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OS VEDAS
OS VEDAS

 

 

                                                                                                                                   

 

 

 

 

Nas lendárias terras onde os sultões e os brâmanes viviam encerrados em seus faustuosos palácios, que os tornavam intocáveis, afastados das pequenas misérias do mundo e sem serem atingidos pela pobreza nem humilhações cotidianas, próprias dos desprotegidos, aqueles que carecem de honrados protetores e que passam pela vida sem serem notados, sem incomodar ninguém, arraigaram aqueles mitos, lendas e sagas do oriente que contém uma singular riqueza, pois estão cheios de seres espirituais que reencarnam e personificam tanto deuses como demónios.

Essas terras são tão extensas que convém concentrar-se numa região e nos seus moradores, portanto vale a pena começar falando, por exemplo, das imagens de barro cozido encontradas entre as ruínas da antiga cidade de Harappa, no vale do Indo, que representam as várias divindades que por acaso serviram de modelo para a vida dos brâmanes.

Esta ancestral cultura, relacionada e influenciada pela antiga civilização mesopotâmica, que floresceu no século XIX, antes da nossa era, tinha o touro por um animal emblemático. Era o boi sagrado dos povoadores do verde vale da terra entre rios onde, segundo a tradição, se encontrava o Paraíso Terrestre e onde o solo ainda conserva a marca das pisadas do primeiro homem e da primeira mulher. Esse touro sagrado, símbolo da fecundidade e garantia da vida após a morte, compartilha a influência e a popularidade entre a população com a deusa mãe que, ademais de protetora, velava para que a terra devolvesse com acréscimo o semeado e que o povo tivesse abundância de bens.

Essa deusa do vale do Indo, que carece de nome, pode- ter sido a precursora da estimação pelos animais da deusa chamada Devi, a esposa de Siva, e uma de suas invocações era dirigida sempre com o propósito de que o deus supremo protegesse os animais. Além do touro sagrado, também havia outros animais nas cerâmicas encontradas da antiga cidade de Harappa, entre os quais cabe citar, por exemplo, os seguintes: tigres, elefantes, búfalos, macacos, serpentes, águias...

Sem embargo, a primeira aparição histórica encontra-se recolhida nos Vedas, os livros sagrados escritos na língua sânscrita, que contém o ritual religioso dos povos ários que chegaram à índia desde o nordeste entre os séculos XVI e XIII, antes da nossa era.

No grupo dos “arya”, dos nobres, estavam as três castas, os brâmanes ou homens religiosos, os ksatriya ou guerreiros, e a última casta dos vaisya ou povo; com eles, porém, a uma grande distância social, estavam os sudra ou vassalos, os que não eram “arya”, mas que ficavam juntos com os nobres. Esta obra do Veda, do conhecimento, que começa com o livro do Rig Veda, livro que deve ter sido escrito pelo século XX a.C, e continua com Yajur Veda, contendo o primeiro ritual, o Sarna Veda, no qual figuram os cantos religiosos, e o Atarva Veda, o tratado de religião íntima para uso privado dos fieis.

O Rig Veda, com mais de mil hinos e dez mil estrofes, nos fala do Universo composto por duas partes: Sat e Asat. Sat é o mundo existente, a parte destinada às divindades e à humanidade; Asat, o mundo não existente, é o território do demónio.

Em Sat está a luz, o calor e a água; em Asat só existe a obscuridade, é a noite onde vivem os demónios.

O Sat, o mundo visível e existente, está composto de três esferas, a superior do firmamento, o ar que está sobre nossas   cabeças e o solo do planeta sobre o qual vivemos. Mas a criação deste Universo não foi somente um ato gratuito, um ato da vontade divina, senão que, pelo contrário, a construção do mundo que agora habitamos necessitou de uma luta heróica e decidida entre as forças do ar e as forças da matéria, porque o Universo é um lugar precioso que só pode se conseguir com o esforço que representa o combate entre as forças do bem e do mal.

Entre os asura, o seres espirituais, havia uma grande rivalidade que se manifestava na luta entre os deuses aditya e os demónios raksa. Esta luta levou, finalmente, a um combate que eliminou o demónio do mundo dos asura, através do enfrentamento dos campeões dos dois bandos, o deva Indra, um filho do Céu e da Terra, que morava no ar, e Vritra, o dono dos materiais necessários para construir o Universo.

O deva, o deus Indra, era um aditya escolhido pelos seus companheiros para representá-los num combate em que devia vencer o.campeão do bando opositor de uma vez por todas. Seu oponente, Vritra, era um danaba ou raksa; seu antagonismo vinha de longe, de tal forma que se tornou necessário promover um combate definitivo, do qual se sairia o chefe inquestionável. O deva Intra, após beber a bebida sagrada, o soma, cresceu tanto que seus pais o Céu e a Terra, tiveram que se afastar para deixar-lhe espaço; por isso ele habitava no ar da atmosfera que ficou aberta após o afastamento ocorrido.

Indra foi armado com o raio, vayra, por Tvastri, o ferreiro dos deuses, e se fortaleceu ainda mais bebendo outros três grandes jarros de soma, mas a luta foi longa e difícil, porque Vritra, o danaba ou filho de Danu, era nada menos que uma   gigantesca serpente que vivia nas montanhas, já que é sabido que as forças do mal gostam de tomar o aspecto da serpente.

Indra, com ou sem a ajuda de Rudra e os maruts, divindades do vento, combateu com Vritra até conseguir destroçar-lhe o lombo com o vayra; e não parou por ai, Indra também acabou com a mãe de Danu, que caiu morta sobre o cadáver do representante do mal.

Mas, do mal nasce o bem e, assim, de seu ventre nasceram as águas da terra até encher os oceanos, de cujo calor saiu o Sol; e com o Sol, o ar, a terra firme e os oceanos já foi possível construir o Universo, pois se contava com todos os materiais requeridos, e se deu forma definitiva ao Sat dos deuses e de suas criaturas, enquanto que o Asat invisível ficava para sempre afastado e relegado à sua não existência.

 

 

                      

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