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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


OURO SOMBRIO / Christine Feehan
OURO SOMBRIO / Christine Feehan

 

 

                                                                                                                                   

  

 

 

 

 

   - Joshua, esta é uma reunião de negócios muito importante.

       Alexandria Houton advertiu seu irmão menor enquanto estacionava seu Volkswagen quebrado no estacionamento atrás do restaurante. Por um momento, apoiou a mão sobre o cabelo encaracolado do menino, olhando seus olhos brilhantes. Foi tomada por uma onda de amor, instantaneamente, animando-a e afastando de vez, seus medos e frustrações. Sua boca se curvou em um sorriso.

- Você cresce tão rápido, Josh, que não sei por que me surpreeendo. Mas esta é minha única oportunidade de sonhar com um posto como este. Sabe que necessitamos este trabalho, verdade?

   - Não se preocupe, Alexandria. Ficarei por aí brincando com meu caminhão. - Ele sorriu abertamente a sua irmã. Ela era seu único parente, desde que a mãe e o pai de ambos morreram em um acidente automobilístico antes de seu segundo aniversário.

   —Sinto que a babá não pudesse nos ajudar. Ela estava... Hum, doente.

   —Bêbada, Alex. - Corrigiu ele solenemente enquanto recolhia sua mochila e seu brinquedo.

- Onde ouviu isso?— retrucou ela, horrorizada de que um menino de seis anos soubesse o que era estar bêbado. Saiu do carro e cuidadosamente alisou seu único terninho. Havia custado o salário de um mês, mas Alexandria o havia considerado como um investimento necessário. Via-se freqüentemente muito mais jovem que seus vinte e três anos e necessitava desesperadamente da seriedade que um traje sofisticado e caro poderia lhe dar.

 

 

 

 

     Josh abraçou seu brinquedo favorito, um velho caminhãozinho caçamba.

   - Ouvi você lhe dizer que se fosse de casa, porque não era adequada para cuidar de mim, pois estava bêbada.

     Alexandria havia dito ao menino que fosse para seu quarto, enquanto falava com a mulher, mas o menino havia permanecido perto para escutar as escondidas. Ele sabia que era uma forma errada de adquirir informação e que Alexandria não considerava apropriada nem em adultos. Apesar disso, Alexandria sorriu ante a pequena e travessa face.

   —Orelhas grandes, não?

   Ele pareceu envergonhado.

   —Está bem, pequeno camarada. Fazemos melhor, as coisas nós sozinhos, verdade?— disse a jovem com mais confiança de que sentia.

       Eles moravam em uma ratoeira. Uma pensão freqüentada principalmente por prostitutas, alcoólicos e drogados. Alexandria estava assustada com o futuro do Joshua. Todo o futuro deles dependia dessa reunião.

     Thomas Ivan, o gênio criador do video jogo mais vendido do momento, grosseiramente imaginativo e que tratava de vampiros e demônios, procurava um novo desenhista gráfico. Ivan havia aparecido na capa de quase todas as revistas importantes do mercado. E estava suficientemente intrigado com seus esboços para solicitar uma reunião. Alexandria sabia que era talentosa, e desejava que ele não a julgasse só por seu aspecto juvenil... Estava competindo com desenhistas bem mais preparados.

     Alexandria tirou sua pasta do carro e tomou a mão de Joshua.

   —Isto pode demorar um bom momento, Joshua. Tem seus sanduíches na mochila. Certo?

     Ele assentiu com a cabeça. Seus cachos sedosos oscilaram sobre seu rosto e caíram na testa. Alexandria apertou a pasta em sua mão. Joshua era tudo que ela tinha, sua única família e a razão para brigar duro para mudar-se para um bairro melhor. Para lhe dar um melhor nível de vida. Joshua era um menino inteligente, sensível e afetuoso. Alexandria acreditava que ele merecia tudo de bom que a vida tinha para oferecer e estava decidida a proporcionar-lhe. Conduziu-o através da parte traseira do restaurante, rodeada por um arvoredo. O caminho conduzia a praia de onde se olhava para o oceano.

   — Não te aproxime da encosta, Joshua. As pedras são perigosas. Podem desmoronar justo a seus pés ou poderia escorregar e cair.

     — Você já me disse—. Houve isso um indício de exasperação em sua voz.— Sei as regras, Alex.

     —Henry está aqui esta noite. Ele cuidará de você — Henry era um senhor de idade e sem lar. Ela o conhecia de seu bairro e ele freqüentemente passava a noite no arvoredo atrás do restaurante. Alexandria freqüentemente lhe dava comida e dinheiro e o mais importante, o respeitava. Em troca, Henry estava sempre disposto a lhe prestar pequenos favores.

    Alexandria saudou com a mão, o homem magro e curvado que nesse momento caminhava coxeando para eles.

     —Olá, Henry. É tão amável de sua parte fazer isto por mim, hoje.

     —Você teve sorte de me encontar no mercado hoje mais cedo. Eu ia dormir sob a ponte esta noite. — Henry olhou ao redor cuidadosamente, com seus olhos azuis descoloridos. — Estiveram acontecendo algumas coisas estranhas pelos arredores.

     —Turmas de drog...?— perguntou Alexandria, se einterrompendo, ansiosamente. Não queria ver Joshua exposto aos perigos ou as pressões desse tipo de vida.

     Henry negou com a cabeça.

     —Nem de longe. Os policiais não os deixariam entrar neste lugar, por isso durmo aqui. Nem sequer me deixariam ficar se soubessem.

     —Então, que coisas tão estranhas estiveram ocorrendo por aqui?

     Joshua deu um leve puxão em sua saia.

     — Vai se atrasar para a reunião, Alex. Henry e eu estaremos bem.— insistiu o menino, percebendo sua preocupação.

       Sentando-se com as pernas cruzadas, em uma pequena rocha, ao lado do caminho que conduzia para a encosta. Henry se sentou a seu lado.

     — Está bem. Vá, Alex. — Ele acenou com a mão nodosa. — Nós vamos brincar com este bom caminhão. Verdade, Joshua?

     Alexandria mordeu o lábio, repentinamente indecisa. Estaria fazendo certo, deixar Joshua somente com um velho fragilizado e doente de artrite, para cuidar dele?

     —Alex!—. Como lendo suas preocupações, Joshua a olhou furiosamente, sua virilidade claramente insultada.

     Alexandria suspirou. Josh estava muito amadurecido para sua idade. Sabia que o fato era por ele sempre estar exposto à vida sórdida que os rodeava. Infelizmente, também estava correto. Essa entrevista era importante. Depois, era pelo futuro do menino.

     —Obrigado, Henry. Tenho uma dívida com você. Preciso demais deste trabalho. — Alexandria se inclinou para beijar Joshua — Amo você, pequeno camarada. Cuide-se.

     —Amo você também, Alex — repetiu ele — Cuide-se.

     As familiares palavras a reconfortaram enquanto percorria caminho através dos ciprestes, ao redor da cozinha e pelos degraus que conduziam ao terraço suspenso por cima da encosta. Esse restaurante era famoso por sua vista das ondas que se quebravam, lé embaixo. O vento soprou seus cabelos, presos pelo coque, orvalhando-os com sal e gotículas de espuma do mar. Alexandria fez uma pausa na porta intrincadamente esculpida, respirou profundamente, levantou o queixo e entrou com ar de confiança que seu estômago revolto desmentia.

     As músicas suaves, as luzes das arandelas de cristal, davam a ilusão de estar em outro mundo. O salão estava dividido em pequenas saletas privadas. A lareira enorme com seu oscilante fogo dava ao ambiente, um aspecto quente e íntimo.

     Alexandria dirigiu ao maitre, um sorriso.

     — Tenho uma reunião com o senhor Ivan. Ele chegou?

     — Por aqui, senhorita — disse o homem com um olhar avaliador.

     Thomas Ivan tomava seu uisque escocês, preguiçosamente, enquanto a formosa Alexandria Houton se aproximava de sua mesa. Freqüentemente agendava suas entrevistas nesse acolhedor restaurante, mas ter a seu lado, essa jovem mulher era decididamente um enriquecimento. Era de pequena estatura, magra, mas com curvas cheias e pernas fabulosas. Seus olhos grandes, de cor safira, estavam enfeitados por cílios escuros e sua boca exuberante e sexy. O cabelo dourado estava retorcido em um coque severo que enfatizava sua estrutura óssea clássica e suas maçãs do rosto. Várias cabeças viraram a sua passagem. Ela não se mostrou consciente do caos que criava, mas o maitre parecia estar escoltando a realeza. Havia definitivamente algo especial nessa mulher.

     Thomas tossiu para limpar a garganta e encontrar sua voz. Levantou-se, para estreitar a mão que ela lhe estendia, e interiormente se felicitou por srua sorte. A jovem era uma bela criatura e preccisava dele. Tinha uns bons quinze anos a mais que ela, com dinheiro, influências e fama. Poderia afiançar ou despedaçar sua carreira. E tinha toda a intenção de tirar proveito de cada possibilidade dessa posição tão favorável.

     —Prazer conhecê-lo, senhor Ivan — disse ela brandamente. Sua voz melodiosa alcançou o homem como o toque de dedos sedosos.

     —O mesmo digo eu. — Thomas sustentou a mão feminina um momento a mais que o necessário. A inocência doce nos olhos dela fazia seu natural atrativo sexual ainda mais provocante. Ele a desejava ferozmente e afirmou em sua intenção de tê-la.

     Alexandria conservou suas mãos juntas no colo, de maneira que seu tremor não deixasse mostrar seu nervosismo. Não podia acreditar que estava realmente sentada frente a um homem tão genial como Thomas Ivan. Mais ainda, sendo entrevistada para ocupar o posto da artista de seu próximo projeto. Era a oportunidade de sua vida. Quando ele guardou silêncio, estudando-a fixamente, procurou algo educado e inteligente para dizer.

     — Este é um belo restaurante. Vem aqui freqüentemente?

     Thomas sentiu pular seu coração. Ela estava interessada nele como homem! Por que s não fazia a pergunta? Podia ver que se fazia de fria e intocável, inclusive fracamente arrogante, mas colhera informações sobre sua vida privada. Levantou uma sobrancelha e lhe dirigiu um sorriso cuidadosamente ensaiado e que sempre provocava as mulheres.

     —É meu restaurante favorito.

     Alexandria não gostou do olhar repentinamente presumido de seus olhos, mas sorriu de todos os modos.

     —Trouxe alguns esboços comigo. Uma amostra de idéias e desenhos do que sugeriu para seu próximo jogo. Via tão claramente em sua memória, que descrevia... Sei que esteve trabalhando com Dom Michaels para o NightHawks. Ele é muito bom, mas não acredito que capture exatamente o que você visualiza. Vejo mais detalhes, mais poder—. Som a proteção da mesa, Alexandria retorceu seus dedos entrelaçados, mas tratou de permanecer exteriormente serena.

     Thomas se sobressaltou. Ela estava absolutamente certa. Michaels era um homem conhecido, com um grande ego, mas nunca tinha entendido completamente a visão do Thomas. Entretanto, o óbvio profissionalismo de Alexandria o irritou. Via-se tão fria e intocável e queria falar de negócios. As mulheres usualmente se jogavam sobre ele.

     Alexandria podia ver a irritação acumulando-se no rosto de Thomas Ivan. Cravou as unhas em suas palmas. O que tinha feito de mal? Indubitavelmente, tinha sido muito direta. Um homem com sua reputação provavelmente preferia uma aproximação mais feminina. Necessitava desse trabalho e não podia começar com o pé esquerdo. Que mal havia em um ligeiro flerte? Ivan era solteiro, rico e de aparência agradável. Exatamente o tipo de homem por quem deveria sentir-se atraída. Suspirou interiormente. Nunca havia sentido honestamente atraída por ninguém. Por um tempo, tinha atribuído aos homens insípidos de seu bairro, a suas muitas responsabilidades com Joshua. Agora, em segredo, pensava que poderia ser verdadeiramente frígida. Mas podia fingir se tivesse que fazer.

     O seguinte comentário do Thomas Ivan provou sua teoria.

     —Não acredito que devêssemos estragar nosso jantar com uma conversa de negócios, verdade?— disse ele, esboçando um sorriso encantador.

     Alexandria piscou para afugentar a imagem de uma barracuda e lhe dirigiu um sorriso suave e coquete, permitindo que sua boca se curvasse. Ia ser uma noite longa.

     Havia negado com a cabeça, quando ele encheu seu copo de vinho. Se concentrou em sua salada de camarões-rosa e o bate-papo que parecia fazer felizes a suas entrevistas anteriores. Ivan se inclinava para ela, tocando freqüentemente sua mão para enfatizar um ponto.

     Conseguiu escapar uma vez para verificar se Joshua estivesse bem. Encontrou ao Joshua e Henry jogando blackjack com um quebrado maço de naipes.

     Henry lhe sorriu abertamente, pegando com agradecimento a comida que tinha conseguido pegar escondida e fez gestos com as mãos para afastá-la.

     —Estamos bem, Alex. Vá conseguir o trabalho que tanto quer - ele a instruiu.

     —Está ensinando Josh a jogar cartas?— ela disse com fingida severidade. Ambos os culpados riram travessamente, e foi tudo o que Alexandria pôde fazer para não abraçar Joshua contra si.

     —Henry diz que provavelmente eu poderia te manter e a mim com o jogo. Já que sempre ganho — disse Joshua orgulhosamente.

     Alexandria mordeu os lábios para ocultar ao mesmo tempo sua diversão e seu afeto.

     —Bem, até que não seja um jogador de apostas por dinheiro, ocuparei-me de nosso sustento. Acho melhor voltar para dentro. Se vocês, meninos, tiverem frio, há uma manta no banco do carro — Ela estendeu as chaves do carro para Joshua—. Cuida bem disto. Se as perder, dormiremos ao ar livre aqui com o Henry.

     —Estupendo!— respondeu Joshua, seus olhos azuis dançando.

     —Muito estupendo. De fato, congelante - advertiu Alexandria— Tome cuidado. Serei tão rápida como posso, mas este homem não é muito cooperativo.— Ela fez uma careta.

     Henry meneou um punho nodoso.

     —Se ele lhe der algum problema, envie-o em minha direção.

   —Obrigado, Henry. Vocês, meninos, comportem-se enquanto trabalho—. Alexandria virou e começou a fazer o caminho de volta para o restaurante.

     O vento ganhava velocidade, soprando o ar marinho para a terra, cuspindo espuma através do ar. A névoa estava levantando-se, amortalhando as árvores em brancas nuvens melancólicas. Alexandria tremeu, passando suas mãos nos braços. Não fazia realmente muito frio, mas a aura de névoa e mistério era inquietante.

     Meneou a cabeça para dissipar o pressentimento de maldade espreitando por trás de cada árvore. Por alguma razão, tinha os nervos na flor da pele, essa noite. Atribuiu-o à enormidade dessa entrevista. Tinha que obter o trabalho.

     Retornou ao restaurante serpenteando através da selva de arbustos plantados em vasos de barro e as trepadeiras verdes.

     Ivan ficou rapidamente de pé enquanto ela se sentava, consciente de que era a inveja dos outros homens. Alexandria Houton tinha uma magia especial que o fazia pensar em noites quentes e paixão selvagem.

     Ele roçou com os dedos o dorso da mão feminina.

     —Está com frio - disse com voz pouco rouca. Essa mulher o fazia sentir como um colegial cometendo vergonhosos enganos, enquanto permanecia esquiva, ligeiramente arrogante. Uma sereia inalcançável observando-o a retorcer-se de desejos.

     —Desviei-me por um momento de meu caminho de volta do toilette e a noite está tão bela que não pude resistir olhar o oceano. Parece estar um pouco rebelde esta noite. — Seus olhos pareceram escondr segredos, seus cílios largos, aprisionavam cada emoção.

       Thomas engoliu em sêco e afastou o olhar. Tinha que se controlar. Procurou em sua reserva de homem encantador, histórias caprichosas para diverti-la e agradá-la. Alexandria se esforçou por escutar sua conversa, mas era difícil concentrar-se em suas piadas a respeito de como tinha feito sua brilhante carreira, suas muitas obrigações sociais e a laboriosa fila de mulheres perseguindo-o constantemente por causa de seu dinheiro.

Ela começava a ficar progressivamente mais inquieta, tanto, que suas mãos começaram a tremer. Por um momento, sentiu um calafrio de medo, de terror, como se dedos gelados se desdobrassem em volta de sua garganta. A ilusão foi tão real, que realmente levantou uma mão até seu pescoço para comprovar.

     —Certamente aceitará um copo de vinho. É de uma excelente safra — insistiu Thomas, levantando a garrafa e chamando sua atenção de volta a ele.

     —Não, obrigado, raramente bebo. - Era a terceira vez que dizia, Alexandria resistiu a lhe perguntar se elwe sofria de algum problema de audição. Não ia embotar sua mente com álcool quando essa entrevista significava tanto. Nunca bebia quando dirigia e jamais com o Joshua perto. Seu irmão tinha visto mais do que suficiente, a embriaguez nos vestíbulos e nas calçadas fora da pensão.

     Alexandria lhe dirigiu um sorriso para tirar o mal estar de sua negativa. À medida que o garçom tirava os pratos, com decisão tratou de pegar suas pastas.

     Ivan suspirou audivelmente. Sempre, a essas alturas, as mulheres atuavam submisamente, mas Alexandria parecia imune a seu encanto. Ela pareacia estar fora de seu alcance. Apesar de tudo, o fato o intrigava. Tinha que possui-la. Sabia que o trabalho era importante para ela e usaria essa certeza se tivesse que fazê-lo. Pressentia que essa mulher tinha um fogo interior, firmente encerrado atrás de seu sorriso fácil e seus frios olhos de cor safira. Esperava desfrutar um pouco de sexo quente, úmido e ardente com ela.

     Mas no momento em que Thomas viu seus esboços, esqueceu-se de satisfazer seu ego e sua luxúria. Alexandria tinha captado as imagens de sua mente melhor do que suas próprias palavras o tinham feito. A excitação o apanhou e quase babou sobre seus excepcionais desenhos. Era exatamente o que necessitava para seu novo jogo. Era um conceito novo, aterrador e difícil, e varreria com facilidade à concorrência. Sua criatividade era exatamente o que precisava.

     —São só esboços rápidos,— disse Alexandria meio temerosa — sem animação, mas espero que entenda a idéia. — Esqueceu que não tinha os mesmos gostos do Thomas Ivan enquanto contemplava a forma apreciativa com que ele olhava seu trabalho.

     —Tem um excelente dom para os detalhes. Tanta imaginação… Tanta técnica. E, olhando isto, sinto como se você tivesse lido minha mente. Realmente, você captou o sentimento de vôo aqui.— disse ele, assinalando com o dedo. Ficou impressionado porque ela causasse a sensação de lhe encolher o estômago só com suas ilustrações. O que poderia fazer então com seu conjunto imponente de computadores e programas de desenho?

     Thomas estudou uma cena, sentindo como se realmente estivesse ocorrendo. Era como se ela tivesse tirado uma fotografia de um vampiro apanhado em uma batalha brutal. Era tão real que atemorizava. Seus desenhos captavam o argumento da história e as imagens de sua mente tão perfeitamente, tão completamente, que imediatamente criava entre eles, a conexão que estava evitando toda à noite.

     Repentinamente Alexandria percebeu o ligeiro roçar dos dedos de Thomas Ivan contra os dela, consciente da força de seus braços, da largura de seus ombros, e da angularidade elegante de seus traços. Seu coração sobressaltou-se. Estava realmente respondendo a alguém fisicamente? Era assombroso, que ter em comum, uma mesma paixão pudesse gerar tanto. Observou com orgulho como o homem admirava abertamente as interpretações das criaturas de sua imaginação.

     Mas repentinamente um vento frio fluiu através do restaurante, levando consigo a sombra do mal. Arrastou-se sobre a pele da Alexandria como vermes através de um corpo. A repulsão a apanhou e ela se recostou em sua cadeira, pálida e trêmula. Olhou ao redor com cuidado. Ninguém mais parecia pressentir o ar. O cheiro do mal. Ouviu os risos e os murmúrios das vozes que conversavam a sua volta. Essa normalidade deveria confortá-la, mas sua inquietação aumentou. Podia sentir as gotas de suor em sua testa, descendo por entre seus seios. Seu coração pulsava loucamente no peito.

     Thomas Ivan estava distraído, examinando seus esboços, para aumentar seu desassossego. Continuava murmurando sua aprovação, com cabeça encurvada e eus olhos deleitando-se na riqueza de seus desenhos.

     Mas algo estava errado. Terrivelmente errado. Alexandria sabia. Sempre sabia. Sentiu o momento que seus pais tinham morrido. Sabia quando acontecia algum delito violento por perto. Sabia quem negociava as drogas, quando alguém mentia; simplesmente sabia essas coisas. E nesse mesmo momento, enquanto outras pessoas no restaurante passavam um agradável momento, comendo, bebendo e coversando, ela sabia que o mal estava perto. Algo tão maligno, que nunca teria imaginado a existência de tal ser.

     Seus olhos fizeram um percurso lento e cuidadoso pelo salão do restaurante. Os clientes estavam imperturbáveis. Três mulheres sentadas na mesa mais próxima estavam gargalhando escandalosamente, brindando entre si. A boca de Alexandria ficou seca, seu coração martelando. Foi incapaz de mover-se ou falar, congelada de terror. Na parede atrás de Thomas Ivan, uma sombra escura avançou para frente, começou a gravitar. Era uma aparição abominável. Aparentemente ninguém mais a via. Suas garras estendidas voltaram-se para as três mulheres que conversavam com animação. Alexandria ficou perfeitamente quieta, ouvindo um chiado horrível em sua cabeça, como o roçar das asas de um morcego, emitindo uma ordem insidiosa. Zumbindo insistentemente, poderosa. Venha para mim. Fica comigo. Deixe-me me deleitar em voce. Venha até mim.

     As palavras palpitaram nela até que sentiu algo, como pedaços de vidro quebrado, pareceram perfurar seu crânio. As garras na parede, ao longe, se abriram, estenderam-se, prenderam-na.

     Uma cadeira arrastando-se em sua direita rompeu o feitiço. Alexandria piscou, e a sombra se desvaneceu no eco de uma risada maníaca. Pôde mover-se, voltar à cabeça para o som de duas cadeiras se arrastando trás. Viu as três mulheres levantarem-se, colocar dinheiro em cima da mesa e caminharem num repentino e estranho silêncio, para a entrada.

     Alexandria quis gritar para as mulheres, que retornassem. Não teve idéia do por que, mas realmente abriu a boca para fazê-lo. Sua garganta se fechou e ela teve de lutar a fim de respirar um pouco de ar.

     —Alexandria!— Thomas se levantou velozmente para ajudá-la. Estava cinzenta, com diminutas gotas de suor umedecendo sua fonte.— O que está acontecendo?

     Cegamente, ela tratou de guardar ligeiramente, seus desenhos na pasta, mas suas mãos tremiam e os esboços espalharam-se sobre a mesa e caíram no piso.

     —Sinto muito, senhor Ivan, tenho ir. —Ficou de pé tão abruptamente, que quase o fez cair para trás. Sua mente estava torpe e espessa, como se algum ser maligno se pegasse a ela. Seu estômago se revolveu.

     — Está doente, Alexandria. Deixe-me te levar para casa. — Ivan tratou de recolher os preciosos esboços e sustentá-la pelo braço ao mesmo tempo.

     Alexandria sacudiu com força seu braço para liberar-se. Seu único pensamento era de chegar a Joshua imediatamente. O que fosse essa coisa maligna, o que quer que fosse a criatura que espreitava na noite, as mulheres, Henry e Joshua, estavam em grave perigo. O mal estava lá fora. Rondando. Podia sentir sua presença, como uma mancha escura em sua alma.

     Girou o corpo e correu, sem se importar os olhares curiosos ou o desconcerto de Thomas Ivan. Tropeçou nas escadas, mas continuou, nem o rasgo que a queda provocara em sua saia, a fez parar. A dor e o terror a rasgavam. Seu peito se sentia como se tivesse quebrando, seu coração sangrando. Era tão real, que segurou firmemente o peito e ficou olhando suas mãos, esperando ver sangue. Não. O sangue de outra pessoa. Alguém estava ferido… Ou pior.

     Alexandria mordeu o lábio inferior tão forte, que machucou a pele. Essa dor era real. Possibilitou-lhe se concentrar, fim de continuar andando. A criatura que a espreitava, havia encontrado uma presa. Podia cheirar o sangue agora, experimentar as vibrações persistentes, a seqüela de violência. Rezava que não fosse Joshua. Soluçando, precipitou-se pelo caminho estreito que serpenteava ao redor do edifício. Não podia perder Joshua. Por que o havia deixado, com um senhor de idade já avançada?

     Então se fez consciente da névoa. Densa. Espessa. Que pendia das árvores como uma estranha parede branca. Não podia ver nada diante dela. Sentia-se pesada, como se estivesse andando sobre areia movediça. Quando tratou de forçar o ar em seus pulmões, encontrou-se impossibilitada de fazê-lo. Precisava gritar pelo Joshua, mas alguma intuição profunda a manteve silenciosa.

     Quem quer que fosse o maníaco, desfrutava da dor e o terror dos outros. Esse era seu clímax, sua culminação. Não podia permitir ele satisfazer seus apetites macabros.

     Andando cuidadosamente através das árvores, literalmente se tropeçou com um corpo.

     —Oh! Meu Deus! — murmurou em voz alta, rezando que não fose seu irmão. Aproximando-se, notou que o cadáver era muito grande. Frio e imóvel, estava como um amontoado patético, jogadopara um lado como se fosse lixo. — Henry — A tristeza fluiu enquanto agarrava seu ombro para virá-lo.

     Seu horror aumentou quando viu o peito mutilado. O coração do homem estava literalmente esmagado, exposto e quieto. Alexandria cambaleou afastando-se e ajoelhou. O vômito saiu violentamente. Henry tinha feridas de garras no pescoço. Feridas que só um animal podia fazer.

     A risada zombadora encheu sua mente. Alexandria se enxugou à boca com o dorso da mão. Esse louco depravado não se apoderaria de Joshua. Decidida, avançou instintivamente para os rochedos. As ondas estalavam ruidosamente contra rochas dentadas embaixo e o vento lançando-se através das árvores lhe impossibilitava ouvir algo.

     Sem visão ou audição, Alexandria avançou firmemente, cada instinto atraindo-a para o assassino demente. Tinha a impressão de que ele sabia que ela se aproximava e estava esperando-a. Também estava segura de que ele acreditava que a estava controlando. Ordenando deliberadamente que fosse até ele.

     A pesar do vento forte, a névoa permanecia pesada, mas agora, através da espessura, percebeu mais horror. Três mulheres vagamente familiares, as mulheres do restaurante, avançavam pouco a pouco e com dificuldade para os tochedos. Eram as mesmas que estavam na mesa a sua direita. Haviam saído pouco antes que ela. Podia perceber que estavam com algum tipo de transe, com o olhar fixo abobadamente na silhueta do homem à beira do precipício.

     Ele era alto e magro, mas dava a impressão de grande força e poder. Seu rosto era formoso, como a de um Adonis. Seu cabelo, comprido até os ombros, era ondulado. Quando sorriu, seus dentes eram muito brancos. Como um predador.

       No momento que o pensamento entrou em sua cabeça, a ilusão da beleza desapareceu e Alexandria viu sangue nas mãos, nos dentes e no queixo da criatura.

     O sorriso encantador era uma careta cruel e deixava expostas suas atrozes presas. Seus olhos, fixos nas três mulheres, eram buracos negros resplandecendo com um vermelho feroz na escuridão.

     As mulheres sorriam abobadamente, estendendo as mãos para ele. Quando se chegaram mais perto, ele levantou uma mão e apontou o chão. Obedientemente, as três caíram sobre seus joelhos e engatinharam sensualmente para frente, contorcendo-se e gemendo, rasgando a roupa. A névoa ocultou o desdobramento obsceno por um momento e quando clareou novamente, Alexandria pôde ver que uma das mulheres tinha alcançado o homem e serpenteava em volta de seus joelhos. A mulher arrancou a blusa, deixando expostos seus seios, tocando-se sugestivamente, esfregando-se contra o corpo do homem, implorando e rogando que ele possuísse. Que a usasse. Uma segunda mulher alcançou a borda do precipício e pegou na cintura do homem, com o olhar fixo para cima, provocativamente.

     Alexandria quis voltar às costas, ao horror que estava a ponto de ocorrer, com aquelas bonecas humanas, mas divisou Joshua caminhando lentamente para o homem. Não parecia notar às mulheres. Não olhava nem para direita nem à esquerda. Simplesmente, ele caminhava para frente como um sonambulo.

     Transe hipnótico. O coração de Alexandria bateu ruidosamente contra seu peito. O assassino havia hipnotizado às mulheres e a Joshua. Eles respondiam a sua chamada como ovelhas sem julgamento. Seu cérebro analisava. Teria de interceptar Joshua antes que ele pudesse alcançar ao monstro. Felizmente, Joshua se movia lentamente, como se estivesse sendo hipnotizado, contra a vontade. Embora o véu grosso de névoa os distorcia, Alexandria sentiu o impacto dos olhos hostis e sobrenaturais enquanto a criatura inclinava sua cabeça para ela. Seu pescoço ondulando como o de um réptil.

     Enquanto ele a examinava através da espessa névoa, as asas de morcego que havia sentido antes, golpearam seu crânio e os pedaços de vidro quebrado a machucaram, repetidas vezes. A voz suave e sedutora murmurou insistentemente em sua cabeça. Alexandria ignorou a dor pulsando em sua mente e enfocou sua atenção em alcançar Joshua. Não daria a esse monstro a satisfação de saber que estava machucando-a.

     Sua mão tentou agarrar a camisa de seu irmão. Os pés do menino continuaram para frente, mas ela plantou seus pés firmemente e o segurou. Envolvendo seus braços no menino, confrontou o monstro a pouca distância.

     Ele estava à beira do precipicio e as mulheres adulando-o. Ronronando e mendigando sua atenção. Ele parecia não tomar ciencia das mulheres, pois seu ser inteiro, estava concentrado em Alexandria. Sorriu-lhe, deixando ela ver suas presas.

     Alexandria tremeu ante a vista do sangue do Henry em seus lábios e dentes. Esse louco tinha matado o simpático e inofensivo Henry.

     —Venha para mim. — Ele ordenou, estendendo uma mão para ela.

     Alexandria podia sentir sua voz através de seu corpo, em sua pele e exigia que ela que executasse sua ordem. Piscou rapidamente para manter a concentração sangue em suas mãos e suas unhas, como adagas. Enquanto cravava os olhos nas garras, a voz vacilou em sua beleza e tornou-se de uma fealdade beligerante.

     —Acredito que não. Nos deixe em paz. Levarei-me Joshua comigo. Você não pode o ter. —Falou com determinação, sua coluna vertebral esticando-se, seus olhos azuis resplandecendo de desafio.

     Distraídamente, uma das mãos da criatura acariciou obscenamente à mulher que se esfregava em sua cintura.

     —Uma-se a mim. Olhe a estas mulheres. Desejam-me. Adoram-me.

   —Continue enganando-se a si mesmo.—.Ela deu um passo atrás, mas Joshua resistiu a seu esforço. Alexandria o apertou seus braços, para impedi-lo de avançar, mas quando o arrastou para trás, ele começou a mover-se agitadamente, obrigando-a a deter-se.

     O monstro arqueou uma sobrancelha.

     —Não crê em mim?— Ele fixou sua atenção na mulher em sua cintura.—. Vêem aqui, meu amor. Desejo que morra por mim. — Ele ondeou uma mão para trás de si.

     Para horror de Alexandria, a mulher lambeu a mão estendida sorrindo tola e servilmente, jogou-se no precipício.

     —Não!— gritou Alexandria, mas a mulher já caíra ao vazio. Para as ondas ávidas e as rochas dentadas lá embaixo. Enquanto perdia o fôlego, ele levantou a segunda mulher pelo cabelo, beijou-a na boca e, dobrando-a para trás, afundou os dentes horrendos em seu pescoço.

     Os vívidos esboços que Alexandria havia desenhado, trabalhando nas histórias de Thomas Ivan, tomaram vida ante seus olhos. A criatura se deleitou no sangue transbordante da garganta da mulher, depois a jogou a um lado, sobre o rochedo, como se não fosse mais que uma concha vazia que havia encontrado na praia. Deliberadamente, percorreu com sua língua grosa e lasciva, seus lábios lubrificados de sangue, num desdobramento grotesco.

     Alexandria se encontrou murmurando uma oração, um cântico, alternadamente, enquanto continha a respiração. A criatura era perigosa e demente além da imaginação. Segurou firmemente Joshua e o levantou no ar.

     Ele a empurrou, brigou, emitiu uns sons roucos e por fim, a mordeu. Alexandria conseguiu retroceder, antes que se visse forçada a pô-lo no chão. Ele permaneceu quieto enquanto ela não se afastasse para longe de seu objetivo.

     O monstro levantou o pescoço outra vez, chupou-se os dedos e sorriu odiosamente.

     —Vê? Fazem qualquer coisa por mim. Adoram-me. Por que você não, pequena?— Ele levantou à última mulher sobre seus pés. Instantaneamente, ela se enredou ao redor dele, esfregando-se sugestivamente, tocando e acariciando-o—. Ela só quer me agradar.

     A mulher começou a beijá-lo. Beijava seu pescoço, seu peito, movendo-se mais e mais abaixo. Suas mãos pousaram sobre a calça masculina. Ele acariciou seu pescoço.

     — Notas meu poder? Você tem que se unir a mim, compartilhar meu poder.

   —Essa mulher não o adora — protestou Alexandria—. Usou a hipnose para convertê-la em uma boneca. Ela não está lúcida. É isso o que chama de poder?— colocou desprezo em sua voz trêmula.

     Um som baixo e mortífero escapou da boca do monstro, mas ele continuou sorridente.

    —Possivelmente está correta. Esta é inútil, concorda? — Sempre sorrindo e com o olhar fixo nos olhos de Alexandria, o homem segurou a cabeça da mulher entre as mãos e a torceu.

     O ruído foi audível e pareceu vibrar diretamente através do corpo de Alexandria. Ela tremia tanto que seus dentes se chocavam. Com uma mão, o monstro fez balançar no ar o corpo quebrado da mulher e a jogou para trás. Ela ficou no chão, como uma boneca de trapo. Seu pescoço em um ângulo peculiar. Era uma mulher bela, agora convertida em uma concha vazia, sem vida. O monstro a descartou simplesmente abrindo sua mão e permitindo que o corpo caísse à água insaciável lá emabaixo.

     —Agora me todo para você. — disse ele brandamente—. Venha para mim.

     Alexandria negou com a cabeça violentamente.

     —Eu não. Não vou com você. Vejo-o como é, não como fez com que essas pobres mulheres o vissem.

   —Virá para mim e por sua própria vontade. Você é única. Explorei o mundo em busca de uma mulher como você. Deve vir para mim. — Seu tom era suave, mas continha um tom de advertência, um tom de ordem.

     Alexandria deu outro passo para trás, mas Joshua entrou em frenesi, chutando e mordendo. Deteve-se outra vez e fez mais firme seu abraço para impedir que ele escapasse.

     — Vocer está doente. Precisa da ajuda de um doutor. Não posso fazer nada por você. — Tratava desesperadamente de procurar escapar desse pesadelo, rogando que alguém os viesse. Um guarda de segurança. Alguém.

     —Não sabe o que sou. Certo?

     Alexandria sentia sua mente quase intumescida de terror. Tinha passado um tempo considerável lendo e investigando antigas lendas de vampiros para trabalhar em seus esboços para Thomas Ivan. E esse monstro era o epítome dessa criatura mítica, alimentando-se do sangue de outros, usando transes hipnóticos para ordenar à humanidade indefesa que obedecesse a suas malignas ordens. Aspirou profundamente para acalmar-se, tratando de retornar ao mundo real. Certamente eram a névoa e o vento, a noite escura e sem estrelas e o choque estranho das ondas que a fazia pensar o que possivelmente não podia ser. Esse homem era um sociópata do século vinte, não algum personagem legendário de antigamente. Devia manter-se firme e não permitir o horror da noite tomar a sua imaginação.

     —Acredito que sei o que pensa que é - disse ela sinceramente—, mas a verdade é que é simplesmente um assassino cruel.

     Ele riu suave, malvadamente. Ela realmente sentiu os dedos gelados ao longo de sua pele.

     — Está parecendo uma menina se escondendo da verdade. — Ele levantou uma mão e chamou Joshua. Seus olhos acesos concentrados na face do menino.

     Joshua lutou loucamente, brigou e chutou, mordendo os braços de Alexandria em seu esforço para liberar-se.

     —Deixe-o em paz!— Ela se concentrou em segurar seu irmão, mas ele era suficientemente forte em sua condição de transe para contorcer-se até ficar livre. Instantaneamente, ele correu para o monstro, abraçou seus joelhos e contemplou com adoração ao homem.

 

     O coração da Alexandria falhou um batimento. Endireitou-se muito lentamente. Sua boca estava seca de terror enquanto via as mãos como garras, afundar-se nos ombros de seu irmão.

     —Virá para mim agora, certo?— inquiriu o monstro brandamente.

     Alexandria levantou seu queixo trêmulo.

     —Isto é o que chama de própria vontade? — Suas pernas estavam moles como borracha. Se usar Joshua para me controlar, ir a você não será por minha própria vontade, certo?— desafiou-o.

     Um som lento e comprido escapou dos lábios dele e logo a criatura segurou Joshua por uma perna e o colocou sobre a borda do precipício.

     —Já que você gosta tanto de sua liberdade, eliminarei minha influência sobre a mente do menino para que ele possa ver, ouvir e saber o que está acontecendo. — Suas presas estalaram enquanto ele pronunciava as palavras em um tom preciso e gelado.

     Suas palavras impulsionaram Alexandria para frente outra vez. Tropeçou até ficar a uns poucos metros do monstro, tratando de alcançar Joshua.

     —Oh, Meu Deus! Por favor, não o deixe cair! Dê-me ele. - Havia dor em sua voz. Medo real, o que alimentou a excitação do monstro.

     Ele riu brandamente enquanto Joshua repentinamente voltava em si, gritando e seu rostinho estava desfigurado pelo medo. Ele gritava pela irmã com os olhos fixos em seu rosto, sua única salvação. O monstro se esquivou de Alexandria com uma mão enquanto facilmente segurava ao Joshua sobre o precipício com a outra.

     Ela se obrigou a permanecer quieta frente ao homem.

     —Por favor, dê - me ele. É só um menino.

     —Oh! Penso que ele é muito necessário, para assegurar sua cooperação.— O louco lhe sorriu e moveu Joshua de volta. Ondulou uma mão e o menino cessou de brigar ou gritar, outra vez sob o controle demoníaco do homem—. Unirá-te comigo. Se converterá no que eu sou. Juntos teremos um poder como não pode imaginar.

     —Mas alguma vez quis poder? — protestou Alexandria, avançando ligeiramente para mais perto, a fim de pegar o irmão. - Por que diz que sou eu, quem esteve procurando? Não sabia que eu existia até esta noite. Inclusive nem sequer sabe meu nome.

     —Alexandria. É fácil ler a jovem mente de Joshua. Insiste em pensar em mim como um mero humano, mas sou mais que isso.

     —O que é?— Alexandria conteve a respiração, assustada em saber a resposta. Sabendo que essa criatura era de certa forma mais que humana, era a besta poderosa das lendas. Podia ler as mentes, controlar a outros, fazê-los seus escravos até à distância. Tinha arrancado o coração de Henry. Tinha quebrado o pescoço de uma mulher e esgotado o sangue de outra, a sua frente. Fosse o que fosse, não era humano.

     — Sou o pesadelo da estúpida humanidade, Alexandria. O vampiro que veio paraa deleitar-se nos vivos, nos humanos. Você será minha noiva, compartilhará meu poder, minha vida.

       Perfeitamente sério, ele proferiu as palavras e Alexandria se sentiu rasgada entre a necessidade de chorar e de por-se a rir histéricamente. Thomas Ivan não poderia ter escrito um diálogo mais louco. Esse homem acreditava no que dizia e o que era pior, ela começava a acreditar também.

     —Esse... Realmente não é meu estilo de vida. — As palavras saíram em um sussurro rouco, e ela não pôde acreditar que estava implorando por sua vida, pela vida do Joshua, com uma resposta tão absurda. Mas como se dirigia a essa classe de demente?

     —Pensa em me enganar e sair ilesa?—. As mãos do homem se fecharam tão duramente sobre o ombro de Joshua, que ela podia ver seus dedos quase se encontrando.

     Ela negou com a cabeça, obstruindo-se por um momento.

   —Por Deus! Eu gosto do brilho do sol. Os vampiros permanecem no amparo da noite. Raramente bebo vinho, muito menos sangue! Mas conheço um bar onde pode encontrar várias de garotas que estão metidas nesse tipo de coisa. Vão vestidas de negro e adoram o diabo e dizem que bebem o sangue dos outros. Mas eu não. Sou extremamente conservadora.

     Como podia estar mantendo uma conversação tão estranha com um assassino? Não havia um guarda de segurança ao redor? Não haviam encontrado ainda o corpo de Henry? Onde estava todo mundo? Quanto tempo poderia distraí-lo? Manter a criatura falando?

     A risada do homem soou cheia de brincadeira, baixa e insidiosa.

   —Ninguém chegará a te salvar, meu amor. Não podem. É simples manter à distância dos outros. Tão fácil como atrai-los para mim.

   —Por que eu?

   —Existem poucas como você. Sua mente é muito forte, por isso não pode ser controlada com facilidade. É uma verdadeira psíquica, verdade? Isto é o que minha espécie requer em uma companheira.

   — Não tenho nem idéia do que você fala. Algumas vezes sei coisas que outros não sabem — concordou ela, passando uma mão nervosa pelo cabelo. — Sabia que estavam aqui, se isso for o que quer dizer. - Alguém tinha que vir e resgatá-los logo. Certamente Thomas Ivan estava procurando-a. — Por favor, me deixe levar Joshua para algum lugar seguro. Você não precisa dele, só de mim. Dou-lhe minha palavra, retornarei amanhã à noite. E se for tão poderoso, sempre poderá me encontrar se eu não retornar. — Estava desesperada para se aproximar de Joshua. Era terrível vê-lo tão exânime e sem vida, com os olhos frágeis. Queria tomá-lo em seus braços e abraçá-lo-lo junto a si. Mantê-lo a salvo, saber que essa criatura nunca poderia tocá-lo outra vez. Se pudesse salvar Joshua, nada mais teria importância.

     —Não posso permitir que saia de minha vista. Há outros te buscando. Devo ficar perto para te proteger todo o tempo.

     Alexandria esfregou suas têmporas.

     A criatura tratava de invadir sua mente e a constante luta para não deixá-lo entrar, estava ficando dolorosa.

   —Olhe, senhor... Qual é seu nome, de todas maneiras?

   —Devemos ser educados e civilizados então?— Ele ria dela.

   —Sim, acredito que isso seria mais conveniente.— Seu próprio controle se desmoronava e ela sabia. Tinha que encontrar uma maneira de afastar Joshua dele. A vida de seu irmão dependia de seu engenho para obtê-lo ou não. Deliberadamente, cravou as unhas em nas mãos e se concentrou para conservar o controle.

     —De acordo então, sejamos civilizados. Sou Paul Yohenstria. Venho das Montanhas dos Cárpatos. Deve ter notado meu dialeto.

     Ela estendeu seus braços para seu irmão, incapaz de deter-se.

   —Dê-me, Joshua. Por favor, senhor Yohenstria. É simplesmente um menino, uma criança.

   —Você deseja que ele permaneça vivo e eu desejo que me acompanhe. Acredito que poderemos chegar a um consenso. Benéfico para os dois. Não está de acordo?

     Alexandria permitiu que seus braços vazios caíssem. Estava exausta e assustada. A cabeça lhe doía terrivelmente. De certa forma, ele estava aumentando seu mal-estar, desgastando suas defesas com seu embate mental. A voz em sua mente enlouquecia-a, com sua pressão implacável.

     —Irei com você. Mas deixe meu irmão aqui.

     —Não, meu amor, não farei isso. Venha para mim. Agora.

     Ela foi contra vontade. Não tinha outra escolha. Joshua era sua vida, amava-o mais que tudo no mundo. Se ele deixasse de existir, não teria mais nada.

     No momento em que Yohenstria a tocou, sentiu-se doente. Seus dedos manchados de sangue se fecharam ao redor da parte alta de seu braço e Alex podia ver o sangue coagulado sob as unhas longas, como adagas. O sangue de Henry. Ele permitiu que Joshua descesse no chão, mas o menino simplesmente ficou onde estava.

     —Não precisa me segurar. Simplesmente quero comprovar de Josh está bem - disse Alexandria. O contato com um ser tão maligno fazia com que seu estômago revolvesse. Temeu voltar a vomitar.

     —Deixa-o onde está, no momento. — Os dedos do homem se fecharam tenazes, arrastando-a mais para perto, para que seu corpo fizesse contato com o dela. A moça podia cheirar sua respiração fétida. O cheiro de sangue e de morte. Sua pele era úmida, pegajosa e gelada.

     Alexandria lutou contra a dominação, tratando de escapar, embora sabia que estava indefesa em suas mãos. Ele se inclinou mais perto, para seu pescoço e sua respiração, quente e pestilenta, tocou sua pele.

     —Não o faça. OH, Meu deus, não o faça.— murmurou Alexandria, com a voz quase lhe faltando. Se ele a soltasse cairia com os joelhos dobrados pela debilidade, mas ele a trouxe ainda mais perto enquanto se inclinava.

     — Seu Deus te abandonou – ele murmurou, antes de seus dentes se fecharem sobre sua garganta, cravando-se profundamente. A dor foi tão intensa, que tudo se embaralhou a sua volta, tornando-se negro como o carvão. Ele a arrastou para seus braços e se deleitou, bebendo seu sangue substancioso. Ela era pequena ele quase a esmagava entre seus braços enquanto a bebia. Ela podia sentir que as presas se engastavam em seu corpo, conectando-os de alguma forma escura e desagradável. Seu corpo se sentia fraco e seu coração vacilou e se esforçou enquanto ele continuava drenando-a. Seus olhos se abateram enquanto se dizia a si mesma que precisava viver para lutar pelo irmão. Pontos negros formaram redemoinhos e dançaram ante seus olhos antes dela cair impotentemente contra o alto e magro corpo do vampiro.

     Ele levantou a cabeça, o sangue gotejando de um lado de sua boca.

     — E agora deve beber para viver. — Seus dentes rasgaram até abrir sua própria mão e ele a pressionou contra os lábios da jovem, observando como seu sangue poluído gotejava em sua boca.

     Alexandria utilizou os restos de sua debilitada energia vital para evitar ingerir o líquido horrendo. Tratou de afastar a cabeça, fechar a boca, mas o vampiro a sujeitou facilmente e forçou a bebida venenosa em seus lábios. Sua mão acariciando sua garganta até que ela tragou convulsivamente. Mas ele não substituiu tudo o que tinha tomado, mantendo-a fraca deliberadamente. Precisava dela frágil, para que o obedecesse.

   Paul Yohenstria deixou cair a sua vítima ao lado de seu irmão e levantou seu rosto triunfalmente para a noite escura, sem lua. Tinha-a encontrado. Seu sangue era quente e doce e seu corpo jovem e flexível. Proporcionaria-lhe o que necessitava para reviver suas emoções, fazê-lo sentir outra vez. Rugiu seu triunfo aos céus e meneou seu punho para desafiar a Deus.

     Ele tinha escolhido perder sua alma, e que importância tinha tido depois de tudo? Tinha encontrado esse ser especial e ela poderia devolver-lhe tudo.

     Os movimentos débeis e instintivos da moça atraíram de novo sua atenção para ela. Alexandria engatinhou para Joshua e o apertou protetoramente contra o corpo. O vampiro grunhiu maldosamente. Muitos a queriam, mas ela era dele. Não a compartilharia com ninguém. No momento em que a transformação fosse completa e ela dependesse dele, quando fosse a ele por sua própria vontade. Se desfaria do menino. Inclinou-se, agarrou o menino pelo peitilho da camisa e o separou dela.

     Alexandria conseguiu voltar a si, mas tudo dava voltas, tornando impossível manter o equilíbrio. Mas sabia indubitavelmente onde estava Josh, e com absoluta segurança compreendia que nunca lhe permitiria compartilhar esse destino. Se essa criatura assassina realmente podia fazê-los como ele, a morte era a melhor alternativa.

     Sem nenhuma advertência se lançou para frente. Com os braços estendidos, atraiu Joshua contra si e seu impulso os arrastou para o precipício. O vento subiu rapidamente para eles. As ondas alcançavam grande altura para dar-lhe as boas vindas em suas tumbas aquosas, rompendo-se como o trovão nas rochas dentadas justamente embaixo da superfície.

     As garras a apanharam. As asas batendo furiosamente e a respiração quente e fétida pressagiaram a chegada de seu inimigo. Alexandria gritou enquanto as unhas se cravavam profundamente nela e a criatura os afastava de sua única salvação. E, entretanto, não podia resignar-se a deixar cair Joshua. Poderia haver uma oportunidade, um momento quando seu seqüestrador não estivesse observando-os, para ajudar Josh a escapar. Enterrou o rosto nos cachos loiros de seu irmão e fechou os olhos, murmurando que lamentava não haver sido forte para lhe permitir a misericórdia da morte enquanto ela continuava com vida. As lágrimas arderam em sua garganta e ela se sentiu manchada pelo mal do monstro. Sabendo que ele vivia dentro dela agora, vinculando-os para sempre.

    O lugar em que ele os levou era escuro, insalubre e úmido. Uma caverna cavada profundamente nos escarpados, rodeados pelo mar. Não havia forma visível de escapar. Ele lançou seus corpos esgotados desdenhosamente na areia molhada junto à entrada da caverna e passeou agitadamente de um lado para outro, tratando de controlar a cólera pela rebelião da moça.

   —Nunca fará novamente uma coisa dessas ou farei com que o menino sofra um inferno diferente que em nenhuma vez tenha imaginado. Falo claro?— exigiu ele, elevando-se sobre ela.

     Alexandria tratou de melhorar. Seu corpo se sentia destroçado e debilitado pela perda de sangue.

     —O que é este lugar?

     — Minha guarida. O Caçador não pode me rastrear, rodeado como estou pelo mar. Seus sentidos se confundem perto da água. — Paul Yohenstria sorriu—. Derrotou muitos de minha classe, mas não pode me encontrar.

     Ela olhou cautelosamente ao redor. Tão longe que podia ver, percebia só as ondas encrespadas do oceano. As montanhas escarpadas surgiam por acima, áridas, escorregadias, pronunciadas e impossíveis de escalar. Ele os tinha apanhado com tanta segurança como se os tivesse encerrado em um cárcere. E fazia frio, um frio louco. Tremia em senti-lo. A névoa caía ligeiramente e ela tratou de cobrir o corpo de Joshua com o seu, para protegê-lo.

     Entretanto a maré começava a entrar, e a areia e os calhaus frente a eles estavam molhando-se na água salgada.

     —Não podemos ficar aqui. A maré está entrando. Afogaremo-nos—. Custou-lhe um grande esforço falar. Embalou a cabeça de Joshua em seu seio. Seu irmão parecia inconsciente do que ocorria e ela estava agradecida por isso.

     —A caverna serpenteia para dentro da montanha. Quanto mais entremos, mais seco estará. — Ele inclinou a cabeça de lado e a avaliou com seus olhos sanguinolentos.— Terá um dia ligeiramente incômodo, meu amor. Ainda não confio o suficiente em ti para permitir que se aproxime enquanto durmo, mas tampouco posso deixá-la ir de um lado a outro sozinha. Não acredito que haja uma maneira de escapar, mas é muito mais viva do que pensei. Não me deixa escolha, exceto te encadear dentro da caverna. Estará molhado, mas estou seguro de que resistirá.

     — Por que está fazendo isto? Que espera obter? Por que não me mata simplesmente agora?— demandou ela.

     —Não tenho intenção de permitir que morra. Longe disso. Tornará-se como eu, poderosa e insaciável em todos nossos apetites. Dominaremos juntos e seremos invencíveis. Ninguém jamais poderá nos deter.

     — Mas não tenho que ir para você por minha própria vontade? — protestou a jovem precipitadamente. Não havia forma de que ela aceitasse essa forma de vida. Não haveria maneira, a menos que usasse a força. Não havia uma razão para convertê-la no que ele desejava. Mas inclusive enquanto pensava isso, sentiu Joshua mover-se em seus braços.

     O vampiro olhou para baixo.

     —Fará, meu amor. Com o tempo suplicará por minha atenção. Garanto-te que suplicará. — Ele se inclinou e a apanhou por um braço, arrastando-a até levantá-la.

Enquanto cambaleava nas rajadas do vento e do cheiro de sal, Alexandria se segurou a Joshua com cada gota de força que possuía.

     Paul negou com a cabeça.

     — Para um humano, você é mais forte do que deveria ser. Sua mente é muito resistente ao controle ou a persuasão. Um problema interessante. Mas não prove muito minha paciência, meu amor. Realmente posso ser cruel quando me provocam.

     Alexandria sentiu um soluço histérico fluindo por sua garganta, estrangulando-a. Se demonstrar à paciência, se esse não era um exemplo de sua crueldade, não queria considerar sequer o que ele era capaz de fazer.

     —Alguém sentirá falta das essas três mulheres. Encontrarão seus corpos. Encontrarão Henry.

     —Quem é Henry?— perguntou ele suspicazmente, o ciúmes retorcendo seus rasgos.

     —Deveria sabê-lo. Você o matou.

     —O velho tolo? Atravessou-se em meu caminho. Além disso, senti-te no restaurante me desafiando e precisava obter sua atenção. O velho e o menino lhe pertenciam. Serviram para meu propósito.

     — É por isso que o matou? Porque sabia que o queria?— O horror de Alexandria era profundo, do mesmo modo que suas vísceras ardiam pelo sangue poluído. Sentia como se alguém queimasse seus órgãos internos e seu coração se lamentou pelo querido e doce Henry.

     —Não posso permitir que existam vestígios de sua antiga vida que divida suas lealdades. Você me pertence. Só a mim. Não te compartilharei.

     O coração da jovem bateu forte e involuntariamente, ela segurou Joshua mais perto. O vampiro ia matar a seu irmão. Ele não tinha intenção de conservar o menino em suas vidas. Tinha que encontrar uma maneira de que Joshua escapasse. Cambaleou outra vez e teria caído, mas Yohenstria estendeu a mão e apanhou seu braço.

     —A luz não entrará tão longe na caverna para que sua pele se queime. Venha, vamos para dentro antes que o amanhecer chegue.

     —Não posso estar sob o sol?

     —Queimaria-te facilmente. Mas não setransformaste completamente. — Cruelmente, sem preocupar-se de que ela estivesse tão fraca, arrastou-a, ainda presa ao irmão, para dentro da desolação da caverna.

   Alexandria caiu várias vezes e as ondas que entravam, molhavam sua roupa. Ele continuou caminhando, obrigando-a a avançar, algumas vezes arrastando-a atrás de si. Ela manteve Joshua perto, tratando de passar uma parte do calor de seu corpo para figura trêmula do menino. Ele estava terrivelmente quieto, um peso morto em seus braços. Alex tratou de pensar, mas seu cérebro estava muito pesado e necessitava desesperadamente deitar-se.

     Umas poucas jardas dentro da caverna, o vampiro se deteve e a empurrou contra o muro de rochas, onde uma corrente grosa e um bracelete de ferro estavam fixados. Ela notou, enquanto ele apertava as algemas ao redor de suas mãos, que o aço estava manchado de sangue. Evidentemente, ele havia levado mais de uma vítima a esse lugar para conservá-la a espera de seu prazer. O metal feria sua pele suave e ela se deixou cair ao chão, sem se importar com a água que derramava em seu colo e logo se retirava em seu ciclo interminável. Apoiou suas costas contra a parede da rocha e começou a embalar a seu irmão entre seus braços. Duante todo o tempo tremia e dentes batiam incessantes.

     O vampiro sorriu.

     —Descansarei agora. Temo que logo se tornará difícil para voce fazer o mesmo. — Ele voltou-lhe as costas e caminhou a grandes passos, afastando-se. Sua risada zombadora ecoando atrás dele.

     Em seu colo, Joshua repentinamente se moveu, sentou-se e esfregou os olhos. Como o vampiro havia liberado-o do transe, ele gritou e se seurou com força a Alexandria.

     —Ele matou ao Henry. Eu vi, Alex. É um monstro!

     — Eu sei, Josh. Sinto tanto que tenha visto uma coisa tão terrível. — Ela esfregou seu rosto sob seus cachos. — Não vou te mentir. Estamos com problemas. Não estou segura de que possamos nos liberar disto. — Suas palavras estavam mal articuladas, suas pálpebras se fechavam por própria vontade. — A água sobe, Josh. Quero, enquanto possa, que muito cuidadosamente olhe ao redor e veja se há alguma saliencia em que possa subir e estar a salvo.

     —Não querote deixar. Tenho medo.

     —Sei, pequeno camarada. Eu também. Mas preciso que seja muito valente e faça isto por mim. Olhe o que pode encontrar.

   Uma onda entrou rapidamente e um jorro de água a orvalhou de sal e o mar, salpicando seu queixo. Logo se retirou em um tapete de espuma. Joshua gritou de medo e estirou seus braços ao redor do pescoço de sua irmã.

     —Não posso fazer isso, Alex. Realmente não posso.

     —Terá que sair fora da caverna e encontrar um lugar onde a água não possa aproximar-se de voce.

     Ele negou com a cabeça tão inflexiblemente, que seus cachos loiros balançaram.

     —Não, Alex, não te deixarei. Tenho que ficar contigo.

     Alexandria não teve a energia para discutir. Tinha que se concentrar muito. Precisava pensar.

     —De acordo, Josh, não se preocupe. —Se afirmou contra a parede e conseguiu levantar-se. Assim, a água chegava até seus joelhos. — Podemos fazer isto juntos. Olhemos ao redor.

     Era quase impossível ver algo no interior sombrio da caverna e o som da água nas rochas era como um trovão em seus ouvidos. Tremia incontrolavelmente e seus dentes batiam tão forte, que temeu que pudessem fazer-se pedaços. O sal se endureceu em sua pele e seu cabelo. A ferida em seu pescoço ardeu. Engoliu com dificuldade e fez força para não chorar. A única concavidade que poderia sustentar Joshua estava muito longe, acima de sua cabeça. Se fosse mais alta poderia empurrá-lo, mas nem os dois juntos poderiam alcançá-lo.

   A força da seguinte onda quase levou Joshua sobre seus pés. Ele tentou segurar-se nos quadris de Alexandria e se manteve quieto. Ela fechou seus olhos e se apoiou contra a parede.

   —Tem que permanecer de pé tanto tempo suportar, Josh, e te levantarei tão alto como posso. Mais adiante, coloco você em meus ombros, de acordo? Não será tão ruim. — Fez o melhor que pôde para soar animada.

     Joshua se via assustado, mas assentiu com a cabeça.

     —Esse homem vai retornar e nos matar, Alexandria?

     —Retornará, Josh, porque quer algo de mim. Se eu puder me manter forte, isso nos poderia dar um pouco de tempo para ´pensar em como sair desta confusão.

     Ele a contemplou solenemente.

   —Quando ele te mordeu, Alex, podia ouvir ele rindo em minha mente. Disse que ia fazer voce me matar. Que uma vez que você fosse como ele, iria me matar porque estaria em sua natureza. Disse que tomaria todo o sangue de meu corpo—. Ele a abraçou mais apertadamente. — Sabia que não estava certo.

     —Bom menino. Isso é parte de seu plano, para que nós tenhamos medo um do outro. Mas somos uma equipe, Josh, nunca esqueça isso. Aconteça o que acontecer, saiba que te amo, certo? Aconteça o que acontecer. — Ela colocou sua cabeça sobre a dele e deixou que as ondas rodassem ao redor de suas pernas. Estava tão cansada e fraca que não estava segura de poder chegar ao final do dia, e muito menos enfrentar o vampiro outra vez. Rezou silenciosamente, repetidas vezes, até que as palavras se formaram redemoinhos em sua mente e foi impossível pensar.

     A luz entrava em através da entrada da caverna quando os gritos frenéticos de Joshua a despertaram, enquanto dormia de pé. A água já chegava ao peito do menino, literalmente levantando-o sobre seus pés. Ele estava preso a sua perna, temendo ser levado pelo fluxo da água.

     —Estou acordada, Josh. — murmurou. Estava exausta e muito fraca para permanecer de pé. A luz machucava seus olhos e a água salgada irritava sua pele. Aspirando profundamente, levantou Joshua em seus braços, na tentativa de protegê-lo do mar ascendente.

     Não havia como segurá-lo por mais tempo, mas o calor dele junto a ela brindava a ambos. Era um consolo. Algo grande se chocou contra sua perna, levado por uma onda. Estremeceu-se e sujeitou a seu irmão mais apertadamente.

     —Está tão frio. — Joshua estremecia, tão molhado como ela.

   —Sei, pequeno camarada. Trate de dormir.

     —Dói?

     —O que?— Uma onda a esmagou ruidosamente contra a parede e ela quase perdeu Joshua.

     —Ondeele te mordeu. Gemia enquanto dormia.

     —Dói um pouco, Josh. Agora, vou levantar você até meus ombros. Terá que subir engatinhando você mesmo, de acordo?

     —Posso fazer isso, Alex.

     Estava tão fraca que as ondas a faziam ricochetear contra o muro de rochas, mas de alguma forma Joshua conseguiu subir sobre seus ombros. Seu peso quase a fez cair de joelhos e seu cabelo ficou preso nas pernas do menino, machucando-a. Mas não protestou. Simplesmente permaneceu de pé pela vida da pessoa que amava. A água se levantava velocidade constante, até sua cintura agora, em um assalto desumano. Suas mãos ardiam pela água salgada, a ferida de seu pescoço em carne viva e as vísceras débeis. Podia sentir coisas roçando-se contra suas pernas, mordiscando sua pele. Era horrível, mas Alexandria estava decidida a manter sua lucidez, por seu irmão.

     —Podemos fazer isto, verdade, Josh?— disse ela.

     Ele recostou seu peso contra a parede e envolveu um braço através da cadeia grosa que a prendia para ajudar a balançá-los ante o constante tamborilar do mar.

     —Sim, podemos, Alex. Não se preocupe. Vou fazer algo para nos salvar disto—ele soava muito decidido, muito firme.

     —Sabia que faria—. Ela fechou seus olhos outra vez e tratou de descansar.

     Alexandria continuou em um estado de dormencia, entre o sonho e a realidade. O sal que a salpicava, esfolando a pele de seu corpo era desumano. Tinha sede e as bolhas começaram a formar-se em seus lábios inflamados.

     Por fim a água começou a retirar-se e o embate interminável diminuiu. Joshua teve que descer sozinho. Alex já não podia levantar seus braços. Como ela tinha sugerido mais cedo, o menino saiu para explorar a região em volta da caverna. Para estudar sua prisão. Alexandria usualmente tinha um milhão de regras de segurança para que ele seguisse, mas desta vez simplesmente o observou com olhos frágeis.

     Ele examinou as paredes do escarpado para encontrar um lugar em que pudesse subir-se, mas eram muito pronunciadas e escorregadias. Tinha muita sede, assim procurou um lugar onde a água doce pudesse baixar correndo pela parede de rocha, mas não pôde ver nada. O sol fazia bem a sua pele fria e molhada. Ele deitou na areia para secar suas roupas e esquentar-se.

     Alexandria cambaleou e golpeou a cabeça contra o muro de rochas. Despertou sobressaltada, com o olhar fixo ao redor dela. Joshua! Não estava! Havia dormido e as ondas o tinham arrebatado! Lutou para ficar de pé, lutando contra as cadeias em suas mão e chamou aos gritos, seu irmão.

     Sua voz era rouca, quase inexistente. Recusou-se a ir além da boca da caverna. A magra luz do sol que se filtrava queimava seus olhos e sua pele, mas não se importou. Continuou gritando uma e outra vez por Joshua.

     Quando Joshua entrou correndo na caverna e chegou a seu lado, a jovem estava enrrodilhada contra a parede, soluçando.

     —O que aconteceu, Alex? Retornou o homem e te machucou outra vez?

     Alexandria levantou a cabeça lentamente. Joshua tocou suas mãosensanguentadas.

     —Ele retornou e eu não estava aqui para te proteger.

     Ela permaneceu com o olhar fixo nele através de suas lágrimas, incapaz de acreditar que era realmente seu irmão e não alguma invenção de sua imaginação. Abraçando-o apertadamente, passou suas mãos sobre ele para assegurar-se de que estava ileso.

   —Não, o homem não retornou. Não acredito que possa, com o sol tão alto.

     —Deveria ir olhar? Posso me mover furtivamente. — A luz do sol o fazia sentir-se mais valente.

   —Não!— Alexandria apertou uma mão ao redor de seu braço—. Não te atreva a ir perto desse homem. — Ela limpou os lábios. As bolhas se abriram começaram a sangrar. — Há alguma forma de sair? Pode subir pelas rochas?

     —Não, não há lugar onde apoiar meus pés em nenhuma parte. Não há sequer um bom esconderijo. Ainda não vi mais para dentro da caverna. Talvez haja um caminho até o final.

     —Não quero que tente isso, Josh. Não poderei te ajudar se ele te encontrar lá dentro. — Não estava segura se Paul Yohenstria realmente era um vampiro, mas o que fosse, Joshua com toda segurança não poderia com ele. Teve uma visão do menino de seis anos encontrando o vampiro dormido em um ataúde. Realmente passavam a noite em ataúdes?

     —Mas está realmente ferida, Alex, posso ver. E ele vai retornar aqui. Por isso te prendeu com cadeias, assim pode retornar e te machucar mais.— Ele soava próximo às lágrimas.

     —Ele está muito doente, Josh. — Ela tocou com o polegar uma lágrima de sua face, logo beijou a parte superior de sua cabeça. — Poderíamos ter que fingir um pouco na frente dele. Pensa que sou a mulher com quem quer se casar. Não é isso errado, quando nem sequer nos conhecemos? Mas acredito que tem algo de mal na cabeça, você sabe, um pouco doente do cérebro.

     —Acredito que é um vampiro, Alex. Como na TV. Você disse que eles não existiam de verdade, mas acredito que estava enganada.

     —Talvez. Honestamente já não sei. Mas somos uma equipe dura de vencer, Josh. —. Realmente estava tão fraca que já não podia permanecer de pé e nem se incomodava em ficar. Se o vampiro retornasse nesse mesmo momento, teria uma colheita muito fácil—. Acredito que somos muito preparados para ele. O que pensa você?

     —Penso que vai comer-nos - disse Josh honestamente.

   — Ele disse algo a respeito de um Caçador. Ouviu-o dizer isso? Há alguém caçando-o. Podemos nos manter firmes até que o Caçador o encontre. — Estava tão exausta que seus olhos se fechavam outra vez.

   —Estou assustado, Alex. Crê que o Caçador virá antes que o vampiro desperte e nos mate?— O lábio inferior do Joshua estremecia junto com sua voz.

     Ela fez um esforço supremo para despertar.

     —Ele virá, Josh. Espera e verá. Chegará de noite, quando o vampiro menos espera. Terá o cabelo loiro como você. Será grande, forte e poderoso, como um felino da selva. — Quase podia ver em sua mente o herói que tratava de criar para seu irmão.

     —É mais frio que o vampiro?— perguntou Joshua esperançosamente.

     —Muito mais.— disse ela com firmeza, tecendo um conto de fadas para o menino, querendo acreditar ela mesma. — É um guerreiro mágico com brilhantes olhos de ouro. O vampiro não poderá suportar olhar para ele, porque se verá refletido nesses olhos ardentes e se assustará de sua própria aparência desagradável.

     Houve um silêncio pequeno, e logo Joshua tocou seu rostocom as pontas dos dedos.

     —De verdade, Alex? Virá o Caçador de verdade e nos salvará?

     Não viu nenhum mal em lhe dar esperança.

     — Simplesmente temos que ser valentes e fortes. Ele virá por nós, Joshua. Verá. Manteremo-nos juntos e seremos mais preparados que esse velho vampiro. — Suas palavras estavam mal articuladas e com seu fragilizado sangue, a temperatura de seu corpo caía e suas forças cediam rapidamente. Alexandria não sabia como poderia sobreviver até o anoitecer. Seus olhos flutuaram para baixo outra vez, estavam tão pesados, que ela não conseguia mantê-los abertos.

     Joshua não quis dizer a irmã, mas ela estava feia. Horrível. Sua boca estava torcida e negra. O sal branco cobria sua pele, lhe dando uma aparência monstruosa. O cabelo se pendurava em fios branco acinzentados, em volta do rosto, ele não podia ver sua cor natural. Suas roupas estavam amarrotadas e cheias de sulcos brancos. Fileiras de algas marinhas pendiam de sua saia e de suas esfarrapadas meias de naylon. Suas pernas tinham centenas de gotas de sangue onde algum bicho havia mordido sua pele. Sua voz soava engraçada e o pescoço estava inflamado e em carne viva, mas Alexandria não parecia notar. Josh estava assustadísimo. Sentou-se a seu lado, tomou sua mão e esperou enquanto o sol lentamente caía do céu.

     Alexandria foi consciente do momento em que o sol se ocultou. Sentiu um tremor inquieto na Terra e soube imediatamente que o vampiro se levantara. Pôs um braço ao redor dos ombros do Joshua e o atraiu mais perto dela.

     — Ele está vindo. Murmurou a moça baixinho em sua orelha. — Quero que vá para fora da caverna, fique muito quieto e permaneça fora de vista. Ele tratará de te usar contra mim. Ele vai te machucar de algum modo. Talvez esqueça de você, se permanecer onde não possa ser visto por ele.

     —Mas, Alex...— protestou ele.

     —Preciso que faça isto por mim, me anjo. Fique quieto, não importa o que aconteça.— O beijou rapidamente. — Agora vai. Amo você, Josh.

     —Amo você, também, Alex. — Ele correu para fora da caverna e se pressionou contra a parede de rochas.

     Alexandria o observou sair, com olhos preocupados. A maré começava a entrar novamente e ele tinha só seis anos de idade. Então, embora não ouviu nenhum som, repentinamente soube que o vampiro a observava. Voltou sua cabeça e encontrou seu olhar fixo.

     — Não está nada bem, com essa roupa. — ele a saldou sociavelmente.

     Ela permaneceu quieta, simplesmente olhando-o. O sorriso grotesco do homem se espalhou pelo rosto. Ele cruzou a distância que os separava e, levantando suas mãos, examinou-as. Atraiu uma para sua boca e, com o olhar fixo em seus olhos, lambeu o sangue das dolorosas feridas.

     Alexandria se sobressaltou visivelmente, tratando de tirar sua mão de um puxão..

     —Quer que eu te solte, verdade?

   Ela obrigou-se a permanecer quieta e resistir a seu horrendo contato. Quando as algemas caíram no chão, lutou para ficar de pé.

     —Desejas abandonar este lugar?— perguntou ele brandamente.

     —Sabe que sim.

     Ele apanhou seu pescoço com uma mão em forma de garra e a moveu de um puxão para seu corpo.

     —Tenho fome, meu amor e você terá de escolher se o menino vive outra noite ou morre.

     Ela não teve forças para opor-se a ele, e nem tentou. Não pôde evitar o grito de dor que escapou de seus lábios enquanto essas presas se afundavam profundamente em seu pescoço. Ele emitiu grunhidos à medida que se alimentava e seu punho no cabelo emaranhado da jovem era firme, a fim de segurá-la, enquanto bebia. Alex sabia que sua vida se desvanecia, esgotando-se através de sua garganta. Sofria pela perda de sangue e a hipotermia, mas nada mais parecia ter importância.

     Yohenstria a sentiu amolescer contra ele e teve que recolhê-la em seus braços para impedir que caísse. O coração da jovem pulsava erraticamente, sua respiração era pouca. Tinha tomado muito outra vez. Seus dentes rasgaram sua própria mão e a firmou duramente sobre a boca da moça, forçando o líquido escuro a entrar em sua garganta. Até com sua vida em perigo, Alexandria se opôs a ele. O vampiro não podia cativar sua mente e forçá-la sob seu completo controle. Embora podia obrigá-la a tragar uma parte de seu sangue poluído, sabia que era unicamente porque ela estava perto do colapso completo. Apesar de tudo, cada vez que ele a obrigava a alimentar-se, levava-a a um pouco mais, para seu mundo tenebroso. Ela não morreria, ele não permitiria. Tinha que obrigá-la a aceitar mais sangue, para mantê-la viva.

     Mas enquanto pensava nisso, sentiu a perturbação, a ameaça no ar. Um som escapou de seus lábios e ele girou sua cabeça lentamente.

     —Encontraram-nos, meu amor. Venha, verá como é o Caçador. Não há nada como ele neste mundo. É implacável. — Paul Yohenstria meio carregou, meio arrastou Alexandria da caverna para o ar da noite.

     A seu redor as ondas colidiam contra borda, cuspindo para cima sua espuma branca. E a espuma banhava as paredes do escarpado. O vampiro se separou de Alexandria, comum empurrão, fazendo-a cair ao chão e se colocou na metade da praia aberta, seus olhos esquadrinhando o céu.

     Alexandria engatinhou através da areia para alcançar Joshua. O menino estava escondido à sombra de uma rocha. A moça se arrastou até seu lado e se colocou entre ele e o vampiro. Algo terrível estava a ponto de acontecer. Podia sentir o ar espessando-se volta deles. O vento formava redemoinhos e a névoa cobria a baía.

     Houve uma rajada de movimento em alguma parte da névoa densa, e o vampiro gritou ruidosamente e cheio de medo e fúria. O coração de Alexandria quase parou. Se o vampiro estava tão assustado, o que fosse que estivesse ali era algo de que ela se aterrorizaria também. Atraiu Joshua contra seu corpo, cobrindo seus olhos com as mãos. Estavam juntos, tremendo.

     Fora da névoa, um enorme pássaro dourado pareceu materializar-se. Entrou na praia tão rápido que pareceu um borrão, as garras estendidas, os olhos dourados brilhando intensamente. A espessa névoa formou redemoinhos e se separou para revelar uma figura metade humana, metade pássaro. Alexandria reprimiu um grito.

     Logo a criatura se converteu em um homem, enorme, alto e musculoso, com braços protuberantes e peito maciço. Seu cabelo era comprido e loiro, fundindo-se no vento. Seu corpo se movia com fluidez ágil, como um felino da selva espreitando a sua presa. Seu rosto estava em sombras, mas Alex podia ver seus olhos como ouro derretido imobilizando vampiro com sua intensidade.

     —Então, Paul. Encontramo-nos, afinal. — A voz era bela, com onda de notas tão puras, que o tom pareceu gotejar-se até a alma do Alex. Ele permanecia de pé, alto e firme, a reencarnação perfeita de um guerreiro viking. —Tive muito trabalho limpando as porcarias que tem feito em minha cidade. Seu desafio era realmente muito claro. Não podia fazer outra coisa com que se agradar.

     O vampiro retrocedeu, pondo mais espaço entre eles.

     — Nunca te desafiei. Mantive minha distância. — Sua voz era tão mansa que Alexandria ficou geada. Esse Caçador era uma força tão enorme a ser confrontada que provocava terror no coração do vampiro.

     O Caçador inclinou sua cabeça para um lado.

     —Matou quando estava proibido. Conhece a Lei.

     O vampiro se adiantou então, um borrão de presas e garras malvadas, enquanto se lançava ao ataque. O Caçador simplesmente saiu para o lado e levantou uma garra que atravessou a garganta do vampiro, abrindo a de um corte. O sangue fez erupção como um vulcão vermelho.

     Alexandria se horrorizou ao ver a cabeça dourada do Caçador, desfigurando-se, seu rosto alargando-se como em um focinhoe as presas estalando na boca, como a de um lobo. O Caçador rompeu o fêmur do vampiro. O som remontando-se através da praia e ressonando através do corpo da moça. Ela se sobressaltou e abraçou Joshua mais apertadamente, mantendo presa sua cabeça para impedir que a criança visse uma cena tão aterradora e horripilante.

     O vampiro enxugou o sangue de seu peito e olhou com ódio para o Caçador dourado.

     —Pensa que não é como eu, Aidan, mas é. É um assassino e gosta da batalha, porque é o único momento em que se sente vivo. Ninguém pode ser como você e não sentir a alegria e o poder de tomar uma vida. Diga-me, Aidan, não é certo que não pode ver as cores deste mundo? Que não há emoção em ti a menos que esteja lutando? É o último assassino. Você, Gregori, e seu irmão Julian. É a sombra mais escura em nosso mundo. Vocês são os assassinos reais.

     — Tem quebrado nossas leis, Paul. Escolheu intercambiar sua alma pela ilusão do poder em lugar de procurar o amanhecer. E converteu a uma mulher humana. Criou uma vampiresa desiquilibrada, para que se alimentasse do sangue de crianças inocentes. Você conhecia a pena.

     A voz era pureza. Uma fria e limpa torrente de beleza. O tom pareceu fluir na mente de Alexandria, fazendo-a desejar fazer o que ele pedisse.

     —Sabe que não há forma de me derrotar. — continuou a voz e Alexandria acreditou. Era tão suave e amável, tão segura. Não havia forma de que alguém pudesse opor-se ao Caçador. Era verdadeiramente invencível.

   — Não demorará muito e alguem o caçará. — bufou Paul Yohenstria, lutando por manter-se de pé. Sua figura pareceu brilhar tenuemente, dissolver-se, mas enquanto se transformava, o Caçador atacou outra vez.

   O som foi repugnante. A névoa camuflou o assalto e o Caçador foi um borrão tal de movimento, que Alexandria não pôde segui-lo. Mas fora da névoa rodou uma visão obscena da cabeça do vampiro, o cabelo convertido em um enredo de sangue, os olhos abertos e o olhar fixo. A cabeça rodou para ela, derramando um rastro vermelho detrás de si.

     Alexandria se esforçou por levantar-se sobre seus pés, agarrando firmemente Joshua contra ela, suas mãos sobre os olhos do menino enquanto a bola grotesca se detinha apenas a algumas polegadas de distância. A névoa se formou redemoinhos e espessou, e, para seu horror, o Caçador voltou sua cabeça e o ouro derretido de seus olhos fixou em seu rosto.

 

     Aidan Savage exalou um suspiro interior enquanto seu olhar se detinha na ofegante vampiresa que sujeitava firmemente o menino pequeno contra seu peito. O demônio nele, forte agora, estava lutando pela liberdade. A neblina vermelha em sua mente pedindo a gritos para tomar o controle. E o vampiro estava correto. Suprimir o assassinoem seu interior estava cada vez mais difícil. Podia sentir o poder e o gozo durante o combate e brigar tornava cada vez mais aditivo porque era o único momento em que algum sentimento o acometia. Tinha sobrevivido a séculos em uma existência fria, árida, negra e cinza. Sem deleitar-se realmente das cores as emoções, exceto o gozo pela luta.

     Permitiu-se varrer a praia com o olhar e logo voltou sua atenção para a bruxa que ameaçava o menino. Repentinamente, acalmou-se. Depois de mais de seiscentos anos semver cor alguma, nesse momento distinguia o rastro do sangue poluído que brotava da cabeça de Paul. Não como uma nervura negra, mas sim como um fita de seda de cor vermelha, brilhante, conduzindo seu olhar diretamente para a vampiresa.

     Impossível. A cor e a emoção retornariam a ele só se encontrasse uma companheira. E não havia ninguém ali exceto a lastimosa humana que Paul tinha tratado de transformar.

     Contemplou-a com o coração pesado. Quase sentiu pena pela desafortunada mulher. De novo se sentiu afetado por essa rajada inesperada de simpatia, de emoção, depois de tantos séculos sem sentir nada, mas continuou sua inspeção da fêmea. Era impossível dizer sua idade. Era pequena, quase infantil, mas o traje que tinha posto, inclusive amarrotado, molhado e sujo como estava, pegava-se a suas curvas cheias. Suas pernas eram uma massa de vergões ensangüentados, sua boca torcida e negra pelas bolhas abertas. Seu cabelo, emaranhado e cheio de algas marinhas, pendia em uma aglomeração exuberante sobre as costas, até a cintura. Seus olhos azuis continham terror, mas também desafio.

   Ela ia matar o menino. A estranha mulher não podia converter-se em uma mulher Cárpatos. Contrário ao mito popular, a maioria das mulheres humanas não podia ser transformada por um vampiro sem conseqüências horrendas. Imediatamente, ficavam loucas e começavam a alimentar-se de meninos inocentes e essa mulher havia sofrido horrendamente. As feridas em seu pescoço davam evidência do uso árduo que o vampiro e os cortes em suas mãos eram cruelmente profundos.

     Aidan tratou mentalmente de alcançar a mente da mulher, desejando fazer sua morte tão indolor, o possível. Impactado por sua resistência deu um passo ameaçador para ela. A mulher era incrivelmente forte. Sua mente tinha alguma barreira natural que resistia a vontade do Caçador. Em lugar de colocar ao menino na areia diante dela como ele tinha ordenado, a mulher empurrou ao menino para um lado, recolheu um pedaço grande de madeira flutuante e se lançou contra Aidan.

     Ele deu um salto para frente, roubando a madeira de sua mão. O impacto quebrou um osso, e embora ele pôde ouvi-lo e ver a dor em seus olhos, ela não gritou. Evidentemente estava além dos gritos. Ele a apanhou, tentando acabar com sua vida antes de que ela sofresse mais do necessário, mas a mulher lutou apesar de tudo, resistindo a seu assalto mental. Ele inclinou a cabeça para a garganta da fêmea.

     Ela era tão pequena e estava tão fria, tremendo incontrolablemente, que cada instinto protetor saltou dentro de seu ser, com sentimentos que nunca antes tinha experiente. Quis embalá-la contra si, abrigá-la no calor de seus braços. Seus dentes perfuraram sua garganta suave, e instantaneamente tudo mudou. Seu mundo mudou. As cores vibraram e dançaram, quase o afligindo com sua beleza e vivacidade. Seu corpo reagiu com uma urgência maluca que ele não tinha sabia ser capaz de sentir, nem mesmo em dias passados, quando ainda tinha emoções.

   O sangue da mulher era quente e picante. Um doce, aditivo banquete que nutria o corpo esgotado do Caçador. A caçada e a briga lhe tinham roubado muita força e não havia se alimentado essa noite. O corpo da jovem compartilhou seu fluido com o dele. Aidan foi consciente em algum nível interior, quando os esforços dela cessaram e ela descansou passivamente contra ele. O homem a levantou facilmente em seus braços, embalando-a contra seu peito enquanto se alimentava. Logo algo o golpeou com dureza, suas pernas. Sobressaltado, fechou a ferida com uma carícia da língua e se voltou para olhar o menino. Em seu atordoamento quase esquecera o menino e que inclusive não o ouviu se aproximar.

     Joshua estava furioso. Golpeou o Caçador nas pernas uma segunda vez, balançando o pedaço de madeira flutuante tão duro como podia.

     —Deixe de machucar a minha irmã! Esperávamos que você viesse e nos salvaria! Ela disse que você viria se suportávamos o suficiente. Esperava que nos ajudaria, mas é igual a ele!

     As lágrimas derramavam pelo rosto da criança. Aidan podia ver claramente que o jovenzinho tinha cabelo loiro e olhos azuis. As cores quase o cegaram. Olhou para baixo, para a face devastada da mulher em seus braços. O coração dela se esforçava, lento, em pulsar. Seus pulmões lutavam por ar. Ela estava morrendo.

     — Estou aqui para te ajudar.— murmurou ele suave, quase distraídamente, para o menino. Afundou-se dentro de si mesmo, encontrou um remanso acalmado e tranqüilo para deter-se e se lançou a procurar fora de seu corpo e dentro do corpo da mulher. Não podia acreditar que a tinha encontrado depois de todos esses longos séculos. Mas tinha que ser. Só ao encontrar sua companheira podia causar essas mudanças assombrosas nele.

     Ela estava desvanecendo-se, sem brigar mais. Sua vontade rodeou a da mulher.

- Não me deixará. Toma meu sangue, livremente oferecida a ti. Deve beber para viver.

     A mente da moça se afastou da sua. Seu espírito era ainda forte para evadir sua ordem. Aidan trocou de tática.

- Seu irmão precisa de voce. Lute por ele. Ele não pode ficar sem você. Ele morrerá.

   Com a unha, o Caçador cortou os músculos de seu próprio peito e a pressionou contra ele. A mulher resistiu a princípio, mas ele foi implacável, rodeando-a, apressando sua vontade, golpeando a barreira até que, em sua débil condição, a mulher cedeu a sua exigência e se alimentou.

     —O que está fazendo?— perguntou Joshua.

     — Ela perdeu muito sangue. Devo compensar-lhe.

       Aidan pensava apagar as lembranças do menino desse pesadelo. Uma explicação satisfatória não o machucaria a essas alturas. O menino era muito valente e merecia ouvir algo que aliviasse seu terrível medo.

     Fora preciso fazer um rastreamento meticuloso do vampiro para encontrá-lo. Ele sempre deixava uma desordem cruenta atrás de si, mas tinha permanecido a um passo de seu Caçador. A noite anterior, Aidan havia chegado tarde. Tinha ido ao restaurante dos rochedos, rastreando as perturbações no ar, mas Paul Yohenstria já tinha matado a um velho, lhe arrancando o coração e deixando atrás um cadáver ainda quente para que a polícia o descobrisse. Aidan havia se desfeito do corpo e se assegurou de que as três vítimas fêmeas do vampiro nunca pudessem ser encontradas. Mas tinha perdido o rastro do não morto pouco antes do amanhecer. Apesar de tudo, estava seguro de que se aproximava de sua guarida e finalmente o havia encontrado e o destruído.

     Agora teria que queimar o vampiro e levar os dois perdidos de retorno a sua própria casa. Pois essa mulher lastimosa e desfigurada era claramente a companheira que ele estava procurando por oitocentos anos. Suas respostas assombrosas para ela, provavam. Não tinha idéia de como seria ou sequer como veria, mas ela havia trazido seu corpo e seu coração à vida.

     —Como se chama?— perguntou Aidan ao menino. Parecia mais amável que simplesmente ler sua mente. Não que tivesse prestado atenção a essas cortesias antes.

     — Joshua Houton. Alexandria vai estar bem? Está tão branca e horrível. Acredito que o homem mau realmente a machucou.

   —Sou um médico entre minha gente, Joshua Houton. Sei como ajudar sua irmã. Não se preocupe, assegurarei-me de que este malvado nunca mais possa machucar outro ser vivente. Logo iremos para minha casa. Estará a salvo lá.

   — Alex não está bem, senhor. Seu traje está arruinado e ela precisa dele para conseguir um grande trabalho e ganhar montões de dinheiro para nós. — Joshua falou, desamparado, como se estivesse a ponto de chorar de um momento para outro. Contemplava o Caçador procurando consolo.

     — Conseguiremos outro traje — assegurou Aidan ao menino. Amavelmente, deteve a mulher de seguir alimentando-se. Necessitava de forças para transportá-los de retorno a sua casa e isso implicava o uso de uma energia tremenda. Teria que encontrar tempo para ir a busca de alimento, essa noite.

     Aidan colocou Alexandria na areia e atraiu Joshua amavelmente para seu lado.

     — Ela está muito doente, Joshua. Quero que se sente a seu lado para que ela possa sentir sua presença e saber que não está machucado. Precisará que a cuidemos por algum tempo. É um grande moço e pode fazer isso, mesmo que ela diga coisas que vão te assustar, certo?

     —Por que diria ela algo que me dê medo?— perguntou Joshua.

     —Quando as pessoas estão muito doentes, a febre pode fazê-las delirar. Isso significa que não sabem o que dizem. Podem ter medo das pessoas ou das coisas por nenhuma razão real. Temos que ficar perto dela e nos assegurar de que não se faça mal.

     Joshua assentiu com a cabeça solenemente e se sentou na areia molhada junto à Alexandria. Os olhos da jovem estavam fechados e não de sinal algum, nem quando o menino se inclinou e a beijou na testa, como ela algumas vezes fazia. A areia e o sal endureceram em sua pele. Joshua, com carinho ajeitou para trás, os fios de cabelos, cantando baixinho, como ela fazia quando ele estava doente. Ela estava muito fria.

     Observá-los junto, fez um nó na garganta de Aidan. Via-os da forma que uma família, ele supunha, devia ser. A forma em que Enjoe, sua governanta, havia cuidado seus filhos enquanto cresciam. A forma em que ela o olhava e ele nunca podia corresponder. Suspirando, ocupou-se do trabalho sombrio de desfazer-se dos restos do vampiro. Os vampiros eram sempre perigosos, inclusive depois que estivessem mortos. Ele tinha extraído o coração, mas até agora, ele estava pulsando, difundindo aos vivos, sua posição, para que o vampiro pudesse reunir a sua casta. Aidan se concentrou no céu, construiu uma tempestade em sua mente e criou um açoite de relâmpagos que crepitou e dançou enquanto golpeava a terra. As chamas se precipitaram a passar pelo caminho de sangue, deixando para trás, cinzas negras. O corpo do vampiro enrugou. As chamas azuis e alaranjadas queimavam juntas, e um chiado baixo elevou-se sobre o vento.

     O cheiro era rançoso, horrível. Joshua apertou o nariz e observou com um olhar assombrado enquanto o vampiro simplesmente desaparecia na fumaça negra e nociva. Ficou pasmo quando o Caçador sustentou suas mãos sobre as chamas alaranjadas e não o queimaram. Aidan cansadamente, limpou as mãos nas pernas da calça antes de se virar para o garotinho que o tinha tratado tão duro a fim de defender sua irmã na praia. Um sorriso fraco suavizou a linha dura de sua boca.

     —Você não tem medo de mim, Joshua?

     Joshua encolheu os ombros e afastou o olhar.

     —Não. — Houve um silêncio pequeno, mas desafiante. — Bom, pode ser que um pouco...

     Aidan se abaixou ao lado do menino e olhou diretamente os olhos azuis. Sua voz deixou mudou, convertendo-se num tom puro. As notas macias entravam na mente de Joshua, tomando posse dela.

     — Sou um velho amigo de sua família, Joshua. Que conhece sua vida. Preocupamo muito um com o outro e compartilhamos toda classe de aventuras. — Ele saiu fora de seu corpo e entrou no do menino, estudando as lembranças que Joshua tinha de sua jovem vida. Foi fácil implantar várias lembranças de si mesmo.

     Aidan manteve o contato visual com o menino.

     —Seu amigo Henry teve um ataque ao coração e morreu. Estava muito triste. Chamou-me para que viesse e os buscasse porque sua irmã estava muito doente. Alexandria e você estiveram planejando mudar-se comigo. Os dois já colocaram algumas de suas coisas em minha casa e conhecem minha governanta, Enjoe. Você gosta de muito ela. Stefan, seu marido, é um bom amigo para voce. Estivemos organizando a mudança por semanas. Recorda-se? - Ele implantou memórias e imagens de sua governanta e de seu vigilante para que os dois ficassem familiares ao menino.

     O garotinho assentiu com a cabeça solenemente.

     Aidan desgrenhou o cabelo do Joshua.

     —Teve um pesadelo horrível com vampiros, mas realmente não se lembra. É tudo muito nebuloso. Falou-me a respeito disso e se alguma vez ele retornar para te perturbar, diga para mim e nós discutiremos o assunto. Deve sempre se sentir livre para falar comigo a respeito das coisas que algumas vezes não têm sentido para voce. Quer que eu esteja com sua irmã sempre. Falamos disso. Conspiramos para que ela queira ficar comigo como minha esposa, Nós seremos como uma família. Você e eu somos os melhores amigos. Sempre cuidamos de Alexandria. Sabe que ela me pertence, que ninguém pode cuidá-la e protegê-los, os dois como eu faço. Isso é muito importante para voce, Joshua. Para nós dois.

     Joshua sorriu e assentiu. Aidan sujeitou a mente do menino por alguns minutos mais, deixando-o reconhecer seu cheiro e sentir-se confortado por ele. O pequeno tinha sofrido um trauma terrível. Aidan asseguraria que o método pelo qual os levaria para casa, passasse ao esquecimento. Joshua se lembraria de um carro negro e grande num asseio que lhe tinha gostado.

     A viagem de volta foi feito meio de uma tormenta. As nuvens negras remolinantes protegeram o enorme pássaro dourado e sua carga de qualquer olho indiscreto enquanto cortavam rapidamente o céu. Aidan entrou na casa de três andares, através do balcão do piso superior, para que nenhum dos vizinhos o visse levar a menino e sua irmã para dentro.

     —Aidan!— Enjoe, sua governanta, apressou-se a ir ajudar enquanto ele baixava a escada de caracol. — Quem são estes jovens?— Ela bservou o rosto inflamado de Alexandria, as bolhas e queimaduras. – Oh! Meu Deus! Brigaste com o vampiro? Estão todos bem? Machucou-te? Deixa-me chamar o Stefan.

     — Estou bem, Enjoe. Não se preocupe por mim. —enquanto falava, sabia que não afastaria Enjoe de seu propósito. Ela e seu marido sempre haviam se ocupado de suas necessidades, de sua família, por quase quarenta anos. Antes dela, sua mãe e pai o tinham servido. Durante toda sua vida, os membros dessa família o tinham assistido voluntariamente, sem a ajuda de controle mental. Ele lhes tinha dado dinheiro suficiente para que nenhum deles precisasse trabalhar e eles eram leais a ele e a seu ausente irmão gêmeo, Julian. Sabiam que eram os únicos humanos que ele dava crédito e que sabiam da a existência de sua espécie. E isso não importava para eles.

   —O vampiro a danificou?

   —Sim. Preciso que cuide do menino. Seu nome é Joshua. Implantei lembranças de nossa amizade em sua mente, assim não temerá por estar aqui. Stefan deve ir à pensão onde vive, recolher seus pertences e os trazer para cá. Seu carro permanece no estacionamento de um restaurante. —disse onde — Também deve ser recolhido. O menino tem as chaves do carro em seu bolso. Curar sua irmã levará bastante tempo. O menino não deve interferir de maneira nenhuma. Terei que sair e me alimentar. A mulher precisa de muitos cuidados e devo manter minha força.

     — Está seguro de que ela não está manchada?— perguntou Enjoe com grande preocupação, segurando a mão do Joshua.

     O garotinho lhe sorriu com reconhecimento e voluntariamente tomou sua mão. Inclusive deu um passo para aproximar e atirou-se em seus braços reconfortantes.

     — Ele vai fazer que Alexandria fique bem. Ela está muito doente.

     Enjoe empurrou para um lado, sua ansiedade e inclinou a cabeça para Joshua.

     —É obvio. Aidan faz milagres. Curará sua irmã rapidamente.

     Depois de colocar o menino à mesa da cozinha, com bolachas e leite, seguiu Aidan através do quarto, arqueando uma sobrancelha para o Caçador, requerendo uma resposta a sua pergunta.

   — Ele não a converteu, mas temo que inadvertidamente posso havê-lo feito. Ela protegia o menino, mas não o entendi. Achei que ia matá-lo — Ele deu dois passos afastando-se da governanta edeu volta para confrontá-la. — Enjoe? Vejo cores. Você está com um vestido azul e verde. Vejo-a bela. — Ele sorriu à mulher. — Sei que nunca lhe disse isto em todos os nossos anos juntos, mas sinto um grande afeto por ti. Estava tão perdido, que era incapaz de senti-lo antes.

     As lágrimas brilharam tenuemente nos olhos de Enjoe.

     — Oh! Deus! Obrigado, Aidan. Por fim aconteceu. Esperamos e rezamos tanto. Nossas orações foram ouvidas. Estas notícias são demais. Vá, cuide de sua mulher. Nós nos ocuparemos de todo o necessário por aqui. Estou segura de que este jovencinho tem muita fome e sede.

     Havia tanta alegria no rosto de Enjoe, que Aidan a sentiu refletida em seu coração. Era assombroso ter sentimento. Era assombroso poder sentir. Sem sua companheira, um varão da Estirpe dos Cárpatos perdia todos os sentidos, todas as necessidades, todas as emoções depois de duzentos anos. Vivia em um abismo vazio, e estava em perigo de transformar-se em vampiro. Durante o tempo que ele havia sobrevivido, como nos séculos passados, um homem da Raça dos Cárpatos se distanciava mais e mais de sua comunidade e se mantinha sozinho. Só duas coisas podiam o salvar de seu destino vazio e desesperado. Poderia procurar o amanhecer e pôr fim a sua vida, ou podia ocorrer um milagre e encontrar a sua companheira.

     Poucos varões da Raça dos Cárpatos foram afortunados em encontrar sua companheira. O homem da Raça dos Cárpatos era por natureza um predador escuro e perigoso e precisava do apoio de sua outra metade. Precisava encontrar à mulher cuja alma complementasse perfeitamente a sua. Duas metades de um todo, luz para sua escuridão. Havia só uma companheira verdadeira para cada varão. A química tinha que ser perfeita. E Aidan finalmente tinha encontrado a sua.

     Nesses momentos, ele se movia através da casa com suas passadas silenciosas e fluídicas. O peso de Alexandria não era nada para ele. Sua casa estava localizada muito abaixo do primeiro piso. Era uma enorme câmara subterrânea, completamente provida de todos os luxos. Colocou-a cuidadosamente sobre a cama e a despojou dos restos de seu traje. O fôlego ficou preso em sua garganta. Seu corpo era jovem, seus seios cheios e firmes, sua pele era sedosa. Tinha uma cintura ridiculamente pequena. Seus quadris eram magros, quase como as de um menino. Apesar de seu rosto e extremidades estarem cobertos de queimaduras pela longa exposição à água salgada, Alexandria Houton era uma mulher bonita.

     Cuidadosamente, ele lavou o sal de seu corpo e de seus cabelos, desprezando a colcha úmida embaixo dela. Não demorou para ela estar sobre os lençóis, seu cabelo comprido envolto em uma toalha. Sua respiração trabalhosa, mas estável. Ela estava gravemente desidratada e necessitava de mais sangue. Enquanto permanecia nesse estado comatoso, Aidan a abasteceu. Apesar de sua condição frágil, ele estava seguro de que seu corpo ainda iria experimentar os rigores da transformação e era necessário diluir o sangue do vampiro. Era mais fácil ganhar acesso a sua mente e fazer as reparações em seu corpo prejudicado enquanto ela estava inconsciente. A mulher se moveu com inquietação, gemendo baixinho. Aidan começou o cântico suave e cicatrizante, dos antepassados, na língua antiga de sua gente, enquanto esmagava ervas em volta do quarto.

     Os cílios de Alexandria revoaram, levantando-se. Por um momento, ela pensou que estava no meio de um pesadelo. Sentia dor em todas partes de seu corpo machucado e golpeado. Olhou ao redor do quarto pouco familiar.

     Era belo. De quem fosse o lugar, tinha bom gosto, elegância e dinheiro que permitissem tais gostos. Seus dedos se retorceram sobre o lençol. Notou que estava muito fraca para mover-se.

     —Joshua? — pronunciou o nome afetuosamente. Seu coração começando a bater alarmado quando notou que estava acordada e não sonhando.

     —Ele está a salvo, Alexandria. — Essa voz outra vez. Reconheceria-a em qualquer lugar. Era bela, sobrenatural, como a voz de um anjo. Mas sabia a verdade. Esse homem era um vampiro com poderes sobrenaturais. Era capaz de trocar de forma, de assassinar sem titubear. Alimentava-se do sangue de humanos. Podia ler mentes e forçar os outros a executar suas ordens.

     —Onde está ele?— Ela não se incomodou em mover-se. Que sentido teria? Claramente ele estava em vantagem. Só poderia esperar e ver o que ele queria.

     — Neste preciso momento, comendo um nutritivo jantar preparado por minha governanta. Está a salvo, Alexandria. Ninguém nesta casa jamais o machucará. Ao contrário, cada um de nós daria a vida por protegê-lo. — Sua voz era tão suave e terna, que ela podia sentir suas notas apaziguando sua mente.

     Fechou seus olhos, muito cansada para mantê-los abertos.

   —Quem é você?

   —Aidan Savage. Esta é minha casa. Sou um médico, assim como também um Caçador.

   —O que planeja fazer comigo?

   — Preciso saber quanto de sangue te obrigou a aceitar, o vampiro. Imagino que Yohenstria foi realmente mesquinho, querendo te manter em uma condição fraca. Está muito desidratada. Seus olhos estão fundos, seus lábios estão cheios de queimaduras e suas células desnutridas. Apesar disso, importa saber quanto sangue ele te deu. Está poluída e seu corpo está a ponto de experimentar a transformação. — Muito gentilmente ele aplicou um bálsamo calmante sobre seus lábios torturados.

     Suas palavras penetraram no cérebro nebuloso da jovem. Piscando, Alexandria cravou o olhar nele, horrorizada.

     —O que quer dizer com transformação? Vou ser como você? Como ele? Devo me converter em algo como você? Mate-me, então. Não quero ser como você. — Sua garganta estava tão machucada que não podia falar mais que num sussurro rouco.

     Ele negou com a cabeça.

     —Não está entendendo e há pouco tempo para eu te ensinar. Sua mente é muito forte, completamente diferente da maior parte da humanidade. É resistente ao controle mental. Quero te ajudar a atravessar o que está passando e passará pela transformação com ou sem meu auxílio, mas será melhor para voce me permitir ajudar.

     Ela fechou os olhos contra suas palavras.

     —Dói-me o braço.

     —Sei. Sei que a maior parte do teu corpo, dói. — respondeu ele. Sua voz de algum jeito penetrando em sua pele e alcançando seu braço dolorido até tocar o osso. Um zumbido quente se iniciou e começou a propagar-se, aliviando a palpitação e a dor. — Seu braço está quebrado, mas comecei a saná-lo. O osso já está alinhado e a cura começou sem problemas.

     —Quero Joshua.

     —Joshua é simplesmente um menino e pensa que você está doente por um vírus. Não é necessário assustá-lo e traumatizá-lo mais ainda, não concorda?

     — Como posso saber se me diz a verdade?— perguntou Alexandria cansadamente. — Não mentem e enganam todos os vampiros?

     — Sou da Raça dos Cárpatos, Alexandria. Ainda não sou um vampiro. Devo saber quanto sangue te deu Yohenstria. — Ele falou pacientemente, sua voz sem alterar a inflexão. — Quantas vezes ele intercambiou seu sangue com voce?

     —Você é muito perigoso. — Ela mordeu o lábio inferior. Logo se sobressaltou quando dolorosamente tocou com os dentes as bolhas e queimaduras. — Tem essa maneira de falar, fazendo com que todo mundo deseje fazer o que diz. Fez o vampiro acreditar que poderia derrotá-lo, verdade? — Doía-lhe falar, mas era reconfortante poder fazê-lo.

     — Uso o poder de minha voz.— reconheceu ele gravemente — Dessa maneira não me desgasto e me firo menos ao caçar vampiros, embora já tenha tido minha cota. — Ele a tocou. Foi a mais leve das carícias, em sua testa. — Não lembra sua própria história, a que criou para o jovem Joshua? Sou o Caçador, preparado para resgatar a minha bela dama e seu irmão. Joshua me reconheceu como tal e disse-me para que. Não acha uma estranha coincidência em que me tenha descrito tão exatamente?

     Sua mente se recusava a pensar nisso, assim que a jovem trocou o assunto.

     —Joshua viu o vampiro matar Henry. Deve estar assustado.

     — Ele recorda a morte do Henry, sim, mas com um ataque ao coração. Para ele, sou um velho amigo da família. Pensa que você me chamou para te ajudar por sua enfermidade. Acredita que você caiu doente no restaurante.

     Ela estudou sua aparência. Era fisicamente belíssimo. Seu cabelo tinha ondas douradas e espessas, além de seus ombros largos. Seus singulares olhos de ouro derretido, intensos e atemorizantes, contemplavam-na a sem piscar. Eram olhos de um felino da selva. Seus lábios eram incrivelmente sensuais. Era impossível julgar sua idade. Especulava que devia estar na casa dos trinta anos.

     — Por que não apagou minhas lembranças?

     Um sorriso pequeno e sem humor curvou sua boca, revelando seus fortes dentes brancos.

     —Você não é tão manejável, pequena. É resistente a minhas ordens. Mas precisamos nos ocupar do que ocorre com voce.

     O coração da moça começou a acelerar-se.

     —O que me ocorre?

     —Precisamos miminuir e expulsar o sangue poluído de seu sistema.

     Alexandria queria confiar nele. O aroma das ervas, o som de sua voz, sua aparente honradez, tudo contribuía para acreditar que ele ia ajudá-la. E ele não forçou sua decisão, inclusive nem sequer pretendeu apressá-la, embora ela sentisse que estava preocupado com o que ia acontecer. Fosse o que fosse. A jovem aspirou profundamente.

     —Como faremos isso?

     —Devo te dar uma grande quantidade de meu próprio sangue.

     Ele disse, como se não houvesse alternativa. Alexandria afastou o olhar. Esses olhos dourados nunca piscavam. Temia que se os olhasse por muito tempo, cairia para sempre em suas profundidades.

     —Fará-me uma transfusão?

     —Lamento-o, pequena, mas isso não funcionará. — Havia uma pesar real em sua voz. Tocou-a outra vez, voltando seu queixo para que ela o fitasse. O tato, suave como uma pluma, fez pulsar com força seu coração.

     —Eu não posso... Não posso beber sangue.

     —Posso a colocar sob transe se estiver disposta a que o faça. O ajudará. É nossa única oportunidade, Alexandria.

     A forma em que ele disse seu nome enviou sensações diversas em seu corpo. Mas era possível que beber mais sangue, fosse a única forma de curá-la?

     —Se for impossível que beba por sua própria vontade, deve consentir que eu te ajude.— disse ele.

     —Não estou segura de que posso. — O pensamento a repelia. Seu estômago se contraiu, rebelando-se ante a idéia.— Deve haver outra forma de me curar. Não acredito que possa fazê-lo. — Repetiu.

     —O sangue de Yohenstria está poluído, Alexandria. Embora ele watwj morto, pode-te causar muita dor e sofrimento. Temos que diminuir os efeitos, antes de que começe a transformação.

     Ao ouvir essa palavra outra vez. Transformação. Ela tremeu.

     Ele alcançou uma blusa de seda, imaculadamente branca, claramente dela e com os olhos fixoa nos dela, amavelmente a trocou, tratando-a como se fosse uma frágil boneca de porcelana. Ambos fingiram que o ato era impessoal, mas havia algo em seu toque, um sentimento em seu olhar que só podia ser descrito como possessivo.

     Alexandria exausta, pensou. O vampiro havia sido atroz e o pensamento de qualquer parte dele estava em sua corrente sanguínea a aterrava.

     —Está bem. Faça-o. — Seus olhos azuis encontraram o olhar dourado. —Coloque-me sob transe para se desfazer do vampiro em mim. Mas nada mais. Não tire ou ponha nada em minha mente. Nada mais. Tem que me dar sua palavra.

     Ele assentiu com a cabeça. Ela estava muito fraca para sentar-se. Aidan a embalou em seu peito. A jovem começou a tremer. Seu coração batendo tão forte, que ele temeu que se fizesse em pedaços, antes de poder aliviá-la. Deliberadamente, começou a acariciar seu cabelo comprido para apaziguá-la e distrai-la. Silenciosamente, começou um cântico, firmando-o na mente da moça, enquanto murmurava em sua antiga língua, para levar-lhe um pouco de alívio. Ela relaxou visivelmente.

   —Quero fazer com que durma enquanto completa sua transformação. É muito brutal, pequena. A despertarei quando tudo tiver terminado. — Sua voz de veludo fez a sugestão e Alex sentiu as notas enrolando-se ao redor dela como braços seguros e quentes, incitando-a a fazer o que ele desejava.

     Instantaneamente retrocedeu, sua mente fechou-se de repente, afastando-se dele. Não estava disposta a ser tão vulnerável, a deixar para ele todo o controle, inclusive toda sua consciência. Não a um desconhecido, especialmente a um capaz de fazer as coisas que esse homem fazia. Quem era ele? Possivelmente outro vampiro, apesar da distinção que tinha feito a respeito de ser “da Raça dos Cárpatos, ainda não um vampiro”. O que isso significava?

     — Te ajudarei a diluir o sangue poluído do vampiro, Alexandria, nada mais, se esse for seu desejo. — Ele escolheu suas palavras cuidadosamente. Havia estado em sua mente várias vezes e o enlace se reforçava com cada uso mental compartilhado. Ela era inconsciente disso ainda e no momento era melhor conservá-la alheia. Aidan sabia que ela estava confusa e equivocadamente esperando que a transformação a restaurasse à vida humana.Teria que atuar com serenidade, com o mesmo cuidado com que lhe acariciava o cabelo, para lhe moderar a agonia da transformação inevitável, mas já iniciada, para a vida da Estirpe dos Cárpatos.

     Alexandria suspirou. A sensação das mãos masculinas em seu cabelo, o sussurro suave de sua voz rouca, a confiança total que ele transmitia eram hipnotizantes.

   —Vamos terminar logo antes que eu perca os nervos.

   Logo que as palavras saíram de sua boca, ele trocou de posição seu peso leve, embalando-a melhor em seu peito e inclinou sua cabeça loira lentamente para a garganta do Alex. O contato de sua boca era como seda em sua pele e ela sentiu a união erótica diretamente em seu corpo.

     Alexandria se estendeu, repentinamente assustada de perder muito mais que sua vida. Os lábios do homem estavam em sua garganta, diretamente sobre seu pulsação.

- Tem que confiar em mim, piccola. Deixe me sentir em voce. Sou parte de voce. Alcance-me agora, como te alcanço. As palavras pareciam estar em sua mente antes das escutar sua voz. Ele era força e calor, fogo e gelo. Ele era o poder e o amparo da loucura que estava absorvendo-a.

     Um calor a preencheu quando ele perfurou sua garganta. A sensação de uma intimidade erótica, mas tão bela, encheu de lágrimas seus olhos. Nunca havia sentido tão querida, tão bela e perfeita como o sentia nesse momento. Sentiu-o em sua mente, explorando seus desejos e pensamentos secretos. Ele a serenava e cicatrizava, saboreando-a, compartilhando sua mente. Aidan examinou cada lembrança e a força de seu bloqueio contra ele.

     Quando esteve seguro de que tinha dado suficiente de seu sangue para assegurar uma transformação na direção correta, sua língua, contra vontade, acariciou o corte e o fechou.

     Com a unha, abriu uma linha sobre seu próprio coração.

- Beba, Alexandria. Tome o que é livremente devotado a voce. Sua mente estava pronta para assumir o controle da dela, para impor o que a moça não desejava fazer. O corpo masculino se alongou à medida que a boca feminina se movia sobre sua pele, encontrando o que procurava. O sangue de sua vida fluía nela.

     O coração de Aidan batia ruidosamente, com força, contra seu peito. Sabia que ela era sua companheira, que era dele. Seu ser inteiro lhe respondia e a química entre ambos era elétrica, exata. Havia esperado-a por tanto tempo. Aparentemente esperara sempre por ela e agora não correria nenhum risco de perdê-la. Começou o cântico que os vincularia para sempre.

- Eu te reclamo como minha companheira, Alexandria. Pertenço a voce. Ofereço-te minha vida. Dou-te meu amparo, minha fidelidade, meu coração, minha alma e meu corpo. Para compartilharmos tudo. Sua vida, sua felicidade e seu bem-estar serão em primeiro lugar, para mim. É minha companheira. Está unida a mim para toda a eternidade e sempre sob meu cuidado.

     Ele pronunciou as palavras rituais em sua mente, mas ao mesmo tempo na linguagem dela e em sua própria língua materna. O ritual não estaria completo até que o corpo da mulher estivesse unido ao dele. Feito isso, ninguém poderia tirar-lhe nem ela poderia escapar dele.

     Aidan lhe deu sangue o quanto pôde. Queria que o sangue do vampiro estivesse completamente fraco quando a transformação começasse, quando ela expeliria o que pudesse ter ficado. Tinham pouco tempo, antes que começasse e ele estava pálido, fraco. Precisava desesperadamente caçar, antes que ela precisasse dele outra vez. O que seria muito em breve.

     Alexandria se recostou. Até em seu estado hipnótico, ele pôde ver a dor retorcendo seu corpo. Era difícil manter sua promessa e não lhe ordenar que dormisse o sono profundo e cicatrizante dos imortais. Mas se desejasse que Alexandria confiasse nele, teria que manter cada promessa que lhe fizesse. A jovem tinha motivos excepcionais para desprezar a sua espécie. O trauma e o terror nunca seriam completamente esquecidos, do mesmo modo que nuca conseguiria compreender de um todo, sua raça.

—Fique com Alexandria enquanto caço esta noite.

     Enjoe o observou, consternada, enquanto ele cambaleava, tomado pela debilidade. Já o havia visto antes, cansado e ferido pela batalha, mas nunca tão esfomeado. Ele estava quase cinza.

   —Deve tomar meu sangue antes que saia, Aidan. — disse ela - Está muito fraco para caçar. Se um vampiro te pegar nestas condições, destruirá voce.

     Ele negou com a cabeça, posando a mão sobre seu braço.

     —Sabe que nunca faria tal coisa, Enjoe. Não uso a aqueles que cuido, quem protejo.

     —Então se apresse. — Enjoe observou com olhos ansiosos enquanto ele se inclinava para roçar com sua boca a testa da garota. Estava terno, homem que ela conhecia tão bem. Aidan sempre fora frio, distante, calmo com aqueles que ele considerava sua família. Esse gesto estranho de ternura a fez chorar.

     Aidan murmurou a ordem para despertar Alexandria de seu transe.

     —Devo ir agora. — disse a ela — Enjoe ficará contigo até minha volta. Chame-me se precisar de mim.

     Por alguma razão estranha, Alexandria não queria que ele saísse de seu lado. Enrolou os dedos no lençol para evitar chamá-lo. Mas ele se moveu rapidamente e com sua graça peculiar, como a de um grande felino ele saiu.

     Enjoe sustentou um copo de água em seus lábios.

   — Sei que está machucada, Alexandria... Posso chamá-la assim? Mas um pouco de água, vai te ajudar. Sinto que a conheço devido ao jovem Joshua, que me contou muitas histórias sobre sua maravilhosa irmã. Ele a ama muitíssimo.

     O borda do copo machucou sua boca e Alexandria o afastou.

     —Simplesmente Alex, Enjoe. Assim é como ao Josh gosta de me chamar. Ele está bem?

     —Stefan, meu marido, está com dele. Estava faminto e cansado, um pouco hipotérmico e desidratado, mas já o atendemos. Comeu bem e está de bom humor. Ficou dormido perto do fogo. Dadas as circunstâncias, com ele tão preocupado por você, pensamos que deveria dormir perto de nós e não só em um quarto.

     —Obrigado por cuidar dele. — Ela tratou de sentir-se. Com a fusão do sangue do Caçador, sentia-se mais forte. — Onde está agora? Eu gostaria de vê-lo.

     Enjoe negou com a cabeça.

     —Não devo deixar você sair desta cama. Aidan pediria nossas cabeças. Está muito fraca, Alex. Suponho que tampouco se viu ainda. Nas condições em que está, assustaria muito Joshua.

     Alexandria suspirou.

     —Mas preciso vê-lo, Enjoe. Tocá-lo, simplesmente saber que ele está bem. Todo mundo me diz que está, mas como saber com segurança?

     Enjoe colocou para trás os fios do cabelo dourado do rosto de Alexandria.

     — Porque Aidan não mente. Nunca machucaria a um menino. Ele é quem, com grandes riscos para si mesmo, que caça os vampiros que se alimentam da raça humana.

     —Existem realmente tais coisas? Talvez eu esteja em um pesadelo terrível do qual não posso despertar. Talvez simplesmente esteja doente e com febre. — disse Alex esperançada. — Como poderiam existir realmente vampiros em nossa sociedade sem que todo mundo saiba?

   — Porque existem aqueles como Aidan, que os detêm.

     —Quem é Aidan? Não é um vampiro também? Eo o vi transformar-se em pássaro, em homem e em um lobo. Cresceram-lhe presas e garras. Bebeu meu sangue e sei que tinha a intenção de me matar. Ainda não sei por que mudou de idéia. — Repentinamente, sentiu seu corpo começar a arder. Seus músculos começaram a torcerem. O lençol fino estava pesado quente contra sua pele. O calor viajando ao longo de seu corpo.

     —Aidan explicará tudo. Mas tenha a segurança de que ele não é um vampiro. Conheço-o desde que era uma criança. Ele me viu crescer, ter meus próprios filhos e agora me converter em uma anciã. É um homem poderoso e perigoso, mas não para nós que ele chama dele. Nunca te fará mal. Protegerá-a, com sua vida.

     Alexandria se sentia aterrorizada. Não queria pertencer a Aidan Savage. Mas se precaveu, de que ele nunca a deixaria ir. Como poderia? Sabia muito.

     —Não quero estar aqui. Traga-me para um doutor.

     Enjoe suspirou.

     —Nenhum doutor pode ajudá-la agora, Alex. Só Aidan pode fazê-lo. É um grande médico. Dizem que só há um melhor que ele. — Ela sorriu. — Aidan retornará e lhe tirará a dor.

     As vísceras da jovem se retorceram tão abruptamente, que Alexandria por pouco não caiu da cama. Gemeu, gritou.

     — Tem que chamar um doutor, Enjoe. Por favor! É humana, como eu. Tem que me ajudar. Quero ir para casa! Só quero ir a casa!

     Enjoe tratou de sujeitá-la na cama, mas a dor era tão intensa, que o corpo de Alexandria se agitou violentamente e caiu sobre o piso duro.

 

     Aidan aspirou à noite enquanto passeava pelos subúrbios de São Francisco. As criaturas noturnas voando através do céu. A brisa lhe levava o aroma das presas. Um pouco mais à frente, um beco estreito e escuro, abria-se sobre a rua e ele podia sentir a presença de três homens. Cheirava seu suor, ouvia sua risada tosca. Eram assaltantes, a espera de alguma alma desavisada que aterrizavam para animar suas vidas, de certa maneira, aborrecidas.

     Sua fome aumentava agudamente a cada passo que dava, o demônio levantando-se até que sua mente se converteu numa neblina vermelha pedindo alimento. Cheirava a noite. Tinha-lhe levado algum tempo acostumar-se aos sons, espetáculos e aromas dessa cidade estranha. O sal marinho flutuava no vento, a névoa espessa, os patrões da vida noturna, eram tudo diferentes dos costumes de sua terra natal. Mas alguém tinha que caçar os vampiros. Uma vez que os não mortos tinham aprendido que podiam deixar suas terras e viajar longe da Justiça Escura, tinham começado a estender suas atividades. Aidan tinha se apresentado como voluntário para deixar suas amadas Montanhas dos Cárpatos e começar numa terra nova para proteger os humanos que ali residiam. São Francisco se converteu em sua base de operações. Com o passar do tempo, tinha chegado a gozar da cidade e sua gente diversa, inclusive a pensar nela como seu lar.

     Os centros de arte eram maravilhosos. O teatro e a ópera eram abundantes. E havia um constante fornecimento disponível de presas. Moveu-se silenciosamente, seus músculos vibrando enquanto se aproximava do beco. Os três vândalos caminhavam arrastando os pés, cuidando os ignorantes que espreitavam. Seus sons soavam com força em seus ouvidos, apesar de que deliberadamente, havia diminuído sua audição, ansiando escapar do assalto a seus sentidos. As sensações, as intensas emoções, inclusive as cores vívidas que não experimentava em séculos eram dominantes. A noite parecia tão brilhante que lhe tirava a respiração. Tudo se encontrava belo. As nuvens, as estrelas, a lua, tudo.

     Aidan encolheu seus poderosos ombros para relaxar a tensão em seu corpo. Era, obviamente, mais musculoso que a maior parte de sua espécie. A maioria de sua gente era mais magra, mais elegantemente construída. Também, diferentes dos outros, ele e seu irmão gêmeo eram loiros com olhos dourados. Sua raça, usualmente, tinha olhos e cabelo escuro.

     À medida que se aproximava do beco, enviou uma ordem. Em outro momento necessitava ordenar. No instante em que os homens o tivessem divisado, teriam tratado de atacá-lo. Mas dessa maneira seria mais singelo. Embora o predador que levava dentro de si, gostava de uma boa batalha, breve como fosse, essa noite não tinha tempo para aplacar sua natureza. Em todo caso, tendo chegado tão perto da loucura e da transformação em vampiro por esperar tantos séculos sua companheira e tão pouco depois da batalha aniquiladora com o Paul Yohenstria, não se permitiria explorar com violência. Tinha um propósito agora, uma razão para existir e não permitiria que sua natureza predadora dobrasse sua inteligência e sua vontade.

     Um integrante do trio acabava de acender um cigarro. Seu aroma pungente flutuando no ar ao longo da rua, mas abruptamente, ele girou e começou a caminhar arrastando os pés para fora do beco. Os outros dois o seguiram. Andavam, enquanto limpavam as unhas gordurentas com a ponta de uma navalha. Seus olhos estavam ligeiramente parados, como se estivessem drogados. Aidan franziu o cenho, descontente, mas o sangue era sangue e as drogas não o afetariam.

     —Faz frio na rua. — disse Aidan tranquilamente, deslizando um braço ao redor dos ombros do fumante. Levou o homem ao beco escurecido, longe dos olhos curiosos e inclinou sua cabeça para beber. Os outros dois esperaram, empurrando-se para ficarem mais perto dele. Seus corpos sujos e suas mentes quase inúteis lhe causavam desgosto, mas tinha que se alimentar. Algumas vezes, perguntava-se por que deviam existir humanos como esses. Não eram tão diferentes dos de sua raça, que tinham escolhido perder suas almas e transformar-se em vampiros, vivendo as costas daqueles mais fracos que eles. Por que alguem não detinha esses humanos? Por que Deus os tinha criado? Por que lhes tinha dado o presente da alma, sabendo que não podiam viver uma vida de honra e integridade? Embora os varões da Raça dos Cárpatos viviam por séculos, alguns deles por milhares de anos, antes procurariam o amanhecer e a autodestruição, que tomar a decisão de voltar-se renegados e perder suas almas para sempre. Apesar disso, alguns varões humanos não podiam chegar sequer além de seus anos adolescentes.

     Aidan deixou cair à primeira vítima descuidadamente no chão, sua mão já se enrolando ao redor da nuca do seguinte doador. O homem foi a ele com tranqüilidade, sob o transe hipnótico, complacente. Aidan se alimentou insaciavelmente, sem lhe importar se os três homens fossem sentir fracos e indefesos durante algum tempo. Ele necessitava de nutrição e se sentia aborrecido pela existência dessa classe de gente. Os homens como esses, procuravam aproveitar-se dos mais fracoss. Eram cruéis com suas mulheres e ignoravam suas obrigações para com o tesouro mais precioso de suas vidas, seus filhos. A quem importava como haviam chegado a ser assim? Aidan era um firme crente da escolha do próprio destino, de não tomar simplesmente o caminho fácil. Os varões da Raça dos Cárpatos tinham todos os instintos de predadores, algumas vezes mais perigosos que os animais selvagens, mas nunca abusariam de uma mulher ou um filho. Mantinham-se firmes em um código de honra estrita, inclusive dentro de seu mundo de assassinar ou ser assassinado. Todos sabiam das conseqüências de suas ações, e aceitavam a responsabilidade de seus dons. Na raça de Aidan, homens como esses três logo seriam exterminados. Tão exigente como era a Estirpe dos Cárpatos, não podia permitir o abuso dos mais fracos.

     A segunda vítima bamboleou e caiu quase em cima da primeira. Aidan avançou lentamente para o homem que esgrimia a faca. O homem o contemplou.

     —Vamos à festa?— perguntou o condenado com uma risada áspera.

   —Um de nós, sim. — concordou Aidan e inclinou sua cabeça para encontrar a jugular pulsante.

     A primeira sacudida de mal-estar o golpeou. Levantou a cabeça por um momento e o sangue de sua presa saiu em jorro. Inclinou-se outra vez para finalizar sua tarefa, desta vez com toda eficiência e rapidez.

       Era Alexandria. Podia sentir a primeira onda de dor golpeando-a.

     Meticulosamente fechou a ferida, assegurando-se de que não houvesse prova no pescoço do homem que deixasse traslucir a presença de sua espécie na área, e permitiu que sua presa caísse no chão. Para qualquer pessoa que passasse por ali, os três homens pareceriam bêbados. Indubitavelmente, o rastro de sangue na camisa de um deles, seria atribuída a um nariz machucado.

     A transformação começava por dentro de Alexandria, como ele sabia que aconteceria. E em última instância, embora sem pretender, ele era o responsável e a culpabilidade não lhe sentava bem. Havia observado duas feridas no pescoço de Alexandria, que só podia significar uma coisa. Que o vampiro a tinha mordido duas vezes, fazendo seus intercâmbios. Quando Aidan tinha assumido que era uma vampiresa já convertida, quase a tinha matado e logo ao ter notado seu engano, substituiu o sangue perdido com o seu. Quatro mudanças de sangue fariam que um humano passasse pelo do processo de transformação... Para um vampiro ou um membro da Raça dos Cárpatos. De qualquer maneira, não havia como voltar atrás. Na maioria das humanas, as tentativas de transformação ou matavam à mulher no ato ou a deixavam demente. Só algumas mulheres, aquelas que possuíam habilidades psíquicas, haviam conseguido passar pela dura experiência e saírem sãs e salvas. E elas seriam as companheiras que deviam ajudar a perpetuar a Raça dos Cárpatos, porque suas próprias fêmeas eram estéreis.

     A quarta mudança de sangue, transformando a Alexandria, também a conservaria encadeada a ele para sempre. Egoísta, tomara a decisão sem o consentimento dela, depois, ela era sua única salvação. Ele tinha se mantido por séculos, esperando sua companheira, evitando converter-se num vampiro. E, consentindo ou não, Alexandria era sua companheira, não de Yohenstria. Todos os sinais e sua química perfeita confirmavam isso. Pelo menos, havia feito o que podia, ao dar a Alexandria tanto de seu sangue poderoso e antigo, como tinha arrancaria a mancha do vampiro e fazer sua transformação à Estirpe dos Cárpatos, mais fácil.

     Ele a sentiu gritar em sua mente. Um grito indefeso cheio de dor, desesperado. Estava confusa e assustada, vinculada a ele e sem saber, compartilhando seus pensamentos. Estava aterrorizada, assustada de que ele a houvesse abandonado. Assustada de que ele pudesse desfrutar de sua dor, como o havia feito o vampiro. Mas acima de tudo, ela estava assustada por seu irmão, Joshua, acreditando que ele estava sozinho, desprotegido, na casa de um vampiro tão frio que havia matado outro dos não mortos, em questão de instantes.

     Aidan se lançou ao céu noturno, precisando cobrir a distância entre eles, tão rápido como, fosse possível. Nesse momento, não se importou se alguém visse uma coruja estranha e enorme, riscando seu caminho sobre a cidade. Ela precisava dele. Suplicava a Enjoe, por um médico. Enjoe estava angustiada, ansiando reconfortá-la, mesmo sabendo que Aidan era o único que poderia ajudá-la. Ele ouvia tudo claramente. A voz suave mendigando ajuda e a governanta à beira das lágrimas. Compartilhava a mente de Alexandria, experimentando tudo o que ela experimentava. A confusão. A dor. O medo somando-se ao terror.

     Voou para estar perto quando ela o chamasse. E esperou, pelo bem de ambos, que isso fose o mais antes possível. Ela precisava dele, mas ele tinha prometido não obrigá-la mais que efetuar o intercâmbio de sangue. Ela tinha que chamá-lo.

     Fora da câmara subterrânea, Aidan parou, escutando os gritos lastimosos de Alexandria, que provocavam dor dentro de seu coração. Uma dúzia de vezes tratou de alcançar a porta, querendo, derrubá-la a socos.

     Mas ela tinha que chamá-lo. Tinha que expressar sua fé nele ou nunca acreditaria que ele a ajudaria, sem fazer mal a ela, de nenhum modo. Descansou a testa contra a porta e logo ficou surpreso ao ver uma mancha vermelha, onde se apoiara. Estava suando sangue, na agonia de ouvir suas súplicas e sentir a dor retorcendo-se e ardendo dentro do corpo de Alexandria. Podia dirigir sua agonia física, mas seu coração e sua mente se sentiam atormentados.

     Parecia um pesadelo interminável. Soube do momento em que ela engatinhava através do piso, na intenção cega de escapar de seu próprio corpo. Soube quando ela vomitou sangue. O sangue sujo do vampiro. Sentiu as vísceras da jovem ardendo e rebelando-se contra suas mutações. Seus órgãos internos trocavam de forma, renovando-se, tornando-se diferentes. Suas células, cada músculo, cada tecido e cada polegada de sua pele, estavam em chamas pela transformação.

     —Onde está voce? Prometeu me ajudar. Onde está?

     Ele havia esperado o convite, mas pensou que estava alucinando quando realmente ele chegou. Golpeou a porta com a palma de sua mão e entrou como um desvairado. Enjoe estava ajoelhada, as lágrimas banhando seu rosto, tentando segurar o corpo que estremecia.

     Aidan quase arrancou Alexandria dos braços dela, embalando-a protetoramente contra o peito.

     — Pode ir, Enjoe. Eu a ajudarei.

     Os olhos de Enjoe eram eloqüentes, em sua simpatia para a Alexandria e em cólera e acusação para ele. Afastou-se com arrogante elegância e deu uma grande batida com a porta ao sair.

     No momento que Enjoe saiu, Aidan a expulsou de sua mente. Sua atenção total se concentrou em Alexandria.

     — Pensou que te tinha abandonado, pequena? Não o fiz. Mas não podia interferir, se você não desejasse que o fizesse. Lembra-se? Fez-me prometer.

     Alexandria voltou o rosto, humilhada de que Aidan Savage a visse de novo tão vulnerável. Entretanto não tinha tempo para pensar muito, porque a seguinte torrente de calor começava, dando golpes em seu estômago, seu fígado e seus rins, acendendo uma tocha lhe queimava o coração e seus pulmões. Seu grito ecoou através do quarto em um profundo alarido de agonia. Desejou parar para respirar, mas não podia. As lágrimas se desciam copiosas por seu rosto.

     Aidan tocou-as com o polegar, a fim de afastá-las e sua mão se manchou de sangue. Ele respirou por ela, pelos dois.

     As mãos masculinas eram frescas e tranqüilizadoras sobre sua pele, seus cânticos antigos concentravam-se na mente agonizante para que ela tivesse uma âncora a qual se apegar em um mundo demente.

       Depois de um tempo, Alexandria sentiu que ele, de algum modo, tomava parte de sua dor. Permanecia em sua mente, protegendo-a do ardor terrível, da consciência completa do que lhe estava ocorrendo. Sua própria mente se sentia nebulosa, como em um estado de sonho. Forçou seus olhos para abri-los. Podia ver a própria agonia refletida nos olhos masculinos. Havia uma mancha de cor escarlate em sua frente.

     Quando os espasmos terríveis a deixaram sair de sua prisão, dando-lhe um alívio temporário, ela levantou a mão e tocou a face do Caçador.

     —Não posso acreditar que retornasse.— Sua voz era rouca, por causa da garganta inflamada. - Dói.

     —Eu sei, Alexandria. Tomo o que posso das dores, mas não posso fazer mais neste momento, o sangue envenenado que ingeriu, o faz pior - respondeu ele com sincero arrependimento, culpabilidade e humildade. Emoções novas.

     —Como pode fazer?— Com a língua tocou seus próprios lábios secos e as terríveis queimaduras.

     —Estamos conectados agora por ter compartilhado nosso sangue. Foi como te ouvi me chamar. É como me sente em sua mente. — Outra vez, ele esfregou bálsamo sobre seus lábios, um pequeno alívio que podia lhe prover.

     —Estou tão cansada que não acredito que possa suportar mais. — Se ele realmente pudesse ler sua mente, saberia que dizia a verdade. Aidan a balançava de um lado para outro, sem prestar atenção a seu espantoso estado, sustentando-a como se fosse a mulher mais bela e mais preciosa do mundo. Permanecia em sua mente e seus braços a mantinham protegida junto a seu coração. Era tranqüilizador, reconfortante. Ela sentia-se menos sozinha. Mas, inclusive com sua ajuda, não poderia suportar outro arremesso dessa agonia. Sabia que não poderia. E ela chegaria, pois já podia sentir o calor começando a crescer. Seus dedos rodearam o braço viril e seus olhos azuis se levantaram para encontrar o líquido olhar de ouro.

     —Realmente não posso.

   — Me permita faze-la dormir. Não tenha medo. Somente será a condição inconsciente dos humanos, não o sono de nossa espécie. Seu corpo deve mudar antes que eu possa te introduzir em nosso sonho, verdadeiramente curativo. — Sua voz suave como o veludo era premente e bela.

   —Não quero ouvir mais. — O corpo da jovem ficou tenso. Até com a enorme força de Aidan, um espasmo de dor quase a arrancou de seus braços. Um gemido baixo escapou dos dentes apertados da moça, suas unhas cravando-se nos braços do Aidan, mas ela se apertou contra ele enquanto seu corpo se desfazia do sangue sujo, suas células e seus órgãos continuavam trocando às particularidades da outra raça. Sua mente era caos e dor, medo e agonia.

     O espasmo durou uns três minutos completos, a intensidade alcançando o máximo e logo retrocedendo como as ondas do mar. Ela estava banhada em sangue, suarenta. Sua respiração era um conjunto de ofegos superficiais e seu coração batia aceleradamente.

     —Não posso fazer isto. - ofegou ela.

   —Então confia em mim. Voltei para você, certo? Não te farei mal nem te abandonarei enquanto dorme. Por que resiste?

   —Acordada, sei o que está se passando.

   —Não sabe, pequena. Compartilho sua mente. Não pode compreender nada além da dor. Deixe-me te ajudar. Não posso tomar muito de sua agonia. Temo que fraquejará meu autocontrole e me verei forçado a romper a promessa de não me impor sobre voce. Não me obrigue a romper sua confiança em mim. Dê-me seu consentimento para que eu possa fazer você dormir.

     Ela podia ouvir a súplica e a honradez em sua voz. Também sentiu uma sensação quente, sensual que a envolvia e a fazia querer fazer tudo o que ele desejasse. Assustava-a que simplesmente sua voz tivesse tanto poder. Esse homem era perigoso, letal. Sentia-o, mas nesse momento, com o calor começando e a mistura de súplica e apreensão nos olhos dourados, ela deixou de lutar.

     —Não me machuque muito.— murmurou contra o calor de sua garganta.

     Ele notou a submissão em sua voz, em seus olhos e não se arriscou que ela trocasse sua decisão. Instantaneamente, enviou uma ordem poderosa, capturando sua mente, empurrando além de sua proteção, para assumir o comando. A fez dormir mais à frente da dor, em algum lugar onde nem a agonia da conversa nem o sangue do vampiro podiam alcançá-la.

     Sustentou-a em seus braços por um londo tempo antes de asseá-la gentilmente e acomodá-la para que descansasse na cama. Pôr em ordem a câmara tomou mais tempo, mas o fez, sem desejar que Enjoe se metessem nesses momentos tão íntimos ele ele tinha com Alexandria. Acendeu velas e ervas para encher o quarto com aromas curadores.

     Estava se familiarizando com a mente de Alexandria, com suas forças e debilidades. Era inevitável que logo derrubasse qualquer barreira que ela pudesse erguer contra ele. Seu polegar acariciou a face, enquanto ela dormia vulnerável em enorme cama de quatro colunas. Era assombroso estar em sua mente. Ela era uma humana incrível. Tinha transposto obstáculos quase impossíveis, perdendo seus pais tão jovem, criando seu irmão pequeno sem ajuda, amando-o com os mesmos instintos agudos e protetores de uma mãe. Tinha trabalhado duramente para dar ao Joshua uma vida decente. Também era graciosa, travessa e irreverente, cheia de amor pelas brincadeiras e as travessuras. Tinha um coração quente e generoso. Era uma luz brilhante para iluminar a escuridão crescente dentro dele. Alexandria era compaixão e bondade, tudo o que ele não era.

     Sentou-se à borda da cama, agradecido de que as ervas operassem sua magia. O aroma de vômito e sangue e a mancha do mal foram embora deixando só o aroma agudo das ervas balsâmicas. Revisou cada uma das feridas e queimaduras de Alexandria, misturando a terra em um rito antigo como o tempo. Misturava uma parte preciosa de sua terra natal com sua própria saliva, a fim de acelerar a cura de cada lesão. As feridas em seu pescoço eram as piores. O vampiro tinha feito as lesões e as nfectado com seu veneno. Aidan as enfaixou cuidadosamente, cantando na língua antiga, outra vez e enviando-se para dentro do corpo de Alexandria para curá-la do interior para fora. A transformação estava quase completa, notou com alívio.

     Ele continuou a seu lado na cama, consciente de que ainda tinha uma batalha longa e acidentada com sua nova companheira. Ela seria muito resistente a seus avanços. Ainda esperava a verdade de sua transformação e o odiaria quando compreendesse o que significava. Culparia a ele, e com toda razão. Com a tortura horripilante do vampiro e o seu próprio, a primeira vez que se encontraram, ela não tinha nada que agradecer a sua espécie. Apesar de tudo, não tinha alternativa. Estava ligada a ele, sua mente à sua, sua alma a outra metade da sua própria. Uni-los completamente era agora uma questão de paciência. Aidan elevou uma oração silenciosa para conseguir permitir a Alexandria, todo o tempo que ela necessitasse para aceitá-lo. Ele a merecia e como seu verdadeiro companheiro, não podia fazer outra coisa que prover o que ela necessitasse. Só ele sabia o quão perigoso seria cada instante desse tempo para os dois, que ela estaria vulnerável sem ele e como não suportaria que algo lhe acontecesse. Além do mais, ela corria perigo por sua própria natureza predadora, que se levantaria para reclamá-la até sem seu consentimento.

     Aidan suspirou, logo esquadrinhou sua casa e a área em volta. Comprovou janelas e portas e os fortes feitiços colocados na porta da câmara subterrânea e os conjuros ainda mais mortíferos e potentes para proteger sua própriacâmara. Não correria riscos com sua companheira, agora que a tinha encontrado. Aidan a atraiu para seus braços, esperou até que estivesse seguro de que a mudança havia se completado e logo a enviou ao sono profundo e curador de sua espécie. Seu corpo se enrolou protetoramente contra o dela, deteve seu coração e seus pulmões, como um morto.

     À medida que o sol começava a ficar ameaçador e encontrou seu caminho dentro da câmara um som pulsado interrompeu o silêncio e os pulmões aspiraram ar. Aidan esquadrinhou dentro de casa, procurando a causa de seu despertar precoce. Acima dele, no primeiro piso, alguém batia fortemente a porta da casa. Podia ouvir os passos suaves de Enjoe enquanto ia atender. Os batimentos de seu coração eram audíveis para ele. Ela estava nervosa pela pessoa que chamava. O tamborilar na entrada dianteira era forte e ditatorial. Um sorriso curvou sua boca. Atrás de sua governanta ouviu Stefan sempre preparado para proteger sua esposa e defender a casa de Aidan.

     Aidan levantou, seu corpo flexível e firme. Seu olhar se deslizou para Alexandria. Um estremecimento o transpassou. Ela era formosa! Havia ainda poucos machucados arruinando sua pele suave, mas era uma pele saudável e perfeita. Seus lábios eram tenros e exuberantes, seus cílios grandes e espessos. Era mais jovem até do que havia imaginado, diferente de qualquer mulher que pudesse ter conhecido no passado. E lhe pertencia. Nada na Terra alteraria isso. Seu corpo se excitou inesperadamente, com uma dor tão repentina e urgente que o sobressaltou. Ela jazia ali indefesa, uma virtual desconhecida, mas ele havia estado em sua mente e a conhecia mais intimamente do que qualquer outra pessoa pudesse conhecer depois de anos de convivência. Inclinou-se para lhe roçar a testa com seus lábios, numa saudação a sua coragem, a sua capacidade de amar e a sua bondade. Mas sua proximidade, só fez mais funda a dor latejante de seu corpo.

     Rapidamente pôs distância entre ele e a tentação. Havia passado seiscentos anos desde que tinha sentido desejo biológico, mas o que estava sentindo, ultrapassava o que pudesse ter conhecido antes. Esse não era o desejo complacente de apaziguar as necessidades de seu corpo. Esse era uma fome rugente por uma mulher, uma única mulher. Precisava dela agora, em todo o sentido da palavra e não ajudava a seu autocontrole ela ser tão jovem e bela, em vez da velha e feia mulher que inicialmente pensara que era.

     A pessoa que chamava, na entrada da casa, acima deles, estava gritando com Enjoe. Aidan podia ouvir o homem claramente. Era alguém obviamente acostumado a mandar. Rico e evidentemente difícil de lidar e queria ver Alexandria Houton. Nesse instante, ameaçava Enjoe com a deportação se ela não chamasse Alexandria imediatamente, obviamente pensando que, por sua estampa a governanta era vulnerável às ameaças.

     As presas se abriram na boca de Aidan e seus olhos dourados resplandeceram ardentes e cruéis, a fera nele estava mais forte que qualquer outra vez. Era porque sentia ciúmes de qualquer homem que se aproximasse de sua companheira? Porque sentia outra nova e poderosa emoção, quando alguém gritava com sua governanta? Ou possivelmente seria uma combinação dos dois? Não sabia, mas reconhecia que era um sentimento perigoso e que teria de exercitar seu autocontrole. Um som agudo e lento escapou de seus lábios enquanto flutuava pelas escadas e entrava na cozinha através da passagem secreta. Moveu-se com velocidade sobrenatural, invisível para o olho humano. Todos os membros da Raça dos Cárpatos eram capazes de coisas como essa e era um hábito muito enraizado nele.

     Na entrada de sua casa, um homem alto e de aparência agradável admoestava ferozmente sua governanta.

     —Traga Alexandria imediatamente ou chamarei à polícia. Acredito que cometeu um crime e você de algum jeito toma parte dele!— Ele olhava Enjoe com desprezo, como se ela fosse um inseto que facilmente poderia esmagar sob seu pé.

     Abruptamente o desconhecido ficou silencioso. Um tremor frio correu por sua coluna vertebral. Teve a indescritível impressão de que algo estava espreitando-o. Olhou rapidamente ao redor do parque imaculado. Vazio. Apesar disso, a impressão de perigo era tão forte que seu coração começou a bater forte e sua boca secou. O coração de Thomas Ivan bateu ruidosamente contra seu peito quando um homem apareceu virtualmente do nada. Simplesmente pareceu materializar-se atrás da teimosa mulher. Era um homem alto, elegante e bem vestido. O cabelo loiro e comprido caía até seus ombros largos e seus singulares olhos dourados o avaliaram com o olhar de um felino. Exsudava poder. Poder e força. O perigo nele era como uma segunda pele.

     Thomas reconheceu que a casa era riquíssima, de alto valor e que esse ocupante era alguém a quem não poderia intimidar facilmente. O homem pareceu deslizar-se para frente, seus músculos ondeando sob a camisa de seda. Seu movimento era tão fluídico que seus pés pareciam não tocar o piso. Certamente não fez nenhum som enquanto se movia. A mão que afastou Enjoe, para o lado, foi extraordinariamente suave, mas comunicou um sentido de ameaça ao Thomas.

   —Enjoe está aqui legalmente e é extremamente grosseiro de sua parte ameaçar aos membros de minha família. Possivelmente as pessoas que trabalham com você são simplesmente serventes, minha família e estão sob meu amparo, para mim não são. — As palavras eram de uma voz suave e agradável, da textura de veludo. Um sorriso cortês acompanhou as palavras, uma demonstração breve de dentes brancos.

     Sem razão alguma, Thomas sentiu um tremor de medo descer por sua coluna. O cabelo de seu corpo se arrepiou de alarme. Sua boca estava tão seca, que não estava seguro de poder falar. Inspirou e decidiu ceder um pouco. Esse homem era absolutamente diferente. Sustentou em alto uma mão no antigo símbolo de paz.

   — Olhe, sinto que começarmos com o pé esquerdo. Desculpe-me por ter sido tão enérgico. Foi definitivamente um modo equivocado de dirigir a situação, mas minha amiga está perdida, e estou muito preocupado. Sou Thomas Ivan.

     Aidan reconheceu o nome imediatamente. A estrela nascente da indústria dos videojogos. A criatividade atrás do assombroso e mais popular videojogo sobre vampiros, que já haviam lançado. Aidan levantou uma sobrancelha, em seu rosto era inexpressivo.

     — Supõe-se que devo conhecê-lo?

     Ivan estava desconcertado. Essa conversa repentinamente tinha trocado de papéis, e ele já não estava com o controle. Nem seu famoso nome não havia causado o temor usual. Por alguma razão, esse homem, de tão agradável voz e educado como era, assustava-o mortalmente. Era francamente mais temível que os vampiros de sua imaginação. Havia uma ameaça espreitando debaixo da superfície, como se o verniz da civilização fosse muito fino e um animal selvagem, poderoso e predador, rondasse impacientemente procurando liberação.

     Thomas tentou outra vez.

     —Jantava com minha amiga, Alexandria Houton, há duas noites. Ela adoeceu rapidamente e saiu correndo do restaurante, deixando para trás sua pasta, Nunca retornou. Seus esboços são de suma importância para ela, nunca os deixaria para trás, se estivesse bem. Outras três mulheres desapareceram nessa noite, junto com um vagabundo. Houve uma tempestade terrível nessa noite e a polícia acredita que as pessoas perdidas, de alguma maneira foram parar no mar. O carro de Alexandria foi encontrado na manhã seguinte, no estacionamento, mas pouco depois, seu servidor o recolheu. - Ivan havia dado ao guardador de carros, uma boa soma em dinheiro, por essa informação.

     —Alexandria é uma amiga íntima, senhor Ivan. — disse Aidan.— Seu irmão menor a aguardava fora do restaurante quando ela adoeceu. Ele me chamou e eu os trouxe para cá. A senhorita Houton está ainda muito doente e não pode receber visitas. Estou seguro de que lhe agradará saber que você devolveu sua pasta. Direi-lhe que esteve a sua procura. — Aidan saudou com a cabeça em um gesto de despedida. Os olhos de ouro derretido sem piscar, jamais.

     A voz refinada e agradável fez patente que Thomas Ivan não significava nada para ele. A parte estranha era que Ivan se viu querendo fazer exatamente o que o homem lhe ordenava. De fato, estendeu a pasta para ele antes de se dar conta do que estava fazendo. Rapidamente baixou o braço.

     —Sinto muito, não ouvi seu nome. — disse quase belicosamente. Não ia ser despachado sem mais nem menos e nem entregar a pasta a um desconhecido. Como sabia ele que essa era a verdade?

     O sorriso branco e perfeito apareceu pela segunda vez. Esse gesto provocou calafrios na pele de Ivan. Era o sorriso de um predador. Não continha calor e os olhos dourados brilhavam intensa e perigosamente.

     —Sou Aidan Savage, senhor Ivan. Esta é minha casa. Acredito que ambos, ssistimos a uma festa para o Senador Johnson um ano atrás, mas nunca fomos apresentados. Parece-me recordar agora que você inventa jogos de algum tipo.

     Thomas se sobressaltou visivelmente. A voz era musical, suas notas tão puras que não podia evitar querer ouví-las uma e outra vez. Pareceu abrir caminho dentro dele, retorcê-lo e trocar de direção até que fosse difícil resistir a algo que esse homem dissesse. Entretanto, de certa forma, apesar da pureza da voz de Aidan Savage, as palavras ferroavam. Ivan tinha um êxito enorme com seus famosos jogos. Era o lançamento mais quente do mercado. Mas, tinha ouvido falar sobre o elusivo Aidan Savage, favoravelmente considerado e muito solicitado. Se um homem com tal reputação e riqueza rechaçasse Thomas categoricamente, os círculos sociais, profissional e pessoal, poderiam expulsá-lo. Isso estava se transformando num pesadelo. Só a necessidade em saber de Alexandria Houton, pessoal e profissionalmente, mantinham-no estóico no lugar.

     —Realmente devo dar isto a Alexandria, pessoalmente. Seu trabalho é muito importância para nós. Estava ansiosa em conseguir um emprego comigo e certamente estou ansioso por contratar-lhe - Ivan tratou de afirmar-se em sua posição. — Quando seria um bom momento para vê-la outra vez?

     —Possivelmente em um ou dois dias. Enjoe lhe dará meu número. Alexandria e seu irmão Joshua residem aqui agora, mas ainda não contamos com o tempo necessário para instalar um telefone privado nas habitações de Alexandria. Sua enfermidade repentina adiantou a mudança antes que estivéssemos realmente preparados com seus aposentos. Você é claro, me devolverá a propriedade pessoal de Alexandria imediatamente. Ela está sob meu amparo, senhor Ivan e sempre tomo muito cuidado com os meus.

     Os olhos dourados encontraram o olhar de Ivan e o cativaram. Thomas se pegou entregando docilmente as pastas. Logo os olhos o libertaram de seu olhar fixo e hipnótico e novamente, Ivan se sentiu consternado pelo que tinha feito. O que se havia dado nele? Nunca tinha tido a intenção de deixar a pastas com ninguém, exceto Alexandria. Seu olhar encontrou a mão de Savage. O polegar do homem, acariciando o couro artificial como se fosse a pele da jovem. Sentiu ciúmes. Exatamente, o que significava Aidan Savage para a Alexandria? Um homem como Savage comia vivas, inocentes como ela. Thomas esqueceu completamente, em seu arranque de cavalheirismo, que essa tinha sido sua própria intenção até que tinha descoberto seu excepcional talento artístico.

     —Obrigado por nos fazer uma visita, senhor Ivan. Lamento que não possa convidá-lo a ficar mais tempo, mas tenho várias entrevistas. Ocuparei-me de que Alexandria o chame por telefone em alguns dias ou que você seja de outra maneira informado de seus progressos. Boa noite, senhor.

     Ivan logo se encontrou fora da porta fechada, incapaz de reconhecer o acento europeu de Savage ou suportar o sorriso da bem presumida governanta enquanto reabria a porta brevemente para lhe dar o número do telefone não registrado do Savage. Não havia feito amigos nessa casa. Havia cometido um engano ruim. Se Alexandria necessitasse de sua ajuda e estava mais que seguro de que ela necessitava, não tinha aliados nessa fortaleza que Savage chamava casa.

     Aidan se voltou para Enjoe e tocou seu cabelo ligeiramente, um gesto breve e carinhoso.

     —Incomodou-te esse imbecil?

     Ela riu ligeiramente.

     —Não como incomodou a voce. Não sabia que tinha um rival pelos afetos da dama. Um milionário famoso, nada menos.

     — Ele inventa estupidez.

     — Por isso precisei de sua conversa, Alexandria quer trabalhar com ele. — Enjoe brincava abertamente — E seus jogos sobre vampiros saíram nas notícias. Vi nas capas das revistas. Realmente, ele está doido por Alexandria, não?

     — Ele não tem nenhuma oportunidade. E é muito velho para ela.

     Enjoe e Stefan sorriram. Eram completamente conscientes de que Aidan era ainda mais velho, pois tinha vivido séculos. Aidan repentinamente riu de si mesmo, assombrando-os a ambos. Nunca haviam visto um sorriso genuíno iluminar seus olhos dourados.

     —Como está o menino esta noite?— perguntou ele.

     Enjoe e Stefan ficaram sérios.

     —Está muito intranqüilo.— respondeu Stefan. Umas poucas polegadas mais alto que Enjoe, largo e musculoso, era uma força difícil de ser confrontada. — Acredito que precisa ver sua irmã antes de voltar a ser um menino normal outra vez. Perdeu muito em sua curta vida.

     —É um menino muito doce, Aidan. Já tem o Stefan nas mãos.

   —Ja!— protestou Stefan enfaticamente. — Se é você quem chora por ele e o enche de comida com freqüência.

     —Falarei com ele — reconfortou Aidan — lhe direi que sua irmã o verá mais tarde, depois que se levantar na câmara subterrânea.

     — Depois de que ela desperte. — corrigiu Enjoe com o cenho franzido. Não queria que se fizessem alusões à vida de outro mundo frente a um menino inocente. — Pensa que é sábio prometer tal coisa? O que está acontecendo com ela...?— Enjoe vacilou.

     Stefan, entretanto, não se deteve.

     —Tem problemas aceitando que se converteu? Ou pior, o que vai acontecer se não for a companheira que busca e está agora completamente desenquadrada?

     —Ela é minha companheira. Não podem ver já sua presença, sua luz, em mim? Deu-me vida, luz, emoção. Vejo as cores outra vez e são radiantes. Tenho sensações! Sinto desde a cólera até uma calidez que me derrete. Fui devolvido ao mundo. Despertará como alguém de minha gente e sim, espero uma resistência considerável de sua parte, mas não em frente ao menino. Ama-o muitíssimo, e tratará de mostrar-se tão normal como possível na frente dele. Joshua foi sua principal motivação por anos e continuará sendo assim. Será importante para ela vê-lo, como para o menino vê-la. Suspeito que se Joshua pode me aceitar em sua vida, ganharei a metade da batalha.

     —Aidan!— Joshua entrou correndo na sala e envolveu seus braços ao redor das pernas de Aidan. — Estive procurando você por toda parte. Enjoe me disse que seu dormitório está no terceiro piso, mas não estava lá.

     —Disse para você permaneçer longe dos aposentos do senhor Savage - disse Enjoe com seu melhor tom de repreensão, mas não houve maneira de esconder a suavidade de sua expressão.

     Joshua pareceu um pouco envergonhado, mas respondeu com brio.

     —Sinto muito, Enjoe, mas tenho que encontrar a Alexandria. Você sabe onde ela está, não é Aidan?— perguntou.

     O homem da Raça dos Cárpatos descansou suas mãos amavelmente nos cachos sedosos do menino. Seu coração se comoveu. Uma sensação alegre e suave. Havia tanta confiança e tanta fé nos pequenos olhos azuis que o contemplavam...

     —Sim, Josh. Ela ainda está dormindo. Quero que lhe dê um pouco mais de tempo, para ela descansar. Logo a trarei para você. O que te parece?

     —Está melhor? Tive medo de que ela não retornasse, você sabe. Como Henry e meu papai e minha mamãe. — A voz do jovenzinho tremeu de medo.

     —Alexandria não vai deixar te, Josh. — lhe assegurou Aidan. - Ela sempre estará aqui e a cuidaremos juntos. Sabe que sempre a protegerei, e não me derrotarão facilmente. Ninguém a separará de nós. É um trato. Certo?

     Joshua lhe sorriu aberta e confidencialmente.

     —Somos muito amigos, verdade, Aidan? Você, eu e Alexandria.

     —Somos mais que melhores amigos, Joshua - respondeu Aidan seriamente—. Todos os que vivem nesta casa, fazem parte de uma família.

     —Enjoe diz que quer que vá a uma escola nova.

     Aidan assentiu com a cabeça.

     —Acredito que seria o mais conveniente. A que assistia está longe daqui e a escola que temos aqui perto é muito boa. Terá muitos amigos e bons professores.

     —O que diz Alexandria? Normalmente é ela quem me leva para escola. Pensa que é perigoso que vá sozinho.

     —Não a esta escola. Em todo caso, Stefan e Enjoe irão contigo se quiser. Acompanharão-lhe todos os dias até que você goste de lá.

     —Quero que vá comigo se Alex não puder me levar. — Joshua pediu.

     Aidan riu brandamente.

     —Você, pequeno travesso. Posso ver que é capaz de sair com as suas. Alexandria é um pouco branda no que concerne a voce, verdade?

     Joshua encolheu de ombros, logo riu também.

   —Sim, ela me deixa fazer algo que queira e nunca se enfurece quando não faço o que devo fazer. Algumas vezes, grita comigo, mas sempre termina por me abraçar.

   —Acredito que necessita da mão firme de um homem em sua vida, jovem Joshua. — disse Aidan, agachando-se para levantar o menino sobre seus ombros largos. — Um homem forte, grande e genial, que não permitirá todas suas brincadeiras.

     Os braços de Joshua rodearam o pescoço de Aidan.

     —Você jamais grita com ninguém.

     —Não, mas isso não significa que me desobedeçam quando falo, correto?

     —Sim.— admitiu Josh - Mas ainda acredito que deveria me levar a escola quando tiver que ir.

   —Tenho que ficar aqui para me assegurar de que sua irmã faça tudo o que deve fazer para ficar sadia logo. Sua enfermidade é muito perigosa e devemos ter muito cuidado por uns dias. Pode ser realmente teimosa, como sabe. — Aidan disse com uma piscada conspiradora.

     Joshua assentiu com a cabeça, com um pequeno sorriso.

     —Sei que se estiver com ela, nada de mal pode acontecer. Irei à escola com Enjoe e Stefan. É obvio, se me levasse, todos os outros meninos pensariam que tenho um papai grande e não me chateariam. — Ele encolheu de ombros. — Mas Stefan é grande. Talvez funcionará.

   —Estou seguro de que Stefan afugentará a qualquer menino briguento. Mas esta é uma escola agradável, Joshua, com meninos agradáveis. Nenhum leva armas e ninguém vai te machucar. Se algo parecido acontecer, virá até mim imediatamente e me dirá. - Os olhos dourados se fixaram diretamente nos azuis.

     Joshua assentiu com a cabeça.

     —Direi-lhe, Aidan.— Ele piscou e se retorceu até que Aidan o pôs no sofá. — Enjoe disse que o jantar estava pronto. É uma boa cozinheira. Melhor que Alex, mas não o diga isso a ela, porque machucará seus sentimentos. Vai comer conosco esta noite?

     Aidan se encontrou sorrindo abertamente, sem razão alguma. Repentinamente sentiu que tinha uma família pela primeira vez. Sua gente tinha cuidado dele por séculos, tinha-lhe sido leal e isso tinha ajudado em parte para conservá-lo no mundo da prudência. Agora, entretanto, tinha mais que mera lealdade. Sentia as emoções estrangulando-o, rasgando-o, esquentando-o. Adorava sentir o que estava sentindo, embora ainda se encontrasse triste.

   —Nunca diremos a Alexandria.— concordou ele solenemente.

     Enjoe tomou a mão de Joshua.

     —Simplesmente me elogia para me ganhar. Gosta de lamber a tigela da massa do bolo.

     Joshua negou com a cabeça tão forte, que seus cachos loiros ricochetearam. Sua voz foi solene, seus olhos fervorosos.

   —Não, Enjoe, é realmente certo. Alexandria é uma cozinheira terrível. Ela queima tudo.

 

     Ouviu os primeiro ruídos. Um tambor palpitando. A madeira chiando. A água correndo. O murmúrio de conversas, os motores retumbantes dos carros e a risada distante de um menino. Alexandria ficou perfeitamente quieta, sem se atrever a abrir os olhos. Sabia que não estava sozinha. Sabia que era noite. Sabia que o tambor palpitando era seu coração e o de alguém mais, pulsando em um ritmo sincronizado. Sabia que a conversa que podia ouvir tão claramente, era no primeiro piso, na cozinha. Sabia que o menino que ria era Joshua.

     Não podia compreender como sabia dessas coisas e se atemorizou. Podia cheirar bolachas e especiarias. Podia-o cheirar... A ele. Aidan Savage. Estava ali, contemplando-a com seus belos olhos de ouro líquido penetrantes e escrutinadores. Permitiu-se respirar. Esconder-se como uma criança assustada sob os cobertores não ia adiantar nada. Já estava conertida. E de alguma forma... Não humana. Mas a fome voraz que nesse momento brigava dentro de seu corpo, nunca havia conhecido. Era um fato que devia confrontar.

     Seus olhos se abriram e ela o avistou. Era assombrosamente bonito. Era uma forma puramente masculina. Estudou cuidadosamente sua consciência. Era forte e poderoso. Estava ali, pleno. A natureza violenta escondida apenas sob o encanto civilizado. Seus olhos eram como os de um gato, com círculos dourados e cílios longos. Tinha o queixo firme e o nariz elegante. Seus lábios bem delineados, tentadores e seus dentes excepcionalmente brancos. Seu cabelo era uma juba leonada de ouro trêmulo que desciam até seus ombros largos. Seus músculos eram definidos e ondulavam quando se movia. Mas nesse instante, permanecia completamente quieto, como uma parte do aposento, quase se misturando as sombras, observando-a atentamente. Era um predador esplêndido. Sabia o que era, sabia que não havia outro como ele.

     Ela tocou os lábios com a língua para umedecê-los.

     —Então, o que fazemos agora?

     —Preciso te ensinar nossos costumes.

     Sua voz era serena e prática. Fazia com que as pessoas comuns se convertessem em vampiros todos os dias? Alexandria tentou sentar-se. Seu corpo estava sensível e rígido, mas não agonizante como antes. Estirou seus músculos cautelosamente, provando-os.

   —Não tenho nenhum desejo de aprender seus costumes. — Ela o olhou, um brilho dos olhos azuis rapidamente ocultos pelos cílios. — Me enganou. Sabia que eu acreditava que me converteria em… Humana outra vez.

     Ele negou com a cabeça, a força de sua vontade tão forte, que não teve mais remédio que contemplá-lo. Por um momento, o ouro derretido capturou seu olhar.

     —Não, Alexandria, sabe que não foi assim. Você quis acreditar, assim convenceu a si mesma. Escolhi não te confrontar com a verdade, mas nunca, em nenhum momento, enganei-te.

   Um sorriso pequeno, sem humor, tocou a boca feminina.

     —Isso é o que pensa? Quão nobre de sua parte te absolver de qualquer responsabilidade.

     Ele se moveu. Uma ligeira ondulação de músculos e o coração feminino pulou alarmado. O homem voltou a sentar-se, a ficar imóvel outra vez, pressentindo seu medo.

   —Não me absolvo de nenhuma responsabilidade sobre esse ponto. Mas não posso trocar o que já está feito. Nem pude trocar o que aconteceu na última noite. Acredite-me, Alexandria, não haveria nada comoo evitar o que o vampiro te fez passar. Se pudesse ser capaz de fazer mais para diminuir sua agonia, teria feito.

     Sua voz, tão suave e tenra, vibrava de honradez. Parecia incapaz de mentir. Mas não tinham os vampiros essa habilidade, o poder para fascinar suas vítimas? Alexandria já não sabia qual era a realidade, mas não ia permitir que alguém assumisse o controle de sua vida sem lutar. Tinha cérebro, era forte e estava decidida. Tinha aprendido muito tempo atrás a ter paciência e fortaleza de ânimo, as habilidades necessárias para sobreviver. Bem, nesse momento não lhe bastava à informação que tinha para tomar alguma decisão.

     —Sou como você agora?

     A boca dele se moveu no menor dos sorrisos e seu rosto outra vez, uma máscara fria. Seus olhos dourados sem espírito, refletindo a sua própria imagem.

     —Não exatamente. Eu nasci na Raça dos Cárpatos. Meu povo é tão antigo como o tempo. Sou um dos antigos, um médico entre nossa gente e um Caçador de vampiros. Tenho o conhecimento e o poder de séculos de estudo.

     Ela sustentou alto uma mão.

     —Não estou segura de estar pronta para tudo isto. Principalmente, quero saber se ainda sou eu mesma.

     —Em quem pensou que se converteria? Já não há nenhuma mancha do sangue do vampiro em seu sistema, se isso for o que preocupa.

     Ela aspirou profundamente. Inspirou-se em seus conhecimentos tradicionais a respeito dos vampiros. A fome era uma dor que a roía.

     —O que me preocupa é… Se puder ou não caminhar sob o brilho do sol. Se puder ou não comer como uma pessoa normal, ir a um lugar de comida rápida com Joshua e comer algo.

     Ele respondeu serenamente.

   —A luz do sol queimará sua pele. Seus olhos experimentarão a pior reação, incharão e deteriorarão. À luz do dia, deve sempre estar de óculos escuros, feitos com lentes especiais para nossa gente.

     Ela deixou escapar a respiração lentamente.

     —Isso responde a uma pergunta. Empenho-me em não me pôr histérica. Simplesmente me diga, diretamente.

   —Deve tomar sangue para sobreviver.

   —Poderia me haver dado a notícia mais amavelmente, por etapas ou algo assim. — respondeu ela sardônicamente, sua irreverência claramente intacta, embora sua mente dava voltas, em um caos total. Era dificil pensar, respirar. Isso realmente não podia estar ocorrendo. Simplesmente não podia. — Espero que não me diga que devo passar a noite em um ataúde. — Tratou de brincar, para ajudar sua mente a aceitar a possibilidade. Mais que nada, queria gritar.

     Seus olhos estavam absorvendo-a, aproximando-a dele. Quase podia senti-lo tratando de alcançá-la. Era uma ilusão tão real que sentiu o calor de seus braços, seu contato tranqüilizador dentro de sua mente.

   —Não acredito que seja necessário.

   A língua dela encontrou os lábios repentinamente secos.

   —Não posso respirar.

   Ele a tocou fisicamente então, sua mão lhe rodeando a nuca, arrastando para baixo sua cabeça.

   —Sim, pode. — ele disse serenamente — Este pânico passará.

   Ela colocou grande golfada de ar em seus pulmões, lutando contra os soluços que rasgavam sua garganta. Não podia gritar. Não podia fazer nada exceto tratar de respirar. Os dedos dele começaram uma massagem lenta, suave e tão ligeira, que seu corpo respondeu, aliviando a tensão terrível.

   — Por que não me matou?— As palavras foram amortecidas pela colcha, por sua garganta dolorida.

   —Não tenho intenção de te matar. É inocente de qualquer maldade. Não sou um assassino de sangue frio, Alexandria.

     Ela o contemplou então, seus olhos grandes encontrando os dele.

   —Por favor, não minta. Isto já está suficientemente duro.

   —Sou um Caçador, pequena, mas não mato aos inocentes. Sou uma sentinela da justiça para que nosso povo, regido por nosso Príncipe, o líder de nossa gente, vigie esta cidade.

   —Não sou de sua raça. Não o sou realmente. — Ela sabia que soava desesperada apesar de sua intenção de permanecer tranqüila. — Deve haver alguma maneira. Tem que desfazê-lo. — Sua voz estava tremendo, seu corpo estremecendo-se — Se simplesmente me escutasse, entenderia. Não sou como você.

     Sua mão se fechou sobre a dela, afrouxando seus dedos duros, seu polegar acariciando ligeiramente o pulso freneticamente batente em sua mão.

     — Tranqüilize-se, Alexandria. Está bem. Rápidamente está boa. Sei que não chegou a se ver na outra noite, mas já está notavelmente recuperada. E encontrará muito para amar em sua nova vida. Poderá ver na escuridão como se fosse pleno dia. Poderá ouvir coisas que nunca ouviste antes, ver coisas nunca vista. É um mundo belo.

     —Não entende. Já tenho uma vida. E tenho que cuidar de Joshua. Joshua não pode estar sem mim durante o dia. É uma criança. Precisa que o leve a escola e tenho que trabalhar também.

     Aidan lhe havia dito que não era um assassino, mas Alexandria não estava cega. Ele era tanto formoso como mortífero, sob um verniz fino de boas maneiras. Não podia e não o ficaria como ele. Tinha que cuidar do Joshua.

     Aidan suspirou, suave e meigamente, uma exalação tranqüila que a jovem sentiu diretamente no corpo inteiro e teve o pressentimento horrível de que ele sabia o que ela pensava. Que realmente estava de algum jeito em sua cabeça, compartilhando seus pensamentos e emoções.

     —Poderá cuidar de Joshua. Suas coisas foram todas trazidas para cá. Estão no segundo andar. Joshua e você terão seus aposentos ali. Será essencial que mantenha a ilusão de levar uma vida humana. Só durante à tarde, quando estiver em seu estado mais vulnerável, poderá baixar a esta câmara e dormir. Joshua não se lembra de nada do vampiro. Não podia permitir que se sentisse traumatizado de por vida.

     —Não podia permitir que ele soubesse a verdade. — adivinhou Alexandria sagazmente. — Temos nossa própria casa. Logo que seja capaz, vou embora daqui. — Fora desta cidade se for necessário. Quero ir para longe de ti, tão longe que nenhuma ameaça possa alcançar-nos, nunca.

     Houve um silêncio pequeno, mas que pareceu demorar até a eternidade. Por alguma razão, ela podia sentir seu coração batendo alarmado. Quando Aidan se moveu, cada músculo de seu corpo se congelou. Ele guardou silêncio, mas a aterrorizava a forma em que se movia tão silenciosamente.

     —Há um vínculo entre nós, Alexandria. — Sua voz era pura, como o som de uma corrente de águas claras, derramando-se nas rochas. — É inquebrável. Sempre saberei onde está, da mesma maneira que você sempre poderá me encontrar. Se quizesse machucar Joshua, já teria disposto dele muito tempo atrás. Ficará aqui e aprenderá o que deve fazer para sobreviver. Ao menos, dê-se o tempo necessário para se ajustar a nova vida.

     —Quero vê-lo agora mesmo. Quero ver Joshua.

     Por alguma razão inexplicável, encontrava impossível respirar outra vez. As emoções dançavam, enfurecendo-se até que pensou que poderia perder a razão. Em vez disso, sentou-se quieta como uma menina educada aguardando seu consentimento. Ele permaneceu com o olhar fixo nela, com seus olhos dourados, sua face convertida em uma máscara inexpressiva.

     Alexandria não teve idéia do que ocorreu depois. Em um momento, estava sentada, no seguinte se lançou para fora da cama e se precipitou para ele, incapaz de conter a fúria que corria a toda velocidade dentro dela. Os traços sensuais de Aidan permaneceram frios e calmos inclusive enquanto segurava sua pequena e voadora figura, enquanto a moça lutava desesperadamente para recuperar seu controle, horrorizada de seu próprio comportamento. Nunca havia feito algo assim antes. Aidan a conteve facilmente, segurando suas mãos atrás de suas costas e esmagando-a contra seu corpo para impedir que se movesse.

     E pela primeira vez, a jovem foi consciente da camisa fina que cobria sua pele nua, suas curvas moldando-se perfeitamente contra o corpo masculino. Tomou consciencia dele como homem, de si mesmo como mulher e o fato, a aterrorizou. Toda a situação a aterrorizava.

     —Shh, pequena. Minha cara... Se acalme. — umas das mãos dele, imobilizavam as suas, enquanto a outra se enredava na pesada cascata de cabelos sobre sua nuca. — Passaremos por isso juntos. Se segure em mim. Use-me. Use minha força. — Ele soltou suas mãos, enquanto a sua, sustentava o pescoço da moça.

     Ela golpeou seu peito uma vez, duas, tentando não gritar sua frustração.

     — Estou louca. Minha mente está louca. Não posso me deter. — Ela apoiou a cabeça contra os músculos de seu peito, o único refúgio, o único santuário que restava. Seu cérebro corria a toda velocidade, em uma confusão terrível e caótica de pensamentos desesperados. Aidan era sólido, uma âncora de força, a calma no olho da tempestade.

    —Respire, Alexandria. Comigo... Isso, respire. — As palavras murmuradas brandamente sobre sua pele se entravam em seus poros, penetrando em seu coração, em seus pulmões.

     Ele parecia estar fazendo-o por ela, sua respiração regulando a sua. Aidan a sustentou meigamente, sem lhe perguntar nada, simplesmente sujeitando-a até que o estremecimento terrível cessou e ela pôde permanecer de pé sobre as próprias pernas. Contra a gosto, ele a soltou, pondo um espaço maior entre eles. Sua mão detendo-se sob a larga e grosa trança um instante mais do necessário, até que seu braço outra vez caiu para seu flanco.

     —Sinto muito. - Alexandria pressionou as pontas dos dedos em suas têmporas. — Normalmente não sou uma pessoa violenta. Não sei o que me aconteceu. — Era tão diferente sua forma de ser, essa loucura. O sangue do vampiro devia estar ainda nela e Aidan não queria lhe revelar a verdade.

     Aidan podia ler seu medo, de que o vampiro pudesse estar ainda em seu interior, dirigindo suas ações. Que disparate. Negou com a cabeça.

   —O medo pode nos fazer atuar fora de nosso caráter normal, Alexandria. Não se preocupe tanto. Está pronta agora para ver Joshua e permanecer serena para tranqüilizá-lo? Sei que necessita de mais tempo para se ajustar a todas estas novidades, e não insistirei, mas seu irmão começa a se preocupar. O jovem Joshua pensa em si, como seu protetor. Embora confie em mim, precisa ver voce, te tocar. — Deliberadamente ele dirigiu os pensamentos da moça para o menino, o único capaz de afastar sua mente de sua terrível transformação.

     Com uma mão trêmula, ela tratou de alcançar sua roupa, que Aidan mandara trazer da pensão.

     — Coloque-me a par do que deveria saber, o que Joshua espera de mim. Não posso recordar tudo o que me disse.

     Aidan não podia tirar o olhar da longitude de suas pernas. Seu corpo se endureceu inesperadamente, seu sangue martelava quente. Voltou-lhe as costas, a fim de esconder sua fome. Fome pelo erótico, úmido e caloroso sexo. Nunca havia sentido sua influência com um calor tão intenso.

     —Aidan?

       Ele ouviu o barulho do ziper da calça jeans dela se fechando enquanto a voz feminina roçava sua pele. As presas estalaram em sua boca e seu corpo se alvoroçou de necessidade. Suprimiu um grunhido baixo e agressivo. Seus dedos se converteram em punhos, com os nódulos brancos. À medida que os homens da Raça dos Cárpatos maturavam, tudo aumentava em intensidade, incluindo as emoções, se é que podiam as sentir. A dor, a felicidade, a alegria… A necessidade sexual. Sabia isso, mas nunca havia experimentado antes. Não podia se controlar facilmente quando tudo era tão novo.

     Deixou escapar sua respiração lentamente, a neblina vermelha de seus olhos retirando-se. A fera trabalhando em excesso por dominá-lo enquanto ele o submetia e a reprimia. Tinha uma eternidade para conquistar Alexandria. Ela estava unida a ele, alma a alma, mente a mente. Encontraria a paciência necessária para lhe dar tempo suficiente para que ela fosse a ele voluntariamente.

     — Aidan?—Dsta vez sua voz tremeu.— Algo está errado?

     —Não, claro que não. Deixe-me repassar as coisas para ti. Joshua acredita que sou um velho amigo da família. Acredita que vocês dois estiveram planejando mudar-se há algum tempo para cá e que seu mal-estar no restaurante simplesmente adiantou as coisas.

     Seus grandes olhos de cor safira o olharam, furiosos. Rapidamente, os cílios densos, ocultaram.

     —Bom. E que tão bons amigos ele supõe que somos?

     Um sorriso pequeno mexeu com a boca viril e por um breve momento, ele pareceu quase um moço. Logo a ilusão se desvaneceu e ele tornou-se um predador poderoso novamente.

     —OH!...Poderia dizer próximos. Muito próximos. E, felizmente para mim, Joshua gosta desse modo. É meu aliado incondicional.

     Uma sobrancelha subiu rapidamente e a covinha perto da boca da jovem se acentuou.

     —Você necessita de um aliado?

     Outra vez, ele vislumbrou a natureza travessa e sentiu emergir outro pequeno sorriso.

     —Absolutamente.

     Aidan tinha uma forma de inclinar a cabeça para um lado e olhá-la com tal fome que lhe tirava a respiração. Poderia ter sido um truque da luz, mas não havia luz. Ela se concentrou em suas palavras, com a intensão de não reagir a seus olhos sensuais ou o som hipnótico de sua voz.

     — Seu amigo, mas bem odioso amigo, seguiu-te até aqui e exigiu te ver. Além de contrariar meu pessoal, não foi muito longe, mas devolveu algo que te pertence. É consciente de que tanto seu amigo Henry como o pequeno Joshua desaprovaram instintivamente esse fabricante de jogos infantis. De fato, Josh tem planos secretos para fazer dinheiro e que não tenha que vender sua arte a tal homem. Tem um sorriso que recorda a de um tubarão, não está de acordo? – Ainda lhe disse enquanto prendia os vastos cabelos na nuca.

     Alexandria estava encantada pelo simples ato de ver Aidan prendendo o cabelo, a forma em que ele se movia era incrivelmente sexy. Negou com a cabeça, zangada de que um pensamento tão ridículo lhe tivesse ocorrido.

     —Está falando de Thomas Ivan? O homem é genial no que faz. Mas realmente veio aqui a minha procura?

   Ela prendeu-se a essa notícia. Ele era humano e normal, de um mundo humano e normal. Thomas Ivan era alguém com quem podia dar-se bem, alguém que tinha coisas em comum com ela. Ignorou o fato de que o sorriso de Thomas Ivan fosse exatamente como o sorriso dentuço de um tubarão e ignorou igualmente o fato de que essa criatura que estava frente a ela era o homem mais masculino que já tinha visto e que seu simples sorriso a fascinava.

     —Os jogos do homem são idiotas. Não sabe nada a respeito dos vampiros. — Havia desprezo na voz de Aidan, mas seu tom mantinha ainda tal pureza, que ela se encontrou inclinando-se para ele, e teve que endireitar-se bruscamente.

     —Ninguém sabe nada a respeito dos vampiros. —corrigiu ela firmemente—, Porque eles não existem. Não podem existir. E seu trabalho não é idiota. Seus jogos são brilhantes.

     —Ainda não tinha ouvido a respeito de que os vampiros não existam.—replicou Aidan com um sorriso zombador.— Queria saber. Poderia ter me economizado uma grande quantidade de problemas durante séculos. Por isso respeita o Ivan, temo que devo estar de acordo com Joshua. O homem é um asno pomposo. Em todo caso, devolveu suas pastas e eu disse que você se comunicaria com ele quando seu médico dissesse que está suficientemente bem para tanto.

     —Não tenho médico.

     Os dentes brancos de Aidan brilharam e seus olhos dourados brilharam com diversão perversa.

     —Eu sou seu doutor. Sou seu curador.

     Ela não pôde sustentar esse ardente olhar fixo. Sua diversão era tão sexy como sua boca esculpida.

     —Acredito. Então, que mais você disse a meu irmãozinho?— Ela percorreu o quarto com o olhar. — Não há nenhuma blusa minha por aqui?— levantou as abas de elegante camisa que vestia. — Alguma que não alcance meus joelhos?

     Ele a olhou. Gostava de vê-la em sua camisa, como se estivesse abraçada por ele.

     —Bom, realmente, como Joshua sabe, esse é um de seus hábitos. Você gosta de correr de um lado para outro com minhas camisas. Pensa que são muito mais cômodas que suas roupas.

     Alexandria o contemplou com seus olhos azuis muito abertos.

     —OH! Faço isto? E suponho que você se Incômoda.

     —Freqüentemente, para o Josh. Demos boas risadas a respeito das excentricidades das mulheres. Ele pensa que se vê bonita em minhas camisas.

     —E como teria, um garotinho, uma idéia como essa?

     Ele se via impenitente.

     —Poderia ter mencionadoa ele, uma vez ou outra.

     Seus olhos dourados se deslizaram sobre seu corpo, fazendo-a tomar consciência da pele nua sob a camisa, de cada curva, do fato de que estavam completamente a sós, em alguma câmara secreta de sua casa.

     — É verdade. Você se vê bonita com minha camisa.

     —Por que Joshua e eu temos que ficar aqui?— A jovem mudou o assunto, para afastar-se das perigosas e novas sensações.

     —Joshua é um farol para guiar nossos inimigos para nós. Assim como são Enjoe e Stefan. Como por muito tempo tivemos laços humanos, estamos sujeitos a eles, e aqueles que querem nos destruir podem nos encontrar facilmente. Embora a maior parte de nossa espécie pode permanecer escondida e à vontade, nossos inimigos sabem que nunca estaremos longe de nossas conexões humanas, especialmente como Josh, que é um menino pequeno. Estarão mais seguros aqui em minha casa.

     —Que inimigos? Não tenho inimigo. — Aidan falou com praticidade, mas Alexandria podia sentir seu coração começar a bater forte. Percebeu que ele dizia a verdade, e quem quer que fosse o inimigo, não era um assaltante comum.

   —Paul Yohenstria não era o único vampiro nesta cidade. Há outros, e eles sabem de tudo. Saberão de sua existência rapidamente e usarão seus poderes para te obter.

     Alexandria sentiu que os músculos de seu estômago se retorceram.

     —Por que quereriam a mim? Não entendo nada. Por que está me ocorrendo tudo isto?

     —É uma verdadeira psíquica, Alexandria. Uma mulher humana capaz de se converter em uma de nós. Os vampiros são da Raça dos Cárpatos antes de transformar-se. Há poucas mulheres entre nossa gente e são intensamente entesouradas.

     O queixo do Alex se levantou belicosamente.

     —Tenho notícias para você, senhor Savage. “Sua gente” com muita dificuldade parecem tratar às mulheres como tesouros. Não duvido porque haja tão poucas. — Ela tocou as feridas ainda visíveis de sua garganta. — Não posso imaginar a muitas mulheres desejando essa honra. Verdadeiramente posso dizer que eu mesma não estou muito contente.

     —Pedi que me chame de Aidan. É preciso, inclusive quando estamos sozinhos, que continuemos nos comportando da maneira humana e manter a pretensão de que somos amigos íntimos até que chegue a ser realmente assim. —Seus olhos dourados cintilaram por um momento, quase detendo seu coração.

     Os dedos femininos se retorceram nas abas da camisa, a agitação aumentando a pesar do tom quieto e tranqüilizador da voz varonil.

     —Quem mais vive aqui? Sei que há uma mulher. Lembrei-me que não chamou nenhuma ambulância quando roguei que o fizesse. — Apesar sua intensão de atuar com normalidade, Alexandria não podia livrar do medo e a amargura em sua voz.

     Aidan avançou um passo, tão perto que podia sentir o calor irradiando de seu corpo.

     —Minha governanta, Enjoe, estava extremamente afligida por seu estado, Alexandria. Não foi sua culpa. Esperava que não a culpasse. Ela sabia que um médico humano não poderia te ajudar. Eu era o único que podia aliviar seu sofrimento. Para que saiba, estava muito zangada comigo por seu estado. Foi minha babá e governanta, um membro de minha família. É quem cuidará de Joshua para nós enquanto formos incapazes de cuidar, so meio-dia. Só por essa razão, deveria procurar de coração, gostar dela e fazer-se sua amiga.

     —Controla-a também? Bebe seu sangue? Obriga-a fazer tudo o que quer, como uma boneca sem vontades?— explorou Alexandria.

     —Nunca tomei o sangue de Enjoe, jamais controlei seus pensamentos. Preferiu ficar comigo, como o tem feito sua família antes que ela, por própria vontade. Ficou a seu lado enquanto estava doente porque sentia compaixão. Repetirei-me uma última vez para que possa entender bem. Ela não chamou uma ambulância porque nenhum médico humano poderia ter aliviado seu sofrimento. — Ele sentia que era desnecessário lhe informar que os doutores humanos teriam averiguado as anormalidades novas em seu sangue, e que sua espécie nunca poderia permitir tal descobrimento. Estariam freqüentemente acossados. Os humanos caçadores de vampiros os buscavam também.

     Novamente, sua voz foi fria e calma, mas a boca dela ficou seca de apreensão. Ele podia comunicar as ameaças em silêncio muito melhor do que a maioria das pessaoas podia fazer aos gritos. Assentiu com a cabeça, mas na verdade, estava desmoronando-se emocionalmente por dentro. Sua mente despedaçando-se e seu corpo tremendo quase além de sua capacidade de controle.

     —Respira. Continua esquecendo de respirar, Alexandria. Sua mente cuida de se ocupar do trauma que passou, pouco a pouco. Cada vez que uma nova peça de informação é processada, seu corpo reage. É uma mulher muito inteligente. Tem que saber que esta não será uma transição fácil, mas a passará.

     Um sorriso pequeno, sem humor, curvou sua boca trêmula.

     — Está tão seguro disso. É porque o decretaste?— Seu queixo se levantou, e por um momento seus olhos brilharam de desafio. — Está tão seguro de voce mesmo.

     Ele simplesmente a observou, dessa maneira calma e revoltante que para ela estava tornando-se familiar. Alexandria finalmente suspirou.

     —Não se preocupe. Não culpo à mulher.

     —Enjoe. — murmurou ele brandamente entre seus dentes brancos, um sussurro leve como o farfalhar de seda. Seus olhos dourados eram de ouro derretido e ardente, que facilmente poderiam engoli-la.

     Ela engoliu saliva.

     —Enjoe, então. Serei amável com ela.

     Ele estendeu uma mão. Alexandria se fixou nela por um momento, e logo, evitando cuidadosamente todo contato, deslizou-se atrás dele para a porta. Aidan caminhou com ela, uma sombra silenciosa, mas a jovem era consciente de cada músculo, de seu corpo quente, até mesmo de sua respiração. Estava tão perto dela, que sentiu que seus corações pulsavam no mesmo ritmo.

     O túnel em que entraram era estreito e serpenteava para cima, para o primeiro andar. Viu-se forçada a parar no meio do caminho quando uma onda de enjôo a sobressaltou. Firmou-se à parede de pedra e lutou por respirar. De novo Aidan curvou um braço ao redor de sua cintura.

     Os dedos da Alexandria se encresparam em sua camisa.

     —Não posso fazer isto. Sinto muito, mas não posso. — Houve uma súplica involuntária em sua voz, o medo vencendo seu sentido de auto conservação contra o poder do Aidan. Ele era enormemente forte e tão firme como uma rocha. Era tudo o que tinha para segurar-se quando sua mente se rebelava contra o trauma que havia submetido.

     Ele a sustentou como a uma criança, seu corpo dando consolo quando, dentro dele, a fera rugia pela culminação.

     - Por agora, pense só em Joshua. Está sozinho e assustado por voce. Fiz o melhor que pude para reconfortá-lo, mas perdeu muito em sua vida e as lembranças que tem deste lugar, de mim e de minha família são simplesmente implantados. São substitutos para a realidade de seu amor por ti. O resto pode esperar, não é certo?—. Sua voz foi puro feitiço, impossível de resistir. Sussurrava sensualmente em sua mente, lhe assegurando que simplesmente fizesse o que ele sugeria. Tudo estaria bem em seu mundo.

     O queixo masculino roçou a parte superior de sua cabeça, demorando um momento enquanto ele bebia seu perfume, assegurando-se de que seus aromas se misturassem. Seu olhar dourado continha posse e fome, mas seus braços eram tenros e delicados.

     —Agora venha comigo, Alexandria. Entra no calor de minha casa por sua própria vontade. Compartilha algum tempo comigo e os meus. Esquece tudo por agora, exceto esta pausa de seu pesadelo. Precisa de alívio. Ninguemte fará nenhum mal.

     —Fingir normalidade?

     —Se quer colocar desse modo, suponho que poderíamos dizer que sim. — Seus dedos, massageando sua nuca, exerciam algum tipo de magia.

     Em sua vida tinha havido muita adversidade, nenhuma coisa boa exceto Joshua. Aidan era terno, embora essa fose a ilusão maior. Alexandria se acomodou em seus braços. Em algum nível de seu inconsciente, se deu conta de que estava segurando-se nele, apoiando-se em sua força, mas se recusou a pensar nisso. Por sua própria prudência, não se atreveu. Precisava inundar-se em uma pequena aparência de vida normal, embora fosse só por um curto tempo.

     Aspirou profundamente.

     —Estou bem agora. De verdade. E vou fingir que você é um bom homem, não uma fera resmungona que está a ponto de me comer se não fazer tudo o que diz.

     Contra a pele de seu pescoço, a boca masculina se curvou num sorriso, sua respiração quente contra sua pulsação, seus dentes roçando-a amavelmente. A sensação foi mais sensual que atemorizante.

     —Não sei onde tira essas idéias, cara. Possivelmente dos jogos de Thomas Ivan? Deveria deixar de jogá-los. Parece te influenciar indevidamente.

     —Mas ele é tão bom no que faz. Já jogaste esses videojogos, verdade?— perguntou ela. Permaneceu quieta, quase contendo a respiração, desfrutando a sensação de sua boca em seu pescoço, mas aterrada com essa reação estranha.     —Admitirei ter perdido tempo em investigar essa propaganda tola… Mas não deve dizer a ninguém. Poderia perder meu status como verdadeiro Caçador de vampiros. — Seu braço deslizou ao redor de sua cintura, e seu corpo a urgiu a subir ao passar no estreito túnel.

     —Aidan! Você é um esnobe?— brincou ela, tratando de ignorar os sentimentos pouco familiares que provocavam os músculos dele, roçando seu corpo. Ele estava tão perto e seus braços a faziam sentir-se protegida. Uma sensação que nunca havia experimentado antes.

     —Provavelmente. —murmurou ele, sobre sua pele, fazendo-a tremer por dentro — Esqueceu seus sapatos. — lembrou ele — Este piso está frio. Deveria ter colocado as sapatilhas que deixei para você. — Houve um rastro de censura em sua voz.

     Alexandria olhou para ele sobre seu ombro, um brilho rápido de olhos azuis.

     —Esse é outro de meus hábitos que sem dúvida lhe incomodarão freqüentemente. Tenho muitos, sabe? Sempre gosto de andar descalça pela casa.

     Aidan guardou silêncio um momento. Nem sequer podia ouvir seus passos. Parecia deslizar-se em vez de caminhar.

     —Então, quantos hábitos você tem exatamente?— perguntou ele. Sua voz criou a sensação de que ela iria derreter.

     —Tantos que não posso te contar. E são maus. Realmente maus. — Houve uma nota provocadora em sua voz, um calor que não estava ali antes. Aidan registrou a mente da jovem e notou que ela tratava de fazer o que ele havia dito, afastando de um lado, tudo o que havia ocorrido e vivendo unicamente o momento. Sua suavidade natural e seu humor começavam a sair à superfície apesar de todas as probabilidades contra. Sentiu-se orgulhoso dela. Essa mulher, tão inesperada em sua vida, certamente valeria o esforço e a paciência que levaria ganhá-la completamente. Ninguém jamais lhe havia feito brincadeiras antes. Enjoe e Stefan estavam em sua vida a um longo tempo e era consciente do afeto de ambos por ele, mas sempre tingido de respeito por quem era.

   —Não conhece a acepção da palavra má. Não tem vícios. Inclusive nem sequer fuma raramente bebe álcool. E antes que me acuse de ler sua mente, me deixe te dizer que Joshua revelou todos seus segredos. Queria que eu conhecesse suas virtudes.

     —OH! Ele fez isso?— de repente uma parede se materializou frente a ela, e Alexandria se deteve bruscamente. Parecia feita de pedras sólidas, imóveis.

     Aidan saiu detrás dela e com tranqüilidade colocou as pontas dos dedos em uma das pedras extravagantemente moldadas. Um painel saiu, permitindo o acesso para as escadas que conduziam do porão à cozinha.

     Alexandria se surpreendeu.

     —Que notavelmente melodramático. Passagens secretas! Deveria escrever um livro, Aidan. Ou possivelmente fazer um videojogo.

     Ele se apoiou perto, sua respiração quente enviando um tremor por sua coluna vertebral.

     —Não tenho imaginação.

     Seu pulso palpitou diretamente sob sua boca. Aidan sentiu seu calor cativando-o, seu perfume, o sabor de seu sangue, tão aditiva, chamando-o.

     Por um momento, seus olhos resplandeceram com fome e necessidade, emitindo ardentes faíscas de ouro. O sangue em seu corpo pulou por antecipação e em sua boca suas presas forjaron ganhar a liberdade.

     —De verdade? Acredito que um de seus hábitos é mentir cada vez que te dá vontade. Implica grande imaginação simplesmente ter desenhado este lugar. E não me diga que não foi voce.

     Foi seu prolongado silencio que o delatou. Alexandria percebeu repentinamente o perigo em que estava e se congelou, contendo o fôlego. Sua quietude, o perfume de seu medo, golpearam-no. Seus dedos rodearam a frágil mão feminina com gentileza.

     —Sinto muito, cara. Experimentar emoções é ligeiramente esmagadora. Terá que me perdoar quando cometer um engano.

     Sua voz outra vez pareceu envolvê-la em braços seguros, lhe oferecendo um refúgio. Alexandria mordeu o lábio com suficiente força para produzir uma gota de sangue, esperando que a dor dissipasse essa ilusão de segurança que ele tinha criado. Tratou de afastar-se.

 Aidan se recusou a renunciar o controle da situação. Seus dedos nunca a apertaram, mas, precisamente por isso, seu afeto foi quase inquebrável. Ele inclinou sua cabeça para ela, seus olhos dourados mantendo cativos os azuis.

   —Não ponha a tentação em meu caminho, Alexandria. Tenho pouco controle quando estou contigo.

     Ele murmurou as palavras, uma sedução, com apenas sua voz avivou uma pequena chama no corpo da jovem. Sua boca a roçou na mais ligeira das carícias, mas lhe tirou a respiração quando sua língua roubou a pequena e vermelha e gota de sangue, de seu lábio inferior.

     Quando ele levantou a cabeça da mesma forma lenta e sensual em que a tinha baixado, ela só pôde ficar olhando-o com impotência, fascinada pelo fogo inesperado em seu sangue e a necessidade de seu corpo. A emocionou, a força de sua primeira percepção sexual real. Que tivesse sido com esse homem, que ela pudesse sentir tanto ardor e fome por uma criatura como Aidan Savage, a fez tremer.

   Ele podia sentir o pequeno tremor que atravessou o corpo magro, ver a consciência sensual em seus olhos azuis. A língua da Alexandria passou como uma centelha nervosamente, tocando seu lábio inferior justamente onde à língua dele havia tocado. Aidan sentiu seu próprio corpo enchendo-se de necessidade, urgindo-o a reclamar o que era legitimamente dele, o demônio levantando sua cabeça e rugindo.

     —Aidan?— a mão da moça se elevou protetoramente até sua garganta. — Se for me machucar, termina já com isso. Não faça nenhum jogo comigo. Não sou uma pessoa muito forte e não acredito que possa digerir muito mais do que está me acontecendo, sem me tornar uma louca.

     —Eu te disse que não te faria mal, Alexandria, e não o farei — Se afastou dela para dar a seu corpo uma pequena pausa.

     Pela primeira vez, a voz dele foi rouca, mas a rouquidão só fazia mais profunda, sua beleza, aumentando seu efeito cativante. Alexandria tentou respirar, cansada pelo esforço de cuidar em não ser apanhada por ela. Encontrou-se querendo lhe dar alivio, ser a única capaz de tirar esse olhar faminto em seus olhos dourados. Parecia haver tanta necessidade nele, e ela queria saciá-la.

     —Acredito que estou mais assustada com vocedo que do vampiro. Pelo menos sabia que ele era mau. Podia sentir nele e sabia que o que quer que desejasse de mim, era mais horrível do que a morte poderia ser. O que planeja fazer comigo.

     —Se não perceber o mal em mim, Alexandria, confia em seus instintos. Não pudeste sempre reconhecer o mal?

     —Vi o que fez a Paul Yohenstria. Não deveria acreditar em meus próprios olhos?

     —O que fiz que foi tão mau? Destruí a um vampiro que se alimentava da humanidade. Meu único engano foi acreditar que ele a tinha convertido em vampiresa. Acreditei que estava a ponto de se alimentar do menino. — Ele tocou sua face. Sua palma era quente e reconfortante. A sensação demorou a desaparecer, mesmo depois que ele baixou a mão. — Lamento profundamente haver te assustado, mas não posso lamentar por ter destruído o vampiro. Isso é o que faço, Alexandria. Essa é a razão pela que mantive minha existência por tanto tempo só e longe de casa. Para proteger ambas as raças, a humana e a Raça dos Cárpatos.

     —Diz que não é um vampiro, mas vi as coisas que pode fazer. É com muito mais frieza.

     —Não teme, a maioria dos criminosos, a justiça quando os encontra?

     —Se não é um vampiro, então o que é?

     —Sou da Raça dos Cárpatos.— repetiu ele pacientemente - Sou parte da Terra, e existimos desde o começo do tempo. Formamos parte da terra, do vento, da água e do céu. Nossos poderes são grandes, mas também temos limitações. Não se converteu em um vampiro, um destruidor dissoluto. Converteste-te em alguém como eu, como minha gente. Como te contei, poucos humanos podem converter-se no que somos. A maioria morre ou ficam loucas e devem ser destruídas. Digo-lhe isso não para que se alarme. Digo para te ajudar a entender que não te farei mal.

     Alexandria guardou silêncio, estudando seu rosto. Fisicamente, era o homem mais formoso que já havia visto. Exsudava masculinidade e poder. Apesar de tudo, o perigo espreitava sob a superfície e era isso o que temia. Devia acreditar nele? Poderia?

     A linha dura da boca viril se suavizou, seus olhos de âmbar voltaram-se mais quentes, até tornarem-se ouro derretido.

     —Não se preocupe por isso neste momento, pequena. Espera me conhecer melhor antes de chegar a um veredicto. — Sua mão afastou o comprido cabelo, um contato apenas com a ponta de seus dedos, não mais, mas ela o sentiu em seu estômago, em sua nuca, em cada polegada de sua pele. — Uma trégua, Alexandria, por esta noite com seu irmão, enquanto se cure e fique mais forte.

     Ela assentiu com a cabeça silenciosamente. Assustada em confiar em sua própria voz. Sentia-se ao mesmo tempo repelida e atraída por Aidan. Sentia-se segura, mas sabia que corria perigo. Mas no momento, tratou de afastar seus medos, suas suspeitas e simplesmente desfrutar de seus momentos com Joshua.

     Aidan sorriu. Era o primeiro sorriso real que ela tinha visto em seu rosto. Fez mais quentes seus olhos e lhe tirou a respiração. Havia algo muito sexy neles que fez Alexandria sentir-se ainda mais assustada. Nunca havia precisado lutar contra seus próprios sentimentos antes.

     —A porta está diante de ti.— disse ele.

   Ela voltou sua cabeça ligeiramente, para poder observá-lo ao mesmo tempo em que contemplava a porta do porão.

     —Algum truque sob a manga? Uma contra-senha secreta?

     —Dar volta ao trinco será suficiente.

     —Que comum. — Alexandria alcançou a maçaneta da porta ao mesmo tempo que ele. Seu braço se curvou ao redor dela, aproximando seus corpos até que a jovem pôde cheirar seu aroma limpo e masculino e sentir seu calor através de suas roupas. Precipitadamente, ela deixou cair à mão. Enquanto ele abria a porta, a jovem pôde ter jurado que ouvira a risada suave e zombadora em sua orelha. Quando se voltou para olhá-lo com fúria, o rosto dele era toda inocência.

     Alexandria se absteve de chutá-lo, mas com grande dignidade caminhou dentro da cozinha brilhantemente iluminada, orgulhosa de seu controle.

     Aidan permaneceu perto enquanto caminhava atrás dela.

     —Posso ler sua mente, cara. — Sua voz era brincalhona, aveludada, deslizando-se sobre sua pele como o tato de seus dedos, desdobrando chamas que não sabia que existir.

     —Não se enalteça com isso, senhor Savage.

     —Se não me chamar Aidan, vou ter que dar algumas explicações a Joshua. Esse menino é muito inteligente, você sabe.

     Ela riu brandamente.

     —E dizia que eu não tinha imaginação. Não posso esperar para ouvir o que diria.

 

     A cozinha era enorme, maior que todas as peças juntas, que Alexandria tinha alugado para Joshua e ela na pensão. Era bela, com todas as janelas abertas para uma horta enorme.

     As ervas pendiam em todas partes, saudáveis e verdes e o lugar era imaculado. Alex deu a volta em um círculo completo, tratando de apreciar tudo ao mesmo tempo.

     —Isto é tão belo.

     —Temos um microondas, no caso de que saiba cozinhar alguma coisa e o esgoto de lixo funciona bastante bem.

   —Muito gracioso. Informo-te que posso cozinhar.

     —Isso me assegurou Joshua, acredito que quando devorava as bolachas de Enjoe.

     —Não sei se poderei suportar uma comparação com tal modelo de virtudes—. Alexandria fez uma careta. — Suponho que é a responsável pela limpeza deste lugar imaculado? Há algo que não possa fazer?

     —Não tem seu sorriso.— respondeu ele brandamente.

     Por um breve momento, o tempo pareceu parar enquanto a moça caía no ouro hipnótico de seus olhos, o calor líquido derramando-se sobre ela, dentro dela.

     —Alexandria!— Joshua abriu ruidosamente a porta e se lançou sobre sua irmã, liberando-a, ao fazê-lo, do feitiço que Aidan estava tecendo. — Alex!

     Ela o apanhou, abraçando-o tão apertadamente que quase o sufocou. Logo o olhou procurando qualquer sinal de feridas ou de machucados. Observou intensamente seu pescoço, assegurando-se de que Aidan não tinha tomado seu sangue.

     —Você está ótimo, Joshua. — Ela disse - Obrigado por chamar Aidan na outra noite, quando estava doente. Foi muito inteligente de sua parte.

     O menino lhe sorriu abertamente, seus olhos azuis acendendo-se.

     —Sabia que ele viria e saberia o que fazer. — Sua boca repentinamente fez uma careta. — Acreditava que o outro homem a tinha feito adoecer. Que a tinha envenenado.

     Alexandria tentou não se mostrar alarmada.

     —O que outro homem?

     —Thomas Ivan. Quando jantava com ele, acredito que te fez comer veneno. —disse Joshua firmemente.

     Alexandria começou a olhar encolerizadamente o rosto inocente de Aidan.

     —Thomas Ivan não envenenaria a ninguém.

     —Em qualquer caso. — disse Aidan com sua voz amável e convincente - mais provavelmente poderia ter colocado veneno em algo que bebesse, não que comesse. Muito mais eficiente e factível, para esconder qualquer amargor.

     —Provavelmente saberia melhor que ninguém.— grunhiu Alexandria - Mas deixa de animar Joshua para que se desagrade de Thomas Ivan. Logo estarei trabalhando para ele.

     —Henry disse que Thomas Ivan era conhecido por ser um libertino. — lhe informou Joshua com franqueza—e que provavelmente ele tratasse de obter algo de você, além de seus desenhos.

     Uma visão do corpo sem vida de Henry surgiu na mente de Alexandria, e sua pena foi intensa. Instantaneamente, sentiu Aidan em sua mente, apaziguando-a, seu cântico suave e antigo exercendo uma influência tranqüilizadora, uma âncora que lhe permitiu sorrir a Joshua.

     —Henry algumas vezes dizia coisas que talvez não fossem realmente certas. —disse — Era um pouco exagerado.

     —Não sei.— murmurou Aidan — Henry parecia um senhor bastante sábio. Acredito que Thomas Ivan está interessado em mais que seus desenhos. Mostrou-se teimoso e agressivo quando exigiu te ver. Não acredito que essa seja a conduta usual de alguém que só está procurando uma empregada.

     Joshua assentiu solenemente mostrando seu acordo, olhando Aidan como se fosse o homem mais preparado do mundo.

     Alexandria chutou a perna de Aidan. Não conseguiu se deter.

     —Deixa de ser tão maldoso! Nunca poderei rebater sua influência se não deixar de fazer isso. Joshua, Aidan só está brincando. A ele realmente não desagrada o senhor Ivan, verdade, Aidan?— advertiu, admoestando-o com os olhos.

     Houve um silêncio pequeno e contundente enquanto Aidan pensava.

     —Eu gostaria de te ajudar, cara, mas a verdade é que sou da mesma opinião que Henry e Joshua. Acredito que Thomas Ivan tem más intenções.

     Joshua inflou seu peito.

     —Vê, Alex? As mulheres simplesmente não sabem quando um homem tenta obter algo.

     —Quem diabos te disse isso?— Alexandria olhou acusadora e furiosamente para Aidan.

     —Henry. — disse Joshua imediatamente - Disse que a maioria dos homens não são realmente bons e sempre vão atrás de uma só coisa e que Thomas Ivan era conhecido por ser o pior deles.

     —Henry tinha muito que dizer a respeito de tudo, verdade?— Alexandria deu um pequeno suspiro.

     Aidan se aproximou dela, tocando seu cotovelo e arqueando as sobrancelhas impacientemente. Ela inclinou o queixo, ignorando-o com deliberação.

     —Ambos amamos Henry, Joshua, mas ele tinha algumas opiniões estranhas a respeito das coisas.

     Aidan a acotovelou.

     —O que?— disse ela com arrogante, mas adotando sua expressão mais inocente.

     —Este é o exemplo perfeito de quão ardilosas podem ser as mulheres, Joshua. Sua irmã virtualmente me acusou de encher sua cabeça com toda classe de idéias e agora quer fingir que não fez nenhuma presunção. — Aidan se inclinou e levantou Joshua, fazendo-o desaparecer do quarto.

     —Ouça!— Alexandria foi detrás deles até uma sala de jantar formal, elegantemente mobiliada, fazendo com que sua boca se abrisse em mudo assombro. Aidan teve um desejo quase louco de beijar a expressão de seu rosto.

     —Pensa que deveria desculpar-se por tirar conclusões rápidas, Joshua?

     —Em seus sonhos mais selvagens. — negou ela — Não é tão inocente como quer me fazer acreditar.

     Joshua estendeu a mão e tocou um machucado em um lado do queixo de sua irmã. Seus olhos se dirigiram aos olhos dourados de Aidan.

     —O que aconteceu ao rosto de Alex?— Houve um indício de suspeita em sua voz e pareceu retrair-se.

     —Aidan?— O medo instantâneo fez com que a voz de Alex tremesse.

     Aidan simplesmente sustentou o olhar de Joshua. Sua voz se convertendo em uma corrente pura como a água derramando-se sobre o menino, gotejando-se em sua mente.

     —Recorda de Alexandria caindo porque estava muito fraca por sua enfermidade, Joshua? Lembra-se? Ela arruinou seu formoso traje quando caiu no caminho. Você estava tão alterado que vim e a carreguei no grande carro negro e a trouxe aqui, para nossa casa.

     Joshua assentiu com a cabeça, a suspeita e o olhar atormentado desaparecendo tão rapidamente como havia surgido. Alexandria, agradecida, estendeu os braços para o menino.

     Aidan negou com a cabeça.

     —Iremos à sala de estar e nos sentaremos antes que o sustente, pequena. Está ainda muito fraca.

   Sua voz soou como uma carícia, mas ela sabia que era uma ordem. Uma mistura de veludo e aço, claramente denotava que estava no comando. Tentou não deixar que isso a incomodasse e docilmente os seguiu por um vestíbulo largo. Tropeçou várias vezes porque, em lugar de observar por onde caminhava, olhava fixamente, sobressaltada, tudo o que havia a seu redor. Nunca havia entrado ou estado em uma casa tão bela como essa. O trabalho de madeira, os pisos de mármore, os altos e luminosos tetos, as pinturas e as esculturas eram esplêndidas. Um floreiro Ming se assentava graciosamente em um pedestal antigo de mogno perto de uma chaminé larga de pedra. Aidan teve que apanhar seu braço duas vezes para não deixá-la estatelar se contra uma parede.

     —O usual é que alguém olhe por onde anda, minha cara. — lhe recordou amavelmente — É como se nunca antes tivesse visto a casa. — adicionou malvadamente para fazê-la sorrir.

     Ela fez uma careta.

     —Não pensa que isto é muito? O que acontece se Joshua sair correndo e chorando e derruba o vaso Ming? Em certa forma, começo a acreditar que cometemos um grande engano ao aceitar sua hospitalidade. Algumas destas coisas são de um valor incalculável. — Os dois podiam jogar seu jogo.

     —Acredito que já tivemos esta conversa. —disse ele brandamente, guiando-a a sala de estar. — Combinamos que se Joshua quebrar algo, não choraríamos sobre o leite derramado. — Seus olhos dourados brilharam para ela, desafiando-a a continuar.

     —Aidan, de verdade, é um vaso Ming?— Horrorizada ao pensar em destruir tal tesouro, Alexandria considerou em pegar Joshua e sair correndo da casa.

     Deliberadamente, Aidan se apoiou perto para que sua respiração movesse mechas de cabelo que caíam sobre a orelha feminina.

     —Tive séculos para admirar a peça, Alexandria. Perdê-la poderia me incentivar a patrocinar a um artista moderno.

     —Isso é sacrilégio. Nem sequer o pense.

     —Alexandria, esta é sua casa. É a casa de Joshua. Nada nela é tão importante como vocês dois. — Seus olhos dourados brilharam intensamente enquanto seu olhar fixo a percorria de cima abaixo observando seu corpo. — Agora sente-se antes de que te caia.

     Ela passou uma mão através do cabelo que caía sobre sua frente.

     —Simplesmente, poderia tentar não parecer um sargento de treinamento? Põe-me os nervos a flor da pele.

     Ele se via impenitente.

     —Um de meus maus hábitos.

     —E têm tantos. — Alexandria escolheu uma poltrona de couro para sentar-se comodamente, e pela primeira vez notou o quão fraca estava realmente. Sentia-se bem em sentar-se depois de um passeio tão pequeno. Joshua imediatamente foi acomodar se em seu colo, necessitando sua proteção tanto como ela a dele.

     —Está tão branca, Alex. — falou Joshua com a natureza franca de uma criança. — Está segura de que está bem?

   —Estou, pequeno camarada. Você gosta do quarto que tem aqui?— disse enquanto outra vez o examinava procurando marcas.

   —É grande, realmente grande. Mas eu não gosto de dormir lá encima sem voce. É muito grande. Enjoe e Stefan me deixaram dormir perto deles — Ele abraçou seu pescoço arroxeado e rasgado, sem dar-se conta quando ela estremeceu.

     Os olhos dourados de Aidan se estreitaram. Com indolência enganosa, levantou uma mão preguiçosa e atraiu o menino para seu lado.

   —Temos que cuidar de Alexandria durante algum tempo. Recorda o que combinamos? Ela necessita de muitos cuidados,e depende de voce e de mim nos certificar que os tenha. Mesmo que se rebele, como pensa fazer agora.

     —Estou bem.— disse Alexandria ressentidamente — Se quer se sentar sobre mim, Joshua, é obvio que pode fazê-lo. — Ninguém, exceto ela, dizia a Joshua o que fazer.

   Joshua negou com a cabeça, seus cachos loiros oscilando, da forma que sempre fazia, que seu coração se derretesse.

   —Sou grande, Alex, não um bebê. Quero cuidar de voce. Esse é meu trabalho.

   Ela arqueou as sobrancelhas.

   —Pensava que era eu quem estava a cargo.

   —Aidan diz que só pensa que está a cargo, mas devemos deixar que acredite, porque às mulheres gosta de pensar que estão no controle, mas os homens têm que as proteger.

     Os olhos azuis da jovem encontraram os dourados por sobre os cachos loiros.

     —Disse tudo isso, é? Não deve acreditá-lo, Joshua. Eu estou a cargo, não Aidan.

     Joshua sorriu conspirativamente a Aidan. Aidan articulou, sem falar: “Eu te disse” e ambos a olharam com completa inocência. Suas expressões tão similares, que inesperadamente ela encheus-e de ternura.

     Joshua se moveu mais para perto de Alexandria, jogando a trança que pendia sobre seu ombro. Podia ouvir a batida de seu coração, ouvir o sangue pulsando e emanando através de seu corpo jovem. Ao mesmo tempo, deu-se conta do pulso que batia no pescoço de seu irmão. Cada pulsado, cada pulsação... Horrorizada, afastou-o com força e se levantou precipitadamente procurando uma saída. Tinha que sair para longe e logo que pudesse, longe de Joshua. Era um monstro!

     Aidan se moveu tão velozmente que ela nem sequer o viu aproximar-se, mas esteve ali com ela, seus braços rodeando-a, mantendo-a cativa e silenciosa.

     —Não é nada, cara. São só seus sentidos intensificados. — Sua voz foi apenas perceptível, mas ela o ouviu claramente. O tom era suave, terno e calmo. — Não se alarme.

     —Não posso me arriscar a estar junto dele. O que acontece se está equivocado? O que acontece se ainda tenho o sangue do vampiro em mim? Não poderia suportar fazer mal a Joshua. Não posso estar com ele.

     Ela manteve a voz baixa, amortecida contra seu peito. Um sussurro mais que chegou dolorosamente ao coração de Aidan. Aproximou-a mais para dentro do refúgio de seus braços e sentiu-a relaxar-se instintivamente contra ele. Não confiava nele, não o conhecia, mas seu corpo já o fazia.

     —Nunca poderia fazer mal ao menino, Alexandria. Nunca. Sei que sente fome, que está extraordinariamente fragilizada. Seu corpo passou por de uma experiência tremendamente dura, sua mente sofreu um trauma violento, mas nada, jamais, poderia machucar Joshua. Sei com toda segurança. — Sua voz foi tranqüilizadora, filtrando-se em sua mente como um bálsamo.

     Ela se permitiu acreditar, deixar que ele a acalmasse enquanto descansava a cabeça contra seu corpo. Podia ouvir seu coração batendo ao mesmo ritmo que o dela. Era tranqüilo, suave. Sua voz nunca se elevava, sempre tão segura, tão confiada... Uma rocha sólida na qual podia apoiar-se. Por própria vontade, seus pulmões começaram a desacelerar para compassar-se com o ritmo de sua respiração.

     Aidan acariciou seu cabelo, massageando sua nuca enquanto bebia de seu perfume.

     —Melhor agora?

     Ela assentiu com a cabeça e se afastou dele no preciso instante que um casal se aproximava. Alexandria reconheceu à mulher que levava uma bandeja com duas taças longas de cristal e três taças inglesas de porcelana da China. O homem atrás dela levava uma bandeja com uma garrafa de vinho tinto e uma jarra de algo cheio de vapor.

     Enjoe dirigiu a Alexandria um sorriso.

     —É bom vê-la em pé e caminhando. Sente-se melhor agora?

     A mão de Aidan no pescoço da Alexandria se apertou perceptivelmente. Seu polegar acariciou seu pulso, uma vez, duas, num gesto destinado tanto a serená-la como a lhe advertir que ele controlava a situação.

     O queixo da Alexandria se levantou.

     —Estou bem, Enjoe, obrigado. Foi muito amável de sua parte me ajudar enquanto Aidan não estava. — Ela soou doce e educada, desejando todo o tempo poder detectar um indício de alteração em qualquer dessas pessoas. Estava decidida que eles não gostassem dela, a não se incorporar a seu círculo. Não queria ser atraída para uma armadilha. Pela trama sedosa que tecia essa casa de fantasia, esse lugar cheio de beleza. O casal mais velho parecia afetuosos e calmos, olhavam nos olhos um do outro com amor. Olhavam Aidan e Joshua, seu Joshua, com grande afeto. Não queria ver nada disso.

     As bandejas foram colocadas na mesa e Aidan alcançou com preguiçosa satisfação, a garrafa de vinho. Enjoe verteu o cacau quente da jarra de prata, enchendo de vapor as três taças.

     —Joshua adora seu chocolate quente antes de deitar-se, verdade, doçura?

     O menino ansiosamente aceitou a taça e sorriu travesamente para Enjoe.

     —Não tanto como gosto de Stefan e de você.

     O estômago da Alexandria se rebelou ante a vista e o aroma do chocolate. Aidan lhe deu uma taça e a encheu do líquido de cor rubi. Ao mesmo tempo em que ela negava com a cabeça, ele a estava empurrando para seus lábios, seus olhos dourados com o olhar fixo diretamente nos dela.

     —Beba, cara.

   Ela sentiu como se caísse nas profundidades insondáveis de seus olhos, fascinada, hipnotizada. Podia sentir em sua mente, uma sombra escura impondo sua vontade. Beberá isso, Alexandria.

     A jovem piscou, logo encontrou a taça vazia em sua mão, seus olhos ainda unidos aos de Aidan. Ele sorriu com um brilho de dentes brancos, levantou seu próprio copo para ela em um pequeno brinde e esvaziou rapidamente o conteúdo. Imersa em uma fascinação total, a jovem observou o movimento de sua garganta. Afastou o olhar dele. Tudo nesse homem era sensual.

     Alexandria saboreou a doçura, o aditivo sabor que pareceu tão familiar em sua boca, em sua língua. Aidan a observava com intensidade, com o olhar fixo de um predador. A moça lhe voltou às costas, fechando os olhos para evitar as lágrimas, assustada de enfrentar-se com ele e comportar-se como uma boba na frente do casal. Estava confusa, cansada e assustada. Levantou uma mão trêmula para afastar o cabelo.

     —Aidan diz que poderemos conseguir um computador só para mim. — falou Joshua.

     Alexandria lançou um olhar para Aidan. Ele estava servindo uma segunda taça de vinho e manteve a garrafa em alto, oferecendo mais a ela. Tudo em seu interior demandava que acessasse, de modo que desviou o olhar, assentindo com a cabeça. Por que era tão importante para ela fazer o que Aidan desejava? Era tão impróprio de seu caráter seguir alguém tão cegamente. Assustava-a pensar que ele tivesse tal poder sobre ela.

     —Sabe, Joshua? Realmente não tivemos tempo de nos estabelecer e pensar no que faremos. —advertiu, seus olhos sem abandonar nunca o rosto de Aidan—. Inclusive nem sabemos se vamos ficar aqui. Isto não é mais que uma prova para ver se nos saímos bem. Algumas vezes, os companheiros de quarto simplesmente não se integram, por mais que se agradem entre si.

     Joshua parecia a ponto de chorar.

     —Mas é genial estar aqui, Alex. Sei que deveríamos estar aqui, é um lugar muito seguro. E você pode viver comigo, não é verdade, Aidan? Não sou muito arteiro, nem nada parecido.

     A mão do Aidan descansou nos cachos sedosos do menino ao mesmo tempo em que seus olhos dourados cativavam os de Alexandria.

     —Sabe que não é. Eu gosto de te ter você aqui e não acredito que tenhamos nenhum problema. Sua irmã está preocupada, porque não quer que sejam uma carga adicional para Enjoe e Stefan, mas eu os conheço melhor.

     Enjoe assentia com a cabeça, de acordo.

   —Adoramos ter você aqui, Joshua. Anima bastante a casa. E os meninos, supõe-se, que todos sejam arteiros.

   —É obvio que todo mundo te quer, pequeno camarada. — assegurou precipitadamente Alexandria a seu irmão, fazendo um esforço supremo para livrar-se do hipnótico olhar dourado de Aidan. — Mas algumas vezes são os adultos os que não podem viver juntos. Estou acostumada a fazer as coisas a minha maneira, e Aidan está completamente situado em seus costumes medievais.

   —O que é medieval?— quis saber Joshua.

   —Pergunte ao Aidan. É bom com respostas. — respondeu a jovem ressentidamente.

   —Medieval se aplica à época dos cavalheiros de armadura e suas damas, Joshua. Alexandria pensa que eu teria sido um magnífico cavalheiro. Eram homens que serviam a sua pátria com honra e sempre resgatavam e cuidavam das donzelas formosas. — Aidan esvaziou o conteúdo de um terceiro copo do líquido de cor rubi. — Uma descrição apropriada e realmente completa. Obrigado, Alexandria.

     Stefan tossiu atrás de sua mão e Enjoe precipitadamente começou a olhar pela janela.

   Alexandria descobriu que um sorriso relutante curvava sua boca suave.

       Aidan se inclinou em uma reverência formal, seus olhos dourados cheios de ternura. Poderia afogar-se nesses olhos. A palma da mão masculina, segurava um lado de sua face, quase meigamente, seu polegar deslizando sobre sua pele em uma carícia breve.

   —Sente-se, minha cara, antes que caia.

     Alexandria suspirou e fez o que ele ordenava, porque suas pernas se sentiam trêmulas. Estava segura de que não por estar muito perto de um homem tão atrativo e masculino e ainda em sua tão recente e dura experiência com o vampiro. Um simples homem não poderia fazer com que sentisse debilidade nos joelhos.

     Aidan se acomodou a seu lado no sofá, enquanto Stefan ocupava a poltrona de couro que ela tinha abandonado. A coxa de Aidan roçou a sua, enviando um pequeno tremor através de seu corpo. Sua respiração esquentou sua orelha.

   —Felizmente, não sou um simples homem.

   —Deixa de ler minha mente, você… É um pesadelo de um jogo de Thomas Ivan. — Foi o pior insulto que qual podia pensar, mas ele só riu tranqüilamente. O som retiniu em sua mente, não em seu ouvido. Era patentemente sedutora e a envolveu com calor.

   — É muito tarde, Josh. — Ela fixou sua atenção em seu irmão para proteger-se. Era a única coisa certa que podia fazer. — É o momento de ir para a cama.

     Aidan se inclinou mais perto, seus lábios lhe acariciando a orelha.

   —Pequena covarde.

   —Ah, Alex, eu não quero ir à cama. Não te vi durante dias. — rogou Joshua.

   —É passada a meia-noite, jovenzinho. Ficarei contigo e lerei histórias até que fique durma. — prometeu a moça.

     Aidan se moveu, um movimento imperceptível, mas ela sentiu o peso de sua desaprovação.

   —Não esta noite, Alexandria. Precisa descansar também. Enjoe poderá colocar Joshua na cama.

     Enjoe freneticamente tentou fazer sinal a Aidan. Já tinha sentido a ambivalência de Alexandria para com ela e sabia que em sua maior parte, se devia à impressão de que estava usurpando seu lugar com o Joshua e Aidan só piorava as coisas, com suas maneiras ditatoriais. Como sempre, o homem simplesmente ignorou o que não queria ver. Não tinha a intenção de permitir a Alexandria fazer esforço algum.

     —Não acredito que vás dizer me o que posso ou não posso fazer com meu irmão. Eu o levo para cama, há anos e tenho a intenção de continuar fazendo. Estou segura de que Enjoe não tem objeções. — expressou a garota, desafiando furiosamente, à mulher mais velha.

     Enjoe lhe sorriu.

   —Claro que não.

     Aidan tomou o punho de Alexandria, forçando-a amavelmente a que abrisse os dedos, e os entrelaçou com os seus o suficientemente forte para que pensasse melhor ao tentar livrar-se de sua sujeição.

   —Sou eu quem deve objetar, pequena, não Enjoe. — Sua voz foi suficientemente terna para abrandar as chamas. — Sou responsável por sua saúde. Está fraca ainda e precisa descansar. Amanhã ou na noite seguinte, haverá tempo para que retome suas tarefas. —Ele voltou seu olhar a Joshua. — Não se importará se Enjoe o levar para dormir esta noite, verdade?

     —Posso ir me deitar sozinho. —se gabou Joshua. — Mas eu gosto das histórias de Alexandria. Sempre me conta uma depois de ler um livro. Suas histórias são sempre melhores que o livro.

   —Mas você não gosta que ela cozinhe, verdade?— perguntou Aidan.

     Joshua, sabiamente, não respondeu.

   —Posso cozinhar. — Alexandria sentiu que precisava defender suas habilidades domésticas diante de Enjoe.

   —Nenhum forno microondas resiste a Alexandria. — brincou Aidan.

   —Como se você soubesse. — disse ela desdenhosamente. O aroma da garrafa de vinho flutuava até ela, tentando-a, causando pontadas de fome tão intensas, que foi quase incapaz de controlar seus instintos para aspirá-lo.

   —Deixe-a em paz, Aidan. — o admoestou Enjoe. Nunca o tinha ouvido brincar antes e era algo agradável e assombroso. Mas todos estavam na corda bamba com a recém chegada e Aidan tinha que conservar a Alexandria junto a ele para sobreviver. Todos tinham que andar com cautela, tinham que ser cuidadosos para não afugentá-la.

   Perversamente, Alexandria não quis que Enjoe saísse em sua defesa. Não queria gostar da mulher mais velha. Não queria gostar de nenhum deles. Não o faria absolutamente. E por que tinha que ser tão consciente do corpo de Aidan contra o dela, e a força de seus dedos? Não devia ter mais medo. Que mais podia fazer? Ela já era uma morta viva. Abriu a boca para desafiá-lo.

     Ele atraiu seus dedos para sua boca, murmurando:

     —Não, não o fará. E as bobagens que pensa... Morta viva. De onde tira essas tolices?— Sua boca acariciou sua pele, enviando lanças de fogo a seus terminais nervosos. —. Deixe-Me adivinhar. Thomas Ivan.

     —Talvez ele usa esse termo. Não recordo.

    —É o senhor Ivan o cavalheiro que visitou a senhorita Houton?— perguntou Enjoe cautelosamente.

     —Chame-a de Alexandria, Enjoe. Não somos cerimoniosos aqui e você não é uma criada. É parte de minha família e minha amiga.

     —Por favor, faça-o. — secundou Alexandria sob a pressão nos dedos viris.

     —Eu gostaria que fôssemos amigas. — disse Enjoe.

   Isso fez Alexandria sentir-se pequena e mesquinha. Depois de tudo, essa mulher que a incomodava era quem cuidaria do Joshua quando ffosseora incapaz de fazê-lo. Imediatamente, junto com esse pensamento, chegou à angústia, enquanto um pouco mais da verdade se deslizava em seu cérebro. Sua respiração ficou apanhada em sua garganta e lutou em busca de ar, estrangulando-se, afogando-se.

     Aidan empurrou para baixo sua cabeça.

   —Respire, cara. Não é tão difícil. Dentro e fora. Continue respirando. Enjoe, por favor, leva Joshua para o outro quarto.

   —O que está acontecendo com minha irmã?— exigiu Joshua, claramente rebelando-se.

   Alexandria lutou contra a loucura que formava redemoinhos em seu cérebro. Não permitiria que Joshua fosse afetado por esse pesadelo absolutamente demente. Voltou a si, sorriu-lhe um pouco pálida.

   —Simplesmente estou um pouco fraca, como Aidan disse. Possivelmente está correto, embora odeio lhe dar a razão. Está muito mandão ultimamente. Vá com Enjoe. Eu ficarei aqui mesmo até que me sinta bastante bem para ir deitar também.

     Os olhos do Joshua se acenderam.

   —Talvez Aidan deveria te levar. É muito forte. Poderia fazê-lo, sabe? Como no cinema. — Joshua soou ansioso.

   — Claro que poderia fazê-lo. — assentiu Aidan, piscando para Joshua.

     Ele estava tão sexy, que pareceu lhe roubar a respiração outra vez.

   —Acredito que não. — Alexandria soou firme.

     Aidan repentinamente se levantou, inspirando abruptamente. Sua atenção claramente fixa em algo além das pessoas nesse quarto. Alexandria o sentiu também. Era uma perturbação no ar, uma escuridão vil e maligna arrastando-se lenta, mas inexoravelmente para eles. Estendia-se como uma mancha escura sobre o céu, fazendo com que o ar se espessasse, que estava difícil respirar. Um murmúrio de vozes começou em sua mente, com palavras em outra língua. Chamados, impossíveis de entender, embora ela soubesse seu significado. Algo a atraía, tentando tirá-la para o exterior.

     Um som escapou de seus lábios, um grito inarticulado de terror, tão amortecido que foi quase inaudível, mas Aidan voltou seus olhos dourados para a ela imediatamente. Alexandria, horrorizada, agarrou firmemente seu braço. Ele está ali fora, pensou aterrorizada. Arrastou Joshua para ela, protetoramente, agarrando-o, apertadamente.

     A voz em sua mente foi calma e tranqüilizadora, tão terna que atravessou o caos de medo e encontrou sua força. - Não alarme ao menino, cara. Nada pode entrar nesta casa. Não sabe com certeza que voce está aqui. Quer te levar para fora.

     Alexandria deixou seus dedos curvados ao redor da mão de Aidan, necessitando de seu contato. Deu uma respiração profunda e sorriu para Joshua. Ele a contemplava com seus olhos azuis cheios de curiosidade, perguntando-se do por que de seu gesto repentino. Enjoe e Stefan cravavam os olhos nela, alertas.

     Aidan amavelmente desprendeu o braço de Alexandria de volta da criança.

     —Enjoe, Stefan e você devem fechar a casa imediatamente e logo levar Josh para deitar-se.

     Havia uma ordem em sua voz, e o casal reagiu instantaneamente. Tinham passado por um ataque antes e reconheciam o perigo, embora não podiam detetá-lo como Aidan e Alexandria o faziam. Apressaram Joshua depois de sua saudação de boa noite e o levaram para o quarto.

     —Conservem Joshua consigo esta noite. Devo sair. — indicou Aidan. Logo tocou a face de Alexandria com dedos suaves. — Cara, tenho que sair e terminar com esta ameaça. Você ficará aqui. Se algo chegar a me ocorrer, pegue teu irmão e vá por mar, para as Montanhas dos Cárpatos. Procure um homem chamado Mikhail Dubrinsky. Stefan e Enjoe te ajudarão. Prometa-me que fará. — É a única forma em que Joshua estará verdadeiramente a salvo.

     Não lhe informou que sua união era já suficientemente forte para pô-la em perigo se ele morresse. Aidan nem sequer permitiu que a possibilidade entrasse em sua mente. Não podia morrer. Não o permitiria, não agora que tinha motivos para viver.

     Houve algo tão urgente em sua voz, em seus olhos, na ordem mental, que Alexandria, mesmo contra a vontade, assentiu. Tão dividida como se sentia em seus pensamentos sobre quem era Aidan Savage, sobre suas intenções para com ela, não queria que ele saísse da casa e enfrentasse aquilo que estava lá fora.

     —Acreditei que Paul Yohenstria estava morto. — Alex murmurou as palavras, sentindo o medo como uma entidade vivente, respirando nela.

     - Ele está morto, cara. Este é outro. As palavras só estavam em sua mente e pela primeira vez a jovem reconheceu o enlace entre eles. Ele podia lhe falar com vontade, introduzir-se em sua cabeça e conhecer seus pensamentos. - Como você pode fazer com a minha. Trate de me alcançar, e me encontrará a qualquer momento. Devo ir agora.

   Alexandria intensificou seu aperto, sem desejar que ele saísse para a espessa nuvem de maldade que rodeava a casa.

     —Se não é Yohenstria, o que é o que há lá fora?— Ela tremia e nem sequer lhe ocultou.

     — Alexandria, já sabe que há outros. —. Aidan inclinou sua cabeça e acariciou a parte superior de seu cabelo sedoso com a boca, atrasando-se apenas um momento para aspirar seu perfume. — Não deixe a segurança desta casa. — Foi uma ordem clara.

     Alexandria assentiu. Não tinha nenhuma intenção de sair para confrontar com outra criatura maligna. Quantos deles estavam ali? Como havia entrado nesse pesadelo interminável? Até onde podia confiar em Aidan Savage?

   Observou-o sair rapidamente, uma confiança absoluta em cada linha de seu poderoso corpo. Não voltou a cabeça. Não olhou para trás. Movia-se com a precisão silenciosa de um predador, já espreitando sua presa. O medo por sua segurança se encrespou no estômago de Alex. Deveria se alegrar. Estaria livre dele no momento. Poderia levar Joshua e escapar para longe desse lugar, longe dessa cidade, onde nenhum de sua espécie pudesse segui-los. Mas o pensamento de nunca mais voltar a ver Aidan outra vez foi repentinamente tão aterrador como estar sob seu domínio.

     Alexandria seguiu Aidan até a porta. Enquanto ele saía, ficou olhando fixamente a pesada porta de carvalho que se fechou atrás dele. Era absolutamente bela, com painéis de vidro com desenhos intrincados de cores, diferente de qualquer outra que tivesse visto antes. Mas sua mente não podia enfocar a atenção em nada. Nem no artístico vidro, nem sequer em Joshua. Registrava só a desolação de sua existência sem Aidan.

     Permaneceu ali, só e assustada, tremendo de medo por ele. Podia sentir a pesada sombra movendo-se fora e soube que Aidan se aproximava do perigo fora da casa, longe do Joshua, longe de Enjoe e Stefan... E longe dela.

     Fechou os olhos e se concentrou, buscando-o, procurando a verdade das palavras de Aidan. Encontrou-o em meio a feroz batalha, sua mente convertida em uma neblina vermelha de gozo pela caçada. Sentiu sua dor enquanto as garras rasgavam seu peito. Agarrou-se firmemente seu próprio peito, com o coração batendo alucinado.

     Aidan era tão frio e tão firme, que nunca esperava realmente que fosse ferido. Tratou de estudar suas sensações, procurar o perigo para Aidan. Quem estava ali, criava ilusões, multiplicava-as, usando sua habilidade para confundir Aidan e mantê-lo desfocado. Os ataques eram velozes e brutais e se afastavam tão rapidamente que Aidan não podia devolvê-los. Podia sentir sua confusão e sua consternação crescente.

   Alexandria explorou mais à frente, na escuridão. Algo estava errado. Aidan era assaltado por todos os flancos, não podia discernir a natureza de seu assaltante da mesma forma que ela podia fazê-lo do santuário da casa. A ilusão que a criatura inventava era espessa, muito maligna. Então soube o que fazer.

     —Aidan. — Ela murmurou seu nome em voz alta, tudo a seu redor completamente em silêncio. Não podia permitir que ele morresse. Não sabia por que se sentia dessa forma, mas sabia da profundidade de sua alma.

     Tentou outra vez alcançar sua mente, esperou até que pôde penetrar na neblina vermelha, até que pôde inferir sua força e sua concentração. Enquanto o fazia, Aidan golpeou dura e rapidamente a seu adversário e ela teve a impressão de uma corrente de luminoso sangue vermelho e um aterrador uivo de medo.

     Atrás de voce, Aidan. O perigo está atrás de você há outro. Saia daí!

     Gritou a advertência em sua mente, mas estava segura de que era muito tarde. Sentiu o impacto enquanto ele era ferido, o golpe aniquilador rastelando sua garganta, seu estômago, sua coxa. Mas Aidan tinha trocado de direção atrás de sua chamada frenética, para que o segundo assaltante não pudesse dar o golpe fatal que esperava.

     Alexandria podia sentir a dor dilacerante, através de Aidan, mas ele permaneceu calmo e frio sob o ataque. Sua velocidade era incrível e ele a usou quase que cegamente, esfaqueando seu assaltante quando se enfrentou com ele. Usou seu golpe com precisão mortífera. Ao mesmo tempo em que o vampiro se afastava dele, cambaleando e caindo na terra enquanto gritava, o primeiro assaltante se elevou no ar, sustentando firmemente suas feridas enquanto se afastava.

     —Stefan!— gritou Alexandria com autoridade surpreendente. —Traga o carro agora! Traga-o para frente. Posso encontrá-lo.

     — Aidan não quer que deixe a casa. — disse Stefan enquanto se aproximava, mas sua mão se dirigia já para as chaves em seu bolso.

     —Bem, é uma lástima. Sua majestade está ferida e incapaz de retornar para casa. Ele pode gritar conosco mais tarde, mas não podemos deixá-lo lá fora para morrer sangrando. O que está fazendo. — Alexandria dirigiu ao amigo de Aidan seu olhar mais frio. — Vou por ele com ou sem você.

     Stefan assentiu com a cabeça.

     — É obvio que irei com você. Mas ele se zangará muito conosco.

     Alexandria esboçou um sorriso de camaradagem.

   —Posso suportar se você puder.

   - Ouça-me, cara. Não posso ir para casa esta noite. Vá à câmara. Encontrarei você amanhã à noite. Ele tratava de lhe ocultar sua dor, para encobrir o fato de que estava arrastando para se ocultar, tratando de encontrar uma parte de terra que pudesse abrir para procurar segurança.

   - Simplesmente permaneça quieto, Aidan. Já estou indo.

   - Não o faça! Há muito perigo para você aqui fora. Permaneça na casa!

   - Deixe. Nunca fui boa obedecendo a alguém. No caso de que meu irmão pequeno tivesse o descuido de não haver lhe informado isso, fui chefa por anos. Stefan está comigo e já estamos em caminho. Fique quieto e nos espere.

   Ela seguiu Stefan para o caminho de acesso, seus olhos saltando para a arma na mão do homem maior. Ele registrava o céu, claramente esperando um ataque dessa direção.

     —Não sinto mais nenhum deles perto daqui, mas o ar é espesso ao redor de Aidan. Temos que nos apressar. Um deles está morto ou moribundo, mas o outro retornará a terminar o trabalho.

     — O quanto Aidan está fraco?— Stefan não questionou sua conexão com seu chefe ou como conseguia ela saber a posição de Aidan enquanto conduzia.

     —Ele trata de me ocultar isso, mas não acredito que possa suportar outro ataque. Atua crédulo, mas sente a aproximação do outro. - Riu brandamente para si mesmo, ajudando a suprimir seu próprio medo. — Me está advertindo. De fato, está realmente zangado. Nunca o vi de outra maneira que não fosse calmo e sereno. Isso é tão ruim. Não pensa o mesmo? Sempre tão controlado? Se não estivesse aterrorizada, isto seria cômico. Vá para a esquerda por aqui. Sei que este é o caminho.

     Stefan desacelerou o carro com indecisão.

     —Deixe-me ir sozinho. Se algo acontecer a você, perderíamos Aidan.

     —Nunca o encontraria por si mesmo. Não temos tempo para isto. Vamos, Stefan. Ele está sozinho lá fora. — Ela não se deteve para pensar por que era tão importante, mas faria algo para salvar Aidan Savage.

     - Não entende, cara. Não pode vir aqui. Este é mais forte que Yohenstria e estou fraco. Não sei se poderei te proteger.

   - Tentaria me proteger quando não poderia proteger a si mesmo. Já está vindo! Está perto de voce.

   - Ainda não confia em mim. Ainda não sabe se é um vampiro. Por que está se pondo em perigo?

   Ele estava frustrado com sua desobediência. Podia sentir sua fúria impotente por não poder controlá-la. Mas não podia permitir o luxo de esbanjar a energia que gastava por tentar controlá-la quando tinha que proteger a si mesmo e lutar com o vampiro que se aproximava rapidamente.

     Preste atenção. Tenho um plano. Era a mentira maior que já havia dito a alguém em sua vida. E se sentia mais aterrorizada quanto mais perto estava de seu destino. Por que estava fazendo algo tão estúpido e amalucado? Não gostava de Aidan, não confiava nele e estava aterrorizada pela criatura que pudesse ser, do controle que tinha sobre ela. Mas tudo o que sabia com segurança era que não podia permitir que morresse.

    —Necessitamos de um plano, Stefan. Um plano realmente bom. Se disparar essa pistola, pode assassiná-lo?

     —Não, mas se golpear algo bastante vital, posso fazê-lo cambalear, talvez entretê-lo para que não se oculte clandestinamente. E depois o sol o mataria— lhe informou Stefan severamente.

     —De acordo, eis aqui o plano. Continuarei lhe dizendo onde está a criatura, e você continua disparando enquanto arrasto Aidan para dentro do carro. Então vamos logo que possamos e rezemos para deixá-lo para trás.

   - Esse é o pior plano que já ouvi. - Apesar de sua horrível situação, houve um indício de humor na voz do Aidan.

     Stefan bufou em voz alta.

   —Esse é o pior plano já tenha ouvido. Você não é o suficientemente forte para colocar Aidan no carro. E não podemos trocar nossos lugares, porque provavelmente nunca disparou uma pistola em sua vida.

   —Bem, não ouço nada brilhante de sua parte. — respondeu ela bruscamente, indignada. — Não é gracioso como os homens se mantêm unidos mesmo que não podem ouvir o um ao outro?

   —Do que está falando?— Stefan olhava nervosamente o céu em seu espelho retrovisor, fora das janelas.

   —Não importa. Gire nessa estrada. Ele está junto ao oceano, sob a colina. Está muito perto. — Quase não podia respirar, o ar estava tão cheio de malevolência. — O vampiro está em algum lado, perto também. Posso senti-lo.

   - Retorna, cara, retorna - implorava a voz de Aidan.

   - Ele vai em busca de voce, Aidan. Posso sentir seu triunfo. Acredita que sabe onde está. Está em forma de... Não um pássaro, alguma outra coisa que voa, mas está ferido. Está protegendo seu lado direito. Alexandria esfregou suas têmporas. Aa energia que requeria comunicar-se mentalmente a esgotava. Sua cabeça pulsava, sua coxa ardia como se de algum jeito houvesse uma ferida ali.

   - Retorna, Alexandria. Ele sente sua presença, por isso se sente triunfante. Tirou-lhe da segurança. Faz o que te digo! - Aidan colocou uma mão cuidadosamente sobre o corte profundo em sua têmpora e pressionou a outra sobre a ferida em sua coxa que esgotava sua força vital. Tinha perdido muito sangue. O fluido precioso caía a terra, filtrando-se no terreno.

     O aroma do sangue levaria a vampiro para ele. Mas ele também podia cheirar, e o aroma do vampiro era tão forte como a perturbação na harmonia natural da Terra. Não necessitava das advertências de Alexandria para saber que o vampiro estava perto. Este possuía muito mais poder que Yohenstria e sua habilidade para criar ilusões, era perfeita. Aidan tinha brigado com outros, igualmente fortes, mas nunca com uma lesão mortal. Com Alexandria tão perto, não tinha mais opção que lutar e ganhar. Mesmo que se ocultasse sob a terra, o vampiro provavelmente o encontraria antes do amanhecer. Obrigou seu corpo, que protestava, a se mover, levantar-se. Afastou a dor de sua mente. Afastou o pensamento de Alexandria. Não podia fazer nada exceto derrotar o vampiro. Permaneceu muito quieto. Esperando. Simplesmente esperando.

 

     O vento vibrou na baía e as ondas se equilibraram sobre a costa. As estrelas resplandeceram no alto. A noite parecia muito bela para esconder uma criatura tão perversa e demente como Nosferatu. Um morto vivo. Aidan levantou seu rosto para o vento e inspirou profundamente para classificar a informação que a noite escolhia compartilhar com ele.

   O vampiro estava alto, sobre sua cabeça, deslizando-se sobre suas asas, dirigindo-se para ele do oceano, esperando que o rocio e o sal marinho ocultassem seu cheiro. Igual a Aidan, o vampiro estava ferido e o rastro de sangue era fácil de seguir. Esfomeados pela perda de sangue, as presas de Aidan estalaram em sua boca simplesmente ao sentir o cheiro. O sangue poluído era o último que necessitava, mas sem uma transfusão de sangue, morreria logo. Havia feito uma promessa, a séculos atrás, que nunca tocaria em um membro da família que trabalhasse para ele, não importava o custo e tinha a intenção de manter essa promessa. E Alexandria estava muito fraca. Era perigoso que o provesse nesse estado. Ela não sabia das conseqüências para os dois se ele a perdesse.

       Há muito tempo, havia começado a aceitar morte, com a espera do amanhecer como a única e inevitável opção para ele. Mas não estava preparado para renunciar sua vida agora, quando a possibilidade da felicidade finalmente se apresentava em seu destino. Brigaria. Ao menos conseguiria salvar Alexandria e Stefan de sua própria insensatez. Levaria o vampiro com ele ao amanhecer se essa fosse sua única opção.

     Ficar de pé tinha feito aumentar o sangramento dos cortes profundos em sua coxa e têmpora, e uma cálida corrente descia por seu pescoço e seu ombro, caindo sobre o braço e o peito. Uma onda de debilidade o fez cambalear e por um momento todo se apagou. Piscou para enfocar melhor, mas foi só depois que enxugou os olhos e sua mão saiu avermelhada de sangue, que pôde ver outra vez. Esperou pacientemente, respirando, de pé, porque não tinha nenhuma outra escolha. Devia fazer baixar o vampiro para ele.

     Um enorme morcego passou sobre sua cabeça, fazendo uma careta para revelar seus diminutos dentes bicudos. Baixou sobre a terra a umas jardas dele, engatinhando, espreitando-o.

     —Vamos, Ramon, devemos jogar estes jogos de criança? Venha até mim como homem ou não. Aborreço-me de suas tolices. — disse Aidan, com voz autoritária e hipnótica. — Todos seus truques não lhe servirão de nada esta noite. Se escolher continuar esta batalha, terminemos com ela aqui e agora. Não pode ganhar, sabe disso. Sente-o. Vieste aqui para morrer por minha mão. Que assim seja. Caminha como um homem para sua morte. — Seus olhos dourados apanharam a luz das estrelas e resplandeceram com chamas vermelhas, as piscadas de rubi fazendo jogo com o sangue em seu rosto.

   O morcego vacilou, logo começou a alargar-se e converter-se em uma criatura grotesca, com garras e um pico afiado como uma navalha. A criatura se moveu diagonalmente, confrontando Aidan, mas mostrando seu lado direito, a zona em que não estava ferido, como havia dito Alex.    

     Aidan permaneceu imóvel, como uma estátua esculpida em pedra. Só seus olhos pareciam vivos, flameantes com decisão mortífera.

     Seu olhar fixo deteve a criatura, intimidando-a até que voltou a trocar, mudando sua forma até converter-se em um homem alto, magro, pálido e de olhos frios e desumanos. Ramon contemplou Aidan com precaução.

     — Não acredito que tenha razão esta vez, Aidan. Está gravemente ferido. Derrotarei você e tomarei à mulher para mim.

     —É impossível, Ramon. Pode trincar como um burro, mas ninguém, nem sequer você mesmo, crê em sua bravata. Venha a mim e aceite a justiça de nosso povo, como sabe que deve fazer. Cometeste delitos contra toda a humanidade.

     —Tenho poder! É fraco, um tolo. Sua vida esteve dedicada a um propósito falso. Onde estão as pessoas pelos que luta para salvar de alguém como eu? A humanidade que protege te cravaria uma estaca no coração se soubesse de sua existência. Seu próprio povo o condenou a uma existência solitária, sem o alívio da terra dos Cárpatos para te alimentar. Deixaram-lhe sozinho neste lugar. Una-se a mim, Aidan. Eu posso te salvar. Una-se a mim e dominaremos esta cidade. Não crê que merecemos? Podemos ter tudo. Riquezas, mulheres. Podemos governar aqui.

   —Tenho tudo o que sempre quis, meu velho amigo. Venha para mim como sabe que deveria. Farei que seu fim seja veloz e indolor. — Tinha que fazê-lo veloz. O tempo se acabava. O sangue de sua vida estava gotejando sobre a terra agora, sua força enorme reduzindo-se drasticamente.

     O vampiro avançava ligeiramente mais perto, tentando distrair Aidan com a ilusão dos morcegos batendo as asas sobre o corpo veteado em sangue do Caçador. Aidan permaneceu quieto, os olhos dourados como estrelas vermelhas sem abandonar nunca a face acinzentada de Ramon.

   O vampiro se equilibrou. Enquanto o fazia, Aidan sentiu a Alexandria fundir-se com ele, derramando sua força, sua vontade, sua coragem, sua fé nele, dentro de sua mente. Foi um presente sem preço e Aidan o usou com toda a velocidade de que foi capaz. No último instante, simplesmente se saiu para um lado, seu braço freando o movimento e enredando-se ao redor do pescoço do vampiro, rompendo-o como um ramo fino À cabeça cambaleou para um lado e Ramon começou a uivar. Um guincho angustiante que pareceu continuar para sempre.

     Aspirando profundamente, Aidan o rematou, mergulhando sua mão diretamente no peito magro até alcançar o coração palpitante. Arrancou o órgão e o arrojou longe do vampiro, dando um passo atrás rapidamente para evitar o jorro de sangue. Quase imediatamente sua força se esgotou, e se encontrou a si mesmo sentado a céu aberto, esgotado e indefeso para qualquer ataque.

     Ela saiu da escuridão. Sua fragrância o alcançou primeiro. Embora o aroma do sangue o estava deixando louco lentamente, mas não utilizou o sangue poluído do vampiro para reabastecer-se. E então, ela estava ali, fresca, poda e pura fazendo frente ao mal. E ele estava manchado de sangue, com as mãos vermelhas e a morte rodeando-o. Não podia olhá-la nos olhos e ver a condenação neles. Não podia enfrentar a isso.

     —Stefan! Diga-me o que devo fazer.

     Sua voz foi musical, tão suave como uma brisa de madrugada. Morrer com sua voz em sua mente e em seu coração não era tão ruim. Mas Aidan não a queria nesse lugar atroz.

   —Não há nada que possa fazer. Parta, Alexandria. Vá às Montanhas dos Cárpatos, como me prometeu. — Seus olhos se fechavam, muito pesados para mantê-los abertos. — Vá para minha terra natal e sentirei como se levasse uma parte de mim contigo.

     —Ora, cale-se. — respondeu ela bruscamente, impaciente. Horrorizada pela visão sangrenta dele. Nem sequer lançou um olhar ao vampiro. — Ninguém lhe perguntou isso, Aidan. E não vai morrer. Não permitirei, assim termina com essa atitude machista e coopera. Ta legal? Vamos, Stefan! O que faço por ele?— Ela já exercia pressão sobre a pior ferida, em sua coxa. Nunca tinha visto tanto sangue. Era um rio vermelho empapando a terra. Concentrou-se em Aidan, mantendo-se afastada de olhar os corpos desfigurados.

     —Ele precisa de sua saliva mesclada com a terra. Precisa envolver com essa mistura, os cortes. - disse Stefan rapidamente, ajoelhando-se ao lado deles.

     —É tão anti-higiênico! — protestou a jovem, afligida.

     —Não para um homem dos Cárpatos. Faça-o se quer salvá-lo. Sua saliva contém um agente coagulante. Às pressas, Alexandria.

     —Deshaz dos corpos, Stefan. — ordenou Aidan sem abrir os olhos. Encontrava-se flutuando em um mundo de sonho.

     —Poderia te ficar quieto?— admoestou Alexandria. Cuspir era mais um talento de Joshua que dela, mas o fez o melhor que pôde, fazendo massas de barro enquanto Stefan arrastava os corpos dos vampiros a bordo da estrada e usando a lata de gasolina do carro, acendeu o fogo.

   O mau cheiro fez calar Alexandria. Fechou sua mente para tudo menos para o que estava fazendo. Não tinha tempo de examinar por que estava salvando Aidan, por que tinha tanta importância, mas cada osso, cada célula e sua alma lhe gritavam que o fizesse.

   Aidan parecia inconsciente enquanto Alexandria envolvia meticulosamente suas lacerações e profundos cortes. Mas ela sabia que não estava, que ele era consciente de cada um de seus movimentos. Podia senti-lo em sua mente. De certa forma, ele tinha desacelerado seu coração e seus pulmões para impedir a infiltração de sangue e lhe dar tempo para selar as feridas com terra e saliva. Mas sua fome era uma coisa quase vivente, engatinhando através de seu corpo em um caminho lento e torturante. Atormentava-o implacavelmente. Ela podia sentir através de seu enlace mental. Ele era muito consciente do sangue vivo, emergente, ardente e cativante dela, tão perto. O demônio interior se agitava debaixo da superfície, ameaçando liberar-se.

     Stefan retornou a seu lado.

     —Deve lhe falar. Diga-lhe que não pode abandoná-la. Que não poderia viver sem ele.

     —De maneira nenhuma! Já é o suficientemente arrogante em seu estado atual. Isso é o último que deveria fazer. Sorrir bobamente como alguma idiota enamorada. Nunca me deixaria esquecer. E é tão egocêntrico que provavelmente acreditaria. — No mesmo tempo que dizia as palavras, seus dedos foram meigamente empurrando para trás os fios de cabelo emaranhadas, enxugando o sangue do rosto de Aidan.

     Stefan a olhou severamente, mas se absteve de expressar sua opinião.

     —Ele necessita de sangue. Eu o darei. Você deve conduzir de retorno a casa. Este fogo atrairá o olhar das autoridades logo e precisamos estar longe daqui.

   - Não. A voz do Aidan expressou fortemente seu protesto, mas só na mente da jovem. Ela se precaveu de que estava muito fraco para tentar falar.

   - É muito perigoso. Mataria-o. Não posso tomar o sangue de Stefan.

     Alex acreditou. Estava na pureza e na honradez de sua voz. Estava no alarme em seu corpo e sua alma, sua mente enchendo-se do protesto rugente.

     —Não, Stefan, você conduza. Aidan se recusa a lhe permitir doar, assim adivinho que terei que ser eu mesma. — A moça afastou para trás o cabelo de Aidan outra vez, com dedos suaves.

     - Isso é o que quer me dizer, não? Posso te doar meu sangue, mas Stefan não pode. Não diga que não. Não é como se tivesse te ajudado antes. Simplesmente tome e não discuta comigo ou poderia perder meu doce temperamento.

     E minha coragem, adicionou silenciosamente para si mesma.

     - Não estou seguro de que possa estar a salvo.

   - Grande coisa. Disse-lhe isso, não tenho muito que perder. Este realmente não é meu estilo de vida. Faça logo, Aidan. Simplesmente não me machuque, de acordo?

   - Nunca, cara – ele reconfortou-a.

   Precisaram ajudá-lo, Stefan e Alexandria, para colocá-lo no carro. Seu rosto estava cinza e cheio de dor, mas não fez um som até que o acomodaram com a cabeça embalada no regaço da jovem.

     —O sangue derramado deve ser destruído. — disse o Caçador, mas só Alexandria captou as palavras. Ele estava tão fraco que mal podia murmurar.

     —Quer que você limpe os restos de sangue, Stefan. — O coração da mulher palpitava rapidamente. Isso era por ele. Ela morreria essa noite dando a vida por esse homem. Não sabia que criatura era, só que se tratava do ser mais valente que tinha conhecido. Não estava segura de que o que acreditava dele fosse certo, ou que inclusive gostasse, mas era o correto. Sabia do mais profundo de sua alma.

     Stefan amaldiçoou brandamente.

     —Corremos o risco de ser vistos quanto mais tempo fiquemos - queixou, mas precipitadamente voltou para a lata de gasolina que tinha deixado para os investigadores e suas equipes, para orvalhar os atoleiros de sangue. - Terei que tirar qualquer rastro da participação de Aidan na luta. - e tinham pouco tempo para fazê-lo.

   Alexandria inclinou sua cabeça sobre Aidan.

   —Você não pode esperar. Faça já. Mas me prometa que sempre cuidará de Joshua. Que esta vida demente nunca o tocará. Prometa-me.

   - Sempre, minha cara. A voz em sua mente era débil e ela soube que não tinham muito tempo.

     Sentiu primeiro, o movimento de sua mão. Os dedos masculinos acariciaram a coluna magra de seu pescoço, enviando um tremor por sua coluna vertebral. Seus dedos abriram os botões da camisa de seda, a camisa dele, descobrindo sua pele nua. O ligeiro roçar de seus dedoscontra a suavidade de seus seios, acendeu chamas ardentes através de seu sangue. Ela relaxou, arqueando-se mais perto para que sua respiração quente roçasse a pulsação sobre seu coração, que batia com frenesi. O contato dos dentes de Aidan raspando delicada e eróticamente sua pele, derramou calor líquido por seu corpo, produzindo uma dor pesada e pouco familiar.

     Alex fez um som, um gemido suave, enquanto o calor, vermelho vivo, explorava através dela e os dentes perfuravam sua pele e se afundavam profundamente. Embalou a cabeça masculina contra ela, entorpecida pela satisfação, oferecendo-se o limite para ele. Foi uma experiência sensual sentir seu sangue derramando-se no corpo dele, reabastecendo as células e tecidos danificados, enchendo de calor seus músculos, enchendo o de vida.

     A jovem podia sentir a força entrando fortemente nele do mesmo modo que lentamente fluía dela. Era como um sonho nebuloso e erótico. E então ele esteve em sua mente, murmurando suave e tentadoramente, palavras de amor. Palavras que ela nunca tinha ouvido, com sons antigos e belos. O carro se movia, um arqueio vago, que acrescentava essa eternidade surrealista.

     Stefan desceu do carro em frente os portões da mansão e correu para jogar o ferrolho das pesadas portas de ferro atrás deles. Todo o tempo comprovava nervosamente os céus. Quando retornou ao carro, assustou-se ao encontrar a situação no assento traseiro alterada dramaticamente. Agora era Aidan que estava sentado, firme e alerta, coberto de sangue, mas já tendo recuperado a cor, enquanto Alexandria jazia imóvel, com o rosto cinza, como uma morta. Via-se pequena e perdida nos braços de Aidan, quase como uma menina.

     Stefan afastou o olhar. Tinha passado boa parte de sua vida junto a esse homem, mas a realidade da existência de Aidan era muita para aceitá-la. Sabia em seu coração que Aidan nunca machucaria a mulher, mas vê-la dessa maneira, tão quieta e sem vida, depois que ela tinha exteriorizado tanto coragem...

     —Guarde o carro, Stefan. Baixarei a terra por um dia ou dois. Dependerá de ti responder qualquer pergunta se a polícia se aproximar. Deve proteger ao menino e a Enjoe de qualquer intruso. Lembre-se. Nada pode danificar esta casa durante a noite, mas os vampiros podem usar os humanos para que obedeçam a suas ordens. — Stefan ajudou Aidan a sair do carro, observando-o enquanto alcançava o assento traseiro para levantar o corpo frouxo da Alexandria em seus braços.

     —Sei o que eles e seus serventes podem fazer, Aidan. Estarei alerta para evitar um ataque.— o reconfortou asperamente.

     —Coloca sangue dentro da câmara para mim esta noite, e logo saia e se manten afastado. Mantén a Enjoe e o menino longe da câmara. Não será seguro para nenhum de vocês até que eu substitua a quantidade que perdi. — disse ele limpamente, sua força começando a minguar. Alexandria era uma mulher pequena, e Aidan tinha tomado toda a nutrição que, com segurança podia dela e logo a tinha induzido ao sono profundo de sua gente para mantê-la viva até que pudesse substituir sua perda de sangue.

     Permitiu a Stefan ajudá-lo a atravessar a casa. Enjoe chegou correndo, gritando quando o viu. Ele ouviu os pés do menino no piso da madeira dura e deu meia volta, seus olhos dourados flamejando com advertência.

     —Mantenha afastada, a criança de mim. — falou bruscamente, tratando de apagar sua fome voraz.

     Enjoe se deteve sobre seus passos, uma mão pressionada contra sua garganta. Aidan estava coberto de sangue e sujeira, Alexandria sem vida, embalada em seus braços. O sangue e a terra regavam o piso de madeira no caminho da porta. Os olhos do Aidan eram vermelho brilhante, seus dentes brancos afiados e luminosos como os de um predador.

     —Enjoe!— A voz do Stefan a propulsou para ficar em ação. Ela se apressou a interceptar Joshua antes que pudesse presenciar o horror dessa noite. As lágrimas caíam por seu rosto, enquanto tratava de alcançar ao menino, correndo do vestíbulo para as escadas.

     Joshua tocou as lágrimas em sua cara.

     —Não chore, Enjoe. Alguém feriu seus sentimentos?

     Ela se esforçou para se controlar. A casa tinha que ser limpa antes que o menino pudesse descesse a escada. De algum jeito, tinha que levá-lo a dormir.

     —Não é nada, Joshua. Tive um pesadelo. Não tem pesadelos algumas vezes?

     —Alexandria diz que se a gente rezar uma oração e pensa em coisas realmente boas, você sabe, as coisas que você gosta, terá bonitos sonhos. — Joshua esfregou sua face contra a dela. — Sempre funciona quando ela o faz comigo. Direi orações para voce como ela faz, e não terá pesadelos outra vez.

     Enjoe se encontrou sorrindo ante a simplicidade e a inocência de Joshua. Tinha três meninos, agora crescidos e Joshua trazia de volta as lembranças da doçura da infância. Abraçou-o mais perto.

     —Obrigado, Joshua. Sua irmã é uma mulher muito boa. Tem sorte de a ter—. Reprimiu um soluço. — E, de todas maneiras, o que faz fora da cama a estas horas da noite? São quase quatro horas da manhã. Que vergonha, jovencinho.

     —Pensei que Alexandria estava em seu quarto, mas não está. Estava procurando-a - os olhos do Joshua deixaram notar o medo de perder a irmã.

     —Aidan teve que levá-la a um lugar especial para que se curasse. Está ainda muito doente, Joshua. Devemos ter paciência até que ele a faça melhorar.

     —Estará bem?— perguntou o menino ansiosamente.

     —É obvio. Aidan nunca deixaria que nada lhe acontecesse. Ele velará por ela muito de perto. Sabe.

     —Posso falar com ela por telefone?

     Enjoe o colocou na cama, levantando os cobertores até seu queixo.

   —Não durante um tempo. Ela dorme, como deveria estar fazendo você. Ficarei contigo até que durma como um pedaço de pau.

     Ele sorriu. Um sorriso doce e angélical que devolveu o calor a Enjoe.

     —Posso-te ensinar a oração.

     Ela levou uma cadeira até lado da cama e tomou sua mão, escutando a voz de seu menino dizendo coisas suaves e inocentes para Deus.

     Stefan envolveu um braço ao redor da cintura de Aidan para sustentá-lo. Podia sentir a perturbação de Aidan ante o contato e podia saber que era resultado de sua batalha com o demônio sempre presente dentro dele, lutando pelo controle.

     A força enorme de Aidan diminuía drasticamente. Sua fome voraz, sua necessidade de sangue era tão forte que parecia dominar cada um de seus sentidos. Envolvia-se ao redor de seus órgãos e se arrastava através de sua mente com urgente necessidade.

   —Ande, Stefan, saia daqui. — disse ele roucamente, tratando de afastar à força, o homem maior.

   —Te levarei para a câmara, Aidan. —disse Stefan firmemente—Não me fará mal. Sustenta a sua mulher em seus braços. Ela é sua salvação. Em todo caso, ofereci minha vida para ti em mais de uma ocasião. Se for seu desejo tomá-la neste instante para te salvar e a tua mulher, não tenho nenhuma objeção.

     Aidan apertou os dentes e dominou duramente seus instintos predadores. À vontade de sobreviver era forte, a necessidade de sangue fresca e quente, suprema. Fez um intento para não ouvir o coração de Stefan palpitando forte e estável, o pulso do sangue correndo através do corpo desse homem tão próximo a ele.

     Uma vez na câmara, Stefan o soltou e retrocedeu, sabendo que causava desassossego em Aidan. Sabia em seu coração que Aidan nunca o faria mal. Ele confiava no homem da Raça dos Cárpatos muito mais do que Aidan confiava em si mesmo.

     —Trarei o sangue, Aidan.

     Aidan assentiu com a cabeça bruscamente e colocou o corpo quase sem vida de Alexandria na cama. Recostou-se, trazendo-a, a seu lado. Sua mão, ao redor da trança grosa de seu cabelo. Ela o tinha salvado, assumindo que morreria no processo. Voluntariamente, livremente, tinha devotado sua vida pela dele. Sua união era muito mais forte do que acreditou. Ela nunca sobreviveria a sua morte. Estavam conectados para toda a eternidade, verdadeiros companheiros. Ele tinha pronunciado as palavras antigas vinculando suas almas. Duas metades de um todo.

     Suspirou e deitoi-se ao lado dela, interiormente amaldiçoando sua necessidade de sangue. Não poderia baixar a terra sem ingerir mais sustento. Esperou, o demônio dentro dele rugindo e enfurecendo-se, até que sentiu o humano aproximar-se. Até que ouviu o suave ruído de passos. Pesada-a, porta chiou e Stefan colocou várias garrafas de sangue no piso. Depois se retirou, deixando sozinhos, Aidan e sua companheira na câmara.

     Aidan cambaleou através da câmara e envolveu sua mão em uma garrafa de vinho. Bebeu rapidamente o conteúdo e o mesmo fez com a seguinte. Stefan tinha levado cinco garrafas cheias Aidan consumiu todas, mas ainda assim seu corpo desejava ardentemente mais.

     Mas com sua energia renovada pelo fornecimento de sangue, moveu a cama com um movimento de sua mão e abriu a escotilha para a terra fresca que esperava embaixo. Usou de muita concentração para separar os estratos de terra para fazer um espaço para seu corpo e o de Alexandria. Recolhendo-a em seus braços, flutuou dentro do amparo da Mãe Terra. Acomodou seu corpo em volta do de sua companheira e começou os feitiços antigos e intrincados para proteger a entrada de sua guarida. O alçapão se fechou e a cama em cima deles se moveu de retorno na posição correta. Fechou a terra sobre eles, ao redor deles e desacelerou seu coração e seus pulmões enquanto sentia as propriedades curadoras da terra abraçando-se ao redor de suas feridas. Seu coração vacilou, seus pulmões ascenderam e caíram, e então todas suas funções corporais cessaram.

     Stefan fechou a porta do porão, sabendo que poderiam demorar dias antes que Aidan fizesse outra aparição. Esperava haver levado sangue suficiente. Aidan proveria a Alexandria quando se levantasse de novo e caçasse suas presas humanas. Até então, dependia de Stefan custiar a casa, a Enjoe e ao jovem Joshua.

     Encontrou Enjoe limpando o piso. Voltou-se para ele imediatamente, com olhos interrogantes. Ele a abraçou com ternura.

     —Viverá, Enjoe. Não se preocupe por ele.

     —E sua mulher?

     Stefan sorriu cansadamente.

     —É assombrosa. Não quer saber de nada nem dele nem de nós, mas salvou sua vida.

     —Ela será sua salvação. Mas tem razão, Stefan, ela não quer estar aqui conosco.

     O tom de Enjoe era triste, sentindo seu coração cheio de compaixão.

     —Ainda não entende o que lhe aconteceu. — disse Stefan com um suspiro — E na verdade, eu não gostaria de ter que me enfrentar o que enfrenta essa moça. Não entende a diferença entre Aidan e os vampiros. Foi rudemente utilizada e trata de obter sua liberdade todo o tempo. Inclusive sua capacidade para estar junto de Joshua se vê restringida.

     —Teremos que ser pacientes com ela.

     Stefan sorriu repentinamente.

     —Ele terá que ser paciente com ela. Ela fará frente a ele como ninguém em toda sua vida o tem feito. As mulheres americanas modernas são muito diferentes daquelas que ele está acostumado.

     —Pensa que é. Mas é bem gracioso, não verdade, Stefan?— comentou sua esposa.

     —Absolutamente. Aidan nunca entendeu como conseguiu me apanhar, mas está a ponto de inteirar-se. — Ele a beijou com gentileza e acariciou seu ombro—. Limparei o carro e o caminho de acesso e iremos à cama. — Sorriu sugestivamente.

     Enjoe riu carinhosamente e o olhou sair de noite aberta.

     O sol estava alto no céu, dissolvendo com seu fogo a névoa que se desprendia do oceano. Enjoe e Stefan acompanharam Joshua até sua escola e se atrasaram uns momentos para assegurar-se de que ninguém vigiava o menino. O jornal matinal tinha especulado que os dois homens encontrados totalmente incinerados e com poucas possibilidades de ser identificado, provavelmente teriam brigado um com o outro. Considerava-se que algum dos homens acidentalmente se molhou quando atirava a gasolina para ocultar as evidências. A lata de gasolina, enegrecida, achada na cena, tinha as impressões digitais de uma das vítimas.

     Stefan evitou as perguntas de Enjoe, sem querer recordar como tinha pressionado a mão do Ramon ao redor da lata. Não estava seguro de haver encoberto cada detalhe e estava nervoso com a possibilidade de que a polícia fosse de um momento a outro a bater em sua porta.

     Quando retornaram a casa, entretanto, não foi à polícia a quem encontraram. Foi Thomas Ivan. Vestido em um traje italiano caro, feito a medida, esperava impacientemente na porta principal. Levava um ramalhete enorme de rosas brancas e vermelhas mescladas com samambaias. Dedicou ao casal seu sorriso mais encantador, inclusive se engenhou para fazer uma ligeira inclinação de modo respeitoso para Enjoe.

     — Quis fazer uma visita e ver se Alexandria se sentia melhor. Pensei que poderia ser um bom momento, também, para me desculpar por meu rude comportamento de outro dia. Estava preocupado por Alexandria e me descarreguei com você.

     —Ela se alegrou por ter recuperado suas pastas. — replicou Enjoe sem comprometer-se. — Recebeu sua mensagem e estou segura de que entrará em contato logo que se sinta melhor.

     —Pensei que as flores lhe animariam. — disse Thomas gentilmente. Podia manipular os serventes quando quisesse. Enquanto o senhor do feudo não aparecesse, poderia passar além da porta desta vez. — Possivelmente poderia passar a vê-la, lhe desejar que se recuperasse. - Só ficarei um momento.

     A mulhernão se moveu de sua posição. Em pé, imediatamente atrás dela, parecendo um autêntico assassino da máfia, Stefan permanecia impassível. Ivan tratou de controlar seu mau humor. Não serviria de nada transtornar essas pessoas. Precisava convencê-los para que ficassem a seu lado.

     Enjoe negou com a cabeça.

     —Sinto muito, senhor Ivan, é impossível. O senhor Savage deixou instruções específicas de que Alexandria não deve ser perturbada, segundo as ordens do médico.

     Thomas assentiu com a cabeça.

     —Sei que você tem que fazer o que lhe ordena, mas pode ver que estou realmente preocupado por ela. Simplesmente quero vê-la, comprovar por mim mesmo que está bem. O que lhe parece? Não temos que dizer ao senhor Savage. Não ficarei por muito tempo, simplesmente uma olhada rápida para me assegurar de que ela está bem. —Tirou várias notas de vinte dólares do bolso, enrugando-os impacientemente.

     Enjoe se indignou.

     —Senhor Ivan! Está sugiriendo que traia a meu chefe?

     Ele jurou.

     —Não, claro que não. Simplesmente tive a intenção de lhe dar algo pelos problemas adicionais.

     —Alexandria não é nenhum problema, senhor Ivan. — disse Enjoe, interpretando o mal deliberadamente. — É parte de nossa família, como seu irmão. Conhece seu irmão?— Sabia muito bem que ele não o conhecia e sua voz o dizia tudo.

     Thomas Ivan estava furioso. Essa mulher estava fazendo uma batalha lhe desafiando, deliberadamente zombadora. Desejou poder deportá-la, preferentemente para alguma parte fria, úmida e incômoda. Em lugar disso, sorriu outra vez, apertando os dentes enquanto o fazia.

     —Não dava a entender de nenhuma forma que Alexandria pudesse ser um incômodo para você. Possivelmente sua compreensão do inglês não é tão boa. De onde é originariamente?— tratou de injetar interesse em sua voz.

     —Romênia. — disse Enjoe - Mas não tenho problemas com o idioma inglês. Estive aqui durante muitos anos. Consideramos São Francisco nosso lar agora.

     —É o senhor Savage também é da Romênia?— estava muito interessado na resposta. Talvez pudesse deportar o bastardo arrogante sem ter que mediar com seu pessoal.

     —Não posso discutir sobre meu chefe com um desconhecido, senhor — disse Enjoe atentamente e com rosto inexpressivo.

     Thomas sabia que a velha bruxa em segredo ria dele. Aspirou profundamente. Bem, ela e o homem atrás de si, enfrentavam um inimigo muito mais frio do que imaginavam. Tinha amigos influentes e, além disso, eles eram dois estrangeiros.

     —Só era curiosidade, porque o acento de Savage é diferente do seu. — Gostaria de dizer mais educado, mais cultivado, simplesmente para insultá-la, mas se refreou. Podia esperar pacientemente sua vingança. Faria registrar a casa inteira, faria com que o departamento de imigração caísse sobre o lugar imediatamente. — Pois bem, sinto que não possa me ajudar. Estou extremamente preocupado por Alexandria. Mas, se rehúsa a me permitir vê-la ou falar com ela por telefone, não fica outra opção, que ir à polícia. Como um possível seqüestro. — Acreditou ver alarme no rosto da mulher, mas o homem atrás dela não moveu um músculo. Thomas começou a perguntar-se se o homem levaria uma arma. Talvez fosse o assassino do grupo. O dorso de seu pescoço começou a arder de inquietação.

     —Continue e faça o que pense que deva fazer, senhor Ivan. Não posso transgredir minhas ordens.— disse Enjoe firmemente.

     —Então possivelmente poderia falar com o senhor Savage pessoalmente.— sugeriu com tensão.

     —Sinto muito, senhor Ivan, mas isso não é possível há esta hora. O senhor Savage não está em casa, e não há nenhum número onde possa ser localizado.

     —Que conveniente para o senhor Savage.— disparou Thomas, que sentia tanta frustração, que sua fúria começou a sair. — Então veremos quanto gostará de falar com a polícia!— Ele deu meia volta, esperando que o verdugo não lhe disparasse pelas costas. O olho começou a tremer bruscamente, da forma que sempre o fazia quando estava bravo.

     —Senhor Ivan?— A voz de Enjoe foi suave e doce, quase serena.

     Ele voltou-se com uma sensação de triunfo. No final das contas, havia dito algo para assustar ao casal de idiotas.

     —O que?— espetou, mostrando seu desagrado.

     —Quer deixar as flores para a Alexandria? Ocuparei-me de que as receba. Estou segura de que vão animá-la, sabendo que vieram do senhor. — Enjoe fazia força para não rir do homem. Via-o tão tolo, tão convencido de sua importância, tão seguro de que poderia intimidá-los. Não temia enfrentar à polícia, mas podia fazer um bom uso das flores.

     Ivan empurrou as rosas para ela e partiu com rigidez, de maneira nenhuma apaziguado por seu débil intento por engraçar-se com ele. Esses estrangeiros lamentariam havê-lo conhecido. Obviamente não tinham idéia da classe de poder que possuía.

     Enjoe levantou o olhar para o Stefan e ambos riram.

     —Sei o que pensa, mulher malvada. Quer usar essas flores para deixar Aidan louco de ciúmes.

     — Como pode pensar algo assim, Stefan?— disse Enjoe inocentemente—. Simplesmente não podia suportar que flores tão belas se desperdiçassem. Colocarei-as no refrigerador até que Alexandria se levante. Animarão seu quarto ou, melhor ainda, a sala de estar.

     Stefan a beijou ligeiramente na face e se voltou para sair.

     —Aidan está a ponto de passar por alguns momentos interessantes.

     —Aonde vai? Não vais deixar me deixar aqui para tratar com as autoridades. Esse homem vai diretamente à delegacia de polícia e provavelmente o escutarão.

     —O mais seguro é que os desgoste com suas demandas aborrecíveis e Aidan é bem conhecido da polícia local. Sempre doa dinheiro para suas causas e tomou cuidado que manter uma boa relação com eles. Não acredito que o senhor Ivan seja uma grande ameaça, mas quero dar uma olhada ao redor e me assegurar de que tudo esteja em lugar para sua visita oficial. —reconfortou Stefan.

     —Sempre podemos deixar que Joshua fale com eles, se tivermos que fazê-lo. — sugeriu Enjoe, vagamente inquieta, como fazia sempre que Aidan estava vulnerável.

     —Não chegaremos tão longe. — a tranqüilizou Stefan.

 

     O sol se afundou no mar com uma explosão brilhante de cores. A névoa, inesperadamente, chegou em abundância.Uma neblina branca e estranha que pendia quedamente sobre as casas e o cais, avançando com lentidão através dos parques e becos escuros, até que os encheu. Nenhum vento moveu o véu nebuloso e os carros tiveram que avançar lentamente.

     Meia-noite. Aidan abriu caminho com muito esforço para a superfície. Estava faminto. Esfomeado. Os olhos bordeados de vermelho e acesos com uma necessidade feroz. Suas vísceras se retorciam e trovejavam. As células e os tecidos gritavam, exigindo nutrição.

     O som ruidoso de corações palpitando a curta distância, chamando-o, cativando-o, quase o enlouqueceram. Seu rosto estava pálido, quase cinza, sua pele seca e enrugada, sua boca abrasada de sede. As presas jorravam pela antecipação e as unhas largas como navalhas, apontavam em seus dedos.

     Por um momento, seus olhos descansaram sobre o corpo sem vida jazendo tão quieto junto a ele na terra aberta. Alexandria. Sua companheira. Sua salvação. O único que se interpunha entre ele e o destino que sua espécie temia. Por ela, ele não se transformaria, não se converteria em vampiro. Livremente tinha sacrificado sua vida pela dele, e tinha selado seus destinos como nada mais poderia havê-lo feito, atando-os irrevogavelmente por toda a eternidade. Ela tinha escolhido a vida para ele, por conseguinte, tinha-o escolhido para si mesmo. Não havia importância para o homem que ela não fosse realmente consciente do que estava fazendo. Simplesmente, ela havia feito.

     Ela necessitava de sangue. Sua situação era até mais desesperadora que a sua. Não poderia despertá-la até que pudesse alimentá-la. Seu corpo estava exausto, e sem nutrição para reanimá-la, não poderia permanecer viva mais que uns escassos momentos.

     Ela cheirava sangue. Cálida e fresca. Palpitando, emergindo, retrocedendo e fluindo como a chamada eterna do mesmo oceano. O demônio que levava dentro rugiu, aborrecido por controlá-lo e apesar de tudo, também por salvar a sua companheira. Desesperado por alimentar a roedora, gimiente fome. Um homem. Uma mulher. Um menino. Aidan retrocedeu da beira do desastre bem a tempo, controlando-o suficiente para fazer os preparativos necessários.

     Minutos mais tarde foi correndo através do estreito túnel subterrâneo, um borrão de velocidade, tão rápido que inclusive um camundongo não detectaria sua presença. Já não exibia vestígios de sangue ou sujeira: suas roupas eram elegantes, seu cabelo limpo e assegurado em um grosso rabo de cavalo na nuca. Atravessou o corredor de pedra que conduzia ao porão, sem contratempos. Enquanto colocava sua mão na porta que levava a cozinha, detectou a presença da mulher entrando no quarto em outra porta. Por um momento, seu coração se acelerou pela excitação e a saliva apareceu, antecipando o alimento, mas reprimiu as respostas. Com sua testa descansando contra a porta, concentrou-se em alcançar à mulher mentalmente, tirá-la do caminho do mal.

     Enjoe se encontrava inexplicavelmente na sala de estar, mas a salvaria da fome obsecante de Aidan aumentando o espaço entre eles com cada passo que a afastasse dele. No momento que ela ficou a uma distância segura, o homem se deslizou através da cozinha e foi para a horta.

     Instantaneamente os aromas que saturavam o ar da noite assaltaram seus sentidos, alagaram-no, contaram-lhe histórias. Só a alguns metros de distância, um coelho estava escondido, congelado de apreensão. Estava consciente do predador mortífero caçando sangue. O coração do animal bateu pesadamente, de maneira selvagem. Nas casas, rua acima, Aidan percebia onde estava cada corpo quente e o que estava fazendo. Dormindo, tomando um bocado, fazendo o amor, brigando. Um véu de névoa o rodeou, camuflou-o, converteu-se em uma parte dele.

     Três dias e duas noites tinha estado na terra curativa. Com uma infusão nova de sangue, estaria mais forte que nunca. A fome batalhava por obter o controle, e grunhindo, lançou-se ao céu, mais perigoso que qualquer coisa que Thomas Ivan alguma vez tivesse concebido. Percebia cada respiração das futuras presas humanas e aqueles que se moviam debaixo dele estavam em perigo essa noite. Pela primeira vez, possivelmente não poderia suspender sua alimentação a tempo de ter piedade de suas vidas.

     Era uma sombra escura deslizando-se sobre asas no alto, invisível para os de abaixo. O objetivo de Aidan seria o Golden Gate Park, com seus arvoredos e sua paisagem ondulada, para que fosse sua reserva de caça essa noite. A névoa era mais pesada ali, a espera dele, encobrindo seu avanço. Aterrissou agilmente. Seus pés silenciosos tocando a terra ao mesmo tempo em que suas asas se rendiam.

     A algumas jardas de distância, espreitou um grupo de homens, quase recém saídos da adolescência, exibindo as cores de sua turma e esperando seus rivais, infundindo-se valor para uma briga. Todos estavam armados e eufóricos pelas drogas. Faziam circular uma garrafa de vinho barato.

     Aidan cheirava seu suor, os poros exalando vapor pela adrenalina e o medo que com sua linguagem soberba e beligerante tentavam esconder. Era o som e o aroma do sangue fluindo em suas veias e artérias o que lhe interessava. Concentrou-se neles um por um, encontrando o sangue menos afetado pelo abuso das substâncias.

     - Venham a mim. Venham aqui rapidamente. Precisam estar aqui, agora.

     Enviou a chamada hipnótica facilmente, sua fome eratão forte que cativou vários deles. Ao resto do grupo, simplesmente lhes ordenou que não notassem a ausência dos outros.

     Pegou o primeiro homem e afundou seus dentes profundamente, incapaz de controlar a compulsão de alimentar e ser suficiente suave. Bebeu o líquido quente, suas células esfomeadas, absorvendo-o. O sangue se lançou através de seu corpo como uma bola de fogo, derramando força em seus músculos. Pode evitar tomar a última gota de sangue e ganhar a última energia. Foi o pensamento de Alexandria que o deteve à beira da destruição definitiva. Ela, livremente, tinha sacrificado sua vida por ele. Não podia entregar-se, a sua fome e sua natureza predadora, desperdiçar esse presente precioso matando e condenando sua alma.

     Aidan se concentrou suas lembranças nela, a curva de sua face, o comprimento dos pesados cílios, nos olhos intensamentes azuis. Tinha um sorriso tão substancioso como o mel. Sua boca era luxuriosa e ardente, como seda aquecida pelo sol. Deixou cair sua vítima e arrastou a seguinte para ele.

     O líquido da vida derramou dentro dele fechou seus olhos e pensou nela. Tinha os olhos como gemas azuis, com estrelas no centro. Era valente e compassiva. Nunca deixaria cair sua presa a seus pés como ele estava fazendo. Capturou ao terceiro homem e o aproximou, sentindo que sua fome começava a aliviar-se. Teve mais cuidado esta vez.

     Um som penetrou o frenesi de sua alimentação e ele soube que a outra turma estava por chegar, tratando de passar trabalhosamente através da névoa grosa. Seus carros ainda estavam muito distantes para alertar a aqueles que os esperavam no parque. Afastou com força à terceira vítima e alcançou à quarta.

     Realmente não era justo permitir a essa turma brigar com vários de seus homens fora de combate, refletiu. Logo um sorriso lento curvou sua boca. Já Alexandria estava fazendo seu efeito nele. Para ele, as pessoas como esses homens não tinham honra nem códigos e estavam dispostos a machucar ou matar brutalmente inclusive a aqueles que nada tinham a ver com seus conflitos, mesmo mulheres e crianças. Esses indivíduos sem honra não tinham lugar no mundo de Aidan. Apesar de tudo, sob a influência de Alexandria, tomava em consideração intervir para deixar a esse grupo de assassinos, uma oportunidade justa para entrar em sua batalha ridícula pelo poder. Embora nenhum deles soubesse o que era o poder verdadeiro, realmente.

     Deixou cair o quarto homem e alcançou o quinto. Sua fome estava aplacada, sua força completamente recuperada, mas era para Alexandria. Seus dentes brancos refulgiram por um momento, suspensos sobre a garganta exposta. O mundo cinza, desolado e vazio estava agora cheio de cores brilhantes e aromas excitantes. Outra vez continha fascinação e beleza. Permitiu-se gozar desse conhecimento para finalmente afundar-se. Uma verdadeira companheira. A salvação por fim. Podia sentir emoções, nunca estaria sozinho outra vez... Nunca mais estaria sozinho outra vez! Os séculos de vazio se foram em um momento.

     Alexandria.

     Com um pequeno suspiro, obedecendo algumas regras, deixou cair o último homem na relva molhada e enviou um aviso à turma que estava chegando. As ondas de terror os golpearam ao senti-lo. Permaneceram silenciosos, olhando uns aos outros. Aidan se encontrou sorrindo abertamente. Talvez tivesse que ser bom, mas isso não queria dizer que não pudesse divertir-se enquanto isso.

     O condutor do primeiro carro deteve seu veículo a um lado da estrada, aspirando enormes goles de ar, sem aparente razão, em seus pulmões. Suava profusamente.

     - Vai morrer esta noite. Todos vocês morrerão. A névoa cobre um monstro. A morte te chama.

     Simplesmente para enfatizar sua ameaça, Aidan se lançou para o céu. Seu corpo desfigurou-se até que se converteu em um alado lagarto gigante com dentes afiados e proeminentes. Sua cauda era escamosa, larga e grosa e seus olhos vermelhos como um rubi. Saiu da névoa, direto para a fila de carros parados e respirou fogo sobre seus capôs.

     Portas se abriram de repente e os membros da turma saíram correndo através da rua, seus gritos de terror ecoando na névoa. Aidan riu baixinho enquanto aterrissava diretamente à direita do carro da frente, sua forma alterando-se enquanto o fazia. Seu focinho comprido se cortou, as presas brotaram violentamente e seu corpo se compactou em tendões e músculos lupinos. A pelagem se ondulava em suas costas e suas patas, emergindo sobre sua pele.

     Correu atrás dos homens com seus olhos vermelhos resplandecendo na névoa.

   —O lobo! É o homem lobo!— O grito ricocheteou ao longo da rua, e uma pistola detonou. Era impossível para algum deles ver além de alguns metros de distância, mas para o Aidan o ar era perfeitamente claro e sabia a posição exata de sua presa. Perseguiu-os durante um momento, desfrutando de sua habilidade para correr tão velozmente. Havia gozo em seu coração. O gozo que haveria sentido um pouco mais de setecentos anos antes. Estava-se divertindo.

     —Era um dragão!— gritou uma voz enquanto todos corriam, o ruído de seus passos eram fortes na escuridão.

     Aidan percebeu outra voz.

     —Isto não é real, homem. Talvez tivemos uma espécie de alucinação maciça.

     —Bem, fique e comprove-o então - respondeu violentamente alguém - Vou ao inferno, longe daqui.

     O lobo os espreitou mais perto, farejando o humano. O homem diminuía a velocidade de sua carreira, seguro de que nada disso podia ser realidade. O lobo se lançou de um salto, cobrindo uma distância considerável com uma elasticidade singular e agarrando o humano pelo traseiro de suas calças. Ficou com um bocado de tecido de seu jeans e o homem deu um guincho. Sem olhar para trás, escapou para unir-se a seus amigos, suas botas soando ruidosamente na rua enquanto corria a toda a velocidade que suas pernas lhe permitiam.

     Aidan riu a gargalhadas, estrepitosamente desta vez, o som fez um eco misterioso que se transmitiu no leito espesso de névoa. Não podia recordar a última vez que se divertira tanto. Os membros da turma gritavam, chorando de medo. Para equilibrar as forças de ambas as turmas, concentrou-se nos carros, volteando-os, um a um, até que cada carro estivesse apoiado sobre seu teto, as rodas dando voltas inutilmente no ar. Logo fez o mesmo à turma rival. Precisavam descansar no parque por um tempo, de qualquer maneira.

     Depois de assegurar-se de que nenhuma das duas bandas pudesse começar uma briga, lançou-se para o ar outra vez, esta vez correndo a toda velocidade de retorno a Alexandria. Aterrissou no caminho de pedra da horta, fora da cozinha. Um peixe saltou no lago e o som foi sonoro no ar da noite. O vento começava lentamente a trocar de posição, abrindo passo com serenidade através da névoa. As nuvens de névoa branca formaram redemoinhos agilmente e flutuaram aqui e lá como véus de renda. O efeito era formoso. Tudo era formoso.

     Aidan respirou fundo e contemplou o céu. Essa não era sua terra natal, mas era seu lar. O vampiro se equivocou a respeito disso. Aidan tinha aprendido a amar São Francisco ao longo dos anos. Era uma cidade interessante, com pessoas interessantes. Em realidade, sentia saudades de sua espécie e a ferocidade das montanhas da Raça dos Cárpatos e seus bosques. Daria tudo para poder tocar a terra de sua pátria. A terra antiga de sua gente estaria para sempre em seu coração, mas essa cidade tinha seu próprio encanto, suas diversas culturas mesclando-se e construindo um mundo incrível para explorar e desfrutar.

     Aidan usou suas chaves para abrir a porta da cozinha. A casa estava em silêncio. Stefan e Enjoe permaneciam dormidos em seu quarto. Joshua dormia a intervalos, obviamente incômodo por estar tanto tempo separado de sua irmã, embora Enjoe lhe tinha permitido ficar a noite no pequeno salão fora de seu dormitório, no primeiro piso. Stefan tinha cumprido sua promessa. A casa estava fechada e assegurada, com as grades de ferro sobre as janelas para protegê-los contra qualquer invasão.

     As medidas preventivas de Aidan eram fortes. Os feitiços, poderosos e antigos, conhecidos sós por alguns dos mais antigos de sua raça, estavam tecidos nos vitrais intrincados das portas. Gregori, o Escuro, o mais temido dos Caçadores da Raça dos Cárpatos e seu maior curador, tinham-lhe ensinado muitas das defesas, os métodos de cura, inclusive as maneiras para caçar aos não mortos. Mikhail, seu líder e o único amigo de Gregori, tinha estado de acordo em enviar Aidan aos Estados Unidos como Caçador uma vez que soube que os traidores tinham começado a ramificar-se e procurar outras áreas para as usar como mortais campos de atividades. Gregori treinava a poucos Caçadores. Era um solitário e evitava os outros por regra general.

     Julian, o irmão gêmeo de Aidan, havia tentado trabalhar com Gregori por um tempo, mas era muito parecido ao Escuro. Um solitário. Necessitava os picos mais altos das montanhas, os bosques mais profundos. Precisava correr com os lobos e remontar-se com as águias, tal como Gregori preferia. O caminhodeles não tinha sido o caminho das pessoas, das cidades ou inclusive os de sua própria espécie.

     Aidan se moveu através da cozinha imaculada para a porta do porão. Repentinamente, lhe ocorreu que cheirava bem a cozinha, com seus aromas de especiarias e pão recém assado. Enjoe e sua família antes dela, sempre tinha feito de sua casa um lar. Realmente nunca o tinha apreciado antes. A lealdade dessa família ainda o assombrava, embora até agora não houvesse pensado o que tinham feito que sua vida, até então desolada, fosse uma existência passível.

     Aspirou o aroma de sua família. O calor se pulverizou através de seu corpo, de seu coração. Depois de séculos de uma existência fria e árida, quis cair de joelhos com gratidão, pela alegria inesperada desse tesouro. Tampouco nunca antes tinha percebido o efeito rústico obtido no porão. Não era simplesmente um espaço mofado e subterrâneo. Era um quarto brilhante, enorme e luxuoso enriquecido com as peças esculpidas de madeira de Stefan e um conjunto imponente e bem organizado de ferramentas. Os bancos e as mesas estavam limpos, as ferramentas da horta brilhavam, e para sua esquerda descansavam bolsas incontáveis de rica terra empilhada cuidadosamente. Stefan. Devia tanto a esse homem.

     O próprio Aidan tinha escavado meticulosamente o túnel que conduzia a sua câmara escondida, depois de ter estudado as formações de rochas e com a segurança de que a câmara secreta seria impossível de penetrar ou detectar tão perto da grande extensão de água. Os não mortos podiam saber que ele dormia a curta distância, mas nunca perceberiam sua posição exata.

    Aidan tinha escolhido o sítio para construir sua casa com muito cuidado. Como o dinheiro quando a pessoa vivia durante séculos, tinha de sobra para que lhe durasse várias vidas. Foi simplesmente encontrar o edifício e a posição correta para suas necessidades específicas. Queria poucos vizinhos, pois embora se misturasse bem em sua nova sociedade, necessitava de espaço e privacidade. Precisava de áreas terras, nas quais pudesse vagar e a liberdade do campo em seu próprio pátio. Necessitava do mar com suas ondas estrepitosas e os perfumes e a névoa que pudesse manipular quando fosse necessário.

     Sua propriedade, com vistas para oceano e sobre um promontório, estava tão perto da perfeição como tinha desejado. Possuía suficiente terra ao redor da casa para usá-la como uma barreira entre os vizinhos e ele, mas havia outras casas ao longo da estrada. Ainda assim, contava com a privacidade necessária para evitar que um dos traidores o encontrasse e lutasse com ele. Alguém que o descobrisse.

     Estabelecer uma casa nova e em uma terra nova tinha sido uma das coisas mais difíceis que tinha feito em sua longa vida. Mas agora, enquanto se aproximava de sua câmara de sono, essa dificuldade se tornou pálida em contraste com o que sua valente Alexandria confrontava em sua vida nova. Esperava morrer e inclusive tinha dado a boas vindas à morte, especialmente se significava salvá-lo. Tinha sentido em sua mente que ela não estava disposta a caçar homens para alimentar-se. Não tinha uma natureza predadora ou instintos de caça. E temia ser um vampiro. Nem todas as explicações do mundo conseguiriam vencer sua desconfiança. Só o tempo podia fazer isso e ele, de algum jeito, devia conseguir o suficiente para convencê-la de que nem eles eram vampiros, nem assassinos desumanos. Necessitava de tempo para fazê-la precaver-se de que lhe pertencia, que seu lugar estava com ele e que nunca poderiam ser separados.

     Ele a tirou da terra, embalada entre seus braços. Estendendo-a na cama, fez um sinal com uma mão e fechou a terra e a escotilha. Ela não precisava enfrentar sua nova e incomum vida nesse instante. Ela despertaria em uma cama e em um quarto. Já estava sofrendo com tudo o que vilha lhe acontecendo, para se encontrar enterrada clandestinamente.

     Teria que trabalhar rápido. No momento em que a jovem despertasse, dominaria sua mente antes que ela desse conta do que acontecia e resistisse. Não queria iniciar sua relação obrigando-a a fazer algo aborrecido para ela, mas apesar de tudo, não havia outra alternativa para substituir sua perda enorme de sangue.

     Respirou profundamente, acariciou seu cabelo e logo abriu sua camisa.

     - Acorde, pequena. Acorde e tome o que necessita para viver. Beba o que te ofereço. Faça como te ordeno.

     Sob sua mão, o coração feminino tremeu, despertando lentamente, sem sangue sufucuente para suportar a vida. A unha de Aidan cortou o próprio peito e pressionou a boca de Alexandria contra a constante corrente vermelha.

     Ele segurou a mente da moça, firmemente, enquanto seu corpo lentamente se esquentava, enquanto seu coração e seus pulmões encontravam ritmo. Com a infusão de seu sangue, muito mais forte, sua força retornou rapidamente. Sem aviso, ela lutou contra ele, compreendendo abruptamente o que ocorria. Com um pequeno suspiro, permitiu que ela ganhasse essa pequena batalha e a soltou deliberadamente.

     Ela se arrastou para longe dele, caindo sobre o piso e cuspindoo sangue de sua boca, tratando desesperadamente de odiar o sabor do fluido doce e picante que aumentava a força nela.

     —Como pode?— Ela engatinhou para longe da cama, cambaleou sobre seus pés e se pressionou contra a parede, enxugando a boca repetidas vezes. Seus olhos estavam completamente horrorizados.

     Aidan se viu forçado a fechar a ferida em seu peito. Moveu-se lentamente para reduzir o medo da moça. Muito cuidadosamente, incorporou-se.

     —Tranquilize-se, Alexandria. Ainda não se alimentou o bastante para restaurar sua força.

     —Não posso acreditar que tenha feito isto. Supõe-se que estou morta. Prometeu cuidar de Joshua. O que me fez? — Ela gritou enquanto ofegava tentando respirar, encostada à parede, para manter-se de pé. Suas pernas estavam moles como se fosse de geleia. Você mentiu.

     —Escolheu a vida para mim, Alexandria. E eu não posso viver sem voce. Nossas vidas estão vinculadas agora. Não podemos sobreviver, um sem o outro. — Ele falou amavelmente, sem fazer nenhum movimento para aproximar-se dela. Alex parecia disposta a fugir, à provocação mais leve.

     —Eu escolhi salvar sua vida. Ambos sabíamos o que isso significava. — disse a jovem desesperadamente, colocando com força os nódulos dos dedos contra a boca para impedir-se de gritar. Eu não poderia, não o faria, viver dessa maneira.

     —Eu sabia o que significava, cara. Você não o fez.

     —É um mentiroso. Como posso acreditar em algo que diga? Tornou-me como você e agora me obriga a viver de seu sangue. Não posso, Aidan. Não importa o que me faça, mas não beberei o sangue de ninguém. Não mais. — Alex estremeceu visivelmente e deslizou o corpo para o piso. Levou os joelhos ao peito e se balançou, consolando-se.

     Aidan suspirou, tentando não reagir muito rápido a suas palavras. Ela estava afastando-se dele, bloqueando-o em sua mente para não deixá-lo entrar. Ou era é o que ela pensava. Ele estava familiarizado com sua mente agora e lentamente entrou.Uma sombra leve, vigilante.

     —Nunca te menti, Alexandria. Decidiu que se salvaria minha vida, entregando a tua em troca. — Deliberadamente, ele amaciou a voz.

     —Tinha medo por Stefan.

     — Por que preferiria deixar que Stefan vivesse e tirar sua vida? Não pentou nisso. Não confiava em mim para poder me deter, em relaçao ao Stefan. Tinha perdido muito sangue, mas meus instintos de sobrevivência eram muito fortes. Você foi à única pessoa segura.

     Ele disse calmamente. Sua voz musical e hipnótica espalhou-se pela mente e pelo corpo dela, embebendo-a e moderando o horror, aliviando um pouco a tensão que havia entre eles.

     — Por que? Por que seria seguro? Stefan foi seu amigo durante anos. Não me conhece. Por que estaria a salvo quando ele não?

     —Você é minha companheira. Nunca poderia te fazer mal. Por você, poderia me controlar e você poderia me alimentar. Contei-lhe tudo isto em mais de uma ocasião, mas você insiste em ignorar a informação.

     —Não entendo nada disto!— falou a jovem— Eu simplesmente sei que quero me afastar de voce. Confunde-me até o ponto em que não saber se os pensamentos em minha cabeça são meus ou seus.

     —Não é uma prisioneira, Alexandria, mas a verdade é que precisa ficar perto de mim. Não há maneira de se proteger e proteger Joshua sem mim.

     —Deixarei a cidade. Evidentemente, está invadida de vampiros, de todos os tipos. Quem iria ficar?— perguntou, entre a amargura e a risada histérica.

     —Aonde iria? Como viveria? Quem cuidaria de Joshua durante o dia enquanto te vê forçada a dormir?

     Alexandria apertou as mãos sobre suas orelhas, na intenção de bloquear a visão que evocavam suas palavras.

     —Cale-se, Aidan. Não quero te ouvir outra vez.— Levantou seu queixo, seus olhos de cor safira encontrando os dele. Muito lentamente, insegura, empurrou suas costas para subir contra a parede.

     Ele se levantou lentamente, seus movimentos refletindo os dela. Via-se tão poderoso, tão invencível, que Alex não podia acreditar que estava desafiando-o. A fome rugiu dentro dela. O pouco de sangue que Aidan havia lhe dado somente tinha aguçado seu apetite. Seu organismo esfomeado gritava, insistente, impossível de ignorar. Alexandria pressionou uma mão contra sua boca. Era maligna. Ele era maligno. Nenhum dos dois deveria viver.

     - Isso não é verdade, Alexandria. Não é verdade, absolutamente. Ele se deslizou lentamente para ela, silencioso, imprevisível, sua voz suave, persuasivo... A jovem esfregou a testa.

     —Meu Deus, você está em minha cabeça. Pensa realmente que vou acreditar que é normal falar um com o outro em nossas mentes? Que sempre saiba o que estou pensando?

     —É normal para nossa raça. Não é um vampiro, cara. É uma mulher da Raça dos Cárpatos. E é minha companheira.

     —Detenha-se! Não diga mais!— admoestou-o Alexandria.

     —Continuarei dizendo até que entenda a diferença.

     —Entendo que você me fez. Não se supõe que estou viva. E ninguém, supõe-se, vive por séculos. E ninguém, supõe-se, mata os outros para sobreviver.

     —Os animais fazem todo o tempo, pequena. E a humanidade mata animais para comer. Mas em todo caso, não matamos quando nos alimentamos, como os vampiros fazem. É proibido. O ato, mancha nosso sangue, destrói nossa alma.— disse ele pacientemente. — Não há necessidade de temer sua nova vida.

     —Não tenho vida. — Ela disse, olhando cada movimento que ele fazia, Alex avançou com indecisão para a porta. — Você tirou minha vida.

     Ele estava a vários metros da pesada entrada de pedra. Ela avançava lentamente. Mas no instante em que cambaleou para abrir a porta, a mão do Aidan já a detinha. Seu corpo, maior, mais forte, bloqueava seu caminho para a liberdade.

     Alexandria permaneceu quieta.

     —Acreditei que não era uma prisioneira.

     —Por que resiste a minha ajuda? Se deixar esta câmara com sua fome em seu estado atual, seu desassossego aumentará.

     Aidan não a tocava, mas ela podia sentir seu calor. Seu corpo parecia aspirar o dele. Sua mente procurava seu contato. Horrorizada, empurrou-o.

     — Afaste-se de mim. Vou sentar me com Joshua por um momento. Preciso pensar e não te quero perto. Se não sou sua prisioneira, então se afaste de mim.

     —Não pode se aproximar do menino em seu estado atual. Está coberta de sujeira e manchada com meu sangue.

     —Onde é o banheiro?

     Ele vacilou. Depois decidiu não mencionar que ela não necessitaria de um banho, se não quizesse. Deixaria-a ser tão humana como precisasse ser. Não custava nada.

     —Pode usar o banheiro privado no segundo andar. Suas roupas estão em seus aposentos e todo mundo está dormido. Ninguém te incomodará. — Ele deu um passo atrás e fez um gesto para o corredor.

     Alexandria atravessou correndo o túnel e entrou no porão. Tinha que deixar esse lugar. Se não, o que ia fazer com Joshua? Aidan a arrastava mais e mais, para dentro de seu mundo. Um mundo de demência, de loucura. Tinha que ir.

     Nunca havia entrado no segundo andar, mas estava tão perturbada que logo notou o corredor adornado meticulosamente, os tapetes luxuosos e a elegância de cada quarto. Enjoe tinha feito o melhor que podia, para colocar as coisas de Alexandria à mão. Para fazê-la sentir como se essa fosse sua casa. Alexandria quase arrancou de sua pele a roupa asquerosa e entrou no banheiro enorme, de painéis de vidro. Estava imaculado, como se ninguém o tivesse usado.

     Abriu a torneira, ativando-a-o mais quente que pudesse suportar e levantou o rosto para o jorro de água, tentando não ceder à histeria. Não era uma vampiresa, não era uma assassina. Não devia estar nessa casa. Joshua, certamente, não tinha lugar ali.

     Fechou os olhos. O que ia fazer? Onde poderiam ir? Lentamente, passou os dedos por sua grossa tranca, afrouxando-a para poder lavar os cabelos. Comprido e de rápido crescimento, elescaía além de seus quadris enquanto esfregava o xampu em seu couro cabeludo. O que ia fazer? Não tinha idéia e nada parecia factível.

     A fome estava sempre presente, roendo-a por dentro até que sua mente consumir-se. Podia sentir o sabor do sangue de Aidan em sua língua. Sua boca encheu de saliva e seu corpo pediu mais. As lágrimas misturaram-se com a água que derramava em seu rosto. Não podia fingir que nada estava lhe ocorrendo. E o pior de tudo era que não podia tolerar estar afastada de Aidan. Podia sentir sua mente tratando de alcançá-lo. Seu coração se sentia pesado, quase dolorido, longe dele. Não podia deixar de pensar nele.

     —Odeio-te. Odeio o que me tem fez. — murmurou em voz alta, esperando que ele ouvisse em sua mente.

     Vestiu-se lentamente, escolhendo suas roupas com cuidado. Colocou sua calça jeans favorita. Usada e descolorida, com dois rasgos estratégicos Adorava o contato deles contra sua pele. Eram normais, parte de sua rotina. Colocou a blusa de renda, de cor marfim, enfeitada com pequenos botões de pérola. Sempre a fazia sentir-se feminina.

     Enquanto tirava a toalha do cabelo, olhou-se no espelho pela primeira vez. Ficou aterrorizada com a imagem que refletia. Teve um impulso histérico de chamar Thomas Ivan e dizer que ele precisava repensar algumas das idéias para seus absurdos jogos de vampiros. Já não parecia realmente tão brilhante. Imóvel, via sua imagem frágil, pálida, com os olhos muito grandes para seu rosto. Tocou o pescoço. Na suave pele de cetim não havia cicatrizes nem marcas de feridas. Erguendo suas mãos com assombro, estudou suas unhas longas. Nunca conseguira ter unhas longas. Seus dedos se dobraram até converter-se em pequenos punhos.

     Não podia mais permanecer nesse lugar. Precisava pensar em como manter Joshua seguro. Com os pés nus, desceu para o vestíbulo. Não teve necessidade de acender as luzes, pois podia enxergar claramente na escuridão. Outra vez, sua mente se sintonizou tentando alcançar a de Aidan e teve que fazer um esforço supremo para evitá-lo. Não queria que ele soubesse o que estava pensando ou sentindo. Não queria admitir que era diferente de qualquer outro ser humano. Lentamente desceu as escadas.

     Sabia exatamente onde estava Joshua. Encontrou o quarto onde ele dormia. Permaneceu em pé na porta e o observou, com o coração dolorido pelos dois. Via-o, pequeno e vulnerável. Seu cabelo claro e brilhante era um halo encaracolado no travesseiro. Podia ouvir, inclusive, sua respiração suave.

     Alexandria se aproximou da cama lentamente, com lágrimas densas nublando sua visão. Joshua tinha perdido tanto. Ela tinha sido uma pobre substituta de seus pais. Embora houvesse tentado, nunca tinha conseguido tirar ele do pior bairro da cidade. Parecia uma ironia terrível que agora, finalmente, ele estivesse em uma mansão, rodeado de tudo o que o dinheiro podia comprar e estudando e uma das escolas mais prestigiosas da região. E o homem que o tinha feito possível, para que tudo acontecesse era um vampiro.

     Permaneceu sentada sobre a colcha de plumas de ganso e apoiou uma palma sobre sua suave espessura. O que ia fazer? A única pergunta. Poderia levar Joshua e fugir? Aidan deixaria? Sabia, em algum lugar profundo dentro de si, que ele havia permitido ela afastar-se quando a tinha obrigado a alimentar-se. Era muito mais exigente do que ela podia conceber e ele ocultava a imensidão de seu poder.

     Deixou que sua respiração saísse lentamente. Não tinha parentes para onde levar Joshua. Não havia ninguém que pudesse ajudá-la. Nenhum lugar onde correr.

     Inclinou-se para beijar a cabeça de seu irmão. De novo, percebeu a maré de seu sangue. Podia ouvi-la pulsar através das veias da vida. Olhou fascinada a pulsação no pescoço do menino. Podia cheirar o sangue fresco e sua boca encheu-se de saliva, pela fome. Respirou fundo. Sua face acariciando o pescoço de Joshua.

     Então Alexandria sentiu suas presas afiadas e preparados contra sua própria língua. Horrorizada, afastou-se de um salto da cama. Para longe da criança adormecida. Logo tomou ciencia que tinha alcançado a porta, de um só salto, com uma mão apertada contra a boca, escapou pelo vestíbulo e atravessou a casa. Avançando em tropeções para abrir a porta principal e sair na noite escura, onde pertencia.

     Correu tão rápido e tão longe que pôde. Cada passo diminuindo drasticamente suas forças. Seus soluços rasgando o peito. A bruma não era agora mais que uma tênue névoa e as estrelas se estendiam em todas as direções através do céu. Quando sua adrenalina se esgotou, Alexandria se deixou cair sobre a terra junto a um portão de ferro forjado.

     Era maligna. O que havia pensando? Que simplesmente poderia levar para longe seu irmão e tudo seria como antes? Joshua nunca estaria a salvo com ela. Aidan poderia ter dito a verdade a respeito de Stefan. A fome a arranhava com intensidade, sua pele formigava de necessidade. Seus dedos encontraram o peso sólido de uma barra de ferro, e ela pensou em atravessar o próprio coração com ela. Tentou arrancar a barra, mas estava solidamente incrustada no cimento. Fraca pela falta de sangue, nunca poderia tirá-la sozinha.

     Mordendo-os lábios para tranqüilizar-se, considerou suas opções. Nunca colocaria Joshua em perigo. De forma alguma, retornaria a casa. Só podia rezar porque Enjoe e Stefan aprendessem a amar Joshua e o protegessem da loucura da vida de Aidan. Não desejava machucar a qualquer outro ser humano. E isso lhe deixava só uma opção. Ficaria ali até que o sol se saísse e esperaria até que a luz a destruísse.

     —Nem pense nisso, Alexandria.— A figura alta e musculosa de Aidan apareceu entre a névoa. — Isso não vai acontecer. — Seu rosto era uma máscara implacável. — Está tão desejosa de morrer, mas não está disposta a aprender a viver.

     Ela segurou a barra de ferro do portão até que seus nódulos ficaram brancos.

     — Se afaste de mim. Tenho o direito de fazer o que quiser com minha vida. Isso se chama livre-arbítrio, embora esteja segura de que o conceito vai além de sua compreensão.

     Em um lento desdobramento de músculos, ele se endireitou até alcançar sua altura completa. Uma segura elegância se entranhava nele, como uma segunda pele.

     —Agora me provoca.

     —Juro-lhe. Se você continuar usando esse tom calmo e frio comigo, ficarei histérica e não serei responsável pelo que faço. — ela apertou mais seus dedos ao redor da barra, no caso dele obrigá-la a seguí-lo.

     Aidan riu baixinho, mas sem humor. Era um som masculino e tentador que enviou um tremor em sua coluna.

     —Não me coloque a prova. Estou no limite, piccola. Não permitirei que você espere o amanhecer. Não haverá discussão neste assunto. Aprenderá a viver como deve.

     —Sua arrogância me assombra. Sob nenhuma circunstância voltarei para sua casa. Não sabe o que estive a ponto de fazer.

     —Não existem secretos entre nós, Alexandria. Você cheirou o sangue de Joshua, e seu corpo reagiu normalmente. Tem fome. Mais do que faminta, você está esfomeada e necessita de alimento. Reagiu de maneira natural à proximidade de uma fonte de alimentação. Mas nunca bancaria a louca. Nunca machucaria seu irmão.

     —Não pode estar tão seguro. — Ela mesma não o estava. Como poderia ele estar? Estremeceu-se, agitada, inclinando a cabeça sobre seus joelhos para esconder sua vergonha.— Não era a primeira vez. Aconteceram duas vezes.

     —Sei tudo a respeito de voce. Estou em sua mente, em seus pensamentos. Posso sentir suas emoções. A fome que experimentou foi natural. Não pode se descuidar das necessidades de seu corpo. Mas, Alexandria, não poderia machucar nunca, uma criança. A nenhum menino e muito menos a Joshua. Não está em sua natureza.

     —Desejaria poder acreditar em voce.

     A voz dela soou tão desamparada, que quase lhe rompeu o coração. Ele odiou. A carga terrível de confusão e a informação errônea que havia obtido em sua vida, havia se misturado aos mitos e lendas sobre vampiros. Ele teve de enfrentar um vampiro real e seus próprios poderes ao mesmo tempo.

     Seus dedos foram suaves sob o queixo feminino. Ergueu-lhe a cabeça para que seus olhos ficassem cativados pelos dele.

   —Não posso te mentir, cara, porque você pode ler meus pensamentos à vontade. Una sua mente completamente à minha e saberá que digo a verdade. Não há perigo para Joshua. Sou em parte um animal selvagem, um Caçador, uma máquina de aniquilação muito eficiente. É verdade, às vezes. Mas não é o seu caso. Um homem da Raça dos Cárpatos tem a cargo o amparo, a saúde e a felicidade de sua companheira. Sou a escuridão para sua luz. Você tem compaixão e bondade dentro de voce. É da Raça dos Cárpatos agora, mas igual a todas as mulheres de nossa casta, sua verdadeira natureza é gentil. Não há perigo para Joshua.

     Ela queria acreditar. Havia algo na pureza de sua voz, na franqueza de seu olhar, que quase a convenceu. Queria acreditar nele.

     —Não posso me arriscar.— disse ela com tristeza.

     —E eu me nego a te perder. — Ele se inclinou, desenredou seus dedos da barra de ferro e a levantou facilmente em seus braços. — Por que não me deixa te ajudar? Sei que é um trauma horrível para voce, mas escute seu coração, sua mente. Por que escolheu me salvar se pensa tão mal de mim?

     —Não sei. Já não sei nada mais, exceto que quero que Joshua esteja seguro.

     —E eu te quero segura.

     —Não posso suportar estar junto dele e ter essa sensação de fome como hoje. Senti-me tão mal pensando no sangue, olhando seu pulso.— pressionou uma mão no estômago.— Fiquei doente. Assustei-me.

     A boca de Aidan tocou seu cabelo na mais singela das carícias.

     — Permita-me te ajudar, Alexandria. Sou seu companheiro. É meu direito e também minha responsabilidade.

     —Não sei o que quer dizer.

     Ele podia sentir a resistência diminuindo rapidamente nela. A jovem o contemplou com desespero. Não havia confiança nas profundidades de seus olhos, só uma terrível dor. Não poderia opor-se a sua força ou sua determinação implacável.

     — Permita-me te mostrar.— disse brandamente. Sua voz baixa e intensa convertida em sedução feroz.

 

     Os braços de Aidan se apertaram um pouco mais, enquanto sustentavam Alexandria. Havia uma expressão diferente, refletida em seu rosto. Uma sensação tão forte que teve medo de nomear. Posse. Ternura. Uma mistura de ambas, que a fizeram sentir-se cuidada e entesourada, sexy e bela.

     A maneira que seu olhar se movia sobre sua face, tocando seus lábios como um beijo físico, fez com que seu coração se acelerasse.

   Um sorriso lento curvou a sensual boca masculina.

     —Vejo que está descalça. Ia sugerir te um passeio sob as estrelas, mas seu hábito parece ter atacado outra vez.

     Ela engoliu saliva, esforçando-se em mostrar um semblante controlado. Não queria voltar para casa. Precisava distanciar-se de Joshua e compreender o que tinha acontecido.

     —Dado que corri até aqui, não acredito que caminhar me faça mal. Coloque-me no chão, Aidan. Não sairei correndo.

     Sua risada desgrenhou seu cabelo.

     —Como se pudesse se afastar de mim.— Muito lentamente, saboreando a sensação de tê-la junto a ele, Aidan a baixou.

     Ela olhou para cima. Havia algo novo em sua relação com ele, que não estava presente antes. Estava muito consciente dele como homem. Alto, forte, arrumado, sensual. Sua mente desprezou com rapidez o pensamento e baixou a cabeça outra vez. Perdeu o sorriso repentino de Aidan.

   —É uma noite bela, minha cara. Olhe em volta de você. — ele falou tranquilamente.

   Por estar consciente dele movendo-se com facilidade a seu lado, ela obedeceu, desejando evitar pensar nele e o poder estranho que parecia manter sobre ela.

       As estrelas eram uma manta de diamantes por cima deles. A jovem respirou profundamente, inspirando a brisa salgada que se vinha do oceano.

     Atrás deles, estava o arvoredo espesso que crescia ao longo da ladeira. Diante deles, o terraço com vista para o oceano. A estrada serpenteava para cima, na colina e as casas, no passar do caminho eram grandes, mas se misturavam adequadamente com a paisagem. As luzes da cidade rivalizavam com as estrelas. A vista era impressionante.

     Aidan se moveu mais para perto, simplesmente um leve movimento de músculos, mas ela sentiu o calor de seu corpo. Um calor líquido, inesperadamente enraizou profundamente em seu ventre. Seu coração bateu mais rápido. Fascinação. Ele a fascinava. Cativava-a. Como se fosse por acaso, afastou-se lentamente para pôr um pouco mais de espaço entre eles. Ele deslizou, em vez de caminhar, com seus olhos dourados bebendo a paisagem que os rodeava. Um olhar lento e penetrante que não perdia nada, incluindo sua retirada.

     —Se se alimentasse corretamente, Alexandria, não haveria necessidade de voltar a sentir o que sentiu perante seu irmão. — Ele falou com voz impassível, seu tom cuidadosamente neutro. Ela sentiu como se ele tivesse lhe dado um murro no estômago.

     —Temos que falar disso?

     Alimentar-se. O que significava isso, exatamente? Não comer, a não ser alimentar-se. Seu cérebro se assustou com palavra e todas as suas conotações.

     A mão masculina escorregou sobre seu cabelo sedoso, seguindo a queda selvagem das ondas por suas costas, até seu traseiro arredondado. O gesto foi insuportavelmente terno. O calor gotejou sob sua pele e a boca ficou seca. A mão de Aidan acidentalmente roçou a sua. Seus dedos encontraram, logo os dele se fecharam ao redor dos dela para entrelaçá-los.

     —É o melhor, cara.

     Ela respirou profundamente, tratando em obrigar-se a concentrar no desagradável assunto, mas a proximidade de Aidan colocava seu mundo de pernas para o ar. Podia sentir a eletricidade entre eles. A ponta de sua língua, rapidamente molhou seus lábios. Notou agudamente que o olhar dourado seguiu o movimento singelo, convertendo-o em algo erótico.

     —O que sugere? Deveria fazer de Thomas Ivan meu fornecimento de comida?— propôs impertinente, porque sua garganta doía de apreensão. — Suponho que sempre poderia seduzi-lo como fazem as vampiresas no cinema.

     Aidan sabia que ela havia dito aquilo, por medo. Ele estava em sua mente. Mas a imagem de seu corpo enredado ao do desenhista de software foi instantâneo e vívido. O grunhido escapou de seus lábios, antes que pudesse detê-lo. Seus dentes brancos brilharam ameaçadores. Passou a mão livre pelo cabelo comprido e leonino. Nesse momento sentia-se perigoso e isso o horrorizou. Nunca havia sido uma ameaça real para nenhum humano a menos que participasse de uma guerra. Os humanos eram algo do qual podia alimentar-se e proteger. Raramente ele se enredava em suas brigas. Como todo homem da Raça dos Cárpatos, quando a terra se manchou de sangue e os países foram destroçados, tinha utilizado suas habilidades para lutar ao lado dos humanos. Mas o que estava acontecendo agora era diferente. Era pessoal. E Thomas Ivan nunca estaria completamente a salvo outra vez.

     Alexandria sentiu a mudança em Aidan imediatamente. Ele lutava contra algo letal dentro de si, uma batalha privada com um demônio que ela não conhecia. Seus dedos se apertaram ao redor dos dele.

     —O que está acontecendo, Aidan?— perguntou, preocupada.

     — Nem sequer brinque sobre isso, Alexandria. Duvido que Ivan sobrevivesse se o seduzisse. — ele disse com frieza, sem suavizar as palavras. Sua voz era suave, mas cheia de ameaça. Ele atraiu seus dedos para o calor de sua boca, atrasando-se sobre sua pele. — Ivan não precisa tentar o destino te tocando.

     Ela separou sua mão, perturbada pelo calor em seu corpo, pelo sofrimento que estava se tornando uma demanda urgente. Distraídamente esfregou sua palma sobre sua coxa coberta pelos jeans para apagar a sensação de seus lábios em sua pele.

     — Aidan? A metade do tempo, não posso entender nada do que diz. Por que Thomas estaria tentando o destino? Está me dizendo que eu o mataria?— tentou não conter a respiração, esperando a resposta.

     Seu corpo se apertou contra o dela outra vez enquanto igualavam a longitude de seus passos como bailarinos de tango.

     —Não, minha cara. Eu o mataria. Duvido muito que pudesse evitá-lo. Inclusive, não gostaria que acontecesse.

   Seus olhos de cor safira ficaram enormes enquanto ela o olhava.

   —Realmente quer dizer...? Por que faria isso?

     Ele vacilou um momento. O silêncio alongando-se enquanto escolhia cuidadosamente sua resposta.

     —Sou responsável por seu amparo. Esse homem procura mais que seus belos desenhos, Alexandria, e, inocente como é, não pode notar.

     Seu queixo se inclinou.

   —Acha que sabe tudo, senhor Savage, mas não. Eu poderia ter tido uma dúzia de amantes. Se escolhesse seduzir Thomas Ivan, não precisaria preocupar-se por mim. Posso me cuidar sozinha.

     A mão de aidam prendeu o sedoso cabelo repentinamente e ela deteve-se, abruptamente. Ele deu um passo mais para perto, dobrando seu corpo magro para trás. Seus olhos de ouro derretido, reluzentes de paixão, de possessividade, olharam-na diretamente.

   —Você é minha companheira. Nunca foste tocada por outro homem. Estive em sua mente e tenho acesso a suas lembranças. Não me diga que houve uma dúzia de homens em sua vida.

     Ela permaneceu passiva, quieta. O corpo dele era agressivo contra o dela, mas não sentiu dor, nenhuma sensação de que estivesse em perigo. Só sentiu sua intensidade terrível, como se seus demônios interiores lutassem dentro dele.

Os olhos azuis brilharam retornando seu olhar.

     —E ainda tem que ser machista. Supõe que devo acreditar que nunca houve mulheres em sua vida? E outra coisa. Saia de minha mente. Não tem direito a se meter em minha vida privada. E isso de dizer que é meu companheiro, não quero nada disso. — Ela tentou soar desafiante, mas era difícil quando sua boca perfeita estava só alguns centímetros da sua. Eram embaraçosas as sensações que essa boca a faziam sentir.

     Não podia desviar seus olhos dos dele. Viu que o ouro se esquentava, o propósito claro em suas profundidades. A boca dura se suavizou e muito lentamente, com paciência infinita, ele tocou com seus lábios os dela, numa pulsação breve e ligeira que enviou uma onda soberana de desejo, encrespando-se dolorosamente através de seu corpo.

     —Simplesmente, lembre-se, seduzir homens está fora da sua lista.— murmurou ele quase distraídamente contra sua boca.

     Ela podia saborear as palavras. Saborear sua respiração. Sua boca era quente e tentadora. Seu corpo estava excitado e podia senti-lo pressionando contra ela, duro de necessidade. A mão de Aidan emoldurou seu rosto, seu polegar deslizando em uma carícia através de seu pulso. O vento soprou a massa sedosa de seu cabelo através de sua mão e seu braço, ligando-o a ela quase de propósito.

     Ela podia sentir seu perfume incitando-a, selvagem e provocador, como um chamado animal a seu consorte. Seu ser inteiro respondeu contra toda razão, contra toda a prudência. Alexandria nunca havia sentido uma atração tão sexual por nenhum homem e a intensidade de sua resposta para ele estava além de sua compreensão. Era forte e urgente, apaixonada, úmida e ardente, uma necessidade tão elementar como o tempo. Queria-o ali mesmo, na noite, selvagem em seus braços, precisando dela.

Retrocedeu temblorosamente longe dele.

     —Detenha-se, Aidan. Simplesmente, detenha-se. — levantou uma mão para retê-lo.— Não estou pronta para isto. — Ele era tão intenso, tão viril e dominante, que a controlaria até que ela não pudesse existir sem ele. Até que ela não existisse sem ele. — Não vais assumir o controle de minha vida. — murmurou em seu ouvido.

     Ele acariciou com o polegar seu lábio inferior.

     —Apenas a toquei, minha cara e foge de mim como um coelho assustado.

     —Qualquer pessoa em seu juizo perfeito, fugiria de voce, Aidan. Fala loucuras. Não deveria ter importância para você, quantos amantes, tenho ou tive. Isso é assunto meu. Eu não te perguntei a respeito de sua vida amorosa, certa?—. Repentinamente pensou em seus braços ao redor de outra mulher e a idéia a pôs doente. —É um hipócrita. Ao longo de todos os séculos que assegura ter vivido, terão havido provavelmente mais mulheres do que poderia contar. Centenas. — Ela pensou. — Milhares. É um cachorro, Aidan Savage..

     Ele não pôde evitar rir. Tendo maior altura, tomou posse de sua mão outra vez e começou a caminhar lentamente de volta para a casa. Sua mão era pequena e frágil na dele, sua pele suave e cheirosa. O vento, decidido a fazer sua vontade, tocou seu cabelo, soprando-o através de seu braço, trancando-os com fios sedosos.

     Alexandria caminhou a seu lado, tentando não se sentir valorizada e protegida, enquanto ele se movia junto a ela. Era a forma em que ele se movia, crédulo, ágil e poderoso, que a fazia sentir-se tão vulnerável a sua possessividade, mas seus dedos eram suaves ao redor dos dela. A cada passo que davam, ela se sentia mais raiva por ele ter acesso a sua vida pessoal.

     —Penso que tem uma idéia equivocada a respeito de mim, Aidan. Posso não ter tido amantes reais, mas é só porque não me apaixonei por ninguém ainda. Senti-me atraída, entretanto. Não há nada ruim nisso.

     A boca máscula se crispou. Ele se absteve de sorrir, mas foi necessário caminhar vários metros, antes que pudesse responder com sua habitual voz neutra.

     —Nunca, em nenhum momento, pensei que fosse algo ruim. Se você se preocupar a respeito disso, entretanto, estarei feliz de te demonstrar o contrário.

     Ela retirou sua mão. Ele estava muito perto, muito sagaz e agudo. A química entre eles era explosiva. Não deveria tocá-la e muito menos beijá-la. Isso simplesmente não seria seguro.

   — Claro que faria. Mas não vai acontecer. Tenho uma regra a respeito de vampiros que me impede de me envolver com eles.

     Suas sobrancelhas se levantaram rapidamente.

     —Uma boa regra. Estou encantado de que comece a demonstrar sentido comum. E que não se sentisse atraída pelos homens humanos.

     —Thomas Ivan é muito atraente.

     Seus olhos âmbar brilharam intensamente ao olhá-la.

     —Pensou que ele era um tubarão. E a colônia que usa, te fez doer a cabeça.

   —Ele é do tipo que eu chegaria a gostar. - Protestou ela. — Temos bastante em comum. — Seus olhos azuis sustentaram o desafio. — Sua colônia não é má e sua aparencia muito agradável.

     O corpo de Aidan bloqueou o caminho e ela topou diretamente com ele, sua face pressionada em seu pescoço. Uma de suas mãos rodeou sua garganta.

     —Não. Ele não é para você. — Seu polegar traçou uma linha sobre seu lábio inferior.

     Novamente seu corpo começou a pulsar de necessidade. Como se não notasse seu estado, ele bloqueou-lhe o sentido do ar fresco da noite, das estrelas, de tudo. Menos de seus músculos sólidos, de seu calor e sua força. Seus seios se sentiram incômodamente tensos. Seu sangue fluiu numa melodia maluca através de seu corpo.

     Podia ouvir o coração masculino pulsando. Em suas veias, o sangue estava cantando, chamando-a. A fome a capturou, intensa e feroz. Ela tratou de afastar-se, deixando escapar um gemido pequeno. Havia se distraido, conseguindo esquecer realmente por um tempo que precisava alimentar-se de outro ser para existir. Mas a compreensão a afogou por completo todo o resto, a beleza que a rodeava se converteu em uma paisagem erma e desagradável. O medo despertou dentro dela. Com as palmas das mãos no peito deles, tratou de afastá-lo com um empurrão. Foi como tentar mover uma parede de cimento.

     Aidan simplesmente lhe sorriu.

     —Deixe de temer que o que é natural para voce. Pensa realmente que poderia me machucar?— Seus braços se fecharam apertadamente em volta dela, e a moça sentiu que seus pés deixavam a terra. A boca do homem acariciou sua orelha—. Mas obrigado pela preocupação.

     Agarrando firmemente sua cintura, Alexandria olhou sob seu braço para ver a terra afastando-se pouco a pouco. Flutuavam para cima, em um movimento preguiçoso e casual que aterrorizou seu coração.

     —Agora poderia ser um bom momento para lhe dizer temo às alturas.— se aventurou a dizer, seu coração pulsando pesada e ruidosamente em seus ouvidos.

     —Não, não é verdade, pequena mentirosa. Simplesmente tem medo das coisas que não entende. Sempre sonhaste voando, não é? Voar por cima da Terra? Conhece nosso mundo, pequena. Olhe as coisas maravilhosas que é capaz de fazer. — Havia uma diversão terna em sua voz. — Pode voar livre a vontade.

     —Sonhar e fazer são duas coisas diferentes. E não estou fazendo, você é quem está no controle.

     Sua risada era baixa e perversa.

     —Quer que te solte para provar? É capaz de flutuar sozinha.

     Seus dedos se prenderam convulsivamente em sua camisa.

     —Nem brinque a respeito disso, Aidan. — Mas ele não afrouxou seu abraço e ela se sentiu segura e protegida. Aspirando profundamente, Alexandria olhou a sua volta.

     Os feixes de névoa flutuavam brandamente em torno deles. Quis estender a mão e tocar uma, simplesmente para comprovar que podia, mas não estava suficientemente segura. As estrelas brilhavam intensamente no alto abaixo dela, as ondas rolavam no oceano e se chocavam nas grandes rochas, orvalhando espuma branca em todas direções. As gotículas pareciam diamantes brilhantes que se pulverizavam por todos os lados, através do azul escuro do mar. O vento balançava as copas das árvores de tal forma que elas se inclinavam e agitavam os ramos, ondeando para ela.

     Alexandria sentiu uma intensa de alegria. Sentia-se livre. O peso profundo e opressivo que a esmagava desapareceu por um momento e logo estava sorrindo, realmente sorrindo.   O som dessa risada entrou no coração de Aidan, envolveu-o e o apertou com força. Seus braços se estreitaram ainda mais. Ele queria ouvir o riso dela, todo o tempo. Seu perfume e seu contato desafiavam seu controle, tentando a fera que aninhava dentro dele.

   Ela sentiu a mudança. A forma em que seu corpo se movia contra o dela, a forma em que se enrijeceu na demanda urgente, a posse de seus braços enquanto a sustentava. Estavam no balcão da casa agora. No terceiro andar, em seus aposentos privados. Seus pés aterrissaram, mas os dela não. Ele a levou facilmente para uma cadeira luxuosa do salão de janelas deslizantes com vidros de intrincados desenhos de cores.

   —Aidan!— foi o protesto ofegante. O pânico a tomou. Não podia estar a sós dessa maneira com ele. Ele era muito tentador e ela muito vulnerável. Suas emoções estavam expostas e em carne viva.

     A boca dele percorreu rapidamente suas pálpebras, sua face.

     —Não te disse que deveria confiar em mim?— Ele se acomodou com ela em seu colo. A moça estava intimamente pressionada contra ele que não pareceu se importar que ela pudesse sentir sua violenta necessidade. Os segredos entre eles não existiam. Facilmente, ela poderia ter entrado em sua mente e ter encontrado a mesma informação.

     Alexandria tremeu, repentinamente assustada. Havia algo diferente nele, uma mudança elementar que tinha notado desde que a havia despertado a última vez. Via-se diferente, como se ela fosse dele, que seu direito sobre ela era completo, indiscutido. Havia ternura, mas também uma determinação profunda, um propósito implacável. Tocou seu rosto com dedos tremulos.

     A noite dava brilho a beleza masculina, à massa grossa de cabelos dourados que caíam pelos ombros largos. Podia ver o nariz elegante, a mandíbula firme e os lábios perfeitos.

     —Una sua mente à minha.— foi sua suave ordem.

     Ela negou com a cabeça. Sua vida já estava mudada para sempre. Instintivamente, soube que ele a estava arrastando mais perto, atraindo-a mais ainda em seu mundo. Tinha que controlar alguma coisa.

    —Não, Aidan. Não quero isto.

     —Só tenho a intenção de te alimentar, cara, nada mais, embora admitirei que a tentação é quase mais do que posso suportar. Una sua mente à minha. —Desta vez sua voz tornou-se sugestiva, hipnótica, preguiçosa e sedutora.

     Ela lutou contra o poder em seus braços. Em sua mente, ecoou as palavras, te alimentarei. Seu estômago vibrou. Seu coração bateu forte. Em lugar de revolver-se, houve uma antecipação quente, fazendo com que a tensão sexual entre eles aumentasse ainda mais. Reprimiu um soluço baixo. Essa não era ela. Não poderia. Ela não desejaria tanto a um homem que sua mente e corpo inteiros doíam e ardiam de necessidade. Ela nunca consideraria cravar os dentes em alguém, mas pensar em sua boca contra o peito de Aidan e em seu pescoço, seu corpo se vibrou com força e pulsou em resposta. O calor brotou em seu interior, uma sensualidade úmida e quente que nunca havia conhecido.

     —Une sua mente à minha.—murmurou ele outra vez. Suas palavras eram sedução contra sua pele. Sua língua acariciou seu pulso e seu corpo se vibrou por antecipação.

       Desesperadamente ela fez o que ele desejava. Sua mente era uma neblina de apetite corpóreo, com uma fome urgente e exigente. As imagens eróticas dançaram em sua cabeça. Sua língua a acariciou de novo, mais abaixo esta vez, enquanto seus dedos lentamente penetravam entre os botões de pérola de seu suéter. Ela se sentia banhada em calor, em necessidade, em fome. Sua pele estava ultrasensitiva. Ouviu-se gemer, sentindo o golpe do ar fresco, tentadoramente, através de seus seios.

     Ele a tocou. Sua mão deslizando-se por sua pele até fechar-se posesivamente sobre a pele de cetim dos seus seios. Seus dentes morderam seu pescoço, sua garganta. Ele murmurou algo inarticulado. “Preciso de voce, Alexandria. Pertence-me. É minha”. Seus dentes roçaram seu seio, atrasaram-se eróticamente. Sua língua de veludo acariciou o mamilo duro intensamente. “Sou seu companheiro. Tome de mim o que necessita. Alimente-se, minha pequena. Tire de mim o que só eu posso te dar”. Ela sentiu a boca dele sobre a sua, quente, erótica e estranha.

     Seus olhos se fecharam. Sentia-se em um sonho. Seu corpo parecia pesado, pouco familiarizado com os desejos que nunca havia experimentado e seu ser inteiro pedia por uma liberação. Necessitava desesperadamente de saciar sua fome.

     Um sorriso lento e feminino de satisfação curvou sua boca. Sua língua saboreou a pele e o sabor masculino, picante. Aditivo. Seus lábios roçaram seu pulso.

     Os músculos de Aidan se contraíram, tensos. Apertou os dentes e fechou os olhos contra as demandas de seu próprio corpo. Ela era como erva picante e relâmpagos brancos. O fogo acariciou seu peito e se espalhou através de seu ventre plano, movendo-se para abaixo, para atormentá-lo com uma promessa dolorosa, mas não cumprida de liberação. Sua língua o tentou, dançando sobre sua pele. Pensou que enlouqueceria.

     Alexandria possuía uma sensualidade natural, intensificada pelo poderoso sangue da Raça dos Cárpatos que agora fluía em suas veias. Aidan era seu companheiro e apesar dela se recusar a admitir o que acontecia, seu corpo a desejava ardentemente, necessitado e faminto por ela. Suas inibições naturais estavam sendo empurradas para um lado, sua humanidade varrida por uma maré de paixão nascente. Seu sangue, estalando de fogo, clamava pela sua. O corpo magro se movia contra o dele, procurando uma união mais próxima, pele contra pele, sem os limites da roupa. Sua mente estava engrenada a dele, trancadas além de todo pensamento solitário. O que queria ele, ela queria. O que necessitava ela, necessitava ele.

     A língua feminina acariciou seu pulso, formou pequenos círculos sobre seus músculos. Ele atirou para trás a cabeça e gemeu em voz alta. Um brilho fino de suor cobria sua pele e seu corpo enrijeceu urgente. Suas calça jeans ficou mais apertada, seu corpo esforçando-se para liberar. Os dentes de Alexandria o arranharam ágil, insistentemente. Um estremecimento começou em alguma parte de suas pernas e subiu por seu corpo. Seu sangue pulsava com ondas de urgência, um vulcão preparado para explodir. Desejava-a mais do que havia desejado alguem em todos os longos séculos de sua existência. Seus braços a apertaram possessivamente. Inclinou sua cabeça para acariciar com os lábios, o cabelo sedoso, suas pálpebras fechadas, suas têmporas.

     Não demorou e ele estava ofegante, tentando respirar, deixando escapar um estrangulado gemido rouco. Seus músculos e seus tendões se esticaram enquanto a branca dor quente percorria seu corpo, enquanto o prazer indescritível enchia cada célula. Os dentes da jovem o tinham perfurado profundamente e seu sangue fluiu nela, sua boca movendo-se num frenesi sensual de alimentação. Erótica. Quente.

     Sua mão deslizou sobre seu peito, acariciou seu abdômen plano, seguiu o rastro de cabelo dourado até que as pontas de seus dedos acariciaram o cinto de suas calças. Aidan desviou seu peso, tratando de frouxar o tecido estirado que cobria seu corpo palpitante. Necessitava de alívio. Estava desesperado por ele.

     Suas presas estavam afiadas contra sua língua, sua boca cheia da necessidade quente. Acariciou com o nariz a nuca feminina enquanto ela se alimentava. O ato era mais erótico que nunca, desvanecendo em sua memória os encontros sexuais de séculos anteriores, antes que suas emoções, seus desejos e sentimentos tivessem desaparecido. Seus dentes se cravaram em seu ombro, imobilizando-a no antigo desdobramento de dominação da Raça dos Cárpatos, um instinto que ele não sabia que possuía até esse momento. Seu corpo estava tenso, molhado em suor, pulsando de necessidade e ardendo em fogo.

     A mão dela se moveu sobre a constrição do tecido. Sua mente, tão profundamente unida a dele, estava perdida pela necessidade apaixonada. Ela podia ver as imagens na cabeça de Aidan, do dois unidos em êxtase. Sabia exatamente, o quão urgentemente ele a desejava, o que seu corpo demandava. Sua necessidade era a dela. Sua mão o liberou dos limites de sua calça apertada. Ela o sentiu estremecer enquanto seus dedos envolviam sua grossa masculinidade, enquanto acariciava e tocava, o membro duro.

     Os dentes de Aidan se apertaram, seu corpo se arqueou. Havia um barulho forte em seus ouvidos e uma neblina vermelha, de desejo, em seus olhos. Suas mãos acariciaram seu suéter, ásperas e insistentes, selvagens e dominantes. Seus dentes a morderam mantendo-a quieta, mesmo não se movendo.

     Um diminuto sentido de autoconservação tomou posse de Alexandria que tomou ciencia do que estava fazendo. Tudo havia acontecido como um sonho erótico, mas agora tinha consciência da noite fria, do calor de seu corpo, da demanda de suas mãos, deseu próprio comportamento desinibido e de sua boca alimentando-se tão sensualmente no peito de Aidan.

     —Oh! Meu Deus!

   Soltou-o como se ele queimasse e tratou de afastar-se. A mão de Aidan manteve sua cabeça contra ele, e ela viu o jorro de sangue abrindo espaço pelo peito dele.     —Feche o corte com sua língua. Sua saliva tem agente cicatrizante. Não fica marca, a menos que o desejamos.— sua voz era uma carícia suave e rouca, mas arenosa pela necessidade. Sua mão a forçou a obedecer.

     Ela fez o que ele disse porque estava temerosa de desafiá-lo. Ele estava tão excitado, que um movimento equivocado colocaria de lado sua resistência. E poderia fazê-lo. Ela sabia. Ele sabia. Estavam unidos como uma só mente. Conteve o fôlego enquanto ele se esforçava para controlar-se. Seu corpo estava tão duro como uma pedra, tenso pela agressividade que o dominava e tão ardente que ambos ardiam em chamas. Um gemido baixo retumbou em sua garganta. Ele era mais fera que homem e ela notou que não tinha a menor noção do tipo de pessoa com quem estava lidando.

     —Sinto muito, sinto muito, Aidan. — sussurrou como uma letanía, humilhada de ter sido tão atrevida e atuar de forma caprichosa. — Por favor, diga que me hipnotizou e me fez fazer essas coisas. Fez?

     Suplicava-lhe. Estava em sua voz, em seus olhose em sua mente. Mas estavam unidos e os companheiros não podiam manter uma mentira entre eles. Unidos tão intensamente que ele desejava economizar a verdade mas, não podia. Aidan negou com a cabeça, mas a compreensão incipiente estava já em sua mente. Alexandria gemeu e cobriu o rosto com as mãos.

   —Não sou desta maneira. Não respondo aos homens assim, não bebo sangue e não sou uma tentadora. O que me tem feito? É pior do que pensava. Sou algum tipo de ninfomaníaca vampireza.— Ela tentou sair dos braços de Aidan, mas ele a apertou mais.

   —Fique tranqüila, cara. Respire. Há uma explicação racional. — Tudo nele queria atirá-la em cima do balcão, reclamar o que era legitimamente dele e de uma vez por todas sair do inferno que estava. Mas não poderia fazer isso. Sua escandalosa idéia, ninfomaníaca vampireza, quase o fez sorrir. Certamente fez dar um salto em seu coração, enquanto lutava selvagem e implacávelmente para manter seu autocontrole.

     Alexandria era muito consciente do freio que ele exteriorizava, o quanto ele brigava contra seus instintos naturais e sua crença em ter o direito a possuí-la. Engoliu a saliva e ficou quieta, sem desejar incitá-lo de maneira nenhuma. Estava tremendo, lutando contra suas necessidades e desejos, contra sentimentos que nunca tinha experimentado. Por que ele? Por que tinha que ser ele, por quem ardia? Tinha bebido seu sangue voluntariamente. Tinha bebido e queria que se repetisse, queria entregar-se a ele, queria que ele a tocasse, que a possuísse, queria tocá-lo também. Gemeu outra vez, humilhada. Nunca poderia voltar a olhá-lo outra vez enquanto vivesse. E, pelo amor de Deus, ele tinha algumas imagens bastante vívidas e explícitas em sua mente também. Suas intenções para ela eram bastante longe das de um tio. Aidan Savage a necessitava com um desejo, uma fome sobrehumana.

     —Treme, piccola? — falou ele mansamente. Sua respiração um pouco mais ofegante do que gostaria. Desejava continuar exatamente onde ela o tinha deixado. Se lhe permitisse fugir agora, perderia terreno valioso. Sua mão se moveu sobre seu cabelo sedoso num gesto tranqüilizador.— Estamos os dois bem. Nada aconteceu.

     —O que quer dizer com nada aconteceu?— exclamou ela.— Bebi seu sangue. — O pensamento a pôs doente e seu estômago se agitou convulsivamente. Havia gostado, havia necessitado e sua fome estava saciada no momento, mas seu corpo se sentia acalorado de necessidade.

   — Eu lhe disse que havia costumes. Não tem necessidade de preocupar-se em machucar ao Joshua. Ocuparei-me de todas suas necessidades. É meu direito. — Sua voz era macia. —É meu privilégio.— Sua mão encontrou sua garganta, estabelecendo-se ali possessivamente, seu pulso palpitando freneticamente contra sua palma. Sua blusa estava aberta, revelando a tentadora curva de seus seios cheios. Alexandria parecia não se dar conta, ainda horrorizada por seu comportamento dissoluto e sua alimentação com o sangue do Aidan, que não podia pensar em qualquer outra coisa. A visão dela não o ajudava a esfriar seu sangue quente. Ele teve o desejo repentino de esmagá-la contra ele, enterrar seus dentes nela, arrastá-la completamente, mesmo chutando e gritando, para sua vida.

     Alexandria evitou cuidadosamente olhar seu peito. O corpo masculino estava exposto. Rijo e enorme, sem desculpas. Diferente dela, Aidan não se mostrava envergonhado. Era óbvio que sentia que tinha direitos sobre ela. A moça ficou com o olhar fixo nas estrelas, través da aglomeração de nuvens. A noite era bela e tranqüilizadora. A percepção de sua mão, envolta de sua garganta deveria tê-la assustado, mas em lugar disso, sentia-se estimada.

     Alexandria molhou os lábios. Nenhuma das emoções que sentira, tão intensas, eram típicas nela.

     —Está seguro de que não dirigiu minhas ações?

     —Você é minha companheira, Alexandria. Sua mente e seu corpo me reconhecem como tal. O laço entre nós só crescerá, tanto em desejo como em necessidade. Esse é o costume de nossa gente. Deve ser um amparo para nossa longevidade. Em vez de diminuir com o passar do tempo, nossa necessidade sexual pelo outro se fortalece. Chegará um momento em que deveremos nos entregar ou as conseqüências serão horrendas, para os dois. — Ele tratou de escolher suas palavras cuidadosamente, mas ao mesmo tempo, sendo honesto.

     Ela captou a imagem em sua mente, ruborizando-se furiosamente.

     —Violência? Uniríamo-nos com violência? Não tenho experiência. Já estabelecemos isso. E não estou tão segura quanto você. Por que acontece isto entre nós?

     Sua respiração emergiu em um suspiro longo. Ao menos, ela continuava a conversar, em lugar de correr. Tinha que lhe dar mérito. Ela tinha fibra.

     —Nunca esteve atraída fisicamente por outro homem porque está feita para mim. Seu corpo necessita do meu. É minha companheira.

   —Odeio essa palavra.— respondeu ela, ressentidamente. —Me tiraste minha antiga vida. Inclusive, já não sei quem sou. — Seus olhos azuis encontraram os dele. — Não vou entregar-me a voce sem lutar.

   Seu polegar acariciou sua mandíbula, enviando ondas de fogo palpitante dentro dela.

     —Já assumi o controle de sua vida, como você assumiu o controle da minha.

     —Acredito que não. — objetou ela, seu queixo levantando-se provocantemente. Só então notou o suéter aberto. Com um pequeno suspiro de consternação, juntou os botões, para fechá-lo. – Está prestando atenção?— disse indignada, percorrendo mordazmente, com o olhar, todo seu desdobramento de masculinidade.

     Ele encolheu de ombros.

     —Não posso fechá-lo tranqüilamente, como você.

     Ela se ruborizou furiosamente.

     — Não fale disso, pelo amor de Deus!

     Ele se encontrou sorrindo, apesar da urgência de seu corpo. Com movimentos pausados, posicionou-se dentro dos limites do tecido apertado e abotoou o cinto.

     —Faz-te te sentir mais segura?— brincou meigamente.

     Sua voz enviou um tremor de puro prazer por sua coluna. Ninguém merecia ter uma voz como a dele. E sua boca… Ficou com o olhar fixo nela, capturada por sua cinzelada perfeição. Ninguém deveria ter uma boca tão tentadora. Seu coração bateu ruidosa e dolorosamente contra seu peito. Sua boca era hipnotizante, tanto como sua voz. Próxima. Tão próxima. Quase podia sentir o calor, o ardor cativante de sua boca.

     Seus lábios acariciaram os dela e seu coração se deteve. Sua língua riscou a linha de seu lábio inferior cheio, forçando-a a abri-los para entrar no interior sedoso. Seu coração começou a bater acelerado. Sentia a alternância curiosa da Terra, um lento feitiço que mantinha seus sentidos desarvoroçados. Ele explorou cada recanto de sua boca com autoridade completa, convocando novamente, o calor entre eles. Foi Aidan quem, lentamente, contra a vontade que levantou a cabeça. Seus olhos estranhos eram de ouro ardente, derretido, vagando por seu rosto possessivamente. Seu polegar acariciou o queixo fino, enquanto sua palma soltava sua garganta.

   —Fez isso esta vez. — murmurou ela. Aidan era um bruxo escuro apanhando-a em seu feitiço.

- Nego toda responsabilidade.

     Sua voz murmurou sobre sua pele. Ela o olhou impotente. Como ele a dominava tão facilmente? Como a envolvia nessas sensações sensuais quando estava tão segura de não ter nenhuma?

     —Não fiz isto. — ele repetiu. — Me olhas como se eu fosse uma aranha e você a pequena traça apanhada em minha teia.— Ele trocou de posição outra vez, na intenção de dar a seu corpo algum alívio.

     Ela sentiu cada músculo masculino impresso em suas formas suaves. Desejou ficar ali para sempre, nunca ficar longe dele, mas horrorizada com o pensamento, quis levantar-se. Não pôde. Seu corpo não se moveu uma polegada longe dele. Os olhos de ouro não abandonaram seu rosto.

     —Deixa-me levantar, Aidan. Está me seduzindo. Está fazendo algo com sua voz. Sei que faz. Como faz com Joshua.

     —Se pudesse, pequena... Seria bonito te controlar. Apresentaria todo tipo de possibilidades interessantes.

     Ela podia ver os pensamentos perversos em sua mente, os corpos emaranhados, a pele nua, sua boca movendo-se sobre cada polegada dela.

     —Pere!— gritou desesperadamente, sentindo seu corpo esquentar-se com as imagens eróticas em sua cabeça.

     Ele pareceu inocente e acariciou a parte superior de sua cabeça com o queixo.

   —Somente goze a noite, Alexandria. Não é bela?

     Ela olhou para cima, para as estrelas mortiças. A luz estava começando a ganhar a escuridão, tornando os céus cinzas como prata. Sua respiração ficou presa em sua garganta. Onde havia ido à noite? Quanto tempo ela tinha permanecido ali com Aidan? Não queria baixar à câmara e dormir.

     —Quero ver o sol.

     Sua mão acariciou seu cabelo.

     —Pode ver o sol, mas não pode permanecer sob ele. E nunca pode esquecer seus óculos escuros ou o tempo.

   Ela engoliu seu medo.

   —O tempo?

     —Sentirá-se fragilizada a princípio, logo chegará à debilidade e então, estará completamente vulnerável. Deve se proteger depois do meio-dia.

     Sua voz foi calma e prática, como se não estivesse esmagando-a, tirando a vida que conhecia. Ela odiava essa voz.

     —O que será de Joshua?— exigiu.— A respeito de sua vida, a escola, seu aniversário, as festas... Os esportes? Ele poderá jogar beisebol ou futebol? Onde estarei durante seus jogos e suas práticas?

     —Enjoe e Stefan…

     —Não quero que outra mulher crie meu irmão. Amo-o. Quero estar com ele, quando fizer essas coisas. Não pode entender isso? Não quero que seja Enjoe que esteja com ele, quando ir a um jogo de bola pela primeira vez. E as reuniões de pais? Enjoe irá também?— Sua voz era amarga. Outra vez sentiu a obstrução horrível em sua garganta, ameaçando estrangulá-la.

     —Respire, Alexandria.— ele ordenou suavemente, suas mãos massageando seus ombros.— Continua se esquecendo de respirar. Tudo é novo. As coisas se resolverão. Dê tempo ao tempo.

     — Eu podia consultar um doutor… Um cientista que fosse especializado em desordens sanguíneas. Deve haver uma maneira de voltar atrás.— disse ela desesperadamente. A verdade era pior do que podia enfrentar. Não era só a prática horrível de beber sangue, evidentemente, podia vencer essa aversão. Aidan acabara de provar. Era sua obsessão crescente a ele, que a aterrorizava. Ele a aterrorizava. Seu domínio em sua vida a assustava. Queria que tudo se desvanecesse e que ela voltasse ao normal outra vez.

     Ele se moveu ligeiramente, como um felino. Ela podia sentir seus músculos se flexionando. A mão dele moveu para seu pescoço e havia posse extrema em seu olhar.

     —Não fará uma coisa tão tola. Existem pessoas que caça a nossa gente e os métodos usam para nos destruir não é bonito. Morreria de forma dura e desagradável. Não posso permitir isso.

     —Odeio essa condescendente e controlada voz que você usa. Nunca se enfureceu?— desafiou-o. Algumas faíscas voavam de seus olhos cor safira.— Vou te ignorar. Como sei que algo disto tudo é real? Nunca vivi assim antes. Tudo poderia ser um sonho.

     Suas sobrancelhas se levantaram e um sorriso pequeno, zombador alterou seus lábios.

     —Um sonho?— repetiu.

     —Um pesadelo.— corrigiu-se carrancuda, Alexandria. — Um pesadelo muito mau, muito vívido.

    —Você gostaria de comprovar se posso despertar? — ofereceu ele, servicialmente.

     —Não banquie o arrogante e machista, Aidan. Dá-me raiva. — respondeu bruscamente ela, porque seu coração golpeava uma vez mais com apreensão. Tinha esse homem, que ser tão sexy, tão tentador? Ela não sabia muito a respeito de homens, mas certamente não eram todos assim. Letais. Uma ameaça para sua liberdade.

     Um sorriso preguiçoso suavizou a boca perfeita, instantaneamente chamando sua atenção.

     —Eu estava soando arrogante?— Seu polegar acariciou a pulsação feminina.

     Ela podia sentir cada acariciante sensação correr através de seu corpo para acumular-se nos músculos. Virou a cabeça para escapar de seu olhar dourado e penetrante, para escapar dessa boca perfeita e viu o fino fio vermelho abrir caminho em seu peito, emaranhando-se nos cabelos de ouro fino, gotejando silencioso em seu ventre plano. Sem pensar, instintivamente, sensualmente, inclinou a cabeça e sua língua traçou o caminho da cor rubi.

     Cada músculo do corpo de Aidan se acendeu apaixonadamente, contraiu-se e enrijeceu. Seus dentes se apertaram e sua garganta engoliu convulsivamente. Ela possuía uma sensualidade natural e seu corpo se sentia familiar para ele. Cada instinto feminino clamava por ele. Alexandria era tão inocente, tão ignorante de tão perto do perigo realmente estava... Os séculos de disciplina começaram a desintegrar-se rapidamente, deixando só à fera escura, esfomeada e necessitada, exigindo reclamar sua companheira. Aidan não podia evitar. Seus dedos se emaranharam no cabelo sedoso da nuca da jovem e a manteve contra ele enquanto a Terra girava e se fragmentava, enquanto seu corpo pulsava. Pulsava entre a dor e o prazer.

     Sem aviso, Alexandria deu um salto, afastando-o com um empurrão tão firme que, em sua precaria excitação, ele aterrissou no piso com um ruído surdo.

     Ele piscou enquanto a olhava de acima em abaixo, tentando dominar e esconder a risada que ameaçava consumi-lo.

   —O que houve?

     —Deixa de ser tão… tão… — as palavras lhe falharam. Sexy. Atrativo. Tentador.

       Com as mãos nos quadris, ela o olhou furiosamente. — Pare!

 

     A cozinha estava quente pelas chamas. Stefan havia acendido a lareira de pedra. O aroma de café e canela flutuava no ar. Alexandria caminhou junto a Aidan, seus corpos roçando-se ocasionalmente. Ele olhou do alto sua cabeça encurvada. Ela mostrava-se cautelosa agora, com medo dele e das implicações de sua resposta física. Ainda a pouco, sem seu conhecimento, seu corpo instintivamente procurara o refúgio e a comodidade do dele. Estava sob seu ombro, já que seu braço havia se deslizando facilmente ao redor de sua cintura. Ela parecia não notar.

       A percepção de sua pele contra a dela o enlouquecia, mas caminhou a seu lado, com seu graça natural e não revelou nenhuma de suas emoções. Sorriu a Enjoe enquanto ela se afastava da mesa onde batia uma mustira de ovos em uma tigela. Tinha tanta suavidade e tanto afeto para dar a todos, menos para ele. Humilhava-o com sua habilidade de poder proteger tantas pessoas em seu coração.

     —Aidan! Alexandria! Não tinha idéia de que estivessem no jardim. —sorriu ela, mas seus olhos agudos captaram a expressão cuidadosamente solene de Aidan e as sombras nos olhos de Alexandria. — Joshua dormiu agora a pouco. Acredito que realmente sentiu saudades de voce, querida. É um doce pequeno, teu menino. E que belos cachos ele tem nos cabelos!

     Alexandria sorriu.

     —Ele detesta esses cachos.

     Enjoe assentiu com a cabeça.

     —Qual menino pequeno não detestaria?—

       Alexandria não estava tão pálida como dasoutras vezes em que Enjoe a tinha visto e certamente não parecia morta, como quando Aidan a tinha levado para casa. Ela havia sido adequadamente alimentada por Aidan, Enjoe estava segura. Aspirou profundamente. — Queria te agradecer pelo que fez por Aidan ontem à noite. Teve coragem, Alexandria. Stefan disse que Aidan teria morrido se você não tivesse ido a seu socorro. Aidan é como um filho para mim, ou um irmão. É nosso amigo e nossa família. Obrigado por trazê-lo de volta a nós.

     Aidan se moveu desassossegadamente junto à Alexandria, mas ela o ignorou.

     — Não foi nada, Enjoe. Embora esteja segura de que ele teria encontrado a maneira de sair daquela, sem mim. Aidan não estva precisamente com falta de recursos. Estou endividada contigo por tudo o que tem feito por Joshua.

     Aidan inclinou sua cabeça para roçar um beijo na têmpora de Enjoe.

     — Durante anos, te dise que se preocupa muito por mim. Mas está correta. Alexandria salvou minha vida.

     Alexandria lhe fez uma careta.

     —E foi uma decisão tão brilhante de minha parte? — murmurou só para seus ouvidos.

     A mão masculina chegou a sua nuca e a acariciou.

- Esperava por isso.

     Stefan entrou com umas peças de madeira.

   —Aidan! Está em pe. — ele sorriu a ambos — E Alexandria! Está com uma melhor aparência de que a última vez que a vi. Mas reconheço, você sabe como fazer as coisas.

     Muito consciente, ela afastou o cabelo do rosto.

     — Posso ser muito mandona, Stefan, mas não tive a intenção de sê-lo. É que por tanto tempo tenho feito as coisas a meu modo cuidando de Joshua, que sou capaz de fazer tudo sem pensar. Além disso, Aidan é tão teimoso, que parece ter todo mundo sob seu controle.

     Ela estava-se provocando ele. Aidan sabia e algo dentro dele respondeu à brincadeira. Pequena diabinha! Sentiu, pela primeira vez em séculos, pela primeira vez desde sua juventude, que não estava sozinho. Estava em seu lar, não simplesmente uma casa. Era lar de verdade, com sua família rodeando-o. Joshua tinha passado a noite pacificamente em sua cama, Enjoe e Stefan riam e brincavam na cozinha, e a seu lado estava a mulher que era sua vida, sua respiração, o sangue de suas veias. Tinha-lhe dado um coração, agora era capaz de conhecer o amor e o riso e apreciar os milagres que lhe tinham sido outorgados.

     — Aqule homem todo arrumado, retornou. — disse Enjoe repentinamente, seus olhos brilhantes e inocentes. Permaneceu aparentemente muito ocupada com a cozinha.

     Stefan se engasgou com o café, e Aidan teve que lhe dar pequenos tapas nas costas. Depois, olhou de um para o outro.

     —Que homem arrumado?— ele perguntou, sem demostrar o desassossego.    Enjoe fitou Alexandria ligeiramente.

     —O senhor Ivan. Estava realmente alterado e preocupado por você, Alexandria. Inclusive chamou à polícia quando não o deixamos entrar. Estiveram aqui, ontem pela manhã. Uns oficiais agradáveis e educados. Acredito que já os encontraste, Aidan, uma ou duas vezes. — Enjoe estava radiante.

     —Thomas Ivan veio aqui de novo?— perguntou Alexandria, sobressaltada.

     —Veio sim, querida. — disse Enjoe apressadamente. — ele estava realmente preocupado com voce.

     —Chamou à polícia?— Alexandria não podia digerir a noticia.

     — Dois detetives. Insistiram para que Aidan e você entrem em contato com eles logo que possam. Nós falamos que Aidan te hvia levado você a um hospital particular e que estava muito doente. Aidan doou dinheiro muitas vezes para suas causas e já os ajudou muitas quantas vezes quando necessitaram. Tudo honestamente, é obvio. Empréstimos com muito pouco interesse, mas certamente dentro da lei. Tivemos a impressão de que o senhor Ivan os incomodou com suas acusações contra Aidan.

     —Posso imaginar que o fez.— disse Aidan secamente, olhando zangado para Enjoe.

       Mas Enjoe não pareceu notar sua zanga.

     — Achei muito amoroso, ele estar tão preocupado por sua segurança. Não poderia culpá-lo por sua preocupação. — ela sorriu.— Quis que revistassem a casa, mas é óbvio que os oficiais se recusaram. Ele deixou seu número e quer que você ligue para ele. Ah! Ele deixou-te uma incomenda. – Disse ela, excitada.

     Aidan apoiou um quadril contra a mesa, mas não havia nada de preguiçoso em seu gesto ou em seus olhos dourados. Seguiu cada movimento de sua governanta, sem piscar. Seu olhar era o de um predador, espionando sua presa. Stefan se locomoveu para perto de sua esposa, ansiosamente, mas Enjoe não pareceu notá-lo, correndo para o refrigerador.

     —Tenho que falar com a polícia? — perguntou Alexandria, sem notar a postura ameaçadora de Aidan. — Não posso falar com a polícia. – Ela virou-se para Aidan e o tocou com a mão trêmula. - Aidan, não posso falar com a policia Nunca conseguirei. O que acontecerá se me fizeram perguntas a respeito de Henry ou a respeito daquelas mulheres? Thomas Ivan deve ter dito que eu estava lá, naquela noite. Não posso falar com a polícia. O que fez, Thomas?

     Com grande satisfação, Aidan curvou um braço protectoramente ao redor de seus ombros. Aproximou-a dele, oferecendo consolo. Enjoe abriu o enorme refrigerador e tirou dele, um ramo formidável de rosas, acomodadas em um vaso de cristal talhado. Aidan sentiu a inspiração rápida de Alexandria.

     —Para você. — disse Enjoe despreocupadamente, ignorando o semblante carrancudo e malévolo de Aidan. — O senhor Ivan trouxe isto para voce.

     Alexandria se afastou de Aidan para cruzar a cozinha.

     —São tão belas! Rosas! — disse ofegante. — Nunca recebi flores antes, Enjoe.— ela tocou uma pétala. - Não são maravilhosas?

     Enjoe estava assentindo com a cabeça e sorrindo.

     —Pensei que poderíamos colocá-las na sala de estar, mas se as quer em seu dormitório, poderá colocar.

     As mãos de Aidan arderam de vontade de estrangular a mulher. Conhecia Enjoe desde o momento em que ela nascera, sessenta e dois anos atrás, e nunca haviam trocado uma palavra de irritação. E repentinamente queria estrangulá-la. Deveria ter arrancado a garganta de Ivan. Flores. Por que não tinha pensado em flores? Por que Enjoe não havia mencionado nada com ele? Por que ela pegara as flores? De que lado ela estava?

       Flores! Teve o desejo de arrancar essas pétalas um por um.

     —Olhe. — arrulhou Enjoe. — Ele foi tão gentil, que tirou todos os espinhos para não te machucar. Que homem atento!

     —A que hora disse à polícia que os veríamos?— interrompeu Aidan, assustado que se não disesse alguma coisa, estouraria de violência. Detestou a forma em que Alexandria acariciava as pétalas de uma das rosas brancas.

     Stefan limpou a garganta e olhou ferozmente sua esposa.

     —Pediram que os contatasse com a maior brevidade. Parece que Ivan é particularmente insistente, especialmente desde que encontraram os dois corpos, muito queimados para poder identificá-los. Eles foram encontrados a algumas milhas daqui. Eu disse para a polícia que retornava do mercado quando vi as chamas e fiz uma chamada do telefone do carro.

     O rosto de Alexandria ficou branco e ela contemplou Aidan, procurando um guia.

   — Vão perguntar me a respeito disso também?

     Aidan levantou uma mão, tocando amavelmente seu cabelo sedoso.

     —Claro que não, cara. Não se alarme tanto. Acreditam que havia levado você ao hospital. Se for necessário, poderemos provar isso. A polícia só quer que você responda às preocupações ridículas de Ivan e te ver sã e salva. Assegurei-lhe que estava a salvo quando esteve aqui, mas ele não acreditou em minha palavra. Insultou-me.

     Apesar de seus medos, Alexandria sorriu.

     — Havia lhe mentido, bobo. Eu não estava a salvo. Um vampiro havia me mordido, Lembra-se?

     Ele arqueou uma sobrancelha.

     —Tolo? Em todos os séculos de minha existência, ninguém nunca me chamou tolo.

     —Bem, isso é porque as pessoas têm medo de voce. Thomas Ivan teve uma boa razão para pensar que você mentia. Não vive como um desses homens ridículos do século passado que se batiam em duelos de honra.

     — Briguei mais de um duelo em meus dias.

     —Tolo. — disse ela sorrindo.

       Alexandria enterrou o rosto nas flores, inspirando a fragrância doce. Quando levantou o pescoço, flagrou Aidan olhando-a com essa intensidade possessiva e masculina que fazia com que seu coração se acelerasse. — Realmente tenho que falar com a polícia? Não pode ser só você?

     Havia um pouco de satisfação em que ela culpasse Ivan, pensou Aidan, mas não ajudava em nada, vê-la abraçar com suavidade as malditas flores.

     Stefan negou com a cabeça.

     —Realmente, Aidan, a polícia está muito interessada nesses corpos. Parece que a forma em que queimaram foi muito singular. Como se as chamas os queimassem do interior. Não restou nada, exceto cinzas. Não poderão inclusive identificar os corpos através da arcada dentária. Acredito que insistirão em falar com voces dois.

     Alexandria se apoiou pesadamente em Aidan.

     —Não sou boa mentindo, Aidan. Todo mundo sempre sabe quando minto.

   Ela soou tão decaída, como se fosse um pecado terrível que não pudesse mentir, que ele sorriu.

     —Não se preocupe, cara. Falarei com a polícia. Tudo o que tem de fazer é se sentar em uma cadeira colocar-se frágil e delicada.— a reconfortou.

     Ela o olhou seriamente, como se pensasse que ele estivesse zombando dela.

   —Não sou frágil ou delicada. Sou forte, Aidan.

     Ele sorriu. Não pôde evitar. O som era profundo, tão puro que fez Alexandria acompanhá-lo, enquanto dava-lhe uma cotovelada.

   —Não sorria, não. Juro, Aidan, você é tão arrogante que me dá medo. Sempre foi desta maneira?— ela sorriu. O primeiro sorriso genuíno dirigido a Enjoe, compartilhando suas mentes femininas.

   —Sempre.— disse Enjoe solenemente, seu coração mais acelerado. Não havia se precavido do quanto estava assustada por causa sua posição na casa. Que ela e Stefan já não fossem bem-vindos. Sabia que Aidan nunca os colocaria na rua, mas se a tensão entre Alexandria e ela não se resolvesse, cedo ou tarde Stefan e ela teriam que encontrar outro lugar para morar. E a casa de Aidan havia sido sua casa toda vida. Quando se casara com Stefan, seu maridon havia aceito a vida que ela levava e tinha aprendido a amar Aidan Savage também.

     —Acredito que a sala de estar é o lugar perfeito para pôr as flores.— concordou Alexandria. — Quando Thomas vier me visitar, poderá vê-las.

     Aidan se encontrou apertando os dentes. Alexandria já se movia rapidamente da cozinha. Agarrou a Enjoe pelo ombro antes dela pudesse segui-la, inclinando-se e pondo sua boca contra sua orelha.

     —Não pôde evitar essa situação?—. As palavras saíram entre por entre os dentes de aidan. — E só para que fique esperta, traidora, Ivan não é homem dela. Eu sou.

     Enjoe parecia horrorizada.

   —Ainda não é não. Acredito que ainda tem que cortejá-la. E é obvio que não jogará as rosas, Aidan. Quando um homem tem o trabalho de dar flores a uma mulher, ela deveria ter o prazer de vê-las.

     —Pensei que você não gostava dele.

     — Não deve ser de todo mau. Deveria ter visto sua preocupação por ela. Digo mais, Aidan, ele está realmente enamorado dela. — Enjoe foi deliberadamente, inocentemente e entusiasta. — Não acredito que tenha de se preocupar com ela quando estiver com ele. — Ela tratou de soar reconfortante.

     Atrás deles, Stefan engasgou outra vez. Aidan jurou eloqüentemente em três idiomas e seguiu Alexandria, negando com a cabeça sobre os funcionamentos da mente feminina.

     Stefan pôs um braço ao redor de Enjoe.

     —Malvada! Mulher malvada.

     Ela riu abertamente.

   —Isto é ótimo, Stefan. É bom para ele.

   — Ande com cuidado, mulher. Ele não é como outros homens. Poderia matar para conservá-la. Sua natureza é como a de um predador selvagem.— advertiu Stefan gravemente. — Nunca o vimos assim.

     Enjoe deu de ombros.

     — ele se controlará. Não se atreveria a fazer outra coisa. Essa garota quer fugir. Tem sentido comum, e bastante coragem.

     — E espírito forte. — assentiu Stefan — O manterá dançando. Mas ela não se dá conta do perigo em que sempre estará. Ou o perigo para Joshua.

     — Ela necessita de tempo, Stefan. —disse Enjoe brandamente —Terá a nós para ajudá-la e Aidan a guiará.

     Aidan caminhou atrás de Alexandria, lutando contra o demônio que o insuflava ao ver o olhar suave e distraído que ela tinha nos olhos. Intelectualmente, entendeu a atração que Thomas Ivan representava para a Alexandria. Ela queria ser humana. Queria sentir-se humana. Queria trabalhar e viver no mundo humano, e acreditava que Ivan poderia lhe dar isso. Ainda mais, não teria que se preocupar com sentimentos sexuais intensos e pouco familiares, atemorizantes, que Aidan evocava nela.

     Ele estendeu a mão e pegou em seu cabelo na mão, detendo-a.

     —Não se preocupe pela polícia, Alexandria. Não lhe perguntarão nada a respeito dos vampiros. Não têm idéia de que eram vampiros, e acreditam que você estava em um hospital. Se perguntarem, simplesmente lhes diga que não se recorda de nada.

     Ela guardou silêncio um momento enquanto arrumava as rosas. Ele podia sentir sua ansiedade.

     —Aidan? Posso sair daqui? Deixaria-me ir?

     Involuntariamente sua mão se apertou em seu cabelo. Deixou escapar sua respiração lentamente.

     — O que te faz perguntar isso, pequena?

     —Simplesmente quero saber. Disse que er não era uma prisioneira aqui. Posso ir onde quizer?— Seus dentes mordiam o lábio inferior.

     —Está fazendo planos de sair com esse palhaço?

     —Quero saber se posso deixar esta casa.

   Ele envolveu um braço ao redor de sua cintura fina e a trouxe para si.

     —Pensa que poderia sobreviver sem mim?— Sua boca estava perto de seu pescoço para que ela pudesse sentir o calor de sua respiração.

       Apesar de sua intenção de não responder a esse estímulo, seu corpo começou a arder.

     Seus olhos cor safira escrutinaram seu rosto. Ele não mostrava sentimento algum, nada. Ela não tinha idéia do que ele pensava e não ia unir sua mente a dele para inteirar-se. Ele atraía-a cada vez mais profundamente em seu mundo. O mundo da noite. Um mundo de sexualidade e violência. Alexandria queria recuperar sua antiga vida. Queria coisas familiares em volta dela, coisas que pudesse ter algum controle.

     A boca perfeita tocou sua garganta. Um ligeiro toque de chamas. O olhar dourado encontrou seus olhos.

     —Não faça perguntas das quais, realmente não quer resposta. Não te mentirei, para tornar tudo mais fácil.

     Ela fechou seus olhos enquanto o calor espalhava em seu corpo. Ele a fazia sentir-se apreciada, bela, insatisfeita e vazia sem ele. Seus dedos se apertaram ao redor do caule de uma das rosas. Afastou com força, a mão, com um pequeno grito.

     —Deixe-me ver. — ele disse tranquilamente Sua voz era delicada, seu contato terno enquanto pegava sua mão para inspecioná-la. Uma gota de sangue saía de seu dedo indicador.— Sir Galahad deixou um espinho. — murmurou enquanto inclinava sua cabeça e colocava o dedo no calor cicatrizante de sua boca.

     Ela não podia se mover, não podia falar. Seu corpo flamejava de necessidade. Permaneceu tão quieta como pôde, olhando o da forma em que um camundongo olharia um gato. Ele já tinha assumido o controle de sua vida. Estava em sua mente, em seu corpo, em sua necessidade terrível dele. Queria chorar. Se conseguisse escapar, levar Joshua, levaria-o com ela a todos os lugares que fosse.

     Abruptamente arrancou sua mão das dele, antes que as chamas a devorassem.      —Seu nome é Thomas Ivan, não Sir Galahad, e duvido muito que ele pessoalmente tirasse os espinhos das rosas.

     Aidan assentiu com a cabeça solenemente.

     —Tem razão, piccola. Ele não pensaria nisso, nem realizaria a tarefa. Pensaria que seria indigno para ele e um esbanjamento de seu tempo.— Ele a rodeou e tirou o espinho, olhou de perto para cada talo das rosas, para assegurar-se de que ela não se machucasse outra vez.

   — Por que tem que fazê-lo soar tão mesquinho?— perguntou a jovem, exasperada. Estava decidida a se sentir atraída por Ivan. As mulheres de todo o mundo tinham amantes. Se outras mulheres podiam sentir-se atraídas por mais de um homem em sua vida, ela também podia. Não tinha que ser somente Aidan Savage. Ele era mundano, sensual, impossivelmente atrativo, com olhos lindos e boca perfeita. Qualquer mulher poderia apaixonar-se por ele, mas se tratava de atrativo físico. Devia comparar isso como um caso de gripe. Um caso virulento de gripe.

     Aidan voltou-lhe as costas para olhar fora da janela. Não sabia se ria ou se zangava com ela e seus selvagens pensamentos. Ela estava decidida a encontrar outra pessoa, alguém, qualquer, menos ele.

     —Aidan?— Stefan entrou. — Informei à polícia que Alexandria e você retornaram e que ela se levantaria para falar com eles esta manhã. Assegurei-me de que entendessem que ela seria incapaz de ir à delegacia ou de ficar em pé muito tempo. Enviarão os de detetives agora.

     —Detetives?— Aidan arqueou a sobrancelha. — Para um assunto tão corriqueiro?

     Stefan limpou sua garganta e desviou seu peso ansiosamente.

     — Acredito que o senhor Ivan tem algumas influencia nisso. Falou com o chefe do departamento e, segundo o detetive com o que falei ontem, mandou averiguar se estávamos no país legalmente. Acredito que deseja nos deportar.

     Alexandria ficou sem fôlego, o queixo erguido.

     —Ele fez o que?

     — Sinto muito, Alexandria, não deveria ter dito isso na sua frentei. O senhor Ivan estava terrivelmente incomodade por não poder se comunicar com você. — disse Stefan.

       Aidan teve vontade de estrangular Thomas Ivam. Alexandria tinha se incomodado. Sem que desse conta, já pensava nos membros de sua casa, parte de sua família.

     — Essa não é desculpa para que Thomas faça valer sua influência e tente deportar Enjoe e voce. Ele não se importou desestabilizar suas vidas. E Joshua? Teria que ir para um orfanato?— Sua cólera para com Thomas Ivan aumentava. A moça detestava as pessoas que pensavam que poderiam mandar no mundo, só porque tinham dinheiro. Embora nunca admitiria isso a Aidan, nem lhe concederia essa parte de poder, mesmo que pequena. Tinha cada vez menos, vontade de trabalhar com esse homem ou envolver-se com ele de forma significativa. Certamente encontraria outras idéias criativas.

     —Realmente.— confessou Stefan, evitando o olhar afiado de Aidan—Acredito que era a Aidan, quem realmente ele está interessado em deportar. Pagou a um investigador para que fizesse um levantamento de toda a vida dele. Acredita que vai encontrar algum indício de atividades criminais. “Intratável” é a descrição que acredito que usou.

     Alexandria refreou uma risada repentina.

     —Possivelmente Thomas tem mais intuição do que acreditam. Intratável é uma palavra apropriada, não concorda, Stefan? Não me importaria em deportar Aidan, eu mesma.

     —Acredito que seria prudente ir até à cozinha e tomar o seu café da manhã, Alexandria.— disse Stefan diplomáticamente.

     —Sua única opção. — grunhiu Aidan.

     Stefan sorriu abertamente, sem arrependimento e fez uma pausa no portal.

     —Poderia fazer uma chamada para o senhor Ivan, Alexandria. Os detetives disseram que isso poderia evitar que os acossasse a cada dez minutos.

     —Está chamando-os cada dez minutos?— Um sorriso lento curvou sua boca. — Deve estar realmente preocupado. Não é doce, Aidan? Ele está preocupado por mim. Realmente deve querer que trabalhe para ele. Que alívio. Com o dinheiro que me pagaria, Joshua e eu poderíamos… — ela interrompeu-se contemplando rapidamente Aidan.

     Sua mão enorme se espalmou em sua nuca, movendo os dedos uma massagem tranqüilizadora.

     —Sinto-me orgulhoso de voce, Alexandria. Seu trabalho deve ser extraordinário para ter Ivan atrás de voce deste modo. Merece se sentir bem a respeito disso. — Ele não acreditou nem por um momento que o interesse de Ivan nela fosse puramente comercial, mas sabia que ela tinha verdadeiro talento. Aidan era uma sombra em sua mente, vendo suas vívidas ilustrações nascer em sua imaginação.

     Sorriu-lhe.

     —Estava acostumada a sonhar a respeito de trabalhar para o Thomas Ivan. Sua companhia está sempre encabeçando as listas de desenhos gráficos, e seus jogos são como filmes. Quando o rumor de que procurava outro desenhista gráfico saiu, comecei a fazer esboços dia e noite. Não acreditei que realmente teria uma oportunidade de mostrar meu trabalho, e muito menos que queria me contratar.

     —Por isso vi seus desenhos, é muito talentosa.— disse Aidan. — Mas possivelmente, deveria modificar algumas de suas impressões sobre os vampiros.— Seus olhos brilharam ao olhá-lo, mas a covinha se fez mais fundo em sua face.

     — Vou fazê-los mais cruéis e desumanos?— perguntou travessamente ela. Tocou as pétalas da rosa mais próxima e se inclinou outra vez para inspirar sua fragrância. — Não posso acreditar que ele me enviasse flores.

     Um ruído áspero escapou da garganta de Aidan.

     —Eu simplesmente te salvei a vida. O que são as rosas comparadas com isso?— olhou furiosamente as flores de caule comprido. Seu olhar dourado era intenso, mas ameaçador.

       Alexandria o fitou. Notou o círculo escuro e decidido de sua boca, e caiu na risada. Girou e ficou nas pontas dos pés para lhe cobrir os olhos com a mão.

     —Não te atreva. Se minhas rosas se murcharem, saberei exatamente quem é o responsável. Falo sério, Aidan. Deixe em paz minhas flores. Provavelmente, pode destruir o ramo inteiro com um olhar feroz.

     Seu corpo era suave contra o dele, seu riso quente contra sua garganta. O braço do homem rodeou a cintura pequena, aproximando-a a ele.

     —Ia só irá encurvá-las um pouco. Nada muito dramático.

     Sua voz fez o coração de Alexandria bater descompassado e os músculos de seu ventre doerem. Podia sentir seus músculos, duros e masculinos, apertar-se contra ela. Por que seu corpo tinha que se derreter cada vez que estava em contato com ele? Mesmo quando ele se comportava malvado, petulante e ciumento como um menino, a fazia rir. Por que tudo isso tinha que lhe acontecer, por ele?

     — Vou tirar minha mão de seus olhos, mas você nem deve olhar as rosas. Se te pego fazendo-o… — ela se interrompeu, com a intenção de intimidá-lo.Sua mão deslizou de seus olhos, seus dedos tocando acidentalmente sua boca. Desta vez seu coração bateu forte contra o dele. Ou era o coração dele batendo contra o dela? Não sabia, mas a eletricidade era intensa, ele estava muito perto.

     —Não te atreva, Aidan.— ordenou a jovem.

       Seus olhos se converteram em ouro quente e líquido, apanhando possessivamente com seu fogo, os seus, derretendo suas vísceras.

     —Me atrever a que?— murmurou ele com sua voz de bruxo escorregando por sua pele como chama ardente. Seu olhar era tão intenso, que ela sentiu as mesmas chamas lambendo seus terminais nervosos.

     Sua boca estava apenas a alguns centimetros da sua. A língua masculina tocou seu lábio inferior. Ela seduzia-a. Tentava-a. Ela fechou os olhos enquanto sua boca caía sobre a dela. O fogo dominou, consumiu-a. Seus braços a esmagaram contra ele, mas não tinha importância. Nada tinha importância exceto sua boca perfeita e a Terra movendo-se sob seus pés.

     Pertencia-lhe, seu lugar era com ele. Nunca poderia haver outro. Só Aidan. Só os dois juntos. Ela era dele. As palavras golpearam fortes em sua cabeça, imprimindo-se para sempre em seu coração. Em sua alma. Alexandria, contra a vontade, desviou a boca dele da sua, enterrando o rosto em seu peito.

     — Você não joga limpo, Aidan. — disse as palavras amortecidas em sua camisa.

     O calor de sua respiração tocou seu pescoço.

     —Isto não é jogo, cara. Nunca foi. — Sua boca se fechou sobre sua pulsação, fazendo-a correr a toda velocidade. — Isto está entre nós todo o tempo.

   —Não tenho idéia do que fazer contigo. Inclusive não sei compreender as coisas que diz. — A confusão em sua mente era muito real. Ele a estava afligindo, não a aliviando, sem lhe dar tempo de esclarecer coisas para si mesma.

     Isso não era o que Aidan queria. Alexandria precisava confiar nele, vê-lo como um amigo e também como um amante. As demandas urgentes de seu corpo e a natureza lhes davam muito pouco tempo, mas estava decidido a aproveitá-lo bem. Ela podia rir dele, fazê-lo rir de si mesmo. Era um bom princípio para a amizade. Lentamente, e contra a vontade, seus braços a soltaram e se afastou, dando um alívio aos dois.

     —Thomas Ivan necessita de uns tapas — disse deliberadamente para fazê-la sorrir. — É um menino malcriado que fez dinheiro muito rápido.

     Ela relaxou visivelmente.

     —Pergunto-me se ele pensar o mesmo a respeito de voce.

     —Com sua vívida imaginação, provavelmente visualiza uma estaca atravessando meu coração. — resmungou - Esse homem tem uma mente doente para inventar todas essas tolices. Comprou seu último jogo que tem vampiros e um exército de pulseiras?

     — É óbvio que você sim. — apontou ela, aproveitando-se disso. — Em segredo, provavelmente ama seus jogos.— Seus olhos se ampliaram, e um sorriso lento e malcriado desdobrou-se em seus lábios. — Os tem, não é, Savage? Tem todos seus jogos. É seu admirador secreto.

     Ele quase se sufocou.

     —Um admirador? Esse homem não poderia reconhecer a verdade nem que olhasse seu próprio rosto. Como na outra tarde.

     Ela arqueou uma sobrancelha.

     —Seus jogos são ficção, Savage. Não pretendem ser verdade. Só é imaginação. Por isso são entretenimentos, não uma realidade. Admita que você gosta de seus jogos.

   —Nunca acontecerá, Alexandria, assim não contenha a respiração. E outra coisa: quando falar com esse asno pomposo por telefone, não use esse tom caramelado. — Ele cruzou os braços sobre seu peito e a olhou de sua altura superior.

     —Caramelado?— repetiu indignada, irritada por sua acusação. — Nunca sou caramelada. — Seus olhos grandes transmitiam uma advertência, desafiando-o a negar.

     Ele aceitou o desafio.

     —Claro que é. — Ele entrelaçou as mãos e fez uma careta, baixando sua voz enquanto sorria bobamente. —Oh, Enjoe, as flores são tão belas. Thomas Ivan me deu. — ele a imitaou.

   —Não disse isso! E nunca atuo desse modo. Por alguma razão, você não pode admitir que você gosta dos jogos de Ivan. Deve ser algum tipo de tolice machista, embora os homens tambem jogam e os desfrutam.

     —São puro lixo.— insistiu ele — E não há um mínimo de verdade ou razão em qualquer um deles. Ele faz os vampiros parecerem românticos. Seria interessante ver o que ele pensaria se encontrasse com um. — Foi uma ameaça dissimulada somente, mas Aidan adorou sentir satisfação em apenas imaginar.

     Alexandria estava horrorizada.

   —Você não se atreveria! Aidan, falo sério, nem pense em fazer algo tão mau.

     —Não foi você que disse que não existia nada parecido com vampiro?— perguntou ele inocentemente, seus dentes brancos ampliamente exibidos.

     Sua boca outra vez. Ela se encontrou com o olhar fixo nela, fascinada. Seu sorriso raiava a sensualidade pura. Piscou para trazer de volta a realidade em sua vida. Aidan deveria ser declarado ilegal.

     Seu sorriso se ampliou, dissipando qualquer indício de crueldade e ele se aproximou dela.

     —Lembre-se que posso ler sua mente, pequena.

     Os olhos azuis o olharam com fúria, e um punho pequeno esmurrou o peito dele.

   —Pois bem, basta. E não se orgulhe disso. Não estava exatamente te fazendo um elogio.

   —Não?— Sua mão tocou sua face, meigamente. —Continue brigando, Alexandria. Não te servirá de nada, mas se te faz sentir melhor, que seja.

   —Símio, arrogante... Primitivo. — ela deu meia volta antes que ele pudesse ler o desejo em seus olhos. Deliberadamente foi para telefone. — Acredito que tem o número de Thomas Ivan, certo?

     Ele a rodeou, seu braço acariciando seus ombros, seu perfume envolvendo-a. Qualquer homem de sua raça reconheceria sua marca, saberia que ela lhe pertencia simplesmente por seu cheiro nela. O humano, entretanto, nunca notaria. Irritado pelo pensamento, Aidan encontrou o cartão profissional sob o telefone e entregou-lhe.

     —Telefone a ele. — desafiou brandamente.

     Alexandra ergueo o queixo. Ela era humana. Tomas era humano. E embora não o fosse, esse… Essa criatura fosse o que fosse, não decretaria sua vida. Provocadoramente, ela apunhalou as teclas do telefone.

     Para assombro de Alexandria, Thomas Ivan atendeu, pessoalmente.

   —Thomas? Sou Alexandria Houton.— disse com vacilação, insegura do que dizer. — Espero que não seja muito cedo para chamar.

     —Alexandria! Ah! Deus obrigado! Começava a pensar que esse homem te encerrou em uma masmorra em alguma parte desta casa. Você está bem? Quer que eu te tire daí?

     Thomas sentou-se, afastando o cabelo que lhe caía no rosto. Os lençóis tinham se enrolado em torno dele tão fortemente, que por um momento teve que brigar para se mover.

     —Não, claro que não, estou bem. Bom, ainda um pouco trêmula e tenho que descansar bastante, mas me sinto muito melhor. Obrigado pelas rosas. São belas. —Estava agudamente consciente de Aidan parado perto dela, escutando cada palavra, escutando o tom de sua voz. Teve o impulso de tentar um tom macio. O homem não tinha direito a monitorar suas conversas pessoais.

   —Irei te visitar, Alexandria. Tenho que ver você. — Thomas disse quase belicosamente, decidido que ela não se negasse.

     —Tenho uma entrevista com um par os detetives esta manhã. — disse ela numa reprimenda sutil.

     A seu lado, Aidan se moveu com impaciência. A voz de Alexandria estava suave demais para seu agrado. Muito sexy. Ela era uma mulher da Raça dos Cárpatos agora, com toda a sensualidade e o efeito hipnótico de uma mulher nascida de sua casta.

     Um movimento sutil e possessivo de Aidan a atraiu mais contra seu corpo, e ela pôde cheirar seu perfume. A essencia a invadiu-a até o profundo de seu ser, enviando calor em seu ventre.

     Alexandria encurvou os ombros e se afastou, retrocedendo contra a peça de madeira de cerejeira onde o telefone antigo descansava.

     —Estava tão preocupado, Alexandria. E esse homem é estranho... Conhece bem ele?— disse Thomas num sussurro conspirador.

     Alexandria ficou fortemente consciente de que não importasse se Thomas falasse tão baixo, pois sua audição era tão perfeita agora que podia ouvir a grande distancia, se quizesse. Era lógico que a audição de Aidan era até mais intensa, e sua habilidade para controlar as pessoas, muito melhor que a dela. Ela sentiu o calor queimar seu rosto.

     —Não conhece bem a Aidan, Thomas. Apenas me conhece. Só nos encontramos para um jantar que foi interrompido. Por favor, não diga coisas contra alguém que foi um grande amigo para mim. — Por alguma razão, o desprezo de Thomas por Aidan a incomodava, mas não queria que Aidan soubesse.

   —É muito jovem, Alexandria. Provavelmente nunca conheceste a um homem de seu calibre antes. Acredite-me, está muito longe de sua classe. É provavelmente, muito perigoso.

     Seus dedos se apertaram ao redor do receptor até que seus nódulos ficaram brancos. O que sabia Ivan? E, por conseguinte, o quanto do perigo poderia advinhar em Aidan? Seus dentes morderam o lábio inferior. Realmente não poderia suportar que alguém suspeitasse a verdade e… E colocasse uma estaca em seu coração ou algo parecido. Não queria sentir o que estava sentindo, trair ao gênero humano, mas não podia evitar. A idéia de perder Aidan, a aterrava.

     Aidan a rodeou e amavelmente cobriu sua mão com a dele. Em sua mente, dançou a imagem de um tubarão branco, com o sorrisso praticado de Thomas Ivan. Deliberadamente Aidan a tentou com a imagem até que ela se viu forçada a rir.

     —Isto não é assunto para risadas, Alexandria. —disse Thomas de mau humor—. Irei te visitar para discutirmos isto. Não pode permanecer nessa casa com esse homem.

     —Querer trabalhar para voce, Thomas - respondeu ela brandamente — não lhe dá o direito de ditar minha vida pessoal. — Fechou os olhos. Havia desejado tanto esse trabalho. Também queria ser humana, viver e respirar e trabalhar em um mundo que compreendia.

     —Irei te visitar. — disse Thomas, conclusivamente.

     Alexandria ouviu um estalo forte e o som de que a ligação caíra. Ela olhou encolerizadamente para Aidan.

   —Pareço alguém fácil de manipular?— perguntou enquanto pendurava o telefone no gancho. — Há um “Por favor, me ordene” tatuado em minha cara?

   —Deixe-me ver. — disse Aidan, aproximando-se. Sua boca estava a centimetros da sua. — Hmm. Não de tudo. Está escrito “beija-me”.

     Ela empurrou seu peito, mas não conseguiu movê-lo um centímetro sequer.

     —Não tente seus truques comigo, Savage. Informaram-me que você é um homem perigoso e que estou fora de minha classe, o que queira significar.

     —Como posso ser perigoso?— Seu corpo apanhava o seu com seu calor, com seu ataque. Ela o desejou rapidamente.— Sou perigoso?— murmurou sobre seus lábios, sua voz como seda contra sua pele.

     —Se não se afastar de meu caminho neste minuto, então vou a… — Ela se imaginou subindo o joelho com força e vendo-o retorcer-se de dor no piso. A imagem em sua mente foi tão vívida como a imagem do tubarão tinha sido.

     Aidan saltou longe dela, renda-se enquanto o fazia.

     —Tem um gênio sujo, pequena Alexandria.

   —Outro hábito ruim...— disse ela com ar satisfeito.

 

     Havia algo de inquietante a respeito da casa. Thomas não podia definir, não podia encontrar a palavra exata para descrever, mas desejava poder. Não era simplesmente seu dono. A casa parecia viva, como uma sentinela silenciosa vigiando-o. Se pudesse pôr esse sentimento na tela do computador, captar as imagens e esboçar a forma em que a casa vivia e respirava, olhando-o perversamente, seria um dos homens mais ricos do mundo. Havia algo de mal em Aidan Savage, e ele tinha a intenção de checar até as últimas conseqüências.

       Tudo era dramaticamente belo. A casa arquitetonicamente perfeita, mas sentiu que algo um pouco mais profundo, subjacente e monstruoso, espreitava ali. Encontrou-se agradecido de que a névoa usual não estivesse presente enquanto subia os degraus até a enorme porta principal adornada meticulosamente. O carro da polícia estacionado no passeio circular era curiosamente reconfortante. Sabia que aos detetives não lhe eram simpáticos, mas sua presença ali, lhe dava a sensação de segurança que necessitava para enfrentar Aidan Savage.

     O homem o assustava de morte. Eram seus olhos. Savage tinha o olhar inquietante, estranho, sem piscadas. O homem parecia um predador. Havia poder e inteligência nesse olhar de ouro, mas Thomas estava seguro, que os olhos tinham brilhado com faíscas vermelhas e tinham resplandecido com uma intensidade estranha. A alguns anos atrás, para um de seus jogos, Ivan tinham investigado os tigres e felinos da selva, os leopardos e animais parecidos e recordou bem que os gatos podiam enxergar a noite, uma adaptação perfeita para os predadores. Seus grandes olhos redondos tinham pupilas enormes que se fechavam em fatias à luz do dia, mas se ampliavam dramaticamente na escuridão. E lucidamente recordou seu olhar mortífero precedendo um ataque.

     Thomas estremeceu e tratou de tirar de si o sentimento de temor enquanto permanecia de pé em frente à porta. Sua imaginação estava claramente trabalhando extra. Savage não era perigoso, não porque fosse um predador da noite, mas sim porque ele mantinha sob vigilância, Alexandria Houton. Ele a mantinha como se fosse sua propriedade, e Thomas Ivan tinha a intenção de fazer o mesmo. Isso era tudo. Eram rivais pela mesma mulher. Nada sinistro. Sempre havia tido problemas em manter sob controle, sua imaginação.

     Cravou os olhos nos painéis de vidro com desenhos intrincados na porta. Eram belos estampados, com formas e símbolos estranhos. Quanto mais estudava o vidro, mais se sentia como se caísse dentro dele, apanhado como uma mosca em âmbar. Esse temor sem nome começou a erguer-se outra vez, e por um momento, ficou sem respirar. Entrar nessa casa era estar apanhado para sempre em um inferno eterno. O aspiral começou a mover-se e mudar ante seu olhar horrorizado. Queria atraí-lo em seu mundo, levá-lo ao inferno. Seu coração bateu tão ruidosamente que as orelhas lhe doeram.

     Thomas quase gritou quando a porta se abriu, rompendo o feitiço. Aidan Savage ficou com o olhar fixo nele, do alto de sua estatura superior. O homem estava vestido casualmente com umas calças jeans descoloridas e uma camiseta de decote em V, mas estava extremamente elegante ao mesmo tempo em que selvagem e indômito, atemporal, como algum exigente cacique tribal. O cabelo até os ombros era tão dourado como seus olhos.

     —Senhor Iva. — A voz tão perfeitamente entoada penetrou em Thomas até a alma, se enrolando dentro dele como algo vivo - Me alegra que tenha conseguido tempo para visitar e tranqüilizar Alexandria. Estou seguro que sua visita a aliviará. Ela esteve realmente preocupada de que você não pudesse manter o trabalho para ela.

     O peso bem baseado de Savage bloqueava a entrada para o interior. Sua voz era agradável, tranqüilizadora, mas as palavras pareciam ligeiramente agudas. Convertia Thomas em um mero empregador, nada em particular para Alexandria Houton e, certamente, nenhuma ameaça para os propósitos de Savage sobre ela.

     Thomas tratou de encontrar sua própria voz. Uma cólera começou a arder nele, lhe dando o ímpeto que necessitava para tratar esse homem. Era Thomas Ivan. Possuía sua própria companhia, era rico e famoso. Uma força a ser considerada. Não era um covarde que choramingava em uma soleira.

   —Me alegro de que possamos nos encontrar em condições mais auspiciosas. — Com ar satisfeito, ele estendeu a mão.

     No momento em que Savage segurou seus dedos, Thomas se sobressaltou pela força enorme do homem. Savage não parecia saber de seu poder. Amaldiçoando silenciosamente, Thomas estreitou sua mão. E então Savage sorriu. Um brilho de dentes brancos. Fortes. Afiados. Nada de humor, nem de boas vindas. O sorriso de um predador foi mais forte nos olhos que não piscavam.

     —Entre em minha casa, senhor Ivan. —convidou Aidan, dando um passo para trás, para lhe dar espaço.

     Entrar nessa casa era a última coisa que Thomas queria fazer. Realmente deu um passo atrás, um tremor frio de medo percorrendo sua coluna. A boca DE Savage se encurvou em um sorriso cru, mas quase sensual.

     —O que acontece?— A voz, tão calma, tão suave como o veludo, parecia deboche.

     Os dois detetives haviam estado ali a menos de uma hora, e nesse tempo, o demônio dentro de Aidan havia ficado mais forte. Quase havia sentido suas presas enquanto um deles fazia de tudo para mendigar uma conversa com Alexandria. Necessitava ela realmente, de outro pretendente? Iria ter que pôr um anúncio na frente da casa, manifestando que todos os homens que cortejassem Alexandria Houton, estavam colocando o pescoço em risco?

     Alexandria guiou aos dois detetives para a porta e Thomas Ivan esqueceu seu medo. Não podia afastar a vista dela. Era estonteadoramente bela, mais do que lembrava. Até os oficiais de polícia cravavam os olhos nela, fascinados. Thomas conteve a fúria de ciúmes que surgiu do nada, surpreso pela intensidade de suas emoções. Sob o olhar fixo de Savage, forçou-se a manter o controle.

     O rosto de Alexandria se iluminou quando o viu e Thomas sorriu triunfante a Savage. Entrou na casa rapidamente, empurrando os detetives, e tomou ambas as mãos da Alexandria nas dele.

     Algo profundo dentro de Aidan se enroscou perigosamente, ante a visão das mãos de Alexandria, nas mãos de Thomas Ivan. Sua respiração se deteve. Seu coração suspendeu as batidas. O demônio em seu interior se moveu e rugiu pela liberação, suas presas explorando sua boca e a neblina vermelha da fera flamejou em seus olhos. Enquanto Thomas se aproximava mais, com a intenção de beijar sua face, Aidan lutou por controle, suficiente para poder ondear uma mão casualmente, dirigindo uma e onda de pó para girar e dançar sob o nariz de Ivan. Quando Ivan inspirou, começou a espirrar violentamente. Os espasmos estremecendo seu corpo inteiro.

     Alexandria se afastou dele e levantou uma sobrancelha inquisitiva para Aidan. Quando o notou muito inocente para seu agrado, olhou-o furiosamente. Já estava sendo duro lidar com os dois policiais enfeitiçados. Tinham parecido fascinados por sua voz, seus olhos, por cada um de seus movimentos. Tinham sido tão solícitos com ela, tão cuidadosos do que diziam, tão preocupados com sua saúde, que ela começava a suspeitar que, junto com a mudança de sangue, Aidan de certa forma tinha compartilhado seus atrativos sexuais com ela. E ela definitivamente não queria.

     Aidan guiou aos detetives para a porta, contendo-se para não empurrá-los para fora fisicamente. Não tinha imaginado a reação dos humanos à beleza de Alexandria. Certamente não tinha imaginado nem sua própria reação. Podia cheirar a excitação desses homens, podia ler seus pensamentos, e os queria fora de sua vista antes de fazer algo imperdoável.

     Algo bateu as asas em sua mente como a carícia das asas de uma mariposa. - Aidan? Sobressaltado, olhou Alexandria. Ela o fitava seriamente. - Deixe de ser tão perverso com o Thomas.

     A alegria cresceu dentro dele. Ela voluntariamente tinha unido sua mente a dele e era a maneira de comunicar-se de um companheiro. Ele sorriu, completamente enfeitiçado.

- Você o deixa segurar suas mãos.

   - Está sendo infantil. Não seguro nada.

   - Quis deixar ele te beijar.

   - Ele não se aproximou para me beijar, Aidan, pare. Estou falando sério.

     Ele então levantou uma mão e o pó se dispersou.

     Thomas, envergonhado, voltou às costas para Alexandria, perguntando-se que tinha acontecido. Nunca tivera ataques de espirros antes! Por que teria um justamente agora? Devia ser por causa da casa e dos malditos olhos âmbar que não piscavam?

     Alexandria sorria. A boca exuberante e suas atrativas covinhas.

     —Por favor, sente-se, Thomas. Sinto que tenha se preocupado por minha saúde.       Sua voz murmurou sobre sua pele e ele sentiu o desejo dominá-lo. Estava vestida com calças jeans envelhecida e descolorida e uma jaqueta abotoada com pérolas. Estava descalça, mas estava incrivelmente sexy. Thomas preferia às mulheres sofisticadas e altas, mas não podia afastar seu olhar da beleza de Alexandria.

     A governanta entrou levando uma bandeja com croissants quentes, pão-doces de nata e uma cafeteira de prata. Inesperadamente, sorriu em boas-vindas a Thomas.

     —Senhor Ivan, suas flores certamente alegraram nossa casa.

     Ele se sentou no sofá, agraciado. Estava ganhando a governanta. Sentindo-se particularmente encantador, outorgou-lhe uma leve inclinação de cabeça e um sorriso breve em sua direção.

   Aidan pegou Alexandria por um braço e a conduziu firmemente a uma grande cadeira em frente a Thomas. Depois de sentá-la, permaneceu atrás da cadeira. Suas mãos descansando ligeiramente sobre seus ombros.

   —Alexandria deve descansar logo, senhor Ivan. Ela ainda está muito fraca. A entrevista com os detetives foi mais longa do que esperamos, e muito dura para sua resistência. — Foi uma reprimenda, um aviso de que Thomas Ivan havia forçado Alexandria, tão frágil como estava, a falar com a polícia.

     —Sim, claro. Serei breve. Simplesmente quis ver se ela estava bem e discutir nossos planos de trabalho. — Thomas aceitou a xícara de café que Enjoe lhe deu. Depois, contemplou o homem em pé, tão protetor atrás da cadeira de Alexandria.— Uma vez que desenhe minhas expectativas para este projeto, será o gênio de Alexandria que terá de assumir o controle. A linha de história é única e muito atemorizante. Estamos com atores famosos dispostos emprestar suas vozes para nós. A intenção é de criar um produto sem igual, no mercado atual. Tudo está encaminhado, mas preciso de um trabalho artístico perfeito.

     —Isso é tão excitante, Thomas. —disse Alexandria, agudamente consciente das mãos de Aidan em seus ombros. Seu polegar acariciava lenta e sensualmente, sua clavícula.

       - “Está usando a voz melosa”. - assinalou Aidan malvadamente. Sua voz roçando a mente dela, como o contato de seu polegar. A nota fez que seu coração se derretesse.

     —Você quer dizer que necessita do trabalho artístico de Alexandria.

   - “Não se meta em meus assuntos, estou paquerando um pouco. Aprenda o conceito? Escreveu um livro sobre isso, não?”

- “Não necessitamos dessas tolices” - a voz murmurou em sua mente. O riso era suave e insinuante.

     Alexandria olhou para cima, para o rosto de aidan. Era uma máscara. Os olhos dourados esatavam fixos em Thomas Ivan. Entretanto, teve a sensação de uma intimidade intensa, como quase faziam o amor.

     Seus sentimentos por Aidan eram fortes e cresciam mais a cada conversa, com cada intercâmbio de sangue e a cada união de mentes. Antes essa compreensão, o medo emergiu dentro dela, cortante e desagradável.

     - “Respira, pequena. Sempre se esquece de respirar”.- Aidan soou divertido e matreiramente masculino.

     Alexandria preferiu ignorar a brincadeira enviando a Thomas, um sorriso potente, que o fez erguer a cabeça e esticar o corpo, tomado de desejo e necessidade.

     Thomas era intensamente consciente de Savage, em pé como um deus grego, atrás da cadeira de Alexandria, com o maldito olhar fixo e suas mãos nos ombros femininos, como se a possuísse. O olhar mortífero, não se movia do rosto de Ivan. Inquietante. Thomas teve o pressentimento de que Aidan podia ler seus pensamentos luxuriosos, cada uma de suas idéias. Tomou um gole de café para acalmar-se.

     —Possivelmente poderíamos sair e tomar o café da manhã, Alexandria — sugeriu sedosamente, desafiando deliberadamente a possessividade de Aidan — e discutir os detalhes.

     Esse olhar fixo não vacilou.

     —Alexandria não pode sair a esta hora, Thomas. Os médicos foram extremamente específicos no que se refere às horas de descanso dela. Não é verdade, Alexandria? Possivelmente, isso deveria ser tomado em conta quando Alexandria começar a fazer o trabalho que precisa.—disse Aidan com a mesma quietude suave, quase inexpressiva de antes, como se nada disso significasse alguma coisa para ele, e Thomas não era uma ameaça.

     Mas Alexandria se irritou ante suas palavras e teria o interrompido se as mãos dele não a tivessem apertado, ainda segurando-a.

     Thomas notou com satisfação, a tensão entre eles. A química, a intensidade entre os dois era inconfundível, e ele detestava, seguro de que ameaçava sua relação com ela. Mas Alexandria não estava feliz e isso era bom. Ivan sorriu, com seu sorriso fácil e encantador e se inclinou para frente.

     —Alexandria tem o trabalho, não importam as restrições de tempo. Tenho o contrato comigo e estou preparado para pagar qualquer preço que ela pedir. - Tome essa, Savage, pensou. Não acredite que possa me afastar de lado tão facilmente.

   “O ataque do tubarão! Cuidado, cara, ele está nadando para você”. Aidan deliberadamente apelou para humor, a fim de relaxar a tensão entre Alexandria e ele.

     A moça olhou Aidan e viu sua espressão tranquila. Os olhos dourados nunca se separavam da face de Thomas, mas em sua mente podia ouvir o eco de sua risada suave. Apesar de estar agastada, quis rir com ele.

     —Alegra-me te ouvir dizer isso, Thomas. — respondeu com sua voz mais adocicada, deliberadamente tratando de incomodar Aidan para vingar-se. – Os médicos são extremamente cuidadosos, e como tenho responsabilidade sobre meu irmão menor, preciso ser cautelosa com minha saúde.

     —Obedeça as instruções ao pé da letra. — respondeu Thomas, aproximando-se mais. — Não gostaria que se repetisse esse episódio. Assustou-me muitíssimo. — Ele invadiu o lado pessoal, levantando sua mão para deixá-la descansar no joelho de Alexandra.

     Por alguma razão, seu contato a afugentou. A xícara de café balançou na outra mão de Ivan, repentinamente, e o líquido quente derramou em sua mão e pulso. Com um grito, ele deixou a xícara em cima da bandeja, e durante o processo, encostou seu braço no recheio dos pães de nata. A manga de seu traje imaculado, sujou com a cobertura do doce.

     —Oh! Thomas. — Alexandria ficou rapidamente em pé, a fim de ajudá-lo, mas as mãos de Aidan a mantiveram em seu lugar.

   - “Sei o que fez isso, Neandertal! Não tente nem por um minuto, fazer cara de inocente, porque não funcionará. Está envergonhando deliberadamente o homem”. – ela acusou Aidan que, delirantemente, tentava conter que sua risada saísse à superfície.

   - “Ele pode guardar-se suas malditas mãos”. Aidan foi serenamente obstinado ao enfrentar sua fúria.

   - “Você continua me tocando no momento que tem vontade. Deixe de provocá-lo. Quero este trabalho”.

   - O idiota está tão embasbacado com você, que se ficaria de cabeça para baixo, se voce pedisse. O trabalho não tem nada que ver”.

     Ninguém usa a palavra, embasbacado. Ela não podia pensar em uma réplica bastante cáustica. Aidan estava completamente impenitente. Para acrescentar mais ainda, sua cólera, podia ouvir o tom inconfundível de riso em sua voz de veludo.

     —Sinto muito, Alexandria. — Thomas estava envergonhado. Tinha certeza que era a espreita dos malditos olhos âmbar vigiando cada movimento seu. Esperando, simplesmente esperando. Era estranho e perturbador, estar sob olhar fixo de um predador. Sentia-se como um coelho, preso nas garras de um lobo. Novamente, ele amaldiçoou sua imaginação. Dirigiu a Alexandria seu sorriso mais encantador, tratando de ignorar o homem atrás de sua cadeira. Savage dava uma impressão de indolência, mas Thomas não se enganava. Quem quer que fosse esse homem, era uma força muito grande para enfrentar. Tinha reclamado Alexandria e claramente advertia Thomas a respeito disso.

     —Não se preocupe por isso, Thomas. A bandeja estava muito perto. Em todo caso, o dano maior foi em sua roupa, não em mim.

     A voz de Alexandria era tão calma e tranqüila, que pareceu envolvê-lo, relaxando-o.

     —Alexandria está cansada, senhor Ivan. Devo insistir em que ela descanse agora. — O olhar dourado de Aidan foi inquebrável. — Acredito que esteja satisfeito agora, em saber não a mantenho prisioneira em minha masmorra. —Ele fez uma pausa. —E no futuro, senhor Ivan, se tiver o desejo de saber algo a respeito de mim ou de meu pessoal, asseguro-lhe que um investigador particular é um esbanjamento de dinheiro. Estarei feliz de responder qualquer pergunta que tenha. — Seu sorriso foi amistoso, mas seus dentes brancos, deram a Thomas a ilusão de ser emboscado por um lobo. Não havia absolutamente nenhuma misericórdia nos olhos dourados e inquietantes.

     Thomas se levantou, odiando o medo que se formava redemoinhos em suas vísceras e a humilhação de ser despachado pelo homem com o pretexto da preocupação pela saúde de Alexandria. Mas podia ser paciente. Ela trabalharia com ele. Estariam sozinhos, e não havia nada que Aidan Savage pudesse fazer a respeito disso.

     —Lamento qualquer inconveniente que minha preocupação por Alexandria tenha lhe causado. Estava muito preocupado por seu bem-estar.

     Ignorando as mãos de Aidan em seus ombros, Alexandria se levantou.

     —Entendemos. Embora te asseguro que Aidan é um bom homem e nunca machucaria a Joshua ou a mim. Não tinha absolutamente nada por que se preocupar.

     Thomas olhou sobre a cabeça da moça para desafiar diretamente a Aidan.

     —Oh, estou seguro de que ele está correto a respeito disso. — Ele entendia o bastardo, mas Alexandria era muito inocente para dar conta do tipo de homem que era, realmente, Savage. Tinha que haver esqueletos em seu armário, um corpo ou dois em seu passado. Thomas tinha a intenção de encontrar cada um deles. Deliberadamente sorriu ao homem, uma ameaça fria e intencional. — O senhor Savage e eu nos entendemos bastante bem, Alex. Ligarei para você mais tarde.

     Ela o seguiu até a porta. Enquanto fazia uma pausa no alpendre, ele deu volta e levantou uma mão para tocar sua face, seguro de que sua pele seria tão suave como notara. Por um momento seu coração pareceu deter-se, e sua respiração se aglomerou em sua garganta. Nenhuma mulher jamais o tinha impressionado como ela o impressionava. Mas ao mesmo tempo em que estendia a mão para roçar seu rosto, ouviu um zumbido zangado, e uma enorme abelha negra o bombardeou. Ele quase foi picado.

     Com um xingamento, Thomas saltou, tentando de esmagar o persistente inseto. Enquanto seu pé esquerdo baixava, seu tornozelo se dobrou e quase o fez cair.

     A mão da Alexandria cobriu a boca com horror.

     - “Aidan, pare!”

   - Não posso imaginar do que me acusa agora, pequena” - respondeu Aidan inocentemente da sala de estar. Sua voz era despreocupada, nobre e plácida.

     Thomas escapou pelo caminho de acesso para a segurança de seu carro. Maldito homem, maldita a casa, e maldita cada coisa torpe que lhe tinha ocorrido! Savage não ia afugentá-lo para sempre! Do santuário de seu veículo, saudou com a mão Alexandria, feliz de ver que ela estava um pouco afligida por ele. Quase desejou ter permitido que a abelha o picasse, ela poderiater insistido em cuidá-lo, para que se curasse.

     Alexandria fechou a porta com mais força que o necessário.

     — Você é o homem mais revoltante do mundo. — o acusou ela.

     Aidan arqueou uma sobrancelha.

     — Uma de minhas qualidades pior, mas cativante. — Seu sorriso lento e sexy era brincalhão.

     Alexandria quase perdeu o fôlego, distraída pelo calor que o sorriso lhe causava. Abruptamente se refreou, endireitou os ombros e convocou toda a cólera que pôde, dadas as circunstâncias.

     —Nada em voce é cativante. Isso foi tão… Tão… — Ela deixou de falar, procurando a palavra certa, mas seu vocabulário falhou.

       Ninguém deveria ter seu sorriso.

     —Brilhante?— incitou-a, ajudando-a.

     —Insensível me vem à mente. Infantil. Vai se comportar assim cada vez que ele vir aqui? - Com as mãos em seus quadris, seus olhos de cor safira emitiam faíscas.       Ele teve ímpetos de beijá-la. Seus olhos dourados se esquentaram, e seu olhar desceu preguiçoso para sua boca. Instantaneamente, o corpo feminino respondeu a esse olhar escuro e sensual. Depois, retrocedeu. Foi para longe dele precipitadamente, levantando as mãos.

     —Não te atreva, fugitivo de manicômio.

     —Não atreva a que?— A voz foi suave, hipnótica e sedutora.

     Ela podia sentir seu contato, como dedos acariciando sua pele. Ela ardia com isso, estava enlouquecida, só com isso.

   —Simplesmente permaneca do outro lado da sala. Estou falando sério, Aidan. Você é letal. Deveria estar encarcerado.

   —Mas eu não fiz nada! — ele sorriu e se aproximou pouco a pouco dela. — Ainda.

     —Enjoe!— Em pânico, Alexandria gritou tão alto como pôde.

     Aidan riu enquanto a governanta se apressou em entrar. Pequena covarde, corra enquanto pode.

       Embora estivessem em lados distintos da sala e Enjoe entre eles, Alexandria sentiu o ligeiro roçar dos dedos dele em sua pele, em sua face, em sua garganta. Depois, desceram ligeiros, tocando o dolorido de seus seios antes que a sensação se desvanecesse.

     —O que está acontecendo, Alexandria?— perguntou Enjoe, com as mãos nos quadris, olhando furiosamente para Aidan.

     Ele levantou uma mão para aplacá-la, rindo.

     —Sou inocente. Fui um perfeito cavalheiro para a visita dela.

   —Derramou o café em Thomas, fez ele espirrar, sujar a roupa na cobertura dos pães de nata, e o perseguiu com uma abelha. — acusou Alexandria. Enquanto Enjoe lutava para manter-se séria, Alexandria atirou o insulto final. — E ia murchar minhas flores.

     —Aidan!— repreendeu Enjoe agudamente, mas havia riso em seus olhos.

     Aidan estava gargalhando agora, sua cabeça jogada para trás, seus olhos dourados resplandecendo, seu rosto transformado, quase juvenil ante suas diabruras. Nenhuma mulher poderia resistir à alegria tão pura, à diversão que ele experimentava pela primeira vez, em séculos.

       Enjoe quiz chorar de felicidade e foi um afrodisíaco para Alexandria, saber que tinha tanto poder sobre tal criatura.

     —Não é verdade, Enjoe. Ivan derramou seu café e inundou seu braço nos pães doces de nata. Não estive sequer perto dele. E a abelha provavelmente só passou por aí. Como posso ser responsável pela atração de um inseto por esse homem?—. Ele se via com os olhos muito abertos e irreprocháveis. — No que se refere às flores, eu olhava furiosamente, porque ela estava parecendo uma boba com essas condenadas.

     —Tola?— repetiu Alexandria. — Mostrarei que é bobo, besta selvagem. —Ela pôs-se a andar para ele resolutamente, mas Enjoe levantou uma mão.

     — Meminos! Meninos. Joshua já está de pé, e não queremos que ele os encontre brigando.

     —Não querenos é que ele veja que seu herói tem pés de argila. — corrigiu Alexandria, olhando furiosamente para Aidan.

     Ele se moveu para ela, em deliberada espreita, deslizando-se a volta de Enjoe. Seu jeito silencioso e fluídico, fazendo o coração de Alexandria bater freneticamente por antecipação. Sua boca perfeita estava curvada em um sorriso zombador. Precipitadamente, ela deu um passo atrás, tropeçou, e teria caído se ele não a tivesse alcançado e a tivesse segurado.

     —Fugindo, pequena covarde?— murmurou, em brincadeira, arrastando-a ao refúgio de seus braços.

     Enjoe discretamente deixou a sala, abandonando à mulher mais jovem a seu destino, escondendo um sorriso por trás de sua mão, enquanto saía.

     —Aidan. —Houve dor na voz de Alexandria. Não queria que ele estivesse ali. Era simplesmente estava tão perto, que o calor de seu corpo envolveu-a... Sua boca estava a centimetros da sua, seus corações pulsando no mesmo ritmo desesperado.

     O polegar masculino roçou seu lábio inferior em uma carícia ligeira, enviando uma chama de ardor que alcançou, como um relâmpago, sua alma. Seus olhos dourados sustentaram os seu enquanto ele inclinava a cabeça, sua boca encontrando a dela com fome pausada, saboreando lentamente cada centimetro do interior sedoso, explorando, tentando. Suas mãos deslizaram para seus quadris, apanhando-a, entranhando-a contra ele. Imobilizando sua suavidade contra seu corpo duro e exigente.

     Houve um resquicio de resistência nela, como se lutasse pela sobrevivência, seu sentido de autoconservação lhe advertindo que estava em perigo. Mas o laço entre eles aumentava com sua proximidade, com cada intercâmbio de sangue, com a química explosiva que os unia. A mente de Alexandria procurava a sua. Sua alma o alcançou. Seu coração estava suavizando-se, desejoso do contato. Seu corpo gritava pelo dele. Só sua cabeça, teimosa, impedia a ele de afirmar seus direitos, como seu companheiro.

     Sua boca se moveu sobre a dela, aprofundando o beijo, afastando suas objeções em uma onda de fogo, arrastando-a mais e mais, para o profundo mundo de sensualidade, o mundo da noite, de tudo o que harmonizava com as demandas de seu sangue.

     —Nossa!— A voz de Joshua soava impressionada e desgostosa ao mesmo tempo. — Você gosta dessas coisas, Aidan?

     Alexandria se afastou rapidamente dos braços do Aidan e esfregou a boca, tentando desesperadamente recuperar sua respiração.

     Aidan desgrenhou os cachos loiros do menino.

     —Sim, Joshua, eu gosto dessas coisas, mas só com sua irmã. Ela é especial, entende? Alguém como Alexandria só aparece uma vez em muitos séculos.

   Joshua contemplava a sua irmã com um sorriso especulativo. Havia uma luz malvada em seus olhos.

     — Ela parecia gostar também.

     —Bem... Não... Não é certo. — negou Alexandria inflexivelmente. — Aidan Savage é um idiota, Joshua. Um grande idiota.

     O sorriso aberto se desdobrou.

     — Deve beijar bem, Aidan. Ela nunca deixa que ninguém a beije exceto eu. — O menino ergueu o rosto para cima, para receber o beijo de Alexandria, seus braços pequenos rodeando seu pescoço enquanto ela se inclinava. — Não deixe que ninguém mais te beije, exceto Aidan e eu.

     —Essa é a forma que deveria ser. — disse Aidan complacente. — Teremos que estar vigilantes agora que o senhor Ivan a contratou para fazer suas ilustrações. Tem um olhar... Aprumado e quer beijar Alexandria.

     —Não se preocupe, Aidan. Não deixarei. — disse Joshua incondicionalmente—. Se ela for trabalhar para esse cara, irei com ela a todos o slugares e farei que se mantenha longe dela.

     —Essa é uma grande ideia, Josh. — A aprovação na voz de Aidan fez o garotinho ficar radiante de orgulho.

     —Não posso acreditar — os interrompeu, Alexandria — que você esteja mantendo esta conversa com um menino de seis anos, aidan. — Alexandria abraçou seu irmão apertadamente, estava com saudades. Ele havia estado muito tempo longe dela. Mas nem tanto para que não pudesse brigar com ela.

     —Tenho quase sete anos, Alex.

     —Ainda é inapropriado.

     Joshua sorriu travessamente a Aidan.

     —Não se preocupe. Ela sempre diz isso quando não sabe mais o que dizer e quer que eu me cale.

     Aidan se inclinou e gentilmente levantou o menino até o próprio ombro.

     —Isso é porque ela gostou de meus beijos e está um pouco aturdida. Teremos que perdoá-la esta vez.

   —Oh, já vejo como vai ser - Alexandria olhou furiosamente para os dois, mas sua covinha apareceu apesar de seu melhor esforço de aparentar estar brava.—. Vocês planejam conspirar contra mim?

     Os dois homens se olharam, trocando um sorriso.

   —Sim.— disseram ao mesmo tempo.

   Alexandria sentiu que seu coração dava um salto. Joshua não tinha mais ninguem, exceto ela para velar por ele. Nunca tinha acreditado em ninguém e nem estado perto de outras pessoas. Não podia evitar sentir-se feliz de que Aidan se interessasse tanto nele. Aidan lhe roubava o coração com sua gentileza. Joshua era seu mundo. Podia ver o afeto genuíno de Aidan pelo menino, podia ver que desenvolviam um entendimento mútuo e real. E sentiu que lágrimas embaralhavam seus olhos ante a visão deles juntos.

     —Vamos, muchacho, precisamos te dar o café da manhã. O senhor Ivan levou quase todo a comida em sua roupa, o homem é tão tolo. Deveria ter visto. — informou Aidan ao menino.

     Joshua soltou uma risita.

     —Derramou sua comida?

     Aidan deslizou facilmente para a cozinha, como se o peso de Joshua fosse secundário.

     —Foi um completo tolo. Até Alexandria teve de se conter para não rir, embora não o admitiria. Ela finge que gosta dele. — murmurou, sabendo perfeitamente que ela podia ouvir cada uma de suas palavras.

     Alexandria se arrastou atrás deles, indecisa. Não sabia se brigava com Aidan ou se simplesmente o ignorava. Era uma escolha difícil.

   - Posso ler seus pensamentos. Sua voz em sua mente foi como uma carícia física.

     Alexandria o olhou com fúria. Chutaria-o na primeira oportunidade que apresentasse. Ele sabia exatamente como a impressionava, o velhaco. Playboy de mil anos. Porco machista. Merecia ser chutado.

     —Nunca derramo minha comida, Aidan.— confiou Joshua solenemente. — Ao menos já não o faço mais. Quando era bebê eu derramei.

     —As irmãs não têm o mesmo efeito em seus irmãos, que nos homens adultos, Joshua. Acredite-me, Alexandria poderia me fazer derramar toda a comida também.

     Joshua sacudiu seus cachos loiros.

     —Não é verdade, Aidan.

     —É certo, Joshua. Não quero admitir, mas ela definitivamente poderia. É horripilante, o efeito que as mulheres têm nos homens.

   — Por que? Ela é só uma garota. —Ele esfregou o nariz e sorriu para a irmã. — E está sempre nos dizendo o que fazer.

   —Agora mesmo, vou dizer que tome seu café da manhã e te prepare para a escola. — Alexandria teve a intenção de ser dura, embora fazia de tudo para não rir. Joshua era muito precoce. – eu te levarei.

     Aidan se virou lentamente e a contemplou com seu olhar dourado. Alexandria o ignorou, excessivamente consciente de que ele se opunha a que ela saísse. Decidiu manter-se firme. Não ia trocar sua vida por ele. Quanto mais permitisse a Aidan se convencer das coisas que podia e não podia fazer, mais a afastava de seu mundo.

     —Irei com você, Joshua. — repetiu firmemente.

     —Isso é o que você pensa. — disse Aidan baixinho, colocando Joshua no chão. Pôs a mão sobre os cachos sedosos do menino. — Alguém tem que cuidar de voce. Joshua e eu o faremos, você goste ou não.

     Joshua sorriu para a irmã, pequeno e inocente, ignorando qualquer centelha entre os dois.

     —Voce está doente, Alex. Sabe? Sempre me cuida quando estou doente... —Ele sentou-se em uma cadeira de carvalho, de respaldo alto. — Uma vez, estive realmente muito doente, ela nunca me deixou, nem sequer para ir-se dormir. Lembra, Alex?

   —Teve pneumonia, Joshua. — afirmou ela, tocando seu ombro carinhosamente.

       Houve tanta ternura em sua expressão, que Aidan deu meia volta para evitar abraçá-la. Ela lutava por permanecer humana, e ele realmente não podia culpá-la por isso. Seu mundo inteiro tinha sido posto ao reverso. Para alguém que o via como uma criatura fictícia, um legendário e horrendo vampiro, ela estava tentando bastante bem.

     —Enjoe fez panquecas esta manhã. — disse Joshua - eu disse que voce queria, porque são seus favoritos. Fez caretas engraçadas com eles.

     O golpe foi quase físico, uma pontada em seu íntimo. Alexandria empalideceu, e repentinamente se encontrou examinando o imaculado piso da cozinha. Recordou o preço terrível que pagava por permanecer viva. Não havia nenhuma maneira de voltar atrás. Se era vampira ou um… Membro da Raça dos Cárpatos, a medicina moderna deveria ter um antídoto. Documentaria-se em segredo, arrumaria outro nome, encontraria uma maneira de cuidar de Joshua sozinha, sem a ajuda de Enjoe ou Stefan, e certamente sem Aidan. Ele estava fazendo muito para seu agrado.

     Sentiu seus olhos dourados nela, soube que ele a vigiava estreitamente, podia sentir o momento exato quando sua mente alcançou a dela. Deliberadamente resistiu, precisando exercer sua independência.

     Sua risada foi suave e zombadora.

     —Vai usar sapatos quando levarmos Joshua a escola, ou tem a intenção de acompanhá-lo descalça? — perguntouele indiferente a seu desafio.

     —Não acredito que você precise ir, Aidan. Sou realmente capaz de levar Josh à escola sozinha. Tem que lembrar que estive fazendo há algum tempo.

     Ele estendeu a mão pegou uma mecha de seu cabelo.

     —É verdade, piccola, mas esse não é o ponto. Tive que investigar a escola muito rapidamente e embora Stefan fez uma comprovação por mim, realmente não tive a possibilidade de avaliá-la por mim mesmo. Esta será uma boa oportunidade.

     —Está me vigiando. — Ela o acusou.

     Ele encolheu de ombros. Não encontrou razão em negá-lo.

     —Também.

     Alexandria lhe dirigiu um olhar ressentido. Ao mesmo tempo sentiu um ardor no fundo de seus olhos, e isso só fez que se zangasse mais ainda.

   —Não necessito um guardião.

   —Não penso o mesmo.

   Ela o pegou pelo braço.

   —Joshua, apresse e termine seu café, depois escove os dentes. Aidan e eu vamos conversar. Quando estiver pronto para ir, vá até a sala.

   —De acordo, Alex. — respondeu Joshua.

     Embora seus dedos pequenos envolviam pela metade, o pulso de aidan, ela o tirou à força da cozinha.

     —Não me pode manter cativa, Aidan. E sei que não me cuida para me preservar. O que há lá fora que possa me machucar? Disse que os vampiros não podem estar fora depois do amanhecer. Posso ir com o Joshua, sozinha.

   —Não tem idéia do que enfrenta, Alexandria. A luz da manhã machucará seus olhos e o sol queimará sua pele. Terá que levar óculos escuros especiais e se acostumar ao sol gradualmente. Como seu companheiro, tenho a cargo, sua saúde e sua segurança. Devo te proteger a todo momento, inclusive de voce mesma. Se deseja acompanhar Joshua a sua escola, irei também.

   — Sua presença não tem nada que ver com a escola do Joshua ou minha segurança. Pensa que me vou levar Josh e correr ao aeroporto mais próximo. Se tivesse um pouco de massa cinzenta, neurônios, faria isso. Simplesmente não pode me manter aqui, Aidan. Deixe-me cuidar de meu irmão. Foi o que fiz, por anos—. Seus olhos azuis brilhavam, fulgurantes de determinação e desafio.

     Aidan permitiu que um sorriso travesso suavizasse sua boca.

     —E um trabalho muito bom o que tem feito, Alexandria. Joshua é um bom menino. Ganhou os corações de todos aqui. Mas não seria inteligente não acompanhar o menino ao menos uma vez a sua escola nova. Aparentemente teve problemas no passado com um fanfarrão ou dois, e me contou que uma demonstração de força poderia ser muito útil para estabelecer melhores relacionamentos. Direi a Stefan que traga a limusine.

     —Não está me ouvindo, Aidan.

     Ele havia aplacado exitosamente sua cólera. Ela queria que Joshua fosse feliz. Tinha sido consciente dos problemas dele, na velha escola. Se ele queria que um enorme carro e pessoas adultas, o acompanhassem para uma primeira impressão, então quem era ela para negar?- Não acredito que eu goste de muito, Aidan. Sempre parece obter o que se propõe. — capitulou a contra gosto.

     Ele revolveu seu cabelo como se fosse Joshua.

   —Acostume-se a isso, piccola. Todo mundo me obedece.

   —Não tenho medo de você, como os outros.

   —Possivelmente não da mesma forma, Alexandria, mas está mais que definitivamente assustada. De outra maneira, não tentaria escapar de mim, de nós, da maneira como faz. — A nota zombadora em sua voz estava mexendo com suas emoções e ela não queria reconhecer. Tinha que escapar. Era a única forma. A única maneira.

   Enjoe colocou sua cabeça no portal.

     —Telefone, Alexandria. Seu jovem outra vez. — Ela piscou. — Está ansioso, parece.

     —Ele não é o jovem de Alexandria, Enjoe. — disse Aidan, incomodado. — É velho para ser seu pai.

     Enjoe só riu quando retornou à cozinha, ignorando seu mau humor.

     —Olá?— Deliberadamente, Alexandria soou adocicada enquanto respondia a chamada de Thomas Ivan. —. Oh, Thomas! — Seus olhos se posaram em Aidan enquanto emitia o nome de outro homem. — Teatro? Esta noite? Está muito em cima, e não sei se estou realmente pronta para uma noite de festa.

     Aidan podia ouvir, facilmente, a voz afável e persuasiva, no outro extremo da linha.

     —Simplesmente nos sentaremos quietos, Alex, e eu a levaria a casa diretamente. Será uma noite curta.

     Ela fechou os olhos. Uma noite longe de toda tensão. Uma noite real em sua vida. Em seu próprio mundo. Era atraente. E aceitando, também saberia se era uma prisioneira ou não.

     —Isso sonha maravilhoso, Thomas. Mas depois, direto para casa, se não querer que o doutor me esgane. — Ela olhou Aidan enquanto dizia.

     Aidan levantou uma sobrancelha, mas seus traços graníticos permaneceram inexpressivos. Por alguma razão, isso fez que seu coração palpitasse mais rápido. Aidan Savage planejava algo. Não sabia o que, mas estava segura disso.

     Pendurou o telefone.

     —Irei ao teatro. — disse provocadoramente.

     Aidan assentiu com a cabeça.

   —Isso foi o que ouvi. Pensa que é inteligente?

   Ela se encolheu de ombros.

     —Sinto-me bastante bem. Minha saúde parece retornar à normalidade.

     —Não estou preocupado por sua saúde neste momento, Alexandria— disse ele brandamente. — Estou com a dele.

 

     —Aidan, posso ter um cachorrinho?— Joshua, apertado como um sanduiche, entre d Aidan e Alexandria no carro, evitou cuidadosamente olhar sua irmã.

     Alexandria se ressentiu, levantando o queixo. A mão de Aidan deslizou por trás do assento e descansou ligeiramente sobre sua nuca. Seus dedos se fecharam ao redor dela e começaram uma massagem lenta.

     —Joshua, é divertido brincar com a Alexandria que sou o grande chefe e posso desobedecer a suas ordens, mas sabemos a verdade. Alexandria é sua irmã e sua guardiã. Por que me faz essa pergunta?

     —Oh, Aidan. — Joshua ficou com o olhar fixo em suas próprias mãos. — Ela sempre diz que não. Não é verdade, Alex? Diz que é muito duro encontrar um apartamento que permita que tenhamos um cachorro. Mas agora vivemos com voce. Um cachorro poderia viver ali, não poderia?— Olhou para cima esperançado. — Sua casa é realmente grande, eu me encarregaria dele quando não estivesse na escola.

   —Bem, Joshua, não sei. — respondeu Aidan seriamente, considerando o assunto. — Os cachorrinhos podem representar uma quantidade significativa de problemas. Enjoe e Stefan têm muitos deveres para manter as coisas em ordem. Para ser honesto, acredito que também teriam que ser consultados. Esta não é uma decisão que possa ser tomada de uma hora para outra. Em todo caso, antes que tome as rédeas no assunto, acredito que discuti-lo com sua irmã deveria ser o ponto de partida.

     Joshua encolheu de ombros e sorriu sedutoramente para Alexandria.

     —Ela já disse que poderíamos ter um, se encontrarmos um lugar onde deixassem.

     Alexandria tentou enfocar a visão, mas seus olhos ardiam muito por trás dos óculos extremamente escuros que Aidan havia insistido que usasse. As janelas do carro também estavam misteriosamente escurecidas para ajudar a bloquear a visão do sol, mas ainda assim, sentia como se mil agulhas a apunhalasvam quando a luz tocava seu rosto. Era aterrador. E significa que outra vez Aidan havia dito a verdade.

     —Não estivemos na casa de Aidan o suficiente, para sabermos se vamos ficar, Joshua. — Ela ignorou os dedos que se fecharam ao redor de seu pescoço. — E não é justo carregar Enjoe com um trabalho como esse tão já. Vamos esperar para ver o que acontece. Começarei a trabalhar logo, e então nos estabeleceremos. Não digo que não. Simplesmente digo que deveríamos esperar um pouco mais, de acordo?

     —Mas, Alex… — houve uma nota lastimosa na voz de Joshua.

     —Acredito que Alexandria está sendo muito justa, Joshua. — O tom de Aidan não tolerava discussão, e Joshua se calou imediatamente.

   Ela estava curiosamente agradecida a Aidan. De costume, Joshua teria tratado de cansá-la com seu pedido. E nesse momento estava tão cansada que parecia difícil pensar corretamente. Seus olhos ardiam e a luz do sol queimava seus braços e seu rosto. Queria chorar, gritar contra o destino que lhe tinha feito isso. Durante todo o tempo, jhavia esperado que Aidan realmente não houvesse dito a verdade. Que somente tivesse tido alguma razão tortuosa para tratar de convencê-la de acreditar nele.

   - Estaremos em casa logo, cara. As palavras moveram através de sua mente, envolvendo-a em calor como se fossem a comodidade de seus braços.

     —Não posso aceitar isto. — disse em voz alta, inconsciente do fato de que Joshua estava sentado entre eles, atento a tudo. — Simplesmente não posso, Aidan. — Era um sinal que seu estado de ânimo estava mau, que dissesse algo que pudesse preocupar Joshua. Era sempre cuidadosa com ele...

     A mão de Aidan deslizou para baixo sobre suas costas, enredando-se em seu cabelo sedoso, unindo-os.

     —Não se preocupe tanto. Tudo vai estar bem. - disse ele, tratando de encontrar uma fácil solução para acalmá-la.

     O carro deslizou até parar e Stefan abriu a porta do lado de Aidan. A luz do sol sem filtrar, instantaneamente chegou a torrentes, numa onda de calor e luz, e Alexandria soube imediatamente que Stefan tinha recebido ordens de abrir a porta de Aidan em vez da sua. Aidan, como sempre, protegia-a de sua própria loucura. Inclusive com sua grande figura bloqueando a maior parte da luz, lançando uma sombra protetora sobre ela, a moça apertou os dentes contra a sensação de ardor. Com os olhos fechados, por trás dos óculos escuros, beijou a parte superior da cabeça de Joshua.

     —Tenha um bom dia, Josh. Vemo-nos pela tarde. — Ela se sentiu surpresa de que sua voz soasse tão normal.

     —Estará lá quando ela chegar em casa?— perguntou ele ansiosamente. Ainda odiava afastar-se dela, ainda temia perdê-la. Ultimamente, esse sentimento invadia seus sonhos até transformá-los em pesadelos. Que Alexandria ia para longe. Para sempre. Envolveu seus braços ao redor dela fortemente e enterrou o rosto em seu ombro.

     —O que está acontecendo, Josh?— Imediatamente, seus próprios medos e sua dor física, foram deixados de lado para poder consolá-lo.

   —Nada de ruim vai acontecer, vai?— A ansiedade estava em sua voz, na tensão de seu corpo pequeno.

     Alexandria quis responder, reconfortá-lo, mas as palavras ficaram presas em sua garganta e se recusaram a sair. Só escapou um som diminuto, algo entre o terror e a dor.

     —Estarei com Alexandria enquanto você está na escola, Joshua. — disse Aidan tranquilo, com um tom tão e puro que era impossível não acreditar nele. — Nunca permitirei que algo ou alguém a machuque. Tem minha palavra. E se ela estiver descansando quando você chegar em casa, a noite estará acordada para estar com voce.

       Joshua relaxou notavelmente entre os braços de sua irmã e de Aidan que num um arrebatamento de afeto inesperado, acariciou a cabeça da criança. Joshua tinha conquistado seu coração.

     Entretanto, atrás dos óculos escuros, os olhos de Aidan estavam inquietos, escrutinadores, com uma espécie de desassossego aumentando em seu interior. Podia tolerar a luz da manhã, mas o preço de ser um homem da Raça dos Cárpatos, uma criatura da escuridão, eventualmente cairia sobre ele e reclamaria seu preço diminuindo sua força.

     —Estarei em casa às duas e trinta. — anunciou Joshua como um pequeno adulto e beijou a Alexandria uma última vez.

     —Seu almoço. —recordou Stefan, dando ao menino a mochila que Enjoe tinha comprado para ele poucos dias antes.

     —Obrigado, Stefan. — gritou Joshua enquanto corria atrás de outro menino que havia se convertigo em seu amiguinho.— Jeff! Espera.

     Alexandria tratou de vê-lo correr, mas a luz quase a cegava como se milhares de agulhas perfurassem suas pupilas, fazendo-a lacrimejar continuamente. Não teve outra opção que fechar apertadamente os olhos. Envolveu seus joelhos e se encolheu miseravelmente contra o assento traseiro. Aidan trocou de posição, apenas um rangido no rico couro, mas ela podia sentir o calor e a comodidade de sua sólida constituição a seu lado. Apesar de tudo, não queria seu consolo. Não queria que ele fizesse nada. Ele tinha prometido a Joshua que cuidaria dela, que sempre estaria ali para o menino, mas não podia aceitar viver a vida de uma criatura que existia tomando o sangue dos outros. Sem sol. Sem dia. Sem compartilhar realmente a vida de Joshua. Gemeu e cobriu o rosto com as mãos.

     Stefan fechou a porta, bloqueando a visão da luz terrível e o braço de Aidan rodeou seus ombros finos.

   —Não será sempre desta maneira, cara.

   —Não são nem nove horas da manhã. O sol já está tão quente. — Os soluços empurravam o nó em sua garganta.

     —Sua pele deve se acostumar à luz do dia, lentamente. — Ela sentiu o ligeiro roçar de seus lábios no alto da cabeça.

     Stefan arrancou o carro.

   —Um momento. — ordenou Aidan e Stefan obedeceu instantaneamente, voltando-se em seu assento, interrogante. Aidan guardou silêncio, esquadrinhando o contorno circundante, uma leve enruga apareceu em sua boca. — Poderíamos usar os serviços de Vinnie Do Marco e Rusty. Por favor, traga-os imediatamente e lhes dê instruções de ficar com Joshua até que esteja a salvo dentro das paredes de nossa casa. Arrume em primeiro lugar, que seus colegas fiquem com Enjoe enquanto ela se ocupa de seus assuntos, e, por favor, se assegure de que saia o menos possível. — Sua voz era calma, sem apreensão, mas assustou a Alexandria.

     —O que está acontecendo?— demandou.

       Stefan não fazia pergunta. Obviamente sabia do significado das ordens de Aidan.

— Diga-me. Joshua é meu irmão. Ele está em algum tipo de perigo?

     O braço de Aidan se fechou em volta dela enquanto o carro se afastava da escola, lhe impedindo de saltar do veículo em movimento em um intento de retornar junto a Joshua. Alexandria lutou, mas ele era enormemente forte.

     —Disse que os vampiros não podem sair depois do amanhecer! Quem mais o machucaria? É simplesmente um menino, Aidan. Traga-o de volta à casa! — Sua voz lutava por manter o controle, beirando a histeria.

     —Joshua precisa viver uma vida normal. Nada o fará mal. Vinnie e Rusty são guarda-costas de minha absoluta confiança e o protegerão. Joshua não é como nós, Alexandria. Ele permanecerá no mundo humano. Devemos retornar a casa e à câmara para dormir até que o sol comece a encobrir-se.

     Ela odiava sua voz. Tão suave, mas urgente, fascinando-a para fazer algo que ele queria. Tão razoável, enquanto a dela estava fora de controle. Parecia não notar sua resistência, sua histeria. A fazia entender e sentir que seus protestos eram infantis, seu comportamento irracional. Respirou profundamente e lutou por retomar suas rédeas.

   —Deixe-me ir, Aidan. Estou bem agora.

   —Acredito que te sustentarei simplesmente um pouco mais, pequena. Estou em sua mente e sei que tenta nos enganar com sua falsa compostura. Relaxe agora, simplesmente respire comigo e verá que me encarregarei de tudo. Joshua estará a salvo com os planos que tenho feito.

   —Não acredito que realmente entenda, Aidan. —ela falou claramente. — Sou a irmã de Joshua. Sou quem deve decidir o que é seguro para ele ou não. Quero-o comigo.

   —Ele não pode estar contigo, Alexandria. É impossível. — disse Aidan pacientemente. Seu polegar encontrou o pulso frenético em sua garganta e o acariciou com doçura. — Joshua ficará na escola.

   —Não é teu assunto. Quero-o em casa.

   —Pensa que brigar comigo vai mudar alguma coisa? Você é o que é, minha cara. Precisa de importância o que pode fazer. — Quando ela tentou se afastar dele, seu braço a impediu de fugir.

   —Este acerto não vai funcionar, Aidan. Recuso-me a permitir ditar o que posso ou não posso fazer com Joshua. Não é assunto teu. — Furiosa, ela lutou mais firme para escapar dele, mas começava a sentir-se cansada...

     Aidan embalou sua cabeça contra o peito, sua mão em volta de sua garganta, o pulso de sua vida palpitando contra sua palma.

   —Não há como sobreviver sem mim, Alexandria e em seu coração sabe que é verdade. Possivelmente por isso luta tão desesperadamente. Não está ainda preparada para deixar sua liberdade a meu cuidado.

   —Odeio você.

       Ele não entendia nada. Desde moça se viu forçada a assumir o controle de tudo. Podia e gostava. Era hábil nisso. Ter alguém que opinasse em suas ações, dissesse o que podia ou não podia fazer, era aterrador. E temeu que Joshua estivesse sendo afastado lentamente dela.

     Ela se obrigou a tranqüilizar-se, e fez o que Aidan havia dito. Aspirou. Exalou. Sentiu o roçar familiar em sua mente e tratou de resistir a ele. Mas já não podia controlá-lo. Ele estava muito familiarizado com seus bloqueios, suas defesas. Pôs em branco sua mente, imaginando uma borracha e apagando tudo o que encontrava.

     - Cara, confia em mim um pouco mais. Sei o que é melhor para Joshua. Ele terá que aprender a confrontar com algumas coisas, por si mesmo, simplesmente como Enjôe, Stefan e seus meninos tiveram que fazer. Os guarda-costas se assegurarão de que ele esteja a salvo.

     Ela não respondeu. Onde tinha ido parar sua própria vida? Como as coisas haviam ficado tão mal? Tão fora de controle? Possivelmente Aidan a houvesse hipnotizado, e as coisas que aconteciam eram truques que ocorriam em sua mente. Ou na verdade, podia ser até pior. Se ele era um vampiro, se os vampiros existiam e as lendas e os contos eram certos, ele poderia convertê-la em sua mulher. Obrigá-la a fazer as coisas. Tinha que investigar se Aidan dizia a verdade ou, pelo contrário, ela estava sob algum tipo de hipnose.

     O que realmente temia nesse momento era pensar que permanecia com ele porque cada vez que seus olhos dourados descansavam sobre ela com posse e necessidade, derretia-se por dentro. Desejava, queria que alguém sentisse essa intensidade por ela. Sexo. Teria permitido separar Joshua dela por sexo? Deus! Ela odiou-se. Odiava no que se converteu. Precisava encontrar um médico. Um psiquiatra. Possivelmente, nada disso fosse real. Deveria estar em uma cela de paredes acolchoadas. Necessitava de ajuda, desesperadamente.

     O carro entrou na garagem, mas ainda não estava escuro para seus vulneráveis olhos.

     Stefan abriu sua porta, estendendo uma mão para ajudá-la. Ela tomou docilmente, decidida a ocultar sua pretensão de desafio. Podia sentir o olhar dourado de Aidan, seus olhos que tudo viam, explorando seu rosto sob os óculos escuros, mas ele não disse nada.

       Apressou-se a entrar na casa e o alívio que sentiu, ao ocultar-se da luz do sol, foi instantâneo. O calor ardente em sua pele amainou e as agulhas que apunhalavam seus olhos desapareceram. Deu-se conta de que as pesadas cortinas estavam fechadas, tornando o interior da casa, mais escuro. Mordendo o lábio inferior, andou através da casa, indecisa de onde ir, que caminho tomar. Finalmente alcançou a enorme entrada, mas não podia sair. Esgotada e desesperada, sentou-se ao lado da porta e envolveu seus braços em volta dos joelhos. Estava aterrorizada.

     Aidan, na cozinha, vacilou, querendo segui-la apesar de estar inseguro, repentinamente assustado por ela.

     Enjoe e Stefan trocaram um olhar de ansiedade. Aidan nunca dava sinais de indecisão, de incerteza. Alexandria tinha estremecido o domínio que ele tinha sobre si. E eles, melhor que ninguém, sabiam justamente o quanto perigoso era para ele não ter sua auto-disciplina vigilante, que perdesse seu autocontrole.

     —Aidan, possivelmente se falasse com ela...— aventurou Enjoe.

   —Ela tem tanto medo de mim, que nem sequer pode confiar em sua própria mente, em seus sentidos. Seu coração sabe que somos um, que nunca faria mal a ela, mas sua mente ainda resiste a aceitar. Pensa que se tornou louca.

     —A maioria das pessoas, nunca poderia aceitar o que pede dela, Aidan. — disse Enjoe brandamente. — É jovem e inocente, não uma mulher vivida. Sua vida foi muito dura. Joshua é sua razão de viver e ela teme que você esteja afastando-o dela. Precisa sentir que tem o controle de sua vida.

     Os olhos dourados eram punhais.

     —O que está dizendo?

   —É muito dominante, Aidan. Ordena às pessoas, tomadas todas as decisões. Alexandria ainda luta simplesmente para aceitar o que lhe aconteceu. Você, melhor que qualquer um de nós, sabe isso, mas ainda demanda que ela faça exatamente o que você quer, o tempo todo.

     Ele empurrou uma mão no cabelo.

     —Dei-lhe mais liberdade de ação, do que alguma vez dei a alguém. Não entende as necessidades de um companheiro. Preciso pensar corretamente. Necessito de alívio, Enjoe, embora soe rude. O animal em mim cresce a cada dia. Não sei quanto tempo mais posso lutar por mantê-lo sob controle.

     —Você é essa fera, Aidan. — disse Enjoe gravemente. — Alex é uma menina. Uma menina aterrorizada. E tem boas razões para estar. Dê-lhe o tempo que necessita, para adaptar-se.

   —E o que me diz dos que a estão seguindo? Sabe que tenho razão, Enjoe. Os jornais dizem que há assassino solto, dizem. Mas são vampiros. Sinto sua presença. Buscam-na. Podem senti-la, sabem que ela é uma de nós e sem que esteja reclamada até agora.

   —Mas você a tem. Você é seu companheiro. Seu sangue está nela como o dela está em voce. Não é possível que nenhum deles possa separá-la de você. Em todos os nossos anos juntos, aprendi muito. É a sua natureza de homem da Raça dos Cárpatos que lhe cega, Aidan. Seu desejo para ter a sua companheira sempre sob sua asa, para reclamá-la e protegê-la. Apesar das aparências, essa parte de voce é ainda selvagem e incivilizada. Mas Alexandria é essencialmente humana. Não nasceu dentro da Raça dos Cárpatos. Não tem idéia do que se espera dela, nem do que vai llhe acontecer. Não entende ainda.

     Aidan suspirou, esfregando suas têmporas.

     —Sofre desnecessariamente. Se unisse sua mente completamente com a minha…

     —Não confiaria no que soubesse de qualquer maneira - insistiu Enjoe.

     Aidan suspirou e voltou para Stefan.

   —Temos que nos retirar para câmara logo. Senti a presença de algo escuro espreitando a escola de Joshua. Acredito que nos atacarão sem demora. Por favor, seja cuidadoso, se acautele.

     Stefan inclinou a cabeça.

     —Fiz as chamadas necessárias, e o sistema de segurança está preparado. Não se preocupe por nós. Já passamos por isso antes.

     —Muitas vezes.— respondeu Aidan atormentado. — E, apesar de tudo, escolheram viver longe de nossa terra, correndo perigo. Tanto para vocês, como para seus filhos.

     —Já sabe porque.— disse Enjoe com voz suave.

     Aidan se inclinou e acariciou seu rosto, ligeiramente com um beijo carinhoso.

   —Sim. Acredito que entendo. — admitiu ele. — Por favor, vá ver se Alexandria estpa pronta para entrar na câmara. Não quero que ela pense que a domino.

     Enjoe assentiu com a cabeça, e Stefan seguiu sua esposa através da casa, inquieto pela forma em que pareciam as coisas. Aidan era perigoso, poderoso, mais fera que homem quando as circunstâncias o requeriam. E não permitiria que nada e nem ninguém afastasse Alexandria Houton, dele. Stefan podia ler isso facilmente na postura protetora e possessiva de Aidan quando estava perto dela. E a civilização que Aidan possuía nessas circunstâncias, debilitava-se cada vez mais.

     Enjoe e Stefan foram em busca de Alexandria e se detiveram abruptamente quando a viram enrolada como um animalzinho amedrontado, ao lado da porta principal. Via pequena e perdida, uma garotinha desamparada e atormentada, no limite de suas forças. Com os joelhos sob o queixo, a boca contra elas, o cabelo esparramando-se a sua volta, ela escondia sua expressão. Estava trêmula e pálida, na terrível letargia que padecia as pessoas da raça dos Cárpatos, durante o dia, letargia que dominava o corpo. Notava-se o que ela sofria ao sentir seu corpo começar a mudar, perdendo todo o controle para sempre.

     —Alexandria. —disse Enjoe ansiosamente, aproximando-se da figura enrodilhada. — Você está bem?

     Sua preocupação parecia genuína, mas Alexandria não se iludia. A primeira e única lealdade de Enjoe era para Aidan Savage. Qualquer coisa que ela dissesse, seria comunicada a ele imediatamente. Alexandria não levantou a cabeça. Dentro dela existia um temor crescente de que estava completamente indefesa e apanhada em uma rede num labirinto tão emaranhado que nunca poderia sair. Aidan era muito orgazinado e frio para brigar, e por alguma razão, queria-a para ele.

     —Alexandria?— Enjoe, amavelmente tocou sua cabeça inclinada. — Diga-me, deveria chamar Aidan?

     Alexandria apertou seus olhos fechados. Aidan. Tudo sempre parecia retornar a ele.

   —Não, eu… Simplesmente encontro tudo… Deprecivo. Eu… Necessito de tempo para me adaptar. — Sua voz era tão tensa, tão próxima do colapso, que teve medo de conversar. Lutou para dissipar o estremecimento interior que ameaçava parti-la em dois. Estava louca? Devia estar em uma instituição mental?

     Tinha que encontrar uma maneira de afastar Joshua dessas pessoas. Deveria ter solicitado ajuda a Thomas Ivan. Mas a verdade era que nunca poderia esperar que ele ganhasse um confronto contra Aidan. Aidan nunca a deixaria ir. Não sabia por que, não entendia como, mas tinha a convicção absoluta de que ele a seguiria até o fim do mundo. Mordeu-se um nódulo dos dedos para abster-se de gritar. Como podia ela se opor a Aidan? Poderia sobreviver inclusive sem sua ajuda? Se fosse internada, a seu pedido, em um hospital, dizendo-se vítima de alucinações, o que ocorreria com Joshua?

     Sem que notasse, sentiu a necessidade de ter Aidan por perto, entrando em sua mente. Não importava o quanto teimava em apagar a idéia, esta persistia. Queria saber se ele estava ali, em alguma parte. Era uma loucura! Sua própria mente se voltava contra ela! Quanto mais se opunha, mais o desejava. Necessitava dele. Necessitava de seu contato reconfortante.

   Enjoe emitiu uma exclamação suave enquanto pequenas gotas de sangue cobriam a testa de Alexandria. Voltou-se para Stefan, temendo pela garota. Necessitavam de Aidan imediatamente. Claramente, a luta que tinha lugar na mente de Alexandria causava sua agonia. As lágrimas embaçavam seus olhos, Enjoe se ajoelhou junto à Alexandria e pôs um braço reconfortante ao redor de seus ombros. Sentia-a tão pequena, tão frágilizada, seu corpo estremecendo com tanta força, que teve medo de que ela pudesse quebrar em um milhão de pedaços.

     —Por favor, me deixe te ajudar, Alexandria. — implorou Enjoe piedosamente.

     —O que pode fazer por mim?— perguntou Alexandria desesperadamente. — O que pode fazer? Ele alguma vez me deixará ir. — Ela contemplou à mulher mais velha, tomada de lástima. - Ele deixará?

     O silêncio de Enjoe foi sua resposta. E enjoe sentiu o estremecimento de medo da garota.

     —Aidan é um bom homem e só quer te proteger. Confie nele.

     —Você confia?

   —Com minha vida. Com a vida de meus meninos, que cresceram com ele. — disse Enjoe solene, sinceramente.

     —Mas ele não quer o mesmo de você, que quer de mim.— disse Alexandria amargamente. — Ele faria algo para me conservar aqui, inclusive me enganar a respeito do que é real e o que não é.

   Sem advertência nenhuma, ela levantou-se de um salto, quase atropelando Enjoe. Logo lutou para abrir a porta principal. Stefan vociferou uma advertência. Enjoe gritou chamando por Aidan, mas Alexandria abriu a pesada porta e saiu correndo para sol implacável, assassino.

     Ao mesmo tempo em que, mil agulhas perfuravam seus olhos e sua pele se enchia de bolhas, a fumaça formou redemoinhos a sua volta enquanto seu corpo ardia. Não soube se gritava pela dor ou porque Aidan havia dito a verdade. Essa reação aterradora não era o resultado de sugestão hipnótica.

     Stefan arrancou a camisa, jogou-a sobre sua cabeça e levantou seu corpo do chão, levando-a apressadamente de volta à segurança da casa. Enjoe soluçava, tratando ansiosamente de alcançá-la, mas Aidan conseguiu chegar primeiro, tirando-a com força dos braços de Stefan, embalando-a contra o peito. Por um momento, houve um silêncio absoluto enquanto ele apoiava sua cabeça sobre a dela, seus olhos fechados, seu coração batendo brutalmente, sua alma sangrando.

     —Nunca mais. — Ele disse as palavras em voz alta. - Nunca mais, cara, permitirei este tipo de desafio. Depois, repetiu a advertência em sua mente, remarcando-a, jurando-a. Tinha medo por ela. Estava furioso com ela e furioso consigo mesmo. As emoções se tumultuavam e ardiam dentro dele até que a conflagração quase derrubou todo seu controle.

     A jovem podia sentir sua fúria palpitando junto a ela, nela. Seus braços eram como ferro enquanto ele a segurava.

     —Estou em dívida contigo, Stefan.— disse ele num murmúrio. Sua voz, como sempre, calma e tranqüila, em terrível contraste com a fúria em seu interior. Vívida, como um ser à parte.

   Ele deu meia volta e partiu com velocidade sobrenatural ocultando seus movimentos aos olhos humanos. Alexandria ouviu o ruído da batida da porta do porão enquanto se moviam para a ligação estreita do vestíbulo de pedra, para a câmara de sono, mas Aidan não emitia nenhum som. Nenhum. Nem sequer o som da respiração.

     Alexandria permaneceu quieta. Sua dor era tremenda, suas bolhas enormes e feias. Aidan foi cuidadoso para não roçar em suas queimaduras, cuidadoso de em não machucá-la. Mas ela estava além de se importar. Sabia que algo terrível estava a ponto de acontecer. Aidan, sempre tão frio e calmo, era um caldeirão fervente de negras emoções.

     As paredes do túnel passaram depressa, um borrão de granito, e logo Aidan estava colocando-a na cama e lhe voltando às costas. Ela sentou-se cuidadosamente.

   —Está muito zangado comigo. — tentou dizer.

     Ele não respondeu, ocupando-se em esmagar ervas em uma tigela de ágata. Ela podia cheirar a fragrância elevando-se. Logo ele acendeu as Candeias e um aroma fumegante se misturou ao perfume das ervas.

     Alexandria engoliu saliva e levantou o queixo com desafio.

     —Não tenho medo de voce, Aidan. O que pode fazer? Matar-me? Acredito que já estou morta. Ou vivendo o tipo de vida que não quero. Vai me tirar Joshua? Ameaçá-lo? Fazer mal a ele? Estive em sua mente e não acredito que o faça.— disse corajosamente.

     Ele girou sua cabeça lentamente, seus olhos dourados descansando sobre seu rosto. Um calafrio desceu por sua coluna. Esses olhos não tinham espírito, estavam gelados.

     —Não conhece nada a respeito de mim, Alexandria. Nem quis tomar conhecimento. Não se atreva a se opor a mim. É apenas um pontinho e eu sou um dos mais antigos de minha gente. Não tem concepção do poder que exerço. Posso fazer a Terra mover sob seus pés e o relâmpago estalar por cima de sua cabeça. Posso chamar à névoa e me tornar invisível. — Não houve arrogância em seu tom, simplesmente verdade. — Posso fazer coisas que nem pode imaginar.

     Alexandria sentiu o enlace permanente que ele tinha forjado entre eles, e pôde sentir sua fúria, negra e terrível, fervendo sob a superfície.

     —O que fiz hoje... Foi por mim. — murmurou.

     Ele se moveu, surgindo enorme, elevando-se sobre ela. Uma figura invencível e poderosa além da fantasia.

     — Você me traiu. Traiu a Joshua. Disse o que acontecia se saísse no sol. Fingiu para você mesma, quis comprovar se eu dizia a verdade. Mas já sabia que era verdade. Correu o risco de se destruir, deixando Joshua com desconhecidos para viver um futuro incerto, só e desamparado.

     —Você o protegeria.

     —Sem voce, minha existência não valeria nada, Alexandria. Estamos conectados na vida e a morte. Se você escolher a morte, então escolha a morte para nós dois.

     Suas mãos tremiam enquanto ela jogava para trás o cabelo.

   —Isso não pode ser.

   —Você não deseja que seja. — corrigiu ele, e pegou seu braço direito. — Mas é assim. Não minto para voce, Alexandria. Permiti uma certa quantidade de resistência, porque tudo isto é novo para voce.

   O gel que ele começou a espalhar sobre seu braço era fresco e tranqüilizante.

   —Diz que não tenho opções. Nunca tive opções. — aventurou ela.

   —Seu corpo e o meu fizeram a escolha por nós. Sua alma é a outra metade da minha. Meu coração é seu coração. Nossas mentes alcançam a tranqüilidade e a intimidade com a do outro. Não estamos completos quando estamos sozinhos. Somos duas metades do mesmo ser. Essa é a verdade, Alexandria, você queira, goste ou não.

   Ela engoliu saliva, desejando pressionar as pontas de seus dedos contra sua testa martelada pela dor.

     —Não é verdade. Não pode ser. — negou em voz alta, porque não queria que fosse verdade. Porque não queria acreditar nele e em seu mundo de pesadelos.

   — Por que pensa que posso tocar suas queimaduras como faço sem te causar agonia? Bloqueio à dor para voce. Este tratamento seria uma tortura, sem mim.

     —Não é verdade. — repetiu ela em um pequeno sussurro.

     — Estou suficientemente zangado com sua estupidez, para provar minhas palavras, cara. Não brigue comigo. Meu corpo demanda o teu. Não com uma mera necessidade humana, mas com a necessidade de um homem da Raça dos Cárpatos, para sua companheira. Queimo por voce, dia e noite. Meu único alívio é quando durmo o sono de minha gente, na inconsciência. Não me tente a provar minhas palavras, porque não haverá como voltar atrás.

     Ela encurvou seus ombros, evitando sua face. Aidan podia sentir a fúria quente, formando ondas enormes nele, misturada com o exigente pedido de seu corpo e as necessidades de um homem de sua Raça, que precisava se controlar. Inclinou-se mais para perto dela, imprudente agora, sem escolher suas palavras ou ações cuidadosamente como tantas vezes havia feito.

     — Você é incapaz de permitir um homem te tocar. Sente repulsa, não te agrada e você sabe disso, muito bem. Estive em sua mente, vi seus pensamentos. Você arde de desejo por mim.

     As imagens que refletiu nela foram as dela. Imagens quentes, eróticas, das que ela não tinha realmente consciência. Coisas que ficava com vergonha só em imaginar. Ela ajoelhando-se a seus pés tocando-o, sua boca movendo-se sobre ele. O corpo masculino sobre o dela, dominando-a, tomando-a furiosamente. Ele sabia, e a tentava com suas fantasias privadas, dos dois juntos.

     —Realmente é um animal brutal sem consideração com ninguém exceto você mesmo. — murmurou ela, pressionando suas mãos em seu rosto quente. — E não me importa nada. Não sinto nenhuma compaixão por voce.

     Sua mão apanhou e enlaçou sua garganta, seu polegar fazendo subir seu queixo para que ela encontrasse seus olhos dourados e resplandecentes:

     —Poderia te fazer minha mulher, Alexandria. Poderia te ensinar a me agradar em muitas formas, mais do que você imagina. — Deliberadamente, seu polegar acariciou ligeiramente sua boca tremula.

     Alexandria podia sentir as lágrimas ardendo em seus olhos ao mesmo tempo em que seu corpo estava em chamas, cheio de necessidade. Aidan estava certo. Não tinha pensamentos, nenhuma resistência, quando ele a tocava. Era só um corpo afogando-se em desejo, ardendo em chamas. Não tinha vontades, não sabia quem era ou o que significava. Nunca um homem havia conseguido seu controle antes. O que fosse que Aidan Savage lhe havia feito, fora para que ela já não fosse, nunca mais, Alexandria Houton.

     A mente de Aidan procurou a sua, e instantaneamente, a cólera nele se desvaneceu. Ela estava traumatizada. Nos últimos dias, haviam acontecido muitas coisas e muito rapidamente para que sua mente humana assimilasse. Ele amaldiçoou seu corpo, ardendo por liberação, que o obrigava a dizer e fazer coisas que nunca, sequer pensaria. Desejava-a com cada célula de seu corpo, e nesse momento trocaria as necessidades dela pelas suas. Nenhum homem da Raça dos Cárpatos, digno de respeito, faria algo assim. Nesse momento, deu-se conta, com precisão, de quanto perto esteve de se converter em vampiro. Sentiu desprezo por si mesmo, por seu egoísmo e por sua debilidade, quando ela estava tendo uma transição tão difícil.

     —Cara, sinto muito. Por favor, não me tenha medo. — As palavras pareceram cair em vaso quebrado.

     Sua mente se fechou para ele. Protegendo-a, tendo piedade dela para confrontar qualquer outra dura experiência. A moça voltou o rosto e se deixou cair na cama, acomodando-se em uma posição fetal. Aidan se inclinou sobre ela, zangado consigo mesmo, inseguro do que fazer para emendar o dano que tinha causado com sua estupidez. Estava tão assustado de perdê-la nesse momento, de perder sua alma, quando ela tinha aberto a porta e voluntariamente entrado sob o sol aniquilador.

     Ele podia resistir à luz, o ardor, porque era treinado para fazer isso com o passar do tempo. Agora, depois de séculos de estudo, tinha poderes quase ilimitados. Um deles era a cura. Fechou seus olhos e enviou seu próprio corpo ao dela, encontrando as queimaduras terríveis que queimavam profundamente sua pele, reparando-as de dentro para fora. Foi cuidadoso e preciso, e quando acabou, saiu do corpo dela para introduzir-se em sua mente.

     Ali encontrou confusão e terror. Um medo profundo de não ser humana e o desejo de provar que era. Não pôde encontrar nenhuma intenção de suicídio. Ela simplesmente queria provar que ela era um mentiroso, que a enganava para fazê-la creditar que não poderia voltar para seu mundo. Tinha necessidade de comprovar.

     Ele se estendeu a seu lado, apertando seu corpo no amparo de seus braços. Ela tinha motivos para ter medo. Ele fazia coisas que ela não compreendia, fazendo que percebesse e aceitasse coisas para as quais não estava preparada. Só a intensidade de seus sentimentos sexuais já era perturbadora para ela, tanto que queria fugir dele.

Apoiou o queixo sobre sua cabeça e acariciou o cabelo sedoso. Perturbava-o que ela tivesse a idéia maluca de ir consultar um médico humano para curá-la. Algo que não fosse ficar com ele. Embora se sentisse ferido, a maior parte dele se divertiu ante a idéia de que ela podia pensar em derrotá-lo, ser mais ardilosa que ele. Estava tão decidida. Admirava-a por isso.

     —Você Precisa de tempo, pequena. Lamento a forma torpe em que dirigi esta situação. Minha única desculpa é o medo por sua segurança.

      Sabia que ela podia ouvi-lo, mas ela não respondeu. Realmente não esperava que o fizesse, mas apertou seu abraço um pouco mais. Dorme agora, Alexandria, o sono reparador de nosso povo. O sono profundo.

     Não correria riscos, não lhe daria nenhuma escolha. Ele queria que descansasse, longe de sua própria mente, longe do caos terrível de seus pensamentos e de seus medos.

 

     Aidan despertou com o corpo rugindo de fome. Não com a compulsão pela nutrição, a necessidade de sangue que havia sempre nele, era uma sombria e urgente excitação, diferente de qualquer sensação que já tivesse experimentado. Gemeu em voz alta. A seu lado, Alexandria jazia no sono profundo. Estava pálida. Seu cabelo esparramado sobre os dois, unindo-os.

       Desejava-a. Tinha que tê-la. Se ficasse a seu lado, por mais um momento, seria incapaz de deter-se e reclamá-la.

     Saltou para longe dela como se ela o queimasse, sua pele quente e dolorida, estava ardendo. Jurou brandamente. Como podia alimentá-la nessas condições, sem que o ato se convertesse em algo erótico e selvagem? Dentro de si, a fera, sempre feroz e bravia, rugia por ela. Faminta. Necessitada. Não tinha mais lógica, só a dor pesada e implacável fazendo-o mais desumano a cada dia.

     Passou uma mão insegura através do cabelo revolto. A situação era explosiva agora. Não havia forma de alimentá-la com o sangue da vida sem reclamar seu corpo ao mesmo tempo. Apesar de tudo o que havia ocorrido antes, ele sabia que ela precisava de mais tempo. O animal selvagem, dentro de si se enfurecia e já não conseguia controlá-lo. Enjoe tinha acreditado nele, tinha fé nele. Mas ela não conhecia as demandas dos homens da Raça dos Cárpatos, o ardor que nascia em um casal. Não sabia o quanto perto ele havia estado, de transformar-se em um vampiro.

     Gemeu em voz alta outra vez e voltou às costas à figura tão quieta em sua cama. Em sua guarida. Sobressaltou-se enquanto a palavra penetrava em sua mente. A fera se estava tornando-se mais dominante. E a única forma de controlá-la era unir-se com sua companheira. Deixar que, sua gentileza e sua luz, o guiassem para longe da escuridão que se propagava como uma sombra em sua alma.

     Arrumou-se antes de despertá-la, vestindo-se com cuidado, com uma camisa de seda e calças negras, esperando que a elegância realçasse seu carisma. Prendeu o cabelo comprido na nuca e deixou a camisa aberta, mais porque tinha problemas para respirar, não por ser sexy.

   Enquanto enviava à mente da moça a ordem de despertar, a observava tomar sua primeira respiração. Seu corpo enrijeceu com tal intensidade que se encontrou amaldiçoando outra vez. Podia sentir o suor brotando e descendo desde seu peito até suas pernas. Ela despertou, seu corpo movendo-se sensualmente sob a colcha.        Com a língua, Alexandria molhou seus lábios secos, deixando-os brilhantes e instigantes. Ele fechou os olhos contra a visão, mas podia sentir o cheiro, ouvir o sussurro dos lençóis.

     Alexandria acordou lentamente, desorientada. Recordou as imagens vívidas de um sonho erótico, as mãos masculinas em seus seios, a boca sobre a sua, os dedos movendo-se nela, e um corpo duro e agressivo cobrindo-a, mantendo-a cativa. O corpo lhe doía de necessidade, desejava ardentemente seu contato. Retorceu-se, sentiu o denso convite chamando-a, cativando-a, tentando-a. Abriu os olhos e encontrou o quente olhar dourado de Aidan através do quarto.

     Perigo. Estava ali, em seus traços esculpidos, na intensidade de seus olhos. Ela permaneceu quieta, sem tirar o olhar da criatura predadora que estava observando-a. Teve medo de respirar. Se se movesse ou suspirasse, ele estaria junto a ela. Sentia-o. Sabia que seu sonho erótico era o mesmo dele, sabia que seu controle era frágil e que ele batalhava contra cada um de seus instintos.

     —Sal daqui, minha cara. — Murmurou ele, roncamente.

       A aspereza de sua voz lhe deu a impressão de sua língua lambendo-lhe a pele sensibilizada.

— Saia enquanto possa. — Um vermelho de chamas pareceu iluminar o ouro de seus olhos, e as gotas de suor cobriam sua testa. Seus músculos incharam com o esforço de ficar imóvel.

     Ela quis ir para ele, serená-lo ou inflamá-lo mais. Que se danassem as conseqüências. Seu corpo estava ardendo, queimando, flamejando quase fora de controle. Foi seu acanhamento que lhe impediu de tentá-lo mais. Seu acanhamento e seu medo. Saiu rodando da cama e escapou. Correndo como se sete demônios a perseguissem. Fugindo de si mesmo mais do que de Aidan.

     Depois dela, Aidan permaneceu tão quieto como uma estátua. Não se movia, pois temia ser destroçado pela dor e pela necessidade. Não poderia esperar muito mais tempo. Que Deus os ajudasse se Alexandria não fosse a ele logo.

     A jovem reduziu a velocidade uma vez que se viu na segurança do túnel. Podia sentir Aidan imóvel em sua mente, apesar de tudo alcançando-a, chamando-a. Podia saborear seu beijo, senti-lo tocando-a. Fechou seus olhos e se apoiou contra o muro de rochas para sustentar-se. Sentia as pernas moles, recusando-se a dar outro passo. Desejava-o também. Não com um desejo doce e tenro, mas com uma necessidade selvagem e descontrolada que pedia sexo quente e feroz.

     Meneou a cabeça, tratando de livrar-se dos pensamentos, das imagens que a tentavam. Subiu as escadas, agradecida de que Joshua não a visse.

   A ducha gelada não fez nada por aliviar sua fome, não fez nada para sacudir a sensação do contato de Aidan ou seu sabor substancioso e quente. A água fria, que ardia, correndo por sua pele, pela curva de seus seios, abaixo de seu estômago até seus pelos pubianos, só servia para aumentar a sensibilidade. Tinha que lutar contra o desejo de chamar Aidan. Ansiava por ele, necessitava dele e de seu corpo quente pulsando com desejo. Tinha que chamá-lo para acabar com essa dor. Precisava sentir sua boca em sua pele, suas mãos em seu corpo. Necessitava dele, nela. Numa entrega urgente e selvagem que sabia que continuaria para sempre.

     Recordou suas palavras. “Ele poderia fazê-la sua mulher. Poderia executar coisas que nunca havia imaginado”. Bem, imaginava agora. De onde chegavam às imagens?

   —Maldito seja, Aidan. Maldito seja, por me fazer isso.— Ela subiu o rosto até o jato de água e fechou sua mente. Ouviu o eco de seu grito desesperador, o rugido de um animal ferido, o grunhido do caçador que tinha perdido sua presa.

     Sem sua mente para alimentar sua própria fome, a terrível urgência diminuiu. Não se desvaneceu de todo, mas a fome de comida penetrou lentamente. Estava pálida e necessitava nutrição. Necessitava dele. Com um juramento impróprio de uma dama, vestiu-se com calças jeans e um Top de tecido e se dirigiu à sala de estar anexa a seu dormitório. Devia converter-se em seu estudo. Notou que Enjoe ou Stefan, obviamente sob as ordens de Aidan, já tinham comprado materiais para ela. Eram artigos de excelente qualidade que nunca conseguia, se permitia comprar antes. Geralmente, nunca aceitaria um presente tão luxuoso, mas a artista nela estremeceu diante da beleza dos materiais de trabalho.

     Ouviu Joshua antes que ele chegasse procurando-a. Já em casa depois da escola, primeiro esteve brincando com o Stefan no solarium, e depois, falando com Enjoe na cozinha, sobre suas bolachas. Alexandria se encontrava feliz e triste ao mesmo tempo. Joshua necessitava de companhia, e o casal demonstrava um afeto genuíno por ele, mas estava triste por que suaa relação com o irmão se alteraria, já que agora ele não confiaria somente nela.

   Quando ele sibiu correndo as escadas, gritando a toda voz e chamando-a, a jovem já tinha recuperado a compostura. Joshua se precipitou em seus braços. Ela o levantou, fazendo-o girar em círculos até que ele gritou prazerozamente, que estava enjoado.

     —Olhe todas estas coisas!— mostrou ela festivamente, fazendo alarde de seus tesouros.

     Joshua ofegava contra seu peito.

     —Eu ajudei a escolhê-los. Aidan e eu fomos às compras. Mostrei-lhe todas as coisas que sempre comprava e precisava. Ele disse que poderia comprar tudo o que eu quisesse. Divertimos muito, comprando as coisas para você. Ele disse que devíamos te dar uma grande surpresa.

     Ela pegou uma caixa de lápis de carvão vegetal, encontrando dificuldades para respirar.

     —Ele disse? Quando fez isto?

     Joshua sorriu abertamente.

     — Uns quantos dias atrás. Enquanto estava tão doente. Ele escolheu algumas roupas novas também. Olhe no armário do dormitório. Deveria ter visto a vendedora. Parecia que gostava de olhar para ele...

     —Posso supor. —Alexandria falou secamente. Depois, seguiu um saltitante Joshua de volta a seu dormitório.

     — Ele pensou em tudo. Disse que quando uma mulher tão bela e tão boa como você ficava doente, um homem deveria fazer o que fosse preciso para melhorar as coisas para você. — Joshua abriu as portas duplas do armário que ela nunca havia aberto, já que tinha usado só a cômoda para guardar suas calças jeans e suas blusas.

     Nem em sua vida inteira, Alexandria conseguiria possuir roupas para encher um armário daquele tamanho, mas ele estava cheio, transbordante de vestidos, casacos, saias, calças de seda e blusas. Ela mordeu o lábio inferior e tocou cerimoniosamente um longo vestido de noite. De cor negra, era um modelo exclusivo. Deixou cair à mão para um lado.

     — Por que fez isto?— murmurou em voz alta para que Joshua a ouvisse e repetindo em sua mente: por que fez isto?

     É só dinheiro, cara. Não tenho nada mais onde gastá-lo e pagar por meus pecados.

       Ele soou sozinho e perdido, derrotado. Inesperadamente. Alexandria sentiu lágrimas em seus olhos. Tudo nela queria ir para ele, confortá-lo, mas as palavras que nessa manhã, ele havia pronunciado, ecoavam em sua cabeça, e ela fechou sua mente firmemente contra seus truques. Converter-me em sua mulher. Nunca ocorreria.

     —Ah, maninha, não chore como um bebê. — brincou Joshua. — Aidan comprou porque quis. Deveria ver todos os brinquedos novos que ele me comprou. Sabe, perguntei a Enjoe e Stefan sobre o cachorro e quanto trabalho pensam que dará.

     —É um pequeno persistente, não?— Ela fechou as portas do armário firmemente, apagando a visão das roupas novas, decidida a não vesti-las nunca.

   —Aidan diz que a persistência tem seus frutos. —respondeu Joshua, abrindo um sorriso.

   Alexandria aspirou profundamente.

   —Ele deve saber melhor que ninguém. — Pensando bem, ia ficar com as roupas, sim. Todos e cada um dos vestidos. E os colocaria para trabalhar com Thomas Ivan. Quando saísse a se divertir com Thomas Ivan. Quando estivesse completa e locamente apaixonada por Thomas Ivan.

     Por um momento, sentiu Aidan movendo-se em sua mente, o tipo de movimento que um grande felino da selva poderia fazer espreitando sua presa e logo se acabou, como se nunca tivesse existido. Acaso tinha imaginado?

     —Deixa de pensar nele!— repreendeu-se a si mesma, zangada porque sua mente só tivesse um ponto de reflexão.

     Joshua a contemplou, com os olhos muito abertos.

     —A respeito de quem? O cachorrinho? Por que? Encontrou já um? É um cão para um menino?

   —Deve haver um cão de caça em algum lugar. — ela respondeu irritada. Caindo em si, acalmou-se e despenteou os cachos de Joshua. — Estou brincando, Josh. Não, não encontrei um cachorrinho ainda. Nem sequer tomei uma decisão. Quero que estejamos seguros de que seremos felizes aqui antes que tomemos uma decisão tão inalterável.

     —Estou feliz aqui, Alex. — disse Joshua instantaneamente, com decisão.

   Ela o abraçou.

     —Me alegro de que seja feliz, pequeno camarada, mas não estou segura de que eu esteja. É muito mais difícil para os adultos ajustar-se a viver junto que para as crianças.

   —Mas Enjoe e Stefan são tão legais, Alex, e Aidan é melhor ainda. Ajuda-me com minha tarefa. Conversamos o tempo todo. Ele é estupendo E ele disse...

   —Não quero ouvir o que ele disse, de acordo? Tenho que trabalhar, meu anjo, lembra? Devemos ter dinheiro para comer.

   —Mas Aidan tem montões de dinheiro, e disse que você não teria que trabalhar se não quizesse.

     Ela deixou escapar a respiração lentamente, contendo seu temperamento. Estava aborrecida de ouvir o que Aidan tinha que dizer. Estava farta de que ele entrasse em sua mente, observando cada momento de vigília.

     —Eu gosto de trabalhar, Josh. Agora encontre algo para fazer e silenciosamente, ou vá.

   Ele fez uma careta, mas se sentou rapidamente com seu velho jogo de lápis de cor e um bloco de papel de desenho. Se reacomodam na rotina familiar facilmente. Ocasionalmente, ele perguntava sua opinião sobre uma idéia e algumas vezes mostrava a ela seus desenhos. Alexandria opinava que eram muito bons para ser de um menino de seis anos. Corrigiu uma linha aqui e outra lá quando a consultava, mas na maioria das vezes, o animava para que o fizesse de sua maneira. Durante um curto tempo, sentiu que seu mundo era normal outra vez.

     Mas Aidan estava sempre presente. Podia sentir sua própria mente sintonizando a dele, estendendo-se para encontrá-lo. Seus ouvidos escutavam o som de sua bela voz. Encontrou-se fixando inexpresivamente os olhos no papel a sua frente por e duas vezes, desenhou a imagem dele. E nas duas vezes, rasgou, despedaçou rapidamente a folha de papel, antes que Joshua pudesse ver sua obsessão e brincar a respeito dela.

     Fez esforço para não se dar conta dos batimentos do coração de Joshua. Da baixa e do fluxo de sangue correndo em suas veias. Fingiu que não notava a forma em que a pulsação de Enjoe a fascinava quando a governanta chamou Joshua para o jantar. Ignorou a lembrança do sabor em sua boca, a sensação de Aidan sob seus lábios. A maneira em que seu corpo se contorcia contra o dele, desejando ardentemente o seu. Gemeu e tratou de se ocupar com outros pensamentos, mas notou que havia desenhado outra imagem dele. E sua boca estava esboçada tão fielmente numa linha sensual que parecia sorrir dela. Pura tentação.

     Tocou com a ponta do dedo os lábios que havia desenhado tão perfeitamente.

     —Não te deixarei fazer isto comigo. — murmurou baixinho.

       Mas o pensamento era traiçoeiro. Desejava Aidan profundamente. Necessitava que ele a consolasse, que fizesse com que esse mundo de loucura e demência tivesse sentido. Precisava que ele lhe tirasse a fome e que não se atemorizasse, que pudesse desfrutar completamente da companhia de Joshua. Sobre tudo, precisava que ele unisse seu corpo ao dela, queria sentir sua boca e suas mãos arrancando o ardor terrível que a consumia. Necessitava de seu coração batendo ao mesmo ritmo que o seu, sua mente invadindo a dela. Precisava da última intimidade, entrelaçando-os juntos, compartilhando cada fantasia selvagem enquanto seu corpo a possuía.

     Realizou todos os atos normais da tarde. Ajudou Joshua com sua tarefa, fingindo desfrutar um programa na televisão. Discutiram sobre o valor de uma TV de tela plana. Stefan tomou o partido de Joshua, dizendo que eram uma necessidade para seus olhos velhos. Enjoe ficou do lado de Alexandria, em que era a última moda no mercado de consumo, pura ostentação. Mas o sangue que corria através de todas essas veias era como uma sinfonia, afogando por completo os sons do programa e fazendo Alexandria temer por eles. Tratou de desfrutar em preparar Joshua para a cama, lendo uma história, tendo uma curta briga de travesseiros, agasalhando-o. Sempre amara seus momentos juntos na noite. Joshua estava sempre tão limpo e adorável. Mas o tamborilar ruidoso de seu coração interferia agora, e se sentiu apanhada entre um pesadelo.

     Alexandria se vestiu com cuidado para sua entrevista com o Thomas Ivan essa noite. Mas enquanto o vestido deslizava sobre sua pele, sentiu o ligeiro roçar. Quente, intenso. Suas mãos tremeram enquanto recolhia o cabelo. Não tinha visto Aidan nem uma vez que desde que havia fugido dele. Sentia-o sempre perto, mas ele tomara cuidado em permanecer fora de sua vista. Em lugar de estar agradecida, entretanto, sentia-se deprimida. Talvez, ele não se importava que saísse com outro homem. Talvez não se importasse ela. E por que deveria? Ela não queria que ele importasse. Queria encontrar um homem humano. Um homem, por quem se sentisse atraída. Um homem, com quem queria fazer o amor. Não algo obsessivo e selvagem. Deveria ser suave e carinhoso. Um homem humano, normal.

     Inspecionou suas unhas. No passado, frustrantemente curtas, agora eram longas e belas. Tão bem feitas, como se tivesse buscado ajuda de uma profissional. Seu cabelo parecia mais grosso, mais brilhante. Seus cílios longos e espessos. Sua pele, entretanto, estava pálida, quase translúcida.

     Suspirou ante sua imagem no espelho. Via-se como sempre... Mas diferente. Mais… Nnão sabia exatamente o que. Simplesmente mais. O vestido se ãjustava a seu corpo como uma segunda pele, dando ênfase em seus seios cheios e sua cintura finíssima. Parecia ter sido desenhado justamente para ela. Passou uma mão sobre o suave material que cobria sua coxa. Seu coração bateu ruidosamente contra sua garganta enquanto levantou os olhos para encontrar os olhos dourados de Aidan observando-a no espelho. Estava de pé atrás dela. Sua alta figura, poderosamente construída, sua compleição loira complementando a dela. Faziam um quadro erótico no espelho, Aidan alto e pesadamente musculoso, com seus olhos brilhantes, famintos e Alexandria magra, pálida e diminuta.

     —Está linda, Alexandria - disse ele suavemente.

     Sua voz era premente, sussurrava sobre sua pele, com a mesma maciez do vestido de veludo. Não podia ler sua expressão, só sentir o ouro derretido de seu olhar.

     —Não chegarei tarde. — gaguejou como uma adolescente desencaminhada. E logo se arrependeu haver dito essas palavras. Mas Aidan não sorriu, não mudou de expressão.

     Ela sentiu um tremor percorrer sua coluna. Ao mesmo tempo, seu desafio pareceu estúpido, comparado a uma presa frente a um tigre. Esse olhar fixo não piscava. Ele ia deixá-la sair? Antes estava um pouco deprimida pensando que o faria. Agora não desejava nada mais que correr, para proteger sua vida, longe dele.

       Ele meneou cabeça lentamente.

     — Chega, Alexandria. Insiste em pensar em mim como um monstro. Mas te cuide, piccola, Pode criar um. — Ele deixou o quarto tão silenciosamente como havia entrado.

       Tremeu com ameaça. Tocou a própria boca. Ele a olhara com insistência. Seus lábios fizeram cócegas. Poderia jurar que podia sentir o ligeiro roçar de seus lábios contra os dela. Fechou os olhos, saboreando a sensação dele, e depois o amaldiçoando por facilmente controlá-la. Era humana. Humana! E estava decidida a ficar desse modo.

     Alexandria levantou o queixo. Não seria persuadida pela atração sexual, e não seria intimidada por suas ameaças. Calçou rapidamente os sapatos e desceu rapidamente as escadas.

     Thomas havia chegado pontualmente e estava esperando na sala de estar, agradecido de que Aidan Savage tivesse decidido não lhe infligir sua presença. A respiração ficou presa em sua garganta enquanto Alexandria descia. Parecia mais bela, a cada vez que a via. Assombrava-o, obcecava-o, transtornava-o até que não podia pensar em nada exceto ela. Como conseqüência, seu trabalho sofria. Estava nas nuvens fantasiando com ela quando devia completar a história de seu último videojogo. Inclusive sonhava com ela nas noites. Sonhos quentes e eróticos que tinha a intenção de tornar realidade.

     —Thomas, esta foi uma boa idéia. — a saudou, numa voz que parecia penetrar seu coração e elevar uma resposta similar na parte inferior de seu corpo.

Não demorou e sentiu o peso dos malditos olhos dourados nele. Implacáveis. Desumanos. Vendo sua reação e amaldiçoando-o por ela. Aidan Savage se encostou com preguiça enganosa no portal. Um lado do quadril apoiado contra a parede, seus braços cruzados sobre o peito. Não disse nada. Não tinha nada para dizer. Sua simples presença enchia de terror a alma de Thomas.

     Thomas tomou a capa de Alexandria e a envolveu nela, aspirando seu perfume.

     —Está extraordinária, Alexandria. Ninguém adivinharia que estiveste doente.

         —Não obstante, esteve extremamente doente, Ivan. Confio em que se preocupe que seja bem atendida e traga-a cedo para casa.

     Thomas sorriu encantadoramente. Exsudando encanto. Maldito homem, ele não era um adolescente escoltando a sua primeira namorada para o baile de graduação. Deliberadamente envolveu a mão da Alexandria na sua, sabendo que incomodaria seu loiro cão guardião.

     —Não se preocupe, Savage. Tenho a intenção de cuidá-la muito bem. — A encaminhou para a porta, ansioso em estar longe de Savage e de sua vida. Da respirante e monstruosa casa.

     Alexandria foi voluntariamente. Aparentemente tão ansiosa como ele. Fora, no ar de noite, deteve-se e aspirou profundamente.

     —Ele pode ser um pouco deprimente, não?— disse, sorrindo.

       A liberdade. A bendita liberdade. Não importava nesse momento que o sorriso de Ivan ainda lhe recordasse o sorriso dentuço de um tubarão ou que ela pudesse ouvir seu coração palpitando de Joshua, ou, até pior, que pudesse cheirar sua excitação. Estava longe de Aidan Savage e sua influência, e isso era tudo o que importava nesse momento.

     —Deprimente? É assim como o chama? Ele é absolutamente arrogante. O homem atua como se fosse seu dono. — explodiu Thomas.

     Ela sorriu.

     —Acostume-se a ele. Não pode evitá-lo. Aidan está acostumado a dar ordens. Provavelmente sabe o que você sente. — adicionou ela travessamente.

     Ele se encontrou rindo, relaxando-se enquanto iam para o carro que havia deixado esperando. Deliberadamente, havia alugado uma limusine e um chofer para permitir-se mais liberdade. Tudo podia acontecer no assento traseiro, mais tarde.

     —Comecei uns esboços, Thomas - disse ela voluntariamente - mas não especificou que desenhos específicos eram importantes para ela. - Acredito que deveria decidir com antecipação, como quer que eu represente os personagens, em vez de deixar tudo a meu mando.

     —Preferiria suas idéias. — disse Thomas, abrindo a porta. Queria agradá-la, e isso o assombrou. A maior parte das vezes as pequenas cortesias que representava eram para causar efeito, mas Alexandria Houton o enfeitiçava. — Essa casa não te incomoda?

     Ela arqueou uma sobrancelha.

     — Me incomodar? A casa? É tão bela. Tudo nela é formoso. Por que pergunta?

   —Algumas vezes sinto como se ela me vigiasse, aguardando seu momento. Odiando-me.

   —Thomas! Tem jogado muito, os seus videojogos. Que imaginação... —. Sua risada deslizou sobre ele, tocando-o em lugares usualmente reservados para a intimidade.

       Sua mão avançou lentamente através do assento para a dela. Desejava-a mais que do havia desejado uma mulher. Mas então dirigiu o olhar para fora da janela e viu o reflexo de uns olhos. Resplandecentes e vermelhos. Olhos ferozes, cheios de ódio e promessa de vingança. Uma promessa de morte. Olhos de um felino que não piscavam. Os olhos de um demônio. Da morte. Ele tremeu e deixou escapar um gemido.

     —O que houve?— A voz dela era tranqüilizadora, como o som suave da água. —Diga-me, Thomas.

     —Viu algo estranho?— Ele se sufocava de medo. — Na janela, viu algo?

   Ela se inclinou sobre dele para olhar o reflexo do vidro.

     —O que se supõe que eu devia ver?

     Os olhos tinham desaparecido como se nunca tivessem existido. Era Savage? Sua imaginação? Limpou a garganta e conseguiu esboçar um sorriso.

     —Nada. Suponho que simplesmente não posso acreditar em minha sorte.

     Nos limites tão estreitos de um carro, era difícil para o Alex ignorar sua fome crescente. Parecia roer suas vísceras, dispersando-se como um câncer. Sua mente parecia amplificar o som do sangue correndo nas veias de Ivan. Cativando-a, chamando-a. Mas seu estômago se revoltou ao pensar em tocá-lo e lutou para continuar mantendo um sorriso emplastado no rosto. Ele parecia encontrar qualquer desculpa para tocá-la, roçar sua perna, seu braço, sua mão ou seu cabelo. Odiava-o. Era aborrecido. Fazia sua pele estremecer de repulsão. Odiou-se a si mesma, por não poder devolver seus olhares amorosos, seus contatos.

     Sorriu-lhe, conversou e fez todas as coisas apropriadas, mas por dentro, seu estômago se rebelava. Em alguma parte, no profundo de sua alma, um temor começou a tomar forma. Thomas Ivan era um solteiro elegível, rico e encantador, Era famoso e humano. Compartilhava seu amor pela fantasia e admirava seu trabalho. Tinham muito em comum, mas seu contato, o menor deles, a enojava. Por dentro, começou a chorar.

   - Minha cara, precisa de mim? - A voz de Aidan cruzou o tempo e a distância para encontrá-la, envolvê-la em seus braços quentes e protetores.

   Ela mordeu os lábios. A tentação de chamá-lo foi quase urgente, mas resistiu. Ela era humana. E encontraria um homem humano a quem amar. Talvez não ao Thomas Ivan, mas outra pessoa, a alguém.

   - Divirto-me.

     Ela o sentiu retirar-se de sua mente e se sentiu como se ele levasse sua alma e tivesse deixado seu interior morto. Levantou o queixo e dirigiu a Ivan um sorriso brilhante. Colocou sua mão na dele enquanto ele a ajudava sair do carro. Decidida a gozar a noite, tomou seu braço enquanto entravam no teatro.

     Os homens pareciam se chocar contra ela, respirando ruidosamente. Os batimentos de seus corações trovejavam em seus ouvidos. A abertura da orquestra fazia jogo com a corrente de sangue correndo apaixonadamente nessas veias. Alexandria se concentrou na peça teatral, consciente de que era excepcionalmente boa, mas era mais consciente do braço de Ivan através do respaldo de seu assento. Sentiu seu perfume. Quando ele murmurou em sua orelha, sua boca contra sua pele, sentiu-se doente.

     Duas vezes quase se desculpou para ir ao toalete, para escapar dele.

     Mas estava decidida a levá-lo sério. Ia a ser humana. Houve uma salva de aplausos enquanto ouvia as palavras em sua mente.

- Eu poderia matar alguém.

- Cale-se! Respondeu, exasperada porque em meio de seu desespero, ele a fazia querer rir. Mas Aidan se foi outra vez. Só esse contato a fez sentir mais calma, além da ridícula advertência. Brincava com ela, de propósito, porque sabia que ela sentia repulsão pelo homem sentado a seu lado.

     Junto a ela, Thomas batia Palmas. As luzes se acenderam, e a pessoas pareceram amontoar-se em volta deles.

       Ele estava em seu elemento, com uma mulher bela, nos braços e muitos contatos o rodeando. Os homens poderosos que lembrava conhecer, repentinamente se detinham para trocar comentários sobre a peça. As conexões que tentara atrair para elevar-se na escala social estavam se apresentando. Estava sendo procurado.

       Alexandria Houton era claramente um bom investimento para ele e o seria também, para sua carreira. Exibiu-a orgulhosamente, pavoneando-se porque ela estava a seu lado. E comprovou que ele não era o único fascinado por sua voz, cativado por seu sorriso. Inclusive as mulheres, notou com satisfação, pareciam enfeitiçadas por ela, quando outorgava seu sorriso régio e encantador.

     Thomas rodeou seus ombros com seu braço e a atraiu mais perto, em um ato de possessividade enquanto caminhavam para a noite, ainda seguidos por muitos admiradores. O estômago de Alexandria se revoltou com a proximidade. Então, Thomas olhou para sua direita e se congelou. Nas sombras, havia um lobo amarelado, enorme. Com presas à mostra e olhos vermelhos, acesos. Esses olhos se cravavam diretamente nos dele, o corpo musculoso da fera preparado para atacar.

   O coração de Thomas parou e repentinamente começou a galopar. Pegou o braço de Alexandria e começou a voltar para o teatro.

   —Thomas, o que está fazendo?— perguntou ela.

   —Não está vendo?— apontou ele tremendo. Era Savage. De certa forma, estava seguro disso. — É ele, sei que é ele. Está aqui. — As cabeças começaram a voltar-se ante sua voz elevada.

     —Thomas. — A voz de Alexandria era tranqüilizadora. – O que está acontecendo de ruim? Está muito pálido. O que viu?

     Ele se obrigou a olhar mais precisamente. As sombras eram profundas, escuras e vazias de animais selvagens. Podia ver uma grande planta onde o vira o lobo. Enxugando o suor da testa, permitiu-se respirar.

     —Está tremendo, Thomas. Vamos para o carro. — Alexandria, preocupada, olhou meticuloso em volta, esquadrinhando as redondezas e só encontrou humanos. – Acho melhor não atormentá-lo outra vez - advertiu a Aidan. Mas não pôde saber se ele a ouvia.

     — Eu vejo coisas, Alex. A planta dali era como… — ele se interrompeu, não querendo admitir que sua imaginação estava descontrolada. O que estava errado com ele, de todas formas, era sua obsessão por Alexandria Houton e Aidan Savage. Acoplada com sua imaginação macabra, produzia todas essas alucinações muito reais?

     — Ela se moveu?— Ela olhou a ofensiva sequóia suspicazmente.

   —Não. — admitiu ele. — É que simplesmente parecia… Estranha.

   —Bem, diverti-me muito esta noite. A peça foi maravilhosa. — disse Alexandria brandamente.

   - Pequena mentirosa.

       As palavras zombavam dela com masculina diversão.

     Alexandria levantou o queixo, e deliberadamente colocou sua mão no braço de Thomas enquanto se dirigiam à limusine estacionada junto à calçada para eles.

     —Gostou?— Perguntou ela docemente. Sua voz destilando mel. Quase podia sentir Aidan escoicear e ele se retirou imediatamente.

     Uma vez no carro, Thomas deslizou-se para perto de Alexandria. Sua coxa descansou contra o dela, e ele podia sentir o roçar suave de um seio, contra o braço. Sua mão encontrou o queixo feminino.

     —Sei que não me conhece muito bem, Alex, mas me sinto profundamente atraído por você e espero que o sentimento seja mútuo.

     Sua boca estava a umas polegadas da dela e cheirava a hortelã. Alexandria podia cheirar em seu hálito, tudo o que ele havia comido no jantar. A massa com alho, a salada com vinagre, o vinho tinto, o café e a hortelã. Quase vomitou e tratou de colocar alguma distância entre eles.

   — Vamos trabalhar juntos, Thomas. Esta não é uma boa idéia. Ao menos por agora.

     —Mas tenho que te beijar. Tenho que beija-la, Alex. — Ele estava apoiando-se nela, respirando pesadamente.

     Ela fez um som, tornando-se para trás, mas em seu ardor, ele tomou por consentimento. Mas enquanto inclinava sua cabeça, seus olhos notaram o brilho de uma luz vermelha. Gritou e se afastou dela, para sua porta, cravando os olhos no vidro traseiro, através do qual dois olhos acesos o observavam com malícia cristalina. Para seu horror, a janela se inchou para dentro e logo se fez em pedaços, orvalhando fragmentos de vidro sobre ele. O lobo enorme empurrou seu focinho diretamente no carro, suas presas expostas e goteantes, mergulhando diretamente para sua cabeça. Os olhos vermelhos resplandeciam misteriosamente, sem piscar, perfurando-o. Ele podia sentir a respiração quente à medida que essas presas brancas empurravam mais fundo ainda.   Thomas gritou e se se agachou rapidamente, cobrindo o rosto com as mãos.

     —Thomas?— Alexandria tocou seu ombro ligeiramente. — Estiveste usando drogas esta tarde?— Ela já sabia a resposta. Podia-a cheirar em sua corrente sanguínea. — Deveríamos te levar a um hospital. Ou a um médico particular.

     Lentamente, com medo, Thomas baixou suas mãos. O vidro traseiro estava intacto. Não havia pedaços de vidro quebrado. Alexandria estava serenamente sentada em seu assento, seus olhos azuis ansiosos.

     —Isto nunca ocorreu antes. Tenho alucinações. Usei um pouco de coca no banheiro de homens. Talvez havia alguma mistura ruim nela, não sei. — Ele soou assustado.

     —O que viu?— Outra vez ela esquadrinhou em volta, tratando de encontrar a prova de que Aidan ou qualquer outro perigo se achavam perto, mas pareciam estar sozinhos. Talvez fosse realmente a droga. — Deveria dizer ao motosriata, que o leve a um hospital?

   —Não, não. Estarei bem. — Ele suava profusamente.

   Ela podia cheirar seu medo.

   —Não há nada ali fora, Thomas. Algumas vezes sinto as coisas antes que aconreçam e não tenho nenhuma intuição. — assegurou, tentando soar reconfortante.

     —Sinto tanto. – ele se desculpou roncamente. — Estraguei a noite?— Seus olhos se mantiveram vagando de um lado para outro, e pareceu revelar uma contração nervosa no lado esquerdo de seu queixo. Sentia-se mais velho do que tinha parecido, no começo da noite.

   —Não, claro que não. Passei uma noite maravilhosa. Obrigado por pensar no teatro. Realmente precisava sair um pouco. — o reconfortou. — Mas Thomas, eu não acredito em tomar drogas. Tenho a meu irmão pequeno, Joshua, em quem pensar. Sei que não é assunto meu o que escolhe fazer em seu tempo livre, mas não é legal a cocaína ou qualquer outra droga.

   —Não é que eu seja um drogado. Simplesmente a uso ocasionalmente para propósitos recreativos.

     — Não perto de mim. — Essa já era uma razão, bastante boa, para não estar com ele. Ele havia se diminuído, ante seus olhos agora, sabendo que ele usara droga para intensificar as sensações da noite, como se fosse incapaz de desfrutá-la por si mesmo.

     —Bom. — disse mal humoradamente ele. — Não usarei.

     O carro já deslizava no caminho circular da casa de Aidan. As porteiras de ferro forjado estavam abertas, esperando sua volta. Por um momento ela ficou quieta, cravando os olhos nas pesadas porteiras. Representavam a perda de sua liberdade. Não estava pronta para retornar a casa e reconhecer a derrota. Que Thomas Ivan e ela não tinham a mesma química. Mas isso não significava que não encontraria outro homem.

     Ela deslizou rapidamente pelo carro, evitando a mão de Thomas.

     —Obrigado outra vez, Thomas. Verei-te logo. Fica tranqüilo por depositar em mim suas idéias para os desenhos. — E antes que ele pudesse sair para acompanhá-la até porta, ela já subia agilmente à carreira os degraus de mármore até o largo alpendre dianteiro. Fez uma saudação com a mão uma vez e entrou.

     Thomas xingou e se recostou no assento. Antes que pudesse fechar a porta, viu o lobo pesadamente musculoso espreitando-o através da grama.

     —Vamos! Vamos!— gritou ao motorista, batendo com força a porta.

     O motosriata retrocedeu pelo caminho de acesso, afastando-se da casa, e Thomas deu um suspiro de alívio. Tudo o que queria fazer era chegar a casa e ficar muito bêbado.

     Alexandria se moveu pela da casa sem acender nenhuma luz, encontrou o telefone, e fez uma chamada. Podia enxergar perfeitamente na escuridão e subir facilmente as escadas. Aidan pensava que havia ganhado, vigiando-a toda a noite, mas isso não tinha terminado ainda. Não estava pronta para admitir a derrota.

     Em seu dormitório, tirou-se o vestido negro de veludo, colocou seus confortáveis e usados jeans descoloridos e uma camisa simples de cor azul clara. A mudança tomou só alguns minutos, atou-se fortemente seu tênis e retornou escada abaixo. O táxi que tinha chamado não havia chegado, então se sentou nos degraus de mármore do exterior e esperou.

     —E aonde vai agora?— perguntou Aidan sedosamente, aparecendo de repente gravitando sobre ela, fazendo-a sentir-se pequena e frágil.

   — Vou dançar. — Seus olhos o desafiaram a que negasse.

     O corpo masculino se moveu.

     —A entrevista dos sonhos não foi boa?

     Havia um pequeno vislumbre de diversão em seus olhos, mas sua boca permaneceu gravemente séria.

     —Como se você não soubesse. Tenta parecer tão inocente. Não lhe fica bem.

     Ele parecia impenitente, sorrindo abertamente, fazendo com que seu coração desse um salto. Simplesmente vê-lo fazia seu corpo se encher de vida.

     — Vá embora, Aidan. Não quero ver voce.

     —Estou te tentando?

   —Ninguém te ensinou, alguma vez, como ser um cavalheiro? Fora. Está me incomodando. — Ela levantou o nariz no ar noturno.

       O perfil feminino, à luz de lua, tirou sua respiração. Com a manta da escuridão envolvendo-os, pareciam as únicas pessoas no mundo. Bebeu seu perfume, essa fragrância especial que era só dela. Um pequeno sorriso confiado curvou sua boca sensual, lançando uma sombra erótica sobre seus traços masculinos.

     —Pelo menos mantenho sua atenção.

     —Vou sair para dançar. — afirmou ela.

   —Declara sua independência. — rebateu ele — Não servirá para nada. Seu lugar é aqui, comigo. Pertence-me. Nenhum desses homens ali fora, te fará sentir o que eu faço.

   Ela levantou ainda mais seu queixo.

   —Não necessito deles. Você é muito intenso, Aidan. Selvagem e intenso. Tira-me dos eixos. Simplesmente quero me sentir… — Ela se interrompeu, insegura de como queria sentir-se.

     —Normal. Humana. — disse ele, lhe ministrando as palavras.

     —Não há nada mau com nisso. Você me assusta. — Pronto. Tinha admitido. E para ele. Havia dito em voz alta. Ela afastou o olhar na noite, incapaz de não arder por ele.

   —Seus sentimentos por mim lhe assustam de morte. — corrigiu ele amavelmente.

     —Não confio em você. — Por que se atrasava tanto o táxi? Ela esticou seus punhos, não querendo estar sozinha com ele dessa maneira. Recordou a sensação de sua boca na dela, seu sabor.

     —Confiaria, ao se entregar completamente a mim. Se permitisse que sua mente se fundisse a minha completamente. Não poderia esconder nada de voce se quizesse ver. Minhas lembranças, meus desejos. — murmurou ele, sobre sua pele, tentadora, cativante.

     Ela o olhou furiosamente.

     —Como se não tivesse tido seus desejos dançando em minha cabeça toda a noite. Muito obrigado, senhor Savage. Não tenho a intenção de me converter em companheira de ninguém.

     Ele gemeu, cobrindo o rosto com as mãos. Logo sua boca perfeita se encurvou num sorriso encantador.

     — Vais ter isso contra mim, sempre? Depois, se alguém aqui é um escravo, sou eu. Esforçaria-me por você e acredito que sabe.

     Ela mordeu os lábios com força para abster-se de jogar-se em seus braços.

     —O táxi está aqui. Estarei de volta mais tarde.

   Ele era tão sexy e ela o desejava desesperadamente.

   Roçou-a à medida que ela passava junto a ele, na mais ligeira das carícias, passando um dedo por seu braço, mas ela o sentiu no mais profundo de seu coração, até chegar a sua alma. E levou a sensação de seu contato, com ela no táxi.

 

     O bar de solteiros, recém inaugurado era uma fusão selvagem entre sofisticação e má fama. Faziam questão de conservar uma certa classe, colocando porteiros na entrada para determinar quem era admitido e quem não era, mas estava claro que aceitavam subornos e que qualquer garota bonita era conduzida diretamente para dentro. A fila era longa, mas Alexandria a ignorou, caminhando com completa confiança para a porta. Notou seu novo efeito nas pessoas. Sua voz os cativava quase tanto como a de Aidan fazia.

     Sorriu ao homem que se interpôs em seu caminho, ele ergueu a cabeça de uma e conteve a respiração audivelmente. Nem sequer vacilou, e a escoltou pessoalmente. A música assaltou seus ouvidos e vibrou através de seu corpo. Sentiu imediatamente a pressão dos corpos contra ela. E sobre tudo, ouviu seus corações palpitando, a torrente de sangue através de suas veias, afligindo-a.

     Um homem alto vestido de couro escuro rapidamente a reclamou, apanhando sua mão e sorrindo abertamente ante o próprio descobrimento. Tinha uma barba desalinhada, cheirava colônia barata, uísque e suor. Seu braço esquerdo tinha a tatuagem de uma viúva negra. Em seu corpo, um relógio de areia vermelha. Ela sentiu um leve sinal de que suas presas estavam crescendo. O homem a olhou de esguelha e a arrastou para perto dele.

     —Estive buscando você, toda a noite.

     Ela quis sentir algo, mas seu estômago revolveu-se. Ele obviamente não era seu tipo. Sorriu-lhe olhando-o nos olhos.

—Não vai acontecer. — disse suave, persuasivamente.

       O sorriso se desvaneceu no rosto do homem, e ela pôde ver a violência latente em seu interior. Esse era um homem que não gostava de ser frustrado. Seus dedos se apertaram como tenazes.

— solte-me.

       Falou serenamente, mas não estava tranqüila por dentro. De certa forma, contava em desfrutar o melhor dos dois mundos essa noite, pensando que ser a criatura em que se convertera, a protegeria desse tipo de coisas.

       A risada do homem foi francamente repugnante.

—Vamos sair, neném.

       No mesmo momento em que ele convertia a sugestão em uma ordem agarrando com força sua mão, sentiu algo em seu braço. Olhou para baixo e para seu horror, sua tatuagem de viúva negra engatinhava para cima, por seu antebraço e para seus bíceps. Podia ver as presas estalando coléricamente, sentia as patas peludas em sua pele. Congelou-se, logo gritou ruidosamente, deixando cair a mão de Alexandria, golpeando e sacudindo grosseiramente seu braço.

       Alexandria não viu nada, mas aproveitou essa oportunidade para afastar-se, desaparecendo no meio das pessoas.

       O homem ficou com o olhar fixo em seu braço, abrindo a boca exageradamente, com o peito ofegante. Mas a única coisa que viu, foi sua tatuagem e ela não se movia. Passou a mão pelo de seu cabelo, deixando-o selvagem e despenteado.

— Bebeste muito, homem. — disse para ninguém, em particular.

       Alexandria se misturou com a multidão, sua cabeça pulsando com a batida da música. Sentia o sangue quente, mas sua pele geada. Seu apetite parecia crescer, vendo os corpos contra os que a roçava. Um homem gordinho de cabelos castanhos e um sorriso inteligente tocou seu ombro.

—Dançaria comigo?

       Ele estava sozinho, ela podia sentir isso, assim como também sua profunda tristeza e o desespero por estar perto de outro ser humano. Sem pensar, sorriu em assentimento e lhe permitiu dirigi-la a pista de dança. No momento em que os braços a rodearam e ela a aproximou de seu corpo, descobriu que era um engano. Ela não era humana. Não era o que ele precisava. E sua ilusão não era mais desesperadora que a dela. Seu desespero não era mais amargo que o dela. Nenhum dos dois falou. A jovem conhecia seus pensamentos, seu pesar terrível pela perda de sua esposa, seis meses atrás. Mas ela não era Julia, sua esposa. Ela não era sequer um corpo quente para ajudá-lo a passar a noite.

       E ele não era Aidan, e nunca poderia ser.

       Esse último pensamento encheu de terror sua alma. Por que tinha pensado isso? Podia encontrar um homem. Um homem humano. Não seria esse, mas devia haver alguém.

       O homem se moveu.

—Vem a casa comigo?

— Não sou o que quer. —ela disse, apiedada, movendo-se para pôr um pouco de distancia entre eles.

       Ele apertou seu abraço, atraindo seu corpo contra o dele.

—Não sou quem você quer que seja, mas podemos nos ajudar o um ao outro. — implorou, desejando que alguém afastasse os fantasmas durante algumas preciosas horas.

       O aroma de seu sangue a chamou gritos. O estômago de Alexandria se agitou, e ela sentiu a bílis subir em sua garganta. Negou com a cabeça urgentemente.

—Sinto muito, não posso.

       Quando ela tentou afastar-se, a música se converteu em um ritmo frenético e dominante que pareceu incitar o homem a sujeitá-la. Enquanto seu braço se alongava através de suas costas, a eletricidade estática pareceu formar um arco do piso até o braço masculino, sobressaltando-o. Ele blasfemou e a soltou imediatamente. Alexandria, assombrada, afastou-se.

—O que aconteceu?

—Eletrocutou-me!— acusou-a.

—Eu!

       Ela se afastou lentamente dele. Fazia isso sem saber? Ou tinha sido um acidente? Não tinha idéia, mas estava agradecida pela oportuna intervenção. Misturou-se rapidamente na vertiginosa e turbulenta multidão e atravessou o aposento, a música pulsando em sua cabeça, através de seu corpo.

       Alexandria encontrou um terraço. Vários homens bem vestidos se separaram para lhe permitir o acesso. Suas saudações foram especulativas, esperançadas. Pareciam agradáveis. Alguns eram arrumados. Um inclusive pareceu realmente amistoso. Mas ela não sentiu nada. Era como se estivesse interiormente vazia. Morta.

       Repentinamente se perguntou o que estava fazendo ali, o que tentava provar a si mesma? Dando a volta, apoiou suas costas contra a barra de ferro e ficou com o olhar fixo em seus sapatos. Não tinha nenhum sentido. Nunca tinha sido uma pessoa promíscua. Simplesmente, não era. Não se sentia atraída por um homem, por sua aparência e aqueles que a intrigavam levemente, não a acendiam fisicamente.

— Está triste? — observou um dos homens. — Quer ir a algum lugar, para conversarmos? Simplesmente conversarmos. — Ele levantou suas mãos, as palmas para fora. — Estou falando sério. Nada de paquera, simplesmente conversar. Meu nome é Brian.

—Alexandria. — respondeu ela, mas negou com a cabeça. Era muito agradável para animá-lo. Dizia que queria conversar, mas pôde ler facilmente qual era sua verdadeira intenção. — Obrigado, mas acredito que irei para casa.

       Casa. Onde estava sua casa? Ela não tinha casa. A sensação de pesar foi à gota d’água. Encheu o copo. Olhou para cima, e seu olhar foi atraído para o lugar mais escuro da sala. Os olhos dourados cintilavam. Seu coração pulou no peito. Não podia afastar a vista, cativada pela intensidade desse olhar que não piscava.

       Aidan avançou lentamente entre as sombras. Deslizou-se. Espreitou-a como um grande felino selvagem. Roubou-lhe a respiração. Alto. Sexy. Poderoso. Os olhos unicamente nela. Encerrados nela. Sob sua camisa de seda, seus músculos se sugeriam. Era elegante e exalava poder… Era único.

       Ela se encontrou tremendo, antecipando seu contato. Tão simples. Somente vê-lo, a fazia retornar à vida. Como o Mar Vermelho, a multidão se separou para lhe permitir passar. Ninguém o tocou, nem o roçou ou o empurrou. Até os homens que estavam pressionando perto dela se desviaram para o lado para lhe permitir passar em seu domínio privado. Então ele estava em pé diante dela, estendendo uma mão. Seus olhos prendendo-a.

       Se era compulsão ou obsessão, Alexandria não soube. Não se importou. Não poderia por nenhuma razão. Liderava uma batalha inútil. Necessitava dele e ali estava ele. A moça colocou sua mão na dele e quando ele fechou os dedos em volta dos dela e a atraiu, sentiu que se entregava.

—Dança comigo, minha cara. Preciso te sentir contra mim. — Suas palavras, sua voz, eram muito sedutoras para resistir.

       Alexandria se encontrou calada em seus braços. Ajustaram-se perfeitamente. Ele era forte e quente e a eletricidade instantaneamente começou a estalar entre eles. A cabeça feminina encontrou o ombro masculino. Seu corpo encontrou o ritmo do dele facilmente. Havia nascido para ele. Era sua outra metade. Era sedução, magia pura.

       Nos braços dele, estava em casa. Fechou os olhos, saboreando o contato de seu corpo contra o dela. A música tornara-se divina, num lugar como esse. Ninguém os encostou enquanto dançavam, memo a aposento abarrotado de pessoas. Ele a guiou numa sincronia perfeita, o calor elevando-se entre eles a cada passo. As chamas pareciam lamber sua pele, mover-se para a dele, e retornar.

       Aidan inclinou sua cabeça para saboreá-la. Seus lábios, suaves, quentes, roçaram seu pescoço, atrasando-se durante um batimento do coração em sua pulsação. Sentiu-a estremecer-se sob o calor úmido de sua boca, percebendo como seu sangue começava a correr a toda velocidade, freneticamente.

—Vêem casa comigo, pequena. — murmurou urgentemente, seus dentes raspando sua pele com gentileza, persuasivamente, deslizando-se através de seu pescoço. Seu sangue cantava por ele, necessitava dele. — Não me atormente mais.

       O corpo dela oscilou contra o dele, líquido e flexível. Nunca tinha precisado com tanta urgência, de nada em sua vida. Não fez nenhum som. Não podia. Mas ele soube sua resposta, atrvés de seu silêncio. Podia ler nos olhos enormes. Moveram-se para a porta, Alexandria era apenas consciente do que a rodeava, mas Aidan a protegeu dos dançarinos. Seu corpo sempre entre o dela e a multidão. Fora, a noite pareceu saudá-los, lhes dar a bem-vinda. As estrelas mais brilhantes que o normal, o ar levando perfumes fragrantes do oceano.

       Aidan deslizou um braço ao redor de sua cintura, encerrando-a sob o amparo de seu ombro. Ela inclinou a cabeça para contemplá-lo.

—Deveria saber que me seguiria para me proteger. O que fez a esse pobre homem do traje de couro?

       Ele sorriu.

— Ele gosta de viúvas negras. Também gosta de machucar as mulheres. E eu não gosto que outros homens a toque.

—Já havia notado.

       Ele a deteve na esquina da rua, esmagou-a contra ele, e levantou seu queixo. Seu olhar dourado parecia fascinado por seu lábio inferior, e ela sentiu sua respiração em garganta. Ele fez um som entre gemido e grunhido e baixou a cabeça. Sua boca encontrou a dela, e a Terra se moveu sob seus pés. O corpo da moça se derreteu contra o dele. Só existiam Aidan e Alexandria e uma parte da noite.

       A onda de fome, de necessidade, foi tão forte, que Alexandria se pegou a ele para evitar cair. Ele a envolveu em seus braços e se transladaram através do tempo e do espaço. O vento soprou através de seu cabelo, esparso atrás deles como a canção de uma sereia, ondeando na noite cristalina como fios de seda. Sua boca se moveu sobre a dela, consumindo, dominando, faminta além dos limites humanos. Sua língua explorou cada centímetro do interior aveludado de sua boca, procurando sua resposta. Alexandria se ouviu gemer, implorando.

       Então o balcão do terceiro andar esteve sob seus pés. Ele simplesmente ondeou uma mão, e a porta de cristais deslizou até abrir-se. A brisa do mar era bem vinda ao calor de seus corpos. Ele a seguiu até a cama de quatro colunas, coberta por uma colcha, cobrindo o corpo dela com o seu, incapaz de arriscar-se que ela pudesse se assustar e fugir. Não podia esperar mais. Não podia deixá-la ir. Suas mãos acariciaram a pele suave, traçaram os seios firmes e duros, empurraram o tecido de sua camisa para deixar exposto o pequeno corpo a seu escrutínio dourado.     O ar fresco era sensual em sua pele ardente, em seus seios doloridos e cheios, sob seu olhar quente.

       Sua mão acariciou um seio, sustentou o peso suave em sua palma possessivamente.

— Sente a escuridão em mim, Alexandria?— murmurou ele, sua estava voz rouca e dolorida. — Está crescendo, propagando-se. Sinta-a em mim. — Seus lábios encontraram seus olhos, sua têmpora, o canto de sua boca e sua garganta. Cada beijo era ligeiro, mas deixava uma marca muito quente, um rastro em sua alma para sempre. — Se Entregue a mim, Alexandria. Agora. Para toda a eternidade. Sente a escuridão em mim e apague-a.

       Sua voz, sedutora era de uma necessidade tão absorvente, tão grande, que ela não pôde negar-se. Sentiu a necessidade escura nele, sua batalha por ser suave com ela, por permiti-la escolher. Sentiu seu desejo, extremo e faminto, por rasgar suas roupas e afundar-se nos mistérios de seu corpo. Seu próprio corpo respondeu à urgência de sua necessidade com um calor denso.

       Moveu-se sob ele, arqueou-se para cima para lhe oferecer seu seio. Seus olhos se fecharam apertadamente e ela gemeu em voz alta enquanto ele o tomava no calor de sua boca. Seus braços rodearam a cabeça masculina, fizeram-na estremecer-se enquanto os lábios produziam em seu corpo, uma rajada de calor em resposta.

       Seu corpo estava tão duro e pesado, preso nos limites de suas roupas. Ele se afastou para um lado, a livrou das calça jeans, desejando cada centímetro de sua pele suave, nua contra a dele. Aidan se elevou ligeiramente, suficiente apenas para poder ver seu corpo. Ela estava nua, sua pele ruborizada de desejo. A mão masculina roçou seu estômago, sua palma cobrindo o triângulo de pelos loiros, seus dedos encontrando o calor úmido. Um relâmpago se arqueou através dele, através dela e correu a toda velocidade através de seu sangue.

       Ele embalou sua cabeça na palma de sua mão livre, arrastando-a contra seu peito.

- Alimente-se, minha cara. Se alimente profundamente. Você é minha outra metade, a metade que se levanta na luz. Parte de mim por toda a eternidade.

       O dedo masculino explorou a entrada do apertado sexo, descobrindo o calor, a real necessidade dele. Podia sentir o ardor das lágrimas atrás de seus próprios olhos.

Sentiu sua respiração sobre seu coração.

—Alguma vez poderei retornar, não?— perguntou ela, com voz perdida.

       Seus dedos se moveram mais profundamente, em uma tentação deliberada. Sentiu as aveludadas paredes de seu interior se contraírem ao redor dele. Seu corpo se enfurecia por procurar a liberação.

—Quer realmente retornar, cara e me deixar só em uma eternidade de escuridão? Se tivesse escolha, deixaria-me realmente?— Havia uma sedução oculta em sua voz rouca. Sua mão empurrou-se contra ela, seus dedos provando, explorando, deliberadamente alimentando o fogo que se dispersava através de seu corpo.

       Uniu completamente sua mente com a dela. A moça pôde sentir então, a escuridão que esperava para reclamá-lo, uma besta escondida e à espreita, um assassino frio e impiedoso. Havia uma neblina vermelha de desejo pulsando nele, o fogo correndo a toda velocidade através de seu sangue. Ela podia sentir sua agonia, seu medo de que ela não o quisesse o suficiente para escolhê-lo, a segurança de que ele a arrancaria de qualquer maneira, a segurança de que nunca poderia deter-se. Mas ele queria que ela o desejasse, que necessitasse dele de igual maneira.

       A língua feminina acariciou seus músculos em uma carícia suave. Seus dentes morderam sua pele amavelmente, tentando-o.

—Como poderia te deixar, Aidan? Realmente crê que poderia? Pensava que sabia tudo. Eu sei. Quase mesmo, do princípio. — E era verdade. Alexandria havia descoberto o segredo dos dois.

       A mão dele explorou suas coxas, e sombras secretas, arrancando ofegantes soluços de sua garganta. As mãos dela encontraram os tensos músculos de suas costas larga, inflamando-o mais com seu tímido contato.

       Estava fazendo caricias com suas mãos, com seu tato único, memorizando cada amado centímetro, atraindo-a à tormenta de fogo de uma fome impossível de saciar. Ela beijou seu peito, acariciou com o nariz o pêlo loiro, lambeu seu mamilo.       O corpo viril se endureceu até que pensou que poderia voltar-se louco.

Ele separou suas pernas, flexionou seus joelhos, obtendo melhor acesso a seu calor feminino e empurrou-se agressivamente contra ela, necessitando-a com desespero.      Alexandria o sentiu, duro e denso, insistindo em penetrá-la. Ele era muito grande, para entrar. Quando ela vacilou, retrocedendo, ele segurou seu quadril em suas mãos e a sujeitou, imobilizando-a contra ele.

- Confia em mim, Alexandria. - Ele respirou as palavras em sua mente. Nunca te machucaria. Seu corpo tem necessidade do meu. Sente-o. Você me pede. Somos um corpo, um só coração, uma só alma e mente.

       Ela achou impossível de resistir. Sua boca se moveu por própria vontade sobre seu peito, procurando e encontrando a pulsação profunda. Sua língua o acariciou, o adorou. As mãos de Aidan apertaram seus quadris quase ao extremo da dor. Os dentes de Alexandria se afundaram profundamente e o corpo masculino avançou para enterrar-se no dela. Um raio iluminou o céu, crepitou e dançou. Moveu-se a grande velocidade através da porta aberta. Um látego branco e azul queimando-os, soldando-os como um só ser. Ela gritou de dor e de prazer. O grito dele, rouco e triunfante, misturou-se ao dela.

       Aidan se moveu, quase incapaz de suportar a sensação que o estreito canal lhe transmitia, apertando-o com força, tão ardente e aditivo que quis perder-se para sempre nela. A fricção fogosa o consumiu, transformou-o, até envolveu-o numa onda tão alta de prazer que perdeu toda noção de tempo e de espaço. As cores dançaram em seus olhos, vívidas e brilhantes. O perfume de ambos, almiscarados e fragrantes, misturavam-se. Um perfume criado de seu ato de amor. A boca feminina contra ele, erótica e frenética, compassou-se ao frenesi selvagem do corpo viril. Ele se perdeu nas puras sensações, enterrando-se mais profunda e duramente, desejando sepultar-se dentro dela tão intensamente, que seus corações e pulmões estivessem entrelaçados, impossíveis de ser separados.

       Alexandria se agarrou a suas costas, assustada de ser transformada para sempre. Sua língua fechou a ferida no peito de Aidan, degustando o sabor selvagem e masculino dele. As mãos dele permaneciam firmes em seus quadris, sujeitando-a ainda, ante sua invasão. Foi mais do que ela pôde suportar, o olhar rebelde dele, com seu cabelo caindo ao redor do rosto tenso de prazer. Ela moveu suas mãos descendendo por suas costas, suas nádegas, aprendendo de cor cada centímetro dele.

       Um gemido escapou da garganta de Aidan, profundo e rouco, arrancado do fundo de sua alma. Ele levantou a cabeça e seus olhos estranhos de ouro derretido, ardentes e ferozes eram vorazes.

       Ele beijou seus olhos, seus lábios e seu queixo. Ela sentiu sua respiração em sua garganta, sua língua como uma carícia. Seu corpo sentiu com força e sua reação foi aumentando seu prazer ainda mais, até que ele pensou que poderia morrer dessa maneira.

       Seus dentes roçaram o vale entre seus seios, ela se arqueou para ele, empurrando-se para sua boca.

—É minha para sempre, Alexandria. Agora sabe. — Foi uma declaração. Uma ordem que ela não ousaria desobedecer.

       Alexandria sorriu contra seu ombro ante suas exigentes palavras. Não tinha idéia de como eram as mulheres da Raça dos Cárpatos, mas seu homem estava a ponto de descobrir uma raça inteiramente nova.

       Outra sensação nova, intensa, a atacou e ela gritou de prazer, sua garganta engoliu convulsivamente enquanto os dentes masculinos perfuravam seu peito, enquanto seus braços a apertavam possessivamente e seu corpo tomava o seu com uma fome feroz além de sua imaginação mais selvagem. Ondas e ondas de prazer percorreram seu corpo, fazendo-a girar fora de si mesma e dentro dele. Aidan estava em todos os lugares onde ela estava, em todas partes aonde podia sentir, dentro de seu corpo, dentro de sua mente, dentro de seu sangue, até que pareceram um só ser voando até o céu.

       Ficaram juntos, aderidos o um ao outro, seus corações pulsando a um ritmo intenso e diferente de tudo o que tinham acreditado ser possível. A língua de Aidan acariciou seu peito, enviando um tremor através de seu sangue, através d dele. Ele emoldurou seu rosto com as mãos, roçou seus lábios, meigamente, através de sua testa, e depositou beijos sobre seu rosto até seu queixo. Pela primeira vez, em sua longa existência, aparentemente interminável, sentiu-se verdadeiramente vivo, verdadeiramente em paz.

—Deste-me um presente sem preço, Alexandria e nunca o esquecerei. Não tinha razões para confiar em mim, e mesmo assim, o fez. — murmurou suave, humildemente. — Obrigado.

       Ela permaneceu com o olhar fixo nele com seus olhos interrogantes, incapaz de retornar por completo a terra firme. Ele estava nela, seu próprio corpo o envolvia. Parecia mentira que esses olhos dourados pudessem brilhar com tal intensidade, pudessem arder com tanta necessidade, só por ela. Um sorriso lento curvou sua boca e iluminou seus olhos de cor safira para fazer jogo com a incandescência dos dele. Simplesmente cravaram os olhos, um no outro, na alma do outro.

       Ela podia senti-lo, grosso, duro, começando a mover-se, uma fricção incrível de calor escorregadio, tão suave e terno, que sentiu que poderia perder-se nele.      Aidan avançou lentamente, saboreando cada toque, caprichosamente alongado, seus olhos devorando seu rosto. Sua iniciação tinha sido um frenesi selvagem. Agora ele queria tomar seu tempo, construir seu prazer lentamente.

Seus dedos se enredaram no cabelo dela. Sua boca saboreou sua pele, encontrando o pulso em sua garganta vulnerável.

—És tão bela, Alexandria. Muito bela.

—Você me faz sentir bela, Aidan. — admitiu ela.

—Ainda não posso acreditar que a tenha encontrado. — Repentinamente ele levantou sua cabeça e ficou com o olhar fixo nela. Seus quadris mantiveram o movimento lento e lânguido. — Vai se afastar desse rei dos videojogos de horror.

       Ela beijou seu ombro e esfregou o rosto contra o pêlo dourado de seu peito.

—Não, não o farei. Ele é meu chefe.

—Eu sou seu chefe.

—Você desejaria ser meu chefe. — brincou Alexandria amavelmente. — Trabalho para ele.

— Tenho dinheiro para que vivamos bem. — protestou ele. Então um rastro de risada se introduziu sua voz. — Sabe que tão doente o homem tem que estar para chegar a imaginar essas coisas?

— O que há? Joga seus videojogos. Pior ainda, vive situações mais estranhas, das que ele imagina. — Seu queixo se levantou. — Além disso, quero o trabalho. Eu gosto de desenhar. Esta é a oportunidade de minha vida, Aidan, algo que sempre quis fazer.

       Então ele sorriu, inclinando a cabeça para beijar seu queixo beligerante, para plantar uma fila de beijos no vale entre seus peitos.

— A duração de sua vida foi alongada grandemente, minha pequena. Pode encontrar a maneira de ilustrar as fantasias de outra pessoa, preferentemente as de uma mulher mais velha, agradável e sem filhos. Nem secretário.

       Ela gargalhou com ele, suspeitando que terminaria por fazer o que ele desejava e descartando Thomas Ivan da vida de ambos.

       Mas por enquanto, o corpo de Aidan estava fazendo coisas incríveis com o dela, e não queria pensar em nenhum outro homem. Sua lenta e rítmica posse tirava sua respiração e reavivava as brasas do fogo, vermelho vivo, em todo o seu corpo. Seu corpo se movia com o dele, seguindo seu guia, sem inibições. Ela amou a sensação de suas mãos, acariciando caprichosamente seus seios, o ligeiro rocar de seu queixo, sua boca sobre seus mamilos. Roubava-lhe o coração com sua ternura.

—Já tinha roubado seu coração. — brincou ele com ternura, recordando que compartilhava seus pensamentos.

—Não estou segura de estar pronta para que saiba cada coisa que penso.

—Ou sente. — Sua voz se converteu na mais pura sedução negra. — Ou imagina.

Suas mãos encontraram seus quadris.

—Você é o que tem todas as fantasias. Simplesmente, eu peço emprestado as tuas, para as comprovar.

       Aidan avançou, enterrando-se mais profundamente dentro dela.

—Como estou fazendo?— Ele começou a mover-se com estocadas mais profundas, mais forte, aumentando o ritmo até que as brasas tornaram chamas. - Tenho a noite inteira para te adorar como merece, pequena.

       No brilho inesperado de fogo que varreu todo seu corpo, ela mordeu o lábio, e dois pequenos pontos de cor vermelha fluíram através deles. Os olhos dourados e brilhantes de Aidan se enfocaram neles, com uma emoção selvagem em suas profundezas.

       Simplesmente esse olhar a enviou para um precipício, seu corpo em total erupção, em explosões que fizeram pedaços de sua mente. Seu grito se perdeu, quando a boca dele encontrava a dela, capturando o som para sempre. Sua língua lambeu seu lábio, uma carícia que aumentou seu prazer de maneira impossível.

       Aidan sentiu que cada um de seus músculos se esticava. Permaneceu imóvel a durante um segundo, então jogou para trás a cabeça e se desmanchou dentro dela, provocado pela reação devastadora do corpo feminino, no dele, ultrapassando seu controle. Pareceu durar para sempre, sua liberação. O mundo que girava fora de controle. Quis ficar ali para sempre, com a Alexandria encerrada na segurança de seus braços. Não se moveram e nem se falaram, saboreando o momento e a percepção de seus corpos.

       Aidan foi o primeiro a se mover, contra a vontade, desviando seu peso. Abraçou-a aproximando-a, como se temesse que repentinamente ela pudesse notar que se rendeera a seus cuidados e tratasse de escapar dele, pelo que era ela.

       A jovem acariciou seu braço à medida que eles se enrolavam possessivamente em torno dela.

— Aidan, posso conhecer seus pensamentos tal como você conhece os meus. E ainda sou eu mesma. Não tenho a intenção de que me encerrem em um armário.

       Ele se apoiou em um cotovelo. O vento soprou através do quarto, trazendo com ele a brisa marinha. Ele levantou uma mão e a porta corrediça de cristais se fechou instantaneamente. Arrastou a colcha para abrigá-la ao mesmo tempo em que se movia mais perto para protegê-la com o calor de seu corpo.

— Não tinha em mente o armário exatamente, cara. Pensei que minha cama seria um melhor lugar. — Houvia um rastro de humor em sua voz. Sedutora.

       Ela apartou o cabelo de seu rosto e o olhou de frente.

— Vou trabalhar, Aidan. Você criou uma vida aqui para voce, para Stefan e Enjoe. Mas Joshua merece uma existência normal também. Não quero que sua vida mude tanto que perca tudo o que é familiar para ele. E, certamente, eu tampouco quero perder isso. Você é terrível. Não perderei a parte de meu antigo eu que ficou.

— Quero-te segura, Alexandria. As mulheres de nossa raça são nossos tesouros mais preciosos. Sem voces, não podemos manter nossa existência. Preciso saber que está a salvo cada instante do dia.

       Alexandria se sentou e arrastou a colcha sobre seus seios, repentinamente consciente de sua nudez. Aidan descuidadamente estirou uma perna sobre sua coxa, imobilizando-a no lugar.

—Não há um centímetro de ti que não conheça, cara. Este não é o momento de ficar tímida.

       Ela podia sentir o rubor avançando por seu corpo inteiro até que seu rosto resplandeceu na noite. Pela forma em que ele tinha situado sua perna, podia sentir que sua masculinidade pressionava contra ela, seu calor e força crescendo, enrijecendo-se de necessidade. Ela soube que suas palavras tinham a intenção de provocá-la, mas nunca havia estado em uma situação como essa, e não estava segura de como atuar ou o que falar.

—Você usa… Isto para me controlar.

       Ele sorriu abertamente sem arrependimento, roçando-se contra ela sugestivamente.

— Isto? O que é isto? Está dizendo que usaria nossa relação sexual para obter meus propósitos?

       Ela começou a rir outra vez, não podia evitar.

—Você usaria, senhor Inocência, para obter seus propósitos, e sabe.

       Ele acariciou um seio, seu polegar roçando ligeiramente o mamilo sensibilizado.

—Está funcionando?— Sua voz acariciou sua pele como se fosse seda.

— Não é possível que possa me desejar outra vez, Aidan. — protestou ela, afastando-se dele e da tentação de seu corpo.

       Suas mãos apanharam sua cintura e a atraíram contra seu membro já duro. Ele riscou o contorno de seus quadris e acariciou seu traseiro.

—É formosa, Alexandria. — suspirou enquanto a rodava sobre seu ventre e a colocava sob ele.

—Aidan. — Seu nome emergiu num protesto ofegante. Suas mãos eram fortes, mas não cruéis, enquanto a colocavam no lugar apropriado, sua respiração roçando suas costas, seus dentes fechando-se sobre seu ombro quando ela tratou de retorcer-se para liberar-se. Essa posição a fazia sentir-se intensamente vulnerável.

       Aidan pressionou-se contra ela, sua necessidade de assumir o comando tão forte como sua necessidade de lhe dar agradar.

—Deseja-me, minha cara. Posso senti-lo.

—É muito logo.

— Não para seu corpo. — Ao mesmo tempo em que ele dizia essas palavras, sua mão acariciou o estreito sexo dela, para provar sua disposição, separando as suaves dobras, tomadas de calor líquido. — Alexandria, como poderia resistir alguma vez, a voce?

       Ele a necessitava uma vez mais. Precisava senti-la, estar vivo, afirmar que sempre seria uma parte dele, de sua vida, para que quando ele abrisse seus olhos e tomasse sua primeira respiração cada tarde, ela estivesse ali para lhe dar sempre o poder de fazer mais fundas as emoções e fitá-lo com algo mais que medo em seus olhos.

       Alexandria resistia a sua dominação, mas não podia resistir a sua necessidade apaixonada. A intensidade de seus sentimentos atravessou sua mente e seu corpo se acendeu com o fogo do dele. Empurrou-se para trás contra ele, consentindo, inflamando-o mais. Ria brandamente, tentando-o, provocando-o, mas sua respiração ficou presa em sua garganta quando ele penetrou-a, completando a íntima invasão. O corpo feminino se apertou ao redor do dele, sujeitando-o, agarrando-o firmemente, pulsando de vida e calor.

       Um braço poderoso se apertou possessivamente em volta de sua cintura, seu corpo protetor sobre o dela.

—Estamos loucos?— murmurou ele.

—Você é o louco. — Ela ficou sem fôlego, movendo-se com ele, começando a descontrolar-se rapidamente. — Tenho trabalho que fazer, mas você me mantém aqui, encerrada, prisioneira de sua paixão. —disse, ofegando. Ele acendia seu fogo rapidamente, com golpes precisos, rijos, inundando-se nela, suas mãos sujeitando-a embaixo ele. — Não posso acreditar que te deixe fazer isso comigo. — E não podia. Parecia mentira que ela estivesse ajoelhada em uma cama manchada com sua própria inocência e amando violentamente, a posse desse homem, querendo que se repetisse, desejando-o outra vez.

       Quando finalmente caíram sobre o leito, segurando-se firmemente, um no outro, um brilho fino de suor cobria seus corpos. Estavam esgotados, consumidos, mas saciados.

—Ouvi você cantar, em minha cabeça, a primeira vez que nós… — ela se interrompeu. — As palavras estavam em sua língua materna, não estavam?

—Assegurei nossa união outra vez. — admitiu ele — O pensamento de te perder por minha própria estupidez é demais para mim. Recitei as palavras rituais enquanto tomava sua inocência, para nos ligar por toda a eternidade.

— Não entendo.

—Essas palavras são um laço inquebrável para os nossos. Uma vez que as pronuncia, a união é eterna.

       Ela se deu volta, piscou, olhando-o.

—Do que está falando?

—Quando um homem da Raça dos Cárpatos encontra a sua consorte e sabe com toda certeza que ela é a única, pode comprometê-la a ele com as palavras rituais, inclusive se ainda não reclamou seu corpo. É como a cerimônia humana do matrimônio, mas muito mais profunda. Nossas almas e corações são a metade do mesmo ser, incompletos quando estão afastados. As palavras rituais as unem novamente, como se têm que existir.

       Seu olhar fixo se estreitou com especulação.

—Acreditei que os dois estavam atados pela química, pelo sangue.

— Estão destinados, e o enlace dá começo. — Ele afastou o cabelo comprido do rosto e se retirou para um lado da cama, inquieto com a conversa.

—Então a mulher ainda pode escapar se o homem realmente não diz as palavras rituais?

       Ele encolheu seus ombros largos, seu olhar dourado e ilegível.

— Por que seria ele tão estúpido para não as dizer quando sabe que seu destino depende disso? Seria um tolo.

—Possivelmente seria bonito se perguntasse à mulher o que ela pensa. Os homens humanos ao menos perguntam à mulher se ela prefere passar a vida com ele. Possivelmente às mulheres da Raça dos Cárpatos também gostariam de ter opções.

       Ele se encolheu de ombros outra vez.

—É a escolha do destino, como quer chamá-lo. A lei do universo. A lei de Deus. Somos feitos assim. As palavras não podem ser revogadas. Nenhum homem da Raça dos Cárpatos vai permitir que sua mulher corra de um lado para outro desprotegido e sem reclamar.

— Vivem nas Idades Escuras! Não pode se apropriar simplesmente da vida de alguém sem seu consentimento. Não é correto. — discutiu ela, horrorizada.

—Um homem de minha raça não pode sobreviver sem sua companheira.

—Bom, já que estamos unidos, quantos anos quer viver?— demandou ela apaixonadamente.

       Seus olhos dourados cintilaram de diversão e sua mão deslizou até sua coxa.

—Iria por outro século ou dois, se todas as nossas noites fossem como esta.

       A voz firme alegrou seu coração, iniciando a sensação curiosa de se derreter, que experimentava tantas vezes perto dele. Queria estar furiosa com Aidan, mas a verdade era que se pudesse ter mais noites como essa, queria um século ou dois também.

—Leio seus pensamentos.— brincou ele, com sua voz acariciando-a deliberadamente.

—É hora de você parar. Não tem outra coisa para fazer para se manter ocupado por um momento? E não pense que me distrairá com isso. Não pode simplesmente ir tomando decisões que afetem minha vida sem me consultar. — Ela o observou suspicazmente. — Que mais pode fazer sem que eu saiba?

       Ele se colocou atravessado na cama e a beijou na boca, atrasando-se, degustanaod seu sabor.

—Peça o que queira, pequena e poderemos fazê-lo.

       Ela se afastou dele bateu na mão que se movia em seu ninho.

—Não seja esfomeado, Aidan. Isto não é bom.

—Acredito que é algo excelente. Necessitarei de todos os meus truques para te manter sob controle. E espero com ânsia cada minuto, Alexandria.

—Esquece meus pequenos hábitos ruins, e acredito que precisamente agora, começaram a multiplicar-se.

Ele gemeu.

—Vai querer me mudar?

— Alguém tem que fazer. — Sua mão encontrou a dele. — Estou acostumada a ter uma certa quantidade de liberdade, Aidan. Necessito dela. Nunca poderei ser feliz se me tolher.

       Ele acariciou seu queixo, seus olhos de ouro abrangendo sua face atrevida.

—Dou-me conta das concessões que ambos teremos que fazer, Alexandria. Não pretendo que todas sejam de sua parte. Só peço que me permita e me perdõe se cometer alguns enganos.

       Ela assentiu com a cabeça. Tão facilmente poderia roubar seu coração. Com um olhar, com umas poucas palavras. Essa voz sua era pura magia negra.

—Como posso estar tão louca por ti e tão assustada ao mesmo tempo?

—Está apaixonada por mim. — disse ele maciamente.

       Ela piscou, emocionada, como se nunca tivesse considerado o sentimento.

—Isso é um pouco forte, Aidan. Arrastou-me dentro disto tão rapidamente, contra minha vontade…

—Você me ama. — afirmou serenamente.

       Ela se afastou um pouco sobre a cama.

—Não te conheço o suficientemente bem para te amar.

—Não? Estiveste em minha mente. Compartilhaste meus pensamentos, minhas memórias. Sabe tudo a respeito de mim, o bom assim como também o mau. E se entregou para mim. Não o teria feito se não estivesse apaixonada por mim.

       A jovem engoliu a saliva. Não queria enfrentar esse sentimento nesse momento. Tratou de soar frívola.

—É simplesmente o poder do sexo.

       As sobrancelhas do Aidan subiram rapidamente.

—Dança muito bem.— aventurou ela esperando trocar de tema.

— Estive em sua mente também, minha cara. Não me esconda a verdade.— disse ele com ar satisfeito.

       Alexandria assumiu sua expressão mais arrogante, arrastando a colcha ao redor de seus ombros, e permaneceu silenciosa.

—É realmente tão difícil admitir que me ama?— a voz masculina foi uma carícia que a abrigava em braços seguros e carinhosos.

— Por que é tão importante ter esta discussão agora? Estou contigo e obviamente não vou a nenhum lugar.

—Porque é importante para voce. Tem essa ideia louca de que não pode sentir amor por ninguém exceto por seu irmão.

—Nunca pude sentir antes.

—E pensa que sente algo por mim porque te coloquei sob os efeitos de algum mágico feitiço. O que temos juntos, não depende de nenhum feitiço, Alexandria. Possivelmente estou te ligando a mim com as tradições de nossa gente, mas não poderia fazer se já não fosse minha. Você é minha verdadeira companheira. Teria sacrificado sua vida para me salvar, inclusive quando não confiava em mim.

       O queixo da Alexandria se levantou.

—Pensei que ia morrer de qualquer maneira, e não queria viver como um vampiro. Lembre-se que eu pensava que era um vampiro e que me tinha convertido também.

— Por que salvaria a um vampiro, a um tão mau? — rebateu ele.

       Ela apertou ambas as mãos sobre seus ouvidos.

—Confunde-me, Aidan.

       Ele amavelmente segurou suas mãos e baixou suas mãos, inclinando-se para beijar seu pescoço.

—Sabia, no mais profundo de minha alma, que era o único. Por isso seu corpo respondeu ao meu. Não por algum feitiço antigo ou gratidão por salvar você e a Joshua. Seu corpo e sua alma me reconheceram antes que sua mente e seu coração tivessem a possibilidade. Sua mente estava traumatizada por tudo o que tinha acontecido e não ajudou muito quando reagi de modo tão espantoso por sua segurança. Como podia saber o que havia em seu coração?

—O que sinto por voce é tão… — ela não pôde encontrar as palavras certas, para descrever as emoções que se agitavam tão fortemente dentro dela.

— Intenso. Profundo. Diferente do que esperava. E porque é diferente, não o reconhece pelo que é. Já não é humana, com limitações humanas. Todos seus sentidos se expandiram, assim como também suas emoções, seu prazer, sua dor, sua fome… tudo será esmagador, até que acostume a eles. A princípio, sua audição nova foi quase insuportável, não foi?

       Ela assentiu com a cabeça. Havia acontecido a pouco, mas já o tinha esquecido.

—Breve, aprenderá a atenuar sua audição extraordinária ou usá-la só quando a necessitar. Com o tempo, poderá usar todas suas habilidades facilmente, como eu faço. A intensidade entre nós crescerá, como fará nosso laço. Mas não é magia, Alexandria. É amor. — A voz de Aidan foi tão afetuosa, tão terna e tão segura, que ela sentiu seu coração pulsar com violência em seu peito.

       As ondas do oceano se elevaram a grande altura e correram para as pedras, derramando o rocio de espuma e sal antes de colidir contra as rochas do escarpado e retornar ao mar agitado. Alexandria escorreu a areia através de seus dedos enquanto olhava o desdobramento espetacular da natureza a sua frente. A hora avançada e os ventos selvagens asseguravam que tivesse a praia para ela sozinha.

       Estava sentada sobre uma duna, apoiando o queixo sobre seus joelhos e observando as ondas. Sempre tinha amado o oceano, mas depois de sua experiência com o vampiro, tinha pensado que nunca poderia enfrentá-lo outra vez.

       Aidan havia trocado isso. Ele havia tornado a trazer a beleza e a alegria a seu mundo. Ela podia sentar-se ali, só na escuridão, rodeada pelo vento gemente, pelo mar rebelde, inclusive as nuvens ominosas reunindo-se no alto, e cuidar-se da magnificência de todo isso. Aidan estava cuidando de um de seus muitos negócios, e ela tinha saído às escondidas de casa, para passear. Enquanto sua parte amava a cercania que Aidan pedia, a forma em que constantemente entrava silenciosamente em sua mente, por outra temia por sua liberdade, acostumada a fazer as coisas a sua maneira. E tinha necessitado simplesmente de sentar-se em silêncio e permitir que tudo o que lhe tinha acontecido, começasse a tomar seu lugar.

       Aidan estava descontente com ela. Podia sentir o peso de sua desaprovação. Estava com ela, em algum lugar tranqüilo de sua mente, mas ao menos não tinha a obrigado a fazer sua vontade.

—Deveria.

       Alexandria sorriu ante sua queixa.

—É bom que não o fizesse. Precisa aprender que não te obedecerei em tudo da forma que Joshua faz.

—Outro de seus hábitos ruins?

       Ela soltou uma gargalhada, o alegre som pulverizando-se na praia pelo vento.

—Se não o for, vou me assegurar de cultivá-lo.

— Vai fazer exatamente o que digo.

       Sua voz baixou tão sedutoramente, que foi uma carícia, uma sedução patente.

Ela instantaneamente sentiu o calor de seu corpo em resposta.

—Volte a trabalhar, demônio do sexo, e me deixe em paz por um momento.

— Simplesmente por um momento curto. Esse é todo o tempo que posso conseguir estar sem seu corpo sob o meu.

— É malvado, Aidan. Muito, muito malvado.

       Ela sorria, sua cabeça arremessada para trás, seu coração cheio de alegria depois de uma viagem tão longa, tão escura.

       A uma distância de muitas milhas, o céu se acendeu brevemente, um brilho branco iluminando as nuvens escuras, e logo ela ouviu o trovão distante. Uma tormenta estava cavalgando as ondas mar dentro, alimentando a atmosfera brincalhona do oceano. Reclinou-se e tocou uma gota de água que tinha salpicado em sua face, de chuva ou de rocio do mar, não podia estar segura. Não importava. Sua vida voltava a se reconstruir. Estava encontrando sua força outra vez. E agora que aceitava no que se converteu, encontraria a maneira de ocupar sua vida outra vez.

       Na escuridão, uma sombra trocou de posição sobre sua cabeça. Ela piscou, endireitou-se, e inclinou a cabeça para esquadrinhar os céus. Não detectou nenhum movimento. Possivelmente tinha sido simplesmente uma nuvem negra deslizando-se adiante das demais. Apesar de não ver nada, sentiu-se inquieta. Estava sozinha nas dunas, suficientemente perto da água para que pudesse detectar os predadores sob a superfície. E essa compreensão repentinamente a assustou. Que sob as formosas ondas, as criaturas pré-históricas deslizavam, procurando sempre uma presa.

       Um sorriso lento curvou sua boca. Começava a deixar que algo a assustasse. Quem estaria fora em uma noite como essa? O oceano rugia, estourava-se contra as rochas, e enviava plumas de espuma ao céu. Mas seu desassossego aumentou com a ferocidade da tormenta.

—Possivelmente seria melhor para voce escutar seu companheiro e estar a sós dentro da casa ou no balcão em vez de estar fora, sob uma tormenta.

       Sua brincadeira era irritante, e ela recolheu rapidamente outro punhado de areia em desafio. Apesar disso, apesar de sua determinação, Alexandria sentiu um peso opressivo em seu peito e ansiosamente esquadrinhou o céu, tratando de permanecer o suficientemente tranqüila para sentir seus arredores, detectar outra presença. Repentinamente, sem nenhuma razão concreta, estava segura de que não estava sozinha, e que o que a espreitava era ruim.

—Se afaste. — ordenou Aidan. Sua voz era fria e determinada e como resposta à força crescente de seus instintos, ela sentiu que ele se elevou no ar.

       Levantou-se, seus olhos investigando a área circundante. O vento jogou seu cabelo por através de seu rosto. Afastou os fios largos e viu um homem balançando-se a grande altura no rochedo. O vento era cruel, e podia ver que ele estava em dificuldades, a beira do aterro que estava desmoronando-se sob seu peso. Alexandria gritou e começou a correr, instintivamente estendendo a mão como se em certa forma pudesse impedir sua queda.

       Como podia não tê-lo visto antes? Sentir sua presença? Por que tinha estado tão egoístamente segura de que era ela quem estava em perigo? Quanto tempo tinha permanecido o homem ali?

—O que é, cara?

       A voz do Aidan era calma e tranqüilizadora e estava mais perto agora, o que era reconfortante.

       Ela se firmou a ele como a um salva-vidas.

— Tem um homem nos rochedos e está caindo.

       Se não tivesse perdido seu tempo sentindo lástima por si mesma, no que havia se convertido, poderia tê-lo salvado. Deveria aprender com Aidan tudo o que ele pudesse lhe ensinar. Poderia haver se movido com sua velocidade anormal e ter pegado o homem antes que ele caísse sobre as rochas lá embaixo.

—Já estou chegando. Mantenha-se longe dele!

       Foi uma ordem, mas uma que ela não poderia obedecer. Embora tivesse poucas esperanças de salvar o desconhecido, tinha que tentar. Correu descalça sobre a areia molhada, seu olhar fixo no escarpado. Por um momento, pensou que o mundo se fazia mais escuro. Logo uma rajada de relâmpagos dançou e crepitou, e uma bola de fogo explorou através da noite, indo diretamente para o homem.

       Alexandria gritou enquanto ele dava cambalhotas para frente, caindo em câmara lenta, uma descida torturante de quarenta metros ou mais. O vento levou seu grito até seu rosto, como uma bofetada. Estava ainda muito longe e era muito tarde, mas correu, de todos os modos. Sem prévio aviso, enquanto corria, golpeou algo invisível. O impacto a atirou ao chão.

       Com o coração palpitando rapidamente, sentou-se, separando o matagal selvagem. Não viu nenhum obstáculo, o impacto não tinha doído, mas quando estendeu a mão, encontrou algo sólido.

—Como pudeste, Aidan?

       Estava assombrada de que ele pudesse detê-la assim, impedindo que fosse em auxílio do desconhecido. Lentamente ficou de pé, estremecida.

       A névoa se rendeu velozmente do mar, empurrada pelos ventos selvagens. Longe dela, do outro lado da barreira invisível, um homem começou a materializar-se. Ao princípio brilhava tenuemente, translúcido, mas logo se solidificou, convertendo-se em um ser escuro e cheio de sombras. Era alto, como Aidan, com os mesmos músculos tensos. Seu cabelo era tão negro como a noite, comprido e amarrado com uma correia de couro na nuca. Seu rosto era belo, sua boca ao mesmo tempo sensual e cruel, sua mandíbula forte. Mas foram seus olhos, que capturaram sua atenção. Eram pálidos, quase iluminados por si mesmos, com um brilhantismo de mercúrio impossível de ignorar.

       Alexandria repentinamente sentiu medo. Aidan exalava poder, mas esse homem era o poder. Ninguém, nada, poderia derrotar tal criatura. Estava segura de que não era humano. Uma mão avançou a rastros protectoramente para sua garganta.

       O desconhecido ondeou uma mão quase casualmente e a barreira desapareceu num instante. Ela não tinha visto a obstrução, mas agora sabia que não existia, que nada havia entre eles, exceto ar. Estava aterrorizada, por si mesmo e por Aidan.

—Você é a mulher de Aidan. Sua companheira. Onde está ele que te permite vagar desprotegida?

       Sua voz era o som mais hipnótico e urgente que ela já havia tinha ouvido. Tão puro. Tão tentador. Ninguém poderia resistir a essa voz suave e musical. Se lhe dissesse que se atirasse no oceano sombrio, se atiraria. Ela curvou seus dedos apertadamente.

—Quem é você?— perguntou.

       Silenciosamente, ela advertiu. — Aidan, tome cuidado. Há outro aqui. Ele sabe que estou contigo, que sou sua companheira. — Tentou não permitir que o estremecimento que tomou seu corpo fosse transmitido por sua voz.

—Olhe-o, pequena. Não tenha medo. Estou perto. Eu verei o que você vê. Conserva sua mente aberta.

       Como sempre, Aidan soou calmo, no controle.

       A boca sedutora do desconhecido se curvou, mas não houve calor na prata mordaz de seus olhos.

—Está lhe falando. Bem. Estou seguro de que ele me pode ver agora. Mas é um tolo por permitir que seus sentimentos para ti o ceguem para com seus deveres.

       O queixo da jovem se levantou.

—Quem é você?— repetiu.

—Sou Gregori, o Escuro. Possivelmente ele já tenha falado de mim.

—Ele é o mais sábio, o mais exigente de toda nossa espécie. — confirmou Aidan. Estava muito perto. — É o maior médico que nossa casta já conheceu e meu professor. É também um amo da destruição e o guarda-costas de nosso Príncipe.

—Assusta-me.

—Ele aterroriza a todo mundo. Só Mikhail, o Príncipe de nosso povo, conhece-o bem.

—Confio em que Aidan tenha boas coisas a dizer, a respeito de mim.

       Ele estava em frente a ela, esses olhos brilhantes investigando diretamente sua alma, mas Alexandria teve o pressentimento de que sua atenção estava em outro lugar. Sua voz era tão pura, tão perfeita, que quis que ele continuasse falando.

       Uma rajada de vento se transformou num redemoinho vertiginoso de areia, que deu voltas até envolver Alexandria, empurrando-a para trás. Quando finalmente recuperou o equilíbrio e desentupiu os olhos, Aidan estava em frente a ela.

— Impressionante, Aidan.— disse o desconhecido com um rastro de satisfação.

—Não vejo ninguém de minha gente por longos anos. — disse Aidan tranqüilamente. — Estou encantado de que você seja, Gregori.

—Usa sua mulher como isca?— O tom foi suave, mas a reprimenda clara.

       Alexandria se irritou, furiosa de que esse homem tentasse fazer Aidan sentir-se culpado por sua independência. Os dedos de Aidan encontraram sua mão por trás dele sem olhá-la, fechando-se ao redor dela como uma cadeia.

—Não se irrite. — advertiu ele. Ela se apaziguou imediatamente, sentindo o espesso perigo no ar.

—Aquele traidor de nossa gente. — Gregori inclinou a cabeça para o homem que jazia ainda nas rochas onde tinha caído. — Ele tratou de tomá-la.

—Não poderia tê-lo feito. — disse Aidan.

       Gregori assentiu com a cabeça.

—Acredito que é verdade. Apesar disso, ela toma riscos que não deveriam lhe ser permitidos. — Uma rede de veias brancas iridescentes acendeu o céu, sustentada, brilhante, num desdobramento poderoso. O relâmpago lançou uma sombra peculiar através rosto escuro, de aparência agradável e dos olhos de prata relampejaram, fazendo Gregori ver-se ao mesmo tempo cruel e faminto.

       Os dedos ao redor da mão de Alexandria se apertaram ainda mais.

—Não te mova, não fale, custe o que custar. — a alertou Aidan em sua mente—. Obrigado por sua ajuda, Gregori. — disse em voz alta, sua voz afetuosa e sincera. — Esta é minha companheira, Alexandria. É nova para nossa gente e não sabe nada de nossos costumes. Consideraríamos uma grande honra se nos acompanhar de retorno a nossa casa e nos dar notícias de nossa terra natal.

—Está louco? — protestou Alexandria silenciosamente, horrorizada. Seria como levar a casa um animal selvagem. Um tigre. Um animal letal.

       Gregori inclinou sua cabeça ante a apresentação, mas a negativa de unir-se a eles foi cristalina em seus olhos de prata.

—Seria imprudente de minha parte ficar sob seu teto. Poderia ser um tigre enjaulado, inconfiavel, imprevisível. — Seus olhos pálidos cintilaram sobre Alexandria, e ela teve a impressão de que ele ria dela. Voltou sua atenção outra vez para Aidan. — Preciso te pedir um favor.

       Aidan sabia o que falaria Gregori e negou com a cabeça.

—Não o faça, Gregori. É meu amigo. Não me peça o que não posso fazer.

       Alexandria sentiu o pesar do Aidan, seu desassossego. Sua mente era uma confusão de emoções e o medo se destacava entre elas.

       Os olhos de prata relampejaram e arderam.

—Fará o que deve fazer, Aidan, tal como eu tenho feito por mais de mil anos. Vim aqui, para esperar por minha companheira. Ela chegará dentro de uns poucos meses para fazer um show, uma função de magia. São Francisco está em seu itinerário. Tenho a intenção de me estabelecer numa casa a grande altura nas montanhas, longe de meu lar. Necessito que seja selvagem, nas alturas e devo estar sozinho. Estou perto do fim, Aidan. A caçada, a matança, é tudo o que tenho. — Ele ondeou uma mão e as ondas do oceano saltaram em resposta. — Não estou seguro se posso esperar até que ela venha. Estou muito perto. O demônio quase me consumou. — Não houve mudanças na pureza doce de sua voz.

—Vá a ela. Chame-a. — Aidan esfregou sua testa com agitação e seu transtorno óbvio alarmou Alexandria mais que qualquer outra coisa. Nada, parecia alterar Aidan antes. — Onde está ela? Quem é?

—Ela é a filha de Mikhail e Raven. Mas Raven não a preparou para o que aconteceria no dia da reclamação. Ela tinha dezoito anos. Quando fui para ela, estava tão cheia de medo que achei que não podia ser o monstro que precisava ser para reclamá-la contra sua vontade. Não a pressionei. Prometi solenemente lhe permitir cinco anos de liberdade. Depois de tudo, unir-se a mim será como se associar a um tigre, não exatamente o mais prazeirozo dos destinos.

—Você já não pode esperar. — Alexandria nunca tinha visto o Aidan tão agitado. Roçou-o com o polegar em uma diminuta carícia através de sua mão para lhe recordar que não teria que encarar o futuro sozinho.

—Fiz uma promessa e a manterei. Uma vez que ela se uma a mim para toda a eternidade, sua vida não será fácil, assim foge de si mesmo como de mim. — A voz de Gregori era tão bela, tão clara. Não havia rastro de amargura, nenhum arrependimento.

— Ela sabe o que você sofre?

       Os olhos de prata brilharam intermitentemente ante a implicação do egoísmo de sua companheira.

— Ela não sabe nada. Esta foi minha decisão, meu presente para ela. O favor que peço é que não me cace sozinho, se for necessário. Necessitará de Julian. Ele é da escuridão.

—Julian é como eu. — protestou Aidan instantaneamente.

—Não, Aidan. — corrigiu Gregori em sua voz hipnótica. — Julian é como eu. É por isso que sai a procurar os raios de ação altos, por que está sempre sozinho. É como eu e te ajudará a me derrotar se houver necessidade.

—Vá até ela, Gregori. — implorou Aidan.

       Gregori negou com a cabeça.

—Não posso. Prometa-me que fará o que te peço. Não me caçará sem Julian.

—Nunca seria tão tolo no que se refere a caçar o lobo mais ardiloso sem ajuda de outro. Permaneça forte, Gregori. — Houve pesar real na voz de Aidan.

—Manterei-me forte enquanto seja capaz, — respondeu Gregori — mas na espera há muito perigo. Serei incapaz de me destruir, antes que seja muito tarde. Estarei muito longe. Você entende, Aidan. A carga desta decisão poderia cair em seus ombros e por isso, peço seu perdão. Sempre pensei que seria Mikhail, mas ela está aqui, nos Estados Unidos. E ela estará aqui, em São Francisco, quando minha promessa terminar.

       Aidan assentiu com a cabeça, mas Alexandria podia sentir as lágrimas ardendo em sua mente, em seu coração. Esforçou-se em consolá-lo, lhe enviar seu calor, mas permaneceu tão quieta como ele havia pedido, não entendendo tudo o que estava dizendo Gregori, mas sabendo que era grave.

—Atenderei teu pedido. Destruirei toda prova de sua existência. — Gregori gesticulou para o corpo ao pé do escarpado. — Mas, Aidan, ele não estava sozinho. Havia outro. Pensei que seria melhor ficar e proteger sua companheira antes de seguir sua pista. Tão perto de me transformar, não quis arriscar duas presas em uma só tarde. — A voz suave e musical poderia estar discutindo sobre o clima.

—Gregori, agradeço-te pela advertência e pela ajuda. Não precisa se preocupar sobre o traidor. Esse é meu trabalho, embora admita que estive atendendo outras coisas recentemente antes que caçar.

—Como deve ser.— reconheceu Gregori com um sorriso suave. — Uma companheira está sempre em primeiro lugar.

— Por que teme que a tua não terá uma vida fácil?— perguntou Aidan.

—Cacei muito tempo para me deter alguma vez. Estou acostumado a minha própria forma de fazer as coisas. Esperei muito tempo, briguei muito duro, e sofri em excesso para permitir a liberdade que deseja. Sua vida nunca será dela, somente o que eu faça com ela.

       Aidan sorriu então, e Alexandria pode senti-lo relaxar.

—Se fez o que diz, antepôs a sua própria comodidade, não terá alternativa exceto permitir sua liberdade.

—Não sou como Mikhail, ou Jacques ou como parece, você. Colocarei sua segurança primeiro lugar. — A voz do Gregori conteve um fio de aço.

       Aidan respondeu com um sorriso, a risada chegou a seus olhos dourados.

—Só posso esperar ter a possibilidade de te vere, Gregori, sob o feitiço de sua mulher. Deve prometer que a trará para nos conhecer um dia.

— Não se terminar como você ou Mikhail. Não destruirei minha perigosa reputação de tal maneira. — Um indício de humor pareceu iluminá-lo e logo desapareceu rapidamente, como se o vento o tivesse levado longe.

—Ocuparei-me do vampiro. — disse Aidan. — Deveria evitar enfrentar a morte.

—Matei-o de longe. Você o encontrará… Inquietante — advertiu Gregori.

—É até mais frio do que me lembrava.

—Adquiri muitos conhecimentos nestes anos. — concedeu Gregori. Seus olhos pálidos descansaram atentamente sobre rosto de Aidan. — Encontrará seu irmão muito mudado também. É um aprendiz nato e sem medo de avançar muito nas sombras. Tratei de lhe advertir o preço, mas ele não escuta.

       Aidan negou com a cabeça.

—Julian sempre disse que as regras estavam feitas para serem mudadas. Sempre seguiu seu próprio caminho. Mas te respeita. Foi à única influência real em sua vida, talvez o único a quem alguma vez escute.

       Gregori negou com a cabeça.

—Ele não poderia escutar mais. O vento e as montanhas, os lugares afastados o chamam. Não esperava poder detê-lo. Ele têm a escuridão dentro, nada poderia enchê-lo.

—Você o chama escuridão. Mas foi essa qualidade em ti a que te fez abrir o mundo para nós. Fez-te sair a procurar das técnicas curativas que me ensinaste, a mim e a outros. Permitiu-te realizar os milagres que realizaste em nossa gente. Fez o mesmo por Julian. — respondeu Aidan brandamente.

       Os olhos de prata empalideceram até voltar-se de aço. Frios. Desolados. Vazios.

—Dirigi a ambos, coisas que nunca deveriam ter sido aprendidas. Com a aquisição de conhecimento vem o poder, Aidan. Mas sem regras, sem emoções, sem um conceito do que é correto ou equivocado, é muito fácil abusar desse poder.

—Toda a Raça dos Cárpatos se dá conta disso, Gregori. —discutiu Aidan. — Você, mais que a maioria, conhece o conceito do bem e o mal. E assim também faz Julian. Por que suportaste, resistindo incólume, quando os outros se transformaram? Lutou pela justiça, por nosso povo. Tem um código, e sempre viveste com ele, como está fazendo agora. Diz que não tem nenhum sentimento, mas e a compaixão que sentiu por sua companheira quando ela estava tão assustada? Não pode se transformar. Cada momento é uma eternidade para voce, sei, mas tem em perspectiva um fim.

       O frio dos olhos de Gregori pareceram transpassar a Aidan com uma estaca, mas o homem mais jovem não se sobressaltou. Sustentou o olhar de Gregori até que Alexandria pôde ter jurado que viu uma piscada de fogo, uma chama, brotando de um ao outro. A boca dura de Gregori se suavizou ligeiramente.

— Aprendeste bem, Aidan. É uma pessoa que cura ao mesmo tempo o corpo e a mente.

       Aidan inclinou sua cabeça em reconhecimento. O vento uivava e as ondas rugiam e Gregori se lançou na escuridão, agitando as nuvens. Uma forma negra se pulverizou através do céu, uma sombra ominosa que obscurecia o firmamento, e logo se moveu para o norte e se desvaneceu como se nunca tivesse existido, levando-a tormenta com ele.

       Aidan se afundou na areia, sua cabeça estava inclinada e seus ombros estremeciam como se tratasse de controlar uma grande emoção. Alexandria rodeou a cabeça varonil com seus braços. Podia sentir os soluços rasgando sua garganta e seu peito, mas ele não produziu nenhum som. Só uma única lágrima, vermelha como o sangue, assinalou seu grande pesar.

—Sinto pena, cara, porque ele é um grande homem. Um homem que nossa gente não pode se dar ao luxo de perder. Senti sua desolação, o demônio interior esperando devorá-lo. Mas ter que honrar minha promessa, ter que caçá-lo… — ele negou com a cabeça. — É um mau pagamento a alguém que dedicou sua vida a nossa gente, a nosso Príncipe.

       A respiração de Alexandria estava presa em sua garganta. Tinha pensado que Aidan era invencível. Capaz, inclusive, de caçar vampiros e triunfar sobre seu poder maligno. Mas Gregori era diferente. Inclusive com dois Caçadores como Aidan, não parecia possível que pudesse ser derrotado.

—Não pode contatar você, a mulher que o poderia salvar?

       Aidan negou com a cabeça com pesar.

—Ele continuaria honrando sua promessa e sua presença só pioraria as coisas.

       Ela tocou seu cabelo com dedos suaves e carinhosos.

—Como eu o piorei para você. — Ela esfregou seu queixo pensativamente contra seu cabelo. — Posso entender porque que a garota tem medo. Você me assustou. Ainda assusta. Mas Gregori… Ele aterra. Nunca gostaria de estar presa a um ser como ele. E ela é só uma menina.

— Por que ainda me tem medo?— Aidan levantou sua cabeça e tocou seu rosto reverentemente com a ponta de seus dedos, com uma ternura que fez seu coração bater forte.

—Seu poder. Sua intensidade. Quando puder me ensinar algumas coisas, não estarei tão nervosa, mas agora parece que tem mais poder, do que qualquer pessoa deveria esgrimir.

—Sua mente tem os mesmos poderes que a minha. Simplesmente tem que pensar no que quer, Alexandria. Se desejar voar, simplesmente mantenha a imagem em sua mente e seu corpo a segue.

       Seu braço rodeou sua cintura e eles se levantaram lentamente no ar.

—Funda-se comigo. Verá por voce mesma. Não há necessidade de me temer nunca. — Ele os colocou amavelmente de volta a Terra.

— Diga-me sobre a 'reclamação' que ele falou. O que ele quis dizer? E quem é Mikhail?

—Mikhail é o mais velho de nosso povo, nosso Príncipe. Dirigiu-nos por séculos. Gregori é só um quarto de século mais jovem, o que em nossos términos, são quase da mesma idade. Nossa gente foi acossada durante anos, obrigada a ocultar-se. Muitos foram massacrados. Nossas mulheres se tornaram tão poucas, que os homens não podem encontrar companheiras que iluminem sua escuridão, e cada vez se transformam em vampiros. Embora ninguém tenha descoberto ainda, as poucas crianças que nascem entre nós são sempre homens e a maioria não sobrevive ao primeiro ano de vida. Essas mulheres que dão a luz e perdem a criança, se desanimam e se recusam a tentar novamente, depois de um tempo. Assim, o homem sem companheira se perde, sem esperança. Ou dá a boas vindas ao amanhecer e perece ou sucumbe ao demônio interior e se converte em vampiro, um verdadeiro predador.

—Que terrível. —Disse ela, o pesar enchendo sua mente e seu coração.

—Mikhail e Gregori estiveram tentando encontrar uma forma de evitar o inevitável, a extinção de nossa raça. Descobriram que um grupo de mulheres humanas possui habilidades psíquicas e são capazes de unir-se quimicamente com nossos homens.

—Como eu.

       Ele assentiu com a cabeça.

—Não acham os homens humanos fisicamente atrativos. Por alguma razão, você não nasceu dentro de nossa raça Alexandria, mas foi concebida para mim especificamente. Seu corpo e o meu têm a necessidade de ser um só. Seu coração e sua alma são a outra metade da minha. Mikhail e Gregori acreditam que essas mulheres psíquicas de descendência humana são capazes de produzir descendentes fêmeas, e que esses meninos também serão capazes de reproduzir-se, ou ao menos é mais provável que produzam meninas. Assim vê por que é tão apreciada.

—O que é a reclamação?

       Aidan deixou escapar sua respiração lentamente.

—Alexandria… — houve vacilação em sua voz.

       Ela se afastou dele, o queixo em alto.

—Adivinho que há uma parte que não me disse. Devo esperar para ter um bebê? Uma garota? Quais são as probabilidades de que minha menina sobreviva?

       Ele estendeu a mão, emoldurando sua face.

—Não a quero para que seja uma procriadora para minha raça, piccola. Quero você só para mim. Não sei as probabilidades de que nossas crianças sobrevivam. Como você, só posso rezar. Teremos que cruzar essa ponte quando chegarmos a ela.

—Se tivermos uma menina, se sobreviver o primeiro ano e crescer, o que ocorrerá então? — Seus olhos de cor safira sustentaram os dourados.

—Todas as filhas são reclamadas em seu décimo oitavo aniversário. Os varões vêm de todas as partes para encontrar à moça. Se a química for correta, então ela é reclamada pelo homem.

—Isso é barbárico. Como um mercado de carne. Ela não tem a oportunidade de viver outro tipo de vida por si mesma.— Alexandria se escandalizou.

—As mulheres da Raça dos Cárpatos se educam sabendo que sustentam o destino de seu companheiro em suas mãos. É seu direito de nascimento, como dar a luz as crianças.

—Não é estranho que a pobre garota escapasse. Você pode imaginar encarar uma vida com esse homem de uma idade tão longa? Que tão velho é? Para ela, deve parecer antiquísimo. É um homem, pelo amor de Deus, não um menino. É difícil e provavelmente cruel e evidentemente sabe mais a respeito de cada tema sob o sol que qualquer pessoa viva.

—O quanto velho pensa você que sou, Alexandria? — perguntou Aidan maciamente. — vivi durante oitocentos anos, e está errevogavelmente ligada a mim. É isso um destino tão terrível?

       Por um momento só houve silêncio. Depois, ela sorriu, travessa.

— Pergunte-me novamente daqui a cem anos. Direi-lhe então.

       Seus olhos arderam em ouro líquido, derretido, cheio de erotismo.

—Volte para casa, minha cara. Terminarei meu trabalho aqui e me unirei a voce.

—Traga o carro.— disse ela—. Quando minha Volkswagen não pegou, tomei essa pequena coisa esportiva que ninguém usa. Stefan disse que estaria bem.

—Já sabia e não ouviu nenhuma queixa. Não há nenhum lugar aonde vá e nada que faça que eu não saiba. Somos um, piccola. — Ele desgrenhou seu cabelo como se ela fosse uma menina, porque seu corpo começava a fazer exigências e os restos de um vampiro estavam a poucas jardas de distância. — Vá para casa, te encontrarei lá.

       Enquanto ele a guiava para o carro, ela se ajustou sob seu ombro para que seu corpo a abrigasse. Alexandria se envergonhou de si mesmo por gostar do sentimento que isso lhe dava. Estava decidida a segirar sua independência com ambas as mãos, especialmente depois do que ele dissera o poderia ser o destino de sua filha. Tinha que ser suficientemente forte para enfrentar a Aidan, se quizesse uma filha que pudesse escolher seu próprio caminho. Teve o pressentimento de que os homens da Raça dos Cárpatos nunca tinham compreendido o movimento de liberação das mulheres do século vinte.

     Aidan observou as luzes traseiras do pequeno carro desaparecer em uma curva na estrada principal. Prendeu o cabelo em uma grossa trança e começou a encarar o sangrento espetáculo nas rochas. Várias semanas atrás, cinco vampiros tinham chegado à área. Moveram-se através dos Estados Unidos em uma farra aniquiladora, acreditando que nenhum dos Caçadores os seguiria desde sua terra natal. Apesar de tudo, eles sabiam que Aidan Savage residia em São Francisco. Por que então teriam decidido tentar risco semelhante? Era porque a mulher de Gregori estava por chegar? Faltavam meses para isso. O que podia ser, então? O que poderia ter levado os vampiros a um dos poucos lugares nos Estados Unidos onde residia um dos melhores Caçadores?

       Atravessou a areia com seus passos longos e rápidos. Haviam sentido a presença de Alexandria quando ele ainda não? O que estava levando-os a São Francisco? Sabia que vários renegados tinham preferido ir para Nova Orleáns, porque a cidade tinha reputação por sua depravação e ser a capital dos delitos de homicídio nos Estados Unidos. Os Anjos também os atraía porque sua violência freqüente esconderia suas manobras. Ele caçava também nesses lugares, quando sabia de suas atividades.

       Quando alcançou o corpo do vampiro, que encontrou já enegrecido e chamuscado, o cabelo ardia a fogo lento. Emitia o cheiro inconfundível do mal. Se isso tinha espreitado Alexandria, sem dúvida sua casa estava sendo observada. Contemplou o céu noturno e enviou seu desafio. As nuvens correram a toda velocidade, escuras e ominosas, pressagiando a vingança.

—Venham a mim. Veio a minha cidade, procurando minha casa, minha família. Estou esperando.

       O vento arrastou suas palavras à cidade, e em alguma parte, longe, como um trovão distante, um bramido de cólera lhe respondeu, o latido frenético dos cães somando-se ao estrépito.

       Seus dentes brancos brilharam como os de um predador enquanto Aidan enviava sua risada silenciosa encontrando seu caminho até seu adversário. Feito o desafio, inclinou-se sobre o que ficava do vampiro. Embora tinha passado muito tempo com Gregori, nunca tinha visto algo parecido antes. O peito do vampiro estava aberto, mas seu sangue poluído não derramou porque a ferida havia sido cauterizada pela explosão. O coração se tornou negro, um amontoado de cinzas imprestáveis. Negou com a cabeça. Gregori estava em seu ânimo mais letal.

       Aidan se separou da abominação com um sentido de tristeza e impotência. Tinha conhecido a essa criatura, havia crescido com ele. Esse homem era perto de duzentos anos mais jovem que ele, mas já se transformara. Por que? Por que alguns deles resistiam e alguns cediam tão rapidamente? Teria algo a ver com a força de vontade dos que resistiam? Uma perda de fé nesses que se transformavam? Mikhail e Gregori lutavam interminavelmente para levar esperança a sua raça, mas esse homem era a prova de que não tinham êxito. Muitos deles se tornavam vampiros, e o número aumentava a cada século que passava. Não era estranho que Gregori estivesse cansado de caçar, de brigar contra o demônio que residia sempre dentro dele. Como caçar aos antigos amigos, século após século, sem tornar-se tão desesperado como aqueles que perseguia?

       Aidan tinha que ir para casa. Necessitava dos braços de Alexandria a sua volta. Necessitava de seu calor e sua compaixão. Necessitava de seu corpo quente em torno dele, lhe dizendo que estava vivo e não havia se tornado mau. Mas havia sentenciado a morte, muitos de sua classe, esses que se transformaram, que conhecia.

—Aidan, volta para casa, para junto de mim. Não é letal. É terno e amável. Se olhe com Joshua. Com Enjoe e Stefan. Gregori te deixou melancólico.

—Tantos de minha gente se perdem. — ele se angustiou.

—Então mais razão para brigar, para seguir em frente. Há esperança. Não nos encontramos? Os outros o farão também.

       Ela o enviou uma imagem, de seu suéter flutuando para o chão banheiro do terceiro andar, na suíte principal, na úmida e quente banheira de espuma.

       Ele começou a rir, seu espírito levantando-se rapidamente. Alexandria estava esperando por ele, sexy e doce. A luz para sua escuridão, um farol para guiá-lo para casa.

—Isso não é tudo o que sou. — Sua voz era provocadora. Uma parte da roupa íntima de renda flutuou para o chão e encheu sua mente. Seus seios estavam nus, cheios, tentadores. Ela sorria, o convite de uma sereia. — Me mantém esperando.

— Me mostre.

       Mantendo a imagem em sua mente, ele tirou o cadáver cheio de cicatrizes e começou a construir a intensidade da tormenta.

       A mão feminina chegou a sua calça jeans. Com lentidão infinita, ela deslizou cada botão de sua casa. A respiração de Aidan ficou presa na garganta enquanto ela enganchava os polegares no cinto e fazia descer pouco a pouco, a calça sobre seus quadris.

—Venha para casa e olhe.

       Havia necessidade em sua voz, uma pequena isca oculta que provocava seu sangue a esquentar apaixonadamente. Ele levantou o rosto para os céus, convocou às nuvens que formaram redemoinhos rápidos e obedeceram as suas ordens. Como o rugido em seu sangue, as ondas saltaram e se arrebentaram contra a borda, molhando oos rochedos com rocio e espuma. O trovão retumbou ominosamente, e as veias de um relâmpago brilharam intermitentemente dentro das nuvens.

—Venha para mim, Aidan. — Ela era a tentação. Era a luz enquanto ele criava a escuridão.

       O relâmpago brilhou intermitente no chão, iluminou a areia com um feixe de faíscas, com línguas vermelhas de chamas que lambiam seus pés. Ele podia senti-la mover em sua mente, sua boca em sua pele, a sensação apagando a dor da morte de um velho amigo. Perder tantos de seu povo quase o enlouquecia.

       Aidan levantou uma mão mais no alto e começou a recolher as faíscas em uma bola de fogo. Levantou o rosto para os ventos selvagens. Não poderia imaginar nunca fazer isso a Gregori. Mesmo se pudesse derrotar Gregori, não poderia fazer isso. Quantas vezes, Gregori se viu forçado a caçar a um amigo? Um parente? Um companheiro de jogos de infância? Quantas manchas na alma, podia suportar alguém, antes que não houvesse redenção?

— Estou aí contigo, Aidan. — A voz de Alexandria foi um sopro de ar fresco e limpo, não tocada pelo mal que estava diante dele. — Sua alma não é escura. Posso vê-la, posso senti-la, posso tocá-la com a minha. O que faz você, faz por necessidade, não por desejo. Seu amigo luta por se salvar. Se sua alma fosse escura, não me protegeria. Teria me pegado depois do segundo vampiro, pelo gozo da caçada, de obter a presa. Mas ficou, Aidan. E foi viver sozinho onde a violência não possa tocá-lo, onde tem a possibilidade de esperar até cumprir seu juramento. Esse voto de por si, deveria te dizer algo. Ele não é vampiro egoísta, nem sequer está perto disso. Ele pensa nela. Termine sua tarefa, desagradável como é, e volte para mim. Pense em mim.

—Freqüentemente terei que ir a você, com sangue nas mãos.

       Houve um pequeno silêncio. Logo ele sentiu o ligeiro roçar de sua mão e se sentiu assombrado de que ela tivesse estendido a mão para ele quando nunca havia sido ensinada. As pontas de seus dedos acariciaram seu queixo e seu pescoço, mostrando ternura.

— Estive nas mãos de um vampiro, Aidan. Esquece que conheço a fealdade do mau. Não está em voce, como parece pensar. Você caça porque deve, não por uma necessidade de conseguir presas. Possivelmente alguns desses que se converteram em vampiros foram bons homens, mas o homem que uma vez conheceu, a muito tempo desapareceu desta terra. Possivelmente Gregori e você lhe dêem paz.

       Aidan permitiu que suas palavras limpassem o pesar de sua mente, o temor e o medo terrível que sua presença em sua vida tinha permitido sentir. Negou com a cabeça sobre a ironia disso. Não havia sentido emoção por tantos séculos, e agora, porque Alexandria tinha entrado em sua vida, conhecia a carga terrível, o pesar do Caçador.

       Enviou a bola de fogo para o vampiro morto, sua atenção agora enfocada em sua tarefa. A bola entrou no peito arruinado, e ante seus olhos o traidor enegreceu, murchando-se, convertendo-se em cinzas sobre a terra outra vez. Com o olhar fixo nas cinzas, levantou o vento com uma mão. A lufada de ar não veio do mar, mas da terra, pulverizando as cinzas nas ondas que as levariam a um lugar de descanso apropriado. Aidan murmurou um cântico antigo para limpar-se a si mesmo assim como também, seu amigo cansado. Endireitando os ombros, manteve-se suspenso e se voltou em direção a sua casa.

       Podia ouvir o som da água, o murmúrio de prazer de Alexandria enquanto ela entrava na banheira. Podia sentir seu perfume, cativando-o. Sorrindo, elevou-se no ar, sentindo o movimento sobre seu corpo, limpando-o.

 

       Alexandria estava sentada na enorme banheira de mármore, seu cabelo recolhido em um coque, as bolhas de espuma, roçavam sua pele como dedos diminutos. Aidan fez uma pausa na porta, seu rosto com expressão apagada, seus olhos mantendo as sombras, uma expressão triste e obsessiva que ela quis apagar para sempre.

       Quando havia sentido sua dor profunda e perturbada, deliberadamente lhe havia enviado imagens eróticas, desejando ajudá-lo e consolá-lo. De longe, foi fácil permitir dar rédea solta a imaginação sabendo que não tinha que olhar em seu rosto. Entretanto, quando pensou em sua volta, o acanhamento tomou sua mente, ao pensar que teria que confrontar, não importava como, as imagens vívidas e caprichosas tinham criado.

       Agora, entretanto, ver seus olhos belos e escurecidos contendo tanto pesar em suas profundezas, desvaneceu cada vestígio de acanhamento. Faria qualquer coisa, para expulsar essa dor.

       Aidan estava tão cansado que sentiu que nunca poderia mover-se outra vez. Só podia estar parado na soleira da porta e olhar Alexandria, incapaz de acreditar em sua sorte, incapaz de acreditar que ela estava realmente com ele. Ela estava para sempre, em sua vida. Por que ele? Por que continuar com o olhar fixo nesses enormes olhos, de cor safira, que transbordavam de alegria ao vê-lo? Por que não Gregori, que tinha dado tanto a seu povo, que tinha suportado tanto e perdido muito de si mesmo no processo? Por que não Julian, seu companheiro de alma, seu irmão gêmeo, tão escuro e retorcido em sua solidão? Por que os deuses haviam preferido favorecê-lo?

—Porque fomos feitos o um para o outro. — disse Alexandria, com suavidade, lendo seus pensamentos.— Gregori tem sua companheira, Aidan, e ele escolheu lhe dar o tempo necessário, para ela crescer. Manterá-se firme. Tem a esperança para mantê-lo forte. Por isso respeita a seu irmão, conheço-o por seus pensamentos e suas lembranças. Ele tem sua força, e resistirá sempre se for necessário.

       Aidan arrastou uma mão indecisa através de seu cabelo açoitado pelo vento. Apoiou seu peso contra a soleira da porta e simplesmente a observou com seu olhar dourado. Ela era tão bela, tão valente. Fazia ele realmente algo em sua vida para merecê-la, para merecer a felicidade que ela havia lhe trazido, a alegria?

       Alexandria negou com a cabeça. Um sorriso lento curvando sua boca, acentuando a covinha que tanto o fascinava.

—É obvio que não me merece. Sou tão boa e valente, sou perfeita.

       Seu sorriso o tentava, francamente sexy, e enquanto trocava de posição ligeiramente sob as bolhas efervescentes, seus seios cheios e firmes, irromperam a superfície, convidando seu olhar fixo e repentinamente quente.

— Você é tão bela. Nunca se esqueça disso. — ele disse brandamente, antes de se endireitar o corpo.

       Ela sentiu seu coração saltar ante a antecipação.

—Talvez. Você certamente me faz sentir bela.— Alexandria inclinou o queixo, seus olhos, sexys e especulativos. Esse olhar fez o sangue do homem borbulhar.

       Sua mão foi aos botões da camisa. Preguiçosa e lentamente desabotoou cada um deles, seus olhos mantendo o olhar da jovem. Ela não afastou os olhos nem se mostrou assustada. Sorriu. Um lento e sexy sorriso de convite.

—Tem em mente algo, piccola? — perguntou Aidan, sugestivamente. Seu corpo pulsando por antecipação.

       Ela encolheu os ombros, num movimento preguiçoso que enviou ondas ao longo da superfície borbulhante da água.

—Decidi que agora seria um bom momento para provar alguma dessas suas fantasias.

       A camisa flutuou para o piso sem que ninguém emprestasse atenção. Ela tinha olhos só para ele, um canto urgente em seu sangue, um fogo que a arrebatava.

—Tenho fantasias?— perguntou ele mansamente. Seu corpo estava tenso, rijo e necessitado. Pouco podia falar, pouco podia se mover.

       O riso caiu sobre sua pele carinhosamente.

—Diria que algumas bastante interessantes. Mas não se entusiasme muito. Vamos começar com algo fácil.

       Suas sobrancelhas se levantaram enquanto ele se inclinava para tirar os sapatos e as meias. Cada um de seus movimentos era pausado e preguiçoso, mas seus olhos estavam derretidos de calor, enquanto seu olhar a devorava. A respiração de Alexandria ficou em sua garganta. Ele se inclinava, um movimento casual, cotidiano, mas seu rosto era escancaradamente sensual, seu corpo fluido, mas controlado. Ela mordeu o lábio, seus cílios baixando para esconder a onda repentina de desejo.

—Preciso que me deseje, Alexandria. — ele a repreendeu carinhosamente. — Preciso saber que me quer. Não se esconda de mim.

       Apesar do embaraço, sua boca já se curvava em resposta. Suas covinhas tornando-se mais fundas.

—você é belo demais, formoso demais , Aidan.

—As mulheres são formosas, os homens não.

—Você é formoso. — corrigiu ela—. Veja-se através de meus olhos. — Era um desafio tentador.

       E ele o encontrou difícil de resistir. E havia algo de sexy em se ver, da mesma da forma em que ela o via. O desejo, a necessidade. A fome. Suas mãos desceram até a calça, baixando-as pelos quadris com uma lentidão deliberada, provocando a sensação de antecipação que crescia, cada vez mais, dentro dela.

—Olhe?— Ela trocou de posição, ajoelhando-se na banheira, as bolhas explorando seus peitos nus e brilhantes com gotas de água.

       Seus olhos permaneceram nos quadris masculinos e o membro e proeminente enquanto ele entrava na banheira, as bolhas formando redemoinhos ao redor de suas pernas como línguas diminutas lambendo sua pele.

       Alexandria deixou escapar sua respiração lentamente. Suas coxas eram colunas firmes e musculosas cobertas de um fino pelo dourado. As mãos femininas, logo, deslizaram-se pelas panturrilhas, urgindo-o a aproximar-se mais. Sentiu o pequeno tremor que o percorreu, e ela sorriu tentadoramente.

       As pontas de seus dedos avançaram lentamente sobre os músculos esculpidos, e sua respiração, quente e tentadora, alcançou a pesada ereção.

       Aidan fechou os olhos, estático. A língua de Alexandria se movia em uma carícia lenta e lânguida sobre a ponta de seu sexo rijo. Osmusculos de seu estômago se contrairam, quando a boca premente, ardente e úmida, fechava-se ao redor dele. Um gemido se rompeu em alguma parte, em seu interior. Aidan prendeu seu cabelo em seus punhos, arrastando-a até mais perto dele e seu corpo quase explodiu de prazer quando as mãos da jovem procuravam suas nádegas e o urgiu a entrar mais profundamente nela. Com a boca feminina apertada em torno de seu membro, seus seios suaves pressionando suas coxas, as bolhas acariciando suas pernas e o cabelo sedoso enrolado em seus punhos, cada pensamento foi afastado de sua mente até que só ficou ela e as sensações loucas e puras, que provocava.

       Os dedos de Alexandria massagearam seus glúteos, pressionando o rosto contra os músculos pesados, urgindo-o para frente. Então ele se moveu num golpe lento e longo, apertando os dentes contra o prazer que quase o consumia. Os lábios exigentes se moveram sobre ele, uma e outra e outra vez. Suas mãos sustentavam o cabelo dela tão duramente que temeu machucá-la, mas não conseguia controlar a resposta involuntária. Sua mente procurou a dela e encontrou excitação, necessidade, uma total vontade de compartilhar seu prazer. Ela sabia o que estava fazendo e o gostava, desfrutando de seu poder sobre ele. Cada pensamento sensato desapareceu, cada cautela, cada preocupação. Existia só seu corpo, sua boca, a percepção de sua pele clara e as bolhas de espuma dançando em volta deles. Fogos. Terremotos. Um relâmpago branco. Ele encontrou-se inexoravelmente empurrado contra ela, sua cabeça para trás, sua alegria e seu êxtase não só físico, mas também uma parte de sua alma.

       A fome de Aidan aumentou até que as urgencias de sua raça o sobressaltaram, insistindo em que devia antepor o prazer de sua companheira ao dele. Com um grunhido suave e possessivo ele a empurrou para trás, na água, seu olhar lambendo sua pele nua como lava quente. Ela só teve tempo para emitir um único grito inarticulado antes que sua boca estivesse em sua garganta, em seus seios e suas mãos, multiplicadas, por todo seu corpo. Ela se sentia pequena, delicada sob suas mãos, sua pele quente e escorregadia pela água. Ele explorou cada centímetro de seu corpo, enquanto seus dedos encontraram sua cremosa necessidade por ele. Abriu-se como uma flor e o incentivou a entrar dentro dela, observando seus olhos. Seu corpo respondeu com uma nova onda de desejo abrasador.

       Ele penetrou-a mais profundo, sua boca nela, no corpo amado. Seus dentes mordiscando seus seios, seu estômago. Podia sentir a pulsação firme, apertada e lisa dos músculos em volta de seu membro que lhe parecia, aveludado e quente. Sem conter-se, levantou-os fora da água.

       Mais lento, mais lento, repetia sua mente, mas seu corpo tinha outras idéias. Sentia-se arder, sua pele queimando-se. Sua boca substituiu seu membro, querendo levá-la ao mesmo nivel de extase que ele experimentava. Ela gemeu, choramingou e os sons o deixavam louco. Sua mulher tinha sabor de mel quente, picante e aditiva. Ele a atacou. Ardendo de necessidade, de amor e de luxúria violenta e insaciável.

       Sob o ataque de sua boca, ela se contorcia, gritando. A água saía por cima das laterais da banheira. Seu corpo se alongou, desprendido, onda atrás de onda de sensações insanas tomando-a vertiginosamente. Segurou-se nele para se sustentar, quando perdia o controle num passeio terrível e maravilhoso que durou para sempre.

       Aidan finalmente levantou a cabeça, seus olhos famintos, sua boca sensual. Aproximou o corpo dela para o seu, envolvendo suas pernas torneadas ao redor de sua cintura.

—Você me deixa louco, Alexandria. Deixa-me completamente louco de desejo.

       Sua voz era rouca, e se pressionou contra ela, denso e grosso, empurrando tão agressivamente que seu corpo se abriu, deixando-o entrar. A sensação foi deliciosa, arrasadora. Um ardor lento e longo, tomando-a firmemente, esticando-a ao redor dele numa fricção indelével, quase sobrenatural. Suas mãos imobilizaram sua cintura pequena, sujeitando-a firmemente enquanto ele a penetrava com lentidão, entrando profundamente em seu sexo fremente, ardente e úmido.

— Olhe-me, Alexandria. Confirme que sou seu companheiro e que estará sempre a meus cuidados. — ordenou ele com suavidade e com ternura, mas seu olhar dourado sustentando o azul, forçando a última intimidade, desejando-a por completo a cada polegada. Desejando que se unissem totalmente, corpo e corpo, mente e mente, alma e alma.

       Ele começou a mover-se. Num lento cadenciar de quadris, tomando-a profundamente em cada penetração. Ela mordeu o lábio, as gotas diminutas de sangue fizeram que as presas surgissem em sua boca. Suas mãos a trouxeram mais perto ainda, para que ela arqueasse seu corpo, sua cabeça para trás, sua garganta vulnerável e exposta, seus seios igualmente tentadores. A língua masculina lambeu as gotículas de água das pontas rosadas e duras e se moveu para cima, traçando as curvas cheias até que sua boca descansou sobre a pulsação de seu pescoço.

       Ele sentiu antecipadamente a forte necessidade de seu corpo e seus dentes a roçaram amavelmente até que ela gemeu e segurou sua cabeça ambas as duas mãos. A satisfação brilhou nos olhos dourados. Sua língua acariciou sua pulsação enquanto seu corpo se movia no dela. Ele empurrou seus quadris, cadenciadamente, mas mais intensamente.

—Aidan!— Seu grito suave foi uma súplica.

—Ainda não, cara, ainda não. — Com sua enorme força, ele se levantou, levando-a com ele, derramando a água da banheira. As pernas dela rodearam seu corpo, suas mãos ao redor de seu pescoço e ele empurrou mais fundo, desejando enchê-la por completo.

       As unhas alongadas incrustaram-se em seus ombros numa dor deliciosa. Ele a apoiou contra a parede para sustentar-se melhor, seu movimento tornou-se selvagem, seus quadris movimentando-se, implacáveis e frenético. Seus dentes a acariciaram e morderam-na. Ela gritou pela dor penetrante, mas doce e sensual, à medida que suas presas se aprofundavam. Reclamava seu sangue, tão insaciavel, como seu corpo a reclamava.

       Ela o havia enlouquecido e sua natureza predadora o dominou. Aidan era o varão selvagem de sua espécie, possessivo e dominante, afirmando sua união, sua posse. Sua boca se dedicou à pequena garganta, tomando seu ser como o corpo dela tomava o seu, arrastando-o dentro dela, apertando-se em volta dele, estendendo-se e demandando até que teve que gritar pela intensidade do prazer. As gotitas cor rubi caíram sobre a curva de seu peito, e sua língua seguiu o rastro.

       Alexandria ascendia vertiginosamente. A ferocidade do amor de Aidan deveria aterrorizá-la, mas ela igualou sua intensidade, pulsação a pulsação, seus punhos envoltos no cabelo dele, seu corpo envolto em torno no dele apertadamente, seus gritos amortecidos contra seu ombro.

       O grito, rouco de paixão, elevou-se à altura dos céus, levado pelo vento. E enquanto ele a sujeitava, respirando firme, apoiando aos dois contra a parede, através da noite chegou uma resposta.

       Era de cólera. De fúria. Um uivo do vento, repentinamente feroz. O som os açoitou, cheio de ódio.

       Alexandria, assustada, olhou para a janela.

— Aidan, ouviu isso?

       Lentamente, contra a vontade, ele a baixou até seus pés, seu braço ainda rodeando sua cintura.

—Sim, ouvi. — admitiu asperamente.

       Fora, as nuvens começaram a escurecer-se ominosamente, malignamente. Um granizo do tamanho de um punho golpeou o teto e as janelas. Instintivamente, Aidan a girou, envolvendo-a protetoramente, temendo que o gelo atravessasse as janelas e pudesse machucá-la.

— É Gregori?— murmurou ela, recordando o poder impressionante que brotava do homem.

       Aidan negou com a cabeça.

—Se Gregori nos quisesse mortos, Alexandria, há tempo teríamos ido deste mundo. Não é ele. É o último do grupo dos vampiros que entrou na cidade, não sei com que propósito. Com a audição incrível de nossa raça, suponho que não gostou do amor que compartilhamos.

—Soou perigoso. — disse ela - Como um urso ferido.

       Aidan levantou o queixo da jovem, seus olhos dourados movendo-se sobre seu rosto, possessiva e meigamente.

—É perigoso, piccola. Por isso é que devo caçar os de sua classe e me ocupar de que não cause mais sofrimento a humanidade.

       Olhando seu rosto liso, seu nariz arrebitado, seus lábios inchados e suas faces ruborizadas por fazer amor, não pôde resistir a inclinar a cabeça até a dela e reclamar sua boca com um beijo tenro.

—Obrigado, cara, por me liberar de meus demônios particulares.

       Ela se afundou de volta na banheira, os pequenos de água estavam sem pressão, agora silenciosos, e o contemplou com seus olhos enormes.

— ele pode te matar?

—Suponho que sim, se me descuidar. — Ele se sentou frente a ela, a água levantando-se com seu peso. — Mas não me descuidarei, piccola, nem por um momento. Amanhã à noite devo caçá-lo. Ele me está esperando.

—Como sabe?

       Ele se encolheu de ombros casualmente. Poderiam ter estado discutindo sobre o clima.

—Ele nunca teria enviado um desafio se não tivesse ideado uma armadilha. Adquiri uma certa… Reputação entre os vampiros.

       Ela levantou seus joelhos e apoiou o queixo sobre elas.

—Desejaria que simplesmente se fosse, que encontrasse outra cidade para aterrorizar.

       Ele negou com a cabeça, seus olhos dourados amorosos.

—Não, não é verdade que queira isso. Além disso, nunca lhe permitiria matar injustificadamente em nenhum lugar próximo. Meu trabalho freqüentemente implica viajar, você sabe.

—Ele é o assassino em série que saiu nos periódicos recentemente?— adivinhou sagazmente.

—Um deles. Outros estão mortos agora.

       Ela retorceu seus dedos com agitação.

       Aidan apanhou sua mão reconfortantemente.

—Não se preocupe, Alexandria. Protegerei-a dele.

—Não é isso, Aidan. Sei que o fará. É só que agora que te conheço, agora que conheci Gregori e sei que faz que alguém se transforme em vampiro, não tem alguma maneira de… Curá-los?

       Ele negou com a cabeça tristemente.

—Sei que sente tristeza por eles e por aqueles de nós que devem destrui-los, mas a maior parte das vezes é uma escolha consciente de sua parte. E uma vez que se assassina enquanto está alimentando, durante a tira do sangue, não há forma de retornar atrás.

       Ela encontrou seus olhos de cheio.

—Gregori fez isso.

Seu olhar dourado foi repentinamente frio e especulativo.

—É impossível.

—Sei que fez. Ele lamenta amargamente, e o está morrendo por dentro, mas assassinou um ser malvado usando esse método. É certo, Aidan, eu sei. Algumas vezes vejo coisas nas pessoas que os outros não podem ver.

—Ele se transformou?— Sua voz teve uma inflexão tranqüila, vazia, e permaneceu muito quieto enquanto aguardava sua resposta.

       Ela negou com a cabeça.

—Ele pensa que é mau, entretanto em seu interior há uma tremenda compaixão. Mas é perigoso, Aidan. Muito perigoso.

— Os vampiros são peritos em distorcer a verdade. São mentirosos consumados. Está segura de que Gregori não se trasformou?

       Ela assentiu com a cabeça, confirmando.

—Tenho-o. Ele se teme. Como disse, é como um tigre, imprevisível e perigoso. Mas não é mau.

     No exterior, as nuvens enegreciam o céu cinza do amanhecer. Aidan sorriu com ar satisfeito e ondeou uma mão e instantaneamente as nuvens começaram a dispersar-se.

—O vampiro que resta, está tentando me intimidar com um desdobramento de poder, e eu permito para lhe dar uma falsa sensação de segurança. Mas o amanhecer está ante nós, e ele deve procurar o refúgio da Terra.

       Alexandria relaxou um pouco. Não gostava de pensar que o vampiro pudesse estar justamente fora, em sua janela, escutando sua conversa.

       Aidan negou com a cabeça.

—Se ele estivesse tão perto, piccola, saberia.

       Ela riu.

—Ainda me esqueço que pode ler meus pensamentos. Algumas vezes é muito desconcertante.

—Algumas vezes pode ser muito interessante.— Seus olhos estranhos e brilhantes cintilaram ao olhá-la, enviando um calor que se estendeu por seu corpo inteiro.

— Sua mente também é interessante. — concordou ela, um sorriso curvando sua boca. — Tem muitos tipos de idéias sugestivas.

—Por que não recomeçamos.— disse ele suavemente. Inclinou-se para ela, segurando um seio em sua mão, seu polegar acariciando o mamilo duro.— Amo tocar você e ter a liberdade de te acariciar sempre que desejar. — A ponta de seu dedo acariciou sua garganta, a marca que deliberadamente tinha deixado nela.

       Ela sentiu seu contato em seu corpo inteiro.

— Você deveria ser declarado ilegal, Aidan. Sabe? Todos os meus recentes esboços para os personagens de Thomas Ivan começaram a se parecer com voce. Não consigo evitar. Será que Thomas importará?

       Seus olhos brilharam intensamente ao contemplá-la.

—Thomas Ivan é um idiota.

—Seus conceitos são inovadores e populares, e casualmente é meu chefe.— ela disse ela. — Você simplesmente é ciumento.

—Mais um de meus hábitos ruins, sem dúvida. Não tenho a intenção de te compartilhar, Alexandria. — Abruptamente a soltou. — Não quero que outro homem te toque.

—Trabalhar juntos não significa dormirem juntos. —ela falou pacientemente, mas com a secreta convicção de que facilmente romperia a relação de trabalho com Ivan se verdadeiramente causava desassossego em Aidan.

—E você crê que ele aceitará isso?

—Não terá alternativa. Direi-lhe que você e eu estamos comprometidos. Terá que aceitar.

— Farei os preparativos para me casar contigo manhã pela manhã. Tenho algumas amizades que podem apressar a marcha do processo, e nos ocuparemos da licença e de todo o resto.

       Ela se recostou. Seus olhos de cor safira repentinamente cuspiam fogo.

—Você vai fazer isso? Fará isso?— repetiu, incapaz de acreditar no que ele havia dito. Nesse momento, não se casaria com ele nem que fosse o último homem na Terra. — Não pediria nenhum compromisso de voce, Aidan. Nem tem que proteger minha honra.

       Ele a observava cuidadosamente, de repente imóvel.

—Temos um compromisso entre nós, Alexandria. Somos companheiros para toda a eternidade. Permaneceremos juntos até que também juntos decidamos encontrar o sol. Mas seu chefe tão imaginativo e tão idiota não respeitaria essa união, inclusive não a entenderia. Entretanto, entenderá a cerimônia humana do matrimônio.

—Não entendo esse assunto de companheiro, tampouco. Apesar de tudo, como Thomas, entendo o sacramento do matrimônio. Não porque me tenha perguntado isso. Não porque respeite a instituição em que me criaram acreditando. Acho sua atitude extremamente ofensiva, Aidan. — Ela estava tentando esconder sua dor dele, mas seu rosto expressivo e o brilho de seus olhos, a teriam delatado se ele não pudesse ler seus pensamentos.

       Ele negou com a cabeça tristemente.

—Compartilhamos tudo, Alexandria, incluindo nossos pensamentos. Machuquei-te involuntariamente e certamente não tive a intenção de fazê-lo.

       Ela ficou de pé, a água diluviando em sua pele.

—Poderemos compartilhar nossos pensamentos, mas não parecemos entender um ao outro. — Pegando uma toalha, ela enrolou em volta do corpo, como um sarong, seus olhos meticulosamente evitando os dele.

—Acredito que possivelmente o fazemos. Teria gostado que te pedisse em casamento na forma humana. — Ele estendeu a mão, um preguiçoso ondear de músculos e segurou seu tornozelo com os dedos, uma cadeia de aço impedindo sua fuga.

       O ato extraordinariamente íntimo enviou chamas através de sua corrente sanguínea. Alexandria resistiu ante sua habilidade de incendiar seu corpo simplesmente com um contato, apenas com um olhar. Podia sentir a eletricidade entre eles, ver a fome em seu olhar.

       Negou com a cabeça.

—Não o faça, Aidan. Isto é importante. Simplesmente não pode me machucar quando quiser e logo fazer amor comigo até que não possa pensar corretamente.

       A expressão de aidan mudou. Ele ficou em pé tão abruptamente, que ela deu um passo para trás, intimidada por seu tamanho.

—Não faça isso, cara minha. — Sua voz foi uma carícia, uma súplica. — Nunca me tema. Nunca te machucaria. Já somos um. Pensei que entendia isso. Está irrevogavelmente atada a mim para sempre. É um laço muito mais profundo e mais firme que uma cerimônia de matrimônio. Devo admitir que deveria ter pensado que a cerimônia de matrimônio era importante para voce, mas em minha arrogância, como pertence agora à Raça dos Cárpatos, acreditei que você notasse que estamos 'casados', unidos para sempre. E foi no momento em que as palavras do antigo ritual foram pronunciadas. O rito foi completado quando compartilhamos nosso sangue, nossos corações, nossos corpos e almas. Mas só as palavras eram irrevogavelmente vinculantes. É a 'cerimônia de matrimônio' de nossa gente. — Seus braços a envolveram e atraíram o corpo que resistia, rígido. — Perdoe minha presunção, cara, e compreenda que quero me casar contigo na cerimônia humana porque é importante para voce.

       Sua voz hipnótica se espalhou sobre ela como água, arrancando seu ressentimento como se nunca tivesse existido.

       Alexandria descansou contra ele, pressionando-se contra seu calor.

—Esta vida é tão assustadora, Aidan. Quero tantas coisas como são possíveis e pareçam normais, ou aconteçam como se fossem. Coisas simplesmente familiares e singelas. Posso digerir melhor desse modo.

— Sabe, piccola?— brincou ele, acariciando sua face com dedos suaves. — Os homens da Raça dos Cárpatos nunca perguntam a suas consortes. Simplesmente as reclamam. Mas quer que lhe peça isso formalmente?

       Ela esfregou a face contra seu peito.

—Significaria muito para mim se o fizesse. — admitiu.

— Suponho que deveria fazer isto bem. — disse ele baixinho, tomando sua mão e apoiando-se em um joelho. — Alexandria, meu único amor, deseja se casar comigo amanhã pela manhã?

—Sim, Aidan. — respondeu a jovem timidamente. Logo, ela estragou o efeito sorrindo abertamente. — Mas temos que fazer exames de sangue. Ninguém pode simplesmente casar-se em um minuto.

       Ele se levantou.

—Esquece o poder de persuasão da mente. Estaremos casados amanhã pela manhã. Agora se vista, cara. Está me tentando outra vez.— Suas mãos vagaram por seu corpo magro para acariciar seu traseiro.

       O sorriso de Alexandria era ligeiramente torcido.

—Vai me dar toda classe de problemas com seus costumes machistas?

       Ele riu em resposta.

—Eu penso que seja você, a me dar todo o gênero de problemas com sua maneira independente de pensar.

       Ela inclinou seu queixo.

— Ouvi a palavra “compromisso” antes? Compreende seu significado?

       Ele se colocou pensativo, ganhando tempo antes de responder.

— Como eu o entendo, compromisso quer dizer que você fará o que eu digo ou que ordeno. É correto?

       Alexandria empurrou seu peito.

— Nem sonhando, senhor Savage. Não vai acontecer nunca.

       Ele imobilizou seus braços pelos lados de seu corpo e acariciou com o nariz a parte superior de sua cabeça.

— Veremos, meu amor. Já veremos.

       Sorrindo, Alexandria se separou dele e começou a se vestir. O amanhecer iluminava o céu, e com ele, a letargia terrível que começava a ser familiar para ela. Queria ver Joshua, tornar as manhãs normais com seu irmão. Vesti-lo, alimentá-lo, passar o tempo com ele antes que fosse para a escola.

       Aidan a permitiu escapar dele, deixando-a continuar com suas ilusões de normalidade enquanto fosse possível. Gostava de vê-la feliz, e tinha um mau pressentimento sobre o desafio patente do vampiro. A criatura estava tramando algo. Ele era o último que restava do grupo que havia chegado à cidade, aterrorizando à população e levando a polícia a uma busca sem sentido. O vampiro não era estúpido; teria estudado Aidan e suas forças, suas debilidades antes de formular o desafio. Até onde chegaria?

       Deslizou-se através da casa silenciosamente, registrando cada entrada, cada janela, e o caminho que conduzia a casa. Cada defesa estava em sua posição. A casa era impenetrável, até com ele dormindo sob a terra em sua câmara secreta. Não, o vampiro não poderia atacar a casa. Onde, então?

       Ele seguiu o som que produzia, o cavar de uma enxada, e encontrou Stefan na enorme horta. Sempre que estava alterado ou cansado, ele ia a esse lugar. Quando Aidan se uniu a ele, Stefan se apoiou no cabo da enxada e contemplou a seu chefe firmemente.

—Então você o sente também. Tive problemas para dormir ontem à noite. — disse em sua língua materna, outro sinal seguro de seu estado de ânimo.

—O vampiro uivou ontem à noite. Uma chamada clara para a vingança. Frustrei seus planos, não importa qual foi e agora tem a intenção de me destruir. Como tentará, é o que não sei.

—Será através de um de nós. —disse Stefan com tristeza. — Somos seu calcanhar de Aquiles, Aidan. Sempre fomos. Ele pode acabar com você, usando Enjoe, ao menino ou a mim. Sabe que tentará.

       Aidan franziu o cenho.

—Ou Alexandria. Tenho medo de sua reação pelo que está por vir.

—Ela é muito forte, Aidan, muito valente. Estará bem. Deve ter fé em sua companheira escolhida.

       Aidan assentiu com a cabeça.

—Sei o que está em seu coração e sua mente, mas quero sua felicidade sobre todas as coisas. — Esboçou um sorriso sem humor. — Recordo que muitos anos atrás, em que fui ajudar Mikhail. Ele tinha encontrado a sua companheira, uma mulher humana. Ela era de vontade muito forte, e lembrode ter pensado, que ele faria melhor em controlá-la. Que deveria fazer com que ela o obedecesse em tudo, para que permanecesse segura. Não podemos nos dar o luxo de perder nenhuma de nossas mulheres. Ela era tão estranha para mim, tão diferente das mulheres de nossa raça. Nem sequer se atemorizou comigo, um homem da Raça dos Cárpatos que ela não conhecia. Jurei que se encontrasse a minha companheira, não faria como Mikhail e me inclinaria ante seus desejos. Agora não posso suportar ver dor nos olhos de Alexandria. Sinto-me doente quando ela está ferida ou brava comigo.

       Um sorriso se propagou no rosto de Stefan.

—Está apaixonado, meu velho amigo, e essa é a perdição de todos os bons homens.

—Inclusive Gregori, o Escuro, permitiu sua companheira ter liberdade, por causa de seu medo a ele. Como encontra alguém, um justo equilíbrio entre manter a uma mulher feliz e protegê-la ao mesmo tempo?— perguntou-se Aidan em voz alta.

       Stefan encolheu de ombros.

—Agora está no mundo moderno, Aidan. As mulheres levam as rédeas de suas próprias vidas. Fazem-nos partícipes de suas próprias decisões e geralmente nos deixam loucos. Bem-vindo ao século vinte e um.

       Aidan negou com a cabeça.

—Ela pensa que vai trabalhar com esse louco, Thomas Ivan. Mas sei o que ele quer fazer com ela.

—Se ela quer trabalhar, Aidan, não tem nenhuma escolha, exceto permitir-lhe.

       Os olhos dourados brilharam intensamente.

—Tenho opções, Stefan. Seguindo a lei do mínimo esforço, poderia ter uma pequena conversa de mente a mente com o senhor Ivan. Estou seguro de que posso lhe fazer ver as coisas a minha maneira.

       Stefan riu.

—Desejaria ter esse talento particular, Aidan. Viria bem em algumas de minhas transações comerciais.

—Não permita Joshua ir à escola hoje. O vampiro, com toda probabilidade tentará de nos atacar através dele.

—Estou de acordo. —disse Stefan. — O menino é o mais vulnerável.

—Volte a chamar Vinnie e Rusty. Mantenha-os por perto durante nos próximos dias. — aconselhou Aidan. Olhou para o céu através de seus óculos escuros. — O problema se desenrolará hoje.

       Stefan assentiu com a cabeça, de acordo.

—Seguirei uma estrita vigilância. Não permitirei que o fogo esta vez destrua tudo o que construímos. — Ele olhou para baixo, ainda envergonhado de uma catástrofe passada que não havia sido sua culpa.

       Aidan o sacudiu levemente seu ombro.

—Sem voce, Stefan, ninguém teria sobrevivido nesse dia, possivelmente nem eu.

       Ele estava seguro, dormindo clandestinamente, mas tinha perdido a sua família, o que tinha sido devastador. Porque nessa ocasião, muitos anos atrás, um vampiro tinha usado um humano para tentar apanhá-los em um incêndio, enquanto jazia indefeso sob a terra. Depois daquilo, ele tinha redobrado seus estudos e suas medidas preventivas, intensificando seu poder e suas habilidades. Nunca mais voltaria a estar despreparado, incapaz de auxiliar a aqueles que dependiam dele.

       A risada do Joshua o alcançou, e o som suave e despreocupado abalou seu coração. O menino o tocava, como ninguém havia conseguido antes. Era tão parecido com Alexandria, tão cheio de alegria da vida, e tinha os mesmos belos olhos azuis.

—Ninguém fará mal ao menino, não enquanto eu viver. — disse Stefan firmemente.

       Aidan partiu, dando meia volta. Não queria que Stefan, que o conhecia tanto, precavesse-se de como essas palavras o haviam enchido de temor. Com todos seus poderes, Aidan era vulnerável à luz do sol e os vampiros enviavam humanos, pessoas servis, para capitalizar a debilidade que o dia lhes provocava. Até com sua habilidade para projetar-se durante as horas diurnas, um fato que poucos de sua classe tinham obtido, Aidan deixaria Stefan sem sua ajuda física e Stefan já não era jovem. Aidan não queria perder seu amigo mais do que queria perder a Joshua.

       .

— Ajude-me, Aidan, ela está atrás de mim!— gritou Joshua, seu riso enchendo a cozinha, enquanto ia correndo para eles.

       Stefan deu um passo entre suas tulipas premiadas, enquanto Aidan deslizou contra a parede de rosas. Apanhou a figura voadora de Joshua com uma mão e o levantou até seus ombros.

—Quem em atrás de ti, jovem Joshua?— perguntou, fazendo-se de desentendido.

—Não proteja esse pequeno patife!

       Alexandria veio correndo atrás de seu irmão, seu cabelo ricocheteando, seus olhos de safira dançando com travessura.

—Acredita que o pequeno monstro estava escondido embaixo de sua cama!

       Joshua se agachou rapidamente atrás do pescoço de Aidan.

—Fuja, Aidan! Ela quer me torturar com cócegas, conheço-a. — Aidan o obedeceu, fugindo com Joshua para o refúgio da garagem, sabendo que Alexandria os seguiria.

—Parem!— disse Alexandria, ignorando que se colocava sob o perigo do sol matutino. — Acha que te torturarei com cócegas? Vou fazer algo bastante pior que isso. — o ameaçou. — Ponha no chão, Aidan e me deixe tirar uma de suas orelhas.

       Joshua se agarrou aos cabelos de Aidan.

—Não! Aidan me ajude, devemos nos manter junto nisto.

—Não sei. — Aidan fingiu pensar, piscando os olhos para Stefan enquanto se contorcia e tentava proteger Joshua de Alexandria que tentava alcançar o menino, saltando. — Ela está bastante louca. Não quero que vá detrás de mim. — Ele trocou de posição ligeiramente, como se realmente pretendesse entregar o menino a sua irmã.

       Alexandria fingiu equilibrar-se sobre ele, enquanto mostrava uma expressão malvada. Aidan interpôs seu corpo entre ela e Joshua. Joshua se agarrou mais a ele, gritando agudamente.

— Diga-lhe - gritou Joshua. — Se não me salvar, Aidan, também cairá comigo!—     Seus olhos estavam acesos, travessos.

       Alexandria se deteve, em seus passos, e olhou furiosamente Aidan.

—Você é cúmplice neste motim?

       Ele tentou parecer inocente.

—Não tenho idéia do por que. Joshua tenta me acusar para salvar sua própria pele. — Seus olhos dourados riam, desmentindo suas palavras. — Lembre-se, Alexandria, um homem diria qualquer coisa para salvar sua pele.

—Diga-lhe, Stefan. Foi tudo idéia do Aidan e você ajudou, não é certo?

Alexandria confrontou ao homem mais velho, acusadoramente.

—Você também? Contribuiu a desafiar minhas ordens? E foi uma ordem.

       Os três homens moveram suas cabeças, de uma só vez, como garotinhos pegos em fragrante.

—Sinto muito, cara. — Aidan aceitou o peso da culpa em seus ombros largos. — Não pude resistir a essa pequena criatura.

—Pequena? Você chama isso pequena! É um alce!

       Stefan tirou peito.

—Não, Alexandria, não foi Aidan. Vi essa coisinha pequena, e a cara do jovem Joshua foi tão brilhante, que simplesmente tive que trazê-lo.

—Pequena? Estamos falando do mesmo animal? Esse cão não é pequeno. É enorme. Voces já olharam o tamanho das patas desse animal? São maiores que minha cabeça!

       Joshua gargalhou.

—Não é, Alex. É realmente lindo. Vai deixar eu ficar com ele, não vai? Tem que deixar. Stefan diz que será um bom cão guardião algum dia. Diz que me cuidará e será meu amigo se eu o tratar bem.

—E enquanto isso vai comer como um cavalo todos os dias. — Alexandria afastou uma mecha de cabelo, enquanto seu sorriso se desvanecia. — Não sei, Josh. Não ganho dinheiro para nos alimentar, e muito menos para alimantar essa coisa.

       Aidan baixou o menino e rodeou a cintura de Alexandria com um braço.

—Esqueceste-o? Prometeu se casar comigo. Acredito que posso cobrir o custo da comida do cão.

—O que quer dizer, Aidan?— gritou Joshua dando pequenos pulos. —Realmente vais se casar com a Alex? E posso ficar com meu cão?

—Venderia-me por um cão?— perguntou Alexandria, agarrando Joshua pelo pescoço com falsa agressividade.

—Não é simplesmente pelo cão, Alex, mas sim por esta casa, e pelo Stefan e Enjoe também. Além disso, não terá que trabalhar para esse boçal.

—Boçal?— Alexandria girou lentamente e contemplou Aidan com seus olhos azuis e brilhantes. — Agora, como um garotinho inocente aprenderia uma palavra tão descritiva como essa?

       Aidan lhe sorriu, um sorriso doce e inocente que a deveria ter feito rir, mas o que conseguiu foi irritá-la. Ela levantou o queixo, desafiante.

—É letal.

       Ele emoldurou seu rosto com suas mãos grandes e baixou a cabeça lenta e resolutamente.

—Espero que sim. — murmurou antes que sua boca reclamasse a sua, arrastando-a para seu mundo privado.

       Mas Alexandria logo recordou que não estavam sozinhos.

—Santo Céu! —Joshua olhava os dois - Pode acreditar nisso, Stefan?

—Nunca havia visto semelhante exibição.— admitiu Stefan.

       O sol estava extraordinariamente grande no céu, brilhando num vermelho estranho. Havia pouco vento, poucas nuvens e o oceano estava tranqüilo, a superfície plaina como um espelho. Sob a terra, um coração começou a palpitar. A terra tremeu, agitada. Logo, levantou-se um gêiser da câmara secreta sob a casa de Aidan.

       Ele ficou imóvel, seu corpo grande vazio de força. Junto a ele, tão silenciosa e imóvel como a morte, jazia Alexandria. Os olhos de Aidan se abriram de repente, a fúria ardendo em suas profundidades ao ver perturbado seu sono. Fora da casa, em alguma parte muito perto, algo ser maligno espreitava sob a luz brilhante do sol da tarde tranqüila.

       Respirou profundamente e fechou os olhos, os braços cruzados sobre seu peito. Concentrou-se para enviar-se a procurar fora de seu corpo, lançando-se no ar. Requeria uma concentração intensa enfocar a energia para ser imaterial, completamente sem forma. Subiu através da câmara e atravessou o pesado alçapão. Passar através dos elementos sólidos o desorientava, um estranho retorcer de átomos e moléculas, e Aidan mentalmente estremeceu. Tinha experiencia com esse processo e freqüentemente encontrava muita dificuldade na separação completa do corpo e da mente. Nas outras formas que ele tomava, seu corpo era diferente, mas apesar de tudo, tinha-o. Com apenas sua mente e alma, seus sentidos pareciam alterar-se. Os sons se distorciam estranhamente, como se não tivesse orelhas, e realmente não podia tocar nada, passando diretamente através das coisas se o tentava, lhe causando uma ligeira sensação de náuseas. Como não tinha estômago, a náusea era inclusive mais estranha.

       Mas era imperativo permanecer completamente concentrado. Era essencial não se permitir inquietar com as sensações não desejadas. Viajou pelo túnel de rocha da terra. Sempre lhe parecia estreito, seus ombros quase roçando os lados, mas sem seu corpo o espaço era enorme, evidenciando outra distorção sensorial.

       Atravessou a porta que conduzia ao porão. O mal, escuro e opressivo, que o havia despertado sob a terra, já enchia o ar com seu mau cheiro.

       Aidan seguiu, através da porta do porão para a cozinha de sua casa, as vibrações distorcidas e os sons produziam um efeito desagradável em seu ser antes que pudesse identificá-los como risadas. A voz musical de Enjoe, e o tom de voz de Stefan, mais profundo que o de Joshua. O conhecimento de que os três estavam ainda a salvo lhe deu uma certa comodidade. O que fosse que pendia no ar, o que espreitava a aqueles que amava, não havia penetrado ainda, as defesas de sua casa.

       O sol resplandecia através das janelas enormes, e Aidan instintivamente se afastou dos raios. Não tinha olhos, nenhuma pele que pudesse queimar-se, mas sentiu a agonia da sensação arrasá-lo com força, de todos os modos. Quando cada instinto de sobrevivência gritava que voltasse para a terra segura e fresca, longe do ardente sol, o mau cheiro do mal, o incitou a seguir adiante.

       Durante séculos, freqüentemente tinha vivido perto dos humanos, mais que a maior parte de sua espécie. Mas, nunca deixava de assombrar-se que tivessem tão poucos sistemas preventivos, ou se o faziam, que os ignorassem completamente. O ar estava espesso pelo mau cheiro, a perturbação era tão grande que tinha penetrado até sua câmara debaixo da grossa terra, alterando seu sono profundo. Mas Enjoe cantava na sala de estar enquanto tirava o pó de sua coleção de jade e Stefan cantarolava enquanto montava um motor na garagem, uma de suas muitas tarefas. Aidan quis gritar, lhe advertir, mas em sua absorvente forma de energia disforme, não se atreveu a tentar. Moveu-se através da garagem de volta a casa, dirigindo-se para Joshua, na cozinha.

       O menino era o alvo do demente que atacaria Alexandria e Aidan. Aidan acelerou sua velocidade para ele, a luz do sol brilhante esgotando sua energia. Sua mente se rebelou, sobressaltando-se pelos raios ardentes, mas se forçou a si mesmo a atravessar a luz para alcançar o menino.

       Joshua estava jogando com o cacnhorro, seus olhos dançando, seus cachos loiros ricocheteando, a viva imagem da alegria juvenil. Não tinha idéia de que estava em perigo de morte.

       No momento em que Aidan os observou, o cão foi correndo para a porta, choramingando brandamente e Joshua olhou em volta, procurando Stefan ou Enjoe, que lhe havia dito muito claramente que não saísse. Pegando a coleira do cachorro, ele abriu a porta e saiu precipitadamente para o jardim.

       O calor do sol estacou a alma de Aidan. Ele se sentiu em um forno, torrando-se, ardendo. Seguiu o menino, afastando a dor.

—Vamos, Baron. —insistiu Joshua—. Volta já. — O garotinho olhou em volta outra vez para assegurar-se de que estava sozinho. — Baron é um nome tolo, mas Stefan realmente queria que te chamasse assim. Diz que é nobre. Perguntarei a Alexandria. Ela sabe tudo. Queria te chamar Alex, mas a teria feito rir.

—Joshua!— Vinnie de Marco apareceu com sua enorme figura amedrentadora, seus braços cruzados e o rosto severo. — Não foi a você, que deram algumas ordens? Os soldados vão a corte marcial por menos que isto.

       O ar estava espesso pelo mau cheiro, agora. Aidan podia ver que Vinnie se sentia seguro no jardim enquanto brincava com o menino. A parede alta em volta deles, o sistema de segurança em plena potência. Não tinha percepção do perigo que espreitava tão perto. Vinnie se inclinou para agradar o cacnhorro.

       Uma rajada de vento, o som e o movimento deslocaram Aidan, golpeando-o para um lado enquanto uma massa imprecisa saltava. Uma besta coberta de pele, poderosamente musculosa, golpeou Vinnie em ângulo reto no peito, sua enorme mandíbula aberta procurando sua garganta.

—Foge, menino! Entra em casa!— gritou Vinnie pouco antes que o animal rasgasse sua carne e tendões. O sangue orvalhou o ar, chovendo sobre Joshua e o cachorro enquanto permaneciam parados, congelados no lugar.

       O menino disse uma palavra, murmurando baixinho, como uma prece em meio de tanta fealdade.

—Alexandria.

       Um segundo animal saltou sobre a parede e se equilibrou sobre Vinnie, e suas presas que jorravam saliva se fecharam sobre sua perna. Com uma torção cruel de sua cabeça maciça, rompeu audivelmente um osso e os gritos do Vinnie encheram o ar. Rusty chegou rapidamente, com uma pistola na mão, mas Joshua estava em sua linha de fogo. Um terceiro animal brotou da parede a suas costas, e seus dentes o sujeitaram apertadamente pelo ombro.

       Aidan podia ouvir Stefan correndo, mas soube que o vampiro tinha tecido sua armadilha muito bem. As bestas eram objetos de sacrifício. Stefan dispararia para salvar os dois homens dos animais enlouquecidos, mas o boneco humano, inclinando-se sobre o muro, tinha recolhido o menino aterrorizado. O ar reverberou com um disparo, e Stefan gritou sua esposa.

— Chama uma ambulância, Enjoe, e saia daqui agora! Preciso de ajuda!— Stefan se ajoelhou ao lado de Vinnie e tratou de pressionar as feridas que derramava a vida do homem sobre a terra.

—Joshua! Onde está Joshua?— gritou Enjoe quando se uniu a ele.

—Não está. — comunicou Stefan siniestramente. — Foi capturado.

       Os soluços de Enjoe se desvaneceram à medida que Aidan seguia o humano e o menino. Joshua foi jogado para dentro de um carro, e o boneco humano caminhou com os movimentos espasmódicos característicos de que estava em transe induzido por um vampiro, até o assento do motorista. Aidan flutuou através da janela aberta e revoou, mas o boneco não podia detectar sua presença. O vampiro não podia dirigir o ataque enquanto estava sob a terra nas horas do dia, mas tinha implantado suas ordens nas mentes de seus escravos antes de procurar a segurança de sua guarida.

       O carro se desviava do caminho ao longo da estrada sinuosa, o motorista babando incontroladamente e cravando o olhar distraídamente para frente com o olhar de um possuído.

       Aidan se moveu, afastando-se da abominação e dirigiu-se para dentro do carro. Joshua jazia em um estado de atordoamento, o lado esquerdo de sua face inchando-se, seu olho ficando negro. As lágrimas desciam rodando até seu queixo, mas seus soluços eram silenciosos.

       Aidan se concentrou, requerendo toda sua força para comunicar-se silenciosamente com o menino. - Joshua, eu estou aqui contigo. Farei-te dormir. Ficará dormido até que eu venha. No momento em que te disser “Alexandria precisa ver seus olhos azuis”, você saberá que é seguro despertar. Só então despertará. - A força de sua mente se reduzia drasticamente, e ele tinha pouca energia durante esse momento terrível do dia... Também precisava lançar feitiços, os mais perigosos e intrincados que Gregori lhe tinha ensinado. Se o vampiro pudesse de algum jeito levantar-se antes que Aidan pudesse retornar para junto de Joshua, teria tempode desenredar os feitiços, e Joshua estaria a salvo do mal e o trauma em seu sono.

       Aidan teceu seus feitiços à medida que o carro se movia para o norte, para as montanhas... Para a nova casa do Gregori, pensou inesperadamente.

Não podia ser Gregori. Aidan não acreditava. O vampiro simplesmente não tinha nem idéia de que Gregori estava em algum lugar por perto. Não era Gregori. Gregori era tão arrogante e frio, que não necessitaria dos truques, das bestas, e do boneco sem discernimento executando suas ordens, nem do menino. Gregori não necessitaria de ajuda. Esse não era Gregori. Aidan se firmou a essa certeza enquanto tecia os feitiços. Antigos, precisos, perigosos para qualquer ser que tentasse fazer mal a Joshua.

       Quando acabou, descansou, exausto. Fez tudo o que podia. Uma vez que soubesse o destino exato do menino, tinha que encontrar o caminho de casa. Temia a viagem sob o sol brilhante. Não havia certamente, uma dor como essa, nada mais repulsivo para alguém de sua espécie.

       O boneco deteve o carro à entrada de um velho barracão, um alojamento para caçadores, com vigas purulentas e coberto de videiras e arbustos. Aidan soube imediatamente que o vampiro estava perto, provavelmente sob as pranchas em decomposição no piso. Os ratos corriam em volta, as sentinelas do vampiro. A marionete andante, vazio de seu próprio raciocínio e livre-arbítrio, abriu o carro e se inclinou para pegar o menino, pelo peitilho da camisa.

       O feitiço protetor instantaneamente enviou um fogo correndo a toda velocidade pelo braço do homem até seus ombros e envolveu sua cabeça. A coisa, já não viva, programada para fazer uma só tarefa, continuou tentando de pegar a criança, enquanto sua carne ardia.

       Aidan estava agradecido de que Joshua seguisse dormido. O mau cheiro, a podridão era incrível, inclusive para alguém sem nariz. A figura enegrecida caiu para a terra, em pedacinhos de carne chamuscada. A boneco emitiu um grunhido, uma vibração lamentável, enquanto morria lenta e dificilmente. A caricatura macabra, apesar de tudo, continuou, repetidas vezes, tentando o menino até o vampiro. Aidan odiou a tortura que usavam em seus planos malévolos, o vampiro. Eles gostavam que seus coroinhas sofressem, o maior possível.

       Quando o boneco humano se aquietou, o último fôlego arrastando-se de seus pulmões, Aidan registrou os restos para assegurar-se de que estava verdadeiramente morto e não deixar nenhuma brasa que acidentalmente pudesse incendiar a vegetação. Satisfeito de ter feito tanto, como era capaz no momento, Aidan teve que voltar através da terrível luz do sol, Retornar a sua casa.

       Com sua força completamente esgotada, a viagem tomou a maior parte da tarde, e teve medo de que quando alcançasse a casa não pudesse ter energia suficiente para levantar-se com o sol poente e retornar à guarida do vampiro. Estava debilitando-se cada vez mais, cada vez mais insustancial, como uma pluma ventilada nos elementos. Só o pensamento em Alexandria o manteve firme. E uma boa e espessa névoa branca aliviou o caminho para seu lar.

       Uma vez ali, com sua última grama de energia, foi para seu lugar de descanso junto à Alexandria. A reunificação com seu corpo, lhe retorceu os ossos, os músculos contraindo-se e esticando-se dentro da pele esgotada. Vulnerável e sem forças, sua grande potencialidade drasticamente reduzida, ficou como um morto, a terra fresca fechando-se sobre ele. Um gemido suave escapou no último fôlego de seus pulmões.

       Vamosesperar Aidan e Alexandria. Stefan só podia consolar sua esposa enquanto continuavam juntos, aguardando o sol poente. Aguardando o momento em que Aidan se levantasse. O sol pareceu desejar ficar para sempre, mas inesperadamente uma névoa lenta e espessa começou a rodar pelos arredores pouco antes das seis. Stefan sentiu que uma parte da tensão terrível deixava seu corpo, embora a culpabilidade permaneceu enquanto esperava.

       Profundo, debaixo da Terra, Aidan se levantou, insaciavelmente faminto por reabastecer suas células esfomeadas e os tendões esgotados de sua anterior tarefa.    Mas seu primeiro pensamento foi para Gregori. Podia haver só uma resposta. O Escuro tinha intervindo. Era suficientemente grande, suficientemente atento para sentir os distúrbios na terra até estando debaixo dela. Tinha enviado a névoa para auxiliar Aidan quando soube que este estava muito esgotado para fortalecer-se. E a névoa permaneceu, antes de pôr-do-sol, lhe dando uma vantagem para o que devia fazer.

       Aidan tinha estudado durante séculos, acreditando, como Gregori o fazia, que o conhecimento era poder, mas não podia fazer as mesmas coisas que Gregori. Ele não teria detectado um ser imaterial enquanto descansava sob a terra e Aidan estava seguro de que Gregori não só o tinha feito, mas como também havia enviado a névoa para ajudá-lo. Aidan se encontrou sorrindo. O vampiro não era Gregori.

       Baixando o olhar para o rosto de Alexandria, roçou com os dedos, meigamente, seu cabelo antes de flutuar para cima, deixando a câmara subterrânea. Alexandria sempre ia dormir em uma cama e despertava em outra, mas como caçador de vampiros em sua cidade, Aidan sempre a levava sob a terra cicatrizante, onde era impossível de ser detectado. - Desperta, pequena. Desperta e olhe seu companheiro. - Ele murmurou as palavras tranquilamente, temendo derramar a dor, o nó que se formou em sua garganta.

       Quando ela tomou sua primeira respiração, o suspiro suave chegou diretamente a seu coração. Quando seus olhos azuis se abriram, seu olhar encontrou a dele. De repente seu calor o rodeou, penetrando os poros frios de seu corpo. Sorriu-lhe. Um sorriso carinhoso e doce que agiu como uma flecha, perfurando sua alma.

—O que está acontecendo?— perguntou a jovem. Muito amável, meigamente, levantou uma mão e traçou sua boca com a ponta do dedo. — O que estiveste fazendo contigo? Está cinza, Aidan. Precisa te alimentar. — Sua voz foi um convite suave.

—Alexandria. — Ele disse seu nome, nada mais.

       Ela se assombrou como sempre o fazia, seus olhos escurecendo-se para um azul escuro, sua voz um mero fio de som, seu corpo muito quieto.

—Ele está vivo?

       Não houve indício de condenação nem de cólera por ele não ter mantido seguro o menino.

       Ele fechou os olhos, incapaz de encontrar seu olhar. Simplesmente assentiu com a cabeça.

       Alexandria respirou profundamente e lhe acariciou o queixo com sua mão.

—Olhe-me, Aidan.

— Não posso, Alexandria. Voltarei a te olhar quando tiver devolvido Joshua são e salvo a nossa casa, a seus braços.

— Pedi que me olhasse. — As pontas dos dedos tomaram seu queixo, levantando-a.

       Ele não podia fazer nada exceto obedecê-la. Ela rasgava-o por dentro com sua aceitação, com sua compreensão, sua gentileza. Seus olhos dourados resplandeceram ao olhá-la. E então a sentiu, unindo-se instantaneamente a sua mente, tão veloz e completamente que não teve oportunidade de esconder nenhuma das bestas que havia atacando quem vigiava seu irmão. A angústia de Stefan e Enjoe e o terror de Joshua, seus próprios esforços e sua dor ao estar sob o sol, e a carbonização do boneco humano. Tudo foi mostrado a ela sem economizar os detalhes desagradáveis. Quando a jovem ouviu o sussurro suave de seu nome nos lábios de Joshua, fez um só som.

       Sua dor foi tão intensa, que Aidan sentiu o demônio levantar-se e lançar-se através de seu corpo, assumindo o comando. Um gemido lento e assassino escapou do profundo de sua garganta. Seus olhos dourados resplandeceram com determinação mortífera.

—Como ele se atreve a tentar isto?— Sua voz foi tão letal como sua expressão. — Como se atreve a usar uma criança como um desafio para você chegar a ele?

—Shh, Aidan. — Ela pôs um dedo sobre sua boca. — Não tem que se culpar. Venha. Toma o que necessita para derrotar a esse animal. Para ter Joshua de volta. — Ela foi lentamente afastando para um lado a camisa de seda que vestia. Seu braço fino, rodeando o pescoço de seu companheiro, e fazendo-o baixar sua cabeça para seu peito.

—Caçarei. Você também precisa te alimentar. — Ele apertou os dentes contra a fome que palpitava nele.

       Ela moveu seus seioscontra sua pele, envolvendo-o com seu aroma, num convite sedoso, uma tentação impossível de resistir.

— Está cinza, Aidan, muito débil. É meu direito e minha responsabilidade te ajudar, não é verdade? Sou sua companheira. — As pontas de seus dedos acariciaram seu pescoço, sua boca movendo-se sobre seu cabelo, suas têmporas. —Dê-me este presente, Aidan. Deixe-me te ajudar.

       Ele jurou eloqüentemente, mas o demônio interior demandava sangue, requeria força, e seu corpo estava excitado e dolorosamente cheio. Amaldiçoando sua debilidade, inclinou sua cabeça dourada para sua pele. Tão suave, tão perfeita. Seu sangue o cativou com seu calor, com a promessa de seu aditivo sabor. Seu corpo se endureceu enquanto sua língua acariciava a pulsação feminina. Ela era calor e luz e a promessa do paraíso. Suas mãos se moveram sobre seus quadris, sua cintura diminuta, sua estreita caixa torácica. Seus seios encheram sua mão com sua brandura.

—Minha cara. — murmurou contra a pele cremosa. — Amo você.

       Sua língua a tocou, acariciou-a, produziu um leve tremor que a transpassou. Seus braços se apertaram em torno dele. - Por favor, Aidan, faça-o agora - murmurou ela em sua mente, seus lábios enterrados em seu cabelo. - Preciso te fazer forte outra vez. Preciso tirar sua dor. - E o fez. Alexandria conhecia cada instante sob o sol terrível, o queele tinha suportado por ela, por Joshua. Nunca havia necessitado em sua vida, fazer algo que tanto precisava, como alimentá-lo, demonstrar seu amor e sustentá-lo.

       Gritou, suas costas arqueadas para trás, seu corpo tremendo enquanto os dentes masculinos perfuravam seu peito. As lágrimas encheram seus olhos enquanto o embalava contra ela. Ele era suave, sustentando-a com amor e ternura, como se fosse o tesouro mais precioso do mundo. Alexandria podia sentir sua própria força decrescendo enquanto que a dele aumentava. Podia sentir primeiro em sua mente, logo no palpitar de seu coração, na onda de poder em seus músculos e tendões. Foi uma sensação incrível prover Aidan de força e propósito, semelhantes. Seu corpo inteiro protestou quando a língua masculina lambeu a ferida em uma carícia terna, fechando o enlace entre eles.

       Ele a meteu no círculo de seus braços.

—É suficiente, cara.— Suas mãos acariciaram seu cabelo.—. Devo ir agora. Conto contigo para tranqüilizar Stefan e Enjoe. Stefan sempre se culpa, quando não pode deter algo que um vampiro envia contra nós.

—Tenho que ir contigo.

       Ela segurou firmemente seu braço. — Sou eu a quem o vampiro quer. Como o encontro? Diga-me o que fazer, Aidan. Farei qualquer coisa, para trazer Joshua de volta. — Havia lágrimas brilhando em seus olhos, mas seu queixo se levantou corajosamente. O pesadelo retornava uma vez mais. O pequeno Joshua estava nas mãos de um vampiro de sangue-frio.

—O Trarei de volta. — a consolou Aidan.

—Não, não correrei riscos. . Ele me quer. Sairei por meus próprios meios. Comprovarei se ele troca Joshua por mim. — disse desesperadamente. — Esta não é sua culpa mais que a de Stefan. Não é sua responsabilidade. Irei até ele.

       Aidan a olhou, seu rosto era uma máscara fria.

—Não permitirei que corra esse risco. Esta é minha briga.

—Como pode dizer isso? Joshua é tudo o que tenho. É meu irmão, minha única família. Tenho todo o direito a defendê-lo.

     Ele afastou seu cabelo para trás, com mão suave.

   —Joshua também é meu irmão e minha família. Você é minha companheira. Não há permuta e nem escolha, minha cara, sobre quem se encarregará deste problema. Você permanecerá nesta casa e fará como te digo. Não discutirei com voce a respeito disto.      Sua voz estava aveludada e terna, podia tocar seu coração, mas ela não seria seduzida dessa vez. Alexandria levantou o queixo.

     —Não, Aidan. Irei com voce. Se pode salvar só um de nós, então será Joshua.      Seus olhos a acariciaram ao mesmo tempo em que ele negava com a cabeça.

     —Dará sua palavra de que fará o que eu digo ou te ordenarei dormir até que retorne. E se dormir o sono dos imortais, será incapaz de me auxiliar se tiver necessidade. Devo ir agora. Desperdiço um tempo valioso, um tempo que Gregori ganhou para mim a custa de sua própria força, estou seguro.— Sua boca roçou a dela. — O que quer? Dormirá enquanto eu vou ou ficará aqui pronta para me auxiliar se for necessário?      Alexandria se afastou dele, mas assentiu com a cabeça.

     —Não me deixa opções, Aidan. — disse Alexandria. — Vá, mas que nada te aconteça ou verá o que pode fazer uma mulher humana quando está realmente louca.      —Uma antiga mulher humana — ele a corigiu.     E se foi. Em um momento era sólido e real, e no seguinte, um arco íris de luz cruzando velozmente o túnel estreito de rocha para o céu coberto de névoa.      Alexandria permaneceu sentada por muito tempo, as mãos entrelaçadas em seu colo. Aidan estaria bem. Tinha que estar. E traria Joshua para ela. Acreditava nisso porque tinha que acreditar. Quando tentou ficar em pé, encontrou-se tremula, com as pernas fracas. Custou encontrar a calça jeans. Era difícil acreditar que na noite anterior, Aidan fazia amor, e agora estava fora brigando com um monstro.        Tentou atravessar o túnel, agarrando-se na parede, a mão tremendo enquanto abria a entrada que conduzia à cozinha. Podia ouvir o pranto de Enjoe e o murmúrio da voz de Stefan enquanto tentava consolá-la.      O casal estava no sofá da sala de estar, a cabeça de Enjoe no ombro de Stefan, seu braço em volta dela. Ambos aparentavam ter envelhecido. Alexandria se ajoelhou diante deles e pôs uma mão sobre a deles, que estavam entrelaçadas.

     —Aidan trará Joshua de volta. Sabe onde ele está e conseguiu tecer um tipo de feitiço protetor para resguardá-lo. Achamos que outro Caçador está na área e ajudará Aidan se for preciso. — Sua voz era baixa e premente. — Acredito em Aidan e vocês devem acreditar também. Não perderemos nenhum dos dois esta noite.

     Ela podia sentir o poder da criatura em que se converteu, precipitar-se através dela. Embora se sentia fraca, pálida e precisando se alimentar, sentia o poder. Sua mente era forte, e tinha recursos com os quais nunca havia sonhado. Podiam ser usados para o bem, como nesse momento, para aliviar o sofrimento do fiel casal. Stefan e Enjoe tinham aprendido a amar Joshua, e ambos acreditavam que de alguma forma, eram responsáveis por seu seqüestro.

     A grande figura de Stefan estremeceu.

     —Sinto muito, Alexandria, decepcionamos voce. O ataque foi inesperado, mas eu deveria estar com Joshua, deveria tê-lo mantido a meu lado.

     —Pensei que estava a salvo enquanto estivesse em casa. — gemeu Enjoe chorosa, levantando o avental para cobrir o rosto.    Alexandria baixou o avental e rodeou os dois com os braços. Podia ouvir o bombeamento do sangue através de suas veias, o fluxo vazante da vida. O aroma do alimento a cativou, mas sabia que agora, podia controlar-se, confiar em si mesmo.  

     —Ninguém tem culpa disto, Enjoe. Nem você nem Stefan. Atravessaremos isto juntos, como uma família. Vocês dois, Aidan, Joshua e eu. Não pode haver culpa.

     A mão de Stefan levantou e tocou seu cabelo.

     — Quer dizer isso, Alexandria? É o que realmente sente?      Ela assentiu com a cabeça.

     —Joshua pertence a todos nós. Estava equivocada em tentar me prender a ele. Agora, quando está correndo perigo, todos nos culpamos. Aidan o faz porque pensa que falhou comigo. Eu o faço porque de certa forma, deixei que tudo isto acontecesse. Vocês o fazem, porque Joshua é um menino e não fez o que lhe ordenaram. A verdade é que, o que aconteceu, simplesmente aconteceu. E Aidan trará para casa o nosso menino. — disse com convicção absoluta.

     Os olhos descoloridos de Stefan mantiveram seu olhar firmemente.

     —E se… se algo sair errado?

     Ela sentiu o golpe no fundo de sua alma, mas não reagiu visivelmente. Sustentou seu olhar de cor safira nos dele.

     —Então enfrentaremos juntos, não é verdade?      -Não falharei com você, cara - A voz de Aidan em sua mente, sua tranqüilidade, encheu-a de um certo consolo. - Não pense em mim agora, Aidan. Tome cuidado. Estarei aqui, unida a voce, se necessitar de minha força. - E tinha a intenção de esquadrinhar os céus para ele e descobrir qualquer armadilha que o vampiro tivesse posto. Aidan não estaria sozinho nisso. Se algo saísse errado, ele não levaria a carga em seus ombros como tinha feito por tantos séculos. Estava decidida a compartilhar com ele.

     —Está muito fraca, Alexandria. — disse Stefan brandamente — Se deve ajudar Aidan, deve ter algo que… — ele se interrompeu.      Pela primeira vez, Alexandria sorriu.

     —Está bem, Stefan. Não vou ser tola em sair correndo pela porta outra vez.

     —De boa vontade me alistaria como voluntário. —ele se ofereceu.      Ela negou com a cabeça ao mesmo tempo em que uma fúria negra formava redemoinhos em sua mente. A resistência de Aidan à idéia, tinha mais a ver com ciúmes, que com seu juramento de nunca usar quem trabalhava para ele. Precaveu-se. Alexandria guardou esse novo conhecimento para examinar atentamente mais adiante.

     —Nunca poderia, Stefan, mas eu te agradeço.      —Aidan conserva fornecimentos para casos de emergência. Deu-lhe isso uma vez. Não é tão bom, mas ajudaria.      Ela negou com a cabeça.

     —Não ainda. Se há necessidade, tomarei. Mas agora, me informe sobre os outros, os guardas. Aidan está realmente preocupado com seu bem-estar. — disse Alex, percebendo a ansiedade de seu companheiro por Vinnie e Rusty.      —Vinnie está ferido gravemente e perdeu muito sangue. Tiveram que lhe dar de cem pontos só no pescoço. Rusty está um pouco melhor, mas nenhum deles trabalhará, por muito tempo. — respondeu Stefan. — Me ocupei de que tivessem os melhores doutores disponíveis, incluindo um cirurgião plástico para Vinnie. Assegurei que pagaríamos as despesas médicas e os compensaríamos generosamente pelo tempo perdido.      Alexandria apertou a mão de Enjoe gentilmente.

   —Graças aos dois. Facilitam tanto as coisas para nós. —. Lentamente ficou de pé e se dirigiu para a cadeira de balanço, onde se sentou comodamente, levantando os joelhos até apoiar o queixo sobre eles. Fechou os olhos e se permitiu sair da casa, para unir-se completamente a Aidan. Estava onde queria estar. Onde pertencia.

     Aidan estava bem camuflado pela névoa que Gregori havia produzido. O escuro curador tinha um domínio impressionante sobre a natureza. O manto pesado de névoa bloqueava os raios de sol, possibilitando Aidan viajar sem desconforto e ganhar uma vantagem sobre o vampiro ainda clandestino até pôr-do-sol. Uum peso terrível tinha sido retirado de seu coração. Alexandria estava com ele, aceitando-o completamente. Ela viu claramente à fera rugindo por sua liberdade, lutando por ganhar o controle, e não se afastou horrorizada. Não o havia culpado pelo desafio desesperado do vampiro ou pela forma em que Joshua tinha sido seqüestrado.     Temia por Joshua e por ele, mas não se perturbou. Fez o que ele pedira e agora tentava tranqüilizar e confortar Stefan e Enjoe. Alexandria estava se tornando sua companheira. Sua verdadeiramente companheira.      Enquanto avançava através da névoa, compreendeu que a amava incondicionalmente também. Nunca tinha conhecido emoção tão profunda, tão apaixonada. Ela havia se introduzido tão profundamente nele, que estava completamente perdido. Estava desesperadamente, completamente, desavergonhadamente apaixonado. Em suas fantasias mais selvagens, nunca tinha imaginado que se sentiria tão bem. Enviou ao céu uma prece rápida para que tudo saísse como havia planejado, que as defesas que tinha tecido ao redor do menino se mantivesse firmes até que pudesse destruir o vampiro.      Aidan se movia velozmente, tratando de acelerar ao máximo antes que o sol entrasse. A névoa lhe tinha dado uma oportunidade na batalha, uma vantagem, e estava decidido a usá-la ao máximo. Cruzou velozmente o céu, fluindo através das nuvens, perturbando um bando de aves e as afastando-as, abruptamente, com sua luz iridescente. O cinza sombreava as árvores embaixo, indicando que tinha só uns minutos antes do pôr-do-sol. O velho pavilhão de caça estava à vista agora, profundamente encravado nas sombras dos pinheiros altos.

     Aidan sentiu o momento exato em que o vampiro se levantou. A Terra, a rocha e as madeiras mofadas foram jogadas para cima em um gêiser através da névoa grossa e espessa. Os ratos gritaram agudamente, correndo velozmente para abandonar as vigas podres. As baratas ferveram na madeira putrefata, um tapete em movimento sobre pranchas quebradas. O arruinado edifício estremeceu. A rajada avermelhada e nociva do ar, uma mistura de ódio e desafio, chiou horrendamente à medida que ele avançava para o carro em busca do prêmio a sua espera.      O arco íris trêmulo brilhou na névoa branca, e lentamente se transformou na figura alta e capitalista de Aidan avançando a grandes passos.      O vampiro se inclinou sobre a janela do carro, preparado para pegar o menino adormecido. Deteve-se abruptamente, repentinamente cauteloso, seus lábios magros enrugados em um grunhido, deixando expostas suas presas largas e amareladas. Sua cabeça ondulou num pescoço fraco e enrugado como o de um réptil. Seus olhos frios examinaram a janela, depois a terra enegrecida. Seguiu o rastro dos pedaços chamuscados de carne. Um lamento comprido e lento, de hálito fétido, escapou de sua boca e seus olhos de rebordas vermelhos, giraram ao sentir a aproximação de Aidan.      O vampiro se afastou da janela aberta e do menino adormecido.

—Quer me apanhar com um truque tão barato, Caçador?— grunhiu acusadoramente, um som chiado substituindo sua voz antes bela, e agora podre por sua alma decadente.      Aidan se deteve a uma curta distância dele.

—Nós sabemos que não tenho necessidade de truques, morto. — disse Aidan com falsa suavidade, mas seu tom de voz, tão puro que machucou os ouvidos. – É mais de seu estilo, usar crianças pequenas como peões. Tem descido muito baixo, Diego. Uma vez, você foi um grande homem. — A voz baixou e a despeito de seu ódio, de sua pureza, o vampiro se esforçou para ouvir as notas ondeantes.      —Homem. — se esquivou o vampiro. — Não me insulte, me batizando como uma criatura tão tola. Mikhail lavou seu cérebro. Durante séculos nos mentiu, converteu-nos em ovelhas. Dirigiu nossa gente a se ocultar sob a terra, tratando de nos tirar o poder. Abra seus olhos, Caçador. Vê o que faz. Assassina sua própria espécie.      —Você não é de minha espécie, Diego. Escolheste corromper e assassinar os menos fortes que você. Mulheres. Crianças. A humanidade inocente. Não sou como você.      O vampiro conteve a respiração com um som audível cheio de ódio.

— É fácil para ti dizê-lo, quando o perfume de sua mulher está colado a cada um de seus poros.      —Sou dois séculos, mais velho que você. Antes que minha companheira chegasse e me trouxesse sua luz, não me transformei como você fez para simplificar minha vida. — disse Aidan. — Não abdique a responsabilidade por suas ações. Não foi por Mikhail ou sua falta de uma companheira que te fez cair. Foi sua escolha que o converteu no que é. Os lábios magros se repuxaram para trás, deixando expostas as gengivas manchadas de vermelho. A pele branca do rosto de Diego se esticou sobre seus ossos, dando-lhe uma aparência esquelética. Levantou a mão ossuda, finalizada em unhas afiadas como navalhas e apontou para a janela aberta. — Pensa que é muito poderoso para que eu te derrote, mas não careço de poderes.      Aidan escondeu seu medo por Joshua em sua parte mais profunda e secreta. Sua alma. Seu rosto permaneceu impassível, sereno. Em sua mente, sentiu Alexandria ficar sem fôlego enquanto as serpentes começavam a subir sobre o carro. Aidan não se moveu e nem falou, nem sequer para confortar a sua companheira. Orgulhou-se de seu silêncio, do fato de que ela permanecesse tão silenciosa e tão confiada como sempre.      Se o que o vampiro criara era uma ilusão. Teria que reconhecer que era perfeita. Aidan podia detectar a vida, nos répteis que rebolavam. Pareciam assustadoramente, reais, embora ignorava como o vampiro poderia ter invocado tantas e tão rapidamente. Tratou de dominar às serpentes para tirá-las de lá, mas eram criaturas do vampiro, completamente escravizadas. A primeira víbora entrou na janela do carro. Quase imediatamente, várias outras entraram atrás.

       O porta-malas se encheu instantaneamente de um chiado e o aroma de carne queimada encheu o ar à medida que a serpente sentia sua morte. A mesma eletricidade que culminara o boneco humano, dera cabo a serpente. Finalmente, o vampiro levantou a mão e as serpentes restantes saíram de volta à terra, encrespando-se ao redor de seus tornozelos.

— O que acha se nós evitássemos estes jogos infantis?— disse Aidan. — Enfrente-me, Diego. Lembre-se do homem que uma vez foi. —Sua voz era imponente, tão cativante, tão hipnótica, que o vampiro quase deu um passo adiante.

       Então Diego grunhiu. Um som brutal e desagradável, em contraste com a voz de Aidan.

— Matarei o menino e tomarei a sua mulher. — Seu sorriso foi grotesco. — Ela sofrerá por muito tempo e por todos osseus pecados.

       Aidan encolheu de ombros descuidadamente.

—Se fizer o impossível e me derrotar, minha companheira escolherá me seguir, Não terá a oportunidade de tê-la em suas mãos. O menino estará a salvo, porque que há outro Caçador nesta área, um muito maior que eu. Não pode me derrotar. E ninguém pode derrotar ele. — disse agradado, com a confiança completa.

       O vampiro gritou outra vez, uma fúria histérica que ameaçava consumi-los.

—Gregori! Como ele se atreve a vir a esta terra? O que lhe dá o direito? Esse é um exemplo perfeito da hipocrisia de Mikhail. —A voz voltou a apaziguar-se, ardilosa. — Gregori não é como você, Aidan. Você é um homem justo. A moralidade rege suas ações. Pode ser que sua caçada seja equivocada, mas não obstante, o faz porque pensa que deve fazer. — O vampiro olhou ao redor e falou.— Gregori é um assassino a sangue frio. Não tem remorsos. Ouvi histórias, rumores que outros juram são certos que o curador matou ilegalmente. Fazendo-se passar pelo melhor de nossa gente. É o pior e Mikhail consente essa abominação.

       Para um ouvido não treinado, essa voz insidiosa teria sido sedutora e persuasiva. Mas Aidan podia ver a pele cinza e encolhida sobre o esqueleto. O sangue seco sob as unhas longas e amareladas. As gengivas minguantes e as presas exageradas. Sobre tudo, era muito consciente do menino vulnerável no banco traseiro de um carro, colocado ali como instrumento de vingança do vampiro.

—Trata de ganhar tempo, morto. Por que? Que plano tem para te fazer passar por meu amigo?— Ao mesmo tempo em que Aidan falava, as víboras vaiaram odiosamente e saíram em enxame para ele, uma massa reptante de contorsionantes corpos.

       À medida que as serpentes se aproximaram de seus pés, trocaram de forma, convertendo-se em mulheres, ondulando-se para ele com gemidos obscenos e sexuais, suas largas línguas bifurcadas lambendo-o. Usando a névoa para encobrir seus movimentos, Aidan reapareceu atrás do vampiro. À medida que Diego dava volta em todas direções, Aidan atacou, com um golpe veloz e aniquilador desejando acabar o conflito rapidamente. Mas no último momento o vampiro saltou afastando-se e suas criaturas, metade fêmeas, metade serpentes, grunhiram e cuspiram veneno em Aidan, engatinhando para ele sobre seus ventres, mãos e joelhos. - Não preste atenção nas ilusões. Nunca afaste a vista do vampiro. Ele espera que te distrair. A voz de Alexandria foi suave e doce em sua mente, limpando-o das tentações que o ilusionista tecia para confundi-lo.

- É um perito, cara – ele reconheceu.

- Não é suficientemente perito - respondeu ela com fé completa nele.

       As mulheres sobre a terra ensaiavam um gemido tão triste e lamentável, que se levantou no vento. Aidan sorriu para o vampiro. Um sorriso preguiçoso, seguro de si mesmo.

—Trate de chamar Gregori para nossa pequena batalha? É muito mais estúpido do que pensei. Não tenho nada que temer, não quereria perturbar a solidão de Gregori. Com este alvoroço, certamente ele se unirá a nós. — Seus olhos dourados caíram sobre o vampiro, encontraram o olhar opaco, morto, e se fecharam em cima dele, sujeitando o outro homem em suas profundezas, derretidas. — Trabalhei estreitamente com o Gregori por vários anos. Sabia isso, Diego? O que ele trabalha serena e eficazmente. Não há outro como ele. Possivelmente em seu momento final desejará provar suas pobres habilidades contra sua grandeza.

       A cabeça do vampiro ondulou outra vez, o crânio balançando-se ritmicamente. Gritou uma ordem, e as criaturas obscenas gemeram e deslizaram. Cantando, ondeou uma mão para elas, e as mulheres lentamente trocaram de forma, voltaram a ser serpentes. Serpentes inofensivas de jardim.

       O vampiro começou a se mover numa dança lenta, meticulosa, sinistra. Rodeou Aidan, os corpos duros das baratas, sendo esmagados sob seus sapatos. Sua cabeça continuou dançando lentamente, suas presas brilhando e jorrando saliva. Aidan enfrentou o vampiro estoicamente, recusando-se a olhar seus pés dançantes esmagando ruidosamente os insetos ou na serpente de jardim que se aproximava por sua esquerda.

       A serpente não é inofensiva, Aidan. A advertência de Alexandria foi calma. É outra de suas ilusões. Não é uma serpente de jardim. Posso sentir o triunfo do vampiro.

       Aidan se manteve firme e sereno, seu olhar dourado sem desviar-se da figura arqueante do vampiro. Não dirigiu o olhar à serpente deslizando-se para ele ou se traiu de nenhuma forma que advertisse o perigo que representava. As ações do vampiro eram hipnóticas, uma série estranha de passos e movimentos desenhados para mitigar os sentidos e capturar a mente.

       Enquanto a serpente se enrolava sobre si mesmo para atacar a umas poucas polegadas do Caçador, o vampiro se deteve, seus olhos perfurando os de Aidan tratando de fasciná-lo. Com velocidade incrível, o vampiro se lançou para frente, num ataque silencioso. A serpente, também se precipitou para frente, enterrando suas presas na perna de Aidan. Mas Aidan já não estava ali. Rapidamente, havia saltado para encontrar o vampiro. Suas mãos tentaram agarrar a cabeça ossuda e retorcê-la. Houve um rangido repugnante, o vampiro uivou e suas unhas, como garras afiadas, arranharam peito largo de Aidan.

       As garras entraram profundamente, deixando quatro sulcos vermelhos. Aidan perdeu de vista o ilusionista e reapareceu junto à janela do carro. Arriscou um olhar rápido para o menino adormecido. A visão do garotinho coberto com corpos chamuscados de serpentes era inquietante. Desejou afastar às malignas e repulsivas criaturas, para longe de Joshua como fosse possível.

       - Aidan, não desvie sua atenção do vampiro – alertou Alexandria. Ainda é perigoso. Está preparando-se para te matar. Você está bem? Sinto sua dor.

- Não sinto nada. - A resposta do Aidan foi abrupta, afiada. Sua atenção estava de volta ao vampiro.

       A cabeça do Diego estava inclinada para um lado, sua careta torcida e sorriso adulador dirigido ao Caçador. As chamas vermelhas brilhavam em seus olhos. Ele ofegava, lutando para respirar, mas Aidan não se enganava. O vampiro era mais perigoso que nunca. Aidan via esse perigo na neblina vermelha de seus olhos e as unhas sangrentas cravadas em suas mãos.

— Deixe-me morrer em paz, Aidan. Aniquilaste-me. — disse o vampiro suave, persuasivamente. —Leve a menino e vá embora. Deixe minha dignidade. Encontrarei o amanhecer e morrerei como devem fazer os de nossa espécie.

       Aidan permaneceu muito quieto, seu corpo quase indolente, seus ombros frouxos, seus braços para os lados e seus joelhos ligeiramente dobrados. O quadro da serenidade. Os olhos dourados não piscaram. Observou os movimentos do vampiro como o predador que era.

       O vampiro explodiu em maldições, com expressão obscena e gutural, de sua frustração.

—Me alcançe, então. — desafiou.

       Aidan somente cravou os olhos nele, sem se mover. Não permitiu que a piedade pela criatura desviasse seu coração ou sua mente. Esse caminho convidava ao desastre. O não morto não sentia nenhum remorso por suas ações. Diego esgotaria Joshua até deixá-lo seco, torturaria-o para aproximar-se de Aidan e de Alexandria, depois, jogaria a criança fora, como se fosse lixo. Não tinha sentido em negociar com um vampiro, nenhuma razão. O Caçador somente esperou com paciência.

       Mas não teve que esperar por muito tempo. Os não mortos não tinham tanta paciência. Ele saltou para Aidan, sua forma mudando, sua cabeça, grotescamente assimétrica em seu pescoço fraco, alargando-se em um focinho grosso e compacto, com presas largas e protuberantes, afiadas como navalha. Em pleno ar, o tigre de dentes de sabre rugiu enquanto saltava.

       Aidan esperou até o último momento. Evitar as presas largas e o peso maciço do animal foi o suficientemente fácil, mas era impossível permanecer perto sem que essas garras letais o rasgassem. Fechou sua mente contra toda dor e também a Alexandria, para que ela não pudesse compartilhar seu sofrimento. Seu braço se estendeu ao redor do pescoço quebrado da criatura e ele se colocou sobre o animal, onde as garras cruéis não podiam alcançá-lo. Mesmo com sua força descomunal, foi difícil controlar a besta que se retorcia, tentando alcançá-lo.

       Lentamente, com atenção, Aidan pôde exercer suficiente pressão no pescoço do tigre para cortar totalmente o fornecimento de ar. O animal ficou completamente louco, movendo-se agitadamente e corcoveando, tentando derrubá-lo. Ferozmente, mordeu e gritou com um uivo agudo e sobrenatural. Tenazmente, Aidan esperou. Sua mão escorregou para baixo, procurando os batimentos do coração.

       Quando Aidan quase alcançava sua meta, o vampiro se torceu o suficiente para afundar uma garra cheia de veneno, profundamente em seu pescoço, mas errando sua jugular. O sangue saia a jorros, e ele podia senti-lo descendo por sua pele. A besta era tão forte e ágil que por um momento Aidan não esteve seguro de que pudesse derrotar à criatura. Sentiu algo se mover em sua mente. Uma quieta confiança que o encheu de segurança e força.

       Embora tivesse se fechado para ela, mantê-la separada da brutalidade, Alexandria não o abandonara. Estava ali, alimentando sua força com a dela. A mão de Aidan encontrou o que procurava. Enterrou seu punho inteiro, no tigre enlouquecido, além dos músculos e dos órgãos suaves e vulneráveis.

       O vampiro se enfureceu e gritou, arranhando Aidan em sua força moribunda, determinado levar o Caçador com ele. À medida que Aidan extraía o coração palpitante, o tigre se desfigurou, trocando de forma. Novamente era o vampiro murcho e de pele cinza, quieto e silencioso.

       Aidan arrojou o corrompido órgão longe e precipitadamente pôs distância entre si e a abominação, que uma vez havia sido um decente homem da Raça dos Cárpatos. Respirou profundamente, limpando-se e apoiou-se contra o tronco de uma árvore. O vento murmurava, adquirindo força para levar o olor gangrenoso do vampiro, para longe dele. A noite se caía sobre Aidan, escura, misteriosa e bela.

- Devo ir? Tem necessidade de sangue, Aidan?

       Ele podia sentir o cansaço nela, igual so seu. Era uma tarefa difícil manter o contato mental quando ela tinha aprendido a fazer isso, especialmente através de uma luta tão violenta. E a mulher estava fraca pela falta de alimentação. Tinha-lhe permitido alimentar-se e lhe tinha outorgado seu crescente força sem titubear. E ainda, sua preocupação era por ele.

- Fique, piccola, estarei em casa logo e levarei ao Joshua comigo. Diga a Enjoe e Stefan que tudo está bem. - Ele lutou por conservar a voz firme para que ela não temesse por ele. Sua risada suave esquentou seu coração.

- Estou em sua mente, meu amor. Não pode esconder suas feridas de mim.

       Houve apenas um distúrbio no ar, simplesmente uma revoada, nenhuma outra advertência. Uma grande ave de rapina aterrissou no ramo, acima da cabeça de Aidan e lentamente baixou suas asas. Aidan deveria saber que outro de sua espécie estava perto, mas não tinha feito. Enquanto saltava facilmente do ramo, a forma do pássaro se alterou e Gregori qum aterrissou agilmente sobre os pés. Deslizou-se junto a Aidan para examinar o espetáculo grotesco sobre o terreno.

—Ele era bom, verdade?— perguntou brandamente. Sua voz era formosa, um som tranqüilizador que pareceu penetrar o corpo cansado de Aidan e renovar sua força. Apesar de sua escuridão, Gregori trazia pureza e luz com ele, unidas a ele como uma aura de poder. — Diego estudou com o mais maligno dos vampiros. Começaram a juntar-se em grupos em nossa terra natal, com a intenção de derrotar Mikhail. Quando não funcionou, alistaram-se para caçarem humanos. Agora começaram a viajar e a enganar. Usam muitos métodos para nos derrotar, Aidan. Agiu bem hoje, Aidan.

—Com sua ajuda. — Aidan se endireitou, uma mão pressionando com força a ferida que sangravam em seu pescoço.

       Gregori se deslizou sobre as baratas e as serpentes enegrecidas, sem que seus pés tocassem o chão, enquanto se aproximava da janela aberta do carro.

       Aidan não podia evitar dar ao curador uma advertência.

—Usei suas defesas para manter ao menino livre de danos. — Não podia acreditar que o curador pudesse transformar-se, mas estava alerta de todos os modos.

       Gregori assentiu com a cabeça.

—Acrescentou seu próprio toque. Cresceu nestes anos, Aidan. Venha aqui. — Ele voltou a cabeça e seus olhos estranhos, autoritários, sua voz baixa e hipnótica.

       Aidan avançou a pesar do grito de alarme de Alexandria. Ela não acreditava que o outro Caçador fosse mau, mas o curador acreditava que sua alma estava perdida. O que o fazia imprevisível.

- Não se aproxime dele! É tão perigoso, Aidan, e posso sentir sua debilidade. É sua voz. Não pode notar que sua voz o cativa?

- Ele é um grande homem, cara. Confia em meu julgamento - reconfortou-a seu companheiro.

       Gregori tocou Aidan muito ligeiramente, mas o Caçador sentiu o calor propagando-se por todo o corpo. O curador fechou os olhos e se desprendeu de seu corpo, entrando no de Aidan. Enquanto a língua antiga de sua gente fazia eco no ar, através de seus corpos, começou um ritual cicatrizante tão velho como o tempo. Aidan sentiu a dor separando-se de seu corpo, afastado pelo maior curador de todos. O cântico seguiu durante algum tempo, mas Alexandria continuou compartilhando sua mente, recusando-se a renunciar seu lugar de direito. Ela sabia que Gregori podia sentir sua presença, ser consciente de que ele podia saber de sua desconfiança, mas estava mais preocupada com a segurança de Aidan que pelos sentimentos de Gregori.

      Gregori lentamente retornou a seu corpo, revelando a tensão do processo cicatrizante pelas linhas gravadas em seu rosto. Mas sem se alterar, rasgou sua mão com seus próprios dentes e a estendeu, oferecendo seu sangue a Aidan.

       Aidan vacilou, sabendo que Gregori oferecia muito mais que a nutrição. Agora estaria vinculado a Gregori, capaz de rastreá-lo a vontade se fosse necessário. A grossa mão jorrando preciosas gotas de cor rubi pressionou mais perto de sua boca. Com um suspiro, Aidan cedeu ao inevitável. Precisava alimentar-se e Alexandria esperava em casa, necessitando-o também.

—É formosa esta terra, em sua própria forma, não?— Gregori não esperou a resposta de Aidan ou indicou de maneira nenhuma que a perda de sangue o afetava. — Não é selvagem e indomável como nossas montanhas, mas há futuro aqui. —   Não se sobressaltou enquanto os dentes de Aidan se afundavam mais profundamente em sua pele.

       Uma força inédita entrou em torrentes no corpo de Aidan. Gregori era um dos antigos, seu sangue muito mais vigoroso que o dos homens com menos idade. A nutrição reanimou Aidan instantaneamente, fez desaparecer a dor e o cansaço, lhe deu uma vitalidade que nunca havia experimentado. Fechou a ferida cuidadosa e meticulosamente, com grande respeito.

—Estou em dívida contigo, Gregori, por haver me auxiliado hoje. — disse formalmente.

—Você não precisava de minha ajuda. Só simplifiquei as coisas. Suas defesas para o menino, teriam dado o tempo necessário até sem a névoa. E tinha bastante força para sobreviver à luz do sol em sua condição imaterial, sem mim. Não me deve nada, Aidan. Tive sorte em minha vida por contar com alguns homens, aos que posso chamar amigos. Você é um deles. — Gregori soou como se estivesse já muito longe.

—Venha para minha casa, Gregori. —insistiu Aidan. — Passe um tempo conosco. Poderia ajudar a te aliviar.

       Gregori negou com a cabeça.

—Não posso. Sabe que não posso. Necessito de terras selvagens, de limites altos, onde possa sentir a liberdade. É meu caminho. Encontrei um lugar a muitas milhas daqui. Construirei ali meu lar para aguardar minha companheira. Recorda a promessa que me fez.

       Aidan assentiu com a cabeça. Sentiu Alexandria movendo-se em sua mente, oferecendo cercania, consolo.

— Nesta distância, sinto a ansiedade de sua companheira por ti e pelo menino. E precisa alimentar-se. Sua fome palpita em mim. Não perca tempo preocupando-se por mim. Cuidei-me sozinho durante séculos. — Já sua forma sólida estava flutuando, brilhando tenuemente, desfazendo-se em gotículas de névoa. Sua voz se voltou de novo imaterial, estranhamente vazia, e apesar de tudo, ainda formosa.— Foi realmente uma façanha a que realizou hoje e a plena luz do dia. Poucos podem fazer o que fez. Aprendeste muito.

       Aidan o observou desaparecer, a névoa entrando em torrentes no bosque circundante até que também desapareceu. O reconhecimento de seu lucro por parte de Gregori o orgulhou. Sentiu-se como um menino recebendo o louvor de um pai reverenciado. E se trando do magistral Gregori, que escolhia viver sozinho e fazer amizade com poucos, sentiu-se especialmente honrado.

       Muito cuidadosamente, com paciência infinita, Aidan desenredou as defesas em volta de Joshua e cuidadosamente tirou o menino do carro. As serpentes enegrecidas, caíram sobre a terra, dispersando-se ao redor dos pés de Aidan. Tinha muito trabalho que fazer, mas já não podia suportar deixar o menino com as criaturas do vampiro.

       Aidan levou ao Joshua ao topo de uma colina coberta de ervas, sob um pinheiro, e lhe colocou sobre a terra. Com suavidade, afastou para trás do pequeno rosto, seus cachos loiros.

—Ele está bem, Alexandria. Está dormindo profundamente como lhe ordenei. Vou despertá-lo quando estiver em casa. Logo podemos nos ocupar do que viu.

—Por Deus, não demore. Quero vê-lo em meus braços. E Enjoe pode me acreditar quando digo que seu Joshua está fora de perigo. Havia anseio em sua voz, mas também fadiga, indicando sua decrescente força.

       Aidan, preocupado, deixou o menino dormindo pacificamente enquanto retornava ao repugnante campo de batalha para completar a tarefa desagradável de destruir o vampiro para sempre. O coração e o corpo separados, junto com todo o sangue manchado, devia ser incinerado.

       Olhando para o céu, construiu a eletricidade, tecendo as veias do relâmpago e aumentando a fricção até que ela se arqueou e rangeu. Dirigiu um raio para o corpo do vampiro, fazendo girar uma bola de fogo das faíscas resultantes. O corpo do vampiro se contorceu repugnantemente, o mau cheiro aumentando até encher o ar da noite. A poucos pés de distância, o coração pareceu mover-se, numa sutil e mortal palpitação, Aidan fez uma pausa.

       Inquieto com o fenômeno desconhecido, Aidan dirigiu as chamas ao coração e o incinerou rapidamente, reduzindo-o a um montículo de cinzas. O corpo deformado grotescamente, quase se endireitou e um gemido longo e triste aumentou no vento. O som foi horrendo, e à medida que se desvanecia na noite, as notas se converteram em uma risada desagradável de zombadora.

       Imediatamente, Aidan deu meia volta, seus olhos dourados e inquietos, registrando a terra, as árvores, o céu em busca de uma armadilha escondida. Seu corpo permaneceu quieto, escutando insistentemente qualquer som suspeito. Em sua mente, Alexandria retinha o fôlego. Então ele o ouviu. Um som suave e insidioso. Sigiloso. Furtivo. Um ligeiro roçar de escamas deslizando-se sobre as agulhas de pinheiro.

       - Joshua! - Alexandria explodiu ante a revelação, com horror igual ao dele.

       Ele se moveu com velocidade sobrenatural, mais rápido do que em séculos de sua existência, cruzando a distância até o topo da colina coberta de erva onde tinha deixado o menino. Sua mão encontrou à serpente, agarrou-a e a arrancou com força longe de sua meta. O animal se enrolou em volta de seu braço, desesperadamente apertando seus músculos, afundando as presas na parte carnuda de seu polegar. Mordeu uma e outra vez, injetando veneno em seu corpo, cada um de seus instintos lhe ordenando levar a cabo a vingança do vampiro. Aidan fez migalhas da serpente, arrojando-a as chamas que consumiam o corpo do não morto. A fumaça nociva se levantou no ar eos gases verdes retorcendo-se e rodando até desaparecer na fumaça negra.

       Aidan se deixou cair ao lado de Joshua e atraiu ao menino em seus braços. Fez uma inspeção lenta e meticulosa de cada centímetro de pele para assegurar-se de que o menino estava ileso. Esperou sua reação ao veneno da serpente. Aos poucos minutos, seus pulmões começaram a lutar por ar e teve náuseas, mas não foi tão mau como esperava, dado que a força do veneno tinha aumentado pelo ódio do vampiro. Levou um momento até se dar conta que era o sangue de Gregori a que neutralizava os efeitos do veneno. Podia sentir a luta em seu corpo, mas o sangue de Gregori era muito mais forte do que algo que o vampiro pudesse produzir. No prazo de alguns minutos, Aidan estava bem. Seu coração e seus pulmões tão fortes como sempre, com o veneno fluindo de seus poros.

       Levantou o menino em seus braços e se lançou no ar, suas asas dispersando-se enquanto abria espasso no do céu, para sua casa e sua companheira que o esperava. Mal havia aterrissado no balcão do terceiro andar e Alexandria já estreitava Joshua em seus braços, rindo e chorando ao mesmo tempo.

— Você o trouxe, Aidan! Não posso acreditar que o fizeste!— Ela estava mortalmente pálida, seus braços tremendo de debilidade.

       Aidan podia ouvir seu coração esforçando-se, seus pulmões respirando com dificuldade, lutando por funcionar embora seu fornecimento de sangue fosse baixo. Apesar de seu desejo de abraçá-la e velar por suas necessidades, colocou Joshua em seus braços.

— Olhe seu rostinho. — Ela estava chorando, as lágrimas caindo sobre os machucados de Joshua e o olho arroxeado. — Oh, Aidan, olhe-o.

—Eu o vejo maravilhoso. — disse Aidan brandamente enquanto seu braço rodeava sua cintura, aceitando o peso do menino. — Vamos colocá-lo na cama e despertá-lo — Podia ouvir enjoe e Stefan subindo as escadas para unir-se a eles. A fome de Alexandria palpitava nele. Todo o lado masculino, protetor e instintivo de sua raça, rebelou-se para demandar que cuidasse dela. Joshua estava a salvo. Era hora de velar para que a força de sua companheira fora restaurada.

—Oh, Enjoe, seu rostinho. — soluçou Alexandria à mulher mais velha. — Essa criatura horrível o golpeou.

       Enjoe estava chorando abertamente, tomando o menino dos braços de Alexandria. Stefan também teve que abraçar o garotinho.

—Ele está bem, está dormindo.— reconfortou Aidan. Sua preocupação era por Alexandria agora. — Vamos colocá-lo em sua cama e então o despertaremos. Será informado que foi um seqüestro. Para pedir dinheiro. Aceitará essa explicação e entenderá por que a presença dos guardas é necessária.

       Stefan levou Joshua para ao quarto pequeno junto ao deles. Enjoe o vestiu com seu pijama e levou um pano molhado para limpar seu olho arroxeado. Alexandria estava sentada sobre a beirada da cama, a mão pequena de Joshua na dela. Aidan se ajoelhou a seu lado, um braço ao redor de sua cintura.

—Joshua, desperte agora. Alexandria precisa ver seus olhos azuis. — Murmurou as palavras brandamente, sua voz autoritária gotejando na mente do menino e chamando o de volta ao mundo.

       Joshua acordou violentamente, tentando se libertar. Foi Aidan quem o dominou, protegendo Alexandria com seu corpo apesar de seus esforços para aproximar-se do menino. — Escute-me, Joshua. Está em casa conosco. Está a salvo. Você não está com os seqüestradores. Quero que esteja tranqüilo para que não machuque Enjoe ou a sua irmã. — Sua voz, como sempre, foi serena e bela, tão urgente que o menino suspendeu sua luta e os olhou cautelosamente. Quando viu Alexandria, pôs-se a chorar.

       Ela se desligou da grande figura de Aidan e alcançou Joshua, arrastando-o para a ela, para o amparo de seus braços.

—Está seguro agora, pequeno camarada. Ninguém vai te machucar.

—Havia cães, cães grandes. Havia sangue em todas partes. Estavam comendo Vinnie. Eu vi.

—Vinnie foi muito valente e tratou de te salvar dos seqüestradores. — o apaziguou Alexandria, acariciando os cabelos de sua testa. — Ele está no hospital, mas está vivo, e vai se sarar. Rusty também. Vou levar você para vê-los em poucos dias. Deveríamos ter te contado sobre a possibilidade de que alguém tentase pegar você. — Ela tocou seu olho com a ponta de um dedo suave. —. Sinto não ter acreditado em você. É suficientemente grande para saber estas coisas.

—É por isso que tinha medo de viver aqui?

—Em parte. Aidan é um homem muito rico. Porque te ama, ama a nós dois, sempre correremos riscos. Algumas vezes teremos que ter guardar. Entende o que digo, Joshua? É minha culpa, não te fazer entender o perigo que podemos passar.

—Não chore, Alex. — Joshua usava voz de adulto. — foi Aidan que me resgatou?

Ela assentiu com a cabeça.

—Claro que sim. Ninguém vai afastar voce de nós. Jamais.

—A próxima vez, quando Enjoe e Stefan me falar para permaneçer em casa, custe o que custar eu vou cumprir. — decretou Joshua. Examinou Alexandria com olhos ansiosos. —Você está bem? Está tão branca.

—Isto foi terrível para todos nós, Joshua. — disse Aidan. — Enjoe e Stefan cuidarão de voce enquanto cuido de Alexandria. Ela precisa descansar. E não se preocupe pelo Baron. Stefan o manteve a salvo para voce. Seu cachorro pode ficar contigo enquanto levo Alexandria para à cama.

       Alexandria negou com a cabeça.

—Não vou deixá-lo, nem por um minuto. Ficarei aqui até que ele durma.

—Não, minha cara. — disse Aidan firmemente. Levantou-se, num movimento gracioso e eloqüente que fez os dentes femininos começassem a aparecer. Suas mãos a agarraram facilmente, elevando-a e embalando-a contra seu peito. — Ela precisa descansar, Joshua. Trarei-lhe aqui mais tarde.

—Está bem, Aidan. — disse Joshua, de homem a homem. — ela precisa estar na cama mais do que eu.

       Aidan sorriu abertamente e a tirou do quarto, sem aparentemente notar, que ela estivesse retorcendo-se.

—Ele tem razão, sabe. — murmurou contra seu pescoço. — Precisa estar na cama. Na minha cama. — Sua respiração foi quente e zombadora, um convite que ela achou quase impossível de resistir.

—Acredito que é insaciável, aidan. —acusou ela, mas seus braços se levantaram para enlaçar o pescoço de seu homem e relaxou contra ele.

—No que se refere, está certa. — concordou Aidan. Ele movia-se rapidamente através da casa, depois dentro do túnel. Seu corpo já endurecendo por antecipação.

       As mãos da moça deslizaram dentro de sua camisa, acariciando seu peito. Sua boca se moveu sobre o pescoço do homem, desceu e encontrou as nervuras em seu peito, sua língua vagou e o acariciou. Um tributo carinhoso a sua coragem.

       Na câmara, Aidan a colocou no leito. Com seu olhar fixo mantendo o dela, começou a desabotoar sua camisa.

       Alexandria deslizou o suéter sobre a cabeça e o jogou a um lado.

       Ele estendeu a mão, arrastando-a perto, quase a dobrando para trás para que sua boca pudesse aproveitar-se do convite que seu corpo oferecia. Ela cheirava bem. Sua pele era fresca, suave como a seda. Enquanto isso, seu corpo clamava de fúria pela liberação, com uma urgência já familiar para ele. As mãos femininas estavam em sua calça, deslizando o zipér eempurrando o tecido de seus quadris.

       Ele gemeu quando ela o segurou em suas mãos, acariciando-o. Suas próprias mãos foram mais ásperas enquanto empurrava para o lado a roupa, para sentir sua pele quente contra a dele.

—Vai me deixar louco, piccola, completamente louco. — murmurou ele e a levantou em seus braços. — Coloque as pernas em minha cintura.

     A cabeça do Alex estava inclinada, sua boca vagando através de seu seio, sua língua lambendo sua pulsação.

     —Me alimente - murmurou ela em sua vez, seu tom tão sensual que suas pernas quase não a sustentaram.

       Com as mãos, ele a sujeitou pelos quadris para poder entrar em sua intimidade. Ele gemeu rouco quando os músculos da jovem lentamente o deixaram entrar, quando ela se apertou ao redor dele, ardente e tensa e suave como a seda.

—Tome o que quer de mim, o que é legitimamente teu. — murmurou ele, enterrando-se profundamente, soldando-os com fogo e paixão. — Faça, Alexandria. Quero que o faça.

       O corpo inteiro de Aidan resplandeceu de luz, ante o sentimento puro, enquanto os dentes de sua companheira perfuravam sua pele. Ele se inundou nela, duro e urgente, elevando-se, esforçando-se, ansiando levantar o vôo. O cabelo dela os cobriu, acariciando sua pele sensibilizada, como mil fios de seda. Suas mãos se deslizaram sobre suas costas, riscando cada músculo.

       Sua boca na dele o estimulou mais ainda.

       Aidan reduziu a velocidade de seu ritmo, seus quadris empurrando com força, suas mãos tensas, ligando-a a ele. Ela era dele. A companheira que esperara, suportando séculos de tolices. Ela era seu mundo. Sua luz. As cores que pensava ter perdido para sempre. Ela era o êxtase que não sabia que existia.

       E estaria junto a ele por toda a eternidade. 

 

                                                                                                    Christine Feehan

 

 

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