas.
- Não estava olhando a ilustração!
- Não há necessidade de sentir-se envergonhada. Salvo que é meu irmão. Já o conheceu, não é? - perguntou com curiosidade.
- Não, é claro que não, - encolheu-se quando ele girou o papel e o desenho, olhou-a no rosto outra vez. - Mas vi...
- ...muito dele - terminou ele, brilhando seus olhos azuis com humor.
- Toda a Inglaterra o viu.
Eloise mordeu a ponta da língua.
- Refiro-me a que vi seu nome mencionado nos jornais com pouca frequência. Não parece ter se envolvido em muitos escândalos - como você esteve, poderia ter acrescentado.
Ele sorriu.
- Isto foi suficiente escandaloso.
- Não duvido. Que vergonha para um cavalheiro.
- Vergonha nem sequer começa a descrever o problema que causou o desenho - balançou a cabeça reflexivo. - Nunca foi a intenção de que se publicasse, conforme soube. Até o dia de hoje ninguém sabe exatamente como chegou à imprensa. Não acredito que alguma vez sua esposa consiga que se esqueça de sua indiscrição artística.
- Sua esposa? - perguntou ela com surpresa. - Sua própria esposa desenhou isso?
Drake a olhou durante uns instantes antes de responder. Como poderia explicar as razões não convencionais e incalculáveis de seus antepassados? Nem ele mesmo as compreendia, mas era uma
engrenagem mais da toda a maldita maquinaria, e se tinha resignado a isso.
- Receio que sim. Os homens Boscastle tendem a sentir-se atraídos por mulheres excepcionais. As mulheres de nossa família tendem a fazer coisas muito atrevidas.
- E... isto se aceita? - perguntou em voz baixa.
Drake teve que recordar de prestar atenção à conversa. Maldição se não se mostrava inclusive mais bonita do que esteve na noite anterior.
Sua pele ainda estava avermelhada por ter adormecido, o que naturalmente o fazia pensar em despertar a seu lado. Mesmo com seu ordinário vestido de musselina verde que se abotoava tão afetadamente pela parte posterior, conseguia fazê-lo pensar em despi-la.
- Sim - disse, finalmente colocando de novo em linha seus pensamentos rebeldes. - Em geral, somos muitos aceitáveis. Deve ser aceitável em uma família onde se cometem pecados quase todos os dias. - Limpou a garganta. Não havia necessidade de lhe fazer saber que eram uma prole diabólica. - E sua família? - perguntou em um claro esforço de desviar seu interesse.
- Não aceitam tudo - respondeu ela, afastando o olhar. - Quase tenho medo de perguntar, mas, descobriu onde poderia ter ido a senhorita Thornton?
Não estava disposto a admitir que Thalía fosse o mais longínquo de sua mente; de repente estava se perguntando de onde provinha Eloise e onde tinha vivido antes de trabalhar nesta casa. Era uma órfã? Talvez não restasse nenhuma família da qual discutir.
- Não sei onde está Thalía - disse com sinceridade. - Eu diria que ainda está em Londres. Dificilmente pode culpar-se a si mesma por seu comportamento.
Ela ergueu os olhos. A calidez em seu interior estalou transbordando-se.
- Não vou ser capaz de encobrir seu desaparecimento indefinidamente. A mãe de seu noivo suspeitará que algo esta errado.
Supõe-se que vão tomar o chá em poucas horas.
- Por tudo o que sabemos, Thalía retornará e ninguém saberá.
Ela negou com a cabeça.
- A sociedade nem sempre é tão permissiva com os enganos de uma mulher como sua família parece ser.
Ele tirou as luvas e as deixou cair sobre sua cadeira.
- Fala por experiência? - perguntou casualmente.
Ela hesitou.
- Nenhuma desta natureza.
Uma parte da mente dele tomou nota da evasiva.
- Você mencionou que ela vai se casar logo. Está planejando trabalhar para ela indefinidamente?
- Não tenho certeza do que vou fazer depois de seu casamento.
Ele assentiu com a cabeça, considerando sua resposta. Nem sequer tinha certeza por que lhe tinha perguntado.
- Provavelmente há maneiras mais fáceis de ganhar a vida.
- Suponho que isso depende do que se considere uma dificuldade -
fez uma pausa. - foram amigos você e Lorde Thornton durante muito tempo?
- Nem sei sequer o considero um amigo a Horace. Seu irmão o era.
- Então, por que o ajuda?
Ergueu uma mão para seu rosto e roçou com o polegar a curva de sua face.
- Por que acha? - perguntou-lhe pensativo.
Ela engoliu em seco ante o fogo nu de seus olhos e soltou a primeira coisa que lhe veio à mente.
- Eu perguntei primeiro.
Por um momento insuportável, temeu que risse dela. E então
abaixou a cabeça e lhe respondeu com um beijo que a inundou, agitando a escuridão. Ficou imóvel e fechou os olhos, não oferecendo nenhum tipo de resistência. De verdade, era muito vergonhoso. Nem sequer fez um protesto simbólico. No instante em que entreabriu os lábios, ele levou sua língua profundamente ao interior de sua boca com uma sensualidade pulsante que se apoderou de todo seu corpo.
- Meu deus, Eloise. - sua boca ardia como uma chama conquistadora em seu rosto, depois desceu para sua garganta até seus seios inflamados por cima de sua blusa. - Dizia-me que tinha imaginado o muito que a desejava ontem à noite.
Estremecimentos de primitivo desejo desceram por suas costas. Já antes tinha ouvido tais confissões sedutoras no curso de sua carreira, mas foi sua própria reação que deu a isto o nome de uma nova experiência. O perigo deste homem não residia em que tomava o que desejava, mas em que a fazia desejar que o fizesse, também.
- Isto é... - levantou sua mão fracamente ao pulso dele. Estava segurando-o ou lhe dando um empurrão? Era possível fazer ambas as coisas ao mesmo tempo? Era possível fingir que não sabia o que estava fazendo?
- O que? - deslizou sua mão nua até seu ombro, provocando estremecimentos na zona sem tocar de sua pele. - O que é? Diga-me.
- Não sei.
- Eu tampouco - sussurrou-lhe por sua vez - mas eu gosto muito.
Ela sentiu que suas mãos roçavam suas costelas antes de erguer-se para dar forma a seus seios com um toque conhecedor. As pontas de seus dedos circundaram as pontas doloridas através de seu vestido.
Teria morrido antes de permitir a outro homem fazer isto. Mas devido a ser ele, arqueou as costas e fechou os olhos, silenciosamente pedindo mais. Ele esfregou o queixo sobre seus seios.
- É assim suave em todas as partes? - perguntou com voz rouca. -
Quero saber.
Oscilou contra ele com um gemido, excitada pelo encanto decadente de sua voz. Com que pouco esforço a fazia desejá-lo. Na noite anterior soube não lhe dar sua simpatia. Não tinha pressentido que ele exigiria algo mais valioso? Certamente, não tinha mantido suas intenções em segredo. O surpreendente era sua resposta, e as liberdades que lhe estava permitindo.
Sua boca se fechou ao redor de seu mamilo e o sugou através da fina musselina de seu vestido. Uma onda de prazer desenfreado inundou seus sentidos com um calor líquido. Só Deus sabia o que lhe teria permitido se uma carruagem não tivesse avançado pesadamente pela empedrada rua exterior. O ruído os trouxe de volta a prudência. Afastou-se dela com um olhar sério que enviou um estremecimento involuntário por suas costas.
- Vou ajudá-la - disse lentamente. - Acredito que agora nós dois sabemos por que.
Eloise não se atrevia a romper a intensidade de seu olhar. Sim, talvez o que sentisse por ela era mera luxúria. Mas, a luxúria se ocultava atrás do suave toque conhecedor de um homem forte, que oferecia seu apoio quando se perdeu toda esperança? É claro que sim, respondeu com prontidão em sua mente uma voz muito aborrecida. A tentação não a seduziria se não viesse em um pacote atraente.
- O que quer em troca? - perguntou ela.
- Não disse que esperava nada, não é verdade? - olhou-a diretamente nos olhos. Era, de uma forma esmagadora, como olhar-se em um espelho. O reflexo não enganava, mas havia algo muito bem guardado.
- Não sou tão ingênua - disse.
Ele sorriu.
- Não pensei nem por um momento que fosse.
CAPÍTULO 10
Tinha razão, na realidade, assumindo que haveria um preço a pagar por sua ajuda. Geralmente era o que acontecia, refletiu Drake cinicamente quando saiu da humilde casa iniciando o caminho para seu lar. A parte atemorizante com esta situação era que Eloise assumia ser ela com quem ajustaria contas. Duvidava de si mesmo.
Nestes dias, não estava certo de nada em sua vida, embora soubesse que o acordo entre ambos, pouco tinha a ver com Horace Thornton. Possivelmente estava simplesmente aborrecido. Um homem não podia continuar bebendo, prostituindo-se e rejeitando-se sempre. Ou acaso era possível? Haveria piores formas de morrer. Deus! Tinha visto morrer sem nenhum sentido em ambos os lados do campo de batalha.
Até onde chegava seu conhecimento, o mundo não era melhor apesar de todos os sacrifícios que exigia.
Nesse momento, já começava a arrepender-se de oferecer-se para encontrar Thalía Thornton. O que lhe importava se a garota arruinava sua vida? Inclusive lhe tinha jogado uma escova de prata para o cabelo e golpeado seu rosto com uma folha de samambaia, pelo amor de Deus.
- Malditos sinos - uma voz profunda arrastou as palavras atrás dele.
- Realmente pessoas como você os deixam rondar pelas ruas hoje em dia?
Drake olhou a seu redor procurando o dono dessas palavras ofensivas. Esperava poder considerar-se insultado por um estranho e depois ter uma boa briga, sentir-se melhor. Por desgraça se tratava do mais novo de seus irmãos que se unia a ele na calçada, depois de saltar fora de uma carruagem abarrotada por seus amigos. Balançou a cabeça aborrecido ao ver como Devon se afastava de seu caminho a um torrador de ervilhas verdes picantes. O vendedor começou a amaldiçoar, mas parou ante o sorriso de desculpa que Devon lhe dedicou.
Com um simples gesto conseguia. Seu sorriso podia enfeitiçar até
as pedras. Era assim desde menino, depois de meter-se em um sem-fim de enredos, saía sempre gracioso e continuava funcionando inclusive como adulto. Quem exceto Dev podia atrair como um bandido tantos jovens aristocratas de toda a Inglaterra para que o imitassem em suas maldades? E quantas jovenzinhas esperavam até altas horas da noite, sonhando que fosse roubar um beijo? Não lhes importava que tivessem que viver encerradas longe da alta sociedade até que se esquecesse de seu comportamento escandaloso. E provavelmente a Devon incomodava muito.
Devon agitou um jornal ante seus olhos.
- Olhe isto.
Drake grunhiu e afastou a folha de seu rosto, reconhecendo o estilo de um famoso escritor de intrigas e sátiras.
- Se for outra caricatura nua de Heath, não estou interessado. Fartei-me dos atributos do Apolo esta manhã, obrigado de todos os modos.
Devon mostrou seus brancos dentes atrás de seu brilhante sorriso.
- Bom, não se trata de Heath, exatamente. Mas sim de você.
Arrancou-lhe a folha com um brusco tapa.
- Maldição, melhor que não seja eu. Ao menos que não esteja nu.
- Er, não, não há nenhuma ilustração, na realidade. Ao menos que tenha visto. Eu esperaria à edição de amanhã antes de ficar histérico.
- Alguma vez me viu histérico?
Devon pensou um momento.
- Não, que possa recordar.
- Então, porque me adverte que não fique histérico?
- Bom porque não queria que sua primeira vez fosse na rua, suponho.
- Minha primeira vez? Acaso sou uma virgem, Devon?
- Jamais poderia imaginar como tal. Certamente não é um papel apropriado para sua pessoa.
Drake franziu o cenho enquanto rememorava essa estupidez. Era comum que relatassem equivocadas intrigas aproveitando uma ou duas verdades sepultadas de baixo de enormes capa de lascívia. Ainda lhes custava acreditar que alguém pagasse por ler esse tipo de coisas, mas aí estava, impresso. Um exagerado relato, dava conta de sua noite de paixão com uma famosa cortesã, seguido de uma breve menção ao duelo na madrugada pelo qual dois primos Boscastle disputavam o favor da cortesã antes mencionada.
- Maldição! -disse, negando com a cabeça. - Espere até Grayson ler isto. Desde que nosso querido irmão se casou, tornou-se tão moral que mal o reconheço. Vou ter que lhe dar de presente um púlpito em seu aniversário.
- Muito certo, mas não é verdade? - exortou-lhe Devon com tom aborrecido. - Acaso não fez um acordo com Maribela e se bateu em duelo esta manhã? Tinha a intenção de chegar a tempo, mas me impediram uns assuntos pessoais que devia atender. Alegro-me que não foi assassinado.
- Gabriel e eu não duelamos por Maribela Pelo amor de Deus! Não recorda o que aconteceu na festa de ontem à noite? Thornton foi descoberto, por nosso primo, roubando nas cartas. E desapareceu depois do incidente. Estava ali, Dev, a menos que, estivesse mais bêbado do que parecia.
- Não estava bêbado absolutamente. E não sou um imbecil total.
Simplesmente assumo que depois do que ocorreu na Audrey, as confrontações entre Gabriel e você, eram de tipo mais pessoal.
Drake jogou o jornal à rua.
- Como soube o que aconteceu na Audrey?
Devon exalou um profundo suspiro.
- Bom, já sabe como gostam das intrigas às jovenzinhas.
- Você gosta de fofocar? -perguntou Drake. - É muito impróprio de
um homem. - Jamais, ninguém tinha questionado a virilidade do Boscastle, não era um tema discutível para Devon. -Suponho que não viu Thornton em seus passeios noturnos pela cidade.
- Não. Não posso dizer que tenhamos tropeçado.
Drake o esquadrinhou com afeto. Devon era aproximadamente uma polegada mais alto que Drake, magro e desajeitado em sua constituição, devido a seus cotovelos e joelhos ossudos. Entretanto, por alguma bênção da natureza, converteu-se em um homem forte e apresentável.
De personalidade agradável e sorriso malicioso, enganava a todo aquele que não o conhecia. Seu atrativo juvenil oculto sob uma complexa natureza que lhe impedia de reconhecer suas emoções ante muito poucas pessoas. E absolutamente todas as mulheres adoravam sua maneira de jogar.
- Por certo, aonde nos dirigimos? - perguntou Devon enquanto observava a redondeza do traseiro de uma vendedora de nozes a quem quase lhe cai a cesta depois de descobri-lo.
- Estou esperando por minha carruagem para seguir o rastro da senhorita Thornton e seu sedutor Percy Chapman. Procurei-os na metade da noite.
- Refere a Thalía? - Devon lhe perguntou, afastando finalmente o olhar de sua atraente vendedora de nozes e virando-se para seu irmão.
Drake cruzou os braços sobre seu peito. Falar com Devon e tentar conseguir toda sua atenção era uma das experiências mais frustrantes do mundo.
- Sabe aonde pode estar?
- Foi vista em um hotel da rua St. Albans -respondeu-lhe enquanto voltava a olhar com rosto desconsolado à vendedora de nozes. -
Acredito que estava com Percy, agora que o menciona.
- Agora que o menciona, agora que o menciona. - Resmungou Drake erguendo as mãos com exasperação. - Por que não me disse isso
a princípio?
Devon voltou a sorrir. Era impossível zangar-se com ele. Era incapaz de chatear de propósito, não sabia como dissimular.
- Pensei que queria contar sobre Maribela. Nem me passou pela cabeça que estivesse interessado em Thalía Thornton.
- Meu deus, Devon. Como pode pensar que estou interessado em uma pessoa tão insignificante?
- Bom - Devon sussurrou lentamente, - disse que a esteve procurando na metade da noite de ontem, ante muitas testemunhas, escapuliu-se com Maribela da casa de Audrey. O que poderia pensar um homem?
Encheu-lhe de inquietação a maneira como Devon relatou os eventos da noite passada, sua dedução superficial deu um novo sentido às circunstâncias. Como podia Drake explicar suas ações? Estava aterrorizado ao analisar a situação, sabia que não gostaria do que iria descobrir. Às vezes, para um homem, é melhor manter-se na ignorância.
- Não estou procurando Thalía para mim - respondeu-lhe cautelosamente. - Trato de ajudar um amigo a encontrá-la.
Devon permaneceu calado uns instantes. Infelizmente Drake desconfiava de seu silêncio. Apesar de sua aparência despreocupada, Devon devia suspeitar que jamais sacrificaria uma noite inteira somente para ajudar um amigo. Devia suspeitar que havia algo mais em jogo.
- Oh, Meu deus! - Gemeu Devon cambaleando para trás e sorrindo como um idiota. - Há uma mulher envolvida. Outra mulher. Está fazendo tudo isto por outra mulher. Que surpresa!
- Maldição, está sendo absurdo. - Drake grunhiu entre dentes.
Devon o observou com um olhar que rondava entre a fascinação e a compaixão.
- Tenho que conhecê-la. Quem é? Como é? Deve ser alguém digna de admiração se já usurpou o lugar de Maribela.
- Não há nenhuma mulher, maldição. Acaso não lhe diria se houvesse?
- Não sei. - respondeu Devon. - Faria?
- Você o que acha?
Ficaram parados ombro com ombro, observando juntos a rua, em silêncio. E ambos eram conscientes que, pela primeira vez em suas vidas, Drake tinha mentido, não somente a seu irmão, mas também a si mesmo.
CAPÍTULO 11
Foi um choque desagradável para Eloise encontrar Ralph no degrau da porta, cedo essa manhã, e com a exceção de ser surpreendida por Lorde Drake Boscastle, que a perturbava de uma forma totalmente diferente, seu dia não tinha melhorado absolutamente. Três credores em fila chegaram exigindo o pagamento das dívidas pendentes de Lorde Thornton. Um assistente do alfaiate muito ameno pegou todos os casacos que Horace tinha pedido para a temporada. Eloise lhe perguntou se gostaria de um par de calças para manter cativo à companhia de casacos. Ela e outros criados se converteram em peritos na arte de inventar desculpas para a irresponsabilidade temerária de seu amo. Inventar uma desculpa para explicar o desaparecimento de Thalía à futura sogra da garota, uma dama de cabelo prateado doce, foi muito mais difícil. Eloise gostava de Lady Heaton, e lhe doía ter que lhe explicar que Thalía não seria capaz de tomar o chá com ela e as três tias idosas de Sir Thomas em Piccadilly.
- Está tudo bem? - perguntou Lady Heaton, seus olhos cafés cheios de preocupação.
Eloise suprimiu um suspiro. Não poderia dizer a esta senhora a verdade, e a verdade era que Eloise não sabia onde estava Thalía, ou se ela estava bem.
- Foi chamada a uma emergência, temo. Uma doença cardíaca.
- Um membro da família?
- Er... uma querida amiga. - Mas um bastardo canalha na realidade.
Eloise poderia não aprovar o amaldiçoar em voz alta, mas se inclinou para amaldiçoar uma rajada de cores a si mesma em tempos de crise.
- É tão amável de sua parte - murmurou Lady Heaton. - Espero que não seja fatal.
Eloise fez um ruído evasivo em sua garganta. Poderia ser fatal, ao menos para Thalía, se pelo menos fosse capaz de chegar a pôr suas
mãos na garota. E esta escapada sem dúvida poderia ser fatal para a reputação de Thalía se o escândalo se chegasse a conhecer.
E assim esperou com alfinetes e agulhas o resto do dia. Esperou que seu empregador chegasse a casa. Esperou pelo agente de polícia para permitir aos credores levar os móveis. Esperou que seu antigo noivo voltasse a perguntar se tinha decidido lhe pagar por seu silêncio.
E com todas estas preocupações desagradáveis esperou que o sombrio e perigosamente elegante Lorde Drake Boscastle retornasse e a levasse rapidamente de sua atormentada existência para seu mundo de conto de fadas de pecado e sedução.
- Eloise - poderia dizer - sei que meu coração lhe pertence desde o momento que dançamos juntos no baile.
E poderiam rir juntos, recordando carinhosamente como o tinha insultado e confundido com um libertino. Ele poderia confessar que até aquela noite nunca tinha visitado um bordel, e o que era surpreendente, mas seu jovem lacaio fiel tinha razão. Drake não estava fazendo companhia para a senhora Watson com sua camisa desabotoada.
Estava boxeando com um amigo. Na realidade!
Bufou em voz alta sua melancólica bobeira e se ocupou de classificar o correio e organizar as cartas em montes ordenados, escutando a todo o momento um golpe na porta até que fosse a hora de ir à cama. Ninguém apareceu durante a noite. Nem tampouco houve nenhuma visita no dia seguinte, apesar de voltar a esperar com ansiedade até que foi quase o entardecer. Então quando finalmente percebeu que não iria ser nem resgatada nem jogada à rua, ao menos não imediatamente, tomou um longo banho quente em sua familiar banheira enquanto decidia o que tinha para o jantar. Não havia ninguém em casa. O pessoal se foi com sua bênção ver uma peça de teatro.
Poderia mimar-se com vinho e queijo frio sem que ninguém soubesse e se afundou sob a água para enxaguar seu cabelo. Tomar banho sempre
lhe ajudava a pensar, apesar de que sabia que não estava pensando sair desta situação.
Perguntou-se como sua vida tinha chegado a isto. Era sua culpa que quase se casou com um canalha? Ou o que o homem para o que atualmente trabalhava parecesse ser um pouco melhor? Ficou no banheiro tanto tempo que os dedos dos pés e das mãos se enrugaram como passas. Levantou-se da água morna com relutância, estendendo a mão ao redor da cadeira que tinha colocado atrás da banheira. O ar ficou frio. Queria vestir a camisola e puxar os lençóis sobre sua cabeça, esperando que quando despertasse pela manhã sua situação poderia milagrosamente ter melhorado preferentemente.
- Onde está essa cadeira? -murmurou, e amarrou seu grosso cabelo castanho como uma corda antes de espremer a umidade do mesmo. -
Céus, não é suficiente que tenha perdido minha pupila, possivelmente minha posição, e agora uma cadeira. Estou perdendo minha mente sempre alegre também. Eloise, Eloise. Está desesperada.
Jogou para trás seu cabelo e se dirigiu ao outro lado pelo chão irregular de madeira para a única janela. Ainda havia luz quando tirou a roupa. Agora o céu mostrava o mais belo entardecer lavanda cinza que silenciava os pecados da cidade coberta por este.
- Eu adoro Londres - sussurrou em um momento incomum de abandono. - Não há lugar como este na Terra. Por favor, Deus, não me faça ter que ir. Sei que está mal amar tanto um lugar.
Sorriu timidamente e moveu a cabeça. Não tinha o costume de fazer suas orações nua, mas sua camisola, espartilho, e o vestido de musselina limpo não estavam sobre a cadeira onde os tinha colocado.
Olhou ao redor de novo com perplexidade. Como uma questão de fato, a cadeira não estava onde a tinha deixado, e inclusive era pior, Eloise era uma pessoa muito precisa, coerente com seus hábitos pessoais.
Sentiu um pequeno calafrio deslizando por suas costas quando se
virou lentamente sobre seus pés descalços com interesse para uma sombreada figura sentada no canto.
- Oh, meu... - disse, com sua garganta seca. Estava vendo coisas, disse-se a si mesma. Deveria ser isso. A alternativa era muito horrível.
Fechou os olhos, negando-se a ceder ao pânico. Mas quando os abriu de novo, Drake Boscastle ainda continuava ali. E ainda estava nua. Tão nua como um osso, de fato. E decidiu que poderia não ser inapropriado deixar-se levar pelo pânico.
O escândalo. Ir por aí nua em frente a um homem. Perguntou-se se o tinha envergonhado naquele silêncio desconcertante passeando-se para trás e para frente em seu traje natural. Vergonhoso, entretanto, não descrevia o aspecto elementar em seu rosto.
Ilícito. Absorto. Descarado.
Além disso, este era seu quarto, e ele tinha invadido sua privacidade, não ao reverso. Lorde Drake Boscastle ou um lixeiro, havia certas normas de decência que ele obviamente tinha optado por ignorar.
Soltou vários suspiros.
- Estou sem palavras - disse com voz abafada - Absolutamente muda. Isto é inaceitável, milorde. Inconcebível, escandaloso, humilhante.
Não acredito que possa expressar o que se sente ao descobrir que alguém está sendo observado por voyeur. Como se eu fosse Lady...
Lady...
- Godiva? - Acrescentou amavelmente, seu olhar passando por ela em constante absorção.
- Sim. Sim. Bom, não. - Franziu o cenho. - Havia um cavalo que participava dessa instância, e um elemento de escolha, e...
- Impostos? - perguntou, com os olhos brilhantes.
- Impostos. Sim, havia impostos e eu... estou sem palavras.
Completamente ante uma perda total das palavras.
- Deveria ser mais um medo de encontrá-la em um estado loquaz.
Entretanto - sua profunda voz enviou uma onda de calor fervendo para a parte posterior de suas pernas - encontro palavras um pouco inadequadas para transmitir como estou me sentindo neste momento.
Avançou para o lavabo.
- Estou completamente sem...
- Uma toalha? - perguntou, sem conseguir ocultar um sorriso. - E de sua roupa interior? - Ele se levantou preguiçosamente da cadeira e se aproximou dela com sua roupa, também.
Ela estreitou os olhos. Não poderia chegar ao guarda-roupa ou inclusive à cama por um lençol sem expor seu traseiro a ele. Não poderia passar velozmente atrás de seu biombo do quarto de vestir, tampouco, porque estava parado justo à esquerda dela, e teria que passar em frente para chegar até lá. É claro poderia permanecer ali com suas mãos cobrindo as partes pertinentes.
- Jogue a toalha! - gritou.
- Peço-lhe perdão - disse, fazendo uma parada repentina. - O que disse?
- A toalha!
- Não há necessidade de gritar. - Fez a pretensão de levantar a toalha para lhe mostrar exatamente onde estava. - Está justo aqui. E
certamente não há necessidade de que a jogue. Céus, isso seria absolutamente de má educação.
- E mover-se furtivamente em meu quarto enquanto estava na banheira não é?
- Bati na porta - disse com exasperante complacência - mas não houve resposta. Temia que durante o transcurso do dia pudesse ter sido desalojada. Thornton tem uma séria dívida. Pode me culpar por estar preocupado?
Tinha que admirar sua defesa. Os outros criados tinham tomado a noite livre para ver uma peça de teatro. Era possível que tivesse batido
na porta e ter a suspeita quando ninguém chegou à porta. Inclusive poderia ser considerado heroico por sua parte o entrar na casa e... vigiá-
la de uma cadeira no canto enquanto se banhava?
Oh, Como poderia desculpar seu comportamento?
Deu um passo atrás do lavabo. Ele observou, a toalha ainda sobre seu braço.
- Poderia ir? - disse de cócoras atrás do cântaro de cerâmica e da bacia.
Parecia surpreso. Parecia estar procurando sua réplica.
- Pensei que queria que lhe trouxesse sua roupa e a toalha?
- O que eu gostaria de fazer é me vestir - disse entre dentes.
- Mas ainda está molhada -indicou. - Necessita uma toalha.
- Necessito privacidade para me vestir!
- Somente quero ajudá-la, Eloise.
- Posso fazê-lo...
Sua boca se abriu quando ele se adiantou e estalou a toalha como um chicote ao redor de sua cintura. Somente poderia agradecer ao crepúsculo por ter lançado um manto de sombras sobre o aposento.
- Eu mesma - sussurrou, engolindo em seco. - Posso fazê-lo eu mesma.
- É claro que pode - disse com um sorriso condescendente. - Mas não é assim muito melhor ter uma mão para ajudar?
- Isso realmente depende de que mão está ajudando - disse friamente.
- Meu valete me ajuda a me vestir todo o tempo.
- Faz isso? - levantou a voz de novo.
Ele assentiu com a cabeça.
- Sou incrivelmente impotente quando se trata de atar um pano ao pescoço.
- Possivelmente poderia atá-lo para você - disse. - Em um apertado
nó pequeno ao redor de seu pescoço.
- Olhe - repreendeu-a. Devorou seu corpo úmido. - Está tremendo.
Vire-se antes que consiga sua morte.
- Se morrer, não será de frio. - Estava nua em seus braços, presa contra suas coxas duras de aço por sua própria toalha. Sentiu um brilho de calor, uma advertência, uma aura entre suas têmporas, antes que o sangue corresse de seu cérebro em um aumento vertiginoso.
- Não irá desmaiar outra vez? - perguntou alarmado.
- Não desmaiei antes - sussurrou enquanto lutava contra uma nova onda de enjoo.
Ele apertou seu abraço sobre a toalha. Seu rosto mostrou um olhar com genuína preocupação.
- Talvez devesse levá-la à cama.
Seus olhos se abriram ante os seus.
- Não. Realmente não é necessário.
- Seus dedos dos pés estão ficando azuis pelo frio. - Suas grandes mãos amassaram seu traseiro, uma parte de seu corpo, pensou vagamente, que tinha pouco a ver com os dedos dos pés. -Poderia também me encarregar enquanto estou aqui, Eloise.
- Por que está aqui, em todo caso? - murmurou.
- Vamos esquentá-la antes que discutamos isso.
Puxou a toalha solta e a passou sobre suas costas e ombros, depois através de seus seios, lentamente rodeando a auréola rosada até que fico tremendo, imobilizada por seu contato.
- Por que, pode contrair uma pneumonia - disse em um tom severo. -
vamos ter que fazer algo para que esquente.
Soltou um som que estava em algum lugar entre um suspiro e um gemido de inconformidade. Não estava segura do que significava.
Somente sabia que a mulher nua que podia ver no espelho não podia ser ela. A toalha deslizou até o chão. Ele agarrou as firmes esferas de
seu traseiro quando se retorceu torpemente para alcançar a toalha.
- Disse algo?
- Não sei - sussurrou. - Fiz isso? - Não podia mover-se.
Seus fortes dedos dançavam de cima para baixo de sua coluna dorsal.
- Sabia que sua pele seria assim suave - murmurou com voz rouca. -
Está ainda fria? Molhada? Recoste-se comigo na cama.
Queria dizer sim. Queria suas mãos pecadoras por todo o corpo. O
espaço entre suas coxas se tornou dolorosamente úmido. Estremeceu contra ele, mas não de frio. Estremeceu quando sua dura ereção marcou seu ventre, logo uma vez mais enquanto a puxava estreitamente até que quase ficou escarranchada sobre sua coxa.
- Só quero tocá-la - disse, sua voz profunda debilitando as poucas defesas que ela pudesse reunir. - Quero estar onde ainda está ainda mais suave. E molhada. - Soltou um suspiro e sob o olhar dela, levantou sua coxa contra seu montículo suave. - Somente durante um momento. -
Olhou fixamente para seu rosto. O desejo de arrependimento em seus olhos aturdiu seus sentidos, a fez umedecer-se tanto que pensou que ele poderia senti-lo. Abriu a boca para opor-se mas somente ofegou com surpresa quando ele a levantou entre seus braços e a levou para a cama.
- Exatamente O que acredita que está fazendo? - sussurrou.
Recostou-a debaixo dele.
- Esquentando-a mais do que nunca esteve antes.
Ela gemeu, levantando seu braço para seu rosto.
- O que disse?
Ela engoliu saliva.
- Não disse nada.
- Não disse não.
- Não disse sim!
Ele sorriu.
- É sim ou não? - Seus olhos azuis brilhavam astutamente. - Ou é um talvez?
- Não vou falar disto - sussurrou.
- Bem. As palavras são supérfluas em uma situação onde os sentidos tomam o controle, de todos os modos.
Abaixou o braço um pouco.
- Isso não é o que disse.
- Sei. - Sorriu com picardia. - Já estabelecemos que as palavras não são necessárias para expressar o que sentimos.
Sorriu para si mesmo ao ver a expressão de desconcerto indignada que lhe dirigiu. Nunca teria acreditado se tivesse admitido que não era tão dono de si mesmo como pretendia ser. Ou que não tinha ido até ali para seduzi-la. Bom, ao menos não conscientemente. Não podia negar que a possibilidade não tinha passado por sua mente. Poderia inclusive morrer de desejo por ela, decidiu. Seu corpo era uma tentação suave e sensual. Tirou a capa e a deixou cair no chão. Seu olhar se desviou de seus seios cheios para seu ventre e foi para seu monte. Queria entregar-se às carícias de sua suave penugem com sua boca, respirar seu aroma mais intimo e levá-lo em sua pele durante o resto da noite.
- O que vai permitir? - sussurrou, inalando com antecipação.
Ela fechou os olhos. Ele inclinou sua cabeça para seus seios. Moveu sua língua para uma pequena ponta sensível. Ela sentiu um estremecimento incontrolável e levantou os quadris da cama. Era um homem que seguia seus instintos e se entregava a eles frequentemente.
Desfrutava do jogo de sedução, mas isto era diferente da habitual provocação de conquista. É um perigo para mim, pensou, seu coração pulsando ferozmente ante a compressão.
- Diga-me quando parar - murmurou. Lambeu um atalho de sua garganta até seu umbigo. - Agora? - perguntou.
Ela negou com a cabeça. Ele suspirou de prazer.
Lentamente levou seu dedo entre suas coxas para separar as pétalas úmidas de seu sexo. Ela abriu a boca e apertou involuntariamente. Seu dedo indicador se afundou mais profundamente.
- Deveria parar? - sussurrou, lhe enviando um desumano sorriso.
-
Não
-
suspirou,
seus
quadris
mudando
de
posição
impacientemente.
- Está realmente certa? - Recostou seu rosto contra a almofada de seda de suas coxas. Seu nacarado líquido perfumando seus dedos.
Fechou os olhos e respirou profundamente sua fragrância. - Não estou certo de tê-la ouvido, Eloise. - Pressionou outro dedo dentro dela e com habilidade a abriu. Estava apertada e tentadoramente molhada.
Ela gemeu.
Ele esfregou seu polegar sobre sua encapuzada protuberância, seus dedos sondando mais profundamente.
- O que foi isso?
- Não... - sussurrou. - Oh, Deus, O que fez comigo?
Sua mandíbula se apertou, aumentou a pressão de seu polegar contra seu casulo inchado e habilmente acelerou os movimentos de seus dedos dentro dela. Ela se convulsionou com um soluço de surpresa satisfeito, ancorando sua mão enquanto seu ventre estremecia com espasmos incontroláveis.
Ele abriu os olhos e a olhou, seus seios cheios estavam empurrando para frente, os mamilos de seda rosa tensos, suas coxas abertas. Sua mão estava totalmente molhada. Na parte inferior de seu corpo, o sangue se unia deixando-o dolorido de forma desumana em busca de alívio. Inalou para estabilizar seu errático ritmo cardíaco. Tão perto.
Muito perto. Não era por isso que estava ali. Não tinha ideia de que a acharia em um estado tão desejável. Somente queria lhe dizer que sabia onde estava Thalía. Não, isso não era de todo verdade. Queria vê-la
novamente. Mas agora que estava ali, agora que tinha permitido lhe dar prazer, mal podia recordar seu próprio nome. Isto era mais que qualquer desejo que conheceu antes. Algo desconhecido e ameaçador. Que caía sobre ele como uma besta de asas escuras que o atraíam de uma área de sombras contra seu escudo de indiferença.
Olhou para Eloise e sabia que devia sair desta casa e nunca retornar. Sua voz suave interrompeu seus pensamentos.
- Por favor - sussurrou, puxando os lençóis debaixo de seu braço. -
Por favor vire-se para que possa me levantar da cama e me vestir.
Sentou-se com seu rosto para a parede, sem incomodar-se em ocultar o prazer pecaminoso em seus olhos. No espelho de corpo inteiro vislumbrou suas costas elegantes e seu traseiro branco enquanto ela atravessava a sala até o quarto para o biombo. Sorriu. Deus, amava uma mulher com um traseiro bem arredondado. Algo para aferrar-se quando o sexo ficava duro e selvagem. Era curvilínea em todas as partes, com o mais doce ninho de cachos escuros debaixo de seu ventre contornado.
- Esqueceu seus objetos pessoais - disse por cima de seu ombro.
- Como se pudessem me ser de utilidade agora. - Murmurou.
- Você gostaria que a ajudasse?
Eloise não se incomodou em responder, reaparecendo um minuto depois com um vestido rosa de lã, preso com um traje de dupla fileira de botões de madrepérola.
- Não está mau - murmurou, - embora tenha que dizer que a prefiro como estava antes.
Eloise endireitou os ombros. Nunca colocou um vestido sem usar pelo menos uma camisola por debaixo, mas esta era uma exceção. Qual era o ponto de pretender que uma capa de roupa interior importava depois que a tinha despido e sem pudor? Sua mente estava instável de surpresa por poder inclusive falar.
- Por que está aqui, de qualquer maneira? - perguntou. Apalpou a
segunda fila de botões de suas costas.
- Encontrei a Thalía.
- Está bem?
Ele se levantou da cama e caminhou atrás dela, voltando abotoar seu traje com o cenho franzido. Eloise tencionou um pouco, mas lhe permitiu terminar. O homem realmente tinha talento na hora de usar as mãos.
- Ela e Percy passaram as duas últimas noites juntos com seus amigos em Chelsea - disse em voz baixa.
- Duas noites. Juntos. Pensa que eles...?
- Jogaram o jogo do camundongo e do gato? - Olhou para baixo enquanto ela se virava para olhá-lo. O azul de seus olhos lhe roubou o fôlego. - É claro que o fizeram.
Soltou um suspiro de desalento.
- Falhei em meu dever. Por muito que seu noivo a adore, não acredito que vá entender isto. Nem eu entendo.
- Talvez nem tudo esteja perdido - disse. - Quando um homem está apaixonado por uma mulher, ele...
Eloise o olhou com uma combinação de esperança e ceticismo.
- Ele o que?
Drake negou com a cabeça.
- Demônios, não sei. Suponho que deveria dizer algo profundo e inspirador, mas provavelmente não sou a melhor pessoa para falar de amor.
- Não? - perguntou.
Ele negou com a cabeça outra vez.
- Nem sequer entendo a mim mesmo, e certamente não o faria se fosse o noivo de Thalía. - Fez uma pausa. - Para ser sincero não posso nem sequer imaginar qualquer pessoa que queira casar-se com ela em primeiro lugar.
Eloise se absteve de fazer comentários, depois de ter tido pensamentos similares mais de uma vez.
- Realmente a ama.
Drake encolheu os ombros.
- Então só podemos esperar que não descubra sobre sua desgraça até depois que estejam casados.
- E depois o que? - perguntou com hesitação.
Ele sorriu.
- Não é nossa preocupação.
Era muito tentador manter sua atitude de poder de diabo com cuidado. Ela fez um esforço consciente para parecer ter uma atitude desaprovadora.
- Está abaixo, ou foi diretamente a seu quarto?
Depois de um longo silencio, ele disse:
- Não está aqui em absoluto.
Ela piscou.
- Não estava preparado para obrigá-la a voltar para casa no caso de que ela resistisse - disse. - De fato, nunca chegou a ver-me. Esta é uma situação que seu irmão deveria dirigir.
Seus lábios se apertaram.
- Exceto que ele não está aqui para dirigir nada. Bom, não há outra opção. Terei que trazê-la para a casa eu mesma. Não há ninguém mais que aceite a responsabilidade.
Ele se endireitou em alarme.
- Não, você não. Esta não era uma festa elegante a que ela e Percy assistiam.
- Nem por um minuto pensei que o fosse - disse. - Mas alguém tem que trazê-la para a casa. Vou levar comigo Freddie por amparo.
Ele soltou um grunhido.
- E quem diabos vai proteger Freddie? Deve pesar uma dúzia de
pedras. Não pode aparecer na porta de um lugar como esse. Os machos jovens poderiam dar uma olhada e...
Drake parou. Provavelmente tentaria fazer o que queria fazer ele mesmo, mas não estava disposto a deixar que isso acontecesse. Não podia permitir que ela mesma se colocasse em uma posição vulnerável.
Olhou-a desapaixonadamente.
- Era uma orgia?
Ele hesitou.
- Orgia poderia ser uma palavra um pouco forte para descrever uma festa improvisada na casa de um solteiro na cidade, mas não era uma reunião familiar refinada, tampouco. - Certamente Eloise teria se aborrecido com o grau de liberdades sexuais tomadas. Uma vez que estes entretenimentos tinham devotado divertimento plácido. Agora o ofendiam. Sabia exatamente porque Percy tinha levado Thalía a essa festa. Tinha participado de mais de uma, em festejos similares no passado. E se fosse dizer que as mulheres que tinha conhecido nunca tinham lamentado a perda de sua inocência.
- Não vai lá - disse com firmeza. - Trarei-a de volta eu mesmo.
- Pensei que tinha dito que essa não era sua responsabilidade.
Sentiu essa besta com escuras asas espreitando-o atrás dela outra vez. Talvez se negasse a reconhecê-lo, desapareceria antes que pudesse identificar o que era.
- Isso não significa que não vá ajudá-la.
Olhou-o durante um longo tempo antes de sorrir.
- Não sei o que pensar de você.
Ele se inclinou para recolher sua capa do chão.
- Esperemos para seu bem assim como para o meu que isto seja só uma separação momentânea de minha natureza costumeira. Pergunte a qualquer que me conhece bem. Pergunte a minha família. Sou irremediável.
Ele pensou que detectou um sorriso fugaz em seu rosto enquanto se endireitava.
- Se você diz - disse.
- Todo mundo diz.
- Dizem? - perguntou em voz baixa.
Não acreditou nele. Deus, as histórias que ele podia lhe contar.
Desde o dia em que nasci.
CAPÍTULO 12
Drake estava a meio caminho da porta, quando ouviu uns passos vacilantes atrás dele. Voltou-se para a esquálida e frágil figura que permaneceu no vestíbulo da escada que dava para o porão.
- Oh, é só você, Freddie - disse, colocando as luvas que tinha deixado no móvel do vestíbulo. - Achei que tinha ido a uma peça de teatro.
O jovem lacaio saiu à entrada do corredor, olhando pela escada antes de falar.
- Cheguei em casa depois do primeiro ato. Não me sentia bem deixando a Senhorita Goodwin sozinha. Não com tudo o que passou.
Drake sorriu. Era difícil não admirar esta fidelidade, embora o moço não parecesse capaz de defender a porta.
- Isso, sem dúvida é uma ideia racional.
- Obrigado milorde - Freddie não devolveu o sorriso com seu rosto magro sério. - Vai ajudá-la?
- Parece que vou fazê-lo. - Respondeu Drake um pouco divertido por este interrogatório.
- Vai protegê-la desse homem?
Esse homem? Fez uma pausa. O deveria estar falando de Thalia.
Bom não deveria lhe surpreender que os criados soubessem da indiscrição de Thalia com Percy. Seria quase impossível manter esse tipo de secreto em uma casa tão pequena. Especialmente uma casa em que o dono tinha abandonado seu cargo.
- Assim espero, Freddie. A senhorita Thornton está muito preocupada com sua companheira.
- Senhorita Thornton... sim, mas eu queria dizer...
Drake ficou olhando-o.
- Você queria dizer o que?
Freddie sacudiu a cabeça. Seu olhar caiu a seus pés.
- Quero dizer bom, milorde - murmurou, - Sei que não é minha tarefa intervir, mas não tenho má intenção.
Drake ergueu a testa quando o moço quase tropeçou com ele para abrir a porta principal. O anoitecer tinha aprofundado na tarde. As carruagens que passavam se balançaram como luzes de fadas na névoa. Havia um homem parado na esquina quando Drake chegou à casa. Foi-se.
Um credor, talvez. Tinha a intenção de recordar à Eloise para ficar alerta. Quando tentou dizer que foi testemunha de como saiu de seu banho como uma ninfa do mar voluptuosa, sentiu-se incapacitado de suas faculdades mentais.
Como se fosse pouco, já não tinha a intenção de ser amante de Maribela St. Ivet. Por quê? Deus, não lhe tinha prometido levá-la para compras esta tarde? Ou foi ontem?
- Os corvos estão esperando para atirar a matar, Freddie - disse enquanto colocava o chapéu negro de copa. - Falo em termos monetários, é claro. Os depredadores sempre sentem a morte iminente.
Os credores de Thornton vão lutar por sua parte. Não é que haja muito nesta casa para compartilhar.
- Recolhendo entre os ossos. - A jovem voz de Freddie soava trêmula.
- Não abra a porta outra vez esta noite - aconselhou-lhe Drake.
- Não o farei, milorde.
Ele saiu, sentindo que o moço queria dizer mais, mas se conteve.
Drake olhou a janela do terceiro andar e sorriu à sombra imprecisa que se movia atrás das cortinas. Quem iria pensar que uma mulher tão sensível pudesse esquentar seu sangue sem sequer tentar? Ou que estava a ponto de lançar-se em uma missão absurda para salvar uma jovem que presumivelmente não queria ser salva?
Ele, que tinha ido à batalha com coragem, sem se importar a perda
de sua vida ou sua integridade física. As opções em seus dias de luta tinham sido muito menos complicadas. A vitória ou a derrota. Sobreviver.
Não render-se. Não havia tempo para dar volta ao assunto ou afundar-se na melancolia. Seu sorriso se desvaneceu. Maldição se não preferia fazer frente à morte que lutar com sua própria natureza escura.
A escuridão anterior ao amanhecer cobria o rio. Drake parou antes do simples muro de tijolo vermelho que se erguia da casa Georgiana, além da borda escura do Rio Tâmisa. Algumas luzes piscavam através das persianas meio abertas, e uns ocasionais e afastados ânimos gemidos vinham de um dormitório. Uma figura envolta em um traje de monge revoava atrás de uma janela. Devon golpeou o chão com suas botas na borda.
- Espero que haja uma maldita boa razão para estarmos aqui.
- Seremos heróis, por isso. Somos dois homens valentes com a intenção de salvar a uma dama em perigo. Inclusive se a donzela se colocou nos problemas por si mesma.
Devon lhe dirigiu um olhar ressentido.
- Diga-me que há uma boa razão, não um conto. Suponho que esta donzela é alguém próxima e querida em seu coração?
- Não acredito. - Fez uma careta. - É Thalia Thornton.
- Oh, Meu deus - Disse Devon. - Estou congelando meu traseiro por essa garota?
- Há algo mais que isso. Temo que se deva a uma promessa que fiz.
Uma brisa úmida soprava do rio. Devon detectou uma omissão fundamental na explicação de seu irmão, mas foi suficientemente sábio para não perguntar.
- Quer a máscara?
Drake olhou divertido para um dos dois veludos negros que seu irmão pendurava no braço.
- Lembranças de quando era salteador de caminhos? Ou são as que
usavam quando com uma amante ou quando levava carta da França?
Devon sorriu.
- Zombe de mim tudo o que quisera, mas um homem nunca sabe quando uma máscara pode ser útil. Algumas senhoras desfrutam da noção de ser seduzidas na escuridão por um estranho.
Drake pegou a capa com capuz em suas mãos, examinando-a com um sorriso. Quando seus irmãos pequenos cresceram até ser peritos na sedução?
- Não tinha ideia que era tão versado em matéria sexual, Dev - disse com ironia.
- Como iria ser mau com você e Gray como magníficos exemplos?
- Siga-me e você poderia ser muito mau - disse Drake colocando a capa com uma risada. A escuridão formava redemoinhos ao redor de suas pernas enquanto caminhava para a casa. Uma tabuleta de madeira grosseiramente pintada na frente da porta que dizia: ESCOLA DE DAMAS EMBARQUE
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- Aulas de francês? - Disse Devon, assobiando suavemente. - Eu gosto do som disso. Talvez a noite não seja um total desperdício, depois de tudo.
Drake negou com a cabeça. Como não poderia amar Dev?
- Fico com o andar de cima. Você vê abaixo.
Ninguém apareceu quando abriu a porta. Ninguém o parou na escada, ou quando fez uma breve busca em todos os dormitórios por Thalia. Ela estava meio adormecida quando a encontrou na última câmara que verificou, incomodamente encolhida em uma poltrona com seu vestido de festa, enquanto que Percy roncava de forma irregular no canto.
Ela olhou o rosto mascarado com um pouco de medo, apertando os
ombros para trás na cadeira.
- Vá embora ou vou gritar.
Ele deu um golpe em Percy com a ponta de sua bota de couro negro. O homem fez um som incoerente em sua garganta, Drake revirou os olhos para cima. Retirou-se. Parecia como em seus dias mais selvagens? Tinha medo de saber a resposta.
- Calce os sapatos, Thalia - disse em uma voz tranquila mas firme. -
Vamos para casa. E se prefere gritar deveria ter feito um ou dois dias antes.
Sentou-se, com a mão em sua garganta, seus olhos brilhantes com o reconhecimento da esperança.
- Sr. Drake? - disse em voz baixa. - É você, não é verdade?
- Sim. - Já tinha encontrado um de seus sapatos no chão enquanto arrebatava o outro por debaixo das almofadas. Estudou o pálido rosto de Percy, torcido com desdém.
- Meu deus, que pena. Ainda vive.
Endireitou seu vestido, sua voz depreciativa
- Apenas.
- Quer que o atire sobre o batente da janela? Eu diria que seria um favor à humanidade.
Engoliu saliva e olhou fixamente o rosto mascarado.
- Não quero que se meta em problemas por mim. Eu... Eu quero ir para casa, por favor.
Viu-a com seu vestido desalinhado, com o cabelo emaranhado cinza e os rastros frescos de lágrimas em suas faces. Ela estremeceu quando seus olhares se encontraram, ele franziu o cenho e pegou seu xale para deixá-lo ao redor dos ombros.
- Você é quem está com problemas pelo que vejo.
- Confie em mim - sussurrou um pouco entrecortada. - Mereço isso. -
Suspirou.
- Não me corresponde julgar. Vamos. Tenho que achar meu irmão antes que se meta em problemas.
Devon parecia incapaz de evitar sua natureza. Drake achou seu irmão mais novo na biblioteca, com uma jovem ruiva vestida de Cipriano muito comodamente em seu colo. Drake limpou a garganta.
- Estudando os clássicos de novo, Devon - perguntou-lhe da porta.
Devon se sentou com um sorriso inocente, suavemente deixando sua nova admiradora sobre seus pés.
- Estávamos falando de nossos amigos perdidos. Alice aqui acredita que está acima com Percy.
- Ela está em pé atrás de mim - disse Drake secamente.
Devon ajustou seu dominó.
- Só estava tentando ser útil.
- Posso ver isso - disse Drake, com um sorriso triste enquanto se afastava.
Devon ficou em pé e lançou um beijo a sua amiga de cabelo vermelho como despedida.
- Foi uma reunião encantadora. E espero ter a oportunidade de aprofundar nossa relação em um futuro próximo.
¨¨¨¨¨Ëloise estava acordada e vestida ao amanhecer. Não podia esperar dormir bem, depois do que tinha ocorrido entre ela e o Senhor Drake.
Não podia deixar de pensar nele. O sutil calor que invadia seu corpo ainda zombava ao tentar sequer, e não facilitava as coisas que tivesse passado anos, convencendo a outras mulheres jovens de evitar situações similares. Em vinte e cinco anos de idade, deveria saber melhor.
Acabava de preparar uma taça de chá de hortelã e ir à sala quando Freddie entrou no aposento para lhe informar que sua ovelha perdida tinha chegado em casa.
Levantou-se de sua cadeira. Não estava certa se seria capaz de controlar sua ira com Thalia, ainda se não fosse seu papel criticar. Como alegremente a moça esteve disposta a sacrificar-se por um homem que a adorava por um interlúdio tolo. E entretanto, Eloise não era de todo indiferente. No momento em que viu Drake Boscastle na porta, lembrou-se da facilidade com que um homem podia levar uma mulher por esses passos perigosos.
O coração lhe pulsava com correntes agradáveis que podia sentir ao longo de todo seu corpo. Lançou um olhar a seu perfil duro e a figura encapuzada, a fez pensar no conto de fadas, como seus amado heróis da infância, aqueles cavalheiros brilhantes que resgatavam belas damas.
Entretanto, quando se voltou para olhá-la, sabia que havia mais escuridão em seu rosto de cavalheiro, que luz.
Tinha medo da escuridão? Ou foi isso o que a atraiu nele? Talvez não lhe importasse. Sabia muito bem que seria mais fácil esvaziar o Tâmisa com uma colherzinha que redimir a um homem de sua reputação.
Thalia passou junto a ela para as escadas, sussurrando:
- Sei que o que fiz é imperdoável e que nunca o entenderá. Mas por favor, não me odeie.
Eloise ficou em silêncio enquanto a garota se afastava para retirar-se a seu quarto. Só então notou um homem jovem que estava atrás de Drake.
- Possivelmente poderia lhe oferecer um refresco? - Perguntou ela.
Considerou insuficiente inclusive o oferecimento. Nunca poderia pagar a Drake pelo que tinha feito para ajudá-la. O homem que estava atrás dele abafou um bocejo.
- É muito cedo para tomar um café. Ou é muito tarde. Um brandy pode ser agradável. Sou Devon Boscastle como certo, irmão de Drake.
E...
- Eloise - disse Thalía com voz mal-humorada na parte superior da escada. - Pensei que viria acima comigo. Tenho que falar com você.
Ela balançou a cabeça a modo de desculpa.
- Freddie, por favor traga para os senhores o que desejam. - voltou-se, acrescentando por cima do ombro a Devon. - Estou encantada de conhecê-lo milorde, embora eu tivesse querido que fosse em melhores circunstâncias.
Devon lhe lançou um sorriso que deu força acrescida à reclamação do encanto da família Boscastle. Era um pouco mais alto que Drake, com similares características masculinas cinzeladas e um calor magnético.
- Eu acredito - disse ignorando o cenho franzido de Drake - que estaria encantado sob qualquer circunstância.
CAPÍTULO 13
Só umas horas depois, a vida de Eloise tinha continuado ao menos com uma aparência de normalidade. Lorde Thornton pode ser que não tivesse retornado a casa, mas finalmente chegou uma mensagem dele dizendo em termos vagos que saldaria suas contas e que as enviaria para sua casa mal se estabelecesse em sua nova residência. A carta não foi entregue por um carteiro, mas sim por um menino de bairro que fugiu antes que alguém pudesse lhe perguntar se tinha sido enviado diretamente por sua senhoria.
Eloise se sentiu aliviada por Lorde Thornton não se esquecer de suas dívidas. Entretanto, não se sentia absolutamente reconfortada por sua promessa de saldar suas contas. Suspeitava que neste plano estivesse envolvido com jogos de azar, e se fossem se unir em qualquer lugar, seria no asilo de pobres. Não obstante, não podia preocupar-se com ele. Sua preocupação imediata era ver que sua irmã dissesse os votos matrimoniais. Ela e Eloise fizeram um pacto tácito de nunca mencionar a escapada de Thalía.
Era uma boa coisa que Sir Thomas programasse viver no campo, e esperava que nunca descobrisse o que sua noiva tinha feito antes de seu casamento.
À tarde Eloise tomou seu chá no jardim e alimentou os pardais com pedaços de pão torrado de seu café da manhã. Estava saboreando sua paz antes que Thalía despertasse e controlasse o resto do dia. Havia uma centena de detalhes que atender antes do casamento. À luz do abandono de Lorde Thornton, Lady Heaton teve a amabilidade de oferecer a ajuda de seu filho para fechar a casa quando retornasse de Amsterdã.
Mas por agora, só por um momento, Eloise estava sentada enquanto se refletia na água os raios de sol e fechou os olhos. Se tudo fosse bem, estaria trabalhando para Lady Lyon no final do mês.
Perguntava-se se Lorde Drake falaria a seu favor e como ela se arrumaria se estivesse no mesmo aposento com ele e sua irmã?
Teria que manter seu decoro, é claro. Fingindo todo o tempo que ele nunca tinha visto seu traseiro nu ou que a havia beijado até a extenuação... ou mostrar um deleite que lhe seguia enviando ondas de calor através de todo seu corpo. Tais encontros provavelmente eram banais para ele, mas não para ela. Possivelmente seria melhor se dirigissem a situação fingindo não conhecer-se entre si.
- Aí está, Eloise - anunciou-se uma áspera voz masculina da porta do jardim.
Abriu os olhos com pesar. Um homem rechonchudo com uma jaqueta militar acabava de aparecer sobre o atalho de cascalho. Os pardais no relógio de sol saíram voando de susto. Lamentava não poder reunir-se com eles. O intruso era o vizinho do lado de Lorde Thornton e o visitante frequentemente não convidado, o major John Dugdale, um oficial de infantaria retirado.
Pelo menos não era Ralph, ou o ajudante do alfaiate outra vez exigindo o pagamento das contas passadas. O major Dugdale era no pior dos casos, um intrometido jactancioso, não um chantagista ou traidor de mulheres.
De todos os modos, não era Drake Boscastle, tampouco, uma voz débil mas decepcionada sussurrou em sua mente. Era o chato de meia idade que nunca tinha uma palavra amável para ninguém.
Levantou o rosto em sinal de saudação. Incomodava lhe ter que sair de suas fantasias secretas sobre Drake Boscastle sem acabar.
- Como está no dia de hoje, major?
Ele franziu o cenho.
- Estou preocupado com você, Eloise. Sei que Lorde Thornton desapareceu e partiu, e que você e sua irmã ficaram desprotegidas.
Ela não disse nada. Seria impróprio difamar seu empregador,
egoísta e estúpido como tinha demonstrado ser.
- Estamos administrando, senhor.
- Você? - Ela saltou ligeiramente à medida que golpeava sua bengala contra o banco. - Vi um homem vindo a sua casa a horas estranhas.
Ela afastou o olhar. Queria dizer Ralph? Engoliu o sabor amargo na garganta. Esteve rondando desde a manhã? Tinha-lhe ordenado que se fosse.
- Era um Boscastle - acrescentou com o tom de voz de um sacerdote quando exorciza um demônio. Eloise se surpreendeu.
- Lorde Boscastle fez algo para ofendê-lo.
- Ergueu-se o sol esta manhã?
- Peço-lhe perdão.
- Eloise, querida - disse com voz condescendente. - Em vista de sua posição indefesa, sinto-me obrigado a lhe advertir que tipo de família são os Boscastle.
- Que tipo de família que são? - perguntou-lhe, esperando não parecer excessivamente curiosa.
- Uma família propensa aos excessos de paixão. Uma família dada ao escândalo. A duelos e assuntos pecaminosos a cada dois meses do ano.
Ela olhou além dele à parede do jardim, disposta a não rir.
- Não se pode acreditar nos rumores.
- Não se... não posso acreditar nisto - disse, e tirou de seu colete a mesma caricatura de Heath Boscastle que tomou Londres pela tormenta.
- É este, este Apolo nu não é o jovem que a esteve visitando?
Ela o olhou acusadoramente.
- Deveria lhe dar vergonha, major. Esteve me espiando outra vez?
- Unicamente por seu bem-estar, minha querida. É este ou não o mesmo homem?
- Nunca vi Lorde Boscastle sem sua roupa - replicou ela. Apesar de ele tê-la visto completamente nua.
- Espero que não - disse com horror.
Ela pegou a folha e a virou para a luz do sol, murmurando:
-Há uma certa semelhança, tenho que admitir.
- Uma semelhança?
- Entre os irmãos, embora duvide que Drake tenha tão enorme...
- Tão enorme...?
Ela se calou, temendo que fosse explodir em uma gargalhada irreverente. Bom, amável como era ela, como se supõe que iria pensar com clareza quando estava olhando um desenho com o membro de um homem? Ela não sabia o que dizer.
- Eloise - o major Dugdale golpeou sua bengala de novo. - O que diz? Um enorme...
- ... Membro - seus olhos se abriram de vergonha. - Canalha, quero dizer sua excelência, é um enorme canalha para permitir que este tipo de caricatura circule em público.
Em privado era uma incógnita. Mas, ao parecer o comportamento travesso corria na família Boscastle. Ainda não podia acreditar que a esposa tivesse desenhado esta caricatura. Eloise não podia imaginar a sua mãe desenhando as partes de seu pai, e se o tivesse feito, certamente ninguém aparecido nos jornais.
O major pareceu duvidoso.
- Percebi uma mudança infeliz em você, Eloise. Isto não é absolutamente a reação que se espera de uma senhora de sua propriedade notável.
- Não tenho ideia do que quer dizer. - Mais tinha medo de que ele tivesse razão.
- Boscastle não a tentou, não é verdade?
- Para fazer o que?
- Não posso dizer - falou.
- Então, não pode esperar que eu me defenda. - ficou em pé e entregou a folha de novo a ele. - Aprecio sua preocupação, mas acredito que... - ela deu soltou uma respiração surpresa quando ele colocou suas mãos sobre os ombros dela. Sua bengala caiu no chão. A folha bateu as asas contra seu rosto. - Para que veio, major?
- Como amigo e vizinho, sinto-me obrigado a protegê-la contra...
Sons de passos vinham do caminho de cascalho atrás deles. O
major Dugdale com rapidez retirou as mãos de seus ombros e se deu a volta com culpa. Eloise se inclinou para um lado para ver quem lhe tinha salvado de uma situação embaraçosa.
- Protegê-la do que? - perguntou Drake com um sorriso frio quando entrou pela porta do jardim.
Seu olhar se reduziu em desgosto quando Eloise e seu companheiro de cabelos prateados se afastaram. Não tinha olhado a cena exatamente como um momento romântico, mas as mãos do homem mais velho estava em seus ombros. Eloise tinha uma expressão de desconcerto em seu rosto. Drake não estava certo do que estava acontecendo entre eles dois, mas sabia que não gostava.
Disparou ao homem mais velho um olhar de desgosto em boa medida. Proteja, seu traseiro! O patife estava provavelmente esperando durante anos a deserção de Lorde Thornton para aproveitar que tinha deixado seu lar vulnerável a todas as espécies de depredadores. Por que, a não ser isso, estava ali? Perguntava-se cinicamente.
Caminhou para o final da rota. Deliberadamente ignorou seu companheiro descontente e centrou sua atenção em Eloise. Ela lançou um olhar nervoso à folha de papel que tinha a velha raposa na mão.
Deus a abençoasse. Era tão aberta como um dicionário e tão fácil de ler.
Não havia engano nesse rosto bonito. Tudo o que aconteceu não tinha sido obra dela.
Reconheceu o papel imediatamente. E sorriu.
- É surpreendente o que algumas pessoas leem para o entretenimento nestes dias, não? - perguntou, divertido.
O homem com a caricatura na mão franziu o cenho.
- Este é um mundo perverso, malvado. Sou o major John Dugdale, e você é?
- Não a pessoa que aparece nesse papel. - Drake captou o leve sorriso que se desenhou no rosto de Eloise. - Embora me disseram que de perto me pareço com ele. Esse é meu irmão.
- Ah. Já vejo - murmurou o major, com o cenho franzido.
- E agora que estamos devidamente informados - disse Drake, decidido a deixar sua posição clara. - Vou pedir lhe que me deixe a sós com a senhorita Goodwin. Não importa-se, não é verdade?
Antes que o homem mais velho pudesse abrir a boca para protestar, Drake lhe deu uma palmada no ombro e o conduziu para a porta.
- Realmente foi um prazer conhecê-lo - disse, e acrescentou em voz baixa de maneira que Eloise não pudesse escutar - Mas é mais um prazer que você se vá. Mantenha-se afastado dela, estamos de acordo?
O rosto do homem ficou vermelho como um caranguejo cozido.
- Bastante.
- Não se preocupe. Vou encontrar um protetor adequado para ela.
Lorde Thornton o teria querido dessa maneira, não lhe parece?
- Não sei o que pensar - balbuciou o homem.
Drake fechou a porta e se virou para encontrar Eloise em pé exatamente onde a tinha deixado com uma expressão de divertido desgosto em seu rosto. Ele olhou seu vestido violeta pálido, sua boca exuberante resistindo a um sorriso. Devolveu-lhe o sorriso para rebater o aumento do desejo que sentia. Quase o derrubou de joelhos. Não é de estranhar que o velho trabuco tivesse a tocado. A cena lhe trouxe todos seus instintos masculinos à ação.
Dominar. Seduzir. Proteger.
Ficou muito claro para ele que seu desejo raiava à obsessão, uma ideia que deveria tê-lo enviado correndo à rua. Mas a raia imprudente de Drake tinha o costume de elevar a cabeça nas mais improváveis situações. Suas últimas obsessões tinham sido felizmente, poucas e longínquas. Poucas vezes lamentava sua perseguição, descobrindo que quando maior é o risco, maior é o prazer.
Umedeceu os lábios.
- Passa-se algo?
- Sim - disse cruamente. - Ou não. Suponho que depende de você.
- O que depende de mim?
E esse foi o momento em que percebeu que sua obsessão não era como nada que já tivesse conhecido. Isto poderia ser mais do que esperava. A provocação curiosamente ficava mais atraente. Era uma sensação nova, sentir-se atraído por uma mulher que estava tão enfastiada e cansada da vida como ele. E, entretanto, poderia enfrentar sua posição com ele.
Indicou o banco de pedra.
- Por que não nos sentamos juntos?
Tomou ambas as mãos e a atraiu a seu lado. Sua pele parecia de manteiga na luz, mais pálida debaixo da blusa violeta com sua fita amarrada, onde sua fenda desaparecia no profundo decote de seus seios. Seu olhar felino viajou sobre ela com prazer. Que desperdício era o desta cálida e desejável mulher disposta a uma vida educando a outras pessoas. Limpou a garganta. Seus olhos castanhos brilhavam com humor.
- Tem algo para me dizer?
- Sim.
Ela esperou.
- E então?
O problema era que não tinha previsto o que pensava lhe dizer. Nem sequer sabia que iria vê-la até que de repente se encontrou de pé fora da porta há uns minutos, perguntando-se que demônios estava fazendo quando se supunha que devia estar em uma festa no jardim com Devon.
Mas então começou a pensar a respeito de como parecia ao levantar-se inconsciente de seu banho, que sua pele brilhava com a umidade. Só teve um pouco dela, e queria ainda mais. Queria lamber seus sedosos mamilos cor de rosa e enterrar seu rosto na parte secreta entre suas coxas. Queria saborear a sensação de ligeireza que se apoderava dele quando estavam juntos.
Por essa razão estava ali, a seu lado. Mas essa não era o tipo de confissão que um homem pode oferecer e esperar dar uma boa impressão. Percebeu seu olhar fixo no jornal que havia debaixo do relógio de sol. Olhou na mesma direção para ver o que tinha captado seu interesse.
A caricatura de seu irmão Heath o olhava em toda sua infâmia vulgar. Pareceu-lhe bastante injusto que uma imagem distorcida de seu irmão se metesse sobre o que deveria ser um momento significativo.
- Pensou mais em seu futuro? - perguntou, olhando atrás dela.
- Sim. Espero ter uma posição na Academia de Lady Lyon aqui em Londres.
Sentiu um impulso de rir.
- Emma? Aspira servir à Fina Ditadora? O próprio coração de pedra, minha irmã?
- Foi muito amável quando a conheci.
- Talvez quando não é a destinatária de suas conferências de uma hora. A mulher é assim como um senador romano. - Fez uma pausa.
Esta era outra primícia. Uma sedução frustrada por uma foto das partes íntimas de Heath, e uma oferta de trabalho de Emma. Sua família estava arruinando sua oportunidade para o romance, simplesmente por existir.
- De verdade quer trabalhar para outros toda sua vida, Eloise?
Ela sorriu com ironia.
- É claro que sim. Eu gosto que as pessoas se aproximem com o fim de me humilhar. Não o quer todo mundo?
Ele riu então.
- Não teria que trabalhar, sabe. - Esse velho patife estava certo. -
Uma mulher em sua posição necessita um protetor, alguém que pudesse lhe fazer mais fácil a aposentadoria.
- Facilidade para que?
- Aposentadoria.
Fez-se um silêncio total, só se escutava o rangido dos pardais nas árvores e o ruído surdo do tráfego na rua. Perguntou-se se ela entendia o que significava sua proposta, ou se ele sequer o entendia. Havia virado seu mundo ao reverso desde a noite em que a tinha conhecido no baile.
Seus amigos pensariam que estava louco por afastar-se de Maribela.
Mas nunca tinham conhecido Eloise. E não estava particularmente ansioso para apresentá-la. Era uma mulher que queria manter para si mesmo, e não lhe seduzia a ideia de expô-la a seu mundo.
Ela suspirou profundamente. Não soava como o suspiro de uma mulher que estava a ponto de dizer que sim.
- Está sugerindo o que acredito que sugere?
- Acredito que sim - disse ele com um sorriso. - Eu gostaria que se convertesse em minha amante.
Ela apertou os lábios, mostrando-se um pouco nervosa e muito desejável.
- Isso é o que supunha que queria dizer.
Outro prolongado silêncio. Parecia menos surpresa por sua oferta do que tinha esperado. Mas claro, sua falta de experiência sexual não significava que não fosse mundana de outras maneiras. Duvidava que fosse o primeiro homem que se ofereceu a convertê-la em sua amante.
Estaria tentada? Não estava precisamente saltando de entusiasmo.
Entretanto, podia ver o delicado batimento do coração na base da garganta, e pensou que ele era a causa. Sabia que se sentia atraída por ele e que tinha que convencê-la. Mas as formas habituais que se utilizam para persuadir uma mulher não pareciam muito apropriadas.
- Eloise? - Inclinou sua cabeça perto da dela. Ela abaixou os olhos, mas ele percebeu que estava mordendo seu lábio. - O que está pensando? - perguntou com um sorriso zombeteiro. - Dê-me uma pista.
É esta a primeira vez que um homem lhe fez tal proposta?
Seus olhos se encontraram com os dele, brilhantes e sem véu. Não respondeu. Não foi necessário. Ele viu a verdade.
- Não achava que fosse - disse com uma risada irônica - depois de ter resistido às ofertas anteriores, deve ver a minha como um pacto com o diabo.
Ela riu um pouco.
- Isso o deteria?
- Não, em absoluto.
- Já imaginava.
Sentia o sutil calor que irradiava de seu corpo e resistiu ao impulso de puxá-la até seus braços. Era doce e forte ao mesmo tempo, uma contradição atraente.
- Nesse caso, não se surpreenda ao ouvir que vou tomar como uma provocação pessoal persuadi-la.
Seus lábios se entreabriram.
- Tenho alguma oportunidade?
- Não. - Murmurou, seus fortes dedos deslizando por seus cotovelos para pegar seu antebraço.
Sua cabeça caiu para trás. Sua boca se inclinou sobre a sua. Atraiu-a para si. Ao diabo resistir a seus impulsos. Precisava sustentá-la mais que nada, e sabia condenadamente bem que seus beijos eram
convincentes.
- Acredita que faço esta oferta à ligeira? - perguntou enquanto ela estremecia contra ele, de uma forma que inflamava seu sangue.
- Importa o que penso? - sussurrou ela.
- Só me diga que aceita - estava disseminando um rastro de beijos rápidos desde sua garganta até os suaves montículos de seus seios.
Sem importar o que ela dissesse, ou tratasse de dizer-se a si mesmo, a resposta a suas carícias a traiu. Sabia qual era sua reputação. Sabia que qualquer mulher que valorizasse sua virtude preferiria vender sua alma ao diabo que a ele.
Valorize-me acima da virtude.
Me queira tanto como eu a quero.
Confie em mim embora eu seja indigno de sua confiança.
- Por favor, Eloise - sussurrou. Passando uma mão por sua garganta e logo em preguiçosos círculos por seus seios, seus dedos polegares acariciaram as pontas através de seu vestido. - Não negue até que tenha pensado bem.
Ouviu sua voz como um eco agradável proveniente de muito longe.
Suas pálpebras tinham descido por uma pesada frouxidão que tomou conta dela. Não queria abri-las porque então esse momento de sonho terminaria. Teria que lhe pôr fim. Não podia ter falado a sério. E não podia considerar seriamente sua oferta.
Alguma vez lhe tinham feito essa oferta? Sim, de fato, duas vezes.
Esteve alguma vez tentada? Não, até agora. Agora a tentação se dava a conhecer em pequenos impulsos de prazer que surgiram das profundidades secretas de seu corpo. Sem dúvida ele estava acostumado a mulheres que lhe outorgavam carta branca e o consideravam um privilégio. Em silêncio, abriu os olhos e o olhou fixamente.
Os contornos de seu rosto pareciam cruamente sombrios à luz do
dia. O desejo subjazia em seus olhos junto com uma emoção ainda mais escura. Sentia-se como uma sereia que foi levada para uma terra desconhecida e se encontrou fora de seu elemento, incapaz de respirar, de mover-se, para voltar para a cálida segurança de seu mundo.
O olhar dele brilhava com prazer.
- Vou amar cada minuto ao persuadi-la.
Ela começou a pôr seus pensamentos em ordem.
- Poderia ser melhor - disse com voz um tanto desigual - que praticasse sua persuasão em um lugar mais privado.
- Não se mova - disse, sua voz soava tão diferente a de um momento, que um calafrio desceu por suas costas. Olhava além dela ao que parecia ser a grade de hera.
- Estamos sendo observados.
- Por quem? - perguntou, tremendo de novo.
Seu rosto se endureceu, convertendo-se em uma máscara. Parecia difícil de acreditar que fosse o mesmo homem que a seduzido só um momento antes.
- Estou a ponto de descobrir.
CAPÍTULO 14
Ele, saltou do banco, começando a correr antes que soubesse o que estava perseguindo. Não podia imaginar o que ou quem poderia estar escondendo-se nesse jardim tão descuidado. A pior ameaça com a qual Eloise se encontrou além dos cardos, os ratos e os comerciantes não remunerados era... Ralph, pensou com horror. Poderia Ralph ter retornado para pedir mais dinheiro? Saltou do banco. Tinha que evitar que se encontrasse com Drake. Seria muito humilhante explicar como tinha sido traída e tinha procurado se vingar de Ralph Hawkins.
Uma figura vestida de negro estava justamente agachada atrás da grade e estava tentando escapar freneticamente. Drake o teria apanhado com facilidade se não fosse pelo carrinho de mão que o intruso colocou no caminho no último momento. E talvez, se não tivesse sido por Eloise, quem impulsivamente gritou.
- Espere! Deixe-o ir. Ele poderia... - Com seu olhar selvagem, Drake se virou para olhá-la fixamente. O mesmo fez o intruso.
Ela simplesmente deu uma breve olhada em seu rosto. Uma imagem imprecisa. Não era Ralph. Esse foi seu primeiro pensamento, de alívio. Este era um homem a quem não tinha visto nunca antes, alto e de extremidades longas, com um rosto inesperadamente amigável e amplos ombros que poderiam ter investido a um par de bois. Sua boca se abriu com assombro. Percebeu que Drake estava esperando que terminasse sua frase.
- Poderia... poderia machucá-lo.
Lançou lhe um furioso olhar.
O intruso sorriu, e depois desapareceu ao redor da grade do jardim com surpreendente agilidade para alguém de seu tamanho.
- Jesus - murmurou Drake, virando-se para persegui-lo.
Correu atrás dele, parando apenas brevemente para olhar para trás quando a porta da cozinha se abriu de repente a suas costas. O pessoal
da casa de Lorde Thornton apareceu no atalho. Thalia, ainda com roupas de dormir, dirigia-se ao jardim.
Freddie alcançou primeiro Eloise, agitando uma vassoura acima de sua cabeça como uma espada.
- Credores, Senhorita. Goodwin? Não vamos ser despejados, não é verdade?
Tirou-lhe a vassoura das mãos. O aluguel da casa estava por expirar, mas não tinha certeza de quando exatamente.
- Não sei quem era, Freddie - disse. Ou o que planejava fazer Drake se o capturasse. -Lorde Drake está perseguindo-o. Saiu pelo portão do jardim à rua.
Freddie apareceu atrás dela no pavimento.
- Não os vejo por nenhum lado, Senhorita.
Era verdade. O único sinal de alguma perturbação na rua era uma carroça derrubada e um vendedor enfurecido levantando suas cebolas esparramadas da bocas-de-lobo. Na esquina, um mascate corria atrás de uma fugitiva peça de couve.
- Deveria ir atrás deles para ajudar? -perguntou Freddie, havendo já começado a enrolar as mangas de sua camisa, as quais, notou Eloise com desespero, estavam manchadas com fuligem.
- Sim. Sim.
Passou-lhe a vassoura.
- Bem poderia levar isto. Se não lhe servir como arma, poderia ser conveniente para limpar depois o passo de Lorde Drake.
- Boa coisa que ele estivesse com você, Senhorita - disse Freddie. -
Necessita um homem como ele para que a proteja.
- Me proteger do que? - murmurou.
Deu meia volta ante a comoção atrás dela e viu o mordomo consolando à Senhora Barnes, que tinha uma de suas crises e estava sentada no atalho, suas meias estavam caídas ao redor de seus largos
tornozelos, que estavam inchados por ter que trabalhar tanto com escassa ajuda. Durante um momento Eloise se perguntou que diferente poderia ser sua vida se convertesse na amante de Drake Boscastle.
Poderia levar o pessoal com ela.
Não seriam jogados à rua, e a Senhora Barnes poderia descansar seus pés. Poderia pedir a Drake uma carruagem decente. Nunca mais se veria preocupada com os credores que poderiam lhe tirar a cadeira de debaixo pois seu chefe não tinha cancelado suas dívidas. Em lugar de esconder-se atrás das cortinas quando um credor aparecesse, seria convidada a corte à uma das festas privadas de um nobre.
Tentador.
Por outra parte perderia sua oportunidade de ganhar alguma medida de segurança em seus próprios termos. Certo, teria que trabalhar duramente na academia, treinando malcriadas jovens damas sobre como navegar nos perigos da delicada sociedade.
Mas seria dona de seu próprio destino, por assim dizer. Poderia conservar arduamente sua dignidade, provando a si mesma e a sua alienada família que ela não era aquela moça que tinham mandando ao mundo. Desejava que não importasse o que eles pensavam. Desejava que a dor de sua rejeição se fosse.
- O-ou-iiise! - Thalía gritava do portão do jardim, seu branco rosto petulante estava torcido. - O que está fazendo na rua? Necessito-a neste preciso momento. Esqueceu-me?
Suspirou, balançando sua cabeça, e lançou um último olhar a seu redor procurando um sinal do homem que lhe tinha feito uma extremamente indecente oferta.
Na realidade, muito tentadora.
¨¨¨¨¨¨
Drake dedicou quase uma hora à perseguição, antes de perceber que sua presa tinha desaparecido em alguma parte do labirinto de ruelas
e becos que proviam incontáveis oportunidades de escape dentro do submundo de Londres. Tinha derrubado três carruagens com produtos e quase outra no processo. Em um ponto um par de oficiais, reconhecendo-o, uniram-se à perseguição. Mas ficou sem fôlego para manter o ritmo, e Drake os tinha perdido várias quadras atrás fora de uma casa pública onde tinham parado para separar uma briga.
Ficaria satisfeito se acreditasse que o homem que tinha açoitado era simplesmente um inescrupuloso credor que tinha ido à casa reclamar suas perdas. Mas parecia pouco provável que um credor estivesse espreitando na hera e observando um momento privado.
E havia algo familiar a respeito da incomum constituição do homem que importunava a sua memória. Conhecia-o, e ao mesmo tempo não o conhecia. Nunca tinham se encontrado. A mente de Drake não descansaria até que o recordasse.
Acalmou seu ritmo e parou na calçada durante um momento, tão concentrado na perseguição que não tinha percebido que andaram em círculos por Berkeley Square até alcançar Bruton Street. A casa de Audrey Watson estava diretamente a sua esquerda.
- Por todos os diabos - murmurou.
Como tinha terminado ali de todos os lugares?
De todo modo, tinha perdido sua presa. Reconheceria esse rosto se o visse novamente, entretanto, não seria pego com a guarda baixa na próxima vez. Ainda assim, doía-lhe ter que retornar a Eloise e explicar que tinha falhado quando tinha tentado impressioná-la como um potencial protetor. O que o levava ao problema de Maribela St. Ives e como iria lhe explicar que não estava interessado em uma aventura. E
confiava que ela entendesse como estas questões funcionavam e que o perdoasse.
Fez uma careta. Não era provável que isso acontecesse. Seu malvado temperamento sairia à tona e não a poderia culpar. Não
pensava que fosse esse tipo de mulher, entretanto, que ficasse recolhendo musgo.
Mas, bom, não estava interessado, e nunca foi o tipo de homem que fingia. Sua brutal honestidade não o tinha feito sempre popular com seus amigos. Ou inclusive com a família, para o caso...
Oh, Deus. Sua família. Nunca acabava. Ali estava um deles.
Tirou seu olhar da casa para ver seu irmão Devon caminhando de costas em direção contrária, estava tão concentrado em flertar com uma bela jovem em uma carruagem que não notou Drake até que se chocou contra ele.
- Oh, desculpe. - endireitou-se com seu encantador sorriso.
- Drake, fascinante chocar com você fora de um bordel. Vem ou vai?
Drake olhou além dele.
- Estou procurando um homem.
- Na casa de Audrey? - Devon considerou isto. - Por que motivo?
Salvo que seja um desses sobre os quais não desejo saber.
- É um homem que descobri espiando a mim e à Senhorita Goodwin em seu jardim faz um momento - disse Drake bruscamente. Não estava interessado em dar a seu irmão mais novo uma explicação completa na rua.
- Espiando ambos? - Devon ficou sério. - Maldito inconveniente. Não vou perguntar o que estavam fazendo.
- Bem. Não lhe diria de qualquer jeito. - Deu a Devon um empurrão para a porta da frente da casa de aparência respeitável. Todas as janelas estavam hermeticamente fechadas para ocultar os pecados cometidos em seu interior. De repente se perguntou se o homem que procurava não teria entrado de alguma forma. Era pouco provável, mas valia a pena provar.
Devon parou a seu lado quando Drake levantou a pesada aldrava de
bronze.
- O que faremos se o encontramos?
- Convidá-lo para tomar chá. - Drake sacudiu a cabeça exasperado.
- O que acha, Devon?
- Acredito que é um maldito canalha de mau humor.
- Nunca reclamei ser um maldito raio de sol.
A porta se abriu. O imponente mordomo de Audrey, que tinha servido brevemente ao Príncipe regente em Brighton antes que ela o roubasse, ficou olhando-os em pomposo silêncio até que reconheceu quem eram. Não se notava, mas Drake sabia que o homem carregava um par de pistolas sob seu longo abrigo negro.
- Boa tarde, cavalheiros - disse pelo nariz, fazendo uma reverência. -
Por favor passem. A senhora não está em casa. Posso atender eu pessoalmente suas necessidades?
- Estou procurando um homem - disse Drake sem preâmbulos.
As sobrancelhas do mordomo se elevaram até o teto.
- Um homem milorde?
- Isso é o que disse.
- Talvez possa visitar o estabelecimento da Sra. Rutherford em Stand. Entendo que ela abastece uma variedade de apetites.
- Não quero este homem por prazer - disse Drake com aborrecimento. - Quero matá-lo. Provocou-me uma ofensa de natureza confidencial.
- E você acredita que pode estar em nossa casa? - As narinas do mordomo estremeceram com indignação. - Descreva o malfeitor, milorde.
- Apenas pude dar uma olhada - disse Drake. - Alto. Bem formado.
Tinha o rosto de um macaco.
- O rosto de um macaco - disse o mordomo com o cenho franzido. -
Posso pensar em vários homens que se encaixam nessa descrição.
- Mas chegou alguém assim na hora passada? - perguntou Devon.
- Perguntarei aos assistentes pessoais da Sra. Watson. Por favor fiquem cômodos enquanto investigo.
- Pode ter entrado pela porta traseira - gritou-lhe Devon.
- E pode ter saído por ali, também, enquanto estamos aqui conversando como colegiais - disse Drake, passeando impacientemente pelo corredor inferior. - Vamos, Senhorita Muffet. Para cima.
Ele e Devon se separaram para fazer uma rápida busca pelo salão privado superior. Apenas dois visitantes estavam presentes, um, uma popular atriz de Drury Lane em um vestido esmeralda de seda que estava sentada tomando champanha, o outro um respeitável membro do parlamento que saudou cordialmente com um gesto da cabeça ao reconhecer os irmãos Boscastle.
- Passemos aos quartos - disse Drake.
Era consciente que tinha passado tempo suficiente para que sua presa tivesse navegado a metade do caminho para a Cornualha. Por que tinha tentado Eloise pará-lo, de todos os modos? Esse momento de distração lhe havia custado a perseguição.
Devon pôs suas mãos nos quadris.
- Olhe, não sabemos se entrou aqui. Drake não lhe olhou. - Pode estar escondido em um dos quartos.
Devon esticou sua estrutura atlética com alarme enquanto Drake recortava o caminho para o corredor privado.
- Não pode ir batendo nas portas enquanto as pessoas estão resolvendo seus assuntos.
- Tem razão. - Murmurou Drake. - Não bateremos.
- Poderia ter ido à casa mais abaixo da rua.
- Poderia havê-lo feito. Exceto que tenho um pressentimento sobre ele, Devon.
Devon o seguiu pelo corredor.
- Não acredito que você ou seu coração tenham tido alguma vez um falso pressentimento.
- Começarei pela direita.
Devon sacudiu sua cabeça com resignação.
- Só lembre-se de agachar quando começarem a voar os objetos.
Drake lhe lançou um sorriso. Maldição, mas não sabia o que faria sem o jovem bastardo.
- Com um pouco de sorte os únicos mísseis que terão tempo de arrojar serão os travesseiros.
¨¨¨¨¨¨
- Ninguém faz Maribela St. Ives ficar como uma idiota. - Um conjunto de almofadões bordados voou através do quarto como uma chuva de meteoritos.
- Quer-me dizer que fui abandonada por uma mera acompanhante?
Albert
afundou
suas
mãos
em
seus
bolsos
olhando
melancolicamente pela janela do hotel para a rua.
Tinha certeza de que tinha perdido Boscastle, mas, Deus, que perseguição. Nunca tinha se deslocado tão longe e tão rapidamente em sua vida. Tremia.
- Parecia endiabradamente preparado para me matar.
- Eu o matarei - disse ela, seus olhos cinza latentes. - A que tipo de jogo acredita que está jogando?
- Fique quieta, madame - a jovem criada no piso exclamou com frustração. - Derramou água de rosas por todo seu formoso tapete. Se quiser que a prepare, não pode se mexer como um cavalo de corrida.
Ela levantou um pé delicadamente arqueado no ar e jurou.
- Qual é o nome desta acompanhante?
- Maldito se sei - replicou Albert, afundando seus ombros.
- A casa está alugada para Lorde Horace Thornton. Ele e sua irmã vivem ali, mas deduzo que ele está fora para evadir-se de seus credores.
- Nunca ouvi nada de nenhum deles.
Ela franziu o cenho à exasperada criada no piso.
- Está certa de que Lorde Drake não veio quando eu dormia?
- Sim, estou certa, Senhorita. St. Ives, - replicou a criada pela décima vez no mínimo nesse dia. - Mandou uma desculpa alegando que se atrasaria novamente.
- Claro, que se atrasará. Que horrivelmente insultante. Paquerando com uma... uma empregada quando estou sentada aqui sozinha.
Albert lhe dirigiu um cenho franzido.
- Há um conde e outros dois cavalheiros com título esperando abaixo que apareça.
- O Conde de Chesleigh? - seu rosto se iluminou. - Veio com novos presentes?
- Terá que perguntar você mesma. Supõe-se que só apenas um guarda-costas. - Disse com o cenho franzido por cima do ombro. -
Boscastle me matará se voltar a me ver alguma vez.
- Disse-lhe que não deixasse que o visse - disse ela, pegando uma revista parisiense.
- Estava bem escondido. Juro que tem os instintos de um lobo.
- Assim soube -disse ela, com acidez. Um sorriso curvou seus vermelhos lábios.
- A acompanhante de uma dama. Pergunto-me se é a mesma mulher que o estava esperando em uma carruagem na noite em que nos conhecemos, maldição. Soube no momento em que o conheci que não encaixaríamos.
- É pior que um diabo, - disse Albert, esquivando-se da revista que ela jogou em sua direção. - Empurrei duas mulheres idosas quando escapava dele e o maldito quase me pegou escalando um portão de ferro forjado.
Ela pareceu preocupar-se claramente.
- Recorda onde vive esta mulher?
Ele grunhiu.
- Claro que o recordo. Mas não voltarei ali.
- Não. - Ela colocou novamente com delicadeza os pés no recipiente com água perfumada. - Mas talvez eu...
¨¨¨¨¨¨
Duas horas mais tarde, quando Eloise estava sentando-se para tomar o chá com uma saudável porção de bolacha de amêndoas com Heston e a Sra. Barnes, chegou uma nota de Lorde Drake lhe advertindo que não tinha alcançado ao culpado do jardim, mas que todos na casa deveriam ficar em guarda no caso de que aparecesse novamente.
Eloise ficou aliviada por não ter se machucado em sua louca perseguição. Quem teria estado observando-os? Não era Ralph Hawkins Era muito esperar que tivesse desaparecido?
- Meu deus! - exclamou a Sra. Barnes, apoiando a colher. - Temos um defensor em Lorde Drake. Um protetor.
Então olhou francamente para Eloise, que continuou escavando em sua bolacha como se não tivesse nem ideia de a que se referia a mulher, embora estivesse claro que a Sra. Barnes entendia exatamente por que Lorde Drake estava prestando tanta atenção à Eloise. O que não era claro é como dirigiria Eloise a situação. Seu coração queria aceitar a oferta. Sua mente a advertia que abandonar seus princípios só lhe poderia trazer tristeza. Sempre tinha desejado casar-se, mas poderia deixá-lo ir?
Estava ainda sopesando suas opções três horas mais tarde quando um lacaio chegou à casa e frente à Sra. Barnes, Thalia e Freddie, apresentou-lhe uma carta em um caro pergaminho acompanhada por um ramo de lilás de caule longo de estufa. Eloise estava encantada com as flores, mas emudeceu quando descobriu que em seu laço de seda branco havia um colar de pérolas barrocas.
A carta dizia simplesmente:
Derrubei suficientes carros de flores hoje para encher uma pradaria.
Darei-lhe tempo para pensar.
Deixe-me saber o momento que resolver.
Mas decide logo.
Drake.
- O que diz? - perguntou Freddie, olhando por cima de seu ombro.
Apertou a carta sobre seu coração.
- Não é nada. Não muito. Sua Senhoria derrubou hoje vários carros de flores enquanto perseguia o intruso.
A Sra. Barnes limpou sua garganta.
- Não derrubou uma joalheria, não é?
- Pérolas de Drake Boscastle - disse Thalía suavemente, chegando por trás. - Que perfeitamente perverso. Percebe quantas mulheres que conheço estariam com inveja? Deve estar encaprichado. Oh, Eloise, o que fará?
Eloise balançou sua cabeça.
- O que deveria fazer?
- Colocá-las em seu pescoço. - Thalía levantou o colar ao pescoço de Eloise. - Não doerá ver como ficam, não é verdade?
Eloise apenas podia esperar que a jovem tivesse aprendido algo com sua experiência. Mas o que aconteceria com ela mesma? Apesar de tudo o que se esforçou, não estava segura das lições que podia tirar de sua própria vida.
- Que brilho tem! - exclamou Thalía. - Que bonitas ficam contra sua pele.
- Que pouco práticas - murmurou ela. - Pôr pérolas para ir à cama.
Como se alguém pudesse admirá-las.
Mas alguns minutos mais tarde, depois de todos se retirarem para a noite, saiu pelo corredor e provou o colar. Estudou-se no espelho da
parede. Via-se muito linda com as pérolas. Nada comum. Quase na moda se segurasse no alto seu cabelo e trocasse seu vestido de musselina marrom por um de seda. Uma impura na moda. Isso é o que a chamariam. Perguntou-se se alguma vez chegaria a não lhe importar.
- Uma amante ou uma professora? -perguntou-se em voz alta.
Prática ou mimada? O que vai decidir Eloise?
- É uma idiota se permitir que um cavalheiro como Lorde Drake escape - disse a Sra. Barnes da porta do saguão.
Eloise se virou, ruborizando-se pela situação. Suspeitava que a Sra.
Barnes estava acostumada a provar o brandy de Lorde Thornton antes de ir para a cama, e ao tomá-lo suas inibições diminuíam. Bom, Eloise sabia que poderia tomar uns goles aqui e ali depois de um dia agitado.
- É claro que não posso aceitar as pérolas - disse. Esforçou-se para abrir o fecho, que parecia ter desenvolvido uma mente própria. Não podia abri-lo. - Não fique aí parada dando maus conselhos, Sra. Barnes.
Amavelmente me ajude a tirar este símbolo de pecado e sedução de meu pescoço.
- Pecado e sedução - disse a Sra. Barnes, jogando bafos de brandy como um dragão bêbado quando foi para Eloise. - Eu o chamo segurança e amparo.
Eloise levantou o queixo.
- Está me animando a aceitar uma oferta indecente?
A Sra. Barnes, normalmente uma feiticeira com seus dedos, franziu o cenho quando o fecho resistiu a seu hábil manejo.
- Certamente, isso estou fazendo. Melhor a amante de um homem rico que a esposa de um homem pobre. Ou uma professora, como disse quando estava falando consigo mesma.
Eloise não tinha escutado a mulher falar com tanta franqueza antes.
Estava contente de que Thalía não pudesse escutar esta conversa.
- Considere a vergonha - disse com rapidez.
A Sra. Barnes soprou. O colar permaneceu em seu lugar.
- Sim, considere a vergonha quando todos nós terminarmos mendigando na boca-de-lobo porque você escolheu, de forma egoísta, se posso acrescentar, converter-se em uma professora quando poderíamos estar vivendo em um palácio.
- Lorde Drake não vive em um palácio.
- Muito parecido. De todos os modos, melhor que a prisão de devedores. Nunca esteve em uma casa de caridade, querida. Eu sim, e não foi agradável.
- A pobreza não é. - Eloise levou as mãos à parte posterior de seu pescoço. - Fez algo com o fecho, verdade?
- Não o fiz.
- Está travado.
- É o destino. Confronte-o, Eloise Goodwin, o destino está lhe oferecendo uma oportunidade em um milhão para ter riqueza e conforto.
Sem mencionar amor, luxúria e coração partido, pensou Eloise nostalgicamente, descendo suas mãos de seu pescoço com resignação.
- Terei que ir à joalheria a primeira hora da manhã para que me tirem isto - murmurou.
- Está cometendo um engano - disse a Sra. Barnes, uma longa sobrancelha branca levantada em uma ominosa advertência. - Uma pessoa deveria seguir os sinais do destino.
- Uma pessoa deveria meter-se em seus próprios assuntos! -
respondeu Eloise.
- É um sinal, recorde minhas palavras. -Insistiu a Sra. Barnes com uma voz enérgica.
Freddie surgiu dos degraus do andar térreo , esfregando os olhos.
- Um sinal de que? Do fim do mundo? Senhor, vocês duas estão fazendo suficiente ruído para que signifique o apocalipse. Qual é o problema agora?
- Não posso tirar este colar - disse Eloise. - O fecho está travado.
- Procurarei uma garrafa de brandy - disse a Sra. Barnes, desviando-se para o saguão.
Freddie se deixou cair no fundo da escada.
- O brandy afrouxa fechos? - perguntou com um desinteressado bocejo.
- Não - disse Eloise contrariada. - Afrouxa línguas.
Mas no momento em que os três tinham acabado com o resto da garrafa e um prato de biscoitinhos, tinham desistido do colar, Eloise aceitou graciosamente a desculpa da Sra. Barnes, mas não o conselho.
Na realidade, estavam todos com um humor jovial enquanto se desejavam uns aos outros agradáveis sonhos e Eloise foi ao saguão ler antes de deitar-se.
E não ouviu o golpe furtivo na porta de entrada nem notou o homem que esteve escutando sua risada durante um longo tempo antes de perder-se na noite.
CAPÍTULO 15
Drake decidiu passar a noite sozinho. Gostaria de visitar Eloise, mas era muito tarde, e tinha prometido que esperaria sua decisão. Pensou que talvez caminhar o ajudaria a despojar-se de sua inesgotável energia.
Era um homem grande e parecia suficientemente ameaçador que mesmo a altas horas da noite usualmente o deixavam só. De fato, foi assaltado apenas uma vez, quando foi confundido com seu irmão Heath.
Inclusive então Drake se saiu melhor que seu assaltante.
O incidente lhe recordou a infame caricatura nua de Heath, e como ficou olhando-a quando beijou Eloise no jardim. Por um momento, a lembrança dela fluiu para ele com uma necessidade irracional, e de repente já não estava certo do quanto poderia esperar por sua decisão.
Percebeu que tinha que conseguir um controle firme de si mesmo antes que a espantasse. Apenas conheciam um ao outro, mas sabia o que queria. E como obtê-lo. Não considerou a possibilidade de que ela o rejeitasse, mas possivelmente o deixaria louco no interlúdio.
Onde? Onde tinha visto o homem do jardim antes? No clube? Um garçom ali? Um lacaio de um amigo? Ele sabia, e não sabia. Estava observando Drake, ou Eloise?
Diminuiu seu passo. Estava a só uns minutos da mansão Park Lane de seu irmão Grayson. Uma vez um dos vilãos mais escandalosos de Londres, Gray recentemente se estabeleceu com sua esposa de coração quente, Jane e seu pequeno filho. Grayson tinha uma cabeça tranquila no que se tratava da vida e mulheres. Tinha seduzido uma multidão delas, mas inclusive nos dias de hoje suas amantes do passado o defendiam até a morte.
Grayson estava um pouco menos tranquilo quando Drake chegou.
De fato, toda a casa estava alvoroçada. Os criados estavam subindo e descendo as escadas, brandindo frias compressas úmidas e garrafas de xerez caro, bonecos e cataplasmas.
Weed, o lacaio mais velho, pegou Drake pelos ombros enquanto se reuniam no patamar. Nada alterava Weed, e deveria estar a ponto de perder a paciência para pôr suas mãos em um dos membros da família.
- Graças ao céu está aqui - disse meio histérico. - O marquês está em um estado fatal.
- Está doente? - perguntou Drake, olhando para o conjunto de aposentos comunicados de seu irmão.
- Não, Senhor Drake. É seu filho. O pequeno tem febre, e estamos muito angustiados.
- Chamaram a um médico?
Weed levantou suas mãos.
- Chamamos a cada médico de Londres.
Uns momentos depois Drake localizou seu irmão mais velho na enfermaria onde suficientes velas de cera iluminavam a ala Oeste, ardendo em cada canto. Grayson, um homem alto de aspecto majestoso com cabelo revolto dourado e pés descalços, passeava pelo chão em seu robe de seda negra. Seu pequeno filho estava em seu berço com o rosto avermelhado, gordinho e inquieto.
Grayson virou sobre seus calcanhares, como um sultão agitado.
- Oh, é você - disse decepcionado enquanto Drake fechava a porta. -
Pensei que era o médico. Vou ter sua peruca por me fazer esperar. Viu o herbanário em seu caminho aqui?
- O farmacêutico?
Drake ficou olhando seu irmão com uma surpresa indefesa. Não recordava ter visto Grayson tão frenético, tão aflito. Não sabia o que dizer. Nenhum deles tinha experiência prática com crianças.
- Onde está Jane? - perguntou. Pensou que a esposa de Grayson poderia se encarregar da situação melhor que seu irmão. Grayson estava aos pedaços.
Grayson se inclinou sobre o berço, olhando seu filho com total
perplexidade.
- Está com seus pais. Enviei uma nota para que venha. O que devo fazer enquanto isso? Oh meu Deus, e se morrer antes que ela chegue aqui? Não fique aí olhando. Diga-me o que fazer.
Drake tinha medo de ir ao berço.
- Não tenho ideia do que fazer. A única experiência que tive com doentes foi no campo de batalha. Em geral, a febre era consequência de uma ferida de baioneta.
- Isso é útil não? - replicou Grayson. - Acha que permiti que meu filho brincasse com uma baioneta? Que diabos quer, de todos os modos? Não lhe importa ninguém. Bebida, prostituição, guerra. Esta é sua vida não? Quer morrer sozinho?
O rosto de Drake se manteve impassível. Sabia que Grayson estava aborrecido, mas havia suficiente verdade no assalto para sentir seu aguilhão.
- Onde está a babá?
- Despedi a maldita mulher!
Drake estava começando a sentir-se um pouco frenético também.
Deu um passo de forma instintiva para o inquieto berço. Supôs que um pouco de ajuda era melhor que nada.
- Por que a despediu?
- Deixou que meu filho contraísse febre, por isso! Vi-a fazendo as malditas unhas dos pés. Ou sua língua. A condenada mulher fala muito de qualquer forma. Se tivesse prestando atenção a meu filho em vez de ficar falando...
- Talvez possa apressar esse médico - disse Drake. O medo de seu irmão era contagioso. - Não esqueça que Devon tinha febres frequentes quando era menino. E sobreviveu para atormentar a todos.
Grayson parecia um homem afogando-se ao que o acabam de lançar um salva-vidas.
- Esqueci. Devon e suas febres infernais. Mamãe pensava que morreria cada vez que adoecia.
Drake reuniu a coragem para caminhar para o berço. O gordinho rosto ruborizado do herdeiro da família era um pequeno indivíduo incômodo mas não recordou a Drake nenhum dos soldados moribundos que atendeu.
- Está como um casulo! - exclamou.
Grayson o olhou na defensiva.
- Estava chorando quando entrei. Temi que fizesse mal a si mesmo.
- No berço? - perguntou Drake sem compreender. - Como?
- Bom, poderia ter caído.
- Não pode sentar-se ainda, não?
Grayson pôs sua grande mão sobre a face do menino. O bebê arqueou suas costas com agitação. Drake não estava seguro, mas poderia ter ouvido um gás. Esperou que não fosse Grayson.
- Devon saía de seu berço quase todas as noites.
- Antes de poder engatinhar? - Isso não soava de todo bem a Drake.
- Não sei - disse Grayson, jogando seu grande corpo em uma cadeira. Estava esgotado.
Drake se inclinou sobre o berço e afrouxou as três mantas que aprisionavam Rowan. O bebê chutou furiosamente, expulsou um gás, e deixou de queixar-se, seus olhos azuis amplos e curiosos. Drake tocou suas faces.
- Não o sinto quente. Acredito que tinha gases.
- Gás? - disse Grayson, saltando de alívio. - Tem certeza?
- Bom, assim soou, de todas as formas, eu também estaria quente se você tivesse me asfixiado com todas essas mantas.
Grayson pegou o bebê em seus braços e o aninhou em seu ombro enquanto a porta atrás dele se abria e sua esposa Jane, a marquesa de Sedgecroft, entrou no quarto de crianças. Estava elegante e visivelmente
preocupada em seu vestido amarelo limão com seda cor água, e uma gargantilha de diamantes em seu fino pescoço.
Seus pais, Senhor e Senhora Belshire, apareceram atrás dela. Perto de seus calcanhares o seguia o médico escocês, um especialista em ervas, o farmacêutico, e a revoltante babá Irlandesa. Todos pareciam falar ao mesmo tempo.
Drake nunca se sentiu tão deslocado ou inútil em toda sua vida. Um menino tinha causado todo este caos e preocupação. Um ser humano que nem sequer existia há um ano. Um produto não planejado do amor e paixão e só Deus sabia que mais havia no pote. A intensidade da emoção no quarto o assombrou.
Jane arrebatou o bebê dos braços de seu marido.
- O que fez a meu filho?
- Salvei sua vida, Jane - disse Grayson, tão arrogante como nunca agora que a crise aparentemente tinha passado.
Ela dispersou beijos sobre a cabeça calva do bebê, suas gordas faces, seu pescoço.
- O que lhe passava?
Grayson deixou escapar um suspiro.
- Tinha uma gripe estomacal e uma febre muito alta.
Jane estreitou os olhos, de repente notando Drake parado no canto.
- Meu marido chamou você porque Rowan estava doente? O que esperava que fizesse?
- Não estou convencido, de fato, de que fosse Rowan realmente -
Drake se interrompeu quando a mãe de Jane, Athena, empurrou-o a um lado para olhar seu neto recuperado.
O pai de Jane, Howard, tinha visto a garrafa de xerez sob a janela e olhava ao redor procurando um copo.
Jane conteve o fôlego.
- Não lhe deu xerez, certo Grayson?
- Isso foi para mim, Jane - disse Grayson na defensiva. -
Necessitava para ajudar nosso filho a combater sua enfermidade.
- Por que expulsou de casa à senhora O'Brien? - demandou ela.
- Porque suas infernais canções de berço perturbavam a criança.
- Acalmavam-no, Grayson. - Jane sacudiu sua cabeça com seu elegante penteado com desaprovação maternal, passando o menino aos cuidados de sua mãe.
As irmãs de Jane, Miranda e Caroline, entraram no aposento, lágrimas de emoção em seus olhos. Claramente lhes haviam dito que a situação era desesperada. Drake esperou que suas irmãs, Chloe e Emma, chegassem a qualquer momento.
- Há uma multidão reunida nas ruas - disse Caroline da janela. -
Parecem muito sombrios. As pessoas pensariam que a vida de um príncipe herdeiro da coroa está em perigo.
- Despeça-os, Grayson - disse Jane, sua voz se suavizou enquanto olhava seu marido. - Diga-lhes que tudo está bem.
Grayson se aproximou da janela e saudou com uma das fraldas de seu filho. A pequena multidão aplaudiu. Então, como se recuperasse de repente seu juízo, virou-se e deu sua atenção a Drake, uma testemunha reservada desta crise familiar.
- Oh meu Deus - disse ele. - Não veio até aqui por nada. Deseja falar comigo? Algo está errado?
- Não, Grayson. Pode esperar. - Drake se sentia um pouco exausto também por todo o drama.
Grayson abaixou sua voz e colocou um braço ao redor dos ombros de Drake para levá-lo a porta.
- Não se enfraquece em uma crise, e tal força era exatamente o que necessitava para suportar. Obrigado. Agora me deixe lhe devolver o favor. O que necessita de mim?
- Nada. - Drake sacudiu sua cabeça e se encaminhou para o
corredor. - Está bem, de verdade. Entendo.
- Sim? - Grayson o seguiu, parecendo completamente indefeso. -
Dei passagem ao pânico. Nunca me passa, mas quando pensei que poderia perdê-lo, entende? O aniversário da morte de Brandon foi na semana passada. Acredito que recordá-lo, e o que se sente ao perder a alguém que ama, me deixou assim.
Drake sentiu uma desagradável sensação se apoderar dele. A morte de Brandon tinha deixado uma cicatriz no coração da família. Para bem ou para mau, e com frequência este último, os Boscastle eram um feroz bando fechado que amava e vivia fortemente, e chorava com uma paixão que poucos de seus amigos entendiam.
- Não o esqueci - disse ele com calma, e se perguntou, não pela primeira vez, se sua própria ira sem resolver pelo assassinato de Brandon não tinha contribuído ao menos em parte para seu recente mal-estar emocional.
Podia perder meu filho - disse Grayson, sua voz rouca pela dor imaginada. - Preferiria morrer mil vezes por tortura que perder a ele ou a Jane. O amor é horrível, Drake. Horrível. Não deixe que lhe aconteça.
Por que deixaria que acontecesse? Como deixaria que acontecesse? -
Grayson parou na porta da entrada, sua poderosa figura emoldurada na luz das velas ardentes do aposento atrás dele.
- Não sei como aconteceu. - Drake se retraiu mais na escuridão do corredor. Isto não foi outra coisa que o calmo conselho que ele tinha esperado. - Mas não os perdeu.
- Sei. - Grayson fechou os olhos. Respirou profundo e seu enorme corpo tremeu ao exalar. - Estava equivocado. Não me escute. O amor é algo maravilhoso. Espero que você um dia...
Ele abriu seus olhos. Drake tinha desaparecido. Virou-se para encontrar sua esposa em pé atrás dele, seu bebê ativo e contente em seus braços. Seu cabelo mel se soltou caindo encantadoramente sobre
suas costas.
- O que estava fazendo seu irmão aqui, Grayson? - perguntou ela calmamente. - Passava algo mais além de você derrubando-o no momento em que o deixo?
Inclinou-se e lhe lançou um olhar penetrante em resposta.
- Nunca me derrubei, para ser honesto, não tenho certeza do que queria Drake.
- Então talvez devesse averiguar em vez da comoção que causou no quarto das crianças - disse ela ligeiramente.
- Ele parecia preocupado - admitiu Grayson.
Jane lhe soltou um sorriso relutante.
- Talvez seja momento de averiguar por que.
- Sim, talvez. - Estava olhando com ternura feroz a seu filho.
- Maldição pequeno demônio, deu-me um susto de morte.
- Amo-o, Grayson - disse ela com tristeza. - Mas nunca o deixarei cuidando de nosso filho outra vez.
¨¨¨¨¨¨
Drake se apressou descendo as escadas da mansão de Grayson, quase chocando com a alta e familiar figura vinda em sentido oposto.
- É muito tarde? - perguntou Devon seu manto cheio de névoa. -
Cheguei tão rápido como pude.
Drake sacudiu a cabeça. Queria escapar da casa, escapar de suas próprias emoções, para falar a verdade. Necessitava de uma garrafa de brandy, e um passeio tonificante no ar noturno.
- Terminou. Tudo está bem.
- O que aconteceu? - perguntou Devon, estendendo suas luvas a uma criada que acabava de chegar atrás dele.
- Nada. Grayson pensou que o bebê tinha um vírus estomacal. Tinha gases. Foi o desfile familiar de costume. - moveu-se para descer as escadas.
- Está dizendo que toda esta confusão foi por um gás?
- Sim.
- Bom, nesse caso, quer ir ao clube?
- Não. - Drake escutou a impaciência em sua voz. - Não esta noite.
- Não está de bom humor, não? - perguntou Devon, olhando-o fixamente.
- O que acontece se não estiver?
- Nada. - Devon encolheu os ombros, para não provocar uma discussão. - Somente estava dizendo que parece que está de mau humor. Algo ruim aconteceu? Tem a ver com Eloise Goodwin?
- Já basta - disse Drake com uma careta irritada.
Devon sacudiu a cabeça.
- Já basta o que?
- Basta de ser tão chato.
- Não quis ser chato. Perguntei por uma mulher. Como é isso ser chato?
Drake olhou para outro lado.
- Incomoda-me, isso é tudo.
Devon o olhou desconcertado.
- Faço-lhe perguntas todo o tempo, e nunca o incomodou. Bom, nem tanto, ao menos. Sempre agiu como se não se importasse. A menos... -
Um brilho de reconhecimento iluminou seus olhos. - A menos...
- A menos que idiota? - perguntou Drake, inclinando-se para trás contra o corrimão.
Devon encolheu os ombros.
- A menos, bom nada.
O rosto de Drake se enfureceu.
- A menos que o que, maldição?
- Bom. - Devon olhou fixamente suas botas, murmurando. - A menos que lhe importe.
Drake o cobriu com um longo e letal olhar.
- A menos que me importe o que?
- Quem - disse Devon em voz baixa.
- Está sugerindo? - Drake se afastou do corrimão, olhando para seu irmão, que se negava a encontrar seu olhar. - Espero que não esteja sugerindo o que acredito que está sugerindo.
Devon levantou seu olhar.
- Não estou sugerindo nada, na realidade. Longe de mim está sugerir que pode ser algo delicado com o assunto.
Os olhos de Drake ardiam como brasas.
- E o assunto é?
- Acredito disse Devon, muito valente ao encontrar o olhar de seu irmão mais velho - que o tema é a mulher muito atraente que me apresentou esta manhã.
- Não é verdade - disse Drake rapidamente.
- O que? Que ela é o assunto, ou que está suscetível a respeito dela?
Drake pôs sua mão sobre seus olhos.
- Vou contar até cinco, e se ainda estiver parado aqui quando terminar, jogá-lo-ei de cabeça pelo corrimão.
Ele contou até cinco. Quando abriu seus olhos, Devon tinha ido. E
se Drake não estivesse de mau humor antes, agora estava sob um verdadeiro eclipse.
Foi escada abaixo ao estúdio de Grayson e achou uma garrafa de brandy francês no aparador. Tinha visitado frequentemente este aposento quando era jovem, esperando receber uma palavra de aprovação de seu pai. Nunca tinha chegado. Nada. Nenhum sorriso, ou uma palmada no ombro. Sempre soube que era o menos favorito de seu pai; brigavam constantemente, e Drake sempre estava em problemas por brigas ou desobediência. Ainda recordava sua mãe lhe sussurrando
depois de uma particular discussão com seu pai.
- Castiga-o porquê se parecem muito. Lutou toda sua vida com seus demônios particulares. Acredito que quer exorcizá-los de você.
- Não funcionou - disse, abrindo seus olhos. - Os demônios sobreviveram.
Seu pai, Royden Boscastle, era apaixonado e mal-humorado, protetor e tirânico ao mesmo tempo. Neste momento, Drake sentia que não conhecia o homem ou o entendia melhor do que entendia a si mesmo. Mas eles eram parecidos. Todos na família o diziam. Não era um pensamento alegre.
Supôs que deveria visitar Maribela St. Ives essa noite. Tinha planejado lhe dizer cara a cara que não desejava manter uma relação.
Não fazia muito a tinha perseguido, mas só para dissipar seu estado depressivo com a distração do sexo. A perspectiva de vê-la o fazia sentir-se inclusive pior.
Foi para a casa.
Ainda assim, se visitasse Maribela, então talvez Eloise estivesse a salvo da condenação. As palavras de Grayson ecoaram no fundo de sua mente. Não lhe importa ninguém. Bebida, prostituição, guerra. Essa é sua vida, não? Quer morrer só?
Caminhou sem parar para a casa em Hill Street. A chuva brilhava sobre os paralelepípedos. Uma carruagem solitária retumbava passando. Tinha a intenção passar por ali e talvez se não tivesse visto a luz na sala, não teria parado.
Tocou a porta frontal da modesta casa. Não tinha decidido que faria se alguém a parte de Eloise respondesse. Nem sequer sabia como explicaria visita-la tão tarde da noite quando tinha prometido que esperaria sua decisão. Oh, que raios. Simplesmente inventaria uma desculpa.
- Quem é? - uma suave voz perguntou precavidamente dentro da
casa. Sua voz. Graças a Deus. Era ela.
- Sou eu. Drake.
Ela abriu a porta e o olhou seu rosto. Outra vez ele pôde sentir que ela via além do superficial. Nem sequer se mostrava surpresa por estar ali. Ela ficou em pé na escuridão, as pérolas que lhe tinha enviado brilhavam como uma promessa em seu pescoço, um livro em sua mão.
- Algo está errado? - perguntou-lhe ela com hesitação.
- Posso entrar?
Ela olhou ao redor como se considerasse sua resposta. Não havia ninguém atrás dela no corredor.
- Sim.
Seguiu-a até a sala. Tirou a jaqueta e a olhou fixamente, sem incomodar-se em dissimular seus pensamentos inquietos com uma conversa cortês. Viu seus olhos levantarem-se de novo em pergunta.
Pode ser que ela também soubesse o que era ele desde o começo.
Supunha que se fosse seu amante, aceitaria sua escuridão, seu ânimo inquieto, todo o maldito desastre dele.
CAPÍTULO 16
Eloise tomou seu casaco de suas mãos. Pegou-a pela cintura antes que ela pudesse virar-se. Os ângulos escuros de seu rosto estavam escurecidos com tal intensidade que fez seu coração vacilar. Puxou-a contra ele.
Seu casaco foi deslizando de seus dedos para o chão. Seu braço se apertou ao redor dela como se pressentisse que lhe dava as boas-vindas a seu abraço, que não tinha pensado em nada a não ser nele desde seu último encontro.
Seus lábios se inclinaram sobre os dela em um beijo exigente.
Esticou-se contra ele e sentiu seu corpo endurecer-se em resposta. Sua língua escorregou dentro de sua boca e um tremor desceu sobre ela da cabeça aos pés.
- O que é isso? - sussurrou ela. - Por que está aqui tão tarde na noite?
- Por você. Não há outra razão.
- Onde esteve?
- Na casa de meu irmão Grayson.
Um sorriso relutante aliviou a tensão em seu rosto.
- Ele pensava que seu pequeno filho estava morrendo.
- Morrendo? - disse alarmada. - Está bem agora?
- Em primeiro lugar não havia nada errado com ele a não ser gases.
Balançou a cabeça divertido.
- Não deveria rir de meu irmão, mas nós dois nos comportamos como um par de idiotas necessitados até que sua mulher voltou para casa.
- Achou que o bebê morreria por gases? - perguntou suavemente.
- Aterrados até que ele soltou um gás - admitiu. - O que sei eu de bebês? Deixará-me ficar um momento? - perguntou. - Embora a advirta, que poderia ser má companhia esta noite.
Ela sabia no mesmo momento em que tinha aberto essa porta que algo o tinha perturbado... estava preocupado por seu sobrinho. E ele tinha ido a ela. Isso significava mais para ela que pérolas ou promessas.
- Quer algo para beber?
- Não, já o fiz.
Subiu os dedos por sua garganta, seus olhos se esquentaram vitoriosos.
- Está com as pérolas que lhe enviei. Isso significa que decidiu ser minha amante?
Seu amante e protetor. Ela tomou fôlego ante o desejo desfalecido que a percorreu, então sacudiu a cabeça mortificada.
- O que quer dizer é que o fecho não se abriu.
Sua boca se torceu em um sorriso.
- Realmente, Eloise, não espera que acredite nisso.
- É verdade - disse, um rubor erguendo-se à altura de suas faces.
Seus olhos resplandeceram com uma risada.
- Então é o destino, não é verdade?
- Não, é... - inclinou sua cabeça para trás para olhá-lo. - Desenhou o fecho para fechar-se assim?
Ele moveu uma mão ociosamente debaixo de suas costas.
- Querida, isso me faria muito tortuoso, não acha?
- Tortuoso ou decidido - disse com um sorriso pesaroso, consciente de que estava fazendo uma exploração pausada de seu traseiro debaixo de sua roupa.
- Poderia ser ambos.
Ele a acariciou de forma malvada.
- É claro que me vejo forçado a indicar que em primeiro lugar pôs as pérolas.
Eloise não respondeu. Na realidade não podia pensar em uma forma de negá-lo.
- E experimentar as pérolas poderia ser interpretado como uma aceitação de minha oferta.
Ela limpou a voz.
- Ou não.
- Importaria se nos sentarmos?
Sua mão foi à deriva através de seu traseiro. Ela sentiu um malvado rastro morno de calor despertando a seu toque. Sua exalação tranquila de fôlego varreu uma mecha de cabelo de sua têmpora.
- Se quiser - disse.
Pensando que suas pernas provavelmente não aguentariam muito mais tempo, de qualquer maneira. Ao menos que se sentasse ele não poderia notar como estava tremendo tanto. É claro, uma vez que alcançaram o sofá, percebeu que não tinha solucionado o problema absolutamente. Ele se inclinou sobre ela, seu corpo longo, de esbeltos músculos escurecendo ao dela, e seus joelhos ainda tremiam.
- O que estava lendo?
Perguntou casualmente, seu polegar roçando-se através de seus dedos.
- Lendo? Simplesmente um livro sobre o campo.
Seus dedos levantaram pequenas chamas através de seu pulso.
Antes que percebesse, ele tinha começado uma rota acima de seu braço até que parou de explorar à pequena curva de seu peito.
- É uma lástima que não estivesse comigo mais cedo de noite quando visitei Grayson. Apostaria que uma preceptora como você é, tem muita experiência tratando com bebês doentes.
- Em sua maior parte com jovenzinhos maus educados - disse irreflexivamente, distraída enquanto sua mão acariciava a forma de seu peito através de seu vestido.
Como podia conversar tão serenamente quando despertava este desejo selvagem dentro dela?
- E homens? - perguntou com curiosidade, levantando seu rosto para o dela. - Teve muita experiência com homens?
Foi atraída dentro do erotismo escuro de seus olhos.
- Não - disse fracamente.
- Bem - murmurou, e a beijou outra vez, deslizando um braço ao redor de seu ombro para posicioná-la em seu benefício.
Seus olhos se fecharam à deriva. Roçou seus dedos ritmicamente de frente para trás sobre de seus mamilos até que ela gemeu em derretida excitação contra seu braço. Estremecimentos de crua sensação viajaram desde seus ombros à base de sua coluna vertebral.
- Eloise.
Pressionou um beijo contra cada canto de sua boca.
- Não iria vê-la outra vez até que procurasse por mim. Por favor, posso continuar tocando-a?
Eu não...não sei.
Não estava pronta para abrir os olhos, para olhá-lo outra vez. Só por um momento mais queria concentrar-se no calor sexual que a percorria. O lugar secreto entre suas pernas tinha começado a pulsar insuportavelmente. Uma sensação de perda a deixou suspirando quando ele tirou sua mão de seus seios inchados. Mas então lentamente sentiu a invasão fria dessa mesma mão debaixo de sua saia, e a perda se converteu em desejo. Sentiu seu corpo abrindo-se, dolorido, convidando mais a seu toque.
- Drake - sussurrou em uma voz ofegante.
- Diga-me quando parar, querida.
Ele gemeu suavemente.
- Mas, por favor, não o diga ainda.
Meu deus, não ainda, pensou ele, sua mão atraída para sua fenda quente. Quase podia saborear a umidade almiscarada de sua excitação.
Ela pensou que provavelmente este era o momento sensato para lhe
dizer para parar. Mas quando seu dedo indicador repentinamente afastou as dobras úmidas da carne entre suas coxas, afundando-se profundamente em sua fenda dolorida, notou que não podia falar.
Quentes sacudidas de prazer se moveram velozmente nos limites secretos de seu corpo. Em lugar de resistir, arqueou-se com suas coxas abrindo-se para convidá-lo.
- Esta é uma calorosa boas-vindas -sussurrou em uma voz rouca.
Introduziu outro dedo em sua passagem úmida e a deitou esticando-a na posição horizontal. Ela se afundou contra sua mão, empapando-o com seu desejo, incapaz de armar uma defesa. De qualquer maneira, seu corpo trairia qualquer protesto que pudesse ser feito. Cada fantasia privada que tinha suprimido clamava por satisfação. Ele a fez tão consciente de sua sensualidade que não havia espaço para a vergonha.
Moveu-se impacientemente e moveu seus quadris. Ele parecia compreender o que queria e pressionou outro dedo profundamente dentro dela. Ansiava mais, mas não podia pedir. Então ele dedilhou o capuz sensitivo de seu sexo entre o polegar e o indicador de sua outra mão. Caiu atrás ofegando contra seu braço. Ela gemia de necessidade.
- Por favor, Drake - implorou, pressionando seu rosto em seu ombro.
- Por favor...
- Será minha - sussurrou, desamarrando a parte traseira de seu penhoar e sua camisola com uma mão para que seus seios se esparramassem, suave e pálido marfim. Inclinou-se e chupou um apertado mamilo rosado em sua boca.
Com desejo selvagem, acesa para ele, ela soltou um grito suave e se arqueou contra sua outra mão. Seus dedos se apressaram, afundando-se mais, esticando sua capa virgem até que dor e prazer se confundiram. Os músculos em seu ventre se apertaram com tensão enlouquecedora. A necessidade de alívio se construiu insuportavelmente até que ela tentou alcançá-lo desesperadamente.
- Sua resposta é sim, não é? - Perguntou com sua voz rouca. - Não pode me rejeitar, Eloise. Sei que não me deixaria tocá-la de outra maneira.
Ele silenciou seu soluço com sua boca. Como poderia detê-lo quando estava desesperada com a mesma fome insaciável que via em seus olhos? Enlaçou seu braço apertadamente ao redor de seu pescoço e levou seu rosto sombrio a seus seios. Precisava dele para aliviar este desejo necessitado. Ele empurrou seu corpete para sua cintura como se ela fosse uma libertina. Mesmo assim não podia dizer para parar. Estava mais à frente do pensamento, oferecendo-se a ele, convidando a sua posse. O calor úmido de sua boca em seus seios só intensificava a dor palpitante entre suas pernas. Ela ficou meio fora de si quando o sentiu retroceder... sentiu-o levantar seu vestido para expor seu lugar de mulher a seu escrutínio.
- Drake - ofegou enquanto ele forçava seus joelhos a separarem-se mais.
Sua língua a abrasou conduzida entre suas dobras em um desfrute desumano. Estremeceu, passando um braço sobre seu rosto. Não podia resignar-se a olhá-lo, para observá-lo chupar e mordiscar sua pérola escondida. Retorceu seus quadris excitada. Ele deslizou uma mão debaixo de seu traseiro e a segurou imóvel enquanto bebia dela.
- É tão doce, Eloise - murmurou, sua voz grosa de desejo. -
Somente me permita desfrutar disso.
Sua mente foi à deriva dentro da escuridão. Não havia luta nela.
Seus quadris se arquearam involuntariamente, e sua língua entrou conduzindo-a a um agudo prazer mais do que podia suportar. Sua respiração ficou presa em um grito hesitante, e bom, Oh, Meu deus. Ela se fragmentou em completo abandono.
Drake poderia ter morrido de prazer quando sentiu seu corpo ficar rígido e convulsionar no clímax contra seu rosto. Sua fragrância
almiscarada o embriagou e lutou para suprimir seu próprio desejo, seu controle desafiado como nunca antes. Tanto como ele. Era suficiente que ela compreendesse que prazer podia lhe dar até que seus nervos fossem desfiados em carne viva com frustração.
Colocou seu rosto contra o interior de sua coxa e inalou seu perfume feminino. Ondas fracas de prazer ainda a estremeceram através da parte inferior de seu corpo. Suspirou. Tinha amado observá-la perder o controle, tinha amado saber que podia tirar tal sensualidade dela.
Ela lutou para endireitar-se. Sua mão descansou sobre seu ombro.
Ele ergueu sua cabeça e a olhou, incapaz de ocultar um sorriso. Estava esgotada e mais que um pouco aturdida.
- Está bem? - ela perguntou com vacilação.
Ele a avaliou com resignação sardônica.
- Poderia estar em poucas horas.
Ela negou com a cabeça, com um sorriso espreitando em seus lábios.
- Não sei o que dizer.
Ele se inclinou para frente e a beijou ligeiramente, sua boca ainda levando sua fragrância.
- Acredito que entende.
Com outro suspiro ele puxou para baixo seu vestido ao redor de seus joelhos. Ela pôs as mãos em sua camisola e sua blusa aberta.
- Não sei o que aconteceria se tivéssemos sido pegos.
- Afirmaria que me seduziu.
Ela riu.
- Como se alguém fosse acreditar nisso.
Ele sacudiu a cabeça, rindo, também.
- Sua resposta é sim?
Ela mordeu o lábio inferior.
- Prometeu-me tempo para pensar.
Ele assentiu lentamente. Um negro desespero o tinha atraído a sua porta esta noite. Agora que também a escuridão familiar se ergueu, e seu corpo doía como o próprio diabo com o desejo insatisfeito. Sua resposta era sim. Pacientemente a perseguiria até que ela se abrandasse, e quando estivessem juntos sua paciência seria recompensada.
- Devo ir - disse suavemente, afastando os olhos dela. - Suponho que não ouviu nada mais de Thornton?
Ela franziu o cenho.
- Não. Não depois de sua única mensagem.
Inclinou-se para beijá-la outra vez antes de levantar-se.
- Razão de mais pela qual necessita de um protetor. Eloise.
¨¨¨¨¨¨
Com o passar do resto da noite ela lutou contra seus pensamentos.
Depois da semana anterior, não podia negar a vantagem de ter um agressivo protetor como Drake Boscastle. Possivelmente tinha que comprometer seus princípios. Não lhe tinham servido particularmente bem até agora.
Convertendo-se na amante de Drake, cruzaria não somente a linha da respeitabilidade, mas a saltaria e nunca poderia retornar. Passaria de uma aristocrata empobrecida a amante de um nobre cujo propósito exclusivo seria cumprir com os desejos de um libertino.
Muito obviamente seria a posição mais exigente que alguma vez teve. E a mais agradável. Seu corpo ruborizou com desejo febril ao pensar em deitar-se com ele. Enganava-se caso negasse que profundamente, em seu coração, desejava aceitar sua oferta.
Simplesmente nunca acreditou que fosse uma mulher que pudesse desempenhar o papel de sedutora.
Mas na manhã seguinte tudo o que realmente tinha decidido era que tinha que chegar a uma decisão logo. Talvez mais tarde no mesmo dia.
Todos os habitantes da casa tinham começado com o pé esquerdo.
Todos estavam de mau humor no café da manhã porque não havia dinheiro para pagar ao carvoeiro. Os alojamentos do primeiro andar estavam gelados, e Heston afirmou que alguém tinha forçado a entrada da casa e tinha roubado uma faca de trinchar. Sabia porque a tinha afiado no outro dia. Então a senhora Barnes entrou ruidosamente na sala da cozinha como um cavalo de combate porque os credores tinham arrebatado uma panela de cobre de suas mãos.
- Sangrento inferno - Freddie disse, correndo dentro do aposento com sua jaqueta por cima de sua camisa de dormir. - Agora não temos nem sequer a proverbial panela para urinar...
Eloise segurou no alto sua mão.
- Suficiente. Esconda qualquer artigo de valor que resta.
Especialmente o resto das facas de trinchar de prata.
- Todos eles se irão agora - a senhora Barnes disse com um gemido de sofrimento.
- Não tenho nada para picar as verduras para a sopa.
Eloise ficou pálida.
- Pensei que Heston disse que só faltava uma.
- Isso é verdade. - A senhora Barnes cruzou seus musculosos braços sobre seu estômago. - Lancei-as nos cobradores por levarem minha panela.
A anarquia, Eloise pensou. Os habitantes da casa foram ao inferno em uma cesta.
- Freddie, coloque um pouco de roupa, por favor. O agente de polícia provavelmente deverá perguntar por que a governanta, como um ator de feira do vilarejo, lança facas nas pessoas. Não é que realmente importe, suponho. Não viveremos aqui muito mais tempo.
- Onde viveremos, senhorita? - Heston inquiriu, suas costas chiaram enquanto derramava o último carvão quebrado sobre a fogueira da
lareira e a meio caminho sobre o tapete.
Ela hesitou, cheia de compaixão por todo o triste grupo deles.
Ninguém em seu juízo perfeito contratava um mordomo que se via propenso a cair morto em um banquete.
Ou uma governanta que tinha um chamado secreto como uma atriz no Real Circo de Astley e mantinha uma garrafa de brandy no bolso de seu avental. Nenhum deles tinha pensão de aposentadoria, ou parentes dispostos a prover refúgio até que voltassem a estar em pé.
- Não é para preocupar-se - a senhora Barnes disse com um olhar esperançoso em Eloise. - Seu cavalheiro sofisticado calculou que lhe achará uma bonita casa em Piccadilly.
- Certamente, meu cavalheiro sofisticado.
Senhor, todos a olhavam como uma manada de cervos famintos durante uma fome, Eloise pensou chateada.
- Se ela decide lhe receber a bordo, quer dizer - Freddie disse em voz baixa.
- Todos vocês poderiam vir e trabalhar para mim. - Thalia apareceu na entrada, suas faces tão brancas e inchadas como as bolas de massa da confeitaria. Claramente tinha ouvido sem intenção a conversa.
Eloise se virou. Dava-lhe calafrios, o pensamento de viver ao serviço incondicional de Thalia pelo resto de seus dias.
- Isso é mais que amável de sua parte, mas tenho certeza que Sir Thomas já tem um pessoal próprio.
- Tenho um tio que possui um bar em Blackfriars, cheguei a pensar a respeito disso.
Heston se endireitou.
- Poderia abrir uma taverna por mim mesmo um dia destes.
- Melhor assegurar-se de que esteja ao lado de um cemitério -
murmurou Freddie. - As pessoas perecerão de sede esperando que você as sirva.
Thalia golpeou ligeiramente a ponta do pé no piso.
- Esqueceu todo mundo que sou eu quem se supõe que deveria ser servida? Estive esperando uma eternidade por minha bandeja de café da manhã. E você, Eloise, tem que fazer algo a respeito com seu cabelo para o baile anual de Lorde Mitford.
- Que baile? - Eloise perguntou consternada.
Thalia a submeteu a um olhar de resignação.
- O que lhe disse desde o mês passado. A senhora Heaton e seu irmão nos escoltarão. Não foi você que insistiu que deveria ir?
- E deveria - Eloise replicou. - Mas não tenho um vestido decente. -
Além disso, a última coisa que quero fazer era me sentar contra a parede para escutar às solteironas discutir sobre seus joanetes e furúnculos.
- Tome emprestado um meu - Thalía disse. - O vestido de baile vermelho carmim coberto com papoulas de seda fica absolutamente perfeito em mim. Poderia caber dentro dele se ajustássemos todas as costuras.
- A senhora Heaton estará lá para fazer-se de acompanhante para você - disse Eloise, franzindo o cenho. - Esta será uma boa oportunidade para que fique mais próxima a ela antes do casamente. Mal deveria me pôr no meio.
Thalía plantou suas mãos em seus quadris.
- Mas é paga para ser minha acompanhante.
- Não somos pagos há um mês - Freddie disse, ignorando o olhar de advertência que Eloise lançou.
- Não os pagou? - Os olhos de Thalia ficaram vermelhos e aquosos.
Seu nariz estremeceu. - Não sabia. Tenho certeza de que poderia persuadir Lady Heaton para pagar seus salários.
Eloise sentiu sua perturbação derreter-se. Que surpresa gratificante ver a garota mimada com gestos de converter-se em uma jovem
prudente.
- Isso é muito amável de sua parte. Não pediria para mim mesma, é claro, mas para os outros...
- Bom. Então está decidido - Thalía disse, esfregando a ponta de seu nariz. - Pode perguntar à Lady Heaton você mesma no baile. De qualquer maneira, não quero passar minha tarde inteira falando com ela.
Aborrece-me até a estupidez.
Eloise olhou para Freddie enquanto Thalia caminhava de volta para esperar seu café da manhã.
- Não tenho certeza realmente de como aconteceu isso.
- Meu deus, senhorita. - Ele negou com a cabeça. - É muito branda, isso é. Mesmo assim, uma tarde fora não lhe fará nenhum dano. Não há prazer em sentar-se sobre um velho sofá cada noite.
Seus olhos se desviaram para o anteriormente mencionado velho sofá. Uma imagem ilícita relampejou por sua mente antes que a pudesse detê-la. O rosto escurecido de Drake entre suas pernas. Seu corpo esticando-se contra ele, seus olhos azul profundo drogados de desejo.
Oh, bem, havia prazer para ela nesse sofá.
Uma porta se abriu ruidosamente acima das escadas. O gemido alto de Thalía tremeu através da casa.
- O-ou-iiise! Pensei que iria me ajudar a escolher entre meus vestidos. Por favor suba as escadas neste instante? Necessito-a.
- Oh meu Deus - Freddie resmungou. - Às vezes eu gostaria de levar a palma de minha mão a esse rasteiro fraco e ossudo e...
- Freddie, de verdade - Eloise disse. - Não se fala de seu próprio chefe desse modo.
- Vem ou não? - Thalia gritou.
- Embora se alguém pensa nisso... -murmurou, pisando forte com o maxilar apertado subindo as escadas ao dormitório de Thalía.
Perguntou-se se isto realmente era o que o futuro tinha para ela.
Estava destinada a cumprir com um chamado para educar às grosseiras e jovens Thalía do mundo?
Dedicaria sua vida à dignidade e a seu dever? Ou se submeteria à atração do mal e se converteria na amante de Drake Boscastle? Teriam prioridade as pérolas e uma vida mimada sobre seus princípios? Ela fez uma pausa no alto das escadas.
- Ajude-me, Eloise - Thalía gritou da porta do dormitório e um par de sapatos saiu voando pelo ar. - Tudo o que possuo é tão horrendamente antiquado. E você, bom, tudo o que posso dizer é que se vai ser uma impura muito em moda, terá que considerar sua aparência.
Várias horas extenuantes mais tarde Thalía tinha decidido o que usar para o baile de Lorde Mitford. Um vestido branco prateado e uma fina saia cujas linhas imbuídas se aferravam a ela com a silhueta elegante de uma sílfide grega. Seu cabelo loiro lua demorou outras duas horas para arrumar até que cada cacho de cabelo aromático pendia sobre seus ombros magros, mas, Eloise pensou, felizmente, parecia com um grupo de lírios primaveris a meia flor.
Nenhum dos baratos, mas atraentes trajes de noite de Thalía satisfez a Eloise corretamente. Em contraste com a elegante figura de Thalía de talhe longo, Eloise possuía um corpo que era em sua maior parte peito e traseiro. Depois de meter-se com dificuldade e através de uma seleção de vestidos, ela foi reduzida a escolher o rígido vestido de brocado vermelho do baile com enormes papoulas. Sentiu-se como se estivesse envolta no tapete da sala.
- Pertenceu a minha bisavó - Thalía disse nostalgicamente. - Tente não derramar nada nele. Ela estava com este vestido quando exalou seu último suspiro, e tem especial significado para mim.
- Se me sentar esta noite - Eloise disse. - Acredito que poderia ser confundida com uma poltrona.
Thalía jogou seus braços ao redor dela em um abraço impulsivo.
- Vou sentir saudades suas, Eloise. De fato, rogarei a Thomas incessantemente que chame por você uma vez que estejamos estabelecidos, a menos que se converta na amante de Lorde Drake.
Decidiu-se?
Ela desenredou a si mesma dos braços de Thalía alarmada.
- Não acha que ele estará lá, verdade? - moveu-se rigidamente para o espelho com o vestido da bisavó defunta de Thalía. - Se ele me vir neste vestido, provavelmente se retratará de sua oferta.
Thalía ergueu sua sobrancelha.
- Se ele a vir nesse vestido e ainda a desejar, saberá que merece seu amor, e realmente não haverá nenhuma decisão a tomar.
CAPÍTULO 17
O baile esteve bem. Thalía se comportou bem, atenta a sua futura sogra.
Eloísa em privado se defendeu de quatro avanços inapropriados, repreendendo um lacaio por perguntar sarcasticamente se era o fantasma da rainha Isabel, furtivamente pôs sua terceira taça de champanha entre eles. O champanha também acalmou seus nervos e dissipou os motivos que estavam flutuando em sua mente.
Quantos dias até que sua pupila estivesse casada? Tinha perdido a conta. A culpa era de um Boscastle. Desde a reunião de Drake tinha perdido a noção do tempo.
Estaria ali esta noite? Perguntou-se. Queria vê-lo, mas não assim.
Tinha medo do perigo... parecia como o fantasma da própria Rainha Virgem.
Percorreu o salão de baile procurando sinais de sua forma escura e desses ombros largos. Estava de pé contra a parede com os parentes de lady Heaton, tentando parecer despercebida. Talvez as pessoas acreditassem que fosse uma tapeçaria flamenga.
De repente se ouviu um murmúrio de entusiasmo no meio das matronas idosas sentadas a seu redor. Lady Heaton ficou em pé e sem fôlego levando sua mão cheia de veias azuis sobre seu coração.
- Ele está aqui. Oh, Meu deus, está aqui! Meu menino querido não me alertou de sua volta.
Eloise sentiu uma leve curiosidade ao examinar o jovem gordinho caminhando um pouco torpe, com passo pesado através da sala para elas. Em nenhum momento de sua imaginação a robusta figura pesada causou consternação em seu coração. Entretanto, ele parecia vagamente familiar.
- É Thomas - uma das irmãs solteiras de Lady Heaton disse dando palmadas de alegria. - Oh, onde está Thalía? Vai ficar fora de si por esta
grata surpresa.
Lady Heaton olhou com agitação para Eloise.
- Poderia encontrá-la, senhorita Goodwin? Eu acho que ela estava na pista com meu irmão faz uns poucos minutos.
Eloise poderia ter jurado o mesmo que ela. De fato, Thalía não tinha dado um só passo em falso toda a noite. Tinha dançado com apenas um ou dois com os mais decentes e aborrecidos cavalheiros jovens. E
agora, com o tio de seu noivo, parecia haver-se desvanecido no éter.
Não havia nenhuma razão para entrar em pânico. Ela provavelmente se aventurou fora por uma limonada ou para conversar com um amigo, ou assear-se. Não havia nenhuma razão para acreditar que a história se repetira.
- Onde foi? - Lady Heaton perguntou em voz alta vendo como seu amado filho parou para saudar um grupo de velhos conhecidos que o tinham reconhecido.
Não havia nenhuma razão para estar em pânico.
- Acredito que pode ter saído ao terraço para tomar uma limonada com Lady Woodbridge - disse Eloise apertando as saias grosas entre a fila de cadeiras. - Vou encontrá-la.
- Não vi Lady Woodbridge - a irmã de Lady Heaton disse com voz ofendida. - Você pensaria que ela teria o trabalho de perguntar por minha saúde.
Eloise começou a correr no instante em que deixou o salão de baile, não era uma tarefa fácil com o brocado que pesava como uma armadura. Não era de estranhar que a bisavó de Thalía tivesse dado seu último suspiro com este vestido. Era um artefato de tortura.
Apressou-se por um corredor lateral por instinto e se dirigiu diretamente onde estava o criado sarcástico que a tinha insultado antes.
- Bem, bem, se não é o fantasma da rainha Lizzie de novo - disse de brincadeira.
Eloise lhe pegou pelas lapelas.
- Ajude-me a encontrar Lady Thalía Thornton ou vou falar de você.
- Falar o que?
- Que toma o champanha que resta nas taças que recolheu.
Ele arrumou bem sua jaqueta.
- Como sabe?
- Porque é um lacaio, por isso e vi escondendo suficientes bebidas para encher uma fonte.
- Ela foi ao jardim faz um minuto mais ou menos - disse a contra gosto.
- Sozinha?
- Não dou esse tipo de informação - disse e entreabriu os olhos. -
Não, a menos que esteja disposta a pagar por isso...
- Não importa - murmurou ela olhando a seu redor.
- Feliz caça para você - uivou com um risinho grosseiro.
Eloise parou em seco para olhar com altivez por cima do ombro.
- Se eu fosse a Rainha Isabel, teria sua cabeça ensanguentada sobre uma bandeja, insolente imbecil.
¨¨¨¨¨¨
Drake vadiava com as costas contra uma coluna grande, olhando distraidamente pelo corredor em penumbra. Havia uma espécie de comoção na esquina, mas estava muito atento a sua conversa privada para dar muita atenção. Só foi ao baile esta noite porque sua irmã Emma tinha pedido que a acompanhasse e nenhum de seus irmãos estava disponível para a tarefa.
Preferia passar outra noite com Eloise e tirar vantagem. Depois da noite anterior sabia que estava perto de persuadi-la, mas preferiria que ela acreditasse que a decisão de rendição era dela. Era o que pensava, só era questão de tempo.
- Só é um pequeno informe de Elba - o homem grisalho que estava
diante dele disse. -Napoleão recebe seus visitantes. A raridade da nota é que ele solicitou botões.
Ele percebeu que seus pensamentos estavam vagando. E que a informação repartida a ele pelo outro homem, Sir Jeremy Hutchinson, membro do Departamento de Guerra, pelo menos merecia sua atenção.
- Botões? Acaba de dizer? - interrompeu-se bruscamente, seu olhar foi para a figura familiar que acabava de dobrar uma urna grega de grande tamanho e se dirigia para eles. – Espere –murmurou - não estamos sozinhos.
Sir Jeremy soltou uma gargalhada divertida.
- Meu deus nem tinha ideia de que este fosse um baile de fantasias.
Que horrível vestido!
Drake começou a rir. De fato ele ria tanto no momento em que chegou Eloise que Sir Jeremy deu um passo à distância dele com alarme.
- Suponho que você sabe quem é esta mulher - perguntou-lhe com curiosidade.
Drake limpou as bordas de seus olhos.
- Confesso que sei.
Sir Jeremy tossiu.
- Vou estar no clube amanhã durante uma hora ou menos. Passe se por acaso quiser escutar algo das outras opiniões. Parece que sua mente está ocupada neste momento.
Drake assentiu ausente, com o ombro apoiado contra a coluna.
Perguntou-se quando perceberia Eloise a ele, e que demônios estava com esse vestuário pouco atraente. Parecia decidida e desgostosa, seu olhar passando primeiro pela sala em geral, e depois aos bancos atapetados e... ah, por fim. A ele.
Ela parou, seus olhos avelã suaves se ampliaram de assombro.
- Você!
- Você - murmurou, ancorando seu dedo na blusa velha e atraindo-a para trás da coluna.
Não lhe deu nenhuma oportunidade de resistir. Antes de poder dizer outra palavra a fez calar com um beijo com a boca aberta que fez passar seu sangue a sua virilha esquentando-o.
- Suponho que é muito esperar que estivesse me procurando? -
murmurou movendo seu corpo para ocultar o seu.
- Na realidade - ele moveu distraidamente a mão com uma carícia possessiva pelas costas enquanto capturava a boca dela de novo. Sem esforço enquanto ele a tinha entre a coluna dura e seu corpo. Ela não podia movê-lo embora quisesse, até sua aprovação, nem sequer tentou.
- Não esperava vê-la de novo tão cedo, Eloise. - Sua boca brincou com a curva de seu queixo enquanto se colocava para cobri-los completamente da vista. Ela fingiu escapar, e logo aparentemente mudou de ideia e sorriu para ele, seu corpo suave contra o seu.
- Alguém - sussurrou lhe apertando a palma da mão no peito -
deveria ensiná-lo a se comportar bem. Não é cortês espreitar às jovens.
Ele sufocou uma gargalhada.
- Alguém deveria comprar um pouco de roupa bonita. Esse vestido...
Ela pôs suas mãos em seus quadris.
- Realmente estou tão horrível?
- Não. - Inclinou a cabeça para seu pescoço, soprando suavemente sobre a pele cremosa de sua garganta. - O vestido o faz, entretanto.
Vamos nos desfazer dele.
- Aqui? - Perguntou com alarme.
Levantou os olhos.
- Vamos nos atrever?
- Não!
Ela estremeceu e inclinou os ombros para trás contra a coluna. Ele a olhou com um sorriso de satisfação.
- Notei que não tirou as pérolas. O fecho ainda está travado?
Ela sorriu evasivamente.
- Não sei. Não tentei novamente.
Seus olhos brilhavam com o instinto elementar de um predador que tinha a vitória à mão.
- E eu pensando que esta seria outra dessas festas aborrecidas.
Esteja preparada para mim amanhã.
- Não posso -sussurrou com estupidez. - Tenho outra entrevista.
Inclinou-se para trás levantando sua fronte.
- Então, cancela-a.
- Não posso. Foi de antes de conhecê-lo.
- Com quem? - perguntou em voz baixa.
Via-se claramente incomodado.
- Quem é, Eloise? - perguntou em voz baixa.
Ela limpou a garganta.
- Já sabe. Sua irmã. Falamos sobre isto.
- É claro, Emma. Uma vez mais.
Isto era rico. Seus irmãos rugiriam de risada ao saberem que estava competindo com sua irmã pela devoção de uma mulher.
- Sim. - Ela soava completamente séria. - Tenho uma entrevista para um posto em sua academia.
Lançou-lhe um sorriso.
- Quer que lhe dê uma referência pessoal? Posso dar fé de quão deliciosa é você...
- Não se atreva - disse ela tremendo, seus seios duros contra seu vestido horrível.
- Eloise - disse mais aliviado do que podia demonstrar - Não lhe disse que nunca mais teria que trabalhar de novo? Não mais anciãs te batendo com suas bengalas. Não mais senhoritas mimadas que resgatar...
- Oh, Meu deus. - Ela gemeu e olhou por cima do ombro.
Sorriu-lhe de perplexidade.
- Estou quase com medo de lhe perguntar o que se passa.
- Thalía. Supõe-se que devo procurar por ela neste momento. Seu noivo chegou a sua casa hoje de Amsterdã e veio aqui esta noite sem dizer a ninguém e ela desapareceu da pista de baile.
- Quantos dias até o casamento? - perguntou com ironia.
- Perdi a conta.
- Por que diabos ele não vai procurá-la? -exigiu.
- Estamos falando de Thalía, Drake. E ela desapareceu. Entende por que não quer ser encontrada até que ela queira?
- Não pode mantê-la afastada dos problemas para sempre.
- Só até o casamento. Depois ela será problema de seu marido.
Deu-lhe um beijo na face. Ele suspirou lentamente, afastando as mãos dela. Estava matando-o deixá-la ir. Ele sentiu que ela se movia ao seu redor enquanto ele ficava quieto, cativo de sua ereção, uma das mais duras que jamais tinha experimentado ou que recordava.
- Drake? - Ela hesitou, sua mão lhe tocou o braço.
Ele esperou por um minuto que ela tivesse mudado de opinião.
Voltou-se e puxou-a contra ele, seguro de que ela podia sentir seu membro palpitante através de seu ridículo vestido em seu ventre.
- Necessito-a - advertiu-a em um sussurro tão feroz que seus olhos aumentaram. - E se não for agora mesmo, vou carregá-la para fora desta casa na frente de todos.
Ela engoliu saliva afastando-se dele.
- Só iria pedir lhe um pequeno favor.
Ele suspirou.
- Qual?
- Por favor não diga a sua irmã como se sente a respeito de mim.
Ele viu como seu coração pulsava como um tambor no peito. Morria
de vontade de ser seu amante, e o único em que podia pensar ela era não causar má impressão a Emma. Bom, este era o castigo que seu pai tinha lhe prometido em toda sua infância e que provavelmente merecia.
A horrível verdade é que sabia que nunca havia se sentido assim.
Seu desejo físico por ela tinha crescido deixando raízes emocionais alcançando algum lugar em seu coração.
Perceber isso provocou um calafrio em sua coluna vertebral até seu couro cabeludo. Endireitou-se sacudindo-se com o pensamento.
Não podia ser. Ele não iria deixar que isso ocorresse. Ele a desejava, isso era tudo.
Ficou na sombra da coluna quando ela desapareceu pelo corredor, com as saias se arrastando. Era tão diferente de suas amantes do passado como o giz era de queijo. Não achava inclusive possível que ele se apaixonasse. De fato, quanto mais a contemplava, mais ele mesmo estava seguro que não tinha nada com o que preocupar-se.
Ele a desejava, isso era tudo.
CAPÍTULO 18
Vários minutos depois, Eloise descobriu Thalía rondando no jardim atrás de uma estátua de Pan. Seu traje branco a fez fácil de detectar.
- Que diabos está fazendo aqui? - perguntou com irritação. - E não se atreva a me dizer que está com outro homem, esta noite de todas as noites, ou eu vou sacudi-la. Sim, farei-o.
Thalía a arrastou ao redor do lago.
- Não vou me reunir com ninguém -sussurrou-lhe freneticamente. -
Estou me escondendo. Fique na minha frente, assim não me verá.
- Ocultando-se de quem? - Eloise exigiu com alarme. - Não de sir Thomas? Sabe que está aqui? Se tiver mudado de opinião a respeito de casar-se com ele.
- Sei que está aqui - disse Thalía, as lágrimas lhe abafaram a voz. -
Mas também está Percy e seus amigos, está dizendo coisas vis minhas que ninguém deveria escutar.
Eloise sentiu uma onda de pânico desenfreado. A agonia no rosto de Thalía era autêntica. Tratava-se de uma feia consequência de sua escapada com Percy que nem ela nem Thalía tinham previsto. Percy poderia arruinar Thalía com sua língua viperina. Eloise estaria arruinada, também. Ela e Thalía poderiam terminar como a mulher mendigando em St. Giles a menos que ela pudesse parar Percy.
- Drake, isto parece o tipo de situação que ele saberia como dirigir.
- Esteve aqui faz um minuto. Tenho que encontrá-lo.
Thalía começou a chorar.
- Como pode pensar em si mesma em um momento como este? Às vezes é a pessoa mais egoísta, juro.
Eloise a sacudiu então. Não pôde evitar. Thalía parecia tão surpresa que ficou em um silêncio imediato e gratificante.
- Refiro-me a que devemos achar Lorde Drake para fazer frente a Percy. Queria lutar com ele uma vez, segundo me lembro. Deveria
animá-lo a fazê-lo.
- Onde está? - Thalía perguntou em voz apaziguada.
- Está indo embora. Ou já se foi? Não estou segura. Terei que me apressar para detê-lo.
- Não - gritou Thalía. - Não me deixe aqui sozinha com Percy e seus amigos. Vou atrás de Boscastle.
Eloise assentiu a contra gosto. Thalía não estava em qualquer estado para voltar à festa.
- Muito bem. Mas passe pelos jardins, para que ninguém a veja, e depressa. Vou ter que achar uma maneira de distrair Percy. Onde está esse demônio, de qualquer modo?
Thalía olhou para Eloise.
- Acaba de sair para o terraço, e acredito que me viu.
- Então, encontre Lorde Drake o mais rapidamente possível. - Thalía levou a mão à boca.
- Não deixe que Percy me arruíne. Não só vai romper meu compromisso com Thomas, mas também vou terminar sendo uma solteirona como você, Eloise.
- Não, não o fará -disse Eloise, lhe dando um empurrão para o atalho do jardim. - Ninguém vai saber de nada, embora tenha que fazer algo terrível.
Thalía a olhou com temor.
- O que quer dizer?
Eloise não respondeu. Virou-se para enfrentar o inimigo, um companheiro para uma senhora, torna-se um cavalheiro andante. Ela não tinha ideia do que iria fazer para manter sua promessa a Thalía.
Parecia duvidoso que pudesse raciocinar. Entretanto, ela tinha que fazer algo para evitar que ele fosse dizer algo ao Sir Thomas.
De repente, Percy estava parado no caminho em frente a ela. Ela se retirou da borda de pedra do lago de peixes. Olhou-a com insolência
horripilante.
- Bom, bom, olhe isto - arrastando as palavras. - Onde está seu pequeno cordeirinho? A última vez que a vi estava em minha cama.
Eloise se afastou dele. Estava avançando lentamente para ela, e ela não tinha aonde ir.
- Estou lhe advertindo - ela disse em voz baixa. - Se você soltar uma palavra do que aconteceu, lamentará.
Ele sorriu para ela.
- Gostaria de me pagar? Tem algo para comprar meu silêncio?
- Não seja repugnante.
Seu olhar se arrastou avaliando-a cruamente.
- Esse é o mais feio vestido que jamais vi. Vamos ver se o que está debaixo dele é melhor.
Agachou-se para levantar seu vestido, e Eloise sentiu o último fio de seu temperamento voar.
- É pura imundície - disse enquanto ele colocava a mão sob sua saia
- e não há melhor para a sujeira como uma boa lavagem.
Estava suficientemente instável em seus pés para que um pouco de esforço, de sua parte, o desequilibrasse. Ela sabia que lamentaria mais tarde, mas este era um desses momentos em que a oportunidade de vingar-se era simplesmente muito doce para resistir. Com um ligeiro empurrão da mão no ombro, caiu de cabeça no lago.
Viu-o afundar-se no horror total.
O que tinha feito? Provavelmente destruiu qualquer possibilidade de achar algum dia outra posição em Londres. Pelo menos como acompanhante. Talvez ela pudesse trabalhar como criada com dupla jornada ou como uma ajudante pessoal.
Sua cabeça emergiu da água com o cabelo amarelo grudado na testa. Eloise se encolheu pelas maldições que disse a ela. Pior ainda tinha conseguido conectar sua mão ao redor de seu joelho.
- Vou lavar essa boca suja sua - disse com voz resoluta.
- Você é uma louca i...
Ela levantou a outra perna, o pé em posição no ombro e o jogou de novo no lago. Ele lutou e sacou a cabeça à superfície outra vez, gritando:
- Ajuda! Uma louca está tentando me matar, - agarrando-a de novo pela perna.
- Não é de boa educação gritar na cara de uma mulher - disse. -
Solte minha perna, homenzinho.
Cuspiu um jorro de água por cima do ombro.
- Vamos ver.
Ele se levantou sobre seus joelhos, e seu controle sobre ela ficou mais forte. Ela sentiu que não tinha equilíbrio e preparou seus pés firmemente ao redor da base da lacuna. Ela se apoiou nele, uma mulher que tinha crescido com o regime de crianças bestiais.
- Aprendeu a lição?
Ele arrancou a borda de renda de seus calções e a lançou desafiante no ar como resposta. Eloísa ficou sem fôlego, vagamente consciente de uns passos no caminho de lajes, de vozes do terraço por cima deles. A saia estava molhada. Seu cabelo se soltou. E de repente um par de fortes braços a levantaram no ar e a puseram totalmente no caminho.
Drake ficou olhando a renda rasgada no chão e depois a olhou seu rosto.
- Fez-lhe isso?
Ela mordeu o lábio.
- Sim.
Percy estava branco, o rosto cheio de temor ao reconhecer quem estava resgatando-a.
- Deus, é uma selvagem, Boscastle - disse rapidamente. - Tinha que
ter visto como me atacou. Dê-me uma mão, sim? Mas olhe suas costas.
Drake plantou um pé na pedra e o estendeu para Percy. Percy olhou para Eloise, o brilhou no olhar era pura malícia, e logo sua cabeça caiu no chão. Várias vezes.
Tremendo de ira, ela se inclinou para espremer sua saia. Quando se endireitou havia outros dois homens perto do lago. O primeiro que reconheceu era o bonito irmão mais novo de Drake, Lorde Devon. O
outro homem, um pouco maior também era muito atraente e bem construído, com cabelo curto escuro e um convincente comportamento, embora não se pareciam fisicamente aos dois irmãos Boscastle.
Lançou-lhe um sorriso compreensivo. Obteve uma piscada em troca.
- O que está fazendo Percy no lago, Drake? - perguntou casualmente Devon.
E da mesma forma casual Drake respondeu:
- Mordendo uma maçã. Quer participar?
Devon olhou o homem a seu lado.
- Parece que queremos morder uma maçã, Dominic. Quer jogar?
O homem chamado Dominic deu um passo adiante, subindo as mangas para revelar uns antebraços musculosos.
- Talvez não devesse ver - aconselhou a Eloise suavemente.
- Morder uma maçã pode ser um pouco áspero.
Drake tirou Percy fora da água pelo pescoço.
- Não parece nada bem, Chapman. Sugiro um descanso longo no País de Gales para restaurar sua saúde.
- Gales? - Resmungou Percy. - Mas é tão selvagem e sangrento e não tenho parentes ali.
- Está bem - disse Drake sua voz suave e letal. - Escócia então.
- Prefiro a Itália - disse Dominic sua voz aparentemente agradável.
Os largos ombros de Drake bloqueando a molhada Eloise. Ele a olhou com um olhar de preocupação.
- Vá e me espere em minha carruagem.
- Não deveria.
Lady Heaton poderia perguntar estava, embora o mais provável fosse que não perguntasse por Eloise pela emoção da surpresa do retorno de Sir Thomas.
Não obstante, ela não podia voltar a aparecer no salão de baile neste estado descuidado. E estava claro que não queria que ela visse o que Drake iria fazer. Tampouco o fez, em realidade. O que iria fazer a Percy?
Ela se retirou da sebe. Havia poucos convidados no terraço.
Considerou ocultar-se atrás da estátua de Pan até retornar à sala de baile. Ela só podia esperar que ninguém percebesse e que Thalía tivesse o bom senso de pedir a seu noivo levá-la a sua casa. Voltou-se e ficou inesperadamente em pé cara a cara com uma moça formosa em um elegante vestido branco acetinado de noite cor crua. Seus olhos azuis vivos e o cabelo negro brilhante próprio dos Boscastle.
Soltou o mesmo sorriso malicioso à Eloise.
- Não acredito que nos encontramos. - Olhou as manchas de umidade no vestido de Eloise com diversão maliciosa.
Chloe a irmã dos dois réprobos do lago de peixes, e a esposa do terceiro.
- Suponho que o companheiro que estão afogando fez algo para ofendê-la.
Era impossível resistir a seu calor travesso. Eloise, entretanto era muito consciente de si mesma sobre sua aparência molhada para reunir um pouco de encanto em seu próprio nome. Seus calções rasgados falavam por si mesmos.
Estremeceu quando uma brisa cortou o jardim. Sua saia se prendeu nas dobras frias ao redor de suas pernas. O mesmo fizeram os farrapos de rendas nas pregas que pendiam de seus tornozelos.
- Aqui - disse Chloe com preocupação, e puxou-a suavemente colocando um xale de lã em seus ombros. - Ponha isto. Não combina com seu vestido, mas bom...
- Nada combina com este vestido, -murmurou Eloise. - Mas obrigada. Sou Eloise Goodwin na verdade, e eu... - Bom não podia pensar em uma maneira de explicar exatamente quem era ou sua relação com o irmão de Chloe.
Não estava certa de que o entendia ela mesma, e Deus sabia o que sua família poderia pensar se convertesse na amante de Drake.
- Você é o que? - Pediu-lhe Chloe, seus olhos se desviando a seu marido vendo-o sacudir o homem do lago como um rato morto.
Eloise vacilou distraída por si mesma pelo ato de agressão masculina que se estava desenvolvendo ante as duas mulheres. Drake tinha tirado o fraque caro, e a camisa de musselina branca que moldava os planos de seus musculosos ombros e peito. Sua gravata gotejava água sobre sua calça de pano, e ele ficou com suas pernas separadas em uma postura dominante.
Sentia um estranho bater de asas no mais profundo de seu ventre.
Seu protetor. Ele era todo milímetro masculino e perigoso. Um homem que seguia só seu próprio código moral. Só podia imaginar as demandas como amante, e se tratava como exemplo o que fazia, como iria defendê-la , então não tinha nenhuma oportunidade.
Seu coração era dele.
- Eu-eu-sou...
Algum sentido sobrenatural deve ter penetrado sua concentração.
Olhou a seu redor sem nem sequer pensar. Só agora percebeu que o pequeno público reunido no terraço tinha aumentado para observar as atuações no lago em um silêncio atônito.
Ela não conhecia nenhum dos convidados, não era verdade?
Três senhoras elegantemente vestidas, e um cavalheiro idoso de
aspecto muito diferente. Um mais jovem, uma mulher de estrutura delicada e cabelo dourado avermelhado, adiantou-se lentamente para Eloise.
Não, não, não. O sangue correu por seu rosto enquanto ela se reunia com o olhar de outra mulher. Não ela. Ficou arraigada no lugar, rezando para que não a reconhecesse neste estado deplorável.
A Viscondessa de Lyon. A digna irmã de Drake, a última pessoa no mundo que queria que fosse testemunha de sua vergonha. Só podia imaginar como parecia, nas conclusões de que uma dama devia ver-se.
Eloise jorrando água como um rato afogado. Drake, Devon, e Dominic afogando um rato no lago.
- Emma - exclamou com entusiasmo Chloe ao situar-se em frente de Eloise para saudar sua irmã. - Que bom vê-la! - disse em voz mais baixa e acrescentou: - Não sei se seus companheiros são pessoas de importância, mas recomendamos que tome um desvio ao redor do lago de peixes, Eloise - arriscando outro olhar de Lady Lyon. - Bom não tinha nenhuma esperança de que a viscondessa não a tenha reconhecido. Ou tratava de fingir que não tinha nada que ver pessoalmente com o incidente no lago de peixes.
Ela respirou.
- Boa noite, lady Lyon. Isto é um prazer inesperado.
- Inesperado? - Os olhos azuis de Emma foram para ela com firmeza desconcertante. - Sim. Mas não estou certa do que o que aconteceu aqui seja um prazer.
Chloe enviou um sorriso em defesa de Eloise.
- Bom não pelo tipo no lago, talvez.
A viscondessa, Emma deveria saber que havia muitos Boscastles na festa para evitar um escândalo. Quando mais de dois deles estavam reunidos em um só lugar o diabo entrava no jogo. Neste caso, Drake e Devon se acrescentaram com a influência de seu cunhado, Dominic que
era sem dúvida um homem que outro não queria cruzar-se.
A situação não poderia ter sido tão alarmante se Emma estivesse sozinha. Mas o conde de Heydon e sua velha condessa pomposa tinham insistido em dar um passeio pelo jardim. Se Emma não estivesse desesperada por receber sua oferta de ajuda financeira para a academia, ela não teria problemas. Ela só podia rezar para que seus benfeitores potenciais tivessem problemas de visão e não perceberem que seus dois irmãos e seu cunhado estavam afogando um homem no lago de peixes.
Ou que sua irmã Chloe estava vendo a exposição com uma satisfação muito pouco feminina. Ou que a pessoa de aspecto desalinhado, em pé junto a ela, era a jovem que Emma tinha previsto empregar como diretora assistente de sua academia em formação.
Uma academia cuja raiz seria provavelmente cortada em sua estadia se lady Heydon, que raramente visitava Londres percebesse quão escandalosos eram a família Boscastle.
- Meu deus - disse a condessa de cabelo cinza olhando por cima do ombro de Emma -parece que há quatro homens jovens no lago de peixes. O que podiam estar fazendo?
- Melhor não perguntar, espero - respondeu o conde abrindo e fechando os olhos com alegria por uma juventude desperdiçada.
Emma umedeceu os lábios.
- E como estava explicando, pessoalmente escolho cada professor depois de uma extensa série de entrevistas e de comprovar as referências. Nosso professor de baile, por exemplo, ensinava na corte francesa...
- Meu deus! - Exclamou o conde com alegria. - Parece como se estivessem flutuando por maçãs. Que divertido! Eu gostaria de jogar, também.
A condessa respirou através de seus lábios apertados.
- Essa é a cabeça de um homem, Henry. Não é uma maçã.
- A cabeça de um homem - disse com uma gargalhada. - Bom, isso parece ser mais divertido ainda.
Emma fechou os olhos pelo calafrio ao ver o rosto pálido de Percy.
Seus dois irmãos a cada lado do homem como um par de gárgulas.
Como Eloise Goodwin se envolveu nisto?
- Um aan? - gemia Percy.
- Bom, um ano ou uma morte segura - disse Dominic com um sorriso cruel. Emma abriu os olhos murmurando: - Sim, por favor. Alguém deveria ter pensado na indignidade.
Então ela olhou diretamente para Eloise que tinha uma expressão de culpa em seu rosto como se nunca tivesse visto Emma.
- Senhorita Goodwin - disse em um tom depreciativo. - Não esperávamos que tivesse alguma participação nisto.
Eloise levantou o queixo com resignação.
- Suponho que quer terminar seu assunto comigo agora. Entendo.
Provavelmente gostaria de me dizer que nunca toque a sua porta de novo, mas você é muito amável. Bom eu não a culpo.
Emma franziu o cenho.
- Isso é um pouco dramático, senhorita Goodwin e não de todo distante de meus verdadeiros sentimentos, exceto me inclino a dizer a Drake que se detenha em escurecer portas. Ou que os afoguem em lagos de peixes.
Ela estreitou os olhos com desgosto.
- Esse é Percy Chapman, não é verdade?
- Sim - respondeu Chloe colocando uma mão protetora sobre o antebraço de Eloise. - E eu não sei toda a história, mas imagino que ele merece ser afogado.
- Não no baile em frente de um vários convidados! - disse Emma em desespero. - Por que, senhorita Goodwin? Por que? Como pôde ter
permitido a você mesma ser metida em tudo isto? E onde diabos tirou esse vestido?
Eloise suspirou vendo-se em frente a todo o mundo como uma vítima frente a seu verdugo.
- Só estava cumprindo meu dever, Lady Lyon. E não posso explicar as origens deste vestido, exceto dizer que aparentemente é nefasto.
CAPÍTULO 19
Eloise subiu penosamente as altas escadas para seu quarto. A casa parecia estranhamente tranquila, agradeceu não encontrar nenhum criado que lhe perguntasse como foi a noite. Não sobravam forças para manter qualquer conversa. De fato, alegrava-se ao ver que Thalía ainda não tinha retornado ao lar. Certamente estaria com a família de seu apaixonado. Devidamente escoltados. Protegida.
Percy Chapman permaneceria no exílio até muito tempo depois que se celebrasse o casamento. Imaginava que os noivos abandonariam Londres para viver felizes em alguma das propriedades de Sir Thomas.
É o que desejava.
Eloise pensou que tinha completado seu dever com Thalía e seu marido, ao menos no concernente à parte em que desejava aos noivos: Deus abençoe sua alma confiante.
O compromisso marcava sua sorte.
Evidentemente, depois da desafortunada noite no lago de peixes, Lady Lyon não iria oferecer lhe nenhum trabalho. Quem em seu juízo perfeito o faria? Eloise teria sentido muita pena por si mesma, se Drake não tivesse restaurado sua honra inclusive de um modo tão melodramático. Que Deus a ajudasse porque amava a esse canalha. Se alguma vez teve dúvidas, essa noite seus sentimentos afloraram quando veio em sua ajuda. Apesar de saber o que ele pretendia em troca.
Entrou em seu quarto, fechando a porta atrás de si. Como podia pretender que tivessem somente um compromisso sexual? Quanto tempo passaria antes que ele rompesse seu coração?
Tirou o xale que sua irmã tinha lhe dado no jardim. Devon, Emma, Chloe e inclusive Gabriel Boscastle, todos os que tinham conhecido, eram belos e atraentes. Parecia que o sangue de todos eles, oferecia-lhes uma linhagem de seres formosos. Suspirou, enquanto se questionava com nostalgia se alguma vez levaria os bebês de Drake em
seu seio. O pensamento a perturbou. Acreditava no matrimônio com todo seu coração e trazer um menino ao mundo sem casar-se não lhe parecia correto. Tinha assumido sempre que se desse a luz uma menina, ela...
Não tinha deixado aberta a porta do armário, ou sim? Deixar as portas abertas era um claro convite para as traças e Eloise tinha entre seus escassos pertences vestidos de lãs suficientemente sensíveis para tomar cuidado.
Desabotoou o horrível vestido molhado e cruzou o quarto para o armário com a blusa e as mangas pendendo ao redor de sua cintura.
Tirou um lindo penhoar verde, um de seus poucos prazeres e fechou a porta do armário. Queria esquecer o pesadelo de Ralph Hawkins, o homem que arruinou sua vida, com aquela faca reluzente na mão.
¨¨¨¨¨¨
Drake caminhava para sua carruagem quando sua irmã Emma o alcançou. Olhou seu delicado rosto furioso. Amava-a e de fato a defenderia com a última batida de seu coração, mas eram tão incompatíveis como o fogo e o gelo. Ela desaprovava sua conduta deixando entrever sempre que podia. Sob sua opinião, ela era uma perturbação infernal mas a tolerava só porque... bom, porque... pois, porque era sua irmã.
Franzindo o cenho, fez um gesto ao lacaio que estava ao longe.
- Chego tarde a uma entrevista, Emma. A discussão terá que esperar.
- Uma entrevista? A estas horas?
- Deveria estar deitada e dormindo, não é verdade? Surpreende-me vê-la levantada depois do anoitecer. Não teme que respirar o ar da noite a corrompa?
- Entre na carruagem - respondeu-lhe com voz entrecortada. - É
suficiente um espetáculo público por noite.
Enquanto suspirava, seguiu-a ao escuro interior da carruagem. Sua
irmã se sentou nas almofadas de frente, lhe lançando um olhar condenatório sob seus formosos olhos azuis. Drake esticou suas longas pernas sobre o assento e apesar de seu mau humor se resignou a sua inevitável companhia.
- Já sabe Emma que a viuvez não lhe convém absolutamente.
Necessitamos que volte a se casar.
- Aplique este conselho a você - replicou-lhe, enquanto recompunha o xale ao redor de seus braços. - E sente-se corretamente quando estiver comigo.
Ignorando suas palavras, preferiu provocá-la mantendo sua indolente postura.
- O que a deixou de tão mau humor?
- Você.
Seus lábios se arquearam em um meio sorriso.
- Estava seguro de que as pessoas inteligentes como Lady Lyon, aprovariam desterrar de nossa Sociedade um canalha como Percy Chapman.
- Sua atuação ante o que aconteceu no lago de peixes, não se deve a seu bom coração, nem a uma nobre intenção por ajudar a esse idiota.
Tentou lhe mostrar um olhar penalizado.
- É claro que não. Não esqueça que não tenho coração, tal como todo mundo na família costumam me recordar tão amavelmente.
- Não se faça de mártir. Você gosta muito do papel de descarado para jogar outro diferente.
- Deus não o queira - murmurou. - Eu um mártir.
- Por que ela? - Perguntou. - De todas as jovens de Londres, dispostas e mais que contentes a jogar e seguir seus jogos, por que Eloise Goodwin?
Ele sorriu com uma careta.
- Por que ela? E por que não?
- É uma mulher decente, Drake e trabalhou muito duro para cimentar uma boa reputação em uma sociedade que não recompensa o sacrifício pessoal. Sua família se voltou contra ela ha seis anos e esteve sozinha depois.
Ele titubeou. Era algo mais do que Eloise lhe tinha revelado. O que aconteceu com sua família? O que pôde ter feito? Não tinha o que poderia chamar um caráter rebelde precisamente. Ou talvez sim?
- O que aconteceu com ela e sua família? - perguntou com cautela.
- Não a interroguei a respeito. Suas referências são as únicas autênticas, tem um histórico excelente e não te atreve a tocar no tema.
Por que? De entre todas as mulheres que pode escolher por que foi ela a quem decidiu seduzir?
Fingiu olhá-la com aborrecimento enquanto se reclinava no assento.
- Quem disse algo a respeito de seduzi-la?
- Oh! É um demônio. Posso imaginar perfeitamente o que aconteceu esta noite. Percy fez uma proposta indecente. E como já tinha decidido marcá-la como sua, voou em um arranque de fúria, decidindo aplacar seu ardor refrescando-o no lago de peixes.
- Jesus - disse, enquanto seu olhar inescrutável permanecia fixo no teto da carruagem. - De mártir a vilão em um abrir e fechar de olhos.
- De todos os lugares possíveis, teve que escolher esta festa em partícula. - Lamentou-se erguendo com desespero, suas brancas mãos enluvadas. - Quinze dias atrás, Percy Chapman não teria olhado duas vezes para uma mulher como Eloise Goodwin. Mas uma vez começaram a associá-la com sua pessoa, deixou de vê-la como a mulher de irrepreensível virtude que é.
Permaneceu em silêncio uns instantes.
- Bom, já sabe o que dizem. No momento em que uma mulher é vista em minha presença sua reputação já está arruinada.
- Sua reputação era irrepreensível. Tinha a intenção de lhe oferecer
trabalho na academia, que diga se de passagem, provavelmente nunca existirá, já que meus patrocinadores agora já sabem como age a família Boscastle depois do acontecido no lago dos peixes.
Endireitou-se bruscamente mordendo cada palavra enquanto falava.
- Como sempre, não tem a menor ideia do que está falando.
- Então me esclareça.
- Eu - disse enquanto se deixou cair pesadamente no assento novamente. Realmente ignorava por que se enfureceu tanto. -
Esclareçamos o motivo principal e é que Eloise não se defendia contra Percy. Defendia a jovem para quem trabalha.
- Thalía Thornton - Emma fez uma careta. - Que imbecil mais insuportável!. Tem sorte de ter caído nas mãos de Sir Thomas. Parece um bom homem.
- Assim é. Entretanto na festa, Percy esteve ameaçando revelar alguns segredos que prejudicariam Thalía. Eloise tentava dissuadi-lo quando eu cheguei. Pretendia que Percy não revelasse nada a Sir Thomas.
A seu pesar, um raio de aprovação iluminou seu olhar.
- Isso esclarece o desafortunado incidente desta noite. Entretanto, não esclarece sua implicação com Eloise.
- Nem eu mesmo sei, nem estou seguro de saber lhe explicar isso. -
Sacudiu a cabeça, enquanto murmurava com um sorriso irônico - Oh bom, na realidade, pedi-lhe que seja minha amante.
- E ela aceitou? - Perguntou-lhe em voz baixa.
Virou-se de costas. Não sabia por que tinha contado tudo, a não ser que fosse para proteger Eloise.
- Vai surpreender-se a estas alturas, Emma? Certamente neste preciso momento alguém está cometendo uma ofensa social ao que deve pôr remédio.
Sua irmã não pôde evitar murmurar algo em voz baixa que bem
poderia ser uma obscenidade. Vá com a autoritária Senhora Perfeita que poderia ter sido escrivã da Bíblia. Tudo o que Drake sabia era que a palavra Deus, inferno e o diabo saíram junto a seu nome em seu epíteto.
- Aceitou ser minha amante? - perguntou enquanto lhe pegava no joelho.
- Golpear não é uma conduta respeitável para uma viscondessa -
mofou-se enquanto esfregava a coxa.
Bateu-lhe outra vez, suficientemente forte para que o notasse.
- O que acontece com o assassinato?
- Para. - Segurou firmemente mas com suavidade seu pulso. - A virtude de todas as mulheres de Londres não é sua responsabilidade.
- Estou falando da virtude de Eloise Goodwin.
- Bom, você sim, mas eu não. Para variar tente não se colocar em minha vida. Meus assuntos não são de sua conta. Tampouco os seus.
Olharam-se, tão contrários como sua oposta lealdade. Viu o desdém refletido em seus olhos quando o olhou e não podia acreditar o muito que lhe doeu. Maldição, não importava o que a intrometida de sua irmã pensasse. Ela era a aberração, o ser hostil e frio da família, não ele.
Outros parentes podiam dizer que bem desfrutavam de seus pecados.
- É igual a ele, já sabe - ela disse em voz baixa. - Parece-se com nosso pai mais que ninguém na família.
Sorriu-lhe negando-se a revelar o muito que lhe doeu seu comentário.
- Não tenho certeza se é um insulto ou um elogio.
- Eu tampouco sei. - Liberou o pulso de sua mão. - E agora vou voltar para a festa para reparar qualquer dano ocasionado. - Levantou-se do assento e se inclinou para olhá-lo com desgosto. - Só desejo que tivesse escolhido uma mulher diferente, Drake.
¨¨¨¨¨Ëloise estava muito surpresa para gritar. Convenceu-se de que
Ralph não voltaria. Quanto tempo esteve escondido em seu quarto?
Conseguiu endireitar suas costas, tinha o sangue congelado em suas veias e duro seus reflexos. Mal teve forças para puxar a blusa sobre sua camisa.
- Surpresa, Ellie. - Jogou a faca aos pés da cama, com um olhar cheio de brincadeira. - É bom vê-la de novo.
Seu coração começou a pulsar com um terror doentio. Engoliu o fel de sua garganta.
- Não posso dizer que o sentimento é mútuo.
- Esteve fora se divertindo, não é verdade? -Perguntou em voz baixa.
- Estava fazendo meu trabalho - respondeu-lhe, afastando-se da cama. Ao longo de sua carreira, tinha tratado com jovens agressivos.
Sabia que a maioria das ocasiões só eram faróis e fanfarronices. Mas este era Ralph, que tinha percorrido todo o trajeto até Londres para encontrá-la e a esperava em seu quarto. Ninguém a tinha ameaçado alguma vez com uma faca. Notou um perigo no ar que lhe advertia que esta ocasião era muito diferente a qualquer outra a que enfrentou antes.
- Parece tensa, amor. Não cuida de si mesma, não é verdade?
Foi aproximando-se enquanto falava. Levou suas costas a faca e ao perder o equilíbrio, caiu de novo sobre a colcha. Ralph se inclinou sobre ela, seus olhos escuros tinham um olhar cruel.
- Isso, Ellie. Vamos nos deitar juntos.
- O que quer? - Murmurou secamente, de repente sentiu que não tinha medo, estava zangada. Cheirava a álcool e suor rançoso, embora estivesse com a roupa limpa com a gola meticulosamente engomada.
Sempre foi vaidoso, pensou.
- Estou sem recursos e quero o que me deve.
Afastou-se dele. Dinheiro. Oh! Isso deus era tudo o que queria.
- Não tenho dinheiro neste momento. Não me pagaram o mês. Vai
ter que voltar mais tarde.
- Poderia me dar outra coisa. - Acariciou lhe a nuca com a unha.
Eloise se encolheu, ao recordar quão diferente foi sentir a carícia de Drake quando a tocou, depois de defendê-la nesta mesma noite. Devia lhe falar de Ralph, mas pôde mais a vergonha. A desonra e a esperança que deixou atrás no passado.
- O que temos aqui? - Ralph lhe perguntou levantando com o dedo o colar de pérolas que rodeava seu pescoço.
- Que aspecto tem? - Sussurrou.
- Quase lamento não ter me casado com você, Ellie - murmurou -
exceto porque chegou alto para meu gosto. Eu gosto que minhas meninas sejam dóceis e caladas. Eu gosto...
Foi acariciar lhe a face, mas parou ao encontrar-se contemplando o canhão do fuzil de uma das pistolas de Lorde Thornton que Eloise segurava no ar depois de tirá-la de debaixo de sua cama. Estava sobre seus joelhos e cotovelos, pelo que lhe era impossível ver como estava sustentando a arma.
- Tomara tivesse deixado que Mildred e seus primos o assassinassem.
Seu rosto se escureceu.
- Quando tiver em minhas mãos a essa bruxa, lamentará não ter me matado. Foi uma doce garota uma vez, Ellie. Você...
- Não voltarei a ser jamais aquela garota doce - interrompeu-o. - Fui dama de companhia de uma baronesa idosa que amava a caça mais que a sua própria vida. Sou perfeitamente capaz de saltar a tampa de seus miolos. Com um só disparo, se preferir. É suficientemente doce?
Ele sorriu desconfortável.
Ela nivelou a pistola ante seu rosto.
- Não acredito que encontre jamais Mildred, mas se o fizer, espero que termine o que começou.
Embora se endireitasse, Eloise continuou olhando-o com desconfiança. Escondeu-se em seu quarto e a tinha ameaçado com uma faca. Manteve a pistola entre ambos enquanto ele se dirigia para a porta.
- Sairá pelo jardim, Ralph.
Ele soprou tropeçando contra a maçaneta da porta.
- Por que teria que fazê-lo?
- Porque prefiro matá-lo antes de permitir que alguém descubra que tivemos algum tipo de associação ou relação.
- Não sei a maneira de sair - murmurou.
Ela deixou de respirar. Continuava sendo um covarde chorão.
- Mostrar-lhe-ei isso. E por certo, há dois homens dormindo que virão correndo se me ouvirem gritar.
Deve ter soado convincente porque a seguiu desde o quarto e desceu de forma cautelosa as escadas sem dizer uma palavra. Ao chegar à porta do jardim vacilou tentando abraçá-la com estupidez.
- Dê-me um beijo de despedida.
Eloise apertou a pistola entre suas costelas.
- Afaste-se de mim lhe sussurrou com desprezo. - E nem te ocorra voltar jamais ou vou enviar Lorde Drake atrás de você.
Ele olhou à rua estreitando os olhos.
- Lorde quem?
- Ninguém que alguma vez você possa conhecer no submundo que frequenta. - Empurrou-o para fechar a porta. Uma carruagem desconhecida girava na esquina. - Acredito que ele está aqui agora -
sussurrou-lhe atrás da porta enquanto seu corpo tremia de alívio. Não era a carruagem de Drake mas ele não tinha por que saber. - Saia daqui antes que o veja!
¨¨¨¨¨¨
Grayson Boscastle, marquês de Sedgecroft e seu criado desceram da carruagem como se a rua fosse sua. Flanqueando-o estavam seus
dois irmãos mais novos, Lorde Heath e Lorde Devon. Por trás do impressionante trio, seguia-os seu cunhado Dominic Breckland, visconde Stratfield.
Grayson era o de maior constituição física do grupo, de cabelos dourados e carismático, sentia-se cômodo em sua posição de comando, estava com um casaco de lã negra. Seu irmão Heath não era menos letal em suas maneiras introspectivas e natureza reservada. Devon era o mais jovem, brincalhão, sensual, um ser desautorizado, com uma destreza militar demonstrada que podia tornar-se perigosa antes de cair o chapéu.
Dominic estava na retaguarda com rosto áspero, atento e tranquilamente preparado. Encaixava muito bem nesta família e machucaria a qualquer que os desafiasse esta noite. Só seria uma louca tentativa de desestabilizar este grupo de ímpios cavalheiros, cuja vitalidade se uniu pelo bem de um dos seus. Não obstante, apesar de serem homens audazes, nenhum deles se atreveu a informar Drake da investigação secreta motivada por seus suspeitos comportamentos recentes.
Devon os chamou a esta reunião de emergência para discutir a preocupação de Drake por uma mulher que já o tinha envolvido em um duelo. Nunca anteriormente, tinha investido nem mostrado tal interesse por nenhuma mulher ou o tinha mantido em segredo. Era uma fonte de curiosidade e preocupação para a família.
Foi Devon quem viu Eloise na porta do jardim com um homem que não parecia ser um criado da casa. Sacudiu a cabeça, passando a luneta a Heath.
- Isso não tem boa pinta, verdade?
Heath permanecia em silêncio. Era, de todos os irmãos Boscastle, o mais reservado em tirar conclusões.
- Há definitivamente um ar de clandestinidade ao redor.
- Pareceu-me tão simples e doce - disse Devon com o cenho franzido. - Nunca teria suspeitado algo parecido.
- Não há nada doce em colocar furtivamente um homem dentro e fora de sua casa a altas horas da noite - indicou Dominic secamente.
Heath se voltou a olhá-lo.
- Fala quem recentemente foi pego realizando a mesma saída furtiva do dormitório de minha irmã?
Os dentes de Dominic brilharam em um sorriso.
- Ao menos me casei com ela depois disso.
Grayson grunhiu.
Heath negou com a cabeça, com um olhar divertido levantou a luneta para a casa, murmurando:
- Agora não parece absolutamente nada alentador.
- O que acontece? - Perguntou Grayson.
- O homem está tentando de abraçá-la - respondeu depois de uma pausa.
Dominic franziu o cenho.
- Talvez seja seu irmão ou um primo próximo.
- E talvez a senhorita Eloise Goodwin não pareça o que é - replicou Grayson. - A mim por exemplo, resulta-me difícil acreditar que Drake tenha renunciado a uma cortesã por uma acompanhante.
- O que levanta nossas suspeitas - disse Dominic. - Entretanto é uma mulher muito atraente. Ao menos pelo que pude observar no lago de peixes.
Grayson cruzou os braços sobre o peito aborrecido.
- Sou partidário de averiguar mais coisas sobre ela.
- Eu também disse Devon.
Dominic levantou a mão.
- Tenho voto?
- É claro - disse Grayson magnanimamente.
- Pois eu digo sim.
Heath não podia identificar o homem, apesar de seguir seus movimentos pela rua através da luneta.
- Então estamos de acordo. Vamos investigar a fundo à mulher.
- Deixem-me fazê-lo - disse Devon rapidamente. - Todos vocês têm que responder ante suas esposas e fui eu quem começou este pacto.
Heath desceu a luneta com um suspiro.
- Estou feliz de ajudar.
- Eu também - disse Dominic.
Grayson assentiu com a cabeça.
- Igual a mim.
- Não, Devon - disse seu irmão mais velho, um sorriso cheio de confiança. - Deixe eu e Dominic fazermos isto. Vamos conseguir melhores resultados com sutileza que investigando todos de uma vez.
Além disso, se nos achar qualquer jornalista de fofocas de imprensa, este assunto acabará publicado e Drake suspeitará que estivemos espionando-o.
Heath começou a rir.
- Pelo que descobrimos.
- Não há nenhuma necessidade de que saiba, - disse Grayson com seu arrogante sorriso. - Pelo menos não ainda.
CAPÍTULO 20
Eloise não podia conciliar o sono depois de Ralph ir embora. De fato, ainda estava acordada três horas mais tarde, quando Lady Heaton e seu filho deixaram em casa Thalía. Ouviu os três rindo na sala de baixo e mais tarde Thalía subiu rapidamente as escadas. A ponto de dormir, seu último pensamento não foi para Ralph, mas foi um agradável, de Drake exigindo que ela estivesse disposta para ele na manhã, embora talvez depois de tudo o que tinha ocorrido esta noite na festa, a esquecesse.
Mas se ele se lembrasse iria lhe perguntar por sua decisão, e agora se sentia cada vez mais fraca pela hora. Ele tinha demonstrado a si mesmo ser seu protetor na festa. Tinha chegado em sua defesa sem dúvida nenhuma, e agora era seu turno de aceitar ou rejeitar sua oferta.
Podia protegê-la contra Ralph, mas teria a coragem para lhe explicar essa parte de sua vida a ele. Sentia-se uma covarde neste momento.
Uma mulher sozinha e desprotegida sem dúvida era vulnerável. Mas uma vez que se entregasse a Drake, ela se tornaria vulnerável por outros motivos. Sem importar o que exigisse em troca de seu amparo, ela não seria capaz de permanecer emocionalmente distante.
Dormiu decidida a fazer algumas demandas a ele também. Por um lado estaria proibido visitar bordéis. E ele simplesmente não podia seduzi-la nos sofás quando lhe desse vontade. Uma hora mais tarde, despertou com uma sacudida de consciência que a incomodou. Ela não ouviu a porta abrir-se, mas a figura masculina cálida contra ela na cama não era um sonho. Tampouco o era sua... sua nudez? Seus olhos se abriram de repente.
O olhar de Drake se encontrou com o dela ardendo com descarnada sensualidade. Sua mão direita deslizou por seu traseiro nu. Ela ficou olhando a sombra desse rosto escuro, seu corpo relaxado e vivo ao mesmo tempo. Quanto tempo esteve esse diabo estendido em sua
cama? E onde em nome do céu estava sua camisola?
Lutou para que lhe saísse a voz, seu coração estava pulsando fortemente em seu peito.
- Pensei que havia dito que viria amanhã.
- Não podia esperar. - Inclinou a cabeça para beijá-la suavemente nos lábios. - Perdoa-me?
Como poderia não lhe perdoar? Ele estava ali em sua cama e ela não podia sentir-se mais sem vergonha e feliz. Mas agora estava a salvo.
- Alguém poderia tê-lo ouvido.
- Todo mundo está dormindo - disse acariciando seu quadril nu com uma carícia longa. -Esperei para ter certeza.
A boca dela tremia enquanto ele abaixava a cabeça para beijá-la de novo, introduziu a língua entre seus lábios no mesmo instante em que deslizou uma mão entre suas pernas e empurrou dois dedos dentro das dobras inflamadas. Ela emitiu um grito de espanto e surpresa enquanto seu corpo se ajustava a ardente penetração
- Pareceu-me uma eternidade esperar até manhã. - Sussurrou.
Consumia-se de desejo. Queria esquecer tudo o que tinha acontecido essa noite.
O prazer que lhe oferecia era uma desculpa perfeita. Ele era forte e empurrou profundamente uma vez mais, até que gemeu e se entregou às pulsações de calor que se rompia sobre ela como ondas. Ele fechou os olhos de contentamento e a deixou convulsionar contra sua mão, sua fragrância embriagadora encheu seus sentidos de fome, sussurrou-lhe:
Estou perdoado?
Moveu a cabeça para beijá-la. Nunca havia sentido essa ternura por uma mulher. Negou-se a considerar o que significava, a pensar em como este assunto podia terminar. Sabia que sua vacilação para confiar nele
provinha de um razoável temor de que lhe faria mal, abandonando-a e usando-a. Libertinos rompem corações todos os dias.
Entretanto, não havia garantia de que ela não faria o mesmo com ele. Tal como esperava, ela nunca iria mudar. A queria simples e honesta como era.
- Drake. - Sussurrou seu nome, seu rosto junto ao seu ombro.
Ele sorriu. Estava tão deliciosamente suave e aberta.
- O que?
- Estou muito contente por estar aqui.
Algo em sua voz penetrou a bruma de antecipação a seu redor. Ele moveu sua cabeça para trás para olhá-la para baixo.
- Está?
Ela manteve o rosto em seu ombro.
- Esta noite foi horrível.
- Ah, isso.
Referia-se ao incidente na festa. Sem dúvida estava se perguntando se tinha tomado um homem selvagem como amante.
- Acabou-se. Falei com Emma. Ela pensa muito bem de você. De fato...
- Apenas me abrace.
Ele franziu o cenho.
- Querida, estou segurando-a.
- Bom, me abrace mais forte - disse com voz abafada.
- Não tem que agradar a ninguém mais que a si mesma Eloise, nunca mais - disse com indulgência. - Talvez com exceção de mim. Vou cuidar de tudo.
- Promete?
Beijou-a na parte superior da cabeça.
- É claro.
- Tenho que lhe explicar algumas coisas primeiro - sussurrou-lhe
depois de uma longa pausa.
Ele sorriu por dentro, seu corpo estava excitado e dolorido. Havia uma mulher viva que não queria falar em momentos mais inconvenientes?
- Pode esperar uma hora ou algo assim? Estou um pouco preocupado.
Voltou-a sobre suas costas e estudou seu corpo nu como um vencedor que se deleita com o botim que ganhou. Não parecia pensar com clareza quando estava com ela. Entretanto quando estavam separados não poderia pensar em outra coisa que não fosse ela.
Necessitava desta mulher.
Quando ele a tinha visto em pé no lago de peixes essa noite com a renda rasgada a seus pés, foi consumido por um calor que penetrou como uma onda de sede de sangue e amparo, mais poderoso que qualquer emoção que tinha conhecido.
- Queria assassinar Percy com minhas próprias mãos esta noite -
murmurou em voz baixa. - Se Devon e Dominic não tivessem ali... se não estivesse observando, bom, não acredito que Percy teria deixado a festa com vida.
- Se não o tivesse conhecido antes - disse em voz baixa. Seus olhos se abriram lentamente e o olharam. - Poderia ter medo de você. É muito impressionante.
Os olhos escuros dele brilhavam.
- Mas não tem medo de mim, não é verdade?
- Não.
- Nunca teve. Não desde a primeira noite que a conheci.
- Por que alguém temeria? - sussurrou
- Não serei a destruir suas ilusões - disse com um sorriso cínico.
- Não tenho nenhuma ilusão - disse suavemente.
Ele percebeu de novo que não foi sua inocência ou a falta de
experiência o que o tinha capturado, mas sua compreensão de quem era na realidade.
Ele nunca pretendeu ser um santo para ninguém, mas sabia que não era o pior pecador no mundo. Sim, tinha o temperamento do diabo e uma tendência a dias escuros de mau humor e desespero.
Queria que ela aceitasse isto desde o começo.
- Está acordada agora - disse ele. - Já não posso tirar vantagem de seu sono.
- Estou acordada - esteve de acordo.
Tomou fôlego. Ansiedade e outra emoção mais profunda estavam em sua voz. Apesar de sua promessa de ser paciente tinha que ter sua resposta agora.
- Já tomou sua decisão?
- Sabia que nunca houve nenhuma dúvida.
¨¨¨¨¨Ä decisão foi tomada. Seria sua amante. Talvez se sentisse vulnerável e deveria ter mais tempo para considerar sua oferta. Talvez se arrependesse de sua resposta. Durante anos temeu confiar em seus instintos. Foi precavida e reservada em todos seus assuntos. Tinha observado a vida e pensava que tinha aprendido muito sobre as pessoas. Mas confiava nele.
Amava-o. Tinha vivido o suficiente para entender a diferença entre a atração física e o amor. Levantou a mão até seu colete de cetim branco que protegia o musculoso aço de seu peito. Queria tocá-lo. Certamente ele o esperava. Mas não podia lhe perguntar a forma de fazê-lo. Por um momento não pôde calibrar sua reação. Então, repentinamente ele tirou o fraque e a gravata, desabotoou o colete e a camisa com um sorriso de cumplicidade.
Seu olhar viajou do peito a seu ventre plano à medida que lentamente desabotoava sua calça. Seu grosso sexo se sobressaía entre
o sombreado triângulo de densos e negros cachos e dos músculos poderosos de suas coxas.
Ela se concentrou em acalmar o batimento de seu coração e nas pulsações selvagens que se acumulavam na parte inferior de seu corpo.
Seu olhar se encontrou de novo com o dele.
- Seja minha mulher - disse.
Terminou de despir-se respirando com dificuldade. As sombras de seus largos ombros caíram sobre ela como uma cálida carícia. Seu coração se apertou quando ele desceu sobre ela. O contato de seu sólido corpo masculino contra o seu foi pura felicidade. Sentia todo seu ser suavizar-se em sinal de boas-vindas, de convite.
- Não posso esperar - sussurrou-lhe asperamente. - Importa-se?
- Faça o que quiser - disse ela movendo-se sinuosamente debaixo dele. - Faça o que quiser.
Ele empurrou suas pernas para abri-las e ficou em cima dela. Ela ergueu as mãos até os ombros, tremendo enquanto ele esfregava seu pênis contra seu ventre inchado, depois se colocou na entrada de seu sexo e empurrou seu eixo dentro. Sentiu que seu corpo respondia à tortura sensual. Ouviu-o inalar com força quando ela traçou seus dedos sobre a borda de suas costas com suavidade, em tentativa exploração.
Ele empurrou suas coxas ainda mais para separá-las e a segurou por baixo, pressionando os lábios de seu sexo a seu núcleo.
Ela ofegou e arqueando-se segurando fortemente seus musculosos quadris. Ele tinha os olhos meio fechados e ela levantou os ombros da cama com surpresa quando seu corpo o aceitou.
- Isso - sussurrou. - Tome. Confie em mim.
Ele flexionou suas costas e empurrou seus quadris para ela de modo que a deixou exposta completamente, incapaz de mover-se. Seu pênis pressionou em sua fenda. Ele girou seus quadris, retirou-se e logo pressionou mais profundamente resmungando:
- Tente relaxar um pouco. Sei que dói a princípio, mas não durará para sempre.
Para sempre.
A expressão ecoou em sua mente e no batimento de seu coração no momento que todo pensamento retrocedeu.
Então, ele jogou a cabeça para trás com erótica determinação e empurrou, deixando que seus instintos tomassem o comando. Os quadris dela resistiram; forçou-a a descê-los com as mãos suaves, mas firmes. Uma onda de luxúria envolveu seu cérebro. Estava perdido nela, dando tanto de si mesmo a ela como ela o dava a ele. Mas se sentia como o ato mais natural do mundo.
Como era possível? Tinha-a conhecido por um curto tempo, mas isto era novo para ele.
Eloise olhou para seu duro e esculpido rosto enquanto seu corpo se ajustava a seu tamanho. Inescrutáveis emoções ardiam em seus olhos azuis escuro. Era um homem intenso, carnal que não se desculpava pelo que era, e ela entendeu isso desde o começo. Não tinha mudado o rumo. Deu-se a ele de todos os modos, mais do que ele mesmo percebeu.
Mas este era seu momento com ele. Não foi capaz de lutar contra o que sentia por ele. Nem seu corpo podia resistir a seu erotismo. Ela se deleitava com a forma como a tinha dominado. Sua união era o mais belo e selvagem que podia ter imaginado. A intimidade da paixão foi além do esperado. Nunca teria adivinhado que o ato físico fosse por sua vez tão terreno como estimulante.
Surpreendeu-lhe que ela pudesse tomar seu sexo tão grosso em seu interior. Sua penetração a tinha estirado de maneira tal que se perguntou se a rasgaria, mas agora só sentia um calor agudo, e não queria pensar nisso. Com ousadia ela passou as pontas de seus dedos por sua espinha dorsal. Ele reagiu a seu contato rodando seus quadris
magros e empurrando para cima. Ficou sem fôlego pelo audaz movimento. Sentia que a estava deixando em pedacinhos. Gemeu, embora por excitação pura não por temor. Ele procurou sua boca e a beijou até fazê-la calar.
Mas seu corpo era implacável e ela aferrou seus quadris ao movimento de seu amante. Ele foi mais fundo.
Ele fazia amor de um modo feroz, intenso e elegante. Seu belo rosto era uma máscara de desejo masculino desenfreado. Mas ela queria mais dele. Muito mais. Levantou seus quadris tentadoramente. Ele emitiu um gemido contra sua boca. Sabia que um momento de satisfação produto de sua ingênua habilidade podia provocar uma resposta de grande alcance.
Ela se moveu de novo, guiada pelo instinto, o desejo era de agradá-
lo. Ele estremeceu, penetrou-a mais fundo até que estava gemendo com uma necessidade que ardia em seu sangue. Sentiu que os músculos de suas costas se esticavam, e adivinhou pela tensão em seu rosto que estava exercendo um grande controle.
A voz dele era profunda quando rompeu através de sua barreira sensual.
- Poderia morrer dentro de você. Poderia morrer desta forma.
Suas palavras a inflamaram. Ele a tinha aberto à sensualidade, e ela o aceitava. Mordeu o lábio, golpeando sua cabeça quando ele aumentou o ritmo dentro dela, de forma desinibida e agressivamente masculina.
Era como um aríete que tinha penetrado no mais fundo, sua virilidade era mais do que podia resistir.
Não havia nada mais. Nada mais que a união sem limites de seus corpos, uma união mística e logo posta em liberdade. Ela se desfez debaixo dele, convulsionou-se enquanto olhava para ela com satisfação não dissimulada. Ela cedeu ao prazer que sulcava através de seu corpo.
Entregando-se a ele quando a pegou por baixo e bombeou até o
momento em que pensou que iria perder a consciência, e logo tomou seu próprio prazer feroz. Sua semente inundou seu ventre. Sentiu o fôlego dele como um sussurro em seu corpo. O suor e as sensações cruas de seu próprio corpo lentamente foram retrocedendo como a maré de pulsações, uma destilação de sêmen quente sentiu entre suas pernas.
Seu corpo não lhe pertencia mais e, entretanto, só sentia uma estranha exaltação. Seu protetor. Seu amante. Não era a vida que tinha planejado para ela. Quem teria pensado que Eloise Goodwin tinha o coração tão sensível para cair tão irrevogavelmente no amor?
Ele saberia? Esperava? Era algo que ele como amante podia demandar? Uma amante. Um sentimento de tristeza escureceu o agradável calor que tinha começado a apoderar-se dela. Ao amá-lo sentia-se bem, mas o papel que aceitou não o fazia. Entretanto foi escolha sua.
¨¨¨¨¨Ële deslizou de seu corpo quente e sorriu, sentindo o batimento de seu coração lento com um eco constante.
- Bom, senhorita Goodwin - disse enquanto ele a beijava suavemente. - Estou muito contente de não ter que esperar até manhã. -
Rodou sobre seu flanco e olhou ao redor o pequeno aposento.
- Apesar de não querer que qualquer um de nós passe outra noite aqui. Onde você gostaria de viver?
Ela se endireitou sobre os cotovelos.
- Não pensei nisso - disse em voz baixa.
Ele a olhou avaliando-a.
- Pense nisso agora. Quero um lugar onde possamos nos reunir em privado, e...
- Sei o que deve fazer uma amante - sussurrou-lhe percorrendo o corpo com seu olhar.
Ele a puxou pela cintura e sorriu. Deus, se sentia bem.
- Certamente sabe, e me alegro de que entre neste assunto com uma perspectiva prática. Só espero que não se arrependa.
- Eu também - disse ela com seriedade.
Ele riu inclinando-se sobre o cotovelo para olhá-la.
-O que a fez decidir dizer que sim? Foi minha intervenção heroica na festa desta noite? Se afogar idiotas em lagos ganhou seu favor, poderia provavelmente dispor o necessário para fazê-lo de forma regular.
Londres está cheia deles. - Ela apoiou a cabeça contra seu ombro sorrindo a contra gosto.
- Lagos de peixes? Não tinha percebido.
- Não. Idiotas.
- Oh, sim. notei isso. Cada festa tem sua parte.
Ele entrelaçou seus longos dedos em seu cabelo castanho espesso.
- Não irá a nenhuma outra festa sozinha e quero dizer o que acabo de dizer. Espero que não se arrependa.
- Está tentando me advertir que não me apaixone por você? -
Perguntou-lhe depois de uma longa e incômoda pausa.
A mão dele deslizou da nuca até seu ombro.
- Diabos, não. Sou muito egoísta para desejar isso. Deixar que se apaixonasse por mim.
- Pode ser que seja muito tarde para me deter - replicou com ironia.
Sorriu com ternura e a pegou com firmeza pelos ombros. Ela pensava que o amava. Deveria estar esgotado, o suficiente para não lhe importar. Mas curiosamente o fez. Queria sexo, afeto, e qualquer outra coisa que ela pudesse lhe dar.
- Por que decidiu aceitar minha oferta?
Ela emitiu um pequeno suspiro.
- A fome e a ameaça de viver na rua pôde ter desempenhado um papel pequeno.
- Assim eu sou melhor que um prato de sopa ou Cheapside? -
perguntou, franzindo o cenho para ela em uma simulação de decepção. -
Isso não é exatamente o mais alto elogio para um homem que esteve fazendo de tudo para seduzi-la.
- E teve êxito. - Ele sentiu um movimento ascendente sobre os travesseiros justo quando ela fixou sua atenção no chão. Voltou a cabeça e percebeu que estava olhando o vestido horrível que tinha usado na festa. Estava convertido em um montão de rugas como se um par de tesouras ou uma faca tivessem sido enterrados em suas dobras rígidas.
Riu entre dentes.
- O que aconteceu com o vestido?
Pôde sentir um ligeiro estremecimento percorrê-la e se recordou que um cavalheiro nunca deveria zombar da aparência de uma dama, nem sequer em brincadeira. Senhor, quem pensaria que teria esse tipo de reação a um poucos comentários maus?
- Posso lhe contar isso pela manhã? -sussurrou, inclinando a cabeça para trás para olhá-lo.
Ele hesitou, e sua diversão se desvaneceu. Eram lágrimas em seus belos olhos?
- Oh, Eloise, Deus - disse com voz rouca. - Não chore. Vou comprar-lhe um milhar de outros vestidos. Não quis dizer nada disso. Sabe como gosto de zombar. Mas, é claro vai me contar sobre o vestido pela manhã se quiser. Ou não será mencionado outra vez.
Ele não tinha certeza exatamente do que havia dito, mas deve ter sido o correto, porque lhe sorriu e caiu para trás com gosto sobre a cama enquanto ele se movia sobre ela. Talvez ela estivesse mais que sentimental porque era sua primeira noite juntos, e acabava de entregar sua virgindade a um homem que provavelmente não merecia esse presente. Não lhe ocorreu que havia mais em sua reação do que podia
adivinhar. De fato, nunca teria suspeitado que ela estivesse mantendo um segredo sobre ele a seus benditos irmãos.
CAPÍTULO 21
Lorde Devon Boscastle e seu cunhado Dominic seguiram sua presa a uma taverna de classe baixa nos jardins das imediações de Covent.
Uma névoa com garoa com cheiro de cerveja rançosa madura e peixe cozido com despojos apodrecendo-se na sarjeta.
Devon olhou a seu redor à luz do estabelecimento com desgosto.
Era bem mais por contagiar-se de uma enfermidade mortal simplesmente por respirar o ar. Dominic raspou o salto de sua bota pelo chão sujo, como se tivesse pisado em algo desagradável. Ou em alguém. Um soldado perdido jazia estendido debaixo de uma mesa, roncando no esquecimento.
O olhar agudo de Devon penetrou a escuridão cheia de fumaça.
Uma figura pequena envolta em um casaco de lã marrom velho se sentou sozinha em um canto, chamando uma criada que deliberadamente o ignorou.
- Ah - murmurou Devon. - Aí está nosso homem misterioso.
Necessitaram duas rondas de cerveja para afrouxar a língua do homem. A quarta Ralph teria vendido à alma de sua mãe e dançado nu em sua tumba.
- Não é o dinheiro, note - disse limpando o nariz com a manga da jaqueta - Isso é só o princípio da coisa.
A boca cinzelada de Devon se levantou em um sorriso cínico.
- Quem necessita de princípios? - murmurou enchendo a jarra de Ralph até a borda.
Dominic sorriu.
- Sobre tudo quando participam as mulheres. Assim, você se comprometeu com esta jovem desde pequena.
Ralph tomou um gole da jarra de cerveja forte.
- Desde quem? Seu nome era Ellie. Eloise Jenkins. E logo, reuniu-se com Mildred. O par humilhou minha dignidade. Zombaram de mim,
essas duas bruxas, e Mildred foi a pior.
Devon arqueou sua sobrancelha escura.
- Mildred?
- Não consigo entendê-lo - Disse Dominic recostando-se em sua cadeira com um sorriso indolente. - Você se comprometeu com Eloise e com esta Mildred, ao mesmo tempo, e você diz que foi a parte prejudicada?
- Exatamente - disse Ralph com seu rosto cheio de ira. - E se você não acredita que foi uma ferida em meu orgulho masculino, então nunca foi exibido nu em um carro frente ao povoado inteiro.
- Não posso dizer que tive essa experiência, - murmurou Devon evitando o olhar mordaz de Dominic. - Mas o que quer de Eloise, depois de tantos anos?
Ralph cuspiu no chão.
O lábio superior de Dominic se levantou com repugnância.
- Acredito que me deve algo por minha perda.
Se Ralph não estivesse tão bêbado poderia ter percebido o brilho perigoso nos olhos de Devon.
- O que é exatamente que pensa que lhe deve?
- Não sei - disse Ralph com o olhar deslizando através da sala a uma mesa onde estalou um discussão. - Estou quase arrependido de não ter me casado com Eloise, exceto que agora está muito mandona para meu gosto. Agora Millie pelo contrário, sempre teve um gênio de diabos.
- A mulher que planejou o sequestro do cão na carruagem? -
Perguntou Dominic com um sorriso em seu lábio superior.
Ralph estremeceu.
- Não ria, meu filho. Ainda tenho pesadelos que me despertam de noite ao encontrar Mildred Hammersmith em pé junto a mim com a foice que roubou de seu pai do celeiro.
Devon apertou os dentes. A conversa tinha esgotado a pouca tolerância que tinha pelos idiotas.
- Mas quanto à outra mulher.
- Eloise.
Os três homens se agacharam debaixo da mesa quando uma cadeira saiu voando pela sala. No momento Devon e Dominic julgaram que era seguro sair, a maioria das velas na taverna se apagou. Colunas de fumaça flutuavam entre o clamor de grunhidos, maldições e punhos de carne contra carne.
Devon e Dominic se pararam.
- Acredito que é hora de ir, não? - Perguntou Devon, empurrando um corpo desequilibrado de seu caminho.
Dominic se voltou e lançou um murro em um homem que cambaleou para ele com uma garrafa quebrada.
- Boa ideia. E sobre o rato?
Devon olhou ao redor. Não era de estranhar, Ralph tinha desaparecido pela porta da rua sem luz à primeira ameaça de perigo para si mesmo.
- Não acredito que seja digno de seguir. Disse tudo o que precisamos saber por agora.
¨¨¨¨¨¨
Drake desapareceu quando Eloise despertou na manhã seguinte.
Não se moveu durante vários minutos, exceto para estirar os braços e esfregar luxuosamente suas costas contra a cama. Olhou ao redor do aposento. Quanto mais cálida e mais intrigante sua presença tinha feito a sua antecâmara parecer menos monótona?
Não tinha deixado rastro. Não tinha deixado uma bota ou um botão para marcar sua visita. Mas seu corpo tinha a prova de ter feito amor apaixonadamente. Doía-lhe seu interior, quando tomou consciência, sentiu vontade de esconder-se debaixo dos lençóis durante todo o dia e
saborear as consequências de sua sedução. Ela não queria sair de sua cama. Queria permanecer recordando a noite anterior durante todo o tempo que fosse possível.
Havia se sentido tão feliz e a salvo com seus braços ao redor, protegendo-a.
Levantou-se lentamente, sob o olhar até o vestido no chão. E logo recordou. Não o tinha esquecido em realidade, mas sim conseguiu tirar de sua mente a visita de Ralph.
Sofreu uma punhalada débil de remorso já que não falou com Drake a respeito de Ralph. Não queria arruinar a noite, mas estava segura que iria contar. Seria melhor se soubesse tudo. A falta de honra não era sua natureza.
Vários minutos mais tarde saiu da cama e caminhou com cautela para o espelho. Sentia uma dor entre suas coxas para lhe recordar o que tinham feito ela e Drake. Ainda assim, sentiu-se quase formosa... até que recordou que ainda tinha que considerar seu posto como acompanhante.
Vestiu-se a toda pressa e foi ao quarto da Thalía para comprovar que tudo estava bem. Thalía roncava em sua cama, ainda com seu traje de baile, uma sapatilha pendia da ponta de seu dedão do pé.
Eloise sorriu e fechou a porta. Sua pupila parecia estar segura e contente com sua situação na vida. Parecia que a noite saiu bem para as duas, ainda que tivesse começado mal. É claro, havia um dia mais a que fazer frente. A casa inteira estava esperando na parte inferior da escada a sua descida. Heston o mordomo estava fingindo examinar uma estátua. A Sra. Barnes se achava no centro da sala fingindo recordar fazer a compra para uma sopa de cebola. Freddie estava polindo como se pudesse dar vida à maçaneta da porta de bronze com a manga.
- Bom, bom dia - disse, fazendo uma pausa breve antes de ir à sala para ordenar o correio. - É bom vê-los todos vocês tão trabalhando, tão cedo.
Bluebell a lavadeira lhe lançou um sorriso de todos seus dentes.
- Alguns de nós estávamos trabalhando no meio da noite.
- E alguns de nós deveríamos nos ocupar de nossos próprios assuntos - disse a senhora Barnes em voz baixa.
Eloise sorriu mais envergonhada que ofendida, e se dirigiu à porta do salão. À medida que a abriu, seu público irrompeu em um arrebatamento de aplausos. Deu meia volta com a boca aberta e logo sacudiu a cabeça e escapou. É lamentável perceber que tinha pouca privacidade. Mas como souberam?
Por acaso tinha "uma relação apaixonada", escrita por toda a cara?
Ou mulher caída? Estes queridos idiotas realmente acreditavam que esta relação com Drake foi um ato de auto sacrifício de sua parte?
Lamentou não poder convencer a si mesma que suas ações tinham sido totalmente altruístas.
Sentou-se na mesa. A Sra. Barnes chegou um minuto depois com uma fumegante taça de chá.
- Quer toucinho, amor? - perguntou. - Um prato delicioso de sopa pode esquentar suas entranhas.
Eloise lançou um olhar de respeito.
- Minhas entranhas estão muito quentes, obrigada.
- Com certeza que estão depois do que esteve fazendo.
- Senhora Barnes de verdade!
- Que tal um bom pedaço de pão torrado? Imagino que com o que fez tem muito apetite.
Eloise suspirou e pegou o jornal sobre a mesa.
- É isto tudo o que veio hoje, Sra. Barnes? Não há noticias de Lorde Thornton?
- A mensagem não chegou ainda. O velho Dugdale trouxe na noite passada enquanto estavam na festa. Disse que havia algo nele que você deveria ver.
Eloise franziu o cenho enquanto desdobrou o papel.
- Céus, não outro jornal sensacionalista. Esse homem não tem nada melhor que fazer com seu tempo? - murmurou ela contra sua vontade começando a ler o parágrafo que o comandante havia com tanto cuidado circulado em tinta.
Que membro de uma conhecida família de Londres tomou uma cortesã como sua amante? Este infame Cipriano não se oculta em seu castelo, mas é bem conhecido em uma casa de prazer em Bruton Street.
O nome de batismo de nosso cavalheiro malvado rima com restelo...
Restelo. Drake. Castelo. Boscastle. Eloise sentiu um sabor amargo na garganta.
- Olhe isto Sra. Barnes - Disse como ao vazio.
- Muitas folhas no chá de novo?
- O jornal. Refiro-me ao jornal.
A Sra. Barnes colocou seus óculos de bolso.
- Eu gosto de um pouco de intriga.
Eloise empurrou sua cadeira da mesa e ficou em pé.
- Bom, eu não. Pelo menos não deste tipo.
- Oh, vá - murmurou a senhora Barnes quando começou a ler pouco a pouco o artigo. - Talvez não seja tão mau como soa.
Olhou para Eloise com um sorriso esperançoso.
- Talvez não seja verdade absolutamente. Você mesma disse que estas folhas estão cheias de mentiras.
- Mas é verdade - disse Eloise em voz baixa.
- Como sabe você, senhorita?
- Porque fui buscá-lo na casa de prazer em Bruton Street na noite que nos conhecemos - disse mal-humorada.
- Você? - Disse a Sra. Barnes em estado de choque - Você foi a um bordel? Meu deus tenho que me sentar e tomar ar para poder refletir sobre isto.
Eloise recolheu o papel. Havia algumas coisas que ela também tinha que refletir. É certo que tinha conhecido o tipo de vida que Drake levava antes que ela tivesse entrado em sua relação, mas sabê-lo abertamente a levou a... enrugou o nariz com desgosto... cortesã... ela... ao mesmo tempo. Foi como um corte no coração.
Teria uma segunda opção?
Pior, segundo o documento esteve competição com outros homens pelos favores da cortesã. Estava ainda perseguindo-a?
- Maribela St. Ives, com efeito - murmurou. - Se esse for inclusive seu verdadeiro nome. Não vou tolerar isto por nada.
A Sra. Barnes olhou com aprovação.
- Assim está melhor, amor. Não pensei que você era o tipo que passa um insulto pessoal deitada.
Eloise franziu os lábios.
- Pobre escolha de palavras, Sra. Barnes.
- Só lhe faça entender que não tolerará seu mau comportamento desde o começo. Sem papas na língua certamente.
¨¨¨¨¨¨
Drake retornou para a casa para barbear-se e trocar de roupa.
Esperava escapar do quarto de Eloise sem ser detectado e lhe evitar a vergonha desnecessária, mas o criado de Thornton esteve espiando-o de um esconderijo desenhado estrategicamente para ver toda a casa.
Bom não tem sentido negar o evidente. Deu várias moedas de ouro para Freddie quando o jovem tentou evitá-lo atrás da porta para evitar sua atenção.
- Deixa que a senhora descanse um pouco mais, Freddie - disse piscando o olho ao lacaio assombrado.
- Obrigado milorde - respondeu Freddie, e se lançou para frente para abrir a porta principal. O dia tinha amanhecido nublado e úmido, uma típica manhã de Londres.
- E me permita lhe dizer quão aliviado estou de que...
Drake olhou para trás arqueando sua sobrancelha.
- De que?
Freddie limpou a garganta.
- Que a senhorita Goodwin tenha um amigo de confiança no senhor.
Um amigo em que confiar, era realmente muito desagradável. Drake sentiu um calor inesperado pela descrição de sua relação com Eloise.
Amigos e amantes. Gostava do som disso. Gostava da comodidade que implicava, a forma em que ela parecia preencher o vazio que a tanto tempo passou por cima. Sexo e amizade. Poderia haver algo melhor?
- Me alegro de que tenha um protetor - acrescentou Freddie e depois abriu a porta para Drake - Ela necessita um, meu senhor.
Drake não pensou nada dessa observação até umas horas mais tarde. Planejava visitar seu irmão mais velho Heath para lhe sugerir se encontrarem na casa de Sir Jeremy Hutchinson em vez do clube de box Jackson.
E depois o resto do dia dedicaria a Eloise. Não tinha certeza exatamente do que fariam. Talvez nada absolutamente, ou um passeio em Hyde Park. Só sabia que iriam ficar juntos, e ele não sentia que precisava fazer nada para impressioná-la. Havia admitido que ela estava apaixonada por ele.
Heath chegou justo quando Drake terminou de vestir-se. A diferença de Devon, seu irmão mais velho raramente o visitava sem prévio aviso.
Drake indicou a seu valete Quincy que saísse do quarto.
- Estava a ponto de ir visitá-lo - disse endireitando seu lenço no pescoço. - Como esta Julia?
- Ela está bem, obrigado - Heath se reuniu a Drake com o olhar no espelho, ele sabia que algo estava errado. Virou-se lentamente.
- O que é?
- Fui nomeado para lhe contar.
- Deus. - Drake fez uma careta e se voltou para a janela. - Bom mãos à obra. Emma deu seu último sermão ontem à noite. É seu turno agora. Ao menos posso contar com vocês para ser conciso.
Heath rodeou a mesa que estava a um lado do aposento.
- Alguma vez lhe dei um sermão?
- Não. Não que eu possa recordar. - Drake deu meia volta com a voz rouca. - Mas me permita que lhe economize trabalho. Sim é verdade.
Estou tendo uma aventura com uma mulher que trabalha como acompanhante. Não. Ela não é uma a típica mulher, como Emma tão bruscamente indicou. Arruinei-a e assumirei a plena responsabilidade.
Precisa saber mais que isso?
Heath se sentou na cadeira ao contrário.
- Não preciso saber nada de seus assuntos privados.
- Bem. - Drake encolheu os ombros com irritação. - Então, qual é o motivo desta visita?
- Quanto sabe dela?
Drake levou um momento. De todos seus irmãos, Heath era o mais próximo a ele em seu caráter, intensamente privado, sempre meditando, inclinados a sondar debaixo da superfície. Ambos os homens eram suspeitos por natureza.
Entretanto, enquanto Heath era reflexivo e acadêmico, Drake era mais uma criatura de estado de ânimo e instinto.
- O que quer dizer? - perguntou sem rodeios.
Heath hesitou.
- Quanto tempo faz que a conhece?
- O suficiente.
- Uma aventura casual, talvez. Mas isto parece mais sério. Ou estou equivocado?
Drake sentiu um movimento de inquietação. Confiava no instinto de Heath mais que no seu.
- Maldição, não brinque comigo. O que sabe dela?
- Só que um homem saiu de sua casa ontem à noite - disse Heath diretamente.
- Jesus, - Drake começou a rir. - O matrimônio deixou sua mente insípida. O homem era eu. Passei quase toda a noite com ela.
Houve um silêncio. Heath desviou o olhar.
- Antes de chegar você, quero dizer.
Drake não reagiu, mas sua mente metódica revisou cada detalhe da noite. Eloise estava na cama quando entrou em seu quarto, dormindo.
Não havia sinais visíveis da presença de outro homem. Ela estava usando uma peça de roupa de noite branca, que tinha tirado e...
Seu vestido de baile feio estava no chão. Nada estranho tendo em conta como zombou dela. Não havia copos de vinho na mesa de noite.
Não havia cartas de amor por ali. Nada suspeito absolutamente, exceto que ela tinha pareceu um pouco frágil e emocional, não é incomum considerando o passo irrevogável que tinham tomado.
Ele moveu a cabeça em negação.
- Não é que seja problema de ninguém, mas juro que nunca dormiu com um homem até que o fez comigo.
- Não estou tentando me intrometer.
Ele encolheu os ombros.
- Talvez fosse seu vizinho. O velho bode sempre está incomodando.
- Não, Drake.
- Então, quem?
Heath olhou para baixo para a escrivaninha.
- Devon e Dominic seguiram seu visitante a uma taverna em Covent Garden. Ele afirmou que esteve comprometido com Eloise antes de vir a Londres. Ele parece estar atrás de dinheiro.
Drake sentiu um rubor do pescoço ao rosto.
- Onde está?
- Desapareceu quando estalou uma briga. Parece que não era uma espécie agradável.
- Já vejo.
- Quer minha ajuda?
Drake negou com a cabeça, as palavras quase nem as ouvia.
- Posso resolver isto por mim mesmo.
- Importa-lhe muito?
- Disse que me preocupo com ela?
- Não - Disse Heath pensativo. - Mas tampouco disse que não se importava.
Ele amaldiçoou entre dentes.
- Agora está começando a soar como Devon.
- Bom, eu gostaria que Devon fosse o que estivesse aqui. - Heath ficou em pé. - Eu não gosto muito deste dever, por certo.
Ele encolheu os ombros. Seu rosto sentia-se como se fosse de pedra.
- Por que? Mal a conheço.
- Bom, me alegro pelo menos que não esteja aborrecido com a informação.
- Acha que ficaria? - Perguntou com um sorriso cínico.
CAPÍTULO 22
Drake estava sentado em sua carruagem enquanto seu condutor percorria as ruas de Londres. Aborrecido com a informação? Aborrecido porque sua amiga de confiança e amante esteve se entretendo com outro homem na noite anterior? Um homem com o qual esteve comprometida em matrimônio? Não, ele não estava aborrecido. Estava devastado, furioso, tão consumido por negras suspeitas, que tinha que lutar para pensar com clareza. Não podia acreditar que Eloise o enganasse. Confiava em seus instintos. Pelos sinos do inferno, ele confiou nela! Sabia que tinha que haver uma explicação lógica de por que um homem a tinha visitado na noite anterior. E afirmava que esteve comprometido com Eloise. Por sua vida, que não podia imaginar o que poderia ser.
Certamente, ela deveria ter mencionado a visita a seu amante.
Sendo uma mulher digna de confiança, deveria ter confiado em seu protetor. A não ser que tivesse a intenção de manter a visita em segredo.
Talvez estivesse muito envergonhada, ou não tinha pensado que fosse tão importante para lhe falar de seu misterioso visitante. Não lhe havia dito Emma que Eloise estava afastada de sua família? Talvez Devon tivesse entendido mal a história do homem... exceto que isso significava que Dominic também a tinha entendido mal, e quais eram as possibilidades de que ambos tivessem entendido mal?
Ou talvez, pensou sombriamente apoiando a cabeça na almofada, havia mais de Eloise Goodwin do que se via. Bom, ele deveria saber.
Não teria sentido essa atração por uma mulher de pouca profundidade.
Mas nunca a teria catalogado como uma mulher de duas caras, e depois da ontem anterior...
A noite anterior. Um estremecimento primitivo percorreu seus ombros até sua coluna. Nunca desfrutou tanto fazendo amor como o tinha feito na noite anterior. Esfregou os olhos, a lembrança fazia com
que seu coração se acelerasse. De fato, fazer amor era um nome inapropriado para seus encontros sexuais passados. O amor não tinha entrado em nenhuma de suas relações anteriores. O prazer, o respeito, o companheirismo, sim. Bom, ele não amava Eloise tampouco. Ele não o permitiria.
A carruagem dobrou a esquina e parou. Ele não se moveu. Sir Thomas estava escoltando a sua mãe e Thalía a uma pequena e prática carruagem em frente da casa. O pequeno grupo ria alegremente, ele conseguiu ver Eloise parada na porta para se despedir deles antes que ela desaparecesse no interior.
Pensou que o tinha visto. De fato, estava certo disso. Ela tinha olhado diretamente sua carruagem antes de desaparecer na casa.
Inclinou-se para frente, suas suspeitas voltaram a surgir. Ela não sorriu.
Nem sequer lhe lançou uma pequena e dissimulada saudação ou um longo olhar que dissesse: Vejo-o. Espere até que saiam para entrar.
Abriu a portinhola da carruagem, sem esperar que seu criado fizesse as honras. Thalía, olhando por cima do ombro com um olhar preocupado, acabava de notá-lo. Ignorou-a e cruzou a rua para a casa.
O que sabia ele de Eloise, de todos os modos? Além do fato de que a desejava com uma paixão irracional que tinha confundido seu cérebro.
Sabia mais sobre Thalía Thornton que a respeito de Eloise. Emma soube mais sobre Eloise em uma entrevista do que ele sabia.
O único que realmente sabia era que estava louco de ciúmes ante a mera possibilidade de que pudesse ter outro homem na vida de Eloise.
Era uma cálida e atraente mulher. Por que assumiu que nunca amou ninguém antes dele? Estava escondendo seu passado? Ou só não se incomodou em perguntar?
Irracionalmente decidiu que não teria que fazer frente a este dilema se seus irmãos se mantivessem fora de sua vida. Bateu com força à porta enquanto a carruagem de Lady Heaton rodava pela rua cheia de
pessoas. Bem. Teria Eloise para ele só, e não sairia desta casa até que todas suas perguntas fossem respondidas.
A porta se abriu. A Sra. Barnes, a governanta, respondeu a sua chamada.
- Está na sala - anunciou sem fanfarra, e logo desceu a voz até um sussurro. - Espero que tenha trazido um presente. Estamos de mau humor esta manhã. Suponho que foi toda a emoção da noite anterior. E, é claro, certa mulher.
Ele franziu o cenho. Quanto ao mau humor a que se referia, Eloise não tinha visto nada ainda. E de que diabos falava a governanta? Sua vida inteira estava sujeita a escrutínio por parte de cada um dos criados de sua irmã?
Ela estava em pé junto à janela quando entrou na sala, de costas a ele. Permitiu-se uns segundos para estudá-la antes de aproximar-se dela. Como verdadeiro homem que era, sentiu que a excitação inundava seu corpo ao recordar o prazer de deitar-se com ela.
Ninguém a havia tocado antes da noite anterior. Não lhe importava o que dissessem. Foi seu primeiro amante. Ele sabia. Tinha lhe tirado sua virgindade.
Seus irmãos estavam equivocados.
Eloise se afastou da janela, sua boca pressionada. Segurava um jornal na mão. Na realidade ela estava apertando o papel em um punho.
Estudou seu rosto de surpresa.
Não parecia culpada. Parecia... furiosa. Com ele. O que significava isso? Ele era o único com o direito de estar furioso.
Segurou-a pelos braços e a beijou antes que tivesse a oportunidade de dizer algo. Sua mão deslizou por suas costas até seu traseiro. Ela resistia e lhe respondia ao mesmo tempo, mas de repente não lhe importava. Tinha que tê-la.
Por um momento esqueceu seu ciúme, suas suspeitas. Passou sua
mão possessivamente por seu braço, subindo de novo até seus seios enquanto a beijava. Não sabia por que pensou que beijá-la limparia sua mente, mas teve o efeito contrário. Rompeu o beijo sem prévio aviso e a afastou. Ela parecia sem fôlego e mais que um pouco desconcertada.
Bom, assim estava ele.
Seu olhar a atravessou. Foi ali para obter a verdade de sua boca, sem importar o que custasse.
- Fizemos um acordo ontem à noite, Eloise, - disse secamente, observando o menor sinal de fuga que ela pudesse fazer. - Nós...
Ela colocou o papel enrugado no peito.
- E quantos "acordos" têm ao mesmo tempo?
Ele desceu os olhos distraidamente. Esperava que não fosse lhe mostrar outro desenho do famoso pênis de Heath do tamanho de um canhão. Que o Senhor o ajudasse.
Como se supõe que um homem tivesse uma conversa séria com o membro de seu irmão olhando-o nos olhos?
- Não me mostre esse lixo de novo - disse zangado. - E não mude de assunto.
Ela sacudiu o jornal com mais força.
- O assunto era nosso acordo, e segundo isto, já elaborou um contrato...
Não estava escutando uma palavra do que ela dizia. Queria saber uma coisa, e apenas uma coisa. A pergunta roía seu cérebro como ácido. Ela tinha outro interesse amoroso?
Ergueu a voz para abafar a dela.
- Você mesma tem algumas perguntas para responder, Eloise. E
amavelmente deveria deixar de mover esse maldito papel em meu rosto.
Ela retrocedeu um passo, aparentemente desarmada por seu tom agressivo de voz. Não pôde controlar-se. Suas dúvidas ciumentas o estavam destroçando, e se apenas a mulher exasperante lhe
respondesse...
- A verdade - disse com frieza, aproximando-se dela.
- A verdade?
Os olhos de Eloise brilharam. De repente, não parecia nada intimidada.
- A verdade. Ah, bom, isso não seria agradável? Estou esperando. É
claro, teria sido considerado de sua parte me dizer isso antes de ontem à noite. Entretanto, em altares da equidade, e porque até agora fui conhecida como uma mulher razoável, e porque inclusive um cão merece seu dia na corte...
Inclinou-se para ela, seus olhos tão escuros como a meia-noite.
- Está me chamando de cão?
- Se o que diz este jornal é verdade, sim.
- Importa-me um nada o jornal! - gritou. - Quero saber exatamente o que há entre você e este outro homem.
Eloise agitou o papel enrugado de novo.
- E me importa um nada que lhe importe um nada! Quero saber a respeito desta cortesã, esta Maribela - interrompeu-se, seu olhar surpreso conectando-se com o dele. - Que outro homem?
Ele teve que admitir que seu assombro parecesse genuíno. Abaixou a voz, embora a besta negra estivesse batendo suas asas com fúria maligna em sua cara.
- Tem uma relação com outro homem, Eloise?
- Tenho uma o que? - abriu muito os olhos, como se acabasse de descobrir o segredo de um antigo mistério. - Oh, agora vejo do que se trata tudo isto. Está tentando despistar me acusando do que exatamente você está fazendo.
Ele a acompanhou ao peitoril da janela.
- Não importa o que eu estou fazendo. O que estava você fazendo ontem à noite?
- Esteve bebendo, Drake Boscastle? Você estava aqui ontem à noite.
Ele ergueu os olhos. A grande sombra da Sra. Barnes cruzou a porta como uma flecha. Retrocedeu dois passos e fechou a porta com um pontapé. A Sra. Barnes emitiu um chiado surpreso, mas apagado.
Eloise foi para ao centro da sala, olhando-o como se fosse um lunático solto. Por um momento absurdo imaginou recolhendo uma cadeira e açoitando um chicote sobre sua cabeça. Talvez isso fosse o que necessitava. Sentia-se como se suas emoções estivessem em erupção por todo o lugar.
- O que lhe passa? - sussurrou com cautela, rodeando a mesa.
Aproximou-se dela.
- Esteve ou não esteve um homem aqui ontem à noite antes que eu chegasse? Um homem que saiu às escondidas pela porta do jardim na escuridão?
Olhou-o fixamente, seus lábios suaves e vermelhos entreabertos pela surpresa. Negue, pensou grosseiramente. Não diga que é verdade.
Minta. Dê uma maldita desculpa. Acreditará em algo.
- Como soube? - perguntou-lhe depois do momento mais longo de sua vida.
Ele piscou. Essa era a última reação que tinha previsto. Nem sequer um esforço lamentável de engano, nem nada parecido a uma explicação razoável. Toda a manhã ensaiou este momento e jurou que não reagiria de forma exagerada. Convenceu-se de que seus irmãos tinham chegado à conclusão equivocada. Tinha imaginado Eloise rindo de suas bem intencionadas, mas infundadas suspeitas com uma de suas sensatas explicações.
A dor inicial de sua resposta estalou em uma fúria de mil demônios.
- Quem? - exigiu, qualquer semelhança a gentileza descartada. -
Quem é? Está pensando em ser seu amante, também?
Ela empalideceu.
- Não é nada disso, absolutamente - passou com cuidado junto a ele para pressionar a orelha contra a porta. Um momento depois, deu um forte golpe no painel e disse com firmeza. - Sei que está escutando, Sra.
Barnes. Você também, Freddie. Vão embora agora mesmo.
Drake tinha arrancado as luvas e o casaco cinza forrado de seda.
Afundou-se no sofá, com os braços cruzados atrás da cabeça. Mas não pôde ficar quieto nem por um momento. Assim ficou em pé. Então não pôde resistir r começou a passear. Assim se sentou de novo. Foi um milagre que conseguisse baixar a voz a um rugido baixo quando falou com ela de novo.
- Quem?
- É um homem com quem estive comprometida faz mais de seis anos - disse com o cenho franzido.
Ele também franziu o cenho. Que direito tinha ela de lhe franzir o cenho de todo modo? Ela foi quem teve um homem visitando-a em segredo.
- Nunca o mencionou antes.
A voz de Freddie os interrompeu por trás da porta.
- Ouvi gritos. Encontra-se bem, senhorita?
- Estou bem - disse Eloise com irritação.
Ele limpou a garganta.
- A Sra. Barnes quer saber se Lorde Drake está bem.
- Estou bem, maldição - disse Drake através de seus dentes apertados. - Agora vão ao inferno.
- Ouçam - a Sra. Barnes golpeou a porta. - Exijo saber o que acontece nesse aposento.
- Meta-se em seus próprios assuntos! - responderam Drake e Eloise, ao mesmo tempo.
Houve um grito de indignação atrás da porta.
Logo Freddie, com voz consoladora, disse:
- Vamos, acalme-se, senhora. Não chore.
Drake ergueu as mãos.
- É possível manter uma conversa privada nesta casa?
- Isto não é uma conversa - replicou ela. - Não com você gritando e chutando portas. E os criados estão compreensivelmente preocupados com seu comportamento. Provavelmente têm medo que fique violento.
- Essa é uma clara possibilidade se não responder a minhas perguntas.
A boca de Eloise se abriu.
Seu olhar cravou nela.
- Explique tudo. Estou escutando. Vai tomar a este homem como amante?
Ela caminhou para o aparador.
- Absolutamente não.
- Está envolvida com ele?
Ela virou sobre seus calcanhares.
- É um homem inteligente. Deve ser capaz de responder essa pergunta insultante você mesmo.
Ele ficou em silêncio. Não se sentia inteligente. Sentia-se como um idiota absoluto, delirante, que não podia pensar com clareza por seu ciúme. E ela ainda não lhe tinha respondido.
- Quem é, maldição?
Ela começou.
- Meu antigo noivo. Seu nome é Ralph Hawkins. E não é nem foi nunca meu amante.
- Bom, ele esteve aqui ontem à noite - disse rotundamente.
- Não por meu convite. Não tive nada a ver com ele ou com minha família desde que saí de casa - ela tomou uma pausa. Ele esperou de novo. - Quer a verdade? Bem. Expulsaram-me de casa porque caí em
desgraça.
A boca de Drake se afinou.
- Bom, isto está cada vez melhor. Quantos noivos têm escondidos, se não se importar que lhe pergunte isso?
Ela estreitou os olhos.
- Tem que me interromper todos os poucos segundos com um comentário sarcástico?
- Sinto muito. - Disse sem tom de pedir desculpas. - Você esqueceu seu passado. Eu pareço que esqueci minhas maneiras.
Suas faces se ruborizaram.
- E se eu tivesse um passado que queria esquecer? Seria capaz de me perdoar?
- Como diabos vou saber se não me contar? - fechou seus olhos. -
Oh, Deus. Só me diga a verdade. Ama-o?
- Uma vez pensei que sim - estremeceu ante a lembrança. - Era uma moça de dezessete anos, muito gorda e torpe, que se sentia muito insegura de si mesma para rejeitar a oferta de Ralph de matrimônio.
Com outros três filhos para criar, seus pais se haviam sentido abertamente aliviados quando ela e Ralph se comprometeram. É certo que gostava da bebida, tinha uma boca descarada e era infiel, mas ele próprio construiu uma sólida casa de campo e tinha ambições como administrador de um imóvel. De jovem ele pareceu ter bom potencial como fornecedor.
Seu pai abertamente tinha medo de que Eloise pudesse fazê-lo melhor por si mesma. Nesses dias, tinha pouco aprumo e ainda menos confiança em si mesma. Tudo o que tinha aprendido foi pela experiência prática dos anos seguintes.
Drake levantou seus ombros interrogante e a atravessou com um olhar implacável.
- Ama-o agora? - perguntou sem rodeios.
Ela retrocedeu como se a sugestão fosse um insulto.
- É claro que não. Esse canalha podre estava me chantageando.
Odeio-o.
O rosto dele se escureceu. Sua voz desceu uma oitava, sua profundidade enviando um calafrio pelas costas de Eloise.
- Ele esteve o que?
Ela engoliu em seco. Ele não se parecia em nada ao amante grosseiramente formoso da noite anterior. Seus olhos azuis ardiam com uma fome que lhe dava vontade de esconder-se debaixo da mesa.
- Esteve ameaçando revelar nossa relação passada para arruinar meu nome.
Drake se levantou do sofá e muito devagar se aproximou. Eloise não se moveu.
- Que relação passada? - perguntou com um sorriso frio, desumano.
- Acabo de lhe dizer - sussurrou ela.
- O nome de uma mulher não se arruína totalmente por um compromisso desfeito - disse suavemente.
Engoliu em seco de novo.
- Bom, poderia haver um pouco mais que isso.
Ele ergueu o cenho com fingida surpresa.
- Sim, deduzi isso. Importaria me iluminar?
- Tentei ontem à noite - disse ela, franzindo o cenho para ele. -
Estava muito interessado em outras coisas para escutar.
Ela suspirou ao recordar. Em que homem tão complexo e temperamental tinha decidido converter em amante. E tão possessivo.
Entretanto, inclusive se assim funcionasse o mundo para um cavalheiro, ter mais de uma amante ao mesmo tempo, Eloise não estava disposta a aceitar esse comportamento. Doía muito imaginá-lo perseguindo outra mulher enquanto ela estava se apaixonando por ele.
- Eloise - sua voz ordenou sua atenção. - Explique por que este
bastardo está tentando te chantagear. E por que sua família te excomungou em primeiro lugar.
Tomara não tivesse que lhe dizer. Era muito humilhante para pô-lo em palavras.
- Foi há toda uma vida, entende.
- E passou toda uma vida desde que estive esperando sua explicação - replicou.
Ela sacudiu a cabeça com resignação.
- Ralph se envolveu com outra mulher pouco depois de me pedir que me casasse com ele. Eu não sabia, mas também tinha pedido que se casasse com ele. Ela descobriu sua duplicidade e veio ver-me. Pensou que deveríamos lhe fazer pagar por sua traição. No momento me pareceu uma boa ideia. Realmente não pensei nas consequências.
Estava muito furiosa.
- Está bem - ele encolheu os ombros. - tive suficiente experiência pessoal para compreender que a paixão pode anular o bom senso. Tão cínico como sou, entretanto, não tenho certeza de que entendo o que isto significa. Foi doce sua vingança?
Eloise afastou o olhar.
- Nós o humilhamos em público.
- Ah. Como exatamente?
Ela brincava com um dos laços de seda de sua manga.
- Eloise?
- Sim?
- Sua vingança - disse. - Como se desenvolveu exatamente?
- Realmente não é fácil falar disso.
- Tampouco é exatamente fácil esperar ouvir você falar disso - ele assentiu com a cabeça. - Continue. Não pode ser tão horrível. O homem ainda está vivo. O que poderiam ter planejado duas jovens moças que fosse tão doloroso de contar?
- Amarramos ele em uma carreta em uma manhã de domingo e o deixamos em uma ponte que tem que cruzar todo o povoado para ir à igreja.
Drake balançou a cabeça.
- E isso é tudo?
Ela tirou um fio solto da manga.
- Bom, parece-me recordar que penduramos uma tabuleta em seu pescoço enumerando seus pecados.
Continuou olhando-a até que ela levantou os olhos lentamente para seu rosto.
- Levava uma tabuleta? - Animou-a. - E?
Sua voz foi apenas audível.
- E... parece-me recordar que... que não levava nada mais.
Silêncio.
Ela pensou pela expressão de seu rosto que não estava certo do que achava. Não demonstrou nenhuma reação que Eloise pudesse perceber, salvo possivelmente pelo mínimo brilho de seus olhos. A menos que ele pensasse que sua nova amante era uma louca. Bom, de algum jeito supunha que era melhor que conhecesse seu passado de uma vez. Todo o humilhante que tinha sido seu passado.
- Há mais. - Disse, sem ver nenhuma razão para não contar tudo.
- Ah? - Ele permitiu que a sombra de um sorriso se estabelecesse em seus lábios, esses lábios pecaminosos que a tinham seduzido na noite anterior e prometeram protegê-la do feio mundo.
Eloise suspirou. Como desejava ter deixado Mildred assassinar Ralph quando teve a intenção de fazê-lo.
- Que mais, Eloise? - perguntou-lhe com uma voz perfeitamente calma.
- Pusemos fogo em sua cama.
Piscou, claramente surpreso.
- Estava ele lá?
- É claro que não - disse ela com horror. - Acabo de dizer que estava amarrado na ponte.
Ele a estudou durante mais tempo.
- Houve alguma razão em especial para que queimassem sua cama?
Ela franziu o cenho.
- Mildred queria incendiar sua casa, mas tive medo que nos prendessem, e o fogo poderia haver propagado ao povoado. Decidimos que queimar sua cama, expressaria nossa desaprovação por seu engano. E não machucaria ninguém.
- Como puderam ignorar que estava comprometido com ambas ao mesmo tempo?
- Mildred vivia em um povoado vizinho. Nossos caminhos nunca teriam se cruzado se por um capricho, um de seus primos não tivesse decidido seguir Ralph a casa. Quando percebeu que já estava comprometido, veio imediatamente.
Drake tinha que concordar. Isto era uma maldita defesa.
- Sempre soube que não podia ser tão correta como pretendia Eloise, mas nunca sonhei que fosse capaz deste tipo de... Nem sequer estou certo de como descrevê-lo.
- Bom, já sabe. Há alguma diferença?
- Sem dúvida há uma diferença - sacudiu a cabeça e puxou-a com firmeza para seus braços. - vou ser um amante fiel, ou se não...
Ela se moveu fora de seu alcance. Não tinha esquecido que estava perseguindo a outra mulher.
- O que nos leva de novo ao assunto do jornal - empurrou-o para ele. - Quem é Maribela St. Ives?
Ele lançou um olhar desinteressado ao artigo.
- Ela não significa nada para mim. Nunca significou.
- Ah, sim - queria acreditar nele, soava convincente, mas claro não era essa a força de um cafajeste? - Segundo este informe, teve um gasto considerável para impressioná-la.
- É verdade - disse sem alterar-se. - E ela inclusive poderia ter se convertido em minha amante, salvo que na noite de meu encontro com ela, conheci você.
Olharam-se um ao outro em um pesado silêncio até que ele sorriu com tristeza.
- Não recorda? Dançou comigo, e te levei ao jardim.
Ela voltou o rosto, seu coração dolorido.
- Claro que lembro. Também recordo onde foi mais tarde essa noite.
- Onde estou agora, Eloise? - perguntou animosamente.
Ela olhou a seu redor com um suspiro.
- Não posso competir com uma mulher como esta Maribela St. Ives.
Sou uma acompanhante, Drake, absolutamente não sofisticada.
- Talvez eu seja muito sofisticado - disse em voz baixa.
Ela hesitou. Depois de ter sido obrigada a defender-se, não estava certa de que devesse deixá-lo sair tão facilmente do atoleiro.
- O jornal disse que ela é muito formosa.
Ele encolheu os ombros.
- É. Mas não é você.
Ela se aproximou da janela e levantou as cortinas para olhar para fora.
- De verdade esteve tentando durante meses conhecê-la?
- Sim.
Suspirou outra vez. Pelo menos, não era um mentiroso.
- Já vejo.
Ele se colocou atrás dela.
- Mas esperei toda minha vida para conhecer alguém como você.
Ela se voltou lentamente para ele. Poderia ter sido um momento
comovedor se a porta de entrada não se fechasse de repente inesperadamente e retumbado por toda a casa. Ela voltou a olhar fora pela janela, seus olhos se abriram.
- Oh, não. A Sra. Barnes se vai com sua mala.
- Por que? - ele não parecia particularmente interessado.
- Provavelmente porque nós dois lhe dissemos que se metesse em seus próprios assuntos. - disse aflita. - Nunca antes tinha falado com tanta dureza. Vou ter que detê-la.
Ele deu um passo em frente a ela.
- Por que não a deixa ir? É só uma criada, Eloise.
- Algumas pessoas poderiam dizer o mesmo de mim - disse indignada.
E então, em um desses frequentes, mas lamentáveis casos em que um homem diz o primeiro que lhe vem à mente, ele respondeu:
- Sim, mas eu não estou dormindo com a Sra. Barnes, não é? Não estou indo atrás de uma governanta, nem sequer atrás de minha própria governanta rua abaixo só porque lhe disse que se metesse em seus próprios assuntos.
¨¨¨¨¨¨
Vinte minutos mais tarde, Drake levou a Sra. Barnes de volta a casa.
Parecia menos impressionada por suas desculpas por ofendê-la que pela vitória de ser conduzida de volta ao lar em sua elegante carruagem.
Foi o melhor de sua carreira como governanta, ter um nobre procurando seu perdão.
- Direto à porta - gabou-se ela ante todos os criados da vizinhança que curiosos se reuniram fora da casa para presenciar sua volta. - Como se eu fosse uma duquesa, notem. Lorde Drake não é mais que um cavalheiro.
Freddie tirou sua mala da carruagem.
- Pensei que havia dito que nunca o perdoaria por lhe dizer que se
meta em seus próprios assuntos.
Ela flutuou para a porta principal.
- E razão tinha em me dizer esse jovem Frederick. Uma governanta não tem que interferir com seus superiores.
- Não vêm eles? - perguntou Freddie quando a carruagem partiu diligentemente pela rua, levando como por arte de magia Eloise e seu protetor.
A Sra. Barnes se voltou para se despedir do cocheiro e dois lacaios de Lorde Drake. Deram-lhe um receoso e sério gesto com a cabeça em reconhecimento.
- Acredito que sua senhoria pode entrar e sair quando lhe agradar, meu filho. E suponho que se nossa Eloise tiver a oportunidade de instalar-se em uma bonita casa, estaremos mais que contentes de seguir, não é verdade?
CAPÍTULO 23
- Isso foi amável de sua parte, Drake. - Eloise observou da janela da carruagem como Mrs. Barnes caminhava orgulhosa para a porta. -
Provavelmente o adorará por toda vida por fazê-la sentir-se importante.
- Não penso nada disso - disse despreocupadamente, embora certamente não fosse a adoração da gordinha Mrs. Barnes o que ele queria. Foi, entretanto outra primeira vez para ele, correr rua abaixo atrás de uma governanta e rogar-lhe em frente de uma multidão de estupefatos espectadores que o perdoasse. O que, felizmente para seus futuros planos, ela o fez.
A carruagem começou a mover-se com cuidado na corrente do tráfego. Eloise viu o afiador, quem ia a casa com frequência, levantar o olhar e olhá-la fixamente com surpreso reconhecimento.
- Aonde vamos? - perguntou a Drake.
- A minha casa - respondeu. - Se queremos continuar nossa conversa, acredito que deveríamos fazê-lo sem pessoas escutando atrás das portas.
Olhou-o. Era plena luz do dia. Ela acabava de converter-se em sua amante, e os limites entre sua vida anterior e sua nova identidade tinham começado a apagar-se. Tinha compreendido na noite anterior que não poderia voltar atrás. Mas isso não queria dizer que seus velhos valores pudessem ser desprezados facilmente. Com tempo, possivelmente.
Não sabia.
- Eloise - disse suavemente como se pudesse ouvir seus pensamentos. - Não me importa o que pensem os outros. É muito valente para ser vista comigo em público?
- Não acredito que valente seja a palavra - disse em voz baixa.
- Vamos para minha casa - convenceu com um sedutor sorriso. -
Falaremos sem interrupções.
- Só falar? - perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Ele sorriu, mas não se incomodou em negar o que ela suspeitava.
- Acredito que tivemos nossa primeira discussão hoje. Fazer amor depois de uma briga é geralmente uma forma de prazer mútuo de fazer as pazes.
Titubeou.
- Sabe Maribela St. Ives que sou sua amante?
- Não sei. - Seu sedutor sorriso enviou um quente formigamento até seus pés. - Descobrirá muito em breve, não é verdade?
E, se Deus quisesse, pensou ele, seria mais tarde que cedo. Tinha escrito uma carta a Maribela explicando tão suavemente como pôde que seria melhor não continuarem sua associação. Ele teria conversado pessoalmente mas ela se recusou a vê-lo de novo. Possivelmente ela não sabia que outra mulher estava implicada em sua decisão. Bem, se ela não sabia, provavelmente imaginava.
A carruagem entrou na garagem privada de sua casa Georgiana de trezentos anos, as portas de ferro se fecharam com estrondo atrás deles.
Ele passava tão pouco tempo em casa quanto fosse possível, e sabia que levar Eloise ali hoje significava mais do que poderia admitir inclusive a si mesmo. De fato, Devon brincou dizendo que Drake deveria ter medo criar raízes se ficasse em um lugar por muito tempo. Perguntou-se repentinamente se isso era possível para que ele mudasse, ou se todas as funestas profecias que sua família tinha feito sobre ele eram inevitáveis.
Eloise desceu da carruagem e parou um momento com hesitação antes de segui-lo. Levaria tempo para ignorar as regras da sociedade que tinha obedecido a maior parte de sua vida. Entretanto, sua curiosidade sobre Drake era mais forte que suas dúvidas. Sempre julgou seus patrões por suas casas. O que aprenderia sobre seu amante?
O hall de entrada era sem adornos, menos o teto rococó e os spots de bronze das paredes de antigos deuses e deusas quem a olhavam
enquanto caminhava sob eles. Enquanto ele a conduzia através do andar térreo, percebeu que esta era realmente a residência de um homem, com uma sala de bilhar e uma escura biblioteca de carvalho que tinha uma agradável fragrância de cigarros e brandy caro. Mas havia poucos objetos pessoais para acalmar a alma ou refletir o caráter do dono.
Com rosto ilegível, Drake a conduziu até a ala de seu quarto no segundo andar. Eloise diminuiu seu passo, e sentiu seus fortes dedos fechando-se sobre os seus. Havia uma solidão em sua casa que a fazia desejar preenchê-la com calor. Conheceria tudo a respeito dele?
Perguntou-se.
- Está tudo bem - disse ele, seus olhos brilhando como se sua indecisão o divertisse.
Podia ouvir o batimento instável de seu coração em seus ouvidos.
Amar um homem como Drake, bem, decidir ser sua amante dava só um sentido temporário de segurança no melhor dos casos. Não havia um precedente nítido para que ela continuasse. Poderia aprender a ser uma amante competente tão facilmente como tinha aprendido as regras de etiqueta?
Estava equivocada ao seguir a seu coração quando ele não tinha feito promessas além de seu acordo? Um acordo. Que vazio soava.
- O que está pensando, Eloise? - Perguntou, seu ombro apoiado contra a porta.
- Normalmente... bem, sempre que aceitava uma nova posição, perguntava a meu patrão que me indicasse exatamente o que esperava de mim.
Ele sorriu.
- Uma pergunta muito razoável. E minha resposta, é claro - abriu a porta e a arrastou dentro de seu quarto - É tudo. Espero tudo de você.
Seu olhar foi para a grande cama de mogno coberta em seda verde
escura.
- Tudo? Pode ser um pouco mais específico, não é?
Desprendeu-a de sua capa com outro sorriso sombrio que enviou um delicioso tremor através dela.
- O que exijo de você é sua lealdade, sua honestidade, sua companhia. E, não é preciso dizer, isto...
Estava em pé, mal respirando, enquanto suas grandes mãos desabotoavam habilmente seu vestido e desamarravam as costas de seu espartilho. Depois, sua camisa de manga curta, os calções de renda e as meias caíram no tapete. Agradeceu aos céus que as cortinas estivessem fechadas; estava em pé flagrantemente nua no meio do quarto enquanto ele, com calma, começou a tirar sua própria roupa.
- O que posso esperar de você? - perguntou ela, olhando fixamente suas longas costas e as duras, magras nádegas. Seu corpo inteiro poderia ter sido forjado em aço. - Quero dizer, tenho direito a saber, também, não é?
- O que pode esperar? - meditou. - Prometi-lhe amparo, segurança, e prazer. Podemos elaborar um contrato formal se você quiser.
- Por quanto tempo? Deve ter planos de matrimônio para certo momento no futuro - disse com uma voz tênue.
- Nunca planejo nada - disse com um sorriso frívolo. - Desfruto da surpresa. Você não?
- Depende.
Caminhou com naturalidade para sua cama e se virou sobre ela. O
olhar dela viajou sobre seu duro torso com pouca disposta excitação.
Quem teria pensado alguma vez que o corpo de um homem pudesse ser tão formoso? Mas era um ser belo, um belo estudo dos firmes, bem tonificados músculos e ágil força. Jovem, ágil, estava na cúspide de sua destreza, um homem que deleitava em seu poder sexual. E obviamente queria deleitar-se nos dela.
- Vire-se para mim, Eloise.
Ficou de frente a um longo espelho que estava situado no canto.
Seu escuro e zombeteiro reflexo devolvia seu olhar em uma autentica preocupação.
- Agora não se aproxime da janela - indicou.
- Por alguma razão em particular? -perguntou, tragando em seu escuro olhar.
- Sim. Sirva-me um licor da escrivaninha. E para você mesma se quiser. Terá que se inclinar para abrir a porta do armário. Leve seu tempo.
Permitiu a si mesmo exalar. Era muito fácil obedecer um pedido tão simples. Tinha-o feito mil vezes, embora possivelmente não quando estava completamente nua e consciente do calor erótico entre suas coxas. Mas curiosamente o familiar ato deu coragem para superar seu nervosismo.
- Há porto e Sauterne. - Alcançou um no cristal esculpido. - O que prefere?
- Importa-me nada - murmurou. - Só quero ver seu traseiro enquanto caminha.
Deixou a garrafa, virando-se com indignação. O demônio tinha o descaramento de rir.
- É sempre mal educado? - perguntou.
- Desculpo-me por zombar de você - disse. - Agora venha aqui e me deixe redimir.
Ela caminhou lentamente para a cama.
- Redimir?
- Difícil de acreditar, não?
- Suponho – disse - isso depende da ideia que se tem de redenção.
- Redimirá-me, Eloise? - perguntou candidamente.
Ela parou ao lado da cama e olhou-o de soslaio. Parecia totalmente
cômodo em sua magnífica nudez, um homem a gosto com sua sexualidade. Ela, por outra parte, não sentia nada a não ser estupidez.
Mas seu mal-estar não a impediu de responder a seu formoso corpo masculino. Seus largos ombros diminuíam gradualmente em um duro e plano peito polvilhado de escuro pelo um liso abdômen. Entre suas coxas fortemente musculosas e sua grosa virilidade erguida. Eloise recordou com uma pontada de desejo como havia se sentido quando ele a possuiu, estirando-a e empalando-a.
Forçou seu olhar a retornar a seu rosto. Ele ria outra vez, profundo e baixo.
- Olhe tudo o que quiser. Olharei até me saciar de você. Estou me saciando de você.
Ela o fazia, também. Seus lábios curvados em um sensual sorriso enquanto olhava fixamente. Seu escuro olhar estudava seus seios cheios até que seus mamilos se franziram em duros, doloridos pontos.
Emitiu um suave gemido de desamparo e rogou que ele não o tivesse ouvido. Mas seus olhos se levantaram rapidamente a seu rosto, quentes com promessa sexual.
Ele cruzou seus braços atrás de sua cabeça, seu musculoso torso elegante e poderoso.
- Levante uma perna sobre a cama, Eloise - disse, o som rouco de sua voz enfraqueceu seus joelhos.
- Levantar... - Era uma falta de vergonha de sua parte pedir isso; ficaria exposta e aberta a sua visão, mas a ardente luxúria em seus olhos azuis tornou inútil seu desalento e pouca disposição a recusar.
Levantou sua perna, arqueando seu pé, e olhou fixamente com incerteza ao redor do quarto para evitar seu cativante olhar. Podia sentir o calor de seu escrutínio mais abaixo do ninho de cachos entre suas pernas. Doces chamas inundaram seu ventre. Em vez de desconcertá-
la, seu desavergonhado erotismo só a fez desejá-lo mais.
Ele se sentou de frente com um grunhido profundo de antecipação; ela voltou a olhá-lo involuntariamente. O flexível corpo dele se moveu em uma perfeita sincronia de ossos, músculos e tendões. A cabeceira atrás dele era desenhada de escuro mogno, as cortinas verdes esmeralda pareciam uma selva virgem emoldurando um animal selvagem.
Perguntou-se repentinamente quantas mulheres teria seduzido ali. E que teria que fazer para ser a última.
- O que está pensando? - perguntou ele, sua testa enrugada pela diversão.
- Que eu não gosto da ideia de outras mulheres em sua cama -
disse sem rodeios.
- Não vê ninguém mais escondido sob os lençóis, não é verdade? -
brincou.
- Sabe o que quero dizer.
- Sempre fui fiel a minhas amantes.
Ela suspirou delicadamente.
Ele deslizou para a borda da cama, suas poderosas coxas estendidas completamente, os músculos fortemente marcados. - Sou um homem generoso, Eloise. Não lamentará sua decisão de tomar como seu protetor.
- As pérolas não significam nada - disse ela com aflição. - Nem o fazem formosos vestidos.
- Necessita um novo guarda-roupa -murmurou diabolicamente. -
Esse tapete que usava na passada noite...
Deslizou uma perna para o chão.
- Não dormi com você na noite passada por um vestido de baile!
- Deus, espero que não. - Ele tentou claramente não rir de novo. -
Venha aqui - ordenou suavemente.
Ela retornou timidamente ao lado da cama onde ele estava sentado em sua gloriosa nudez.
- Lamenta ter dormido comigo? - Perguntou, o olhar dele para o rosto dela.
Suspirou, deleitando-se com o tom rude dele.
- Não. Lamento que tenha dormido com outras mulheres.
Ele sorriu. Seu olhar sedutor se moveu sem vergonha sobre seus ombros e seios nus outra vez.
- Fique de joelhos em frente a mim, Eloise - ordenou com uma sedutora voz.
Deixou escapar uma respiração de surpresa. Oh, o malvado.
- Suponho que não vamos rezar juntos.
- Um de nós rogará pela liberação - disse ele, seus olhos brilhando. -
Quem será?
Ela se ajoelhou, um tremor de antecipação ondulando sobre ela.
- Se isto for uma batalha de vontades, não acredito que sejamos oponentes iguais.
Olhou para sua cabeça baixa e a doce elevação de seu traseiro.
- Possui mais armas do que percebe.
Sua cabeça se levantou. Ela sabia que gostou do que fez com ela para lhe dar prazer. Parecia natural tocar, e enquanto nunca esteve familiarizada com um homem antes, viveu em muitas casas grandes onde as matérias sexuais, especialmente entre criados, eram discutidas francamente, embora sussurrado os detalhes.
- Sempre fui boa em meu trabalho - murmurou, sorrindo-lhe. - Estou orgulhosa de minha posição.
Ele não ocultou um sorriso.
- Isso é tudo o que eu sou para ti? - perguntou suavemente.
- Não. - Seu coração pulsou ferozmente. - Não mesmo.
- Bem. Então continue.
Franziu o cenho ante o tom imperioso dele, embora tivesse o desconcertante efeito de excitá-la. Mas talvez ele tivesse razão. Ela não
estava isenta de certa habilidade ou defesas. Com hesitação deslizou suas mãos para cima do interior das duras, poderosas coxas dele. Seus dedos se curvaram ao redor da cabeça de seu órgão. Ergueu-se de grossura e avermelhou contra suas mãos. Ele exalou e flexionou seus quadris. Seu corpo disse que gostava de seu toque. Gostaria que fizesse o mesmo que ele tinha feito a ela? Ergueu-se sobre seus joelhos e lentamente pegou a longitude de seda dele colocou em sua boca. Ouviu os criados discutirem como este prazer se dava a um homem, como podia domesticar ao mais selvagem de seus amos.
- Doce Jesus - sussurrou ele, sua voz cheia de incredulidade. Havia algo em seu desejo de prazer e na suavidade de sua boca que lhe desfazia. Apelou a todo seu controle para impedir-se de empurrar para baixo em sua garganta. A ponta de sua língua circundou a crista de seu pênis. Soltou um gemido torturado, sua cabeça caiu para trás.
Ela se afastou sem aviso prévio. Sua voz era baixa com desconcerto.
- Isto o machucou? Sei como os homens são sensíveis em seus...
Sufocou um gemido quando sua boca roçou-o de novo. Sua inexperiente sedução o fazia tremer todo o caminho para suas bolas.
Uns poucos segundos mais de sua úmida boca lhe acariciando, e derramaria sua semente. Fechando fortemente seus dentes contra a tentação deixou-a continuar, levantou-a suavemente entre seus braços sentindo-a raramente curiosa debaixo dele na cama.
- Como - exigiu irregularmente, uma grande mão movendo-se pelos contornos de seu ventre à abertura de sua coxa - aprendeu a fazer isso?
Ofegou com prazer quando seus dedos deslizaram no interior de sua quente vagina.
- Fiz algo bem?
Seus olhos azuis a olharam com aprovação, e ela esperou, seu coração pulsando. Meigamente ele esfregou seu polegar contar o botão
de carne que coroava suas rosadas dobras inchadas. Tremeu contra ele, seus mamilos endurecendo-se com o prazer de seu toque.
- Fez com que me sentisse como um superexcitado colegial -
admitiu com um reticente sorriso. - Quase me derramo em sua doce boca. Fez alguma vez isto em um homem antes?
- Nunca - disse, ruborizando-se ante a mera sugestão. Nem poderia nunca imaginar-se fazendo isso em alguém a não ser a ele. - Só caminhei sobre muitas informações em minha carreira como governanta para compilar algumas coisas. É claro, pôr o que ouviu sobre isso em prática era outra coisa.
Ele ficou em silencio por vários momentos, sustentando seu olhar.
- Diria que é muito boa em compilar informações para uma governanta.
Ela virou sua cabeça. Mal podia concentrar-se no que disse quando seus travessos dedos provocaram seu sexo e enviaram correntes de sangue através da parte baixa de seu corpo. A umidade entre suas pernas traiu o efeito dele nela. Sentia-se inquieta para senti-lo em seu interior, mas ele parecia brincar com esta parte de seus jogos amorosos, despertando-a ao ponto de se retorcer com frustração, prisioneira da habilidade dele.
- Nunca precisará procurar prazer fora de minha cama - prometeu-lhe com voz rasgada.
E silenciosamente lhe disse o mesmo.
Conduziu seus dedos profundamente dentro dela, dobrando sua cabeça para capturar um mamilo entre seus dentes.
O prazer pulsou no espaço de seu ventre e se estendeu por ela em ondas. Levantou seus quadris e cavalgou sua mão. A dor dentro dela se intensificou, enquanto ela pensava no que ele acabava de prometer.
Como se fosse o tipo de mulher que pudesse amar outro homem, ou dar ambos, coração e alma, a outro alguém a não ser a ele.
Empurrou suas coxas separando-as com seu joelho e tirou os dedos de sua fenda. Ela torceu seu corpo mais abaixo, agitando-se, em busca de alívio, recompensada pela sensação de seu inchado membro roçando os molhados cachos de seu sexo. Estava morrendo por tomar cada polegada dele dentro dela.
- Olhe para mim - ordenou ele.
Ela o fez, tremendo ante seu escuro e belo rosto.
- Amanhã vai estar muito dolorida - advertiu-a.
Ficou sem fôlego.
- Não me importa. Não pare.
Moveu suas mãos descendo por suas musculosas costas e apertou suas nádegas, preparando-se para sua penetração. Ele a tinha levado à beira da liberação com sua mão, mas agora deliberadamente a atormentava, esfregando seu inchado órgão entre suas rosadas dobras até que ela não pôde controlar-se.
- Por favor - sussurrou, sua voz se quebrou em um soluço.
- Sim - murmurou. - Chore por mim.
Estudou-a durante vários momentos antes de fechar seus olhos, sua mente, e entregar-se a si mesmo a um puro prazer sexual. Provocou os franzidos lábios de sua fenda com seu membro até que ela se agitou descontroladamente e se retorceu debaixo dele. Soluçava de necessidade. Ele se inclinou mais para beijá-la, sua boca absorvendo os suaves gritos que ele arrancava dela.
- Oh, Meu deus - sussurrou. Suas mãos lhe apertando os quadris. -
Não... não posso aguentar muito mais.
- Não? - Perguntou, lentamente entrando nela. Girou seus quadris e sorriu ante seu gemido de frustração. - Assim está melhor?
Ele sentiu seu prazer elevar-se e flexionou suas costas em antecipação. Tinha conhecido alguma vez uma mais quente, mais sexual mulher? Sangue quente pulsando através de sua virilha. Chegaria
rapidamente se não usasse toda sua força de vontade.
Ela começou a mover seu corpo com uma sensualidade que desafiou suas habilidades. O suor explodiu em seus ombros enquanto se introduzia profundamente nela.
Seu exuberante traseiro se levantou com os impulsos dele, e quando ela aprendeu a antecipar-se a seu ritmo, colocou as pernas dela sobre seus ombros e avançou. Rompeu-se em pedaços debaixo dele.
Seu corpo convulsionou, apertando seu membro no calor coberto de orvalho que o deixava louco. Ela gemeu e se arqueou para lhe segurar dentro dela, e a inconsciente sensualidade de seu particular instinto atravessou os últimos restos da restrição dele. Seu orgasmo foi explosivo, uma doce violência que alcançou sua alma, satisfazendo e inquietando ao mesmo tempo.
Não foi apenas um ato sexual. Foi algo mais. O que? Não precisava saber, verdade? Foi suficiente para simplesmente respirar e diminuir a errática batida de seu coração. Para segurá-la em seus braços e ficar em drogada satisfação com essa desejável mulher, sua mulher. Respirou o aroma dela, de seu sexo, profundamente em seus pulmões. Por que isto foi tão diferente de seus casos passados? Deus assustava-o sentir-se assim.
Ele desceu seu olhar. Os olhos dela estavam fechados, seu delicado pé entre os seus, sua massa de pesados cabelos estava sobre um delicioso peito. Era tão diferente de qualquer uma de suas anteriores amantes. Não era como as superficiais debutantes, tampouco, com as que ele tinha esperado casarem-se. Ela caía em um ponto intermediário?
- Está dolorida? - sussurrou, acariciando o osso de seu quadril com seu polegar.
- Hmmm.
- Tenho curiosidade sobre algo - disse ele e sua mão se desviou à
fenda de seu traseiro. - O que atrai uma mulher como você para mim?
Ela sentiu um pequeno calafrio ante seu tato.
- Tolo - murmurou, esticando suas costas. - Por que pergunta?
- Me agrade com uma resposta. Por que se sente atraída por mim?
Suspirou, curvando uma mão sobre o ombro dele.
- Quer dizer além do fato de ser rico, com titulo, e diabolicamente formoso?
Beijou-a suavemente nos lábios.
- Conquistei-a, não é verdade?
Engoliu saliva enquanto ela colocava sua face contra seu braço. Sua pele cheirava fracamente a sabão, e seu corpo estava ruborizado em um favorecedor rosa por seu ato de amor. Havia uma suavidade em Eloise que avivava seus instintos mais protetores, mas isso não fazia com que deixasse de ser responsável por machucá-la ao final como qualquer outro? Exceto por esse vil bastardo em seu passado. Os olhos de Drake se escureceram satisfeito ante o pensamento de enfrentá-lo.
- Não sei - murmurou ela. - Não sei - murmurou. - Pensei que fosse um libertino a primeira vez que o conheci, mas também vi um homem que tem bondade em seu interior e se nega a admitir.
Ele negou com a cabeça.
- Enganei-a com efeito, se acredita que sou bom.
- Não bom de tudo - disse ela rindo. - Também é arrogante, cínico e está acostumado a fazer as coisas a sua maneira.
- Há alguma outra maneira? - Zombando, apertando seu braço ao redor de sua cintura.
Seus olhos avelã esquentaram, com triste diversão.
- É tudo o que uma apropriada jovem deveria evitar.
- Vê-me como sua ruína?
- Sabia na noite em que nos conhecemos, e mesmo assim dancei com você.
- Não tinha medo de mim então - refletiu ele. - Ou possivelmente estava distraída pelo dever. Conhece-me melhor agora. Arrepende-se do que a fiz chegar a ser? Não tem medo de mim absolutamente?
Isto era uma prova de algum tipo, pensou surpresa, uma provocação à lealdade que ele exigia. Queria saber se podia aceitá-lo tal como era.
Não entendia que já o tinha feito?
- Só tenho medo de que se aborreça de mim - respondeu ela, aliviada ao perceber que sua integridade estava ainda intacta em seu coração apesar de sua condição de caída.
Seus olhos procuraram seu rosto. Ela esperou que ele pudesse ver que ela não tinha nada a ocultar. Tinha-lhe dado tudo de si essa tarde.
Mas importava isso a um homem que facilmente poderia ter qualquer mulher que ele desejasse?
- O que me dá medo - disse ele - a honestidade em sua voz profunda e fortemente exagerada, sou eu mesmo. O que poderia chegar a ser. Mas talvez você seja minha redenção, embora certos membros de minha família já me chamaram de causa perdida.
- Ao menos tem uma família que se preocupa com você, de uma ou outra maneira - disse ela melancolicamente.
- Bem, talvez um dia.
Parou antes de poder dizer o que lhe veio inesperadamente à mente. Talvez algum dia ela pudesse ter uma família? Um menino? Seu menino? Como se o inconcebível pudesse converter-se em uma possibilidade? Ele não tinha intenção de fazer disto uma relação permanente, verdade? Sua filosofia sempre foi deixar que o futuro se desenvolvesse tal como vinha.
Deixou-se cair de costas sobre os travesseiros, com ela entre seus braços.
- Tem fome? Quer bolo e champanha na cama?
- Homem decadente - sussurrou ela. Estava muito preocupada sobre
o que os criados pudessem pensar para desfrutar.
- Terá que se acostumar a isso.
Ele riu baixinho, e a seguir, colocou-a habilmente a sua frente. Ela se retorcia, protestando, mas sua mão já estava entre suas coxas, acariciando-a com intenção descarada. Ele se voltou despertando de novo, admirando como suas suaves costas terminavam em seu doce traseiro. Era fácil imaginar seu corpo levando seu filho. Ela era cálida, inteligente e decidida. E qualquer filho ou filha desejado por Drake certamente necessitariam uma mão de ferro.
- Não posso acreditar que estamos fazendo isto no meio do dia -
sussurrou ela e levantou sua cabeça.
Ele ficou imóvel. Os dois ouviram um golpe na porta de baixo.
Ela se endireitou por instinto, segurando os lençóis entre seus seios.
Espera alguém? - Sussurrou.
-Não. - Ele se inclinou para trás, olhando sobre seu ombro nu para a porta.
A voz de uma mulher ressoou no vestíbulo, estridente com raiva indignada. Um homem respondeu em um tom mais tranquilo. Um dos lacaios, pensou Drake, já na metade do caminho com sua roupa.
Eloise o olhou com pânico.
- Quem é?
Ele jogou sua camisa, o espartilho e seu vestido sobre a cama, vestindo sua jaqueta com a outra mão.
- Deus, não sei. Uma de minhas irmãs? Talvez seja Emma, embora ela nunca venha sem um convite. E ela nunca gritaria assim tampouco. -
Suas
palavras
eram
sempre
deliberadamente
com
caustica
mordacidade, o que não o fazia ser menos doloroso.
Eloise empalideceu, escondendo seu espartilho sob o travesseiro.
- Pensei que disse que poucas vezes tinha visitantes.
Referia-se a mulheres, pensou ele, passando sua mão pelo curto
cabelo negro. Sua voz era de profunda perplexidade quando a ajudou a entrar em seu vestido.
- Poucas vezes as tenho.
As vozes sob a escada continuava aumentando. A mulher soltou maldições que teriam envergonhado um marinheiro.
- Isso - disse Eloise, afastando-se dele - não soa como uma de suas irmãs.
Ele lançou um severo olhar à porta. Reconheceu a voz agora, e poderia ter se chutado na cabeça por não ter percebido que isto poderia acontecer. Foi um estúpido ao pensar que poderia apaziguar uma mulher como Maribela St. Ives, com um acordo generoso e uma nota de desculpa explicando que ele não queria consumar seu acordo. E tinha esperado que ela entendesse.
O grito de harpia que soava do fundo das escadas não soava como uma mulher apaziguada. Ela bramava, mas bem como uma deusa vingativa que ameaçava destruir o mundo.
Olhou para trás, para Eloise, preocupado. Maribela certamente voaria de raiva quando percebesse por que havia desmanchado seu acordo.
- Acredite, não previ que isto acontecesse.
Ela segurou seu cabelo despenteado.
- Que não previu? - perguntou de repente, soando como uma mulher que podia fazer valer sua posição.
- Que ela não aceitaria o final de nossa aventura.
- Pensei que nunca tiveram uma aventura.
- Não o fizemos. - Endireitou o lenço em seu pescoço. - Exceto sobre o papel. Por favor, fique aqui. Ocuparei-me dela.
Ela o olhou estreitamente.
- Surpreenderia-se com as pessoas com que tive que tratar em minha carreira.
Tomou fôlego.
- Deixa que me ocupe dela primeiro.
Ela hesitou, dobrando seus braços através de sua cintura.
- Bem.
- Você não é o tipo de mulher para fazer frente a uma cortesã de todos os modos - acrescentou ele da porta.
- Eu mesma sou uma cortesã, Drake - disse prática como sempre. -
Possivelmente ela poderia me dar...
- Você não é uma cortesã - interrompeu-a, desaparecendo pela porta. - Você é... minha.
CAPÍTULO 24
Eloise entreabriu a porta para escutar. Não levou muito tempo para acalmar à mulher, pensou ressentidamente. O que lhe havia dito para fazê-la se calar? E como ela seria? A culpa era de uma antiga rivalidade feminina, mas Eloise tinha que ver por si mesma que tipo de mulher capturou a atenção dos homens ricos e poderosos de todo o mundo.
Era Maribela St. Ives tão incrivelmente formosa como todo mundo dizia? Ou sua atração era uma mentira sob a superfície, uma perita sexualidade que convertia aos homens fortes em atoleiros de luxúria em seus pés?
Eloise se consumia por saber. Tinha o direito de saber. Uma obrigação, como amante de Drake. Além disso, havia muita calma ali.
Não podia suportar o suspense, pensou enquanto deslizava pela porta.
A única coisa que queria era olhar. Um olhar do alto das escadas e ficaria satisfeita.
¨¨¨¨¨¨
Drake
tinha
conseguido
apaziguar
Maribela,
embora
só
temporariamente, com sua promessa de que a compensaria de forma monetária por seu comportamento. Ela não queria saber nada de suas promessas. Exigiu conhecer sua rival como ponto de orgulho profissional.
- É o justo. - Insistiu, parecendo-se com um sopro de inverno em um vestido de seda azul gelo com um adorno de pele branca de lobo siberiano em seus delicados pulsos e garganta.
Ele apoiou suas mãos sobre seus ombros e a guiou suavemente longe das escadas para o sofá do salão. Como sabia ela que levou Eloise ali, ou que existia, era um mistério para ele. Mas nunca tentou esconder seu interesse por Eloise desde o começo, outra anomalia na história de seus assuntos. Nunca foi nenhum segredo que uma senhorita acompanhante chamou sua atenção. Entretanto se perguntava como
Maribela se descobriu.
Sua pergunta foi respondida uns momentos mais tarde.
Quando fez um sinal a seu lacaio e mordomo para que fechasse a porta da rua, notou uma figura alta e desajeitada passeando fora. Um dos guarda-costas da Maribela. O mesmo macaco ágil a quem perseguiu por espiar a ele e à Eloise no jardim de Torthon. Drake percebeu agora por que o homem lhe era familiar. Era um dos guarda-costas que estava em pé no escuro corredor da casa de Audrey Watson na noite do encontro de Drake com Maribela.
Enviou seu guarda-costas para espiá-lo. Teria rido de seu descaramento se não tivesse Eloise escondida em seu quarto. Sem a manobra mais hábil, a situação era suscetível de explodir em um desastre a escala natural.
Tinha que impedir que as duas mulheres se encontrassem.
Custasse o que custasse, tinha que impedir que Maribela enfrentasse Eloise. As duas mulheres não seriam mais diferentes se tivessem vindo de extremos opostos da terra.
Pelos dentes de Deus, aborreceriam-se a uma à outra com apenas uma olhada. Como poderia impedir que se encontrassem quando ambas estavam na mesma casa? Nunca teve que recorrer a subterfúgios em seus passados assuntos. Só podia culpar seu atual dilema a sua obsessão por Eloise. Queira que ela ignorasse as consequências. É
claro ele podia saber que Maribela o enfrentaria de uma maneira tão dramática.
Na realidade deveria saber. Os informes haviam descrito seu caráter infame, sua intolerância ao engano. Era considerada por insistir em que seus amantes a tratassem como uma rainha. Bem, traiu à maldita rainha, e ela queria sua cabeça em uma bandeja.
Podia dirigir uma mulher temperamental. Sua preocupação era com Eloise. Apesar de toda sua prática experiência com patrões difíceis,
duvidava que alguma vez se encontrou com uma fúria como a de Maribela St. Ives antes.
- Como pôde me fazer isto? - Gritou Maribela.
Sua voz despertou-o de seu sonho. Tinha desdobrado sua magra figura sobre o sofá primaveril a seus pés. Como poderia desfazer-se dela? Perguntou-se.
- Maribela, acredite, não tinha nenhuma intenção de feri-la.
- Me ferir? - Ela agitou a mão em seu rosto. - Não me fez mal, idiota arrogante. Humilhou-me. Nunca fui rejeitada por um amante antes.
- Mas nunca fizemos amor. - Indicou, rezando para que sua voz não chegasse além da sala. Eloise não seria uma mulher normal, se não escutasse cada palavra.
Sua pele impecavelmente branca se avermelhou de cólera.
- Isso torna as coisas ainda piores. Considerou minha reputação?
- Sua reputação? - disse surpreso. Infernos, a mulher era uma cortesã. Como diabos podia sua oferta de retratar-se danificar seu nome?
Aproximou-se dele, com olhos ardentes.
- O que está em jogo não é meu coração - disse. - Não acredite nem por um momento que me preocupo com você. A...
- Bem, então isto o torna mais fácil.
- ...questão - ela continuava como se ele não tivesse falado - é meu valor no mercado. Diminui meu valor ao tomar outra mulher, uma maria ninguém nada menos, enquanto pendia por um fio.
Ele limpou a garganta.
Um fio muito custoso, também.
Ela rodeou a mesa de sua escrivaninha agitada. Suspeitou que estivesse procurando um abre cartas para usar como arma.
- Ao menos poderia ter a decência de me mostrar quem ocupou meu lugar. Ou tem ela também medo de me conhecer? Sou perfeitamente
consciente de que está escondida em seu quarto, pelo amor de Deus.
- Não tenho medo de me encontrar com você - disse Eloise com uma voz tranquila no batente da porta. - De fato, estou tão ansiosa para conhecê-la como você... você está...
Interrompeu-se na metade da frase. Drake se virou, totalmente preparado para se colocar entre elas e defendê-la do caráter notório de Maribela. Mesmo com todo o autodomínio na voz de Eloise, ela não o olhou nada tranquila quando firmemente se esquivou dele para entrar na sala.
- É você - repetiu com uma voz fraca, olhando fixamente para Maribela como se fosse um espírito.
- Não, não é possível. Não pode ser. Você é...
- Oh, Meu deus - disse Maribela, jogando de lado o abre cartas que encontrou na gaveta da escrivaninha. - Ellie.
- Mildred - disse Eloise, rindo e sacudindo a cabeça com incredulidade. - Diga-me que não é verdade.
Drake piscou várias vezes. Mildred? Ellie? Conheciam-se elas?
Aparentemente muito bem, a julgar pelo modo como quase o derrubaram ao se abraçarem afetuosamente. Congelou em estado de choque, onde estava de pé. Esta tinha que ser uma das piores situações que um homem poderia imaginar, as duas mulheres de sua vida consolidadas por alguma aliança do passado, e que possivelmente uniriam forças no futuro contra ele.
- Nunca pensei que a veria outra vez - disse Eloise com voz trêmula.
- Passaram-se anos.
Assim Maribela era uma fraude. Ela era uma Mildred. Ele quase suspirou. Pensar que o mundo masculino, foi enganado por uma mulher muito inteligente, de fato. Mildred a leiteira, por tudo o que ele sabia. Ela deveria trabalhar para a inteligência britânica com seu talento. Seus outros talentos demonstraram ser úteis, também, embora ele não os
tivesse experimentado pessoalmente. Olhou fixamente a ela e à Eloise, claramente envolvidas em seu emotivo reencontro, que na realidade podia chegar a ser uma bênção.
Como diabos se conheciam? Até esse momento surpreendente ele assumiu que a única coisa que compartilhavam a cortesã e a senhorita acompanhante em comum era ele. Era uma posição muito incômoda, por si mesma. Mas agora se interpunha entre elas, e não por duplicidade de sua parte.
E logo somou dois e dois. Recordou o que Eloise contou sobre seu passado. Poderia ser o homem que elas tinham em comum agora, mas outro homem as tinha unido antes. O homem, que Eloise disse, chantageava-a. O qual Drake dificilmente podia esperar para golpear como uma bolsa de pudim. Apoiou o ombro contra a parede, escutando a conversa. Sendo um homem, naturalmente se perguntava o que isto significaria em termos de sua agradável relação com Eloise.
- Seu cabelo está diferente - exclamou Eloise, retrocedendo para examinar sua amiga. - Está vermelho. Mal a reconheci. E perdeu tanto peso.
- Meu cabelo foi horroroso durante anos - disse Maribela, ou era Mildred? - Bom, você sabe, desde o incidente. Queria me afastar de tudo.
- Sim - murmurou Eloise, lançando um cauteloso olhar para Drake. -
O incidente.
Mildred o olhou também, arqueando suas sobrancelhas finamente feitas.
- Sabe? - sussurrou.
Eloise assentiu vagamente.
- Hmm. Sim, contei. Não podia deixar de fazê-lo.
- Emagreceu também, Ellie - disse Mildred, em um evidente esforço de mudar de assunto. - Mas não muito. Alguns homens gostam de um
pouco de carne em suas mulheres.
Fez-se um momento de silêncio sepulcral. Drake fingiu estudar o jogo de xadrez de marfim sobre o aparador.
Eloise balançou sua cabeça maravilhada.
- Você, Mildred, é você a célebre cortesã com a qual ele esteve envolvido?
Drake ergueu os olhos. Os lábios vermelhos de Mildred se franziram vacilantes.
- Isso é falso. - Disse.
- Envolvido? Ele estava comigo e não mais, e agora entendo por que. Mas você, Ellie, você é o pequeno bolo que roubou meu negócio? -
perguntou com carinho.
- Quem me chamou de bolo? - Eloise enviou um olhar indignado a Drake. - Referiu-se a mim como seu bolo?
- Não - disseram Drake e Mildred ao uníssono.
Maribela, Mildred, aproximou-se dele e se encontrou com seu olhar. Por um momento pensou que poderia lhe golpear. Seus delicados dedos apertados em um punho indelicado. Ela deve ter sido um furioso demônio em sua juventude, esta mulher que ele quase transformou sua amante. Ela quem deu um jeito em seu traidor amante? Bom, colocou fogo na cama dele depois.
Sua voz sensual vibrou com ameaça.
- Se fizer mal a um só cabelo da cabeça de Ellie, eu pessoalmente o fatiarei para um guisado de carne.
Inclinou sua cabeça para ela, suas escuras sobrancelhas descendo
- Não, não o faria, e eu não faria mal à Eloise embora ameaçasse cozinhasse meus ovos em sopa de ostras, Mildred.
Olhou-o fixamente por cima com um sorriso desafiante.
- Tenho a intenção de fazer um anúncio oficial aos jornais informando que quebrei nosso acordo.
- Faça o que quiser. - Sua família e alguns amigos íntimos já formaram uma opinião sobre ele há muito tempo. Importava-lhe um nada o que opinassem outros, exceto Eloise.
Como afetaria sua relação o fato de que esteve envolvido ou não envolvido com sua amiga perdida?
Era uma perversa ironia dos livros de história. Duvidava que levantasse seu status a seus olhos.
- Significa isto que ambas vão me perdoar? - perguntou.
Nenhuma das duas lhe respondeu. Conversavam a respeito de quanto tempo levou para tingir de vermelho o cabelo e como ficaria atraente Eloise com mechas de hena para realçar o verde de seus olhos.
Queria pegá-la em seus braços e lhe dizer que não mudasse porque ela era tão formosa para ele que quase não podia suportar. Não queria que nada se arruinasse, não ainda. Desejava que nunca tivesse tido um passado para começar.
- Devo sair? - perguntou em voz alta.
Eloise parou para olhá-lo. Ele não tinha nenhuma noção do que ela estava pensando, mas estava malditamente à vontade enquanto se deitou com ela antes que se descobrisse que Maribela era Mildred.
- Se não se importar - disse amavelmente.
Mildred lhe lançou um olhar.
- Vá pedir um chá enquanto isso, Boscastle. Necessito de um pouco de ar fresco.
¨¨¨¨¨¨
- Tomar chá - murmurou Drake. Foi despedido de sua própria sala, como um lacaio. Quem sabe o que se disse e decidiu sobre ele enquanto fazia chá. Levando em conta sua conspiração passada, não tinha certeza de que as duas mulheres devessem ser deixadas sozinhas.
Pediu um chá para a criada que respondeu com um olhar de assombro e voltou a toda pressa para a cozinha. Ele nunca pediu chá em toda sua
vida. Água era o máximo que pedia. Sacudiu a cabeça e depois saiu.
Em pé a uns passos da porta do jovem e atlético guarda-costas de Mildred, o dinâmico homem que tinha enviado Drake a uma perseguição alegre pelas ruas de Londres.
- Você. - disse com desgosto. - Deveria tê-lo detido em algum lugar.
- O homem teve a decência de baixar sua cabeça com vergonha.
- Lamento desse dia, meu senhor. Minha prima obrigou-me a fazê-lo.
Quase me pega, se lhe serve de consolo. Maldição, você é rápido e eu joguei carrinhos pela feira para...
- Não é nenhum consolo - disse Drake sem caridade, então -
Prima? Ela é sua prima?
- Receio que sim - disse.
- Nesse caso, aceito suas desculpas. Nem sempre podemos escolher nossos familiares.
- Meu nome é Albert, milorde. - O jovem o olhou esperançoso. -
Acredita que minha prima está a salvo sozinha aí com sua...?Bem, a mulher que está cuidando? Ouvi vozes.
Drake respondeu.
- As vozes se ergueram contra mim. Sua prima e Eloise estão se dando às mil maravilhas.
Albert lhe obsequiou com um olhar de pena.
- Está com problemas agora, não?
O aviso não serviu para melhorar o estado de ânimo de Drake.
Tampouco ao ver Devon chegando a toda velocidade pela rua. Tudo o que necessitava, no princípio de sua humilhação sem precedentes, era ter seu irmão mais novo falando com seus amigos e familiares a respeito de Eloise e Mildred. Parecia que cada vez que se virava, Devon aparecia para lhe ocasionar problemas.
- Não é este outro brilhante momento em meu dia? - murmurou, apagando-se em um suspiro.
Albert se agachou a um passo de seu lado, olhando astutamente de perto.
- Alguém a quem não quer ver?
Drake começou a rir de forma sinistra.
- Não no momento.
- Quer que me encarregue dele por você? -perguntou Albert, apertando as mãos em enormes punhos ameaçadores. - Devo-lhe um favor.
Drake o obsequiou com um olhar duro.
- Esse é meu irmão, por desgraça, poderia me sentir tentado a aceitar sua oferta.
- Diabos! - disse Albert, cambaleando sobre seus pés. - A família.
Uma dor no traseiro. Quer que vá e os deixe sozinhos?
- Sim.
Uns momentos mais tarde Devon saltou abaixo para a rua. Um par de vendedoras de lavanda se reuniu na esquina para ver os dois jovens e bonitos lordes, conhecidos por seus encantos varonis e por sua generosidade. Drake ignorou-os. Devon dedicou um amplo sorriso às meninas como um feitiço de risadas e rubores.
Seu sorriso se desvaneceu quando se encontrou com o olhar pouco acolhedor de Drake.
- Grayson me enviou para assegurar-se de que estava bem.
- É claro que estou malditamente bem - disse com impaciencia. Na medida em que Devon sabia que era verdade e não estava de humor para mudar de opinião. - Por que não iria estar?
- Bom - Devon disse - Estava sentado nas escadas de sua casa por algo, e não acredito que jamais o tenha visto fazer isso antes. Ao menos não quando estava sóbrio. O que aconteceu?
- Disse que algo estava mal? Tudo está bem. - Descontando o fato de que acabava de ser expulso de sua casa e a associação com o
homem que partiu os corações de Eloise e Mildred. Só Deus sabia quão mau poderia Mildred falar a Eloise neste momento. Não deveria surpreender-se ao ser amarrado a uma carroça para cães e desfilar nu pelas ruas de Londres com uma tabuleta ao pescoço.
Devon se sentou no degrau abaixo dele.
- Irei direto ao ponto. Heath e eu estivemos espionando você e a sua amante.
O lábio superior de Drake se curvou. Por que no momento em que viu Devon imaginou que seu dia poderia piorar? Obviamente Devon não era consciente de que Heath já tinha procurado Drake, e sua consciência o estava molestando. Bem, foi Devon quem iniciou esta "espionagem" e Drake não estava disposto a lhe perdoar facilmente.
- Perdoe-me. Acho que ouvi algo. Não acaba de dizer que esteve nos espiando, a mim e à Eloise?
- Só foi para seu próprio benefício. - Devon se inclinou de novo várias polegadas, engolindo em seco o olhar de irritação que escureceu o rosto de Drake. - Grayson não queria que o enganassem.
- Maldito inferno! - Drake pensou que soava convincentemente surpreendido. - Espiando-me? Eu sabia.
Devon deslizou um passo mais abaixo.
- Deveria estar agradecido. Averiguei muitos detalhes sobre Eloise.
- Pensei que deveria saber. Não o teria espionado sem uma boa causa.
Drake lhe fulminou com o olhar, recordando a si mesmo que provavelmente não se deveria cometer fratricídio em presença de testemunhas. Espionagem? Durante a guerra, Heath esteve envolvido em assuntos de inteligência, assim como Drake, em menor grau.
Nenhum deles sabia exatamente o que, independentemente de sua natureza, fez Devon durante seus anos na cavalaria. Havia pertencido a um regimento totalmente diferente. Era difícil imaginar o malandro brincalhão na espionagem.
Especialmente quando o sujeito em questão era seu próprio irmão.
- Não quer saber o que descobri? - perguntou Devon com uma elevação natural de seus ombros.
Drake voltou a cabeça, sua expressão taciturna.
- Se for me dizer que Eloise estava pensando em converter-se em uma cortesã antes de converter-se em uma acompanhante vou matar...
- Eloise - perguntou Devon com alarme. - Vai matar uma mulher?
- Não - disse Drake entre os dentes. - Matarei você.
Devon se apoiou no corrimão de ferro forjado, visivelmente inquieto.
- Por que eu?
-Porque você é o ser humano mais próximo para matar. E se descobrir que Eloise estava considerando a possibilidade...
- De converter-se em uma cortesã - Devon disse.
Drake não teria acreditado nesta conversa há uma hora.
- Estava?
- Não sei - disse Devon, olhando aturdido. -Pergunte a ela.
- Estou perguntando a você idiota. Foi você quem disse que tinha informação sobre ela.
Devon franziu o cenho.
- Sim, mas não que era uma cortesã. Isso é uma surpresa para mim.
Parece tão decente. Quando descobriu?
- Deus me ajude.
- Rogar não vai mudar o que ela é - disse Devon, sacudindo a cabeça. - Tudo o que pode fazer é perdoá-la. Além disso, não é que qualquer um de nós tenha uma aversão às cortesãs.
Drake sorriu desagradavelmente.
- Sabe a que tenho aversão?
Devon levantou as mãos em defesa própria.
- Se me fizer mal, não vou ser capaz de lhe contar do que descobri.
Quer saber, não?
Drake respirou. Acreditava que sabia o suficiente a respeito de Eloise. Descobrir que tinha amado outro homem há seis anos não lhe sentou nada bem, como podia ser tão irracional. Não era seu orgulho masculino, tampouco. Não disse nada da vergonha do que tinha feito, ou ela tinha esperado manter seu passado em segredo. Sabia como o mundo considerava os enganos de uma mulher. Não estava a ponto de emitir um juízo. Queria protegê-la. Só desejava que ela houvesse se sentido suficientemente segura com ele para ser honesta sobre seu passado. E se alguma vez descobrisse que havia mais em sua história do que tinha revelado, não estava certo do que faria. Estava neste abismo quando percebeu.
- Diga-me o que sabe - disse para Devon. - E logo decidirei se vou matá-lo.
CAPÍTULO 25
Agora que o choque inicial da reunião passou, Mildred examinou Eloise com uma consternação leve.
- Uma preceptora e acompanhante - disse com um estremecimento.
- Que sorte mais espantosa! Achei que agora estaria casada com cavalheiro de campo e criando um punhado de garotos bonitos.
- Bom certamente nunca pensei que teria convertido no que se converteu, Mildred. Ou que um homem de novo nos unisse.
Mildred se inclinou para ela com voz baixa.
- Já não existe uma Mildred Hammersmith fora desta sala. Ela deixou de existir no dia em que você e eu nos separamos. Nunca vou voltar para casa, não importa o que tenha que fazer e para ser sincera minha vida não é exatamente insuportável.
Eloise assentiu com a cabeça com entendimento.
- Não sou a mesma pessoa que uma vez fui tampouco.
Mildred suspirou com diversão.
- Bom não mudou tanto como eu. Continua sendo um pouco... bom, reservada.
- Asseguro-lhe - Eloise murmurou lançando um olhar um pouco perverso - já não sou tão reservada como era.
- Se até recentemente a escutei, virtualmente fazendo alarde de sua decadência na indecência.
- Ah - disse Mildred sem nenhum tipo de ressentimento absolutamente. - Assim você e Boscastle se converteram em amantes.
Bom se alguém teria que ser minha rival me alegro que seja você.
Poderia tê-lo matado de outra maneira.
Eloise exalou um suspiro. Ao que parecia, ela era ainda suficientemente reservava para discutir seus assuntos pessoais com tanta franqueza. Ela não tinha defesa, é claro exceto o amor.
Possivelmente de maneira insensata se apaixonou por um homem que
não lhe tinha prometido nada exceto sua paixão e seu amparo.
Negócios deste tipo eram comuns em uma mulher como Maribela St. Ives. Mas não importava quanto tempo vivesse Eloise ela nunca seria capaz de separar seu coração a entregar-se a si mesma.
- O mais inteligente que fez Ralph em sua miserável vida foi pedir que se casasse com ele -refletiu Mildred com seus lábios franzidos.
Eloise negou com a cabeça. Teve anos para examinar o passado.
- Na realidade pensei que você teria sido a melhor opção para ele.
Teria mantido-o honesto. Não me dou muito bem com os castigos corporais que é o que aparentemente necessitava.
- Castigá-lo? Teria matado Ralph no prazo de dois meses depois de ter me casado com ele e onde estaria?
- Teria merecido - disse Eloise pensando no momento que ela o descobriu em seu armário e com o mal marcado em seus olhos.
- Não podemos voltar atrás e matá-lo agora - disse Mildred com voz de cumplicidade. - Poderíamos?
Houve um momento vergonhosamente agradável quando as duas mulheres sonharam com a fantasia de assassinar seu Nêmeses, para libertar do mundo feminino esse bagunceiro maligno. Mas em nenhuma delas havia um assassino em seu coração. Tinham trabalhado muito duro em suas profissões para arriscarem ser presas ou que as enforcassem por um homem sem valor como Ralph Hawkins.
Olharam-se uma à outra, unidas por mais que seu passado, duas mulheres que não poderiam ser mais diferentes. E, entretanto com uma força comum, essa faísca de rebelião não convencional, expressa a muito tempo ainda vinculadas até o dia de hoje. Eram verdadeiras irmãs de alma que tinham conseguido sobreviver em uma sociedade que poderia tê-las esmagado.
Eloise se levantou de repente.
- Ele esteve aqui.
- Quem, Ralph? - perguntou Mildred em estado de choque de assombro.
- Sim. Está em Londres - ela hesitou. Odiava reconhecer sequer como se assustou. - Ele estava tentando me chantagear. Não sei como me encontrou, mas perguntou por você. Parece que nunca nos perdoou por tê-lo envergonhado. Ele não sabe quem é.
Mildred se recostou em sua cadeira.
- Vai arruinar minha reputação se me expuser.
- É uma cortesã, Mildred. Quanto mais pode estar arruinada?
- Como sabe trabalhei duro para construir uma maldita reputação notável.
Eloise começou a rir.
- Ele tem uma família no campo.
- Que se vá com eles! É uma sorte para você que tenha Boscastle como protetor. Contou a ele sobre o Ralph?
- Sim. É claro. Mas se Ralph voltar e a reconhecer? - A boca vermelha de Mildred formou um sorriso ameaçador. - Estava pensando em sair de Londres. Não se preocupe comigo. Sempre cuidei que mim mesma.
- E eu também.
Mildred ficou calada por uns momentos, e Eloise não pode deixar de maravilhar-se de como tinha mudado desde esse dia que se afastaram.
Ela tinha uma beleza impressionante e sofisticada, era segura de si mesma e era difícil de acreditar que Drake não tivesse caído sob seu feitiço. Ou como ele a tinha escolhido em seu lugar.
- Ele deve amá-la - disse Mildred como se tivesse lido seus pensamentos. - Não deixe que se vá, Eloise. Quase tenho inveja de você.
- Só quase? - perguntou Eloísa à ligeira.
Mildred começou a rir.
Bom tenho um conde me esperando e acredito que fui muito mimada pela vida, por isso me dá vontade de responder a qualquer homem que me queira.
¨¨¨¨¨¨
No momento em que Devon terminou revelando alguns fragmentos que tinha descoberto sobre Eloise o que resultou não ser mais que o que lhe havia dito, Drake decidiu que era hora de voltar a entrar em sua própria casa. Devon concordou, embora provavelmente para fazer as pazes. Sentiu-se aliviado ao ver que seu irmão se esqueceu de sua recente ameaça de morte.
Seguiu Drake ao interior mais porque queria ver de perto Maribela St. Ives que qualquer outra coisa. Drake ficou ansioso quando ela e Eloise
começaram
a
conversar.
Poderia
ser
chamado
de
excessivamente protetor ou possessivo talvez, mas ele preferia não ter uma cortesã profissional exercendo sua influência sobre Eloise.
Quando entrou na casa, Eloise saía junto a ela no corredor, vestida para partir.
Ele a pegou pelo braço e puxou-a para trás, temeroso de que a tivesse perdido.
O que disse sobre mim, não é verdade. Por favor não vá ainda.
Ela segurou a respiração enquanto se aproximava.
- Ela não disse nada, mas tenho que ir.
- Por que? - perguntou. Ele não tinha respondido a nada nem a ninguém desde a guerra e ela só tinha que responder a ele.
- Thalía e os criados se perguntarão onde fui - disse ela relaxando contra ele.
Ele aspirou o aroma de sua pele. Nunca conheceu uma fragrância tão doce e com um rastro persistente de sexo.
- Não tem que trabalhar um dia mais em sua vida.
Levantou o rosto para ele enquanto se inclinava para beijá-la e logo
se congelou.
- Seu irmão está logo atrás de você.
Drake amaldiçoou em voz baixa.
Ela se liberou e ele fechou os olhos por um momento permitindo que suas emoções esfriassem.
- Não vá - disse em voz baixa.
- Prometi assistir ao casamento - sussurrou.
- Que casamento? - perguntou Drake sem compreender. - Oh, Thalía e Sir Thomas. - Ele negou com a cabeça e sorriu em resignação. -
Levarei-a de volta.
- Não. Não podemos ser vistos juntos de novo à luz do dia. Todo mundo saberia - voltou a olhar para Devon que voltou a cabeça muito rápido para tranquilidade de Drake como se não estivesse escutando cada palavra. O diabo dançava em seus olhos azuis Boscastle, também.
- O que vão saber? - perguntou Drake. - Que é minha nova companheira.
- Não há necessidade de ser tão claro a respeito - disse sussurrando envergonhada.
Ele encolheu os ombros. Dentro de umas semanas todos os que ele conhecia saberiam que ele a tinha tomado como sua amante. Não é que fosse uma criatura altamente social que compartilhava todos os detalhes de sua vida privada. Mas não tinha a intenção de manter-se em segredo.
- Vou deixá-la na porta - disse com firmeza. Levantando os olhos. -
Fica, Devon?
Devon limpou a garganta.
- Bom, pensei que possivelmente ficaria por um momento. Embora só seja para me assegurar de que sua outra convidada não se sinta ignorada.
Drake começou a rir ante a ideia de alguém ignorando a mulher tempestuosa em seu salão.
- É claro, mas tome cuidado. Não quero que ela o coma para o jantar.
- Não vai nos apresentar formalmente? -Devon perguntou incapaz de reprimir um sorriso.
Drake estava a ponto de negar até que Eloise lhe sorriu.
- Não me importa - disse. - Mas é melhor perguntar primeiro à senhorita St. Ives por sua permissão.
Drake entrou na sala para descobrir que ainda não podia pensar em Maribela como Mildred em pé no aparador vendo seu tabuleiro de xadrez.
Limpou a garganta.
- Meu irmão mais novo gostaria de conhecê-la, se importa?
Ela deu meia volta com um sorriso divertido.
- Já não estou no mercado para outro Boscastle.
Ele sorriu.
- Espero que não guarde rancor pelo que aconteceu.
- Eloise? - Ela desceu a rainha de marfim que tinha estado observando com olhos quentes. - Poderia lhe dar um beijo por trazê-la de volta a minha vida.
Ele duvidou.
- Não quero soar grosseiro, mas acredito que poderia ser melhor se você e Eloise na realidade não se encontrassem mesmos círculos sociais.
- Meu deus! - disse com uma gargalhada. - O diabo me pediu moral.
Não se preocupe. Não vou corrompê-la. De fato, vou sair de Londres para a França.
- Perdoa-me?
Ela o considerou friamente.
- Só porque a outra mulher é Eloise.
Ele negou com a cabeça.
- Não me importa o que as pessoas dizem de mim, mas para o resto do mundo, estamos de acordo em lhes dizer que tomou um novo amante.
- Tomei um novo amante - ela disse.
- Tão logo? - perguntou com um sorriso de surpresa. - Não tinha pensado que alguém teria podido cumprir seus requisitos em tão pouco tempo.
- Ele não os tem - respondeu ela. - mas ele é um conde, e o grande idiota se acredita apaixonado por mim.
Sorriu-lhe.
- Diz isso como se a surpreendesse.
- Você não se apaixonou por mim - ela não parecia acusá-lo ou inclusive não parecia decepcionada. Ela era prática também, pensou.
- As pessoas vão dizer que devo ter perdido meu juízo por deixá-la ir.
- Talvez perdeu seu coração - disse.
Ele não negou.
- Eloise não é como nós - disse. - Ela tem princípios inclusive com todo o mal que eles lhe têm feito.
- Os que abandonaram por minha culpa? -disse Drake sério. - É isso o que quer me dizer?
Ela conhecia seu controle. Tinha a sensação de que estava vendo um lado que rara vez mostrava. Era super protetora em extremo, tanto como formosa o mundo achava que era. Mas ela não era para ele.
Talvez fossem muito parecidos, ele e Maribela St. Ives cínicos, guardiães, prendendo não sentir nada debaixo de uma pose de indiferença.
Ela negou com a cabeça.
- Só digo que não poderia seguir meu caminho. Eloise seria a mais imperfeita amante. Armaria um escândalo e se preocuparia com você
mais que uma mãe galinha, e não importa como ou quantas joias ou noites sedutoras lhe dê, ela vai chegar a sentir que algo lhe falta em sua vida.
Ele não disse nada. Compreendia muito bem às mulheres para incomodar-se em fingir que não entendia o que queria lhe dizer. Ou que não estava de acordo?
- Arruinei sua oportunidade de uma vida normal, ao revelar o engano de Ralph - disse com tristeza. - Se não a tivesse espreitado e impulsionado a minha vingança, ela teria tido uma melhor vida com ele.
O rosto dele se escureceu.
- Merece elogios por isso, não que a critiquem.
Olhou-a fixamente e por um momento divisou uma vulnerabilidade nela que ele nunca imaginou que tinha sobrevivido a suas experiências.
Seu desprendimento não era mais que um frágil escudo.
- Merece o casamento que lhe foi roubado, Drake. Ela deveria ter se casado e tido filhos. - Lançou-lhe um leve sorriso desdenhoso. - E esse é o final de meu sermão, e o fim de você e de mim.
Sorriu-lhe. Ele sempre terminou seus casos com um acordo mutuamente satisfatório, mas este nem sequer tinha começado.
- Seja amável com Devon, sim?
- Pelo que vi dele através da janela, ele é capaz de cuidar-se por si mesmo.
- Então a deixo com ele. - voltou-se para a porta. Estava ansioso para voltar com Eloise, para começar a procurar essa tarde uma casa adequada para ela. - Por certo, quero que mantenha os presentes que lhe dei.
Ela começou a rir.
- Tenho totalmente a intenção de ficar com eles.
¨¨¨¨¨¨
Drake se perguntou quanto tempo poderia distrair Eloise antes que
ela percebesse de que seu cocheiro tinha recebido instruções de tomar um desvio e ir a ritmo tranquilo de retorno à casa Thornton. Não o suficiente, aparentemente. Ele acabava de colocar um dedo em sua blusa quando ela rompeu o beijo quente e sussurrou.
- Não é este o caminho equivocado para casa? - Ela olhou a janela da carruagem por cima de seu ombro.
- Acabamos de passar por essa confeitaria faz uns minutos e pelo mesmo vendedor.
- É incrível quão rápido os vendedores podem passar de esquina a esquina - murmurou apertando suas costas para apoiá-la no espaldar da cadeira.
- Também a casa atrás de você se mudou! - exclamou. - Na realidade, esta é terceira vez que passamos pela mesma loja de porcelana. Vai dizer que se move, também?
Lutou para não rir.
- Acaso o prato foge da colher?
- Pediu a seu cocheiro para andar em círculos? - perguntou ela.
Ele moveu ligeiramente seu ombro para bloquear sua visão da rua.
- Talvez ele esteja tentando evitar o tráfego.
- Talvez esteja tentando evitar uma resposta. Quanto tempo vai permitir isto?
Ele se recostou em seu cotovelo, com seus olhos azuis quentes e maliciosos.
- Durante todo o tempo que me for possível. Se quer saber a verdade, não queria levá-la de volta de qualquer modo.
Ela negou com a cabeça e começou a arrumar sua roupa desalinhada. Ele resistiu a seu impulso de impedi-la.
Estava tão desejável que esteve tentado a romper sua palavra e arrastá-la de volta para sua cama.
- Nem sequer se envergonha, não é verdade? - perguntou ela.
- Lamento que percebeu que estávamos dando círculos.
- Realmente deu instruções a seu cocheiro de pegar um desvio?
- Bom, não em muitas palavras.
- Isso faz com que seja ainda pior! -exclamou. - Esta tão acostumado a você que ele se antecipa a seus caprichos.
Fez uma pausa olhando-a com prazer.
- Significa isso que tenho que te levar agora?
- Sim, isso.
- Tem certeza?
- Sim.
- Poderíamos comprar um bolo na esquina e compartilhá-lo. - Sua voz era baixa, acariciou com o polegar seu queixo, como tentando persuadi-la de seu estado de ânimo.
- Você - disse voltando a cabeça para ocultar um sorriso - é um completo homem mau.
Ele pôs a mão a seu lado com um suspiro de pesar, e golpeou ligeiramente o teto da carruagem. Ela olhou para ele.
- Isso não foi tão difícil, não é?
- Sim - disse com voz descontente. - Foi. Sim é.
A carruagem parou. Eloise percebeu que não só tinham chegado a seu destino, mas que não era a mesma pessoa que tinha sido quando tinha deixado a casa de Lorde Thornton. Poderia inclusive pretender que não tinha mudado?
- Os criados vão fazer tanto alvoroço...
- Vão aprender a me obedecer se tiver que lhes dar trabalho.
Os criados, pensou, não seriam capazes de resistir a lhe obedecer mais que ela. Todos eles eram vítimas do carisma Boscastle. Eles o adoravam como um semideus escuro por salvá-los do atoleiro da pobreza. Ela o adorava, também, mas de diferentes maneiras.
Lançou um olhar fora da carruagem. A casa parecia muito tranquila.
Ela temia que todo o pessoal estivesse esperando na porta com coroas de louro para saudar o homem que seria seu novo amo.
- Por alguma estranha razão - murmurou ela como se só agora percebesse. - Os credores simplesmente deixaram de vir. Tenho uma horrível suspeita que vou despertar pela manhã antes do casamento para descobrir que a casa está vazia até o chão.
Drake abriu a porta para ela.
- Não vai acontecer - disse com um sorriso gracioso. - Eu me ocupei a três dias dos credores.
- Você? Pagou as dívidas de Thornton? - olhou-o com assombro. -
Por que?
Esse sorriso diabólico lhe acelerava o coração.
- Assim minha obediente companheira poderia caminhar longe de sua posição anterior e não olhar para trás. Incomoda-me inclusive sua dedicação neste dever. Estou disposto a pagar por sua entrega total, Eloise. Acompanharei-a ao interior, Eloise.
CAPÍTULO 26
Os velhos hábitos dificilmente morrem. Eloise teve uma vida tão aprazível durante tanto tempo que não podia deixar de sentir-se tímida com que Drake que a acompanhasse à porta principal, com sua mão apertando firmemente a sua. Como seu coração audaz, entrando em seu lugar de trabalho em plena luz do dia com o homem que agora se reclamava como seu protetor. Hesitou um momento quando Freddie respondeu seu chamado, ruborizando-se ante seu olhar com os olhos totalmente abertos.
Ruborizou-se de novo quando Drake a atraiu de novo a seus braços para beijá-la.
- Chame-me imediatamente se houver algum problema - disse em voz baixa. - Aceite passar a tarde comigo.
- Estive com você todo o dia - disse em voz baixa. - O que acontece se me necessitam?
- Necessitar você - disse, com um sorriso, desafiando-a a discordar.
- Eu. Por favor, não o esqueça.
Frustrada, virou-se para tirar a capa e entrar na sala, vagamente consciente das vozes provenientes da sala. Olhou com curiosidade seu reflexo no espelho que pendia da parede. Parecia diferente.
Esse espelho não estava pendurado ali quando saiu da casa essa manhã. De fato, nunca o tinha visto antes. Retrocedeu, até que seus sapatos se afundaram no desconhecido e macio tapete oriental que corria ao longo da sala.
O tapete não esteve ali antes, tampouco. De fato, nem tinha o relógio do canto que marcava a hora exata. Havia Boscastle feito isto?
Tinha reformado a casa durante sua ausência para impressioná-la com sua generosidade? Foi um gesto doce, mas parecia extravagante mobiliar uma casa que logo ficaria vazia. Thalía e seu futuro marido tinham intenção de viver longe de Londres no modesto campo.
Caminhava pensativa para o salão e hesitou na soleira. Freddie lhe seguia os calcanhares, com a voz ansiosa.
- Fez-me prometer não dizer - lhe disse por cima do ombro. -
supunha-se que seria uma surpresa. Ele voltou para casa, mas não escutou de mim.
Ele? Eloísa ficou olhando o cavalheiro bem vestido que estava na janela da sala, com a mão em seu queixo em atitude contemplativa.
Empalideceu como se estivesse contemplando um fantasma.
- Senhor Thornton. - Olhou distraidamente para Thalía que estava sentada no sofá. - É isso verdade?
Girou sobre seus calcanhares. Era Horácio Thornton, mas não da forma familiar com essa picardia dissoluta que ela recordava.
Esta encarnação estava vestida com uma capa superfina e cara e uma justa calça de cor preta. Seu cabelo castanho estava desenhado de forma ardilosa em cachos curtos, o tecido de sua gola dobrado em linhas perfeitas.
- Eloise - disse, estendendo sua mão em sinal de súplica. - Querida senhorita Goodwin.
Como se atrevia a chamá-la querida, pensou com indignação?
Como se atrevia a retornar depois de abandonar a sua irmã e às pessoas dependentes dele, como se não fossem mais que sujeira debaixo de suas botas muito polidas. Oh, o irresponsável vagabundo se vestiu como o Príncipe Regente, enquanto mantinha a distância seus credores.
Ela não expressou nenhum de seus pensamentos, é claro. Eloise estava muito bem treinada em ocultar seus sentimentos, inclusive em erguer sua voz.
- Bom - disse - o filho pródigo voltou para casa.
- Mereço sua condenação - deixou cair a cabeça. - Não fui melhor que um cão.
Ela não estava disposta a contrariá-lo.
- Se deseja pedir desculpas, aconselho-lhe que comece com Sir Gabriel e com sua irmã.
Thalía soprou ante a sugestão.
- Ele jura que está reformado. Não acredito nem por um instante.
- Reformaram-me - disse Horacio para sua irmã, com o cenho franzido. - E vou oferecer uma desculpa pública a Sir Gabriel, como aos membros de meu clube a primeira hora da manhã.
- Isso é o mais apropriado que deve fazer - disse Eloise com um suspiro.
- Nem sequer se perguntam onde estive? - perguntou.
- Me passou pela mente - disse, olhando para Thalía. Que farsa era essa? As duas mulheres pareciam a perguntar-se uma à outra. Não só se tornaram mais próximas durante sua ausência, mas também mais fortes.
- Parti para o campo - disse. - Fui para o campo para pensar longamente.
- Poderia ter pensado em nós - disse sem rodeios.
- Pensei em vocês - Disse com voz tranquila. - De fato, não pensei em nada mais.
Sentiu um desagradável comichão quente com sua admissão.
Esperava sinceramente que tivesse entendido mau.
- Estávamos preocupadas que tirasse sua vida - disse em voz baixa.
- Acredito que poderia tê-lo feito - respondeu.
Ela queria que se sentasse. Não, queria sair pela porta e correr atrás de Drake. Por que tinha insistido em que partisse?
- O que aconteceu com suas dívidas? -perguntou deliberadamente.
- Saldei todas e cada uma delas.
Arqueou uma sobrancelha.
- Como?
- Lembra-se dos investimentos que fiz faz dois anos?
Ela negou com a cabeça um pouco impaciente. Horacio sempre divagou sobre suas apostas e investimentos. Nenhum deles pagou alguma vez que fosse. Era possível?
- Tenho uma proposta para você, Eloise - disse, com as mãos entrelaçadas atrás das costas. - Uma oferta pessoal que lhe permitirá retirar-se do serviço por completo.
- Uma proposta?
Thalía jogou a revista que estava folheando, seus olhos se abriram em sinal de alerta.
Depois da incredulidade de Eloise, levantou-se, dirigiu-se diretamente para seu irmão, e lhe deu uma bofetada na cara.
- Como se atreve?
- Ah! Maldição. O que foi isso? - perguntou, levantando a mão para sua face avermelhada.
- Por fazer à Eloise uma oferta indecente, - replicou. - Estou certa de que estava muito ofendida para lhe dar uma bofetada, fiz por ela. Já era hora de que alguém o fizesse. Abandonou-nos Horace.
Ele piscou.
- Eloise nunca me daria uma bofetada.
Thalía negou com a cabeça.
- É isso verdade? Bom, possivelmente tenha mudado desde que nos abandonou. Talvez, inclusive, viu-se forçada a sacrificar sua decência para nos salvar.
Ele esticou sua mandíbula.
- Então os rumores sobre ela e Boscastle são verdadeiros - Virou-se para contemplar Eloise que estava horrorizada com seu discurso - É
verdade, Eloise? - Perguntou em voz baixa - Não, não me responda. Se foi forçada a uma situação autenticamente indescritível, foi por minha culpa.
Não estava disposta a discutir. Não podia admitir que sua relação com Drake fosse a experiência mais maravilhosa de sua vida, ou que sua decisão de converter-se em sua amante tinha menos a ver com o comportamento irresponsável de Horacio, que lutar com o de seu próprio coração.
- O fato, feito está - disse ela, evitando seu olhar, e esperava que fosse o final da discussão.
Ele inclinou a cabeça.
- Mereço sua condenação. Vai pelo menos escutar o que tenho a dizer?
Não tinha sentido negar seu pedido, embora duvidasse que algo do que pudesse dizer supusesse uma diferença.
- Adiante - disse com um suspiro.
- Obrigado. Sentamo-nos juntos no sofá?
- Se insisti.
- Tenho uma oferta para lhe fazer, Eloise - disse.
Sentou-se, Thalía se situou entre eles.
Teve que obrigar-se a escutá-lo cortesmente. Não podia imaginar nada que o Senhor Thornton pudesse lhe oferecer para tentá-la. Uma posição na casa de um amigo para que pudesse salvar sua consciência?
Uma miséria para pagar sua ausência? Ou talvez a promessa de lhe oferecer brilhantes referências para seu próximo trabalho. Não podia lhe dar suas referências para a posição que tinha tomado como amante de Drake, de qualquer forma.
Levantou-se inesperadamente e começou a passear diante do sofá.
Pensou distraidamente que não era um homem pouco atraente, sobre tudo agora que parecia estar sóbrio e sério sobre a reforma. Tal vez se encontrasse alguém que o amasse, inclusive poderia chegar a converter-se...
- Quero que seja minha esposa - disse sem prévio aviso.
Ela não poderia ter se surpreendido mais se o lustre de ferro fundido tivesse caído sobre sua cabeça.
- Você o que?
- Oh, Eloise - Thalía a olhou com deleite, depois de estreitá-la em um abraço clamoroso. - Não vou perdê-la, depois de tudo! Minha cunhada. Uma tia para meus filhos, e que possa cuidar deles enquanto Thomas e eu viajamos por todo o mundo! Horace, não é o cão sem coração que todo mundo pensa que é. É o irmão mais maravilhoso do mundo.
- Qual é sua resposta, Eloise? - perguntou ele, limpando a garganta, procurando a exuberante reação de sua irmã.
- Estou sem palavras - disse. - Entretanto, eu...
Lançou um olhar significativo para Thalía.
- Importaria-se de nos deixar sozinhos? Isto é um assunto privado.
Saltou sobre seus pés, com as mãos entrelaçadas nas costas de alegria.
- Sim, é claro. Quer cortejar Eloise. Oh! É perfeito. Tomara houvesse eu pensado o mesmo. Agora não tem que se converter em uma cortesã, Eloise. Pode estar perto de mim, para sempre!
Dançou da sala em uma nuvem de fantasia, sorrindo para o grupo de criados que bisbilhotavam descaradamente no vestíbulo. Eloise franziu o cenho como recriminação. Horace também o fez ao cruzar a sala para fechar a porta a sua descarada intromissão.
- Sinto muito, milorde - disse, sacudindo a cabeça como se tentasse dar sentido a seu comportamento. - Você me pegou de surpresa.
- Entendo sobre você e Boscastle - disse com um profundo suspiro. -
Não tem que pedir desculpas ou dar explicações. Ele é um libertino que se aproveitou de você. Tenho inteiramente a culpa.
Eloise levou a mão às pérolas de seu colar. Sim, Drake era um libertino, e sim ele tomou vantagem sobre ela, mas não podia culpar a
ninguém a não ser a si mesma pelo que lhe tinha permitido fazer. Ela nunca teria se sentido atraída por Lorde Thornton sob nenhuma circunstância.
- Não posso pensar em um casal pior - acrescentou Horacio. -
Boscastle é ardiloso e mundano. Você é...
Eloise ficou em pé procurando as palavras.
- O que sou eu? - perguntou, com uma mão no quadril.
- Bom, você não é uma mulher do mundo - disse. - O que é em realidade um elogio. É muito torpe e pouco sofisticada, de uma maneira íntima, isso sim. Suponho que se deve a ter sido criada no campo. É
uma das razões pelas quais acredito que você e eu encaixaremos.
Não sabia se ria ou chorava ante seu proposto. Para um homem que propunha matrimônio, ele tinha a finura de um cavalo de carruagem.
- Você acredita que somos compatíveis porque no fundo é um paletó de campo como eu?
Olhou-a desconcertado por sua contundência. Ela nunca falou tão abertamente com ele antes.
- Preocupa-me que a companhia de Boscastle tenha trazido à tona um lado cínico em você, Eloise.
- Sempre fui um pouco cínica, deveria saber.
- Você nunca antes me chamou um paletó de campo - disse em tom ferido.
- Não na cara, talvez. - Agora que tinha começado a ser honesta com ele, era-lhe difícil controlara si mesma. - Na realidade, chamei-o muito pior quando desapareceu.
- Reflita sobre minha oferta por uns dias - disse obstinadamente.
- Não tem sentido.
- Boscastle nunca se casará com você.
A cruel verdade se cravou no centro de seu coração. Tranquilizou a si mesma interiormente.
- Isto é uma tolice, milorde. Você e eu não nos amamos.
- Possivelmente possamos aprender - disse, erguendo a voz com desespero distanciando uns passos. - Não entende, Eloise? Nós dois estamos arruinados ante a sociedade. Não temos mais remédio que escapar de Londres e viver nossas vidas na escuridão.
- Abandonar Londres? - repetiu com incredulidade. Para não falar de Drake, que sem dúvida teria algo que dizer a respeito. Algo como se esta proposta não tivesse sentido. - Tão adulada como me sinto por sua oferta, não posso aceitar.
- Mas eu a necessito, Eloise. - Suas faces estavam vermelhas de emoção. - Na realidade, preciso de uma esposa - confessou miseravelmente. - Meu tio me emprestou dinheiro para pagar minhas dívidas com a condição de que me case com uma mulher decente dentro de um mês.
Eloise realmente queria estrangulá-lo.
- E eu que estava disposta a perdoá-lo, por pena, seu inútil. Além disso, não sou uma mulher decente, desde à noite. Terá que encontrar alguém mais.
Deixou-se cair no sofá, com a cabeça entre as mãos.
- Nenhuma mulher decente quer casar-se com um mentiroso, Eloise.
Tem que ajudar-me. Estou desesperado.
Algumas semanas antes teria se abrandado por sua falta de esperança, mas agora se sentia, bom, sentia-se penalizada por ele, mas não o suficiente para casar-se com um idiota.
- Acalme-se, milorde - disse asperamente, partindo para a porta. -
Temos um casamento para planejar.
- O nosso? - disse esperançoso, levantando a cabeça.
Estudou-o com irritação.
- Sua irmã vai se casar, não nós. Por outra parte, parece-me que você precisa de uma mãe mais do que uma mulher.
- Vai me ajudar? - perguntou, enquanto se dispunha a segui-la.
- Encontrar uma mãe?
- Não - franziu o cenho. - Uma mulher.
- Como vou fazer isso?
- Ninguém quer ter nada a ver comigo -disse com voz impaciente. -
Nem sequer você, Eloise, a quem eu considerava minha rocha, minha âncora.
- Sua rocha ao que parece, foi posta sobre um banco de areias movediças.
- Não vai dizer a seu novo protetor nada sobre minha oferta, não é?
- perguntou com temor. - Quero dizer, eu, não quero que fique violento comigo.
Eloise virou a maçaneta.
- Não vou dizer nenhuma só palavra com a condição de que se comporte corretamente até que Thalía esteja casada. De acordo?
- Tenho alguma opção?
Abriu a porta que dava ao hall. Thalía e os criados que se congregaram dispersos como insetos para escutar se expuseram a luz.
Atrás dela se ouviu murmurar o Senhor Thornton.
- Maldito seja Drake Boscastle. Como pode um homem mortal competir com o próprio diabo?
Não podia, Eloise pensou com um suspiro de resignação. Tampouco pode uma mulher mortal resistir.
CAPÍTULO 27
Mais tarde nessa mesma noite, Freddie estava no estúdio privado de Drake, contando cada palavra, com um toque de exagero e adorno aqui e ali, da cena que tinha escutado entre Eloise e o Senhor Thornton.
Drake descansava sua cabeça de novo contra a cadeira de vime, seu rosto anguloso, duro e imponente à luz das velas. De fato, Freddie pensou, Sua Senhoria parecia absolutamente demoníaco quando estava na sombra e um homem cordato não iria querer cruzar seu caminho quando suas feições tomavam esse aspecto sinistro.
Entretanto Freddie não era estúpido, sem importar o que seu pai lhe havia dito no dia em que ele tinha deixado o lar. Ele tinha conseguido um bom lugar ao lado de Lorde Drake desde o começo. Esfregou uma bolinha de pó da escrivaninha com sua manga, escondendo um sorriso de autossatisfação.
Freddie tinha uma grande visão de si mesmo como o lacaio principal em uma casa como esta. Deixaria que seu pai o chamasse de idiota enquanto seu primogênito estava desfilando com calça de montar trançada em prata. Até podia conseguir uma peruca empoeirada para usar sobre a bucha de cabelo cor vermelha fogo que tinha herdado de seu progenitor bêbado.
Drake golpeou ligeiramente sua pena na escrivaninha. Estava furioso, Freddie poderia dizer, embora mantivesse contido seu temperamento.
- Descreva outra vez a reação da Senhorita Goodwin a esta proposta - disse em um tom enganosamente indiferente.
Freddie grunhiu.
- Deus a ame, ela estava fora de si. Quase o lançou pela janela como um urinol cheio de urina velha, fez isso.
A boca elegantemente moldada de Drake se curvou para cima nos cantos.
- Um urinol cheio de urina velha. Deus meu Freddie. Quem pensaria que era um poeta?
Freddie começou a sorrir plenamente.
- Golpeou-o, também, diretamente nas costelas.
Drake deixou cair sua pena.
- Presenciou isto através da porta?
- Diabos não, mas escutei. Soou como se quebrasse a mandíbula, também. Nunca a tinha visto antes levantar a mão tão furiosa assim que imaginei que o tinha guardado para lhe dar um bom.
- Não a viu hoje, tampouco - Drake indicou, claramente em um negro humor pelo que Freddie lhe tinha contado. - E que varão normal não reagiria igual?
- Olhe, a mulher o rejeitou - Freddie disse. - Disse-lhe francamente que ele precisava de uma mãe, não de uma esposa.
Drake riu a contra gosto. Facilmente poderia imaginar Eloise dando a Thornton a rejeição que merecia.
O homem era um covarde e um idiota dos bons, mas o que tinha provocado sua proposta repentina para Eloise? Como se atrevia a retornar à família que ele tinha abandonado e assumir que ela se casaria com ele? Não lhe tinha mostrado a mínima consideração antes. Em segredo a tinha cobiçado todos esses meses em que tinha trabalhado para ele?
- Está sozinha com ele agora? - Ele perguntou repentinamente, ficando em pé.
- Está ajudando a Senhorita Thornton a preparar-se para uma festa.
- Que festa? - Drake perguntou, sua mão já no cordão da campainha.
- Lorde Mitford, acredito.
Drake sorriu lentamente. A senhora Mitford era uma amiga íntima de Emma que sempre chateava a ele e a Devon para que assistissem a
seus aborrecidos eventos com a esperança de casar a uma de suas debutantes sobrinhas insípida. Devon frequentemente aceitava seus convites porque era um tipo sociável, brincalhão que tinha talento para tirar o melhor até das fêmeas mais fastidiosas. Drake assistiu uma vez e ficou morto de aborrecimento.
- Pensa ir você, também? - Freddie perguntou ansiosamente.
Drake riu.
- Maldição que o farei. Possivelmente convidarei meu primo Gabriel para pôr um pouquinho de pimenta à panela. Sir Gabriel tem um rancor legítimo contra Lorde Thornton. Pegou-o roubando nas cartas e o desafiou a duelo.
- Não é estranho que o chamem um diabo, milorde - Freddie disse em sincera admiração. - Terá aos dois, um na garganta do outro enquanto se encarrega de seus assuntos privados.
Drake não se incomodou em negar. Tinha a intenção de levar Eloise a uma peça teatral esta noite, e possivelmente até convencê-la de passar a noite com ele depois. E odiava fazê-lo, mas cedo ou tarde teria que apresentá-la a sua família. Pensava começar com Heath, o irmão com o qual era menos provável que se sentisse desconfortável. Grayson era muito provável que a avassalasse. Infelizmente a formalidade teria que esperar.
Felizmente Drake era de um caráter suficiente maleável para que uma mudança nos planos não lhe perturbasse o mínimo. Ele não seria um Boscastle se deixasse que um pouco de competição se metesse no meio. Via em frente uma tarde satisfatória.
¨¨¨¨¨Ëloise estava secretamente assombrada de que Lorde Thornton tivesse o descaramento de mostrar a cara em público depois de sua desgraça social. Mas, recordou-se a si mesma, não estava em nenhuma posição para julgar. A pequena festa de Lorde e Lady Mitford esta noite
assinalava sua última aparição oficial em Londres como uma companheira invisível; até o casamento de Thalía se supunha que Eloise ficaria nos bastidores.
Como era seu costume, no momento em que chegou à casa de Lorde Mitford, afastou-se de Thalía e Sir Thomas e foi diretamente sentar-se com as outras vasos assistentes... acompanhantes das damas, solteironas, e debutantes sem êxito que fingiam não lhes importar seu status descuidado. Ela se perguntou ociosamente quanto tempo levaria antes que a Sociedade percebesse que ela se converteu na amante de um notório descarado.
Infelizmente não teve que perguntar-se por muito tempo. Mas demorou para ter tomado seu lugar do que as outras sete mulheres, já presentes, a submeterem a petrificantes olhares dignos de Medusa.
- Boa noite, senhoras - disse, fixando seu olhar na pista de baile.
Thalía dançava suficientemente feliz com seu noivo. Lorde Thornton provavelmente partiu em busca de uma noiva disposta a solucionar suas aflições.
- Como foi sua estadia em Sussex, senhora Burton? - Perguntou a uma das idosas matronas por causa da cortesia.
A mulher de rosto pastoso lhe concedeu um sorriso malicioso.
- Não tão excitante como foi sua estadia em Londres ultimamente.
Ou assim é o que escutamos.
Todas menos uma das outras damas gorjearam como um bando de pardais olhando uma joaninha saborosa. Eloise decidiu ignorar o comentário grosseiro e tomar a via principal.
- Bom, não se pode acreditar em tudo que ouve.
Outra mulher que fazia as funções de acompanhante e era alguns anos mais nova que Eloise murmurou:
- Se acreditássemos na metade do que soubemos de você, seria escândalo suficiente.
Eloise apertou seus lábios. O caminho do êxito, ela se recordou a si mesma. Somente porque ela se converteu em uma mulher pública não significava que tivesse que arrastar-se na merda por seus caluniadores
- O clima é inoportunamente quente nesta parte do ano, não é? - Ela perguntou em um tom agradável.
A senhora Burton riu dissimuladamente.
- Diria que é positivamente abrasador em algumas partes da cidade para algumas pessoas.
Eloise conseguiu fingir um sorriso tenso.
- Possivelmente deveria retornar aos climas mais frios do norte do país, querida.
As outras senhoras trocaram olhares. Não podiam ser integrantes da alta sociedade, ou esposas de cavalheiros distintos, mas mantinham sua própria posição social dentro de seu seleto grupo. O salto de Eloise a querida de um lorde altamente desejável e tudo acompanhado de riqueza e luxos, tinham tirado seus narizes coletivos de suas juntas.
Apenas se ela se casasse estaria acima desse ressentimento. Não era provável que seu protetor a fizesse uma mulher honesta, mas tais coisas ocorriam. Boscastle certamente contava com os meios para manter Eloise por toda vida ainda se, como esperava, ele a descartasse depois de se acabar seu amor inicial.
Sua amiga de mais gentil coração, Mary Weston, tocou seu pulso.
Mary estava em seus trinta, continuamente empregada como acompanhante, mas não tinha deixado que seu status azedasse sua disposição.
- Só estão ciumentas, Eloise - disse suavemente. - Nunca preste atenção ao que alguém diga.
A senhora Burton interrompeu.
- Ciumentas? Enojadas e pasmadas é o que estamos. O que fará quando seu protetor se cansar dela? Nenhuma família decente a terá em
sua casa. Nem o fará uma certa academia.
O fervoroso temperamento de Eloise se aproximou do ponto de ebulição. Como se atrevia a velha bruxa a mencionar a academia. Oh, isso era injusto.
- Rejeitei esse posto, senhora Burton.
A mulher sorriu de modo zombeteiro.
- Sua perda possivelmente será meu ganho. Aproveitei e tive uma alentadora entrevista inicial com Lady Lyons.
Eloise poderia ter feito algo verdadeiramente atroz nesse momento se Drake repentinamente não se materializasse nesse mar de bailarinos.
Seu coração deu um salto a sua garganta, e fogo invisível correu velozmente através de seu corpo enquanto sua sombria masculinidade lançava uma sombra fascinante sobre a sala.
Ele era a antítese do que uma mulher gentilmente criada deveria desejar. Uma visão ímpia que tinha saído de suas fantasias mais íntimas. Ouviu as mulheres ao redor dela ofegar em escandalizado impacto. Ou isso era deleite que não se atreviam a expressar? Era Eloise a única delas que percebia que atrás de seu véu de escuridão atraente ardia a faísca mais fraca de luz? Não podia estar certa se só enganava a si mesma. Esse escorregadio brilho de bondade podia ser tão enganoso como a herança de heroínas de contos de fadas, perseguidas no bosque só para perder-se para sempre. Ela já estava perdida. Amava ao Diabo sem importar o que resultasse ser.
Ele caminhou tranquilamente até o pequeno grupo emudecido com a graça indolente de um lobo avaliando a uma manada de cervos. Não havia uma mulher entre eles, jovem ou velha, quem em segredo não respondesse a imperturbável sensualidade que se irradiava dele.
Mas seu olhar se distinguiu a uma só mulher. Ele olhou à voluptuosa beleza de cabelo castanho que tinha escolhido como sua parceira.
Estendeu sua mão para ela.
- Dança comigo.
Não foi tanto um pedido como uma ordem, um aviso sedutor da primeira noite que se conheceram.
Ela se levantou, estranhamente sem sentir-se envergonhada, mas exaltada. A comissura de sua boca sensual se levantou em um sorriso de prazer. As pontas de seus dedos formigaram enquanto fechava sua mão sobre a dela. Era consciente apenas dele. Não lhe importava o que alguém dissesse sobre ela. Um olhar em seu rosto duro, cinzelado, e gostosamente se entregaria.
Emocionava-a que ele não se incomodasse em esconder o desejo escuro em seus olhos. Ele a tinha escolhido.
- Que prazer vê-la outra vez, Senhorita Goodwin - ele disse em uma voz cálida, profunda. Como se não tivessem estado nus nos braços um do outro fazia só algumas horas, perdidos fazendo amor ferozmente. -
Não tinha ideia que você assistiria à festa esta noite.
O resto do mundo se desvaneceu. Eloise não perdeu a nota de desaprovação em sua voz por que não lhe tinha feito saber de seus planos.
- Estou surpresa de vê-lo aqui, milorde -disse enquanto ele a atraía ao redor da pista de baile. - E não tinha ideia de que eu mesma viria.
Ele a submeteu a um olhar intenso. Estavam fora do alcance do ouvido agora, e a atuação que tinha adotado não precisava ser prolongada. Sua mão se apertou possessivamente ao redor da dela.
- Escutei que Thornton lhe fez uma proposta hoje - ele disse, seu maxilar quadrado rígido de emoção. - Pensou que não estaria aqui?
Ela percebeu de repente que ele a estava guiando fora do salão de baile, e sem a mínima discrição. Tudo o que ela pôde fazer foi caminhar a seu lado, sua mão agarrando a dela, pretendendo que fosse a coisa mais normal do mundo que a acompanhante de uma dama fosse atraída com engano por um patife.
- Pensei que iriamos dançar. E como soube sobre Thornton?
Ele não respondeu, guiando-a através de uma porta a um longo corredor escurecido.
- Oh - ela disse, seus olhos estreitando-se - Foi Freddie, não é?
Bom, espero que ele tenha lhe dito que eu...
Segundos mais tarde ela foi empurrada dentro de um estúdio de painéis de carvalho, dentro seus fortes braços. Fechou com um pontapé a porta e a travou enquanto a beijava, seu corpo amoldado ao dela. Ela sabia que estavam discutindo algo, mas repentinamente não pareceu importante.
- O que está fazendo aqui? - Ela sussurrou, suas mãos fechadas ao redor de seu pescoço para atrai-lo até mais perto. - Esta não é o tipo de festa que pensaria que você desfrutaria.
Dirigiu-lhe um sorriso lento, malvado.
- Estava procurando uma mulher - ele respondeu enquanto movia suas mãos espertamente dos lados de seus seios opulentos às faces firmes de seu traseiro.
- Para que quer esta mulher? - demandou, tentando inalar ar. Seu coração tinha estado acelerando-se desde o momento que o viu esta noite.
- Mostrarei-lhe isso em um momento. - Ele colocou seu traseiro em suas mãos com um gemido profundo, atraindo seu ventre contra sua excitação. - Por acaso não sabe onde foi esse idiota do Thornton, não é verdade? Tenho a sensação de que me está evitando.
Ele a pegou pelo pulso e a guiou com ele através do aposento. O
aroma mofado a livros e brandy estava suspenso na escuridão, um potente aroma de fundo para seu desejo. Com um tremor de espera proibida Eloise percebeu que ele iria seduzi-la no estúdio de um desconhecido, e ela iria permitir. De fato, sentia-se enjoada pela antecipação.
- Não tenho nem ideia de onde está Lorde Thornton - conseguiu sussurrar - Mas pessoalmente sei que ele está procurando uma mulher, também. Acha que poderia ser a mesma?
Seus olhos azuis se escureceram até abrasadora obsidiana negra.
- Sim, não a pode ter, embora entenda que o peça. Sabe se ela aceitou?
Ela tremeu enquanto seus olhos perfuraram os dela, a paixão nua que ele permitiu mostrar lhe debilitando seus joelhos.
- Estaria parada aqui com você agora se o fizesse?
- Thornton não estaria ainda vivo se ela o tivesse feito - respondeu com uma voz áspera, usando a parte inferior de seu corpo para guiá-la para trás.
- Realmente veio aqui só para ver-me? - perguntou suavemente, tropeçando com um tamborete.
Ele a pegou velozmente.
- Sabe que o fiz. Foi uma tortura.
- Tortura? - Ela brincou. - Foram só algumas horas.
Ele sorriu abertamente.
- Quis dizer que estar na festa foi uma tortura. Sabe quantas senhoras me pediram para dançar? Por alguma razão pareço ter sido evocado por um famoso por um grupo de viúvas extremamente agressivas.
- Rejeitou-as educadamente? - Ela perguntou, rindo dele.
- Não as rejeitei absolutamente - ele respondeu. - Mal consegui escapar com minha camisa. Não sei por que não dou medo às anciãs.
Parecem me considerar uma aventura.
- Terá que manter sua promessa de dançar com elas.
- Não poderia só escapar em silêncio?
- Possivelmente as esquecerá - ela sussurrou, subindo a mão a seu rosto.
Ele a pegou sua cintura.
- Tinha que vê-la outra vez. Não podia me manter afastado.
- Me alegro muito.
- Eu nunca...
Alguma vez o que? Ela se perguntou. Mas antes que pudesse perguntar, sua boca cobriu a dela, sensual e exigente, incendiando seu sangue. Sua língua empurrou-se entre seus lábios em ardente posse.
Suas mãos vagaram sobre todos os lugares secretos de seu corpo, seu peito, seu traseiro, empurrando entre suas coxas para onde lhe doía que a tocasse.
Ele exalou contra sua garganta.
- Ah, isto é o que necessito, senti-la aí de novo. Estive imaginando estar dentro de você outra vez todo o dia. Pensou em mim, também?
- Sabe que o fiz - ela sussurrou, além da vergonha, seu corpo estremecendo em resposta. Podia sentir seu coração agitando-se, seus seios inchando-se dentro de seu vestido.
Até seu fôlego quente contra sua pele se converteu em uma carícia.
Ele era tão acessível em sua paixão, tão magistral que não podia lhe negar nada. Foi quase um alívio quando o sentiu atirando-a para o sofá, descendo-a sobre seu antebraço musculoso para as almofadas.
- Vão sentir nossa falta - ela sussurrou, sem lhe importar realmente enquanto envolvia os braços ao redor de sua cintura.
Seu corpo se sentia quente e duro. Ela queria deslizar suas mãos debaixo de sua camisa para tocar seu peito e atrai-lo mais perto.
- Poderia parar se insistir - ele murmurou.
Gemeu a contra gosto enquanto ele se inclinava sobre ela, o homem mais sexual que alguma conheceu.
- Definitivamente não. A pessoa tem a obrigação de terminar o que começa.
- É tão sensata, Senhorita Goodwin - ele murmurou. - Agora estende
suas pernas como uma boa amante.
Ele desenganchou a parte detrás de seu vestido, depois seu espartilho, empurrando as mangas e o objeto de roupa interior sem baleias a sua cintura. O ato encarcerou temporalmente seus braços.
Quando seus seios pesados se libertaram, ele inclinou sua cabeça e chupou duro em cada um de seus mamilos. O prazer feroz roubou seu fôlego. Ela se sentiu malvada e libertina, a sensação quente alagando os lugares privados de seu corpo com desejo úmido. Era tudo o que podia fazer para não lhe pedir um pouco de alívio.
- Oh, Meu deus - ela sussurrou. Ergueu suas mãos para acariciar seus ombros poderosos. - Sabe o que as pessoas vão dizer a respeito de mim?
Ele lambeu círculos úmidos ao redor de seus mamilos suaves, estirados.
- Deveriam vê-la agora, não é verdade?
Ela riu, completamente sob seu feitiço, cada terminação nervosa em seu corpo doía muito.
- Não, seu diabo.
Ele levantou seu pescoço para lhe sorrir. Antes que ela nem sequer o notasse, tinha levantado sua saia até sua cintura e tinha afastado com o joelho suas coxas. Fechou os olhos enquanto ele agachava sua cabeça para beijar seu ventre. Ela se estirou para cima, sem lhe importar que tão vulgar deveria parecer. Não achava que poderia aceitar outro segundo de espera.
- Quer algo? - Ele perguntou malvadamente. Ela abriu os olhos, impotentemente exposta a ele, seus lábios sexuais pulsando e escorregadios.
- Sim. Você.
- Está suficientemente molhada? - Ele sussurrou.
- O que você acha? - Perguntou impacientemente.
- Há só uma forma de averiguar.
Ele enredou seus dedos nos cachos, e logo deslizou sua mão mais abaixo sobre seu suave montículo. Um estremecimento de antecipação a estremeceu. Seus dedos fortes se cravaram em seu sexo, deitando-a em posição horizontal, estendendo-a aberta para sua penetração. Ela mordeu os lábios para sufocar um grito.
Necessitava-o dentro dela. Arqueou seus quadris para aliviar a pressão dolorida só para senti-lo lentamente retirar a mão de sua fenda.
- Demônio de homem - ela sussurrou, seus sentidos pulsando de pânico. - Não pare...
Ele se virou sobre seus pés, sorrindo ante sua aparência deliciosa, desarrumada. Assim era como a queria, ele pensou. Poderia levá-la ao orgasmo com um olhar.
Ele mesmo estava quase ao limite. Quem não se desfaria por seu afã de prazer? Desabotoou sua calça e se inclinou por cima dela. Ela gemeu enquanto ele flexionava seus quadris e lançava-se em suas dobras interiores com seu membro. Seu polegar rodeou a parte sensitiva de seu sexo até que ela retorceu seus olhos dilatados de desejo. Ainda, reteve o que ela queria.
- Ainda não - ele sussurrou, olhando para baixo satisfeito.
Ela soluçou, seus olhos frágeis.
- Quando?
Ele apertou com força sua mandíbula, seu próprio controle deslizando-se enquanto a chegava mais perto e mais perto. Esperou, seus dedos brincando com seus mamilos até que a sentiu tremer no clímax, seu corpo estirando-se até o seu. Só então seguiu o desejo selvagem de seu corpo. Com seus olhos negros, ele pegou seus quadris e conduziu seu grosso membro profundamente dentro dela.
Seus gritos de prazer necessitado realçaram seu próprio desfrute.
Muito tarde se recordou a si mesmo que sua paixão por ela poderia
produzir uma criança.
- Meu deus - ele sussurrou com voz áspera. - Nunca conheci algo como isto antes.
Ela molhou seus lábios, seus olhos travados nos dele. Seus músculos interiores enluvando-o, apertando-se ao redor de seu órgão enquanto ele empurrava profundamente dentro dela.
Ela estremeceu, meio presa em suas roupas, subindo seu traseiro para encontrar o ritmo de seu lânguido impulso. Ele tinha o comando e o fez saber. Amassou seus quadris em lenta deliberação, prolongando seu prazer. Ela o excitava com sua avidez, com sua fome, mais que nenhuma outra mulher que ele tivesse conhecido.
Deixado a seus próprios dispositivos hedonistas, a teria amado durante toda a noite, teria se entregue a descobrir seus desejos secretos. Mas um ruído mudo impactou sua concentração de alguma parte da casa. Ele enlaçou seus dedos com os dela e ergueu suas mãos por cima de sua cabeça. Seus seios pressionados contra a parede úmida de seu peito. Ela fechou os olhos, tremendo debaixo dele.
Ele se retirou, embriagado, e por um momento nenhum deles respirou, inundados no puro deleite sexual. Então ela arqueou sua coluna vertebral e ergueu seus quadris para atrai-lo de retorno dentro dela. Ele ouviu passos fora da porta e sem a hesitação de um momento, empalou-a por completo. Ela ofegou, suas pernas travadas ao redor de sua cintura para resistir a força de seu impulso. Ele fechou os olhos, e sua mente ficou em branco. Momentos mais tarde sentiu a liberação ditosa de sua semente fluindo nas profundidades de seu corpo, suas mãos ainda unidas.
- Quero-a comigo todo o tempo - ele sussurrou ferozmente.
Ela tremeu, afundando-se de retorno sobre o sofá.
Sob outras circunstâncias a teria acariciado languidamente. Mas ainda quando seu acelerado coração reatava um ritmo normal, ele a
levantou do sofá e a pôs em pé. Não precisou explicar a razão de sua pressa. Ela estava completamente apresentável antes dele ter abotoado sua calça e puxado seu cabelo para trás.
Atraiu-a brevemente em seus braços na porta. Ocorreu-lhe que outra vez não se cuidou para evitar fazer um bebê. Ele sempre usou precauções no passado...
O que estava lhe passando? Por que a possibilidade de uma amante grávida tinha este repentino atrativo? Queria seguir os passos de Grayson? Previamente quando ele tinha visualizado seu futuro, era como se olhasse para um véu solitário de escuridão.
Pela primeira vez via um brilho tentador de luz nas sombras. Estava segurando a fonte dessa luz em seus braços?
Deveria ter deslocado por sua vida o momento no qual a conheceu.
Era muito tarde agora, pensou enquanto enterrava seu rosto em seu pescoço.
- Acho que ouvi alguém no vestíbulo - sussurrou-lhe, empurrando-o.
- Não podemos ficar aqui dentro toda a noite.
Sensata. Ela o levou de retorno a terra, ou estava ela de volta do inferno? Ele inalou seu perfume limpo, então a contra gosto a soltou.
- Vá primeiro. Darei-lhe tempo para retornar a seu grupo de solteironas caras de pedra. - Ele destravou a porta e olhou fora para assegurar-se de que tivesse caminho livre. - Vá.
Ela avançou pausadamente ao redor dele. Pensou que qualquer homem que a visse o suficientemente de perto adivinharia que ela acabou de cair.
- Não vai romper sua promessa de dançar com suas admiradoras, as viúvas? - Perguntou-lhe sobre seu ombro.
- Não, vou romper os... - ele parou ante o olhar que lhe dirigiu -
Maus hábitos de Thornton. Vou achar Horacio e terei uma conversa séria com ele.
Ela retrocedeu.
- Bem, por favor não conduza sua conversa ao lago de peixes desta vez.
- Não se preocupe com Horacio, querida -ele disse, apoiando-se contra o batente da porta com uma graça lânguida que desmentia o muito que ele queria persegui-la.
- Prometo ser um perfeito cavalheiro.
CAPÍTULO 28
Horace olhava fixamente à escura figura magra e musculosa que se dirigia para ele como um predador e pensou que sua morte estava perto.
- Boscastle - disse, engolindo o doloroso nó em sua garganta. - Meu deus, é bom voltar a vê-lo. Contava que nunca voltaria. Iria passar esta noite para vê-lo, mas agora que está aqui...
Por um perigoso momento se deixou enganar pelo sorriso fácil de Drake. Era possível? Poderia enganar um Boscastle e escapar da ira que sabia que merecia?
- O que pensava - disse Drake, quase simulando conversar enquanto empurrava Horace com uma mão dentro de um quarto escuro -
Teve o suficiente bom senso para permanecer na clandestinidade. E... ?
- Torceu o tecido da gola de Horace ao redor de seu pulso - se fosse suficientemente estúpido para retornar, perceberia que há certas pessoas com as quais você nunca, nunca poderia se cruzar impunemente.
- Cruzar com você? Nem sonhei em cruzar...
Drake apertou o tecido da gola.
- Não só tentou enganar meu primo, mas também me deixou defender sua maldita honra.
- Queria lhe agradecer por isso, por certo...
- E abandonou sua casa aos credores, deixando duas mulheres jovens indefesas e sozinhas.
- Bom, agora dificilmente chamaria Eloise de indefesa... - Caiu dentro de um apavorado silêncio ante a fúria fria no rosto de Boscastle.
- Por Deus, tem razão. Sou um canalha total. Mate-me agora. Mas, por favor, que seja o menos doloroso possível.
Drake sacudiu a cabeça com desgosto.
- Realmente deveria fazê-lo.
Horace pensou que iria desmaiar. Nunca tinha entendido por que
Boscastle era seu amigo em primeiro lugar. Tinha que ser por causa de seu irmão falecido. Ele sabia que era um completo idiota, e que pendia precariamente sobre o degrau mais baixo da escala social.
Engoliu em seco convulsivamente.
- Foi muito bom comigo, Boscastle. Foi um amigo quando eu não merecia um. Mas quero que saiba que me reformei, sou um homem renascido...
Os olhos de Drake brilharam perigosamente. Sua mão retorcendo o tecido em seu pescoço como uma corda.
- Não me importa se ressuscitou como o próprio Deus, deixou sozinha Eloise.
Horace estremeceu. Mais tarde diria a si mesmo que imaginou o cheiro de enxofre no ar.
- Acha que eu a desonraria? - engasgou, prudentemente tomou a decisão de não indicar que a conduta de Drake poderia interpretar-se como se tivesse feito precisamente isso.
- Certamente desonrou a si mesmo - replicou Drake.
- Não sabia - disse vacilante. - Não pensei que um homem de sua posição se preocuparia com a acompanhante de minha irmã. Não sabia, Boscastle. Juro-lhe. Nunca falarei com ela de novo. Limparei com a língua suas botas, mas por favor não me mate. Não sabia que se preocupava tanto com ela. Ela é uma mulher encantadora, um pouco mandona às vezes, mas não vou estar perto dela se o incomodar.
Simplesmente não sabia que ela lhe importava.
Drake liberou seu aperto, seu rosto desapaixonado. O alívio nos olhos de Horace teria sido ridículo se não fosse pelo impressionante fato... de que até que as palavras foram jogadas em sua cara, Drake tampouco percebeu o muito que se preocupava com Eloise. Ele não tinha sonhado poder ser capaz de sentir tantas emoções por alguma mulher. Bom, parecia como se a besta escura finalmente tivesse
chegado a descansar sobre seus ombros. E tinha a sensação de que estava ali para ficar.
¨¨¨¨¨Ëloise acabava de dormir com um sorriso em seu rosto. Sua última imagem de Drake enquanto ela saía do salão de baile foi vendo-o dançar a valsa fazendo círculos ao redor de uma enérgica viúva de cabelo prateado que aparentemente esteve esperando-o para lhe fazer cumprir sua promessa. Oh, que homem adorável, pensou Eloise enquanto saía.
Que não daria ela agora mesmo por sentir um par de pés descalços enredando-se entre os seus? Despertou completamente, sem atrever-se a mover-se nem sequer para abrir os olhos. Poderia ter se convencido que seu visitante noturno era de fato seu indecente protetor, que mostrava todos os sinais de ser um amante tão insaciável como as más línguas afirmavam.
Mas sem dúvida Drake não tinha desenvolvido unhas tão afiadas em poucas horas. Tampouco ele iria entrar em seu quarto para bisbilhotar lastimosamente entre travesseiros como esta indesejada companheira de cama tinha começado a fazer.
Sentou-se de repente com desconforto.
- Senhorita Thornton, realmente. Qual é o significado desta desconsiderada visita?
- Oh, O-ou-iiise. - Lamentou-se Thalía, lhe jogando os braços ao redor do pescoço e golpeando suas costas contra a cabeceira. - Tive o sonho mais miserável. Abrace-me até que o horror passe.
Eloise desenredou os finos braços da garota ao redor de seu pescoço.
- Não farei nada pelo estilo. Não é uma menina, e eu adoraria ter a oportunidade de sonhar por mim mesma. É muito tarde, e temos que despertar cedo para as modificações de seu vestido de noiva.
- Meu vestido de noiva - gemeu Thalía, pressionando a cabeça
sobre o peito de Eloise como uma menina. - Isso é o que me ocasionou o maldito sonho. O que vou fazer?
Eloise sentiu um arrepio. Reprimiu o impulso de esbofetear a garota insensatamente. Sua voz se converteu em um cru sussurro.
- Não se atreva a me dizer que tem dúvidas a respeito de casar-se com o Senhor Thomas de novo depois de todos os problemas pelos quais me fez passar.
Thalía esfregou o nariz.
- Ele parece tão terrivelmente velho, às vezes, Eloise.
Só porque Thalía parecia ser uma menina em comparação, a opinião de Eloise era um pouco mais amável.
- Ele não é mais que dois anos mais velho que você. Isso dificilmente o converte em um velho. Simplesmente são nervos de noiva.
Thalía fez uma careta.
- Como sabe? Nunca foi uma noiva. E provavelmente não se converterá em uma a menos que se case com meu irmão, e por certo, foi ameaçado por Boscastle esta noite na festa. Seu amante parece ter um caráter podre.
Eloise suspirou. Esta era uma maravilhosa maneira de ser despertada, realmente, lhe recordando que o matrimônio e a respeitabilidade já não eram possíveis para alguém em sua situação de desonra.
- Deveria passar por cima suas dúvidas e se concentrar em seu casamento - disse-lhe com voz firme. - Estamos quase sem tempo para planejar a cerimônia e a recepção.
- Não muito mais que uma semana - murmurou Thalía, mordendo a unha do polegar.
- O que? - Eloise sussurrou, segura de que tinha entendido mau.
Thalía deu um enorme bocejo.
- Não lhe disse? Thomas conseguiu uma permissão especial para
que possamos nos casar aqui em Londres na casa de sua mãe. É muito extravagante da parte dele, mas acredito que tem medo de que eu mude de...
Eloise deslizou da cama.
- Não é possível. Há muito que fazer.
- Dará um jeito, Eloise. Sempre o faz. Essa é uma das razões pelas quais pensei que seria uma boa esposa para Horace. - recostou-se contra os travesseiros.
- Suponho que tem razão. As dúvidas não são incomuns quando uma garota está entregando a si mesma por toda vida. Mas então você já se entregou...
Eloise tinha deixado de escutar. Tinha tanto que fazer que sua cabeça dava voltas. Tinha esperado dispor de algumas tardes para ficar com Drake nos próximos dias. Ele queria lhe achar uma casa adequada, ter seu retrato pintado em Bond Street, levá-la ao teatro e ao parque.
Não estaria contente se continuasse deixando-o de fora, mas com Thalía pondo obstáculos, teria que entender.
Thalía se encolheu sob os lençóis.
- Não se altere, querida Eloise. Se me negar a me casar com Thomas sempre posso seguir seus passos. Poderia me servir como uma companheira em minha velhice. Por outra parte, realmente não me incomodam seus beijos. Talvez me casar com ele não seja tão ruim como temo.
Eloise a olhou com insensível resolução.
- Não se casar com ele vai ser pior que qualquer outra coisa que tenha temido, garanto-lhe.
Thalía se cobriu com as mantas até o queixo, sem olhar absolutamente intimidada.
- Horace tem razão, Eloise. Pode ser muito mandona às vezes.
Posso dormir em sua cama esta noite?
- Só se prometer não mudar de opinião outra vez.
- Quero-lhe bem, Eloise. E eu gostaria que meu irmão a merecesse.
Eloise se sentou na cama e se deixou cair contra o travesseiro.
- Então vamos dormir, e amanhã teremos que nos ocupar de cortar suas unhas dos pés.
¨¨¨¨¨¨
Drake foi diretamente para casa depois da festa. Era a primeira vez em um ano ou assim não se havia sentido compelido a permanecer até o amanhecer perseguindo alguma distração inútil. Se tivesse saído com a sua, entretanto, ele e Eloise estariam bebendo champanha nus na cama e vendo sair o sol sobre sua querida cidade.
Teria isso muito em breve, supunha. Fazia já várias averiguações para conseguir uma casa adequada para ela. Tinha vários amigos que alugavam alojamentos para suas amantes em Hall Moron Street. Era tranquilo, suficientemente perto do parque e das lojas para agradar uma mulher. Mas não estava suficientemente perto para agradá-lo e de algum jeito a ideia de colocá-la em um lugar que só seria utilizado para comodidade sexual se sentia mau.
Mau. Doce Deus do Céu. Mildred o tinha acusado de uma tardia moral verdadeiramente? Apesar de que dificilmente alguém poderia acusá-lo de moralidade depois do que ele e Eloise fizeram atrás das portas fechadas nesta noite. Mas isso não tinha sido suficiente. Ele quereria permanecer com ela depois, encontrá-la a seu lado na manhã quando se levantasse. Quereria falar e só, bom, estar com ela.
Parou na porta de seu estúdio e viu dois homens conversando à luz das velas. O alto homem mais jovem que estava sentado casualmente no sofá era seu irmão Devon. O corpulento homem mais velho que estava em pé diante da lareira era Evan Walton, o detetive de Bow Street que Drake tinha contratado para investigar o paradeiro do homem que tinha ameaçado Eloise.
- Boa noite - disse, arrojando seu casaco e luvas sobre a cadeira. -
Suponho que tem algo a me dizer.
O detetive foi direto ao ponto. Apreciava o dinheiro extra que lhe pagou para complementar seu pobre salário. Também tinha à família Boscastle em alta estima.
- Encontramos o homem, milorde. Hospeda-se em um hotel muito agradável em Dover Street, que não podia permitir-se. Se não fosse pelo fato de se negar a pagar o aluguel, o que enfureceu a dona, nunca poderíamos ter conhecido sua localização absolutamente.
Drake sentiu que sua ira aumentava. Tinha a esperança de desfrutar de uns poucos momentos com Ralph Hawkins antes que a polícia se encarregasse.
- Está na delegacia de polícia?
- Infelizmente, não. Deixou Londres para a área de Bath. Pensei que estaria contente.
- Tem certeza de que se foi? - perguntou, franzindo o cenho.
- Bom, ele se meteu em uma confusão com um menino e quase lhe pediram que descesse do ônibus. Isso parece que o apaziguou. É o último que soubemos dele.
- Já vejo. - Não podia reprovar o trabalho do detetive, mas teria se sentido melhor se tivesse podido enfrentar Ralph Hawkins em pessoa e tratar com ele para sua própria satisfação.
- Vamos manter-nos em alerta, em caso de que retorne - disse o detetive. - Sinto incomodar a noite, mas pensei que gostaria de saber.
- Assim é, Walton - disse. - Fez um bom trabalho. Obrigado.
Transcorreram
uns
instantes
de
silêncio.
Drake
olhou
inquisitivamente a seu irmão enquanto o outro homem saía da casa.
Devon estava lendo um jornal, a gola de sua camisa aberta, seu cinzelado rosto enrugado com uma careta cínica.
- Notícias de Viena? - perguntou, apoiado contra a escrivaninha.
- Não - Devon olhou distraidamente. - Algumas poucas palavras sobre você, entretanto. Sabia que Maribela St. Ives está negociando com o conde de Chesleigh?
- Devon, não veio a minha casa para me passar os falatórios antes de ir para a cama. O que faz em meu sofá a estas horas da noite?
- Nada, de verdade. Jogava cartas com Gabriel no clube. Pensei que poderia ficar aqui esta noite se não se importa.
- Por que não está em sua própria casa? Deus, não me diga que há um marido enganado tentando caçá-lo.
Devon jogou o jornal e se levantou, esticando seus braços sobre sua cabeça.
- É por Emma, se quer saber a verdade. Não sei quanto tempo mais poderei seguir vivendo com essa mulher e sua academia. Tem toda minha casa cheia de garotas jovens a ponto de ser apresentadas. Está organizando uma festa simulada na casa para lhes ensinar as sutilezas sociais.
- Sua casa cheia de mulheres jovens? - Drake lhe dirigiu um sorriso zombeteiro. - Exatamente como isto é um problema?
- É um problema quando a pessoa é proibida de olhar, tocar ou incomodar - disse Devon de mau humor, afundando-se para baixo no sofá. - É uma absoluta tortura na realidade. Tira para fora todos meus baixos instintos.
Drake encolheu os ombros, afastando-se da escrivaninha.
- Então fique aqui. Vou para cama.
A voz de Devon o deteve na porta.
- Há outro rumor pela cidade sobre você - disse em uma voz mais sóbria.
Drake deu a volta.
- Ah, sim?
- Só dos homens no clube - disse Devon, olhando-o decididamente
incomodado. - Alguns estão fazendo apostas sobre quanto tempo durará sua nova amante.
- Isso não é nada novo.
- Não, mas alguns outros, não eu, que conste, apostam que esta é a mulher que vai levá-lo ao altar.
- Deixe-os apostar - disse, e saiu pela porta, seu rosto ligeiramente divertido.
Devon ficou olhando por atrás em um estado de choque. Essa não era a veemente negação que esperava. De fato, enviou-lhe um calafrio por debaixo de suas costas. Se tivesse feito um comentário similar só uns meses atrás, Drake o teria enterrado vivo. Mas agora... sentiu outro calafrio. Só Deus sabia onde se colocaram os irmãos de Devon ultimamente, quase todos eles estavam casados e felizes por isso, também. Seja qual fosse a doença, esperava pelo céu que não fosse contagiosa, e que Drake não apresentasse os sintomas dessa horrível enfermidade.
¨¨¨¨¨¨Ëloise passou os seguintes dias em um estado de agitada atividade.
Não sem razão, o Senhor Thomas tinha insistido em adiantar a data de seu casamento, o que significava que sua futura noiva tinha menos oportunidades para mudar de opinião. Tampouco havia tempo para enviar os adequados convites, ou inclusive para organizar uma recepção decente. É claro, a escolha da igreja St. George, em Hanover Square, estava fora de questão.
Como era de esperar, Lorde Thornton demonstrou não ser de nenhuma ajuda. Evitou Eloise como um caso de cólera, aparentemente convencido de que se só acidentalmente tropeçasse com ela, Boscastle, esquartejaria-o. Drake a interrogou a respeito dele as poucas vezes que ela foi capaz de reunir-se com ele durante esta frenética semana.
- Fala muito com você? - Perguntou-lhe enquanto davam um
passeio por uma livraria em Bond Street.
- Não me disse mais que duas palavras desde o baile - disse Eloise.
- Tudo o que lhe disse essa noite deve tê-lo assustado de morte.
- Não a tocou de algum jeito?
- Com certeza que não - ela riu, agachando-se debaixo de uma escada.
- Acaso quis?
Eloise parou.
- Como vou saber? Fica mudo quando entro em um aposento.
Ele a encontrou no outro lado da escada.
- Mas, seus olhos sugeriram que queria tocá-la?
Ela se apoiou sobre o mostrador circular, rindo de novo.
- Acho que ele estava olhando seus pés na última vez que olhei.
- E o que estava olhando você? - perguntou-lhe.
- A ele. - Sacudiu a cabeça como se percebesse que a tinha enganado para que dissesse. - Quero dizer que eu o olhava a ele olhando fixamente a seus pés.
Olhou além dela e de repente percebeu que um grupo de amigos se reuniram em um lugar para espiá-los. Franziu o cenho, e os jovens rapidamente recolheram seus livros e ficaram a folhear as páginas avidamente concentrados.
- Fomos descobertos - disse aborrecido.
- Sinto muito - disse ela, obviamente, não estando certa do que se referia.
- Tinha que acontecer. - Agarrou-a pelo cotovelo e a guiou para trás contra uma estante. - Na realidade, você foi descoberta.
Seus olhos se abriram debaixo da aba de seu chapéu.
- Fazendo o que?
Ele deu a volta sem prévio aviso. Cinco livros abertos se levantaram ao mesmo tempo para ocultar os curiosos olhares dos jovens que os
seguravam. Eloise olhou a essa audiência com diversão até que o frio olhar que Drake dirigiu ao quinteto os fez escapulir-se em todas as direções.
- O que foi isso? - Sussurrou. - Conhece-os?
- Por desgraça. Devem nos ter seguido até aqui. Não acredito que entre todos eles possam ler nem três palavras. - Tomou de novo o cotovelo e a acompanhou fora da loja para a rua.
- As pessoas sempre estão olhando-o desta maneira? - Perguntou ela, tentando olhar a seu redor para ver se tinham sido seguidos.
- Eles não estão olhando a mim - disse com irritação. - Têm a esperança de obter uma boa olhada da mulher que deslocou Maribela St. Ives.
- A mulher que...
- Você - disse-lhe, seu cenho franzido aprofundando-se. - Já foi descrita nos jornais.
- Eu? - ela perguntou, não soando de maneira nenhuma desgostosa como deveria. - Como fui descrita?
- Pensei que não estava de acordo com tal indecência.
- Não o faço - disse ela, abaixando o olhar quando um dos amigos de Drake saiu da livraria e a olhou.
Drake a levou para sua carruagem.
- Foi descrita como uma misteriosa jovem deusa que desafiou a supremacia de Hera e ganhou.
Ela começou a rir de alegria.
- Sério?
Seus olhos brilhavam afetuosamente.
- Sim.
- O que ganhei eu?
Ele desceu a cabeça à sua, então estreitou os olhos quando uma alta figura familiar cruzou a rua para eles.
- Não se vire - disse em voz baixa. - Só suba a minha carruagem e vire a cabeça para o outro lado.
Ela ficou tensa, sussurrando:
- Seu irmão outra vez?
- Pior. - Seu braço se apoderou dela com instintiva posse. Poderia estar disposto a jogar com seu primo Gabriel inofensivos jogos de rivalidade no passado, mas Eloise era diferente. Ela não era a filha de algum fazendeiro que estava tentando impressionar, ou uma corrida de sacos para ganhar. Concedeu a Gabriel um momentâneo olhar de reconhecimento, mas não foi suficiente advertência masculina para que seu primo desacelerasse seu ritmo.
- Vem ou vai, primo? - Gabriel perguntou amavelmente.
Drake manteve a mão com firmeza sobre o ombro de Eloise, exercendo pressão quando sentiu que ela queria olhar a seu redor.
- Acabamos de sair, Gabriel. Sentimos não ter tempo para conversar.
Gabriel sorriu.
- Bom, nesse caso, não deixe que o atrase. É um prazer vê-la de novo, senhorita Goodwin.
Ele olhou para baixo ao papel que estava dobrado em sua mão.
- Ou deveria dizer "deusa"?
- Não é seu assunto, Gabriel - disse Drake sem rodeios. Deu-lhe as costas deliberadamente enquanto sua carruagem rodava para recolhê-
los.
- Não quis dizer nenhuma ofensa - disse Gabriel com um sorriso malicioso. Observou Drake guiar Eloise para dentro da carruagem. - Só queria oferecer a ambos minhas felicitações.
CAPÍTULO 29
Eloise despertou antes do amanhecer na manhã do casamento de Thalía. Seu primeiro ato, depois de completar seu banho, foi tranquilizar-se porque não tinha desaparecido durante a noite. Thalía parecia tão complacente durante os últimos dias que Eloise tinha um pouco de medo para confiar nela. Mas aí estava ela, roncava de maneira irregular, em sua cama quando Eloise apareceu. Não havia outras bolsas embaladas com exceção do modesto enxoval de bodas junto ao armário.
Ela vai se casar, Eloise pensou com júbilo. Não achava que pudesse sentir-se mais aliviada se fosse ela mesma. O pequeno e intimo casamento iria se celebrar na residência de Lady Heaton ao meio dia na rua Cork. Não seria um evento complicado. Eloise se dava por satisfeita se o Barão e Thalía se cassassem na calçada da rua. Desde que a cerimônia acontecesse.
Thalía se negou ao desjejum. Chorou sobre sua xícara de chá e desejou em voz alta que sua mãe estivesse viva para ver este dia.
- Bom, querida - disse Eloise distraidamente - pelo menos seu irmão estará aí para te obsequiar. Estará representada como um membro de sua família.
Thalía se levantou da mesa, ainda vestida com seu penhoar.
- Acredito que eu, quase prefiro ter o lacaio do Freddie no recinto.
Foi mais como um irmão para mim do que Horacio.
Eloise se levantou com rapidez para atalhar a rebelião pela raiz.
- Essa não é forma de falar. De todo modo, Freddie e os outros criados já não são empregados do Senhor Thornton.
Thalía entreabriu os olhos.
- Estão trabalhando para Boscastle agora?
Eloise hesitou.
- Acredito que poderia ser.
- Pelo menos assistirá meu casamento, Eloise?
- Realmente não está claro, querida, mas irei se insistir. - De fato, Eloise se situaria no altar e recitaria a maldita cerimônia em sua cabeça se fosse necessário. - Agora, vamos. Temos só duas horas antes de a carruagem chegar para nos recolher. Seu irmão já se foi adiantando a nós para conceder-lhe privacidade para se vestir.
¨¨¨¨¨¨¨
Devon se serviu de uma xícara de fumegante café negro e olhou com curiosidade por cima da mesa para Drake.
- Não vai ao casamento, tenho razão?
Drake sorriu com malicia.
- Não. Dar uma surra no irmão da noiva provavelmente não seria apreciado.
- Não pensei que fosse. Odeia casamento tanto quanto eu.
Drake assentiu vagamente, Olhando através da pilha de cartas e convites sobre a mesa.
- Não é você que disse que se fez um suicida? - perguntou Devon familiarmente.
Drake cruzou os braços por trás da cabeça e olhou para o teto.
- Eu?
- O casamento, invariavelmente, faz às mulheres chorarem. Sempre perguntei por que. É o noivo que deve derramar lágrimas. A simples ideia do matrimônio me faz chorar. - Olhou com curiosidade a seu irmão como se provocasse uma resposta inapropriada. - Drake? - Lançou um olhar para Devon, com o sobrecenho franzido.
- O que?
Devon parou.
- Ouviu uma palavra do que acabo de dizer?
- Sim. - Drake lançou uma carta sobre a mesa. - O casamento faz querer chorar.
Devon sorriu desconfortável.
- Isso é. Em que ponto está de acordo com vigor e proclama seu desejo de permanecer solteiro para o resto de sua vida?
- Que horas são, de todo modo? - Drake perguntou, inquieto de repente e sem saber porque. Queria ver Eloise e sabia que ela estaria cumprindo com suas obrigações até o final do dia. Não o surpreenderia se essa maldita garota de Thalía insistisse em que Eloise a acompanhasse a ela e a seu marido em sua lua de mel.
Fincaria o pé nesse ponto. De fato, nunca foi tão paciente ou compreensivo com uma mulher antes. Não podia ser um bom sinal.
- Por certo - disse Devon, agitando uma colher no rosto de Drake -
Ontem à noite vi Maribela na Audrey com seu conde.
- Oh?
Devon sorriu.
- Enviou suas melhores lembranças e mencionou que poderia abandonar a Inglaterra na próxima semana.
- Bem está o que bem acaba. - Drake ainda não podia pensar na cortesã de cabelo de fogo como Mildred Hammersmith, ou que ela e Eloise tinham sido rivais e conspiradoras antes dele ter conhecido qualquer uma delas. Ela queria ser conhecida como Maribela St. Ives, e assim era como ele a recordaria.
Devon utilizou a colher da mesa.
- Também me disse que se recordasse que deve proteger Eloise ou do contrário...
Drake não respondeu. Devon deixou cair a colher com um estrépito.
- Grayson e Jane convidaram à família para jantar esta noite. Quer vir comigo e sair cedo antes que comecem as leituras?
- Não poderia ser capaz de fazê-lo absolutamente. - Drake alcançou sua jaqueta atrás dele. - Há algo que tenho que fazer.
Devon empurrou sua cadeira para trás, com gesto preocupado.
- Poderia ir com você. Não tenho planos para a tarde.
- Não - Drake já estava na porta. - Tenho que fazer isto sozinho.
- Fazer o que sozinho? - perguntou perplexo Devon ante o silêncio de sua resposta.
¨¨¨¨¨¨
- Céus! - exclamou Eloise, afastando-se da janela do salão. - A carruagem já está aqui e, Oh, parece que vai chover. Apresse-se. Não se pode chegar tarde a seu próprio casamento.
Virou-se ao perceber que estava falando sozinha. Thalía estava em pé atrás dela só uns minutos antes.
- Oh, onde está? - chamou-a impaciente pelo corredor.
- Estou aqui - disse Thalía em um sussurro nervoso, enquanto arrumava seu véu de renda frente ao espelho em pé do vestíbulo. -
Onde estão os lacaios de Thomas para atender-me? Não é apropriado que caminhe até a carruagem de meu casamento sem escolta.
- Não tenho nem ideia - murmurou Eloise, sua capa forrada de seda jogada pelo braço. - Por favor deixa de inventar coisas. Pode fazê-lo na casa de Lady Heaton.
Abriu a porta. O céu cinza nublado parecia pouco prometedor para um casamento, e um vento frio soprou uma folha de papel na cerca. Um homem a pé se apressou a tocar sua campainha.
Thalía deu dois passos para frente e franziu o cenho ao reparar que a carruagem estacionada era difícil de dirigir na rua. O cocheiro olhava à frente, com os ombros caídos contemplava o dia cinzento.
- É isso o melhor que pôde conseguir Thomas? Não é muito melhor que uma carroça de cerveja.
Eloise suspirou.
- Vai ter que considerá-lo depois do casamento. Vai dizer, se chegarmos a tempo. Tal vez esteja guardando sua boa carruagem para sua viagem ao campo.
Thalía tocava com a ponta do pé o branco cetim a cada passo.
- Por que meu irmão saiu tão cedo, de qualquer modo?
- Não o vi chegar a casa ontem à noite. -Eloise desviou o olhar. -
Não estou de todo certa de que hora chegou a casa. Vamos à carruagem ou não?
Thalía resistiu.
- O que acontece se Horace tiver começado a jogar de novo?
- Escute - disse Eloise em voz baixa. - Não importa. Deve começar uma nova vida como esposa e como senhora de campo. O Senhor Thornton deve sobrepor-se de seus vícios, ou se afundará.
- Quem me delatará se não aparecer? - Thalía perguntou.
- O tio do baronete estará lá. Creio que Lady Heaton entende que o comportamento de seu irmão não é sua culpa. - Eloise lhe deu uma cotovelada na porta.
O major Dugdale acabava de aparecer em sua casa e se aproximou rapidamente com um jornal na mão.
- Depressa. Esse velho fofoqueiro se encontra em nosso caminho.
Thalía levou sua mão ao pescoço nu com um ofego.
- O medalhão de minha mãe. Pensava usá-lo em sua memória.
- Pegaremos depois da cerimônia - disse Eloise. - Estou certa de que sir Thomas não se importará de passar por aqui.
- Não - disse Thalía com lágrimas nos olhos. - Quero agora. Quero saber que ela está comigo hoje.
Eloise olhou ao major Dugdale, logo tomou o braço de Thalía e a arrastou para dentro da casa. O Major esmurrou a porta. Thalía correu escadas abaixo. Eloise começou a passear pelo corredor.
- Apresse-se -murmurou. - Sei que vai chover, e levará uma eternidade para chegar. Por favor apresse-se. Encontrou-o?
Não houve resposta. O Major parecia haver se dado por vencido e voltou para sua casa. Ouvia Thalía no piso superior puxando as gavetas, falando consigo mesma.
Uma porta se fechou em direção ao quarto do Senhor Thornton.
Depois, houve um silêncio.
- Thalía? - chamou Eloise, virando-se para a escada. - O relicário estava em seu toucador esta manhã. Olhou no chão?
Silêncio de novo. E então, o que foi esse som? Um grito? Oh, Deus misericordioso! O que tinha acontecido agora?
Eloise hesitou e depois subiu as escadas para o quarto de Thalía. A porta estava fechada, mas ela podia ouvir Thalía em movimento. Bateu até que a porta se abriu suavemente.
- O que em nome de...
Sabia antes de terminar que algo andava mal. O quarto estava em ruínas, não em sua habitual situação desordenada com os quadros e o traje feminino. Thalía estava em pé junto à cama, com uma expressão de horror e silêncio em seu rosto. O véu de renda jazia no chão, e as lágrimas deslizavam por suas faces cinzentas.
Eloise começou a aproximar-se dela, continuando, um movimento atraiu seu olhar ao espelho de corpo inteiro do canto. A imagem refletia um homem escondido atrás da porta. Um sorriso zombeteiro iluminando seu rosto enquanto seus olhos se encontraram com os dela. Uma faca brilhou em sua mão.
Eloise lançou a Thalía um olhar tranquilizador, embora seu coração pulsasse com força pelo medo. Elas eram duas contra um só homem, pensou. Tinham que manter a calma. Ela não permitiria que Ralph Hawkins machucasse a esta garota.
- Um grito de qualquer de vocês - disse Ralph, que se adiantou para fechar a porta - e farei que você e seu cordeirinho o lamentem, Ellie.
Thalía tremia em seu fino vestido de musselina branca. Ergueu os olhos com incredulidade para Eloise.
- Conhece este monstro? Deixou-o entrar? É você que o está escondendo aqui?
- É claro que não - disse Eloise, sem mover-se.
- Conhece-me? - Ralph sorriu com uma descarada malícia para Eloise. - Se me conhece? Ellie e eu íamos casar uma vez. Éramos um casal de conto de fadas. Ela prometeu ser minha esposa, não é assim, meu amor?
- Eloise? - Thalía sussurrou com voz temerosa. - É verdade?
- Mas não se casou comigo, verdade Ellie? -Ralph continuou, sem olhar para Thalía. - perdeu a cabeça.
Retrocedeu Eloise para a parede antes que pudesse responder.
Sua voz foi aumentando. Pela extremidade do olho viu Thalía tampar os ouvidos para se separar de sua mente as palavras.
- Arruinou minha vida - disse Ralph, com a boca torcida - Zombou de minha dignidade. - Grossos pingos de chuva começaram a correr pelos vidros das janelas. A temperatura parecia descer vários graus.
- Se não fosse um homem zombaria de você - ela disse com uma calma que desmentia seu acelerado coração. - Se sua vida está arruinada, você tem a culpa. e não tem nada que ver com uma jovem mulher que nunca conheceu.
- Não sou digno de cuspir em ninguém em casa - Disse isso. - É
sua culpa.
Empurrou-a contra a parede, com as mãos lhe segurando os ombros.
- Não tem que deixar que isto arruíne sua vida, - sussurrou enquanto seus dedos se apertavam ao redor de seu colo. A veia na garganta pulsava com força. Sabia que classe de homem era. A pesar de suas maneiras selvagens nem Drake nem nenhum de seus irmãos nunca faria mal ou ameaçaria uma mulher.
- As pessoas riam de mim - disse Ralph, com o rosto avermelhado pela ira. - Não pude trabalhar durante anos depois. Tive que mudar meu negocio. Quem vai contratar um homem que foi envergonhado por duas
mulheres? Inclusive os garçons puseram-se a rir quando entrei na taverna para tomar uma cerveja. Onde está sua tabuleta, Ralph? -
diziam. - Algum pedaço de carvão na cama hoje?
A chuva golpeava com mais força as janelas. Eloise se perguntou quanto tempo esperaria o cocheiro lá fora. Não lhe criaria suspeitas?
Bateria a porta? Não iria querer sentar-se fora na chuva por muito tempo. Por que estava ansiosa por ignorar o major Dugdale? Sem duvida, a ansiedade de Sir Thomas aumentaria quando Thalía não se apresentasse na casa. Mas o mau tempo atrasaria o tráfego nas ruas.
Entenderia e esperaria. Ele seria paciente e estaria disposto a esperar durante horas.
A voz de Ralph a tirou de seu transe. Seus dedos calosos escavavam em sua pele estreitando-a com força.
- Passei anos imaginando este momento, imaginando seu perdão pelo que me fez. Você gosta de limpar urinóis? É isto uma vida melhor que a que eu lhe poderia dar?
Ela encontrou o olhar de Thalía no espelho, enviando a jovem uma mensagem silenciosa para que fosse forte.
- Eu não limpo urinóis. - Levou as mãos lentamente entre seus braços estendidos, e depois as pôs em seus pulsos e o empurrou no peito. - Corre, Thalía! Saia da casa agora.
Seu empurrão desequilibrou Ralph, mas infelizmente não o suficiente para fazer algo melhor. Thalía vacilou e logo jogou o fecho a porta. Ralph estendeu seu braço e a pegou pelo abdômen para apanhá-
la através da extensa cama.
Levantou a faca com a outra mão e a apertou contra a garganta de Eloise. Engoliu lentamente. Por que hoje? Este seria o começo de uma nova vida para Thalía. Afastou o olhar da visão da jovem chorando em silencio na cama.
- Como pôde? - perguntou indignada com voz profunda que soou
muito mais forte do que ela sentia. - É o dia de seu casamento. Supõe que neste preciso momento teria que estar casando.
Levantou o queixo, zombando dela.
- Se supunha que nós estaríamos casados. Não parecia preocupada em perder o dia de nosso casamento.
- Daremos-lhe dinheiro - sussurrou Thalía, levantando-se sobre um cotovelo. - Meu irmão lhe dará tudo o que deseja.
- Quero recuperar meu orgulho - cortou uma fina linha do ombro do acolchoado vestido de cetim azul pálido de Eloise até os babados da manga.
Ela fechou os olhos. Não havia armas na sala. Havia colocado a pistola que tinha tirado da sala de Senhor Thornton quando voltou para casa; Horácio tinha partido presumivelmente à casa de Lady Heaton. E
havia dito a Drake que não podia vê-lo até depois do café da manhã do casamento. Ele tinha prometido que uma vez que ela e Thalía tivessem dado adeus, deixaria atrás sua vida anterior e lhe daria toda a atenção que exigisse.
Certamente alguém viria.
Mas não a tempo.
Seus botões estavam espalhados pelo chão.
- Solte seu cabelo, Ellie - disse, com a ponta da faca imersa entre o calor de seus seios. O metal frio a surpreendeu.
Sem querer ela abriu os olhos. Seu olhar se dirigiu de novo a cama.
Thalía tinha escondido o rosto entre as mãos, sem dúvida, muito aterrorizada para tentar uma fuga.
Ralph a empurrou, ao pressionar a folha contra seu peito. Seu cabelo, havia dito. Levantou os braços, seus movimentos tão rígidos, como uma marionete. Levava os alfinetes passados de moda de uma tia avó de Thalía que lhe estavam cravando no couro cabeludo, mas mantinha seus cachos indomáveis em seu lugar.
Tirou-os lentamente, um por um. Suas pontas cravariam as palmas das mãos, mas não iria funcionar como uma arma.
- Agora, o vestido - disse Ralph, respirando com dificuldade. - O
vestido - repetiu. As duas palavras ressoaram na sala Se sentia como se estivesse sonhando. Não. Isto era um pesadelo. Ela deveria assistir uma cerimônia de bodas neste momento, depois fiscalizaria o café da manhã tradicional que aconteceria. Champanha e fatias muito finas de delicioso presunto rosado, risadas e felicitações. Ela e Thalía não tinham comido nada em toda a manhã, muito nervosas e apressadas. Tinha um nó no estômago agora, mas não de fome. Pôs seus dedos ao redor da brilhante mariposa do grande broche que a tia de Thalía tinha deixado à Eloise depois de sua morte. O passador deslizou livre. Ajude-me Udela, sussurrou em silencio. Você me deixou este broche por alguma razão.
Mostre-me o que fazer com ele.
CAPÍTULO 30
Parado na soleira da porta de sua casa, Drake olhava a rua úmida e açoitada pelo vento, perguntando-se o que estaria fazendo Eloise nesse preciso momento. Vigiando Thalía para assegurar-se que esta chegasse até seu noivo? Ou estava se protegendo de Horace Thornton? A única coisa que Thornton precisava era uns poucos goles e um entorno sentimental para debilitar-se novamente. Possivelmente Drake deveria fazer uma aparição de surpresa.
Mas era um dia espantoso para um casamento, e inclusive pior para uma caminhada ou um passeio a cavalo pelo parque. Entretanto, era um dia perfeito para fazer amor em uma cama cômoda com a mulher que desejava.
Maldição. Não podia deixar de pensar nessa mulher. Ela não tinha ideia do muito que lhe custava renunciar a ela inclusive por este último pedido. O sacrifício nunca fez parte de sua natureza. Necessitava-a, e ao diabo com as obrigações dela. Mas esse era outro sintoma que indicava como estava mudando, o fato de que lhe desse tempo para cumprir com o que ele considerava um dever sem sentido. O dever dela deveria ser para com ele.
Por que tinha que ser uma mulher tão obstinadamente leal e confiável? Inclusive enquanto considerava a questão, sabia que o caráter de Eloise era exatamente o que tinha feito com que se apaixonasse por ela. Bom, uma de tantas outras coisas. E de repente percebeu que os Boscastle escolhiam suas parecerias a partir de certo profundo instinto que não era tão infeliz como parecia.
Estava apaixonado. De que outro modo, em nome de Deus, podia explicar o fato de estar parado sob a chuva como um idiota a quem não lhe importava a imagem que oferecia às pessoas que, sensatamente, corria em busca de amparo?
As gotas de chuva caíam sobre ele e lhe molhava o cabelo negro
brilhante, o rosto, os largos ombros. A chuva lava os pecados?
Perguntou-se, rompendo em um arriscado sorriso. No que estava pensando há uns instantes?
Era um dia precioso para um casamento.
Virou-se e quase derrubou Freddie, quem aparentemente estava parado preparado para oferecer a Drake seu sobretudo.
- Por que não está no casamento da senhorita Thornton, Freddie? -
perguntou-lhe, introduzindo os braços nas mangas do casaco que lhe ofereciam.
- O pessoal decidiu que era mais necessário aqui, milorde. Além disso, servir a todas essas damas fofoqueiras nunca poderia ser tão divertido como servi-lo. Vai sair? A certo domicílio da rua Bruton possivelmente?
Drake deixou que um sorriso lhe curvasse a boca.
- Receio que terei que te desiludir se esperava ver o lado mais escuro da vida a meu lado. Esses dias passaram para mim.
Freddie respondeu a essa enigmática observação com um sorriso um pouco confuso. Estava claro que o moço não tinha conseguido captar a importância do que Drake lhe acabava de dizer.
- Guie-me para a escuridão ou para a luz, milorde - replicou de forma diplomática. - Servirei-lhe bem.
- Então comece por fazer com que tragam minha carruagem. E peça a Quincy que me prepare um traje formal para quando retornar.
Freddie abriu os olhos com antecipação.
- Milorde vai assistir a um acontecimento especial esta tarde?
Drake esboçou um sorriso demoníaco.
- Um casamento.
Freddie pareceu desiludido.
- O da senhorita Thornton, imagino.
- Não, meu casamento, moço. Agora se apresse antes que ambos
fiquemos molhados como um par de ratos de porto. Está chovendo, se por acaso não notou.
¨¨¨¨¨¨
Devon voltou para a casa da cidade de Drake no mais intenso da tormenta. Tinha estado ocupado em outras prazerosas atividades com certa jovem dama de Paris. De fato, ele e a mademoiselle, Oh, tão bem disposta, estavam no meio de um promissor passeio em carruagem sob a chuva quando Weed, o solícito lacaio principal de seu irmão mais velho, o marquês de Sedgecroft, tinha-os interrompido.
- Agora não, Weed - disse ao lacaio, lançando-lhe um olhar significativo através da porta da carruagem, enquanto sua jovem tentadora francesa se aninhava contra ele para conservar o calor. Seus pequenos e firmes seios lhe esfregaram o braço. - Estamos conversando.
Com sua alta figura em seu casaco, Weed nem se moveu e entregou a Devon uma nota dobrada da parte de Grayson. Depois ficou olhando a chuva enquanto Devon lia a nota em silêncio.
Os mais velhos se reuniram e decidiram que era preciso observar Drake devido a sua conduta mais que peculiar. Como costuma estar em contato com ele, nomeamos você para esta tarefa.
- "Conduta mais que peculiar” - resmungou exasperado. A nota tinha ar de emergência, e certamente destruiu suas esperanças de uma sedução acompanhada de chuva. Não podia discutir, mas o que Grayson e seus dois irmãos mais velhos, Heath e Emma, aliás "os mais velhos", temiam que Drake fizesse? Achavam que poderia voar os miolos como tinha feito o pobre Bertie Potter há um mês? As possibilidades fizeram com que se esfriasse seu desejo.
Meia hora mais tarde, cruzava rapidamente a rua em direção à casa de Drake, com tal pressa para evitar molhar-se que quase derruba o homem parado na porta. Era Evan Walton, o detetive de Bow Street e
amigo próximo da família. Um só olhar ao rosto carrancudo e preocupado de Walton bastou para que se preparasse para o inexprimível.
- Enviaram-no aqui também? - perguntou-lhe, esforçando-se para falar face à enorme pressão que sentia na garganta. Não deveria ter deixado que Drake escapasse antes. Sabia que seu irmão tinha algo em mente. - Chegamos muito tarde?
- Muito tarde para que? - Walton parecia mal-humorado, o que era compreensível já que por seu aspecto molhado parecia que esteve batendo na porta durante certo tempo. Jorrava água até de seu colete escarlate.
Devon nem se preocupou em seguir o protocolo. Abriu a porta sem esperar que o atendessem e guiou rapidamente ao detetive ao interior da casa. Nem tampouco se preocupou em desculpar-se antes de revistar o estúdio e depois o salão do andar superior em busca de Drake. Quatro minutos depois, descobriu que todos os criados da casa estavam reunidos na antecâmara de Drake.
- Meu deus - murmurou sombriamente, parando na soleira da porta.
- Acredito que cheguei muito tarde. Estão todos reunidos ao redor de sua cama para lhe apresentar seus últimos respeitos.
Exceto que os criados ocupados na ampla e arejada estadia pareciam algo menos que respeitosos. O valete de Drake, Quincy, assobiava uma toada ligeira enquanto preparava um conjunto de roupa formal sobre a cama recém feita. Uma criada ia daqui para lá com um pano para limpar e cera de abelha. Outra arrumava um buquê de flores de estufa em um vaso Wedgwood como se fosse uma artista cuja vida dependesse do resultado.
- Que diabos está acontecendo aqui? -perguntou, recuperando a compostura.
- Oh, Lorde Devon - exclamou a criada de peito generoso sobre sua
obra mestra floral quando o viu. - Não é a notícia mais emocionante do mundo?
Ele olhou para o leito, sobre o qual evidentemente não descansava o corpo sem vida de seu irmão. Mais ainda, ninguém no aposento parecia pesaroso o mínimo, de fato, todos tinham um aspecto decididamente alegre.
Sua alegria tão pouco natural deveria lhe haver dado um indício.
Pelo contrário, Devon sentiu o arranhão do medo no centro de seu despreocupado coração.
- Que notícia? - inquiriu a sorridente criada, fazendo, finalmente, provisão da coragem necessária para entrar no aposento.
Ela empalideceu e lançou ao valete um olhar ansioso.
- Não era um segredo, não?
A boca de Quincy se ergueu em um sorriso.
- Aparentemente não, já que foi um simples lacaio quem me deu a notícia e não o senhor.
- Que notícia? - repetiu Devon, apoiando o quadril contra o poste da cama. Não se tinha desmaiado nem sequer quando teve que imobilizar um amigo para que lhe pudesse amputar o dedo de um pé durante a guerra, mas poderia desmaiar como uma virgem agora se o que suspeitava era certo.
- Lorde Drake vai se casar - informou a criada, ocupada limpando.
- Casar? - repetiu ele com voz desolada. -Com quem?
- Bom, com sua amante, é claro - replicou ela. - É quase uma de nós. É tão bela... Não vai ao casamento? - A mulher tagarelava tanto que Quincy lhe lançou um olhar turvo para sossegá-la.
- Não teria ido nem que me houvessem convidado - murmurou aturdido.
Retirou-se do aposento como se estivesse poluído com a praga. E
bem poderia ter sido. Seus irmãos estavam sacrificando suas almas
pecadoras ante o altar do matrimônio como moscas. Deus não permita que seja contagioso! Sentia-se como se estivesse sustentando uma caixa de sal perfumado contra o nariz com uma mão e uma Bíblia contra o coração com a outra.
Desceu a escada rapidamente. Sua primeira tarefa seria informar aos mais velhos. E não sabia que diabos faria depois. Provavelmente colocar a cabeça em um balde de vinho durante uma semana ou esconder-se na casa de Audrey.
Walton passeava ao pé da escada.
- Encontra-se disponível Lorde Drake, milorde? - perguntou asperamente.
- Não para nós - replicou Devon.
O homem franziu o cenho.
- Em tal caso, darei-lhe minha informação. Confio que notificará a seu irmão em forma direta o que vou revelar lhe.
Devon ouviu o rumor distante do trovão e pensou que era um acompanhamento de fundo adequado para o casamento de Drake.
Deveria haver morcegos no ar e ataúdes que se abriam em todos os cemitérios de Londres. Seu irmão e melhor amigo bem poderia estar morto para ele para sempre.
- Que informação, Walton?
- Parece que Ralph Hawkins não se foi de Londres na realidade.
Outro homem subiu na diligência em seu lugar. Nós não sabíamos, mas Hawkins conseguiu um pouco de dinheiro e pagou que devia. Pensei que Lorde Drake devia estar a par disto.
- Sim, direi imediatamente. - Isso, imediatamente depois de enviar uma mensagem a Grayson para alertá-lo sobre uma crise familiar, e se pudesse encontrar Drake.
Devon não tinha intenção de ir ao casamento de seu irmão.
Provavelmente romperia em pranto como uma dama de honra se tivesse
que ver como punham a armadilha a seu companheiro de pecado preferido.
¨¨¨¨¨¨
Foi o desacostumado toque dos dedos pesados do Ralph sobre seu peito que penetrou na bruma de horror paralisante que sentia Eloise.
Cravou-lhe o pulso, três vezes, e lhe abriu uma ferida rasgada em um lado do pescoço com a ponta dobrada de seu broche com forma de mariposa. Tinha-o ferroado na orelha quando finalmente ele reagiu, lhe dando um murro no rosto.
Ela se agachou e levantou os braços para proteger-se de seus golpes.
- Vá, Thalía, agora! Por amor de Deus, saia da casa enquanto pode!
Deveria saber que a moça não necessitava de suas indicações. Por uma vez, Eloise ficou contente. Thalía se lançou da cama e pegou um pesado urinol de cerâmica com ambas as mãos. Lançou-o à cabeça de Ralph com os olhos fechados e depois passou a golpeá-lo no ombro com o pesado recipiente.
- Eloise nunca limpou urinóis! - gritou, abrindo finalmente um olho.
Ele retrocedeu, com pedaços da cerâmica quebrada no cabelo.
Caía-lhe sangue da orelha pelo pescoço. Eloise engoliu saliva e cravou no ombro para completar o castigo. Ele a amaldiçoou e voltou a esgrimir a faca.
- Não se atreva! - ameaçou-o Thalía entre dentes, uma valquíria em traje de bodas. - Não se atreva a tocar a roupa da senhorita Goodwin assim de novo!
Ele se lançou sobre ela com um rugido selvagem.
- Mostrarei ao que me atrevo, pequena bruxa. Mostrarei às duas...
A porta. Havia alguém na porta. Eloise teve medo sequer de olhar ao redor, rezando para que o tamborilar que provinha de baixo não fosse a chuva, nem sequer o cocheiro, que certamente não seria tão valente
para entrar na casa sozinho. Estava rezando, quando o tamborilar parou abruptamente, o que não significava que quem estivesse ali se foi.
CAPÍTULO 31
Drake não imaginou que passasse algo mau dentro da casa. O
cocheiro molhado se queixou do tempo, das mulheres, e do casamento em geral. Drake mesmo não sabia exatamente a que hora iria começar a cerimônia. Não tinha prestado atenção quando Eloise lhe falou. O único que lhe tinha importado era que depois poderia tê-la só para ele. Não lhe parecia nada incomum que a cerimônia não começasse a tempo.
Thalía não seria a primeira noiva a chegar tarde em seu casamento.
Em geral, não teria dedicado um segundo pensamento ao fato de que se estivesse demorando. Mas ele tinha seu próprio casamento para ir. A licença especial que tinha conseguido a caminho estava segura no bolso de seu colete.
A porta de entrada à casa de Thornton estava fechada com chave e ninguém respondeu a sua saudação. Pediu a Freddie que esperasse fora na carruagem. Se Eloise ainda insistisse em assistir ao casamento de Thalía, também poderia acompanhá-la ele mesmo. Dessa maneira poderia fazê-la desaparecer como por arte de magia no momento em que trocassem os votos.
- Eloise? - Gritou de novo ante a casa silenciosa.
A tormenta amainou, embora o ligeiro tamborilar da chuva no teto amplificasse o silêncio que o recebeu. Sacudiu seu casaco molhado e se dirigiu para o salão.
- Onde estão todos? - murmurou.
Um ruído no piso de cima, o ruído surdo de um objeto fazendo-se em pedacinhos, parou em seco. Poderia ter sido Thalía em meio de um arrebatamento de mau gênio, mas seus instintos lhe disseram que não era isso.
Correu escada acima, primeiro para o quarto de Eloise. Um olhar ao interior lhe revelou que estava ordenado e pronto. Outro golpe surdo o levou pelo corredor, até a porta fechada de um dormitório. Estava tão
concentrado em chegar a ela que não reagiu ante a voz familiar chamando-o de baixo, aos passos no corredor da entrada.
- Eloise? - gritou. - Thalía? Maldição, me respondam! Estão aí? -
pareceu-lhe ouvir um grito abafado. Puxou a maçaneta da porta várias vezes, parando em pânico.
A porta estava fechada. Lançou seu ombro contra ela, ouviu o rangido das dobradiças, e o grito de uma mulher pedindo ajuda do interior. Outro ombro uniu suas forças a ele. Olhou com agradecimento o rosto preocupado de seu irmão mais novo.
Devon ficou olhando.
- Maldição, quase me matei para chegar aqui.
- Estou feliz de que o tenha feito - disse Drake, sua mandíbula tensa.
- Preparado?
Devon assentiu com a cabeça.
- Um, dois...Três.
A porta estilhaçada se abriu ante sua força combinada, os painéis se rasgaram em partes irregulares. Drake não tinha nem ideia do que esperava encontrar, o instinto o guiava. Abrindo caminho entre a abertura dentada, atravessou a soleira para o interior do quarto. O
coração lhe pulsava com a força suficiente para sentir suas pulsações através de todo seu corpo.
E se algo tinha acontecido à Eloise, seu coração poderia também deixar de pulsar, porque já não tinha nenhum maldito sentido sua vida sem ela. Acaso não tinha querido que ela ficasse com ele hoje? Se a tivesse perdido, se tivesse chegado muito tarde, bloqueou essa possibilidade de sua mente.
Seu olhar procurou pelo quarto. Onde estava ela? Onde estava ela?
Ali, junto à cama com Thalía. Ele assegurou a si mesmo que ambas pareciam estar bem, embora claramente angustiadas.
Seu rosto se endureceu quando ele dirigiu sua atenção à figura mal
vestida que estava se afastando dele para a janela. Por um momento saboreou o temor que brilhou nos olhos do outro homem. Ralph Hawkins. Traidor de mulheres. Chantagista. A pior classe de covarde.
O homem tinha uma boa razão para ter medo. Drake não fez nenhum esforço para dissimular os impulsos homicidas que sentia. Pela extremidade do olho viu Eloise colocando um broche de mariposa de novo em seu vestido. Seu rosto estava pálido à exceção de uma marca de cor vermelha viva na maçã do rosto. Ralph a tinha golpeado.
O grande bode lhe tinha deixado um hematoma no rosto.
Drake ficou louco. Empurrou Ralph, fazendo-o cair de joelhos antes que Devon pudesse apressar-se a tirar as duas mulheres do quarto.
Sempre foi um lutador justo, ao menos, dava a seus oponentes uma oportunidade decente, mas isto implicava Eloise, e o animal rasteiro no chão a tinha machucado. Golpeou a cabeça de Ralph contra o chão em um frenesi de vingança, quase temeroso da violência que sentia.
Ralph estava gemendo incoerentemente, já não tentava nem era capaz de brigar. Drake ouviu Eloise chamando-o através de sua fúria cega. Mas tinha a intenção de terminar isto até que o homem em baixo dele estivesse morto ou já não pudesse mover-se. Seu sangue estava em chamas com a necessidade de vingar a sua mulher.
Teria alegremente despachado Hawkins ao inferno se uma mão pesada, mas com cautela, não tivesse caído sobre seu ombro.
- Lorde Drake? - disse Evan Walton em voz baixa.
Não queria parar. Não queria que o acalmassem ou escutar à razão.
Queria purgar todo o selvagem dentro dele neste único ato de vingança.
Queria...
- Lorde Drake - disse Evan Walton outra vez, sua mão firme, mas não autoritária. - Encarregarei-me disto a partir de agora. Você tem que ir a um casamento, não?
¨¨¨¨¨¨
Drake meio esperava achar Eloise e Thalía com uma histeria compreensível quando saiu ao corredor. Mas Devon, bendito seja seu encanto, tinha acalmado-as.
Olhou fixamente para Eloise, temeroso de lhe perguntar se tinha chegado muito tarde, se Ralph tinha levado sua vingança muito longe.
Ela penteava o cabelo de Thalía um cacho dentro de cachos e reordenava o véu da garota ao redor de seu rosto pálido. Sua amante sensível e prática. Pensou que podia estar mais alterado que ela.
Ela parou e entrou em seus braços quando o viu, sabia pela forma como ela tremia que só estava ocultando o que sentia. Ele a pegou e fechou os olhos, sua voz rouca de emoção.
- Feriu-a?
- Não - sussurrou, afundando o rosto em seu peitilho úmido.
Ele suspirou em seu cabelo. Seus pensamentos não se apaziguavam. Graças a Deus tinha chegado a tempo. Graças a Deus que ela e Thalía tinham estado juntas. Rogou a Deus que não tivesse o sangue de Hawkins em sua jaqueta, que não manchasse seu vestido.
Ela não teria tempo de trocar-se, e ele não queria esperar mais do que o necessário para casar-se com ela.
- Tem certeza de que não a machucou? -perguntou com urgência.
Ela assentiu com a cabeça, e ele poderia ter voltado com muito gosto a esse aposento para arrancar o coração de Ralph quando ouviu o tremor em sua voz, que não pôde controlar. Sentia que ela estava fazendo seu melhor esforço para manter a compostura, mas estava mais caída do que jamais a tinha visto. Mal podia impedir que sua própria ira voltasse a surgir. Ardia até em seus ossos.
- Assustou-nos, isso é tudo - disse ela. - Mas estávamos atrasadas...
Ele dirigiu um sorriso para ela.
- Sei. Para um casamento.
Olhou-o com surpresa. Ele estudou seu rosto com preocupação. Um
pequeno hematoma já se via em sua face, arroxeado e azul sobre sua pele cremosa. Queria continuar segurando-a contra ele, nem tanto para tranquilizá-la como a ele mesmo.
- Decidiu ir ao casamento? - perguntou ela com cautela.
- Sim. Ao nosso - no momento em que pronunciou as palavras, sabia que era a melhor decisão que jamais tinha tomado e que nunca se arrependeria.
- O nosso? - olhou-o como se tivesse ficado completamente louco. O
que poderia ser. Mas era uma loucura bem-vinda, em contraste com seu costumeiro estado de ânimo.
Thalía e Devon o estavam olhando, também. Ele sorriu de novo, sentindo-se como um idiota. Distraído passou a mão pelo cabelo despenteado. Não estava acostumado a esta sensação de insegurança.
- Estou malditamente horrível? Sinto muito.
Eloise mordeu o lábio inferior. Seus olhos brilhavam de lágrimas.
- Está malditamente belo, se me permite dizer - disse ela com voz entrecortada, e Drake lhe teria beijado as lágrimas ali mesmo se não tivesse sido por seu impressionado público.
Devon tossiu atrás de seu punho.
- Não poderia estar mais de acordo, Drake. Nunca esteve mais encantador em sua vida.
Drake começou a rir aborrecido. Ele nunca se rebaixaria a admitir a seu irmão o muito que apreciava seu apoio. Suspeitava que o cafajeste soubesse.
- O que está fazendo aqui, de todo modo? Sempre está aparecendo onde não é convidado.
- Os mais velhos me mandaram espioná-lo, - disse Devon a contra gosto. - Não tem nem ideia de como corri.
- Os mais velhos o enviaram comigo outra vez? - o olhar de Drake passeou de novo sobre Eloise enquanto escapava dele para guiar Thalía
à ao andar térreo. Os assuntos familiares teriam que esperar. Esperava que Grayson o entendesse. - O que esperavam que encontrasse? -
perguntou em voz baixa, mais curioso que zangado.
- Tinham medo de que estivesse a ponto de fazer algo perigoso -
admitiu Devon vacilante. - Está?
Drake encontrou o olhar de preocupação de seu irmão.
- Eloise e eu vamos nos casar.
Devon cambaleou para trás contra a parede com horror.
- Oh, Meu deus, tinham razão.
- Nenhum abraço fraternal para me felicitar? - perguntou Drake secamente.
- Deve estar brincando - Devon levantou as mãos para o sinal da cruz, para proteger-se de um mal supremo. - Afaste-se de mim. Não quero me poluir.
Drake negou com a cabeça, divertido, e se voltou para a escada.
- Provavelmente vai ser o próximo, idiota. Se pode passar a mim , pode passar a qualquer um.
Devon o seguiu até o corrimão.
- Não conte com isso. A única maneira de me casar é sob ameaça de morte iminente.
- Uma possibilidade - replicou Drake, sorrindo com rudeza.
- Prefiro ser enterrado vivo.
- Isso é o que disse eu não faz muito tempo.
Devon apoiou os cotovelos sobre o corrimão.
- Não é muito tarde. Poderíamos escapar para a costa.
- Ouvi isso - o depreciativo comentário de Eloise flutuou do vestíbulo de baixo.
- Meu deus! - exclamou Devon. - Imagine ela e Emma juntas na mesma casa? A vida será absolutamente insuportável.
Drake fez uma pausa na parte inferior da escada.
- Me faça um favor. Não conte aos mais velhos ainda.
- Por que não? Dificilmente pode manter seu casamento em segredo.
- Poderia, pelo menos, por um par de horas, caso pudesse ficar calado durante todo esse tempo
Drake viu Eloise acompanhar Thalía até a porta.
- E sobre um padrinho? - perguntou Devon em voz alta.
Drake indicou à Eloise que esperasse por ele. Pobre Devon parecia tão perplexo que sentia pena por ele. É claro, Devon se reporia de sua miséria de noite. A vida continuava.
- Freddie, o lacaio, pode atuar como seu representante.
- Ao diabo, Drake. A família vai me matar se não o disser. Põe-me em uma posição infernal.
¨¨¨¨¨Änte o assombro de Eloise, e provavelmente do noivo ansioso, mas paciente, o casamento de Thalía se desenvolveu sem problemas depois de seu atraso inicial. Nenhum dos poucos convidados comentou o fato de que o véu de bodas da noiva pendia torcido ou que ela tinha irrompido da tormenta com quase duas horas de atraso para apresentar-se à cerimônia.
Ninguém tampouco teria pensado que a brilhante moça que repetia os votos, acabava de golpear com um urinol a um homem vil na cabeça para salvar a sua amada acompanhante.
A acompanhante certamente nunca o diria. Sir Thomas indicou uma e outra vez que Thalía estava radiante. O mesmo fez seu irmão, Lorde Thornton, que fez sua própria aparição tardia uns minutos depois de Thalía. Chegou acompanhado por uma formosa dama embora um pouco madura, a que apresentou como sua noiva. Confiou à Eloise que a tinha conhecido nos jardins de Vauxhall na noite anterior e tinha se declarado no ato.
Eloise mal teve um segundo para felicitá-los por seu compromisso repentino e beber duas taças de champanha, antes de Drake a tirasse apressadamente da casa. Ela posou um último olhar sobre Thalía parada junto a seu novo marido. Thalía olhou ao redor de Thomas para vê-la e lhe sorrir. Devolveu-lhe o sorriso.
- Dever cumprido - sussurrou Eloise. - Deus abençoe a ambos.
A chuva tinha cessado. Fracos raios de sol emitiam um brilho sobre os paralelepípedos da rua. Eloise secou os olhos. Drake a olhou, preocupado. O hematoma em sua face escureceu.
- Ele nunca voltará a aproximar-se de você outra vez, Eloise - disse.
- Jamais permitiria que algo lhe acontecesse.
Ela suspirou delicadamente.
- Não é isso. Ou possivelmente é. Alegro-me por Thalía. Sir Thomas a ama o suficiente para passar por cima todos seus defeitos. Acredito que terão uma boa vida juntos.
- Acredita o mesmo de nós?
Estudou seu rosto duro e masculino. Tinha visto antes um olhar mais sério em seus olhos? De repente, estava sobressaltada com o que sentia por ele, ao perceber que queria casar-se com ela. Era o que tinha esperado, é claro, e agora tinha que permitir-se acreditar.
- Não estava certa de que o dissesse a sério. Pensei que talvez tivesse se deixado levar quando veio a meu resgate.
- Deixei-me levar no momento que a conheci - olhou à rua, sua voz profunda pela emoção. - Não lhe teria feito uma proposta de matrimônio a menos que quisesse. E não tem nada a ver com o fato de encontrá-la em perigo. Já estava a caminho de lhe fazer uma proposta.
- Na realidade, jamais me fez uma proposta, pelo que lembro. Mais ou menos disse que iriamos nos casar e isso foi tudo.
Ele saiu à rua para ver uma carreta de feno passar diante deles.
Não estava certa se ele se sentia desconfortável discutindo seus
sentimentos ou se algo o tinha distraído. Mas claramente, de repente já não estava lhe prestando toda sua atenção. O que tinha mudado seu estado de ânimo nos poucos momentos que conversaram?
- Onde foi minha carruagem? - murmurou.
Eloise se inclinou sobre seu ombro.
- Há uma carruagem virando a esquina agora.
- Isso não é uma carruagem - disse Drake. Empurrou-a de volta ao pavimento. Um veículo elegante com um brasão e puxado por seis cavalos brancos apareceu sobre eles, apoderando-se da rua. - É um circo ambulante.
- Um quê? - sua voz foi silenciada pelo nítido estrépito de cascos aproximando-se. Estava bastante impressionada com o cocheiro com sua peruca e os lacaios de aparência imperiosa, apesar da desaprovação que Drake sentia ante esta exibição. Ela admirava os que se orgulhavam de suas posições e em segredo amava o esplendor da aristocracia.
- É de alguém que conhece?
Ele encolheu os ombros evasivo, de novo avançando com lentidão, em direção à casa de Lady Heaton.
- Agora que penso, pelo menos deveríamos ter provado um pedaço desse bolo de casamento. Saímos correndo como um par de mendigos.
Ela olhou com curiosidade para trás, aos transportes.
- Do que está falando? Dificilmente podia esperar que o clérigo pusesse fim à cerimônia.
- Bom, sim - ele bateu em seu abdômen plano. - Mas estou me sentindo um pouco faminto agora.
- Pelo bolo de casamento? - perguntou com ceticismo.
Agarrou-a pelo braço.
- Morro de fome - disse no mesmo instante que um idoso lacaio desceu da impressionante carruagem e se dirigiu para eles, evitando
meticulosamente um atoleiro de chuva. Que o céu não permitisse, pensou Eloise, que uma gota de lodo salpicasse aquela calça negra até o joelho.
Ela ficou em um silêncio de expectativa. Não é que o lacaio, tão imponente com seu libré com tranças douradas como era, intimidasse-a.
Ela podia lidar com a classe operária, obrigada, sem importa quão esplendorosamente se vestissem. Era o fato de que Drake parecia, bom, um pouco temeroso com relação a este criado que a intrigava.
Quem era este homem? O que queria? Uma multidão de pedestres se reuniu na calçada para olhar.
O lacaio sem expressão se inclinou ante ela e estalou os dedos por cima do ombro. Outro lacaio abriu a portinhola e desdobrou os degraus, seus movimentos peritos e precisos.
- A carruagem de sua senhoria está a serviço de milady - anunciou o lacaio principal à rua em geral.
Eloise lançou um suspiro de satisfação. Sim adorava as surpresas.
Era por isso que Drake pareceu tão distraído?
- Que considerado é sua senhoria - olhou para Drake com um sorriso de satisfação, cujo cenho amotinado parecia algo menos romântico. - Drake, não deveria tê-lo feito - sussurrou.
Ele olhou para o lacaio.
- Não o fiz.
- Então... ? - Interrompeu-se quando o lacaio a levantou sobre os degraus e a deixou no espaçoso interior da carruagem. As cortinas de couro estavam fechadas para assegurar a privacidade. Drake notou, seguiu-a em um silêncio de lábios apertados. Isto não poderia ser uma fuga, pensou. Era mais como ser sequestrada em uma espécie de forma cortês.
- Estou sendo sequestrada? - perguntou a Drake por cima do ombro.
- Nós dois estamos sendo sequestrados - disse enquanto se
acomodava no assento de frente. E pelo olhar em seu rosto, não parecia estar nada satisfeito, o que significava que era tanto uma surpresa para ele como o era para ela.
A carruagem tomou um passo rápido. Eloise levantou a cortina. Os pedestres e os veículos menores ficaram de um lado da rua para lhes permitir a passagem. Os varredores olhavam e esperavam que lhes jogassem uma moeda.
- Suponho que esta é a carruagem do marquês - disse ela em voz baixa.
Ele assentiu com a cabeça, evidentemente aborrecido.
- Sim. O marquês da Arrogância nos convocou.
Lançou um olhar a seu rosto moreno, aborrecido.
- O que significa isso?
- Isto significa que Devon não pode guardar um segredo, e vou estrangulá-lo.
Eloise ajustou as costuras das luvas.
- Uma convocação Boscastle - iria ser um dia completo de provas. -
Espero que eu não seja a causa desta dissensão familiar.
Ele voltou a sentar-se junto a ela, seu sorriso tranquilizador embora compungido.
- Meus irmãos e eu estivemos brigando desde o dia que nascemos.
Grayson no fundo é um ator. Não pode fazer nada pela metade.
- Odiaria me interpor entre você e sua família - disse vacilante.
- Deixe que eu me ocupe dos Boscastles - ele franziu o cenho, roçando suavemente o hematoma de sua face com o dedo indicador. -
Dói?
- Só um pouco.
- Não quero que sinta outra coisa que prazer no dia de nosso casamento.
- Não havemos...
A fez se calar com um terno e profundo beijo. Deveria tê-lo parado, mas estava mais tentada a enterrar-se contra seu peito forte e simplesmente esquecer todo o desagradável que tinha acontecido até este momento. É claro que não podia esquecer-se por completo. Não na carruagem do marquês, com esse peixe frio de lacaio, responsável de informar todos os detalhes a seu amo.
Ela tomou fôlego e inclinou a cabeça para trás.
- Tem certeza de querer se casar comigo?
- Sim.
Ela estremeceu quando ele traçou seus dedos até sua garganta, e depois desceu preguiçosamente aos topos de seus seios. Ele oferecia segurança, assim como prazeres pecaminosos.
- Não acha que deveríamos ter um compromisso adequado? -
perguntou suavemente.
Seu olhar escuro viajou por sobre ela.
- Por que?
- Daria-lhe tempo para pensar - disse, sustentando seu olhar. - Mal fui sua amante durante uma semana.
Sua mão deslizou de seus seios a seu ventre.
- O suficiente para levar meu filho.
Outro tremor de prazer percorreu todo seu corpo. O que dizia era verdade. Tinham sido descuidados e nada preparados para sua paixão.
- É o filho de um marquês, Drake. Sou a filha de um magistrado campestre, e ainda por cima em desgraça.
Seus largos ombros se levantaram em um encolhimento debaixo de seu casaco.
- Alguma vez lhe disse que tenho uma paixão absoluta pela justiça?
Tanto como pelas mulheres em desgraça.
- Eu sim tenho sentido da justiça - reconheceu ela, e tentou não sorrir. - Mas sabe o que as pessoas vão pensar. Além disso, se casar
com uma mulher em desgraça é diferente de fazê-la sua amante. O
matrimônio faz que tudo seja muito mais complicado.
- Talvez. Mas os homens se casam com suas amantes todo o tempo. Duques se casam com atrizes, e eu não sou alheio à desgraça.
Também tenho idade suficiente para ter meu próprio julgamento.
Queria acreditar em cada palavra que ele dizia, e de algum jeito se ele acreditava, então ela também poderia.
- O que dirão seus amigos?
O calor diabólico de seu olhar estava derretendo suas defesas.
- Vão conhecê-la e vão me perguntar se tem alguma irmã. Vão falar com você e morrerão de inveja. Terei que afugentá-los com um porrete de polícia.
Eloise mordeu o lábio para não rir.
- Isso é muito pouco provável. Serei rejeitada na maioria dos círculos.
- Então, nunca vamos sair de casa.
Ela fechou os olhos. Ele deslizou seu braço ao redor de sua cintura, sua voz perversamente persuasiva.
- Não me renderei. Ficarei parado fora de sua janela manhã, tarde e noite rogando-lhe que se case comigo.
- Encerrariam-no imediatamente se o fizesse - sussurrou, já debilitada.
- Seria tão cruel para que me prendam só por amá-la?
- Não - disse depois de um longo momento.
- Então, a resposta é afirmativa?
Como se o cafajeste alguma vez tivesse duvidado, pensou ela.
- Sim. É sim. Mas o que dirá sua família quando me apresentar como sua noiva?
Suas sobrancelhas se uniram em um cenho franzido.
- Na realidade, tinha a esperança de evitar essa parte de nosso
compromisso.
O coração de Eloise pareceu desabar. Sentiu que um rubor desagradável de calor inundava seu rosto. Sua família não a aceitaria, é claro. Ele iria se casar com alguém abaixo dele, e nada poderia mudar isso. Inclusive seus irmãos liberais desalentariam este matrimônio.
- Não será mais que não quer que me conheçam? Supõe-se que vou ser uma esposa secreta?
Segurou seu queixo com uma mão.
- Correção. Preferiria que você não os conhecesse - começou a rir. -
Acredito que me entendeu mal , Eloise. Não tenho medo de que os Boscastles a desaprovem. O que temo é que eles mudem sua opinião sobre mim.
Ela sorriu, a fronte arqueada.
- Duvido, mas como? O que poderiam dizer?
Ele limpou a garganta. Sua família poderia contar algumas historias muito prejudiciais na realidade.
- Simplesmente não escute nada do que digam de meus anos perversos.
- Seus anos perversos? - perguntou ela com fingida comoção. - E
como se conhecem os atuais então?
- Contentes - ele desceu o olhar para ela, esforçando-se para lhe explicar o que sentia, até que percebeu que ela tinha compreendido. A paixão amorosa que brilhava em seus olhos falava por si mesma. Sentiu-se humilde pelo que tinha acontecido entre eles. Ela tinha tirado uma capacidade de amor dentro dele que nunca quis admitir. Esteve ali todo o tempo? Doeu-lhe a garganta. - Estes se chamarão meus anos contentes, Eloise. Graças a você.
Ela levantou o rosto para ele.
- E meus também - sussurrou ela.
CAPÍTULO 32
Drake repetia que não havia nada que pudesse dizer para preparar adequadamente Eloise para conhecer sua família. Os gladiadores romanos deviam ter sofrido os mesmos desconcertantes instintos de sobrevivência quando eram jogados aos leões. É claro, ele estaria ali para defender sua companheira. Deixaria que os Boscastles o fizessem primeiro em migalhas. Ela tinha sofrido bastante por um dia. Cada vez que via o hematoma em seu rosto, sentia uma fúria vermelha surgir dentro dele e um desejo instintivo de defendê-la de novo. Bom, isto era um tipo diferente de batalha, e eles a enfrentariam juntos.
A carruagem parou na elegante mansão de Park Lane. Ouviu uma vez que seu dono, Grayson Boscastle, o Mais Honorável quinto Marquês de Sedgecroft, foi um descarado, amante da diversão, que tinha zombado dos convencionalismos de Londres com suas inumeráveis indiscrições. Foi um aliado em desventuras e um amigo, em geral, para seus irmãos.
Agora, ele era um marido fiel e pai muito protetor que levava seu papel como patriarca da família muito a sério para o gosto de Drake.
Olhou em tom de desculpa à Eloise quando entraram no espaçoso vestíbulo, com altas colunas. Os leves saltos faziam um ruído seco nos ladrilhos de mármore. Como podia prepará-la para o destino inelutável de sua ascendência implacável?
- Por favor, recorde que não sou responsável por minhas linhas de sangue. E não acredite em tudo o que lhe disserem sobre mim.
Estava tão absorta admirando a arquitetura da parede, de estilo italiano, que suspeitava que ela não tivesse escutado uma só palavra de sua advertência.
- Já conheci seu irmão, Lady Stratfield, e Lady Lyon. - murmurou. -
Acredito que está exagerando um pouco.
- Exagerando - suspirou quando as portas duplas no final do corredor interminável se abriram. - um pouco.
Uma voz anunciou:
- Lorde Sedgecroft os receberá agora.
Ele a puxou para trás.
- Esta é sua última oportunidade. Ainda podemos sair correndo.
Ela o olhou com leve recriminação.
- Não posso acreditar isto de você. Seu irmão é só um homem, marquês ou não. Que tão intimidante pode ser?
Drake começou a rir derrotado.
- Não é que seja tanto intimidante, ao menos não para mim. Mas bem, ele é uma presença. De todo modo, tem que enfrentar os Boscastles em pleno antes ou depois. Pode ser também agora.
Intimidante.
Essa poderia ter sido a primeira palavra que veio à mente de Heloise quando a apresentaram a Grayson Boscastle, o Mais Honorável quinto Marquês de Sedgecroft.
Uma presença? Oh, definitivamente. Mas de uma maneira muito interessante.
Viu sua semelhança com Drake imediatamente, em seus irresistíveis olhos azuis e masculina vitalidade, a cinzelada estrutura óssea e o magnetismo pessoal fascinante.
Mas ali terminava a similitude. Seu Drake era escuro, intenso, seu encanto sutil e mais subestimado. O marquês era um leão de cabelos dourados, sua presença carismática e seu calor surpreendente.
- Assim você vai ser minha cunhada - disse, apoiado no batente da janela com um sorriso ganhador que poderia ter deixado sem fôlego outra mulher.
- O prazer é meu, Lorde Sedgecroft - disse com uma voz perfeitamente composta enquanto ela sustentava seu curioso olhar.
Estava a calibrando, pensou. Julgando seu caráter sobre base neste encontro. Ela se surpreendeu por não sentir-se mais nervosa. Sua
calma, decidiu, era uma medida de seu encanto, e Eloise achou que seus anos de entrevistas lhe tinha ensinado como suportar um escrutínio como este.
Ele se endireitou. Eloise voltou a cabeça e percebeu que várias outras figuras entravam no elegante salão. Reconheceu Lady Lyon, é claro, e Chloe Boscastle, com seu marido, o visconde Stratfield. Eram, pensou, um grupo extremamente formoso. Devon se apresentou uns momentos mais tarde e lançou sua longa estrutura óssea sobre o sofá.
- Não me culpe por isso, Drake. Ameaçaram-me com chicotes e outros instrumentos de tortura Boscastle. Tive que lhes dizer.
Drake se serviu de uma taça de xerez no aparador.
- É claro que o fez, covarde.
- Não podíamos permitir que fugissem - disse Grayson, seu sorriso generoso e um pouco manipulador.
Outra
mulher
entrou
no
aposento,
apresentando-se
silenciosamente a Eloise como Jane, a esposa de Grayson. Eloise gostou imediatamente da encantadora marquesa. Possuía um atrativo sincero e uma gentil segurança em si mesma, que rebatia com a presença entristecedora de seu marido.
Jane a abraçou com afeto.
- De fato, é uma mulher valente para se casar com nossa ovelha negra. Bem-vinda à família.
A bela Chloe de cabelo negro sorriu com humor pesaroso.
- Se minha família não a convencer que está cometendo um terrível engano antes de terminar a cerimônia. Qualquer privacidade que tenham desfrutado anteriormente acabou-se.
Drake deixou a bebida. Seu sorriso era forçado.
- Cerimônia? Disse cerimônia, Chloe?
Fez-se o silêncio. Grayson encontrou o olhar de Drake.
- É claro, irão querer se casar na capela familiar. Só estamos
esperando que cheguem Heath e Julia. O ministro já está aqui. Espero que não se importe que tenha me encarregado dos detalhes por vocês.
Eloise suspirou ante a perigosa tensão no ar. Tinha causado ela?
Por nada desejaria criar uma divisão entre Drake e sua família. Era compreensível que o marquês ao menos questionasse este matrimônio.
A boca de Drake se curvou em um sorriso sardônico. Levantou seu copo, mas não bebeu.
- A capela familiar?
Por um instante o aprumo de Grayson pareceu vacilar. Lançou um olhar quase impotente a sua esposa, Jane, quem disse, com um sorriso persuasivo:
- É claro. Não deve arrastar Eloise em público. Se fugirem haverá jornalistas acossando-os até sua casa.
Drake ficou olhando seu xerez.
- Adquiri uma licença especial - disse com cautela. - Tinha a intenção de que fosse uma cerimônia privada.
Sua declaração poderia se entender de muitas maneiras. Eloise conteve a respiração e esperava que não fosse por estar jogando com a luva. O último que desejava era começar seu casamento com um conflito com a família Boscastle. Seu casamento. Estava quase temerosa de permitir-se acreditar nisso. Converteria-se na esposa de Drake e pertenceria a esta família impressionante.
- Entendo seu desejo de privacidade - disse Grayson com voz tranquila. - Por isso acredito que é melhor que só esteja a família.
Sentiria-me honrado se estivesse de acordo.
Era um ramo de oliveira em oferenda de paz, um gesto de aceitação, e talvez, Eloise suspeitava, um que não era fácil a um homem como o marquês. Mas, Drake o consideraria como tal?
Outro silêncio envolveu a sala. Drake virou seu xerez na taça, e logo começou a rir em sinal de rendição.
- Como posso me negar? Eloise?
Eloise suspirou com todo o corpo.
- Não pode.
Jane olhou a seu marido com cálida aprovação, e Chloe deu umas palmadas de alegria.
Emma se levantou de sua cadeira, tinha permanecido em silêncio até agora. A etiqueta era natural em sua mente.
- Bom, agora que se decidiu o lugar, acredito que teremos que encontrar um vestido apropriado para a noiva - olhou de esguelha para Drake. - Suponho que se descuidou deste detalhe crucial?
- Bom - disse Drake movendo a cabeça - eu...
- Isso pensei, - disse Emma com um suspiro de desalento.
- O típico macho Boscastle está mais interessado em despir uma mulher do que com o que ela usará no casamento - comentou Devon do sofá.
Emma revirou os olhos.
- Agradecerei-lhe que guarde seus comentários fora de tom para si mesmo.
Jane atravessou a sala até a porta.
- Céus, certamente devo ter algo adequado em meu armário.
- Querida - murmurou seu marido Grayson, - se a pessoa julgasse por suas contas, acredito que tem suficiente roupa para equipar todas as tropas de Wellington com um enxoval de casamento.
¨¨¨¨¨¨
Sentia-se estranho para Eloise estar no extremo de receber toda esta atenção quando tinha passado muitos anos servindo a outros. A marquesa tirou cada vestido de seu guarda-roupa pessoal. As criadas da senhora iam e vinham através do elegante aposento para arrastar ainda mais vestidos que Jane não tinha usado ainda.
Convocou-se uma costureira e dois assistentes que juraram guardar
o segredo. Chloe, levou uma garrafa de aguardente e deu um copo a Eloise para fortificar os nervos.
Emma passou uma hora procurando um par de luvas longas até os cotovelos de seda branca, e mas sapatilhas de brocado para combinar com o vestido de seda creme, com uma fina anágua dourada, que finalmente se escolheu para Eloise. A marquesa tinha uma figura esbelta que o parto apenas tinha realçado. Eloise se surpreendeu de quão bem o vestido drapeado se adaptava a sua ampla figura.
- Tinha-o feito para mim nos primeiros meses de minha reclusão -
confessou Jane. - Nunca o usei, mas parece perfeito para você.
Eloise olhou seu reflexo no espelho dourado de corpo inteiro. O
material brilhante ligeiro esculpia suas curvas até converter-se em dobras. As mangas de renda que caía sobre seus pulsos a faziam pensar em uma princesa do Renascimento.
- Temos um véu? - perguntou a costureira enquanto percorria à futura noiva com cansada satisfação.
A pergunta fez com que todos no aposento procurassem um véu, à exceção de Eloise e Emma. Seus olhos se encontraram no espelho. O
fato de Emma ficar tranquila, não queria dizer que não expressaria seus pensamentos.
- Lady Lyon, não sei o que dizer - falou Eloise, decidindo tomar a iniciativa. - Sei que está decepcionada comigo.
Emma a surpreendeu ao rir.
- É uma decepção enorme para mim que a academia não poderá contar com você como uma de nossas empregadas.
- Sinto desesperadamente o incidente ocorrido no lago.
- Sem dúvida, Percy merecia - disse Emma, colocando um dos cachos caprichosos de Eloise atrás de sua orelha. - Fui muito precipitada ao julgá-la. Estava protegendo sua pupila com risco de sua própria reputação. Uma lealdade como essa é mais preciosa que o ouro. Ou
uma boa posição.
Eloise suspirou. Tanto tempo tinha esperado que alguém entendesse realmente a importância de seu trabalho, o reconhecesse.
- Adula-me que...
- Entretanto - continuou Emma um pouco sem piedade - é um profundo alívio para mim e para os pais das jovens que tento civilizar, que cafajestes como meu irmão, retirem-se da circulação social, por assim dizer.
Eloise começou a rir, entreabrindo os olhos.
- Não estou de todo certa de como tomar esse comentário.
- Não estou de todo certa de como deve ser tomado - Emma deu um passo atrás do espelho, uma pequena figura cuja enganosa fragilidade tinha o impacto de um raio.
- Mas se alguém vai casar se com o canalha, estou agradecida que seja uma mulher com seu caráter.
Eloise se suavizou.
- Oh. Obrigada.
Emma sorriu.
- É muito bem-vinda. Entendo que passou por uma experiência infernal há tão somente umas horas, e entretanto aqui está, perfeitamente composta. Bom trabalho, querida.
- Bom, tinha que ir a um casamento.
- Um casamento tem prioridade sobre quase tudo, libertinos, ruína, distúrbios, possivelmente inclusive sobre a guerra. Tudo menos sobre o nascimento de um filho - disse Emma em um momento estranho de emoção despreparada. - Um casamento representa o começo mágico de uma nova vida. Espero que esqueça o que lhe passou há umas horas.
Eloise assentiu com a cabeça, não confiando nela mesma para falar.
- E - acrescentou Emma - espero que você e Drake conheçam só a felicidade juntos.
¨¨¨¨¨¨¨Ëra o segundo casamento ao qual Eloise ia nesse mesmo dia. O
primeiro foi um ato de dever pelo qual tinha trabalhado para que se levasse a cabo. Este era um sonho, um ato de graça. O homem em pé pecaminosamente belo ante o altar pertencia a algum fio delicado de uma fantasia. Também os lacaios com perucas empoadas e formais calças até o joelho que custodiavam as portas da Capela de Park Lane.
E Freddie. Seu querido amigo com cabeça de rodo parecia tão impressionado que ela teve que sorrir.
Grayson a acompanhou pela nave para entregá-la. Seu braço forte lhe deu coragem. Por um momento pensou com nostalgia em seu próprio pai, de como a tinha expulsado tão completamente de sua vida.
Talvez um dia se reconciliassem. Suas últimas palavras a ela tinham sido: "É uma menina teimosa que um dia se encontrará em problemas se não mudar suas maneiras".
Bom, tinha demonstrado que seu pai tinha razão.
Ali, no altar, esperava-a o problema que tinha encontrado. Seu escuro e decadente Boscastle. O único homem na terra a quem não podia resistir. Que sorte que ela não tivesse mudado suas maneiras.
Que sorte que no fundo de seu coração prático, sempre acreditou nos contos de fadas.
O coração lhe pulsou com força agora, por debaixo de seu corpete de seda creme, quando chegou ao lado de seu amado bagunceiro. Seu corpo alto se erguia sobre ela. Usava o mesmo casaco longo escuro de pano, com calça de lã ligeira, que usava quando ele a tinha resgatado.
Seu olhar sustentou o dela até que nada mais pareceu existir, salvo eles dois.
Não sorriu, mas tomou suavemente a mão entre as suas. O gesto não só esquentou a Eloise, mas também aos poucos convidados que eram testemunhas da íntima cerimônia.
Drake nunca foi conhecido como um homem demonstrativo. Só aqueles que o amavam percebiam a importância deste casamento.
Sempre foi por um caminho incerto, mas ao menos agora não estaria só.
Realmente tudo o que tinha feito foi sobreviver, e levado uma fachada convincente. Sua família sentiu medo por ele.
De repente, de algum lugar da capela, ouviu o murmúrio feliz de seu sobrinho. Rowan, sobrevivente dos gases e da superproteção de Grayson. Outro Boscastle que seguiria a linha perversa. Ele rompeu em um sorriso. Bom, talvez produzisse alguns desses perversos demônios ele mesmo. Depois de tudo, Eloise tinha experiência no trato com as pessoas rebeldes. Sem dúvida o tinha posto no lugar.
Oh, Deus, lhe tirava o fôlego. Seu rosto oval resplandecia de felicidade, inclusive o hematoma em seu rosto lhe recordava o perto que esteve de perdê-la. Engoliu a saliva quando recordou como a encontrou nesse quarto. Inclusive agora se sentia doente ante a imagem de seu aterrorizado reflexo no espelho quando ele abriu a porta.
Prometeu protegê-la. Levaria os votos de seu casamento no coração. Era possível que há muito não lhe importava se vivia ou morria?
- Queridos amigos - começou o ministro, e da extremidade do olho Drake viu seu primo Gabriel deslizar em um banco, junto a outra prima Boscastle, a loira Charlotte, uma das estudantes de Emma na academia.
Voltou sua atenção à cerimônia.
Quem os havia convidado? Ele não sabia. A família era a família, e...
esse era Freddie com calça curta na porta da sacristia? Todos na cerimônia, só faltava Maribela St. Ives para que fosse um casamento Boscastle tradicional.
Seu coração deu um salto ao ouvir Eloise fazer seus votos. Sua própria voz foi firme, mas carregada de emoção. Depois, enquanto inclinava a cabeça para beijar sua esposa, ele conseguiu ver Devon
afundando-se nos bancos, cobrindo os olhos com uma mão, como se não pudesse acreditar no que via; à esquerda de Devon estava sentado Gabriel com um sorriso inescrutável em seu rosto.
Em qualquer outro momento, Drake poderia ter saltado através dos bancos e golpeado suas cabeças uma contra a outra. Por sorte, tinha outros planos.
- Eloise - disse enquanto roçava seus lábios contra os dela -
escapemos antes que nos cerquem.
- Altamente improvável - sussurrou ela, e na realidade, foi efetivamente várias horas mais tarde que se puderam se desculpar das intermináveis rondas de brindes com champanha e conselhos bem intencionados, para estar sozinhos em sua própria casa da cidade.
Tinha caído a noite sobre Londres, uma noite de névoa suave em uma cidade de infinitas possibilidades. Eloise se estendeu sobre a cama com um suspiro de luxo e terminou a taça de champanha que seu marido lhe serviu.
- Estou bêbada? - perguntou alegremente, desabotoando seu vestido de noiva com abandono.
Ele fechou a porta e se apoiou contra ela, enquanto Eloise se retorcia para desfazer-se de toda sua roupa. Que vista. Sua mulher nua suavemente sobre um lado. A luz das velas delineavam os espaços de seu corpo. Um seio de ponta rosa, a curva tentadora de seu quadril, suas coxas entreabertas. Seu olhar vagou por sua postura incitante com a satisfação de um conquistador. Poderia ter sido a deusa que os folhetins de intrigas afirmavam, exceto que ela era muito humana, acessível, e dele.
- Acredito que é hora de celebrar - disse, tirando o casaco com um encolhimento de ombros.
Sua esposa nua se levantou diligentemente para retirar sua roupa do pescoço.
- Estou aqui - murmurou.
- Para sempre? - perguntou-lhe, colocando seu braço ao redor de seu traseiro voluptuoso para beijá-la profundamente.
- Inclusive por muito mais - ela soltou um suave suspiro de aprovação em sua boca. - Ame-me, Boscastle, - sussurrou. - Para sempre está começando neste momento.
Drake estava mais que encantado de cumprir o pedido de sua esposa e lhe fazer amor. Não lhe havia dito uma vez um de seus irmãos que as mulheres práticas eram as mais apaixonadas? Colocando-a sobre seu ombro, levou-a de volta à cama e a deitou sobre a colcha de seda verde. Ela riu e caiu em uma postura graciosa e desajeitada, seu formoso corpo ruborizado e cativante. Ele a olhou, e seus pulmões lutaram por respirar.
Sua esposa. Seu sorriso convidativo o enfraquecia.
Poderia fazer que a escuridão que com tanta frequência surgia em seu interior desaparecesse? Provavelmente não. Mas ela faria com fosse mais fácil de suportar. Ela seria a luz que manteria clara sua visão, seu passo firme até o dia que desse seu último fôlego.
Nunca pensou que se apaixonaria desta maneira, achava-se incapaz de fazê-lo. Mas então, em um capricho, tinha dançado com Eloise. Ele só queria passar uns poucos momentos com uma bela mulher que parecia necessitar um pouco de distração. Como o conto de fadas que era, supunha-se que a teria rendida a seus pés. Tinha acontecido o contrário.
O amor é horrível. Não deixe que lhe aconteça.
Mas tinha acontecido. Não poderia havê-lo detido mesmo se tivesse tentado. O pânico e o amor no rosto de Grayson o tinham assustado essa noite no quarto das crianças, mas também o tinha obrigado a ver a verdade. Um Boscastle apaixonado era uma coisa terrível de contemplar, uma besta que resistia a sua transformação até o último momento.
O amor era maravilhoso. Horrível. Maravilhoso. E o que fosse que fosse o amor, era parte da vida, e lhe dava vontade de viver.
Sua esposa o alcançou como se tivesse lido sua mente e lhe desabotoou a calça. Ele conteve a respiração ante o puxão possessivo de suas mãos em seus quadris, liberando com impaciência sua dolorida ereção. Cada vaso sanguíneo em seu corpo se expandiu, pulsando com o delicioso poder da excitação. Nunca a teve para si mesmo desta forma. Já era hora de mostrar a sua noiva quão diligente também seria em seus deveres com ela.
Ele tirou a cueca e a calça negra. Ela deslizou a mão sob a camisa e o colete, afrouxando os botões, seus olhos o convidavam a lhe fazer amor. Como cavalheiro, tinha que aceitar. Inclinou-se sobre ela e lhe afastou as coxas, seu sorriso, uma promessa perversa. Ela era cálida e aberta, sua umidade brilhando inclusive antes dele a acariciar para prepará-la até deixá-la sem fôlego.
- Meu amor - disse ele - amo-a mais que tudo.
- Eu também o amo - sussurrou-lhe também, ela se endireitou para abranger seu rosto entre as palmas de suas mãos.
Beijou-a até que sentiu que sua mão deslizava por seu peito e em direção ao palpitante membro, e de repente não pôde esperar. Seu toque foi sua perdição, a chave de seu coração e tudo o que desejava.
Agarrou-lhe com a mão o traseiro generoso em forma de coração e a ergueu para ele.
- De joelhos, esposa - sussurrou, seu braço deslizando debaixo de seus seios para apoiá-la. Ela hesitou um pouco antes de assumir a pose total. Mas quando o olhou por cima do ombro nu, seus olhos estavam acesos com uma paixão que combinava com a sua.
- Assim? - perguntou ela com uma voz curiosa.
Seu coração se apertou no peito quando desceu o olhar possessivamente a suas costas graciosa e a fenda de seu traseiro, as
pétalas dessa fenda rosada arrastando seu olhar inclusive mais abaixo.
Drake sentiu que seu próprio corpo tremia de desejo quando passou seus dedos por seu traseiro para forçar a suas coxas a separarem-se mais ainda.
- Isso é muito agradável - disse com uma voz grossa, encantado com sua docilidade. Afundou-se em sua vagina, sentindo que sua coluna se arqueava de prazer. - Eu adoro a forma como a sinto por dentro -
acrescentou com voz rouca. - Como se fosse feita para mim. - E o dizia em todos os sentidos.
Ele empurrou então, a cabeça jogada para trás. Ela aceitou cada centímetro dele até o punho, desafiando a resistência e a habilidade que lhe tinha servido tão bem na cavalaria. Mas este era o rodeio mais doce que jamais participou, e ele não tinha nenhuma pressa em particular, para lhe dar termo.
Nem tampouco ela, que se movia ao ritmo de seus quadris, arqueando as costas para absorver cada golpe duro até que ele levou a mão esquerda entre suas pernas para apertar seu botão secreto. A cúpula de seu prazer. Sentiu-se triunfante com os suaves gritos de rendição dela e com os estremecimentos que atravessaram seu ventre, as contrações dos músculos de seu interior que logo o ordenhariam até deixá-lo seco.
- Eloise - disse com ferocidade. Ele inclinou seu corpo sobre o dela para morder a parte posterior de seu pescoço. Um instante depois, sua mente ficou em branco e se convulsionou, sua coluna doendo quando inundou sua passagem com sua semente. Seu coração pareceu deixar de pulsar. Seu fôlego ficou preso em sua garganta quando se rendeu ao prazer.
Ela dobrou os joelhos; o corpo úmido de Drake caiu sobre a cama e esmagou suas curvas cálidas. Em algum lugar, à distância brumosa, repicou um sino de uma igreja, e uma carruagem retumbou pelas ruas.
Soltou várias ásperas respirações e sorriu na escuridão, colocando-se sobre um lado para tocar seu rosto.
- Nunca soube que podia ser tão feliz - disse, atraindo-a contra seu ombro.
- Sua família - murmurou ela com um suspiro de satisfação - são as pessoas mais maravilhosas que conheci. Sabia que estava exagerando a respeito deles.
Sua risada profunda encheu o quarto.
- Então, todos a enganamos. Todo mundo hoje se comportou do melhor modo, mas espera até o Natal, ou a próxima vez que todos estejamos na mesma casa - sua mão se moveu meigamente sobre seu ventre suave. - Poderíamos inclusive ter nosso próprio pequeno Boscastle no fim de ano. Importaria-se?
- Nada me faria mais feliz.
- Então não diga que não a advertimos quando nosso bebê acabe sendo um demônio. Nascer como Boscastle é uma sentença por toda vida.
- Realmente foi o pior de todos, não é verdade?
- Quem sabe? - ele roçou com sua mão o osso de seu quadril. Ela era calor e suavidade, seu amor e sua luz. - Inclusive se fosse, alguém mais está obrigado a me substituir. Com certeza neste mesmo instante um deles está raiando a porta dos problemas.
- E você? - perguntou ela, traçando a ponta de seu dedo sobre seus lábios.
Ele estremeceu e sentiu o calor de seu tato penetrando as sombras de sua alma.
- Estou mais que satisfeito justo onde estou.
Jillian Hunter
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