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Series & Trilogias Literarias
Ao entardecer, pode-se ouvir um estrondo vindo das montanhas.
Ian, Willian, Mitchel e David desciam as colinas cavalgando velozmente, rodeando uma manada. Os cavalos estavam agitados e assustados, mas seguiam o líder, que corria à frente, sendo encurralado por Ian e Mitchel, que o direcionava.
Ao pé da colina, atravessaram um riacho raso, fazendo a água saltar pelas centenas de patas que a golpeavam. Eram magníficos, velozes, corajosos e de um porte majestoso.
Eles eram todos mesclados, com uma pelagem exótica, alazã tostada em duas cores e pintas, avelã com branco, marrom escuro com marrom claro, preto com branco, alguns com uma manta branca nos quartos e cabeça e com cascos rajados, com ganachas imponentes e musculosas. Uma divindade.
Por mais que a tarefa fosse difícil, os rapazes mantinham um belo sorriso no rosto enquanto gritavam e cavalgavam.
Jayne estava dentro do estábulo na sua fazenda, e ouvindo o estrondo, saiu correndo para ver o que estava acontecendo. Avistando a manada e os rapazes, deixou-se ficar de boca aberta, vendo que eles vinham pela porteira, adentrando a imensa fazenda.
— Abram o cercado! — Ian gritou.
— Crianças, para dentro da baia! — Jayne gritou.
— Mas mamãe! — Angel protestou.
— Faça o que eu disse, Angel, e fique com seu irmão.
As crianças entraram pelo lado de dentro do cercado do estábulo e subiram nele para poder ver o que estava acontecendo, assim se qualquer cavalo perdesse o rumo, eles estariam protegidos.
Jayne correu, abriu a porteira de um dos imensos cercados circulares e subiu nele.
Avistando obstáculos, os cavalos, diminuíram o galope e os peões vieram correndo, abanando o chapéu e os braços para que os cavalos entrassem no cercado.
Após o tumulto, o último entrou e Jayne fechou a porteira. Olhou abismada para os cavalos e depois para Ian, que com um sorriso deslumbrante descia do cavalo.
Ele estava lindo, porte de um caubói raro nas montanhas do Texas, ombros largos e torso torneado, cabelo longo até os ombros, olhos verdes amendoados, repuxados, como se fossem olhos de um gato.
Usava uma camisa branca puída, um colete marrom com um lenço xadrez no pescoço, botas empoeiradas e esporas, seu inseparável chapéu Stetson e cinturão de couro com uma pistola de cada lado.
Jayne olhou aquele homem como se fosse a primeira vez que o via. Nem entendia por que, mas parou de respirar, enquanto ele se aproximava. Efeito estonteante que sempre a deixava com as pernas bambas, mesmo depois de tantos anos.
Ela achava que era um efeito permanente, desde que o viu pela primeira vez, efeito que adorava. Ian sentia o mesmo, olhava sua mulher como se a fosse devorar, como um instinto de animal macho rodeando sua fêmea, sua amada.
Capítulo 1
— Ian, o que é isso? — Jayne perguntou, com um lindo e imenso sorriso.
Antes de dizer qualquer coisa, ele abraçou-a e a rodou, levantando-a do chão, depois lhe deu um beijo arrasador, a segurando com uma mão ao redor de sua cintura e a outra na sua nuca, nem se importando com quem olhava e ria discretamente. Todos em West Side sabiam que aquele casal era assim, se não, deveria ser no mínimo cego ou tolo.
Os empregados já estavam acostumados com as demonstrações de afeto em público dos patrões e além de admirarem, também invejavam.
A Sra. Buller era considerada a mulher mais bela e irresistivelmente sedutora de todo o Texas e uma mulher que tinha nas mãos rédeas firmes e atordoantes. Colocava um homem de joelhos somente com um olhar, e quando sacava uma arma, seu alvo era certo.
Seus empregados a respeitavam, e seu marido a amava com loucura.
— Os encontramos nas montanhas — Ian disse eufórico, quando soltou de seus lábios.
— Mas são cavalos Appaloosas!
— Eu sei, por isso que os trouxe.
— Não havia ninguém com eles?
— Não. Eu acho que devem ter se perdido de alguma manada, não são cavalos extremamente selvagens.
— Ian, você é impossível, e se eles tiverem dono? Nunca ouvi falar que havia Appaloosas no Texas.
— Jayne, minha querida, se tiverem dono, nós os devolveremos se não, é de Ian — Mitchel disse, com um sorriso.
Deu um olhar arrasador para ela, típico olhar de Mitchel, sedutor e zombeteiro, demonstrando sua descendência espanhola por parte de seu pai. Ele estava sempre assim, rindo e brincando. Para ele, a alegria estava em seu sangue. E por mal que lhe levasse a vida, evitava estar triste ou zangado.
Mitchel tomou um gole de água do cantil e o passou à Willian que passava a mão pelos seus cabelos negros, ajeitando seu chapéu de volta à cabeça e a olhava com seus olhos verdes e com um deslumbrante sorriso no rosto.
— Os pobres cavalos estavam adentrando nas minhas terras, não íamos ser tolos de deixá-los abandonados ou para que outros os pegassem, não é? — disse Ian, divertido.
— Hum, está bem — disse Jayne. — Se ninguém aparecer para reclamá-los, nós vamos vendê-los, estes Appaloosas darão um bom dinheiro. Como vieram parar aqui?
— Não sei, mas aqui estão seguros. E se eu vendê-los, será para alguém digno de tê-los.
— Papai, eu posso ficar com um? — Josh gritou, correndo de encontro a eles, Ian o segurou e o ergueu, abraçando-o.
— Ah, eu também quero um! — Angel disse.
— Não, não, vocês já têm seus cavalos.
— Ian, meu amor, eu quero ver você convencê-los a não ficar com um destes, está com problemas — Jayne disse rindo.
— Ah, que novidade. Mas primeiro vamos esperar para ver se aparece alguém, senão irei vendê-los todos.
— Ah papai...
— Nada de choro. Venham rapazes, vamos tomar algo, eu estou morrendo de sede.
As crianças subiram no cercado para olhar os cavalos, que ainda estavam agitados.
— James, dê comida e água a eles, devem estar com sede.
— Sim, senhor.
Sem que Jayne tivesse tempo de reagir, Ian se abaixou e enlaçou suas pernas com o braço, colocou o ombro em sua barriga e a suspendeu, fazendo-a gritar e, rindo, começou a andar.
— Ian, ponha-me no chão! — gritou e todo mundo riu deles.
— Fique quieta! — disse lhe dando um tapa nas nádegas e rindo. — Estou fazendo um favor de carregá-la.
— Não sou um saco de batatas! — disse rindo.
Ele riu, mas não a soltou, subiu as escadas da varanda e só então a colocou no chão. Jayne tentou arrumar os cabelos no lugar e deu um tapa no braço dele.
— Meu Deus, cada dia mais impossível! — disse olhando para ele que estava parado na sua frente, olhando-a ofegante, com as mãos na cintura e com um sorriso maravilhoso no rosto. Ela não poderia tê-lo achado mais lindo e atraente.
— Vai brigar comigo? — disse com uma carinha de dengoso.
— Não... — disse, dando um suspiro cansado. — Mas, depois eu me vingarei de você.
— Ah, então vou pegá-la de novo — disse fazendo de conta que iria agarrá-la novamente. Ela gritou e saiu correndo até a porta de casa e parou dando uma olhada para trás.
— Vou pegar um refresco para vocês, mas de você eu cuido mais tarde. — Ela riu e entrou.
— Ian, eu não sei se é a convivência com seus filhos ou a Jayne que o deixa assim — Mitchel disse rindo e todos riram.
— Os dois, meu amigo, os dois! Eu sou feliz, só isso. Depois daquele pesadelo que nós passamos eu quero conviver bem com minha família e viver intensamente todos os momentos bons, assim haverá sempre harmonia na minha casa, com muita alegria.
— Acho que você está certo. Eu estou fazendo isso com Emily e Ethan e digo-lhe que faz muito bem, assim os cabelos brancos demoram mais a aparecer — disse Willian.
— Está certo. Eu espero que ninguém apareça para reclamar os cavalos — David disse.
— Eu também não. Mas é difícil alguém tê-los deixado.
— Eles podem ter fugido de alguma manada, os peões podem ter sido mortos por ladrões de cavalos e estes escaparam, sei lá, vamos esperar.
Jayne voltou com Anna, que carregava uma bandeja com copos de refresco. Jayne serviu Ian, que a olhou carinhosamente e bebeu o suco.
— Ian, você não pode deixar os cavalos naquele cercado.
— Só por um tempo, Jayne. Eu arrumo um comprador rápido.
— Bem, vou embora — Willian disse. — Ainda tenho coisas para ver na fazenda, vamos David.
— Vamos.
Os dois soltaram os copos na mesinha e iam descendo as escadas.
— Hum... Por um acaso... Estes dois comilões não gostariam de um pedaço de bolo de chocolate? — disse Jayne.
David e Willian pararam como duas estátuas na escada, os dois juntos viraram-se, sentindo a boca salivar e olharam para Jayne.
— Você disse chocolate? — David perguntou, com os olhos arregalados.
— Disse... — Jayne sorriu, maliciosamente.
— É, bem... Eu acho que não estamos com tanta pressa assim — Willian disse meio gaguejando.
— Eu também acho e seria somente um pedacinho — David reforçou.
— Sim, bem pequeno — Willian falou, já de volta à varanda.
— Seus gulosos! — Mitchel disse, dando com o chapéu no braço de Willian.
Jayne riu e Anna entrou na varanda com uma bandeja, levando o bolo, os rapazes olharam para ele como se fosse um cofre cheio de dinheiro.
— Meu Deus! Eu não sei como estes dois não engordam — Ian disse rindo.
— Como se você não se deliciasse com os doces... — Jayne disse olhando para ele.
— Ai, minha Ave Maria dos vaqueiros, que delícia! — Mitchel disse com a boca cheia e fechando os olhos, para saborear aquela delícia.
Todos riram alegres e degustaram o bolo.
— Meu Deus, Jayne, onde consegue este chocolate para fazer estes doces que você faz?
— Mando buscar pelo mercador que abastece o armazém da cidade, David, aqui é difícil de encontrar à venda.
— Vou mandar buscar para Mary fazer destes bolos para mim.
— Precisa vender uma vaca para comprar esta guloseima, seu guloso — Mitchel disse.
— Isso é certo. Agora vamos, David, larga o prato — Willian disse.
— Eu também vou. Até mais ver e obrigado pelo bolo, como sempre na sua casa há sempre delícias para matar as vontades — Mitchel disse rindo.
— Até mais — disseram Ian e Jayne.
— Bem... Agora o senhor vai se ver comigo — ela disse a Ian.
— Ah meu amor, o que vai fazer, me bater?
— Não, mas eu vou tomar banho e você está de castigo, nada de banho comigo.
— Ah não!
— Como eu disse... Castigo.
— Vai me deixar sem beijo também? — disse fazendo beicinho tristemente e a abraçando.
— Hum, isso eu não resisto. — Ela lhe deu um beijo suave.
— Deixa-me tomar banho com você? — disse entre um beijo e outro.
— Não.
— Por favor.
— Não.
— A banheira já está pronta?
— Está. Eu pedi que Anna a preparasse. Está prontinha para mim, se você quiser tomar banho, vai tomar lá fora, no chuveiro gelado.
Ian a soltou e fez uma cara séria, de quem concordou, assentindo, com as mãos na cintura.
— Tudo bem, esposa ingrata! Eu vou tomar banho lá, sozinho, congelando naquela água fria.
— Ótimo!
Ela lhe deu as costas, mas estava segurando-se para não rir.
Ian pensou um pouco e a pegou no colo, sem que ela tivesse tempo de reagir, levou-a esperneando e batendo os pés até a sala de banho e, com roupa e tudo, a colocou dentro da banheira.
— Pronto, minha princesa! Pode tomar seu banho agora — disse rindo, com as mãos na cintura.
— Ian, você poderia parar de molhar minhas roupas desse jeito?
Ele se aproximou dos seus lábios, se escorando com as mãos na beirada da banheira e com um lindo sorriso no rosto.
— Não! Agora vou tomar meu banho.
Ele foi se levantar, mas ela o segurou pelo colarinho do casaco.
— Entre aqui imediatamente.
— Você disse que eu estava de castigo.
— Está, mas ele só vale amanhã, agora não.
Com um sorriso o puxou mais, até ela alcançar seus lábios e beijá-lo por alguns minutos. Ian levantou-se, soltou o cinturão de couro e colocou-o no chão e sem tirar os olhos dela retirou as botas.
Vagarosamente tirou o sobretudo de sarja marrom que quase lhe batia nos pés e o resto das roupas, enquanto ela o olhava, o admirando.
— “Oh céus, ele é perfeito!” — ela pensou.
Ele entrou na banheira lentamente e a beijou demoradamente.
— Libera-me do castigo amanhã? — ele disse mansamente no seu ouvido.
— Vou pensar — disse derretendo-se, com o som de sua voz.
— Por favor. — E a beijou novamente, acariciando seu pescoço com as pontas dos dedos, descendo até seus seios.
— Que castigo? Eu não me lembro de nada — sussurrou com os olhos fechados.
Eles se olharam amorosamente, sorrindo um para o outro e perderam-se num beijo.
**
— Will, você poderia ir à casa de Jayne buscar chocolate para mim?
— Emily, eu achei que sua fase de desejos já havia passado.
— Passou, mas depois que você chegou aqui e ficou falando naquele bolo de chocolate, eu fiquei com vontade.
— Posso ir à tarde? Agora tenho trabalho a fazer.
— Não senhor! Vai agora, senão morrerei de vontade, por favor.
— Minha nossa! — Willian soltou uma gargalhada.
— Isso, ria de sua esposa grávida.
— Tudo bem, querida, eu vou. Fui tolo, ontem podia ter trazido um pedaço de bolo para você.
— Sim, marido malvado! Nem se lembrou de mim e de seu filho.
— Coitadinhos dos meus amores — disse a beijando nos lábios e sua barriga. — Já vou, está bem?
— Hum... Está bem, pois eu sei que fará isso com gosto para que eu faça um bolo bem gostoso e para você também comê-lo.
— Com certeza — disse rindo. — Você está bem? Debateu-se muito à noite.
— Estou, mas o neném chutou a noite toda, ele está muito agitado, às vezes mal consigo respirar.
— Calma, querida, só mais um pouquinho, ele já está chegando.
— Ainda bem, não aguento mais esta barriga, parece que ele pesa em demasiado. Não fiquei assim tão grande na outra gravidez.
— Meu amor, do jeito que você está comendo, não me admira, nosso neném vai ser bem gordinho. Será que é outro menino?
— Eu não sei. Você gostaria que fosse?
— Eu não me importo, Emily, só quero que ele venha com saúde e lindo como Ethan e que você tenha um bom parto.
— Eu também, mas Ethan não era tão agitado, nem tão grande.
— Verdade. Falando em Ethan, onde ele está?
— Está lá fora, leve-o junto, ele vai gostar de estar com você.
— Está bem, eu não me demoro.
Willian beijou-a, pegou seu chapéu e saiu, mas logo voltou.
— Esqueceu algo? — Emily perguntou.
— Esqueci. Primeiro de dizer que te amo. Segundo, que vou buscar seu chocolate, mas você vai se deitar e não vai ficar andando para lá e para cá, estamos entendidos? Quando eu voltar eu não quero ver você em pé.
— Está bem, eu vou — disse, contrariada.
— Ótimo. Se eu voltar e você não tiver feito o que eu disse, não lhe dou nenhum pedacinho de chocolate. Eu e Ethan comeremos tudo sozinhos.
Ela riu e ele a beijou e saiu.
**
— Bom dia, Ian.
— Olá, Will.
— Vim trazer Ethan para ficar um pouco com Josh para que possam brincar. Há problema?
— Claro que não. Ele está lá dentro com a mãe.
— Eu vou pedir à Jayne um pouco de chocolate para Emily fazer um bolo, será que ela ainda tem?
— Não sei, acho que sim, ela pede bastante e faz pouco tempo que encomendou. Por quê? Aposto que Emily pediu porque você ficou falando disso — disse rindo, já conhecendo o amigo.
— Sim. Eu não aprendo — disse rindo.
— Vá procurá-la, acredito que Jayne deve estar na cozinha com Anna.
Willian foi até a cozinha e Jayne arrumou uma barra enorme de chocolate embrulhada num pano de prato.
— Will, diga a Emily que amanhã irei vê-la, hoje tenho muitas coisas a fazer por aqui, mas amanhã estou livre.
— Está bem, Jayne, eu direi. Aliás, amanhã vocês poderiam almoçar conosco, afinal é domingo.
— Hum... Pode ser. Vou falar com Ian depois.
— Tudo bem, eu vou deixar Ethan aqui, quando for perto do meio dia você manda ele para casa, está bem?
— Por que não o deixa ficar o dia todo? Eu o mando pelo fim da tarde para casa com alguém o acompanhando.
— Está bem, obrigado.
Willian foi para fora, colocou o embrulho em seus alforjes e montou, virou o cavalo e foi perto de Ian.
— Ninguém apareceu ainda pelos cavalos?
— Não, e eu não acho que alguém irá.
— Seria ótimo. Eu gostaria que vocês fossem almoçar conosco amanhã. Tenho um novilho carneado e vou assá-lo.
— Boa ideia, nós iremos. Até mais, Will.
— Até, Ian.
**
Na manhã seguinte, Jayne e Ian com as crianças foram para a fazenda de Willian e Emily. Deram folga à Kate que fora convidada para almoçar por John Wellen, jovem viúvo que a estava cortejando e morava na cidade.
— Minha nossa, Emily! Parece que você vai explodir — Jayne disse rindo e a abraçando.
— Ah irmã, como você é gentil — disse fazendo uma careta.
— Querida, sente aqui, me dá agonia de vê-la de pé, eu verei como está indo o almoço.
— Sim. Eu não consigo ficar tanto tempo em pé, acho que o bebê vai chegar logo.
— Emily, você precisa de mais uma criada.
— Verdade. Agora com a chegada do bebê, não poderei fazer nada direito. E a Susan me deixou de um dia para o outro, eu não tive jeito de arrumar alguém que a substitua.
— Eu arrumo uma boa mulher para você. Amanhã já verei isso. Na cidade deve haver alguém que saiba cuidar de crianças.
— Por que Kate não veio?
— Ai... Estou com a impressão que ela vai se casar logo e deve ir embora.
— Por quê?
— Porque ela está sendo cortejada por um rapaz há um tempo e hoje foi conhecer sua família. Eu e Ian somos responsáveis por ela agora que seu pai morreu, provavelmente ele virá pedir a sua mão para nós.
— Jayne, ela merece um bom rapaz, já passou muitas dificuldades nesta vida com aquele maldito do Edward.
— Eu sei, Emily, quero que ela seja feliz. Ele é um bom homem, ficou viúvo muito cedo, sua esposa morreu no parto do primeiro filho, é trabalhador, de família boa, parece gostar muito dela. Mas se Kate for embora, eu vou sentir muita falta e as crianças também.
— Jayne, seus filhos já não são mais crianças para ter babá.
— Babá nunca é tarde, querida. Eles têm fortes laços. Pensei em falar com Ian para eles morarem na fazenda e trabalhar conosco e, então, ela pode ficar sempre por perto.
— Acha que eles aceitariam?
— Eu não sei. Mas nós podemos construir um pequeno rancho atrás da casa de James. E além do mais, ele trabalha com o ferreiro da cidade, entende de fazer ferraduras e de cavalos. Seria muito apropriado para ele e, com certeza, ganharia mais do que ganha lá. Para construir sua família ele precisa ganhar mais que umas minguaras.
— Hum... Isso seria bom. Mas sua fazenda vai virar uma vila deste jeito.
Jayne riu do comentário.
— Verdade. Você fez o bolo?
— Sim, mas você pode fazer uma calda para mim?
— Mas pensei que já tinham até comido, pela pressa que fez Will ir buscar o chocolate.
— Não, fiz aquilo para atazaná-lo, o bolo é para o aniversário dele, hoje — disse rindo.
— Ahh, você é impossível! — disse rindo. — Então vou caprichar, e faremos aquele chá de maçã verde para acompanhar.
Capítulo 2
— Will, este é meu presente de aniversário — Ian disse retirando uma belíssima sela da traseira do carro.
— Nossa! Que bela sela, o couro é todo trabalhado.
— Sim, mandei fazer para você.
— Obrigado. — Abraçaram-se. — Eu pensei que havia se esquecido do meu aniversário.
— Will, eu te conheço desde que usávamos calças curtas, não fala nada, mas nos convidou para almoçar, sempre faz isso.
— Verdade — disse rindo. — Mas me espanta ver você dirigindo essa geringonça que chamam de carro, Ian. Isso não é sua cara.
— Eu não gosto, mas já que Jayne comprou, temos que usá-lo. Pelo menos a família toda vai dentro.
— Na carroça também vai.
— Diga isso para minha mulher, que você vai ouvir uma bela resposta.
— É o que dá casar com mulheres modernas, é uma surpresa constante.
— Nem me diga, vivo isso na pele. Não sei onde ela estava com a cabeça de comprar essa carroça com motor. Nem sei quanto pagou por isso e tenho medo de perguntar.
— Emily não faz essas extravagâncias, pelo menos nem tanto quanto Jayne. Acho que é porque não coloco dinheiro na mão dela. — Ele riu.
— As duas menos que Julia, com certeza.
— Acha que Julia desistiu do casamento por causa do estilo de vida que levava com Mitchel?
— Eu não sei. Talvez ela não tenha se acostumado a uma vida mais simples. Com certeza não o amava suficiente para isso.
— Isso podia ter sido diferente se o pai dela não tivesse negado o dote pelas nossas costas.
— Não fale nada disso para Mitchel, ele não ficou sabendo sobre isso.
— Eu sei, e eu não contei quando ele me perguntou de onde eu tinha tirado o dinheiro para a reforma da casa, a nova estrebaria e a porteira. Senti-me mal em mentir, mas achei que ficaria pior se dissesse a verdade.
— Então assim ficará. Isso também não importa mais. Mitchel está feliz com sua deusa de mármore e isso é o que importa. O Sr. Cullen sabe ser impertinente quando quer.
— Ele foi um bastardo, Ian. Impertinente é uma palavra muito suave pelo que ele fez. Não me importo com o dinheiro, mas eu acho que ele foi muito injusto conosco e malvado com Emily. Mas eu apreciei muito o que ela fez, abriu mão de tudo para ficar comigo.
— Mas sinceramente, eu até acho que ele foi complacente conosco, pois realmente, não éramos bons partidos para suas filhas, pelo menos naquela época.
— Ian, mesmo que não tivéssemos uma mansão, somos os melhores partidos em West Side. — Ian deu um sorriso irônico. — Mas ele poderia ter conseguido um marido rico de outra cidade, afinal, ele é um rico banqueiro, e com aquelas três beldades...
— Sim, e fico feliz que nós é que tenhamos conquistado essas beldades.
— Você faz companhia para Mitchel, pois Jayne também não tinha dote.
— Jayne veio com dote sim, Will — disse rindo.
— Ah sim e ele tem os olhos puxados e a outra tem os cabelos cacheados e olhinhos brilhantes — disse rindo mais ainda. — É um belo dote. Mas ela herdou uma bela quantia daquele infeliz dos infernos. Isso aumentou suas riquezas, se é que você precisava de alguma, não é? — disse maliciosamente. — Falando nisso, quando é que vai abrir essa sua boca para Jayne, Ian?
— Willian, que diabos deu em você? Está puxando assuntos dos túmulos.
— Talvez para arejar um pouquinho sua cabeça oca.
— Eu sei!
— Você sempre diz que sabe, mas não faz nada para resolver isso. O que está esperando?
— O momento certo.
— Ian, seu momento certo vai lhe causar problemas com Jayne.
— Eu vou resolver isso — disse respirando profundamente.
— Ótimo. Talvez isso não seja um problema tão grande quando você considera. Jayne não vai ficar contra você sobre esse segredo, mas vai ficar contra sua deslealdade com ela se não lhe contar a verdade de uma vez. E com a nossa também, afinal, eu e os rapazes somos seus cúmplices.
— Você está certo, eu vou contar... Logo. Eu prometo.
— É a coisa certa a fazer. Pense bem, Jayne é geniosa, não gosta de mentiras e se você perder a confiança dela vai ter problemas. Não é qualquer pessoa que aceitaria o que você fez. Eu mesmo, às vezes, me pergunto como você teve coragem de esconder algo assim.
— Foi para o bem dela.
— Bem, isso eu sei, mas eu acho que foi muito errado nós termos ocultado isso depois que pensamos que você estava morto. Isso me comeu as entranhas, mas eu respeitei sua vontade. Para minha sorte, quando eu estava prestes a contar, você reapareceu, o que me aliviou, pois a carga voltou para você — ele disse com um riso maldoso.
— Ah, obrigado! — disse fazendo uma careta.
— A vida é sua, eu sempre o apoiei em tudo e continuarei apoiando, mas realmente acho que está mais que na hora de seu segredo vir à tona, Ian. Às vezes o demônio não tem tantas cabeças e podemos cortá-las.
— Obrigado por sua amizade e lealdade, Will, a aprecio muito.
— É uma honra. Venha, Ian, vamos assar a carne, daqui a pouco Mitchel e David devem estar chegando e vamos beber uma bela tequila. Veio direto de Guadalajara. Uma delícia, corta a garganta em fatias.
Ian riu e os dois foram assar a carne.
Mitchel e Chloe, David, Mary com seus filhos chegaram para comemorarem seu aniversário. O simples almoço acabou virando uma festa e todos trouxeram presentes. Mesmo que ele não tivesse convidado, ele receberia a visita dos irmãos. Estavam felizes e todos riam animados, degustando o delicioso assado que sabiam preparar como ninguém.
Depois do almoço, Willian pegou um bandolim e começou a tocar e os rapazes cantavam diversas músicas. Jayne sentou no colo de Ian para ouvir sua voz deliciosa, o que sempre a deixava tonta. David cantava para Jonathan que sentado em seu colo ria e batia as mãozinhas, parecia querer cantar junto.
Mary, sentada ao seu lado com Samantha, incentivava os dois pequenos a cantar, e Samantha batia palmas para o irmãozinho e ele tentava imitá-la batendo as mãos e soltando gargalhadas. Mitchel às vezes fazia graça, elevando a voz, e tirava Chloe para dançar.
Pelo meio da tarde, Jayne trouxe o bolo e o chá, ficou belíssimo, enfeitado com rosas.
— Isso está com uma aparência boa, pode comer? — Mitchel perguntou.
— Pode comer, Mitch, é de verdade — Jayne respondeu rindo.
— Emily me enganou!
— Sim, meu amor, o bolo era para você. Claro que tive que me segurar ontem, pois estava morrendo de vontade de comê-lo.
— Bem que eu estranhei — disse sorrindo e a abraçando.
— Ah então vamos comer, por favor — David disse esfregando as mãos.
Todos comeram e deram às crianças deliciando-se pela rara guloseima. Quando todos já estavam aprontando-se para ir embora, Emily que por um momento levantou-se, se escorou na mesa com uma mão na barriga, soltando um gemido e contorcendo-se.
— Emily, o que foi?
Willian correu ao seu lado a escorando. Ela, tentando respirar disse em palavras contorcidas:
— Ai... Eu acho que ele vai nascer.
— Minha nossa! — Willian gritou.
— Chamem a parteira, rápido.
Ian correu e pediu a um empregado que estava estirado no chão, perto do celeiro mascando um palito e com o chapéu cobrindo o rosto, que fosse a busca da parteira que morava a algumas milhas dali. Ele num salto pôs-se de pé e saiu correndo para buscá-la.
— Venha, Emily, vamos para a cama — Jayne disse e Willian a carregou para o quarto. Ela começou a sentir fortes dores e a suar, enquanto tentava respirar. — Emily, respire — Jayne disse.
— Ai Jesus! Eu tinha esquecido como isso doía.
— Calma, meu amor, você vai ficar bem, nosso bebê está chegando — Willian disse nervosamente e de joelhos ao lado da cama segurava sua mão.
— Pede calma porque não é você que está sentindo esta dor miserável — disse Emily entre os dentes.
Ficaram ali por um bom tempo e as dores aumentaram e diminuíam o período de tempo, fazendo-a gritar.
— Calma, Emily, ela já deve estar chegando — Jayne disse.
— Onde está esta parteira?
— Por que não chamamos o médico?
— A parteira é muito boa. Não há a necessidade do médico.
— Ai, meu Deus! — Willian resmungou sentindo Emily quase destroncar sua mão de tanto que a apertava.
— Willian, você me paga por isso — ela disse entre os dentes.
— Por isso, o quê?
— Por eu passar por isso — disse furiosa, parecia que ela queria descontar sua dor nele.
A conhecida parteira, uma velha senhora de cabelo branco e com vestes desarrumadas, chegou esbaforida e foi abrindo espaço entre todos, até chegar ao quarto principal. Como se aquele fosse seu domínio, tomou providências necessárias e gritou ordens às mulheres, do que precisava e do que queria.
Todos os homens ficaram na sala esperando a chegada do bebê, enquanto as mulheres ficaram com Emily, que começou a gritar mais pelas horrendas dores que sentia. Salvo Willian, que permaneceu no quarto, negando-se a sair.
— Will, não ligue para nada que ela disser — Jayne disse. — Se ela já era desbocada antes, agora vai ficar um pouquinho pior. É melhor você ir para a sala, homem aqui é proibido.
— Saia daqui, eu não quero que me veja assim — ela gritou. Ele a olhou com os olhos arregalados e foi levantar-se para sair. — Não, não, fique aqui, por favor! — disse o agarrando pela camisa e o puxando de volta.
— Meu amor, decida-se ou eu saio ou eu fico.
— Fique, por favor.
— Emily, solte-o, deixe-o ir para a sala, aqui não é lugar de homens.
— Não... Will, fique aqui comigo, por favor.
— Eu estou aqui, meu amor, respire — disse segurando sua mão, mas não queria ver nada, somente olhava para seu rosto.
— Senhora, ele vai nascer, faça força — disse a parteira e ela fez uma, duas, e mais algumas vezes até que o bebê nasceu.
— É um menino — a parteira disse segurando o bebê e fazendo-os vibrar de felicidade.
Emily caiu totalmente cansada nos travesseiros, empapada em suor e ofegante, mas sorriu quando ouviu o choro do bebê, que gritou agudamente. Todos na sala o ouviram e se abraçaram rindo. Era forte e valente, com pulmões ferozes.
— É outro menino, meu amor — disse Willian e beijou sua testa e marejou os olhos e ria olhando o bebê chorar e ver que estava bem.
— Ele é perfeito, Emily — Jayne disse segurando o bebê e o cobrindo com em uma manta.
— Meu filho! Deixe-me segurá-lo — Emily disse esticando os braços para pegar seu lindo bebê.
Emily não teve tempo de pegar seu filho no colo, veio outra dor violenta e ela gritou novamente. Todos na sala pararam bruscamente, olhando para a porta do quarto com os olhos arregalados, sem entender por que Emily recomeçou a gritar.
— O que foi, Emy? — Willian gritou em pânico.
— Há mais um bebê! — disse a parteira, com uma paciência estrondosa.
— O quê? — ele gritou novamente pelo susto.
— Mais um? — Emily perguntou espantada e logo gritou sentindo outra dor imensa.
— Sim, tem mais um, faça mais força, senhora! — disse a parteira.
— Eu não consigo.
— Consegue, Emily, faça força, por favor — Willian disse em choque.
Emily o agarrou com as duas mãos pelo colarinho e o puxou furiosamente, o fazendo parar de respirar bruscamente.
— Willian! Como fez dois filhos em mim de uma vez?
— Eu não sei... Eu não fiz nada — disse apavorado.
Jayne obrigou-se a rir dos dois, parecia que nunca haviam tido um filho, se bem, que não dois de uma vez. Jayne colocou o bebê na cama e foi ao lado da parteira para ver em que podia ajudar, e tudo recomeçou. Ficaram naquela agonia mais um longo tempo até que o outro bebê nasceu.
— É uma menina — disse a parteira, segurando a pequenina no colo.
Willian caiu no choro e no riso ao mesmo tempo vendo seus dois filhos ali chorando, ele não sabia o que fazer, estava deveras emocionado.
— Meu Deus, dois!
Emily caiu esvaída nos travesseiros, mal tinha forças para respirar, ela estava cansada. Todos no quarto estavam emocionados e cansados. Willian chorava e beijou a testa dela e lhe acariciava o rosto. Jayne molhou uma pequena toalha na água fria colocando em sua testa e lhe secando o suor.
— Calma, querida, já acabou — Jayne disse lhe sorrindo.
— Emily, meu amor, nós temos gêmeos, são dois, eu te amo, meu amor, eu te amo! — disse Willian.
Ela não soltava de sua mão, segurava-a, mas sem apertá-la, estava esgotada e nem respondia, mas tinha um sorriso, e as olhava limparem e ajeitarem o outro bebê.
— Ela também é perfeita e linda. Uma princesa — disse Jayne.
Emily chorou de emoção ao ver seus dois bebezinhos deitados na cama, lhes acariciou suavemente e adormeceu.
— Emily! Ela está bem? — Willian perguntou à parteira, meio temeroso.
— Sim, ela está bem, só está muito cansada, ela precisa dormir. É melhor me ajudar aqui, vamos limpar isso para que ela descanse. Willian cuidadosamente levantou Emily nos braços enquanto elas rapidamente trocaram os lençóis da cama e ele a deitou de volta nos travesseiros para que ficasse confortável. Jayne, enquanto isso segurava a menina no colo e Mary, o menino que estava enroladinho numa manta.
— Olhe Willian, que linda! — disse Jayne.
Ele foi até Jayne e olhou sua filha, tocou-a levemente no rosto com os dedos e a pegou no colo. Depois olhou com um sorriso para seu filho que dormia quietinho e depois olhou para Emily.
Jayne, emocionada, abraçou Willian e ajudou a parteira a terminar de arrumar tudo, todas saíram do quarto e foram até a sala deixando-o com Emily e os filhos. Todos por lá estavam andando de um lado a outro esperando notícias. Poderiam ter feito um belo valo no meio da sala.
— Meu Deus, Jayne! O que houve lá? — Ian perguntou a abraçando.
— Eles tiveram gêmeos, Ian, gêmeos!
— Minha nossa!
— Meu Pai do céu, dois? — David disse espantado e soltando uma bela gargalhada e abraçando Mary.
— Mas Willian, heim? Superou-se desta vez, parece um dos garanhões do Ian. — Mitchel brincou rindo.
— Ela e os bebês estão bem? — Chloe perguntou.
— Sim, estão dormindo. São lindos!
— Desculpe-me não ter entrado, mas não posso ver sangue ou algo assim. E isso parecia tão... Família — disse encabulada.
— Está tudo bem, Chloe. É difícil às vezes. Mas eu fico muito feliz que você esteja aqui — disse sorrindo.
— Que emoção! Como pode? — Ian perguntou.
— Não sei, mas eles são saudáveis, perfeitos e lindos, é uma menina e um menino. — Ian riu e abraçou Jayne novamente.
— Isso é que eu chamo de presente de aniversário — David disse.
— Eu adoraria ter gêmeos — Ian disse.
— Ai meu Deus! — Jayne disse rindo.
Willian saiu do quarto e olhou para os amigos com um sorriso enorme.
— Eu sou pai de gêmeos! — disse emocionado e os rapazes foram abraçá-lo, parabenizando-o.
— É melhor irmos e deixarmos vocês descansarem — Ian disse.
— Verdade, amanhã eu volto, pois quero conhecer meus dois sobrinhos iguais — Mitchel disse rindo. — São iguais, não?
— Sim... Mas com algumas diferenças — Jayne disse rindo. — Bem, preciso tomar um banho, eu estou exausta. Vamos, Ian?
— Vamos. Amanhã nós voltaremos para vermos os bebês, hoje vamos deixá-los com a família — Ian disse.
— Will, eu vou pedir a Kate que venha ficar com vocês, Emily vai precisar de ajuda. Se precisar de algo, nos chame. Infelizmente preciso ir, meus filhotinhos estão adormecidos no sofá — disse Jayne.
— Tudo bem, fiquem tranquilos. Apesar desta surpresa, nós ficaremos bem — respondeu.
— Temos que avisar seus pais — Ian disse para Jayne.
— Sim, pedirei a James que os avise amanhã.
Todos deram uma olhada nos pequenos, mas não queriam acordar Emily e as crianças. Despediram-se de Willian e foram embora.
Ele voltou ao quarto, colocou os dois pequeninos ao lado de Emily que dormia e deitou-se ao lado deles, escorado em seu cotovelo, e os ficou olhando com um sorriso. Queria tocá-los, mas pareciam tão frágeis.
A menina levemente batia os bracinhos, soltando resmungos e agarrou o dedo de Willian que a olhou emocionado, acariciando com o dedo seus diminutos dedinhos e sorria para ela. Ficou assim até ela lhe soltar o dedo e adormecer. Ele olhou para Emily, segurando sua mão com o maior amor do mundo e ficaram os quatro ali, deitados.
Algumas horas depois, Emily acordou e lentamente virou-se e viu Willian escorado no braço, acariciando sua mão e olhando seus filhos. Emily vendo seus dois bebezinhos dormindo tranquilos, deixou uma lágrima escorrer pelo rosto.
— Will, que lindos! — disse sussurrando e os acariciando.
— Sim, eles são lindos, Emily. Nós tivemos dois. — Ele riu e acariciou o rosto dela suavemente.
— Desculpe ter xingado você. Eu não quis...
— Tudo bem. Você foi valente, estou orgulhoso de você.
Ela tentou virar-se para ficar mais perto dos pequenos e os dois ficaram admirando seus filhos. Willian passou levemente a mão pelo braço de Emily e repousou sua mão na dela e a beijou.
— Eu te amo, Will.
— Eu também, Emy. Eu também. Agora durma, meu amor, você precisa descansar, eu vou ficar aqui. Cuidarei de vocês.
Logo Emily adormeceu e ele ficou velando o sono dos três. Ethan espiou pela porta sem querer fazer barulho.
— Papai, eu posso ver meus dois irmãozinhos? — perguntou baixinho e andando na ponta dos pés.
Ele sorriu e chamou seu filho com a mão, abriu um espaço na cama e Ethan se deitou na frente dele e, com os olhinhos brilhantes ficou olhando os bebês. Willian, com o coração cheio de alegria e um imenso amor, contemplava sua família que crescera inesperadamente. Estava... Feliz.
Capítulo 3
Os dias que se seguiram, foram em função da chegada dos gêmeos. Todos queriam vê-los, pegá-los no colo, admirá-los, eram lindos. Jayne e Ian estavam encantados com eles, iam vê-los quase todos os dias.
Willian e Emily não cabiam em si de tanta felicidade, se atrapalhavam com os dois pequenos. Jayne arrumou uma criada para ela e Kate foi ficar na fazenda para ajudá-la com os dois bebês. Sr. e Sra. Cullen estavam extasiados com a chegada inesperada de seus dois netos, pareciam dois bobos.
— Emily, vocês já escolheram os nomes? Chamá-los pelo nome seria uma boa ideia, não acha? — Jayne disse rindo embalando o menino nos braços.
— Will, vocês fizeram uma lista, decidam-se logo — Ian disse.
— Já escolhemos, apresento-lhes Sarah e Henry.
— Adorei os nomes. Olá Henry — disse sorrindo para ele.
— Will, eu trouxe o berço do Josh, assim não vai precisar comprar outro.
— Ah, obrigado, Ian.
— Nós temos mais uma leva de bebês na família, desse jeito nós necessitaremos de uma mesa gigante para podermos almoçar — Mitchel disse rindo.
— Verdade.
— Bem, quando tivermos outra leva, deverá ser de Mitchel e Ian. - disse Willian.
— Meu? — espantou-se Mitchel.
— Claro. Vocês podem começar a se mexer, não acham? Ou você nunca vai querer ter um herdeiro, senhor Vaiz?
Ian olhou para ele, o intimando. Mitchel e Chloe se olharam espantados e ela ficou ruborizada, não sabiam o que responder.
— Eu também acho que vocês deveriam ter um filho, afinal, só falta Mitch para ser pai — Willian disse.
— Ai, parem com esta conversa! — disse Mitchel.
— Não acho uma boa ideia — disse Chloe.
— Jayne, eu acho melhor você e Ian terem outro. — Mitchel tentou mudar de assunto.
— Mas eu já tenho dois. — Defendeu-se ela.
— Mas eu não me importaria de ter mais — disse Ian.
— Veremos isso, meu amor, mas por agora não penso nisso, eu fiquei traumatizada depois deste parto da Emily — disse rindo.
— É, vou dizer, dois partos de uma vez foi demais.
— Verdade, eu concordo com a Emily. Bem, está na hora de irmos — Jayne disse entregando Henry a Willian. — Vamos, Ian?
— Vamos.
Ian e Jayne levantaram-se e despediram-se deles e voltaram para casa.
— Não gosto de dirigir esta geringonça, prefiro meu cavalo — Ian disse fazendo careta, dirigindo o carro. — Não sei onde você estava com a cabeça quando resolveu comprar isso. Nunca lhe perguntei quanto isso custou.
— Metade de nossa casa — disse rindo.
— O quê?
— Ian, isso é a evolução, quando chove é bom para sair com as crianças. Isso se não ficarmos atolados, claro — disse rindo.
— Se a chuva era o problema, nós temos uma carroça com um toldo.
— Sei. Mas eu queria o carro. Quer que eu dirija?
— Onde já se viu? Você dirigir e eu ficar olhando, nada disso. Não me contrarie, Sra. Buller — disse apertando a buzina que a fez levar um susto.
— Credo! Essa buzina é um horror.
Os dois riram e foram brincando até em casa.
Ian era desengonçado para dirigir. Ele ficava resmungando o tempo todo e xingando, mas acabava rindo e se divertindo com suas próprias barbeiragens. Achava que algumas coisas não deveriam evoluir.
Para ele, um homem não é nada sem seu cavalo.
**
Jayne foi à cidade fazer compras, quando saía do armazém e distraída colocava os pacotes no banco de traz do carro, foi abordada.
— Bom dia, Sra. Buller.
— Bom dia, Juiz Brannan, como vai?
— Bem e a senhora?
— Estou bem, obrigada — disse com um sorriso acanhado.
Ele a olhava de uma maneira estranha, parecia que a estava analisando. O que não era nada bom.
— Muita ousadia sua andar pela cidade com este carro. Gosta muito de ostentar seu dinheiro.
Ela o olhou estranhando seu comentário grosseiro, apesar de o juiz ter fama de rude, nunca havia sido com ela.
— Bem, se o dinheiro é meu, eu posso ostentá-lo como quiser, e só porque sou mulher não vejo por que não possa dirigir um, e pensei que o povo desta cidade já havia se acostumado e parado de me criticar.
— Uma mulher à frente do seu tempo sempre causa problemas.
— Sr. Brannan, se eu ando a cavalo ou com uma máquina não é problema seu. Daqui um tempo muitas pessoas já o terão inclusive o senhor. Portanto se não gosta do meu carro, não olhe ou faça de conta que é uma carroça. Como diz meu marido, isso é uma carroça com um motor.
— Seu marido lhe dá liberdades demais.
— Meu marido é problema meu, excelência.
— Como está com seu marido? — perguntou ironicamente.
— Estou muito bem.
— Tem certeza?
— É claro que eu tenho certeza, mas não entendi sua pergunta.
— Claro que a senhora entendeu.
— Sr. Brannan, eu e meu marido estamos muito felizes. Não sei por que me faz esta pergunta e nem por que está aí me olhando como se esperasse que dissesse algo diferente.
— Eu não quero mesmo que a senhora me diga algo diferente, Sra. Buller, mas sei que quando seu marido reapareceu, a senhora teve que fazer uma escolha entre ele e Enrique. A minha pergunta é muito simples. Eu quero saber se a senhora não se arrependeu de ter abandonado Enrique.
Jayne sentiu um arrepio lhe passar do calcanhar até seu pescoço e encostou-se ao carro. Ele a olhava como se ela fosse uma bandida.
— Senhor, eu sei que é amigo dele, sei que deve ter ficado indignado por eu tê-lo abandonado, mas eu não tinha alternativa.
— Ter, a senhora tinha. Poderia ter ficado com Enrique e deixado o Sr. Buller, claro que nunca poderia se casar com ele e teria que passar por um desquite, que eu diria que seria mais terrível que foi com sua irmã, ou então viveria como adúltera, e corria o risco de ser enxovalhada. Ou, ainda corria o risco de seu verdadeiro marido lhe matar ou a Enrique.
— Por Deus! Pare com isso, por que está me dizendo estas barbaridades?
— Porque eu quero saber se não há o risco de querer Enrique de volta, porque eu tenho certeza que se a senhora estalasse um dedo ele derrubaria o mundo para tê-la de volta.
Jayne estava se sentindo numa corte, sendo julgada por tudo aquilo.
— Não, eu jamais deixaria Ian, o amo mais que tudo na minha vida. Fui feliz com Enrique, mas não poderia ficar com ele depois que Ian voltou. Por favor, me diga por que está me encurralando desse jeito? Com que direito pensa que pode me dizer estas coisas?
— A senhora não sabe?
— Não, não sei. Se há algo de errado que eu esteja fazendo então me diga logo. Por acaso a lei está me perseguindo por alguma coisa?
— Não, senhora. Apesar, que se a senhora fosse parar numa corte...
— Enrique não conseguiu anular nosso casamento e eu não sei por quê...
— Se fosse parar numa corte, seria julgada por adultério e por bigamia. Não veria nem como conseguiria se safar disso tudo. Só ainda não teve que ir à Espanha enfrentar uma corte para anular este casamento porque seu marido Enrique, quer dizer... Um dos seus maridos é cheio das artimanhas, não permitiria que passasse por isso, mas esta hipótese não está descartada, já que o magistrado espanhol está querendo vê-la numa cela.
Jayne só não caiu porque estava encostada no carro, pois perdeu completamente a força nas pernas.
— Meu Deus, isso não é possível! — disse quase sem ar.
— É sim, senhora. Vocês são uns tolos, acabam se enforcando sem nem saber os motivos. Mas fique tranquila, aqui o interrogatório é por causa da senhora e Enrique, nada com a lei.
— Eu já lhe disse, eu acertei minhas contas com ele. Casei-me porque achei que meu marido estivesse morto. Eu sei que é amigo de Enrique e deve estar preocupado com seu bem-estar, mas nunca tive a intenção de magoá-lo daquela maneira. Foi horrível ter que terminar meu casamento com ele e deixá-lo. Eu não fiz nada errado.
— Eu sei. Se ele aceitou tudo daquela maneira louvável, não sou eu que direi o contrário. Aliás, eu nem sei como ele conseguiu não matá-los na época. O amor que ele lhe tem chega a ser sublime, o que acho ridículo.
— Ele está bem?
— Está. Está em Madri e acho bom que fique por lá. A coisa mais estúpida que vocês fizeram foi ter se casado lá. E eu mesmo encaminhei um veredicto daqui para lá, atestando a veracidade do caso. Eu não quero que ele a veja, assim não corre o risco de ter uma recaída ou se meter em confusão de novo. A senhora não sabe nada sobre ele?
— Não, ele somente enviou uma carta que dizia que havia entrado com o pedido, mas havia encontrado alguns percalços, que assim que tivesse novidades, me escreveria. Eu escrevi de volta, mas ele não respondeu.
— Ótimo. Espero que fique assim, você aqui e ele lá e nada de cartas.
— Eu ainda não entendi porque está falando comigo desta maneira. Se tiver alguma acusação, faça formalmente, não tem o direito de me abordar na rua e me dizer estas coisas. O senhor pode ser juiz, mas não me trate como um de seus réus, não tem o direito de ser indelicado assim comigo.
— A senhora é valente de erguer a voz para mim. Eu não tenho acusação formal. Espero que a senhora e seu marido vivam em paz e que fiquem bem longe de Enrique. Esta é minha cidade, senhora, eu não quero confusão — disse chegando bem perto dela, como se a tivesse ameaçando.
Ele abaixou ligeiramente a aba de seu chapéu lhe fazendo uma reverência como despedida.
— Aliás, eu soube que sua irmã teve gêmeos, meus parabéns.
Ele lhe virou as costas e se afastou.
Jayne estava atônita e seu coração estava acelerado no peito, estava com vontade de gritar, mal respirava. Não entendeu aquela conversa que lhe deixou muito nervosa. Pegou o carro e foi para casa. Parou no meio da estrada um pouco antes de chegar à fazenda, ficou com as duas mãos na direção e desatou num choro, aos soluços.
— Jayne! — ela levantou a cabeça e viu Ian, a cavalo próximo a ela. Tentou esconder seu choro e secou rapidamente as lágrimas que banhavam seu rosto. Ele, preocupado, desceu do cavalo, foi até o carro e abriu a porta. — Jayne, o que houve? Você está bem? Por que está chorando?
— Nada, não foi nada.
— Ninguém chora por nada, amor. O que houve? — Ela saiu do carro e abraçou Ian. — Meu bem, por favor, me diga, por que está assim?
— Não é nada, só fiquei nervosa.
— Se ficou nervosa é por um motivo.
Ela respirou profundamente.
— O juiz... Abordou-me na rua e me disse coisas horríveis. Eu não entendi direito.
— Sobre o quê?
— Sobre Enrique. Era por causa da anulação, ele queria ter certeza se eu queria anular o casamento, me fez perguntas estranhas, me disse um monte de coisas sobre leis e acusações, parecia que estava me ameaçando. Eu acho que fiquei nervosa, ele é muito severo nas palavras, foi só isso.
— Jayne... — Ele segurou seu rosto e a olhava carinhosamente. — Vai ficar tudo bem, meu amor. Ele é um homem grosseiro, não deve ter sido nada demais. Este negócio de anulação parece ser mais complicado que eu esperava. Não imaginei que demoraria tanto, mas temos que ter paciência. Você tem certeza que era isso que você queria, não era?
— Ian, eu só fiquei nervosa porque ele foi severo comigo, me intimidou, pensei que iria me acusar de alguma coisa. Não duvide que eu quisesse ficar com você, eu amo você, Ian. — O abraçou fortemente.
— Eu sei querida, mas assim que a anulação chegar, nós vamos enterrar este assunto. Nunca mais quero ouvir falar nisso. Calma, não fique assim. Vamos para casa, deixe o carro aqui, peço a alguém que venha pegar.
— Mas os pacotes...
— Ninguém vai pegar, deixe aí.
Os dois subiram no cavalo dele e foram para casa e Ian parou o cavalo em frente à varanda. — Está mais calma? — Ela assentiu. — Eu amo você. — Ele beijou seus lábios docemente.
— Eu também amo você.
Ian desceu do cavalo e ajudou Jayne a descer.
— Matt! — Ian gritou.
Ele, que estava consertando a cerca da varanda correu na frente de Ian.
— Sim, patrão.
— Nosso carro está na estrada, perto da entrada da fazenda, vá buscá-lo.
— Senhor, eu não sei dirigir aquele carro.
— Então é hora de aprender. Sei que vai chegar aqui com ele inteiro e me deixe o portão da fazenda em pé.
— Sim, senhor — disse com um sorriso largo, sempre quis dirigir aquele carro, apesar de não ter ideia de como fazer e saiu correndo em direção à estrada.
— Aonde vai, Ian? — perguntou quando o viu subir no cavalo novamente.
— Eu vou trabalhar, minha querida, tenho que ir à cidade, pois preciso de ferraduras, mas não demoro. Depois conversamos, está bem?
Ela assentiu e o ficou olhando sumir na estrada.
Ian foi direto ao gabinete do juiz, estava furioso e apreensivo ao mesmo tempo, mas não deixou demonstrar isto a Jayne. Pediu que queria falar com ele e seu secretário o foi anunciar, mas já avisando que talvez não o receberia.
Mas quando voltou com os olhos meio curiosos olhando para Ian, o deixou entrar no gabinete e Ian olhou seriamente ao juiz que fumava um enorme charuto enchendo a saleta de fumaça.
— Sr. Buller, a que devo a honra de sua visita? Sente-se.
— Vim saber o motivo da sua abordagem à minha mulher nesta manhã.
O juiz deu um sorriso sarcástico no canto da boca.
— Parece que sua esposa não lhe tem segredos.
— Não, não tem e eu como seu marido quero saber o que foi que disse a ela para eu encontrá-la chorando no meio da estrada.
— Ela estava chorando?
— Estava, e pelo que sei foi por causa de uma conversa nada agradável que teve com o senhor.
Ele se escorou na cadeira e cruzou os dedos sobre a barriga e olhou com uma cara devoradora para Ian.
— Sr. Buller, ambos sabemos da história dela com Enrique e que ele entrou com o pedido de anulação do casamento.
— Sei.
— Pois então, este processo está mais demorado que eu pensei, o que não me agrada em nada. Eu não tenho costas largas lá, estou interpelando com o pai de Enrique, o juiz Gonzáles, para que ajude a adiantar esta anulação, já que ele tem influência em Madri. Portanto, sua mulher continua casada com Enrique.
— Isso eu sei, mas por que intimidá-la? Ambos sabemos disso.
— Eu quis saber se ela realmente queria ficar com o senhor ou se havia a possibilidade de ela querer voltar com Enrique.
Ian rangeu os dentes e tentou manter-se calmo para não sacar a pistola e colocar dois furos no miserável.
— Senhor, com que direito faz uma pergunta destas à minha esposa?
— Com o direito que sou o juiz desta cidade e não quero confusão e com o direito de pai! — disse ele e ríspido batendo a mão na mesa.
— Eu não entendi.
— Porque aquela desmiolada da minha filha que mora em Madri está esperando um filho daquele ingrato! — gritou.
— De Enrique? — perguntou espantado.
— Sim, eu pedi a ele que cuidasse da minha filha e olha o que ele me arrumou, um neto. Se eu não gostasse daquele infeliz lhe jogava numa cela e jogava aquela estúpida de minha filha na sarjeta — disse furioso.
— Sinto muito pela sua filha, mas nós não temos nada a ver com isso.
— O que me interessa é saber se esta maldita anulação vai sair, porque eles terão que se casar. E segundo, eu abordei sua mulher, porque quero saber se havia a possibilidade de ela querer ele de volta.
— Por que o senhor duvida da fidelidade dela? Eu confio na minha mulher, sei que ela não ficaria com ele depois de tê-lo mandado embora.
— Sr. Buller, estas mulheres estão saídas demais, nós homens temos que colocá-las com rédeas curtas, senão perdemos o controle. Segure a sua, que agora vou ter que amarrar a minha filha no laço de Enrique. — Ian colocou a mão no rosto, estava aturdido.
— Não preciso amarrar ninguém! Jayne é uma mulher honrada e não duvido de sua fidelidade. Ela jamais ficaria com ele novamente, teve a oportunidade e escolheu ficar comigo. E se Enrique tem que se casar com sua filha e assumir o filho dele, por que está tão nervoso?
— Porque eu sei que ele ama a sua mulher, e que se ela estalasse os dedos ele era capaz de virar o mundo para ficar com ela.
— Isso não vai acontecer, eu não vou permitir.
— E eu também não. Mas ele tem que se casar com minha filha, e se esta anulação não sair, eles não podem se casar e ela estando prenha, como fica minha reputação? Logo ela não poderá mais esconder aquela maldita barriga. Onde já se viu? Eu, um juiz com uma filha desonrada e embarrigada.
— Esta anulação sairá, ficaremos livres deste pesadelo e então case Enrique com sua filha.
— É o que vou fazer. Portanto, segure sua esposa debaixo de suas asas, que eu segurarei Enrique lá em Madri.
— Eu espero que ele não apareça por aqui me causando problemas, porque eu o mato desta vez. Amo minha mulher e não vou perdê-la por nada e nem por ninguém neste mundo.
— Amor, amor, vocês são uns tolos. Homens deste tamanho se derretendo por causa de uma mulher, por causa deste dito amor. Parecem umas mulheres românticas.
— Senhor, não me ofenda. Faço qualquer coisa pela minha mulher, pela minha família, e não tenho vergonha nenhuma de dizer aos quatro ventos que a amo, e isso não me deixa menos homem. Nunca ouse dizer isso novamente, porque posso ficar bem zangado.
— Ah meu Deus!
— O senhor fala como se nem conhecesse este sentimento, parece frio como uma pedra. Por acaso não ama sua esposa?
— Sr. Buller, não me desacate, não tem o direito de falar assim comigo.
— Assim como o senhor não tem o direito de falar assim comigo e nem intimidar minha mulher no meio da rua. — O velho levantou enfurecido e foi até a mesinha de bebidas e arrumou um copo de uísque e bebeu alguns goles. — Se me dá licença, eu vou embora, não tenho mais nada para conversar aqui. Não quero o nome de Enrique mencionado na frente da minha mulher e ninguém a intimidando, nem o senhor! O que ele faz lá na Espanha ou no inferno, não me interessa. Fique longe de Jayne ou não respondo por mim. Pode ser um juiz, mas eu lhe mato. Não sei como pode julgar casamentos se nem entende o que isto significa. Com licença.
— Não entendo? — disse ele antes que Ian abrisse a porta. Ele parou e olhou para o juiz. — Sr. Buller, eu vou lhe dizer o que acho de casamentos. Perguntou-me se amo minha mulher, eu vou lhe responder. Não. — Ian o olhou franzindo os olhos. — Nunca a amei. Mas o que importa?
— Por que se casou com ela?
— Porque meu tio me obrigou, ela é minha prima, fui forçado a me casar com ela, pois eu precisava do seu dote para pagar minha escola de direito e ela precisava se casar. Mas amor? Nunca senti por ela. Eu... Amava uma moça, ela era da fazenda vizinha, eu a amava mais que qualquer coisa, mas seu pai não aceitou que eu me casasse com ela porque eu era um falido sem eira nem beira depois que meu pai morreu. Casou-a com um homem quinze anos mais velho que ela e rico, um miserável de um conde espanhol. Então não dou a mínima para casamento e rompantes românticos. Fiz o que tinha que fazer na época, mas até hoje, eu ainda me lembro dela. Nunca a esqueci — disse, nostálgico, como se lembrando do rosto dela e bebendo goles enormes do uísque. — Casamento é um negócio, troca de favores, sempre foi assim e sempre será. Você precisa de herdeiros então casa-se com uma mulher que lhe dê varões, coisa que aquela inútil da minha mulher nem foi capaz de me dar.
— Sinto muito, por sua vida miserável. Por isso que nunca vou abrir mão de Jayne, eu não poderia ter feito o que o senhor fez.
— Então lute pelo seu casamento. Proteja sua família e sua mulher e deixe-a longe de Enrique. E tem mais...
— Mais o quê, pelos infernos?
— Torça para que Enrique e o pai dele consigam evitar que esta anulação seja julgada numa corte aberta, Sr. Buller.
— Como assim?
— Se isso acontecer, a sua mulher terá que ir para Madri, explicar-se.
— O quê? Mas que absurdo! Como isso é possível?
— É possível, eles são muito rigorosos com moralidade. Enrique está fazendo de tudo para impedir, mas parece que isso pode não vai acontecer. Eles são cruéis com mulheres, Sr. Buller. Já ouvi sobre estas cortes por lá e eles irão arrancar o coração dela, humilhá-la ao último.
— Ela estava chorando, por sua causa, que esta seja a última vez que se aproxima dela. Se possuir algo para falar, se dirigirá a mim.
— Sou o juiz e falo com quem queira.
— Ela é minha mulher e antes de se dirigir a ela, passará por mim.
O juiz o olhou intensamente vendo nos olhos dele a agonia.
— Porque ela estava chorando eu não sei, mas não foi por este motivo que pensa. Por que não pergunta a ela? Já que parece que a conhece tão bem e ela não lhe tem segredos. E ela mesma me disse que não ficaria com ele, que ama o senhor mais que tudo.
— Está avisado, fique longe de Jayne — disse zangado e saiu.
Saiu como um furacão para fora, parou uns instantes puxando ar para seus pulmões quando chegou à rua, colocou as mãos no rosto esfregando com força, subiu no seu cavalo e voltou para sua casa.
Capítulo 4
Quando entrou em casa, Jayne olhou ao redor e nem sabia o que fazer, estava nervosa, angustiada, aquela conversa lhe tirara o prumo. Ficou ali no meio da sala, parada com os olhos fechados, com uma mão na cintura e a outra passando os dedos na testa.
Quando ouviu a buzina do carro, diversas vezes, e alguns gritos, ela saiu sobressaltada do seu mundo e correu para fora para ver o que estava acontecendo. Da varanda, ela avistou Matt, descendo a entrada da fazenda. Como era um pouco declinado, ele aumentava a velocidade e vinha em direção a casa.
— Como eu paro isso? — ele gritou agarrado ao volante.
— Puxe o freio, Matt — gritou Jayne descendo as escadas. — Puxe o freio!
— Onde?
— A alavanca da esquerda, da esquerda!
O carro chegava cada vez mais perto, Angel e James vieram correndo para ver o que estava acontecendo. Matt puxou o freio e o carro parou bruscamente, o fazendo bater na direção.
Ele ficou agarrado na direção com os olhos arregalados. Jayne correu até ele.
— Você está bem?
— Eu pareço bem, senhora? Quase bato com o carro na casa! — Jayne riu.
— Bem, pelo menos você não bateu, espero que não tenha derrubado o portão, senão, Ian te esfola.
— Isso eu não fiz. — Ele riu nervosamente.
— James, por favor, coloque o carro no celeiro, antes que ele me derrube a casa ou atropele alguém — disse, pegando os pacotes que estavam no banco de trás e entrando.
— Matt, seu paspalho, eu sei dirigir mais que você — disse Angel.
— Ah sim, obrigado, Srta. Angel. Sua mãe lhe ensinou, não é? Agora eu tenho que aprender adivinhando?
— Não seja tolo. Dê graças a Deus que meu pai deixou você colocar a mão neste carro. Mas diga que não foi divertido.
— Oh se foi, quero andar mais — disse rindo.
— Matt, seu maluco! Se você bate este carro na casa iria me dar um prejuízo desgraçado — James disse dando-lhe um cascudo. — Saia daí seu traste.
Matt bufou e desceu do carro.
Quando Jayne entrou em casa, largou os pacotes na cozinha e foi para o quarto, fechou a porta e ficou ali, escorada. Lembrou-se das palavras cruéis do juiz, sentiu o terror de pensar que teria que ir à Espanha enfrentar uma corte e rever Enrique. Sim, ela sentia falta dele, e ainda sentia tristeza por ele não ter dito a ela que a perdoava pelo que ela lhe fez. Mas seu amor por Ian amenizava todas aquelas dores.
Ian quando chegou em casa, quis tocar no assunto, mas não o fez, olhava Jayne de canto de olho, mas as palavras não saíam de sua boca. Não queria falar disso com ela, estava com medo de ouvir coisas que não queria ou dizer coisas que não devia. E ela não tocou no assunto com ele, também não queria falar sobre o assunto.
— Ian, por que está com esta cara horrível, o que houve?
— Jayne... — Ele a olhou. — Eu fui falar com o juiz.
— Eu desconfiei. O que ele disse?
— Um monte de coisas. Você sabe que se Enrique não evitar a corte, você terá que ir à Espanha, não sabe?
— Ele me disse.
— Isso não pode acontecer.
— Eu sei, Ian, eu não quero isso e não imaginei que pudesse acontecer, eu achei que seria simples anular este casamento... Eu estou com medo.
— Você está com medo de enfrentar a corte ou ver Enrique novamente?
Ela olhou-o decepcionada.
— Como me faz uma pergunta destas depois de tudo, Ian?
— Porque você pode ter uma recaída, se você se casou tão prontamente com ele é porque gostava muito dele, afinal, foram amantes antes de tudo.
— Ian! Se for isso que pensa, então por que me pergunta? Tome isso como certeza e me deixe em paz! Eu estou cansada de ficar me defendendo por isso.
Ela afastou-se dele e o deixou ali falando sozinho.
— Jayne. — Ele foi atrás dela e a puxou pelo braço. — Não vire as costas para mim, eu estou falando com você.
— Eu não quero falar disso com você!
— Mas vai ter que falar. Se você não tivesse feito a burrada de se casar com ele, nada disso aconteceria.
— Ian, não foi minha culpa! Você deveria estar me apoiando, eu estou nervosa e em vez de me ajudar está aí tendo uma crise de ciúmes?
— Não estou com ciúmes.
— Está! Você acha que eu voltaria para Enrique? Acha que depois de tê-lo abandonado, tê-lo magoado daquele jeito como eu fiz, eu teria coragem de pedir a ele que ficasse comigo? Abandonar você? Meu Deus, Ian!
— Ele ainda a ama, e você provavelmente deve sentir algo por ele. Eu não quero que vocês se encontrem.
Jayne passou a mão no rosto e olhou para ele.
— Ian, eu pensei que você confiasse em mim. Se todas as demonstrações de amor que eu já lhe dei não bastam, eu sinto muito, não há mais nada que eu possa fazer para lhe provar.
Ela virou as costas para ele novamente e saiu.
— Jayne! — ele a chamou.
Jayne não lhe deu ouvidos, não olhou para trás e entrou em casa. Ian respirou fundo, fechou os olhos e escorou-se na cerca, apoiando-se com as mãos. Não deveria ter dito nada daquilo, queria acalentá-la e não pressioná-la. Mas seu coração doía, sentia um ciúme tenebroso de Enrique e as palavras do juiz lhe martelavam a cabeça, aquela história voltava para suas vidas novamente.
Os dois acabaram se evitando o resto do dia. Para ambos, brigar e se evitarem era algo que não estavam acostumados a fazer e em ambos, cresceu uma tristeza imensa no peito.
À noite, Jayne preparou-se para dormir, acendeu a lareira, baixou as cortinas da cama e deitou-se. Ficou enrolando os cabelos com os dedos, olhando para o teto do dossel. Estava de costas, meio sentada sobre os travesseiros, iluminada pela luz do fogo da lareira e um castiçal de três velas. Estava triste.
Ian entrou, parou nos pés da cama e a olhou por alguns minutos, seu coração estava apertado. Sentir algo que os afastasse, para ele, era um terror. Estava arrependido de ter brigado com ela, mas seu ciúme fora mais forte.
Ele ajoelhou-se na cama e foi engatinhando, lentamente pelas laterais de suas pernas, os dois se olhavam nos olhos. Chegando mais perto do rosto dela, ele passou um dos braços por baixo de suas costas, na altura da cintura, enquanto se apoiava na outra mão e lentamente a puxou para baixo, nos travesseiros, fazendo-a ficar deitada. Ele encostou sua testa na dela, com os olhos fechados, sem dizer nada por alguns minutos. Respirava de um jeito que doía no peito, parecia que mal conseguia puxar o fôlego.
— Perdoe-me — ele sussurrou. — Eu não queria dizer nada daquilo, fui um tolo de deixar meu ciúme falar mais forte. Eu confio em você — disse se aninhando e deitou sobre ela, abraçando-a forte.
Jayne sentiu uma imensa vontade de chorar, perdeu seus dedos entre seus cabelos e o abraçou. Ficaram ali, os dois com os olhos fechados por um tempo, sem dizer nada. Ele lentamente levantou a cabeça e a olhou.
— Haveria algo ou alguém neste mundo que faria você me deixar, ou deixar de me amar?
Jayne suspirou fundo e acariciou o rosto dele com a ponta dos dedos.
— Nunca, nada e nem ninguém vai me fazer deixar de amá-lo.
— Nem Enrique?
— Não, ninguém.
— Então me diga, por favor, preciso ouvir — disse com a voz embargada quase em choro.
Jayne sentiu um nó crescer-lhe na garganta, ela não tinha nenhuma dúvida que amava aquele homem na sua frente, mais que tudo.
— Eu te amo. Você é o amor da minha vida e mais ninguém, entendeu?
Ela deixou que as lágrimas lhe caíssem dos olhos, pois jogou todo o amor que tinha em seu coração daquelas palavras, para que ele pudesse sentir, e ele sentiu, pois seus olhos encheram-se de lágrimas que rolaram pelo rosto dele e os dois se beijaram entre elas.
— Eu te amo. Perdoe-me. Nunca mais vou brigar com você, eu não quero perdê-la.
— Então pare com este ciúme, é descabido. Eu voltei para você porque é com você que quero estar.
Ele assentiu e lentamente beijou seus lábios, primeiramente nos superiores e depois nos inferiores e depois afundou seus lábios nos dela num beijo molhado. Ian a beijou de uma maneira que Jayne chegou a sentir um frio no estômago, as lágrimas correram dos olhos dos dois.
Ian desceu os lábios pelo seu pescoço e colo, dando-lhe doces beijos e lhe beijou o seio sobre a camisola de linho, acariciando o outro com o polegar. Jayne fechou os olhos, sentindo o toque dele no seu corpo, soltou um leve gemido, deixando-o tocar-lhe.
Ele beijou seu ventre, escorregando as mãos pelas suas pernas e as subiu, torneando todo seu corpo e retirando sua camisola pela cabeça. Ele somente vestia a calça do pijama e sem nada que se interpunha entre seus lábios e a pele dela, ele recomeçou a beijá-la e ela, perdeu os sentidos bem ali.
Ela deveria ser dura e pedir que a deixasse, como um castigo, mas não era o que ela queria. Jayne queria que ele soubesse que ela era dele, queria estar bem com seu Ian, como sempre, porque estar separada era ruim demais para seu coração, então seu corpo estremeceu de desejo e o convidou ao prazer, entregando-se a ele.
Beijaram-se, demonstrando um ao outro quanto se amavam. Ele deslizou seus dedos em suas partes íntimas a fazendo gemer e contorcer-se na cama, enlouquecendo-a, excitando-a, mais e mais, enquanto beijava-a intensamente.
O abraçando, ela rolou sobre ele, sentando em seus quadris, lhe beijando e o acariciando. Com um movimento, segurando sua cintura, ele a ergueu para que se encaixasse nele e ambos afogaram aqueles gemidos profanos com um intenso beijo.
Fizeram amor lentamente, sob uma intrépida penumbra, sem negarem lágrimas de amor, sem segurar nenhum sentimento, estavam tão entregues àquele amor que doía. Suas juras de amor eram verdadeiras, a entrega de ambos era verdadeira.
Eles conseguiram afastar aquela tristeza e aquela desavença, acalentar a dor que subitamente apareceu, e depois de sentirem todo o êxtase que queriam e podiam, dormiram abraçados e exaustos.
Na manhã seguinte, Ian acordou e abraçou Jayne mais forte, puxando-a com sua perna para que ela se encostasse mais nele. Ela acordou e se aconchegou em seu peito. Ficaram quietos somente sentindo seus abraços. Nenhum dos dois queria sair dali. Ian beijou lenta e demoradamente sua testa.
— Estou perdoado pelo que lhe fiz ontem?
— Está, contanto que me prometa que nunca mais fará isso de novo.
— Não farei, eu prometo.
— O que o juiz lhe disse para deixá-lo tão transtornado?
— Querida, não quero mais falar nisso.
— Tudo bem, eu não vou mais perguntar.
— Aquele homem é difícil de engolir.
— Ele pensa que a cidade é dele e que pode fazer o que quiser, falar com as pessoas do jeito que quiser.
— Vamos rezar para que isso passe logo e não tenhamos que ir à Madri.
— A próxima vez que eu for à Europa, eu quero ir com você e meus filhotinhos para passear e não enfrentar um tribunal com um bando de corvos querendo arrancar meus olhos.
Ian abriu um leve sorriso.
— Hum, está querendo passear pela Europa de novo, madame.
— Eu? Ora, se pudermos ir, por que não? Afinal, você nunca esteve lá, irias gostar. Poderíamos ir para a Itália, ou quem sabe para a Escócia, Grécia, Londres, tem tantos lugares lindos.
— Podemos pensar no assunto. Bom, será que não consigo convencer você a me dar mais um filhotinho? — começou a beijá-la.
— Ian, pare com isso.
— Não. — Ele beijou seu corpo até chegar em sua barriga. — Por favor — disse fazendo beicinho e Jayne derreteu-se com um sorriso.
— Vou pensar, mas terá que me mimar muito para conseguir.
— Que má! — Ele começou a morder sua barriga e fazer-lhe cócegas e ela começou a rir e gritar.
— Pare. — Mas ele não parava e riram até cansar. — Ai meu Deus, como você judia de mim, uma hora me faz cócegas, outra me morde, outra me carrega que nem saco de batatas, sem contar às vezes que me joga na água de roupa e tudo. Meu Deus, que marido!
Ele riu e estava de joelhos, puxou-a para ele fazendo-a sentar escarranchada sobre suas pernas e a abraçou forte. E os dois encararam-se, ainda ofegantes pela brincadeira.
— É, sei que sou mau. Mas é que gosto de vê-la rindo, gosto das nossas brincadeiras, me deixa feliz, e eu te amo, Jayne — disse carinhosamente lhe ajeitando seus longos cabelos para as costas.
— Eu também.
Os dois estavam nus e ela moveu-se se encaixando mais nele o enroscando com as pernas. Ian fechou os olhos sentindo que seu corpo gritou de desejo por ela novamente.
Ela moveu-se sobre ele como uma felina, beijou seu pescoço e moveu seu quadril ardilosamente e o beijou longamente. Ian deitou sobre ela segurando seus punhos nas laterais de sua cabeça, contra os travesseiros, ela jogou a cabeça para trás quando o sentia entrar nela, tão profundamente.
O êxtase vinha logo, mas ele parou por um segundo. Ian, sem mal respirar, apoiou a cabeça em seu ombro e soltou seus punhos e ela o abraçou fortemente, o enlaçou com as pernas pelos seus quadris e deslizou seu pé pela sua roliça e perfeita nádega, até suas pernas. Era perfeito sentir seus corpos unidos.
Ele moveu-se e Jayne agarrou os lençóis e mordeu os lábios para não gritar. Aquilo foi deveras excitante e pensou que o frio que sentiu em seu estômago a mataria, ele a puxou pelos braços e a sentou sobre suas pernas e o abraçou fortemente. Ambos gemeram, se beijaram e os movimentos recomeçaram.
Definitivamente eram dois apaixonados e devassos, com uma paixão intensa, cheia de amor, o que fazia que um incontrolável desejo os matasse todos os dias e da melhor maneira, entre os lençóis.
— Eu sei que me ama — Ian disse tentando recobrar sua respiração.
— Sim, meu senhor. — Ele a beijou ternamente nos lábios, depois ele a soltou, pulou de cama e colocou o robe. — Aonde vai? — perguntou ela se escorando nos cotovelos.
— Fique aí, não se mexa. Vou buscar uma bandeja de café para nós, estou faminto e pretendo ficar nessa cama por muito mais tempo.
Jayne abraçou o travesseiro esperando sua volta. Sabia que ele estava tentando compensá-la, o conhecia bem. Ruborizou quando se lembrou das coisas que fizeram e escondeu o rosto no travesseiro. O amava e sabia que ele a amava, isso era maior que qualquer desavença. E gostava da humildade de Ian em admitir seus erros. Ela suspirou de felicidade.
Ian voltou com a bandeja de café que Anna lhe ajudou a arrumar, ele foi até o jardim e colheu uma bluebonnet, uma flor azul nativa do Texas, que havia no pequeno canteiro de flores e deu à Jayne, o que a deixou encantada.
Tomaram o café, brincaram, riram entre os lençóis. Tiraram o resto do dia somente para os dois. Andaram a cavalo, ficaram jogados na grama, aproveitando o sol e a companhia um do outro. Pareciam dois enamorados e esqueceram-se do deprimente dia anterior.
Era assim que eles sabiam viver, era assim que eles sabiam ser; aquele casal eternamente apaixonado um pelo outro.
À noite, Jayne pediu a Anna que fizesse um jantar especial e eles jantaram com seus filhos, e as crianças foram dormir depois dos dois lerem uma história infantil com bruxas e dragões, onde Ian dramatizava os personagens os fazendo rir. Após aconchegarem seus filhos na cama, foram se amar em frente à lareira.
Capítulo 5
Enrique acordou e olhou para Catherine que dormia ao seu lado. Passou a mão em seus cabelos e por um momento lembrou-se de Jayne. Ele suspirou e esfregou o rosto tentando afastar aqueles pensamentos. Fazia esforço para esquecê-la. Seu peito já não doía tanto quando pensava nela, mas às vezes seus pensamentos lhe traíam, trazendo lembranças.
— Enrique? — disse Catherine, suavemente.
Ele olhou rápido para ela, como se tivesse levado um susto.
— Oi, amor — disse ele virando-se para ela.
— Está se lembrando de algo?
— Não, por quê?
— Não minta para mim, Enrique.
— Catherine, por favor, não comece com isso novamente.
Ela respirou fundo e fechou os olhos por um minuto.
— Meu pai me escreveu — disse mudando de assunto.
— Ele ainda está dizendo que vai me matar?
— Ele agora disse que jogaria você numa cela.
— Bem... Está melhorando.
— Disse que assim que esta anulação sair nós teremos que nos casar.
— E vamos.
— Não quero me casar com você.
— O quê?
— Isso que você ouviu.
Ele, espantado, sentou na cama olhando para ela.
— Catherine, como você pode dizer uma coisa destas? Você está esperando um filho meu, assim que a anulação do meu casamento sair, nós nos casaremos. Eu sinto muito que não pode ser agora.
— Mas eu disse que nem agora e nem depois.
— Por que, o que está dizendo? Eu achei que gostasse de mim.
— Eu gosto.
— Então, por que isso agora?
— Porque não quero me casar com um homem que não me ama e muito menos porque estou grávida.
— Cath... — Ele a puxou para perto dele. — Escute-me, não é o momento para pensamentos feministas, querida, você está grávida e gerar um bastardo, não é uma opção. Não vou me casar com você porque está grávida ou porque estou sendo pressionado por seu pai. Quero me casar porque eu gosto de você e quero ter uma família.
— Mas você não me ama — disse com os olhos em lágrimas. — Ainda ama sua esposa. Sei que casamentos nem sempre são por amor, mas...
— Cath, eu sou louco por você, mas ainda não consegui enterrar meu passado, por mais que eu tente. Só te peço que me dê mais um tempo. Eu não quero magoá-la e não quero que você saia de perto de mim.
— Você fica pelos cantos ultimamente, nervoso, pensativo, isso me deixa muito infeliz, sei que está pensando nela.
— Querida, o que você espera? Estou cuidando desta anulação, tenho que frequentemente falar no nome dela, e estou agoniado de talvez irmos ao um tribunal aberto. Como acha que me sinto? O magistrado não atendeu meu pedido de me ouvir, nem sequer responderam meus recados, parece que estão me ignorando e para piorar, agora o magistrado se retirou para a costumeira caçada anual, deixando-me aqui com aquele juiz maldito.
— Se você vê-la vai ter uma recaída, não vai?
— Querida, não vou ter nada, se nos encontrarmos, daremos fim nisso. Ficarei livre para me casar com você e ela vai ficar em paz com o marido dela. É assim que tem que ser.
— Você pode alegar que ela é pobre, que não tem condições de vir à Espanha. — Ele deu uma risadinha.
— Querida, ela não é pobre, mas se fosse, eu não sou e eles sabem muito bem disso. Se eles exigirem a presença dela, eu serei obrigado a pagar a viagem, me fazendo dar valor ao meu título de visconde e minha fortuna como herdeiro de meu pai e acima de tudo, pelo fato de eu ainda ser oficialmente seu marido.
— Então diga que ela é doente, que está numa cama.
— Catherine, não se preocupe, vai dar tudo certo. Nós ficaremos bem, eu, você e nosso filho — disse acariciando sua barriga abaloada.
— Tem certeza que não está comigo só porque estou grávida?
— Sim, e estou muito feliz de ter um filho com você, minha querida, acredite em mim — disse acariciando o rosto dela e enxugando uma lágrima que caiu dos seus olhos. — Você tem sido uma alegria para mim e eu quero me casar com você. Não porque alguém está dizendo, mas sim porque eu quero, entendeu? Agora, só não me casarei se você não me quiser, mas temos responsabilidades, há um filho envolvido, sua reputação.
— Mas eu te amo, Enrique. Eu me apaixonei por você quando você bateu a minha porta pela primeira vez.
— Então, minha querida, nós não temos o que temer, não é? Vamos ser felizes, teremos o nosso filho, nos casaremos e vamos sempre estar juntos.
— Tem certeza?
— Tenho.
Enrique a beijou e abraçaram-se fortemente.
— Bem, se você vai ser meu marido, não posso deixar meu pai jogá-lo numa cela, não é?
— Não, não pode — disse rindo e a empurrando contra os travesseiros.
— Tenho que ir embora, antes que a cidade toda acorde.
— Não, eu quero que você venha morar aqui.
— Morar aqui? Vai ser um falatório dos diabos, eu não posso fazer isso.
— Sua barriga já está aparecendo, Catherine, você não vai mais conseguir esconder com roupas largas. Se você ficar andando sozinha, aí é que falarão. Assim todo mundo vai achar que somos casados, melhor que alardearem que somos amantes e que você é uma perdida.
— Meu Deus! Que enrascada fomos nos meter.
— Agora não adianta lamuriar, temos que tentar ajeitar as coisas. Hoje mesmo você trará suas coisas para cá.
— Hoje?
— Sim, e não discuta comigo, mocinha.
— Enrique, se vocês tiverem uma corte pública, todos saberão que nós não somos casados. Vendo minha barriga, eu estarei à lama.
— Vamos solucionar uma coisa de cada vez, nós dois fomos irresponsáveis de termos virado amantes, pior, de não termos nos cuidado e evitado esta gravidez. Eu fui irresponsável com você e vou consertar tudo isso, mas agora vamos resolver a questão de você vir para cá e ponto final. Assim, eu fico mais tranquilo, de ter você em minha casa, protegida.
— Talvez eu devesse sair de Madri, você disse que seu pai tem uma casa de campo. Talvez eu devesse ir para lá sem que ninguém saiba.
— Não sei, eu acho que isso não vai adiantar nada. Virá hoje mesmo para cá. Mesmo porque eu a quero perto de mim e não posso me ausentar.
Ela tentou protestar, mas ele a beijou afogando suas palavras e fazendo-a derreter-se em seus braços. Ele retirou sua camisola pela cabeça e deslizou suas mãos pelo seu corpo a fazendo ferver.
— Prefere ficar longe disso? — ele sussurrou em seu ouvido.
— Ham... Não.
Ele sorriu e a beijou novamente. Enrique sempre conseguia convencê-la de qualquer coisa.
**
— Olá, amigos! — disse Mitchel rindo, chegando à fazenda dos Buller.
— Tio Mitch! — Angel correu abraçá-lo.
— Oi, minha princesa. Meu Deus, o que você está comendo? Desse jeito vai parecer uma árvore.
— Sim, ela está ficando muito alta — Ian disse sorrindo.
— Já sou uma moça adulta. — Mitchel e Ian riram dela.
— Você ainda não é adulta.
— É verdade, Angel. Acho melhor você ficar brincando de bonecas e aprendendo bordados.
— Ah, eu vou dar minhas bonecas todas para a Sarah e para a Samantha.
— Ian, prepare a espingarda.
— Pode deixar, já está carregada.
— Oh, papai! Assim eu não vou arrumar um pretendente.
— Ai meu Deus, amigo! Ela está falando em pretendentes.
— Angel, você é muito nova para pensar nisso, pode parando por aí — Ian disse a olhando torto.
— Papai, vai querer que eu fique uma solteirona?
— Solteirona, com treze anos, Angel? Pelo amor de Deus, ainda há tempo para arrumarmos um bom pretendente para você. Com certeza sua mãe não aprova esta conversa.
— Eu tenho quase quatorze anos, papai — disse fazendo cara feia. — As moças se casam aos dezesseis.
— Oi, Mitch — Jayne disse chegando perto deles.
— Oi, minha querida. Esta pirralha já está com quase quatorze?
— Já. Vocês acham que eu parei nos dez anos?
— Do que estão falando? — perguntou Jayne.
— De pretendentes — disse Ian com cara de indignado.
— O quê? Este assunto ainda não é motivo de conversa.
— Mamãe, eu não estou falando que quero um pretendente agora, só que o papai já está dizendo que tem espingarda carregada, vai afugentar todos meus pretendentes deste jeito.
— Ele tem uma e eu outra, não vamos deixar gaviões pairando por aqui tão cedo.
— Ai mamãe!
— Nada de mamãe, mocinha.
Jayne a olhou com a sobrancelha levantada, como alerta de que estava sendo malcriada e Angel fechou logo a boca.
— Está bem, mamãe, eu posso dar um passeio com o Matt e a Anabel?
— O Matt tem afazeres, minha filha, só mais tarde.
— Mamãe, a senhora disse que não é para sair sozinha, então deixa o Matt ir comigo e a Anabel, assim, ele nos protege se algo acontecer.
— Ah! Mas que bela proteção aquele garoto vai dar — Mitchel disse rindo.
— Está bem, mas não demore e não vá longe. Sabe que não gosto que se afaste da fazenda sem mim e seu pai.
— Sim, obrigada — disse beijando a sua mãe. — Adeus, tio Mitch.
— Adeus e juízo, senão eu lhe puxo as orelhas. — Ele esperou que Angel se afastasse. — Ian, eu vim lhe perguntar uma coisa.
— Diga, Mitch.
— Você disse que quando retornou, se encontrou com Jayne, e que vocês ficaram presos na velha mina, não foi?
— Sim.
— E que a entrada havia desabado.
— Sim, ficou impossível de passar. Por quê?
— Porque eu passei por lá e alguém abriu uma pequena passagem. Eu acho que foi, porque se tinha desabado não teria aquele buraco.
— Meu Deus, será que alguém está mexendo lá de novo? Eu havia me esquecido disso.
— Oh, Deus do céu! — disse Jayne com os olhos arregalados.
— O que foi?
— Eu havia esquecido completamente disso também. Como eu pude esquecer-me de algo assim tão importante?
— O quê? — Mitchel perguntou.
— Ian, há ouro naquela mina.
Os dois a olharam sérios e se olharam.
— Não, não há, Jayne — disse Ian.
— Há sim, eu vi.
— Como assim, viu?
— Quando caímos na água e você mergulhou para encontrar uma saída, eu vi uma pepita cravada na pedra, mas eu não me lembrei mais disso. Ian há ouro lá, sim!
— Jayne, já disse que não há nada lá, esqueça esse assunto — Ian disse nervoso e falando baixo.
— Como assim? Não entendo, eu vi.
— Querida, eu sei que você viu, mas faça de conta que não viu.
— Do que está falando? Você sabia que havia ouro lá?
— Sim eu sei, mas não quero que ninguém saiba, e isso vai ficar assim.
— Eu não acredito que você sabe que há ouro naquela mina e você não faz nada. Principalmente se ela é sua.
— Shhh. Fique quieta, eu não quero que ninguém nos escute. Ninguém vai mexer naquela mina. Esse assunto é terminantemente proibido, ninguém vai entrar lá.
— Ian, me diga por quê? — perguntou espantada.
— Acho melhor contar a ela, Ian.
— Contar o quê?
— Jayne, a mina foi descoberta pelo meu pai, depois que havia comprado aquelas terras, então ele começou a garimpar. Havia retirado algum ouro de lá, mas foi atacado por bandidos. Meus pais foram mortos por causa daquela mina, por causa do ouro. Eles mataram meu pai na mina e mais oito homens, minha mãe mataram aqui na nossa casa, pois eles vieram aqui atrás de ouro, eles quebraram a casa toda, por sorte não botaram fogo em tudo, eu só não morri porque estava na casa do Mitchel naquele dia. Então eu a fechei. Nunca ninguém mais entrou lá, e vai ficar assim.
— Sinto muito, Ian.
— O garimpo é um chamariz para bandidos, também concordo que isso deve ficar fechado e ficarmos de bico calado. Se bem que é uma tortura saber que há ouro lá, mas é o melhor a fazer — disse Mitchel.
— Meu Deus! Mas acho que alguém está se metendo lá.
— Eu já falei para você cercar aquelas terras. Não adianta muito quando os miseráveis querem atacar, mas, pelo menos, sabem que tem dono — disse Mitchel.
— Vou fazer isso, vamos dar uma olhada lá?
— Vamos.
— Eu também vou — disse Jayne.
Pegaram as armas e chamaram James e os quatro foram até a mina dar uma olhada, realmente havia alguém adentrado novamente na mina, dava para ver as marcas.
— O que vai fazer, Ian?
— Fechar de vez.
— Tem certeza? — perguntou Jayne.
— Querida, já temos que manter a fazenda bem guardada por causa dos cavalos, se mexermos com isso, nós podemos nos complicar, não acha?
— Verdade, Ian, eu não quero meus filhos correndo perigo, eu acho melhor fechar isso e deixar este assunto quieto. Não precisamos deste ouro. Se não quer garimpá-la, então que assim seja.
— Podemos explodir tudo, senhor. Colocamos tudo abaixo com algumas bananas de dinamites. Nunca mais ninguém entrará lá e todos os vestígios serão apagados.
— Sim, James, nós faremos isso. Há uma caixa de dinamites no celeiro.
— Tem dinamites no celeiro? — Jayne perguntou espantada e Ian riu.
— Sim, Jayne.
— Vamos resolver isso agora mesmo e depois trataremos de cercar estas terras — disse Mitchel.
Quando iam subindo nos cavalos ouviram tiros na direção deles, os cavalos assustaram-se, eles sacaram as armas rapidamente e revidaram, havia três homens escondidos nos arbustos ao lado da mina.
Mitchel foi atingido no braço e Jayne, que já estava no cavalo foi alvejada e caiu.
— Jayne! — Ian gritou apavorado a olhando quando caiu, virou-se rapidamente e atingiu dois dos bandidos e James atingiu o outro, o tiroteio parou. Ian correu até Jayne e ergueu sua cabeça do chão, ela estava respirando com dificuldade e o olhou com os olhos arregalados, com as mãos na barriga ensanguentada. Ian a olhou sentindo o pavor invadir lhe. — Jayne, meu amor, fique comigo, fique comigo. — Mitchel tentou levantar com a ajuda de James.
— Me ajudem aqui! — gritou Ian.
— Meu Deus, o que foi isso? — disse Mitchel gemendo e segurando o braço baleado. Ian subiu no cavalo rapidamente.
— A coloque aqui, James! Rápido, corra chamar o médico.
James pegou Jayne no colo que gemeu de dor e a colocou no cavalo de Ian, à sua frente. Ele segurou Jayne com um braço e a rédea na outra.
Mitchel subiu no seu e correram para casa enquanto James foi para a cidade.
Ian pegou Jayne no colo e entrou chutando a porta de casa e correu para o quarto, gritando pelo nome de Anna, que veio apressada.
— Jayne, aguente, meu amor, por favor.
Ela mal respirava, não conseguia dizer nada e lágrimas lhe escorriam dos olhos. Ian abriu sua blusa e olhou seu espartilho encharcado de sangue.
Com uma faca, cortou os cordões do espartilho, o arrancando, e rasgou a chemise. Anna pegou água e panos e ele colocou com uma mão sobre sua barriga tentando estancar o sangue.
— Ian...
— Não fale, querida, não fale, o médico já vai chegar, por favor, fique comigo. Ian ouviu mais alguns tiros ecoarem nas montanhas e olhou assustado para a porta.
— Anna. Corra e peça a alguns homens que vão atrás de Angel.
— Meu Deus, meus filhos! — Anna disse lembrando-se que os três haviam saído num passeio.
— Corre!
Anna correu e gritou para os homens que vieram, já se armando e correram pegar os cavalos e foram atrás de Angel, Matt e Anabel.
— Angel... — Jayne sussurrou tentando agarrar a camisa de Ian com a mão ensanguentada.
— Jayne, calma, ela deve estar bem, não fale, por favor. — Ian não aguentou e as lágrimas lhe corriam dos olhos, Jayne desmaiou. — Jayne, por favor, não morra, fique aqui comigo, por favor... — Ian escorou sua cabeça no peito dela e a puxando para si e a abraçou forte já caindo aos soluços.
O médico demorou uma eternidade a chegar, parecia que os minutos arrastavam-se. Ian segurava a mão de Jayne e com a outra segurava o pano na sua barriga, já todo cheio de sangue.
Mitchel, que estava em pé no quarto, segurava seu braço ferido e olhava para eles com os olhos arregalados, sem saber o que dizer e sem nada a fazer, senão esperar.
Ian resolveu tentar ajudá-la por ele mesmo e retirar a bala, afinal já havia feito isso antes. Não podia ficar ali parado sem fazer nada.
Quando o médico chegou, fez Ian e Mitchel saírem do quarto e Anna ficou com ele, o ajudando. Ian lavou suas mãos que estavam cheias de sangue, estava com o rosto desfigurado pela dor e começou a andar de um lado a outro.
— Meu Deus, onde está minha filha?
Willian entrou correndo pela sala.
— O que houve?
— Will! Havia bandidos na mina, acertaram Jayne na barriga e Mitch no braço e mandei homens atrás de Angel, ela está por aí.
— Calma, vou encontrá-la. Como está Jayne?
— Não sei, mas não está nada bem.
— Calma, ela vai ficar bem, vou atrás de Angel.
Willian saiu correndo pegando mais uma espingarda de Ian e balas, ele chamou mais dois homens e foram para as montanhas.
Mitchel sentou em uma cadeira, segurando o braço, tinha que esperar e aguentar a dor, que amenizou um pouco com uns goles de uísque.
Capítulo 6
Angel levantou do violento tombo, quando um dos homens que estava atrás dela atirou no Tornado. Ele caiu a levando junto, com dificuldade ela levantou e tentou correr, mas estava mancando. O bandido veio atrás dela, pegou-a pela parte de trás de seu casaco e a jogou de bruços no cavalo.
Matt atirou para tentar atingi-lo, mas os homens estavam por todos os lados. Angel levantou a cabeça e avistou uma faca na cintura do homem, pegou-a e fincou na perna dele que gritou derrubando a arma que segurava em uma das mãos.
Matt atirou nele e ele caiu do cavalo levando Angel junto. Ela bateu a perna em uma pedra, cortando-a. Matt correu e a levantou, escorando-a e levou-a para detrás das pedras.
Willian ouviu tiros que vinham dos penhascos, correu para lá e avistando alguns homens, começou a atirar, galopando em sua direção.
Os homens de Ian, que antes, já haviam saído para procurá-los, também tinham ouvido os tiros e mudaram de rumo, chegaram ao local, também atirando, mataram mais alguns bandidos e o tiroteio cessou.
Três dos homens de Ian morreram alvejados pelos bandidos.
— Angel! — gritou Willian dando a volta no cavalo.
— Tio! — gritou ela de trás de uma pedra.
Ele saltou do cavalo e com os olhos arregalados a viu atrás de uma pedra, junto a Anabel. Matt apareceu atrás de outra pedra empunhando a arma.
— Então bem? — gritou ele.
— Sim, estamos.
— Sua perna está sangrando e está toda ferida — Willian disse olhando para sua saia ensanguentada.
— Eu caí do cavalo.
Willian a pegou no colo e a colocou no cavalo e subiu.
— Matt, Anabel! — James gritou enquanto se aproximava rapidamente, saltou do cavalo, os abraçando. — Estão bem?
— Sim pai, estamos bem — Anabel disse apavorada.
— Ainda bem que vocês chegaram, eu não tinha mais balas — disse Matt.
— Vamos embora, rápido.
Todos montaram e voltaram para a fazenda.
— Tio, eles mataram o Tornado — Angel disse assustada.
— Sinto muito, querida, mas vamos cuidar da sua perna e sua mãe está ferida. Os bandidos a acertaram.
— Ah, meu Deus! — disse chorando mais ainda.
Chegando à fazenda James chamou todos e gritava nervoso.
— Fiquem de prontidão ao redor da fazenda, não deixem ninguém passar — disse James aos homens.
Willian levou Angel no colo para dentro de casa e quando Ian a viu sangrando, ficou deveras assustado.
— Filha!
Ele saiu correndo e a pegou dos braços de Willian. Ele a sentou no sofá e levantou sua saia para ver o ferimento, ela estava com um corte profundo na perna e com vários arranhões pelo corpo.
— Ai! — gritou quando ele mexeu em sua perna.
— Não é grave, mas acho que vai precisar de pontos, vai ficar bem logo.
Ele retirou um lenço do bolso e amarrou em sua perna. Angel começou a chorar e Ian a abraçou. Josh estava chorando no canto da sala, encolhido com as mãos em frente ao corpo. — Filho, venha aqui. — Ele correu e Ian o abraçou. — Calma, Josh, vamos ficar bem.
— Mamãe não pode morrer.
— Ela não vai morrer, Josh. — Ian ficou ali abraçado com os dois filhos esperando notícias do médico. Anna saiu correndo e foi para a cozinha, voltou correndo novamente com mais água e panos limpos. — Anna, me diga o que está acontecendo! — perguntou Ian.
— A senhora não está nada bem, senhor, nada bem — disse com os olhos arregalados e a respiração ofegante.
Ian sentiu que seu coração despedaçou no peito. Willian esfregou as mãos no rosto e pegou uma garrafa de uísque e bebeu no gargalo.
— Ai, Maldição! — Mitchel gemeu, amarrando um lenço no braço e sentado numa cadeira.
— Como está seu braço?
— Ah, mais um furo, estou virado numa peneira, pelo amor de Deus!
Ele bebeu do uísque em goles rápidos e tossiu, jogou um pouco encima do braço e gemeu rangendo os dentes e espremendo os olhos.
Ian foi à cozinha e pegou uma bacia com água e foi limpar o ferimento de Angel e ela gemia pela dor.
— Calma filha, eu só vou limpar isso, quando o médico sair ele cuidará de você, está bem? Isso vai precisar de pontos.
— Ian, será que aqueles homens não eram os donos daqueles cavalos?
— Acho que não, Will. Eles estavam rondando a mina.
— Esta mina é maldita! — Mitchel disse esbravejando.
— Vou explodir aquela mina e esquecer que ela existe — Ian disse furioso.
— Você já devia ter feito isso antes.
— Eu sei, fui um idiota. Se Jayne morrer não vou me perdoar nunca.
— Ela não vai morrer, Ian. Fique calmo — disse Willian.
— Meu Deus, o que está acontecendo lá dentro? Por que está demorando tanto?
O médico demorou mais uma eternidade para sair do quarto. E quando ele saiu, Ian em pânico foi até ele.
— Como ela está?
— Retirei a bala, mas ela não está nada bem, a febre já iniciou, perdeu muito sangue e está muito fraca. Fiz tudo que estava ao meu alcance, mas Sr. Buller... ela está muito fraca... Eu sinto muito.
— Ela é forte — Ian disse segurando as lágrimas.
— Calma, Ian, sim, ela vai conseguir. Doutor cuide de Angel e Mitch, por favor, também estão feridos — disse Willian.
— É doutor, estou furado de novo.
— Há Mitchel! Eu já perdi as contas de quantas vezes eu tirei balas de você. Fora as que a Mary o fez.
— Eu sei, adoro balas pelo jeito, mas, por favor, não deixe Jayne morrer, isto não pode acontecer.
— Não há mais nada que eu possa fazer, ela vai ter que reagir e passar pela febre. As próximas horas são cruciais, temos que esperar.
Ian entrou no quarto e se ajoelhou ao lado da cama e pegou sua mão.
— Minha vida, fique comigo, você não pode morrer, reaja, meu amor.
Ele ficou ali, acariciando sua mão e um silêncio tenebroso pairou no ar.
**
Jayne passou o resto do dia e toda a noite sem acordar e sem a febre baixar. Sua fisionomia estava horrível, branca, lábios roxos, inerte. Ian não saiu do lado dela e no fim da tarde o médico a viu novamente, mas sem muito que fazer.
Ian ficou deitado ao lado dela à noite toda, segurando sua mão e esperando que ela acordasse, fazia compressas frias na sua testa, tentando fazer a febre baixar. Quando ele dormiu de exaustão, já estava amanhecendo. Ele acordou quando sentiu ela lhe pressionar a mão.
— Meu amor! — sussurrou.
Ele se aproximou mais do seu rosto e ela vagarosamente abriu os olhos olhando para ele.
Não se movia, ficou assim por um tempo, o médico lhe aplicou láudano para que ela não sentisse dor e ela adormeceu novamente e ficou assim o dia todo.
Ian não saia do lado dela nem para comer, estava transtornado. Quase no fim da tarde, Ian estava sentado ao lado da cama, segurando sua mão, com a cabeça recostada sobre ela e os olhos fechados.
Estava exausto e temia pela vida dela, não podia viver sem ela.
— Ian... — ela sussurrou com a voz fraca.
Ele levantou a cabeça rapidamente a olhando.
— Shhh, não fale meu amor, fique quietinha.
Ele acariciou sua testa segurando a vontade de chorar ao vê-la emitindo alguma reação.
— Água...
Ian rapidamente levantou e pegou água, levantando um pouco sua cabeça para que conseguisse beber do copo, que ele gentilmente lhe colocava à boca.
— Você vai ficar bem, querida, vai se recuperar, graças a Deus você acordou.
Ele deitou-se ao seu lado, segurando sua mão.
— Onde está Angel?
— Ela está bem, não se preocupe, está em casa. — Jayne fechou os olhos sentindo-se aliviada. — Descanse... — disse acariciando seu rosto.
Ela dormiu, a febre felizmente estava cedendo. Quando Ian a viu mais serena, levantou-se.
— Ela acordou — disse saindo do quarto e encontrando-se com Anna dando o jantar para Josh e Angel que mantinham uma fisionomia de medo.
— Ah, graças a Deus! — disse Angel.
— Como está sua perna?
— Dói, mas está tudo bem. Pai, eles atiraram no Tornado.
— Sinto muito, filha. — Ele sentou ao seu lado e a abraçou.
— Mamãe vai ficar muito triste quando souber, ela amava o Tornado, pai.
— Eu sei, querida.
— A mamãe vai ficar bem, não vai?
— Vai sim, Angel.
— Senhor... — disse James entrando na sala com Matt. — Como está a senhora?
— Acho que vai melhorar, James. Ela já acordou.
— Graças a Deus!
— E Angel? — perguntou Matt.
— Levou pontos e está com muitos roxos e arranhões, mas está bem.
— Quando eles atiraram no Tornado e ela caiu, saiu correndo e um dos homens a pegou, mas ela o atingiu com uma faca e depois eu atirei nele e eles caíram do cavalo, foi aí que ela se machucou.
— Sabemos que estes bandidos pegam as mulheres por onde passam — James disse.
— Meu Deus! Se isso tivesse acontecido seria uma desgraça. — Ian ficou nervoso e passou as mãos no rosto. — Mas achei estranho eles estarem atocaiados lá na mina.
— Sabe, agora o senhor falando, parece certo — disse James pensativo.
— Isso está muito estranho. Fiquem de olho na fazenda, reforce a guarda, quero homens armados ao redor da fazenda, arme-os até os dentes, até eu não entender isso, eu vou me prevenir e avise ao xerife.
— Sim, senhor.
— Não ouviu eles falarem sobre nada, Matt?
— Ham... Não senhor, isso não tem nada a ver com a velha mina, tenho certeza. Eram ladrões comuns e pegaram a Angel, creio que era isso, somente aventureiros a fim de diversão, talvez conseguir um resgate. Com certeza viram sua roupa elegante e pensaram que podiam conseguir dinheiro.
— Obrigado por impedir que eles levassem Angel, Matt.
— Não foi nada, senhor.
— A senhora vai se recuperar, patrão, é uma mulher forte — disse James. — O senhor vai explodir a mina?
— Vou, mas não estou com cabeça para isso agora.
— Se o senhor quiser, eu e Matt faremos isso — disse James. Matt o olhou arregalando os olhos.
— Faça isso, James — respondeu Ian. — Quero aquela maldita mina destruída o mais rápido possível e quero esquecer que ela existe. Coloque o máximo de dinamites, não quero a mínima possibilidade de alguém mexer lá novamente, nem que para isso tenha que colocar todo o desfiladeiro abaixo, entendeu?
— Sim, senhor.
James e Matt se afastarem dele enquanto Ian entrou e foi ficar com Jayne. Josh estava deitado ao lado dela segurando sua mão e ela dormia.
— Ela vai ficar boa, papai? — perguntou cochichando. Ian se deitou ao lado dele o abraçando.
— Vai filho, vai sim.
Ficaram ali os dois com ela sem dizer nada somente a olhando inerte na cama.
**
— Pai, por que o senhor vai explodir a mina? — Matt perguntou indignado.
— Porque o patrão pediu.
— Mas por quê?
— Porque tem alguém fuçando lá e ele quer impedir, aquela mina já trouxe muita desgraça.
— Por que ele não explora a mina, pai?
— Porque ele não quer, Matt. A escolha é dele.
— Tem ouro lá.
— Cale-se! Não fale disso para ninguém, como sabe disso?
— Eu ouvi.
— Você anda ouvindo atrás das portas? Você sabe de alguma coisa?
— Não sei de nada.
— Vamos explodir a mina e você está proibido de falar neste assunto até com sua sombra, está me ouvindo? — falou furioso.
— Ai, não falo nada! Só acho um desperdício sem tamanho deixar ouro lá enterrado. Nós aqui pobres e ouro lá jogado fora.
— Pare com isso. Não se meta nos assuntos do patrão, se ele sabe que você anda falando estas coisas ele te manda embora ou te mata. Está louco? Aquela mina é dele, ele faz o que quiser. Não viu no que deu bandidos mexerem lá? A senhora quase morreu e a filha machucada. Acho que é a melhor coisa que ele deve fazer. Dinheiro não é tudo, Matt.
— Está bem, eu já falei que não vou falar nada, vamos lá explodir esta coisa logo antes que eu me arrependa.
— Você não tem que se arrepender de nada. Aqui você não manda em nada. Se o senhor quer botar aquilo abaixo ele vai e você vai ficar calado, não vai comentar isso com ninguém.
— Como o senhor pode ser assim tão submisso a eles? — disse indignado.
— Matt, eu não sou submisso, sou um empregado leal, servi minha vida inteira ao senhor Cullen e agora à filha dele. Nunca encontraremos família melhor que os Buller para trabalhar.
— Isto é ser submisso, não temos nada nosso.
— Não Matt, isso é ser leal. Moramos numa bela casa, comemos do bom e do melhor, nunca lhes faltou nada, recebemos um bom salário e eles nos ajudam em tudo que precisamos. O que você quer mais?
A casa que moramos é deles e não nossa.
— Matt, não seja irracional. Conheço capatazes de outras fazendas e eles não têm a metade que nós temos aqui. Muitos moram nos celeiros e dormem encima do feno. Onde que você viu um patrão convidar os empregados para uma festa de família? Nós temos isso, porque eles confiam em nós, nos tratam com respeito e isso é uma raridade. Nem o senhor Cullen me tratava assim. Por isso que aceitei esse cargo de confiança, não é fácil conseguir este cargo e muito menos com tudo que ganhamos, como uma boa casa. E eu darei minha mão para continuar com a confiança que eu conquistei e não vai ser você, um garoto desmiolado que estragará isso.
— Eu quero enriquecer, quero ter uma fazenda igual a esta. Quero ter empregados em vez de ser um. Se o senhor Buller não quer a mina devia dar a nós, assim poderíamos comprar uma terra e ter nossa casa.
— Você ainda não entendeu nada e estou com vergonha do que estou ouvindo. Aquele homem é tão nobre que é capaz de abandonar uma mina que provavelmente tenha algum ouro do que ter uma esposa e filhos mortos assim como já teve os pais. Eu conheço a senhora Buller desde que era uma criança, sua mãe foi sua babá. Nada neste mundo vai me fazer traí-los ou deixar de protegê-los, entendeu? Esta mina vai ao chão e você se quiser enriquecer vai ser trabalhando como todo mundo aqui faz.
— Não quero mal a eles, pai, mas eu não quero ser um peão a vida toda.
— Acha que uma fazenda cai do céu? Acha que foi fácil para eles terem o que tem hoje? Você é muito novo e não sabe nada da vida ainda.
— Não sei o quê? Que trabalho que nem uma mula? Que sou filho de peão que não tem onde cair morto? Que nenhuma moça de família abastada se casaria comigo por que sou um simples filho de capataz?
— Do que está falando? Eu lhe dou um conselho, não espiche seus olhos onde eles não podem alcançar, pois vai acabar cego ou morto, numa cova rasa e se isso acontecer é porque nunca ouviu nada do que eu disse.
— Acho que o senhor não sabe de nada.
Matt só percebeu que levou uma bofetada quando bateu no chão, e olhou para o pai com espanto.
— Me respeite ou lhe quebro os dentes. E eu acho que você é que não sabe. Se você acha que eu sou cego, está enganado; e se acha que vou ficar quieto muito menos. Vou lhe dar um aviso e preste bem atenção, porque vai ser a única vez que vou falar. Cuide onde pisa, garoto. Porque acertou alguns bandidos em vez de latas não o fazem um homem e, se pensa que sua fazenda vai vir fácil, pior ainda. E muito menos espichar os olhos para moças que não lhe condizem.
Matt levantou e juntou o chapéu.
— Agora vamos pegar as bananas de dinamites e explodir aquela mina e este assunto está encerrado. Nunca mais quero ouvir sobre este assunto e muito menos que você, um dia, diga ou faça algo que desagrade os Buller, se não, vai se ver comigo.
Matt não falou mais nada e seguiu o pai, mas claramente demonstrava sua indignação. Dali algumas horas pode-se escutar as explosões estrondosas vindo da mina que ecoaram pelas montanhas.
Ian que estava deitado na cama ao lado de Jayne, segurando sua mão e prestando atenção em qualquer simples movimento que ela pudesse fazer, somente ficou ouvindo e fechou os olhos.
Uma dor imensa invadiu seu coração. Parecia que todos os pesadelos por causa daquela maldita mina lhe veio à cabeça.
Seus pais mortos, a dor de seus amigos e seus familiares, ele e Jayne presos na mina, Jayne baleada e ali inerte. Preferia que aquilo tudo sumisse de uma vez.
Jayne acordou, com o barulho das explosões, abriu os olhos, mas moveu o rosto devagar.
— Ian... — Ele olhou para ela rapidamente.
— Meu amor, como está se sentindo?
— O que foi isso? — disse vagarosamente.
— Não se preocupe, eu mandei explodir a mina. Fique tranquila.
— Me dê... Algo para a dor... Por favor — disse gemendo e com uma fisionomia horrível.
— Meu amor, está sentindo dor? — disse Ian, apavorado.
— Por favor. — Ela mal conseguia pronunciar as palavras e abrir os olhos e seu rosto transformara-se. — Ian, se eu tiver que morrer não me deixe sentindo dor, por favor.
— Querida, não diga isso, você não vai morrer.
Capítulo 7
Ian levantou e pegou o frasco que estava na cabeceira e a seringa e injetou outra dose nela. Depois, ficou acariciando seus cabelos. Tentava afastar o pânico que lhe tomava a vendo naquele estado, mas era quase impossível.
— Minha vida, você não pode morrer, entendeu? Eu e nossos filhotinhos precisamos de você. Fique boa, por favor. — Ele colocou a mão na sua testa e ela estava queimando em febre. — Meu Deus, a febre voltou! — disse em pânico e Ian saiu correndo do quarto. — Onde está James, Anna?
— Ele ainda não voltou.
— Ache algum peão, diga para trazer o médico aqui agora mesmo.
— O que houve?
— A febre voltou, ela está queimando e isto era a última coisa que podia ter acontecido. Vá rápido!
Anna saiu correndo atrás de alguém para ir à cidade. Dali uma hora o médico chegou à fazenda. Enquanto isso, Ian ficou colocando compressas em sua testa para tentar baixar a febre.
— O que houve? — perguntou o médico.
— A febre voltou, ela está queimando, o que temos que fazer? — Ian perguntou nervosamente.
O médico olhou o ferimento, o limpou e olhou para Ian.
— Isso é um péssimo sinal, o ferimento está inflamado, eu o limpei, mas não tenho remédio para isso.
— Faça alguma coisa, por favor.
— Não tenho nada a fazer. Ela está morrendo.
Ian desesperado o agarrou pelo colarinho.
— Me diz isso assim, com esta cara de palerma? Faça alguma coisa, se ela morrer eu o mato.
— Ian, eu não tenho o que fazer.
— Meu Deus, o que vai fazer, deixá-la morrer deste jeito?
— Não tenho como salvar a vida dela, não posso controlar a inflamação. Eu não tenho remédio para isso, a medicina ainda não avançou a este ponto e se avançou isso ainda não chegou a mim. O que existe para infecção ainda está sendo estudado, eu não tenho nada para dar a ela. Você sabe que meus recursos são limitados.
— Não há destas ervas que ajudam?
— Sou um médico, não um curandeiro, não uso ervas.
Ian quase rosnou de frustração.
— Tem que haver alguma coisa, qualquer coisa — disse Ian com pavor.
— Sinto muito, Ian.
Ian largou o médico, olhou-a e ela estava cadavérica na cama, mal respirava, só não gemia porque estava dopada. Ian sentou na beirada da cama e pegou Jayne nos braços a abraçando.
— Jayne, por favor, reaja, você não pode morrer, meu amor.
O médico ficou ali os olhando e não sabia o que fazer. Muitas vezes viu pessoas naquela situação e se matava por dentro por não conseguir salvar suas vidas. A medicina não conhecia muitos recursos para salvar vidas, e os que possuíam não chegava a uma cidade pequena e interiorana como West Side. Muitos dos seus esforços davam em nada.
Ian saiu do quarto e foi pegar um ar na varanda, parecia que sufocaria se não tomasse ar fresco. David chegou, desceu do cavalo e já subindo as escadas viu o rosto transtornado de Ian.
— Ian, como ela está? — David perguntou.
— Está morrendo, David — disse com a garganta embargada.
— Sinto muito, eu pensei que ela estava melhorando.
— Estava, mas piorou de uma hora para outra, não há nada a fazer.
— Ela é uma mulher forte, vai conseguir.
Ficaram mudos por alguns minutos, sem saber o que fazer.
— Eu não posso ficar aqui parado esperando ela morrer, eu preciso fazer alguma coisa, o inferno é que eu não sei o que fazer.
— Ian... Sei que isso é uma loucura, mas por que você não pede ajuda ao Pena de Águia.
— O quê?
— Se não há o que fazer, vamos levá-la à sua tribo, pedir ajuda ao xamã. Eles conhecem muitas ervas, talvez eles saibam um jeito de ajudá-la.
— Sr. Stewart, esta foi uma loucura que ouvi! — o médico disse aturdido e com os olhos arregalados, quando chegou à varanda.
— Ian, pode não dar certo, mas pode tentar — David insistiu, ignorando o médico. — Se ela está morrendo, você não vai perder nada em tentar.
— Querem morrer também, entrando numa tribo de índios selvagens? Ficaram insanos? Eles lhes meterão uma flecha na cabeça antes mesmo de abrirem a boca. São uns animais.
— Vamos levá-la — disse Ian.
— Não vou permitir uma coisa dessas — o médico disse.
— O senhor não tem que permitir nada, ela é minha mulher e faço o que eu quiser. David, ajude-me a colocá-la na carroça.
— Ela vai morrer se tirá-la daqui — o médico disse.
— O senhor disse que ela morrerá de qualquer jeito.
Eles foram ao quarto e a enrolaram numa manta; Ian a pegou no colo e levaram-na até a carroça que James havia trazido. Colocaram umas cobertas e um travesseiro para que pudessem ajeitá-la. Ian pegou seu cinturão com as armas e olhou para David.
— Não precisa ir comigo, pode ser que não nos recebam bem, sabe que não podemos entrar na sua tribo. Eu não vou pedir que arrisque sua vida.
— Ian, eu vou junto e não adianta pedir que não. Eu não vou deixá-lo ir sozinho, precisa de um amigo.
— David, sabe que eles são hostis, se não encontrarmos Pena de Águia, alguns índios podem ser agressivos. Pense na sua família.
— Estou pensando, é um risco, mas eu sei que faria o mesmo por mim se fosse Mary. Não vai acontecer nada.
— Tudo bem, David, então vamos logo. Já perdemos tempo demais.
— Eu também vou, patrão — disse James.
— James...
— Nem adianta dizer que não, se o senhor vai, eu vou.
— Está bem. Mas fique calmo e não faça movimentos bruscos, isso o mataria.
Eles subiram na carroça e saíram da fazenda o mais rápido que puderam. Andaram por um longo tempo até chegarem próximos ao local onde sabiam que ficava a tribo dos Yukes. Ian parou a carroça, desceu e respirou profundamente.
— Agora em diante vamos a pé.
Ele pegou Jayne nos braços e os três entraram entre as árvores, aquela floresta era densa e imensa, o caminho era árduo. Após uma longa caminhada, Ian já quase não tinha mais forças para carregar Jayne, que estava desacordada em seus braços.
— Dê-me ela, Ian, eu a levarei para que descanse — David disse e Ian se virou para entregá-la.
De repente uma flecha cruzou a frente de Ian e cravou numa árvore, eles se assustaram e olharam com os olhos arregalados para a direção de onde ela veio. James assustou-se e sacou sua arma, uma flecha atingiu seu braço, o fazendo derrubar a pistola e ele gritou pela dor agoniante.
Assustados, todos começaram a respirar ofegantes e olhavam ao redor, vários índios, armados de arco e flechas e alguns com rifles começaram a aparecer entre as árvores, os cercando.
Eles olhavam ao redor sem dizer uma palavra, enquanto David amparou James.
Ian conhecia apenas algumas palavras de sua língua e estava nervoso.
— Preciso ver Pena de Águia. Sou amigo, sou Ian Buller — dizia na língua deles. Um dos índios, com um ar imponente e com olhar raivoso se aproximou dele e olhou para Jayne em seus braços. — Por favor, ajude-me, ela está morrendo, por favor.
Sem dizer nada o índio fez sinal, alguns índios chegaram perto deles retirando suas armas. Estavam temerosos e David quebrou a flecha fincada no braço de James que gritou pela dor e o apoiou para que andasse. James mal respirava, nunca havia chegado perto de índios, estava apavorado, ainda mais ferido.
David, já os conhecia, mas estava com o coração acelerado de pavor. Talvez aquilo não tivesse sido uma boa ideia, afinal.
O índio virou as costas para Ian, começou a andar e ele o seguiu. James e David foram empurrados fortemente para que andassem.
Desceram uma encosta cheia de pedras e deram numa cachoeira, eles atravessaram o rio na parte rasa, passando pelas pedras.
Ian quase sem forças nos braços fazia um esforço tremendo para não cair com Jayne.
Andaram mais um pouco entre as árvores e deram em uma imensa clareira onde avistaram tendas em forma de cones. Algumas crianças correram e mulheres se afastavam temerosas.
David e James olhavam ao redor com os olhos arregalados e de repente pararam. Ian, sem ter mais forças nos braços e pernas, caiu de joelhos, mas tentou ainda segurar Jayne.
David tentou ajudá-lo, mas um dos índios o impediu.
Eles estavam entre uma fileira de índios de cada lado e que gritavam algo que não parecia amistoso e sacudiam os braços de forma ofensiva.
Ian levantou os olhos e um índio furioso começou a falar alto e a gesticular. Um grito imponente ecoou e um silêncio se fez, o índio calou-se e deu alguns passos para trás, assim como todos os outros.
Ian reconheceu Pena de Águia que se aproximou, com uma calça de couro cru com franjas soltas nas laterais, tinha um cinturão de lã trançada que prendia uma adaga, usava braceletes de couro no braço e muitos colares no pescoço.
Ele era um homem robusto e belo, tinha os cabelos longos, negros e lisos, com uma pequena parte puxada para trás preso com uma tira de couro.
Sua pele era de um tom bronzeado, mas de uma cor que os texanos não tinham mesmo que apanhassem o sol, tinha os olhos negros como a noite, de uma profundidade como o infinito.
— Não deviam estar aqui! — ele disse severamente olhando para Ian.
— Por favor, ela está morrendo, minha esposa, ela levou um tiro e está muito mal, ajude-a, por favor — Ian disse com os olhos marejados de lágrimas e com um ar de desespero que pensou que morreria ali mesmo.
Pena de Água olhou para Jayne e mesmo com a fisionomia cadavérica ele pôde ver sua beleza estonteante e compará-la à deusa loba protetora dos índios Yukes, somente ela não tinha os cabelos negros.
— Traga-a — disse o índio para Ian e gritou algumas palavras para os outros índios que receosos abriram caminho.
Ian com um esforço tremendo tentou ficar em pé com Jayne nos braços e seguiu o índio até uma tenda, deitou-a em um monte de peles que parecia uma cama arrumada no chão e ele ficou de joelhos tentando tomar fôlego.
Jayne, mal respirava e seu coração quase não batia mais.
Um índio idoso e curvado sobre um cajado de madeira, com os cabelos longos e cinzas entrou na tenda, olhou para eles com uma fisionomia séria e duas índias entraram atrás com o olhar para o chão e carregando gamelas de água, panos e maços de ervas.
— Venha, Cavalo Branco, eles vão cuidar dela.
— Eu gostaria de ficar com ela.
— Não agora.
Estava entardecendo e eles saíram da tenda e Pena de Águia fez sinal para que soltassem David e James e eles os seguiram até outra tenda.
O índio colocou uma pele sobre os ombros, sentou-se no chão cruzando as pernas em frente à fogueira e fez sinal para eles se sentassem.
Uma índia entrou segurando alguns panos e uma cumbuca com algumas ervas e se ajoelhou ao lado de James para cuidar de seu ferimento.
— Obrigado — disse Ian ao índio, soltando o fôlego com cansaço.
— Se Urso Pardo não soubesse quem você é teria matado a todos. Seu amor por ela é tão grande que arriscou seu pescoço?
Ian tentou entender as palavras dele e sorriu.
— Eu morreria por ela.
— Vi isso em seus olhos. Desculpe meus homens, mas homem branco sempre traz desgraça para minha tribo.
— Não pediria isso se não soubesse que podem me ajudar. Eu serei grato para o resto de minha vida.
— Você é um bom amigo. Espero que os deuses o ajudem.
Outra índia entrou na tenda e ajoelhou-se ao lado deles, os olhando meio receosa e com os olhos cabisbaixos, colocou bebida em algumas cuias rasas e deu a eles para beber.
Era uma bebida forte e David fez cara feia quando bebeu.
Parecia ser uísque misturado com gengibre, deveria haver algo mais dentro, que parecia amortecer a língua, ele agradeceu com a cabeça e bebeu mais, assim como Ian e James.
Não ousariam ofender a hospitalidade deles nem nesta vida e nem na próxima.
A moça colocou uma bandeja no chão com alguns pedaços de carne assada para que comessem.
— Isso é carne de quê? — perguntou David para Ian mastigando a carne estranha.
— É carne de búfalo — disse o índio pegando um pedaço e comendo.
— Isso é bom, não sabia que tinha búfalo por aqui.
— São difíceis de encontrar, somente mais ao leste. Tivemos problemas com a caça e tivemos que fazer uma incursão em terrenos distantes para alimentar nosso povo. Sua pele é quente e sua carne boa.
— Búfalos... seria uma boa criação — Ian disse comendo um pedaço.
— Podemos pensar nisso — disse David.
— Coma bem, Cavalo Branco, precisa de forças — disse o índio com um leve sorriso no rosto.
— Fico feliz que não nos veja como inimigos.
— Você e seus amigos me salvaram a vida quando ainda éramos muito jovens. Sempre foi difícil manter minha tribo longe dos pele branca, mas eu sei que eu posso confiar em vocês, têm o coração puro, me salvariam a vida novamente se eu precisasse.
— Sim, o faria. Agora mais que nunca, lhes deverei a vida de minha esposa. Tenho certeza de que a ajudarão.
— Não tema, ela tem uma alma de guerreira, vai viver. Ela não largaria sua matilha assim facilmente. É como a deusa loba.
— Isso ela é, protege seus filhotes com unhas e dentes.
— Como está seu cavalo... Trovão?
— Foi morto, por bandidos.
— Sinto, era um belo cavalo, tinha um espírito selvagem, deve estar cavalgando pelas montanhas agora.
— Sim, como gostava de fazer.
— O espírito de um cavalo selvagem quando morre fica ligado à alma de quem o doma, ele estará sempre com você, lhe dando força, lhe dando este ar de cavalo selvagem, por isso é que lhe dei esse nome, Cavalo Branco. Você tem a vives de seu cavalo, mesmo que ele não esteja mais com você.
— Você vê minha alma melhor que eu.
— Sua mulher vê sua alma melhor que você — disse rindo.
Ian riu e David e James também.
— Acho que Ian foi domado por ela — David disse rindo.
— Ah! Amor de almas... Os índios acreditam no amor eterno, união de espíritos guerreiros. Você o tem e seus três amigos também.
Todos agora estão com seus espíritos afins, para sempre.
— Encontrou a sua companheira?
— Sim, minha Nahoka. Não sei mais viver sem ela.
— Isso é certo, eu não saberia viver sem minha esposa.
— Nem eu sem minha Mary — David disse rindo pegando mais um pedaço de carne.
— E não viverão.
— É tudo que desejo.
— Vocês têm a proteção dos deuses guerreiros. Desde crianças.
— Nós o quê?
— Vocês fizeram um pacto e os deuses os ouviram. Vocês são leais uns aos outros, têm forças para enfrentar as dificuldades e têm coração puro. Portanto têm a proteção dos deuses, são guerreiros.
— Como sabe disso?
— Eu sei de muitas coisas. O que fizeram, foi pedir proteção e a obtiveram, eles os protegem, assim como protegerá sua mulher.
— Éramos crianças.
— Os espíritos da natureza são mais poderosos que os pele branca pensam. O espírito do Urso, com força e garras afiadas, é um grande mestre, nós usamos sua pele para nos cobrir, quando lutamos ou caçamos. Isso nos dá força. Acreditamos que estamos com o poder do urso.
Ian respirou profundamente e sorriu.
— Por isso que nenhum de nós morreu ainda? Não, porque já levamos tantos tiros que nem sei qual dos quatro é mais furado. E depois do que aconteceu com Ian naquele trem e caindo naquela cachoeira daquele jeito, devo acreditar que somos protegidos — disse David.
— Há uma proteção, mas a força vem de dentro de cada um, se vocês lutam, vencem. Se acreditarem, vencem. Mas a morte vem para todos, isso é inevitável, mas podemos nos esquivar — o índio disse com um sorriso.
— Deve ser por isso que David e Willian comem tanto, seus estômagos devem ser iguais ao tamanho do de um urso — disse Ian, olhando maliciosamente para David e rindo e todos eles riram.
Eles ficaram ali a noite toda e podiam ouvir o xamã cantar e o barulho de um chocalho tilintar noite adentro. Ian, não conseguia pensar em nada, a não ser nela e naquela noite longa que se arrastava.
Quando estava quase amanhecendo Ian ouviu um gemido agonizante, estava meio adormecido recostado em um monte de peles de animais, deu um salto ficando de pé e correu entrando na outra tenda onde Jayne estava, duas mulheres a seguravam pelos braços e ela vomitava, parecia agonizar fortemente.
Ian ficou apavorado e tentou ir até ela, mas Pena de Águia colocou o braço na sua frente o impedindo.
— O que é isso, o que está havendo? O que estão fazendo?
— Deixe, é efeito das ervas. Elas tiram a infecção, mas dão reação ruim. Ela terá que aceitar as ervas para poder curar.
— Calma, Ian. Eles sabem o que estão fazendo — disse David o segurando pelo braço, mas estava apavorado com a cena.
— Depois disso, ela vive, ou morre — disse o índio olhando para Ian severamente. — Se essas ervas não puderem curá-la, nada mais pode.
Apavorado, Ian se ajoelhou no canto da tenda e ficou olhando tudo aquilo, seus olhos estavam marejados de lágrimas que insistiam em cair.
Tentou rezar naquele momento, mas não conseguia ligar uma palavra na outra.
O xamã queimou algumas ervas e fazia a fumaça pairar sobre Jayne, as índias a recostaram nos pelegos e com um pano embebido em água lhe passavam no rosto.
O xamã cantava e chacoalhava o chocalho sobre ela, ela foi se acalmando e pareceu dormir. Estava com o rosto e os cabelos molhados de suor, pálida e com os lábios roxos.
Dois dias depois, as índias fizeram sinal para que Ian se aproximasse e ele foi ao lado de Jayne e segurou sua mão.
Ela estava mais corada, parecia que um rosado tentava aparecer em seu rosto fúnebre.
Ele deitou ao seu lado acariciado docemente seu rosto e beijou sua face.
— Eu estou aqui, você vai ficar bem, meu amor.
Ian acabou adormecendo, pois estava exausto, algumas horas depois ele acordou quando sentiu que Jayne mexeu a cabeça, ele meio aturdido a olhou e sorriu.
— Jayne, oi... Eu estou aqui, você vai ficar bem.
— Sinto-me... péssima — disse num leve sussurro.
— Eu sei meu amor, mas vai melhorar, descanse.
Ela não disse mais nada e adormeceu novamente.
Ian beijou sua testa que ainda estava quente e saiu da tenda tentando esticar o corpo, estava todo dolorido.
Calmamente olhava ao redor e contemplava aquele povo levar sua vida normalmente, algumas mulheres cozinhavam, outras sentadas em um lado raspavam a carcaça para curtir uma pele que usavam para se aquecer no inverno.
Ouviu algumas risadas de crianças e avistou David brincando com algumas delas, ele corria e as agarrava, as rodando e as fazendo rir. James estava sentado num toco de árvore e os olhava com um pequeno sorriso no rosto. Ian foi até ele e sentou-se ao seu lado.
— Como está seu braço, James?
— Bem, senhor.
— Acho que nossa recepção até que foi pacífica.
— O senhor acha? — disse irônico com um leve sorriso.
— Estamos vivos, não estamos?
— Parece que sim. Como está a senhora?
— Parece que nossa loucura deu resultado, James. Acho que ela vai ficar bem, o pior já passou. Parece que sua febre está baixando.
— Graças a Deus!
Pena de Águia se aproximou e os chamou. Os três entraram na tenda e lhes serviram carne e algumas raízes assadas, eles agradeceram e comeram.
— Sua mulher está apresentando melhoras, mas terá que ficar aqui mais um pouco de tempo. É melhor seus amigos irem e você fica.
— Está bem, obrigado por tudo, fico eternamente agradecido.
— Vamos ficar nossas vidas inteiras nos devendo favores?
— Espero que não — Ian disse sorrindo e ele riu.
— Sei que o que fez foi em desespero, mas não volte aqui novamente, pois da próxima vez poderá não ter a mesma sorte. Minha tribo não é muito apaziguada ao convívio com brancos.
— Eu sei, não quero colocar sua aldeia em risco. Mas serei eternamente grato pelo que fez por minha mulher. Se um dia precisar de mim creia que terá apoio não só à sua vida quanto a qualquer um de sua tribo.
— Está certo. Comam e depois seus amigos vão.
Capítulo 8
— Espero que logo possa voltar, Ian. Eu gostaria de ficar, mas Mary já deve ter arrancado os cabelos.
— Não se preocupe, David, estarei bem, assim que Jayne melhorar nós voltaremos para casa. Diga aos meus filhos que tudo ficará bem.
— Está certo. Fique tranquilo. Deixarei a carroça escondida para quando retornar, mas eles precisarão cuidar dos cavalos.
— Pode deixar, pedirei isso.
Os dois se abraçaram e David se despediu de Pena de Águia e ele e James foram escoltados para fora da tribo. Ian voltou à tenda ficar com Jayne. Aos poucos a febre foi abaixando e ele não saiu mais do lado dela, sempre colocando um pano molhado de água fresca em sua testa.
David e James voltaram à fazenda trazendo notícias do que havia acontecido deixando todos aturdidos, mas aliviados. Anna correu e abraçou James, estava apavorada com a ideia de ele ter ido a uma tribo indígena.
Angel e Josh vendo a movimentação e percebendo que seus pais não haviam voltado, ficaram em pânico e caíram no choro.
David os abraçava tentando acalmá-los, dizendo que sua mãe estava melhor e que logo ela e seu pai voltariam para casa.
Assim como Willian, Mitchel e Emily que estava desesperada por sua irmã estar à beira da morte em uma tribo de índios.
Para ela era improvável pensar em uma atitude amistosa com índios selvagens, apesar de ter tido provas de sua amizade com Ian em tempos passados.
Quando David chegou em casa, Mary saltou em seus braços aos soluços, estava desesperada achando que ele não retornaria.
**
Jayne passou desacordada por dias. Mas numa bela manhã, ele acordou sentindo mover-se e tentando abrir os olhos.
— Jayne...
— Oi — disse lentamente tentando piscar.
— Como é bom vê-la acordar, meu amor — disse emocionado.
— Parece que não é muito fácil você se livrar de mim — disse pausadamente, como que se falar fosse o maior sacrifício. Ele riu com os olhos marejados de lágrimas e beijou sua testa.
— Ainda bem, você sabe que não sei viver sem você. Quem eu vou jogar na banheira de roupas e carregar como um saco de batatas se você me deixar? — ele disse com um sorriso e ela sorriu. — Meu amor, eu amo você.
— Onde estou?
— Estamos numa tribo de índios, eles cuidaram de você.
— Índios?
— Sim, não se preocupe, são amigos, cuidaram de você por dias.
— Amo você, Ian.
Ela sorriu, fechou os olhos e adormeceu novamente. Aos poucos Jayne foi recuperando-se, a febre havia acabado e não sentia dores, com a ajuda de Ian, comeu e bebeu chá de ervas.
Eles ficaram mais três dias na tribo, até que Ian pode ir embora. Alguns índios a colocaram em uma maca feita de galhos de árvores e palha e fizeram o caminho de volta levando Jayne e Ian até onde ele havia deixado a carroça, a colocaram atrás e atrelaram os cavalos na carroça. Ian fez reverência aos índios com a mão no peito em sinal de respeito e ele seguiu para sua casa com Jayne.
Chegando à sua fazenda, os empregados quando o avistaram chegando com a carroça, correram eufóricos. Ian cuidadosamente pegou Jayne no colo e a levou para o quarto a colocando na cama e a cobrindo.
Angel e Josh ansiosos vieram ter com ela, que com um leve sorriso os acariciou e os fez se acalmar.
Jayne estava em casa novamente, o destino desta família era mais forte que qualquer beira de morte, era mais forte que tudo que alguém já havia visto. Parecia que nada por mais que tentasse separá-los vencia e Jayne começou a recuperar-se.
O médico, estupefato, disse a Ian que ela sobreviveria e que estava bem, nem conseguiu acreditar na recuperação dela, era um milagre.
Com sua curiosidade queria saber o que haviam feito para que a curassem e Ian com um sorriso, apenas lhe bateu nos ombros dizendo que os índios selvagens a haviam curado com ervas e sua fé nos seus deuses.
Ele olhou para Ian com os olhos arregalados e respirou fundo.
— Pois tome isso como lição, doutor, sua incredulidade teria matado Jayne. Não sou homem se me sentar e ver um dos meus morrer sem lutar.
— Confesso que o admiro, eu jamais teria feito o que você fez.
— Talvez se abrir um pouco sua mente serviria de algo, meu amigo médico. Jayne já viu a morte de perto muitas vezes, mas é uma guerreira, ela tem força e teria feito o mesmo por mim.
O médico abaixou a cabeça, respirou profundamente e olhou para Ian.
— Eu estou feliz que Jayne esteja se recuperando. Se precisar de mim, pode sempre me chamar, ajudarei no que eu puder. Mas agradeceria se parassem de levar tiros — disse tentando colocar um sorriso no rosto.
— Tentaremos.
Ele colocou seu chapéu e foi embora. Estava confuso, aquela irmandade entre os quatro amigos e suas esposas era maior do que ele jamais teria conhecido em sua vida. Tinha que reconhecer, não importava que energia regesse aquelas vidas, mas era de um amor e ternura que ele e ninguém jamais entenderiam.
**
Alguns dias se passaram e Jayne estava melhor, suas dores acalmaram e a febre sumira por completo. Ainda bebia chá de algumas ervas que as índias lhes deram para trazer da tribo e Anna o preparava.
— Sra. Buller, a senhora é uma mulher muito forte, nunca imaginei que fosse se recuperar desta maneira.
— Sim, ela é — Ian disse a olhando e sorrindo com os braços cruzados enquanto Anna lhe dava o chá.
— Se quiser pode tentar levantar-se e andar um pouco, se não sentir dores lhe fará bem.
— Vou tentar. Eu não aguento mais ficar na cama e as dores já diminuíram bastante.
— Ótimo, está totalmente fora de risco, em breve melhorará —Anna disse e Ian foi perto dela.
— Eu amo você — ele disse acariciando seu rosto.
— Eu também o amo, Ian. — Ele a abraçou fortemente e ficaram abraçados por um bom tempo.
— Meu Deus, Jayne, que susto que você me deu.
— Quem eram aqueles homens?
— Eu não sei na verdade, talvez fossem eles que estavam mexendo na mina tentando encontrar ouro. Mas agora não há nada para achar. Esse assunto está encerrado.
— Agora mais do que nunca tenho que concordar com você. Onde estão meus filhotinhos?
— Angel está andando a cavalo e Josh está brincando com Ethan.
— Angel saiu da fazenda?
— Não. Está por perto, está pulando obstáculos, ela fez os rapazes montar obstáculos com toras para ela saltar. Ela algum dia destes vai matar os tios e os empregados da fazenda. Ela os trata como se mandasse em tudo, mas ela fala de um jeito que ninguém resiste a ela. Com certeza é igualzinha a você. — Jayne riu.
— Mas sua perna já está boa para montar? Aliás, vocês não me disseram por que ela estava mancando.
— Já, não foi grave, ela está bem e precisa ver como ela está saltando, está uma maravilha — disse ele sorrindo orgulhoso e beijou a mão de Jayne.
— Saltando? Eu nem sabia que ela sabia saltar.
— Parece que nossa mocinha anda fazendo coisas escondidas e pior, com seu cavalo — disse rindo.
— Com o Trovão?
— Sim. Acho que você perdeu seu cavalo para ela — disse ele sorrindo.
— E então eu terei que ficar com o Tornado? — disse sorrindo — Um puro sangue por um Mustangue. Ela é muito experta.
— Querida, o Tornado foi morto pelos bandidos.
— O quê?
— Sim, eles tentaram pegar Angel e atiraram no Tornado, por isso que ela se machucou.
— Ai meu Deus!
— Calma, querida. Isso tudo passou, você e Angel estão bem, Mitchel também já está bem do tiro que levou. A mina já esta totalmente destruída, tudo está nos seus eixos novamente e para comemorarmos hoje à noite você vai jantar conosco na mesa, o que acha? Quer tentar?
— Ai Ian. Quero tudo de volta.
— Eu sei meu bem, mas o que importa é que vocês estão bem.
— Sim, nada mais que você e meus filhotes. Meu Deus! Se algo acontecesse a eles eu morreria. Mas estou feliz que vocês estejam bem, nada mais importa. — Ela respirou fundo tentando controlar seu sentimento. — E claro que sim, estou com saudades de sentar-me à mesa com vocês.
— A banheira está pronta, senhor — disse Anna na porta do quarto.
— Obrigado, Anna — respondeu ele.
— Vai tomar banho?
— Você vai, eu vou dar banho em você.
Ele gentilmente a pegou nos braços e a carregou para a sala de banho e a colocou dentro da banheira.
— Mais uma camisola molhada — ele riu.
— Eu não podia andar com você nua pela casa, não é? — ela riu.
— Hum, mas poderia tê-la tirado aqui.
— É para não perder o costume de lhe molhar as roupas — disse rindo.
Ele sentou na beira da banheira e com a maior paciência do mundo lavou os longos cabelos dela e depois lhe despejou água limpa com a jarra, retirou sua camisola e lavou seu corpo docemente, mais acarinhando que lhe lavando.
Jayne olhava para ele enquanto permitia que ele lhe tocasse suavemente deslizando suas mãos no corpo dela. Depois ela levantou-se com a ajuda dele e ele foi secando-a bem devagar, enrolou-a numa imensa toalha e a levou no colo para o quarto e a soltou, secou seus cabelos, acariciou seu rosto e beijou-lhe docemente os lábios.
— Parece um bebê — ele disse sorrindo e Jayne riu.
— Você está me tratando como um.
Ian beijou-lhe novamente e trocou o curativo de sua barriga.
— Seu ferimento já está cicatrizando, por isso que o médico liberou seu banho. — Jayne somente suspirou.
— Vamos vestir uma roupa?
— Creio que é melhor somente a camisola e o robe, não precisa colocar uma roupa, meu bem. Suas roupas são deveras apertadas.
— Está bem. Se meu marido manda eu obedeço.
Ian a vestiu com a camisola e o robe de seda e a ajeitou na cama.
— Senhora, sua irmã está aqui — disse Anna na porta do quarto.
— Oi — disse Emily entrando com Sarah nos braços e Kate com Henry.
— Ah, meus lindos sobrinhos! — disse Jayne sorrindo quando os viu.
— Eu os trouxe para alegrá-la.
— Dê-me aqui — disse Jayne esticando os braços.
— Não vai machucá-la?
— Não, eu estou bem. Coloque-a nos meus braços.
Emily devagar colocou Sarah nos braços de Jayne.
— Meu Deus, como ela está linda!
— Está. Eles estão mais lindos a cada dia.
— Meu Deus os dois estão iguais! — disse Ian rindo para Henry o olhando nos braços de Kate.
— São gêmeos, Ian — Emily disse rindo.
— Eu sei, mas menina e menino são diferentes — disse rindo.
— Isso é verdade, a fisionomia do rostinho é um pouco diferente, mas os cabelos e os olhos estão iguaizinhos e Henry é um pouco maior que ela, acho que quando ficarem maiores deve ficar mais diferente.
— Puxaram o pai, cabelos pretos e olhos verdes — disse Jayne passando a mão nos cabelinhos fininhos de Sarah. — Se parecem com Ethan quando bebê. Nossa como ela está pesada e grande.
— Também, eles mamam que nem uns terneirinhos, eu estou parecendo uma vaca leiteira. — Os três riram. — Mamãe queria me estrangular por amamentá-los sem uma ama de leite, mas meu Deus, tenho muito leite, para quê usaria uma ama?
— Mamãe possui alguns princípios mais antigos ainda.
Emily bufou.
— Nós estamos longe das convenções há muito tempo, pensei que ela já tivesse acostumado.
— Vou deixá-las para que conversem à vontade, senhoras. Jayne, eu pedirei à Anna que prepare um jantar especial para esta noite, com licença.
— Hum, jantar especial, por quê? — Emily perguntou à Jayne.
— Porque hoje vou jantar na mesa com meus amores.
— Ah que maravilha! Já está conseguindo andar?
— Sim, um pouquinho, se bem que Ian me carrega no colo para todo lado — disse rindo discretamente para evitar a dor.
— Você está rindo, mas foi um susto, mulher. Eu quase enlouqueci quando Ian a levou para aquela tribo de índios.
— Nem me fale, tudo aconteceu tão rápido, nem tive tempo de assimilar esta desgraça. Vamos trocar de bebê, agora quero segurar Henry... — Emily riu e Kate foi pegar Sarah e Emily entregou Henry no colo de Jayne que riu para ela e balançou os bracinhos quando ela o pegou e falou com ele.
— Kate não voltou mais para casa? — Jayne falou a olhando e sorrindo.
— Ah Jayne! Deixe-a mais um pouco comigo, ela ajuda muito.
— Verdade, senhora, estou gostando de cuidar dos bebês. Mas preciso voltar para ajudá-la.
— Anna dá conta, já que Ian insiste em cuidar de mim. Emily, arrume uma babá para ficar permanente com você, assim Kate pode voltar para cá.
— Sim, mas até não achar, Kate é minha... — disse rindo. — Não posso colocar alguém que não seja confiável para cuidar dos meus fofinhos.
— Isso é verdade.
— Mamãe falou que ia procurar uma babá para mim, estou esperando. Nossa nunca vi avós tão corujas.
— Eles adoram os netos.
— Você não soube mais nenhuma notícia lá de Madri?
— Não. Até tinha me esquecido disso.
— Desculpe lembrá-la. Eu não quero aborrecê-la.
— Hum, bem, vamos esperar, agora só me importa recuperar-me e ter minha vida de volta.
**
Alguns dias depois Jayne estava na estrada próxima à porteira da fazenda, havia saído para andar um pouco e tomar sol, acompanhada de Angel e Kate que queriam colher algumas ervas.
Quando avistou um grupo de homens a cavalo se aproximando, ela rapidamente ergueu o rifle que estava usando como bengala e o empunhou ferozmente.
Manteve uma postura hostil, pernas separadas, braço estendido e dedo no gatilho.
— Atrás de mim, Angel — gritou Jayne e Angel obedeceu e logo agarrada a ela, Kate.
— Senhora! — disse um dos homens mais velhos puxando a aba do chapéu em forma de cumprimento.
— Afastem-se — disse ela seriamente.
— Não se preocupe, senhora, não lhe faremos mal. Somos a lei.
— Mamãe, eles tem estrelas no peito, igual ao tio Enrique. São bons, não são? — perguntou Angel.
— O único homem bom com uma estrela no peito em que pode confiar é Enrique, bebê, ninguém mais, entendeu?
— Enrique Gonzáles? O xerife? Eu o conheço, bom homem.
— Ah sim?
— Senhora, nós estamos aqui em busca de um foragido da lei, nada mais que isso. Somos Rangers.
— Rangers?
— Sim, madame, ao seu dispor. Como disse estamos em busca de um foragido, um criminoso; seguimos suas pistas até aqui. Chama-se Sloan.
— Pois bem, eu, minha filha e sua babá não somos criminoso, portanto, você e seus homens podem dar meia volta, se afastar e comer poeira se não quiserem comer uma bala.
— Ela é valente, capitão, impunha um rifle como um homem e nos enfrenta... E é linda.
— Jack, respeite a senhora. Sim, o faremos — disse voltando-se a ela novamente. — Mas gostaria de saber onde fica a fazenda de Ian Buller ou de Mitchel Vaiz? Ou o Jonhson e Stweart? Sei que moram nestas bandas. Pensei que fosse essa a fazenda.
— Não conheço nenhum Ian Buller.
— Vamos, senhora, se mora em West Side conhece Ian Buller. Não somos amigos fraternais, mas bons conhecidos e quem sabe isso lhe agrade e nos diga a direção. Ian Buller, assim como seus outros três amigos, foram meus Rangers há muitos anos. Já que estamos em sua área gostaria de rever meus rapazes. Abandonaram os Rangers para ter uma vida civilizada. Quero comprovar isso — disse com um sorriso meio gasto.
Jayne ficou atordoada, mas manteve o homem na mira.
— Meu pai foi um Ranger? — Angel perguntou espantada.
— Angel! — rosnou Jayne, querendo lhe dar umas palmadas.
— Desculpe-me, mamãe.
— Santa merda! Essa é esposa de Ian? — gritou espantado um dos homens.
— Eu também deixaria os Rangers se fosse para me casar com uma mulher assim — disse outro.
— Karl! Olhe as maneiras, estamos diante de damas — disse o homem velho com uma voz áspera e todos se calaram.
Jayne ouviu o homem grunhir como um cão.
— Sra. Buller, eu fico feliz em conhecê-la, permita que me apresente. Eu sou John Smith, Capitão dos Rangers, ex-oficial do exército americano e um homem da lei, seu servo. Poderia nos levar até Ian? Asseguro-lhe que estamos de passagem e em paz. Apenas será uma visita de cortesia, pois o dever nos espera. Gostaria que os cavalos descansassem e se alimentassem.
— Está bem, senhora, parece que já temos uma comoção. Sua cavalaria está vindo para protegê-la.
— E vem armado até os dentes — respondeu outro homem quando avistou Ian e mais quatro homens se aproximando com armas em punho.
Capítulo 9
— Ora, ora! Se não é a nossa mais ilustre meretriz com seu novo cafetão.
— Ora, ora! Se não é o mais paspalho dos homens que eu já conheci — retrucou Mitchel.
— Vivendo com uma meretriz, Mitchel. Que vergonha, seu nível caiu mesmo.
— Cale-se, seu miserável — Mitchel gritou.
— Como pôde trocar uma moça distinta por isso? Soube que estava casado com a filha do banqueiro. Que péssima escolha — disse ele irônico.
— Não fale assim dela, que faço você engolir esta espingarda enferrujada. Já lhe quebrei os dentes uma vez, o farei de novo.
— Sempre debochado, você ainda me deve — disse friamente com um sorriso de canto de boca.
— Devo o quê?
— Você me fez perder no pôquer.
— Eu não fiz você perder nada, perdeu seu dinheiro porque é estúpido.
— Eu quero uma revanche.
— Eu não jogo mais e isso faz anos, mas o que diabos depois de tanto tempo vem me importunar.
O homem soltou uma gargalhada.
— Mas como não? Depois que se juntou com prostitutas, você parou de jogar? Vai dizer que parou de beber e está frequentando a igreja?
— Por que voltou aqui? Pensei que estivesse preso.
— Estava, mas agora estou de volta e quero meu dinheiro de volta. E não pense que eu esqueci da cicatriz que me fez.
— Virou um fora da lei, Sloan. Eu lamento pela cicatriz, mas não me deu escolha quando se jogou contra mim com uma faca, eu apenas revidei.
— Por sua causa, fui para a prisão.
— Pagou pelos seus crimes. Inclusive o de maltratar Chloe. Vamos, Chloe — disse Mitchel.
— Você não vai a lugar algum, eu quero uma festinha com esta dona aí.
— Eu vomitaria se você encostasse em mim — disse ela.
— Ah! Virou moça de um homem só? Que mentira, pois comigo isso não existe, uma vez prostituta, sempre prostituta. Desça do cavalo.
Mitchel sacou a arma e apontou para ele e ele também.
— Vá embora, senão eu o matarei, Sloan — disse Mitchel.
— Acho que não — disse uma voz atrás deles, seguido por um barulho de engatilhe.
Mitchel e Chloe olharam para trás e havia dois homens rindo para eles com as armas apontadas para suas cabeças.
— Acho que é hora da festinha. Solte a arma ou estouro a bela cabeça de sua mulher.
Mitchel rangeu os dentes tentando pensar, mas soltou a arma no chão. Estava ferrado. Os homens pegaram Mitchel o puxando do cavalo e amarraram suas mãos para trás enquanto outros dois agarraram Chloe pelos braços.
— Soltem-me! — ela gritava tentando se soltar.
— Eu vou matar você, seu imbecil! — gritou Mitchel.
— O que você acha de um enforcamento? — disse rindo.
Mitchel tentou se soltar, mas ele lhe deu um soco no rosto, o fazendo sangrar nos lábios.
— Mitch! — gritou Chloe.
— Cale-se — disse o homem e lhe deu um tapa no rosto.
— Maldito! Este será o último dia em que respira, Sloan — disse Mitchel entre os dentes, num grunhido de raiva.
Um dos homens fez o laço, jogou a corda por cima do galho de uma árvore e colocou a corda no pescoço de Mitchel. O subiram no cavalo fazendo-o ficar de pé, se equilibrando. Um dos homens segurava o cavalo para que ele não andasse e o outro prendeu a corda.
— Então, como está se sentindo aí? — Sloan perguntou rindo ironicamente.
— Vou sair daqui e o colocar nesta corda.
— Vou fazer você olhar antes que eu o enforque.
— Não! — gritou furioso e desesperado. Mas não podia se mexer, senão cairia de cima do cavalo.
O homem foi até Chloe que estava debatendo-se com os dois homens e a jogou no chão indo para cima dela. Ela começou a gritar e espernear tentando se afastar dele, os homens riam e os olhavam.
Estavam distraídos quando um trote de uns quinze homens chegou do nada, como provindos de uma fumaça, armados, enfileirados e mirando para eles.
— Parem! — disse uma voz forte e firme. Sloan ergueu a cabeça e olhou espantado e todos pararam.
— Homens estúpidos, o que vocês entendem quando digo que guardassem minhas costas?
— São mais burros que você — disse Mitchel.
— Cheguei na hora da festa e ninguém me convidou. Mas acho que vou participar assim mesmo e vou mudar os termos — Ian disse mirando para o homem encima de Chloe. — Saia de cima dela agora e tire Mitchel da forca.
— Ora, senão é Ian Buller e seus amigos Rangers.
— Olá, traste, o encontrei, finalmente! — disse o homem velho com numa foz rouca e rude, ao lado direito de Ian.
John Smith era um homem com seus mais de sessenta anos, cabelos esbranquiçados, ondulados e rebeldes, longos até o ombro, tinha uma barba comprida e um tapa olho negro no olho direito.
Usava um casaco de couro que lhe chegava aos pés e usava um lenço vermelho desbotado no pescoço. E no seu peito uma desgastada estrela da lei.
— Falei para você soltar a moça! — Ian disse novamente.
Sloan olhou para o enfileirado de homens, foi se levantando devagar e Chloe rapidamente tentou sair debaixo dele. Ele tentou sacar a arma, mas Ian atirou primeiro o fazendo cair morto, os outros sacaram e travaram tiros.
Chloe se jogou no chão gritando para se defender e o cavalo disparou debaixo dos pés de Mitchel que ficou pendurado pela corda no pescoço, debatendo-se.
David rodou o cavalo, defendendo-se dos tiros e mirou na corda e atirou a arrebentando. Mitchel gemeu quando caiu no chão e começou a tossir pela falta de ar e pela dor no pescoço.
Bem... Sua cabeça ainda estava grudada no pescoço.
Willian e Ian, junto com os outros, atiraram e atingiram os bandidos, matando todos.
Chloe, desesperada, correu até Mitchel para ver se ele estava bem e tirando a corda do seu pescoço. Ian foi até ele e lhe cortou as cordas que amarravam suas mãos.
— Você está bem? — perguntou Ian.
— Estou, ai!
Chloe o abraçou fortemente e começou a chorar.
— Calma, querida, acabou. Vamos para casa — disse Mitchel a abraçando e David ajudou ele a se levantar.
— Este imbecil estava procurando confusão há tempos — disse Willian.
— Por que demoraram tanto? — Mitchel perguntou.
— Você tem mais sorte que juízo — disse David.
— É foi, obrigado. Agora eu sei como se sente uma linguiça pendurada para a defumação — disse Mitchel zombando de si mesmo. — Onde vocês estavam indo assim em batalhão e com... Um bando de Rangers. Minha nossa! Capitão Smith.
— Como vai, Mitchel, bom revê-lo. Pelo visto sempre em confusões envolvendo mulheres.
Os dois apertaram as mãos e riram ruidosamente.
— Bem, espero que este traste esteja na sua lista.
— Sim — ele disse tirando um papel amarelado com o desenho do rosto de Sloan onde dizia “Procurado, vivo ou morto.”.
— Nossa! Então tem recompensa pela cabeça dele?
— Sim. Pode pegar o dinheiro com o xerife na cidade, Ian, já que você o matou.
— Não, eu não o quero. Pegue o dinheiro e reparta com o seu bando. Vocês tiveram mais trabalho andando atrás dele.
— Ian, como chegou aqui? — Mitchel perguntou.
— Estávamos fazendo uma ronda, meus empregados disseram ter visto um bando andando por aqui muito perto de minhas terras, portanto eu vim averiguar — disse Ian sorrindo. — Jayne encontrou na entrada da fazenda este bando de Rangers que vieram para uma visitinha.
— Averiguou bem, se não fossem vocês, eu já era um presunto.
— Mitchel, eu acho bom você pedir ao reverendo para lhe dar uma benção, nem sarou do tiro que levou há pouco tempo e agora quiseram enforcá-lo — disse Will zombando dele.
— Benzer? Nem uma cavalaria de anjos resolveria para me livrar de confusão. — Todos riram.
— Venham. Vamos para casa — disse Ian.
— E estes inúteis, nós vamos deixá-los aí?
— Rapazes, peguem os corpos e coloquem nos cavalos, os levaremos à cidade para que o xerife faça cargo — disse Smith, fazendo o sinal da cruz.
— Sim, senhor — disse um deles.
— Acho que você daria um bom xerife, Ian. Falando assim imponente, ficou bonito — disse David batendo nas costas de Ian rindo e todos riram.
— Deus me livre, mal consigo cuidar uma légua da minha casa.
— Bem, então sempre vou ficar dentro desta légua. — Mas aqueles dois anos como um Ranger foram divertidos — disse Mitchel.
— Foi, mas eu já tive minha cota de homem da lei por dois anos, é suficiente.
— Concordo — disse Willian.
— Tudo bem, então nós faremos uma roda de fogueira lá na fazenda e tomaremos uns tragos. É meu convidado, capitão e os outros também. Será ótimo ouvir novas histórias — disse Ian.
— Ah! Finalmente uma farra — disse David.
— Sim, quero comemorar que minha esposa está bem, que hoje nós tiramos Mitchel da forca e nós temos mais convidados. Eu havia planejado algo para hoje.
— Eu gostei disso — disse Willian rindo.
— Vocês não tomam jeito? — Chloe perguntou nervosamente. — Depois disso tudo vão fazer uma festa?
— Chloe, se acalme. Isso já passou, querida — disse Mitchel a abraçando.
— Me acalmar? Ver você pendurado numa corda não foi nada agradável.
— E nem foi para mim ver aquele homem agarrar você, mas estamos bem e isso merece uma comemoração, sobrevivemos um dia de cada vez, é assim que tem que ser, é assim que aqui funciona. Venha, nossos salvadores vão nos pagar uma bebida, isso é uma maravilha.
Ele a beijou, mas ela não riu, beijou-a de novo fazendo careta para que ela risse, até que lhe arrancou um sorriso.
— Você não tem jeito — ela disse rindo nervosamente.
— Não! Por isso que você me ama — disse rindo e a abraçou forte.
Todos mais tranquilos montaram nos seus cavalos.
— Vamos buscar as meninas em casa e iremos para sua casa, Ian — disse David.
— Iremos à cidade levar os corpos e falar com o xerife, e logo irei para sua casa, Sr. Buller, aceitarei seu agrado com prazer. Meus homens ficarão na estalagem, gostariam disso, se é que me entende. Soube que tem moças bonitas no novo Saloon.
— Ótimo, e sim, compreendo, os espero mais tarde.
— Minha esposa é dona daquele Saloon, capitão, portanto o sou também — disse Mitchel com um olhar para o homem que dizia muito mais palavras.
— Meus homens se comportarão, não é verdade, rapazes? Afinal, o estabelecimento pertence a um ex-Ranger.
**
David e Willian foram buscar Emily e Mary e depois foram para a fazenda de Ian e fizeram sua roda de fogueira onde todos se reuniram.
Ian fez questão de que Jayne participasse, colocou uma poltrona confortável da sala lá fora e ela ficou com todos ouvindo as histórias ao redor da fogueira sob o iniciar das estrelas no céu escuro.
Transformaram o acontecido da tarde numa piada e no fim riam e brincavam, esquecendo qualquer nervosismo sobre o acontecido. Will começou a tocar violão e até arriscaram uma cantoria.
Estavam felizes naquela noite, apesar do sufoco dos últimos dias e da tarde, teriam uma noite de alegrias depois de tantas tristezas.
Eles eram assim, tentavam dissipar todas as tristezas e dificuldades que passavam com alegria de estarem juntos, era o maior presente que todos podiam ter.
Viver um dia de cada vez era o lema de todos. Ian olhava para Jayne todo segundo e sorria para ela lindamente a vendo sorrir e bem, estava aliviado, seu coração transbordava de alegria e não largava sua mão por nada.
Chloe sorria, sentada ao lado de Mitchel, enquanto eles brincavam com suas conversas. Ela sempre ficava encantada com o jeito deles, nunca conhecera pessoas assim e sentia-se feliz de fazer parte daquilo, estava aprendendo a ser uma pessoa mais leve, mais amorosa, diferente do que sempre fora.
Ali ninguém a tratava com indiferença ou diferente, fazia parte da família, e seu coração estava feliz apesar do susto que levara à tarde, e de ver que Ian a defendera daquela maneira.
Quem teria feito algo assim por ela? Não precisava se defender na frente deles, ou ser quem não era. Estava adorando aquela nova vida que estava levando. Estava feliz.
Angel ficava entre eles e participava das brincadeiras, adorava quando eles se reuniam, escorava-se com as mãos no queixo quando eles cantavam. Até que eram afinados quando não faziam palhaçadas com as letras das músicas.
Como não gostar deles, eram encantadores e a tratavam como uma princesa. Angel parecia filha de todos os quatro, todos faziam suas vontades e a enchiam de amor.
— Hoje eu vou puxar o brinde — disse Ian.
— Vai brindar por me tirar da forca, já sei — disse Mitchel rindo e todos riram.
— Um brinde a isso, Mitch. E um brinde a minha mulher que está aqui conosco depois do sufoco que passamos e que amo demais. — Brindaram felizes e fazendo algazarra e Ian beijou amorosamente os lábios dela. — Um brinde aos Rangers, foi muito bom vê-lo novamente, coronel.
— Bom, devo reconhecer que quando disse que queria voltar para casa construir uma família e fazer de sua fazenda algo de encher os olhos não estava brincando. Um brinde a isso — disse Smith.
Continuaram felizes naquele encontro e riam das divertidas histórias que os Rangers e o capitão Smith contavam. Todos eles transformavam as situações de perigo em diversão.
— Que cheiro de carne assada, de onde vem? — perguntou Jayne.
— Realmente, meu amor. Mas não vai ter comida nesta festa? — Ian brincou falando alto e erguendo os braços.
— Mas isso era para ser uma festa? Eu pensei que era somente para tomar umas bebidas — perguntou Jayne inocentemente para Ian.
— Eu tenho uma surpresa.
Todos se olharam e de repente, várias pessoas se aproximaram deles com bandejas, com pratos deliciosos os servindo e todos ficaram com os olhos grandes. Alguns traziam tochas e as fincaram no chão ao redor deles os iluminando, já que a noite estava ficando escura.
— Ian, o que é isso? — perguntou Jayne estupefata.
— Uma festa, meu amor, em sua homenagem — respondeu com um sorriso imenso no rosto, e homens trouxeram mais bebidas e comida.
— Meu Deus, ele está ficando pior a cada dia — brincou David soltando uma gargalhada daquelas que todos riram atrás.
— Mas esta carne está muito boa — disse Mitchel.
Alguns músicos chegavam lentamente já tocando uma música alegre, tocavam violão, banjo, violinos e gaita de boca.
James com a sua família se aproximaram e fizeram parte da festa.
— Eu não sabia de nadinha, mamãe — Angel disse rindo irônica como se não soubesse de nada, mas ela que ajudara Ian a preparar tudo.
— Anna? — Jayne a interrogou de canto de olho e sorrindo.
— Minha filha, eles estavam na minha casa, não podia deixar a senhora desconfiar da surpresa, não é? Tivemos que correr um pouco para aumentar tudo já que tivemos convidados inesperados, mas há suficiente para todos — disse rindo e Jayne riu.
— Isso é para mostrar-lhe o quanto estou feliz de vê-la recuperada — disse se abaixando ao lado dela e a beijou nos lábios.
— Ian, eu te amo — disse o acariciando no rosto.
— Eu sei, meu amor. — Ele a beijou carinhosamente.
— Pai, esta é a hora de entregar o presente? — perguntou Josh quando chegou correndo perto deles e olhando para Ian.
— Sim, filho — disse ele sorrindo para ele.
— Oba... Mamãe, eu fiz isso para você. — Ele entregou um papel com um desenho dos quatro membros da família de mãos dadas com alguns cavalos atrás, que mais pareciam qualquer coisa, menos cavalos.
— O que é isso aqui atrás, Josh? — Jayne perguntou rindo discretamente já entendendo a intenção do filho.
— São nossos cavalos, mamãe.
— Nossa, meu amor, mas eles são mais bonitos que os nossos cavalos de verdade, obrigada — disse rindo e acariciando Josh e ele riu como se aquilo fosse o máximo para ele. Beijou-a e voltou a brincar com Ethan.
— Este aqui é meu — disse Angel lhe entregando uma caixa. — Só que não pode tirar o presente daí, mamãe, há homens aqui — disse cochichando.
Jayne abriu e havia um lindo espartilho branco com renda francesa.
— Nossa, filha, que lindo.
— Sim. Combina com a senhora, eu escolhi, mas foi o papai que pagou — disse rindo. Jayne riu e olhou para Ian que fez uma careta.
— Você disse que odeia espartilhos — disse Jayne, rindo para Ian.
— Sim, mas vocês, damas, tem que usá-los, então eu acho que você deve usar o que mais lhe deixa linda, e foi sua filha toda entendida no assunto que escolheu — disse meio virando os olhos de indignado, mas brincando e Jayne riu mais ainda. — E este aqui é meu — disse Ian dando-lhe uma caixa.
Ela o abriu e havia uma gargantilha com um camafeu negro com uma moça em marfim, as bordas eram em ouro com delicados relevos talhados a mão e atrás estava escrito “Com eterno amor”. — Eu sei que não é como o conjunto de rubis que lhe dei quando estávamos na Califórnia, mas é para você lembrar todos os dias o quanto eu te amo.
Jayne olhou para Ian e queria lhe dizer mil coisas, mas somente o beijou demoradamente e ele colocou a gargantilha em seu pescoço e acariciou seu rosto e ela o retribuiu com o maior amor do mundo.
Aquele presente significava mais que aquele maravilhoso colar com brincos de rubi que ganhara, que era muito mais caro, mas este, tinha sido feito para ela, com uma dedicatória.
— Sra. Buller — disse John se aproximando de sua poltrona.
— Sr. Smith, eu fico feliz em conhecê-lo e me espanto em saber que Ian foi um Ranger.
— É um homem valoroso e era um rapaz impetuoso quando jovem. Eu... Soube o que lhe aconteceu e devo dizer que esta festa era algo que jamais esperava e a dedicação que este moleque lhe tem.
— Não sou mais um moleque, senhor — disse Ian rindo.
— Percebo isso. E fico feliz que tenha deixado os Rangers para ter esta bela família. Tem uma esposa e filhos adoráveis.
— Obrigado, senhor.
— Obrigada pela hospitalidade, mas temos que ir, os homens querem acomodar-se na cidade e ir ao Saloon.
— Espero que volte a nos visitar.
— Quem sabe. Tenham uma boa noite — disse colocando o chapéu e chamando os homens e foram embora. A festa durou mais algumas horas e todos foram para suas casas.
Capítulo 10
Ian entrou no quarto, parou na porta a fechando e olhou para Jayne demoradamente. Ela estava em pé em frente ao espelho colocando o espartilho que ganhara de Angel.
— Nos dê licença, Anna.
Anna fez uma mesura e saiu do quarto.
Jayne olhou para ele, sorriu e continuou.
— Meu Deus, como você está linda! — disse ele.
— Nem estou vestida — disse com um sorriso.
— Não precisa estar. — Ela riu.
— Pode me ajudar a fechar, por favor? — Ele andou e ficou atrás dela, olhou o que tinha que fechar.
— Como fecha isso? Este não tem ganchos?
— Não, este é somente de cadarços. Vá puxando os cordões, fechando os trançados até o meio e fazendo os dois laços.
— Jayne, este é mais complicado que o outro, isso levará uma eternidade para eu tirar — Jayne riu novamente.
— Verdade, meu amor, os fechos são bem mais práticos, este espartilho somente com trançado nas costas é mais complicado, sempre precisarei de alguém para me ajudar a tirar e para colocar. Apesar de ser lindo, é complicado de vestir.
— Não está apertado?
— Não.
— Bem, tirar eu a ajudarei, agora colocá-lo, não terei tanta paciência.
Quando ele terminou, olhou para o espelho e a admirou.
— Está linda.
Jayne se virou, Ian arrumou seus cabelos para trás de seus ombros e a olhava com os olhos vidrados, colocou as mãos em seu rosto e admirava seus belos traços. Ian passou a língua nos lábios lentamente e Jayne o vendo fazer isso, sentiu suas pernas amoleceram e ela fechou os olhos.
— O que foi? — ele perguntou mansamente.
— Não faça isso.
— Isso, o quê?
— Eu morro quando você passa a língua assim nos lábios, me provoca.
— Não estou te provocando, fiz sem pensar. — Ele sorriu.
— Eu sei, amor, isso é involuntário, você tem esta mania que me deixa louca, assim como passar a mão nos cabelos o jogando para trás.
Ian sorriu a vendo ali demonstrando desejo por ele e acariciava seu pescoço com as pontas dos dedos.
— Posso beijá-la? — disse ele chegando bem perto dos lábios dela.
— Deve.
Ele lentamente a beijou e os dois sentiram a temperatura de seus corpos mudarem radicalmente, pararam de respirar naquele beijo. Lento, suave, profundo e devastador. Ian soltou dos lábios dela e Jayne nem conseguiu abrir os olhos. Ele beijou o canto dos seus lábios, sua face, seus olhos e depois os lábios novamente.
— Estou morrendo de desejo por você, sinto sua falta — ele disse entre um beijo e outro. — Se eu pudesse faria amor com você agora.
Jayne soltou um gemido, sentindo seu corpo queimar. Ian desceu beijando seu pescoço e suas mãos desceram pelas costas dela levemente. Os corações estavam acelerados e respiravam ofegantes.
— Amor, pare com isso — ela pediu, desmanchando-se.
— Não vou fazer nada, eu só quero beijá-la.
Ele alcançou os lábios dela novamente. Ian escorregou suas mãos para seus seios sobre o espartilho a acariciando com os polegares, e de repente, virou a cabeça para cima tentando respirar. Deu um passo para trás e a olhou.
— Como é difícil ficar sem ter você como eu quero. Mas estou tão feliz de vê-la bem, meu amor, linda, sorrindo.
— Daqui a alguns dias podemos ter nossa vida normal de novo.
— Deus queira.
— Preciso voltar a tomar meu chá, se vamos voltar a dormir juntos não posso correr o risco de engravidar agora.
— Eu sei, querida, eu também vou tomar cuidado, o médico disse que você não pode engravidar de jeito nenhum, ia ser perigoso para você e o bebê. Tem certeza que estas ervas não falham?
— Se falhassem já teríamos outros filhos, não acha? É que tem que tomar direito, senão não funciona.
— Você não estava tomando quando engravidou do Josh, não é?
— Não, não estava — disse rindo. — A única coisa que eu pensava era estar com você e foi como se todo meu mundo tivesse parado.
— E eu tampouco fui responsável, no fundo era o que eu queria, que você engravidasse para que nunca mais saísse do meu lado.
— Ian!
— Bem cheguei a pensar nisso.
— Eu amo você, Ian.
— Eu também te amo, querida. — Ian a beijou novamente.
**
— Jayne, sabe a fazenda dos Adams?
— A que fica perto da fazenda de Mitchel?
— Sim. Ele está vendendo e por um preço muito baixo.
— Por quê?
— Parece que está endividado, quer vender logo e ir embora.
— Hum... E a fazenda é boa?
— As terras são boas, a casa precisa de reforma. Pensei em comprá-la, depois venderia por um preço maior, ele está pedindo praticamente a metade que ela vale. Posso vender por bem mais.
— Hum... Talvez seja uma boa ideia.
— O senhor pode construir outra casa e vou morar lá quando me casar.
Os dois olharam para Angel com os olhos arregalados.
— E o que a faz pensar que seu pai e eu temos que lhe dar uma fazenda para morar com seu marido, mocinha?
— Ora, se não vai usá-la dê para mim.
— Eu não disse que não iria usá-la, eu disse que ia comprar e vender.
— Angel, você ultimamente anda falando cada coisa, pare com isso.
— Mãe, eu não falei nada demais, só falei que podia dar a fazenda para mim, quero criar cavalos.
— Ai Jesus — resmungou Jayne.
— Angel, quando você casar, o que isso vai demorar bastante, o homem com quem vai se casar é que deve lhe dar a casa que vai morar e não seu pai. Pois este negócio de dote nesta família não existe. Pelo menos agora.
— Mas e se ele não tiver uma fazenda com cavalos?
— Bom, então ache um que tenha se quer ter uma.
— Está me dizendo que tenho que me casar com um homem rico?
— Não foi isso que eu disse, mas ele tem que ter, pelo menos, condições de lhe dar uma casa, um bom sustento, conforto, minha filha.
— Eu não quero sair daqui — disse Josh.
— Ah não?
— Não, quero cuidar da fazenda do papai. — Ian e Jayne riram.
— Muito bem, filho — disse Ian.
— Então eu poderia ir para Europa estudar.
— Não estou gostando desta conversa.
— Mãe, eu estou pensando no meu futuro.
— Angel, com treze anos quem pensa no seu futuro sou eu e sua mãe.
— Isso mesmo mocinha. Primeiro que você não vai para a Europa, segundo que quando você for adulta, vai pensar em casamentos e terceiro, seus pretendentes terão que passar por uma rigorosa inspeção, ouviu? Não vou deixar você se casar com qualquer um.
— Mamãe, a senhora teve três maridos.
— Angel! — disse Ian enérgico e espantado.
— Não é verdade? Casou-se com quem quis, o vovô não a forçou a se casar com eles. Por que eu tenho que casar com quem a senhora quer?
— Eu não disse isso.
— Basicamente disse.
— Só disse que vamos ter cuidado com quem vai se casar, só isso. As pessoas enganam, Angel, elas mentem e fazem coisas horríveis por dinheiro. Você é uma menina de família rica, tem que prestar atenção, para não se casar com algum interesseiro, mas com alguém que goste de você de verdade, que seja um homem bom, que lhe dê uma vida boa.
— Vocês ainda acham que sou uma criança, me tratam como se tivessem a idade do Josh. Tem um monte de gente que fala mal da senhora pelas costas, dizem que traiu meu pai com o papai Ian e foi mesmo, pois estava grávida do Josh quando meu pai a trouxe para casa, eu me lembro, e depois dizem que traiu meu pai com o tio Ricky.
— Isso não é verdade, você sabe bem disso!
— Eu sei, mas vou ter que ficar defendendo a senhora quando alguém falar dos seus comportamentos?
— Como se atreve a falar assim comigo, Angel? Com quem está aprendendo a ser respondona com sua mãe, nunca falou comigo assim. Não foi esta educação que eu lhe dei. Vá para seu quarto agora mesmo.
— Eu não acabei de comer.
— Pois vai ficar sem comer, vá para seu quarto já! — Jayne disse furiosa.
Angel levantou e foi para o quarto. Jayne estava desconcertada.
— Calma, Jayne, ela nem sabe o que está falando.
— Ela não devia ter dito estas coisas.
— Eu sei, mas ela não sabe as coisas que o pai dela fez, talvez seja a hora de você contar a ela.
— Josh, já acabou de comer? — perguntou Jayne e ele assentiu. — Então vá para seu quarto brincar.
— Estou de castigo?
— Claro que não, meu amor, venha aqui e me dê um beijo. — Ele levantou e foi até ela e lhe beijou o rosto. — Agora seja bonzinho e vá para seu quarto, está bem? Depois vou ler uma história antes de você dormir. — Ele deu um beijo em Ian e foi para o quarto. — Será que devo contar sobre o pai dela, Ian? Ela nunca tocou no nome dele, eu achei que ela tinha esquecido isso. Meu Deus! Onde ela ouviu sobre ele? Aqui ninguém o conhecia.
— Jayne, muita gente aqui sabe que ela não é minha filha e todo mundo sempre acha uma coisa para falar, você sabe disso.
— Eu não entendo, ontem ela estava tão amorosa, agora isso.
— Ela ficou brava que você disse que ela não podia ir para a Europa.
— Ian, eu não quero ficar longe da minha filha.
— Querida, Angel está crescendo, uma hora ela vai sair debaixo das suas asas, se ela não for para a Europa, irá se casar e morar em outra casa.
— Eu sei que vai.
— Mas isso que você disse sobre os pretendentes dela eu concordo.
— Eu sei que falei errado com ela, mas não quero que ela sofra, Ian.
— Minha querida, eu também não quero, mas nós temos que saber lidar com ela, eu nunca tive filhos desta idade, nem sei o que fazer às vezes.
— Você é um ótimo pai.
— E você é uma ótima mãe. Eu nunca vi vocês brigarem e não acho boa ideia começar agora. Venha aqui. — Ele se afastou da mesa, Jayne levantou e sentou-se no colo dele, o abraçando. — Calma querida, amanhã vocês conversam e ficarão bem. Deixe-a se acalmar. Eu também não gostei do jeito que ela falou com você, mas é preciso calma — disse sorrindo para que Jayne se acalmasse e lhe secou as lágrimas que lhe corriam pela face.
— Acha que ela pensa mal de mim?
— Claro que não, meu amor. Angel a adora, a admira, isso foi só um rompante, ela falou sem pensar ou ouviu alguém dizer algo, não esquente sua cabecinha com isso. Mas se ela pensa que você fez algo errado com Edward acho que deveria falar para ela, não acho justo ela pensar mal de você e achar que ele era um santo.
— Mas não acho certo falar mal dele para ela.
— Bem... Você estaria se defendendo e não simplesmente falando mal. Vamos, me dê um sorriso, isso não foi nada.
— Eu nunca traí você e nunca traí Edward, ele me abandonou — disse com os olhos marejados de lágrimas e Ian acariciou seu rosto.
— Eu sei que não. Você é a pessoa mais forte que eu conheço. Já vi você vencer a morte, vi enfrentar bandidos como nenhum homem fez. Não pensei que fosse cair assim na frente de uma menina.
— Essa menina é minha filha. Nunca pensei que fosse falar assim comigo.
— Eu lhe garanto que ela lhe pedirá desculpas. Esta família é a mais forte que qualquer uma. Pode até ser abalada, mas nunca derrubada. E é por isso que eu te amo tanto, você é um dos pilares mais fortes, nada te derruba.
— Não sou tão forte assim.
— É sim! Sempre foi e sempre vai ser. — Ian beijou seus lábios chorosos e a abraçou carinhosamente.
— Eu sou forte porque você me ajuda a ser forte.
— Somos fortes juntos, meu amor. Juntos! E é assim que sempre estaremos... Como uma família deve ser.
**
Ian acordou e não viu Jayne, sentou meio sonolento na cama e a viu parada em frente à janela olhando para fora.
— Querida, o que faz aí? Ainda nem amanheceu.
— Perdi o sono.
Ian pegou a coberta e levantou, foi até ela e a abraçou, envolvendo os dois na coberta.
— Está frio, vai se resfriar.
— Está tão tranquilo lá fora — disse meio divagando.
— Está, mas aqui dentro deste coraçãozinho não está.
— Não vou negar que estou triste.
— Eu sei, seus olhos não negam, tenha paciência.
— Eu sou uma pessoa paciente — disse com um sorriso meio fraco.
Jayne se virou para ele e o olhou na pouca luz que vinha da lua e entrava pela janela, suspirou e o abraçou, e Ian beijou seus cabelos.
— Vai dar tudo certo, meu amor, venha, vamos voltar para a cama — disse ele.
Foram até a cama e Ian sentou no seu lugar arrumando as cobertas. Jayne ficou em pé ao lado da cama e quando ele a olhou, ela lentamente se ajoelhou e foi engatinhando até ele, sentou sobre suas pernas, acariciou seu rosto, retirou uma mecha de cabelo que lhe caia nos olhos e o beijou.
— Por favor, não faça isso — ele disse lhe acariciando as costas.
Ela sem falar nada retirou a camisola e retirou a camisa dele.
— Mulheres descentes não podem ficar nuas na frente do marido — ele disse sorrindo, lembrando-se de um comentário dela.
— Como todos dizem, eu não sou descente.
Ela o beijou, o abraçando, fazendo com que seu peito nu colasse no dele o deixando louco.
— Faça amor comigo — disse ofegante e cheia de desejo por ele.
— Tem certeza? Não quero machucar você.
— Você não vai me machucar, eu estou bem, preciso de você, meu amor.
Beijaram-se intensamente e Ian começou a beijar seu pescoço descendo para seu colo. Jayne fechou os olhos sentindo os lábios dele e sua língua em seu corpo, ele a deitou na cama lentamente e continuou acariciando seu corpo.
Quando Ian a possuiu lentamente os dois gemeram e ele parou, somente ficando ali encaixado nela e a beijando. Seus corações chocavam-se violentamente contra o peito, tamanha era a saudade que seus corpos sentiam um do outro.
Ian a amou cuidadosamente. Queriam se sentir, matar a saudade de se terem, de se amarem. Moviam-se devagar para Jayne não se machucar. Mesmo sendo cuidadosos, foi maravilhoso; como poderia não ser? Aqueles dois corpos eram tão perfeitos juntos, que qualquer movimento que faziam era para demonstrar amor.
Ian a tocava com cuidado, como se fosse de porcelana, cuidando para não quebrar. Como amava aquela mulher, amava mais que sua consciência podia entender e o mesmo era com Jayne, era louca por Ian, faria qualquer coisa para sempre tê-lo nos seus braços.
Amaram-se e dormiram abraçados até o dia clarear.
Jayne acordou e se aconchegou mais no corpo dele e puxou a coberta para cobri-lo mais. Ele estava acordado, mas mantinha os olhos fechados.
— Eu simplesmente amo ter você nos meus braços — disse ele baixinho. Eu não machuquei você? Está bem?
— Estou bem, meu amor, não se preocupe.
— Como não me preocupar, isso é basicamente impossível. — Ela sorriu.
— Eu lhe dou muito trabalho, não é?
— Dá! Meu Deus. Acho que vou devolvê-la para o seu pai — disse rindo e ela também riu.
Jayne foi levantar da cama.
— Aonde vai?
— Trazer nosso café na cama.
— Não, deite-se, eu vou. Vou lhe fazer um agrado já que esta noite a senhora me tirou da abstinência.
Jayne riu e Ian deu um beijo nela, levantou, colocou o robe e foi para a cozinha, preparou uma bandeja para os dois. Josh já estava na mesa tomando café que Anna lhe preparara.
— Bom dia, meu homenzinho — Ian disse lhe dando um beijo na testa.
— Oi papai, aonde vai com isso?
— Vou levar para sua mãe no quarto.
— Hum, então quando eu for grande também tenho que levar café na cama para minha esposa?
— Sim senhor.
— Ah! Dá muito trabalho. — Ian riu e o beijou.
— Vou lhe contar um segredo. — Ele se abaixou do lado do filho. — Quando você tiver sua esposa e se amá-la como eu amo sua mãe, levar café na cama nunca irá ser um trabalho para você. Nunca deixe de fazer nada para agradar quem você ama, seja esposa, seja seus pais, sua irmã ou algum amigo de verdade. Demonstrar quanto gostamos faz com que estas pessoas nos retribuam, naturalmente, e isso nos faz sentir felizes.
— Entendi.
— Ótimo! Bom garoto.
— Posso fazer uma bandeja e levar para Angel?
Ian sorriu para ele orgulhoso.
— Pode. Peça para Anna ajudar você, Angel vai gostar. Onde está ela?
— Não a vi, acho que está dormindo. A mamãe já a tirou do castigo?
— Ela pode sair do quarto se quiser.
— Ela vai ter que pedir desculpas para a mamãe?
— Vai Josh, ela desrespeitou sua mãe, vai ter que se desculpar.
— O que é desrespeitou?
— É quando um filho briga com a mãe ou o pai, quando é desobediente, quando fala coisas que magoam. Os mais velhos têm que ser respeitados pelos mais novos, principalmente se forem seus pais, entendeu?
— Sim papai.
Ian pegou a bandeja e foi para o quarto e colocou na cama.
— E posso saber por que chaveou a porta?
— Para ninguém entrar aqui.
— Por quê?
— Porque eu quero amar você de novo, ainda não matei minha saudade.
— Ai meu Deus! Que sacrifício que eu tenho que fazer, acho que não vou aguentar fazer amor com você de novo — ela falou com a fisionomia séria e ele a olhou mais sério ainda.
— Verdade?
— Não — disse, rindo, ele soltou uma gargalhada e a beijou.
— Como você é perversa, me deu um susto.
Capítulo 11
Josh levou a bandeja de café da manhã com ajuda de Anna para o quarto de Angel.
— Bom dia, Angel.
— Vá embora, Josh. Eu quero ficar sozinha.
— Eu trouxe café na cama para você.
Angel olhou-o espantada, estranhando sua atitude.
— Por que fez isso?
— Porque é minha irmã e papai disse que eu podia.
— Papai não está bravo comigo?
— Não pareceu bravo. Disse que você pode sair do quarto.
— E a mamãe?
— Não vi a mamãe, ela está no quarto, papai levou café na cama para ela.
— Hum, obrigada pelo café, Josh, eu também amo você. — Ela o abraçou. — Vocês leram sem mim ontem, eu ouvi — disse tristemente.
— Você estava de castigo.
— Eu sei.
— Se brigar com a mamãe, ela vai colocá-la de castigo de novo. Você foi muito feia.
— Só estava me defendendo.
— Ela ficou triste, até chorou.
— Chorou?
— Sim, eu espiei. O papai a fez parar de chorar, mas você não devia ter feito a mamãe chorar. Peça desculpa para ela.
— Não vou pedir desculpas!
— Papai ensinou que devemos pedir desculpas quando a gente faz coisa errada, Angel.
— Eu sei, mas eu disse a verdade.
— Eu não entendi as coisas que você disse.
— Não é para entender, Josh, você é muito pequeno.
— Não sou pequeno.
— É sim.
— Se não sou adulto, você também não é.
— É, acho que não sou.
— O papai disse que você desrespeitou a mamãe, tem que pedir desculpa.
— Vou pensar.
— Se você não pedir desculpa, a mamãe vai chorar de novo e eu não trago mais café no quarto para você.
— Isso é chantagem, Josh.
— O que é isso?
— É quando você pede uma coisa em troca de outra. É errado.
— Hum... Mas mesmo assim, você tem que pedir desculpa.
— Eu já disse que vou pensar.
**
— Mary, quantas vezes você andou de trem? — David perguntou.
— Nenhuma.
— Quantas cidades você conhece além de West Side?
— Nenhuma. Eu nunca saí daqui.
— Hum... Você gostaria de conhecer o mar?
— Ah sim, deve ser tão lindo, com tanta água. Will disse que é bom ficar descalço na areia, disse que se você colocar uma concha no ouvido você escuta o barulho do mar, dentro dela, fascinante! — disse empolgada e com um imenso sorriso e seus olhos brilhavam, mas, de repente, ela se conteve e diminuiu o sorriso. David a ouvia com um sorriso no rosto.
— Pensei em levá-la para conhecer, o que acha?
Mary o olhou rapidamente com os olhos arregalados.
— O quê? Você me levaria até o mar? David, eu adoraria!
— Sei que iria, por isso que estou pensando em ir.
— Ah! — gritou, pulando em seu pescoço e o abraçando, e ele riu de sua alegria. — Obrigada!
— Você merece um agrado, Mary. Vai ser ótimo! Ian conseguiu um comprador para os cavalos que nós encontramos, é um bom dinheiro limpo que vai entrar e queria usá-lo para um pouco de diversão. Ele disse que os cavalos valem muito e eu tenho um pouco guardado. Claro que não teremos luxo e nem ficaremos em uma hospedaria cara, mas vai dar para fazer um bom passeio e aproveitar bastante.
— Vou adorar e as crianças também — disse feliz.
— Então vou pedir a Willian para olhar a fazenda por alguns dias.
— Por que não os convidamos para irem conosco?
— Mas alguém tem que ficar para cuidar do gado. Não é uma boa ideia eu e Willian sairmos juntos agora.
— Hum...
— Mas se eles quiserem ir, quando voltarmos eu cuido de tudo e ele pode ir com a Emily e as crianças.
— Mas está começando a ficar frio. A água deve ser muito fria.
— Eu sei, mas aqui o frio chega mais rápido, pensei em ir a uma praia que chamam de Miami, ouvi falar dela, poucos ainda a conhecem, mas a cidade tem tudo, hotel, restaurantes. É um pouco longe, mas nesta época lá ainda é bem quente. Pensei em ir para lá, pois assim fugimos um pouco do frio.
— David, eu já disse que amo você?
— Faz tempo que não me diz, mocinha. Pode ir começando, senão nada de praia. — Mary riu e o beijou.
— Pois eu te amo e muito.
— Eu também.
— Você e meus filhos são o melhor presente que Deus me deu.
Jonathan que os olhava com os olhinhos atentos soltou uma risada e bateu as palminhas, parecia que entendia o que eles diziam, os dois o olharam e riram. Ele era muito parecido com David, tinha um sorriso sempre aberto e estava sempre alegre.
**
— Aonde vai, Ian?
— Vou ver o Sr. Adams, quero ver novamente o valor da fazenda.
— Realmente vai comprar a fazenda dos Adams?
— Sim, quero comprar.
— Ian, eu acho que não poderemos comprar a fazenda agora, mesmo que ela custe pouco. Nós temos que ter uma reserva, caso aconteça algo.
— Aconteça o quê?
— Se nós tivermos que ir à Espanha nós gastaremos muito dinheiro.
— Jayne, pode deixar que eu deixarei reservas, sabe que sempre faço isso.
— Mas como vamos deixar reservas gastando essa fortuna? Falando em fortuna. De onde veio aquele dinheiro do cofre, eu...
— Jayne, eu sei o que estou fazendo. Não se preocupe com isso.
— Tudo bem, eu confio em você. Se você diz, mas é que...
— E saiba que nunca teremos problemas com dinheiro.
— Como assim? — Ian ficou sem jeito, falou sem pensar.
— Bem, sempre fui prevenido, sempre tenho reservas.
— Isso eu sei, mas não entendi seu comentário.
— Me expressei mal, só isso. Sou um bom administrador, você sabe. Nunca teremos problemas porque nunca fico desprevenido. Eu sei planejar as coisas.
— Ian, quando nós viajamos para a Nova Califórnia, levamos bastante dinheiro e quando eu voltei encontrei dinheiro no cofre, era uma quantia bem considerável, eu não entendi de onde saiu, pensei que havia vendido algum cavalo, mas...
— Jayne — disse a interrompendo. — Querida, vamos esquecer esse assunto, já passou, eu nem me lembro direito destas coisas.
— Mas Ian, agora mesmo não temos esse dinheiro que diz ter.
— Jayne, por favor... Eu já achei um comprador para os cavalos, tenho que tirá-los do cercado o mais rápido possível — disse mudando de assunto e Jayne olhou-o meio aturdida.
— Por quê?
— Porque fechei uma cobertura bem grande, vou precisar do cercado para deixar as éguas, pois só tenho cinco baias livres.
— Por que você não me contou isso antes?
— Porque você estava se recuperando, não quis aborrecê-la com trabalho.
— Você é demais, meu amor! — disse ela o beijando.
— Eu sei — disse rindo. — Você não vai falar com Angel?
— Estou esperando para ver se ela toma uma atitude, mas ela está me evitando o dia todo.
— Eu queria que ela tomasse a iniciativa.
— Eu também.
— Você não vai contar a ela sobre mim e Edward, não é?
— Não vou dizer nada, não se preocupe. Onde ela está?
— Está andando a cavalo, nos obstáculos. Josh está com ela, ele adora a ver saltar.
— Não gosto de vê-la saltando, acho perigoso.
— Não se preocupe, não deixei colocar obstáculos altos. É só para ela se distrair e fazer algo que ela gosta.
Foram interrompidos por uma batida na porta do escritório.
— Entre — disse Ian.
— Senhora, com licença.
— Sim, Matt.
— Um mensageiro do seu pai mandou entregar este envelope. — Jayne pegou e abriu o envelope, havia alguns documentos, ela olhou e leu o bilhete do seu pai.
— Ai meu Deus!
— O que foi? — Ian perguntou preocupado.
— Meu pai está mandando os documentos da venda da casa no Novo México de volta, não aceitaram minha assinatura.
— Você colocou a casa a venda?
— O inquilino pediu para comprá-la e ofereceu uma boa quantia por ela. Desculpe, foi quando estava sumido, eu não consultei você.
— Não precisa se desculpar por isso, Jayne. Mas por que ele devolveu os documentos?
— Ele redigiu Jayne Buller e eu não posso assinar isso agora.
— Não entendi. Como minha viúva poderia vender sem minha assinatura.
— Ian... Enrique é que deveria assinar, ele se tornou meu marido, a casa seria dele agora e meu sobrenome é Gonzáles.
Ian ficou descompensado, ele levantou da cadeira e não conseguiu esconder sua revolta.
— Eu não acredito nisso! Essa fazenda é minha, aquela fazenda é nosso patrimônio, ele não pode reivindicar o que não lhe pertence!
— Um detalhe, não acha? Mas tudo vai voltar para suas mãos assim que a anulação sair.
— Quando este inferno vai acabar?
— Não sei, mas tenho que esperar para vender a casa. Na verdade, você vender, se é que ainda teremos o comprador interessado.
— Tudo bem, eu não posso fazer nada quanto a isso, mas saber disso me dá nos nervos. Se ele reivindicar a fazenda é um homem-morto.
— Ian, ele não vai fazer isso e se eu pudesse somente assinaria Buller, mas não posso. Sinto muito.
— Eu sei, querida, me desculpe.
— Meu amor, eu sinto muito, mas eu continuo sendo a Sra. Gonzáles. — Ele abraçou Jayne fortemente e ficaram abraçados assim um tempo sem dizer nada. — Meu nome não importa, Ian. O que importa é meu coração, sou somente sua esposa.
— Eu sei meu amor, eu sei.
**
— Por que está triste, senhorita Angel? — perguntou Matt.
— Estou pensando se eu vou fazer as pazes com minha mãe.
— Por que, vocês brigaram?
— Sim, acho que eu falei o que não devia.
— A senhorita não precisa fazer as pazes com ela, pois as mães sempre esquecem o que a gente diz poucas horas depois.
— Acha isso?
— Sim.
— Você não fica de castigo quando briga com seu pai ou sua mãe?
— Senhorita, já sou um homem-feito, ninguém me coloca de castigo.
— Hum...
— Se não for intromissão, o que falou para ela?
— Pedi para meu pai me dar uma fazenda que ele vai comprar para eu morar quando casasse, pedi para minha mãe para estudar na Europa e ainda falei coisas sobre meu pai que morreu. Falei coisas feias, eu acho.
— Não achei nada de mais o que pediu, se ele tem dinheiro tem que dar.
— É, mas acho que não é assim que funciona. Eles sempre me dão o que eu peço, mas ela disse que quando eu me casar meu marido é que tem que me dar uma casa e não meu pai.
— Isso é um absurdo, seu pai tem dinheiro.
— É, mas não vou me casar com meu pai, acho que ele está certo. Não se usa mais dar dote nos casamentos na minha família, então, ele não tem obrigação de dar uma fazenda para mim e meu marido.
— Não acho. E sua mãe brigou com você só por causa disso?
— Também, mas falei que ela traiu meu pai.
— Qual deles.
— Meu pai que morreu.
— E não é verdade?
— Não sei, acho que é. Eu não me lembro, eu era muito pequena. Mas acho que eu a magoei, Josh disse que ela estava chorando, minha mãe não trairia meu pai, ela é uma pessoa correta.
— Mas se é verdade, por que você não pode falar a verdade?
— Não sei. Talvez se fosse verdade ela não teria se ofendido.
— Ou talvez porque não goste de ouvir a verdade.
— Estou com medo de perguntar e ela me botar de castigo de novo.
— Os pais sempre acham que fazem a coisa certa com os filhos, eu quando não concordo com o que meu pai faz, eu falo.
— E ele não fica bravo?
— Geralmente fica, mas não concordo e pronto.
— Mas eu nunca briguei com minha mãe, eu acho que vou ter que pedir desculpas.
Ian estava a cavalo e devagar se aproximou deles.
— O que estão fazendo? — Ian perguntou seriamente.
— Nada papai, somente conversando.
— Matt, daqui a alguns dias David vai viajar, quero que você vá para a fazenda de Willian trabalhar lá enquanto ele estiver fora, Willian vai precisar de ajuda.
— Trabalhar lá?
— Sim, só por alguns dias.
— Mas senhor, eu não quero trabalhar lá.
— Matt, não vai mudar em nada, só vai mudar o lugar, você vai fazer quase as mesmas coisas como faz aqui. Você sabe que eu sempre mando empregados para lá, afinal eles são meus sócios. E você já trabalhou lá, são cinco minutos daqui, vai de manhã e volta no fim da tarde, se quiser pode vir almoçar em casa.
— Me desculpe senhor, mas não gosto de trabalhar lá, não quero ir. — Ian o olhou sério e franziu o cenho.
— Angel, está na hora de entrar.
— Só mais um pouco, me deixe ficar aqui.
— Querida, eu já pedi uma vez.
— Está bem, papai. Adeus, Matt.
Ian esperou Angel se afastar e olhou severamente para Matt.
— Matt, eu percebi que você anda retrucando cada coisa que pedimos para você fazer.
— É que não quero ter que fazer o que eu não gosto.
— Bem, talvez eu tenha que cortar seu salário, então você pode ficar sem fazer nada.
— Não fale assim comigo, Sr. Buller.
— E você não me desrespeite, garoto. Eu sou seu patrão. Antes eu estava pedindo que fosse para lá, agora eu estou mandando. Temos que fazer coisas que não gostamos, não dá para fazer sempre o que queremos. Se não aprendeu isso ainda, acho melhor começar a aprender. E acho que Angel anda rebelde por sua causa, ela está tomando suas atitudes rebeldes.
— Se ela está rebelde é porque quer, senhor. Eu não peço para fazer nada.
— Matt, eu não sei por que você anda com esse mau humor ultimamente, mas acho bom parar, senão vai arrumar confusão. E se eu achar que você não é boa companhia para Angel, eu não deixarei mais você ficar perto dela. Não quero problemas, pois já os tenho suficiente.
— Mas senhor...
— Já falei o que tinha que falar, Matt. Vá fazer seus afazeres.
— Sim, senhor.
Matt colocou o chapéu e virou as costas para Ian que o ficou olhando se afastar. Não estava gostando nada do comportamento que Matt andava tendo ultimamente.
Capítulo 12
Jayne entrou no quarto de Angel, pensativa deu uma olhada ao redor, arrumou os travesseiros na cama e ajeitou uma boneca de pano que Anna colocara recostada nos travesseiros.
Sentou na cama e pegou uma caixa de bordados que estava na mesinha de cabeceira o colocando em seu colo.
Pegou um que Angel estava bordando e o olhou sorrindo, o tocando levemente com os dedos.
Angel ia entrando no quarto quando viu sua mãe ali, parecia triste e pensativa.
Seu coração doeu e não teve mais como fugir de falar com ela.
— Eu não sei terminar — disse ela.
Jayne levantou a cabeça rapidamente olhando para Angel.
— O quê?
— O bordado... — ela foi até o lado dela e sentou na cama. — Parei aqui porque não sei mais continuar.
Jayne deu um leve sorriso para ela.
— Eu a ensino. — Jayne pegou a agulha e lhe mostrou como continuar o bordado e ela prestou atenção.
— Hum... Agora entendi, obrigada.
— Vai ficar lindo, Angel. Você é muito caprichosa no bordado.
— Mamãe, me desculpe pelo que eu disse.
— Você me magoou muito, Angel. Não esperava isso de você.
— Eu sei, mas então me conte a verdade sobre meu pai.
Ian chegou e viu as duas, parou na porta, mas Jayne e Angel não o viram. Ele ficou no corredor e recostou-se na parede, fechou os olhos e ficou ouvindo a conversa.
— Angel, eu nunca queria ter tocado neste assunto com você. Dói-me demais ter que me lembrar de seu pai.
— Por quê? O que aconteceu?
— Seu pai não era um homem bom, querida.
— Ele sempre foi bom comigo, eu me lembro dele.
— Eu sei, eu vi como ele era cuidadoso com você.
— A senhora traiu meu pai com o papai Ian?
— Não! Seu pai fugiu com você quando você tinha um ano de idade.
— Fugiu?
— Sim, simplesmente pegou você e foi embora, eu procurei por você sempre, por todos os lugares, mas eu nunca consegui encontrar. Ele me roubou, me deixou sem nada, por isso tive que voltar a morar com o seu avô, pois eu não tinha nem onde morar. Sem contar que tirou você de mim. Eu conheci Ian muito tempo depois e me apaixonei por ele, nunca achei que fosse amar novamente, mas o amei no primeiro momento que o vi. Então mesmo eu ainda sendo casada com seu pai, eu não considero que o tenha traído ficando com Ian. E eu achei que nunca mais encontraria você, mas um dia ele veio aqui com um bando de bandidos, quase matou Ian e me levou até você, me deixou trancada no quarto, às vezes até sem comer.
— Eu lembro que às vezes eu não a via na casa. É por isso que ele disse que você não era minha mãe?
— Sim. Ele mentiu. Ele sabia que eu não estava morta, Angel. Ele mentiu para você. Ele fez barbaridades, minha filha.
— Barbaridades?
— Sim. Quase matou Ian, quase matou seu avô, roubou vários bancos inclusive de seu avô, foi ele que botou fogo na casa do tio David, que quase matou tio Mitchel numa tocaia, Willian também quase morreu. Suas tias também quase foram mortas, tudo a mando dele e me maltratou muito enquanto me deixou presa naquela casa.
— Não acredito. A senhora está inventando, papai não era assim mau, e como ele ia maltratá-la? Estava esperando um bebê, ele não faria isso!
Angel revoltada levantou da cama e olhou para ela com os olhos arregalados.
Jayne engoliu a seco e sem pensar em o que dizer, abriu os botões de sua blusa, tirou-a ficando somente de espartilho e mostrou seu colo.
— Está vendo estas cicatrizes? Foi seu pai que fez, enquanto rasgava minhas roupas, quando eu estava trancada naquele quarto. Ele tentou me violentar, Angel, bateu em mim, atirou em mim, quase matou a mim e ao Josh. Ameaçou tirar Josh de mim quando nascesse e sumir com ele, iria me obrigar a ser sua esposa novamente e a lhe dar um varão. Sinto muito se não acredita, filha, mas é a verdade, não estou inventando.
Ian apertou os olhos ouvindo aquilo, sempre teve medo de pensar a procedência daquelas cicatrizes que ela tinha.
— Não pode ser. Ele não atiraria na senhora, não a machucaria.
— Eu sei que não se lembra daquele dia, mas vê esta cicatriz aqui no meu braço? Foi tiro dele. Se não acredita em mim pergunte a Kate, ela sabe de tudo, pois ela também foi maltratada por ele, ele também a feriu. Por causa dele quase morri no parto de Josh. Você não se lembra de como saímos da casa com Kate, correndo com seu pai atirando em nós? Não se lembra de que você fugiu com Kate a cavalo pela floresta e depois vovô as achou?
— Não lembro...
— Se ele não tivesse sido morto, ele teria me matado friamente. — Angel começou a chorar. — Eu nunca traí seu pai e nunca fiz nada a ele para que ele se transformasse naquele monstro, mas ele era assim. Por isso que eu lhe disse que as pessoas mentem, enganam e fazem coisas horríveis por dinheiro, porque seu pai era assim. Ele somente se casou comigo para pegar meu dote e roubar seu avô. E não quero que você vá para a Europa, não quero que fique longe de mim, porque parece que você vai sumir, entendeu? Sei que pode ser errado eu fazer isso, mas aquelas escolas não são boas pra você, eu sei porque vivi lá.
As lágrimas corriam pelo rosto de Jayne e seu coração parecia que arrebentaria de dizer todas aquelas coisas.
— Quem foi que atirou nele?
— Eu não sei minha filha, eu não vi. Por favor, eu lhe imploro! Esqueça este assunto, isso me maltrata, me faz sofrer, só o que me importa é que tenho você aqui comigo para poder cuidar de você. Poder ser sua mãe.
— Você me ama tanto assim?
— Filha, você, Josh e Ian são minha vida. Vocês são o ar que eu respiro, não sei ficar longe de vocês.
Angel correu e abraçou Jayne com toda força e as duas choraram.
— Desculpe, mamãe! Nunca mais vou dizer nada contra a senhora, me perdoe. Nunca mais vou tocar nesse assunto de novo.
— Tudo bem, querida, tudo bem. Eu te amo, Angel.
— Eu também, mamãe. E eu amo o papai Ian como se fosse meu pai de verdade.
— Eu sei, querida.
— E o tio Ricky?
— O que tem ele?
— A senhora o amava?
Jayne sentou-se na cama, puxando Angel.
— Angel, sente aqui. Eu amei Ricky, senão não teria me casado com ele.
Ian passou a mão nos olhos, não sabia se podia ouvir aquilo ou queria.
— Como pode amar dois homens de uma vez, isso é normal?
— Querida, que pergunta é essa? Eu só fiquei com Ricky porque pensei que Ian estava morto. Jamais o teria feito se soubesse que ele estava vivo. O meu amor por Ricky era diferente, eu o amava, mas nunca consegui esquecer Ian, nem um dia que fosse. No fundo do meu coração eu nunca aceitei sua morte. Eu só tentei recomeçar, tínhamos uma afinidade muito grande, mas quando Ian voltou, não pude ficar com ele, nunca poderia deixar Ian nem por Ricky nem por ninguém, porque eu o amo, amo com uma intensidade que vai além do que jamais imaginei. Ian é o amor da minha vida. Entendeu?
— Amor é assim complicado? — Jayne sorriu para ela.
— Querida, um dia você vai amar e vai entender o que eu estou dizendo. O que eu desejo é que você ame alguém assim como amo Ian e receba o mesmo de volta. Posso lhe ensinar algumas coisas, mas outras, você vai aprender sozinha. Eu espero que esta pessoa seja seu marido, para que tenha uma vida feliz.
— O vovô a forçou a se casar com meu pai?
— Digamos que eu não tinha muita opção ou forças para dizer não ao seu avô na época. Mas isso tudo é passado agora. Eu só quero vê-la feliz e Ian também quer. Ele faz qualquer coisa por você e Josh, ele realmente a ama como se fosse sua filhotinha.
As duas se abraçaram. Ian apareceu na porta, estava com o coração apertado, Jayne o olhou com os olhos cheios de lágrimas, ele foi até elas e as abraçou fortemente.
— Desculpe, papai, por ter falado aquelas coisas.
— Tudo bem, meu amor, já passou. Não podemos deixar nada abalar esta família, temos que ser fortes e ajudar uns aos outros. Respeito e amor acima de tudo, Angel.
— Eu sei papai, vou ser forte.
Josh chegou e parou vendo os três abraçados.
— O que foi? — perguntou ele.
— Vem aqui, filho — disse Ian e ele foi e os abraçou.
— Você pediu desculpas, Angel? — perguntou Josh.
— Sim, está tudo bem, Josh — disse Jayne o beijando.
— Mamãe...
— Sim, filho.
— Podemos comer agora? Eu estou morrendo de fome.
Jayne riu e o beijou.
— Vamos, vamos jantar. Vocês não sabem, mas hoje a Anna fez um ensopado de lebre delicioso. Vamos, corram lavar as mão e ir para a mesa.
— Oba!
As crianças saíram correndo e Jayne foi pegar sua blusa e a vestiu lentamente. Ian ficou parado olhando para ela e não disse nada, ela parou de abotoar a blusa e olhou para ele.
— Você ouviu a conversa?
— Ouvi.
Jayne fechou os olhos e respirou profundamente. Ian chegou perto dela e fechou os últimos botões de sua blusa.
— Muitas vezes eu me pergunto o que move meu amor por você. Às vezes eu me sinto um fraco por amá-la tanto. Por me render a você e suas vontades. — Ela o olhou sem entender.
— E o que é?
— Às vezes eu não concordo com coisas que você faz, às vezes quero lhe dizer não, mas às vezes a vejo tão forte, tão dona de si, tão maravilhosa que não consigo ver uma razão sequer para não seguir amando você. Quando você disse que eu te completo, que parece que sou uma parte de você, eu sinto a mesma coisa. Não consigo imaginar minha vida sem ser ao seu lado. Nunca fui bom com palavras, com sentimentos, mas com você parece tudo tão fácil. Eu tenho orgulho de você, e a amo profundamente.
Jayne pensou que fosse desmanchar-se, tentou engolir a saliva, mas foi difícil, pois havia um imenso nó lhe travando a garganta.
— Para um vaqueiro até que você se sai muito bem com as palavras — disse o olhando e querendo chorar de emoção. Ian sorriu e acariciou seu rosto e a beijou suavemente. — Ian, eu amo você, nunca duvide disso.
— Eu não duvido, nunca tive tanta certeza. — Se abraçaram fortemente. — Vamos jantar, senão nós vamos matar nossos filhos de fome.
Foram para a mesa e tiveram a mais tranquila refeição, os quatro juntos. Era engraçado até, um olhava para o outro com carinho e silenciosos, com sorrisos nos lábios, parecia que haviam passado por um furacão e que naquele momento estavam debaixo de um arco-íris.
Antes de dormir Ian foi para a banheira, sentia-se cansado e com a cabeça dolorida. Ficou descansando na água quente com os olhos fechados. Não era fácil administrar o haras, nem uma família. Sempre tinha que estar atento a tudo e a todos, quando não era encrenca de um lado era de outro. Mas a família que construíra lhe era tão cara que faria todos os sacrifícios do mundo, pois os amava intensamente.
Jayne entrou na sala de banho e o olhou ali por alguns minutos sem que ele se desse conta. Ele estava com os olhos fechados e lentamente roçava a testa com os dedos, parecia estar perdido em algum lugar com seus pensamentos.
— Será que tem lugar aí para mim ou quer ficar sozinho? — Jayne disse mansamente o olhando. Ian abriu os olhos, olhou-a e lhe sorriu.
— Por favor, venha aqui. — Jayne tirou o robe e lentamente entrou na banheira, afundando na água. Deitou no peito de Ian e ficaram ali de molho, encaixados e ele lhe beijou a testa. — Eu disse que ia ficar tudo bem.
— Eu sei, mas não foi nada fácil falar com ela.
— Tenho certeza que agora ela vai olhá-la com outros olhos, querida. Ela está crescendo. — Jayne respirou fundo e Ian passou seus dedos na cicatriz no peito dela. — Sinto muito por você ter passado por isso. Por que você nunca me contou o que aquele inútil fez?
— Porque eu mesma queria esquecer.
— Imagino que sim, deve ter sido terrível.
— Foi.
— Nem gosto de lembrar isso que meu sangue ferve.
— Então vamos esquecer isso de uma vez.
— Jayne... — Ele fez uma pausa. — Você tem algum segredo que eu não sei?
— Não. Por que me pergunta isso?
— Porque eu te pedi que nunca houvesse segredos entre nós.
— Eu sei, eu não tenho segredos, acho que você já sabe tudo da minha vida, ou quase, pelo menos nada grave — disse tentando sorrir. — Mas por que está me perguntando isso? Acha que estou escondendo alguma coisa?
— Não meu amor, não é isso, mas tem algo que eu preciso lhe contar, mas ainda não tive coragem.
Jayne virou-se e olhou para ele.
— O que é?
— Depois eu te falo, agora eu só quero ficar aqui com você, tranquilo.
— Por que não fala agora?
— Porque quero lhe mostrar, então eu te peço só mais um tempo, quero que seja da maneira certa.
— Está me assustando, Ian.
— Não precisa ficar assustada, eu nunca faria nada para vê-la assustada ou em perigo, meu amor.
— É uma coisa ruim?
— Não, acho que não, mas vai ser uma grande surpresa e é um segredo.
— Você me esconde um segredo?
— Sim.
— Não confia em mim para me contar?
— Não é isso, eu confio em você, meu amor. Mas é algo complicado. Só te peço um tempo, vou lhe contar, eu prometo. Você faz isso por mim? Espera eu achar a hora certa? — disse acariciando seu rosto.
Jayne pensou, afinal ficara curiosa e com medo do que seria.
— Vou confiar em você, vou esperar até que esteja pronto para me contar. Vou respeitar sua vontade.
— Obrigado meu amor, não fique preocupada, eu jamais faria algo para prejudicá-la, é só uma surpresa, mas tenho que esperar.
Ele a abraçou e ficaram alguns minutos em silêncio. Jayne teve que engolir a curiosidade que se abateu sobre ela. Não perguntaria nada até o momento que ele quisesse lhe dizer o que era.
— Mas se for algo ruim eu o deixo de castigo — disse tentando disfarçar um súbito nervosismo. Ian sorriu e lhe acariciou o rosto.
— É, eu sei, você é perita nisso. — Ficaram mais um tempo em silêncio. — Eu vi as finanças, vou poder comprar a fazenda — disse quebrando o silêncio e mudando de assunto.
— Que bom, se é isso o que quer. Se nós temos o dinheiro, não tenho por que me opor, e se meu pai vender aquela casa vai dar um bom dinheiro, aquela casa vale uma fortuna. Vou ficar feliz de me livrar dela.
— Obrigado.
— Pelo quê?
— Por sempre estar do meu lado.
— Ian, sempre foi assim, poucas vezes discordamos em como gerenciar o haras ou esta família. Na verdade nunca pensei que você me daria tanto espaço.
— Se eu agisse diferente, você se rebelaria. Você é uma mulher que não se coloca rédeas. — Ian pegou a mão de Jayne e a beijou. — Eu gosto de tudo do jeito que está, gosto do jeito que somos, apesar de, às vezes, me deixar maluco. Mas quero sempre ver vocês felizes, que nunca lhes falte nada.
— Não falta nada, paz é que nos falta, mas isso é que vem de fora, aqui dentro de casa tendo vocês aqui e felizes é só que me importa.
— Você não tem vontade de ter mais dinheiro?
— Não, temos o suficiente.
Ian a beijou demoradamente, de um jeito sofrido e Jayne percebeu.
— O que você tem? Está tão estranho. Tenho reparado que às vezes fica me olhando, parece que quer me dizer algo. Ian, o que está acontecendo?
— Não é nada, meu amor, só estou cansado, acho que preciso descansar um pouco e minha cabeça está doendo.
— É esse segredo que o está perturbando?
— Por favor, não vamos falar disso agora.
— Você já se lembrou de tudo? Sua memória não falha mais?
— Às vezes tem algumas coisas que ainda me embaralham, mas já me lembrei do mais importante, você e meus filhos.
Ela sorriu, o beijou docemente e eles saíram da água que já estava esfriando. Ian acendeu a lareira enquanto Jayne foi espiar os filhos e ver se estavam bem cobertos, os beijou, foi à cozinha e preparou um chá.
— Beba isso, vai lhe acalmar a dor de cabeça.
Ele bebeu e se aconchegaram abraçados na cama.
**
— Meu pai chega amanhã — disse Enrique lendo um telegrama.
— Acha que ele vai conseguir resolver isso?
— Se ele não conseguir, ninguém mais consegue.
— Ele tem tanta influência assim aqui?
— Espero que sim, Catherine. Meu pai foi um dos juízes mais respeitados de Madri. Apesar de estar anos fora ainda tem reputação.
— Por que ele se mudou para os Estados Unidos?
— Novas aventuras, disse ele. Meu pai é estranho às vezes — disse com um leve sorriso. — Sempre tivemos um grande vínculo com os Estados Unidos por causa de minha mãe, mas acredito que ele deva voltar a morar em Madri novamente.
— Você o admira muito, não é?
— Sim, é um homem fantástico.
— Não entendo de leis, Enrique, mas por que estão tentando levar isso a uma corte? Por que simplesmente não dão esta anulação e pronto? Qual é o problema de tanta demora?
— Eu também não sei. Eu já fiz de tudo para impedir isso, é desnecessário, mas acho que tem algo aí que não estou entendendo.
— Eu não sei por que o povo adora um circo, parece que eles adoram humilhar as pessoas publicamente.
— Isso é verdade, isso tudo é um grande circo. Pior não é quem o faz Cath, pior é quem se dá ao trabalho de ir assistir. Detestaria ver você lá vendo algo assim. Se isso acontecer não quero que vá.
— Como acha que não estarei lá para apoiá-lo?
— Só quero evitar que você sofra, isso não é bom para nosso filho.
— É isso ou por que você não quer que eu escute o que vai ser falado lá?
— Do que está falando?
— Da sua mulher.
— Catherine, arrastá-la até aqui para passar por isso é cruel demais.
— Eu sei. Você ainda a ama.
— Vai começar com isso de novo?
— Não. Talvez seja melhor eu não ir mesmo, eu não quero ver o pai do meu filho desmanchar-se na frente daquela mulher.
— Eu não vou desmanchar-me na frente de ninguém.
— O marido dela será chamado para depor também?
— Acho que não. E se o promotor que comandar o caso for quem eu estou pensando não quero nem pensar as proporções que isso vai tomar.
— Por quê?
— Juan Espínola é um carniceiro e não gosta de mim. Porque sempre que o pego nos casos ele nunca ganha e nossa rusga vem de anos.
— Acha que ele pode fazer algo para prejudicá-lo?
— É bem provável, imagine um advogado no banco dos réus. É um prato cheio, ele pode acabar com minha reputação, o que seria péssimo.
— Você não teve culpa de nada.
— Ninguém teve, Catherine. Mas um açougueiro com uma faca na mão é a mesma coisa que a morte com um gadanho, somente quer um pescoço para cortar.
— O que pode acontecer?
— Teremos a anulação com certeza, mas eles exporão as nossas vidas e principalmente Jayne, a alegação deles é que ela terá que se explicar, terá que convencer que não agiu de má fé.
— Mas como ela faria isso se achava que o marido estava morto?
— Eles sabem disso, mas eles podem dizer que não e acusá-la de adultério e bigamia. Seria um enxovalhamento sem tamanho.
— Se isso acontecer o que acontece a ela?
— Eles não podem julgá-la aqui, eles terão que abrir um processo nos Estados Unidos. Se fosse acusada e não inocentada será presa.
— Meu Deus!
— Maldita hora que resolvemos nos casar aqui, se tivéssemos casado lá, nada disso aconteceria.
— Ela sabe desta possibilidade?
— Não e não quero que ela saiba.
— Quem vai defender vocês?
— Eu mesmo. Sou advogado, ninguém melhor que eu para nos defender, pelo menos isso eu consegui autorização, pois sou espanhol.
— O que vai fazer?
— Vou esperar meu pai chegar para ver o que ele consegue, a notificação deve chegar logo e então terei que chamar Jayne.
— Por que não tem testemunhas?
— Na realidade isso é uma espécie de acareação somente para pegar os depoimentos dos conjugues para atestar se a anulação é necessária ou não. Não haverá testemunhas neste caso. O que eu não entendo é porque este juiz está colocando isso como uma corte pública, isso é completamente desnecessário, o que eu diria, uma tragédia.
Capítulo 13
— Como está, meu filho? — perguntou Emílio.
— Nervoso e com raiva.
— Quem é o juiz que vai presidir esta corte?
— O juiz Estevez, o senhor o conhece?
— Hum... Sim e isso não é nada bom.
— Por quê?
— Tivemos algumas rusgas no passado.
— Que ótimo! Pois o promotor me odeia.
— Meu filho, como foi se meter numa confusão destas?
— Nem imagino pai, nunca pensei que me casar daria em algo assim.
— De todas as confusões que você se meteu, esta nem tem precedentes.
— Desculpe por ter colocado nosso nome neste circo.
— Tudo bem, filho, eu sei que vocês não fizeram nada de errado, isso tudo foi uma fatalidade.
— Sim, não podia ter sido pior.
— Filho, vai dar tudo certo, fique tranquilo — disse a Sra. Gonzáles.
— Deus queira, mãe.
— Bem... Eles mandarão uma intimação direcionada ao tribunal de West Side e lá eles entregarão para Jayne e com a data que a corte acontecerá e ela será obrigada a comparecer, senão a anulação não será liberada. Você sabe que eles vão obrigá-lo a trazê-la, não sabe, Enrique?
— Eu sei, pai.
— Podemos alegar que ela não pode vir, Emílio. Afinal, não tenho certeza que ela possa viajar ainda — disse Helena.
— Por quê? — Enrique perguntou.
— Enrique, ela quase morreu.
— O quê? Como assim, o que houve?
— Ela foi baleada por bandidos, mas pelo que eu sei já se recuperou, mas não sei se o suficiente para uma viagem longa destas.
— Meu Deus! Mas podemos apelar, pai! Dizer que ela não pode vir, se ela não está bem, não posso permitir que ela viaje.
— Ela está bem agora e isso somente adiaria, é melhor resolver tudo logo de uma vez e acabar com esta palhaçada.
— Ai meu Deus! — ele começou a andar de um lado a outro.
— Filho, se acalme, a última notícia que soube dela, é que já está andando, está bem.
— Como quer que me acalme? Ela quase morre e eu aqui sem poder fazer nada sair desta confusão? Como você quer que eu esteja?
— Fale baixo, meu filho. Quer que Catherine escute você falando desse jeito? — disse Helena, pegando-o pelo braço. — E que confusão foi se meter com Catherine, Enrique, meu filho!
— Mãe, por favor, não me deixe mais nervoso com sermões.
Ele esfregou as mãos no rosto, seu coração parecia que ia sair pela boca e Helena o abraçou.
— Eu vou defender vocês — disse Emílio.
— O quê?
— Vou ser o advogado de vocês.
— Pai, que absurdo está falando?
— Não vou ficar sentado vendo vocês serem degolados sem fazer nada.
— Um juiz com seu renome atuando de advogado. Faria isso?
— Faria não, vou fazer. Não vou deixar ninguém jogar meu nome na lama, muito menos numa corte estúpida destas. Isso tudo está me cheirando à encrenca. Vamos almoçar que estou faminto, à tarde vou falar com algumas pessoas, quero tentar impedir isso, se eu não conseguir, então entrarei como seu advogado.
**
Ian estava sentado na mesa da cozinha bebendo um café e olhava para Jayne com os olhos fixos.
— Por que está me olhando assim? — Jayne disse bebendo o café.
— Lembra que eu disse que queria lhe contar algo?
— Sim.
— Acho que vai ser agora.
— Ian! Você está me assustando, o que é?
Ian sem falar nada pegou Jayne pela mão e a levou até o quarto, trancou a porta e fechou as grossas cortinas de veludo. Ela o olhava, esperando para ver o que ele faria. Ele foi até uma cômoda de madeira maciça no canto do quarto e com certa dificuldade a empurrou.
— O que está fazendo?
— Sabe por que nunca deixei você tirar esta cômoda daqui?
— Não sei, sempre estranhei, mas nunca me disse, eu respeitei sua vontade. — Quando Ian forçosamente empurrou a cômoda, ele se abaixou e com uma faca tirou uma fina camada de madeira e debaixo dela havia um elo de metal. Ele o pegou e com força o puxou abrindo uma tampa do chão que se revelou um buraco. — O que é isso? — ela indagou espantada.
Ele pegou duas lamparinas, acendeu e deu uma a Jayne.
— Venha. — Ele entrou no buraco e foi descendo uma escada.
Jayne meio temerosa entrou e desceu as escadas atrás dele, havia teias de aranha e com a lamparina tentava clarear o lugar.
— Isso é um porão? Mas o porão tem a entrada na cozinha, é o mesmo?
— Não.
— O que vamos ver aqui? Você está me assustando, Ian.
— Calma querida, não fique com medo.
Ele segurando a mão de Jayne a levou mais para um canto e moveu algumas caixas de madeira e uma lona. Jayne iluminou com o lampião, abriu a boca e arregalou os olhos de espanto.
— Meu Deus!
— Este é meu segredo, que estou revelando a você agora.
— De onde saiu isso?
— Da mina.
— Não entendo, meu Deus Ian, há uma fortuna aqui em ouro!
— Shhh, fale baixo.
— Como isso saiu da mina?
— Foi meu pai que colocou aqui, era o ouro que os bandidos estavam procurando quando mataram meu pai e minha mãe.
— Ian! Por todos estes anos, eu morando aqui e só agora você me mostra uma fortuna que fica debaixo dos meus pés?
— Eu sei, mas eu não tinha onde deixar, então, eu tive que deixar aqui. — Jayne pegou uma barra de ouro e olhou.
— Nunca havia visto tanto ouro na minha vida.
— É, tem uma bela fortuna aí, além destas joias que foram trocadas e muito dinheiro.
Ian pegou uma caixa cheia de joias e mostrou a ela. Jayne boquiaberta pegou nelas, as olhando estupefata.
— Foi daqui que você tirou aquele colar que me deu na Califórnia?
— Foi.
Jayne colocou o punhado de joias bruscamente dentro da caixa, virou as costas e subiu as escadas. Ian cobriu tudo e colocou as caixas de volta e foi atrás dela, fechou tudo e colocou a cômoda no lugar. Jayne andava de um lado a outro pelo quarto, com uma mão na cabeça e a outra na cintura.
— Por isso nunca me deixou mexer neste móvel.
— Sim.
— Eu não entendo você, é um homem milionário e vive modestamente, quando o conheci, não ostentava nenhum luxo. Quase nem tinha móveis dentro de casa, tomava café numa caneca de esmalte lascado.
— Eu ainda tomo café na minha caneca.
— Por que nunca usou este ouro? Por que não me contou antes?
— Jayne, por favor, fale baixo, sente aqui! — ele a puxou e a fez sentar na cama. — Vou lhe contar tudo. — Jayne o olhava com os olhos arregalados, nem conseguia ou acreditar no que vira. Estava achando que não conhecia o seu marido. — Quando meus pais foram mortos, também foram o pai de David, o pai e o irmão de Willian e Mary e os dois irmãos de Mitchel e mais três homens. Eles trabalhavam na mina com meu pai. Todos nós sabíamos do ouro.
— O quê? Todos eles sabem que este ouro está aqui?
— Calma, nós juramos não falar nele. O ouro é meu, pois a mina era do meu pai, a família deles trabalhava para meu pai. Depois do que aconteceu fiquei alguns anos aqui querendo tocar a fazenda, me sentia desolado e triste e odiei este lugar e o ouro. Quando eu tinha dezoito anos um grupo dos Rangers passou por aqui.
— Os Rangers?
— Sim. Eu e os rapazes nos juntamos a eles por dois anos. Tínhamos uma estrela no peito, éramos respeitados e saímos pelo Texas caçando bandidos. Tornamo-nos a lei. Mas eu ainda não estava feliz. Então nós saímos do bando, fomos para a Califórnia e nós quatro resolvemos nossas vidas. Voltar para West Side para cuidar do que era nosso. Então conseguimos vender uma parte do ouro e eu dei uma quantia a Willian, Mitchel e David. Por isso nossas fazendas são próximas, eu dei o dinheiro a eles para que comprassem aquelas terras. Foi uma maneira que eu achei de ajudá-los a recomeçar a vida. Antes eles moravam em taperas caindo aos pedaços. Nós éramos amigos, mas tudo isso nos uniu mais.
— E o dito pacto que falam? Que fizeram quando seus pais morreram?
— Sim, eu tinha catorze anos, nós fizemos um cerimonial, coisa de meninos, juramos que morreríamos somente quando estivéssemos velhos e que sempre cuidaríamos uns dos outros, que o ouro estaria bem guardado e que nunca nos separaríamos, selamos com sangue fazendo um corte na mão e as unindo — disse mostrando a cicatriz na palma de sua mão. — Eu sobrevivi de algum dinheiro somente para comprar comida, pois eu só tinha catorze anos, não sabia como ganhar dinheiro e tive que reconstruir a casa que os bandidos quebraram, mas depois quando eu aprendi a me virar com meu trabalho eu quase parei de usá-lo, só o uso em casos extremos.
— Meu Deus, quanta gente sabe.
— Jayne, eu confio nos meus irmãos. Se eles quisessem me roubar já o teriam feito há muito tempo.
— Isso parece certo.
— O que Willian ou os rapazes faziam enquanto eu estava sumido?
— Como assim?
— Sobre dinheiro. O que eles diziam? — Jayne pensou um pouco.
— Eles frequentemente me perguntavam das finanças, se eu precisava de dinheiro, se tudo estava bem.
— Você vê? Por isso eles lhe perguntavam, se você ficasse sem dinheiro eles iriam lhe contar. Os rapazes não deixariam você e meus filhos em dificuldade. Mas pelo que eu vi você se saiu bem, pois isso não aconteceu.
— Não aconteceu porque tinha dinheiro da minha viuvez! E aquele dinheiro no cofre que nem sabia de onde era, e eu mantive os negócios do Haras e... Isso não foi justo da sua parte! Você não podia ter omitido uma coisa destas de mim, moro nesta casa há mais de oito anos e tem uma mina de ouro debaixo dos meus pés. O que você fez foi errado!
— Eu sei. Perdoe-me por isso, mas este ouro nunca vai ser usado a não ser que seja por pura necessidade. Não quero ostentar e esbanjar dinheiro.
— Eu não quero o seu ouro! — disse furiosa. — Por isso que você me ameaçou, quando eu estava com Enrique. Disse que não me deixaria ficar com a fazenda, estava com medo de nós ficarmos com seu maldito ouro!
— Claro que não, Jayne! Naquele momento eu nem me lembrei disso, eu falei aquilo porque estava com raiva e a fazenda foi o que levei a vida inteira construindo, significa muito para mim porque era do meu pai, foi a única coisa que me restou deles.
— Não percebe o perigo que corremos com isso debaixo dos nossos pés? Se alguém descobre uma coisa dessas?
— Ninguém nunca vai descobrir, a não ser que você grite um pouco mais alto. Pois creio que os empregados ainda não ouviram.
Ela respirou fundo e esfregou o rosto com as mãos e tentou se acalmar.
— Ian, como pôde fazer isso comigo? Você ficou dois anos desaparecido e os rapazes não me contaram, nunca contariam?
— Eles pensaram em contar, sim, mas estavam receosos, pois teriam que quebrar o juramento que fizeram, mas se você precisasse, eles contariam. Há tempos eles me pressionam para que te conte.
— Minha cabeça vai explodir — disse esfregando as mãos no rosto.
— Jayne, você vai me prometer que nunca falará disso com ninguém e só o usará em necessidade e se algum dos rapazes estiver com problemas. Assim como nós reconstruímos a casa de David, lembra? Eles nunca pedirão, mas se eu não estiver, quero que você os ajude, assim como eles sempre ajudarão você em tudo que puderem.
— Eles levam uma vida simples. Podiam pedir dinheiro.
— Você ainda não entendeu. Todos nós preferimos uma vida simples, mas segura, eu ainda que fiquei mais rico, mas foi pelo meu suor e agora David e Will estão bem, ganhando dinheiro com o gado e Mitch também está bem. Mitchel poderia ter pedido ouro em vez de vender seus cavalos quando quis ir para Paris com Chloe, mas não. O ouro é meu e eles guardam o segredo. Eu nunca vou deixar esta família viver mal, eu vou dar o suficiente, mas se algum dia eu não puder mais fazer isso, você e as crianças terão como sobreviver e bem para o resto da vida.
— Mas...
— Este é meu legado, Jayne. Honra, trabalho e fazer por merecer. Meu pai me ensinou isso e é isso que quero passar aos meus filhos. E eu sempre pergunto se você precisa de mais, pois se precisar eu te darei, pois sei que não faz nada por futilidade e sim por um pouco de prazer ou para um conforto e isso eu concordo. Eu jamais negarei isso nem a você e nem aos meus filhos. Você é igual a mim, por isso é que nos damos bem e é por isso que estou te passando a herança de meus pais, pelo que eles morreram protegendo. Quando eu a trouxe morar aqui, eu mudei minha vida, mudei tudo na casa, comprei tudo que eu achei que te daria conforto. Mas eu poderia ter dado mais, uma vida de madame, sem precisar tocar num cavalo.
— Eu nunca ficaria longe dos cavalos, é o que amo fazer.
— Então, foi o que eu deixei você fazer junto comigo. Jayne, construímos isso juntos, temos um patrimônio imenso e é o que tenho mais orgulho.
Houve um silêncio gigantesco. Jayne o olhava e o ouvia, mas dentro de sua cabeça ouvia um grande zumbido e lágrimas escorreram de seus olhos.
— Jayne, diga alguma coisa — disse segurando seu rosto com as mãos, mas ela se esquivou dele e levantou da cama. — Jayne, o que está fazendo?
— Preciso pensar.
— Aonde vai? — perguntou nervoso.
— Quero ficar sozinha. O que você fez foi grave, não sei se posso perdoar. Por isso encontrei aquele dinheiro no cofre, por isso que sempre tinha dinheiro que eu não sabia de onde vinha. Você teve muitas oportunidades de me contar, mas não, preferiu inventar mentiras e me fazer de idiota. Você não confia em mim, nove anos é muito tempo para revelar um segredo destes, Ian. Você não tem ideia de como me magoou.
— Jayne...
Ela colocou a echarpe de lã nos ombros e saiu do quarto.
Ian ficou ali, esfregou o rosto, não sabia se o que fizera era certo ou errado. Jayne ficara decepcionada com ele e isso o deixou angustiado. Talvez fora um erro ter omitido isso por tanto tempo, um grande erro.
Amaldiçoou-se com todos os palavrões que conhecia.
**
— Anna, Jayne ainda não voltou?
— Não, senhor. Mas ela parecia muito nervosa quando saiu a cavalo da fazenda. Aconteceu alguma coisa?
— Não, Anna. Não se preocupe. Ela disse aonde iria?
— Não, senhor.
Ian foi para a varanda, pensou um pouco para ver onde ela poderia ter ido, pegou seu cavalo e foi ao lago. Jayne o viu se aproximando, estava sentada no chão na beira do lago como Ian pensou que estivesse. Ele desceu do cavalo, pegou o cobertor que estava em seus alforjes, sentou-se do lado dela e envolveu o cobertor nas costas dos dois.
— Está muito decepcionada comigo? — ele disse mansamente.
— Estou confusa, tentando assimilar tudo o que me disse. Não entendo porque não confiou em mim antes para me contar isso.
— Perdoe-me, Jayne. Eu não quero que pense que eu agi de má fé, não foi esta a intenção. E eu confio inteiramente em você.
— Por que demorou? Sei que você é meu marido e que devo obediência e respeito a você, mas sempre dividimos tudo e isso é muito importante.
— Eu mesmo não sei, eu tinha medo, eu acho. Talvez de você não me entender ou não aceitar as minhas intenções.
— Eu entendi suas intenções, mas elas são bem confusas.
— Eu sei, sou muito imbecil às vezes, não é?
— Você sabe ser imbecil às vezes.
— Eu estou arrependido do que eu fiz — disse secando uma lágrima que corria pelo rosto dela. — Eu não quero que isso traga problemas para nós, e pensar que você está decepcionada comigo me deixa mal. Eu sempre quis ser o melhor homem do mundo para você. Eu sempre tento fazer as coisas direito, mas eu não sou perfeito. — Jayne olhou para ele e via a angústia nos seus olhos e sabia que ele estava sendo sincero. — Eu não queria que ninguém soubesse dessa fortuna, porque sempre quis paz na minha vida. Jayne, você sabe o que deve ter se passado na minha cabeça, quando você me omitiu que era casada com Edward, você não me contou por um bom tempo, lembra-se? Por que não me contou antes?
— Porque tive medo.
— Pois bem, eu também tive medo sobre isso. Eu e você podemos fazer coisas erradas, mas cedo ou tarde temos que resolver, senão nosso casamento acaba e eu não quero perder o que nós dois temos. Você quer?
— Não.
— Então, por favor, me perdoe e vamos esquecer este assunto.
— O que vai fazer com aquele ouro?
— Nós temos duas opções. Uma é vender tudo e vivermos como milionários. Outra é usá-lo quando precisarmos para alguma coisa grande. E é o que eu tenho feito para não faltar nada à nossa família. Não sou mais sozinho para ser tão egoísta, não estou dizendo que não podemos usá-lo, mas quero que continue sendo discretamente e por necessidade.
— O que um milionário faz?
Ele surpreendeu-se com a pergunta e a olhou por alguns segundos.
— Não faço ideia, acho que não faz nada, só gasta o dinheiro, mora numa mansão, promove bailes, convidam muitas pessoas para sua casa e lhes enchem de comida e bebida. Nem sei, deve ser isso.
— E provavelmente estas pessoas não são realmente amigas.
— Também acho.
— Não preciso de uma casa maior, temos quartos que nem usamos. Promover um baile, isso também podemos fazer, mas prefiro nossas festas ao redor da fogueira, são bem mais animadas e você não gosta de usar gravata. — Ian sorriu.
— Você é impressionante.
— Eu sei, por isso que você me ama.
— Vamos ficar como estamos?
— Sim, tudo do jeito que está — disse com um profundo suspiro.
— Me perdoa?
— Estou pensando no assunto.
— Eu amo você.
— Eu não vou dizer que amo você hoje, está de castigo.
— Ai meu Deus! — ele riu e a empurrou para o chão em um abraço.
Ian encostou seus lábios nos dela os roçava sem beijá-la. Ele continuou a provocá-la e afundou seus lábios num beijo longo, ele a beijou como nunca, pois queria demonstrar o quanto a amava e deixá-la atordoada.
— Diga que me ama — ele disse baixinho.
— Só amanhã — disse tentando recuperar o ar.
— Diga.
— Não vai me dobrar — ele riu.
— Tudo bem, eu vou aceitar o castigo, eu mereço. Meu amor, por você eu faço qualquer coisa, eu sou louco por você, Jayne, com toda força que pode existir dentro de mim. Eu só quero proteger vocês.
— Eu sei.
— Eu sei que errei e vou me redimir. Nunca mais vou esconder nada.
— Vai ter que me compensar por isso.
— Peça o que quiser.
— Não vou pedir. Você é que vai ter que ter uma ideia e espero que seja boa. — Ian riu, parou, levantou a cabeça e pensou um pouco.
— Amanhã eu vou levá-la para um jantar naquele restaurante muito elegante que abriu na cidade, quero você bem linda e eu até vou colocar uma roupa bem elegante. E eu prometo que faremos uma viagem para onde você escolher. Pode até ser no estrangeiro, onde quiser. Só eu e você.
— Não achei que seria tanto — disse rindo. — Mas é um bom começo, afinal, seu castigo não pode ser tão pequeno. — ele lhe acariciou o rosto.
— Faço qualquer coisa para vê-la feliz, minha querida, e como tenho que me redimir pelo que fiz, eu acho que tem que ser em grande estilo.
— Posso escolher qualquer lugar?
— Pode. Que lugar gostaria de ir?
— Itália. — Ian riu.
— Você não deixa por menos, não é? Escolha algum lugar aqui.
— Mas você disse que eu podia escolher qualquer lugar.
— Sim, eu disse, mulher ardilosa. Por que Itália?
— Porque é linda e tão romântica. Nunca pedi porque pensei que não podíamos, mas agora você vai fazer isso por mim.
— Tudo bem, então assim vai ser.
— Jura?
— Sim, eu juro. Mas eu não falo o idioma, como vamos fazer?
— Eu falo um pouco. Estou sem praticar a anos, mas acho que ainda consigo.
— Meu Deus! Minha mulher é assim letrada e eu não sabia?
— Vivi na Europa, esqueceu? E isso nós aprendemos na escola de damas.
— Eu acho que eu havia esquecido.
— Sei francês, mas sempre fui péssima.
— Não entendo uma palavra de francês, fale algo para mim.
— Je t'aime. Tu c'est l'homme de ma vie.
— O que quer dizer?
— Não vou lhe dizer hoje, só amanhã.
— Está me xingando? — indagou rindo.
— Não, mas amanhã você vai descobrir o que é.
— Mais alguma coisa que sabes fazer e não me disse?
— Sei tocar piano.
— Hum, isso é algo que não imaginei.
— Toda moça que se preze toca piano. Faz muitos anos que não toco, mas gostaria de ver Angel tocando.
— Seu pai tem um piano.
— Sim, e ninguém mais toca lá, acho que vou pedir para trazê-lo para casa, então Angel pode fazer aulas. O que acha?
— Tudo bem.
— Ian, você tem mais algum segredo? Se tiver me conte agora, por favor.
— Não, Jayne, este era meu único segredo. Eu juro.
— Não vou negar que fiquei muito triste com você, mas eu vou esquecer isso, não vou deixar de confiar em você, porque eu acredito que não agiu por mal. Sei que queria nos proteger.
— Não agi, eu juro. Você pode confiar em mim. Você é mais que minha esposa, é minha companheira, eu não vou cometer este erro de novo.
— Está tudo bem, Ian. Vamos para casa?
— Vamos, mas primeiro vai ter que me beijar. — Ela sorriu e o beijou longamente. — Vai dizer que me ama?
— Não — Jayne disse com um sorriso malicioso e Ian riu.
— É, você é durona.
Ian passou a mão por debaixo de sua saia e deslizou pelas suas coxas.
— O que está fazendo?
— Shhh, fique quietinha.
Sem demora Jayne sentiu Ian lhe tocar as partes íntimas, ela gemeu sentindo suas carícias; sentiu um formigamento lhe passar pelas pernas e sua respiração mudou drasticamente. Ela foi gemer novamente e ele sufocou seu gemido com os lábios a enlouquecendo mais.
Ele continuou a enlouquecê-la até que ela soltou um grito e o puxou pela camisa e o beijou alucinadamente.
Quando soltou de seus lábios ele desceu pelo seu corpo e pôs-se debaixo de sua saia. Jayne gritou ao sentir o que ele estava fazendo, dando-lhe prazer com sua boca.
Aquilo era depravado, erótico e excitante. Ela ficou tão enlouquecida que conseguia enxergar tudo se desmanchando na sua frente. Pensou que não suportaria tanto prazer.
Ian abriu sua calça e deitou-se sobre ela.
— Você me quer? — ele perguntou segurando seu louco desejo por um instante, soltando as palavras num sussurro. — Quer me sentir?
Jayne sentia seu corpo queimar como nunca, ela somente assentiu e os dois gemeram alto quando se acomodou dentro dela.
Ele devorava seus lábios enquanto se movia, segurando suas mãos com seus dedos entrelaçados, até que Ian gemeu alto sentindo sua explosão e deitou sobre seu peito e Jayne sentiu seu corpo explodir, soltando um gemido alto e desesperado. Aquilo era demais, tudo demais.
Eles sentiam seus corações chocarem-se violentamente no peito e mal conseguiam puxar o fôlego. Ficaram assim por alguns instantes até se acalmarem.
— Isso foi bom.
Ele levantou a cabeça e a olhou com um sorriso malicioso nos lábios.
— Você nunca foi muito recatada, meu amor.
— É, acho que não.
Ian soltou o riso achando-a deveras encantadora.
— Jayne, você pode ser o que quiser na minha cama. Certo?
— Certo.
— Talvez eu tenha mais algumas coisas para te mostrar. Só que você não pode gritar assim lá em casa, senão vão pensar que estou matando você.
— Ai Ian, não fale assim — disse cobrindo o rosto e ficando ruborizada.
Ele riu e a beijou.
— Viu? Estou tentando me redimir direitinho.
— Eu acho que você está se saindo muito bem.
— Então não mereço que diga que me ama hoje?
— Não.
— Tudo bem, já que não vou convencê-la, vamos para casa.
Capítulo 14
— Você está linda — Ian disse a olhando espantado.
— Obrigada, você também está muito bonito.
— Acho que minha gravata está torta.
— Venha cá que eu arrumo para você.
Jayne arrumou a gravata e ele a beijou.
— Eu peguei estes brincos para você, achei que gostaria.
— Você disse que não era para mexer lá.
— Vocês mulheres gostam de joias. Se você não quiser eu posso devolver — disse rindo e fazendo que fosse guardá-los.
— Não! — disse rindo e os pegando, foi na frente do espelho e os colocou. — São lindos.
— Acho que estou começando a acertar seus gostos.
— Está.
Quando chegaram ao restaurante na cidade, sentaram-se, o garçom polidamente lhes trouxe o cardápio.
— Nossa! Mas ficou muito fino esse restaurante, tem até um pianista — disse ela. — West Side está evoluindo.
— Pois parece que eles têm clientes para gastar aqui. Por favor, queremos champanhe e o que sugere como um bom prato? É uma noite especial, quero algo bom — Ian pediu ao garçom.
— Recomendo a Codorna assada ao molho de aspargos, purê de batatas, ervilhas na manteiga e ervas e pãezinhos com pasta de alho.
— Codorna?
— É uma ave, senhor, muito saborosa.
— Hum... Pode ser isso mesmo.
O garçom foi buscar o champanhe e serviu as taças.
— Um brinde a nós.
Brindaram e saborearam o champanhe até que trouxeram seu pedido, o que foi aprovado pelos dois. Eles conversaram animados, riram e aproveitaram cada segundo ao som do piano de fundo, algumas pessoas os cumprimentavam entrando ou saindo do restaurante.
— Ian, eu vi no cardápio que tem sorvete. Vamos pedir de sobremesa?
— Que doce é esse?
— É um doce gelado, feito de frutas e leite.
Ele disse que sim e Jayne pediu ao garçom que trouxessem duas taças. Ian colocou uma colherada na boca e espremeu os olhos quando tocaram seus dentes e o frio lhe percorreu todo o corpo.
— Isso parece neve de tão gelado.
Jayne riu dele tapando a boca com a mão.
— Sim, antigamente se usava a neve mesmo, misturando-a com um suco de frutas e depois se fazia este doce enterrando o creme em uma botija de barro na neve, mas ouvi dizer que já fizeram compartimentos que esfriam o doce. Eu adoro, estou impressionada que eles tenham aqui.
— É gostoso, mas me doem os dentes.
— Coloque a colher sobre a língua, vai saboreá-lo sem doer os dentes.
— Hum... Agora sim. Realmente isso é delicioso. Se falar para os rapazes desta guloseima, amanhã mesmo eles estarão aqui comendo um barril disso.
— Com certeza — disse rindo. — Vou trazer as crianças para comer.
— Poderíamos espremer laranjas na neve do quintal no próximo inverno, assim teríamos sorvete em casa.
— Sim, assim mesmo.
Jayne soltou uma gargalhada e terminaram a sobremesa.
— Vamos?
— Um momento, eu vou fazer algo — disse Jayne.
— O que? — Ian perguntou a olhando e bebia um gole de champanhe.
Jayne levantou e foi até o pianista, falou baixinho com ele que sorriu e levantou-se e Jayne sentou ao piano. Ian ficou espantado, mas sorriu e ela começou a tocar lindamente, todos no restaurante pararam e a ficaram olhando tocar e deliciando-se com a música. Quando ela terminou de tocar todos aplaudiram e ela curvou-se delicadamente para agradecer e voltou à mesa, sentou-se e bebeu do champanhe de uma vez, estava eufórica.
— Jayne, eu não imaginava que tocava tão bem.
— Eu fiz isso por você, mas eu confesso que fiquei muito nervosa, não tocava há muito tempo, estou tremendo.
— Meus parabéns, eu adorei, meu amor. — disse, e sorrindo beijou sua mão.
— Agora podemos ir, pois eu quero aproveitar o resto da noite para estar com você em minha cama. Mas primeiro... Vai dizer que me ama hoje? Meu castigo acabou. — Jayne olhou para ele e sorriu.
— Je t'aime. Tu c'est l'homme de ma vie.
— Hum... Eu acho que foi isso que você me disse ontem, vai me traduzir?
— Significa... Eu te amo. Você é o homem da minha vida.
— Então você disse que me amava ontem... Enganou-me!
— Sim — disse zombando dele.
Ian riu lindamente e a olhou demoradamente.
— Vamos planejar nossa viagem a essa tal Itália? É muito longe? Acho que ficaremos muitos dias em um navio, talvez semanas, não? Não tenho ideia onde fica esse lugar que disse, mas espero que você saiba falar a língua deles, senão nem desceremos do vapor.
Ela espantada o olhou.
— Você estava mesmo falando sério, Ian?
— Claro que eu estava. Pensou que eu não cumpriria a minha promessa?
— Quando podemos ir?
— Depois que fizermos a cobertura dos cavalos que chegam esta semana, daí poderemos ir, James cuida do resto.
— Vai ser maravilhoso.
— Eu te amo.
— Eu também te amo.
Eles foram para casa e no recanto de seu quarto se entregaram ao prazer noite adentro. Cada vez mais descobriam seus corpos, mais prazeres e quanto se amavam e cuidavam um do outro, com sentimentos de amor e respeito que crescia dia a dia cada vez mais forte. Havia uma compreensão entre eles que era difícil de encontrar ou explicar, eram cúmplices de seus próprios desejos, de seus erros e acertos. Eram simplesmente Ian e Jayne.
**
— Bom dia, Matt — disse Jayne, animada o vendo dar banho nos cavalos.
— Bom dia, senhora.
— Como vão meus amores?
— Estão ótimos, até que gostam de tomar banho.
— Mãe, a fivela da minha sela arrebentou.
— Que perigo, Angel, como deixou a tanto? Nunca pode ser negligente com sua sela, pode cair do cavalo.
— Eu sei, mãe, o Matt cuida da minha sela, mas ela cedeu. — Jayne olhou para Matt levantando as sobrancelhas e esperando uma explicação.
— Ela aperta demais a fivela, senhora, eu já avisei que assim ela arrebenta.
— Bem, o fato de Angel apertar a fivela, é um problema que ela deve resolver, ouviu mocinha? Já lhe ensinei isso, mas vistoriar e fazer manutenção das selas são as suas obrigações, Matt, isso é muito importante. Se as selas estiverem com problemas alguém pode cair do cavalo e se machucar seriamente.
— Sim senhora, eu vou cuidar disso com mais atenção.
— Use outra sela até arrumar a sua.
— Sim mãe.
Ela saiu e foi procurar outra e Jayne passou um por um dos cavalos os acariciando.
— Oi meu amor! — Jayne acariciou Diamante que prontamente chegava mais perto dela para receber carinho. — Você tem que se preparar, pois virão muitas éguas charmosas para conhecer você. Vamos nos exercitar?
Jayne pegou uma sela e atrelou a ele, o levou até o cercado e montou, começou a andar devagar em círculos e de vez em quando acelerava até ele correr. Os garanhões não eram soltos livres como os outros, somente quando Jayne ou Ian saíam com eles em campo aberto, eles tinham um espaço especial somente deles onde podiam pastar, andar e correr. Todo o cuidado com eles era pouco, eram tratados como reis. Nenhum dos empregados tinha permissão de montá-los, somente Jayne e Ian o faziam.
— Senhor, o comprador dos cavalos está aqui — disse James a Ian.
— Hoje?
— Ele disse que teve que vir antes.
— Bom dia, Sr. Buller.
— Bom dia, Sr. Larozza.
— Peço desculpas em vir sem avisar, mas eu vim buscar os cavalos, pois no dia que eu marquei não poderia vir e sabe como é — disse mais baixo. — Não quis mandar o dinheiro pelos empregados.
— Foi até melhor assim, pois ia precisar deste cercado antes da data que me deu. O senhor trouxe homens para ajudá-lo a levar?
— Sim, estão na entrada da fazenda, seus homens não os deixaram entrar.
— Me desculpe, senhor, mas são ordens minhas.
— Não tem problema, seus homens os levam até lá e seguiremos. Aqui está a quantia que me pediu.
Ian abriu um saco e contou o dinheiro.
— Está tudo certo. James, peça aos homens para conduzir os cavalos.
— Sim senhor.
— São cavalos muito bons.
— Sim, foi uma boa compra. Os Appaloosas são magníficos.
— Bem, precisamos ir, a viagem de volta é longa.
— Foi um prazer fazer negócio com o senhor.
— Igualmente. O senhor faz cobertura aqui, somente faz de puros sangues?
— Sim senhor, meus garanhões são os melhores, mas se quiser ajuda para fazer alguma cobertura entre seus próprios cavalos, posso providenciar.
— Hum... Isso seria bom, acho que eles estão lentos para reproduzir, quero aumentar minha manada sem que tenha que comprar tantos cavalos. Mas voltaremos a nos falar, Sr. Buller.
— Quando quiser, senhor.
Sr. Larozza viu Jayne andando com Diamante e chegou perto do cercado para vê-los melhor. Ela nem havia se apercebido da presença deles, distraída que estava.
— É sua esposa?
— Sim senhor.
— Ela monta muito bem.
— Sim, é uma ótima amazona.
— Que belo cavalo, é um dos seus garanhões?
— Sim, ele é premiado na exposição da Nova Califórnia, assim como Thor. São os xodós da minha mulher.
— Estou vendo. Ouvi falar desta exposição, é a maior em todo o país.
— Sim senhor.
— Meus parabéns.
Jayne andava vagarosamente com ele e debruçou-se sobre seu pescoço, o abraçando. Jayne amava os cavalos, os tratava com o maior cuidado, especialmente Diamante que era seu predileto e cuidara desde quando era um potrinho. Quando Jayne os viu escorados na cerca conduziu Diamante até eles. Ele fez reverência a ela e ela retribuiu com a cabeça.
— Bom dia.
— Sra. Buller.
— Jayne, este é o Sr. Larozza, veio buscar os cavalos.
— Muito prazer.
— Encantado. Sra. Buller, a sua reputação com os cavalos a precede?
— Com certeza, senhor.
— Isso não é usual — disse sorrindo.
— É sim, nesta fazenda muitas coisas o são — disse sorrindo.
— Há, este Texas está ficando interessante.
— O senhor é mexicano?
— Sim. Comprei uma fazenda ao sul do Texas. O México anda meio turbulento, estava cansado de ficar por lá. Os ataques à minha fazenda estavam ficando insuportáveis, além das perdas financeiras a minha baixa de homens era terrível. Tenho filhos então achei melhor sair antes que fosse a pique e alguém da minha família se ferisse ou algo irreparável.
— Por aqui também não é fácil, senhor, tem que tomar cuidado. Sugiro que esteja sempre alerta e com homens armados — disse Ian.
— Sim, eu percebi a sua segurança, Sr. Buller, vou seguir seu conselho. Talvez algum dia queira nos visitar, então poderia ver o que pode me ajudar com os cavalos. Minha mulher prepara umas tortilhas esplêndidas.
— Será um prazer.
— Tenham um ótimo dia — disse retirando o chapéu e fazendo reverência.
Ian e Jayne ficaram observando todo o manejo dos cavalos até saírem da fazenda. Jayne desceu do cavalo e o ia tirar do cercado.
— Mamãe, eu posso montar o Diamante? — perguntou Angel.
— Angel, com tantos cavalos para montar...
— Ah mãe, só um pouquinho.
— Sabe que não gosto que monte os garanhões.
— Mãe, por favor, só um pouquinho.
— Hum... Tudo bem, mas só aqui dentro do cercado e depois o leve para sua baia. Ele tem que tomar banho e se alimentar.
— Oba, pode deixar.
— E não corra demais.
— Eu sei mãe.
— Não puxe a rédea bruscamente para ele não se assustar e empinar.
— Eu sei mãe.
— Hum...
Ian e Jayne foram juntos ao escritório e ele colocou o dinheiro no cofre.
— Tudo está transcorrendo bem, agora vou receber os cavalos para cobertura — disse animado.
— Que bom te ver feliz assim.
— Como poderia não estar feliz, tudo está bem — disse ele a abraçando.
— Bom dia, família — disse David com um sorriso largo adentrando no escritório.
— Oi David — disse Jayne, sorrindo.
— Que bom que veio, acabei de vender os cavalos — disse Ian.
— Que ótimo, eu vi a manda ao longe.
— Quando vão viajar?
— Depois de amanhã, logo cedo.
— Que bom, assim terá um dinheiro a mais para se divertir com Mary.
— Ah! Isso é uma maravilha, eu estou muito animado e Mary mais ainda. A Samantha então nem se fala, está me deixando louco — disse rindo.
— Crianças adoram aventuras — disse Jayne.
— Sim. Você vai mandar o Matt lá para ajudar Willian, não vai?
— Vou e se precisar mando mais alguém, se bem que precisarei dos homens aqui também, teremos bastante trabalho.
— Tudo bem, só Matt já resolve, agora o trabalho lá está calmo. O que Will precisa de ajuda é para preparar a ração e o feno, o inverno está chegando e a neve também, temos que nos preparar para não ter problemas com o gado.
— Tudo bem, David, viaje tranquilo que eu cuido disso. Depois que voltar você é que fica de olho na minha fazenda.
— Por quê?
— Porque eu e Jayne vamos para a Itália.
— Itália, onde é isso?
— Europa.
— Você vai ficar internacional, que maravilha — disse rindo.
— Verdade, culpa dessa mulher que fica inventando coisas — disse rindo.
— É que ele está me devendo, David, então vamos ter um pouco de futilidades na nossa vida.
David soltou uma bela risada.
— Se podem ir, acho ótimo. Eu não embarcaria em um navio, nunca na vida, que me dá tremedeira.
— Que medroso! Está aqui a sua parte, vou lhe dar a parte do Willian e você já entrega para ele, a do Mitchel dou depois quando vê-lo.
— Tudo bem. Nossa... Deu tudo isso?
— Eu sou um ótimo negociador — disse batendo nas costas de David.
— Estou vendo. Podíamos achar mais cavalos perdidos.
— Sim, venha vamos tomar um trago.
— Vamos.
— Almoça conosco, David?
— Não, obrigada Jayne, a Mary está me esperando para o almoço.
— Tudo bem.
Jayne saiu e os dois ficaram conversando animados na sala.
— Ah cheguei na hora boa! — disse Mitchel.
— Oi amigo, estávamos falando de você. Você sente cheiro de dinheiro?
— Por quê?
— Porque Ian vendeu os cavalos e ele estava falando de levar sua parte.
— Ah que maravilha! Dinheiro é sempre bem-vindo.
— Tome uma bebida — disse lhe oferecendo um copo de uísque.
— Que copo elegante, hã?
— Coisas de Jayne. Agora eu descobri que ela toca piano e fala um monte de línguas de estrangeiros.
— Ian, eu acho que você se esquece que ela vem de família rica e morou no estrangeiro e é toda letrada.
— É David, acho que sim.
— Mulheres, se abrirmos elas ao meio devemos encontrar um poço sem fundo. — Os três riram.
— Nunca fique devendo nada às mulheres, pois depois elas te cobram em dobro e a sua nasceu de novo, agora aproveite tudo que tem direito.
— Verdade, Mitch, verdade. — Ian fez sinal para eles se aproximarem e cochichou. — Eu contei a ela sobre o... — e fez sinal com o dedo para o chão.
— Jura? E ela? — perguntou Mitchel.
— Ficou decepcionada, teve um ataque histérico, ficou sumida a tarde toda, mas depois ela aceitou. Eu fui um imbecil de não ter falado nisso antes, quase perco a confiança dela por causa disso.
— Eu avisei que você estava demorando demais, mas, pelo menos, acabou bem. E vão fazer o quê? — perguntou David.
— Vai continuar do jeito que está.
— É Ian, vocês dois são iguais. Jayne é uma mulher excepcional.
— Eu sei, sou um homem de muita sorte.
— Fico feliz por você e Jayne, Ian. Pelo menos este peso saiu de nossas costas, me sentia mal ocultando isso, mas foi melhor assim e nós continuaremos mudos sobre o assunto como deve ser.
— Obrigado, David.
— Bem, vou indo que Mary está me esperando. Até mais.
— Até. Vamos ao escritório pegar seu dinheiro — Ian disse a Mitchel.
Foram para o escritório e Ian abriu o cofre e deu a parte de Mitchel.
— Tudo isso é minha parte? Deu um bom dinheiro!
— Deu sim. Mitch... Você vai deixar Chloe ficar trabalhando no Saloon?
— Ela não vai lá todos os dias e quando ela fica, eu também fico. Ela não pode abandonar aquilo a revelia, Ian. É um negócio como outro qualquer, se largar nas mãos dos empregados e não ficar de olho, acaba.
— Eu sei, mas você pode contratar alguém que seja bom e responsável para que tome conta. Um administrador.
— Já pensei nisso, mas ela não aceitou. Por que está falando isso?
— Porque eu acho que está na hora de você ser pai — disse batendo nas costas dele.
— Ah... Não sei — disse arredio.
— Por que não sabe?
— Nunca falei com a Chloe sobre isso, não sei se ela quer ser mãe.
— Mitchel, toda mulher quer ser mãe.
— Mas Chloe é diferente.
— Diferente por quê? Você a levou para morar na sua casa, trata-a como sua mulher, não são casados, mas vivem como tal, é natural que vocês tenham um filho. O fato de não poderem se casar não impede que vocês tenham uma família como eu tenho, como os rapazes têm e você precisa de um herdeiro. Sei que sempre quis um filho.
Mitchel ficou meio pensativo torcendo a boca.
— Eu acho que você deveria conversar com ela.
— Vou pensar. Não sou bom em conversas com mulheres.
— Acho que é o melhor a fazer. Mitch, com minha convivência com Jayne eu aprendi uma coisa. Uma boa conversa é tudo, acertar os pontos, não deixar nada em haver. Eu não sabia fazer isso, mas estou aprendendo, com tudo que já passei com Jayne se nós não fossemos sinceros e conversássemos abertamente, nosso casamento já teria acabado. Falar ou ouvir é algo difícil para um homem, mas eu te garanto que vale a pena.
— Você é muito mole.
— Não sou mole, sou apaixonado pela Jayne e eu não quero um papel ou simplesmente uma mulher para parir meus filhos. Eu quero uma companheira e principalmente que não pareça uma estátua.
— Isso eu já vi.
— Então, faça o mesmo. Se eu não tivesse mudado meu jeito de ser, eu nem teria me casado com ela, pois não teria a ouvido desde aquela história de Edward. Não teríamos superado a história com Enrique e muito menos esta do ouro. Nós compartilhamos as coisas, mesmo não sabendo fazer às vezes, mas quando erramos tentamos consertar. Faça isso com Chloe, se tivesse feito com a Julia, talvez seu casamento não tivesse acabado daquele jeito. E agora devo confessar, por mais malucas que foram as atitudes de Julia, ela deu a chance que você queria com Chloe. Mas vai ter que lutar por isso, Mitch.
— Jesus, você virou um daqueles pomposos senhores europeus que leem livros de poesias? Se começar a usar aquelas gravatinhas diariamente ficarei preocupado.
Ian riu.
— Se soubesse o que sou capaz de fazer por minha Jayne. Isso se trata do que eu quero, Mitch. Gosto da minha família como ela é, aberta, sincera e forte. Farei o que seja necessário para mantê-la. Isso não me impede de descarregar minha pistola em idiotas.
— Acho que você está certo. Vou falar com minha Chloe, mas não espalhe, isso pode pegar mal para minha reputação.
Ian riu com vontade e deu um tapa amigável nas costas de Mitchel.
— Isso mesmo, vamos tomar mais um uísque. Quer almoçar conosco?
— Ah nisso eu não preciso pensar, é sim. Chloe está na cidade.
Ian riu e voltaram à sala, sentaram no sofá bebendo mais uma dose de uísque cada um e depois foram almoçar.
— Onde está Angel que não está na mesa? — perguntou Ian.
— Já devia estar aqui, ela sabe que você não gosta que ela se atrase para as refeições — disse Jayne.
— Jovens nem sempre seguem regras, minha querida — disse Mitchel.
— Pois aqui nesta casa tem algumas regras que devem ser seguidas, todos devem estar à mesa juntos — Ian disse seriamente.
— Anna... Pode ver se Angel ainda está no cercado e chamá-la, por favor?
— Sim, senhora.
Quando Anna ia sair da sala, Angel entrou, correndo e gritando.
— Mamãe, papai!
— O que aconteceu?
— O Diamante... Ele caiu no barranco na beirada da cerca, eu acho que está ferido, não conseguimos tirá-lo de lá.
Capítulo 15
— O quê? Que barranco?
— O que fica para baixo do pasto em direção à colina.
Ian e Jayne pularam da cadeira e Mitchel os seguiu.
— Eu vou também — gritou Angel.
— Não! Você fica aqui — Jayne disse severamente.
— Mas mãe...
— Faça o que eu disse!
— James — Ian gritou e num segundo ele apareceu. — Venha conosco.
Pegaram os cavalos e correram até o barranco onde Angel dissera que ele estava. Avistaram Diamante tombado ao lado da cerca e mal se movia. Pularam dos cavalos e desceram o barranco, Matt estava com ele.
— Diamante! — Jayne disse segurando sua cabeça; parecia que ele a olhou com os olhos cheios de dor. — Calma querido, nós vamos tirá-lo daqui.
Ian, Mitchel, James e Matt tentaram removê-lo, mas ele se debatia e não conseguia levantar. Jayne o segurou forte para ele ficar quieto novamente e não se debater mais.
— Ian, ele está com a pata quebrada em dois lugares e há um feio ferimento do abdômen, feriu-se nestes tocos — disse Mitchel.
Ian ficou em pé olhando para ele com um olhar meio petrificado. Jayne olhou para Ian com os olhos arregalados, pois sabia o que aconteceria.
— Venha Jayne, saia daí — Ian disse estendendo a mão para ela.
— Não, não, por favor, Ian, não faça isso!
— Não há o que fazer.
— Tem que haver um jeito, vamos levá-lo para o estábulo, ele vai se recuperar, eu vou cuidar dele.
— Jayne, você sabe que ele não vai se recuperar. Sabe o que temos que fazer. — Ela começou a chorar mais abraçada ao Diamante. — Jayne, por favor, querida, saia daí.
Todos ficaram em pé os olhando, tristes. Ian ficou com o coração em lascas de ver Jayne ali, daquele jeito, e seu adorado cavalo. Jayne acariciou a cara de Diamante e lhe beijou.
— Perdoe-me.
Ela levantou, chegou perto de Ian sem dizer nada. Olhou para seu rosto, meteu a mão no coldre dele tirou a arma e engatilhou.
— Jayne... — disse Ian movendo-se, mas ela mirou rapidamente em Diamante e atirou nele.
Todos, petrificados, a ficaram olhando. Jayne deu a arma a Ian, virou sobre os calcanhares e subiu o barranco. Todos ficaram em choque e Ian fechou os olhos, roçando a testa com os dedos e guardou sua arma.
— Com mil diabos! Tirem ele daí e enterrem! — Ian gritou furioso.
Ele foi atrás de Jayne que chegou em casa, desmontou do cavalo e escorou-se na cerca do estábulo, quase não se segurando nas pernas. Ian chegou e parou ao seu lado.
— Jayne, por que fez isso?
— Tinha que ser feito.
— Eu podia ter feito.
— Vou sentir falta dele — disse com lágrimas lhe correndo dos olhos. Ian a abraçou forte e a deixou chorar aos soluços.
— Eu também, querida, eu sinto muito — disse a segurando forte.
— Como ele foi parar lá?
— Não sei, Jayne, ele deve ter escapado.
— Ele nunca escapou antes.
— Não sei o que houve, querida, vou ver isso, está bem?
— Como isso foi acontecer, como ele foi fugir? — disse ainda agarrada em seu peito.
Mitchel que ficara para trás subiu no cavalo e olhou ao redor, mais ao longe, no chão, avistou algo estranho no meio de uma moita meio alta, olhou ao redor novamente, mas não viu mais nada de estranho, tudo parecia tranquilo, pegou a sela, olhou para Diamante, deu a volta no cavalo e voltou à casa de Ian.
— Acho que ele não fugiu — disse Mitchel chegando perto deles, ainda montado no cavalo e jogou a sela no chão.
— O quê?
— Eu vi esta sela um pouco distante de onde ele estava, atrás de uma moita, tive a impressão que alguém a tentou esconder.
— Como assim? Não estou entendendo.
— Talvez alguém tenha levado Diamante até lá. Depois que caiu alguém tirou a sela para tentar ocultar o que aconteceu de verdade.
Jayne sentiu algo lhe subir queimando pelas veias, respirou fundo e gritou furiosa.
— Angel! — Jayne correu para casa. Angel estava na sala com os olhos arregalados e espremia as mãos. — Angel, o que você fez? — gritou Jayne.
— Eu não fiz nada.
— O que houve, mamãe? — perguntou Josh assustado.
— Josh, termine de comer, não houve nada e você venha cá.
Jayne pegou no braço de Angel e a arrastou até o escritório. Ian foi atrás delas. Jayne soltou o braço de Angel e parou na frente dela tentando controlar-se.
— Desembuche!
— Eu já disse, não fiz nada.
— Como Diamante foi parar lá? Eu o deixei com você dentro do cercado e disse para você levá-lo para a sua baia.
— Eu o levei para a baia.
— Então ele fugiu?
— Sim.
— Angel, e como você viu que ele estava lá, com que cavalo você foi e voltou do barranco?
— Com o Trovão.
— Você não estava montando o Diamante?
— Não.
— E então de quem é a sela que estava escondida no meio do mato? — perguntou Ian.
Angel arregalou mais os olhos.
— Eu não sei.
— Você está mentindo, Angel. Se você não me contar eu vou descobrir e se você não me confessar agora mesmo, eu juro... Que pela primeira vez na minha vida vou lhe dar uma surra de relho. Portanto filha, eu estou lhe dando a chance de confessar — disse Jayne entre os dentes.
— Acalme-se, Jayne — disse Ian.
— Fale logo! — gritou.
— Foi o Matt.
Ela chorava baixinho e apertava mais as mãos.
— O quê? — Jayne disse espantada.
Ian olhou para o teto, respirou fundo e passou as mãos no rosto.
— O que Matt estava fazendo com o Diamante?
— Eu o levei para a coxia e Matt pediu que eu o deixasse montá-lo, eu disse que a senhora não gostava que ninguém o montasse e ele insistiu, pediu por favor, e eu deixei. Mas ele saiu do cercado e foi para o pasto, fui atrás dele, mas Diamante se assustou com alguma coisa, ele se empinou e derrubou o Matt e depois caiu no barranco.
Jayne quase teve um ataque. Cobriu o rosto com as mãos.
— Angel, como pôde fazer uma coisa destas?
— Eu não sabia que ele ia cair, mãe, eu não sabia que o Matt ia sair do cercado, Matt sabe montar bem, eu não sei por que ele caiu.
— Matt escondeu a sela no mato para acharmos que ele tinha fugido?
— Eu não sei, fiquei apavorada, Matt me disse para dizer que eu não sabia de nada, que Diamante tinha fugido.
— Meu Deus! Eu acho que estamos com um problema maior do que pensei — disse Ian.
— Você sabe o que aconteceu com o Diamante, minha filha?
— Ele se machucou? Vai ficar bem, não vai?
— Angel, eu acabei de dar um tiro no Diamante! — Jayne disse gritando com a maior dor no coração.
— O quê? — disse Angel arregalando os olhos mais do que já estavam e quase sem respirar.
— Minha filha, onde você está com a cabeça? Cavalos não se curam de quebraduras, Angel, eles tem que ser sacrificados. Eu acabei de sacrificar um puro sangue que vale uma fortuna, um cavalo que foi seu avô que me deu e que está comigo há anos e por causa de uma imbecilidade de vocês dois eu tive que dar um tiro nele... Saia da minha frente, vá para seu quarto porque não quero mais olhar para você.
— Mãe...
— Vai! — gritou e virou as costas para ela. Angel saiu correndo e foi chorando para o quarto. Jayne olhou para Ian e nem sabia o que dizer, tremia de raiva, respirava descontroladamente. Ian foi até ela e a abraçou.
— Acha que ela disse a verdade? Se for, o que vamos fazer com o Matt? — perguntou Jayne meio confusa.
— Bem, ele vai ter que assumir a culpa e as consequências. Eu sabia que este garoto ia nos dar dor de cabeça.
Depois de um tempo, bateram à porta e era James. Ian e Jayne o olharam.
— Está feito, senhor, o enterramos. Eu sinto muito, eu não sei como ele pôde escapar, ele nunca fez isso, sempre foi manso. Foi uma perda terrível.
— James, vá chamar seu filho. Precisamos falar com ele e quero que você e Anna estejam presentes — Ian disse seriamente.
— O que houve, patrão?
— Você vai saber, faça isso, por favor.
— Sim, senhor.
Jayne foi até a mesinha e colocou uísque no copo e bebeu num gole, serviu um pouco e deu a Ian que bebeu. Quando os três apareceram na sala Anna e James os olhavam apreensivos e Matt os olhava sério.
— Matt, conte-nos o que sabe sobre o Diamante — disse Ian.
— Não sei nada, senhor, o encontramos onde o senhor viu.
— Vou perguntar de novo. Fale o que houve com Diamante.
— Já disse que não sei, ele deve ter fugido e caído no barranco.
— Como aquela sela foi parar no meio do mato? — Matt engoliu a seco.
— Que sela, senhor?
— Então você não sabe de nada? — perguntou Jayne.
— Não senhora, eu não sei de nada.
Jayne perdeu a paciência e foi na frente de Matt e lhe deu um tapa no rosto com toda força que o fez virar e quase cair. Anna olhou para James que a olhou com os olhos arregalados, mas ficaram mudos.
Matt ficou olhando para ela tão estupefato que não conseguiu dizer nada.
— Como ousa mentir assim descaradamente na nossa cara, Matt? Depois de tudo que fizemos por você tem essa coragem? Você estava montando o Diamante!
— Nunca fizeram nada por mim.
— Como não? Damos-lhe casa, comida e trabalho e ainda lhe pagamos um salário e não fazemos nada? Seu ingrato — disse Ian furioso.
— Podiam ter me dado aquela mina de ouro se não a queriam.
— Matt! — gritou James.
— É verdade, pai, eles desperdiçam dinheiro e me dizem que fazem favores para mim?
— Matt, de onde acha que desperdiçamos dinheiro. Está senil?
— Enterrar uma mina de ouro para mim é estar senil, se não a queriam, então que dessem para mim.
— Quem você pensa que é para eu lhe dar uma mina, rapaz, se enxergue. E de onde tirou que havia ouro naquela mina? Está louco? — disse Ian.
— Não vou discutir aqui por causa daquela maldita mina, eu quero saber do meu cavalo! — gritou Jayne.
— É só um cavalo, por que todo este escândalo?
Jayne pensou que ia surtar de raiva, respirou fundo tentando manter um mínimo de calma.
— Tudo bem, Matt, se para você é só um cavalo, que seja. Você vai pagar cada centavo que ele valia. A partir de hoje vai trabalhar na fazenda de Willian e de graça, pois todo mês vou lhe descontar seu salário para pagar pelo cavalo. A partir de hoje você tem uma dívida comigo. E vai se comportar, porque se você cometer algum deslize, eu mesma lhe dou um tiro, assim como tive que fazer com meu cavalo — Jayne disse furiosa. — A partir de hoje você está debaixo da minha sola de sapato, até pagar o que me deve.
— Eu não vou fazer isso.
— Vai sim! — disse James severo.
— Pai...
— Cale-se! Você vai fazer exatamente o que os patrões estão dizendo, porque eu estou lhe mandando e feche essa boca agora mesmo senão eu juro que lhe quebro todos os dentes.
— E tem mais, Matt, fique longe de Angel — disse Ian.
— Por quê?
— Porque você é um péssimo exemplo a ela. Como pôde dizer à minha filha para mentir para nós? Você sabia que era proibido pegar os garanhões para cavalgar, como pôde desobedecer a uma ordem minha, e ainda por cima envolver Angel nisso? — gritou Ian.
— Eu gosto dela, não pode me proibir de ser seu amigo.
— Eu sou o pai dela e estou dizendo que a partir de hoje, você está proibido de falar com ela. Se eu vir você perto dela eu vou lhe mandar embora e se facilitar eu o denuncio e lhe jogo na cadeia pela morte do Diamante e vou avisar e espero que preste atenção. Se você se meter com minha filha eu sou capaz de lhe dar um tiro, entendeu bem? Agora saia da minha frente, pegue as suas coisas e vá para a fazenda de Willian, e trabalhe direito senão já sabe o que lhe acontece.
— Vou ser um escravo?
— Vai trabalhar pela comida que come e a cama que dorme, até que pague o que me deve. Se você se redimir pelo que fez e voltar a conquistar o mínimo de confiança que tinha conosco poderá ficar, se não, será mandado embora daqui. E tem mais, por que está dizendo que havia ouro naquela mina, por acaso era você que estava mexendo lá?
— Eu? Não senhor.
— Matt, não minta mais que eu estou a ponto de enforcá-lo. Você estava mexendo na mina?
— Não!
— Então o fato daqueles homens estarem na mina quando Jayne foi baleada, não tem nada a ver com você?
— Claro que não. Agora tudo o que acontece de errado é culpa minha?
— Matt, você está proibido de abrir a boca para sequer pronunciar aquela mina novamente, senão eu juro que mato você. Agora saia daqui antes que eu perca minha cabeça de vez — disse Ian.
Matt rangeu os dentes, virou as costas e saiu da sala. Anna chorava baixinho e James nem tinha coragem de olhar para os patrões. Jayne estava tão transtornada que se deixou cair sentada no sofá tentando respirar.
— Patrão, por favor, me desculpe pelo meu filho, nunca imaginei que ele fosse capaz de fazer uma coisa destas. Eu... eu tenho umas economias, eu posso...
— Não! Não quero o seu dinheiro, eu quero que ele pague.
— Sim, senhor.
— James, eu não estou o responsabilizando por isso.
— Eu sei, patrão, mas eu me sinto responsável, eu estou com vergonha.
— Você aceita os meus termos e o castigo que demos ao seu filho?
— Sim, senhor.
— E você Anna, concorda?
— Sim, senhor.
— Este é o acordo, James, Matt vai trabalhar para pagar o garanhão, se não quiser fazer isso ele vai embora hoje mesmo da minha fazenda e nunca mais porá os pés aqui.
— Sim, senhor.
— E fique de olho nele para jamais abrir a boca sobre aquela mina de novo, porque da próxima vez eu não vou ser bonzinho.
— Eu entendi, senhor.
— Por favor, nos deixem a sós.
Os dois saíram e Ian sentou exausto ao lado de Jayne, os dois recostaram-se no sofá e ela pegou na mão dele.
— Ian, como isso foi acontecer? Como chegamos a isso?
— Não tenho ideia. Nunca imaginei que Matt fosse fazer algo assim ou dizer aquelas coisas.
— Nem eu.
— Vai dar um castigo a Angel?
— Não faço ideia, estou arrasada.
— Venha aqui.
Ian puxou Jayne e a abraçou e os dois ficaram ali no sofá, desolados.
Matt foi para a fazenda de Willian. Levou uma bela bronca dos pais e sustentava que não iria, mas seu pai o obrigou e se lhe restava algum juízo pagaria pelo erro.
Angel ficara no quarto até o outro dia. Ian, Jayne e Josh estavam tomando café da manhã quando Angel entrou na sala e ia passando por eles em direção à saída. Jayne sem olhar para ela perguntou.
— Aonde pensa que vai?
Angel parou e a olhou de canto de olho.
— Vou andar a cavalo, treinar meus saltos.
— Volte para seu quarto, está de castigo, não vai mais montar até eu dizer que pode e não sairá do seu quarto para nada.
— Vai me impedir de montar?
— Vou, já disse, volte para seu quarto.
— Não pode me trancar assim no quarto.
— Obedeça a sua mãe, Angel. Não pode fazer o que quer e achar que no outro dia está tudo bem — disse Ian.
— Desculpe-me, eu não queria que isso tivesse acontecido.
Jayne olhou séria para Angel.
— Eu sei que não fez de propósito, mas não pensar nas coisas que faz pode levar ao que não podemos controlar, portanto, não posso simplesmente esquecer o que você fez. Você tem que aprender que tudo que faz atinge aos outros, e me desobedecer é uma coisa que não tolero. Dê meia volta e volte para o seu quarto e vai ficar lá até eu achar que deve. Vai perder as coisas que gosta para sentir na pele, quem sabe assim você aprende a ouvir os seus pais. — Angel não falou mais nada e voltou para o quarto. — Isso serve para você também, Josh. Nunca me desobedeça.
— Eu não fiz nada, mamãe! — disse com as bochechas cheias de comida e os olhos arregalados.
— Eu sei que não, mas aprenda com o que houve com Angel, nunca desobedeça a mamãe e nem o papai, entendeu? Senão você vai perder de fazer as coisas que gosta também. Pois não vou perdoar desobediência.
— Sim, senhora.
Capítulo 16
— Eu não gosto deste garoto — disse Emily.
— Espero que ele não cause problemas aqui, senão será mandado embora — disse Willian.
— Por que Ian não o mandou embora logo?
— Porque ele está tentando dar uma lição nele, se o mandasse embora, ele não aprenderia nada, se enfiaria em alguma fazenda e logo faria outra coisa errada. Assim ele pode tentar redimir-se. É esta a lição que Ian e Jayne querem dar a ele. Eu só espero que ele entenda.
— Espero que sim, e ainda bem que James e Anna ficaram do lado de Ian, senão eles estariam com problemas maiores, perder um capataz como James seria muito ruim. Jayne deve estar arrasada, ela cuidava daquele cavalo como ninguém, perdê-lo deve ter sido terrível para ela, e olha que nem a mim ela deixava montá-lo quando ele estava na casa do papai.
— Ele valia uma fortuna, ainda mais depois que ganhou a premiação.
— Ainda bem que eles têm dinheiro e outros garanhões, senão isso seria uma catástrofe financeira.
Will olhou para ela meio pensativo.
— É, seria mesmo, Emy, ainda bem que não é o caso.
— Fique de olho nele, para não fazer besteira por aqui.
— Pode deixar, vou ficar.
— Por que você não coloca ele ajudar a carnear aquele leitão? Acho que seria ótimo para ele — disse maldosamente.
— Boa ideia — respondeu rindo.
**
Ian estava trabalhando com os cavalos e falando com James quando ouviu tiros, ergueu a cabeça rapidamente e correu em direção ao barulho e James correu com ele. Parou subitamente quando avistou Jayne parada com o revólver atirando em melões. Ela não o viu e continuou atirando. James riu e Ian deu sinal a ele para ir embora e ele foi. Ian chegou mais perto dela, parou com as mãos na cintura ao seu lado.
— Assassinar melões faz você descontar a raiva? — perguntou e ela o olhou de canto de olho.
— Desculpe se o assustei. E sim, faz!
Ian se aproximou mais e abaixou a arma dela.
— Jayne, esqueça isso, querida. Não vai trazer Diamante de volta.
— Vou esquecer, Ian, mas preciso jogar minha raiva fora, não a quero no meu peito, então para eu melhorar preciso fazer algo, e não achei outra coisa, senão assassinar melões. — Ele sorriu.
— Nossos porcos vão ficar sem comida.
— Damos milho.
— E se o milho acabar?
— Damos lavagem — Ian riu.
— Tudo bem, se assim quer, eu vou deixá-la com seus melões.
— Obrigada. Anabel, por favor, coloque mais melões nas tábuas — disse Jayne.
— Sim, senhora.
Ela correu na cesta e pegou mais e os colocou lado a lado como fizera com os outros. Jayne ia mirar, mas Ian abaixou novamente a arma dela, Jayne o olhou indignada.
— Ian...
Ele não a deixou falar, ele a puxou e a beijou, segurando com uma mão sua nuca e a outra sua cintura, Jayne ficou completamente sem ar e de repente ele a soltou e ela chegou a cambalear, ela abriu os olhos e o olhou sem entender nada, ofegante.
— Isso a acalmou? — disse sério.
— Não...
Ele a agarrou novamente e repetiu o beijo mais intensamente e por mais tempo e a soltou bruscamente novamente.
— Acho que isso resolve. O que me diz? — disse sustentando seu tom de voz sério.
— Bom... — Ela retirou a mexa de cabelo dos olhos e estava meio perdida. — Acho que está começando a funcionar...
— Que bom, pois só dou permissão para explodir uma cesta de melões, se sua raiva continuar depois disso, então eu te jogo na cama e acabo com isso de uma vez, entendeu?
Eles se olharam e Jayne estava atordoada.
— Tudo bem, eu aceito... Mas você vai ter que me jogar na cama de qualquer jeito.
Ian foi obrigado a rir e Jayne começou a rir também. Ela colou em seu peito o segurando pela camisa e o beijou docemente.
— Obrigada, eu te amo.
— Eu também, querida. — Ele sorriu para ela. — Sua mira é ótima, mas sua cesta está acabando, se quiser continuar atirando, pegue latas e garrafas.
— Sim, senhor meu marido.
Ele deu um tapa em seu bumbum, virou-se e voltou ao trabalho com um sorriso no rosto, ela o olhou afastando-se e sorriu.
— Vou cobrar! — gritou ela.
Ele se virou e andou um pouco de costas e riu para ela e lhe mandou um beijo com a mão. Ela respirou fundo e voltou a atirar. Angel que estava no quarto a olhava pela janela já por um bom tempo. Ela virou-se e saiu da casa e foi até Jayne, parou do lado dela numa pose de destemida com as mãos na cintura.
— Mãe!
— O que faz aqui? Não tem permissão de sair do seu quarto!
— Eu aceito o castigo de ficar sem montar, lhe peço perdão pela minha estupidez, nunca mais vou fazer algo assim estúpido. — Jayne a olhou de canto de olho, mas continuou atirando sem falar nada. — Me ensine a ser assim como a senhora.
— Assim como, Angel?
— Destemida, inteligente, sem medo, forte. Não quero ser essa garota estúpida e que sabe somente fazer bordados, quero ser como a senhora, me ensine a atirar. Ensine-me a ser assim como a senhora é. Sou sua filha, não sou? — Jayne a olhou seriamente.
— Está falando sério?
— Estou — disse séria e Jayne pensou um pouco a olhando.
— Tudo bem, que assim seja. Vamos ver se é igual a mim.
Jayne respirou fundo e começou a explicar sobre a arma, como ela funcionava. Como colocar balas, mirar, enfim, tudo. Colocou a arma na mão de Angel e a fez mirar a ajudando segurar a arma para que não caísse com o baque.
Angel atirou e foi para trás e Jayne a segurou com seu corpo e assim continuaram. Ian as olhava de longe, com James, eles se olharam e sorriram um para o outro. Ian, satisfeito, bateu nas costas de James.
— Vamos, James, vamos cuidar do nosso trabalho e deixá-las sozinhas.
**
Jayne estava cuidando dos seus cavalos, Angel a estava acompanhando e prestando atenção no que ela fazia, decidira que aprenderia tudo o que a mãe fazia, estava determinada, queria provar que podia ser igual a ela.
— Angel, seu avô disse que ia mandar o piano hoje.
— Verdade, mamãe, o papai disse que a senhora sabe tocar lindamente.
— Sei. Você quer aprender?
— É difícil?
— Um pouco, mas com o tempo você aprende.
— A senhora vai me ensinar?
— Hum... Não sou boa em ensinar piano, tentei com a tia Emily, mas não me sai muito bem, o papai teve que pagar uma professora, a minha mãe também sabe tocar, mas nunca toca, aprendeu obrigada. Aprender piano era obrigação, e ainda é, mas não eu vou obrigá-la.
— Então como vou aprender?
— Bom, posso achar um professor de piano, na cidade deve haver alguém que possa vir aqui lhe dar aulas.
Chloe se aproximou dela.
— Olá, Jayne.
— Chloe, que surpresa, como vai? — Jayne a abraçou.
— Não muito bem, posso falar com você um minuto?
— Claro, vamos entrar. — As duas seguiram até a sala e Jayne pediu a Anna que preparasse um chá para elas. — O que houve? Parece nervosa.
— Jayne, eu sei que você é irmã da Julia, então fiquei receosa de vir aqui falar com você. Foi estupidez, pois deveria ter ido falar com Mary.
— Hum... Bem, mas já está aqui, então fale. Veio falar de Mitchel?
— Sim.
— Chloe, sou a irmã da Julia e Mitchel foi meu cunhado, mas eu sei que o casamento deles não acabou por sua culpa. Eles não eram felizes e a separação partiu da Julia, portanto, eu já lhe disse que não tenho reservas sobre você. Pode conversar comigo sobre Mitchel, eu não vou me ofender.
— Obrigada, é que eu estou com um problema e não sei o que fazer. — Chloe estava nervosa e espremia as mãos. — Me desculpe ter vindo sem avisar ou incomodá-la, mas eu não sabia com quem falar.
— Chloe, se acalme, pode falar comigo, o que aconteceu?
— Estou com medo de que Mitchel me mande embora.
— Por que ele faria isso? Vocês brigaram?
— Não, mas ele anda estranho, me ronda, me olha esquisito e não conversa comigo, acho que ele quer se separar de mim.
— Chloe, Mitchel adora você, por que desejaria deixá-la?
— Não sei, mas eu o conheço muito bem e ele está estranho demais e eu fui uma cocote, Jayne, ele pode estar cansado de mim, deve talvez até estar apaixonado por alguma outra mulher.
— Você não é mais uma cocote, está vivendo como esposa dele, na casa dele, ele a trata como sua mulher. Ele enfrentou a cidade toda, todos os falatórios que caíram sobre os dois quando vocês se juntaram, ele nunca ligou para isso.
— Eu sei, mas ele pode ter se cansado.
— Não acredito. Por que não pergunta a ele o que está acontecendo?
— Eu já perguntei, ele não falou nada.
— Hum... Eu acho que deveria insistir. Mas por que isso está deixando-a assim tão nervosa? Ele não vai deixá-la.
— Eu estou grávida.
Jayne arregalou os olhos e Chloe começou a chorar. Jayne sentou ao seu lado e a abraçou.
— Chloe, isso é maravilhoso! Por que está assim em pânico, Mitchel vai gostar, você não contou a ele?
— Não, tenho medo, aliás, estou morrendo de medo. Se ele está pensando em me deixar, o que vou fazer com um filho? Vou ter que voltar a trabalhar no Saloon e que vou fazer com uma criança? Como vou dizer a um filho que sua mãe era uma cocote? E eu não quero o destino dele seja como o meu, eu não posso.
— Chloe, por Deus! Nada disso vai acontecer. Você só está com medo e está colocando minhocas na sua cabeça.
— Ele nunca teve um filho com Julia, nunca falou de filho comigo, todas as vezes que esse assunto sai, ele desconversa ou diz que não quer saber disso. — Jayne pensou um pouco.
— Bem, talvez ele também tenha medo. Vocês dois têm que conversar, você tem que contar a ele.
— Você acha que ele ama outra mulher?
— Claro que não, nunca ouvi nada sobre isso, se acalme.
Anna trouxe o chá em uma bandeja e serviu as xícaras.
— Vamos beba isso, vai te fazer bem. Chloe, ter um filho não é um problema, vai fazer bem para vocês, acredite em mim, vocês dois só estão confusos e perdidos. Conte a ele e só aí você deixa para se preocupar, pois daí saberá o que ele pensa. A situação de vocês nunca foi fácil, mas não coloque minhocas na sua cabeça agora, Chloe, você sempre foi tão forte, tão destemida, sempre mandou todo mundo às favas e agora está assim.
— É que nunca pensei em passar por isso. Quer dizer, sonhei, mas agora é realidade e estou apavorada.
— Bem, pois agora tem que pensar, pois não tem volta e vai ser maravilhoso ter um bebê. Eu conheço Mitch, tenho certeza que ele vai adorar ser pai, você vê como ele gosta das crianças.
— Sim, eu sei.
— Então, se ele adora os filhos dos outros, vai amar muito mais o seu. Mitchel ama você, não duvide disso. Tome coragem, vá lá e conte a ele.
Chloe bebeu o chá e respirou profundamente.
— Acho que você está certa, estou sendo uma idiota. Mas eu não tenho nem ideia de como é ser uma mãe, eu basicamente nunca tive uma.
— Não está e eu a entendo. Mas não há motivos para ficar nervosa, eu lhe asseguro que ele vai ficar muito feliz. Chloe... Quando seu bebê nascer, você vai aprender a ser mãe naturalmente, isso faz parte das mulheres. Você não está sozinha, você tem três amigas que são mães, e, com certeza, nós três vamos ajudá-la. Nenhuma de nós tinha noção do que era ser mãe, mas nós aprendemos. Quando Angel nasceu eu nem sabia como tocar nela de tão miudinha que era, eu tinha medo de machucá-la, mas minha mãe me ensinou como cuidar dela, e depois eu fui aprendendo sozinha. Sua criada deve saber tomar conta de crianças, pode ajudá-la também.
— Obrigada, Jayne.
— Agora vá para casa e conte tudo a Mitchel. Você verá, tudo dará certo.
Chloe despediu-se e foi para casa. Jayne foi até Ian com um largo sorriso no rosto.
— O que foi, Chloe está bem? Parecia nervosa — disse Ian.
— Ela está bem — disse rindo. — Seu amigo vai ser pai.
— Mitchel? — Ian soltou uma gargalhada enorme e abraçou Jayne. — Isso é maravilhoso, já estava na hora.
— Então, ele ainda não sabe, ela está nervosa porque acha que ele não gostará. Acha que ele está nervoso e esquisito ultimamente.
— Jayne, ele anda nervoso porque queria pedir um filho a ela. — Jayne riu.
— Os dois estão sendo tolos então, mas isso vai acabar muito bem. Os dois sofrendo por uma tolice, isso é o que dá não conversar.
— Sim, senhora Buller, concordo, e eu aprendi isso com você.
— Fico feliz. Espero que eles se entendam, mas se eu bem conheço Mitchel, quando souber, ele vai chegar aqui gritando como um condenado.
— Vai sim, isto é ótimo. — Ian riu. — E você... se incomoda com a situação?
— Eu? Oh, por Deus, não. Talvez devesse, mas não estou, pois eu acho que tudo se encaixou. Não é?
— Sim, eu acho que sim. Agora Mitchel será feliz.
— Então tudo está bem.
— Mais um filhotinho para completar esta grande família.
— Verdade.
— Eu queria mais um filhote — disse a beijando.
— Eu sei, meu amor, mas tenho medo, melhor deixar isso por enquanto.
— Eu sei, só falei por falar, fiquei empolgado.
— Mas eu prometo que vou lhe dar mais um filhotinho, só precisamos de mais tempo.
— Fabuloso! — disse a abraçando e a rodando, a fazendo rir.
**
Chloe chegou em casa com a charrete, procurou Mitchel e o encontrou no celeiro.
— Mitch, você pode vir aqui que eu preciso falar com você?
— Pode falar, você está bem?
— Não, não estou bem e precisamos conversar, já!
Chloe foi para dentro de casa e ele resmungando a seguiu. Ela parou na sala, o pegou pelo braço e o fez sentar.
— Chloe, o que está havendo? — ela o olhou, respirou e falou de uma vez.
— Você quer me deixar?
— Que pergunta é essa? — disse fazendo uma careta de quem não estava entendendo nada.
— Responda, sinceramente.
— Claro que não, de onde tirou uma coisa destas?
— Você me ama?
— Chloe, o quê?...
— Mitchel, responda a pergunta!
— Amo, Chloe. Você sabe disso, agora pare com isso e fale de uma vez, o que está havendo? Não gosto destes falatórios.
— Você vai ser pai.
Ela falou tão rápido que quase as palavras saíram atropeladas e Mitchel levantou num salto.
— O quê?
— Eu estou grávida. — Ela estava com o coração descompassado. Ele ficou mudo e paralisado, olhando para ela e não sabia o que dizer. — Não vai dizer nada? Você não quer este filho?
Ele foi até ela num rompante e a abraçou fortemente, Chloe começou a chorar.
— Chloe, meu amor, era tudo o que eu queria — disse olhando para ela e rindo.
— Verdade? — perguntou espantada.
— Claro que sim, era o que eu estava tentando falar com você, mas estava com medo que você dissesse não. — Os dois riram e se abraçaram. — Estou muito feliz! — Ele a ergueu do chão e a rodou, e começou a rir mais e a beijou diversas vezes. — Eu vou ser pai! — gritou e ria às gargalhadas. — Você está bem, não está? Está sentindo alguma coisa?
— Não... — disse rindo. — Estou ótima.
— Eu te amo, Chloe.
— Eu também.
— Espere, fique aqui. — Ele a pegou e a sentou no sofá. — Eu já volto, não saia daí, não se mova.
— O que vai fazer?
— Preciso contar aos rapazes. Eu vou num estante, não se mova.
— David está viajando.
— Ah é... Bem, então voltarei mais rápido, não saia daí — disse rindo.
Mitchel saiu correndo, pegou o cavalo e bateu uma disparada, Chloe ficou rindo dele, era mais tolo do que ela imaginava. Ela ficou imensamente feliz com a reação dele, realmente estava se punindo à toa. Mitchel cavalgou até chegar gritando à fazenda de Willian.
— Will, Will! — Willian saiu correndo para a varanda. — Eu vou ser pai, eu vou ser pai! — gritava, dava voltas com o cavalo e abanava o chapéu.
— Parabéns! Mas por que este escândalo? — disse rindo.
Emily saiu correndo na varanda.
— Ora deixe de ser besta, homem, finalmente eu vou ser pai — disse e soltou uma imensa gargalhada.
— Parabéns! — disse Emily gritando e rindo.
Ele acenou, puxou a rédea do cavalo e ele se empinou ficando somente com as patas traseiras no chão. Emily e Willian riram dele que deu meia volta no cavalo e foi para a fazenda de Ian.
— Eu vou ser pai! — ele gritou e Ian e Jayne começaram a rir o vendo até que ele se aproximou. — Eu vou ser pai!
— Eu não disse? — falou Ian.
— Estou tão feliz que parece que vou sair voando.
— Parabéns, Mitch! — disse Jayne sorridente.
— Jayne, eu quero dar algo a ela, o que dou? Um presente?
— Flores seria ótimo.
— Flores? Isso é bom para dar a uma mulher grávida?
— Sim, mulheres gostam de receber flores, Mitch.
— Onde arrumo flores?
— Espere aqui, vou assaltar meu jardim, ainda tenho algumas poucas flores.
Jayne foi até o jardim e colheu várias diferentes e fez um buquê, amarrou com uma tirinha de pano e levou a ele.
— Tome, dê a ela.
— Obrigado.
Ele saiu galopando para casa e Chloe estava sentada no mesmo lugar, ele sorrindo lindamente sentou-se do lado dela, ofegante e lhe deu as flores.
— Mitch, são lindas!
— É para a mais nova mamãe da família e o amor da minha vida.
— Mitch... Eu sou o amor de sua vida? — perguntou espantada.
— É! Sempre foi, mas fui um idiota em não considerar esta possibilidade antes. Eu fui feliz com Julia, quer dizer, até certo ponto, mas ela tinha razão, ela não era a mulher certa para mim, você é. Agora tudo está bem.
— Oh Mitch!
Ela o abraçou emocionada, pois aquilo era mais do que jamais sonhara. Mais do que achou que merecia.
— Acha que vou ser uma boa mãe?
— Vai ser uma ótima mãe, assim como é uma ótima esposa.
— Você sempre mentiu muito bem.
—Não é mentira, Chloe.
— Acha que ele vai gostar de mim?
— Querida, seu filho vai amá-la e será um bom homem, ou uma boa mulher.
— Não terá vergonha de mim?
— Não, porque será muito inteligente para isso.
— Eu estou feliz, meu toureiro.
— Ah não me chame de toureiro que meu sangue ferve.
— Toureiro... Toureiro — disse rindo.
Os dois se abraçaram e beijaram-se felizes. Eles estavam vivendo a felicidade de ser uma família de verdade. Chloe que nunca conhecera o que era ser amada e ter uma família estava adorando aquilo, mesmo estando temerosa pelas novidades. E Mitchel, que sempre sonhara ter um filho sentia-se realizado.
Ele demorou em acertar seu caminho, mas enfim, estava com a mulher que realmente amava e ela lhe daria o filho que tanto queria. Não havia mais nada que ele pudesse pedir.
Capítulo 17
— David, meu Deus, quanta água! — disse Mary com os olhos arregalados.
— Sim, meu amor, este é o mar.
Samantha que estava parada na areia ao lado de David, sem falar nada saiu correndo em direção ao mar.
— Samantha! — gritou David e saiu correndo atrás dela e a segurou pelos braços. — Filha, não pode entrar assim.
— Por quê?
— Porque é perigoso, não é como o lago, o mar é brabo, filha, as ondas a derrubam e você pode se afogar. Não pode entrar sem seu pai, entendeu?
David a pegou no colo e entrou e esquivavam-se das ondas. O mar estava calmo e as ondas baixas. Mary entendeu uma toalha do chão e sentou com a babá e Jonathan, que começou a brincar com a areia e rir, achava aquilo engraçado.
Mary estava encantada com a praia, nunca imaginara tal beleza. Ficou olhando David brincar com Samantha na água, ela gritava e abraçava David quase o enforcando e os dois gargalhavam sem parar, Mary ria deles e nem sabia qual dos dois era mais criança.
David saiu da água com Samantha pendurada, estavam cansados.
— Fique aqui com Jonathan e a Nani, quero entrar na água com sua mãe.
— Ai David, eu tenho medo.
— Não precisa ter medo, eu a seguro, venha, Mary.
Ele a pegou no colo e entrou com ela na água, e ela começou a gritar quando vinha uma onda e se pendurava no pescoço dele, David ria às gargalhadas e os dois brincaram também como crianças.
— Meu Deus, essa água é salgada demais — disse ela rindo.
— Então, deixe-me provar como você fica salgada. — Ele a abraçou e a beijou. — Hum, eu adorei, está deliciosa.
Depois que saíram do mar eles ficaram deitados na areia, brincaram de correr com as crianças, David deixou Samantha e Mary o enterrarem na areia, colocaram Jonathan com os pezinhos na água e ele fazia a maior festa, se David não o segurasse quase se jogava do colo, e dava gargalhadas altas.
Depois de um bom tempo por lá voltaram ao hotel, tomaram banho, vestiram-se e foram almoçar e passear de coche pela cidade. Tudo era divino, a cidade estava ficando muito bonita e Mary olhava tudo como se estivesse num livro de contos de fadas, ela olhou para ele que a estava olhando com um sorriso no rosto.
— Por que está me olhando assim? — ela perguntou sem jeito.
— Adoro ver você assim feliz, me deixa muito feliz também.
— Obrigada por este passeio, David, eu estou encantada.
— Que bom, meu amor, eu também estou. Hoje à noite deixaremos Nani com as crianças para jantarem no quarto do hotel e sairemos somente você e eu para jantarmos no restaurante, o que acha?
— Hum, isso parece tão romântico.
— Ora, eu quero ficar a sós com minha esposa. Tenho que implorar um tempinho para mim, você só tem olhos para nossos filhos.
— David, que absurdo está dizendo?
— Verdade, nem liga para mim, mas hoje terá que me dar toda atenção.
— Dou-lhe toda a atenção que quiser.
— Ai meu Deus — disse ele olhando para cima e Mary riu dele.
**
O Sr. Cullen levou o piano para a casa de Ian. Deu um trabalho considerável colocá-lo numa carroça e descarregá-lo, era deveras pesado. À noite, Ian pediu que Jayne tocasse para eles para comemorar a vinda do bebê de Mitchel e Chloe, ela os convidou assim como Willian e Emily para um jantar e um sarau.
Todos foram alegremente para a fazenda dos Buller, saborearam um delicioso jantar que Jayne mandou preparar e depois foram para a sala onde ela sentou-se ao piano e tocou diversas músicas.
Ian parecia mais encantado a vendo usando um lindíssimo vestido branco ao piano, parecia um anjo. Emily também sabia tocar e as duas sentaram juntas para tocar duas músicas. Willian nunca havia visto Emily tocar e também ficou boquiaberto igual a Ian. Mitchel e Chloe estavam sorridentes e com os olhos tão brilhantes que pareciam duas lamparinas.
— Vou contratar a Jayne para tocar no Saloon — disse Chloe, animada e todos riram.
— Olha que eu vou — disse, brincando.
— Ah vai? Mas esta minha mulher está uma abusada.
— Isso que eu digo Ian, temos que botar rédea nestas mulheres, elas estão mandando em tudo.
— Fique quieto, Mitch, não contrarie uma mulher grávida — disse Chloe, séria.
Ele soltou uma gargalhada e todos riram deles.
— Preciso achar uma professora de piano, quero que Angel tenha aulas, onde anda aquela senhora, como era o nome dela? Ela dava aulas...
— Ah a viúva do escrivão? Acho que ela não mora mais na cidade, Jayne, parece-me que foi morar com o filho em outra cidade.
— Quem então? Não creio que tenhamos muitos pianistas na cidade.
— Pelo que eu sei, o filho dos novos moradores da cidade dá aulas de piano, ele é um exímio pianista.
— Quem?
— Acho que se chama... Hum... Richard, eu acho que é o nome dele. Seu sobrenome é Montgomery.
— Verdade? E eles moram onde?
— Na casa que era de Enrique, eles compraram há pouco tempo, é o dono do restaurante que abriu na cidade. Parecem bem abastados, e dizem que o moço, o que toca, tem um título, é um nobre — explicava Chloe.
— Nossa! Mas se tem tanto dinheiro, por que dá aulas de piano?
— Dizem que é porque gosta, ele já deu até concertos, mas não mais. É um rapaz jovem, eles também construirão uma casa de campo, naquelas terras encima da colina.
— Que interessante. Será que era ele que estava tocando no restaurante?
— Tem um pianista que toca todas as noites, mas ele só às vezes.
— É eu ouvi falar que eles tinham comprado àquelas terras da colina, tem uma bela paisagem — disse Ian.
— Bem, então vou falar com ele para saber se ele daria aulas para Angel, o que acha Ian?
— Se for aqui na minha casa, com alguém sempre junto, pode.
**
No outro dia, Jayne foi até a cidade procurar por Richard Montgomery. Foi até a casa que era de Enrique, parou na frente dela dando uma olhada, respirou profundamente tendo algumas lembranças, mas rapidamente as afastou, bateu na porta e uma criada veio atender.
— Boa tarde. Estou procurando por Richard Montgomery.
— Oh Sra. Buller, sou a Betsy, lembra-se de mim?
— Claro, Betsy, como vai?
— Bem, muito bem. Um momento, por favor, entre, vou chamá-lo.
— Obrigada.
Jayne ficou na sala e olhava ao redor, algumas poucas coisas haviam sido mudadas na casa desde que Enrique morara ali. Logo apareceu um jovem alto, encorpado, tinha os cabelos compridos e negros, olhos claros, um olhar sereno e vestido elegantemente. Extremamente bonito.
— Boa tarde.
— Boa tarde. Desculpe-me eu vir sem avisar, sou Jayne Buller.
— Richard Montgomery, em que posso ajudá-la?
— Eu soube que são moradores novos na cidade, sejam bem-vindos.
— Obrigado.
— Eu soube também que o senhor toca piano e que dá aulas.
— É verdade, sente-se, por favor. — Jayne sentou-se. — Aceita um chá ou um café?
— Não obrigada, não posso me demorar.
— Gostaria de ter aulas?
— Não é para mim, estou procurando alguém que dê aulas para minha filha. Estaria interessado?
— Claro. Que idade tem sua filha?
— Ela fez quatorze anos. Eu levei o piano de meu pai para casa, e ela está interessada em aprender.
— Dou aulas na minha casa, Sra. Buller.
— Oh, é que meu marido aceitou que ela tivesse aulas, mas se fosse em nossa casa. Ela e meu filho Josh também não estão frequentando a escola, tem uma tutora em casa.
— Por quê?
— Bem, é que sofremos alguns ataques e Angel quase foi levada, então por um tempo resolvemos que ela ficaria na fazenda, por segurança. Minha fazenda não fica longe, posso mandar um carro vir buscá-lo e trazê-lo de volta a casa, para que fique confortável.
— Entendo o que quer dizer. Agradeço a oferta. A senhora então deve ser a dona do carro em que ouvi falar.
— Bem, sou a única que tem um carro na cidade, todos me olham como se eu fosse um ser de outro mundo — disse rindo.
— Em Nova York já há muitas mulheres dirigindo carros, senhora, mas parece que West Side ainda é muito provinciana.
— Sim, muito. Disseram-me que já fez concertos, é verdade?
— Sim, eu frequentei a escola de música de Londres, me apresentei como concertista várias vezes.
— O senhor é de Londres?
— Sim, sou inglês.
— Imaginei, pelo seu sotaque. Desculpe-me perguntar, mas quantos anos têm?
— Vinte.
— É bastante novo para ser um concertista e ter estado em tantos lugares. Deve ser um excelente pianista.
— Dizem que sou.
— Por que veio morar aqui? Ah, desculpe-me, estou sendo intrometida.
— Tudo bem. Eu tinha muita curiosidade sobre este lugar, há periódicos em Londres que falam muito da América. Meu pai possui vários restaurantes e veio comigo para abrir um aqui. West Side é uma cidade que está crescendo, e parece que até agora está dando certo. Mas assim que a casa de campo ficar pronta eu morarei lá, pelo menos por um tempo, o ar das montanhas é bom para mim.
— Bem... Então, aceita dar aulas à minha filha?
— Claro, será um prazer. Quando quer que ela comece?
— Pode ser amanhã, se estiver disponível.
— Estarei sim.
— Mandarei o carro buscá-lo as duas e levá-lo até nossa fazenda e você vê quantas vezes por semana é necessário e quanto cobrará, enfim, o que for melhor. Está bem assim?
— Sim, senhora. — Jayne sorriu e levantou-se.
— Devo ir-me, o aguardo amanhã. Obrigada, Sr. Montgomery, foi um prazer conhecê-lo.
— Eu é que agradeço, tenha uma boa tarde.
**
No outro dia James foi buscar Richard para iniciar as aulas. Ele já estava esperando, olhou atentamente o caminho para a fazenda dos Buller. Chegando lá, Ian e Jayne o vieram receber na sala.
— Boa tarde, Sr. Montgomery, sou Ian Buller — disse apertando sua mão.
— Boa tarde, é um prazer conhecê-lo, Sr. Buller, Sra. Buller — disse beijando sua mão.
— Sente-se, Angel já virá.
— Ouvi muito falar de sua fazenda, Sr. Buller. Realmente é uma fazenda maravilhosa.
— Obrigado, gosta de cavalos?
— Sim, adoro, os acho fascinantes. Mas eu inda não comprei nenhum depois que cheguei aqui. Tenho alugado do cocheiro na cidade.
— É uma pena, mas pode adquirir um.
— Seria ótimo, quando a casa de campo ficar pronta, eu vou precisar comprar cavalos.
— Se quiser, podemos lhe mostrar nossos cavalos.
— Será um prazer. Dizem que os seus são os melhores de toda a região.
Angel chegou à sala e parou ao lado de Jayne, perto do sofá. Ele polidamente levantou-se e fez reverência com a cabeça.
— Esta é minha filha, Angel.
— É um prazer, senhorita.
— Encantada.
Richard a olhou e ficou mudo, ele sentiu um baque em seu coração em admirar tal meiguice e beleza. Ela era linda, com os olhos expressivos e era muito parecida com a mãe. Seu vestido era pérola com uma faixa rosa pálido na cintura e um laço. Tinha os cabelos ondulados, castanhos e muito longos, presos numa presilha e que lhe caíam pelo ombro direito.
Ela estampava um leve sorriso, nos lábios rosados e perfeitos. Angel olhou para seus olhos e se perdeu, os abaixou e sentiu suas bochechas queimarem. Jamais em sua vida havia visto rapaz tão belo e cortês.
— Bem, eu vou deixá-los, eu preciso trabalhar — Ian disse despedindo-se.
— Siga-me, por favor — Jayne disse levantando-se e fazendo gesto com a mão para que Richard a seguisse e foram até o piano. — Acho que precisará ver se está bem afinado.
— Eu vou verificar isso.
Ele sentou-se ao piano e tocava tecla por tecla para ver a afinação, Angel prestava atenção no que ele fazia, Jayne sentou-se numa poltrona para vê-los. Estava curiosa para vê-lo tocar.
— Está afinado, é um belo piano — disse ele.
— Se incomodaria de tocar alguma coisa? Eu gostaria de ouvi-lo.
Ele não disse nada, a olhou e sorriu levemente e começou a tocar Mozart, as duas ficaram o ouvindo e Angel ficou encantada, sorriu ao som da música, sua vontade de tocar despertara mais que antes, como queria poder tocar assim. Quando ele terminou as duas bateram palmas.
— Sr. Montgomery, meu Deus, toca divinamente!
— Obrigado. Chamem-me de Richard, por favor. Sente-se ao meu lado, senhorita.
Angel sentou-se ele começou a lhe explicar tudo e mostrar as primeiras notas. Ela prestava atenção e o seguia quando ele pedia. Ficaram ali por mais de uma hora, nem viram o tempo passar.
— A senhora toca, Sra. Buller? — ele perguntou repentinamente tirando Jayne de sua absortividade.
— Sim, aprendi quando era mocinha... Regras — disse sorrindo e fazendo gesto com a cabeça lembrando-se das suas aulas forçadas.
— Entendo, gostaria de tocar uma música para eu ouvi-la?
— Oh não. Fiquei com vergonha diante de sua técnica.
— Imagine. Eu acredito que toca bem, por favor — disse levantando da banqueta e Jayne sentou e tocou, ele a olhava e Angel também.
— A senhora toca muito bem.
— Bem, com uma varada de marmelo nas mãos cada vez que tocava uma nota errada, qualquer moça aprende na marra.
— Asseguro-lhe que não uso vara nenhuma — disse sorrindo.
— Ah! Isso me deixa bem mais tranquila — disse Angel rindo.
— Acho que por hoje chega. Espero que tenha gostado da sua primeira aula, senhorita.
— Sim, eu adorei. Não vejo a hora de ter a próxima aula — disse animada.
— Poderei vir amanhã.
— Pode, mamãe?
— Sim.
— Tudo bem, então nos veremos amanhã.
— Venha, vou pedir que o levem para casa.
Eles foram até a varanda e negociaram os valores das aulas, Richard despediu-se e foi embora com James.
— Ai mamãe, eu adorei, obrigada.
— Se comprometa a aprender, Angel, a quantia que ele cobra não é para desperdiçar.
— Pode deixar, vou me empenhar. Ele parece ter paciência.
— Sim parece. Quem me dera que minha professora tivesse sido assim. Nunca vi um jovem tão sereno. Parece que ele pisa nas nuvens.
— Mamãe... Deixa-me voltar a montar?
— Hum... — disse entortando a boca.
— Por favor, eu estou me comportando, não estou?
— Está bem, seu castigo acabou. Espero nunca mais ter que colocá-la de castigo, Angel.
— Obrigada. Pode deixar mamãe, nunca mais vai precisar — disse a abraçando e correndo para fora.
Capítulo 18
Richard ia quase todos os dias dar aulas de piano a Angel, ela estava cada vez mais encantada e se esforçava para aprender. Jayne, algumas vezes sentava-se ao piano para aprender algumas coisas com ele que prontamente lhe ensinava.
Jayne sempre ficava junto deles, e quando não ficava, Anna se encarregava de lhes fazer companhia.
Naquela tarde Angel chegou à sala e Richard estava parado na janela olhando para fora, segurava as duas mãos nas costas. Ela parou e ficou o analisando pelas costas e sem perceber esboçou um leve sorriso no canto da boca. Ele era meio calado, possuía uma postura altiva, olhar penetrante e intenso, era extremamente gentil.
Parecia que ele media as palavras, mas elas saiam de sua boca com uma serenidade que atordoava qualquer um. Parecia muito adulto para sua idade, parecia que havia outro mundo por detrás daquele rosto, daqueles olhos verdes, um mundo desconhecido de todos, mas era encantador e extremamente lindo.
— Boa tarde, senhorita Angel — disse sem se virar e ver que era ela.
— Boa tarde, senhor Montgomery — disse Angel, espantando-se com o seu cumprimento. — Como sabia que era eu?
— Seu perfume — disse calmamente se virando e a olhando. Angel ficou sem jeito com a maneira que ele a olhou e sorriu discretamente, poderia dizer que sentiu suas pernas amolecerem e seu coração descompassou-se. — Vamos às aulas, senhorita?
— Claro.
— Nós não havíamos combinado que não usaríamos de formalidades?
— Sim, mas isso não é muito educado.
— Não me importo, se importa?
— Não, realmente.
— Bem, então sem elas. Pelo menos quando estivermos a sós. Percebi que na cidade muitos não usam, e isso, me deixou feliz, porque me lembra de que não estou na sufocante roda de regras de etiqueta de Londres.
— Se o agrada.
Eles foram até o piano e ele lhe passou sobre as partituras, como se ler, as notas. Ela franzia o cenho achando aquilo difícil, mas não dizia nada, ela tentava prestar atenção e aprender o que ele pacientemente lhe ensinava. Ele percebendo, deu um sorriso.
— Um pássaro não aprende a voar num dia, Angel. Você tem tempo.
— Isso é complicado, posso tocar sem usar a partitura?
— Pode, quando aprender a música de cor não precisará da partitura, se seu ouvido for aguçado conseguirá tocar uma música sem ler as partituras.
— Creio que meu ouvido não é aguçado como o seu.
— Pode ser, mas seus dedos são perfeitos para tocar piano — disse com um leve sorriso. — Dedos longos e finos.
— Por que você não faz mais concertos?
— Os faço de vez em quando. Mas não posso mais fazer uma turnê.
— Por que não?
— Cansativo demais e prefiro ficar avesso a alardes de público. Às vezes não gosto muito de pessoas.
— Você é meio calado, parece tímido, mas seu olhar não é tímido. Parece que nos devora com os olhos.
— Sim, eu sou meio calado — disse pausadamente. — E não devoro ninguém com meu olhar, mas observo tudo atentamente. Sabe ler um olhar, Angel?
— Hum, mais ou menos. Minha mãe disse que o olhar diz muito de uma pessoa, que nós podemos até saber o que ela está pensando.
— Isso é verdade. Os olhos são o espelho da alma e um olhar pode substituir mil palavras.
— Ouvi dizer que você está doente. O que você tem?
Richard a olhou de canto de olho e tocou algumas notas no piano.
— Estive, mas prefiro não falar sobre isso se não se importa.
— Desculpe, não quis ser indelicada.
— Não foi, mas não gosto de falar sobre determinadas coisas.
— Tudo bem, não perguntarei mais. Mas você me parece bem saudável.
— Eu estou bem, não se preocupe — disse sorrindo. Eles ficaram calados por alguns momentos. — Sua mãe disse que seu aniversário está chegando.
— Sim, vou fazer quatorze anos.
— Você é muito alta para ter quatorze anos.
— Sim. Meu tio Mitchel disse que eu pareço uma árvore — disse rindo.
— Parece, talvez um carvalho — disse sorrindo.
— Nossa aula já acabou, gostaria de ver os cavalos?
— Sim, claro.
Os dois saíram e foram ao estábulo e Angel lhes mostrava os cavalos. Eles se encontraram com Ian e Jayne que estavam com eles.
— Olá, Richard.
— Boa tarde, Sra. Buller.
— Finalmente tirou um tempinho para ver nossos cavalos.
— São belíssimos.
— Obrigada.
— Vi que já começaram a construir a casa na montanha.
— Sim, Sr. Buller. Será erguida rapidamente, o quanto antes melhor.
— Estou vendo. Por que escolheu na montanha? No vale seria melhor para ter uma casa, com campo aberto.
— Bem, eu não pretendo usar muito terreno e eu gosto da vista de cima da colina, o pôr do sol é magnífico e limpo.
— Tem razão. Quando quiser os cavalos me avise, com certeza terei um puro sangue que lhe agradará — disse Ian.
— Seria ótimo.
— Richard, disseram-me que você tem um título, é verdade? — perguntou Angel e ele sorriu.
— É verdade, de Conde.
— Conde? Você é um Conde? — Jayne indagou espantada.
— Bem, meu avô tinha laços fortes com os nobres na Europa, meu pai e eu assim adquirimos o título, mas eu não gosto que me chamem de Conde nem de Sr. Montgomery, gosto do meu primeiro nome.
— Isso eu percebi. Não tem cerimônias para isso, o que é estranho para alguém que tem um título. Um título não é hereditário?
— Sim, recebi de meu pai, Leonard não é meu pai, é meu padrasto.
— Hum. — Assentiu Jayne.
— O que um Conde faz no Texas? — Ian perguntou curioso.
— Eu sempre ouvi histórias daqui, eu acho muito interessante. Quando eu quis vir, eu sugeri a meu padrasto que abrisse um negócio e ele aceitou, mas voltará para Londres em breve, mas eu não pretendo ir.
— Prefere morar aqui à Londres?
— Bem... Para mim aqui é tudo novo e muito diferente da Europa, mas eu estou gostando. Eu prefiro lugares com menos chuva e umidade. Minha mãe prefere a Europa, ela não gosta de cidades pequenas onde todo mundo sabe da vida de todo mundo. E o oeste selvagem era o último lugar que ela gostaria de ficar permanentemente.
— Sim, sei que muitas histórias já dançam pela boca do povo.
— Verdade, Sr. Buller, aqui a vida das pessoas corre mais que os cavalos. Mas não é diferente em Londres onde todo mundo fala da vida de todo mundo — disse sorrindo e eles riram.
— Isso é verdade — disse Jayne, rindo. — Se você facilitar as outras pessoas sabem mais da sua vida que você mesmo.
— Você não cuida dos negócios da família?
— Em parte. Meu irmão mais velho o faz. Meu negócio é a música.
— Como seu pai deixa que você fique somente envolvido com a música? Desculpe-me perguntar, mas isso é difícil.
— Ele não teve muita alternativa, Sra. Buller, eu respiro música, é como uma medicina para mim; mas há algumas coisas nos negócios dele que eu me encarrego. Quando ele for embora administrarei o restaurante.
— Entendo. Gostaria de nos acompanhar no lanche? Estes meus amores precisam de um lanchinho no meio da tarde — Jayne disse maliciosamente olhando para Ian.
— Saco vazio não para em pé — Ian disse brincando.
— Verdade, Sr. Buller. Acredito que o Haras deve dar muito trabalho.
— Sim, nem imagina o quanto.
— Bem, vamos que Anna já deve ter posto a mesa.
James veio correndo de encontro a eles e com os olhos arregalados.
— Patrão! — disse recuperando o fôlego.
— O que houve, James?
— Tem um mensageiro lá na frente da casa, disse que veio a mando do juiz Brannan, está procurando a... Sra. Gonzáles.
Jayne sentiu suas pernas amolecerem e como se tivesse levado um soco no estômago, olhou para Ian com os olhos arregalados.
— Calma, querida, vamos ver o que é — Ian disse sério, e foram para frente da casa.
— Quem é senhora Gonzáles? — Richard perguntou baixinho para Angel.
— É minha mãe, vamos — disse séria.
Richard não entendeu, mas a seguiu.
— Em que posso ajudá-lo? — Ian perguntou ao homem que não havia descido do cavalo.
— Procuro a senhora Gonzáles.
— Sou eu.
— Esta é uma intimação, deverá comparecer na data marcada em Madri, sua audiência foi marcada. Se tiver alguma dúvida, poderá falar com o juiz Brannan de West Side, ele disse que passará informações vindas do senhor Enrique Gonzáles, e esta carta é dele.
— Obrigada.
O homem fez reverência com o chapéu e deu meia volta, indo embora. Jayne abriu a intimação e leu e Ian fez o mesmo. Logo abriu a carta de Enrique que lhe instruía o que deveria fazer. Jayne colocou a mão na cabeça e pensou que fosse desmaiar.
— Calma, querida, nós sabíamos que isso aconteceria. Tudo vai acabar bem. — Ian a abraçou forte. — Não fique nervosa.
— Hamm... Vocês podem entrar e fazer o lanche, Angel, nós já iremos.
— Sim, mamãe, venha Richard.
Eles entraram e foram para a mesa.
— Querida, pense assim, iremos lá, você explicará tudo, pegamos esta anulação e tudo acaba. Ficaremos livres disso tudo.
— Eu sei Ian, mas estas cortes me deixam com os nervos a flor da pele, e se algo sair errado?
— O que poderia sair errado?
— Por que não intimaram você também? Enrique diz aqui que não tem testemunha nenhuma.
— Viu? Isso é mais simples que do a gente pensava, será somente você e Enrique explicando o mal entendido do casamento de vocês e tudo acaba.
— Espero que esteja certo.
— Eu estou.
— Meu Deus, eu não entendo como podem me fazer viajar para outro país para isso. Isso é um absurdo!
— Não fique preocupada, meu amor. Vai dar tudo certo.
— Não vai dar tempo de terminar a cobertura.
— James pode cuidar do resto, ele é muito eficiente.
— Temos que cancelar a viagem à Itália.
— Não tem problema, nós não iremos suspendê-la, somente adiá-la. Mais alguma colocação para que eu possa remediar? — disse sorrindo. Jayne foi obrigada a sorrir e o abraçou fortemente. — Já passamos por coisas piores, meu amor, isso será uma coisa boa, vai deixar você livre pra mim e se eu precisasse dar a volta ao mundo para isso eu daria. Venha, vamos tomar um café, você vai se sentir melhor.
— Angel, desculpe-me perguntar, mas o nome de sua mãe não é Buller?
— É, mas ela se casou com Enrique na Espanha, porque meu pai foi dado como morto por causa de um ataque de bandidos no trem, ele ficou desaparecido muito tempo e ela se casou de novo, mas papai voltou e por isso ela está tentando anular seu casamento para tirar o nome Gonzáles.
— Hum, sinto muito.
— Foi um inferno por aqui, espero que dê tudo certo.
— Com certeza irá, não se preocupe.
— Você deve estar achando que nossa família é louca.
— Toda família é um pouco louca, Angel, acho que a sua é bem normal — disse sorrindo.
— Talvez tenha razão. Josh, venha comer, não está com fome?
— Estou. Faz um pão com doce pra mim?
— Claro, sente aqui.
Angel arrumou um pão com doce e uma xícara de leite para ele. Logo Jayne e Ian vieram e sentaram à mesa para lanchar, mas Jayne não comeu, somente tomou café, naquele momento isso mal passava pela sua garganta.
**
— Angel, arrume suas coisas, Ana vai lhe ajudar.
— Eu vou também?
— Vai, nós passaremos primeiro em Londres e vocês ficarão na casa de tia Julia, depois eu e seu pai vamos para Madri, na volta, pegaremos vocês.
— Quanto tempo nós ficaremos lá?
— Eu não sei, o tempo deste processo de anulação; não deve demorar.
Angel foi com Ana para o quarto.
— Filha, vai dar tudo certo, não fique assim nervosa. Não quer deixar as crianças comigo? — disse Sra. Cullen.
— Não mãe, Julia vai gostar de ver as crianças, ela disse que estava com muitas saudades deles na sua última carta, e como passaremos em Londres, achei que seria bom levá-los.
— Tudo bem, faça como quiser. Vou escrever uma carta para que você entregue a Julia, estou com muitas saudades dela. E veja se realmente está tudo bem. Fico apreensiva com ela morando sozinha em Londres.
— Sim, ela vai gostar e não se preocupe com Julia, ela disse que está bem. Peça ao papai para dar uma olhada por aqui por mim?
— Claro. Vou rezar para que dê tudo certo.
— Bem, como Ian disse, não deve ser tão ruim assim.
— Não vai ser, querida. O pior dessa história já passou. Tenho que ir, daqui a pouco seu pai chega, ele lhe mandou um abraço. Mais tarde envio a carta e uns bordados por alguém.
— Obrigada, mãe.
As duas se abraçaram e Sra. Cullen foi embora.
— Tudo pronto por aqui? — Ian disse entrando no quarto.
— Sim, e sua parte?
— Já passei aos empregados tudo que precisava. David deve chegar nesta semana, Mitchel e Willian vão ficar de olho em tudo. Confio no James, ele vai cuidar bem da fazenda.
— Assim eu espero.
— Nosso trem sai amanhã cedo, James nos levará até a estação.
— Está bem.
Levaram o resto do dia em função dos preparativos para a viagem. Richard chegou à fazenda a cavalo.
— Boa tarde, senhora Buller.
— Boa tarde, Sr. Montgomery. Desculpe, mas eu havia desmarcado suas aulas.
— Eu sei, senhora, vim me despedir de vocês e desejar uma ótima viagem e sorte lá em Madri.
— Obrigada, gentileza sua.
— Se permitir eu gostaria de falar com Angel, tenho um presente para ela.
— Presente?
— Sim, sei que seu aniversário foi há uns dias, então achei que poderia lhe dar um presente, se a senhora assim o permitir.
Jayne o olhou por um segundo, o analisando.
— Bem, creio que é indelicado eu lhe negar, já que veio aqui para isso.
— Obrigada, senhora.
— Vou chamá-la, sente-se.
Angel chegou à sala após alguns minutos.
— Olá.
— Boa tarde, Angel. Vim lhe dar isso, é um presente pelo seu aniversário. Sei que ainda não é o dia, mas como se encontrará distante, achei que deveria entregar.
— Obrigada! — disse sorrindo e pegando um embrulho, sentou-se no sofá e o abriu; era uma caixinha de música com uma bailarina que rodava e sua música era belíssima.
— Richard, é linda! Olha como ela roda.
— Sabia que gostaria, é delicada como você.
— Obrigada.
— Não posso me demorar, só vim dizer adeus e lhe dar o presente.
— Vou sentir falta das aulas de piano.
— Eu pretendo estar aqui quando voltar.
— Isso seria bom.
— Até mais ver. — Ele sorriu e lhe beijou a mão.
— Até. Espere! Este é o endereço de minha tia em Londres, pode escrever-me — disse tirando um pedaço de papel do cinto de tecido.
— Escreverei — disse com um sorriso.
Ele foi embora e Jayne voltou à sala, parou em frente a Angel com os braços cruzados.
— Hum... Recebendo presentes do professor de piano?
— Mamãe, é meu aniversário, ele veio me dar um presente.
— Eu sei, ele me disse.
— Não é linda? Posso levá-la na viagem?
— Sim, é linda e pode levá-la.
Angel foi para o quarto e Jayne ficou ali com os braços cruzados olhando ela se afastar, respirou fundo e pensando um pouco, passou as mãos na testa e foi arrumar suas coisas.
Capítulo 19
Os Buller foram até Nova York de trem e de lá pegaram o vapor; a viagem até Londres levou incontáveis dias. Para Ian foi irritante estar preso tanto tempo em um navio. Quando eles chegaram no cais, Julia os esperava e Jayne a abraçou demoradamente, tamanha era a saudade.
— Que bom vê-la, meu Deus!
— Julia, você está ótima, que saudades.
— Você também, estes são seus filhos? Meu Deus, eu nem os reconheci, Angel está quase mais alta que eu — disse rindo e os abraçando. — Olá Ian.
— Oi, Julia, como está?
— Ótima! E feliz de vê-los. Vamos, o coche está esperando, ainda teremos uma jornada pela frente até chegarmos.
Foram até a casa de Julia e acomodaram-se soltando todas as bagagens e foram assear-se para jantar.
— Como estão as coisas por aqui?
— Tudo bem, eu estou muito feliz aqui.
— Não sente saudades do Texas?
— Sinto. Nossas aventuras me fazem suspirar, sinto muita falta, mas gosto daqui, a vida aqui é muito diferente e tia Mayra é agradável, pena que não a verá, até que volte da casa de campo.
— Isso é uma pena. Que bom que está bem.
— Vocês seguirão quando para Madri?
— Creio que amanhã.
— Já?
— Sim, deixaremos as crianças com você e seguiremos, pois não temos tempo, mas na volta ficaremos alguns dias aqui, se não se importa.
— Eu vou adorar ter vocês aqui e poderemos matar nossa saudade.
Jantaram e conversaram depois foram descansar, estavam exaustos.
No outro dia Ian e Jayne seguiram sua longa viagem. Pegaram um navio que levou alguns dias até Gión. Passaram a noite em uma estalagem e no dia seguinte conseguiram um trem até Madri, foi outra longa viagem.
Quando chegaram à Madri era pela manhã, acomodaram-se em um hotel para descansar um pouco e pela tarde, eles se encontraram com Enrique e Emílio. O primeiro momento do encontro foi constrangedor, tentaram ser polidos e educados, mas o nervosismo daquele encontro era latente para todos.
Ian estava sério, atento a todos os movimentos e palavras, mas não fez nenhuma objeção. Enrique olhava para Jayne atentamente, mas agiu polidamente para não causar nenhuma confusão, mas não pode negar que seu coração apertou severamente no peito.
— Jayne, eu creio que não será difícil, responda calmamente as perguntas e explique o que aconteceu. É simples, nada vai dar errado.
— Por que esta coisa tem que ser com público? Isto é absurdo!
— Eu sei, mas eu não consegui evitar.
— Só espero que não me pendurem numa cruz.
— Nada vai acontecer, Jayne, fique calma.
— Como se isso fosse possível.
— Bem... — disse respirando profundamente. — Eu acho que eu já lhe passei tudo, meu pai vai ser nosso advogado, tudo sairá bem. Não haverá júri, todas as provas do sumiço e volta de Ian foi encaminhado, ele somente quer ouvir de nossas bocas, claro que vai ter um promotor que fará as perguntas e fará de tudo para que você se contradiga.
— Não tenho no que me contradizer.
— Eu sei, por isso é que vai dar tudo certo, receberemos nossa anulação e isso tudo acaba. Eles irão falar em espanhol, mas terá um intérprete.
— Tudo bem, se todos falarem devagar eu consigo entender. Vamos Ian, quero descansar. Até amanhã, Enrique.
— Nos vemos às nove.
Jayne e Ian foram para o hotel, jantaram e foram descansar. Não tocaram no assunto Enrique, Ian dormiu abraçado a Jayne como se quisesse protegê-la e que não sumisse de seus braços.
Ela mal fechou os olhos, estava com o coração estrangulado.
**
Chegando ao tribunal eles se encontraram com Emílio e Enrique.
— Está na hora de irmos — disse Enrique.
— Ian, você ficará por perto, não é? — Jayne disse o olhando com o olhar implorativo.
— Claro, meu amor, estarei o tempo todo lá, fique calma, vai dar tudo certo. Eu te amo.
— Eu também.
Abraçaram-se e Enrique virou-se, ficava atordoado vendo aquilo.
— Vamos, Jayne.
Entraram para as salas dos fundos esperando para entrar na corte. Enrique pegou na mão de Jayne e a olhou com carinho.
— Fique tranquila, vai dar tudo certo.
— Então por que eu não paro de tremer? Eu estou com um mau pressentimento.
Enrique olhou para seu pai que os olhava sério. Os dois sabiam que aquilo não seria assim fácil se dependesse do promotor e do juiz, mas não disseram nada a Jayne. Estavam esperando para ver, nem eles mesmos sabiam o que aconteceria.
Ian entrou e sentou na fila da frente, várias pessoas entraram para assistir e conversavam alto. Aquilo deixou Ian mais nervoso.
Logo todos entraram e colocaram-se em seus lugares. O juiz e o promotor entraram, todos se levantaram e logo sentaram, deram início. Jayne foi chamada para sentar na cadeira à frente e o promotor começou com as perguntas.
— A senhora poderia dizer seu nome completo?
— Jayne Cullen Dawson Buller Gonzáles.
— É um nome bem comprido, Senhora Gonzáles. Cullen é seu nome de solteira, e os outros três provenientes de três casamentos, eu estou certo?
— Sim. Nos Estados Unidos não permitem que retire o nome do falecido, caso se case novamente — houve um murmúrio alto na sala.
— Estamos aqui hoje porque seu marido, o Sr. Gonzáles, entrou com um pedido de anulação do seu casamento que durou, segundo os registros, somente alguns meses. A alegação do pedido é que a senhora não é viúva de Ian Buller. Que ele foi dado como morto e depois que se casaram, ele apareceu vivo. Isto está correto?
— Sim.
— Pode explicar isso mais claramente?
— Nós estávamos viajando de trem e bandidos o assaltaram, Ian foi baleado e caiu em uma cachoeira, ficou desaparecido por dois anos e foi dado como morto, e eu... Casei-me com Enrique. Logo depois que me casei Ian voltou para casa.
— Assim? Simplesmente apareceu?
— Ele estava em Portland e quando o vi achei que estava vivo, foi antes de me casar, mas foi tudo muito confuso, então deixei isso para lá e me casei com Enrique, eu tinha que recomeçar a minha vida e ele estava muito próximo, então aceitei seu pedido de casamento. Logo depois Ian apareceu e então voltei para ele e Enrique entrou com o pedido de anulação. Não posso ser mais sua esposa, pois meu marido está vivo e eu voltei para ele.
— A senhora está nos dizendo que viu seu marido em Portland e ainda se casou com o Sr. Gonzáles?
Jayne arregalou os olhos e só aí percebeu que dissera coisas demais, ela olhou para Enrique que estava com uma cara de pânico. Jayne engoliu a seco e olhou para o promotor.
— Responda, senhora Gonzáles, a senhora viu o seu marido antes de se casar?
— Sim, eu vi. — Houve um tumulto na sala, e o juiz pediu silêncio. — Mas eu pensei que não era ele, que eu me enganei, ele não me reconheceu, deu as costas para mim; eu fiquei em choque, mas Enrique disse que era coisa da minha cabeça, que ele estava morto e eu acreditei, então aceitei o pedido de casamento dele. Eu juro que se ele tivesse me reconhecido, falado comigo, eu não teria me casado. Eu juro que pensei ter me enganado. Ter imaginado que o vi.
— Que ironia, como que seu marido não lhe reconheceu?
— Ele estava sem memória por causa de uma pancada na cabeça e os tiros que levara.
— Sem memórias? E quando voltou para casa, suas memórias voltaram?
— Sim.
— Muito estranha esta história, não acham? A senhora jura ter visto seu marido e de repente achou que era engano e casou-se com outro homem, assim simplesmente.
— Não foi assim que aconteceu, não foi nada simples.
— Sra. Gonzáles, vamos analisar os fatos claramente. Quando foi que a senhora conheceu o Sr. Buller?
— Há uns nove anos atrás.
— E a senhora ainda era casada com Sr. Edward Dawson? — Jayne gelou ouvindo isso. Enrique moveu-se na cadeira, nem acreditava que aquele homem estava puxando aquele assunto. — Por favor, responda a pergunta.
— Sim, era.
— Então a senhora se envolveu com outro homem enquanto era casada?
— Não, senhor, fazia cinco anos que não via meu marido.
— Mas era casada?
— Sim.
Houve outra enxurrada de murmúrios e ela apavorou-se.
— Pode explicar?
— Ele foi embora, me roubou, me abandonou e levou minha filha e nunca mais o vi, somente o encontrei cinco anos depois.
— Seu marido a encontrou com outro homem e pelas nossas contas estava grávida de um menino.
— Sim.
— Então a senhora diz que continuava casada, mas engravidou de outro homem. — Houve uma balbúrdia na sala.
— Protesto! Esta pergunta é irrelevante, não tem nada a ver com o caso.
— Aonde quer chegar, senhor promotor?
— Meritíssimo, somente quero apurar a moralidade desta senhora. Pelo que eu andei investigando, ela traía seu primeiro marido com o homem que se tornou seu segundo marido. E depois, casou com o terceiro marido, achando assim, como ela diz, que ele estava morto. Por coincidência, seu terceiro marido, foi seu amante por vários anos antes de ela se casar com o primeiro marido, que era xerife na época e julgou a procedência da morte do Sr. Dawson. Triângulo interessante, vocês não acham?
Ian esfregou os olhos, pensando que estava num pesadelo.
— Por favor, senhor, eu não fiz nada de errado.
— Três maridos, adultério, morte, bigamia. Eu diria que a senhora não tem dignidade e moralidade para criar duas crianças.
— O quê?
— Protesto! O que é isso, meritíssimo? O promotor não pode fazer acusações ou tirar conclusões dessa maneira, está ampliando os fatos.
— Negado. Pode continuar.
— Obrigado, meritíssimo. Quem matou seu primeiro marido, Sra. Gonzáles? — Jayne ficou muda.
— O que isso tem a ver com a anulação do meu casamento? É para isso que estou aqui e não pelo meu primeiro marido.
— Responda a pergunta.
— Eu não sei.
— Como não sabe?
— Eu não sei, eu já disse, foram bandidos que invadiram a fazenda. Eu não vi nada, não sei de nada.
— Meritíssimo, o que o promotor está fazendo é fugir do caso, não permitirei que ele faça este tipo de pergunta que não tem nada ver com o motivo de estarmos aqui. A Sra. e o Sr. Gonzáles estão aqui para anular o casamento e não é um julgamento pela morte de ninguém. Protesto piamente sobre estas perguntas que o promotor insiste em fazer.
O juiz encarou Emílio seriamente e olhou para o promotor.
— Reformule suas perguntas, promotor.
— Sim, meritíssimo. — Ian estava nervoso, vendo seu passado lhe cair na cabeça, não estava entendendo nada daquilo. Jayne estava começando a ficar em pânico, apertava os dedos e seu coração parecia que lhe ia saltar pela boca. — Por que se casaram aqui na Espanha e não nos Estados Unidos?
— Porque nós resolvemos fazer uma viagem, Enrique tem propriedades aqui e viemos com meus filhos a passeio. Estávamos noivos e ele deu a ideia de nos casarmos aqui, pois ele é espanhol e assim já teríamos nossa lua de mel, então eu aceitei e nos casamos.
— Hum, não teria sido para enganar a justiça lá? Afinal com o marido desaparecido, seria mais fácil encobrir uma bigamia. Pois como a senhora mesmo disse, viu seu marido antes de se casar.
— Não, não foi nada disso, ele estava morto, foi oficialmente dado como morto. Nunca me casaria sendo casada.
— Sra. Buller, responda, por favor. O que fez quando o Sr. Buller voltou para casa?
Jayne tentou respirar, fechou os olhos por um instante e continuou.
— Eu estava recém-casada com Enrique e... Nós dois tínhamos voltado para os Estados Unidos e Ian havia voltado para West Side, mas estava na casa de seu amigo, esperando que eu voltasse.
— E?
— Nos encontramos e conversamos.
— Só isso? Assim numa conversa amigável?
— Não, nós discutimos, ele queria que eu deixasse Enrique. Eu não queria magoá-lo, eu não sabia o que fazer, não sabia como dizer a Enrique que Ian estava vivo.
— Hum, e a senhora o deixou imediatamente? No mesmo dia que seu marido voltou deixou Enrique?
— Não, somente algum tempo depois.
— Então a senhora ficou com o Sr. Gonzáles sabendo que seu marido estava vivo? A senhora estava traindo os dois maridos ao mesmo tempo?
— Não, eu não estava traindo ninguém!
Jayne começou a chorar, não conseguiu mais segurar os soluços.
— Por que não deixou o senhor Gonzáles no mesmo dia?
— Eu já disse! Eu não sabia como fazer isso, eu não queria magoá-lo. Tentei falar, mas sempre algo acontecia ou não conseguia.
— A senhora o amava? — Jayne olhou para Enrique.
— Sim.
— E o deixou.
— Meu marido voltou. Ian é o amor da minha vida e eu não podia ficar casada com Enrique com ele vivo. Eu tinha que voltar para ele.
— A senhora dormiu com os dois homens neste período que supostamente e tão ingenuamente diz que não conseguia terminar o casamento?
— Protesto!
— Negado.
Emílio começou a ver que nada que ele dissesse ali estava valendo de alguma coisa, o juiz estava o ignorando completamente, havia algo errado ali e ele podia ver claramente.
— Responda, senhora.
— Não, eu não dormi com nenhum dos dois.
— A senhora tinha dois maridos e não cumpriu a obrigação de esposa com nenhum dos dois?
— Nunca fui obrigada a cumprir obrigação nenhuma. Eu decidi que não dormiria com nenhum dos dois enquanto eu não resolvesse aquele assunto. Eu sabia que se ficasse com Enrique estava traindo Ian e se eu ficasse com Ian trairia Enrique, então evitei os dois.
— E seus maridos aceitaram isso?
— Sim, eu fiz uma promessa a Ian, ele sabia, mas para Enrique eu tive que mentir, me esquivar...
— Acho que a senhora está mentindo, Sra. Gonzáles e creio também que seus filhos assistiam a essa pouca vergonha.
— Não! — gritou ela.
— Protesto! Isto é um absurdo, ele está negando o testemunho da minha cliente.
— Aceito, siga com outra pergunta.
— Pai, eu vou matar estes dois miseráveis — Enrique disse baixinho, cerrando a mão e se aproximando de seu pai.
— Eu lhe ajudo, filho — Emílio resmungou cerrando os dentes.
Ele continuou a bombardear Jayne com perguntas que a deixavam aterrorizada, colocou sua moral no chão, tudo que ela dizia para se defender ele entortava e virava contra ela. Ela já nem sabia o que responder, estava zonza e em completo terror.
— A senhora continua com seu marido, o senhor Buller, ou já está com outro marido?
— Como se atreve a falar assim comigo? — Ela levantou da cadeira perdendo o controle de sua agonia. — Que espécie de homem da lei é o senhor?
— Silêncio! — O juiz bateu o martelo fortemente. — Sente-se, Sra. Gonzáles, senão a acuso de desacato.
— Desacato? Este monstro me acusa de coisas horrendas, distorce minhas palavras, ofende minha moral e eu que desacato?
— Sente-se, eu já disse! Se eu mandar mais uma vez eu a prendo.
Ela, ofegante olhou para Enrique e Emilio que fizeram sinal para que ela se acalmasse, ela engoliu a seco e sentou-se, calada.
— Vou perguntar de novo, mais polidamente — disse irônico. — Com quem a senhora está no momento?
— Com meu marido, Ian Buller.
— E o seu marido está aqui neste recinto?
Jayne olhou para Ian que estava com os olhos fixos nela.
— Sim.
— Poderia nos mostrar quem é?
Jayne apontou para ele e todos o olharam e começaram a falar entre si e apontar para ele.
— Ora, ora, vejo que seu marido não se incomoda de a senhora ter se casado com outro homem e ainda carregar outro sobrenome depois de tanto tempo. Ou se incomoda?
Ian olhou para ele com um olhar feroz, queria matar aquele homem. Ele olhou para Ian com um sorriso irônico e Jayne olhava para Ian, seus olhos pediam socorro.
— Ele ficou muito nervoso na época, revoltado, e ainda fica quando se lembra de que ainda assino Gonzáles, mas todos nós sabemos que isso tudo foi uma fatalidade, um grande engano, todos nós fomos punidos severamente, todos nós sofremos com tudo isso.
— A senhora se arrepende de ter se casado com o Sr. Gonzáles? — Jayne o olhou rapidamente, ficou muda, não sabia o que responder, olhou para Enrique e para Ian e nada saiu da sua boca. — Por favor, responda.
— Eu... Arrependo-me de tê-lo feito sofrer daquela maneira.
— Não foi isso que eu perguntei, Sra. Gonzáles. Responda a pergunta.
— Sim, eu me arrependo. — Enrique fechou os olhos, sentiu uma dor no coração. — Mas... — Não porque eu tenha algo contra ele. Arrependo-me porque isso gerou muita tristeza. Ele alimentou um amor que só trouxe sofrimento. Nós passamos momentos bons juntos, ele era bom comigo e com meus filhos. Eu não posso negar que eu o amei, mas o que eu sentia por Ian sempre foi imenso e eu nunca consegui corresponder o amor que Enrique me dava. Ele é um homem maravilhoso, daria qualquer coisa para que ele não sofresse.
— A senhora ainda o ama?
— Amo meu marido.
— A senhora está se referindo ao Sr. Gonzáles?
— Não, me referi ao Sr. Buller! Santo Deus!
— Ah, pois bem, é que sabe... Eu fico confuso assim com tantos maridos.
Todos os ouvintes caíram na risada e Jayne queria sumir dali.
— Protesto! O promotor está zombando da minha cliente.
— Aceito.
— Então a senhora não ama o Sr. Gonzáles e sim ama o senhor Buller.
— Sim. O amo perdidamente. Quando ele caiu naquela cachoeira e foi dado como morto, eu pensei que morreria de tristeza.
— Mas se casou com outro homem, dois anos depois de sua morte. Se o amava tanto assim, por que não assumiu o luto?
— Eu fiquei de luto.
— Uma mulher descente leva o luto para o resto da vida, senhora.
— Não no Texas! — disse friamente praticamente vomitando as palavras.
— Sem mais perguntas.
— Recesso de uma hora — disse o juiz, bateu o martelo e Jayne foi levada a uma sala.
Capítulo 20
Jayne por um momento olhou ao redor da sala, andou até a janela e olhou para fora. Via várias pessoas falando, provavelmente dela, eram as pessoas que estavam assistindo.
Podia ver as escadarias da entrada e avistou Ian parado, sozinho perto da rua, parecia meio petrificado.
Jayne encostou-se à janela com as mãos, sentiu um nó na garganta e uma lágrima lhe rolou dos olhos. Tentou abrir a janela, mas ela não abria. Quase gritou de raiva.
Daria qualquer coisa para poder abraçá-lo naquele momento. Foi até uma mesinha que havia uma jarra de água, pegou um pouco e bebeu, fechou os olhos e tentou respirar.
Quando alguém abriu a porta ela se virou e avistou Enrique que entrou e a fechou. Jayne recomeçou a chorar, mas nem conseguia se mover do lugar. Enrique a olhava com uma dor no peito que o estava rasgando.
— Eu sinto muito, Jayne.
Ela, sem pensar correu e o abraçou fortemente, Enrique quase morreu de poder abraçá-la novamente.
— Calma, por favor, você tem que ficar calma, senão vai piorar as coisas.
— Por que estão fazendo isso?
— Não sei, querida, mas vou descobrir. Você tem que ser forte.
— Estou com medo.
— Eu sei, se eu pudesse a tirava daqui, mas eu não posso.
— Ricky... — Ela olhou para seu rosto que estampava tristeza. — Eu não me arrependi de ter me casado com você, eu amei você, eu tentei.
— Eu sei, Jayne, eu entendi o que você fez. Nosso casamento custou um preço muito alto para nós dois.
— Foi, não é? Você se arrepende?
— Não, apesar de tudo, não. Apesar das consequências, de todo sofrimento que isso gerou, foi bom ter você perto de mim enquanto pude.
— Para mim também.
— Agora não adianta mais lamentar, tudo está onde deveria. Você com Ian e eu com Catherine. Hoje tudo acaba e nós cortaremos nossos laços definitivamente, você deixará de ser minha esposa.
— Por que isso tudo foi acontecer?
— Não sei. Acho que meu destino nunca foi ficar ao seu lado.
Enrique secou as lágrimas de Jayne com o polegar.
— Se fosse nosso destino estar juntos, ainda seria minha mulher, porque teríamos nos casado em Londres, logo após eu ter destruído sua reputação.
Jayne ruborizou, desvencilhou suas mãos de seu rosto calmamente as segurando contra o peito as envolvendo com as suas mãos, onde ele pode sentir seu coração bater descompassado.
— Você já havia roubado algo pior... Meu coração. Mas amar você era como pisar em um chão de vidro.
— Verdade, e agora, nosso casamento foi feito ainda pisando em chão de vidro.
— Creio que sim, e que novamente se quebrou, mas lhe devo desculpas por ter tentado agora fazê-lo feliz e falhei.
— Ambos falhamos, querida Jayne. Portanto, eu creio que não devamos nos punir mais, pois o conserto disso tudo está iminente.
— O amor é um intrépido mistério aos mortais, meu caro. Nunca vamos entendê-lo ou dominá-lo, mas nós amadurecemos.
— Sim, creio que não há ninguém no mundo que o entenda realmente. — Enrique a olhava e por um momento se aproximou mais, mas ele subiu seus lábios e beijou demoradamente sua testa e a abraçou. — Jayne... Depois de hoje, eu não pretendo vê-la de novo; eu preciso esquecer você.
— Você ama Catherine?
— Sim. Não como eu amei você, mas ela é uma mulher maravilhosa, e eu estou muito feliz que vou ter um filho dela.
Jayne fechou os olhos e assentiu.
— Ricky...
— Filho, eu preciso falar com você — disse Emílio, que abriu a porta os interrompendo.
— Alguma coisa errada? — perguntou Jayne.
— Não se preocupe, somente trâmites.
— Eu posso ver Ian?
— Eu sinto muito, Jayne, ele não pode entrar aqui e você não pode sair. Descanse, ainda tem um tempo antes de recomeçar.
Os dois saíram da sala. Jayne sentou no sofá, fechou os olhos e tentou ficar calma e respirar.
— O que foi, pai? — perguntou Enrique.
— Filho, tem algo muito errado aqui. Este tribunal está agindo fora dos padrões. O juiz e o promotor estão fazendo as coisas a revelia, não acatam em nada as formalidades, induzem ao escracho e ele não adere as minhas alegações em nada.
— Eu vi, pai, isso é armação. Como podem estar fazendo isso assim tão abertamente? E por quê?
— Não sei, mas eu vou descobrir. Eu tentei falar com o juiz, mas ele negou-se em me receber, o que legalmente ele não poderia fazer. Disse que me receberia somente depois de seu depoimento.
— Tudo bem, o meu depoimento não deve ser pior que foi com a Jayne.
— Ela vai ter que se controlar. Isso do jeito que está, pode acabar mal.
— Eu sei. Pai, nós precisamos descobrir o que está por detrás disso. Isso tudo aqui está errado. Mês passado este mesmo juiz concedeu a anulação do casamento do conde Tomas Rodrigues, ele entrou com um pedido de anulação alegando que a mulher não era capaz de lhe dar um herdeiro, ela deu à luz a quinta filha mulher e nenhum varão, ele tem uma amante há anos e ele tem um filho bastardo com ela. Ele mandou a mulher e as filhas para viver numa fazenda no interior somente vivendo com o básico e casou-se com a amante na semana passada, que agora tem um filho legítimo.
— Aonde você quer chegar?
— Pai, a anulação do casamento dele levou um mês para sair.
Emílio respirou fundo para se acalmar, realmente tudo estava muito errado. Ian andava de um lado a outro, ele ficou nas escadarias da rua e tentava colocar ar em seus pulmões. Foi anunciado que o recesso havia acabado e que continuariam, todos voltaram aos seus lugares.
Jayne ficou olhando para Ian, daria tudo para poder abraçá-lo. Ian a olhava e somente mexendo os lábios disse que a amava. Ela beijou sua aliança e Ian fez o mesmo. O juiz entrou e deu início chamando Enrique a dar seu depoimento.
— Sr. Gonzáles, quando conheceu sua esposa?
— Há muitos anos quando estudamos na Inglaterra.
— Antes de ela se casar com o Sr. Dawson?
— Sim.
— Quando ela estava casada com o Sr. Dawson e vivendo no pecado com o Sr. Buller, o senhor a encontrou neste período?
— Sim.
— E tiveram um caso?
— Claro que não — respondeu fortemente e o promotor deu um sorriso irônico para Enrique.
— Mas quando o senhor soube da morte do Sr. Buller, correu para reaver o amor de sua vida.
— Não foi exatamente assim, os acontecimentos nos levaram a nos casar.
— Mas ela não negou em se casar com o senhor mesmo estando de luto.
— Quando nos casamos, ela não estava mais de luto. Já haviam se passado dois anos. Uma mulher pode se casar depois de um ano de luto.
— O que o senhor fez quando descobriu que o Sr. Buller estava vivo?
— Fiquei revoltado, não conseguia aceitar isso. Ela teve que escolher.
— E escolheu ficar com ele.
— Sim.
— E o senhor aceitou calmamente ceder sua esposa à outro homem?
— Não era simplesmente outro homem, era o marido dela, e ela nunca o esqueceu. Pensávamos que ele estava morto, ela somente quis recomeçar.
— O fato de o senhor ser um homem rico não influenciou em nada? Ela pode ter se casado com o senhor para ter segurança financeira, afinal uma viúva com dois filhos para criar.
Enrique sentiu um ódio entalar na garganta.
— Jayne tem um bom patrimônio, não precisava disso.
— Claro — disse irônico. — O senhor ainda a ama? — Enrique olhou para ela e não respondeu. — Não vai responder, Sr. Gonzáles?
— Como não amá-la? É a mulher mais incrível que eu já conheci em toda minha vida, mas o lugar dela é com Ian Buller, é assim que tem que ser.
Enrique não havia visto, mas Catherine estava no fundo da sala e quando ouviu isso fechou os olhos sentindo seu coração destroçar.
— Que louvável.
— Protesto, meritíssimo! Este comentário é inapropriado.
— Aceito, continue.
— Sr. Gonzáles, é verdade que o senhor mora com uma mulher?
— Sim, é verdade.
— E esta mulher está grávida?
— Está.
— E claro, devo perguntar, o filho é seu?
— É claro que o filho é meu! — disse rangendo os dentes.
— Qual o nome dela? — Enrique fechou os olhos e respondeu.
— Catherine Brannan.
— O senhor ainda é casado e mora com outra mulher que está grávida.
— Vou me casar com ela assim que esta anulação sair, ainda não me casei porque vocês insistem neste circo! — disse ele furioso.
— Sr. Gonzáles, será acusado de desacato se continuar com a agressão nesta corte — disse o juiz e Enrique suspirou.
— Sr. Gonzáles, quando o Sr. Dawson foi morto, o senhor era xerife?
— Sim.
— Quem o matou? — Enrique engoliu a seco.
— Bandidos.
— Estranho, porque foi exatamente no período que a senhora teve um filho do senhor Buller.
— Eles estavam separados, eu atestei o caso, e ele foi encerrado.
— Ninguém foi acusado pela sua morte?
— Senhor, se me permite lhe dizer, o oeste dos Estados Unidos é assim, bandidos por todos os lados, a justiça na maioria das vezes é olho por olho e dente por dente, alguns casos vão à corte outros não, pessoas são baleadas, casas são queimadas, ladrões roubam cavalos e gado. A lei tenta fazer de tudo para proteger, mas muitas vezes não dá para evitar as mortes, e fica o dito pelo não dito. Esta mulher foi baleada por bandidos há pouco tempo e quase morreu, ela nem deveria ter vindo e passar por isso.
— Entendo. Senhores, o que vemos aqui é que esta mulher e este homem que agora vive aqui em Madri, mas na época morava nos Estados Unidos, vivem em um mundo de selvageria, de falta de regras, de imoralidade, sem nenhum respeito a Deus e seus mandamentos. São um péssimo exemplo à nossa sociedade, eles são uma vergonha aos bons costumes. São de caráter duvidoso e receio até em dizer que esta mulher nem teria condições morais de criar seus filhos. O que a justiça americana deveria fazer era julgar esta mulher como adúltera e ser presa e seus filhos delegados a uma família decente.
— Protesto! — gritou Emílio, levantando da cadeira.
— O quê? — Jayne se levantou num rompante e gritando.
— Sente-se, Sra. Gonzáles, senão eu mando se retirar.
Jayne tentou engolir as palavras, mas perdeu o controle.
— Vocês não sabem nada da minha vida, não podem me dizer que não sou boa mãe, que não sei cuidar dos meus filhos.
— Jayne, pare com isso — disse Enrique e formou-se uma balbúrdia dentro do tribunal e o juiz batia o martelo diversas vezes.
— Vocês não podem fazer isso, ninguém vai tirar meus filhos de mim e ninguém aqui tem alguma moral para me julgar.
— Jayne, se acalme — disse Emílio a pegando pelo braço.
— Silêncio! — gritou o juiz.
— Não fizemos nada de errado e meus filhos são criados dentro das leis de Deus. Não podem dizer isso de mim.
— Eu já disse para senhora se calar. Guardas, levem-na daqui.
— Não! — gritou Enrique.
— Solte-me, eu sou americana, vocês não podem fazer isso! — gritou tentando se esquivar dos guardas, mas a arrastavam para fora.
Ian vendo aquilo saltou da cadeira e gritou, tentou chegar até eles, mas foi segurado por guardas.
— Soltem minha mulher, vocês não podem fazer isso! — gritou Ian.
— Ricky, por favor! — ela gritava enquanto era arrastada; ele tentou impedir, mas foi segurado e forçado a se sentar e Jayne foi levada, por mais que tentasse se desvencilhar e gritar.
— Sr. Gonzáles, se não ficar sentado e quieto eu mando vocês dois para a prisão, imediatamente! — gritou o juiz.
Enrique, com o ódio lhe queimando, tentou se acalmar e puxou os braços para se livrar dos guardas. Emilio segurou Ian que tentou chegar até Jayne.
— Sr. Buller, o senhor não faz parte desta corte, se abrir a boca mais uma vez, não pensarei duas vezes em jogá-lo numa cela também — gritou o juiz.
— Ian, se acalme, volte para o seu lugar, por favor — disse Emilio o olhando seriamente.
Ian desvencilhou-se das mãos dos guardas e gritou para o juiz.
— Deixe-me falar, eu quero falar nesta corte — Emílio o olhou.
— Sr. Buller, o senhor não pode se pronunciar — disse o juiz.
— Meritíssimo, o senhor Buller é o marido legítimo, por favor, aceite o depoimento dele, eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas.
— Sr. Gonzáles, eu pensei que tivesse entendido as condições desta corte.
— Eu sei, meritíssimo, mas eu peço que abra uma exceção, este homem faz parte deste caso, ele não é uma testemunha, como marido tem o direito de falar, afinal se estão alegando que esta senhora é uma mulher imoral, nada melhor que o marido para atestar isso.
O juiz pensou um pouco, não estava se importando, mas aceitou.
— Tudo bem, Sr. Buller, vou aceitar que dê seu depoimento.
Ian respirou fundo, entrou no cercado e sentou na cadeira. Emílio foi à sua frente, respirou fundo e iniciou as perguntas.
— O senhor entende e fala espanhol ou precisa de um intérprete?
— Sim, eu entendo e falo, não fluente, mas consigo.
— Pode dizer seu nome completo?
— Ian Buller.
— Onde o senhor mora e com quem?
— Moro em West Side no Texas, Estados Unidos, com minha esposa e meus dois filhos.
— Sr. Buller, há quanto tempo é casado?
— Uns oito anos.
— O senhor se referiu a dois filhos, mas sua filha não é legítima, correto?
— Não, mas eu a criei e a trato como minha filha.
— A sua esposa, atestou que seu falecido marido havia sumido na época, a roubado e levado sua filha, é verdade?
— Sim, senhor, ele ficou desaparecido por cinco anos.
— Pode me dizer o que sabe sobre sua morte?
Ian sentiu um frio na espinha, sabia que teria que cuidar nas palavras.
— Bom, a fazenda dele foi atacada e ele foi baleado. É só o que sei.
— A senhora Gonzáles teve alguma coisa com isso?
— Não, senhor.
— Em algum momento ela agiu de má fé com o marido, cometeu irregularidades ou agiu de maneira promíscua?
— Não, nunca.
— O senhor ficou desaparecido por dois anos. Pode relatar o que houve?
— Eu fui baleado num assalto de trem, cai numa cachoeira e fiquei com amnésia, fui levado para Portland, onde vivi por dois anos sem me lembrar, nem de meu nome, de onde era, que tinha uma família, nada, mas com o tempo fui me lembrando de tudo.
— A Sra. Gonzáles disse que o viu em Portland, mas disse ter se enganado e por decorrência disso se casou. Isso é verdade?
— Sim, nos encontramos na rua, de longe eu a vi, mas não a reconheci. Ignorei-a completamente. Minha memória somente voltou depois disso.
— Então ela achou que não era o senhor?
— Sim, ela achou que havia visto alguém parecido, então ela se casou, acreditando que eu realmente estava morto.
— O que o senhor fez quando voltou para casa e encontrou-a casada?
— Eu a procurei e disse que a queria de volta. Ela era a minha mulher e eu queria ficar com minha família.
— Ela aceitou?
— Sim. O casamento dela com Enrique tem que ser anulado.
— Depois que ela soube que o senhor estava vivo, ela cumpriu as suas obrigações de esposa?
— Não, somente depois que se separou de Enrique.
— O que está me dizendo, é que o senhor não exigiu suas obrigações ou que ela se recusou a fazê-lo?
— Os dois. Na verdade ela se negou. Ela disse que não trairia nenhum dos dois, queria agir corretamente e eu confiei nela e aceitei sua condição.
— Ela é uma boa mãe?
— Sim, é uma mãe maravilhosa, ela morreria pelos filhos, cuida deles como ninguém mais o faria. Ela é uma mãe e esposa muito dedicada.
— Então ela é vítima disso tudo?
— Sim, todos nós fomos pegos numa armadilha do destino, todos nós sofremos. Acredito que para ela foi mais difícil, mas ela demonstrou sua moral no mais alto grau, quando se negou a se deitar comigo e que não o faria com ele porque não era uma mulher promíscua. Afastou-se de Enrique e nós voltamos a ter nossa família novamente. A única coisa que nos prende ainda a este passado que tanto queremos deixar para trás é que ela continua casada com ele e leva seu nome. O que eu não posso mais admitir. O lugar de Jayne é ao meu lado. Acredito que a índole de Enrique não deve ser questionada aqui e, muito menos, de minha mulher. Eu quero voltar com minha esposa para casa somente carregando meu nome, para continuar a criar nossos filhos com valores e honra. Eu acredito que Enrique o queira para poder se casar com sua noiva e poder ter sua família. Ninguém, melhor do que eu para atestar a honestidade de minha mulher e, eu, como marido, tenho todo o poder de julgá-la imoral ou não, e eu afirmo que ela é uma vítima, pois se eu atestasse diferente, eu mesmo a denunciaria para proteger minha honra. Sou um homem simples, jamais permitiria que uma mulher manchasse minha honra e, no Texas, temos nossa maneira de defendê-la. Portanto, ninguém deve julgar as atitudes de minha mulher. Quem cuida dela sou eu. Eu confio nela e a amo.
Todos estavam mudos e ouviam o que Ian dizia. Enrique o olhava admirado, pois nunca imaginou que ele o defenderia.
Aos poucos Enrique entendia que Jayne e Ian jamais poderiam ficar separados, eram um do outro e aquilo jamais poderia ser contestado ou mudado.
— Sem mais perguntas meritíssimo.
— Promotor, gostaria de fazer alguma pergunta? — perguntou o juiz.
O promotor olhava para Ian e tinha um leve sorriso no rosto que Enrique prestou atenção, sabia que ele estava se divertindo.
— Não, meritíssimo, eu não quero fazer nenhuma pergunta.
Quando os ânimos se acalmaram, Emílio fez o pronunciamento em defesa deles, tentou de forma esplendorosa colocar a história em pratos limpos e desfazer tudo que o promotor havia dito.
Muitos que até ali haviam gritado palavras rudes para Jayne ficaram pensativos e vendo as coisas de outra maneira.
Outros ainda achavam que aquilo tudo era deveras divertido e outros achavam que ela deveria ser presa. Mas com o depoimento de Ian, era quase impossível julgar Jayne de alguma coisa de errado. Se o marido a defende, quem contestaria.
— Faremos um recesso de vinte minutos e voltarei com o veredicto.
Enrique foi levado a uma sala, não conseguiu ver Jayne que foi trancada numa outra sala. Juan, o promotor, entrou na sala onde estava Enrique com um sorriso irônico nos lábios.
— O que está tentando fazer? — perguntou Enrique. — Onde está Jayne?
— Não se preocupe, ela está em outra sala, está bem.
— Bem? Como pode dizer que ela está bem depois disso?
— Esta história é muito interessante, o que acha que estou tentando fazer, Enrique?
— Você foi longe demais, está querendo me atingir, mas está destroçando aquela mulher, pare com isso.
— Aqui você não pode me mandar parar, não está em condições.
— Como sabe tantas coisas sobre nós?
— Tive o doce trabalho de investigar. Levou algum tempo, por isso, nós demoramos em trazê-los aqui, mas foi muito divertido. A história de vocês é impressionante, daria um livro.
— Esta anulação vai sair de qualquer jeito, por que está forçando uma situação humilhante dessas.
— Porque estou me divertindo.
— Eu vou acabar com você.
— Não me ameace, senão mando prender você, pois aqui eu sou o promotor e você é um réu.
— Não sou burro, Juan, vou pegar você de outra maneira. Você e o juiz estão mancomunados nisso. Mas se pensa que eu ficarei parado vendo você se meter assim nas nossas vidas e se safar, está enganado.
— Já avisei, Enrique, mais uma palavra e eu o prendo e vou pedir para que o juiz peça ao magistrado dos Estados Unidos para abrir um julgamento contra a Sra. Buller, para julgá-la como adúltera, bígama e ainda pelo assassinato do marido, ela vai para a prisão com certeza, tenho certeza que foi ou você ou senhor Buller que o matou, e ela é cúmplice. Vocês irão para a cadeia também, isso se não irem os três para a forca.
Enrique quis pular no pescoço dele e matá-lo ali mesmo, mas segurou-se rangendo os dentes e tentou se acalmar.
— Sabe, Enrique, isso é pouco por você ter me feito perder Rosalie.
Capítulo 21
Enrique enrugou o cenho e pensou que vomitaria.
— Seu desgraçado, isso é uma vingança?
— Claro que é. Ou pensa que me esqueci que por sua causa Rosalie declinou meu pedido de casamento.
— Fiz um favor a ela evitando que se casasse com um voyeur como você.
— Eu a amava, seu filho da mãe!
— Amava? Desde quando amar uma doce menina como ela implica em deitar-se com toda Espanha e meter-se com as orgias que se metia? Eu lhe adverti que se não parece com aquelas obscenidades, não permitiria que minha prima casasse com você.
— Olha quem fala, o bom divã que arruinou a reputação da Srta. Cullen em Londres. Pensa que não sei das coisas, seu imbecil? Não tinha moral de me julgar.
— Eu nunca fui um voyeur e nem um depravado como você.
— Sim, somente era o filhinho do papai que esbanjava dinheiro e roubava o coração de todas as donzelas.
— Se tivesse parado com aquilo, não teria me interponho entre vocês.
— Um homem pode fazer o que quiser. Desde quando um homem é fiel a sua esposa? Agora engula o que me fez. Diverti-me muito de ver Jayne lhe chutar o traseiro e usá-la para atingir você, deu um toque especial.
— Vai pagar por isso. Sei muitos podres a seu respeito que se viesse a público você seria exilado da Espanha.
— Pena que ficará quietinho, pois tenho certeza que não colocará sua amada Jayne na frente de uma pistola novamente. E tenho a proteção de Estevez. Em breve ele será chefe do conselho e eu serei juiz. Volte para o Texas e continua caçando assassinos no lombo de um cavalo. Mas espere, seria doloroso conviver com sua ex-esposa na cama de outro homem, não é? Quem sabe vocês chegam a um acordo e fazem um ménage.
Juan saiu da sala rindo. Enrique rangeu os dentes com tanta força que pensou que fosse trincá-los e esmurrou com toda força a parede. Saiu da sala e encontrou-se com seu pai e contou a ele o que Juan dissera.
— Miserável! Meu Deus Enrique, isso saiu completamente do controle.
— Pai, tem que haver um jeito de acabar com isso.
— Calma, se ele fizer isso lá nos Estados Unidos, eu anulo isso em dois tempos, ela nem vai chegar a ser acusada de nada, fique tranquilo.
— Eu sei, mas só o fato de levantar a hipótese, será um desastre.
— Eu sei, filho, eu sei. Eu vou falar com ele e se acalme.
— Está difícil, esse miserável deveria perder a cabeça. Eu vou chamá-lo a um duelo. Arrancarei o coração de Juan.
— Nada de duelos. Isso está extinto aqui e não estamos no Texas. Tomaremos nossa honra de outra maneira, confie em mim.
Emílio saiu da sala onde estava Enrique e encontrou o juiz que era seu amigo e qual ele havia pedido ajuda.
— Emílio, desculpe-me não ter chegado antes, mas peguei uma parte da corte.
— Julio, eu preciso da sua ajuda, vou falar com o juiz agora, isto está um caos. Ele disse que daria o veredicto, mas tenho receio que apronte mais alguma coisa contra meu filho e Jayne.
— Tudo bem, vá lá e fale com ele. Tente ver porque ele está fazendo isso, eu vou tomar minhas providências, isso é um absurdo, não posso permitir este tipo de comportamento no nosso magistrado.
— O promotor também está junto nisso, está atingindo Enrique por uma rivalidade pessoal.
— Hum, nunca gostei daquele rapaz, vá, você não tem muito tempo.
Emílio foi à sala do juiz e finalmente ele o recebeu.
— O que faz aqui, Emílio? Veio pedir, por favor, para eu liberar seu filho e aquela bela senhora bígama? — disse com um sorriso malicioso.
— O que você acha que está fazendo?
— Não me trate por você e sim de meritíssimo, aqui você é um mero advogado, já que se colocou nesta situação.
— Por que está fazendo isso, meritíssimo? — ele perguntou ironicamente.
— Porque eu não tolero sua arrogância e ver seu filho se desmanchando por aquela mulher é bem revigorante. Confesso que o depoimento do Sr. Buller foi bem interessante, fiquei até comovido.
— Há mais do que isso, desembuche logo.
— Sim há. Eu soube que mandou um pedido ao magistrado para voltar a Madri e atuar como juiz.
— Sim, eu pedi. O que tem isso?
— Acontece que eu não quero você aqui atrapalhando meu caminho.
— Onde está querendo chegar?
— Vamos fazer um trato. Você pode até voltar a Madri, mas vai renunciar seu cargo de juiz, ou, fica nos Estados Unidos e continua juiz por lá. Se você fizer isso eu libero a senhora Buller logo e fica o dito pelo não dito, caso contrário eu mando acusá-la de adultério, bigamia e assassinato do marido. Assim como o senhor Buller e seu filho, simples assim.
Emílio parou de respirar por uns instantes.
— Seu maldito.
Estevez soltou uma bela gargalhada.
— Então, vai aceitar meu trato ou não?
— Isso é chantagem.
— Claro que é, mas é assim que vai ser.
— Sabe que nunca deixarei eles serem acusados de nada lá, eles são inocentes destas acusações que você está fazendo e aquele promotorzinho de meia pataca. Eles vão cair nas minhas redes, e isso vai dar em nada.
— Sei que vai dar em nada, ainda mais porque o juiz de West Side é seu amigo, mas eles passarão maus bocados, pois se eu jogar isso na imprensa mesmo que eles não sejam julgados, seu filho perderá a credibilidade, ele nunca mais conseguirá um caso nem para defender um rato e a reputação de Jayne Buller estará mais suja que merda de cavalo.
— Seu maldito miserável. Você não merece a cadeira que está sentado.
— Bem, estes são os termos, ou você faz o trato comigo, ou sigo adiante torturando a Sra. Buller, se concordar, eu termino tudo aqui e lhe entrego esta anulação e todo este assunto fica encerrado — disse levantando um papel que estava encima da mesa. — Esta anulação já está assinada a mais de cinco meses, Emilio, seu filho não está mais casado com a Sra. Buller a mais de cinco meses.
— Você fez tudo isso somente para punir meu filho por minha causa?
— Sim, fiz isso para lhe mostrar do que sou capaz e tenha certeza que posso fazer pior. Há uma vaga para o conselho e será minha, portanto quero você fora do meu caminho.
— O magistrado vai puni-lo por usar a corte para seus desmandos.
— Ninguém vai saber, pois eu tomei cuidado de que todos estivessem fora, portanto somente saberão se você contar e se fizer isso, eu acabo com seu filho. Ou você pensa que sou idiota? Fui cuidadoso em ocultar todos os pedidos de Enrique para impedir a corte, e esperar esta data para que isso não chegasse ao ouvido deles. E como promotor como meu aliado ficou tudo mais fácil. Então o que vai ser? Aceita o trato ou não?
O sangue de Emílio ferveu nas veias, se tivesse uma arma teria dado um tiro bem no meio dos olhos daquele homem. Tentava raciocinar rápido pensando numa saída, mas não encontrava nenhuma naquele momento.
— Eu aceito.
— Que fraco que você é, achei que era mais inteligente que isso, mas como eu disse, o trato está feito, agora volte lá que vou mandar os pobres coitados para casa.
— Onde está Jayne? Por que a deixou trancada?
— Adoro dar corretivos em mulheres e baixar o topete delas. Mulheres deveriam ser mudas, não acredito que o marido a defenda daquela maneira, ela deve ser boa mesmo. Depois de ver dois homens se derretendo por ela, eu até gostaria de provar da Sra. Gonzáles. Ah! Sra. Buller.
— Você é um porco. Se encostarem um dedo nela eu acabo com você.
Ele soltou uma gargalhada e recostou-se na cadeira.
— Não se preocupe, não fiz nada com aquela mulher belíssima.
— Vou fazer o que quer, mas deixe meu filho e Jayne irem embora em paz e esqueça essas acusações.
— Trato é trato.
Emílio levantou e tentou conter-se para não pular no pescoço dele, saiu da sala e encontrou-se com Julio Velasquez, o chefe do conselho.
— Ai meu Deus, estou prestes a ter um ataque de coração, que bom que está aqui Julio.
— Fique tranquilo, eu ouvi sua conversa com ele e claro, tive testemunhas. Vá para a corte e deixe-o seguir, ele vai encerrar, pois já conseguiu o que queria. Vou mandar investigá-lo e preparar um dossiê. Com certeza nós o pegaremos. Ele deve estar cometendo diversas irregularidades há tempos.
— Obrigado, Julio. Mas como está aqui, recebeu minha nota?
— Sim, no começo fiquei furioso. Este é o único período do ano onde o magistrado se afasta conjuntamente à minha casa de campo para as caçadas e odeio ser interrompido, mas entendi que havia algo errado e resolvi voltar e averiguar o que acontecia. Foi muito abuso degradar minha corte.
— Graças a Deus! Já havia perdido as esperanças que alguém me ajudasse. Henrique vem pedido ajuda há meses.
— Sinto muito, não recebi nada.
— Entendo.
— Seu pedido para vir para cá foi aceito, Emílio, agora mais do que nunca. — Emílio deu um sorriso de satisfação. — E tenha certeza que a vaga para o conselho também estará a sua disposição, haverá uma eleição e se você quiser tenho certeza que o magistrado vai aceitá-lo. Definitivamente este infame está fora da eleição, não permitirei esses desmandos aqui.
— Isso seria uma honra.
— Faça de conta que não sabemos de nada, tudo seguirá como Estevez planejou, até termos o que precisamos.
— Fico lhe devendo uma, Julio.
— Agora vá, e evitem mais alguma confusão por lá. E te prepare que está convocado para retornar comigo para as caçadas, ainda tenho tempo, quem sabe ainda consigamos abater algumas lebres e perdizes, você vai adorar meus novos cães perdigueiros.
— Tenho certeza que sim.
Emílio entrou na sala onde estava Enrique, ele estava nervoso e andava de um lado a outro, mal conseguia respirar.
— Pai, falou com ele?
— Sim, ele vai dar o veredicto, vai acabar tudo bem, filho, fique tranquilo. Ai meu Deus que vontade de matar este homem — disse ele furioso.
— E aquele assunto?
— Está resolvido, ele não fará nada.
— O que o senhor fez?
— Depois saberá. Vamos voltar, está na hora, depois falamos.
Todos seguiram para a sala. Jayne estava tão aterrorizada que pensava que ia desmaiar. Foi trazida de volta conduzida por um guarda pelo braço que a fez sentar grosseiramente. Ian quando viu Jayne, quase levantou da cadeira pelo olhar de terror que ela tinha nos olhos.
— Calma, Jayne, daqui a pouco nós estaremos fora daqui, vai dar tudo certo — disse Enrique, pegando na sua mão.
O juiz voltou com uma cara de serenidade e sentou-se, o promotor sentou-se ao seu lado e olhava maliciosamente para Enrique.
— Analisei todo o caso e cheguei à conclusão que a Sra. Buller não agiu de má fé em relação ao casamento com o Sr. Gonzáles, e deve retomar seu casamento com o Sr. Buller. Portanto concedo a anulação e a permissão para que a partir de hoje em diante ela não use mais o nome Gonzáles e esteja liberada do compromisso de matrimônio. Todos os bens que o Sr. Gonzáles adquiriu com o casamento voltarão para as mãos do Sr. Buller. E como penalidade desta corte, a Sra. Buller terá um prazo de 24 horas para sair de Madri e logo da Espanha, e não mais terá permissão para entrar neste país novamente. O Sr. Gonzáles deverá me comprovar que a senhora deixou o país no prazo determinado. Caso encerrado.
Houve uma balbúrdia na sala e Jayne deixou que as lágrimas lhe corressem dos olhos e abraçou Enrique, mesmo sem entender como tinha acabado assim de uma hora para outra, na verdade não entendia nem como havia começado aquela bagunça.
— Acabou, Jayne — disse Enrique a olhando com tristeza.
— Sinto muito, Ricky.
— Eu sei, querida, eu sei. — Os dois se abraçaram novamente e ela não conseguia parar de chorar. — Vá para casa, tudo acabou e você vai ficar bem.
— Eles não vão fazer nada contra mim? Não vão tirar meus filhos?
— Não, não se preocupe. Eles estavam blefando, não haverá acusação nenhuma, fique tranquila.
— Tem certeza?
— Jayne, eles não farão nada, eu lhe dou minha palavra — disse Emílio.
Jayne o olhou e tentou sorrir e o abraçou.
— Obrigada.
— Pode ir em paz, mas sinto muito que não poderá mais entrar aqui.
— Isso não importa, só quero minha família. Mas posso ir para os outros países livremente?
— Sim, somente não poderá mais entrar na Espanha. Se for pega aqui vai ser presa, pelo menos por enquanto, mas darei um jeito nisso mais tarde.
— Está bem.
— Se não tiver um navio que vai para os Estados Unidos amanhã, terá que ir para outro país para poder ir embora. Vamos ficar atentos a isso, senão poderemos ter problemas — disse Enrique.
— Pode deixar, Enrique, cuidarei disso, não vou dar motivos para que me peguem novamente. E eu vou para Londres, meus filhos estão lá.
— Adeus, Jayne — disse Enrique, com uma tristeza no olhar.
— Adeus. Acho que não nos veremos mais.
— Creio que não.
Ela o olhou profundamente, respirou fundo e deu as costas para ele, saiu do cercado e praticamente pulou no pescoço de Ian o abraçando fortemente e recomeçou a chorar.
— Ian...
— Acabou meu amor, acabou. Vamos embora daqui.
Enrique os olhava e mal conseguia respirar, tamanha era sua dor.
— Vamos filho — disse Emílio, colocando a mão em seu ombro.
Enrique ficou olhando Jayne e Ian saírem abraçados da sala vendo que perdera Jayne de vez. Talvez em algum lugar no seu coração ele ainda pensasse ao contrário, mas agora era hora de virar aquela página. Catherine viu que tudo havia acabado e saiu sem que Enrique a visse.
— Vamos embora, Enrique — disse Emílio. — Preciso sair daqui antes que eu faça uma loucura.
Jayne e Ian foram para o hotel. Quando Jayne entrou no quarto, olhou para Ian e desatou num choro aos soluços.
— Calma, querida, acabou. Por favor, não fique assim. Deite-se aqui.
Ele a colocou na cama e deitou ao seu lado a abraçando forte e tentando fazê-la se acalmar, mas ela não conseguia parar de chorar.
As camareiras vieram e arrumaram água na banheira e Jayne entrou. Ian sentou no chão do lado da banheira e escorou-se nela, olhando-a, ainda com um olhar temeroso por ela.
— Você está bem? — ele perguntou carinhosamente.
— Sim, já passou. Só precisava chorar para jogar para fora tudo isso que estava sentindo. Vou ficar bem.
— Nunca vi uma coisa destas, acho que estes espanhóis são loucos.
— Eu achei que seria ruim, mas isso foi além das minhas forças.
— Mas acabou e agora nós vamos voltar à nossa vida. Amanhã voltamos à Londres, pegaremos as crianças e vamos para casa, está bem? Ou podemos ficar alguns dias com a Julia. O que acha?
— Sim, seria bom.
— Vou pedir o jantar no quarto, não pretendo ver ninguém, tudo bem?
Jayne somente assentiu com a cabeça que sim. Ian saiu e foi pedir o jantar e Jayne ficou ali, chorou mais um pouco, lavou o rosto, respirou fundo tentando encerrar aquilo tudo na sua cabeça e no seu coração. Saiu da água, secou-se e colocou um robe, ia vestir-se.
— Não precisa se vestir para o jantar.
— Vou jantar na mesa assim? — disse o olhando, espantada.
— Querida, estamos a sós aqui, não precisa de nenhuma formalidade — disse ele, pegando o vestido de sua mão e o jogando sobre a poltrona.
Os camareiros trouxeram o jantar e arrumaram na mesa.
— Podem deixar que nos servimos, por favor, podem sair.
— Sim, senhor.
Ian serviu vinho nas taças e tentaram comer alguma coisa, mas os dois nem conseguiam engolir direito a comida, beberam aquele vinho como se quisessem ficar amortecidos.
— Você faria uma coisa por mim? — disse Jayne.
— O que quiser.
— Você leria para mim? Sua voz me acalma — Ian sorriu.
— Claro.
Ele pegou um livro que estava na bagagem, era um livro de poesias que Jayne estava lendo. Eles foram até a cama e ela deitou em seu peito e ele começou a ler lindamente as poesias para ela. Jayne ficou ouvindo e parecia que ouvia um anjo recitar poemas.
— “Para mim o teu amor é melhor que o nascimento nobre. Mais precioso que a riqueza e mais orgulhoso que o custo das roupas. De mais encanto que os falcões e cavalos. E a ti lendo, de todo orgulho que o homem é capaz, eu me vanglorio” — Este homem devia estar apaixonado. - disse sorrindo.
— Um poeta é sempre apaixonado.
— Não conte aos rapazes que eu estou lendo poesias — disse rindo.
— Mas todos os homens da Europa leem poesias.
— Eu sou do Texas.
— Eu sei, meu caubói valente — disse rindo.
— É, eu devia fazer aquele promotor engolir um livro destes para ver se ele virava gente. Meu Deus, que ser desprezível. Eles não maltrataram você enquanto esteve presa lá, não é?
— Não, somente fiquei trancada numa sala. O que houve lá?
— Eu dei um depoimento.
— Verdade? Mas Enrique disse que não haveria.
— Sim, mas o Sr. Gonzáles convenceu o juiz a me ouvir, afinal sou seu marido.
— E o que disse?
— Defendi você, disse o que aconteceu. Acho que ajudou. Apesar de que acho que tinha algo entranho nisso tudo.
— Também achou?
— Sim.
— Eu não entendo de leis, Ian, mas achei aquele promotor tão estranho. Parecia que ele estava jogando, queria fazer de tudo para me colocar na lama, tudo era forçado, fugia totalmente do propósito desta audiência.
— Eu vi, querida, e se Enrique que entende disso estava perdendo o controle, é porque estava errado mesmo.
— Eu quero esquecer este pesadelo, meu amor, não vamos mais falar nisso, por favor?
— Desculpe.
— Volte a ler, marido.
— Sim, minha esposa, agora só minha e de mais ninguém — disse sorrindo e lhe dando um beijo carinhoso nos lábios.
Ian entrou no mundo de Jayne, e continuou a ler até que ela adormeceu. Quando Ian viu que ela dormira, colocou o livro no criado-mudo e puxou as cobertas, ele a olhou por alguns instantes e acariciava suavemente seu rosto. Tudo tinha acabado. Aquele pesadelo ficaria para trás, mais um deles, e recomeçariam suas vidas juntos... Novamente.
— Se algo tivesse dado errado eu teria matado alguém, Jayne, e te levaria de volta para casa. Não importa nada, você é minha princesa e sempre será, pois você é a única mulher neste mundo que receberá meu amor — disse sussurrando enquanto acariciava sua bochecha, ele a puxou mais perto dele e dormiram abraçados.
Quando amanheceu, Jayne acordou e com seu movimento acordou Ian.
— Como você está? — ele perguntou enquanto se espreguiçava.
— Eu estou bem, vamos à estação, quero sair daqui o quanto antes.
Capítulo 22
Eles aprontaram-se, tomaram café e estavam com as malas prontas.
— Vai usar seu chapéu o tempo todo aqui?
— Claro! Você pôde me convencer a usar estas roupas de engomadinhos europeus, mas meu chapéu é sagrado, não sai da minha cabeça.
— Sei, quase tive que tirar seu velho chapéu com uma pá de sua cabeça.
— É meu chapéu de estimação, meu amor.
— Tem um buraco de bala.
— Eu sei, mas é estimação, e me dá sorte. Mas este novo que me deu é muito bonito. Fico mais bonito que sou.
Jayne riu e o beijou.
— Você é bonito sempre.
— Jonh Stetson realmente sabe fazer chapéus de caubóis, somos exclusivos no mundo. Todos aqui me olham como se eu fosse de outro mundo.
— O olham porque é lindo e o homem mais formoso que existe.
— Sim, mas eles me olham como se eu fosse uma aberração. Pensei que esta roupa era elegante, pelo preço que paguei deveriam beijar meus pés, pois um real príncipe deve usar essa coisa.
Jayne riu e o beijou.
— Meu amor, eles o olham não porque é uma aberração, você está muito elegante e bonito, te olham porque não se veem este tipo de chapéu aqui, e as mulheres olham porque é o homem mais lindo que anda na rua. Estão com inveja e estou feliz de ser eu que esteja enganchada em seu braço.
— Hum. Bem, se é por isso então está bem, mas meu chapéu não sai de minha cabeça, posso usar estes trajes engomados e sufocantes, mas Ian Buller não é nada sem seus apetrechos, tire meu chapéu, cinturão e minhas esporas e me sinto um homem sem essência. Sou um texano e jamais mudarei isso, somos... Inseparáveis.
— Esqueceu-se de mim.
— Claro. Você também — disse rindo e lhe dando um tapa no bumbum e a beijando quando bateram na porta.
— Senhor, o Sr. Emílio Gonzáles veio para levá-los à estação.
— Obrigado, por favor, pode levar nossa bagagem?
— Claro, senhor.
— Bom dia — disse Emílio com um leve sorriso.
— Bom dia, senhor.
— Enrique disse que iam à Londres, mas terão que pegar um trem até Bordeaux na França, não há trem que vá para Portugal hoje e nem para Gión para poderem pegar um navio para Londres. Podem pegar um navio na França para Londres. Chegando lá, podem seguir para outro lugar.
— Obrigado, não temos pressa para voltar.
— Vou levá-los à estação. Pelo que vi um trem para Bordeaux saindo daqui à uma hora. Sua bagagem está pronta?
— Sim, podemos sair agora mesmo.
Chegando à estação despediram-se, Jayne chegou mais perto de Emílio enquanto Ian despachava as bagagens.
— Como ele está?
— Nada bem. Mas vai ficar, siga em frente e não olhe para trás, fique tranquila que daqui para frente eu cuido do resto, ninguém vai lhe importunar, eu lhe prometo.
— Nada vai acontecer?
— Não, Jayne, eu lhe dou minha palavra.
— Pode dizer algo a ele?
— Sim.
— Diga a ele que nunca vou esquecê-lo, que eu desejo que ele seja muito feliz com Catherine e que um dia me perdoe.
— Eu direi, agora vá.
Jayne e Ian entraram no trem e seguiram para Bordeaux. A viagem foi longa, mas estavam aliviados de sair da Espanha, queriam deixar aquele pesadelo para trás o quanto antes.
Quando chegaram à Bordeaux já era tarde da noite. Foram a um hotel, estavam exaustos, mesmo os trens da Europa sendo bem mais confortáveis do que os dos Estados Unidos, a viagem foi terrivelmente cansativa. Enquanto Jayne e Ian não viram que entravam no solo francês seus corações estavam angustiados que algo pudesse acontecer. Sentiam como se olhos estivessem atrás deles.
Jayne se culpava por isso, nunca tinha sentido tal sentimento de fuga antes e se culpava pelo nervosismo de Ian, parecia que ele estava como um peixe fora do aquário, mas sempre a olhava com um sorriso no rosto e segurava sua mão, não demonstrando o quanto se sentia incômodo. Fazia isso por ela e ela o amava mais por isso.
— Meu Deus, que língua este povo fala? Eu não consigo entender nada — Ian perguntou enquanto andavam pela estação em busca de um coche.
Jayne riu.
— É francês, Ian.
— Vai dizer que você entende isso mesmo?
— Não entendo tudo, algumas palavras, como eu já lhe disse meu francês é ruim, mas dá para nos acharmos por aqui.
— Hum, será que eles entendem o que é jantar?
— Podemos tentar — ela disse sorrindo e foram ao restaurante do hotel que era finíssimo e Jayne pediu o jantar.
— Quer tomar vinho? — ela perguntou.
— Sim, mas primeiro eu quero tomar uma champanhe com você.
— Nossa, empolgou-se por estar na França?
— Quero comemorar que eu tenho você livre só para mim, não acha que é um bom motivo para comemorar?
— Acho.
— Pois então peça a champanhe, e alguma coisa para nós beliscarmos antes de vir o jantar que eu estou morrendo de fome.
Jayne pediu e o garçom trouxe a champanhe e os serviu.
— Jayne, eu estava pensando na viagem.
— O quê?
— Se em vez de irmos para a Inglaterra, primeiro nós fossemos para a Itália? Acho que já que estamos aqui, este seria um bom momento para irmos. Acho que depois do que passamos na Espanha merecemos uns tempos sozinhos. O que acha? — Jayne abismada o olhou.
— E nossos filhos?
— Mandaremos uma nota à Julia, precisamos dizer que estamos bem, ela deve estar aflita. Eu deixei uma boa quantia monetária com ela, creio que não haverá problema. Ela cuidará das crianças e Kate está com eles. Eu quero fazer isso, o que você quer, Sra. Buller?
— Teremos dinheiro para isso? Você trouxe o suficiente?
— Meu amor, eu estava pensando nisso antes de sairmos de casa, então eu trouxe o suficiente para fazermos uma viagem à Itália e também se você quiser visitar algum lugar aqui da França podemos ir, já que estamos nela, não nos custa ficar alguns dias por aqui também.
Jayne admirada o olhava, sorriu e pegou na sua mão.
— Ian, eu te amo.
— Eu também te amo, Sra. Buller.
**
Enrique acordou e Catherine não estava ao seu lado na cama, ele virou-se e ela estava em pé o olhando com um semblante triste.
— O que foi, está bem? — perguntou meio sonolento.
— Estou indo embora.
— O quê?
— Isso que você ouviu, arrumei minhas malas e estou voltando para casa.
Enrique sentou na cama e a olhou com os olhos arregalados.
— Catherine, por favor, o que está dizendo? Por que você vai embora?
— Não posso me casar com você. Você ama Jayne. Eu ouvi você no tribunal, eu estava lá.
Enrique a puxou pela mão e a fez sentar na cama.
— Catherine, por que não me obedeceu? Por que foi lá?
— Porque eu só queria confirmar o que eu já sabia.
— Se sabia por que fez isso?
— Eu não sei se eu aguento ficar com você sabendo que ama outra.
— Catherine, eu já lhe expliquei isso. Eu amei Jayne e nunca neguei isso, mas tudo acabou. Não somos mais casados e eu tenho você, tenho nosso filho, eu quero recomeçar e quero que seja ao seu lado.
— Você nunca vai me amar como a ama.
— Não podemos medir o amor dos outros. Se tentarmos igualar os relacionamentos um com o outro nunca ninguém tentaria recomeçar e nunca conseguiria ser feliz, ou sequer casaria. Casamentos quase nunca se baseiam em amor. Eu já disse a você, eu escolhi você para ser minha companheira e começar uma vida nova. Nós temos isso, temos a chance, você está esperando um filho meu e eu quero me casar com você.
— Não sei se posso fazer isso.
— Se você não me ajudar eu não vou conseguir sozinho, eu preciso de você. — Catherine deixou que as lágrimas caíssem. — Se você me ama tanto quanto diz, vai simplesmente me deixar? Não vai lutar por mim?
— Eu tenho lutado por você.
— Venha aqui, eu preciso de você. — Ele a puxou e a abraçou e ela não resistiu e o abraçou. — Vamos nos casar e eu vou fazê-la feliz, minha querida. Eu só quero recomeçar minha vida. Eu estava bem com você, mas este julgamento me deixou atordoado, vendo maltratarem Jayne daquele jeito, jogando a minha honra, dela e Ian na lama. Como você queria que eu passasse por isso sem me abalar? — Catherine começou a chorar.
— Desculpe-me pelo que houve. A culpa foi minha.
— A culpa foi sua? Do que está falando?
— Juan. Foi por minha causa que ele agiu daquele jeito. Fui eu que pedi a ele que fizesse aquilo.
— O quê? Como assim? Eu não estou entendendo.
— Quando você disse que o promotor odiava você eu fui falar com ele, pedi que ele fizesse tudo aquilo, eu queria... — Ela começou a chorar aos soluços. — Eu queria que aquela mulher sofresse por ter feito você sofrer e por você amá-la. Ele já tinha um plano contra você, eu somente incentivei.
Enrique levantou da cama e o ar faltou em seus pulmões.
— Catherine, como pôde fazer uma coisa destas?
— Eu sei. Desculpe-me, eu estou arrependida, me perdoe, por favor.
Enrique passou as mãos no rosto indignado, fechou os olhos e tentava controlar uma súbita raiva que lhe tomou o ser.
— Você tem ideia do sofrimento que causou a mim? A ela e ao marido dela? E aos meus pais, nos vendo naquela situação? E a você mesma?
— Eu sei.
— Não, não sabe. Ela não merecia isso, Catherine, eu não merecia isso.
— Perdoe-me, Enrique.
— Você fez isso por ciúmes?
— Sim, eu queria que ela sofresse, mas não imaginei que Juan forçaria tanto, não imaginei nada disso.
— Catherine, por Deus! Se nós fossemos a julgamento pela morte de Edward, estaríamos em sérios problemas, como pôde nos jogar na cova dos leões desse jeito?
Enrique praticamente gritava de raiva e indignação.
— Eu não falei nada disso, Enrique, acredite em mim, eu só pedi que ele questionasse a honra dela, que a humilhasse na frente de todo mundo.
— Para quê isso? Ela não me deixou por maldade, mulher, me deixou porque ama aquele homem mais que a mim, e isso eu não posso condená-la, ninguém manda no coração, Catherine. Ai meu Deus! Mesmo que ela quisesse ficar comigo, Ian jamais aceitaria lhe dar um desquite. Nosso casamento foi ilegal, tudo foi um erro, todos nós passamos pelo inferno e você que não tem nada a ver com isso, toma uma atitude dessas de puni-la?
— Como não tenho nada a ver com isso? Vivo com você e estou esperando um filho seu e você ainda a ama.
— É assim que você quer me conquistar? Apunhalando-me pelas costas?
— Não foi isso que eu quis fazer. Eu errei, não pensei nas consequências, agi num impulso de ciúmes, eu juro que estou arrependida.
— Bem, acho que você foi punida, porque você mesma me obrigou a dizer que a amava na frente de todo mundo, se era isso que queria, conseguiu. Você quis atingir Jayne, mas quem foi atingida foi você, não foi? Porque ela está em paz com seu marido e vai seguir a vida dela feliz, apesar de toda humilhação que passou. Eu estou aqui olhando para você e estou decepcionado. Mas você vai carregar essa porcaria que fez e talvez nunca mais conquiste meu amor. Pois agora quem não quer mais casar sou eu, já que está com as malas prontas vá embora. E te digo mais, não pense que você vai me deixar longe do meu filho, porque isso eu jamais vou permitir, nem que eu tenha que tirá-lo de você quando ele nascer.
Enrique saiu do quarto batendo a porta e a deixou ali chorando. Catherine pegou sua mala e foi embora.
Enrique sentiu vontade de sumir, rangeu os dentes, nem sabia se estava sentindo raiva ou dor.
Ele se escorou na mesa que estava posta com o café pela criada e num surto de raiva gritou e puxou a toalha derrubando tudo que tinha encima da mesa, sentou na cadeira e chorou.
Chorou por perder Jayne, chorou pela traição de Catherine, chorou por tudo, estava esgotado.
**
O primeiro lugar que Jayne quis ir foi à Veneza. Estava eufórica e os dois estavam encantados, um fazia de tudo para agradar o outro.
Jayne deixou para trás todo sofrimento que passara na Espanha, somente queria curtir o amor de sua vida. Ian fazia questão de ficar no melhor hotel, ir aos melhores restaurantes, comprar presentes para Jayne.
Nenhum dos dois deixava que o sorriso lhes saísse dos lábios, estavam encantados com os lugares e um com o outro. Pareciam duas crianças vendo novidades, comiam tudo que achavam apetitoso, brindavam a cada bebida que pediam, até mesmo com uma xícara de café. Era a viagem dos sonhos de Jayne que ela sempre quis compartilhar com ele e estava realizando. Ian tomou emprestado seu sonho e aproveitava cada momento.
Para ele tudo era novidade e grandioso, diferente de Jayne que já conhecia os lugares, mas para ela estar naqueles lugares românticos com Ian, não tinha preço, era impagável e novo.
Ian e Jayne foram até a Praça de São Marcos, eles admiraram o lugar e tomaram uma gôndola para um passeio. Jayne recostou-se no peito de Ian e lentamente navegaram pelos canais com o gondoleiro os conduzindo e que cantarolava uma música suave em italiano.
— Esta é a ponte dos suspiros.
— Por que tem este nome? — perguntou ele a olhando.
— Lhe foi atribuída esse nome porque a lenda diz que em tempos remotos, os prisioneiros que a atravessavam em rumo à prisão, suspiravam por talvez ser a última vez que veriam a luz do sol e a liberdade.
— Que triste.
— Hoje os casais passam aqui e fazem um pedido.
— Vai fazer um?
— Já fiz, mas já me foi concedido.
— O que pediu?
— Pedi que o resto de nossas vidas fosse feliz, e eu e você sempre juntos.
— Hum, isso soa bem.
Eles beijaram-se e seguiram o passeio. Estava escurecendo quando iam voltando para o hotel e passaram pela Ponte de Rialto e estava iluminada.
— Nossa, isso é bonito!
— A eletricidade é fantástica, principalmente quando ilumina a cidade.
Quando chegaram ao hotel estavam cansados, mas felizes. Jayne colocou o chapéu no sofá e soltou os cabelos, com movimentos suaves. Ian estava parado e a olhava com um sorriso, Jayne se virou e o olhou.
— Por que está me olhando assim?
— Você é linda.
Ela sorriu e seus olhos brilharam como duas pedras preciosas.
— Sou? — disse se aproximando dele e o beijando no canto da boca.
— Sim, madame. Champanhe? — Jayne riu.
— Aceito, já que tenho um marido rico, vou abusar.
— Você está mesmo abusada, Sra. Buller.
Beijaram-se longamente e Ian pegou champanhe para eles e beberam e aproveitaram a noite tranquilamente até tarde.
No outro dia quando eles estavam chegando ao hotel de um passeio, o recepcionista sorrindo lhes entregou dois convites.
— Sr. Buller, estes convites são para o senhor.
— Convites?
— Sim, haverá um baile de máscaras no salão do hotel, o anfitrião é um homem muito rico e está a passeio aqui em Veneza e ele convidou os hóspedes do hotel para o evento. Ele gosta de comemorar o antigo carnaval de Veneza, mas como este evento foi extinto há anos, quando ele vem à cidade ele promove seu próprio baile de máscaras.
— Mas nós não nos conhecemos.
— Senhor, nestes bailes a maioria dos presentes não se conhecem. Ele é um excêntrico, deixou vários convites para nossos hóspedes Vips e nem ao menos os conhece.
— Que estranho, mas este baile é a rigor?
— Não. É um baile com roupas de época, do século XVIII e a máscara é obrigatória, e pela tradição, não pode ser retirada no baile.
— Que interessante, mas onde nós arrumaremos estas roupas?
— Há algumas lojas aqui que fornece este tipo de fantasias em aluguel. Se a senhora quiser eu posso pedir a uma antiga modista que conheço que possa lhes trazer alguns trajes para provarem.
— Deve ser lindo, Ian, vamos?
— Não sei, me parece muito estranho.
— Ah vamos, deve ser divertido. Por favor!
— Tudo bem.
— Pois bem, vou chamá-la para que suba ao seu quarto, senhora.
Ian e Jayne foram almoçar e depois foram para o quarto. A modista chegou com o auxílio de um carregador e mostrou diversas roupas e máscaras.
Eles escolheram e provaram algumas, e Ian ria de si mesmo com as roupas estranhas que ela o fazia vestir.
— Acho que vou ter que tirar uma fotografia disso, ninguém acreditaria se me visse vestido deste jeito.
— Meu amor, você está lindo. Não seja resmungão, gostará do baile.
— Sim, e que Deus me ajude! — Jayne riu largamente.
— Se não quiser não iremos, Ian.
— Deus Santo, iremos... O que não faço por você!
— Eu farei o que quiser também, amor. É só um momento de diversão.
— Certo. Nossa Jayne! Como você ficou linda com esta roupa.
— Você também está magnífico. Eu estou eufórica, eu jamais pensei que um dia iria num baile de máscaras em Veneza.
— Muito menos eu, nem sei exatamente o que significa.
— Verá meu bem. Será belíssimo.
— Não sei por que permito estas suas loucuras.
Era riu e o beijou.
— Por que me ama e é divertido.
Capítulo 23
Os dois foram até o salão, era de uma beleza incrível e muitos convidados já estavam dançando e outros circulavam bebendo de suas taças e conversando. A beleza dos dois, mesmo escondidos debaixo de uma máscara, não deixou de ser notada pelo salão. Eles circularam, admirando os trajes e ouvindo a música característica da época.
— Será que a senhora, minha adorada esposa se importa de ficar aqui um segundo para que eu possa buscar um champanhe para nós?
— Claro que não, só não vá se perder.
— Hum, posso errar de mulher já que estão todas mascaradas.
— Pois bem e eu posso errar de marido.
Ele riu lindamente e lhe deu um beijo no rosto.
— Eu já volto.
Ian demorou a voltar e Jayne olhava tudo atentamente, mas começou a procurar por ele. Percebeu que não muito longe dela um homem a olhava, sua máscara era belíssima e cobria seu rosto somente deixando visível sua boca, o queixo e os olhos. Ela andou mais para o lado e olhava atentamente pare ele, que a observava.
Jayne percebeu que ele a seguia, ela fez-se de desinteressada e continuou andando pelo salão, a presença dele e a maneira como estava agindo lhe chamaram a atenção e ela começou a olhar para ele intrigada, aonde ela ia, ele ia atrás, mas mantinha uma distância e começaram a se olhar intensamente e de uma maneira sedutora, não conseguiam tirar os olhos um do outro. Seu queixo e sua boca pareciam lindos demais, adornados pela máscara maravilhosa.
Os dois pareciam hipnotizados um pelo outro. O andar dele era calmo e sereno, e seus olhos pareciam que iam a devorar.
Jayne parou num lado do salão e por um minuto o perdeu de vista, olhou ao redor e não o encontrou. De repente sentiu alguém atrás de si que chegou bem perto e falou mansamente em seu ouvido.
— A senhora é a dama mais linda da festa, daria tudo para ver seu rosto.
— Não é permitido tirar a máscara, senhor — disse com os olhos fechados sentindo-se embriagada com o som impactante de sua voz e com a respiração no seu pescoço.
— Que pena. Está sozinha?
— Não.
— Espero que goste de champanhe — disse lhe dando uma taça e ela pegou, virou-se lentamente para ele e o olhou.
— Obrigada, mas tenho que ir.
— Ir para onde? Não me faz companhia?
— Eu não o conheço, seria imprudente lhe fazer companhia — disse mansamente.
— Então como vai me conhecer?
— Não sei se quero ou se devo.
Ela calmamente bebeu um gole de champanhe e ele admirava seus gestos delicados.
— Se eu lhe convidasse para dançar, aceitaria?
— O senhor dança?
— Não muito, mas pela bela dama eu faço qualquer sacrifício.
Ele pegou as duas taças e colocou encima de uma mesa próxima, a envolveu pela cintura e a puxou para seu corpo e levemente começou a se embalar. Ficaram dançando alguns minutos calados e com os olhos fechados, sentindo seus corpos colados e a música lhes parecia soar muito longe naquele momento.
— Seu perfume está me deixando inebriado.
— Meu marido não vai gostar de me ver aqui dançando com o senhor.
— Ele vai entender, é só uma dança.
— Não sei, ele pode lhe bater.
— Pela senhora eu aceitaria um duelo.
— Se morresse não poderia mais dançar comigo.
Os dois se olhavam nos olhos e seus rostos estavam bem próximos. Jayne olhava para os lábios dele e queria beijá-los.
— Não me importaria de morrer pela mulher mais linda deste mundo.
— É mesmo? — disse de maneira manhosa.
— É e nem me importaria de morrer agora mesmo se você me beijasse.
— Não pode fazer isso, estamos em público.
— Que me enforquem.
Ele aproximou seus lábios dos dela e lentamente os tocou continuando a dançar. Jayne retribuiu o beijo e seu coração disparou, sentiu o desejo queimar seu corpo. Quando seus lábios se soltaram se olharam nos olhos, com seus corações fora de compasso.
— Mesmo que não visse seu rosto eu me apaixonaria por você — disse ela.
— Talvez eu devesse usar máscara todos os dias.
— Não, eu amo o seu rosto e a máscara esconde suas covinhas.
— Vou levar duas horas para tirar essa roupa que está usando, meu Deus! O que essas mulheres do século passado tinham na cabeça? — Jayne riu.
— Concordo, essa roupa pesa uma tonelada, mas eu acredito que você vai conseguir, meu amor.
— Se não conseguir, aquela modista vai receber um vestido rasgado, porque arranco tudo — Ela riu.
— Podemos levar essas máscaras de lembrança? As achei tão lindas.
— Claro, vou gostar, estou adorando isso aqui.
— Eu também.
— Esta viagem está sendo melhor que eu esperava, estou feliz que tenhamos vindo.
— Eu também, meu amor, obrigada.
— De nada.
Ele a beijou novamente e de mãos dadas deram mais uma volta olhando cada roupa, cada máscara e se divertindo, foram para fora e contemplaram a noite com o céu estrelado e o belíssimo jardim iluminado e com as fontes ligadas.
Tudo parecia um sonho, um conto de fadas. Jayne e Ian estavam mais felizes que nunca, e cada vez mais apaixonados um pelo outro, aproveitavam cada momento, cada detalhe de tudo.
Aquela noite havia sido mágica e como era de costume não acabou no baile, quando voltaram ao hotel se amaram com toda paixão que conheciam e que transbordava pelos seus poros.
Jayne e Ian seguiram para Londres, estava na hora de voltar para casa e estavam com saudades dos seus filhos. Resolveram que ficariam uns dois dias em Londres e depois seguiriam com as crianças para casa.
**
— Bem... Eu estou adorando a viagem, tirando a Espanha é claro, aquilo quero esquecer completamente. Mas estou com saudades de casa, de usar minhas roupas, andar a cavalo, comer um pernil assado, em abundância.
— Uma vez caubói, sempre caubói — disse Julia rindo.
— É minha irmã, eu confesso que eu também sinto falta de casa.
— Ah Jayne, eu também sinto, às vezes penso em voltar para lá.
— Você pretende ficar muito tempo aqui?
— Não sei, estou gostando, talvez eu volte um dia.
— Humm, isso tem a ver com seu estimado?
— Ah Jayne, eu estou gostando muito de Simon ele é adorável, gentil.
— Hum, eu percebi o jeito que fala dele. E realmente ele é adoravelmente gentil com você. Vocês formam um belo casal. Só o vi por um instante antes de embarcarmos para a Espanha, mas deu para perceber que ele gosta muito de você.
— Jayne, ele me entende, ele não força nada, é gentil, inteligente, bondoso, me trata com respeito, eu sou encantada por ele.
— Então, minha querida, aproveite, se ele a faz feliz, o resto não importa.
— Eu sei, Jayne, mas nunca vou poder me casar de novo, como vamos viver? Amasiados?
— Ah! Julia, esqueça a sociedade, e cuide da sua vida, se não pode se casar, vá morar com ele, não vai querer ficar sozinha porque cometeu um erro.
— Eu sei, mas todos vão falar. Se souberem de uma coisa assim, serei excluída como se tivesse uma doença contagiosa.
— Ninguém precisa ficar sabendo, vocês colocam uma aliança e fingem que são casados de verdade, quem vai saber que não?
— Ele é bem conhecido aqui.
— O que ele faz?
— É médico e professor na universidade de medicina, todos o conhecem. Só não sabem que eu sou desquitada.
— Bem, isso é um problema, mas se você o ama, esqueça o resto e faça o que seu coração mandar. Não deixe de ser feliz por causa dos outros.
— Você, como minha irmã mais velha, deveria me dar bons conselhos.
Jayne riu.
— Eu estou dando um bom conselho. E você nunca precisou de meus conselhos, sempre fez o que seu coração mandou, senão não teria se desquitado. O que me importa é que você seja feliz. Precisamos ser felizes e lutar por isso, as pessoas da sociedade não querem isso e nós devemos impor, por nós.
— Julia, Jayne tem razão, Mitchel passou pela mesma coisa com Chloe, mas está muito feliz, vai ser pai, você deve fazer o mesmo. Não ligue para o que este povo fala, a maioria faz coisas piores e nem sequer sentem remorso, então pense em você e o resto que se dane. Se não puderem ficar aqui vão para outro lugar então podem passar por casados sem que ninguém, saiba. Com a profissão dele terá trabalho em qualquer lugar, talvez não como um professor, mas alguns sacrifícios terão que ser feitos.
— Obrigada, Ian, eu vou pensar nisso, mas ele não fez nenhuma proposta ainda, estamos apenas nos cortejando. Papai ficaria louco com isso.
— Não perca tempo, ele é precioso. Nosso pai vai ter que aceitar, o que ele vai fazer? Nada. Tenho certeza que ele pode até bufar, mas vai ter que aceitar, pois você não tem alternativa, querida. Assim como eu não tive quando fiquei com Ian, fingindo estar casada. Depois deu tudo certo. Quem sabe daqui um tempo vocês conseguem uma permissão para casar.
— Eu sei disso e eu fico muito feliz que vocês estejam assim tão unidos e bem, e com estes filhos maravilhosos.
— Ah eu estava morrendo de saudades dos meus filhotinhos, nunca tinha ficado tanto tempo longe deles.
— Bem, então, vão descansar e amanhã podemos fazer um passeio por Londres antes de vocês voltarem para o maravilhoso Texas — Julia disse.
— Não vejo a hora de estar em casa com minha família, estou com saudades dos meus cavalos — disse Ian abraçando Jayne.
— Ai, como era bom montar naqueles campos, aqui eu vou montar no parque, mas lá era diferente, aqui não posso montar com sela de homem.
— Acho que você tem sangue caubói, Julia — disse Ian rindo.
— Devo ter, nunca fui metida a dama. Gosto de Londres por sua modernidade e progresso, mas em questões sociais, prefiro o Texas.
— Nem esta minha mulher, mas ela adora uma mordomia, me arrancou o couro nesta viagem.
— Ai Ian, que maldade, você é que não fez questão de economizar, eu só fui ao seu embalo.
— Verdade meu amor, mas valeu cada centavo que gastamos, foi maravilhoso. Como tudo aqui é bonito, eu nunca imaginei ver aquelas construções tão antigas, com tantas histórias.
— Sim, verdade, eu adoro.
— Jayne, eu posso lhe fazer uma pergunta? — disse Julia meio sem jeito.
— Pode.
— Ham, o que você acha de Richard Montgomery?
Jayne e Ian a olharam sérios.
— Por quê?
— Porque Angel escreveu para ele e recebeu uma carta de volta.
— É o professor de piano dela — disse Jayne meio apertando os olhos.
— Por que ela escreveria para ele? — perguntou Ian.
— Bem, eu li a carta, ela me mostrou, não tinha nada de mais. Somente contando dos passeios que ela estava fazendo, e ela também me mostrou a que ele mandou, tinha um poema e mais algumas palavras, só isso.
— Não gostei disso — disse Ian.
— Ian, não tem nada de mais Angel ter um amigo.
— Ele está cortejando Angel sem minha permissão? — perguntou ele.
— Claro que não, Ian, ele é muito respeitador, nunca vi nada disso.
— Espero que não, senão eu proíbo estas aulas de piano.
— Isso não será necessário, estou de olho nela quando ele está por perto.
— Acho bom, eu não os quero sozinhos. Angel é muito nova ainda.
— Realmente, mas nem esquente sua cabeça e trate o moço com educação, por favor, ele é muito educado com todos nós.
— Nunca disse que ele não é educado, eu gosto dele.
— Eu também gosto, e tenho certeza que ele se portará muito bem com Angel, não ousaria desrespeitar nossa casa.
— Ele me parece muito maduro pela idade dele. Na realidade o acho meio estranho.
— Ele é tímido, eu acho. Muito conservador, o que lhe dá aquele ar tão altivo até mais que o pai dele. E o fato de ele ter vivido na Europa, lhe deu esse ar mais... Aristocrático.
— Está dizendo que nós texanos somos xucros e desleixados?
Jayne soltou uma gargalhada.
— Ian, convenhamos que é diferente, você mesmo viu isso aqui. Os texanos têm um jeito somente seu de ser, eu gosto disso.
— Vou tomar isso como um elogio. Mas não entendo por que ele não usa seu título. Quer dizer, não gosta que o chamem assim?
— Ele tem um título? — perguntou Julia.
— Sim, ele é um conde.
— Minha nossa! O que um conde faz no Texas?
— Também me perguntei isso e suas razões me pareceram meio vagas, na verdade aventureiras. É intrigante.
— Intrigante não é uma palavra que soa bem — disse Ian.
— Ele não gosta da pompa de ser um conde, pela maneira reservada que ele ostenta. Conheço outras pessoas que escondem seu título.
— Sei... Enrique — Julia disse e quando se deu conta que os dois a olhavam ela arregalou os olhos. — Ah, me desculpe, não devia ter dito isso.
— Enrique tem um título? — Ian perguntou espantado.
— Não vamos falar nisso — disse Jayne.
— Não tem problema, Jayne, pode falar, não vou me zangar.
Ela respirou fundo e respondeu calmamente.
— Enrique é visconde, ele recebeu este título por um motivo que não me recordo, mas seu pai é o conde de Castela, que também será passado a Enrique quando ele falecer.
— Por que escondia seu título?
— Ele não escondia, somente achava irrelevante. Ser um xerife para ele era uma honra, tinha muito respeito. E ele ostenta seu título somente aqui na Europa, creio que aqui seja mais importante.
— Então você virou uma viscondessa quando se casou com ele?
— Sim.
Ian ergueu as sobrancelhas e respirou fundo.
— Estranho que não tenham mencionado isso na corte.
— Meu bem, a tentativa de nos jogar na lama era clara, mas creio que rebaixá-lo era o intuito e não ousariam enobrecê-lo o chamando de visconde e muito menos a mim de viscondessa, já que me trataram como uma rameira de uma terra selvagem.
— Foi tão ruim assim, Jayne? — perguntou Julia.
— Foi horrível. Mas tudo acabou.
— Sim, voltaremos para nossa vida normal.
— Sim, e eu prefiro ser esposa de um fazendeiro no Texas — ela disse sorrindo e acariciando seu rosto e Ian lhe sorriu de volta e beijou sua mão.
— Bem, vamos dormir que estou cansado.
— Vá indo, eu já vou.
Quando Ian saiu Jayne respirou profundamente.
— Realmente prefere ser uma fazendeira, Jayne?
— Sem dúvida. Argh! Quando me lembro de ter frequentado a temporada de bailes para “as damas caçarem maridos” e os “cavalheiros caçarem as donzelas recatadas e dóceis como um cachorrinho” e claro com maior dote, tenho vontade de vomitar.
Julia riu.
— Bem, estamos na temporada de bailes, você não gostaria de ir? Posso conseguir convites.
— Não, obrigada, creio que Ian não gostaria. Nem sei como concordou em ir naquele baile de máscaras em Veneza! Ele está ansioso para voltar à fazenda e além do mais não quero enfrentar estes bailes novamente, já tive minha cota quando morava aqui. Sabe que não gosto desse circo.
— Sei, você demonstrou muito bem isso na época. Creio que não seja uma dama que a sociedade londrina aprove.
— Muito menos na espanhola, pois eles me deixaram bem claro isso, me insultando como se fosse uma vadia.
— Como são maus.
— Bom, até que isso foi divertido por um lado, esses bailes de temporada, enquanto eu fugia do salão para me esconder no jardim vi muitos encontros furtivos de amantes.
— Oh! Mas isso é o contrário do que pregam.
— Claro. Doce por fora, fel por dentro. Casamentos arranjados, infidelidades, caçadores de dotes, moças sufocadas pelos vestidos apertados e pose de boneca de louça, inocentes e treinadas. Uh! Odiava isso, tanto quanto odiava a Escola Sunshine para damas.
— Você não aprendeu muita coisa nessa escola.
Jayne riu.
— Sim... Mandar nos empregados, engomar camisas, bordados, como sentar, como respirar. Como olhar ou desmaiar como uma gazela na frente de um rapaz quando via ou ouvia algo indecoroso ou para chamar a atenção do cavalheiro pensando que ele a tomaria nos braços, e no mesmo instante a pediria em casamento. Sobre roupas da moda, penteados, joias e como organizar jantares elegantes, talheres e pratos, taça disso, taça daquilo... Divertia-me com as tolas que faziam cara de assustadas e com os olhos arregalados cobriam a boca com quatro dedos.
Jayne imitou a expressão e Julia soltou uma gargalhada.
— Realmente você não tem jeito de nada disso.
— Lembro-me quando perguntei à Sra. Calmich como era a noite de núpcias. Ela me deu uma varada nas mãos que verteu sangue e me disse: “Srta. Cullen, típico de ser de sua parte uma pergunta dessas. Apenas fique quieta que o homem faz tudo, senão poderá ser devolvida ao seu pai por ser considerada uma promíscua” Ela era tão radical. — Jayne riu.
— Jesus! Foi assim sua primeira vez? Tão... Frio?
Capítulo 24
— Não. Enrique foi carinhoso, e inclusive me explicou que doeria e sangraria. Nem isso eu sabia. Ele me ensinou a sentir desejo, e que sexo era bom e que isso deveria ser para os dois, que a mulher deve sentir prazer tanto quanto o homem. Ele disse que se a esposa for fria, em dois dias o marido terá uma amante. Então me deitei com ele e não tive medo. Depois disso pensei que ele seria meu marido, mas tudo saiu errado.
— Verdade, é o que mais vejo aqui. Homens com amantes e as esposas como uma nata que não pode ser batida. Pálidas e infelizes, ostentando seus títulos e roupas caras e joias, falando como plumas. Carregando seus filhos e sua insatisfação pregada na cara. Céus!
— Infelizmente, a corte é assim, mas eu fico feliz de não compartilhar isso. Gosto de morar na fazenda e criar meus cavalos, eu gosto de estar com meu Ian. Aprendi a ser uma boa amante e gosto disso, então, creio que depois de tudo, eu e Ian sejamos perfeitos juntos. Asseguro-me que ele não queira outra mulher que não seja eu.
— Realmente não creio nisso — disse rindo. — É muito honrado e o amor que sente por você, é de dar inveja até ao cupido. Acho que a última coisa que Ian seria é infiel. Não consigo imaginar Ian com outra mulher.
— Com certeza não, pois faço tudo ao contrário que aquela bruxa disse e ele não gostaria de uma mulher fria, ele é um homem viril e quente.
— Os homens texanos têm uma cabeça diferente do que é uma dama.
— Bem, depois que dormi com Ian fiquei com medo que me condenasse. Então ele me disse que para ele eu era a dama mais dama que ele já tinha visto na vida. Por isso eu fiquei surpresa quando me pediu em casamento, jamais achei que o faria pelo fato de eu ser sua amante. Mas ele somente queria que eu o amasse. E eu o amei mais por isso.
— Por certo. Um cavalheiro não lapidado.
— Meu caubói perfeito. Bem... Boa noite, eu vou dormir feliz em seus braços. Prefiro que eles arranquem minha cabeça que perder Ian.
— Boa noite.
— Julia? Está mesmo feliz aqui, com Simon?
— Sim, estou feliz com meu querido, Jayne. Sou exatamente como você e Ian. Era isso que eu procurava.
— Fico feliz por você, querida, viva intensamente este amor.
Julia sorriu, Jayne a beijou na bochecha e foi para o seu quarto.
Ian dormia de bruços, estava nu sob as cobertas. Ela despiu-se e deitou-se ao seu lado, sorriu e retirou os cabelos que lhe caiam no rosto perfeito. Deus Santo, como o amava. Levemente com os dedos acariciava sua pele, passou os dedos sobre as cicatrizes de balas que tinha nas costas e depois algumas em seu braço.
Seu corpo encheu-se de desejo por ele e sorriu quando se lembrou de uma de suas lições na escola para moças: “Nunca demonstre desejo por um homem ou tome a iniciativa, é indecente”.
— Dane-se, senhora Calmich! — Jayne sussurrou.
Jayne substituiu os dedos pelos lábios e se aconchegou nele. Ian sorriu sem abrir os olhos e seu corpo virou em chamas sentindo suas carícias.
— Quer alguma coisa, Sra. Buller? — ele resmungou.
— Sim, eu desejo fazer amor com você.
— Uff! — soltou num bufo de prazer e Jayne sorriu.
— Quer que pare?
— Nem em outra vida, faça o que quiser comigo.
Ele virou-se e ela o beijou com muita paixão e sedenta de amor, enquanto ele acariciava sua pele suave como seda. Jayne o beijou inteiro o fazendo ranger os dentes e gemer, até que ele a abraçou e a jogou na cama e fez o mesmo com ela, tocando-a, beijando-a e a levando à loucura.
Eles se amaram e dormiram abraçados, saciados e amados.
Tudo bem que Jayne não era uma dama apropriada para os padrões Londrinos ou Espanhóis, mas era tudo o que queria ser. A dama de Ian, uma boa mãe para seus filhos e uma fazendeira no Texas. Perfeito.
**
No outro dia foram passear por Londres, tudo parecia bem mais austero que a Itália, as pessoas mais sérias, mais fechadas. O clima não ajudava muito, eles não viram o sol nenhum momento que ficaram em Londres, o que deixava Ian desconfortável.
— Nada compara nosso pôr do sol — disse ele.
— Concordo, então acho que teremos que curtir um belo pôr do sol juntos, na beira do lago, quando voltarmos. O que acha?
— Eu gostei disso. Pegue suas malas rapidamente.
Jayne riu e o beijou.
— Amanhã eu quero fazer algo inusitado aqui.
— O quê?
— Quero ir cavalgar no Hyde Park. O principal parque de Londres.
— Tudo bem. Nós somente teremos mais um dia aqui, você pode fazer o que quiser, menos ir presa.
— Sim, eu farei o que quiser e será minha despedida de Londres.
— Você está usando um tom desafiador, Sra. Buller, o que pretende?
— Nada, somente mostrar de onde eu vim, Ian, amor meu — disse com um sorriso maroto.
Epílogo
Na tarde do dia seguinte Julia chegou à sala.
— Vamos? Eu já pedi ao cavalariço que preparasse nossos cavalos para irmos ao Hyde Park. Onde está Jayne? — Julia perguntou.
— Está trocando de roupa — Ian disse colocando seu chapéu.
— Você vai assim, como um legítimo caubói?
— Sim, Jayne disse para ir assim — disse rindo e a olhando. — Sou Ian Buller e, lhe digo, estou me sentindo muito bem como realmente sou.
— Imaginei que estaria — disse rindo.
Quando Jayne entrou na sala, eles a olharam estupefatos.
— Minha nossa! — Julia disse boquiaberta.
— Por misericórdia! Jayne, de onde saiu essas roupas?
Ela riu maliciosamente e lentamente deu uma voltinha e Ian quase salivou e não sabia o que dizer.
Jayne usava uma jaqueta de lã Tweed marrom com detalhes em couro marrom justa, que deixava sua cintura bem marcada, uma calça de couro marrom colada ao corpo que delineava seu quadril, seu traseiro perfeitamente redondo e coxas fortes e roliças.
Nos pés, trazia botas pretas até o joelho e luvas negras de couro. Seus longos cabelos estavam presos numa trança, lhe caindo sobre as costas, chegando até a cintura e usava um chapéu de cowboy preto com uma argola de prata.
— Bem, eu disse que usaria calças. Meu traje novo ficou pronto uns dias antes de viajarmos, então, vou inaugurá-lo bem aqui em Londres.
— Jayne, você pediu a sela masculina para cavalgar com as pernas abertas, o que vai ser um escândalo no Hyde Park e vai usar isso? Calças de couro?
— Bem, agora eu vou à forra e eu vou me despedir da Europa com uma boa fazendeira do Texas e escandalizar a alta sociedade, e melhor, com meu delicioso marido texano ao meu lado.
Ian olhava para ela com a boca aberta e demorou em reagir.
— Jayne, eu não sei se aguento sair com você usando isso. Eu lhe disse que a deixaria usar calças na fazenda, mas aqui? Todos os homens olharão para você e a sua... O seu... Traseiro. Eu acho melhor tirar isso — Ian disse com um gemido.
— Nem em sonho, pois eu não estou nua. Eu estou usando calças e é assim que cavalgaremos no parque e essa gente hipócrita que se dane.
— Por que não coloca as calças de sarja? As que você usou na fazenda?
— Não. Estas são mais ao meu intento. Eu vou mostrar a este povo, que uma mulher não deixa de ser uma dama porque usa calça e você, meu caubói, vai usar seu mais bonito traje de texano, sem o cinturão com as pistolas, claro, infelizmente assim seríamos presos — disse rindo. — Iremos arrasar.
— Iremos presos — Ian resmungou.
— Bem, se é atordoar todo mundo que quer, então vamos. Simon vai nos encontrar no Hyde Park. Depois nós podemos ir tomar um lanche no Hits Café, se deixarem você entrar... É lógico. Já estou gostando desta tarde — disse batendo as mãos rapidamente e rindo.
Julia saiu da sala e Ian foi até Jayne e a puxou para seus braços.
— Maldita seja, mulher, quer me pôr louco?
— Você não gostou?
— Nunca vi você tão sexy. A vontade que tenho é de arrancar essas roupas e fazer amor com você.
— Bem, podemos fazer isso na volta.
Ele escorregou as mãos para seu traseiro e a puxou mais para ele.
— Urgh! Creio que matarei muitos homens esta tarde.
— Não matará ninguém, porque está sem sua arma.
— Um homem não poderia sair de casa sem uma pistola e com uma mulher linda mostrando seu traseiro na rua, sem ter consequências.
— Fico feliz que me ache bonita, meu amor.
— Bonita? É a mulher mais linda que já vi em toda minha vida. Estas mulheres que vi aqui, não chegam aos seus pés, são frias como a neve.
— E você vai arrebatar muitos corações esta tarde, meu bem. Estas mulheres podem ser frias, mas elas vão derreter quando vê-lo. Acho que eu deveria ficar com ciúmes.
— Deus me proteja. Vamos.
O percurso pelas ruas de Londres e o passeio no Hyde Park foram como um verdadeiro terremoto.
Não havia um homem que não cobiçasse Jayne.
As damas ficaram escandalizadas por sua roupa e como montava o cavalo como um homem e, claro, morriam de inveja por seus maridos e noivos não deixarem de quase quebrar o pescoço para olhá-la com olhos deslumbrados, distribuindo comentários de todos os tipos.
E Ian, magnífico com sua roupa, botas e seu elegante chapéu, derreteu corações de diversas damas que tentavam contrariar seu desejo, dizendo que era um selvagem e ambos, um casal de libertinos.
No começo Ian chiou os dentes com ciúmes de Jayne, mas ela somente tinha olhos para ele e, então. ele percebeu que ela estava tão naturalmente à vontade que teve que sorrir e admirá-la, pois ele sabia exatamente o que ela estava fazendo.
E para dar mais impulso ao escândalo e inveja, mimava-a publicamente.
Ela não estava querendo somente quebrar regras de etiqueta e bom comportamento das damas e da sociedade em geral, ou exibir-se, estava querendo mostrar que ela podia ser ela mesma e o resto do mundo que se danasse.
Nunca deixaria de ser o que era pelos outros, e que era forte, impetuosa e odiava falsas moralidades, e Ian, derreteu-se por ela.
Ela podia derrubar muros e corações, desintegrar qualquer regra, pôr todo mundo louco, mas uma coisa que nunca desintegraria era o imenso amor que sentiam um pelo outro.
Isso jamais seria abalado.
O casal Buller agitou a tarde de Londres e, assim, despediram-se da Europa para voltar ao seu verdadeiro mundo... O Texas.
Lá haveria novas aventuras para serem vividas e o que não faltava aos Buller era paixão e coragem para enfrentar tudo e todos.
Janice Ghisleri
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