Irmandade da "Adaga Negra"
Capítulo SETENTA
Assim que o sol estava com segurança sob o horizonte, Rhage foi o primeiro a sair da mansão. Saindo através das portas francesas da biblioteca, ele caminhou
pelo terraço vazio, os móveis de ferro foram armazenados para o inverno. A piscina, da mesma forma, foi drenada e coberta, os guarda-sóis guardados, até mesmo os
canteiros de flores e as árvores de frutos foram cobertas para a vinda da neve.
Parecia apropriado. Todo o composto estava de luto, juntamente com o resto deles.
Ao seu lado, uma motosserra Husqvarna 460 Rancher estava pendurada de sua mão da adaga, tudo preparado e esperando.
As horas do dia foram uma tortura, o esquisito rescaldo da morte, juntamente com todo mundo ter de ficar dentro da casa transformou a mansão em terra de zumbi.
A boa notícia era que ele estava finalmente livre e iria começar a cortar as coisas. Avançando até as árvores na borda mais distante do gramado, ele penetrou
a trilha e seguiu para a parede de retenção de seis metros de altura que corria ao redor do Complexo. Havia uma porta blindada em uns vinte metros ou mais, e ele
foi para a coisa, digitou um código de segurança em um teclado, e esperou que a lâmina fragmentasse, isso significava que a barreira interna tinha se recolhido.
Empurrando para abrir a pesada porta, ele entrou deixando-a aberta para seus Irmãos, bem como Beth, Xhex, Payne, e todas as outras.
As árvores dali eram principalmente pinheiros, e à luz do luar, ele avaliou os tamanhos dos troncos. Ele iria evitar as mais antigas e ficaria com as mais jovens.
Ligando a serra, ele cheirou o gás e o óleo, e se deliciou com o poder enquanto se aproximava de uma conífera que tinha cerca de trinta centímetros de diâmetro.
A lâmina atravessou a casca e o meio da coisa como um punhal atravessa a carne, o corte tão rápido e limpo como um golpe cirúrgico. E quando o pinheiro de cabeça
macia aterrissou com um salto, ele se mudou para a próxima, acelerando, cortando, controlando as aterrissagens, para que ninguém se machucasse.
Em seu rastro, Tohr pegou o primeiro tronco de seis metros de comprimento e arrastou-o para a abertura no muro de contenção. Beth foi a próxima. Z. Payne. Butch.
John Matthew e Xhex. Blay e Qhuinn. Indo e indo eles andavam, trabalhando como em uma linha de montagem, ninguém dizendo uma palavra.
Nenhum deles tinha se incomodado em usar casacos ou até mesmo luvas de trabalho.
O sangue das suas mãos arranhadas derramado sobre os troncos fazia parte do tributo deles.
No ar da noite de outono, a suave resina de pinheiro tinha cheiro de incenso.
Rehvenge o tinha ajudado com o planejamento durante o dia. Na tradição Symphath, a pira funerária era composta de duas partes: uma base triangular de nove postes
de 2,74 metros cada, na vertical, encimados por uma plataforma sólida, feita por outras nove, de 1,80 metros de comprimento, e uma parte mais alta construída de
96 toras, das quais, 90 teriam 2,74 metros de comprimento e 6 teriam 1,80 metros. Para a parte de cima, cada um dos nove rodapés estava separado por terra, um do
outro... E as camadas seguintes colocadas atravessadas à primeira de baixo, perpendicular.
O objetivo era assegurar bastante corrente de ar e um fogo luminoso.
Então, essa seria a maneira como eles iriam fazer, porque nenhum deles conhecia qualquer outra alternativa, e embora nem Trez nem Selena fosse Symphath, todo
mundo achou que era melhor optar por algo que já tinha sido testado e funcionado, em vez de correr o risco de uma outra ideia que falhasse.
O desfecho era que, Rhage derrubaria aproximadamente 65 árvores de 6 metros. Então, eles iriam remover os troncos e a casca, usando uma combinação de adagas,
serras e outras ferramentas, e levantar toda a coisa sobre a superfície plana do gramado, no lado oeste da casa.
Enquanto ele trabalhava, com a serra pulando em cada corte como se fosse um animal selvagem mal amarrado, ele continuou voltando para seu próprio passado com
sua Mary.
Ele tinha estado ali, bem ali onde Trez tinha sentado na cabeceira de sua amada. Ele conhecia o medo gélido e a incredulidade de que a vida, com todas as suas
permutações infinitas, tinha chegado a tal ponto. Ele tinha ido para casa, se despido, se ajoelhado sobre diamantes que haviam cortado seus joelhos... E inclinado
a cabeça para a única divindade que tinha conhecido e implorado e suplicado para que Mary fosse salva.
E a Virgem Escriba veio até ele e deu o que ele tinha pedido, mas a um custo tremendo.
Sua Mary seria salva, mas em troca do presente, ela não poderia estar com ele. Esse foi o pagamento pela incrível bênção, o equilíbrio para o milagre.
Aquela dor tinha sido com se uma galáxia se abrisse em seu peito, uma ferida infinita que era tão profunda e de uma natureza tão mortal, que ficou surpreso que
não começara a sangrar...
Rhage assistiu quando outra árvore sem vida caiu para o lado no chão frio.
Ele sabia exatamente o que Trez estava sentindo agora mesmo.
A diferença? Em seu anoitecer, há dois anos, depois que ele tinha jurado deixá-la, para que ela pudesse ser salva de sua doença... Sua Mary irrompera através
da porta do seu quarto viva e bem, curada e salva, com a saúde restaurada.
E capaz de se unir com ele.
Esse foi o único raio de sol que ele havia sentido como um adulto: Claro como se o teto acima dele tivesse desaparecido e o sol subiu só para ele, o calor e
a luz brilharam sobre eles, quando tinha segurado sua fêmea.
Os dois tinham sido restabelecidos pela misericórdia da Virgem Escriba naquele momento.
Mais tarde, ele soube que, porque Mary ficou infértil devido seus antigos tratamentos contra o câncer, a Virgem Escriba decidiu que isso era o suficiente para
equilibrar o dom de vida eterna.
E, assim, Mary e ele estavam juntos até hoje.
Para Trez, não foi concedido tal milagre.
Selena não tinha sido salva.
Era Tohr e Wellsie tudo de novo.
Embora Rhage não teria admitido isto para ninguém, ele não entendia por que ele e sua shellan foram poupados. Especialmente tendo em conta a forma como a Virgem
Escriba o tinha amaldiçoado com sua besta, no início de sua vida, por estar muito fora de controle.
E, ainda assim, depois ela havia achado conveniente devolver a sua amada para ele.
Graças a Mãe da Raça, sua Mary estava agora livre para existir sem a morte, até que ela escolhesse de forma diferente, o que seria quando ele fosse ao Fade.
O fato de que eles haviam sido poupados... Parecia tão aleatório como o porquê de Tohr e Trez serem condenados.
Pelo menos seu Irmão tinha conseguido ir em frente.
Só podia esperar o mesmo para aquele Sombra.
- Leve isso, - iAm disse para Fritz, - ao meu apartamento no Commodore. Coloque na parte externa do vidro deslizante no terraço.
- O prazer é meu, senhor, - respondeu o mordomo. Exceto que em seguida as sobrancelhas do doggen subiram. - Existe alguma outra coisa?
- Não.
Como Fritz apenas ficou lá, fora da sala de exame, parecendo confuso, iAm não conseguia entender...
Oh. Certo. Ele não tinha soltando nota.
Forçando a sua mão para liberar o controle, ele deu um passo para trás. - Obrigado, cara.
- Se houver qualquer outra coisa que você ou seu irmão precisem, por favor, me chame. Eu faria qualquer coisa para estar de serviço, especialmente agora.
O mordomo se curvou e então foi pelo corredor, desaparecendo através da porta de vidro do escritório.
iAm olhou em volta, mesmo que ainda estivesse sozinho. Seus olhos só precisavam de algo para fazer, e, nesse sentido, ele entendeu por que Rhage e os Irmãos
haviam implorando por algum dever; também por isso que as mulheres da casa, que não estavam lá fora trabalhando na floresta, tinham ido ao andar superior para ajudar
a preparar uma refeição de pratos cerimoniais tradicionalmente servidos nas refeições de luto. E por que as Escolhidas e o Primale se fecharam no ginásio para realizar
rituais antigos, a fumaça perfumada das velas sagradas que eles estavam queimando encheu o Centro de Treinamento com uma fragrância que era ao mesmo tempo obscura
e doce.
Era tal mistura de sistemas de crenças e tradições, tudo se misturando em torno do núcleo do luto.
Seu irmão.
E, assim iAm esperava aqui.
Em algum momento nas próximas três horas, o macho ia surgir, nu e pingando seu próprio sangue.
A marcação no peito e abdômen de um homem enlutado era a última parte do ritual de preparação para uma companheira que partiu.
E, como o parente mais próximo do sofredor, iAm era a pessoa que iria selar as feridas com sal, tornando-as um tipo de coisa eternamente-na-carne.
Ele segurou em sua mão o pesado saco de veludo preto que estava cheio do melhor sal Morton. Estava amarrado com uma corda de ouro, o peso era considerável.
No fundo da sua consciência, ele não podia deixar de olhar para o outro lado de tudo isso. Para o anoitecer seguinte.
Para o fim do período de luto s'Hisbe.
Por algum tempo, ele esteve meditando sobre essa solução que envolvia uma vida de viagens. Qualquer dívida que uma vez tinham com Rehvenge tinha sido acertada
e, com a morte de Selena, Trez estava, sem dúvida, livre para tirar o dinheiro de suas empresas aqui em Caldwell e pegar a estrada.
A Rainha dos Sombras não poderia reivindicar o que ela não podia pegar.
E essa opção era a coisa mais inteligente a fazer.
O problema agora... Era sua coisa com maichen.
iAm se concentrou na porta fechada, imaginando seu irmão envolvendo sua amada e, por um momento, tentou imaginar Trez em forma para pegar a estrada.
Provavelmente isso não vai acontecer.
Merda. Era perfeitamente possível que Trez iria resolver a situação para todos eles.
Colocando uma arma de fogo na cabeça.
Capítulo SETENTA E UM
Trez não tinha nenhuma lembrança de seu nascimento.
Mas, quando se aproximou da porta da sala de exame, sentiu como se a experiência voltasse para ele em primeira mão. Depois de horas e horas de nada além de dor,
perseguido por uma exaustão que era existencial, ele colocou sua mão sobre a superfície rachada do painel e percebeu que, mesmo se houvesse qualquer barreira física
entre ele e o que estava do outro lado, pisar lá fora iria exigir um empurrão, uma força, um algo a mais que o obrigasse a sair da densa cápsula do tempo que ele
tinha estado dentro.
Vidas separavam o macho do que ele tinha sido quando veio para cá com Selena em seus braços... E onde ele estava agora.
Vidas.
E, semelhante ao útero, ele não podia mais ficar aqui.
Havia um último dever que tinha de cumprir; não que ele tivesse tido força para quaisquer um destes.
- Selena, - ele sussurrou.
O nome dela pronunciado por seus lábios secos foi a chave que abriu o êxodo... E, assim, ele chegou, em um mundo que era tão novo para ele como deve ter sido
quando nasceu.
E ele não era mais capaz do que fora, quando um bebê.
E semelhante a seu nascimento... iAm estava esperando por ele.
Seu irmão olhou para cima tão rápido, que o macho bateu a cabeça na parede de concreto em que estava apoiado. - Hey...
Aqueles olhos escuros fizeram uma varredura na vertical, e Trez olhou para si mesmo. Suas calças pretas estavam manchadas com seu sangue, bem como cera da vela
e fibras da gaze do invólucro. Seu peito estava com um padrão cru de feridas. Sua mão livre estava emaranhada com o que restava daquelas calças.
- Sal, - Trez disse. - Sal, nós precisamos...
Sua voz era como um clarinete com um problema no bocal. Então, novamente, ele tinha conversado com sua rainha por quantas horas seguidas? Depois, muitas orações,
e o estranho tinha sido a maneira que elas tinham voltado para ele... Mesmo que ele não tenha falado nem ouvido os versos ou o dialeto Sombra em...
O que ele estava fazendo aqui fora mesmo?
Quando iAm levantou uma bolsa de veludo preta, ele pensou, Oh, certo.
Foi tão malditamente fácil deixar seu corpo cair no chão, com os joelhos absorvendo um impacto que deve ter sido forte, mas foi algo que não registrou.
Inclinando a cabeça para trás, ele arqueou o esterno para frente, o padrão de cortes que cavou nele mesmo puxando mais amplo, reabrindo de modo que as feridas
começaram a chorar sangue novamente.
- Você está pronto? - iAm perguntou acima dele.
Ele fez um som que, mesmo aos seus ouvidos poderia ter sido um sim ou um não ou... Outra coisa. Mas, está preparado, falou claramente para si próprio.
Seu fôlego explodiu para fora de sua garganta ressecada quando o sal sibilou do gargalo dessa sacola e o golpeou nas clavículas. O fluxo trazia consigo uma dor
pungente que foi tão grande que o seu coração pulou em suas costelas e seus pulmões se contraíram; e ele ainda suportou as sensações de boa vontade, dizendo a si
mesmo que estava em uma missão por Selena.
Depois disso, ele estaria marcado para sempre para ela.
Era, ele supôs, o que acontecia em uma cerimônia de acasalamento, apenas que no seu caso, sua fêmea já não estava com ele. E com esse ritual sagrado ingressando
invertido em sua cabeça, fazia sentido que, em vez de grande alegria, ele só sentisse esse sofrimento torturante; em vez de se tornar uma só pessoa com ela, ele
estava marcando sua solidão sem ela.
Quando não restava mais sal na sacola, ele ficou parado onde estava, sem escolha ou vontade. A vontade referia-se à parte dos músculos de suas costas e ombros
que tinham parado de funcionar, talvez em solidariedade à sua fêmea, mais precisamente porque ele estivera curvado, direto, pelas últimas dez, ou quinze, horas.
E quanto à parte da escolha? Por mais que ele odiasse os rituais porque eram como um ruído alto em sua cabeça, gritando que ela estava morta, ele não queria que
terminassem.
Cada momento que passava, cada minuto tortuoso naquela nova realidade, era um passo para longe dela. E esses pequenos acréscimos, amarrados juntos, logo se transformariam
em noites, que se tornariam semanas e meses... E essa passagem de tempo era a medida de sua perda.
Isso o estava levando para longe dela.
Enquanto ele estava a guardando, na reta final dela, parte de sua mente tinha sido obsessiva em reproduzir tudo. A partir daquela figura envolta em um manto
negro chegando e o encontrando em seu clube, para que ele levantasse Selena da brilhante grama verde do Outro Lado, para eles lutando por sua vida na primeira vez
que ela estivera aqui. E, então, o colapso no andar de cima no quarto de iAm.
A primeira coisa que ele ia fazer, depois que a última parte de tudo isso terminasse, seria correr para o andar de cima para ver exatamente onde a marca dos
joelhos dela estavam no tapete.
- Diga a Fritz para não aspirar, - ele deixou escapar.
- O que?
Ele forçou sua cabeça para cima e abriu suas pálpebras. - Diga a Fritz... Para ele não passar aspirador no seu quarto.
- Ok. - A palavra foi dita como algo que alguém usaria para acalmar um saltador em um parapeito. - Tudo bem.
Trez olhou para o seu peito. Havia granulados de sal por toda parte nele, alguns brancos, alguns rosa ou vermelhos de seu sangue.
Ele orou para que os doggens não fossem eficazes na limpeza hoje à noite. Ele só precisava lembrar exatamente onde tinha acontecido. Ele precisava... lembrar-se
da viagem para a clínica, e onde a cadeira ao lado da mesa de exame Tinha estado, e o que ele tinha dito para ela. Como a agulha com as doses se pareciam. Como...
Tudo aconteceu.
Não era por alguma fascinação mórbida. Era mais a convicção de que ele não queria perder nada dela.
Nenhuma memória.
Se esforçando para ficar em pé, ele murmurou, - Preciso construir um...
- Está pronta.
Trez sacudiu a cabeça e fez um gesto com a mão. - Não, não, ouça. Eu preciso de um machado... Ou serra...
- Trez. Me escute.
- ... E alguma gasolina ou querosene...
- Aqui, por que você não dá isto para mim.
- O que? - Quando seu pulso direito foi gentilmente capturado por seu irmão, ele franziu a testa e olhou para baixo. Ele ainda tinha o punhal na mão. - Oh.
Ele ordenou a seu punho que o soltasse.
Quando nada se moveu, ele tentou mais forte. - Não consigo soltar.
- Vire a sua mão. - iAm soltos os seus dedos um por um. - Está solto.
Enquanto o macho guardava a arma atravessada em seu cinto, Trez tentou fazer com que seu cérebro trabalhasse. - Mas, eu poderia precisar disso para...
- Os Irmãos e suas fêmeas cuidaram da pira.
Trez piscou. - Eles fizeram?
- Eles estiveram a construindo nas últimas três horas. Está tudo pronto.
Oscilando em seus pés, ele fechou os olhos e sussurrou: - Como é que vou pagar a eles?
- Aqui, coloque este casaco, você deve estar congelando.
Rhage olhou abaixo para a sua Mary. - Me desculpe? O que você disse?
Ela ergueu um casaco para ele. - Rhage, está zero grau aqui fora. E tudo que você está vestindo é uma camiseta de musculação.
Não era que duvidava dela, mas, ele olhou para seus braços nus. - Oh. Acho que você está certa.
- Deixe-me colocar isso em você.
Ele estava muito consciente de que ela o estava tratando como se fosse uma criança, mas, de alguma forma estava tudo bem. E quando ela enfiou um de seus braços
através de uma manga, e, em seguida, enrolou o resto do casaco em torno dele, ele a deixou fazer o que ela quisesse.
Casaco. Nada de casaco.
Não importava para ele.
Seus olhos se desviaram até a pira. Era maior do que tinha previsto, elevando-se como uma pequena casa ao longo da parte plana do gramado, para além dos jardins
e da piscina. Eles tiveram de construir uma escada para a subida, para que o nível superior pudesse ser alcançado, e depois de uma discussão e seguindo o conselho
de Rehvenge, eles tinham encharcado a base com gasolina.
Junto com todos os outros, ele estava em pé, contra o vento, em frente da coisa. Totalmente uma multidão, refletiu. Todo mundo que vivia na casa. Todos os servos.
Também as Escolhidas.
- E eu trouxe para você algumas luvas, - sua Mary disse.
Quando ela pegou a mão dele, ele balançou a cabeça. - Eu só vou sangrar no interior delas.
- Não importa. Talvez você já tenha queimaduras.
- Está tão frio? - Espera, ela já não tinha dito a ele qual era a temperatura?
- Sim, - ela sussurrou. - Está excepcionalmente frio.
- Parece ser o certo. Eu não acho que deveria estar calor... Isso não seria... Eu acho que nós devemos nos machucar, também.
Era por isso que ele realmente teria preferido ficar sem o casaco. Mas, ele era incapaz de negar algo à sua shellan...
Pelo canto do olho, ele pegou um flash de branco.
Quando se virou, sua respiração ficou presa na garganta. Trez havia surgido da mesma porta que todos haviam usado para sair na biblioteca; iAm estava atrás dele.
E assim a última caminhada começou.
Carregando aquela que era tão preciosa para ele, o Sombra percorreu passo a passo pelo gramado, se aproximando do que eles estiveram trabalhando até agora. Sem
qualquer conversa, mas, por algum tipo de pensamento de grupo, todo mundo que se reuniu formou duas linhas, lhe proporcionando um corredor.
Trez estava diferente, e não de um jeito bom. Como alguém que estivera fazendo trilha por um mês, com água e comida insuficientes, ele era um encolhido e exausto
eco de si mesmo... Seu rosto murcho, sem vida, com uma aura de doente, mesmo que não estivesse doente no sentido estrito da palavra.
Quando ele passou, Rhage estremeceu.
Os degraus da escada improvisada que haviam construído rangeram quando Trez os subiu, mas Rhage não estava preocupado que iriam desmoronar. Ele e Tohr tinham
a testado juntos diversas vezes.
E eles a fizeram segura.
Com a silhueta contra o céu iluminado pela lua, a forma escura de Trez bloqueou as estrelas que chegaram para a noite, o corte de uma faixa da galáxia, certo
como se algum Deus tivesse passado a tesoura no tecido do universo.
Se curvando, ele a colocou no centro. Então ficou lá em cima por um tempo, e Rhage poderia imaginar que ele estava arrumando as coisas. Dizendo um adeus final.
Era bom que esse tipo de coisa fosse feita fora da visão, longe da audição. Algumas coisas, mesmo em um ambiente favorável, eram melhores deixar para a privacidade.
A tocha que eles usariam para acender tudo tinha vindo da Tumba. V tinha lampejado no Sagrado Santuário e pego uma das muitas alinhadas no grande salão, o que
era outra das muitas maneiras de honrar o Sombra e sua perda. Tohr acendeu a tocha quando Trez finalmente se ergueu em sua altura total e abandonou a plataforma
de madeira, e a chama cresceu, pronta para se espalhar, sem medo do vento frio que soprava.
Aos pés da pira, Trez aceitou a tocha e os dois machos falaram. Na luz bruxuleante, ficou claro que o peito de Trez tinha sido brutalmente cortado e selado,
e havia sal e cera e sangue em toda a frente de sua calça.
Engraçado como a passagem do tempo pode ser notada em algo diferente de um relógio ou um calendário: a condição daquela roupa e daquela carne falaram sobre as
horas que o macho gastou atendendo sua morta.
E depois, Tohr voltou para o seu lugar ao lado do Autumn.
Trez olhou fixamente para a pira. Olhou até seu topo.
Depois de um longo momento, ele contornou até um dos pontos da base triangular, se inclinou e...
O fogo se alastrou como se fosse um animal selvagem escapando da jaula, percorrendo a trilha de gasolina, como se fosse essa a sua versão de comida, devorando-a.
Trez deu um passo para trás, a tocha caindo ao seu lado como se tivesse esquecido que ainda queimava.
Com uma investida rápida, iAm entrou em cena e removeu a coisa, e assim que ele se afastou, Trez começou a gritar.
Enquanto a fumaça da madeira enegrecida e o brilho laranja e os dedos de fogo espalhavam-se pelo céu da noite, Trez gritou, com fúria. Seu tronco se inclinado
à frente em direção ao quadril, suas pernas afundando-se em direção ao solo, como se ele estivesse prestes a se jogar no calor.
Antes que pudesse pensar, Rhage pulou fora da linha e correu para o cara; iAm certamente não podia, com a tocha na mão. Bloqueando os braços ao redor da cintura
do Sombra, ele arrastou Trez para traz, o afastando cerca de três metros.
Mesmo com o vento ainda vindo de trás deles e levando as chamas para longe, o calor era enorme.
Trez não parecia notar, nem o fato de que eles mudaram de lugar; nem a realidade de que, se as rajadas mudassem, ele poderia ser incinerado.
Ele estava apenas rugindo na pira, os músculos do pescoço saltados, o peito bombeando para cima e para baixo, seu corpo levantado para frente contra a barra
de ferro que era o aperto de Rhage.
Não havia nenhum acompanhamento preciso das palavras, mas, provavelmente, não existia nenhuma.
Às vezes, o idioma não poderia ir longe o suficiente.
Tudo o que você pode fazer é gritar.
Capítulo SETENTA E DOIS
- Na verdade... Eu acho que prefiro ficar aqui.
Conforme Paradise falava, ela olhou para cima de sua mesa. Seu pai estava em pé na frente dela, o relatório que ela tinha acabado de lhe entregar, abaixado ao
seu lado, como se estivesse atordoado.
- Mas, certamente você gostaria de voltar para casa.
Não havia ninguém na sala de espera, aliás, não havia ninguém na casa, exceto Vuchie e a outra equipe. Alguma coisa tinha acontecido no Complexo da Irmandade,
e Wrath tinha cancelado todos os compromissos por várias noites seguintes, quando ele e os irmãos entraram em luto. Ela sabia que não conhecia os detalhes, mas,
o que quer que fosse, tinha acontecido de repente.
Ela rezou para que não fosse alguém morrendo na guerra.
- Estou muito... Feliz aqui. - Isso não era exatamente verdade, mas era perto o suficiente. - Eu gosto de ter meu próprio espaço.
Seu pai olhou ao redor, e depois desmoronou sobre uma cadeira. - Paradise.
Ah, sim. Sua voz "fala sério, querida". E, geralmente, quando ele começava com aquilo, ela se sentia sugada pelo lugar onde se encontrava sentada, fosse ele
qual fosse, já que o tom paternalista dele possuía uma força centrífuga suficiente para vencer a gravidade.
Não esta noite. - Não, - ela disse. - Eu não voltarei para casa.
Oh... Grande. Descobriu que havia algo ainda pior: A dor que se espalhava agora nos olhos dele.
Ela levantou as mãos ao rosto dela. - Por favor, não.
- Eu só... Eu não entendo.
Não, ela imaginou que ele não o fazia. - Pai, preciso de algo que é meu, e não estou falando de um companheiro e filhos e uma grande casa em algum lugar.
- Não há nenhuma vergonha em ter uma família.
- E não deve haver nenhuma se uma fêmea quer uma vida própria, qualquer uma.
- Talvez se você encontrar o certo...
Ela baixou as mãos sobre a área de trabalho, atingindo a borda de seu teclado e o fazendo saltar. - Eu não estou interessada em me acasalar. Nunca.
Com isso, ele empalideceu. Certamente, como se ela tivesse lhe dito que queria correr pelada ao meio-dia.
- Sua apresentação está se aproximando.
- Eu tenho um emprego agora.
Houve um longo período de silêncio, em que a examinou e ela não vacilou. -Isso é porque nós discutimos? - Perguntou.
- Não.
- Então, o que... Mudou, Paradise?
- Eu mudei.
Derrota curvou os ombros de seu pai, e foi quando ela percebeu que, tanto quanto ele era seu ghardian, de acordo com as Leis Antigas, de fato, ele não podia
forçá-la a fazer nada.
Tristemente, isto estava provavelmente muito atrasado.
- É sobre o programa do Centro de Treinamento? - Ele perguntou.
- Sim e não. Trata-se de eu fazendo as escolhas em minha própria vida, em vez de ter as coisas sendo obrigada. Eu só... Quero ser livre.
Seu pai balançou a cabeça. - Acho que sou de uma geração diferente.
Cruzando os braços sobre a escrivaninha, se inclinou sobre eles e pensou sobre o que aquele macho civil havia dito, aquele que viera para a aplicação, e lhe
disse seu nome, mas se recusou a apertar sua mão.
Aquele que ela se pegou procurando, cada vez que a porta da frente se abriu.
- É sobre a segurança, Pai.
-Desculpe?
- Eu querendo fazer o curso de formação. Acho que eu gostaria de saber como me defender. Isso não significa que vou acabar no centro da cidade, lutando contra
os assassinos. Isso significa, porém, que se algo acontecer comigo, eu estaria muito mais preparada para lidar com isso.
- Você está totalmente protegida. Se está aqui ou em casa...
- Mas e se eu quiser ir a outros lugares?
Quando a onda de silêncio seguinte a atingiu, ela sabia onde os pensamentos dele estavam. Apesar de raramente ele ter dito isso em voz alta, sempre fora claro
para ela que, dentre as muitas coisas de que o macho sentia falta em relação ao falecimento de sua querida shellan, desejava que a mahmen dela pudessem compartilhar
conversas esquisitas, como essa. Ele parecia achar que ter uma fêmea que intercedesse fosse trazer resultados mais harmoniosos; uma conclusão que sempre esteve disponível
para ele porque a opção nunca pôde ser vetada.
Talvez sua mahmen o teria ajudado em momentos como este. Talvez não.
Muita coisa estava contida naquele suspiro dele.
Ao lado dela, o telefone tocou, e ela pegou o receptor no primeiro toque, porque o que quer que estivesse na linha seria mais fácil de lidar do que esse tipo
de dinâmica familiar.
- Boa noite, - ela disse.
Houve uma ligeira pausa, e então uma voz masculina com um sotaque estranho disse na Antiga Língua, - Esta é a casa de audiência de Wrath, filho de Wrath.
Ela franziu a testa, e respondeu da mesma forma. - Sim. Como posso ajudá-lo?
- Está localizada no oitocentos e dezesseis da Avenida Wallace.
À medida que o homem lhe deu o endereço, ela olhou para o seu pai. - Como posso ajudá-lo?
- Você pode levar ao vosso Rei uma mensagem importante. Se ele não entregar a guarda do Sombra Consagrado, TrezLath, à meia-noite do dia seguinte nos limites
do Território, Sua Santíssima Alma, Rainha Rashid, governante do s'Hisbe, irá interpretar a guarida do referido macho como declaração de guerra contra o nosso povo.
Ela pretende que o acasalamento sagrado ocorra com a herdeira do trono Sombra na primeira noite após o seu período de luto. O cumprimento poupará todos os vampiros
de muito derramamento de sangue. O não cumprimento irá garantir um flagelo contra a sua população já sitiada.
Clique.
Removendo o receptor de sua orelha, Paradise só podia olhar para o plástico preto com as suas duas cabeças nas pontas.
- Paradise? - Seu pai disse. - O que foi tudo isso?
- Assumindo que não era uma brincadeira... - Ela levantou os olhos para ele. - Os Sombras estão declarando guerra... Contra nós.
Capítulo SETENTA E TRÊS
Algum tempo depois, Trez se tornou consciente de que não estava mais lá fora.
Na verdade, ele estava sentado em sua cama, no terceiro andar da mansão, as palmas das mãos sobre os joelhos, seu corpo de alguma forma ainda em movimento, mesmo
que ele não estivesse se movendo.
Depois que ficou na pira até que ele entrou em um colapso interno e as chamas tinham morrido, alguém deve tê-lo levado até ali.
Isso era o som de um chuveiro?
iAm apareceu na porta do banheiro. - Deixe-me ajudá-lo.
- Não é o que você sempre faz, - Trez murmurou.
- Se os papéis fossem invertidos...
Enquanto seu irmão se aproximava, tudo que Trez podia fazer era olhar para cima, para o macho, como se iAm fosse um gigante.
Emoções borbulhavam através de sua exaustão.
- Você é, - Trez disse suavemente, - o melhor macho que eu já conheci.
iAm parou de repente. Limpou a garganta. - Ah... Vamos tirar essas calças de você, ok? E antes que você diga, sim, sei que você não está com fome, mas eu trouxe
um pouco de comida e sim, um pouco de álcool.
Quando iAm estendeu a mão, Trez pestanejou e viu o congelamento de Selena no espaço, perpetuamente esperando por ele para a agarrar e salvá-la.
Só que ele não tinha sido capaz de fazer.
Inclinando a sua cabeça, estava cansado demais para chorar, e a sensação de que ele iria sentir este mal para o resto de sua vida natural era como um terno de
aço com espinhos no lado de dentro.
- Vamos lá, - iAm disse em uma voz quebrada.
Trez tomou o que foi oferecido a ele por reflexo, nem se importando com o corpo sujo, nem as calças sujas e nem a comida.
Mas a bebida... Neste momento, isso poderia ajudar.
No mínimo, ele poderia desmaiar com isto.
Enquanto eles se dirigiram para o banheiro, seu celular começou a tocar na mesa de cabeceira, e por um momento, ele parou e pensou: Que estranho.
Só que era normal, não era isso. As pessoas chamavam as outras quando queriam algo, quando precisavam de algo, quando tinham notícias para compartilhar ou apenas
queriam checá-las.
Lembre-se, disse a si mesmo. Era assim que isso funcionava...
A próxima vez que ele teve um pensamento consciente, foi quando estava entrando nu debaixo do chuveiro.
Ow.
Isso foi tudo o que ele faz.
Apenas... Ow. Enquanto toda aquela água entrava nos ferimentos em seu peito.
iAm foi quem se inclinou e lavou o cabelo e o corpo dele, apesar da camisa do cara ficar toda molhada na frente e ao longo das mangas.
E, então, eles estavam saindo e era hora da toalha.
Na sua próxima checagem, ele estava sentado na cama com as cobertas dobradas em sua cintura e uma bandeja de colo com comida ao seu lado. iAm estava à beira
do colchão, sua boca se movendo.
Com um deslocamento estranho, Trez assistiu seu irmão de longe, observando seus elegantes movimentos de mão, sua expressão preocupada, seus olhos inteligentes.
- Eu vou ficar bem, - disse Trez quando uma parada aconteceu.
Ele não tinha ideia do que seu irmão tinha falado, mas tinha certeza de que seu bem-estar tinha sido o tema.
- Você pode me fazer um favor? - Trez perguntou quando olhou para a porta do outro lado. - Você pode agradecer... Todo mundo? Por mim? Pelo que fizeram? Eu estava
tão cansado... Não sabia como iria construir aquilo.
Nenhuma razão para adicionar um substantivo ali. iAm sabia do que ele estava falando.
- Eu irei. Claro.
- E eu quero que você faça uma pausa.
- Me desculpe?
- Não vou a lugar algum. Não esta noite. - Ele flexionou as mãos e sentiu a dor muscular nos antebraços, nos ombros. Ele não tinha noção do esforço físico que
seria exigido quando decidiu mexer com todas aquelas bandagens. - Estou muito... Tudo. Eu simplesmente estou fodidamente tudo.
iAm lhe atingiu com um par de feixes de laser. - Você tem certeza? Eu ia dormir aqui com você.
- Obrigado, mas eu preciso de um tempo sozinho. E antes que você diga, não, eu não vou fazer nada estúpido. Você pode pegar todas as minhas armas.
- Você acreditaria que eu já peguei?
Uma imagem de si mesmo com essa arma na sua cabeça, a noite em que Selena tinha ficado doente primeiro, veio à mente. - Sim, eu iria.
Exceto que havia, pelo menos, uma quarenta que o cara não teria encontrado. Não, a menos que ele desmontasse a Jacuzzi.
iAm começou a falar novamente e Trez o observou ir, acenando com a cabeça em diferentes lugares só porque ele não queria ser rude. Sua mente havia se afastado
novamente, e antes que ele percebesse, seus olhos pesavam como chumbo, rolando para trás em sua cabeça.
A próxima coisa que percebeu, ele estava deitado esticado.
A voz de iAm veio de lá de cima, como a de Deus ou talvez um locutor de cinema: - Vou deixar a luz acesa.
Como se ele tivesse quatro anos de idade.
- Obrigado...
iAm se deteve sobre seu irmão quando Trez desmaiou no meio do agradecimento. E quando um ronco suave saiu do cara, ele balançou a cabeça.
Seu irmão estaria assim durante algum tempo.
Olhando para o pé da cama, viu no chão a calça que ele tinha removido, se abaixou e as pegou. Era provavelmente o melhor, que isso não fosse a primeira coisa
que o macho visse quando acordasse e iAm teria preferido jogá-la fora. A ideia de que poderia ser um importante símbolo da morte o impediu, no entanto, e se conformou
em dobrá-la e a colocá-la em uma prateleira no armário.
Ele verificou Trez mais uma vez. Mas além de puxar uma cadeira e assistir o cara respirar pelas próximas quatro ou seis ou dez horas, não havia nada para ele
fazer aqui.
Saindo do quarto, ele parou de novo na porta... E não viu nada que lhe desse qualquer preocupação além do fato de que Trez já parecesse morto.
Sim. Nada errado.
É o mesmo como de costume.
Deus, ele queria vomitar.
Descendo até o segundo andar, ele foi até as portas abertas do escritório de Wrath. Todos os Irmãos e os lutadores estavam lá, alguns sentados, outros andando,
alguns inclinados contra as paredes.
Eles pararam de falar e olharam para ele.
Ele levantou a mão em saudação. - Desculpe incomodá-los. Imaginei que vocês gostariam de saber que ele está dormindo lá em cima. Ele é muito grato por tudo que
vocês fizeram, e me pediu para lhes dizer isso.
Houve algum murmúrio, mas alguma coisa estava errada. Muito errada.
- O que está acontecendo? - Disse ele lentamente.
Wrath falou do trono ornamentado por trás da escrivaninha ornamentada. - Você se importaria de entrar aqui por um minuto e fechar as portas?
Então eles estavam esperando por ele.
- Ah, sim. Sem problemas.
Quando ele fechou todos dentro, cruzou os braços sobre o peito. - Diga. E não a besteira enrolando o que quer que seja. Eu não tenho a paciência ou a energia.
Wrath nivelou aqueles óculos de sol pretos nele. - Recebemos um telefonema cerca de meia hora atrás, na casa de audiência.
- Certo.
- O indivíduo não se identificou. Isso veio, porém, evidentemente, do s'Hisbe. Resumindo, ou eu entrego o seu irmão à meia-noite de amanhã ou a Rainha está declarando
guerra contra, não apenas eu e os Irmãos, mas os vampiros em geral.
iAm fechou seus olhos.
Devia ter visto isso chegando. Ele realmente devia ter.
Ele só poderia realmente ter tido tipo, dez minutos antes da próxima bomba de drama aterrissasse na frente dele.
Soltando o fôlego, ele murmurou, - Filha da puta...
- Mas, nós não vamos desistir dele.
As pálpebras de iAm se arregalaram. - O que?
Wrath apoiou os braços poderosos sobre a mesa e se inclinou, mostrando suas presas. - Eu não respondo à ameaças. E estamos preparados para ir para a guerra,
se é isso que vem por ai... Mas, seja qual for o resultado, eu não vou entregar esse macho em qualquer lugar. Ou prazo.
Conforme um rosnado baixo vibrou através do ar, iAm olhou em volta.
Ele não tinha chorado desde o momento em que Selena morrera, nem mesmo quando ele saíra pelos fundos da casa, seguindo seu irmão para a pira. Era como se, quando
a Escolhida morrera, o fusível elétrico dele encarregado daquela parte queimasse por causa da sobrecarga que tinha de suportar, como se o centro dele ficasse sem
luz.
Agora, porém, quando ele encontrou os olhares fixos e agressivos dos machos na sala, as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto.
Parecia que, depois de décadas estando sem uma tribo, ele e seu irmão tinham encontrado a deles.
Estes guerreiros orgulhosos, e as suas fêmeas, tinham adotado dois órfãos que tinham estado sozinhos no mundo... E estavam dispostos a lutar até a morte para
proteger o que era deles.
Soltando um trêmulo suspiro, ele puxou a sua merda junta e balançou a cabeça para Wrath, embora o macho não pudesse vê-lo. - Sinto muito, mas não posso deixar
você fazer isso...
- Com licença? - O Rei grunhiu. - Eu sei que você não está tentando me dizer como lidar com meus negócios.
- Mas Sombras são capazes de... - Ele limpou a garganta, não querendo insultá-los. - Você não entende o que o meu povo pode fazer.
Eles tinham truques que os vampiros normais não tinham.
Wrath sorriu com uma sede de sangue. - Talvez você não conheça meu aliado? - Quando o Rei passou a mão para o lado, ele apontou para Rehvenge. - Preciso fazer
as apresentações?
Os olhos ametista de Rehvenge estavam frios. - Como líder do meu povo, não estou sem recursos para convocar, e lhe asseguro, somos mais do que capazes de neutralizar
qualquer ataque que a rainha fizer.
Os Symphaths, iAm pensou. Jesus...
Wrath olhou ao redor da sala. - Ela quer uma guerra? Vou dar-lhe uma e garanto que uma política de terra arrasada vai parecer como um maldito jantar de domingo
em comparação com o que estou preparado para fazer com ela se ela tentar tomar o nosso menino.
Com isso, tudo o que iAm podia fazer era ficar lá e piscar como um bobo.
Deus. Maldição. Foi o suficiente para quase fazê-lo sentir pena daquela fêmea.
Capítulo SETENTA E QUATRO
Quando iAm se materializou no terraço do apartamento no Commodore, cerca de vinte minutos depois, descobriu que a nota que ele disse para Fritz trazer mais cedo,
ainda estava presa no vidro. Ele soltou a coisa, viu que tinha sido aberta e lida, e a guardou dentro de sua jaqueta de couro.
Então ele abriu as portas, e ligou algumas luzes com sua mente.
Conforme a iluminação brilhava, ele piscou até que seus olhos se acostumassem. As cortinas balançavam por causa das rajadas de vento frias, até mesmo derrubaram
uma almofada sobre o sofá. Ele não fechou a porta deslizante atrás de si, quando entrou.
Tirando sua jaqueta, ele andou ao redor.
Sua consciência não estava em paz. De modo nenhum. Por ter encontrado sua tribo, apenas para tê-los indo para a guerra por ele e seu irmão? Isso era demais para
se viver. Sim, claro, os Irmãos eram todos caras grandes, e especialmente treinados, e blindados até a bunda, e eles tinham os Symphaths os apoiando.
Mas, pessoas iriam morrer.
Essa era a natureza dos conflitos com armas.
Seja qual for a outra solução, ele tinha de encontrá-la. Rápido...
- iAm?
Quando a voz de maichen se registrou, ele se virou. - Oh, Deus, você está aqui.
Sem dar a pobre fêmea sequer um oi-como-vai-você, ele se aproximou e a arrastou contra ele, segurando-a com força. Mesmo com toda a túnica, ele sentiu seu corpo,
seu calor, sua alma, e bebeu isso, tirando dela a energia de que precisava.
Afastando-se, ele removeu o capuz e segurou a cabeça dela, trazendo-a para um beijo. - Graças a Deus.
- iAm, o que aconteceu?
Ele pegou as mãos dela com urgência. - Preciso que você me escute, e me escute com atenção. Quero levá-la para um lugar seguro.
- iAm, eu não posso ir com você.
- O Território não é seguro.
Ela congelou. Franziu as sobrancelhas. - Do que é que você está falando?
Inferno do caralho, a última coisa que precisava era a realidade de que, se ele não cuidasse corretamente da situação sem saída com a rainha, era provável que
maichen se machucasse ou fosse morta: Ninguém ia ser poupado se houvesse uma guerra com o s'Hisbe, e depois de falar com Wrath e Rehv, ele sabia que ambos os líderes
estavam preparados para atacar os Sombras onde viviam.
À meia-noite de amanhã.
- Estão acontecendo coisas em níveis bastante elevados. O palácio não vai ser seguro o suficiente...
- Nós estamos para ser atacados? Por quem?
- Eu não pretendo entrar nisto.
Ela deu um passo para trás nitidamente. - O que está errado?
Naquele momento, uma figura apareceu no corredor, uma enorme figura vestida de preto.
- Bem, bem, isso é uma surpresa, - s'Ex hesitou. - Princesa.
Depois de um momento de confusão, iAm olhou por cima do ombro para a porta deslizante aberta, perguntando se uma quarta pessoa tinha entrado no apartamento.
Considerando a forma como o drama tem funcionado ultimamente? Sim, a filha da rainha absolutamente, poderia ter aparecido aqui sem uma boa razão.
As coisas estavam fora de controle.
- Você não se apresentou corretamente ainda? - Disse s'Ex. - Gostaria que eu fizesse as honras, sua Alteza Sereníssima?
Conforme iAm sacudia a cabeça, ele decidiu que talvez houvesse outra explicação: s'Ex tinha claramente perdido a sua fodida cabeça. - O que diabos você está
falando?
- Você quer dizer que ela não te disse?
iAm olhou para maichen. - Me disse o que? Ela é uma empregada que cuidava de mim.
- Ela é a noiva de seu irmão. - O executor da Rainha veio para dentro da sala, espreitando os dois. - E nos termos da legislação do palácio, agora estou obrigado
a matá-lo, porque você viu seu rosto. - O homem se inclinou e baixou a voz para um sussurro. - Embora eu esteja pensando, considerando a maneira como você a cumprimentou...
Que você provavelmente já viu muito mais do que isso. Você não fez? A menos que queira que eu acredite que ela se encontra aqui apenas para fingir que lava a sua
roupa?
Frio. Frio sobre a cabeça, nos ombros, no peito, até aos pés.
iAm ficou instantaneamente frio.
s'Ex era um monte de coisas, mas uma coisa que ele raramente tinha... Raiva. E o homem estava enorme-merda-chateado-demais com a fêmea que estava do outro lado
do caminho dele, como se ela tivesse colocado todos em uma situação que nenhum deles iria ser capaz de lidar.
Se ela fosse realmente uma empregada? Ele não teria se importado. A classe servil não era valorizada acima de sua capacidade de realizar funções. s'Ex poderia
ordenar que ela voltasse para o Território e mandá-la para alguma punição, mas ele não estaria tão irritado.
Virando-se para maichen, iAm nivelou seu olhar fixamente nela. Com uma voz perfeitamente calma, ele disse: - Eu vou te perguntar uma vez, e apenas uma vez, e
você nunca vai ter outra chance de ser honesta comigo. Então, leve seu maldito tempo para pensar sobre qual será sua resposta para esta pergunta. Quem. É. Você?
Enquanto esperava pela sua resposta, ele se lembrou de uma determinada coisa que ela tinha dito. Na época, ele tinha entendido o significado de uma maneira oposta.
Agora? Ele temia que ela estivesse insinuando a verdade; ele simplesmente não tinha percebido isso.
Nós somos iguais, você e eu.
Não, ela disse, infelizmente nós não somos.
Princesa Catra vin SuLaneh etl MuLanen deh FonLerahn olhou nos olhos de iAm. Embora sua voz até mesmo estivesse ao ponto de relaxada, ele era tudo menos isso.
Fúria fervia sob sua pele quando ele chegou à sua própria conclusão, e estava, obviamente, apenas esperando para ver se ela teria a coragem de se revelar.
- Nos dê um momento, - ela disse para o executor.
- Eu não penso assim, Princesa.
- Você vai sair desta sala e esperar lá fora... - ela apontou para a porta aberta - ... Até que eu te chame de volta aqui.
Os olhos de s'Ex se estreitaram, um surto de ódio brilhando para ela. - Não flexione músculos que você não tem, fêmea.
- E eu te aconselho a não me testar. Você não vai gostar do resultado, ou sobreviverá a isso.
Quando ela o enfrentou com um olhar duro, o lábio superior de s'Ex enrolou para cima, mas ela não se importou. Ele era um assassino e um macho muito potente,
mas ele era, e sempre seria, governado pelas tradições s'Hisbe. Isso era o que não era compreendido sobre ele, ele nunca havia matado ou mutilado sem provocação.
E ela já suspeitava que ele desse a si mesmo à sua mãe não por amor, mas para proporcionar um efeito politicamente estabilizador.
Poucos poderiam adivinhar o verdadeiro papel que ele exercia nos bastidores, mas ela sabia, porque tinha espionado por todos esses anos.
E, no entanto, apesar do domínio que segurava e a influência que tinha no palácio, ele nunca tinha tentado derrubar ou até mesmo diminuir sua mãe de qualquer
maneira.
Em vez disso, ele tinha sempre defendido seus caminhos. Protegido. Consolidado.
- Vá, - ela retrucou.
Com uma maldição, s'Ex se virou e saiu. Quando chegou à porta deslizante, ele murmurou, - Você não tem ideia de com o que você está lidando, iAm. Divirta-se.
Saindo, ele fechou a porta. E ficou exatamente onde ela o tinha ordenado a permanecer.
Fechando os olhos, ela tentou encontrar as palavras certas. Ela não tinha dormido nada durante o dia, mas, tinha lutado com sua consciência por horas. E quando
tinha vindo aqui antes, tinha estado resolvida. Ela estava totalmente e completamente apaixonada por iAm.
E sabia que tinha sido um erro terrível levar as coisas tão longe quanto foram.
Era hora de dizer a ele... Antes que a tocasse. Depois disso, ela provavelmente se perderia demais, mais uma vez.
Limpando a garganta, ela disse: - Eu sou...
- Na verdade, - iAm interrompeu, - não se incomode. Esse pequeno ato que acabou de fazer com ele é toda a explicação que preciso. - Ele parou e começou a andar,
arrastando as mãos sobre a cabeça. - Que porra era essa que você estava pensando...
- Eu não queria que isso acontecesse.
- Oh, vamos lá, Princesa, como se você escorregasse e caísse no meu pau? Nós dois sabemos que isso não foi o que aconteceu.
Ela franziu a testa. - Eu não entendo muito bem essa frase, mas, dado o seu tom, devo perguntar se tal grosseria é necessária...
- Você está brincando comigo? - Ele levantou as mãos. - Você está prometida em casamento. Para meu irmão. E não só mentiu para mim, como me fodeu!
Catra cruzou os braços e olhou para ele. - Talvez você gostasse de reformular a frase para refletir a verdade.
- Então, além de louca, é mentirosa? Ótimo! Fabuloso! Pelo que, exatamente, você está discutindo? Sua mentira ou nossa foda?
- Se bem me lembro, você dificilmente foi abusado por mim. E isso é o que você está fazendo parecer. - Ela se inclinou para frente. - Na verdade, eu me lembro
exatamente como sua voz soou no meu ouvido quando você disse meu nome.
Ele recuou. Piscou algumas vezes. Em seguida, ele se inclinou também. - Mas, esse não era o seu nome, era? Até onde eu sabia, estava me deitando com uma empregada,
e não com a herdeira do maldito trono!
- Você estava deitando comigo! - Ela bateu seu próprio peito. - Eu sou aquela com quem você estava!
- Besteira! Você não acha que pela porra de um momento eu teria feito escolhas diferentes se soubesse quem você realmente era? Ou você é tão fodidamente egoísta
e arrogante, Sua Alteza Sereníssima, que não pode compreender ou se importar, até mesmo por um minuto e meio, que há repercussões quando você mente sobre a sua identidade
e perde sua virgindade com a porra do irmão errado!
- Eu não queria que isso fosse tão longe quanto foi!
- Isso eu acredito, - ele rebateu severamente.
- iAm...
- Não. - Ele ergueu as duas mãos. - Apenas não. Não vou refazer essa besteira com você. Eu não tenho tempo ou interesse.
- Eu estava vindo para lhe dizer. Sei que te coloquei em uma posição horrível...
- Meu irmão acaba de perder sua shellan, - ele disparou. - Isso é um problema. Ela morreu na frente dele, e ele passou a maior parte do dia e um pouco da noite,
preparando o corpo dela para a porra de uma pira funerária. Então, teve de assisti-la queimar até que não houvesse sobrado nada além de cinzas em um chão frio. Essa
merda é real. Mas, espere, a diversão e os jogos não terminaram ainda! No topo disso tudo, acabo de saber que sua mãe, a puta que é, está se preparando para atacar
as únicas pessoas que já tentaram tomar conta de mim e de Trez, se eles não o entregarem, como um pacote, da noite para o dia, e estiver na soleira da porta dela
até a meia-noite de amanhã. Considerando que ele tenha a honra duvidosa e o privilégio de se acasalar com alguém da sua laia. - Quando Catra engasgou, ele cuspiu,
- Então, o fato de termos feito sexo está tão abaixo na minha lista de prioridades, que nem aparece na minha tela de radar. Você não é tudo isso, Princesa.
Ela não ia chorar.
Não, ela não ia.
Mesmo que o seu peito estivesse gritando de dor, ela não iria desmoronar na frente dele. Ela causou isso para os dois, e além do conflito particular, parece
que os perigos reais para o seu povo eram iminentes.
- Eu queria viver, - ela se ouviu dizendo com a voz rouca. - Pela primeira vez, eu queria viver. E não ia conseguir uma segunda chance. Você... Você era a única
oportunidade que eu iria conseguir, e ia dizer a você hoje à noite. Sabia que não era justo. Sinto muito, muito mesmo.
Afastando-se dele, ela foi até a porta de vidro deslizante e a abriu.
- É tempo para que eu entre e me junte aos pombinhos? - S'Ex murmurou.
- Você estava ciente de que minha mãe tenha emitido uma declaração de guerra contra Wrath, filho de Wrath? Sobre o Consagrado e nosso acasalamento?
O executor ficou muito imóvel, suas vestes batendo em torno dele nas rajadas de vento. Encontrando seu olho, ele balançou a cabeça gravemente. - Se isto for
verdade, não seria aconselhável.
Capítulo SETENTA E CINCO
Eeeeeee era por isso que as pessoas não devem se casar em Vegas depois de conhecer uma pessoa por apenas 24 horas, iAm pensou.
Enquanto a fêmea que ele tinha assumido ser apenas uma empregada, acabou se transformando na herdeira do trono de merda, e confrontou o carrasco de sua mãe,
ele queria acreditar naquilo. A única possível salvação naquela bagunça toda era que, embora ele conseguiu ser o primeiro amante da prometida de seu irmão, pelo
menos não havia a possibilidade de Trez estar destroçado com isso.
Não por causa disto, de qualquer forma.
Pequeno conforto.
Não era a grande existência.
A boa notícia? Ele não ia ter de se preocupar com nada dessa merda de fêmeas novamente por um longo tempo. Após esta experiência? Ele estava voltando para a
terra da mão esquerda. O celibato havia funcionado para ele até agora, e estava pronto para voltar a se abraçar nele, por assim dizer.
s'Ex entrou devidamente e fechou a porta atrás de si. - O que é isso sobre a guerra?
iAm revirou os olhos. - Não tente me dizer que a rainha fez a ameaça sem você. Você é o general de seu exército. Seu executor. Me dê a porra de um tempo.
- Posso assegurar a você, - s'Ex murmurou enquanto arrancava o capuz, - que eu teria dito não. Somos guerreiros capazes, especialmente os meus guardas, e nós
temos armamentos que ninguém tem consciência. Isso não significa que é aconselhável cortejar a ira de Wrath. Sua reputação ao longo dos séculos o precede.
iAm olhou para o cara. Em outras circunstâncias, ele estaria convencido de que s'Ex estava falando a verdade, mas, depois de ter acabado de ser pisoteado por
maichen, preferencialmente a Princesa, ele não era tão arrogante sobre seus poderes de percepção mais.
- Eles não vão devolver o meu irmão para o seu povo, - disse ele. Então olhou para a Princesa. - E eles têm o apoio dos Symphaths. Não importa o que ameace ou
o que faça, aonde você vá ou se tentar uma queda de braço, Wrath e os Irmãos não irão entregá-lo a você.
- Você faz parecer como se eu o quisesse. - Sua voz ficou rouca. - Eu não quero. Não tomarei qualquer macho no meu corpo ou no meu coração.
Ele deu de ombros. - Isso seria poético. Se você não tivesse já comprovado o quanto, uma grande mentirosa você pode ser.
A chama da dor em seus olhos era algo que ele se recusou a se importar. Inferno, por tudo o que sabia, ela estava só desapontada que foi pega.
Jesus, se ela acasalasse com seu irmão, poderia esse rola-rola na cama continuar. Pare com isso! Simplesmente pare com essa besteira, ele disse ao seu cérebro.
Dado ao número de coisas verdadeiramente legítimas com que preocupar sua cabeça, ele realmente não devia acrescentar outros assuntos hipotéticos à lista.
- Como é que você descobriu sobre isso? - Perguntou s'Ex. - Esta declaração?
iAm olhou para o macho. - Um telefonema foi feito para a casa de audiência. Era de um número não identificado em uma linha indetectável, mas, mais ao ponto,
como ninguém mais em Caldwell sabe sobre a situação do meu irmão com o s'Hisbe, ou o período de luto da Rainha, tinha de ser legítimo. Havia muita informação privilegiada,
e quanto a como eles conseguiram o número? Não é nenhum grande segredo.
Interessante como ele usou o eles ali.
Sim, ele estava começando a se sentir um vampiro, não um Sombra, independentemente de seu DNA. Então, novamente, Wrath e a Irmandade ofereceram a ele e seu irmão
comida, abrigo, amizade, lealdade.
O s'Hisbe só tinha sido apenas cheio de exigências e prisões.
- Quando você voltar para lá, - iAm disse, - pode dizer a eles que o meu irmão e eu não nos hospedamos mais com os vampiros, e Wrath e os Irmãos não têm conhecimento
de onde estamos. Nós iremos desaparecer, e nenhum de vocês, - ele olhou para a Princesa, - será capaz de nos encontrar.
Outra beleza desta revelação real dela?
A única coisa que poderia tê-lo arrancado da ideia de sair daqui, o laço que o segurou até agora, havia ido embora.
Saindo de Caldwell, deixando os Estados Unidos, ficando bem longe e desse jeito iria ser, provavelmente, saudável para ele.
Merda, sabiam que tinham dinheiro suficiente para ir por um século, mesmo que nunca ganhasse mais um centavo. E embora ficaria triste por não ver mais o Rei
e a Irmandade e aquela casa inteira, se evitasse a guerra, ele estava preparado para deixá-los.
Ele e Trez estavam fora daqui.
Pelo melhor.
Conforme iAm ia até a porta de vidro deslizante, Catra teve de gritar com si mesma para não correr atrás dele. Tudo parecia um pesadelo, tudo sobre a noite.
Ele não olhou para ela enquanto saía.
E mesmo que não poderia culpá-lo, ela queria gritar.
Fechando os olhos, ela baixou a cabeça e suspirou em suas mãos.
- Não me diga que você se apaixonou por ele, - disse s'Ex severamente.
Obrigando-se a soltar as mãos e enfrentar o executor, ela encontrou seu olhar. - Por que você estava aqui? Você não poderia ter me seguindo. Tomei cuidado.
Ele desviou o olhar. - Eu conheço um pouco este lugar.
- Você esteve aqui antes?
- Você não é a única pessoa que deseja ser livre de vez em quando. Esses dois irmãos me deviam certos... Favores, digamos assim.
Quando ele parou de falar, ela sentiu que existia dor nele. Dor profunda. E ela se perguntou se talvez ele não tivesse estado lamentado por sua criança neste
lugar privado, de luto pela perda que foi decretada pelas estrelas.
Olhando fixamente para o macho orgulhoso, ela se viu formando uma espécie de parentesco com ele. Ela nunca tinha imaginado que ele era infeliz e insatisfeito
com o que tinha, e talvez não estivesse. Mas, ele teve de sacrificar a sua própria carne e sangue pelas tradições... E pela mãe dela.
Ou foi forçado a isso, por causa das estrelas.
- Eu sinto muito, - ela disse.
- Sente pelo o que?
- Você está bem ciente do que.
Era raro que um macho como ele desviasse os olhos para evitar outro olhar firme, mas ele o fez, agora. - Eu não tenho noção do que você está falando.
Se reorientando, ela sabia que tinha de sair, e por várias razões. Estava muito claro, porém, que esta seria a última vez que ela pisaria neste lugar que continha
tantas memórias para ela. Embora tivesse conhecido iAm por meras noites, tinha sido... Uma vida eterna.
Deixar aquele lugar era como fechar a porta para o único brilho que ela já tivera.
- Vamos prosseguir, - s'Ex disse, como se ele lesse sua mente, sentisse suas emoções.
Sem mais conversa, eles vestiram seus capuzes, foram até a porta, e saíram. O vento estava tão forte e frio que roubou seu fôlego e, por um momento, ela não
conseguia se concentrar e se desmaterializar. Pouco tempo depois, no entanto, ela estava saindo, junto com s'Ex, deslocando-se ao Território.
Quando eles se reformularam, estavam na floresta na parte traseira da parede de contenção. Disfarçada de empregada, ela jamais teria sido admitida pela porta
da frente...
Algo estava errado.
Vários guardas estavam agrupados em torno da entrada de trás, conversando com animação.
- Fique aqui, - s'Ex ordenou. - E não discuta comigo.
- Eles não saberão quem eu sou.
- A menos que alguém descobriu que você saiu.
Ela foi cuidadosa, pensou.
Exceto... A mãe estava em cima dela, não estava?
s'Ex deu um passo adiante. Parou. Girou ao redor e indicou para a esquerda. - Há um painel secreto cerca de quatrocentos metros deste lado. Vou te encontrar
lá o mais rápido que eu puder.
Catra franziu a testa, e estava curiosa que tivesse um súbito desejo de proteção sobre s'Ex. O executor da Rainha era mais do que capaz de cuidar de si mesmo,
porém.
A não ser, é claro, ele fosse encontrado de alguma forma a esgueirando de volta. Então ele estaria em perigo mortal.
- Lamento a posição em que te coloquei, - ela disse.
- Arrependimento é um luxo que você e eu não podemos pagar. Siga por esse caminho. Vou levá-la a seus aposentos de alguma forma.
Com isso, ele se afastou, sem se preocupar em esconder seus passos. E ao som dos estalidos dos bastões, os guardas pegaram suas armas, preparados para atacar.
- Sou eu, - s'Ex anunciou.
O fato de que os guardas não relaxaram, a deixou preocupada.
- Estão procurando você, - um deles disse, desconfiado. - A Princesa se foi.
- Eu sei. Eu estava fora à procura dela.
- AnsLai esteve à sua procura, - acrescentou outro.
- Então irei a ele agora e farei o meu relatório. - Ele baixou a voz a uma ameaça. - A menos que você esteja com a ideia de tentar me impedir o acesso.
- A Princesa não está em seus aposentos, - um terceiro repetiu.
Catra engoliu em seco. Eles ainda não tinham colocado no lugar as suas armas.
- Você não ouviu que eu disse ter ido à procura dela na floresta? Ela está vestida como uma empregada. Poderia facilmente ter saído desta forma para um passeio
noturno.
Com movimentos sutis, s'Ex alcançou atrás das costas, a mão encontrando uma ponta em sua túnica. Quando ele casualmente recolheu seu braço, a maior faca serrilhada
que ela já tinha visto surgiu.
E, ainda assim, a sua voz continuou calmamente. - Ela não tem comida, nem abrigo, nenhuma arma, e não é capaz de sobreviver sozinha. Onde exatamente você acha
que ela iria? É muito mais provável que ela esteja dentro do Território, ou até mesmo no próprio palácio.
- Eles disseram que você a ajudou a escapar.
- Quem disse?
- AnsLai.
Ah, sim, o Sumo Sacerdote, que era a outra mão direita de sua mãe.
Isso poderia ser uma tentativa de golpe contra o executor?
- Quem exatamente você acha que me mandou ir procurar a Princesa? - Perguntou s'Ex. - Ou você está me dizendo que as ordens da rainha não são tão poderosas quanto
as de um Sacerdote? É isso que você gostaria que eu levasse de volta à sua regente? Porque irei, junto com seus corpos mortos.
Instantaneamente, tudo mudou, a situação se desarmou, os guardas embainharam suas armas, s'Ex colocou a lâmina nas dobras de seu manto, em sua coxa. Um momento
depois, ele estava no interior das muralhas.
Estando sozinha na escuridão, Catra passou os braços sobre si mesma e estremeceu. À medida em que a noite fria a envolvia, e a enormidade do que estava acontecendo
afundava nela, tudo o que ela ouvia era a voz de iAm em sua cabeça:
"Meu irmão acaba de perder sua shellan.
Ela morreu na frente dele, e ele passou a maior parte do dia e um pouco da noite, preparando o corpo dela para a porra de uma pira funerária.
Então, teve de assisti-la queimar até que não houvesse sobrado nada além de cinzas em um chão frio.
Eu acabo de saber que sua mãe está se preparando para atacar as únicas pessoas que já tentaram tomar conta de mim e de Trez se eles não o entregarem, na soleira
da porta dela, até a meia-noite de amanhã."
Por muito tempo ela tinha estado nas sombras, uma jogadora periférica para o verdadeiro poder do seu povo. Como a herdeira do trono, ela não deveria ter nenhuma
influência atualmente.
Esse tempo já passou.
Ela sempre tinha respeitado o jeito tradicional. Mas, tendo experimentado a dor e a perda pessoalmente? Ela não podia deixar que isso continuasse.
A mágoa e a raiva de iAm transformaram seu caminho de uma maneira significativa. Ela o tinha ferido, o comprometido, mentido para ele. Ele estava certo; ela
tinha sido egoísta.
Tinha de haver uma maneira de parar tudo isso. Parar a guerra. Permitir que Trez e iAm fossem livres. Deixar-se ser...
Bom, se não livre, então pelo menos não sendo um veneno infeccionando os outros e arruinando suas vidas. Tudo por causa de algum registro astrológico que não
levou em conta, nem por um momento, as escolhas e emoções pessoais, as vidas individuais.
Caminhando na direção que s'Ex lhe disse para ir, ela tentou ficar em silêncio e andar na parte mais espessa da floresta.
Ela não tinha certeza exatamente de onde o painel oculto estava.
E não tinha ideia do que ia fazer se s'Ex não aparecesse. Ou... Se ele tivesse uma mudança de coração e, por meio de interesse próprio ou de auto-sobrevivência,
se virasse para o lado de sua mãe.
Mas, depois de uma vida sendo apropriada, ela afundaria lutando.
Capítulo SETENTA E SEIS
Haviam planos para serem feitos.
Conforme iAm tomava forma na parte de trás do estacionamento do restaurante do Sal's, ele estava completamente a fim de se jogar naquilo. Verificando o relógio,
tomou nota do tempo; tinha cerca de doze horas para organizar tudo antes que pudesse partir com Trez. As passagens poderiam ser adquiridas on-line. O SUV já estava
abastecido. Bancos e escritórios de advocacia abririam às nove, embora ele tivesse deixado aquele tipo de coisa em ordem para que pudesse ter dinheiro vivo bem rápido.
Xhex poderia assumir a shAdoWs e o Iron Mask se ela quisesse. Se não, eles poderiam deixar esses para Big Rob e Silent Tom. Deus sabia que esses dois bastardos
já eram co-proprietários apenas em virtude do suor. E o Sal's?
Bem, aquilo ia se tornar problema de seu chef, Antonio diSenza. O cara estava concentrado, cuidando da parte da frente e de trás da casa. E ele trataria bem
do resto do pessoal.
Todas essas transferências eram o que os advogados iriam fazer. Pelo menos foi esperto o suficiente para conseguir uma procuração de Trez anos atrás, então ele
ia poder assinar tudo sem ter de aborrecer o cara.
E quanto ao próprio Trez?
O macho estava dormindo; o texto de Fritz chegou cerca de dez minutos atrás. O plano era deixar o pobre bastardo descansar o maior tempo possível. Então lhe
diria que estavam indo em uma viagem ao redor do mundo.
Se a maneira como Trez estava naquele quarto era alguma indicação? Ele não ia representar muita luta. Ele tem estado tão fora-de-tudo, que iAm poderia ter feito
uma cirurgia de coração aberto nele sem o colocar em uma máquina de circulação.
Mais cedo ou mais tarde essa bolha de exaustão e choque ia se desgastar, e lá estaria alguma merda do núcleo duro do outro lado, com certeza. Mas, eles poderiam
cruzar essa ponte quando chegassem lá: primeira ordem dos negócios era assegurar a saída deles de Caldwell. Em segundo lugar era fazer Trez se mover. Em terceiro
era, ficar como fantasmas.
Quanto aos Irmãos e o Rei? Ele iria avisar a todos via texto e deixar seu telefone para trás.
Os Sombras podiam ler mentes, se a situação pedisse por isso. Se ele não deixasse rastros e não houvesse maneira de ser contatado? Então, quando Wrath dissesse
a s'Ex ou a AnsLai ou a qualquer um do s'Hisbe, que ele não sabia onde estavam e não os ajudou a escapar? A verdade estaria verificável e óbvia.
Dessa forma, a Irmandade e os vampiros estariam a salvo.
Caminhando para frente, ele passou pelos carros das pessoas com as quais vinha trabalhando junto pelos últimos dois anos. Mesmo que fossem humanos, ia sentir
falta deles, embora não necessariamente porque ele tinha profundas relações pessoais com eles. Era mais porque tinha gostado deste trecho de sua vida. A culinária,
o fingir o estresse, as demandas.
Em comparação com o que realmente estava sobre seus ombros, tinha sido um agradável alívio, como ir assistir a um filme quando você precisa de uma pausa.
Além disso, aqui no Sal's? Se houvesse alguma merda errada, sempre conseguiria resolver.
Abrindo a porta traseira, ele parou. As vozes urgentes, o barulho, o calor, os cheiros... Por um momento, ele teve de piscar rapidamente.
- Chefe! - Alguém disse. - Você voltou!
Imediatamente, as pessoas estavam vindo até ele, batendo palmas, falando com ele, fazendo perguntas.
Deus, eu quero ficar aqui, ele pensou.
Como em tantas outras noites, ele mudou as linhas de pensamento, em sua cabeça, fugindo das coisas referentes à Trez, para as coisas que ele desejava ser livre
para pensar, sempre. O lugar estava agitado depois de tantas horas de limpeza, as salas de jantar estiveram cheias, e um crítico da revista Food & Wine tinha aparecido
e jantado com quatro pessoas, e falado com ele por horas.
Ele não iria informar a todos qualquer coisa sobre a mudança de propriedade. Ele só ia fazer isso e enviar os documentos. E ia cuidar das implicações fiscais,
também, para que tudo estivesse claro e livre.
Indo até o fogão, ele tirou a tampa da panela de marinara e cheirou. Então, pegou o pote de orégano e acrescentou alguns. - Eu disse a você na semana passada,
- disse ele ao Sous Chef. - Você precisa observar o equilíbrio aqui.
- Sim, Chef.
Quando recolocou a tampa, ele pensou sobre como tinha imaginado trazer maichen aqui. Como, em um momento cor-de-rosa, quando ele tinha imaginado a mudança dela
para Caldwell ficando junto dele, ele os tinha visto sentados na cozinha em uma noite de segunda-feira, quando o restaurante estava fechado, em um jantar romântico
aonde a guarnição estava na estação de trabalho.
Ele havia chegado ao ponto de planejar o menu.
De certa forma, ele e Trez estavam percorrendo caminhos semelhantes. Ele não tinha, literalmente, sua amada morta... Mas a mulher por quem tinha se apaixonado,
não estava mais no planeta.
Deus, isso realmente machucava.
E realmente, talvez ele precisasse adicionar mais uma coisa na sua lista de afazeres para a pré partida. Depois que verificasse os dois clubes, seria uma boa
ideia tomar uma bebida.
Sim. Quando chegasse a hora de voltar para a mansão, qual a melhor maneira de passar o que restava da noite do que se aconchegar à uma garrafa de uísque. Isso
seria, provavelmente, a última vez em um longo tempo, que seria capaz de desconectar.
Além disso, nunca ficou de ressaca. Assim, ele estaria fresco como uma margarida de manhã.
Era o único benefício de ser um Sombra que ele já encontrou.
Quatrocentos metros.
s'Ex lhe disse para ir uns quatrocentos metros. Catra não tinha ideia do que isso significava, mas, tinha de ser um longo caminho. Ou... Não?
Conforme procedia ao longo, ela passava de uma árvore para outra, se escondendo atrás dos troncos o que, supunha, era um pouco estúpido, e aceitava o ponto de
s'Ex; que ela realmente não podia cuidar de si mesma. Um ataque poderia muito bem vir da parte de trás, e mesmo enquanto tentava escutar o mais longe que podia,
a batida do seu coração era um tambor tão alto que matava seus sentidos.
Teria sido muito melhor percorrer o terreno em espírito, assumindo um estado de Sombra, mas, ela estava muito dispersa para isso, e não queria parar e perder
tempo tentando se concentrar...
Weeeeeeeeeeeeeeeeeeeee-oooooooooooooooooooh.
Congelando ao som estridente, olhou em pânico para a direção de onde isso tinha vindo. Um momento depois, uma figura saiu em uma clareira.
Era um empregado.
Um funcionário macho que... Aconteceu de ser tão extraordinariamente alto e forte como s'Ex era.
Weeeeeeeeeeeeeeeeeeee-ooooooooooooooooooooooh.
Quando ele fez o som de novo, ela procedeu à frente, levantando as saias para cima. Se libertando dos ramos mais espessos de pinho, rezou para que ele ainda
estivesse do seu lado.
- Me perdoe o traje, - ele murmurou debaixo do capuz cinza de seu traje farshi. - Mas, achei que tinha funcionado para você, por quanto tempo?
Ela estava sem fôlego, embora não tivesse corrido qualquer distância. - O que está acontecendo?
- Não é seguro para você. Há guardas em todos os lugares, procurando. Sua mãe sabe que você deixou não só o palácio, mas o território, e ela ordenou uma purificação
pública para você.
Catra fechou os olhos. Ela tinha visto essa tortura horrível, um ácido especial era introduzido no sangue de tal forma que o "tratado" se contorcia de dor e
vomitava por várias noites até que eles mesmos se livrassem de quaisquer impurezas que supostamente foram contaminados.
- Você não vai sobreviver a isso, - disse s'Ex severamente. - Sua única esperança é voltar para Caldwell. Podemos encontrar um lugar para você para ficar...
- Não, - ela vociferou.
- Não tente ser uma heroína aqui. Você só vai perder.
- Se eu ficar, eles apenas farão Trez ser companheiro de outro alguém. A rainha vai tentar ter mais crianças, e, eventualmente, terá um. Isso não o salvará.
s'Ex balançou a cabeça. - Você não precisa se preocupar com esse macho agora. Sua vida acabou se for a qualquer lugar perto daquele palácio. Pelo menos se correr,
terá uma chance.
- Mas, eles vão me encontrar. Eles nunca vão parar de me procurar, você sabe disso. - Ela endireitou os ombros. - Tem de haver outra solução.
- Não, não vá lá. Olha, vou te ajudar. Vou fazer o que eu poder...
- Não seja um tolo. Você disse a esses guardas que a Rainha lhe enviou para fora procurando por mim. Isso era uma mentira. Mais cedo ou mais tarde ela descobrirá
tudo no palácio; ela vai saber que você estava fora do Território na mesma noite em que desapareci. Mesmo se você tentar mentir dizendo que não estava envolvido
com minha fuga, ela vai saber. Vai mandar te torturar e te matar pela traição de me ajudar e cumplicidade, e vai desonrar seu nome.
s'Ex começou a falar, mas Catra não ouvi nada.
Sua mente estava agitando, agitando... Agitando.
Sem aviso prévio, como algo surgindo das profundezas das águas escuras, ela se lembrou de algo que a Rainha tinha dito:
"Posso ter outra de você, se eu quiser. Você é tão substituível quanto qualquer coisa neste meu mundo. Jamais se esqueça de que eu sou o sol em volta do qual
esta galáxia gira, e posso alterar seu destino em um piscar de olhos."
Alterar. Destino.
Um horror repentino a agarrou pela garganta. - s'Ex... Você deve me levar para a Sala Sagrada de Astrologia.
- O quê? Você está louca? A ideia é ficar longe de AnsLai e do Astrólogo Chefe, não seguir diretamente para eles.
Ela balançou a cabeça lentamente. - Não, eles estarão em luto com ela. É a última noite. Eles têm de estar com ela para completar os rituais. - Ela olhou para
ele. - Gostaria de ir sozinha, mas posso precisar me defender... Eu preciso da sua ajuda para fazer isso.
- O que diabos você pensa que vai encontrar lá dentro?
- Só me leve lá. Por favor.
Ele amaldiçoou em voz baixa. - O palácio está cheio de guardas.
- Sim.
- Não é como se pudéssemos apenas caminhar diretamente para a parte mais sagrada do composto da sua mãe.
- Se demorar um minuto ou uma hora ou o resto da noite, não importa, contanto que você me leve lá.
Uma eternidade se passou enquanto ele olhava para ela. - Você vai nos matar.
Ela encontrou os olhos dele através da malha que cobria seu rosto. Balançando a cabeça, ela disse, - Nós já estamos mortos. E você sabe disso.
Capítulo SETENTA E SETE
Quando Trez despertou, seu rosto e seu travesseiro estavam molhados. Enxugando as bochechas, ele ergueu seus dedos para cima e olhou para eles cintilando à luz
do lampião.
Então.
Esse era o outro lado de tudo isso.
Deixando seus braços caírem de volta para a cama, ele olhou para o teto. Em algum nível, não conseguia acreditar que ainda estava aqui. Fisicamente e mentalmente.
Seu quarto sempre foi tão quieto?
Jesus, toda vez que ele respirava profundamente, seu peito doía como se tivesse quebrado todas as suas costelas. Duas vezes cada.
E então, havia o rolo de filme de tortura: Com cada piscar de suas pálpebras, outra parte da sua perda passava através de suas retinas, e teve de se perguntar
se talvez era isso que estava acontecendo em seu sono e por que tinha acordado como ele tinha.
Parte dele queria que o incessante processo parasse. Outra parte estava apavorada que, se o fizesse, isso significaria que a coisa do esquecimento que ele estava
tão preocupado, já estava começando.
Há quanto tempo estava dormindo?
Ele ficou onde estava por um minuto ou dois... Ou talvez fossem horas? Ou noites? E, em seguida, estendeu um braço e bateu levemente ao redor procurando por
seu telefone. Quando ele ligou a tela para ver as horas, havia toneladas de notificações sobre textos e chamadas perdidas e mensagens de voz, mas ele não tinha a
força para checar todas elas.
Colocando o celular de volta para baixo, ele percebeu no segundo em que soltou a coisa que não olhou as horas.
Onde estaria Selena? Ele se perguntou.
Dirigindo-se ao teto, ele disse: - Você está lá em cima?
O que ela viu? Existia mesmo um Fade?
Engraçado, mas ele não tinha antecipado o medo que tinha agora, mas provavelmente deveria ter. A ideia de que não soubesse se ela estava bem ou não após a morte
era algo que ele iria ter de conviver.
Até que ele mesmo passasse, imaginou. E, em seguida, se era apenas um grande e escuro vazio? Bem, então ele não existiria para se importar.
Ideia feliz.
Quando finalmente foi se sentar, ele engasgou quando a dor explodiu por todo o seu corpo, claro, como se a agonia emocional em sua alma se manifestasse em sua
carne, seus músculos rígidos, os seus ossos dolorosos.
Foi do ritual de preparação.
Talvez fosse desaparecer em um ou dois dias.
Levantou-se e usou o banheiro. Escovou os dentes. Checou seu estômago.
Não, a comida não era uma prioridade.
Bebida poderia ser bom.
Contudo, mesmo quando esses pensamentos internos se registraram, foi à distância, como se estivessem sendo gritados para ele do outro lado de um campo de futebol.
Voltando para seu quarto, ele foi até o armário e abriu as portas duplas. Conforme as luzes se acenderam, recuou.
Ele ainda podia sentir o cheiro dela.
E dois de seus vestidos estavam pendurados entre suas roupas.
Andando para frente, ele estendeu a mão para eles, mas em um último momento, hesitou em tocar as dobras do tecido branco, especialmente porque a ferida aberta
atrás de seu esterno deflagrou em dor novamente.
Era, ele determinou, como uma espécie de corte em seu dedo, que não doía até que você flexionasse seu polegar, e então, a coisa realmente ardia. Exceto que em
uma escala muito maior, é claro.
Era isso o que ele iria ser? Passaria através de suas noites e dias esbarrando em coisas aleatórias e sendo subitamente jogado para as profundezas da sua dor?
- Eu não sei como fazer isto, - ele disse para as roupas dela, - sem você.
E ele não estava falando apenas sobre se vestir.
Quando não houve resposta; mas vamos lá, como se esperasse que o fantasma dela fosse responder, ele pegou a calça mais próxima e a camisa que alcançou, jogou
em seu corpo, e saiu. Por uns bons dez minutos, ele permaneceu no centro do quarto e se entreteve com a tentação de todo o lixo ao seu redor. Mas, seu corpo não
tinha a força ou a coordenação, e suas emoções não poderiam sustentar a fervura da raiva que sentia.
Ele olhou para a janela que Selena tinha quebrado. Ela havia sido magnífica em sua fúria, tão viva, tão...
Santa merda, ele iria levar si mesmo à loucura.
Em seu caminho para a porta, pegou seu telefone celular por força do hábito e, em seguida, parou em frente à saída do seu quarto. Ele tinha certeza que não estava
pronto para os olhares de pena ou perguntas curiosas. Mas, não tinha visto que as persianas ainda estavam abaixadas?
Sim.
Portanto, esperando que toda a coisa da Última Refeição tivesse sido há muito tempo limpa e os doggens se retirado para seu breve descanso antes da limpeza diurna
iniciar. Ele pensou que tinha visto um sete nas horas.
Sim. Sete e alguma coisa da manhã, os números tinham mostrado.
Agarrando a maçaneta de bronze da porta, se sentiu como se estivesse lá embaixo na clínica, quando ele foi deixar a sala de exame depois de todo o tempo com
o corpo de Selena: este era outro portal que ia ter de totalmente se empurrar.
Com uma torção do pulso, ele girou o mecanismo e colocou algum peso nela...
iAm estava deitado sobre o piso liso em frente ao quarto, fora, no frio corredor, sua cabeça depositada na curva do braço, uma garrafa de uísque consumida pela
metade, tampada, deitada em seu peito como um cão leal, as sobrancelhas franzidas, como se mesmo em seu sono ele lidasse com merda.
Trez respirou profundamente.
Era bom saber que o macho ainda estava com ele.
Mas, ele não despertaria o cara.
Pisando com cuidado para não perturbar seu irmão, ele se viu querendo aproveitar esta primeira viagem para o mundo sozinho.
Lá na parte inferior das escadas, ele fez outro abrace-a-si-mesmo com o trinco da porta e se perguntou quanto tempo ia demorar para se recuperar desse hábito,
então empurrou, abrindo a coisa.
- ... Vocês, bando de malucos fotofóbicos.
Sacudindo a si mesmo, ele franziu a testa.
Lassiter, o anjo caído, estava na porta do escritório de Wrath, as mãos no quadril, os cabelos loiros e pretos puxados para trás em uma trança. - É melhor você
mostrar alguma porra de respeito ou não vou dizer nada sobre uma maldita coisa que descobri na minha pequena viagem para o Território.
De dentro do quarto, teve todos os tipos de resmungar.
- Não, - Lassiter disse, - quero que você diga que sente muito, Vishous.
Foi tão estranho. Como uma lente de câmera que subitamente estava focada, Trez voltou on-line, os seus sentidos afiados, um pouco da sombra de seu antigo eu
retornando.
- Eu estou esperando. - Houve uma pausa. - Bom o suficiente. E quero o controle remoto durante a próxima semana, dias e noites.
Uma lamentação incrível, e alguém jogou alguma coisa no cara, o descanso de copo aterrissou no tapete do lado de fora da sala.
- Bem, se você vai ser desagradável de novo...
Seguindo um instinto, Trez se desmaterializou, no mesmo instante, Lassiter deixou cair o ato de babaca e lançou um olhar astuto na direção de onde Trez esteve
de pé.
Sua presença foi sentida.
Mas, ele não permitiria que isso acontecesse novamente.
Sombreamento ao longo do tapete, ele entrou no escritório com Lassiter, fechou as portas e se dirigiu à Irmandade.
- Nós conseguimos um mapa? - O anjo disse.
Tendo o cuidado de ficar fora do caminho dos pés de qualquer pessoa, para que não torcessem seu estado alterado, Trez se postou no canto mais distante do cão
de Wrath. Felizmente, George estava dormindo perto do trono de seu mestre.
A Irmandade se aglomerou em torno da mesa de Wrath quanto Butch desenrolou um quadrado de papel azul-e-verde de noventa por noventa centímetros.
- Aqui, - disse o anjo, apontando com o dedo indicador. - Este foi o lugar onde encontrei isso. Há um muro de contenção que percorre toda a propriedade. As moradias
estão aqui e aqui. O palácio... Bem aqui. A segurança foi reforçada, e pelo que fui capaz de ver, eles estão reunindo suas forças.
Reunindo forças? Trez pensou.
- Precisamos chegar até eles primeiro, - Wrath murmurou. - O primeiro ataque é crítico. Nós não os queremos entrando em Caldwell.
O que diabos estava acontecendo?
- ... Não é possível encontrar esta casa. Ninguém pode encontrar esta casa, -disse V. - Mas, sim, vou ficar para trás. Não gosto disso, mas alguém tem de estar
aqui por via das dúvidas.
Lassiter olhou através da mesa no Irmão e provou que ele poderia levar a sério se precisasse. - Entendido. E estarei aqui, também.
Houve uma fração de segundo em que os machos olharam nos olhos um do outro. - Bom, - V disse. - Isso é bom.
- Onde está iAm? - Wrath perguntou.
- Na última vez em que o vi, - Rhage respondeu, - ele estava indo para cima para verificar Trez e capotar.
- Precisamos ter certeza de que ele mantenha Trez sob este teto. Não quero esse Sombra sendo sequestrado no meio disto. Estou feliz de lutar, merda, estou ansioso
para isso, mas não quero que eles consigam um ponto sobre o pobre coitado. Isso é uma complicação com a qual não quero ter de me preocupar.
Que porra é essa?
Isso tudo era sobre ele?
Trez ficou naquele escritório, com aqueles Irmãos e lutadores, até que aprendeu tudo o que precisava saber e, em seguida, teve de ir embora antes que Rehvenge
chegasse da preparação do seu povo ao norte, na colônia Symphath.
Seu velho amigo, o devorador de pecados, saberia que ele estava lá dentro.
Quando chegou a hora de ir embora, não se arriscou. Ele sombreou sob a porta e continuou descendo a escadaria, e por todo o piso de mosaico do hall de entrada...
E mais distante para fora, passando pelas frestas minúsculas nos umbrais da entrada do vestíbulo e saindo.
Lá fora, o sol estava nascendo sobre a paisagem outonal, raios dourado e rosa batendo nas folhas amarela e laranja e vermelho, bem como nos eriçados ramos de
pinheiro verde escuro e nos pontiagudos ramos de cedro.
Ele não reassumiu a forma até que estivesse a uma distância da casa, apesar de, sem dúvida nenhuma, as câmeras de segurança registrarem sua presença de qualquer
jeito. As boas notícias, se é que podia chamar assim, eram que os todos os Irmãos estavam falando sobre a batalha iminente, então, não estariam tão preocupados assim
com a merda da câmera de segurança. E se algum doggen acabasse topando com ele? Eles simplesmente achariam que ele estava lá fora, para clarear as ideias.
Ele não colocou uma jaqueta, e ficou contente.
O frio o deixou ainda mais desperto.
Mesmo tendo ficado escutando por uma boa hora, ele ainda não podia acreditar em tudo isso: a Rainha declarando guerra contra Wrath e a Irmandade. A recusa deles
em entregá-lo. Os devoradores de pecado se juntando ao lado dos vampiros.
Ele não podia acreditar que haviam tantos preparados para se unir à sua causa.
- Selena? - Ele disse, deixando sua cabeça cair para trás de forma que estivesse olhando para os céus.
Sem estrelas por causa da luz do dia.
Nenhuma nuvem, no que diz respeito a esse assunto.
Nada além de azul pálido.
Trez pensou sobre aquele tempo em que havia tentado escapar do palácio e tinha terminado sacrificando todos os guardas em frente de s'Ex. Tanto derramamento
de sangue.
Só que, naquele tempo, tinham sido estranhos para ele.
Se ele pensava que tinha sido ruim, a merda seria muito pior se a Irmandade entrasse no Território. Eles acabariam por triunfar, com os devoradores de pecado
em suas costas... Mas existiriam morte. Mutilações.
Mais vidas arruinadas.
Virando-se, ele olhou para a grande mansão cinza.
Por mais rígida que a parte externa da mansão fosse, o interior estava cheio de vida e de amor e família.
Se esta guerra fosse adiante, onde ele estava em seu luto, essa extensão terrível de dor, ia chover em cima desta casa e das pessoas dentro dela.
Ele não colocaria alguém que odiasse no lugar dele, vivendo com essa solidão e sofrimento.
Não poderia colocar as pessoas que amava onde estava.
Não se houvesse uma maneira de parar com isso.
No exato momento em que ele tomou sua decisão, um raio de sol rompeu através da cobertura, essa luz incrível se derramando sobre as linhas ordenadas de ardósia.
Selena o fez jurar que viveria sem ela, e ele lhe tinha dado esse voto, mas só porque ela o obrigou.
Não era como se tivesse acreditado no que ele disse a ela.
Agora, porém, quanto ele imaginou todas as vidas que iria salvar, como ele poderia proteger esses machos e fêmeas e seus jovens filhos?
- Isto é o mais perto que eu posso ir, minha rainha, - ele disse para o céu.
Capítulo SETENTA E OITO
Eles levaram uma eternidade para chegar à Sala Sagrada de Astrologia.
Ou pelo menos parecia daquela maneira para Catra. Então, novamente, em cada canto que giraram, e cada reta percorrida abaixo, ela esperava ser pega, presa e
enviada para uma cela de prisão.
Ao longo do caminho, s'Ex revelou salas e passagens secretas que ela não tinha ideia existirem, e provou ser capaz além de qualquer medida; em pé, confiante,
rápido para pensar, bem como cuidadoso e agressivo.
Por fim, no entanto, eles não só ganharam acesso ao palácio e seus jardins, mas às áreas mais internas e restritas do composto de sua mãe, onde poucos eram permitidos
e a segurança estava em seu ponto mais alto. Eles tinham uma vantagem, pelo menos: Os guardas à procura dela estavam preocupados em procurar no exterior, convencidos
de que tinham procurado no domínio da Rainha o suficiente, e o resto dos machos de s'Ex estavam reunidos no pátio central se preparando para lutar.
Era uma ocupação cruel. Muito disso.
Mas, eles foram capazes de se mover mais rápido e, até o momento, nenhuma observação.
Parte dela queria verificar para se certificar de que sua mãe estava seguindo os rituais de maneira que não estaria, por acaso, acima na Sala Sagrada de Astrologia,
mas não poderia haver nenhum risco de revelar de sua presença.
Eles tinham uma e apenas uma chance de chegar aos registros.
- Aqui, - s'Ex sussurrou quando parou abruptamente.
Ela franziu a testa sob seu capuz. - A entrada da sala está mais à frente, não é essa.
- Não, sua entrada é aqui.
Libertando a mão da manga volumosa da túnica, ele colocou a palma da mão contra a parede. Instantaneamente, uma porta oculta se abriu, desaparecendo em sua abertura.
No momento em que sentiu o cheiro do incenso, ela sabia que estavam perto, e contudo, o espaço revelado estava escuro como breu.
Ela entrou sem hesitação, e sentiu o peso de s'Ex se aproximando ao entrar atrás dela. Quando a porta se fechou, ela poderia muito bem estar vendada.
Mantendo sua voz baixa, s'Ex disse, - Estenda a mão para frente.
Quando seguiu o comando, ela sentiu algo duro.
- Caminhe para a esquerda, - ele ordenou. - Mantenha a mão na parede para te guiar.
Quando ela fez isso, bateu direto no peito dele. - Desculpe.
Ele a virou. - Sua outra esquerda.
Arrastando os pés, ela mal podia respirar. Eles deviam estar indo paralelamente ao corredor externo, ela pensou, este espaço interior uma sombra do exterior,
público.
- Eu construí essas passagens, - ele sussurrou. - Conheço de cor.
- Muito inteligente você...
- Pare.
Obedecendo a ele, ela deixou cair sua mão. - Agora o que?
- Olhe para a direita.
No início, quando ela fez, não viu nada salvo mais escuridão. Exceto... Não. Havia pequenas fissuras de vermelho brilhante na parede, como se uma mão fantasmagórica
tivesse desenhado um padrão de pontos com uma caneta mística.
Azulejos, pensou com admiração. Eles estavam no lado oposto de uma divisória de azulejos.
Erguendo novamente a sua mão, ela tocou neles.
- Deixe-me ir primeiro, - disse ele. - E não saia até que eu diga.
Pisando de lado para que pudesse trocar de lugar com ela, viu quando sua enorme palma da mão cortou um espaço dentro do sutil padrão cúbico...
Quando ele empurrou, os azulejos se separaram em uma costura desigual. Com exceção que nada se rachou e desintegrou; não teve nenhum dano estrutural. Ela foi
construída para se adaptar a esse acesso.
E, mais além, estava uma estranha, esmagadora fonte de iluminação.
s'Ex avançou para dentro da sala circular com aquela lâmina serrilhada em frente a ele, pronto para atacar.
- Tudo limpo, - ele sussurrou.
Respirando fundo, ela saiu da escuridão para aquela incrível luz.
Só que não era qualquer coisa mágica. Era a luz normal de velas, instalada em uma sala toda de um magnífico mármore vermelho.
Espere, não, a iluminação não era de fogo. Era o sol, se derramando através de uma imensa chapa curva de vidro no teto. E quando era de noite, ela refletiu,
seria capaz de observar atentamente e monitorar as estrelas da abertura transparente no teto.
Eles se moviam em silêncio através do espaço, seus sapatos de sola macia emprestando a eles os passos abafados sobre o piso de mármore vermelho. No centro da
sala, havia um círculo cortado no chão, talvez para uma plataforma, talvez como aquela na área de recepção no palácio? Não havia móveis, nem tapeçarias, nada que
pudesse impedir a devota concentração.
Mais importante ainda, não havia mais ninguém por perto.
Três portas. Existiam três portas... Que abriam para o saguão. Uma que era, provavelmente, a residência privada do Astrólogo Chefe. E a outra...
- A sala de registro é por ali, - disse s'Ex, apontando para a terceira porta.
Indicado por seu batente de ouro, e as palavras inscritas acima dela, o lugar sagrado não podia ser confundido, e ela sentiu um brilho de admiração, mesmo com
as pressões da falta de tempo e as circunstâncias atenuando todas as suas emoções.
Avançando para frente, ela colocou a sua mão para cima...
- Não. Sua palma não vai funcionar.
s'Ex colocou a dele no local correto no painel liso e sem marcas e...
Nada aconteceu.
Ele tentou novamente. - Eles me removeram do computador. E as chances são, de que acabei de disparar um alarme. - Virando-se para ela, ele disse. - Nós temos
que sair daqui. Agora.
- Não! Eu preciso ver...
- Não temos tempo para discutir. - Agarrando a mão dela, ele começou a arrastá-la ao outro lado em direção à passagem secreta. - Eu não quero a sua morte em
minha consciência.
Puxando contra sua, muito superior, força, ela desabafou, - Eu acho que a minha mãe alterou os registros de nascimento!
s'Ex congelou. - O que?
Catra continuou puxando contra seu aperto e chegando a lugar nenhum. Ela poderia muito bem ter estado amarrada a uma árvore. - Não posso ter certeza até chegar
lá. Mas, acredito que ela pode ter deliberadamente alterado os registros de nascimento para seus próprios fins. Eu preciso chegar lá para ter certeza. Por Favor.
s'Ex estendeu a mão e tirou o manto dele, e enquanto o deixou cair suavemente no chão vermelho, seus olhos se estreitaram e brilharam perigosamente.
- O quanto de certeza? - Ele perguntou.
- Disposta a colocar minha vida nisso. E a sua.
A decisão dele foi anunciada quando ele olhou para a porta e se fixou nela, em seguida, sem fazer qualquer barulho, deu dois saltos na direção dela... E enterrou
aquela lâmina serrilhada diretamente para dentro, a girando para fazer um buraco.
Ou isso, ou ele simplesmente fez um.
Colocando as duas mãos no cabo da faca, colocou seu enorme peso para o lado e crack! Ele fez uma entrada para a pequena sala dourada.
- Faça isto rápido, - ele disse severamente.
Catra não perdeu tempo. Correndo sobre as plaquetas de pedras, ela pulou para dentro e deslizou no chão dourado, jogando os braços para se equilibrar.
Números. Viu mil gavetas douradas marcadas por números.
Estava tudo organizado pela data de nascimento, não pelo nome.
Fechando os olhos, amaldiçoou. Ela não tinha ideia de quando Trez havia nascido.
Exceto, espere... No alto, à direita, haviam duas gavetas que não eram douradas. Elas eram brancas.
Com o coração acelerado, mãos trêmulas, ela se ergueu nas pontas dos pés e tirou a de cima. A gaveta era tão comprida quanto o braço dela, e teve de segurar
a parte de trás dela para evitar que o conteúdo derramasse.
Não, tinha uma tampa.
Colocando a coisa no chão, abriu a parte superior e encontrou quatro rolos de pergaminho, cada um amarrado com uma fita de seda e selados com cera vermelha que
trazia a estrela da Rainha. Diferente dos outros, esses não foram etiquetados. Um deles era menor do que os outros.
Ela tirou o primeiro que alcançou e quebrou seu selo, desenrolando o documento no chão. Era tão velho que o pergaminho estava rachado em alguns lugares e não
queria ficar nivelado, ela precisou colocar uma borda da coisa sob a gaveta e se ajoelhar na outra extremidade para mantê-la plana, para que ela pudesse olhar o
final do mapa.
Símbolos sagrados escritos em caneta preta estavam intercalados com inúmeros pontos vermelhos e dourados que, quando ela se inclinou para trás, formaram uma
constelação.
Era mapa de nascimento de sua mãe.
Ela deixou a coisa se enrolar sobre si mesma e a colocou de lado. O próximo... Era seu mapa, e esse, também, resistiu ao despertar de seu descanso. O terceiro...
O terceiro se desenrolou quando ela pegou o rolo e quebrou o selo, e quando se inclinou para lê-lo, sentiu o cheiro doce da tinta fresca e da pintura que foi
aplicada ao pergaminho. Este mapa completamente novo era da criança, e o ritual da morte estava marcado em cada canto com estrelas negras, mostrando que a alma foi
devolvida para os céus. Ou pelo menos essa era a sua interpretação.
Após um momento de tristeza, ela colocou a coisa de lado.
O quarto, e menor, tinha de ser o de Trez. E, de fato, quando ela o desenrolou, estava certa. De lado, no traçado, existiam anotações que era um macho, e nascido
com um gêmeo, foi este importante fato do parto que tinha despertado primeiramente o interesse em Trez e iAm. Catra conseguia se lembrar de toda a equipe do palácio
comentando sobre a ocorrência incomum e especial.
O mapa não era tão grande quanto os outros três, porque ele não era da realeza, mas, nos cantos do pergaminho havia estrelas douradas, mostrando uma ascensão
à altura da corte Sombra.
Sentada sobre os calcanhares, ela leu através das anotações e símbolos.
Em seguida, sacudiu a cabeça.
Ela tinha tanta certeza... E ainda, nada parecia errado.
- Desistam, - ela ouviu s'Ex dizer na sala circular. - Ou, tanto quanto me doa, vou ter de matar todos vocês.
Girando ao redor, Catra olhou através do bagunçado portal que s'Ex tinha feito para ela.
Três guardas vestidos de preto, rodeavam o executor e apontavam suas facas.
Oh, estrelas do além... O que foi que ela fez?
Ela cometeu um erro terrível vindo aqui. Que arrogância pensar que ela tinha conseguido algum segredo que salvaria todos eles.
E agora, não havia para onde correr. Nenhuma maneira de vencer contra o que era, sem dúvida, apenas o primeiro esquadrão de muitos que seriam enviados para eles.
Ela não queria morrer.
Alcançando a frente, ela pegou a gaveta longa e pesada. Era a única arma que tinha...
Por alguma razão e, mais tarde, ela iria querer saber exatamente o porquê, enquanto o mapa de Trez se enrolava, retomando a forma que tinha sido treinado para
preferir, ela olhou para a coisa.
O chão estava perfeitamente limpo quando ela entrou, nenhuma poeira arruinando sua superfície, nenhuma raspa, nenhum arranhão.
Mas, agora existiam micropartículas de... Pintura... E pequenos flocos... Ao redor de onde o mapa se enrolou.
Franzindo a testa, ela colocou a gaveta de lado e desenrolou novamente o pergaminho.
Enquanto os sons de luta começaram na sala, o rangido das vestes se batendo, os grunhidos e gemidos soando muito alto e perto, ela se inclinou sobre a escrita
sagrada.
No centro do mapa, uma porção da tinta estava lascada.
Revelando...
O exalar que saiu de sua boca foi o resultado de suas costelas se comprimindo.
E para ter certeza que não estava imaginando coisas, ela releu o que ela achou que estava vendo.
Então pegou a ponta da unha e raspou o acobertamento que tinha sido feito.- Oh... Destinos... - ela respirou.
Lutando para se colocar em pé, ela correu para as caixas onde os prontuários dos súditos do s'Hisbe eram mantidos. Seus olhos girando em volta, procurando o
número de nascimento correto e, quando ela descobriu aquela gaveta, a deslizou para fora, a colocou no chão e levantou a tampa.
Os registros civis estavam amarrados com cordões que tinham pequenas etiquetas sobre eles, e estavam sem qualquer ordem em particular, cerca de vinte rolos diferentes
enfiados juntos. Com uma respiração ofegante saindo de sua boca, e as mãos tremendo, ela os vasculhou o mais rápido que pôde.
Quando encontrou qual estava procurando, ela correu de volta para o documento adulterado.
Os colocando lado a lado, com a gaveta na parte superior, ela os estendeu.
Com certeza, havia uma mancha no centro do segundo, a área encoberta pintada com tanto cuidado que a adulteração não foi notada na época. Tinha, no entanto,
envelhecido mal no decorrer dos anos.
Libertando o rolo, ela descobriu... Que na verdade... O Consagrado não era Trez.
Do par de gêmeos, ele nasceu em segundo, não em primeiro lugar.
iAm que era o macho sagrado.
Apesar do perigo mortal do lado de fora, ela caiu sobre os registros, colocando as mãos ao rosto.
Porque eles foram trocados? Por que...
- Princesa, - s'Ex latiu. - Nós precisamos sair daqui...
- Ela trocou os registros.
- O que?
Catra olhou para ele por cima do ombro, e recuou devido à quantidade de sangue nas mangas, vestes, rosto e mãos dele. Mas, não havia tempo para se agitar. -
A rainha trocou os registros das crianças, de Trez e iAm. Eu não sei por que, apesar de tudo. - Ela apontou para as partes adulteradas dos mapas. - Está aqui mesmo.
O Astrólogo Chefe é aquele que prepara os mapas mais sagrados para a realeza, e não o Tretary. Assim, ele deve ter feito isso, e AnsLai tinha de saber. Mas, qual
é o benefício...
- Atrás de você! - Ela gritou.
Da mesma forma que o guarda que tinha aparecido nas costas de s'Ex levantou uma faca sobre a cabeça, o executor virou com sua própria lâmina na altura do pescoço.
Dentro de um piscar de olhos, s'Ex dominou o guarda, cortando a jugular do macho, vermelho sangue espirrando para fora.
Horrorizada com a visão da morte, Catra podia sentir sua mente se separando, assim como naturalmente um espectador recua em uma competição de luta que tinha
se tornado violenta.
Mas, exatamente como o que s'Ex disse sobre arrependimentos, ela não tinha esse tipo de luxo.
Fechando os mapas, ela colocou o de Trez e o de iAm com o dela e de sua mãe na caixa. O da filha recém-nascida de s'Ex ainda estava no chão, e ela quase deixou
para trás.
No último minuto, porém, ela se aproximou e começou a enrolá-lo, e isso foi quando ela sentiu um local estranhamente frio. No centro.
Por que o pergaminho estaria frio?
Ela abriu o mapa novamente... E correu os dedos sobre a superfície. Quando chegou no meio, houve uma sutil mudança de temperatura.
Porque uma área mais espessa de tinta ainda estava secando.
Essa era a origem do cheiro doce.
Eles haviam adulterado o da criança também.
- Acabou o tempo, Princesa, - disse s'Ex com urgência. - Nós...
- Me dê a sua faca.
- O que?
- Limpe isso e me dê a sua faca, - ordenou ela, estendendo a mão.
Capítulo SETENTA E NOVE
A última coisa que Trez fez antes de se desmaterializar para longe da mansão da Irmandade foi tirar seu telefone. Ele mandou uma mensagem de texto a seu irmão
com apenas quatro palavras.
Eu estou em paz.
E então caminhou de volta para os degraus da frente e colocou o celular abaixo, sobre a pedra fria.
Um momento depois, se foi. Ele não olhou para trás na casa... Não hesitou... Não teve qualquer receio.
A luta acabou. A longa extensão de luta que definiu sua vida chegou à sua conclusão.
Quando ele se reformulou, estava diante os grandes portões do s'Hisbe.
Andando para frente, sabia que ele seria visto instantaneamente nas câmeras de segurança, e estava certo. Sem que tivesse de fazer qualquer anúncio no interfone
de checagem, que era para o benefício dos seres humanos, houve um estalido e uma entrada se formou no centro dos dois painéis sólidos.
Pela primeira vez em muitos anos, ele colocou seus pés de volta no solo de seu povo, caminhando sobre o abismo, e estava preparado para nunca mais reaparecer
dele.
Os guardas ficaram calados quando o reconheceram, e ele foi imediatamente cercado por um círculo de homens vestidos de preto. Eles não o tocaram, no entanto.
Eles eram proibidos de entrar em contato com seu corpo sagrado. E, de fato, não havia necessidade de usar a força dele. Ele estava aqui de livre e espontânea vontade.
Ele era, mais como um falso presente às tradições, no entanto.
Seu corpo era tão capaz de acasalar com uma fêmea como era o de um eunuco. Ele estava morto da cintura para baixo, a este respeito, assim que qualquer dinastia
que a Rainha esperava ter, não ia vir para ela.
Ele não se importava. Eles poderiam fazer o que quisessem com ele.
O que ele estava começando a perceber foi que Selena tinha o levado com ela. Sua alma certamente tinha saído quando a dela partiu, a única diferença é que o
seu corpo ainda tinha de se deitar e parar de funcionar.
Mas, talvez a Rainha tomasse conta disso por ele. Quando se tornasse óbvio que ele era incapaz de funcionar, ela provavelmente iria matá-lo.
Tanto Faz.
Tudo o que sabia, tudo o que importava era que seu irmão agora estaria livre dos encargos que há muito tempo pesavam sobre ele, e a Irmandade e suas famílias
estavam a salvo.
Isso era tudo o que importava.
No caminho para o palácio, ele se viu tirando a roupa, desabotoando a camisa e a deixando cair no chão. Tirando seus sapatos com um pontapé. Derrubando sua calça.
Ele estava nu no frio sol de outono quando chegaram às portas do palácio.
AnsLai, o Sumo Sacerdote, estava esperando por ele. E, embora a cabeça do macho estivesse encapuzada, não usava a malha sobre o rosto, por isso a sua satisfação
era evidente.
- Que bom que você decidiu vir, - o macho entoou, curvando-se na cintura. - Eu te elogio por sua cabeça no lugar e sua devoção, embora talvez evidentemente tardia
ao seu dever.
Com isso, a grande entrada de mármore branco se dividiu ao meio e revelou um corredor branco que, quando Trez olhou para ele, parecia continuar por toda a eternidade.
Por um momento, pensou em Selena e ele abraçados no túnel subterrâneo do Centro de Treinamento, segurando-se um ao outro.
Essa infinidade do que ele tinha falado, que teve com ela, ainda estava nele.
E ia ter de sustentá-lo através de tudo o que vinha a seguir.
Os guardas na frente dele se separaram e ele foi para frente, colocando um pé descalço após outro pé descalço sobre passos rasos.
Quando ele se aproximou de AnsLai, o Sumo Sacerdote curvou-se novamente. - E agora devemos proceder na vossa limpeza.
- Pegue esta no lugar, você vai ter mais sorte com esta.
Em vez de dar à Catra a faca que ela tinha pedido, o executor entregou a ela uma menor, com uma lâmina lisa.
Inclinando-se de volta para baixo sobre o mapa da criança, ela trabalhou rapidamente, pegando a ponta da lâmina afiada e tentando encontrar uma fissura ou uma
emenda sob a tinta adicionada.
- Precisamos fazer isso em outro lugar, Princesa, - disse ele. - Nós precisamos... Merda, fique aqui.
Ela mal percebeu que ele saiu, sua concentração consumida pela operação delicada que estava realizando. Se ela fosse muito rápida ou escavasse demais, corria
o risco de destruir o que estava por baixo...
Finalmente, o remendo se soltou, e então saiu completamente.
Felizmente, a tinta que foi usada pela primeira vez tinha manchado o pergaminho, afundando-se nas próprias fibras do papel.
Fechando os olhos, ela cambaleou.
Eles haviam adulterado o mapa da criança também.
A recém-nascida era a herdeira legítima do trono de acordo com as estrelas.
Conforme as implicações afundavam nela, Catra abriu as pálpebras e olhou por cima do ombro. s'Ex estava de costas para ela e estava lutando com alguém, ou melhor,
alguém estava lutando contra o agarre do executor.
Quando s'Ex se virou, o Astrólogo Chefe, em suas vestes vermelhas, estava contra aquele enorme corpo, preso em um agarre tão apertado, que ela podia ouvir a
respiração ofegante sob a capa cerimonial.
Com um forte puxão, s'Ex arrancou o que cobria a cabeça do macho. Sob as dobras, o astrólogo estava apavorado... E o medo ficou ainda pior quando ele colocou
dois e dois juntos e claramente concluiu que ele estava olhando para uma mulher que ninguém deveria ver.
- Sim, eu tenho de te matar agora que você viu a Princesa, - s'Ex disse. - Mas, primeiro, algumas respostas.
Catra olhou de volta para baixo, para os mapas e pensou... O que ela tinha encontrado aqui era algo que o conselheiro de sua mãe deveria ter ainda mais medo.
Assim que s'Ex descobrir...
- Vamos dizer a ele o que você descobriu, - disse s'Ex, arrastando o macho menor com ele. - Vamos perguntar por que os mapas foram alterados?
Catra olhou fixamente para o executor.
Algo em seu rosto deve ter traído suas emoções, porque s'Ex franziu a testa. - Por que você está me olhando desse jeito?
Distraída, ela observou que a camuflagem cinza do executor estava manchada com ainda mais sangue. Ele não hesitou em acabar com qualquer um dos machos que tinha
vindo atacar, apesar do fato de que ele os tinha treinado, trabalhado com eles, sem dúvida, encontrado uma afinidade com eles.
Se ela revelasse esta parte do que encontrou?
Bem, se o fizesse, então, além deste Astrólogo Chefe e sem dúvida AnsLai, a Rainha... A mãe de Catra... A mulher responsável por liderar a s'Hisbe... Iriam morrer.
E Catra sentiu...
Ela, na verdade, não sentiu nada.
Então, novamente, a fêmea era sua líder, não a mãe dela, e a Rainha havia violado as tradições para os seus próprios fins.
Era a única explicação, especialmente tendo em conta o que a fêmea disse na câmara ritual.
Catra falou ao Astrólogo Chefe. - Estes mapas foram adulterados. Eu suponho que você fez isso.
O macho tinha virado a cabeça para não vê-la, mas s'Ex não estava deixando nada disso. Ele mordeu a lâmina serrilhada, segurando a arma entre os dentes, e bateu
com a mão agora livre naquele crânio, puxando a coisa de volta pela mandíbula.
Então ele falou em torno do aço. - A Princesa lhe fez uma pergunta. Eu sugiro que você responda.
Quando houve apenas uma boca aberta e nenhuma palavra, s'Ex olhou para ela. - Feche os olhos.
Ela balançou a cabeça. - Faça o que você deve fazer. Vou ficar bem.
s'Ex amaldiçoou, mas, então agarrou a mão enluvada do Astrólogo e apertou-a com tanta força que o homem gemeu... E, em seguida, empurrou e gritou quando os ossos
se quebraram.
Então s'Ex tirou o punhal de seus lábios e o colocou de volta contra a garganta. - Agora, responda a pergunta...
- Sim! Eu mudei os mapas! - O macho gritou. - Eu mudei os mapas! Eu não queria fazer isso, mas a rainha exigiu isso de mim! Eu estava sobre juramento de sigilo!
- AnsLai sabe? - Catra perguntou.
- Não! Ele não sabe! Ninguém sabe!
A explosão do discurso parecia tanto devido às ameaças que enfrentava como a purificação de uma consciência que há muito o estava incomodando.
- Eu não queria fazer isso! - O homem começou a chorar. - É uma violação da minha posição sagrada, mas ela me disse que iria matar toda a minha linhagem... Ela
disse que iria matar a minha companheira, meus filhos... Meus pais...
- Por que trocar os gráficos de TrezLath e de seu irmão? Eu não entendo por que era necessário mudar um pelo outro.
- O verdadeiro Consagrado, o bebê que nasceu primeiro do ventre de sua mãe, iAm, estava doente. Não se esperava que ele vivesse até a noite, muito menos sobrevivesse
até a idade adulta. A Rainha queria um dos gêmeos sagrados para você, sua Santidade, então ela me mandou trocar o mapa pelo do segundo filho, que era grande e forte.
Essa foi a razão.
Catra respirou fundo.
No silêncio que se seguiu, ela sabia que o que diria em seguida iria mudar tudo. Violentamente.
Ela virou os olhos para s'Ex. O executor estava extraordinariamente imóvel, seu corpo enorme exalando uma calma que ela teve a sensação, era como aquelas antes
de uma tempestade.
Em uma voz totalmente nivelada, ele disse, - Me diga.
Como se ele já soubesse.
Ela se virou para o mapa, o enrolou e o colocou na pesada caixa dourada com os outros. Em seguida, se levantou e se aproximou do executor e do macho.
- Me dê a faca, - disse ela novamente para s'Ex. Por uma razão diferente desta vez.
- Por que.
- Porque nós precisamos dele vivo.
Ela esperava que ele fosse discutir, e ficou chocada quando s'Ex virou a arma ao redor e entregou a ela o cabo primeiro, sem comentários.
Pesava quase tanto como a caixa.
- Agora o deixe ir. Você tem de deixá-lo ir, - disse ela. - Ele não vai fugir, porque eu sou a única que pode salvar a vida dele. Solte-o, s'Ex. Te ordeno que
faça isso.
Quando o executor cumpriu a ordem, o Astrólogo Chefe caiu no chão como se ele não fosse mais do que uma peça de tecido. E foi inteligente. Arrastou-se vários
metros de distância.
Travando os olhos com os de s'Ex, ela disse em voz alta e clara, - Agora, astrólogo, diga-lhe por que o mapa de sua filha foi alterado.
Capítulo OITENTA
O telefone estava tocando.
Conforme Paradise se recostou contra a cabeceira da cama gigante, ela passou os olhos até o sutil som de repique do outro lado na mesa.
Pelo menos responder a isso daria a ela algo para fazer, além de sentar aqui nesta suíte subterrânea e ansiar sobre o que poderia acontecer ao cair da noite.
Seu pai ficou absolutamente lívido que ela ainda se recusava a ir para casa com ele, mesmo à luz da ameaça, contra todos os vampiros, pelo s'Hisbe. Mas, ela
sentia como se tivesse de se defender sozinha, apesar da mudança de circunstância. Se ela cedesse? Era como correr o relógio de sua vida para trás.
E ela tinha frustrado os seus ataques, mesmo quando ele lembrou a ela, não que fosse necessário, que ele já tinha perdido sua mahmen e não queria vê-la se encontrando
com o frio abraço da morte, também.
Quando ela havia pronunciado a seu último e definitivo "Não vou", ele olhou para ela como se ela fosse uma estranha.
E talvez ela fosse.
Riiiiiiiing.
Talvez fosse seu pai. Ela não podia imaginar que ele encontrou qualquer descanso, qualquer um. Embora ele provavelmente teria tentado uma mensagem de texto ou
ligado para seu celular.
Deslocando as pernas para fora da borda do colchão, ela pulou e correu para o telefone.
Pegando o receptor, ela disse: - Bom dia, como posso ajudá-lo?
Era uma voz masculina, mas não a do seu pai de sangue. Era de quem tinha chamado antes, do s'Hisbe, aquele que tinha emitido o decreto de guerra naquele tom
estranhamente com sotaque. - Tenho uma mensagem para o seu Rei, Wrath, filho de Wrath. A Rainha deseja agradecer-lhe o rápido retorno do Consagrado. A Conformidade
de que Wrath é um líder sábio e estadista, e é um prazer tranquilizá-lo, que nenhuma ação militar deve ser tomada por nós e que há harmonia, mais uma vez, entre
os nossos povos.
Clique.
Paradise olhou para o telefone.
Será que ela entendeu isso direito?
Apertando seu dedo nos dois botões no suporte, ela limpou a linha, e quando o tom de discagem voltou, ela apertou o número de seu pai nos botões. Ou tentou.
Ela tremia tanto, que não conseguia chegar à sequência de dígitos corretos.
Quando as coisas finalmente deram certo, ela se encontrou respirando com dificuldade.
- Oi...
- Pai! - Ela cortou. - Pai, eles chamaram novamente...
-Paradise! Você está a salvo...
- Sim, sim, você tem de me ouvir! Eles chamaram novamente, o s'Hisbe. Disseram que Wrath devolveu o... - O que era mesmo? - ... O Consagrado? Eles disseram que
estava tudo bem, quero dizer, eles cancelaram a guerra!
Maneira estúpida de colocar a questão, pensou na parte de trás de sua cabeça. Como se a coisa fosse uma festa de aniversário cancelada devido ao mau tempo?
- Do que você está falando? - Disse o pai dela lentamente. - Wrath não iria devolver Trez.
- Ele deve ter mudado de ideia?
- Eu falei com ele ao amanhecer. A Irmandade tinha enviado um emissário do dia para reunir informações sobre o Território. O que quer que tenha... Vou ter de
chamá-lo imediatamente.
- Você vai tentar me avisar sobre o que acontece?
- Tentarei.
- Eu amo você, - ela revelou.
- Oh, Paradise, eu amo você, também. Fique no subterrâneo.
- Eu prometo.
Quando desligou o telefone, ela se viu rezando para que tivesse a chance de pedir desculpas pessoalmente a ele. Embora, supunha que esse impulso era apenas seu
interior de quatro anos de idade, querendo ser uma boa menina.
Não importa o resultado do conflito com os Sombras, ela tinha de se manter firme.
A ameaça de guerra era um bom lembrete de que você só tinha uma vida para viver.
Então é melhor fazer valer a pena.
Conforme s'Ex encontrou o olhar firme da Princesa, ele decidiu que ela era muito inteligente ao desarmá-lo e tirar o Astrólogo Chefe para longe de seu alcance
antes de obter a resposta que ela havia pedido ao macho.
Mas, a explicação era desnecessária; ele sabia os "porquês" da alteração no mapa.
O astrólogo tropeçou através de suas palavras. - A criança era a legítima herdeira, suplantando você, Princesa. Mas, a Rainha não queria a linhagem de um plebeu
no trono. Ela sabia que seu executor era o pai. Ela me obrigou a mudar o tempo de nascimento, por quatro minutos e trinta e dois segundos, o que colocaria o bebê
sob uma posição de desvantagem do sexto planeta a partir do sol.
No mesmo instante, o som do grito queixoso de sua filha correu pela mente de s'Ex... E, em seguida, entrou em sua corrente sanguínea.
Seu peito começou a bombear com a respiração difícil.
Seus punhos se enrolaram.
Seu coração pulou uma batida... E depois se acomodou na batida lenta e constante de um assassino.
A Princesa estendeu a lâmina para ele. Seus olhos estavam cheios de tristeza, mas eles também estavam muito, muito claros. Em uma voz abalada, mas que tinha
muita força nela, ela falou cinco palavras.
- Faça o que for preciso.
Ela sabia que tinha acabado de condenar a mãe à morte. Por esta verdade vindo à tona, ele não hesitaria em vingar o assassinato de seu sangue.
Com a sua mão de batalha, ele aceitou a lâmina serrilhada e inclinou a ponta em direção ao seu rosto. Com duas listras rápida para baixo nas cavidades de suas
bochechas, ele se marcou.
Uma vez por sua filha a quem ele nunca conheceria.
Uma vez pelo mal que iria corrigir.
Quando ele se virou para a ruptura na divisória de azulejos, tinha um só objetivo, e ainda assim ele parou.
Girando a cabeça sobre o ombro, ele atrelou o Astrólogo Chefe com seu olhar. À medida que o homem se encolheu em terror mortal, s'Ex disse, - Se a minha filha
deveria ser a herdeira, quem sucederá a Rainha agora?
-Eeeela teeem. - O homem apontou para a Princesa. - Ela tem o legítimo direito ao trono. Seus registros não foram alterados. Ela teria sido a segunda na linha
após a sua filha, e com a morte, ela é a herdeira legítima...
- O assassinato, - ele interrompeu, - da minha filha, você quer dizer.
Ele olhou para a Princesa.
Ela não pareceu se importar com as repercussões do que tinha sido dito. Ela nem sequer parecia ter ouvido as palavras de que estava prestes a se tornar Rainha.
Em vez disso, ela estava embalando aquela caixa dourada, longa e fina no peito do disfarce de empregada, a cabeça baixa.
Lágrimas atingindo o brilhante metal amarelo, caindo de seus olhos.
- Você deve governar, - s'Ex anunciou. - Você deve tomar as rédeas desta comunidade e governá-la corretamente. Você está me ouvindo? Saia dessa sua comoção,
e se prepare para o que está prestes a acontecer.
Seu olhar fixo mudou até o dele. - Ela era minha irmã. Eles mataram... Minha irmã.
Por um momento, s'Ex recuou. Era a última coisa no mundo que ele esperava que ela dissesse.
E de repente, a realidade de que seu sofrimento era compartilhado o atingiu, e ele ficou estranhamente tocado.
Caminhando até a Princesa, ele segurou o rosto dela e o levantou até o seu próprio. Após enxugar suas bochechas, ele se abaixou e apertou os lábios em sua testa.
- Obrigado por isso, - ele sussurrou.
- O que?
Ele apenas balançou a cabeça e deu um passo para trás. - Você. - Ele apontou para o Astrólogo Chefe. - Você precisa cuidar dela. Você acredita em suas tradições,
você odiava suas mentiras? Prove-o tendo a certeza que ela sobrevive. Em cerca de dez minutos, ela vai ser sua Rainha.
No mesmo instante, o macho se arrastou pelo chão, prostrando-se e colocando a testa no mármore vermelho ensanguentado aos pés da fêmea. - Por tudo o que está
escrito nas estrelas, vou servir à Rainha Catra vin SuLaneh etl MuLanen deh FonLerahn até a batida final do meu coração e o último suspiro dos meus pulmões.
s'Ex sentiu a sinceridade, e sabia que a nova Rainha estaria segura. - Você tem o traje cerimonial aqui, não é?
O Astrólogo Chefe respondeu no chão. - Eu tenho.
- Leve-a vestida. Em 20 minutos, a cabeça de sua mãe estará ao pé do trono. Leve Catra lá para que a cerimônia de mudança de poder possa ser concluída.
- E você? - Disse Catra. - Você estará lá, também? Por favor, me diga que estará lá.
- Preocupe-se com você mesmo, minha Rainha. Você é muito mais importante do que qualquer indivíduo nesta sala, neste palácio, nesta terra.
Com isso, ele se virou e desapareceu na passagem escondida.
Capítulo OITENTA E UM
A limpeza e preservação das armas de um guerreiro eram deveres sagrados, uma maneira de honrar a conexão entre o guerreiro e suas ferramentas.
Quando Rhage se debruçou sobre a segunda de suas duas .40 favoritas, o doce aroma do detergente metalúrgico era tão familiar quanto o som de sua própria voz.
Do outro lado do quarto, ele podia sentir a tensão de sua Mary. Mas, ela não disse uma palavra.
- Eu serei cuidadoso, - ele disse, colocando a lata de spray de volta na caixa de limpador de armas. - Eu prometo... Terei muito cuidado.
Ele fez o juramento, mesmo que soubesse que a prudência pessoal era somente parte da sobrevivência em batalha. Estar consciente do que o cercava, cuidar do que
acontecia às suas costas, ter seus Irmãos cuidando por você também, tudo isto ajudava, claro. Mas, sempre haveria o elemento sorte.
Ou destino.
Sina.
Qualquer nome que se quisesse dar.
- Eu sei que irá, - ela disse tensamente.
Ele trouxe o pano de limpeza pela lateral do canhão e desceu pelo outro. - Mas, se eu não... Voltar para casa...
Ele parou por aí. Ela saberia o que ele estava perguntando. Ele lhe dera o bastante para adivinhar.
- Eu te encontrarei, - ela engasgou-se - Eu te encontrarei de alguma forma.
Ele anuiu, e pensou que, provavelmente, deveria ir até ela, mas não conseguia lidar com a proximidade. Naquele momento, ele estava a uma distância muito curta
de se despedaçar, e com uma batalha esperando por ele ao cair da noite, só não conseguia aguentar a emoção.
- Eu simplesmente não suporto o pensamento de você se ferir, - ela disse, ao assuar o nariz com um lenço e secar os olhos. - Isto me incomoda mais do que morrer.
Bem, é, porque a eles havia sido concedido o milagre, que cobraria dividendos quando a morte tentasse separá-los.
Ele pensou em Trez e quis vomitar.
Deus... A visão daquele macho subindo naquela fodida pira funerária era uma tatuagem em seu cérebro.
Subitamente, baixou a arma e o pano no joelho. - Eu sou uma pessoa horrível. Sou mesmo um fodido filho da puta horrível.
Do outro lado do quarto, Mary fungou de novo. - Do que está falando?
Inferno, talvez ele não devesse falar, embora jamais tenha conseguido esconder alguma coisa dela.
- Eu, ah... Odiei isto pelo que Trez e Selena passaram. O mesmo com Tohr.
Do nada, ele se lembrou de estar sentado na ambulância chique de Manny exigindo que o médico salvasse a Escolhida.
Como se bastasse ele ordenar ao cara para que, magicamente, encontrasse a cura.
Então ele teve uma visão de Layla, toda agasalhada lá fora enquanto as chamas rugiam para o céu. A grávida Layla, que carregava os gêmeos de Qhuinn, pelo amor
da porra.
Que parecia como se fosse morrer de dor pela morte de sua irmã, a ponto de Rhage não ser o único a se preocupar com sua gravidez, sua vida, os bebês.
- Eu sou um imbecil, - ele sussurrou.
- Fale comigo, Rhage.
- Estou contente por não ter sido conosco, - ele desembuchou. - Por mais que eu ame a todos eles, e que lamente por eles... Estou tão fodidamente aliviado por
não ter te perdido...
Lágrimas vieram a seus olhos.
E sua shellan veio até ele.
Quando ela colocou sua arma de lado, e então o enlaçou com os braços, murmurando palavras de apoio em seu ouvido, ele se sentiu ainda pior.
Só o fez lembrar o que Trez jamais voltaria a ter...
Bum! Bum! Bum!
- Rhage, - V gritou do corredor - Trez se entregou.
Rhage se endireitou e secou as lágrimas. - O que?
Afastando Mary do caminho, ele pulou pela porta e abriu-a. - Que porra você está falando?
- Você me ouviu. Reunião no escritório do Wrath. Agora.
Quando o Irmão ia se virar para correr, Rhage agarrou o braço de V. - Tem certeza?
- Recebemos uma ligação do s'Hisbe.
- iAm já sabe?
Aquilo parou o Irmão, e ele olhou para o teto. - Merda.
- Tem certeza que Trez não está na casa?
- Não, ele se foi. Eu verifiquei as gravações das câmeras de segurança. Ele deixou o celular nos degraus de pedra e desapareceu há cerca de uma hora.
- Puta... Merda. Está bem, tudo bem... - Só que ele não sabia se aquilo era verdade. Talvez não houvesse guerra... Mas e os Sombras?
Os dois Sombras deles?
- Deixe-me subir para falar com iAm, - ele ouviu-se dizendo ao olhar de volta para Mary.
- Você quer que eu vá com você? - Disse ela.
- Sim, quero.
iAm acordou para dois pares de sapatos ao nível de seus olhos. Um era um par de shitkickers, tão grandes quanto poltronas reclináveis. Os outros estavam em sapatilhas
Coach, com o logo em cinza e preto, e tiras de velcro no lugar de cadarços.
Ao erguer a cabeça, olhou para Rhage e Mary. - Que horas são?
Mary se ajoelhou, e aquela foi a primeira indicação de que qualquer que fosse a mensagem que estivessem a ponto de entregar, eram notícias ruins, muito ruins.
Mas, foi Rhage quem falou. - iAm... Temos razão para acreditar que seu irmão se entregou.
Suas palavras se filtraram pela mente dele em uma série de tinidos e indefinições, a combinação de pronomes e verbos e outras coisas não faziam sentido.
- Sinto muito, o que você disse?
Quando se sentou, a garrafa que vinha embalando rolou para longe, batendo nas botas de Rhage.
- Recebemos uma ligação do Território, dizendo que a Rainha não vai mais nos atacar porque Trez voluntariamente voltou para o s'Hisbe...
- Jesus Cristo!
Pulando em pé, disparou entre os dois e explodiu para o quarto do irmão. A cama estava desfeita, as portas do closet estavam abertas... E não havia absoluta
e positivamente nenhum sinal de Trez.
- Não... Não, nós íamos fugir! - Ele gritou para nada nem ninguém. - Eu já arranjei tudo! Nós vamos fugir!
Quando ele virou, os dois estavam na soleira.
A voz de Mary estava estridente, como se soubesse malditamente bem que, de outra forma, ele era capaz de não entender o que ela estava falando: - Nós sabemos
que você vai querer ir atrás dele, iAm. Mas, antes que vá...
Ele saiu do quarto, preparado para derrubá-los se fosse necessário, por mais que apreciasse sua preocupação.
Mas, Rhage agarrou o seu braço e puxou-o de volta. - Deixe-me armá-lo antes. E Lassiter vai com você. Ele pode sair ao sol.
iAm estava a ponto de discutir quando pensou, "Bem, duh!"
- Estamos preparados para te ajudar, meu amigo, - o Irmão disse sombriamente. - Você não está sozinho nesta.
Por um momento, iAm não conseguiu entender o que o cara disse, e então, percebeu. Merda. Se ele voltasse lá e tirasse Trez... A Rainha provavelmente atacaria
Caldwell em retaliação.
E todas estas pessoas estariam em perigo.
- Por que ele fez isto? - iAm gemeu. - Oh, Deus, por que ele fez isso?
Mary pegou sua mão. - Ele deve ter descoberto sobre a ameaça. De alguma forma ele deve ter ouvido algo na casa.
iAm fechou os olhos. - Isto precisa acabar. Esta maldita coisa precisa acabar.
Porque, se Trez tivesse finalmente caído sob daquela espada que o ameaçara a vida inteira? O cara iria emparelhar e fazer sexo com a única fêmea a quem iAm já
amara.
- Por que esta era mesmo a sorte dos dois. Sim.
- Vamos, - Rhage disse. - Vamos pegar algumas armas para você. Lassiter já está esperando.
O que aconteceu depois foi só uma névoa indistinta. Desceram para o andar térreo. Coldres foram fixados em seus quadris, enrolados em seus ombros. Armas. Facas.
Um casaco longo de couro preto que cobriu tudo aquilo. Então ele desceu para o saguão, onde o anjo caído estava similarmente adornado, sem fazer piada alguma.
Um pouco antes de os dois saírem, Rehvenge deu um passo a frente e o abraçou. - Eu preciso ficar aqui. Para o caso de os Sombras atacarem Caldwell, preciso ser
capaz de comandar meus devoradores de pecados para defender durante as horas do dia.
Porra. Ele e o mistério privado do irmão haviam se tornado o problema de todo mundo.
- Eu sinto muito. - iAm disse, olhando para os Irmãos. Wrath. O resto dos moradores da casa. - Não acredito que acabou assim.
Rhage negou com a cabeça. - Estamos com você. Fazemos o que é preciso para cuidar dos nossos.
E então acabou o falatório e iAm e Lassiter saíram para o vestíbulo e para os degraus da frente da mansão.
O anjo caído estendeu a mão e o tocou no braço dele. - Prepare-se para ir.
Franzindo o cenho, iAm olhou para o macho de cabelos pretos e loiros. - Do que está falan...
Em um instante, foi consumido por um raio de sol, para o alto e avante, sem nenhum controle, pensamento ou vontade própria...
... Na direção do lar que odiava, e do destino contra o qual ainda lutava.
Capítulo OITENTA E DOIS
As pedras preciosas eram frias e pesadas.
Quando o Astrólogo Chefe vestia Catra com camadas sobre camadas de malhas de diamantes, safiras, esmeraldas e rubis incrustados sobre platina, ela se sentia
cada vez menos capaz de respirar direito.
Embora isso provavelmente se devesse mais à enormidade do que estava acontecendo, do que o peso das vestes cerimoniais.
A parte final do vestido da Rainha era um véu fino que flutuava para baixo de seu rosto como uma brisa.
- Está feito. - O Astrólogo disse.
Em circunstâncias normais, o traje teria sido entregue nos aposentos da Rainha e sido limpo e preparado para ser vestido por uma equipe de criadas. Mas, aquela
não era uma situação normal.
A Rainha já estava morta agora?
Como a morte teria acontecido?
Como aquelas questões passavam pela sua cabeça vezes sem conta, ela...
- ... Chegou! Ele chegou!
Do lado de fora, o som de vozes gritando a mesma coisa permearam a quietude densa da Sala.
Franzindo o cenho, ergueu a saia e caminhou para frente, somente para se lembrar de que não conseguiria ativar a porta do corredor.
- Pode, por favor abri-la para mim?
- Imediatamente, Vossa Alteza.
O Astrólogo Chefe apressou-se para fora, posicionou a mão na parede, e o painel retraiu-se obedientemente.
- ... O Consagrado chegou!
Estava um caos insano lá fora, pessoas correndo e pulando com alegria, um surto de celebração. Por uma fração de segundo, ela ficou no umbral, olhando para tudo,
antes de se lembrar de que havia uma carnificina na sala circular atrás dela.
- Venha aqui, - ela sibilou para o Astrólogo.
Ao atravessar, a porta se fechou automaticamente, e sua presença foi registrada pela multidão que corria para cima e para baixo pelo corredor.
Todo mundo parou. Caiu ao chão. Prostraram-se.
Quando os cidadãos começaram a murmurar a saudação obrigatória diante da realeza, eles obviamente assumiram que ela era a Rainha atual.
Quando aquilo lhe ocorreu, veio junto com outro pensamento. - Limpeza... - ela se voltou e forçou-se a manter a voz baixa. - Oh, estrelas do céu, eles vão executar
uma limpeza nele... Rápido, precisamos chegar até o Sumo Sacerdote!
O Astrólogo não fez muitas perguntas. Ele só a seguiu enquanto ela corria pelo palácio. Felizmente para eles, sua presença ocasionava uma onda de genuflexões,
e o que teria sido uma viagem congestionada, acabou livre pelo fato de que todo mundo, dos cortesãos aos servos, caíam ao chão assim que a viam.
A câmara sagrada de AnsLai não ficava longe do salão cerimonial, e quando ela chegou lá, ia colocar a mão na parede, mas o Astrólogo adiantou e tocou o ponto
certo com a sua própria palma.
Quando os painéis deslizaram de volta, ela viu um macho grande e nu estendido em uma plataforma negra de mármore, seus braços caídos para os lados, os pés muito
juntos.
AnsLai estava do outro lado dele, em pé diante de uma fogueira, ambas suas mãos erguidas para o céu enquanto sussurrava um encantamento.
- Pare! - Ela disse. - Eu ordeno que pare!
O Sumo Sacerdote girou, e prontamente caiu de joelhos. - Vossa Alteza, pensei que ainda estivesse na sala ritual...
Catra aproximou-se do macho que estava deitado de olhos fechados. - Diga que não iniciou a limpeza...
- Acabei de administrar a solução venosa...
- Oh, não, não, não, - ela disse. - Não!
- Do que está falando, Vossa Alteza? - O Sumo Sacerdote disse, endireitando-se. - Ele está no mundo exterior há décadas. Está impuro para o emparelhamento com
sua filha...
- Ele não é o Consagrado.
Diante daquilo, o macho em questão virou lentamente a cabeça na direção dela.
E foi assim que, finalmente, depois de todos aqueles anos, ela conheceu TrezLath.
- Sinto tanto, - ela sussurrou, encurvando-se e agarrando a mão dele. - Eu não consegui chegar a tempo... Sinto tanto...
Enquanto deitado na plataforma, Trez podia sentir uma ardência na parte interior do antebraço no ponto onde haviam injetado algo nele usando uma agulha do mundo
humano, surpreendentemente moderna.
Era de se supor, dado o ritual ser ancestral, que teriam preferido algum tipo de caniço ou antiquada seringa de metal.
Mas, não. Era, na verdade, precisamente o mesmo tipo usado em sua Selena.
Instantaneamente, sentiu o veneno em suas veias, e como o veneno de uma picada de cobra, não perdeu tempo em espalhar-se, multiplicando-se, dominando-o.
Enfraquecido como estava pelo pesar e esforço, percebeu que havia uma boa chance de que não sobrevivesse a isto.
E isto o fez concentrar-se no teto acima dele. Engraçado, sempre que imaginara aquele ritual, havia sido com ele amarrado.
Estranho onde as coisas acabaram. Agora, ele receberia bem a dor que viria, porque justamente ela poderia ser a sua passagem de volta para Selena. Rumores diziam
que não se entrava no Fade em caso de suicídio, mas, e se fosse assassinado?
Não era sua culpa.
No entanto, havia um assunto existencial a ser reconciliado, mais especificamente: os dois, vindos de diferentes tradições, poderiam de fato encontrar um ao
outro do outro lado da vida? Se é que havia outro lado.
Mas, se a fé tinha algum poder, ele ia acreditar que poderiam.
Ele podia também acreditar naquilo.
Gradualmente, se tornou consciente de duas outras presenças no quarto com ele e AnsLai. E uma delas brilhava da cabeça até os pés em um arco-íris de cores.
A Rainha.
Ela começou a falar com AnsLai, após o Sumo Sacerdote fazer uma reverência para ela. E então AnsLai se endireitou, falou, pareceu alarmado... Então em pânico.
A Rainha aproximou-se de Trez, e após uma vida inteira odiando a fêmea, ele pensou vagamente em erguer a mão para tentar estrangulá-la.
Mas, não tinha forças. Especialmente não enquanto a dor se intensificava ainda mais.
Ele não havia tido intenção de se mover, mas começou a se contorcer, seu corpo tentando escapar do veneno.
E então, seu terno de carne inteiro estava em chamas.
A última coisa que lembrava era de mais pessoas correndo para o quarto, e eles não se ajoelharam. Eles olhavam para a Rainha em confusão.
E então, o Chefe Astrólogo, em suas vestes vermelhas falou com todos eles.
Um momento depois, eles se ajoelharam diante da fêmea.
Oh, o que importava, Trez pensou.
O que é que qualquer coisa, mesmo sua dor monumental, importava...
Capítulo OITENTA E TRÊS
Aquele anjo caído conseguira levá-los ao Território.
E quando iAm retomou forma, percebeu que era bom que Lassiter tenha guiado o voo. Com seu irmão nas garras da Rainha, ele duvidava que conseguisse se concentrar
o suficiente para se desmaterializar.
- Eu assumo daqui. - iAm disse.
- Eu cubro a retaguarda.
Com um aceno de gratidão, iAm caminhou para a entrada da frente do s'Hisbe. Entre as coisas que a Irmandade havia lhe dado como presente de despedida havia alguns
quilos de explosivo plástico C4. Tudo o que tinha de fazer era usar um ou dois para explodir os enormes portões e...
Como se a entrada para o s'Hisbe quisesse evitar danos corporais, as metades gigantescas se abririam diante deles.
Mas, não era uma fortuita saída de alguém do outro lado.
s'Ex em pé, alto e orgulhoso, era o guarda perfeito para as terras da Rainha.
Só que... Havia algo errado. O macho estava usando o tipo de farshi que os serviçais usavam, tipo aquele que dera para iAm antes, e estava encharcado de sangue.
Havia também uma adaga serrilhada, manchada de sangue em sua mão, que era tão longa quanto o antebraço de um homem.
- Não temos muito tempo, vamos, - o macho disse, com urgência.
Geralmente, iAm teria pensado duas vezes antes de ir a qualquer lugar com tal Ceifador Sombrio. Mas, já confiara no macho antes... E claramente havia um golpe
em andamento.
Começando a correr, ele e Lassiter seguiram o carrasco ao complexo do palácio e entraram no local por uma porta oculta. Uma vez lá dentro, s'Ex os guiou através
de corredores que estavam absurdamente vazios.
Sem servos. Sem cortesãos.
E s'Ex não tinha preocupação aparente de que fossem detidos, interrogados... Ameaçados.
Ou o macho perdera a razão ou...
- O que infernos está acontecendo aqui? - iAm exigiu.
- Você é o Consagrado, não seu irmão.
iAm parou tão rápido que Lassiter teve de pular de lado para não atropelá-lo. - O que?
- Não há tempo. Seu irmão está passando pela limpeza, ele está à beira da morte. Se quiser se despedir dele, é melhor se apressar.
Quando iAm só ficou parado lá, como se alguém o tivesse desligado, Lassiter e s'Ex agarraram-no por baixo do braço, arrastaram seus pés no chão, e carregaram-no
para fora.
Um segundo depois, voltou a si e forçou-os a libertarem-no, assumindo controle dos próprios pés. - Não é possível, - ele gritou acima do trombejar de seus passos.
- A Rainha falsificou os mapas. Era você o tempo inteiro, não acharam que você sobreviveria muito tempo após o nascimento. Trez era o mais forte... Melhor aposta
para a Rainha e seus pais.
De repente, se depararam com o salão principal de audiências, e iAm sentiu seus pés falsearem de novo.
Na plataforma... Sua maichen, a Princesa. Cristo, quem quer que ela fosse, estava usando a coroa do Território pousada sobre seus cabelos escuros.
Cerca de duzentos Sombras caíam de joelhos em esteiras de tricô, as cabeças baixas em súplica.
- Ela descobriu, - s'Ex disse. - Ela descobriu tudo... Mesmo que quase tenha lhe custado a vida.
- Onde está a antiga Rainha?
- Aos pés da filha.
Foi então que ele viu a cabeça decapitada ao lado, olhos pretos encarando a multidão, sem enxergar nada.
- Eu acredito em destino, - o carrasco disse. - Acredito nas estrelas. É deste jeito que tinha de ser.
iAm estremeceu. Aquilo era demais, e nada que realmente devesse preocupá-lo. Trez, por outro lado. - Meu irmão...
- Por aqui.
Quando iAm finalmente disparou no quarto onde Trez estava, ele perdeu o fôlego. Seu irmão, seu sangue, estava em uma plataforma de mármore, aquele grande corpo
contorcido de dor.
Seu primeiro pensamento foi que ele se parecia com Selena, do jeito como ela se contorcia.
iAm se aproximou apressadamente sem se dar conta das outras pessoas que estavam em volta. Segurando as mãos do irmão, caiu de joelhos. - Trez... Trez...?
Mas não havia como alcançar o irmão. Ele se fora, vivo, mas transportado para outro lugar, como se seu corpo tivesse em ordem de desocupação temporária.
- Não, - ouviu-se dizendo. - Não depois de tudo isso... Trez, você está livre... Você pode ficar comigo, estamos livres...
Bem, mais ou menos livres, se ele fosse o Consagrado. Mas, ele não podia se preocupar com isto agora.
Caralho.
- Não me deixe, meu irmão.
- ... Antídoto. Temos de esperar.
iAm olhou para cima e viu AnsLai, o Sumo Sacerdote, parado em pé ao lado da plataforma. - O que?
- Eu lhe ministrei o antídoto... Assim que soube. - O macho olhou para s'Ex, - mas pode ser tarde demais. Ele estava tão fraco quando chegou aqui.
iAm começou a falar, balbuciar sobre... Merda, ele nem sabia sobre o quê.
Era só o que podia fazer.
Enquanto seu irmão se contorcia e revirava, braços e pernas marchando contra uma dor que iAm não podia nem imaginar, iAm sentia-se desamparado. Tão desamparado.
- ... Ver você? - AnsLai perguntou-lhe algum tempo mais tarde.
- O que? - Ele disse em voz rouca. Pelo visto, não tinha parado de falar.
- Seus pais. Ouviram falar que estavam aqui no Território... Que você é o Consagrado por direito, e eles gostariam de...
iAm expôs as presas e olhou para os olhos preocupados do Sumo Sacerdote. - Diga àqueles dois que se quiserem viver, eles jamais, nunca se aproximem de mim ou
de meu irmão de novo. Compreende? Diga-lhes que a única coisa que pode me distrair de Trez neste momento é assassiná-los aqui mesmo.
O Sumo Sacerdote empalideceu. - Sim. É claro.
iAm voltou a se concentrar no irmão.
E voltou a falar coisas sem sentido. Do jeito que Trez havia feito com Selena quando ela estava quase morrendo.
Algum tempo depois, ele estava vagamente consciente de que uma fêmea entrou na sala. E soube quem era pelo eco em seu próprio sangue, mas, não lhe prestou atenção.
Ele estava consumido demais tentando manter Trez no planeta quando, sem dúvidas, o macho estava ocupado tentando trilhar seu caminho para o outro lado.
Capítulo OITENTA E QUATRO
Trez conseguiu seu desejo.
No curso de sua morte pela limpeza, aprendeu que, de fato, havia um Fade. E sim, pessoas de diferentes tradições e crenças, todas iam para o mesmo lugar.
Em certo ponto, a dor se tornou demais e seu corpo desistiu, e a súbita ausência de qualquer sensação foi um choque. Ainda assim, ele se deleitou no entorpecimento.
E na sensação de voar.
Planando, ele estava planando... Até se ver em uma vasta paisagem branca, uma paisagem enevoada que, enquanto a atravessava, o fazia sentir-se sem peso e ao
mesmo tempo, preso à Terra.
Logo, uma porta apareceu à sua frente. Uma porta com uma maçaneta que, instintivamente, sabia que se girasse, lhe permitiria entrar no que havia além, e desta
forma, jamais voltar à Terra.
Foi então que viu Selena.
O rosto e forma dela apareceram-lhe, não junto à porta, mas nela, como se, mesmo fechado, o painel contivesse espaço tridimensional.
Alegria. Instantânea. E foi o mesmo para ela, seu sorriso se irradiando pela distância entre eles, o contato visual traduzido para uma carícia que ele sentiu
com o corpo inteiro.
Ela estava saudável. Estava forte. Estava inteira.
- Minha rainha! - Ele gritou, buscando por ela.
Mas, ela estendeu a mão, parando-o. - Trez, você precisa ficar.
Ele recuou - Não. Eu preciso ficar com você... É assim que deve ser...
- Não. Você tem uma porção de coisas para fazer. Você tem coisas que precisa fazer, pessoas para conhecer. Sua jornada ainda não terminou.
- É claro que terminou, merda. - Veja só ele com suas súplicas. Que jeito de realizar sua fantasia de reunião no Paraíso. - Você está morta e quero ficar aqui
com você.
- Eu vou estar aqui, esperando por você. - Ela sorriu de novo, e aqueceu-o de novo. - É maravilhoso onde estou... Voei por causa do que fez, do jeito que me
libertou. Eu alcei voo, estou livre e vou esperar até sua jornada terminar.
- Não, - ele gemeu. - Não me mande de volta.
- Eu não tenho este poder. Mas, você tem. Faça a escolha de ficar lá embaixo... Você precisa cuidar de iAm. Precisa compensá-lo pelos anos que ele esteve lá
por você. Não é justo você abandoná-lo. Ele jamais terá paz, e ele merece.
Bem, inferno. Aquele era provavelmente o único argumento que poderia ter uma chance de convencê-lo.
Merda.
- E nós? - Ele gemeu. Mesmo sabendo que era egoísta. Infantil - E eu... Eu não sou nada sem você.
- Eu virei a você no céu noturno. Procure por mim lá.
- Me deixe tocá-la...
- Faça a escolha certa, Trez. Você precisa fazer a escolha certa. Você tem um débito a pagar para alguém a quem amou a vida inteira.
- Mas eu amo você, - ele engasgou, começando a chorar.
- E eu te amo também... Por toda a eternidade. - O sorriso dela ressoou por dentro dele. - Eternidade e mais além, lembra? Estarei aqui esperando por você e
por quem mais você ama. É só o que tem aqui do outro lado. Só amor.
- Não vá. Oh, Deus, não me deixe de novo...
- Não vou. Estamos longe, mas não perdidos e nem verdadeiramente separados. Não lamente por mim, meu amor. Eu não morri...
- Selena!
Quando iAm ouviu o grito, pulou na beira da plataforma. Merda, que salvador que ele era. Caíra na porra do sono segurando a...
- Trez? - Disse ele, ao perceber que o cara tinha, por algum milagre, voltado à consciência quase vinte e quatro horas depois da limpeza.
Seu irmão estava chorando, lágrimas escorriam de seus olhos, rolando pelas suas bochechas.
- Trez? Você voltou? - iAm levantou-se e se inclinou para o irmão. - Trez?
Aqueles olhos inchados se voltaram para ele, e houve um longo momento no qual Trez pareceu lutar contra o que era ou não real.
- Trez? - iAm sussurrou, subitamente preocupado que o veneno tivesse detonado o cérebro dele. - Você está...
De repente aqueles braços longos e fortes se enrodilharam em volta dele e o ergueram do chão.
E seu irmão estava abraçando-o.
E falando.
- Estou aqui, estou aqui, estou aqui... Por você, estou aqui...
De início não entendeu as palavras, mas então...
- Não vou te deixar. - Trez disse em uma voz rouca e arranhada. - Estou aqui e não vou te deixar.
Oh... Merda.
Aquelas eram as palavras que iAm havia dito ao macho em tantas variações diferentes ao longo de suas vidas juntos... Palavras que haviam sido representadas pelas
ações que havia feito, e dias em que havia ficado acordado, se preocupando, e os anos que havia passado só rezando para que pudessem sobreviver por mais uma noite.
iAm caiu sobre o peito escarificado de seu irmão, seus joelhos subitamente falharam sob ele.
Em suas fantasias, ele havia se perguntado como seria estar livre da maldição de se preocupar tanto com o irmão.
Ele tinha uma variação de repetições.
Nenhuma chegava perto da coisa real.
Capítulo OITENTA E CINCO
Era por volta do meio-dia quando Mary deixou a mansão da Irmandade... E os irmãos Sombras retornaram.
Rhage acabara de enviar sua shellan para a clínica de Havers, após dizer-lhe que não, realmente, ele estava totalmente bem, quando a campainha da entrada principal
tocou.
Pedindo licença ao grupo agitado de seus Irmãos na sala de jogos, alcançou Fritz no monitor, e no instante em que viu aqueles dois rostos escuros, gritou.
- Quem é? - Butch perguntou.
- Quem esperávamos!
Liberando as fechaduras, posicionou-se diante das portas; e lá estavam eles, detonados como a merda, ambos desfigurados e meras sombras de seus "eus" anteriores.
Mas, estavam vivos. Eles estavam juntos. E a visão deles em pé, andando e falando, aliviava um pouco da pressão que oprimia seu peito há noites.
- Ei, meu amigo, - ele disse, abraçando quem estava mais perto, e então indo para o outro.
A voz de Trez estava fina, mas suficientemente forte. - Ei, obrigado por tudo.
- Muito obrigado por...
- Trez, camarada, que bom te ver...
- Jesus Cristo... Que história...
- iAm, bem-vindo de volta...
E assim foi, a Irmandade preenchendo a sala de jogos junto com as fêmeas da casa, as saudações e falas como aquelas de alguém que sobreviveu a uma guerra.
Ou sobreviventes de uma quase-guerra...
- Oh, meu Deus, vocês conseguiram voltar a tempo de ver o programa do Steve Wilkos!
Todo mundo parou e olhou para Lassiter, que estava na arcada, nu até a cintura, vestindo nada além de calças de couro pretas e aquele boné de beisebol escrito
"ESTOU COM TESÃO" com a aba de prata, metido na cabeça... E um par de pantufas gigantes nos pés, as quais, se colocadas juntas, formavam um completo Dálmata.
O anjo havia retornado há doze horas, dizendo que os dois estavam seguros, mas não havia como saber se Trez conseguiria sobreviver. E, pela primeira vez, aquele
imbecil estava total e completamente devastado por algo. Quase inconsolável.
No silêncio que se seguiu ao feliz anúncio de TV, Trez olhou para o outro lado do saguão... E então explodiu em uma gargalhada.
O pobre bastardo ria tão forte, que teve de envolver os braços em volta do tronco e secar lágrimas dos olhos.
Quando todo mundo se juntou a ele, o Sombra virou a cabeça para o teto e disse. - Obrigado, minha rainha. Eu precisava disto.
Então foi até o anjo caído e abraçou-o. Disseram palavras sérias, que fizeram Lassiter baixar os olhos.
Porque ele parecia estar despedaçado.
Mas então, o filho da puta mudou de posição e disse, - Agora tira a mão da minha bunda. Não sou este tipo de garota.
E aquilo ditou o tom pelo resto do dia. Ao invés de enrolar bandagens em volta de um ferimento, a comunidade se envolveu ao redor dos Sombras, puxando-os para
a sala de jogos, oferecendo comida e bebida.
Estava claro que, apesar daquele momento de leveza, Trez estava profundamente ferido. Ele vestia um tipo de túnica cinzenta, e sua pele estava quase da mesma
cor do tecido. Mas, parecia determinado a estar presente e participativo.
iAm, por outro lado, parecia ter um grave caso de vertigem. Como alguém que acabou de sair de um barco que enfrentara ondas fortes, ele apoiou-se em várias coisas...
A mesa de sinuca, o sofá, o bar.
Ele declinou a oferta de bebida alcoólica. Em vez disto, tomou uma Coca.
Rhage estava tão malditamente feliz por eles estarem em casa, inteiros, mas mesmo assim, ele não conseguia juntar coragem para interagir mais. Disse a si próprio
que era por causa do ataque à Sociedade Lessening que iam executar na escola preparatória com Assail e aqueles dois primos.
Podia ser um massacre histórico.
E então, sempre havia o Bando dos Bastardos em sua mente. Mesmo que ele e seus irmãos matassem os lessers e o Ômega precisasse repor as perdas, ainda haveria
Xcor e seu garotos para preocupá-los.
Mas, a realidade era que não se sentia bem.
E após um tempo, se tornou consciente de que não era o único.
Layla estava também na periferia, uma mão na barriga, os olhos fixos adiante, mas não realmente focando nada.
- Está bem? - Perguntou ao se aproximar dela. - Precisa que eu chame a Dra. Jane ou algo assim?
Quando ela não respondeu, ele se inclinou. - Layla?
Ela pulou, e ele estendeu a mão para acalmá-la, quando ela murmurou, - Sinto muito, o que?
- Você está bem?
- Oh, sim. - Ela lhe deu o mesmo tipo de sorriso que ele dera à sua Mary. - Estou bem.
Ele ficou tentado a dizer-lhe que era besteira, mas, não teria gostado que fizessem aquilo com ele.
- Quer que eu chame Qhuinn?
O macho e Blay estavam falando com iAm, ambos meneando as cabeças... Somente para recuar em choque, como se não acreditassem na história que havia, até agora,
sido contada em segunda mão, pelo cara fã de Steve Wilkos logo ali com o símbolo fálico na testa.
- Oh, não. Não, obrigada.
Quando Rhage observou sua expressão, ele pensou, cara, ele realmente era tão egoísta como achava que era. Ela acabara de perder sua irmã Selena há dois dias.
É claro que pareceria uma versão de Trez.
Parado próximo a ela, Rhage desejou poder ajudar. Mas se receava ser incapaz de fazer algo para ela... Não enquanto estivesse refletindo sobre este abalo sísmico
que havia de alguma forma ocorrido sob sua pele.
Ostensivamente, tudo estava o mesmo e tudo estava bem.
Só ele se sentia um macho diferente por nenhuma boa razão.
E aquilo...
... Era o que ele achava aterrorizante.
Do outro lado da cidade, na mansão Tudor de Abalone, Paradise estava sentada em sua própria cama, seu próprio quarto, encarando a parede do outro lado.
Ela supunha que devia estar feliz. De acordo com seu pai, a ameaça do s'Hisbe havia sido neutralizada, e todo mundo estava a salvo... Mas ela estava completamente
transtornada.
É claro, se mudara de volta para casa.
A despeito de toda sua postura independente, a realidade de viver longe do pai em tempos incertos era perigosa demais. E este era um retrocesso para sua autonomia.
Pelo menos ela ainda tinha seu emprego...
A batida em sua porta foi baixa.
- Sim? - Ela disse.
Quando a porta se abriu, seu pai entrou e ficou parando na soleira. Vestia um roupão de banho azul marinho, aquele com o brasão da família bordado no peito e
a faixa que era tão longa que ia até a barra.
- Ainda acordado? - Ela perguntou.
- Não consigo dormir.
- Coisas demais acontecendo.
- Sim, - ele hesitou, olhando em volta pelo quarto dela como se renovando-se com sua presença. - Posso entrar?
- É claro, a casa é sua.
- Nossa, - ele corrigiu-a gentilmente.
Quando ele somente veio até a beirada do tapete de crochê que cobria o chão, ela franziu o cenho. - Não está se sentindo bem?
Ele abriu a boca para falar. Fechou. Tentou de novo.
Falhou.
Movendo as pernas, ela se sentou. - Pai?
Seu pai finalmente se aproximou e foi quando ela viu que ele tinha algo na mão. Uma folha de papel.
Em vez de responder, ele ofereceu o que estava segurando.
- O que é isto? - Ela disse ao pegar a coisa.
Olhando para baixo, ela franziu o cenho.
- Oh... Meu Deus, - ela sussurrou. - Meu Deus...
Era o formulário de inscrição para o programa de treinamento da Irmandade. E ele havia preenchido inteiro, com suas próprias mãos.
Para ela.
- Pai! - Levantando-se, ela jogou os braços ao seu redor. - Obrigada! Obrigada!
Ele abraçou-a. - É questão de segurança, - ele disse, bruscamente. - Eu só... Você está certa. Precisa aprender a lutar. A ideia de que algum dia possa estar
desprotegida em algum lugar... - ele recuou. - Você tinha razão. Precisa aprender.
Ele estava claramente, nas palavras de Peyton, borrando as calças de ter de pensar nisto, mas aquilo só tornava o gesto maior ainda. Mesmo assustado... Ele ia
deixá-la ir de qualquer forma.
- Obrigada! - Ela disse, agarrando-se à ele. - Eu serei cuidadosa! Prometo!
Se é que ela conseguiria entrar, Céus, era melhor ela começar a malhar se quisesse passar na prova física.
- Prometo, - ela jurou, - que terei cuidado.
- Estarei rezando por isto, - ele grunhiu. - Todas as noites.
- Eu o amo, pai!
Ele fechou os olhos como se estivesse em um passeio de montanha russa que não estava muito certo de poder enfrentar. - E você, querida Paradise, tem o meu coração.
Capítulo OITENTA E SEIS
A Rainha Catra vin SuLaneh etl MuLanen deh FonLerahn se sentou sozinha em seu alojamento, o silêncio ao seu redor se formara ao pedir às criadas e aos servos
para deixá-la.
Ela não estava se mudando para a suíte da antiga Rainha.
Não, essa ela estava transformando em um berçário para as crianças daqueles que serviam no palácio. Dessa forma, aqueles pequenos preciosos estariam perto dos
seus pais, e pela primeira vez, os empregados não teriam de deixar seus filhos e filhas com parentes ou em um lugar frio e escuro como uma prisão perto da área residencial
pobre.
No entanto, esse não tinha sido seu primeiro decreto.
Não, a primeira coisa que fez, depois de aceitar o manto da liderança sob seu povo, foi abolir a maldição do Consagrado.
Ela libertou iAm.
Não que ele soubesse. Contudo, todos os outros no s'Hisbe sabiam, então pelo menos ele nunca teria que se preocupar em vê-la ou o Território novamente.
Cada respiração que ela tomava, machucava.
Estrelas acima, tanto dano tinha sido feito por alguém tão ganancioso.
As boas notícias, supôs, era que ela, em conjunto com s'Ex, a quem ela elevara para uma posição equivalente a Rei, embora, obviamente, não estariam acasalados,
veriam que ele, mais que ninguém, já foi tratado muito caprichosamente e negligentemente.
E já que nunca teria crianças, ela não precisava se preocupar sobre algum tipo de gene do mal oculto aparecendo.
De fato, com iAm fora de questão, ela estava preparada para ser celibatária. Quem mais ela iria querer, de qualquer maneira? Ela encontrara seu parceiro, estava
até decretado nas estrelas.
Que ele não a quis?
Bem, o destino de alguém não era o do outro, não importa as emoções envolvidas...
Quando a porta deslizou se abrindo, e um flutuar de cheiros de comida precedeu um servo, ela franziu a testa e olhou as horas no antigo relógio de corda em sua
penteadeira. Ela esteve sentada aqui por horas.
- Não estou com fome, - ela disse sem olhar. - Mas, agradeço.
Quando sentiu que a figura não se moveu da entrada, ela olhou para o macho vestido de seda persa.
- Obrigada, - repetiu de forma entorpecida. - Mas ainda não estou com fome. Por favor, devolva para a cozinha... Não, espere, ofereça isso para seus companheiros
machos e fêmeas.
Em vez de curvar e de se esquivar para fora, o macho entrou mais, o painel da porta corrediça fechou atrás dele.
Então lentamente ele abaixou-se em seus joelhos, colocou a bandeja na sua frente, e estirou seu torso de forma plana no chão de mármore em direção a ela.
E foi então quando ela sentiu o eco de si mesma no sangue dele.
A menos que ela estivesse enganada?
Espera... Esse era realmente...
- iAm? - Ela sussurrou roucamente. - iAm, é você?
A figura do macho se endireitou e removeu seu capuz. E quando ela apertou as mãos no rosto, rezou para que não tivesse adormecido e estivesse apenas sonhando.
Porque os olhos dele, aqueles em forma de amêndoas, os belos olhos negros, estavam brilhando com amor.
- Então, - ele disse com sua voz maravilhosa. - Eu ouvi que fui rebaixado.
- Desculpe, o que?
- S'Ex me ligou. Disse que fui rebaixado. Acho que eu não sou mais o Consagrado, huh.
iAm se levantou e caminhou até ela, seu grande corpo fazendo com que as batas se deslocassem, seu cheiro de especiarias escuras.
Quando ele foi para perto dela, abaixou-se novamente em seus joelhos. - Você está dizendo que não quer mais isso? - Ele falou pausadamente, indicando a si mesmo.
- Realmente?
Ela fechou os olhos, e se afastou dele, a dor muito grande para aguentar. - Por favor... Não me torture.
Ele apertou as mãos dela. - Olhe para mim. Por favor, olhe para mim... Maichen.
Quando ele usou o nome que ela dera a ele em primeiro lugar, ela abriu as pálpebras e olhou para cima. Sua visão estava ondulada por causa das lágrimas, e ele
roçou suas bochechas com os nós dos dedos.
- Você salvou meu irmão, - ele disse.
- Não, não salvei. Eu estava muito atrasada.
- Ele sobreviveu.
- Quase o matou. Esse pesadelo inteiro... Quase o matou.
- Você não foi a causa, você foi a solução pela qual eu estava implorando.
- Menti para você.
- E eu te perdôo.
- Como? - Ela engasgou.
Ele se debruçou e escovou a boca dela com a sua. - Você é fácil de perdoar. Você arriscou sua vida para descobrir a verdade. Você foi a única que descobriu as
mentiras e modificou tudo ao redor. Você é o salvador por quem eu passei minha vida inteira rezando, Alteza.
Ela agitou a cabeça. - Não me chame disso. Por favor. Escolhi maichen porque não acredito que sou melhor que qualquer um. Com corações batendo e mentes abertas,
somos todos iguais.
- Veja, - ele sussurrou. - Você só continua ficando mais bonita.
Ela olhou-o por mais tempo. Então, ela estendeu uma mão trêmula e tocou em seu rosto. Em resposta, ele apertou os lábios nas pontas de seus dedos.
- Isso é real, - ele disse a ela. - Pode confiar nisso. Você não acordará e encontrará isso terminado. Você e eu? Isso é o nosso começo.
- Eu amo você, - ela disse em uma voz áspera. - Não quero mais ninguém, além de você.
iAm sorriu e empurrou entre as pernas dela, levando seu corpo contra o dela. - E eu me sinto da mesma forma, minha maichen. Eu amo você, amo você... Amo você...
Quando ele começou a beijá-la, ela achou difícil de acreditar que isso estava realmente acontecendo. Que ele voltou para ela. Que uma vez se separaram em pedaços,
agora eles estavam partidos como um todo único.
Se afastando um pouco, ela perguntou, - Tem certeza que isso é real?
Ele encolheu os ombros e sorriu-lhe. - Claro que é. Você e eu estávamos escritos nas estrelas...
Com isso, ele beijou-lhe os lábios novamente.
E ela o beijou de volta.
Capítulo OITENTA E SETE
A chuva de meteoro ocorreu à meia-noite em ponto.
Quando Trez andou para fora do calor da mansão, e caminhou passando pelo pátio em direção à trilha abaixo, ele saiu da área coberta pelas luzes de segurança
do exterior, e foi quando olhou para cima e viu o céu claro.
Contra um denso preto aveludado e entre as alfinetadas de estrelas brancas brilhantes, um salpico de flashes foi lançado através do céu, como ouro em pó sendo
solto de uma palma aberta.
Ele sorriu tristemente. - Obrigado, minha rainha. Eu precisava disso.
Assistindo a exibição, ele se sentiu muito sozinho e totalmente conectado, especialmente porque se refletiu naquela vastidão acima.
Se alguém já quis sentir o infinito do tempo e da existência, tudo que tinha que fazer era olhar para o céu à noite e sentir sua preciosa escuridão olhando fixamente
de volta para eles. Era a grande dualidade da união e da separação.
Foi da mesma maneira que sua Selena lhe disse na porta para o Fade.
Ele a queria tanto ao seu lado que acordara novamente com um rosto molhado e um travesseiro encharcado. Mas, ainda assim ele estava aqui, em pé em suas botas,
preparado para descobrir, de alguma forma, como respirar enquanto aquela que fez seus pulmões funcionarem estava do outro lado.
- Eu irei agora, - ele disse. - Venha comigo...
Trez saltou e girou.
Claro que sabia que não havia ninguém atrás dele, ele podia ter jurado que uma mão suave descansou em seu ombro.
Ele rezou para que isso fosse o fantasma de sua shellan. Se não fosse, ele provavelmente estava enlouquecendo.
Viagem curta.
Wha-eh.
Fechando os olhos, ele teve de esperar um momento para a concentração vir... E então ele estava fora, espalhando suas moléculas pela noite clara e fria de outono.
Quando ele se formou novamente, estava na frente do Sal's.
Ele supôs que poderia ter ido pelos fundos, mas não. Essa era uma grande noite, uma espécie de reintrodução para ele. Ele entraria pela frente.
Caminhando para o teclado perto das portas de vidro, ele inseriu o código e então liberou sua entrada. Imediatamente, a decoração antiga e clássica afundou-se
sob ele, o papel de parede flocado vermelho e preto sangrando em suas retinas, a sensação já-estive-aqui-milhões-de-vezes parecia tanto certa quanto uma mentira.
Caminhando adiante, ele montou o par de passos e foi para perto do balcão da recepcionista. Então passou pelas salas de jantar e em direção à área do bar nos
fundos. As portas vai-e-vem da cozinha estavam mais à direita, e tirou sua jaqueta de couro à medida em que andava, deixando-a no bar.
O lugar estava vazio como sempre em uma segunda-feira à noite.
Seus clubes estavam fechados também.
Entretanto, ele iria até eles amanhã à noite. Por que... Bem, isso era só o que iria fazer.
A menos que os Irmãos precisassem dele.
Jesus, e ele pensou que devia a Rehvenge antes? Não era nada comparado ao que sentiu pela Irmandade da Adaga Negra e seu Rei.
Qualquer coisa, a qualquer hora para aqueles machos.
Eternamente.
Ele encontrou a si mesmo hesitando na entrada da cozinha, encarando o par de portas, ambas tinham janelas circulares de acrílico nelas de forma os garçons não
batessem uns nos outros enquanto carregavam bandejas de comida para dentro e para fora.
Pondo sua palma na porta à direita...
... Ele finalmente empurrou.
Imediatamente, o cheiro do famoso molho marinara do seu irmão bateu em seu nariz, e na verdade, pela primeira vez que desde sua Selena se foi, ele sentiu uma
pontada de fome.
iAm estava em frente ao fogão, mexendo em uma panela enorme com uma colher tão longa quanto um braço.
- ... Quantidade adequada de orégano. É uma missão crítica.
Ao longo do lado esquerdo, na extremidade do balcão de aço inoxidável, uma pequena mesa redonda fora instalada com uma toalha de mesa de linho, talheres, e flores
no meio. E a Rainha dos Sombras estava sentada na coisa, sua cabeça e cabelos expostos, seu rosto bonito e amável inclinado na direção de seu irmão... Seus olhos
iluminados com tal devoção e amor, Trez tomou uma adoração imediata pela fêmea.
Ela notou sua presença antes de iAm, Sr. Antigamente Mudo Mas Agora Tagarela.
Com um rubor rápido, seu rosto mudou, tensão marcando suas características, espremendo para fora um sorriso.
iAm se virou. - Oh, hey, irmão, você conseguiu.
- Ah, sim. - Trez empurrou suas mãos nos bolsos da calça jeans que vestia. -Estou aqui.
- Bem. Ah, bom. - iAm se aproximou, e embora eles não fossem normalmente de abraços, deu-lhe um abraço bom e forte. - Ah... Então, sim. Obrigado por vir.
- Obrigado por me chamar.
Os dois olharam para a Rainha. Que lentamente se levantou e alisou o manto cintilante que usava.
Diamantes. Era coberto com uma malha fina de diamantes.
E por um momento, pânico apertou o peito de Trez, a visão daquelas pedras preciosas definidas no metal lhe lembrava...
Não, ele pensou. Isso não era necessário. Essa não era mais a realidade que todos eles estavam vivendo.
Estava terminado. O pesadelo estava bem e verdadeiramente acabado, e ele precisava confiar nisso... Porque esta fêmea? Ela seria parte da sua família.
Não havia maneira que aqueles dois não estivessem se acasalando o mais rápido possível.
Ele podia sentir o cheiro do vínculo montando no ar acima de todas aquelas especiarias italianas.
Trez se separou bruscamente de seu irmão e foi até a fêmea alta e esbelta.
Parecia realmente, fodidamente bizarro, mas porra, ele caiu em seus joelhos e prostrou-se a seus pés.
- Oh, por favor, não, - ela disse quando ele começou a recitar a saudação adequada. - Não, por favor. Eu sou...
Quando ele olhou para cima, ela realmente desceu em seus próprios joelhos junto com ele.
- Por favor, - ela disse. - Chame-me maichen. É assim que iAm me chama.
maichen. Tipo empregada? Trez pensou.
Huh. Agora ele tinha outra razão para gostar dela.
Esticando sua palma, ele disse, - Oi. Eu sou irmão do iAm... Trez.
Ela começou a sorrir. Então ela riu, e apertou o que ele ofereceu de volta. - Oi. Eu sou do iAm... Qual é a palavra?
- Esposa. Bem, em breve será. - iAm disse roucamente à medida que se aproximou. - Mas "esposa" é o que você será aqui fora em Caldwell.
Ela endireitou os ombros e tentou novamente. - Oi. Eu sou a esposa de iAm... Maichen.
Trez sorriu de volta para ela. - Prazer em conhecê-la... Maichen.
Algumas horas mais tarde, os três ainda estavam ao redor daquela pequena mesa. Após um desajeitamento inicial, era um choque o quão fácil era. Então novamente,
embora ela fosse uma rainha, a maichen do iAm era realista, engraçada, doce.
E homem, oh homem, ela estava apaixonada por ele. Ela parecia não poder tirar os olhos do seu homem, e toda vez que ele a olhava de volta, ela corava.
Jesus, se Trez pudesse ter escolhido alguém para o seu irmão? Ela teria sido a escolhida.
- Mais cannoli? - iAm perguntou quando se levantou com seu prato. - Eu preciso de outro.
- Não, obrigada. - maichen disse. - Estou tão cheia, acho que este robe vai rebentar.
- Gostaria que tivesse conhecido minha rainha, - Trez revelou para ela.
Quando os dois congelaram, ele sacudiu a cabeça. - Não, não surtem por mim. Eu estou... Eu apenas queria dizer isso. Acho que Selena teria lhe admirado muito.
maichen olhou para iAm. Olhou de volta para ele. Então ela pôs a mão sobre a de Trez. - Eu sei que teria a adorado. iAm passou a maior parte dessa tarde falando
sobre ela.
- Mesmo? - Trez disse, olhando através do seu irmão. - Você falou?
iAm voltou com um cannoli. - Sim. Eu quis que maichen soubesse quem foi sua cunhada.
Eeeeee uma deixa para uma picada no olho.
Merda.
Olhando para o fogão, Trez pigarreou duas vezes. - Eu acho que isso é incrível. Isto é só... Realmente incrível. Obrigado.
Quando foi capaz de trocar seu foco de volta, ele encontrou o par olhando fixamente um nos olhos do outro, como se eles estivessem tão agradecidos por ter um
ao outro, como se soubessem exatamente o quão sortudos eram... Como se tivessem toda intenção de apreciar cada noite que tivessem juntos.
Que sejam centenas, milhares a mais.
Enquanto Trez olhava para eles, pensou que sua rainha tinha razão. Se ele tivesse ficado no Fade com ela? iAm não teria este momento, essa fêmea, estes próximos
anos.
Selena estivera cem por cento correta.
Doloroso como era ficar sem ela, agonizante como algumas noites indubitavelmente foram e continuariam a ser... Vendo seu irmão feliz e apaixonado deu-lhe uma
paz súbita sobre isso tudo.
De alguma maneira, no meio do grande infinito, e apesar do seu luto, ele soube que estava exatamente onde deveria estar neste momento.
Achava que era destino.
Quando iAm se debruçou para beijar sua companheira, Trez inclinou a cabeça para trás e murmurou, - Obrigado, minha rainha. Nós precisávamos disso.
1 Mrs. Fields é um dos maiores varejistas de recém-assados, na área de biscoitos especiais, cookies e brownies nos EUA.
2 No original Lassiter usa a expressão Califórnia dime. Trata-se de uma expressão associando uma perfeita moeda de 10 centavos com os padrões de beleza Californianos.
Com tantas mulheres bonitas na Califórnia para ser uma Califórnia dime você precisa satisfazer um padrão mais elevado.
3 Redshirt: expressão que se originou na série de TV Star Trek, onde os figurantes de camisa vermelha morriam durante os episódios.
4 Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
5 Rat Pack: apelido dado a um grupo de artistas populares muito ativo entre meados das décadas de 1950 e 1960. Sua formação mais famosa foi composta por Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop.
6 Filme de terror baseado no livro "Cujo", de Stephen King, sobre um São Bernard (chamado Cujo) que se tornou raivoso e matou várias pessoas.
7 The Hardy Boys: é como são chamados os irmãos adolescentes detetives amadores Frank e Joe Hardy, personagens fictícios americanos de histórias de mistério que apareceram em várias séries de livros para crianças e adolescentes.
8 Yuppie: jovem executivo, profissionalmente bem remunerado, e que gasta sua renda em artigos de luxo e atividades caras.
9 Phearsom (adj.): Segundo o glossário do livro, termo que se refere à potência do órgão sexual masculino. Tradução literal seria algo como "digno de penetrar uma fêmea".
10 The Wack Pack: grupo de personalidades apresentadas no decorrer da história do "The Howard Stern Show", um talk show de rádio.
11 Raça de cachorro, popularmente conhecido como Lulu da Pomerânia.
12 Sybil: livro escrito pela jornalista estadunidense Flora Rheta Schreiber, publicado em 1973, e trata sobre uma mulher chamada Shirley Ardell Mason. Sua história é o mais famoso caso de personalidade múltipla já registrado.
13 Bureau of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives (Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Foto e Explosivos): organização de aplicação de leis federais, parte integrante do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
J. R. Ward
O melhor da literatura para todos os gostos e idades