Criar uma Loja Virtual Grátis
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PAIXÕES NO OESTE - Vol. I / Janice Ghisleri
PAIXÕES NO OESTE - Vol. I / Janice Ghisleri

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT 

 

 

Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

Com este volume inicia-se uma saga de quatro livros, uma história cheia de amor e aventura, intensa e arrebatadora. Trago uma visão apaixonada do Texas, que nasceu da inspiração de meus ídolos e como sempre fui admiradora de western, não poderia ter saído algo diferente. Paixões no Oeste é uma história que nos faz se apaixonar pelo enredo e pelos personagens neste inóspito lugar chamado Texas, no fim do século XIX.

 


Tempty, Texas, Estados Unidos, 1896.
Ian voltava tranquilamente da cidade de Tempty, rumo à sua cidade, West Side, quando seus olhos se perderam na visão mais bela de sua vida.
A moça estava no meio da estrada, com a roda de sua charrete presa na lama e tentava empurrá-la.
Ian parou para oferecer ajuda, quando a avistou sem nenhum acompanhante, naquela situação complicada.
— Precisa de ajuda, senhorita? — Ian perguntou, baixando um pouco a cabeça e puxando a aba do chapéu marrom que usava.
— Não, obrigada — disse a moça, sem olhar para ele.
— Desculpe-me, senhorita, mas não creio que conseguirá tirar essa roda daí sem ajuda.
— Pode deixar, Hanna é uma égua forte, vai puxar a charrete sozinha.
Ela estava atrás da charrete, empurrando-a e ainda não havia olhado para ele. Ignorando-o completamente, fez força novamente.
Ian achou aquilo engraçado, deu um leve sorriso com um ar de gozação e pensou que nunca ouvira algo tão absurdo vindo de uma dama, em uma situação como aquela.
Aquilo o deixou espantado. “Mas que mulher teimosa” — pensou.
— Tudo bem, se não quer minha ajuda eu vou embora, mas é uma pena que seus belos sapatos e seu vestido estejam mais atolados na lama que sua charrete. Até mais, senhorita.
Ele tocou seu cavalo com a espora e começou a andar calmamente. Ela olhou para si, para se vir suja de lama, deu um suspiro cansado, fez uma careta e admitiu, mesmo sem querer, que ele estava certo.
— Está certo, senhor, eu preciso de ajuda.
Ele parou de andar e ela se virou, levantou os olhos e encarou o homem em cima do cavalo e, ele, fez o mesmo.
Quando seus olhos se cruzaram, ambos ficaram paralisados, sentiram um baque no coração e um frio lhes afligir o estômago.
Ian possuía uma beleza rara, cabelos compridos até os ombros, olhos exóticos, verdes amendoados, esbelto, alto, pele surpreendentemente clara para um texano. Era um rapaz muito lindo aos olhos das moças.
Ela era uma moça belíssima, alta, esbelta, pele alva, olhos cor de mel e muito marcantes, tinha cabelos castanhos, longos e ondulados que estavam semipresos debaixo de um lindo chapéu de cor pérola, de abas largas. Sua roupa era de quem possuía uma boa posição social.
Parecia muito jovem, mas tinha altivez de uma mulher madura. Ele ficou encantado com sua beleza, de tal maneira, que o ar lhe faltou nos pulmões e o fez piscar diversas vezes para ver se não estava tendo uma alucinação.
Após se recuperar do choque, pelo menos esconder o quanto ficou abalado, Ian desceu do seu cavalo, Trovão, e o acariciou. Ele amava aquele cavalo, era de uma beleza incrível, todo branco, um Mustangue que ele e os rapazes haviam capturado nas montanhas e foi domado por ele há algum tempo.
Ele foi até a charrete para ajudar a empurrar e erguer a roda atolada. Quando chegou ao seu lado, olhou dentro dos seus olhos e os dois ficaram sem jeito.
— Vamos lá, o que está esperando? Vai ficar aí me olhando o dia todo em vez de empurrar? — ela retrucou-o, nervosa.
— Vá até a frente da charrete e puxe a égua, eu vou empurrar. Meu Deus, seu humor é ótimo! — ele disse fazendo uma cara de indignado. Ian colocou toda sua força e num súbito empurrão, tirou a roda atolada. — Prontinho — disse batendo as mãos forradas com uma luva de couro, para limpá-las.
— Obrigada.
— Disponha. A senhorita não devia andar desacompanhada por estes caminhos, pode ser perigoso.
— Eu sei me cuidar, não se preocupe.
— Sim... Eu estou vendo. A propósito, eu me chamo Ian Buller.
— Jayne...
Jayne ia continuar, mas parou de pronunciar seu nome completo. Era costume dizê-lo ou somente se apresentar pelo sobrenome. Ian estranhou, mas não questionou.
O nome dela ecoou dentro de sua cabeça como um som dos deuses.
— Prazer em conhecê-la, senhorita — disse, fazendo reverência com o chapéu e sorrindo.
Ela sentiu-se atordoada com aquele sorriso encantador, e só assentiu com a cabeça, retribuindo o cumprimento.
— Permita-me ajudá-la a subir na charrete.
Ian retirou as luvas e segurou sua mão. Pôde sentir sua pele macia e Jayne tremeu quando ele a tocou.
Quando ela estava subindo no degrau da charrete, Hanna andou, fazendo Jayne perder o equilíbrio e cair. Ian tentou segurá-la, mas ela veio por cima dele e, os dois, caíram na lama.
Ela soltou um grito de susto e quando abriu os olhos, seu rosto estava praticamente a dois centímetros do dele, seus lábios estavam quase se tocando e seus olhos se fixaram um no outro. Ele podia sentir seu perfume embriagante e desejou beijá-la.
Os dois corpos unidos, caídos no chão, trouxe uma sensação que eles nunca haviam sentido, deixou-os atordoados, acometidos de susto, desejo, pensamentos controversos, até que ela conseguiu reagir.
— Solte-me, seu abusado! — falou, nervosa, se desvencilhando dos braços dele e tentando levantar.
— Eu não estou agarrando-a. Se não fosse eu, você teria dado de cara na lama.
— A culpa foi sua.
— Minha?
— Sim! — Ela levantou e se olhou, estava toda enlameada. — Veja isto, que tragédia!
— Sim... Para uma dama mimada como a senhorita isto deve ser realmente uma tragédia.
— Mimada, eu? Você que é um grosseirão.
— Meu Deus! Você parece uma potra xucra — disse indignado, então, mudou a fisionomia e sorriu, olhando para aquela beleza. — Mas eu não vou negar que é muito linda — retrucou-a ironicamente.
— Potra xucra? Como se atreve, seu, seu, arft!
Furiosa, Jayne virou as costas e entrou pela lateral da estrada, entre as árvores, se enroscando nos matos.
— Ei... Aonde você vai? — ele gritou.
— Vou me lavar no rio, estou imunda. E vá embora! — gritou sem olhar para trás.
— Huum... Lavar-se no rio, até que é uma boa ideia — falou, olhando-se todo cheio de lama e colocando um sorriso no rosto. — Que gênio tem esta mulher, mas é muito linda.
Ele a seguiu até o rio e quando chegou à margem avistou-a banhando-se. Ela usava uma saia verde cor de musgo, uma blusa branca ornada de finas rendas, com um corpete por cima, sua saia longa e anáguas estavam embolando-se na água, enquanto tranquilamente boiava. Seus cabelos estavam soltos e molhados, caindo em mechas sobre seus ombros e o restante dançava na água, como um leque.
Ela parecia ter se esquecido dele, estava deleitando-se naquela água cristalina e fria, perdida nos seus pensamentos. Ele ficou paralisado vendo-a daquela maneira, admirou cada centímetro dela, pois estava inebriado.
— Não vá se afogar! — ele gritou, com um sorriso irônico.
Ela se assustou, soltando um grito e foi para o fundo, subiu rápido e passou as mãos nos olhos e olhou aturdida para ele.
— O que você ainda está fazendo aí? Não falei para ir embora?
— Ah! Eu não sabia que esse rio pertencia à senhorita. Eu também vou tomar banho.
— Não se atreva a entrar aqui! — gritou, arregalando os olhos e Ian deu uma gargalhada debochada.
— Vou entrar. — Ele começou a tirar as roupas.
— O que você está fazendo? — disse apavorada o vendo tirar o cinturão com a pistola e jogar no chão e seu casaco. — Pare com isso!
Jayne começou a ir para a margem e saiu do rio, sua roupa parecia pesar uma tonelada, dando dificuldade a ela de locomover-se. Ela levantou-se ao seu lado, com muito custo, e olhou seriamente para ele.
— Ora vejam... Agora você está parecendo um gato molhado — ele disse rindo para ela, debochado.
— Igualzinha a você. — Ela colocou as duas mãos no peito dele e o empurrou para dentro da água. — Aproveite seu banho — falou rindo e dando as costas para ele.
Ian emergiu, sacudiu os cabelos e olhou para ela.
— Você é o diabo! — gritou. Ela foi embora, rindo, e ele a perdeu de vista no mato. — Mas que diabos! Que mulher é essa? Nunca vi alguém assim... Mas é linda! — disse, com um sorriso no rosto.
Ian ficou um tempo na água e Jayne estava indo em direção à estrada e olhou para trás, parou de andar, sentindo vontade de vê-lo novamente.
Tentou conter aquela ansiedade que abruptamente lhe consumiu, mas foi em vão, ela voltou tentando não fazer barulho e escondeu-se atrás de uma árvore.
Ela ficou admirando a beleza estonteante de Ian, estava deslumbrada, pois nunca havia visto homem tão belo e tão atraente como ele. Pelo menos, nunca um que a tinha arrebatado de tal maneira.
Ele saiu da água, tirou o colete, baixou os suspensórios, tirou a camisa e começou a torcê-las. Ela arregalou os olhos e ficou quase sem ar ao ver seu peito nu, seus músculos perfeitamente torneados. Quando ele sacudiu os cabelos e os jogou para trás, os ajeitando com a mão, Jayne parou de respirar.
Ele vestiu a camisa e colocou o casaco, jogando o colete sobre os ombros, juntou suas coisas do chão para voltar ao seu cavalo, então, Jayne se viu numa enrascada.
Ela correu para chegar antes dele, subiu na charrete rapidamente e tocou a égua.
Quando ele chegou à estrada, avistou-a indo embora, ficou parado no meio da estrada olhando-a e sentiu um vazio de vê-la ir. Jayne olhou para trás e o viu parado.
Ian sorriu, involuntariamente, acenou com a mão dizendo adeus e ela pensou em não retribuir, mas com um aperto no peito, sem nem saber explicar o que sentia, retribuiu o aceno.
Ian foi outras vezes àquela cidade, que era relativamente grande, mas nunca mais a viu ou soube qualquer coisa dela. Tentou encontrá-la, mas nem sabia seu sobrenome.
Ele a havia perdido, mas Jayne nunca deixaria seu coração, porque ela tinha entrado sem pedir licença, roubado seus pensamentos e seus sentimentos.

 

 

 

 

Capítulo 1

 


West Side, Texas, Estados Unidos, 1899.


A pequena cidade de West Side, ao norte do Texas, estava em expansão.

A chegada da estrada de ferro estava trazendo avanço à cidade e grandes casas de madeira e concreto estavam sendo construídas.

A rua central era larga e empoeirada, com movimentos de charretes, cavalos e coches.

A tranquilidade da cidade permitia aos moradores sentarem-se na varanda para ler as amarelas páginas do novo jornal The West, os homens esbanjavam seu tempo no Saloon, onde tomavam tequila ou uísque e jogavam pôquer.

Eram estimulados pela presença das moças faceiras com suas roupas provocantes, onde, muitas vezes, somente exibiam as roupas de baixo de calçolas e chemises, com seus formosos e estranguladores espartilhos, fazendo a alegria dos homens.

Mas, de outro lado, a moralidade e pompa social imperava nas famílias, regendo regras na cidade.

A proximidade do fim do século XIX e chegada do século XX, trazia consigo as novas tecnologias e progressos às grandes cidades, que aos poucos agraciava as do interior, fazendo com que a modesta população de West Side, se deleitasse com as novidades vindas das cidades grandes.

Aos arredores da pequena cidade ficavam as fazendas, onde se criavam gado e cavalos. Onde era possível encontrar os caubóis que faziam o ginete, os vaqueiros das comitivas, os grandes e pequenos fazendeiros.

As colinas, penhascos, pastos e riachos eram suas moradas, o lar dos texanos, o qual eles se orgulhavam de amar.

Os quatro amigos, Ian, Willian, Mitchel e David, cuidavam de suas pequenas fazendas, que eram vizinhas. Elas foram adquiridas e mantidas com muito custo, cuidando da criação de gado e de cavalos.

Eles gostavam de se reunir ao fim da tarde para jogar conversa fora, tomar um trago e relembrar suas aventuras.

Eles se criaram juntos, aprenderam a montar, laçar, atirar e a farrear. Sempre estavam unidos, eram companheiros, amigos, irmãos. Houvesse o que houvesse, não deixavam de dar apoio um ao outro.

O mais importante para eles, era estarem unidos e compartilharem alegrias e dificuldades.

Naquele entardecer do fim de inverno, os quatro estavam reunidos na fazenda de Willian e podiam vislumbrar o sol poente, avermelhado, sumindo atrás das colinas.

Eles acenderam uma fogueira e assavam uma lebre, cravada no rolete, que era sustentada por um alicerce de madeira e era girado de vez em quando sobre as labaredas do fogo de chão.

Eles pegaram suas bebidas e começaram as bagunças.

Era assim que se reuniam ao entardecer para descontrair após um dia de lida, para as prosas vazias, mas engraçadas, para as brincadeiras bobas, mas sempre inebriantes. Era um costume e uma necessidade dos rapazes terem nas suas vidas esse ritual.

— Willian, sua fazenda está ficando ótima — Ian disse olhando ao redor.

— Sim, o trabalho está grande, mas esta cerca vai ficar do jeito que eu quero — Willian respondeu entusiasmado, com um sorriso majestoso.

— Verdade! Eu sei como é. A minha está ficando ótima e dando bastante trabalho também, mas, se você precisar de ajuda com a cerca, basta pedir — Ian disse, sorridente e lhe dando uma leve palmada nas costas.

— E quando vamos atrás daquele Mustangue? — David perguntou, animado.

— O cercado está pronto, podemos ir quando quiserem — Willian disse.

— Por mim, vamos amanhã — Mitchel disse empolgado por uma aventura e bebendo um gole enorme da tequila, fazendo careta.

— Por mim, também — Ian concordou.

— Tudo bem, então nós vamos amanhã cedo. Ele está por perto, eu o vi no topo da montanha esta manhã.

— Ótimo, eu estou sempre pronto — David disse.

— Willian, você tem visto aquela moça? Como é seu nome? — Ian perguntou.

— Jessy. Não, não a vi mais... Mas eu confesso que ela é muito bonita. Eu gostaria de cortejá-la oficialmente, mas ela é meio estranha, fica sempre com desculpas, não deixa eu me aproximar da sua família.

— Willian, para você, todas as mulheres são estranhas — David debochou e todos riram.

— Acho que é nossa fama.

— Fama? Nós somos uns santos — Mitchel disse, erguendo as sobrancelhas.

— Santo é o Ian, você é um capeta — Willian retrucou.

— Bem, com isso eu devo concordar — Mitchel disse, soltando uma gargalhada.

— Ainda bem que assume — David disse, rindo.

— Quem sabe vamos à cidade e você dá sorte de vê-la — Mitchel sugeriu.

— Verdade, aí nós já aproveitamos e vamos ao Saloon — David falou, com cara de safado.

— David, eu devo concordar com você. Aquelas moçoilas me enlouquecem a cabeça — falou Mitchel com uma cara de sempre, levantando uma das sobrancelhas e fazendo cara de conquistador.

— Ah, Mitchel, você vive louco pelas moçoilas, você não toma jeito — Ian retrucou, jogando um pequeno galho de mato em Mitchel e todos riram.

— Mas o que você quer que eu faça? Se não tenho uma, fico com duas — disse soltando uma gargalhada. — Ian, eu não sou certinho como você, que tem que se soltar mais. Quando vai ao Saloon não desfruta a noite com ninguém. Com todas aquelas belas mulheres, prefere ficar sozinho.

— Mitchel, você me conhece, eu não sou chegado a estas devassidões com cocotes, estou esperando a mulher certa.

— Desse jeito ele vai continuar virgem — Willian falou, dando uma gargalhada e todos riram.

— Não seja engraçadinho, Will — Ian falou, contrariado.

— Você vai encontrar, Ian. Mas você não está com a esperança de encontrar aquela moça ainda, ou está? — David questionou.

— Não... Eu acho que nunca mais vou vê-la de novo, mas confesso que nunca esqueci seu rosto.

Ele sempre se recordava dela e sentia tristeza, mas sorria quando se lembrava das confusões do intempestivo encontro.

Inexplicavelmente Ian foi arrebatado por aquela bela e estonteante dama, com traços tão delicados, mas tão rebelde e impulsiva. Linda como o puro pecado.

Ele ficou ali, perdido em suas lembranças, quando ouviu os rapazes chamá-lo.

— Ei, Ian, acorda! — gritaram os rapazes, trazendo-o de suas lembranças.

— Estava se lembrando dela?

— Estava — Ian respondeu, esfregando o rosto com as mãos.

— Homem, esquece esta mulher! Você nunca mais vai vê-la, precisa arrumar outra. Uma de carne e osso — Mitchel disse.

— Sim... Vocês têm razão, eu sou um idiota mesmo.

— Eu não acho que você seja idiota, acho você um romântico incompreendido — Willian disse, ironizando.

— Ah! Isso ele é mesmo, por ele e por mim — Mitchel disse, rindo.

— Mitchel, você é um cafajeste. — David debochou. — Qualquer dia você vai levar um tiro.

Todos riram e concordaram.

— Lembram-se do dia que ele pulou a janela da casa dos Jensen, só de ceroulas? — Willian lembrou, matando-se de rir e todos riram.

— Isso... Riam de mim, aquele dia quase virei um defunto. Foi por pouco que o pai dela não me achou em seu quarto.

— Ah Mitchel, mas o que você queria? Encontrar-se com a moça em sua casa, deve estar com vontade de virar peneira — Ian disse, rindo.

Os rapazes começaram a contar histórias, a rir e a beber, cantavam algumas músicas para alegrar, enquanto Willian tocava bandolim.

Já havia anoitecido e Mary saiu na varanda e ficou por alguns instantes contemplando os rapazes com um sorriso estampado no rosto.

Mary era irmã mais nova de Willian. Uma moça bonita, muito parecida com o irmão, possuía os cabelos negros e longos, olhos verdes e corpo esguio. Adorava a companhia dos rapazes e escondia uma paixão por David. Não poderia revelar nada, pois era tímida e tinha medo que causasse algum desentendimento entre os amigos.

Ela já tinha atingido a idade de se casar, mas por aquelas bandas, isso não tinha muita importância, era sua obrigação ajudar o irmão com a fazenda. Afinal, somente restavam os dois de sua família e tinham se apegado um ao outro.

— O jantar está na mesa, se esta lebre está pronta, venham, antes que esfrie — ela gritou.

Willian retirou a lebre do fogo, levando o espeto para dentro e os rapazes o seguiram. Todos entraram, lavaram as mãos na bacia com água e sentaram-se à mesa.

— Boa noite, Mary, como você está? Está muito bonita hoje — David disse, sorridente.

— Estou bem, obrigada.

Por dentro, ela derreteu-se pelo comentário, alisando a saia marrom longa que usava.

— Ah, a comida da Mary é um espetáculo — Mitchel disse, lambendo os lábios e esfregando as mãos.

— Verdade, Mary, você cozinha muito bem — Ian confirmou.

— Obrigada, rapazes. Willian, você deveria aprender elogios assim — falou, com um sorrisinho para o irmão.

— Ah Mary, você sabe que adoro sua comida — falou rindo.

— Sei. Vocês sabem quem comprou a fazenda dos Thompson? — Mary perguntou, servindo os pratos.

— Se chamam Cullen, é o dono do banco que abriu na cidade, Carl Cullen eu acho, dizem que são muito ricos — Ian respondeu.

— Ouvi falar que ele tem três filhas — Mitchel disse, com uma cara de safado, erguendo uma de suas sobrancelhas.

— Ah meu Deus! Lá vai Mitchel atacar as filhas do banqueiro. Ah homem, deixe uma para mim! — David exclamou, rindo, e os rapazes riram também.

Mary sentiu-se triste com o comentário de David, mas disfarçou. Ele realmente não gostava dela.

— Vocês não têm jeito mesmo — Ian disse, rindo.

— Mitchel, se ele tem três filhas, deve ter também três espingardas carregadas — Willian brincou.

— Não tem problema, eu vou ser discreto, vou lá pedir um empréstimo no banco e faço amizade com ele.

— Ah! Eu acho mais fácil você trabalhar de empregado na fazenda dele, limpando o celeiro — David debochou.

— Há, muito engraçado — Mitchel falou, fazenda cara de indignado.

O jantar transcorreu alegre, falaram de diversos assuntos e riram muito. Mais tarde despediram-se e cada um foi para sua fazenda.


**


Na manhã seguinte, todos voltaram para a fazenda de Willian, para irem atrás do Mustangue. Estavam devidamente providos de seus apetrechos, laços, cantil, luvas de couro, chapéus e esporas.

— Ainda bem que a neve está acabando, estava me cansando de ver tudo branco — David disse, ajeitando as luvas.

— Todo inverno você diz a mesma coisa, parece aquele negócio que toca música, engasgado. Como chama? — Willian disse.

— É fonógrafo, Willian — Ian disse rindo.

— O que posso fazer? Eu não gosto de branco, gosto de verde.

— Vamos lá, rapazes, chega de conversa fiada e vamos colocar emoção neste dia gelado — Ian disse.

— Todos prontos? — Mitchel perguntou.

— Sim — Willian respondeu.

— Iá!

Todos saíram galopando montanha acima. A vista das colinas era maravilhosa, a neblina ainda cobria os prados que timidamente começavam a ficarem verdes. Eles amavam aquelas terras, eram seus lares e de uma beleza incrível. Galoparam até chegarem a uma colina onde havia pedras gigantescas.

— Oooo... — Willian gritou ao seu cavalo. Ele levantou a mão para os rapazes pararem e não fazer barulho. Todos pararam de galopar e começaram a andar. — Ele deve estar por aqui.

— Tem certeza?

— Sim, este pasto é o preferido dele. Está começando a ficar denso, então ele vem aqui atrás de comida.

— Quero ver quem vai domá-lo dessa vez — Ian falou.

— Willian — David respondeu.

— Hummm... Quero ver — Ian disse zombeteiro.

— Lá está ele — Willian gritou. — Vamos!

Ele esporou o cavalo e saiu em disparada. Os outros o seguiram e se espalharam, formando um círculo para cercá-lo. Corriam de um lado para o outro tentando laçar o Mustangue, mas ele era arisco e muito rápido. Era lindo de se ver, completamente preto e seu pêlo era muito brilhante.

Após uma hora tentando pegá-lo, finalmente Ian conseguiu laçá-lo. Os quatro jogaram mais laços para tentar segurá-lo, enquanto ele se empinava e tentava escapar. Num dos puxões, o Mustangue derrubou David do cavalo.

— David, você está bem? — Ian gritou.

— Acho que machuquei o braço — disse gemendo e o segurando.

Ele se levantou fazendo caretas de dor, agarrou a corda do pescoço do Mustangue com a outra mão, para ajudar a segurá-lo. Após mais alguns pinotes, o cavalo se acalmou um pouco.

— Tudo bem, ele já está mais calmo, vamos tentar levá-lo para a fazenda — Willian disse e começaram a voltar; estavam exaustos.

— Bem, rapazes, missão cumprida — Mitchel disse.

— Ainda não, tem que domá-lo — Ian disse rindo.

— E este vai ser de quem? — David perguntou.

— Boa pergunta, vamos tirá-lo no pôquer.

— Ah não, Mitchel, pôquer não, eu sempre perco — Willian disse.

— Então no palito — Mitchel falou.

— Acho que eu o merecia, pois me machuquei — David disse.

— Deveria ser meu, pois ficará no meu cercado — Willian emendou.

— Então deveria ser meu, pois fui eu que dei a ideia — Ian disse.

— Ian, você já tem o Trovão que foi uma peleja daquelas para o pegarmos. Este, vamos disputar entre nós três — David falou, rindo.

— Tudo bem, eu estou feliz com o Trovão — Ian falou, rindo e acariciando seu cavalo que parecia entendê-lo e o animal balançou a cabeça afirmativamente, relinchando, e todos riram deles.

— Este caso de amor está ficando grave — Mitchel disse.

— Ah cale-se! — Ian resmungou.

Eles voltaram para casa e, de vez em quando, o Mustangue se agitava e eles insistentemente o tentavam acalmar para que parasse de dar pinotes. Pior ainda foi colocá-lo dentro do cercado, mas com dificuldade conseguiram. Mary correu para fora da casa quando os viu chegando.

— Nossa, como ele é lindo! — ela exclamou, sorridente.

— Realmente é uma beleza de cavalo — Willian falou.

— Mary, cuide de David, pois está machucado — Willian pediu.

— Ah meu Deus! Venha aqui, David, vou ver isso.

Mary levou-o para dentro da casa e pegou uma caixa com alguns medicamentos e ataduras. Ela tirou o longo casaco que quase chegava aos pés, a jaqueta e a camisa, o deixando com o peito desnudo, pegou um pano com água para limpar a ferida e quando ela tocou, David gemeu.

— Desculpe. Vocês parecem crianças travessas, que eu sempre tenho que fazer curativos — falou, com um sorrisinho, repreendendo David.

— Verdade, você é nossa enfermeira oficial — respondeu, rindo.

— Não vai precisar de pontos, pois está somente esfolado, creio que a dor foi mais da batida, mas não parece estar quebrado. Seria bom você ficar com o braço imobilizado por um tempo.

— O quê? Eu não posso ficar com o braço imobilizado, Mary. Eu preciso desse braço.

— Bem... Isto é o que dá suas aventuras. Eu sinto muito, mas seu braço deve ser enfaixado, pelo menos por uns dias, e não discuta comigo.

— Está bem, está bem... Obrigado, Mary.

Neste momento, David olhou bem nos olhos de Mary e ela sentiu um frio na barriga. Ela estava tão perto dele e sentiu vontade de beijá-lo, distraiu-se e sem querer apertou seu braço ferido.

— Ai, Mary. Está me torturando?

— Desculpe.

Depois do curativo pronto e ela ter enfaixado seu braço, o ajudou a se vestir e colocou uma tipoia, feita com um pano.

— O que vou fazer agora com o braço deste jeito?

— Ficar sem laçar Mustangues — ela disse, sorrindo, lhe ajeitando o casaco.

— Vai precisar de um remendo no casaco. Posso fazer para você.

— Outro dia.

Ele olhou para seu rosto e sorriu. David era muito alto perto dela, ele tinha mais de um metro e noventa, cabelos claros e olhos verdes. Mary ficou encabulada com aquele sorriso.

— Obrigado, Mary. Você é um anjo.

Ele a beijou na face, o que deixou Mary ruborizada e sem ar, pois não esperava aquela atitude dele. Ele foi para fora ver o cavalo, enquanto ela sentou na cadeira com a mão no peito, suspirando. Como o amava.

— Bem rapazes... Eu vou para casa, estou inutilizado por uns dias, mas valeu à pena, este cavalo é muito bom. Só não sei se algum de nós vai conseguir montá-lo.

— Também vou para casa, tenho coisas para fazer na fazenda. Amanhã vamos à cidade? — Ian perguntou e todos concordaram. — Certo. Até mais.

 

 

 

 


Capítulo 2

 


No dia seguinte, todos se reuniram e foram à cidade, galopavam um ao lado do outro, conversando calmamente.

— Ian, você está com uma cara de morte. O que houve? — Willian perguntou.

— Não sei, não dormi direito, tive sonhos esquisitos, pesadelos.

— Que tipo de pesadelos? Já sei, sonhou com a Dona Michela, seus cento e oitenta quilos, oitenta anos e sua boca sem dentes — Mitchel brincou, maldoso.

Todos riram, mas David gargalhou tão alto que ecoou pelas montanhas.

— Ela tenta beijar Ian quando ele passa na frente de sua casa — David disse, rindo muito.

— “Venha cá, moço lindo” — Mitchel disse e soltou outra gargalhada.

— Como são tolos. Mitchel, você me mata. Não, eu sonhei... Ah, não importa.

— Ihhh, eu já sei com quem sonhou — Willian retrucou, rindo. — A tal moça linda de seus sonhos.

— Tudo bem, Ian, vamos fazer o seguinte, hoje nós vamos nos embebedar no Saloon, e nos divertir com as mulheres, certo?

— Certo, Mitchel, certo — Ian disse, rindo.

— É isso mesmo, amigo, nada de melancolia, mulheres sempre animam os homens. Digo, as de carne e osso.

David riu e deu um tapinha nas costas de Ian.

Chegando à cidade, os quatro andavam enfileirados, lado a lado, atravessando a rua principal. Não havia uma moça que não olhasse para aqueles quatro homens. Eles eram muito conhecidos, pelas suas farras, pela amizade e pela beleza estonteante de cada um, que deixava as moças encantadas.

Mas apesar de suas famas de galanteadores e bem-sucedidos em suas fazendas, nenhuma moça os fisgava. Nenhuma mãe que tivesse tentado havia conseguido lhes arrumar casamento.

Eles desceram dos cavalos e os amarraram na viga, em frente ao coche de água.

Ian estava andando distraído, de costas, falando com os rapazes, quando Willian tentou puxar seu braço, mas não deu tempo. Quando ele se virou, esbarrou em uma moça que estava à sua frente, com alguns pacotes na mão.

Com a trombada, ela derrubou os pacotes no chão e esbravejou.

— Por que não olha por onde anda? — ela gritou.

Ian petrificou, ficou parado a olhando. Quando ela ergueu os olhos e avistou-o, derrubou o outro pacote que ainda estava na sua mão. Os rapazes, percebendo aquilo, se entreolharam sem entender nada.

— Você? — Ian perguntou, sentindo um enorme baque afligir seu coração.

Jayne não se mexia, parecia uma estátua e nem sequer piscava, olhando para ele. Willian abriu um largo sorriso para a moça, parada ao seu lado, ele fez reverência tirando o chapéu. Emily, irmã mais nova de Jayne, sorriu para ele, sem jeito, e o cumprimentou com a cabeça. Moça muito bonita, com os cabelos escuros, longos e lisos, olhos castanhos esverdeados, sorrisinho de marota.

Mitchel esticou os olhos para a outra moça que estava logo atrás. Julia, a outra irmã. Moça bonita, olhava séria e observava a cena sem entender o que se passava com aquelas duas estátuas humanas, mas não perdeu o belo sorriso que Mitchel lhe lançou.

Jayne, para disfarçar seu súbito espanto, sua falta de ar, de após tanto tempo reencontrar aquele homem que a deixou inebriada há três anos, soltou uma frase irônica.

— Ora, ora! Se não é o gato molhado.

Ian riu, sem jeito, com o coração acelerado.

— Como vai, senhorita... Jayne? O que faz na cidade? — perguntou, gentilmente.

— Estou morando aqui com minha família, e você?

Ian se encheu de felicidade a ouvindo falar aquilo. Seu coração pareceu quicar dentro do peito.

— Eu sempre morei aqui.

— Ian, não vai apresentar as moças? — Willian perguntou.

Ian não ouviu e Mitchel lhe deu uma cotovelada, para ver se ele acordava.

— O quê?

— Apresente as moças.

— Ah sim, desculpe-me, esta é...

Quando ia continuar a conversa, eles ouviram o barulho de cavalos e tiros, todos se abaixaram olhando na direção que vinha aquilo.

Um grupo de homens entrou pela rua principal da cidade, com lenços tapando seus rostos e atiravam para cima, gritando.

Ian agarrou Jayne pelo braço, Willian agarrou Emily e todos correram para dentro do armazém, que estava na frente deles e se abaixaram debaixo da janela. David e Mitchel os seguiram com Julia e tiraram suas pistolas de seus cinturões. Todos gritavam e corriam assustados pela rua.

— O que é isso? — Jayne gritou.

— Não sei, devem ser bandidos querendo alguma coisa.

— Eles estão entrando no banco — David disse, espiando pela janela.

— Meu pai está lá! — Jayne gritou, tentando se levantar.

— Fique abaixada — Ian disse, puxando-a para baixo.

— Meu pai está lá dentro, pode acontecer algo a ele.

— E o que você vai fazer, entrar lá e atirar em todos?

— Boa ideia. Meninas! — ela gritou.

Ela passou a mão na pistola que estava na cintura de Ian, quebrou uma das vidraças com a coronha da arma e deu um tiro certeiro em um dos homens, que estava no cavalo.

Os rapazes se olharam espantados, começaram a atirar e os bandidos revidaram. As balas estilhaçavam as janelas, fazendo-os encolher-se. Emily levantou seu vestido e pegou uma arma pequena que estava presa na liga da sua meia. Willian vendo isso, ficou boquiaberto. Primeiro, porque nunca havia visto uma arma tão pequena, e segundo, que ela mostrou sua perna, sem pudor algum.

“Que mulheres são essas, meu Deus?” — perguntou-se, sem contar que rapidamente correu os olhos na perna da moça, fazendo-o perder a respiração.

— Há homens encima dos telhados, me deem cobertura — Mitchel disse e saiu porta afora, agachado, jogando-se atrás do coche, e logo acertou dois deles nos telhados.

Emily acertou outro, que estava num cavalo.

— Eu não trouxe minha arma — Julia gritou. — Você... Dê-me uma — falou para Willian, vendo que ele tinha mais uma no coldre.

— Está louca? — Willian perguntou, espantado.

— Haim... Dê-me logo isso! — Julia resmungou, esticando a mão.

Com cara de paspalho, Willian entregou a arma e ela começou a atirar também.

Os rapazes, vendo aquelas atitudes ficaram embasbacados.

— Quem são elas? — Willian perguntou, puxando o braço de David.

— Não faço a menor ideia — respondeu, espantado.

— Eu vou pelos fundos. David, fique com elas. Willian, venha comigo — Ian disse.

Os dois levantaram e correram para os fundos. Outros homens da cidade pegaram seus rifles e atiravam e muitos se esconderam.

Jayne olhou pela janela e viu alguns homens saindo com seu pai e mais duas pessoas de dentro do banco, com as mãos na cabeça. O tiroteio, de repente, cessou.

— Papai! — gritou, levantando-se e David a puxou pelo vestido.

— Fique abaixada.

O homem mascarado puxou o lenço do rosto, revelando-o, fez o velho ajoelhar, dando menção de que atiraria nele.

— Jayne, nós temos que fazer alguma coisa! — Emily disse, em desespero.

Jayne pensou, cerrando os olhos, e olhou para David.

— Você tem balas? Dê-me.

— Tenho. O que vai fazer?

— Não pergunte, dê-me as balas.

Ele lhe deu um punhado. Ela levantou as saias enfiou o monte de balas nas meias e enfiou a pistola de Ian no cano da bota. Num salto, que nem David conseguiu agarrá-la, ela foi para fora.

— Parem! — gritou, com as mãos para cima. — Vocês já pegaram o dinheiro, os deixem em paz.

Ian, que estava com Willian na lateral da rua, vendo Jayne, sentiu seu coração gelar.

— Mas que diabo de mulher! Por que não ficou lá dentro? Está tentando se matar? — disse, enlouquecido e nervoso.

— Ora, ora, ora, o que vejo aqui? — Kid ironizou.

Ele era um ladrão de bancos, chefe do bando, muito perigoso e sarcástico, procurado em muitos estados com seu bando.

— Aproxime-se bela dama.

Ela começou a andar, calmamente, em direção a ele.

— Jayne, não faça isso — gritou seu pai.

Kid deu uma coronhada na cabeça dele, o fazendo desmaiar.

— Pai! — ela gritou e correu para junto dele, se ajoelhando ao seu lado.

— Hum, mas o que vejo aqui? Uma filha dedicada? Que tocante. — Ele agarrou-a pelo braço, tirando-a do chão. — Qual é seu nome? — Ela não respondeu. Ele colocou a arma debaixo do seu queixo. — Vou perguntar de novo, qual é o seu nome?

— Jayne... Jayne Cullen. — O homem sorriu malicioso.

— Não sou um homem de sorte? Você quer brincar, senhora Jayne Cullen? Então por que você não vem com a gente?

Ele a agarrou, machucando seus braços e ela tentou se desvencilhar, cerrou a mão e deu um soco no rosto de Kid, que lhe cortou com seu anel. Ele colocou a mão no rosto e a olhou, vendo que estava sangrando. Ele agarrou Jayne pelo braço e a jogou para outro homem segurar.

— Você é muito valente, não? Mas você vai pagar por isso.

Kid mirou sua arma para o pai de Jayne.

— Não! — gritou tentando se desvencilhar do homem.

Ian, estarrecido, atirou em Kid, acertando-lhe o ombro. Ele cambaleou, derrubou a arma, mas não chegou a cair e o tiroteio recomeçou.

— Vamos rapazes, a festa acabou, vamos sair daqui — Kid gritou, subindo em seu cavalo, com Jayne de bruços na sua frente.

Ian começou a atirar e derrubar um por um. Willian mirava e era tiro certeiro. Mitchel derrubou mais três que estavam nos telhados, enquanto David saiu correndo para fora atirando, Emily e Julia foram logo atrás.

— Jayne! — Emily gritou.

Ian montou em Trovão e foi atrás deles. Um dos bandidos, vendo que ele estava os seguindo, virou para trás e deu um tiro em Trovão que caiu, derrubando Ian.

— Papai! — Emily gritou, correndo até ele e Julia a acompanhou.

Ele estava zonzo, mas voltando a si. Willian e David correram até Ian que esbravejava de dor no chão.

— Ian, você está bem?

— Estou. Não, Trovão... Malditos! — ele acariciou a cabeça do cavalo, sentindo seu coração estilhaçar, ele estava vivo, mas agonizava. Ian cerrou os olhos por um minuto, engatilhou a arma e lhe deu um tiro mortal.

— Vamos atrás deles! — disse enfurecido e olhou com tristeza para seu cavalo que era seu companheiro por anos.

Willian foi até Emily e a levantou do chão e todos vieram para a rua para socorrer os feridos.

— Venha, é melhor levá-lo a um médico.

— Temos que ir atrás de Jayne — Julia falou, angustiada.

— Nós vamos cuidar disso — Mitchel disse, olhando para Julia. — É melhor você levar seu pai para casa e avisar a família.

— Não, eu irei junto — Julia disse.

— Eu também vou — Emily disse.

— Ninguém vai a lugar nenhum! — Ian disse, enfurecido. — Se não fosse a Jayne ter dado uma de heroína, nada disso teria acontecido. E que diabos de família são vocês? Mulheres armadas, com pontaria, metidas a valente! — Ian continuou gritando.

— Fomos criadas para nos defender — Julia retrucou.

— Bem... Isso não importa, nós temos que trazer Jayne de volta... Vamos para casa pegar munição e vamos atrás deles.

— Jayne... Essa é a sua garota? — Mitchel perguntou espantado.

— Sim, ela mesma.

— Minha nossa! Isso é o que eu chamo de reencontro.

— Pelo menos nós já sabemos por que ele se apaixonou por ela — Willian disse, levantando as sobrancelhas.

— Vamos, Ian, venha no meu cavalo — David disse.

— Onde está o xerife? — Willian perguntou.

— Ah, provavelmente debaixo de sua mesa, pois é um covarde — David retrucou.

— Eu não preciso do xerife, vou cuidar disso pessoalmente — Ian disse, montando. — Vamos embora, rapazes, não temos tempo a perder. Vocês não são obrigados a irem comigo, mas eu vou com ou sem vocês, então quem quiser ir comigo, me siga.

— Eu não vou perder a diversão — David disse.

— Eu também não — Willian disse.

— Muito menos eu, esta vida estava ficando chata — Mitchel disse.

— Então vamos.

Eles saíram em disparada, cavalgando rapidamente e algum tempo depois já estavam todos na casa de Ian, carregaram as armas e pegaram munição extra. Ele foi à coxia e selou outro cavalo.

— Vamos embora, rapazes. Eles devem ter ido para o sul, temos que pegá-los à noite, assim vai ser mais fácil de tentar resgatar Jayne. Temos que correr para poder alcançá-los, eles têm um bom tempo de vantagem.

— Como sabe que foram para o sul?

— Instinto.

— Eu diria que ele está seguindo o cheiro do perfume dela — Mitchel disse, irônico.

— Cale-se, meus instintos nunca falham.

— Acredito nele — David disse.

— Tudo bem, se estiver errado vai me pagar uma bebida.

— Pare de resmungar e vamos embora.


**


Montaram em seus cavalos e cavalgaram o mais rápido que puderam, até chegarem a uma clareira. Eles avistaram uma luz distante vinda de uma fogueira. Ian levantou a mão para que parassem e fizessem silêncio.

— Pode ser eles, vamos a pé para verificarmos.

Amarraram os cavalos nas árvores há uma distância razoável e depois seguiram a pé. Embrenharam-se na mata e chegando perto, avistaram a fogueira e alguns homens rindo.

Willian avistou Jayne e fez sinal para Ian. Ela estava amarrada com as mãos para trás, sentada no chão, perto de uma árvore.

Os homens do bando eram cinco, estavam contando o dinheiro que haviam roubado do banco e tomando tequila. Enquanto eles cochichavam para ver como agiriam, David viu movimentos de Jayne.

— Ian! — David cochichou, fazendo sinal.

Ian olhou entre as árvores e viu Jayne passando as mãos amarradas por debaixo das pernas, com certa dificuldade por causa da saia e anáguas.

Ele nem soube como ela conseguiu se dobrar daquele jeito por causa do espartilho apertado, que lhe tolhia os movimentos, mas ela conseguiu e pegou a arma que havia escondido na bota.

— Droga! — Ian resmungou, engatilhou a arma e todos se aprontaram.

Num piscar de olhos, Jayne atirou em um dos bandidos.

Eles pularam da mata atirando, e mataram três deles, Kid e mais um de seus homens fugiram com a bolsa de dinheiro, mas havia levado mais um tiro.

Quando tudo tinha acabado, Ian chegou enlouquecido perto de Jayne e a agarrou pelo braço, empurrou-a contra uma árvore, fazendo-a ofegar.

— Você é louca? Quer morrer? — Ian gritou.

— Estou me defendendo e não preciso de você.

Ian estava tão perto dela, daquela boca, teve uma vontade louca de beijá-la, mas ao mesmo tempo queria estrangulá-la. Que mulher maluca, impetuosa, e tão avassaladoramente linda.

— Ai... Vamos embora — disse puxando-a pelo braço, engolindo em seco e rangendo os dentes.

— Onde estão Emily e Julia?

— Ficaram com seu pai, estão bem, não se preocupe.

— Desamarre-me.

— Pensei que pudesse fazer isso sozinha.

— Não seja estúpido.

Ele pegou uma faca no seu cinturão e cortou a corda de seus pulsos. Ian colocou Jayne em seu cavalo e montou atrás dela.

Os rapazes somente ficaram observando e se entreolharam, pois nunca tinham visto Ian alterado. Ele era a personificação da paciência.

Todos voltaram mudos até a estrada perto de suas fazendas, mesmo por que, os dois, montados naquele cavalo, deixou-os sem fala. Jayne sentindo-se esgotada, adormeceu no peito de Ian.

— Rapazes, vão para casa, vou levá-la para minha fazenda e pela manhã a levo para sua casa.

— Ian...

— Vão.

Todos assentiram e seguiram rumos diferentes.

Quando chegaram à fazenda de Ian, era tarde da noite. Jayne estava adormecida profundamente, escorada em seu peito. Ele desceu do cavalo com cuidado, pegou-a no colo e a levou para dentro de casa, foi para seu quarto e, lentamente, deitou-a na sua cama e a cobriu.

Por alguns minutos ele ficou contemplando tal beleza. Retirou os cabelos que lhe caiam sobre o rosto, para vê-lo melhor, depois suspirou e se sentou em uma poltrona próxima a cama.

Ele não conseguia tirar os olhos dela e, após um tempo, adormeceu, pois estava exausto.

 

 

 

 

 

 

Capítulo 3

 


Ao amanhecer, Jayne acordou assustada, sentou-se na cama e olhou ao redor para ver onde estava, até que avistou Ian sentado na poltrona, adormecido.

Ela não sabia como tinha dormido ali, como poderia ter feito algo tão estúpido. Como tinha dormido tão pesado.

Seu pai a mataria. Que bom que não tinha mais uma reputação a zelar, pelo menos, não aparentemente, senão no dia seguinte estaria sendo arrastada para o altar.

Por um momento ela admirou-o e tentou lembrar-se de tudo que aconteceu na noite passada.

Ela suspirou, passou a mão no rosto, levantou-se sem fazer barulho para que ele não acordasse, chegou perto dele e quis tocar seu rosto. Deu um leve sorriso, lembrando-se tão perfeitamente dele, parecia mais lindo do que nunca. Ian era o homem mais lindo que já tinha visto na vida.

Seu peito se encheu de ansiedade, tanto que ela nem entendeu, sua vontade de tocá-lo estava latente. O melhor a fazer era sair dali, rápido. Andando devagar foi para fora, pegou o cavalo de Ian e seguiu o rumo de sua casa.

Quando Ian acordou, tentou abrir os olhos, seu corpo estava dolorido e passou as mãos no rosto. Olhando para a cama, viu que estava vazia e pulou da poltrona.

— Onde ela está? — perguntou olhando ao redor. — Jayne!

Foi para a sala, para a cozinha e nada, ela havia ido embora. Ele sentiu uma tristeza enorme e ao mesmo tempo raiva. Pegou a jarra de água e despejou um pouco na bacia de porcelana e lavou o rosto, respirou profundamente, lembrando-se de Trovão, mas tentou afastar as memórias e foi para a cozinha preparar um café.

— Como ela foi embora, a pé?

Foi para fora e seu cavalo não estava.

— Mas será possível! — disse espantado. — Ela levou meu cavalo. Ela devia ter me acordado, eu a levaria e não ter pegado meu cavalo e ido embora sem dizer nada. Mas que mulher que me deixa maluco!

Irritado, voltou para a cozinha fazer seu café e o bebeu.

Ian pegou alguns baldes de água no poço para aquecer e encher a tina de cobre. Na maioria das vezes tomava banho no chuveiro de latão que ficava num cercado do lado de fora, não tinha muita paciência para puxar e aquecer água, mas como ainda estava frio, naquele momento decidiu que ficaria de molho num banho quente de tina, por, pelo menos, meia hora.

Colocou a tina na frente da lareira acesa e depois de enchê-la de água quente, despiu-se e afundou naquela água relaxante, recostou a cabeça na beirada, fechou os olhos e ficou lembrando-se do rosto dela, que insistia em não sair de sua mente.

Quando estava absorto em seus pensamentos, ouviu uma batida na porta e se virou, assustado.

Jayne abriu a porta chamando seu nome e ele automaticamente jogou o braço para o lado, pegou a arma e rapidamente levantou, apontando a arma para a porta. Jayne quando o avistou, deu um grito, fechou os olhos e se virou para o lado.

— Ai, meu Deus! — ela gritou.

Quando Ian viu que era ela, abaixou a arma e a desengatilhou.

— Isso é jeito de entrar aqui? Eu quase lhe dou um tiro! — brigou e pegou uma toalha a enrolando na cintura. — Por que não chamou?

— Desculpe, eu vim devolver seu cavalo, e eu chamei seu nome, mas você não respondeu... Por acaso é surdo? — falou gaguejando.

— É! Eu deveria ser surdo para não ter que ouvir o que você fala — falou bravo saindo da tina. — Por que não me acordou antes de ir embora?

— Você parecia cansado, eu... Eu não quis acordá-lo — falou com voz mansa, tentando disfarçar o nervosismo de tê-lo visto nu.

Ele suspirou, se acalmou e mudou o tom da voz.

Por um momento a admirou, estava linda com um vestido verde escuro e um casaco justo, com pele na gola e nos punhos e usava luvas de couro marrom escuro. Deus, a mulher era uma legítima dama fina e mais linda do que se lembrava.

— Está bem, mas não precisava ter trazido meu cavalo, eu teria buscado.

— Não... Eu fiz questão, pois queria lhe agradecer pelo que fez ontem, indo me salvar, obrigada.

— Não precisa agradecer.

Ian estava parado com a toalha enrolada na cintura e olhava para ela, imóvel. Jayne olhou para ele de canto de olho, seu coração estava acelerado no peito e sentia suas bochechas vermelhas arderem.

“Meu Deus, que homem é esse?” — ela perguntou em seus pensamentos e rapidamente virou o rosto novamente.

— Será que daria para o senhor colocar uma roupa, por favor?

— Ah sim, por quê? Eu a deixo desconfortável? — ele disse, irônico.

— Meu Deus! Você é um petulante, vou embora.

Ela virou-se para sair.

— Não! — falou no súbito. — Não precisa ir, espere-me na sala, eu já volto, vou me vestir... Por favor.

— Está bem.

Ele foi para o quarto e ela ficou na sala. Estava nervosa e tremia, andando de um lado a outro, pois ele a desconcertava demais. Depois do sermão, aos berros, de seu pai, nem deveria estar ali, mas foi mais forte do que ela.

Alguns minutos depois, ele voltou vestido e com os cabelos molhados, Jayne olhou para ele quase com a boca aberta.

Será que seria possível ver este homem em um estado feio, pelo menos uma vez na vida? Ela acreditava que não e o achou lindo de cabelos molhados.

— Aceita um café?

— Ham... Sim, obrigada — respondeu aturdida. Ele pegou um café para ambos e foram para a varanda. — Você tem uma bela fazenda — disse olhando ao redor.

— Sim, era do meu pai, eu a estou melhorando como posso. Já está bem diferente do que era antes.

— Belo trabalho.

— Obrigado. Então, você é filha do banqueiro? Chama-se Jayne Cullen?

— Sim... Este é meu nome. Você mora aqui sozinho, ou é... Casado?

— Não sou casado — disse com um leve sorriso e ela sorriu sem jeito. — Aquelas moças que estavam com você são suas irmãs?

— Sim. Emily e Julia.

— Mas daria para me responder, por que vocês têm esse jeito agressivo? Nunca vi mulheres assim.

— É uma longa história — disse meio apreensiva.

— Estou interessado em ouvir.

— Mas eu não quero falar sobre isso, só vim lhe entregar seu cavalo.

— Houve algum problema com sua... Sua reputação?

— Quer saber se meu pai vai me obrigar a casar com você por ter passado a noite aqui?

Ian arregalou os olhos e ela riu.

— Não caubói, não se preocupe, ele não aparecerá com uma espingarda e o arrastará para a igreja. Obrigada pelo café. — Ela colocou a caneca na mesinha que estava ao seu lado. — Tenho que ir, adeus.

— Espere, não vá!

— Tenho que ir, e sinto muito pelo seu outro cavalo, soube que ele foi baleado ontem.

— Obrigado.

Ela montou em seu cavalo, usando a sela feminina que fazia que as duas pernas ficassem do lado esquerdo e olhou para Ian, lhe deu um sorriso e o admirou por alguns instantes.

Ela odiava aquela sela, pois gostava de montar escarranchada como os homens, mas como seu pai estava muito furioso neste dia, ela resolveu agir como uma dama e usar uma saia mais formal e uma sela feminina.

— Você deveria aprender a fazer café, o seu é horrível — ela disse.

Ela lhe deu um sorriso irônico e antes que ele dissesse alguma coisa, Jayne atiçou o cavalo e saiu galopando para fora da fazenda.

Ele ficou olhando-a distanciar-se até sumir e sentiu um aperto no peito. Aquela mulher estava o tirando do sério, nem acreditava que a havia reencontrado. Ian olhou para dentro de sua caneca.

— Ela tem razão, é horrível mesmo.

Ele franziu o cenho, pensativo. Seu pai deveria tomar satisfações por ela ter dormido na sua casa, sozinha. Isso não teria manchado sua reputação? Estranho.

Ele fez uma careta e jogou o café fora.


**


Quando Jayne chegou em casa, suas irmãs estavam esperando.

— Então, como foi lá? — Emily perguntou entusiasmada.

— Nada de mais — Jayne respondeu, sem olhar para elas. — Cheguei, devolvi o cavalo e vim embora.

— Ah claro! E se foi só isso, por que você está com esta cara? Eu a conheço, alguma coisa aconteceu — Julia perguntou e Jayne, pensativa, deu um suspiro.

— Bem... Eu o vi nu.

— O quê? — Julia gritou.

— Como assim? O que aconteceu? Vocêêss... — Emily falou, fazendo um movimento circular com as mãos e com os olhos arregalados.

— Imagina, Emily! Eu nem o conheço, foi um acidente.

— Como? Eu nunca vi um acidente desse tipo, fale logo, mulher — Julia falou sem muita paciência.

— Não foi nada, eu entrei na casa e o peguei tomando banho na tina. Foi só isso.

— Ai meu Deus... Só isso? Aquilo tudo sem roupa? Jesus! Por isso que você está com essa cara! — Emily falou, nervosa.

— Emily, pare com isso, deixe de ser desbocada, menina! Não aconteceu nada e eu nem me incomodei, não foi nada de mais.

— Sim... Não deve ter sido mesmo, só queria saber o que foi que deixou você com esta cara, se não foi ver aquele homem nu. Pelo amor de Deus! Se papai sonha com isso. — Julia falou com as mãos no rosto.

— Meninas, eu não vou negar que ele é todo perfeito. Meu Deus, que corpo ele tem, e aqueles cabelos molhados? E o rosto, é perfeito. Nunca pensei que depois de tanto tempo iria vê-lo novamente, parece que estou fora de mim.

— Realmente eu nunca pensei que você o veria de novo. Mas enfim, agora você o achou e o que vai fazer? — Julia perguntou.

— Nada.

— Como assim, nada? — Emily perguntou indignada.

— Nada, não quero saber dele. Não vou me envolver nem com ele nem com ninguém.

— Jayne, talvez seja uma boa ideia, é melhor deixar as coisas do jeito que estão — Julia disse.

— Meninas, vocês estão loucas? Aquele homem é muito lindo e parece ser uma ótima pessoa. E além do mais, ele e seus amigos arriscaram-se para salvar Jayne, não é? Julia, dê uma chance para ele.

— Tudo bem. Eu admito que eu gostei desta parte — Julia disse.

— Ai meninas, parem com isso, por favor! Não há nada entre nós, ele é um... Grosseirão! — Jayne disse revoltada.

— Ui, bem que eu gostaria de conhecer um grosseirão desses — Emily disse, rindo.

— Emily! — Julia e Jayne disseram juntas.

— Ah, mas eu quero saber quem são aqueles outros homens que estavam com ele. Meu Deus, aquele moreno de olhos verdes é muito lindo, me encantei com ele, e Julia o outro moço, ficou a olhando fixamente. A achou atraente, eu tenho certeza.

— Quem, o grandalhão?

— Não, aquele com cara de cafajeste — Emily disse, rindo.

— Sim, eu percebi, mas com aquela cara que me olhou, diz que eu ficarei bem longe, ele deve ser um libertino — Julia disse.

— Isso parece. Jayne, você sabe os nomes deles? — Emily perguntou.

— Oh, eu não sei direito... Eu acho que o moreno de olhos verdes chama-se Willian, o com cara de cafajeste, como diz você, é Mitchel e o outro... Hum, não me lembro, como é mesmo?

— Acho que é David — Julia disse, pensativa.

— Sim, eu acho que é esse o seu nome — Emily complementou.

— Papai ainda não a deixou surda com seus gritos?

Jayne bufou e riu.

— Acredito que eu tenho um tímpano furado.

— Ele já devia estar acostumado, mas essa aventura com o Sr. Buller, hum...

— Eu só digo uma coisa, não quero saber de Ian, melhor ele ficar longe. O que aconteceu não significa nada, não me impressiona e nem me interessa. Eu vou ver meus cavalos — disse exasperada e saiu do quarto.

— Julia, Jayne está apaixonada por ele.

— Está. Eu nem quero ver onde isso vai parar.

— É, mas se ela não agarrar este homem, eu lhe juro que jogo ela no chiqueiro. Não foi à toa que o reencontrou desse jeito. Fazem um casal tão bonito — disse sonhadora.

— Olha... Por muito tempo eu a defendi e achei que ela deveria ficar afastada de homens, mas agora eu concordo com você, depois de jogá-la no chiqueiro eu ainda a afogo no poço.

As duas riram.

— Ele pareceu ser muito interessado nela.

— Então, vamos torcer para que ele venha atrás dela.


Capítulo 4

 


Os rapazes foram até a fazenda de Ian para ver como as coisas estavam após os últimos acontecimentos.

— Olá, Ian — cumprimentaram.

— Olá, rapazes.

— E então? Está tudo bem? E a moça? — David perguntou.

— Ela está bem, foi para sua casa.

— Hum... Sei — Willian disse.

— E aí meu amigo, conte-me o que aconteceu com a moça ontem à noite, vocês dois aqui... sozinhos... — Mitchel disse ansioso.

— A reputação dela está intacta? — David perguntou.

— Mas que interrogatório é esse? Não aconteceu nada. Ela dormiu na cama e eu na poltrona! Quando amanheceu, ela foi embora e ponto final!

— Ai meu Deus! Ian, você é um caso perdido... Como você traz uma mulher daquelas para sua casa, ela dorme na sua cama e não acontece nada? — Mitchel falou indignado.

— Não havia nada para acontecer, eu nunca a desrespeitaria, ela é uma moça de família.

— Ah... Eu iria — David disse e riu, zombando dele.

— É Ian, esta foi difícil. Como você se controlou, amarrou-se numa árvore? Não, porque depois de três anos esperando ver essa mulher novamente, salvá-la de bandidos e ainda ela dormir na sua cama e vocês não fazerem nada, meu Deus! Você deve estar com algum problema — Willian disse rindo.

— Engraçadinhos. Eu não estou com problema algum, não existe nada entre nós, só isso.

— Ai, ai, imagina se existisse algo entre vocês. — David suspirou.

— Vai ter que se casar com ela?

— Claro que não, eu não fiz nada!

— Falando em bandidos, você quer me explicar o que acontece com aquelas malucas? Quando vi aquela moça erguendo o vestido que quase me deixou louco, porque mostrou as pernas, bem debaixo do meu nariz, e sacou uma arma, eu quase enlouqueci — Willian disse.

— Verdade, elas parecem mais pistoleiras do que filhas de um banqueiro. Meu Deus! Nunca vi mulheres atirarem daquele jeito! E esta tua mulher, Ian, é louca, sair e enfrentar os bandidos para salvar o pai. O que é isso? — Mitchel falou, incrédulo.

— Realmente, rapazes, elas são malucas e estou pensando que não foi uma boa ideia tê-la reencontrado. Ela é mais maluca do que eu imaginei, ela me deixa completamente louco. Ao mesmo tempo em que tenho uma vontade de agarrar aquela mulher e beijá-la, tenho vontade de torcer seu pescoço. Nunca vi alguém tão impetuosa e boca suja, ela sempre me arrebenta — disse indignado.

— Ian, eu penso que ela é daquelas mulheres que precisam ser domadas, como os Mustangues selvagens.

— David, eu concordo com você — Willian disse.

— Meu amigo, eu sinto muito lhe dizer, mas você está numa enrascada — Mitchel disse, dando uma palmada nas costas de Ian e todos riram. — Mas eu quero saber daquela morena, meu Deus, que mulher é aquela? E que cara de brava que ela tem. Quando a vi, senti um frio no meu estômago. Eu vou jogar meu charme para ela, com certeza ela cairá aos meus pés.

— Sim, Mitchel, ela é linda, assim como a que eu me encantei, a de cabelos lisos, eu acho que o nome dela é Emily, mas a sua tem uma cara de que vai fazer você andar no trilho do trem — Willian disse, rindo e todos riram. — Ian realmente, agora eu entendi porque você nunca conseguiu tirar Jayne da cabeça, ela é uma mulher maravilhosa, além de maluca, claro.

— É verdade.

— Bem rapazes, eu acho que nossa tentativa de ir ao Saloon ontem foi fracassada, apesar de ter adorado a aventura. Fazia tempo que não dava uns tiros, mas eu sugiro irmos hoje, pois estou em brasa. Quero fazer festas com as moçoilas, mas vou jogar meu charme para aquela dama morena mais tarde. O que acham?

— Mitchel, se mexer com a irmã da Jayne, eu acho que você vai se meter numa enrascada pior que a do Ian... Mas não vou ao Saloon, pois meu braço está doendo muito, vou para casa — David disse.

— Eu também não vou — Ian disse.

Mitchel olhou para Willian com uma fisionomia implorativa, e ele riu.

— Tudo bem, eu vou com você.

— Ah! Até que enfim alguém com juízo, então vamos logo.

Todos se despediram e seguiram seus rumos. Ian sentou-se na varanda com uma garrafa de tequila e começou a pensar em Jayne.

Como o destino lhe pregou uma peça. Depois de tanto tempo a reencontrou, e ele estava tão perdido que não sabia o que fazer. Mas ela o deixava completamente fora de seu juízo, seu coração estava de um jeito que ele não conseguia entender, e seu rosto e sua voz não lhe saía do pensamento.

Lembrou-se de seu sorriso, dela dormindo em seu peito, de colocá-la na cama, adormecida como um anjo. Ela parecia tão bem ali.

— Como ela é linda, odeio quando ela me desafia, mas ela fica mais linda ainda. Ai... Esta mulher vai me enlouquecer!

Ele continuou na varanda até altas horas da noite somente pensando em Jayne e tomando tequila, depois se recolheu ao seu quarto para dormir.


**


Emily foi cavalgar sozinha, contrariando a vontade de sua mãe. Adorava ir aos penhascos onde avistava o rio. Não conhecia todas as terras ainda e estava curiosa para ver tudo. Ela desceu de seu cavalo e ficou admirando a paisagem e o rio que corria embaixo. Enquanto ela estava absorta em seus pensamentos ouviu uma voz que a assustou.

— Boa tarde, senhorita — Willian disse, se aproximando no seu cavalo.

Ela se assustou e levantou num salto, vendo que era o amigo de Ian.

— Boa... tarde, senhor — disse meio sem jeito.

Ela o olhou, encantada; reparando que seus olhos verdes brilhavam como duas estrelas e que lhe dava um lindo sorriso. Emily ficou olhando cada centímetro do rosto dele; estava inebriada, sem respirar.

— É perigoso andar sozinha por aqui, senhorita.

— Eu já ia embora.

— Como está seu pai? — perguntou, escorado na sela.

— Está bem.

Willian desceu do cavalo e foi para perto dela. Ela ficou nervosa e deu um passo atrás.

— Fico feliz. E a senhorita, como está?

— Estou bem, obrigada — Emily disse, baixando os olhos.

— Esta vista é maravilhosa, sempre venho aqui — Willian disse, olhando para o rio lá embaixo.

— Sim, descobri este lugar há pouco tempo, mas adoro vir aqui.

— Você é irmã mais nova de Jayne. Emily, certo?

— Sim.

— O meu nome é Willian Jonhson. No meio daquela confusão, nós não tivemos tempo de nos apresentarmos formalmente.

— Sim, foi uma loucura. Prazer em conhecê-lo, Sr. Jonhson.

— Encantado. Chame-me de Willian — disse, beijando sua mão e deixando-a encabulada.

— Eu tenho que lhe agradecer por ter ido atrás de Jayne. Pelo que ela me contou, estava tentando escapar quando vocês chegaram e a ajudaram.

— Não precisa agradecer. Ian iria de qualquer maneira e nós jamais o deixaríamos ir sozinho, se fossemos esperar pelo palerma do xerife ela ainda estaria com os bandidos — disse rindo.

— Ouvi dizer que ele não serve nem para chavear as celas e que não é um bom caráter.

— Realmente não, se facilitar, ele não consegue nem achar a cabeça do cavalo, é capaz de montar ao contrário. — Os dois riram. — Você é muito bonita — disse olhando nos olhos dela.

— Obrigada — disse encabulada com o comentário. — Você também. “Ai eu disse isso?” — pensou espremendo os olhos e gemeu.

— Obrigado — ele disse, abrindo um largo sorriso, que deixou Emily com as pernas bambas. Ele percebeu que ela soltou o comentário sem querer. — Venha algum dia à minha fazenda, tenho uma irmã que deve ter sua idade, ela ficaria feliz em conhecê-la, eu creio que é meio difícil chegar a uma cidade estranha sem conhecer ninguém.

— Agradeço e irei. Realmente eu não conheço ninguém, mas tenho minhas irmãs que gosto de conversar.

— Parece-me que sua irmã tem uma situação meio estranha com meu amigo — disse levantando as sobrancelhas.

— É verdade, o caso deles é de causar preocupação — falou rindo e dando uma olhada para Willian de canto de olho.

— Ian nunca esqueceu aquele encontro que teve com Jayne há alguns anos, depois disso, sempre teve esperança de vê-la novamente.

— Verdade? — Emily disse admirada.

— Sim, é verdade. Nós ficamos preocupados com ele, pois nunca me passou pela cabeça que alguém pudesse se apaixonar tão rapidamente. Achei que ele tinha batido com a cabeça e ficado louco, mas depois que vi sua irmã e o jeito dela, tenho que admitir que isso fosse possível.

— Bem, eu creio que isso aconteceu com Jayne também, ela ficou desnorteada quando o conheceu, mas não acho que ele terá chance.

— Você acha que Ian não terá chance? Ela é comprometida? Casada?

— Não! Eu não sei... O caso é que ela tem um gênio terrível e depois do que lhe aconteceu, ela ficou amargurada e brava. Mas... Talvez haja alguma possibilidade, porque estamos falando de Ian, não é? — falou dando uma risadinha.

— Sim, mas ele pode tentar. E pelo jeito que ela o olhou, acredito que possui sentimentos por ele.

— Oh, isso é tão romântico — resmungou pensativa.

— Sinceramente, eu acho que eles foram feitos um para o outro.

— Sabe que eu também acho? — falou rindo. — Mas creio que será difícil.

— Mas o que aconteceu com ela?

— Desculpe, eu acho melhor não falarmos nisso, é assunto dela.

— Certo. Não precisa contar nada se não quiser.

— E você, o que faz aqui em West Side?

— Eu tenho uma fazenda, crio gado.

Quando Willian foi falar algo mais, ouviram o relinchar do seu cavalo que estava atrás deles e se assustou com uma cobra.

— Ôôô... Calma — Willian gritava, tentando puxá-lo pela rédea, mas o cavalo se empinava.

A cobra estava a ponto de dar o bote, então, ele sacou a arma e deu um tiro na sua cabeça, mas seu cavalo estava assustado e andou desengonçado em direção à Emily, que foi indo para trás para não ser pisoteada.

Ela chegou muito à beirada do penhasco e acabou escorregando, deslizou ficando dependurada, gritou e agarrou-se nos matos e galhos na margem para tentar segurar-se, fazendo com que Willian, num salto, pulasse para a margem tentando segurá-la pela mão.

— Segure minha mão! — gritou assustado. Ela tentou segurar, mas não conseguiu alcançar. — Emily pegue minha mão!

Willian tentou ir mais abaixo para alcançá-la, mas ela escorregava cada vez mais. Emily não conseguiu se segurar e caiu do penhasco, aos gritos.

— Emily! — gritou, a vendo despencar.

Ela caiu no rio e Willian olhou para os lados e não havia nada a fazer. Sem pensar, pulou atrás, afundando nas águas do riu.

Quando ele emergiu, tentou avistar Emily e nadar o mais rápido que pode, mergulhava e a procurava. Ela voltou do fundo e tentou nadar, mas a correnteza estava muito forte, e foi para o fundo novamente.

A correnteza levou os dois pelo rio abaixo, e quando Willian avistou-a, nadou fortemente ao seu encontro. Ele a agarrou e forçosamente nadou para a margem do rio com ela desacordada em seus braços.

— Emily, acorde pelo amor de Deus! — dizia tentando reanimá-la, ele a virou de bruços, bateu e empurrou suas costas, ela expeliu água e tossiu. — Emily, você está bem? — ele perguntou em pânico, ela tossiu mais quando a fez sentar. — Ai senhor... Graças a Deus. Tenho que levá-la a um médico, você está sangrando — ele disse apavorado.

Ela havia se cortado nos galhos e pedras, suas mãos estavam todas arranhadas.

— Eu não preciso... de médico, eu quero ir para casa — ela disse, gemendo.

— Tudo bem, eu vou dar um jeito — disse dando uma olhada ao redor e para cima. — Temos que subir, nossos cavalos estão lá em cima do penhasco. Pode levantar? — perguntou preocupado.

— Sim.

— Eu preciso fazer um curativo em suas mãos — ele disse, já rasgando uma tira de tecido da saia de Emily, sem esperar que ela lhe desse permissão e enfaixou suas mãos. — Vamos, logo vai anoitecer e se nós não conseguirmos chegar até os cavalos antes do anoitecer, estaremos com problemas.

Eles tentaram subir pela encosta do rio, mas a subida era íngreme demais e havia muitos matos fechados, tentaram dar uma volta enorme e então pegaram a noite. Ele ia à frente e a segurava pelo punho, pois suas mãos estavam feridas.

— Estou com frio — Emily disse tremendo.

— Eu sei. Acho melhor encontrarmos um lugar para acender uma fogueira para nos aquecermos.

Eles encontraram uma imensa pedra oca. Willian juntou uns galhos secos para tentar acender o fogo, mas seus fósforos haviam molhado e ele, indignado, o olhou jogando longe, teria que usar o que tinha em mãos.

Ele demorou em acender a fogueira usando pedras, os gravetos e líquens secos que encontrou. Os dois tremiam, a noite caíra e o frio estava intenso, principalmente porque ambos estavam com as roupas molhadas.

— E agora, o que faremos? Não conseguiremos chegar lá encima no escuro — Emily perguntou, apavorada.

— Teremos que passar a noite aqui e de manhã seguiremos.

— Minha família ficará enlouquecida porque eu não voltei!

— Eu sei. Minha irmã também ficará, mas nós não temos como prosseguir nesta escuridão, não há lua e pode ser perigoso.

— Eu estou com medo.

— Está tudo bem, ficaremos bem, precisamos nos aquecer, venha aqui, o calor de nossos corpos nos ajudará a nos aquecer.

— Mas...

— Com todo o respeito, certo? Prometo que sou um cavalheiro e está segura comigo, mas agora precisa se aquecer, Emily.

Ela assentiu e sentou ao lado dele. Willian a abraçou para reconfortá-la e para que o calor dos seus corpos pudesse ajudá-los a se aquecer. Aquele abraço fez os dois sentirem-se constrangidos.

Ficaram ali, parados na frente da fogueira, sem ter outra coisa para fazer e o silêncio imperou na imensidão da noite.

 

 

 


Capítulo 5

 


— Julia, Emily saiu para cavalgar e ainda não voltou. Já está escuro e estou preocupada. Aquela maluca saiu sozinha de novo, sem nenhum acompanhante! — Jayne disse apreensiva.

— O quê? — perguntou assustada. — Pensei que estava lendo na biblioteca.

— Eu também pensei. Será que ela se perdeu? Será que aconteceu alguma coisa? — Jayne perguntou, tentando pensar, andando em círculos.

— Nós temos que ir atrás dela.

— Vá falar com papai, vou reunir alguns homens para uma busca.

Jayne estava com os cavalos e apenas dois homens a acompanhando, pois o Sr. Cullen havia dado folga para seus homens naquele dia. Julia saiu da casa com seu pai, com lamparinas e espingardas.

— Papai, nós temos que ter mais gente. Se ela está perdida teremos que nos espalhar, não tenho ideia para que lado ela possa ter ido.

— Podemos pedir ajuda para algum fazendeiro aqui por perto — disse Sr. Cullen.

— Também acho. Por que não pedimos ajuda para o Sr. Buller e seus amigos? Eles moram aqui perto e conhecem bem esta região — Julia disse, olhando para Jayne.

— Está bem, vamos — Sr. Cullen disse subindo em seu cavalo.

Galoparam até chegar à fazenda de Ian. Ele, ouvindo os trotes dos cavalos se aproximarem, pegou uma espingarda e abriu a porta, ficou admirado quando viu quem era.

— Boa noite, Sr. Buller. Sou Carl Cullen, o novo banqueiro.

— Boa noite, senhor Cullen — Ian respondeu e fez uma mesura com a cabeça para Jayne. — Algum problema?

— Minha filha, Emily, está desaparecida, saiu para cavalgar e não voltou até estas horas da noite, receio que possa ter acontecido algo e estamos juntando alguns homens para irmos atrás dela. O Senhor poderia nos ajudar? — pediu nervosamente.

— Claro, podemos pedir para meus amigos, eles irão também.

Ian olhou para Jayne por um instante, virou-se e entrou, pegou seu chapéu, vestiu um sobretudo e pegou balas para o rifle, colocou seu cinturão com duas pistolas carregadas e saiu da casa, montou em seu cavalo, que ainda estava selado e enfiou a espingarda nos alforjes.

Saíram cavalgando e chegaram rapidamente à fazenda de Willian, pararam na frente da casa e Ian gritou seu nome. Mary assustou-se e apareceu na porta com um rifle na mão.

— Calma, Mary, sou eu, Ian. Onde está Willian?

— Ele não está aqui. Saiu a tarde e até agora não voltou, achei que estava com você. O que está acontecendo?

— Bem, pode ser que ele esteja na casa dos rapazes. A filha do Sr. Cullen está desaparecida e vamos procurá-la, vou à casa dos rapazes, boa noite.

— Espero que a encontre logo — disse olhando para Jayne.

Eles se despediram e galoparam até a fazenda de David.

— David! — Ian gritou, sem descer do cavalo.

— O que está acontecendo? — David perguntou, indo à varanda. Mitchel estava com ele.

— A filha do Sr. Cullen está desaparecida, nós vamos procurá-la, vim pedir ajuda a vocês.

— Certo, um minuto.

David entrou para pegar suas coisas.

— Mais uma aventura. Parece-me que sua família está agitando a cidade, Srta. Cullen — Mitchel disse para Jayne, já subindo em seu cavalo e ela lhe deu um sorrisinho.

— Obrigada por ajudar.

— Às ordens — disse baixando a ponta do chapéu e depois se virou e olhou bem para Julia. Ela o estava olhando, depois virou o rosto dizendo.

— Para que lado nós iremos?

— Sugiro que nos separemos, assim teremos mais chances de encontrá-la ou alguma pista. Eu vou para o lado do rio e vocês vão para aquele lado. David vem comigo e mais duas pessoas. Onde está Willian? Ele não está aqui? — Ian perguntou aos rapazes.

— Não. Não está em casa? — David perguntou.

— Não, eu achei que estivesse com vocês.

— Eu o vi hoje à tarde e ele disse que iria para casa.

— Isso está estranho — Ian disse.

— Será que ele foi à cidade? — David perguntou.

— Não creio, ele estava na cidade no início da tarde, por que voltaria?

— Hum... Eu estou desconfiado que Willian está com a Srta. Emily — David cochichou para Mitchel.

— Sabe que isso também passou pela minha cabeça? — Mitchel disse.

— Se isso for verdade, talvez eles não queiram ser encontrados — David falou rindo, baixinho.

— Eu não ia querer — Mitchel soltou uma risada.

— Eu ouvi isso — Jayne disse.

— Desculpe, senhorita. Foi só um comentário.

— Você vem comigo? — Ian perguntou a Jayne.

— Vou.

Tocaram os cavalos e separaram-se. O grupo de Ian subiu o penhasco contornando o rio.

— Não se preocupe, Srta. Cullen, vamos encontrá-la.

— Espero que sim e que ela esteja bem — disse apreensiva.

— O problema é esta escuridão, vai ser difícil encontrarmos pistas, teremos que contar com a sorte.

Andaram por um longo tempo e nada. De vez em quando gritavam o nome de Emily. Estavam quase chegando ao penhasco quando avistaram um cavalo.

— É o cavalo de Emily, meu Deus! — Jayne correu até o cavalo e olhou ao redor, gritou o nome dela, mas não obteve resposta.

— Ela pode estar por perto, vamos por aqui — Ian disse.

Subiram mais até o penhasco e encontraram outro cavalo.

— Ian, é o cavalo de Willian — David gritou.

— Então, eles podem estar juntos — Jayne disse assustada. — Se ele fizer algo a ela eu o mato!

— Ei, ei... Acalme-se. Willian nunca faria mal a ela, deve ter acontecido alguma coisa, vamos descer e ver se encontramos algo.

— Ian, veja. Uma cobra estraçalhada com um tiro — David disse a iluminando com a lamparina.

— O chapéu dele. — Ian encontrou sentindo um frio lhe afligir o estômago e logo pensou no pior. Ele foi à beira do penhasco, colocou a lamparina próxima ao chão e pode ver que alguém havia se arrastado por ali. — Eu acho que eles caíram do penhasco — Ian disse se apavorando.

— Oh meu Deus! — Jayne gritou. — Isso não pode ser. Emily! — gritou, sentindo o medo se apoderar dela.

— Calma, Jayne. — Ian abraçou-a.

— Willian! — David gritou. — Ian, qual a probabilidade de eles terem caído e estarem vivos? — disse nervoso.

— Ai meu Deus!

Jayne estava em pânico.

— Não sei, Willian sabe nadar muito bem, mas não sabemos o que aconteceu. Se eles caíram, a correnteza deve tê-los arrastado rio abaixo. Vamos fazer o seguinte, você desce o penhasco por este lado e segue a margem do rio para ver se os encontra, eu e Jayne daremos a volta e iremos pelo outro lado para tentar costear a outra margem e você... — disse olhando para James que os acompanhava. — Corra até os outros e diga para virem para cá.

— Sim, senhor — James disse montando no seu cavalo e se afastando.

— Vamos Ian, nós temos que encontrá-los — Jayne disse.

Os dois subiram nos cavalos e foram para o outro lado.


**


— Tudo bem, eu já estou bem — Emily disse ainda nos braços de Willian.

Ele a soltou, mas, na verdade, ela não queria que ele a soltasse e muito menos ele. Acabaram puxando conversas banais porque estavam nervosos, falavam de diversos assuntos, mas nada de útil.

Emily levantou-se e começou a tagarelar sem parar. Fazia isso quando ficava nervosa e ficar ali, com aquele desconhecido, em plena madrugada era constrangedor, aterrador, no mínimo.

— Srta. Cullen, desculpe-me, mas está me deixando zonzo. Poderia parar de tagarelar um pouquinho?

— Ah, desculpe-me, Willian, mas eu estou nervosa. Chame-me de Emily.

— Tudo bem, Emily, eu sei que está nervosa, mas logo vamos para casa e tudo ficará bem.

— Meu pai vai me matar dessa vez.

— Não foi sua culpa.

— Se eu não tivesse saído sozinha, isso não teria acontecido, serei amarrada na cama, trancada no quarto, ouvirei gritos por dias.

Ele riu, se levantou e colocou mais alguns galhos na fogueira. Ela continuou falando e andando para lá e para cá. Willian ficou parado olhando-a, escorado numa pedra. Ela o olhou, parou abruptamente e perderam-se num olhar que deixou ambos desconsertados.

Num rompante, ele estava tão próximo a ela, passou a mão pela nuca de Emily, puxou-a e deu-lhe um beijo. Entregaram-se àquele contato inesperado. Emily sentiu suas pernas amolecerem e seu coração disparar. Ele parou de beijá-la, se afastou alguns centímetros, olhando-a, atordoado com seus próprios sentimentos.

— Desculpe-me, eu não resisti — ele sussurrou e sorriu. — Mas, pelo menos você parou de falar.

— Beija-me de novo? — disse, sentindo-se sobre uma nuvem.

Seu sorriso se ampliou e ele a beijou novamente, um beijo longo que até esqueceram que estavam perdidos.

— Venha, vamos sentar — Willian disse, puxando-a pelo braço.

Eles sentaram, recostados na pedra e ficaram mudos, com seus pensamentos confusos que nem sabiam mais o que falar.

— O que foi? Você ficou muda de repente — disse rindo e ela riu, envergonhada.

— É que eu nunca tinha sido beijada.

— Fico feliz por isso, esta situação está inusitada para nós dois.

— Por que, nunca havia beijado antes?

— Não, é que nunca havia salvado ninguém de um penhasco, ficado perdido e ainda mais com uma dama tão linda e encantadora — disse sorrindo.

Ela sorriu para Willian, que a olhava encantado e, recostou a cabeça no seu ombro, ficaram olhando para a fogueira e ela acabou adormecendo.

— Ai meu Deus! Que situação eu me meti... Mas até que este incidente me saiu melhor que o esperado, ela é perfeita — Willian sussurrou para si mesmo, com um sorriso.

Agora, esperariam amanhecer. Ele estava exausto, mas manteve os olhos abertos e a arma ao seu lado, precisava ficar alerta, caso algum animal aparecesse.


**


Ian e Jayne estavam na margem, haviam andado por horas.

— Jayne, vamos parar um momento — Ian falou.

— Não.

— Temos que parar para dar água aos cavalos e descansar um pouco. Logo vai amanhecer e ficará mais fácil.

— Está bem — consentiu, contrariada.

Ian levou seu cavalo para beber água e lavou o rosto. Ele olhou para ela que estava acariciando o seu.

— Seu cavalo é muito bonito. Como ele se chama? — ela olhou para ele e não sabia se dizia o nome dele, pensou um pouco, pois sabia que ele se lembraria do seu Trovão que morrera e ficaria triste.

— Não vai responder? — disse indignado.

Ela olhou para ele franzindo o cenho e pensando que ele já estava começando com grosserias.

— Eu ia responder, mas agora não vou mais.

— Mas como você é ingrata, vai à minha casa pedir ajuda e fica fazendo grosserias comigo, você não pode me responder uma simples pergunta?

— Eu já disse que ia responder. Você que não teve paciência de esperar, e você que foi grosseiro — disse zangada.

— Ah já entendi, é que a resposta demora em sair do seu cérebro e chegar à sua boca — disse irônico.

— Ora seu estúpido, não fale assim comigo. Eu tenho um cérebro, pelo menos, diferente de você que deve ter ovo de galinha dentro da cabeça.

— Ovo de galinha? — Ian ficou furioso. — Eu devia tê-la jogado do penhasco para você fazer uma busca no rio, dentro dele.

— Ah é? Se você tivesse tentado me jogar, com certeza, eu teria o carregado junto — disse, erguendo uma sobrancelha e Ian riu.

— Essa eu queria ver.

— Você se acha muito esperto e machão, não é? — disse, zombando. — Aposto que não consegue uma mulher que o aguente — falou e foi chegando perto dele com as mãos na cintura.

— Você é que não deve conseguir um marido, pois ninguém consegue aguentar você por quinze minutos, eu mesmo jamais casaria com você.

— E quem disse que um dia eu pensaria uma coisa dessas? Só se eu estivesse louca, não me casaria com você nem que fosse o último homem da terra.

Ele se aproximou mais dela e estavam bem perto e se olhavam nos olhos que pareciam soltar faíscas.

— Sua dama, rica e mimada! — ele xingou.

— Grosso! — gritou. — Eu não preciso de você, vou seguir sozinha.

Ela deu as costas para ele e foi subindo no cavalo.

— Você não vai a lugar nenhum sem mim.

Ele a puxou de volta, a virou de frente, a segurando pelos braços.

— Solte-me, seu brutamonte! — disse, tentando se desvencilhar.

Os dois pararam de se debater e seus olhos se fixaram de uma maneira estrondosa. Ian não conteve seu desejo e a puxou contra seu peito e a beijou, ela tentou se afastar esmurrando seu peito, mas o beijo dele consumiu sua alma, suas pernas foram amolecendo e ela se rendeu aquele beijo ardente. Pois beijá-lo era o que havia sonhado por tanto tempo.

Os dois se beijaram com uma paixão avassaladora, um beijo intenso, que fazia todas as extensões nervosas reagir, fazendo o corpo acordar para o desejo.

Nenhum dos dois nunca havia dado tal beijo com tanta paixão e indecência em suas vidas. Isso os consumiu e tirou o juízo. Os dois se ajoelharam como se não conseguissem sustentar as pernas, como se as forças estivessem se esvaindo. Jayne nem sequer sabia que aquele tipo de beijo existia, mas estava perturbada demais para reagir.

Eles se esqueceram do mundo e só havia os dois. Ele empurrou o corpo dela para o chão, com o dele, e começou a lhe beijar o pescoço, sentindo o gosto de sua pele suave. Sentindo seu cheiro de flores que o enfeitiçou ainda mais.

Ian passou a mão pela sua perna, levantando sua saia e a deslizou até a coxa, mas ela começou a voltar a si, recobrar a prudência que havia a abandonado.

— Ian... pare. Não! — ela o empurrou com força.

Ele ficou de joelhos e olhou para ela, aturdido, como se tivesse sido jogado de um penhasco. Ambos estavam ofegantes e engolindo em seco. Assustados por suas lascívias.

Ele passou as mãos nos cabelos que estavam desalinhados e lhe caindo sobre o rosto, levantou e lhe virou as costas. Deu uns dois passos, se virou novamente e olhou para ela, que estava sentada no chão com os olhos arregalados.

Ambos não sabiam como haviam chegado àquela situação indecente.

Ian estava perdido, nunca havia tomado tal atitude, era um rapaz medido, controlado e deveras calmo. Mas de alguma maneira que ele não sabia explicar, aquela mulher o tirava do seu prumo, perdia a razão ao seu lado e não controlava seus sentimentos ou suas atitudes.

Estava arrebatado com um sentimento imenso e confuso. Mas estava envergonhado do que acabara de fazer, assim como ela.

Se Jayne conseguisse pensar naquele momento, estaria ela mesma lhe dando tapas por ter uma atitude tão íntima com um estranho, se é que assim, o poderia chamar.

— Desculpe-me. Jayne, eu não sei o que deu em mim. Eu não quis desrespeitar você, por favor, desculpe-me.

Ela se levantou, com um pouco de dificuldade, pois estava tonta e suas longas saias atrapalharam um pouco. Ela não sabia se sua dificuldade de respirar era culpa do seu desespero interior ou o espartilho apertando suas costelas. Ela alinhou seus cabelos e sua roupa e subiu no cavalo. Estava desnorteada.

— Temos que encontrá-los — ela disse, nervosa.

— Você tem razão. Desculpe-me, isso não vai mais acontecer. Eu não sei o que deu em mim.

— É... Não vai mesmo — disse virando o cavalo e mal olhando para ele, deu uns dois passos e disse sem olhar para trás. — Trovão!

— O quê? — ele perguntou sem entender.

— O nome do meu cavalo é Trovão. — E ela continuou seguindo.

Ouvindo isso, Ian sentiu um turbilhão dentro dele. Trovão. O cavalo dela chamava-se como o dele que perdera dias atrás...

Como tinha sido estúpido, ela não disse o nome do seu cavalo porque queria poupá-lo, evitar que se lembrasse dele e sofresse e ele havia desencadeado aquela briga e depois os beijos...

Ian suspirou angustiado, subiu no seu cavalo e foi andando atrás dela com os pensamentos completamente fora de ordem.

Eles seguiram rio abaixo sem dizer uma palavra, pois nem sabiam o que dizer depois do que acontecera. Estavam andando pela beira do rio quando Jayne avistou um pedaço de pano no chão, ela desceu do cavalo, o pegou e olhou para Ian.

— Este pano é da saia da Emily.

— Tem certeza?

— Sim, eles podem estar por perto.

Ela montou no cavalo novamente e gritou pelo nome de Emily e Ian pelo de Willian. Mas não ouviram nenhuma resposta.

 

 

 

 

 

Capítulo 6

 


— Emily, acorde, está amanhecendo, nós já podemos continuar — Willian disse a acordando gentilmente. Ela tentou abrir os olhos com dificuldade e gemeu pela dor no corpo e sono.

— Ai meu Deus! Estou toda dolorida — disse, fazendo caretas.

— Eu sei, mas nós temos que ir — falou, olhando para os lados.

Levantaram-se e começaram a andar, até que ele ouviu uma voz soar ao longe.

— Acho que ouvi alguma coisa — Willian disse.

— Eu não ouvi nada.

Continuaram andando, enquanto Ian gritou com toda sua força por Willian.

— Agora eu escutei, veio daquela direção. Vamos, Emily!

Correram para voltar em direção ao rio, quando Emily ouviu uma voz chamando seu nome.

— É a Jayne — ela disse, feliz. Os dois correram e os avistaram. — Jayne!

— Emily! — Jayne gritou, sentindo alegria e alívio. Ela pulou do cavalo, correu e a abraçou. — Ai meu Deus! Quase morri de preocupação. — Jayne olhou para ela toda rasgada e ensanguentada. — Meu Deus, está machucada!

— Foram só alguns arranhões de quando caí do penhasco, estou bem. Willian me salvou, foi um herói, Jayne — disse, olhando para ele.

— Willian, que bom vê-lo bem, meu amigo — Ian disse lhe dando um forte abraço.

— Foi um sufoco, mas estamos bem — disse, sorrindo para Ian.

— Vamos para casa, está todo mundo procurando por você. Ele não lhe fez nada? Tocou em você? — perguntou baixinho.

— Não, estou bem, ele me respeitou, tivemos que parar de andar e acender uma fogueira, porque não conseguíamos subir e estávamos com muito frio. Ele me salvou, Jayne, Willian é um cavalheiro.

— Willian! — Ouviram David gritar, ele e Mitchel estavam se aproximando. Os dois desceram dos cavalos e foram abraçá-lo.

— Que susto você nos deu, pensei que tivesse morrido naquele penhasco — David falou, com um sorriso enorme no rosto.

— Foi só um susto.

— Mas o que aconteceu? — Ian perguntou e ele contou tudo o que houve.

— E vocês dois se comportaram, não é? — Mitchel perguntou, rindo para Willian e para Emily que ficou ruborizada.

— Claro, Mitchel, não pense besteiras — Willian disse olhando para Emily.

Neste momento Ian e Jayne se olharam e se lembraram do que acontecera com eles. Ela abaixou os olhos, sentindo um desespero em seu coração. Ian estava morrendo por dentro por causa dela. Estavam se sentindo mal, culpados, desnorteados, mas o desejo, ainda estava ali e isso era o pior. Ter a consciência de que o desejo, não havia os abandonado.

— Onde estão os outros? — Ian perguntou.

— Ficaram mais atrás, vamos por aqui.

Emily subiu no cavalo com Jayne e Willian subiu no cavalo com Ian e foram embora, logo mais adiante, reencontraram Julia e Sr. Cullen. Emily pegou seu cavalo e Willian o dele, que eles estavam trazendo junto.

— Agora eu preciso de um trago, pelo amor de Deus! Minha garganta está seca e estou faminto — Willian disse alto e todos riram dele.

— Vamos para minha casa — disse Ian.

Ian olhou para Jayne e foi até ela, meio constrangido.

— Obrigada por tudo, Sr. Buller — ela disse, séria.

— Eu gostaria de conversar com você sobre o que aconteceu — ele disse baixinho e com uma voz mansa.

— Não temos nada para falar, é melhor esquecer o que houve — disse, triste.

Ela virou o cavalo e foi embora. Ele sentiu uma tristeza enorme a vendo distanciar-se, sentia-se muito arrependido. Willian aproximou-se de Emily.

— Cuide dessas mãos — disse, sorrindo para ela.

— O farei. Obrigada, Willian, se não fosse você eu teria morrido.

— Não precisa agradecer, mas eu gostaria de vê-la novamente.

— Eu também gostaria — disse sorrindo.

— Com certeza que nos veremos, Sr. Jonhson. Daqui uma hora na minha casa. Se não me der uma explicação plausível e convincente que não tocou minha filha, teremos um casamento.

— O quê? — Willian disse, espantado e todos olharam para o Sr. Cullen assustados.

— Papai! Ele não fez nada, ele me salvou porque eu caí do penhasco! — Emily protestou, espantada.

— Cale-se, Emily! — ele falou, bruscamente. — Quantas vezes já lhe disseram para não sair por aí sozinha? Ainda mais no cair da noite?

— Estarei lá e explicarei tudo, Sr. Cullen — Willian disse.

— Ótimo, não me faça ir buscá-lo, Sr. Jonhson.

Eles foram embora e os rapazes ficaram ali por um minuto, um tanto surpreendidos.

— Uau, Willian, acho que teremos um casamento — David disse.

— Eu preciso daquela bebida.


**


Após uma longa explicação de Emily para os pais e convencer que Willian não havia feito mal a ela, que sua pureza continuava intacta e que ninguém ficaria sabendo do ocorrido para ela ser difamada, eles se livraram de um casamento obrigatório. Mas ainda haveria a versão dele para ser ouvida. E quando ele chegou, ela foi mandada para o quarto.

As meninas estavam no quarto e Julia cuidadosamente fazia curativos nas mãos de Emily.

— Ora, quem diria que seria o próprio Sr. Willian Jonhson que a salvaria — Julia disse rindo.

— É, minha irmã, parece que eu e Jayne estamos emparelhando, mesmo sem querer — Emily disse. — Acha que papai vai forçar Willian a se casar comigo? Ele não fez nada.

— Acredito que não, mas é um motivo forte, por você ter passado a noite com ele, isso pode se espalhar e ficará mal falada.

— Se ninguém contar, ninguém vai saber.

— Oh, meu senhor! — Julia disse.

— Não quero que o obriguem a se casar comigo, isso é ruim.

— Tranquilize-se, não adianta ficar em pânico antes da hora. Ele virá, explicará as coisas ao papai e veremos sua reação — Jayne disse.

— Se fosse assim, ele deveria obrigar a Jayne a casar com o Sr. Buller, pois ela passou a noite com ele.

— Eu sou diferente, Emily. Eu não tenho uma reputação a zelar.

Emily bufou.

— Sim, mas acontece que nós estamos fingindo que você tem. Afinal, aqui na cidade sabe do seu passado.

Julia suspirou, após passar o nervosismo.

— Meninas, às vezes eu tenho vontade de enforcar vocês por causa dos sustos que me causam — Julia disse com a mão no peito. — Mas, amo vocês de qualquer jeito.

— Ah... Mas eu não contei que o Sr. Johnson... me beijou — Emily disse, suspirando.

— O quê? Mas ele se aproveitou da situação, hã? — Julia falou espantada. — Disse que ele não tinha feito nada.

— Ele foi um amor e eu fui às nuvens. Foi só um beijo. Meu primeiro beijo.

— Hum, onde isso vai dar, Emily? Onde já se viu, beijar o rapaz assim? — Julia falou com uma cara de deboche. — Se papai souber disso, haverá um casamento.

— Mas não vai saber. Não sei o que vai acontecer, mas eu quero vê-lo de novo — disse soltando um imenso suspiro com num sorriso.

Julia olhou para Jayne que estava pensativa perto da janela e nem estava prestando atenção na conversa.

— Jayne, o que há com você? Você nem falou nada quando eu disse que beijei Willian.

— Não é nada — respondeu, dando um sorriso forçado.

— Eu a conheço, algo aconteceu. Foi com o Ian? — Julia perguntou.

— Foi, mas não quero falar sobre ele — resmungou, triste.

— Ah Jayne, por favor, conta logo.

— É, desembucha! — Julia falou.

— Quando... estávamos lá no rio, Ian me beijou e eu... quase me entreguei a ele — disse logo de uma vez.

— Minha nossa! — Emily gritou.

— Jayne do céu, não me diga uma coisa dessas! Espere aí... Você disse quase o quê? O que houve? Conte os detalhes — Julia falou, rapidamente.

— Eu quase me rendi, ele me deixou louca, não sei o que deu em mim, foi como se minha mente tivesse se apagado quando ele me beijou, mas eu o mandei parar antes que algo acontecesse.

— Hum... — Julia resmungou fazendo uma cara de indignada.

— Ai Jayne, como você conseguiu? Aquele homem é muito lindo e você está apaixonada por ele. Bem... Não é certo você fazer amor com ele porque vocês não são casados, mas enfim, ninguém ficaria sabendo. Que nosso pai não nos ouça, mas você não precisa fugir dele, não é mais uma mocinha inocente esperando uma corte, Jayne — Emily falou, indignada.

Jayne ficou nervosa e contrariada com aquele comentário.

— Não diga asneira, Emily! Não espero corte, mas eu sou uma mulher decente, apesar de tudo que já passei. Não vou ficar me jogando na cama de todo homem que passa na frente.

— Eu sei, não estou dizendo que não é decente, pois sei a mulher maravilhosa que é. Desculpe, Jayne, mas bem... nem todos dizem isso. Mas não se trata de todo homem que passa na frente, se trata do Sr. Buller.

— Jayne, você parou por que não o queria ou por aquele outro motivo? — Julia perguntou meio cautelosa e depois Julia e Emily se olharam. Jayne as olhou e pensou um pouco, estava confusa.

— Eu não sei. Ian me deixa louca, ele me afronta, a gente discute, mas morro quando olho para ele. Aquela sua voz me deixa completamente tonta, fico perdida na frente dele, meu corpo queima. Mas eu acho que não superei o que houve comigo. Eu fiquei com medo, e eu mal o conheço, não temos compromisso, eu nem sei o que ele sente por mim, se é um aproveitador — disse nervosa. — E ele é um grosso!

— Ah, lembrei-me! Antes de eu cair do penhasco, eu e Willian estávamos falando de vocês, ele disse que Ian está apaixonado por você; que desde que a conheceu em Tempty, queria reencontrá-la, que ele nunca a esqueceu — Emily disse e Jayne espantada a olhou.

— Isso é forte — Julia disse, boquiaberta. — Jayne, você tem que esquecer o passado e seguir em frente, se você gosta dele e ele de você, não há nada que impeça vocês dois de ficarem juntos. Quer dizer, há, mas vocês podem dar um jeito na situação. Ele vai entender, precisa contar a ele.

— Contar o quê? Não há nada para contar, minha situação não tem solução. Eu nunca mais poderei ficar com alguém novamente. Duvido que me aceite se ele souber a verdade.

— Ah querida, você está sendo radical. Sempre há uma solução, se dê uma chance. Conte a ele e veja o que acontece. Minha irmã, se eu fosse você, eu iria agora mesmo a casa dele e terminava o que começou.

— Julia! — Emily gritou, espantada.

— É verdade, Emily, ele já provou que é um bom homem, que gosta dela, está esperando o quê? Ela precisa ter uma vida de novo. — Julia disse, indignada.

— Meu Deus, minhas irmãs são umas depravadas — Jayne disse indignada e Julia e Emily riram.

— Querida, eu sei que seu passado marcou muito você e que sua situação é complicada, e que também isso seria contra as normas sociais e religiosas. Eu entendo perfeitamente, mas você precisa recomeçar sua vida, por favor, não jogue isso fora. Você está apaixonada, se entenda com ele, vocês resolvem os problemas depois.

— Jayne, eu concordo com a Julia. Está na hora de esquecer o passado, vá procurá-lo.

— Eu não posso ir à casa dele e me jogar em seus braços, vocês estão loucas? O que ele vai pensar de mim? — falou, indignada.

— Querida, ele não teria tempo de pensar em nada, não é?

— Jesus! Vocês realmente estão falando sério.

— Jayne, faça uma loucura boa na sua vida, vá lá e veja o que acontece. Se não quiser fazer nada, apenas converse com ele. Mas não fique aqui trancada em casa com cara de morta, pelo amor de Deus! Eu não aguento mais ver você desse jeito. Coloque um pouco de alegria na sua vida, está na hora. Mande tudo para o inferno.

— Jayne, Julia tem razão. Vamos menina, corra, vá buscar sua felicidade. Vale a pena arriscar tudo por ele, você suspirou por esse homem por três anos e agora ele está aqui e ele a quer tanto quanto você a ele — Emily disse, entusiasmada.

— Eu vou pensar.

Jayne beijou as meninas e foi para seu quarto.

— Ela vai pensar. Então, ela não vai falar com ele — Emily disse, decepcionada.

— Acho que não. Será que ela nunca vai superar isso? — confirmou Julia, mais decepcionada ainda. — Ai! Mas como Mitchel é lindo, ele me olhou daquela maneira novamente — Julia disse, rindo.

— Verdade?

— Sim. Mesmo com a situação tensa parece que estes homens não perdem tempo — Julia falou, fazendo Emily rir.

— É verdade. Ai meu Willian... Como ele é lindo! — Emily se jogou na cama abraçando o travesseiro.

— É... Vá dormir e sonhar com ele, seus olhos estão mais brilhantes que estrelas — disse sorridente, deu um beijo em Emily e ia sair do quarto.

— Eu não posso dormir. Tenho que esperar Willian para saber se haverá casamento ou não.

— Jesus.


**


Na casa de Ian, todos os rapazes estavam reunidos, tomando uísque e contando os acontecidos.

— Willian, você está vermelho como uma pimenta, conte-nos o que houve na casa do Sr. Cullen. Vai ter que se casar com a moça?

— Meu Deus, juro que meu coração ainda nem voltou ao normal. Pensei que me forçaria a casar com ela, o velho estava zangado. Não que isso fosse mal, porque ela é adorável e linda, mas eu não estou preparado para isso e a vi duas vezes. Quer dizer, eu não fiz nada de errado para ter que me casar à força.

— Duas vezes que foram impactantes — Ian disse.

— Um homem nunca está preparado para se casar — Mitchel disse e Ian riu de Mitchel.

— Bem, o Sr. Cullen entendeu que foi um acidente e que foram forçados a ficar fora a noite toda? — Ian perguntou.

— No começo ele não quis aceitar, disse que ela estava comprometida e que todos saberiam. Tentei convencê-lo que ninguém saberia, se os empregados dele não falassem, nós também não iríamos. Na verdade, ele estava bem contrariado, pois não quer que me case com ela. Acredito que não me veja como um bom pretendente.

— Ele disse isso?

— Bem, não com as mesmas letras, mas o entendi. Ele quer algo melhor para a filha dele, pois ficou com cara feia ao saber de meu simples rancho. Mas caso esta história seja descoberta, acredito que estou com a corda no pescoço. Mas obviamente, não contei que a beijei.

— Você a beijou? — David gritou, espantado, depois riu. — Willian, seu descarado, se aproveitou da situação!

— Ah, eu não resisti... Ela é linda. Parece àquelas bonecas de porcelana lá do armazém, eu quero vê-la de novo — falou com um enorme sorriso.

— Se fizer isso, acabará comprometido. Teve sorte de se safar desta vez.

— Isso, nós veremos.

— Ian que está com uma cara! O que foi? — Mitchel perguntou.

— Nada. Aquela mulher que me faz perder o rumo — disse, bebendo mais um gole da bebida.

— Calma, dê tempo ao tempo, vocês vão se acertar. Está na cara que ela gosta de você — Willian disse.

— Não sei... Depois do que aconteceu hoje entre nós, acho que ela nunca mais vai querer me ver — disse triste.

— O que aconteceu entre vocês? — David perguntou, curioso.

— Pelo visto foi algo grave. Fala homem, o que aconteceu? — Willian perguntou.

— Não foi nada, só tivemos outra discussão.

— Ah... Mas isso não é novidade, vocês dois discutem o tempo todo, nunca vi disso, parecem cão e gato — David disse.

— Você a beijou?

— Sim.

— Isso é ótimo! — Mitchel gritou, entusiasmado.

— Hum... Mas para ele não parece ótimo, eu acho que isso não acabou bem — David disse, vendo a fisionomia triste de Ian.

— Realmente, David, acabou pessimamente, fui um idiota.

— Estou falando que esta mulher é uma fera indomada. Ian, pegue-a de jeito — Mitchel disse.

— É isso aí, força, rapaz, você vai acalmar a onça, só precisa de jeito e de tempo — Willian disse e todos riram.

— Rapazes, só vocês mesmo para me animar.

— Meninos, eu vou para a cidade — Mitchel disse.

— Eu vou para casa, Mary deve estar preocupada pelo meu sumiço — Willian disse.

— Vou com você, já aproveito e vou pegar aquele novilho e depois vou dormir — David disse.

— Eu também vou dormir, estou exausto — Ian disse.

— Mitchel, você vai à cidade há esta hora, fazer o quê? — David perguntou.

— Arrumar uma mulher para me consolar, depois da despensa que a Srta. Julia me deu hoje, vou me afogar num copo de tequila e numa cama com uma mulher linda e perfumada.

— Mas eu não sei por que eu pergunto — David disse, rindo.

Despediram-se e foram embora. Ian, ficou sentado tomando mais uísque e pensando em Jayne, como a teve em seus braços.

Ainda podia sentir o perfume embriagante da sua pele, sentir seus lábios nos seus, como ele ficara enlouquecido. Jamais pensou que perderia o controle daquela maneira com uma mulher.

— Meu Deus! Se Jayne nunca mais quiser me ver, vou enlouquecer. Ian o que você fez? Mas ela me deseja, eu sei que sim, senti isso em seu beijo e como quase se entregou a mim. O que diabos aconteceu?

Sua cabeça fervia e seu coração doía. Ian desistiu de ficar na varanda, foi para o quarto e deitou na cama, rolou de um lado a outro até que adormeceu.

 

 

 

 

 

 

Capítulo 7

 


Mitchel chegou à cidade, foi ao Saloon que possuía dormitórios no andar de cima.

— Olá, Steve — disse para o dono do Saloon que, mal humorado, limpava os copos.

— Veio cedo hoje — resmungou.

— Sim, tive uma noite difícil, preciso relaxar — disse, bebendo um gole de tequila. — Que rosas são essas no balcão? Está ficando sentimental, Steve? — Mitchel debochou, rindo.

— Uma das meninas deixou aí — respondeu, sorrindo e mascando um pedaço de fumo no canto da boca.

— Onde está a minha deusa?

— Está lá encima, em seu quarto.

— Vou vê-la, até mais — disse pegando uma rosa e indo para as escadas.

Mitchel subiu e foi ao quarto de Chloe, bateu à porta e esperou alguns minutos, ele colocou o caule da rosa na boca e fez uma cara totalmente cafajeste, com uma das sobrancelhas erguidas.

Chloe abriu a porta, mal humorada, mas quando viu quem estava do outro lado, com uma rosa na boca, abriu um sorriso maravilhoso.

— Ora, ora, veja quem está aqui! — disse, colocando a mão na cintura e falando dengosa.

Sem perder tempo, puxou Mitchel pela camisa e jogou-o dentro do quarto.

— Roubei uma rosa para você, minha deusa de mármore — disse dando a rosa a ela.

— Ah... Mas que romântico que você está hoje — falou sorrindo e colocando a rosa encima da mesinha. — Então, o que você está procurando hoje, meu toureiro?

Ela colocou o pé encima da cama e puxou a saia cheia de babados. Mitchel olhou para sua perna com ar de satisfação.

— Ai meu Deus! Você está com a liga predileta, adoro essa — disse, dando uma gargalhada. Agarrou Chloe no colo e se jogou na cama. — Chloe, você me deixa maluco — disse a beijando.

Ficaram por horas na esbórnia, conversaram um pouco e depois ele adormeceu, pois estava exausto. Chloe o abraçou por trás, ficando bem encaixadinha e dormiram tranquilos por algumas horas. Ele nunca dormia no Saloon, mas como estava exausto, ela se aproveitou daquele momento. Mitchel acordou já havia anoitecido e ele a acordou com um beijo.

— Eu preciso ir — disse se vestindo.

— Não vai ficar para o carteado hoje à noite?

— Hoje não, eu vou para casa. Mas vou sentir sua falta, eu volto outra hora.

Ele colocou uma nota de dólar sobre a mesa, beijou sua mão e saiu.


**


Willian havia chegado à sua fazenda com David. Mary quando os viu, saiu correndo e foi ao encontro deles.

— Will, o que houve, onde você estava? Eu quase morri de preocupação!

— Ah Mary, é uma longa história.

Ele desceu do cavalo e contou o ocorrido a ela.

— Meu Deus, você podia ter morrido! — disse aflita.

— Sim, mas não podia deixar de fazer algo, não é? Nem pensei, quando a vi caindo, joguei-me atrás.

— É Mary... Acho que seu irmão está apaixonado — David disse, com um sorriso maravilhoso.

Ela olhou para David e tremeu com aquele sorriso.

— Já vejo — resmungou. — Vá para dentro, eu vou lhe preparar um banho.

— Está bem, mas primeiro vou mostrar onde está o novilho para David — Willian disse.

— Deixe que eu mostro. Vá para o banho, você precisa dormir.

— Ok, até mais, meu amigo — Willian disse abraçando David.

— Ai meu Deus! Eu não sei quem é mais maluco de vocês, assim, qualquer dia destes, eu vou morrer do coração — ela disse, enquanto andava com David.

— Realmente, Mary, você deve sofrer um bocado conosco.

— Mas... Willian está mesmo interessado nesta moça?

— Parece-me que está. Ele até a beijou — disse sorridente.

— Verdade? — Ela ficou espantada. — Bem... Quem sabe ele não entra nos eixos se arrumar uma esposa — disse rindo.

— E você, Mary... Ainda não arrumou nenhum pretendente?

Ela o olhou rapidamente de soslaio.

— Não.

— Mas deveria, é uma moça muito bonita, eu acho você muito sozinha — falou com ar de preocupado. — Você só fica em função de Willian e de seus amigos.

— Eu não estou reclamando, David. Muito obrigada por se preocupar, na verdade eu gosto de um rapaz, mas parece que ele não gosta de mim — disse desapontada.

— Verdade? Mas que homem idiota! Como assim não gosta de você? Você é linda, meiga, educada, dedicada, qualquer homem na face da terra gostaria de casar com você. Mas quem é este imbecil? — disse, indignado.

— Você quer mesmo saber, David? — disse olhando para ele.

— Quero! — respondeu prontamente.

— O novilho é este — disse apontando para dentro do cercado. — Acho que você não vai querer saber.

— Eu quero saber quem é este homem por quem você está apaixonada, Mary. Quem é ele?

Ela deu um suspiro do fundo da alma e pensou “É agora ou nunca”.

— David, eu estou falando com ele, agora mesmo.

Ela disse numa vez só, como que se jogasse para fora o que estava entalado e olhando dentro dos olhos dele. Ele parou como uma estátua e ficou a olhando, tentando assimilar o que ela disse.

— O quê? Como... — ele começou a gaguejar, perdido.

— Olha... Você queria saber, eu disse, agora pegue seu novilho e vá embora daqui.

Ela virou as costas para ele e saiu andando, rapidamente.

— Mary, espere! — ele correu e a agarrou seu braço. — Você está falando sério? Você gosta de mim?

— Gosto, David, faz muito tempo, só nunca falei nada porque tinha medo que pudesse causar algum constrangimento entre você e Willian. E eu não queria isso. E pensei que um dia me notaria, coisa que também não aconteceu. Mas agora já falei e eu sei que você não gosta de mim, então faça de conta que eu não lhe disse nada, está bem? Pegue seu novilho e vá embora.

— Mas eu gosto de você.

— Gosta como uma irmã e não como mulher. Pois nunca me olhou diferente. Agora, David, por favor, vá embora.

Ela começou a chorar e saiu correndo para casa.

— Mary, espere! — ele gritou, mas ela não lhe deu atenção. — Eu gosto de você também e não é como irmã... Ou é? — falou baixo e confuso. — David, você é um imbecil... Droga!

Ele pegou o novilho, colocou uma corda em seu pescoço, montou em seu cavalo e foi embora. Mary o olhava pela janela e suas lágrimas corriam pelo rosto. Willian, que carregava baldes de água ara colocar no fogo, a viu chorando.

— O que foi, Mary? — perguntou, chegando perto dela.

— Nada — disse, secando as lágrimas.

— Onde está David? — disse, olhando ao redor.

— Já foi embora.

— E por que você está chorando?

— Porque eu me declarei para ele — disse, arrependida.

— E o que ele disse?

— Disse que gosta de mim, mas ele não me ama como eu quero que ame. Ele me vê como se fosse sua irmã.

— Eu acho que você está enganada.

— O quê? Você nem ficou espantado de eu lhe dizer isso?

— Claro que não. Há muito tempo eu sei que você gosta dele. Eu não sou cego, Mary.

— Mas ele não gosta de mim e eu morro de amor por ele — ela se jogou no peito de Willian, chorando aos soluços.

— Mary, olhe... Eu sempre soube que havia algo e por esse motivo ou nunca falei para você sobre encontrar um marido, pois já está na hora de você se casar. Eu nunca quis perguntar para ele, mas eu acho que ele gosta de você, mais do que uma irmã. Só ainda não se deu conta.

— Como você sabe?

— Porque muitas vezes, quando você não estava olhando, eu o vi olhando para você com admiração. Eu não sei se ele a ama, mas eu sei que ele não tem nenhuma outra mulher que ele goste de verdade. Então, pode ser que isto somente esteja um pouco confuso, não acha?

— Não sei, eu é que estou confusa agora.

— Eu sei, dê um tempo e veremos o que acontece. Já que você jogou isso na cara dele, ele vai ter uma reação. Mas não fique assim, não quero ver você chorando.

Willian secou as lágrimas de Mary, deu um beijo em sua testa e abraçou-a novamente.


**


Jayne estava em seu quarto e andava de um lado a outro, com a mão no peito, sentindo seu coração bater descompassado. Ficava lembrando-se de Ian no rio, de como ele a beijou com paixão, de como ela quase se entregou a ele.

Estava com uma vontade louca de ver Ian e jogar-se nos braços dele. As palavras de Julia e Emily martelavam na sua cabeça, seu corpo, seu coração, sua alma clamava por ele.

Ela nunca se sentiu tão devastada, sentindo tal desejo ou tal confusão em seu coração.

Somente sabia que tudo sobre ele era certo e o queria.

— Meu Deus, o que eu faço? Por que estou assim? Estou sufocando.

Então as memórias de tudo que havia acontecido em sua vida tomaram sua mente, e ela foi tomada pela raiva, pela sensação de estar oprimida pelas pessoas que sempre comandaram sua vida. Por sempre destruírem seus sonhos, suas vontades. Decidindo tudo por ela.

Ela não era assim, ela queria viver seus sonhos, queria ser livre para amar a quem seu coração mandava.

Estava cansada de sua vida, cansada de ser infeliz.

Era hora de buscar sua felicidade.

Num rompante, ela parou no meio do quarto.

— Ah que tudo vá para o inferno! Julia e Emily têm razão, eu quero ser feliz.

Ela saiu correndo, pegou seu cavalo e cavalgou em direção à casa de Ian.

Chegou à frente da casa e olhou ao redor para ver se o via, desceu do cavalo, bateu na porta e chamou, mas ninguém respondeu, ela entrou, mas a casa parecia vazia.

— Sr. Buller? Ian?

Jayne andou calmamente pela casa e não o via, chamou seu nome mais uma vez e nada de resposta. Passou por uma porta entreaberta, abriu-a lentamente e o viu dormindo na cama.

Por um minuto ficou o admirando. Ele estava somente de calças e descalço, parecia tranquilo em seu sono.

Jayne deu alguns passos para dentro do quarto, parecia que um ímã a estava puxando para perto dele. Ela ficou admirando o corpo dele, parada quase sem respirar e sentiu desejo por ele, sentimento que já havia esquecido como era. Um desejo que fazia seu corpo todo vibrar.

Aquilo parecia tão depravado, estar ali, no quarto dele.

Ela se virou, pensando em ir embora, pois aquilo não era correto, na verdade, estava confusa do que era correto e errado naquele momento. Tentou pensar nas regras da sociedade que impunham os limites, mas nenhuma vinha na cabeça.

Jayne se sentiu estranha quando percebeu realmente o que estava fazendo, entrando num quarto de um homem que era praticamente um desconhecido, que estava seminu, deitado numa cama. Aquilo não parecia certo para uma dama.

Confusa, ela deu passos leves para que a madeira não fizesse barulho, mas Ian acordou, sentou na cama, meio assustado.

Então, ele a viu.

Jayne estava na porta do quarto que estava somente com uma pequena fresta, segurou a maçaneta para puxá-la.

— Jayne! — disse espantado.

Ela levou um susto e fechou a porta, encostando-se a ela. Jayne bruscamente se virou e, com o coração acelerado e os olhos arregalados, o olhou.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou atordoado, levantando-se.

— Eu... eu queria... falar com você — disse gaguejando.

— Eu pensei que você não queria mais falar comigo depois do que aconteceu — disse cauteloso.

— Não deveria... Mas eu vim. Desculpe ter entrado assim. Eu... Isso está quase se tornando um hábito.

Ian sorriu, o que a deixou mais nervosa, se aproximou dela lentamente, andando como uma serpente que queria dar um bote e colocou as duas mãos na porta, pelas laterais da cabeça de Jayne. Ela começou a tremer e sua respiração ficou difícil.

Seu peito nu, seus braços fortes, a boca perfeitamente delineada, que ainda mantinha aquele sorriso no canto da boca, tão próxima da sua. A maneira como ele a encurralou e a olhava, como se movia, deixou-a zonza.

— Fico feliz com isso — ele sussurrou.

— Desculpe, eu não devia estar aqui, é melhor eu ir embora.

Ela foi se virar para sair, mas ele a impediu.

— Espere um momento! Diga o que você queria falar comigo — ele disse a olhando intensamente, passeando com seus olhos pelo seu rosto.

Jayne não sentia suas pernas e não conseguia responder, tentou engolir a saliva, mas sua garganta estava seca.

— Deixe-me ir — soltou um leve sussurro.

— Não a estou segurando, mas quero que responda antes de ir — disse tão mansamente que sua voz pareceu um cântico em seus ouvidos e ele estava lindo com um pequeno sorriso no canto da boca.

Ian colou seu corpo no dela devagar, aproximou seus lábios quase tocando os dela, ela fechou os olhos e parou de respirar completamente.

Jayne abriu os olhos e se perdeu naqueles olhos verdes e tão diferentes do que ela já havia visto. Alguns fios de seu cabelo caíam pela testa, o deixando irresistivelmente atraente.

— Fale, Jayne...

— Na verdade... Eu não quero falar nada.

Jayne olhou para seus lábios e lentamente se aproximou dele e os tocou com os seus. Ele fechou os olhos, sentindo aquele leve toque por alguns segundos e sem mais resistir, os dois afundaram seus lábios num beijo intenso, com a paixão que há tempos os estava devorando.

Ian abraçou-a pela cintura, puxando-a contra seu corpo. Com as mãos em suas costas, Jayne pôde sentir sua pele macia e seu corpo em chamas. Soltou-se de seus lábios e respiraram ofegantes.

Os dois estavam perdidos e extasiados.

— Eu não quero fazer aquilo de novo. Não quero desrespeitar você. Eu estava fora do meu juízo, desculpe-me.

— Eu sei... Você gosta de mim?

Ele sorriu e segurou seu rosto entre as mãos.

— Muito mais do que possa imaginar. Desde a primeira vez que a vi, há três anos, não houve um dia em que eu não pensasse em você. Que não desejasse vê-la outra vez. Você pensou em mim?

— Todos os dias.

— Por que veio aqui? — perguntou sussurrando e acariciando seu pescoço com os dedos. Jayne pensou que cairia ali mesmo.

— Porque perdi a razão.

Ele sorriu, salientando suas covinhas nas bochechas. Jayne esmoreceu, somente queria beijá-lo.

— Não vou fugir desta vez, eu quero ser sua.

Ian sentiu seu coração disparar, mais do que já estava, como se as portas do paraíso tivessem sido abertas, sentiu por ela todos os sentimentos juntos, desde a admiração, o desejo, o arrebatamento, uma junção poderosa que o fez amá-la, simples e fácil.

Então a beijou, sem pensar em nada, apenas se entregando de corpo e alma naquele momento precioso que estava vivendo.

Lentamente, ele desceu suas mãos pelas suas costas, sentindo o contorno de seu corpo e a envolveu em seus braços, enquanto a beijava.

Jayne se esqueceu de tudo. Se ela deveria ter algum recato ou pudor, simplesmente sua mente aboliu, somente queria ter Ian em seus braços. Ela deu um passo atrás, sem deixar de olhá-lo diretamente em seus olhos e lentamente soltou o grampo dos cabelos e eles lhe caíram pelos ombros e o beijou novamente.

Devagar, ela o foi empurrando para a cama e os dois caíram sobre ela. Ian a rolou para baixo de si, beijando seus lábios, sua face, seu pescoço. Ele estava inebriado com o sabor de sua pele, seu cheiro, sua suavidade.

Sem pressa, ele retirou sua blusa e foi puxando o cadarço do seu espartilho, um a um, o que só aumentou seu desejo por ela, aumentando o anseio de descobrir o que havia por baixo de todas aquelas camadas de tecido.

Ele retirou toda sua roupa e a admirou, cada pedacinho dela. Inebriado, deslizou as mãos pelas suas pernas e coxas, enquanto a beijava. Então ele se desfez das suas. Por um momento os dois ficaram ali, ajoelhados na cama, somente olhando um para o outro, perdendo suas ressalvas.

— Você é linda.

— Você também.

— Quer ser minha, Jayne?

— Sim.

Ele a beijou, lentamente, saboreando-a e empurrou seu corpo sob o seu, encaixando-se sobre ela. Tão perfeito.

Sem medo ou recusas, queriam se entregar. Ambos sentiram um prazer que, até então, lhes era desconhecido.

Sentimentos que nenhum dos dois realmente conhecia, até aquele momento, assolaram seus corações.

Ambos perceberam que havia algo diferente, algo perfeito, que era somente deles.

Esqueceram que havia vida fora daquele quarto, somente havia os dois e estavam entregues, abrindo seus corações para o amor. Um amor que cresceria no peito, maior do que jamais pensariam existir.

Jayne se permitiu ficar nua para ele, o que de início, pensou em não aceitar, mas não pôde dizer não a ele, já que Ian parecia querer retirar toda sua roupa.

Normalmente, isso seria uma ousadia, pois era contra as regras de conduta, mesmo depois de casada, mas nenhum dos dois estava interessado em convenções, regras, pois nem estavam situados na sua época naquele momento.

Ian a deitou na cama e tomou sua boca num beijo longo, deixando os dois ofegantes e, então, beijou seu corpo, tocou sua pele, sentiu seu corpo tremer e se excitar para ele, correspondendo a ele.

Ele omitiu seu gemido alto quando ele entrou nela, encaixando-se em seu corpo, de maneira tão perfeita.

Ian nunca tinha sentido tal sensação. Ela era maravilhosa e ele soube, que seu corpo tinha sido feito para ele amar, para ser dele.

Ela era diferente das mulheres que teve na sua vida, no geral as moças do Saloon. Era doce, delicada, perfumada, sua pele tão macia que parecia que tocava a mais pura seda. E, nada, nunca, o faria esquecer-se das sensações que vivenciava agora.

Ele encontrou seu ritmo, movendo seu corpo dentro dela, buscando o prazer de ambos. Forte e poderoso. Inesquecível.

Ele tocou seu corpo, encontrando pontos sensíveis, arrancando sensações quase impossíveis de suportar. Tudo tão forte e deliciosamente pecaminoso.

Após se amarem, de sentirem um clímax arrebatador, de quase sufocarem por falta de ar, se sentirem as convulsões que seu corpo vivenciava, os dois ficaram abraçados, acariciando-se suavemente, sentindo os leves toques um do outro. Tentando respirar.

Não havia arrependimento, pois estavam sentindo uma imensa paz. Ambos sabiam que o ato era reprovável e deveriam estar cautelosos, arrependidos, mas não estavam, porque de alguma maneira, em seus corações, eles sabiam que nada no mundo era mais certo do que estarem juntos.

Ian beijou-lhe os lábios e afagou seus cabelos, olhando-a com um sorriso.

— Você vai me enlouquecer — Ian disse baixinho.

— E você a mim.

— Eu estou tentando entendê-la, mas não consigo. Eu achei que você estava me odiando.

— Eu devia se não tivesse perdido meu juízo. — Ela riu encabulada. — Desculpe-me. Às vezes eu sou meio maluca.

— Isso eu já percebi. Mas eu gosto do seu jeito maluca.

— Foi uma loucura o que eu fiz. Vir aqui assim.

— Divina loucura.

— Não está pensando mal de mim? Não pareço bem como uma boa moça.

— Não, eu nem consigo pensar. — Os dois riram encabulados. — Não me importa isso, Jayne. Se isso não foi como deveria ser as regras, não faz mal, só a quero comigo. O que fez antes, eu não quero saber. Não quero estragar este momento, certo?

— Certo.

— Queria que você nunca saísse dos meus braços — disse abraçando-a forte e colocando sua perna sobre as dela, seus corpos entrelaçados pareciam um só.

— Eu não queria sair daqui nunca, eu estou sentindo uma paz imensa. Mas eu tenho que ir.

— Não vá.

— Eu preciso, não avisei que sairia, ficarão preocupados. Se me descobrirem aqui, desse jeito, o inferno se abrirá.

— Fugiu para me ver? Fiquei lisonjeado. — Ela riu dele.

— Sim... Nunca pensei que eu o veria de novo, nunca imaginei que estaria aqui, que viveria esta loucura.

— Eu também não. Confesso que esperei por este momento por todos esses anos. Eu nunca a esqueci.

— Eu também, mas agora eu tenho que ir.

Ela tentou levantar, mas ele a segurou, rindo, fazendo-a rir também.

— Quando eu vou vê-la de novo?

Ela o olhou, pensando se deveria vê-lo de novo, queria dizer que nunca mais, mas sua boca disse o contrário do que seu cérebro mandava.

— Eu não sei... Talvez amanhã.

— Prometa que virá amanhã e eu a deixarei ir — disse rindo.

— Eu prometo — disse rindo e dando-lhe um beijo.

— Então, está livre.

Ele retirou suas pernas e a soltou de seus braços. Jayne levantou e começou a vestir-se, Ian ficou deitado na cama, apoiado no braço, admirando seu corpo, cada movimento que ela fazia. Quando ela tentou colocar o espartilho, ele ajudou-a. Ela se vestiu, ajeitou seu cabelo no espelho, foi até ele e deu-lhe um beijo.

— Até amanhã, virei à tarde.

Ele a puxou de volta para a cama e lhe deu um beijo longo e profundo, e ao se soltarem, ambos deram um suspiro, pois nenhum dos dois queria sair dali.

— Ian, eu preciso ir, vai escurecer.

— Bem, o que fizemos...

— Por favor — disse tapando sua boca com os dedos. — Por favor, não diga nada, não pense em nada, apenas vamos em frente e depois veremos o que faremos. Prometa que não fará perguntas, pelo menos por enquanto. Somente quero guardar este momento em meu coração e pensar que tudo está bem.

Ele ficou em silêncio por alguns minutos, depois assentiu e ela retirou a mão, o beijou e se levantou, foi até a porta, virou-se, lhe deu um sorriso e foi embora.

Ian se jogou na cama, rindo. Que felicidade estava sentindo.

Não conseguia acreditar que a teve em seus braços, havia sonhado muito com aquele momento e finalmente seu sonho se concretizou. Estava perdidamente apaixonado por ela.

O resto que se danasse, somente queria sua Jayne em seus braços novamente e faria de tudo para tê-la.

Jayne foi para casa e estava se sentindo imensamente feliz. Uma felicidade tão gigantesca que não conseguia tirar o sorriso do rosto e o coração não conseguia recobrar os batimentos normais.

Como ele era doce, cuidadoso, intenso; sabia que a tinha possuído com paixão verdadeira, pôde sentir.

Aquilo quase tinha arrancado lágrimas de seus olhos.

Suas brigas eram somente o muro que tentavam usar para se proteger. Sem sucesso, porque agora, eles haviam sucumbido ao desejo e descoberto que se pertenciam.

Chegando em casa, ela foi para seu quarto e se olhou no espelho, sentiu-se bonita, desejada e amada, o que há anos não sentia. Estava se tornando uma mulher novamente.

Julia e Emily vieram atrás dela.

— Jayne, onde estava? — Julia perguntou. — Estávamos preocupadas, você saiu e não falou nada para ninguém. Mamãe estava perguntando onde havia se metido. Depois do que houve com Emily, sair sozinha virou tabu aqui.

— Você foi à casa de Ian? — Emily perguntou.

— Fui — respondeu, com um sorriso.

— Ai meu Deus, eu não acredito! — Emily disse, espantada. Ela correu e fechou a porta do quarto.

— E então, terminaram o que haviam começado? — Julia falou, rindo.

— Julia, não seja indiscreta! — Jayne disse, lhe dando as costas.

— Ah mulher, fala logo, pelo menos diga sim ou não.

— Fala mulher, por favor — Emily disse, impaciente. — Somos suas confidentes, lembra-se? Não há segredos entre nós. Não a julgamos, nem condenamos. O que for dito aqui, morre aqui.

— Sim, e foi maravilhoso!

— Ahh... — as duas irmãs gritaram, extasiadas e rindo.

— Isso é bom, não é? — Emily perguntou.

— Bom? Parece que eu estou andando em nuvens. Eu nunca me senti assim antes, parece que vou explodir de tanta felicidade. Senti coisas que nunca imaginei, ele é perfeito. Eu acho que estou apaixonada.

— Acha? Eu tenho certeza.

— Isso, minha irmã, abra seu coração e esqueça o resto. Eu tenho certeza que Ian vai apagar essa sua tristeza.

— Ele gosta de mim, Julia. Eu sei que o sentimento dele por mim é verdadeiro. Eu acredito nas suas palavras, eu senti.

— Isso é maravilhoso, Jayne!

— Eu estou feliz por você, agora esqueça tudo, apague o seu passado e seja feliz com ele.

— Mas isso não está certo — Jayne falou apreensiva.

— Querida, não pense. Certo é você estar com um homem que a faça feliz, e se está se sentindo numa nuvem, então valeu à pena. Vá em frente e não pense em nada, busque sua felicidade. Se for Ian que vai fazê-la feliz, então lute, lute por ele com todas as suas forças e não permita que esta sociedade medíocre e hipócrita te impeça.

— Papai não permitirá.

— Bem, talvez tenha que lutar contra ele também. Mas nós veremos isso depois. Hoje vamos comemorar e festejar o amor.

As três se abraçaram, rindo, pois finalmente parecia que Jayne havia encontrado a felicidade, arrancada de sua vida por tantos anos.

 

 

 

Capítulo 8

 


No dia seguinte, pela manhã, tudo transcorria bem nas fazendas, todos com seus afazeres.

David estava animado com sua nova casa que acabara de construir, seu braço já estava melhor do ferimento, mas ainda estava confuso com o que havia ocorrido com Mary.

Willian estava tentando domar o Mustangue que haviam capturado nas montanhas com seus amigos.

Mitchel havia comprado uma leva de cavalos que acabara de chegar e estava verificando se todos estavam bem.

Ian estava em sua fazenda, terminando de construir um novo estábulo e estava orgulhoso com sua fazenda, feliz porque esperava que Jayne viesse vê-lo naquele dia.

Na fazenda dos Cullen, as meninas estavam treinando tiro ao alvo em latas, riam e se divertiam com as brincadeiras quando erravam a pontaria. Jayne estava ficando cada vez melhor no tiro.

Quando a tarde chegou, Ian já estava ansioso pela visita de Jayne. Quanto a ela, tomou um banho demorado com aromas de flores e estava preparando-se para vê-lo.

Julia e Emily foram à cidade buscar alguns mantimentos para a casa. Quando saíram do armazém, se encontraram com Mitchel que havia ido encomendar algumas ferraduras no ferreiro. Quando ele viu Julia, ficou sem jeito, ela o olhou e cumprimentaram-se, mas elas seguiram seu caminho sem parar o passo. Ele, num salto, foi ao seu lado.

— Precisam de ajuda, senhoritas? — disse, oferecendo-se para carregar os pacotes.

— Não precisamos, obrigada — Julia respondeu.

Elas chegaram à charrete e colocaram os pacotes atrás.

— Por que a senhorita está tão fria comigo? Eu lhe fiz alguma coisa que a desagradou?

— Não, Sr. Vaiz, não fez nada, eu estou com pressa, só isso.

— Como está a senhorita Jayne? — perguntou, tentando puxar assunto.

— Bem, obrigada. — Elas subiram na charrete. — Desculpe-me, mas nós temos que ir.

Ela tocou a carroça e seguiu pelo caminho.

— Mas que droga! — disse indignado.

Ele foi até seu cavalo e foi atrás delas. Chegando do lado de sua charrete, puxou conversa.

— Posso lhes fazer companhia até sua casa?

— Não precisa se incomodar, nós estamos bem — retrucou Julia.

Emily somente olhava e nem abria a boca, mas estava rindo por dentro pela frieza de Julia, sabia o que ela estava fazendo.

— Mas a senhorita é geniosa. Irmãs tendem a ter o mesmo gênio? — perguntou brincando.

— Sim, provavelmente é genético — respondeu e ele riu.

— Ah! Então, ainda bem que não sou irmão de verdade daqueles três malucos.

— Você me parece ser mais maluco que eles — ela falou rindo.

— Não sou maluco, sou somente mais espontâneo.

— Hum, estou vendo.

— Mas vou concordar que nós quatro juntos somos meio difíceis de aguentar — disse rindo zombeteiro para ela.

— Eu nem imagino as barbaridades que vocês falam quando estão juntos.

— Realmente sai coisa do arco-da-velha, mas mulheres juntas também falam muitas coisas, não falam? — perguntou olhando para ela e sorrindo.

— Verdade — respondeu com um sorriso.

Quando quase chegavam à fazenda e os assuntos estavam ficando mais descontraídos, ouviram um tiro.

As garotas gritaram e abaixaram a cabeça. Julia puxou a rédea com força e os cavalos agitaram-se, mas pararam e elas olharam para os lados para ver o que estava acontecendo. Emily olhou para Mitchel e ele ainda estava encima do cavalo, mas estava sangrando no peito, ela arregalou os olhos e puxou Julia, o mostrando.

— Mitchel! — Julia gritou, tentando descer da charrete.

Ele paralisado, segurava a mão no peito, olhou para ela e caiu desmaiado do cavalo. Elas correram até ele e olharam em volta, mas não viram nada. Entraram em pânico, pois não sabiam o que fazer. Julia ouviu seu coração colocando o ouvido em seu peito e ele ainda estava vivo.

— Emily, ajude-me aqui. Vamos colocá-lo na charrete e levá-lo para casa.

Tentaram com todas as forças carregá-lo e colocá-lo na traseira da charrete. Subiram rapidamente e foram o mais rápido possível para casa que já estava perto, chegando lá, entraram fazenda adentro gritando.

— Ajudem-me, por favor, o Sr. Vaiz levou um tiro! — Julia gritou, Jayne correu e o viu todo ensanguentado na charrete.

— Meu Deus! — ela olhou para as meninas e elas estavam com sangue nas roupas. — Vocês estão feridas? — ela perguntou assustada, tocando nelas.

— Não, estamos bem, este sangue é dele — disse Emily.

— James! — Jayne gritou e o empregado veio correndo. — Corra até a cidade e traga o médico, rápido. Vamos levá-lo para dentro. — Com a ajuda de dois homens o carregaram para um quarto. — Anna traga uma bacia com água!

— Rápido! —Julia gritou.

A criada saiu correndo para a cozinha buscar a água e enquanto isso, colocaram Mitchel na cama.

— Julia, quem atirou nele?

— Não sei, eu não vi nada — respondeu nervosa.

— Mas quem pode ter feito uma coisa dessas? — Jayne disse, abrindo sua camisa para ver o ferimento. — Meu Deus!

— Jayne, nós temos que avisar os seus amigos. — Emily disse, nervosa.

Ela sentiu um frio na espinha, lembrando-se de Ian.

— Julia, cuide dele, eu vou buscar Ian.

— Não. E se esse atirador estiver por aí, pode atirar em você.

— Isso é o que veremos. — Jayne correu até o estábulo e pegou Trovão que, por sorte, estava encilhado. — Vamos dar uma corrida, meu amor? — disse lhe acariciando a cara.

Ela o montou e saiu em disparada. Quando chegou à fazenda de Ian parou o cavalo na frente da casa e gritou seu nome. Ele estava atrás da casa e quando ouviu a sua voz, sentiu uma excitação e foi correndo vê-la.

— Olá — falou sorridente, mas quando ele viu a fisionomia assustada de Jayne, fechou o semblante. — O que houve?

— Mitchel... — falou ofegante.

— O que tem ele? — falou nervoso, segurando a rédea do cavalo.

— Ele foi baleado, está na minha casa, vim buscá-lo.

— Ele está bem? — perguntou com os olhos arregalados.

— Eu não sei, mandei buscar o médico, mas ele não me parece bem. — Ian pegou o cavalo e cavalgaram para a casa de Jayne. Chegando lá, correram para dentro da casa. — Venha por aqui, Ian — disse correndo na frente.

Ele, nervoso a seguiu, entraram no quarto e Julia, Emily e Sra. Cullen estavam com Mitchel.

— Mitchel! — chamou se aproximando da cama, mas ele estava desacordado. Ian colocou as mãos na cabeça, nervoso.

— Ian, se acalme, logo o médico vai chegar — Jayne disse.

Ele começou a andar pelo quarto, Jayne queria fazer alguma coisa para acalmá-lo, pois lhe cortava o coração vê-lo daquele jeito. Demorou mais alguns minutos até que o médico chegou. Ian já estava desesperado. O médico pediu que todos saíssem do quarto e que somente uma pessoa ficasse com ele para ajudá-lo.

— Venha, vamos deixá-lo, ele saberá o que fazer. — Ele a seguiu e foram ao jardim. — Sente-se aqui — Jayne disse, mostrando-lhe uma poltrona. — Vou pedir para fazer um café para você.

Ela saiu e, após alguns minutos, voltou e se sentou ao seu lado.

— Ele não pode morrer.

— Ian, ele não vai morrer... Você gosta muito dele, não é?

— Ele é como um irmão para mim. Tenho que avisar David e Willian.

— Não se preocupe, eu pedi a James que fosse avisá-los.

— Mas quem atirou nele, como isso aconteceu?

— Foi aqui perto da fazenda, ele estava acompanhando Julia e Emily. Estavam voltando da cidade quando ouviram um tiro e ele foi atingido, mas não viram ninguém.

— Mas como isso é possível? Isso tem cara de tocaia.

— Quem faria uma tocaia? Ele tem algum inimigo?

— Não, não que eu saiba — disse tentando pensar.

— Acalme-se — disse segurando sua mão, tentando acalmá-lo e Anna chegou ao jardim, trazendo uma bandeja de café e colocou na mesinha. — Pegue, beba este café — disse dando a xícara a ele, que bebeu tentando se acalmar. — Viu? Bem melhor que o seu — ela brincou para tentar dissipar seu nervosismo.

— É verdade, bem melhor — concordou sorrindo e bebendo outro gole.

Ficaram ali por um tempo imensurável e, de vez em quando, puxavam algum assunto para cortar o silêncio terrível e espantar o nervosismo e temor pela vida do amigo, até que Emily apareceu no jardim.

— O médico já vai embora, retirou a bala e disse que fez tudo que podia, mas o Sr. Vaiz vai ter que ficar aqui por uns dias, se não tiver febre, ele estará fora de perigo.

— Graças a Deus! — Jayne disse.

— David, Willian e Mary estão aqui, eles estão na sala — Emily disse.

Ian e Jayne se levantaram e foram até a sala e os rapazes se abraçaram.

— Como ele está? — Willian perguntou, preocupado.

— O médico disse que vai ficar bem, teve sorte — Ian disse.

— Mas o que é isso? Como uma coisa dessas pôde acontecer? — David perguntou.

— Não sei, não tenho ideia de quem possa ter feito isso, mas foi tocaia — disse Ian.

— Tocaia? — Willian indagou.

— Quem faria isso? — David perguntou. — Será que foi algum marido?

— Acho que não. Que eu saiba, ele não sai com mulher casada há muito tempo — Willian disse.

— Não sei quem fez, mas eu vou descobrir e pagará.

— Podemos vê-lo? — Willian perguntou à Emily.

— Claro que podem, venham por aqui, por favor.

Eles a seguiram e entraram no quarto, Ian se virou para Jayne, pegou sua mão beijando-a e a olhou ternamente.

— Obrigado.

Ela sorriu e sentiu que algo explodiu em seu peito, a maneira que a olhava conseguia deixa-la totalmente abalada.

Eles ficaram um pouco no quarto com Mitchel, mas ele estava dormindo, então saíram.

— Bem... Ele vai dormir profundamente, é melhor irmos para casa, amanhã voltaremos. Não queremos ser um estorvo para seus pais. Senhoritas, eu espero que não seja incômodo demais deixá-lo aqui, talvez fosse melhor levá-lo conosco — Ian disse.

— Não — Julia disse. — Ele vai ficar. O médico disse que ele tem que repousar, e temos que ser vigilantes com a febre, e eu cuidarei disso, porém, vocês podem voltar aqui à hora que quiserem. Meus pais não vão se incomodar, afinal, vocês ajudaram a encontrar Emily.

— Obrigado, Srta. Julia — Willian disse.

Ele olhou para Emily se aproximando dela.

— Lamento vê-la nessa situação, espero poder vê-la em um momento mais tranquilo, sempre que a vejo estamos em apuros.

— Verdade, Willian, mas isso vai passar.

Ele deu-lhe um beijo na mão e foi embora, ela ficou suspirando como uma tonta. Ian quando descia as escadas da casa se virou e a viu no topo, voltou e parou diante dela.

— Você quer andar um pouco comigo? — Ian perguntou e ela assentiu com um sorriso.

Os dois calmamente começaram a andar lado a lado pela fazenda.

— Você está mais calmo?

— Sim. Ele vai ficar bem, mas eu quero saber quem fez isso.

— Só pode ter sido um desafeto, por nada ninguém iria lhe dar um tiro.

— É provável — disse ele pensativo. Andaram um tempo em silêncio. — Você está linda — disse a olhando atentamente.

— Obrigada. Eu me arrumei para você, ia visitá-lo esta tarde, lembra-se? — disse sorrindo.

— Lembro, eu a estava esperando. Pena que isso tudo ocorreu.

Eles sentaram-se numa clareira e conversaram. Ian contou sobre a fazenda, sobre suas aventuras com os rapazes e principalmente Mitchel e os dois riam admirando um ao outro. Ele fez algumas perguntas sobre a vida de Jayne, que contava algumas coisas, mas despistava outras mudando de assunto.

Ele percebeu que ela estava desconversando, então não insistiu, queria que ela ficasse à vontade para conversar com ele. Jayne conduziu a conversa para sempre estarem falando mais dele do que dela, até que ficou tarde e voltaram para frente da casa.

— Preciso ir, tenho algumas coisas para fazer na fazenda, amanhã cedo passarei aqui para ver Mitchel... Por favor, qualquer coisa mande me avisar.

— Está bem. Não se preocupe ele está sendo bem cuidado, dou-lhe minha palavra.

— Obrigado.

Despediram-se e Ian foi embora.

 

 

 

Capítulo 9

 


O sol estava alto no céu quando Mitchel acordou, após Julia ter trocado seus curativos. Ele abriu os olhos e gemeu de dor quando tentou se mover.

— Calma, não se mexa — Julia disse colocando a mão em seu ombro, para que ele não se levantasse.

— O que aconteceu? — perguntou meio zonzo.

— Você levou um tiro. Por sorte não foi grave e não teve febre.

— Como? — perguntou como se não se lembrasse de nada.

— Não sei, o tiro veio do nada, eu não consegui ver quem era. Estávamos voltando da cidade, lembra-se?

— Onde estou? — perguntou olhando para o quarto.

— Está na minha casa, esteve aqui apagado por dois dias, agora, fique quieto, pois não deve fazer esforço. Não queremos que piore e venha a ter uma febre — Julia disse, repreendo-o calmamente e ele a olhou atentamente, meio tonto de morfina.

— Ah! Esta é sua casa... Eu achei que tinha morrido... e estava vendo um anjo no céu — disse brincando, mas falando devagar.

— Mitchel, você sempre com suas gracinhas. Nem baleado consegue parar com estes galanteios? — Julia ficou sem graça e ele sorriu. — Seus amigos estiveram aqui, devem voltar hoje para vê-lo. Eu já troquei seus curativos, agora você precisa dormir, descanse para se recuperar logo.

Ela levantou e ia sair do quarto.

— Julia, espere, não vá... fique aqui me fazendo companhia.

— Mitchel... Descanse. — Ela saiu do quarto fechando a porta.

— Ai que mulher! — disse fazendo careta e com a mão no peito.

Julia parou do lado de fora da porta, dando uma suspirada.

— Ai que homem!

Depois disso, Julia continuou cuidando de Mitchel, que mesmo estando debilitado, jogava seu charme para ela. Ela, o jogava no poço de água fria, cortando seus galanteios, o que fazia ele se interessar mais por ela. Mitchel nunca foi de encontrar mulheres difíceis, todas sempre se derretiam ao seu jeito galanteador, mas Julia era diferente, não dava o braço a torcer por nada, e isso o deixava um tanto irritado.

— Sabe, Julia, quando Ian falava de Jayne e suas brigas, eu achava que ele exagerava, mas agora conhecendo mais você, eu acho que ele estava certo, é mesmo possível ter mulheres difíceis de lidar.

— Você fala isso porque as mulheres se jogam aos seus pés, mas sinto muito, meu querido, eu não sou como essas mocinhas tolas que suspiram por causa de um galanteio. Então desista. Nós podemos ser amigos e nada mais. Eu nunca me casaria com um libertino.

— Credo! É este juízo que você faz de mim?

— Infelizmente sim. Você é galanteador, não é? Conheço o tipo.

— Não sou, não. Bem... eu estou mentindo, sou sim. — Ele riu. — Mas, eu não sou nenhum cafajeste. Quero dizer... quem sabe um pouquinho. Mas sou uma boa pessoa — complementou.

— Eu concordo com a última parte — disse rindo. — Você e seus amigos demonstraram que são do bem, e eu me comovo com a amizade de vocês.

— Ah sim. Somos inseparáveis, são como meus irmãos. Está certo que às vezes sou meio pai, desnaturado, mas como sou mais velho me considero.

— Ai... Pobre deles se você fosse pai, que exemplos daria.

— Você me arrasa, senhorita. Obrigado — falou indignado.

— De nada — falou rindo.

Os rapazes chegaram à fazenda para visitá-lo e Emily os recebeu espichando os olhos para Willian.

— Como você está? — Ian perguntou, tocando o ombro de Mitchel.

— Estou melhorando, estou sendo bem cuidado.

— Eu estou vendo. — David brincou, olhando para Julia.

— Se eu soubesse que teria uma enfermeira tão linda cuidando de mim, teria eu mesmo me dado um tiro — falou rindo. — Aaii... — ele gemeu de dor e todos riram deixando Julia sem graça.

— Vou deixá-los. Eu vou pedir para preparar um café.

— Mitchel, fique quieto, rapaz. Teve muita sorte — Ian disse.

— Você nos deu um susto! — David falou.

— Verdade, foi um susto, mas agora nós temos que descobrir quem foi o pistoleiro, porque isto está muito estranho, não acham? — Ian disse.

— Eu acho, mas como descobriremos? Não faço ideia — Willian disse.

Eles ficaram levantando hipóteses para ver se encontravam alguma pista até que trouxeram o café, e as meninas vieram estar no quarto.

— Mas que café bom! — David disse tomando um enorme gole. — Meu Deus, Ian! Peça para elas nos ensinarem a fazer café, eu acho o meu horrível. O seu mesmo, é um desastre. — Ele soltou uma gargalhada e todos riram.

— É verdade. Já provei seu café, é mesmo ruim — Jayne disse brincando.

— Querem parar de falar mal do meu café? — Ian disse rindo.

— Eu sei por que o café dele é tão ruim. Deve usar uma meia velha. — Willian brincou e todos riram.

— Ai! — Mitchel gemeu. — Meninos, parem de me fazer rir, por Deus!

— Desculpe — David falou. — Está na hora de irmos, para que descanse. Vamos pessoal, vamos deixá-lo aos cuidados de sua adorável enfermeira.

Todos se despediram de Mitchel e foram embora. Ian, ainda na varanda, deu um beijo carinhoso na mão de Jayne e acariciou seu rosto.

— Desculpe minha dama, mas eu preciso ir até a cidade. Eu e David tentaremos descobrir algo sobre este tiro, à tarde venho buscar você para um passeio. Você aceita?

— Claro que aceito.

Ian lhe deu um beijo no rosto bem devagar, roçando os lábios em sua pele e olhou-a, sorrindo.

— Que imprudência seria a minha se lhe beijasse os lábios como eu gostaria — sussurrou.

— Sim, seria imprudente.

Ele sorriu. Então lhe beijou a face, a fazendo fechar os olhos e se virou para ir, mas ela puxou seu braço, o fazendo olhar para ela.

— Ian, tome cuidado — disse, com olhos apreensivos.

— Não se preocupe, eu estarei bem.


**


Alguns dias se passaram e Mitchel foi levado para sua casa. Ele se recuperava progressivamente, mas precisava de repouso. Julia prometeu que o visitaria para trocar os curativos e assim o fez, deixando Mitchel mais desejoso de conquistá-la, mas ela não abria nenhum espaço de aproximação.

Willian ia ver Emily todos os dias, eles estavam cada vez mais encantados um com o outro. Eles riam muito juntos, pois os dois adoravam contar causos e rir, seus encontros eram sempre muito divertidos. Emily ia à sua fazenda ajudá-lo a domar o Mustangue, deu-lhe o nome de Apolo e fez amizade com Mary.

David ficou perdido com a história de Mary. Foi criado com ela como se fosse sua irmã. Não entendia seus sentimentos por ela, mas sentia tristeza em evitá-la. Ele diminuiu suas idas à fazenda de Willian, temendo encontrá-la, somente ia quando necessário, ajudá-lo em algumas tarefas.

Olhava para Mary e a cumprimentava, mas não conversavam mais. Isso a maltratava; estava perdendo as esperanças que Willian lhe dera. Ela se arrependeu amargamente de ter dito a ele que o amava, pois agora não tinha nem o amor e nem a amizade espontânea de David.

Jayne e Ian se viam diariamente e em nenhum momento discutiram como fizeram tantas vezes. Tiveram um dia muito divertido quando ela foi ensiná-lo a fazer café. Ela ia sempre à sua casa e o ajudava em algumas atividades na fazenda.

Adoravam ficar na varanda vendo o sol se pôr e conversando, andar a cavalo, estavam cada vez mais apaixonados e sentiam-se felizes de estarem juntos.

Jayne estava deixando a vida levá-la, estava aproveitando cada minuto. Não conseguia mais ficar longe de Ian, pois havia entregado seu coração a ele. O resto de sua dolorosa vida, ela somente queria esquecer.

Sobre o atirador, os rapazes tentaram descobrir algo, souberam de alguns forasteiros que estiveram na cidade, mas haviam sumido.

Eles ainda não haviam desistido de encontrar o culpado.


**


Naquele dia ensolarado, Ian acordou e sentia que seu coração transbordava de felicidade, cuidou de alguns afazeres da fazenda, mas estava descansado.

Tomou um banho demorado na sua tina e cantarolava uma música sem deixar que o sorriso lhe saísse do rosto, estava ansioso para se encontrar com Jayne.

No início da tarde, foi à fazenda dos Cullen e Jayne o estava esperando. Ela apareceu na varanda e ele a ficou contemplando encantado.

Estava bela e elegante usando uma saia marrom com uma blusa branca sob um corpete e usando um chapéu branco ornado com um laço marrom.

— Nossa! Você está mais linda do que nunca.

Ele se aproximou dela e beijou sua mão.

— Obrigada, cavalheiro — disse sorrindo.


— Está pronta para o passeio de hoje?

— Estou pronta.

— Seu pai não vai fazer outro sermão como ontem, vai?

— Ele está no banco. Já ouvi um sermão hoje sedo, por duas horas. Não podemos mais esconder nossos encontros e ele está incomodado que começarei a ser falada na cidade.

— Então pensaremos em como resolver esse problema. Venha, eu vou lhe mostrar um lugar especial.

Ian a ajudou subir no cavalo e depois subiu no seu e cavalgaram pelas colinas e pararam numa clareira que beirava um lago encantador. Eles desceram dos cavalos e os puseram beber água.

— Este lugar é lindo, eu nunca tinha vindo aqui.

Jayne olhava encantada ao redor.

— Eu costumava vir aqui quando era criança — disse pegando na mão de Jayne e beijando-a. — Venha.

Os dois pegaram os cavalos pelas rédeas, fazendo-os segui-los calmamente. Andavam de mãos dadas beirando o lago, onde havia uma relva verde com árvores esplêndidas, o lago era límpido e tranquilo, um leve vento soprava balançando os galhos das árvores, que entoavam um suave cântico anestesiante.

A primavera era uma estação maravilhosa no Texas.

Ao longe, se via duas imensas montanhas, ele estendeu uma manta no chão, que havia pegado nos alforjes, debaixo de uma das árvores e se sentou.

Jayne sentou ao seu lado, retirou o chapéu e o colocou no chão, o vento fazia seus cabelos voarem levemente. Conversaram por um bom tempo sobre várias coisas e Ian a olhava com olhos penetrantes que admiravam cada centímetro do seu rosto.

— Ian, não me olhe desse jeito — disse encabulada.

— Mas eu não consigo parar de olhá-la — disse rindo.

— Parece que quer despir-me com os olhos — disse cobrindo os olhos dele com a mão.

— Verdade. — Ele riu pegando sua mão e beijando a palma. — Mas eu gostaria de despir você com minhas mãos e não com meus olhos.

— Oh, não se diz essas coisas à uma dama.

— Desculpe-me, senhorita.

Ian a beijou e sentiu um frio descer pela espinha e seu corpo se ascender. Jayne sentindo sua língua macia contra a sua, começou a perder a respiração. O toque dele no seu corpo a incendiava. Ela perdia totalmente a razão e o juízo.

Ele a deitou na relva, levantou sua saia até as coxas, revelando pernas maravilhosas, ornadas por uma meia branca, presa com uma liga de renda branca e rosa e fita de cetim na coxa que encontrava com sua ceroula de algodão branco e renda.

Ele começou beijando do tornozelo e foi subindo até sua coxa, Jayne fechou os olhos e sentia seu toque suave, suas carícias. Ian estirou seu corpo sobre o dela e buscou seus lábios e a beijou, esquecendo-se de tudo e de onde estavam.

Somente havia eles e a natureza e sua paixão desenfreada.

Jayne ofegou quando sentiu Ian retirar sua ceroula e tocá-la com os dedos, quentes e ágeis, estimulando seu corpo a reagir e a render-se à paixão.

Ela não precisava de muito para deixá-la excitada, Ian a deixava quente, somente de olhá-la. Mesmo que em momentos se sentisse constrangida por sentir de forma tão forte estas sensações, ela se entregava, porque era Ian. E sentia isso só por ele, por seu amor.

— Está pronta para mim?

— Sim.

Ian cobriu sua boca para sufocar seu gemido alto quando entrou nela, excitado e forte, pulsando dentro dela.

— Maravilhosa, adoro seu corpo, adoro quando grita assim.

— Ian...

— Venha para mim, se entregue.

Para eles, naquele momento mágico estavam no céu, consumidos por um fogo que ardia por dentro. Renderam-se à paixão e ao sexo naquele lugar inebriante, sem se importar com nada.

Mais alguns movimentos profundos e Jayne se contorceu, soltando um grito misturado com ofegos e viu sua vista relampejar como se estrelas pipocassem na sua frente.

Espasmos a atingiram violentamente e Ian impulsionado pelo prazer dela, seguiu-a com sua própria liberação, rosnando alto, prendendo a respiração e com um último movimento tombou sobre ela.

— Deus Santo! — ele disse, ofegante.

Ian recostou a cabeça em seu peito, ela entrelaçou seus dedos nos seus cabelos e lhe acariciou lentamente. Descansaram por uns instantes, tentando fazer com que seus corações voltassem ao normal depois do êxtase. Ele buscou seus lábios como se nunca pudesse parar de beijá-la.

— Eu te amo, Ian — disse sussurrando, olhando-o nos olhos.

— Eu também te amo, Jayne.

— Nunca me deixe.

— Nunca.

Ian sorriu e beijou-a novamente. Ficaram deitados mais um tempo, depois levantaram e ajeitaram suas roupas.

— Precisamos voltar — Jayne disse, sem vontade de ir.

— Infelizmente — ele disse fazendo uma careta.

Ian pegou uma flor que estava perto da árvore, chegou à frente de Jayne e passou-a levemente em seu rosto.

— Há uma lenda indígena, que conta que houve um xamã, com ciúmes, que enfeitiçou uma índia por quem ele era apaixonado, mas ela amava outro índio, que também a amava. O xamã, com seu feitiço, a fez virar uma flor, linda e perfumada, e seu amado não poderia tocá-la, senão suas pétalas cairiam e ela morreria. Então, ele cuidava da flor com sua vida, mas com muita tristeza, nunca a tocava. Quando chegava a noite, esta flor soltava um perfume maravilhoso e embriagante, que o envolvia de uma forma que ele podia sentir que era ela quem o estava tocando. Então, toda noite ele se deitava, fechava os olhos e esperava sua amada vir tocá-lo e embriagá-lo com seu perfume e assim sonhava com ela.

— Que história triste, mas tão linda — Jayne disse, encantada.

Ian pegou a flor e colocou em seu cabelo e lhe deu um beijo na testa.

— Eu espero que nunca encontremos um xamã apaixonado por você.

— Eu também não — ela disse rindo.

Ele segurou gentilmente o rosto de Jayne, olhando-a.

— Eu morreria se não pudesse mais tocar você.

— Ah Ian... Eu nunca me senti tão feliz.

Ela disse aquilo do fundo da alma e os dois se abraçaram. Ian a soltou e a olhou, com ansiedade e uma alegria maior que ele.

— Jayne, você quer se casar comigo? — disse com um sorriso, seus olhos brilhavam como dois diamantes.

Jayne, no entanto, quando ouviu aquilo foi como se tivesse levado um tiro, ficou branca, achou que desmaiaria. Ian, vendo seu semblante mudar tão bruscamente, fechou o belo sorriso que iluminava seu rosto.

— O que foi, Jayne? — perguntou, nervoso, estranhando sua reação, pois ela mal conseguia respirar. — Você está sentindo algo? Fale alguma coisa.

— Eu, eu...

— Jayne, eu lhe pedi em casamento. Não vai dizer nada? Por que está assim? Eu vou falar com seu pai, pedir sua mão, ele não vai se opor, sou um bom partido.

— Ian... Eu não posso me casar com você.

Ele estreitou os olhos e a olhou, confuso, sem entender.

— O quê? Mas você acabou de dizer que me ama. Como não quer se casar comigo, você é maluca? — falou andando em círculos e passando as mãos nos cabelos, ele sentia seu estômago queimar.

— Eu disse que não posso me casar... Não que eu não quero...

Ela tentava se explicar, mas estava tão nervosa que gaguejava, pois não estava esperando que ele fosse pedi-la em casamento.

Deus, Santíssimo, é claro que pediria, onde estava com a cabeça em pensar que esse dia não chegaria?

— Jayne, por favor, me explique isso. Eu não estou entendendo nada. Se me ama, por que não pode se casar comigo? — pediu nervoso e Jayne fechou os olhos, respirou profundamente para tomar coragem de responder, mas ele nervosamente continuou. — Não pode casar por que não tenho uma mansão como a sua? Por que não sou de uma família tradicional e rica que frequenta a alta sociedade? Ou...

— Eu sou casada! — disse o interrompendo logo de uma vez.

— O quê? — perguntou, sentindo como se o mundo desabara na sua cabeça. — Como que você é casada? Isso não pode estar acontecendo... — Ele sentiu uma dor no peito como se estivesse sendo rasgado. — Você está brincando? Diga que é mentira, Jayne, diga que é uma brincadeira.

— Ian... Não é mentira, eu sou mesmo casada, mas...

— Todo este tempo eu me matando por você, eu esperei por três anos até reencontrá-la. Estamos meses juntos nos encontrando, conversando, fazendo amor, juras de amor e você é casada? Como isso é possível? — ele falou sem parar, pois a raiva tomou conta dele.

— Ian, deixe-me explicar... — ela tentava falar, mas ele estava tão enlouquecido que nem a ouvia.

— Eu não quero ouvir nada! — gritou. — Não quero ouvir mais nenhuma palavra — disse furioso, entre os dentes.

— Por favor, escute-me.

Ela foi até ele tentando fazê-lo ouvir. Ele a olhou com um ódio fulminante lhe saltando dos olhos e a agarrou que ela gemeu sentindo seus dedos lhe cravarem os braços.

— Você acabou de se entregar a mim, aqui neste chão! Você disse que me amava e estava mentindo para mim todo este tempo?

— Não!

— Como você pode ser assim tão fria? Eu pensei que era uma moça decente e se comporta como uma rameira, saindo comigo sendo casada? Por isso foi até minha casa naquele dia, se entregar para mim. Você é pior que uma cocote do Saloon. Eu sabia que não era mais virgem quando se deitou comigo, mas eu relevei e prometi que não faria perguntas, porque estava apaixonado e não queria te perder. Como fui idiota, nunca imaginei isso. Eu poderia perdoar um erro de jovem iludida, Jayne, mas isso?

— Não, Ian, as coisas não são assim... — disse, sentindo aquelas palavras a chicotearem.

— Suma da minha frente, eu nunca mais quero ver você ou ouvir sua voz.

— Ian, por favor, deixe-me explicar, não é o que você está pensando, meu marido...

Ela tentou continuar falando, mas ele não deixou, estava muito zangado para conseguir se acalmar e ouvi-la, com toda força a soltou e ela se embolou nas saias longas e caiu no chão. Ele montou no seu cavalo e olhando para ela gritou, furioso.

— Volte para seu marido e vá para o inferno! Sua família toda conivente com uma coisa destas, vocês não prestam. Se eu vir você de novo, eu te mato.

Ele virou o cavalo e saiu em disparada.

— Ian! Espere!— gritou, tentando levantar se desenrolando das saias, mas ele já estava longe. — Ian! — gritou tão alto que ecoou nas montanhas.

Jayne começou a chorar aos soluços e caiu sentada no chão novamente, chorou por longos minutos, sem saber o que fazer, sentindo uma dor dilacerante no peito.

— Ai meu Deus, me ajude! O que eu faço?

Então, Jayne se lembrou das palavras de Julia... — “Jayne, você tem que recomeçar sua vida, não deixe isso passar, se ele a faz feliz, lute por ele, lute com todas as suas forças”.

Ela se levantou, secou as lágrimas e respirou fundo, uma e outra vez, pegou seu cavalo e foi atrás dele, imaginando que havia ido para sua fazenda.

 

 

 

 

Capítulo 10

 


Ela foi até a fazenda de Ian e entrou na sala, sem se fazer de rogada, respirando fundo e tomando coragem, pois iria em frente.

Ela o encontrou na grande sala que era conjugada com a cozinha e ele estava sentado numa cadeira, escorado na mesa com uma garrafa de tequila. Destruído.

Aquilo era a sua visão do inferno. Jayne sentiu remorso e pena dele porque ela era a culpada de seu sofrimento.

— Ian...

— O que você está fazendo aqui? Vá embora, eu disse que nunca mais quero ver você! — falou enfurecido entre os dentes. A raiva emanando de seus poros.

— Eu não vou sair daqui e você vai me ouvir.

Num rompante de raiva ele pegou sua arma e engatilhou, chegou perto dela e apontou a arma para seu rosto.

— Eu deveria matar você, sua mentirosa, bandida! — disse rangendo os dentes e com olhos marejados de lágrimas.

Jayne estava prestes a ter um ataque, seu coração parecia que estava entalado na sua garganta. Ouvi-lo dizer aquelas coisas a estava matando, mas tentou manter a calma.

Deus Santo, ele estava fora de si e podia facilmente apertar o gatilho, mas ela não desistiria. Jayne tremia, mas tentou manter uma calma que não sentia e respirou fundo.

— Se você quiser atirar em mim, pode atirar, puxe o gatilho de uma vez e acabe com isso, pois eu não me importo. Mas em nome deste amor que você diz sentir por mim, pelo menos me deixe explicar. Depois se você não me quiser mais eu vou embora e você nunca mais me verá, ou se preferir, pode atirar em mim, pois não terei nenhum motivo para viver — disse firmemente, mas com os olhos marejados de lágrimas.

Ele pensou por um minuto, tentando se controlar e abaixou a arma, desengatilhou e a jogou encima da mesa, tomou um copo cheio de tequila e fez um esforço enorme para engolir aquilo, pois queimava como fogo.

— Muito bem, então fale.

Ela puxou o ar para seus pulmões e começou a falar.

— Ian, eu não menti para você, exatamente.

— Onde está seu marido?

— Ele desapareceu, me abandonou, faz cinco anos... Tínhamos uma bela fazenda e éramos aparentemente felizes, pelo menos, era o que eu pensava. Um dia eu fui à cidade buscar mantimentos no armazém e fazer a prova de alguns vestidos que tinha encomendado na modista. Quando voltei, ele havia sumido. Fiquei enlouquecida achando que algo havia acontecido, entrei em desespero, mas ele havia levado suas roupas, seus pertences, tudo. Um dia depois disso, um homem apareceu na fazenda dizendo que a havia comprado com tudo nela, todo o gado, todos os cavalos, os móveis, e que eu tinha dois dias para deixar a casa. Meu marido levou o dinheiro do banco, títulos, minhas joias, tudo.

Ele a olhou tentando entender o que ela disse. E aquilo não era nada bom.

— Eu fiquei sem nada, então meu pai me acolheu na sua casa e me deu dinheiro para que eu procurasse pelo meu marido. Minhas irmãs se uniram a mim, para que eu não viajasse sozinha, foi quando começamos aprender a atirar, para nos proteger e eu queria matá-lo. Viajei por todas as cidades, até cheguei ir a outro país que pensei ter encontrado uma pista, revirei cada centímetro, mas nunca consegui uma pista verdadeira. Quando conseguia algo, era falsa.

Ian olhava-a seriamente e prestava atenção, tentando assimilar tudo que ela estava dizendo.

— Prossiga... — ele sussurrou.

— Eu perdi as esperanças, não sabia mais onde procurar ou a quem recorrer. A lei nunca me ajudou, apesar de tentar todos os recursos que pensei, então voltamos para casa. Morávamos em Yahoa, mas tivemos que nos mudar porque a cidade toda ficava falando de nossa família pelas costas, de mim principalmente. Eu nunca me incomodei com isso, mas meus pais sim. Então meu pai quis mudar-se para Temtpy, e agora viemos para cá. Minhas irmãs nunca conseguiriam um bom casamento, com todos sabendo que uma filha Cullen havia sido largada pelo marido.

— Por que você foi atrás dele? Por que fazer isso tudo por alguém que a abandonou, que a roubou? Por vingança? Para matá-lo? Como seu pai consentiu uma coisa dessas e suas irmãs junto?

— Eu não estava exatamente atrás dele — disse abaixando os olhos.

— Estava atrás do dinheiro?

Ela deu um suspiro triste que parecia lhe rasgar a alma, e continuou.

— Eu estava atrás da minha filha — disse sentindo um nó na garganta.

Ian paralisou, sentiu uma dor no peito a ouvindo falar aquilo.

— O quê?

— Edward levou a minha filha, um bebê de um ano, ela se chamava Angel.

As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Jayne.

Ian ficou estático, seu coração começou a sentir um remorso enorme por ter reagido daquele jeito, por ter gritado com ela e quase ter atirado. Não sabia o que fazer. — “Meu Deus, o que eu fiz? Como sou estúpido”. — lhe passou pela cabeça, estava horrorizado, mas muito perdido, mal conseguia raciocinar.

— Perdoe-me, Ian, eu sei que cometi um erro. Eu sei que deve estar me desprezando, pois eu devia ter contado antes, mas... Eu não tive coragem de contar, com medo que você me julgasse como todo mundo fez e eu... eu estava apaixonada por você, somente queria ficar com você. Eu queria ser feliz, eu queria me sentir amada. Mas não posso me casar, nunca mais.

Ela parou de falar, o olhava esperando que ele dissesse algo, que a quisesse, sem se importar com aquilo.

— Ian...

Ele a ficou olhando, mudo e virou o rosto.

Jayne começou a chorar aos soluços, ela pensou que morreria de tristeza, quando percebeu que ele não faria nada.

— Ian, eu... Não se preocupe, eu nunca mais vou importuná-lo. Sinto muito.

Jayne saiu da casa e Ian ficou ali, estático a vendo ir embora, sem saber o que fazer, pois estava em choque.

Era melhor deixá-la ir de uma vez, pois estaria melhor sozinho, seguindo sua vida. Porém, ele sentiu algo que nunca havia sentido em sua vida, uma dor que infligia seu coração, uma dor desconhecida, nova e assustadora.

A dor de perder a mulher que amava.

Ian queria desaparecer da face da terra. Cerrou a mão e os olhos fortemente, tentando puxar alguma razão para dentro de seu cérebro, olhou ao redor e viu um imenso vazio na sua casa.

Todo seu plano indo por água abaixo. Havia sonhado com a casa cheia de sua risada, com meninos correndo e brincando.

Sua família.

Agora, tudo era um imenso vazio sem Jayne. E ele não queria aquilo. Não queria viver sem ela, pois aquela casa, ele, precisava dela. Aquela decisão precisava ser tomada e definiria seu futuro.

Então, ele não queria o vazio, queria ela, sua risada, sua alegria, seu toque, seu amor, queria a dama bela e inteligente, recatada e sensual. Avassaladora.

Ian olhou para a porta fechada, jogou tudo ao inferno e foi atrás dela.

Jayne, que estava escorada com a testa na sela, ainda tentava parar de chorar, tomar controle de seu corpo e conseguir subir no cavalo para ir embora. Não queria se humilhar mais, mas ainda não tinha conseguido a força, até que o ouviu chamá-la.

— Jayne!

Jayne se virou e o olhou com o coração em suas mãos e com o rosto banhado em lágrimas. Ele foi até ela e os dois ficaram se olhando por alguns segundos.

— Você me ama? — ele perguntou e ela suspirou cansada.

— Eu tentei afastar você de mim, eu me irritava porque o que eu sentia por você ia contra ao que eu podia fazer, mas eu não resisti... Porque eu o amo, amo tanto que dói. Mas eu nunca poderei me casar, pois sou oficialmente casada, pela lei, não tem como ser feito, entende? Eu não consegui anular meu casamento, o juiz disse que eu era culpada por ele ter me abandonado, estou presa a este casamento maldito para o resto da vida.

Ela chorava e não conseguia mais encará-lo.

Ian sentiu vontade de chorar, queria poder resistir e mandá-la embora, mas a abraçou forte e ela sentindo aquele abraço, chorava aos soluços e o abraçou de volta, como se nunca mais quisesse soltá-lo.

— Ah Jayne, eu sinto muito que você tenha passado por isso. Eu fiquei enlouquecido. Eu achei que você estava me enganando, que estava se divertindo, mentindo para mim de propósito.

— Eu queria me casar com você, Ian. Eu te amo.

— Eu sei. Você devia ter me contado antes — falou suspirando e a abraçando mais.

— Eu tinha medo que você fizesse a mesma coisa, que me deixasse, mas eu nunca deixei de pensar em você nem um minuto sequer desde que o conheci. Não quero viver sem você, morrerei.

— Jayne, olhe para mim. — Ele segurou seu rosto entre as mãos. — Perdoe-me, eu fui um idiota duvidando de você. O que você fez foi errado, me deixou zangado, mas podemos superar isso.

— Podemos?

— Não há nada neste mundo, nem ninguém que vai nos afastar. Você é minha vida, longe de você parece que eu não consigo respirar. Eu te amo e não me importo se não podemos casar no papel, na igreja, a única coisa que me importa é que você seja minha mulher, que fique do meu lado, para sempre.

Jayne estava estupefata, não estava acreditando que depois de tudo, ele estava fazendo uma declaração daquelas, despojando seu coração.

— Eu te amo. Não me deixe, por favor — disse ela fechando os olhos, ele a beijou com todo amor que sentia por ela e se abraçaram fortemente.

— Eu prometo que vou cuidar de você, que eu estarei sempre ao seu lado. Jayne, a partir de hoje, você aceita ser minha mulher? — perguntou colocando um sorrisinho nervoso no canto de boca e ela deu um sorriso meio às lágrimas.

— Como?

— Não podemos casar, mas podemos viver juntos, como marido e mulher. Eu não me importo, não vou deixar você por causa disso. Aceita viver comigo sem se casar?

— Viver com você? — perguntou estranhando aquilo.

— Eu sei que é uma proposta indecente, mas se não podemos casar, não temos outra opção, eu quero viver com você, quero que seja minha mulher, daremos um jeito. Você aceita?

— Eu aceito. Não quero viver sem você, faço qualquer coisa.

— Então a partir de hoje você será minha mulher. Será a Sra. Buller, não importa o resto.

— Vamos fingir que somos casados?

— Fingiremos para os outros, mas aqui, seremos de verdade, não será um papel que vai fazê-la minha mulher.

— Você aceita isso? — perguntou espantada.

— Aceito. Você virá morar aqui comigo o quanto antes, hoje, já, nem irá mais embora.

— O que está dizendo, Ian? — disse rindo nervosamente das colocações dele e sentindo-se emocionada.

— Estou dizendo que eu te amo, Jayne. Não vou perder você por causa deste desgraçado do seu marido.

— Então, você será meu marido.

Os dois beijaram-se intensamente, perderam-se naquele beijo, e seus corpos tremiam, a pele começou a arder, sentiam a necessidade de serem um do outro, de corpo e alma.

Ian a pegou nos braços e a levou para dentro da casa. Colocou-a na cama e deitou-se sobre ela, olhava-a nos olhos e acariciou seus cabelos.

— Jayne... A decisão que tomamos não vai ter volta. Se quiser desistir, este é o momento.

— Eu sei. Eu aceito, sou sua e de mais ninguém.

Os dois riram nervosamente e beijaram-se com fome um do outro, precisavam selar aquele pacto de amor e sem se importar com mais nada deixaram a paixão falar mais alto, desfizeram-se de suas roupas, entregaram-se ao prazer e ao amor.

Eram um do outro e queriam provar isso. Ian precisava saber que ela era somente dele, tê-la, senti-la e vê-la entregar-se a ele. Tomaram uma difícil decisão e uniram-se de corpo e alma.

Ambos estavam anestesiados pelo prazer e com as emoções afloradas, irrompendo pelo seu corpo e mente e ficaram abraçados somente apreciando aquele momento de paz que conseguiram para suas vidas após chegarem ao êxtase.

Descansaram abraçados, após toda aquela loucura, daquela imensidão de sentimentos intensos.

Nunca mais queriam sair daquele quarto.

— Eu preciso ir para casa — ela disse, cansada.

— Sua casa é aqui. Agora você é minha mulher, esqueceu? — disse sorrindo e a abraçou. Ela sorriu acariciando os lábios dele com os dedos.

— Sim, mas minha família não sabe, então creio que terei de ir embora.

— É... Eu sei, mas teremos que mudar isso — disse contrariado, mas sorrindo. Ela o beijou nos lábios e sussurrou.

— Eu te amo, Ian.

— Eu também te amo. Mas nunca mais esconda nada de mim.

— Nunca mais. Acha que isso vai dar certo?

— Vai dar. Se seu marido não apareceu até agora, não aparecerá mais. Não poderei libertá-la disso, mas vou cuidar de você e amá-la. Teremos nossa família, do nosso jeito. Mas terá que ser segredo, para todos os efeitos, estaremos casados de verdade.

— E se meu pai não aceitar isso?

— Então eu a roubo.

Ela sorriu nervosamente, e permitiram-se ficar abraçados por mais um tempo. Teriam que pensar como resolver aquela situação, como o pai de Jayne reagiria com aquela proposta, mas naquele momento, somente queriam ficar juntos e não pensar em nada.


**


À noite os rapazes se reuniram na fazenda de Mitchel para sua roda em torno da fogueira, como eram acostumados. Ele já estava mais recuperado e fez questão de reunir os rapazes, como de costume.

— Então, Mitchel, está pronto para outra? — Willian perguntou.

— Ai nem brinca, isso dói como o inferno! — falou fazendo cara feia.

— Mas como você mesmo disse, valeu a pena ser cuidado por uma enfermeira tão bonita — David debochou.

— É verdade, isso valeu à pena. — deu um suspiro, zombeteiro. — Mas, aquela mulher é difícil de dobrar, é resistente aos meus galanteios, porém, por outro lado, penso que ela gosta e finge que não.

— Bem, Mitchel, ela é irmã de Jayne, acho que são parecidas — Ian disse zombando dele e lembrando-se das patadas que levara dela.

— É, mas as patadas de Jayne amoleceram Ian, quero ver se as de Julia vão amaciar este couro duro aí. — Willian zombou mostrando Mitchel com o polegar.

— Meu couro é mais duro mesmo, e não quero ficar com a mesma cara de bocó que o Ian está agora — disse rindo e todos riram.

— Ai Mitchel, como você é perverso. Ian está feliz, parece que se acertou com sua dama, fico feliz por ele — Willian disse.

— Eu estou feliz por ele também, quero mais que os dois se acertem. Afinal, esperar por uma mulher por tanto tempo, merece um brinde e um final feliz — falou rindo e levantando o copo de tequila, em saúde de Ian, todos ergueram seus copos e brindaram.

— Bem, amigos, algo aconteceu entre nós, eu vou comunicar a vocês que a partir de hoje... Jayne é minha mulher.

— Como assim? Você dormiu com ela? — David perguntou espantado e Ian, sorrindo, olhou para eles e abaixou os olhos, envergonhado.

— Ahh... — gritaram.

— Ian, você está ficando bom. Aleluia! — Mitchel disse rindo.

— Bem... Eu a pedi em casamento.

— Ai meu Deus! — David gritou. — E o que ela disse?

— Disse sim.

— Espere aí, eu ainda não estou bêbado, mas não entendi. Você disse que a partir de hoje ela é sua mulher e você diz que pediu ela em casamento, mas para ela ser sua mulher, primeiro vocês têm que se casar? Não é esta a ordem das coisas? Ou mudou e ninguém me avisou? — Willian disse.

— Não podemos nos casar na igreja, então vou trazê-la para morar comigo e ela será oficialmente minha mulher. Vamos fingir estar casados, mas isso será um segredo.

Eles olharam um para o outro e não entenderam nada.

— Fingir estar casados? — Willian perguntou, com os olhos arregalados.

— Ian, você está embolando minhas ideias. Quer explicar? — David perguntou. — Por que vão fazer uma coisa destas?

Ele então contou para os amigos toda a história, deixando-os completamente desnorteados.

— Meu Deus! Eu estou me sentindo como se tivessem me passado por um cilindro de macarrão, quanta tristeza essa moça não deve ter passado — Willian falou. — Isso era ao que Emily se referiu.

— Que canalha este homem, este merecia um tiro bem no meio da cara. Tirar a filha e roubá-la assim — David falou, indignado.

— Depois alguém tem coragem de dizer que eu sou cafajeste. Este homem merecia estar a sete palmos do chão — Mitchel disse.

— Pois eis os fatos, rapazes, eu acho que se eu visse esse homem na minha frente o mataria, mas quanto a não me casar, eu não me importo, vou falar com a família dela e vou trazê-la para viver comigo. Não vou ficar sem a mulher que eu amo por causa disso, ela não tem culpa. Eu acho que ela está feliz comigo, então eu vou lutar pela nossa felicidade, custe o que custar.

— Eu o apoio — David disse e todos concordaram.

— Nós podíamos fazer um casamento de mentirinha. O que acham? — Mitchel sugeriu rindo.

— Como assim?

— Ora... Nós fazemos uma grande festa, vocês se vestem de noivos e o David pode se fingir de reverendo e encenamos um casamento.

Todos gargalharam.

— Por que eu de reverendo, Mitchel?

— Ah, porque eu não ficaria bem, não é? — Mitchel falou, mostrando-se a si mesmo e fazendo aquela cara de sempre.

— Mitchel, você não conseguiria se passar por um nem que nascesse de novo — Willian zombou e todos caíram na gargalhada.

— Willian podia aproveitar e fazer o mesmo com a Emily — Mitchel disse.

— Por que vocês estão dizendo isso? — perguntou, com cara de inocente.

— Ah, porque você está com o burro arriado por ela? — David disse rindo.

— Não estou!

— Está sim, Will. Eu o conheço — Mitchel disse. — Não adianta negar.

— Está bem... Eu não vou negar, estou.

— É isso! Mais um que caiu do cavalo, agora falta você David, dizer que está apaixonado por alguém — Mitchel falou, olhando para ele e esperando uma resposta.

— Eu? Eu não estou apaixonado por ninguém. Eu acho... — disse complementando a frase com cara de que não sabia o que estava falando e olhou para Willian que não falou nada.

— Ih, senti um ar de confusão nos seus miolos, David — Ian retrucou.

— É verdade, mas deixa para lá, estávamos falando da festa de Ian — falou, tentando mudar de assunto.

— Tudo bem, rapazes, eu até gostei da parte da festa, mas acho que eu vou dispensar o reverendo David — Ian disse rindo.

— Ei, Ian... E sobre aquele outro assunto, o que vai fazer?

— Pensarei sobre isso, mas, por enquanto, manteremos nossa promessa, até que eu ache que seja necessário, vai ser melhor assim. Manteremos o segredo.

Ian estava radiante, sua beleza exótica foi realçada pela felicidade que lhe saltava aos olhos. Falaria com a família de Jayne o quanto antes, pois não via a hora de tê-la em sua casa, como sua mulher.

 

 

 

 

 

 

Capítulo 11

 


— Jayne, eu não posso aceitar uma coisa destas! Isso não está certo, você ainda é casada com Edward! — Carl gritou furioso.

— Papai, eu amo Ian, não quero ficar sem ele, se não fizermos isso, ficaremos desse jeito para o resto da vida. Ele quer uma família e eu também. Sou casada sem marido, e nem consigo dá-lo como morto, porque aquele desgraçado está vivo em algum lugar, e pior, com minha filha.

— Não vou permitir isso. Vocês, meninas, estão avançadas demais. Isso é absurdo, Jayne, é imoral. Você jura que não fez nada para Edward deixá-la?

— Papai! Como pode pensar isso? Eu assumi aquele casamento por inteiro. O senhor é que somente conseguia ver dinheiro na frente e caiu nas mentiras daquele ladrão sem alma. Se não bastasse lhe roubar dinheiro e meu Haras, meu dote que era herança da vovó, ainda roubou minha filha e minha vida. O senhor me forçou a casar com Edward, mancomunado com ele. Está feliz com tudo que aconteceu? E não vai permitir que eu recomece minha vida?

— Jayne...

— Papai, por duas vezes eu aceitei suas imposições, tentei ser uma boa filha, fiquei calada e fui infeliz, mas agora, vou seguir meu coração. Eu amo Ian e vou viver com ele e nada neste mundo vai me impedir. Não vou morrer sozinha, porque dizem que uma mulher não tem direito de recomeçar a sua vida. Não vou morrer infeliz por causa daquele desgraçado, que o diabo o carregue, e nem por sua causa.

— Acalme-se, Jayne, querida, assim não vai resolver as coisas — sua mãe disse, espremendo as mãos e com lágrimas nos olhos.

— Você está fora de si! — ele gritou.

— Não, papai, eu quero ser feliz. Ian poderia escolher uma moça solteira e se casar, mas escolheu ficar comigo, porque me ama de verdade e eu o amo. Eu sempre o respeitei e fiz suas vontades, mas agora não. Papai, por favor, não me faça sair de casa brigada com o senhor.

— Sairia de casa?

— Se não der sua benção, eu irei assim mesmo.

— Carl... — a Sra. Cullen, choramingou.

— Meu Deus!... Jayne, isso é pecado.

— Tudo bem... O senhor prefere ficar com a sua consciência tranquila, morar no céu e me ver infeliz?

— Não é isso, Jayne. Claro que quero vê-la feliz, você é minha princesa, mas morar com um homem sem ser casada, é demais para mim.

— Papai, mas eu não posso me casar — disse o olhando com tristeza, seu pai a olhou e sentiu seu coração partir em pedaços.

— Eu sei...

— Ele quer vir aqui falar com o senhor, quer fazer tudo direito, ele é um homem maravilhoso. Papai, por favor... Pense no que vai fazer, pois eu já tomei minha decisão e não vou voltar atrás.

Jayne saiu da sala e deixou seus pais.

O Sr. Cullen ficou por vários minutos andando e esbravejando.

— Carl, quando eu disse que Edward não prestava, você disse para me calar, que você sabia o que estava fazendo. Você sempre me mandou calar e eu sempre acatei suas decisões. Pois bem, agora quem vai mandar calar sou eu. Você vai aceitar a união da nossa filha com Ian Buller, porque desta vez, eu não vou tolerar interferências na vida das minhas filhas. Ouviu-me? E nada mais de casamentos arranjados, isso nesta casa acabou!

— Eleonor... Acha que as meninas sabem escolher um marido? Julia é outro problema, rechaçou todos os pretendentes que lhe arrumei. O que quer, ficar solteirona? Quem vai querê-la desse jeito? Já passou da idade de se casar, não podemos deixar isso acontecer também com Emily.

— Meu bem, você não soube escolher um marido para Jayne. Você viu nossa filha agindo como uma morta por mais de cinco anos, é o suficiente. Deixe-a ser feliz com o homem que ela escolheu. Ninguém saberá a verdade. Não vê a felicidade estampada no rosto dela depois que este rapaz apareceu?

— Claro que eu vejo. Acha que eu estava feliz de vê-la assim?

— Então... — ela se aproximou dele e o tocou no braço, lhe acariciou o rosto e sorriu. — Tenha um pouco de fé nas escolhas das nossas filhas. Quem sabe se você deixá-la fazer isso, consiga apaziguar este remorso que sente no seu coração, por ter feito o que fez.

O homem ficou desconcertado, mais que já estava.

— Nunca mais vamos ver nossa neta, não é?

— Creio que não.

— Tudo bem. — Ele respirou profundamente e olhou para ela. — Que seja o que Deus quiser.

— Vai dar tudo certo e o trate bem quando ele vier aqui.

— Vou tratar.

— Ótimo. Assim está bem melhor e, para acalmar os nossos nervos, o que acha de eu e você tomarmos aquele licor de canela?

— Pode ser uma coisa mais forte?

— Não, um cálice de licor.

— Uma dose de uísque?

— Que tal um vinho?

— Do Porto?

— Do Porto.

— Estou ficando mole demais.

— Está, mas amolecer o coração é uma coisa boa, senhor meu marido. É por isso que suas filhas o amam e eu também.

— Talvez tenha razão.

— Eu tenho — disse amorosamente.

Ele lhe deu um sorriso discreto e beijou sua mão e os dois foram para a outra sala beber o vinho do Porto.


**


Dois dias após, Ian foi à fazenda dos Cullen como haviam combinado. Ele queria fazer tudo da forma mais correta possível, dentro do que lhes era permitido, devido às circunstâncias.

Sr. Cullen, mesmo muito relutante, aceitou o pedido de Ian. Não poderia negar aquilo à filha, devia isso a ela, por mais indecente que fosse aquela proposta.

— Sr. Buller, em outra ocasião eu jamais aceitaria estas condições, mas para mim o que importa é que ela seja feliz, esteja segura e bem cuidada. Então eu vou abençoar a união de vocês e permitirei que ela vá viver com o senhor na sua casa, se é isto que ela realmente deseja — Sr. Cullen disse.

— Sr. Cullen, fique descansado, eu cuidarei dela com minha vida e farei de tudo para que ela seja feliz, pois amo sua filha de todo meu coração. Se eu pudesse, me casaria na igreja com Jayne, como manda os costumes, mas nós sabemos que isso não é possível, então seremos obrigados a agir desta maneira. Usaremos aliança de casados e todos pensarão que nos casamos de verdade, pois será assim que viveremos a partir de agora.

— Eu sei, Sr. Buller, somente não quero que minha filha caia na boca do povo novamente, mas sei que não há alternativa, ainda mais sabendo que o senhor a aceitou nestas condições delicadas.

— Obrigado, senhor.

— Mas em hipótese alguma, jamais, esta história deve vir à tona, jamais devem saber que não são casados no papel e na igreja, se for preciso, sairão da cidade alguns dias para forjar um casamento.

— Veremos o que será melhor, senhor.

— Eu acho que isso não será necessário, papai. Ninguém vai pedir papéis ou provas que somos casados. Quem se importa, afinal. Se ninguém descobrir meu passado, não terão motivos nenhum de ter dúvidas.

Jayne e Ian respiraram aliviados por Sr. Cullen ter aceitado aquela situação. Era demais para ele, mas não tinha como negar aquilo à filha, e ainda sobre a imposição de Eleanor.

Comemoraram com um belo jantar e brindaram a felicidade dos dois. Foi uma noite muito agradável e todos foram muito gentis. Ian sentiu-se confortável com a família e no tardar da noite, Ian se despediu para ir embora e Jayne o acompanhou até a varanda.

— Bem, meu amor, eu acho que você sobreviveu a esta noite — ela disse sorrindo para ele.

— Quase... — Ele riu olhando para ela com ternura. — Veja o que faço por você. Eu juro que a levaria hoje mesmo — disse, a puxando suavemente pela cintura com as duas mãos para que ela se aproximasse. — Não vejo a hora de poder ter você em meus braços novamente, estou me sentindo o índio.

— Ian, se eu pudesse, também iria com você hoje mesmo, mas logo estaremos juntos — disse, acariciando seu rosto.

— Eu sei, mas vai dar tudo certo. Nossa mentira vai parecer verdadeira.

— Assim espero.

— Se eu não for agora não irei nunca mais.

Ian deu-lhe um beijo no rosto, mas a olhou seriamente.

— Minha casa é muito diferente da sua, Jayne. Não imaginei que vivesse em tanto luxo, com pratarias, cristais finos. Eu mal sabia qual talher usar, seus pais devem ter me achado um xucro.

— Ian, sua casa é enorme, somente falta alguns móveis e um toque feminino e nisso eu posso dar um jeito. E minha mãe gosta de você.

— Tem certeza?

— Tenho.

— Tudo bem, eu só quero que se sinta bem. Não quero que se arrependa.

— Eu não vou me arrepender de nada, somente quero ficar com você.

— Está bem. Eu vou ajeitar a casa antes de você ir, eu prometo que não vou deixar faltar nada a você.

— Eu sei que não.

— Preciso ir.

Ele a beijou e foi para casa e Jayne ficou na varanda por mais alguns minutos, sentindo a brisa no rosto. Respirou aliviada, pois começaria uma nova etapa em sua vida.

Era uma loucura o que estava fazendo, mas Ian valia qualquer loucura, e com um sorriso, foi para seu quarto.


**


No dia seguinte, Jayne começou a arrumar suas coisas para mudar-se para a fazenda de Ian. Com a ajuda da mãe e das irmãs começou a preparar um breve enxoval e novas toaletes.

Suas irmãs estavam eufóricas e felizes por ela e a ajudavam a ver tudo, se abraçaram e juraram que sempre estariam unidas e cuidariam uma da outra.

Ian começou a arrumar a fazenda para receber Jayne, queria que tudo estivesse agradável. Comprou móveis com o marceneiro da cidade, pediu ajuda a Mary para que deixasse a casa bonita, com louças novas, cortinas e tudo que ele achava que agradaria Jayne.

Não conseguia esconder que aquilo o perturbava, chegou a se perguntar como ela, tão fina, havia aceitado morar naquela casa tão vazia e sem luxo.

Estava disposto a mudar aquilo, mas com isso, ele teve certeza que ela o amava; que viveria com ele, de qualquer maneira.


**


Emily foi à fazenda de Willian, para vê-lo e cuidar de Apolo, como combinado, e passaram uma tarde muito agradável juntos. Ao entardecer, eles estavam sentados na escada da varanda, contemplando o pôr do sol e Emily estava com a cabeça recostada em seu ombro.

— Willian, está na hora de eu ir, se ficar aqui até tarde meu pai me esfola, ele nem imagina que saí sozinha de novo — ela disse.

Ela levantou da escada da varanda que estavam sentados e ele fez uma careta de contrariado.

— O tempo passa muito rápido quando você está comigo — disse com um ar triste.

— Verdade, mas nós podemos nos ver amanhã.

— Tudo bem. Eu posso ir à sua fazenda?

— Claro, posso mostrar o cavalo novo que eu lhe falei.

— Ah eu vou adorar, sabe como gosto de cavalos.

— Então está bem, eu o espero amanhã.

— Mas você não quer ficar mais um pouquinho? — disse com uma carinha de dengoso. — Por favor.

— Já está tarde, querido. Preciso chegar em casa antes de meu pai e mesmo assim ouvirei sermão de minha mãe, de novo.

Ele se levantou, envolveu seus braços pela cintura dela e a puxou para seu corpo.

— Eu posso obrigá-la a ficar — disse rindo, mansamente.

— Ai Willian, não me diga essas coisas que fico tonta.

Willian a beijou, longamente, e olhou para ela que ficou com os olhos fechados, anestesiada com aquele beijo. Então, sentindo desejo por ela a beijou com mais intensidade e Emily desmanchou-se em seus braços.

Ele a soltou, lentamente, com o coração acelerado, seu corpo todo gritando por ela.

— É melhor você ir, antes que eu perca a cabeça.

Ela se afastou dele, subiu no cavalo e foi embora.

— Vá depressa, já está escurecendo — gritou e sorriu, acenando um adeus.

Willian estava sentindo seu corpo arder, passou as mãos no rosto, tentando afastar o desejo, mas seu corpo a queria, ele começou a subir as escadas da varanda e parou por um momento.

Então, virou-se, foi até seu cavalo, montou e foi atrás dela. Quando a avistou, gritou seu nome. Ela se virou e diminuiu o trote, ficou olhando-o se aproximar, ainda meio zonza pelos seus beijos e sem entender porque estava vindo atrás dela.

Ele parou o cavalo perto dela, desceu como um raio e foi até ela.

— O que houve, Will? — perguntou sem entender. Mas ele não disse nada, pegou-a pela cintura e a puxou do cavalo. — O que está fazendo?

Ele sem falar nada a beijou, a fez perder a respiração e ele soltou de seus lábios e a olhou com aqueles intensos olhos verdes.

— Emily, eu não resisto mais, eu quero que você seja minha, agora, mas se você não me quiser eu vou embora.

— Will, do que está falando?

— Sabe do que falo.

— Oh, sim, quer dizer, não! Não podemos, nós não somos casados.

— Eu me caso com você, hoje, agora.

Ela riu, com as bochechas vermelhas.

— Está me pedindo em casamento?

— Estou. Aceita se casar comigo?

— Aceito!

Ela se jogou em seu pescoço, o abraçando e rindo. Ele riu alto, levantou-a do chão e a rodou.

— Desculpe ter pedido que se entregasse a mim. Perdi a cabeça e fui grosseiro. Não iria desrespeitá-la, eu amo você, vou esperar, mas vamos nos casar rápido.

Meio zonza ela o ouvia, mas não pensou em mais nada e sussurrou.

— Eu quero.

— Quer? — perguntou espantado.

— Você me dá sua palavra que vai casar-se comigo?

— Eu juro. Meu pedido é sincero e sou um homem de palavra.

Eles se beijaram ardentemente e seus corpos pegaram fogo. Deitaram-se na grama, debaixo do céu que pespontava as primeiras estrelas e fizeram amor.

Willian queria sentir cada parte dela. Emily pensou que ia morrer nos braços dele, pois nunca havia sentido algo daquele tipo.

Ele a amou com tal paixão que nunca sentira antes, realmente a amava. Eram dois apaixonados sob o olhar da lua, que selavam seu amor. E Willian a fez dele.

 


Capítulo 12

 


Quando Jayne chegou de charrete, com suas coisas à fazenda, acompanhada de Emily e Julia, encontraram Ian, ansioso, a esperando. Willian e Mitchel estavam com ele para recepcioná-la e ajudar a carregar suas coisas.

— Finalmente você chegou, pensei que teria que buscá-la.

Ian a tirou da charrete pela cintura, a colocou no chão e lhe deu um beijo.

Todos se cumprimentaram, Willian ajudou Emily a descer do cavalo e, sorridente, lhe deu um forte abraço. Mitchel veio mais atrás e deu um olhar devastador com um sorriso para Julia e ela retribuiu.

Todos ajudaram a tirar as coisas de Jayne da charrete e colocar na casa.

— Ok pessoal, agora Ian e Jayne são um casal, vamos brindar a esse momento... Onde está a bebida, Ian? — Willian disse.

Ian pegou uma garrafa de uísque e deu aos rapazes, com alguns copos.

— Já sei que você não gosta de uísque — Ian disse olhando para Jayne. — Então este aqui é para as damas, pois terão que brindar também. — Todos riram de Ian.

— Hum... Licor? — Jayne disse, olhando a garrafa.

— Mas está ficando polido? Desde quando bebe estas coisas finas? — Mitchel perguntou, olhando a garrafa.

— Não bebo, mas eu provei na casa dos pais de Jayne e gostei, então consegui uma garrafa, assim elas podem brindar.

— Eu adoro licor, mas até tomo uísque — Julia disse rindo.

— Ah essa é das minhas — Mitchel disse olhando para ela com um olhar galanteador, e Julia riu para ele. Todos encheram os copos e brindaram.

— Jayne, agora nós somos marido e mulher e esta será sua casa — disse mostrando a casa com os braços e olhando em volta.

— Você comprou móveis, colocou cortinas e tantas coisas que não estavam aqui antes, até pintou as paredes! Está linda, Ian!

— Sim, agora, além da casa do seu pai, senhorita Cullen, a sua e de Ian é a segunda casa com tinta de West Side. Grande feito.

— Estão importantes — Willian disse rindo.

— Não se esqueçam, rapazes, é Sra. Buller de agora em diante.

— Oh sim.

— A casa é sua, Jayne, pode mudar o que quiser.

— Então eu acho que posso melhorar a decoração um pouquinho — Jayne disse zombeteira e todos riram.

— Tudo bem, esta casa precisava de um toque feminino, pode fazer o que você quiser, não precisa economizar, eu tenho dinheiro guardado para isso — disse rindo e abraçando-a. — Onde está David que não chegou ainda?

— Não sei, ele já devia ter vindo — Willian disse.

— Ah, daqui a pouco deve estar aqui, deve ter se atrapalhado com alguma coisa — Mitchel justificou sem dar muita importância.

Julia foi até a varanda para tomar um pouco de ar e se afastar das cantadas de Mitchel e avistou uma fumaça.

— Ei, rapazes, vejam aquilo. Tem algo pegando fogo naquela direção.

Todos saíram na varanda e olharam para ver de onde vinha a fumaça, e, de repente, eles ouviram vários tiros que ecoaram pelas montanhas.

— Vem da fazenda de David! — Ian gritou, assustado.

— Vamos! — Willian gritou correndo para seu cavalo.

Ian correu e pegou duas espingardas carregadas, que estava pendurada atrás da porta, colocou seu cinturão com os dois revólveres no coldre, saiu da casa e jogou uma espingarda para Mitchel que a pegou no ar.

— Fiquem aqui, meninas — Ian disse olhando para Jayne.

— Nem pensar, nós vamos também.

— Vou conseguir impedi-la? — perguntou com desagrado.

— Não! E é melhor se acostumar com isso, Ian — falou pegando sua arma.

Ian estava contrariado, mas ela já estava indo para o cavalo. Emily e Julia já estavam atrás de Mitchel e Willian. Galoparam em direção à fazenda de David e quando chegaram perto avistaram o fogo que consumia sua casa, havia alguns homens a cavalo e alguns a pé.

Ian tentou avistar David. Havia dois homens o segurando enquanto alguns estavam à sua frente.

Todos começaram a atirar em direção aos bandidos, que revidaram e começaram a fugir rapidamente, correndo por entre os pastos e árvores com seus cavalos, espalhando-se. Willian e Mitchel que estavam mais à frente tentaram correr atrás deles, mas estavam em vantagem.

— Mitchel! — Willian gritou. — É inútil correr, eles estão longe demais, vamos voltar e tentar apagar o fogo.

Viraram os cavalos e voltaram. Jayne correu até David para ajudá-lo. Ele estava caído no chão com o rosto ensanguentado e desacordado.

Ian, Emily e Julia correram pegar baldes de água do poço para tentar apagar o fogo, mas ele já estava alastrado e era impossível tentar apagá-lo.

Ian se assustou com um tiro que veio em sua direção, olhou assustado para Jayne e via que ela o mirava com o revólver, ele a olhou por uns segundos com os olhos arregalados, olhou para trás e viu um homem caído.

Ele atiraria em Ian pelas costas quando Jayne o avistou, atirando primeiro. Ela largou o revólver no chão e olhou para David. Rasgou um pedaço de sua saia e arrumou um pouco de água para lhe limpar o rosto.

Mary vinha correndo pelo caminho de sua casa, segurando as saias e gritando por David. Correu apavorada e se jogou ao lado dele, erguendo sua cabeça do chão.

— David! David, você está bem? — perguntou vendo que ele estava acordando.

Willian e Mitchel chegaram à frente da casa.

— Impossível alcançá-los — Willian gritou.

— Minha casa... — David disse com tristeza vendo sua casa que acabara de construir esvaída nas chamas.

Todos ficaram olhando as chamas sem poder fazer nada.

— David, quem eram aqueles homens, por que fizeram isso? — Ian nervoso perguntou.

— Eu não sei — respondeu com tristeza e uma raiva misturada.

Tentava piscar, o corte que lhe fizeram na testa com a coronha de uma espingarda lhe encheu os olhos de sangue.

— Eles chegaram quando eu estava saindo para ir à sua casa, me golpearam e quando vi estavam tocando fogo na casa, ele disse que ia me deixar olhar a casa pegar fogo e que depois me mataria.

Perguntei quem era ele, mas não respondeu e eu não estava enxergando direito, mas eu acho que era o mesmo assaltante do banco.

— Mas não é possível! — Ian estava indignado.

— Será que foi ele que atirou em Mitchel? — Willian perguntou.

— Mas por que está fazendo isso? — Julia perguntou.

— Ele pode estar se vingando, ele viu o rosto de vocês naquele dia do assalto ao banco — Jayne disse.

— Está tentando pegar um a um, pelo visto — David disse.

— Rapazes, eu acho que estamos com um problema — Ian disse olhando para todos.

— Ou nós vamos atrás deles e os matamos, ou esperamos eles vir nos pegar e acabamos com eles — Mitchel disse furioso.

— Will, vamos levar David para casa, farei um curativo nos seus ferimentos — Mary disse assustada. — Vamos embora, não há nada que possamos fazer agora, daqui a pouco vai escurecer e a casa está perdida.

— Pode montar, David? — Jayne perguntou, limpando seu rosto com sua saia, que havia molhado na água.

— Sim, obrigado — disse levantando-se com sua ajuda de Ian.

Willian foi até Emily que estava perto de seu cavalo.

— Vá depressa para casa e tome cuidado.

— Você também, por favor — disse preocupada.

— Não se preocupe, estarei bem — respondeu beijando seus lábios e ajudando-a subir no cavalo.

Foram embora, mas olharam para trás e a casa já estava queimada. David sentiu vontade de chorar, tanto trabalho e agora só restaram cinzas, uma enorme raiva cresceu dentro dele.

Quando chegaram à fazenda de Willian, Mary foi cuidar de seus ferimentos.

— Mary, lá vai você me remendar de novo — disse enquanto ela limpava sua ferida, ele estava com um corte no supercílio que sangrava.

— Vai ficar uma cicatriz imensa, David. Vou ter que fazer pontos. Você podia estar morto, meu Deus!

Mary tremia de nervosismo vendo David naquele estado lastimável.

— Parece que sou duro de morrer.

— Não brinque com isso, eu morreria se algo lhe acontecesse.

— Não se preocupe, Mary, nada vai me acontecer.

Ele olhou com ternura nos olhos dela, na realidade ele queria dizer algo mais a ela, mas calou-se, ela ficou sem jeito e continuou a limpar seu rosto com uma vontade imensa de chorar.


**


— Que bela recepção você teve hoje — Ian falou olhando para Jayne quando chegaram em casa.

— Eu fico feliz que não tenha acontecido nada de grave com David, ele poderia estar morto. A casa, ele pode reconstruir.

— Verdade, eu não quero pensar no que teremos que enfrentar, se esta é a intenção deste bandido.

Jayne olhou para Ian com olhar de medo, ele a puxou e a abraçou, vendo seu temor e beijou sua testa.

— Não quero pensar nisso.

— Não se preocupe, eu não vou deixar que nada lhe aconteça.

— Venha, Ian, vou lhe preparar um banho, estamos imundos.

Ele puxou a água para aquecer e encher a banheira, Ian tirou sua roupa e entrou na água quente. Jayne sentou na beirada da banheira e começou a lavar os cabelos dele, ele fechou os olhos e deliciosamente sentia os dedos dela deslizar entre eles.

— Adoro seus cabelos — ela disse carinhosamente e sorrindo.

— Prefiro os seus — disse com um sorriso de canto de boca.

Ela adorava quando ele sorria, evidenciava as covinhas nas bochechas, ficava ainda mais lindo.

Ela começou a lavar seu peito devagar, deslizando suas mãos ensaboadas pela pele de Ian, ele permanecia de olhos fechados para sentir aquela sensação tão maravilhosa de suas delicadas mãos.

— Jayne... — a chamou mansamente ainda mantendo os olhos fechados.

—Hum? — perguntou sem parar de tocá-lo com ternura e com o olhar hipnotizado sobre ele.

— Eu acho que você está no lugar errado.

— Como assim? — perguntou sem entender.

— Porque seu lugar é aqui dentro comigo.

Ele a puxou para dentro da banheira de roupa e tudo, espalhando água por todo lado. Ela gritou pelo susto e ele riu dela.

— Seu maluco! — gritou.

— Sou, e eu sou maluco por você e se você não parar de me tocar desse jeito eu não me responsabilizo pelos meus atos.

— Tudo bem, eu acho que você poderia ser totalmente irresponsável, porque eu não vou parar.

— Então, eu acho que terei de tirar este bando de roupa que você está usando, porque, onde já se viu entrar na banheira de roupa?

Eles riram e ele a ajudou a retirar as roupas ensopadas e a beijava ao mesmo tempo. Ian ensaboou as mãos e passava pelo corpo dela e ela pelo dele.

Beijaram-se tocando seus lábios molhados. Fizeram amor naquela água perfumada e quente que dançava ao movimento de seus corpos.

Depois de recuperarem o fôlego, ficaram apreciando aqueles momentos juntos. Ian se deitou no fundo da banheira, ficando meio sentado, escorando sua cabeça na beirada e Jayne de costas encaixada sobre o corpo dele.

Ele estava com as pernas sobre as dela e ela as acariciava, ficaram conversando e acariciando seus corpos suavemente.

— Por que você demorou tanto para chegar à minha vida? — ela sussurrou.

— Estou me fazendo a mesma pergunta. Talvez tudo na vida tenha sua hora certa. Mas agora você é a Sra. Buller e eu não vou a lugar nenhum, nunca — disse entrelaçando seus dedos nos dela.


**


David estava deitado na cama quando Mary entrou para vê-lo.

— David, como você está se sentindo? Vou trocar seu curativo e trouxe um chá para dor — disse colocando as bandagens limpas sobre a mesinha de cabeceira e se sentando na beirada da cama.

— Ai, minha cabeça dói, parece que está rachada — disse gemendo.

— Mas ela está rachada. — Brincou lhe dando um sorriso.

— Ah, é verdade — disse com um sorriso.

Mary começou a trocar o curativo, tremia um pouco, sempre ficava nervosa perto dele.

— Sinto muito pela sua casa, eu sei o quanto você lutou para construí-la, estava tão linda — disse tristemente.

— Não me lembre de que perdi minha casa que eu tenho vontade de gritar — disse com raiva.

— Mas você vai reconstruir, o importante é que você está bem.

— Reconstruir como, Mary? Levei anos para construí-la, eu gastei todo o dinheiro que tinha. Por todos estes anos eu trabalhei que nem um cavalo e aqueles miseráveis me botam tudo abaixo em segundos. Vou matá-los! — disse com muita raiva.

— Acalme-se, não fique assim.

David puxou o ar profundamente para tentar se acalmar.

— Pelo menos se eu tivesse deixado a outra casa em pé. Ai, como eu sou idiota, a derrubei e agora não tenho nem onde morar, nem o que vestir.

— Willian disse que você vai ficar aqui conosco.

— E morar de favor? — disse indignado.

— O que é isso, David? Não fale isso, esta também é sua casa. Somos uma família, um cuida do outro, foi este o pacto que vocês fizeram quando eram garotos, lembra? Que sempre estariam unidos, que cuidariam um do outro. Unidos na farra e na guerra — disse com um sorriso. — Esta é uma situação em que o pacto deve ser aplicado.

— Sim. Eu lembro, foi quando teve o massacre. Ian ficou tão arrasado de perder os pais daquele jeito, ele ficou tão sozinho, numa tristeza de amargar. Ele se recusou a abandonar a fazenda e ir morar com a família de Mitchel, ele disse que cuidaria sozinho. Todos estavam tão arrasados por si mesmos, mas ele estava sozinho.

— Sim, deve ter sido horrível para ele.

— Foi por isso que nós fizemos o pacto, para ajudá-lo a se recuperar, ele se sentiu protegido por um bando de pirralhos. — ele deu um sorrisinho de canto de boca. — Acho que tínhamos mais ou menos uns treze, quatorze anos. Mas confesso que eu também precisava daquele pacto, sempre me deu muita força.

— Eu acho que sim. Aqueles foram tempos difíceis para todos nós, mas ele é que ficou mais sozinho, mas se saiu bem e fico muito feliz que ele tenha encontrado Jayne. Nunca o vi tão feliz.

— Verdade, nem eu. Parece que o amor faz destas coisas — disse, lhe dando um olhar estranho e profundo.

Ela sentiu frio no estômago quando viu que ele a olhava nos olhos de forma tão intensa.

— Por que você está me olhando assim? — perguntou, ficando vermelha e sem jeito.

— Nunca mais tocamos naquele assunto.

— E nem vamos — disse levantando rapidamente da cama, mas David segurou seu punho e a puxou de volta.

— Mary, eu não quero magoá-la. Por isso eu tentei me afastar, porque eu fiquei confuso, pois você foi criada como minha irmã, é assim que eu sempre a vi e de repente tudo ficou embaralhado.

— Eu sei, David, a culpa foi minha. Eu não devia ter dito nada e eu quero que você esqueça esta história. Tome este chá, vai ajudar a acalmar a dor e descanse para melhorar esta sua cabeça rachada — ela falou asperamente, levantou e saiu do quarto.

— Mary, espere. Aaai... — ele sentiu uma pontada enorme de dor quando bruscamente tentou se levantar e deitou novamente, com a mão na cabeça. — Ai David, você é uma mula vestida, será que não consegue falar uma frase direito para esta mulher, seu imbecil.

 

 

 

 

Capítulo 13

 


Os rapazes foram à cidade falar com o xerife, para contar o que havia ocorrido, desde o tiro de Mitchel, até o ataque a David, achando que havia relação. O xerife não deu muita atenção e alertou para que não fizessem justiça com as próprias mãos.

Falou isso com os pés em cima da mesa e fumando um charuto, sem mudar a fisionomia.

Quando saíram de lá, os rapazes estavam indignados.

— Mas este xerife é um palerma! — Mitchel disse, zangado.

— Se dependermos dele para nos ajudar, estamos ferrados — Willian disse.

— Com isso eu já contava. Averiguar? Isso é jeito de um xerife falar? Eu tive vontade de jogá-lo dentro da cela, mas que imbecil! — Ian disse, furioso. — Alguém deveria substituir esse xerife.

— Bem, amigos, eu acho que nós não podemos contar com ele. Teremos que nos virar sozinhos e ficar alertas. Se esse bandido está tentando nos pegar, então é sinal que ele voltará — Mitchel disse.

— É isso que me assusta, pensar em o quê ele vai fazer da próxima vez — Willian disse. — Ele está brincando conosco.

— Quando eu pegar este miserável eu vou fritá-lo em banha de porco — disse Mitchel furioso, de repente ele fez uma pausa e mudou a fisionomia. — Eu acho que vou me candidatar a xerife — disse com ar de zombaria.

— Ah, mas era o que faltava — Willian disse rindo e todos eles gargalharam.

— Mas é claro... Pense bem, eu ficaria lindo com aquela estrela no peito, todas as moças da cidade cairiam aos meus pés.

— Mitchel, você não tem jeito. Não está interessado na Julia? Deseja conquistá-la e fica falando de outras moças — Ian falou.

— Ah! Julia mexe com minhas estribeiras, mas é muito desbocada, sou um homem de paz — disse rindo.

— Você é impossível. Por isso Julia não dá chance para você, ela não deve querer meter-se em encrenca. E o pai dela, jamais permitiria que ela se casasse com um desmiolado como você — Willian disse.

— Mas vou dizer uma coisa, quanto mais ela me pisa, mais a acho atraente. Se bem que, tem algumas vezes que me dá vontade de torcer seu pescoço, que nem a gente faz com as galinhas.

— Sei como é, Mitchel, eu já passei por isso — Ian disse, rindo.

— Sim, e você caiu de joelhos, mas eu não vou me render — Mitchel disse.

— Quero só ver no que isso vai dar entre vocês dois, você está com o burro arriado por ela e não está querendo admitir — Willian disse.

— Está brincando? Eu arriado por uma mulher? Isso nunca.

— Eu concordo com o Will — Ian disse.

— Mas o que é isso? Meus amigos contra mim?

— É, Mitch, eu acho que você está ferrado mesmo, só que ainda não se deu conta — Willian falou, zombando dele.

Ian soltou uma gargalhada da cara que Mitchel fez, de indignação.

— Rapazes, calem a boca, vocês estão me irritando. Eu vou para casa e, Willian, cuide do David, ele já não era bom da cachola, agora, com esta pancada na cabeça, deve ter piorado. Até mais.

Mitchel esporou o cavalo e seguiu o rumo de sua fazenda.

— Ian, nosso amigo está apaixonado — Willian disse.

— Está, mas não vai admitir tão cedo.

— Eu sempre achei que ele era apaixonado pela deusa de mármore dele.

— Já pensei nisso, mas ela é uma mulher do Saloon, Willian, ele gosta dela, mas não é moça para casar.

— Verdade. Mas eu acho que Julia vai conseguir colocar um cabresto nele.

— Se isso acontecer, é bom que ele não continue encontrando com a deusa, senão o casamento dele não vai dar certo. Julia não parece ser mulher de aturar estas farras, com certeza brigariam.

— Isso é normal para os homens.

— Não acredito que seja para as mulheres Cullen.

— Verdade, aquelas irmãs da família Cullen são de espírito forte e têm um poder sobre os homens que eu vou te dizer... Como bruxas.

— Willian, você percebeu o que aconteceu?

— O quê?

— Nós, três amigos, irmãos, nos apaixonamos por três irmãs — Ian disse, com ar de espanto.

— É verdade, sabe que isso nem tinha me passado pela minha cabeça? — respondeu admirado. — Mas faltou uma irmã para o David.

— Sim. Mas nós podemos arrumar uma irmã para ele.

— Irmã de quem? — Willian perguntou meio perdido.

— A sua, imbecil.

— Aahh... — Ele soltou uma gargalhada. — Como eu estou distraído. Verdade, Ian, Mary ama o David e o tolo a ama, mas está perdido, ele não se mexe. Você sabia que ele gostava dela?

— Sabia há tempos, pelo jeito que a olha. Acho que ele nega para ele mesmo, por sua culpa.

— Minha?

— Claro. David pensa que você se zangaria com ele por mexer com Mary. E além do mais, ela foi criada como nossa irmã, é assim que ele aprendeu a vê-la, mas acho que logo ele vai se render e você, meu amigo, o deixe tentar.

— Vou deixar, ficarei feliz se ele se casar com Mary. Nós podíamos fazer um casamento quádruplo. O que acha? — Willian disse, animado.

— Willian, você está pensando em se casar? — perguntou espantado.

— Estou. Já não posso fugir da responsabilidade com Emily, já é minha.

— Fico feliz por você. Mas eu acho que se você quiser casar com Emily, vai ter que se casar primeiro, porque do jeito que Mitchel e David são lentos, você vai cansar de esperar. E seu romance com Emily pode ser descoberto e seu pai não gostaria disso.

— Ah é verdade, vou morrer velho, então acho que vou ter que casar antes. — Soltou uma gargalhada.

— Mas primeiro, nós temos que resolver este assunto com os bandidos.

— Verdade, Ian.


**


Alguns dias depois.


David estava se recuperando dos ferimentos e, os amigos, o estavam ajudando a retirar os escombros de sua casa, faziam isso com tristeza e ao mesmo tempo raiva.

Jayne e Ian chegaram à fazenda de David e se cumprimentaram com um forte abraço. Os dois estavam com sorridentes e felizes.

— Vocês estão me olhando com uma cara estranha desde que chegaram. O que houve? — David perguntou desconfiado.

— Você fala ou eu falo? — Ian perguntou sorrindo para Jayne.

— Pode falar — disse alegremente.

— O que é? Fala logo — David disse ansioso.

— David, é o seguinte, eu tinha algum dinheiro guardado e vou lhe dar para que você comece a reconstruir sua casa. Mitchel e Willian também deram uma quantia e eu e Jayne estamos vindo do banco. Ela conversou com seu pai e ele vai lhe fazer um empréstimo do restante necessário com um juro mais baixo, então você, em pouco tempo, vai ter sua casa de novo. Talvez mais tarde eu consiga ajudá-lo mais.

David ficou paralisado, ouvindo tudo aquilo que Ian estava falando, ele olhou para cada um deles sem acreditar.

— O quê? Eu não acredito. Vocês não podem ter feito uma coisa destas — disse, sem acreditar.

— É um presente de todos nós — Jayne disse alegremente. — Você me ajudou, então vamos retribuir e ajudá-lo.

— Mas eu não posso aceitar, é muito dinheiro.

— David, deixe de ser tapado, homem. Ninguém vai aceitar recusas, está feito. Somos irmãos, um ajuda o outro, lembra? — Mitchel disse sorrindo.

David riu e abraçou todos, emocionado e grato.

— Bem, então eu acho que nós temos que tirar estes escombros daqui logo, não é? — Willian disse, animado.

— Vamos lá! — David falou rindo, batendo as mãos e foram retirar as tábuas queimadas.

Jayne, por um momento, sentiu algo estranho, puxou a gola da blusa para tentar respirar, parecia que estava sufocando. Começou a suar frio e ficou pálida, fechou os olhos e antes que caísse no chão, Ian a segurou, desfalecida em seus braços.

— Jayne! Alguém traga água, rápido! — gritou para os rapazes.

Com cuidado, ele a deitou no chão, apoiando sua cabeça. David correu no poço, pegou um balde de água e correu até eles. Ian tirou o lenço do pescoço e molhou na água fria, torceu e colocou no seu rosto. Todos estavam apreensivos ao redor.

— O que ela tem? — Willian assustado perguntou.

— Eu não sei — disse Ian, nervoso. — Jayne, meu amor, acorde. — Aos poucos ela foi recuperando os sentidos e abriu os olhos. — O que está sentindo?

— Não sei — falou sussurrando e com dificuldade de respirar.

— Pode ter sido o calor — Mitchel disse.

— Venha, vou levá-la para casa, precisa descansar.

Ele a pegou no colo, a montou em seu cavalo e ele montou atrás, a segurando, Willian amarrou a rédea do cavalo de Jayne na sela de Ian para que o seguisse. Ainda amuada, ela recostou a cabeça em seu peito.

— Não seria melhor chamar o médico, Ian? — David perguntou.

— Não preciso de médico, foi somente um mal súbito, estou bem, só quero ir para casa.

— Ok, estamos indo. Até mais rapazes — Ian disse despedindo-se.

Eles ficaram observando eles se distanciarem, com as mãos na cintura, preocupados.

— Acho que não é nada, foi só um mal estar, ela vai ficar bem — disse Mitchel.

— Espero que sim — David disse.

— Acho que é falta de comida, ela é magra demais — Willian disse.

— Willian, se ela comesse como você, seria imensa.

— Ah cale a boca, engraçadinho, volte ao trabalho.

Chegando à fazenda, Ian levou Jayne no colo e a colocou na cama.

— Querida, tem certeza que está bem? Eu vou buscar o médico para examinar você.

— Não. Eu já estou bem, só quero dormir um pouco, foi somente um mal súbito, se eu não melhorar você vai buscá-lo, está bem?

— Está bem, então descanse.

Ian lhe deu um beijo, sentou-se ao seu lado, acariciando seus cabelos, sua cor estava voltando, mas ele ficou preocupado.


**


No final da tarde, Willian e Mitchel foram à fazenda dos Cullen, ficaram conversando no jardim com Emily e Julia. Mitchel e Julia foram andar pelo jardim da fazenda, ela estava de ótimo humor naquele dia.

Ficaram preocupadas com Jayne quando eles contaram de seu desmaio, mas os rapazes disseram que estava bem.

As meninas ficaram felizes por David, pelo presente que recebeu. Julia, realmente se espantava cada vez mais com as atitudes dos rapazes e se encantava com Mitchel.

— Meu pai contratou homens para ficarem de prontidão na fazenda de Ian, disse que está preocupado com aquele bandido, teme que alguém apareça por lá. Acho que eles devem ir amanhã — Emily disse a Willian.

— Isso é ótimo. Como não sabemos o que pode acontecer, temos que tentar nos proteger.

— Willian, por favor, tome cuidado, eu estou morrendo de medo que algo lhe aconteça — disse apreensiva.

— Não vai me acontecer nada.

— Você está nervoso. É por causa desse Kid ou é pela confusão com meu pai?

— Querida, seu pai não quer que me case com você, apesar de saber que nos comprometemos para o casamento.

— Ele não pode fazer mais nada, vai ter que me deixar casar com você.

— Emily, você quer mesmo se casar comigo?

Emily arregalou os olhos, ficou muda, parada e não respondeu nada. Ele ficou olhando para ela esperando uma resposta.

— Emily...

— É claro que quero me casar com você. Por que está me perguntando isso? Por acaso você desistiu? Você não vai mais casar comigo? Você não pode, não depois daquilo... — disse, nervosa.

— Ei... Ei... Acalme-se, eu não voltei atrás, eu estou pedindo de novo, para saber se você realmente quer.

— Claro que sim, por que está duvidando?

— Eu não estou duvidando, anjo, mas eu não sou rico, Emily. Não tenho dinheiro para dar-lhe o luxo que você está acostumada. Já comparou sua casa com a minha?

— Isso não me importa. Eu amo você, me entreguei para você, fiz isso por amor, você não pode me deixar, Will. Você jurou.

— Eu sei, não vou deixá-la, querida, mesmo que seu pai não goste. Ele queria um pretendente com posses, mas o que me importa é se você quer.

— Eu nunca me casaria sem amor, não quero ninguém mais. Se eu não me casar com você, então não me caso com ninguém. Eu não quero posses, quero você, pois é você que eu amo.

Ele sorriu e acariciou seu rosto.

— Eu também te amo — disse sorrindo.

Ela sorriu e os dois se abraçaram fortemente.

— Achei que você queria desistir de mim.

— Nunca, eu jamais vou desistir de você, Emily. Eu sei que se entregou a mim por amor.

— Achou que não seria? Pensa que sou uma leviana?

— Nunca pensei isso, quero fazê-la feliz e não quero que lhe falte nada.

— Willian, eu estou feliz. Jamais vou desistir de você.

— Eu também não.

— Mesmo que tenhamos momentos difíceis?

— Mesmo assim.

 

 

 

 

 

 


Capítulo 14

 


Mitchel e Julia andavam tranquilamente pela fazenda, lado a lado e conversavam, riam das besteiras que ele não parava de falar.

— Meu Deus, Mitch! Não sei de onde você tira tanta porcaria para falar.

— Gosto de ser alegre, torna a vida mais fácil.

— Isso é verdade, você é divertido, apesar de cafajeste — falou ironicamente olhando para ele.

— Ai, mas você estava demorando em me dar uma patada.

— É para não perder o costume — falou rindo.

— Desse jeito vai me deixar roxo.

— É só colocar uma compressa que passa.

— Engraçadinha.

Conversaram por mais um tempo e Mitchel estava a olhando enquanto ela distraída lhe contava alguma coisa, e sem ela se aperceber, Mitchel lhe deu um beijo. Surpresa, ela se rendeu e ficou com as pernas bambas. Ele a soltou com uma solavanco e a olhou com uma cara de safado.

— Eu sabia que você queria me beijar.

Ela sem dizer nada, deu-lhe uma bofetada.

— Engano seu, atrevido!

Julia virou as costas e saiu, deixando-o ali, plantado.

— Ai... Essa doeu — disse em voz alta com a mão na face. — Ela não gostou do meu beijo? Como isso é possível? Todas as mulheres gostam do meu beijo. Esta mulher é pior que burro xucro. Meu Deus! Mitchel, será que você está perdendo o jeito com as mulheres, seu animal?

Ele ficou furioso e foi buscar Willian para irem embora. Julia, apesar de ter se mostrado indignada com o beijo, estava rindo sozinha e tentando descer os degraus do céu que havia subido.

— Meu Deus, que beijo... Mas ele é um abusado e convencido. Ai, mas é lindo.

Ela suspirou e entrou em casa, rindo à toa.

— Willian, vamos embora! — disse zangado, se aproximando de Willian e Emily.

— O que houve? Você está com uma cara de quem comeu e não gostou — Willian perguntou.

— Eu levei um tapa na cara! — disse indignado.

— Por quê? O que você fez? — Emily perguntou.

— Beijei Julia e ela me deu uma bofetada. — Willian e Emily gargalharam. — Ah que lindos, podem rir da minha cara. Emily, sua irmã é o diabo vestido de gente.

— Sim, Mitchel, ela é. Mas ela é uma moça direita.

— Eu lhe disse, você está ferrado — Willian disse rindo.

— E vocês dois estão com estas caras de que viram Jesus Cristo, por quê? — perguntou vendo seus olhos brilharem de felicidade.

— Nós vamos nos casar.

— Ave Maria! Mas era o que me faltava, mais um casal. Assim vou ficar largado às moscas. — Ele deu uma gargalhada. — Mas, meus parabéns! — Abraçou Willian e beijou a mão de Emily. — Eu detesto acabar com a alegria do casal, mas vamos embora que meu humor está de cão.

— Tudo bem, Mitchel, vamos. Emily... Eu venho vê-la amanhã à tarde.

Ele beijou sua mão e os rapazes foram embora. Emily entrou correndo e foi falar com Julia.


**


Emily e Julia foram almoçar com Jayne, ela parecia bem e disposta. Contaram as novidades, riram muito, estavam felizes, mas nunca largavam o lado preocupado sobre Kid, mas tudo parecia estar tranquilo e calmo.

Os quatro homens que seu pai contratou já estavam na fazenda, armados e de prontidão. Ian estava sentindo-se mais aliviado, mas colocou armas carregadas espalhadas pela casa, por precaução.

As três irmãs estavam na cozinha com a criada de sua mãe, Anna, que viera ajudar. Estavam fazendo um delicioso almoço quando Ian chegou. Ele beijou Jayne, cumprimentou as meninas e, alegres, ficaram conversando.

De repente, Jayne sentindo o cheiro da comida, teve vontade de vomitar. Saiu correndo com a mão na boca e foi para a porta de trás da cozinha e todos correram para ajudá-la.

— Jayne, você está bem? — Ian perguntou, nervoso. Emily pegou água para ela, estava branca como um mármore e ele a fez sentar-se. — Jayne, você está doente, vou buscar o médico agora mesmo. Meninas, fiquem com ela.

— Não, Ian, não precisa.

— Precisa! Primeiro você desmaiou e hoje está vomitando, tem algo errado, você está doente. Eu não demoro.

Ele não ouviu mais nada, pegou o cavalo e foi à cidade.

— Jayne, é melhor você deitar, você está se cansando demais, precisa de uma criada, não pode ficar fazendo tudo sozinha. Talvez Anna pudesse ficar aqui de vez — Julia disse, apreensiva.

— Não, já passou, eu estou bem. Eu acho que sei o que é isso.

— O que é? — Emily disse, assustada.

— Eu acho que estou grávida, eu também senti isso quando fiquei grávida de Angel.

— Grávida? — Julia perguntou, espantada.

— Ai meu Deus, mas isso é uma maravilha! — Emily gritou, abraçando-a.

— Se for isso, Jayne, Deus está lhe dando uma nova chance, para você esquecer todos esses anos de sofrimento. Você vai ter uma família linda com Ian, estou muito feliz por você. Eu tive medo que nunca mais a veria feliz novamente — Julia disse, ajoelhada na sua frente, segurando suas mãos.

— Ai meu Deus! Um filho de Ian seria a alegria divina — disse olhando para cima com as mãos no peito, e enchendo seus olhos de lágrimas. — Mas não tem um só dia que não me lembre de Angel, do seu rostinho. Eu rezo todas as noites para que um dia possa reencontrar minha filhinha. Será que ela está viva, que está bem?

Ela começou a chorar, e as irmãs a abraçaram, segurando-se para não chorar também.

— Calma, querida, procure não pensar nisso. Vamos esperar o médico chegar para ver se você está realmente grávida, e então, você vai prometer que vai esquecer o passado — Julia disse secando suas lágrimas. — Você precisa esquecer Angel, Jayne. Nunca mais vai vê-la, você precisa pensar na nova família que está construindo com Ian. Você vai ter um lindo bebê.

Ela assentiu, respirou profundamente e bebeu mais um pouco de água. Em pouco tempo Ian voltou com o médico, ele e Jayne entraram no quarto para que fosse examinada.

Ian e as meninas ficaram na sala; ele estava nervoso e andava sem parar, de um lado a outro.

— Ian, quer parar de andar para lá e para cá? Está me deixando tonta — Emily disse.

— Não consigo. O que ela tem? Será que está doente?

— Pare homem, espere o médico dizer o que é — Julia disse, nervosa.

De repente, o médico abriu a porta e saiu do quarto.

— Então, doutor, o que ela tem? É grave? — Ian perguntou.

O médico deu um sorriso e colocou a mão no ombro de Ian.

— Ela está bem, Sr. Buller, não se preocupe. Eu só pedi a ela que repousasse por hoje. Amanhã poderá levar suas atividades normalmente, mas, sem exageros. As tonturas e enjoos são normais no caso dela.

As meninas estavam com os braços enganchados e Emily estava roendo as unhas e se entreolharam.

— Como assim, no caso dela? O que ela tem?

— Vá falar com sua esposa, ela me contou que se casaram, ela mesma quer lhe contar. Parabéns e até mais ver — disse o médico pegando seu chapéu e indo embora.

Ian entrou no quarto e avistou Jayne sentada na beirada da cama. Ele sentou ao seu lado e segurou suas mãos. Ela estava com um sorriso no rosto e o olhou com um amor gigantesco.

— Jayne, o médico não me disse nada, o que você tem?

— Calma, meu amor, eu estou bem, é que...

— O quê?

— Nós vamos ter um filho.

Lágrimas escorreram dos olhos de Jayne, seu coração estava transbordando de felicidade.

Ian pensou que seu coração sairia pela sua boca pelo susto.

— Um filho? Nós vamos ter um filho? — ele riu e a beijou, olhou para ela com tanto amor que transbordava por seus olhos. — Eu não acredito, meu Deus, quanta felicidade! — Ficaram abraçados por um tempo. — Agora nossa família vai ser completa.

As meninas não aguentaram de aflição e entraram no quarto.

— Ai... Pelo amor de Deus! Falem logo, eu estou morrendo de aflição — Emily gritou.

Ian se levantou e com um imenso sorriso disse gritando.

— Eu vou ser pai!

— Ahhhh... — gritaram e abraçaram Ian e Jayne.

Eles ficaram juntos no quarto compartilhando aquela alegria imensa, depois, Julia e Emily foram terminar o almoço. Jayne comeu normalmente e não se sentiu mais enjoada naquele dia.

No meio da tarde, as meninas foram embora contar aos seus pais a novidade.

Jayne ficou descansando o resto do dia, Ian não a deixava fazer nada e a enchia de mimos. Quando foram dormir, estavam deitados de lado, frente a frente e viam suas suaves nuances iluminadas pelas luzes das velas, em um candelabro repousado encima do criado-mudo e Ian acariciava gentilmente seu rosto.

— Estou me sentindo muito feliz, meu amor.

— Eu também estou muito feliz, teremos nossa família.

Ian se abaixou e beijou sua barriga e depois seus lábios.

— Nunca imaginei que um dia eu fosse sentir um amor tão grande. Eu juro que vou proteger vocês dois com minha vida.

— Ian, eu te amo — disse sussurrando.

— Eu também te amo.

Ela sorriu e o beijou ternamente, dormiram abraçados, com seus corações plenos de felicidade.

 

 

 

Capítulo 15

 


Naquela bela manhã na fazenda, Willian, David e Mary, tranquilos, tomavam café. David estava com um sorriso no rosto de dar gosto, sua felicidade de poder reconstruir sua casa o deixava radiante.

Willian saiu para levar alguns bois que vendeu para um fazendeiro e David foi sair, mas quando foi encilhar seu cavalo, viu que seu estribo estava quase arrebentando.

— Mas que droga! — disse indignado e foi para dentro de casa.

— Mary, tem uma laça de estribo? A minha está arrebentando.

— Tem sim, David, eu sei que eu guardei isso junto com outras coisas lá no celeiro, venha que eu vou procurar.

Foram até o celeiro, mas seguiram calados. David abriu a imensa porta e entraram.

— Isto está uma bagunça, temos que organizar este celeiro — Mary disse olhando ao redor. — Onde será que está? — disse pensativa. — Ah! Acho que foi lá encima que eu guardei com as selas velhas.

— Onde?

Ela foi até a escada que dava ao mezanino do celeiro.

— David segure a escada para mim — disse enquanto puxava a barra da saia e prendendo na cintura, ficando com as pernas até o joelho a mostra.

David correu os olhos nas pernas de Mary e olhou para cima rapidamente, desviando o olhar.

— Deixe que eu subo.

— Não precisa. Eu vou e você segura a escada.

— Estas tábuas estão podres, não é uma boa ideia você subir.

— Não se preocupe, eu sou leve — ela disse dando um sorriso irônico para ele. Mary subiu e começou a vasculhar as coisas. — Que nojo, quanta teia de aranha. Achei! — gritou, erguendo-se rapidamente.

De repente, Mary ouviu um estalo debaixo de seus pés e algumas tábuas cederam. Ela caiu pela fenda que se abriu no chão, gritou assustada e ficou pendurada pela cintura, tentando se segurar.

— Mary! — David gritou, vendo-a pendurada por baixo do mezanino.

Subiu as escadas rapidamente e andou, cuidando onde pisava, até chegar a ela.

— David!

— Dê-me sua mão! — falou nervoso. Ele agarrou-a pelos braços e tentou puxá-la. Com esforço, tirou-a do buraco e a colocou de pé. — Venha, vamos descer rápido.

Mal David terminou de falar, o chão cedeu e, os dois, gritando, despencaram. Caíram no chão com pedaços de tábuas se espalhando por todos os lados, mas por sorte, eles caíram encima de um monte de feno. Por alguns segundos, eles tossiram por causa da poeira que se formou e os dois estavam zonzos.

— Mary, você está bem? — gritou sobre ela no monte de feno, ela tossiu e passou as mãos nos olhos. Olhou para ele e seus rostos estavam próximos. — Você está bem? Está machucada?

Seus olhos estavam fixos um no outro e Mary mal conseguia respirar, podia sentir o coração dele batendo descompassado contra seu peito.

— Eu estou bem, David, mas... eu não consigo respirar.

— Por que, está machucada?

— Não, é que você está me esmagando.

Ele riu e a olhou de um jeito que ela ficou aturdida.

— Oh, desculpe.

Ele foi se levantar, mas num rompante, beijou-a. David perdeu o ar, seu corpo todo estremeceu, sentindo o sabor de seus lábios, ela sem esperar tal coisa, não conseguiu resistir e retribuiu o beijo dele. David parou de beijá-la e disse meio atordoado, ofegante.

— Desculpe-me... Eu não devia ter feito isso.

Ela ficou furiosa e desapontada, o empurrou com toda força, fazendo-o cair para o lado e tentou se levantar, se enroscando naquele monte de feno.

— Desculpe? David, você é o homem mais tapado que eu já conheci na minha vida.

— Mary, eu não quero desrespeitar você.

— Pelo amor de Deus, David! O que quer? Enlouquecer-me?

— Mary...

— Primeiro você me vê como irmã, depois me beija e pede desculpas? Ah meu Deus!

Ela virou as costas e ia sair, mas ele a pegou pelo braço, a segurando.

— Espere aí. Aonde você vai?

— Solte-me.

— Vamos conversar.

— Eu não quero conversar, você é um idiota.

— Isso eu sei.

— Então me deixe em paz!

Ela tentou se desvencilhar de suas mãos, mas ele a agarrou com força, puxou-a e a jogou no feno novamente e foi por cima dela.

— Pare, Mary.

— Solte-me! — esbravejou tentando sair debaixo dele, mas ele era enorme e ela não tinha nenhuma chance.

— Fique quieta e me escute! — disse segurando os dois pulsos dela contra o feno. — Definitivamente eu não a vejo como minha irmã.

— E quando você percebeu isso? — disse, ainda furiosa.

— Minha vida toda, só que eu não queria admitir, mas eu não aguento mais isso, ficar dentro da mesma casa, saber que você dorme num quarto ao lado do meu, está me deixando maluco.

— E o que você quer fazer, ir embora? Pois vá logo de uma vez. — Ela tentou soltar-se novamente.

— Não — disse segurando-a. — Eu quero fazer isso.

Ele beijou-a novamente. David jogou naquele beijo todo o desejo e amor que sentia por ela e estava escondido.

Mary se rendeu àquele beijo com amor e agonia. Eles estavam perdidos naquele mundo só deles que não ouviram Willian chegar.

— David! — Willian gritou.

David e Mary levaram um susto, ele virou-se e os dois num salto puseram-se de pé, desalinhados e ofegantes.

— Willian!

— O que você pensa que está fazendo? — disse furioso. — Mary vá para dentro.

— Willian, não aconteceu nada demais — ela disse.

— Não aconteceu porque eu cheguei.

— Will, foi um acidente, nós caímos lá de cima — David disse.

— Ah! Pelo amor de Deus, parem com estas desculpas bobas e esfarrapas que já está doendo minha cabeça. David, eu estou decepcionado com você. Como pôde fazer isso?

— Não aconteceu nada, eu jamais desrespeitaria Mary.

Os dois começaram a discutir ignorando sua presença. Mary ficou os olhando petrificada. Passado o susto, ela ficou furiosa.

— Calem-se, vocês dois! — gritou. Os dois pararam e a olharam. — Eu estou farta! Não fiquem aí brigando por minha causa como se eu não estivesse aqui — ela gritou movimentando os braços, nervosa.

— Mary, você se deitaria com ele, sem ser casada? — Willian perguntou, espantado.

— Ai meu Deus, Will! Eu não estou ouvindo isso — disse indignada.

— Isso não é certo.

— Ah... Assim como não é certo você se deitar com a Emily, não é?

— Eu vou me casar com ela.

— Você se deitou com a Emily? — David perguntou espantado.

— Não mude de assunto, David — Willian disse.

— Willian, nós não estávamos fazendo nada, só nos beijamos — ela falou.

— Ah sim — falou, zombeteiro. — Mary, abaixe este vestido! — falou mostrando que ela estava com a barra do vestido enroscado na cintura. Ela se olhou e baixou-o, fazendo uma careta.

— Willian, por quem me tomas? Pois para seu conhecimento, eu ainda sou virgem e fique sabendo também, que o dia que eu quiser me deitar com algum homem eu o farei, e não é você que vai me impedir.

— O quê? — perguntaram juntos e depois se olharam.

— Willian, eu vou me casar com a Mary — David falou.

— O quê? — Willian e Mary, boquiabertos, falaram ao mesmo tempo, olhando para David.

— David, aquela pancada na cabeça afetou seus miolos? — ela gritou.

— Sim, clareou minhas ideias. Eu estou cansado desta situação, eu vou acabar com isso. Will, concede-me a mão de Mary em casamento?

Ele olhou para David, assustado.

— Está falando sério?

— Estou.

Willian pensou um segundo, entortando a boca.

— Tudo bem, David, tem minha aprovação.

Mary estava ali, parada, olhando os dois, com os olhos arregalados. Em choque.

— David, eu não vou me casar com você, é um imbecil! E você também, Will! — disse indignada, virou as costas e saiu.

— O que foi que eu fiz agora? — David perguntou, sem entender nada.

— Eu acho que você se esqueceu de pedir se ela quer se casar com você primeiro, seu idiota.

— Ai meu Deus! — disse colocando as mãos na cabeça.

Willian deu um tapa com o dorso da mão no estômago de David. Ele sentiu a dor e colocou as mãos no estômago, fazendo cara feia e gemendo.

— Quem mandou agarrar minha irmã daquele jeito?

— E por que você voltou? Não estava indo levar o gado?

— Estava, mas eu vim trocar a sela, ainda bem que eu voltei, não é?

— Ah, cale esta boca! — David saiu atrás de Mary, foi para o quarto dela e bateu à porta. — Mary, você está aí?

— Vá embora, David, não quero ver você — disse chorando.

— Mary, por favor, deixe-me entrar, eu quero falar com você.

— Não.

— Por favor, eu estou pedindo, vamos conversar.

Ela demorou alguns minutos e quando ele já estava desistindo de esperar, ela abriu a porta, o deixando entrar. Ela estava com os olhos vermelhos de choro.

— Sente-se aqui. — Ele pegou suas mãos e puxou-a para a beirada da cama, fazendo-a sentar-se e ele se ajoelhou na frente dela. — Mary, me perdoe pelo que aconteceu. Eu sou um idiota.

— Não... Eu é que sou uma tola.

— Não, não é. Só talvez por gostar de mim. Eu é que não sei como agir quando estou com você, eu perco totalmente o raciocínio e só faço besteiras, mas vou tentar fazer direito desta vez. Se eu não conseguir e falar besteira, você pode rachar minha cabeça de novo, está bem?

Ele lhe deu um sorriso encantador, fazendo-a dar um sorrisinho de volta. Ele beijou suas mãos, olhou-a nos olhos, que estavam marejados de lágrimas e respirou fundo.

— Mary, eu amo você, eu amei você a minha vida inteira e eu tenho toda a certeza deste mundo. Não existe e nunca vai existir outra mulher que eu queira passar o resto da vida, que não seja você. Sei que fui muito tonto com você, mas... Você quer se casar comigo?

Lágrimas escorriam livremente, como se seu coração estivesse transbordando, olhou para ele por uns instantes e deu um suspiro do fundo da alma.

— Tem certeza que não me vê como uma irmã?

— Não mais.

— Eu não gostaria de ter um desses casamentos de conveniência, David, quero um marido que me ame realmente, que queira estar casado comigo.

— Não será assim, porque eu a vejo como uma mulher, linda, encantadora, que me deixa completamente zonzo, que faz meu corpo queimar. Eu te amo, eu a desejo e a respeito e vou fazê-lo para minha vida toda. Diga que aceita se casar comigo, Mary.

Depois de um tempo olhando-o, ela suspirou.

— Eu aceito, David, pois eu te amo e não consigo ver minha vida sem você. Eu sempre o amei, desde que éramos crianças.

David sorriu e eles se abraçaram, somente sentindo aquele amor que tanto tempo estava guardado no peito de ambos.

— Pensei que você racharia minha cabeça — ele disse rindo.

— Deveria.

— Desculpe-me por ter sido um idiota por todos esses anos. Eu devia ter assumido meu amor por você há muito tempo.

— Tudo bem, vamos esquecer isso. O que importa é que você caiu em si.

— Caí e confesso que estou adorando.

— Eu também.

— Eu posso beijá-la?

— Você vai pedir desculpas depois?

— Não.

— Então pode.

Os dois sorriram e se beijaram docemente.


**


Naquele entardecer os amigos reuniram-se na fazenda de Ian. Ficaram todos na varanda aproveitando o ar fresco, banhados por um lindo pôr do sol.

Ian estava radiante de tanta felicidade e queria contar a novidade que seria pai. Jayne estava junto para recepcioná-los.

— Ian e Jayne, pelo amor de Deus, que caras são essas? — Mitchel falou rindo. — Casar é tão bom assim?

— Sim, meu amigo, e eu tenho uma novidade para contar.

— Novidade é o que não vai faltar por aqui hoje — Willian falou. — Vamos, fale logo qual é esta novidade?

— Nós vamos ter um filho — Ian disse rindo e abraçando Jayne.

— Não me diga! — Mitchel gritou. — Mas vocês dois não perdem tempo, pelo amor de Deus! — complementou rindo.

— Ai, eu vou ser tio! — David disse, soltando uma gargalhada estrondosa.

— Que maravilha, meus parabéns! — Willian disse e todos os abraçaram, felicitando-os.

— Um brinde a Ian, Jayne e ao bebê.

Eles bateram os copos e beberam.

— Ok, qual é a outra novidade? — Ian perguntou, ansioso.

— Bem... Eu pedi Mary em casamento — David disse.

— O quê? Eu não acredito! Meu Deus! Deve ter sido aquela pancada na cabeça que fez você abrir os olhos? — Ian disse, rindo.

— Acho que sim — ele respondeu rindo. — E Will quase me deu um tiro.

— Mas você disse que estava de acordo — Ian perguntou a Willian.

— Estava e estou, mas eu os peguei se beijando lá no celeiro, e no fim foi tudo esclarecido — disse Willian.

— Então, um brinde a David e Mary.

Bateram os copos e beberam mais um gole.

— Todos vocês já sabem que pedi Emily em casamento, então agora um brinde ao meu casamento. — Willian disse e todos brindaram novamente.

— Mitchel, o que vamos brindar a você? — David perguntou.

— Ah, eu não tenho nada. Não poderiam ter escolhido outros assuntos para brindar? O que é isso, três casamentos de uma vez?

— Então vamos brindar a bofetada que Julia deu nele — Willian disse, caindo na gargalhada e todos riram.

— Will, você não pode me entregar assim. Que tipo de amigo você é?

— Ah Mitchel, você pode tentar falar com ela — Jayne disse sorrindo.

— Jayne, minha querida, com todo o respeito que lhe tenho, sua irmã é o diabo. — Todos riram dele.

— Bem rapazes, eu vou entrar, se divirtam.

Jayne deu adeus a todos, um beijo em Ian e entrou em casa.

— Agora falando sério, deveríamos fazer aquele casamento de grupo, já temos três noivos, ia ser muito divertido — Mitchel disse.

— Dois, os rapazes precisam de um casamento de verdade — Ian disse.

— Ah! Desculpe Ian, eu esqueci — Mitchel disse.

— Mas será que o reverendo não poderia abençoar a união de vocês, sem fazer o casamento de verdade? — Willian perguntou.

— Não sei.

— Você poderia conversar com ele, então faríamos este casamento triplo, eu adoraria — David disse, feliz.

— Mas quem seria padrinho de quem se todos casariam? — Willian perguntou rindo.

— Pode deixar, eu serei padrinho dos três — Mitchel disse e todos riram.

— Se eu fosse você, casava com Julia e então casaríamos os quatro, o que acha? — David disse, rindo.

— David, você está muito engraçadinho, se não fosse o motivo de se casar com Mary, eu lhe dava uns tapas — disse indignado.

— Mitchel, um dia você vai ter que se casar. A sua deusa não ficará lá para sempre. Acho que você deveria pensar melhor, além do mais, eu acho que você gosta da Julia, só não está querendo admitir — Ian questionou.

— Chloe é diferente e... Julia não gosta de mim, ela só me maltrata. Dei-lhe um beijo e ela me deu uma bofetada.

— Seja mais gentil, Mitch, quem sabe ela gosta mais de você — Ian falou.

— Eu concordo com Ian, está apaixonado por ela — Willian disse.

— Parem de falar asneiras. Agora somente sabem falar disso, casamento.

— Prometa pelo menos que vai pensar no assunto.

— Está bem, se é para vocês pararem de me atormentar eu prometo.

Conversaram mais um tempo, despediram-se e foram para suas casas, pois já estava tarde. Ian entrou no quarto e Jayne estava deitada na cama, repousando tranquilamente.

Ele a ficou admirando, estava linda, com seu rosto iluminado pela luz da lamparina, usava uma camisa branca com aplicações de renda na gola que lhe subia no pescoço e uma saia azul, ela soltou os cabelos e estes estavam caídos de um lado do ombro.

Ele deitou ao seu lado e acariciou seu rosto com um sorriso e ela lentamente abriu os olhos.

— Desculpe, eu não queria tê-la acordado.

Ele deu um beijo suave em seus lábios e ela sorriu.

— Adoro que você seja a primeira coisa que eu vejo quando abro meus olhos — ela disse suavemente.

— Adoro ver você dormir.

Ele levantou, ajoelhando-se na cama e pegou os pés de Jayne, ela ainda estava com suas botinhas de cano até o tornozelo e ele começou a desamarrá-las.

— Jayne, os rapazes querem fazer um casamento de grupo — falou rindo.

— Acho que seria lindo dois casamentos de uma vez.

— David sugeriu que nós falássemos com o reverendo para ele abençoar nossa união, aí nós poderíamos participar da festa de casamento como noivos. O que você acha?

Ele continuou tirando a outra bota de Jayne.

— Nós podemos tentar, ele conhece minha história, só não acho que sabe que eu estou aqui vivendo com você, isso eu não sei se ele aprovaria.

Ian colocou o pé de Jayne em seu peito e acariciava a sua perna; ele escorregou suas duas mãos até sua coxa e segurou o elástico de sua liga e foi tirando sua meia, devagar.

— O que você está fazendo? — ela perguntou se fazendo de desentendida.

— Ajudando você a tirar estas roupas, ou você vai dormir de roupas? — sorriu maliciosamente.

— Como você é atencioso.

Ele trocou de perna e fez a mesma coisa, acariciando-a suavemente, foi lentamente retirando peça por peça.

Jayne somente o olhava, admirando a beleza de seu rosto, ficava encantada em olhar seus olhos verdes levemente repuxados.

Beijaram-se demoradamente, deliciando-se com o toque de seus lábios, acarinhando-se.

Quando Ian beijou sua barriga, falou baixinho com seu filho, deitou sua cabeça sobre seu ventre e ficou assim por uns momentos enquanto ela acariciava seus cabelos.

— Eu daria tudo para poder me casar de verdade com você — Jayne disse com uma voz triste.

Ele levantou a cabeça, olhou-a e viu tristeza em seus olhos.

— Eu também. Você seria a noiva mais linda deste mundo. Espere... Nós nos esquecemos de algo muito importante.

— O quê?

Ele levantou da cama e foi até a cômoda, abriu-a, levantou umas roupas e tirou uma caixinha de madeira e a levou até a cama. Ele abriu a caixinha e retirou duas alianças de ouro.

— Essas alianças eram dos meus pais, eles foram mortos quando eu tinha quatorze anos, eu ainda me lembro de como eles eram felizes, sempre os via beijarem a aliança um do outro.

Ele deu um sorriso, se lembrando deles.

— São lindas.

— Na época, eu achava aquilo sem sentido, mas agora eu sei o significado, eles se amavam muito. — Ele colocou a aliança em seu dedo. — Eu não me importo de não casarmos de verdade, pois no meu coração você é minha esposa, mãe do meu filho e eu vou amá-la para sempre.

— E você é meu marido, pai do meu filho e eu vou amá-lo para sempre.

Ele beijou a aliança no dedo dela, ela pegou a outra e colocou no dedo de Ian e a beijou.

Beijaram-se com o amor mais puro do mundo, abraçaram-se fortemente, aninhando-se na cama e fizeram amor.

 

 

Capítulo 16

 


Jayne e Ian foram à cidade falar com o reverendo para ver se ele poderia abençoar sua união, na realização do casamento de Willian e David, como haviam conversado.

— Ian, tem certeza que é uma boa ideia? — perguntou apreensiva.

— Não sei, mas se você não quiser, não vamos.

— Bem, já que estamos aqui, vamos logo de uma vez.

Foram até a capela, encontraram o reverendo lendo, sentado em um dos bancos.

— Boa tarde, reverendo — Jayne disse gentilmente.

— Boa tarde, Srta. Cullen.

Ele sabia que ela carregava o nome Dawson, pois conhecia a história de Jayne, mas ele mantinha em sigilo, não poderia revelar nada a ninguém, pois foi revelada em confissão e como na cidade ninguém sabia que ela era casada e de seu passado, todos a conheciam como Srta. Cullen, filha do banqueiro.

— Boa tarde.

— Sr. Buller, que surpresa o senhor aqui.

Ele ficou espantado de ver os dois juntos, mas esperou para ver o motivo da visita. Estranhou a aliança na mão de ambos.

Sentaram-se e eles contaram tudo a ele. O reverendo Joan Tailer era um homem de uns sessenta e poucos anos, muito tranquilo e bondoso, sempre estava pronto a ajudar seus fiéis.

— Jayne, eu ouvi alguns rumores, mas eu estou espantado com tudo isso. Como pôde deixar isso ir tão longe?

— Somente queremos ter nossa família.

— A situação é complicada, eu não posso abençoar vocês em uma cerimônia pública, este tipo de união é contra as leis de Deus. E vocês estão cometendo um pecado imenso.

— Mas não é oficial, eu não creio que o senhor faria algo errado, e além do mais, eu também não acho que nós estamos fazendo nada de errado. Apesar de Jayne estar oficialmente casada, ela foi abandonada há anos e tem o direito de recomeçar a sua vida — Ian argumentou.

— Eu entendo, meu filho, mas não deixa de ser considerado adultério pela lei dos homens e pela lei de Deus.

— O quê? Adultério? — Jayne gritou, sentindo uma dor no peito, pulando do banco que estava sentada. — Meu Deus! Aquele homem destruiu minha vida, me abandonou e roubou minha filha. Eu quase morri de desespero e o senhor vem me dizer que eu estou cometendo adultério? Jesus, onde está a justiça deste mundo? Esta lei miserável não funciona, porque nunca ninguém mexeu uma palha para me ajudar a encontrar este homem e ainda vocês querem me condenar à adúltera? — Jayne gritava, descontrolada.

— Acalme-se, Jayne, pelo amor de Deus! Você não pode ficar nervosa deste jeito, pense no nosso filho — disse, fazendo-a sentar.

— Filho?

O reverendo levou um susto com aquela revelação, o fazendo arregalar mais os olhos.

— Sim, ela está esperando meu filho.

— Ai minha Nossa Senhora, que situação! — o reverendo disse, juntando as mãos e olhando para o teto, respirou e continuou. —Minha filha, eu fiquei horrorizado com sua história, mas não sei se posso concordar com um desatino destes e os abençoar, o que estão fazendo é pecado.

— Não precisa comprometer sua moral santificada, não precisamos de sua benção. Jayne, vamos embora — Ian disse furioso.

Ian pegou Jayne pelo braço e ia conduzi-la para fora da capela, mas ela se virou para o reverendo, com os olhos marejados de lágrimas.

— Reverendo, não há um só dia que eu não ore a Deus, peça perdão pelos meus pecados, porque acho que Ele me castigou por algum motivo, permitindo que aquele monstro tirasse minha filha de mim. Eu rezo para que se, pelo menos, eu nunca mais a veja, ela esteja viva e bem em algum lugar e também agradeço por ter encontrado Ian e por este filho que eu carrego. Nada e nem ninguém neste mundo vai me afastar deles.

Lágrimas escorriam pela face dela e ele sentiu um compadecimento. Quando os dois já estavam saindo, o reverendo deu um suspiro.

— Está bem, está bem! — disse num súbito e os dois se viraram. — Eu vou abençoar a união de vocês, quando realizarmos o casamento de Sr. Stewart e do Sr. Jonhson. Eu irei abençoá-los e seja o que Deus quiser — disse olhando para cima e fazendo o sinal da cruz.

— Obrigada.

— Mas, vou pedir que neste casamento só estejam presentes a família e os amigos mais íntimos para evitar que descubram a verdade. Isso é uma exigência, evitará problemas para todos.

— Eu vou falar com os rapazes — Ian disse.

— Obrigada — ela disse, tentando se acalmar.

Eles saíram da capela e Jayne estava tremendo, Ian a olhou secando suas lágrimas.

— Querida, não fique assim. Acho que nós nem devíamos ter vindo, mas já que ele concordou, vai dar tudo certo, não é? — Ela somente assentiu com a cabeça. — Vamos, quero ver um sorriso neste rostinho — disse sorrindo.

— Eu odeio estas leis e regras, são tão injustas.

— Eu também, mas esqueça disso agora, por favor, se acalme.

Ian deu-lhe um beijo na testa e a abraçou forte por um momento.

— E se ele estiver certo, Ian? Nós não deveríamos estar juntos, eu não devia ter ficado com você, isso é errado...

— Ei, ei... Jayne, o que está falando? Vamos ter um filho e eu não vou perder você por causa do que ele disse. Vamos continuar como estamos, juntos e como marido e mulher. Nada vai acontecer.

— Você promete?

— Prometo. Venha, vamos embora.

Os dois seguiram até a rua e ele a ajudou a subir na charrete.

Quando estavam quase indo embora, Mitchel se aproximou.

— Olá, casal! Como estão hoje neste dia ensolarado? — perguntou, todo sorridente.

— Olá, Mitchel — Ian disse.

— Nossa, que fisionomia horrível, Jayne! O que aconteceu? — perguntou apreensivo.

— Estávamos conversando com o reverendo sobre a benção.

— Ai minha nossa, e pela cara de vocês ele disse que não.

— Foi, mas depois acabou concordando.

— Bem, se ele disse que não e depois que sim, por que estão com estas caras? — perguntou, sem entender nada.

— É que ele levantou uma questão que não havíamos pensado e Jayne ficou muito nervosa.

— Que questão?

— Que ela está cometendo adultério.

— O quê? — disse indignado. — Mas que abuso, se eu estivesse lá teria fatiado a cara dele.

— Calma, Mitchel, na verdade pelas leis, ele tem razão.

— Tem?

— Tem. Eu sou oficialmente casada com outro homem, não poderia estar com Ian — Jayne disse e Mitchel pensou um pouco.

— É... Eu acho que tem, mas não vou admitir esses tipos de comentários, quem ousar falar mais alguma coisa vai se vir comigo. Ora, onde já se viu considerar aquele animal um homem, ele deveria estar a sete palmos.

— Obrigada, Mitchel, por se preocupar e me defender.

— Minha linda, não precisa agradecer, para mim você já é mulher de Ian, portanto da minha família, então eu a defendo com gosto. Não esquentem meus amigos, tudo ficará bem, mas enfim, se ele concordou vamos nos alegrar e providenciar estes casórios — disse sorrindo para tentar alegrar.

— Verdade, Mitchel, vai ficar tudo bem. Só que temos algumas restrições sobre o casamento, então terei que conversar com eles.

— Que restrições?

— Somente deve estar presente a família — disse contrariado.

— Ah, mas que estraga prazeres, mas não tem problema, afinal, o que importa somos nós, o resto da cidade não precisa participar.

— E você onde está indo?

— Vou ver minha deu... — Ia continuar, mas lembrou-se que Jayne era irmã de Julia, então engoliu o resto da frase. — Vou ao ferreiro.

Ian entendeu e deu um sorriso e balançou a cabeça negativamente, mas Jayne não percebeu, pois nem estava prestando muita atenção.

— Bem... Temos que ir, até mais, Mitchel.

— Até, Ian. Jayne, minha linda cunhada, me dê aquele sorriso que só você sabe dar — disse beijando sua mão, e fez uma cara muito engraçada para fazê-la rir. Ela ficou sem graça e riu.

— Mitchel, você não existe.

— Ah agora está bem melhor.

Ian e Jayne voltaram para a fazenda e Mitchel seguiu para a estalagem para ver Chloe, ele subiu ao seu quarto como de costume. Bateu na porta e ela veio atender.

— Boa tarde, minha deusa.

— Olá, meu toureiro — disse charmosa e espantada. — Você estava sumido, entre.

— É verdade, eu estive ocupado.

— Eu soube que você levou um tiro. O que aconteceu?

— Bandidos miseráveis, mas estou bem, a ponto de bala.

— Mitchel, você não tem jeito.

— Não, não tenho. E estou feliz, meus amigos todos vão casar, não é maravilhoso? Estão todos loucos de amor, mas estou feliz por eles.

— Hum, e você também não vai entrar na roda?

— Bem, estão tentando me convencer. Mas acho que não — disse rindo.

— Mitchel, este acho saiu da sua boca tão estranho, eu estou desconfiada que você está interessado em alguém.

— Eu? Impressão sua, minha deusa de mármore, você me conhece, sabe que eu sou mais difícil de laçar que os velhos Mustangues selvagens.

— Eu sei, mas sua cara está diferente.

— Você está enganada. — Ele lembrou-se de Julia e da bofetada que levara e sentiu raiva. — Agora venha cá e me dê um beijo, preciso de amor e de carinho, estou me sentindo mais largado que sela velha.

— Ah, só um beijo? — falou toda dengosa.

— Minha querida, eu quero tudo que tenho direito e só você sabe me dar.

— Então, você vai ter que me pegar.

Ela riu e fez menção que ir correr.

Ele deu uma risada e começou a correr atrás dela pelo quarto e os dois faziam a maior balbúrdia até ele agarrá-la pela cintura e deu-lhe um enorme beijo deixando-a sem ar.

— Ai meu Deus! — Chloe disse, tentando respirar quando ele a soltou. — Que beijo foi esse? Quase morri sem ar.

— Você ainda não viu nada — falou com uma cara de matador.

Ele a jogou na cama a fazendo gritar e rir e passaram horas ali. Dormiram abraçados e exaustos, o que Chloe somente se permitia fazer com Mitchel, e na verdade era o único homem que passava mais que meia hora com ela.

Seus clientes na maioria bêbados e fedorentos de dias sem um banho, nem lhe diziam adeus.

Uma cocote era tratada como nada. Houve uma vez que ele a defendeu de um cliente que havia batido nela. Ele foi atrás dele e o encheu de pancada e este, nunca mais se aproximou dela. Mitchel a tratava diferente.

Dava-lhe mais dinheiro do que ela cobrava; às vezes lhe dava presentes e conversava com ela, se importava. Do jeito dele, mas se importava.

Chloe era apaixonada por ele, mas vivia aquela vida medíocre; ela não via uma saída a não ser se conformar e seguir com aquilo. Nunca teria uma expectativa de sair daquela vida ou ter o amor dele, mas ele quase nunca ficava com as outras cocotes, sempre voltava para sua cama, e ela se contentava com o que ele lhe dava.

Já tinha perdido o direito de ser feliz há muito tempo.


**


Emily e Julia estavam no rio, encima das pedras, estavam descalças e sem as meias sete oitavos, com os pés dentro da água.

Estavam usando as curtas calças da roupa de baixo, que ainda era uma raridade para uma cidade do interior, mas como Jayne era moderna e uma conhecedora das modas europeias, estava sempre à frente e suas irmãs a seguiam, fazendo encomendas à modista.

Julia levantou as saias até as coxas e enfiou as pernas até os joelhos na água fria.

— Ai, que água gelada — Emily disse.

— Sim, mas assim refresca. Eu estou morrendo de calor — disse Julia se deleitando na água fria e límpida.

Willian e Mitchel estavam cavalgando para ir encontrar as meninas.

— Willian, eu acho que vou para casa.

— O quê?

— Vá encontrar sua Emily, eu vou para casa — disse meio estranho.

— Por quê? Vamos comigo, Mitchel, nós combinamos, não foi?

— Acho que não.

— Julia estará lá.

— Não.

— Tudo bem, se não quer ir, eu não insistirei — disse percebendo que algo estava errado e não quis insistir com o amigo.

— Até mais, Will.

Mitchel fez a volta com o cavalo e estava voltando para a fazenda. Willian chegou ao rio, apeou do cavalo e se aproximou das meninas.

— Olá, princesa.

Julia abaixou a saia rapidamente.

— Willian! — Emily gritou e foi pulando as pedras até chegar à margem, ele foi encontrá-la e se abraçaram.

Mitchel de repente sentiu uma enorme vontade de ver Julia.

— Ah homem, o que há de errado com você? — perguntou para si mesmo.

Ele voltou, mas não quis aparecer para Julia, então desceu do cavalo e andou até o rio e ficou escondido entre algumas árvores olhando de longe. Willian e Emily desceram um pouco o rio e Julia ficou sozinha.

Levantou as saia de novo, pois não havia ninguém por perto. Mitchel a olhando de longe, olhava suas pernas e sentiu um desejo enorme por ela.

Como ela era linda, seus cabelos negros caídos pelo ombro, seus lábios.

Ele sentiu uma vontade de falar com ela, tomou coragem, respirou e foi até a beirada do rio. Ela não o viu, pois estava escorada com os braços na pedra com a cabeça para trás, olhos fechados para sentir o sol em seu rosto. Ele ficou parado vendo-a daquele jeito... Linda e tranquila.

— Olá, Julia — ele disse num suspiro.

Ela levou um susto, o olhou abaixando as saias rapidamente.

— Ai Mitchel, você me assustou!

— Desculpe — falou mansamente.

— O que está fazendo aqui?

— Vim com Willian. Eu ia embora, mas resolvi voltar.

— Por quê?

— Porque senti vontade de falar com você.

— Hum... — disse tentando parecer desinteressada, mas ficou nervosa.

— Posso lhe fazer companhia?

— Pode.

Ele sentou no chão, com um joelho dobrado e colocou o braço sobre ele e escorou-se com o outro braço na grama. Ela o olhou de canto de olho, ficando meio nervosa com sua presença.

— Eu encontrei Jayne e Ian na cidade — disse tentando puxar assunto.

— Eles estão bem?

— Não estavam muito bem.

— Por quê?

— Eles foram falar com o reverendo e parece que ele disse algumas coisas que os deixaram tristes. Por ela ainda ser casada com o desaparecido.

— Ai meu Deus! Ela deve estar arrasada — falou esbravejando enfurecida.

— Estava, mas depois ele concordou em fazer a benção para eles no casamento de Willian e David.

— Jura? — perguntou espantada. — Chicoteia e depois amansa. Ai isso me dá nos nervos. Maldito do Dawson, se eu pudesse arrancava a cabeça dele.

— Concordo com você. Ela deve ter passado maus bocados.

— Você não faz ideia. Teve vezes que pensei que ela ia morrer de tristeza, ficou de dar dó. Mas agora estou tão feliz que tenha encontrado Ian... Ela o ama de verdade.

— Sim, e ele está muito feliz, tenho certeza que vai cuidar bem dela, ele a ama com um amor que nunca vi na minha vida.

— Acho bom, pois eu não vou permitir que nenhum idiota a faça sofrer de novo, da próxima vez o mato com minhas próprias mãos.

— Você é brava, Julia.

— Para defender minhas irmãs, viro onça.

— Você não é assim só para defendê-las. Parece que está sempre brava.

— Não estou, não.

— Então por que você sempre me dá patadas?

— Porque você merece.

— Mas eu nunca lhe fiz nada.

— Fez sim. Beijou-me a força.

— Ah, aquilo aconteceu só uma vez, mas você é que me agride sempre, desde que me conheceu, sem eu lhe fazer nada.

— Tudo bem, Mitchel, me desculpe.

— Vai ser mais calminha comigo?

— Vou, se você se comportar.

— Tudo bem... Eu prometo me comportar bem com você.

— Ótimo. Onde estão Willian e Emily?

— No mato.

— O quê? — gritou espantada e Mitchel riu.

— Estão ali embaixo, conversando.

— Ai, mas você não tem jeito!

Eles riram e ficaram conversando naturalmente, os dois estavam apreciando a conversa, finalmente depois de tanto tempo conseguiram ter uma boa conversa por mais de quinze minutos.

Capítulo 17

 


- Willian, quando nós vamos nos casar? — Emily perguntou gentilmente.

— Temos que ver com David.

— Interessante esta história com David e Mary. Eu achei tão romântico.

— Sim, eles se gostam há muito tempo, mas eles estavam mais parados que tartaruga — falou dando uma linda gargalhada.

— E vamos casar todos juntos?

— Vamos.

— Vai ser uma festança e vai ser lindo.

— Vai ser divertido e linda é você.

— Ai Willian, você me deixa sem graça.

— Você, sem graça? Sabe que eu sinto uma saudade terrível daquela nossa noite juntos? — falou malicioso e ela ficou vermelha.

— Oh, aquilo foi uma loucura.

— Uma loucura que eu adorei, deveríamos fazer estas coisas mais vezes.

— Desculpe, foi uma loucura o que fiz, não pode se repetir até nos casarmos. Você prometeu que ia se comportar.

— Eu sei, mas você fica me olhando com esta carinha. Eu não resisto, sinto saudades. — Ele se aproximou dos seus lábios e a beijou. Seus lábios eram inebriantes. Ele parou um instante de beijá-la. — Emily...

— Hum...

— Se eu não me casar com você logo, vou fazer que nem o Ian e Jayne, a levo para a minha casa e não a devolvo mais para seu pai.

— Ele o mata.

— Mata nada, ele não matou Ian — Ela riu.

— Mata sim, ele deixou Ian levar Jayne por causa da situação dela, mas se ele sabe que eu e você hummm... Ele o escalpela com uma foice.

— Ai, isso deve doer — falou fazendo cara de dor e os dois riram. — Penso que temos que apressar este casamento.


**


Enquanto isso, Julia se cansou de ficar na água, levantou-se ficando em pé na pedra.

— Está na hora de irmos embora.

Ela olhou ao redor para ver onde estavam Emily e Willian, olhou para o alto da colina e sentiu um frio na barriga.

— Mitchel...

— O quê?

— Olhe lá encima — falou apreensiva.

Mitchel olhou, ficou em pé num salto sentindo sinal de perigo. Havia uns seis a sete homens enfileirados olhando para eles, eles estavam distantes, mas num momento poderiam chegar perto. Julia sentiu seu corpo gelar rapidamente.

— Quem são eles?

— Não sei, mas não estou gostando.

Eles estavam imóveis, de repente movimentaram-se, Mitchel viu que eles tiraram suas pistolas da cintura e começaram a cavalgar morro abaixo.

— Corre Julia. Anda rápido — Ele esticou o braço para ela pegar sua mão. — Willian! — gritou para ele.

Willian levou um susto e pôs-se de pé.

— O quê?

— Corre, rápido!

Ele olhou para Emily com os olhos arregalados e de repente começou a ouvir tiros, agarrou a mão dela e saiu correndo a puxando em direção de Mitchel e Julia que tentou pular as pedras e cortou seu pé em uma quina, ela quase caiu na água gritando pela dor. Mitchel num salto a segurou pela cintura quando já estava quase na margem.

— Vamos, Julia.

— Estou indo.

Ele olhou para seu pé e viu que estava sangrando, assoviou e seu cavalo veio correndo. Num rompante ele a pegou pela cintura e a colocou encima de seu cavalo.

— Corre Julia, vá para sua casa, rápido.

— Quem são eles?

— Deve ser os bandidos de Kid, vai. Rápido, Willian, vamos sair daqui — Mitchel gritou quando ele chegou correndo ao seu lado puxando Emily pela mão.

Willian ajudou Emily a subir no cavalo rapidamente.

— Pegue isto. — Ele deu uma arma a ela. — Emily, corre!

— Willian... — gritou apavorada.

Ele deu um tapa na anca do cavalo e ele disparou. Mitchel e Willian subiram nos cavalos, pegaram as armas e atiraram em direção dos homens que estavam se aproximando, os tiros os estavam quase alcançando.

— Vamos, Mitchel, rápido.

Eles começaram a galopar o máximo que podiam forçar os cavalos. Num segundo Willian levou um tiro no braço e quase caiu do cavalo.

— Willian! — Mitchel gritou querendo parar.

— Vai, Mitchel, vá atrás delas. — E continuou correndo mesmo com a dor agonizante que estava sentindo no braço.

Os bandidos se espalharam atrás deles. Emily entrou pelo meio de um monte de árvores e ela tentava desesperadamente se desvencilhar delas. Quando ela olhou para trás viu que havia dois homens atrás dela e de Julia.

— Corre Emily — Julia gritou olhando para trás. Elas corriam a toda velocidade que podiam, Emily estava se afastando do caminho para sua fazenda, ela não conhecia direito aqueles caminhos. — Emily! — Julia gritou desesperada quando a viu ir para o lado errado.

Ela olhou para Julia indo para o outro lado e tentou virar o cavalo para a esquerda rapidamente, mas um galho bateu no seu rosto e ela quase caiu do cavalo, mas conseguiu se segurar sentindo o sangue sair de sua testa. Os homens começaram a atirar nelas e ela quase conseguiu alcançar Julia.

Mitchel e Willian avistaram os homens logo atrás delas e correram o mais rápido que puderam. Willian começou a atirar neles pelas costas.

Julia se deu com um tronco de uma árvore que estava caído, tentou fazer seu cavalo pular, mas ele estava muito próximo e bateu com as patas nele e os dois caíram, ela saiu rolando pelo mato e Mitchel a viu caindo.

— Julia!

Mitchel vendo que um dos bandidos estava próximo dela, começou a atirar nele e o acertou no peito; mas outro homem estava se aproximando. Logo chegou empinando o cavalo à frente de Julia que estava zonza pelo tombo.

Quando o homem lhe apontou a arma mirando-a, Mitchel atirou diversas vezes matando o homem que caiu do cavalo. Mitchel pulou do seu e foi de encontro dela.

— Está bem?

— Estou. — Mitchel levantou-a, mas ela sentiu uma dor enorme no pé machucado. — Venha! — ele gritou montando-a em cavalo e montou atrás.

Neste mesmo tempo Ian e Jayne de sua fazenda ouviram o tiroteio que soava pelas montanhas fazendo eco.

— Ian, o que é isso? — falou assustada.

— Está vindo da estrada. — Ele correu e pegou suas armas.

— Será que são os bandidos de Kid?

— Não sei, pode ser. Devem estar atrás de um dos nossos.

Os homens contratados por seu pai correram e pegaram suas armas e entraram em prontidão pela fazenda.

— Eu vou ver o que é. Você fica aqui, estará protegida, eles parecem estar indo na outra direção.

— Ah não vai, não! —Jayne falou, puxando-o pelo braço.

— Se os rapazes estiverem em apuros eu preciso ir, fique aqui, há quatro homens aqui que protegerão você. Aqui estará segura, Jayne. Pegue isso — disse lhe dando uma arma. — Não saia daqui.

Ele montou em seu cavalo e seguiu para onde havia o tiroteio. Cavalgou em direção a fazenda dos Cullen subindo a estrada, avistou três homens e atirou sem pestanejar, ele derrubou os três.

Ian era ótimo atirador e continuou correndo e de repente ouviu tiros vindo de sua fazenda que ficara pelas suas costas.

Rapidamente ele parou seu cavalo, e ouviu tiros repetidamente. Entrou em pânico e voltou para sua fazenda.

Emily continuou correndo, um homem estava atrás dela, ela virou-se para trás engatilhou o revólver e atirou, mas não acertou, não conseguia pegar a mira. Willian apareceu logo atrás atirando e acertou o bandido pelas costas que caiu rapidamente do cavalo.

Ela olhou para trás e somente viu Willian, mas continuou galopando, outros homens apareceram logo atrás deles atirando. Willian levou mais um tiro nas costas e caiu sobre seu cavalo que continuou correndo.

Já estavam adentrando na fazenda dos Cullen que ouviram os tiros, homens de todos os lados subiram nos seus cavalos, armados e foram de encontro deles, Emily passou como um raio por eles, Willian estava logo atrás e acabou caindo do cavalo, desmaiado.

Os homens de Sr. Cullen acertaram mais dois homens que vinham em sua direção. Mitchel veio com Julia na sua garupa, correndo pela esquerda e passando pelos homens. O tiroteio demorou mais alguns minutos e todos os bandidos foram abatidos. Emily chegou à frente de sua casa, pulou do cavalo e olhou para trás e não avistou Willian.

— Willian! — gritou em desespero, esperou por alguns minutos e apareceram Mitchel e Julia e pararam na frente da casa. — Onde está Willian? — gritou para Mitchel.

— Não sei, estava atrás de você.

— Ele estava atrás de mim, mas já devia estar aqui.

— Vou atrás dele, cuide dela, está sangrando e você também.

Ele deu meia volta e saiu em disparada, Emily ajudou Julia a subir os degraus, sua mãe com os empregados correram e vieram levá-las para dentro da casa. Os tiros cessaram naquela área.


**


Ian correu de volta à sua fazenda.

Alguns homens travaram tiros com os empregados que estavam na frente da casa e com Jayne que começou a atirar pela janela.

Ela acertou dois, um na cabeça e outro no coração, as janelas começaram a estilhaçar por cima dela que estava sentada no chão da sala.

Ela, sem pensar, abaixou-se e foi para o quarto e olhou para a janela que dava para o fundo da fazenda; pulou a janela e correu para o celeiro que ficava logo atrás da casa. Entrou e fechou a porta. Olhou ao redor e correu para umas pilhas de feno e jogou-se atrás delas e ficou quieta.

Houve um silêncio que era perturbador. Ela ouviu a porta do celeiro abrir, rangendo lentamente e seu coração acelerou de pavor.

— Sra. Buuullleer. — Ela ouviu um homem dizer ironicamente como se estivesse cantarolando. — Não adianta se esconder, eu sei que você está aqui.

Ela olhou o revólver e não havia mais balas, havia disparado todas. Sentiu seu terror aumentar. Como ele sabia seu nome? De repente sentiu uma dor na barriga que pareceu que a cortou ao meio.

Ela colocou a mão na boca para não gritar, olhou ao redor procurando algo para se defender, mas sentiu outra fisgada e se contorceu. Nisto, Kid apareceu na sua frente.

— Ora, ora... Mas que coisa, a mocinha parece sentir algo — disse ironicamente e apontando a arma para ela.

Jayne com dificuldade olhou para ele e o reconheceu.

— Você! Seu desgraçado, o que você quer?

— Você, querida. Desta vez eu vou levá-la comigo.

Ela num rompante pegou um tridente que estava ao seu lado e buscando todas as forças, o golpeou no peito. Ele não teve tempo de reagir, ele olhou para o tridente fincado em seu peito e caiu.

Jayne ficou parada alguns minutos olhando Kid e tentou se levantar, mas sentiu outra dor terrível, caiu e seus olhos se fecharam.

Ian desceu a estrada, avistando sua fazenda com o coração disparado, tinha a sensação que não conseguiria chegar nunca.

— Ian! — Ele olhou para trás e viu David. — O que está havendo?

— Os homens de Kid, estão por toda parte, venha comigo.

David o seguiu e chegando à fazenda, viram somente dois homens montados e eles atiraram. Ian abateu um e David o outro.

Quando chegaram à frente da casa, pularam dos cavalos e olharam ao redor, tentando ver se havia mais alguém; havia mais alguns caídos no chão e Ian gelou quando viu os homens que estavam a cuidar da proteção da fazenda, estirados no chão.

O pânico tomou seu coração.

— Jayne! — ele gritou apavorado.

Ian correu para dentro de casa e viu as janelas estilhaçadas e as paredes cravejadas de balas, entrou chamando seu nome e olhando em todos os cômodos e não a encontrava.

— Ela não está aqui — David disse.

— Meu Deus, será que eles a levaram? — sua voz estava trêmula de pavor.

— Vamos olhar o celeiro. — David lembrou-se.

Os dois correram para lá e gritavam o nome dela, mas não havia nenhuma resposta. Entraram e tentaram avistar algo. David passando para detrás dos montes de feno, aterrorizado, avistou Jayne caída no chão e Kid ao seu lado com o tridente fincado em seu peito.

— Ian, ela está aqui! — David gritou, Ian correu ao seu lado, olhou para Kid morto, sentiu um frio na espinha e um ódio terrível, então, horrorizado, viu Jayne.

— Jayne... Fale comigo. — Ele colocou o ouvido no seu peito e ouviu uma leve batida. — Ela está viva. David, vá buscar o médico, rápido.

David se levantou, correu e pegou seu cavalo saindo em disparada para a cidade. Ian pegou Jayne no colo e a levou para dentro de casa e colocou-a na cama.

— Jayne, fale comigo, por favor...

Ele sentia muito remorso por tê-la deixado, ainda mais que ela havia pedido que ele não o fizesse. Ele ficou ajoelhado ao lado da cama segurando sua mão e afagando sua testa.

Não havia nada que pudesse fazer a não ser esperar. David não voltava nunca e ele já estava aterrorizado. Levou um susto quando viu David entrar correndo com o médico.

— Doutor, ela está grávida e não acorda. Há uma mancha de sangue na saia — ele disse desesperado.

— Sr. Buller, vá para fora e deixe-me cuidar dela, apenas me traga panos limpos e uma bacia com água quente. Ele correu e trouxe o que o médico pediu, então ele fechou a porta e com David foram para a varanda, ele ficava andando de um lado para o outro, sem conter o nervosismo.

— Se ela morrer, eu não vou me perdoar. Foi minha culpa.

— Ian, não foi sua culpa, ela vai ficar bem. O que mais aconteceu?

— Os homens de Kid atacaram os rapazes e as meninas, eu fui atrás para ajudar, eu não vi Willian, mas Mitchel está baleado e eu acho que Julia também, a vi sangrando eles foram para a fazenda dos Cullen, quando ouvi os tiros vindos da minha fazenda voltei para cá.

David pegou um copo de uísque e deu para Ian beber.

— Beba isso.

Ele bebeu tudo num gole só, que lhe desceu queimando a garganta, mas nada era maior que a dor que lhe queimava o peito. Começou a andar de um lado a outro novamente.


**


Mitchel voltou para procurar Willian, mas somente avistou seu cavalo, ele estava tonto e com uma dor terrível na perna, de repente ao se afastar da fazenda ele o avistou caído no mato.

— Willian! — gritou, pulou do cavalo e mancando foi até ele, estava desacordado, tentou ouvir seu coração, mas não conseguiu ouvir nada.

Mitchel, com dificuldade, o ergueu e o colocou de bruços no cavalo, montou e foi em direção a casa dos Cullen que era mais próximo. Emily quando o avistou daquele jeito no cavalo sentiu seu coração apertar.

— Willian! — gritou, e o ajudaram a tirá-lo do cavalo e a descer Mitchel.

— Vamos colocá-lo na cama, Mitch, precisamos ver sua perna.

— Precisamos do médico, pelo amor de Deus — Julia gritou.

— Alguém vá à fazenda de Ian — Mitchel disse gemendo.

— Por quê? — Sra. Cullen apavorada perguntou.

— Ian veio nos ajudar, eu o vi de longe, mas ouvimos tiros vindos de lá, então ele voltou. Acho que algo aconteceu por lá também.

— Ai meu Deus, será que minha filha está bem? — ela estava olhando o corte no pé de Julia. — Eu vou lá — disse levantando. —Anna cuide do pé de Julia, está com um corte, e da cabeça de Emily, pegue uma bacia com água, e diga para James ir até a cidade chamar meu marido e o médico. Vai rápido, sua lerda. — Anna saiu correndo do quarto.

— Não é seguro ir até lá, Sra. Cullen, acho melhor ficar.

— Preciso ver se Jayne está bem. Fiquem aqui, vou até a fazenda.

— Willian, meu amor, fale comigo. — Emily chorava o vendo inerte na cama, ela colocou o ouvido em seu peito e mal conseguia ouvir seu coração. — Ele mal está respirando e está perdendo muito sangue.

Ela passou a mão na sua testa e estava sangrando que lhe escorria pelo rosto.

 

 

 

 

 

 


Capítulo 18

 


Sra. Cullen chegou de charrete na fazenda de Ian, ele e David estavam na varanda e o médico ainda não havia saído do quarto. Ian estava em pânico. Ele, vendo a mãe de Jayne, rapidamente pôs-se de pé.

— Ian, vocês estão bem?

— Jayne não está bem, o médico está com ela.

— O que aconteceu?

— Os bandidos estiveram aqui, não foi baleada, mas quando a encontrei estava sangrando e desmaiada.

— Será que ela perdeu o bebê?

— Não sei, espero que não.

— Vou entrar para vê-la. Mandei um homem atrás do médico, mas como ele está aqui não vai encontrá-lo, ele vai ter que ir depois à minha fazenda, o Sr. Vaiz foi baleado na perna e Willian levou dois tiros e está muito mal, as meninas também estão feridas.

Ela entrou no quarto e fechou a porta.

— Santo Deus, Willian deve estar muito ferido.

Ian passou as mãos pelos cabelos e fechou os olhos, não acreditava em tanta desgraça junta. Esperaram mais um tempo e o médico saiu do quarto. Ian praticamente pulou na frente dele.

— Como ela está? E meu filho? — perguntou desesperado.

— Ela não perdeu o bebê, Sr. Buller, por incrível que pareça. Mas ela teve um forte sangramento, vai ter que ficar em repouso; qualquer movimento brusco ou outro susto desses, pode ser irremediável. Vou embora, mas amanhã virei vê-la. Qualquer novo sangramento me chame imediatamente.

— Doutor, vá até a fazenda dos Cullen, nossos amigos estão lá e estão feridos, por favor — David falou ao médico.

— Está bem, eu estou indo direto para lá. Até mais.

— Calma, amigo, ela vai ficar bem. Agora vá vê-la, eu vou buscar Mary e irei até a fazenda dos Cullen para ver como está Willian, depois eu passo aqui para lhe trazer notícias deles, está bem?

Ian assentiu e foi ver Jayne, a mãe dela estava trocando suas roupas sujas de sangue.

— Venha, Ian... Ajude-me aqui, vamos deixá-la somente com esta camisola que ela ficará mais confortável, ela dormirá por algumas horas e eu ficarei aqui hoje caso precisem de mim. Vocês precisam arrumar criadas, Ian, ela precisa de completo repouso.

— Obrigado, Sra. Cullen. Eu vou providenciar isso o quanto antes.

Ela colocou a mão no rosto de Ian e lhe deu um sorriso.

— Você a ama muito, não é?

— Mais que tudo neste mundo.

— Então cuide bem dela. Vou preparar algo para vocês comerem, quando ela acordar precisa se alimentar.

Ian tirou as botas e deitou-se ao lado de Jayne, segurando sua mão, beijou-a e ficou olhando para ela.


Seu coração ainda batia fora de ritmo, mas começou a ficar mais descansado e seu corpo que estava com todos os músculos retraídos começou a relaxar, mas não descansaria até vê-la abrir os olhos.

Ele colocou a mão na barriga de Jayne e deu um suspiro.

— Graças a Deus vocês estão bem. Eu não me perdoaria se algo pior acontecesse.


**


O médico chegou à fazenda dos Cullen e todos já estavam em pânico.

— Doutor, graças a Deus o senhor chegou — Emily gritou.

O médico pediu que tomassem algumas providências, pediu a Emily que ficasse com ele no quarto para ajudá-lo, quando ele arrancou a camisa de Willian, o virou e viu a gravidade dos ferimentos, fez uma cara feia.

— Ai Doutor, eu não gostei desta cara, diga-me, é muito grave?

— Sim, filha, é grave. Sinceramente eu não sei como ele ainda está vivo.

Emily quase desmaiou ouvindo aquilo.

— Faça alguma coisa, salve-o, doutor, Por favor! — disse desesperada.

— Srta. Cullen, eu pedi que me ajudasse. Então se vai ajudar vai ter que se acalmar, senão terei que pedir a outra pessoa.

— Sim, pode deixar, vou me acalmar, o que o senhor quer que eu faça?

Ela fez de conta que estava calma, mas por dentro estava mortificada.

Ele começou o procedimento para retirar as balas das costas e braço de Willian e fazer as suturas, o que durou mais de duas horas. Mitchel estava no outro quarto sendo cuidado por Julia que estava com o pé enfaixado.

— Você está bem? — perguntou a Mitchel olhando sua perna.

— Minha querida, como eu posso estar bem? Eu estou furado de novo, sentindo uma dor miserável e meu amigo está ali no outro quarto quase morto; não sei notícias nem de Ian, nem de David. Vejo você aí pulando com um pé só, estou me sentindo um homem que desceu as escadas do inferno. E pelo amor de Deus, me faça um favor, me traga uma garrafa de tequila que eu preciso beber para ver se amortece essa dor.

— Não temos tequila, pode ser uísque?

— Pode ser qualquer coisa bem forte.

Ela pediu à criada que trouxesse uísque para ele que bebeu dois copos cheios, um atrás do outro, e jogou um tanto da bebida no ferimento e gritou soltando inúmeras maldições.

Quando o médico saiu do quarto, estava com uma cara péssima e o levaram para ver Mitchel.

— Então, doutor, como ele está?

— Fiz tudo que era possível, Sr. Vaiz, agora está nas mãos de Deus. Se ele conseguir passar desta noite e controlarem a febre, pode ter alguma chance.

— Ai meu Deus, vou ver Emily — Julia disse.

— Doutor, ele não pode morrer — Mitchel esbravejou.

— Sinto muito, mas não posso fazer mais nada, meu trabalho é retirar as balas, aplicar morfina, quando a tenho, e esperar, vamos ver esta sua perna.

— Diabos! Doutor, tire esta bala da minha perna que está me matando.


**


Emily estava ajoelhada ao lado da cama agarrada na mão de Willian e chorava copiosamente.

— Querida, não fique assim.

— Julia, ele não pode morrer. O que vai ser de mim?

— Ele não vai morrer, vai se recuperar, agora levante daí, não fique assim.

David e Mary chegaram à fazenda, Mary correu para ver Willian. Julia contou a ele tudo que aconteceu e o estado dele, e David contou o que havia acontecido na fazenda de Ian.

— Meu Senhor, quanta desgraça. Mas Jayne matou Kid? Que sufoco que ela passou. Graças a Deus ela não perdeu este filho, ela morreria de desgosto se isso acontecesse.

— Você precisava ver o estado que Ian ficou, se ela morresse acho que ele enlouqueceria. Agora vamos rezar para todos se recuperarem, pelo menos o pesadelo com este Kid acabou.

— David, sinceramente eu não acho que Willian vá passar desta noite e o pior é que a gente não pode fazer nada, somente esperar.

— Julia, não diga uma coisa destas, ele é forte, vai conseguir.

A noite chegou e todos estavam cansados. Mitchel estava dormindo e estava passando bem, Julia teve que fazer pontos no pé e estava deitada.

Emily não saia um minuto do lado de Willian lhe trocando as compressas frias para baixar a febre e esperando que ele acordasse.

Mary estava desolada, abraçada a David, rezava pelo irmão. O médico voltou para dar outra olhada em Willian e examinar o seu ferimento.

— Mary, eu vou à fazenda de Ian levar notícias e ver como está Jayne. Você vai ficar aqui?

— Vou, eu não vou arredar o pé daqui até ele acordar.

— Está bem.

David deu um beijo em Mary e foi até a cama, se abaixou e falou calmamente no ouvido de Willian.

— Força irmão, lembre-se do nosso pacto. Ele vai dar-lhe força e proteção, ainda não é sua hora.

O médico disfarçadamente ergueu os olhos para ele, ouvindo aquilo que sussurrava, mas não disse nada. David se afastou e saiu do quarto.


**


Ian estava ao lado de Jayne, quando ela começou a abrir os olhos.

— Jayne... — falou baixinho acariciando seus cabelos.

— O que aconteceu? Onde está Kid? — perguntou desnorteada.

— Ele está morto, shhh, fique quietinha.

— Ian... Nosso bebê está bem?

— Está, meu amor, ele está bem, o médico disse que vocês vão ficar bem, mas que você vai ter que se cuidar e descansar muito.

— Tive tanto medo quando senti aquelas dores.

— Jayne, perdoe-me por ter saído e deixado você sozinha, eu prometi cuidar de você e falhei. Se algo lhe acontecesse eu morreria de remorso.

— Não foi sua culpa e estamos bem, nada vai me acontecer.

Ian beijou seus lábios e encostou sua testa na dela e ficou assim por alguns instantes.

— Jayne, eu amo você mais que tudo nesta vida.

— Eu também.

Jayne abraçou Ian fortemente. Sua mãe ia entrar no quarto, mas ficou parada na porta olhando para eles e não quis interromper aquele momento, deu um suspiro de alívio em ver que Jayne estava fora de perigo.

Mais tarde, ela se alimentou e dormiu tranquilamente, ele estava mais tranquilo por ela, mas morrendo de preocupação por Willian pelas notícias que David trouxe, ele iria vê-lo pela manhã.


**


Na fazenda dos Cullen a noite transcorreu tensa, Emily e Mary não saíram de perto de Willian nem por um minuto. Trocavam as bandagens embebidas em água de sua testa para tentar abaixar a febre.

Quando estava amanhecendo, Emily não conseguia segurar seu nervosismo, andava de um lado para o outro e rezava. Então Willian moveu-se e tentou abrir os olhos. Emily correu e se jogou no chão de joelhos ao lado da cama.

— Willian, pode me ouvir? — Emily falou baixinho e ele abriu os olhos com dificuldade. — Meu amor, por favor, volte para mim. — Ela riu entre as lágrimas e beijou seus lábios. — Willian eu quase morri de desespero, achei que você fosse morrer.

— Você... não vai escapar... de casar comigo — disse, quase sem conseguir falar, tentando colocar ar nos pulmões.

— Mas eu não quero escapar, eu te amo e sou sua, esqueceu?

— Eu sou um homem feliz... — ele sussurrou com um leve sorriso e adormeceu novamente. A febre estava cedendo.


**


Algumas semanas depois Willian estava em casa, mas demorou a se reabilitar. Emily ia vê-lo todos os dias para ajudar Mary a cuidar dele.

Julia ia ver Mitchel. Pela segunda vez ela cuidou dele por motivos de balas, ele estava cada vez mais encantado com ela. Como sempre, ele era muito divertido, tirando sarro de tudo e a fazendo rir, pois adorava vê-la sorrindo.

Ian e Jayne estavam tranquilos na fazenda, ele a enchia de mimos e estava sempre de olho em tudo que ela fazia. Ela estava recuperada, mas cuidava de sua gravidez como o médico havia recomendado.

Depois daqueles momentos difíceis, a paz emanava em West Side.

Num fim de tarde, na fazenda de Willian, todos os casais se reuniram para a normal roda de fogueira.

— Bem... Eu acho que depois disso tudo, nós podemos pensar no nosso casamento — Willian disse sorrindo.

— Verdade. Nós podemos começar a ver isso. Minha casa está quase pronta — David disse.

— Mas você pode ficar aqui até sua casa ficar pronta — Willian disse.

— Sim, David, podemos — Mary disse.

— Hum... David está com pressa de casar logo.

— Mitchel, não seja indelicado — Mary disse.

— Querida, não quis ser indelicado com você, só estou falando a verdade. — Soltou uma gargalhada. — David olha para você como se estivesse olhando para um pernil assado. — Todos riram.

— Mitchel, você não toma jeito, feche esta matraca — Ian disse, rindo.

— Ah rapazes! Não vou tomar jeito nunca, esta minha vontade de falar besteiras está no meu sangue.

— Sim.

— Então, quando vamos marcar este casamento? Eu vou mandar fazer uma roupa nova — Mitchel disse.

— Por mim pode ser no próximo mês — David disse.

— Por mim também — Willian concordou.

— Está certo. Vamos ver o que precisamos fazer, e onde será a festa?

— Eu acho que pode ser na fazenda do meu pai, ele vai ficar feliz, não acham? — Jayne falou.

— Eu concordo — Emily disse e todos concordaram.

— Tudo bem, eu vou falar com ele.

— Temos que ir falar com o reverendo — Willian disse.

— Eu já fui. Agora vão vocês — Ian disse, com uma cara feia.

— Ele não mudou de ideia sobre vocês, não é?

— Não, David, ele esteve na nossa casa há alguns dias, depois que soube do acontecido, e nos disse que vai nos dar a benção, mas somente se estiver a família, pois todos na cidade pensam que já estamos casados. Isso colocaria nossa farsa em risco. Ainda mais com este barrigão — Jayne riu olhando para si.

— Mas é um bonito barrigão — Ian disse rindo.

— Ian, você ultrapassa as barreiras do mel. Cruzes! — Mitchel zombou. — Quando seu filho nascer, nós teremos que amarrá-lo no estábulo para você não sair correndo pelado pela fazenda. — Todos gargalharam.

— Credo! Ian correndo pelado ia ser de doer de ver — Willian disse rindo.

— Se ele estiver pelado, eu não vou agarrar ele para amarrar, não — David falou com cara de nojo.

— A gente laça — Mitchel disse soltando uma gargalhada.

— Mas como vocês são imbecis — Ian falou, fazendo uma careta e todos riram.

— Por que Julia não veio? — Mitchel perguntou, meio sem jeito.

— Eu convidei, mas ela não quis vir — Emily falou.

— Por que não?

— Não sei, Mitchel, ela inventou um monte de desculpas.

— Acho que ela está fugindo de você — David falou.

— Fugindo de mim? Por quê? — ele perguntou, indignado.

— Acho que você não consegue conquistar o coração dela — Willian zombou.

— Saibam que nós estamos nos dando muito bem, apesar de ela não corresponder ao meu cortejo.

— Acho que você está ficando velho e perdendo a prática — Ian zombou.

— Eu? Ela que tem coração de pedra. O que há de errado com aquela mulher?

— Não há nada de errado com ela — Emily disse, rindo.

— Acho que o negócio é com você — David disse.

— Comigo? Que absurdo. Já não sei mais o que faço para conquistá-la.

— Mas você quer conquistá-la por que a ama, ou só para tê-la? — Jayne perguntou, com cara maliciosa.

— Jayne, que pergunta estapafúrdia! — Mitchel disse, indignado.

— Ahh... Jayne fez uma bela pergunta — Willian disse.

— Tudo bem, eu gosto dela, mas não sei lidar com ela.

— Mitchel, eu disse há um tempo que Julia o colocaria na linha do trem — Willian disse.

— Se você quer tanto conquistá-la, vá pensando no casamento.

— Casamento?

— Claro. Se quiser conquistá-la, é para casar, pois ela é uma moça de família, Mitchel, não para aventuras.

— É, Mitchel, escute o apito, o trem está se aproximando...

— Raios! — Mitchel resmungou, contrariado.

 

 

 

 

 


Capítulo 19

 


Naquele dia, David fora à sua fazenda ajudar os homens que estavam construindo sua casa, ela estava ficando ainda mais bonita do que a outra que tinha se esvaído em chamas.

A casa estava quase pronta e ele estava ansioso para terminá-la para poder ir morar nela com Mary. Queria que seu casamento saísse logo, a situação deles estava ficando insuportável para ele.

Morar na mesma casa e vê-la o tempo todo aguçava seus desejos, mas ele a respeitava e a amava muito e por causa de Willian, mantinha todo o respeito que lhe convinha.

Ele voltou para a fazenda de Willian e foi tomar banho no chuveiro aberto. Ele consistia num pequeno cercado de madeira com chão de tábuas, com um tonel suspenso, cheio de água que era cravejado de furos, por onde saia a água e que lhes servia de chuveiro.

Como sempre, David foi ao banho sem levar toalha. Isso era típico dele, teve então que chamar Mary para que a levasse. Aguardou-a para que viesse e ficou refrescando-se na água.

Ele estava nu, mas para quem estava de fora, podia ver somente do tórax para cima.

Mary odiava quando ele fazia isso, ela achava que era de propósito para provocá-la, pois quando ela o via sem camisa, seu rosto ficava vermelho com uma pimenta e ele tirava sarro dela.

Sem que ele a visse, ela ficou escondida admirando cada movimento que ele fazia debaixo da água, David tinha um tórax esplêndido, ombros largos, músculos rijos, braços fortes. Ela ficou hipnotizada por aquela visão, até que ele a chamou novamente. Mary saiu de seu devaneio e respondeu.

— Já estou indo. — Chegando ao lado do cercado ela colocou a toalha sobre as tábuas. — David, será que você poderia fazer o favor de acostumar-se a pegar toalha quando vem tomar banho? Qualquer dia desses, eu não lhe trago mais, você faz de propósito.

— Então eu teria que sair daqui sem roupa, você gostaria disso.

— O quê? Mas que abusado, se você andar nu pela fazenda Willian lhe dá um tiro.

— Não dá.

— Se quiser experimentar é problema seu — ela disse, de costas pra ele. — David, pare de ficar me tentando deste jeito, respeite-me. Parece criança.

— Eu respeito você, somente gosto de provocá-la, adoro ver você com esta cara de indignada — disse rindo dela.

— Abusado! Vou entrar.

Num rompante ele abriu a porta do cercado, pegou-a pelo braço a puxando para dentro, fazendo-a dar um grito de susto. Ele a puxou para debaixo da água e a prendeu fortemente com os braços.

— David, o que...

Ele beijou-a impedindo que falasse e ambos renderam-se àquele beijo apaixonado e molhado. David puxou sua perna para sua coxa a acariciando por debaixo da saia, até chegar à sua coxa e ela gemeu.

Ela pensou em mandá-lo parar, mas, de repente, ambos foram jogados do céu para a terra numa trágica queda.

— David! — Willian chamou.

Ele chegou à fazenda e o estava procurando, mas não havia visto que eles estavam ali.

Mary sentiu um frio no estômago, David a soltou rapidamente e sem conseguir se segurar em nada, ela caiu sentada no chão do cercado e ficou imóvel tapando a boca com a mão. David disfarçou e fez de conta que estava tomando banho.

— Ah você está aí, David — disse distraidamente. — Você viu Mary?

— Não.

— Onde será que ela está?

— Não sei.

Mary estava com o coração palpitando freneticamente, olhou para o lado e deu de cara com as pernas nuas de David, ela abaixou a cabeça rapidamente, espremendo os olhos.

— Vai demorar aí? Eu também quero tomar banho.

— Não, Will, eu já estou terminando, pode buscar sua toalha.

— Ótimo, depois tenho novidades.

Willian se afastou e David a puxou pelo braço, levantando-a do chão.

— Vai, Mary, saia daqui, entre pelos fundos. — Ela ia sair, mas ele a puxou de volta. — Eu te amo — disse sorrindo e lhe deu um beijo.

— Maluco — disse rindo.

Ela saiu correndo e foi para o fundo da casa, esperou Willian entrar no banho para que ela pudesse entrar e tirar as roupas molhadas.

Ela entrou ofegante no quarto, se escorou na porta com os olhos fechados, seu coração parecia que saltaria do peito.

— Ai meu Deus! Por que ele faz isso comigo?

Ela ficou ali suspirando e levou um susto com uma batida na porta a fazendo soltar um grito.

— Mary, sou eu, abra.

— David, saia daqui.

— Você esqueceu isto, pegue logo.

Ela sem saber do que ele estava falando abriu a porta. Ele entrou no quarto e fechou a porta rapidamente.

— O que foi? O que eu esqueci?

— De me beijar.

Ele a agarrou pela cintura e caiu por cima dela na cama, beijou-a de uma maneira que quase a fez perder os sentidos. De repente ele parou e olhou para ela.

Deu um sorriso enorme, levantou e saiu do quarto sem dizer uma palavra.

Mary ficou estirada na cama tentando recuperar o fôlego. Ela suspirou sorrindo, virou-se na cama agarrando um travesseiro, ela ficou sonhando acordada, sentindo seu corpo palpitar.

No jantar, os três conversavam alegremente e David olhava para Mary com um olhar maroto, deixando-a sem jeito, ambos se lembravam do que aconteceu à tarde, mas tentavam disfarçar.

— David, eu fui falar com o reverendo e marquei a data do nosso casamento — Willian disse colocando um pedaço de frango na boca. — Vai ser dia quinze, no sábado.

— É daqui a uma semana — Mary falou, espantada.

— Acho ótimo — David disse.

— Sim, para que esperarmos mais? Mary, amanhã vá com as meninas à cidade comprar seus vestidos, elas já estão sabendo. Aqui tem dinheiro para você comprá-lo, quero você muito bonita.

Ele colocou um maço de dinheiros encima da mesa.

Mary levantou e deu um beijo no rosto de Willian.

— Obrigada.

— Isso merece um brinde.

David pegou a garrafa de uísque, os três brindaram e riam à toa e ficaram conversando e fazendo os planos para a festa.


**


Pela tarde, Jayne ficou aguardando as meninas para que fossem juntas à cidade. Quando chegaram, elas estavam em cavalos.

— Bem... Eu não poderei ir a cavalo, vou na charrete e alguém vem aqui comigo para guiar para mim.

— Ai quanta mordomia — Emily disse sorrindo.

— Sim... Eu tenho estas vantagens.

— Vão devagar e tomem cuidado — Ian disse ajudando Jayne a subir na charrete e beijando sua mão.

Foram lentamente para a cidade conversando e rindo pelo caminho.

— Jayne, eu nunca vi homem nenhum fazer tantas coisas para agradar a mulher — Julia disse indignada e todas riram.

— Julia, eu não tenho nada a reclamar dele, Ian faz tudo para mim, me enche de mimos e cada dia o amo mais por isso.

— Ai que mel, isso é tão romântico — Emily disse toda dengosa.

— Mas Willian também a bajula, Emily.

— Ah sim, ele é um amor. Meu Deus, como eu amo aquele homem.

— Sentir amor assim e ser correspondida deve ser muito bom.

— Julia, você pode arrumar um marido se você parar de ser durona.

— Estão falando do quê?

— Do Mitchel! — as três gritaram em coro.

— Minha nossa! Isso está alastrado desse jeito?

— Está, todo mundo sabe que vocês estão apaixonados um pelo outro, mas nenhum dos dois dá o braço a torcer — Jayne disse.

— Quem disse que estou apaixonada por ele?

— Julia eu a conheço, pelo amor de Deus — Jayne disse.

— É, e eu conheço Mitchel, ele está apaixonado por você — Mary disse.

— Jura? — Julia falou espantada.

— Está vendo? Não é fácil encontrar maridos que estejam apaixonados. Se demorar, papai vai lhe arrumar um marido.

— Ah isso nunca! Não me caso sem amor, nem morta.

— Então, Julia, vai ficar aí esperando um pretendente do papai ou vai casar com uma pessoa que você gosta?

— Casar com aquele malandro? Ele vive se enroscando com mulheres por aí e vive lá no Saloon.

— Verdade, ele tem uma mulher lá que ele a chama de deusa de mármore, ela é muito linda, eu já a vi.

— Mary! — Jayne disse fazendo cara de reprovação para ela.

— Ai Julia, desculpe-me, falei demais.

— Não, não falou. Estão vendo? Como poderia me casar com um libertino, depois era capaz de ele me deixar em casa e ir para a estalagem ficar com essa mulher. Nós estamos chegando, parem com esta conversa — Julia disse e elas riram.

Chegando à modista, foram ver os vestidos, a senhora fazia roupas lindas. Olharam tudo colocando a mulher quase louca. Encontraram os vestidos que queriam já prontos, teriam que fazer somente alguns ajustes.

— Jayne, este aqui está lindo — Emily disse.

— Sim, eu o adorei, mas não me serve — disse com olhar desapontado. — Sra. Smith, poderia arrumar este vestido aqui?

A senhora a olhou com uma cara meio estranha, parecia desconfiada.

— Algum problema? — Jayne perguntou incomodada.

— Não, é que eu não sabia que a senhora havia se casado com o Sr. Buller, mas vejo que está usando aliança e está grávida. Acho melhor usar este aqui, que é mais recatado e esconde um pouco sua barriga e seria melhor cobrir o colo, afinal, é uma mulher casada — disse ironicamente. Jayne se incomodou percebendo seu sarcasmo e desconfiança.

— A senhora não tem que achar nada. Por favor, seja discreta e não faça comentários, pois sou casada, mas eu quero usar este vestido porque gostei dele, e eu não quero esconder minha barriga e nem meu colo. Eu estou pagando, então faça o que estou pedindo!

As meninas se entreolharam e olharam para a senhora com as sobrancelhas erguidas de desaprovação, esperando sua resposta.

— Sim madame, desculpe-me, serei discreta. E posso arrumá-lo para que lhe sirva, vai demorar alguns dias para fazer isso, mas posso fazer — disse a senhora colocando o vestido na frente de Jayne.

— Que mulher metida — Jayne disse quando ela se afastou.

— Não ligue para ela, é uma carola, mas não se espante se ela sair fazendo mexericos. Creio que é ela que espalha a maioria deles pela cidade.

— Como se isso me espantasse.

— Fiquei espantada de Ian usar aliança também, a maioria dos homens não usa.

— Os homens não são obrigados aqui, mas ele quis usar e era de seu pai.

— Romântico... — Emily suspirou e Jayne riu.

Viram todos os detalhes necessários e foram embora, foi uma longa jornada de volta.

Ian estava cortando lenha quando as viu chegando, fincou o machado na tora e ajeitou o cabelo que lhe caía sobre o rosto e sorriu lindamente para ela.

Jayne sorriu enquanto ele vinha de encontro a elas. Estava sem camisa e suado, mas ela o achou belíssimo e sexy, mesmo estando naquela forma rusga.

O admirava em todos os momentos, pois era apaixonada e ele era lindo de qualquer jeito. As meninas suspiraram igualmente.

— Olá, meninas, como foi na cidade?

— Foi tudo bem, quer dizer, quase... Você, cortando lenha? Nós não temos um empregado para isso?

— Temos, mas estão ocupados e precisamos de lenha para o fogão hoje à noite, então... — disse dando-lhe um sorriso.

Ian a pegou no colo, tirando-a da charrete e a levou até o alto das escadas da varanda e só assim a colocou devagar no chão.

— A charrete não sacolejou demais? Achei perigoso você ir para a cidade.

— Não, meu bem, depois que você arrumou a estrada, ficou muito boa, estou bem, não se preocupe.

— Bem, então vou terminar com a lenha.

Ian a beijou uma e outra vez e se afastou. Jayne fez sinal com a mão para que as meninas fossem embora, com um sorriso no rosto, pois elas todas estavam ali, paralisadas olhando para Ian.

 

 

 

 

 

 


Capítulo 20

 


A semana passou rapidamente e tudo estava pronto para o casamento.

Naquela manhã de sábado, Sra. Cullen mandou fazer uma decoração no jardim com um belíssimo altar.

Não poupou despesas, haviam sido colocadas diversas tochas e lamparinas que iriam ser acesas ao anoitecer, colocaram mesas com toalhas brancas com arranjos de flores centrais.

Sra. Cullen mandou polir a prataria e os copos de cristais, mandou preparar um delicioso jantar e um bolo com um ótimo confeiteiro da cidade, encomendaram algumas caixas de champanhe e uísque.

O casamento seria ao fim da tarde e não puderam convidar outras pessoas por causa de Jayne e Ian, para evitar falatórios e seguindo a exigência do reverendo, mas ninguém estava se importando, pois as pessoas mais queridas estavam presentes.

Todos foram para a fazenda, almoçaram juntos e iriam se preparar para o casamento por lá mesmo.

A casa dos Cullen era enorme, com vários quartos e comportava todos os convidados, e as celebrações já iniciaram no almoço.

No fim da tarde, Emily estava tão nervosa que não parava de falar e Mary andava de um lado para o outro. Jayne estava deitada na cama, repousando, e os rapazes estavam eufóricos e nervosos no jardim.

— Você quer parar de andar, Mary, está me deixando tonta.

— Ai desculpe-me, Jayne, mas estou muito nervosa.

— Eu sei querida, mas, por favor, pare de andar.

Julia de repente entrou no quarto como um raio.

— O que foi, Julia, que cara é esta? — Jayne perguntou.

— Ai deixe-me ficar aqui, porque vou enforcar a Emily.

— Já sei, ela não para de falar — Jayne disse rindo.

— Falar? Misericórdia, ela está descontrolada.

— Ela é engraçada quando fica nervosa — Mary disse rindo.

— Sim, mas se ela não se acalmar quem vai ficar nervosa sou eu.

— Onde estão os rapazes? — Jayne perguntou.

— Estão lá embaixo, também estão nervosos, estão cômicos além da conta hoje, só estão falando porcarias.

— Que bom, gosto de ver todo mundo feliz.

— E você, está feliz?

— Está brincando, Julia? Eu estou tão feliz que parece que vou explodir.

— Bem... Isso dá para ver pela sua fisionomia, seus olhos estão brilhando mais que os diamantes da mamãe.

— E você falou com Mitchel?

— Falei, ele está encantador — disse dando uma suspirada.

— Ele é sempre encantador, Julia.

— E ele está bem diferente ultimamente — Mary disse. — Mais calado, às vezes ele fica parado pensativo, ele nunca foi de fazer isso.

— Não foi você mesma que me disse que era para não perder a chance e deixar Ian passar? Está perdendo tempo de ser feliz, sua boba, e não adianta negar porque você o ama.

— Tudo bem, eu amo, mas ele é tão cafajeste. E se ele não for um bom marido, continuar fanfarrão desse jeito? Se não nos dermos bem?

— Julia, eu o conheço bem, ele tem este jeito bufão, mas tem um coração de ouro e faz de tudo para ajudar os outros. Ele sempre nos protegeu e cuidou de nós, mas acho que ele se sente muito sozinho, às vezes. Se ele encontrar um amor ele vai fazer de tudo para cuidar — Mary disse.

— Talvez vocês tenham razão — disse pensativa.

Ian foi ver Jayne no quarto e bateu na porta, interrompendo-as.

— Como vai, meu amor, já está descansada?

— Estou — Jayne disse.

— E como vai meu herdeiro? — disse rindo e beijando sua barriga.

— Está impossível. Dá-me cada chute que chega me faltar o ar.

— Ele deve estar ensaiando passinhos para as danças de hoje à noite.

— Ah sim, vai ver que está — Jayne disse rindo.

— Está feliz?

— Muito. Está nervoso?

— Não, quer dizer, estou. Eu sei que não é um casamento de verdade, mas, mesmo assim, estou nervoso — disse rindo. — Mas David está impossível hoje, ele não para de rir, é impressionante.

— Eu adoro as risadas dele, enchem o ambiente de alegria.

Sra. Cullen entrou no quarto com Emily.

— Meninas, está na hora de vocês começarem a se aprontar. Ian, é melhor você e os rapazes começarem a se aprontar também, as roupas de vocês estão no quarto que lhe mostrei.

— Iremos, vou chamar os rapazes, obrigada Sra. Cullen. Vejo você no altar — disse dando um beijo no rosto de Jayne.

— Nossa mamãe, a senhora está linda! — Jayne disse.

— Um dia especial merece uma preparação especial. Jayne, eu lhe trouxe este colar para você usar, era da sua avó.

— Nossa que lindo! Nunca o tinha visto.

As meninas correram para ver o colar, era delicado e sofisticado, com pequenas safiras e diamantes.

— Emily, e para você, estes brincos — disse lhe entregando.

— Ai mamãe que lindos, obrigada!

— Mary, querida, você não é minha filha, mas quero lhe dar um presente.

Ela lhe entregou um par de brincos belíssimos e delicados.

— Ai meu Deus, eles são lindos! Mas eu não posso aceitar.

— É claro que pode, é um presente. Vamos, pegue.

— Muito obrigada, Sra. Cullen. — Mary disse, emocionada e com os olhos brilhantes.

Todas deram um abraço coletivo na Sra. Cullen, quase a esmagando.

— Oh, Deus, isso é emocionante! Vamos meninas, senão vocês vão se atrasar.

Duas criadas às ajudaram a arrumar os cabelos e a vestir os complicados vestidos.


**


Enquanto isso, os rapazes estavam colocando suas roupas em outro aposento.

— Ai esta coisa me enforca — Willian reclamou, brigando com a gravata.

— Eu também não gosto dessas gravatas, mas até que fiquei elegante — David disse, se olhando no espelho.

— Ian, você está elegante, esta roupa ficou boa em você. Parece os grã-finos da cidade — Willian disse.

— É... Eu gostei, ficou mesmo.

— Você vai deixar este cabelo aí caído na sua cara? Penteie isso para trás, rapaz — Mitchel disse olhando para as mechas de cabelo de Ian que lhe caíam na testa.

— Jayne gosta assim.

— Ai meu Deus! Eu vou lhe perdoar porque hoje vai casar, mas senão, lhe dava uns sopapos. Este homem transborda amor pelas orelhas, cruzes!

— Mitchel, pare de implicar com Ian, venha aqui e me ajude com esta gravata que não sei arrumar esta coisa! — Willian disse, indignado.

— Pare de tremer, homem — Mitchel disse, já arrumando a gravata.

— Estou nervoso.

— Você vai passar a noite de núpcias na fazenda do Willian? Dois casais recém-casados na mesma casa? Não vai prestar — Mitchel resmungou.

— Não, a minha casa já está fechada e eu preparei uma surpresa para Mary, vamos para lá.

— Será bom vocês ficarem sozinhos, assim terão privacidade e Willian e Emily também. Mas que surpresa preparou? Estou curioso.

— Ah! É segredo — falou rindo.

— Rapazes, eu espero que vocês sejam felizes, contanto que não me abandonem, ainda quero nossas rodadas ao redor da fogueira, regadas a muita tequila e com porcarias para falar — Mitchel disse rindo e os quatro se abraçaram.

— Obrigada amigo, sim, não o abandonaremos, mas você poderia estar se casando junto com a gente, seu tapado — David disse, rindo.

— Tapado, eu? Julia não gosta de mim.

— Você está enganado, ela gosta, Jayne me disse isso, e se você gosta dela, se declare, faça alguma coisa, homem, mas faça direito. Fale seriamente, tenho certeza que ela vai retribuir seu amor.

— Ian, sermão agora não. Mas confesso que você deve estar certo, ela não deve confiar em mim, mas é meu jeito, eu sou assim.

— Não, você não é assim, você está querendo estar assim.

— Concordo com Ian, se dê uma chance de ser feliz, homem, abra este coração de pedra, amar é bom, principalmente quando se é correspondido — David disse.

— Está bem, veremos isso depois.

— Está na hora — Ian disse olhando no relógio de bolso.

Foram para fora, todos já estavam sentados e o reverendo já estava aguardando os noivos e eles se posicionaram no altar.

— Meninas, vocês estão deslumbrantes — Sra. Cullen disse, com os olhos marejados de lágrimas.

— Ai mamãe, não vá chorar, senão vou chorar também.

— Está bem, está bem... — disse respirando. — Vamos.

Elas desceram as escadas e foram para o jardim e uma música de violino começou a soar. Primeiramente, Mitchel entrou de braço dado com Mary. David, estava com um sorriso tão imenso que iluminava seu rosto todo.

Mitchel deu um beijo na testa de Mary e a entregou a David, depois, se posicionou ao lado de Julia, olhando para ela com um sorriso encantador, que ela retribuiu.

Sr. Cullen entrou com Emily enganchada em um braço e Jayne do outro.

Os rapazes, quando as viram, ficaram sem ar. Willian começou a suar frio e seus lindos olhos brilhavam, seu sorriso estava ainda mais charmoso que iluminava seu rosto.

Ian olhou para Jayne como se estivesse vendo um anjo vindo em sua direção. Apesar de já viverem como casados, ele estava se sentindo um noivo de primeira viagem, nervoso e absolutamente feliz.

Aquilo tudo havia se tornado importante para ele, pois desejava que Jayne se sentisse amada e segura. Para ele, ela era tudo o que importava.

O reverendo realizou a cerimônia tradicional aos dois casais e emitiu uma bênção diferente, mas muito bonita, para Ian e Jayne.

Eles ficaram emocionados com suas palavras, se olhavam nos olhos e pareciam que podiam ver a alma um do outro, estavam plenos de felicidade.

Emily, por vários momentos não conteve as lágrimas, pois quando olhava para Willian, seu coração transbordava de alegria.

David e Mary se olhavam com um amor infindável, era como se tivessem se descoberto, pois agora se olhavam de maneira diferente, com amor. Um amor novo, cheio de expectativa, de esperança, cheio de sonhos.

Os dois casais trocaram as alianças normalmente e Jayne e Ian que já as usavam, o reverendo as abençoou dizendo algumas palavras e abençoando-os com o sinal da cruz.

Ian beijou a aliança na mão de Jayne e ela beijou a dele.

Sra. Cullen chorou a cerimônia toda, de braços dados com Sr. Cullen.

Os três casais beijaram-se e todos bateram palmas, celebrando aquele momento maravilhoso, a felicidade estava estampada no rosto de todos e os casais trocaram abraços entre si.

Todos se levantaram das cadeiras, que haviam sido posicionadas para assistirem ao casamento, para cumprimentar os noivos.

Depois se sentaram na imensa mesa, maravilhosamente ornada no jardim, as tochas e as lamparinas começaram a ser acesas pelos empregados da fazenda e o ambiente todo ficou iluminado no crepúsculo.

— Jayne, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida — Ian disse, beijando sua mão.

— Para mim também — disse o abraçando.

— Venha, vamos sentar.

Ele pegou na sua mão e a levou para a mesa.

David abraçou Mary e lhe beijou os lábios.

— Finalmente você é minha mulher. Está feliz?

— Mais do que poderia imaginar. Eu te amo, David.

— Eu te amo, Mary Stweart, ou devo chamá-la de irmãzinha? — disse zombeteiro e Mary riu, dando um tapa em seu braço.

O Sr. Cullen levantou e disse algumas palavras em felicidade aos casais e fez um brinde. Mitchel levantou-se pegando uma taça de champanhe.

— Eu gostaria de fazer um brinde. Aos meus amigos que para mim são como irmãos, eu desejo que eles tomem juízo. E às minhas adoráveis cunhadas, eu desejo que os mantenham no cabresto. — Todos riram e o aplaudiram, permitindo uma pausa para que, ele, sorridente, continuasse. — Agora falando sério, desejo a vocês felicidade, e que vocês tenham muitos filhos. Eu nunca acreditei muito no amor. — Ele deu uma olhada para Julia que ela sentiu um frio na espinha. — Mas, eu espero, que um dia, eu esteja me casando com a mulher que eu amo. Um brinde aos noivos.

Todos levantaram as taças e brindaram.

Jayne e Ian se olharam e cochicharam.

— Ian, eu acho que isto além de um brinde, foi uma declaração de amor.

— Sim — ele disse, sorrindo.

— Willian? — David chamou baixinho. — Mitch caiu do cavalo —disse rindo.

— De cabeça — Willian respondeu rindo, mais ainda, e os dois brindaram.

Mitchel sentou-se e começou a conversar aleatoriamente, mas de vez em quando dava uma olhada para Julia. Ela estava colada na cadeira e seu coração estava descompassado... “Ele falou isso para mim?” — pensava. “Será que ele me ama mesmo?”

Julia se levantou e foi falar com algumas pessoas e Mitchel não conseguia tirar os olhos dela. Ele ficou esperando que ela dissesse alguma coisa, mas não disse uma palavra, e ele sentiu uma profunda decepção.

O jantar foi servido, Mitchel bebeu e se divertiu, mas seu coração estava apertado, pois Julia não ficou mais perto dele na festa, o ignorou.

Depois que jantaram, os casais foram dançar. Ele se levantou e foi andar sozinho, levando uma taça de champanhe e afastando-se de todos, escorou-se numa árvore e ficou ali se roendo por dentro.

— É... Mitchel... Ela não o aprecia mesmo, seu idiota — disse em voz alta, tomou o último gole e de raiva, jogou a taça longe, que se espatifou contra uma árvore.

— Esta taça custa caro, Sr. Vaiz — Julia disse, pelas suas costas e ele se virou rapidamente, levando um susto.

— Desculpe-me, eu compro outra — disse indignado, lhe deu as costas novamente e ela se aproximou dele.

— Está nervoso?

— Diria decepcionado.

— Posso saber por quê?

Ele olhou para ela e deu um suspiro cansado.

— Porque eu almejava encontrar uma companheira, igual ao dos rapazes, mas acho que não encontrei.

— Hum... Sempre os critica, achei que não queria isso.

— Não sou frio como pensa. Eu queria isso para mim, eu quero uma família, mas como disse, não achei.

— E por que acha isso?

— Porque a mulher que eu amo não me ama.

— E como você sabe que ela não o ama?

— Porque ela só me dá patada, nunca retribuiu meu carinho.

— Bem... Talvez ela não tenha retribuído porque não tivesse certeza se você realmente a ama.

Ele a olhou novamente, tentando entender aquela conversa.

— Talvez não... Mas não sou um homem muito explícito nestes assuntos.

Ele começou a falar pausadamente e olhar fixamente para Julia.

— E se essa mulher o ama, mas não demonstrou porque esteja fugindo de você?

Ela se aproximou um pouco mais dele e o olhava nos olhos.

— Eu até diria que ela é uma mulher inteligente por isso.

— Se você dissesse a ela o quanto a ama, talvez ela o retribuísse.

Mitchel estava ficando paralisado, seu coração parecia que ia sair pela boca. Ela estava ali na sua frente, se ele não falasse agora, nunca mais falaria.

Ele, então, se movimentou calmamente para frente dela, olhou-a fundo nos olhos e disse numa voz mansa, mas confiante.

— O que ela quer ouvir? Que quando olho para ela meu coração aperta e quase não consigo respirar? Que tenho vontade de beijá-la e a coisa que eu mais desejo é poder tê-la em meus braços, que estou apaixonado? Se for isso que queria ouvir, aí está. Então, Julia, me diga, se você não me ama, eu vou deixá-la em paz. Nunca mais vou importuná-la com meus galanteios.

Julia ficou com o coração acelerado ouvindo aquelas palavras que ela jamais pensou ouvir da boca dele, puxou de suas forças e abriu sua alma rompendo aqueles laços que tão fortemente a prendiam longe dele.

— Era isso que eu queria ouvir. Eu o amo, Sr. Vaiz, não quero mais ficar longe ou lhe dar patadas — disse com os olhos vibrantes.

Mitchel a beijou e ela não o afastou. Eles uniram-se num amor que acabara de desabrochar, estavam clamando por descobertas de um sentimento desconhecido, tão insistentemente afastado.

Emily de longe avistou Mitchel e Julia se beijando e puxou Willian pelo braço que quase perdeu o equilíbrio.

— Willian, olhe aquilo.

Ele olhou, ficou surpreso e depois soltou uma gargalhada.

— Eu não acredito! — Willian puxou o braço de David que dançava com Mary, eles olharam e viram os dois e ele soltou uma daquelas gargalhadas deslumbrantes que ecoou pelo jardim e ele chamou Ian e Jayne.

— Olhem aquilo, finalmente!

Ian e Jayne os viram e começaram a rir.

— Ai que maravilha! Finalmente se acertaram — Jayne disse batendo palminhas.

— Casamentos são contagiantes — Ian disse e beijou Jayne.

Continuaram sorridentes dançando noite adentro, Julia e Mitchel foram compartilhar com os amigos a felicidade daquela noite. Mais perfeito que os quatro casais unidos e felizes seria impossível de se ver.

Jayne e Ian se despediram alegremente de todos e foram para casa mais cedo, já era tarde e ela estava cansada. Chegando à fazenda, como de praxe, Ian a tirou da charrete e a carregou até o quarto.

— Querida, você está ficando pesada — disse rindo enquanto a carregava.

— Mas você não precisa me carregar sempre desse jeito, eu ainda tenho pernas — disse rindo.

— Mas eu faço questão e além do mais, dizem que é tradição carregar a noiva para dentro de casa depois do casamento.

— Ah! Eu me esqueci deste detalhe... — disse rindo.

— Bem Sra. Buller... — disse colocando-a delicadamente no chão. — Nós estamos abençoados, acho que agora não nos falta mais nada.

— Para mim, não.

— Mas para mim, falta.

— O quê?

— Você beijar seu marido. — Ela sorriu e o beijou.

— Hoje é o dia mais feliz da minha vida.

— Para mim também, não sei se é o mais, porque o primeiro dia que a vi, acho que foi o melhor. Eu nunca vou me esquecer do seu ar arrogante, mas tão frágil, parece que você nunca abaixa este seu narizinho empinado.

— Eu luto pelo que acredito. Não me importa convenções ou dogmas da sociedade, eu sigo meu coração, esteja ele certo ou não. Muitas vezes não é o certo para eles.

— Seguir-me não era estar certa de acordo com as convenções.

— Eu sei. Mas o seguirei mesmo assim, porque eu o amo. E sei também que talvez um dia eu pague caro por isso, mas eu vou lutar com as armas que eu tiver, mas não vou desistir de você, nunca.

— Acha que vamos discutir como quando nos conhecemos?

— Não, pois acho que estávamos rebatendo algo que sabíamos nos arrebatar. Autodefesa.

— Não sabia que mulheres tinham isso.

— E eu não sabia que maridos conversavam com as esposas.

— Está dizendo que somos diferentes?

— Temos algo que a maioria dos casais não tem. Estamos juntos por amor. Nunca pensei que um dia eu teria isso.

— Eu gosto do jeito que vivemos, como demonstramos nosso amor.

— Eu te amo tanto — ela disse enquanto afastava seu cabelo que caía sobre seus olhos, que a olhava com tanta intensidade.

— Não mais que eu.

— Promete que vamos ser sempre assim?

— Sim. E prometo que vou amá-la agora mesmo, minha princesa.

Ian beijou os lábios de Jayne com tanto carinho e suavidade que ela sentia que estava flutuando, enquanto ele a despojava de suas roupas.

Para eles não havia um só momento compartilhado que fosse sem sentido, pois apreciavam cada toque, cada palavra, cada sentimento.

O amor que sentiam era tão forte que às vezes um conseguia ouvir o pensamento do outro, eram duas almas que se encontraram para viver o verdadeiro amor.


**


— David, por que nós vamos para sua casa? Não há nada lá — Mary perguntou sem entender. — Você disse que a casa não estava pronta.

— Ah, vai ter eu, não basta? — disse sorridente.

— Claro que basta — disse rindo.

— Eu tenho uma surpresa para você.

— Hum... Adoro surpresas. O que é?

— Se eu disser, não vai ser surpresa.

Quando eles chegaram à fazenda ele a desceu da charrete e a fez fechar os olhos.

— Minha querida fique de olhos fechados e só abra quando eu disser, está bem?

— Está bem — ela disse morrendo de curiosidade e com o coração disparado.

Ele a pegou no colo e a carregou entrando na casa; subiu as escadas e de repente a soltou vagarosamente no chão.

— Não abra ainda.

— Você está me matando de curiosidade.

— Só mais um pouquinho... — Ele demorou um tempinho e foi por detrás dela e sussurrou em seu ouvido. — Pode abrir.

Ela abriu os olhos e ficou espantada olhando ao redor. Estavam num quarto iluminado por diversas velas.

Bem no centro havia uma cama com pilastras nos quatro cantos que sustentavam cortinas de Voal brancas, que com as luzes das velas ganharam nuances incríveis de leveza.

Os lençóis eram brancos com vários travesseiros; num lado, havia uma mesinha com um candelabro de seis velas acesas com um arranjo de flores e travessas com diversas frutas e uma garrafa de champanhe.

— David! — disse maravilhada, ela olhou para ele como se não acreditasse. — Parece que estou em um conto de fadas.

— Está, minha princesa, eu preparei isto para você porque queria que nossa primeira noite fosse especial. — Mary ficou extasiada. Ele pegou uma taça de champanhe para cada. — Um brinde a nossa felicidade e ao nosso amor.

Beberam um gole e ela riu, depois tapou a boca com os dedos, envergonhada.

— Oh, mas isso é delicioso, eu nunca tinha bebido algo tão saboroso, o que é, David?

— Champanhe.

— Oh, mas é bebida de ricos!

— Somos ricos hoje.

Ela sorriu, encantada e bebeu mais um gole, porque estava muito nervosa.

David pegou as taças e colocou na mesa, voltou para perto dela e a abraçou, olhando-a carinhosamente.

— Ah David, eu te amo tanto, sonhei tanto com isso minha vida inteira e agora estou aqui com você, como sua esposa.

— Hoje será nosso primeiro dia que viveremos juntos, e eu vou fazê-la feliz. — David retirou o casaco e a gravata. Mary ficou sem jeito. — Está nervosa?

— Um pouco.

— Sua camisola está ali.

Ela a olhou encima de uma cadeira e a pegou.

— Pode se virar?

Ele se virou e retirou sua roupa, deitou na cama enquanto ela se vestia. E depois, meio encabulada ela deitou-se ao seu lado.

— Agora você é minha mulher, não pode mais fugir de mim — disse sorrindo, deitando sobre ela.

— Agora não preciso mais, não é?

— Não. Quer fugir?

— Não, eu amo você.

Ele sorriu e a beijou, tocou-a com cuidado e amor e ambos tiveram uma noite maravilhosa, a primeira de suas vidas.

 

 

 

 

 

Capítulo 21

 


Jayne dormia quando o sol raiou e Ian, de vez em quando, a olhava para ver se ela estava tranquila, pois em algumas noites ela ficava agitada.

Ela estava de costas e Ian, gentilmente, pegou seu cabelo e cheirou, para sentir o perfume de flores e o puxou para cima do travesseiro para deixar livre seu pescoço.

Ele não queria acordá-la, mas não resistiu e suavemente passava seus dedos nas suas costas. Ele adorava sua pele, parecia uma seda de tão macia. Ela acordou quando sentiu que ele a tocava e sorriu, sem abrir os olhos, somente ficou apreciando a sensação.

— Por que você faz isso? — ela sussurrou amorosamente.

— Desculpe, querida, eu não queria acordá-la.

— Agora que já me acordou não adianta pedir desculpas.

— Você pode me dar um castigo.

— Não poder me beijar por uma semana?

— Ah, mas aí você quer me torturar e não me dar um castigo.

Jayne começou a rir, virando-se para ele.

— Eu não gostei deste castigo, pois assim eu também vou ser torturada.

— Ah, mas marido e mulher são assim, na alegria e na tristeza.

— Mas eu prefiro só a alegria.

— Eu também. Então vamos esquecer o castigo.

Ian sorriu e beijou-a suavemente.

— Você não vai sair da cama hoje? Nós combinamos um almoço com os noivos, esqueceu?

— Não esqueci, mas lhe garanto que ninguém vai sair da cama antes do meio dia. — Os dois riram. — Eu tenho uma surpresa para você. — Ian disse com um suspiro e se escorando com a mão.

— Tem? O que é?

— Eu mandei fazer uma cama daquelas que você queria para nós, aquela com as pilastras que se colocam cortinas e um berço para o nosso bebê.

— Que maravilha! — disse sorridente, o abraçando. — Você mandou fazer o bercinho com balanço?

— Sim, como você queria.

— Nunca pensei que você fosse romântico, cuidadoso.

— Nunca tive alguém para querer agradar antes de você. Você é delicada, acostumada a fineses. Nunca tinha visto roupas de mulher tão delicadas e perfumadas, sua pele é tão macia comparando com minha mão áspera.

— Ian, eu sempre vivi no luxo, mas eu não ligo para isso.

— Eu sei que não, senão não tinha vindo morar aqui comigo.

— Está brincando? Nossa casa está linda — disse sorridente.

— Se algum dia você estiver infeliz, você vai me dizer?

— Nunca estarei infeliz com você.

— Prometa.

— Prometo, mas por que você está me falando isso?

— Porque não quero perder você.

— Você não vai me perder, a não ser que não me queira mais.

— Não diga isso, pois nunca vai acontecer. Acha que a deixaria depois do sufoco que passei para roubar você do seu pai? — Ela riu.

— Tudo bem, eu vou levar isso em consideração.

— Meu anjo, eu nunca vou abandonar você e meu filho. Para mim nossa união é séria, é para vida toda. Como eu disse, para mim nós estamos casados de verdade. Mas não quero ver estes olhinhos tristes, sei que de vez em quando você pensa na sua filha. — Jayne assentiu. — Se eu pudesse apagar suas lembranças tristes eu o faria, mas isso é passado e você vai ter que esquecer, você vai ter que deixar Angel para trás. Agora nós vamos ter a nossa família, o nosso filho e estaremos sempre juntos.

— Eu sei, mas uma mãe nunca esquece seu filho, Ian.

— Eu sei, querida. — Ficaram abraçados por um tempo até que Jayne acalmou seus pensamentos. — Acho que vou fazer um café na meia velha — disse de repente para cortar o silêncio, fazendo-a rir.

— Tudo bem, você disse que não iria me abandonar, mas pelo visto quer me matar envenenada. — Os dois riram.

— Está bem, meu amor, vou fazer um café do jeitinho que você me ensinou, depois você diz se ficou bom.

— Mas sou a esposa, eu é que tenho que fazer o café.

— Sei que sim, mas deixe que eu faça, já que hoje não temos criada. Precisamos arrumar alguém que more aqui de vez. Você vai precisar de ajuda com o bebê.

— Sim. Quando chega nossa cama nova?

— Acho que amanhã ou depois. Eu dei preferência para que o marceneiro terminasse a do David, para que ele pudesse ter a noite de núpcias — disse com cara de safado e Jayne riu.

Ian levantou-se e foi para a cozinha, Jayne deu um longo suspiro e fechou os olhos, seu bebê mexeu-se na barriga e ela ficou ali, a acariciando.

— Nunca, ninguém vai tirar você de mim, meu amor, desta vez eu terei uma família feliz para sempre. Ian vai ser um bom pai para você.


**


Perto do meio dia, Mitchel chegou à fazenda de Julia, o Sr. Cullen estava sentado numa cadeira de balanço na varanda, lendo o Jornal The West e fumando um cachimbo.

— Bom dia, Sr. Cullen — Mitchel disse alegremente, tirando o chapéu.

— Bom dia, Sr. Vaiz.

— Eu vim buscar a senhorita Julia para irmos à fazenda de Ian para o almoço.

— Hum... — resmungou, o olhando com reprovação.

— Este jornal é atual?

— Sim, eles estão fazendo impressões semanais, está ficando muito bom.

— Que interessante, parece que nossa cidade está evoluindo.

— Sim, a passos lentos, mas está crescendo. Sr. Vaiz, o senhor está interessado na minha filha?

Mitchel gelou com aquela pergunta direta que lhe atingiu do nada e demorou um pouco a responder.

— Estou, Sr. Cullen, e com o maior respeito, eu gostaria de lhe pedir permissão para cortejá-la.

Sr. Cullen calmamente dobrou e soltou o jornal sobre a mesa ao seu lado, olhou para ele e cruzou as mãos sobre a barriga abaloada.

— Sr. Vaiz, o senhor tem fama de galanteador e farrista pela redondeza, eu já ouvi algumas histórias suas; precisamente que é um libertino. Eu quero saber se sua fama o precede.

— É verdade, Sr. Cullen — disse, sem jeito.

— E por acaso, quais são suas intenções com Julia? Porque não pretendo passar com ela algo do tipo de passei com Jayne.

— Senhor, eu jamais faria algo semelhante, longe de mim. Posso ser um farreador, mas não sou um canalha como foi este marido de Jayne, inclusive, se eu tivesse oportunidade, eu mesmo o mataria.

— Acho muito bom. Porque senão, o Senhor vai se entender comigo. Sou uma pessoa razoável, aprendi a duras penas ser muito relevante com a vontade delas, o que não quer dizer que fecharei os olhos. Não permitirei que nenhum homem prejudique uma de minhas filhas novamente. Porque ele vai parar na mira da minha pistola. Entendeu bem, Sr. Vaiz?

— Eu entendi. Não se preocupe, senhor, minhas intenções são sérias, eu lhe prometo — disse engolindo em seco e Julia chegou à varanda.

— Bom dia, Mitchel.

— Bom dia, senhorita Julia. — disse indo cumprimentá-la com um beijo na mão.

— Vamos? Pai, eu vou à fazenda de Ian e Jayne.

— Está bem, mas eu não gosto que ande sozinha, é perigoso, você sabe.

— Eu a acompanho na volta, senhor, não se preocupe.

— Está bem, envie minhas lembranças a Jayne e Emily.

— Sim, papai.

Um dos empregados trouxe o cavalo de Julia, eles montaram e saíram galopando até sair do perímetro da fazenda.

— Fico contente que ele não tenha atirado em mim e permitido que saísse comigo. Não teria que levar uma acompanhante?

— Depois de todos esses anos e com suas tentativas frustradas de papai querer nos deixar uma babá aonde fossemos, ele desistiu. Além do mais, Texas não é Londres, a etiqueta social não exige uma acompanhante para as moças para todo lado.

— Sim, disso sei.

— O que considero um alívio, pois detesto ficar sendo vigiada, sou bem grande para cuidar de mim mesma.

— Disso não duvido.

— Bem, aonde iremos?

— Você conhece o lago Twist que fica nas montanhas Xamãs?

— Não, nunca fui lá.

— Então vamos, você vai gostar.

Galoparam pelos pastos até chegarem ao lago, quando Julia o viu de cima da colina, ficou boquiaberta.

— Nossa, que lindo! — disse espantada.

— Sim, está meio vazio por causa da seca, mesmo assim, está bonito.

Desceram dos cavalos e ficaram andando na beira do lago.

— O que estava conversando com meu pai?

— Ele queria saber quais eram minhas intenções com você.

— É... Meu pai parece bonzinho, mas fica furioso quando mexem com as filhas dele. Teve uma vez que ele meteu bala num homem que se meteu a besta com a Emily. Ele só não foi atrás do maldito marido da Jayne porque na época ele ficou doente. Ele deve ter ouvido algo de você.

— Parece que sim, mas eu disse que minhas intenções são boas.

— São?

— Sim e eu pedi permissão para cortejá-la. — Julia o olhou com espanto. — Não me olhe assim, eu sei ser um homem direito e respeitador, ouviu?

— Está bem, eu não falei nada — disse rindo.

Eles desfrutaram de ótimos momentos à beira do lago com vista para as montanhas, depois seguiram para a fazenda de Ian. Prepararam um belo carneiro assado no fogo de chão com pratos saborosos e sobremesas.

Os rapazes bebiam e conversavam, relembravam do casamento e de todos os momentos agradáveis que passaram juntos, das façanhas de como foi a conquista dos casais.

Estava sendo uma tarde gloriosa.

— Um brinde a nós, os bocós apaixonados — Mitchel disse e todos riram e brindaram.

— Rapazes, lembram-se da minha ideia de trabalhar com cavalos reprodutores puros-sangues? — Ian perguntou.

— Sim, faz tempo que você falou nisso — Willian disse.

— Eu acertei ontem com Sr. Jones a compra de uma égua e um garanhão puro-sangue reprodutores que ele comprou na exposição na Califórnia. Eu vou iniciar nesta semana, irei lá amanhã para buscá-los. Esses cavalos serão meus primeiros, de muitos que virão.

— Ian, isto será ótimo, você vai ficar rico.

— Também não exagere, Mitchel.

— Mas é verdade, isso dá um bom dinheiro.

— Sim, se eu souber fazer direito, vou ter sucesso.

— Ah vai sim, vou ajudar, entendo de cavalos — Jayne disse.

— Entende? — Ian perguntou espantado.

— Sim, senhor meu marido — disse animada. — Tem mais, esta é a minha surpresa para você, meu amor.

— O quê? — perguntou, sem entender.

— Eu tenho dois garanhões puros-sangues na fazenda do papai. Os trouxe quando eu vim da Inglaterra, e vou trazer para cá.

— Como? — Ian perguntou espantado.

— Verdade, ela tem sim, com documentos e tudo — Julia disse sorridente.

— Por que nunca falou isso? Quando eu lhe contei da minha ideia, você ficou quieta.

— Fiquei porque acho que você deveria comprá-los se tem o dinheiro para isso, o que não é pouco. Então eu esperei para lhe contar. Só que meus cavalos não estavam reproduzindo, porque não tinha uma égua, mas você pode fazer coberturas aqui mesmo. Com o tempo podemos adquirir mais.

— Jayne, não acredito! — ele ficou radiante de tanta felicidade e a abraçou forte. — Mas não pode existir maior felicidade neste mundo, agora só falta nosso filho chegar. E um dia eu é que estarei expondo nessa exposição da Califórnia.

— Ehhh... É assim que se fala. Um brinde a isso.

Todos brindaram.

— Para quando é o bebê?

— Falta um mês mais ou menos — Jayne respondeu, radiante.

— O pequeno Buller está chegando e um brinde a isso.

— Mitch, você vai brindar a tudo que dissermos? — Willian perguntou.

— Vou.

Ele soltou uma gargalhada maravilhosa e brindaram novamente.


**


Ian foi à fazenda de Sr. Jones e trouxe os cavalos que comprou. Eram de uma beleza descomunal e Jayne também mandou trazer os seus da fazenda de seu pai.

Ele mandou aumentar o estábulo para melhor comportá-los, e eles, conversaram sobre como fariam tudo e começariam os contatos necessários para efetuar as coberturas.

Jayne ficou feliz de ver o rosto de Ian iluminado e eufórico pelo seu novo negócio, mas o que mais a espantou, foi que ele a ouvia e a incluía na conversa, como se ela fosse sua sócia.

E isso encheu seu coração de amor por ele, ainda mais.

As camas que ele havia encomendado chegaram, e alguns homens retiraram a antiga que ele tinha no quarto e colocou a nova. Jayne ficou encantada, pois ela era linda.

O bercinho do bebê foi colocado no canto do quarto, junto com o mimoso enxoval de várias roupinhas e mantas, tudo que ela precisava para o tão esperado filho.

 

 

 

 


Capítulo 22

 


O dia estava clareando, Jayne e Ian dormiam abraçados, envoltos nos lençóis alvos e uma coberta de penas. Em seus rostos estava estampada a mais pura serenidade, que seria arrancada por um golpe brutal do destino.

Acordaram com o barulho de engatilhe de espingardas. Jayne e Ian, assustados, sentaram na cama. Ela puxou a coberta para se cobrir quando avistou quatro homens apontando as armas para eles.

Eles não entenderam o que estava acontecendo e nem quem eram aqueles homens. Assustado, Ian abraçou Jayne.

— Não se mexam, senão vão levar bala — disse um dos homens.

— O que vocês querem? — Ian perguntou, sentindo um terror em seu coração e ao mesmo tempo uma raiva descomunal.

— Tem alguém que quer falar com a Sra. Buller — disse um dos homens, rindo ironicamente, mostrando seus dentes sujos e podres. — Ou devo chamar-lhe de Sra. Dawson.

Ouvindo isso, Jayne sentiu seu coração estilhaçar em mil pedaços, se ela não estivesse sentada, teria caído pela moleza que sentiu pelo corpo.

Ela nem conseguiu respirar, sua garganta fechou-se pelo terror. Um homem apareceu na porta do quarto, encostando-se com o ombro no batente da porta.

Edward era um homem alto, de ombros largos, cabelo claro e os olhos, incrivelmente azuis. Tinha um rosto lindo. Jayne havia se encantado por ele, mesmo com a imposição de seu pai de se casarem. Sempre foi muito galanteador e calmo, carinhoso e um ótimo marido.

Ela diria que seria uma cena dos deuses ver aquele homem parado na soleira de sua porta, se não fosse o ódio mortal que sentia por ele e, naquele momento, aquele imenso pavor que a estava rasgando em pedaços.

Ele ergueu a cabeça e com o dedo levantou a aba do chapéu, a olhou e deu um sorriso que derramava maldade.

— Olá, esposinha — disse, sarcástico.

Jayne pensou que morreria naquele momento. Ian sentiu uma raiva lhe cortar a alma e se perguntava... “Meu Deus, este é seu marido? O que ele faz aqui surgido do nada?”

— Edward... — Jayne soltou um sussurro agonizante, como se ela estivesse vomitando seu nome.

— Bem, bem, vejamos o que temos aqui... — Ele olhava tudo enquanto andava vagarosamente pelo quarto. Ele viu um vestido encima da poltrona e o pegou. — Hum, belo vestido. — Ele chegou perto dela, pegou sua mão esquerda que estava a aliança que Ian lhe deu, mas Jayne puxou a mão rapidamente.

— Não toque nela — Ian gritou, um dos homens ameaçou atirar e ele conteve-se. Edward ignorava Ian, como se não estivesse ali.

— Aliança de casamento... e não é a que eu lhe dei.

Jayne estava tão petrificada que não conseguia balbuciar nenhuma palavra, ela não conseguia assimilar que depois de tantos anos, estava vendo aquele miserável na sua frente e daquela maneira.

— Minha querida, eu acho que vocês estão com alguns problemas. Vistam-se. Eu vou esperar vocês lá fora e não façam nenhuma gracinha, senão eu mato os dois, agora mesmo.

Edward saiu do quarto e os homens ficaram esperando eles dois saírem da cama e colocarem as roupas. Jayne olhou para Ian com terror e ele se compadeceu dela. Ele estava apavorado também, por ela e não conseguia atinar seus pensamentos.

Ela colocou sua roupa atrás do biombo para se ocultar dos homens, mas tremia tanto que nem conseguia fechar os botões da blusa, Ian a ajudou a fechar e colocou um xale sobre seus ombros.

— Fique calma, Jayne, nós vamos resolver isso — disse tentando acalmá-la e olhou para seu coldre que estava no sofá.

— Nem pense nisso — disse um dos homens pegando a arma dele. — Se você fizer alguma gracinha, lhe estouro os miolos.

Quando se vestiram, meio desengonçados, os homens os empurraram para fora de casa, de forma brusca.

Chegando à varanda, avistaram alguns homens armados nos cavalos, alguns estavam em pé apontando rifles para eles, um deles montado, era o xerife. Desceram as escadas e ficaram parados, interrogativos e mais espantados ainda.

Ian abraçou Jayne e podia sentir seu corpo tremer.

— Ian...

— Calma, querida, não fique nervosa — disse baixinho para ela.

Dois homens a puxaram, afastando-a de Ian e a seguraram, um em cada braço, e fizeram o mesmo com Ian, fazendo-o se ajoelhar.

— Ian! — ela gritou, tentando soltar os braços que os bandidos agarravam.

— Soltem-me, seus desgraçados! Xerife, o que significa isso? — Ian gritou.

— Sr. Buller, o senhor está numa encrenca dos diabos — disse, escorado na sela do seu cavalo, com um sorriso sarcástico, mostrando seu dente de ouro que brilhava bem na frente e mascando um palito que ficava movendo no canto da boca.

Edward foi para frente de Jayne, que desesperada, o olhava.

— Jayne, mas que cena interessante que eu acabei de ver. Você, que é minha esposa, na cama de outro homem, usando uma aliança de casamento, aliás, uma cerimônia de casamento falsa. Que coisa feia, e ainda por cima, grávida. Eu estou decepcionado com você.

— Seu miserável, desgraçado! O que pensa que está fazendo? — Enfurecida, ela começou a gritar as perguntas. — Como aparece aqui deste jeito, onde está minha filha? Como...

Ele deu-lhe uma bofetada, sem deixá-la terminar de falar.

Ian gritou e tentou se desvencilhar dos homens, mas levou uma coronhada na cabeça, que o fez sangrar e quase perder os sentidos.

— Não! — ela gritou, vendo Ian ser agredido. — Não toque nele seu desgraçado, eu vou matar você!

— Ah... Que valente — ele disse, ironicamente.

— Onde está minha filha? — perguntou, sentindo seu rosto latejar pela bofetada.

— Sua filha? Bem... Ela não é sua filha, quer dizer, tecnicamente é, mas ela nem sabe da sua existência. Infelizmente tive que dizer-lhe que você tinha morrido, porque, senão, ela ia ficar perguntando, onde está mamãe? Onde está mamãe? E isso seria muito chato, então, assim, ela nunca pergunta de você, mas ela está muito bem, não se preocupe. Ela tem os cabelos e os olhos iguais aos seus, realmente muito parecida com você — ele disse, segurando seu queixo.

— Como pôde fazer isso? — Lágrimas começaram a brotar de seus olhos de tamanha tristeza que sentiu ouvindo aquilo. — Como pôde ir embora e levar minha filhinha? Como você sumiu desta maneira, por quê?

— É, eu sei. Eu acho que fui um pouquinho malvado com você. Você andou por muitos lugares atrás de mim, eu sei de tudo, sou um gênio, não é? Felizmente, com dinheiro a gente consegue fazer muitas coisas, inclusive desaparecer sem deixar pistas, trocar de nome, enfim, muito fácil. Eu tive que deixá-la, minha vida estava um tédio, então eu quis colocar um pouco de emoção. Claro que não pude deixar a minha princesinha, eu achei que assim ficaria mais emocionante.

— O quê? Emocionante? Mas que espécie de monstro é você? Ela era só um bebê, como pôde arrancar ela de mim desse jeito? Você destruiu a minha vida, por que a sua estava monótona? — ela gritava aquilo com um desespero, que Ian nem acreditava no que estava ouvindo, ele podia sentir em seu coração a sua dor. — Por que voltou aqui, o que você quer?

— Querida, eu vou levá-la comigo, afinal, você é a Sra. Dawson.

— Não. Eu não vou a lugar nenhum com você! — ela gritou tentando soltar-se.

— Você não vai levá-la, seu cretino — Ian gritou, enraivecido.

— Bem, vocês impediram de ela ser levada por duas vezes, uma vez quando Kid assaltou o banco de seu pai, que por acaso era aos meus serviços, eu estava precisando de um dinheirinho, a outra quando Kid resolveu dar uma lição nos seus amigos idiotas. Primeiro, sei que ele deu um tiro num deles e da outra vez, tacou fogo numa casa, mas ele acabou sendo morto e, pelo que eu soube, pelas mãos da minha tão valente esposa.

— O quê? Foi você que mandou fazer aquilo tudo? Meu Deus! — disse espantada, pois ela não acreditava no que estava ouvindo.

— Você não vai fazer nada? O que está fazendo? — Ian olhou espantado para o xerife.

— Ora, Sr. Buller, eu preciso de dinheiro, sou um homem versátil.

— Você estava junto nisso? Por isso que não apareceu no dia do assalto para ajudar, nem nos deu atenção quando fomos pedir ajuda para pegar o bando de Kid. Seu miserável, eu vou matar você!

— Olha rapaz, não me ameace, sou um homem da lei e além do mais, você está ferrado. — Ele soltou uma gargalhada.

— Ajudinhas são bem-vindas, mas agora eu vim buscar você pessoalmente, e garanto que desta vez, nenhum paspalho vai impedir — Edward disse.

— Você não vai levá-la a lugar algum! — Ian disse furioso.

— Ah, eu vou sim, Sr. Buller, e para seu conhecimento, não vai ser você que vai me impedir.

— Eu vou matar você! — Ian disse, furioso.

— Creio que não. Eu tenho duas opções para você, eu lhe dou um tiro agora mesmo, pois afinal, eu o peguei na cama com a minha mulher, não é xerife? — disse o olhando com um sorriso malicioso.

— Verdade, isso é crime por aqui, não posso fazer nada, justiça de marido traído é olho por olho, dente por dente — disse rindo, com o palito na boca.

— Ou... — Edward continuou. — Você vai para a cadeia.

— Xerife, você não pode me prender.

— Ah, posso sim, eu sou a lei aqui e você vai para a forca.

— Seu desgraçado! — ele tentou se soltar novamente, mas o homem que estava a sua frente, deu com a coronha da espingarda em seu estômago e Ian caiu no chão pela dor terrível e tossindo.

— Ian! Parem com isso! — Jayne gritou.

— Vamos embora, esta conversa está começando a me cansar.

— Não, me solte, eu não vou a lugar algum com você! — gritou e desesperadamente fazia força para tentar se soltar.

— Jayne, já que não vai colaborar, vamos resolver as coisas de uma vez.

Edward sacou a arma e foi em direção a Ian, engatilhou e apontou para a sua cabeça.

— Não Ed, não! Eu lhe imploro — ela gritou e começou a chorar. — Eu vou com você, mas não o mate, por favor, eu lhe imploro.

— Nossa! Agora eu fiquei emocionado — disse olhando para ela, desengatilhou a arma e a devolveu no coldre. Ele se aproximou, olhando-a com um olhar malicioso. — Adoro quando você me chama de Ed, meu amor. — Ele agarrou seu rosto e lhe deu um beijo nos lábios e ela fez uma cara de nojo. Ian, vendo aquilo pensou que ia explodir de ódio, tentou levantar, mas os homens o agarraram com mais força. — Vamos rapazes.

— O que faremos com ele, Sr. Dawson?

— Hum... Deixe-me ver, deem-lhe uma surra, para aprender a não mexer com a mulher dos outros e depois... Ah! Podem matá-lo, eu não me importo — disse dando de ombros.

— Não Ed, não o mate, por favor, eu faço o que você quiser, o que você quiser, mas não o mate!

— Tudo que eu quiser? Eu gostei disso. — Ele parou, pensativo. — Está bem, eu vou lhe fazer um agrado, apesar de você não merecer. Mas eu vou cobrar esse “Tudo o que você quiser”, mais tarde. Sendo assim, deem-lhe a surra e depois, o entregue ao xerife. Amarrem-na!

Um dos homens amarrou as mãos de Jayne. Edward a puxou e a montou no cavalo e montou por detrás.

— Edward, pare, eu não posso cavalgar, por favor — disse apavorada, pensando nos cuidados que tinha que ter pelo bebê.

— Cale-se! — Ele pegou a rédea e saiu galopando.

— Jayne! — Ian gritou desesperado, vendo-a ser levada por aquele monstro.

Ian tentava desesperadamente se soltar, com toda força e raiva que lhe afligia.

Ele gritou e soltou um dos braços e deu um soco no homem que estava ao seu lado, pegou uma arma que estava na cintura do bandido e atirou em sua barriga.

Rapidamente, mirou na cabeça do xerife, acertando-lhe um tiro e ele caiu morto do cavalo.

Ian levou outra coronhada na cabeça e caiu no chão. Quando um dos homens engatilhou a arma e mirou para atirar nele, recebeu uma flechada no pescoço.

Os homens olharam para os lados e viram que um grupo de índios entrou na fazenda atirando, uns com armas, uns com arco e flecha, atiravam, gritavam e disparavam derrubando os bandidos.

Um dos índios passou galopando com uma machadinha e fincou-a no peito de um deles, outros dois foram mortos por flechas, e a matança continuou até que não restou ninguém.

Ouvindo os tiros, Jayne tentou olhar para trás, estava em estado de pânico, seu coração estava rasgando no peito.

Quando não havia mais ninguém para abater, dois dos índios desceram dos cavalos e foram até Ian, que estava quase desmaiado no chão, completamente tonto e ferido.

Eles o levaram para dentro da casa e o colocaram na cama.

— Cavalo Branco está com corte na cabeça, mas vai viver, ele é forte — disse um deles para o outro índio, em seu idioma.

Ian tentou abrir os olhos e olhar para ele, mas via somente um vulto, ele reconheceu a voz de seu amigo, mas sua cabeça doía tanto que parecia que seus miolos estavam estraçalhados.

— Vou chamar ajuda — o índio disse e Ian desmaiou.


**


Willian e Emily estavam sossegados tomando café, quando ouviram o tiroteio que ecoava nas montanhas.

— O que foi isso? — Emily gritou.

— Não sei, parece que veio da direção da fazenda de Ian.

— Meu Deus, será que são bandidos?

— Fique aqui, tranque tudo e se esconda. Pegue a espingarda — disse entregando a arma a ela.

— Eu vou também.

— Não, você não vai, vai ficar aqui.

Eles saíram na varanda e avistaram o grupo de índios chegando rapidamente a galope.

— Ah, índios! — Emily gritou e logo apontou a espingarda.

Willian colocou a mão no cano da arma, fazendo-a baixá-la.

— É Pena de Águia.

Emily não entendeu e esperaram eles se aproximarem.

— Olá, amigo — disse o índio, fazendo uma reverência com a mão no peito e erguendo-a.

— Olá. O que houve, Pena de Águia, o que foi este tiroteio? — ele perguntou, nervoso.

— Foi na fazenda de Cavalo Branco... Homens brancos o atacaram e está ferido, chegamos a tempo de não o matarem, mas agora, deixo-o em suas mãos. Dívida de Pena de Águia está paga, irmão. Preciso ir, não posso ficar em suas terras.

Willian fez uma reverência de agradecimento e os índios deram a volta e foram embora.

— Emily, vamos, rápido.

David e Mitchel chegaram à fazenda, vindos do outro lado.

— O que aconteceu? Ouvimos tiros vindos daqui — David disse.

— Não foi aqui, foi na fazenda de Ian, ele está com problemas, Pena de Águia esteve aqui.

— Pena de Águia? — Mitchel perguntou, assustado.

— Vamos rápido!

Galoparam até a fazenda de Ian e eles viram todos aqueles homens mortos pela fazenda, inclusive o xerife.

— Minha nossa! O xerife está morto — David disse.

Entraram correndo na casa e Ian estava na cama, com o rosto ensanguentado.

— Meu Deus! — Emily gritou.

— Emily, pegue água para limpá-lo, rápido — Willian disse.

— Onde está Jayne? — ela gritou.

— Pegue a água, Emily. Rapazes, procurem por Jayne.

Ela correu para a cozinha e os rapazes foram vasculhar a casa e os arredores. David lembrou-se da outra vez que a encontrou no celeiro e correu para lá para averiguar.

Emily voltou e colocou a bacia na mesinha de cabeceira, procurou uma toalha, molhou e começou a limpar o rosto de Ian.

— Ian, acorde. Onde está Jayne, pelo amor de Deus? — disse apavorada e com as mãos trêmulas.

— Ela não está aqui. — David e Mitchel voltaram esbaforidos. — Olhamos por todos os lados, eu acho que a levaram.

— Minha nossa, o que aconteceu aqui? — Emily perguntou. — Ian, por favor, acorde.

 

 

 

 

 

 


Capítulo 23

 


Edward e Jayne chegaram à estação de trem e ele a desceu do cavalo. Quando ela colocou os pés no chão, curvou-se, gemeu e tentou respirar, pois parecia que sua barriga cairia de seu corpo.

Olhou para os lados para pedir ajuda, mas quando foi gritar, Edward tapou sua boca com uma mão e com a outra engatilhou a arma e a encostou em sua barriga.

Ela arregalou os olhos e parou de respirar.

— Jayne, preste bem atenção. Eu vou tirar a mão da sua boca e você não vai gritar, vai entrar bem quietinha no trem. Se você fizer alguma besteira eu te mato. Você me entendeu?

Ela assentiu, Edward guardou a arma e tirou a mão de sua boca.

— Eu vou arrancar sua cabeça — disse furiosa entre os dentes e baixinho, fazendo-o dar uma risada.

— Desde quando você ficou tão valente? Eu acho que isso deve ser crédito meu, não é? Sempre foi uma boa garota, submissa e recatada. Ou era uma pequena farsa?

— Nunca mais eu vou deixar ninguém manipular minha vida. Você pode levar os créditos por isso.

— Fiquei emocionado, mas se você me matar, querida, nunca vai encontrar sua filha. Por isso, se comporte.

Ele soltou as mãos dela e a empurrou, olhando para os lados, mas a estação estava vazia.

— Para onde vamos?

— Você verá.

Eles subiram no trem que já estava de partida e chegando à cabine privada, Edward abriu a porta e jogou-a para dentro.

— Sente aí e fique quieta, não faça nenhuma gracinha.

Jayne ficou quieta, mas seu coração estava tão disparado que doía no peito, ela tentou respirar de forma cadenciada, mas tinha dificuldade, pois estava se sentindo mal.

— Eu vou ver minha filha?

— Vai — disse, sentando no banco na sua frente e ajeitando o paletó.

— Ela está bem?

— Está.

— Por que voltou após todos esses anos? Eu tentei encontrá-lo.

Ela estava se sentindo fraca, a barriga parecia pesar uma tonelada. O suor brotou em suas têmporas e suas vistas estavam turvas.

— Eu quis participar desta brincadeira que você estava fazendo, eu estava me sentindo deslocado.

— O quê? — perguntou confusa.

— Eu sempre soube o que você fazia, sabia de todos os seus passos com o Sr. Buller, eu fiquei até magoado quando soube desta sua gravidez, mas resolvi deixar você brincar de boa esposa com ele por um tempo, para ver até onde ia esta sua falácia. Mas você extrapolou! Encenar um casamento, mas que ridícula. Você se comportou mal me traindo descaradamente, pisando em meu nome.

Jayne ouvia aquilo tudo e sua cabeça girava, começou a sentir-se tonta, a respirar ofegante. Jayne estava prestes a desmaiar.

— Ed, dê-me água, por favor.

— Sua gravidez está quase no fim, não é? Pena que o seu falso marido nunca vai ver esta criança.

Ele levantou e pegou água que havia numa jarra encima de uma mesinha no canto da cabine e deu para ela beber, pegou um lenço, molhou e colocou na sua testa.

— Se acalme, aqui não é lugar para você ter este bastardo, pois a viagem vai ser longa, deite-se aqui e descanse.

Ela deitou-se no banco e seus olhos escureceram.


**


Ian começou a abrir os olhos, avistou os rapazes e Emily de forma embaralhada.

— Jayne! — gritou sentando na cama, gemeu colocando as mãos na cabeça pela forte dor que sentia.

— Calma! — Willian disse.

— Onde ela está? Tenho que ir atrás deles.

— Atrás deles, quem? Quem esteve aqui? Quem a levou? — Mitchel lhe cravejava de perguntas.

— O marido — disse gemendo e com um ódio que lhe corroía por dentro.

— O quê? — Willian perguntou confuso.

— Edward? — Emily gritou.

— Sim, este miserável. Ele esteve aqui com o xerife e um bando de homens. Ele a levou, eu tenho que ir atrás dela.

— Com o xerife? — David perguntou alarmado.

— Sim, o xerife estava mancomunado com este maldito.

— Ah, eu não acredito! Bem que eu nunca fui com a cara daquele palerma com dente de ouro — Mitchel disse, furioso.

— Mas quem o matou? Os índios? — Willian perguntou.

— Não, fui eu. Foram eles que atiraram em você, Mitchel, e quase mataram David e atacaram vocês lá no rio. Kid estava a serviço dele.

— Ah, eu não acredito! — David disse, indignado. — Como isto é possível?

— Mas esta história está ficando grande demais, minha cabeça já está dando nó, infernos — Willian praguejou.

— Tenho que ir atrás dela.

— Calmo rapaz. Deixe Emily terminar os curativos e limpar esta sua cara, temos que pensar no que fazer.

— Para onde ele a levaria? — David perguntou.

— Ai, rapazes, pelo amor de Deus! Da outra vez, Edward desapareceu que nem vento, nós ficamos atrás dele por dois anos e nunca o pegamos. Fomos de cidade em cidade e nada.

— Dois anos? — disse Ian, apavorado.

— Sim, foi quando desistimos de ir atrás dele, mesmo contra a vontade de Jayne. Este homem sabe sumir no ar, eu não sei como ele consegue.

— Se ele conseguir fazer a mesma coisa desta vez nós nunca vamos encontrar Jayne — disse Mitchel.

— Não, isso não é possível! — Ian pulou da cama. — Ai... — Gemeu pondo a mão na cabeça e quase caiu. Mitchel o ajudou a sentar.

— Minha nossa! Se não fosse o Pena de Águia você estaria morto — Willian disse.

— Jesus, como assim? Vocês são amigos de índios? Nunca vi isso — Emily disse, descompassada com a situação.

— Sim, somos amigos. Nós salvamos a vida dele há anos. Ele é filho do chefe dos Yukies e nos encontramos algumas vezes. Ian o tirou do rio baleado e cuidou dele aqui na fazenda, portanto ficamos amigos, ele lhe deu um nome indígena, por isso que ele o chama de Cavalo Branco, por causa do Trovão que era branco.

— Por isso que ele disse que tinha a dívida paga?

— Sim. Como salvamos sua vida, ele disse que um dia teria de retribuir, e o fez, o salvando.

— Minha nossa, que história!

— Meu Deus! Aonde ele vai levá-la? Ela está quase ganhando o bebê e não pode fazer esforço e se incomodar, ele a levou daqui arrastada encima de um cavalo. Ela deve estar em pânico, ela pode morrer, eu preciso fazer alguma coisa, ir atrás dela.

Ian levantou e começou a andar de um lado a outro, desesperado.

— Está bem, Ian, o que nós podemos fazer é tentar pensar para aonde eles iriam — Mitchel disse.

— Se ele fugiu a cavalo pode ter isso em qualquer direção.

— Ele pode ter pegado o trem na cidade — Willian disse.

— Tudo bem, então nós vamos à estação para ver se ele pegou o trem, vamos.

Eles pegaram armas, balas, cantil e mais alguns mantimentos que necessitavam.

— Emily... Vá para casa de sua mãe, fale para seu pai o que houve e veja se ele pode ajudar em alguma coisa, arrumar alguns homens, e fique lá até eu voltar. David, onde está Mary? — Willian perguntou, o olhando.

— Está em casa, preciso avisá-la.

— Will, tome cuidado — Emily disse com o coração apertado.

— Não se preocupe, eu estarei bem.

Montaram em seus cavalos e saíram em direção à cidade, chegando à estação, foram ver qual trem havia passado por ali e para onde ia.

— O atendente disse ter visto um casal com a mulher grávida, disse que não prestou muita atenção, mas parecia Jayne, tomaram o trem para a Califórnia. Vamos atrás deles.

— Quando haverá outro trem para Califórnia?

— Só daqui a três dias. Vamos a cavalo, tentaremos alcançá-los.

— Ian, nós não vamos conseguir alcançar o trem — Willian disse.

— Vamos pelo menos tentar. Não vou ficar aqui parado.

Ele montou no cavalo e eles foram atrás. Galoparam o mais rápido que podiam em paralelo a linha do trem, Ian sabia que não conseguiria alcançá-lo, mas não importava. Nada o deteria. Galoparam sem parar por horas e tiveram que parar para dar água aos cavalos e para que descansassem um pouco. Seus corpos já estavam sofrendo com a forçada jornada.

— E se eles não foram para a Califórnia, se eles descerem no Novo México ou no Arizona? Como vamos saber?

— Ele comprou passagem até a Califórnia.

— Mas ele pode descer antes, mas não teremos como saber.

Eles podem estar na cidade em qualquer lugar — Mitchel disse.

— Eles podem pegar um trem para outro lugar — David disse.

— Minha nossa! Vamos até a estação e veremos se alguém os viu, não é difícil ver uma mulher grávida — Ian disse em desespero, deram água aos cavalos, beberam um pouco e seguiram a viagem até o anoitecer.


**


No trem, Jayne estava despertando, tentou abrir os olhos e sentiu seu corpo tão dolorido como se estivesse moído e sentia uma tremenda dor nas costas. Edward ajudou-a a sentar-se.

— Está bem? — ele perguntou.

— Como se você se importasse.

— Você não era tão mal humorada assim quando acordava antigamente.

— Para onde estamos indo?

— Califórnia, mas daqui a pouco já desceremos.

— Como assim? Aqui não é Califórnia — disse olhando pela janela.

— Nós vamos para o Novo México, eu comprei as passagens até a Califórnia, se alguém nos procurar vão pensar que estamos indo para lá.

— Minha filha está aqui?

— Está.

— Meu Deus, tão perto! Você estava aqui o tempo todo?

— Não. Estive em vários lugares, a pouco vim para cá, para ver você de perto.

Jayne apesar daquilo tudo, estava sentindo uma agonia imensa por pensar que reencontraria sua filha, nem a reconheceria, ela estaria agora com seis anos.

— Jayne, prenda seu cabelo e troque sua roupa, não sei se vai servir, mas é para grávida.

Ele tirou uma roupa de dentro de uma maleta que carregava e deu a ela. Ela pegou e foi entrar na pequena toalete que havia na cabine, mas ele a segurou pelo braço.

— Não! Troque-se aqui, eu quero ver.

Ela fechou os olhos por um minuto e obedeceu, começou a despir-se lentamente e ele sentado, ficou a olhando.

— A vendo assim, lembro-me de quando estava grávida de Angel, só que agora está mais bonita.

Ele se levantou e foi até ela. Ela gelou e começou a ficar sem ar, parou de se mexer, enquanto segurava a roupa na frente de seu corpo e a começou apertar tão forte que seus dedos chegaram a doer.

Ele deslizou para fora de seu corpo a chemise que ela vestia sob a roupa, o que quase a fez chorar pela vergonha, pelo desespero de ele vê-la desnuda. Ela as segurou o mais que pode, pois não permitiria que ele a visse chorar.

Ele foi por trás dela e passou seus dedos levemente no seu pescoço e foi deslizando até suas costas fazendo-a tremer, mas não foi de prazer e sim de terror.

— Sua pele continua macia e perfumada... — Ele sentiu seu perfume encostando lentamente o nariz em seu pescoço. — Eu vou adorar ter você de novo.

Ele a virou calmamente de frente para ele, ela respirava com um fiapo de ar, tentando cobrir seus seios. Ele a tocou no seu pescoço descendo pelo seu colo com a ponta dos dedos.

— Você me excita, sabia? Sempre o fez.

Ele foi chegando seus lábios pelo seu pescoço e ia sussurrando, ela estava imóvel como uma pedra.

— Eu amei você, Jayne, mas meu lado perverso falou mais alto. — Edward chegou seus lábios bem próximos aos dela quase os tocando e falava mansamente e suas mãos acariciavam suas costas. — Ainda lembro-me dos seus beijos, de como você se entregava a mim, eu podia ter você agora, adoraria. Esta sua cara de pânico me deixa louco.

Ele beijou o canto de sua boca, porém ela não se movia, ficou de olhos fechados, segurando-se para não gritar. Ele então lhe deu um suave beijo nos lábios.

— Se vista, continuamos depois.

Ele se afastou e sentou, Jayne tentou respirar novamente, pegou a roupa com as mãos trêmulas e começou a vesti-la. Ela nem sabia descrever seus sentimentos por aquele homem cruel. Logo o trem parou e eles desceram, ele tirou sua casaca e deu a ela.

— Coloque na frente da barriga para esconder.

Ela obedeceu, colocou o casaco em seu braço e o braço sobre a barriga. Ele ofereceu o braço, ela o enganchou e começaram a andar até pegarem um coche.

Ela olhava atenta pela janela, logo escureceria, ela não tinha noção das horas, mas o sol estava se pondo no céu.

Jayne pensava em Ian, o que havia acontecido a ele. Lembrou-se dos tiros e um pânico lhe veio em seu coração. Será que estava morto? Seus olhos ficaram marejados de lágrimas e sua garganta travou...

“Meu Deus, me ajude, que Ian esteja vivo. O que vou fazer?” — pensava. Várias coisas lhe passavam pela cabeça. Estava absorta em seus pensamentos desesperados, quando voltou a si com a voz brusca de Edward.

— Vire-se, eu disse!

Num sobressalto, ela se virou e ele vendou seus olhos.

— O que está fazendo?

— Não se assuste, minha querida, é somente para você não ver o caminho que estamos fazendo.

Ela sentiu seu pânico aumentar, mas ficou quieta. Andaram por quase uma hora por uma estrada esburacada, o que fazia o coche seguir lento e aos solavancos, ambos ficaram mudos o tempo todo.

De repente o coche parou e Edward desceu.

— Pode tirar a venda agora.

Ela a tirou, ele lhe deu a mão para ajudá-la a descer, Jayne olhou ao redor e avistou uma bela casa no meio do nada, somente havia árvores e mato.

— Bonita, não é? Eu adorei. É bem isolada e tranquila. Você vai gostar daqui, vamos.

Ela o seguiu e tentava olhar ao redor para ver o que podia fazer. Se havia alguém, alguma coisa que pudesse tirá-la dali, mas não tinha nem noção de onde estava e não parecia ter nada por perto.

Entraram na casa que era muito bonita, grande, bem mobiliada e elegante, seguiram para a sala, ele largou a maleta encima de um sofá vitoriano. Ela, ainda assustada, mas curiosa, olhava tudo.

— Sente-se, você precisa descansar, deve estar exausta. Eu vou pedir para preparar algo para jantarmos.

— Quero ver minha filha.

— Mais tarde.

— Ed, por favor — falou com voz implorativa.

— Está bem, mas controle-se, senão você vai assustá-la.

Jayne assentiu com a cabeça que sim e lágrimas queriam rolar de seus olhos, estava prestes a explodir de ansiedade.

— Fique aqui, eu vou buscá-la, e não faça nenhuma tolice, lembre-se que ela não sabe que você é sua mãe. Está proibida de dizer, ouviu?

Ele entrou pelo corredor e ela ficou ali amassando as mãos e andando de um lado para o outro quase morrendo de ansiedade. De repente, ele voltou e trazia Angel pela mão.

Era uma menina linda, com os cabelos castanhos e compridos, um pouco ondulados que estava preso com uma tiara de laço de fita.

Estava de vestidinho branco com verde-claro, seu rosto parecia de uma boneca de louça, tinha os olhos e os cabelos iguais ao de Jayne como Edward dissera.

Jayne quando a viu pensou que desmaiaria, seu coração pareceu que parou de bater no peito, lágrimas escorreram de seus olhos e suas pernas foram amolecendo.

Ela escorou-se no sofá e deslizou até o chão ficando de joelhos e tentou ter forças para falar mansamente para não assustá-la. A menina a olhava atentamente, quietinha, segurando a mão do pai. Jayne então balbuciou com dificuldade e com um sorriso.

— Olá, Angel.

— Oi — ela respondeu como uma vozinha tímida como a de um anjo. Jayne estava prestes a gritar. — Quem é ela, papai? — a menina perguntou olhando para cima para ver o rosto de seu pai, ele se abaixou e falou carinhosamente com a filha.

— É uma amiga do papai, ela veio visitá-la e vai ficar um tempo aqui conosco. Seja boazinha com ela, está bem?

Ele deu um beijo no rosto da menina. Jayne ouviu aquilo e teve vontade de cortar o pescoço dele, mas não conseguia tirar os olhos dela.

— Venha aqui, Angel, eu quero ver você de perto — disse tentando se controlar e com uma voz mansa.

Angel olhou para seu pai para saber se ia ou não, ele assentiu que sim com a cabeça e ela soltou da mão dele e foi até Jayne. Ela olhou para sua filha e começou a rir e a chorar ao mesmo tempo, passava a mão docemente em seus cabelos, em seu rostinho.

— Você é muito linda, Angel, parece uma bonequinha de louça. Meu nome é Jayne.

— Por que está chorando? — perguntou inocentemente.

— Não é nada, querida, é que eu estou feliz de vê-la, só isso. Nós vamos ser amigas, não vamos? — Angel disse que sim com a cabeça. — Que ótimo. Eu posso lhe dar um abraço?

— Pode.

Jayne abraçou Angel e começou a chorar e abraçá-la mais forte.

— Tudo bem, agora já chega — Edward disse indo até as duas. — Vamos Angel, vá para seu quarto.

— Não, Ed, deixe-me ficar com ela.

Jayne não queria soltar de Angel que começou a ficar assustada.

— Não, já chega.

— Ed, não, por favor.

— Jayne! — ele falou com voz alta e áspera.

Ela se calou e soltou Angel.

Angel, assustada, arregalou os olhos e olhou para ele, Edward a olhou falando mansamente.

— Vá para o seu quarto, querida. Depois o papai vai contar-lhe uma história, está bem?

— Sim, papai — ela disse e saiu correndo da sala.

— Angel... Não! — Jayne gritou tentando se levantar, mas tinha dificuldade por causa da barriga.

— Cale-se, Jayne! Você quer assustar a minha filha?

Ele levantou-a do chão pelos braços, num solavanco.

Jayne num desespero e num surto de raiva cerrou os punhos e começou a esmurrá-lo.

— Seu desgraçado, cretino! Como pode fazer isso?

Ele a agarrou pelos punhos com uma força estrondosa e ela gritou pela dor.

— Eu disse para você se controlar, mas que coisa! Você não aprende? Venha cá.

Ele a puxou com tanta força que quase a derrubou e a carregou pelo corredor e subiu uma escada, ela com muito custo conseguiu subir com tanta pressa e ele a puxava pelo punho.

— Pare, solte-me. Onde está me levando?

— Cale-se! — Ele abriu a porta do quarto e num solavanco a jogou para dentro. — Este é seu quarto, é confortável, arrumei para você. — Ela olhou ao redor. Sim, o quarto era muito bonito, limpo e bem decorado, mas aquela seria sua prisão. — Descanse. Depois eu mando seu jantar e fique quieta — ele falou com voz forte e áspera.

Ele virou as costas e fechou a porta.

Ela correu para tentar segurá-la, mas não deu tempo, ele passou a chave e deixou-a trancada. Ela batia na porta com as duas mãos e gritava.

— Edward, não, abra esta porta, por favor, me deixe ficar com minha filha, Ed! Deixe-me ficar com Angel!

Jayne começou a chorar copiosamente e foi escorregando pela porta sem forças nas suas pernas até ficar de joelhos, estava com vontade de morrer.

Ela sentiu seu bebê mexer-se violentamente na barriga causando-lhe uma dor enorme que a fez gritar, ela se curvou pela dor.

Ela sentou no chão se encostando à porta, virou a cabeça para cima para tentar respirar, estava suando frio, tentava respirar devagar e profundamente para se acalmar.

Ela ficou ali parada no chão, tentando recobrar as forças, até que a dor cessou, mas sentia que havia sido arrastada por um trem. Com muito custo levantou-se e foi até a cama, deitou e ficou ali encolhida.

Ela começou a chorar novamente, chorava por Angel, por Ian e por aquela situação que ela estava, do perigo de ela perder o bebê.

Lembrou-se das palavras do médico e ela tentou acalmar-se novamente, até que adormeceu.

 

 

 

Capítulo 24

 


Os rapazes galoparam por horas sem parar e já estava noite quando eles chegaram à estação do Novo México. Estavam exaustos e com seus corpos moídos.

Desceram e foram perguntar se alguém havia visto um homem loiro, alto, de olhos claros com uma mulher de cabelos longos, castanhos, grávida e que estava usando uma camisa cáqui, xale marrom escuro e com saia marrom.

Mas ninguém os viu, mesmo porque, ela havia trocado de roupa, prendido o cabelo e escondido a barriga. Ian estava uma pilha de nervos.

— Eles não devem ter descido aqui, devem ter ido para a Califórnia, ele não ficaria tão perto — Willian disse.

— Mas eles podem ter descido, se ele achar que pensaríamos isso. Um truque — Ian disse andando de um lado para outro.

— O que vamos fazer? — David perguntou.

— Podemos achar uma estalagem e ficarmos aqui e perguntar pela cidade se alguém conhece esse tal de Edward Dawson.

— Isso, e teremos que dormir esta noite, nós temos que descansar. Se não a acharmos aqui, então vamos para a Califórnia.

— Descansar? Acha que vou conseguir dormir sem saber se ela e meu filho estão bem? Que estão nas mãos daquele crápula?

— Eu sei, homem, se acalme, pelo amor de Deus! Se não descansarmos, não teremos forças para procurá-la. Eu estou moído, estamos o dia inteiro andando a cavalo sem parar. E amigo, os cavalos estão exaustos.

— Sim, vocês têm razão.

— Vamos procurar uma estalagem — Mitchel disse puxando-o pelo braço.

Andaram um pouco e encontraram um hotel no centro da cidade, se registraram e subiram aos seus quartos, os rapazes caíram na cama, exaustos.

Ian jogou-se na cama, sua cabeça doía demais pelas pancadas que levara, seu rosto estava com cortes e totalmente roxo, mas o pior era seu coração que estava em pedaços, cobriu o rosto com as mãos e sentiu tanta tristeza que lágrimas rolaram de seus olhos.

Tentou respirar e se acalmar, precisava esfriar a cabeça para conseguir pensar. Mas só pensava em Jayne.


**


Jayne ficou adormecida por algumas horas, acordou quando alguém abriu a porta do quarto.

Com dificuldade ela tentou abrir os olhos e sentar-se na cama, viu que uma moça entrou e colocou uma bandeja de comida encima de uma mesa que ficava no canto do quarto.

— Eu trouxe o jantar, a senhora precisa comer — a moça disse com uma voz tímida e mansa.

Jayne olhou para seu rosto quando ela se virou e sentiu um pânico, arregalou os olhos e não acreditava no que estava vendo. Era a criada que cuidava da sua filha pouco antes de Edward desaparecer.

— Kate! — gritou.

Um surto de raiva explodiu em suas veias, ela saiu da cama e foi para cima da moça e começou a bater nela, agredindo-a com as duas mãos.

— Sua desgraçada! O que está fazendo aqui? Você está nisso com Edward, eu vou matá-la!

Ela esbofeteava a moça com todas as forças que tentava se defender dela levando os braços sobre o rosto e começou a gritar.

— Não, Sra. Dawson eu não fiz isso, eu juro! Ele me obrigou, eu cuido da Angel, eu juro, ele me obrigou!

Mas ela não a ouvia e continuou batendo nela, queria estrangulá-la. Edward ouviu os gritos e veio correndo até o quarto e segurou Jayne nos braços, pelas costas, puxando-a longe de Kate.

— Pare, Jayne, se acalme, pare com isso! — Ele a imobilizou segurando seus braços com os seus. — Saia daqui, Kate! — disse ainda segurando Jayne que tentava se livrar dos braços dele, Kate chorando saiu correndo e ele a largou.

— Vai ficar quieta agora ou preciso amarrá-la? — ele gritou bruscamente.

Jayne foi cambaleando com uma mão na cabeça e sentou na cama, estava zonza, com vontade de vomitar.

— Kate ajudou você? Como pôde fazer isso, eu confiava nela, eu a conheço desde que era uma criança.

— Ah querida, não desconte nela a sua frustração. Na realidade ela não teve culpa, eu a obriguei a vir comigo.

— Como assim, obrigou-a?

Jayne tentava ordenar suas ideias e se acalmar, mas aquilo tudo parecia um pesadelo.

— Bem, eu ameacei matar seu velho pai, então ela concordou em vir comigo, mesmo porque, eu precisava de alguém que cuidasse da Angel e acho que Kate não teve muita opção.

Jayne olhou para ele estarrecida.

— Meu Deus, como pode ser tão perverso? Quando foi que virou este monstro?

— Meu amor, eu sempre fui assim, mas não na sua frente, você era ingênua. Mas eu disfarçava bem, marido bom e dedicado, sempre lhe dando do bom e do melhor, muito amor. Você não tem nada o que reclamar, mas um belo dia, eu me cansei de ser o esposo monótono, e resolvi ir embora com Angel, é claro. Mas eu senti sua falta, você era uma ótima esposa, apesar de não ser mais virgem quando casou comigo.

Jayne colocou a mão na testa, não acreditava nas coisas que saíam da boca daquele homem.

— Está me punindo por isso?

Ele foi até ela a levantou da cama e a puxou contra seu corpo a olhando com os olhos artículos.

— Eu nunca a puni por isso, perdoei-a por você ter sido uma rameira antes de se casar comigo. Eu comprei mercadoria estragada, podia tê-la devolvido, mas eu amava você, Jayne, eu queria ter você, então não dei importância. Eu já desconfiava, mas eu é que tinha você todos os dias na minha cama fazendo o que eu queria, sendo a esposinha submissa cuidando do seu maridinho. E foi um prazer sem fim tirar você daquele imbecil do seu amante europeu. Seu pai era mesmo um canalha e burro, o ludibriei direitinho e a você também.

Jayne o olhava com os olhos arregalados.

— E o que vai fazer, me deixar presa aqui neste quarto?

— Vou, por enquanto, até você ficar calminha e comportada. Depois eu deixo você ficar livre na casa. Eu confesso que gosto deste jeito esquentado que você se transformou. A deixa sexy. Mas me causa problemas, então se você quer ver Angel todos os dias eu sugiro que acalme seus nervos e volte a ser uma esposa submissa, está bem? Eu lhe trouxe um calmante, ele é leve e grávidas podem tomar, eu pedi a um médico, então tome um pouco disso misturado com água, deite e durma. Ah, e coma alguma coisa, senão vai ficar fraca e você precisa cuidar deste filho bastardo que carrega. Ainda vou pensar o que fazer com ele.

Ela não conseguia falar nada, estava em choque, Edward lhe deu um beijo nos lábios, virou as costas, fechou a porta e a trancou. Ela sentou na cama, seu corpo estava exausto, seu coração parecia que não lhe restara nenhum pedaço. Jayne esfregou os lábios com força para limpar-se daqueles beijos, deitou na cama encolhendo-se e abraçando a barriga.

— Ian, onde você está? Por favor, venha me tirar daqui.


**


Ian que estava deitado na cama sentiu uma dor no peito, que lhe rasgou por dentro, parecia que seus ouvidos haviam ouvido a voz dela chamando-o, implorando por socorro.

— Jayne, meu amor, onde você está? Ai Deus, a proteja e ao meu filho.

Amanheceu e os rapazes levantaram-se e foram tomar café, Ian estava com uma cara de morte, mal conseguiu dormir durante a noite.

Depois eles perguntaram na recepção se conheciam Edward Dawson, mas não. Saíram pela cidade e começaram a perguntar às pessoas e estabelecimentos.

— Se ele mora aqui alguém deveria conhecê-lo, não? — Mitchel perguntou.

— A não ser que ele não tenha descido aqui — resmungou David.

— O que vamos fazer? — Willian perguntou.

— Vou passar um telégrafo para o pai de Jayne para ver se ele arrumou homens para uma busca, vamos continuar procurando, se não acharmos nenhuma pista que eles estejam aqui, vamos para o Arizona depois para a Califórnia. Mas eu estou achando muito óbvio que ele tenha comprado uma passagem para a Califórnia e vá para lá. Não acham?

— Por que seria? — David perguntou meio sonolento.

— Porque seria muito óbvio, David.

— Hum...

— Acorde, David! — Mitchel disse lhe dando um tapa na nuca e ele gemeu, fazendo careta.

Foram ao posto de telégrafo e Ian enviou uma mensagem dizendo onde estava e qual era a situação, disse que esperaria na cidade até o dia seguinte e esperava uma resposta do Sr. Cullen. Foram aos arredores, perguntaram para toda pessoa que eles encontravam e nada, nenhum sinal.


**


Jayne acordou e sua cabeça doía, ela levantou-se e olhou para o quarto, havia um silêncio aterrorizante.

Ela foi à janela e olhou para ver se havia alguma forma de descer por ela, mas não, o quarto ficava no segundo andar e não tinha nada abaixo da janela.

Tentou ver se avistava alguma coisa aos arredores, uma casa, algo, mas só via um pequeno campo de um lado e uma floresta em todo ao redor e logo à frente, montanhas.

Olhou embaixo e viu homens armados que faziam prontidão ao redor da casa.

De repente, ouviu barulho na porta. Ficou parada como uma estátua perto da janela e viu Kate entrar com um olhar de medo, segurando uma bandeja na mão.

— Entre, Kate, não vou bater em você — disse áspera.

A moça entrou e colocou a bandeja na mesa. Jayne estava faminta, foi até a bandeja e pegou um pão e começou a comer e beber um café com leite quente.

Devorava aquilo quase sem engolir.

Kate ficou no canto do quarto com as mãos juntas na frente do corpo parada como um cabideiro e olhando para o chão.

Jayne estava tão morta de fome que nem olhou para ela e continuou comendo. Após devorar todo o pão, deu uma profunda respirada e enfim a olhou.

— Kate, conte-me o que houve, e não se preocupe, eu não vou fazer nada, mas me fale a verdade.

— Perdoe-me, Sra. Dawson. Mas não o ajudei roubar a menina porque eu quis, eu juro.

— Está bem, eu já sei desta parte, quero saber o resto.

— Alguns dias antes de eu dizer à senhora que eu não podia ficar na sua casa para cuidar da Angel; dizendo que teria que cuidar do meu pai que estava doente, era mentira. O Sr. Dawson esteve na minha casa com alguns homens, bateram no meu pai até eu concordar em ir com ele para cuidar da Angel, eu fui obrigada, senão eles iriam matá-lo.

— Sinto muito.

— Eu fiquei morta por dentro de lhe fazer aquilo, mas fiz tudo o que ele me dizia para fazer. Fomos de uma cidade a outra e ele ora trocava de nome, ora me fazia como sua esposa e sua filha, ora de babá e assim fomos por muito tempo. Uma vez eu tentei lhe mandar uma carta dizendo onde estávamos, mas não sei como ele descobriu e pegou a carta antes de eu conseguir enviá-la e me deu um castigo terrível.

— Céus!

— Quando nós estávamos em Nova York, a senhora quase nos encontrou, chegou a bater à porta da casa em que estávamos. A empregada lhe recebeu; uma mulher ruiva, lembra-se?

— Oh meu Deus, não posso acreditar.

Jayne a olhou e arregalou os olhos.

— Ele estava comigo na outra sala, ele cobriu minha boca com a mão para eu não gritar, enquanto a mulher lhe dizia um monte de mentiras e a senhora foi embora. Depois eu ouvi uma conversa dele com alguns homens e soube que a senhora ia pegar o trem para sair da cidade com suas irmãs. Eu peguei Angel e fugi com ela, tentei correr e alcançá-la na estação, mas não consegui, ele me pegou antes e... Foi terrível.

— Meu Deus, ele estava em Nova York quando estive lá?

Jayne colocou as mãos na cabeça e cerrou os olhos, como para não cortar seu próprio pescoço e controlar sua raiva.

— O que ele lhe fez, Kate, quando a pegou?

— A senhora não vai querer saber, e depois disso eu nunca mais tentei fugir, me conformei e fiquei com ele para cuidar da Angel. Eu a amo, senhora, eu cuidei dela todos estes anos com minha vida. — Kate correu e se jogou de joelhos no chão escorando-se nas pernas de Jayne e chorando. — Perdoe-me, Sra. Dawson, por favor, eu nunca faria isso por maldade, eu juro. A senhora sempre foi tão boa para mim, eu jamais lhe magoaria desse jeito, por favor, me perdoe. Eu juro, eu cuidei bem de Angel.

Jayne não sabia o que fazer, estava horrorizada.

— Kate, levante-se pelo amor de Deus, eu entendi, não fique assim. — Jayne olhou para cima, respirando. — Ai meu Deus, me ajude. O que farei? Kate, nós temos que encontrar um jeito de sair daqui.

— É impossível, há homens armados por toda a fazenda e eu cheguei aqui com os olhos vendados, eu nem sei onde estou.

— Onde ele está?

— Está lá embaixo tomando café.

— E minha filha?

— Ela está no quarto, está vendo livros de histórias. Ela é um anjo, Sra. Dawson, é muito inteligente, já consegue ler algumas palavras e adora ficar vendo as figuras dos livros. Eu não sei muito, mas tento ensiná-la.

— Kate, pelo amor de Deus, não me chame por este nome, me chame de Jayne, me chame de Cullen, de Buller, de qualquer coisa, menos Dawson... Quando poderei ver minha filha?

— Não sei, ele vai dizer isso se a senhora se comportar e ficar calma, senão, não vai deixar e não permitirá que a senhora diga que é mãe dela.

— Ai meu Deus, que pesadelo, isto não está acontecendo.

— Eu preciso ir e ver Angel. Creio que depois ele deixará a senhora ver a menina, mas tente ficar calma, ele está louco. Se a senhora fizer o que ele diz ele vai querer lhe agradar, mas se o contrariar, conhecerá sua fúria. Escute o que estou lhe dizendo.

— Está bem, Kate, vou tentar fazer isso.

Kate saiu e trancou a porta. “Jayne pense, você vai ter que fugir daqui... Pense” — dizia a si mesma. Ela ficou mais ou menos uma hora trancada lá e nada acontecia. De repente a porta destrancou-se e ela sentiu um frio no estômago, a porta se abriu e viu Edward.

— Então, minha querida, está se sentindo bem hoje? — ele falou calmamente como se tudo fosse um campo de flores.

— Estou bem — disse suavemente, mas por dentro estava com vontade de lhe partir em pedaços.

— Que bom. Eu trouxe alguém para você ver, mas lembre-se, se fizer uma cena como fez ontem, nunca mais a verá, entendeu bem?

— Sim, eu prometo que vou me comportar.

Seu coração acelerou e sentiu uma ansiedade gigante, ia ver sua filha novamente.

— Ótimo. Venha, Angel — ele a chamou olhando para trás. E meio tímida a pequena menina apareceu na soleira da porta.

Jayne sentiu a felicidade lhe invadir o peito, parecia que ia explodir, seu coração ficou estrangulado, mas tentou com todas suas forças controlar-se.

— Oi, querida, venha aqui, não vou machucar você.

A menina entrou no quarto, carregava um livro debaixo do braço e chegou ao lado da cama que Jayne estava sentada.

— O que você tem ai?

— É um livro de história de princesa.

— Verdade? Adoro histórias, você me deixaria ler para você?

— Aham.

— Então, venha aqui.

Jayne fez sinal batendo na cama com a mão para que Angel subisse e ela sentou-se ao seu lado escorando-se nos travesseiros.

— O papai já leu até aqui, você pode ler mais para mim?

— Claro.

— Por que você tem a barriga deste tamanho?

Jayne não sabia o que responder, ela olhou de relance para Edward, temerosa do que responderia.

— Eu vou ter um bebezinho.

— Um bebê? Mais pequenininho que eu?

— Sim, ele vai ser pequenininho, mas depois vai crescer, como você.

— Eu queria ter um irmãozinho, mas minha mamãe morreu.

Jayne sentiu uma tristeza imensa em seu coração, como queria dizer que era sua mãe, olhou para Edward e ele observava as duas e foi até a poltrona e sentou-se.

Ficou calado, escorado com a mão no queixo, cotovelo no braço da poltrona e com as pernas cruzadas.

Jayne pegou o livro, ela estava com vontade de gritar, mas conteve-se com todas as suas forças. Ela nem estava acreditando que Angel estava ali com ela na mesma cama, tão linda, queria abraçá-la, tinha vontade chorar, mas segurou as lágrimas. Então engolindo o nó que travava sua garganta, começou a ler para Angel pausadamente e com uma voz suave.

Estavam há uma hora no quarto e Jayne ainda lia para Angel que ficava interrogando sobre os personagens e vibravam com emoção, elas riam juntas e se divertiam com a história.

Vieram-lhe as memórias daquele tempo que eles pareciam uma família feliz, Jayne lembrou-se de quando havia pedido a Edward que conseguisse alguns exemplares de histórias infantis com gravuras coloridas dos personagens feitas à mão.

Ele, com dificuldade os conseguiu e trouxe alegremente para casa. Mesmo Angel sendo muito bebê, Jayne as lia para ela dormir.

Agora ela estava ali, lendo para ela já crescida e seu coração estava embriagado de tanta emoção.

Jayne de vez em quando olhava para Edward de canto de olho para ver o que ele estava fazendo, e ele estava ali, como uma estátua na mesma posição sentado na poltrona sem tirar os olhos delas, parecia que as devorava com os olhos.

Jayne tentou imaginar o que estava passando na cabeça dele. Ela não entendia como ele podia ter se transformado num homem tão frio e cruel, mas estava admirada de ver como ele tratava Angel, tão delicado e amoroso.

Ele também já havia sido assim com Jayne. Ela estranhava como uma mesma pessoa podia ser duas e tão diferentes. Ficaram ali mais um tempo até que ele levantou-se.

— Bem, por hoje chega. Vamos, Angel, está na hora de descer.

— Ah papai, só mais um pouquinho.

— Edward, deixe-a aqui comigo, por favor, vamos continuar a ler — Jayne pediu suavemente e implorando a ele.

— Não, já chega. Vamos, Angel, vá para baixo ficar com a Kate, papai quer falar com a Jayne, está bem? Vamos, vamos mocinha — disse ele batendo as mãos. — Onde está o beijo do papai? — perguntou se abaixando e lhe oferecendo o rosto.

Ela saiu da cama, pegou o livro, deu um beijo no rosto dele e olhou para Jayne.

— Obrigada, Jayne.

— Ei, espere. Você poderia me dar um beijo também? — pediu com o coração apertado e com uma vontade louca de chorar.

Angel deu um lindo sorriso para ela, voltou e lhe deu um beijo no rosto e um abraço e saiu correndo até a porta, parou e voltou-se, acenou um adeus sorrindo para ela e foi embora.

Jayne a vendo sair do quarto sentiu uma dor no peito, não queria sair do lado dela, as lágrimas começaram a escorrer de seus olhos e ela olhou para Edward com ódio enquanto ele fechava a porta.

— O que está tentando fazer, Edward? Torturar-me? Por que você me odeia a ponto de fazer isso tudo? Por que foi me buscar? Eu não entendo.

— Eu não a odeio, Jayne, na realidade eu ainda a amo.

— Ama? Você é louco? Como pode dizer que me ama depois de tudo que me fez? Você me abandonou, me privou de ver minha filha crescer, e quando eu estava recomeçando minha vida você volta para destruir tudo?

— Jayne, mesmo eu indo embora você nunca deixou de ser minha mulher, eu fiquei louco quando soube que você estava com este miserável, quando a olho com esta barriga eu tenho vontade de matá-la, espero que aquele seu marido de araque esteja morto.

Jayne sentiu um furacão passar por dentro dela.

— Ele não está morto, virá me buscar e eu juro que vou matá-lo — disse furiosa.

— Isso é o que veremos. Primeiro, que o xerife não iria deixá-lo vivo, e segundo, que agora você vai voltar a ser minha mulher e está acabado. Não é porque eu estava longe que deixou de ser.

— Você perdeu completamente a razão? Depois de tudo, passa pela sua cabeça que eu vou ficar quieta e aceitar ser sua mulher de novo? Eu não serei mais sua mulher, nunca! — Jayne gritou.

— Vai sim. Você me deu minha princesinha, eu esperava um varão, mas você não teve competência para isso. Mas você vai resolver isso agora, vai me dar um filho homem.

— Isso nunca! Eu prefiro morrer a me deitar com você. Eu amo Ian, vou ter um filho dele, vou sair daqui e vou levar minha filha.

Edward enlouqueceu, seu rosto ficou vermelho de raiva, foi para cima dela e a agarrou com toda a força, chegou seu rosto bem próximo ao dela.

— Você é e sempre vai ser minha mulher. Se aquele homem não estiver morto, eu vou matá-lo. Eu devia ter estourado a cabeça dele bem na sua frente.

— Eu odeio você — disse ela com todo ódio de sua alma.

— Eu adoro quando você me xinga.

Ele a beijou à força, ela empurrou-o, mas ele era forte, ele afastou os lábios dos dela e a olhou furiosamente.

— Você continua sendo minha mulher. Comporte-se como tal.

— Eu nunca serei sua de novo.

Os olhos dela fumegaram de ódio. Ela empurrou-o no peito com toda a força e rapidamente passou a mão num candelabro que estava encima da cômoda e o acertou.

Ele cambaleou para trás pela dor, ela correu para a porta para tentar sair, abriu-a, mas ele foi mais rápido, empurrou a porta com a mão fechando-a novamente.

Ele agarrou-a pelo braço e virando-a a empurrou contra a porta e a prendeu com seu corpo.

— Solte-me, seu desgraçado! — falou gritando.

— Eu vou lhe mostrar como você ainda é minha mulher.

Ele colocou as duas mãos no decote de sua blusa e a puxou com toda força rasgando toda a frente expondo seu colo e vorazmente a agarrou e a começou a beijar seu pescoço.

— Não, pare com isso, solte-me!

Ela começou a gritar e a esmurrá-lo tentando afastá-lo. Ele a agarrou pelos braços a puxando e a jogou na cama, ela o olhava com terror, ele foi para cima dela puxando sua saia para cima, ela começou a espernear e gritar.

— Pare, Edward, pare com isso, não!

Ela tentava se livrar dele, cerrou o punho e deu um soco em seu rosto com toda a força e ele o virou sentindo o soco bem no seu olho.

Ele estava sentado sobre as pernas dela, parou com a mão no rosto, ele olhou para ela enfurecido e deu-lhe uma bofetada com toda força.

Ela, sentindo aquela dor horrível, colocou as mãos no rosto e as lágrimas escorreram de seus olhos. O desespero arrebatou sua alma, estava aterrorizada. Ele começou a rasgar suas roupas, ele estava enlouquecido.

— Não, por favor, Ed, pare. Você vai machucar meu bebê, pare, não machuque meu bebê, não machuque meu bebê! — gritava chorando em soluços e tentando afastá-lo.

Ele a olhou por um instante e parou como se aquilo tivesse tocado em alguma parte do seu coração, se é que ele tinha algum.

Ele saiu de cima dela e ficou de pé, seu rosto estava transtornado, olhava-a com um olhar de ódio, de desejo, de loucura, de vontade de matá-la.

— Jayne... — dizia ofegante e passou a mão jogando os cabelos para trás, que estavam desalinhados. — Aproveite este seu filho enquanto ele está na sua barriga, porque quando ele nascer, eu sumirei com ele e você nunca mais vai vê-lo, e então não terá nada neste mundo que me faça parar, ouviu? Você é minha mulher e vai fazer o que eu quiser.

Ela ouviu isso e sentiu um pânico tomar-lhe o ser, puxou a roupa rasgada para cobrir-se e não parava de chorar. Edward saiu do quarto batendo a porta e trancando-a.

Ela ficou ali jogada na cama desesperada, chorava tanto que parecia que iria esvair-se, sua cabeça rodava completamente. Ficou sentindo dores, nem sabia o que doía mais.

— Ian, por favor. Onde você está?

 

Capítulo 25

 


Ian, que estava com os rapazes e saindo da casa de telégrafos com o telegrama do Sr. Cullen, sentiu uma dor, uma agonia lhe tomou, ele fez uma cara de dor colocando a mão no peito.

— Ian, o que foi? Que cara é esta?

— Nada, eu senti uma agonia de repente. Eu sei que isso parece ridículo, mas parece que sinto no meu peito a dor da Jayne.

— Minha nossa, homem, o que é isso? — Willian disse espantado.

— Ah Ian, acho que você está ficando abalado da cabeça — Mitchel disse.

— Se aquele miserável machucá-la eu vou arrancar o escalpo dele.

— Você está transtornado, Ian, precisa se acalmar, mas eu acredito em você — David disse. — O que o Sr. Cullen disse na mensagem?

— Está vindo para cá, ele vai chegar ao trem daqui a algumas horas. Eu preciso beber alguma coisa, senão vou morrer — ele disse agoniado olhando no relógio de bolso.

— Ah! Isto eu também preciso — Mitchel disse.

Foram até o bar e pediram um uísque. Ian virou o copo num gole só e pediu outra dose.

O homem do bar olhava para eles de canto de olho e ouvia a conversa, enquanto secava alguns copos com uma toalha e revirava um palito na boca.

Ian perguntou a ele se teria visto um homem e uma mulher e descreveu a aparência deles.

— Eu não vi nada, nem ninguém — respondeu com uma cara imutável sem olhar para Ian, e eles saíram do bar.

— Eu não senti que aquele homem estava falando a verdade.

— Ian, você está com caraminholas na cabeça, ele não teria porque não falar, ou teria? — Mitchel falou com cara de pensativo.

— Teria.

Ian tirou a arma do coldre, deu meia volta e entrou sem dizer uma palavra, os rapazes se olharam e foram atrás dele.

O homem continuava na mesma posição que estava antes. Ele chegou à frente dele, o pegou pelo colarinho e o puxou o fazendo vir sobre o balcão, engatilhou a arma e colocou debaixo do seu queixo.

— Vou perguntar de novo, se eu não ouvir a resposta que eu quero estouro seus miolos. Eu não tenho coração e nada a perder, portanto, você viu o homem que eu descrevi?

O homem arregalou os olhos e começou a gaguejar.

— Eu... acho que... um dos homens que trabalha para ele mora numa tapera perto do rio, ele é pistoleiro. Eu vi este homem loiro dando dinheiro para ele, acho que o contratou para alguma coisa, mas eu não sei se ele está na cidade ou mora por aqui. Nunca o havia visto antes, só o vi uma vez com este homem, eu juro, é só o que eu sei.

— E quando foi que você viu este homem?

— Alguns dias atrás.

— Para que lado fica esta tapera?

O homem esticou o braço e mostrou a direção.

— Tem que descer o rio.

Ian o soltou violentamente o fazendo derrubar alguns copos que estavam sobre o balcão e saiu.

— Este é meu garoto! — Mitchel disse dando um sorriso.

— Os pressentimentos dele sempre funcionam — disse David.

— Vamos à estação esperar o Sr. Cullen e depois vamos até lá.

Quando o trem chegou, desembarcaram o Sr. Cullen, Emily, Julia e mais seis homens. Emily quando avistou Willian correu e pulou no seu pescoço o abraçando.

— Emily, o que você está fazendo aqui? — perguntou com cara de bravo.

— Ah, mas pensou que eu ia ficar em casa esperando? Vou atrás de Jayne.

— Eu também vou — Julia falou.

— Não consegui segurá-las — Sr. Cullen disse contrariado.

— Mas vocês são impossíveis! — Mitchel esbravejou.

— Alguma notícia, Ian?

— Temos a informação que talvez Edward tenha dado dinheiro para um pistoleiro que mora perto do rio. Temos que ir até lá.

— Precisamos arrumar cavalos.

— Como vamos conseguir tantos cavalos?

— Há um homem aqui perto que vende, compraremos — disse Sr. Cullen.

— Comprar nove cavalos de uma vez?

— Não me importo — disse ele.

— Podíamos pegar emprestado.

— Mitchel, quem emprestaria cavalos para estranhos?

— Você não entendeu, David. Eu quis dizer pegar emprestado sem perguntar.

— Está querendo virar ladrão de cavalos?

— Depois nós devolveremos. Isso não seria roubo, seria um empréstimo. — Todos olharam para ele. — Ai está bem, foi só uma ideia.

— Compraremos, eu trouxe dinheiro, viemos de trem para chegar mais rápido, já vim preparado para comprar os cavalos.

— Então vamos.

Foram de coche até a fazenda e compraram os cavalos.

— Agora precisamos de armas.

— Aqui tem o suficiente — Sr. Cullen disse jogando um saco no chão.

— Hum... Gostei disso — Mitchel disse o abrindo.

Pegaram as pistolas e rifles e as carregaram. Foram em direção ao rio e o desceram, demoraram um bom tempo para chegar até que avistaram uma tapera caindo aos pedaços.

— Cruzes, alguém mora aí? — Emily perguntou.

— Cercaram a tapera e apontando as armas em direção a ela para dar cobertura, Ian e Willian entraram na casa, mas estava vazia.

— Ele não está aqui.

— Misericórdia, e agora? — Julia disse.

— Podemos esperar para ver se ele volta.

— E se ele não voltar?

— Perderemos tempo. — Ian começou a ficar nervoso de novo. — Se ele foi contratado para fazer alguma coisa, deve estar onde Edward está.

— Mas onde?

— Como vamos descobrir onde ele está?

— Vamos voltar para a cidade e ver se conseguimos mais alguma informação. Alguns homens podem ficar aqui de campana, mas escondam-se para não serem vistos, se ele chegar vocês o pegam.

— Eu fico aqui também — David disse.

Três homens e David seguiram em direção a algumas pedras enormes que havia ali perto, ficariam lá escondidos observando a casa. O resto voltou para a cidade e começaram a vasculhar por informações novamente.


**


Kate foi ao quarto de Jayne para levar a bandeja do almoço. Ela ainda estava comas roupas rasgadas e caída na cama, estava com os olhos abertos, mas paralisada como uma pedra.

— Minha nossa! A Senhora está bem, ele a machucou? Ouvi os gritos, mas não pude fazer nada e ele me tomou a chave, não pude vir aqui antes, só agora que ele me deu a chave de volta — Kate disse indo até ela.

— Como eu posso estar bem? Ele está completamente louco — disse sentando-se na cama com uma voz em lástima.

— Está sim, senhora, e eu não sei o que ele é capaz de fazer.

Kate abriu uma gaveta pegando algumas roupas e ajudou Jayne a se trocar.

— A senhora precisa comer, já é meio da tarde, ele não me deu permissão para trazer comida antes, estava enlouquecido.

— Por favor, me dê um copo de água, não estou me sentindo bem.

— Está sentindo alguma dor? Seu rosto deve estar doendo, está roxo.

— Minha barriga parece muito pesada. Eu preciso sair daqui.

— Não sei como, há homens armados ao redor da casa. E a senhora precisa se cuidar, é perigoso para o bebê, tem que se acalmar.

— Tenho que dar um jeito de fugir daqui e levar Angel. Ele disse que vai tirar meu filho de mim quando nascer e sumir com ele. Você acha que eu vou ficar aqui esperando este desgraçado fazer isso? Não posso, tenho que pensar em alguma coisa. Você pode me conseguir uma arma?

— Senhora, eu só vejo as que ele carrega consigo, nunca vi armas espalhadas pela casa, ele as esconde, eu já tentei pegar, mas não encontrei.

— Deve ter, Kate, temos que encontrar. Quando ele foi embora ele levou uma que guarda com estimação, além das que ele sempre usa. Fica dentro de uma caixa de madeira, ela deve estar aqui em algum lugar, ache-a.

— Eu vou tentar, mas pelo amor de Deus não vá fazer uma loucura, ele pode matá-la e se souber que a estou ajudando ele me mata também.

— Kate, você pretende ficar a vida toda a mercê deste homem?

— Não, senhora, mas eu tenho medo.

— Como está minha filha?

— Ela está dormindo, ela sempre dorme à tarde.

— Ai, Kate, como ela é linda! — disse suspirando. — Meu Deus, pelo menos a reencontrei, parece um sonho, tenho que tirá-la daqui.

— Mas ele me proibiu de deixar a senhora vê-la, depois do que aconteceu aqui, ele estava furioso e transtornado.

— Isso não é possível, como ele pode fazer isso, ela está aqui dentro da mesma casa que eu e não posso vê-la? Eu juro que vou matar este homem — disse colocando as mãos no rosto.

— Deixe ele se acalmar, talvez amanhã ele permita que a senhora a veja.

— Kate, você tem a chave do quarto, eu posso sair.

— Ele me matará, senhora. Pelo amor de Deus, não faça isso comigo.

— Ele está em casa?

— Está no escritório. Preciso ir, ele me deu ordem para somente lhe entregar a bandeja e sair, não posso ficar aqui.

— Vá, vou pensar em alguma coisa.

Kate saiu e trancou a porta. Ninguém mais voltou ao quarto naquele dia, nem para lhe trazer o jantar.

Ela passou a maior parte do tempo deitada, parecia que se levantasse sua barriga cairia de seu corpo. Anoiteceu e ela foi à porta, batia e gritava chamando Kate e Edward, mas ninguém apareceu.

Ela comeu umas poucas sobras da bandeja, pois era tarde da noite e estava faminta. Deitou-se e ficava pensando em Ian sem conseguir conter as lágrimas e depois de horas, adormeceu.


**


David e os homens passariam a noite de campana e já era tarde da noite quando os outros começaram a voltar para a hospedaria; estavam exaustos.

Andaram por todos os cantos em busca de alguma pista e perguntando para todo mundo sobre Edward e nada de obter respostas.

— Meu Deus, eu estou morta, será que eles estão aqui, Will? E se nós não conseguirmos encontrar este homem da tapera?

— Pode ser, Emily, se não conseguirmos pegá-lo, não teremos nada — disse Willian deitando na cama.

Emily deitou-se ao seu lado e o abraçou.

— Temos que achá-la.

— Eu sei. Nós vamos achá-la — ele disse a beijando na testa.

— Depois de tudo que ela passou com aquele homem, ele aparecer assim, destruindo sua vida novamente; ele é um monstro.

— Sim, mas Ian não vai descansar enquanto não encontrá-la, e eu também não. Este desgraçado não sairá vivo desta, isso eu juro.


**


Ian ficou por horas rolando na cama sem conseguir dormir, não conseguia abrandar seu coração e seu nervosismo.

Teria que encontrar Jayne, ficava agoniado em saber que estava prestes a ganhar o bebê e estava longe dele.

Não conseguia imaginar em que condições ela estava, se estava bem. Aquilo o aniquilava, acabou dormindo de cansaço.

Quando ele acordou foi num susto, sentou na cama e olhou para os lados, esfregou o rosto e viu que havia amanhecido.

Foi até a bacia e lavou o rosto, precisava de um café forte, seu corpo estava dolorido e sua mente embaralhada.

Desceu para a recepção e Sr. Cullen estava tomando café.

— Bom dia, senhor.

— Bom dia, Ian.

— David voltou?

— Não, ainda devem estar lá.

— Eu vou até lá, mas eu preciso de um café forte primeiro.

— Eu vou com você.

Tomaram o café e depois pegaram os cavalos e foram até a tapera. David os avistou e fez um sinal, eles foram encontrá-lo detrás das pedras.

— Nada dele?

— Não, acho que ele não vai voltar, estamos perdendo tempo, teremos que achar outro meio, Ian, ficar aqui assim não vai funcionar.

— Então, vamos embora.

Nisso ouviam um relincho, eles se abaixaram e espiaram entre as pedras, um homem vinha a cavalo em direção à tapera.

— Deve ser ele.

— Vamos esperar ele entrar, então o pegamos.

O homem tranquilamente desceu do cavalo e entrou na casa.

— Vamos.

Foram silenciosos e abaixados ao redor da casa, pegaram as armas e estavam apostos. Ian fez sinal para David e ele deu um chute na porta a abrindo.

O homem estava de costas e levou um susto, tentou pegar sua arma no cinturão, mas não conseguiu, arregalou os olhos e paralisou.

— Não se mexa ou é um homem-morto — Ian disse apontando a arma para ele, os outros entraram e também apontavam suas armas.

— O que vocês querem?

— Quero saber se você trabalha para Edward Dawson.

— Não.

Ian deu-lhe um soco no rosto, o derrubando no chão.

— Se você não me responder, eu vou furar você do pé à cabeça. Onde está minha mulher?

— Que mulher?

— A mulher que está com Edward Dawson, seu idiota.

— Mas ela é mulher dele e não a sua pelo que eu saiba — o homem respondeu ironicamente com um leve sorriso.

Ian gelou por dentro, então ele sabia onde estavam. Ele o agarrou pelo casaco e o ergueu do chão, colocando-o sentado numa cadeira.

— Onde eles estão?

— Por que acha que eu vou lhe dizer?

— Se não me disser vou matá-lo, eu faço você engolir bala por bala — disse furioso colocando o cano do revólver praticamente dentro de sua boca.

O homem arregalou os olhos ergueu as mãos insinuando que cooperaria e Ian afastou a arma.

— Fale de uma vez, onde ele a levou?

— Para uma casa que fica nas montanhas, ela é bem isolada.

— Você vai nos levar até eles.

— Eu não vou levar ninguém a lugar nenhum.

Ian enfureceu-se e deu um tiro na perna do homem, que gritou e caiu da cadeira. David e Sr. Cullen arregalaram os olhos.

— Vai levar agora ou quer que eu atire na outra perna? Cada vez que eu fizer uma pergunta e você não me responder ou bancar o engraçadinho, lhe dou um tiro, até você virar uma peneira.


— Está bem, eu levo — disse gemendo.

— Amarrem-no e o coloquem no cavalo, nós vamos à cidade buscar os outros e vamos atrás deles.

Os dois homens o amarraram e o colocaram no cavalo e foram até a cidade. Pararam antes de entrar para evitar confusão.

— Fiquem aqui, eu vou chamar os rapazes.

Ian cavalgou rapidamente até a hospedaria e encontrou-se com todos.

— Ian, onde você estava? — Mitchel perguntou.

— O pegamos, ele vai nos levar onde Jayne está.

— Ai meu Deus, que maravilha! — Emily disse.

Todos montaram munidos de suas armas e foram até a saída da cidade para encontrar Sr. Cullen e os outros que haviam ficado esperando.

— Para que lado? — perguntou ao homem.

Ele fez sinal com a cabeça mostrando a direção e foram galopando para as montanhas, era bem distante e cavalgaram por um bom tempo, pararam quando avistaram uma estrada que entrava numa mata mais fechada.

— É por esta estrada? — Sr. Cullen perguntou.

— É, fica depois destas árvores mais acima no morro.

Foram seguindo lentamente para a estrada prestando atenção em tudo.

— Acho melhor irmos por dentro, assim não corremos o risco de sermos vistos, pode haver homens escondidos, fiquem atentos para qualquer movimento ou barulho.

Embrenharam-se entre as árvores e subiram a colina.

— Está longe?

— É logo à frente — respondeu o homem mal humorado e com dores.

Ian parou e desceu do cavalo, foi até o homem e lhe deu um puxão para tirá-lo do cavalo, ele gritou pela dor na perna.

— Eu não preciso mais de você. — Ele deu-lhe uma coronhada na cabeça e o homem desmaiou. — O amarrem.

Mitchel e Willian desceram dos cavalos e o amarraram numa árvore com uma mordaça em sua boca.

— Acho que agora você pode servir de comida de coiotes, seu miserável — Mitchel disse.

— Vamos a pé e em silêncio — Ian disse, fazendo sinal para que fossem por aquela direção.

Subiram mais um pouco e avistaram a casa. Ela estava longe, mas viram alguns homens, estava trovejando e logo choveria.

— Willian, quantos homens você está vendo? — Ian perguntou a ele que ficou mais a frente.

— Eu contei cinco na frente da casa, mas pode haver mais.

— Será que Angel está com eles? — Emily perguntou.

— Não faço ideia.

— Quais nossas opções? — Mitchel perguntou.

— Começar a atirar, matar todos e entrar, a outra é sermos mais silenciosos matando um por um e entramos na surpresa.

— Essa é a melhor ideia, o problema é como não fazer barulho.

— Isto eu também acho difícil.

 

 

 

 

Capítulo 26

 


Jayne estava paralisada olhando pela janela, havia um silêncio no quarto que chegava a ser enlouquecedor.

As horas se arrastavam e ela tentava encontrar alguma solução. Talvez seguir a recomendação de Kate e fazer as vontades de Edward fosse o melhor, mas ser amorosa e condescendente com ele era algo que ela não conseguia imaginar.

Sentia tanto ódio daquele homem que não conseguia se acalmar perto dele.

Jayne ouviu alguém destrancar a porta, ela assustou-se e ficou esperando para ver quem entraria. Kate entrou fechando a porta, estava pálida e com os olhos arregalados, segurava uma caixa na mão.

— Eu achei, senhora.

— Kate, que maravilha, dê-me aqui!

Jayne abriu a caixa e viu a arma, ela era linda, com a coronha trabalhada em relevos no marfim. Ela pegou as balas que estavam perfeitamente encaixadas na maleta forrada em veludo e a carregou.

— Acho que esta arma nunca foi usada, espero que funcione.

— Senhora, o que vai fazer?

— Vamos pegar Angel e fugir.

— Senhora, está louca? O Sr. Dawson está na casa e há homens lá fora.

— Kate, eu sei, mas temos que achar um jeito de despistá-lo e sair da casa, talvez de madrugada quando eles já estiverem dormindo. Temos que encontrar o melhor momento. Nós vamos conseguir e se ele atravessar na minha frente eu o matarei.

Nisso Edward apareceu na porta, ela rapidamente colocou a mão que estava a arma para trás das costas escondendo-a.

— O que está fazendo aqui, Kate? — disse seriamente.

— Nada, senhor, eu só vim ver se ela precisava de alguma coisa — disse tremendo.

Jayne olhou para a cintura dele e viu que ele estava sem o cinturão. Ele olhou com uma cara de desconfiado para Jayne.

— Jayne, o que você está escondendo? — disse enquanto vinha para perto dela. Sem pensar ela apontou a arma para ele.

— Pare aí ou eu te mato.

— Wow! O que temos aqui? Parece que você encontrou minha arma de estimação, mas que coisa feia, Jayne. Eu creio que tem mais alguém rebelde por aqui — disse olhando para Kate que estava mais branca que mármore e com os olhos arregalados.

— Eu vou sair daqui com Angel agora mesmo.

— É mesmo? Há vários homens lá fora, você não vai conseguir passar por eles. O que está querendo, ferir minha filha?

— Minha filha! A partir de hoje ela não é mais sua, seu crápula.

Jayne começou a sentir uma dor na barriga que a fez perder a concentração e a fazendo gemer.

— Você não vai a lugar algum com ela, e me parece que você não está se sentindo muito bem, não é, minha querida esposa? — disse ironicamente com um sorriso no rosto.

De repente num movimento brusco, Edward passou a mão pelas costas e puxou um revólver que estava preso na sua calça.

Jayne, sem pensar, atirou e o acertou no ombro fazendo-o dar um solavanco para trás e cair derrubando a arma no chão.

— Kate, corre, pegue Angel! — gritou.

Kate saiu correndo para fora do quarto, Jayne correu e pegou a arma de Edward que estava no chão, ele a agarrou pelo pé fazendo-a cair.

Ela gritou e contorceu-se, ele a puxou indo para cima dela, Jayne não tinha espaço para mirar a arma e bateu com a coronha em seu ombro baleado fazendo-o gritar e cair para o lado no chão, saindo de cima dela.

Ela tentou se arrastar e sair de perto dele, mas ele ainda alcançou suas pernas e a puxava, ela virou-se e atirou como pode, mas ele se esquivou e a bala atingiu sua perna, ele gritou e a soltou.

Jayne com dificuldade e com esforço descomunal levantou-se e saiu correndo, curvada e sentindo dores, escorando-se pela parede.

Ela encontrou Kate no corredor, com Angel no colo, que estava assustada e agarrada em seu pescoço.

— Vamos! — Jayne gritou puxando Kate pelo braço.

Ele conseguiu levantar-se, pegou a arma e saiu mancando, correndo atrás dela, começou a atirar quase a acertando enquanto corria pelos cômodos da casa, ela virou-se e atirou nele, mas não o acertou.

Ian ouvindo os tiros que vinham de dentro da casa entrou em pânico.

— Estão atirando dentro da casa, vamos!

Todos saíram correndo e ficaram entre as árvores bem na frente da casa, os homens que estavam de guarda ouvindo os tiros olharam para a casa e iam correr até lá, mas começaram a ser alvejados pelos rapazes.

Correram procurando lugar para se esconder e começaram a atirar, eles travaram um tiroteio cruzado.

Mais alguns homens de Edward que estavam atrás da casa correram para ver o que estava acontecendo e começaram a atirar contra Ian e seu grupo.

Jayne, Kate e Angel correram para os fundos e Edward estava atrás delas, e quando chegaram à porta de saída, Jayne tentou destrancar a porta.

— Senhora, há outro tiroteio na frente da casa, quem é?

— Não sei, mas temos que sair daqui.

Edward atirou e a atingiu no braço esquerdo, ela gritou e quase caiu, batendo com as costas na parede, Angel e Kate gritaram de pavor.

Ela mirou e atirou, o fazendo esconder-se, mas não o acertou; ela olhou para fora e viu um cavalo parado atrás.

Jayne empurrou Kate para fora e atirou na direção de Edward novamente, fechou a porta e passou a tranca.

Ela correu, colocou Angel no cavalo e montou Kate. Jayne estava atordoada pelo tiro no braço. Sentia-se mal, olhou ao redor para ver se havia outro cavalo, sentiu uma dor na barriga que a fez gritar e quase cair.

— Senhora! — Kate gritou.

— Kate... — disse tentando respirar. — Vá para a cidade e peça ajuda, tire Angel daqui. Se eu não conseguir, vá para West Side, procure meu pai e Ian Buller. Tome, troque este anel por uma passagem de trem.

— Mas e a senhora?

— Vá!

Ela deu um tapa na anca do cavalo fazendo-o disparar, olhou ao redor tentando achar outro cavalo, mas ouviu um solavanco na porta, era Edward tentando arrombá-la.

Sem saber o que fazer, correu em direção ao mato e se meteu entre as árvores.

Na frente da casa o tiroteio finalmente cessou. Mitchel havia levado um tiro no braço e dois dos homens do Sr. Cullen foram mortos. Eles correram e entraram na casa pela frente.

— Jayne! — Ian gritou, todos começaram a procurá-la pela casa.

Edward arrombou a porta e viu Jayne se embrenhando no mato e correu atrás dela.

Ela estava ofegante e sentindo dores, mas continuou correndo o mais que podia, se apoiando nas árvores.

— Vejam, tem sangue aqui — Julia gritou vendo rastro de sangue pela casa. Eles seguiram o rastro e foram para trás de casa.

— Parece que saíram por aqui.

— Jayne! — gritou o mais alto que pode.

Ela o ouviu, reconheceu sua voz e virou-se, ia gritar seu nome quando Edward a avistou e atirou. Ele errou o tiro acertando uma árvore ao seu lado.

Jayne gritou com o susto e protegeu o rosto dos estilhaços da árvore que voaram por cima dela, ela saiu correndo novamente para fugir dele.

Ian ouvindo o tiro correu para encontrar um cavalo. Ele, Sr. Cullen e os rapazes foram se embrenhar entre as árvores para ir atrás dela em direção de onde veio o som do tiro.

Começou a chover piamente, ela corria mais que podia, mas já não tinha força em suas pernas e mal conseguia puxar o fôlego.

— Jayne, volte aqui ou eu vou matar você! — Edward gritou.

Ela encostou-se a uma árvore, estava encharcada da chuva e sentiu uma dor violenta que a fez cair.

A dor era terrível. Sua fuga havia chegado ao fim.

Jayne ficou ali no chão, encostada na árvore. Edward apareceu na sua frente, ofegante e com o rosto transtornado de fúria.

Ela sentiu outra dor e gritou, tentou mirar em Edward com a arma que segurava, mas estava sem força no braço e ele a tomou de sua mão.

Ela olhou para o rosto dele, mas só estava vendo um vulto, estava prestes a desmaiar.

— Jayne, Jayne... Onde está minha filha?

— Vá para o inferno!

— Eu tentei, mas você está como o diabo. Eu vou ter que matá-la, mas primeiro você vai me dizer... Onde está Angel? — gritou.

— Angel não é sua filha! — disse o olhando furiosamente.

— Não seja ridícula, ela é mais minha do que sua. Você nem foi mãe dela por cinco anos — disse rindo. — Você nunca a ouviu chamá-la de mamãe, ela nunca sentiu sua falta.

Edward não acreditou no que havia ouvido.

— Por sua culpa! Mas é isso que ouviu! Angel não é sua filha.

— Você está louca, como ousa dizer que ela não é minha filha? O que está dizendo? Você me traiu, sua vadia?

Jayne sentiu outra dor violenta, quase não conseguia mais falar e seu braço também doía fortemente, mas queria puni-lo.

— Eu já estava grávida quando me casei com você.

— Mentira.

— Sim, é verdade.

— Você estava grávida daquele desgraçado do filho do juiz?

— Por que acha que eu aceitei me casar tão rapidamente? Meu pai me forçou. Tinha a um imbecil para enganar!

— Como isso é possível? Você a ganhou antes do tempo, mas a parteira disse que podia acontecer. Ela era fraquinha, mas era minha.

— Ela mentiu! Tudo o que você fez para casar comigo, para ficar com Angel, não valeu de nada, porque ela não é sua filha. — Jayne mal conseguia respirar. — Você perdeu. Pode me matar, mas você vai viver com isso o resto da vida e nunca verá Angel de novo. Você sempre achou que me enganou, mas eu o enganei primeiro.

Edward estava atordoado. Amava Angel, era sua princesinha. Ser enganado era uma coisa que Edward jamais admitia dentro de sua cabeça transtornada. Sempre teve certeza que Jayne pertencia a ele, que era sua propriedade. Seu coração encheu-se de fúria, mais ainda do que já estava.

— Vá para o inferno com este seu bastardo!

Ele apontou a arma e engatilhou. Ela cerrou os olhos esperando o tiro.

Mas Ian apareceu entre as árvores, a cavalo. Quando avistou Edward mirando a arma e Jayne caída no chão, soltou um grito e atirou nele. Edward cambaleou e ficou olhando para ela.

Ian atirou novamente descarregando sua arma e atingindo Edward várias vezes até que ele caiu morto aos pés de Jayne. Ian chegou perto dela e pulou do cavalo.

— Jayne! — gritou desesperado vendo-a daquela maneira estirada no chão.

Ela o olhou, tentou falar, mas mal conseguia balbuciar as palavras.

— Jayne, meu amor, ai meu Deus!

Os outros chegaram, o pai de Jayne desceu do cavalo e foi ao lado dela.

— Ian... — ela soltou um gemido e lágrimas escorreram de seus olhos quando o viu, quase sem forças agarrou sua camisa. —Angel... — dizia entre uma respiração e outra.

— Onde ela está? — Sr. Cullen perguntou.

— Pai... — soltou mais um grito de dor e tentou recuperar o fôlego. — Com Kate, num cavalo... Na floresta.

Ela não conseguiu dizer mais nada, as dores estavam lhe cortando ao meio e eram seguidas.

— Vou tirá-la daqui.

Ian a pegou no colo, Willian o ajudou a colocá-la no cavalo, ele voltou para a fazenda segurando-a, queria ir rápido, mas não podia prejudicá-la ainda mais.

— Vocês venham comigo, vamos atrás da minha neta. David, corra até a cidade e veja se consegue encontrar um médico e o traga até aqui, rápido — Sr. Cullen disse nervoso.

David saiu em disparada para a cidade, Sr. Cullen com mais dois homens foram atrás de Kate e Angel que estavam fugindo. Ian e os outros voltaram para a casa levando Jayne, ele a desceu e a levou para o primeiro quarto que encontraram.

Colocou-a na cama e vendo seu estado calamitoso um pânico lhe atravessou a alma.

Ela estava branca com os lábios roxos, ele começou a chorar e andar de um lado para o outro, os gritos dela de dor o deixaram em completo pânico.

— Ela vai ter o bebê agora — Emily gritou.

Ian foi ao lado dela e segurava sua mão.

— Jayne, você vai ficar bem, eu prometo.

Jayne estava cada vez mais fraca e sua respiração estava cada vez mais difícil, ela sentia esvair-se em suas forças.

— Ian... Se eu morrer... Cuide da Angel e do nosso filho, por favor — disse num sussurro.

— Meu amor, não fale uma coisa destas, você não vai morrer, você não pode, entendeu? Você tem que ficar comigo e nosso filho.

Ela sentia dores e gritava.

— Jayne, você precisa fazer força para ele nascer — Julia disse. — Emily, pegue toalhas e água quente, rápido. Querida eu vou ajudá-la, mas você vai ter que fazer força — disse à Jayne.

— Eu não consigo — disse quase desfalecendo.

— Vamos, meu amor, você consegue — Ian disse agarrado em sua mão.

Quando veio outra dor ela tentou empurrá-lo com todas as forças e assim foi por incontáveis vezes sem o bebê nascer.

— Ian, tem algo errado, o bebê não quer nascer — Julia disse apavorada.

— Ai meu Deus! Onde está David com o médico? — disse desesperado.

David demorou um tempo enorme para conseguir achar o médico e trazê-lo até a fazenda. Ian estava em completo desespero, Jayne já não conseguia mais fazer força e seus gritos eram aterrorizantes e ecoavam pela casa.

— Jayne, meu amor, resista. Você é forte, fique comigo, por favor.

O médico, por fim, chegou com David e correu até o quarto.

Willian puxou Ian o levando até a sala e o fez sentar.

— Acalme-se, Ian, deixe-o cuidar dela. Agora o que nos resta é rezar.

O médico, Emily e Julia ficaram no quarto para ajudar. Demorou uma eternidade, Ian parecia que afundaria o chão de tanto andar de um lado a outro.

Por horas Jayne gritou e seus gritos ecoavam pela casa deixando todos em pânico. De repente ela parou de gritar e fez-se um silêncio mórbido.

— Meu Deus, que demora. O que está acontecendo lá dentro? Por que ela parou de gritar? — Ian disse em pânico, andando de um lado a outro. Mitchel chegou com uma garrafa de uísque.

— Achei isso, beba.

Ele encheu um copo e deu para Ian e um para Willian. Ian bebeu um copo todo de uma vez, ele tentou sentar e se acalmar, mas era impossível, estava muito nervoso.

De repente ouviram um choro de criança, o que fez Ian pular da cadeira com os olhos arregalados, olhando para a porta fechada. Ele esperou que alguém saísse do quarto, mas ninguém saiu.

O bebê parou de chorar e o silêncio mórbido reinou novamente, ele recomeçou a andar de um lado a outro.

Depois de um longo tempo o médico abriu a porta e saiu secando o rosto com um lenço. Estava num estado lastimável, com as mangas arregaçadas e suas roupas cheias de sangue. Quando o viram daquele jeito, mal conseguiram respirar.

— E então, como ela está? Como está o bebê?

— Ele teve dificuldade de respirar, mas parece bem agora, é um menino.

Os rapazes ficaram alegres e se abraçaram.

— E Jayne? Como está minha esposa?

— Bem... Ela teve uma complicação. Eu tive que forçá-la a ter a criança. O estado dela é grave, não há mais nada que eu possa fazer, senhor. Eu sinto muito, mas... creio que ela não passará desta noite.

Ian num rompante de desespero agarrou o médico pela camisa, o puxando violentamente.

— O quê? Ela não pode morrer. Você é médico, faça alguma coisa!

— Senhor... Ela teve complicações no parto, tive que forçá-la para tentar salvar a criança, perdeu muito sangue. Ela já estava mal quando cheguei, o bebê sobreviveu por um milagre, agora basta rezar para que outro milagre aconteça e a salve também. Eu sinto muito, posso ficar aqui e cuidar dela, mas realmente não há nada que eu possa fazer para mudar a situação se ela não reagir.

Os rapazes puxaram Ian tentando fazer com que ele soltasse o médico.

— Ian, se acalme pelo amor de Deus — Willian disse.

— Eu entendo seu sofrimento, senhor, mas eu fiz tudo o que poderia ser feito, se ela não reagir, infelizmente não sobreviverá.

Ian sentiu o mundo desabar sobre sua cabeça. Esfregou o rosto com as mãos e tentou respirar, ele entrou no quarto e Julia estava ajeitando Jayne na cama, estava retirando os lençóis sujos de sangue.

Ele olhou aquela cena grotesca e teve vontade de gritar, ela estava pálida, recostada nos travesseiros e desacordada, parecia morta.

Emily estava com o menino nos braços, envolto numa manta e chorava baixinho. Ian se ajoelhou ao lado na cama segurando sua mão e a beijou.

— Jayne, meu amor, por favor, eu preciso de você, reaja.

Todos estavam mortificados sem saber o que fazer. Ian olhou para Emily que estava com seu filho nos braços e levantou-se indo até ela.

O bebê parecia bem, estava quietinho e dormindo, ele quando o viu deixou as lágrimas rolaram, ele o pegou no colo e deu um beijo na sua testa.

— Meu filho... Você vai se chamar Josh, como sua mamãe escolheu — disse baixinho. Ele o levou para perto dela e se ajoelhou novamente. — Jayne... Acorde, por favor, veja nosso filho, ele é lindo, o nosso Josh está aqui. Nós precisamos de você, por favor, meu amor, acorde.

Willian abraçou Emily que chorava copiosamente. Mitchel abraçou Julia e saíram do quarto, deixando-os a sós.

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 27

 


Sr. Cullen finalmente voltou à fazenda trazendo Kate e Angel. Ele havia encontrado as duas perto da cidade.

Angel estava apavorada e chorava. Kate, sentada numa cadeira, tentava acalmá-la, balançando-a lentamente em seus braços.

— Calma, querida, acabou. Acalme-se, eu estou aqui.

— Onde está o papai?

— Não sei, meu bem, mas depois eu vou ver isso, está bem? Agora fique quietinha e se acalme.

— Onde está a Jayne?

— Está dormindo, ela teve um bebê lindo e precisa descansar. Depois eu levo você para vê-la.

Ela assentiu com a cabeça e abraçou Kate, ficando encolhida.

Cuidaram de Jayne o resto do dia e toda a madrugada. Ian não saiu de perto dela nem por um momento, os poucos minutos que ele conseguiu dormir foi de exaustão, dormiu deitado ao seu lado, segurando sua mão.

Ela continuava inerte sem expressar nenhum movimento sequer. Todos estavam exauridos em suas forças físicas e psicológicas.

Emily, Julia e Sr. Cullen ficaram emocionados ao conhecer Angel, que estranhava todas àquelas pessoas que nunca havia visto, mas ela sorria timidamente quando eles falavam carinhosamente com ela.

Kate explicou a eles que ela não sabia que Jayne era sua mãe, que deveriam encontrar o momento certo para contar-lhe a verdade.


**


O bebê começou a chorar de fome e não sabiam o que fazer. Julia e Emily tentavam acalmá-lo, mas era em vão.

— Meu Deus, ele precisa se alimentar. Como vamos fazer?

— Temos que conseguir uma ama de leite, na cidade deve haver alguém que possa nos ajudar.

— Sim, mas precisamos para agora. E se colocarmos o bebê no peito dela, mesmo com ela desacordada ele pode mamar, não pode?

— Ai, eu não sei, que coisa mórbida.

— Temos que fazer algo rápido, ele não para de chorar, deve estar faminto, coitadinho. Vamos tentar, se não conseguirmos, nós vamos à cidade atrás de alguém ou damos deste leite normal mesmo, mas acho que não pode, pois é muito forte, vai fazer mal.

— Eu não entendo disso, se a mamãe estivesse aqui, saberia o que fazer.

— É, mas ela não está. Então vamos ter que nos virar.

Emily e Julia pegaram Josh, Ian tentou aconchegar Jayne em seu peito, para que ela ficasse sentada e elas tentaram segurar o bebê em seus braços para que tentasse mamar, logo ele começou a sugar o leite.

— Está dando certo. — Emily sorriu aliviada.

— Ai meu Deus, como isso é possível? Parece um pesadelo — Ian disse.

— Acho que isso pode ser bom, se ela sentir o bebê bem próximo a ela, isso pode ajudá-la a reagir, não pode?

— Eu não sei, pode ser que sim. Eu não me espanto com mais nada depois de tudo que eu vi acontecer — Ian disse. — Mas eu acho que pode ajudar, se ela sentir nosso amor, seu corpo pode reagir.

— E se ela ficar assim dormindo? Quanto tempo ela pode ficar assim, sem acordar?

— Eu não uma maldita ideia — Ian disse, cansado.

Ficaram os três naquela agonia, tentando ajeitar o bebê para mamar, ele mamou e adormeceu.

Durante todo o dia nada a fez reagir e Ian ficava com seu filho sempre perto dela. Ele conversava com Jayne como se ela o estivesse escutando. Ela estava deitada de costas e Ian pegou o bebê que dormia e cuidadosamente o colocou de bruços sobre o peito dela.

Deitou aconchegado ao seu lado e colocou o braço sobre os dois e aos sussurros conversava com ela.

Ele falava da fazenda, dos cavalos, de seus planos, falava de coisas alegres, e de seu filho, gentilmente falava de seus momentos felizes que haviam passado juntos em West Side.

Quem viu aquela cena ficou com o coração partido.

Ficaram daquela maneira um bom tempo. Ian não conseguia conter as lágrimas, seu coração estava em agonia. Ele não admitia que pudesse perde-la.

Jayne parecia uma morta na cama, ele somente via vida naquele corpo porque ouvia seu coração bater no peito. Parecia que estava dormindo em um sono tão profundo que não a conseguiam acordar.

— Jayne, eu sei que você pode me ouvir, volte para mim, nós precisamos de você, eu e nosso filho; e agora tem sua filhinha Angel, nós temos que cuidar deles, por favor, meu amor, acorde. Eu não conseguirei ficar sem você — dizia baixinho em seu ouvido, mas ela não se mexeu.

Ele encostou sua cabeça no seu ombro e ficou abraçado a eles. Após alguns minutos, Jayne com algum esforço e sem abrir os olhos, ergueu sua mão vagarosamente, a levando ao seu peito e colocou-a sobre as costas do bebê.

Ian viu seu movimento e levantou a cabeça, ele olhou para seu rosto com o coração cheio de alegria e esperanças, ela lentamente abriu os olhos.

— Jayne, querida, estamos aqui. — Ele começou a rir e chorar ao mesmo tempo, mas falou baixinho. — Nosso bebê está bem, nosso Josh, ele é lindo e forte. E nós te amamos, princesa.

Jayne sem se mover deixou lágrimas rolarem do canto dos olhos, não tinha forças para falar, mas alguma cor começou a aparecer em seu rosto.

Emily e Julia espiaram pela porta, choraram de emoção e se abraçaram, foram para fora e os rapazes estavam com Sr. Cullen na varanda com Kate e Angel.

— Ela acordou, ela acordou, pai!

Emily abraçou Willian e todos vibraram de alegria.

— Graças a Deus!

— Kate, eu posso ver Jayne? Quero ver Jayne — dizia Angel.

— Venha, Angel, vou levar você para vê-la, mas você tem que ficar quietinha, está bem? — Julia disse, dando a mão a ela.

Julia entrou no quarto com Angel e ela correu para o lado da cama escorando-se nela com os cotovelos.

— Jayne... — disse sussurrando perto de seu ouvido.

Jayne virou seu rosto devagar e viu o rostinho de Angel e lágrimas rolaram de seus olhos.

Angel subiu na cama e deitou ao seu lado, Julia olhou aquilo e começou a chorar cobrindo a boca com as mãos.

Angel não sabia que Jayne era sua mãe, mas pelo visto, sentia um amor por ela como tal.

Julia observou os quatro juntos, Angel e Ian, um de cada lado de Jayne e o bebê dormindo em seu peito.

Aquela era a nova família dela, e não haveria maior amor em nenhum outro lugar no mundo.

Julia suspirou profundamente e devagar saiu do quarto, fechando a porta, deixando que eles ficassem ali, unidos, e que transmitissem todo seu amor a ela.


**


— Eu vou voltar para West Side, Eleonor deve estar louca de preocupação, acho que Jayne vai se recuperar logo, o pior já passou. E alguém tem que contar a Angel que Jayne é mãe dela, aquele miserável, que o diabo o carregue, jamais devia ter dito uma coisa destas. Ela nem sabe que sou seu avô! — Sr. Cullen disse, indignado.

— Contaremos, só vamos esperar à hora certa, pai, e não se preocupe. Agora o senhor vai ter dois netos para bajular — Julia disse.

Sr. Cullen abriu um sorriso de felicidade.

— Eu vou ficar com eles — Mitchel disse.

— Eu também vou, ela e Josh precisam de cuidados, não vou deixá-los aqui sozinhos — Julia disse.

— Willian, eu queria ficar, você concorda? — Emily perguntou.

— Claro, eu também prefiro ficar, eu não quero deixar Ian desse jeito, ele pode precisar de nós ainda.

— Eu queria ficar também, mas Mary deve estar louca lá em casa sem notícias e eu olharei suas fazendas e alimentarei os animais.

— Ótimo, David, pode ir, nós ficaremos com eles — Willian disse.

— Bem, mas vamos ver alguma coisa para comermos, eu estou faminta — Emily disse. — Temos que fazer Jayne comer alguma coisa. Vamos, Julia, vamos falar com a criada e revirar aquela cozinha para ver o que tem lá.

Elas foram para a cozinha e os homens ficaram na sala.

— Ai, meu senhor, eu preciso de um trago — Mitchel disse.

— Acho que todos nós precisamos — disse David.

Os rapazes foram procurar bebidas pela casa. Almoçaram e a tarde, resolveram que todos iam descansar e que voltariam para casa na manhã seguinte.

David estava há dois dias sem dormir e apagou quando caiu na cama. Tomariam o primeiro trem para West Side logo ao amanhecer.

No outro dia foram para a cidade, David e Sr. Cullen foram de trem e os homens levaram os cavalos a galope.


**

Angel perguntava a Kate onde estava seu pai e ela sem ter mais como fugir do assunto, delicadamente, contou que seu pai havia morrido.

Ela começou a chorar, pois queria seu pai. Pelo bem ou pelo mal, Edward era um ótimo pai para ela e Angel ficou desconsolada e o chamava sem parar.

Kate então resolveu contar-lhe que Jayne era sua mãe, tentou da maneira mais suave dizer-lhe a verdade.

— Mas papai disse que ela estava no céu.

— Querida, seu pai pensou que ela havia morrido, mas ele se enganou. Sua mãe esteve te procurando esses anos todos. Mas agora a encontrou e você vai ficar com ela para sempre, ela vai cuidar de você. Confie em mim, Jayne é sua mamãe.

— Jayne é minha mamãe?

— É sim, querida, e você gosta muito dela, não é?

— Gosto, eu queria que ela fosse minha mamãe.

— Então, por que você não lhe diz isso? Ela está doente, ficaria muito feliz se você dissesse que gosta dela.

Angel foi até o quarto, Ian estava sentado em uma poltrona ao lado da cama e com Josh no colo, que dormia tranquilo.

Jayne estava recostada nos travesseiros, muito fraca ainda, mas já conseguira comer alguma coisa leve e falar vagarosamente.

Angel ficou parada na porta olhando para ela.

— Oi, querida, venha aqui — disse Jayne mansamente.

Angel foi até a cama, subiu e ficou sentada ao lado dela.

— Você vai morrer, Jayne?

— Não, eu já estou melhor.

— Meu papai morreu.

— Eu sei, meu bem, eu sinto muito.

— Você vai me deixar? — perguntou com olhos os cheios de lágrimas e fazendo carinha de choro.

— Não, eu nunca vou deixá-la, querida. Eu nunca mais vou me afastar de você.

Angel abraçou Jayne e soluçava.

— Você é minha mamãe?

Jayne começou a chorar, seu coração parecia que ia explodir ao ouvir Angel perguntar aquilo.

— Sim, Angel, eu sou sua mamãe e nada neste mundo vai me afastar de você de novo. Eu vou cuidar de você, meu amor, eu prometo. Eu senti tanto sua falta, minha filha.

Ficaram abraçadas por um bom tempo. Ian ficou comovido vendo aquela cena, sentiu uma alegria imensa de Jayne finalmente ter encontrado sua filha e aquele pesadelo ter acabado.

Angel não quis de jeito nenhum sair de perto de Jayne e dormiu na cama ao seu lado até o fim da tarde quando Kate veio buscá-la.

A noite todos já haviam se recolhido para descansar. Ian deitou-se ao lado de Jayne na cama e ficou a olhando acariciando seus cabelos, ela que dormia, despertou com seus carinhos.

— Oi — ela sussurrou.

— Oi — ele respondeu carinhosamente.

— Como senti falta de ver seu rosto — disse o tocando.

— Eu também, meu amor, quase morri de desespero pensando no que poderia acontecer com você, sem saber onde você estava. Eu procurei você como um louco.

— Eu sempre soube que você estava vivo. Meu coração nunca acreditou que aqueles homens o tivessem matado. Sabia que viria me buscar.

— Eu iria até o fim do mundo por você.

— Está ferido — disse passando os dedos sobre seu curativo.

— Ficaremos bem agora. Assim que você puder viajar vamos voltar para a nossa casa. Eu quase morri quando vi você naquele estado, pensei que ia perder você.

— Deixar você? Nunca.

— Ainda bem, pois eu teria morrido junto.

— Ian, tudo acabou? Vamos ser felizes agora, não vamos?

— Vamos, meu anjo. Eu te amo, Jayne, agora mais do que nunca. Eu nunca mais vou deixar acontecer nada a você, nem ao meu filho.

— Eu também te amo. Ele deu-lhe um beijo suave em seus lábios, sorriu acariciando seu rosto. — Você vai aceitar que eu fique com Angel?

— Jayne, mas que pergunta! A partir de agora ela vai ser minha filha também e vou amá-la e cuidar dela, assim como Josh. Eu estou muito feliz que você a tenha reencontrado. Seremos nós quatro, unidos.

— Obrigada.

Ian deu-lhe outro beijo com todo amor de sua alma.

— Agora durma, você precisa descansar.

— Fique aqui pertinho de mim, por favor.

— Eu estou aqui, não vou a lugar nenhum.

Jayne adormeceu segurando fortemente a mão de Ian, como se estivesse com medo de que ele sumisse durante a noite.

Ele ficou de frente para ela, acariciando seu rosto e seus cabelos por um bom tempo antes de adormecer.


**


Na manhã seguinte, Julia estava tomando café da manhã quando Mitchel entrou na cozinha.

— Bom dia, Julia.

— Bom dia, como está seu braço?

— Ainda dói bastante, mas estou bem, é mais um furo para a minha coleção — disse rindo.

— Ai! Como pode rir de uma coisa destas?

— Bem, agora que esta desgraça toda passou nos resta rir. Pois felizmente vamos ficar bem, Jayne está bem, graças a Deus, e entre os mortos somente estão os trastes.

— Meu Deus, foi um susto e tanto, pensei que ela morreria.

— Nem me fale, fiquei horrorizado com o estado que ela estava e com a dor do Ian, nunca o vi tão transtornado em toda minha vida.

— Espero que ela fique boa logo para sairmos desta casa, eu não me sinto bem aqui.

— Falando nisso, esta casa era daquele infeliz?

— Não sei.

— Se era dele agora pertence à Jayne.

— Isso é verdade, mas não sei se ela vai querer algo que venha daquele crápula. Meu Deus, como ele pôde fazer tanta maldade? Atirar numa mulher grávida, Senhor.

— Ele devia estar completamente louco, sem contar que o corpo dela está cheio de marcas roxas e arranhões, eu não quero nem pensar do que foi aquilo.

— Minha nossa.

— O que será que aquela besta fez? Eu vi o roxo no rosto dela, se eu pudesse matava este desgraçado de novo.

— Ian viu alguns, e vi a cara que ele fez, havia um ódio nos olhos dele que me deu até medo.

— Bem, mas agora isso tudo acabou, o importante é que ela fique bem e que aquela besta vá para o inferno que é o lugar dele. Acho que agora vamos ter um pouco de paz.

— Espero que sim, está na hora.

— Ah! E falando em paz, dona Julia, tem uma coisa que você está me devendo.

— Estou? O quê?

— Desde que você chegou aqui eu não recebi nenhum beijo.

— Ah não?

— Não, e estou completamente carente e ferido.

— Nossa, mas isso é muito grave.

— Sim, e você pode resolver isso? — disse vindo lentamente para perto dela.

— Posso — disse sorrindo para ele.

Mitchel se aproximou, passou a mão por detrás de seu pescoço e a beijou.

— Han, han... — Willian fez ao entrar na cozinha. Eles soltaram-se e ficaram sem jeito. — Bonito, heim? — disse rindo.

— Bom dia — Julia disse toda encabulada.

— Bom dia, Julia. Como está Jayne?

— Fui ao quarto hoje de manhã, estavam dormindo tranquilos, ela está sem febre, parece que vai ficar bem. Mais tarde eu tenho que refazer os curativos, mas vai demorar ainda para se recuperar, nem sei quanto tempo teremos que ficar aqui.

— E Josh?

— Também dormindo. Ele é muito quietinho, ainda não dá de ver direito, mas ele tem os olhos puxados do Ian, só ainda não dá para saber se serão da mesma cor que os dele. Mas ele é lindo e felizmente parece bem.

— Verdade. Nossa, eu fiquei encantado com Angel, parece uma boneca e ela é a cara da Jayne — Willian disse.

— É mesmo, muito linda.

— Willian, o que você acha de vasculharmos aquele escritório do defunto, heim? Eu estou curioso para ver todas aquelas coisas.

— Por mim, vamos.

— Onde está Emily? — Julia perguntou.

— Estava levantando quando saí do quarto, já deve estar vindo.

— Willian disse servindo-se do café e todos sentaram à mesa.

Ian acordou e olhou para Jayne, ela dormia, mas ainda estava agarrada em sua mão. Ele ouviu Josh manifestar-se e cuidadosamente soltou sua mão da dela e levantou-se.

Eles haviam preparado uma cama improvisada para ele, estava acordado e resmungando numa tentativa de choro.

Ian meio desajeitado o pegou no colo e beijou-lhe a pequena e macia face e o levou para a cama, colocou-o ao lado de Jayne e deitou-se novamente. Ela acordou e olhou para eles.

— Bom dia, meu amor — disse sorrindo. — Olhe quem está aqui.

Jayne olhou o bebê e sorriu, colocando a mão suavemente sobre ele e acariciando-o.

— Ele está bem, Ian?

— Está. Não se preocupe. E você como está se sentindo?

— Melhor, mas ainda sinto dores.

— Sinto muito, querida, mas vai passar, logo estará bem. Daqui a pouco vou lhe dar outra dose do remédio que o doutor deixou para você, não pode tomar muito remédio forte porque senão, não pode amamentar, e eu acho que este pequenininho está com fome, mamãe.

— Ajude-me a sentar.

Ian a ajeitou na cama e a dar de mamar para Josh, ele estava faminto, depois dormiu novamente e ela o colocou na cama ao seu lado. Jayne recostou-se nos travesseiros com dificuldade.

— Ian, quando poderemos ir? Não quero ficar nesta casa.

— Eu sei, mas você não pode viajar, vamos ter que ficar aqui até você ficar boa.

— Ai que pesadelo, meu Deus!

— Acalme-se, eu sei que deve ser difícil para você ficar aqui, mas vamos ter que ficar, a mim também não me agrada em nada. Você deve ter passado momentos terríveis aqui, não foi?

Ian retirou uma mexa de cabelo de Jayne que lhe caía nos olhos e ela assentiu com a cabeça.

— Você quer me contar por que seu rosto está roxo deste jeito?

— Ele bateu em mim.

Ian sentiu um ódio dentro de si.

— E os hematomas e arranhões em seu corpo?

— Ian, eu não quero falar disso.

— O que ele lhe fez?

— Por favor, não quero me lembrar, já passou — disse ficando nervosa.

— Desculpe. Tudo bem. Vamos esquecer isso. O que importa agora é que isto tudo acabou, assim que for possível nós vamos para casa. Agora descanse, vou ver algo para você comer.

Ele deu-lhe um beijo suave nos lábios e saiu do quarto.

Jayne deu uma olhada em seus braços, puxou o decote do seu chemise, estava com muitas marcas roxas com marcas de dedos e arranhões.

Lembrou-se das mãos de Edward sobre ela, deu uma suspirada como para tentar livrar-se de todas aquelas lembranças e ficou olhando Josh que estava dormindo ao seu lado.

Ajeitou-se na cama com dificuldade, pois cada movimento que fazia sentia dores, ficou ali olhando feliz para seu bebê, segurando seus pequeninos dedinhos.

Esqueceu-se do mundo vendo aquele bebezinho tão sereno e perfeito, fruto de seu amor.

Ian foi para a cozinha e encontrou-se com todos tomando café.

— Bom dia a todos.

— Bom dia, Ian.

— Como está Jayne?

— Está melhor, sente dores ainda, mas acho que vai ficar bem. Eu não vejo a hora de ir embora daqui.

— É, deve estar sendo difícil ter que ficar nesta casa — Mitchel disse.

— Verdade, mas não temos outra opção. Qualquer coisa que dá proximidade àquele desgraçado me dá náuseas. Eu estou me matando por dentro de olhar para Jayne e vê-la com todos aqueles roxos, aquela marca no rosto, os arranhões, ela tem hematomas no corpo todo. Aquele desgraçado bateu nela e sei lá mais o que fez, quando penso nesta possibilidade parece que meu cérebro pega fogo. E além de tudo, ainda atirou nela, se eu não tivesse chegado a tempo ele a teria matado friamente, este homem era o diabo.

— Ian, se acalme. Isso já passou, ele está morto e este pesadelo todo acabou. Agora temos que seguir em frente.

— Eu sei.

— O que importa é que ela sobreviveu a este horror, que ela está melhorando. Vocês têm que voltar para casa e recomeçar suas vidas em paz. Ela graças a Deus está livre deste homem e recuperou Angel. Vocês terão vida nova com seu filho. Acalme estes nervos, você precisa descansar — Willian disse tentando acalmar o amigo.

— Eu sei. Meus nervos ainda estão à flor da pele, nem meu coração voltou a bater normalmente ainda — disse nervosamente e escorando a cabeça nas mãos.

— Ian, isso é maravilho, vocês não se deram conta? — Mitchel disse com um belo sorriso no rosto.

— Do quê?

— Agora Jayne é viúva.

— Graças a Deus! Que Deus me perdoe em dizer isso — Julia respondeu com um suspiro e fazendo um sinal da cruz.

— E? — Ian indagou sem entender onde Mitchel estava querendo chegar.

— Como assim e...? Vocês vão poder se casar de verdade.

— Meu Deus, é verdade! — Willian disse alegre batendo nas costas de Ian.

— Eu não tinha me apercebido disso — respondeu com cara de espanto.

— Ah, mas agora teremos que fazer um belíssimo casamento.

— Festa novamente, isso é ótimo — Willian disse sorridente.

— Um brinde a isso — Mitchel disse eufórico.

— Vai beber? — Willian perguntou.

— Não, vou brindar com café — disse soltando uma gargalhada. — À felicidade de Ian e Jayne e seus dois filhotes novinhos em folha — Mitchel disse levantando a xícara de café para brindarem.

— Dois? — Willian perguntou sem entender.

— Claro. Além de Josh agora terei uma filha, Angel — Ian disse com um sorriso e todos brindaram com as xícaras de café.

— Então, meu amigo, agora Jayne poderá ser oficialmente a Sra. Buller e não precisarão fingir mais.

Um belo sorriso brotou no rosto de Ian, ele começara mudar seu semblante aterrorizado e a ter um pouco de calma, ficou radiante com as palavras de Mitchel, empolgou-se com a alegria de seus amigos que tão fortemente o queriam ver sorrir.

Finalmente ele e Jayne poderiam se casar, nada mais havia de impedimentos, ela estava livre.

Mitchel, Willian e Ian foram ao escritório da casa de Edward vasculhar para ver o que encontravam, havia papéis de todos os tipos, livros e objetos que possuíam altos valores.

— Aquele ignorante lia. Como pode? — Willian disse jogando um livro encima da mesa.

— Estas coisas são de luxo, de onde ele tirava tanto dinheiro para ter estas coisas? Será que esta casa era dele? — Mitchel perguntou abrindo gavetas e pegando objetos.

— Não faço ideia do que este homem fazia, mas coisa boa, com certeza, não era, pois ele mesmo disse que foi ele que mandou assaltar o banco do pai de Jayne — Ian disse revirando as prateleiras.

— Mas que safado! — Willian disse indignado.

Mitchel pegou uma pasta de couro com vários papéis dentro e começou a folhear.

— Ian, tem uma pasta aqui com um monte de papéis com o nome da Jayne.

— Deixe-me ver isso.

Ian pegou a pasta com os papéis e começou a folheá-los com calma.

— O que é? — Willian perguntou curioso.

— São escrituras — disse ainda lendo.

— Escrituras do quê?

— De propriedades, essa aqui é desta casa aqui, não é? — Ian perguntou dando o papel para Willian olhar.

— Sim, só pode ser, pelo nome da cidade, e está no nome de Jayne! — disse espantado.

— E este aqui... Olhem! Uma casa em Nova York está no nome da Angel. E tem mais duas aqui no nome da Jayne.

— Este aqui, está em nome de tal de Max Ford, fica em Ohio. E minha nossa, Ian, é um Haras! — disse Willian boquiaberto. — Mas tem o nome dele aqui embaixo. O que é isso? Não entendi.

— Mas não entendo, por que ele colocaria as propriedades no nome delas? Quem é Max Ford? — Mitchel perguntou sem entender nada.

Ian começou a andar de um lado a outro pensando.

— Foi por isso que ela não o encontrava, ele comprava as propriedades que moraria, mas nunca ficava nada no nome dele. Claro que nunca haveria nenhum registro de nada na cidade em seu nome, e provavelmente era o nome dele que elas procuravam, este Max Ford deve ser um nome falso.

— O bastardo era esperto.

— Aqui diz que ele tinha usufruto deste haras, mas como registro quem tem usufruto não aparecia nos cartórios e claro que ele também com dinheiro deve ter pagado pelo silêncio de muita gente para encobrir sua existência, e provavelmente lá era conhecido como Max Ford.

— Meu Deus, ele tinha um Haras? Como pode isso? — Mitchel disse indignado.

— Ian, então todas estas propriedades são legalmente da Jayne.

— Parece que sim.

— Minha nossa, mas isso tudo vale uma fortuna! — exclamou espantado.

— Olhe a data que ele comprou esta fazenda aqui, ele estava por perto já há bastante tempo, por isso ele sabia de tudo que ela fazia.

— Ian, olhe o que eu achei — Willian disse jogando um saco de papel nas mãos de Ian, ele o abriu, havia maços de dinheiros.

— Nossa! De quem é todo este dinheiro? — Ian perguntou espantado.

— De algum banco, provavelmente — Mitchel respondeu.

Ian jogou o pacote encima da mesa, deu uma suspirada, passando a mão pelos cabelos e com uma cara de espanto que nem conseguia assimilar aquilo tudo de uma vez.

— O que você vai fazer agora? — Willian perguntou.

— Eu não sei, mas Jayne vai ter que resolver o que ela vai fazer com isso. Eu não posso interferir na decisão dela, é seu dinheiro.

— Você vai falar disso para ela agora?

— Não, nem pensar. Eu não quero que ela saiba de nada até ela ficar bem, ela está esgotada. Precisa de paz para se recuperar, vou guardar isso tudo e quando voltarmos para casa e eu achar a melhor hora e vou mostrar isso tudo, para ver o que ela vai querer fazer.

— É o certo.

— Só que acho que se ela quiser ficar com estas coisas vai ter que aparecer como viúva dele. Na realidade ela vai ser obrigada a fazer isso, vai ter que dar entrada num registro de óbito daquele maldito, senão nós não poderemos nos casar.

— Para ela conseguir isso ele vai ter que aparecer como defunto. E se ele foi baleado, alguém vai querer saber quem foi que atirou, e aí você pode ter problemas — Willian falou com cara de preocupado.

— Não sei, mas para ela conseguir este papel, vai ter que aparecer como esposa de um marido morto. Ai meu Deus, isso pode dar alguma complicação?

— Eu não sei. Pode?

— Como vou fazer isso? Se eu der de cara com um xerife tipo aquele imbecil que eu estourei a cabeça, estou ferrado.

— É, Ian, por aqui a gente sabe que muitas mortes dão em nada, mas quando a gente tem que usar a lei para alguma coisa, pode complicar, pois eles mais atrapalham que ajudam. Mas como você disse, vamos ter que ver o que vamos fazer.

— Se bem que ninguém iria condená-lo por matar um cretino daqueles, além de louco era ladrão de bancos, indiretamente, mas era.

— E também um assassino, ele quase matou a Jayne, atirou em mim, quase matou David e você, sem contar o Will que viu Jesus de perto, isso não conta? — Mitchel falou levantando o tom de voz nervosamente.

— Claro que conta. Quem reclamaria pela morte deste cretino? Ninguém em sã consciência faria uma coisa destas.

Ian estava nervoso com aquela situação, não haviam pensado em nada destas consequências.

— Ian, não esquente a cabeça com uma coisa destas, isso não vai dar em nada. Aqui a gente resolve honra com balas, é assim que funciona.

— Já que falaram nisso, onde estão os corpos? — Ian perguntou, lembrando-se do tiroteio.

— Enterramos entre as árvores, junto com o de Edward. Em uma cova só, que é para o diabo não ter trabalho de ficar procurando os malditos. Assim ele acha tudo de uma vez e os leva logo pros quintos dos infernos — Mitchel disse.

— Os homens que estavam mortos na minha fazenda ficaram lá, e se alguém os encontrou? O xerife era um canalha, mas era um xerife.

— Ah aqueles devem ter sido comidos por coiotes, ninguém os ia encontrar lá.

Entreolharam-se com caras apavoradas de que teriam que fazer algo.

— Bem... David e Sr. Cullen disseram que iriam à fazenda e levariam alguns homens para lá para cuidar dos cavalos, afinal, eles ficaram todos estes dias sem comida e sem água, deviam estar calamitosos os coitados, com certeza eles cuidaram disso.

— Acho que deveríamos desenterrar Edward e fazer uma cova descente e fingirmos que ele foi morto por bandidos e que Jayne chorou sua morte.

— Ian, não coloque caraminholas na cabeça, você está louco? Desenterrar aquele infeliz? Vamos dizer que ele está morto e pronto, não teremos que dar muitas explicações. Eu acho que estamos complicando uma coisa que não tem sentido. Ninguém sentirá falta daquele miserável e ninguém reclamará a morte dele, portanto quando Jayne ficar boa, ela entra com um pedido de óbito e está acabado.

— Para isso temos que informar a alguém na cidade.

— Bem, eu tenho uma sugestão, você leva este pacote de dinheiro aqui e paga ao escrivão, ele lhe dará uma certidão sem lhe fazer nenhuma pergunta — Willian disse.

— Willian! — Ian exclamou espantado.

— É claro, homem, eu concordo com Willian, fica o dito pelo não dito e tudo acaba.

— Se aquele homem roubou este dinheiro, então nós o usaremos para comprar o atestado de morte dele, eu acho justo, pelo menos vocês ficam livres disso de uma vez.

— Eu achei que já estava livre — Ian disse esfregando a testa.

— Eu também achei, mas temos que conseguir este atestado de óbito para vocês poderem se casar, então temos que pensar.

— Sim, isto pode ser uma solução. Ah... Eu não quero pensar nisso agora, estou esgotado, minha cabeça parece que vai arrebentar, depois voltamos a conversar sobre isso. Vou ver Jayne e Josh.

Ian saiu do escritório tenso e foi para o quarto, Jayne e Josh estavam dormindo.

Ele deitou-se ao lado de Jayne e colocou seu braço sobre ela ficando bem aconchegado, deu um grande suspiro e tentou acalmar seus pensamentos.

Sentia-se exausto de corpo e alma, necessitava de paz em seu coração, queria poder sumir dali com eles e apagar aquele inferno que nunca parecia ter fim.

Os restos do dia todos passaram tranquilos, pelo menos aparentemente. Os rapazes não falaram mais no assunto que haviam discutido pela manhã, procuravam falar de outros assuntos, de seus planos, de suas fazendas, de suas vidas futuras.

Ian tomou seu dia só para cuidados de Jayne e Josh.

Angel passava a maior parte do tempo possível com eles, ela se encantava com o pequenino que tomara como irmãozinho e queria brincar com ele, mas seguia as orientações de Jayne e Ian que lhe mostravam como ficar com Josh sem que o assustasse.

Ela por muitas vezes deitava-se com eles na cama e ficava brincando levemente com suas pequenas mãozinhas.

Os dois estavam encantados com tanta doçura e ingenuidade daqueles pequenos, que com tão poucos gestos e olhares derramavam o mais puro amor que podiam receber.

Ian e Jayne trocavam olhares entre si, de amor, cumplicidade e orgulho que jamais tiveram em suas vidas, nada interfeririam aqueles momentos que estavam desfrutando com os pequeninos.

Nem os maus pensamentos eram mais fortes que aquele sentimento de amor que tinham uns pelos outros. Nada poderia ser mais perfeito.

Jayne estava ficando mais recuperada apesar de ainda sentir dores e nem sequer conseguir levantar da cama, mas não se importava, pois o que ela precisava estava ali, Ian, Josh e Angel.

O resto do mundo podia desaparecer, pois tudo estava no lugar certo e ao seu redor.

Para Jayne e Ian, a família que eles acabaram de construir era o mais importante que tudo.

À noite, Kate levou Angel para dormir em seu quarto com muita luta, pois ela não queria sair de perto de Jayne, lhe parecia que ao atravessar a porta podia ficar sem sua mãe novamente, só era convencida com as doces palavras de sua mãe que a faziam seguir Kate.

Jayne dormia a maior parte do tempo em questão dos emolientes anestésicos que o médico ainda lhe recomendava para sanar as dores que sentia.

Ian não saía de seu lado nem por um minuto, a não ser, se soubesse que ela estava bem e protegida por algumas poucas horas.

Velava o sono dela e de Josh como um anjo, mesmo abdicando dos seus próprios.

Sua cabeça ainda fervia com tantas preocupações, mesmo afirmando a Jayne que nada estava errado quando ela lhe perguntava, pois via em seu semblante seu ar de preocupação.

No meio da noite Jayne acordou, sentiu dores quando se moveu na cama e quando abriu os olhos viu que Ian a fitava.

— Por que está acordado?

— Estava te cuidando.

— Você está preocupado, por quê?

— Não estou. Eu só quero que você fique bem.

— Eu estou bem, mas você não está.

— Por que acha isso?

— Você franze a testa quando está nervoso — disse suavemente tocando em sua testa.

— Não é nada, só quero ver você bem e ir para casa.

— Eu estou melhorando, o médico disse que já estou fora de perigo. As dores já diminuíram, meu braço está cicatrizando, estou bem. Você precisa dormir e descansar, eu não quero que fique assim por minha causa.

— Eu estou bem.

— O que há? Tem algo que não quer me contar?

— Não é nada, querida, eu só estou preocupado com você. Vou lhe dar outra dose do remédio para você dormir, não quero que sinta dor, e não há nada errado, estamos juntos, não é? É isso que importa.

— Não acredito em você, mas vou fazer de conta que sim, já que não quer me falar nada.

Ian sorriu e beijou sua mão demoradamente com carinho, levantou-se e pegou o vidro de anestésico para lhe dar, deu uma olhada no bebê que dormia e voltou para a cama.

— Como eu queria poder ir para casa, tenho medo de tirar os olhos de você, e não gosto de ficar aqui, queria que este pesadelo acabasse logo.

— Eu também não gosto, esta casa me dá horror, mas se estou com você aqui do meu lado, não sinto medo.

Ian pegou a mão de Jayne e beijou a sua aliança, ela fez o mesmo com a dele, depois se beijaram docemente e repousaram abraçados.

Estarem daquela maneira abraçados e unidos eram as únicas coisas que queriam para o resto de suas vidas.

 

 


Capítulo 28

 


Levantaram-se de manhã e tudo parecia tranquilo. Foram para a cozinha tomar café e conversaram animados, mais um dia naquela fazenda, todos já estavam mais descansados.

Ian estava no quarto ajudando Jayne a dar de mamar para Josh.

Ele colocou o bebê deitado ao lado dela e quando Ian falava com ele, o pequenino já seguia sua voz.

Parecia que aos seus frágeis ouvidos a voz de Ian era um cântico divino e já queria lhe esboçar um sorriso, o que o deixava embevecido de alegria.

Era muito novinho ainda, mas muito esperto.

Emily tomou café e foi até a varanda, mas o que parecia ser um dia tranquilo e ensolarado nas montanhas; mostrou ser um dia de tempestade.

Quando ela abriu a porta deparou-se com um enfileirado de homens em seus cavalos, todos armados e apontando as armas para ela.

— Bom dia, senhorita — disse um deles.

Ela, sem pensar, soltou um grito estridente que ecoou entre as montanhas e fez todo mundo saltar assustado dentro da casa.

Willian e Mitchel pularam das cadeiras, pegaram suas armas rapidamente e correram para a varanda, Julia foi atrás.

Ian e Jayne sentiram seus corações apertar.

— Ian, o que foi isso? — ela perguntou.

— Não sei, vou lá embaixo ver. Calma, querida, não deve ser nada, deve ser Emily ou Julia que se assustaram com alguma coisa, não se preocupe, eu já volto, fique tranquila.

Ele beijou sua mão e saiu do quarto.

Jayne sentiu seu coração acelerar quase a deixando sem ar. Ela ficou ali sentada na cama, sem poder fazer nada com uma agonia que lhe atravessada a alma.

Quando todos chegaram à varanda, ficaram imóveis, pois não esperavam se deparar com aquela cena. Estavam despreparados.

— Acho bom que todos fiquem quietinhos, soltem as armas agora mesmo — disse um dos homens que tinha uma estrela no peito.

Eles jogaram as armas no chão. Ian desceu as escadas correndo e pegando sua arma, ficou olhando pela janela e sentiu um frio percorrer sua espinha, ficou atrás da porta tentando pensar em algo.

— Quem são vocês? — Willian perguntou, puxando Emily para perto dele.

— Sou o xerife aqui do condado, me chamo Enrique Gonzáles.

— Ah, xerife, podemos ajudá-lo em alguma coisa? — Mitchel perguntou disfarçadamente.

Ele desceu do cavalo com o rifle na mão enquanto os outros homens que estavam num número de doze continuavam apontando as armas para eles.

Enrique era um homem viçoso, com mais de um metro e oitenta, de pele clara e ombros largos; ele era muito bonito e com presença. Falava de maneira tranquila, mas séria.

Tinhas os olhos atentos a tudo e rapidamente corria os olhos ao redor e nos semblantes de todos, era sagaz e inteligente.

— De quem é esta propriedade? — perguntou.

Ninguém sabia o que responder. Mitchel e Willian se lembraram da conversa que haviam tido com Ian no escritório e estavam temerosos com o que responder.

— Ninguém vai me responder? Quais seus nomes?

— Me chamo Willian Jonhson e esta é minha esposa, Emily. Ele é Mitchel Vaiz e ela é Julia Cullen.

— Muito bem, Sr. Jonhson, e quem mais estão na casa?

Neste momento Ian fechou os olhos sem saber o que Willian responderia.

Ele pensou em dizer que não havia ninguém, mas como sentiu que aquele homem podia entrar na casa e encontrar Ian e Jayne, seria pior mentir.

— Nosso amigo Ian Buller, Jayne, seus dois filhos e a babá.

— Ótimo. Então os chame aqui para fora agora mesmo.

— Desculpe-me, senhor, mas Jayne não poderá sair, ela teve um parto complicado e está debilitada na cama.

— Entendi... Sr. Buller, acho melhor o senhor sair da casa — o xerife gritou, fazendo o coração de Ian saltar no peito.

Ian, que estava com a arma na mão pensou em o que fazer, mas não queria um confronto; seus amigos estavam desprotegidos, não queria que ninguém se ferisse, não tinha outra solução a não ser sair.

Respirou fundo, colocou a arma na cinta nas costas e saiu porta afora tentando estar calmo e natural.

— O que está acontecendo aqui? Quem são vocês?

O xerife olhou atentamente para Ian, deu um sorriso de canto da boca e surpreendentemente disse.

— Então, você é Ian Buller.

Todos gelaram o ouvindo dizer aquilo como se já tivesse conhecimento de sua pessoa, mas ninguém entendeu nada.

— Vou perguntar novamente, de quem é esta fazenda?

— Edward Dawson — Ian respondeu.

— Muito bem, e onde está o Sr. Dawson?

Ian pensou em dizer que ele não estava; que estava longe, viajando, qualquer coisa, mas respondeu a verdade.

— Está morto.

— Hum... E posso saber como ele morreu e quando foi isso?

— Foi há alguns dias, alguns homens, que creio que queriam assaltar a casa, invadiram a fazenda e ele infelizmente foi morto — Ian explicou inventando a história que lhe veio à cabeça.

— Que infelicidade. E Jayne é esposa dele?

Ian engoliu a seco, mas respondeu.

— Sim, é a esposa dele, Jayne.

— E eu ousaria perguntar o que vocês todos são da família Dawson e o que estão fazendo aqui? Pois não são desta região.

— Nós somos irmãs dela — Julia respondeu. — Viemos para o nascimento do bebê.

já que Ian começou uma mentira ela tentou emendar com outra.

— De onde vocês são?

— West Side.

— Hum...

Enrique ergueu as sobrancelhas e os olhava com um olhar que lhes penetrava a alma, parecia que queria ler seus pensamentos.

— Bem, se o Sr. Dawson foi morto há alguns dias, por que o médico da cidade, o padre e nem o coveiro foram avisados disso? Eu sendo o xerife deveria ter sido notificado de um ataque tão cruel de bandidos na minha região. Ainda mais se tratando de uma pessoa de posses como ele, pois esta casa vale uma fortuna.

— Desculpe, senhor, mas nós não pensamos nisso, somente o enterramos com alguns dizeres em pêsames pela família.

— Verdade? Que coisa estranha, será que eu poderia ver o túmulo?

Ian pareceu ser esfaqueado pelo susto, o que responderia? Dizer que estava enterrado numa cova com um bando de homens na floresta?

— Eu posso lhe mostrar — Mitchel disse se adiantando. — Ele foi enterrado perto da clareira.

— Vamos. Eu quero ver.

— O que está fazendo? — Ian disse cochichando para Mitchel, pensando o que o xerife iria ver.

— Acalme-se, eu cuidei disso.

Chegando à clareira que ficava bem próxima a casa, Ian estupefato viu um túmulo único com uma cruz escrito Edward Dawson talhado com um canivete e tinha até algumas flores encima.

Ele olhou com uma cara espantada para Mitchel como de quem não estava entendendo nada.

— Foi ideia sua, lembra? Cova individual, um enterro descente — cochichou.

Durante a noite Willian e Mitchel, tentando camuflar o ocorrido e pela mesma ideia que Ian tivera, desenterraram Edward e fizeram um túmulo para ele, para despistar qualquer eventualidade que pudesse ocorrer e tentar livrar Ian.

— Hum, interessante, vejo que ele realmente está enterrado aqui. O que me deixa curioso, é que se ele foi morto há alguns dias, então como que esta terra está recém-mexida, como se tivesse sido enterrado há poucas horas?

Os rapazes se olharam assustados, como ele poderia ter reparado numa coisa destas.

— Ah bom, senhor deve ter sido algum coiote que esteve por aqui pela noite, nunca se sabe — Mitchel tentou explicar.

— Entendo, poderia ser uma possibilidade, vamos voltar para a casa — o xerife o xerife disse.

Eles pararam novamente na frente da casa e o xerife ficou andando pensativo, todos estavam mudos e com o coração na mão sem saber o que se passava pela cabeça daquele homem.

— Bem, deixe-me ver se eu entendi os fatos. Edward Dawson, marido de Jayne, foi morto por bandidos que tentaram invadir a casa há alguns dias; foi enterrado sem um padre, sem um caixão, porque não consta nenhum registro de sua morte com o coveiro.

— Bem... faríamos isso.

— Eu soube que alguns homens estavam na cidade procurando enlouquecidamente por este Sr. Dawson e uma mulher por estes dias e inclusive ameaçaram de morte o dono da estalagem com uma arma. Depois, chego aqui e ele se encontra morto. No período destes fatos eu estava ausente da cidade com meus homens, pois fui chamado por um amigo juiz a colocar certa ordem em West Side porque o xerife de lá foi assassinado. Infelizmente somente retornei ontem para cá, então me surpreendo com esta coincidência porque o xerife foi encontrado morto nas suas terras, Sr. Buller, assim como vários outros homens. E vejam só, o senhor está aqui na casa do Sr. Dawson e ele também está morto. Eu não vejo outra coisa a não ser que foi o senhor que o matou, assim como o xerife.

Ian estava pálido ouvindo aquilo e sua mente estava embriagada de pavor, ele estava em uma grande encrenca. Todos estavam paralisados ouvindo o raciocínio do xerife.

— Xerife, eu posso lhe explicar tudo o que aconteceu, as coisas não aconteceram assim desta maneira — Ian tentou falar.

— Não me interrompa! Já que contaram algumas mentiras, eu mesmo terei que concluir o que houve, não acha?

Ian calou-se, via que não conseguiria escapar deste pesadelo. O xerife continuou a falar.

— Esta casa está no nome da Sra. Dawson que por ventura não morava aqui até algum tempo atrás, pois pelo que eu saiba, ela estava habitada em West Side, primeiramente com seu pai o banqueiro e depois na fazenda do senhor, Sr. Buller, e pelo que me consta como sua esposa.

— Bem...

— O que me faz fazer uma pergunta, se ela teve um filho, este filho é do Sr. Dawson ou é seu?

— É meu.

— Hum... Então ela estava afastada do marido, morando com o senhor, fingindo estar casada; teve um filho seu e o Sr. Dawson foi atrás dela com o xerife. Ele conseguiu escapar de ser morto pelo senhor trazendo a esposa de volta para casa. O senhor matou o xerife porque ele ia lhe prender a pedido do marido traído, mas depois o senhor e seus amigos vieram aqui e o mataram. Então, o que temos aqui? Assassinato de um homem da lei e de um homem cuja esposa o senhor engravidou, o que faz dela uma adúltera. Caso complicado, não acha? Com análise em tudo isso poderia lhe dar uma prévia do seu veredicto em uma corte, isto resulta em forca para o senhor, e prisão para ela, e se ela foi cúmplice na intenção de matá-lo, também irá para a forca.

— O quê? Xerife, não é nada disso! Por favor, o senhor tem que me escutar — Ian gritou apavorado.

— Mas não é possível, seu miserável, Ian estava defendendo Jayne daquele bandido — gritou Mitchel.

Ele foi furioso para cima do xerife. Um dos homens atirou no chão bem próximo de seus pés fazendo-o parar.

— Pare aí, rapaz — o xerife disse, apontando o rifle para ele. — Eu estou tentando resolver este caso, portanto se comportem e não façam gracinhas, que ninguém sairá ferido.

— Mas isso é absurdo! Ele era um bandido, quase nos matou e a Jayne, o senhor é um miserável, como o xerife de West Side que estava mancomunado com aquele bandido — Ian gritou.

— Sr. Buller, não se exalte — ele disse calmamente e apontando a arma para ele. — Eu sei muito bem quem é o mocinho aqui nesta história e quem é o vilão, mas depois falaremos mais. Entregue a arma que está na sua cinta, Sr. Buller. — Ian contrariado, pegou sua arma e a entregou. — Agora eu quero falar com a Sra. Dawson. Onde é o quarto dela?

— Não! — Ian gritou.

Ian enlouqueceu e tentou impedi-lo de entrar na casa, mas alguns homens que haviam descido do cavalo o seguraram, Willian e Mitchel tentaram, mas foram ameaçados.

— Eu já disse Sr. Buller, não fique exaltado, não vou fazer mal a Sra. Dawson, mas quero falar com ela, portanto fique calmo e quieto. Fiquem aqui, eu já volto. Onde fica o quarto dela?

— Eu levo o senhor — Emily disse temerosa.

— Não precisa. Somente me diga onde é.

— Subindo as escadas, a primeira porta a direita.

Ian estava prestes a ter um colapso, o olhava com o pavor estampado na face.

— Deixe-me ir junto — gritou.

— Não, eu vou falar com ela a sós.

— Não encoste nela ou eu juro que o mato.

O xerife foi bem à frente de Ian e viu seu rosto transtornado.

— Sr. Buller, eu vejo que faria qualquer coisa para proteger esta mulher, não é? Mataria qualquer um que se aproximasse para lhe fazer qualquer coisa de mal, até matar um xerife ou dois.

— Eu mato meio mundo se for preciso para proteger minha mulher e meus filhos.

— Sua mulher e seus filhos? — perguntou espantado.

— Sim, é o que eles são, minha família, e por eles eu mato ou morro.

— Hum... Interessante ouvir isso, mas agora fique aqui que eu vou falar com ela, quando eu voltar nos entenderemos, Sr. Buller.

Ele tranquilamente virou as costas e entrou na casa. Ian queria morrer, não estava entendendo a postura daquele homem e não sabia o que fazer.

— Ai meu Deus, o que ele vai fazer lá encima? — Emily disse apavorada.

— Calma, querida, eu acho que ele só vai conversar. Quem sabe ela lhe conta tudo o que aconteceu e fica tudo bem.

— Ele tem um sotaque esquisito. — Willian disse.

— Ele não tocará nela. — Ian disse furioso.

— Acalme-se, Ian, vamos esperar para ver o que acontece — Mitchel disse.

— Esperar? Ele está sozinho com Jayne e meu filho, depois de toda esta desgraça que aconteceu você quer que eu me acalme?

— Homem, fique quieto. Você está enrascado e assim vai se complicar mais ainda, pelo amor de Deus! O que você quer, ir para a forca? — Mitchel disse olhando para Ian com o coração em destroços.

Ian estava com vontade de gritar, quando pensara que aquele pesadelo havia acabado parece que tudo lhe caiu na cabeça de novo.

 

 

 

 

 

Capítulo 29

 


O xerife, chegando ao quarto bateu na porta, abriu-a e foi se adentrando.

Jayne que estava com Josh no colo, esperava que Ian entrasse. Apavorou-se ao ver que era outro homem, seu coração estrangulou-se no peito e ela arregalou os olhos, segurando Josh fortemente contra seu peito.

Ele tirou o chapéu que combinava com sua calça, colete e paletó pretos com uma camisa branca e um entrelaçado de prata no colarinho, combinava com a corrente de seu relógio de bolso.

Ele trazia sobre o coração a estrela de prata reluzente. Era extremamente elegante e bonito, ele ficou parado na porta fitando-a.

Jayne que estava aterrorizada, pois ouviu gritos e tiros, ficou muda olhando aquele homem que lhe dava um sorriso.

Temerosa, demorou alguns minutos para trazer da memória aquele rosto.

— Olá, Jayne — ele disse mansamente.

— Ricky! — disse assustada e confusa.

— Não se assuste.

— O que faz aqui? O que está acontecendo? Onde está Ian? — dizia nervosa e atropelando as palavras.

— Calma, ele está lá embaixo com os outros e suas irmãs.

— Não estou entendendo, o que está havendo?

— Fique calma, Jayne. Vim conversar com você.

Ela tentava conter a respiração e as lágrimas de desespero que insistiam em cair. Sua mente não conseguia atinar nada.

— Ian está bem?

— Está. Meio alterado, mas está. — Enrique se aproximou da cama. — Este é seu filho?

— Sim — disse olhando para Josh que dormia em seus braços.

— Ele é lindo, Jayne.

Enrique sentou na beirada da cama e Jayne suavemente colocou Josh deitado ao seu lado e mais calma, olhou para ele.

— Meu Deus! Quanto tempo não o via.

— Você está bem? — disse secando as lágrimas que estavam no rosto de Jayne.

— Estou bem, me recuperando. Eu quase morri no parto, tive complicações por causa das loucuras do Edward, Josh nasceu antes da hora e levei um tiro.

— Aquele maldito maltratou você?

— De todas as formas que você possa imaginar.

— Meu Deus! Como ele pôde fazer isso? — disse afastando os cabelos do rosto de Jayne e vendo seu olho ainda roxo.

— Ele ficou completamente louco, violento. Mas e o que você faz aqui?

— Eu sou o xerife daqui.

— Você xerife? Pensei que era advogado e vivia em Madri.

— E sou, mas sabe como gosto de aventuras e emoções fortes, eu gosto de pegar os bandidos com minhas próprias mãos e depois destroçá-los em um tribunal.

— Imagino. Você sempre foi assim, não é?

— E você continua se metendo em encrencas.

— Parece que sim.

— Mas esta que você se meteu agora, é uma bela enrascada, pelo amor de Deus!

— Eu sei, devia ter ouvido você.

— Mas não ouviu e olha no que deu; se tivesse se casado comigo nada disso aconteceria.

— Ricky, eu tive que voltar da Europa e você teve que ficar lá. Na verdade eu não tive muita opção e depois fiquei noiva.

— Seu pai a obrigou.

— Bem, sim. Na época achei que estava fazendo a coisa certa, não conhecia Edward, ele ficou louco, ele se mostrou ser outra pessoa e fez tudo o que fez.

— Eu lhe falei para não se casar com ele.

— Sim, mas eu achei que você só estava com ciúmes.

— Na verdade estava, mas sabia que tinha algo estranho nele. Você ama este Ian Buller?

— Amo de todo meu coração, não consigo viver sem ele. Mas o que está acontecendo? Por favor, me diga, se algo acontecer a ele eu morreria.

— Ele está enrascado, querida, matou um xerife, vários homens e agora seu marido.

— Eu sei, mas foi para me proteger, Edward quase nos matou. Era ele ou eu e Josh.

— Eu sei, Jayne, sei de toda a história. Acho até que fui meio cruel com o Sr. Buller, mas eu queria saber até onde ele ia para defender você e quanto a amava; e vou dizer, ele é completamente louco por você, realmente a ama e não vejo maldade nele.

Jayne respirou profundamente.

— Ricky, por favor, me diga, ele vai se implicar com isso tudo?

— Jayne, o juiz me incumbiu de pegá-lo, pois o xerife foi encontrado nas terras dele e ele estava desaparecido, tudo indicava que ele era o assassino, então fui incumbido de procurar o Sr. Buller.

— O quê? Você veio aqui prendê-lo? Não, você não pode fazer isso, por favor!

Jayne começou a ficar nervosa, que seu coração perdeu o rumo.

— Calma, Jayne, por favor, eu não vou prendê-lo, me escute. Quando eu assumi o posto de xerife, há um ano, pois voltei da Europa para isso e para abrir meu escritório aqui, vasculhando os registros, encontrei o que você fez aqui há alguns anos e fui atrás de saber tudo sobre o sumiço do Edward e sua filha.

— O quê?

— Fui atrás de você em Tempty, mas vocês haviam ido embora, até eu descobrir onde você estava levou tempo. Mas este Edward tem uma ficha e tanto, tentei pegá-lo, mas era mais escorregadio que sabão.

— Você fez isso?

— Fiz.

— Ele cometeu atrocidades, foi por pouco que eu e meu filho não morremos. O xerife estava mancomunado com Edward, quase matou Ian e aos rapazes, roubaram o banco de meu pai, atearam fogo na casa de David e tantas outras coisas, eles fizeram de tudo para me salvar. E agora eu recuperei minha filhinha, estou tão feliz, por favor, me diga que não vai acontecer nada a Ian, eu lhe imploro.

— Jayne, para isso eu terei que passar por cima da lei.

— Mas...

— Eu sei que o xerife de West Side não valia nada, mas pela lei Ian vai ter que pagar pela morte dele, e querida, você tem sua pena, como que você encena um casamento com este Ian sendo casada, ficou maluca? Isso é adultério e podem acusá-la de bigamia.

— O quê? Não foi um casamento, foi somente uma benção, não teve nada demais, não me casei com Ian, apenas vivemos juntos. E acusada de adúltera? Ai meu Deus que pesadelo! Ricky, por favor, eu amo Ian, não consigo viver sem ele, e agora eu tenho Angel de volta, tenho meu bebê, tem que haver um jeito, eu preciso cuidar deles. Não podemos pagar pelas loucuras daquele monstro.

— Eu sei, Jayne, mas para eu livrá-los eu vou ter que burlar a lei, coisa que eu prego com fervor.

— Então vou deixar em suas mãos, eu não posso pedir que se prejudique por nossa causa.

— Querida, eu não quis dizer isso, que não vou ajudá-la, só estou tentando pensar.

— Não entendo.

— Bem, não se preocupe, vou dar um jeito nisso, está bem? Eu vou pensar em alguma coisa, mas quanto a Edward, ele era um crápula e além do mais, muitas coisas por aqui, nós fazemos de conta que não vemos, não é? Aliás, Jayne, todos os bens dele estão no seu nome e de Angel.

— O quê?

— Sim, inclusive esta casa.

— Meu Deus!

— Ele era esperto, mandou outros assaltar vários bancos para ele, mas como nunca pude provar, não posso recuperar o dinheiro, então tudo está no seu nome e no de Angel. A não ser por um imenso Haras que ele tinha com um nome falso, mas isso eu posso fácil deixar em seu nome, só mexer uns pauzinhos, então pela lei é tudo seu e de sua filha. Infelizmente só ontem a noite que eu prendi o escrivão, pois descobri que ele encobriu informações a mim sobre a compra desta casa, senão eu tinha pegado Edward antes de ele ter ido atrás de você.

— Estou horrorizada com isso tudo.

— Mas penso que no fim não foi tão mal, acho que por direito todas as propriedades devem ficar com você, pelo menos você poderá recomeçar sua vida bem, e afinal de contas ele te deixou sem nada. E acho que este Ian ama você mais que a própria vida e eu seria a última pessoa neste mundo que iria lhe tirar a oportunidade de ser feliz.

— Ian é um homem maravilhoso.

— Você realmente o ama?

— Amo. Amo muito, mas nunca fiz nada de errado a Edward, fui fiel a ele até ele sumir, eu juro, jamais imaginei que o veria de novo.

— Eu sei, querida.

— Ricky, me ajude, não deixe que nada aconteça a Ian.

Enrique parou por um momento tentando pensar, passou a mão pelas têmporas dando uma suspirada.

— Bem... Eu sou o xerife e além de tudo sou advogado, eu sei muito bem onde pisar, então não se preocupe, vou limpar esta sujeira toda.

— Verdade?

— Sim. Além do mais, o juiz que está tomando frente é meu amigo, não implicará com nada que eu disser, ainda mais em se tratando de um xerife vira-casaca e de Edward. Você vai ficar bem, mas me faça um favor, não se meta em mais encrencas, está bem?

Jayne com lágrimas nos olhos o abraçou.

— Obrigada, Ricky.

— Não tem que agradecer. Você sempre foi muito importante para mim, eu aprendi muitas coisas com você, me ensinou a ser um homem responsável.

— Você nunca foi responsável.

— Por isso mesmo. Não era até perdê-la, para mim foi uma lição, mas a única coisa que eu quero neste mundo é vê-la feliz e você sempre vai poder contar comigo. Sinto muito não ter chegado antes para lhe ajudar e tê-la poupado de todo este sofrimento.

— Você também foi muito importante para mim, estará sempre guardado no meu coração.

— Eu preciso ir, vou falar com Ian, ele deve estar pensando que eu estrangulei você — disse dando um sorriso. — Pode deixar, querida, eu vou dar um jeito de pôr fim a esta história toda. Eu lhe mandarei notícias.

Ele lhe deu um beijo no rosto e saiu do quarto. Quando Enrique saiu da casa, todos estavam apreensivos.

Ian estava tão nervoso que parecia que iria ter um enfarto, parecia que havia demorado uma eternidade para o xerife voltar.

Passava mil coisas pela cabeça de Ian, não sabia se Jayne estava bem, se estavam somente conversando, ou o que estava acontecendo, sua cabeça queimava como uma fornalha.

— O que houve, e Jayne? — Ian gritou nervoso quando avistou Enrique na porta da casa.

— Não se preocupe, Sr. Buller, ela está bem — dizia enquanto descia as escadas e colocava o chapéu. Ele foi para perto de Ian e olhou bem para ele, seu olhar parecia querer penetrar através dos seus olhos.

— Xerife...

— Eu não vou prendê-lo, e vou cuidar desta história toda para que vocês fiquem livres sem nenhuma acusação, tanto aqui como em West Side. Eu já estava no rastro de Edward há tempos, e sei que o xerife de lá era cúmplice dele, portanto, você e seus amigos estão livres. Eu vou procurar apagar isso tudo, livrando qualquer suspeita sobre vocês e estas mortes, e principalmente tudo que envolve Jayne. Eu mando notícias depois.

Ian estava petrificado, nem estava acreditando no que aquele homem estava dizendo. “Como a chama pelo primeiro nome com tanta intimidade?” — se perguntava. Sua cabeça girava. O xerife ia para seu cavalo, mas parou e virou-se.

— A propósito, quero saber. Por que o corpo do Sr. Dawson somente foi enterrado ontem?

Mitchel meio boquiaberto respondeu.

— Na realidade xerife, ele já havia sido enterrado antes, mas foi na floresta na mesma cova que os outros bandidos.

— E por que o desenterraram e fizeram outra cova?

— Porque era bom ele ter uma cova decente para despistar.

— Mitchel! — Willian gritou dando uma cotovelada nas suas costelas.

— Ai... Ora, mas ele perguntou, e ele mesmo disse que Ian está livre, não disse? — Enrique deu uma gargalhada.

— Rapazes, vocês deviam ter deixado aquele verme naquela cova mesmo, ele não merece uma decente. Sr. Buller, assim que eu chegar à cidade, eu mesmo vou dar entrada no registro de morte dele. Amanhã o senhor vá ao meu escritório e pegue o documento comigo. E tem mais...

Ele montou no cavalo dando uma pausa que os deixou ainda mais curiosos e boquiabertos do que seria a próxima coisa que ele diria. Enrique olhou seriamente para Ian.

— Sr. Buller, se algum dia você fizer algum mal a Jayne, eu mesmo o caço e o enforco, portanto cuide dela e faça-a feliz. Não vou tolerar mais um canalha a fazendo sofrer, fui claro? Vamos rapazes.

Os homens deram meia volta com os cavalos e saíram da fazenda. Ian estava paralisado com tudo que ouviu e não conseguiu responder nada.

— Meu Deus, o que foi isso? Não entendi nada, ele conhece Jayne para falar dela dessa maneira? — Julia perguntou.

— Não sei, mas vou descobrir — Ian disse correndo e entrando na casa.

— Ah, eu também vou, quero saber.

Emily saiu correndo e todos foram atrás, eles estavam eufóricos para saber o que havia acontecido. Ian entrou no quarto como um tufão e os outros seguiram atrás.

— Jayne, você está bem? O que aconteceu? Ele lhe fez alguma coisa?

Os dois se abraçaram fortemente.

— Estou bem, não se preocupe. Claro que ele não me fez nada, estou bem. Shhh... Fale baixo, vai acordar Josh.

— Aquele homem a conhece?

— Sim, Jayne, ele falou de um jeito como se a conhecesse, eu não entendi nada, primeiro achei que levaria Ian preso, depois disse que não o prenderia, e depois se fizesse mal a você ele mesmo o enforcava. Meu Deus, meia hora de conversa e causou tanto efeito? — Emily falou eufórica.

— Sim, eu o conheço, há muito tempo.

— De onde? Eu não me lembro dele, e por que ele não nos ajudou antes se era xerife daqui? — Julia perguntou.

— Porque ele morava na Europa na época que estivemos aqui atrás de Edward e de Angel, era outro xerife que me atendeu com a boa vontade de uma lesma. Mas foi lá que eu o conheci, seu pai é espanhol, mas mora em Nova York, ele só veio a pouco para cá e assumiu o posto de xerife, Ricky também é advogado, então prometeu nos ajudar a acabar com todo este pesadelo.

— Ai meu Deus, que maravilha! Mas, espere aí... — Emily disse tentando lembrar-se. — Então este é aquele homem que você teve um romance enquanto esteve na Europa? O tal de Ricky que a pediu em casamento? — disse boquiaberta.

— Emily! — Julia a cutucou e rangeu os dentes.

— Sim, ele mesmo. E o que ele está fazendo é em consideração à nossa boa amizade que restou — disse Jayne.

— Ah... Agora eu entendi porque ele disse aquilo para o Ian, ele deve ser apaixonado por você ainda — Mitchel disse com os olhos arregalados.

— Mitchel! — Willian esbravejou dando-lhe outra cotovelada nas costelas. — Vocês não têm trava nestas bocas, meu Deus!

Ian sentiu o ciúme lhe queimar o peito, mas reconheceu que a atitude de Enrique era louvável e tentou afastar este sentimento.

— Por um momento eu achei que ele fosse um bandido igual aquele outro miserável, mas pelo que vi, vai nos ajudar.

— Sim, Ian, ele vai.

— Então este pesadelo finalmente vai acabar e estaremos livres?

— Espero que sim, sei que posso confiar nele, ele não vai fazer nada para nos prejudicar. Eu só não sei o que vai fazer para encobrir tudo isso.

— Ai meu Deus, isto está ficando cada vez melhor, preciso de um trago urgente — Mitchel disse.

— Eu também — Willian disse, e os dois saíram do quarto e foram procurar algo para beber.

— Venha, Emily, vamos deixá-los a sós — Julia disse, a puxando pelo braço e fechando a porta.

— Julia, por favor, quer me explicar como é que a Jayne arruma estes homens lindos? Que xerife encantador.

— Emily! Você é casada, esqueceu?

— Ai, eu não me esqueci, mas também não fiquei cega, eu só estava fazendo um comentário.

— Oh... Deixe Willian ouvir um comentário destes.

— Ai não, Deus o livre! Mas você não o achou lindo também?

— Ah... Eu achei mesmo.

As duas riram e desceram as escadas.

— Como Jayne deixou dele para ficar com Edward? Se bem que ele era lindo, pena que ele tinha um pacto com o demônio — Emily disse.

— Sim, mas pelo que me lembro, ela era apaixonada por esse Ricky, mas ele era um aventureiro na época, esbanjava dinheiro e era boêmio, tinha fama de libertino. Quando papai soube deste suposto romance, a fez voltar para casa, e então ela conheceu Edward. Ele era encantador, fazia de tudo para agradá-la, então quando ele a pediu em casamento aceitou, mas deu no que deu. Claro, que o encantamento dela por Ed não era o suficiente para se casar, pois ela ainda gostava deste Enrique, então papai a forçou.

— Que horror.

— Ele queria ver Jayne livre dele e conseguiu. Mas pelo que Jayne me contou, os dois tiveram uma história muito bonita, e quando ele soube que ela ia se casar com Edward, ele veio atrás dela.

— Oh que emocionante.

— Foi um dia antes de ela se casar. Ele e Edward se desentenderam e brigaram, mas eu não cheguei a vê-lo, por isso não o reconheci. Papai e Edward fizeram um bom trabalho conseguindo evitar que Enrique impedisse seu casamento com Edward.

— Minha nossa, que confusão! Eu me lembro disso, mas como não fiquei sabendo destes detalhes?

— Porque você era muito nova, não falávamos sobre algumas coisas perto de você.

— Ai que injustiça — replicou indignada. — Por isso papai sentiu tanto remorso quando Edward abandonou Jayne e roubou Angel?

— Sim. Ainda bem que Enrique não prendeu Ian, senão iria ser um Deus nos acuda. Pelo jeito ele aceitou a união dos dois, senão eles estariam com grandes problemas.

— Pelo jeito ele não é mais apaixonado por ela, senão ele iria ser impulsionado pelo ciúme e, com certeza, teria dado mais problemas a Ian, ele tem todos os meios para isso.

— Isso eu não sei, quem sabe ele seja, mas se tornou uma pessoa séria que não usaria dos seus meios para levar a melhor, mas pelo jeito que ele falou com Ian, o ameaçando, eu acho que ele inda gosta dela.

— Mas existem várias maneiras de gostar, não é?

— Verdade. Eu só espero que não dê nada de errado entre eles.

 

 

 

 


Capítulo 30

 


Ian queria fazer mais perguntas à Jayne sobre Enrique, mas calou-se, achou que não deveria ficar mexendo naquela história, era passado, que infelizmente ou felizmente voltou para suas vidas.

Ian tinha certeza do amor que Jayne sentia por ele, e sabia que nada a faria mudar seus sentimentos, mas toda aquela confusão e o medo de perdê-la, lhe causavam uma revolução em seu coração e mente; muitas coisas lhe passavam pela cabeça.

Era um pesadelo atrás do outro, “Quando teremos paz?” — se perguntava, e a resposta parece que nunca chegava.

Todos tentaram passar o resto do dia, tranquilos, acalmando seus nervos que quase arrebentaram de tensão após aquela manhã tumultuada e cheia de emoções fortes. Procuraram não tocar mais no assunto.

Pela noite recolheram-se cedo para descansar. Mas Ian por mais que tentasse disfarçar, estava com seus nervos à flor da pele, remoendo-se por dentro.

Ele deitou-se ao lado de Jayne e ficou quieto, deitado de costas com os olhos fechados, tentava dissipar os pensamentos que o estavam atormentando.

— Ian...

— Hum? — resmungou sem abrir os olhos.

— Você ficou me olhando de maneira estranha todo o dia, sem dizer uma palavra depois do que aconteceu hoje de manhã, eu sei que você está engasgado com isso. Por que você não me fala o que está lhe passando pela cabeça?

— Minha cabeça está doendo, eu não quero falar sobre nada, estou tão esgotado que parece que minhas entranhas vão arrebentar.

— Eu sei, querido, todos nós estamos. Quando parece que nos livramos de um pesadelo, logo vem outro atrás, isso parece que nunca tem fim.

— Sim, parece mesmo. E se não me bastasse todo este inferno com este teu marido, ainda me aparece mais um ex-pretendente, marido. Isto não pode estar me acontecendo — respondeu nervoso e sem pensar.

— Ian, o que é isso? Não fale comigo deste jeito que você me ofende. O que está dizendo? Que sou uma mulher cheia de homens?

Jayne estava estupefata com a sua colocação.

— Não foi isso que eu quis dizer.

— Mas foi o que pareceu.

— Por que você não me contou deste romance que teve com este homem quando esteve em Londres? Você fez a mesma coisa me ocultando Edward e de repente eles caem na minha frente querendo arrebentar com minha vida. Acha que eu fico como? Estou prestes a ter uma crise.

— Bem, eu não o ocultei, não falei nada sobre Enrique porque não havia nada para falar, tivemos um romance que acabou porque meu pai não permitiu nosso casamento. Não imaginei que um dia ele apareceria aqui, desse jeito. E eu também nunca lhe perguntei das suas outras mulheres.

— Eu sou homem. Você não tem que me perguntar sobre minhas mulheres.

— Entendo. Lamento que eu não tenha sido uma moça tonta, recatada e virgem para você se casar e também lamento que esteja se sentindo traído por homens que fazem parte do meu passado.

— E eu devo esperar que mais alguém vá aparecer para apontar uma arma na minha cabeça? — disse nervoso e ríspido.

— Não, Ian, ninguém mais vai aparecer. Enrique foi o primeiro homem que eu amei na minha vida, isso foi há muitos anos, e eu era uma mocinha tola e ingênua, mas acabou. E depois, fui obrigada a me casar com Edward que transformou minha vida num inferno, e agora tenho você. Não estou lhe escondendo nada, e não estou gostando do jeito que você está falando comigo. Sei que está nervoso e isso tudo é culpa minha, mas se você está arrependido de ter ficado comigo, pode ir embora e ter sua vida tranquila que eu me viro com meus filhos. Eu sinto muito ter lhe causado tantos transtornos, mas não vou permitir que me julgue desta maneira, você está sendo injusto — respondeu levantando seu tom de voz.

— Jayne...

— Sei que como sua mulher eu lhe devo respeito, mas não vou abaixar a cabeça para nenhum homem nunca mais na minha vida. Se acha que sua vida está ruim, saia deste quarto, assim que melhorar eu vou voltar para a casa do meu pai com meus filhos, de onde você me tirou. Ou talvez fique aqui mesmo, afinal esta casa é minha, não é?

Jayne sentia seu coração em pedaços, não aguentava mais todo aquele pesadelo e ainda agora, ver Ian a julgando por ciúmes, estava se sentindo triste e incompreendida, não esperava que ele a tratasse daquela maneira e não conseguiu segurar as lágrimas que brotaram de seus olhos.

Ian sentia que sua cabeça explodiria, não estava controlando sua raiva nem suas palavras, olhou para Jayne e viu a tristeza estampada em seu rosto e suas lágrimas que lhe corriam pelo rosto.

Tinha que parar com aquilo, Jayne não tinha culpa pelos acontecidos e também pelo comportamento de Edward.

Ele passou as mãos pelo rosto e pelos cabelos como que tentando puxar forças e se acalmar, estava perdendo o controle de seus sentimentos que estavam confusos.

Ele sentou na cama de frente para ela, apoiando-se no braço, respirou profundamente fechando os olhos por alguns instantes e somente então, olhou-a.

— Jayne, me desculpe, eu não quis ofendê-la. Eu estou muito nervoso, nem consigo mais atinar meus pensamentos, eu acho que na verdade eu estou morrendo de ciúmes deste Enrique.

— Ian, não precisa ficar com ciúmes dele, não há mais nada entre nós. Foi uma história que aconteceu há muito tempo e que acabou. Eu sinto um imenso carinho por ele, mas é como amigo, eu te amo e nada vai mudar isso, nunca.

— Tem certeza?

— Tenho toda certeza desse mundo. Eu me entreguei a você de corpo e alma, enfrentei tudo e todos, pensar que você duvida de meu amor é como me dar um tiro. Por favor, não me diga isso que eu não vou aguentar tanta tristeza.

Vendo seus olhos e ouvindo tudo aquilo, arrebatado de tanta dor, ele sentiu como se sua alma estivesse o estrangulando, e fortemente tentou colocar as ideias no lugar.

Ele abraçou Jayne fortemente e ficaram abraçados por um tempo deixando que as lágrimas transbordassem.

Ambos estavam esgotados psicologicamente e não conseguiam controlar suas emoções.

— Jayne, eu te amo. Só queria que isso tudo acabasse para que pudéssemos viver em paz com nosso filho e ir para casa.

— Eu sei, eu também espero que isso tudo acabe logo. Ian, eu não aguento mais, estou me sentindo exausta, não tenho mais forças. A única coisa que ainda me faz respirar é você e meus filhos, então, por favor, diga que confia em mim, que me ama, porque se eu perder você, não sei o que será de mim. Você confia em mim, não confia? Eu nunca menti para você, Ian, por favor, não duvide de mim, do meu amor, que não vou suportar — Jayne disse e chorava aos soluços.

— Shhhh... — disse segurando com as mãos seu rosto. -Jayne, está tudo bem, querida, se acalme. Desculpe-me pelo que eu disse, eu falei sem pensar, eu não quero magoá-la, jamais faria algo para feri-la. Perdoe-me, eu estou muito nervoso. Eu te amo mais que minha própria vida. Eu faço qualquer coisa por você, e eu confio em você, meu amor, e acredito no seu amor. Se acalme, por favor, me perdoe, me perdoe.

Ian recostou sua testa na dela.

— Eu não o culpo de estar bravo, mas ainda há tempo de você ir embora sozinho, se quiser.

— O que está dizendo? Eu não quero ir embora, eu não vou me afastar de você e do meu filho, nunca, entendeu? Eu vou cuidar de vocês e isso tudo vai passar.

— Se você me deixar eu não vou suportar.

— Isso nunca vai acontecer.

— Promete?

— Eu prometo, eu te amo, Jayne, isso nunca vai mudar.

— Eu também te amo, Ian, nunca duvide disso.

Eles se beijaram com paixão e dor, se abraçaram fortemente, seus corações estavam destroçados com tanto sofrimento.

Mas o amor que sentiam um pelo outro, renovava suas forças para continuar lutando pela felicidade e tranquilidade que tanto almejavam.

A única coisa que queriam era estar juntos e cuidar de Angel e Josh.

— Calma, meu amor, vai ficar tudo bem. Deite aqui.

Ian deitou e puxou Jayne para deitar em seu peito, e após algum tempo ali tentando acalmar aquela tempestade que os atingiu, adormeceram.

Quando amanheceu Ian acordou e Jayne estava dormindo com a cabeça em seu peito, ele a abraçou e beijou sua testa, mais um dia viera para completar suas vidas bagunçadas.

Josh acordou e estava resmungando numa tentativa de choro em sua cama improvisada.

Jayne acordou com seu chorinho e olhou para Ian tentando abrir os olhos.

— Bom dia, meu amor. Como está se sentindo?

— Bom dia, eu me sinto melhor — disse sonolenta.

— Vou pegar Josh.

Ele lentamente se desvencilhou dela, levantou da cama e foi até Josh, o olhou com todo o amor do mundo, balbuciou baixinho algumas palavras pegando-o no colo e beijando-o.

Levou-o até a cama e o colocou nos braços de Jayne, ela ajeitou-se para lhe dar de mamar e carinhosamente lhe acariciava os cabelinhos.

— Ian, eu não aguento mais ficar nesta cama, preciso me levantar — disse angustiada.

— Acha que já pode andar?

— Acho que sim, quero tentar, ficar presa aqui nesta cama está me matando, preciso tomar ar fresco.

— Eu posso levá-la até a varanda, você pode ficar lá um pouco e depois acomodar-se na sala, vai lhe fazer bem tomar ar fresco.

— Ah sim, por favor.

— Nosso filho está lindo — disse acariciando seus cabelinhos.

— Está sim, e a cada dia está mais parecido com você.

— Sim.

— Terei dois Ians em casa — disse sorrindo.

— Minha nossa! Agora fiquei com pena de você.

— Mas eu adoro a ideia.

Nisso, ouviram uma batidinha na porta, uma menininha que era mais baixa que a altura da fechadura ficou espiando na porta.

— Oi, mamãe.

— Olá, querida, venha aqui.

Angel entrou, subiu na cama e ficou ao lado de Ian que a abraçou. Ficaram ali um bom tempo conversando e brincando com Josh.

Angel havia se encantado com Ian que a tratava com o maior carinho. Ela adorava brincar com seus cabelos, enrolando alguma mechinha em seus dedos, ela tinha esta mania, fazia isso com os cabelos de Jayne e nos seus também.

— Você vai à cidade? — Jayne perguntou olhando para Ian.

— Sim, vou falar com o xerife e pegar o registro de morte de Edward.

— Você não vai confrontá-lo, não é, Ian?

— Não, não se preocupe. E eu falarei com o médico para que venha lhe ver, assim que ele liberá-la nós iremos para casa. Precisamos voltar logo, a fazenda está abandonada, deve estar um caos. Sei que David e seu pai disseram que cuidariam de tudo, mas fico apreensivo.

— Ai, por favor, não vejo a hora de irmos.

— Vou descer, vou pedir a alguém que traga seu café.

— Está bem, estou faminta.

— Mas antes de ir preciso que você me diga uma coisa — disse se achegando bem próximo aos seus lábios com um doce sorriso.

— O quê?

— Você não sabe?

— Que eu te amo?

— Isso, e mais o quê?

— Beije-me.

Ian sorriu e beijou-lhe docemente.

— Quando eu voltar, eu a levarei à varanda, está bem?

— Está, obrigada.

Ian lhe deu mais um beijo e depois em Josh e em Angel e saiu do quarto deixando-a com os pequeninos. Chegando à cozinha, estavam todos tomando café.

— Bom dia, Ian — Willian disse.

— Bom dia para todo mundo. Alguém poderia providenciar o café da manhã para Jayne, por favor?

— Claro — disse Emily, indo preparar.

— Como você está, Ian? Mitchel perguntou.

— Nem sei dizer como estou, ontem eu perdi o juízo e briguei com Jayne por causa deste Enrique.

— Hum, eu sabia que isto aconteceria, estava escrito na sua cara — Willian disse.

— Ah Ian, eu não acredito! — Julia disse indignada.

— Eu sei Julia, estava tão nervoso que acabei descontando nela toda esta angústia que estou sentindo, mas conversamos e está tudo bem agora.

— Está mesmo, Ian? Porque hoje você vai se encontrar com ele. Pelo amor de Deus, não vá ter uma crise de ciúmes e colocar tudo a perder, ele o tem nas mãos — Mitchel disse.

— Não se preocupem, estou bem. Sei que não tenho motivos para ficar com ciúmes dele, principalmente pelo lado de Jayne, eu confio nela, só preciso acalmar meus nervos.

— Hum, acho bom. Mas eu vou com você para lhe colocar uma rédea, porque esta tua cara está para confusões.

— Eu também vou — Willian disse.

— Tudo bem, mas não se preocupe, eu estou bem, e já vou falar com o médico, para ele ver Jayne, quero ir embora daqui o quanto antes.

Tomaram café e foram para a cidade para se encontrar com Enrique.

Entraram na delegacia e um dos assistentes do xerife veio falar com eles, ele entrou numa outra sala para avisá-lo que eles estavam a sua procura, o homem voltou informando que poderiam entrar.

— Bom dia, xerife.

— Bom dia, Sr. Buller, rapazes — Enrique disse dando-lhe a mão.

— Vim buscar o documento.

— Está aqui — disse o entregando.

— Obrigado. Há algo que precise saber ou que eu possa fazer para ajudá-lo nesta questão de solucionar tudo isso?

— Não. Eu já estou tomando minhas providências, a única coisa que quero é que o senhor cuide de Jayne e que ela fique salva e segura. Posso contar com isso?

— Não se preocupe, eu sei cuidar da minha mulher — Ian respondeu.

— É... Como se não se preocupar com ela fosse fácil — Enrique disse divagando sem se importar com o tom de voz de Ian.

Ian o olhou fixamente e viu que ele ainda era apaixonado por ela, mas não disse uma palavra, na verdade o fuzilou com o olhar, mas abstraiu qualquer coisa que lhe passou pela cabeça, e Enrique o ignorou.

— Preciso ir. Se precisar de algo, sabe onde nos encontrar, vou falar com o médico e assim que puder vou voltar para West Side com minha família.

— Tudo bem, vocês estão livres para irem, espero que Jayne se recupere logo. E não se preocupem, vou cuidar do resto, ninguém irá os perturbar, assim que eu tiver notícias sobre os acontecidos eu mando a vocês.

— Obrigado.

Os três se despediram dele e saíram. Enrique recostou-se na cadeira olhando para a porta, ficou pensativo tentando encontrar soluções e visivelmente estava abalado por aquela situação.

— Enrique, controle-se, não faça nenhuma besteira — disse alto para si mesmo, fechando os olhos e esfregando as mãos no rosto.

Saindo da delegacia os rapazes pararam no meio da rua.

— Vamos falar com o médico, quero sair daqui o quanto antes — Ian disse.

— Ok. Eu não vou nem perguntar o porquê — Mitchel disse olhando para Willian com cara temerosa.

O médico marcou que iria à manhã seguinte ver Jayne para ver se ela já poderia viajar para que pudessem voltar para casa. Voltaram para a fazenda e chegando lá, Ian foi direto falar com Jayne que estava de pé no quarto.

— Você já está andando! — exclamou espantado.

— Já. Eu tentei me levantar, ficar deitada o tempo todo está acabando com minhas costas, mas as dores diminuíram e ficar em pé me dá um alívio. E então como foi lá, pegou este dito papel?

— Peguei, está aqui.

Ian entregou-lhe o papel.

— Então isto quer dizer que eu estou livre? Sou oficialmente viúva?

— Sim.

— Nunca mais quero usar este nome, se pudesse o apagava.

— Infelizmente não pode apagá-lo, mas pode ignorá-lo se quiser, mas Angel está registrada no nome dele, ela vai ter que usá-lo.

— Não me lembre, mas era o pai dela, infelizmente.

— Quanto a isto não há nada que possamos fazer. Mas temos que pensar em registrar Josh.

— Sim, não havia me lembrado disso.

— Quando voltarmos a West Side, eu vou resolver isso. O médico virá amanhã de manhã, e se ele disser que você já pode viajar iremos embora daqui o mais rápido possível.

— Ian, é o que mais desejo, voltar para nossa casa, recomeçar nossa vida — disse o abraçando.

— Ficaremos bem, meu amor, agora nada mais nos impede de ficarmos juntos.

 

 

Capítulo 31

 


O médico foi ver Jayne e constatou que ela estava bem, que já poderia viajar, mas com cuidados, não poderia fazer esforços demasiados.

Estavam eufóricos para voltarem para suas vidas e suas fazendas.

Ian e os rapazes foram à cidade mandar um telegrama para Sr. Cullen avisando que iriam para casa e comprar as passagens para o próximo trem que sairia no dia seguinte para West Side.

Enquanto eles estavam na cidade, Enrique chegou à fazenda, estava sozinho a cavalo. Julia e Emily estavam sentadas na varanda com Jayne quando ele chegou calmamente cumprimentando-as.

Julia olhou para Jayne com os olhos arregalados de susto, ela, portanto, procurou manter a calma.

— Boa tarde, Jayne — disse ele tirando o chapéu e beijando sua mão gentilmente.

— Boa tarde, Ricky.

— Boa tarde, Srta. Cullen, Sra. Jonhson. — Ele beijou a mão de Julia e fez o mesmo com Emily. — Como você está? — perguntou olhando para Jayne.

— Estou bem, obrigada, amanhã iremos para casa.

— Sim, eu sei.

— Sabe?

— Sim, eu falei com o médico e ele me disse que vocês iriam embora amanhã. Ele me passou sua situação e que já estava bem mais recuperada, inclusive me disse, que foi um milagre você e seu filho terem sobrevivido.

— Bondade sua se preocupar, foi um imenso susto.

— Foi mesmo, eu fiquei em pânico pelo estado que ela ficou, também não achei que ela sobreviveria, culpa daquele maldito — Julia disse.

— Por isso vim vê-la, queria saber se você está realmente bem.

— Sim estou bem, não se preocupe, e me diga como estão as coisas, você conseguiu resolver alguma coisa?

— Sim, eu disse que daria um jeito. Já estou tomando todas as providências cabíveis.

— Obrigada, nem sei como lhe agradecer.

— Não precisa agradecer. Onde está o Sr. Buller?

— Está na cidade com os rapazes, você queria falar com ele?

— Bem... Na verdade não, eu queria mesmo era falar com você. Na realidade eu queria lhe fazer uma pergunta.

— Que pergunta?

— Jayne, tem certeza que é isso que você quer? Ficar com Ian?

Jayne se espantou, seu coração acelerou, mas respondeu tranquilamente a ele, dando uma profunda respirada para afastar o susto.

— Sim, Ricky, é o que eu quero. Eu o amo e nós temos um bebê e Angel, somos uma família agora.

Ele tentou não demonstrar desapontamento naquela resposta e continuou calmo.

— Por que você está me fazendo esta pergunta novamente? — perguntou, mas sem querer ouvir a resposta.

— Jayne é que... Na realidade, eu só queria saber se estava bem, eu me preocupo com você, é que lhe ver me deixou meio... Abalado.

— Enrique! — Jayne disse estupefata.

Julia virou os olhos para o céu, recitando uma súplica, mas ficou calada, não disse uma palavra.

— Ham... Jayne, eu acho melhor deixá-los a sós — Julia disse levantando e puxando Emily pelo braço que estava de boca aberta. — Vamos, Emily, anda logo.

Elas saíram da varanda. Jayne esperou que elas saíssem, levantou lentamente da cadeira e escorou-se na cerca da varanda e o olhou.

— Ricky, o que está dizendo? — disse assustada.

— É verdade. Eu não posso negar isso e você me conhece, não sou uma pessoa que mente, inventa histórias ou faz rodeios.

— Eu sei, sua sinceridade às vezes é atroz. Pelo menos nisso você não mudou nada, não é?

— Sim eu sei. Mas eu sou um homem diferente agora, e sinceramente eu quero que você seja feliz com Ian. Mas saiba, que se precisar de mim, pode me chamar a qualquer hora.

— Não se preocupe, nós ficaremos bem, e eu sinceramente quero que você seja muito feliz, você deveria encontrar uma moça boa para se casar.

— Assim eu espero, mas é difícil encontrar duas Jayne neste mundo.

— Ricky, por favor, não me fale estas coisas, você nem deveria estar aqui — disse começando a ficar nervosa.

— Eu sei, mas eu precisava falar estas coisas para você, eu lutei muito para esquecê-la. Na verdade nem sei o que estou sentindo, fiquei confuso quando a vi.

— Meu querido, eu entendo, mas nós tivemos o nosso tempo, foi muito lindo o que vivemos e eu nunca vou esquecer. Eu confesso que te amei muito, foi difícil te esquecer quando voltei para os Estados Unidos. Foi difícil dizer que não queria me casar com você quando eu queria, mas meu pai estava irredutível.

— Sim, eu lembro, mas, foi você que negou meu pedido de casamento.

— Eu sei, Ricky, mas eu acatei as ordens do meu pai. Eu ainda esperei que você fosse me buscar no cais, que me impedisse de embarcar, mas eu esperei em vão, pois você não foi.

— Mas eu vim buscá-la antes de você se casar.

— Era tarde demais.

— Mas eu ainda amo você, Jayne.

— Ricky, por favor, não faça isso, você está confundindo as coisas, você não me ama, você só está confuso. Isso já faz muito tempo, passou.

Jayne estava nervosa, não sabia o que dizer a ele, mas procurava ser a mais amável possível, pois jamais gostaria de ser rude com ele.

— Talvez você tenha razão, acho que eu só estou confuso.

— Você sempre foi a pessoa mais linda e confusa que eu já conheci na minha vida — disse dando-lhe um sorriso doce.

— Eu nunca conheci ninguém como você.

— Ah Ricky! Naquela época nós dois éramos dois tolos, imaturos, aventureiros, queríamos quebrar as regras que odiávamos, e não nos importávamos com reputação, mas isso agora ficou no passado.

— É, acho que sim, mesmo por que, agora você está com Ian e vejo que o ama muito.

— Sim, amo, ele é minha família agora. Amanhã eu irei embora e você vai ver que este sentimento que está o deixando confuso vai passar. Você não me ama mais, só gosta de mim como sua amiga, estamos bem assim? Você foi e sempre será importante para mim, mas somente como amigo, eu não poderei lhe oferecer mais, então, por favor, não me peça mais que isso.

— Está bem, sábia Jayne, eu vou tentar levar suas palavras em conta, pois não há o que eu possa fazer, não é?

— Não, não há.

— Bem... — ele disse dando um imenso suspiro. — Eu preciso ir, já dissemos o que tínhamos que dizer, mas, por favor, da próxima vez que você se meter em alguma confusão que eu seja o primeiro, a saber. Está bem?

— Pode deixar, eu vou tentar não me meter em mais nenhuma encrenca, mas agora eu sei onde achá-lo.

— Então, adeus.

Enrique beijou a mão de Jayne demoradamente com carinho e lhe deu as costas. Jayne vendo-o ir, num impulso o chamou.

— Ricky.

Ele se virou e olhou para ela.

— Por favor, não me odeie por isso, pois eu vou tê-lo no meu coração para sempre.

Ele ficou parado por alguns instantes, olhando fixamente para ela, chegou bem próximo do seu rosto, que ela podia sentir sua respiração, a encurralando contra a cerca. Jayne não esperava que ele se aproximasse tanto e acabou ficando sem reação. Ele com um olhar penetrante e com mil mensagens que ela nem podia decifrar, docemente lhe respondeu.

— Jayne, nunca odiaria você e nunca vou querer vê-la infeliz.

Ele chegou seus lábios bem próximos dos dela quase os tocando, ela puxou o fôlego com dificuldade e sua voz saiu num sussurro.

— Ricky, por favor, vá embora.

Ele, que estava com o coração descompassado, subiu os lábios e lhe deu um beijo na testa, demoradamente.

— Seja feliz, minha querida.

Ele saiu de perto dela em direção ao seu cavalo, ela o ficou fitando e não disse nem mais uma palavra, tentava repor o ar em seus pulmões e desacelerar seu coração. As meninas vendo-o ir embora correram esbaforidas até a varanda.

— Minha nossa, Jayne! Ele ainda ama você, este homem quase derreteu aqui na sua frente — Julia disse boquiaberta.

Jayne com o coração descompassado sentou-se novamente, pois suas pernas estavam bambas.

— Misericórdia! Eu estou tento uma coisa aqui, se Ian escuta uma coisa dessas, ele o mata — Emily disse completamente branca.

— Parem com isso que eu já estou nervosa o suficiente.

Jayne pegou um copo de água que estava na mesinha ao seu lado e bebeu todo de uma vez.

— Ai, mas é verdade, se Ian estivesse aqui teria o matado.

— Emily, nem me diga uma coisa destas, pelo amor de Deus!

— Jayne, o que você sentiu quando ouviu isso tudo?

— Como assim, vocês estavam ouvindo a conversa?

— Ai me desculpe, a gente ficou atrás da porta, nós estávamos morrendo de curiosidade — Emily disse.

— Ai meu Deus!

— Mas responda logo, o que você sentiu?

— Não sei, estou confusa.

— Minha nossa! — Emily gritou espantada.

— Não é isso que estão pensando, só fiquei atordoada, não estava esperando ele dizer estas coisas, e ele não está apaixonado por mim, só está confuso. Eu amo Ian e nada nem ninguém vai mudar isso, jamais.

— Mas isso, eu acho que não. Enrique ama você, ele disse com todas as letras, ai meu Deus. Ian morre de ciúmes dele, se sabe que ele esteve aqui e lhe disse estas coisas, ele vai enlouquecer.

— Então é melhor não falarmos nada, amanhã vamos embora e isso tudo acaba.

— Ai Jayne, você não vai contar a Ian que ele esteve aqui?

— Não sei, posso até dizer, pois não quero mentir para ele, mas não posso dizer isso que ele falou. O que querem? Que Ian faça uma loucura? Já chega a discussão que tivemos por causa do ciúme de Ian por ele. Ai meu Deus, não quero nem pensar no que poderia acontecer. Mas o que é isso? Minha vida toda resolveu cair na minha cabeça de uma vez só?

— É melhor não dizer nada, ainda bem que iremos embora amanhã, porque isso está me cheirando a encrenca das brabas.

— Minha Nossa Senhora! — Julia disse com as mãos no rosto.

— Que encrenca, eu nem vou mais lavar minha mão — Emily disse.

— Emily! — Julia e Jayne gritaram ao mesmo tempo a olhando.

— Ai está bem, não falei nada.

As três acabaram rindo da situação. Jayne levantou apoiando-se na cadeira e escorou-se na cerca pensativa e com um olhar triste.

— O que foi, Jayne?

— Eu disse a Edward que Angel era filha de Enrique.

— O quê? — Emily gritou com os olhos arregalados.

— Angel é filha de Enrique? Jayne? — Julia perguntou boquiaberta.

— Não. Eu menti, ela é realmente filha dele.

— Por que fez uma coisa destas?

— Eu queria puni-lo. Sabia que ia me matar naquele momento, então eu quis tirar algo dele. Queria que sofresse, assim viveria se remoendo pelo resto da vida. Talvez ele não sentisse remorso de me matar, mas sei que sofreria de saber que Angel, sua princesinha, não era sua filha legítima.

— Minha nossa! Ele acreditou nesta mentira louca?

— Angel nasceu de sete meses, ela teve pressa em nascer — ela disse sorrindo. — Nasceu pequenininha, mas era saudável, nem sei como era tão forte nascendo antes da hora. Então aquilo me veio à cabeça naquele momento. Mesmo que depois ele fizesse contas e soubesse que era sua filha, a dúvida nunca o deixaria em paz. Eu somente o queria ver sofrer, puni-lo por tudo que ele fez.

— Você deve ter conseguido. Ferir os brios de um homem é a morte para eles. Com isso, você praticamente arrancou Angel dele.

— Sei que sim. Eu vi o quanto ele a amava, e vi a dor nos seus olhos quando eu disse isso. — Ela respirou profundamente. — Eu realmente gostaria que ela fosse filha de Ricky, assim, seria fruto de um amor puro e não daquele monstro.

— Mas sua filha é um anjo, puxou você, não terá nada daquele maldito. Ele já deve estar no inferno.

— Eu queria estar feliz de tê-lo feito sofrer, mas eu não estou.

Não sou como ele. Mas isso tudo acabou, agora somente quero esquecer que ele existiu na minha vida. Ir embora daqui com Ian e meus filhos e ser feliz.


**


No outro dia arrumaram suas coisas e foram à cidade, não tinham muitas bagagens a não ser as coisas de Angel e de Kate. Colocaram os cavalos no vagão de carga, que eram os últimos atrelados.

O trem partiria e todos estavam acomodados em suas cabines, Angel estava eufórica, pois adorava andar de trem e ficava com os olhos vidrados em Josh que estava acordado, mas quietinho aconchegado no colo de Kate.

Jayne, felizmente não estava sentindo as dores terríveis que a atormentou por dias.

Antes de o trem partir, ela olhou pela janela avistou Enrique montado em seu cavalo, parado do outro lado dos trilhos. Ele a avistava pela janela do trem e estava imóvel, olhando fixamente em sua direção.

Jayne, vendo-o, sentiu um frio lhe percorrer a espinha, pois se lembrou do que ele lhe disse no dia anterior.

Ela comentou a Ian que Enrique esteve na fazenda, mas que somente viera trazer notícias sobre os acontecidos, não tocou em nenhuma outra palavra sequer sobre o que ele lhe disse, e nem em sonho poderia.

Ian ouviu o que ela disse, e não fez nenhum comentário, se sentiu algum ciúme o engoliu a grosso, não iria ter outra discussão com Jayne por causa dele, mesmo por que, já estavam de partida e aquilo ficaria para trás.

Ela desejava que Enrique fosse feliz, mas entre os dois não haveria mais nada, pois agora seu coração pertencia a Ian.

Ele acenou um adeus e ela retribuiu com um sorriso doce e discreto, encostando seus dedos na janela.

O trem apitou por três vezes anunciando que partiriam da estação e lentamente começou a pegar velocidade e partiu com destino à West Side.

A viagem foi tranquila, mas cansativa. Quando chegaram à West Side, os pais de Jayne os estavam aguardando. Todos se abraçaram e Sra. Cullen finalmente conheceu seu neto e ficou emocionada ao rever Angel.

Todos seguiram para suas casas, pois necessitavam de seus lares para descansar.

Sr. Cullen, havia ido de charrete à estação e os levou para a fazenda de Ian. Ficou um tempo com eles, falando a respeito da fazenda, de algumas providências que tomara na ausência de Ian e também das confusões que ocorreram na cidade na ausência deles, inclusive a que se referia a eles.

Ian e Jayne também contaram a seus pais tudo que havia ocorrido por lá depois que Sr. Cullen e David haviam deixado a fazenda, deixando-os estarrecidos com tudo.

Jayne ajeitou Josh no bercinho, até seu semblante mudou, parecia que o pequeno havia saído de um ambiente ruim e chegado a um de paz. Dormia tranquilamente.

— Ai meu Deus! Eu nem acredito que estamos em casa.

— Verdade, é um alívio.

— Kate, por favor, prepare este quarto para Angel, você pode dormir aqui também, não quero que ela fique sozinha, pois pode acordar no meio da noite e se assustar.

Afinal é uma casa estranha para ela, amanhã verei os pormenores, veja se ela quer comer alguma coisa, nem sei o que há na cozinha, mas ela já está tão sonolenta que acho que nem vai querer comer nada, só dormir, talvez um leitinho quente.

— Sim, senhora — Kate disse vendo lençóis limpos para colocar na cama.

— Você também precisa descansar, querida — Ian disse.

— Ah sim, estou muito cansada, mas estou feliz de estar de volta, parece que eu acordei de um pesadelo.

— Sim, agora vamos voltar à nossa vida normal, mas com uma diferença.

— Qual?

— Voltamos com dois filhos. — Os dois riram.

— Verdade, trabalho dobrado.

— Amanhã vou colocar tudo em ordem.

— Sim. Agora nós temos tempo, aos poucos ajeitaremos tudo, felizmente papai tomou conta da fazenda e ele disse que David vinha para ajudar.

— Nós vamos começar uma vida nova, e vamos deixar o passado todo para trás, recomeçar do zero. Agora nossa família está segura e unida e é assim que vai ficar.

— Isto é o que mais almejo nesta vida.

Ian e Jayne ficaram abraçados por alguns minutos, depois foram se aconchegar em sua cama.

— Jayne? — disse abraçando-a e acariciando levemente sua pele com as pontas dos dedos.

— Hum?

— Hoje eu já disse o quanto eu a amo?

— Não, pensei que não diria.

— Eu sempre vou lhe dizer; todos os dias de minha vida, eu te amo.

— Eu também te amo.

— É maravilhoso estar aqui na nossa cama novamente, ela nunca pareceu tão aconchegante.

— Verdade.

Jayne beijou Ian, parecia que se não o beijasse todo o tempo, lhe faltava o ar.

— Querida, pare de me beijar.

— Não consigo. Ainda não me recuperei de minha saudade. Não gosta que eu o beije? — disse sussurrando com um sorriso.

— Não vivo sem eles, mas quando você me beija, meu corpo queima, então como não podemos fazer nada por um tempo, não me provoque.

— Mas eu não estou lhe provocando — disse rindo.

— Mas é o suficiente.

Ela riu e deitou em seu peito e ficaram alguns minutos assim.

Tiveram uma noite tranquila de sono, como não tiveram desde que Edward reapareceu, aliás, este nome seria apagado o mais rápido possível de suas mentes e de suas vidas para que pudessem ter vida nova.

**


Como se aquilo fosse uma necessidade dos rapazes sentiram a enorme vontade de estarem todos reunidos e compartilhar a alegria de estarem de volta, juntos e todos bem.

Foram todos à fazenda de Ian ao entardecer e fizeram sua famosa roda de viola ao redor do fogo.

Aquilo era uma festa, na realidade, todos estavam sentindo-se leves e eufóricos para retomarem suas vidas e terem finalmente um recomeço.

— Meus amigos, eu estou feliz, não sou dado a sentimentalismos, mas vou confessar uma coisa, esse negócio é contagioso. — Todos riram e ele continuou. — E é ainda melhor com uísque e uma bela costela assada.

— Minha vida não tem sido fácil e eu acabei envolvendo todos vocês nas minhas confusões, mas graças à ajuda de vocês eu estou com Ian e meus filhos comigo e salvos, isso jamais poderei pagar — Jayne disse.

— Jayne, querida, tudo valeu a pena e um brinde a isto — Mitchel disse.

— Ah! Estava demorando ele pedir o brinde — Willian gritou.

— Claro, é praxe.

Todos brindaram animados e imensamente felizes.

— Bem... Já que estamos aqui reunidos, Mitchel, por que você não fala aquilo que me confessou no trem? Acho que é a melhor hora.

— Ai Ian, mas aqui, assim? — Mitchel disse sem jeito.

— Claro. E por que não? Vamos homem.

— Falar o que? — Willian perguntou.

— Ai fala logo, eu quero saber — David disse.

— Está bem, deixe-me tomar um gole para tomar coragem.

Ian riu para Jayne, Mitchel tomou um enorme gole de uísque, soltou o copo e deu uma profunda respirada, todos estavam quietos e esperando para ver o que ele ia fazer ou dizer, somente Ian que sabia da conversa.

Mitchel foi até a frente de Julia que estava sentada perto dele e se ajoelhou na sua frente. Julia, não entendeu o que ele estava fazendo, somente ficou o olhando curiosa.

Ele tomou ar como se fosse o último de sua vida, fechou os olhos por alguns instantes pegando sua mão e olhou para ela.

— Julia, minha querida, eu sei que posso ser irresponsável e tolo perante seus olhos, mas eu quero saber se você aceita se casar comigo?

Julia ficou boquiaberta, pois não esperava que ele a pedisse em casamento, seu coração bateu descompassado e o ar esvaiu-se. Todos se olharam espantados, mas esperando que Julia dissesse sua resposta.

Ela ficou o olhando por alguns segundos e então respondeu.

— Mitch, eu aceito me casar com você.

Todos gritaram para os dois e se abraçaram, Mitchel deu um beijo carinhoso em Julia e seu coração parecia que lhe ia saltar do peito e todos os abraçaram parabenizando-os.

— Então finalmente vamos brindar aos noivos e vamos torcer para o Sr. Cullen conceder a mão dela — Ian disse, feliz.

Brindaram em comemoração àquele momento de felicidade, cumprimentando os noivos. O restante da noite foi de emoção e alegria, todos estavam iluminados de felicidade.

Estavam escapando de um passado que queriam esquecer e recomeçar vida nova. Todos buscavam a felicidade como se ela fosse uma estrela cadente que caía do céu, e eles tentavam alcançar com suas mãos.

 

 

 


Capítulo 32

 


Alguns meses se passaram e todos estavam tocando suas fazendas.

Ian entregou à Jayne as escrituras que encontrou na casa de Edward. Ele não queria nada daquilo e deu aval para ela fazer o que quisesse. A princípio ela não quis usar nada, mas depois de refletir resolveu que usufruiria de tudo.

Afinal, Edward havia roubado seu Haras que ela havia recebido de sua avó como dote pelo casamento.

Ela passou as escrituras de todas as propriedades a seu pai e pediu que ele vendesse tudo, e ele o fez, somente não vendeu a casa que ficava no Novo México, mas a alugou para um comerciante que se instalou na cidade por uma boa quantia mensal.

Jayne deu a seu pai o dinheiro que havia sido roubado de seu banco por ordem de Edward, como não teve como devolver o restante, pois não sabia exatamente de onde viera.

Enrique poderia ter confiscado tudo se quisesse, mas resolveu dar como oficialmente de Jayne, que ele considerava ter direito.

Então, ela investiu o dinheiro na fazenda, reformaram e aumentaram a casa, compraram novos cavalos, cercaram toda a fazenda e fizeram uma bela entrada.

Mandaram construir um novo estábulo e coxias e tudo mais que eles precisavam para montar seu grande haras. Trabalhariam com a reprodução dos puros-sangues e coberturas como haviam planejado.

Jayne e Ian compartilhavam do mesmo sonho e trabalhavam juntos, ela tinha ideias à frente de sua época e conhecia as técnicas.

Os dois se davam muito bem tanto no trabalho, como na convivência familiar, nunca havia discussão, intriga ou qualquer coisa que lhes faltasse com amor.

Jayne não viu mais Enrique, mas ele lhe enviou algumas cartas contando que tudo estava resolvido sobre as questões legais sobre os ocorridos e que eles estavam finalmente livres de qualquer acusação.

Willian e Emily anunciaram que teriam um filho, estavam embevecidos de tanta alegria. Ele não parava de sorrir nem por um minuto e seus lindos olhos verdes brilhavam ainda mais.

Emily, com seu jeito moleque estava tão feliz que tagarelava sem parar, era uma diversão estar perto dela.

Willian estava indo muito bem com sua fazenda, seu rebanho aumentou consideravelmente e eles preparavam a casa para a chegada do seu primeiro filho.

David e Mary estavam muito bem e felizes, ele estava criando gado de corte, também deu um salto descomunal em seu rebanho.

Mitchel aproveitando a chegada de seu casamento estava ajeitando a fazenda para receber Julia, queria que ela ficasse confortável. Eles haviam marcado seu casamento para dali um mês e planejavam uma imensa festa.

Sr. e Sra. Cullen estavam radiantes e pareciam dois tolos com seus netos Josh e Angel, e com a espera da chegada do filho de Emily.

Aceitaram o casamento de Julia, quando Mitchel suando frio foi pedir sua mão oficialmente.

Sr. Cullen reconheceu a mudança e dignidade que Mitchel lhe demonstrou em todos aqueles meses, fazendo-o ceder à vontade da filha.

Jayne decidiu que uma parte do dinheiro da venda daquelas propriedades deveria ir para seus amigos, afinal eles salvaram sua vida e eram esposos de suas irmãs, salvo David, mas ela o considerou da mesma maneira.

Ela deu uma quantia a cada um deles, para que pudessem melhor se acomodar e melhorarem suas fazendas.

Todos estavam empenhados em crescer e constituir suas famílias da melhor maneira possível.

Jayne pagou o empréstimo que David havia feito no banco para reconstruir sua casa, pois afinal, ela foi queimada pelos bandidos de Edward, ela achou que tinha esta obrigação, o que para David foi um alívio, pois apesar do banco não ter cobrado juros altos, as prestações eram.

O que ela não investiu, guardou, para alguma eventualidade. Ian ficou orgulhoso dela por estas atitudes, ele não se intrometeu na decisão do que ela deveria fazer com o dinheiro, mas ficou feliz, pois ela soube usá-lo bem.

Parecia que depois de tanta tempestade uma nuvem de paz e prosperidade se abateu sobre eles, e rezavam todos os dias para que continuassem abençoados.

Jayne estava recuperada e vivendo os seus mais intensos momentos de felicidade com seus filhos e seu marido. Para ela, não havia alegria maior que vê-los reunidos e felizes.

Angel estava tão apegada a Ian que já o chamava de papai e ele ficava encantado.

A primeira vez que o chamou assim, foi no dia de seu aniversário que eles lhe compraram um pônei. A pequena ficou deslumbrada quando o viu, e Ian foi lhe ensinar a montar.

No início, Angel perguntava por seu pai, mas com o passar do tempo, ela deixou de perguntar e considerava Ian como tal.

Josh estava cada dia mais sorridente e feliz ria à toa quando Ian o pegava no colo e conversava com ele com sua voz imponente.

Jayne tinha o costume de ler histórias para Angel que nunca largava seus livros e Josh acostumou-se com aquilo e a ouvia atentamente mesmo sem entender o que ela dizia; somente o som de sua voz era suficiente.

Esta era a rotina da família Buller antes de irem dormir, Ian e Jayne com seus filhotinhos, como ela os chamava, na cama lendo histórias infantis ou poesias e vendo a pureza infindável de um pequeno gesto que irradiava tanta magia e amor.

Nunca mais tocaram no assunto de casamento, agora que Jayne era oficialmente viúva poderiam se casar para sair daquela situação.

Ela esperou que Ian a pedisse, mas nunca pediu. Isso a deixou triste, mas ver os sorrisos em seus rostos e a união da sua bela família era o ar que ela precisava para oxigenar seus pulmões.


**


No dia que as meninas foram à cidade para ver a modista para as provas do vestido de Julia, estavam eufóricas. Todas haviam encomendado seus modelos e estavam vendo os últimos detalhes.

Jayne queria um vestido simples, mas por insistência das irmãs escolheu um mais elaborado, com ricos bordados no decote.

Segundo elas, deveria estar radiante, pois merecia aproveitar tudo que tivesse direito.

Como sua felicidade estava plena, concordou com a opinião das irmãs, afinal, queria estar bonita para Ian, que não havia um só dia que não dissesse que ela estava linda e quanto a amava.

— Julia, você está tão linda com este vestido — disse Jayne olhando-a provar e fazendo os ajustes. — Vai ser uma festa linda.

— Vai. Estávamos vendo se nós iríamos fazer pela manhã ou à tarde como foi o seu e de Emily, mas resolvemos que será de manhã.

— O de Emily — Jayne emendou.

— O quê?

— O casamento... De Emily, ela se casou, esqueceu?

— Ai, desculpe-me, Jayne. Mas consideramos o seu também.

— Eu sei — disse com uma pontinha de desapontamento.

— Jayne, desculpe-me perguntar, mas vocês não pensaram em se casar de verdade? Agora você é livre, Ian não lhe pediu?

— Não. Nós nunca mais tocamos neste assunto, mas estamos juntos, isso é o que importa.

— Sim, querida, nem esquente sua cabecinha com isso.

— Verdade, Julia, eu não me importo mesmo.

— Então... — disse Julia mudando de assunto. — Papai insistiu para que o casamento fosse na sua fazenda, e mamãe usará toda a prataria e cristais que ela tanto preza.

— Verdade, ela está eufórica, afinal, vai casar a última filha.

— Isso é.

— Mas eu adorei o seu vestido, você vai ficar linda, Jayne, e este modelo com os ombros de fora é muito moderno para a primavera. Combina com você e este seu nariz empinado e altivo.

Jayne riu do comentário.

— Eu também gostei, Ian vai me achar bonita.

— Ah, como se ele não a achasse bonita até vestindo trapos, mas quando a ver vestindo isso, vai ter um ataque. — As duas riram.

— Bem, eu achei um pouco exagerado, mas vocês insistiram.

— Não está exagerado — Emily disse.

— Tudo bem... — disse rindo. — Angel vai ficar uma princesinha com este vestido, e Josh também, eu já arrumei a roupinha dele.

— Ai Jayne, seus filhos estão lindos — Emily disse.

— Estão sim, Josh está cada dia mais parecido com Ian. Seus olhos são iguais — Jayne respondeu com um imenso sorriso.

— E Angel com você.

— Ah sim. Eu nem acredito que a tenho comigo, parece um sonho.

— E deste sonho não vai acordar, querida.

— Eu espero que meu filho seja a cara de Willian, de olhos verdes e com os cabelinhos bem pretos — Emily disse suspirando.

— Ah sim, realmente ele tem olhos lindos — Jayne disse.

Elas viram tudo e voltaram para casa, pois logo entardeceria. Jayne chagando em casa foi direto ver Josh e Angel que ela havia deixado com Kate.

— Tudo bem por aqui?

— Ah sim senhora, eles se comportaram como uns anjinhos e eu estou muito feliz de trabalhar para os senhores. Eu nunca me senti tão livre.

— Também estamos muito satisfeitos que tenha aceitado me ajudar a cuidar de Angel e Josh, e além do mais, você cuidou de Angel desde bebê, se fosse embora, ela sentiria muito a sua falta.

— Nada me fez mais feliz, senhora, eu os amo muito.

— Que bom, Kate. Onde está Ian?

— Está no celeiro, a pouco ele passou aqui para ver os pequenos.

Jayne saiu e foi até o celeiro, entrou e não o avistou.

— Ian, está aqui?

— Estou aqui nos fundos.

Ela foi até lá e o avistou arrumando um monte de feno com um tridente. Chegou perto dele, sorridente, ele estava sem camisa e com os cabelos lhe caindo sobre os olhos.

— Adoro ver seus cabelos caindo no seu rosto, o deixa muito charmoso.

— Hum, e eu adoro quando você deixa seus cabelos soltos. — Ele lhe deu um beijo. — E então, fizeram tudo? Mulheres escolhendo roupas, estas futilidades me parecem um tanto demoradas.

— Sim, eu escolhi meu vestido pensando em você, quero ficar bonita.

— Minha querida, você é linda de qualquer jeito e tem muito bom gosto em tudo que escolhe, apesar de que odeio espartilhos.

— Obrigada.

Ele a beijou e num súbito a derrubou no feno a fazendo gritar e rir e logo a beijou, lhe acariciando o corpo.

— Ian, alguém pode nos ver.

— Não há ninguém aqui, já mandei os empregados embora.

E ali sobre o feno fizeram amor.

Aquela chama entre eles era sempre latente, um desejo que nunca findava. Recato e pudor eram palavras que não existia entre eles.

Serem marido e mulher era uma escolha baseada no amor e uma intensa paixão. Nada era uma obrigação, eram espontâneos, soltos, leves e imensamente apaixonados.

Amavam-se na simplicidade e cumplicidade. Eram diferentes dos casais de sua época que mantinham frias aparências, eles eram intensos, ardentes e a cama era qualquer lugar onde sentiam desejo.

 

 

 

 

 

 

Epílogo

 


No dia do casamento de Julia e Mitchel, todos foram cedo para a fazenda dos Cullen para preparar-se, era uma bela manhã de domingo de maio.

O dia estava agradabilíssimo, todo o jardim que já estava belíssimo com a chegada da primavera e era arduamente cultivado pela Sra. Cullen como uma de suas paixões, foi preparado para o casamento.

Para o almoço havia vários pratos saborosos e diversos tipos de doces para as sobremesas e fizeram um grande fogo de chão para assar as carnes.

Prepararam um belo altar e o reverendo realizaria a cerimônia. Não havia muitos convidados, somente a família e os amigos mais chegados, tudo foi decorado com cuidado e elegância como era de costume da Sra. Cullen.

Todos estavam muito elegantes, as mulheres com seus vestidos novos e ornados, com a cintura extremamente marcada pelos espartilhos e realçando suas ancas traseiras com os fofos tufos de tecido.

Os cabelos ajeitados ornados com chapéus que combinavam com os vestidos ou belíssimas presilhas de pérolas.

Os homens, com suas elegantes casacas e coletes, sem deixar o detalhe do relógio de bolso que mostrava sua corrente presa ao botão.

Enquanto ajeitavam os últimos preparativos, Julia vestia-se. Ela usava um belíssimo vestido com detalhes de renda e um corpete.

A saia era imensamente fofa em camadas no traseiro, ornada com flores de tecido e a cauda era longa que arrastava um pouco pelo chão na parte de trás.

Jayne arrumou as crianças que estavam parecendo anjos, colocou algumas pequenas flores do campo no cabelo longo e ondulado de Angel que estava com uma alegria contagiante.

Jayne colocou seu vestido tom pérola com os ombros desnudos, ornado com flores de tecido e fitas em tom de verde-claro e rosa.

A criada havia prendido seu cabelo da frente com uma belíssima presilha, e grampos atrás, deixando somente alguns cachos caindo nas costas.

— Vamos, minhas meninas, está na hora. Estão lindíssimas! — disse Sra. Cullen terminando de ajeitá-las.

— Meu Deus, eu acho que vou desmaiar — Julia disse amassando as mãos.

— Acalme-se, querida, não vai doer nadinha — Jayne disse rindo. — Deixe para desmaiar mais tarde, agora você vai se casar com o homem que ama e isso é motivo de festejar, não desmaiar.

— Minha nossa! Mas estas minhas filhas são umas princesas — o Sr. Cullen disse, sorrindo quando as viu descendo as escadas.

— Obrigada, papai — Jayne disse dando-lhe um beijo no rosto. — Eu vou indo, pedirei que comecem a música do violino, então podem seguir.

— Jayne, minha querida, espere um momento — ele disse a segurando pelo braço. — Vire-se, por favor, filha.

Jayne o olhou e não entendeu, mas se virou. Ele então pegou um lenço e a vendou.

— Papai, o que está fazendo? — perguntou assustada.

— Calma, querida, antes do casamento de Julia, nós temos uma surpresa para você, então não pode espiar, vou colocar a venda que é para você não fazer quando era criança, que me enganava — ele disse rindo.

— Surpresa para mim? Como assim, pai, mas agora? Está na hora do casamento, Julia vai se atrasar.

— Eu sei, mas vai ser rápido, agora segure no meu braço e eu a guiarei. Não se preocupe, eu só quero lhe mostrar algo.

— Está bem, pelo jeito não tenho muita opção.

— Não, não tem.

Eles começaram a andar e Jayne percebeu que estavam do lado de fora da casa e com cuidado ele a ajudou a descer as escadas da varanda.

— Aonde vamos?

— Calma, já estamos chegando.

— Ai papai, que curiosidade, o que é?

— Chegamos.

Ele retirou a venda dos olhos de Jayne e ela o olhou. Julia estava sorrindo ao lado dele.

Ela então olhou para o lado e deparou-se com os convidados silenciosos, os esperando, mas todos estavam sorrindo para eles.

Ela então olhou para o altar e avistou Ian parado lindamente, com um sorriso que abalaria até a terra, ao lado de Mitchel.

Jayne sentiu um frio lhe percorrer a espinha, mas ainda não estava entendendo nada.

— Pai, eu não estou entendendo, o que é isso?

— É seu casamento, Jayne. Agora vai ser de verdade.

— O quê? — Jayne estava com seus pensamentos atrapalhados.

— Sim, Jayne, nós casaremos juntas, esta é uma surpresa que Ian quis lhe fazer. Por isso ele estava tão quieto sobre isso.

Jayne pensou que desfaleceria. Olhou para seu pai que parecia emocionado.

— Minha filha, eu sei que errei com você. Foi minha culpa você ter se casado com Edward. Portanto, agora você encontrou o homem certo, que vai cuidar de você. Espero que seja feliz.

— Oh papai... Obrigada.

Jayne abraçou seu pai e chorou de emoção. Seu coração estava transbordando de ansiedade, alegria e emoção.

Ela olhou para Ian que estava nervoso, mas sorria para ela encantado com sua beleza e surpresa.

Jayne o fitou por alguns segundos e lágrimas lhe rolaram pela face. Julia quando viu Mitchel, sentiu suas pernas amolecerem.

A música de violino começou a tocar e Sr. Cullen andou até o altar com uma filha de cada lado, estava emocionado.

Ele havia perdido o ar austero, intolerante com o passar dos anos, por levar muitos solavancos da vida e principalmente, pelo amor que sentia por suas filhas.

Ele percebeu que a felicidade de sua família era mais importante que a sociedade e o status. Chegando à frente de Mitchel e Ian, Sr. Cullen as entregou dando um beijo na testa de Julia e um em Jayne.

Sra. Cullen chorava, e secava as lágrimas com um lencinho branco de linho, ornado em renda. Ian pegou na mão de Jayne e a beijou.

— Oi, amor — disse mansamente, com um imenso sorriso.

— Oi — ela disse tentando conter-se na emoção.

— Você está deslumbrante, é a mulher mais linda que eu já vi na vida.

— Você também está lindo. Eu... Eu não esperava por isso.

— Vou ter que perguntar-lhe... Você quer se casar comigo?

— Sim. Esta foi a melhor surpresa que você poderia me dar.

Ele a beijou e ela, não se contendo, o abraçou e assim os dois ficaram esquecidos do mundo ao redor.

Até que o reverendo pigarreou e eles, emocionados, de soltaram e riram. Então, se viraram para o reverendo e ele começou a cerimônia.

A cerimônia foi curta e bonita e ao final, os noivos beijaram-se e todos os abraçaram, cumprimentando-os.

Finalmente Ian e Jayne casaram-se de verdade. O maior amor que alguém poderia sentir estava repousado ali. A vida deu uma trégua.

O amor, uma chance. Duas almas foram unidas pelo amor, capazes de enfrentarem qualquer obstáculo para estarem juntas.

Os quatro casais inseparáveis encontraram seus caminhos e juntos seguiriam suas vidas, construindo suas famílias e enfrentando as imensas aventuras que a vida supostamente lhes traria naquela pequena cidade do Texas, onde a lei era para poucos.

Mal sabiam eles quais aventuras seriam, mas o que importava não era o que viria, e sim, como enfrentariam. E a única certeza que tinham é que sempre estariam unidos pelos laços de amor e amizade.

 

 

                                                   Janice Ghisleri         

 

 

 

                          Voltar a serie

 

 

 

 

      

 

 

O melhor da literatura para todos os gostos e idades