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Series & Trilogias Literarias
Haviam se passado quatro anos desde o casamento de Ian e Jayne e eles continuavam apaixonados.
Eles viviam harmoniosamente e usufruíam os mais felizes anos de suas vidas. Tudo estava perfeito.
Josh, com quase quatro anos de idade, estava um esplendor de menino, feliz, sorridente e ficava enlouquecido quando via os cavalos.
Ian, era um pai muito atencioso, adorava colocá-lo consigo no cavalo e andar com ele pelos pastos. Mostrava-lhe tudo e conversava com ele, dizendo que quando crescesse, o ajudaria na fazenda, que seria um grande homem.
Encantado, o pequeno Josh o olhava como se todas as suas palavras lhe fizessem sentido.
Angel, que estava com quase doze anos, já montava muito bem os cavalos de grande porte. Era uma menina linda, adorável e muito parecida com a mãe.
Jayne e Ian incentivavam-na a galopar e ela passava horas com os cavalos e sempre faziam piqueniques.
Sempre desfrutavam o máximo de tempo que podiam, os quatro juntos.
A fazenda estava indo muito bem, conseguiram desenvolver-se nos negócios de reprodução de cavalos de raça. Por poucas vezes tiveram dificuldades ou problemas, obtiveram sucesso e os lucros eram generosos, recompensando seus esforços. Eles trabalharam incansavelmente, ampliaram e reformaram a casa grande e melhoraram muito a fazenda.
O casal Buller ficou conhecido entre os criadores de cavalos, por muitos condados dos Estados Unidos.
Seus cavalos eram da mais alta estirpe e o sêmen de seus garanhões, valiam uma quantia considerável.
Contrataram vários empregados armados, que ficavam sempre de prontidão para segurança da fazenda, pois o aumento de roubo de cavalos era alarmante na região, e se tratando de reprodutores, um único cavalo custava uma pequena fortuna.
Ian era muito atencioso e protetor, tinha medo que bandidos tentassem invadir a fazenda e pudesse, não somente, roubar seus cavalos, mas pôr em risco a vida de Jayne e das crianças.
Ambos estavam orgulhosos um do outro, conseguiram o que qualquer ser humano gostaria de ter, amor, felicidade, uma família maravilhosa, dinheiro e reputação.
Willian e Emily estavam felizes, cuidando atentamente de seu amado filho Ethan, assim como David e Mary, que encantados, viam sua pequenina Samantha, que começava desfrutar das alegrias da vida.
Mitchel e Julia estavam bem, mas ainda não haviam sido agraciados com um filho, o que lhes trazia certo desconforto, mas procuravam viver harmoniosamente.
As vidas dos quatro amigos que traçaram seus destinos, andavam a passos largos. Nos quatro anos que se passaram, viveram momentos de paz e harmonia.
Seus laços de amizade continuavam fortes e sempre que podiam estavam juntos, ajudavam uns aos outros, compartilhavam os momentos de alegria e preocupações.
Naquele ano, o inverno fora rigoroso, a neve caiu impiedosa tornando os pastos brancos. Os fazendeiros tinham trabalho dobrado para cuidar e tratar o gado e os cavalos, pois não havia pastagem. O trabalho ao ar livre era penoso, levantar cedo como de costume era árduo, mas necessário.
As crianças pouco saíam de dentro de casa, a não ser pelo fim da manhã e início da tarde, se o sol fosse generoso, e a diversão era brincar com a neve. A paisagem esbranquiçada dava às montanhas uma beleza descomunal.
Mas com a chegada da primavera, a paisagem começava a mudar, os pastos esverdeavam, possibilitando que as criações se alimentassem e se divertissem. O sol resplandecia com mais força e o vento já não era cortante.
Os picos das colinas mais altas eram as últimas a perder seu branco pela neve. Mas pelas manhãs, ainda era frio e acordavam com os intensos nevoeiros que cobriam a paisagem e a noite, ainda era mais longa.
Flores exóticas e coloridas começavam a florescer, dando uma beleza peculiar àquele lugar.
Os grandes cactos pareciam imponentes no meio da relva rala e as imensas árvores enchiam-se de folhas verdes.
Era a vida respirando pelos vales de West Side.
Capítulo 1
Na tarde de sexta-feira, findando seus afazeres, Jayne foi orientar o jantar. Ian demorou mais tempo nas coxias, até que foi para casa e sentou em uma cadeira de balanço na varanda.
— Pensei que ia dormir com os cavalos — Jayne disse, sorrindo para ele e lhe dando um copo de refresco.
— Quase. Mas amanhã estarei livre para ficar com você e meus filhotes — disse sorrindo e bebendo um gole do refresco.
Ian esticou as pernas e respirou profundamente.
— Meu querido, o que tem para fazer agora? — Jayne perguntou, sentando em seu colo e abraçando-o.
— Bem... Eu pretendia descansar, pois estou exausto, tomar um banho.
— Está cansado para mim também?
— Para você, nunca.
— O que você acha de nós termos um momento a sós?
— Acho ótimo. O que tem em mente?
— Você vai saber se vier comigo. Confia em mim?
— Sempre... — disse sorrindo, dando um beijo na aliança de Jayne.
— Então pegue os cavalos que eu já volto.
Ela foi para a cozinha e Ian ao estábulo, pegou seu cavalo e o dela, que ainda estavam encilhados.
Ela saiu com uma pequena cesta na mão, os dois subiram nos cavalos e começaram a andar devagar.
— Aonde a senhora vai me levar? — Ian perguntou, curioso.
— Há tempos não vamos ao lago para ver o pôr do sol juntos e sozinhos. Hoje, o horizonte está vermelho, acho que merecemos isso, não acha?
— Não poderia ser melhor!
— O que seria de você sem mim? — ela disse, sorrindo.
— Provavelmente eu seria um homem chato e triste.
— Chato e triste eu não sei se seria, mas, pelo menos, não teria ninguém para vencer você na corrida.
Jayne atiçou o cavalo e saiu em disparada, forçando Ian a ir atrás dela. Ela adorava bater corrida com ele, e muitas vezes ela o vencia. Os dois correram pelos pastos, alegremente, até chegarem ao lago, que tinha uma vista maravilhosa para contemplar o pôr do sol.
Eles adoravam tomar banho ali que era um local isolado e tranquilo, com a água translúcida e refrescante.
Quando chegaram, Jayne desceu do cavalo e Ian fez o mesmo.
— Ian, eu acho que você me deixa ganhar quando batemos corrida, seu cavalo corre mais que isso — disse rindo.
— Ah! Acho que não, você é muito boa nisso e eu já ganhei de você. Aliás, você sempre sai na minha frente.
— Hum... Eu acho que está me enganando.
— Acho que minto bem, não é?
— Não. — Os dois riram. — O que está pensando agora?
— Não consegue adivinhar?
— Não.
— Então acho que vou ter que lhe mostrar. — Ian pegou Jayne no colo e foi até a beira do lago e a jogou nele, fazendo-a gritar e afundar na água. Quando emergiu, ela começou a rir.
— Ah! Ian... Está gelada! Você me deve! — gritou.
— Eu pago o que você quiser — disse rindo e pulou na água e foi se encontrar com ela, se abraçaram e beijaram, apaixonadamente.
— Nunca pensei que pudesse ser tão feliz — ela disse, ajeitando os cabelos de Ian, que lhe caiam nos olhos.
— Eu também, querida. — Ele a beijou docemente. — O que você trouxe naquela cesta?
— O que você gosta... Vinho, queijo, algumas frutas.
— Espero que nossa vida seja sempre assim, cuidando um do outro.
— Sempre vou cuidar de você. Eu não quero que seu amor por mim morra nunca.
— Jayne, isso é impossível.
— O mesmo acontece comigo, você é maravilhoso.
— Mesmo quando judio de você e a jogo na água? — perguntou rindo.
— Ah sim, às vezes você me judia demais.
— Então, vamos beber o vinho? Esta água está gelada demais.
Eles saíram do lago e Jayne tirou a saia e a torceu, ficando de ceroulas.
— Minha nossa, isto pesa muito!
— Não sei por que vocês usam roupas tão complicadas.
— Às vezes eu me pergunto a mesma coisa, eu acho que vou começar a usar calças — disse rindo.
— Seriamente? Calças como homem? Teria coragem?
— Ora e por que não? Seria muito mais prático para andar a cavalo e fazer minhas atividades, pelo menos para ficar na fazenda seria ótimo. O que acha? Permite-me usá-las? Muitas mulheres já usam. Não em West Side, claro, mas nas grandes cidades e na Europa.
— Você e suas modernidades. Sempre me surpreende com as suas ideias fora do juízo.
— Ian...
— Tudo bem... Se você quiser, pode usar, mas somente na fazenda. Nada de calças na cidade, não quero falatórios.
— Sim, senhor.
Ian arrumou os longos cabelos molhados de Jayne para trás, lhe caindo nas costas. Depois a abraçou, suspendeu-a nos braços, fazendo com que ela ficasse com as pernas enlaçadas em sua cintura e os braços ao redor do seu pescoço.
Ele começou a dançar lentamente e cantarolar uma música lenta. Jayne ficou o olhando, sorrindo, encantada com o gesto carinhoso e o ouvindo cantar. Quando ele parou de cantar, eles beijaram-se.
— Eu te amo tanto — ela sussurrou.
— Eu também. Jayne...
— Hum?
— Vinho...
Ele a saltou num solavanco, fazendo-a pensar que cairia; ela gritou de susto, mas ele logo a agarrou, rindo, e a pôs no chão, os dois riram e ela deu um tapa em seu braço.
— Oh, mas não toma jeito! Qualquer dia vai me derrubar.
— Nunca.
Jayne abriu a cesta, estendeu uma toalha no chão e colocou encima uma travessa com queijos e frutas, vinho e os copos. Sentaram-se e serviram-se, sentindo uma imensa alegria e paz.
Ian pegou duas mantas e colocou uma sobre seus ombros e uma sobre os dela.
O pôr do sol mostrava-se magnífico, deixando o céu azul mais escuro, com rajados de laranja e vermelho, que se misturavam, criando desenhos com algumas nuvens. Era deslumbrante.
Estes momentos sozinhos, que de vez em quando se proporcionavam, renovava o sentimento puro e simples de amor que sentiam e apreciavam qualquer pequeno gesto que um fazia para o outro e nunca deixavam de celebrar o amor.
Eles ficaram apreciando cada palavra, cada toque, cada sensação, debaixo daquela imensa pintura criada por Deus.
Adoravam a natureza e a usufruíam da melhor maneira possível para emoldurar seu amor.
**
Ian estava na varanda, tomando café na sua canequinha de esmalte. Peça qual, Jayne nunca conseguiu fazê-lo abandonar, e nem sua mania de repousar o pé na cerca da varanda, que o ajudava a impulsionar a cadeira de balanço.
Ele estava trajando uma grossa jaqueta, longa até os joelhos, de couro marrom, com gola de pelo de carneiro, sobre uma camisa e um colete e com um lenço amarrado ao pescoço, uma calça se sarja marrom mais clara e bota com as esporas engatadas no calcanhar.
Este era seu hábito matinal para ver o amanhecer, antes de sentar-se à mesa do café da manhã com a família.
No geral, acordava quando o galo cantava e ele mesmo fazia seu café e ia para a varanda, deixando Jayne dormir mais um pouco. Isso, quando não se permitia ficar na cama com ela até mais tarde.
Ele ficou olhando os três amigos, Mitchel, Willian e David se aproximarem em seus cavalos, pela entrada principal da sua fazenda.
— Bom dia, amigos — Ian disse feliz ao vê-los.
— Bom dia, Ian.
— Todos aqui há essa hora? Está tudo bem?
— Esqueceu-se que havíamos prometido pegar um cavalo para Angel?
— Ah! Não me esqueci, mas achei que não viriam hoje, estava adiando isso, não sei se é uma boa ideia pegar um Mustangue para ela.
— É no que dá ficar contando histórias aventureiras para seus filhos — Mitchel disse.
— Eu? Ora essa... — disse olhando de cara feia para os rapazes.
— Mas se você não trouxer um hoje, vai ter que trazer amanhã, porque ela não vai desistir desta ideia — Willian disse, zombando dele.
— Isto é. Ela quer um cavalo selvagem, e ainda disse que quer domá-lo! Esta menina vai me dar um trabalho quando ficar mais velha.
— Com certeza! — David disse rindo.
— Eu acho melhor você preparar logo sua espingarda, pois ela vai se tornar uma mulher linda, e os gaviões começarão a rondar.
— É inevitável, ter filha mulher é sempre assim — Ian disse.
— Bom dia, rapazes — Jayne disse, chegando à varanda.
— Bom dia, Jayne.
— Vocês vão à exposição na Califórnia? — Willian perguntou.
— Estamos pensando, mas creio que sim, será muito bom para os negócios, haverá muitos fazendeiros importantes.
— Haverá premiação para garanhões reprodutores, deveríamos inscrever Thor e Diamante, eles estão perfeitos, Ian — Jayne disse.
— Sim. Se eles ganhassem uma premiação, nós teríamos um bom lucro e compradores, aumentaria os pedidos de cobertura.
— Então, estão esperando o quê para decidirem? Ouvi dizer que o prêmio é uma verdadeira fortuna.
— É que eu quero que Jayne vá comigo, mas não seria bom levar as crianças e deixar a fazenda sozinha por tantos dias.
— Mas será possível que vocês dois não podem se desgrudar por uma semana? Jesus! Eu acho que em vez de casarem, vocês dois foram colados.
— Não comece, Mitchel! — Ian disse rindo.
— Ora, é verdade, casal favo de mel. Mas James é muito responsável, Ian, ele cuidará bem da fazenda, acho que não deve se preocupar.
— Verdade. James está sendo muito valioso aqui como capataz, mas ele deve voltar logo para a fazenda do papai. Afinal, ele foi um empréstimo — Jayne disse sorridente.
— Will está tentando me convencer a ir também — David disse.
— Isso David, seria bom, terá a parte de gado também, acho que poderá fazer negócios — Ian disse.
— Acho que você tem razão, será uma boa oportunidade.
— Bem, então vamos indo? Temos uma lida braba para achar um Mustangue selvagem para sua filha, Sr. Buller.
— Vamos.
Todos foram para seus cavalos.
— Vocês vão atrás de um Mustangue? — Jayne indagou.
— Sim, vou fazer um agrado para Angel trazendo um, mas não diga nada até voltarmos, pois pode ser que não consigamos hoje — Ian disse.
— Você vai mimá-la desse jeito, Ian — Jayne disse sorrindo.
— Olha quem fala... E você havia concordado.
— Eu sei, mas tenho medo que ela se machuque com ele.
— Não se preocupe. Não confia em mim para domar cavalos?
— Nunca vi melhor domador que você.
— Pois é, domei você — disse rindo.
— Ah, claro, como havia me esquecido disso? Não vai comer nada?
— Roubei um pedaço de bolo na cozinha — ele disse sorrindo e Jayne riu.
— Então, tome cuidado.
— Sempre tomo. Até mais — disse lhe dando um beijo.
Os rapazes passaram a manhã em função de capturar o Mustangue, voltaram já era depois do meio dia com um, muito rebelde, que dava pinotes o tempo todo. Com muito trabalho, conseguiram colocá-lo no cercado. Jayne e Angel foram vê-lo.
— Papai, que lindo! — Angel gritou eufórica.
Ele, muito sorridente veio ao seu encontro.
— Gostou dele?
— Sim!
— Então é seu. Papai prometeu e aí está ele.
Angel gritou e pulou em seu pescoço o abraçando, estava numa felicidade sem tamanho.
— Vou domá-lo, o senhor me ajuda?
— Claro, querida. Mas você precisa ter paciência e cuidado. Não pense em montá-lo até eu disser que pode, estamos entendidos?
— Sim, senhor. Eu posso ficar aqui com ele?
— Claro, vá pensando em um nome bem bonito.
— Pode deixar.
Ela saiu correndo e subiu no cercado pelo lado de fora, ficou olhando para ele, com um gigantesco sorriso e Ian foi até Jayne.
— Chame os rapazes, vão se lavar para poderem almoçar. Não pensei que demorariam tanto, devem estar famintos.
— Este deu mais trabalho do que pensei, ele é terrível.
— E mesmo assim vai dar a ela?
— Eu disse que era terrível, e não impossível de domá-lo.
— Vocês é que são impossíveis. Desse jeito vão me deixar de cabelos brancos. Vamos, vou pedir a Anna que aqueça o almoço.
Capítulo 2
No outro dia, todos se encontraram na fazenda de Willian, para o rotineiro encontro das famílias e para comemorar o aniversário de Emily.
Os Cullen também participaram do almoço, para parabenizar a filha e aproveitar para estarem com a família reunida.
— Fazia tempo que não nos reuníamos assim — Willian disse.
— Sim, eu estava com muito trabalho — Ian disse.
— Ainda não conseguiu terminar aquela porteira?
— Não, mas quero deixar pronta antes de viajar.
— Este nosso encontro está ficando lotado — Mitchel disse rindo, vindo de encontro de Ian e Willian que estava com o Ethan agarrado à sua perna.
— Sim. Antigamente éramos somente nós quatro e agora, olha quanta gente, isso me deixa feliz. E você Mitch, já era hora de terem filhos, já faz tempo que casaram. Há algo errado? — Ian perguntou, cauteloso.
— Não há nada errado. Quando for a hora, teremos um filho.
Ian viu que algo estava estranho, mas não insistiu para não constranger Mitchel, preferiu se calar.
— Beba e se anime, vamos parar de atormentá-lo — Ian disse.
— Oh eu agradeço. David, eu acho que você poderia casar a Samantha com o Ethan ou Josh.
Todos riram.
— Minha nossa, isso vai demorar! — Willian disse rindo.
— Minha filha ainda é um bebê e você já está falando em casamento?
— Ora, pelo menos saberia tudo sobre a família do homem que vai casar com ela — disse rindo.
— Sabe que até gostei da ideia? — David riu.
— Eu também gostei da ideia — Ian disse.
— Temos dois homens e uma mulher, alguém vai sobrar.
— Agora tem que ver se isso acontece daqui há alguns anos — Willian disse.
— Sim, muitos anos... — David disse, fazendo careta.
— Nós devemos ficar atentos, pois pode acontecer o mesmo que aconteceu com o David e a Mary, que foram criados tão juntos que pareciam até irmãos e deu no que deu.
— Ah, verdade!
— Há muitas famílias que fazem isso. Comprometem os filhos de pequenos, para se casarem quando crescerem.
— Verdade. Mas eu não gosto deste costume — Ian disse.
— E como minha princesa terá dois pretendentes, não poderei fazer isso, pois não saberia qual dos dois escolher, Josh ou Ethan.
— Escolhe Josh, é mais rico — Mitchel disse rindo.
Eles riram com gosto, olhando para a cara que Ian fez.
— Mitchel, que interesseiro — Ian brincou.
— Ora, foi uma piadinha.
— Vamos comer — Willian disse, retirando a carne do fogo.
Dirigiram-se para a mesa montada para acolher a todos e serviram-se. Depois de almoçarem, foi servido um café e um licor que Ian havia levado.
— Emily, eu gostaria de dar meu presente.
— Oh, Will, obrigada, meu amor. O que é? — disse animada e sorridente, esfregando as mãos de ansiedade.
Emily pegou um pequeno embrulho quadrado, rasgou o papel pardo, envolto com um barbante e avistou uma caixinha, abriu-a e dentro havia uma corrente de ouro com um pingente em forma de coração, todo trabalhado com belíssimos e delicados relevos.
— Willian!
— Ele abre — disse, mostrando como fazia.
Emily abriu e dentro, de cada lado, havia uma pequena foto, uma de Ethan e outra de Willian. Ela ficou emocionada e abraçou-o.
— Will, é maravilhoso! Como conseguiu estas fotos?
— Ah! Isto foi difícil, na verdade é uma pintura em miniatura.
— É lindo!
Ele a ajudou a colocá-lo no pescoço e ela o abraçou fortemente. Todos deram os presentes que haviam trazido para ela, foi um momento de balburdia e alegria.
Emily parecia uma criança recebendo presentes. Jayne olhou para Julia e a viu meio estranha e calada e foi falar com ela.
— Julia, você está bem?
— Sim. Por que pergunta?
— Eu acho que você anda triste ultimamente. O que está errado?
— Nada, querida, eu só quero ir para casa descansar.
— Hum... Está tudo bem entre você e Mitchel?
— Está, não se preocupe, é só cansaço.
— Sei que não é isso, pois eu a conheço. Se não quiser me contar, não vou perguntar mais, mas se precisar conversar, estou aqui.
— Minha irmã, não se preocupe, eu estou bem e não há nada de errado.
— Está bem...
Ficaram reunidos até meados da tarde quando o sol já havia sumido e todos estavam querendo descansar no fim do sábado.
— Jayne, se você for viajar com os rapazes, cuide do meu marido — Emily disse.
— Por que eu tenho que cuidar dele?
— Lá deve ter muitas mulheres bonitas.
— Se eu tiver que cuidar de Ian e Willian eu vou ter trabalho.
— Ai não fale assim, que já fico com ciúmes.
— Eu achava melhor é o Willian se preocupar com a Emily, porque tem um fogo isso aí — Julia brincou.
— Ai, Julia. Eu só falo, mas não faço nada, sou uma mulher direita e amo meu marido, mas olhar não mata ninguém. Falando nisso tem um peão trabalhando na fazenda que é tão bonito!
— Emily, sua louca, fique quieta! — Jayne disse, espantada.
— Eu estou quieta, não estou fazendo nada.
— Mas está falando.
— Está bem, eu vou fechar minha boca. Mas que aquele Nick é bonito, ah isso é!
— Emily! — Julia e Jayne disseram juntas, arregalando os olhos.
— Um dia você vai se meter em encrencas por ser tão desbocada. Meu Deus, menina, onde perdeu seu recato?
— Jayne, você me conhece, eu estou brincando.
— Eu sei que sim, mas se alguém estranho ouvi-la pode levar a sério e sua reputação vai à lama. Willian poderia zangar-se. É melhor irmos, está tarde e eu quero ficar com meu marido o resto do dia — Jayne disse.
— Ah que novidade! — Emily disse, zombando dela. — Você e Ian vivem integralmente em uma lua de mel. — Todas riram.
— Verdade. Ian é maravilhoso e cada dia o amo mais.
— Sim, minha irmã, tivemos muita sorte.
— Verdade. Pelo menos desta vez — disse sorrindo, satisfeita.
**
O dia de domingo estava despontando preguiçoso, assim como os moradores de West Side. O nevoeiro já estava levantando e o sol estava tímido atrás das montanhas.
Ian havia contratado alguns empregados que moravam na fazenda. Construíra alguns ranchos na parte de trás para eles, um pouco distante da casa grande, e eram encarregados de tratar as criações pela manhã e tirar o leite fresco.
Coisa que Ian quis conseguir, já que antigamente, era ele que tinha que fazer isso.
Sua vida mudou consideravelmente e sentia-se orgulhoso do que conquistou em tão pouco tempo, com a ajuda de Jayne. Procurava proporcionar tudo de bom que pudesse dar a ela e aos seus filhos.
Isso permitia que ele não precisasse mais levantar tão cedo nos fins de semana como era acostumado a fazer, mesmo porque, adorava ficar um pouco mais na cama com ela.
Jayne acordou e se aconchegou para sentir o calor de seu corpo.
— Está com frio? — ele sussurrou, ainda sem abrir os olhos, abraçando-a.
— Aham... Quando você vai colocar minha lareira no quarto?
— Desculpe, eu lhe prometi isto para este inverno, não foi?
— Foi. Não cumpriu sua promessa.
— Eu sei, mas vou providenciar, eu prometo... Tem certeza que quer fazer isso? Nunca vi lareira no quarto, você e suas manias.
— Tenho, mas agora você vai ter que me esquentar.
— Com todo o prazer, meu amor — disse enroscando-se mais nela e colocando sua perna por cima das suas coxas. — Venha comigo para a Califórnia, assim teremos um tempo somente para nós, eu vou adorar viajar com você. E você é minha sócia, precisa estar presente para receber o primeiro prêmio do seu cavalo Diamante.
— Hum... — resmungou dengosa e pensativa, com um sorriso.
— Podemos fazer dessa viagem a nossa lua de mel, já que não tivemos uma, como você me contou. O que acha?
— Acho ótimo, mas nós vamos a trabalho.
— Meu amor, nós não ficaremos em função disso o tempo todo, e nós podemos fazer coisas que nunca fizemos. Podemos ficar num bom hotel, ir a restaurantes, passear, podemos ver o mar.
— Ian, agora você me convenceu, vai ser maravilhoso!
— Ótimo. Vou à cidade mandar o telegrama para a organização para inscrever Thor e Diamante e vamos preparar tudo. Mas... O que você acha de nós começarmos nossa lua de mel agora e aí você termina de me convencer a ter a dita lareira.
— Acho perfeito — disse sorrindo e o beijando.
**
Jayne e Ian prepararam tudo para levar Thor e Diamante para a exposição, deixaram Kate e as crianças com os pais dela. Sr. Cullen andava adoentado e a presença alegre das crianças o deixava feliz.
Jayne, Ian, Willian e David acomodaram os cavalos no vagão traseiro do trem, próprio para o transporte de cavalos e embarcaram no vagão para os passageiros.
O novo modelo da Maria Fumaça que estava passando por West Side era requintado, fazia longas distâncias, era preparado para acomodar os passageiros em cabines privadas e bem decoradas.
O vagão-restaurante servia refeições e bebidas, tudo era confortável, desde os aposentos até o Ala Carte.
O que era desconfortável era o valor do bilhete da passagem que era um tanto exorbitante, mas para fazer uma viagem cruzando diretamente quase três estados com comodidade, era necessário.
Passageiros que não podiam pagar tal luxo, viajavam em outra Maria Fumaça, com vagões apenas com bancos. Eram obrigados a descer nas paradas para dormir das estalagens, para no dia seguinte seguir viagem.
A viagem foi longa e cansativa, fazendo algumas paradas no Novo México e no Arizona, mas eles transformavam tudo em diversão, estavam apreciando a viagem como um longo passeio.
Chegando à Nova Califórnia, Jayne e Ian levaram Thor e Diamante para o seu local reservado na exposição, os entregaram para o encarregado que iria lhes dar banho, cuidar de seu pelo e alimentá-los.
Tudo estava bem preparado para que os cavalos fossem bem cuidados. Enquanto isso, David e Willian levaram as bagagens para o Hotel Califórnia Plaza, e depois, foram para a exposição para se encontrar com os dois.
— Ian, eu acho que vai ser uma ótima exposição — Jayne disse.
— Sim, querida, eles são profissionais, tudo aqui é de primeira. Já avistei alguns fazendeiros importantes e pelo que vi dos outros cavalos, teremos boas chances de conseguir alguma premiação.
— Também espero, vai ser ótimo. Veja... — disse enganchada no braço de Ian e cochichando discretamente. — Aquele é o Sr. Callahan, um criador excêntrico de gado que tem o abatedouro que lhe falei.
— Hum... Ele demonstra sua excentricidade pelas suas vestes — Ian disse brincando e olhando de relance para ele.
— Sim, meu amor, mas para nós o que vale é a boa impressão que nos cabe dar a ele e o dinheiro que ele traz no bolso.
— Verdade — concordou rindo.
— Onde está David e Willian? Eles têm que conhecê-lo, se eles fizerem negócios com ele, será ótimo.
— Não sei, devem estar por aí, já devem ter vindo do hotel. Vou procurá-los, vai ficar aqui?
— Sim. Vou falar com algumas pessoas e com ele — disse ela, apontando discretamente com a cabeça.
— Cuidado, há muitos gaviões por aqui, principalmente este Sr. Callahan, pelo que sei, adora uma bela mulher.
— Hum, é mesmo? Não havia percebido.
— Engraçadinha.
— Não se preocupe, meu amor, garanto que não há ninguém aqui que me interesse mais do que você.
Ian, sorrindo, lhe deu um beijo no rosto e se afastou, ficou andando pelo espaço reservado olhando tudo, até que avistou Willian e David, conversando e olhando o gado que estavam em um cercado.
— Ora, quem eu vejo, meus amigos se regalando com uma bela vista.
— Ian, veja que gado magnífico.
— Pela marca é do Sr. Callahan — disse os analisando. — Ele está aqui, vocês têm que falar com ele.
— Por quê?
— Porque além de criador ele possui um abatedouro, ele pode comprar seu gado.
— Ótimo. Você o conhece?
— Só de vista, mas Jayne o conhece. Ela pode apresentá-lo.
— Onde ela está?
— Nas baias, vão até lá, eu irei ver alguns cavalos.
— Está bem, até mais.
Ian continuou andando e sentiu que estava sendo observado, mas não deu atenção, seguiu cuidadosamente olhando tudo.
Quando ele estava distraído, com seus olhos exigentes para analisar os cavalos, escorado com os braços cruzados numa cerca e com um dos pés na grade baixa, alguém chegou ao seu lado, fazendo de conta que olhava para os cavalos.
— Boa tarde.
— Boa tarde, senhora — Ian disse, olhando para a dama elegante que parou ao seu lado.
— Senhorita — ela corrigiu. — Admirando os cavalos?
— Sim, é meu trabalho.
— Você mora aqui?
— Não, eu moro em West Side, no Texas.
— Ora vejam, vindo de longe para ver cavalos?
— Não só ver, fazer negócios e também trouxe dois cavalos para concorrer ao prêmio.
— Que ótimo. Você vende cavalos?
— Vendo e trabalho na reprodução.
— Hum, isso parece interessante.
— E a senhorita, conhece cavalos?
— Não, somente gosto, eu estou a passeio.
— Que bom. — Ian a olhou bem, ela era uma moça bonita e bem-vestida. Mas ela o olhava de uma maneira tão devastadora que Ian virou o olhar, sentindo-se incomodado.
— Vai haver uma festa, um baile por causa da exposição, o senhor gostaria de me fazer companhia?
Ian a olhou rapidamente e espantou-se com aquele convite.
— Ham... Desculpe, senhorita, mas eu sou casado — disse mostrando a mão com a aliança.
— Ora, mas isso não impede que o senhor me acompanhe, não é? Como amigos — disse, jogando um charme sedutor para cima dele.
Ian ficou sem jeito com aquela investida direta e virou-se para encará-la de frente.
— Não quero ser rude, mas impede sim. Se eu for ao baile, eu irei com minha esposa, ela está aqui comigo.
— Uma esposa que acompanha o marido em exposições, isto é inusitado, geralmente as esposas ficam em casa, cuidando dos filhos.
— Não é esse o caso. Se me dá licença, eu tenho que ir senhorita... — disse, fazendo menção que esperava que ela dissesse seu nome.
— Srta. Austin — disse oferecendo a mão.
— Encantado, com licença — disse beijando sua mão e lhe deu as costas.
Ela ficou indignada com o seu descarte, não era acostumada que lhe dessem as costas daquela maneira, dificilmente se negavam aos seus encantos. Quando ele estava se afastando, ela o chamou.
— Senhor... — Ian se virou. — O senhor não me disse seu nome.
— Buller, Ian Buller.
Ele fez reverência e se virou novamente, saindo de perto dela.
Ela ficou o admirando de longe. O achou incrivelmente lindo e encantador, pena que não se interessou por ela, ou melhor, se ele não fosse casado e metido a fiel, teria admirado sua beleza e aceitado seu convite.
Assim passava pelos seus pensamentos. Que homem era fiel à sua esposa?
Ian se encontrou com Jayne que conversava com um senhor muito distinto. Enquanto se aproximava, lembrou-se logo dele.
— Sr. Crawford, que prazer vê-lo novamente.
— Boa tarde, Sr. Buller. Igualmente — disse apertando sua mão.
— Veio comprar algum cavalo?
— Sim, vou comprar. Mas eu acho ótimo que o tenha encontrado aqui, poderemos fazer negócios novamente.
— Ótimo, e como estão as crias?
— Sr. Buller, nós estávamos falando disso, os cavalos estão espetaculares, realmente seus garanhões são de primeira.
— Obrigado, senhor.
— Eu ampliei minha fazenda no Colorado, vou mandar alguns cavalos para lá. No próximo mês quero levar duas éguas maravilhosas que adquiri num leilão e eu quero que emprenhem, pode fazer isso?
— Por certo. É só me avisar quando vai mandá-las.
— Eu já lhe mostrei Thor e Diamante, Ian, e ele quer cria deles.
— Ah sim, estes dois cavalos estão esplendorosos, garanto que a cria deles será perfeita.
— Muito bem, entrarei em contato, mas agora, se um dos seus garanhões ganhar a premiação, não vá me extorquir — disse rindo.
— Pode deixar, mas o senhor sabe que será mais valorizado — Ian disse sorrindo.
— Sim, eu sei. Boa sorte.
— Obrigado e até mais.
Jayne enganchou no braço de Ian e continuaram andando lentamente.
— Minha esposinha não perde tempo.
— Não mesmo — disse sorrindo.
— Falou com o Sr. Callahan?
— Sim. Já o apresentei a David e Willian, os três estão conversando neste momento.
— Hum... E ele se comportou com você?
— Ele é um galanteador, meu querido, arrebata belas mulheres.
— Sei... E a senhora foi arrebatada também?
— Fui sim, mas por outro homem.
— É mesmo? Quem, eu posso saber? — disse a olhando espantado.
— Não sei se você o conhece, ele tem uns olhinhos puxados, cabelos compridos, me deve uma lareira... — Ian começou a rir antes que ela terminasse de falar.
— Muito engraçada.
— Já está escurecendo, vamos para o hotel? Estou realmente cansada.
— Vamos.
Saíram da exposição e Ian olhando para trás, para ver se via David e Willian, avistou aquela mulher novamente que andava atrás deles, mas distante.
Ian fez de conta que não a viu, mas sabia que ela o estava cuidando.
— Amanhã vai ter um baile para abertura do evento, vamos? — ela perguntou. — Disseram que iam enviar nossos convites para o hotel.
— Ouvi falar, podemos ir.
Pegaram um coche de aluguel e seguiram para o hotel e pegando a chave na recepção encaminharam-se ao quarto.
— Nossa, que lindo! — Jayne disse olhando ao redor e retirando o chapéu que glamourosamente combinava com seu vestido.
— Eu adorei esta cama. É bem maior que a nossa... E olha que eu acho a nossa grande — Ian disse rindo.
— Pelo menos aí não tem perigo de cair da cama.
— Ah, isso aconteceu só uma vez — ele disse soltando uma bela gargalhada, lembrando-se do episódio em que os dois brincando, rolaram na cama e caíram-no chão.
— Quero tomar um banho naquela banheira ali. Que maravilha que tem sala de banho! Não gosto das salas de banho públicas.
— Eu também não, assim nós podemos tomar banho, juntos — disse a abraçando.
— Adorei esta parte — disse beijando seus lábios suavemente.
— Quero jantar no quarto, assim não precisamos nos vestir para ir ao restaurante, queria ficar aqui à vontade.
— Está ótimo. Minha nossa! Como adoro luz elétrica. Quando é que vamos ter este luxo na nossa casa?
— Nem imagino, mas penso que quando estivermos muito velhos.
— Ian, este hotel deve custar uma fortuna — disse olhando ao redor. — Temos dinheiro para isso?
— Não importa. Eu pedi o melhor quarto e não se preocupe com isso.
— Hum... Estou começando a gostar disso.
Os dois sorriram e se abraçaram.
— Eu vou providenciar na recepção que tragam o jantar e água quente para o banho. Volto logo — Ian disse.
Capítulo 3
No outro dia foram para a exposição, conversaram com muitas pessoas, viram criações e engataram negócios. Pela tarde foram passear pela cidade.
A cidade era bem desenvolvida, com belíssimas construções e atrações.
Uma grande e opulenta casa de ópera foi construída em estilo barroco com detalhes em Art Nuveau, e trazia atrações e óperas europeias.
Havia belos restaurantes, casas e lojas, carros circulando entre as charretes, damas desfilando modelos de roupas vindas da França.
Ficaram espantados em ver moças andando num modelo excêntrico de bicicleta, vestindo uma calça estranha chamada blummer. Viam-se mulheres vestindo roupas com características de raízes espanholas e inglesas e muitos mexicanos com suas roupas características.
A modernidade em Nova Califórnia, que muitos já a chamavam somente Califórnia já era nítida. Ian e Jayne andavam pelas ruas centrais de braços dados, demonstrando alegria e curiosidade, comentavam sobre tudo que viam com euforia.
Os dois foram a uma modista que havia vestidos prontos e Jayne provou vários. Precisava comprar um vestido elegante para ir ao baile que exigia rigor. Ian a acompanhou, não tinha muita paciência, mas fez um esforço para não deixá-la sozinha.
— Jayne, você provou vários vestidos, já escolheu?
— Já.
— Qual deles?
— Nenhum dos que você viu.
— E por que não me mostrou?
— Porque será surpresa, hoje à noite você verá.
— Ah! Você e suas surpresas. Vamos, estou morrendo de fome.
Pegaram as caixas e voltaram ao hotel, trocaram de roupa para irem jantar no restaurante. Era refinado, com pratarias e cristais, luminárias estrategicamente colocadas, dando ao restaurante um ar aconchegante a meia luz. Pediram uma deliciosa refeição e para beber, um champanhe.
— Um brinde a nós — ele disse erguendo uma belíssima taça de cristal talhado, brindaram e beberam, olhando-se carinhosamente.
— Meu amor, você está me olhando de maneira diferente, o que houve? — perguntou olhando para Ian, desconfiada.
— Minha querida, eu não sei. Parece que algo aconteceu dentro de mim nos últimos dias, parece que de repente sinto mais necessidade de ficar perto de você. De fazer tudo com você. Eu tenho vontade de sorrir só de olhar seu rosto. Parece que meu amor está diferente, não sei explicar o que é. Parece difícil ficar sem ter você na minha mira. — Ian pegou na mão de Jayne sobre a mesa. — Eu te amo cada dia mais e sei que você é a única pessoa que vou amar na vida. Não quero me separar de você, nunca.
Jayne colocou sua outra mão sobra a dele, emocionada.
— Fico tão feliz de ouvir isso, Ian. Eu sinto o mesmo por você, sou tão grata pelo seu amor. Eu também não consigo ficar muito tempo sem olhá-lo. Eu te amo muito, meu amor.
— Obrigado por ter vindo comigo — Ian beijou sua mão.
Ambos se olharam com um sorriso terno, com os olhos compenetrados um no outro, felizes de estarem juntos.
Serviram o jantar e eles o degustaram lentamente, conversaram e sorridentes aproveitaram aqueles doces momentos.
Terminando o jantar, eles foram para o quarto se aprontar para o baile. Ian vestiu sua roupa nova e elegante, brigando com a gravata, como sempre.
Jayne se fechou no quarto de trajes, havia solicitado uma camareira do hotel para lhe ajudar com as vestes, deveras complicadas, e para arrumar seu cabelo. Ela já havia ido embora, mas Jayne ainda não havia saído do quarto.
— Jayne, está viva aí dentro?
— Já vou sair, só mais um segundo.
— Mulher, estamos atrasados! — disse olhando o relógio de bolso. — Mulheres e suas roupas — resmungava impaciente enquanto arrumava o cabelo.
Quando Jayne saiu do quarto, Ian a olhou dos pés à cabeça. Ela ficou olhando para ele com um sorriso.
— Minha nossa! — disse boquiaberto.
Jayne deu uma voltinha fazendo charme, para que ele visse o belíssimo vestido vermelho com o corpete estruturado e uma pequena manga fofa, que deixava seu colo e ombros nus.
As ancas traseiras, fofas em tufos de tecidos, lhe deixavam com a silhueta bem marcada e elegante, e completando o seu inebriante visual. Usava uma luva longa de cetim branco, ela ergueu uma parte dos cabelos para trás deixando alguns cachos definidos lhe caírem pelas costas.
— Então, gostou?
— Jayne... Você está deslumbrante. — Ele foi até ela e a olhava com um olhar mais apaixonado que nunca. — Você é a mulher mais linda que eu já vi — disse extasiado e beijou a sua mão.
— Obrigada. Você também está lindo e elegante, parece um Lorde — disse o olhando com admiração e ajeitando sua gravata.
— Eu tenho um presente, acho que vai combinar com seu vestido.
— O que é?
Ian pegou sua maleta, pegou uma caixa de veludo de dentro e foi à frente dela, abrindo-a.
— Meu Deus! Ian... É maravilhoso! — disse passando os dedos nos brincos e no colar que faziam jogo. — Isto é rubi de verdade?
— Sim.
— Onde conseguiu? Isso vale uma fortuna.
— Há tempos eu queria lhe dar um presente assim e acho que esta seria uma boa oportunidade para usá-lo.
Ian retirou o colar da caixa e colocou em seu pescoço, Jayne tirou os brincos que estava usando e colocou os que ele deu. Olhou-se no imenso espelho com uma grossa moldura de madeira talhada, suspensa num suporte. Ele estava atrás e a contemplava no espelho.
— São lindos...
— Você parece uma princesa.
Ela se virou para ele e suspirou.
— Obrigada, meu amor...
— Eu te amo — disse sorrindo e acariciando seu rosto.
— Eu também, mais do que você possa imaginar. Esta viagem está sendo muito preciosa para mim.
Beijaram-se e se deram um abraço longo e amoroso.
— Vamos minha querida, estamos atrasados, os rapazes devem estar tendo ataques lá embaixo — disse dando o braço a ela.
Desceram as escadarias e foram até o saguão do hotel onde Willian e David estavam conversando, já impacientes. Quando olharam para os dois se aproximarem, ficaram boquiabertos.
— Minha nossa senhora! — David disse espantado.
— Com todo respeito, Jayne, você está linda! — Willian disse.
— Obrigada, rapazes.
— Minha mulher não parece uma princesa?
— Parece. Eu estou impressionado! Nunca vi uma princesa antes, mas deve se parecer com isso — Willian disse todos riram dele.
— Vocês também estão muito bonitos e elegantes, rapazes. — Eles ficaram bobos sorrindo. — Dois homens bonitos e sozinhos, é um perigo.
— Perigo por quê? — David perguntou, inocente.
— Ora David, deixe de ser tapado. Ela está se referindo a todas as damas do baile que cairão aos nossos pés — Willian disse rindo.
David soltou uma gargalhada estrondosa.
— Pode deixar Jayne, vamos nos comportar — David disse.
— Vamos, o cocheiro já está esperando — Willian disse.
Logo que eles entraram na festa chamaram a atenção. A presença dos três homens belíssimos e Jayne deslumbrante com sua roupa e beleza, resplandeceu na entrada principal do salão.
Muitos os olharam e algumas moças vendo os três rapazes, cochichavam colocando a mão na frente da boca. Alguns homens a olharam, admirando a sua beleza e cobiçando-a. O anfitrião da festa, um dos homens mais ricos da cidade veio recepcioná-los.
— Boa noite, sejam bem-vindos, Sr. e Sra. Buller, correto? Eu os vi na exposição com seus cavalos. Magníficos.
— Sim, obrigado, Sr. Adams, é um prazer conhecê-lo pessoalmente — disse Ian estendendo-lhe a mão e ele a apertou.
— Sra. Buller — disse beijando sua mão. — Estou encantado, sua beleza ofuscou todo o salão.
— Obrigada.
Sr. Adams estendeu a mão para David.
— Sr. Stweart?
— Sim. Prazer em conhecê-lo.
— E o senhor deve ser Sr. Jonhson. São de West Side, correto?
— Sim. É um prazer, senhor, obrigado pelo convite.
— Por favor, fiquem à vontade. Peter vai levá-los até sua mesa, o champanhe está sendo servido, espero que apreciem a noite.
— Obrigado — Ian disse.
O metre os direcionou a uma mesa que ficava na lateral e sentaram-se. Um garçom serviu champanhe em suas taças. Os quatro conversavam enquanto canapés eram servidos e alguns casais dançavam.
— Eu acho que devíamos ter trazido Emily e Mary, elas adorariam isso aqui — Willian disse.
— Também acho — David disse.
— Vocês não foram persuasivos como Ian — Jayne disse rindo.
— É. Ian é sempre persuasivo demais.
— Pelo menos, agora eu estou bem acompanhado.
— Correto — David disse.
— Olhem e aprendam, seus bobos — Ian disse rindo.
— Você deveria fazer uma cartilha, não somos como você. — Todos riram.
— Vamos fazer um brinde, pelo menos aproveitem a festa.
— Ah vou mesmo, pois acho que nunca mais irei a uma festa como essa.
Brindaram e conversaram enquanto degustavam os canapés e bebiam o champanhe.
— Vou dar uma volta. Vamos, David, desgruda destes canapés, parece que não jantou.
— Ai, mas isso é delicioso.
— David, eles podem revistá-lo na saída, não enfie canapés nos bolsos — Ian disse rindo.
— Ah engraçado, também não sou morto de fome.
— Vamos, homem! — Willian disse puxando o braço de David que enfiava mais um canapé na boca.
— Está gostando da festa? — Ian perguntou, amorosamente.
— Eu estou encantada — disse passando os dedos em seu rosto.
— Se soubesse dançar, eu a convidaria, mas me perdoe, eu não sei.
— Tudo bem, meu amor, mas nós poderíamos nos mexer um pouquinho, não precisamos dar um show de dança aqui, não é?
— Verdade. O que é isso que estão dançando?
— É uma valsa.
— Oh, posso tentar, se não nos metermos no meio das pessoas. Afinal eu odiaria ver você ficar aqui sentada. — Ian ofereceu sua mão a ela e distanciaram-se um pouco das mesas. Ele a envolveu pela cintura com uma mão e tomou sua mão com a outra e lentamente foram dançando e olhavam-se nos olhos. Sem se importar muito se estavam fazendo certo ou não.
— Viu? Está dançando — ela disse sorrindo para ele.
— Acho que estamos desajeitados.
— Não me importa. Muitos acham que esta dança é indecente.
— Por quê?
— Corpos muito juntos.
— Oh. Não entendo destas coisas.
— Muitas regras de etiqueta não chegam ao Texas, meu amor, o que eu agradeço.
— Verdade?
— Sim. Gosto de ser livre.
— Eu sei. Estou muito feliz, Jayne.
— Eu também. Parece um dos contos de fadas da Angel.
— Ah sim! Aqueles em que o príncipe vai salvar a princesa e vivem felizes para sempre, dançam no baile do castelo, enfim... — concordou rindo.
— Exatamente. Você é o príncipe que me salvou, nós moramos num lindo castelo e estamos dançando num baile.
— Perfeito, minha princesa! — eles dançaram por mais alguns instantes. — Todos os homens estão olhando para você.
— Estão olhando para o casal mais feliz da festa, só isso.
— Talvez seja errado estarmos dançando fora da pista?
— Está tudo bem.
— Sr. e Sra. Buller, que bom revê-los. — Sr. Fergson disse se aproximando.
— O prazer é meu, Sr. Fergson.
— Sra. Buller... — disse beijando sua mão. — Está esplendorosa esta noite.
— Obrigada.
— Sr. Buller, em outras circunstâncias eu a roubaria do senhor. — Os três riram. — Será que o senhor me permitiria uma dança com a sua esposa? Com o maior respeito, por favor. — Ian olhou para Jayne.
— Claro.
Sr. Fergson foi dançar com Jayne. Era um senhor de idade, cabelos brancos, gentil e viúvo. Era um inglês que enriquecera na América, criando gado e cavalos e esbanjava o sotaque britânico. Já havia feito negócios com Ian e era agradabilíssimo de conversar, adorava contar histórias.
Ian foi até a mesa, pegou uma taça de champanhe, tomou um gole e ficou admirando Jayne. Seu coração estava tão abarrotado de amor por ela, que parecia que transbordava pelos seus olhos, que brilhavam como estrelas. Ele olhava para ela que ria das conversas de Sr. Fergson.
Jayne enquanto dançava pelo salão, de vez em quando buscava os olhos de Ian, pois se para ele era difícil parar de olhá-la, para ela era impossível. Sorriram um para o outro e Ian deu um beijo na sua aliança para que ela visse, fazendo-a sorrir encantadoramente, e seus olhos brilharem ainda mais.
Não havia uma pessoa que não reparasse nos dois. Ian os observava dançando e estava com um pequeno sorriso no canto da boca, admirado de como o sorriso dela iluminava aquele salão e seu coração.
Foi interrompido de seu devaneio por uma voz feminina ao seu lado.
— Boa noite, Sr. Buller.
Ian olhou e reconheceu a mulher.
— Srta... Austin, não é?
— Sim, boa memória. O que faz aqui sozinho?
— Não estou sozinho.
— Eu sei, mas sua esposa, creio eu, está dançando com outro homem. Será que poderíamos dançar também?
— Perdoe-me, mas eu não sei dançar como eles.
— Não faz mal, eu também não sou exímia dançarina.
Ian quis negar, mas ela insistiu, e sem querer ser rude foi dançar. Dançaram por alguns minutos, ela o olhava com olhar penetrante, que parecia querer entrar pelos seus olhos. Ian evitava olhá-la diretamente.
— Está constrangido ou não consegue me olhar?
— Desculpe, eu sou meio tímido.
— Adoro homens tímidos, são intrigantes.
— Srta. Austin, está sozinha aqui no baile?
— Sim, mas poderia não estar.
— Realmente poderia. Há muitos homens sozinhos, a senhorita poderia dançar com algum deles.
— Hum... Mas eu queria dançar com o senhor.
— Fico lisonjeado, madame.
— Você é muito bonito, seus olhos são exóticos.
— Obrigado. A Senhorita também é bonita.
Ian dançava, mas se perdia muito nos passos, a música terminou e iniciou outra, lhe dando a oportunidade de fugir.
— Srta. Austin, obrigada pela dança, mas lamento, eu tenho que ir.
— Não vá, por favor, vamos dançar mais uma... — disse o segurando pela mão. — Teremos a dança marcada.
— Desculpe-me, eu não sei dançar, com licença. — Ian beijou sua mão e deixou-a, sentia-se constrangido. Foi até Jayne e Sr. Fergson que estavam conversando com David e mais dois homens e riam animados.
— Oi amor, tudo bem? — Jayne disse envolvendo seu braço quando ele chegou ao seu lado.
— Desculpe, estava conversando.
— Estava dançando que eu vi — disse sorrindo para ele dando um olhar de que estava com uma ponta de ciúmes.
— Sim, mas sou péssimo nisso.
— Quem é a dama?
— Uma admiradora de cavalos.
— Hum... Eu acho que ela estava admirando você.
— Meu amor, não precisa ficar com ciúmes. — Ele a pegou pela cintura e a trouxe para mais perto dele. — Não tenho olhos para mais ninguém, nem consigo parar de olhá-la. Aliás, eu sairia daqui agora mesmo.
— Se quiser, podemos ir. Eu quero ficar com você, não importa o lugar.
Ian sorrindo lhe deu um beijo na testa.
— Então vamos. Eu acho que já impressionamos o bastante.
Despediram-se de Sr. Fergson e dos rapazes.
— Já vão? Mas é cedo — David disse.
— Vocês podem ficar, aproveitem a festa. Falando nisso onde está Will? - Ian perguntou.
— Não sei, deve estar por aí.
Foram despedir-se de mais algumas pessoas conhecidas e do anfitrião. Encontraram Willian conversando com uma moça e foram até eles.
— Willian, nós estamos indo. — Ele, espantado, os olhou.
— Oi, mas já? — Ian olhou para a moça e fez uma cara que a conhecia. — Ian, lembra-se de Jessy Jacob? — Willian disse sem jeito.
— É claro, como vai? Quanto tempo eu não a via.
— Bem obrigada. Sim, muito tempo.
— Esta é minha esposa, Jayne.
— É um prazer conhecê-la, Sra. Buller.
— O prazer é meu — Jayne disse a observando.
— Daqui a pouco eu também já estarei indo — Willian disse sem jeito.
— Boa noite então, prazer em revê-la, Srta. Jacob — Ian disse.
Ian e Jayne retiraram-se e quando estavam no coche Jayne perguntou.
— Quem é aquela Jessy?
— Hum... Eu sabia que perguntaria. É uma ex corte de Willian.
— Ex corte? Ele parecia muito sem jeito quando nos viu. Não é muito fácil encontrar ex cortes, Ian.
— Meu amor, são só amigos, e acho que ele ficou sem jeito porque você é irmã da Emily. Aliás, nem vá comentar isso, ela pode ficar com ciúmes.
— Ela deveria ter ciúmes desta mulher?
— Não. Mas vocês mulheres adoram fazer um drama, então é melhor não colocar chifres na cabeça de cavalos.
— Drama? Eu nunca fiz drama por causa de ciúmes.
— Porque eu nunca dei motivos — disse sorrindo zombeteiro.
— Hum... Porque eu confio em você, mas hoje eu poderia ter feito um.
— Não, não poderia porque eu não dei nenhum motivo para isso, ou dei?
— Não. Mas aquela dama estava louca para dar um motivo.
Chegando ao hotel desceram do coche e foram para o quarto. Ian tirou o paletó e a gravata e jogou sobre a poltrona, abriu os botões da camisa e tirou os sapatos. Jayne entrou na saleta de trajes e fechou-se lá. Ele havia pedido na recepção para trazerem uma garrafa de champanhe e bateram na porta para entregá-la, e ele calmamente serviu nas taças.
Jayne saiu da saleta e Ian a olhou petrificado, novamente. Ela estava usando um lindíssimo penhoir de seda branca e propositalmente deixou as joias e os cabelos soltos. Jayne andou calmamente com um leve sorriso no rosto e pegou uma das taças que ele estendeu a ela.
— Isso é... novo... — ele disse meio aturdido.
— Sim, eu comprei para você.
— Apreciei muitíssimo. Um brinde a nós. — Brindaram e beberam. Ian a beijou ainda segurando a taça na mão. — Você está muito sedutora.
— Posso seduzi-lo? — disse chegando seus lábios junto aos dele quase os tocando, o incitando ao beijo, mas sem tocá-los.
Ian sentiu que seu corpo todo pegou fogo e fechou os olhos por um segundo. Pegou as taças e colocou na mesa e a beijou. Jayne foi empurrando-o para trás, até chegarem à beira da cama, ela com as mãos, lentamente, o fez se sentar. Ela vagarosamente foi abrindo o penhoir, revelando a camisola de seda longa, com detalhes de renda francesa no decote, que sutilmente lhe revelava o corpo. Ian a olhou e suspirou.
— Você vai me matar desse jeito.
— Esta é a intenção, mas só se for de amor.
Ian levou as pontas dos dedos até seu pescoço e foi descendo lentamente, delineando sua silhueta. Seus dedos deslizavam pela seda macia e Jayne sentia o toque sutil em seu corpo, fazendo-a estremecer. Ele foi descendo as duas mãos pelas suas pernas e as subiu levantando a camisola até suas coxas. Jayne sentou escarranchada sobre suas pernas, o abraçando.
— Eu te amo, Jayne... — disse com a voz carregada de desejo.
— Eu também te amo, amo, amo...
Eles beijaram-se, afogando as palavras que desapareceram por completo, ele a girou lentamente a deitando na cama, indo sobre ela. Ian beijou cada parte de seu corpo e Jayne sentia seus lábios e suas mãos tocando-a, que a fazia gemer de prazer.
Ela estava enlouquecida por ele, que a tocava de uma maneira intensa, e Jayne também o fazia, deleitando-se com o corpo perfeito dele, beijando sua pele macia, delineando seus músculos rijos e torneados.
Entregaram-se àquela paixão que os queimava, eles se sentiam intensos e arrebatados um pelo outro. As sensações traziam o gemido de ambos, que eram abafados por intensos beijos.
Seus movimentos eram como uma dança, perfeita harmonia e quando seus olhares se cruzavam eles tinham a sensação que podiam ver a alma um do outro.
Estavam completos, rodeados de uma aura de felicidade e do mais intenso amor.
Naquela noite não queriam dormir, não queriam que aquilo acabasse nunca, amarem-se entre os lençóis era melhor que qualquer sono.
Dormiram tarde e pouco, mas nem se sentiam cansados, o amor lhes dera uma essência de vitalidade, o suficiente para que as carícias lhes acendessem para que tudo recomeçasse novamente.
Era impossível para eles ficar sem tocar-se, um fazia parte do outro, não havia regras, tabus, medos, vergonha, hora.
Eram completos e perfeitos, nunca um recusara-se entregar-se ao outro, jamais conseguiriam deixar de unir-se, pois o desejo que ambos sentiam fazia crescer mais e mais. Precisavam estar juntos.
Jayne acordou antes que ele e sorriu quando o viu dormindo com a cabeça sobre sua barriga. Ele pegou este costume há algum tempo, ele ficava naquela posição e Jayne lhe acariciava os cabelos e conversavam; muitas vezes ele adormecia daquela maneira.
Então, à vezes ela o pegava fazendo a mesma coisa dormindo, ele se atravessava na cama deitando-se com a cabeça na sua barriga, como se involuntariamente esperasse que ela lhe acariciasse os cabelos.
Sorrindo ela os acariciou, retirando algumas mechas que lhe caiam no rosto e pode observá-lo sereno a dormir. Como o achava lindo.
Sem querer acordá-lo, levantou-se devagar e repousou sua cabeça num travesseiro para que ele dormisse mais um pouco. Vestiu o penhoir e olhou as horas no relógio de bolso de Ian.
O camareiro bateu à porta e algumas criadas providenciaram o encher da banheira e também um café da manhã, com frutas, pães, café e suco, arrumaram tudo e saíram.
— Hora de acordar, meu amor — sussurrou em seu ouvido e o beijou suavemente. Ian sem abrir os olhos sorriu e resmungou alguma coisa. — Se você não acordar vou ter que tomar café e banho naquela banheira enorme e quentinha sozinha.
Ian abriu os olhos sorrindo e se espreguiçou.
— Bom dia, dorminhoco.
— Bom dia. Eu estava com saudade.
— Saudade, de quê?
— De beijá-la.
— Ah, isso eu também estava.
Os dois beijaram-se docemente e foram tomar o café da manhã. Ian a pegou no colo e foi até a banheira, despiu-a e entraram juntos na banheira.
— Jayne... A noite passada foi a mais incrível que eu já tive.
— Para mim também foi. — Ele a olhou estranhamente, parecia que queria dizer algo. — O que foi, Ian? — ela disse acariciando seu rosto.
Ele segurou a sua mão, beijou sua palma e a colocou em seu peito, ela pode sentir seu coração bater descompassado.
— Você foi feita para mim, nunca pensei que pudesse desejar tanto uma mulher. Quando eu estou nos seus braços, é o único lugar que eu quero estar.
Jayne o ouvia e seu coração bateu fortemente, amava aquele homem perdidamente. Ela o beijou com um nó na garganta e sentia que seus olhos estavam inundados pelas lágrimas, mas era felicidade.
— Eu nunca quero me afastar de você. Se um dia eu o perdesse acho que eu morreria de tristeza. Prometa que sempre estará comigo, Ian.
— Eu prometo. Você nunca vai me perder, Jayne.
Abraçaram-se e beijaram-se fortemente, seus sentimentos estavam mais intensos que nunca.
Capítulo 4
Na apresentação dos cavalos, os jurados analisavam todas as categorias cabíveis aos garanhões. Porte, marcha, pelagem, certificado de linhagem, uma avaliação médica perita.
Todos os cavalos faziam sua passagem pelos jurados, um a um, guiados por um encarregado, a apresentação era feita por um locutor que dava as descrições de cada cavalo e atiçava a plateia que os via.
Thor e Diamante estavam com as notas mais altas e todos estavam ansiosos pelo resultado que sairia no outro dia.
— Ian, eu acho que vamos conseguir premiação para os dois!
— Eu também acho e isso é maravilhoso!
— Esperar até amanhã será uma tortura — Jayne disse eufórica enquanto iam de encontro aos seus cavalos. — Muito bem, meu rapaz, estava lindo! — disse sorrindo e acariciando a cara de Diamante.
— Estou muito satisfeito. Mesmo se nós não ganharmos o primeiro lugar, com certeza Diamante será o segundo. Mas agora vamos almoçar que já passa das duas e eu estou morrendo de fome.
— Eu também. A hora passou e eu nem me dei conta.
— Depois podemos ir ver o mar, o que acha?
— Acho perfeito.
Eles foram almoçar e depois à praia, ela estava vazia e o som das ondas parecia um cântico aos seus ouvidos. Ambos pararam na areia sentindo a brisa marítima.
— Quanto tempo que eu não via o mar. A última vez que o vi, nem percebi sua beleza — Jayne disse olhando as ondas quebrarem.
— Por quê?
— Porque quando estive aqui estava atrás de Edward e Angel, sentei-me na areia e apenas fazia chorar. Nem percebi como o mar é tão lindo, não conseguia nem ouvir este som do estrondo das ondas.
Ian a abraçou pelas costas, colocando seu queixo sobre seu ombro e Jayne cruzou seus braços sobre os dele.
— Isso passou, meu amor. Agora você pode ver o mar com outros olhos.
— Verdade. Com você aqui, isto parece o paraíso.
— Eu vim aqui quando era jovem, com os rapazes, foi a maior aventura que já fizemos juntos. Andar por aí sem rumo, metidos a valentes, e aqui no mar, brincamos como crianças. Acho que foi a única vez que fiquei longe de casa por tanto tempo. Dei-me conta que ali é minha casa, minhas raízes, não sei viver longe daquilo. Por isso, às vezes, quando vejo as coisas que você gosta, tenho medo que sinta falta.
— Eu não sinto falta de nada — disse se virando e olhando para ele. — E se podemos ter o luxo de comer especiarias, tomar champanhe, foi porque trabalhamos como loucos para isso. Vamos poder dar aos nossos filhos um futuro e eu adoro a fazenda, eu não sairia de lá por nada deste mundo.
— Acho que nos acostumamos com os gostos dos outros. Eu acabei gostando de coisas que você gosta e você com coisas que eu gosto.
— Verdade.
— Quando você esteve aqui, por acaso entrou no mar?
— Não.
— E você gostaria de entrar?
— Até gostaria, mas podemos voltar outra hora e comprar uma roupa de banho, pois não às temos.
— Roupa de banho? — disse fazendo cara de más intenções.
Jayne, pelo olhar safado dele, percebeu logo sua intenção.
— Não, não Ian... — Jayne correu gritando e ele foi atrás dela agarrando-a e a pegando no colo, ela batia os pés e gritava; ele rindo foi para o mar e se jogou com ela nos braços sobre as pequenas ondas. — Ian, seu maluco!
— Como pensa vir aqui e não cair na água? — disse segurando-a pela cintura e levantando-a.
— Meu Deus, como é bom!
— Eu não disse?
Abraçaram-se e riram muito, brincaram na água como duas crianças, até cansarem, depois saíram do mar, caíram na areia rindo e Ian a beijou.
— Você está salgada e cheia de areia.
— Aham, eu pareço o peixinho empanado que nós comemos no almoço. — Riram. — Você vai ter que deixar as calças para pagar o coche que está ali há horas nos esperando.
— Vai ser divertido voltar para o hotel sem calças. — Riram.
— Mas o dinheiro que está no seu bolso está todo molhado.
— Não faz mal, não era muito. Quando chegarmos ao hotel eu pago o cocheiro, mas valeu à pena esta loucura toda — disse rindo feliz, se jogando de costas na areia e olhando para o céu azul, com um sorriso no rosto.
— Verdade, foi ótimo — disse Jayne, suspirando e sentindo no rosto os raios do sol. Jayne se virou e foi por cima dele e o beijou. — Não íamos voltar para a exposição?
— Íamos, mas vamos amanhã, hoje só quero ficar com você. E agora está tarde e teríamos que tomar banho e trocar de roupa. Não temos obrigação de estar lá hoje à tarde.
— Pois veja o que você fez.
— Não me provoque, senão a jogo de novo na água.
Jayne ficou deitada sobre ele com a cabeça em seu peito.
— Ian, nossos filhotinhos adorariam o mar.
— Então teremos que trazê-los aqui algum dia.
— Seria maravilhoso.
Ian pegou na cintura dela fazendo cócegas para que ela saísse de cima dele, levantaram rindo e desgrenhados da água e areia. Foram até o coche tentando se alinhar e voltaram para o hotel, ficaram um pouco constrangidos, mas riam quando as pessoas os olhavam cochichando daquele estado deplorável que se encontravam.
Sentiam-se adolescentes em sua vida apaixonada e madura. Foram para a sala de banho banhar-se e colocar roupas limpas. Eles se encontraram com David e Willian para jantar e depois todos foram descansar.
**
Willian e David estavam acomodados no mesmo quarto. Quando voltaram do jantar, David se jogou na cama, afofando os travesseiros e Willian andava de um lado a outro com o semblante transtornado.
— Willian, quer parar de andar? Por que está tão nervoso? Você está esquisito, está tentando disfarçar, principalmente quando Jayne está por perto, mas eu o conheço como a palma da minha mão. Por que está assim?
— Nada David, nada.
— Olhe... Eu não sou cego, isso tem a ver com a Jessy. Onde vocês foram ontem que você sumiu do baile?
— David, eu não quero falar sobre isso.
— Willian, pode falar para mim, eu não vou falar para ninguém. Pode confiar, se você está confuso, quem sabe eu posso ajudar.
— É que nem eu mesmo sei o que pensar, David, então me deixe quieto.
— Encontrá-la o deixou neste estado? Teve uma recaída?
— Ela mexeu com minhas ideias, eu não sei o que fazer.
— Will, eu não entendo! E Emily? Pensei que era louco por ela!
— E sou, David, eu sou. Amo Emily!
— Mas então, homem? Vai colocar em risco perder o que construiu com Emily? Depois de tanto tempo, não achei que teria uma recaída destas. Nem sabia que gostava tanto da Jessy para se abalar desse jeito.
— Não, David. Só que ela disse umas coisas que me deixou atordoado.
— Que coisas, Will?
— Eu não devia tê-la deixado na época, eu devia ter me casado com ela. Eu a desonrei.
— Meu Deus! O que está dizendo? Homem, se você dormiu com ela, esqueça isso e o assunto morre aqui. Isso não pode ter importância, pois é casado agora, mas eu não estou entendendo por que isso o deixou neste estado.
— Vou sair.
Ele virou as costas e saiu porta afora.
— Willian, volte aqui! — Mas ele não deu atenção.
**
Todos estavam nervosos e eufóricos esperando o resultado da premiação. Anunciaram o quarto lugar e nada dos seus cavalos. Quando anunciaram o terceiro, que eles estavam esperando que fosse Thor, mas chamaram Astor.
Os quatro gritaram e se abraçaram; isso já significava que Thor e Diamante receberam os dois primeiros lugares.
— Ai meu Deus, eu não acredito! — Jayne pulou no pescoço de Ian e ele a ergueu do chão e a rodou.
David e Willian os abraçaram, felizes pela conquista. Ian e Jayne ficaram numa felicidade tal que não conseguiam parar de rir. Foram chamados para receber os prêmios e todos os aplaudiam e eles ficaram posicionados do lado de seus cavalos.
Diamante ficou com o primeiro prêmio e Ian o recebeu, Jayne recebeu o segundo de Thor.
Todos foram cumprimentá-los, foi um momento de imensa alegria. Ian e Jayne estavam sorridentes, abraçaram os seus cavalos demonstrando todo o amor e respeito que sentiam por eles.
— Isto merece uma comemoração — Willian disse abraçando os dois. David muito sorridente também os abraçou, parabenizando-os novamente.
— Sim, hoje vamos comemorar em grande estilo — Ian disse.
— E o que vamos fazer para comemorar?
— Nós poderíamos jantar no restaurante do hotel, convidar algumas pessoas, o que acham? Por minha conta — Ian disse animado.
— Acho ótimo! — disse Jayne.
Conversaram com as pessoas que queriam convidar para o jantar e foram para o hotel, levando a grande soma em dinheiro que receberam pelos dois prêmios. Chegando lá, Ian e Jayne foram falar com o gerente para que colocasse o dinheiro no cofre, seria mais seguro.
Conversaram com o metre para que preparasse um jantar especial para seus convidados e disse quantas pessoas estariam presentes, para que providenciassem tudo de acordo, depois foram para o quarto.
Jayne tirou o chapéu e o colocou na mesinha, nem conseguia parar de sorrir por um instante. Ian parou perto da cama e olhava para ela rindo com as mãos na cintura, seu rosto estava tão iluminado pela felicidade que parecia que um raio de luz pairava sobre ele.
Jayne o olhou dando um imenso suspiro de satisfação.
— Nós conseguimos, Jayne! — disse orgulhoso e extasiado.
Jayne gritou e correu, pulou nos braços dele, o abraçando pelo pescoço.
— Meu amor, eu estou orgulhosa! Você merece isso.
— O mérito é nosso, meu amor. Nós conseguimos, juntos.
Beijaram-se rindo. Ian se jogou na cama e os dois rolaram pela cama, rindo e se beijando, e na empolgação rolaram cama abaixo, se estatelando no chão, fazendo-os gritar e rir mais ainda.
— Pelo jeito, nem esta cama deste tamanho consegue conosco! — Ian disse se matando de rir.
— Ai... Isso doeu! — ela disse rindo e fazendo cara feia.
Beijaram-se, perdendo-se naquele momento tão feliz. Mais tarde, todos foram reunindo-se no restaurante e seus convidados foram chegando e os cumprimentando alegremente.
Champanhe era servido livremente e degustaram o delicioso jantar. Conversaram e riram noite adentro, foi uma linda recepção, tal festa que Ian jamais pensou que ofereceria a convidados ilustres, estava sentindo-se orgulhoso de si mesmo e de sua esposa e não escondia isso de ninguém.
Os amigos que os haviam contatado para as procriações anteriormente à premiação, reforçaram seus pedidos satisfeitos com os resultados dos seus cavalos. Sr. Callahan interessou-se pelo gado de David e Willian e prontificara-se a ver seus rebanhos para comprá-los, deixando-os felicíssimos. Sr. Fergson contava histórias engraçadas fazendo todos rirem.
Outros convidados como Sr. Adams e sua esposa eram mais reservados, mas agradabilíssimos e se divertiram com tudo. David, sempre risonho arrancava gargalhadas de suas próprias gargalhadas que contagiavam todo mundo. Foi uma noite impecável e agradável a todos. Ao tardar da noite, os convidados começaram a ir embora se despedindo alegremente. Mais uma noite feliz passara-se.
Willian tentava manter-se calmo para não dar na vista, mas seu nervosismo estava aparente e David tentou conversar com ele novamente, mas ele não disse nada. Disse que estava bem e que logo estariam em casa e as coisas voltariam ao normal. David parou de insistir, quanto ele quisesse falar, estaria ali para o amigo.
Finalizada as questões sobre a exposição, ficaram mais dois dias para passear. Ian e Jayne passaram praticamente sozinhos a maioria do tempo restante, aproveitando seus momentos juntos, mas foram com David e Willian à praia para admirar aquela beleza natural.
Ficaram numa parte lateral da praia, colocaram uma toalha para que todos ficassem sentados, bebendo um vinho e comendo pão e queijo. Aproveitaram o mar, a areia e muitas brincadeiras. Contaram histórias de quando eles passaram por ali. Jayne aproveitou todas as brincadeiras que Ian fazia, na verdade, ele estava com um bom humor maior que já vira.
Ela o admirava por aquilo, parecia um menino grande, às vezes tão energicamente sério, mas sem ser rude ou ríspido e às vezes tão divertido e brincalhão.
Na verdade, a sua seriedade era tranquila e serena, falava calmamente até quando estava nervoso, poucas vezes o viu perder a calma ou alterar o tom de voz.
Por um momento, Jayne percebeu que Willian havia sumido, olhou ao redor e o viu sentado na areia distante deles e sozinho, olhava o mar e ela cutucou Ian o fazendo olhar. Ele franziu a testa, sabia que o amigo estava com problemas.
— Eu vou falar com ele — Jayne disse.
— Querida, eu acho que não vai adiantar.
— Eu já volto. — Ela lhe deu um beijo e foi em direção a Willian.
— David, Willian se envolveu com a Jessy, suponho.
— Sim. Será que ele vai contar à Jayne? Seria louco?
— Ninguém resiste ao jeito manso da Jayne, se quiser, ela lhe retira as tripas e você nem sente.
David deu uma gargalhada.
— É amigo... Você é um ferrado.
— Sou! Mas sou um ferrado feliz. Ela me faz feliz, David! Mais feliz que eu pudesse sonhar! Eu me orgulho dela e a amo muito.
— Ah! Isso eu não posso negar, mas você precisa contar a ela. Ian, ela precisa saber de tudo.
— Um dia eu vou contar, somente não achei o momento.
— Quanto mais esperar, pior pode ser.
— Ela vai me entender, faço isso por ela e meus filhos.
— Ian, eu não sei como isso seria visto por ela de bom tom.
— David, você sabe o que isso nos causou, somente os quero proteger.
— Espero que saiba o que está fazendo, Ian.
— Vocês prometeram, nunca vão falar nada.
— Sim, nós prometemos e nós vamos cumprir a nossa promessa.
**
Jayne chegando ao lado de Willian, sentou-se na areia.
— Oi — ela disse mansamente.
— Oi.
— Por que você está assim? Posso ajudá-lo?
— Não. Eu estou bem, não se preocupe.
— Willian, eu sei que você não está bem, e sei que provavelmente não irá me contar, se é sobre o que estou desconfiada.
— E posso saber do que está desconfiada?
— Bem... Eu já o percebi estranho no dia do baile quando você estava com aquela moça e depois disso, você só piorou.
— Não é nada, estou com saudades de casa. Quero voltar logo.
— Você não quer contar-me o que houve?
— Por que contaria para você que é mulher e minha cunhada.
— Willian, eu sou irmã de Emily, mas também sou sua amiga, não sou? Não vou julgá-lo, eu prometo. Você sabe quanto sua família significa para você, não sou eu que tenho que lhe dizer isso. Mas estou odiando ver você aí desse jeito, eu quero ajudar.
— Estou atordoado. Estou me sentindo mal, por coisas que fiz.
— Você traiu Emily, não foi? — perguntou com a voz suave tentando não assustá-lo. Willian a olhou e respirou fundo.
— Foi.
Ele mesmo não acreditou que confessou aquilo à Jayne, mas de uma maneira que nem soube como, praticamente jogou para fora o que estava entalado na sua garganta.
Jayne sentiu seu coração gelar e mil coisas lhe passaram pela cabeça. Sentiu vontade de esbofeteá-lo, mas conteve-se, prometeu que não o julgaria, ela respirou fundo tentando manter a calma.
— E por que você fez isso? — continuou com a voz mansa. Se demonstrasse seu desapontamento ele pararia de falar.
— Eu não sei, perdi a cabeça e eu fiquei bêbado.
— Pelo jeito, essa Jessy era importante, você a conhecia antes de Emily?
— Sim, eu gostava dela. Mas quando eu conheci a Emily me perdi completamente por ela, com seu jeito espevitado e sem tramelas na língua, e ela é tão linda. Encheu minha vida de alegria.
— Sim, ela é assim mesmo, às vezes eu sinto vontade de estrangulá-la, mas ela é um doce pecaminoso. Então você percebeu que ainda ama Jessy?
— Eu achei que a amava na época, Jayne. Mas ela era estranha, às vezes eu não entendia o que ela fazia. Eu disse a ela que eu queria fazer corte, me comprometer, mas ela não contou para ninguém, disse que seu pai e irmãos não permitiriam, e ela era muito nova. Mas nós nos encontrávamos mesmo assim. Depois nós nos afastamos e nos encontramos poucas vezes, aquilo era mais um flerte, eu tinha a impressão que ela não me amava. Depois que eu comecei a cortejar Emily, Jessy veio me procurar, ela queria me contar alguma coisa, mas eu não a deixei falar, estava eufórica e eu a cortei logo e disse que ia me casar com a Emily, que não havia mais nada entre nós.
— E o que ela fez?
— Me deu um tapa na cara e foi embora sem dizer mais uma palavra, depois disso eu nunca mais a vi, ela foi embora da cidade, eu nem sabia que ela estava aqui na Nova Califórnia.
— Então quando você a encontrou aqui, reviveram o passado, beberam demais e foram para a cama.
— Sim.
— E você está se sentindo culpado por isso?
— Estou. Eu sei que não devia ter feito isso, mas tem algo que está me matando de remorso mais ainda.
— O que é? — disse meio descrente.
— Isso ela só me contou depois, de manhã quando acordamos. Na época o que ela tinha vindo me falar era que estava grávida, que esperava um filho meu.
— Meu Deus, Willian!
— Mas como antes que ela falasse algo, eu disse que amava Emily e ia me casar com ela, Jessy não falou nada, simplesmente foi embora. Quando os pais dela ficaram sabendo da gravidez ela negou-se a dizer quem era o pai, ninguém sabia que nós nos encontrávamos. Então a mandaram para cá, morar com uma prima para ter o filho.
— E seu filho, Will, onde está? Você o viu?
— Não. Ela disse que morreu quando tinha dois anos de idade, de pneumonia.
Lágrimas correram dos olhos de Willian. Jayne viu a dor no rosto dele e o abraçou.
— Eu sou uma má pessoa.
Jayne olhou espantada para ele, nunca imaginou que um homem pudesse ter tais sentimentos. Ele era bom e ingênuo, apesar de ser um homem.
Ela respirou fundo, pensando no que dizer. Ora bolas, aquilo era inusitado e desconcertante.
— Willian, eu sinto muito por tudo isso. Nem imagino como você está se sentindo, mas tomar atitudes erradas nem sempre quer dizer que você é uma má pessoa. Todas as pessoas erram.
— Estou péssimo, estou sentindo remorso. Nunca imaginei que um assunto desses me deixaria assim.
— Que bom que se arrependeu. Isso demonstra que é um homem íntegro, mas dormir com essa mulher foi um ato vil, Willian.
— Eu sei, ela foi extremamente sedutora, vocês, mulheres, sabem fazer um homem perder a cabeça. Mas depois, ela me disse que fez de propósito, enchia minha taça o tempo todo, me envolvia com suas palavras e eu tolo, caí. Quando eu perguntei por que ela quis dormir comigo depois de tudo, se deveria estar me odiando, ela respondeu que aquela era a sua vingança, me fazer trair minha mulher e ainda fazer-me sentir culpado por tudo que ela passou.
— E ela conseguiu... — acrescentou Jayne.
— Conseguiu.
— Mas Emily não merecia isso, você podia ter resistido.
— Mas eu acho que eu aceitei porque também quis me vingar da Emily.
— Como assim? O que ela fez?
— Sempre aceitei as brincadeiras dela, relevei as bobeiras que ela fala, mas eu ouvi a conversa de vocês no dia do aniversário dela.
— Que conversa?
— A do vaqueiro lindo que trabalha para mim — disse meio irônico.
— Ai meu Deus, Willian! — disse lembrando-se daquele dia.
— Eu preparei uma festa para ela, eu lhe comprei um presente caríssimo, que era mais que eu podia pagar, eu ia pedir para que ela viesse comigo para cá, e é isso que eu ouvi, ela ficar se derretendo por um vaqueiro.
— Jesus!
— Como vê, ela não é tão certinha.
Jayne nem sabia o que dizer a ele. Estava atordoada com tantas informações, nem sabia quem era culpado naquela história.
— Você aproveitou a chance com a Jessy para se vingar da Emily, e Jessy aproveitou sua raiva para se vingar de você. Willian, eu nem sei o que dizer-lhe e quem defender. Na verdade todos vocês são culpados, todos fizeram coisas erradas. Mas Emily nunca traiu você, ela te ama! Ela tem aquele jeito de ficar falando bobeiras, mas ela jamais ficaria com outro homem. Isso eu posso garantir-lhe. Ela é uma mulher honesta.
— Como pode ter certeza, Jayne? Eu estou aqui e ela está lá, como vou saber se ela não ficou com ele?
— E por que você não o mandou embora?
— Eu mandei, tive vontade de matá-lo, mas não fiz nada, só dispensei os serviços dele, mas ele pode ter voltado lá.
— Isso já é suposição.
— Mas ela teria oportunidade.
— E você deu a oportunidade, pois você poderia tê-la trazido. Não pode condená-la por achar algo.
— É eu sei, mas eu quis ficar longe dela. Estava morto de ciúmes e de raiva. Eu queria dar um tempo para que minha cabeça esfriasse, e olha no que deu, piorei tudo e agora nem sei o que fazer.
— Primeiro você tem que descobrir aí no meio desta confusão que está seu coração e saber quem você ama.
— Eu amo Emily, a amo demais.
— Então se importe somente com ela. Ela não faz por mal falar essas coisas, são só brincadeiras. Emily é destrambelhada, mas é uma mulher direita, boa esposa, boa mãe. Vocês têm um filho, cuide do seu casamento.
— Eu sei Jayne, ela sempre foi tão boa para mim, dedicada a me fazer feliz, sei que ela me ama.
— Então Will...
— Eu me senti traído, nunca sequer olhei para outra mulher depois que estou com ela, e ouvi-la dizer aquelas coisas, foi como se eu tivesse visto eles se beijando. Senti uma raiva por dentro que me consumiu.
— Concordo em parte, por eu ela disse tolices, enquanto eu você agiu, mas vocês dois são culpados das besteiras que fizeram, então esclareçam tudo. Vocês têm uma vida pela frente, não estrague seu casamento por futilidades, traições estúpidas, isso vai destruir vocês.
— Maldita hora que eu fui encontrar Jessy, maldita hora.
— Você a viu depois do baile?
— Vi, fui falar com ela. Ela disse que nunca me perdoaria, que a morte do nosso filho foi minha culpa. Se eu tivesse me casado com ela, meu filho estaria vivo.
— Calma Willian, não se culpe pela morte de seu filho, mesmo que você estivesse com ele, não o teria salvado. E se você tivesse se casado com ela, não teria Emily e Ethan. O que aconteceu com Jessy foi horrível, mas não há nada que possa fazer para consertar. Tente consertar seu casamento com Emily, cuidar de Ethan. Seria terrível levar em frente um casamento abalado, com estes sentimentos horríveis que você está sentindo. Vamos, levante daí. — Jayne levantou e ofereceu a mão para que ele levantasse. — Eu não vou falar nada para a Emily, vou esperar que você resolva isso. Se vocês se amam de verdade isso vai ser perdoado, Willian.
Ele deu um imenso suspiro tentando arejar a cabeça.
— Obrigado, Jayne.
— Eu vou ajudar vocês. Isso tudo vai passar, você vai ver. Venha, vamos almoçar, vamos beber alguma coisa, porque depois dessa até eu preciso de um uísque. E tente se distrair, pare de pensar um pouco nisso que daqui a pouco as coisas vão começar a clarear e você vai conseguir encontrar as soluções. Acredite em mim, pois vivi isso, o passado nos consome, mas o futuro é que no faz viver.
— Eu acho que você tem razão.
— Bem... Vamos mudar de assunto. Eu tenho uma ideia, você trabalha somente com compra e venda de gado, por que você não trabalha com reprodução de gado de raça nobre? Você viu como eu e Ian nos demos bem, você também pode.
— Reprodução de gado nobre? Não sei como precisa ser feito.
— Eu também não, não entendo muito de gado, mas creio que não deve ser muito diferente de cavalos. Você deveria comprar uns dois touros de linhagem e começar a fazer isso.
— Eles custam uma fortuna, Jayne, eu não tenho dinheiro para isso. Só os meus touros custam uma fortuna, imagine de raça nobre.
— Você vai vender seu gado agora, quem sabe o dinheiro dê, e se precisar eu e Ian ajudamos. Talvez um empréstimo.
— Você acha que daria certo?
— Acho que pode dar, vou conversar com Ian sobre isso, mas acho uma boa ideia.
Os dois foram encontrar Ian e David.
— Parece que ela arrancou as tripas dele — David cochichou para Ian, os observando se aproximar.
— Parece que sim. — Os dois riram.
Capítulo 5
Chegou o dia de irem embora e pegaram o trem para voltar à West Side. Jayne, havia ido até a cabine trocar de roupa para o almoço, enquanto Ian e os rapazes foram para o vagão-restaurante e pediram uma bebida, esperariam ela voltar para pedir a refeição. Mulheres trocando de roupa, isso parecia mesmo uma demora que merecia uma bebida.
Naquele momento monótono, Ian olhou pela janela e avistou homens a cavalo, correndo pelas laterais do trem e pulavam nos vagões. Assustado, ele avisou os rapazes, levantou e saiu correndo para ir atrás de Jayne.
Ela estava saindo de sua cabine e voltando para o vagão-restaurante, foi surpreendida por um dos homens, que parecia conhecê-la, agarrou-a jogando contra uma mesa. Jayne sem esperar por aquilo gritou e arregalou os olhos fitando aquele homem que apontava a arma para seu pescoço.
— Onde está o dinheiro? — ele gritou.
— Que dinheiro?
— Não se faça de desentendida, eu quero o dinheiro dos prêmios.
— Não sei do que está falando...
— Eu vi a exposição, vocês ganharam os prêmios, eu quero o dinheiro.
— Não está comigo.
— Ah não? E com quem está?
— Está no cofre do trem, na cabine central. Pode pegar, se seu cérebro conseguir abrir um, seu idiota.
— Hum... Algumas dinamites podem resolver isso. Vamos...
O homem agarrou Jayne pelo braço e a puxou com toda força, quase o arrancando, mas desvencilhou-se dele e deu-lhe uma joelhada em suas partes íntimas. O homem se contorceu e ela abriu a porta, passou para o outro vagão e quando tentava fechá-la, ele se jogou contra ela, abrindo-a violentamente, fazendo Jayne cair no chão com o baque. Ele a puxou pelo braço levantando-a.
— Você quer morrer, mulher?
— Solte-me. Vá pegar o dinheiro e me deixe em paz.
Ela gritou esmurrando-o, o que fez ele se afastar um pouco, Jayne olhou para o lado e pegou uma garrafa que estava na mesinha e a bateu contra sua cabeça, correu saindo do vagão e pulou para o outro, o homem meio zonzo, correu atrás dela.
Jayne havia saído do vagão de passageiros, tentou abrir a porta para passar para o vagão de carga, mas estava trancada.
Ela se apavorou, pois não teria como fugir dele, o homem atirou nela e quase a acertou, estilhaçando a pequena vidraça bem ao seu lado, ela se defendeu dos cacos com os braços gritando. Sem saber para onde ir, ela olhou para a escada que dava acesso ao teto e sem pensar, subiu.
O bandido subiu atrás dela, atirou e errou novamente, mas ela sentiu a bala fazer-lhe vento pelos cabelos. Ian os seguiu, chegou à mesma escada, tentou abrir a porta e ouviu um tiro que vinha de cima e subiu a escada. Assim que avistou o teto do trem, viu Jayne correndo, tentando equilibrar-se e o homem a seguindo. Ian enlouquecido de pavor atirou diversas vezes no homem pelas costas e ele caiu, ficando estirado no teto.
— Jayne, pare! — ele gritou.
Ela se virou-se e avistou Ian que corria equilibrando-se sobre o teto.
— Ian...
— Volte — disse tentando chegar até ela e esticando seu braço e ela começou a voltar.
David, que estava logo atrás de Ian, subiu a escada e os avistou. Estavam passando por uma ponte sobre um rio, a ponte era estreita e somente tinha a largura dos trilhos.
Jayne estava quase alcançando Ian, mas o trem bruscamente freou, dando um enorme solavanco. Ela perdeu o equilíbrio e caiu, foi escorregando no chão e caiu para a beirada do vagão, gritando e com o maior esforço conseguiu agarrar-se em uma barra elevada que havia nas beiradas, ficando com as pernas suspensas.
Ian, quase caiu, mas conseguiu se equilibrar e gritou quando a viu escorregar, mais que depressa, tomou equilíbrio e correu até ela.
— Jayne, segure-se! — gritou desesperado.
David, que com o solavanco do trem escorregou da escada e quase caiu, conseguiu segurar-se e tentou subir novamente. Quando Ian chegou perto de Jayne, na beirada do vagão, e ia se abaixar para agarrar suas mãos, violentamente sentiu os golpes impiedosos das balas que o atingiram pelas costas.
— Ian! — Jayne gritou em pânico, vendo-o ser atingido enquanto desesperadamente tentava ficar agarrada à barra.
Ele que estava em pé na beirada, olhou para Jayne, como se fosse um último olhar, e caiu para frente, despencando de cima do trem e caiu no rio. Jayne vendo-o cair soltou um grito agudo que não só ecoou pelas montanhas, mas lhe partiu o próprio coração.
David avistou Ian caindo e seu coração doeu, descarregou sua arma aos gritos no homem que estava ainda apontando a arma, estendido no chão, fazendo-o rolar e cair de cima do trem. David rapidamente pulou para cima do vagão.
— Ian! — gritou desesperado.
— David! — Jayne gritou reconhecendo sua voz. Ele a ouvindo tentou ver onde ela estava e desesperado tentou agarrar suas mãos.
— Jayne, segure minha mão.
— Não! Pegue os cavalos e vá para a margem.
— O quê? — perguntou sem entender quando ela não agarrou sua mão.
Jayne impulsionou seu corpo com os pés para longe do vagão e se jogou ponte abaixo, procurando desesperadamente cair em pé na água. David ficou aterrorizado olhando-a se jogar atrás de Ian, soltando um grito. Ele a olhou até chegar à água e afundar.
Jayne foi muito ao fundo e com todas as forças tentou subir de volta, meio atordoada e recobrando o fôlego. David saiu correndo e desceu pelo vagão, foi para os vagões da frente procurando Willian, gritando seu nome, ele o encontrou, estava sangrando no braço.
— Willian, pelo amor de Deus, você está bem?
— Sim, onde estão Ian e Jayne?
— Ian foi baleado e caiu de cima do trem, no rio, Jayne jogou-se atrás dele — disse, desconsertado e acenando os braços.
— O quê? — gritou apavorado.
— Willian, nós temos que ir atrás deles.
— Como? Vamos nos jogar no rio também?
— Vamos pegar os cavalos que estão no vagão de carga.
Saíram correndo vagão após vagão, até chegar ao de carga onde estavam os cavalos, estava trancada e para abri-la, dispararam diversos tiros na fechadura, puxaram a porta lateral imensa, abrindo-a e por sorte esta parte do vagão estava na beirada do penhasco.
Rapidamente pegaram duas selas que estavam no canto do vagão e atrelaram aos cavalos.
Montaram no Diamante e em Thor e foram até o fundo do vagão para pegar impulso, esporaram os cavalos e gritaram, num salto surpreendente, saltaram do vagão em terra firme.
— Vamos, David, vamos descer a encosta, temos que chegar lá embaixo rápido.
Cavalgaram com o coração apertado e gritando para que os cavalos corressem o mais rápido que podiam.
**
Jayne nadava rio abaixo, tentando avistar Ian e gritava seu nome, mas não ouvia nenhuma resposta. De repente ela o avistou, estava ainda distante dela, mas tentava bater um dos braços e ficar com a cabeça para fora da água. Ela gritou pelo seu nome para ver se ele a ouvia e nadou mais forte.
A correnteza que estava fortíssima, cada vez mais os levava rio abaixo.
Jayne pôs em seus braços e pernas toda a força e rapidez possível, mas suas longas saias a atrapalhavam, aos poucos ela conseguiu alcançar Ian que afundava, ela o agarrou, e os dois continuaram a serem puxados.
Ela tentou com todas as forças nadar para a margem, mas o rio era largo e quando ela pensou que conseguiria, sentiu que a correnteza lhe puxava mais forte, a água começou a ficar mais turbulenta.
Jayne já estava cansada e um barulho diferente lhe chegou aos ouvidos, olhou para frente e aterrorizada se deu conta que havia uma imensa queda de água e os dois estavam sendo puxados para ela.
Jayne sentiu o terror atingi-la e tentou chegar à margem, mas era quase inútil, pois estavam à beira da queda. Ela se agarrou nos galhos que adentravam na água, mas quebraram-se e ela foi mais abaixo e os dois, se chocaram em um tronco tombado para dentro da água.
Ela tentou desesperadamente segurar Ian, ela estava engolindo muita água e esta, judiava seu rosto e faziam seus olhos arderem.
Jayne jogou seu braço livre tentando se agarrar ao tronco e com o outro, segurava Ian, a força da água estava como um triturador envolto de seus corpos.
Jayne escorregou do tronco, dando uma volta pela sua lateral, pois a água que batia nele formou um turbilhão que a jogou para o lado. As lascas da madeira, cruelmente lhe rasgaram o braço, fazendo-a gritar.
Ian parecia tomar alguma consciência e escorregou de seus braços, ela vorazmente o agarrou pelo punho. Estavam exatamente na beira da queda.
Jayne usou de toda sua força para segurá-lo, mas sentiu uma dor tão intensa em seu ombro como se ele tivesse sendo arrancado, fazendo-a gritar pela dor horrível; com a força da água Ian parecia pesar quatro vezes mais o seu peso.
— Ian... Ian, agarre minha mão, por favor... — tentava gritar.
Ele não conseguia mover-se com facilidade e erguer o braço para tentar segurar-se, não reagia e a água castigava Jayne fazendo-a engolir água.
Ela não sentia mais força no braço, que lhe doía imensamente, e a mão de Ian foi escorregando. Ele abriu os olhos e a olhou, como se a encarando por um segundo. Sem mais conseguir segurá-lo, a mão dele escorregou por seus dedos e ele caiu na cachoeira.
— Não, Ian! Ian! — gritou, sentindo um terror lhe tomar a alma.
Ela não tinha mais forças para segurar o tronco e não conseguia mais mover o outro braço; seu desespero foi tamanho que pensou em soltar-se. Ela não sabia a altura da queda d’água, o que aconteceria se ela se soltasse.
Sentiu uma imensa vontade de morrer e seu pranto em meio àquela água turbulenta se confundiu.
Perder Ian era algo que não passaria pela sua cabeça. Ela estava perdendo suas forças e suas vistas escureceram, sua mão deslizou do tronco e soltou-se. Sentiu alguém agarrar-lhe os braços, soltou um grito de dor como se mil facas estivessem lhe atravessando o ombro.
— David, me ajude aqui! — Willian gritou sobre o tronco. Os dois a puxaram para fora da água e foram para a margem deitando-a no chão.
— Jayne! — Willian chamou desesperado.
— Will, Ian caiu... — ela dizia tossindo tentando respirar e em completo desespero. — Ian caiu...
Willian tentou avistar a queda enquanto David a segurava, mas via somente um imenso turbilhão de água, pois a queda era enorme. Jayne não sabia se sua dor era pelos ferimentos eu a que estava sentindo no coração, enquanto o corte do seu braço sangrava e ensanguentava sua roupa.
— David... Ian caiu, eu tentei segurá-lo, mas eu não consegui. — disse entre um soluço e outro. — Vá atrás dele, por favor, me ajude, faça alguma coisa. David, ele não pode morrer, ele não pode morrer...
— Calma, Jayne — dizia tentando acalmá-la, mas ele mesmo estava aterrorizado. Jayne, então, acabou por desmaiar.
— David, nós precisamos achar um médico.
— Onde nós estamos?
— Não sei, mas acho que estamos perto de Fox, vamos levá-la para lá.
— E Ian?
— Você viu a altura disso? Como pode ele ter sobrevivido e ainda baleado? Vamos levar Jayne e voltamos para procurá-lo, precisamos de ajuda, ou vamos procurá-lo e a levamos depois? Eu não sei o que fazer.
— Eu também não, Will, não quero acreditar que Ian esteja morto. — David tirou um lenço do bolso e amarrou no braço dela que jorrava sangue. — Vamos ao hospital.
— Tudo bem, vamos fazer o seguinte, eu vou descer a encosta e procurar Ian, você leva Jayne ao hospital ou a um médico, sei lá, e depois você volta para cá, peça ajuda ao xerife para trazer alguns homens, quem sabe ele nos ajuda a fazer uma busca.
— Tudo bem.
David subiu no cavalo e Willian colocou Jayne na sua frente, desacordada.
— Consegue segurá-la?
— Sim.
David segurou o corpo dela, presa no dele, e saiu em disparada, Willian subiu no cavalo e seguiu a encosta, penhasco abaixo. David cavalgou por um bom tempo, e entrando na cidade, pediu se havia um médico. Informaram-lhe que havia um pequeno hospital e ele seguiu para lá.
Ele desceu do cavalo carregando Jayne no colo e adentrou no pequeno hospital, gritando por socorro até que um médico veio ajudar.
Enquanto ela era atendida, Willian foi ao escritório do xerife e ele concordou em ajudar e mandou chamar alguns de seus homens para que juntos seguissem David, para fazer uma busca no rio e outros, para que localizassem o trem.
Eles cavalgaram até a encosta da cachoeira, começaram a vasculhar as margens tentando encontrar o corpo de Ian, mas nada, depois de muito tempo, se encontraram com Willian.
— Willian — David gritou. — Você o encontrou?
— Não. Onde ele está, meu Deus?
— Senhores, é impossível de alguém sobreviver a esta queda, ainda mais se ele estava desacordado e baleado como disseram. Nesta parte da cachoeira há muitas pedras, acho impossível encontrar o corpo.
— Xerife, ele não pode estar morto — Willian disse nervoso.
— Sinto muito, vamos descer mais o rio, mas a correnteza está muito forte. Se ele não morreu pelo ferimento, deve ter morrido afogado.
— Não me importo, fico aqui até encontrar, ele deve estar em algum lugar — David disse com um nó na garganta.
Procuraram mas nada de encontrar Ian, ficaram naquela busca desesperada até começar a escurecer.
— Estamos nisso por horas e já vai anoitecer, temos que voltar — o xerife disse.
— Mas não podemos desistir, se ele estiver vivo, nós podemos achá-lo.
— Sinto muito, rapazes, mas no escuro não vamos encontrar nada. Enviarei homens para outra busca amanhã, mas por hoje a busca está encerrada.
Willian e David estavam contrariados, mas sabiam que o xerife estava certo.
— Will, temos que desistir. Vamos à cidade ver como está Jayne e amanhã bem cedo voltamos e continuamos a busca.
— Está bem, vamos, não vai adiantar ficarmos aqui nessa escuridão.
Seguiram para a cidade e foram ao hospital, procurando pelo médico que atendeu Jayne.
— Então doutor, ela está bem? — David perguntou.
— Ela levou vários pontos no braço esquerdo pelos cortes, está com o direito imobilizado, pois deslocou a clavícula, ela estava em choque, então foi sedada, somente vai acordar amanhã.
— Meu Deus, que desgraça! Isso não pode estar acontecendo — Willian disse andando de um lado a outro com as mãos na cabeça.
— Willian, você está ferido, tem que pedir ao médico que olhe seu braço.
— Eu estou bem, foi de raspão. Ah meu Deus, seria um milagre ele estar vivo, praticamente impossível. Vamos rezar para o acharmos, senão isso vai ser um desastre. O médico disse que trouxeram alguns feridos do trem para cá. Malditos bandidos — Willian gritou, sentindo dor no braço.
David chamou a enfermeira e pediu que cuidasse dele. Willian estava esgotado, seu ferimento doía e aceitou os cuidados. Passaram a noite no pequeno hospital, estavam exaustos, famintos e desconsolados.
Logo que amanheceu voltaram e percorreram vários quilômetros a partir do ponto que haviam parado, passaram o dia naquela situação, e nada encontraram.
— David, vamos ter que desistir. Se não encontramos nada até agora, não encontraremos mais... Acho que acabou — Willian disse com o coração estraçalhado.
David o olhou com uma tristeza descomunal, não queria acreditar que o amigo estivesse morto. Ficaram imóveis, sem saber o que fazer.
— Haveria a possibilidades de alguém tê-lo encontrado e o tirado do rio? — David perguntou.
— É possível. Nós podemos perguntar nas casas próximas e no hospital de Portland que não é muito longe daqui, para ver se alguém deu entrada.
E assim o fizeram, mas eles não encontraram nada, nenhuma pista. Ian realmente havia desaparecido nas águas, estava morto.
Quando foram ao hospital, no outro dia, ver Jayne, falaram com uma enfermeira perguntando como estava, antes de entrar e falar com ela.
— Senhor, fisicamente o estado dela é bom, logo vai melhorar dos ferimentos, mas ela não para de chorar, chama por um nome, diz que é seu marido. Às vezes ela entra em estado eufórico e temos que acalmá-la, outras ela fica com o olhar parado sem se mover, olhando para o nada. Sua tristeza a está consumindo. Vocês podem entrar, quem sabe a ajude.
Quando Jayne viu David e Willian entrarem no quarto, começou a chorar novamente. Willian sentou-se na cama e ela aos soluços, jogou-se em seu peito.
— Diga que você o encontrou, por favor, me diga que ele não está morto.
— Jayne, eu sinto muito, mas não o encontramos.
— Não é possível. O que vai ser de mim, dos meus filhos sem Ian? Não posso viver sem ele.
— Calma, querida, nós tentamos tudo, mas não o encontramos, com certeza ele deve estar morto. Não há mais nada que possamos fazer, eu sinto muito, Jayne.
— Não...
Ela chorava inconsolada. Willian e David, exauridos, não conseguiram conter as lágrimas. Perder Ian que era como um irmão para eles era dolorido demais, e vendo o desespero que Jayne se encontrava lhes causava ainda maior tristeza.
O médico liberou Jayne somente no dia seguinte, então David e Willian a levaram para West Side. Durante este período ela não pronunciou nenhuma palavra, só fazia chorar.
Chegando à cidade, alugaram um coche e seguiram para a fazenda. James, o capataz, veio recebê-los, estranhando aquela chegada súbita e vendo o estado que Jayne se encontrava.
Willian retirou Jayne no colo do coche e a levou para dentro da casa e chamaram a criada para ajudar a arrumar a cama, colocaram-na ajeitada nos travesseiros e ali ela ficou... Inerte.
— Jayne, você vai ficar bem até avisarmos alguém para vir aqui?
Ela não respondeu, acenou com a cabeça que sim e recostou a cabeça no travesseiro e os rapazes foram para fora.
— David, a tristeza dela está de amargar.
— Eu sei, Will. Eles estavam tão felizes nestes últimos dias, Ian estava radiante, nunca o tinha visto daquele jeito na minha vida.
— Isso não podia ter acontecido.
— Parece que nosso pacto se quebrou.
— Parece. Mas nós ainda estamos aqui e temos que continuar firmes. Alguém tem que vir ficar com ela, tenho medo que faça uma besteira.
— Concordo. Vou para casa ver Mary e Samantha e depois vou à casa de Mitchel para avisá-los. Pedirei que avisem seus pais.
— Eu também vou para casa — Willian disse esfregando as mãos no rosto.
— Você está bem?
— Não. Além de tudo isso eu ainda tenho que enfrentar Emily.
— Se precisar de mim, amigo, me chame. Mas vou lhe dar um conselho. O que importa agora é sua família, não conte nada a Emily, pois se contar, você vai criar uma situação irremediável, Will. Temos que estar todos unidos para enfrentar a perda de Ian.
Willian e David se abraçaram demoradamente, tristes e destroçados, despediram-se e foram para suas casas.
A cabeça de Willian queimava, estava com todas aquelas preocupações anteriores e a morte de Ian, sentia-se em pedaços. Estava pensando como encararia Emily, se contaria para ela ou não.
Nunca mentiu ou omitiu algo dela, aquela situação lhe corroía por dentro. Tinha medo de lhe contar e ela não lhe perdoar, tinha medo de não falar e viver encima de uma mentira. Estava confuso, mas David estava certo, melhor seria ficar calado.
Chegando em casa, não viu ninguém, olhou no quarto e viu Ethan dormindo em sua cama. Willian sorriu quando o viu, acariciou levemente seus cabelos negros e sua pele macia.
Estava morrendo de saudades dele, mas não queria acordá-lo, lhe deu um leve beijo em seu rosto. Saiu da casa procurando Emily, e o que seus olhos viram causou-lhe uma dor, e uma raiva que seu sangue ferveu quando avistou Emily e o peão estirados no chão ao lado do poço. Ele ficou paralisado.
Eles riam e ele levantou-se, pegou-a pelas mãos a levantando do chão, mas Nick rapidamente a beijou, sem dar tempo para ela reagir.
Willian pensou que fosse morrer; um frio lhe desceu pela espinha e seu estômago embrulhou-se. No súbito tirou a arma do coldre e apontou para eles, com fúria a engatilhou e atirou bem próximo aos seus pés fazendo-os se assustar e Nick a soltou.
Capítulo 6
Os dois ficaram, lado a lado, o olhando com os olhos arregalados. O jovem tentou sacar sua arma, mas Willian atirou em sua mão que a deixou cair, ele se contorceu de dor segurando sua mão e caindo no chão.
— Willian! — Emily gritou apavorada.
— O que este maldito está fazendo aqui? — gritou entre os dentes e com os olhos que pareciam duas chamas verdes de ódio.
— Sr. Jonhson, eu vim procurá-lo, eu... — Nick disse gemendo, mas Willian o interrompeu.
— Cale-se, senão eu mato você agora mesmo. Procurar-me? Eu o mandei embora, seu desgraçado, e agora o vejo aqui com a minha mulher. Diga-me só uma razão para eu não matar vocês dois agora.
O rosto de Willian estava transtornado e falava alto, com a voz forte e furiosa.
— Willian, não é nada disso que está pensando, Nick estava me ajudando com o poço.
Willian ainda mirando com a arma chegou perto dos dois.
— Eu voltei para pedir meu trabalho de volta, o senhor não estava, eu a estava ajudando com o poço.
Willian olhou para ela que o olhava com os olhos apavorados e com o coração acelerado de pavor.
— Will, eu juro...
— Eu vi vocês se beijando — disse gritando a interrompendo.
— Eu juro, Sr. Jonhson, não fizemos nada demais.
Ele deu uma coronhada no rosto do rapaz o fazendo cair novamente e apontou a arma para sua cabeça.
— Willian, pare com isso! — ela gritou apavorada.
— Emily, entre agora mesmo.
— Will...
— Entre! — disse gritando com toda fúria e ela saiu correndo.
— Você estava beijando minha mulher, e tem coragem de dizer que não é nada demais?
Ele se ajoelhou e encostou a arma debaixo do queixo de Nick.
— Foi um impulso... — disse com o sangue escorrendo pelo rosto.
— Eu deveria estourar os seus miolos, Nick.
Ele engatilhou a arma novamente e forçando mais contra seu queixo.
— Não, por favor, senhor, eu juro que não fizemos nada de mais, foi só um beijo, eu só a ajudei a levantar, eu a ajudei a arrumar o poço, eu juro. Eu a beijei no impulso, não premeditei nada.
— O que mais aconteceu?
— Nada, não aconteceu nada, eu juro, eu juro.
Willian tentava controlar a sua raiva para não matá-lo, o olhava com os olhos fulminantes e rangia os dentes, seu dedo tremia no gatilho. Ele levantou, o puxou pela camisa e o empurrou.
— Saia daqui. Nunca mais pense nesta fazenda, saia da cidade e nunca mais volte. Eu juro que se eu encontrar você de novo eu meto uma bala na sua cabeça.
Nick não falou nada, passou a mão no olho e a olhou vendo o sangue que caia de seu supercílio, deu alguns passos para se afastar, foi sacar sua arma, mas Willian atirou nele que caiu morto.
— Estúpido, eu lhe dei uma chance, mas pensando bem, me sinto bem melhor agora.
Willian ficou ali parado com a respiração ofegante e tentava controlar sua raiva, sua cabeça estava queimando, teve vontade de gritar. Colocou a arma no coldre, juntou a outra do chão e entrou em casa como um furacão.
Emily estava de pé perto do sofá da sala com as mãos juntas na frente do corpo e com os olhos arregalados, tremia dos pés à cabeça.
— Você atirou nele?
— Sim, seu amante está morto.
— Oh Deus. Will, eu juro, foi ele que me beijou, eu não tive culpa. Não era meu amante.
— Emily, como pôde? Como pôde olhar para ele daquele jeito? Como pôde deixar este homem aqui na fazenda? Na nossa casa! — disse gritando.
— Mas Willian, ele trabalhava aqui e ele se ofereceu para me ajudar com o poço, pois eu não conseguia puxar o balde emperrado.
Willian foi para cima dela e a segurou pelos braços com toda força, seus olhos pareciam que soltariam faíscas.
— Você quer me convencer que ele não esteve aqui durante o tempo que eu estive fora, além de hoje?
— Não. Eu juro, Will, eu não fiz nada!
— Não? Eu vi coisas? Você estava apaixonada por ele?
— Claro que não. Eu não queria isso.
— Emily, eu ouvi você falar sobre ele para suas irmãs, o achando lindo. — Emily empalideceu. — No dia do seu aniversário... Eu ouvi sua conversa, você se sentia atraída por ele.
— Não, Will, isso não é verdade... — Emily começou a chorar.
— É sim, e eu comprovei agora mesmo, não negue que fica pior, Emily. Fale-me a verdade, por favor.
— Eu o achava bonito, só isso. Eu jamais faria nada para magoar você e o que eu falo é só de brincadeira. Foi ele que me beijou, ele me ergueu do chão porque estávamos puxando a corda do poço, que estava emperrada, ela arrebentou e caímos no chão, ele me beijou, eu não fiz nada.
— Você não o impediu, não bateu nele, não o empurrou, nada. Você aceitou. Essas modernidades que você e suas irmãs gostam de ostentar a transformou em uma mulher sem recato. Onde já se viu achar outro homem bonito? Onde está o respeito por seu marido?
— Will, isso não é errado. Jayne acha você bonito, e nem por isso Ian mataria você, ou ela se insinuaria pra você. Eu jamais o teria traído ou me insinuado para outro homem, o que eu falo são brincadeiras.
— E eu que estava sentindo remorso, me sentindo culpado.
— Do que está falando?
— Quer saber? Pois bem, não iria lhe contar nada, mas acho que você merece a punhalada. Eu fiquei com outra mulher lá na Califórnia, fiquei bêbado e passei a noite com ela.
— O quê? — gritou, Emily cerrou os punhos e foi para cima dele. — Willian como pôde fazer isso comigo? Trair-me desta maneira?
— Traí, assim como você! — disse segurando seus punhos para que ela parasse de bater nele. — Pare com isso, Emily.
— Eu não dormi com ele! — gritou e mais lágrimas corriam pelo seu rosto.
— Emily, você me traiu quando fez meu coração em pedaços, dizendo que desejava outro homem. — Lágrimas escorreram dos olhos dele, e ele falava entre os dentes. — Naquele dia você me magoou muito, e agora isso. Vocês estavam se beijando e sei lá mais o quê fizeram. Eu me arrependi do que fiz, senti remorso, mas agora eu não consigo nem olhar para você.
— Então somos dois. E foi ele que me beijou.
— Ah... Como se isso fizesse diferença. Então dizer que Jessy me seduziu tiraria minha culpa?
— Como ousa dizer o nome dela na minha frente!
— Como ousa estar com um peão que trabalha para mim dentro da minha fazenda, está louca? Eu não sei como não matei vocês dois. Bem que eu desconfiei, e eu estava certo. Você está apaixonada por ele.
Willian sentou no sofá e com as mãos cobriu o rosto.
— Eu não estou apaixonada por ele, Will, eu amo você.
— Como vai ser nossa vida agora, Emily? Como vamos viver depois disso tudo? Nós dois somos culpados disso tudo. E eu nem consigo olhar mais para você porque me dói.
— Eu vou embora, vou pegar Ethan e vou para casa da mamãe.
Willian levantou e olhou para ela, parecendo que ia devorá-la.
— Você não vai a lugar nenhum com meu filho, se quiser ir embora vá sozinha, porque meu filho não sairá desta casa.
— Eu não vou deixar meu filho.
— Então você vai ter que ficar aqui. Porque ninguém neste mundo vai afastar meu filho de mim desta vez. Meu Deus... — disse esfregando o rosto com toda força. — Por que não fui eu que morri naquele rio?
— Desta vez? Do que está falando?
— Vá para a casa da Jayne, ela precisa de você, está ferida.
— Ferida? Por quê? O que houve? — dizia entre soluços.
— Ian está morto. Então é melhor que você vá para casa dela, porque senão eu vou explodir, eu não quero mais olhar para sua cara.
— O quê? Ian, morto? — Emily olhava para ele com os olhos arregalados tentando entender o que ele dizia, estava confusa. — Will, como assim, Ian está morto? O que houve? Precisamos conversar, por favor.
— Agora não. Eu quero ficar sozinho, quero esquecer este inferno.
Ele lhe deu as costas e foi para o quarto, atirou-se na cama de costas e com as mãos no rosto chorou aos soluços. Não conseguia segurar a dor que sentia no peito, estava destroçado. Chorava por ela e por Ian.
Emily ficou ali parada olhando para o nada e seu rosto estava molhado das lágrimas, parecia que um furacão havia passado dentro dela. Não sabia o que fazer, seu coração estava doendo como se tivesse uma faca cravada nele, sentou-se no sofá e ficou ali chorando.
Seu mundo desabou, chorou aos soluços, olhou ao redor e sentiu um imenso vazio, estava perdida. Ela secou as lágrimas e respirou profundamente, deu uma olhada em Ethan que ainda dormia, parecia um anjinho e estava tão longe daquele pavor todo, ela avisou a criada que sairia, pegou o seu cavalo e foi para a fazenda de Jayne.
**
Jayne estava em seu quarto, recostada nos travesseiros, com um braço imobilizado numa tipoia e o outro enfaixado no antebraço, estava com os olhos fechados, mas estava acordada.
Emily entrou e a viu naquele estado, não sabia se sua dor podia se comparar à dela. Chegou devagar na beira da cama e sentou-se colocando a mão na sua perna.
— Jayne...
Ela a olhou, e como se fosse um escape, soltou o choro a abraçando que também começou a chorar.
— Emily, eu perdi meu Ian.
— Sinto muito, Jayne.
— Estou com vontade de morrer.
— Jayne, não diga isso, por favor.
— Eu o quero de volta, ele tem que estar vivo.
— Querida, não fique assim, se acalme.
Elas ficaram chorando abraçadas por um bom tempo. Não havia nada que pudesse conter as lágrimas nem de Emily nem de Jayne.
— Como isso foi acontecer?
— Bandidos assaltaram o trem, queriam o dinheiro do prêmio que ganhamos. Ian foi baleado e caiu no rio, eu pulei atrás, mas não consegui segurá-lo, ele caiu na cachoeira.
— Meu Deus, que horror!
— Willian e David me salvaram, se eu tivesse caído acho que estaria morta também.
— Ainda bem que não caiu, meu Deus! O que seria dos seus filhos?
— Eu queria ver meus filhotinhos.
— É melhor que fiquem por mais um tempo com a mamãe, até você se recuperar um pouco. Não é bom que eles a vejam assim.
— Esta dor está insuportável... — disse contorcendo-se.
— Vou pedir a James que chame o médico, para ele ver você e lhe dar algum anestésico, talvez láudano ou morfina. Seria bom você dormir.
— O que você tem? Sua cara não está assim por minha causa.
— Não é nada.
— Você brigou com Willian?
— Nosso casamento acabou.
— Como assim?
— Bem, ele me traiu nessa viagem e ainda me pegou aos beijos com o Nick, foi isso e meu casamento acabou.
— Emily, você beijou o Nick? — indagou espantada. — Meu Deus! Como pôde fazer isso, Emily?
— Não foi minha culpa, Jayne, mas Will não vê desse jeito.
— Mas vocês ainda têm a chance de consertar isso.
— Não, não podemos.
— Emily, olhe para mim. Eu não tenho opção, eu não tenho escolha, não posso consertar nada, Ian está morto e eu estou aqui sozinha. Não perca seu casamento, Emily. Tente consertar as coisas, eu sei que vocês se amam.
— Não há o que consertar, acabou. Nós viveremos como dois estranhos daqui por diante.
— Eu sinto muito.
As duas se abraçaram e mais lágrimas rolaram de seus olhos.
— Vou voltar para casa, já está escurecendo. Você vai ficar bem aqui? Sinto muito, mas eu não posso ficar. Susan não pode ficar dormindo em casa hoje, eu não posso deixar Ethan sozinho, mas amanhã cedo eu venho lhe ver.
— Não se preocupe, Anna está aqui.
Emily deu um beijo em seu rosto e saiu do quarto.
— James... — Emily chamou o avistando.
— Sim, senhora — disse vindo ao seu encontro.
— Mande alguém à cidade buscar o médico, ela está com dores e depois quero que avise meus pais.
— Irei imediatamente.
— Fique de olho nela, por favor. Amanhã bem cedo eu volto.
— Pode deixar, Sra. Jonhson. Eu e Anna ficaremos de olho nela, vou cuidar de tudo, não se preocupe.
Emily foi para casa, entrou devagar olhando ao redor para ver se via Willian, foi ao quarto de Ethan e ficou paralisada olhando para aquela cena. Willian estava sentado na cadeira de balanço e a impulsionava devagar com os pés, estava com os olhos fechados e a cabeça recostada.
Ethan estava em seu colo e dormia. Willian com uma mão o envolvia pelas costas e com a outra, acariciava seus cabelos.
Aquilo cortou o coração de Emily e ela começou a chorar, fechou a porta devagar, os deixando, foi para a varanda e sentou-se olhando para o céu que já começava a despontar algumas estrelas. Amava Willian com todas suas forças e o perdeu, seu coração doía e somente podia chorar.
**
Willian acordou e olhou para o lado, Emily dormia encolhida no canto da cama, ele levantou e lavou o rosto, o esfregando com força e demoradamente, tomou uma xícara de café e saiu, iria ver Jayne. Estava com uma cara horrível, passou a pior noite de sua vida.
Chegando à fazenda de Jayne, encontrou-a em sua cama, parecia estar na mesma posição que a havia deixado.
— Como você está? — perguntou carinhosamente segurando sua mão.
— Esta dor está me matando. O médico não veio ontem, James não conseguiu encontrá-lo, mas sua esposa disse que o enviaria hoje.
— Se ele não vier, eu vou à cidade buscá-lo. Nós deveríamos ter trazido morfina, eu não pensei que ainda sentiria tanta dor.
— Nem eu. Will, vocês procuraram Ian por todos os lugares?
— Sim, Jayne, o procuramos por três dias.
— Mas alguém pode tê-lo encontrado.
— Jayne, eu lhe garanto, eu e David viramos tudo de cabeça para baixo. Até para Portland David foi e nada, ninguém o viu. Nada. Acredite, ninguém mais do que eu queria o encontrar. Mas eu acho que ele deve ter ficado preso no fundo do rio, ou a correnteza o levou muito rapidamente para longe, eu não sei.
— Ai, Will, não me diga isso — Ela começou a chorar.
— Desculpe, Jayne, mas é verdade — disse a abraçando.
— Senhora, o médico chegou — disse a criada chegando à porta e o médico entrou retirando o chapéu.
— Eu vou embora, mas se você precisar de mim, virei a qualquer hora. Procure descansar, querida, ficar assim não vai trazer Ian de volta.
Ele lhe deu um beijo na testa e foi para frente da casa. Ficou olhando para o nada, com as mãos na cintura, nem sabia para que lado ir, mas tinha que voltar para casa, o trabalho o esperava, portanto tinha que tocar a vida.
Chegando em casa deparou-se com Emily e quando se olharam ficaram parados e mil coisas passavam em seus pensamentos. Willian virou as costas, mas ela o segurou pelo braço.
— Will, nós precisamos conversar.
— Conversar sobre o quê? Não tenho nada para falar.
— Vamos ficar assim aqui dentro de casa, virando a cara um pro outro?
— E o que você quer que eu faça?
— Deixe-me ir embora com Ethan.
— Não. Já disse que meu filho não sai daqui.
— Por quê? Eu sei que você o ama, mas eu não vou aguentar ficar aqui deste jeito.
— Devia ter pensado nisso antes. Eu perdi um filho, e agora não vou me afastar de Ethan, entendeu?
— Que filho? Do que está falando?
— Não interessa.
— Fale-me, por favor, de que filho está falando?
Willian respirou fundo e abaixou a cabeça, estava esgotado.
— A mulher que eu fiquei, eu a conhecia. Nós tivemos um romance, ela estava grávida quando eu a deixei para me casar com você, mas eu não sabia de nada e agora ela me contou que nosso filho morreu. Culpou-me pela morte dele.
— Ela era sua amante?
Emily pensou que ia explodir de dor, não era uma simples mulher, era alguém que ele amou.
— Era.
— Você ainda a ama... Está sofrendo por causa deste filho, preferia ter ficado com ela, se arrependeu de ter casado comigo.
Willian chegou perto dela e a olhou bem nos olhos, mas nem sabia o que dizer. Lágrimas rolaram dos olhos dele, e fazendo um esforço descomunal para que suas palavras conseguissem sair de sua boca, falou com os dentes cerrados.
— Não, Emily, eu não amo Jessy. Eu me casei com você porque eu a amava. Eu amava tanto que ficar sem olhar para você era insuportável. E eu ainda te amo, mas o ódio que estou sentindo sufocou este amor. Eu nunca mais vou encostar em você de novo.
Willian saiu da sala e com o coração em pedaços ela começou a chorar aos soluços. Entrou no inferno e não tinha a mínima ideia de como sair dele.
Capítulo 7
Emily e Julia iam constantemente à fazenda de Jayne para lhe fazer companhia, assim como sua mãe. Ela ficou por dias com dores nos braços, precisando de cuidados. O médico veio outras vezes ver-lhe para lhe dar atendimento até que retirou os pontos e a tala.
Fisicamente estava bem, seus ferimentos não doía mais, sua dor era interna, ficava jogada na cama em estado de tristeza sem tamanho. Chorava o tempo todo, tinha pesadelos à noite e acordava gritando o nome de Ian, mas isso, nenhum médico podia curar.
As crianças ficaram nos primeiros dias com os avós, mas pensaram que deveriam levá-los para casa, talvez assim Jayne reagisse, pois nem comer queria. Sentia um vazio tão gigantesco que parecia que lhe haviam arrancado o coração fora.
Quando trouxeram as crianças de volta para casa, ela tentava conter-se quando Angel e Josh estavam por perto dela, pois eles a acalmavam e traziam alegria. Porém era difícil quando eles perguntavam de seu pai, onde ele estava, por que não havia voltado para casa, não entendiam porque ela chorava tanto.
Josh pedia pelo pai o tempo todo, e ela lhe explicou que ele partira, mas ele, com somente quatro anos não entendia o que era a morte. Angel ficou inconsolada, sentia-se abandonada, mas agarrava-se à mãe que tentava lhe dar carinho e acabavam as duas chorando abraçadas.
Com o passar do tempo as crises de choro de Jayne foram acalmando, mas sentia uma falta de Ian que lhe arrebentava a alma, não sabia se seria possível juntar os pedaços que seu coração se transformou.
— Jayne, você não pode continuar assim, tem que reagir.
— Estou tentando, Julia. Sei, tenho que cuidar dos meus filhos e da fazenda, de dia até consigo me distrair um pouco, mas à noite quando deito na cama sozinha, e vejo o lugar dele vazio, me bate um desespero.
— Eu imagino como deve ser duro, vocês se amavam tanto, mas o tempo vai cicatrizar esta ferida, mas você vai ter que se conformar.
— Às vezes parece que ele vai abrir a porta e entrar. Julia, eu sei que parece loucura, mas às vezes tenho a sensação que ele não está morto, que vai voltar. Tenho sonhos de que ele esta perdido, tentando voltar para casa.
— Jayne, isso não vai acontecer. Querida, você tem que aceitar sua morte.
— Eu sei, mas só de pensar que nunca mais vou vê-lo me dá uma dor no peito. Por que ele tinha que morrer? Se eu tivesse tido forças de segurá-lo, ele podia estar vivo — disse com os olhos marejados de lágrimas.
— Pare de se culpar, você fez o possível para salvá-lo e foi muita loucura ter pulado naquele rio, você quase morreu com ele. E se isso tivesse acontecido, o que seria das crianças sem mãe e pai? Por favor, isso tudo não foi culpa sua. Essa dor vai acalmar, você só precisa de tempo.
Julia sentia seu coração partir-se ao ver a dor de Jayne, nada que dizia trazia consolo para aquela tristeza.
— Julia tem razão, Jayne. Só o tempo vai curar isso, e também acho que você tem que parar de esperar que ele voltará, pois não vai — disse Emily.
— Eu sei — disse suspirando e passando a mão nos olhos, como para tentar afastar os pensamentos. — E como está sua vida com Willian?
— Um inferno. Mal trocamos meia dúzia de palavras, mal nos olhamos, mas quando olho para ele, tenho vontade de abraçá-lo, de beijá-lo, sinto falta dele, mas também sinto raiva. Nunca pensei que a gente pudesse sentir sentimentos tão contrários ao mesmo tempo. É horrível.
— Meu Deus, o que foi acontecer? Parece que tudo virou de cabeça para baixo. Jayne perdeu Ian, Willian e Emily desse jeito e eu ando com uma gana do Mitchel que nem sei.
— Por que, Julia? — perguntou Emily.
— Eu não sei o que está errado comigo, eu me irrito com qualquer coisa que ele faz ou diz, estamos brigando o tempo todo. Às vezes sinto uma vontade de ficar com ele, depois nem quero que ele me encoste. Se ele está parado olhando para o nada já penso que ele está pensando em alguém.
— Julia, que absurdo. Isso deve ser alguma fase, daqui a pouco vocês entram nos eixos novamente — Jayne disse.
— Fase? Se a gente tem fases, então nem sei que fase é esta que estou passando, minha Nossa Senhora, não tenho mais lágrimas para chorar. Será que a família Cullen tem alguma maldição? — Emily disse.
— Maldição? Ai credo, Emily! — Julia disse espantada.
— Emily e suas loucuras. Que maldição, sua doida?
— Ora, vai ver que nossa família foi amaldiçoada, então as mulheres da família sofrem por causa dos maridos. — Julia e Jayne riram.
— Ah Emily, só você para me fazer rir — Jayne disse. — Você já pensou em perdoar Willian? Eu o vi lá na Califórnia, vi como ele ficou arrependido do que fez. Vocês são casados, não podem viver desse jeito.
— Já, mas acho que não consigo, e ele disse que não vai me perdoar nunca. Acho que nós não temos mais remédio. Arrepender-se não é tudo, como vou confiar nele de novo?
— Eu sei, mas as pessoas erram. Ninguém é perfeito.
— Não sei, ele me olha com ódio nos olhos, nunca havia visto aqueles lindos olhos verdes tão enfurecidos.
— Também não foi para menos. Se meter com esse Nick foi um erro sem tamanho, Emily.
— Mas eu não fiz nada, somente disse que o achava bonito, mas eu jamais trairia Will, pois eu o amo. Apesar de ser desbocada, eu só falo, sou uma esposa dedicada e jamais cometeria tal desatino. Foi ele que me beijou e não deu tempo de me soltar dele e Will chegou, já cansei de dizer isso.
— Eu sempre disse que um dia essas suas besteiras iriam lhe prejudicar, se ele já não desconfiasse de Nick, acreditaria em você.
— Eu sei, mas nunca imaginei uma coisa dessas, ele me culpa por algo que eu não fiz. Só pedi a ele que me ajudasse com a corda.
— Bem, não adianta mais reclamar, o jeito é consertar.
— Isso não tem conserto. Eu vou para casa, está tarde, minha tortura vai começar — Emily disse respirando profundamente.
— Eu também vou — Julia disse. — Você vai ficar bem?
— Sim, podem ficar tranquilas que não vou me atirar no poço, se é o que estão pensando — Jayne disse.
As três abraçaram-se e as meninas foram embora. Jayne ficou na varanda sentada na cadeira, ficou olhando o sol se pôr na montanha. Lembrou-se de quando ia com Ian para o lago nesta hora, seu peito apertou e lágrimas lhe correram dos olhos. Josh veio até ela e Jayne o pegou no colo, beijando-o.
— Mamãe, por que está chorando?
Jayne tentou sorrir, mas mais lágrimas lhes saíram dos olhos vendo o rostinho de Josh e seus olhinhos verdes puxadinhos como os de Ian.
— Não é nada, querido.
— Estou com saudade do papai. Onde está o papai?
— Mamãe já lhe disse, meu amor, o papai não vai mais voltar.
— Ele morreu, não é mamãe?
— Sim Josh, foi isso mesmo — disse passando os dedos pelos seus finos cabelos.
— Então ele virou uma estrela, não é? Kate disse que quando a gente morre vira uma estrela e fica brilhando lá no céu.
Jayne nem sabia o que responder e sentia que o nó em sua garganta nem lhe deixaria soltar as palavras.
— Sim, meu amor. Seu papai virou uma estrelinha.
— E qual é ele?
— É a mais brilhante, aquela lá, veja... — O fez se virar e apontou com o dedo para uma estrela que irradiava no céu. — Está vendo? Ela é a primeira que aponta no céu, pois é a primeira que vem para ficar o olhando por toda a noite.
— Então ele está me olhando?
— Está, e está dizendo que é hora de você ir jantar.
— Ah não, eu quero ficar vendo o papai, e por que eu não o escuto?
— Ele estará lá no céu todas as noites e você pode senti-lo dentro do seu coração — disse colocando a mão sobre seu coração. — Mas agora você precisa ir jantar. Vamos dê um beijo na mamãe e vá que Kate deve estar lhe esperando, depois eu vou contar-lhe uma história.
— Promete? Nunca mais leu para mim.
— Eu sei, meu amor, mas hoje eu vou, eu prometo, agora vá.
Josh lhe deu um beijo, desceu do seu colo e foi para dentro da casa. Jayne recostou-se na cadeira e ficou olhando a estrela e sentindo seu coração sangrar. Quase todas as noites ela ficava na varanda, olhando para a entrada da fazenda, esperando que a qualquer momento avistasse Ian voltando para casa.
Mas os dias se passavam e ele nunca voltava.
Capítulo 8
Passado alguns meses, Jayne estava mais calma, mas foram terrivelmente difíceis. Ela conheceu as trevas mais obscuras, a dor mais terrível, e a solidão lhe torturava como se todas as noites fosse açoitada, mas com muito esforço tentou recobrar as forças para seguir sua vida.
Enterrou-se no trabalho e cuidava atentamente de seus filhos, tentava ocupar todo seu tempo com tudo para não pensar em Ian, os ferimentos de seu coração pareciam cicatrizar, pelo menos era o que ela tentava mostrar aos outros, mas parecia estar apenas adormecendo, pois jamais cicatrizariam.
Sua dor lhe cortava quando via alguma coisa que lhe trouxesse lembranças de Ian, principalmente dos momentos mais felizes de sua vida e os últimos tão intensos que passaram na Nova Califórnia.
Ela recolheu suas roupas, seus acessórios e colocou num imenso baú, tentou não colocar as fotos, mas olhá-las era doloroso, então retirou até os porta-retratos da casa e os guardou.
Seus pesadelos continuavam, mas já não eram tão intensos como antes, muitas vezes acordava no meio da noite, o procurando ao seu lado na cama, com isso passava o resto da noite agarrada aos travesseiros.
Nas suas orações, o que pedia era força para seguir e resistir.
Angel acalmou-se, as suas crises de revolta pareciam ter passado. Estava empolgada com os cavalos e Jayne a incentivava a montar. Ela era obstinada, era sua companheira, parecia uma adulta pela sua idade, sentia muita falta de Ian e muitas vezes as duas relembravam as suas palavras.
Os clientes que eles haviam contatado na exposição na Nova Califórnia, sabendo da morte de Ian se mostraram solidários, enviaram as condolências e respeitaram seu período de luto.
Após algum tempo é que a começaram procurar e mesmo sem ter a mínima vontade, ela começou a cuidar de tudo novamente. James era um capataz fiel e lhe deu o maior suporte neste período, mas sempre precisava das suas ordens para tudo.
O trabalho foi sua válvula de escape, tinha que manter a fazenda de pé, pois dali saia seu sustento, teve que tomar as rédeas e comandar tudo. Se anteriormente ela tinha pulso forte e respeito com os empregados, agora precisava de mais, pois tudo dependia dela.
— James, eu quero que amanhã você e alguns homens construam a lareira no quarto como havíamos planejado com Ian.
— Amanhã, senhora?
— Sim, James, amanhã. Eu quero isso pronto em dois dias no máximo, entendido?
— Sim, senhora, mas vou ter que tirar os peões da lida.
— Não faz mal, quero aquela parede abaixo amanhã de manhã. Se precisar comprar alguma coisa, me avise que lhe dou dinheiro.
— Está bem, senhora.
— Ah James, eu quero que faça mais uma coisa. Precisamos de mais homens na fazenda.
— Para o trabalho? Acha que eles não estão dando conta?
— Não é isso, eu quero mais homens armados que fiquem espalhados pela fazenda, sempre de prontidão, dia e noite.
— Por que isso, senhora?
— Proteção. Eu não quero correr o risco de ladrões aqui, acho que os homens que temos é pouco. Mas veja a procedência, por favor, tem que ser homens de confiança. Veja quantos teríamos que contratar, se precisamos comprar armas e munição e quanto isso tudo vai me custar. Espalhe aos quatro cantos, que quem entrar nas minhas terras sem autorização, vai levar bala.
— Sim, senhora.
— Eu quero meus filhotes bem protegidos. Eu já perdi Ian para bandidos, não quero mais nenhuma surpresa desagradável. Quero que saibam que posso ser viúva, mas não vulnerável.
— Pode deixar comigo, farei tudo direito.
— Obrigada.
Jayne olhou para a entrada da fazenda e avistou Willian a cavalo se aproximando e com ele vinha um homem estranho num cavalo. Jayne e James os ficaram olhando para ver de quem se tratava.
— Willian, que bom ver você — disse sorrindo quando o viu chegar perto das baias.
— Jayne, este é o Sr. Gregor, encontrei-o perdido na estrada.
— Sra. Buller?
— Sim, sou eu.
— Eu sou da Companhia Ferroviária Cross Road, do trem que a senhora e seu marido estavam há alguns meses e... que foi assaltado. Eu soube da morte do seu marido, eu sinto muito.
Jayne sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha.
— Obrigada.
— Vim lhe entregar seus pertences que estavam no cofre — disse lhe entregando uma caixa de madeira com um cadeado.
— Achei que havia sido roubado.
— Felizmente não, eles não conseguiram abrir o cofre. Por isso a guardamos, nós esperamos que viessem, pois isso somente podia ser retirado pessoalmente pelo Sr. Buller, mas como não apareceram, e descobrimos sobre sua morte, então eu vim lhe trazer. Ele pagou um seguro alto, madame, temos a obrigação de lhe devolver isso.
— Obrigada.
— Até mais ver.
O homem foi embora, Jayne e Willian, foram até a varanda e ela colocou a caixa encima da mesa.
— Eu não tenho a chave, acho que estava com Ian.
— Dê-me aqui que dou um jeito.
Willian pegou a caixa, desceu as escadas da varanda e a colocou no chão, engatilhou o revólver e atirou no cadeado e a levou de volta. Jayne a pegou sentando-se na poltrona e foi abrindo a caixa devagar.
Dentro, viu os maços de dinheiros que receberam de prêmio, os documentos dos cavalos, certificações. Embaixo havia uma caixa vermelha de veludo e ela suspirou sentindo uma dor no peito. Abriu-a lentamente e avistou o colar e os brincos que Ian lhe deu no dia do baile.
Suas memórias não tardaram a chegar e seu coração apertou lembrando-se daquele dia tão feliz. Algo lindo para ficar guardado. Ela passou os dedos pela joia, algumas lágrimas lhe correram dos olhos e ela fechou a caixa. Ela olhou para Willian que estava escorado na cerca da varanda com os braços cruzados a olhando, sabia do que ela se lembrava.
— Aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida.
— Eu sei. Vocês dois pareciam mesmo uns príncipes, brilharam naquele salão. Creio que não houve alguém que não os olhou.
— Você acha que ele pode estar vivo, Will?
— Não, Jayne, não acho. E também acho que você deve parar de esperar. Esta ilusão que você criou, só vai fazer piorar as coisas.
— Eu sei. Mas eu acho que no fundo ainda tenho esperanças.
— Desculpe-me, querida, mas acho melhor você não ter. Siga sua vida, Jayne. Você vai ver que com o tempo, essa esperança vai apagar.
— Você já perdeu suas esperanças com Emily?
— Minhas esperanças morreram, não sei se consigo recuperar alguma coisa.
— Você pode, Will, é só tentar. Você ainda a ama, não ama?
— Nem sei mais o que sinto, é uma tortura vê-la lá em casa, às vezes tenho vontade que ela vá embora, mas não posso ficar longe de Ethan, então ela fica e afinal, estamos casados para a vida toda.
— Willian, o amor pode curar muitas feridas, eu estou vendo vocês entregarem tudo sem lutarem para recuperar o que se quebrou.
— Não sei, Jayne, acho que não dá para recuperar nada.
— Se não tentar, não saberá e não adianta negar porque eu sei que você ainda a ama.
— Talvez.
— Eu acredito que Emily não teve a intenção de fazer aquilo, o que ela diz é verdade, ela não beijaria aquele homem, ela ama você.
— Pois eu não, e desculpe-me, mas não quero falar sobre isso.
— Tudo bem, eu não tocarei mais no assunto. Will lembra-se da proposta que eu lhe fiz lá na praia?
— Lembro.
— Eu conversei com Ian naquela noite, ele ia propor uma sociedade, mas ele queria incluir David, pois vocês dois é que entendem de gado. Bem... Ficaria difícil para nós ajudá-los muito, então a ideia era que vocês dois se unissem e fizessem isso. Como agora estou sozinha para tocar a fazenda, então precisarei de vocês unidos mais ainda.
— Sociedade?
— Sim, Ian gostava de fazer negócios, você sabe.
— Não só ele, Jayne — disse rindo e ela riu de volta.
— Pois bem, então quero que você pense nisso e converse com o David, para ver se ele aceita minha proposta. A sua fazenda é do lado da dele, ficaria fácil e eu vou usar este dinheiro para isso. Se Ian queria que isso fosse feito, então será.
— Jayne, está falando sério?
— Estou. Providencie tudo, pesquise, veja o que precisa ser feito e então abriremos nossa sociedade com o gado. Eu invisto e vocês cuidam — disse sorrindo e ele sorriu também.
— Ótimo, sócia! Eu aceito e vou ver tudo e conversar com David. Agora preciso ir, até mais Jayne.
Willian ia descendo as escadas, mas parou e virou-se para ela novamente.
— Jayne, eu posso perguntar uma coisa?
— Pode.
— Você não ficou com ódio de mim?
— Por que eu estaria com ódio de você?
— Pelo que eu fiz.
Jayne puxou profundamente a respiração.
— Willian... Sinceramente eu me decepcionei muito com o que você fez, e com Emily também. Achei que vocês foram irresponsáveis. Mas eu não odeio você. Eu não sou dona da verdade e sei que fazemos coisas sem pensar e nos arrependemos depois. Eu sei que você se arrependeu de coração, vi isso em seus olhos naquele dia, então acho que você merece uma segunda chance, assim como Emily. E fazer negócios com você não tem nada a ver com seu casamento com ela. Ian queria que fosse assim, então vai ser. Eu vou lhe confiar nosso negócio e espero que você não me decepcione, pois posso não ser tão condescendente da próxima vez.
Willian ouviu atentamente e comoveu-se com suas palavras.
— Jayne, eu não vou decepcionar você e nem Ian, eu prometo.
— Que bom, Willian, eu vou confiar em você. Ele o amava como a um irmão e eu vou realizar tudo o que ele queria e terminar as coisas que ele deixou pendente.
— Ian foi um homem de muita sorte por ter você. Ele a amava mais que a própria vida. Eu agradeço a você por tê-lo feito tão feliz. Saiba que jamais em minha vida o vi assim. Ele era um homem realizado, me disse isso, então eu queria que soubesse.
Isso tocou profundamente seu coração. Saber que ele era feliz.
— Obrigada por me dizer isso, Will.
Willian beijou Jayne no rosto e foi embora. Ela entrou em casa e foi para o escritório, abriu o cofre que ficava no canto e media um metro de altura. Ainda bem que Ian havia lhe confiado o segredo para uma emergência. Mas antes que guardasse a caixa a abriu e olhou as joias, fechou-a e a apertou contra o peito e lágrimas rolaram de seus olhos.
Ela suspirou profundamente com os olhos fechados e depois a colocou dentro do cofre e olhou pensativamente para um grande pacote de cor parda que ocupava uma das prateleiras e o abriu. Havia vários maços de dinheiro guardados dentro que ela não sabia como poderiam estar ali.
— Meu Deus! De onde saiu todo esse dinheiro?
Ela guardou o pacote com os maços misteriosos e trancou rapidamente o cofre. Ficou ali olhando para a geringonça de ferro fundido por pelo menos, uns cinco minutos com os olhos arregalados.,
**
Jayne e James estavam no quarto, parados com as mãos na cintura, olhando para a lareira pronta.
— Ficou uma beleza, não achou senhora?
— James, eu adorei, ficou linda! — disse sorrindo.
— Obrigado, senhora — respondeu satisfeito. — Já deixei aqui as madeiras, está prontinha para inaugurar.
— James, obrigada por tudo, sem você eu não teria conseguido segurar a fazenda esses meses todos que estive meio avoada.
— Senhora, era minha obrigação, e eu entendi completamente sua dor, jamais a teria decepcionado deixando algo de errado por aqui. Gosto da senhora como minha filha e admirava seu marido.
— Eu sei, James, muito obrigada por isso. Ter me emprestado você e Anna foi o melhor presente que meu pai já me deu. Só que este empréstimo nunca mais vai ter devolução. Você veio para ficar por alguns dias e acabou ficando de vez — disse rindo.
— Obrigado, senhora, eu adoro trabalhar aqui com os cavalos e Anna gosta muito daqui. Também não pretendemos mais ir embora, apesar de gostar muito de trabalhar para seu pai.
— Fico feliz que tenha ficado. Eu tenho um presente para vocês.
— Um presente? — perguntou espantado e a seguiu até a sala.
— Abra — disse lhe mostrando uma caixa de madeira que estava no chão. Ele abriu, era um jogo de jantar, branco com pinturas em azul.
— Minha nossa! A senhora está nos dando isso?
— Sim. São porcelanas portuguesas, estas pinturas são típicas da sua cultura, eu as acho lindas. Eu tenho um jogo, e vi como Anna as admira, quando vi que o mercador tinha um o comprei.
— Mas isso custa muito dinheiro, eu não posso aceitar.
— É claro que pode, James. Vocês são meu braço direito aqui na fazenda, sei que posso confiar em vocês, então, este presente é de coração. É pelo seu aniversário de casamento, Anna me disse que esta semana está fazendo dezoito anos de casados, então pensei em lhes dar um presente.
— Muito obrigada, senhora. Eu vou levar para ela ver agora mesmo. Ela nunca teve algo tão belo.
Ele sorriu com os olhos brilhantes de felicidade.
— E isto é para você comprar tintas, quero que pinte a sua casa. Por dentro até que Ian já tinha arrumado, mas faltava a parte de fora, então, quero que arrume agora. Faça os concertos com a madeira e pinte. Já que vão ficar morando aqui de vez, quero que fiquem confortáveis.
— Tem certeza, senhora? Para mim está bom assim.
— Mas para mim, não. Quero que compre as tintas e comece a arrumar a casa, afinal, quero minha fazenda e tudo que tem dentro dela bem cuidado, então, isto é uma ordem — disse sendo brincalhona.
— Sim senhora, pode deixar — disse feliz.
— Mas diga a Anna que eu quero aquelas mudas de plantas maravilhosas da mamãe aqui no meu jardim, vou incumbi-la de plantar para mim. Quero fazer um jardim bem bonito.
— Pode deixar, senhora, vou pedir para o Matt pegar as mudas. Ele tem que arrumar o jardim. Anna tem umas ideias para cuidar dele, vai ficar bonito. Poderíamos fazer um pequeno solar para as plantas e flores, assim evitaríamos que a neve destrua as mudas.
— Sei que vai, James, e gostei da ideia do solar, já havia pensado em fazer um para as verduras, vou pensar nisso. Agora leve isto para casa, pode descansar, eu também quero repousar. Amanhã temos muito trabalho com a cobertura das éguas.
— Sim, senhora.
James pegou a caixa e saiu sorrindo para levar para casa onde morava com Anna e seus dois filhos, Matt e Anabel que já eram moços e também trabalhavam na fazenda para Jayne.
Jayne voltou ao quarto e olhou para a lareira, suspirou com um sorriso. As crianças entraram correndo para ver a lareira nova.
— Que linda, mamãe! Eu quero uma no meu quarto — Angel gritou.
— Eu também — Josh gritou agarrando sua perna.
— Ai ai ai, uma lareira em cada quarto não dá, senão nossa casa vai ficar virada em chaminés. Nós já temos uma na sala, e esta é a última que mamãe vai fazer, mas eu deixo vocês usarem ela um pouquinho — disse fazendo cócegas nos dois que riam.
— A senhora pode contar histórias aqui na frente do fogo para nós? — Josh perguntou.
— Claro que posso.
— Aah, vocês estão aí, estão fugindo do jantar — Kate disse entrando no quarto com as mãos na cintura.
— Como assim, fugindo do jantar? — Jayne perguntou com as mãos na cintura olhando para as crianças.
— Anna fez aquela sopa de milho, eca — Angel disse fazendo careta.
— Angel, você adora sopa.
— De milho, não.
— É, mamãe, de milho, não — Josh repetiu.
— Angel, seu irmão faz tudo que você faz, então se você não comer, ele também não vai querer comer.
— Mas mamãe, eu vou ter que comer só para ele comer? — Kate riu e Jayne segurou o riso fazendo uma cara séria.
— Se a Angel não comer eu não como.
— Mas eu quero outra coisa.
— Mas meu Deus! Deveriam agradecer por tudo de bom que tem na mesa para comer e não ficar desdenhando, que coisa feia. Então vamos fazer assim. — Jayne se abaixou para falar com eles. — Hoje vocês comem aquela sopa deliciosa que a Anna fez, e amanhã, vocês pedem qual comida querem que ela faça. Combinado?
— Oba, eu quero frango frito.
— Eu quero pudim — Josh gritou e Jayne riu.
— Pudim, Josh? Pudim não é jantar.
— Mas é gostoso e o papai sempre pedia pudim, eu quero.
Jayne deu uma olhada séria para ele.
— Tudo bem, estão amanhã vamos ter frango e seu pudim. Mas antes do pudim, você promete que come o frango delicioso que sua irmã pediu?
Ele fez cara de pensativo e sorriu.
— Sim.
— Ah isso, bons filhotinhos. — Fez mais cócegas fazendo-os rir. — Agora vão jantar e depois, cama.
Os dois saíram correndo e rindo. Jayne sorriu ao vê-los rindo daquela maneira, mas não adiantava, não haveria um só dia que o nome de Ian não fosse comentado naquela casa. Depois do jantar ela colocou as crianças para dormir, mas antes, Josh foi à janela olhar para a estrela, mandou um beijo com a mãozinha e boa noite ao seu pai. Fazia isso todas as noites.
Jayne vestiu sua camisola, colocou o tapete de pelego na frente da lareira, um castiçal de quatro velas sobre ela e as acendeu. Jogou almofadas sobre o pelego, pegou uma taça de vinho e tomou um gole, acendeu a lareira e ficou sentada no tapete olhando para o fogo, degustando o vinho tinto.
Lembrou-se do dia que teve que implorar pela dita lareira e agora, ela estava ali, pronta.
Olhou para o canto do quarto e avistou o baú que havia guardado os pertences de Ian. Foi até ele e lentamente o abriu, olhou algumas coisas e pegou um porta-retratos e foi para frente da lareira onde era mais claro e poderia visualizar a foto melhor. Passou os dedos na imagem, adorava aquela foto de Ian, estava sorridente. Lembrou-se do dia que o fotógrafo tirou a foto ao lado da Maria Fumaça e não tardou para as lágrimas castigarem seu rosto.
Sentia saudade das gargalhadas, dos sorrisos de canto de boca, das suas covinhas nas bochechas quando ria; dos seus olhos que lhe dava aquele ar exótico e maravilhoso. Sentia falta de acariciar seus cabelos, adorava quando eles caíam no seu rosto o deixando extremamente sexy, sentia falta de tudo, cada parte dele, sentia falta da sua voz que a deixava atordoada, dos seus carinhos, dos seus beijos, do seu corpo, sentia falta de amá-lo e ser amada.
Jayne abraçou o porta-retratos, se recostando nas almofadas e chorou até cansar e foi para a cama, era madrugada quando adormeceu.
Capítulo 9
Estava amanhecendo e a cantoria do galo acordava a fazenda.
Willian dormia só com a calça do pijama, era costume, sentia-se agoniado vestindo mais que isso, havia abandonado o uso das ceroulas inteiras quando descobriu o pijama de duas peças, custava uma soma considerável em dinheiro, mas assim podia ficar sem a camisa como gostava.
Ele sentiu as réstias do sol adentrar pela cortina e deixava o quarto iluminado. Willian olhou e Emily estava dormindo com a cabeça em seu peito. Todos aqueles meses eles dormiram na mesma cama, mas nunca mais se tocaram.
Ele vendo-a aconchegada a ele sentiu seu coração apertar, ficou paralisado olhando para ela, não sabia o que fazer. Sentiu uma vontade imensa de tocá-la e levemente levou a mão em seus cabelos, tocando somente com a ponta dos dedos. Depois de tanto tempo, foi a primeira vez que teve esta sensação, desejo de tocá-la. Emily dormia tranquila, parecia estar aconchegada, protegida.
Willian sentiu uma tristeza lhe rasgar o peito, tocou levemente seu rosto, mas fechou a mão comprimindo os dedos.
Ele moveu-se devagar e saiu da cama a deixando dormindo, ficou de pé a olhando por alguns minutos, seus pensamentos ficaram confusos e seu corpo reagiu violentamente. Seu desejo por ela estava voltando.
Ele vestiu sua roupa e saiu do quarto, foi para a cozinha e bebeu o café fresco que Susan já havia preparado e comeu um pedaço de pão. Ethan estava sentado na cadeira e comia um pão com doce de abóbora que lhe deixou a carinha toda lambuzada. Willian foi até ele e riu, vendo a felicidade com que ele tentava devorar aquele pão enorme com aquela meleca doce.
— Filho, que lambança está fazendo? Isso aí está bom? — perguntou rindo.
Ethan riu de boca cheia, fez que sim com a cabeça e ofereceu o pão para seu pai. Ele deu uma mordida e fez cara de que estava uma delícia, fazendo Ethan rir.
Willian deu um beijo na sua testa e bebeu mais um pouco de café, depois colocou suas luvas de couro, fechou seu casaco, pegou seu chapéu e saiu, foi até a fazenda de David que sonolento ainda vestia o pijama e robe.
— Bom dia, Will — Mary disse sorridente.
— Bom dia, Mary.
— Quer um café? Tem aquele bolo de milho que você adora.
— Ah. Já tomei café, mas não consigo resistir a este seu bolo de milho.
— Não sei como você não engorda, come como um cavalo — David disse.
— Olha quem fala, com este seu tamanho todo, a coitada da Mary tem é que cozinhar em tachos em vez de panelas.
— Ta, ta bom, vá tomar o café e deixe um pedaço de bolo para mim, que vou me vestir.
— Vocês vão à casa da Jayne? — Mary perguntou.
— Sim. Vamos conversar com ela a respeito da sociedade.
— Achei esta ideia maravilhosa.
— Eu também.
— E como ela está? Faz dias que não a vejo.
— Está bem melhor. Ela deu uma espantada naquela tristeza fúnebre, que me deixava de cabelos em pé.
— Verdade, eu pensei que ela sucumbiria à tristeza.
— É... Foi difícil para todos nós, mas para ela foi demais. Graças a Deus ela está melhorando, então vamos em frente, trabalhar e ganhar dinheiro.
David voltou e sentou à mesa para tomar café.
— Que cara é essa, Willian? Aconteceu alguma coisa? — David perguntou servindo-se de café.
— Não foi nada.
— Nada não. Brigou de novo com a Emily?
— Não.
— Não sei como aguentam ficar lá daquele jeito — Mary disse.
— Meu Deus, Will! Isso é uma loucura, parecem dois estranhos debaixo do mesmo teto, nem conversam, mal se olham.
— Eu sei, mas hoje... — Willian esfregou os olhos e respirou fundo.
— O que tem hoje?
— Eu senti vontade de tocar nela, ela estava enroscada em mim quando acordei, mas não consegui, mas...
— Isto está pior do que eu pensei — Mary disse.
— Willian, pare de dar com a cabeça na parede. Pegue esta mulher de uma vez e faça as pazes com ela, pare de se torturar deste jeito. Vocês estão assim a mais de seis meses — David disse indignado.
— Eu não consigo.
— Mas já está amolecendo — Mary disse o olhando de canto de olho com um sorriso malicioso.
— Não foi nada. É que senti desejo, não sei... Acha que é fácil acordar e ver a mulher que você ama e nem conseguir encostar nela?
— Não encosta porque não quer.
— Mas ela também não quer. Ela nunca tentou se aproximar de mim, só está lá em casa ainda porque eu não a deixo levar Ethan, se deixasse, ela já teria ido embora, como ela já pediu — disse revoltado.
— Mas como vocês são teimosos, cada um morre de um lado e não fazem nada.
— Somos casados e nós vamos continuar assim para o resto da vida. Não tem jeito, tenho que aguentar.
— Deixe de ser mula, homem. Você quer passar o resto da vida desse jeito? Você a ama, só que está com seu orgulho ferido.
— Mary, eu tenho motivos para isso, ela me traiu.
— E você também.
— Eu sou homem. Mary, onde está a dignidade de uma mulher casada se portando daquele jeito?
— Will, vocês dois estão errados, apague tudo e recomece de novo. Salve seu casamento, se perdoem, pois os dois são culpados e eu acredito na Emily, ela o ama Will, não fez aquilo — Mary disse seriamente.
— Chega desta conversa, vamos David, vamos falar com Jayne.
**
— Bom dia, meninos. Aceitam um café? — Jayne disse.
— Bem... Seria o terceiro café que eu tomo hoje — Willian disse rindo. — Mas eu aceito.
— Só café, nada de bolos, senão Will vai ficar pançudo — David brincou.
— Mas que coisa! Deu para implicar com quanto eu como?
— Meninos, não briguem. Sem bolos, mas se quiserem vocês conhecem os bolos deliciosos que a Anna faz — Jayne disse divertindo-se com eles.
Willian ficou com os olhinhos brilhantes e os três riram.
— Só café — Willian disse.
Sentaram no sofá e eles mostraram o que haviam preparado.
— Bem... Nós temos que fazer esta lista de modificações e construções especiais. Comprar as matrizes e começar.
— Mas agora vamos ver quanto isto custaria.
— Creio que sairá uma quantia considerável.
— Então vamos fazer os orçamentos, vemos se aquele dinheiro que tenho dá para isso.
— Você tem certeza que quer usar todo aquele dinheiro, Jayne? Você não vai precisar dele?
— Não, David, eu não vou precisar. Eu tenho algumas reservas e estou tendo um lucro agora e depois do inverno terei cavalos para vender. E eu espero que nosso negócio dê lucro, não é?
— Por favor, sabe que em questão de dinheiro qualquer coisa me avise. Não quero que passe por nenhuma dificuldade.
— Não se preocupe Will, minha situação financeira está boa e assim espero que continue. Ian sempre foi cuidadoso com isso, sempre deixava reservas. E apesar de termos gasto uma boa quantia naquela viagem, o dinheiro do prêmio é bem alto. Portanto com a venda dos meus cavalos não terei problemas. E tem aquele dinheiro...
— Que bom — Willian interrompeu. — Se precisar me avise que daremos um jeito. Quanto ao gado teremos que decidir qual matriz comprar.
— Vocês dois decidem sobre isso, pois essa parte eu não entendo.
— Não temos as instalações adequadas, temos que investir nisso e ter cuidado com a forragem e o pasto, então creio que indo devagar, nós teremos mais sucesso — Willian disse.
— Então vejam a melhor raça e me tragam os números — disse Jayne sorrindo. — Depois veremos sobre a reprodução.
— Fechado.
— A esta hora da manhã, eu diria que seria um pouco cedo para beber, então vamos brindar com o café mesmo. Um brinde ao nosso novo negócio e ao sucesso. — Brindaram e beberam sorridentes. — Eu preciso ir, vou à fazenda de Julia, tenho algumas coisas para levar para ela — Jayne disse bebendo o último gole do café.
— Mande minhas lembranças a Mitchel e Julia, faz dias que não os vejo — Willian disse.
— Eu também. Ele anda sumido, acho que saiu em comitiva levando alguns cavalos para vender no Arizona.
— Mitchel saiu em comitiva? Ele havia parado.
— Pois é, mas anda metido nisso de novo.
— Ele anda meio esquisito.
— Nós deveríamos nos reunir. Depois que Ian morreu não nos reunimos como antes — David disse. — Estamos nos espalhando e isso é péssimo. Nós precisamos continuar unidos, agora mais do que nunca.
**
— Mitchel vai demorar a voltar? — Jayne perguntou a Julia.
— Acho que deve voltar daqui a uma semana.
— Hum... E por que ele resolveu fazer comitiva novamente?
— Acho que ele estava sentindo falta de um pouco de aventura, sentindo falta daquela vida de cafajeste que ele levava antes.
— Nossa, Julia! Que jeito de falar.
— Não estou falando mal dele, Jayne. Só estou vendo que ele mudou porque se casou comigo, mas com o tempo ele está sentindo falta de ser ele mesmo, de ser daquele jeito louco dele. Mitchel está infeliz.
— Falando assim parece que ele vestiu uma máscara.
— Parece.
— Mas vocês ainda estão brigando?
— Sim, aí ele começou a querer sair em comitivas.
— Hum... E você está infeliz com isso?
— Estou.
— E pretende fazer o que?
— Não sei, mas não posso prendê-lo, posso?
— Não, seria pior. Mas você o ama?
— Amo e sei que ele me ama, mas nosso amor é fraco, não está sendo o suficiente. Acho que nosso casamento não está nada bem.
— Minha nossa senhora!
— Não quero passar pelo que a Emily e Willian estão passando Jayne, eu não quero ser traída, não suportaria isso e viver debaixo do mesmo teto infeliz, me parece terrível.
— Julia, Mitchel não a trairia.
— Jayne, se Willian traiu Emily e a destrambelhada também, por que você acha que Mitchel não teria coragem de me trair? Se ele me traísse eu até nem me espantaria. E frequentar o Saloon e dormir com aquelas meretrizes nem é considerado traição, eles dizem que os homens podem fazer isso, mas eu não aceito.
— Julia, há coisas que uma esposa tem que aguentar, você é casada com ele e isso é para a vida toda. Vocês têm que se acertar, chegar a um acordo.
— Mas eu não sou essas mulheres recatadas e submissas, Jayne, eu não consigo ser assim. E você sempre tão moderna, muito mais do que eu, me dizendo para engolir uma vida infeliz? Espanta-me.
— Não estou dizendo isso, Julia. Relações são diferentes, cada um age de acordo com sua cabeça. Um casamento não pode ser comparado com o outro, mas quando nós erramos, temos que tentar consertar. Eu sou moderna, impetuosa e gosto muito de quebrar regras, mas eu sempre levei a concepção do casamento muito a sério. Cada um tem que ceder de um lado. Já que não quer ser uma esposa dos padrões, saiba levar, Julia. Mas você está jogando fora seu casamento e isso precisa de um bom motivo e pelo que você me conta, ele não cometeu nenhum desatino para chegar a este ponto. Por acaso ele está frequentando o Saloon, passa as noites lá?
— Não. Ele não tem ido lá que eu sei, nunca passou uma noite fora ou chega tarde. Somente fica fora quando sai em comitiva.
— Ele não está te traindo?
— Que eu saiba não.
— Então o está condenando por suposições e isso é absurdo.
— Você acha que o casamento da Emily tem conserto?
— Acho. Eles negam, mas eu acredito que sim. Só não sei se eles vão perceber, mas isso está indo longe demais, não pensei que eles demorariam tanto tempo para se acertar. Talvez esteja enganada.
— E você, o que pretende fazer?
— Eu?
— É. Você poderia se casar novamente.
— Não, não poderia, eu amo Ian.
— Ama, mas está sozinha. Pretende ficar assim para o resto da vida?
— Acho que eu nunca vou conseguir olhar para outro homem, Julia, não poderia.
— Jayne, seis meses é pouco para você sequer pensar nisso, eu sei, mas com o passar dos anos, talvez você conheça alguém.
— Não acredito. Nunca mais vou amar ninguém, meu coração pertence a Ian e ele o levou junto naquela cachoeira.
— Você não fica nada bem com estas roupas pretas.
— É tão negra quanto meu coração. Preciso ir, tenho trabalho.
— Pelo menos você tem com o que se distrair.
— Arrume alguma coisa para se distrair também.
— Eu vou, ficar nesta casa, sozinha, está me dando nos nervos.
— Quando quiser pode ficar comigo para não ficar sozinha.
— Pode deixar, vou sim.
— Acalme-se, Julia, tente levar seu casamento em paz, não arrume confusão se ela não existe. Vocês têm que conviver, então precisam se harmonizar.
— Vou tentar, Jayne.
Abraçaram-se e Jayne foi embora.
**
Jayne laboriosamente tratava de seus cavalos na fazenda, de longe avistou um homem em um corcel negro que lentamente se aproximava de sua casa. Ela que estava com alguns empregados no cercado, tentou ver quem se aproximava.
Estranhou que ele havia entrado em sua fazenda já que era um estranho e havia homens armados na porteira. Somente pode reconhecê-lo quando ele chegou mais perto.
Enrique estava glamoroso, como sempre todo de preto; usava um sobretudo por cima de seu elegante terno, com um lenço no pescoço, luvas de couro e chapéu, e sua estrela reluzia no peito. Abriu um sorriso avassalador de alegria quando a avistou.
Jayne estava sentindo algo estranho ao vê-lo, após tanto tempo. Esperou que ele descesse do cavalo, então foi até ele.
— Olá Jayne — ele disse gentil e sorridente retirando o chapéu e naturalmente derramando seu intenso charme.
— Ricky! Que bom vê-lo — disse sorridente retirando as luvas de couro que vestia, sentiu uma imensa alegria ao vê-lo e abraçaram-se. — O que faz aqui em West Side?
— Vim ver você. Como está?
— Estou bem, seguindo como posso.
— Soube sobre Ian, eu sinto muito, Jayne.
— Obrigada. Mas não creio que tenha vindo do Novo México somente para me ver, então?
— Já seria motivo suficiente, mas eu vou passar um tempo na cidade, tenho alguns assuntos para resolver por aqui.
— Que bom, fico feliz que tenha vindo me visitar.
— Também estou feliz em vê-la. Vejo que fez progressos desde a última vez que estive aqui, está tudo muito diferente.
Ricky olhava ao redor, mas sem se demorar, pois não queria tirar os olhos dela.
— Sim, fizemos muitas modificações, estamos bem.
— Fico feliz. Imagino que seja difícil tocar isto sozinha.
— Sim, meus filhos e a fazenda estão me tomando todo o tempo. Assim é bom, eu me distraio e não tenho tempo de pensar.
— Ótimo. Se precisar de mim pelo tempo que estiver aqui por perto, posso ajudá-la com o que precisar.
— Eu sei, fico feliz de tê-lo por perto.
— Aquela é sua filha? — disse admirado avistando Angel no cercado.
— Sim. É obstinada e adora cavalos selvagens, está montando um Mustangue que Ian e os rapazes capturaram nas montanhas. Por incrível que pareça ela o domou. Imagine uma criança domando um Mustangue selvagem. Ian a ensinou e ela fez direitinho. Estou muito orgulhosa dela, não desgruda deste cavalo, às vezes tenho que brigar com ela para que faça outra coisa em vez de ficar com ele.
— Isto é incrível, estou orgulhoso. Como está linda e parecida com você.
— Obrigada. Minha filha é uma dádiva, sem contar Josh que parece um anjo. Está tão parecido com o pai, eles são minha alegria.
— Jayne, eu tenho que voltar à cidade, vai recomeçar a nevar e somente quis dar um olá, mas você me permite voltar aqui para vê-la?
— Claro. Pode vir quando quiser, sempre será bem-vindo aqui.
— Está bem, virei. Até mais minha querida, fiquei muito feliz em vê-la.
— Eu também, até mais.
Enrique beijou sua mão e foi embora, ela o ficou olhando até sumir da entrada de sua fazenda.
Depois disso, Enrique veio no outro dia e no outro.
Sempre que tinha a oportunidade, voltava à fazenda para vê-la. Chegando lá, queria saber todos os detalhes sobre o trabalho, sobre os filhos. Aos poucos foi entrando-se, fazendo parte da convivência entre a família de Jayne.
Ele era sutil e gentil, era uma excelente companhia. Enrique demonstrava um lado extrovertido, fazendo-a rir sempre. O tempo foi passando e a presença dele se tornava cada vez mais frequente.
Capítulo 10
A primavera chegou, trazendo o clima agradabilíssimo e tudo na fazenda parecia mais bonito, mais intenso e Enrique foi visitá-la como sempre fazia.
— Boa tarde, madame — disse gentilmente lhe entregando uma flor.
— Que linda, obrigada!
— Não mais que você. Eu vim convidá-la para fazermos um passeio, será que você pode dedicar-me um valioso tempinho?
— Sempre arrumo tempo para os amigos, espere um minuto.
Ele esperou enquanto ela entrou para pegar seu chapéu e depois seu cavalo. Foram andando lado a lado pelos campos e subindo a colina onde podiam avistar o vale, desceram dos cavalos e sentaram-se na grama.
— Este lugar é muito lindo, Jayne.
— Sim, eu gosto muito daqui, não trocaria este lugar por nada.
— Nunca imaginei que você fosse ser assim.
— Assim como?
— Uma fazendeira, e ainda mais tomando frente de tudo.
— Por que não? O que achava que eu iria me tornar?
— Uma madame, daquelas que adora vestidos da última moda, usando joias caras, frequentando festas da sociedade e tocando piano.
Jayne deu uma gargalhada.
— Ricky, como pôde me imaginar assim? Nunca achei que eu tivesse lhe dado este tipo de impressão, nunca fui madame, mesmo que tivessem tentado me transformarem uma.
— Eu sei, aliás, você sempre foi é maluca. Mas quando você não quis se casar comigo por que eu era aventureiro demais, eu achei que era porque você queria vida mansa e tranquila das madames.
— Meu querido, você está enganado, não foi por isso e você sabe.
— Eu sei. Mas mesmo assim, estou muito espantado com você.
— E eu com você. Acho que com o tempo a gente muda.
— Ainda bem, senão até hoje nós estaríamos pulando janelas e tomando banho nas fontes da cidade. — Os dois riram.
— Nem me lembre destas loucuras que me dá calafrios. Você era uma má influência sem tamanho e eu não entrei na fonte, você me jogou nela. — Ela lembrou-se do episódio e riu.
— Por quê? Você acha que as nossas loucuras eram ruins?
— Não, nunca fizemos nada de errado, além de me fazer quebrar todas as regras de etiqueta e de boa dama. Minha reputação não estava boa, mas não vou negar que era emocionante, a juventude era maravilhosa. Nós não tínhamos tantas preocupações e tantas responsabilidades como hoje. É bom ter coisas boas para recordar.
— Verdade. Eu não me arrependo de nenhum momento que passamos juntos, foi muito bom. Fico feliz que agora possamos compartilhar esses momentos tão agradáveis novamente.
— Eu também, sua companhia é muito agradável para mim.
Eles ficaram conversando e rindo sentados no gramado por mais de uma hora. Estavam apreciando imensamente a companhia um do outro. Contando novidades, passagens de suas vidas.
— Eu preciso voltar, vai entardecer — Jayne disse.
— Eu também preciso ir, amanhã vou para casa, devo voltar na semana que vem. Estas viagens constantes estão me cansando.
— Mas por que pegou esta responsabilidade de ser xerife aqui e lá ao mesmo tempo? Isso é loucura.
— Eu sei, mas logo isso vai parar. Vou resolver as coisas esta semana.
Desceram a colina e ele a acompanhou até a entrada de sua fazenda; deu-lhe um beijo na mão e despediu-se, indo rumo à cidade.
Os passeios continuaram, pois eles adoravam conversar, entretanto, ele sempre lhe dava alguma indireta para que ela se recordasse do romance que tiveram. A intenção de Enrique era cativá-la e por muitas vezes trazia mantimentos da cidade e passava a tarde ajudando-a com as tarefas da fazenda.
Foi com ela comprar um carro, um dos primeiros modelos, um Ford A, que começava a circular pelas capitais. Jayne pagou uma quantia bem considerável por ele, uma excentricidade e um artigo de luxo. Todos na cidade se espantaram quando viram que a viúva Buller dirigia um carro, um escândalo que ficou circulando na boca dos desocupados.
Mais escandalizados ficaram, quando a viram circulando com o xerife.
Enrique foi ensiná-la a dirigir, eles divertiam-se com as barbeiragens que ela fazia com aquela geringonça, mas ele sempre foi paciente em ensiná-la. Aquilo era mais uma diversão que uma aula, mas Jayne empenhava-se em aprender, afinal, ela sempre tomava as rédeas de tudo, mesmo que depois os empregados o fizessem por ela.
— Jayne, você está dirigindo muito bem, quase melhor que eu.
— Eu tenho praticado, gostei disso, confesso que é confortável, mas não abro mão de um cavalo. E com a falta de estradas fica muito limitado, não posso ir com ele a qualquer lugar. Eu gosto de colocar Josh na direção, ele adora brincar que está dirigindo — disse rindo.
— Crianças acham graça nas coisas mais tolas, uma idade muito interessante, para ele isso é um brinquedo. Loucura sua comprar isso, ainda não é muito confiável — disse sorrindo lindamente para ela.
— Verdade. Se essa geringonça estragar, ninguém concertará.
**
Numa tarde com um calor escaldante, Jayne foi ao lago, de vez em quando ia lá, se sentia perto de Ian, pois costumavam passar momentos felizes juntos naquele lugar. Ela entrou na água de roupa e ficou boiando, sentindo o sol no seu rosto e a água refrescar lhe o corpo.
Estava completamente divagando em outro mundo e não percebeu que Enrique se aproximou do lago e a ficou observando por um tempo. Ele entrou calmamente na água para que ela não percebesse e quando chegou perto dela, agarrou-a pela cintura e a puxou para baixo da água e depois ainda a segurando subiu.
Jayne ficou em pânico pelo susto, não viu quem a havia agarrado, quando saiu da água gritando olhou para o rosto do homem que a estava segurando e rindo.
— Ricky! — gritou assustada.
— Oi, princesa.
— Você quase me mata de susto, por Deus!
— Desculpe, eu quis fazer uma surpresa — disse rindo.
— Ah sim, me dando um ataque no coração? — ela bateu nele rindo. — Seu malvado! O que faz aqui?
— Estava indo para sua casa e resolvi dar uma volta por aqui, está havendo alguns roubos; é melhor ter cuidado, tem um bando assaltando fazendas em algumas cidades próximas e tenho receio que eles se bandeiem para cá.
— Minha nossa, temos que tomar cuidado!
— Pode deixar minha querida, que estamos atentos. Diga para os seus peões ficarem alertas, se eu souber de algo preocupante eu lhe digo, mas por enquanto não se preocupe. E você não deveria andar sozinha, já imaginou se não fosse eu que a tivesse agarrado?
— Está bem, senhor xerife, não precisa me assustar.
— Que surpresa encontrá-la aqui.
— Sempre venho aqui. E você pretendia ir à minha casa assim, todo molhado?
— Não, ficar molhado foi consequência, não resisti a vendo aqui na água, parecia tão tranquila.
— E estava até você chegar, agora meu coração parece que vai sair pela minha boca.
— Por quê? Pelo susto ou por que você está nos meus braços?
— Ricky, não seja bobo.
Ele olhou para seus lábios como se os tivesse desejando. Jayne sentiu-se atordoada, ele tinha um rosto perfeito, uma boca extremamente desejável.
— Você pode me soltar, por favor? — disse incomodada com aquela proximidade absurda.
Enrique que parecia que ia devorá-la com os olhos, hesitava, seu desejo de beijá-la o estava devorando, mas pensou melhor.
— Já que insiste — disse com um ar de maroto, ele a agarrou pela cintura com as mãos, levantou-a e a impulsionou para cima jogando-a na água, ela foi para o fundo e quando subiu ria e começou a jogar água nele.
— Seu maluco, você não toma jeito.
— Ah! Vou pegá-la de novo.
Os dois ficaram brincando na água por algum tempo.
— Está na hora de irmos, você pode ir à fazenda e se secar.
— Está bem, vamos.
Foram para a fazenda e Jayne pegou uma toalha para ele se secar, ele tirou o colete e a camisa que usava e deu a ela que poria secar, ela desconcertou-se quando o viu sem camisa, ele tinha um corpo escultural, ombros largos, braços fortes e torneados, barriga definida.
— Eu a deixei sem jeito pelo que vi. Indelicado de minha parte ficar seminu na frente de uma dama. Desculpe.
— Não, é que seu corpo... Está... Diferente — disse gaguejando e ficando vermelha.
— É verdade, fiquei um tanto... maior desde a época que você podia me ver, não é?
— Ricky!
— Desculpe — falou rindo. — Eu acho melhor colocar a camisa novamente.
— Não seja tolo. Não pode ficar com a roupa molhada, vou estender e num estante seca, seque-se com esta toalha, vou tirar as minhas e pedir que façam um café para nós e arrumarei uma roupa seca para você.
Ele ficou vendo Jayne se afastar. Ele percebeu que ela ficou desconcertada, para ele foi um ganho, afinal ela reparava nele.
— Quem sabe agora você consegue reconquistá-la, Enrique — disse para si, secando os cabelos e com um sorriso no rosto.
A esperança de reconquistar Jayne palpitou no peito de Enrique. Sempre fora apaixonado por ela, mesmo quando ela estava casada. Por muitas vezes ele acalmara seu amor e se encantava com outras mulheres. Quase assumiu compromisso com uma moça na Europa, mas desistiu.
Sentiu-se atraído por outras no Novo México, mas nunca se sentiu motivado a casar-se, apesar das muitas tentativas de seu pai de casá-lo com filhas de seus conhecidos importantes.
Agora que Jayne estava sozinha, talvez fosse a oportunidade de ela entregar seu coração a ele novamente. Mesmo com tanta dor que ela demonstrava cravejado em seus olhos, ela estava já mais recuperada. Ela sorria mais, conversava mais animada, mas se Enrique quisesse ter uma chance com ela, teria que ter muita paciência, teria que ir com calma para não assustá-la, para que ela não o afastasse.
O coração dele encheu-se de esperança. Ele a teria e isso era uma promessa.
**
— Emily, eu vou ficar alguns dias fora, vou viajar.
— Para onde?
— Mitchel vai levar os cavalos da Jayne para Mensfield e eu vou junto. Vamos amanhã, eu quero saber se você vai ficar bem aqui.
— Eu vou, não se preocupe. E você vai começar a fazer comitiva com Mitchel? Parece que os dois estão querendo ficar fora de casa.
— Parece.
Emily sentiu a frase ofensiva e torceu a boca.
— Fique atenta.
— Ficarei. Minha mira é muito boa, até é melhor que a sua.
— David estará todo dia por aqui cuidando de tudo, na volta eu trarei um gado de lá. Se precisar de algo peça a ele.
— Eu não vou precisar de nada — disse sem olhá-lo enquanto revirava a comida no prato com o garfo.
Willian estava com Ethan no colo que com uma colher lhe fuçava o prato.
— Ethan, se você não vai mais comer, por que não deixa o papai comer um pouco?
— Este prato é meu.
— Mas você deixa o papai comer um pouquinho aí?
— Tá bom! — disse lhe entregando a colher.
— Então vá brincar.
Ele desceu do seu colo e saiu para procurar seus brinquedos. Willian arrumou mais comida no prato para almoçar. Ficaram os dois, mudos, tentando engolir uma comida que parecia não descer pela garganta.
— Por que fez aquilo ontem à noite? — ele indagou secamente sem olhar para Emily.
— Porque estava meio dormindo — respondeu mais seca ainda.
— Se tivesse acordada não teria feito?
— Não.
— É, deu para perceber — disse ainda sentindo o golpe que ela lhe deu no rosto quando ele foi lhe corresponder as carícias.
— Eu queria afastá-lo, desculpe-me.
— Me provoca e depois me agride.
— Como eu disse, estava meio dormindo, me assustei quando acordei e eu não quero nada com você.
— Ótimo. Nem eu com você e da próxima vez que você me agredir, eu vou esquecer que você é mulher, entendeu?
Willian limpou a boca com o guardanapo e jogou encima da mesa, levantou e saiu.
Emily que nem havia colocado a comida na boca, soltou o garfo subitamente colocando as mãos no rosto, com os cotovelos na mesa suspirou profundamente. Já nem sabia mais o que estava fazendo ou o que estava sentindo.
Perdeu uma oportunidade de fazerem as pazes, sua raiva ainda a estava consumindo, mas evitá-lo era doloroso demais, pois o amava perdidamente.
**
No outro dia pegaram os cavalos de Jayne e saíram para levá-los para o novo dono em Mensfield. Além de Willian e Mitchel, também foram mais alguns homens armados da fazenda de Jayne.
Quando estavam saindo da cidade foram atacados por um bando que começou descer as colinas, atirando nos peões e tentando rodear os cavalos, o bando veio com tudo para matá-los.
Tentaram revidar, mas como estavam em menor número estavam sendo encurralados. Tentavam se proteger e revidar, mas os peões foram caindo um a um.
— Mitchel corre, corre! — Willian gritou vendo que teriam que fugir e deixar os cavalos para trás.
— Quem são?
— Ladrões! Mitchel dê a volta — gritou quando se depararam com um aglomerado de árvores que não conseguiriam adentrar. Um tiro passou de raspão fazendo eco no ouvido de Willian o fazendo encolher-se. Separaram-se dando a volta pelo conjunto de árvores e troncos e no final encontraram-se novamente.
— Para onde?
— Suba a colina.
— Os cavalos ficaram para trás, por que querem nos matar?
Foram ao topo de uma encosta e acabaram encurralados, olharam em roda e não conseguiriam sair dali sem serem baleados.
— Willian, sobe!
As balas ricocheteavam nas pedras, subiram entre as pedras na encosta do penhasco, chegando ao topo desceram dos cavalos e ficaram atrás das pedras, olharam para frente e havia um penhasco que dava no rio.
— Mitchel, nós teremos que pular na água para sairmos daqui, nós não teremos balas para ficar num tiroteio cruzado deste jeito.
— Está louco? Vamos morrer.
— Vamos morrer se ficarmos aqui.
— Nem pensar, eu não vou pular, preciso pegar os cavalos.
— Ah, então me dê uma alternativa, porque eu não tenho nenhuma, os outros homens fugiram ou estão mortos.
— Matá-los, pegar os cavalos, esta é minha alternativa.
— Estamos em dois e eles em uns dez, você acha que podemos matar todos antes que nos fuzilem?
— Ué, você não pratica tiro ao alvo? Então damos conta.
— Vamos pular.
— Não!
— Está vendo no que dá não querer aprender a nadar? Agarre aqui — disse Willian dando-lhe o outro lado do seu cinturão para ele segurar. — Agarre e não solte, assim permaneceremos juntos no rio.
— Nem pensar...
Eles foram totalmente almejados com uma chuva de balas, os bandidos já haviam subido a encosta atrás deles, eles se abaixaram protegendo-se com os braços e se abaixando mais no chão.
— Ai, está bem, eu pulo, mas não deixe eu me afogar.
— Não deixarei. Você não confia em mim?
— Que alternativa tenho?
— Nenhuma.
Willian pulou do penhasco rumo ao rio empurrando Mitchel, desceram a grande queda gritando e esperneando até despencarem na água e a correnteza os levar rio abaixo. Willian agarrou Mitchel e nadou para a margem, o puxou para fora e jogou-se na beirada de costas, estavam cansados e quase afogados.
— Desgraça! Odeio ladrões de cavalos — disse Mitchel.
— Vamos, estamos perto de casa, chegaremos logo.
— Se estamos perto temos que correr para casa, e se eles forem à fazenda?
— Nem me fale isso, Emily está sozinha em casa. — Corre. — Correram até não aguentar mais e avistando a fazenda de Willian ouviram tiros. — Minha nossa, há homens na fazenda — Willian disse atirando nos homens que via, recarregavam e atiravam.
Almejaram os homens que estavam pela parte da frente, ouviam tiros vindos de dentro da casa. Willian estava apavorado, mas via tudo com precisão, cada tiro que dava era certeiro.
— Você ficou bom nisso — Mitchel disse.
— Acertar latinhas é fácil, mas estes têm pernas, os miseráveis.
Emily estava na sala, debaixo da janela atirando, quando ouviu um estrondo na porta, era alguém a arrombando, um homem pulou para dentro e com o susto Emily distraiu-se e quando percebeu, estava com uma arma encostada na cabeça.
— Olá senhora, eu não queria ser rude, mas aconselho que a bela dama pare de atirar, afinal poderia me acertar, não acha? — disse ironicamente lhe arrancando a arma da mão.
— O que quer? — gritou ela.
— Nada demais, somente alguns cavalos e seu gado.
— Então pegue e vá embora.
— Eu vou, mas antes vamos ter uma conversinha.
Ele a agarrou pelo braço a puxando do chão e a encostou na mesa, derrubando alguns copos que havia encima. Ele foi para cima dela beijando seu pescoço forçosamente.
— Não encoste em mim! Solte-me! — gritou e o esmurrava tentando afastá-lo e ela cravou as unhas em seu rosto lhe causando cortes, ele gritou, a soltando.
Ele ficou furioso e a agarrou pelo pescoço com as duas mãos e a jogou encima da mesa, ela se debatia tentando livrar-se dele, sentindo o ar lhe faltar e com a outra mão ele começou a rasgar suas roupas.
Enquanto Mitchel ficou atrás de uma árvore atirando para dar cobertura a Willian, ele foi para a lateral da casa e conseguiu entrar pelos fundos, correu para dentro e viu o homem estrangulando Emily.
Rapidamente foi pelo lado dele, encostou a arma na sua têmpora e atirou, fazendo-o cair morto. Ela começou a tossir e recuperar o ar, Willian assustado a levantou da mesa.
— Emily, você está bem?
— Will...
Ela o olhou com os olhos arregalados e cheios de lágrimas, pulou em seu pescoço o abraçando e ele retribuiu fortemente.
— Calma, está tudo bem. Onde está Ethan?
— No quarto com Susan. — A casa foi alvejada e as janelas estilhaçaram com os tiros, eles se jogaram no chão. — Quem são eles?
— São ladrões, devem ser os mesmos que nos atacaram na estrada, só pode ser eles.
Willian atirou pela janela acertando um homem e de repente o tiroteio cessou.
— Por que pararam de atirar? — Emily perguntou apavorada.
— Devem ter ido embora, já roubaram o que queriam, devem estar satisfeitos, levaram os cavalos de Jayne.
— Willian, por que é que vieram aqui na fazenda?
Nisso ouviram um estouro e tiros, e uma completa balbúrdia. Willian olhou pela janela e viu vários homens correndo a galope e o gado do cercado serem soltos e guiados por eles.
Willian se apavorou, quando pensou em sair da casa e tentar impedir, foi surpreendido com tiros em sua direção, ele se abaixou no chão e os vidros da vidraça estilhaçaram caindo os cacos sobre ele. Ficou ali abaixado ouvindo o barulho dos trotes afastarem-se, até que todo o barulho e os tirou cessaram completamente. Emily ouviu o choro de Ethan vindo do quarto e apavorada correu até lá.
— Susan, estão bem?
— Sim senhora.
— Querido, mamãe está aqui — disse pegando Ethan no colo, ele estava assustado e chorava e ela o balançava lentamente. — Calma, querido, acabou, shhh.
Willian entrou no quarto correndo e os abraçou.
— Estão bem?
— Sim, está tudo bem.
— Minha nossa! Eles levaram nossos cavalos e os touros.
— Calma, Willian. Nós estamos bem, isto é o que importa.
— Eu sei, acabou. Desgraçados, miseráveis, que prejuízo nos deram. Temos que ir atrás deles. Onde está David, ele não estava aqui?
— Ai meu Deus! David estava com o gado.
Willian e Emily correram para lá gritando por David, e ouviram um gemido. Willian o encontrou caído, estava baleado na perna e sua cabeça sangrava.
— David, você está bem?
— Ai... Levei um tiro, estou ótimo! — disse irônico e gemendo.
Willian o levantou, colocou o braço dele sobre seu ombro e com a outra o pegou pela cintura e o levou para dentro de casa. Emily correu e pegou uma bacia de água e um pano para limpar sua ferida.
— Por que viriam aqui roubar gado desse jeito? Será que foram à fazenda de Ian também?
— Não sei, este bando era muito grande, eles nunca atacam espalhados desse jeito, isto está ficando cada vez pior. Mas se foram à fazenda de Ian, duvido que tenham roubado algo, do jeito que aquilo é guardado.
— Espero que sim, e além do mais, todo mundo sabe da segurança de lá, duvido que tenham ido.
— E eu que achei que Jayne estava exagerando.
— Parece que não estava.
Emily cortou a calça de David para ver a gravidade do ferimento e Willian deu uma olhada.
— A bala entrou e saiu. Não pegou no osso. Melhor assim.
— Eu vou ficar bem, mais um furo não vai me matar — disse tentando descontrair para não sentir tanta dor.
— Nosso gado... Investimos tudo naquilo, o que vamos fazer?
— Ai que ódio, maldição! — David resmungou.
— Pare de esbravejar que a dor piora, fique quieto.
— Por Deus, isso dói!
— Fique bêbado que a dor passa, garoto — Mitchel disse entrando no quarto colocando a arma no coldre.
Antes de entregar a garrafa de uísque que havia pegado no balcão, ele derramou a tequila encima da perna de David o fazendo gritar de dor.
— Ai, Mitchel, por que fez isso?
— Para não infeccionar e amortecer, agora beba isso para anestesiar seu cérebro. Só não vai passar o ataque que a Jayne vai ter quando souber disso.
Capítulo 11
Jayne havia ouvido os tiros estrondarem na colina, todos os homens ficaram de prontidão na fazenda esperando caso algo acontecesse por ali. Quando o silêncio tomou conta do vale, James veio ter com ela.
— James, mande alguém à cidade avisar Enrique, rápido.
James saiu correndo e ela ficou ali com o coração apertado, Enrique sabendo de tudo, reuniu uma tropa e foram até a fazenda e entrou apressado.
— Jayne...
— Ricky! — ela o abraçou.
— Está tudo bem?
— Aqui está. Não sei o que houve, mas vá até a fazenda de Willian, os tiros vinham daquela direção. Por favor, veja se Emily está bem.
— Creio que era o bando que lhe falei, estávamos atrás deles, mas eles se dividiram, eram em muitos a maioria de um bando que veio do México, enquanto pegamos os que foram para um lado estes vieram para cá. Eu havia deixado homens de prontidão, mas pelo visto não conseguiram detê-los. Vou atrás deles.
— Tome cuidado, por favor.
— Pode deixar, vou ficar bem. Fique aqui e atenta.
Ricky com seu bando armado foram para a fazenda de Willian, ele explicou o que houve e eles saíram atrás dos bandidos.
— Willian, por Deus! Vá ver se Mary e Samantha estão bem.
— Estou indo.
Ele foi até a casa de David, felizmente elas estavam bem, eles não haviam ido até lá, mas ela estava apavorada e Willian levou as duas para sua casa para ver David.
— Que balbúrdia dos infernos! Willian, dê-me mais um trago, senão, meus bofes sairão pela boca — Mitchel disse nervosamente.
Willian e Mitchel beberam um copo cheio de tequila de uma vez só e depois fizeram uma cara feia, pois lhes desceu rasgando a garganta.
— Bem... Analisando tudo. Perdemos os cavalos de Jayne e o gado incluindo as matrizes que custaram uma fortuna, David foi baleado, dois dos meus homens estão mortos e um desgraçado quase mata Emily. Os que ficaram para trás na estrada eu nem sei. Posso dizer que estamos bem — Willian disse bebendo mais um pouco e sendo irônico para não gritar de raiva.
— E eu nem me afoguei — Mitchel disse bebendo outro gole.
Respiraram exaustos e caíram sentados nas cadeiras.
— Jayne vai ter um ataque quando souber do prejuízo que teve.
— Vou à fazenda lhe contar o que houve — Willian disse. — Mas antes preciso de mais um gole para tomar coragem.
— Talvez fosse hora de contarmos a ela... Aquilo.
— Você acha?
— Não acho certo ficarmos escondendo isso dela. Nem sei por que Ian ainda não havia contado.
— Hum... Acho que você tem razão, mas isso foi decisão dele, então vamos respeitar.
— Ele está morto, não vai reclamar se a gente contar.
— Vamos esperar. Uma surpresa de cada vez. E... Se ele não gostar? Afinal, iríamos quebrar nosso juramento.
— Então ele virá puxar seu pé à noite.
— Mitchel!
— Ah, Will! Nós vamos ver como vai ficar a situação dela, caso isso fique pior que aparenta, vamos ser obrigados. Vamos esperar, como você disse vamos por partes, um baque de cada vez. Só espero que quando ela souber de tudo não nos odeie.
— Se ele puxar meu pé vai puxar o seu também.
Mitchel arregalou os olhos para Willian, fez o sinal da cruz e bebeu mais um gole da tequila.
**
Jayne ficou enlouquecida com a perda dos cavalos e do gado que comprara para a sociedade com os rapazes, mas aliviada que estavam todos bem, apesar de David ter ficado ferido. Ele foi levado para casa, estava com a perna enfaixada, levaria alguns dias para se recuperar, mas felizmente não foi grave.
Naquela noite todos estavam esgotados, com seus nervos em frangalhos, todos buscaram estar aconchegados para afastar suas angústias e seus medos. Mitchel ficou mais apavorado de ter pulado na água do quer ser perseguido por bandidos, dormiu agarrado a Julia.
David estava meio grogue por causa da morfina que Mary lhe aplicou, dormia profundamente com ela recostada em seu peito, feliz por ele estar vivo. Jayne após ter ficado velando o sono dos seus filhos que pareciam estar longe daquele mundo temeroso e dormiam tranquilos em suas camas.
Como sempre, foi para a cama sozinha, não tinha ninguém para que pudesse abraçar para afugentar suas angústias, dormiu e acordou, chorou diversas vezes durante a noite, abraçada aos travesseiros.
Naquele momento sentiu muita falta de Ian, daria qualquer coisa para ter o peito dele para recostar a cabeça e sentir-se segura nos seus braços.
Willian chegou em casa exaurido das suas forças, pois já era tarde.
Foi para o quarto e Emily estava dormindo, encolhida no canto da cama, com o rosto virado para a beirada, como pegara costume para ficar o mais longe possível de Willian. Ele a olhou por uns momentos e suas emoções ficaram confusas.
Ele deitou de costas e ficou olhando para o teto, fechou os olhos e lhe veio a imagem daquele homem a estrangulando, rasgando suas roupas. Aquilo tinha o enlouquecido.
Ele virou-se e sentiu uma vontade imensa de abraçá-la, sentiu medo de perdê-la, então, se aconchegou, colocando seu braço sobre ela. Emily sentiu quando ele a abraçou e abriu os olhos que se encheram de lágrimas, ela levantou o braço e passou por cima do dele e ficaram mais encaixados.
Ela soltou um soluço, pois estava sentindo o medo ainda.
— Shh, está tudo bem, querida, eu estou aqui.
Dormiram assim, abraçados fortemente, sem dizer mais nenhuma palavra um ao outro, somente sentindo-se juntos. Naquela noite deram uma trégua, o medo os aproximou naquele momento.
**
Jayne ficou três dias sem notícias de Enrique desde que ele fora atrás dos bandidos, estava apreensiva que algo tivesse acontecido a ele e com o prejuízo que tivera, estava num nervoso sem tamanho.
Ela estava no escritório, sentada na escrivaninha com os cotovelos na mesa, as mãos nas têmporas e tentando pensar. Já havia feito um milhão de cálculos para ver o que faria para se recuperar. Venderia o carro, mas quem o compraria? Havia sido mesmo uma loucura tê-lo comprado. Kate entrou correndo gritando e Jayne levou um susto.
— O que foi? — gritou e levantou rapidamente da cadeira.
— O xerife está chegando... Com os cavalos.
Jayne correu para a varanda e o avistou com alguns de seus homens, vindo devagar cercando os cavalos. Jayne abriu um imenso sorriso e seu coração inflou de felicidade ao vê-lo. Os empregados de Jayne correram para ajudar a cercar os cavalos e comemorando os levaram para o cercado.
— Ricky! — gritou. Ele estava ferido no braço e seu supercílio cortado deixando seu olho roxo e ensanguentado. Jayne correu e o abraçou o fazendo gemer de dor. — Você está bem? Está ferido!
— Eu levei um tiro no braço, alguns socos, mas estou bem.
— Venha, eu verei seu ferimento. Anna traga uma bacia com água, rápido! — ela o ajudou a sentar-se no sofá e ele gemeu fortemente. Jayne molhou o pano e sentou-se ao seu lado limpando seu rosto. — Seu maluco, podia ter morrido!
— Mas não morri, recuperei seus cavalos e seu gado.
— O gado?
— Sim, não sei se foram todos, acho que alguns se perderam. Meus homens já os levaram para a fazenda de Willian.
— Vou chamar o médico.
— Não precisa. Eu irei até ele quando for para casa.
— Não, você vai ficar aqui, eu vou cuidar de você. Anna, envie alguém à cidade para chamar o doutor, por favor.
Jayne limpava seu rosto e ele não tirava os olhos dela.
— Não precisa se incomodar, eu estou bem.
— Você não me parece nada bem.
— Estou cansado, sinto muita dor, eu acho que quebrei uma costela.
— Meu Deus! — Jayne o olhou carinhosamente. — Obrigada.
— Valeu a pena levar um tiro, só de ter você cuidando de mim.
— Ricky, não diga esse absurdo! Venha, você precisa deitar-se.
Ela o ajudou a levantar-se e o levou para o quarto, tirou seu paletó, colete, a gravata e seu cinturão, o deitou na cama ajeitando-o escorado nos travesseiros. Ele gemeu de dor quando se deitou e ela sentou-se ao seu lado o olhando.
— Acho que estou ficando velho para isso — ele disse e Jayne sorriu.
— Você não devia fazer estas coisas. Por que coloca sua vida em risco assim? Qualquer dia pode morrer por causa destes bandidos.
— Se eu morresse sentiria minha falta?
— Ricky, que pergunta absurda!
— Iria ou não?
— É claro que iria, não quero que nada de mal lhe aconteça. Não suporto esta tua profissão, correr riscos deste jeito.
— Quem sabe eu encontre uma boa razão para parar com isso.
— A boa razão seria você se manter vivo.
— Para mim, você seria uma boa razão.
— Ricky, você tem sido um bom amigo e eu me preocupo com você, só estou tentando dizer que eu quero que fique seguro.
— Amigo... — ele suspirou. — Sim, Jayne... Eu tenho sido um bom amigo. Mas, eu gostaria que um dia você me olhasse como me olhava uma vez.
Ele a olhava esperando lhe dissesse algo que confortasse seu coração.
Jayne começou a sentir que aquela conversa estava seguindo um rumo que ela não queria, não sabia o que dizer a ele. Para salvá-la daquela situação o médico chegou, ela levantou-se e ele o foi atender.
— E então? — perguntou ao médico após cuidar dele.
— O tiro pegou de raspão, mas ele está com algumas costelas quebradas. Vai se recuperar, eu o enfaixei, mas demorará algum tempo para curar-se completamente. Devem cuidar do ferimento a bala com cuidado.
— Obrigada doutor, cuidarei bem dele.
Jayne levou o médico até a varanda e foi ver Ricky, ele estava dormindo recostado nos travesseiros, sem camisa e com o braço e o peito enfaixado, ela sentou-se ao seu lado e o ficou olhando. Sentia um carinho imenso por ele. Mesmo machucado ele era lindo, parecia que seu rosto estava sereno.
Ela segurou sua mão, as admirando, eram enormes e perfeitas. Algumas lembranças da Europa lhe vieram à mente. Ela sabia o que ele estava tentando fazer, mas não conseguiria lhe retribuir como ele queria. Ela saiu do quarto fechando a porta devagar, deixando-o repousar.
**
Alguns dias depois, todos estavam recuperados do susto e de seus ferimentos. Haveria uma imensa festa em comemoração ao aniversário da cidade, o prefeito organizou música, dança, havia comidas e bebidas.
O povo estava alegre e ao fim da tarde reuniram-se no centro da cidade para ver as festividades. Jayne foi com Enrique e as crianças; encontraram-se com os amigos que numa roda conversavam animados e bebiam.
— David, como está sua perna? — Jayne perguntou.
— Ainda estou mancando um pouco, mas já está bem melhor, por isso não poderemos ficar até muito tarde, não posso nem dançar.
— Será que podemos ficar até a noite? Poderíamos aproveitar a festa — Enrique perguntou a Jayne.
— Não dá. As crianças não podem ficar até tarde.
— Elas podem ficar na minha casa com Kate, eles ficarão bem lá até voltarmos, você pode dormir no quarto de hóspedes.
— Hum... Tudo bem, se não for incômodo para você.
— Claro que não e, além do mais, eu quero dançar com você.
— Você quer dançar? Mas suas costelas ainda doem.
— Eu sei, mas só um pouquinho, eu faço o sacrifício.
Jayne sorriu e ficaram mais um tempo conversando, quando estava ficando tarde foram à casa de Enrique.
— Esta casa é muito bonita.
— Sim, e você nunca tinha vindo aqui. O aluguel é um tanto exorbitante, mas eu gosto dela.
— Não sei por que quis ficar morando aqui.
— Eu gosto desta cidade e além do mais, eu tenho objetivos.
— Hum, sei... Ser o xerife. Sei que você gosta de controlar as situações — disse rindo.
— Minha querida, xerife eu já sou, os objetivos são outros.
Jayne o olhou, mas fez-se de desentendida e olhava ao redor para ver a decoração da casa. Ela avistou alguns porta-retratos encima de uma mesinha de vidro que havia algumas fotos da sua família. Ela espantou-se vendo uma foto deles que haviam tirado na Europa, estava meio desgastada, mas num porta-retratos muito bonito.
— Ricky, você colocou nossa foto num porta-retratos... Aqui?
— Sim, eu a carrego sempre comigo. Esta foto nós tiramos em Veneza, lembra-se? Saiu tanta fumaça daquela máquina que pensamos que havia pegado fogo — disse rindo. — Foi no fim de semana que eu a sequestrei pela janela do dormitório das moças e nós fomos para lá.
— Lembro, não achei que ainda a tinha. Depois eu fiquei de castigo, uma vergonha para uma moça, depois disso meu pai mandou me buscar — ela disse rindo. — Você me levou para o mau caminho.
— Eu achei que foi bom caminho — ele riu. — A guardo com muito carinho porque este foi um dos dias mais felizes da minha vida. — Ele chegou perto do seu ouvido e falou baixinho para que só ela ouvisse. — Foi o dia que você virou mulher em meus braços. — Ela sentiu um frio lhe percorrer a espinha e olhou descompassada para ele, ficando ruborizada. — Você não se lembra? — disse a olhando com um olhar devassador.
— É claro que me lembro, eu nunca vou esquecer. Vou ver as crianças — disse saindo, para que ele não percebesse quão descompassada ficara.
A criada arrumou os quartos de hóspedes e Jayne despediu-se de Kate e as crianças os acomodando nas camas.
Eles voltaram para a praça e reuniram-se com os casais novamente. Dançaram animados, ele era um exímio dançarino e a conduzia pelo tablado que havia sido construído para as danças. Jayne a muito não se divertia tanto, ria com seu jeito extrovertido. Os rapazes no começo o estranharam, mas davam-se bem com ele, não mantinham antipatia, apenas ficaram receosos da proximidade que ele vinha adquirindo com Jayne.
Willian meio sem jeito convidou Emily para dançar, ela surpreendeu-se com o convite, mas aceitou.
— David, isso é bom — disse Mitchel, cutucando David e os mostrando.
— Hum, isso é um milagre, quem sabe eles amolecem. Não... Porque já estou com vontade de dar um pescoção nestes dois.
— Eu também, ôh casalzinho pimenta!
— Eles se amam, mas são cabeças duras.
— Não são somente eles... — Mitchel disse para Julia.
— Está se referindo a mim? — ela perguntou.
— Se você ainda não se convenceu que é cabeça dura vou convencer.
Ele a pegou pela cintura e rindo foram dançar.
— Willian está amolecendo, me disse que nestes últimos dias eles não brigaram, mas diz que Emily ainda está arisca — David disse.
— Um cutuca e, o outro, revida, assim nunca vão se acertar, mas quem sabe hoje dá certo, festa sempre anima o coração — Mary disse.
— Quem sabe.
Enquanto Mitchel dançava com Julia, avistou Chloe, num lado da rua, estava muito bem-vestida e linda, há muito tempo não a via. Ela conversava com um homem muito elegante e bebia uma taça de champanhe, com um relance de olho ela o avistou e ergueu a taça e baixou a cabeça para dar um olá e ele lhe retribuiu com a cabeça.
— Você acha que Enrique e Jayne vão se acertar? Eles parecem bem juntos — Willian disse puxando conversa com Emily.
— Eu acho que deveriam. Ele é um bom homem e gosta dela.
— Mas ela ainda ama Ian.
— Ama, Willian, mas ele está morto. O que quer? Que ela fique sozinha para o resto da vida? Ela ainda é muito nova para ficar sozinha, ainda mais com duas crianças.
— Eu não disse isso. Quero que ela seja feliz.
— Você parece mais preocupado com a felicidade dela que com a nossa.
— Eu me preocupo com ela, nós temos obrigação de cuidar dela, por Ian. E nós jogamos nossa felicidade fora, Emily.
— Will, eu não quero ser infeliz para o resto da minha vida.
— Eu também não quero.
— Então o que você quer? Ficar me torturando desse jeito, me castigar pelo que eu fiz para o resto da vida? Acha que já não sofri o bastante?
— E você acha que eu não sofro com tudo isso? Você acha que estou feliz? Acha que estou apenas sendo birrento?
— Acho.
— Se estou sendo, você também está, daria para parar de ser tão teimosa?
— Eu, teimosa?
— Vamos começar a brigar de novo?
— E desde quando nossas conversas não acabam em briga?
— Desde que eu peguei você beijando aquele peão.
Emily o empurrou e olhou para ele.
— E você esqueceu que dormiu com aquela mulher?
— Não, não esqueci. Por desgraça eu não tenho o poder de apagar minhas memórias.
— Pois eu queria, para poder esquecer que você existe. — Ela deu as costas para ele que furioso a puxou pelo braço fazendo-a dar um solavanco e colar no peito dele. — Não faça escândalo aqui, Emily. Vamos embora.
Ele a puxou e foram embora sem dizer mais uma palavra até chegar em casa.
Todos estavam na roda, haviam parado de dançar e viram a briga deles.
— É... Nossa alegria acabou rápido.
— Mas que diacho! — David disse.
— Ai que pena, achei que hoje eles poderiam se acertar, até que estavam bonitinhos — Mary disse.
— Eu apostaria que esta briga vai ser a última — Enrique disse rindo.
— Será? Eu duvido — Mitchel disse.
— Por que diz isso, Ricky? — Jayne perguntou curiosa.
— Porque pelo que eu prestei atenção nos olhos deles, o amor está bem na porta, mais que o ódio.
— Ah Enrique, profundo isso que você disse, então vamos fazer um brinde para que de hoje estes dois não passem — Mitchel disse rindo e erguendo o copo, todos brindaram e riram, fazendo figa.
Quando os dois chegaram em casa, Emily foi para seu quarto chorando e Willian foi atrás.
— Emily, abra a porta — disse batendo na porta trancada.
— Saia daqui, vá dormir em outro lugar.
— Abra esta porta senão boto abaixo.
— Isso seu monstro! Derrube porque eu não vou abrir.
Willian perdeu o controle e num surto de raiva deu um tranco na porta com o ombro e a abriu.
— O que pensa que está fazendo? — ele disse gritando e Emily o olhou com os olhos arregalados.
— Eu não quero olhar para você, saia daqui. Você devia sumir daqui para eu nunca mais ter que olhar para você, podia morrer que nem ligaria, eu odeio você — gritava fora de seu senso.
— Emily, como tem coragem de dizer isso? — Willian marejou os olhos de lágrimas e enfurecido a agarrou pelos braços. — Você preferia que eu estivesse morto? Como pode dizer uma coisa destas?
— Preferia a ter que dormir ao seu lado todos os dias, sentir meu coração despedaçado e meu corpo queimar de vontade de ser sua mulher e não poder. Pensa que não me dói saber que não me deseja mais como mulher e que você não me ama? Eu tento todos os dias arrancar este amor do meu peito, mas não consigo e o odeio mais por isso.
Ela dizia tudo de uma vez só no seu surto de raiva e chorava ao mesmo tempo, estava descontrolada. Willian transtornado, a olhava com todos os sentimentos juntos, mas quando olhava para o rosto dela sentia seu coração queimar de amor.
— Eu amo você, Emily! — gritou a segurando firmemente pelos ombros.
Ela paralisou e o olhou com os olhos arregalados. E com fúria e sem pensar em nada, ele a puxou e a beijou com um desespero que nunca havia sentido antes. Emily surpresa com aquele beijo o tentava empurrar, mas ele a segurava com seus braços, a impedindo de se soltar. Seu beijo era forte, intenso e quente. Beijava-a com paixão incontrolável, os dois derramaram lágrimas de ódio, mas o desejo não tardou em arrebatá-los.
Com aquele desespero lascivo se entregaram àquele beijo de raiva e amor. Emily parou de empurrar sentindo seu corpo render-se a ele. Willian a empurrou com o corpo e caiu sobre ela na cama a beijando enlouquecidamente e começou a abrir as roupas de Emily com desespero, arrancando os botões de sua blusa.
A raiva que sentiam foi se misturando ao desejo, o amor estava tentando abrir espaço, como se quisesse quebrar o muro que os dois haviam construído entre eles. Willian a possuiu e ela se entregou a ele entre as lágrimas, fizeram amor com loucura.
Quando o desespero foi acalmando e não havia mais como seus corações estarem mais descompassados, seus corpos estavam se amando e não mais se odiando.
— Eu te amo, Will, perdoe-me, mas não me deixe, por favor — disse chorando. — Diga que me ama, senão vou morrer.
Willian estava ofegante, perdido em sua dor e paixão, parou a olhando e retirando seus cabelos que lhe caiam nos olhos, queria ver seu rosto.
— Eu te amo e não quero mais odiá-la, isso está me matando.
Ele a beijou novamente e seus corpos recomeçaram a mover-se os fazendo sentir o prazer na dor, conheceram o céu e o inferno naquele momento. O muro imenso que haviam construído caiu, o amor venceu o ódio que os torturou por tanto tempo. Tinham que retomar seu caminho.
Capítulo 12
— Jayne, o que você está esperando para ficar com Enrique?
— Emily, eu não vou me jogar nos braços dele. E olha quem fala... Quem ficou aí um ano dormindo ao lado do homem que amava e nada?
— Ah, mas deveria e meu caso é diferente do seu. Mas graças a Deus agora eu e Willian fizemos as pazes e, depois disso, nunca mais brigamos, ambos queremos esquecer tudo e começar vida nova, e eu estou muito feliz de tê-lo de volta. E você deveria fazer o mesmo.
— Emily, não me pressione; já me basta Ricky fazendo isso. O que vocês acham, que sou de ferro? Não aguento isso tudo.
— Pare de sonhar com a volta de Ian, você está delirando — Julia disse.
— É! E desse jeito vai perder aquele homem maravilhoso que está ajoelhado aos seus pés. Mulher pare de ser fantasiosa, está ficando maluca com esta ideia fixa de que Ian está vivo.
— Parem, por favor! Eu falo a vocês o que meu coração sente e vocês, em vez de me ajudar, me falam estas coisas?
— Jayne, você tem que aceitar a morte de Ian. Ricky é real, ele vai cuidar de você e de seus filhos. Já faz mais de um ano que Ian morreu e você está aí como se fossem dois meses, pare com isso!
— Tudo bem... Eu acho que vocês têm razão. Eu vou pensar sobre Ricky, mas vai ser difícil, pois não consigo esquecer Ian.
— Jayne, você tem dinheiro, mas fica nesta fazenda isolada no meio do nada com duas crianças, você precisa de um homem para ficar com você.
— Emily, que ideia ridícula! Não vai ser um homem que vai impedir qualquer ataque de forasteiros, não é?
— Não vai, mas isso lhe dá respeito.
— Pode deixar que respeito eu mesma conquisto. Eu tenho homens contratados que eu pago bem para me proteger e a fazenda. Eu nunca estou sozinha, a fazenda sempre está cheia de gente.
— Jayne, ele é xerife, todos vão respeitá-la por isso.
— Ah sim. E por Ricky ser xerife eu deveria casar-me com ele?
— É mais ou menos isso.
— Isso não tem cabimento.
— Mas não sei como você aguenta aquele homem aqui o tempo todo a bajulando. Minha alma do céu, de que material você é feita, mulher? Este homem está aqui a rondando há um século, Jayne.
— Eu gosto dele e se ficar com ele não são por nenhum destes motivos.
— Sei! Deve ser porque ele foi o primeiro amor de sua vida. Se transformou num homem lindo, maravilhoso, honrado e responsável, e está apaixonado por você. Será que isto é pouca razão para ficar com ele?
— Acho que é suficiente... — Jayne disse rindo. — Eu o adoro, mas eu não o amo como amei Ian. Na verdade ele me deixa confusa.
— O amor virá com o tempo, você não tem como escolher, querida. Ian fará parte somente de suas lembranças agora.
— Eu sei.
— Ele ainda não tentou nada?
— Diretamente não, ele está me respeitando. Ele fica fazendo insinuações o tempo todo e às vezes ele tenta se aproximar, mas eu não dou espaço.
— Hum... Eu acho que ele está sutil demais, da outra vez, ele foi direto como uma flecha e agora está se enrolando, não entendo — Emily disse.
— Acho que está sendo cauteloso, já que lá no Novo México você o negou, desta vez ele quer realmente reconquistá-la. Ele só vai tentar algo quando achar que você vai corresponder.
— Sim, ele está sendo estratégico. Muito esperto.
— Talvez ele não esteja tão interessado como pensam — Jayne disse.
— Ai, mas você está cega. Ele fica com os olhos vidrados olhando para você, faz de tudo para agradá-la, isso não é estar interessado?
— Verdade, Jayne. A hora que ele tentar alguma coisa, ele virá com tudo.
— Tenho pena de você, quando ele agarrá-la — Emily disse rindo.
— Emily, que coisa a se dizer! — Jayne reclamou.
— Eu concordo. Ele é muito lindo — Julia disse.
— Isso ele é. — Jayne concordou. — Mas não estou preparada para isso, acho bom que ele mantenha distância, assim evitaremos constrangimentos.
— Ai que tonta!
— Meninas, comam o bolo e parem de falar dele. Vamos mudar de assunto. Julia, como vai você e Mitchel?
— Uma desgraça!
— Nossa! O que houve, vocês brigaram novamente?
— Sinceramente, eu não quero mais ficar casada com ele.
— Meu Deus! Julia, não diga uma coisa destas.
— Mas é verdade. Estou infeliz e acho que ele também, fica fora demais, eu estou cansada disso.
— Converse com ele, eu já lhe disse isso. Quanto mais adiarem, vai ser pior — Jayne disse bebendo seu café.
— Meu casamento acabou e eu não quero consertar nada.
— Mas primeiro foi Emily, agora você? Você não tem motivos para acabar com seu casamento, Mitchel não lhe fez nada grave, Julia.
— Como eu disse, as mulheres Cullen têm problemas — Emily disse pegando um pedaço de bolo.
— Também acho — Julia reforçou.
— Vocês são malucas? Depois falam que eu sou a complicada.
— Jayne, você é daquelas mulheres que a gente sente inveja. Sempre tem os homens mais lindos do mundo aos seus pés e fica dando uma de durona. As mulheres rastejam para conseguir Enrique como marido e você, nada. Se isto não é ser complicada, então nem sei o que é.
— Ai, vai começar de novo! Isso não é ser durona, é ser sensata.
— Quem sabe nós a convencemos no cansaço — As três riram.
**
Jayne estava no estábulo quando Enrique chegou à fazenda. Ele seguiu até lá e ela estava com mais dois homens ajudando a fazer um parto de um potro, a água estava deitada e o potro estava quase nascendo.
— Olá Jayne — disse sorrindo. — Olá Angel — disse dando um beijo nela que estava pendurada na cerca.
— Oi tio Ricky, olhe isso! — Angel disse sorrindo e toda empolgada.
— Ricky, que alegria em vê-lo, chegou à boa hora. Já assistiu a um parto antes? — Jayne disse quando o avistou escorando-se na cerca do estábulo.
— Hum, não.
— Então veja, é magnífico.
Ele ficou vendo a ação deles e como ela acariciava a égua tentando acalmá-la enquanto os homens tentavam puxar o potro.
— Calma Lady, ele está quase chegando.
O potro nasceu, estava saudável e poucos minutos depois Lady já estava em pé, mas seu potro ainda permanecia deitado.
— Como ele é lindo — Enrique disse.
— Mamãe, ele é maravilhoso! — Angel disse encantada.
— É um belo potro — disse sorrindo satisfeita. — Vamos Ricky, vou deixá-lo dar-lhe o nome. Pense em um bem bonito, ele é um legítimo puro sangue, cria de Diamante e Lady, vai ser um lindo cavalo.
— Hum... — Ele pensou. — Que tal Eros? Da mitologia grega.
— Eu gosto, acho que é um nome muito poderoso.
— Gostei! Então, ele vai se chamar Eros. Quando ele crescer terei que achar uma Psiquê para ele — disse rindo.
— Verdade, um Eros precisa da sua Psiquê — concordou rindo.
— Ele vai ter tempo para isso. Vamos Eros, levante — dizia olhando para o potro. Ele tentava ficar em pé, cambaleava e caia, por diversas vezes tentou, mas ainda não encontrava o equilíbrio nas patas. Após algumas tentativas, ficou de pé tentando equilibrar-se e sua mãe ficou o cheirando.
— Nossa! Que maravilha Jayne, muito emocionante!
— Verdade, eu adoro este momento. George, termine por aqui para mim, por favor. Vou me lavar e vocês não tirem os olhos deles, eles devem se alimentar. Qualquer coisa que necessite me chame. Vamos Angel?
— Ah mamãe, deixe-me ficar aqui, quero vê-lo.
— Está bem, daqui a pouco você vai com Kate e Josh para a fazenda de seu avô.
— Está bem, já vou, só mais cinco minutos.
— Vamos, Ricky? Vamos tomar algo, estou morrendo de sede.
Foram em direção a casa calmamente e conversando.
— Você está muito bem hoje, Jayne, seu rosto está feliz, fico muito contente em vê-la assim.
— É, eu estou bem! Estou me sentindo leve hoje, fico sempre empolgada quando nasce um rebento.
— Sim. Foi emocionante, você está fazendo um ótimo trabalho aqui, estou impressionado.
— Obrigada. Espere aqui na varanda, sente-se e fique à vontade, vou me lavar e já trago um refresco para nós bebermos.
— Está bem.
Ela entrou e demorou um pouco, lavou-se e trocou de roupa, voltou trazendo uma bandeja com refresco e entregou um copo a ele.
— Obrigado. — Ele a fitou com um olhar intenso, parecia que estava enfeitiçado com o que via. — Você está linda.
— Obrigada — disse tentando disfarçar seu embaraço. — Angel! Vamos, está na hora — gritou da beirada da varanda.
Angel veio correndo e Kate saiu na varanda com Josh e uma bolsa. Jayne pegou Josh no colo que estava sorridente e a abraçou.
— Seu filho está um belo jovenzinho.
— Sim. Os avós vão mimá-los por dois dias, sempre pedem que eu os deixe lá nos fins de semana. Não sei quem mima mais quem — disse rindo.
— Verdade, pena que meu pai não teve esta sorte ainda.
— Pois sim, Ricky, você nunca quis se casar. Seu pai deve achar que nunca terá um neto, já que você é filho único. No seu caso necessita de um herdeiro.
— Se certo alguém me quisesse, ele ganharia dois de uma vez.
Jayne o olhou de canto de olho e sentiu que aquilo foi direto para ela.
— Eles não seriam seus netos e nem seus herdeiros.
Ele ia retrucar, mas ela se adiantou quando um dos empregados trouxe a carroça, Kate subiu e Jayne colocou Josh e Angel nela.
— Adeus meus amores, nos veremos domingo, está bem? Se comportem na casa do vovô. Kate, não tire os olhos deles, por favor.
— Pode deixar, senhora, vou cuidar bem deles, como sempre.
— Adeus — disse e os pequenos ficaram acenando para ela.
Jayne e Enrique ficaram os observando se afastarem, e depois voltaram à varanda.
— Tenho novidades, eu comprei a casa que eu moro na cidade.
— Verdade? Por quê? Você não vai voltar para o Novo México?
— Não, vou morar aqui de vez! Vou advogar e continuar com o posto de xerife, mas terei um segundo, serei mais supervisor deles.
— Isso é maravilhoso! Mas não vai mais ser xerife de frente de canhão? — disse rindo.
— Não. Vou mais advogar, chega de aventuras por um tempo, irei somente aos casos extremos.
— Você sem aventuras? — disse rindo ironicamente.
— Engraçadinha. Não percebeu como estou diferente?
— Sim, Ricky, eu percebi muitas coisas sobre você e fico orgulhosa do homem que se transformou. Tão responsável, maduro, determinado, eu realmente o admiro e fico muito feliz por tudo que conquistou.
— Nossa! Agora fiquei lisonjeado.
— Mas eu disse a verdade, não é?
— Sim, a vida me ensinou muitas coisas e melhorei por você.
— Este mérito é seu e você fez por você, não por mim.
— Eu sempre quis ser um homem melhor por você.
— Ricky, você me deixa sem jeito, não diga estas coisas.
— Jayne, eu me mudei para cá para poder ficar perto de você. Eu quero fazer parte da sua vida, passar mais tempo com você.
— Ricky, não me inclua nos seus planos, eu não quero isso.
— O que você não quer, se apaixonar por mim? Não quer que eu faça parte da sua vida? — disse chegando mais perto dela e a encurralando contra a cerca e Jayne deu alguns passos para trás.
— Não quero me apaixonar, nem por você nem por ninguém.
— Você não vai negar que se sente atraída por mim.
— Não, mas isso está indo longe demais, é melhor parar por aqui. É melhor você ir embora — falou desconsertada.
— Repita o que disse.
— O quê?
— Que sente atração por mim. - ele a puxou contra seu corpo e Jayne estremeceu.
— Eu não disse isso.
— Disse.
— Ricky, pare com isso.
— Eu morreria por um beijo seu.
— Não faça isso, por favor.
— Não posso beijá-la?
— Não! — ele a segurava tão próxima, mas controlava-se para não beijá-la.
— Não? Não vou beijá-la até que me peça.
— Não vou pedir.
— Vai, um dia.
Ele roçava seus lábios na face de Jayne e sussurrava.
— Ricky, por favor, solte-me — disse com voz rouca e ofegante.
Seu corpo estava esmorecendo, mas ele a soltou e a olhou seriamente.
— Você é teimosa demais, me tortura desse jeito.
— Vá embora! Acho melhor você voltar para o Novo México, não quero que fique aqui! — disse escorando-se na cerca da varanda, descompassada.
— Está falando sério?
— Estou! Não posso me envolver com você, vá embora, me deixe em paz! — falou rispidamente.
— Você está mentindo. Por que me olha desse jeito como se eu fosse um estranho? Como se fosse um absurdo se apaixonar por mim? — disse falando mais alto e meio indignado.
— Por favor, pare com isso e vá embora!
— Se é isso que quer, eu vou embora — disse virando as costas e desceu as escadas, foi até seu cavalo, o montou e olhou para ela. — Eu vou embora, mas eu volto e você vai me pedir.
Ele virou o cavalo e foi embora.
Jayne estava com a boca seca, aquela situação a pegou de surpresa a deixando completamente nervosa, seu corpo tremia. Não se envolveria com ele, seria melhor que fosse embora, assim ela evitaria aborrecimentos, seu coração pertencia a Ian, jamais iria se apaixonar por mais ninguém.
Enrique estava se aproximando demais, isso a deixava com os pensamentos embaralhados. Ela possuía sentimentos por ele e o desejava. Como não desejá-lo? Ele possuía o rosto perfeito, lábios sedutores, um sorriso lindo, era extremamente encantador. Mas parecia que qualquer sentimento que sentia por ele, fazia sentir-se estranha, como se estivesse traindo Ian. Mas não podia negar que estar perto dele lhe trazia alegria.
Jayne andava pelo quarto com a mão no peito, estava com o coração fora do compasso. Sabia que um dia Ricky agiria, mas naquele dia, estava despreparada, foi rude com ele. Por um lado estava aliviada de ele ter ido, mas por outro estava angustiada.
Ela saiu dos seus pensamentos absortos quando ouviu uma batida na porta, fazendo-a levar um susto. Ficou parada a olhando por um instante, sentindo um calafrio lhe percorrer a espinha.
— Jayne, desculpe-me voltar, mas eu preciso falar com você!
— Ricky, por favor, já pedi para ir embora!
— Jayne...
— Eu não quero falar de nada, vá embora!
— Eu não vou sair daqui até você abrir a porta e falar comigo!
O conhecendo, ela sabia que ele não sairia até ela abrir a porta, estava com medo de abrir, sentia-se nervosa, então mesmo relutante a abriu.
— Ricky, o que está fazendo aqui? Eu pensei que tivesse ido embora — disse com voz de súplica.
— Não pude ir, eu preciso dizer tudo que está entalado na garganta. Não aguento mais esta situação. Eu sei que está ferida, mas não entendo porque você foge de mim deste jeito.
— Por favor, eu não quero falar disso.
— Eu não vou sair daqui até conversarmos.
— Não faça isso, você está me deixando confusa. Pare de me atormentar!
— Jayne, olhe para mim, eu amo você! Por favor, me dê uma chance de fazê-la feliz, está na hora de você recomeçar, eu vou cuidar de você e de seus filhos como se fossem meus.
— Ricky, eu não posso.
— Pode sim, olhe nos meus olhos. — Ele se aproximou dela e segurou seu rosto com as mãos. — Eu quero cuidar de você, por que não me dá uma chance? Você não gosta de mim, nem um pouco?
— Eu gosto de você, adoro sua companhia, agradeço tudo que tem feito por mim e meus filhos. Na realidade você tem preenchido todo este vazio que eu tenho vivido. Mas eu não quero e nem posso me envolver com ninguém, nunca mais.
— Besteira! Você precisa continuar sua vida e eu quero fazer parte dela.
— Ricky, eu não quero ouvir estas coisas de você.
Jayne estava incomodada, ele a estava encurralando contra a parede enquanto falava. Cada passo que ele dava para se aproximar, ela dava um para trás para se afastar, mas ele com os braços não a deixou livre.
— Eu tenho mantido distância, me segurado e respeitado você, tenho controlado meu desejo que me consome cada vez que chego perto. Às vezes tenho vontade de gritar, não posso mais me afastar de você. Jayne lembre-se do que vivemos juntos, dos momentos de amor que tivemos, de como sentimos nossos corpos unidos, você não pode ter esquecido isso tudo.
— Eu não esqueci, mas isso foi há muito tempo, já passou.
— Não, não passou. Eu ainda me lembro da suavidade da sua pele, seu cheiro, seus lábios, deixe-me sentir novamente. Esta proximidade com você está me matando, se eu não tocá-la vou enlouquecer. Podemos retomar nossa história do passado, eu sempre amei você.
— Se me amasse não teria me deixado subir naquele navio.
— Jayne... Aquilo tudo foi uma grande confusão, eu era um tolo e você me disse que não me queria mais, mas eu vim buscá-la, impedir que se casasse com Edward. Você me mandou embora.
— Mandei porque joguei nossa história no mar, quando você me deixou ir, eu deixei você lá. Deixei meu amor no cais, e eu dei minha palavra ao meu pai.
— Você se deixou envolver pelas artimanhas do seu pai e de Edward. Mas agora temos nossa chance novamente, não há ninguém que possa nos impedir de ficarmos juntos de novo.
— Eu não quero recomeçar isso. Não é mais a mesma coisa, eu mudei.
— Você ainda gosta de mim, fica desconcertada quando chego perto, já vi você me olhando, vi quando ficou perdida quando me viu sem camisa, você me deseja, somente não quer admitir. Tem medo de ser feliz de novo.
— Ricky, solte-me, deixe-me sair.
Ela tentou se desvencilhar das mãos dele, mas ele segurou-a.
— Você não quer sair.
Ele a imprensou contra a parede com seu corpo. Ele era enorme perto dela e ela estava tremendo. Seus pensamentos estavam confusos, nem conseguia olhar para ele, estava com medo de não resistir.
— Jayne, olhe para mim.
Ela deu um suspiro, levantou os olhos e seus olhares fixaram-se. Ele era magnificamente lindo e seu olhar tão intenso que lhe atravessava a alma. Ele estava com os lábios tão próximos que quase os tocava.
— Dê-me uma chance, você precisa parar de me olhar como amigo, porque não é isso que eu quero ser, não tenha medo de mim.
Mil coisas passavam pela cabeça de Jayne, não sabia o que fazer. Seria o momento de deixar Ian morrer? Ela sentia-se tão sozinha que parecia que estava navegando no mar aberto sem nada ao seu redor, sentia um vazio no coração tão intenso, que muitas vezes perdia-se até de onde estava. Sua solidão a estava destruindo, estava em um imenso buraco negro, mas a companhia de Enrique lhe estava sendo preciosa.
Teria o direito de continuar sua vida sem Ian? Parecia impossível, pois seu amor por ele era tão grande, mas ele se fora.
Enrique estava com o coração disparado, seu corpo ardia em febre, seu desejo por ela a tanto tempo guardado estava lhe comendo a entranhas, seu corpo estava rijo e colado ao dela.
— Você me deseja, Jayne — sussurrou.
Ele beijou seu rosto suavemente e no canto de sua boca. Jayne fechou os olhos e não conseguia se mover, nem puxar o fôlego.
— Não...
— Peça — disse roçando seus lábios próximos aos dela.
— Não... — disse quase sem voz e com os olhos fechados, seu coração estava acelerando cada vez mais. Seu corpo queimava.
— Se entregue a mim, deixe-me amá-la, peça... — sussurrou, escorregando seus dedos levemente pelo seu pescoço e sobre seus seios.
Jayne sentia seu corpo arder e sem mais resistir, num sussurro, disse as palavras que ele tanto queria ouvir.
— Beije-me...
Ele sentiu seu coração explodir, beijou-a e uma imensidão de pensamentos confusos os afligiu. Ela ficou consumida por aquele beijo, jogou-se naquela sensação, como se desesperadamente quisesse fugir daquelas trevas que a atormentava por tanto tempo. Ele a puxou com seu braço pela cintura fazendo-a colar em seu corpo, segurando com a outra mão sua nuca, ela estava presa naqueles braços.
Jayne não entendeu nada que se passava por dentro dela. Ele a pegou nos braços e a levou até a cama e deitou sobre ela, estava enlouquecido de desejo, mas seu toque durava uma eternidade, trazendo as mais intensas sensações.
Ela fechou os olhos, sua mente se apagou e permitiu que ele a tocasse, sentindo sensações que seu corpo involuntariamente ansiava e entregou-se a ele, perdeu-se em seus braços.
Nada havia de errado ali, estavam solitários, com os corações perdidos num nevoeiro, os dois ansiavam pela felicidade e entregaram-se um ao outro como já haviam feito há muitos anos quando eram mais jovens.
Talvez, correr para o passado fosse a solução para amenizar a solidão que sentiam em seus corações, ressuscitar os desejos longínquos, os momentos de amor que um dia tiveram juntos.
Se isso era certo, Jayne não sabia, mas queria uma chance de ser feliz e ela sabia que precisava afastar a tristeza em seu coração e Enrique estava em seus braços, vivo, e era real.
Jayne permitiu-se por um momento amar e ser amada por ele.
Enrique ficou sentindo o corpo dela colado ao seu até seus corações voltarem ao normal, queria que aquele momento não acabasse nunca, sentia-se feliz. Jayne havia soltado as amarras, talvez não todas, mas afrouxara a corda que a aprisionava no mundo de Ian. Ele olhava para seu rosto e admirava seus traços delicados, acariciava sua pele suavemente.
Havia valido a pena esperar tanto tempo para tê-la, podia tê-la beijado antes se quisesse, mas queria que ela cedesse, queria que ela se entregasse.
— Você não imagina a alegria que estou sentindo — ele disse e Jayne suspirou, mas não disse nada, recostada em seu peito. — Você está bem?
— Estou, mas estou confusa.
— Você se arrependeu?
— Não. Mas parece que o tempo voltou, eu me sinto estranha.
— Também sinto isso. Eu vou fazê-la feliz, eu lhe prometo.
— Ricky, o que quer dizer, o que você quer?
— Ficar com você, esta não foi uma noite, Jayne. Isto é para sempre.
— Não sei se posso fazer isso.
— Vamos com calma, com o tempo vamos nos acertar.
— Ricky, eu não sei como vai ser a reação de Angel quando nos ver juntos, não sei se ela vai aceitar isso.
— Ela gosta de mim, você acha que ela não vai me aceitar?
— Ela amava Ian, sofreu a perda dele, não sei como reagiria.
— Nós podemos conversar com ela, então veremos sua reação.
— Sim, mas não agora, por favor, não me apresse.
— Não vou, Jayne. Eu vou dar o tempo necessário para tudo, mas não me peça para ficar longe por que isso eu não vou fazer. Mas você está falando de Angel, mas seu medo não é por ela, é por você.
— Você não entende.
— Eu entendo que você está com medo, que ainda sofre. Mas pare com isso, olhe para mim. Eu estou aqui, vivo nos seus braços, eu te amo e não vou desistir, então pare de lutar contra mim.
Jayne o olhava e por um instante ficou muda, tentando pensar.
— Está bem, eu vou fazer o que me pede. Vou dar a chance de tentarmos ser felizes juntos, vou deixar você entrar na minha vida.
Enrique sorriu para ela ternamente.
— Eu prometo que seremos felizes e um dia você vai dizer que me ama. Tudo há seu tempo. — Enrique beijou Jayne e a abraçou fortemente. — Eu sabia — ele disse com um sorriso irônico nos lábios.
— Sabia o quê?
— Que você iria me pedir.
— Convencido!
Ela riu e o cutucou fazendo-o rir, ele a prendeu sob seu corpo e a ficou olhando carinhosamente. Jayne retribuiu aquele olhar e admirava os traços do seu rosto, ele era encantador, realmente não havia como não se render aos seus encantos.
— Eu vou tentar fazê-lo feliz, só peço que tenha paciência.
— Eu terei.
Ele a beijou e Jayne soltou-se em seus braços, ela estava permitindo-se amar. Resolveu que se entregaria. Lutara para enterrar Ian, mas como somente lhe restavam a lembrança daquele amor que sentia por ele, não teria mais o que fazer, a não ser virar a página do livro de sua vida, e recomeçar. O resto o tempo se encarregaria.
Capítulo 13
Mitchel voltou de uma viagem de dias, mas parece que seu reencontro com Julia não foi como sempre fora.
— Mitchel, nós precisamos conversar.
Ele respirou fundo, sabia que uma hora isso aconteceria.
— Eu sei, Julia. Mas conversar não é meu forte.
— Pois hoje vai ter que ser. Se não quer falar, vai ouvir.
— Hum... — resmungou. — Então diga.
— Algo está errado entre nós e eu não sei o que é, eu já pensei no que está errado, mas não acho resposta.
— Sinto que não estou a fazendo feliz.
— Eu digo o mesmo. Mitchel, eu acho que você não está fazendo nada de errado. Na verdade eu acho que nosso amor esfriou. Eu ainda o amo, mas está faltando algo, e este algo, está me deixando agoniada. Eu olho para você e sinto raiva, fico brava sem motivo, isso não está certo. Se isso continuar eu vou odiar você.
— Julia...
— E eu acho que isso não tem conserto, Mitchel. Você é um pássaro que de repente ficou preso, e eu acho que é isso.
— Julia, eu não me sinto preso, eu quis ficar com você.
— Eu sei, mas isso é inconsciente. Talvez eu não seja a mulher ideal, acho que ficaria melhor com uma mulher igual a você.
— Julia, você ainda tem uma imagem destorcida de mim.
— Não, não tenho. Mas agora que o conheço mais, eu entendi como sua cabeça funciona. Você é aventureiro e bufão, é tudo que eu não sou. Você gosta de farra, de coisas que eu não proporciono a você. Mas não é por maldade, é seu jeito, mas eu não estou conseguindo aguentar isso.
— Julia, não é nada disso, eu adoro sua companhia, não diga que falta algo em você, que parece que estou sendo cruel.
— Tudo bem, eu não estou zangada com você. Acho que nós dois não daremos certo, eu vou embora.
— O quê? Você vai me deixar? — perguntou com assombro.
— Mitchel, eu não quero que nem eu e você fiquemos presos a um casamento e sejamos infelizes e cada um jogado no canto desta casa, para mim, casamento é mais que isso.
— É este o rumo que o nosso casamento vai tomar?
— Sim, e nós já estamos neste caminho há muito tempo.
— E você acha que se nos separarmos vamos encontrar o que preencha este buraco que ambos sentimos?
— Acho. Quando começamos a nos esforçar para agradar o outro é porque tudo está errado, não acha?
— Você às vezes me dá medo. Acabar com nosso casamento? Julia, isto não é certo.
— Certo? Não sei se isto é certo, Mitchel. Mas eu não quero me sentir assim, porque eu estou infeliz.
— Talvez se tivermos um filho isso passe.
— O que está dizendo? Um filho não mudará nada, o problema é entre eu e você e não com um terceiro.
— Julia, eu tenho me perguntado isso há tempos, como somos casados há tantos anos e você nunca engravidou? Você nunca quis ter um filho comigo? Você o evita?
— Mitch, eu nunca evitei ter filhos, somente nunca engravidei. Talvez eu não possa ser mãe, ou você não possa ter filhos.
— O quê? Eu não tenho problema algum.
— Como sabe? Por acaso tem algum filho com outra mulher?
— Não.
— Então, como você pode saber? Mas isso não importa mais.
— Não estou gostando do rumo desta conversa. Os casais não se separam, nossa sociedade não aceita isso, como você vai ficar?
— Eu não ligo a mínima para o que o povo fala, e essa porcaria de sociedade, o que me importa é que eu e você estejamos bem.
— Não acho que eu ficaria bem sem você.
— Eu pensei nisso também. Se ficar longe de você, vou ficar arrasada, pois eu amo você.
— Mas eu não entendo. Se nos amamos como pode que não sejamos felizes, ou que e esteja faltando algo? O amor, não seria suficiente para que nosso casamento fosse bem?
— Eu pensei que fosse, mas parece que não é. Eu acho que nosso amor é pouco. Talvez tenha sido somente uma paixão.
— Qual a diferença?
— Eu não sei, mas isso que vivemos está errado, o que tínhamos esfriou.
— Somos casados e isso é para vida toda.
— Não ficarei casada e infeliz. Eu me recuso a algo assim.
— Você enlouqueceu. Quer mesmo me deixar e ir embora?
— Acho que isso é o certo, mas eu já não sei mais o que é certo ou não.
Os dois ficaram por alguns minutos se olhando. Julia amava Mitchel, mas não queria aquela situação, teria que ter coragem. Afinal, ser uma mulher separada era inadmissível para a sociedade. Lágrimas lhe corriam pela face, mas estava firme, tentando não desistir de sua decisão.
— E para onde você vai?
— Vou voltar para a casa do meu pai.
— Julia, seu pai vai me matar.
— Não vai, isto é uma decisão minha. Vou falar com ele e ele entenderá.
— Não posso concordar com isso, eu não vou aguentar ficar longe de você e ser largado desse jeito.
— Você não tem opção, Mitchel, eu irei.
— Julia, em partes eu até concordo com você, mas não sei se vou aceitar isso. Pense bem no que vai fazer.
— Não vou mudar de ideia, eu vou embora.
— Pois bem... Se quiser ir, então vá! Eu não vou impedi-la e nem implorar para que fique! Ainda não nasceu uma mulher que vai fazer Mitchel Vaiz rastejar! Eu fui um bom marido, sempre fui correto, dei tudo o que eu podia. Talvez esteja sentindo falta do seu luxo.
— Eu sei, Mitch. Não estou dizendo que não, e não tem nada a ver com dinheiro, para mim acabou. Eu vou embora.
— Então você está por sua conta, se sair por esta porta, é para sempre. Julia, eu não vou perdoá-la e não vai ter volta. Eu jamais a aceitarei como minha mulher novamente. Eu a renego como esposa!
Ele pegou seu chapéu e saiu, montou em seu cavalo e sem rumo galopou pelo vale, depois foi para a cidade. Estava escurecendo e ele queria encontrar algo para beber e avistou o Saloon, atrelou o cavalo perto do coche de água e entrou, olhando ao redor.
Nunca havia entrado no Saloon depois que reinauguraram, somente sabia que Chloe era a nova dona, estava muito diferente e sofisticado, ele foi para um canto e pediu uma garrafa de uísque. Ficou ali sem dar muita atenção para o que acontecia ao seu redor, somente queria beber.
Já havia bebido muitas doses e olhava para o nada. Estava tarde e a música no piano rolava, as cocotes dançavam enlouquecendo os homens. Havia festa, bebida e risadas, mas Mitchel estava avesso a tudo aquilo, roçava os dedos no copo virando-o lentamente, olhava o líquido amarelo que se movia e que de vez em quando levava à boca para ingeri-lo.
— Olá, toureiro.
Mitchel olhou para o lado e avistou Chloe, sorrindo para ele.
— Chloe! — disse espantado.
— Posso sentar-me?
— Claro! — ele puxou a cadeira para que ela se sentasse.
— Estou o observando há um tempo e você está com uma cara horrível e não para de beber. O que aconteceu?
— Nada, querida, somente alguns problemas.
— Hum... Creio que isso me cheira a briguinhas conjugais.
— Sim.
— Isso passa, vá para casa, amanhã estará tudo bem.
— Não. Eu não quero ir para casa, não quero nada, estou cansado.
— Está bem, se este é seu desejo.
— Fiquei feliz quando soube que você comprou a Saloon de Steve, estou orgulhoso de você, agora está elegante.
— Sim, foi uma grande jornada. Agora não preciso mais me deitar com aqueles homens fedorentos e cheirando a uísque para ganhar umas minguaras. Agora ninguém me maltrata mais, eu mando.
— É eu sei, fico feliz por você. Você merece uma vida melhor Chloe, é uma mulher maravilhosa. E você deixou de ter clientes?
— De vez em quando eu ainda tenho, mas agora eu só aceito quem eu quero e quem me paga uma ótima quantia — disse com um sorriso malicioso e Mitchel deu um sorriso.
— É... Você se superou. Onde conseguiu dinheiro para isso?
— Segredo. Mas se você quiser passar a noite comigo, eu não lhe cobro nada. — Ele a olhou meio de lado.
— E por que você faria isso?
— Porque você ainda é meu toureiro e seria em nome dos velhos tempos. Você nunca fez parte do grupo de homens que sempre desprezei.
— Não sei se posso fazer isso.
— Tudo bem, você não precisa fazer nada, mas se quiser somente uma cama para dormir, eu lhe ofereço a minha e, se quiser conversar ou ter um ombro para se aconchegar, estarei aqui.
— Obrigada, Chloe.
— De nada, querido.
Ela saiu de perto dele, falou algumas palavras para um de seus funcionários e retirou-se para seu quarto. Mitchel ficou jogado na cadeira e bebeu mais algumas doses, já estava zonzo.
— Mitchel, sabe de uma coisa, que vá tudo para o inferno, eu não ligo. Se ela quer me deixar, pois que deixe. Eu sou Mitchel Vaiz, dono de mim e não me rebaixarei a nenhuma mulher — falou para si mesmo.
Levantou-se, pagou sua bebida e pediu onde eram as novas estalagens de Chloe, o atendente lhe mostrou o caminho e ele foi até lá e bateu na porta. Chloe sabendo que era ele abriu, pois ninguém subia aos seus aposentos sem autorização, ou que fosse algum de seus empregados. Ela estava com um belíssimo penhoir vermelho e com os cabelos soltos que lhe caíam pelo ombro.
— Oi minha deusa de mármore — disse encabulado e com um sorriso meio apagado.
— Há muito tempo não ouvia isso, entre.
— Nossa Chloe, você está muito bonita.
— Obrigada. Você quer beber alguma coisa?
— Não, já bebi demais.
— Então o que você deseja, meu toureiro? — disse toda dengosa e jogando charme para ele.
Ela se aproximou e passou a mão em seu peito e foi indo até suas costas, dando a volta por ele. Mitchel não sabia se deveria fazer aquilo, fechou os olhos e tentou pensar por um momento, mas seus pensamentos nem lhe vinham à cabeça. Somente via Chloe.
— Chloe...
Ela foi à sua frente e lentamente abriu seu penhoir. Ela sabia exatamente como provocá-lo, sabia seus pontos fracos.
— Meu querido, eu não vou fazer nada que não queira, mas olhe para mim, eu estou bem aqui, inteira para você, como sempre estive. Eu o conheço mais do que qualquer mulher, eu sei tudo o que você gosta e faço tudo o que você quiser.
Chloe chegou mais perto com seus lábios vermelhos que contrastavam com sua pele alva, seu perfume embriagou Mitchel como se o estivesse chamando. Ela lentamente foi abrindo sua camisa, passando os dedos sobre ele. Mitchel fechou os olhos por uns segundos sentindo suas carícias. Ele sentiu desejo e uma saudade enorme e se deixou embevecer pelos seus lábios e a beijou. Chloe o empurrou na cama e foi para cima dele, beijando seus lábios, descendo para o pescoço e seu peito tirando-lhe a camisa.
Mitchel já estava entregue, dali em diante não haveria volta, e nem queria, a desejava. Ela jogou com todas as armas que tinha, estava morrendo de saudades dele.
Eles conheciam-se por anos, e ele já a tivera centenas de vezes, mas desta vez foi diferente, haviam se entregado um ao outro, sem ser cliente e cocote. O sexo foi intenso, enlouqueceram um nos braços do outro e quando estavam exauridos, caíram ofegantes. Chloe o enlaçou com as pernas nuas, recostando a cabeça em seu peito e enroscando seus dedos nos pelos de seu tórax, não queria que ele saísse dali nunca mais.
Mitchel tomou conhecimento que o dia amanhecera somente quando de longe ouviu barulho da rua, e uma réstia de sol que entrava pela cortina rubra entreaberta, iluminou um pouco o quarto.
— Ai meu Deus! — ele disse passando a mão no rosto e vendo o que havia feito, levantou e vestiu a roupa.
— Mitchel, aonde vai? — Chloe disse sob os lençóis.
— Preciso ir, já amanheceu.
— Alguém vai morrer hoje — disse cantarolando a frase.
— É, e provavelmente serei eu — disse nervoso.
— Não se preocupe. As esposas nunca mandam os maridos para fora de casa quando passam a noite aqui, é normal.
— Eu sei, mas com Julia nada é normal.
— Se arrependeu? Mitchel Vaiz arrependido de uma noite de sexo, que coisa fora do comum.
— Chloe, não me arrependi de ficar com você, foi ótimo e sinceramente foi diferente de tudo que já fizemos.
— Você a ama, não é?
— Amo, quer dizer... Já não sei. Estou com vontade de estrangulá-la. Eu acho que meu casamento acabou.
— Meu querido, casamentos não acabam.
— Alguém deveria explicar isso para minha mulher. Eu tenho que ir.
Ele beijou-a e saiu. Chloe suspirou e agarrou o travesseiro.
— Mitchel Vaiz, você vai voltar para esta cama novamente, logo, logo.
Chloe começou a rir, levantou num salto, encheu uma taça de champanhe e bebeu de uma vez, sentia-se imensamente feliz.
Mitchel voltou para casa, ainda era muito cedo, mas quando chegou Julia não estava, a procurou pela casa e a cama não havia sido desfeita. Ele olhou para a cômoda e estava vazia, foi até a cozinha onde a criada preparava o café.
— Onde está minha mulher?
— Bom dia, senhor. A senhora não dormiu em casa, saiu ontem logo depois do senhor levando uma mala, disse que iria para casa de sua mãe.
Ele foi à varanda, olhou ao redor, seus olhos umedeceram, mas ele rangeu os dentes e recusou deixá-las cair, mas estava triste e confuso.
Ela realmente foi embora, ele nem sabia o que estava sentindo, retirou a arma do coldre e gritando de raiva disparou todas as balas do tambor atingindo o nada, apertou o gatilho mais algumas vezes até se dar conta que não havia mais balas, jogou-se na cadeira da varanda respirando com dificuldade. Tudo havia acabado.
**
Jayne dormia ao lado de Enrique e na alta madrugada seus sonhos estavam agitados. Ela via o rosto de Ian, ora ensanguentado, ora sorrindo, flashes daquele dia fatídico apareciam, ela começou a se debater na cama.
Avistou Ian numa estrada escura e uma pequena luz ficava ao seu redor, ele estava longe e esticava suas mãos como se estivesse tentando alcançá-la. “— Jayne” — gritou. Ela o avistava embaçado e lhe estendia a mão, o tentava alcançar, mas parecia que quando ela ia conseguir alcançá-lo, sua imagem foi desaparecendo. “— Não me deixe, Jayne, ajude-me, eu quero ir para casa” e ele finalmente desapareceu no meio à escuridão.
Ela acordou gritando o nome de Ian, em seus ouvidos, ele chamando-a foi tão claro que ela olhou para os lados para ver se o avistava. Enrique acordou de susto, olhou para ela que estava pálida e sentada na cama, com os olhos arregalados e com o rosto banhado em lágrimas. A via apenas pela luz do lampião que estava acesso na cabeceira da cama.
— Jayne, o que foi?
— Eu vi Ian, ouvi ele me chamar — disse, completamente zonza.
— Jayne, querida, foi somente outro pesadelo, se acalme.
— Não foi. Eu o vi, não foi sonho, ele está vivo.
— Você está impressionada, não diga estas coisas.
— Não, eu sei, eu sinto.
Ela estava tão nervosa que gaguejava.
— Se acalme, Jayne, você vai acordar a casa inteira, respire.
Jayne saiu da cama sentindo que sufocava. Lá fora caía uma chuva tórrida e os trovões ecoavam no céu. Ela estava sentindo-se tão sem ar que pensou que fosse desmaiar, seu coração estava tão descompassado que seu peito doía. Ela começou a andar em círculos com as mãos na cabeça.
— Ian está vivo, Ian está vivo, estou sufocando, preciso de ar.
Ela abriu a porta do quarto e saiu correndo pela casa, sem pensar correu para fora e foi para a chuva, sentindo a água gelada cair sobre ela. Suas pernas estavam moles que não conseguiu ficar em pé e deixou-se cair de joelhos, já estava ensopada pela chuva e seu choro era aos soluços.
— Jayne! — Enrique gritou da varanda, ele saiu na chuva e se ajoelhou na sua frente a segurando pelos ombros. — Jayne, pelo amor de Deus! Acalme-se, você está histérica, foi somente um sonho.
Enrique abraçou Jayne tentando acalmá-la, mas estava sentindo tristeza de ouvi-la falar de Ian daquela maneira, pois a amava do fundo da alma.
— Jayne, meu amor, olhe para mim — disse segurando seu rosto. — Por favor, não faça isso, eu entendo sua dor, eu sei como deve ser difícil, mas eu estou aqui. Eu preciso de você e meu coração arrebenta quando você fica deste jeito. Eu tenho todo o amor do mundo para lhe dar, você precisa seguir em frente, precisa me enxergar. Ian está morto, Jayne.
Jayne aos soluços olhou para Ricky, viu uma imensa dor no seu rosto e o agarrou pela camisa do pijama.
— Ricky, me perdoe, mas eu não sei como arrancar essa dor do meu peito. Eu tento, mas não consigo, me ajude, por favor.
— Calma, eu estou aqui, vou cuidar de você, mas isso tem que parar. — Ficaram abraçados. A água gelada da chuva tentava lavar aquela tristeza que caiu sobre os dois. — Vamos entrar, senão você vai ficar doente.
Enrique levantou e a pegou no colo, entrou na casa a levando para o quarto, retirou sua camisola e pegou uma toalha para secá-la. Gentilmente secou seus cabelos, ele tirou as próprias roupas e secou os cabelos e o corpo.
— Venha, deite aqui. — Ele a ajeitou na cama, deitou-se a aconchegando no seu peito e puxou a coberta para se aquecerem. — Você vai ficar bem, meu anjo, agora durma. Foi só um sonho, amanhã você estará bem.
Ela ficou nos braços de Enrique com os olhos fechados, mas manteve-se acordada, e lágrimas lhe escorriam dos olhos. Enrique viu que ela ainda chorava, mas não disse nada, somente ficou abraçando-a.
Ele havia se enganado quando pensou que ela havia entregado seu coração a ele, ela jamais esqueceria Ian, ou talvez somente precisasse de mais tempo. “Tempo, Enrique, tempo é o que precisamos, são somente saudades de um morto” — ele pensava tentando afastar a tristeza que sentia, mas não se afastaria dela por nada.
No outro dia quando levantaram, foram tomar café. Enrique mesmo tentando disfarçar, estava triste. Ela sabia que o havia magoado e sentiu-se culpada. Seu coração ainda doía, mas foi mais um pesadelo entre tantos outros, aquilo parecia que não acabaria nunca.
Esforçava-se para não pensar em Ian, mas seus sonhos ela não conseguia controlar. Estava apaixonada por Ricky, sentia falta dele quando ele ficava algum dia sem vê-la.
Jayne levantou da mesa, foi até ele e sentou em seu colo, abraçando-o. Acariciou seu rosto e ele fechou os olhos sentindo seu toque suave.
— Desculpe-me por ontem à noite.
— Tudo bem.
— Não, não está tudo bem. Vejo a tristeza que lhe causei aqui nos seus olhos.
— Ela passou os dedos sobre eles e ele respirou profundamente.
— Eu não a culpo, sei que não pode controlar seus sonhos. E eu sabia onde estava pisando quando quis ficar com você.
— Isso não justifica. Perdoe-me, eu não quero magoá-lo.
— Eu sei, Jayne. Não vou negar que fiquei triste com a cena de ontem.
— Enrique acariciou seu rosto e Jayne beijou seus lábios.
— Isso vai parar, eu prometo, eu só preciso de mais tempo.
— Dizem que a paciência é uma virtude.
— E você é virtuoso? — disse sorrindo e ele sorriu de volta.
— Não, mas por você, vou aprender a ser.
— Então me dê um sorriso, adoro ver você sorrindo.
— Preciso de um bom motivo. — Jayne sorriu e lhe deu vários beijos suaves roçando os lábios dele. — Pare com isso — disse baixinho.
— Isso não seria um bom motivo?
— Seria um bom motivo para tirá-la desta sala agora mesmo. — Ele estava com olhos fechados sentindo suas carícias. — Eu te amo tanto.
Jayne queria que aquela mesma frase saísse de seus lábios para poder dizer a ele, mas não conseguiu. Uma solitária lágrima escorreu pelo rosto.
— Eu preciso de você, não quero afastá-lo de mim.
— Eu não vou me afastar.
Ricky passou o polegar secando sua lágrima e ela o beijou, demonstrando que o desejava, retirou seu casaco e o beijou novamente, respirando de forma descompassada.
Ele levantou da cadeira com ela nos braços e a levou para o quarto, ele a colocou na cama e os dois se entregaram a um momento intenso de paixão, com pressa e intensidade. Ela tomou frente e ele a deixou dominá-lo, estava extasiado com tal atitude, enlouquecido pela sensação intensa.
O êxtase os deixou esgotados e abraçados fortemente.
— Se seu pedido de desculpas for assim, você pode me pedir desculpas o tempo que quiser. — Os dois riram sem jeito.
— Eu adoro estar com você.
— Eu também, mas eu preciso ir, tenho compromisso e estou atrasado.
— Desculpe, foi minha culpa.
— Meu amor, não se desculpe por isso, foi o atraso mais maravilhoso que eu já tive — disse sorrindo e beijando-a. — Jayne... Você realmente acredita que Ian está vivo? Ou é só que você não aceita a morte dele?
Jayne espantada o olhou, não esperava aquela pergunta.
— Não sei, Ricky. Acho que ainda não aceitei inteiramente. Sei que é impossível ele estar vivo, todos ficam repetindo isso o tempo todo.
— Você vai, estes seus pesadelos têm que parar.
— Eu sei.
— Não fico magoado por você sonhar com ele, fico arrasado ao ver o estado que você fica quando acorda. Eu sei que você o ama, não posso competir com isso. Só acho que você tem que parar de olhar para trás e olhar para frente. Não tem cabimento eu ter ciúmes de um morto, mas eu tenho. Queria que você me amasse como o amava, queria que você me olhasse como um dia já me olhou, como em Londres.
— Ricky, eu amo você do meu jeito, da maneira que eu posso.
— Eu sei. Espero que este amor que você sente cresça.
— Eu também.
Os dois se abraçaram fortemente.
— Tenho que ir, mas voltarei mais a noite. Fique bem bonita, pois jantaremos fora hoje. Eu quero passear com você, podemos jantar no restaurante do hotel, tomaremos champanhe, tudo que temos direito.
— Ricky, eu não sei se é uma boa ideia.
— Por que não?
— Todos ficam falando de mim, condenam-me por estar com você.
— Jayne, eu dei um duro danado para fazer você tirar aquelas roupas de luto, não vou deixar de andar com você por aí.
— Eu sei, mas todo mundo acha que estou desrespeitando a morte do meu marido estando com você e não andar mais de preto. Aquele dia na festa já foi um falatório dos diabos.
— Meu amor, você vai ter que fingir que não escuta nada. Vai se penalizar por isso também? O que importa somos nós dois, o resto eu não dou a mínima, agora você é que tem que ver se é isso que você quer. Mas a Jayne que eu conheço, a que pulava janelas, mandaria todo mundo para o inferno. O luto acabou; já faz mais de dois anos, está na hora de virar a página e ninguém pode condená-la por isso.
— Mas não é certo você dormir aqui, preciso preservar os meus filhos, só permiti porque eles estão na casa de Emily.
— Eu sei, eu vou me comportar, eu prometo, não vou mais insistir para dormir aqui. Mas vamos jantar hoje à noite, promete?
Jayne pensou um pouco.
— Está bem. Vou esperá-lo e estarei bonita para você — disse sorrindo para ele.
— Ah, agora gostei. Adoro quando você sorri assim. — A olhou por uns instantes, agarrou-a com força fazendo-a gritar, deitando-se sobre ela. — Agora fique aí quietinha, não se mexa que eu preciso ir trabalhar.
Enrique despediu-se sorrindo e foi embora. Jayne ficou ali na cama por alguns minutos agarrada ao travesseiro, levantou-se e foi lavar o rosto, demoradamente ficou com as mãos nele e suspirou profundamente.
— Ian, saia dos meus pensamentos. Eu não quero mais isso, você está morto, porque senão teria voltado para mim.
Lágrimas lhe caíram dos olhos e ela apertou o rosto com força. Respirou novamente jogando a cabeça para trás.
— Ian, se está me ouvindo, deixe-me ser feliz com Ricky.
Capítulo 14
Alguns meses se passaram, parecia que uma nuvem de paz estava pairando por ali. Os corações pareciam estar apaziguados, viam-se sorrisos nos rostos, brincadeiras e encontros felizes.
Willian e Emily estavam em paz. A tempestade que os abalou dissipou-se completamente, com esforço eles tentavam apagar o passado e eles recomeçaram sua história novamente, um não vivia sem o outro e seu amor era mais forte que tudo. Descobriram o perdão.
David e Mary, como sempre, viviam em harmonia. Parecia que nada abalava seus ânimos, nunca discutiam e quando o faziam por algum motivo, acabavam levando na brincadeira. Eles estavam felizes com Samantha que lhes bagunçava a casa e os enchia de alegria e risadas na tentativa de falar, arrancava boas gargalhadas de David, quando ela tentava imitar tudo o que ele dizia. Ele era atencioso com a pequena e a esposa.
Mitchel ficou um tempo deprimido assim como Julia, ambos sofreram pela separação, mas nenhum dos dois voltou a traz. Sr. Cullen ficou enlouquecido quando Julia voltou para casa, ameaçou colocá-la para fora se ela não voltasse para o marido, mas ela negou-se e sua mãe o convenceu a deixá-la ficar.
A desgraça estava feita e teriam que engolir a humilhação e acolher Julia. Os rumores pela cidade sobre a separação absurda era um deleite, mas ela mal saia de casa, evitava as pessoas para não se aborrecer.
Jayne e Enrique passavam momentos maravilhosos juntos, um, queria sempre agradar o outro. O coração de Jayne aquietou-se, seus pesadelos cessaram, seus olhos estavam mais brilhantes, seu sorriso mais radiante.
Ela agarrou-se a Enrique com todas as forças que conseguiu juntar e parecia que estava dando resultado, ambos estavam felizes. Angel no começo ficou arredia, mas acabou aceitando Enrique.
Josh estava lindo, sorridente como sempre, para ele a presença de Enrique era uma diversão, ele adorava crianças e não se importava em de ficar passeando com Josh que sempre o chamava para isso. Às vezes ele colocava sua estrela no peito e o chamava de xerife e o pequeno se divertia.
Os negócios iam bem, a sociedade entre Jayne e os rapazes estavam dando os resultados almejados, tiveram problemas no começo, erraram, mas entraram nos eixos, descobrindo as artimanhas do negócio. A fazenda de Jayne estava linda, ela dominava aquilo como ninguém.
Ela e Mitchel fizeram alguns negócios juntos, o que lhes rendeu dinheiro. Mitchel saía muito em comitivas, assim ficava longe dos murmúrios que o deixavam deveras irritado. De vez em quando visitava Chloe e farreava no Saloon.
Naquela tarde os rapazes estavam na fazenda com Jayne. Estavam no cercado a vendo tentar domar um cavalo puro sangue que era muito xucro, eles estavam sentados no cercado enquanto ela segurava a corda com uma mão e com a outra fazia os movimentos para que ele se acalmasse.
— Ela está ficando boa nisso — Willian disse.
— Está — David concordou.
— Nossa, mas este cavalo é lindo, seu pelo brilha como se o tivessem lustrado.
— Adoro cavalos pretos — Angel disse.
— Ah, não me diga! — Mitchel disse fazendo cócegas nela.
— Tio Mitchel, o senhor é mau.
— Sou? Por quê?
— Prometeu-me um presente quando eu domasse o Tornado e até hoje não ganhei.
— Minha nossa! Eu me esqueci, por que não me lembrou?
— Ah! Eu estava esperando que o senhor se lembrasse.
— Que feio, Mitch, negando um presente para Angel — David disse.
— Não neguei, eu só esqueci. Mas vou lhe dar um, pode deixar minha princesinha — disse sorrindo. — Pense no que você quer e me diga, só não me peça um marido que aí, ficarei zangado.
— Está bem, eu vou pensar. Eu vou dar um passeio, fale para a mamãe.
— Vai sozinha?
— Não, eu vou com o Matt e Anabel.
— Não vão longe, senão sua mãe a esfola.
— Pode deixar, não vou — disse rindo e se afastando.
— Então, Mitchel, como você está? Tem visto a Julia? — David perguntou.
— Julia esteve lá em casa e eu estou bem.
— E?
— E continua na casa do seu pai. Veio buscar o resto de suas coisas.
— Então isso é definitivo? — Willian perguntou espantado.
— Sim, Will. A única coisa que ela ainda possui de mim é o sobrenome.
— Vocês são loucos, isso não existe — David disse indignado.
— Eu também acho. Casais não se separam deste jeito. Acho que você tinha que buscá-la de volta.
— Não vou fazer isso. Willian, você falando...
— Não compare, sua história é bem diferente da minha, vocês não tem motivo para se separarem deste jeito. Terminaram um casamento por causa de nada. Eu que tinha motivos não me separei.
— Pois na cabeça da Julia tem e agora para mim também. Eu não quero mais estar casado com ela e ponto. Se você acha que eu a aceitaria de volta depois do que me fez passar, está enganado.
— Eu não vou falar mais nada, eu desisto — disse Willian.
— Você está frequentando demais o Saloon, Mitchel.
— Estou, e não vejo nenhum problema.
— Hum... E voltou a ficar com a deusa?
— Sim.
— E o velho Mitchel retorna... — Willian disse zombando.
— Não estou fazendo nada de errado, eu sou um homem livre.
— Eu sei. Se você está livre, então está certo.
— Como é a dança que apresentam no Saloon? — David perguntou.
— Ai minha nossa! É uma loucura, aquelas mulheres parecem que vão se quebrar todas, eu fico louco — Mitchel disse. — Chama-se Cancan.
— Eu gostaria de ver — David disse.
— Eu também — Willian falou.
— Ora, é só irem ao Saloon e ver. David, seus cabelos ficariam em pé.
— Mitchel, os cabelos dele já são em pé — Willian disse rindo e passando a mão no topete de David e os três caíram na gargalhada.
— Ei, olhem aquilo — David falou admirado.
Eles voltaram a olhar para Jayne que com a mão esticada e olhando para os olhos do cavalo, lentamente tentava se aproximar dele, ele parou de empinar e tentar tirar a corda do pescoço; levantava e abaixava a cabeça várias vezes até que ela tocou sua cara, o acariciando e se aproximando dele. Ela falava com ele carinhosamente e baixinho e ele deixou que ela o acariciasse, estava calmo.
Até que ela tirou a corda que estava em seu pescoço e ele ficou quieto recebendo seus carinhos. Ainda bufava, mas não empinava nem se afastava dela.
— É... Ela conseguiu — David disse.
— Eu adoro esta mulher — Willian disse rindo.
— Estão falando mal dela na cidade — David disse. — Por ela estar com Enrique.
— Ah este povo me mata, que tem que ver com a vida dela?
— Dizem que ela ainda devia estar de luto, ela nem usa mais as roupas pretas e ainda anda de braços dados com ele — David disse indignado.
— David, luto é para o resto da vida. Talvez seja cedo para ela ter se envolvido, mas acho que foi a melhor coisa que ela fez.
— Eu também acho, pelo menos ela não fica pelos cantos chorando pelo Ian como fazia antes. Aquilo me dava uma tristeza de amargar.
— A mim também. Eu sinto muita falta dele — disse Willian.
— Eu também — concordou David.
— Eu também, mas temos que seguir em frente e a Jayne precisa esquecê-lo, não se pode ficar agarrada a um defunto, traz mal agouro e se alguém maltratá-la eu dou umas bifas. Nós temos que protegê-la — Mitchel disse.
— Pode deixar Mitchel, que o xerife se encarrega disso, ele é capaz de prender um que se atreva a insultá-la. — Riram.
— É verdade. Ele é durão, mas está derretido por ela.
— Eu gostei aquele dia no Saloon que ele pegou aquele homem pelo pescoço, chegou a tirá-lo do chão.
— Eu também, principalmente quando ele o jogou pela portinhola afora.
— Ainda bem que somos amigos dele. — Riram.
— Teremos que ser, já que Jayne está com ele, temos que aceitá-lo. Ele é um bom homem, vai cuidar dela e das crianças.
— Espero que sim. Mas Ian não ia gostar de ver isso.
— David, que besteira está falando? Ian está morto, não está vendo nada.
— Eu sei, só quis dizer que ele morria de ciúmes de Enrique.
— Morto não tem ciúmes, que Deus o tenha. Vamos, David, temos trabalho nos esperando — Willian disse batendo o chapéu em seu braço.
**
Jake debatia-se na cama e o suor escorria pelas têmporas. Ele sonhava que estava em um nevoeiro e de repente avistou uma mulher que estava de costas para ele, tentava chamá-la, mas sua voz saia apagada de sua boca. Ele via seus longos cabelos ondulados e sua silhueta esguia, ela virou-se para ele, mas não conseguia ver seu rosto.
De repente ele viu duas crianças que corriam alegres ao lado dela, olharam para ele acenando um adeus e continuaram correndo, podia ouvir suas risadas. Ele tentou chamá-la, mas o nevoeiro foi cobrindo-os, ele tentava chegar até eles, mas o caminho que ele percorria em vez de diminuir, parecia aumentar. Quanto mais ele corria, mais eles se afastavam.
Ela estendeu o braço para alcançar a mão que ele oferecia, o semblante dela ficou negro, ela tentava alcançá-lo, mas ele não conseguiu pegar sua mão e ela e as crianças desapareceram no nevoeiro.
Ele caiu de joelhos no chão e gritou e este grito saiu de sua boca fora do sonho ecoando terrivelmente pela casa escura, ele levantou da cama e começou a andar de um lado a outro.
Megan que dormia ao seu lado acordou num salto, com aquele imenso susto, poucas vezes ela conseguia dormir tranquila ao seu lado, ele tinha pesadelos constantes e debatia-se fortemente à noite.
— Jake, você está bem? O que aconteceu?
— Eu sonhei com aquela mulher novamente, mas não consigo ver seu rosto — dizia totalmente nervoso e passando as mãos pelos cabelos. Ele levantou e começou a andar pelo quarto. — Jayne! — disse parando bruscamente.
— O quê?
— Jayne, seu nome é Jayne.
— A mulher dos seus sonhos?
— Sim, eu sei, é este nome que me vem à cabeça, acho que é este o nome dela. Por que não consigo me lembrar do meu nome? Mas que inferno! Eu nunca consigo ver o rosto dela, será que é alguém da minha família, será que é minha mulher? Eu já a ouvi me chamar por um nome, mas eu não consigo me lembrar de como é, mas o dela eu me lembrei, é Jayne.
Ele estava descompassado, falava rápido e não parava de andar de um lado para o outro, sua cabeça parecia que ia explodir.
— Jake, por favor, se acalme, senão você vai ter um ataque, sente aqui e beba uma água.
— Eu não consigo me acalmar, eu sinto que meu peito vai arrebentar, e eu vi duas crianças, quem são? Eu preciso lembrar-me do que ela me chamou, eu preciso lembrar.
— Querido, por favor, sua cabeça está confusa, pode ser só um sonho e não memórias, com o tempo, você vai conseguir, agora deite aqui e tente dormir, pelo amor de Deus se acalme, vou buscar mais uma água fresca para você.
Ele deitou, mas não conseguia tirar aquelas imagens de sua cabeça. Tentava fortemente lembrar-se do nome que ela lhe chamara, mas não conseguia. Megan ficou muito nervosa, começou a andar de um lado a outro na cozinha, sentia um terror dentro dela e uma angústia descomunal.
— Ele não pode se lembrar, se ele lembrar quem é irá embora, e o que vai ser de mim?
Ela foi até o outro quarto, chegando à cômoda abriu a última gaveta de baixo e puxou as roupas, pegando uma caixa de madeira. Abriu e pegou a aliança dele que ela havia escondido com os documentos com um timbre do Hospital Sant Domenican. Ela apertou-os contra o peito.
— Ele não irá se lembrar, ele vai ficar aqui comigo. Esta Jayne deve ser a esposa dele, será que estas crianças são filhos dele? Ai meu Deus, isso não pode acontecer.
Ela guardou a aliança e os papéis novamente e fechou a gaveta, voltou para a cozinha, pegou a água e foi para o quarto, deitando-se ao lado dele e abraçando-o.
— Sinto muito, Megan.
— Jake, eu te amo, pare com isso, por favor, esta mulher é só dos seus sonhos, ela não existe, você me magoa quando fala estas coisas dela.
— Megan, eu não consigo evitar, algo está acontecendo, acho que minha memória está começando a voltar, as imagens estão ficando mais fortes, o médico disse que isso poderia acontecer.
— Jake, por favor, diga que me ama; que não vai me deixar.
— Querida, eu lhe disse, não posso prometer isso, eu preciso descobrir quem sou e quem são estas pessoas que aparecem nos meus sonhos. Eu tenho um passado, preciso descobrir, isto está me deixando louco. Eu sei que eu lidava com cavalos, eu me lembrei da minha casa, um imenso Haras, mas não sei onde fica; eu preciso descobrir onde é esta fazenda.
— Se você me deixar vou morrer de tristeza, você não pode fazer isso comigo. Agora nós vivemos juntos, eu me entreguei a você, você não pode me deixar, não somos casados na igreja, mas você vive como meu marido.
— Megan, eu não quero magoá-la, sou imensamente grato pelo que você fez por mim, e eu gosto muito de você. Mas se eu encontrar minha casa você pode vir comigo, não vou abandonar você, mas agora eu não quero falar disso, está bem? Vamos dormir, estou exausto.
Ela o abraçou e sentiu um ódio misturado com medo dentro de si, nunca aceitaria perder Jake. Ele passou o resto da noite acordado olhando para o teto, sua cabeça doía fortemente, mas não conseguiu mais aquietar seu coração. Quem seria aquela mulher?
**
Megan estava mexendo nos arquivos furtivamente e pegando alguns papéis quando Hellen entrou a surpreendendo.
— Megan, o que está fazendo?
— Shh, fique quieta, quase me mata de susto.
— Você está roubando os documentos sobre ele? Está louca? Se a pegam, vai ser demitida.
— Ninguém vai me pegar, e você não vai abrir a boca, afinal é minha amiga ou não?
— Sou, mas não acho certo o que você está fazendo, ele tem família, alguém deve estar o procurando, ele tem o direito de saber que é casado. A esposa dele deve estar achando que ele está morto, e se ele tiver filhos?
— Isto não me interessa, ele nunca vai ficar sabendo disso.
— Meu Deus! Eu estou preocupada com você, está louca.
— Não estou louca, estou apaixonada. Eu vou cuidar dele, vou levá-lo para minha casa e com o tempo ele irá se apaixonar por mim.
— Levá-lo para sua casa? Perdeu o juízo? Você nem o conhece, é um estranho e é uma indecência, Megan. Você é uma mulher solteira, quer cair na lama de vez?
— Ah que se dane! Acha que minha fama vai impedir que ele se apaixone pela adorável enfermeira que vai cuidar dele, o ajudar?
— Mas o médico sabe que ele á casado, pode falar. Não falou ainda?
— Não. O Dr. Hemet vai embora amanhã para Nova York e o médico novo que irá atendê-lo não sabe que ele é casado, portanto nem ficará sabendo se não vir estes documentos. Eu até fiquei preocupada com isso, mas o doutor não falou disso com ele e como não está falando quase nada, nem perguntou. Agora poderia fazê-lo, mas não dará tempo.
— Minha nossa senhora, e ninguém veio procurá-lo, que triste.
— Na verdade vieram.
— O quê? Como assim, quando?
— Semana passada um homem esteve aqui procurando por ele, chamava-se David alguma coisa.
— E por que ele não foi identificado?
— Porque fui eu que o atendi, era tarde da noite, quase não havia ninguém aqui, quando vi que ele estava falando dele, eu disse que ninguém com esta descrição nem com este nome deu entrada aqui neste hospital, então ele acreditou e foi embora.
— Então você sabe o nome dele?
— Sei, ele se chama Ian Buller.
— Jesus! Você enlouqueceu de vez. Eu não posso aceitar isso, Megan, compactuar com esta infelicidade dele.
— Hellen, ele não se lembra de nada, não pode estar sofrendo se ele não se lembra de ninguém e quem ele é. Terá novas memórias, vai recomeçar a vida e a referência de mulher que ele terá é a minha. Portanto, não se preocupe, vou cuidar de tudo, ele está melhorando dos ferimentos e logo ele sairá do hospital, eu vou levá-lo para minha casa e isso tudo acaba.
— Ai que confusão. Mas como pode você ter se apaixonado por ele?
— Eu já o conhecia.
— De onde?
— Na Nova Califórnia, eu o conheci lá, a última vez que o vi foi no baile, mas ele estava com aquela estúpida da mulher dele. Ele é muito rico, você precisava ver as joias que ela usava e aquele vestido, meu Deus! Foi muita sorte eu ter vindo embora um dia depois, e quando o vi, foi a oportunidade que tive de tê-lo para mim, a esposa dele nunca mais irá vê-lo.
— Mas se ele já conhecia você, não a reconheceu?
— Não. Foi aí que eu vi que ele não se lembrava de nada mesmo. Não lembrou nem de mim e nem do resto.
— Megan, por Deus! Como pode fazer algo assim?
— Você vai jurar que não falará disso com ninguém.
— Se souberem que eu estou compactuando com uma coisa destas vou perder meu emprego. Isso não pode acontecer, sou uma mulher viúva e com filhos para sustentar.
— Helen, ninguém vai descobrir, jure que nunca falará para ninguém.
— Eu não sei...
— Jure Helen, você é minha amiga ou não é?
— Está bem, eu juro... Ai Deus me ajude. Mas e se ele se lembrar, se a memória dele voltar?
— Este é um risco que eu vou ter que correr. Muito bem, agora vamos sair daqui antes que mais alguém entre.
**
Megan estava tomando café e lembrando-se do dia que retirou a aliança do dedo de Ian a colocando no bolso, ele estava desacordado na cama do hospital e do dia que roubara os registros sobre ele.
Agora Megan estava ficando apreensiva, pois ele já havia se lembrado de algumas coisas e os pesadelos com sua família estavam aumentando. Jake sentou-se para tomar café, estava com o semblante horrível, pois não havia dormido nada.
— Tome seu café, meu bem. — Ele pegou a xícara e começou a beber. — Hoje é minha folga. Poderíamos fazer um passeio juntos, o que acha?
— Eu tenho que trabalhar.
— Ah meu amor, por favor, aqueles cavalinhos podem esperar, eu quero ficar com você.
— Eu não posso. Se eu não for à fazenda do senhor Methinson, ele é capaz de arrumar outro empregado, precisamos do dinheiro.
— Eu sei, mas, por favor, faça isso por mim.
— Quando eu voltar nós faremos algo juntos, está bem?
— Não gostei. Você prefere ficar com os cavalos que comigo.
— Megan, não é isso. Eu preciso do trabalho e ficar com os cavalos me faz bem. — Ele suspirou indignado. — Eu não entendo. Como posso me lembrar de coisas que sei fazer e não lembrar nem meu nome? Não me lembrar de coisas importantes?
— O quê, por exemplo?
— Como assim o quê? Pessoas, meus pais, irmãos? Eu me lembro de um bebê, eu o estava segurando nos braços, eu acho que era meu filho.
— Jake, por favor! — Megan colocou as mãos no rosto.
— Megan, às vezes eu tenho a nítida impressão de que você não quer que eu me lembre do meu passado. Você está sendo egoísta.
— Jake, não estou sendo egoísta, é claro que eu quero que você se lembre, meu amor, mas eu não gosto que você fique falando disso o tempo todo.
— Se eu não puder falar com você, vou falar com quem?
— Jake, tudo bem, pode conversar comigo, afinal sou sua mulher.
— Eu sei que existem coisas que a aborrecem, principalmente quando surge a hipótese de eu ter uma família, talvez filhos.
— É, isso me mata.
— Megan, eu estou com você, isso é importante para mim também, mas eu não vou desistir de encontrar a verdade, seja ela qual for. Já faz mais de dois anos que eu fui encontrado, estava baleado e eu nem sei por quê. Fico me lembrando de que estava na água, sei que tinha alguém comigo, mas não consigo me lembrar quem é. É muito tempo, Megan, e eu ainda não me lembrei de quase nada, mas parece que agora eu sinto que algo está acontecendo. Parece que meu coração está me dizendo alguma coisa.
— Está bem, Jake, está bem. Eu o entendo, sei que é duro para você ficar assim perdido, meu amor, me desculpe. Vá cuidar dos seus cavalos e eu o espero mais tarde e vamos ficar juntos — disse sorrindo e acariciando seu rosto, mas por dentro estava gritando.
Jake levantou-se, deu um beijo nela e saiu. Megan bebeu mais um gole de café, seus olhos fritavam o nada.
— Mas que inferno! Não há um dia que ele não fale nisso ultimamente, suas memórias estão voltando. Ai meu Deus! Ele não pode se lembrar daquela mulher, não pode! Ele parecia ser tão rico, e estamos aqui nesta miséria. Aquela mulher deve estar usufruindo de todo o dinheiro dele e eu aqui. Ai que ódio que eu tenho dela. — Deu uma pausa e bebeu mais um gole de café. — Ian Buller — disse dando uma risada irônica. — Se você soubesse... Eu me lembro bem como você ficava a olhando naquele maldito baile, você nunca me olhou daquele jeito. Pelo menos eu tenho você e ela deve ter chorado sua morte. Ah coitadinha! Mas eu queria ter um colar daqueles que ela estava usando, devia valer uma fortuna. — Ela levantou da mesa e foi retirando as xícaras. — Bem que ela podia ter morrido, mas aquele amigo dele disse que ela estava em Fox. Ainda bem que os vaqueiros que o acharam o trouxeram para cá. Sou uma mulher de muita sorte, apesar de ela ter ficado com o dinheiro.
Riu ironicamente.
Capítulo 15
David e Mary estavam conversando no cercado do chuveiro. Ele tomava banho e ela estava do lado de fora, já estava escurecendo.
— David, da próxima vez que você vier tomar banho e não trouxer toalha eu não vou lhe entregar.
— Ah não? Que bonitinha, seria muito mau de sua parte.
— Seria engraçado, mas, pelo menos, você aprenderia a carregar sua toalha para o banho. Que mania, nunca vai mudar?
— Às vezes eu acho que você merece umas palmadas.
— Jura? Comparando entre eu, você e Samantha, você é que merece mais palmada do que nós duas juntas. — David soltou uma gargalhada.
— Poxa bonequinha, agora você me esculhambou — disse com cara de revoltado e jogando água nela.
— Você provoca. Não me molhe — disse maliciosa.
— Lembra-se daquela vez antes de casarmos que eu a puxei para dentro do cercado e Willian chegou? — Mary riu.
— Lembro. Você me soltou e eu caí no chão.
— Então, eu me lembro que se Willian não tivesse chegado, nós teríamos feito amor ali debaixo do chuveiro.
— Mas eu não faria nada antes de me casar. Sou uma mulher direita.
— Ah, então quer dizer que você não teria sido minha?
— Não.
— E quando é que você ia me mandar parar?
— Eu ia mandar parar exatamente no momento em que Willian chegou. — David soltou uma gargalhada estrondosa.
— Mas que mentirosa.
— É sim, ou você acha que eu ia me entregar a você ali daquele jeito? Você me desrespeitou.
— Ia.
— Não ia, não.
— Ia sim. Você não ia resistir.
— Mas você é convencido.
Ele abriu a porta e a pegou pelo braço puxando-a para debaixo do chuveiro. Ela gritou, mas não teve tempo de reagir, quando viu já estava toda molhada colada ao corpo dele.
— David...
Ele a beijou antes que ela continuasse, com a água caindo sobre eles, com um beijo que fez o corpo de Mary amolecer, ele se abaixou um pouco, puxou sua perna para cima e escorregou a mão pela sua perna até sua coxa por debaixo da sua saia, exatamente como havia feito daquela vez, ele a beijava e seu gemido ficou sufocado.
— Diga-me quando é que você me mandaria parar.
Ela nem conseguiu responder, ele a beijou novamente para abafar suas palavras.
— Diga, quando é que eu deveria ter parado, que eu paro agora.
— Não me lembro...
Ela gritou quando a penetrou e os dois fizeram sexo debaixo da água, depois ficaram sentados no chão de tábuas, a água já havia parado de cair e David acariciava os cabelos molhados de Mary.
— Eu quero ter outro filho, Mary. Samantha é tão linda, mas eu queria ter um menino, para levar meu nome adiante — ele disse com um sorriso.
— Concordo, eu também gostaria de ter um menino.
— E acha que com o que acabamos de fazer, podemos tê-lo?
— Hum, esta sua maluquice não vai me engravidar.
— Por que não?
— Porque eu já estou grávida.
David espantado a olhou. Soltou um grito de alegria e ria ao mesmo tempo de tanta felicidade, depois a beijou diversas vezes.
— Por que você não me disse? Eu podia ter machucado você e o bebê.
— Eu estou bem, mas eu agradeceria se nós saíssemos daqui. Gostei do que fizemos, mas tenho medo que alguém nos veja. É indecente.
— Ai, me desculpe! Mas não é indecente fazer amor com seu marido. Prometo, que daqui por diante só usaremos a cama.
— Seria bom... E nada de água fria — disse rindo.
— Mary eu estou tão feliz, eu te amo...
Ele a beijou e enrolou-se na toalha sem parar de sorrir e a pegou no colo para irem para casa.
— Não precisa carregar-me, David.
— Precisa, você pode tropeçar e cair. — Ela riu com gosto.
— Não seja tolo, eu estou grávida e não cega.
— Ah, verdade — disse rindo. — Mas não tem problema, levo-a do mesmo jeito e nada de fazer esforços demasiados, você tem que cuidar bem do nosso filho.
— Pode deixar, David, eu sei como fazer, já tive um filho antes, mas parece que você não.
— Ah desculpe, é que estou tão feliz que fiquei tolo.
— Você é sempre tolo.
— Pronto! Esculhambou-me de novo. — Ela riu dele.
— Mas é o tolo mais lindo do mundo.
— Agora eu gostei disso.
**
Os meses foram passando e Jayne compartilhava belos momentos ao lado de Enrique. Sempre se lembrava de Ian e ainda sonhava com ele, mas aprendeu a se controlar, seus pesadelos viraram sonhos, uma lembrança linda que guardaria em seu coração para sempre.
A saudade ainda a castigava, isto ela achava que nunca arrancaria de dentro de si, encravou-se nela. A sua dor ainda existia, e existiria sempre, mas agora era silenciosa. Não demonstrou mais nada a Enrique, prometeu que não iria mais magoá-lo com aquilo e assim o fez.
Enrique acordou, esfregou os olhos e olhou para Jayne que estava de costas para ele, ele sorriu e aproximou-se. Carinhosamente passou sua mão nas suas costas nuas e a beijou, impossível resistir de não tocá-la, depois passou seu braço por cima dela e aconchegou-se.
Ela acordou e sem abrir os olhos sorriu e abraçou seu braço puxando-o para que ele ficasse mais perto e carinhosamente ele lhe beijou o ombro.
— Já amanheceu e eu preciso ir — ela disse sonolenta. — Eu quero chegar em casa antes que as crianças acordem.
— Não gosto disso, ou sou eu ou é você que tem que sair furtivamente.
— É porque estamos fazendo coisa errada, senhor.
— Estarmos juntos não é errado, Jayne. Somos livres.
— Mas não somos casados, então eu estar na sua cama é errado e temos que nos esconder e eu tenho que ir.
— Não somos bandidos para nos esconder. Eu quero que fique sempre, tenho que dar um jeito nisso.
— Vai fazer o quê, me prender, xerife? — ele riu.
— Sabe que você me deu uma boa ideia? — Ela riu. — Eu tenho que viajar daqui a alguns dias.
— Para onde?
— Vou a Portland, vou resolver algumas coisas por lá.
— Você vai demorar?
— Não. Você quer vir comigo? Levamos as crianças e ficamos um dia por lá para passear, mudar de ares um pouco.
— Hum... Eu gostei da ideia, eu quero ir com você.
— Ótimo, ganhei meu dia! — fez uma pausa e a olhou com uma cara maliciosa e cheia de más intenções. — Pensando bem... Ainda não ganhei. — E os dois beijaram-se demoradamente.
**
— Pai, eu estou pensando em ir para Londres.
— O quê? Fazer o quê?
— Fazer algo que eu goste, mudar de ares.
— Julia... — disse fechando os olhos tentando controlar os seus nervos. — Você acabou com seu casamento, voltou para casa e agora quer ir para a Europa? Acho que você perdeu o juízo — disse bravo alterando a voz.
— Pai, eu não perdi o juízo, quero dar um rumo na minha vida, eu quero ser feliz. Por favor, não vamos recomeçar isso de novo.
— Julia, eu nunca vou me conformar com isso. Por que diabo se casou com o Sr. Vaiz? Casamento é para vida toda, menina.
— Eu me casei porque o amava.
— E por que parou de amar? E isso não importa, ele é seu marido e deve ficar na casa dele. Você jogou nosso nome na lama.
— Pai, a lama seca quando vem o sol e ninguém se lambuza mais com ela.
— Mas meu Deus! O que foi que eu fiz com minhas filhas? Não sei qual de vocês três é mais destrambelhada. Emily ficou quase um ano às turras com Willian. Você largou seu marido, ter uma filha separada é o fim do mundo. E ainda tem Jayne que com todas as confusões que já se meteu, agora anda pendurada no Enrique de novo. Vocês um dia destes vão me matar do coração, e olha que ele anda fraco.
— Pai, primeiro que se não tem amor, não tem casamento. Esta é minha opinião, não vou ficar casada por convenção e muito menos para essa gente desocupada ficar de boca fechada. Agora a Emily está bem com o Willian, graças a Deus. A Jayne depois de todo o inferno que passou está bem, deixe-a lá com Enrique, ele faz bem a ela. O senhor os separou uma vez, vai querer fazer de novo?
— Eu sei, conheço a Jayne, sei que ele está fazendo bem para ela. Eu também detestava vê-la naquele estado, esta menina parece que nunca tem sorte com maridos, meu Deus!
— Então, do que está reclamando?
— Nem sei mais do que eu estou reclamando, vocês me deixam tonto e não fale comigo deste jeito. Respeite-me, menina!
— Eu vou pedir a Enrique os papéis para me separar de vez de Mitchel. Sei lá como funciona, mas eu quero ficar livre e quero ir para Londres.
— Ai por todos os santos.
— Pai, por favor, tente me entender. Não quero mais ficar aqui, pelo menos por um tempo.
Ele respirou fundo e olhou para a mãe de Julia que estava sentada no sofá, somente ouvia enquanto bordava um retalho de linho no bandor.
— O que acha disso, mulher? — ele perguntou e ela suspirou.
— Não posso amarrá-la ao Sr. Vaiz, não é? — disse sem levantar a cabeça.
— Ai meu Deus! Mas era o que eu deveria fazer.
— Pai, nós já discutimos isso milhões de vezes, eu não vou voltar para ele, então se conforme.
— Eu tenho que me conformar com os absurdos que vocês aprontam?
— Querido, quem sabe deixamos que ela vá para Londres? Assim, logo todos esquecem isso tudo. Acho que seria a melhor solução para este escândalo.
— Por que não são recatadas e tranquilas como sua mãe? Ela me respeita e vocês deveriam fazer o mesmo. Viu a educação que deu a elas, Eleonor? Estas meninas deveriam estar sentadas aí com você, bordando, tocando piano e criando uma penca de filhos, como é sua obrigação, mas não... Ficam para cima e para baixo dando tiros, separando-se de maridos e desrespeitando o pai e o que é pior, jogando nosso nome na lama.
— Sim e teriam se casado, obrigadas, como meu pai fez comigo e como você fez com a Jayne.
— O que é isso, você vai se rebelar também?
— Não estou me rebelando, eu aprendi a amá-lo, mas nossas filhas são diferentes. Elas têm brasa no sangue, e eu prefiro ajudá-las a encontrarem seus caminhos. Uma coisa que nunca vou permitir é que uma delas se afaste desta casa por motivo de briga. Isso nunca. Porque quando isso acontecer, eu me rebelarei.
— Está passando a mão nas cabeças delas.
— Não estou, mas quero que estejam felizes e Julia não estava com o Sr. Vaiz. E pelo que eu vi, ele também não, pois sendo o marido teria o direito de tê-la impedido de voltar para nossa casa. O que queria? Que ele a prendesse em casa, forçando-a ser sua mulher? Eu não gosto que falem da nossa família, mas eles estão de comum acordo nisso. Então, meu marido, pense com calma para encontrar as soluções, pois elas sempre existem.
Sr. Cullen respirou, andou pensativo um pouco pela sala, nem sabia o que pensar muito menos o que responder.
— Vou pensar. Mas isso vai custar uma fortuna.
— Pai, isso é importante, por favor — disse agarrando-o pelo pescoço e dando vários beijos em seu rosto. — E não vai lhe custar nada, eu reivindico a herança da vovó. Eu quero minha parte, assim pagarei minha estadia em Londres. Nós devíamos ter recebido nossa parte quando nos casamos, mas o senhor se negou. Nós aceitamos suas condições, mas foi muito errado pensar que Mitchel e Willian nos roubariam como Edward roubou Jayne.
— Eles eram uns pobretões. Eu permiti que se casassem, mas eu estava preservando o futuro de vocês.
— Pai!
— Eu fiz o que achei certo, foi para o bem de vocês.
— Nosso bem? Privou-nos de nosso dinheiro, de termos uma vida melhor no rancho que era nossa casa. O senhor confiscou de nós o que não era seu para tomar.
— Está dizendo que roubei minhas filhas?
— O senhor não toma jeito!
— Não fale comigo assim. Se eu não tivesse feito isso, Mitchel teria ficado com seu dinheiro, agora que você o largou.
— Meu Deus! Eu quero minha parte na herança e o senhor vai dar a parte de Emily, é direito dela e de Willian.
— Emily não vai receber a parte dela.
— Pai! Por que não?
— Emily abriu mão do dinheiro.
— Papai, não faça isso, pense no seu neto. Vovó deixou o dinheiro para nós quando nos casássemos e o senhor não tem o direito de tirá-lo de nós.
— E se Emily resolve fazer o mesmo que você? Willian ficará com todo o dinheiro, porque é seu direito.
— Não se preocupe, papai, aqueles dois nunca irão se separar.
— Quem me garante?
— Ah eu garanto. Se eles não se separaram até agora, depois do que passaram, nunca o farão. Eles se amam de verdade. Podem fazer suas tolices, mas nunca se separarão.
— Está bem, está bem! — disse zangado.
— Ótimo! Assim está bem melhor, papai.
**
Alguns dias depois o Sr. Cullen foi à fazenda e entregou à Emily a soma em dinheiro de seu dote, o que deixou Emily estupefata.
Quando Willian chegou em casa, ela estava sentada na cadeira e escorada na mesa olhando para os diversos maços de dinheiro e vários sacos de moedas. Ele parou e ficou olhando aquilo sem entender nada e com os olhos muito arregalados.
— Meu Deus, Emily, de onde saiu todo este dinheiro? — disse espantado.
— É meu dote — ela sussurrou.
— Seu o quê?
— Meu pai veio trazê-lo.
— Emily, eu não entendo, dote de casamento? O nosso casamento?
— Sim.
— Quer me explicar? Você disse que sua família não pagava dotes e, por que nos trouxe depois de tantos anos?
— Minha avó deixou em testamento um dote para cada neta, Jayne recebeu quando se casou com Edward, foi pelo dinheiro que ele se casou com ela e a roubou. Além do dinheiro ela ficou com a fazenda da vovó e muitos cavalos, porque ela era a mais velha, o resto ficou para meu pai. Ele me tirou o dote porque não queria me deixar casar com você. Então eu fiz a troca, abri mão para poder me casar.
— Emily!
— Desculpe, mas eu somente queria você.
— Por que não me contou isso?
— Eu não sei, desculpe. Meu pai teve medo que você quisesse dinheiro, então eu achei que fazendo isso tudo ficaria bem.
— Você fez isso por mim?
— Eu amo você, me casar com você era a única coisa que eu queria. Por favor, não se zangue comigo.
— Zangar-me? Eu estou tendo uma prova, Emily... De amor.
Emily correu e abraçou Willian fortemente, ele correspondeu e a beijou.
— Eu te amo, Will.
— Eu também, querida. Nunca me casei com você por causa disso, eu me casei porque me apaixonei por este seu jeito espevitado.
— Mas o dinheiro é bem-vindo agora, não é?
— Claro que é. Nós podemos arrumar nossa casa, o que acha?
— Sim, e podemos fazer algum passeio e comprar um vestido novo? Por favor!
— Claro, terá seu vestido e vamos ver um lugar bonito e iremos passear com nosso filho por alguns dias.
— Promete?
— Sim, prometo.
— Obrigada! — disse o abraçando novamente.
— Meu Deus! Não sabia que você valia tanto — ele disse rindo.
— Cada cents — respondeu maliciosamente.
— Isso, vai ter que me provar.
Ela sorriu e o puxou pela gola da camisa e o beijou.
Capítulo 16
Enrique seguiu para Portland com Jayne, as crianças e Kate, que estavam eufóricas e divertindo-se com a viagem.
Chegando ao centro da cidade, foram ao Grand Hotel e se acomodaram nos quartos, depois foram ao restaurante e pediram o almoço, almoçaram animados e Enrique despediu-se delas para atender seus negócios.
— Nos vemos no fim da tarde, se comportem — disse beijando as crianças. Hoje à noite eu tenho uma surpresa para você, vamos jantar só nós dois — disse sorrindo lindamente para Jayne como somente ele conseguia fazer.
— Hum... Eu adoro surpresas.
Ele lhe deu mais um beijo e saiu. Jayne ficou com Kate e as crianças, esperavam que Josh terminasse seu prato, ele era lento para comer, pois ficava escolhendo cada parte da comida que seria sua próxima vítima. Mas Jayne se divertia com isso, apesar de ele demorar séculos para ingerir uma refeição se alimentava bem.
Depois que almoçaram, foram para o quarto descansar um pouco e depois foram às compras.
Elas estavam andando alegremente pela rua com alguns pacotes e caixas nas mãos, já quase em frente ao hotel onde estavam hospedadas.
Jayne, conversava sorridente com Kate, quando olhou para o outro lado da rua. Então, sentiu como se tivesse levado um soco no estômago, um frio lhe desceu pela espinha e seu semblante mudou radicalmente.
Seus olhos estavam lhe pregando uma peça. Seria impossível ver o que estava vendo? Um homem tão parecido, que praticamente poderia afirmar que era ele. Seu cérebro entrou em catarse, pois avistou Ian.
Seu coração disparou e ela perdeu a respiração, ele andava em direção contrária a dela no outro lado da rua. Ela paralisou, parou de respirar por alguns minutos e sentiu o chão sair debaixo de seus pés, ficou vendo ele se afastar e num rompante olhou para Kate e jogou os pacotes que tinha nas mãos encima dela assustando-a.
— Kate, volte para o hotel com as crianças, vai!
— Mas senhora...
— Vai, Kate, eu já volto — disse transtornada.
— Mamãe... — Angel gritou.
Jayne nem sequer ouviu Angel lhe chamar, foi andando pela rua movimentada e tentando ainda avistá-lo do outro lado, ele já estava distante e para conseguir alcançá-lo ela acelerou o passo.
— Ian! — gritou do outro lado da rua, mas ele não ouviu.
Jayne atravessou a rua e ia desviando das pessoas para tentar chegar até ele, quando estava chegando perto, ele parou na calçada. Jayne parou numa brecada como se a calçada tivesse a tragado. Ele olhava em outra direção sorrindo e ela olhou para ver o que era. Aquilo tudo lhe passava em câmera lenta por seus olhos, e seu coração parecia que ia pular pela sua boca.
— Jake... — uma mulher chamava.
Jayne olhou para a mulher que acenava e sorria para ele enquanto atravessava a rua, ele sorriu e a esperou, quando ela chegou à frente dele se beijaram nos lábios. Jayne sentiu seu coração parar de bater. “Jake?” — perguntou-se.
Seus olhos correram para sua mão esquerda que estava no braço da moça e não avistou a aliança. Ian jamais a teria tirado. Ele estava beijando aquela mulher? Estava sorridente?
Que roupas eram aquelas que vestia? Aqueles cabelos tão curtos, Ian jamais cortaria seus cabelos. Ele mesmo dissera isso a ela um dia. A mente de Jayne perdeu-se numa confusão sem tamanho. Já nem sabia o que estava vendo. A mulher enganchou no braço dele e começaram a andar. Jayne respirava com dificuldade, ela vendo-os mover-se, gritou.
— Ian!
Mas eles não viraram e ela gritou novamente mais alto já com lágrimas nos olhos, mas parada na calçada.
Megan ouviu aquele grito ecoar pela rua e gelou por dentro, se virou e a avistou. Ian não atinou seu nome que lhe entrou nos ouvidos, mas virou-se porque Megan virou. Os olhos de Ian por um instante encontraram os de Jayne. Ela olhava para ele como se estivesse implorando que dissesse alguma coisa.
Ele a olhou com o olhar vazio, não mexeu um músculo do rosto. Jayne ficou esperando que ele dissesse algo, fizesse algo, mas o que ele fez foi virar-se novamente como se nada fosse com ele.
Megan o puxou pelo braço, e os dois começaram a andar dando as costas para ela. Jayne pensou que morreria. Os dois seguiram pela rua a ignorando e Jayne deixou que as lágrimas corressem dos olhos. Não conseguia sair do lugar. Ele não falou com ela, afinal não a conheceu? Olhou para ela como se fosse uma estranha, como se fosse ninguém.
Jayne nem sentia suas pernas, estava vendo fantasmas, aquele homem não era Ian, mas aqueles olhos... Haveria alguém no mundo com olhos iguais àqueles? Ela ia mover-se para ir atrás dele, precisava falar com ele, mas sentiu que alguém segurou seu braço e chamou seu nome.
Sem tirar os olhos do casal que já estava longe, somente olhou quando ouviu seu nome novamente.
— Jayne, você está bem? O que faz aqui?
Ela olhou para Enrique com os olhos arregalados como se tivesse visto um fantasma. Tentava puxar o ar com dificuldade, mas respirava rápido. Parecia que o ar não passava da garganta.
— Ricky, eu tenho que ir...
Ela foi mover-se, mas ele segurou seu braço.
— Aonde vai? O que houve? Você está pálida.
— Eu, eu...
Suas vistas escureceram, mas Enrique a segurou antes que caísse.
— Por Deus, Jayne! O que você tem? Venha, vamos ao hotel.
Nisso, Ian viu flashes em sua cabeça, aquela mulher, aquele rosto, o nome Ian. Ele parou de andar, seu coração apertou e olhou para trás e avistou de longe aquela mulher, conhecia aquele rosto. Viu seu perfil quando aquele homem que ele mal olhou a amparava para atravessar a rua.
Reparou em seus cabelos longos e ondulados que lhe caiam pelas costas, destacando-se sobre sua roupa rosa clara. Flashes de seus sonhos lhe vieram novamente, flashes de ele acariciando seus cabelos, flashes de ela sorrindo para ele e os dois beijando-se.
Ele suou frio, seu coração pareceu que virou do avesso.
— Jake...
Megan o chamava para que ele continuasse a andar, para que ele parasse de olhar. Ela reconheceu Jayne e estava desesperada para tirar Jake dali, mas tinha que ser discreta.
— Megan, aquela mulher, acho que a conheço, parece a mulher dos meus sonhos, é a mulher dos meus sonhos, Jayne.
— Jake, meu querido, está vendo coisas.
— Não, Megan, eu a conheço.
— Não, não a conhece — disse áspera. Ian a olhou e espantou-se com a forma que ela falou.
— Megan, por que está tendo esta atitude? Eu conheço aquela mulher. Aquela mulher pode fazer parte do meu passado.
— Jake, seu passado ficou para trás, agora o que importa é seu futuro que sou eu, portanto, pare de ficar buscando estas imagens na sua cabeça.
— Como pode dizer isso? Você sempre me incentivou a me lembrar, e quando algo acontece você tenta me impedir? Não a estou entendendo.
— Não está me entendendo? Eu não quero que me abandone, é isso que você não está entendendo. Jake, aquela mulher que você sonha não é ninguém, é uma fantasia.
— Você a ouviu gritar, estava olhando para mim. Acha que ela estava me confundindo com outra pessoa?
— Acho.
— Não. Enganada está você, se acha que depois disso vou ficar aqui, ouvindo esses absurdos que está dizendo. — Ian virou-se.
— Jake... Aonde você vai? — disse se pondo na frente dele.
— Vou voltar e falar com ela.
— Não, não vai! — ela o segurou com as duas mãos no peito dele para que ele não fosse.
— Megan, saia da minha frente, eu vou e você não vai me impedir — disse ficando furioso, agarrou-a pelos braços e a tirou da frente.
— Jake, volte aqui, Jake! — gritou descontrolada. Mas ele não deu atenção, tirou-a da sua frente e voltou para o local que estavam. — Maldição, que desgraça, aquela era a mulher dele. Ai isso não pode estar acontecendo. Maldita, miserável, o que está fazendo aqui?
Ela andava com as mãos na cabeça no meio da calçada, sem se importar com quem passava e a olhava.
Ian procurou-a no lugar que haviam estado, olhou para o outro lado da rua, bem ao longe os avistou e foi atrás. Alguns flashes começaram a lhe pipocar na cabeça, mas mal entendia as imagens. Ian os seguiu, mas ficou de longe, andaram algumas quadras e viu que estavam entrando no hotel, ficou ali um tempo, andava de um lado para o outro.
Não sabia o que fazer, entrou e perguntou para um homem na recepção que trabalhava ali.
— Por favor, o senhor poderia me dizer quem é aquele casal que entrou aqui a pouco, um homem alto de preto com uma mulher de vestido rosa claro e chapéu da mesma cor?
— Eu não posso lhe dar este tipo de informação, senhor.
— Por favor, é importante. Eu poderia falar com eles?
— Infelizmente não pode, ele pediu que não fosse incomodado por ninguém, sinto muito. Volte amanhã, quem sabe ele o receba. Amanhã ele ainda estará hospedado aqui e se quiser pode deixar um recado.
— Pode pelo menos me dizer quem são?
— Não.
Ian o puxou pelo braço, retirou algumas notas de dinheiro do bolso e escondido deu ao homem.
— Será que pode agora?
O homem olhou ao redor para ver havia alguém e guardou o dinheiro.
— São o Sr. e a Sra. Gonzáles, são pessoas importantes.
— Sr. e Sra. Gonzáles? Eles são casados?
— Estão registrados assim, estão no mesmo quarto e ele se referiu a ela como “minha mulher”, e tem duas crianças com eles, são filhos e também está a babá.
— Você sabe de onde eles vêm?
— Esta informação, eu não posso dar, senhor. — Ian retirou mais algumas notas e deu ao homem. — Eles moram em West Side, ele é advogado e o xerife da cidade, e eles também têm um imenso haras, são muito ricos.
— Haras?
— Sim, senhor, foi o que ouvi dizer.
— Como é o nome dele?
— Enrique Gonzáles, senhor, filho do juiz Emilio Gonzáles. Esta família é poderosa, tem muito dinheiro.
— E o nome dela? O nome dela é Jayne?
— Não sei, mas posso descobrir. Mas acho que ele a chamou assim.
— Por favor, tente descobrir se o nome dela é realmente Jayne, amanhã cedo eu volto. — O homem assentiu com a cabeça.
Ian sentia um nó na garganta, sua cabeça estava confusa. Se ela era casada com ele, por que aquele rosto de trazia uma dor no peito? Será que ele teve um romance com ela no passado? Mas ela era uma dama tão fina. Com certeza uma dama da sociedade.
Ele tentava puxar de suas memórias, mas quanto mais ele fazia força, mais ele se embaralhava, sentia uma imensa dor no peito. Por que sentia esta dor? Por que o rosto dela não lhe saia da cabeça?
Ian estava transtornado, não sabia mais o que era real ou de sua imaginação. Ficou parado ali na calçada, lembrando-se das palavras do homem. Alguns flashes lhe vinham à cabeça, via cavalos, alguns homens, viu-a cavalgando e algumas imagens de quando estava no rio, dos tiros que levara, via as crianças o abraçando. Ele com Jayne, a imagem de seu casamento, e lembrou-se de Enrique quando chegou à fazenda de Edward.
De repente ficou tonto, alguém passou e esbarrou nele o fazendo voltar à realidade. Suava frio, esfregou os olhos e começou a andar pela rua sem rumo, nada na sua cabeça fazia sentido. Foi andando e sem saber para onde ir, voltou para casa.
**
Enrique levou Jayne para o quarto e a sentou na cama, deu um copo de água para que ela melhorasse.
— Jayne, o que está sentindo? Vou chamar um médico.
— Não, eu não quero médico nenhum.
Ela tomou a água e não parava de chorar. Fechou os olhos e tentou pensar no que tinha visto. Levantou da cama e começou a andar de um lado para o outro com uma mão na cintura e a outra na testa e olhava para o chão, parecia que ia arrebentar.
— Jayne, por Deus, o que houve? — perguntava olhando para ela com ar de preocupação, sem entender nada.
— Não sei Ricky, estou numa agonia que está me matando.
— O que aconteceu? Alguém fez ou disse algo a você?
— Não, não foi nada.
— Nada? Como pode você ter mudado assim? Quando eu a deixei, você estava bem, feliz e de repente está aí tendo este ataque.
— Ricky, me perdoe, mas não sei o que está acontecendo, estou nervosa, me deixe quieta, por favor, isso vai passar.
— Jayne... — ele fez uma pausa fechando os olhos e tentando acalmar os nervos. — Eu tenho aguentado suas crises pela morte de Ian há muito tempo, por acaso isto é uma crise destas?
— É Ricky, é! E sinto muito, mas não pude evitar.
— Jayne, o que está fazendo? Acha que sou de ferro?
Sua voz estava ficando enérgica e indignada.
— Sei que não é, mas isto é mais forte que eu.
— Você teve outro sonho?
— Foi, tive outro sonho. Deixe-me quieta, não fale comigo por alguns minutos, Ricky, por favor.
Ricky começou a ficar além de nervoso com raiva, ficava atormentado quando ela tinha estas crises de saudades ou sonhos por causa de Ian, como poderia ele competir com uma lembrança de um morto? Isso o deixava triste e amargurado.
— Jayne, você acha justo o que faz comigo agindo desse jeito?
— Ricky, me perdoe, mas às vezes o vejo na minha frente, meus sonhos me atormentam, não consigo evitar, parece que meu peito às vezes vai explodir. Você sabia de meu amor por Ian, nunca lhe pedi nada, então, por favor, me deixe em paz! — disse quase gritando, seus nervos estavam se torcendo e estava perdendo o controle de suas emoções.
— Deixá-la em paz? Como pode dizer isso depois de tudo? Acha que tenho sangue de barata, que posso aguentar tudo calado? Está enganada, paciência tem limites, meu sangue ferve quando vejo você desse jeito. Eu sei que tem sonhos, mas o que houve hoje, não foi sonho, pois hoje de manhã você estava bem. Então, foi algo que aconteceu hoje à tarde, o que foi? Diga-me!
Ele falava com voz forte, ela poucas vezes o viu falar daquela maneira, ele sempre foi controlado, mesmo quando estava com raiva ou nervoso, mas naquele momento estava alterado.
— Ricky, pare com isso, não quero falar nada.
— Jayne, você tem que me prometer que vai parar com isso. Se não quer me dizer, não vou forçar, mas saiba que isso me deixa muito decepcionado com você por não confiar em mim e me contar o que houve.
— Ricky, eu não posso lhe contar; você vai achar que estou louca.
— O que está acontecendo com você? Estas suas crises haviam parado. Agora me diga, eu tenho o direito de saber o que se passa.
— Não sei, eu acho que estou vendo coisas. — ela começou a espremer as mãos de nervoso. — Eu achei ter visto Ian.
— O quê?
— Hoje à tarde eu achei ter visto Ian, achei que era ele, ou era, eu não sei, mas era um homem muito parecido com ele, a semelhança era perfeita, mas eu fiquei impressionada. Foi isso que aconteceu, fiquei assustada, na verdade estou transtornada. Era igual a ele, o rosto, os olhos, só que os cabelos estavam curtos, mas ele não usava aliança, olhou para mim e parece que não me conheceu. E havia uma mulher com ele, o estava beijando e o chamou de Jake...
Jayne falava sem parar e Enrique ficou furioso e a interrompeu bruscamente sem deixá-la continuar falando.
— Ah Jayne, pare com isso! Mas que loucura é essa? Vai ficar vendo Ian nas ruas? Está ficando insana? — Enrique a agarrou pelos braços e olhou furioso para ela. — Eu aguento seus sonhos, seus choros e aceito que seja difícil para você esquecê-lo, mas isto passou dos limites. Pare com isso!
— Ricky, eu estou de cabeça cheia, não consigo pensar, nem sei mais o que vi. Deixe-me em paz! — disse gritando e tentando se desvencilhar das suas mãos que a agarravam, mas ele a segurava com força.
— Sim, Jayne, não está pensando, está delirando com os olhos abertos. Você havia prometido que ia se controlar, que tinha aceitado ficar comigo, mas você não para com estas dores por um defunto. Ian está morto, Jayne, preste atenção, Ian está morto! — gritou ele.
As palavras dele castigaram-na e ela começou a chorar novamente.
— Pare Enrique, me deixe em paz!
Ela o empurrou com força soltando-se das mãos dele.
— Tudo bem. — Ele passou os dedos pelos olhos e olhou para ela. — Talvez seja melhor eu ir embora e deixá-la em paz, se é isso que quer. Não vou ficar aqui mendigando seu amor e ver você tendo ataques por causa de um morto. Jayne, dói vê-la me menosprezar desta maneira. Para mim chega.
O rosto de Enrique estava transfigurado, seus olhos demonstravam tristeza e raiva, estava tentando se controlar para não explodir mais do que devia. Ele sentia uma vontade de chorar e sua garganta estava travada.
Ele foi sair, mas virou-se, colocou a mão no bolso do paletó, tirou um saquinho de veludo e colocou-o encima da mesinha.
— Acho que você não vai mais querer usar isso.
Ele saiu do quarto batendo a porta. Jayne perdeu o rumo dos seus pensamentos, nem se lembrava mais o que tinha dito ou tinha ouvido. Pegou o saquinho na mão, mas não abriu. Sentou-se na cama e chorou.
Aquele homem era Ian? Como fez de conta que não a conhecia? Não usava aliança, era casado com aquela mulher? Estava vendo coisas? Estava com os cabelos tão curtos.
Ele a olhou e não disse nada, ignorou-a completamente. Jayne se perguntava mil coisas e não tinha resposta para nenhuma pergunta.
Como pode ter falado daquela maneira com Ricky? Depois de todo amor que ele já lhe demonstrou.
Ela suspirou e abriu o saquinho que estava na sua mão. Quando viu um anel com um diamante, seu coração doeu de tristeza e culpa. Era aquela a surpresa que Ricky tinha para aquela noite. Ele a pediria em casamento.
Jayne recomeçou a chorar, agora perdera Ricky. Deitou encolhida na cama e chorou, tentava pensar, mas era o que menos conseguia fazer.
Jayne perdeu a noção da hora, levou um susto quando ouviu baterem na porta e depois a abriram, era Kate com as crianças. Josh correu e pulou sobre a cama.
— Mamãe, nós estamos com fome, não vamos jantar? — disse Angel.
Jayne secou as lágrimas e levantou sentando-se na cama.
— Ah meu Deus, me perdoem, eu perdi a hora.
— Por que está chorando? — Josh perguntou.
— Não é nada, querido. Kate peça o jantar no quarto para vocês, eu não quero comer nada.
— A senhora está bem? Precisa de alguma coisa?
— Não, Kate, não se preocupe.
— Ah mamãe, vem jantar com a gente, por favor.
— Josh, a mamãe não está bem. Seja bonzinho hoje, vá jantar com a Kate e sua irmã; hoje eu deixo vocês comerem o que quiserem, mas a mamãe precisa ficar sozinha. Você faz isso para sua mamãe? — disse sorrindo para ele e pegando no seu queixo.
— Só se me deixar comer pudim.
— Está bem, eu deixo, mas coma seu jantar primeiro, está bem?
— Sim, senhora.
— Agora vão jantar e depois cama, os dois. Se comportem, agora beijo na mamãe e obedeçam Kate.
Eles beijaram-na e saíram do quarto.
Jayne ficou esperando Enrique voltar, foi até a janela e ficou olhando pela vidraça. Estava sendo injusta com ele, não poderia mais continuar com isso, como ele mesmo dissera.
Lágrimas lhe corriam pelos olhos, era impossível contê-las, sentia-se tão confusa que tinha vontade de sumir.
“O que você sente por ele, Jayne?” — perguntou-se.
Amava Ricky, tinha por ele um sentimento grande, não era o mesmo que sentiu por Ian, mas não poderia comparar um com o outro. Mas sabia que para ter uma vida de paz com Ricky teria que enterrar Ian de vez. Ela estava imensamente feliz, os últimos meses com ele haviam sido maravilhosos.
Seu amor por Ian nunca sumiria, mas o amor que cultivava por Ricky lhe fazia bem. Era o que ela tinha de real, Ian estava morto e aquele homem que viu na rua não era ele, ela estava vendo coisas. Estava agindo errado, estava perdendo de ser feliz. Teria que parar com isso de uma vez por todas, senão perderia Ricky e isso ela não podia deixar acontecer.
As horas se passaram e já era tarde quando Enrique entrou no quarto, estava mais calmo e a olhou calado, estava com o rosto demonstrando uma tristeza. Jayne o olhou por uns instantes, foi até ele e o abraçou.
— Ricky, eu não queria ser rude e ter magoado você. Perdoe-me.
Enrique fechou os olhos, respirou profundamente, tentando conter aquela imensidão de sentimentos que o invadia.
Tentou até resistir ao abraço, na verdade ele ficou pensando em deixá-la, estava com o orgulho ferido, perdê-la seria pior que passar por cima de seu orgulho. Então se rendeu e a abraçou forte.
— Jayne... — ele a segurou pelos ombros e a afastou lentamente para que pudesse olhar para seu rosto. — Eu não queria ter gritado daquela maneira com você, eu perdi a cabeça. Mas você vai ter que parar com isso, senão eu não vou aguentar. Prometa que nunca mais vai fazer isso. O que você viu foi coisa da sua cabeça.
— Eu sei. Ricky, eu não quero perder você, perdoe-me. Vamos embora, eu quero ir para casa, não quero mais ficar aqui, por favor.
— Calma... Tudo bem, Jayne, amanhã cedo iremos embora.
— Por favor, não pense que estou louca.
— Jayne, desta vez você foi longe demais, mas entendo que isso pode acontecer, há muitas pessoas parecidas, você se confundiu, é impossível Ian estar vivo. Coloque isso na sua cabeça, já faz dois anos, você precisa parar com isso. Esta foi a última vez que vou suportar uma coisa desta.
Ela assentiu com a cabeça e se abraçaram novamente.
— Você deve estar arrependido de ter ficado com esta maluca, não é? Acho que você merecia alguém melhor que eu. Eu vou entender se você quiser ir embora.
— Jayne eu te amo, nunca quero me separar de você, não quero ir embora, só que fico enlouquecido quando você tem estas crises, morro de ciúmes, na verdade. Eu pensei que você já tinha superado isso.
— Eu sei, eu juro que nunca mais isso vai acontecer. Por favor, acredite.
— Está bem, Jayne, vamos esquecer tudo isso. — Ele beijou sua testa e a abraçou. — Eu andei pensando, já queria ter falado isso com você, mas depois do que aconteceu hoje, acho que não posso mais adiar.
— O que é?
— O que acha de irmos para Madri? Podemos passar algum tempo, podemos até ficar morando lá, minha família tem propriedades em Madri, tem uma casa enorme que está vazia o ano todo, meus pais vão lá só de vez em quando. Posso comprar uma casa para nós.
— Morar em Madri? — perguntou espantada.
— Eu acho que você está precisando ficar longe daqui, vai lhe fazer bem.
— Ricky, eu não posso abandonar a fazenda, meu Haras, lutei muito para chegar aonde cheguei, não posso largar tudo.
— Eu sei, eu sei, mas então vamos apenas fazer uma viagem, só ficar um tempo longe daqui, juntos, eu lhe peço, aceite, por mim.
— Vou pensar, está bem?
— Promete?
— Prometo.
Jayne ficou abraçada a ele com a cabeça em seu peito, lembrava do que havia passado naquela tarde e sentia vontade de gritar. “Foi um engano Jayne, não era Ian, era somente alguém parecido com ele” — ela se repetia aquilo mil vezes para tentar apaziguar aquela dor que sentia no coração.
Durante a noite ela não conseguiu dormir, ficou a noite toda agarrada a Ricky, precisava dos braços dele, sentia-se segura. Ela havia tentado virar a página de sua vida na qual vivia Ian, mas falhou. Tentaria novamente, não iria mais permitir dar oportunidades para perder quem amava. Esqueceria o que aconteceu em Portland, foi uma peça que sua mente lhe pregou.
Ian estava morto. E ela queria ficar com Enrique.
Ao amanhecer quando ele acordou, Jayne estava sentada na cama aos pés dele o olhando, abraçada aos joelhos.
— Jayne, está bem? — disse sentando na cama.
— Dormi mal, mas estou bem.
— Por que está aí me olhando deste jeito?
— Fiquei com medo de perdê-lo.
— Eu também... — disse passando as mãos no rosto.
— Eu vou com você para a Europa.
— Vai?
— Vou, eu decidi. Eu penso que vai ser bom para nós fazermos essa viagem. Só preciso organizar tudo para que a fazenda fique bem cuidada, mas eu quero ir. Eu quero estar bem com você, não quero mais viver nesta sombra, viver no passado e não quero perder você.
— Querida, nem imagina como isso me deixa feliz.
— Você está certo, ficar longe daqui por um tempo vai me fazer bem, nós seremos felizes. Eu prometo que não terei mais nenhuma crise por causa de Ian, eu mesmo não aguento mais isso. A partir de agora vai ser diferente.
Jayne moveu-se e foi por cima dele sentando sobre suas pernas ficando de frente para o rosto dele e o acariciando.
— Eu te amo, Jayne — disse abraçando-a e os dois ficaram com suas testas coladas e com os olhos fechados.
— Eu... Ricky, eu não quero perdê-lo.
— Você não vai me perder. Nós vamos nos dar mais uma oportunidade.
— Vamos, e dessa vez vai ser de verdade. Eu prometo — disse beijando-o e aconchegando-se nos braços dele.
— Então se case comigo, eu quero que seja minha esposa — disse com o coração disparado de desejo por ela.
Jayne o ficou o olhando por um momento. Seus olhares eram de súplica. Ela colocou a mão debaixo do travesseiro, pegou o saquinho de veludo e olhou ternamente para ele.
— Eu aceito. Eu serei sua mulher e o resto vai ficar para trás.
Ele pegou o anel e colocou no seu dedo.
Enrique segurou o rosto de Jayne entre as mãos, seus olhos marejaram e eles se beijaram.
Ela levantou os braços para que ele lhe tirasse a camisola, abraçaram-se e ele virou-se deitando sobre ela e se entregaram ao amor. Jayne afastou de seus pensamentos qualquer lembrança de Ian, decidira que não iria mais chorar ou se lamentar por ele.
Chegou ao fim da linha, iria se dedicar inteiramente a Enrique. Não sofreria mais por Ian a partir daquele dia, o estava enterrando definitivamente.
Capítulo 17
Quando Jake voltou para casa Megan o estava esperando. Ele estava com uma cara horrível e ela estava quase tendo um ataque de nervos, chegou a quebrar várias louças de raiva.
— Jake... — Ela correu e o abraçou, ele correspondeu, mas seu coração estava decepcionado com ela. — Você achou a tal mulher?
— Achei, mas nós não conversamos. Havia um homem com ela, disseram que é o marido dela.
— Marido? — Megan assustou-se. “Mas aquela maldita se casou, ótimo para mim” — pensou. — Está vendo, querido? Era um engano.
— Não era engano. Eu conheço aquela mulher, é ela que aparece nos meus sonhos, e tem mais... Eu me lembrei do meu casamento com ela, só não entendo como está casada com ele — disse frio e nervoso.
— Jake, pare com isso, não vê que eu sofro? Você é meu marido agora, vivemos juntos, você não pode fazer isso comigo. E você está enganado, aquela mulher tem marido e não é você.
— Megan, isto está errado, eu já lhe disse, tenho que descobrir quem eu sou e vou encontrar as respostas. E eu odiei o seu comportamento, estou tremendamente decepcionado com você.
— Não diga isso, eu não vou deixar você fazer isso, você não vai me abandonar por causa daquela louca.
— Louca? Acho que quem está louca aqui é você — disse quando viu as louças espatifadas pelo chão da cozinha.
— Como se atreve? Depois de tudo que eu fiz por você? Cuidei de você todos estes anos e é assim que me retribui? Diga que me ama.
— Nunca disse que a amava, Megan. Eu agradeço tudo o que fez por mim, mas não posso pagar-lhe isso com o amor de homem que você está exigindo de mim — disse isso e foi até o outro quarto.
— Aonde vai? O que está fazendo?
— Vou dormir aqui, quero ficar sozinho.
Ele fechou a porta e a trancou.
— Jake, não faça isso. Abra essa porta... Jake!
Ela ficou batendo na porta e gritando para que ele abrisse, mas ele se jogou na cama, sua cabeça doía tanto que parecia que arrebentaria.
O rosto dela não saia da sua cabeça. Teria que fazer alguma coisa, agora mais o que nunca iria atrás da verdade. “Se essa Jayne era minha esposa, como que está casada com Enrique? Será que ela se casou com ele depois que sumi?” — perguntou-se.
Ian começou a lembrar-se dela, das imagens do lago, eles fazendo amor, apertou as mãos nos olhos e sem se segurar começou a chorar. Tudo aquilo era tão confuso.
Megan parou de gritar na porta e ele tentou dormir, mas somente dormiu quando já era de madrugada e teve o sono agitado.
Quando acordou tentou levantar-se, mas sentia uma dor tão imensa que parecia que sua cabeça estava rachada ao meio. Com muito esforço levantou-se. Olhou pela casa, mas Megan não estava. Sentiu um alívio, saiu e foi ao hotel novamente.
— Por favor, eu poderia falar com o Sr. e a Sra. Gonzáles que estão hospedados aqui?
Era outro homem que o atendeu e não o mesmo com quem havia falado. O atendente olhou nas fichas dentro de uma caixinha.
— Sinto muito, senhor, mas eles saíram do hotel a uma hora.
— Droga! Sabe para onde foram?
— Desculpe, mas não tenho esta informação.
Ele saiu do hotel e parou na rua olhando para os lados.
— Seu idiota, deveria ter ido falar com eles ontem — disse para si mesmo.
Começou a sentir-se mal, sua dor de cabeça era tão intensa que seu estômago embrulhou, até seus olhos doíam. Pensou no médico que lhe atendeu no hospital, sabia de seu caso e então foi até lá, quando chegou, já mal se segurava sobre suas pernas. Uma enfermeira veio ajudá-lo, o deitou numa cama e chamou o médico que ele solicitou, e ele lhe explicou o que aconteceu. O médico conversou longamente com ele lhe explicando diversas coisas e lhe deu um medicamento para que a dor passasse.
— Jake, vá para casa e tente dormir, este remédio é muito forte, você precisa descansar, ficar neste estado de nervos não vai lhe ajudar em nada.
— Dormir? Acha que consigo dormir, doutor?
— Sei que para você é difícil, mas não conseguirá trazer suas memórias desta maneira. Você precisa ter calma, forçar só vai piorar.
— Calma é o que eu tenho tido todos esses anos, mas depois do que aconteceu ontem, nada será igual. Eu sei que aquela mulher faz parte da minha vida e eu tenho que ir atrás dela.
— Se você acha que vai ajudar, então vá até West Side e veja se consegue encontrar alguma coisa, fale com estas pessoas. Talvez realmente elas façam parte do seu passado e você desvende todo este mistério. Pelo que estou vendo, cada coisa que você vê que te remete ao passado. Está trazendo, aos poucos, suas memórias, por isso você vê tudo em flashes e partes, é como grande um quebra-cabeça. Você vai conseguir juntar todos os pedaços, mas necessita de paciência.
— Mas tem uma coisa que está me incomodando muito.
— O que é?
— Lembrei-me do meu casamento, mas se eu era casado, por que eu não estou usando aliança? Eu lembro-me dela.
— Quando você estava aqui no hospital, a primeira vez que o vi, você não usava aliança de casamento. Mas eu achei estranho porque quando eu fui ver sua ficha nos arquivos, eu não encontrei nada, seus arquivos sumiram. Devem ter sido extraviados, mas se um dia você usou aliança foi antes de vir para cá.
— Eu não sei...
— Mas agora você precisa ficar deitado, pois este remédio vai derrubá-lo. Ou você fica aqui hoje, ou você vai para casa e fica deitado lá, entendeu? Ele vai demorar um pouco ainda para fazer efeito e dar a sonolência, dá tempo de chegar em casa.
— Prefiro ficar aqui.
— Ótimo, assim eu fico de olho em você, agora se aquiete e tente descansar. Quer que mande avisar a Megan?
— Sim, por favor, mas só depois que eu apagar. Não quero vê-la agora.
— Tudo bem.
**
Quando Jayne, Enrique e as crianças chegaram à West Side, foram para a fazenda. As crianças estavam exaustas e eles também.
— Vou resolver os assuntos para nossa viagem, enquanto preparam suas coisas — Enrique disse.
— Está bem. Angel, vá assear-se e trocar esta roupa que está cheia de pó. Vou pedir a Anna para preparar algo para comermos, todos estão famintos.
— Está bem. — Despediu-se deles e foi para o quarto.
— Kate, cuide de assear Josh, e se prepare por que você vai conosco. A não ser que você não queira ir.
— Eu gostaria muito, senhora, deve ser um lugar muito bonito.
— Deve ser, eu também não conheço a Espanha, mas você vai gostar.
— Obrigada, Sra. Buller.
— Você vai dormir aqui ou vai para casa? — Jayne perguntou a Enrique.
— Acho que vou para casa, amanhã tenho coisas a resolver e quero acordar cedo. De lá eu irei para a casa dos meus pais, quero falar com eles para ver sobre a nossa casa de Madri, verificar se preciso providenciar alguma coisa para que possamos ir, quero viajar o quanto antes.
— Então fique aqui comigo hoje.
— Você quer mesmo que eu fique?
— Eu quero ficar com você todas as noites.
Enrique a abraçou e beijou sua testa.
— Eu também, Jayne.
— Na verdade, eu acho que vamos com você para casa dos seus pais, pois teríamos que pegar o navio lá, não é? Assim você não precisará voltar para cá. O que acha? Assim vamos logo para a Espanha.
— Acho ótimo. Então você consegue arrumar tudo amanhã para que possamos ir para Nova York depois de amanhã? Confirmarei se há um trem para lá neste dia.
— Sim, providenciarei tudo.
— Ótimo. Vejo que está decidida mesmo a ir.
— Eu disse que sim, não estava brincando quando disse que a partir de agora tudo vai ser diferente entre nós.
— Minha querida, parece que você tirou um peso das minhas costas, estou tão feliz. Você vai ver, será uma viagem maravilhosa.
— Sim.
— Nós vamos ficar em Madri, mas podemos passear em outras cidades.
— Hum... Eu vou adorar.
Ela riu e se abraçaram, depois foram se aprontar para comer.
**
No outro dia, Jayne pediu a James que reunisse todos na fazenda, passou as ordens e conversou atentamente com ele para que tomasse conta de tudo. E pediu que chamasse seus amigos e irmãs para jantar, queria falar com todos eles juntos. No fim da tarde todos estavam lá, sentaram-se na sala e bebiam.
— Meus queridos, eu pedi que viessem aqui para jantar comigo, pois quero lhes falar.
— Foi ótimo, Jayne, obrigado pelo convite.
— Por que Enrique não veio?
— Ele chegará daqui a pouco para o jantar, enquanto isso, nós conversaremos.
— Você está estranha — Emily disse.
— Eu tenho várias coisas a dizer, uma é que vou me casar com Enrique.
— Minha nossa! Casar? — Emily perguntou espantada.
— Sim.
— Jayne, eu fico feliz, vai ser bom, Enrique gosta muito de você.
— Obrigada, Julia.
— Você tem certeza disso?
— Sim Will, depois do que aconteceu em Portland, eu acho que vai ser melhor. Não quero mais a sombra de Ian me seguindo, vou dar um basta.
— Não entendi. O que houve lá?
— Eu tive uma crise por causa de Ian, e por causa disso quase perdi Enrique, então eu decidi que não vou deixar isso acontecer.
— Crise? Outro daqueles seus pesadelos?
— Não, Julia, desta vez foi acordada. Eu achei ter visto Ian na rua, mas era alguém muito parecido com ele.
— Minha nossa, Jayne! Mas era tão parecido assim?
— Era igual, Emily, tudo era igual, só era mais magro e os cabelos curtos.
— Que loucura! Eu imagino como sua cabeça deve ter ficado confusa, deve ter sido um choque.
— Sim, eu corri atrás dele pensando que era Ian, mas ele se chamava Jake e tinha uma mulher. Não era ele, mas a semelhança estrondosa me deixou enlouquecida. Eu e Ricky brigamos e quando nos acertamos resolvemos que vamos nos casar e passaremos um tempo na Europa. Quero ficar longe daqui por um tempo, quero cortar os laços com Ian. Isto aqui está me enlouquecendo. Só não concordei de ficar morando lá porque não vou largar meu haras e não quero ficar longe da minha família, mas concordei em passar algum tempo, pelo menos para arejar a cabeça.
— Acho ótimo.
— Não sei não...
— Willian, sempre tem que ser do contra, tinha acabado de concordar — Mitchel disse.
— Não é isso. Eu concordo com o casamento, quero o melhor para ela, só acho que esta viagem... Parece-me uma fuga. E bem... A fazenda seria de Enrique.
Todos ficaram calados, se olhando espantados. Jayne não entendeu exatamente qual era o problema deles.
— Willian, talvez seja uma fuga, mas preciso fazer isso. Eu não aguento mais, preciso de tempo e isso eu quero fazer longe daqui. Eu tenho que me conformar que Ian está morto, por mais que meu coração não aceite.
— Jayne, sinceramente, isto de você ainda achar que ele está vivo é loucura mesmo. Eu concordo que isto tem que parar, você tem que seguir em frente. Na realidade eu não sei como Enrique aguentou isso por tanto tempo. Ele a ama de verdade, porque se fosse outro, já teria ido embora.
— Eu sei. Ele aguentou minhas crises, meus choros, meus pesadelos e ficou calado, mas agora, eu vi que ele não vai mais aguentar isso, e que se eu não colocar minha cabeça no lugar, ele irá embora e eu não quero isso.
— Você o ama?
— Amo. Não como amei Ian, porque isso é impossível. Meu amor por ele era de uma imensidão que jamais sentirei novamente. Mas Ricky é um homem que me traz alegria, faz de tudo por mim e adora meus filhos. Não é justo o que ele tem passado por minha causa e eu não quero mais sofrer, eu quero ser feliz, eu preciso! E para isso tenho que enterrar Ian definitivamente. Nós vamos para Nova York amanhã e pegaremos o navio e vamos para Madri, nos casaremos na volta.
— Por que não casam primeiro e depois vão?
— Não! Eu quero ir amanhã. Cuidem de tudo por mim, por favor. Willian e David, se vocês precisarem de dinheiro para algo da sociedade, fale com meu pai. Mitchel, eu vou deixar em suas mãos a entrega dos cavalos. Você sabe tudo que precisa fazer, James vai lhe ajudar.
— Pode deixar, pode ir tranquila.
— James cuidará da fazenda e nós não ficaremos muito tempo.
Neste momento Enrique chegou.
— Ah o noivo chegou, vamos fazer um brinde ao noivado.
— Boa noite rapazes, madames. — Deu um beijo em Jayne. — Que bom, cheguei em boa hora.
Jayne serviu um licor para ele.
— Um brinde aos noivos. — Todos brindaram alegres.
— Ah! Um brinde a mais um bebê — Mitchel disse.
— Bebê? De quem? — Jayne perguntou espantada.
— Nós vamos ter mais um filho — Mary disse numa alegria de dar gosto e David a abraçou.
— Ah que maravilha, parabéns! — Jayne disse animada.
— Então, um brinde a chegada de mais um Stweart.
Brindaram e foram jantar que transcorreu animado. Depois do jantar despediram-se e no caminho até a saída da fazenda foram conversando.
— Achei estranho esse homem tão parecido com Ian, não acha Mitchel? — Willian perguntou.
— Achei, será tão parecido assim? Será que não era ele mesmo?
— Também não é para tanto. Ela mesma disse que não, então ela deve ter achado ele tão parecido porque ainda não se conformou.
— Hum... Não sei, isto me deixou encafifada — Emily disse.
— A mim também, algo me diz que tem algo errado nisso tudo, só não consigo saber o que é.
— Eu gostaria de ver este homem.
— Ai credo, Emily! — Julia disse, fazendo uma careta.
— Ué, para deixar a Jayne tão desconsertada, é porque era bem parecido, não é? Fiquei curiosa.
— Eu também, mas ela se impressiona com qualquer coisa que lembre Ian. Ver um homem parecido só poderia dar nisso. Nem acredito que fosse tão parecido assim, mas na cabecinha dela, pareceu.
— Ah, eu não ia gostar de ver, deve ser muito triste, imagino a dor que ela deve ter sentido — Mary disse.
— Bem, acho melhor não falarmos mais nisso, principalmente na frente dela, quero que ela se entenda com Enrique — Mitchel disse.
— Ah isso eu também quero, e eu gosto muito dele — Emily disse.
— Isso é verdade, mas espero que eles se acertem, aquelas crianças precisam de um pai, precisam de uma segurança. E uma mulher com uma fazenda... — Mitchel resmungou.
— Eu fiquei muito curiosa para ver este homem. Isso eu fiquei — Emily disse.
— Emily, quer parar? — Julia disse.
— Não posso. Você me conhece, quando encafifo com alguma coisa, só me contento vendo com meus próprios olhos.
— Ah e o que quer fazer? Ir para Portland e ficar vagando na rua para ver se o vê também?
— Ah não coloque ideias na cabeça dela, que é capaz de querer ir.
— Olha que eu gostei desta ideia.
— Emily, se Jayne resolveu enterrar tudo, não vamos mexer nisso.
— Mas e se for ele?
— Sua maluca! Acha mesmo que Ian sobreviveria àquele acidente e não voltaria para casa? Que teria abandonado Jayne e as crianças e estaria com outra mulher?
— Realmente isso seria impossível. Ian possui uma índole muito rígida para isso, nunca faria tal coisa — Mitchel disse.
— Verdade, com certeza não era ele. Ian jamais faria uma coisa dessas, ele era maluco pela Jayne e as crianças — Willian disse.
— Ai! Está bem, eu não falo mais nada. Ninguém nunca concorda comigo — Emily disse, revoltada.
— Este assunto morre aqui. Vamos embora — Willian falou.
Capítulo 18
Ian ficou no hospital até no outro dia e depois voltou para casa. Seus flashes haviam aumentado depois que encontrou Jayne.
Ele estava mais nervoso, queria se lembrar de logo e sentia uma angústia ao ficar ao lado de Megan.
Ela havia mudado seu comportamento radicalmente, estava histérica, brigava por qualquer motivo e o vigiava o tempo todo. Ele pensou em ir a West Side atrás de respostas, mas Megan o travava de todas as maneiras que podia.
Fingiu desmaios e estar doente e isto o estava deixando desconfiado dela. Quando ele fazia perguntas, ela hora dizia uma coisa, hora outra, começou a se contradizer em suas respostas.
— Megan, o que está acontecendo com você?
— Não é nada, você é que mudou comigo, me trata mal.
— Eu não a trato mal, nunca a tratei.
— Trata sim, me menospreza, não faz mais amor comigo, me trata como se eu fosse uma mulher qualquer.
— Megan, você é que está fazendo com que eu me afaste de você, este seu comportamento está me deixando agoniado. Quer me fazer prisioneiro, não quer que eu saia; que eu fale com as pessoas e pior, não quer que eu me lembre de quem eu sou.
— Eu sei quem você é; e você não deve saber de nada.
— O que disse? Como assim?
— Eu o conheço, Jake, eu o criei, este Jake que está aqui é meu, e você não vai voltar a ser de ninguém.
— O que você quer dizer com isso? O que você sabe que eu não sei, o que está me escondendo?
— Não estou escondendo nada, você me deixa nervosa.
— Se eu descobrir que você está me escondendo algo, não vou perdoá-la.
Megan, vendo que ela estava falando demais, mudou seu comportamento.
— Eu não estou escondendo nada, eu juro. Perdoe-me, vou ajudar você, eu prometo. Venha dormir comigo esta noite, por favor, ficarei quieta, somente quero sua companhia.
— Por favor, eu quero ficar só.
Ela acenou com a cabeça, sentiu a raiva corroer, mas controlou-se e Ian foi para o quarto.
Megan esperou que ele se deitasse, arrumou-se, perfumou-se e entrou no quarto, ele estava dormindo, ela tirou sua roupa e deitou-se ao seu lado, começou a acariciar seu corpo.
Ele sentia o toque de suas mãos, mas estava sonhando com Jayne, na sua cabeça o toque que ele sentia vinha das mãos dela.
O quarto estava totalmente escuro e ele somente sentia aquele corpo sobre o dele, embriagou-se com as imagens de seus sonhos e beijou Megan como se fosse Jayne, sua realidade misturou-se com os sonhos, foi para cima dela e começou a beijar seu corpo, desejava aquele corpo. Ela estava entregando-se a ele, quando sem pensar ele a chamou de Jayne.
Mas de repente ele percebeu que a mulher que tinha nos braços não era ela, ele acendeu o lampião e ficou horrorizado vendo que era Megan.
— Jake, faça amor comigo.
— Megan! O que faz aqui?
— Por que parou? Eu sou Jayne, venha aqui.
— Você enlouqueceu?
— Se for essa Jayne que você quer, então pode me chamar de Jayne, mas eu quero ser sua, eu quero um filho seu.
— Meu Deus, agora você perdeu o juízo de vez! Nunca mais faça isso, entendeu? Se vista e saia daqui.
Ele pegou o lençol e jogou sobre ela.
— Eu não fiz tudo o que fiz arriscando meu pescoço para nada.
— O que quer dizer?
— Essa Jayne já arrumou outro marido, não quer mais você. Você é meu.
— Megan, você está dizendo que Jayne era minha esposa?
— Sim. Jake, era, mas agora ela tem outro homem, há outro homem na cama dela, acariciando seu corpo e provavelmente ela gosta, deve até gritar. Não deve mais se lembrar dos seus beijos, pois agora ela tem os dele, nem deve lembrar-se de você tendo relações com ela, porque agora ela tem outro que faça isso. E você vai ficar aqui comigo, é simples, todos felizes, não acha?
Ela falava com um olhar enlouquecido e irônico.
Ian sentiu que explodiria a ouvindo dizer aquilo. Sentiu tanto ódio que teve que respirar para tentar conter sua raiva e falava entre os dentes.
— Como você sabe que ela era minha esposa?
— Você está abalado das ideias, eu não disse nada.
— Agora eu tenho certeza que você está escondendo coisas e vou descobrir.
Ele furiosamente a agarrou pelo braço, tirando-a da cama e a empurrou para fora do quarto e a trancou.
— Jake, abra esta porta! Você não pode fazer isso comigo, preciso de você, Jake...
Megan gritava tanto que até os vizinhos podiam ouvir, ele começou a andar pelo quarto sem saber o que fazer. Algumas imagens lhe vieram à cabeça, do seu casamento com Jayne, lembrou-se de quando Josh nasceu, dele rindo, correndo para seus braços e o chamando de papai.
De Angel enrolando seus dedinhos em seus cabelos, de vários momentos que viveram juntos, das suas risadas, de seus momentos de amor com Jayne.
Lembrou-se dos rapazes e de sua fazenda.
Uma enxurrada de imagens passava na sua cabeça, parecia que ia explodir como um vulcão.
— Ela era minha esposa, eu tenho filhos! Ela esteve na minha frente e eu não fiz nada. Como pude fazer isso, meu Deus? Como pude não me lembrar? Maldição! Como pôde deixá-la sair da sua frente, com aquele olhar de desespero, implorando para ouvir algo e eu não fiz nada. Ela me chamou de um nome... Jake não é meu nome, do que ela me chamou? Não consigo lembrar.
De repente lembrou-se do acidente, dele caindo do trem e de Jayne o tentando tirar do rio.
— Meu Deus! Era ela que estava comigo no rio, era ela que estava tentando me tirar da água, eu tenho irmãos.
Ian começou a chorar, derrubou tudo que estava sobre a cômoda num ímpeto de raiva, sentia uma dor no peito pior do que os tiros que recebeu. Ele ficou o resto da noite andando pelo quarto com diversas imagens na cabeça.
Megan parou de gritar, ele estava cansado daquelas loucuras dela, iria embora dali pela manhã. Depois disso, não poderia mais ficar com ela, precisava ir atrás de sua família.
Quando amanheceu, Megan saiu de casa. Ian quando viu que ela não estava começou a vasculhar todos os cômodos e revirando tudo quanto era caixa, baú e gavetas.
Quando encontrou uma caixa que estava debaixo de algumas roupas no quarto que não era usado, abriu-a e encontrou dinheiro, alguns documentos, os papéis do hospital em que ele havia ficado internado por tanto tempo e uma aliança.
Quando ele pegou a aliança mais imagens lhe vieram à cabeça, de quando ele deu a aliança à Jayne e a beijou, lembrou-se que era de seus pais, olhou para sua mão e a colocou em seu dedo. Ele ficou enlouquecido, arrumou algumas roupas em uma mala e ia sair da casa quando Megan entrou.
— Aonde você vai com esta mala? — perguntou o olhando.
— Vou embora daqui.
— Não! Não pode ir, você é meu marido.
— Seu marido, ou de Jayne?
Ele levantou a mão e mostrou a aliança no seu dedo.
— Onde achou isso? — perguntou espantada.
— Você sabe aonde, agora venha aqui e me conte tudo o que sabe ou eu mato você, mulher — disse a agarrando pelo braço.
— Ai, me solte! — ele a jogou com toda a força no sofá.
— Megan, eu estou furioso e vou torcer seu pescoço se você não me falar a verdade. Já sei que mentiu sobre tudo, vou embora de qualquer jeito, mas fale a verdade senão eu juro que te mato.
— Eu não sei de nada.
— Sabe sim. Por que você escondeu minha aliança? Por que mentiu dizendo que eu não era casado?
— Porque eu não queria que você soubesse.
— Por quê?
— Porque eu me apaixonei por você na exposição, quando você me menosprezou por causa daquela sua mulher ridícula.
— Que exposição?
— Antes do acidente eu me encontrei com você em uma exposição na Nova Califórnia, você não ligou para mim por causa da sua mulher, maridinho fiel. Eu voltei para casa e eu trabalhava no hospital, quando chegaram com você quase morto eu o reconheci na hora, eu cuidei de você e tirei sua aliança. Quando acordou, não se lembrava de nada. Então me aproveitei da situação, roubei a aliança e os documentos sobre você no hospital, que era para ninguém saber que era casado e que tinha passado por ali, para ninguém o encontrar.
A imagem do baile lhe veio à cabeça, lembrou de Megan, de Jayne, lindamente vestida de vermelho dançando com ele e o olhando com o maior amor do mundo e quando ele lhe deu o colar que usava.
— Então alguém veio me procurar aqui?
— Um amigo seu esteve no hospital, mas eu disse que não havia ninguém com a descrição que deu, e ele foi embora. Mas veja bem, meu amor, a sua querida esposinha não estava nem aí para você, porque ela não foi lá procurá-lo. Deve ter dado graças a Deus por você ter sumido, para poder ficar com este novo marido dela e com todo seu dinheiro.
— Sua louca! — ele estava pasmo com tudo que ouvia.
— Louca por você. Você está mais feliz aqui comigo, agora vamos ter um filho e seremos uma família feliz, porque aquela mulher não o quer mais, já tem outro homem, você mesmo disse.
— Megan, como pôde fazer isso? Você sabe meu verdadeiro nome. Como é meu nome? — gritou furioso.
— Que eu saiba é Jake — disse sorrindo ironicamente.
Ian enlouqueceu de raiva e pulou sobre ela com as mãos em seu pescoço a enforcando.
— Sua miserável! Diga-me, como é meu nome?
— Jake, pare! — gritava, estava sufocando e batia nele para que a soltasse.
— Diga ou eu juro que te mato. — E apertou mais seu pescoço quase a estrangulando.
— Buller... Ian Buller — disse já quase sem voz e ar.
Ele a soltou, ela começou a tossir e tentar recuperar o ar. Ian estava ofegante, passou as mãos pelos cabelos, olhou-a com tanto ódio que sentia vontade de vomitar, de matá-la.
— Megan, eu juro que se eu vê-la de novo, eu meto uma bala na sua cabeça.
Ele saiu dali e correu para a rua tentando respirar.
— Jake, volte aqui. Jake!
Megan enlouqueceu e começou a quebrar tudo que havia na sua frente e gritar, estava completamente insana.
Ian pensou cairia, sua cabeça rodava, foi à estação ver se havia um trem para West Side, mas somente haveria no dia seguinte, então foi ao hotel e pediu um quarto, precisava deitar-se. O nome Ian Buller ecoava na sua cabeça. Várias imagens apareciam como uma janela que se abrira e todos diziam seu nome. Sua cabeça parecia que arrebentaria com as imagens.
Ele deitou na cama com as mãos na cabeça, arrancou a gravata que estava lhe sufocando e abriu a camisa, tentava puxar o fôlego, mas era difícil. Ele chorou de ódio, de dor, das lembranças perdidas, das encontradas, da injustiça, das mentiras, estava arrebatado.
Soltou um grito que ecoou pelo quarto. Precisava se acalmar, tentou aquietar seus pensamentos, ficou atormentado até adormecer. Acordou meio da tarde, foi à fazenda onde trabalhava para receber seu dinheiro e voltou ao hotel.
De manhã iria para West Side, era o que deveria fazer.
Capítulo 19
A viagem foi longa e dolorosa, parecia que nunca chegaria àquele lugar. Sua cabeça doía fortemente, estava ansioso, nervoso, lhe ocorria até a palavra medo, não sabia o que encontraria e nem o que faria.
Quando chegou, desembarcou e tentava lembrar para que lado deveria ir, foi andando pela cidade desnorteado. Parou encostado num palanque em frente ao Saloon, ele olhou aqueles lugares, as pessoas que andavam, mas não se lembrava de nada.
— Sr. Buller?
Ele ouviu uma voz assustada, vindo do lado dele, ele olhou para a mulher e não a reconheceu, estava tonto, parecia que ia desmaiar.
— Minha nossa! É um fantasma ou é você mesmo? — dizia com uma cara de espanto quase com a boca aberta.
— Quem é você?
— Sou eu, a Chloe. Pensei que estivesse morto.
— Você me conhece?
— Claro que conheço, como... Não me reconhece? — perguntou espantada.
— Desculpe, não estou me sentindo bem... — Ian sentia sua cabeça girar.
— Venha, entre, você está branco como um cadáver e olha que é isso que todos pensam que você é. — Ela o puxou pelo braço e entraram no Saloon. — Sam, ajude-me aqui, vamos levá-lo ao meu quarto.
Sam era empregado do Saloon e a ajudou a levá-lo escadas acima e o colocaram na cama.
— Chame o médico — disse pegando uma bacia com água e uma toalha.
Sam ficou ali olhando para ele com os olhos arregalados, sabia quem ele era.
— Vai sua lesma, corre! — Chloe gritou.
— Sim senhora.
— Ian, o que houve? Todos pensam que está morto. Depois de tanto tempo aparece por aqui. Ai meu Deus, ainda bem que não me espanto com nada, senão quem teria morrido de susto seria eu.
— Quem é você? — disse completamente tonto.
— Você não se lembra? Sou a Chloe.
— Desculpe, madame, mas não me lembro. Minhas memórias estão fracas, mas obrigado por me ajudar.
— Querido, o que é isso? Não teria como não ajudá-lo, você sempre foi gentil comigo, diferente de um bando de gente por aqui.
— De onde me conhece?
— Hum... Você vinha aqui às vezes com seus amigos, eu era uma cocote, mas agora este Saloon é meu, está mais elegante, melhorou muito, não acha? Eu saí daquela vida medíocre em que eu vivia. Não se lembra?
— Eu me lembro de três rapazes, vejo os rostos deles, sei que são meus irmãos, mas estou meio confuso.
— Mitchel, Willian e David, não são seus irmãos, são amigos, mas se tratam como tal, vocês vinham muito aqui antes de se casarem, depois ninguém mais apareceu por aqui. A não ser Mitchel que está sempre aqui ultimamente. Mas onde você estava este tempo todo?
Ian contou o que sabia para Chloe.
— Jesus, que desgraça!
— Você conhece Jayne?
— Querido, conheço sim. Ela era sua esposa, ela é filha do banqueiro, ainda mora na sua fazenda que fica fora da cidade. E vocês têm dois filhos, Josh e Angel.
Ian esfregou o rosto lembrando-se dos seus filhos.
— Preciso ir até lá.
Ele quis levantar-se, mas sua cabeça doía demais e fez careta ao mover-se.
— Ah não vai, não! Vai ficar quietinho, o médico já deve estar chegando.
O médico chegou e o examinou, ele contou tudo e o médico lhe deu um remédio para amenizar a dor.
— Sr. Buller, que impressionante! Pelo que estou vendo é um milagre estar vivo. Tome isto sempre que a dor voltar, esta dor é passageira, tente se acalmar.
— Doutor, é melhor que não comente que me viu aqui.
— Pode deixar, vou ficar quieto. Tome cuidado, porque não será fácil o que o espera.
Despediu-se e foi embora e Ian não gostou do que ele disse.
— Chloe, eu preciso ir à fazenda, preciso ir atrás de Jayne.
— Ai ai, Ian, eu não sei se isso é uma boa ideia. Você vai ter problemas. Querido, eu sinto muito lhe dizer, mas sua mulher está com outro homem.
— Eu sei. O tal Enrique.
— Você sabe? — perguntou espantada.
— Sim.
— E mesmo assim quer ir atrás dela?
— Chloe, eu preciso, não posso deixar isso assim.
— Ai meu Deus! Eu não quero pensar no que pode acontecer. Depois de todo este tempo, você aparecer. Isso vai dar uma confusão dos diabos.
— Eu vou ter que fazer alguma coisa, eu quero a minha família de volta.
— Bem, acho que vai, não sei. Afinal você é marido dela, mas pelo que eu sei, eles estão juntos há bastante tempo. Nem imagino como vai ser a reação desta mulher e muito menos do Sr. Gonzáles, ai meu Deus!
— Que desgraça! Como pode ter acontecido isso comigo?
— Querido, não sei lhe responder isso. Mas tome cuidado para você não acabar morto de verdade.
— Diga-me que lado fica a fazenda, como faço para chegar lá?
— Primeiro você vai descansar, durma um pouco, o remédio vai fazer efeito e assim que você se sentir melhor, depois eu o levo lá.
— Obrigado.
Ian ficou quieto um pouco e adormeceu. Chloe o ficou olhando e colocou uma compressa fria na sua cabeça.
— Ai Ian, coitadinho! O que será que vai acontecer? O destino prega cada peça na vida da gente.
Ela ficou ali divagando sozinha e cuidando dele. Ele dormiu por algumas horas e quando acordou, Chloe estava ao seu lado.
— Como está se sentindo?
— Melhor, obrigado.
— Bem, já está escuro, mas se você quiser posso levá-lo até a sua casa. Mas não seria melhor ir amanhã ou mandar chamar seus amigos? Mas justo quando você me aparece aqui, Mitchel saiu em comitiva — disse indignada. — Ele está sempre aqui, mas agora viajou, inclusive levando seus cavalos.
— Meus cavalos?
— Sim, do Haras, seus e de Jayne.
— Chloe, eu prefiro ir agora.
— Está bem, eu vou pedir que arrumem cavalos e iremos.
Ian levantou-se e lavou o rosto enquanto Chloe foi pedir os cavalos.
Chegando à fazenda, os dois entraram na porteira e foram adentrando pela estrada até que foram surpreendidos por barulhos de engatilhes de armas pelas costas.
— Parados aí. Onde pensam que vão? Quem são vocês?
Ian e Chloe calmamente se viraram e deram com o capataz e mais dois homens apontando espingardas para eles.
— Calma, sou eu... Ian Buller.
James que era o capataz da fazenda o reconheceu.
— Ai minha nossa senhora, um defunto! — gritou arregalando os olhos.
— Que defunto, seu idiota! Ele está vivo, não está vendo? — Chloe disse em tom alto.
— Calma, por favor. Eu não estou morto, sou eu mesmo, o dono desta fazenda, abaixem estas armas, pelo amor de Deus!
— Senhor Buller, é o senhor mesmo?
— Sou.
James pediu que abaixassem as armas.
— Pensamos que o senhor estivesse morto.
— Mas eu não estou. Onde está Jayne?
— Desculpe senhor, mas ela não está aqui — disse ainda com os olhos arregalados e com o coração acelerado. — Foi para a Europa com os filhos e o Sr. Gonzáles.
— O quê? — Ian gritou aturdido. — Ai meu Deus, aquele homem levou minha mulher e meus filhos para a Europa?
— Foi sim senhor, faz um tempo que eles foram, nós ficamos para cuidar de tudo por aqui, seus amigos sempre vem aqui ver tudo e o pai da Sra. também, está tudo muito bem cuidado, senhor.
— Isso não me importa. Meu Deus, o que vou fazer?
— Ian, por que não vamos à casa de algum dos seus amigos? Eles devem lhe explicar as coisas mais claramente. — Chloe perguntou.
— Vamos. James eu vou voltar, veja se não atira em mim — disse meio bravo, quando se lembrou dele.
— Sim, senhor. Desculpe senhor — disse atordoado.
— A fazenda de Willian fica mais aqui perto, quer ir para lá?
— Sim, vamos logo.
Chegando à fazenda, Ian bateu na porta. Willian e Emily levaram um susto pela força das batidas e pela hora da noite, ele armou-se com uma espingarda e foi ver quem era e gritou sem abrir a porta.
— Quem é?
— Willian, sou eu, Ian.
— O que? — perguntou confuso, achando que tinha ouvido mal.
— Sou eu, Ian. Willian, por favor, abra a porta.
— O quê? Ian? Não abra, por favor, Willian — Emily disse alto, assustada e agarrada ao braço dele.
— Vá embora! — Willian gritou, gelado dos pés à cabeça porque viu que a voz era igual à de Ian.
— Willian...
Ele disparou a arma contra a porta, fazendo um rombo nela. Ian e Chloe gritaram e se jogaram para o lado, assustados.
— Willian! Pelo amor de Deus, quer me matar? — Ian gritou apavorado.
— Ian está morto! Isso é uma brincadeira? Quem é você?
— Eu acho que você devia ter sido um pouquinho mais sutil, Ian — Chloe disse. Ian virou os olhos como se estivesse concordando, mas indignado.
— Willian, por favor, sou eu mesmo, abra a porta; eu estou vivo, de verdade. — Ele se lembrou de Willian, seu rosto estava nítido nas suas memórias. — Willian, sou eu, estou vivo, a não ser que você me mate com esta espingarda, homem!
Ele assustado olhou para Emily, nem sabiam quem estava mais apavorado dos dois, mas Willian foi devagar e abriu a porta. Quando avistaram Ian, assustaram-se ainda mais dando alguns passos para trás com os olhos arregalados.
— Ai meu Deus, é um fantasma! — Emily gritou fazendo o sinal da cruz umas duas vezes depressa e com os olhos fechados.
— Não sou um fantasma, sou de carne e osso.
— Ian? — Willian perguntou descompassado.
— Sim, sou eu.
— Ai meu Deus, como pode?
— Eu explico, mas abaixe esta arma, ou quer que eu vire uma alma penada de verdade? — Willian tremendo abaixou a arma.
— Ai meu Deus, você está vivo! — Willian o abraçou rindo e muito emocionado, seus olhos se encheram de lágrimas.
— Calma, amigo. — Ian retribuiu o abraço fortemente.
— Pensei que estivesse morto. Como é possível? Procuramos você por todos os lugares, onde esteve este tempo todo?
— É uma longa história, eu explico.
Ian olhou para Emily que o olhava ainda como se fosse um fantasma.
— Você é a Emily, esposa de Willian e irmã de Jayne, não é?
Emily desmaiou e Willian a amparou nos seus braços, eles a colocaram no sofá e ele a chamava, batendo levemente em sua face. Quando ela voltou a si, olhou para Ian com os olhos arregalados. Foi gritar, mas Willian tapou sua boca.
— Meu bem, não grite, você vai acordar Ethan. É ele mesmo, vivinho.
— Acho que ele deve ter acordado com o barulho do tiro, Will — Ian disse sorrindo e Willian deu um sorriso desconcertado.
— Ian, meu Deus eu ainda não acredito. O que esta mulher está fazendo aqui? — Emily perguntou quando avistou Chloe.
— Ela me ajudou quando cheguei à cidade e ela me trouxe aqui, portanto, seja gentil, está bem?
— Ai... Eu sempre sou gentil, mas você estava com esta mulher? Por isso não voltou?
— Claro que não, Emily. Que ideia!
— Ah, pelo amor de Deus! Eu nem sei o que pensar, depois de tudo, o que acha que passa pela minha cabeça?
— Mas quer me dizer o que aquele homem está fazendo com minha família na Europa?
— Enrique?
— Sim, por acaso é ele que está com minha família, não é?
— Ai meu Deus, que tragédia! — Emily disse com as mãos no rosto.
— Ian, ele é noivo de Jayne — Willian disse cauteloso.
— Noivos? Pensei que estavam casados.
— Casados? Não, ainda não, vão se casar quando voltarem da viagem.
— Como ela pode estar com ele?
— Você foi dado como morto, ela tem seu registro de óbito. Fazem mais de dois anos que você sumiu, não se deu conta disso?
— Mas ela é minha mulher!
Ian estava numa angústia terrível ouvindo tudo aquilo que Willian dizia.
— Acalme-se, ela pensa que você está morto.
— O quê Acalmar-me? Aquele homem está com ela e meus filhos, como isto é possível? Isso não pode estar acontecendo.
— Ian, temos que encontrar um jeito de consertar esta bagunça em que vocês se meteram. De todas... Esta foi a pior, pelo amor de Deus!
— Acho que eu vou desmaiar de novo — Emily disse.
— Querida, por favor, não desmaie, senão você não poder me ajudar aqui — Willian disse para ela.
— Está bem... Mas como faz para não desmaiar?
— Pegue uma bebida para nós.
— Sim, gostei disso.
Ela foi pegar uma garrafa de uísque.
— Mas que espécie de amor é este que ela sentia por mim? Dois anos e vai se casar com outro?
— Ian, eu sei que está nervoso, mas não seja injusto com ela, você está tendo uma crise de ciúmes, se acalme — Willian disse.
— Aquela é minha família e aquele homem está no meu lugar.
— Pense, homem! Eu sinto muito, mas aquela família ficou sozinha quando você sumiu e por mais de dois anos, Jayne tentou levantar-se e cuidar de tudo, ela está tentando recomeçar a vida.
— Então, se eu estou morto vou continuar assim, ela deve estar feliz com ele. Ela foi leviana de ter se envolvido com ele desse jeito.
— Ian, o que está dizendo? Jayne quase morreu para tentar salvá-lo naquela cachoeira, estes dois anos foram o inferno para ela, e agora do nada você aparece e diz estas coisas? Você não pode julgá-la desta maneira, não vou permitir — Emily disse colocando a bebida no copo e olhando para ele, bebeu e fez uma cara feia.
— Por que não voltou antes, onde estava? — Willian perguntou.
Ian sentou-se com as mãos na cabeça.
— Eu fui encontrado na beira do rio e levado ao hospital, quando acordei não lembrava nem de meu nome, ninguém sabia de onde e quem eu era, muito menos eu mesmo. Há pouco tempo comecei a me lembrar e quando a vi na minha frente em Portland minha memória começou a voltar. Finalmente me lembrei de tudo, então voltei para cá atrás de Jayne.
— Portland? Minha Ave Maria! Então foi você mesmo que ela viu? E nós achando que ela estava louca! — Emily gritou.
— Ian, você não a reconheceu?
— Mais ou menos, eu estava muito confuso, na hora eu fiquei paralisado, não atinei nada, somente alguns minutos depois, tentei ir atrás dela, mas tive um bocado de empecilhos e agora cheguei tarde.
— Ian, foi esse encontro com você que impulsionou Jayne a esse casamento e ir para a Europa.
— O quê?
— Ela achou que estava ficando louca, todo mundo achou, ela e Enrique brigaram depois do encontro com você e por causa disso e para colocar uma pedra encima desta loucura, ela aceitou a proposta de casamento dele.
— Então a culpa é minha? Se eu a tivesse reconhecido ela não teria ficado noiva e ido para a Europa? Ai meu Deus, não acredito! — Ian sentiu que seu peito rasgar, o desespero arrebatou sua alma.
— Calma, Ian. Ficar assim não vai resolver isso — Chloe disse.
— Meu Deus, eu estou me sentindo culpado — Willian disse.
— Viu, Willian? Se tivéssemos ido atrás dele como eu disse, tínhamos evitado isso.
— Emily, foi difícil de acreditar que ele estava vivo e não ia dar tempo, ela já viajou no outro dia que nos contou. — Mas o que você vai fazer agora?
— Vou embora, ela nem vai ficar sabendo que estou vivo.
— Ai meu Deus, enlouqueceu! — Willian disse com as mãos na cabeça.
— E você acha que eu vou deixar você fazer isso? Quer que a gente minta para ela que você não esteve aqui? — Emily disse. — Eu não vou fazer isso.
— Eu também não.
— Mas seria o melhor, não vou impedir que ela seja feliz. Ou vai me dizer que ela não está apaixonada por ele, Emily?
— Bem... Nós a incentivamos a ficar com ele. Ela não queria a princípio, mas acabou aceitando e acho que se apaixonou por ele.
— Emily! — Willian resmungou dando um cutucão nela.
— Ela estava sozinha e Enrique a ajudou a superar toda aquela dor de sua morte, não pode culpá-la por tentar recomeçar e ele cuida dela e das crianças. Ele realmente a ama, Ian, não pode culpá-los por nada, mas ela nunca esqueceu você, nunca deixou de amá-lo. Você não estava aqui para ver o que ela sofreu — Willian disse tentando clarear as ideias do amigo.
— Ai, eu estou sentindo ódio, tenho vontade de matá-lo.
— Não faça uma besteira, esfrie a cabeça — Chloe disse.
— Ian, Jayne quase morreu de tristeza, ela culpou-se pela sua morte. Jayne sempre o amou, você precisa se mostrar — Willian disse.
— Ai meu senhor, nem quero pensar na reação dela e muito menos na de Enrique — Emily disse.
— Não tenho medo dele.
— Mas eu não quero que ela sofra mais, se mais uma desgraça se abater sobre ela não sei se vai suportar, pelo amor de Deus!
— Então não serei eu que vou causar mais uma desgraça na vida dela, é melhor que eu vá embora e a deixe levar a vida.
— Eu não sei o que pode acontecer, mas você não pode ir embora. Um dia ela vai descobrir e não vai nos perdoar. Eu não vou fazer parte disso, ou você conta ou eu conto — Emily disse.
— Ian, beba isto, você precisa pensar no que fazer e ter calma.
Ian bebeu mais uísque que o amigo ofereceu.
— Eu vou ter que esperar ela voltar? Essa espera vai me matar. E de saber que ela está lá com ele? Enrique... — algumas imagens lhe vinham à cabeça sobre ele. — Ai meu Deus como isso dói. Este Enrique é aquele xerife que quase me prendeu, não é? É o mesmo homem que ela já teve um romance. É isto ou estou enganado?
— Sim, ele mesmo — Willian confirmou.
O ciúme de Ian lhe corroeu a alma, sua feição mudou drasticamente.
— Por isso que ela cedeu tão rápido, devia gostar dele ainda.
— Ian, sempre há uma solução. Você precisa ter calma e ela vai demorar a voltar, você vai ter tempo para pensar — Chloe disse.
— Ian, pense antes de fazer qualquer bobagem. Não duvide do amor que ela sentia por você, ela o amava mais que tudo, acredite nisso. Você vai ter que esperar e falar com ela — Willian disse.
— E pedir que ela escolha, ou ele ou eu? Eu não sei se suportaria ouvi-la dizer que vai ficar com ele. Lutei tanto para me lembrar de tudo e agora queria esquecer.
— Se você for embora, nunca saberá, pois ela não terá escolha, ficará com ele de vez, e você, vai sumir no mundo? E sua fazenda Ian, que você lutou sua vida inteira para construir, e seu filho? Vai deixar Josh? E Angel? Vai deixar seus filhos pensarem que está morto? — Willian disse.
— Ian, vamos dormir, amanhã você estará com a cabeça mais fria e podemos pensar em algo — Emily disse.
— Bem... Eu vou voltar para a cidade — Chloe disse.
— Chloe, é muito tarde para você ir sozinha, pode ficar aqui e amanhã você vai, é perigoso, vou arrumar uma cama para você.
— Agradeço sua gentileza, Sra. Jonhson, mas é inconveniente.
— Eu insisto. Se você ajudou Ian, merece minha consideração.
— Está bem, obrigada, senhora. Então ficarei.
Arrumaram as camas para Chloe e Ian e foram tentar dormir, mas Ian não conseguia. Sentia-se culpado de não ter se lembrado quando ela esteve na sua frente. Foi um tolo e agora teria que esperar ela voltar correndo o risco não o querer mais, e ao mesmo tempo sentia raiva, ciúmes de Enrique estar com Jayne, estar com seus filhos. Estava confuso, ora sentia raiva de Jayne, hora sentia raiva de si mesmo.
Capítulo 20
Pela manhã foram levantando aos poucos para tomar café.
— Ian, como está?
— Péssimo, nem dormi.
— Tome um café que vai lhe fazer bem, infelizmente você terá tempo para pensar no que fazer até eles voltarem da Europa.
— Não me lembre disso, que meu estômago embrulha. Sinto-me traído de pensar nela com ele.
— Ian, se você pensar assim vai ficar com raiva dela e não é este o caso, por favor — Emily disse.
— Eu sei. Mas acha que vai ser fácil eu ficar aqui sentado imaginando o que estão fazendo?
— Bem, meu querido, não foi fácil para ela pensar que você estava morto, enquanto você estava vivendo com outra mulher.
Ian a olhou com os olhos arregalados.
— Emily! — Willian gritou.
— Mas é verdade. Se você acha que a Jayne está lhe traindo, você o fez também. E pior, Ian, você sabia que tinha um passado, enquanto ela pensava que você estava morto. Então, não ouse dizer que ela o está traindo, porque não está. Para ela você está morto.
Ian furioso levantou da mesa.
— Eu sei, Emily! Sei que ambos estamos errados e a desgraça é que nenhum dos dois é culpado disso.
— Então se aquiete, homem, sente aí e beba seu café.
Ian deu mais umas voltas e sentou novamente.
— Ian, a vida é uma droga e vocês três são vítimas, considere isso e não queira puni-los, isso seria um erro imenso — Chloe disse.
— Eu sei, o pior de tudo, é que eu sei!
— Bem... Temos que avisar David e Mitchel que você está aqui — Willian disse. — Eles ficarão muito felizes de saber que você está vivo, sentiram muito sua morte. Você lembra-se deles?
— Sim, estão um pouco embaralhados na minha cabeça, mas me lembro. — Ian tentou buscar na sua memória seus rostos.
— Mitchel está viajando, mas David deve aparecer daqui a pouco.
— É bom ter cuidado com a Mary, ela não pode levar sustos.
— Bom dia... — David disse alegre entrando e quando avistou Ian ficou branco, gritou e saiu correndo para fora da casa. Willian, levou um susto pelo grito e saiu correndo atrás dele.
— David, volte aqui!
Ele parou na frente da casa com os olhos arregalados e o coração saltando descontrolado no peito.
— Tem um fantasma... Na sua mesa — David gritou apavorado.
— Fique calmo, David. Ele não é um fantasma.
— É sim, era o fantasma de Ian, eu vi, estava sentado na cadeira.
— David, me escute, se acalme. — Willian foi à frente dele e o segurou pelos ombros. — Ian está vivo e voltou ontem à noite, aquele é Ian e não um fantasma. Entendeu?
— O quê?
— Ian está vivo, de verdade.
— Will, seu abobalhado. Como pode dizer uma coisa destas?
— Cunhado, vamos entrar e você verá por si mesmo.
— Ah... Não vou entrar lá — disse se negando das mãos dele.
— Deixe de ser medroso, David, que coisa! Já falei que aquele é Ian, vivo, de carne e osso, só que de cabelos mais curtos. Ele estava sem memórias por causa dos tiros e cair na cachoeira, enfim... Ele está vivo e voltou para casa. Vamos entrar, ele é real, de verdade.
— Jura?
— Juro — disse com um sorriso maravilhoso e com os olhos brilhantes. — Aquele é nosso irmão, de verdade.
— Isto é maravilhoso! Nosso irmão está vivo? — David abraçou Willian.
— Está, acredite.
Entraram e David ficou parado na porta olhando para Ian. Ian levantou, o olhou e um filme logo passou pela sua mente, os dois emocionados abraçaram-se com os olhos marejados.
— Ian, meu Deus! — David começou a chorar.
— David... Meu irmão.
— Como pode, onde estava? Como?
— Calma, eu vou lhe contar.
Conversaram e contaram tudo a David que ficou chocado, principalmente sabendo da mentira de Megan.
— Mas que vadia! — David disse injuriado.
— Sim, David, ela foi insana e me aprontou tudo isso; eu tive que me controlar para não matá-la de tanto ódio que senti quando descobri.
— Ai Ian, mas devia ter matado, escalpelado. Se eu pudesse, arrancava o coração dela, essa, essa, ai nem tenho uma palavra para xingar esta... coisa — Emily disse furiosa.
— Eu também, já conheci mulheres desclassificadas, mas esta é louca da pior espécie que existe — Chloe disse. — Bem... Obrigada pelo pouso e o café, mas preciso ir.
— Chloe, obrigado por tudo — Ian disse beijando-lhe a mão.
— Espero que consiga resolver isso, vocês se amam e merecem estar juntos novamente. Se precisar de mim pode me chamar.
Chloe despediu-se de todos e foi embora.
— Que história! Mitchel vai enlouquecer quando souber disso, ele deve retornar daqui a alguns dias — disse Willian.
— Apesar de tudo, é muito bom estar com vocês de novo, parece que estou saindo daquele limbo que eu estava vivendo.
— Imagino. Deve ser horrível não se lembrar de nada.
— David, é o pior inferno que pode existir. Mas acho que pior que isso é perder Jayne.
— Ian, Jayne ama você, eu sei, ela quase se matou naquele rio para salvá-lo, eu a vi se jogar do trem para ir atrás de você. Eu e Willian a tiramos do rio, ela ficou machucada, quase se afogou e caiu na cachoeira, foi um momento muito horrível — David disse e Ian suspirou fundo.
— Coitadinha... Eu me lembro dela tentando me tirar do rio.
— Então Ian, ela o ama, e vocês vão se acertar e voltar a ser o casal favo de mel, como diz o Mitchel — Willian disse sorrindo para ele. — Afinal, ela somente está noiva, você ainda é o marido dela.
— Assim espero.
**
Ian ficou hospedado na fazenda de Willian, estava injuriado de não poder ir para sua casa, foi à fazenda e conversou com os empregados, James lhe mostrou tudo que fizeram durante o tempo em que ele esteve fora. Ele pediu para que ninguém falasse que ele estava de volta e todos juraram segredo. Ele deveria resolver as coisas quando Jayne voltasse e não queria que eles ficassem sabendo por terceiros.
Ficar na fazenda lhe ajudava nas suas memórias, cada coisa que via, sua memória clareava. Apesar de lhe fazer bem, ao mesmo tempo lhe maltratava impiedosamente.
Ian ainda não tinha ideia de como falaria com Jayne, ficava rodando frases na cabeça, mas nem imaginava como seria sua reação de estar à frente dela. Os dias passavam e a tortura da espera era de estraçalhar. Ian estava nervoso, triste e impaciente.
**
Mitchel retornou de viagem e foi ver os rapazes. Ian estava com eles na frente do celeiro, ele os avistou de longe, desceu do cavalo e os foi encontrar, mas não se deu conta de quem era o terceiro homem. David o avistou e cutucou Willian. Os três ficaram o olhando se aproximar, mas seu passo foi diminuindo e o sorriso que trazia no rosto sumiu, ficou parado como uma estátua, não mexia um músculo olhando para Ian, que o olhava.
— Willian, ele vai desmaiar — David disse.
Os dois foram ao lado dele que estava imóvel e Ian foi se aproximando dele.
— Mitch... — Willian o chamou devagar. David passou a mão na frente dos olhos dele, mas ele estava estático. — Mitchel! — Willian o chacoalhou pelos ombros.
Mitchel deu um tapa na nuca de Willian, sem tirar os olhos de Ian.
— Cale-se! Estou tendo uma alucinação, estou vendo Ian.
— Sim, eu também estou vendo — David disse rindo.
— Está?
— Estamos, Mitchel, ele é real, não é uma alucinação.
— Que porcarias vocês beberam? Eu não bebi nada.
Ian parou na frente dele o olhando carinhosamente com um sorriso de canto de boca, seu coração estava repleto de emoção.
— Não sou uma alucinação, Mitchel, estou vivo, eu não morri naquela cachoeira, somente estava perdido, mas voltei para casa — disse devagar e sorrindo.
Mitchel esticou a mão e colocou no peito de Ian o apalpando para ver se era real o que estava vendo.
— Ai, você é de verdade? É você mesmo?
— Sou. — Ele o abraçou fortemente.
— Eu não acredito!
— Acredite.
— Você está vivo! — gritou, rindo e olhando para cima e o abraçou novamente. — Obrigado, meu Deus! Mas o que houve?
— Depois eu lhe conto tudo, é uma longa história.
— Minha família inteira, nós estamos juntos de novo — disse emocionado.
— Nosso pacto ainda está valendo.
— É! E pelo jeito é bom mesmo.
Os quatro se abraçaram e todos não conseguiram conter as lágrimas de felicidade. Os quatro irmãos estavam juntos novamente.
De repente Mitchel ficou sério e deu um cascudo em Ian.
— Ai, por que fez isso? — Ian disse colocando a mão na cabeça pela dor.
— Onde estava? Nunca mais morra de novo, senão eu te mato — Todos gargalharam. — Meu Deus, eu preciso de uma bebida urgente, se não, quem vai morrer sou eu! — Mitchel disse.
— Venham, vamos comemorar.
Eles foram os quatro para a varanda e Willian pegou uma garrafa de uísque e copos e brindaram a volta de Ian e por eles estarem juntos novamente. Estavam com o coração carregado de emoção e riam. Mitchel, por um momento lembrou-se de Jayne e seu sorriso sumiu de seu rosto.
— E Jayne? Conte-me o que aconteceu.
Ian lhe contou tudo, deixando-o chocado.
— Ian, Ian, eu não queria estar na tua pele e muito menos na de Jayne, aquela mulher vai morrer quando o ver.
— Eu sei.
— Acho bom você se preparar, porque esta situação não vai se resolver assim como está pensando.
— Mitchel, eu nem imagino como isso pode se resolver.
— Seria simples se não tivesse Enrique — David disse.
— Sim, Ian, ele não vai aceitar perder Jayne assim, ele lutou muito para ficar com ela e é um bom homem — Mitchel disse.
— Daria para não falar bem dele para mim?
— Mas é verdade, eu não tenho o que falar mal dele. Mas vocês três vão ter que chegar num acordo.
— Minha nossa senhora, não quero nem ver! — David disse.
— Mas eu tenho uma vantagem. Eu sou o marido dela e eu resolvi que não vou embora. Eu quero minha esposa, meus filhos e minha fazenda de volta.
**
Os dias e semanas arrastaram-se e dia após dia Ian esperava a volta de Jayne. Não aguentava mais, sua ansiedade o estava matando. Ian torturava-se com a visão de Jayne nos braços de Enrique, isso o castigava e seu coração doía tremendamente.
— Ian, chegou uma carta da Jayne, ela vai chegar amanhã — Emily disse com os olhos arregalados.
— Nossos mensageiros são eficientes, Jayne quase chega antes que a carta — Willian disse rindo ironicamente. — É isso amigo, sua espera acabou.
Ian sentiu-se encurralado, agora teria que pensar seriamente que atitude tomar em relação à Jayne. Ian combinou com todos que estariam na fazenda para recepcioná-la e que ele ficaria escondido, esperando o momento certo para ele aparecer.
Quando eles chegaram estavam eufóricos, as crianças alegres e falando o tempo todo. Enrique e Jayne estavam com sorrisos encantadores, demonstravam alegria. Eles estavam esperando que ela viesse sozinha para a fazenda, mas Enrique a acompanhava.
— Nossa, Jayne, mas vocês estão com a aparência muito boa e parecem muito felizes.
— Sim, Julia, eu estou feliz, esta viagem foi maravilhosa.
— Que bom, dá para ver pelo rosto de vocês.
— Com o tempo contarei tudo o que fizemos, trouxe presentes para todos vocês. Visitamos cada lugar lindo.
— Eu estou curiosa — Emily disse tentando dar um sorriso.
— Mas e vocês, como foi tudo por aqui?
— Tudo bem, nós tivemos algumas grandes surpresas por aqui, mas você vai ficar sabendo de tudo.
Ian estava atrás de uma porta, com o coração descompassado de ouvir sua voz, esperava eles começarem a conversa para que ele pudesse mostrar-se a ela, mas não esperava que Enrique estivesse junto. Talvez aquela não fosse a hora, queria ver Jayne sozinho, com Enrique seria uma catástrofe.
Estava se segurando para não entrar e acabar com tudo de uma vez, queria tê-la nos braços, queria sentir sua pele, beijar seus lábios, isso lhe queimava por dentro. Sentia uma saudade aterradora, cada dia que passava este sentimento aumentava, seu medo de perdê-la lhe queimava.
— Eu estou os achando estranhos, estão me olhando com umas caras. Tem algo errado?
— Não! Bem... Sabe o que é, Jayne... É que temos algumas coisas importantes para contar para você, mas vocês dois parecem que estão se dando tão bem, estão tão diferentes.
— É que nós temos uma novidade — Enrique disse alegre e abraçando Jayne.
— Novidade?
— Sim, nós nos casamos na Espanha — Jayne disse sorridente levantando a mão e mostrando a aliança.
— Ai Jesus! — Emily gritou cobrindo a boca com a mão.
— O quê? — Mitchel gritou. — Que desgraça!
— Agora lascou — David disse.
Todos ficaram boquiabertos e soltaram as palavras sem pensar. Ian ouvindo aquilo sentiu uma dor tão imensa que lágrimas lhe caíram dos olhos, sua respiração ficou difícil e seu estômago virou, queria gritar.
— Nossa! Que reação é essa? — Jayne disse espantada.
— Não, Jayne... É que isso nos pegou de surpresa, foi só isso, estamos todos muitos felizes por você e Enrique.
Todos foram até eles e os abraçaram tentando disfarçar a imensa agonia que estavam sentindo, pois além deles sabiam que Ian também estava ouvindo tudo. Mitchel não conseguia fechar a boca e mover-se do lugar.
— Mitchel, você não gostou? Parece indignado, por quê?
— Jayne, querida, imagina... Foi o susto. — Julia cutucou Mitchel. — É que eu gostaria de ter estado no seu casamento, só isso. Mas estou feliz por vocês.
— É Jayne, é claro que estamos felizes por vocês dois — Willian disse tentando disfarçar.
— Eu sei, nos desculpem por isso, mas quando estávamos lá, Ricky sugeriu que nos casássemos e eu aceitei. Bem... Eu já falei da nossa novidade, agora quero saber qual é a de vocês, estou curiosa.
— Ham... Novidade? Não nada... Somente coisas da fazenda, nada demais. Depois falamos sobre isso.
— É... Vocês devem querer descansar — Willian emendou.
— Está bem, mas que vocês estão muito estranhos, isso estão.
— Impressão sua, vamos pessoal, vamos deixá-los descansar.
Despediram-se e foram para fora. Ian saiu pelos fundos, depois daquilo que ouvira não poderia falar com Jayne, esqueceu tudo o que havia pensado em falar com ela, aquilo mudaria tudo entre eles. Casada com Enrique, era demais para suportar. Ian pegou seu cavalo e saiu, estava desesperado, perdeu Jayne de uma vez por todas.
— Minha nossa! Agora Ian está com um grande problema — David disse.
— Onde ele está?
— Deve ter ido embora quando ouviu aquilo.
— Meu Deus! O que vai ser deles agora?
— Não sei, mas Ian deve estar numa tristeza de amargar.
— Para onde ele iria?
— Sei lá, vou dar uma volta por aí para ver se o encontro, eu espero que ele não faça nenhuma besteira.
— Ai meu Deus, eu estou em choque! — Emily disse.
Ian foi até o lago, ficou caído de joelhos na grama olhando para a água, lágrimas lhe corriam dos olhos.
— Ai meu Deus! Não Jayne, por quê? Eu a perdi. Casada com Enrique, não é possível, eu não acredito, o que vou fazer?
Ian sentia uma imensa dor no peito e a frase “Nós nos casamos”, girava na sua cabeça. Seu mundo desabou e a remota esperança que ele sentia de ter Jayne de volta, desapareceu. Sentia um vazio completo. Ela realmente o havia esquecido e amava Enrique, demonstrou isso claramente se casando com ele e esbanjando toda aquela felicidade.
Ele soltou um grito que ecoou pelas montanhas, com toda a dor que jamais pensou sentir.
Capítulo 21
— Jayne, eu senti uma hostilidade nos seus amigos, eles não gostaram da nossa novidade — Enrique disse.
— Eu percebi, não entendi a reação deles, talvez tenha sido demasiada.
— Isso importa?
— Não, porque eles não tomam as decisões por mim, mas sim, porque quero a aprovação deles, afinal são meus amigos e fazem parte da minha família, salvaram minha vida, Ricky, jamais quero desapontá-los. Quero que compartilhem da nossa felicidade, entende?
— Sim, querida, eu sei, mas os achei estranhos.
— Eu também, mas depois converso com eles e fico sabendo o que houve, mas agora eu quero descansar um pouco. Faz-me companhia?
— Sim, com o maior prazer, Sra. Gonzáles.
**
No outro dia quando amanheceu, Jayne e Enrique dormiam tranquilamente. Ele acordou e a ficou olhando, admirava seu rosto, ele acariciava suavemente seu braço com a ponta dos dedos. Jayne estava dormindo de lado e os dois estavam um de frente para o outro. Ela lentamente abriu os olhos e o ficou olhando por alguns minutos e sorriu retribuindo o sorriso doce que ele lhe dava.
— Eu estava pensando... — Enrique disse acariciando seu rosto. — Estamos dormindo juntos há algum tempo, acha que logo teremos um filho? Eu gostaria muito de ter um filho com você.
— Uhum, eu não tomo as ervas desde que nos casamos.
— Que ervas? Não entendi.
— Eu tomo chá de uma erva para impedir a gravidez.
— Ora vejam, vocês mulheres. Eu nem sabia que existia isso.
— Existe, mas é um segredo — disse cochichando.
— E nós homens que pensamos que temos o controle de tudo.
— Não tem — disse entrelaçando seus dedos nos dele e rindo.
— Mas então você já estava pensando em engravidar?
— Estava. Afinal agora somos marido e mulher.
— Jayne, ter um filho seu vai ser uma alegria imensa. Estou tão feliz, sempre sonhei em ter um filho. — Seus olhos brilhavam.
— Eu também estou feliz.
— E como sabia que eu ia querer um filho?
— Eu o conheço muito bem, senhor xerife, estava escrito na sua testa. — Jayne tocou sua testa e escorregou os dedos suavemente pelo seu rosto.
— Podemos tentar fazer nosso bebezinho agora mesmo... — disse sorrindo e indo por cima dela.
Fizeram amor, com a esperança que um bebê lhes viesse agraciar o casamento. Jayne se dedicaria para que seu casamento desse certo e eles fossem felizes. Na viagem eles tiveram momentos felizes e românticos, ele fez de tudo para agradá-la. Ela estava entregue a ele e sentia-se feliz e leve.
Recomeçou sua vida, havia virado a página que continha sua história com Ian. Enterrou tudo em seu coração, ele estaria ali, sempre guardado, ainda o amava perdidamente, mas não sofreria mais por ele. Agora sua história seria ao lado de Enrique, pelo menos era isso que almejava.
**
— Ian, você está horrível.
— Como queria que eu estivesse?
— Isso se complicou, mas você ainda vai ter que falar com ela.
— Ela está casada, vocês viram a felicidade dos dois, eles se amam, ela não quer mais saber de mim. Estou com uma raiva e tristeza que está me matando. Não sei o que fazer.
— Ian, vá até ela e converse, pois você não pode desistir dela.
— Eu não queria desistir, eu a amo demais.
— Então lute, você nunca foi de desistir de nada, sempre lutou por tudo aquilo que quis. E você estando vivo, este casamento pode ser anulado.
— Isso é verdade. Ela não é viúva, não poderia estar casada com ele — Emily complementou.
— Então, Ian, olhe bem, o casamento dela com Enrique não vale. Eu não entendo destas coisas, mas acho que estou certo.
— O que me preocupa não é o papel, Willian, é o coração dela.
— Mas você só vai saber o que se passa no coração dela quando vocês conversarem. Não há outro jeito.
— Eu vou tomar coragem, vou ver como posso falar com ela.
— Acho que devíamos prepará-la antes.
— Eu vou falar com ela primeiro — Emily disse.
Ian assentiu e esfregou o rosto dando um profundo suspiro, não aguentava mais aquele pesadelo, estava exausto. Precisava saber logo o que aconteceria. Fugir ou adiar, não resolveria nada.
**
Julia e Emily combinaram com Ian que falariam com ela e depois ele a esperaria no lago para conversarem. Acharam que assim seria mais fácil para ela. Ela estava sozinha em casa, pois Enrique havia ido tratar de seus negócios na cidade.
Jayne, animada as recebeu, seus olhos brilhavam e seu sorriso era encantador. Emily e Julia se olharam quando viram tanta felicidade estampada em seu rosto, fazia muito tempo que não a viam assim, estavam nervosas e sentiram um aperto no peito de cortar aquela felicidade. Não sabiam por onde começar.
Enquanto tomavam coragem, Jayne contava sobre a viagem, o que eles fizeram e como foi seu casamento, uma cerimônia simples na residência de Enrique em Madri, de como estava sendo bom estar casada com Enrique. Mas quando Jayne contou que estava tentando engravidar, elas quase tiveram um colapso.
— Engravidar de Enrique? Meu Deus, isso não pode! — Emily gritou já ficando descontrolada.
— Como? Emily, eu não entendo, vocês ficaram me perturbando para eu ficar com ele, e agora que fiz isso, vocês ficam aí tendo ataques? O que há com vocês? Não queriam me ver feliz? Pois estou — Jayne disse indignada.
— Jayne, é claro que queremos vê-la feliz querida, mas... — Julia parou, nem sabia como começar, apertava as mãos. — Há uma coisa muito importante que precisamos lhe contar.
— O que está acontecendo? Todos ficam me olhando de canto de olho, até os empregados. Desembuchem, falem de uma vez!
— É sobre Ian.
Jayne sentiu um baque no seu estômago.
— Ah não! — Ela levantou do sofá e começou a andar. — Pelo amor de Deus! Eu pedi a vocês que não falasse mais disso, eu não quero falar de Ian. Estou bem com Ricky e eu quero que fique assim.
— Querida, sinto muito, mas não dá para não falar, você vai ter que ouvir e acho melhor você se sentar.
Jayne sentiu um frio lhe percorrer a espinha e sentou-se temendo o que ouviria.
— Jayne, sabe o homem que você viu em Portland?
— Sei. O que tem ele? — disse já ficando nervosa e lembrando-se daquela tempestade que foi em Portland.
— Jayne, querida, eu sinto muito, mas aquele homem era Ian.
— O quê? — disse espantada, arregalando os olhos.
— Era ele mesmo, Jayne.
Jayne sentiu-se golpeada por aquelas palavras, ela levantou do sofá, começou andar de um lado para outro, transtornada, estava com vontade de gritar, de esmurrar algo, de sair correndo.
— Julia, pare com isso! O que estão querendo? Enlouquecer-me? Vocês disseram que eu estava louca. Ian está morto, não era ele, aquele homem estava com outra mulher, seu nome era Jake, ele me viu e deu a costas para mim, não era Ian. Ele está morto. Está morto! — gritava descontrolada.
— Não está. Era ele mesmo, ele está vivo — Emily disse.
Jayne sentiu o chão sumir debaixo dos seus pés e sua cabeça girar.
— Não, não pode ser... ele não me conheceu, ele não sabia quem eu era e o nome dele era Jake. Por que estão fazendo isso comigo? Saiam daqui, vão embora, não quero ouvir mais nada. Saiam!
— Jayne, se acalme e escute-me. — Jayne começou a chorar, seu coração estava descompassado e seus pensamentos embaralhados. — Ele está vivo e ele está aqui em West Side, veio atrás de você.
— Não... Pare com isso, eu não quero ouvir mais nada — disse chorando e com as mãos nos ouvidos para não ouvir.
— Jayne, ele não a conheceu porque ele perdeu a memória naquela tragédia. Ele foi encontrado e levado a um hospital, ele nem sabia que se chamava Ian. Jake foi o nome que deram a ele, ninguém sabia de onde ele era, seu nome, nada. E ele não se lembrava de nada, por isso ele não reconheceu você na hora, mas sabia que a conhecia de algum lugar quando a viu. E depois disso, suas memórias começaram a voltar. Agora ele está de volta, ele voltou um pouco depois que você viajou.
— Julia, não é verdade, não pode ser, diga que não é verdade.
— É verdade, querida, eu juro.
— Ai meu Deus, eu vou morrer, que pesadelo, meu Deus me ajude!
— Por favor, Jayne, fique calma.
— E onde ele está?
— Agora ele está lá no lago, ele está esperando você para conversarem.
— Ian está vivo?
— Está.
— Meu Deus! Ian está vivo, depois de todo este tempo, ele volta, ai meu Deus eu não acredito, o que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz?
Jayne sentiu suas vistas escurecerem e desmaiou. As meninas correram para socorrê-la e a colocaram no sofá. Julia molhou um lenço na água fresca e colocou na sua testa. Ela ficou desacordada por alguns minutos até começar a voltar a si.
— Jayne, fique calma.
— Ian... — ela começou a chorar aos soluços e sentou-se no sofá tentando recobrar algum sentido.
— Calma! Vocês têm que conversar e ver o que irão fazer.
— O que vou fazer? Eu estou casada com Enrique, o que acha que eu tenho que fazer? Estou viúva de marido vivo, o que vai ser de mim agora? Meu Deus, eu tenho dois maridos — gritou ficando fora de si novamente. — Meu marido está vivo... Ian está vivo.
— Jayne, se acalme...
Num rompante, ela saiu da casa correndo, pegou seu cavalo e enlouquecida saiu galopando para fora da fazenda.
— Ai Jesus! Julia isso vai acabar em desgraça.
— Emily, eu estou em pânico. O que ela vai fazer?
— Eu não sei, se fosse eu, não saberia.
— Quando Enrique souber disso, vai enlouquecer.
— Julia, o que vamos fazer?
— Acho que devemos ficar aqui e esperar ela voltar, com certeza ela foi se encontrar com ele.
— Esperar... Eu odeio esperar, vou ter um ataque, sentada aqui, sem saber o que está acontecendo lá.
— Vou pedir um chá para Anna, assim a gente se acalma.
— Acho que nem um calmante para cavalo iria me acalmar, mas vou tomar chá para ver se ajuda. Ou quem sabe devêssemos beber um uísque?
— Não, quem sabe misturar o uísque no chá, deve resolver.
**
Jayne cavalgou pelo vale até chegar ao lago, olhou em volta dando voltas com o cavalo, seu coração estava batendo tão rapidamente que sentia uma dor terrível no peito. Havia perdido completamente noção do mundo, a única coisa que circulava na sua mente era Ian. Ela desceu do cavalo e olhava ao redor.
— Ian! — gritou.
Ian saiu de trás de uma árvore e estava sentindo que suas pernas não o sustentariam quando a avistou. Os dois ficaram se olhando sem dizer uma palavra e lágrimas correram de seus olhos.
Jayne não sabia se corria para longe ou corria para os braços dele, seu corpo sentia um peso tão imenso que não conseguia se mover, nem sabia que sentimento era aquele que a invadiu, mal conseguia puxar o ar para seus pulmões.
Ian veio andando até ela e a olhava transmitindo os mais tristes sentimentos e ao mesmo tempo alegres, pois sentia uma mistura de emoções em seu coração.
Chegando perto dela mal conseguiu respirar. Jayne pensou que ia desfalecer, pois estava sem forças nas pernas e seu peito doía. Ian somente a olhou com os olhos cheios de lágrimas. Ficaram assim por alguns minutos.
O impulso que ambos tiveram foi de se abraçarem e, os dois caíram de joelhos. Jayne quando sentiu que aquele corpo era de Ian que a envolvia, começou a chorar aos soluços.
— Jayne, meu amor.
— Ian...
Ian a abraçava forte, não conseguia conter suas lágrimas, e sentir o corpo de Jayne nos seus braços quase fez seu coração parar de bater. Ela olhou para ele e tremia terrivelmente.
— Ian, meu amor, é você? Eu estou sonhando?
— Não. Não está meu amor, sou eu — disse segurando o rosto dela entre suas mãos.
Jayne passava as mãos em seu peito, em seu rosto, vendo que ele era de verdade. Ambos esqueceram que o mundo girava e somente existiam os dois ali envoltos naquela emoção.
— Meu Deus, você está vivo, está vivo!
— Sim, estou vivo. Jayne, eu voltei para você, meu amor.
Ian a beijou em meio às lágrimas e Jayne retribuiu, aquele beijo foi desesperado, com todos os sentimentos misturados, foram arrebatados pelo sabor dos lábios um do outro, e ficaram abraçados fortemente por algum tempo, somente sentindo seus corpos juntos.
— Eu sabia, eu sabia. Meu coração nunca aceitou sua morte.
— Eu estou aqui, voltei para você.
Depois de muito tempo eu me lembrei de tudo, me lembrei de você, dos nossos filhotinhos e consegui voltar para casa, agora seremos uma família novamente, nunca mais vamos nos afastar. Vamos anular este seu casamento com Enrique e tudo vai acabar.
As últimas palavras dele bateram em seu ouvido como um trovão e como se ela tivesse sido lançada num precipício voltou bruscamente à realidade, ela era esposa de Enrique.
Jayne arregalou os olhos e o soltou, sua fisionomia era de uma dor implacável, sua realidade era bem diferente daqueles últimos minutos de sonhos nos braços de Ian. Ficou atordoada e levantou dando alguns passos para trás, ele levantou vendo aquela reação.
— Eu não posso fazer isso com ele, ele não merece, não posso feri-lo deste jeito, ele nunca vai me perdoar.
— Jayne... Eu voltei para você, tudo acabou. Temos que voltar a ser a família que éramos antes. Você não devia ter se casado com este xerife. Jayne, onde estava com a cabeça? Você é minha mulher.
Jayne estava atônita. Lembrou-se de seu encontro com ele e lembrou-se de toda aquela dor que passou.
— Era você, era você em Portland, você deu as costas para mim.
— Sim, mas não consegui controlar minhas memórias, eu sabia que tinha algo ali, mas não sabia o que era.
— Você, estava com aquela mulher. Eu estava ali, Ian, na sua frente, implorando para que você dissesse alguma coisa e você não disse nada, virou as costas e me largou ali, como se eu não fosse ninguém. Todo mundo achou que eu estava louca, eu pensei que estava ficando louca.
Jayne começou a chorar aos soluços, Ian se aproximou tentando segurá-la.
— Jayne...
Ela descontrolou-se e começou a bater nele no peito.
— Como pôde fazer isso? Como pôde ir embora com aquela mulher e me deixar ali? Como pôde? Quem era aquela mulher?
Ian a segurou para que ela parasse, seu coração doía.
— Jayne, me perdoe, mas não tive culpa, eu não me lembrei na hora, minha mente estava confusa. Temos que esquecer isso tudo e recomeçar, eu vou voltar para casa.
Ela o olhou de um jeito que o assustou, estava transtornada.
— Agora é tarde. Por causa daquilo foi que eu me casei com ele, para enterrar você de vez... Eu não consigo mais viver desse jeito, eu não aguento mais, você vai me enlouquecer.
— Jayne, agora que eu voltei você vai voltar para mim, seremos somente nós como éramos antes.
— Isto é um pesadelo, não pode estar acontecendo, meu Deus!
— Jayne, você não quer voltar para mim? Você quer ficar com Enrique?
— Eu... Eu estou confusa, nem consigo pensar.
— Jayne, não me diga isso porque não vou suportar.
— Não vai suportar? Acha que eu consigo suportar tudo isso?
— Jayne, eu te amo. Eu quero você de volta, você é minha mulher.
— Ian... — Ela cobriu o rosto com as mãos e olhou para ele novamente. — Agora eu sou mulher de Enrique.
— O que está dizendo, Jayne, que você quer ficar com ele? — Jayne ficou olhando para ele e não respondeu. — Jayne... — Ian sentiu a dúvida nela. — Você ama aquele homem? Você prefere ficar com ele?
— Ian, eu estou confusa, não sei o que pensar, não sei o que fazer, eu não disse que não amo você, você é o amor da minha vida, mas não posso magoar Ricky, eu não posso fazer isso com ele.
Capítulo 22
— E o que vai fazer? Deixar-me assistir você ficar com ele e meus filhos?
— Não, eu não disse isso, mas tenho que pensar.
— Você está hesitando, como pode?
— Não Ian, não é isso, se coloque no meu lugar.
— Eu me coloco no seu lugar, Jayne. Marido rico, viagem para a Europa, ele deve ser muito bom em tudo, não é? Afinal ele foi seu primeiro amor, acho que você descobriu que ele sempre foi o amor de sua vida e não eu.
— Você está sendo injusto comigo e com ele.
— Eu estou sendo injusto com ele, está louca? Aquele homem está com minha mulher na minha casa.
— Agora sou mulher dele, somos oficialmente casados.
— Olhe para mim e diga que não me ama mais, diga olhando nos meus olhos que prefere ficar com ele.
Ele a agarrou fortemente pelos braços.
— Solte-me, Ian, por favor, não faça isso comigo.
— Não vou largar até que você diga que não me ama mais, que não me quer, olhando nos meus olhos!
— Ian, eu te amo, eu vou amar para o resto da minha vida, mas se eu me render, serei infiel a Ricky e isso eu não posso fazer, agora sou esposa dele, por favor, Ian, eu não sou assim, não posso trair Ricky desta maneira.
— Mas está me traindo! — gritou a soltando bruscamente.
— Não, eu não o traí, eu não fiz isso. Não me julgue desta maneira.
— Não estou julgando, estou vendo os fatos. Você quer ficar com ele, pois então fique. Mas não ficará com a fazenda nem com meu filho.
— O quê?
— Não vou deixar Enrique criar meu filho, se você quiser ficar com ele, sairá hoje da minha fazenda e eu ficarei com Josh. Eu me enganei quando pensei que me amava.
— Ian, eu estou estranhando, você jamais agiria assim. O que houve com você? Você não vai tirar meu filho de mim — gritou.
— Quando penso que você está na minha casa, com outro homem, dormindo na minha cama, com meus filhos e ainda diz que não quer ficar comigo, o que acha que sinto? Eu estou tão furioso que tenho vontade de morrer de verdade.
— Ian, eu entendo sua revolta, mas pense no que eu passei, pense no que eu sofri. Para mim você estava morto e depois de anos você me aparece vivo. Enrique me ajudou a recomeçar, e assim do nada você quer que eu abra mão de tudo, que o magoe? Julga-me e ainda me ameaça? Este Ian não é o homem que eu me apaixonei, não é o homem que eu jurei amar para o resto da minha vida.
— Mas você não me ama mais, ama Enrique! — disse furioso.
— Ian, eu amo você mais que tudo na minha vida, jamais deixei de pensar em você nem por um dia depois que você desapareceu, mas eu não quero magoar Ricky desta maneira, ele não merece. Eu gosto muito dele, não vou mentir, por isso me casei com ele que tem sido maravilhoso comigo e com nossos filhos. Então eu quero que você entenda, eu preciso de tempo para saber o que vou fazer. Temos que agir corretamente.
— Jayne... — ele se aproximou dela para segurá-la.
— Não. Não me toque.
— Jayne, você é minha mulher.
— Não. Eu agora sou mulher dele e nunca faria isso, traí-lo, magoá-lo, simplesmente abandoná-lo assim, eu nunca poderei fazer isso. Meu Deus, nem sei mais de quem sou esposa! — disse colocando as mãos na cabeça.
— Mas prefere me magoar, me trair! — disse com um tom de raiva e com os olhos marejados de lágrimas. — Se quer ficar com ele, vá embora para bem longe daqui, mas eu vou voltar para minha casa e vou ficar com Josh. E se este Enrique se meter no meu caminho, eu o mato.
Jayne aterrorizada o olhou, deu alguns passos para se afastar dele e saiu correndo, foi tentar pegar seu cavalo, mas quando ia subir ele a agarrou.
— Solte-me.
Ian deu um tapa na anca do cavalo o fazendo disparar.
— Você não vai a lugar nenhum. Vamos conversar.
— Eu não quero conversar, a partir do momento que ameaça tirar meu filho de mim, a conversa acabou. Ninguém nunca mais vai tirar meus filhos de mim, você vai ter que me matar primeiro — gritou se desvencilhando das mãos dele e saiu correndo.
— Jayne, volte aqui — gritou e foi correndo atrás dela. — Jayne! — Ela chorava tanto e estava tão confusa que somente queria sair dali e fugir dele. — Jayne, pare, não vá por aí.
Ela correu entre as árvores, depois saiu numa clareira e avistou uma caverna ou algo parecido, era um buraco numa montanha, ela viu que ele ainda estava atrás dela, e entrou na caverna escura.
— Jayne, não entre aí. — Jayne entrou e parou, estava destroçada. Ele entrou atrás dela, alcançou-a segurando-a pelo braço. — Jayne, pare.
— Solte-me, Ian, por favor, deixe-me.
— Venha, não podemos ficar aqui, temos que sair, é perigoso.
— Que lugar é este?
— É uma mina abandonada, venha.
No momento que foram sair, ouviram um barulho e a seguir madeiras racharam e o teto desmoronou na beirada da mina bloqueando a entrada. Ian a puxou bruscamente para fugir do desmoronamento, mas alguma terra caiu sobre eles, levantando uma grande nuvem de poeira, gritaram caindo no chão e tentavam cobrir o rosto com os braços.
Quando tudo parou, tossiam pelo pó que pairava no ar.
— Ian, o que houve?
— A entrada da mina desabou. Você está bem?
— Estou, mas não enxergo nada.
Ian a ajudou a levantar-se tirando algumas madeiras que estavam por cima deles.
— Jayne, sua maluca, por que fugiu de mim daquele jeito?
— O que você acha? Como pensa que está minha cabeça se acabo de discutir com um defunto.
— Por sua causa, agora estamos presos aqui.
— Minha causa? A culpa é sua, por que você teve que ser tão agressivo?
— Jayne, eu estava morrendo de ciúmes, como acha que eu me sinto?
— E como você acha que eu me sinto? E como pode dizer que vai tirar meu filho de mim, isso eu não vou permitir nunca, está ouvindo?
— Jayne, pare quieta, não quero mais discutir com você, temos que achar um jeito de sair daqui. — Ian buscou nos bolsos uma caixa de fósforos e o acendeu, com a pouca luz do palito tentou ver alguma coisa. — Ah meu Deus! — disse nervoso olhando em volta.
— Que cheiro é esse?
Ian parou e tentou sentir o cheiro que Jayne estava sentindo.
— Acho que é cheiro de querosene, deve haver alguma lata ou lampião com querosene por aqui.
Ian pegou seu lenço e colocou na ponta de um pedaço de pau e ateou fogo e tentou ver onde estavam, olhou pelas beiradas no chão e encontrou algumas latas de querosene.
— Tome cuidado com este fogo.
— Eu sei, Jayne, não sou burro.
— Hum, sei, se não tivesse vindo atrás de mim, nada disso teria acontecido, você devia ter ficado com aquela loira peituda.
— É. Talvez eu devesse ter ficado com ela. Assim você poderia ficar feliz com seu xerife. Dê-me um pedaço da sua saia.
Ela rasgou um pedaço da saia, já aproveitando para descontar sua raiva no pedaço de tecido e deu a ele. Ian que pegou o pano e o enrolou diversas vezes na ponta de outro pedaço de pau, molhou no querosene e acendeu fazendo outra tocha, ele olhou para a entrada tentando ver se daria para tirar os escombros.
— Acha que conseguiremos tirar isso daí para sairmos?
— Não, é muita coisa.
— E como vamos sair?
— Vamos mais para aquele lado, deve haver uma saída. Vamos, se apoie em mim, vamos devagar. Precisamos ir mais para trás.
Foram andando devagar enquanto Ian iluminava o chão para verem onde pisavam. Andaram alguns metros e avistaram uma área mais alta com um trilho e alguns carrinhos de levar entulhos para fora da mina.
— Do que é esta mina?
— Era de ouro, meu pai a explorou por um tempo, depois que ele morreu, ela foi abandonada.
— E encontraram ouro?
— Não.
— Não sabia que havia minas de ouro por aqui.
— E não há. — Ian deu uma suspirada, nervoso.
— Acho que teve gente por aqui.
— Também acho, veja, esta parte aqui foi mexida há pouco tempo.
— Acho que tem alguém explorando esta mina.
— Talvez não, talvez seja somente por curiosidade, mas vou averiguar isso, aquela entrada era para estar fechada.
— Por que vai querer averiguar?
— Porque esta mina está na minha propriedade, Jayne.
— O quê? Estas terras aqui são suas?
— São.
— Como eu não sabia disso?
— Você nunca perguntou.
— Hum, tem mais alguma coisa que eu não sei?
— Tem. Para que lado, temos que ir.
— Quem era aquela mulher que estava com você em Portland?
Ian olhou para ela de canto de olho.
— Se chama Megan.
— Ela era sua mulher? Você se casou com ela?
— Não.
— Então quem era? Onde a conheceu?
— Era a enfermeira que cuidou de mim, estávamos vivendo juntos, ela me levou para sua casa depois que sai do hospital.
— Muito conveniente, não é? — disse sentindo o ciúme lhe corroer.
— Sim, foi.
— E como você ousa me cobrar de eu estar com Ricky se você mesmo estava com outra mulher? Como vocês homens são uns machistas ingratos.
— Eu não sou machista e muito menos ingrato.
— Não? E por que está me tratando mal? Depois de tudo, me trata como se eu tivesse feito as coisas erradas, que você está sendo o traído, o abandonado, o injustiçado. Se você acha que eu o estava traindo, você também estava.
— Eu não fiz isso, não me lembrava de nada.
— Pois eu também não, eu era viúva. Você me ameaçou, disse que vai tirar Josh de mim se eu ficar com Enrique, eu não vou permitir isto, nunca. Está me ouvindo?
— Eu já disse, se você quer ficar com Enrique, fique. Eu talvez devesse ter ficado com Megan e não ter voltado para cá, foi uma ideia idiota.
— Foi mesmo, você devia ter ficado como morto, só assim eu não passaria por tudo isso de novo.
Ian a olhou com uma dor no peito, ouvindo-a dizer aquilo e parou de andar.
— Tudo bem, Jayne, se é assim que você quer, é assim que vai ser, quando sairmos daqui, você pode ficar com seu maridinho herói, pode continuar me considerando morto.
— Sim, é isso mesmo que vou fazer, mas não pense que vai ficar com meu filho porque isso só se me matar.
— Vou ficar com Josh e você não vai me impedir.
— Não, não vai. — Jayne ficou enlouquecida e começou a bater nele. — Ninguém vai tirá-lo de mim, ninguém! Como pode Ian, como pode?
— Jayne, pare com isso.
— Por que voltou? Vá embora e me deixe em paz. Você não vai levar Josh, não vai tirar meu filho de mim!
Ela gritava fora de controle.
— Pare, Jayne! — ele tentou segurar seus punhos e ela estava chorando e o esmurrava, ele soltou a tocha e a empurrou a colando na parede fazendo com que ela parasse presa entre seu corpo e a parede. — Já disse para parar! — gritou bruscamente.
Os dois ficaram ofegantes se olhando, eles estavam fora de controle, dizendo qualquer coisa que lhes vinha à cabeça. Jayne fechou os olhos. Ian a olhava e fitou seus lábios, sentiu desejo enorme de beijá-los.
Soltou-a e se afastou sentando longe, Jayne olhava-o apavorada. Estava com medo dele, ela escorregou pela parede e caiu sentada, chorava calada, suas lágrimas lavavam seu rosto, a dor que sentia no peito era imensa.
Que pesadelo era aquele? Estava diante de Ian que voltou depois de tanto tempo, ele estava vivo e estavam brigando e dizendo coisas horríveis um ao outro. Ian a olhava de canto de olho vendo-a somente por uma pequena luz que vinha daquela tocha.
Estava tão confuso que somente estava falando besteira, esperou por aquele momento tanto tempo, e agora que estava diante dela, nada que saía da sua boca lhe fazia algum sentido.
Sentia dor, uma tristeza tão imensa no coração, mas estava começando a perceber que as coisas que disse foram cruéis, sem sentido e que magoou Jayne assim como as coisas que ela disse a ele. A raiva os estava dominando, estavam num pesadelo, e teriam que sair dele.
Ian a vendo chorar aos soluços queria fortemente a abraçar e beijar, mas, ao mesmo tempo, estava com raiva, perder Jayne não era algo que seu coração pudesse aceitar.
Respirou fundo, esfregou as mãos no rosto e passou pelos cabelos para tentar afastar aquela dor terrível em seu coração.
Jayne, ora pensava em Enrique, ora em Ian, estava tão confusa e com tanto medo, que queria morrer naquele momento. Não permitiria que ele tirasse Josh dela, teria que matá-la. Depois de tudo que passou com Angel, aquilo lhe parecia um pensamento desesperador.
Ian levantou e foi à frente dela.
— Vamos Jayne, temos que continuar, segure minha mão.
Ela o olhou e levantou pegando na sua mão, segurá-la foi uma tortura latente e andaram calados mais um bom pedaço.
— Estou ouvindo barulho de água — Jayne disse.
— Também estou, e está próximo.
Andaram mais um pouco e de repente começaram a sentir um ranger debaixo dos pés e sentiam que o chão não era firme.
— Ian, o chão está mexendo — Jayne disse assustada.
— Jayne, não se mexa.
Ela parou como uma estátua e ele calmamente tentou mover os pés para trás e voltar, mas não foi possível, estavam sobre uma camada de madeira podre que num súbito rompeu com o peso dos dois fazendo um estrondoso barulho.
Os dois gritaram e caíram no meio àquelas madeiras quebradas e foram escorregando e rolando entre pedras e terra numa queda imensa, caíram em uma água e foram para o fundo. Ian subiu recuperando o ar, mas não avistou Jayne.
— Jayne! — gritou assustado olhando ao redor. Ele mergulhou tentando achá-la, subiu e gritou seu nome e nada, desceu novamente e subiu com ela que estava desacordada, Ian apavorado puxou-a e a imprensou com o corpo em uma rocha.
— Jayne... — Ele prendeu seu nariz e soprou ar para seus pulmões, ela não voltou, repetiu mais umas duas vezes. — Jayne, por favor.
Ele estava apavorado, repetiu mais uma vez, e ela começou a tossir e voltar a si, expelindo a água que engoliu. Ian que estava assustado, a abraçou forte.
— Jayne, você está bem?
Ele a segurava pela cintura, escorada na pedra, deu uma rápida olhada ao redor para ver onde estavam, aquilo parecia uma piscina no meio de rochas, e a parte entre a água e o teto era baixa e de um lado mais alta. Ela gemeu de dor.
— Jayne o que foi?
— Meu ombro... — falou quase sem conseguir respirar. — Acho que o tirei do lugar de novo.
Ian a olhou com pena, vendo sua fisionomia tomada pela dor.
— Como de novo?
— Na cachoeira, na tentativa de segurar você eu desloquei o ombro, agora ele pode sair do lugar de novo se eu o bater.
— Meu Deus! — Ele ficou consternado, vendo-a daquele jeito e lembrando-se daquele dia fatídico. — Eu sinto muito, Jayne, eu posso colocá-lo no lugar, mas isso vai doer.
Ela gemendo e respirando com dificuldade o olhou.
— Eu sei... Faça isso.
Ele olhou ao redor novamente e avistou algumas pedras que ficariam melhores, puxou-a pela cintura e foram até o outro lado, ela gritou de dor quando ele a tentou colocar mais alta nas pedras. Ian posicionou-se, com uma mão segurou no ombro e a outra no braço de Jayne para que num tranco ele conseguisse colocar no lugar.
— Pronta?
Ela acenou com a cabeça que sim, preparando-se para a dor.
— Jayne, eu te amo.
Ela distraiu-se e o olhou, ele aproveitou dando o tranco em seu braço colocando-o no lugar. Jayne soltou um grito estarrecedor que ecoou no pequeno recinto fazendo um eco e automaticamente lágrimas pela dor imensa escorreram de seus olhos.
Ian rapidamente a abraçou como se quisesse arrancar aquela dor dela.
— Desculpe, desculpe. Calma, já vai acalmar. Calma, meu amor, calma.
Enquanto ela tentava respirar, Ian a abraçava acalentando-a até que ela se acalmou e a dor diminuiu um pouco. Ela simplesmente se deixou ficar nos braços dele, nem sabia se sua dor era maior pelo ombro ou pelo seu coração.
Mas Ian pareceu colar nela, sentindo-a ali nos seus braços, sentindo dores, isso mexeu com seu coração que estava tomado pela raiva, assustou-se quando pensou que ela havia se afogado. A água estava congelando, os dois tremiam de frio, seus lábios já estavam ficando roxos.
— Jayne, nós temos que sair daqui, esta água deve ter vazão, eu vou mergulhar e ver se há alguma saída. — Fique aqui, eu já volto.
— Não! — gritou o puxando pelo casaco e o olhando com os olhos arregalados de medo.
Ian voltou, chegou bem próximo e a envolveu pela cintura.
— Jayne, se não sairmos daqui, morreremos.
— E se você não voltar?
— Eu vou voltar. Eu não vou abandonar você, eu voltarei para buscá-la, eu prometo.
— E se você morrer?
Seu desespero estava claro na sua voz.
— Pensei que tivesse dito que preferia que eu estivesse morto, então não faria nenhuma diferença.
Jayne o olhou com dor e lágrimas lhe correram dos olhos.
— Eu menti.
— Mentiu?
— Eu quase morri quando pensei que estava morto, se passar por aquilo de novo eu vou morrer de tristeza.
— Eu não morri da primeira vez, eu voltei e se estamos juntos de novo, fomos mais fortes que o destino; então eu penso que o destino não nos colocaria novamente juntos para morrermos aqui, não acha?
— Você me odeia? Vai tirar meu filhotinho de mim?
Seu olhar era de uma tristeza sem tamanho.
Capítulo 23
Ian fechou os olhos por uns minutos, suspirou e segurou o rosto dela entre as mãos. Ela o olhou com os olhos vermelhos de choro, de súplica.
— Jayne, eu te amo. Estar aqui com você depois de tudo, é como renascer, como ter uma nova oportunidade de ser feliz, de ter você nos meus braços, e a única coisa que estamos falando é grosserias um para o outro. Eu não queria dizer nada daquelas coisas, eu estou tão nervoso que nem consigo pensar. Estou com medo de perder você novamente. Eu não quero deixar você e muito menos tirar Josh de você. Se acha que sofreria ficando sem ele, como eu vou ficar sem a mulher que eu amo e meus dois filhos? Eu não vou suportar isso, eu preferia ter morrido de verdade.
— Você amava aquela mulher?
— Não, eu a odeio. Então se esqueça dela, a única mulher que eu amo está aqui na minha frente. A mulher que vou amar pro resto da minha vida.
Ela tremia tanto, já nem sabia mais se era de frio ou era por ele estar ali dizendo aquelas coisas.
— Estou com medo.
— Eu sei. Eu vou tirá-la daqui e devolvê-la para seu xerife.
Ele foi se afastar, mas ela o puxou novamente e ficou olhando nos olhos. Ela queria dizer mil coisas, mas não conseguia. Ian colou seu corpo no dela e seus lábios quase se tocavam, os dois fecharam os olhos, queriam resistir.
Um podia sentir o coração do outro batendo forte no peito. Os lábios gelados suavemente se encostaram, mas ainda não havia beijo. Estavam entre a raiva e o amor, mas o que sentiam um pelo outro sempre foi tão forte, pareciam dois ímãs.
Os dois ao mesmo tempo se abraçaram e seus lábios se perderam num beijo longo e lento. Esqueceram as palavras rudes, os medos, a raiva e se beijaram com amor, lágrimas escorreram dos olhos dos dois, não conseguiram soltar-se, aquele beijo durou uma eternidade. O medo de um perder o outro estava à flor da pele.
Quando seus lábios se separaram Ian a olhava com um olhar implorativo. Precisava ouvir algo dela, algo que lhe desse alguma esperança de ter sua mulher de volta, algum motivo de lutar por aquele amor, de enfrentar Enrique.
— Jayne, diga que não me deseja mais, que não se lembra das nossas noites de amor, que não quer que eu a beije, que não me ama mais.
Jayne tentava respirar, estava ofegante, estava com os olhos fixados nos dele somente a alguns centímetros de distância, seu corpo ansiava o dele desesperadamente, tinha vontade de gritar.
— Não posso.
— Por que não?
— Porque eu te amo mais que tudo, eu sempre amei e vou amá-lo sempre. Eu sou incompleta sem você. Meu coração estava certo, eu sabia que você estava vivo e viver sem você foi insuportável. Não quero perdê-lo de novo, eu não posso, eu te amo Ian, amo.
Ian a beijou novamente, num beijo intenso, seu coração estava jogando a raiva fora. Ela o amava desesperadamente e era impossível resistir a ele, o beijou com todo amor do seu coração. Estava com medo de perdê-lo novamente e não podia negar o seu amor por ele.
— Eu preciso ir, preciso fazer isso — ele disse soltando de seus lábios sem querer fazer aquilo, seu peito doía de desespero por ela.
— Eu tenho medo que algo aconteça.
— Jayne, eu também estou com medo, mas eu quero morrer velhinho com você na nossa cama quentinha e não aqui. Então confie em mim, nós vamos sair daqui e vamos consertar isso tudo, juntos.
— Promete?
— Prometo.
Ian a soltou afastando-se dela e foi para a beira da rocha, preparou-se e tomou a maior quantidade de ar possível e mergulhou. Jayne ficou ali, parada, tremendo de frio e com o coração apertado, sua respiração era difícil, mal conseguia puxar o ar.
Ela olhou em volta para ver o lugar que estava, olhou por onde caíram, não haveria como voltar por ali, seu olhar fixou-se em algo que brilhou com o movimento da água.
Ela achou que fora seus olhos, mas foi até lá gemendo de dor quando se moveu, passou a mão e algo amarelo e brilhante reluziu cravado na pedra. Espantada arregalou os olhos, era uma pequena pepita de ouro menor que uma unha.
— Meu Deus, há ouro aqui!
Ela olhou para a água onde Ian mergulhou, esperava o momento que ele retornaria. A água gelada estava fazendo seu corpo amortecer. O tempo foi passando e ele começou a demorar mais do que devia, não teria tanto ar para ficar lá embaixo por tanto tempo.
O pavor começou a tomar seu ser, olhava para a água com os olhos vidrados. Esqueceu-se rapidamente da pepita de ouro que vira, seu pavor por Ian tomou seu coração.
Quando pensou que ele não voltaria mais, as lágrimas começaram a rolar, pensava que ele havia se afogado, gritou seu nome, mas nem sabia o que fazer, ficou ali em pânico. De repente ele voltou à tona, jogando-se com furor para fora da água e puxando a respiração o mais rápido que podia. Afundou e subiu novamente, tossindo.
— Ian! — Ela foi até ele e o abraçou. — Meu Deus! Eu achei que havia se afogado.
— Eu achei... — disse ainda tossindo ainda e tentando respirar. — Há uma espécie de túnel, com uma correnteza forte, eu não sei para onde vai, mas podemos ir para lá.
— Mas como assim correnteza, dentro da montanha?
— Eu não sei, pela força da água ela pode desembocar no rio, essa água vem da montanha. Temos que arriscar, Jayne.
— Meu braço está doendo demais eu não vou conseguir nadar.
— Você segura minha mão e bate os pés, eu puxo você, mas não a solte por nada, por favor. Tem que ser rápido, senão não conseguiremos segurar o ar por tanto tempo. Nós vamos conseguir. Vamos. — Jayne o segurou pelo braço o olhando, estava com medo de ir. Ian segurou seu rosto e a beijou. — Você vai conseguir, puxe o máximo de ar que puder — disse baixinho, Ian agarrou a mão dela com toda a força. — Pronta?
Ela acenou que sim com a cabeça, ele contou até três e os dois puxaram o fôlego o máximo que conseguiram e mergulharam.
Ian a puxou e foram nadando pela brecha entre as rochas, a passagem era longa e estreita. Eles pensaram que não conseguiriam passar, o ar já estava acabando, mas começaram a sentir a correnteza lhes puxar quando as rochas foram dando mais espaço.
Ian subiu e puxou Jayne; os dois desesperadamente tentaram respirar e a água os começou a levar montanha a baixo, ele tentava segurar-se pelas encostas da parede, mas a correnteza era forte e foram puxados.
Ian tentou segurar Jayne para que não se soltasse, a correnteza aumentou mais e de repente deram em alguns galhos de mata e saíram por uma fenda da montanha que dava numa cachoeira, os dois foram atirados por ela e caíram queda abaixo gritando e afundaram na água que formava um turbilhão.
Os dois foram para o fundo e tentaram nadar para cima e haviam soltado as mãos; quando Jayne subiu tossindo, sentiu um pavor tão gigantesco que gritava desesperada.
O medo que sentira quando perdera Ian da outra vez a tomou, deixando-a em pânico.
— Ian... — gritava olhando para os lados e tentando ficar com a cabeça fora da água. Mas somente debatia com um braço e foi para o fundo sem conseguir nadar. Ian subiu recobrando o ar. — Ian. — gritou colocando a cabeça fora da água, engolindo água.
Ele a avistou e ela foi para o fundo novamente; ele nadou rapidamente, mergulhou e a trouxe do fundo.
— Te peguei, calma... — ele a puxou para a margem e se jogaram no chão tossindo. — Jayne, você está bem?
— Ian... — Ela o abraçou.
— Calma, meu amor, eu estou aqui, acabou.
— Odeio cachoeiras — disse agarrada ao seu peito.
— Eu também... Meu Deus, essa foi por pouco! Venha, temos que sair daqui. — Ele levantou e ajudou Jayne a levantar-se, ela gemeu de dor. — Como está seu ombro?
— Doendo.
Olharam em volta, a noite estava chegando e com ela, um frio intenso, o céu estava nublado, não havia lua para iluminar a noite. Ian tentou ver onde estavam, mas estava aturdido, nem sabia para que lado tinha que ir.
— Vai ser difícil...
— Onde estamos?
— Não estamos longe do lago, só que estamos do outro lado do Canyon, para voltarmos e pegarmos os cavalos, nós teremos que dar uma bela volta e agora não iremos muito longe.
— Vamos andar até pudermos — disse abraçando seus braços e tremendo, estavam congelados.
— Tudo bem, então vamos, se apoie em mim, temos que sair daqui e levá-la ao médico.
Começaram a andar e Jayne por não enxergar nada tropeçou em um galho e caiu, Ian a ajudou levantar.
— Não consigo andar, mal sinto as minhas pernas.
— Temos que fazer uma fogueira para nos aquecer.
Sentaram e Ian tentou pegar alguns galhos para fazer uma fogueira, mas sua caixa de fósforos estava molhada e a jogou fora. Tentou acender com as pedras, mas a relva e os galhos estavam molhados e não conseguiu acender.
— Droga. Assim não vou conseguir acender este maldito fogo.
— Sem fogo vamos congelar.
— Temos que continuar a andar.
Levantaram e andaram um bom pedaço, mas Jayne caiu novamente, suas pernas não a sustentava mais, estava com o corpo todo dormente. Ian também sentia seu corpo doer, parecia que havia milhões de agulhas fincadas por todo o corpo.
Estavam com roupas grossas e molhadas e o frio os fazia parecer que estavam enrolados num cubo de gelo.
Pararam de andar e sentaram novamente. Ian abraçou Jayne para tentarem se aquecer.
— Desculpe, Ian, mas eu não consigo andar, nem sinto minhas pernas — disse tremendo o queixo.
— Tudo bem, querida, nós vamos ficar bem.
**
Na fazenda de Jayne, Julia e Emily estavam apreensivas, esperavam que ela voltasse, estava tarde e nenhuma notícia.
— Julia, ela está demorando demais, será que o encontrou?
— Não sei, mas já devia ter voltado.
— Ai meu Deus! Será que aconteceu alguma coisa? Pois já está escuro e nada de nenhum deles. Será que eles fugiram?
— Emily, eles não fugiriam sem Angel e Josh.
— Ah é verdade. E se Enrique os achou?
— Ai Jesus, nem diga isso!
— Ai meu pai, isso vai acabar em desgraça. O que eles vão fazer? Será que Jayne vai ficar com o Enrique?
— Quer parar de fazer perguntas que não sei responder? Nem imagino, mas eu duvido que ela vá deixar Ian.
— Mas ela deve estar enlouquecida, do jeito que saiu daqui.
Enrique chegou à fazenda, entrou em casa encontrando Julia e Emily.
— Senhoras, boa noite. Que maravilha encontrá-las aqui.
— Como vai, Enrique?
— Muito bem. Onde está Jayne? — disse olhando para os lados e não a vendo.
— Ham... Nós a estamos esperando, ela foi fazer um passeio e ainda não retornou.
— Passeio, sozinha?
— Sim, ela sempre faz isso.
— Estranho. Mas já está muito tarde, onde ela teria ido?
— Não faço ideia — Julia disse tentando disfarçar o nervosismo.
— Não gosto que ela saia sozinha por aí, é perigoso e ainda tarde deste jeito.
— Ela sabe se cuidar, Enrique. Não se preocupe.
— Vocês estão demasiadas nervosas.
— É, que... Bem, estamos aqui há um tempo e acho que está na hora de irmos para casa, afinal, já está tarde.
— Podemos aguardar mais um tempinho — Emily disse.
— Eu não estou gostando nada disso, ela não sairia assim tarde, que espécie de passeio é este? Ela ia à casa de alguém?
— Não, acho que não. Eu acho que foi só dar uma volta.
Enrique ficou pensativo e sua expressão não era das boas, ele sentiu em seu coração que havia algo errado.
— Se me dão licença vou trocar de roupa, fiquem à vontade.
— Ai, eu estou morrendo dos nervos, Julia — Emily disse cochichando.
— Meu Deus, onde Jayne se meteu?
— Willian já deve estar preocupado por eu não ter voltado.
Esperaram e nada, Willian, Mitchel e David foram até a fazenda de Jayne, pois sabiam o que eles estavam fazendo e também estavam nervosos com o sumiço de todo mundo. Enrique se surpreendeu com todo mundo lá, mas Willian disse que somente vieram buscar Emily. Enrique estava nervoso, começou andar de um lado a outro.
— Algo pode ter acontecido, ela já devia ter voltado.
— Fique calmo, Enrique. Vai ver que ela está conversando com alguém e perdeu a hora.
— Quem, Willian? Tem algo errado, estou sentindo, a sensação que tenho é que ela está em perigo. Acho melhor eu sair e procurá-la.
— Mas vai procurá-la onde?
— Não sei, mas eu não vou ficar aqui parado esperando, tenho certeza que algo aconteceu.
— Então vamos junto com você — Mitchel disse.
— Julia, tem alguma ideia para onde ela iria?
Julia não sabia se dizia ou não, mas estava com a sensação de que algo acontecera.
— Não sei, mas talvez, o lago.
Arrumaram-se e pegaram armas, Enrique chamou James e mais alguns empregados.
— Vocês ficam aqui, caso ela volte.
— Eu esperar? Vou morrer agoniada deste jeito — Emily disse.
— Emily, alguém precisa ficar aqui e fique de olho nas crianças, não deixe que elas percebam nada, está bem?
— Está bem. — Ela puxou Willian e cochichou. — Will, por Deus! Se Jayne e Ian estiverem juntos e Enrique vê-los, vai matá-los.
— Eu sei, por isso estamos indo junto, assim tentamos evitar uma desgraça. Ian também não voltou, significa que estão juntos.
— Precisamos de roupas mais quentes. Esta madrugada vai ser muito fria, baixou um nevoeiro e isso é mau sinal.
Pegaram mais alguns casacos e foram em busca de Jayne.
— Julia, agora Jayne está em apuros de vez. Meu Deus, onde eles estão?
— Não vamos pensar no pior, Enrique não pode encontrá-los juntos, não desse jeito.
**
— Estranho vê-lo com os cabelos curtos.
— O quê?
— Não se lembra? Você tinha os cabelos compridos.
— Hum, eu me lembro disso, mas não fui eu que cortei, deve ter sido no hospital, depois eu acabei deixando assim.
— Foi aquela sua mulher.
— Jayne, por favor, não vamos falar disso, está bem?
— Está bem, desculpe.
— Você está tremendo demais.
— Estou com muito frio, nem sinto meu corpo.
— Você está bem?
— Não. Quase morremos, estou aqui com você e não sei o que fazer.
— Está falando de Enrique.
— Ele deve estar me procurando.
— O que quer fazer?
— Não sei, mas eu tenho que conversar com ele, com calma.
— Ele vai ter que aceitar.
— Não sei se vai, tenho medo de ele fazer uma loucura. Eu não quero magoá-lo deste jeito, estou me sentindo péssima com isso.
— Jayne, você não tem escolha, ou vai magoar a mim ou a ele. Com os dois é que não vai poder ficar — disse meio grosso.
Jayne fechou os olhos e cobriu o rosto com as mãos.
— Meu Deus! Como fui meter-me numa coisa destas, com dois maridos. Ai... Eu estou com vontade de sumir.
Ian suspirou, brigava com ela, mas, no fundo, sabia que ela não tinha culpa daquilo que estava acontecendo, ele mesmo se envolvera com Megan sem saber que era casado. Jamais teria traído Jayne em sã consciência. Sim, na verdade ele a traiu, os dois traíram sem saber. Ian deitou e a puxou para que ela deitasse em seu peito.
— Como eles estão?... Meus filhotinhos.
— Estão bem. Crescidos. Angel está uma mocinha, teimosa e linda.
— Imagino — disse sorrindo.
— Josh, está cada dia mais parecido com você, é igualzinho. — Jayne começou a chorar enquanto falava. — Olhar para ele era uma maneira de ver você, os olhos, os cabelos, foi muito difícil para eles.
— Eu nem consigo imaginar isso. Vocês devem ter passado por momentos difíceis.
— Josh ainda era muito pequeno e não entendia, ele achava que você havia virado uma estrela e toda noite acenava para o céu te dando boa noite, pedia muito por você. Mas Angel, é que sofreu mais, afinal ela já havia perdido Edward. Foi terrível, ficou revoltada, chorava por nada, mas com o tempo ela se recuperou. Eu sempre sofri com pesadelos, todo mundo já estava achando que eu estava louca. Por muitas vezes eu perdi completamente as forças de viver. Acho que só aguentei por causa das crianças e Ricky.
— Entendo como deve ter sido difícil para elas.
Ian fechou os olhos e sentiu seu coração apertar.
— Sei que para você é difícil, sei que vê isso como se eu simplesmente tivesse esquecido você e me jogado nos braços dele. Mas não foi assim. Eu tentei ficar longe dele o máximo que pude, mas eu quis dar um basta na minha solidão. Tentei convencer a mim mesma que eu estava ficando louca e que você estava morto. Ele é importante para mim, Ian, você tem que entender porque eu quero tentar fazer as coisas direito. Se ele descobrir de uma maneira errada, não irá me perdoar e isso eu não posso permitir, entendeu?
— Eu sei, Jayne. Por mais que eu odeie isso, eu entendi, mas quanto mais adiarmos isso, mais complicado vai ficar. Ele nunca vai aceitar isso pacificamente.
— Vou achar um jeito de falar com ele, mas eu te peço, não apareça para ele nem para as crianças antes de conversarmos, por favor, Ian eu te peço — Ian respirou fundo.
— Está bem, vou aguentar isso, eu vou fazer o que me pede.
O tempo foi passando e o frio foi aumentando, seus corpos doíam pelos músculos ficarem comprimidos.
— Sei como podemos nos esquentar, pelo menos vai ajudar. — Ian abriu o colete e sua camisa. — Abra suas roupas.
— Para quê?
— Contato com a pele, ajuda a esquentar, faça isso.
Ela fez, abriu suas roupas e deitou-se sobre o peito dele, ele a abraçou com a esperança que isso ajudasse a aquecer seus corpos. Mas estarem daquele jeito foi demais para Ian. Ele a rolou deitando sobre ela e a beijou. Os dois se perderam ali sentindo seu desejo os consumir, Ian desceu seus lábios e beijou seu pescoço e seu colo.
— Ian, pare, por favor, não posso fazer isso.
— Se entregue para mim, eu desejo você. Faça amor comigo.
— Não posso fazer isso.
— Vai me negar? Eu sou seu marido.
— Por favor, não me torture desse jeito.
— Você não me deseja mais?
— Ian, por favor. Eu te amo, mas não vou me entregar a você até resolver isso, pare com isso, por favor.
— Já entendi. — Ele saiu de cima dela rolando e ficando de costas. — Ai meu Deus, você vai me enlouquecer desse jeito, Jayne.
— Não menos que a mim. Já disse, eu quero fazer as coisas direito. Não vou trair Ricky dormindo com você.
— Jayne, se você fica comigo o trai, se você fica com ele trai a mim. O que vai fazer? Voltar para casa e não vai dormir com ele também?
— Ian, pelo amor de Deus, pare com isso que você me deixa enlouquecida! — Ela quis levantar-se, mas ele a puxou.
— Está bem. Fique quieta aqui, não vou fazer nada. Meu Deus! Mas que inferno que nos metemos. Se isso não se resolver de uma vez vou ter um ataque de nervos, nem sei o que posso fazer.
Ele a puxou para que ela deitasse no seu peito novamente. Ficaram mudos e abraçados por um tempo sem dizer uma palavra.
— Jayne... Prometa-me que não vai mais dormir com ele.
— Ian, por favor!
— Olhe para mim. — Jayne levantou o rosto, seu coração estava enlouquecido no peito, o olhou e viu seu rosto transtornado. — Prometa-me, por favor, porque se eu imaginar vocês dois dormindo juntos, não vou aguentar. Eu prometi que esperaria você falar com ele, mas, por favor, me prometa isso. Você vai ficar comigo, não vai? Se for, então não pode mais dormir com ele. Você é minha esposa, não pode dormir com ele.
— Ian, meu Deus!
— Ele não pode mais tocar em você. Prometa.
Jayne respirou fundo.
— Eu prometo. Nada vai acontecer, por favor, vamos parar de brigar, eu não quero mais brigar com você.
— Está bem, eu odeio brigar. Vou confiar em você, lembre-se que me prometeu.
— Eu não me deitarei com nenhum dos dois até que isso se resolva.
Jayne deitou sua cabeça no peito dele novamente e ficaram calados por alguns minutos.
— Se eu te pedir que me beije agora, pelo menos você faz isso?
Jayne o beijou e suas lágrimas rolaram, era impossível parar de chorar ou resistir a Ian. Como aquilo doía.
— Nunca pensei que um dia eu me negaria a você, se soubesse quanto eu o amo, quanto eu rezei para que estivesse nos meus braços de novo, que estivesse vivo. Mas vai ter que ser assim, senão eu vou me sentir mal e isso eu não quero, porque já estou me sentindo assim o suficiente. Mas eu te amo Ian, amo...
Ela o beijou, fazendo com que ele abaixasse a guarda que havia levantado para a briga.
Ficaram ali no chão gelado, o frio estava se intensificando e parecia que o contato dos seus corpos não estava ajudando. O nevoeiro desceu mais, seus corpos sentiam o frio lhe congelar até os ossos. E assim tiveram que ficar pela madrugada toda. Mesmo com todo aquele sofrimento os olhos se fecharam e adormeceram.
Enquanto isso Enrique e os rapazes faziam a busca pelo lago e continuaram a rodar e chamar pelo nome de Jayne noite adentro.
Capítulo 24
O dia estava despontando, a névoa estava baixa. Jayne e Ian estavam deitados na relva molhada e fria, ele estava com os olhos fechados, mas acordado, entorpecido, seu corpo nem tremia mais pelo frio, estava inerte, como se estivesse amortecido, mas continuava abraçado a Jayne, queria mover-se, mas não tinha forças.
Muito ao longe ele ouviu o nome dela de forma destorcida, tentou abrir os olhos, mas teve dificuldade, mas quando ouviu pela segunda vez, os abriu.
Eles estavam se aproximando e chamavam pelo nome dela, os rapazes estavam temerosos, queriam poder chamar o nome de Ian, mas não podiam, teriam que esperar o que vinha pela frente.
Enrique estava muito nervoso, todos estavam exaustos, pois passaram a noite toda a procura deles.
— Jayne...
Ian chamou baixinho, mas ela não se mexeu, ele com dificuldade se viraram e a deitou no chão, Ian sentiu como se seu corpo estivesse endurecido, suas roupas ainda estavam molhadas e geladas.
— Jayne, acorde — disse novamente vendo que o barulho de cavalos se aproximava, mas ela não acordou, parecia estar desmaiada, ele colocou o ouvido em seu peito e seu coração batia fraco.
Ian rapidamente fechou as roupas dela com as mãos trêmulas, seus dedos estavam endurecidos, Ian assustou-se quando a viu assim, ela estava branca e com seus lábios roxos. Ouviu gritarem seu nome novamente, Ian a beijou e com dificuldade se escondeu atrás de uma árvore um pouco distante e avistou os cavalos se aproximando.
— Enrique, olhe lá — Willian gritou avistando algo no chão.
— Jayne! — ele gritou apavorado, deu trote no cavalo e o parou perto, desceu num salto e foi até ela. — Jayne...
Ela estava inerte, Enrique retirou seu casaco, enrolou-a e a pegou no colo. Willian o ajudou a colocá-la no cavalo com ele.
— O que ela tem? Está ferida?
— Não sei, mas está congelada, James corra até a cidade e traga o médico rápido, vou levá-la para casa, procurem para ver se há alguém por aqui — Enrique disse enérgico e Mitchel desceu do cavalo olhando ao redor para ver se via Ian.
— Vão em frente, podem deixar que nós procuraremos por algo. — Mitchel disse, pois precisava afastar os homens.
Enrique assentiu e todos foram atrás dele.
Quando eles começaram a se afastar, os rapazes olharam o local e procuraram por Ian.
— Ian, está aqui?
— Aqui... — David ouviu uma voz fraca, correram na direção e Ian estava sentado encolhido no chão atrás de uma árvore imensa.
— Meu Deus! Ian, você está bem? — Mitchel disse olhando seu corpo para ser se via sangue.
— Willian, pegue a manta do meu cavalo, rápido!
Ele correu e a apanhou, colocou sobre suas costas ajudando-o a levantar.
— Calma, vamos para casa.
O ajudaram a montar e o levaram para a fazenda de David.
— Cuidem dele, vou ver como Jayne está e buscar Emily, deve estar morta de preocupação — Willian disse.
Chegando à casa de David arrancaram rapidamente as roupas de Ian e o colocaram na cama com várias cobertas.
— Mary, peque um chá quente rápido, ele tem que se aquecer, coloque uísque também.
— Jayne... Como ela está? — Ian perguntou com dificuldade de falar.
— Calma. Enrique a levou para casa, foram chamar o médico. Pelo amor de Deus, o que aconteceu? Por que passaram a noite lá daquele jeito? — David olhou para o corpo dele e viu que não tinha nenhum ferimento, somente estava hipotérmico.
— É uma longa história.
— Tudo bem, depois você me conta, agora beba isso. — Fizeram-no beber o chá quente, depois o cobriram mais. — Durma, assim você vai se aquecer.
— Preciso saber de Jayne.
— Eu vou ver como ela está e trago notícia. Mas agora fique quieto e se aqueça.
Eles saíram do quarto e o deixaram descansar na cama quente.
— Mary, se Enrique os acha juntos ia ser um desastre.
— Não me diga algo assim, David, que fiquei aqui aterrorizada.
Ele a abraçou e fechou os olhos, a confusão estava armada.
**
Enrique chegou à fazenda, levou Jayne no colo para o quarto e a colocou na cama, viu que suas roupas estavam molhadas.
— Anna, me ajude a tirar isso depressa.
Eles tiraram suas roupas molhadas e puseram uma camisola seca e a cobriram com cobertas quentes, mas ela continuava desacordada. Anna rapidamente colocou fogo na lareira para aquecer o quarto.
— Jayne, acorde, por favor.
Enrique acariciava seu rosto gelado, estava numa agonia sem tamanho. Emily e Julia que haviam dormido na casa vieram correndo.
— O que houve? Onde a encontraram?
— Eu não sei, a encontrei caída na relva, está congelada e não acorda.
— Ai meu Deus, está ferida?
— Não. O corpo dela não tem nada, parece só alguns aranhões e hematomas, não parece estar gravemente ferida. O médico está a caminho, temos que esperar e tentar aquecê-la.
— Ela estava sozinha? — Emily perguntou.
— Estava. Jayne, acorde. O que houve com você? — Enrique dizia nervoso.
O médico demorou a chegar e foi examiná-la, Enrique ficou andando pela sala enquanto o médico estava no quarto.
— E então? — perguntou quando ele saiu.
— Ela está com hipotermia, deve ficar bem aquecida, beber líquidos quentes e tomar este elixir. Não há fratura, mas seu ombro está roxo, o qual ela tinha machucado, eu o imobilizei para que não o movimente, tem arranhões pelo corpo, hematomas, mas nada grave.
— Por que ela não acorda?
— Está desmaiada, sua temperatura baixou demais, mas deve recobrar os sentidos logo, já fiz o que era necessário, ela deve ficar bem, mantenha-a bem aquecida.
Enrique puxou o médico pelo braço para um canto para que ninguém ouvisse.
— Doutor, eu quero saber se aconteceu algo com ela.
— Não entendi, Sr. Gonzáles, já disse que ela está bem.
— Quero saber se ela foi violentada ou algo assim.
— Sr. Gonzáles, não há sinais de relações sexuais nas últimas horas. Fique tranquilo, nada aconteceu, ela ficará bem, só precisa se aquecer, logo acordará, e daqui a uma hora lhe dê o remédio.
Enrique suspirou aliviado.
— Obrigado, doutor.
— Virei à tarde para vê-la, com licença.
Emily e Julia estavam na sala com os nervos à flor da pele junto a Willian.
— Onde está Ian? — Emily perguntou baixinho.
— David o levou para casa, Enrique não o viu, ele se escondeu.
— Meu Deus! Mas o que estavam fazendo que passaram a noite ao relento desse jeito?
— Não sei, mas coisa pouca é que não foi, eles não dormiram lá à toa. Venha, vamos para casa, estou morto.
— Eu vou ficar aqui e ver se ela melhora — Julia disse.
Enrique foi ficar com Jayne, segurava sua mão esperando que ela acordasse, estava com o coração apertado de preocupação, tivera uma noite terrível de medo e tensão, estava sentindo-se esgotado.
O tempo foi passando, seu rosto começou a ter cor e o roxo de seus lábios foi transformando-se em rosado. Ficou desacordada por horas até que moveu o rosto lentamente sem abrir os olhos.
— Jayne... — disse baixinho passando a mão na sua testa.
— Ian... — resmungou sem abrir os olhos.
Enrique sentiu uma fisgada no coração ouvindo aquilo.
— Ian? — repetiu indignado.
Julia estava parada ao seu lado, sentiu um frio percorrer lhe a espinha e cobriu a boca com a mão.
— Sr. Gonzáles...
— Já pedi que me chamasse de Enrique, pois não estamos em público.
— Certo, esqueço que posso dispensar as formalidades. Bem, não dê atenção ao que Jayne disse, ela está desnorteada. Venha, vamos para a sala, vou pedir um café quente para você, deixe-a descansar.
Ele primeiramente não queria sair dali, mas Julia insistiu, já que Jayne estava dizendo coisas poderia dizer algo que entregasse que Ian estava por perto, para evitar o pior, o puxou pelo braço insistindo que ele saísse e foram para a sala.
— Não fique assim, Enrique.
— Julia, eu achei que Ian já era passado, como pode chamar o nome dele? Agora ela é minha mulher e eu tenho que ouvir isso? — disse esfregando os dedos nos olhos.
— Por favor, acalme-se. Eu sei que isso deve ser difícil para você, mas infelizmente, Ian nunca vai sair dos pensamentos dela.
— Quando penso que ela se recupera, algo acontece e Ian volta para nossas vidas, será que este defunto nunca para de me atormentar?
— Penso que não. — Julia se lembrou de Ian vivo e um calafrio lhe passou pela espinha.
— Mas que inferno! Nós devíamos ter ficado na Europa. Ela estava ótima, feliz, havia parado com os pesadelos, não havia mencionado o nome dele. Agora está chamando por ele. Oh Deus, isto nunca vai acabar — disse cobrindo o rosto com as mãos.
— Sinto muito, Enrique, ela ama você, eu sei disso, mas o que ela sente por Ian não pode ser substituído ou apagado.
— O lugar que ocupo no coração dela é tão pequeno.
— Isso não é verdade. Você está magoado de ouvi-la chamar Ian, mas não se exalte assim, ela nunca faz nada por maldade ou consciente, você sabe disso. Releve.
— Eu sei, Julia, o pior é que é sempre sem querer. As crianças ainda estão dormindo?
— Sim, felizmente passaram da hora hoje, pois assim não verão nada disso.
Ele tomou o café e depois foi para o quarto, ficou o tempo todo ao seu lado até que ela acordou. Ela abriu os olhos lentamente, o avistou.
— Ricky...
— Calma... Você vai ficar bem.
— Onde estou?
— Em casa. O que houve, Jayne?
— Onde está? — perguntou assustada pensando em Ian.
— Onde está o quê? Você estava desmaiada no vale, pensei que estivesse morta.
Jayne não falou nada, fechou os olhos por um minuto lembrando-se de Ian e tudo que passaram. Se Enrique encontrou-a sozinha, então não viu Ian. Olhou para o rosto preocupado dele e sua única atitude sem palavras foi chorar e abraçá-lo fortemente.
— Jayne, me conte o que aconteceu. Alguém lhe fez alguma coisa? Como foi passar a noite assim, você estava molhada e desalinhada.
— Não quero falar nada.
— Jayne, eu preciso saber, se alguém lhe fez algum mau, vou caçar este desgraçado, mas me conte.
— Ninguém me fez nada, o cavalo se assustou e eu caí, não consegui voltar, foi só isso.
Ela até pensou em contar, mas estava aterrorizada, não conseguia pensar, seu corpo e seu ombro doíam fortemente.
— Ricky, me abrace, deite aqui, por favor.
Ele deitou-se ao seu lado e a abraçou com cuidado.
— Jayne, eu pensei que tinha sido atacada por alguém, você estava com a roupa desabotoada, desacordada, fiquei em pânico.
— Não houve nada disso.
— Está com o ombro machucado.
— O tirei do lugar quando cai do cavalo, tive que colocá-lo de volta. Desculpe-me...
— Por quê?
— Desculpe-me... — Ela repetia e chorava o abraçando forte.
— Está tudo bem, meu amor, se acalme, já passou, agora está em casa e protegida, descanse.
Ela ficou agarrada a Enrique e ele não perguntou mais nada, ele puxou a coberta para que ficasse bem aquecida até que ela dormiu novamente.
**
Mitchel foi para a fazenda de David, Ian estava acordado, mas ainda na cama, cheio de cobertas.
— Como está, amigo?
— Estou bem, mas ainda me sinto congelado. Como ela está?
— Jayne está bem, vai se recuperar, fique tranquilo.
— Tranquilo? Como se eu pudesse.
— O que houve?
— Ficamos presos na mina, quase nos afogamos, caímos numa cachoeira, depois quase morremos congelados, acho que foi mais ou menos isso.
— Minha nossa, que reencontro! Ainda bem que já estamos entrando na primavera, senão vocês dois teriam morrido congelados. Pelo menos conversaram?
— Foi muito confuso, eu estou tonto, ela está pior ainda.
— Ah Ian, mas que situação, meu Deus! Não imagino como vocês vão consertar isso tudo.
— Nem me fale, foi pior do que imaginei, fizemos as pazes, brigamos, fizemos a pazes novamente, na realidade agora nem sei. Onde está Enrique?
— Está com ela.
— Que ódio! Eu queria estar com ela.
— Mas não pode, então se aquiete. Mas vocês dois são colados com o perigo, Jesus! Tudo acontece.
— Eu devia ir lá e acabar com isso, enfrentar Enrique de uma vez.
— Está maluco, homem, o que quer, causar uma briga, levar um tiro?
— Nós vamos ter que nos encarar, isto vai acontecer cedo ou tarde.
— Eu sei, mas eu prefiro tarde, não acho que esteja na hora disso acontecer. Acho que Jayne deve falar com ele primeiro, e ela não está em condições de fazer isso agora, então se acalme.
— Eu nem consigo me lembrar direito de como fomos parar dentro daquela mina. Como pudemos brigar daquele jeito?
— Vocês brigaram?
— Sim, foi um pesadelo. Eu falei coisas horríveis para ela, até disse que tiraria Josh dela.
— O quê? Ficou louco? — Emily gritou.
— Nem sei, quando ela me disse que amava Enrique e que não queria magoá-lo, sei lá mais o quê, eu perdi o juízo, fiquei tão furioso que comecei a ameaçar.
— Ela disse isso?
— Minha nossa! Ela vai ficar com o xerife? — Emily gritou.
— Emily! — Willian disse entre os dentes repreendendo-a.
— Disse que o amava e mais um monte de coisas, que nem consigo me lembrar de tudo. Eu acho que ela quer contar para ele, de uma forma que ele aceite, sei lá, mas isso está me matando.
— Ian, ela está certa, ela está casada com ele, você vai ter que dar um tempo a ela para que converse com ele da melhor maneira, senão é capaz de você virar um presunto de verdade, entendeu?
— Como ela pôde se casar com ele? Como?
— Enrique é uma ótima pessoa, não merece isso, ele vai sofrer muito com tudo isso, assim como você e ela. Se vocês não fizerem as coisas direito, isso vai acabar em desgraça, escute o que estou dizendo — disse David. — Veja o que está querendo fazer? Tirar a esposa dele. Sei que ela é sua esposa, mas eles casaram de verdade, Ian, ele tem direitos, assim como você. E perdê-la assim de uma hora para outra não vai ser fácil. E se coloque na situação dela, eu acho que não podemos condená-la por estar confusa. Afinal, quem merece ter dois maridos, assim desse jeito?
Ian suspirou fundo e esfregou o rosto com as mãos.
— Eu ainda nem consegui ver meus filhos. O rosto deles ainda está meio embaralhado na minha cabeça, é muito estranho.
— Mas que mina é essa, a sua mina?
— Sim.
— E como entraram? A entrada estava fechada.
— Estava aberta e eu acho que tinha gente mexendo lá, pois encontrei latas de querosene e terra mexida.
— Será que tem gente garimpando?
— Só se for louco, aquilo está abandonado há muitos anos.
— Ian, você tem que cercar aquelas terras, assim vão saber que tem dono.
— Não quero pensar neste problema agora. Tenho que resolver meu problema com a Jayne e este homem.
— Bem, só espero que ninguém abra a boca para ele antes. E você vai ter que ficar escondido, não pode ficar andando por aí.
— Era só o que me faltava, ter que ficar escondido. E quando vou poder ver meus filhos?
— Vai ser um choque para eles.
— Ah meu filho... Como queria ver o rostinho dele.
— Calma. Tudo vai se ajeitar, você vai ver. Você precisa esfriar a cabeça, pensar e agir com calma. Não coloque os pés pelas mãos.
— Está certo. Eu vou fazer isso, eu prometi à Jayne que esperaria ela falar com ele, porque com essa loucura toda que passamos, sei que ela ainda me ama.
— Olha, eu não disse? Ela ainda o ama, mas ajam rápido antes que ela engravide de Enrique, se é que já não engravidou.
— Emily! — Willian gritou a olhando de cara feia e Ian a olhou com os olhos arregalados.
— Ela é casada com ele, então eles dormem juntos e então é assim que se fazem filhos.
— Emily, fique quieta!
— Mas estou falando a verdade, ela estava tentando engravidar dele, me disse isso ontem.
— Emily, mas será possível? — Willian disse nervoso.
— Ai, está bem, não falo mais nada.
Ian segurou a cabeça com as mãos, ficando com os olhos fechados pensando que explodiria.
— Fique calmo, é normal que quisessem um filho, mas agora isso não vai mais acontecer, Emily fala demais. Jayne vai falar com ele e vai voltar para você, tudo vai acabar bem. — Willian tentou remediar.
— Alguém, por favor, poderia me dar uma dose de uísque? — Ian falou rangendo os dentes.
— Eu também quero umas três doses no mínimo — Mitchel disse com os olhos arregalados.
— Eu também — David disse.
— Eu vou ajudar Mary no almoço, mas me dê um gole que eu estou precisando.
Emily pegou o copo e bebeu um gole enorme fazendo careta.
Capítulo 25
Jayne se recuperava do ferimento no ombro, mas continuou extremamente nervosa. Enrique percebeu, mas ela disfarçava que eram problemas com a fazenda, não conseguiu contar a ele, pois não achava as palavras para lhe dizer que Ian estava vivo, sua garganta travava, tinha medo da reação dele.
Seu coração se partia de fazer aquilo, pois não queria que sofresse, e seu coração estava confuso, não conseguia enxotar Enrique de sua vida como se não fosse ninguém, ele era muito importante para ela.
Mas Ian, estando por perto, ela teria que dar um basta naquilo tudo, só não sabia como.
Após alguns dias Jayne foi à fazenda de Willian ver Ian, ela estava agoniada para vê-lo, pois desde o primeiro encontro não o viu mais.
— Olá, Emily.
— Jayne, o que faz aqui? Já está melhor?
— Sim, já estou bem. Eu vim ver Ian, onde ele está?
— Ai sua louca, você já falou com Enrique?
— Não.
— Como não?
— Não, não consegui.
— Jayne, você precisa fazer isso se quiser ficar com Ian. É com ele que você quer ficar, não é?
— Eu estava feliz com Ricky, mas agora estou dividida.
— Imagino que sim, mas você ama muito mais Ian, não é?
— Emily, meu amor por Ian não se compara a nada, eu o amo perdidamente, não posso ficar sem ele, sabendo que está vivo.
— Mas então o que está esperando, Ian ter um ataque?
— Não, eu vou falar com Ricky, só não sei como. Acha que é fácil chegar assim para o seu marido e dizer que não o quer mais?
— Julia fez isso.
— Eu sei, mas Julia perdeu o juízo, o que ela fez foi um desatino. E me corta o coração fazer isso com Ricky, ele não merece. Mas eu vou fazer, somente preciso de coragem. Onde está Ian?
— Está no celeiro. Ele fica lá enfiado que nem uma vaca, se você não acabar logo com isso, acho que ele vai virar uma.
Jayne riu e foi encontrá-lo.
— Ian?
Ele não respondeu, ela olhou ao redor e não o viu, foi até o fundo do celeiro e o chamou novamente. Achou que ele não estava ali. Ela deu meia volta para sair, mas Ian a puxou pela cintura e a jogou no feno, ela gritou pelo susto e ele se deitou sobre ela. Quando ela viu que era ele deu uns tapas em seu braço.
— Ian, por Deus! Quase me mata de susto.
— Desculpe, eu não resisti — disse sorrindo.
— Onde estava? Eu o chamei, por que não respondeu?
— Estava só a olhando.
— Eu vim...
Ele não a deixou terminar de falar e a beijou, deixando-a sem ar e suas mãos passeavam pelo seu corpo, os tirando do compasso.
— Deixe-me amar você, eu sinto sua falta, eu preciso de você.
— Ian... Por favor, você prometeu.
— Mas você me deseja que eu sei. — Ele continuava a beijando deixando-a louca e os dois estavam ofegantes e enlouquecidos. — Foi você que prometeu não dormir comigo.
— Eu não posso — dizia quase morrendo de desejo, mas não podia render-se.
— Mas eu te amo.
Ela segurou firmemente o rosto dele com as mãos e o fez olhar para seus olhos.
— Sim, mas eu não posso, não faça mais isso, senão eu não vou resistir. Eu te amo, mas você prometeu que ia se comportar.
— O que você veio fazer aqui? — disse com os olhos fechados, tentando se controlar e não perder o juízo.
— Eu queria vê-lo, precisava, mas não me torture assim.
— Jayne, você falou com ele?
— Não.
— Por que não?
— Eu não consegui. — Ian encostou a testa em seu peito e Jayne entrelaçou os dedos em seus cabelos. — Ian, tenha paciência, por favor.
— Quanta paciência eu devo ter? — disse ainda naquela posição e com a respiração difícil, tentava acalmar seu desejo e seus nervos.
— Não sei, mas precisa ter. Não posso resolver isso assim, por favor, me dê um tempo, eu quero fazer com jeito, não quero magoá-lo mais do que vai ficar, e você não me tente mais assim.
— Fico me lembrando das nossas noites juntos, me lembrei de quando a conheci, de quanto éramos felizes. Tudo está muito claro na minha memória agora.
— Eu sei, meu amor. Eu sofri muito ficando sem você, mas temos um problema e temos que ter calma para resolvê-lo.
— Eu sei.
Os dois estavam com a dor e o desejo faiscando pelos olhos.
Ian fechou os olhos e encostou seu rosto no dela desejando beijá-la, Jayne com as mãos na sua nuca o puxou para que se beijassem e se abraçaram fortemente.
— Jayne... Eu preciso ver meus filhos.
— Ian, por favor.
— Você não pode fazer isso comigo, eu preciso deles. Eu dou o tempo que precisa, mas com a condição de poder ver meus filhos.
— Está bem, vou dar um jeito de você ver nossos filhotinhos amanhã.
— Promete?
— Prometo.
— Você estava tentando engravidar de Enrique?
Jayne gelou, não imaginou que ele faria uma pergunta dessas.
— O quê?
— Emily disse que você estava tentando engravidar, é verdade?
— Ian...
— Diga a verdade, não minta para mim.
— Sim, é verdade. — Ian fechou os olhos fortemente.
— E se você estiver grávida, como vai ser? Isso acaba conosco, isso não pode acontecer.
— Ian, eu não estou grávida.
— Você vai cumprir sua promessa?
— Vou.
— Pelo menos comigo está cumprindo.
— Estou cumprindo com os dois, não sou leviana, Ian, mas você não pode só cobrar, vai ter que colaborar também. O que acha? Dois maridos me cobrando posição de esposa, me tentando e eu no meio tendo que resistir a vocês dois, tendo que mentir, o que pensam que sou, de ferro?
— Está bem, está bem, vou me comportar.
— Você sabe da promessa que eu fiz, mas ele não, eu tenho que inventar mil desculpas para evitá-lo.
— Jayne, eu sei que é difícil para você, mas é insuportável para eu pensar que você dorme na mesma cama que ele, mas eu vou confiar em você.
— Hum... Eu acho bom.
— E eu conheço seu fogo, sei que deve ser difícil resistir a mim. — Jayne não aguentou e soltou uma risada.
— Ai Ian...
— Não é? — disse rindo. — Lembro-me muito bem de como você se derretia nos meus braços, como ficava enlouquecida, como me procurava durante a noite.
— Mas o que é isso? Bateu a cabeça e ficou convencido?
— Não sou convencido, você é que tem fogo latente por mim — disse brincando, mas estava nervoso, estava tentando quebrar o gelo entre eles, sentia falta de arrancar risadas dela que o deixavam feliz.
— Isso é verdade, porque eu te amo.
— Ama mesmo?
— Amo, como sempre o amei.
— Eu também te amo muito, Jayne.
Ela sorriu e acariciou seu rosto suavemente, retirando com os dedos suas mechas de cabelo que lhe caiam nos olhos. Teve vontade de chorar olhando para aquele rosto que tanto amava. Ian fechou os olhos sentindo aquela doce carícia.
— Meu Deus! Como senti falta disso, de senti-lo, de vê-lo, ouvir sua voz.
— Eu também, mesmo quando minha cabeça parecia um vazio, meu coração sentia saudade de você, não sabe como sofri. Eu não quero perdê-la, Jayne.
— Eu também não.
— Vamos conseguir e tudo vai voltar como era antes.
— Espero que sim. Mas agora me deixe ir.
Ela o empurrou e foi se levantar, mas ele a prendeu com seu corpo.
— Ah... Não vai não.
— Me deixe ir.
— Não, não quero deixar você ir. Eu me sinto um bandido aqui escondido, sem poder sair e ficar com você e meus filhos, ir para casa, minha fazenda com meus cavalos, dormir e acordar com você na nossa cama, ver o sorriso dos meus filhotinhos, ouvir você ler histórias para nós três à noite.
— Ian, eu sinto muito.
Ela acariciou seu rosto o olhando com tristeza.
— Fique mais um pouco aqui comigo, por favor. Deixe-me beijá-la mais uma vez, só beijar, você pode amarrar minhas mãos se quiser. — Ela riu.
— É, definitivamente essa sua pancada na cabeça deve ter sido forte mesmo. Eu deixo você me beijar, mas com uma condição.
— Qual?
— Quero ver seu sorriso.
Ele a olhou com um olhar cheio de amor e naturalmente sorriu para ela e beijaram-se longamente.
**
Julia queria resolver seu casamento com Mitchel, então, foi falar com Enrique em seu escritório na cidade para ver como podia proceder.
— Enrique, pode me ajudar? Eu não entendo destas leis.
— Conte-me qual o problema que tentarei ajudá-la.
— Eu quero me separar definitivamente de Mitchel. Isso é possível?
Enrique franziu o cenho olhando para ela com os cotovelos escorados na mesa.
— Sim, isto é possível, complicado, mas possível.
— Ótimo. O que preciso fazer?
— Tem certeza disso?
— Tenho.
— Nós temos o desquite, é um processo que precisa de corte, mas você pode conseguir o que quer. Mas as mulheres desquitadas são mal vistas na sociedade, Julia. Mesmo no Texas onde a etiqueta social é muito mais branda que outros estados dos Estados Unidos e muito mais branda do que os rigores londrinos, ainda ficará marcada.
— Eu sei.
— Você vai ter que estar preparada para assumir as consequências.
— Eu estou. O falatório deste povo não me interessa nem um pouco, e eu pretendo ir para a Europa, então quero estar livre.
— Então me diga, por que seu casamento acabou?
— Acabou o amor, não estávamos sendo felizes.
— E...?
— E, é isso. Nós conversamos e nos separamos, fui para casa do meu pai e estamos separados desde então.
— Julia, isso não é motivo para pedir desquite.
— Para mim é.
— Mas para a corte não. Seu pedido não será aceito pelo juiz.
— Como não?
— Julia, esta corte é rígida, desquite somente é dado com um motivo concreto de violência, ou adultério devidamente comprovado, ou privação de recursos, algo sério. Dizer que o amor esfriou é inaceitável. Você não terá o desquite com estes argumentos. Amor não é levado em conta em casamentos.
— Mas não houve nada disso.
— Mas terá que haver. Ou você ou Mitchel terá que se dizer culpado de algum tipo de delito para que o desquite seja aceito.
— Mas como faço isso, se não há nada desse nível? Isso é um absurdo, Enrique.
— Mas é assim que funciona, um dos dois terá que ir lá e acusar o outro de algum delito grave e que não quer mais ficar casado por causa disso. Terá que ter um bandido e uma vítima. Só assim terá uma chance de conseguir. Principalmente se for você que vai pedir, o delito de Mitchel tem que ser muito grave. Uma esposa não tem direitos de pedir desquite.
Julia ficou pasma, nem sabia que porcaria era aquela, estava indignada e o olhava com os olhos arregalados.
— Penso ser bom você rever seu casamento com Mitchel e voltarem.
— Isso não. Não vou ficar casada por causa de uma lei idiota.
— Então um de vocês dois terá que assumir uma culpa que não existe, e terão que ser convincentes.
— Eu posso dizer que o trai.
— Julia, por favor, não diga um absurdo destes, você vai sujar seu nome e da sua família, sua reputação vai completamente à lama se você assumir um adultério em público. Desculpe-me, mas não aconselho que faça isso.
— Então o que quer que eu faça?
— Você pode convencer Mitchel a assumir adultério e digamos que não seja nada discreto, pois homens adúlteros não são mal vistos, a não ser que seja algo escandaloso que humilhe a mulher. Ainda te digo que se disser que Mitchel te traiu e você quer se separar dele por isso, ainda corre o risco de receber uma negativa pelo desquite. Ele nunca a traiu? E eu não falo de uma traição qualquer, falo de um escândalo.
— Que eu saiba não. Isto é um absurdo, mas que machismo ridículo, como pode isso? Então os homens podem fazer o que quiserem e as mulheres não podem fazer nada por que caem na lama? Jesus, isso me lembra daquele maldito juiz que não deu a anulação à Jayne porque a acusou de ser uma esposa negligente, por isso Edward tinha o direito de ir embora e levar a filha. Ai que destino, meu Deus!
— Bem, Jayne foi julgada injustamente, mas o Sr. Vaiz pode ter mentido, e agora assumir, ou terá que inventar um, mas isso é errado, pois mentirão para o juiz. E sinto muito, mas a sociedade é patriarcal, Julia. Querer ir do contra, é pedir confusão.
— Prefiro mentir para um juiz, a ficar numa situação que não quero. Recuso-me a ser colocada como um tapete para que façam o que quiserem da minha vida sem que seja de minha vontade. E depois eu ou ele podemos nos apaixonar por outra pessoa e nos casar novamente e sermos felizes, é isso que eu quero e é isso que eu desejo a ele, que ele encontre uma mulher que o faça feliz, que se case com ela.
Enrique demonstrou uma preocupação latente na sua face, respirou fundo, levantou da cadeira e deu a volta na mesa, escorou-se nela com os braços cruzados, parecia escolher as palavras. Ela o ficou olhando esperando para ver o que diria.
— Julia, eu sinto muito, mas isso não será possível.
— O que não é possível?
— Se o juiz conceder o desquite e vocês ficarem livres deste casamento, nem você e nem Mitchel poderão se casar novamente.
— O quê?
— Sinto muito, a lei não permite. Uma pessoa desquitada não pode casar novamente.
Julia levantou da cadeira injuriada, atônita, deu algumas voltas em círculo pelo escritório.
— Quer dizer que nunca vou poder me casar de novo?
— Infelizmente não.
— Isso é um absurdo!
— Eu sei, mas é a lei. E com este tempo de casados também não pode haver anulação e isso eu não posso argumentar, sinto muito. Portanto pensem bem. A decisão que tomarem, eu apoiarei e providenciarei tudo, mas os trâmites são estes.
Julia teve vontade de gritar.
— Meu Deus! Quem cria estas leis estúpidas? Como podem definir assim e regular a vida e felicidade de alguém desse jeito?
— Julia, eu sei que é difícil entender, mas...
— Mas o quê? Mas o quê, Enrique? Eu ainda tenho uma vida pela frente e se eu amar mais alguém na minha vida, como farei? Terei que ficar sozinha? Como pode? Isso não entra na minha cabeça.
— Entendo sua revolta, sinto muito não poder ajudar nisso. Os casamentos são feitos para não serem dissolvidos e não importa razões adversas. Você pode ficar com alguém, viver junto, mas não vai poder se casar novamente. Mas isso também não é bem-visto, como sabes.
— Não é bem-visto, parece que nada que eu faça é bem-visto. — Ela engoliu a seco e olhou para ele. — Eu vou falar com Mitchel e depois eu falo com você.
— Tudo bem. Estarei aqui para lhe ajudar.
— Obrigada.
Ela saiu do seu escritório e nem sabia para onde ir, estava perdida e com a raiva lhe corroendo, o mundo parecia muito injusto com as mulheres. Ficou na calçada desnorteada e tentando respirar.
— Sra. Vaiz...
Ela olhou para o lado para ver de quem era a voz feminina que a chamava, estava tão atordoada que nem se espantou de ver Chloe puxar assunto com ela.
— Está falando comigo? — perguntou secamente.
— Desculpe, não quis ser intrometida, mas está branca, parece que está se sentindo mal. Precisa de ajuda, quer que chame alguém?
Julia a olhou com os olhos fixos.
— Não, não preciso de nada, obrigada.
Virou-se e ia embora, mas parou e virou-se para Chloe novamente.
— Você é a deusa de mármore de Mitchel, não é?
Chloe sentiu um frio no estômago lhe afligir, pensou em não responder, mas respirou fundo a olhando com os olhos altivos, mas sem ser esnobe lhe respondeu.
— Sou.
— Então me responda uma coisa, mas não minta, por favor.
— Pergunte.
— Mitchel me traiu? Ele ficou com você ou com outra mulher do seu Saloon enquanto estávamos casados?
Chloe quase caiu com aquela pergunta, engoliu seco, mas respondeu a verdade.
— Não, ele nunca traiu você, nunca ficou nem comigo e nem com ninguém do Saloon enquanto estava casado, eu juro.
— Pois devia ter ficado, acho que você que devia ter se casado com ele, acho que formam um belo casal. Pena que agora você nunca fará isso. — Falou seca.
Julia virou as costas e foi embora, deixando Chloe ali, sem entender nada, com os olhos arregalados.
Capítulo 26
Enrique chegou apressado, estava cheio de trabalho, Jayne teve problemas com os cavalos que precisavam cobrir e deu tudo errado; passou a manhã toda com James e os empregados tentando salvar a égua que se machucou na coxia.
Ela estava com os nervos à flor da pele, nem conseguia pensar direito, levantaram-se da mesa do almoço e Jayne nem havia conseguido tocar na comida.
— Ricky, eu preciso falar com você.
— O que você tem? Você anda nervosa, eu soube que está com problemas com uma égua.
— Preciso lhe contar algo, mas não é sobre os cavalos.
— O que é? — Jayne respirou fundo, mas suas palavras travaram. — Fale, estou aqui ouvindo — disse se aproximando dela.
— É que estou nervosa.
— Por que não consegue falar, tem medo do quê?
— Tenho medo da sua reação.
— Reação? De ficar bravo porque você não quer mais me dar um filho?
— O quê? — disse aturdida.
Enrique tirou um maço de ervas do bolso e mostrou a ela. Jayne olhou o maço e arregalou os olhos para ele.
— Por que está tomando isso de novo?
— Onde achou isso?
— Na cozinha, eu vi você bebendo chá ontem e deduzi que era isso, é isso, não é? — Jayne sentiu o chão sumir. — Por que está evitando nosso filho? Você mesma disse que o queria, e nem sei por que está tomando, pois está me evitando depois daquela noite que você sumiu.
— Eu... — Ela não terminou de falar Kate veio correndo.
— Senhora...
— Agora não, Kate — Jayne disse tentando continuar aquela conversa.
— Mas senhora... É sobre Josh.
— O que tem ele, o que houve?
— Ele está com febre alta.
Jayne correu para o quarto e ele estava esmorecido na cama.
— Josh, meu bebê. — Ela colocou a mão em sua testa e ele estava queimando. — Ele está muito quente, Kate, pegue água fria e panos, vamos fazer compressas, coloque água na tina para dar-lhe um banho.
Kate ficou a olhando com os olhos arregalados.
— Vai Kate, anda logo.
Ela saiu correndo e Jayne sentou na cama, o pegando no colo.
— Filhotinho, o que você tem? — Ele começou a chorar e Jayne o abraçava. — Calma meu amor, é só uma febre, vai passar.
Ela ficou por mais de uma hora fazendo compressas, mas a febre continuava. Jayne olhou sua garganta e viu que estava inchada. Depois de algumas horas e de utilizar todos os recursos que sabia, a febre começou a baixar.
Jayne respirou aliviada, mas esqueceu do resto de sua vida. Ficou ali deitada ao lado dele, porque ele não largava sua mão, mesmo quando adormeceu.
Ricky chegou já era noite e foram jantar. Josh estava dormindo e a febre já havia cedido bastante, mas Jayne estava tão nervosa que nem conseguia engolir a comida.
— Jayne... — Ricky chamou e ela o olhou. — Você precisa comer e não só revirar a comida. Você não almoçou hoje e agora nem tocou no prato.
— Não consigo, não me desce nada.
— Jayne, o que há com você?
— Ricky, por favor, não quero falar nada, estou nervosa por causa do meu filho, estou me sentindo exausta.
— Está bem, quando isso passar nós conversamos. — Ele pegou sua mão e a olhou carinhosamente. — Não se preocupe, Josh ficará bem.
Ela o olhou e apertou a mão dele, lhe dando um sorriso meio forçado. Seu coração nem existia mais, parecia que ele havia saído de seu corpo de tão nervosa que estava. Parecia que tudo conspirava para que ela não falasse nada. Seus pensamentos somente estavam em seu filho, mas também não estava com coragem de conversar sobre aquele assunto terrível.
Jayne levou Josh para a sua cama, Angel que adorava seu irmão deitou-se ao seu lado segurando sua mãozinha, Jayne ficou na porta do quarto olhando para eles, eram sua vida. Ricky chegou e a abraçou pelas costas, ela se deixou recostar no peito dele, estava esgotada.
— Não fique assim, meu amor. Ele está bem, a febre já está baixa.
— Eu sei, mas se algo acontecer a eles não suportaria.
Ele a fez virar-se para si e acariciou seu rosto.
— Eu sei por que você está com medo... Você quase morreu quando teve Josh, está com medo que algo aconteça de novo, não é?
Jayne não tinha nenhuma palavra para dizer para contestar aquilo, somente tinha vontade de chorar e lágrimas escorreram de seus olhos. Queria ficar ali com ele, queria dizer o motivo que não podia engravidar, queria falar de Ian, na verdade queria sumir.
Ricky segurou seu rosto com suas mãos e beijou seus lábios docemente, abraçou-a e Jayne correspondeu àquele abraço. Como desejava conseguir poupá-lo do sofrimento que lhe aguardava, isso a mortificava, não conseguia negar que o adorava e não queria que ele sofresse, mas não conseguiria evitar aquilo por muito tempo.
— Desculpe-me, Ricky. Eu não mereço seu amor.
— Não diga isso. Não quero que faça nada que não queira, temos tempo.
Jayne estava com vontade de gritar, queria julgá-lo por algo errado que fizesse para ter motivo para feri-lo, mas não tinha nenhum.
Depois ele a olhou com todo amor do mundo e lhe beijou, retirou seu penhoir e o colocou na poltrona, pegou sua mão e a puxou para a cama e assim os quatro se aconchegaram. Enrique puxou a coberta os cobrindo e abraçou Jayne pelas costas e assim foram dormir.
O que não sabiam, é que sem poder ouvir o que falavam, pelo motivo da janela estar fechada, dois olhos os observava.
**
Jayne estava no seu quarto à noite colocando algumas roupas na gaveta da cômoda, estava perdida nos seus pensamentos, sentindo seu corpo cansado e sua cabeça doía. Josh já estava bem, a febre cessara, reclamava que sua garganta ainda doía, mas já não como no dia anterior, dormia em seu quarto na companhia de Kate, o dia transcorreu todo aos seus cuidados.
Agora que Josh estava melhor, Jayne tentaria falar com Enrique novamente.
Ela fechou a gaveta lentamente sem perceber que alguém entrou pela janela do quarto, somente se virou quando ouviu a porta do quarto fechar-se, ficou branca, seu coração quase parou, encostou-se à cômoda de costas e observou Ian passar a chave na porta.
— Ian, por Deus! O que está fazendo aqui? Enrique está em casa — disse baixo quase colocando o coração pela boca afora.
— Eu queria falar com você — disse nervoso.
— Aqui não, vá embora. Amanhã eu vou à fazenda e conversamos.
— Não, vai ser agora.
— Ian, por favor, vá embora — Jayne disse apavorada. Ian se aproximou dela, havia nele um olhar de fúria. — O que houve? Por que está aqui?
— Você prometeu que ia me deixar ver meus filhos e não os levou para mim, você prometeu que falaria com Enrique e ainda não disse nada.
— Eu vou fazer isso, eu juro. Eu tentei falar com ele, mas não pude, mas eu vou falar.
— Jayne, eu não sei por quanto tempo vou aguentar isso.
— Ian, eu imploro, vá embora. — Ian a pegou pelo braço, a puxou a girando e a jogou na cama, deitou por cima dela num brusco movimento. — Ian, pare com isso! — Ele segurou seus dois punhos por cima de sua cabeça contra a cama, ela estava imóvel, sentindo o peso dele sobre ela, estava apavorada e seu coração batia descompassado. — Ian, o que está fazendo?
— Eu vi você e Enrique ontem, não me pareciam nada infelizes. Vocês estavam deitados na cama com meus filhos, típica família feliz e eu aqui esperando que você desfaça esta burrada que fez.
Jayne começou a chorar.
— Ian, Josh está doente, quis dormir comigo e Angel quis ficar junto, como nós fazíamos, eu só quis ficar perto deles. Como você viu isso?
— Eu vim aqui e olhei pela janela, tive vontade de entrar e acabar com isso. Só não acabei com a alegria de vocês dois porque meus filhos estavam no quarto. Então, eu vim fazer isso hoje.
— Não... Josh estava com febre, não é o que está pensando.
— Você o beijou, se largou nos braços dele — disse furioso.
— Ian, pare com isso, por favor.
— Por que não o levou para que eu pudesse vê-lo?
— Eu já disse, porque ele estava com febre, não pude levá-lo, eu juro. — Nisso, Enrique bate à porta. Os dois a olharam com os olhos arregalados. — Ian, por Deus saia daqui — Jayne sussurrou em pânico.
— Vou ficar aqui.
— Não... — Jayne estava quase tendo um enfarte, seu medo a fez quase parar de respirar. — Se ele vê-lo aqui vai matá-lo, por favor, não faça isso, deixe-me contar a ele primeiro.
— Você não está se esforçando, se você não quer contar, então é melhor eu acabar com isso logo, eu mesmo vou contar.
— Ian, por tudo que é mais sagrado, eu lhe imploro, eu vou falar com ele, eu juro, mas vá embora.
— Jayne, por que está trancada aí? Abra a porta — Enrique chamou.
Lágrimas escorriam do rosto dela, estava ofegante, apavorada com os olhos arregalados. Ian a olhava com dor e falou baixinho.
— Jayne, eu não aguento mais, por que eu estou lutando? Por quê?
— Porque me ama, porque acredita no meu amor por você. Eu te amo, Ian, então vá embora daqui, pelo amor de Deus, eu vou contar, eu juro. Por favor.
— Jayne! — Enrique gritou mais forte mexendo na maçaneta.
— Por favor, por favor.
Ian levantou e passou a mão pelos cabelos, estava com o rosto transtornado de tristeza.
— Eu não sei se acredito mais no seu amor, Jayne. Acho que quem você ama está ali batendo na porta.
Ela sentiu um desespero no peito que pensou que fosse morrer e Ian pulou a janela saindo da casa. Jayne quase sem forças levantou e secou as lágrimas, respirou fundo, foi até a porta e a abriu.
Enrique a olhou seriamente e depois ao redor, ela pensou que fosse desmaiar, foi até a mesinha e pegou um copo de água e bebeu. Ela olhou para ele que estava parado a olhando com os olhos indagativos e com as mãos na cintura.
— O que foi? Parece que viu um fantasma. Você está muito esquisita, por que estava trancada aqui?
— Tem algo que preciso lhe contar, é muito sério, mas preciso que preste atenção e fique calmo.
— Está me deixando nervoso.
— Ricky, você se lembra de Portland? Quando...
No que ia continuar, ouviram um grito estridente e constante que vinha do quarto de Angel, os dois olharam assustados para a porta e Jayne saiu correndo e ele foi atrás.
Chegando ao quarto ela abriu a porta e avistou Angel ainda gritando com os olhos arregalados em frente à janela. Jayne se jogou à frente dela se ajoelhando e a segurou pelos braços.
— Angel, querida, o que foi? O que foi? — Ela parou de gritar e a olhou com lágrimas no rosto e com os olhos arregalados. — Por favor, querida, diga o que houve?
— Eu vi, eu vi, mamãe!
— Viu o quê? — Enrique perguntou assustado.
— Vi o papai.
Jayne sentiu um gelo lhe passar pela espinha.
— Angel, querida se acalme. Você estava dormindo e sonhou.
— Não, eu vi, eu vi, não estava dormindo, eu estava na janela.
Jayne puxou Angel e sentou-se na cama com ela à sua frente.
— Querida, se acalme.
— Eu vi o papai Ian.
— Angel... — Jayne sentiu um desespero em seu ser, abraçou-a fortemente e Enrique fechou os olhos os cobrindo com as mãos. — Querida, você viu coisas, foi só um sonho, se acalme.
— Eu vi mamãe, ele olhou para mim, está lá fora, eu vi.
Enrique foi até a janela e olhou para fora não avistando nada, respirou e foi até a cama.
— Angel, querida, é impossível você ter visto seu pai lá fora, eu olhei, não tem nada lá, foi só um sonho — Enrique disse.
— Venha, Angel, deite aqui. — Jayne a puxou para que se deitasse e deitou ao seu lado acariciando seus cabelos. — Mamãe está aqui com você, se acalme, não precisa chorar, shhhh mamãe está aqui. Ricky, deixe-me ficar a sós com ela até se acalmar, por favor.
— Claro.
— Feche a porta, daqui a pouco eu vou.
Ele saiu e fechou a porta, foi para o quarto e se jogou na cama passando as mãos no rosto, estava moído, aquilo tudo era um pesadelo que nunca acabava, puxou profundamente o ar e ficou ali estirado na cama com os olhos fechados.
— Você acredita em mim, mamãe? Eu vi, de verdade.
— Angel, meu amor, eu acredito em você. — Jayne respirou, mas seu choro forçosamente queria arrebentar. — Escute a mamãe, preste atenção, está bem? Eu vou lhe contar um segredo, mas você tem que jurar que vai ficar quietinha e ouvir tudo. Tem que me prometer que não vai falar para o tio Ricky. Promete?
Ela assentiu e Jayne engoliu a seco.
— Papai não está morto, querida. Aquele que você viu era ele.
— Não entendi, mamãe.
— Papai não morreu, ele está vivo e voltou, era ele lá fora.
— Papai está vivo? — gritou sentando na cama.
— Shhh... — Jayne colocou a mão na sua boca. — Fique quietinha, meu amor, me escute. É verdade, papai está vivo, mas a mamãe tem que contar para o tio Ricky e ele vai ficar muito triste com isso. Então ele não pode saber até mamãe contar para ele, entendeu? Então não fale disso para ninguém, não fale do papai perto dele e nem para Josh.
— Entendi, mamãe. Se papai voltou, a senhora não pode ficar com o tio Ricky, não é? Por isso que ele vai ficar triste?
— Isso, boa menina.
— Onde ele está? Por que ele não veio para casa?
— Está na casa do tio Willian. Não voltou antes porque estava doente, mas agora precisamos resolver alguns problemas.
Ela começou a chorar e Jayne a abraçou chorando também.
— Papai está vivo, eu quero vê-lo, mamãe.
— Você vai ver, meu amor, você vai ver, eu lhe prometo. Deite aqui e se acalme, durma agora, por favor, Angel.
As duas deitaram e Angel se aninhou nos braços de Jayne, ficaram as duas chorando até que Angel cansou e dormiu. Jayne ficou ali ainda um bom tempo tentando se acalmar. A atitude de Ian quase causa uma desgraça, a deixou arrasada, estava entregue ao cansaço físico e mental, suas lágrimas não cansavam de rolar e adormeceu abraçada a Angel.
Tarde da noite Ricky viu que ela não voltou, foi até o quarto de Angel e as viu dormindo abraçadas; foi até o lado delas e as olhou por um instante, acariciou o rosto de Jayne e lhe deu um beijo na testa, puxou a coberta e cobriu as duas, suspirou fundo e voltou para o quarto caindo na cama novamente, estava exaurido.
Algo estava acontecendo naquela casa e isto o estava deixando nervoso. Jayne tentava lhe falar, mas sempre algo interrompia. Enrique sentia que algo ruim estava para acontecer, achava que ele próprio estava tentando fugir da verdade, inconscientemente.
Jayne estava com o olhar distante, se afastara dele, não correspondia mais aos seus carinhos, tentava lhe ser mais amável possível, mas não se entregava mais a ele. Ele percebendo o afastamento dela, não lhe cobrou nada diretamente ou a encurralou, estava esperando que aquilo passasse para que ela voltasse ao normal.
Desde o dia que passou a noite fora, ela mudou, algo aconteceu. Ele não conseguia descobrir o que era, mas seu coração lhe dizia que aquilo tinha a ver com Ian, sempre Ian. Além de Jayne, agora Angel estava vendo seu fantasma, parecia mesmo que ele nunca sairia de suas vidas.
Enrique pensava, estava agoniado, triste, sentia um nó na garganta e sem querer deixou lágrimas rolarem de seu rosto, esfregou as mãos para secá-las e dormiu com o sono agitado.
Tudo estava errado ali. Ele não queria admitir para si mesmo, mas se sentia um estranho naquela casa, a sensação que tinha é que aquele não era seu lugar.
Capítulo 27
— Ricky, eu preciso falar com você.
— Desculpe, querida, mas estou atrasado, dormi mal esta noite, pode ser depois?
— Não pode, tem que ser agora, senão não conseguirei falar nunca.
— Jayne, sinto muito, eu tenho um júri e estou atrasado.
— Mas é importante.
— Querida, agora não dá, isso não pode esperar?
— Não, não pode, preciso falar sobre Ian.
Enrique mudou sua fisionomia radicalmente.
— Ian... Desculpe, Jayne, mas Ian vai ter que esperar porque eu não vou perder uma corte por causa dele. Sinto muito, vou ter que ir, quando eu voltar talvez eu deixe você falar sobre seu falecido marido, está bem? — Ele foi até ela e beijou seus lábios e olhou para ela com uma tristeza no olhar. — Jayne, eu vou lhe pedir, não traga Ian de volta para nossas vidas. Eu preciso ir, volto à noite e a gente conversa.
Jayne ficou ali olhando para ele, sem saber o que dizer com o coração apertado.
Ele a beijou, pegou suas coisas e saiu, parecia que estava fugindo dela. Jayne colocou as mãos no rosto. Por que aquilo era tão difícil? Por que não conseguia desembuchar logo de uma vez? Jayne foi ver algumas coisas sobre os cavalos para orientar James, mas estava atordoada.
— A senhora está bem? — James perguntou.
— Não.
— Senhora, eu sei o que está acontecendo, se precisar de mim, estou aqui para lhe ajudar em tudo. O patrão esteve aqui ontem à noite, ouvi os gritos da Angel, ela o viu, não foi?
— Sim. Ricky quase o pegou.
— Senhora, desculpe me intrometer, mas tomem cuidado. Do jeito que as coisas estão seguindo, podem ter problemas. Se precisar eu ajudo no que puder.
Jayne olhou para ele e sorriu.
— Obrigada, James. Cuide dos cavalos por mim, porque não tenho cabeça para nada.
— Vou cuidar, fique tranquila.
Jayne voltou para casa e foi ao quarto de Angel, ela estava em pé na janela.
— Angel, o que faz aí parada deste jeito?
— Lembrando-me de ontem.
— Meu anjo, foi um susto e tanto, não foi?
— Sim. Quando posso ver o papai?
— O que você acha de agora?
Angel olhou para ela com os olhos arregalados.
— Jura? Posso vê-lo agora? Por favor, mamãe, por favor.
— Vamos, vou levar você e Josh para vê-lo.
Angel assentiu com a cabeça com os olhos vibrantes e o coração palpitando. Pegaram os cavalos, Angel foi com um e Jayne colocou Josh no dela montado à sua frente, foram em rumo à fazenda de Willian cavalgando devagar.
— Josh...
— Sim mamãe.
— Você gostaria de ver seu papai estrelinha?
— Sempre o vejo mamãe. Só não o vejo quando tem nuvens, mas a senhora disse que ele está brincando de se esconder comigo.
— É, está sim. E se ele resolvesse descer do céu e não ser mais uma estrelinha?
— Se ele não fosse estrela, seria o quê?
— Ele seria seu papai novamente. Como você se lembra dele? Descreva-o para mim. — Ele pensou um pouco.
— Lembro que ele tinha cabelos compridos. Eu gostava de quando ele me colocava no cavalo, gostava do sorriso dele, mamãe.
— Você se lembra do sorriso dele?
— Sim, lembro. Ele tinha dois buraquinhos aqui ó. — Ele mostrou as bochechas com os dedos.
Jayne sentiu vontade de chorar.
— Sim, é verdade, filho, ele tem estes buraquinhos quando ri, você também tem, chamam-se covinhas. Você gostaria de vê-lo de novo?
— Aham, mas não como estrelinha.
— Então, vou mostrá-lo.
— Como? Ele não é mais estrelinha?
— Não, meu bem, não é. Agora você poderá vê-lo e abraçá-lo como antes.
— Jura, mamãe?
— Juro.
— Ai que bom! Ai que bom! — Ele começou a pular no cavalo.
— Josh pare quieto que você vai cair.
— Angel, ouviu o que mamãe falou? — gritou.
— Ouvi, Josh, nós estamos indo ver o papai. — respondeu rindo.
— Mas isto é segredo, Josh.
— Oba, eu adoro segredo.
— Você não pode contar para ninguém.
— Nem para o tio Ricky?
— Nem para o tio Ricky. Este é nosso segredo.
— Tá bom, não conto. Onde ele está?
— Calma, já estamos chegando.
Chegaram à fazenda e sem descer do cavalo avistaram Willian que veio até eles.
— Jayne...
— Oi, Will, onde está Ian?
— Você trouxe as crianças — disse sorrindo. — Acho que ele está no lago.
— Ele não devia andar por aí.
— Jayne, ele não está suportando ficar aqui mais tempo.
— Eu sei, Will.
— Vá até lá, ver as crianças é o que ele mais quer, além de ter você de volta.
— Isto vai acabar, eu vou até lá.
— Boa sorte.
— Angel, que tal uma corrida até o lago? Papai está lá.
— Eu chego primeiro.
Ela esporou o cavalo saindo a toda velocidade e Jayne foi atrás com Josh, quando iam descendo as colinas avistaram um cavalo pastando e alguém sentado na grama escorado nos joelhos.
Angel começou a gritar e Josh vendo a empolgação da irmã gritava também, Jayne ria e cavalgava para chegar rápido.
— Papai!
Os dois gritavam uma e duas vezes até que Ian cabisbaixo olhando para o nada ouviu seus gritos e levantou-se num salto, virou-se e os avistou galopando vindo em sua direção.
Seu coração acelerou pulando fortemente no peito e abriu um sorriso, queria chorar, queria gritar, era sua família vindo ao seu encontro. Seus filhos gritando por ele e Jayne sorrindo, linda como sempre.
Ele acenou com a mão, chegando perto dele Angel pulou do cavalo, correu com lágrimas nos olhos e o abraçou.
Ian a levantou do chão e a rodou no ar, Jayne tirou Josh do cavalo o colocando no chão e ele correu até ele gritando com os braços abertos. Ian o abraçou e os três ficaram abraçados fortemente.
Ele não conteve as lágrimas e os apertava com força e os beijava. Jayne ficou olhando a cena e as lágrimas involuntariamente lhe corriam dos olhos.
Ian a olhou com o coração cheio de emoção e alegria, com a respiração fora do compasso, estendeu a mão para ela e Jayne correu para seus braços, ficaram os quatro abraçados, rindo e chorando. Ian parecia que ia explodir de tanta alegria, os beijava e os abraçava.
— Obrigado, Jayne, obrigado.
Ficaram ali por um bom tempo; Ian foi brincar com as crianças e Jayne os acompanhou, depois os dois sentaram exaustos na grama e as crianças continuavam correndo, gritando e brincando. Angel tentava pegar Josh que corria dela.
Ian pegou na mão de Jayne e a beijou demoradamente.
— Como eles estão lindos.
— Sim — ela disse sorrindo olhando para eles.
— Estou tão feliz de ter meus filhos e você aqui comigo.
— Ian, por que fez aquilo ontem à noite?
— Desculpe, Jayne, eu perdi o controle, estava agoniado e com ciúmes.
— Você quase matou Angel de susto.
— Eu vi que ela me viu, não era para ter acontecido.
— Ela teve um ataque, levei um bom tempo para acalmá-la. E você me maltratou ontem, foi muito injusto comigo.
— Não estou conseguindo me segurar, o ciúme está acabando comigo.
— Ian, agindo assim você só está piorando as coisas.
— Jayne, eu não entendo porque ainda não contou que eu estou aqui.
— Eu tentei, Ian.
— Parece que não está tentando o suficiente.
— Meu Deus, vocês dois vão me deixar louca!
— Não vejo como é tão difícil deixá-lo.
— Ian, vai começar com isso de novo?
— Jayne...
— Ian, pare com isso! Eu lhe pedi um tempo, então me dê este tempo. Eu estou destroçada, fico entre vocês dois, mas tenho medo que vocês se matem. Se você duvida do meu amor, por que me quer tanto de volta? Por que acha que estou mentindo?
— Porque é você que ainda dorme com outro homem, porque é você que queria um filho com ele, e é você que ainda não tem coragem para contar para ele que eu estou vivo.
Jayne levantou-se e o olhou seriamente.
— Pois foi você que sumiu por mais de dois anos e me deixou sozinha enquanto você estava dormindo com outra mulher, então não venha cobrar meu amor, Ian, pois ele nunca saiu de dentro do meu peito. Eu já lhe disse que você é o amor da minha vida, se você não tem paciência para esperar, então arrume, pois não vou mais aceitar estas ameaças. Se você quer enfrentar Enrique para um duelo, então diga logo. Pois não importa qual dos dois morra, eu serei uma viúva. Vamos crianças, está na hora.
— Ah mamãe, vamos ficar mais um pouquinho.
Ian levantou e segurou o braço de Jayne que ia lhe dando as costas e se olharam por alguns instantes.
— Você vai embora, assim?
— Vou, Ian. Porque não quero mais brigar com você, eu lhe fiz uma promessa e eu vou cumprir. Eu estou cansada, não aguento mais isso, não aguento mais estas cobranças dos dois lados. Desculpe se estou sendo covarde para contar, mas o medo de se matarem me impede.
As crianças correram e abraçaram o pai que largou o braço dela para abraçá-los.
— Eu amo vocês, meus filhotinhos, amo muito.
— Quando o senhor vai voltar para casa?
— Logo... Logo eu irei.
Ele olhou para Jayne que deixava lágrimas escorrer dos olhos. Ele pegou na sua mão e com uma dor imensa deixou suas lágrimas rolarem e disse com a voz embargada, que as palavras tinham dificuldade de sair.
— Jayne... Vocês são tudo o que eu tenho, são minha vida, minha família. Eu preciso voltar para casa e ficar com vocês. Eu quero minha família de volta, eu preciso de você.
Ele apertou a mão dela e Jayne começou a chorar aos soluços.
Ian a puxou a abraçando fortemente e choraram juntos. Ian a beijou com a maior dor do mundo. Os quatro estavam juntos, unidos pela dor e pelo amor, mas separados pelo cruel destino.
**
Estava anoitecendo e Jayne estava na sala andando sem parar, esperando Enrique chegar de viagem. Estava extremamente nervosa.
Depois daquela tarde com Ian e seus filhos, seria impossível esperar mais, seria naquela noite que contaria a ele que Ian estava vivo. Pediu que Kate fosse para a casa de seus pais com as crianças, sabia que a conversa seria tensa, talvez catastrófica. Estava morrendo de medo, mas teria que fazê-lo, não poderia mais adiar. Enrique chegou com uma fisionomia cansada.
— Boa noite, Jayne. — Ele foi até ela e lhe deu um beijo.
— Oi... — disse sem jeito e apertando as mãos de nervoso.
Ele a olhou de canto de olho, sabia que não fugiria desta vez. Jogou sua maleta no sofá e foi tirando o casaco.
— Jayne, pela sua cara eu sei que quer me contar algo.
— Quero, e vai ser agora mesmo.
Ele foi à mesa de bebidas, pegou uísque e bebeu uma dose de uma vez e colocou mais uma, pois também estava nervoso.
— Tudo bem, então fale logo.
Ela respirou profundamente e fechou os olhos para tomar coragem.
— Ian não morreu na cachoeira, ele está vivo.
Ele deu uma risada e bebeu um gole de uísque.
— Jayne, por favor.
— É verdade, ele está vivo e está aqui em West Side.
— Você e sua filha andam vendo fantasmas demais.
— Ricky, eu não estou brincando, o homem que eu vi em Portland era realmente Ian, estava sem memórias, mas agora ele voltou e foi por isso que eu sumi naquele dia que passei a noite fora. Eu estava com ele, foi a primeira vez que eu o vi. Nós brigamos e acabamos sofrendo um acidente, por isso eu estava machucada e não conseguimos voltar.
— O quê? — Ele sentiu que o chão sumiu debaixo de seus pés, seu estômago embrulhou-se. — Ian está vivo, ele sobreviveu?
— Sim, ele sobreviveu e está de volta.
— Você está dizendo que é viúva de um marido vivo?
— Estou. Eu não estava louca e vendo coisas, era ele.
— Jayne, eu não posso acreditar nisso. Você perdeu o juízo de vez.
— Pare de dizer isso, eu estou farta! Nunca perdi meu juízo, vocês todos é que ficavam repetindo isso. Chega! Ricky, ele está vivo, nosso casamento está errado. Ian estando vivo, nós dois não podemos estar casados. É terrível dizer isso, mas Ian quer voltar para casa e eu sou esposa dele.
— Meu Deus! — ele disse com dificuldade de respirar. — O que está dizendo? Que nosso casamento não vale nada? Que agora que Ian voltou, eu tenho que pegar minhas coisas e ir embora?
— Ricky, não é assim, só estou tentando lhe dizer... — Mas ele não a deixou terminar de falar.
— Jayne, você está me enxotando como um cachorro por causa deste defunto que resolveu ressuscitar e acha que vou aceitar isso?
— Eu me importo com você, mas agora tudo mudou, Ian está de volta.
— Não vou aceitar isso. Não vou abrir mão da minha mulher.
— Mas vai ter que aceitar e você como advogado sabe bem disso. Precisamos anular nosso casamento.
Enrique largou o copo na mesa e foi até ela a agarrando pelos braços, olhava-a furioso e ela arregalou os olhos de susto.
— Jayne, eu não vou aceitar uma coisa dessas. Você é minha mulher e vai continuar sendo.
— Ricky, por favor, eu não sou viúva, e nós não podemos ficar casados.
— E você o ama, não é? Nunca esqueceu este defunto, ficava aí pelos cantos chorando por um homem-morto, você fingiu me aceitar, mas nunca me aceitou e na primeira oportunidade me manda embora. Ai meu Deus, me ajude porque eu estou com vontade de matá-la!
— Ricky, por favor, se acalme.
— Acalmar-me? Como acha que posso fazer isso?
Ele fincou os dedos em seu braço, fazendo-a sentir dor.
— Você está me machucando.
— Então passou a noite com ele, me traiu. Nunca pensei que fosse capaz de uma desfaçatez dessas, Jayne. Vou matar este homem! Se ele se esqueceu de morrer, vou lhe mostrar o caminho do inferno!
Ele a soltou a empurrando, ela bateu na mesa de bebidas derrubando alguns copos que caíram no chão, quebrando-se.
— Você não vai fazer nada disso! Ninguém aqui teve culpa, nós três fomos vítimas disso tudo. Se acalme, e você não vai fazer nada contra ele.
Enrique andava de um lado a outro tentando respirar, seu coração parecia que estava entalado na garganta.
— Você é minha mulher, Jayne.
— Eu sei, meu anjo, nos casamos pensando que podíamos, mas isso está errado, não podemos estar casados, sou mulher dele.
— Isso não pode estar acontecendo, não posso aceitar isso, não consigo.
— Ricky, por favor, me escute. Eu não quero magoar você desse jeito, eu juro. Eu estou aqui com o coração destroçado, mas Ian está de volta, eu o amo, eu quero meu marido de volta.
— O ama... Isso eu sei, nunca me amou.
— Ele era meu marido! Eu quase morri quando soube da morte dele. Agora ele está aqui, vivo e eu não vou ficar sem ele, eu quero minha família de volta, eu quero o pai dos meus filhos de volta nesta casa. Mas estou aqui morrendo em ter que lhe dizer isso, por favor, me acredite.
Enrique se escorou na mesa e sentia que ia morrer de tristeza.
— Jayne, por favor...
— Ricky, eu não vejo outro jeito.
— Você pode ficar comigo.
Ele a olhou com uma tristeza gigantesca. Jayne foi à frente dele com os olhos cheios de dor e lágrimas e, tocou gentilmente seu rosto.
— Isso seria errado, por mais que eu goste de você, eu não posso. Eu não posso negar o amor que sinto por ele, não posso ser infiel ao meu coração.
— Eu sempre soube que você nunca me amou.
— Ricky... Por favor, não torne isso mais difícil do que já é. Nosso casamento deve ser anulado, porque no momento sou bígama.
— Eu sou advogado, o juiz é meu amigo e temos um registro de óbito, eu posso fazer com que nosso casamento seja oficial. Você pode abrir mão de Ian e ficar comigo. Não haverá problema com a justiça, ele foi dado como morto, não casamos na má fé, nós podemos ficar juntos, darei um jeito.
— Ricky... Eu sei que pode fazer isso tudo, mas eu não quero. Você vai ter que ir embora. Esta fazenda é dele e ele voltará para casa, é seu direito. E nós teremos que pedir a anulação do nosso casamento.
Ele a olhou e passou as mãos no rosto tentando acalmar seu coração.
— Está bem, não vou ficar aqui, me ajoelhar e implorar amor. Pode ficar com seu marido defunto — disse engrossando a voz.
Enrique furiosamente pegou seu paletó e sua maleta, saiu da casa deixando-a ali parada.
Jayne sentou-se no sofá, suas pernas tremiam tanto que não conseguia mais ficar em pé e seu coração doía terrivelmente, ela colocou as mãos no rosto e a única coisa que conseguiu fazer foi chorar.
Capítulo 28
Julia foi à fazenda ver Jayne, encontrou-a no jardim, sentada num toco de árvore, olhava para um pequeno galho de mato que revirava nas mãos.
— Jayne...
— Julia... — Ela levantou e a abraçou fortemente.
— Como você está?
— Perdida, já contei a Enrique, foi horrível.
— Imagino. Ele aceitou?
— Claro que não. Ele saiu ontem dizendo que tudo bem, mas estava tão transtornado que nem sei o que pensar. Estou morrendo de pena dele, eu estou sofrendo muito de ter que ficar longe dele e fazê-lo sofrer deste jeito.
— Você gosta muito dele, não é?
— Gosto, gosto muito. Mas amo Ian, eu preciso dele, preciso que volte para casa. Não vou abrir mão dele, isso eu jamais farei.
— Eu entendo. Tenha calma, você vai ficar bem, Enrique vai sofrer, mas vai se recuperar um dia e seguir com sua vida.
— Eu estou com medo, eu acho que ele aceitou fácil demais.
— Acha que fará algo drástico?
— Não quero nem pensar nisso. Vamos entrar, vou pedir um chá.
— Ah, faça deste aqui, é bom — disse indo até um pezinho de uma planta que avistou no jardim e pegou algumas folhas.
— Julia, você toma este chá? — perguntou espantada.
— Sim. Gosto de tomá-lo à noite, me acalma.
— Jesus!
— O que foi, por que está me olhando com esta cara?
— Você sempre toma isso?
— Sim, é gostoso e calmante. Você deveria tomar, assim vai se acalmar um pouco.
— Julia, este chá não é só calmante. Este chá impede que tenha filhos.
— O quê? - perguntou espantada.
— Sim, eu o tomo para não engravidar.
— Minha nossa! — disse arregalando os olhos.
— Julia, por isso você não engravida.
— Mas eu... Eu não sabia, eu juro. Uma vez mamãe disse que o tomava para se acalmar, nunca me disse que evitava gravidez.
— Quando ela disse isso?
— Oh bem, eu era apenas uma moça.
— Ela deve ter se esquecido de lhe dizer isso mais tarde.
— Foi ela que lhe ensinou isso?
— Sim, foi. Mas acredito que ela não sabia que você estava tomando isso erroneamente, certo?
— Não.
— Oh céus. Querida, se Mitchel souber de uma coisa destas, vai achar que você fazia de propósito.
— O quê? Mas eu não fiz... Eu não...
— Eu sei, mas na sua situação ele não vai acreditar, aliás, ninguém vai.
— Eu achei que tínhamos algum problema, que eu não podia ter filhos.
— Não querida, se você parar de tomar isso com um tempo pode engravidar, se você o toma, talvez você não tenha problema nenhum.
— Meu Deus, o que eu fiz?
— Calma! Agora não adianta ficar desse jeito, e mesmo por que, você está separada de Mitchel.
— Quem sabe isso seria um bom motivo para nosso desquite.
— Julia! Enlouqueceu? Teria coragem de dizer uma coisa destas para ser jogada aos porcos? Pelo amor de Deus! Eu querendo fugir de confusão e você querendo se meter em uma.
— Eu preciso de um motivo, posso dizer que eu fiz de propósito.
— Eu a proíbo de fazer isso, não conte isso para ninguém, ouviu? Já basta esta loucura de ir a uma corte pedir desquite, você perdeu o juízo?
— Jayne...
— Prometa, Julia! Você não vai falar disso com ninguém e muito menos para o Mitchel. O convença a ficar de mal nesta história, senão você vai ser humilhada publicamente. Você não sabe onde está se metendo, prometa.
— Está bem... Eu prometo.
— Meu Deus, sua maluca!
**
Julia foi à fazenda de Mitchel para conversar com ele sobre a separação, estava agoniada, já pensara em mil saídas, mas não via nenhuma. Ela sentia-se um ninguém, com uma sociedade e leis medíocres que não entendiam nada de felicidade, de justiça ou de corações e muito menos sobre algum direito feminino.
— Sente-se, Julia. O que houve? Você está com uma cara. — Ele a olhou intrigado.
— Eu não estou muito bem, mas por um lado eu estou feliz porque eu vou para a Europa.
— Você vai para Europa?
— Vou.
— Hum... — disse meio contrariado.
— Mas o assunto que me traz aqui é outro.
— E qual é?
— Fui procurar Enrique para ver nosso desquite.
— Jesus! Julia...
— Mitchel, nós já estamos separados, mas quero ser livre, pois assim continuo casada com você. Mas estamos com um problema.
— Ah que novidade! Qual seria desta vez?
— Enrique me disse que precisamos... — Suspirou. — Que um de nós tenha cometido um delito sério para pedir o desquite.
— Delito? Que tipo de delito?
— Bem... Violência, adultério, algo assim.
— Mas não temos isso.
— Pois bem, teremos que inventar um.
— Mentir para o juiz?
— Sim.
— Não vou fazer isso.
Julia levantou e andou pela sala.
— Se você não fizer, eu faço.
— Vai fazer o quê? Dizer que me bateu com um pau de macarrão?
— Engraçadinho. Vou dizer que eu traí você.
— O quê? Está louca?
— Não.
— Mas traiu?
— Não, Mitchel, é claro que não, vou mentir.
— Meu Deus, você está brincando?
— Não estou. Ou você diz ou eu digo, eu quero este desquite, Mitchel.
— Por quê? Está querendo se casar de novo? Que desespero é este para se separar de mim, parece que sou o Demônio.
— Não é nada disso. Fomos felizes por um tempo, mas se nós continuássemos juntos, acho que nós teríamos uma lista de delitos.
— Você tem alguém?
— Não tenho ninguém e não podemos nos casar de novo.
— O quê?
— Desquitados não podem se casar de novo.
— Mas que porcaria é essa?
— Foi o que Enrique me disse.
— Mas que diabos! Primeiro eu perco minha mulher, agora tenho que virar um safado e inventar algo de errado que fiz e, ainda não podemos nos casar com outra pessoa? Meus miolos não conseguem atinar tudo isso.
— Mitchel, eu já me revoltei com isso, mas Enrique disse que isso vai ter que ser assim.
— Não aceito. Não vou fazer nada disso e você também não.
— Por favor, Mitchel.
— Não.
— Então o que quer, ficar casado comigo?
— Ai Julia eu não sei, estou confuso. Devíamos voltar e acabar com este desatino. Pegue suas coisas e volte para casa, seu lugar é aqui. Você é minha mulher e deve continuar sendo. Eu disse que não voltaria a trás, mas não vou à corte nenhuma, prefiro que você volte para casa.
Mitchel franziu o cenho com seus próprios pensamentos. Ele não ligava, ele não a queria de volta, não queria mais estar casado com ela.
— Mitchel, eu sei que você está se encontrando com a mulher do Saloon.
— Julia, por favor.
— É verdade, não é? Diga-me, porque eu já ouvi que você está indo ao Saloon para estar com esta mulher.
— É verdade. Mas eu não fiquei com ela quando estava com você, eu não a traí, voltei a frequentar o Saloon, depois que você foi embora. Não sou o calhorda que todo mundo fala, eu fui fiel a você.
— Eu sei, acontece que este povo ainda me considera sua mulher. Vieram falar com minha mãe sobre isso, e eu não quero este tipo de coisa, de um jeito ou de outro sempre estaremos na boca destas matracas.
— Você me considerou livre a partir do momento que cruzou aquela porta, então eu posso estar com quem eu quiser, a hora que eu quiser.
— Eu sei, Mitchel, não estou cobrando isso, estou dizendo que você está me traindo mesmo sem estar. Para a sociedade, nós dois estamos errados, e continuaremos assim, para o resto da vida a não ser que nos desquitemos.
— Ai eu sei... — disse sentindo uma revolta imensa.
— Então, você pode dizer que ficou antes com a Chloe.
— Não vou mentir. Eu sempre fui fanfarrão antes de me casar, tinha fama porque eu merecia, mas não vou levar fama por algo que não fiz, isso é demais. Seu pai vai me enfiar no espeto e me assar que nem uma costela.
— Não vai, ele saberá que é uma mentira.
— Não sei...
— Sei que é demais pedir que minta para o juiz, mas se você não disser, eu vou dizer.
— Mas você é teimosa que nem uma mula, Jesus! — Mitchel andava de um lado para o outro com as mãos na cintura e pensativo, torcia a boca. — Julia, eu não quero mentir para o juiz, não quero assumir algo que não fiz. E você, mentir também pode acabar numa tragédia.
— Então vou dizer que eu impedi de termos filhos.
Mitchel arregalou os olhos e parou de respirar a olhando.
— Você o quê?
— Mitch, hoje de manhã eu estava com a Jayne, pedi que ela fizesse um chá para tomarmos e ela me disse que o chá que eu sempre tomo me impedia de ter filhos.
Mitchel pensou que fosse desmaiar, sentou-se na cadeira a olhando petrificado.
— Julia...
Ela se ajoelhou na frente dele, as lágrimas rolaram pela sua face e ela segurou suas mãos.
— Mitch, me escute. Eu juro por Deus que eu não sabia, bebia porque achava que era calmante e eu gostava, não sabia que impedia filhos, eu não fiz de propósito, eu juro.
— Meu Deus! O que eu fiz de errado para merecer algo assim?
— Meu bem, você não fez nada errado, foi minha culpa. Mas temos que seguir em frente com nossas vidas e conseguir este desquite, vai ser melhor para nós dois. Precisamos mentir ao juiz ou eu vou dizer isso, para que você tenha um motivo para se desquitar de mim.
— Julia, como você pode fazer estas coisas? Você me impediu de ser pai.
— Um filho não teria mudado a nossa situação, nós não somos felizes, meu bem, entenda isso. Essa casa parecia vazia não porque não havia uma criança aqui, mas sim porque eu e você estamos distantes um do outro. Eu juro aqui de joelhos na sua frente que eu não fiz de propósito, Mitch, eu não sabia. Mas me sinto culpada mesmo assim, me perdoe por isso.
— Isso foi uma bagunça, Julia.
— Mas agora não há nada a fazer, temos que conseguir este desquite para seguirmos com nossas vidas, buscar amor de verdade. Como Jayne e Ian, como David e Mary. Eles vivem o amor na intensidade, não em aparências, se amam de verdade. Entende? Willian e Emily reataram o casamento porque se amam de verdade, mas não acho que nós dois sejamos assim. E eu quero isso. Eu pensei que teria com você, mas não tivemos e quando você me disse que queria viver um amor como o deles, não é o meu, porque nós não temos isso. Mitch... Você me ama com a intensidade que Ian ama Jayne? Faria por mim o que ele fez por ela?
Mitchel estava paralisado a ouvindo, estava com vontade de gritar. Tentava pensar, mas estava difícil coordenar seus pensamentos. Mas de alguma maneira ele concordava com tudo que ela dizia.
— Não.
Julia o olhou estranhamente, no fundo não queria ouvir uma resposta daquela, ou queria, ela engoliu em seco sentindo o golpe da sua negativa.
— Obrigada por ser sincero. Eu sabia que não porque você me deixou ir, não me impediu. Você acha que estava defendendo seu orgulho de homem, mas você não lutou, porque na verdade não queria que eu ficasse. Entende-me agora?
— É verdade, eu sofri, mas confesso que me sinto aliviado.
— Então, meu bem, você sabe que estou certa, mesmo sendo uma loucura, precisamos fazer isso.
— Eles vão enxovalhar você se disser uma barbaridade destas publicamente. Nunca vão acreditar que fez isso sem saber.
— Eu sei, mas vou dizer se você não aceitar mentir e assumir uma culpa.
— Está bem, eu vou fazer o que me pede, vou mentir e dizer que a traia, que a maltratava, digo o que você quiser. Se for isso que tanto quer, se você não se importa de passar essa vergonha, então eu a ajudo a se afundar na lama porque a mim isso não vai afetar em nada. Pois caso não saiba, eu não serei atingido com isso como você vai ser. Se eu arrancar seu escalpo, dirão que você merecia, então não conhece como as coisas funcionam?
— Mitchel, eu não me importo, e não importa o que você diga lá. Eu vou saber que é uma mentira, sei o homem que foi para mim, sei que me amava assim como eu o amei. Só acho que mesmo que isso seja ruim, será melhor que ficarmos presos. Eu sei que vamos ter nossa recompensa depois.
— É... Eu acho que será mesmo, eu já nem sei mais. Mas eu estou começando a acreditar que ter nos casado foi a pior burrada que já fizemos na vida. Não sei por que aceitou se casar comigo se desistiria tão fácil.
— Não é assim, Mitch...
— É assim, mas isso não importa mais, eu não quero mais este casamento tanto quanto você. Quando você vai para a Europa?
— Não tenho data, vou resolver isso e depois irei, vai ser bom ficar longe daqui, mas vou sentir sua falta, eu juro que vou. — Eles se olharam tristemente. — Perdoe-me. Um dia você vai me agradecer, acredite em mim.
— Hum... — resmungou entortando a boca. — Você é maluca. Não sei onde estou com a cabeça que não torço seu pescoço.
— Todo mundo diz isso, mas não fique com raiva de mim.
— Apesar de tudo não sinto raiva de nada. Nem sei por que não sinto raiva, acho que devo estar fora do meu juízo. Mas a vida é curta, não vou perder meu tempo odiando você. Sou maior que isso.
— Eu sei, Mitch, você é um homem maravilhoso. E você não está com raiva porque no fundo isso que estou fazendo também é o que você quer, só não tinha coragem de fazer.
— Acho que isso é verdade.
— Acredita em mim que eu não fiz de propósito em tomar aquele chá?
— Acredito.
Ela sorriu para ele com os olhos marejados de lágrimas. Acariciou seu rosto docemente, lhe deu um beijo nos lábios e foi embora.
Mitchel respirou fundo, passou as mãos no rosto fortemente, pegou uma garrafa de tequila e foi para a varanda; sentou na cadeira e colocou os pés sobre a cerca, tirou a rolha da garrafa, bebeu alguns goles no gargalo de uma vez fazendo careta e ficou ali estático olhando para o nada.
— Queria saber se existe um lado bom nisso, realmente eu queria saber.
Capítulo 29
Jayne levantou pela manhã, mas estava sentindo-se cansada, passou mal à noite, a discussão com Enrique a deixou em frangalhos. Seu coração doía, sentia remorso de tê-lo feito sofrer um baque daqueles.
Ela mesma sofria por deixá-lo, não podia negar que gostava dele e sentiria sua falta imensamente, mas Ian era seu verdadeiro amor e ter sua família junta novamente vivendo em paz na fazenda era tudo o que desejava.
Ela estava na sala com uma xícara de café pensando no que faria, estava pensando em Ian, tinha que falar com ele, mas estava estranhando Enrique ter aceitado aquilo tão facilmente, ou não.
Nem se lembrava da metade das coisas que disse a ele. Sua mente e coração estavam confusos, queria enterrar aquilo tudo, se é que isso seria possível. Nem conseguia imaginar como ela conseguiu entrar numa confusão daquelas, mas lutaria, lutaria por Ian mais uma vez.
Jayne olhava pela janela e bebeu um gole de café, era a única coisa que conseguia engolir nos últimos dias, quando ela se virou, deparou-se com Enrique à sua frente, levou um susto tão grande que derrubou a xícara, seu coração quase lhe salta do peito.
— Ricky! Jesus, você quer me matar do coração?
— Desculpe, eu não quis assustá-la.
— O que faz aqui? — disse juntando os cacos da xícara que se espatifou no chão. Ainda tentando recobrar-se do susto, jogou os cacos sobre a mesa.
— Eu queria conversar.
— Ricky, nós não vamos prolongar isso, por favor.
— Mas isso não está entrando na minha cabeça, Jayne. Eu não consegui pregar os olhos esta noite, parece que tive um pesadelo, que isso não aconteceu, me diga que isso não é verdade.
Jayne passou as mãos pela testa. “Meu Deus, isso tudo vai começar de novo” — pensou.
— Querido, eu sei que é difícil para você aceitar isso, mas é verdade.
— Meu Deus, Jayne, me diga que isso é coisa da sua cabeça.
— Ricky, pare com isso. Eu estou cansada das pessoas ficarem dizendo que tudo é coisa da minha cabeça, vocês me tratam como se eu fosse uma louca. Eu não sou louca e se todo mundo não tivesse ficado enchendo minha cabeça com isso, nada disso teria acontecido.
— Eu não a trato como louca, mas o meu coração não aceita perder você assim deste jeito.
— Mas eu não tenho alternativa, Ricky. Ian está de volta, ele é meu marido e eu quero ficar com ele e isso é um fato. Eu não vou mudar de ideia e não vou abrir mão dele, então vá embora, por favor, não vai adiantar ficarmos debatendo isso porque não vai dar em nada, somente vamos nos magoar mais, eu nem sei mais o que lhe dizer.
— Mas eu sou seu marido e não consigo deixar de ser de um dia para o outro, Jayne. Diga-me como faço para desfazer isso? Diga-me como faço para apagá-la da minha vida, assim de ontem para hoje?
— Eu sei que não vai conseguir apagar, assim como eu não consegui apagar Ian da minha; e olhe que eu pensava que ele estava morto, então eu devo imaginar como isso vai ser duro para você, mas não tem outro jeito, eu não posso mais ficar com você.
— Onde ele estava este tempo todo?
— Estava em Portland, estava sem memórias, por isso não me reconheceu naquele dia que eu o vi, foi ele que eu vi, mas ele a recobrou e voltou para casa.
— Ai meu Deus!
Ele esfregou o rosto com as mãos fortemente. Jayne foi à sua frente e o olhou com um olhar arrasado e pegou nas mãos dele.
— Meu amor, eu sei que não vai entender, mas vou pedir mesmo assim. Se eu pudesse, jamais faria você sofrer assim, meu coração está destroçado de vê-lo assim por minha causa. Mas vá embora, temos que anular isso.
— Então, não faça. Não me maltrate deste jeito, não abra mão de mim assim. — Enrique segurou o rosto de Jayne entre as mãos. — Eu te amo, não consigo abrir mão de você, do nosso casamento e nem do filho que eu queria tanto.
Ela se afastou um pouco dele, lágrimas escorreram dos seus olhos, vê-lo daquele jeito lhe partia ao meio. Respirou tomando coragem para continuar e ficar firme na sua decisão.
— Não há mais casamento e não haverá filho. Eu sinto muito, mas o destino nos pregou uma peça, e eu tenho que consertar tudo. Meu marido vai voltar para casa e eu não vou voltar atrás, eu tomei minha decisão. Eu não posso ficar com você com Ian vivo, por favor, entenda. Não quero mais discutir e ficar repetindo a mesma coisa.
Ele a olhou com dor, sentiu a raiva lhe tomar, a agarrou pelos braços fortemente e a puxou para perto de si, falando entre os dentes.
— Não vou aceitar isso e ver você voltar para ele.
— Solte-me, você está me machucando.
— E o que você está fazendo comigo? Está me matando.
— Ricky, solte-me, já disse.
Ela tentou empurrá-lo, sem sucesso.
— Acho melhor o senhor soltar a patroa. — James disse parado da porta, o olhando seriamente e com a mão repousada na arma no seu cinturão.
— James, você está me ameaçando? — perguntou ironicamente.
— Não. Mas o senhor vai machucar a senhora deste jeito e eu não vou permitir isso — disse calmamente.
Ele a soltou, ela o olhava com os olhos arregalados, estava apavorada.
— Não se preocupe, eu nunca a machucaria. — Olhou para ela respirando com dificuldade. — Eu nunca te machucaria.
— Ricky, por Deus, vá embora!
— Entendi, Jayne. Já vi que não vai voltar a traz. Ian Buller nunca deixou esta casa e nem seu coração, eu é que fui um idiota de acreditar nisso.
Ele virou as costas e foi embora. Jayne pensou que fosse desmaiar, sua respiração ficou quase impossível e tremia toda, sentou-se no sofá e começou a chorar e James lhe serviu um copo de água.
— A senhora está bem?
— Sim, James, obrigada.
— Desculpe ter me intrometido, senhora, mas achei que ia machucá-la.
— Não, James. Ele jamais me machucaria, ele só está nervoso, estou morrendo de pena dele, fazer isso com ele está me matando. — Ela chorava e tentava secar as lágrimas, mas elas eram impiedosas e não paravam de rolar dos olhos. — Mas não posso agir diferente, eu não posso deixar Ian de lado desse jeito. — Ela tomou a água. — Ai meu Deus! Eu não sei onde arrumo forças para suportar tudo isso.
— Calma, senhora, isso vai passar. O Sr. González vai demorar um pouco para se acalmar, mas sei que vai, e quando o patrão voltar para casa tudo vai ficar bem, a senhora vai ver.
— Deus te ouça, James. Senão, quem vai querer ficar sem memórias sou eu.
Ela tomou mais água para tentar se acalmar, mas não conseguia parar de chorar e ainda tremia.
**
Jayne foi para a cachoeira para esfriar a cabeça, estava prestes a enlouquecer. A água estava gelada, mas o sol estava quente, ela mesmo assim, entrou na água fria de roupa e tudo, parecia que seu corpo todo queimava, queria sumir do mundo, esfriar a cabeça para tentar pensar, coisa que não conseguia fazer.
Recostou-se nas pedras e deixou que a água caísse por sua cabeça. Ficou ali parada com os olhos fechados, sua cabeça fervia como um vulcão, seu coração não parava de bater aceleradamente, pedia forças para suportar todo aquele pesadelo, pedia para que tudo acabasse logo, já não tinha forças para lutar.
Jayne abriu os olhos no susto com o barulho de um engatilhe de arma que lhe chegou aos ouvidos. Olhou assustada passando as mãos nos olhos para secar e poder ver de onde vinha. Avistou aquele homem bem próximo mirando a arma para ela parado sobre uma pedra.
Quando ia dizer alguma coisa e moveu-se para frente, ele a interrompeu, sério e com a voz firme e rude que a fez tremer da cabeça aos pés, sentiu medo.
— Pare. Não diga absolutamente nada, faça exatamente o que eu disser senão, eu atiro em você. — Jayne o olhava com os olhos arregalados e com a respiração ofegante. — Eu quero que você tire sua roupa lentamente.
— O quê? — perguntou assustada.
— Faça o que eu estou dizendo e não diga nada.
Ele firmou a arma mais fortemente em direção a ela.
Jayne obedeceu e, com o coração amedrontado, foi desabotoando sua blusa e a tirou, deixando à mostra o espartilho branco que tinha por baixo. Ela olhou para ele que fez sinal com a arma para que tirasse o resto das roupas. Ela obedeceu, seus cabelos longos e molhados lhe caíam pelos ombros e ele a olhava admirando cada parte do seu corpo.
Quando ela terminou, ficou somente com seu chemise branco que estava colado ao corpo pela água e revelava sua silhueta. Ela ficou parada, com os olhos arregalados o olhando sem saber o que fazer.
Ele desceu da pedra e entrou na água que era rasa e foi ao seu encontro, ficou quase colado a ela e a olhava nos olhos com um olhar que parecia lhe devorar.
Ele colocou a arma debaixo de seu queixo o levantando um pouco para que o olhasse nos olhos.
— Eu preciso ameaçá-la com uma arma para você se entregar a mim? — Lágrimas escorreram pelo rosto dela e seu corpo todo tremia. — Até quando, Jayne?
Ele desengatilhou a arma e a colocou nas costas prendendo no cinturão. Ela, que respirava com dificuldade e olhava para ele parada como uma estátua; parecia que havia morrido sem ele ter puxado o gatilho.
— Eu estou morrendo sem você, cada dia que eu acordo e estou sozinho, tenho vontade de morrer. Diga qualquer coisa para eu ter forças de suportar a ideia que você está lá, dormindo nos braços dele, enquanto eu fico sozinho. Que eu tenho que passar mais um dia sem ter minha mulher, sem dar bom dia aos meus filhos, sem ter minha casa para voltar. — Ela não disse nada, pois não conseguia balbuciar nenhuma palavra. — Se você não consegue fazer isso, então me diga de uma vez. Eu não vou mais esperar, para mim, tudo acaba hoje.
Jayne abriu a boca para puxar ar para os pulmões e mais lágrimas lhe caíram dos olhos. Ian esperou que ela dissesse algo, mas ela não disse nada, ele mordeu os lábios como para que não gritar e cerrou os dentes com tanta força que lhe chegaram a doer, tocou levemente seu rosto com as pontas dos dedos e cerrou a mão.
— Se vista! — disse secamente engolindo sua imensa dor e virou-se para ir embora.
Jayne que pensava que sufocaria, sem mais suportar aquela dor que a aniquilava por dentro, o segurou pelo braço fazendo-o olhar para ela, o puxou pela nuca e o beijou intensamente. Ele a abraçou com tanta força retribuindo aquele beijo que pareciam ser um só, fundidos no desejo.
Mesmo com o gelo da água, seus corpos queimavam de amor e desejo um pelo outro. Beijaram-se com sofreguidão, enlouquecidos, ambos pareciam esvair-se naquele beijo. Ian estava com suas mãos nas costas dela e as desceu até suas coxas e sem esforço nenhum a levantou, ela o enlaçou com as pernas pela cintura e ele foi de encontro à pedra da pequena cascata onde uma água mansa começou a cair sobre eles.
O amor sufocado que sentiam um pelo outro aflorou, seus corações ficaram completamente descompassados e perdidos um pelo outro. Ela abriu sua camisa e pode sentir seu peito colado ao seu, entregaram-se um ao outro com um sentimento de desespero, com uma paixão enlouquecedora.
Ian sentindo Jayne nos seus braços pensou que seu coração fosse parar, amava aquela mulher mais do que antes. Suas lembranças haviam trazido seus sentimentos por ela mais fortes que sua turbulenta cabeça pudesse lembrar; estava louco a abraçando, a beijando, sentindo-a entregar-se a ele.
Jayne se esqueceu do mundo, agora podia se entregar a ele sem medo, sem culpa, era seu verdadeiro marido, o homem que amava do fundo da alma.
Naquele momento somente existiam os dois, somente queriam se amar, ela não o mandou parar e Ian queria possuí-la. Sentiram um prazer tão intenso quando Ian a possuiu com força, que ambos deixaram as lágrimas cair e abafaram seus gemidos mútuos com um beijo, cheio de dor, mas tão cheio de amor que nunca haviam pensado que seria possível sentir um pelo outro.
Ian finalmente a tinha em seus braços; desejou aquele momento desesperadamente, queria senti-la, saber que ela era dele.
Seus movimentos eram intensos, selvagens, cheios de gana e desespero, queriam sentir cada segundo, chegaram ao prazer soltando gemidos intensos, abraçando-se fortemente e tentando respirar, o que parecia quase impossível.
— Jayne... — disse respirando fortemente e tentando engolir uma saliva que não existia. — Diga que ainda é minha, diga que me ama... — disse quase sem soltar seus lábios dos dela.
— Eu sou sua, sempre fui. Eu te amo, te amo! — ela segurou seu rosto entre as mãos enquanto dizia isso e seus beijos molhados misturavam-se com as lágrimas que escorriam dos olhos de ambos.
Ele a abraçou, foi para trás abaixando-se e indo para a água mansa. Não queriam se soltar nunca mais, como se o mundo todo houvesse parado, como se não houvesse problemas que os atormentassem.
Ficaram esmorecidos, um nos braços do outro. Jayne roçava seu rosto no de Ian e ele com os olhos fechados somente sentia suas carícias e acariciava suas costas suavemente.
— Depois de tanto tempo, ter você nos meus braços me parece um sonho. Nunca mais quero ficar longe de você.
— Jayne, você quebrou sua promessa, você disse que não se entregaria a mim antes que falar com ele — disse carinhosamente acariciando seu rosto, mas com um olhar triste.
— Você me apontou uma arma, o que esperava? — ela disse sorrindo e lhe dando um beliscão, ele fez cara de dor, mas riu.
— Perdoe-me, eu estou perdendo o meu juízo, mas eu nunca ia forçá-la a ficar comigo assim, eu deixei você ir sem tocá-la, mas você não resistiu a mim — disse brincando e ela riu.
— Eu juro que vou me cobrar deste susto que você me deu, pensei que atiraria em mim.
— Veja o que você faz comigo, eu nunca pensei que perderia minha razão por causa de uma mulher, mas jamais atiraria em você ou a forçaria.
— Hum, pelo jeito é você que não resiste a mim. — Ele sorriu segurando o rosto dela entre as mãos.
— Não resisto, eu confesso, sou louco por você.
— Mas eu não quebrei minha promessa.
Ian a olhou estranhamente, com cara de espanto.
— Você rompeu com ele?
— Sim, acabou. Sou sua mulher, não consigo ser diferente, pois eu dei meu coração a você, eu só quero ficar com você.
Ian a olhou de uma maneira intensa e sentiu um alívio, uma alegria por dentro, tocou seu rosto como se tivesse tocando algo precioso e desceu os dedos pelo seu pescoço sobre uma corrente de ouro que ela trazia pendurada sua aliança de casamento.
Ele parou os dedos sobre ela e olhou para os olhos de Jayne. Ela abriu a corrente e lhe entregou a aliança, ele com seu coração enlouquecido a colocou no seu dedo novamente e beijou a aliança demoradamente com os olhos fechados transmitindo todo seu amor. Jayne pegou sua mão e beijou a dele da mesma maneira.
— Você é minha esposa novamente, senhora Buller?
— Sou e serei sempre. Eu quero que volte para casa, quero você e meus filhotinhos juntinho de mim de novo, quero dormir e acordar com você todos os dias, nunca mais quero ficar longe de você de novo, nunca mais.
Jayne o beijou e foi intenso e longo, apaixonado, entregue de todo coração. Os dois saíram da água, Ian deitou com ela em uma imensa pedra chata na beira da água e com as pontas dos dedos carinhosamente acarinhava sua pele, seu rosto.
Passava os dedos nos lábios de Jayne sentindo seu contorno e ela com os olhos fechados, sentia o seu leve toque e depois ele os beijou suavemente.
Jayne ficou amortecida sentindo aquela carícia cheia de amor.
Nada no mundo por mais que tentasse podia separar aquelas duas almas, aqueles dois corpos, um pertencia ao outro.
Sentiam-se plenos, amados e salvos naquele momento eterno. Ian deitou sua cabeça em seu peito e ela acariciava seus cabelos, o mundo todo parou ali. O sol esquentava seus corpos e o som da cachoeira parecia música que tentava acalmar seus corações descompassados.
Depois de um tempo ali, foram para a margem vestir suas roupas, ele tentava fechar o espartilho dela com certo desajeito, mas divertindo-se com a quantidade de ganchos que brigavam com seus dedos.
— Feche direito desta vez — ela disse divertindo-se vendo o esforço que ele fazia.
— Não seja boba, eu sei fechar um espartilho — disse rindo sabendo que era desajeitado para isso.
— Hum... Sei. Acho que você nunca vai aprender a fazer isso — disse entortando a boca e sorrindo.
— É mais fácil tirar do que vestir. — Os dois riram. — Você é a mulher mais linda que eu já vi — disse tirando uma mecha de cabelo ainda molhado do seu rosto enquanto ela abotoava sua blusa.
— Você também é lindo, meu amor.
Os dois encostaram suas testas e acarinharam-se com seus narizes e ficaram abraçados com os olhos fechados, sentindo uma paz que nem sabiam de onde vinha.
— Vamos para casa?
— Sim, é tudo que eu mais quero, ir para casa.
Ian a beijou, segurando o rosto de Jayne e lhe acariciando suavemente.
— Mas que bela cena feliz! — disse uma voz masculina e rude que os tirou de seu mundo perfeito num solavanco.
Eles viraram-se e viram Enrique sobre seu cavalo, os olhando com um olhar fulminante.
Capítulo 30
— Enrique! — Ian falou empurrando Jayne para trás dele.
— Então, você estava se encontrando com ele.
Enrique sacou a arma e apontou para eles. Ian rapidamente colocou sua mão na cintura, mas ele estava sem sua arma, ela estava no cinturão no chão, longe dele.
— Enrique...
— Estava me traindo descaradamente todo esse tempo. Dormindo com ele, Jayne!
— Não, eu não fiz isso! — Jayne disse com os olhos arregalados.
— Jayne... — disse com um sorriso sarcástico não acreditando na sua negativa e ele desceu do cavalo.
— Ricky, pare com isso. Quer causar uma desgraça? — ela gritou assustada.
— Desgraça maior que esta? Eu acho que não pode ter — disse furioso.
— Enrique, o que quer? — Ian disse mostrando que sua fúria era iminente.
— Minha mulher, Sr. Buller. Que incrível, então quer dizer que você está vivo realmente, até pensei que fosse invenção dela.
— Como pode ver eu estou vivo e Jayne continua sendo minha esposa.
— Jayne, venha aqui — disse a olhando e com a voz ríspida.
— Não, ela não vai — Ian disse.
— Se não vier, eu atiro nele agora mesmo — disse engatilhando a arma e mirando em Ian.
Jayne colocou a mão no braço de Ian e saiu de trás dele. Ele segurou seu braço para que ela não fizesse aquilo.
— Está tudo bem — ela disse olhando para Ian, pedindo que a soltasse tentando fazer-se de calma. Jayne se aproximou de Enrique lentamente. — O que está fazendo?
— Quero falar com você.
— Já falamos tudo, Ricky. Você precisa ir, Ian vai voltar para a casa dele, para nossa casa. Nós não podemos mais ficar juntos, vou ficar com meu marido.
— Não vai, você é minha mulher e vai para casa comigo.
— Eu vou ficar com Ian.
— Não se ele estiver morto — falou furioso e olhando para Ian.
Jayne vendo que ele atiraria, gritou e empurrou sua mão o impedindo de atirar, mas ele puxou o gatilho e a bala acertou o chão não muito longe de Ian.
Enrique a puxou pelo braço e olhou para ela furioso, nisso ele se distraiu de Ian, que num salto correu e pulou sobre ele torcendo seu pulso e deu-lhe um soco.
Ele cambaleou para trás e derrubou sua arma, ele revidou rapidamente acertando Ian no rosto e assim os dois seguiram com golpes.
Jayne gritou apavorada para que parassem, mas nenhum dos dois lhe deu atenção. Ambos estavam raivosos e descarregando a raiva um no outro. Enrique bateu violentamente no rosto de Ian com um golpe de direita, fazendo Ian cair de joelhos sentindo aquele golpe amargamente.
Enrique se aproximou dele para bater de novo, Ian se jogou urrando de raiva com os ombros pela cintura dele, o derrubando e rolaram pelo chão.
Ian o agrediu no rosto e ele sentiu o golpe bruscamente, mas reagiu e o empurrou fazendo-o cair e os golpes sucederam-se violentamente, agredindo um ao outro.
Ian avistou a arma de Enrique que havia caído e a pegou, enquanto Enrique pegou a outra que estava em seu coldre. Os dois levantaram rapidamente e ao mesmo tempo.
Jayne, vendo aquilo, tudo lhe pareceu em câmera lenta, os dois rapidamente se apontaram as armas, estavam perto um do outro. Ela gritou e sem se dar conta ou pensar, se jogou no meio dos dois, cerrou os olhos e parou.
Um silêncio tenebroso se fez e ela ficou ali paralisada com os olhos fechados e quando lentamente os abriu, com a respiração completamente fora do compasso avistou o rosto de Ian, com os olhos arregalados, cabelos revoltos e os lábios sangrando, apontava sua arma para ela.
Ele a olhava com um olhar apavorado pelo susto de ele quase ter atirado no amor de sua vida, estava perplexo, seu dedo tremia no gatilho.
Ela olhou para seu próprio corpo como que para ter certeza que não havia sido alvejada, mas não havia sangue, seu coração nem batia, olhou para ele com os olhos marejados de lágrimas e desesperados.
Vagarosamente, ela foi se virando e avistou Enrique que estava na mesma posição, olhando-a estupefato com a arma apontada em sua direção. Por um milésimo de segundos os dois não atiraram e ela estaria morta pela mão dos dois.
Jayne mal sentia suas pernas, mas o olhou com uma dor no peito e com o olhar implorativo e agoniado, desesperado. Ele estava desalinhado, ofegante e sangue lhe escorria pelo nariz e de seu supercílio, a olhava como se quisesse morrer ali mesmo.
Ela tentou engolir a saliva, mas essa não existia em sua boca, deu dois passos lentos em direção a ele colando seu peito na ponta da arma que ele forçosamente firmava com o dedo no gatilho, pronta para disparar.
— Saia da frente — ele disse, rangendo os dentes de tanto ódio que sentia e com uma dor intensa que o destroçava por dentro.
— Não faça isso, por favor, Ricky. Se atirar nele, vai ter que atirar em mim também — disse com as lágrimas escorrendo pelo rosto e quase sem conseguir falar de tamanho terror que sentia no peito.
Enrique ouvindo aquilo encheu os olhos de lágrimas, sua dor era imensa, mas com as palavras dela pareceu que ia desmontar ainda mais.
— Jayne... Como pode fazer isso comigo? — ele segurava-se para não chorar e sua voz saia embargada. — Você morreria por ele? — perguntou quase sem querer ouvir a resposta.
— Morreria...
— Jayne...
Enrique cerrou os olhos fortemente sentindo os restos que ainda sobravam de seu coração terminaram de se quebrar.
— Me perdoe, eu não queria que nada disso tivesse acontecido, por favor, não é culpa de ninguém. Abaixe essa arma, você não é este homem, o Enrique que eu conheço jamais faria isso. Ian não lhe fez nada, ele não tem culpa do que aconteceu. — Ele engoliu um nó na garganta tão imenso que pensou que fosse sufocar. — Ricky, eu lhe imploro, em nome do amor que sente por mim, me deixe ficar com minha família, por favor... Por favor.
— Não sei se consigo fazer isso.
— Consegue. Você é a pessoa mais forte, mais nobre e pura que eu já conheci em toda minha vida. Eu sei que você pode. Mas se acha que não, então puxe o gatilho de uma vez, eu não vou sair daqui, me mate primeiro, pois não vou ver meu marido morrer duas vezes.
Enrique contendo toda sua dor e raiva queria atirar, seu dedo tremia no gatilho. Ian estava em pânico, olhava aquilo quase sem respirar, mas não podia fazer nada, se ele atirasse a mataria na hora.
Enrique queria acabar com tudo, mas vendo Jayne na frente de sua arma, sentia como se tivesse perdido o chão. Já não mais segurando a dor que sentia deixou suas lágrimas rolarem.
— Ele deveria estar morto, você deveria ser minha mulher.
— Se matá-lo, eu jamais vou lhe perdoar, você ficará sem mim do mesmo jeito. Teria que me matar, mas você não pode fazer isso, porque não merecemos ser punidos por algo que não temos culpa.
Enrique pensou por alguns minutos, imóvel, queria ter algum senso na sua cabeça, teria que ter para não fazer uma loucura e relutantemente abaixou a arma devagar.
— Está bem, Jayne. Acho que não há mais nada aqui pelo que lutar.
— Ricky... Eu nunca quis magoar você, acredite em mim.
— Estou com tanta raiva que poderia matar vocês dois. Mas que diabos! — Ele fez uma pausa para respirar, tentava falar com dificuldade. — Eu não consigo causar esta desgraça, eu não conseguiria viver depois disso.
Jayne ficou ali, chorando, parada como uma estátua. Ian, empunhando sua arma não dizia nada e ficou os olhando com o coração apertado no peito.
Enrique colocou a arma no coldre e virou as costas para eles, subiu no cavalo e deu uma última olhada para ela por alguns segundos.
Puxou a rédea com força fazendo o cavalo empinar, depois o virou e saiu galopando se afastando deles.
Jayne sem forças nas pernas e com uma dor no peito que pensou que realmente havia levado um tiro; fechou os olhos e caiu de joelhos sem conter o choro aos soluços. Ian foi até ela e se ajoelhou à sua frente a abraçando fortemente.
— Jayne... Calma.
— Eu não queria que fosse assim.
— Eu sei. Meu Deus, eu pensei que ele fosse atirar em você. — Ficaram abraçados esperando que aquela adrenalina e desespero aliviassem. — Venha, vamos para casa. — Ele a ajudou a levantar, mas gemeu com sua própria dor, olhou-a profundamente secando suas lágrimas. — Entendo como deve ter sido difícil para você fazer isso.
— Estou me sentindo tão culpada.
— Não se culpe, ele vai se recuperar. Eu confesso que entendo a dor dele, não deve ter sido fácil abrir mão de você assim, eu mesmo não conseguiria. Mas nós temos que deixar isso para trás, recomeçar nossas vidas e buscar um pouco de paz.
Ian beijou sua testa e se abraçaram novamente, suspirando para tentar afastar aqueles momentos de pânico, de sofrimento e desespero. Felizmente, tudo acabou sem uma desgraça pior, mais uma vez viram a morte de perto, mas naquele momento os corações estavam destroçados.
Ian atrelou a rédea de Trovão em seu cavalo e Jayne seguiu com Ian no seu, sentada à sua garupa seguiram devagar. Chegando à fazenda, James os avistou e correu para frente da casa com um sorriso no rosto.
— Patrão, o senhor voltou para ficar?
— Sim James, agora vai ser para ocupar meu lugar.
Jayne desceu do cavalo e ele desceu também sentindo a dor no estômago e em suas costelas, soltando um gemido de dor.
— Seja bem-vindo, patrão. O senhor está ferido, precisa do médico?
— Eu estou bem, não se preocupe, mas quero que fique de prontidão, não quero Enrique entrando aqui, entendeu? Deixe os homens alertas — disse batendo com a mão em seu ombro.
— Sim, senhor.
Angel abriu a porta principal quando os avistou pela janela, saiu correndo e gritando e se jogou em seus braços, Josh fez o mesmo o abraçando pela cintura. Ian gemeu pela dor, mas ele não se importou, estava tão feliz de estar em casa que a dor era o de menos.
— Papai, você voltou!
— Sim, minha princesa, eu estou de volta.
— Não vai mais embora? — Josh perguntou com os olhinhos brilhantes.
— Não meu filho, eu não vou, nunca mais.
Ian emocionado os acarinhou, estava sentindo uma alegria e uma emoção descomunal. Ele abraçou Jayne e seus filhos com toda força que tinha em seus braços esgotados e seu corpo dolorido. Os quatro ficaram sentindo o alívio de estarem juntos.
Finalmente a família Buller estava unida novamente em seu lar, nada mais no mundo poderia acabar com aquele momento, era o que rogavam em seus corações.
Era o que suas almas cansadas imploravam, queriam paz, amor, proteção e estar unidos.
**
Jayne e Ian passaram o restante do dia somente aproveitando todos os momentos juntos. Ela cuidou de seus ferimentos e Ian tentou descansar, mas não queria perder um minuto no seu primeiro dia em casa com a família.
Ao anoitecer, ele banhou-se e colocou somente uma calça de pijama e deitou-se nos almofadões em frente à lareira no quarto. Josh estava deitado com ele. Ficou o tempo todo ao seu redor desde que ele chegou. Brincou, pulou, conversou, queria contar e mostrar tudo ao pai de uma vez, foi um trabalho convencê-lo que ele tinha que deixar Ian descansar.
Josh por fim adormeceu deitado no braço de Ian que carinhosamente lhe acariciava os cabelos. Angel não fez diferente, mas já havia ido ao seu quarto dormir.
Jayne acendeu a lareira e pegou duas taças de vinho e deu uma a ele, ele tomou um gole devagar, sentindo seu sabor descer-lhe docemente pela garganta, ela bebeu da sua e a colocou no chão. Olhou para os dois sorrindo e seu coração encheu-se de alegria.
— Seu gosto pelo vinho é maravilhoso — Ian disse.
— Estou ficando entendida no assunto — disse sorrindo.
— Vou levar este mocinho para a cama — disse tentando se levantar.
— Pode deixar, eu o levo.
Jayne pegou Josh devagar no colo para não acordá-lo e gemeu com o esforço que teve que fazer por causa do seu peso.
— Ih mamãe, este seu filhotinho está ficando pesado demais para você carregá-lo — disse sorrindo.
— Verdade, eu quase não consigo mais.
Ela levou Josh para sua cama, o cobriu e sorrindo beijou-lhe a testa e apagou o lampião. Voltou para seu quarto, tomou mais um gole de vinho e deitou-se ao lado de Ian, escorando a cabeça sobre seu braço. Molhou um paninho na água fria em uma pequena vasilha e colocou no rosto de Ian que estava roxo e inchado.
— Como você está?
— Dolorido, mas estou aliviado de estar em casa. Meu Deus... Parece que o mundo saiu das minhas costas. — Au... — Ele gemeu quando Jayne apertou um pouco o toque no canto de sua boca.
— Desculpe.
— Enrique tem uma bela direita.
— Pensei que vocês se matariam.
— Também pensei que tudo acabaria com um de nós morto.
— Ian, por favor, nem me diga isso, eu morreria se algo acontecesse a um de vocês.
— O que lhe deu na cabeça de se jogar na frente das armas daquele jeito, Jayne? Pelo amor de Deus! Se eu tivesse disparado eu teria matado você, eu morreria de remorso e desespero, sua maluca.
— Ian, na hora eu não pensei em nada, agi no impulso, estava apavorada, só queria que aquilo tudo parasse.
Ele fechou os olhos lembrando-se e um frio lhe passou pela espinha.
— Espero que ele pare de nos atormentar.
— Ele vai, só estava ferido, querido. Enrique jamais teria feito algo assim se ele não estivesse desnorteado, e com toda razão.
— Assim espero, eu preciso de um pouco de paz, senão vou enlouquecer.
— Somos dois.
— Vamos ter, querida, se Deus quiser. O que importa é que estamos juntos novamente e não podemos deixar nada, nada neste mundo nos separar de novo, nunca mais quero ficar longe de você.
— Eu sei meu amor, nem eu quero isso, você é minha vida, não sei viver sem você.
— Eu te amo tanto.
— Eu também, Ian.
Abraçaram-se suspirando e ficaram alguns minutos sentindo aquele abraço, recostados sobre os almofadões e o tapete de pelego macio, iluminados pelas chamas avermelhadas do fogo.
— Está confortável? Não quer deitar-se na cama? — perguntou o olhando carinhosamente.
— Deixe-me ficar aqui um pouco, eu gostei disso aqui.
— Hum... Sei. Eu tive que ficar lhe implorando para você fazer esta lareira, agora está ai se deliciando, não é mocinho? — Ele riu.
— É verdade. É que eu não estava tendo sua visão, desculpe, que bom que você fez. E vi que fez várias outras coisas que eu tinha começado aqui na fazenda.
— Sim. Eu quis fazer tudo, queria ver se conseguia me sentir menos-mal do que me sentia.
— Nem imagino o que sofreu, meu bem.
— Nem queira, foi difícil me recompor.
— Desculpe por isso.
— Tudo bem, meu amor. Agora você está aqui comigo e isso é o que importa, vamos recomeçar nossa vida, juntos. Vamos esquecer o que houve e seremos felizes, como éramos antes.
— Sim, fim do pesadelo. Mas eu ia fazer isso para você — disse olhando para a lareira.
— Hum, ia? E por que me fez ficar implorando? Seu malvado.
— Querida, eu adorava ver você implorando por alguma coisa e usando alguma artimanha para conseguir. Só faço para provocá-la, saiba que tudo que me pediu e que você teve que implorar, eu já tinha aceitado no primeiro pedido, o resto foi somente para me aproveitar de você.
— Meu Deus! Que marido eu fui arrumar. Mas isso é coisa que se faça?
— É sim, porque eu adoro seus rompantes ardentes.
Os dois riram.
— Se você não estivesse aí machucado, eu bateria em você.
Ele riu e acarinhou seu rosto com o sorriso mais cheio de amor que poderia ter lhe dado.
— Será que posso pedir uma coisa para a mulher que eu amo, sem que ela me bata?
— Pode pedir o que quiser, senhor meu marido.
— Beije-me, porque estou com saudades de você.
Ela sorriu e se aproximou dos seus lábios.
— Temos mais de dois anos de saudades, meu bem.
— Hum... Isso me dá maus pensamentos — disse sorrindo puxando-a pela nuca para beijá-la. — Gemeu sentindo dor na sua boca.
— Desculpe.
— Tudo bem... — E a beijou novamente.
Ela deitou-se vagarosamente sobre seu peito aninhando-se e ele a abraçou acariciando seus cabelos pelas suas costas com os olhos fechados.
— Suas costelas estão doendo muito?
— Um pouco.
— Hum, conheço uma medicina natural eficaz, quer ver?
— Claro — disse sem saber do que se tratava.
Jayne pegou a taça de vinho e vagarosamente derramou um pouquinho no peito dele e o líquido frio escorreu pela sua barriga parando no seu umbigo. Ian olhou aquilo e riu, soltando um gemido de prazer.
Ela sorriu e beijou seu peito, vagarosamente e, foi descendo até seu umbigo retirando todo o líquido. Ian foi à loucura com aquela sensação e ousadia dela, fechou os olhos e gemeu deixando-a tocá-lo daquela maneira, depois a puxou para que pudesse beijar seus lábios com sabor de vinho.
Qualquer dor que ele sentia desapareceu, somente queria amá-la.
— Você me enlouquece desse jeito, e nem tem respeito pelas minhas dores. Que esposa má.
— Ah, mil perdões. Tudo bem, eu vou respeitar suas dores, vamos dormir, se você quiser, você dorme aqui no chão e eu ali na cama.
Ele deu uma bela risada.
— Nem pensar. Agora é tarde, não vai escapar de mim.
— Mas eu não quero escapar de nada.
— Adorei esta medicina, pode repetir, por favor? E eu também quero provar isso, você banhada no vinho deve ser uma delicia.
— Vamos ficar embriagados.
— Eu já estou embriagado de amor.
— E suas dores?
— Que dores?
Jayne sorriu, sentou sobre o quadril de Ian e o beijou, ele lentamente deslizou as mãos sobre suas coxas e subiu para seu corpo para lhe retirar a camisola e beijaram-se demoradamente, acariciando-se.
Ela pegou a taça e a derramou novamente sobre seu peito e o beijou e ambos seguiram com carícias ousadas, sentindo seus corpos, se entregando lentamente. Não tinham pressa, estavam nos seus lugares, e nada mais os tiraria dali, queriam matar aquela saudade que os maltratou por tanto tempo, lembrar-se de cada sensação que já tiveram, e descobrir novas.
Queriam que aquela primeira noite de Ian em casa fosse eternizada com amor, somente os dois perdidos naquela penumbra avermelhada do fogo da lareira. Precisavam amar-se, e assim foram noite adentro, se entregando ao prazer intenso e às brincadeiras com o vinho.
Capítulo 31
Ian e Jayne conversavam com James na varanda sobre os cavalos quando Willian e David chegaram à fazenda.
— Bom dia Ian, Jayne — Willian disse descendo do cavalo e
David o acompanhando.
— Bom dia — Ian sorridente respondeu.
— James me avisou que você tinha voltado para casa, estou contente por vocês dois terem finalmente acabado com isso e estarem juntos de novo.
— Abrigado, Willian. Você nem imagina o que foi tudo aquilo, mas estou em casa, o resto ficará no passado.
— Então você e Enrique brigaram?
— Brigar? Quase nos matamos, mas acabou tudo bem, eu acho — Ian respondeu passando a mão pela testa.
— Estou vendo pela sua cara arrebentada.
— Menos para ele — David disse.
— David, não me lembre disso, por favor — Jayne disse.
— Desculpe.
— Sabe que apesar de tudo, minha raiva por ele passou.
— Ele não teve culpa. Eu acho que ele foi razoável não matando vocês dois. Não sei como ele consegue aceitar uma coisa assim. Apesar de saber que vocês não tiveram culpa. Ele, de uma hora para outra, perdeu a esposa, com razão deve ter ficado furioso, seu orgulho de homem foi ferido.
— Eu sei, David.
— Eu sinto um remorso aqui dentro que está me matando, mas eu não tinha alternativa, eu tive que terminar com ele.
— Eu entendo, Jayne, mesmo por que, ele sabia que você amava Ian. Aliás, descobrir que você estava vivo foi um choque para todo mundo. Nem sei o que foi mais chocante, saber que você estava morto ou saber que estava vivo.
— Eu imagino, David. Foi um pesadelo infindável ficar perdido sem me lembrar de nada. Mas vocês, aqui chorando minha morte e depois o choque de eu estar vivo, nem imagino o que devem ter sentido, principalmente Jayne. Mas temos que enfrentar a realidade. Isso aconteceu, todos sofreram, e se aquela maldita não tivesse feito o que fez isso tudo não teria acontecido, David teria me encontrado e eu teria voltado para casa.
— Ah isso é verdade. Ai... Que quando me lembro, tenho vontade de esganar aquela mulher. Você devia tê-la matado, Ian — David disse raivoso.
— Tive vontade, mas consegui segurar minha raiva, nem sei como.
— Ian, eu não entendo, do que estão falando? — Jayne perguntou.
Ian percebeu que esta parte lhe faltou contar a ela, respirou e olhou para o chão se arrependendo de ter tocado no assunto.
— Jayne, esqueça isso, não precisa saber de mais nada, acabou.
— Como assim? Eu fui a mais prejudicada nesta história, quero saber sobre essa mulher, me fale logo.
— Querida, aquela mulher que você viu comigo em Portland...
— Sim, a que você estava vivendo — disse com ciúmes já lhe apertando.
— Lembra-se que eu dancei com uma mulher no baile na Califórnia?
— Hum... Lembro. O que tem?
— Então... Era ela, a mesma mulher. Ela impediu que David me achasse no hospital, eu estava internado lá quando ele foi a Portland me procurar.
— O quê? Eu não acredito! Como ela pôde fazer isso? Por quê? — Jayne sentiu um frio no estômago de ouvir tal coisa.
— Porque ela queria ficar comigo, ela se insinuou para mim na exposição e no baile e quando me viu sem memória no hospital que ela trabalhava, achou a oportunidade de ficar comigo. Então tirou minha aliança, ocultou o que sabia, mentiu para mim e para o David. Eu estava sem memórias, não a reconheci e não me lembrava de que era casado. — Jayne pensou que explodiria, seus olhos faiscavam de raiva. — Calma Jayne, vamos esquecer isso.
— Esquecer? Essa mulher quase acabou com nossas vidas e você quer que eu esqueça? Miserável! Meu Deus, eu vou matá-la!
— Jayne, por favor, o que importa é que eu estou aqui, esqueça-se dela.
— Ai, eu não posso! Eu estou com vontade de matar alguém. Ian, por causa dela eu fiquei mais de dois anos sem marido e meus filhos sem pai. Fiquei aqui me sentindo culpada pela sua morte, eu quis morrer. Tive que cuidar de duas crianças que não paravam de pedir pelo pai. Casei-me com um homem que agora está sofrendo, vocês quase se mataram, e eu quase fiquei louca. E você vem me dizer que uma louca planejou tudo e quer que eu me acalme? — Jayne ficou completamente fora de si.
— Não vai adiantar você ficar assim.
— Eu vou procurar esta mulher e vou acabar com ela, se você não teve coragem de matá-la, eu tenho.
— Você não vai fazer nada.
— Vou sim. Eu vou a Portland atrás dela e vou me vingar.
— Jayne, se acalme. — Ian a segurou pelos braços e ela começou a chorar de raiva, ele a puxou para si abraçando-a tentando fazê-la se acalmar. — Meu amor, vamos deixar isso para trás, já sofremos o bastante.
Jayne abraçou Ian, tentando respirar para sua raiva passar e chorava.
Ian secou suas lágrimas e segurou seu rosto.
— Meu amor, me prometa que não vamos mais falar disso.
— Não sei se consigo, ela tinha que pagar pelo que fez.
— Consegue. Precisamos esquecer esta história, senão sempre teremos isso nos atormentando e eu não quero isso, Jayne. Eu quero viver em paz com você e meus filhos. Prometa que esse assunto morre aqui. Eu não quero mais falar nem de Megan e nem de Enrique. — Ele esperou sua resposta, mas ela não conseguiu responder. — Querida, me prometa. — Ela o olhou ainda sentindo raiva, mas assentiu. — Isso, boa menina!
Ian beijou sua testa e ficaram abraçados por alguns minutos, Jayne secou as lágrimas e respirou fundo, para afastar aqueles pensamentos. Willian e David os olhavam convalescidos, sem dizer nada.
— Então vamos mudar de assunto, falar de coisas alegres — David disse tentando quebrar o clima ruim que do nada caiu ali.
— Jayne, eu tenho uma novidade boa, amanhã vamos receber um rebanho de vacas para cobrir, vai ser ótimo, vai entrar um bom dinheiro para nós, apesar do trabalhão que vai dar — Willian disse.
Jayne o olhou, respirou fundo e recompôs-se.
— Que ótimo Will. Mas me diga como estão as coisas por lá? Com esta confusão toda eu não tenho dado nem atenção para os meus cavalos.
— Está tudo bem, não se preocupe, pegamos o jeito, agora é só ir em frente, mas acho que vamos precisar de alguns empregados daqui, senão não daremos conta.
— Que ótimo. Obrigado rapazes por cuidarem de tudo. Fale com o James, ele resolve isso para você.
— Tenho que me inteirar do negócio do gado, nem tive cabeça de ver tudo. Mas estou orgulhoso de vocês e da minha esposa que foi mais sagaz do que imaginei, mantendo o negócio que eu ia propor a vocês.
— Sim, fiquei muito feliz — Willian disse.
— Eu também. Nossa vida melhorou bastante financeiramente depois disso, acho que todo o sufoco que tivemos no começo para montar tudo está nos dando o retorno e, melhor que esperávamos — David disse.
— Onde está Mitchel? — Ian perguntou.
— Não sei, ele está perdido. Esta semana é a audiência para o desquite.
— Ai meu Deus! Eu havia me esquecido disso — Jayne disse.
— Nem quero ver se eles vão conseguir o que querem.
— Acho isso uma loucura sem tamanho — David disse.
— Concordo — Ian disse.
— Julia vai para Londres — Jayne disse.
— É, depois da falação que isso vai dar na cidade, acho melhor ela ir mesmo — David concordou.
— Mitchel diz que não se importa, mas ele está muito nervoso com isso tudo — Willian disse.
— É claro que ele se importa, ele se faz de durão, mas foi um golpe duro, ele amava Julia — David disse.
— Eu não concordo, mas é a vida deles, vamos deixar que se entendam. Infelizmente não podemos impedir, vamos ficar ao lado deles e ajudar no que for preciso — Jayne disse.
— Ian, nós deveríamos comemorar por estarmos juntos novamente, sua volta merece uma festa.
— Ah eu aceito, nossos encontros, verdade? — Ian disse abrindo um sorriso.
— Sim, éramos especialistas nisso.
— Vamos fazer aqui em casa e por minha conta, eu insisto — Ian disse feliz abraçado a Jayne.
**
Quando Ian acordou a olhava intrigado, pois ela se debateu a noite toda. Ele retirou seu cabelo que caia sobre seu rosto colocando-o devagar para trás dos ombros. Segurou sua mão que estava recostada no travesseiro e ficou assim até ela acordar.
Quando ela abriu, vagarosamente, os olhos sorriu em vê-lo ao seu lado, aquilo parecia um sonho.
Ian chegou mais perto dela e colocou sua perna sobre seu quadril e lhe beijou o rosto. Ela o olhou carinhosamente, beijou sua mão e a colocou em seu peito segurando-a.
— O que você tem? — Ian perguntou.
— Acho que não consegui engolir aquela história de ontem.
— Eu sei, Jayne. Você se recompôs muito depressa.
— Ian, eu preciso lhe pedir uma coisa. Eu preciso falar com Enrique, quero que me deixe ir vê-lo.
Ian fechou os olhos e virou-se na cama colocando sua mão sobre os olhos.
— Jayne...
— Por favor, eu preciso fazer isso.
— Não.
— Ian, eu quero falar com ele, eu preciso, tenho que ter certeza que ele vai ficar bem.
— Jayne, ele quase atirou em mim e em você, não vou deixar que vá se encontrar com ele.
— Ele não vai me machucar.
— Por que quer falar com ele? Por acaso se arrependeu?
Jayne chegou mais perto dele e se escorou em seu peito, o olhando.
— Não, isso não, mas me sinto muito mal em relação a ele e não vou conseguir ficar em paz sabendo que ele está mal.
— Ontem você prometeu que não íamos mais falar nem de Megan nem de Enrique.
— Sim, eu prometi e vou cumprir, mas me deixe falar com ele, depois disso eu juro que vamos deixar isso tudo para trás. E eu não posso comparar aquela mulher à Ricky, ele não merecia isso, está sofrendo.
— E o que quer? Que eu fique aqui em casa esperando você ir lá se encontrar com ele?
— Ian, por favor, se eu quisesse, eu poderia ir sem lhe dizer nada, você nem ficaria sabendo, mas eu estou falando e quero que entenda e me deixe ir. Que me dê seu consentimento.
Ele ficou calado pensativo por alguns minutos.
— Está bem, pode ir, mas James vai com você.
— Tudo bem, ele vai comigo. — Jayne abraçou Ian e lhe beijou os lábios. — Obrigada. Eu juro que vou voltar para os seus braços.
— E por quê?
— Porque eu te amo.
— Isso vai lhe custar muito caro — disse rolando sobre ela.
— Pode me pedir o que quiser depois disso, mas eu preciso fazer isso.
— Vou deixá-la ir, mas vou ficar aqui agoniado.
— Confie em mim. Não tem motivos para duvidar de meu amor depois da prova que lhe dei, abandonando tudo por você.
— Eu sei, meu amor. Eu confio agora mais do que nunca.
**
Jayne foi até a casa de Enrique. James entrou com ela na sala enquanto a serviçal foi avisá-lo que ela estava ali.
— O senhor pediu que entrasse, ele está no escritório, senhora.
— James, fique aqui.
— Tem certeza, senhora?
— Sim. Não se preocupe, eu estarei bem.
— Estarei aqui se precisar.
Jayne deu um sorriso meio sem jeito para ele tentando disfarçar seu nervosismo e entrou no escritório. Enrique estava colocando alguns livros e pastas numa maleta, olhou para ela quando entrou, mas continuou a fazer o que estava fazendo. Jayne olhou em volta meio receosa.
— O que faz aqui? — ele perguntou secamente.
— Eu queria falar com você.
— Não temos nada a falar, acho que já me disse tudo.
— Como estão seus ferimentos? Você está bem?
— Estou bem.
— Ricky... Eu sei que me odeia, mas eu não estou confortável com esta situação. — Ele riu ironicamente a olhando.
— Como não? Você está com seu maridinho, deveria estar confortável.
— Eu quero ter certeza que você ficará bem.
— Não se preocupe comigo, estou bem, como vê.
— O que está fazendo?
— Vou embora.
— Vai embora para onde?
— Para bem longe daqui. Como acha que ficará minha reputação, minha honra, depois que a cidade toda souber que você me deixou para voltar para Ian. — Ela respirou fundo.
— Eu o entendo, mas teremos que encarar isso, não há outro jeito.
— É, não há. Mas vou embora mesmo assim, não vou aguentar ficar aqui.
— Mas e o júri de Julia e Mitchel?
— Não se preocupe, sou profissional, vou dar um jeito nisso e depois da audiência vou embora.
— Ricky, me perdoe, por favor — disse se aproximando dele.
— Jayne, vá embora — disse fechando os olhos.
— Você poderia ir atrás de uma mulher, que foi responsável pelo sumiço de Ian? — ele a olhou espantado.
— O quê?
Jayne lhe contou sobre Megan. Ele a ficou olhando, ouvindo a história.
— Mas que bela biscate seu marido foi arrumar.
— Ela deve ser punida, Ricky.
— Jayne, eu não vou atrás de ninguém, eu não quero saber de nada disso.
— Mas ela é culpada de sua dor também.
— Eu sei, mas não vou fazer nada, não sou mais xerife.
— O quê?
— Larguei meu posto, renunciei. Eu sinto muito, Sra. Buller, mas não vou lhe ajudar desta vez, procure o próximo xerife.
— Tudo bem — disse respirado fundo.
— Deixe isso para lá, esqueça essa mulher, não vá arrumar mais uma confusão. Cuide da sua família, você a tem de volta, era isso que você tanto queria. Vá para casa e seja uma boa esposa para o seu tão adorado marido, coisa que não foi comigo.
— Ricky, eu entendo sua raiva, sua mágoa. Sei que deve estar me achando uma pessoa terrível, até mesmo cruel. Mas eu juro que se eu pudesse ter evitado tudo isso eu teria. Eu fui sincera, eu tentei ser sua mulher, te fazer feliz e meus sentimentos por você são verdadeiros, acredite em mim.
Ele foi até a mesa e colocou uísque no copo, virou para ela e bebeu, ficou um silêncio mórbido no escritório por alguns minutos. Ele largou o copo, passou as mãos no rosto fortemente e foi até ela que o olhava com os olhos tristes e marejados e falou calmamente.
— Eu acredito em você. Eu sou esperto o bastante para saber quando perco; eu sabia desde o início, só não quis aceitar. Achei que tínhamos uma chance, mas nosso momento passou. Você mesma me disse isso, mas eu insisti que não. A única coisa que me importava era ter você de volta.
— Eu tentei.
— Eu sei. Eu vou voltar para Madri, recomeçar minha vida, eu nunca devia ter saído de lá. Vou pedir a anulação e colocar um ponto final nessa história.
— Será que algum dia você vai me perdoar? Deixar de me odiar?
— Jayne... Eu peço todos os dias para odiar você, talvez assim a dor fosse menor. Talvez um dia eu a perdoe, eu nem sei se eu tenho que lhe perdoar por não me amar. Culpar alguém por não amar a outra seria meio ridículo, chega a ser irônico. Mas somos cegos quando amamos, somente nossas razões são as certas, queremos receber de volta o que damos.
— Mas eu amo você.
— Eu sei que ama, mas seu amor por mim não é como eu gostaria que fosse e sei que se pudesse arrancaria esta minha dor. Eu a conheço, eu sei que está sofrendo por me ver infeliz. Essa sua integridade me mata. Mas por que não me contou antes, quando você passou a noite fora? Você me traiu, passou dias comigo sem me dizer nada, me fazendo de tolo.
— Não, eu não dormi com ele como pensa. Eu fiz uma promessa, eu prometi que não dormiria com nenhum dos dois até eu resolver isso.
— Ah meu Deus! — Enrique cerrou os olhos e lembrou-se das palavras do doutor naquele dia que a encontrou.
— Eu não mereço seu amor, mas eu o amei, eu fui feliz com você. Você é um homem maravilhoso e eu sei que não mereço seu perdão, mas um dia você vai me entender, então quem sabe assim possa me perdoar.
Jayne deixou que as lágrimas caíssem. Enrique se aproximou dela, mas parou a pouca distância.
— Ah Jayne! Como eu queria poder controlar seu coração, como eu queria poder obrigá-la.
— Não podemos controlar tudo. Se isso tudo não tivesse acontecido, eu nunca ficaria longe de você. Não pense que estou arrancando você da minha vida sem piedade, porque não é verdade, está doendo muito magoar você. Eu vou sentir a sua falta, você é importante para mim. Saiba que amar você foi maravilhoso, todos os momentos que passamos juntos, nunca esquecerei, eu vou guardá-lo em meu coração com todo amor.
Ele levemente segurou seu rosto entre as mãos e passou o polegar nos lábios dela, aqueles lábios perfeitos, como os desejava naquele momento.
— Você... Você ainda é minha esposa. — Ele começou a respirar com dificuldade, sentia um gigantesco nó na garganta. — Posso... Beijá-la? — Ela não disse nada, estava imóvel. — Claro que não, eu não mereço nem isso.
Ele a soltou e ia se afastar, mas Jayne o segurou, o puxou pela lapela da casaca e o beijou. Foi um beijo lento, de despedida, ele queria gritar, mas a beijou com todo amor que sentia por ela e Jayne retribuiu. Ela não sabia se beijá-lo era certo ou errado, mas ele ainda era seu marido.
Ele a abraçou fazendo-a encaixar em seu peito enquanto a beijava, queria poder não soltar-se dela nunca mais, depois ficaram abraçados por um longo tempo, ele beijou sua testa, então a soltou, deu alguns passos para trás.
Ele acariciou seu rosto a olhando com uma tristeza, ele escorregou sua mão pelo seu pescoço e braço chegando até sua mão e a segurou. Sem dizer mais nada, ela lentamente foi se afastando dele dando passos para trás ainda segurando sua mão, até seus dedos escorregarem lentamente e finalmente soltarem-se.
Ela foi até a porta e virou-se o olhando, queria poder dizer mais alguma coisa, mas não havia mais nada que pudesse dizer. Enrique queria segurá-la, impedi-la de ir embora, mas parecia que não tinha controle da situação. Ele respirou com um nó na garganta segurando-se para não chorar.
Jayne saiu e fechou a porta, Enrique ficou olhando para ela, esperando que ela voltasse, pegou o copo de uísque e o encheu, engoliu aquilo como se fosse fel, o olhou e o jogou contra a parede soltando um grito de raiva, sentou no sofá e deixou que suas lágrimas rolassem.
Ela foi embora da casa com James, olhou para a rua, ficou um momento na calçada e as lágrimas rolaram de seus olhos.
— Está bem, senhora?
Ela respirou profundamente secando as lágrimas.
— Como isso dói, meu Deus! Eu acho que ele nunca vai me perdoar.
— Um dia ele vai, senhora. O Senhor Gonzáles é um homem inteligente, só precisa de tempo para assimilar tudo isso, agora ele está se sentindo traído e rejeitado, mas ele sabe que precisam anular o casamento. Não se culpe, a senhora tomou a atitude certa.
— Você tem razão, James... Vamos para casa.
Os dois voltaram para a fazenda, apesar de tudo, Jayne sentia-se mais leve. Achava que havia feito tudo que podia, não poderia fazer mais que aquilo, esperaria que um dia Enrique lhe perdoasse de verdade.
Jayne encerrou sua história com Enrique, amenizou o imenso remorso que sentia no coração, pelo menos uma parte dele.
Quando ela chegou em casa, Ian estava apoiado no cercado olhando Angel cavalgar em círculos dentro dele, e Josh estava sentado na cerca olhando. Ian estava com eles, mas seu pensamento estava longe, estava nervoso esperando a volta de Jayne, havia se arrependido de tê-la deixado ir.
Quando a avistou, ficou a olhando se aproximar sentindo como se seu coração tivesse parado de bater. Jayne desceu do cavalo e saiu correndo, se jogando em seus braços e se abraçaram fortemente.
— Eu estava com medo que você não voltasse para mim — ele disse quase a esmagando.
— Ian, eu te amo, amo, jamais o deixaria.
— Diga-me que tudo acabou, por favor, vamos encerrar isso tudo.
— Acabou, eu prometo. Enrique vai para Madri, vai pedir a anulação do nosso casamento, voltarei a ser somente sua mulher.
Ela o olhou com todo amor do mundo.
— Agora seremos somente nós dois novamente, para sempre.
Beijaram-se desesperadamente e ficaram ali abraçados.
Capítulo 32
No dia da corte de Julia e Mitchel todos estavam nervosos. Enrique os havia orientado para o que deveriam dizer perante o juiz. Mas sabia que algumas coisas fugiriam do programado. O que mais estava irritando Mitchel e Julia é que as cortes eram abertas ao público.
Muitas pessoas conhecidas e muitas que nem sabiam quem eram poderiam assistir. Para muitos, assistir a este tipo de coisa era uma diversão.
David e Mary, Ian e Jayne foram assistir para dar força aos amigos e a irmã. Willian e Emily foram convocados a depor, ficaram numa sala separada e Chloe em outra, que também iria depor.
Quando Ian e Jayne chegaram à corte, foi um alvoroço, como ninguém da cidade havia visto Ian, pareceu que a sensação nem era o desquite e sim a aparição de um suposto morto.
As pessoas que conheciam Ian vinham falar com ele, querendo saber como estava vivo; alguns ainda olhavam como se estivessem vendo um fantasma, perguntavam-se como Jayne estava com o marido e estava com o xerife. Ela que já estava nervosa ficou ainda mais, eles não haviam se dado conta da confusão que causariam.
— Calma, Jayne, não fique nervosa.
— Ian, meu Deus! Não devíamos ter vindo.
— Se você quiser, podemos ir embora.
— Agora que vocês já armaram a confusão, não adianta irem embora e já vai começar.
— David tem razão, vamos ficar.
Sr. e Sra. Cullen chegaram e houve outro murmúrio na sala, eles sentaram-se próximos a Jayne e Ian. Eles estavam claramente nervosos e apreensivos seguravam as mãos.
— Nós não devíamos ter vindo para passar esta vergonha — Sr. Cullen disse nervosamente.
— Você é o pai dela — Sra. Cullen disse.
— E ela deveria se lembrar disso! Ah meu Deus, vou assistir meu nome cair na lama. Devíamos tê-la forçado a ficar com seu marido.
— Pare com isso, Carl, não piore as coisas.
Henrique entrou com Julia e Mitchel e sentaram-se. Enrique correu os olhos para o público e avistou Jayne e Ian. Ele ficou ali paralisado por alguns minutos com os olhos cravados nela, sentindo um frio congelante em seu estômago, o murmúrio aumentou sobre eles e aquilo pareceu que ia aumentar, mas um silêncio fez-se quando o juiz entrou.
Enrique se virou, tentou recompor-se e prestar atenção no seu trabalho. Alguns desavisados faziam burburinhos e o juiz bateu o martelo na mesa pedindo silêncio no recinto. Jayne ao lado de Ian apertava sua mão, aquilo estava constrangedor demais, como seria possível estarem todos na mesma sala. O juiz leu a introdução da corte e Enrique começou a falar sobre Mitchel e Julia, sobre o casamento e os motivos do pedido do desquite.
Julia foi chamada a falar, estava tão nervosa que tremia dos pés a cabeça, fez o juramento sobre a Bíblia e como mentiria, quase não conseguiu fazer, praticamente vomitou as palavras “Eu Juro”.
— Sra. Vaiz, a senhora acusa seu marido de adultério, de ter impossibilitado a continuação do seu casamento, vindo a pedir o desquite. Poderia nos contar como chegou a tal alegação?
Julia olhou para Mitchel que a olhava.
— Me casei com ele por amor, no começo vivíamos bem, mas logo ele começou a me trair.
— Como sabe que ele a traía?
— Dormia fora de casa, chegava bêbado e com marcas de batom na roupa, cheirando a perfume barato.
— E a senhora falou disso com ele?
— Sim.
— E o que ele dizia?
— Que ele era homem, que podia fazer aquilo.
— Entendo. E a senhora sabe quem era a mulher que ele se encontrava? Era uma ou mais de uma?
— Sei que ele ia sempre ao Saloon, não imagino com quantas dormia, mas sei que era constante os encontros com a Srta. Willers.
— A dona do Saloon?
— Sim.
— Ele a procurava como esposa?
— Sim.
— Essa situação perdurou por quanto tempo?
— Desde que nos casamos, e com o tempo piorou.
— Então sua situação como esposa, ficou insustentável.
— Sim, ele me fazia infeliz, bebia, brigávamos, era um inferno.
— Alguma vez ele a agrediu?
Julia olhou para Mitchel com os olhos arregalados, mal conseguia respirar. Queria que aquilo parecesse insustentável, queria dizer que sim, mas não conseguia, abriu a boca, mas nada saiu e não tirava os olhos dele.
Mitchel piscou discretamente dando a entender que ela dissesse sim, que concordasse, mas ela não conseguia dizer aquilo, os seus olhos encheram-se de lágrimas e Enrique esperava que ela dissesse e refez a pergunta, forçando-a a responder.
— Sim — respondeu e houve um murmúrio forte na sala, e o juiz pediu ordem.
— Então ele a traía diariamente, bebia e ainda a agredia. Uma situação assim seria insustentável. Uma mulher de família, bem-criada uniu-se a um homem para ter uma vida de felicidade, constituir uma família, ter um tratamento destes, é imperdoável.
Enrique seguiu sua argumentação em defesa dela, e fez mais algumas perguntas sempre a colocando como uma grande vítima de Mitchel. O promotor veio lhe fazer perguntas a olhando de forma meio debochada.
— Sra. Vaiz, a senhora alega que Sr. Vaiz a traía com as moças do Saloon, bebia e lhe agredia. O que a senhora fazia para suprir as necessidades maritais?
— O quê?
— A senhora assumia papel de esposa dedicada e cumpria suas funções conjugais? Cumpria seu papel, sempre que ele a procurava?
— Sim.
— Sra. Vaiz, não é considerado errado um marido que não se satisfaz com a esposa procurar meretrizes no Saloon. Isso é normal.
— Normal? Como pode ser normal? É traição! — Ela exaltou-se.
— Senhora, se acalme — disse o juiz, ela respirou e ficou quieta.
— Sra. Vaiz, se sempre cumpriu suas funções maritais assim como diz, por que não lhe deu nenhum filho?
Julia ficou branca.
— Porque não veio, senhor.
— Não veio? Ou a senhora está mentindo? Eu posso até dizer que ou a senhora não consumava o ato com seu marido ou evitava a gravidez, ou então não é capaz de lhe dar um filho, dando razões de sobra para que ele fosse suprir suas necessidades com as mulheres num Saloon. Cinco anos de casamento e nenhum filho, o que a senhora esperava? E diga-nos, Sra. Vaiz, o que a senhora fazia para impedir a gravidez?
Julia arregalou os olhos e olhou para Mitchel, pensou em dizer, talvez aquilo acabasse de uma vez e eles pudessem ir para casa, mas Mitchel arregalou os olhos e levemente disse não com a cabeça.
— Protesto. Sr. Juiz, esta questão não está em pauta, a discussão aqui é para as atitudes malfeitoras do Sr. Vaiz que traía a esposa e a agredia e não questionar porque ela não lhe deu um filho. Alguém que é maltratada em nenhuma hipótese pensaria em colocar um inocente no mundo para sofrer.
— Aceito.
O promotor continuou fazendo perguntas e a encurralando, fazia parecer uma grande futilidade dela, chegando a constrangê-la imensamente, fazendo Enrique protestar diversas vezes. Ele encerrou suas perguntas e ela quase sem conseguir levantar-se saiu e sentou-se na outra cadeira, começava achar que aquilo tinha sido um grande erro. Mitchel foi chamado e Enrique começou com as perguntas.
— Sr. Vaiz, o senhor acata as acusações de adultério?
— Sim.
— Assume que traía sua esposa com as mulheres do Saloon constantemente desde que se casaram?
— Sim.
— Havia uma em particular?
— Sim, a Srta. Willers.
— É verdade que o senhor a chama por um nome em especial?
— Sim.
— Poderia nos dizer?
— Deusa de Mármore.
Ouve outro falatório na sala, insultos pelas senhoras e risadas entre os homens.
— Silêncio! — Ordenou o juiz.
— Por que ela em particular? Todos sabemos que ter relações com prostitutas não é considerado adultério.
Mitchel olhou para Julia e com um nó na garganta queria acabar com tudo aquilo de uma vez.
— Porque sou apaixonado por ela. — A confusão formou-se.
— Meu Deus! — Jayne disse cobrindo a boca com a mão.
— Senhor, até onde isso vai? — Ian disse segurando a mão de Jayne.
— Agora ele passou dos limites — David resmungou.
— Sr. Vaiz, o senhor está afirmando que é apaixonado por uma meretriz e que renega a dignidade, lealdade e bom comportamento da Sra. Vaiz como uma moça de uma família digna? — Enrique perguntou.
— Renego — Julia começou a chorar.
— O senhor está dizendo que ela não serve para sua esposa?
— Exatamente. Ela deveria ser mais submissa, mas não é. Eu sempre procurei outras mulheres, mas ela não gosta da situação, então quer se separar de mim.
— E o senhor concorda com isso?
— Concordo, é uma briga cada vez que chego em casa. Se ela não me quer, eu menos a ela. Nosso casamento foi um arranjo, me casei sem gostar dela, simplesmente para me casar. Julia é uma boa mulher, mas eu prefiro as farras e quero que assim continue. Ela não me deixa em paz e fica me cobrando postura de um Santo, quem não a quer mais sou eu.
— O senhor assume que a agrediu?
Mitchel que estava quase morrendo por dentro olhou para Julia que estava desmontada na cadeira. Ele não aguentava mais falar aquelas barbaridades, mas colocaria aquilo ao fim de uma vez.
— Sim.
Outro murmúrio fez-se e o juiz teve que pedir silêncio.
Sr. Cullen já estava furioso ouvindo aquelas barbaridades.
Enrique encerrou suas perguntas e o promotor veio falar-lhe e tentava induzi-lo a defender-se, assumindo papel de bom marido para reverter as colocações que eles faziam. Mas em vez de defender-se para que o juiz ordenasse que Julia ficasse com ele, ele a renegava e a insultava e assim continuou, aquilo parecia um inferno, até que o juiz pediu um recesso.
Julia entrou na sala e desatou no choro, Enrique tentou acalmá-la.
— Calma, Julia, não fique assim.
— Não consigo mais, não aguento mais isso.
— Eu avisei que ia ser horrível, você não quis me ouvir.
— Meu Deus, Enrique, não quero mais isso, faça alguma coisa, por favor.
— Julia, eu não posso parar agora, você vai ter que ir até o fim. Ele vai ter que ouvir Chloe e as outras testemunhas.
— O quê?
— Chloe vai depor. Vai assumir que ela ficava com Mitchel, desde que se casaram e vai dizer coisas... Fortes, eu diria. Você já chegou até aqui. Vocês vão conseguir o que querem.
— Não quero ouvir mais nada, isso é um inferno.
— Fique aqui, beba uma água se acalme, e lembre-se, você pediu isso, não pode desistir. Vocês já jogaram tudo na lama, agora não tem mais volta. Nunca ouvi tanto disparate na minha vida.
Julia queria sumir, imaginou que seria ruim, mas aquilo foi além de suas forças. Mitchel estava em outra sala e andava de um lado a outro, queria sumir daquele pesadelo. Como puderam chegar àquele ponto, destruir seu casamento e inventar aquelas atrocidades? Falar tantas mentiras.
Enrique chegando ao corredor avistou o grupo de amigos com Jayne e Ian. Ela o olhou por alguns segundos e olhou para Ian e apertou seu braço com a mão e sem dizer nada foi em direção a Enrique. Ian não gostou, mas ficou quieto somente olhando os dois.
— Ricky...
— Jayne, é melhor não falarmos.
— Ricky, por favor, faça alguma coisa, até onde isso vai?
— Eles começaram isso, eu não posso parar.
— Pode, o juiz é seu amigo. Por favor, dê um fim nisso, se falarem mais mentiras deste nível, eles vão se afundar, aquele promotor está acabando com a dignidade dela, e os dois inventando aquelas mentiras, eles perderam a razão. Por favor, fale com o juiz.
Enrique a olhou sério por alguns instantes.
— Vou ver o que posso fazer.
— Obrigada.
Enrique se virou e saiu. Jayne voltou à roda e Ian pegou uma água, estava deveras nervoso, mas estava tentando disfarçar.
— O que foi falar com ele?
— Fui tentar acabar com isso tudo.
— Como?
— Vamos ver.
Enrique foi falar com o juiz Brannan, um senhor já de idade, cheio das artimanhas que era seu amigo de longa data e de seu pai que também era juiz.
Um devia favor ao outro, mas naquele momento o juiz lhe devia diversos e Enrique os cobrou em nome de sua amizade, para dar a assinatura do desquite sem que as testemunhas fossem ouvidas.
— Quem vai testemunhar?
— Chloe e algumas pessoas da família.
— A prostituta? Oh meu Deus, que rumos isso vai levar? Enrique, eu vou fazer o que me pede, mas assim ficamos quites, mesmo porque, sei que isso tudo é mentira e não quero trazer aquela dona do Saloon para minha corte. Mas que ideia absurda, como se a palavra dela valesse alguma coisa.
— Como sabe que tudo é uma mentira?
— Meu filho, sou gato escaldado, vejo que eles estão mentindo somente pelos olhares que se dão cada vez que têm que responder uma pergunta.
— Eu sei, mas acho que já foi falado demais. Estão pagando um preço muito alto por terem deixado de se amar, não acha?
— O problema destas mulheres é pensar que casamento tem a ver com amor.
— Eu não gosto de casamentos arranjados.
— O deles não foi arranjado.
— Mas não deu certo.
— Enrique, eu vou fazer isso por você, sei que não deve estar sendo fácil você ficar aí falando de casamento, de fidelidade, de amor, sendo que sua esposa está ali sentada com o verdadeiro marido.
Enrique engoliu a seco.
— Não está, George, estou aqui desmanchando o casamento da minha cunhada, sendo que estou morto por dentro de ver minha esposa desmanchar o meu.
— Enrique, eu sinto muito. Vá para Madri o quanto antes. Infelizmente sua situação é irremediável, conseguirá a anulação do seu casamento equivocado rapidamente, já que o marido voltou.
— Irei amanhã bem cedo, quero acabar com isso de uma vez.
— Se precisar de mim, estarei aqui, se eu conseguir viver muito tempo ainda. Eu acho que vou me aposentar, estas cortes estão acabando comigo. — Enrique lhe deu um leve sorriso. — Tudo bem, vamos voltar daqui quinze minutos e vou colocar fim nisso, pegue uma bebida, por favor, que eu estou engasgado — disse recostando-se na cadeira.
Enrique colocou uísque no copo e deu a ele, preparou um para si e tomou um gole também, estava sufocando.
— Obrigado, George.
— Veja se me arruma uma espanhola e me dá logo um afilhado, senão vou partir desta para melhor e seu pai também, desse jeito, ele nunca terá um neto.
— Vou ver isso, não se preocupe — disse rindo, mas com uma dor no peito, esperava tanto o filho de Jayne e agora não teria mais.
— Quando estiver em Madri, dê uma olhada na minha filha, aquela lá também é uma desmiolada, se ela estiver me aprontando por lá, me avise que a trago de volta. Nem sei onde eu estava com a cabeça de tê-la deixado morando lá sozinha.
— Há muito tempo não vejo Catherine.
— Ah sim, faz anos. Tenho que arrumar um marido para ela, mulher solta por aí é um perigo, ainda mais rebelde e metida a liberal. Ela se recusou a casar com o pretendente que encontrei e se enfiou na casa de uma irmã solteirona de minha mulher.
— As mulheres querem ter voz, George.
— Mulher tendo voz? Enrique, não me faça rir. Mulher com voz é o mesmo que uma pistola emperrada, sinal de problemas. O lugar delas é bordando, cuidando do marido e cuidando de uma penca de filhos, senão acabam se metendo em confusões como essa sua cunhada.
— Você não evoluiu em nada — disse rindo.
— Em questão de mulheres, prefiro não evoluir. Vamos acabar logo com isso que estou com fome. Essa mulher merecia uns tabefes por se expor desta maneira. Não existem mais filhas e esposas recatadas e submissas neste mundo? — disse o velho bebendo o último gole de uísque do copo.
Enrique lhe deu um abraço e saiu da sala, voltaram a seus lugares e alguns minutos depois o juiz entrou e sentou-se. Seriamente falou a todos que esperavam o restante da sessão.
— Por força maior e sem precedentes eu não autorizo que as testemunhas sejam ouvidas e dou este caso por encerrado fornecendo o desquite ao casal Vaiz, sem direito a nenhuma restituição de dote financeiro a Sra. Julia por parte do Sr. Mitchel Vaiz, caso tenham promovido no contrato de casamento. Caso encerrado.
Ele bateu o martelo e foi uma confusão dos diabos dentro da sala pelos ouvintes. O juiz se retirou rapidamente para não ouvir as reclamações, Mitchel e Julia não entenderam nada, se olharam e Julia abraçou Enrique.
— Obrigada.
— Vá para casa e esqueça isso tudo.
— Parabéns, Enrique. Você e suas artimanhas — o promotor disse vindo cumprimentar e dar a mão a ele.
— Obrigado. E você sempre querendo espetar alguém.
Riram e Enrique colocou seus papéis na sua maleta.
Os rapazes se abraçaram aliviados que aquele pesadelo havia acabado, estavam sufocados. Jayne aliviada abraçou Ian.
— Foi isso que você foi falar com ele? — Ian perguntou.
Ela assentiu que sim. Ele a abraçou novamente, Enrique os olhava com uma dor estampada em seus olhos. Ian o olhou, mas virou-se evitando um confronto de olhares ou algo que pudesse passar por suas cabeças.
Jayne disse a ele sem soltar a voz de sua boca, mas que ele pode ler em seus lábios, que ela lhe agradecia com um olhar terno. Foram abraçar Julia e Mitchel, tentando reconfortar os dois, e o povo foi saindo num falatório só, causando uma grande balbúrdia sonora no recinto.
Julia olhou para Mitchel com uma dor que nem sabia seu tamanho, queria falar com ele, mas ele a olhou seriamente e virou as costas, saindo da sala. Ela correu para os braços dos pais que estavam quase morrendo vendo aquela exposição horrenda de sua filha.
— Calma filha, acabou, vamos para casa — Sra. Cullen disse chorando e a abraçando.
— Meu Deus, em que mundo estamos? Vamos embora, Julia, se você me aprontar mais uma destas, eu a deserdo.
— Desculpe pai.
— Santo Cristo, vamos sair daqui, vamos para casa.
Capítulo 33
Alguns dias se passaram e Julia ficou enclausurada em casa, tentando se recuperar daquele dia fatídico. Não foi mais à cidade que não tinha outro assunto a comentar que não fosse seu desquite com Mitchel, a volta de Ian, a renúncia de Enrique como xerife, de ele ter sido largado por Jayne e sua fuga da cidade.
Diversas notas saíram no jornal The West e os murmúrios estavam por todos os cantos. Apesar das fofocas, todos estavam tentando centrar-se e colocar suas vidas nos eixos novamente, ver novas perspectivas, recomeçar.
Na fazenda dos Buller tudo parecia tranquilo. Ian sentiu-se aliviado sabendo do embarque de Enrique e Jayne estava tranquila nos braços dele. Parecia que a vida dos dois estava se encaminhando novamente.
Mitchel não foi mais ver Chloe, queria ficar sozinho por um tempo, queria saber o que fazer de sua vida, apesar de ele já estar sozinho em casa antes do desquite, estava se sentindo realmente só. Chloe esperou que ele fosse vê-la, mas ele não foi.
Ela não havia escutado o que se passou nos depoimentos, mas soube pelos outros, obviamente ele ter declarado que estava apaixonado por ela, era um dos focos dos comentários mais escabrosos.
O que lhe doía era saber que tudo que ele dissera era mentira, e isso se confirmou pela sua ausência. Mitchel ficou atormentado por todo aquele circo, enfiou-se na fazenda e passou embriagado por muitas noites.
Chegado o dia de Julia embarcar para Londres, todos foram à estação despedir-se dela. Ela estava animada, acreditando que seria feliz lá, que encontraria seu caminho.
— Julia, este é o endereço de algumas amigas que tenho lá, já escrevi para elas dizendo que você está indo, há muito não as vejo, mas são pessoas maravilhosas e com certeza a receberão bem, poderá ir visitá-las e fazer amizades, tenho certeza que vai gostar de Londres e essa nossa prima que vai te hospedar é realmente agradável.
— Obrigada, Jayne, tenho certeza que tudo vai dar certo.
— Vai sim, querida, sentirei muito sua falta, me escreva sempre.
— Eu também sentirei muito sua falta, vou escrever. — As duas se abraçaram e ela olhou para Emily. — Quer parar de chorar, por favor, Emily.
— Ah, mas é que vou morrer de saudades.
— Eu sei, eu também sua maluquinha destrambelhada. — As três irmãs abraçaram-se.
Julia beijou todas as crianças e Sra. Cullen que não parava de chorar. Julia avistou Mitchel parado, olhando-a de longe e foi de encontro a ele.
— Olá, Julia.
— Olá, Mitchel. Fico feliz que tenha vindo. Como você está?
— Estou bem, não se preocupe comigo... Eu só queria me despedir.
— Não está com raiva de mim?
— Confesso que fiquei no começo, achei que você foi cruel comigo, e depois daquele vexame na corte eu quis torcer seu pescoço. Mas agora está tudo bem, eu não costumo remoer as entranhas, faz mal para meus dentes — disse rindo meio sem graça.
— Você é um homem muito especial, Mitch, sinto muito por tudo que eu fiz, sei que não fui boa esposa para você, mas vai ser melhor assim.
— Vou tentar acreditar nisso. Adeus, Julia.
— Adeus.
Julia virou-se e deu alguns passos, mas parou e virou-se para ele.
— Mitch... Diga-me, tudo que você disse na corte foi mentira?
— Foi.
— Tem certeza?
— Do que está falando?
— Enrique não pediu que você dissesse que estava apaixonado por Chloe. — Ele ficou meio sem jeito.
— É que na hora eu achei que isso ajudaria.
Julia deu alguns passos e ficou bem perto dele.
— Não acho que isso seja uma mentira.
— Não estou entendendo.
— Você é apaixonado por ela, só ainda não percebeu ou não admite.
— Julia, não seja ridícula...
— Mitch, a cidade toda está falando que você está apaixonado por ela, mas acho que você mesmo não se disse isso. Se eu fosse você, iria lá e dizia isso para ela.
— Ela não é mulher disso, Julia — disse tristemente.
— Não é porque você sempre a viu como uma cocote, Mitch. Olhe-a diferente, tire-a daquela vida, faça ela sua mulher.
— Não posso me casar de novo, esqueceu?
— Mas vocês podem viver juntos. Pense nisso, pare de mentir para si mesmo. Se você não se importa com que os outros dizem, não vai se importar com isso também. Meu querido, você gosta dela, então a tire daquela vida. Eu acho que é ela quem você sempre quis.
— Você é completamente maluca, mas eu espero que encontre um homem que a faça feliz.
— Vou encontrar. Adeus Mitchel.
Julia se afastou, embarcou no trem e todos ficaram acenando para ela que estava na janela enquanto o trem se afastava.
Mitchel respirou fundo, acenou para os amigos e começou a andar lentamente pela rua, parou na frente do Saloon, pensou se entraria ou não. Respirou fundo para tomar coragem e entrou, ele perguntou por Chloe e disseram que ela estava em seu quarto.
Ele subiu as escadas e bateu na porta. Ela veio abrir e se admirou quando o viu.
— Mitchel...
— Olá, Chloe.
Ela lhe deu as costas e não o agradou como sempre fazia, o que o fez estranhar.
— Você está zangada comigo?
— Eu? Por que estaria? — disse irônica.
— Desculpe-me, depois do julgamento não a procurei, nem a agradeci por ter ido lá e tentar nos ajudar.
— Mitch, não precisa dizer nada, você me pediu que eu fosse e eu fui, graças a Deus não precisei testemunhar, estava odiando aquilo, só ia fazer porque você me pediu.
— Obrigado mesmo assim. O que está fazendo?
— Arrumando minhas malas.
— Para onde vai?
— Vou para Paris.
— Paris? Vai embora?
— Não. Somente vou viajar, vou realizar um sonho, eu estou guardando dinheiro para isso há anos, vou conhecer o Moulin Rouge.
— O que é isso?
— Moulin Rouge é o maior cabaré do mundo, é incrível, as dançarinas de cancan são as melhores, dizem que é maravilhoso e eu vou — disse sem conseguir esconder sua ansiedade.
— Nem ia me avisar?
— Por que teria que avisar?
— Desculpe, sei que não.
— O que veio fazer aqui?
— Eu queria falar com você.
— Falar? Não somos de falar, você vem aqui para outra coisa.
— Chloe, por que está tão agressiva comigo?
— Mitchel, porque eu cansei, só isso. Eu não quero que você venha mais aqui, não vou mais me deitar com você.
— O que está acontecendo com você?
— Nada! — disse brava e jogou algumas roupas na mala, de qualquer jeito.
— Fale comigo — disse a pegando pelo braço.
— Estou falando — disse se soltando.
Ele fechou os olhos por uns minutos e respirou.
— Eu sei por que está brava, foi porque não vim mais lhe ver.
— É? Você não sabe de nada. Não tem a mínima noção de nada. Faça-me um favor, vá embora e me deixe fazer minhas malas, você conhece a saída.
— Você vai me dizer por que está assim.
Ela parou o que estava fazendo, respirou fundo e o olhou.
— Vou, já que insiste, eu vou. Acontece que eu fui apaixonada por você desde o primeiro dia que entrou pela minha porta, e olha que isso faz muitos anos e nunca na minha vida me apaixonei por mais ninguém, apesar de ter dormido com quase todos os homens desta maldita cidade.
— Julia...
— Você vinha aqui, dormia comigo, me pagava e ia embora. Assim foi até você se casar e esquecer-se de mim, depois voltou a me procurar porque sua mulher o largou. Eu abri o meu Saloon, eu deixei de te cobrar, mas você continua um cliente, porque vem aqui quando quer, e nem teve a sutileza de me procurar depois que você conseguiu aquele maldito desquite.
Ele foi falar, mas ela o interrompeu.
— E ainda por cima, a burra aqui, teve que aguentar as pedradas destas malditas mulheres carolas, frias, que se faz de santas, e que me maldiziam por eu ter destruído o seu casamento e de ser uma vadia. Eu acabei levando a culpa de tudo, Mitch, e eu nem fiz nada. Então meu caro, se era isso que queria saber, estou dizendo. Eu sou perdidamente apaixonada por você, na verdade eu o amo, mas não quero mais saber de você, cansei. Para mim acabou, eu não o aceito mais, nem como cliente, nem que viesse aqui com uma mala cheia de dinheiro.
Ela estava transpassada, não media suas palavras, disse tudo que lhe estava entalado na sua garganta, nem ao menos respirava.
Mitchel ficou boquiaberto ouvindo aquilo tudo com os olhos arregalados, sem entender aquela cena.
— Chloe, o que você bebeu?
— Ai Mitchel, saia daqui! — disse gritando e batendo o pé no chão.
— Tudo que disse é verdade? Você está falando sério?
— Estou! — gritou furiosa. — Vá embora daqui, já disse.
Ele lembrou-se das palavras de Julia e sem dizer nem uma palavra foi até ela, a agarrou e a beijou, prendendo-a de uma maneira que ela não conseguiu se soltar; a beijou com uma paixão alucinada e os dois caíram sobre a cama, quando ele soltou dos lábios dela, ela suspirou tristemente.
— Nunca mais faça isso, vá embora.
— Não posso ir, Chloe.
— Por favor, pare com isso, me deixe em paz. Eu não quero mais que encoste em mim, saia daqui.
— Chloe, eu amo você e não quero ir a lugar nenhum.
— O quê? — disse arregalando os olhos.
— Isso mesmo que você ouviu, eu quero ficar com você, quero que largue essa vida e seja minha mulher, não posso me casar, mas podemos viver juntos.
Ela o empurrou com força e levantou-se na cama num salto, tirando os cabelos que lhe cobriam o rosto, toda descompassada.
— Mitchel Vaiz, eu não admito que você brinque comigo desse jeito. Pensa que eu sou idiota? Eu sou uma cocote e isso não acontece conosco.
— O que não acontece? Que um homem se apaixone por você? Que não possamos ficar juntos e sermos uma família? É isso? Ou é por que você não consegue se livrar dos outros homens?
— Mitchel, eu iria até o fim do mundo para ficar com você, sempre sonhei que um dia você entraria por aquela porta e me diria isso tudo, mas... — ela respirou atônita. — Eu estou nessa vida porque não tive opção — disse triste. — Acha que eu não gostaria de ser uma senhorita, educada, respeitada para ter uma família decente? — disse com a voz embargada e com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu sei. Estou te dando uma opção agora.
— Você está falando a verdade?
— Estou. Nunca estive tão certo na minha vida, eu acho que sempre amei você, mas nunca me dei conta, isso nunca me passou pela cabeça porque você sempre foi uma... Ham...
— Meretriz... Nem consegue dizer.
— Tudo bem, olha... Se você quiser, serei seu marido, ou sei lá como tenho que me chamar, pois eu não posso mais me casar. Mas quero ser só seu, e quero que você seja só minha, a partir de hoje.
— Jura? — disse atordoada e fazendo beicinho.
— Juro.
— Você nunca vai ter vergonha de mim?
— Como poderia? Você me conhece, eu lá tenho vergonha de alguma coisa? Eu não ligo para a sociedade e suas regras, Chloe, eu faço minhas regras.
— Você me aceita assim do jeito que eu sou? Uma cocote? Dona de um Saloon? Por que... eu... eu evolui.
Chloe deixou que suas lágrimas lhe corressem pela face.
— Aceito. Eu quero você do jeitinho que você é, assim louca, sexy, pavio curto... — ele foi se aproximando dela lentamente com seu sorriso maravilhoso e falando mansamente. — Mandona, pervertida, desbocada e dona de um Saloon. Você é minha deusa, esqueceu?
— Eu teria que morar na sua fazenda?
— Sim.
— Lavar, passar e cozinhar?
— Eu tenho uma criada, Chloe, não precisa fazer isso.
— Hum, que bom, porque eu não sei cozinhar.
— Eu imaginei isso.
— Não vai me fazer ficar bordando e vestindo aquelas roupas fechadas até o pescoço, vai?
— Não, não vou. — Ele mansamente passou uma mão pela sua nuca e a outra a puxou pela cintura.
— Tenho que abandonar meu Saloon?
— Não... Mas não ficará mais morando aqui. A única coisa que vou pedir é que somente eu seja seu homem.
— Gostei disso...
Ele a beijou e Chloe esmoreceu em seus braços pensando que estava sonhando. A pegou no colo, levou-a para a cama e fizeram amor. As sensações que tiveram eram as mais adversas e estranhas possíveis, eram um do outro como jamais se permitiram ser; era diferente desta vez, se entregaram como apaixonados, parceiros, amantes, como um casal.
Parecia ser muito errado, mas para Mitchel, nunca algo pareceu tão certo. E ele não se importava realmente com o que era certo e errado.
— Você mente muito bem, quase me convenceu — Chloe disse calmamente, o acariciando no peito.
— Sei que acha que eu menti, mas não. Coloque isso na sua cabecinha.
— Estava mesmo falando sério?
— Sim. Tudo que eu disse é sério. Ainda vai para Paris?
— Vou — disse o beijando. — Mas você pode vir comigo.
— Eu? Em Paris? Nem sei onde fica.
— Sim, você amaria aquilo, toda aquela vida boêmia como dizem que é. Eu não consegui ler o folhetim porque eu não sei ler muito, mas leram para mim e eu fiquei encantada com as fotografias. Por favor, diga que irá. Vamos nos divertir muito.
— Onde fica isso?
— Fica do outro lado do oceano.
Ele pensou um pouco e lhe deu um sorriso mais feliz do mundo.
— Eu vou, agora também quero conhecer este lugar que você fala tanto. Seremos um casal comportado no estrangeiro.
— Aceito ser sua mulher, Mitch, mas nada de esposa recatada, porque isso eu não sei ser. Não vou conseguir ser diferente do que eu sou, sempre fui assim.
— Acho ótimo.
Ela fez uma cara de safada, os dois riram e se beijaram rolando pela cama e brincando. Eles se entendiam e eram perfeitos juntos.
**
Logo cedo, no dia que fariam a grande festa, Ian estava tentando domar um cavalo, que andava em círculos dentro do cercado seguindo os leves movimentos de Ian.
Ian usava os suspensórios, mas sem camisa, seus cabelos estavam desalinhados, lhe caindo pelo rosto, que ele estava deixando crescer novamente.
Jayne, escorada na cerca o olhava; via-o movimentando-se devagar, quase parando, olhava para ele como se ele fosse um deus mitológico que estava encantando um unicórnio.
Amava cada traço daquele homem, cada movimento que ele fazia, cada músculo que ele movia. Amava seu sorriso, aqueles olhos com a expressão que ela nunca encontraria em lugar nenhum no mundo.
Ele a olhou e sorriu, tão encantadoramente que Jayne ruborizou e perdeu a respiração.
Ele esqueceu o cavalo, percebendo a maneira que ela o olhava. Conhecia-a mais do que ninguém. Ele veio em sua direção sem parar de fitá-la, movimentando-se deliciosamente. Quando ele chegou perto, se aproximou tanto que seus lábios que quase se tocaram, passou a língua em seus próprios lábios que estavam secos, fazendo-a olhar intensamente para eles, desejando beijá-los.
— O que você tem? Está aí me olhando estranhamente — Ian perguntou.
— Estou hipnotizada.
Ele sorriu e lentamente colocou sua mão em seu pescoço e seus dedos lhe acariciaram sua nuca, isso a deixava rendida e ele sabia disso. Com os olhos fechados e sussurrando, lhe perguntou enquanto roçava seus lábios no canto de sua boca.
— O que você quer?
— Quero você.
Ele a enlaçou, puxando-a contra seu corpo e a beijou. Quando afastou seus lábios desejo estava ali, presente como um furacão.
— Temos uma festa para preparar, senhor meu marido.
— Foi você que começou.
— Confesso, esquece a festa.
Ele sorriu e a beijou novamente e assim foram para o quarto.
**
Começaram os preparativos para a festa na sua fazenda. Anna seguia as orientações de Jayne para o que fariam para comer e providenciando as bebidas, Ian se encarregou das carnes.
Ian, com a ajuda dos rapazes, construiu uma imensa mesa de madeira para colocar no jardim, colocou tochas espalhadas para serem acesas à noite. Os dois queriam que fosse uma festa magnífica, uma celebração.
Ian encontrou Jayne na cozinha com Anna. Ele pegou um copo de água e ficou escorado na mesa, olhando-a por alguns momentos.
— Pode falar — Jayne disse.
— Falar o quê? — ele perguntou.
— Você quer me falar algo desde ontem, conheço seu jeito. — Ela o beijou sorrindo. — Fale logo, pois estou curiosa, tem algo errado?
— Mitchel veio falar comigo. Bem, há duas coisas que ele veio me pedir.
— Certo, vamos por partes, qual é a primeira?
— Ele pediu que eu comprasse todos os seus cavalos.
— Por quê? Ele está com problema de dinheiro? — perguntou espantada.
— Está e não está. Ele quer dinheiro porque vai para Paris, então ou ele faz um empréstimo ou vende seus cavalos, como ele não terá tempo de procurar um comprador, pediu que eu os comprasse.
— Mitchel em Paris? Isso é novidade! — disse espantada.
— Sim... Eu também me espantei.
— Hum, e isso está me parecendo coisas de mulher. Eu posso saber com quem ele vai?
— Como sabe que tem mulher no meio?
— Porque se ele fosse viajar sozinho, teria escolhido outro lugar e não Paris que fica em outro continente. Quer dizer, talvez um lugar mais exótico como as índias ou algo assim. Vamos, me diga logo, estou curiosa, quem é ela?
Ian coçou o queixo, fazendo uma careta.
— Ele vai com a sua deusa de mármore.
Jayne abriu a boca de espanto e arregalou os olhos.
— O quê?
— Sim, ela vai e o convidou.
— Eles estão juntos, assim juntos, juntos?
— Sim, ele está apaixonado por ela e eles vão viver juntos.
— Ian, mas isso é um escândalo! Então quer dizer que ele falou a verdade na corte?
— Não. Na ocasião ele falou da boca para fora, mas depois percebeu que era verdade. Ele sempre gostou dela, mas por ela ser uma mulher da vida, nunca a viu como uma pessoa para se levar a sério, mas depois do que ele passou com Julia, acho que resolveu viver o que sentia.
— Mas...
— Ele tentou ser correto com Julia, e olha o que ele ganhou?
Jayne piscou espantada e se sentiu envergonhada.
— Julia só acabou algo que já havia acabado, Ian.
— Eu sei, apesar de não concordar, mas não é o que vamos discutir aqui.
— Está bem, o que devemos discutir exatamente?
— Você sabe que Mitch não é muito de seguir regras, apesar de ter ficado nos eixos com Julia.
— Sim, eu sei.
— Ele vai assumir Chloe como sua mulher, aliás, ela já está vivendo com ele em sua casa.
— Meu Deus, eu estou espantada!
— Ele está feliz, Jayne. E ela é uma ótima pessoa, apesar de ser aquilo... Hum, você sabe.
— Ian, eu não duvido que ela seja uma boa pessoa, só que, não sei, acho que fiquei chocada, é que... Ela não é moça para casar.
— Jayne, ele não pode se casar, está desquitado. Mitchel está fadado a ficar sozinho se não abrir mão de convenções. Seria difícil conseguir uma moça de família que se amasie com ele.
— Ian, nós ficamos juntos sem nos casar.
— Eu sei, somente estou dizendo que talvez ele não encontre uma moça assim maluquinha que nem você que aceite isso, e além do mais, ele a ama.
— Jesus!
— E tem mais, agora vem a segunda parte.
— Ai, deixe-me sentar.
— Ele me pediu se ela pode vir à festa hoje.
— Minha nossa! Dê-me uma água — ela disse pegando o copo de água que Ian tinha na mão e bebeu toda de uma vez.
— Jayne, se ela vai ficar com ele, vai ter que frequentar nossa casa. Eu gosto dela, ela me ajudou quando cheguei à cidade e não me importo de ela ser o que é. Mesmo porque, ela não terá mais clientes, será mulher dele.
— Mas a reputação dela continuará a mesma.
— Você não quer que ela venha?
— Não sei. Ian, nossos filhos estarão aqui.
— Eu sei. Mas ela nada vai fazer contra eles, Jayne. E eu resolvi comprar os cavalos dele, depois eu vendo. Também pensei em emprestar o dinheiro, mas ele preferiu que eu comprasse.
Jayne ficou aturdida olhando para ele.
— Tudo bem, se é o que quer. Mas é muito dinheiro, Ian, creio que não temos o suficiente, pelo menos por agora.
— Eu tenho o dinheiro.
— Tem? Como? — Ele a puxou pela mão fazendo-a levantar-se.
— Jayne... Eu tenho, não se preocupe com isso.
— Tudo bem, se está dizendo. Mas...
— Então, vai aceitar Chloe? — perguntou, interrompendo sua pergunta.
— Ham... Ele está feliz com ela?
— Está.
— Então eu vou aceitá-la, ela pode vir. Uma confusão a mais ou uma a menos... E nossa reputação está um tanto abalada, um pouco mais não fará diferença — Ian riu. — Se ela é uma boa pessoa, como você diz, merece uma chance, não é?
— É mesmo. Obrigado, meu amor.
— Acabaram as novidades assombrosas, ou tem mais alguma? Se tiver deixe para amanhã, hoje chega, por favor.
— Tenho mais uma, mas não posso deixá-la para amanhã.
— Ai querido, o que é?
— Seu marido é irremediavelmente apaixonado por você.
— Oh! E isso é uma novidade? — disse rindo.
— Não, mas eu tinha que falar mesmo assim.
— Hum, gostei desta notícia.
Ela o beijou suavemente e ele foi até a porta da cozinha, virou-se andando um pouco de costas e sorrindo.
— Jayne... — ela se virou o olhando. — Eu te amo.
— Eu também.
Ele lhe mandou um beijo com a mão e foi para fora. Jayne soltou um imenso suspiro com um sorriso.
— Adoro vê-los felizes. Nunca vi um casal tão apaixonado, se dão tão bem — disse Anna.
— Verdade. Eu amo este homem! — Ela beijou Anna no rosto fazendo-a rir e soltou um imenso suspiro.
— Uma cocote, hã? — Anna perguntou sacudindo a cabeça, enquanto picava os legumes.
— Quem disse que o amor não é uma loucura, não, Anna? E quem sou eu para renegar meus amigos por eles se apaixonarem e fazerem suas loucuras, se eu mesma faço as minhas?
Capítulo 34
Ao entardecer a festa começou, o clima estava agradável e todos estavam felizes. Josh já corria para cima e para baixo brincando com Ethan. Ian divertia-se com Willian e David bebendo e rindo.
Mitchel chegou com Chloe e todos a cumprimentaram educadamente e ninguém a tratou com desdém ou com más maneiras. Salvo o casal Cullen, pois eles não os cumprimentaram e se mantiveram afastados, mas, pelo menos, não foram grosseiros com palavras.
Aquilo não foi espanto, por serem os pais de Julia e Chloe, estava acostumada com isso, principalmente vindo de senhores já de idade, que eram mais ligados às tradições e regras de conduta, não que ela não soubesse quão liberais suas filhas eram.
A noite foi agradabilíssima, todos comeram, beberam e riram. Os músicos tocavam músicas dançantes fazendo todos se animar ainda mais.
— Ah que maravilha, vamos dançar! — Willian disse puxando Emily para dançar com ele.
— Will, volte aqui — Mitchel gritou.
— O que foi?
— Como assim, o que foi? Nós temos que fazer nosso brinde de praxe. — Todos riram.
— Ah! Estava demorando.
— Eu quero fazer um brinde à volta de Ian para nossa família, e a felicidade de todos... E sem tiros, pelo amor de Deus! — Mitchel disse e todos brindaram e beberam rindo.
Todos eles foram dançar, inclusive as crianças. Jayne tentava fazer Ian dançar, mas ele era desajeitado e ria de si mesmo. Quando Ian foi dançar com Angel, Jayne pegou Josh no colo, ele ficou agarrado a ela com as pernas ao redor da sua cintura e dançavam; ela o rodava fazendo-o dar gargalhadas. Todos exibiam sorrisos alegres e assim foram noite adentro.
Quando os músicos tocaram uma música lenta cada um ficou com seu par. Todos apaixonados, trocavam-se olhares carinhosos, embalavam-se ao som da música romântica.
Chloe estava se sentindo à vontade. Ela no começo ficou encabulada, achando que não gostariam de sua presença, mas todos conversaram com ela, lhe faziam perguntas ou lhe contavam coisas. O casal Cullen não se dirigiu a ela, pois não concordava com sua presença, mas não a destratou.
— Viu? Eu disse que seria bem recebida aqui.
— Mitch, eu estou tão feliz, seus amigos são maravilhosos! Eu nunca pensei que um dia participaria de uma festa de família, estou emocionada. Eu nunca tive uma família de verdade.
— Agora tem. Todos nós nos tratamos como irmãos, um faz de tudo pelo outro e isso inclui as esposas, estamos juntos em todos os momentos, nos bons e nos ruins e agora você faz parte disso tudo.
— É maravilhoso!
Ele a segurou pela cintura a rodando e fazendo-a rir.
— Pronta para irmos em frente, seguindo com a aventura que é nossas vidas, Sra. Buller? — Ian perguntou abraçando Jayne.
— Ah! Com você ao meu lado eu estou sempre pronta, senhor meu marido. Nosso pesadelo acabou.
— Ainda não, você ainda carrega o sobrenome de Enrique.
— Não vamos tocar neste assunto, Ian. Hoje é um dia para nos alegrarmos e não pensar em problemas ou coisas tristes.
— Tudo bem, desculpe-me — disse carinhosamente olhando para o rosto de Jayne e dançando lentamente.
— Eu adoro todo mundo reunido. Eu ainda nem acredito que você está aqui conosco, como senti saudades suas, meu amor.
— Eu também. Tudo está no lugar que deveria e assim ficará.
— Por mais dificuldade que passemos, eu jamais vou abrir mão de você, isso é uma promessa.
— Eu prometo o mesmo. — Ela sorriu. — Eu te amo.
— Eu também.
Ele acariciava suas costas suavemente enquanto falava e seus olhos brilhavam. Eles se amavam tão intensamente que o coração dos dois parecia que nem cabia mais dentro do peito.
A festa continuou embalada a boa música e risos até que todos foram para suas fazendas, mas a noite não acabou ali, pois ninguém queria dormir. Os casais queriam amar-se, demonstrar o amor que sentiam pelos seus companheiros e assim o fizeram.
Epílogo
Com o passar do tempo as coisas foram se acalmando na vida destes fazendeiros. Todos de alguma maneira seguiam seus caminhos e encontravam seus destinos que eram inegavelmente entrelaçados.
Willian e Emily após atravessarem mares turbulentos, novamente encontraram a tranquilidade da vida familiar com seu filho Ethan. E com a alegria estampada no rosto, Emily anunciou que teria mais um filho, trazendo imensa felicidade àquela casa.
Mitchel e Chloe foram para Paris. Eufóricos e de mãos dadas, atravessaram correndo a imensa praça chegando abaixo da Torre Eiffel, ficando deslumbrados com seu tamanho e beleza. Mas o momento mais esperado foi a realização do sonho de Chloe em conhecer o Moulin Rouge. Os dois ficaram por alguns minutos parados na porta antes de ter coragem de entrar, respiraram fundo e, sorridentes, adentraram vislumbrando o lugar mais boêmio e famoso de Paris.
David transbordava alegria, quando Mary deu à luz a um menino, ele escolheu o nome de Jonathan, nome de seu falecido pai.
Em Madri, Enrique foi fazer uma visita à Catherine, filha de seu amigo juiz. Os dois ficaram um tanto impressionados um com o outro. Aquele seria o início de uma amizade, mas o que nenhum dos dois sabia é que o destino havia reservado algo mais para eles. Ela era linda, uma mulher moderna e cativou o coração de Enrique. Isso o ajudou a levar em frente sua vida, recomeçar.
Quando Enrique tomou a decisão de enterrar seu amor por Jayne, aquele amor que venerou por tantos anos, pegou o antigo retrato deles em Veneza e o rasgou.
Outro encontro abalou dois desconhecidos, aconteceu em frente a uma charmosa livraria em Londres. Julia saiu distraída com alguns livros nas mãos e esbarrou em um belo homem, que envergonhado a ajudou a juntá-los.
Aquela troca de olhares furtivos e encabulados, em breve não seria mais resultado de um desastrado encontro. Casualidades que o destino se encarregou de providenciar.
Jayne e Ian sempre demonstravam um ao outro o imenso amor que sentiam e isso, lhes dava forças para enfrentar tudo e todos.
Esse era o sentimento que habitava seus corações, quando em uma tarde de primavera contemplavam o pôr do sol de cima da colina, em suas terras.
Abraçados, eles admiravam seus filhos correrem felizes com suas brincadeiras e, mais abaixo, avistavam sua imensa e bela fazenda, com alguns cavalos correndo pelo pasto, fazendo com que suas crinas reluzentes balançassem ao vento.
Aquela era a visão de suas vidas e de suas lutas, que valia cada suspiro, cada amanhecer e assim, seguiriam em frente, pois novas aventuras os aguardavam.
Janice Ghisleri
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