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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PAIXÕES NO OESTE - Vol. IV / Janice Ghisleri
PAIXÕES NO OESTE - Vol. IV / Janice Ghisleri

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Angel estava tornando-se uma mulher e se apaixona pelo misterioso e belo conde Richard Montgomery. Ele é um sobrevivente, mas seus sentimentos por ela o assustavam mais que a morte. Quando Richard abre sua guarda e se aproxima, ela, traumatizada pelo ataque de impiedosos bandidos, o repele. Além de ambos terem que brigar com seus próprios sentimentos, tem que enfrentar Matt, que nutre uma paixão obcecada por Angel.
Ian descobriu que ter misericórdia por um inimigo no passado era ter problema no futuro. E descobriu que não poderia mais esconder seu segredo, pois as coisas não andaram como ele planejara, causando um grande desastre na sua família.
Agora Ian Buller mostraria seu real poder.
Todos possuem seus próprios conflitos para superar e um amor para salvar. Afinal, eles não conheciam a monotonia, e o Texas nunca foi tão cruel como agora.

 

 

 

 

Ian, Willian e David desceram de seus cavalos e os atrelaram na viga perto do coche de água, em frente ao saloon. Ian retirou o chapéu, passou a mão para alisar
os longos cabelos, os puxando para trás, e o colocou novamente. Willian ajeitou seu casado de couro que chegava até os joelhos e retirou as luvas de couro marrom.
David retirou o chapéu e o bateu na perna rodeada por uma perneira de couro sobre a calça marrom.
Pararam quando chegaram à varanda e ouviram uma gritaria de homens e barulho de coisas quebrando que vinha de dentro do Saloon.
Ian ia fazer um comentário, mas de repente um homem voou pela porta do Saloon, batendo na portilhola, e caiu no chão batido da rua com um estrondo.
-Bem, eu acho que Mitchel está ocupado. - disse Willian.
-Será que ele precisa de uma mãozinha? - perguntou David.
Ian suspirou e balançou a cabeça.
-Jayne vai me matar... - Ian suspirou novamente e ajeitou seu cinturão de couro e colocou a mão sobre a arma, enquanto Willian empurrava a portinhola e os três entravam.
Eles ficaram parados esquadrinhando o salão e medindo a cena de briga que se desenrolava em uma medida escandalosa. Eles olharam para um canto, onde uma das cocotes
com uma mão levantava a saia de babados preta e vermelha e subia sobre uma das mesas. Ela agarrou uma garrafa cheia de uísque e com força estilhaçou sobre a cabeça
de um dos brigões; fazendo-o parar bruscamente e tombar no chão.
Os três rapazes gemeram e fizeram uma careta.
-Aquele era um bom uísque sendo desperdiçado. - disse David.
-Tire o cinturão do homem e as duas pistolas e jogue para dentro do bar, isso vai pagar a sua parte pelo prejuízo de Mitchel. - disse Ian.
-Ian sempre tão prático e ponderado com os negócios. - David resmungou de forma zombeteira e logo se esquivou de outra garrafa que voou perto de sua cabeça e se
estilhaçou na parede.
David fez o que Ian disse e se aproximou do homem tombado; e enquanto tentava este objetivo, durante o caminho proferiu alguns socos, levou outros e jogou um afobado
que veio para cima dele por cima de uma mesa, destruindo-a, e o homem ficou desacordado.
Ian olhou ao redor procurando por Mitchel. Ele estava nos fundos, do lado esquerdo do piano e brigava com três homens ao mesmo tempo.
-Acha que ele dá conta? - perguntou Willian.
-Se não houver golpes sujos, sim.
Ian esquivou de um soco e com um urro agarrou o homem pelo colarinho e o atirou sobre o balcão arrastando com ele garrafas e copos que quebraram.
-Mitchel! Está na hora de irmos para casa, jantar em família, lembra-se? - Willian gritou zombeteiro, com a voz alta sobre o som de copos quebrando e urros.
-Bem, vocês terão que me ajudar com Chloe, ela ficará zangada! - ele resmungou enquanto dava um soco em um homem.
-Não somente ela. - Ian disse e suspirou.
Willian sacou a arma rapidamente, bateu com a lateral da palma da mão a engatilhando, atirou em um homem que sacou a arma pelas costas de Mitchel, e ia alvejá-lo
covardemente.
Ian deu dois longos e fortes passos e socou um dos homens que brigava logo a sua direita com outro, e encurralavam uma das cocotes no canto do bar e ela gritava
assustada. E assim todos se envolveram na briga, que durou mais alguns longos minutos.
Ela começou a se dissipar quando os rapazes começaram a jogar alguns bêbados para fora do Saloon, que de minuto em minuto voavam literalmente pela portilhola e se
estrebuchavam escada abaixo, caindo na lama da rua. Então finalmente o xerife e seus assistentes vieram em auxílio.
Quando tudo acabou, os rapazes estavam ofegantes, desalinhados e com alguns hematomas e pequenos sangramentos pelo rosto.
Ian tentou se esticar, colocando a mão nas costelas e gemendo, tomou uma longa respiração e foi ao bar, pegou uma garrafa de uísque e a colocou na boca, bebendo
um grande gole e logo fez careta, arranhou a garganta com um urro e passou a garrafa para Mitchel que bebeu.
-Droga de bêbados e maus perdedores. Olhem o que fizeram com minhas mesas novas. - Mitchel disse.
-Bebida e jogo sempre acabam em confusão. - David disse e gemeu ao beber o uísque, sentindo seu lábio doer pelo corte feito por um soco.
-O motivo da briga foi o jogo? - Willian perguntou logo pegando a garrafa e alisando suas costelas com uma careta de dor. Seu supercílio estava cortado e sangrava.
-O maldito Harry Clean atirou em um forasteiro que ganhou dele no jogo, acredita nisso? Harry atirou nele somente porque o homem ganhou o jogo! Onde estes imbecis
ainda são maus perdedores em West Side? Não no meu Saloon! - rugiu Mitchel. -Eu fiquei furioso e mandei Harry para o inferno, pois ele também ameaçou atirar em mim,
então uma grande discussão começou.
-Bem, e aí todo mundo acabou batendo um no outro e a briga ficou incontrolável.
-Como sempre. Este povo não precisa exatamente de um motivo para entrar em uma briga. Vamos embora daqui, pois nós temos mulheres lindas e cheirosas em casa nos
esperando o que é malditamente mil vezes melhor que estar aqui com estes bêbados fedorentos. Maldição! Um imbecil quebrou uma cadeira nas minhas costas e um dos
meus dentes está mole. - David reclamou fazendo careta e mexendo no dente da frente.
-Tenho que arrumar esta bagunça. - disse Mitchel.
-Deixe Raily e as meninas cuidarem disso, ele é o gerente do Saloon, não é? Amanhã você cuida disso, vamos para casa.
Mitchel falou com Raily e os quatro saíram para pegar seus cavalos.
-Você quebrou meus dentes, Ian Buller! - um homem rugiu no meio da rua e logo cuspiu sangue no chão.
Ian respirou fundo e lentamente se virou, já esticando e flexionando os dedos sobre sua arma no coldre. Os rapazes estavam a uns cinco metros de distância do homem.
-Você deveria ir para casa, Owen Bluther. Eu não quero matar você. Tenho coisa melhor a fazer em casa do que aturar vocês, imbecis.
-Ah, entendo! Você não quer largar a saia da sua adorável esposa. Diga-me, Ian, você cozinha e faz a limpeza da casa também? Disseram-me que ela é quem manda na
fazenda e cria seus cavalos. Você usa avental para cozinhar e lavar a roupa? Pois eu vi sua esposa usando calças e montando cavalo como um homem. Se não fosse os
cabelos longos e os peitos eu teria confundido com você.
-Você deveria atirar nele, Ian. - Willian resmungou.
-Já acabou seu discurso, Owen? Quando vocês terão algo mais original do que implicar com as modernidades de minha esposa? Ontem mesmo o prefeito estava discursando
sobre quanto nossa cidade está evoluindo e indo a ser uma cidade de grande porte e hoje se matam no Saloon e zombam de uma mulher usando calças. Homem, eu tenho
que dizer. Nunca mais, coloque o nome de minha esposa na sua boca novamente, porque arrebento seus miolos. Você não serve nem para limpar seus sapatos.
-Uuh! - disse zombeteiro e balançando as mãos. -Eu acho que está na hora da Sra. Buller conhecer um homem de verdade. Ela vai gostar do que há no meio das minhas
pernas.
Ian suspirou e balançou a cabeça, indignado.
-Ok, se é morrer que quer...
Os dois se posicionaram no meio da rua, afastaram as pernas e os dedos moveram-se perto da arma no coldre de couro. Todo mundo havia se afastado e se escondido com
medo de ser atingido, sabendo que ali iria acabar em tiroteio, mas iriam testemunhar o duelo de qualquer maneira.
Os minutos em que se concentravam um no outro pareceram durar uma eternidade.
Ian puxou a arma rapidamente, apontou e bateu com a mão esquerda a engatilhando e atirou, acertando bem no meio dos olhos de Owen, sem ao menos lhe dar a chance
para puxar seu revólver. O homem caiu para trás como um saco de batatas. Ian rodou o revólver no dedo com dois giros completos e o meteu no coldre. Virou-se, deu
alguns passos, encontrou-se com os rapazes e subiu no cavalo.
-Ian Buller! Um duelo em plena rua principal? - gritou o xerife Jack Curter se aproximando.
-Deus Santo, quando é que me deixarão simplesmente ir para minha casa? - Ian resmungou e se virou para o xerife.
O velho xerife Jack colocou a espingarda sobre o ombro, puxou a cinta da calça para cima e depois coçou a barba cinza e longa, deu um rosnado e cuspiu no chão, saliva
misturada com fumo que sempre mascava.
-Ora xerife, ele ofendeu minha esposa e isso é uma sentença de morte. E foi um duelo justo, eu tenho várias testemunhas.
-Sei. Vocês quatro devem ir para meu escritório, quero que me relatem tudo.
-Xerife, pelo amor de Deus, estamos cansados e quebrados, Raily pode relatar o que o senhor quiser. Afinal, o que há para dizer? Foi uma briga. Fim.
-Pare de choramingar como um bebê e vão. Agora!
-Xerife...
-E os outros mortos no Saloon, Mitchel? Cale a boca e vão agora e se eu tiver que pedir novamente, eu deixarei os quatro dormindo na cadeira. Estariam felizes com
isso?
-Infernos! - Ian resmungou entre dentes.
Enquanto andavam para o escritório do xerife, iam reclamando.
-Um deles iria atirar em Mitchel pelas costas. Uma morte justa para um covarde. - Willian disse dando de ombros.
-Os outros, o senhor sabe, são arruaceiros, começaram uma briga e destruíram meu Saloon. Sabe o prejuízo que tive, xerife? - Mitchel disse.
-Somos homens de bem, o senhor nos conhece desde que tínhamos calças curtas, mas temos que nos defender. É a lei do oeste. - disse Willian.
-Eu deveria deixá-los passar a noite da cadeia. - disse o xerife.
-Ei xerife, nós? Somos os bons, lembra-se? Não pode deixar no xadrez aqueles imbecis por alguns dias? Eles quebraram meu Saloon, minhas mesas novinhas! - disse Mitchel.
-Sim e quebraram algumas garrafas de uísque preciosas. Muito mal. - David disse sacudindo a cabeça e deu um suspiro.
-É xerife, somos os mocinhos. - Willian disse.
-Sim, eu sei. Diabos! Mas eu preciso de detalhes para não haver complicações, querem passar a noite na cadeia?
-Não senhor, nós não queremos. - Ian disse.
E assim eles ficaram mais algumas horas por lá.
Podem ir, saiam logo daqui antes que eu mude de ideia e os deixe dormir na cadeia. Maldita hora que resolvi aceitar este cargo de xerife.
O homem cuspiu no chão e colocou o cigarro na boca, saiu resmungando palavras furiosas.
-Vamos para casa, rapazes, antes que arrumemos mais confusão. - disse Ian ajeitando seu chapéu e esporeando seu cavalo.
-Com o maior prazer. - David disse.
-Infernos! Hoje eu vou dormir no celeiro. - Willian resmungou.
-Chloe vai me fazer dormir no celeiro por uma semana depois de saber o que aconteceu ao Saloon.
-Duvido. Chloe não expulsaria você de sua cama. Ela é louca por você.
-Acredite, ela faria e até jogaria algo em mim, ela tende a fazer isso, jogar coisas quando está brava. Olhe meu olho, vou ficar roxo, eu deveria ter atirado em
Martin quando me deu este soco.
-Ele é um idiota, entra em todas as brigas na cidade e nem ao menos sabe o motivo de elas terem começado.
-Ele é um fora da lei inato. Algum dia eu mato ele ou ele vai virar um procurado. - disse Mitchel.
-Homem, já anoiteceu faz tempo e eu estou morrendo de fome! - disse Willian limpando o lábio que estava sangrando.
-Que novidade.
-Perdemos o jantar de família.
Todos gemeram.
-Droga.
**
Jayne saiu na varanda ao entardecer e esperava Ian voltar da cidade com Mitchel, David e Willian. Enquanto esperava ansiosa a chegada de seu marido, sorriu ao contemplar
sua bela fazenda. No lado direito ela admirou alguns cavalos correndo e outros pastando no campo verde dentro de um imenso cercado branco.
A primavera havia chegado, e o pequeno, mas bem cuidado jardim defronte a casa irradiava a beleza de suas pequenas flores coloridas, especialmente as bluebonnets,
delicadas flores azuis, típicas daquela região.
O vento que parecia tímido balançava as imensas árvores ao redor da fazenda e fazia com que aquele cenário emanasse mais beleza que normalmente tinha no inóspito
Texas. Os verdes pastos cresciam e ainda estavam molhados pela pequena chuva que caíra pela manhã, sendo um prato cheio para a alegria dos esplendorosos cavalos
puro-sangue.
Na fazenda dos Buller havia um imenso silêncio que era quebrado somente pelos relinchos dos magníficos cavalos, do cantarolar dos pássaros e as risadas das crianças
que brincavam na sala.
O que mais Jayne poderia querer ou esperar de sua vida além de estar em casa com sua família, admirando aquela maravilha?
Emily saiu na varanda levando dois pequenos copos de uísque e sorridente entregou a Jayne. Antes de pegar o copo Jayne alisou a saia de seu vestido marrom com as
duas mãos e lhe devolveu o lindo e aberto sorriso de sua irmã caçula, esposa de Willian.
Mary, esposa de David sentou-se na cadeira e chamou Chloe, a mulher de Mitchel para sentar-se na cadeira de balanço ao seu lado.
Todas, menos Chloe, beberam o uísque e fizeram cara feia quando a bebida desceu queimando a garganta.
-Eles estão demorando tanto, estou com fome. - resmungou Emily.
-David tende a se atrasar para o jantar. - suspirou Mary. -Ele sempre se enrola no celeiro e Willian sempre foi assim, eu precisava chamar pelo menos duas vezes
para vir comer e olha que ele sempre é esfomeado.
-Ian é sempre pontual para as refeições. - disse Jayne com um sorriso.
-Meu bebê está com fome e ele sempre tem prioridade em relação à comida. - disse Chloe e todas riram.
-Bem, nós esperaremos mais alguns minutos e se eles não chegarem jantaremos nós, senhoras. As crianças já estão alimentadas e ouvindo Katie contar histórias. Mas
eu acho que beberei mais uma dose de uísque. Quem me acompanha?
Emily e Mary levantaram a mão.
-Bem que eu gostaria, mas dizem que isso faz mal ao bebê. Mas afinal, eles somente iriam ao ferreiro e se encontrariam com Mitchel no Saloon para virem. O que pode
estar retardando-os? - Chloe perguntou acariciando sua barriga abaloada que carregava o filho de Mitchel.
Elas se entreolharam e gemeram.
**
Os quatro entraram calmamente pela fazenda um ao lado do outro e puderam avistar Jayne e Emily sentadas na varanda que estava iluminada apenas por duas lamparinas
com uma vela dentro, penduradas na parede.
-Eles estão chegando. - disse Jayne.
-Eles juntos são uma visão divina.
-Deveríamos estar zangadas e não desmaiando pelos homens, Emily.
-Ok, eu estou zangada, mas isso não muda o fato que são quatro espécimes de machos mais belos que já vi na vida. Seu marido é lindo demais, mas eu acho meu Willian
mais.
-Graças a Deus por isso. - Jayne disse rindo.
Os quatro pararam na frente da casa e desmontaram.
-Oh meu Deus, Willian, você está sangrando!
-Não foi nada, querida. Só um pouquinho de ação no Saloon.
Jayne gemeu quando viu Ian. Ele subiu os degraus da varanda e acariciou seu rosto.
-Desculpe o atraso para o jantar. Tivemos um problema no Saloon e tivemos que salvar Mitchel.
-Ei, eu estava me virando bem sozinho. - Mitchel resmungou.
-Claro que estava. - disse David zombeteiramente.
-O que houve no Saloon?
-Uma grande briga, um tiroteio, matamos alguns imbecis, o xerife não nos prendeu, viemos para casa e eu estou morrendo de fome.
-Vocês nos deixaram aqui esperando e ficaram brigando no Saloon? - Jayne perguntou indignada.
-Vocês deveriam ir dormir no celeiro e se quiserem ir comer deveriam ir fazer seu próprio prato na cozinha. Chloe teve que se alimentar por causa do bebê, e quando
não voltavam começou ficar apavorada e Jayne teve que fazer um chá para que a acalmasse e está dormindo no quarto de Angel.
-Ela está bem? - Mitchel se adiantou assustado.
-Ela está bem, Mitchel, mas estava nervosa por você. Ela está grávida, portanto chora por qualquer motivo.
-Diabos! Bem, a briga não foi culpa minha. Quer dizer... Bem eu fiquei revoltado por aquele imbecil ter matado um homem no meu bar e logo foi uma cachoeira de pessoas
se metendo na briga...
-Nós deveríamos estar em casa, mas ao invés, estou aqui na Jayne com meus três bebês tendo que dormir na cama de Josh! - Emily resmungou com as mãos na cintura.
-Fiquei com medo de ir embora sozinha na carroça com eles a esta hora da noite.
-Claro que Josh e Angel estão dormindo na minha cama, comigo, pois tive que ceder suas camas, portanto não há lugar para você, Ian. - Jayne falou.
Ian fez uma careta.
-Mary e as crianças estão aqui? - David perguntou preocupado.
-Você os deixou aqui, esqueceu? Estão dormindo no quarto de hóspedes. Mary estava aflita, tive que dar chá calmante a ela também.
-Minha bonequinha aflita. Isso não gosto.
-Mary é muito sensível, David, qualquer pensamento de que algo ruim aconteça a você, apavora-a. Pensei que conhecesse sua mulher melhor que isso. - disse Emily.
-Somos homens, não deveriam parar com estas lições para meninos?
Jayne e Emily olharam para Mitchel com uma carranca.
-Claro. Emily dormirá na cama de Angel com os gêmeos e fiz uma cama no chão para Ethan. Estas mantas são para vocês colocarem sobre o feno no celeiro, já que na
casa não há mais camas. Creio que sobre o feno seja mais confortável do que no chão puro e já que são homens adultos e fortes e não meninos, não será ruim dormir
lá. -Jayne disse.
Os rapazes gemeram fazendo careta.
-Será que minha mulher amada e mais querida do mundo inteiro poderia cuidar de mim? Estou ferido e dói muito aqui, preciso comer, pois estou com muita fome. Sinto-me
fraco, acho que vou tombar se não me deitar. - Willian disse gemendo com a mão nas costelas.
Os três rapazes olharam para ele como se ele tivesse duas cabeças.
-Oh meu Deus! Will, você está tão ferido assim? Onde dói? Foi baleado? Você não vai morrer, vai? Venha, vou deitá-lo na cama e cuidarei de seus ferimentos, depois
lhe arrumarei um prato de comida. - gritava Emily indo abraçar Willian e o olhando com os olhos arregalados e Jayne girou os olhos de incredulidade por Emily ter
perdido seu juízo.
-Está muito ferido, Ian? - Jayne perguntou.
-Não, somente com o rosto um pouco dolorido. Mas posso inventar alguns ferimentos graves se isso funcionasse com minha esposa mais amada do mundo, para que me deixasse
dormir na minha cama? - Ian perguntou a Jayne e ela o olhou com descrença, mas teve vontade de rir.
-Não. Creio que terá que dormir no celeiro. Angel e Josh já estão muito grandes e nós quatro não cabemos mais na mesma cama. Boa noite, meu marido mais amado do
mundo, eu vou me deitar com meus filhos na nossa cama quentinha e fofinha que não pinica em nada. A comida está no fogão. Se não quiserem ter o trabalho de acender
novamente o fogo, podem comer pão e carne assada, tem uma jarra de vinho sobre a mesa.
Ela virou-se e entrou na casa.
-Isso é injusto. - rosnou Mitchel.
-Bem, ninguém vai morrer por passar uma noite no celeiro. Droga. Da próxima vez que você se meter em uma briga, o deixarei lá. - Ian disse.
-Isso também é injusto. - rosnou Mitchel novamente.
-Venham, vamos para a cozinha comer.
**
Quando era madrugada Jayne não havia dormido quase nada, levantou, colocou o xale de lã sobre os ombros, pegou o lampião e foi para a cozinha fazer um chá, depois
iria até o celeiro ver como estava Ian. Queria estar indiferente, mas não estava. Sua raiva havia sido engolida pela preocupação.
Quando chegou à cozinha viu Ian sentado na cadeira com os braços cruzados sobre a mesa e com a cabeça apoiada neles. Jayne olhou com descrença para a cena e suspirou.
Colocou o lampião sobre a mesa e tocou no seu ombro.
-Ian, você está bem?
Ele lentamente levantou a cabeça e se escorou na cadeira e retirou os cabelos do rosto.
-Sim, somente com dor de cabeça.
-Seu rosto está inchado.
-Não é nada. Em dois dias estarei bem.
-Certo. - disse entortando a boca.
Jayne fez um chá com ervas calmantes e analgésicas e serviu uma caneca a ele.
-Beba isso, vai fazer a dor passar.
Ela então pegou um pano limpo, uma tigela de água fria e colocou o pano embebido sobre seu rosto.
-Não precisa cuidar de mim, pode ir dormir.
-Bem que eu tentei dormir, mas estava preocupada com você, afinal não sou má para não me importar com seu estado, marido.
-Não achei que estava sendo má, Jayne.
-Estava nervosa e zangada.
-Eu sei, não precisa se justificar.
Jayne soltou a respiração cansadamente.
-Mitchel deveria se livrar daquele Saloon. Ele não está feliz em ter que cuidar disso. Essas brigas nunca cessam, qualquer dia pode acabar mau.
-Também acho.
Ela molhou o pano novamente e colocou sobre seu rosto. Após alguns minutos ela encheu duas canecas de chá e colocou na frente dele.
-Leve isso para David e Mitchel no celeiro, também devem estar sentindo dores. Fiz bem forte para fazer efeito rápido. Depois venha que vou colocar Josh dormir na
cama com Kate e assim você pode deitar-se na sua cama. Ficará um pouco apertado, mas servirá.
-Jayne, não precisa. Voltarei para dormir no feno, não me importo. Já dormi muitas vezes sobre o feno e no chão duro. Não vai me matar.
-Por favor, faça isso. Pretendo dormir o resto da noite e não o farei com você no celeiro.
Ian pegou em sua mão e a puxou para que sentasse em seu colo e a beijou nos lábios. Ela então o abraçou forte.
-Sinto muito. - ele disse acariciando suas costas.
-Está tudo bem, eu teria feito a mesma coisa se estivesse no seu lugar.
-Como está Willian? Estava mesmo machucado ou era apenas fingimento para manobrar Emily?
Jayne riu.
-Aqueles dois são incríveis. Emily vai me surpreender até a morte. Ele foi manhoso e esperto, mas sim, estava ferido, pelo que vimos está com pelo menos uma costela
quebrada. Emily cuidou dele e está dormindo.
-Bom. Hum, você está tão cheirosa, me dá vontade de mordê-la.
Ele esfregou-se contra seu pescoço, beijando-a.
-Gosto muito quando fala com esta voz rouca.
-Posso mostrar-lhe sons bem interessantes, querida.
-Sei. - disse rindo. -Conheço alguns que me faz muito feliz.
-Hum, e quer que lhe mostre alguns esta noite?
-Sinto, mas sua filha está em nossa cama, teremos que deixar para amanhã e além do mais você deve descansar.
-Que pena.
Jayne riu novamente e o beijou nos lábios.
-Eu amo você, Ian.
-Eu também, Jayne. Vamos, já que não posso fazer nada, deixe-me levar este remédio para os rapazes e assim você pode dormir.
-Resmungão.
-Mulher desbocada, eu preciso mostrar-lhe quem manda nesta casa.
Ele riu e deu um tapa no bumbum de Jayne quando ela levantou de seu colo. Ela soltou um gritinho e riu.
**
-Deveríamos acordá-los, Mary? - Chloe perguntou, com um ar de preocupação.
-Jayne disse que lhes deu um chá forte com ervas anestésicas durante a noite, deve ser por isso que estão dormindo tão profundamente. Há esta hora David sempre está
de pé.
-Gostaria de saber o que ela colocou no chá que me deu; eu não dormia assim tão pesadamente desde que fiquei grávida, ultimamente então, mal consigo dormir.
-Pelo menos você descansou. E nem pergunte, que obviamente era algo que não prejudicaria seu bebê, Jayne entende muito de ervas.
Ela assentiu e se aproximou tocando na perna de Mitchel.
-Mitchel? - Chloe chamou e ele acordou e lentamente sentou e olhou para ela, soltando um gemido.
-Chloe, você está bem?
-Eu estou, quero saber se você está.
-Estou bem.
Ele levantou e gemeu novamente.
-Deus Santo, eu creio que estou descadeirado.
-Seu rosto está horrível, meu Deus!
-Oh obrigado por me acordar e me deixar saber que estou lindo.
-Ver seu rosto arrebentado não é divertido, Mitchel Vaiz.
-Os homens que eu soquei estão bem piores.
-Vamos para casa e enquanto isso você me conta o que houve. Tome este café para ajudá-lo a acordar.
-Nosso bebê está bem?
-Sim, está.
-Chloe, eu estou muito inclinado a vender o Saloon.
Ela olhou-o com espanto.
-Vender?
-Não estou com disposição para cuidar disso e você agora com nosso filho deveria pensar o mesmo. Prefiro lidar com meus cavalos.
-Mas Mitchel, o Saloon dá um bom retorno.
-Dá sim, mas não vale a minha vida quando dá uma confusão.
-Entendo. Homens, bebida, jogo e pistolas não são boas combinações.
-Não, não são.
-Mesmo com o administrador isso não está lhe agradando.
-Não, não está, porque o pior sou eu que tenho que tratar. Sou um fazendeiro, Chloe, não um dono de Saloon com dançarinas de cancan.
-Mas aquele lugar é tudo o que sempre conheci.
Mitchel bebeu mais um gole do café sem tirar os olhos dela. Chloe respirou fundo.
-Sei que está certo, só ainda não me acostumei com a ideia de cortar aqueles laços definitivamente. Eu gosto do Saloon, gosto de criar as danças para as meninas.
-Olhe bem para a minha cara, olhe para David, William, para a cara de Ian e isso dando graças a Deus que ninguém levou um tiro. Eu estaria morto agora se Willian
não tivesse matado Owen antes que atirasse em mim pelas costas. Olhe para quanto vou gastar para concertar tudo o que foi quebrado e depois venha me dizer se eu
tenho que aguentar isso.
Mitchel saiu do celeiro e Chloe ficou ali parada e sentiu vontade de chorar, respirou fundo e empurrou as lágrimas para que não caíssem, e só então olhou para Mary
que a estava olhando com os olhos arregalados.
-Sinto muito, Chloe.
Chloe assentiu, baixou a cabeça e saiu do celeiro. Mary suspirou e então olhou para David. Ele estava deitado sobre a manta no feno, com o chapéu sobre o rosto,
com os braços cruzados no peito e os pés cruzados.
-David! - ela esperou e ele não se moveu. -David! - Mary gritou mais auto e num salto ele sentou e olhou ao redor.
-O que? O que houve? Ai! - ele gemeu e colocou a mão na boca. - Droga, isso dói.
-Imagino que sim. Sua cara está horrível.
-Sinto muito que você tenha que olhar para esta cara feia.
-Só hoje ela está horrível, o resto dos dias ela é perfeita. Trouxe café.
Ele levantou e bateu na roupa para tirar alguns talos de feno.
-Tenho traumas de celeiro. - Mary disse.
-Sei, mas eu gosto, foi onde a beijei pela primeira vez.
-Lembra-se disso?
-Como ia esquecer? Primeiro você quase me mata de susto quando caiu do segundo andar, depois Willian nos flagra e você diz que não se casaria comigo. Quase fiquei
traumatizado pelo resto de minha vida.
-Você nunca foi muito inteligente. - Mary disse rindo.
-Oh, obrigado, pelo menos você não tem o que reclamar de meu enorme corpo sedutor.
Ela riu e o abraçou.
-Disso não. Amo você, David.
-Eu também bonequinha. - ele a beijou e depois gemeu e passou a língua pelo corte que havia no seu lábio.
-Oh, fiquei tão preocupada ontem. Não conseguia sair da janela esperando que chegasse. Acho que Jayne me deu uma droga ou algo para fazer que me acalmasse e fosse
para a cama, antes que ficasse histérica.
-Sinto muito.
-Sei que vocês homens tem estas coisas de brigas, honra e tiros, mas poderia ficar longe delas, por favor? O que seria de mim e nossos filhos se algo acontecesse
a você?
-Nada vai acontecer, minha bonequinha.
-Eu deveria bater em você por me preocupar tanto.
-Mas ao invés de me bater você poderia me alimentar? Estou faminto.
-Sim, marido. Eu vou alimentá-lo e depois farei um unguento para suas dores. Este corte de seu lábio está feio. Mas depois deveria bater em você.
David riu e a beijou.
-Amo você, Mary.
**
Enquanto naquele lado do mundo a paz estava instaurada, do outro lado, em Madri, as coisas não andavam tão bem para um casal que tentava encontrar sua paz.
Enrique estava em sua mansão, sentado na biblioteca, folheando um grosso livro de direito sobre o colo. Segurava um copo de brandy que revirava entre os dedos. Ele
bebeu um gole e olhou para o líquido.
-Sinto falta da tequila, eu devia ter trazido algumas garrafas do Texas. - resmungou, fechando o livro e o colocando em uma mesinha ao seu lado.
Ele respirou fundo e esfregou os olhos com os dedos. Estava cansado e aborrecido por ainda não ter se reconciliado com Catherine. Havia ficado muito magoado com
ela e suas atitudes em relação à Jayne e o julgamento, mas sentia muita falta dela. Na verdade sentia mais falta do que imaginou que sentiria. Talvez gostasse dela
mais do que pensou que gostaria.
Sentia um imenso vazio no peito, vazio que ele percebia agora que fora preenchido por ela nos meses em que estiveram juntos. Ele apreciava a companhia dela, lhe
fazia rir e a paixão... Ah sim, somente de olhá-la seu corpo todo esquentava e gritava por tocá-la e amá-la.
Seu coração havia se aquecido com ela, sem mesmo que ele se desse conta. E agora estava se sentindo muito frio e vazio.
Catherine havia entrado em sua vida inesperadamente e conquistado um espaço que ele mesmo nem sabia que teria em seu coração, após perder Jayne. Logo seu filho nasceria
e teria que resolver o que fazer com ela e seu filho. O problema, além de seu coração quebrado, era saber que ela estava mal vista e mal falada na cidade.
Todos sabiam que ela era uma solteira grávida e pior de tudo, abandonada por ele. Ele soube que ela era alvo das más línguas, das chacoteiras, e a tia de Catherine
se deu ao trabalho de dar longos sermões a ele. Segundo ela, o que importava é que Enrique deveria casar com ela e lhe dar um sobrenome, os sentimentos não importavam
naquele momento. Por sua irresponsabilidade havia jogado Catherine na lama, havia destruído a reputação de uma senhorita. Outra vez.
Depois do que fizera com Jayne em Londres não havia aprendido nada. Continuava metendo os pés pelas mãos. Apesar de Catherine ter cometido um erro grave e tê-lo
magoado, traído sua confiança, ele havia cometido um erro pior. Engravidou-a e a abandonou.
Ela estava confinada na casa de sua tia, para evitar os murmúrios maldosos e ele a queria de volta, mas passar por cima de seu orgulho ferido era difícil. Afinal,
o que é um homem sem seu orgulho e sua honra?
A vida poderia ser realmente uma emboscada, pois poderia levar as pessoas por caminhos que nem imaginavam. Mas por um lado talvez esses caminhos fossem os corretos
e Jayne não fazia mais parte de sua vida. Talvez ela nunca tivesse realmente entrado em sua vida. Ele havia sonhado e almejado algo que no fundo sabia que não era
dele.
Pelo menos ele nunca havia entrado na vida dela como havia almejado. Tudo estava uma bagunça e ele teria que dar um jeito de consertar tudo.
Enrique assustou-se com as insistentes batidas com a aldrava na porta da frente. Aquilo soava tão alto que fazia eco pela mansão. Contrariado pela demora da serviçal
de vir atender a porta, praguejou. Dali alguns segundos uma criada veio ao seu encontro.
-Com licença, meu lorde, há um homem muito nervoso na porta que insiste em lhe falar.
-Somente se for caso de vida ou morte.
-Meu lorde, eu creio que o seja. - disse o homem se antecipando e nem esperando que aceitasse recebê-lo.
Enrique resmungou e levantou-se olhando para o homem que segurava um chapéu coco entre as mãos.
-O que deseja? O que pode ser tão importante para entrar na minha casa de maneira tão desarvorada e sem ser convidado?
-Meu lorde, perdoe-me a minha ousadia por entrar sem ser convidado, mas eu sou um serviçal da casa de Gertrud Brannan.
Enrique sentiu seu coração apertar. Gertrud era a tia de Catherine.
-O que houve?
-Vim avisar-lhe que a Srta. Catherine Brannan está acamada.
-O quê? - gritou assustado dando um passo para trás. -O meu filho nasceu? Já era tempo? - perguntou confuso.
-Não, meu lorde, ela teve um mal súbito na livraria Valencia, no centro, e a levaram para casa, onde um médico foi chamado para atendê-la. Creio que o dono da livraria
assustou-se por causa da... Bem, barriga avantajada. Mas até o momento que saí seu filho não tinha nascido.
-Obrigado.
Enrique saiu correndo e foi até a casa de Gertrud e já foi logo entrando sem se anunciar e deparou-se com ela que resmungava preocupada e o olhou como se quisesse
lhe arrancar os olhos.
-Pelo menos teve uma atitude honrada em vir até aqui saber da menina.
-Peço que não comece com seus sermões.
-Sermões não lhe adiantaram de nada, não é? É a menina que sofre por ser uma desonrada e largada por você.
-Lembre-se por qual motivo eu larguei a sua adorada sobrinha. Deixe esse assunto por agora, resolveremos depois. Como está Catherine?
-Devemos esperar aqui, o médico deverá nos colocar a par. Ela não pode ter o bebê, ainda é cedo. Se bem que sua barriga está tão avantajada.
-Estava machucada? Alguém a tocou?
-O dono da livraria disse que ela comprava um livro e trocou algumas palavras com um senhor e logo ela desfaleceu. Ele a trouxe, pois é de seu conhecimento nossa
residência e eu chamei o doutor. É tudo o que sei.
Enrique esperou, andando de um lado a outro até que o médico saísse do quarto. Seu coração estava tão doído que tinha vontade de chorar. Se algo acontecesse a Catherine
e seu filho, não se perdoaria jamais. Quando o médico saiu no corredor, foi cravejando de perguntas o pobre homem.
-Senhor, é o marido?
-Sim, bem... Não, ainda. - o homem estreitou os olhos e arranhou a barba cinza. -Como ela está? E meu filho?
-Acalme-se, senhor. A senhorita teve um sangramento, mas não está na hora dos bebês nascerem, eles estão bem.
-O que houve?
-Bem, o que levou a ter uma crise destas deve ter sido um susto, um nervosismo extremo, força demasiada ou algo assim. O estado dela é delicado, ainda faltam algumas
semanas para os bebês nascerem, então deve repousar muito. Mais um sangramento como o que ela teve hoje, não só os bebês, como ela mesma podem não sobreviver.
-Meu Deus!... Espere aí, o que disse? Os bebês?
-Sim, ela está esperando gêmeos, pelo menos detectei dois batimentos cardíacos e sua barriga está bem desenvolvida para ser de oito meses como ela afirma estar.
Por isso que ela está tão fraca, não está se alimentando bem e seu corpo não está resistindo a gerar dois bebês.
Enrique ficou paralisado e mudo por alguns minutos, olhando para o médico com os olhos arregalados.
-Vou ter... Dois filhos de uma vez?
-Vai, senhor...?
-Sr. Gonzáles, ou visconde de Spina, como preferir.
-Fique tranquilo, ela vai ficar bem se ela se cuidar. Sugiro que contrate uma enfermeira para cuidar dela e pode me chamar se precisar. Devemos observá-la por alguns
dias.
-Tudo bem, eu vou cuidar disso. Posso vê-la?
-Pode. Chamem-me se ela não passar bem.
O médico despediu-se e Enrique entrou no quarto e a avistou deitada na cama, recostada nos travesseiros. Estava com os olhos fechados e estava muito pálida. Enrique
sentiu todo seu interior virar-se do avesso.
Ele se aproximou e sentou na beirada da cama, olhou-a com tristeza, olhou para a sua enorme barriga e colocou delicadamente a mão sobre ela. Catherine abriu os olhos
e virou o rosto. Quando viu que era Enrique, não conseguiu segurar as lágrimas que lhe correu dos olhos.
-Olá, Catherine. - ele disse suavemente.
-Enrique. - disse num sussurro.
-Você vai ficar bem, foi apenas um susto. Não chore.
-Enrique, perdoe-me.
-Tudo bem, Cath, fique calma, não se exceda. Nossos filhos estão bem, você está bem.
-Eu não aguento saber que me odeia.
-Eu não a odeio. Mas eu fiquei bravo com você.
-Nunca vai me perdoar pelo que eu fiz?
-Você me magoou muito, eu confiava em você.
-Eu sinto muito. Eu sei que o que fiz te magoou e que fui injusta com Jayne. Minha atitude foi muito imatura. Fui impulsionada pelo ciúme e cometi essa crueldade,
mas eu estou infeliz e arrependida do que fiz a você.
-Esqueça isso, precisa ficar tranquila agora.
Ela suspirou cansadamente.
-Eu quero voltar para os Estados Unidos, ficar com meus pais. Não quero mais ficar na Espanha. Sei que meu pai me rechaçou, mas quando chegar a casa, ele me acolherá.
Minha mãe...
-Você não vai a lugar nenhum. - ele a interrompeu. -Não aguentará uma viagem de semanas em um navio. Vai voltar para nossa casa.
-Para sua casa?
-Sim, para onde mais? Lá é seu lugar, comigo.
-Você não me perdoou. Como posso ir para sua casa?
-Vou lhe dar um crédito de confiança, espero que não me decepcione.
-Eu juro que não, eu nunca mais vou fazer nenhuma estupidez.
-Acredito em você. Venha aqui.
Enrique a abraçou fortemente e ela chorou copiosamente.
-Calma, está tudo bem. Vamos recomeçar e vamos ficar bem.
-Eu prometo que vou fazê-lo feliz. Serei uma boa esposa e boa mãe.
Ele sorriu e secou suas lágrimas com os dedos.
-Eu sei e eu vou ser um bom esposo e um bom pai. Nós vamos ficar bem, Cath. - ela assentiu vagarosamente. -O que houve na livraria?
-Eu encontrei Peter. Estava feliz por saber que venceu você. Fiquei nervosa e furiosa comigo e com ele, então passei mal e desmaiei.
-Peter vai pagar por isso. Se aquele idiota pensa que eu deixarei tudo isso sem resposta, ele está enganado. Vou encontrar um meio de pegá-lo.
-É um malvado. Mas não quero mais pensar nisso agora. Preciso cuidar da minha gravidez. Não quero que nada aconteça.
-Sim. Sabe... Hoje eu percebi uma coisa muito importante.
-O que?
-Que eu amo você.
-Ama? - perguntou espantada.
-Sim, fiquei apavorado quando soube que passou mal e não foi somente por medo por meus filhos, foi por você. Percebi que não posso viver sem você. Não quero perdê-la,
porque me apaixonei por você no dia que fui visitá-la e você atendeu a porta com esses olhos brilhantes, usava um lindo vestido verde que realçava a cor dos seus
olhos.
-Mas... E... Jayne?
-Ela tinha razão, eu queria provar que era um homem melhor, queria compensá-la pelas coisas ruins que lhe fiz no passado. Achei que me casando com ela sanaria minha
consciência. Mas muitas coisas não podem ser recuperadas. Os sentimentos mudam e há coisas que temos que deixar para trás. Não podemos obrigar as pessoas a nos amar
e desejar isso às vezes nos faz tomar atitudes estúpidas. Ela me magoou, mas tenho me perguntado até onde é culpa dela. Todos cometem erros, Catherine, ninguém é
perfeito. Mas minha vida agora é ao seu lado. E a única coisa que sei é que preciso de você, a amo e a quero, para sempre.
-Oh, Enrique, eu o amo tanto!
Os dois se abraçaram, com os corações descompassados no peito.
-O médico disse que você vai ter gêmeos.
-Sim, ele disse-me.
-Por essa nós não esperávamos, não é? - disse sorrindo.
-Não, mas eu gostei, apesar de ter ficado assustada.
-Eu também. Eu acho que nós temos um casamento para providenciar.
Ela riu em meio aos soluços e os dois se abraçaram mais.
-Eu senti sua falta, Catherine?
-Oh Deus! Eu também senti muito sua falta.
Enrique estava com seu coração com tanta felicidade de ter gêmeos que esqueceu qualquer rancor que havia no seu coração. Precisava ser feliz e se Catherine estava
disposta a redimir-se, lhe daria uma chance, afinal, ali estava sua nova família. E ele mesmo surpreendeu-se do quanto a amava.
**
Ian estava no escritório acertando o pagamento dos empregados.
-Livro de contas me deixa irritado. - Ian disse esfregando a testa.
-Ter tantos empregados e uma fazenda deste tamanho, senhor, dá muito trabalho. - disse James com um sorriso.
-Eu sei. Às vezes eu até tenho saudade da tranquilidade que eu vivia quando morava aqui sozinho. Eu nem tinha um escritório. - disse com diversão. -Isso foi coisa
daquela maluquinha da minha mulher.
-Gostaria de voltar no tempo? - James perguntou com um sorriso.
-Não, James. Sem minha Jayne e meus filhos, não.
-Boa tarde, Sr. Buller. - disse Matt aparecendo na porta. Segurando o chapéu na frente do corpo e com o olhar baixo.
-Boa tarde Matt. - disse Ian, respirando fundo, recostando-se na cadeira e cruzando os dedos sobre o estômago, escorando os cotovelos nos braços da cadeira. -O que
quer?
-Senhor, eu gostaria de voltar para casa, trabalhar aqui. - Ian o olhou seriamente, mas não respondeu. -Eu ainda tenho a dívida com o senhor, mas eu gostaria de
voltar. Sei que não vai me perdoar a dívida, mas...
-Matt... - o interrompeu. -Eu não vou tirar a autoridade de Jayne sobre isso. Eu respeito as decisões que ela toma, ela também é patroa aqui.
-Eu sei senhor.
-Quanto a voltar para cá, eu vou pensar. Agora volte ao trabalho.
-Sim, senhor.
Matt colocou o chapéu e saiu da sala.
-O que acha James?
-Se ele voltar pode deixar que eu vou ficar de olho nele, patrão.
-Jayne não vai perdoar essa dívida.
-Eu sei, e sei também que não é pelo dinheiro e sim pelo castigo.
-Ela sofreu muito com a perda do Diamante. Ela tem passado por maus bocados, James. Às vezes eu nem sei como ela aguenta.
-Nunca conheci uma mulher com tanta fibra, ela parece uma rocha.
-Parece, mas ela não é. E até mesmo as rochas racham, James.
-Eu sei. Senhor, eu estava pensando... O senhor vai vender a fazenda que comprou dos Adams?
-Vou.
-Quanto o senhor quer por ela? - Ian o olhou intrigado.
-Por que, James, você quer comprá-la?
-Não sei senhor, depende de quanto vai pedir por ela, tenho um dinheiro guardado, há muitos anos eu tento comprar minha terra.
-Vai deixar seu trabalho aqui?
-Não, senhor, mas um dia eu não poderei mais ser seu capataz, então terei minha casinha. Não sei se meu dinheiro dá para comprar aquela fazenda, mas se pelo menos
o senhor me vendesse a casa e um pedaço de terra ao redor, eu já ficaria feliz. E minha intenção é colocar Matt tocar a fazenda.
-Sobre a fazenda, vou ver sobre isso e conversaremos, James.
-Obrigado, patrão, e não se preocupe que eu e Anna continuaremos trabalhando. O farei até que meu trabalho lhe seja útil.
-Bem, isso já me deixa aliviado. Agora vamos cuidar destes pagamentos.
**
Angel estava sentada na grama, mascando um talinho de mato e olhando para o céu. Ela estava distraída com seus devaneios e pensando na poesia que estava escrevendo
em seu caderno diário. Ela molhou a pena no tinteiro e começou a escrever novamente.
-Oi, Angel.
-Ai, que susto! - disse virando-se assustada.
-Desculpe, eu não quis assustá-la.
-Matt, o que faz aqui? Pensei que estava na fazenda do tio Willian.
-Vim falar com seu pai.
-Hum... E ele não lhe deu um tiro?
-Pelo visto não.
-Você não pode falar comigo, está proibido, esqueceu?
-Eu sei, mas eu queria lhe pedir desculpas.
-Não sei se eu posso desculpá-lo.
-Por que não?
-Você traiu minha confiança. Fiquei de castigo por sua causa e por minha burrice, é claro. Mas não vou lhe perdoar tão fácil pelo que fez. Como pôde fugir com o
Diamante daquele jeito?
-Eu sei, foi uma idiotice, mas não quero perder sua amizade, Angel. E isso já faz tanto tempo, mas ainda me ignora.
-Devia ter pensado nisso antes de roubar o Diamante e me colocar numa enrascada daquele tamanho, agora é tarde para pedir desculpas. Se o meu pai vir você aqui falando
comigo ele o expulsa.
-Eu não sou um monstro, Angel.
-Eu não disse que é, mas ultimamente as suas atitudes não agradaram a ninguém, muito menos a mim.
Angel levantou do chão, bateu na saia de seu vestido azul celeste para retirar os matos, lhe virou as costas e foi se afastando.
-Angel, espere. Eu estou pagando pela minha burrice, não posso falar com você, nem trabalhar mais aqui e estou endividado até o pescoço.
-Então, boa sorte com isso.
-Se sua mãe me perdoar a dívida, posso conseguir juntar dinheiro. Nunca imaginei que uma droga de garanhão custaria essa fortuna para terem me transformado num escravo
para o resto da vida.
-Diamante era um cavalo puro-sangue e premiado no maior concurso deste país, seu tolo!
-Eu sei. Bem... Você é minha amiga...
-Você está pedindo para eu interceder para que perdoe a dívida?
-Faria isso por mim?
-Não! - disse ela indignada.
-Angel, por favor, em nome da nossa amizade.
-Já disse que não. Se quiser que ela perdoe a dívida, peça você mesmo.
-Terei que me humilhar para ela e não vou fazer isso. Ela me humilhou quando me deu um tapa na cara. Não se faz isso com um homem.
-Bem, então vai trabalhar até pagá-la. E se o tapa que ela lhe deu lhe humilhou, deveria pensar na dor que ela sentiu quando teve que atirar no Diamante. Eu percebi
isso e me humilhei pedindo perdão.
-Mas ela é sua mãe.
-Então eu não posso ajudá-lo. Não importa que ela seja minha mãe, temos que nos arrepender das coisas erradas que fazemos e pedir desculpas, para quem quer que seja.
Você me pediu desculpas, peça a ela.
-Mas você não me desculpou.
-Tudo bem, Matt... - disse respirando fundo e fechando os olhos por um minuto. -Eu vou desculpá-lo, mas mesmo assim não pode falar comigo. Eu não quero me indispor
com meus pais novamente.
-Por que me desculpa se não quer falar comigo?
-Porque meu pai disse que eu não posso e vou obedecê-lo.
-O Sr. Buller não pode me proibir de falar com você.
-É claro que ele pode, ele é meu pai.
-Ele não é seu pai, e foi ele que matou seu verdadeiro pai.
Matt falou rápido sem se dar conta do que tinha feito, mas era tarde. Angel paralisou e olhou para ele com os olhos arregalados, seu coração quase parou de bater.
-O... O que?
-Desculpe Angel, eu não devia ter dito isso. Mas é verdade.
Angel mal respirava e não sabia o que responder, engoliu a seco e a saliva mal passou pelo imenso nó que se formou na sua garganta.
-Matt... Papai Ian é o melhor pai deste mundo, não fale mal dele, senão eu mesmo lhe dou um tiro.
Ela lhe deu as costas e saiu andando com as lágrimas escorrendo.
-Angel, espere. - disse ele a agarrando fortemente pelo braço.
-Solte-me! - disse ela tentando se desvencilhar dele.
-Acho melhor soltar a moça.
Matt e Angel olharam para o rapaz encima do cavalo que seriamente os olhava. Nem haviam o ouvido se aproximar.
-Richard! - disse Angel.
-Quem é você? - perguntou Matt bruscamente.
-Isso não importa! Quem é você para segurar uma dama desta maneira? Solte-a, já disse! - disse severamente e Matt a soltou.
-Sou amigo dela e você?
-Amigos não tratam amigos assim, muito menos uma dama. Angel dê-me sua mão e suba no meu cavalo.
-Ela não vai com você! - Angel correu e Richard a pegou pelo braço e a puxou, fazendo-a subir na sua garupa. -Angel, eu preciso falar com você. Quem é ele e como
tem liberdade para chamá-la pelo primeiro nome?
-Você já falou demais, Matt; vá embora, senão chamarei meu pai. - disse Angel e Richard tocou o cavalo deixando Matt para trás.
-Droga! - gritou Matt furioso.
Richard depois que se afastou diminuiu o galope e virou-se para Angel.
-Você está bem? Estava a cavalo? - perguntou a ela.
-Sim, mas ele ficou para trás.
-Tudo bem, depois eu venho buscá-lo, vou levá-la para casa.
-Não, eu não quero ir para casa.
-Por que não?
-Vamos ao lago, por favor.
-Sua mãe vai ficar preocupada, você não deve andar por aí sozinha.
-Eu sei, mas eu estava dentro das terras do meu pai e preciso ficar aqui só um minuto. Por favor, Richard, depois você me leva para casa.
-Está bem.
Ele cavalgou até o lago e os dois desceram do cavalo. Ela foi até a beirada e parou olhando para a água. Richard somente a ficou olhando. Lágrimas correram dos olhos
dela e ela sentou-se no chão.
-Richard, se você descobrisse algo horrível do seu pai, o que faria?
-Depende o que considera horrível. Por quê? Seu pai fez algo horrível, que a envergonha?
-Não sei o quanto isso é horrível, está doendo muito saber disso, mas minha mãe disse que foi por uma boa causa.
-Que causa seria essa?
-Proteger a vida dela, minha e do meu irmão.
-O seu pai parece ser um homem bom, não deve ter feito algo por maldade.
-Acho que não.
-Você ama seu pai?
-Muito, ele é maravilhoso.
-Então não deixe que nada abale isso. - ele chegou perto dela e secou suas lágrimas. -Eu não sou um extenso conhecedor da sua família, senhorita, mas sou ótimo observador
e eu nunca conheci uma família que se tratasse com tanto amor e respeito como a sua. Seu pai e sua mãe possuem um amor que qualquer um invejaria.
-Seus pais não são assim?
-Não. Na verdade meu pai morreu quando eu era pequeno, eu herdei seu título de conde. Este que chamo de pai é meu padrasto. Minha mãe se casou com ele três anos
depois que ficou viúva. Eles não demonstram carinho em público, mas sei que eles amam a mim e meu irmão. Confesso que sinto inveja de como sua família é calorosa
e espontânea.
-Então seu irmão mais velho não é seu irmão de verdade?
-Não, meu padrasto também era viúvo e tinha Jeremiah.
-É por isso que você é assim tão fechado?
-Eu tenho meus motivos.
-Foi bom vê-lo, já faz tanto tempo que voltamos da Europa e nós não nos vimos mais... Eu... Senti saudades.
-Sentiu?
-Ham... Sim... Quero dizer, das aulas de piano.
-Claro. - disse com um sorriso. -Você não quer voltar a ter aulas?
-Gostaria, eu vou pedir para minha mãe. Você ainda quer me dar aulas?
-Ficarei feliz em lhe dar aulas, senhorita. Venha, eu vou levá-la para casa antes que sintam sua falta e se preocupem. - Richard e Angel subiram no cavalo e seguiram
lentamente para a fazenda dos Buller. -Minha casa já ficou pronta. - Richard disse com um lindo sorriso.
-Verdade?
-Sim, devo mudar-me para lá amanhã.
-Que bom, Richard. Vai morar sozinho?
-Eu e os empregados.
-Que triste.
-Não é triste ficar sozinho, eu gosto.
-Quem gosta de ficar sozinho? Deve sentir solidão.
-Ficar sozinho não é sinal de solidão. Podemos estar no meio de muita gente e nos sentir sozinhos. Isso vai do seu estado de espírito. - andaram mudos por alguns
minutos. -Se está com dúvidas sobre seus sentimentos ou das razões pela qual seu pai teve alguma atitude, converse com ele. Se ele sabe conversar, vai se abrir com
você. Não guarde dúvidas nem rancor no seu coração, pois elas crescem e se tornam fantasmas.
-Acho que você está certo.
**
Jayne estava perto do cercado e olhou estranhamente quando viu Trovão entrar pela porteira adentro sozinho.
-Kate, onde está Angel?
-Não sei senhora, ela estava com o Trovão, quando a vi.
-Maldição! Ian! - gritou correndo em direção a ele.
-O que foi?
-Acho que aconteceu alguma coisa com Angel, o Trovão voltou sozinho. Kate disse que ela estava com ele.
-Ela saiu da fazenda?
-Eu não sei, mas pelo visto sim.
-James, traga meu cavalo! - gritou ele.
Quando Ian ia montar, Jayne o puxou pela camisa e avistaram Richard e Angel vindo a cavalo.
-Angel, onde estava? - perguntou Jayne nervosamente quando eles pararam na frente deles.
-Estava no campo próximo ao lago. - disse e desceu do cavalo.
-Eu a encontrei e a trouxe, senhora Buller. - disse Richard.
-Está ferida?
-Não, não houve nada, estou bem. - respondeu Angel.
-Obrigado, Richard. - disse Ian o olhando atentamente.
-Por nada, senhor. Voltarei onde eu encontrei Angel para procurar seu cavalo, deve estar por lá.
-Trovão já retornou.
-Bem, então até mais ver.
-Até mais ver e obrigado por trazê-la.
-Foi um prazer. Adeus, Srta. Angel.
-Adeus Richard e muito obrigado por me ajudar.
Jayne e Ian olharam Richard se afastar e olharam assustados para Angel.
-Angel, o que houve?
-Nada, mãe. O Trovão se assustou e fugiu. Só isso. Estava voltando a pé quando Richard me encontrou e se ofereceu para trazer-me.
-Quantas vezes eu devo lhe dizer que não quero que você saia sozinha da fazenda? Pelo sangue de Cristo, quer me matar?
-Mãe, por favor, eu não estava fora da fazenda, apenas estava no fim dela. Eu estou bem e eu quero ficar sozinha. - disse rudemente.
Angel olhou para Ian estranhamente, parecia devorá-lo com os olhos, ele pode sentir no seu olhar que havia algo errado... Bem errado.
-Angel, por que você está tão agressiva e me olhando dessa maneira? - perguntou Ian.
-Nada! Eu vou para o meu quarto. Já tive demais da minha paz roubada por hoje. Estou cansada de mentiras, não tenho mais a idade de Josh para que me ocultem como
é esta droga de vida.
Os dois ficaram olhando ela virar as costas e se afastar. Jayne olhou para Ian com os olhos arregalados.
-O que houve com ela? E por que ela o olhou daquele jeito?
-Não sei, mas eu não gostei nada.
Angel ficou trancada no quarto o resto do dia e não quis jantar. Jayne foi até seu quarto para ver se descobria o que estava errado com ela.
-Angel, o que foi minha filha, por que você está assim? Eu acho que é hora de você conversar. Richard lhe fez alguma coisa?
-Não, mãe, ele não fez nada. Richard é um cavalheiro e foi muito gentil.
-Então por que está assim? Você nem quis jantar. - Angel começou a chorar. -Angel, por favor, fale comigo. Se alguém te fez algo eu...
-Chama o papai para mim, quero falar com ele.
-Seu pai? Não quer falar comigo?
-Deixe-me falar com ele primeiro?
-Tudo bem, eu vou chamá-lo.
Ian estava no quarto preparando-se para dormir quando Jayne entrou.
-Ela quer falar com você.
-Comigo? - perguntou espantado. -Não disse o que aconteceu?
-Não, só quer falar com você. Vá lá e seja paciente.
-Eu sou paciente.
-Eu sei que é, meu amor. Boa sorte.
-Por que eu estou achando que vou precisar? Meninas deveriam ter conversas estranhas somente com suas mães.
Jayne o beijou e Ian foi até o quarto de Angel e sentou na cama.
-Oi princesa. - disse ele mansamente. -Quer me contar alguma coisa?
-Foi o senhor que atirou no meu pai?
Ian parou de respirar e apertou os dentes.
-Angel, por favor...
-Eu sei, a mamãe me disse que ele foi morto porque era mau.
Ian respirou fundo e esfregou os olhos.
-Tudo bem, Angel. Fui eu que atirei nele, antes que ele atirasse na sua mãe. - lágrimas escorreram dos olhos dela. -Angel, você me conhece, sabe que não teria feito
isso por maldade, fiz isso para salvar vocês três.
-Eu sei pai.
-Por favor, não me odeie. Angel, você é minha filha, minha princesa.
-Eu não te odeio, mas estou sentindo uma dor imensa no meu coração.
-Sinto muito, querida, eu não queria ter feito aquilo, mas foi preciso. Eu mataria meio mundo para ter você, sua mãe e Josh em segurança.
-Eu sei pai.
-Por que você voltou a falar disso?
-Não importa. É melhor esquecer tudo isso.
-Eu a amo, querida.
-Eu também, pai. - eles abraçaram-se fortemente por um longo tempo.
-Tudo bem, deite aqui.
Ian a ajudou a se deitar e puxou as cobertas para cobri-la, sentou novamente e acariciou seus cabelos.
-A vida pode ser cruel às vezes. Temos que ser fortes.
-Eu vou ser pai.
-Ótimo, então durma e descanse. Amanhã será outro dia.
Ian beijou sua testa e saiu. Quando ele entrou no seu quarto Jayne estava deitada, esperando-o. Ele deitou-se ao lado dela e respirou fundo com os olhos fechados
por alguns minutos.
-O que houve, Ian?
-Ela me perguntou se fui eu que matei Edward.
-Meu Deus! Desenterrou esta história de novo?
-Sim, e foi direta como se alguém tivesse contado para ela.
-E o que aconteceu? Vocês ficaram bem?
-Parece que sim. Eu sempre pensei que ela teria uma péssima reação contra mim quando soubesse, mas me enganei.
-Ela está amadurecendo e acho que entendeu quem era o pai dela.
Os dois se abraçaram mais forte até adormecerem.
**
No outro dia Angel levantou e foi tomar café com a família. Jayne olhou para ela enquanto servia seu café. Ian a olhou e depois para Jayne, mas não tocaram no assunto.
-Mamãe, eu posso voltar a ter aulas de piano? - Angel perguntou.
-Oh, havíamos esquecido suas aulas, hã? Bem, eu acho que sim, o que acha, Ian? - disse olhando para ele.
-Pode, se o professor ainda estiver interessado em dar aulas.
-Bem, então eu vou mandar alguém à cidade avisar a Richard para ver se ele ainda está interessado. - Jayne disse.
-Ele não mora mais na cidade, hoje se mudaria para a casa da colina.
-Então envio alguém até lá.
-Eu acho Richard muito novo para morar sozinho. - disse Ian meio pensativo. -Acho meio estranho.
-Por quê? O senhor morava sozinho quando tinha a idade dele. - disse Angel. -E ele disse que terá criados. O senhor tinha criados?
-Não. Mas eu não tinha família e ele tem, e eles moram na mesma cidade. Não entendo porque ele se isolaria assim.
-Talvez ele prefira ficar longe da família.
-Quem iria querer algo assim? - perguntou Ian.
-Ele me disse que a família dele é muito diferente da nossa.
-Isso não me espanta. - disse Jayne sorrindo para Ian.
-Por isso que eu digo, sou privilegiado. - disse Ian sorrindo lindamente para Jayne e beijando sua mão.
-Também acho. - disse Angel sorrindo. Jayne e Ian sorriram para ela.
-Vou indo, tenho muito trabalho hoje. - disse Ian.
Ele beijou Jayne e depois beijou Angel no topo da cabeça e Josh que nem estava prestando atenção na conversa e somente queria comer.
-Ei filhote, coma devagar. - disse Ian rindo para ele.
-Não consigo, isso é muito bom. - disse abocanhando o pedaço de pão.
-Nunca vi alguém gostar tanto de pão com doce, vai virar uma bolinha.
-Não vou, não. Vou ser forte que nem meu pai.
-Acho isso ótimo, assim me ajuda na lida. - disse Ian acariciando os cabelos de Josh.
-Pai, então depois eu vou ajudá-lo, mas primeiro tenho que comer.
Todos riram dele. Ian saiu e os três ficaram na mesa.
-Obrigada, filha. - Jayne disse olhando emocionada para Angel.
-Pelo quê? - perguntou Angel.
-Por não ter criado uma confusão sobre aquele assunto com Ian.
-Mãe, eu não quero falar nisso, este assunto está morto e enterrado.
-Está bem. - Jayne disse admirada.
-A senhora perdoaria a dívida do Matt?
-Por que pergunta isso?
-Bem, foi somente uma pergunta.
-Não. - disse incomodada com a pergunta movendo-se na cadeira.
-Eu também não perdoaria. Com licença, vou ver os cavalos.
Angel a beijou e saiu da sala, deixando Jayne pensativa.
-Mãe? - disse Josh.
-Sim, filho?
-A senhora me ensina a atirar?
-Josh! - disse espantada.
-A senhora ensinou a Angel.
-Ela é o dobro do seu tamanho e muito mais velha.
-Vou ter que esperar até dobrar minha idade e meu tamanho?
-Provavelmente vai.
-Eu pensei que os homens tivessem mais privilégios que as mulheres. - ele disse indignado e Jayne riu.
-Por que quer aprender a atirar, Josh?
-Para proteger minha família. Não é isso que os homens fazem? - disse ele olhando sério para Jayne.
Jayne quis rir, mas manteve seu ar sério, como que estivesse falando com um adulto.
-Sim, mas por enquanto ainda é um protegido, quando crescer, eu prometo que o ensino a atirar, está bem? E então vai proteger a família.
-Se eu comer mais pão eu cresço mais rápido?
-Não. Se comer mais pão, vai é crescer para os lados, mocinho.
-Hum... - disse ele pensativo. -Então eu queria brincar com o Ethan.
-Tudo bem, senhor protetor da família Buller, eu o levo até lá, também quero ver a tia Emily e meus lindos sobrinhos. - disse sorridente.
-Oba! A senhora é a melhor mãe do mundo. - disse Josh vibrando e mordendo o resto de pão que tinha na mão.
Jayne riu lindamente olhando para seu amado filho. Mais tarde Jayne e Josh foram até a fazenda de Willian e entraram devagar.
-Oh de casa. - Jayne gritou.
-Jayne! - disse Emily feliz em vê-la e a abraçando. -Que bom vê-la.
-Hum mocinha, por que você não foi me visitar?
-Henry estava doentio, por isso não saí, mas ele já está bem melhor.
-Fico contente que tenha melhorado.
-Isso é certo. Hoje recebi uma carta de Julia.
-Ela está bem?
-Sim, muito bem pelo que contou. Estou morrendo de saudades dela. Ela deveria voltar para cá.
-Ela também sofre com a saudade, mas acho que ela está feliz. Eu também ficaria feliz se ela voltasse, sinto muito sua falta.
-Esse rapaz pelo que está apaixonada parece ser bom para ela.
-Ele é muito agradável e realmente parece gostar muito dela.
-Fico feliz com isso, eu gostaria de conhecê-lo. Ahm... Jayne?
-O que?
-Eu ouvi alguns comentários na cidade sobre o tal Richard. Ele não retornou à sua casa depois que voltaram, não é?
-Na verdade não o vi mais. O que ouviu?
-Dizem que ele é estranho. Eu não o conheço, o vi somente uma vez na cidade. O que me diz disso?
-Bem, eu não sei, ele é muito sério, adulto demais para sua idade, mas não sei de nada de mal. Pelo que vi é um jovem honorável.
-Eu ouvi que ele tem algo de errado e que por isso viverá isolado na casa da montanha. Aliás, Willian disse que a casa dele é estrondosa, algo que ele nunca viu
na vida. Eu estou tentada em ir lá bisbilhotar.
-Ai Emily, que horror, está me assustando.
-Não quero assustá-la, só quero que veja o que é de verdade ou não nisso. Afinal ele frequenta sua casa. Só quero que fiquem seguros.
-Hum. Ele não me parece alguém perigoso. Ele sempre foi gentil, enviou algumas cartas para Angel em Londres, mas eram cartas inocentes com alguma poesia e uma partitura
de música.
-Jayne, este povo tem a língua tão comprida. Só por ele não dar atenção para as meninas que estão querendo conseguir um casamento já falam dele. Talvez o despeito
esteja colocando ele na mira de fofocas. Imagine um conde inglês, rico, jovem e bonito morando aqui. Quem em sã consciência faria algo assim? Ele é um bom partido
e as mães querem agarrá-lo para suas filhas. Ainda mais que parece que ele não demonstra nenhum interesse em adquirir um matrimônio arranjado.
-Não quero Angel metida em confusão.
-Não estou dizendo que ele é confusão, ou as provoca, eu estou dizendo que o povo está falando dele.
-Pelo menos devem ter parado de falar mal de mim. - Emily riu.
-Ah isso é verdade, minha querida, porque quando você viajou para a Espanha, o assunto da cidade era você, Ian e o Enrique, mas parece que como você demorou a voltar
acharam outro alvo, Richard.
-Que horror.
-Bem, eram os boatos.
-E seus anjinhos onde estão? Não ouvi barulho deles.
-Estão dormindo, como uns anjinhos.
-Eles são lindos, Emily.
-Sim, tenho que ficar de olho neles o tempo todo. Se solto os dois no chão, cada um vai para um lado e Henry já anda sozinho, está lindo. Willian fica todo orgulhoso
com os dois. - as duas riram.
-Emily, eu fico tão feliz que você esteja tão bem.
-Sim, estou feliz. E pelo que vejo você também está, minha irmã.
-Sim, estou. Bem, está na hora de voltar para casa.
-Deixe Josh aqui que no fim da tarde Willian o leva.
-Tudo bem. Eu quero ver os anjinhos antes de ir.
-Claro.
As duas foram ao quarto e Henry estava acordado, mas quietinho brincando com os fios da manta. Jayne o pegou no colo e ficou um tempo brincando com ele, beijou os
dois e se despediu de Emily.
Jayne ficou pensando sobre o que Emily dissera sobre Richard. Se havia algo de errado com ele, iria descobrir.
Então, ela mesma foi conhecer a misteriosa casa Montgomery.
**
Jayne cavalgou pelas montanhas e foi em direção à colina onde ficava a casa de Richard, diminuiu o galope quando entrou na propriedade, desmontou do cavalo e parou
atônita admirando a inóspita casa... Diria excêntrica. Devagar ela subiu os degraus da varanda, olhando ao redor.
A casa era grande e bonita, bem diferente das construções normais do Texas, havia influências inglesas em pedras e com uma varanda enorme de madeira e um arco diferente
e duplo com adornos maravilhosos e minuciosos que lhe pareceu meio... Oriental. Aquilo era diferente de tudo que já vira. Realmente era alarmante, mas lindo!
Impressionante como construíram aquela imensa casa tão rapidamente e mais impressionante era aquilo... No Texas. Ela ficou boquiaberta quando viu uma aldrava na
porta. Ninguém usava aldrava no Texas. Jayne sorriu vendo como ele era muito inglês.
Ela bateu na imensa porta de carvalho, mas ninguém veio atender. Chamou pelo seu nome, mas nada. Jayne deu a volta ao redor da casa olhando cuidadosamente e o viu
no topo da colina.
Ela parou e ficou olhando Richard por alguns minutos, depois, foi se aproximando devagar, meio receosa, na realidade embasbacada com o que ele fazia. Ela parou a
certa distância, em silêncio, só o observando.
Richard estava sem camisa, usando uma espécie de sapatilha negra e uma calça de linho negro amarrada na cintura com um cadarço, o podia ver contra o céu azul, movendo-se
vagarosamente como em uma dança.
Ele não percebeu sua presença, pelo menos isso era o que ela pensava. Ela se aproximou um pouco subindo mais e parou de novo. Ele estava de costas para ela e continuou
seus movimentos. Aquilo era lindo.
Ele tinha os músculos definidos, que realçavam com seus movimentos lentos, seu cabelo negro e longo estava preso em um rabo de cavalo. Era um belíssimo rapaz, diria
que... Único!
Ela pode ficar boquiaberta vendo uma tatuagem enorme de um dragão em sua omoplata, o que lhe deu um frio no estômago. Nunca havia visto algo parecido. De repente
ele parou vagarosamente, ficou em uma postura ereta e juntou as mãos na frente do corpo com os cotovelos meio erguidos, e sem se virar, falou com ela.
-Boa tarde, Sra. Buller.
Jayne assustou-se e olhou para ele com os olhos arregalados. Richard vagarosamente se virou e a encarou, fazendo Jayne sentir outro frio atravessar por sua espinha.
-Boa tarde. - disse quase num sussurro.
-Posso ajudá-la em alguma coisa? - Richard vestiu uma camisa estranha que parecia uma bata e se aproximou dela com um sorriso no rosto.
-Como sabia que era eu?
-Seu perfume. - disse com um meio sorriso.
-O que?
-Seu perfume, o vento sopra naquela direção, o reconheci.
Jayne sentiu-se incomodada com aquilo.
-O que era isso que fazia?
-Chama-se Tai Chi Chuan, é bom para a respiração, controle da mente e do corpo. - ela sorriu. -Vamos entrar. Aceita um chá?
-Sim, obrigada.
Entraram na casa e dirigiram-se a sala. Ele ajeitou-se vestindo a camisa adequadamente para ficar mais apresentável na frente de uma dama.
-Peço que me desculpe pelos meus trajes, eu realmente não esperava visitas.
-Está tudo bem, eu que vim sem avisar. Foi deselegante de minha parte, peço que me desculpe.
-Não precisa se desculpar. Aprecio a visita.
Richard puxou um cordão de seda ornado com um tufo de cordas de seda coloridas e num segundo uma criada chegou à porta e ele pediu que lhe servissem chá. Jayne discretamente
olhava tudo com atenção.
A casa tinha poucos móveis, muito menos do que imaginava, mas era muito bonita, e possuía ornamentos europeus e orientais.
-Quem está aqui com você? - disse ela sentando-se no sofá e ainda olhando ao redor.
-Somente eu e meus empregados.
-Por que vai morar aqui sozinho?
-Porque quero paz, gosto de silêncio.
-Sabia que estão falando de você na cidade?
-Sabia. Bem, uma mãe esteve tentando arrumar casamento para sua filha e eu me neguei. Isso já gerou boatos e no mais o fato de eu vir morar aqui sozinho causou uma
espécie de espanto. - disse ele calmamente.
-É só isso?
-Que eu saiba, sim.
-Por que não aceitou casar-se? Creio que está numa boa idade. A moça não estava a sua altura?
-Casar não está nos meus planos, senhora, nem agora e nem nunca. E acho desprezível que me acossem por causa de meu dinheiro, títulos e esta bobagem toda. Nunca
gostei da corte por causa disso, não espero ter que me incomodar com isso aqui. Não quero que ninguém fique jogando moças no meu colo.
-Não lhe interessa as mulheres?
Richard a olhou atentamente e deu um leve sorriso. Ele falava com uma fisionomia que chegava a ser demasiada intrigante; aquela calma em falar às vezes era assustadora
para Jayne.
-Está preocupada com sua filha, Sra. Buller? - Jayne espantou-se com aquela pergunta, mas sorriu.
-Sim, Richard, eu estou. Você frequentou minha casa, deu aulas de piano para ela e então eu gostaria de conhecer você melhor, pois vim aqui pedir que voltasse às
aulas, então se não se importa gostaria de saber mais sobre você.
-Não há muito que saber. Sou inglês, viajei por muitos países, não gosto de balbúrdia, prefiro ficar só com meus livros e meu piano.
-Isso seria avesso aos rapazes de sua idade.
-Não é que não gosto de festas, frequento bailes quando me apetece, mas prefiro os livros. Não sou chegado a cortesias vazias e interesses sociais, gosto de ser
eu mesmo. Não sou nenhum bandido, não tenho um comportamento vil, nem sou um libertino. Não precisa se preocupar com a segurança de sua filha, eu a protegeria sempre
que precisasse.
-Isso me intriga, e por que faria algo assim?
-Porque gosto da companhia dela, é uma amiga para mim e não costumo deixar nenhum insulto a uma dama passar.
-Você nunca anda armado, já reparei nisso.
-Não, não uso arma de fogo, não é meu estilo.
-Isso é perigoso por aqui. Deveria ter uma arma.
-Vou levar em conta.
-Onde aprendeu Tai Chi Chuan?
-Na China.
-Esteve na China? - perguntou espantada.
-Sim.
-Pelo que eu sei isso é uma arte marcial.
-Sim, os movimentos são como o de uma luta, mas eles servem para equilibrar a mente, para conseguirmos controle sobre ela, dominarmos os instintos e manter nosso
corpo em equilíbrio e aguçar outros instintos.
Jayne viu algumas espadas de samurais penduradas na parede.
-Estas espadas são lindas, sabe manuseá-las?
-Sim, a luta com espadas é fascinante, estas são de uma coleção, gosto muito, esta ali foi um presente. - disse ele mostrando uma bem ornada pendurada encima da
lareira.
-É linda, deve ter sido um presente do seu professor, não foi?
-Foi, o nome dele é Li Ching-Yun, uma pessoa fantástica, me ensinou muitas coisas.
-A cultura oriental é fascinante, sempre gostei disso, eles possuem muitos conhecimentos, os mais velhos são muito sábios.
-A senhora não é nenhuma ignorante.
-Não, Richard, eu não sou.
Ele sorriu lindamente. A criada entrou na sala e serviu o chá.
-Isso me agrada. Num lugar assim no meio do nada, saber que há pessoas cultas ainda mais sendo uma mulher, é reconfortante.
-Sim, assim como você, estudei na Europa por alguns anos, pode conversar comigo sobre muitos assuntos, inclusive contar seu segredo. - ele a olhou espantado.
-Não tenho segredos.
-Tudo bem, não precisa me contar até que se sinta a vontade, não vou forçá-lo a fazer algo que lhe desagrade.
-Por que acha que tenho um segredo?
-Você é muito observador, Richard, já prestei atenção no seu jeito e saiba que também sou, portanto eu sei que tem algo que esconde. Você é muito diferente de todos
os jovens da sua idade que já conheci, seu comportamento é no mínimo intrigante. Confesso que gosto, mas como eu disse, não quero confusão com Angel.
-Não escondo um segredo, somente não exponho minha vida como muitos fazem, acho que minha vida somente interessa a mim e a quem prezo. Portanto se um dia a senhora
sentir a necessidade de saber mais sobre mim, pode perguntar o que quiser.
-Eu o farei, mas não hoje, eu preciso ir.
Jayne levantou-se e colocou a xícara de chá na bandeja.
-A senhora ainda quer que eu dê aulas para Angel?
-Quero. Você tem na nossa família amigos, Richard. Se souber prezá-la, estaremos sempre ao seu lado para ajudá-lo no que precisar.
-E se não?
-Então eu mesmo meto uma bala na sua cabeça, simples assim. - Richard sorriu de canto de boca.
-Tem uma bela família, senhora.
-Tenho, e a amo muito, e nunca permitirei que nada aconteça a ela.
-Isso é maravilhoso de se ouvir, gosto muito da sua família.
-Não gosta da sua?
-Gosto, mas não somos unidos como vocês, meu padrasto é um homem muito distante e minha mãe é super protetora, então prefiro ficar um pouco longe, ela me tortura
com suas preocupações.
-Uma mãe nunca tortura com preocupações, Richard.
-A minha sim, mas não a condeno, pelo contrário. Mas não gostaria que ela sofresse.
-Por que sofreria?
-A senhora se preocupa com seus filhos, os quer ver bem e felizes, por isso veio até aqui, o mesmo acontece com ela.
-Isso não é uma coisa boa?
-É e espero que seus filhos sempre lhe deem alegrias, senhora Buller, coisa que não sei se posso dar a minha mãe.
-Por que diz isso?
-Como a senhora mesmo disse, é segredo.
Jayne o olhou; estava intrigada.
-Tudo bem, Richard, eu vou embora, não quero mais importuná-lo. Como eu disse, quando quiser conversar pode me procurar. Mas se eu vir algo de errado, infelizmente
eu terei que tomar providências. Vejo você amanhã na minha casa?
-Sim, senhora, no horário de sempre.
-Tenha uma boa tarde.
-A senhora também.
Jayne saiu da casa e montou em Trovão, deu mais uma olhada para ele que havia lhe acompanhado até a varanda, atiçou o cavalo e foi para casa.
Richard foi para o quarto, foi até uma mesa onde havia alguns vidros, abriu um e despejou um pó branco dentro de um copo com um pouco de água e bebeu fazendo careta.
Ficou ali um pouco com os olhos fechados, respirou fundo roçando a testa com os dedos. Aquilo tudo ia mal. Seus instintos estavam gritando para afastar-se! Mas ao
contrário iria voltar a dar aulas à doce donzela texana. Sim, aquilo era mal.
**
Jayne chegou a casa e foi ficar com Ian e os cavalos.
-Então, querida, falou com ele?
-Sim, vai voltar a dar aulas para Angel.
-Que bom, e o que achou?
-Ele é muito culto, Ian, é um rapaz intrigante, possui alguns hábitos diferentes, mas eu acho que é uma boa pessoa.
-Espero que sim, não quero problemas.
-Ele esconde algo, mas eu não acredito que seja algo ruim que precisemos nos preocupar. Não consigo ver maldade nele, mas aos poucos vou retirar as coisas dele.
Se ele esconde algo, eu quero saber o que é. - Ian riu e a abraçou forte.
-Ei! Seu aniversário está chegando, então o que acha de fazermos uma festa para comemorar?
-Ah, isso seria ótimo! O que tem em mente?
-Hum, eu não sei, um daqueles churrascos maravilhosos, música, bebida, amigos e família, eu acho que é uma combinação perfeita.
-Também acho, eu vou falar com os rapazes e iremos providenciar.
-Perfeito.
-E eu mereço um presente? - disse com ar malicioso.
-Hum, merece e irá ganhar, mas se eu contar não é surpresa. Mas uma coisa você pode ter certeza que vai ganhar.
-O que?
Jayne foi ao seu ouvido e cochichou algo para ele.
-Ai, meu Deus, eu tenho que esperar até o meu aniversário para ganhar meu presente? Não pode ser hoje? - Jayne riu.
-Ian...
-Ah... Por favor.
-Hum, quem sabe uma prévia, mas vai ter que me convencer.
Ela riu e ia afastar-se dele, mas Ian a puxou pelo braço e a envolveu em seus braços e a beijou profundamente.
-Eu já convenci?
-Ainda não. - Ian a beijou novamente despertando seus desejos. Jayne soltou um gemido sentindo seu corpo todo quente.
-Está quase, quem sabe hoje à noite você termina de me convencer, pois você está ocupado agora. - disse recuperando.
-Posso fazer uma pausa.
-Ian!
Ian a pegou no colo e foi para dentro de casa. Jayne ria e esperneava e os dois fizeram a maior balbúrdia pela casa. Rindo, ele a jogou na cama e ficou em pé com
as mãos na cintura.
-Pronto, agora pode começar.
-Ainda não me convenceu. - disse ficando de joelhos na cama e rindo.
-Não seja por isso. - Ian se ajoelhou na cama, abraçou-a e a beijou apaixonadamente. -Posso fazer mais aniversários no ano? - disse ele entre um beijo e outro.
-Eu iria à falência com tantos presentes.
-Você não precisa me dar presentes, só seu corpo e seu amor me bastam.
-Isso você já tem.
-Preciso de provas concretas.
-Eu lhe dou o que quiser.
-Hum... Gostei disso. - Jayne riu e tirou a blusa e Ian olhou para o espartilho dela que a deixava sexy. -Você é linda e me deixa louco quando veste estas calças
de couro. - disse beijando seu colo e a empurrando para a cama, deitando-se sobre ela. E assim amaram-se.
**
No dia do aniversário de Ian, prepararam uma grande festa, ele não poupou recursos, queria que fosse grandiosa e farta. Aos poucos todos os convidados foram chegando
e cumprimentando alegremente o amigo.
-Ian, daqui a pouco estará com os cabelos brancos. - disse Mitchel sorridente.
-Nem me fale, os seus já estão despontando aqui. - disse rindo e pegando nos fios de cabelos de Mitchel das têmporas.
-Não tem nada branco aqui. - disse afastando sua mão com um tapa.
-Deixa seu filho nascer, eles branqueiam rápido. - disse rindo.
-Chloe como você está linda. - disse Jayne a abraçando.
-Sim, e pesada. - disse rindo.
-Eu estou feliz que vou ser tio de novo. - disse David brincalhão.
-Mas olhem este garoto, quanto mais velho mais bobo. - disse Mitchel.
-Isso é. - concordou Mary.
-Ham, mas que esposa má que arrumei. Não esqueça mulher, que deve ficar do meu lado e não contra mim. - disse David rindo e a abraçou.
-Ah teremos músicos? - Mitchel perguntou.
-Com certeza, festa sem música não é festa, então pedi aos rapazes da cidade que viessem. - respondeu Ian sorridente.
-Ah, mas que grandes que eles estão, Willian. - disse Ian pegando Henry no colo quando eles chegaram.
-Sim, estão enormes e fofos. - disse ele orgulhoso.
-Também... Não fecham esta boquinha nem um minuto, eles são uns esfomeados. - disse Emily rindo.
-Preciso de uma vaca para cada um. - disse Willian e todos riram deles.
-Bem, isso significa que são saudáveis.
A festa estava animada e o churrasco cheirava de longe, havia fartura de comida e bebidas. Todos riam, brincavam e curtiam a música até arriscando alguns passos
de dança.
Richard chegou à festa sorridente e foi cumprimentar Ian.
-Feliz aniversário, senhor Buller. - disse apertando sua mão.
-Obrigado, Richard, fico feliz que tenha vindo.
-Trouxe-lhe esta garrafa de vinho, é de uma safra muito boa.
-Muito obrigado, não precisava se incomodar.
-Richard, que bom que veio. - disse Jayne.
-Olá, Srta. Angel, Sra. Buller. Estão encantadoras esta noite.
-Obrigada, sempre gentil. Aceita uma bebida?
-Sim, obrigado.
-Este vinho parece bom e caro. - Mitchel disse olhando a garrafa.
-Sim, é muito bom. Vendem no restaurante de minha família por um preço bem considerável, então eu creio que é bom. - disse rindo. -Meu padrasto o recomendou.
-Acredito que sim, Richard. Obrigado. Ah propósito, estes são Mitchel, Willian e David e suas esposas Emily, Mary e Chloe.
-Muito prazer em conhecê-los. - disse apertando a mão de todos e beijando educadamente a mão das damas. -Senhoras, encantado.
Jayne lhe serviu uma bebida e Angel ficou a maioria do tempo perto de Richard e conversavam amigavelmente e Jayne de tempos em tempos espichava o olho para os dois
para ver o que estavam fazendo. O jantar foi servido e todos se sentaram para jantar na mesa imensa que haviam preparado para acolher a todos.
Matt foi convidado assim como sua família, mas Angel ficou incomodada com sua presença, pois além de não gostar de ele estar ali, ele não tirava os olhos dela e
de Richard. Angel, em uma oportunidade que teve quando ele estava mais distante foi de encontro dele.
-O que faz aqui, Matt? - perguntou Angel sem que ninguém ouvisse.
-Seu pai me convidou.
-Você é um cara de pau, vim na sua festa depois do que fez!
-Desculpe por aquilo, Angel, eu perdi a cabeça e falei demais.
-Perderia a cabeça se ele descobrisse o que você anda falando.
-Você não contou a ele, não é?
-Acha que se eu tivesse contado você estaria aqui? Bem, mas vou dar-lhe um aviso, se você contar isso para mais alguém eu vou contar para meu pai e aí você vai levar
uma bela lição, ouviu? Com licença.
Angel virou as costas e ia sair, mas Matt a segurou pelo braço com força e a puxou.
-Solte-me!
-Só quero falar com você.
-Pois eu não quero falar mais com você. É um amigo muito ingrato.
-Algum problema, Angel? - Richard disse se aproximando.
-O que este almofadinha faz aqui?
-Não seja grosso, meu pai o convidou e eu também.
-Por que anda pendurado nesse cara para cima e para baixo?
-Não é da sua conta.
-Vamos, Angel, não é bom discutir assim. - Richard disse.
-Não se meta! - Matt disse bravo.
-Não fale assim comigo, rapaz, e não faça cena, não está na sua casa. - disse ele calmamente.
-E nem você! Quem você pensa que é para me impedir de falar com ela, já fez isso da outra vez.
-Sou um cavalheiro, coisa que você não é e acho que deveria respeitar mais a Angel. Vamos. - disse ele para Angel.
Richard deu as costas para Matt, que ficou furioso e perdeu o controle de sua raiva.
-Não dê as costas para mim, seu maricas!
Richard lentamente virou-se.
-Matt, pare com isso e saia daqui. - gritou Angel.
Jayne e Ian que não estavam muito distantes ouviram a conversa exaltada e olharam para eles.
-Eu não quero briga, rapaz. - disse Richard.
-Pois eu quero.
Matt sem dizer mais nada deu um soco em Richard o fazendo quase cair, ele não esperava aquele golpe.
-Matt, pare! - Angel gritou assustada.
Jayne e Ian vendo aquilo correram até eles. Matt foi dar outro soco em Richard aproveitando que ele estava aturdido, mas quando Matt foi com o punho cerrado para
acertá-lo, Richard defendeu-se e segurou sua mão, impedindo que Matt movesse-a. Matt arregalou os olhos e Richard com a outra mão lhe segurou pelo pescoço quase
o sufocando.
-Nunca mais se atreva a tocar em mim ou eu lhe quebro o pescoço. - disse Richard seriamente como se não estivesse fazendo força alguma.
-Parem com isso! - gritou Ian.
Richard empurrou Matt que tossindo cambaleou para trás.
Matt enraivecido sacou a arma apontando para Richard, que com outro movimento muito rápido bateu em sua mão o fazendo derrubar a arma. Ele girou dando-lhe um chute
no estômago que fez Matt saltar longe, caindo no chão quase desacordado. Jayne, Ian e Angel ficaram com os olhos arregalados, parados como estátuas vendo aquilo.
Angel olhou para Richard que tentava controlar-se e ajeitava sua casaca preta.
-Como fez isso? - Angel impressionada perguntou.
-Estou convencida que sabe mesmo lutar, Richard. - disse Jayne com os olhos arregalados.
James veio correndo e levantou Matt do chão que estava zonzo.
-O que significa isso? - perguntou Ian para Richard.
-Desculpe-me Sr. Buller. - Richard desculpou-se.
-Pai, foi Matt que começou uma briga, Richard somente se defendeu. O senhor viu, tentou atirar nele.
-Como se atreve a puxar uma arma para um de meus convidados, Matt? Você ultrapassou todos os limites. Tire-o daqui, James. - disse Ian e James assentiu com a cabeça
e puxou Matt para casa.
-Mas o que deu em Matt, meu Deus? - disse Jayne assustada.
-Seus lábios estão sangrando. - disse Angel para Richard.
-Não foi nada. - disse ele passando a mão na boca e olhando o sangue nos dedos.
-Venha, vou limpar isso. Posso mãe?
-Vai, filha. Eu sinto muito, Richard, isso foi imperdoável.
-Não precisa se desculpar, Sra. Buller, está tudo bem.
Richard entrou na casa com Angel para limpar o ferimento.
-Ian, Matt está impossível. Por que o convidou?
-Achei que ele tinha melhorado.
-Parece que não.
-Você viu o que aquele rapaz fez? Como fez aquilo?
-Ele luta artes marciais, Ian.
-O que é isso?
-São lutas do oriente.
-Está brincando?
-Não, ele aprendeu na China.
-Ora essa. - ele disse espantado.
-O que houve aqui? - perguntou David se aproximando.
-Uma briga, mas acabou. Vamos voltar à festa, chega de brigas.
Ian abraçou Jayne pelos ombros e voltaram para perto dos outros.
Angel levou Richard para a cozinha e o fez sentar-se em uma cadeira, pegou uma tigela e cuidadosamente passava o pano limpo e molhado com água fria em seus lábios.
-O corte não foi grande, mas deve doer.
-Tudo bem, não foi nada.
-Obrigada por me defender. Pela segunda vez.
-Esse rapaz é persistente e intolerante. Ele mora aqui?
-É filho do nosso capataz. Mora aqui há muitos anos e éramos amigos, mas ultimamente ele anda fazendo muitas coisas erradas. Meu pai o enviou para trabalhar na fazenda
do tio Willian, mas ainda é seu empregado.
-Acho que ele é apaixonado por você.
-Apaixonado? Não diga besteiras.
-Você é muito bonita, Angel, uma doce e encantadora dama, qualquer rapaz se apaixonaria por você.
Ela travou a respiração pela maneira que ele a olhava e como aquelas palavras soaram de sua boca, quase como uma melodia, seu coração palpitou no peito.
-Verdade?
-Claro que sim. - disse mansamente, Angel ficou sem jeito e ruborizou.
-Você já se apaixonou alguma vez?
-Não.
-As moças da cidade estão interessadas em você.
-Eu sei, mas não estou interessado nas moças da cidade.
-E está interessado em alguma outra moça? - ele a olhou fixamente e não respondeu. -Desculpe, eu não devia ter perguntado.
-Não posso me interessar por ninguém, não posso me permitir isso.
-Tem medo de sofrer uma desilusão de amor?
-Não, tenho medo de fazer alguém sofrer.
-Como assim?
-Acho melhor eu ir embora.
-Não, você não teve culpa pela briga, não tem motivo para ir embora. É convidado de meu pai, deve ficar. - ele a olhou por alguns minutos e colocou o pano sobre
sua face novamente.
-Tudo bem por aqui?
Angel e Richard se viraram para olhar para a porta da cozinha. Mitchel estava encostado no batente da porta girando um facão enorme com a ponta em seu dedo e os
olhava estreitando os olhos.
-Está tudo bem, senhor, já estamos voltamos para junto dos outros.
-Tio, por favor, não seja indelicado. - Angel disse com olhar zombeteiro para ele e Mitchel grunhiu como um cachorro raivoso.
-Estão onde não deviam e estou a fim de cortar algum pescoço hoje, principalmente de homens que esticam os olhos para minha princesa.
-Tio!
-Eu estou brincando doçura, eu somente corto pescoços ao amanhecer. - Angel riu. -Mas acho melhor irmos para fora.
-Então é melhor voltarmos para a festa junto com os outros. - Richard disse. -Eu gosto do meu pescoço como está. Obrigado Angel por ter cuidado de meu ferimento.
-Está bem mesmo?
-Acredite, não foi nada.
Os três voltaram à festa e aquele assunto foi esquecido. Todos continuaram a comemoração do aniversário de Ian dançando animados com o som dos músicos; com conversas
zombeteiras e gargalhadas.
**
-James, venha ao meu escritório, quero falar com você.
James olhou para Ian, sabia que não viria coisa boa, mas o seguiu.
Ian sentou-se à mesa do escritório e James ficou em pé na frente dele com o olhar receoso e Ian respirou fundo tomando coragem para falar.
-Onde está Matt?
-Em casa, senhor. Hoje é sua folga pelo domingo.
-Pois o mande para a fazenda de Willian agora mesmo com todos seus pertences. Matt está proibido de entrar na minha fazenda de novo. Se sua família quiser vê-lo
terá que ir à fazenda de Willian.
James fechou os olhos e sentiu uma dor no peito.
-Eu entendo senhor. - disse ele tristemente.
-Sinto muito por você e Anna, mas ontem Matt poderia ter disparado e matado o senhor Montgomery, e ele é um maldito conde, por Deus! Matt não teria se livrado da
cadeia e pior, da forca. E se não bastasse poderia ter disparado e atingido minha filha! Eu não vou tolerar esse comportamento dentro da minha fazenda e muito menos
perto de Angel.
-Eu sei, Sr. Buller e eu realmente lamento muito.
Ian soltou a respiração num bufo e esfregou os olhos fortemente.
-Sua revolta está aumentando, o que sinto é que Matt tem inveja das pessoas, tem inveja de mim porque tenho dinheiro; e pela maneira que se comporta com minha filha,
ele gosta dela.
-Como viu isso tudo, senhor?
-James, eu não sou um homem muito letrado, mas vejo as coisas. Com o comportamento dele com Richard ontem, isso para mim se confirmou.
-É verdade, patrão.
-Bem, eu não aprovo o comportamento dele há tempos, o mandei para a fazenda de Willian da outra vez para não mandá-lo embora, em respeito a você e pelo castigo que
Jayne deu a ele. E ficar perto de Angel é uma coisa que não vou mais permitir. Então depois daquele comportamento lamentável ontem, tenho duas opções. Uma é mandá-lo
embora e outra é enviá-lo para a sua fazenda.
-O que?
-Você me pediu para comprar minha fazenda, eu vou lhe vender pela quantia que você tem.
-Mas o que eu tenho não é suficiente, senhor.
-Eu sei, e não me importo, ela é sua. Vou tirar uma parte das terras que fazem divisa com a fazenda de Mitchel, vou ceder a ele para seus cavalos, mas continuarão
sendo minhas terras. Você ficara com a casa e uma parte das terras. Amanhã falaremos com ele e vamos dividir as terras e cercar. E então você o manda para lá. Mas
como ele tem uma dívida com a Jayne terá que trabalhar na fazenda de Willian ainda até que pague pelo cavalo.
-Entendi senhor, mas concordo e isso me deixa muito feliz.
-Obrigado, James. Bem, a fazenda é sua, vou ver os papéis, e depois você se entende com ele, quem sabe assim ele toma um rumo na vida.
-Obrigado. Anna sofre com o afastamento da família, mas Matt não está propenso a acordos amigáveis, está descontrolado.
-Eu sei que não é fácil, mas ele vai amadurecer, James.
-Terá minha eterna lealdade, Sr. Buller.
-Sei que sim, James.
James saiu do escritório e Jayne entrou.
-Marido, você sempre me surpreende.
-Ouvindo atrás das portas novamente, mocinha?
-Obrigada pelo mocinha. - disse sentando no colo de Ian e rindo. -Nossa filha já está virando corações do avesso.
-Acha que ela gosta de Richard mais do que amigo?
-Acho que sim e estive olhando para ele ontem e ele gosta dela.
-Ela ainda é nova para se casar, mas o coração não segue regras, não é?
-Não. O meu coração nunca enxergou as barreiras que eu coloquei para não me apaixonar por você.
-Eu sei, mas era nosso destino, sermos um do outro. - disse ele acariciando seu rosto.
-Isso é verdade, muitas foram as armadilhas para nos separar, mas nunca funcionou, pois eu estou aqui com você. - disse ela sorrindo.
-E não vamos nos separar nunca.
Os dois se beijaram docemente e ficaram abraçados.
-Obrigado pela noite de ontem, foi maravilhosa.
-Para mim também.
-Mas você ficou devendo meu presente, além da adorável noite quente em nossa cama. Disse que tinha outro e não entregou.
-Eu sei, desculpe-me, mas não chegou a tempo.
-O que não chegou a tempo?
-Quando chegar, então você vai saber. Mas uma coisa você já tem. O meu amor.
-E você tem o meu.
**
-Matt, arrume suas coisas. - disse James seriamente.
-Para quê?
-Para ir para a fazenda do senhor Jonhson.
-Hoje é domingo, pai.
-É eu sei, mas não poderá mais ficar aqui em casa, porque você está proibido de entrar na fazenda dos Buller, nem para visitar sua mãe.
-O que? - perguntou espantado.
-Não quero ouvir nenhuma palavra.
-Onde vou dormir lá?
-Problema seu, no celeiro.
-Não vou fazer isso.
-Vai sim, depois do que fez ontem isso é pouco, e depois é temporário.
-O senhor Buller não pode fazer isso comigo. Quem ele pensa que é?
-Esta fazenda é dele, ele é seu patrão e vai continuar sendo até você pagar pelo Diamante, e cale a boca senão quiser que eu lhe dê uma coça. O que eu acho que foi
isso que faltou para você.
-Ian é um imbecil.
-Imbecil é você que só me dá vergonhas, saiba que o Sr. Buller está sendo muito generoso.
-Generoso de que jeito?
-Ele me vendeu a fazenda dos Adams, vamos arrumar a casa e você vai para lá.
-O senhor comprou aquela fazenda?
-Comprei.
-E onde está a generosidade que não estou vendo?
-Matt... - disse James respirando profundamente para não explodir. -Ele me vendeu a fazenda por bem menos que ele venderia para outro. Meu Deus, quando é que você
vai crescer?
-Se ele fosse generoso teria nos dado a fazenda e não vendido, é um fominha.
-Matt, cale a boca! - disse James gritando. -Você vai para lá e vai trabalhar nela e fazer dinheiro, entendeu? E vai trabalhar na fazenda de Willian até pagar o
cavalo da senhora Buller, e nunca mais quero ver você perto da senhorita Angel e nem desta fazenda. Estamos entendidos? E se aprontar mais alguma com o Sr. Montgomery
você vai se vir comigo, vou esquecer que sou seu pai e o partirei em dois com meu relho.
-Aquele cara é um almofadinha metido a besta que não larga de Angel.
-Feliz dele, talvez ele faça por merecer a companhia dela, contrário de você.
-Ela fica com ele porque é rico. Devia ter matado aquele imbecil.
-Ela fica com ele porque não é um imbecil.
James segurou Matt pelo colarinho do casaco e o levantou da cadeira com toda força, a fazendo cair no chão e disse com toda fúria.
-Matt, preste bem atenção, se me aprontar mais alguma, você vai se arrepender. Fique longe deles. E este é o último aviso que vou lhe dar, entendeu bem? Se você
fizer algo a eles eu juro que esquecerei que é meu filho e te mato. Se não cuidar daquela fazenda direito eu tiro você de lá e te jogo na vida com uma mão na frente
e outra atrás. - James o soltou o empurrando e ele quase caiu sobre a mesa. -Agora pegue suas coisas e saia da minha frente. E nem ouse ofender ao senhor Jonhson,
sua esposa ou aos seus filhos. Pois se o fizer, o Sr. Buller meterá uma bala na sua cabeça. Isso, se não fizer eu mesmo.
-Esse imbecil me paga. - Matt disse entre dentes.
Matt saiu bufando para o quarto arrumar suas coisas e James pegou um uísque e bebeu um copo de uma vez tentando controlar seu nervosismo. Tinha vontade de gritar.
Não entendia como Matt podia ser tão diferente dele. James pode ouvir o choro de Anna no quarto, mas ela não ousou meter-se na conversa ou pronunciar-se, apenas
sofria calada.
**
Matt arrumou suas coisas e colocou nos alforjes de seu cavalo. Fazia isso bruscamente, rangendo os dentes, estava furioso.
-Matt... - Angel disse se aproximando. Ele a olhou por alguns minutos.
-Oi, Angel.
-Soube que você vai embora.
Matt deu um sorriso de canto de boca.
-Ficou triste por eu ir embora?
-Não seja estúpido! - Matt fechou a fisionomia rapidamente. -Vim aqui porque queria dizer-te uma coisa antes que fosse.
-O que? Estou cansado de ouvir sermões.
-Parece que sermões não lhe adiantam em nada. O que fez foi lamentável, você poderia ter matado Richard.
-Não se perderia grande coisa.
-Escute aqui, fique longe dele! - Angel gritou furiosa.
-Por quê? Está apaixonada pelo seu almofadinha?
-Gosto dele e da companhia dele.
-Você gostava da minha também, depois que ele apareceu mal me olha.
-Porque você se transformou na pessoa mais imbecil e mesquinha que eu já conheci na minha vida. Eu gostava de você, era meu amigo, mas você começou a mudar e a se
transformar neste idiota. Só faz coisas para a qual tenho motivos de odiar você.
-Você me odeia?
-Eu não te odeio, mas falta pouco. Eu não quero você por perto, você me dá medo. Eu tenho vergonha de você. Eu espero que você volte a ser aquele homem que um dia
foi meu amigo e pare de colocar minha família e meus amigos em risco porque senão o farei se arrepender. Entendeu?
-Não está falando sério.
-Estou! Você me magoou três vezes e isso para mim é o suficiente.
-Três? Que três?
-Você é tão insensível que não sabe nem o que faz, não é Matt?
-Me diga, que três?
-Uma com o Diamante que fez minha mãe sofrer e perder a confiança em mim, você me traiu e me colocou numa situação difícil com meus pais. Outra, quando falou que
meu papai Ian matou meu pai Edward, se eu não conhecesse papai Ian, jamais o teria perdoado, sei que ele fez isso para nos salvar. E outra quando tentou atirar em
Richard em plena festa de aniversário do meu pai que te convidou mesmo sem saber de todas as porcarias que você faz. Você é um ingrato, seus pais devem estar sofrendo.
Não pensa neles? - Matt quis morrer bem ali, sua raiva foi intensa e seu coração ficou em pedaços. -Vá embora e não volte.
Angel virou as costas e ia sair dali.
-Angel. - ela se virou e olhou para ele. -Vou sentir sua falta.
-Há algum tempo eu também poderia dizer isso, Matt... E eu um dia que pensei que me casaria com você. - disse descrente.
-O que?
-É verdade, teve um tempo que eu achei que quando eu crescesse eu iria me casar com você.
Matt abriu a boca de espanto.
-Sou um peão, você se casaria comigo?
-Claro que casaria, antes de se tornar isso aí. Agora eu jamais me casaria com você.
-Porque agora você tem aquele almofadinha que dizem que até nobre é.
-Eu desisti de você porque tem o coração como o do meu pai Edward e um dia poderia fazer comigo o que ele fez com minha mãe. E isso, eu não vou deixar acontecer.
Então se te resta um pouquinho de juízo na sua cabeça oca e um pouco de amor no seu coração esqueça essa sua revolta e tente ser uma pessoa boa e de bem com a vida,
quem sabe assim, um dia você seja igual a Ian Buller. Adeus Matt.
-Angel, se eu mudasse você se casaria comigo?
-Não. Meu coração pertence a Richard. Mude por você e não por mim.
Ela virou as costas e saiu. Matt mal puxava a respiração, queria morrer, teve vontade de chorar, de matar Richard, montou no cavalo e foi para a fazenda de Willian.
Jayne estava perto e ouviu toda a conversa, eles não a viram, pois estava do outro lado de uma parede de madeira do estábulo com a égua Cherise, já estava ali antes
de Angel chegar. Jayne encostou-se na parede com a cabeça virada para cima e com os olhos fechados, somente naquele momento ela conseguiu puxar o fôlego e respirar
novamente.
**
-O que foi meu amor? - perguntou Ian vendo Jayne quieta olhando pela janela com os braços cruzados. Jayne o olhou e o abraçou fortemente. -O que houve? Algum problema?
Está meio quieta desde ontem.
-Nada, estava pensando em Angel, que está ficando uma adulta.
Ian sorriu e lhe acariciou os cabelos beijando sua testa.
-Eu sei.
-Queria que ela sempre fosse minha menininha, tenho tanto medo de ficar longe dela.
-Você nunca vai ficar longe dela, Jayne. Parece que você não compensou os anos que ficou longe dela, não é?
-Sempre tenho medo que de repente ela suma de minhas vistas.
-Mas isso não vai mais acontecer. Angel está se tornando uma mulher, vai se casar e ter filhos, mas tenho certeza que nunca ficará longe de nós e será feliz, assim
como Josh. Meu amor não fique assim, tem algo mais. O que aconteceu? - ela fez que não com a cabeça e o abraçou novamente. -Vamos meu amor, me conte.
-Ouvi uma conversa entre Angel e Matt.
-Você fica ouvindo muito furtivamente ultimamente, Sra. Buller.
-Foi sem querer.
Ele riu.
-Hum, claro que foi... E o que teria saído dessa conversa?
-Nada, esqueça, eu é que sou uma tola.
-Você não é tola.
-Ela disse que gosta do Richard.
-Jayne, olhe para mim. - Ian segurou seu rosto com as mãos. -Vai ficar tudo bem com nossa filhotinha. Ela é impetuosa e é igualzinha a você.
-E isso é bom?
Ian sorriu lindamente para ela acariciando seu rosto.
-É a melhor coisa deste mundo.
Ele a beijou nos lábios. Anna bateu na porta e entrou carregando um embrulho.
-Sra. Buller, isso chegou para a senhora.
-Obrigada Anna. - disse pegando o embrulho e sorrindo.
-O que é isso? - perguntou Ian.
-Oh! Seu presente de aniversário.
-Hum... Até que enfim!
-Feliz aniversário, meu amor, espero que goste.
Ian sorridente retirou os cordões que enrolavam o papel pardo, havia uma caixa de madeira envernizada com um lacre dourado. Ele abriu e dentro havia duas pistolas.
Eram belíssimas, em metal dourado e cabo preto de ébano talhado a mão com intrincados arabescos e com alguns entalhes de marfim.
-Jayne, são lindas! Onde conseguiu?
-Mandei buscar em Londres, as tinha visto na vitrine de uma loja de armas quando estivemos lá, mas na época não me lembrei de comprar, então pedi a Julia que as
comprasse e ela mandou para mim, por isso é que demorou a chegar. Veja, pedi que gravasse seu nome.
Ian olhou no fundo da coronha e leu em letras miúdas seu sobrenome.
-Jayne, eu adorei, é incrível! - Ian feliz a abraçou e a beijou.
-Espero que nunca precise usá-las, mas achei que seria um bom presente. Elas foram feitas em Paris e é um modelo mais antigo
-Obrigado. Como eu disse gostaria de fazer mais aniversários por ano. - Jayne riu.
-Como eu disse, eu iria à falência. Mas os outros presentes, você pode ter diariamente.
-Ah tudo bem, sobrevivo só com isso. - disse com cara de indignado e brincando. Ian riu e a beijou.
-Assim que eu gosto de ver você... Sorrindo.
Jayne acariciou o rosto dele delicadamente o olhando com o maior amor do mundo.
-Eu amo você, Ian.
-Eu também.
**
Alguns dias depois Jayne foi até a sala, Angel estava sozinha sentada ao piano ensaiando uma música.
-Filha, já está tocando bem sozinha! Suas aulas estão indo bem. - disse Jayne sorrindo e sentando na banqueta ao seu lado.
-Perco-me nestas notas, não consigo acertar. É difícil ler a partitura.
-Esta nota aqui é esta tecla, meu amor, e estas são aqui...
-Hum... - disse ela sorrindo e tentando tocar.
-Por que Richard não veio lhe dar aula hoje? - disse ela a olhando de canto de olho.
-Não sei, ele não veio mais aqui depois do aniversário do papai.
-Será que ele não está bem? Talvez aquele soco tenha o machucado.
-Talvez, mas nem mandou uma nota para avisar.
-Talvez ele venha amanhã, vamos esperar, então vou ser sua professora hoje.
-Que bom mamãe. Eu gosto quando fica comigo no piano.
-Eu também.
As duas ficaram tocando, Ian parou na entrada da sala escorado no batente da porta com os braços cruzados as olhando sem que elas o vissem, pois estavam de costas.
Ele as ouvia e sorria, admirando as duas mulheres de sua vida, tão lindas e tão parecidas. Sentia-se abençoado pela família que tinha e orgulho de serem tão unidos.
Aquilo para ele era um presente de Deus.
Josh chegou e parou ao lado dele e cruzou os braços e ficou olhando para elas também. Ian o olhou, ele estava ficando alto e seu pai com os olhos e com um sorriso
no canto de boca o media.
-Pai, eu posso aprender a tocar um instrumento musical? Isso não é coisa de mulheres, não é? - disse ele com cara de pensativo.
Ian riu e passou a mão na sua cabeça o fazendo o seguir para irem para a varanda.
-Claro que não, filho, você não vê como há músicos homens que tocam quando papai faz festas? E tio Willian também toca bandolim e violão.
-Por isso que fiquei com vontade de aprender.
-Do que mais gostou?
-Gostei da gaita e do banjo. O violino também é muito bonito. Eu gosto.
-Sabia que eu tocava gaita?
-Tocava?
-Sim, meu pai me ensinou.
-Por que nunca o vi tocando?
-Parei há muitos anos. Sempre que eu tocava me lembrava dele, então isso me deixava meio triste, então acabei parando de tocar.
-Toca para mim?
-Não sei, filho, acho que não sei mais tocar, mas tenho uma gaita guardada.
-Ah pai, toca para mim, por favor. Por favor!
-Ok, eu vou tentar, me espere na varanda.
Ian foi até o escritório e pegou uma caixinha que estava dentro de um armário, abriu-a e lá estava a gaita; era belíssima, dourada com uma faixa de marfim com desenhos
talhados. Ele passou os dedos nela e lembrou-se de seu pai, sorriu e respirou fundo, pegou o lenço e esfregou a limpando, e fortemente deu alguns sopros nos furos
para liberar algum pó.
Ian foi para a varanda e sentou na cadeira de balanço e colocou a gaita na boca. Josh ficou com os olhos ansiosos e Ian começou a assoprar saindo alguns sons desafinados
e riu alto de si mesmo.
-Acho que não sei mais, filho.
-Vai pai, sabe sim. - disse entusiasmado.
Ian fechou os olhos por um minuto, colocou a gaita na boca e começou a tocar. No começo a música saiu desafinada, mas depois ele começou a tocar lindamente. Josh
abriu um sorriso maior que ele e vidrou os olhinhos. Jayne e Angel ouvindo aquele som se olharam e levantaram para ver quem estava tocando; foram até a varanda e
ficaram pasmas o vendo. Jayne sorriu espantada, e ele quando a viu ficou envergonhado e parou.
-Ian, que lindo! Por que não disse que sabia tocar? - ela perguntou.
-Não sei, nunca mais tive vontade de tocar, mas seu filho me forçou.
-É maravilhoso! Continue, por favor.
-Vocês vão ficar surdos. - disse ele rindo.
-Ah pai, toca, está lindo. - disse Angel sorrindo lindamente para ele.
Ian ficou envergonhado, mas se concentrou e voltou a tocar. Os três ficaram ali o ouvindo tocar lindas músicas. Willian chegou a cavalo e sem desmontar escorou-se
na cela sorrindo quando viu Ian tocando.
-Oi, Willian.
-Vejo que voltou a tocar, Ian. Há anos não via isso.
-É, hoje tomei coragem.
-Então, onde está aquele seu velho violão, ainda tem cordas? Dê-me aqui que vamos tocar juntos.
Ian riu, foi até um quarto onde guardavam diversas bugigangas e pegou o violão que estava num canto e levou para Willian.
-O que é isso, sessão musical? - disse Jayne rindo.
-Jayne, agora que seu marido resolveu desencavar esta gaita mofada vou aproveitar. - disse Willian rindo.
Os dois ensaiaram por alguns minutos algumas notas e riram.
Jayne olhava encantada para Ian, ele parecia feliz, seus olhos brilhavam e estava adorando ver aquele momento tão descontraído.
Os dois começaram a tocar lindamente, desafinando às vezes, mas aquilo os deixava mais animados e divertidos, pois riam de si mesmos.
Jayne abraçada aos seus filhos um de cada lado, ouvia Ian e Willian tocarem e assim foram por um longo tempo iluminados pelo lindo pôr-do-sol alaranjado que despontava
nas montanhas.
-Ei... Isso é uma segunda festa e nem nos convidou? - disse Mitchel chegando com David.
-Ian, você está tocando? - perguntou David espantado.
-Ah, mas isso merece um trago, por coincidência viemos para isso. - disse Mitchel rindo e descendo do cavalo com uma garrafa de tequila que rodou de mão em mão sendo
bebida no gargalo.
A música continuou animada que antes com os quatro amigos.
-Tudo bem, isso é uma segunda festa de aniversário. - disse Ian feliz.
-Isso é certo, festa nunca é demais. - disse Mitchel bebendo a tequila sem fazer caretas.
-Gostei disso de fazer duas festas de aniversário, vou fazer isso também.
-David... Se Mary lhe dar os presentes que Jayne me deu eu aconselho fazer logo três.
-Hum, e eu deveria perguntar que presentes são esses?
-Não! - disse Ian e Jayne juntos e todos riram.
-Tudo bem eu não vou perguntar. - disse David dissimulando e rindo.
-Chloe não tem nada a ver com isso. - disse Mitchel balançando a cabeça dando um ar de sério e bebendo da tequila.
Ian soltou uma bela gargalhada.
-Acho que descobri de onde vêm as artimanhas dela.
-Ian! - Jayne disse alto e ficou envergonhada.
-Cale a boca, Ian, senão vai dormir no celeiro de novo. - disse Willian rindo.
-Deus me livre.
-Tudo bem, Ian, agora cale a boca e vamos tocar. - disse Willian.
Voltaram a tocar e cantavam também, e foi uma desgraça. Eles eram perfeitos juntos e foram momentos de muita alegria naquele fim de tarde.
**
Angel esperou que Richard aparecesse para lhe dar as aulas de piano, mas ele não apareceu. Quando ela percebeu que ele não vinha, saiu escondida de todos e foi até
a sua casa na colina. Bateu na porta, o chamou e entrou sem esperar que alguém aparecesse. Ela foi andando pela casa olhando tudo ao redor, estava encantada e boquiaberta
com a casa.
-Richard?
Estranho. Parecia que não havia ninguém na casa e ela chamou novamente. Ela subiu as escadas e chegou num corredor, espiou por uma porta semiaberta e achou que deveria
ser seu quarto.
Ela entrou e viu a bela cama de dossel, arrumada com finos lençóis de linho branco e tantos travesseiros que ela perdeu a conta. Era parecida com a de sua mãe, mas
muito mais elaborada. Nunca havia visto uma cama tão linda e ornada com relevos talhados. Havia uma lareira de pedras onde crepitava um modesto fogo. Não pode deixar
de perceber a mesa com os diversos vidros com tamanhos e cores diferentes que pareciam com os que o doutor da cidade levava na sua misteriosa maleta negra.
Pegou um dos vidros e leu o rótulo "Láudano", viu uma caixa de metal prateado e abriu, havia uma seringa de metal com uma agulha enorme, ela arregalou os olhos vendo
tudo aquilo, pegou outro vidro e ia ler.
-O que faz aqui? - Richard gritou severamente da porta do quarto.
Angel levou um susto e derrubou o vidro que se espatifou no chão. Ela olhou rapidamente para o vidro e deu alguns passos para trás, olhou para Richard com os olhos
arregalados e respirar? Havia se esquecido.
-Oh... De... Desculpe-me.
-Saia deste quarto, agora! - gritou.
Angel nunca havia visto Richard elevar o tom de voz, nem mesmo quando enfrentou Matt. Estava realmente zangado. Ela saiu correndo passando por ele sem olhá-lo e
desceu as escadas. Parou na sala com os olhos arregalados, espremendo as mãos e sentia-se um animal acuado, prestes a ser abatido.
Richard a seguiu e parou sério com as mãos para trás encarando-a, parecia estar dominando-se em sua fúria, na verdade ela nem conseguia ler a tempestade de sentimentos
que rolavam pelos seus olhos. Ela ficou ali petrificada esperando o que viria.
-O que estava fazendo no meu quarto, Srta. Buller?
Ela deu um passo atrás, ele nunca mais a havia chamado desta maneira. Parecia que uma gigantesca parede de pedras havia sido colocada entre eles. Fria e dura.
-Desculpe-me, fui uma intrometida, mas eu o chamei. Eu sinto muito.
-Não devia ter feito isso.
Ela engoliu em seco e tentou se acalmar.
-Você está bem?
-Estou.
-Parece cansado.
-Um pouco.
-Por que não foi mais dar-me as aulas de piano depois da festa?
Ele respirou por um minuto e falou calmamente, como se estivesse vestido uma capa de ferro. Respirou novamente e esfregou os olhos com os dedos. Tentava recuperar
sua calma.
-Sinto muito, fui deselegante, mas Angel, eu ia mandar avisá-la.
-Avisar o que?
-Acho melhor eu não dar-lhe mais aulas.
-Por quê?
-Porque acho que isso não é apropriado.
-Richard, eu não estou entendendo, o que não é apropriado?
-Tenho meus motivos, querida, desculpe-me, mas não posso mais lhe dar aulas.
-Fiz alguma coisa errada? Foi por causa da briga na festa?
-Não, você não fez nada errado e não foi por causa da festa. Eu é que não quero mais dar aulas.
-O que são aqueles vidros?
-Não acha que está se metendo demais?
-Só quero saber a verdade. Você está estranho, parece doente e agora não quer mais me dar aulas. Você toma aqueles remédios?
-Isso não é da sua conta. - disse rangendo os dentes. Parecia que a fúria estava voltando.
-Pensei que fosse meu amigo.
-Sou seu amigo, por isso estou pedindo que se afaste, vai ser melhor assim.
-Não quero me afastar de você e não vejo motivo para isso.
-Angel, por favor, vá embora. Sua mãe não vai gostar de saber que você está sozinha aqui na minha casa.
-Eu não vou embora até me dizer a verdade.
-Não seja teimosa, Angel.
-Sou teimosa, sim. Por que você toma aquelas coisas? São remédios.
-Isso não é da sua conta, eu já disse.
-Richard... - disse ela chegando bem na frente dele. -Você está escondendo algo, por favor, me conte, confie em mim. Eu quero ajudá-lo.
Richard a olhou nos olhos e paralisou, tocou levemente seu rosto com a ponta dos dedos e sentiu sua garganta se fechar.
-Não quero magoar você, pequena, mas eu quero que vá embora.
-Você não gosta de mim?
-Gosto, gosto muito.
-Então, quando a gente gosta quer ficar perto, não é?
-Somente quando é possível.
-Mas isso é possível.
-Não, não é.
-Você está doente, não está? Por favor, me diga.
-Agora vá.
-Eu vou, mas se prometer ir me dar aulas.
Ele fechou os olhos por um minuto. Santo Deus! Poderia ser mais difícil que já era? Por que ela tinha que ser tão teimosa e não aceitar uma simples ordem sem fazer
um milhão de perguntas? Seu coração gritou. Calma, Richard! Respire!
-Se está doente por que esconde? É grave o que tem?
-Eu não quero falar disso, Angel, eu prometo que vou à sua casa lhe dar aulas de piano, se me prometer que não falará disso com ninguém.
-Tudo bem, eu prometo, não falarei nada. Eu o espero amanhã.
Angel virou as costas e foi embora. Richard ficou ali parado como uma estátua. Maldita! Como o havia convencido de continuar indo à sua casa? Ficar perto de Angel
estava se tornando uma tortura, era uma péssima idéia continuar lhe dando aulas, não conseguia mais afugentar os sentimentos que cresciam em seu coração. O que para
ele seria um desastre. Estava louco porque ela ainda era muito nova. Era uma insanidade estar apaixonado por ela. Mas estava.
Apaixonar-se era algo que Richard sempre conseguiu evitar, mas parecia que Angel tinha um poder que o enfeitiçava.
Richard foi até seu quarto e se escorou na mesa com as duas mãos, olhou para aqueles diversos vidros, pegou um, tirou a rolha e colocou o líquido no copo e bebeu,
aquilo lhe pareceu descer engasgando, o forçando a fazer uma careta. Ele segurou o copo por um minuto o olhando, o apertou com tanta força que quase o quebrou. Sua
vontade era de jogar na parede, mas controlou-se, respirou profundamente puxando a maior quantidade de ar que pode para seus pulmões. Ele soltou o copo encima da
mesa e jogou-se na cama cobrindo o rosto com as mãos.
**
Mitchel desceu do cavalo quando chegou à fazenda de Willian. Ele estava com David tirando algumas tábuas da varanda.
-Ora, o que estão fazendo? - Mitchel perguntou.
William secou o suor da testa com a manga da camisa e ficou de pé.
-Vou trocar as tábuas da varanda, estão podres.
Logo Mitchel olhou para as três carroças carregadas de tábuas novas. Ele franziu o cenho e cruzou os braços no peito.
-Todas estas tábuas somente para trocar o piso da varanda?
Willian suspirou e coçou a cabeça. David fez uma careta e ficou em pé, pegou o cantil e bebeu um gole de água.
-Bem, não, vou aumentar a casa.
-Aumentar a casa?
-A família cresceu, Mitch. Eu preciso de mais espaço, vou aumentar a casa para aquele lado. Vou fazer um quarto maior para duas camas, para Henry e Ethan.
Willian estava nervoso e Mitchel percebeu sua reticência.
-Willian, você pode achar que eu sou um bronco burro, mas eu não sou, pelo menos não a maioria do tempo. Desembuche logo o que eu quero saber.
-Não tenho nada para desembuchar.
-Ian está lhe dando dinheiro para aumentar sua fazenda?
-Ora, por que diabo Ian me daria dinheiro?
-Não acharia errado, pois ele é seu sócio, e só fiz uma pergunta. Você fica nervoso e me desconversa cada vez que faço uma pergunta sobre seus gastos na fazenda.
-Tem alguma coisa contra eu aumentar minha fazenda?
-Garoto, não teste minha paciência. Conte-me o que estão escondendo de mim! Quando você construiu as novas estrebarias e os cercados disse que era investimento para
a sociedade, mas isso aí? Não tem nada a ver com Ian.
-Ora, acha que não tenho dinheiro? Pois tenho tido bons lucros.
-Will, fale logo, senão vou esmurrar sua cara. - Mitchel disse entre os dentes.
Willian fez uma careta.
-Fale logo, homem, ele está certo. Não é leal mentir para Mitchel. - David disse.
-Bem, se insiste. - ele suspirou. -Eu recebi o dote de Emily que consistia em uma grande quantia em dinheiro e com ele estou arrumando a fazenda, e ainda há algumas
milhas de terras em Ohio que vou vender. Pronto, é isto.
Mitchel ficou parado por alguns segundos, olhando para Willian sem entender, tentando assimilar o que ele disse.
-Que dote?
-Dote de casamento.
-Emily tinha um dote?
-Sim.
-E por que você não o recebeu quando se casou com ela?
-O pai dela negou, para ver se ela abandonava a ideia de se casar comigo. Não abandonou e depois Julia o convenceu a voltar atrás e me dar o dinheiro.
-Bem, e por que não queria que eu soubesse disso? Acha que eu ficaria zangado por você receber um dote?
-Na realidade não era o dote de Emily que eu estava querendo esconder de você. Era o de Julia.
Mitchel franziu mais o cenho e descruzou os braços e deu dois passos para frente.
-Como é?
-É isso, Mitchel, Julia também tinha um dote que o pai dela negou. Ele tinha medo que nós roubássemos como aconteceu com Jayne e aquele estrupício do marido dela.
Quando Julia se separou de você o pai dela deu o dinheiro para que ela vivesse na Europa. E então voltou atrás em relação ao dote de Emily, por causa dos netos.
Mitchel ficou tão pasmo que parou de respirar.
-Eles acharam que eu ia pegar o dinheiro e abandonar Julia?
-Parece.
-Bem, acho que no caso, foi ela que fez isso. - David disse.
-David, não piore as coisas. - Willian resmungou.
-Por que não me contaram isso antes?
-Queria poupá-lo dessa decepção.
-Mais essa. - David emendou.
Mitchel soltou o ar em um bufo, deu a volta e deu dois passos em direção ao seu cavalo. Então parou, deu a volta novamente e foi até Willian. Deu um soco em seu
rosto, o derrubando no chão.
-Nunca mais, eu disse nunca mais minta para mim, Willian. Não sou uma menininha indefesa e melindrosa que iria sair gritando aos prantos por saber a verdade.
Mitchel virou-se para David que deu dois passos para trás para evitar que recebesse um soco também.
-Só quis poupá-lo, sou seu amigo. - Willian disse gemendo segurando o queixo.
-Sei que teve boas intenções, mas não faça isso de novo, não sou um idiota.
Mitchel montou em seu cavalo e foi embora.
David respirou fundo e ajudou Willian a levantar.
-Acho que ele aceitou bem.
-Sim, nem atirou em mim.
-Venha vamos tomar um uísque.
**
Mitchel ficou um longo tempo escorado no batente da porta do quarto observando Chloe cerzir um vestido enquanto cantarolava baixinho e se balançava em uma cadeira
de balanço.
-Chloe? - ele perguntou carinhosamente.
Ela se assustou e furou o dedo com a agulha, logo jogou o vestido no balaio ao lado da cadeira e o olhou.
-Sim, meu amor. - ela respondeu com um sorriso.
Ela estava ocultando o que estava fazendo e o olhou disfarçadamente. Ele sorriu e foi até a sua frente, olhou para ela de cima abaixo, se ajoelhou e pegou sua mão.
Viu que havia uma gota de sangue na ponta de seu dedo. Ele a olhou nos olhos e colocou o seu dedo na boca. Ela ofegou.
-Feriu seu dedo.
-Sou uma estabanada.
-Não precisa esconder que estava costurando.
-Bem, é que estou aprendendo.
-Sei. Estou orgulhoso de você, mas não tem que me provar nada.
-Quero ser uma boa esposa.
-Você é.
-Você que é muito bom para mim.
Ele suspirou e beijou a palma de sua mão, levantou do chão e sentou na cama, ainda a olhando.
-Há algo errado, Mitch? Seu semblante está nebuloso.
-Preciso que faça algo para mim. Na realidade são duas coisas.
-O que quiser.
-Primeiro, quero que me entregue a escritura do Saloon.
Ela ofegou.
-Por quê?
-Recebi uma oferta por ele e vou aceitar.
-Vendeu o Saloon?
-Desculpe Chloe, mas é preciso. Não quero aquele bar para cuidar e não posso deixar na mão de outra pessoa e você não vai voltar lá.
Ela engoliu em seco e uma lágrima escorreu pelo rosto.
-Você precisa entender Chloe. Sabe o prejuízo que tive com esta última briga? Sabe que um de nós poderia ter morrido?
-Sei. É que estive tão orgulhosa de mim quando fiquei dona dele.
-Ninguém vai tirar este mérito de você. Não estou desmerecendo você e não estou querendo feri-la, mas eu cheguei ao meu limite.
Houve um silencio por alguns longos minutos. Então Chloe suspirou e secou as lágrimas.
-Você está certo, vai ser bom deixar aquele lugar. Talvez seja o que falta para me livrar de meu passado. Sou uma nova pessoa agora.
-Sim, você é. E quero saber se está feliz.
-Sim, Mitchel, eu estou muito feliz com você.
-Isso é bom. Agora a segunda coisa.
-Pode pedir.
-Você me prometeu que um dia me contaria como conseguiu adquirir o Saloon. Eu nunca fiz questão de saber, mas eu quero agora.
Ela o olhou com os olhos arregalados e ficou vermelha.
-Mitch...
-Chloe, por favor, eu não quero que ninguém mais esconda as coisas de mim e me trate por imbecil. Eu não quero mais segredos entre nós. Você sabe que não a recriminei
pela vida que levava, sabia que você não tinha alternativa, mas eu sou seu homem agora e eu quero saber a verdade. Você comprou o Saloon de Steve que disseram que
deixou a cidade, sumindo que nem fumaça. Depois você o reformou e tinha aquela fortuna para ir para a França. Eu sei o quanto custou e não foi pouco e também não
creio que uma cocote teria condições de guardar esse dinheiro com o pouco que ganhava, mesmo que o fizesse uma vida toda.
-Não quero falar disso.
-Vamos coração, me conte a verdade, não tenha medo que eu a julgue ou brigue com você. Por favor, confie em mim.
Ela suspirou tristemente, espremeu as mãos e depois abraçou a barriga, como se quisesse proteger seu bebê. Após um silêncio ela respondeu.
-Steve era meu pai.
-O que? - ele perguntou espantado.
-Ele era meu pai.
-Miserável! - gritou.
Michel levantou da cama e deu algumas voltas pelo quarto revirando os cabelos com as mãos e rangendo os dentes para não gritar mais.
-Como um pai pode prostituir a filha desse jeito?
-Steve não valia nada, nunca me tratou como filha. Minha mãe morreu quando eu era uma menina. Eu tinha que trabalhar para ter um teto. Ele nunca me proveu, se eu
não trabalhasse, morria de fome. Ninguém ligava para mim, não tinha ninguém para me salvar, eu era só uma menina. Depois de anos, quando virei uma mulher, nada me
importava, já não tinha nada para sonhar ou perder. Quando conheci você, consegui sonhar pela primeira vez, mas sabia que era um sonho que não era para mim. Às vezes
eu olho ao redor desta casa e quando você está dormindo e tenho medo de acordar e vir que ainda continuo aquela cocote do Saloon.
-Santo Cristo. E como você arrumou tanto dinheiro?
-Steve tinha muitos negócios escusos, esteve metido com eles a anos, roubando. Tomava dinheiro de quem fazia os jogos na estalagem, sem contar que pegava praticamente
tudo que eu e as outras meninas ganhávamos. Ele conseguiu muito dinheiro em uma empreitada, não sei o que é direito, mas sei que envolvia pepitas de ouro. Alguém
aqui em West Side estava vendendo, sei que ele enganou alguém e escondeu o dinheiro da troca. Eu descobri o esconderijo do dinheiro logo depois e fiquei com ele,
como eu era filha dele tinha o direito de ficar com o Saloon.
-Santo Deus. Pepitas de ouro? De onde saíram pepitas aqui em West Side?
Mitchel sentiu um frio lhe percorrer a espinha. Seria possível ser da mina de Ian?
-Eu juro que não sei quem estava envolvido, somente sei que era um homem com uma voz não muito grave, parecia moço. Não o vi, apenas escutei atrás da porta. Eu não
roubei nada, se ele era meu pai, o que era dele era meu, não? Eu disse que comprei o Saloon porque não queria que ninguém soubesse que ele era meu pai. Enquanto
você estava casado com Julia eu fui amante de um fazendeiro muito rico que vinha à cidade. Todos pensam que ele me deu o dinheiro e jóias... Foi o boato que espalhei.
Depois ele não veio mais e ficou o dito pelo não dito.
-Infernos!
Ela se assustou com a agressividade dele.
-Mitch... Por favor, está zangado comigo? Eu não fiz nada errado. Agi em legítima defesa. Ele puxou uma faca, estava bêbado e...
-Legítima defesa? Chloe, onde está Steve? - ele perguntou espantado.
-Morto, eu o matei.
-O que?
Ela suspirou.
-Um dia eu estava nos estábulos lavando seu cavalo e ele estava bêbado e muito zangado e começou a me bater. Eu consegui derrubá-lo, peguei a faca e o matei. Enrique,
na época era o xerife, eu pedi ajuda a ele. A casa dele ficava perto do Saloon. Consegui chegar lá sem que ninguém me visse. Ele e o juiz Branann me ouviram e não
me acusaram. Bem, eu estava com o nariz quebrado, sangrava como uma louca; acho que ficaram com pena de mim. Enrique achou melhor que ninguém soubesse. Ele legalizou
o Saloon para mim, eu tenho os documentos, ele me disse que tudo estava certo. Enrique ficou furioso também quando soube que ele era meu pai e jurou que me ajudaria
e me ajudou. Ele é da lei, então tudo é meu e eu não roubei nada. Eu reformei o Saloon e quis usar o dinheiro para realizar o meu sonho de ir a Paris conhecer o
Moulin Rouge que eu vi num magazine da modista. Eu nunca tive nada na minha vida, um lar, muito menos um pai. Eu só quis ter algo feliz na minha vida, já que não
podia ter você. Por favor, acredite em mim.
-Você dormiu com Enrique?
-Droga Mitchel, não faça este tipo de pergunta!
-Responda!
-Droga sim, mas foi antes de ele assumir seu compromisso com Jayne, lembre-se que ele ficou na cidade mais de um ano antes de eles ficarem juntos e você estava casado
com Julia.
-Merda! Sei, sei que não posso cobrar isso, mas merda, merda!
-Ele me ajudou, chamou o médico e cuidou de mim.
-Eu sei!
-Ele era um bom homem.
-Cale-se Chloe.
Mitch continuou andando pelo quarto, sua cabeça estava fervendo.
-Está zangado.
-Estou furioso! - gritou.
-Vai me mandar embora? - disse num sussurro, quase sem conseguir respirar, mas não conseguiu segurar nem as lágrimas nem o soluço.
Deus Santo, ela morreria se perdesse Mitchel. Ele olhou para ela e tentou conter sua raiva.
-Chloe... - ele andou até sua frente, levantou-a da cadeira, segurou seu rosto entre as mãos, olhou para seus olhos apavorados e banhados nas lágrimas. -Minha Deusa
de Mármore, preste bem atenção. Eu não estou zangado com você, estou zangado com aquele patife do Steve. Pelo que fez a você. Por favor, pare de repetir essa pergunta
cada vez que acha que faz algo errado e que estou zangado com você. Eu nunca, eu disse nunca vou mandá-la embora, querida, eu amo você. Está tudo bem. - ela começou
a soluçar e ele a abraçou forte. -Calma, meu amor, tudo está bem. Eu sinto muito por aquele imbecil ser seu pai, se ele não estivesse morto eu o mataria com minhas
próprias mãos. Agora entendo porque não queria me contar.
-Desculpe.
-Não, não se desculpe, está tudo bem, vamos esquecer isso. Calma, querida, se acalme. Com mil demônios, eu sou um asno, você está sensível e grávida e eu aqui fazendo
você se cansar e chorar desse jeito. Por favor, me desculpe, meu amor, desculpe. Venha, deite-se aqui e tente dormir, eu vou chamar Maria e pedir para trazer um
chá para você, está bem? Você precisa comer algo, tomar um banho, do que precisa?
Logo ela gemeu e olhou para baixo.
-Mitchel, chame a parteira, acho que nosso filho vai nascer! - disse Chloe se escorando na cama.
-O que?
-Sim, a bolsa rompeu, chame Mary e a parteira.
-Meu Deus, eu provoquei isso?
-Sim, você provocou a gravidez, mas não se culpe por isso agora de ter me assustado, ok? Somente vá e chame a parteira!
-Uma parteira, por que não o médico?
-A parteira é boa, disseram-me.
-Onde ela mora? - perguntou exasperando.
-É a senhora Coldrin, perto do rio.
-Está bem, venha... Fique na cama que eu vou correndo.
Mitchel nervoso ajudou Chloe a se deitar e ela começou a gemer de dor. O que o apavorou.
-Onde está a criada, Maria?
-Eu a mandei à cidade, comprar mantimentos. Deve voltar logo.
Ele gemeu e respirou rápido e com tragadas curtas.
-Vou chamar Mary para ficar com você, eu já volto.
Mitchel montou no cavalo rapidamente e saiu em disparada, foi à fazenda de David que era a mais próxima da sua.
-David! - gritou sem descer do cavalo e Mary saiu na varanda.
-David está na fazenda de Willian. Aconteceu alguma coisa? - ela perguntou.
-Oh, infernos, eu esqueci. Mary, Chloe vai ter o bebê, você pode ficar com ela até eu trazer a parteira?
-Sim, eu estou indo, vou mandar alguém avisar David.
Mitchel deu meia volta e saiu rapidamente. Logo Mary foi correndo para a casa de Chloe.
-Calma, Chloe, eu estou aqui. Respire e fique calma. - disse Mary entrando apressadamente no quarto.
Chloe gritava pela dor das contrações.
-Meu Deus, como isso dói!
-Sim, querida, mas você consegue, respire.
-Por que você não me disse que era assim?
-Eu disse. - disse com um sorriso e segurando sua mão.
-Bem, podia ter exagerado mais na sua explicação, Mary. Você disse uma dor forte, mas uma dor forte não é exatamente esta maldita dor!
-Isso somente iria aumentar seu pânico, agora vamos, respire. Infelizmente todas nós passamos por isso, mas quando seu bebê estiver nos seus braços isso tudo passa.
-Vou lembrar-me disso na próxima vez. Na verdade não haverá próxima vez. Oh meu Deus!
Mary riu e apertou sua mão.
-Suas contrações estão muito próximas uma da outra, isso está indo muito rápido. Vou colocar água ferver e encontrar panos limpos, eu já volto.
Mitchel encontrou a parteira e ela mais que depressa subiu na carroça e o seguiu até sua casa. Ela entrou no quarto e ele ficou na sala andando de um lado a outro.
Demorou um pouco, mas David e Willian chegaram e abraçaram o amigo, tentando tranquilizá-lo.
-Pensei que não viria. - ele disse a Willian.
-Não queria que eu viesse?
-É claro que queria que viesse.
Willian sorriu e abraçou Mitchel.
-Calma, Mitchel, daqui a pouco tudo acaba.
-Ai Jesus, que nervoso!
-Nós já passamos por isso. - disse David rindo.
-É... Não é fácil, mas quando meus filhos nasceram pensei que iria enlouquecer de tanto nervoso, mas depois foi de felicidade.
-Ainda mais quando os gêmeos nasceram. - disse David.
-Ah, isso sim. Eu nunca imaginei uma coisa daquela, mas deu tudo certo. E ainda bem que você não está lá dentro como eu fiquei com Emily. Foi um pesadelo.
-Maldição! Se eu tiver algum problema de coração virarei presunto antes de ver meu filho.
-Beba e se acalme! Isso pode demorar muito tempo.
-Alguém avisou Ian?
-Ih, eu não.
-Hum, peça para alguém avisá-lo, está bem? - disse Mitchel roendo as unhas.
-Tudo bem, mas pare de roer as unhas que você vai engasgar.
A agonia seguiu algumas longas horas até que ouviram um choro de criança. Mitchel arregalou os olhos e olhou de boca aberta para a porta. Eles se abraçaram rindo
e Mitchel esperava alguém sair. Demorou um pouco, mas Mary saiu do quarto com um lindo sorriso no rosto.
-Parabéns, Mitchel, é um menino e ele é perfeito e saudável.
Ele gritou e abraçou os rapazes, estava eufórico.
-Chloe está bem?
-Está, pode entrar e conhecer seu filho.
Mary abraçou David e Mitchel entrou no quarto. Chloe estava segurando o bebê nos braços, enrolado em uma manta, estava tranquilo e adormecido.
-Chloe... Ele é lindo!
-Sim, meu amor, olhe nosso filho. Você queria tanto um menino. - ele beijou Chloe na testa e pegou meio desajeitado o seu filho nos braços.
-É assim que segura?
-Sim, cuidado, segure a cabecinha dele.
-Parabéns, Sr. Vaiz, é um menino muito forte e saudável. - disse a parteira. -E ambos estão bem.
-Obrigado.
-Eu devo ir, meu trabalho terminou.
Mitchel devolveu o bebê para Chloe, abriu uma gaveta da cômoda e tirou um saquinho com dinheiro e deu à velha que sorriu espiando dentro.
-Obrigada, é generoso.
A mulher colocou o saquinho no bolso da saia e foi embora.
Mitchel sentou devagar na beira da cama e olhou para Chloe, ela sorriu para ele e ajeitou a mantinha do bebê.
-Está feliz? - perguntou ela.
-Como jamais estive na minha vida. Nunca imaginei que seria você que me daria uma alegria destas.
-Obrigada por me dar uma vida, uma família de verdade, Mitchel. - disse deixando as lágrimas correrem por sua face.
-Não tem que agradecer, Chloe. Você é minha mulher, mãe do meu filho e eu te amo.
-Eu também te amo tanto. Mitch, você acha que eu serei uma boa mãe para este pequenino?
-Será a melhor. Eu confio em você e sempre terá a mim. Cuidaremos bem do nosso homenzinho. Nós temos amigos, Chloe, que podem nos ajudar a criá-lo. Qualquer dúvida
que você tiver, poderá perguntar a Mary, Jayne ou Emily.
-Sim, elas são amigas e mães maravilhosas. Elas me aceitaram como amiga, sem se importar com meu passado.
-Você é uma pessoa maravilhosa e elas viram isso. E eu sinto muito que eu tenha demorado tanto para enxergar isso e tirá-la daquela vida maldita. Mas isso tudo não
importa mais, é passado e agora temos um futuro lindo pela frente, nossa família para cuidarmos.
-Mitchel?
-Sim, querida.
-Pode vender o Saloon. Eu não me importo mais.
-Tem certeza?
-Sim. Para começar uma vida nova eu preciso cortar os laços com a velha. Quero estar aqui com você e nosso filho por inteiro. Não me importo mais com o Saloon.
-Está certo meu amor, depois falaremos disso.
Os dois se abraçaram e ficaram admirando o filho que dormia tranquilo nos braços da mãe.
Chloe não conseguia conter as lágrimas ao olhar seu bebê e ao homem que amava. Sua vida havia mudado completamente e agora era mãe. Ela amaria e protegeria seu filho
com unhas e dentes e faria de tudo para que aquela fosse uma família feliz. Seu sonho havia se realizado. Era mãe de um filho de Mitchel Vaiz, o homem que mudou
sua vida, o homem que amou sua vida inteira e continuaria amando para sempre.
-Estou tão cansada, gostaria de dormir um pouco.
-Sim, sim, deite-se, durma meu amor, eu estarei aqui. Não se preocupe, estarei cuidando de você e nosso filho, somente descanse.
Ele a aconchegou na cama e a cobriu. Alisou seus cabelos até que ela pegou no sono.
-Por Deus, Chloe como eu amo você. - sussurrou.
Ele a beijou e ao seu filho que continuava quietinho quando ele o colocou no bercinho. Mitchel saiu do quarto, fechou os olhos e respirou fundo.
-Está tudo bem, Mitchel? - perguntou Jayne chegando com Ian e Emily à casa.
-Sim... Sim, está tudo bem. Ambos estão dormindo. Chloe está exausta.
-Que maravilha, meus parabéns Mitchel! - disse Jayne o abraçando.
-Bem, agora nós quatro somos pais, finalmente. - Ian disse risonho.
-É... Mitchel demorou, mas alcançou a gente.
-Acho que ninguém irá alcançar você, Willian.
Todos riram e Willian abraçou Emily. Todos quiseram entrar e ver o pequeno. Mitchel deixou que os vissem, contanto que não fizessem barulho. Ele estava emocionado,
mas tinha um ar triste no rosto. Mitchel saiu de perto de todos e foi para a varanda, dali a pouco Ian foi até ele.
-O que foi? - Ian perguntou.
Ele rapidamente esfregou os olhos secando as lágrimas e recompôs-se.
-Nada... Não foi nada.
-Mitchel, se está feliz pelo nascimento do seu filho não precisa esconder. Somos seus irmãos, não precisa se esconder de nós.
-Quem está chorando aqui?
-Não seja tolo, Mitchel.
-Ah está bem, eu estou tão feliz que parece que vou me desmanchar.
-Sei que agora você está bem, Mitch, realizou seu sonho de ser pai e fico feliz com isso. Chloe é uma boa mulher e te ama muito.
-Sim, ela é. Sou um homem de sorte. Somente... Sinto-me culpado por ter deixado ela naquela vida infeliz por tanto tempo. Ela sofreu muito. Como pude ser tão cego?
Ela...
-Mitch... Mitch... - o interrompeu. -Nenhum homem teria feito o que você fez. Você a ama e lutou para tê-la quando estava preparado para isso. Foi um homem de coragem.
O importante é que deu tudo certo e agora ela está segura e feliz debaixo do seu teto e ainda mais com seu bebê. Isso é o que importa agora, não pense mais no que
foi ou não podia ter sido.
-Sim, você está certo, revirar isso não vai me levar a nada.
-Isso, olhe para frente. Bem vindo ao clube, papai.
-Sim... Meu filho é lindo, Ian. Então vamos fazer nosso brinde? - disse Mitchel com um sorriso maior que ele.
-Pensei que não iria pedir. - disse Ian mostrando uma garrafa de uísque que trouxera.
-Ah este é meu garoto. - disse rindo.
Todos se reuniram para fazer o brinde.
**
-Eu preciso de dinheiro. Como faço para transformar pedra em dinheiro? - Matt disse pensativo. -Droga, se meus planos tivessem dado certo da outra vez...
Matt pegou seu cavalo e foi à cidade para comprar o que precisava, viu uma pequena movimentação de pessoas em frente ao Saloon. Desceu do cavalo e o atrelou perto
ao coche de água e se aproximou tentando ver o que estava acontecendo e o que falavam.
-Estou procurando alguém que capture Mustangs. - disse o homem todo pomposo e bem vestido que até então parecia distinto.
-Aqui ninguém faz isso, não. - disse um cidadão.
-O Sr. Buller e os seus amigos têm experiência em pegar Mustangs nas montanhas. - disse outro.
-Onde encontro esse Sr. Buller?
-Acho que o senhor nem devia tentar, ele não vai fazer um trabalho assim, é ocupado com a fazenda dele.
-Sim, e os outros rapazes também, talvez Mitchel Vaiz possa fazer isso, ele é bom. - falou outro.
-Você é filho do capataz dos Buller, não é? - perguntou uma moça que estava ao lado de Matt, ele virou-se e ficou meio atordoado com a beleza da moça que o olhava.
Ela era mais baixa que ele e tinha o cabelo dourado, preso em duas tranças que lhe caiam pelos ombros.
-Sim, eu sou.
-Por que não pega os Mustangs?
Matt ficou pensativo.
-Sabe que é uma boa idéia? - disse ele sorrindo.
-Sou Chelse.
-Sou Matt.
-Sabe capturar Mustangs, Matt? Dizem que os homens que trabalham para o senhor Buller são valentes.
-Claro que sei. - disse ele rapidamente.
Mas na verdade não tinha a mínima idéia de como faria algo assim. Nunca havia ido com eles para capturá-los, tinha apenas laçado cavalos pela fazenda, mas os Mustangs
selvagens em seu habitat natural, não se tratava simplesmente em laçá-los. Eram rápidos e inteligentes, se esquivavam rapidamente e eram muito velozes e agressivos.
-Acho aquela família muito interessante. Claro e os outros rapazes também. - ela continuou.
-Não vejo nada de interessante.
-Existem tantas histórias sobre eles. Eu acho a Sra. Buller uma mulher lindíssima, corajosa; eu gostaria de ser como ela. Ouvi dizer que ela já matou bandidos, que
ela é ousada, moderna dirigindo aquele carro e uau! Teve um dia que ela veio à cidade usando calças de couro! Como um homem. Todo mundo parou para vê-la. Dizem que
eles têm uma amizade muito forte e lealdade inquebrável. Você é amigo deles assim?
Matt a olhou por um instante e pensou no que responderia. Em poucas palavras poderia falar muito mal da reputação deles e principalmente de Jayne. Seria uma boa
vingança por ter recebido um tapa na cara daquela mulher e estar endividado, mas se Angel descobrisse o odiaria ainda mais.
-Não, eu não sou, mas meu pai é. Com licença.
Matt foi falar com o homem e pegou algumas informações sobre o que ele queria e quanto pagaria por cada cavalo que capturasse.
**
-Pelo que vejo você estudou as partituras, Angel. - disse Richard.
-Sim, minha mãe me ajudou.
-Meus parabéns! Você está melhorando muito.
-Obrigada. Richard, você não está aqui contra a sua vontade, não é?
-Você não me deu muita alternativa, senhorita.
-Eu não quis fazer chantagem com você.
-Soou como tal.
-Desculpe-me. Se não quiser mais vir aqui ou me ver eu não vou falar nada. Eu quero sua amizade e não quero que faça nada obrigado, Richard. Não vou contar nada
sobre o que eu vi na sua casa. Eu prometo.
-Você não viu nada de mais.
-Não vai me contar por que toma aqueles remédios?
-Não.
-Você não confia em mim?
-Não é isso, só acho que você não precisa saber destas coisas.
-Você vai morrer?
Richard a olhou por alguns minutos; desviou o olhar e suspirou.
-Todo homem morre um dia, Angel. Não precisa se penar por isso.
-Então você vai morrer? - ela perguntou com os olhos arregalados.
-Não, eu não vou. Pelo menos não agora.
-Ai Richard que susto que me deu.
-Por quê? - ele perguntou com um sorriso. -Se importaria se eu morresse?
-É claro que me importaria. Que pergunta sem fundamento.
-Não perca seu tempo com estes pensamentos, pense na sua vida, no seu futuro.
-É por isso que não quer se apaixonar?
Richard ficou nervoso.
-O que está dizendo, Angel?
-Aquele dia na festa do meu pai, você disse que não permitia se apaixonar. É por isso? Acha que faria alguém sofrer se alguém o amasse e talvez o perdesse, não é?
-Angel, pare com isso. - disse levantando do banco do piano.
-Se eu dissesse que me casaria com você mesmo sendo doente, você mudaria de idéia?
Richard arregalou os olhos e ficou ali a olhando estupefato e praticamente parou de respirar.
-De onde tirou uma coisa destas?
-Só foi uma pergunta.
-Pois a resposta é não! Com licença, a aula acabou.
Richard saiu da sala e deixou Angel ali falando sozinha.
-Richard! - chamou indo atrás dele chegando até a varanda, mas ele não lhe deu ouvidos, subiu em seu cavalo e foi embora. -Ai Angel, você falou demais!
-O que foi Angel? - perguntou Jayne saindo na varanda.
-O que foi o quê? - perguntou ela com os olhos arregalados.
-Por que está aqui com esta cara?
-Nada...
-Eu a conheço e esta cara é porque aconteceu alguma coisa.
-Não aconteceu nada, mamãezinha, estou aqui tomando ar puro, só isso.
-Hum... Que mentira deslavada. - disse Jayne estreitando os olhos.
Angel se aproximou de Jayne e lhe beijou o rosto.
-Mamãe, não é nada importante. Não se preocupe.
-Hum... Por que Richard foi embora? Você pediu a Anna para preparar um lanche e ela a deixou sozinha com Richard por alguns minutos e quando voltou ele já tinha
ido.
-É, bem, ele disse que tinha que ir, não ficaria para o lanche.
-Angel...
-Posso saltar? - perguntou a interrompendo.
-Não sei por que treina tanto isso. Vai querer participar de alguma competição, mocinha?
-Sabe que não seria uma má idéia? Estou ficando boa nisso.
-Hum, eu estou vendo, mas a resposta é não.
-Tudo bem. - disse sorrindo e saiu em direção ao estábulo.
-Ai, por que eles crescem? - disse Jayne cruzando os braços e bufando.
**
Alguns meses depois...
Jayne estava com James, vendo a pata de um de seus cavalos que perdera a ferradura quando Anna se aproximou deles.
-Senhora, chegou esta carta.
-Carta para mim?
Jayne bateu as mãos na saia para retirar a poeira e arrumou os cabelos que lhe caiam nos olhos. Pegou a carta e leu o remetente. Ficou ali alguns minutos olhando
para o nome de Enrique e olhou para Anna.
-Obrigada, Anna.
Jayne afastou-se e foi até perto do cercado, a abriu e começou a ler.
"Querida Jayne.
Estou escrevendo porque queria lhe contar que meus filhos nasceram; são dois meninos, são gêmeos lindos e perfeitos. Estou sentindo tanta felicidade que gostaria
de compartilhar com você. Eu e Catherine nos casamos e tenho certeza que serei feliz, realmente isso é o que mais desejo.
Espero que você e sua família estejam bem.
Não se preocupe, finalmente tomei o rumo certo. Estou feliz com a família que estou construindo e saiba que você viverá no meu coração para sempre, como uma pessoa
especial que me ensinou muitas coisas.
Precisava escrever para dizer-lhe uma coisa importante. Você me pediu perdão mais de uma vez e eu nunca respondi. Então quero que saiba que eu te perdoei, não sinto
mais mágoa nem ressentimentos no meu coração. Meus filhos me mostraram uma felicidade intensa e quero preencher meu coração somente com amor, nada de coisas ruins
para poder lhes ensinar a serem bons homens. Então achei que precisava dizer isso, pois a conhecendo como eu conheço, eu sei que no fundo do seu coração ainda espera
que eu diga-lhe isso. E eu te peço perdão por todas as atitudes vis que tive contigo e que sei que a magoaram.
Eu estou feliz com Catherine, ela é uma boa mãe e esposa. Minha família é maravilhosa e entendo agora como é protegê-la de tudo e querer ficar unido a eles, como
você quis ficar com a sua. Então creio que tudo o que você fez foi o certo, por mais que eu custasse confiar nisso. Não é fácil para um homem admitir que perdeu,
ou desconsiderar o orgulho ferido, mas agora eu entendo tudo. Nós nunca seríamos felizes juntos como creio que você é com Ian e sua família. Agora eu tenho a minha
e não pretendo me separar dela, nunca.
Outra coisa que eu gostaria de dizer é sobre o juiz e o promotor que cuidaram da nossa anulação. Meu pai voltou a morar em Madri e assumiu o cargo de juiz e é um
dos membros do conselho do magistrado. O juiz que presidiu a corte de nossa anulação perdeu seu cargo e ficou na vergonha e o promotor deu-se um tiro na cabeça antes
de ser preso. Eles eram muito sujos e se comportaram de forma grotesca naquela corte e eu descobri todas as outras maracutaias. Enfim, acho que a justiça se fez.
Fomos vítimas de uma trama vergonhosa e nenhum de nós merecia aquilo pelo qual passamos. Eu e meu pai seguiremos trabalhando com a justiça e a defenderemos até o
fim de nossos dias.
Mas eu acredito que depois de tudo nós estamos mais fortes para seguir em frente. Eu a admiro muito, você é uma guerreira, uma mulher incrível e merece toda a felicidade
deste mundo. Ian tem muita sorte.
Seja feliz e guarde lembranças boas minhas no seu coração, pois são somente essas que vou guardar no meu.
Um grande beijo
Enrique"
Jayne apertou a carta contra o peito, fechou os olhos e respirou profundamente, nem sabia o que estava sentindo lendo tudo aquilo.
-O que houve Jayne, está bem? - Jayne virou-se e deu-se com Ian que a olhava preocupado e ela não respondeu. - Jayne... De quem é esta carta?
-De Enrique. - Ian a ficou olhando seriamente.
-Algum problema?
-Não. Eu acho que agora tudo está bem.
-Por quê? Pode me dizer o que está escrito ou é particular?
Jayne deu a carta para Ian, ele a segurou por um minuto e depois começou a ler. Jayne secou as lágrimas, respirou fundo e ficou olhando para Ian com o rosto sereno.
Quando ele acabou de ler abaixou a carta e a olhou com uma expressão de carinho.
-Como está se sentindo? - perguntou ele.
Ela deu um grande suspiro e sorriu.
-Em paz.
Ian sorriu e a abraçou fortemente e ficaram assim por um longo tempo.
-Ele é um grande homem, Jayne, eu reconheço isso.
-Sim ele é, e parece que ele está bem, o que me deixa aliviada.
-Tudo isso vai ficar para trás.
-Sim. Eu sou sua mulher e assim serei para sempre e não há lugar no meu coração para ninguém além de você. Eu te amo, Ian.
-Eu também, Jayne.
Os dois se olharam carinhosamente e se beijaram levemente. Todos pareciam ter deixado aquela história para trás, mas no fundo algumas arestas ainda faltavam ser
aparadas. O que para ambos acabara de ser. Agora seus corações realmente estavam leves.
**
-O que faz aqui, Angel? - perguntou Richard perdendo sua respiração por completo quando viu Angel em sua sala, parecendo àquelas mais belas estátuas gregas dos museus
europeus.
-Me desculpe, mas eu sei que o que eu falei há alguns dias atrás o deixou nervoso.
-Não devia estar aqui e não devia ter falado aquelas coisas. Vá embora.
-Eu te esperei e não foi mais me dar aulas. Você quebrou sua palavra.
-Não vou mais, eu não quero mais ir e nem vê-la. Agora nenhuma chantagem irá me fazer mudar de idéia.
Angel sentiu seu coração apertar e uma imensa vontade de chorar. Respirou profundamente tentando controlar suas emoções, o que era praticamente impossível, pois
ela nem sabia o que sentia.
-Por quê? Eu lhe ofendi? Perdoe-me, Richard, sei que fui ousada e não devia ter dito aquilo, mas eu só quis dizer que eu me casaria com você mesmo que fosse doente.
Eu não ligo e acho que ninguém que amasse você fosse ligar, pois você merece o amor e isso que faz a si mesmo não é justo. Não afaste o amor e nem as pessoas que
o amam. Ninguém que o ama vai negar de ficar ao seu lado por que é doente. Eu não faria isso e creio que ninguém faria.
-Pare com isso, por favor! O que pretende, Angel, me enlouquecer?
-Não, não me entenda mal, Richard, por favor...
-Vá embora, Angel! - disse perdendo o controle e a interrompendo rudemente.
-Você mentiu para mim, não foi? Você vai morrer.
-Não menti nada! Eu somente não amo você, não quero lhe dar aulas, não quero mais lhe ver, então saia da minha casa e vá embora, por favor. Eu nunca me casaria com
você, pois é uma mimada, uma criança! Vá e não volte! - disse severamente serrando os dentes.
Angel sentiu toda sua alma se embolar na sua garganta e não conseguiu por mais que tentasse segurar as lágrimas, o olhou como que seu mundo de conto de fadas estivesse
desmoronado bem ali na sua frente. Richard estava lindo, com seus longos cabelos negros caindo pelo ombro e seus olhos azuis que pareciam tão transparentes como
um cristal e pareciam brilhar mais naquele momento. Angel sentia uma contradição em seu olhar, mas suas palavras eram severas como um chicote.
Os dois ficaram mudos por um instante e ela virou-se lentamente sentindo que nem conseguiria dar os passos, pois suas pernas estavam dormentes. Angel andou calada
em direção a porta e Richard fechou os olhos cerradamente e ergueu a cabeça mirando o teto, tentou respirar, pois tinha um grito preso na garganta.
Sentou-se vagarosamente segurando com toda força os braços da poltrona. Queria ir atrás de Angel e dizer o que realmente sentia por ela, mas não podia, não devia
dizer nada, devia deixá-la ir embora e afastar-se de uma vez por todas, afinal era apenas uma menina, mas que lhe virada do avesso. Ele sabia que ela era dele, o
problema era aceitar o fato.
Angel montou no cavalo como se estivesse indo para uma forca, parou ali por alguns minutos e fechou os olhos. Tentava em sua cabeça buscar alguma palavra de sua
mãe que a ajudasse a fazer algo certo, mas não conseguia. Sua vontade era somente de estar ao lado de Richard, mesmo que ele somente sentasse ao seu lado e lhe dissesse
que teclas teclar no piano ou sentir seu perfume que a deixava tonta.
Que a chamasse de senhorita e a olhasse com aquele belíssimo sorriso que parecia sério, mas tão perfeito que lhe deixava com ar de príncipe encantado. Ele era tão
distante e intocável, mas tão imensamente perfeito que era impossível lhe sair do pensamento.
Mas ela não tinha nada, e não esperava mais nada além de ir embora e esquecê-lo, pois ele nem mesmo queria sua companhia, nem ao menos apreciava sua presença. Pensava
que o que ele sentia por ela nem lhe chegava perto do que ela sentia por ele, talvez não sentisse nada. Angel sentiu-se morrer por dentro e ela chegou a uma conclusão.
Amar doía.
Richard foi á mesa de bebidas, colocou uma dose de uísque no copo, o segurou com toda força tentando conter o trêmulo involuntário de suas mãos e de todo seu corpo.
Olhou para a bebida antes de tomar num gole só e fazer uma careta, pois raramente bebia e o uísque desceu queimando sua garganta. Então jogou o copo o fazendo estilhaçar
na lareira com toda raiva e dor que um dia jamais pensou em sentir, nem mesmo nos piores dias que pensara que a luz de seus olhos se apagaria. Seu coração estava
mais estilhaçado que qualquer mil cacos.
Não sabia o que fazer, mas olhou para toda aquela vida vazia e enclausurada que levava e chorou, chorou com todas as forças que tinha e jogou todos os copos e garrafas
de bebida que havia na mesa, fazendo-os voar pelo ar com a força de suas mãos. Perdera todo o equilíbrio e bom senso que lhe custara anos para conseguir adquirir.
Mal controlava sua respiração que lhe passava pelos pulmões que tanto tentava conseguir fazer funcionar. Parecia que tudo que aprendera na sua dolorosa peregrinação
de dez anos vagando pelo mundo procurando uma cura não lhe valiam de nada. Pois a dor que sentia no coração lhe doía mais por ter que desprezar aquela moça linda
e enigmaticamente perfeita e valente.
Aquilo era mais atrofiante que não conseguir respirar pelos pulmões deficientes, pior que as mais dolorosas dores que passara na sua vida, mais difíceis que ser
cobaia de cientistas desde que era uma criança.
Ele passara na mão de muitos, como um simples pedaço de carne, como um nada. Richard somente conseguiu viver pensando que poderia ter uma vida de paz num lugar distante
e no meio do nada, no meio de montanhas com ar puro, mas naquele momento Richard desejou morrer ali mesmo.
Nunca teria uma vida normal, nunca teria Angel, não que ela não o quisesse, pois ela o queria mais que tudo e ele também, mas por ele não saber quantos anos ainda
lhe restavam de vida. Ele não queria ter uma mulher que se tornasse viúva ou escrava de um marido moribundo com uma doença incurável.
Richard lutava em viver, mas vivia cada dia como se fosse o último, pois nem esperava que vivesse até os vinte anos. Seu irmão gêmeo que tinha sua mesma doença morrera
aos dez anos e ele sobrevivera e lutara incansavelmente correndo de país em país para buscar uma cura. Somente conseguiu equilibrar e controlar sua respiração e
suas terríveis e dolorosas crises na China, vivendo por três anos com um mestre chinês de oitenta anos que lhe ensinara artes marciais, Tai Chi Chuan e controlar
sua mente e corpo, o qual o sustentara aos quase vinte e um anos.
Triste fim que o levara a Angel numa pequena cidadezinha no Texas, no meio do nada. Ele somente quis matar sua curiosidade pelos contos da terra selvagem e do promissor
desenvolvimento e imigração de europeus na área. Mas ali naquele fim de mundo que escolhera para viver, estaria o amor de sua vida e lá estaria a mulher que acabaria
com seu completo controle de emoções e razão.
Talvez ali repousasse seu fim. Aquele amor efêmero descrito nos livros de poetas era real e seria a sua desgraça e ele iria perder o poder de controlar sua vida
que há anos tentava segurar em suas mãos.
E finalmente entendeu tudo. Estava morto. E a amava.
Angel seguiu lentamente para casa e chorou o caminho todo, sentia-se em pedaços. Era o mesmo amor que sua mãe sentia pelo seu pai Ian? Seria assim a dor que sentira
quando pensou que Ian estivesse morto? Ou seria aquela dor de desprezo que sua mãe sentiu quando seu pai Edward lhe ignorou como se fosse um lixo? Queria chorar
nos braços de sua mãe, mas teria que dizer a verdade que prometera a Richard não contar.
Estava sozinha e triste e não sabia o que fazer, desceu do cavalo e ficou na beira do lago chorando vendo a água límpida mansamente refletir a luz do sol e aquele
silêncio parecia imantar um cântico triste. Sabia que aquele lugar era um lugar puro no qual seus pais se encontravam para se amar e serem felizes e esperava que
ali ela achasse uma resposta sem ter que usar as palavras. Queria se livrar daquele fardo que carregava sozinha.
**
Angel tentou voltar para casa normalmente, mas foi impossível. Quando chegou a casa estava muda, ignorando todo mundo que falava com ela, trancou-se no quarto e
não quis ver ninguém, passou horas lá e não quis jantar. Jayne e Ian ficaram apreensivos com seu comportamento, sabiam que algo havia acontecido, mas ela se negou
a falar.
-Vai tentar falar com ela novamente? - perguntou Ian.
-Vou. Quem sabe ela está mais calma e me diga o que está havendo.
-Isto tem a ver com Richard, ele mandou aquela nota dizendo que não poderia mais lhe dar aulas, não veio mais aqui e ela saiu às escondidas hoje. Deve ter ido atrás
dele. Eu não estou gostando nada disso. Será que ele fez algo a ela? Eu o matarei se ousou tocar nela.
-Não sei o que houve, mas fique calmo. Isso também está me dando nos nervos, mas temos que ser cautelosos, eu não quero tomar uma atitude errada. Eu vou lá tentar
mais uma vez, vá se deitar, eu já volto.
-Se ele lhe fez algo vai se vir comigo.
-Comigo também.
Jayne beijou-o e foi até o quarto de Angel e bateu na porta levemente.
-Angel?
-Mãe, me deixe sozinha, por favor.
Jayne não lhe deu atenção e entrou. Ouviu o suspiro cansado de Angel.
-Filha, o que está acontecendo? Fale comigo, eu quero ajudar. - disse ela sentando na cama e falando mansamente.
-Não está acontecendo nada, só quero dormir.
-Está acontecendo algo sim e isso tem a ver com Richard. O que ele lhe fez? Pode falar, confie em mim. Posso ser sua mãe, mas eu quero ser sua amiga também.
-Mãe, ele não fez nada, eu é que sou uma tola.
-Por que tola?
-Porque eu o afastei de mim, só isso.
-Como assim? O que fez?
-Eu não posso falar.
-Por que não?
-É segredo.
-Nada que diz respeito a você é segredo para mim, mocinha, portanto desembuche logo. Eu não vou brigar com você, eu quero saber o que está acontecendo, eu quero
ajudar. Se Richard fez algo vai se ver comigo.
-Não, mãe, ele não fez nada.
-Fale Angel, não me deixe nesta agonia e eu não vou sair daqui até que me conte.
Angel olhou para sua mãe com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, abraçou Jayne e recomeçou o choro aos soluços novamente.
-Eu amo Richard, mãe.
Jayne suspirou, acariciou os cabelos de Angel e falou calmamente.
-Angel, você é muito nova para falar em amor, filha, você não sabe o que é isso.
-Mãe, eu sei que sou nova, mas tenho quinze anos e o que sinto é verdadeiro e puro. Ele foi a única pessoa que fez meu coração doer tanto, então se isso não é amor
então não sei o que é, mas pelo que eu vejo da senhora e o papai isso é amor, sim.
-Tudo bem, mas por que está desse jeito?
-Ele disse que não me quer, que não me ama. Eu achei que me amava, porque ele me olha de um jeito que parece ver minha alma, mas ele foge porque tem medo de morrer.
-Medo de morrer? O que está dizendo?
-Ele tem uma doença que não sei o que é. É este o segredo que ele esconde de todo mundo. Eu descobri, mas não sei exatamente o que é porque ele se nega a dizer.
Mas ele foge de tudo porque acha que não pode ter um amor, uma família; não quer que eu sofra e por isso está me afastando dele. Ele não quer mais me ver e não virá
mais aqui.
-Angel, que horror!
-Mãe, eu sei que ele gosta de mim, eu vejo isso nos olhos dele, mas ele me mandou embora, não quer me ver mais. Será que ele está mentindo para me proteger ou realmente
não me ama?
Jayne olhou para o rosto dela banhado em lágrimas e não sabia o que dizer.
-Angel, eu não sei, mas se ele for doente, talvez esteja certo em não querer que você se apaixone por ele, não é?
-Mãe, não diga isso, é injusto!
-Eu sei que é, mas o que quer fazer?
-Não sei, espero que me diga. Por isso que revelei o segredo dele para a senhora, para que me ajude.
Jayne ficou ali muda por um tempo, nem sabia o que dizer ou fazer.
-Angel, você está confundindo as coisas, você não está apaixonada por ele. Richard realmente é um rapaz lindo, diferente, encantador; e qualquer moça se apaixonaria
por ele, mas você é muito nova para amar, minha linda, você descobrirá isso com o tempo.
-Mãe, eu sei que quer me proteger, mas eu lhe pergunto. Como faço para evitar isso? Eu não consegui evitar, eu o amo e quero ajudá-lo.
-Angel, se ele está doente deve se tratar, quem sabe não é algo grave e ele possa melhorar e você está se preocupando a toa.
-Não sei se é grave, ele não me diz, e acho que porque fui insistente ele me mandou embora.
-Você insistente, imagina! Seu nome do meio é teimosia. - Angel a olhou incrédula. -Desculpe. Você foi até a casa dele hoje, não foi? Por isso sumiu todo aquele
tempo.
-Fui.
-Ai Angel! Por Deus, não é certo ir sozinha a casa dele! Já lhe expliquei isso mil vezes, filha!
-Eu sei, eu sei, mas quero fazer alguma coisa por ele!
-Se ele não quer ficar perto de você então é o que você vai fazer. Você não vai mais procurar Richard.
-Mãe...
-Me escute! Uma moça direita não pode ficar correndo atrás de um homem. Ele é que tem que vir aqui e pedir para cortejar você, entendeu? Não vou permitir que você
faça essas bobagens.
-Não é bobagem. Eu já disse que o amo! E se ele me ama então quero me casar com ele, pois vou convencê-lo que mesmo sendo doente ele pode se casar com alguém e ser
feliz.
-Angel! - gritou Jayne.
-Mãe, isso é um fato, ele me ama, eu sei disso, e não vou desistir dele somente porque ele é doente. Se não me casar com ele então eu não me casarei com ninguém,
ouviu? Ninguém!
-Não diga estas coisas, não sabe o que está dizendo. O que quer? Casar com alguém que vai morrer e depois ficar viúva e sozinha? Se tiver filhos, o que vai fazer?
-Se assim for preciso, assim será. Prefiro tê-lo apenas por um tempo que nunca ter nada.
-Não pensa que eu e seu pai iremos deixar isso acontecer, não é?
-Mãe, a senhora me ensinou o que era para fazer. Disse que eu merecia o verdadeiro amor, pois bem, isso é o que está acontecendo.
-E se ele não ama você como acha? Se ele mandou você embora porque não a quer de verdade, já pensou nisso? Ou é sua cabecinha romântica que está colocando os julgamentos
aqui? Se ele a quisesse teria vindo aqui pedir sua mão para seus pais! Mas não fez, a mandou embora!
Angel ficou estática, deixou as lágrimas rolarem, Jayne vendo sua filha daquele jeito sentiu seu peito destroçar e a abraçou.
-Angel, por favor, não faça isso, não sofra desse jeito. Você é muito nova, quando for a hora então irá encontrar um rapaz que lhe fará feliz.
-Eu quero o Richard.
-Eu sei meu bem, mas nem sempre podemos ter tudo o que queremos. - disse Jayne olhando para cima, nem sabia mais o que dizer à filha. -Tudo bem, meu amor, depois
veremos isso, está bem? Agora vá dormir, e você não irá mais procura-lo. Entendeu? Nisso você não vai me desobedecer.
-Mãe...
-Não me desobedeça, Angel!
-Sim, senhora.
Angel deitou-se e Jayne a ajudou a arrumar as cobertas.
-Isso vai passar meu anjo, é uma paixão repentina, sempre acontece com as mocinhas, está bem? Durma agora, amanhã se sentirá melhor.
Angel assentiu com a cabeça e Jayne lhe beijou a testa e saiu do quarto. Chegando ao seu, jogou-se na cama abraçando Ian.
-O que foi? - perguntou ele a abraçando e beijando sua testa.
-Nada, coisas de mocinha.
-Está mentindo, Sra. Buller.
-Deixe que eu resolva isto. É apenas uma bobagem, não se preocupe.
-Hum... Isso não tem a ver com Richard? Ele lhe fez alguma coisa?
-Ian, Angel está confusa, ele se afastou dela para evitar alguma coisa, é um rapaz respeitoso, e ela está triste por isso. Então deixe que ela fique bem, é apenas
uma fase, eu cuidarei disso.
-Se quer assim, mas se precisar de mim pode me contar, está bem?
-Sim, eu sei meu amor.
Jayne se aconchegou nos braços de Ian e tentou dormir, mas naquela noite não conseguiu pegar no sono.
**
-Aonde vai, mãe?
-Vou à casa de Richard.
-O que vai fazer lá? - perguntou Angel com os olhos arregalados vendo Jayne subir no cavalo.
-Vou falar com ele e resolver isso.
-Não pode fazer isso, ele vai saber que eu lhe contei seu segredo e vai me odiar. Mãe, por favor, não faça isso comigo.
-Não vou dizer nada que me contou. Não se preocupe, não vou delatar você. Vou me fingir de morta e ver o que está acontecendo.
-Deixe-me ir junto.
-Não! Você vai ficar em casa. Não se atreva a sair da fazenda!
Jayne virou o cavalo e o esporou saindo galopando para fora da fazenda.
-Mãe! - gritou apavorada. -Ai meu Deus, o que eu fiz? Agora ele vai me odiar.
Quando Jayne chegou à casa de Richard, desceu do cavalo e amarrou as rédeas no palanque em frente, subiu as escadas e bateu na porta de madeira maciça. Uma criada
veio abrir a porta, estava nervosa e com os olhos esbugalhados.
-Gostaria de falar com o Sr. Montgomery, por favor.
-Ele não pode recebê-la, senhora.
-Por que não, não está em casa?
-Está, mas não pode vê-lo.
-Como assim? Diga que eu quero falar com ele e não sairei daqui até que venha falar comigo. Diga que é a Sra. Buller.
-Senhora, ele está acamado.
-Acamado?
-Sim, teve uma crise, está na cama.
-Onde é seu quarto?
-Lá encima. Mas senhora, espere...
Jayne nem deixou a moça falar mais, subiu as escadas e procurou o quarto de Richard. Abriu uma das portas e viu Richard deitado de costas na cama, escorado nos travesseiros,
estava tremendamente pálido.
Jayne sentiu uma dor no peito, se aproximou da cama e sentou vagarosamente na beirada. Olhou para a mesinha de cabeceira, viu um vidro de láudano e outros vidros
e uma imensa seringa de metal e estreitou os olhos. Segurou a mão de Richard e ele vagarosamente abriu os olhos.
-Olá, Richard. - disse ela falando baixinho e gentilmente.
-Sra. Buller. - disse com dificuldade.
-O que você tem, Richard?
-Nada. Só uma febre.
-Febre não se cura com láudano, isso é mais forte que morfina. Por que toma isso?
-Para dormir e assim resolve a dor.
-Dor do quê?
-De não respirar.
-Vou chamar o médico.
-Não precisa, não vai adiantar.
-Não pode ficar aqui sem ver um médico.
-Isso vai passar... Deixe-me sozinho, por favor.
-Não posso deixá-lo aqui desse jeito.
-Estou bem, o pior já passou.
Jayne ficou calada por uns momentos.
-Se eu lhe fizer uma pergunta você me responde?
Ele assentiu com a cabeça.
-Você ama Angel?
Ele sorriu levemente.
-Como não amar. Não existe no mundo um nome que lhe faça juízo como Angel. Ela é o anjo que veio na minha vida para me levar à morte, mas com amor.
-Você não vai morrer.
-Talvez não hoje, mas um dia irei.
-Todos os homens morrem um dia.
-Sim.
-O que posso fazer para ajudá-lo?
-Deixe Angel longe de mim.
-Por quê?
Richard puxou o ar devagar e tentou falar pausadamente para que seu peito não doesse.
-Perto dela eu não consigo me controlar. Ela me deixa... Nervoso.
-A todos nós, querido. A mim mesmo, ela quase mata.
Ele tentou sorrir.
-A amo perdidamente. Mas preciso que ela fique longe.
-Tudo bem. Mas diga-me o que você tem, quero ajudá-lo. - Jayne ia dizer mais alguma coisa, mas Richard adormeceu. -Richard?
-É o efeito do láudano, ele vai dormir por algumas horas.
Jayne levantou-se e se virou, a mãe de Richard estava parada na porta, observando-a.
-Sra. Montgomery.
-Me chame Sra. Rayes, meu marido não gosta que me chamem pelo sobrenome de meu falecido. Vamos à sala, eu vou pedir um chá para nós.
As duas sentaram-se e a criada trouxe uma bandeja com chá.
-O que ele tem? - Jayne perguntou aceitando a xícara de chá.
-Meu filho sempre faz questão de esconder, ele não gosta de ninguém se metendo na vida dele, mas creio que a senhora já viu demais e ele a admira muito. Ele tem
uma deficiência pulmonar, meu outro filho morreu com a mesma doença. Eles eram gêmeos. É uma doença que não descobriram uma cura ainda. Quando ele fica nervoso ou
agitado, a velocidade da respiração se altera, os músculos comprimem os brônquios, e acontece algo mais que já nem sei lhe explicar direito. Ele tosse, sente muita
falta de ar e outras coisas. Os médicos sempre usam termos difíceis de pronunciar e me deixam confusa. Resumindo ele não consegue respirar e isso causa uma dor tremenda
no peito quando a crise é muito severa.
-Então isso pode matá-lo?
-Sim, uma crise muito forte pode fazê-lo ter uma parada respiratória. Ele havia melhorado com todos aqueles exercícios lentos que faz e controlar a mente como ele
diz e sei lá mais o quê. Alguns inaladores têm efeito calmante também. Mas mantendo-se tranquilo e calmo e onde não há muita poeira evita de ter crises.
-Por isso que ele é desse jeito tão metódico. Eu nunca havia conhecido alguém assim como ele, principalmente na sua idade.
-Sim, e por isso se meteu neste lugar no meio do nada e quer viver só. Prefere ficar longe de pessoas. Ele podia ter ficado na Europa, no campo, mas tinha muita
curiosidade de conhecer a América, o Texas em especial, então veio para cá. Parece que ele quer conhecer coisas, lugares, como se fosse uma forma de viver.
-Entendo.
-Mas parece que há algo o tirando do sério. Algo mais forte de que já passou na sua vida.
-Acho que sei o que é. Ele está apaixonado.
-Apaixonado?
-Sim, por minha filha.
-Oh Deus! - exclamou espantada.
-Sim, eles brigaram e pelo que sei, ele está tentando afastá-la.
-Sim, ele sempre fez isso; afasta todas as moças, ele não quer se casar porque tem medo de deixar a mulher viúva.
-Que triste.
-Eu tenho preparado meu coração para o dia que ele partirá, mas isso é uma coisa que não consigo fazer. Já perdi um filho, perder outro me parece insuportável.
-Acredite que ele vai melhorar. Deus pode ter piedade dele e lhe dar vida longa, quem sabe nós não morreremos antes dele?
-Seria bom. Uma mãe nunca deveria ver seu filho morrer. - disse com uma imensa tristeza.
-Sinto muito, Sra. Reyes.
-Se essa é a vontade de Deus nos resta orar e esperar. Mas eu acho que se ele continuar evitando sua filha a morte lhe virá mais rápido.
-Como assim?
-Quem consegue ficar calmo quando o coração grita de amor, Sra. Buller? Por que acha que ele teve essa crise? A criada me contou que uma moça esteve aqui, que houve
uma discussão e que ele a mandou embora e depois disso ele quebrou todos os cristais e vidros de bebida da sala e depois disso teve a crise. A dor de evitar o que
não se pode evitar; a dor de amar e não poder ter a pessoa amada é o maior destruidor de uma mente calma, não acha?
Jayne arregalou os olhos, respirou fundo e esfregou a testa com a ponta dos dedos, estava totalmente confusa.
-Minha filha só tem quinze anos, ainda é muito nova.
-Eu casei-me com quinze.
-Sei que muitas casam, mas eu não queria isso para ela, queria que aproveitasse mais sua juventude antes de assumir um casamento.
-Eu não estou pedindo que permita um casamento, Sra. Buller. Eles não precisam se casar imediatamente, mas podem permitir estar comprometidos e enamorados. Se Richard
aceitar o amor, ele se manterá bem, eu sei disso. Se sua filha o ama assim como ele a ela, eles podem ficar noivos e esperar para se casar daqui um ano ou dois.
Assim ficariam em paz e felizes, não acha?
Jayne a ficou olhando séria, nem conseguia assimilar tudo aquilo, estava atordoada.
-Preciso ir. Se precisar de algo, por favor, me chame, ajudarei no que for possível.
-Obrigada. Por favor, pense no que eu disse. Se isso pode ajudar Richard, nós como mães temos que fazer o que é certo.
-Vou pensar.
Jayne foi para casa cavalgando em Trovão devagar e pensativa, estava totalmente confusa e não sabia o que fazer com Angel e Richard. Mas sabia que não permitiria
aquilo e Ian também não.
Quando Jayne chegou a casa, uma Angel nervosa correu até ela.
-Mãe, o que houve?
-Nada.
Jayne virou as costas e foi levando Trovão para o estábulo.
-Mãe, por favor, não minta para mim, me conte.
Jayne respirou fundo e olhou para ela.
-Tudo bem. Richard está doente, ele teve uma crise e está de cama.
-Crise? Crise de quê? - perguntou confusa.
-Ele tem um problema no pulmão ou algo semelhante, teve uma crise e está de cama, falei com a mãe dele.
-Eu vou vê-lo. - disse ela virando-se rapidamente.
-Não vai, não se mexa, Angel! - disse levantando a voz bruscamente.
-Mas, mãe. Por favor, me deixe ir vê-lo.
Jayne respirou profundamente e a abraçou.
-Meu anjo, agora você não pode ir vê-lo, vai ser melhor assim, deixe-o descansar, se recuperar. Deixe-me pensar e esfriar a cabeça, mas agora eu estou dizendo que
você não pode ir. Entendeu? Não me desobedeça.
Jayne saiu do estábulo e a deixou ali. Angel sentiu seu coração apertar fortemente no peito. Precisava ver Richard.
Jayne contou tudo a Ian, estava angustiada e precisava compartilhar aquilo com ele.
-Jayne, que coisa maluca.
-Nem me diga.
-Ela está fantasiando, não pode estar apaixonada.
-Foi o que eu disse.
-Não irá se casar com ele.
-Ian, eu acho que estamos certos e eu concordo com a atitude dele. Acho que ele está sendo sensato. Por um lado ele quer evitar sofrimento, mas sinceramente os dois
estão sofrendo do mesmo jeito.
-O que está querendo dizer?
-Ah eu não sei, estou chocada, meu coração se espatifou quando o vi naquela cama. Eu gosto muito dele, querido, queria poder fazer alguma coisa para ajudar. A mãe
dele me explicou o que acontece, acho que se ele conseguisse se controlar, ele conseguiria ter uma vida normal, até se casar, ter filhos. Se ele sobreviveu até agora
pode ser que consiga viver até ficar velho. Pode ser que com o tempo a medicina consiga seguir o ajudando.
-Não sei, é arriscado. Se Angel se casasse com ele e de repente tivesse um troço e nossa filha ficasse viúva. Como seria?
-Ai Ian, eu fiquei praticamente viúva, quer dizer, passei por tudo... Sei bem como é e não quero que minha filha passe por isso. Mas também considere que qualquer
uma pode ficar viúva de uma hora para outra.
-O que?
-Claro, algo pode acontecer, não é? Você não foi baleado? Eu não fui baleada? Quando é a hora, creio que ninguém foge da morte.
-Jayne querida, você percebeu que está o tempo todo se contradizendo?
Uma hora diz que não e logo fica justificando como se quisesse isso.
-Ai, é que estou confusa. Quero agir corretamente, não ser injusta, mas não sei o que fazer. É difícil ser mãe, às vezes eu não sei o que fazer.
-Eu sei meu amor, mas acontece que minha resposta é não. Não permitirei que ela se case com Richard, nem agora e nem depois.
-Ele a ama, Ian.
-Não.
Jayne o abraçou e olhou bem para ele.
-Se eu fosse doente não se casaria comigo?
-Jayne, que pergunta sem cabimento. É diferente.
-Minha pergunta é. Quando sabemos que é certo e que devemos lutar por algo? Você sempre lutou por mim.
-Eu não me arrependo de nada. Sempre lutarei por você.
-Eu também por você, mas, me diga quando é que temos que soltar a rédea de Angel para que ela faça suas próprias escolhas?
-Não sei, meu amor, mas minha resposta ainda é não.
**
No dia seguinte aproveitando que Jayne e Ian estavam na cidade Angel foi até a casa de Richard. A criada a deixou subir e ela entrou devagar no seu quarto, e o viu
escorado nos travesseiros. Já havia perdido a palidez e seu rosto estava corado, mas mantinha os olhos fechados. Quando o viu ali, sentiu seu coração estrangular.
Aproximou-se da cama e sentou-se devagar, o olhou por alguns minutos. Sua pele branca e perfeita que contrastavam com seus cabelos intensamente pretos. Levemente
com os dedos, arrumou-lhe as mexas de cabelo que estavam desalinhados no seu rosto. Richard lentamente abriu os olhos e a viu ali; linda e delicada na sua frente,
parecia a visão de um anjo, como ele sempre a via.
-Oi. - disse ela mansamente com um sorriso.
-Oi.
-Como se sente?
-Melhor.
-Fico feliz. Desculpe-me, eu acho que fui eu que causei isso.
-O que faz aqui? Não pedi que ficasse longe de mim?
Ela ignorou sua segunda pergunta.
-Vim cuidar de você.
-Não precisa.
-Trouxe sua sopa, senhor. - disse a criada entrando no quarto com uma bandeja.
-Não quero comer.
-Precisa se alimentar, Richard. Dê-me aqui, eu dou a sopa. - disse Angel pegando o prato, a colher e um guardanapo de linho branco.
Ele sentou-se e escorou-se nos travesseiros com a ajuda da empregada e ela saiu do quarto. Angel pegou uma colherada de sopa e levemente lhe levou à boca. Ele ficou
a olhando e tomou a sopa.
-Vai virar enfermeira?
-Eu vou cuidar de você até sair desta cama, saudável e forte, como eu o conheci.
-Sua mãe não lhe disse que não era para vir aqui?
-Ela disse, mas quando se trata de você eu não consigo seguir as regras. Sei que ela vai me deixar de castigo até a eternidade quando souber que vim aqui sozinha
novamente.
-Isso não te incomoda?
-Não, eu precisava ver se estava bem. Eu me preocupo com você.
-Não precisa me dar comida na boca. Eu estou bem.
-Eu gosto. Assim me recordo de Josh quando era pequenino, eu adorava lhe dar de comer, e ele adorava meter a mão na colher e derrubar tudo, e quando eu lhe chamava
a atenção, ele ria. Adorava brincar com a comida, mas sempre se alimentava bem, a hora da refeição era uma brincadeira para ele e para mim também.
Richard sorriu, ela era tão meiga que lhe enchia o coração de amor.
-Você é uma mocinha muito teimosa.
-Minha mãe vive me dizendo isso. - disse sorrindo. -Assim como você. Vamos, abra a boca. - e ele obedeceu tomando uma colherada da sopa.
-É isso que eu não desejo para minha mulher, Angel. Você entende agora o que eu digo?
-Acha que me importo de fazer isso? Essas pequenas coisas é que demonstra o amor, Richard. Há um tempo minha mãe levou um tiro na barriga, por alguns bandidos. Meu
pai não saiu do lado dela nem por um minuto, fazia de tudo por ela. Ela demorou a se recuperar e ele a carregava no colo para cima e para baixo, lhe dava banho,
comida, cuidava dela como se ela fosse aqueles bibelozinhos de louça. Ele não precisava fazer aquilo porque eu, Kate ou Anna poderia fazer, mas ele queria fazer.
Porque queria cuidar dela, para ter certeza que estava bem. Fatalidades acontecem com todo mundo. O importante é termos pessoas que nos amam ao nosso redor. - Richard
ficou paralisado, sabia que ela estava certa, mas tinha medo, seu coração não conseguia aceitar aquilo. -O que provoca as crises?
-Meus nervos e outros poucos elementos como muita poeira, fumaça.
-Quer dizer que quando fica nervoso tem uma crise?
-Basicamente é o que a desencadeia com mais frequência e de forma mais violenta. Quando fico nervoso a respiração aumenta e a passagem de ar se fecha. Isso causa
uma dor imensa e me impede de respirar.
-E eu o deixo nervoso?
-Fugir de você me deixa nervoso.
Angel parou o olhando e engoliu a seco.
-Talvez fosse bom, tentar parar de fugir.
Richard lentamente levantou a mão e acariciou o rosto dela docemente. Ela sorriu tão lindamente que derreteu seu coração. Angel não imaginava que ele fosse fazer
aquilo, mas ficou imensamente feliz. Depois de todas as palavras rudes que disse, ele lhe fez um carinho, aquilo era uma vitória.
-Vamos, abra a boca. - disse ela lhe oferecendo a colher.
-Esta sopa está uma droga. - ele disse e ela riu.
-Talvez devesse trocar de cozinheira. Essa pensa que seu pulmão fica no estômago e lhe fez uma sopa de vento. - ele riu. -Gosto de ver seu sorriso, aquele ar zangado
não fica nada bem em você.
-Você deixou-me zangado.
-Perdoa-me por isso? Não vou mais obrigá-lo a dar aulas. Se realmente não quer mais ser meu amigo, não vou forçá-lo. Somente vou cuidar de você para que melhore,
depois não voltarei mais a importuná-lo.
-O problema é que não a vejo como uma amiga, Angel.
-E como me vê?
Richard não sabia se dizia o que sentia. Aquilo estava travado na sua garganta. Talvez não fosse boa idéia seguir com aquilo. Angel colocou o prato na bandeja e
o olhou novamente esperando uma resposta, mas ele não respondeu nada.
-Preciso ir. - ela disse encabulada.
Angel foi levantar da cama, mas Richard a segurou pela mão e ela sentou novamente. Ele a olhava de uma maneira diferente e intensa.
-Eu amo você, Angel.
Angel arregalou os olhos e parou de respirar, engoliu em seco. Seu coração bateu tão forte no peito que chegou a doer.
-Ama? Você disse que não me amava, que nunca se casaria comigo.
-Eu queria afastá-la de mim. Nós não podemos ficar juntos, Angel, eu não quero esta vida para você.
-Pois eu não desejaria outra vida, nem com outra pessoa. Porque eu amo você.
Richard lentamente se aproximou dela, envolveu seu rosto com a mão, olhou-a nos olhos com um imenso amor e acariciou seu rosto com o polegar. Angel fechou os olhos
e ele aproximou seus lábios dos dela, mas não os tocou por um minuto, então a beijou lentamente. Seus corações dispararam, nem sabiam o que estavam sentindo naquele
momento. Richard se afastou e Angel continuou ali, paralisada, com os olhos fechados. Ele sorriu a vendo como se tivesse amortecida e a beijou novamente aprofundando
o beijo. O desejo que sentia por ela era enorme e antes que perdesse o juízo se afastou dela e beijou a ponta de seu nariz.
-Vá para casa. - ele disse mansamente.
Angel abriu os olhos e o olhou, sorriu, acariciou o rosto dele.
-Diga de novo, por favor.
-Vá para casa. - ele acariciava seu rosto docemente.
-Não, a outra coisa, diga de novo que me ama.
-Eu a amo, perdidamente, por isso não quero que sofra.
-Ficar sem você me faz sofrer, não esqueça isso. Eu te amo, Richard, e vou amar para sempre, e se precisar eu vou esperá-lo, o tempo que for.
Angel lentamente lhe deu um beijo na bochecha, levantou e foi embora. Richard deitou, fechou os olhos e suspirou. Estava confuso, mas sentir seus doces lábios o
deixou nas nuvens. Não conseguia mais fugir dela, amava-a. E beijá-la não tinha melhorado sua situação, tinha perdido a cabeça e sabia que para ela aquele beijo
tinha significado tudo. Como se fosse uma promessa.
Ele estava falhando miseravelmente em afastar Angel dele. E agora depois de beijá-la e dizer que a amava estava selando seu destino, ou faria os dois miseráveis.
Angel voltou para casa como se estivesse flutuando numa nuvem, sorria como uma boba. Ele a amava. Confessou isso e a beijou. Ela sentia tanta felicidade no seu coração
que parecia que ia explodir. A esperança retornou. Seu príncipe mudara de idéia, não queria mais ficar longe dela.
**
-Angel, onde estava? - Jayne disse entrando no caminho dela quando entrou em casa.
Angel suspirou e sabia que estava em problemas.
-Fui ver Richard.
-Pelo menos não está mentindo, mas meu Deus! Eu não disse que não era para fazer isso?
-Mãe, eu precisava ver como ele estava. Só isso.
-E como ele está?
-Está melhor, já está comendo. A crise passou.
-A dele passou, mas a minha não! - gritou.
-Angel, eu não quero mais que veja Richard. - Ian disse.
-O que? Por que não?
-Isso está indo longe demais, ele é um homem doente, então acho bom que não alimente esperanças de futuramente se casar com ele.
-Ele me ama e eu o amo, portanto eu vou me casar com ele. Não sei quando, mas vou. Vocês não podem impedir somente porque ele é doente, isso não é justo. Eu não
me importo.
-Filha, eu estou pensando no seu futuro. Não quero que você sofra mais tarde.
-Pai, se não ficar com ele vou sofrer agora. Qual é a diferença de sofrer agora ou depois?
-Não sei, mas por ter desobedecido está de castigo indefinidamente. Vá para seu quarto.
-Mas pai...
-Para o quarto, já! - disse Ian severamente.
Angel bufou, mas obedeceu. Foi para seu quarto e se jogou na cama, abraçou o travesseiro e ficou pensando e repassando na sua cabeça um milhão de vezes aquele beijo
e Richard dizendo que a amava.
-Ian, o que vamos fazer? - Jayne perguntou.
-Nada, se Richard tiver intenções com ela, que venha falar comigo.
-Acho que ele é uma pessoa correta. Com certeza virá falar conosco, mas a questão é, se ele vier e fizer um pedido, vamos aceitar?
-Não gosto da idéia de ela ter um marido doente, Jayne.
-Eu também não, mas é o que temos.
-Olha... Eu já imaginei um monte de coisas, mas ela ter se apaixonado por alguém que pode ter um ataque e morrer, estava fora da minha lista.
-Calma, meu amor, vamos resolver isso, somente estamos pensando no lado ruim, não é? - Jayne se aproximou e o abraçou.
-Qual é o lado bom?
-Ele ama nossa filha e cuidaria bem dela. Ele é gentil, educado, muito culto. Não me parece alguém que faria mal a ela. Meu medo é de ela se casar com alguém que
não a trate com dignidade, que não a ame.
-Eu sei. Fala isso por causa do pai dela.
-Sim, quero alguém que a faça feliz. Jamais me perdoaria que ela tivesse um Edward em sua vida.
-Eu também não, meu bem, mas não acho isso certo.
Ian a beijou e se abraçaram.
-Com licença, patrão. - James disse se aproximando.
-Sim, James?
-Meu filho está aqui, gostaria de falar com o senhor.
Ian olhou para Jayne e respirou fundo. Os dois foram até a varanda onde Matt os esperava ao lado do seu cavalo.
-Boa tarde, Sr. Buller. - disse cruzando os braços no peito.
-Boa tarde, Matt. O que quer?
-Eu vim lhe pedir um favor.
Ian respirou fundo, esfregou os olhos e o olhou seriamente.
-O que seria isso?
-Veja isso. - Matt se aproximou e entregou um panfleto para Ian. -Eu quero capturar estes Mustangs, mas eu não sei como fazer isso. Como eu sei que o senhor tem
experiência nisso, vim lhe pedir que me ensine.
-Por que ele quer tantos cavalos assim?
-Ele está montando um haras somente de Mustangs, é para ensinar a domar, os filhos dele são domadores então vão montar um tipo de escola.
-Eu conheço este homem, lembra-se dele, Jayne?
-Sim, e os filhos dele também. Tem uma grande fazenda em Ohio.
-Por favor, Sr. Buller, se eu entregar todos os cavalos que ele pediu, com esse dinheiro eu posso pagar uma parte da minha dívida com o senhor e terei um dinheiro
para comprar o que preciso para consertar algumas coisas na minha fazenda. Eu sei que cometi muitos erros com o senhor, mas, por favor... Ajude-me.
-E eu é que tenho que ajudá-lo a arrumar dinheiro para pagar a minha dívida? Seria insano, não?
-Por favor. Nunca capturei um Mustang e sei que não é fácil, somente peço que me ensine.
-Espere aí. Vou pensar.
Ian deu as costas para ele e entrou na casa. Matt não sabia o que fazer; se esperava ou ia embora. Jayne olhou seriamente para Matt, virou as costas e entrou atrás
de Ian.
-Vai fazer isso? - ela perguntou.
-Mas será possível! Depois de tudo do que ele fez, eu deveria ajudá-lo, de novo? Não tenho certeza se eu deveria fazer isso, ele é muito ingrato!
-Penso o mesmo, mas a intenção é boa. Ele realmente é um cara de pau, mas está ali roendo as unhas por ter que se humilhar.
Ian pensativo sentou na cadeira e Jayne sentou-se no seu colo.
-Acha que cuidarão bem dos cavalos?
-Acho que sim. Os filhos de Calahwell são amantes de cavalos. Creio que eles irão tratá-los bem. Uma escola de domadores é uma boa idéia.
-Sei que não quer o dinheiro do Diamante, por que mantém o castigo?
-Para vê-lo fazer o que fez hoje. Ele se humilhou vindo aqui pedir ajuda. Matt é muito orgulhoso, tem que aprender a nos respeitar.
-Verdade. E eu tenho orgulho de você.
-E eu de você, pois eu sei que você adora pegar Mustangs. Só ainda não respondeu que o fará porque quer que ele sofra um pouquinho. - disse sorrindo e Ian riu.
-Sim, adoro mesmo. Acha que eu devo demorar mais um pouquinho?
-Sim e também acho que enquanto ele espera você podia me beijar.
-Ah isso é um bom motivo para deixá-lo esperando, não é?
-Eu acho perfeito e depois poderíamos tomar um café com bolo de laranja quentinho que Anna acabou de tirar do forno.
Os dois riram e se beijaram, ficaram ali mais um pouco e foram lanchar. Enquanto isso Matt estava impaciente e andava de um lado a outro.
-Ele não vai aceitar, pois me deixa aqui criando raízes. - disse Matt.
-Dê-me um motivo para que aceite depois da ingratidão e desrespeito que demonstrou a ele. - disse James soltando uma baforada de um cigarro.
-Eu sei pai, mas me humilhei vindo aqui pedir ajuda. Não seria um bom motivo para ele me ajudar?
-Ainda acho que não, mas vamos ver.
Ian demorou mais de uma hora para voltar e quando Matt estava desistindo e indo embora, ele apareceu na varanda.
-Vou ajudá-lo a pegar alguns Mustangs, chamarei os rapazes, assim, será mais fácil. Iremos, mostrarei como fazer, depois você se vira.
-Muito obrigado, senhor Buller, muito obrigado!
Matt feliz subiu no cavalo e saiu em disparada. James olhou sorrindo para Ian e ele lhe sorriu de volta.
**
-Kate, meu pai não me liberou do castigo ainda? Faz dias que estou sem sair deste quarto. Penso que logo eu vou me transformar em um móvel.
-Não, meu anjo. - Kate disse rindo enquanto colocava a bandeja do almoço na mesinha no quarto de Angel.
-Ai que infelicidade, eu preciso saber de Richard.
-Maluquinha, se sair escondida de novo, seu pai vai amarrá-la no pé da cama nos próximos cem anos.
-Mas Kate, preciso saber dele. Se ele está melhor.
-Eu vou lá e vejo como ele está e trago notícias, está bem? Quando ele melhorar, vem vê-la, se assim o desejar, mas você não deve desobedecer a sua mãe e nem seu
pai se não quiser piorar as coisas.
-Também acha que estou errada?
-Eu acredito que vocês não devem colocar os pés pelas mãos.
-Eu sei que fui afoita em pressioná-lo, mas me apavorei quando vi que se afastava. Se eu permitir que se afaste poderá ir embora de vez. Meu coração ficaria quebrado.
-Querida, eu cuido de você desde que era um bebê, não quero que sofra. Entenda seus pais, eles estão tentando protegê-la. Você ainda é muito jovem para entender
certas coisas, como há maldade no mundo. Alguém maldoso pode comprometer sua reputação e isso seria muito mal.
-Eu sei, mas Richard não faria tal coisa. Promete que você vai vê-lo? Só quero saber se está bem, se melhorou.
-Vou sim, eu prometo. Agora coma, porque a Anna fez o ensopado de carne que você adora.
-Onde meu pai foi com meus tios hoje cedo?
-Pegar Mustangs nas montanhas.
-Para quê ele quer Mustangs?
-Para o Matt. - disse entortando a boca.
-Humf, aquele ingrato. Meu pai tem o coração mole, credo.
-Matt vai vender os Mustangs para pagar uma quantia à sua mãe.
-Tomara que ele tome juízo, não queria que ele ficasse sempre assim, idiota.
-É uma fase, passa. Talvez ele te esqueça e se apaixone por alguém.
-Assim espero. Assim ele não puxa mais briga com o Richard.
-Bem, coma. Depois venho buscar a bandeja e à tarde irei ver seu príncipe encantado.
-Obrigada Kate. Eu vou escrever uma carta, está bem? Talvez uma poesia, ele gosta de poesias.
-Ai ai ai, você vai me meter em uma enrascada.
-Meu pai me proibiu de vê-lo, mas não de escrever.
-Nisso você está certa. Escreva que eu levarei.
**
-Então, rapazes, estão prontos? - Ian disse sorridente olhando para os rapazes que se ajeitavam nas celas encima do topo da montanha.
-Ian, quantos Mustangs vamos pegar? - disse Willian.
-Bem, somente alguns, Matt vai se virar com o restante. Estaremos aqui hoje para ele aprender, portanto, Matt, olhe e aprenda; depois você se vira. - Ian disse,
seriamente, vestindo as luvas de couro.
-Sim senhor. - respondeu Matt.
-Ok Ian, vamos topar essa, mas você vai nos pagar um assado hoje com direito a tequila. - disse Mitchel mascando um palito no canto da boca.
-Fechado. Mas vai deixar sua mulher em casa com seu filhote?
-É claro que não.
Os rapazes caíram na gargalhada.
-Tudo bem, vamos lá, senão não sairemos daqui hoje, pois vocês vão ficar o dia todo falando asneiras.
Esperaram mais um pouco ajeitando os laços e avistaram uma pequena manada de Mustangs ao pé da colina. Os quatro juntamente com Matt e mais dois subordinados de
Ian esporaram os cavalos e desceram a colina formando uma meia lua cercando os cavalos e os tentando laçar. Corriam de um lado a outro, gritando, os Mustangs tentavam
escapar, empinavam-se e esquivavam-se deles com destreza e rapidez.
Matt olhava atentamente e corria atrás dos cavalos tentando laçá-los. Ficaram por horas assim. Capturaram alguns deles, estavam rebeldes e eram difíceis de laçar.
Matt não suportando o pinote de um que lhe puxou fortemente o laço, caiu do cavalo e somente não foi pisoteado por ele porque Ian interveio. Ele laçou o cavalo e
o puxou bruscamente evitando que suas patas atingissem Matt. O cavalo revidou e puxou de volta.
O solavanco foi forte e Ian foi jogado do cavalo, caindo diretamente com o ombro no chão. Ele gritou e gemeu pela dor, mas logo levantou e enrolou no outro braço
a corda e segurou o cavalo com toda força. Ele gritou por ajuda e segurou a corda com a outra mão e Matt rapidamente montou no seu cavalo novamente, pegou a corda
de Ian e a amarrou na sua sela. Willian desceu de seu cavalo e ajudou Ian a subir no seu.
Capturaram alguns cavalos e os conduziram até a fazenda de Matt. Todos estavam exaustos, mas felizes, pois adoravam uma aventura. Quando chegaram, colocaram os cavalos
no pequeno cercado, fecharam a porteira e ficaram escorados nas celas os olhando. Eram divinos.
-Agora você está por sua conta para capturar mais cavalos, Matt.
-Sim, senhor, agora eu sei como fazer. Eu pegarei os outros. Pode me emprestar algum peão para me ajudar?
Mitchel deu uma risada grotesca.
-Mas você não tem vergonha nessa cara, não é, pirralho? Não tem medida de até onde deve ir. Já não basta o que fizemos por você hoje?
-Eu não sou pirralho, Sr. Vaiz.
-Então haja como um homem.
-Mitchel... - Ian intercedeu. -Matt, se quiser algum peão da minha fazenda para o trabalho, tem que ser somente no dia de sua folga e não será de graça, creio. Ninguém
vai querer trabalhar no dia de folga sem ganhar algum. Mas pode ir lá e perguntar. Mas não na hora do trabalho, não bancarei empregados para você. Hoje foi somente
um favor.
-Mas se eu tiver que pagar, não vai sobrar muito dinheiro.
-Isso é problema seu. Fiz minha parte e é só.
-Obrigado, senhor. - Matt resmungou contrariado.
-Espero que cuide bem desta fazenda, Matt. Não foi à toa que a vendi ao seu pai por um preço quase sem lucro, e o fiz por ele. Honre o que seu pai está te oferecendo.
Espero que faça daqui um lugar bom para se viver.
-Farei, senhor.
-Vamos rapazes, vamos beber um trago que estamos merecendo. - os quatro voltaram para a fazenda de Ian.
-Está bem, Ian? - David perguntou.
-Acho que desloquei meu ombro. - Ian resmungou contorcendo-se e segurando o ombro.
-Você está ficando velho, esse negócio de caçar Mustangs não é mais para nós, não. - retrucou Mitchel.
-Não estou ficando velho, você está.
-Olha garoto sou mais velho, mas nem tanto mais que você.
-Concordo com o Mitchel, minhas cadeiras já reclamam de ficar brigando com três cavalos de uma vez. - brincou Willian.
-Querem parar de resmungar? Quem vê parece que estão quebrados. - retrucou David.
-Eu estou quebrado. - disse Ian fazendo cara de dor.
-Deslocar o ombro não é quebrar.
-Bem, se não está quebrado, melhor. Mas acho que Ian não vai poder carregar a Jayne que nem saco de batatas por um tempo. - Mitchel zombou e riu.
-Acho que ela agradece por isso. Mas já não faço isso há tempos. - Ian disse rindo.
-É, por causa daquele tiro, ela se livrou de ser carregada por você como um saco de batatas, mas você nem pôde ter o filho que tanto queria. - disse Willian.
-Fiquei triste com isso, mas Jayne está bem e é isso que importa.
-Bom, mas Angel e Josh valem por cinco. - disse David rindo.
-Não, eles são tranquilos. Angel que está me dando um pouco de dor de cabeça, mas é uma ótima menina.
-Para isso é que temos cabrestos e rédeas, Ian.
-David, deixe Samantha ficar na idade de Angel para ver o que é bom.
-Ai nem me lembre disso que me dá um nervoso.
Chegando à fazenda sentaram na varanda e Ian pegou a garrafa de uísque e copos e serviu para eles.
-Vamos lá garoto, vou colocar este ombro no lugar. - disse Michael.
-Deixe-me tomar mais um gole disso primeiro.
Ian bebeu uns goles da bebida e sentou na cadeira. Mitchel segurando o ombro dele estrategicamente deu um tranco o colocando no lugar e Ian soltou um grito enorme
pela terrível dor.
-Calma, a dor já vai acalmar, beba mais um gole para amortecer.
-O que está havendo? Ian? - Jayne gritou assustada quando chegou correndo à varanda.
-Não foi nada, querida, Ian deslocou o ombro, só isso. - Mitchel disse.
-Oh! Só isso você diz! Está bem, Ian?
-Estou meu bem, não se preocupe.
-Mais algum desmontado? - Mitchel perguntou.
-Não, estamos todos inteiros.
-Agora eu sei a dor que você sentiu quando coloquei seu ombro no lugar quando ficamos presos na mina e caímos naquele poço. - Ian disse para Jayne que o olhava com
os olhos apreensivos.
-Sinto muito.
-Não foi nada.
Jayne o beijou carinhosamente e acariciou seu rosto.
-Vou fazer uma tipóia para que não mexa o braço por uns dias e um chá calmante, assim você melhorará rápido.
-Ah, deixe-me, estarei amortecido logo com este uísque do inferno.
-Um brinde aos Mustangs. - disse Willian erguendo o copo e todos brindaram e beberam o uísque.
-Que susto eu senti. Dê-me um gole aqui, não sei como meu coração aguenta tantos sustos. - Jayne disse pegando o copo de Ian e bebeu.
-Tudo bem, amanhã é domingo e vamos descansar. Mas agora vou para casa e mais tarde voltaremos. - disse Mitchel.
-Nós também vamos, até arrumar aqueles três filhotes serelepes vai demorar. - disse Willian rindo e puxando David.
-O que é isso? Teremos uma reunião hoje? - perguntou Jayne.
-E por que não? Está um dia agradável para um assado ao ar livre.
-Ian, por que não avisou? Eu não preparei nada.
-Ah não se preocupe, temos um novilho carneado e bebida. Anna prepara alguns acompanhamentos para as crianças, só isso, nada de frescura; você nem precisa se preocupar.
-Não faltando a bebida e a carne para mim está bom. - disse David.
-Concordo. Nós merecemos depois desta peleja que Ian nos meteu hoje, ainda mais por aquele pivete metido. - disse Mitchel.
-Cale a boca, você ganhou um degrau para o céu fazendo uma boa ação. - disse Willian esmurrando o braço de Mitchel.
-Tá, Tá. Quero ver quando alguém vai fazer uma boa ação por mim. - disse ele revirando os olhos.
-Eu estou pagando por isso, Mitchel, com carne e bebida. Pare de reclamar que você se divertiu que eu sei.
-Ah, sim, não vou negar. - disse rindo.
-Então vamos. - disse David.
Eles saíram e Jayne olhou para Ian.
-Venha, vamos tomar um banho e você fica novinho.
-Vai tomar banho comigo?
-Vou, e vou dar-lhe banho porque você não vai conseguir levantar o braço, conheço isso.
-Ah! Então imagino que vai ser na banheira com água quente, não é?
-Obviamente. Qual foi a vez que me viu tomar banho gelado naquele cercadinho de madeira velha? - Ian riu.
-Nunca. Mas eu não preciso de uma tipóia.
-Ian, precisa, senão demora mais para sarar o ombro, não pode ficar movimentando-o.
-Sou grandinho, querida.
-Grandinho e teimoso. Eu vou imobilizá-lo e não discuta comigo.
-Ai como está mandona.
Os dois riram e Jane foi pedir a Anna para aquecer água e foram para a banheira. Depois do demorado banho juntos, Jayne cuidadosamente ajudou Ian a se vestir e imobilizou
o seu braço.
**
Ao entardecer os rapazes voltaram com as esposas e as crianças e todos se divertiram com as conversas corriqueiras.
James já havia preparado o fogo e arrumado a carne do novilho assar. Para ter claridade além da vinda da fogueira, foram acesas tochas e fincadas em um circulo onde
deixou a clareira dos fundos da casa principal bem iluminada. Anna e Jayne viam os outros pratos rapidamente. Tudo simples, como eram acostumados e gostavam.
Ian foi até ao quarto de Angel. Ela estava de camisola, sentada na cadeira em frente à janela, escorada com o queixo sobre os braços. Estava enrolada num cobertor
e olhando para o céu. Angel olhou para Ian quando o viu entrar no quarto e voltou à sua posição.
-Oi, princesa.
-Oi. - respondeu tristemente.
Ian a observou calado por uns minutos e ela continuava olhando para o céu com o olhar perdido.
-Venha, temos visita. - ele disse.
-Estou de castigo.
-Eu a libero do castigo.
-Não quero ir.
-Angel...
Ian foi até perto dela e se abaixou sobre um joelho. Acariciou-lhe os cabelos longos e soltos e ela o olhou.
-Por que está com o braço enfaixado?
-Eu me machuquei quando caí do cavalo.
-Sinto muito.
-Querida, eu não quero ver você triste assim por causa de Richard.
-Não posso fazer nada, papai, eu gosto dele e me sinto triste.
-Meu bem, eu só quero protegê-la.
-Eu sei, mas tem coisas que não pode me proteger, pai. Não pode me impedir de viver, de sentir e errar.
-Eu sei, é assim que crescemos, errando e aprendendo, mas devemos evitar algumas coisas.
-O senhor não conseguiu evitar a mamãe quando não podia. Mas se apaixonaram e vocês dois fizeram de tudo para ficar juntos, não foi? Só queriam ter a chance de viver,
de serem felizes, e não importava quanto tempo fosse. É isso que vai acontecer com Richard. Talvez ele viva por muitos anos ainda.
Ian respirou fundo e olhou para a doce e triste fisionomia de Angel.
-Eu vou pensar, está bem? Mas ele não veio aqui falar comigo, então eu não sei das intenções dele, querida. Somente sei das suas. Como sabe que ele quer se casar
com você? Por acaso ele a pediu em casamento?
-Não, mas ele me ama, e isso não é algo a se ignorar.
-Se ele realmente gostar de você, mais cedo ou mais tarde virá pedir sua mão. Prometa-me que vai se comportar e não vai mais fugir para ir vê-lo. Não quero minha
filha falada por aí e nem ter que casá-la por estar desonrada, posso ser capaz de matá-lo.
-Está bem, papai, eu prometo.
-Ótimo, boa menina.
-Já não sou mais uma menina, papai.
-Eu sei querida, já é uma moça. Você sabe que eu te amo, não sabe?
-Sei.
-Vamos, se vista. Vou pedir à Katie que venha ajudá-la a se vestir. Vá ver os bebês que tanto gosta. A tia Emily e Chloe estão aqui. São três bebês pequenos para
você se divertir e bajular.
Ian beijou sua testa e levantou. Jayne estava na porta com os braços cruzados, os olhando. Ele a olhou por um minuto, foi até ela e a beijou docemente, deu um suspiro
cansado e acariciou a mandíbula de Jayne.
-Mas que feio, ouvindo a conversa dos outros. - disse ele sorrindo.
-Desculpe, foi sem querer.
-Sei. Está fazendo isso em demasiado, não acha? - disse rindo.
-Não posso evitar, eu estou atualmente acometida de curiosidade e não tenho culpa se deixam as portas abertas. É basicamente um convite.
Ele riu novamente e a beijou. Foram para fora e todos estavam na maior bagunça, Willian tocava com seu violão.
-Ian... Coitado, está ferido? - Emily perguntou.
-Não foi nada demais, amanhã estou pronto para outra.
-Por que Angel está de castigo?
-Anda fazendo coisas erradas, então ela mereceu um castigo. Aquele rapaz virou a cabeça dela.
-Ela está apaixonada, meninas apaixonadas são impulsivas.
-Meninas direitas não podem ser impulsivas, devem ser recatadas.
-Sua mulher nunca foi recatada e ela é direita e impulsiva.
-Emily! - reclamou Jayne. -Deixe de ser desbocada, assim vão pensar que sou uma depravada.
-Bem, nem é para tanto. - disse David rindo.
-Emily ficará velha e nunca deixará de ser desbocada, meu Deus. - Jayne disse.
-Em casa escuto cada coisa que é de arrepiar os cabelos. -Willian disse.
-Isso é muito simples. Case-a logo, Ian.
-Mitchel! - exclamou Chloe o cutucando nas costelas com o cotovelo.
-Ora, não disse nada demais. Meninas solteiras sempre são alvos de gaviões, é melhor arrumar um bom marido e casá-la logo, assim ficará segura e acabam as dores
de cabeça de seus pais.
-Angel não é uma dor de cabeça. - disse Jayne.
-Mas que ajuda está me dando. - disse Ian dando um tapa na nuca de Mitchel.
-Ai! Mas eu estou falando uma verdade. Mas lógico, arrume um bom marido, nada de trastes.
-Ela já tem idade para encontrar um pretendente? Há alguém em vista? - disse Willian olhando para Emily.
-Sim, aquele rapaz, o estrangeiro pianista. - respondeu Emily.
-Uma dor de cabeça pior que pensei. - disse Ian.
-O que ele tem de errado? Parece ser um bom moço.
-Ele não tem nada de errado. - disse Angel se aproximando e Ian e Jayne a olharam. -As pessoas são maldosas e falam o que não sabem. Richard é um cavalheiro e me
trata com muito respeito.
-Ih acho melhor casá-la logo. - disse Willian.
-Querem calar a boca! - disse Ian em um grito e todos riram.
-Isso mesmo, vamos deixar este assunto para lá. Dê-me este bebezinho, Chloe, quero segurá-lo. - disse Jayne. -Oh... Mas como ele está lindo.
-Claro, puxou a mim. - disse Mitchel rindo.
-Ai coitado do menino. - retrucou David.
-Oh mãe... Ele é lindo mesmo. - disse Angel segurando sua mãozinha.
-Ele é um anjinho. - disse Chloe sorridente.
-Vamos, Willian, toca uma música e vamos beber que hoje eu estou com vontade. - disse Mitchel.
-Não diga... E quando é que não está com vontade? - disse Ian rindo.
-Não me lembro. - soltou uma gargalhada e bebeu uma dose de uísque.
Quando a carne ficou pronta, jantaram e até arriscaram dançar.
-Eu estava com saudades de dançar com você. - disse Willian à Emily.
-Eu também. Faz tempo que não fazíamos isso.
-É... Nossos filhos estão deixando você ocupada.
-Sim, dão trabalho, mas estou feliz, nossos filhos são lindos. E também estou feliz de estar com você.
-Eu também... Nossa vida tomou o rumo de novo, não é?
-Eu seria muito infeliz sem você, Will.
-Eu também, querida.
Os dois se abraçaram forte e continuaram a dançar.
-Ah que bonitinho. - disse Mary para David vendo Willian e Emily.
-Bonitinha é você, venha cá que agora também quero dançar. - disse David puxando Mary pela mão, rodando-a e a enlaçando pela cintura. E os dois alegres e rindo começaram
a dançar.
Ian e Jayne dançaram devagar. Como ele não podia erguer um dos braços, ela o enlaçou pelo pescoço e somente se movimentavam, Mitchel e Chloe fizeram o mesmo e James
ria tocando para que eles dançassem. Angel dançava com Josh e era disputada por Ethan e brincavam rindo.
Divertiram-se até tarde da noite e depois todos foram felizes para casa.
**
Ian estava deitado na cama recostado nos travesseiros, estava de pijama com os pés cruzados esperando Jayne, e enquanto isso olhava uns panfletos sob uma luz de
lamparina que estava sobre a mesinha de cabeceira. Jayne entrou no quarto e parou no pé da cama o olhando com um sorriso no rosto.
-Será que poderia largar estes papéis aí e olhar para mim, senhor meu marido?
Ian baixou os papéis, olhou-a e os soltou abruptamente quando viu o que ela vestia.
-Minha nossa! - disse ele espantado.
-Gostou? - disse ela maliciosamente.
-Você está linda.
-Mandei buscar especialmente para você, é francesa. - disse alisando o corpo da camisola de seda preta que exibia um decote profundo.
-Verdade? Eu posso saber por que eu mereço ter minha mulher usando uma camisola tão provocante?
-Bem, nós vamos comemorar por termos nos conhecido.
-Eu comemoro todos os dias.
-Sim, mas hoje vai ser especial.
Jayne ergueu a camisola lentamente até as coxas, se ajoelhou na cama e foi andando de joelhos, sedutoramente, e sentou sobre as pernas dele. Ian a olhava perdido
de amor por ela, com um sorriso no rosto. Olhavam-se intensamente e ele a abraçou pela cintura e respirou profundamente.
-Meu Deus, parece que foi ontem. Tenho que agradecer todos os dias por tê-la encontrado com sua carroça atolada na lama.
-Eu também agradeço, meu gato molhado. - disse rindo e ele riu também se lembrando daquele dia que ela o empurrou na água.
Ela o beijou intensamente e as mãos de Ian deslizavam pelo seu corpo escorregando facilmente pela seda macia.
-Eu a amo, minha gata selvagem. - disse com o coração acelerado.
-Eu também. E hoje quero lhe dar um filho.
Ian a olhou espantado.
-Quer?
-Sim, eu sei que quer outro filho e acho que já estou pronta para isso. Já estou recuperada daquele tiro, então acho que ficarei bem. Acho que não terei problemas
na gravidez.
-Tem certeza? O médico não deu garantia que podia.
-Vamos deixar isso nas mãos de Deus, se for para termos mais um filho então ele irá cuidar de mim e trará mais um bebezinho para aumentar esta família que é minha
vida. E quero começar a tentar hoje.
-Tenho certeza que Ele irá cuidar de você, e eu também.
-Seu ombro está doendo muito? Não quero machucá-lo.
-Eu estou ótimo.
Ian abriu um sorriso que iluminou seu rosto, beijou-a deitando sobre ela e fizeram amor, esperançosos que naquela noite seriam agraciados com mais um filho que tanto
desejavam.
**
Alguns meses depois...
-Boa tarde, Matt.
-Boa tarde, Sra. Buller.
-Bem, o que quer? Estou ocupada.
-Aqui está tudo o que consegui. É o suficiente? Quer dizer, juntando com todos os meses de trabalho que não recebo?
Jayne o olhou seriamente e pegou o saco de pano que ele oferecia, olhou os maços de dinheiro e derrubou-os sobre a mesa, sentou-se na cadeira e contou todas as notas.
Ela suspirou e olhou para Matt.
-Ainda não paga o Diamante.
-Mas eu não consegui todos os cavalos, então somente deu para lhe pagar isso. Veja, estou machucado de tentar pegar os cavalos, mesmo com luvas a corda cortou minhas
mãos.
Jayne olhou para as mãos de Matt e estavam realmente machucadas.
-Bem, trabalhar duro é nisso que dá.
-Quanto ainda lhe devo? - perguntou indignado.
-Isso não paga o cavalo, mas não vai pagar nunca o que ele valia.
-Não entendo. Eu estou fazendo tudo o que quer. Eu já afastei todos que gostavam de mim e todos me olham como se eu fosse um bandido.
-Saiba que é isso o que se recebe quando pensa que pode fazer o que quer com os pertences e sentimentos dos outros. Ser um grande homem não depende de força ou balas
na agulha, Matt, mas sim de caráter. Trata-se da falta de respeito com que tratou a mim e a Ian.
-Por favor, não quero ouvir mais sermões, vim trazer o dinheiro.
-Não é somente sobre o dinheiro e sim sobre o amor que eu sentia por Diamante. Eu cuidei dele desde que era um potrinho, eu o ajudei a nascer, a ficar em pé, corria
com ele pelos pastos, ele me reconhecia a léguas e relinchava abanando a cabeça até que eu viesse lhe acariciar. Ele se ajoelhava para que eu pudesse montá-lo e
ele somente fazia isso comigo. Era um legítimo puro sangue de uma linguagem rara, tinha porte de rei, suas crinas brilhavam como se tivesse passado óleo nelas. E
não foi por nada que ele ganhou um dos prêmios mais cobiçados por criadores de cavalos. E que por sua imaturidade e de Angel eu tive que sacrificá-lo dando-lhe um
tiro na cabeça.
Matt ficou mudo por alguns minutos e sentindo-se engasgado. Baixou o olhar e não conseguiu mais olhar nos olhos de Jayne.
-Desculpe Sra. Buller. Nunca consegui ver Diamante como algo tão importante.
-É claro que não. Você ainda é jovem, tem muito que aprender.
-Não sou jovem, sou um homem!
Jayne soltou um suspiro cansado. Ele nunca iria aprender.
-Isso é tudo, Matt, pode ir.
-Minha dívida está paga?
-Não.
-Mas...
-Isso é tudo, Matt!
-Pois bem, não quero estar aqui de qualquer jeito. Adeus, Sra. Buller.
Ele virou as costas e saiu. Jayne nervosamente tentou conter suas emoções e respirar, uma mistura de sentimentos invadiu seu peito. Puxou a respiração escorando-se
no sofá, ficou tonta por alguns minutos.
-Está bem, Jayne? - disse Ian se aproximando dela.
-Estou.
-Soube que Matt estava aqui, o que veio fazer?
-Trazer dinheiro. - disse mostrando o monte de notas.
-Ele a ofendeu? Você está pálida.
-Não, ele não o fez. Está tudo bem, só estou um pouco cansada.
-Por que não vai descansar? - disse Ian a abraçando.
-Não se preocupe, eu estou bem, foi somente uma tontura.
-Tontura? Você não tomou café da manhã hoje, deveria tomar um chá e deitar-se.
-Estava enjoada e tomar café somente pioraria. Não se preocupe, eu estou bem, é só um mal estar passageiro.
-Ok, eu vou confiar em você. Mas se não melhorar vai deitar-se.
-Está bem.
Ian beijou sua testa e ia sair da sala, mas Jayne o segurou pelo braço. Ele a olhou por um minuto.
-Eu te amo.
Ian voltou e acariciou o rosto dela.
-Eu também te amo. - ele segurou seu rosto e a beijou. -Que tal descansar enquanto vou à cidade?
-Não, vou com você. Vamos de carro, estou com vontade de dirigir.
Ian fez cara feia.
-Argh, ir com aquela geringonça? Não.
-Pare de reclamar do meu carro. Gosto dele. - Ian bufou.
-Um dia... Um dia arrancarei as rodas daquela porcaria e tacarei fogo nele. Mas hoje iremos com a carroça, pois tenho mantimentos para trazer.
-Está bem. - Jayne disse suspirando.
Ian realmente odiava aquele carro.
Quando chegaram à cidade Ian foi ao ferreiro e Jayne à loja de mantimentos. Logo Ian a encontrou lá e terminaram de fazer as compras.
-Ian, pode terminar aqui e colocar as coisas na carroça? Preciso falar com uma pessoa.
-Quem?
-Coisas de mulheres, querido.
-Mas você vai demorar?
-Não, meu amor, prometo que não demorarei nada.
Ela foi rapidamente seguindo a rua até chegar à casa do médico. Depois de ser examinada, ela saiu com um imenso sorriso nos lábios, andava pela larga rua indo ao
encontro de Ian que já deveria estar esperando-a.
Iria lhe dar a notícia, estava esperando um filho. Sentia-se imensamente feliz. Não havia dito que iria ao médico para ter certeza da gravidez, pois queria fazer
uma surpresa. Ian estava aguardando isso há muito tempo.
Quando ela virou a esquina para chegar ao armazém, parou abruptamente sentindo um baque em seu coração. Ian estava beijando uma mulher que estava agarrada ao seu
pescoço. Jayne arregalou os olhos e nem conseguia acreditar no que estava vendo, pensou que desmaiaria bem ali no meio da rua. Seu coração doeu tanto quanto se tivesse
levado um tiro certeiro. Deu alguns passos para trás e saiu correndo, foi para a carroça que estava um pouco distante, se escorou nela com a respiração descompassada
e com as lágrimas caindo impiedosamente dos olhos.
Pensou em voltar e resolver aquilo, esbofetear aquela mulher, esbofetear Ian, gritar sua fúria, mas subiu na carroça e saiu dali indo para casa. Nem sabia se chorava
de raiva ou tristeza. Quando estava quase chegando à fazenda, parou a carroça no meio da estrada, desceu e vomitou. Subiu novamente, escorando-se e chorou abraçando
a si mesma. Tentou respirar e acalmar-se e então, seguiu para casa.
**
Ian agarrou os braços da mulher e a empurrou fortemente.
-Pare com isso. Está louca?
-Jake, meu amor, como eu estou feliz em vê-lo.
-Megan, eu jamais pensei que a veria de novo. O que você faz aqui?
-Vim encontrá-lo, estive procurando você por todo lado.
-Nunca mais encoste em mim, entendeu? - disse com raiva e rangendo os dentes.
-Você é meu marido, não pensou que ficaria longe de mim por muito tempo, não é?
-Você é louca. Eu não sou seu marido.
Ian se virou e ia indo embora, mas Megan o segurou pelo braço.
-Meu amor, aonde vai?
-Vou para minha casa com a minha mulher e você volte para Portland e nunca mais ouse falar comigo. Eu não te matei da outra vez, mas não pensarei duas vezes de fazê-lo
agora. Entendeu bem? Sua senil. E jamais pense em se aproximar da minha família ou de mim de novo.
-Você me ama, Jake, sua cabecinha está confusa, só isso, eu sou a mulher da sua vida. Aquela sua mulher não te ama como eu amo.
-Eu a odeio. Você não chega aos pés de Jayne. Você deveria estar num sanatório. Está avisada. Fique longe de mim.
Ian foi embora. Megan o deixou ir, mas seus olhos mudaram de expressão drasticamente. Exalavam um imenso ódio e loucura.
-Isso é o que pensa Jake, se acha que vai ficar com aquela insossa da sua mulher, não me conhece. Você vai voltar para mim, e se aquela sua mulher se meter no meu
caminho, eu a mato.
Ian procurou a carroça e não encontrou, olhou ao redor, confuso.
-Ei Charles, você viu minha carroça que estava aqui? - perguntou a um homem que estava na varanda, sentado em uma cadeira e fumava um charuto.
-A Sra. Buller pegou a carroça, atiçou os cavalos como se fossem bestas e foi embora.
-O que?
-Ela não estava com uma cara nada boa, Ian, estava chorando.
-Chorando? - perguntou espantado.
Ian ficou ali com as mãos na cintura. Um frio lhe percorreu a espinha. Foi ao estábulo da cidade e conseguiu um cavalo e foi para casa.
Quando chegou à fazenda procurou por Jayne e ela estava no quarto, sentada na cama. Estava paralisada, séria e não olhou para ele quando parou na sua frente com
as mãos na cintura e a olhava sem entender nada.
-Jayne, por que veio para casa desse jeito? Deixou-me lá na cidade. Tive que conseguir um cavalo para vir para casa. Por que está chorando?
-Não pensei que você quisesse vir para casa. - disse séria sem olhá-lo.
-Do que está falando?
Jayne levantou e deu-lhe uma bofetada. Ian virou o rosto devagar e a olhou com os olhos assustados, sem entender o que estava acontecendo com ela. Piscou rapidamente,
nem acreditava que ela o havia batido daquela maneira.
-Que diabos deu em você para ousar me bater deste jeito? Você enlouqueceu? - gritou.
-Sim, enlouqueci! Jamais pensei nisso, Ian. Jamais achei que me trairia dessa maneira tão vil, tão suja.
-Do que está falando?
-Eu vi você beijando aquela mulher, no meio da rua. Como ousa me trair desta maneira? - disse gritando.
-Você me viu com Megan? - perguntou assustado.
Jesus, quão ingênuo conseguiria ser?
-Não diga o nome dela na minha frente, seu cretino. - disse gritando.
-Jayne, está enganada, jamais a trairia e muito menos com aquela mulher.
-Quem é ela?
-Megan, a mulher que eu morei em Portland.
-O que? - disse atônita. -Você está com sua amante? Ian como pode? Saia imediatamente da minha casa, nunca mais quero olhar para você, entendeu?
-Não vou a lugar nenhum e está enganada, ela não é minha amante, eu nem sabia que estava aqui. Ela pulou no meu pescoço e me beijou de surpresa. Eu a mandei embora,
eu juro, não foi nada disso que viu.
Jayne chorava e cobriu o rosto com as mãos, sentiu-se tonta e pensou que fosse cair, Ian a amparou rapidamente.
-Jayne, o que foi? O que está sentindo?
-Não toque em mim. - disse tentado se desvencilhar de suas mãos, mas estava tonta e ele a agarrou pelos braços.
-Jayne, sente aqui. - ele a sentou na cama e pegou um copo de água a fazendo beber, ela suava frio e tremia. Ele se ajoelhou na sua frente e a olhava atônito. -Calma,
meu bem, eu te juro que foi isso, ela não vai mais se aproximar de mim, eu a mandei embora, ela é louca. Eu te amo e jamais a trairia. Acalme-se.
-Tinha que ter dito isso, sobre esse encontro. Ou pensou que omitiria isso de mim, como se não tivesse acontecido?
-Jayne...
-Eu não espero e nem sou idiota de pensar que você é um santo. Mas o mínimo que espero de você é que me respeite, não me traia.
-Não a traí! Eu não menti e nunca disse que sou um santo.
-Não ia me contar sobre essa mulher?
-Jayne, eu nem tive tempo de raciocinar. Nem me passou pela cabeça lhe ocultar ou mentir por que eu nem sequer tive tempo de me assegurar o que acabou de passar.
Não me importo um nada com essa mulher. A única coisa que me importa é você. Juro que ver você fugir, vê-la chorando e me olhar como se eu fosse um monstro, e ainda
levar uma bofetada me atinge mais que estar no meio de uma colisão de trens e aquela vadia da Megan. Eu sinto muito, mas não pude evitar o que houve.
Ele respirou cansadamente e esfregou os olhos. Jayne colocou a mão no rosto e tentou respirar.
Jayne olhou para ele com o rosto banhado em lágrimas.
-Saia daqui.
-Jayne, por favor, me escute.
-Saia daqui, Ian, me deixe sozinha.
-Não posso fazer isso, tem que acreditar em mim, eu não traí você.
-Eu já disse para me deixar sozinha, não me faça pedir de novo.
Jayne o olhou com os olhos em fúria. Ian ficou mudo, conhecia aquele olhar, sabia que se insistisse acabariam brigando mais.
-Quando se acalmar, nós falaremos, mas não abuse de minha paciência.
Ian suspirou e saiu do quarto. Jayne deitou e chorou abraçando o travesseiro. Tentava pensar, mas aquela cena não saia de sua cabeça. Sentia seu coração estrangulado
com uma dor que jamais pensou em sentir.
Jayne ficou ali por horas, sentia-se tonta e vomitou várias vezes. Tentou pensar e abrandar seu coração para não tomar nenhuma atitude precipitada ou errada. Conhecia
Ian, sabia que ele a amava, não teria coragem de fazer aquilo, traí-la em público daquela maneira. Seria uma atitude totalmente cruel e vil e ele sempre provara
ser um homem correto e que a amava.
Jayne levantou da cama e foi até a sala, a casa parecia imensamente vazia e silenciosa. Ela olhou ao redor e não avistou ninguém. Foi para a varanda e Ian estava
sentado na cadeira de balanço olhando para o nada.
Jayne o olhou por alguns minutos até que ele se virou percebendo sua presença. Olhou-a com um olhar triste e solitário. Jayne sentiu aquela dor aumentar em seu peito
e as lágrimas rolaram de seus olhos novamente.
-Eu acredito em você. - ela disse num sussurro.
-Não acreditou há algumas horas atrás. Por que mudou de opinião?
-Porque eu te conheço. E agora que minha raiva passou, eu vejo quem é Ian e eu vejo o homem por quem me apaixonei. Você é o homem que eu entreguei minha vida então,
eu confio em você, mas se eu estiver enganada então, por favor, me diga agora. O que me disse é verdade?
-Eu juro. Eu te amo, nunca faria algo assim. Não tive culpa.
Jayne fechou os olhos, respirou profundamente e o olhou.
-Eu estou grávida.
-O que? - disse ele levantando e a olhou com os olhos arregalados.
-Sim, eu procurei o médico hoje a tarde e ele confirmou.
Ian abriu um sorriso nervoso e lentamente se aproximou dela, acariciou seu rosto e seus olhos marejaram, sentiu uma imensa emoção. Apesar de toda fúria que ela demonstrara,
naquele momento parecia frágil e assustada e Ian quis demonstrar todo seu amor apesar de toda aquela confusão.
-Jayne, eu estou muito feliz com isso. Nós teremos nosso bebê e estaremos sempre juntos, eu jamais te trairia. Não fique nervosa assim, meu bem, por favor. Acredita
em mim?
-Eu acredito em você, é que eu nunca imaginei ver você beijando outra mulher. Quase morri quando vi você beijando aquela mulher lá em Portland, mas hoje foi... Absurdamente
terrível.
-Eu não a beijei, ela me beijou e eu a afastei, mas acho que essa parte você não viu.
-Não.
-Não a reconheceu?
-Não, nem prestei muita atenção. Fiquei em choque.
-Nós vamos esquecer isso, está bem? Sinto muito por isso, mas não tive culpa. - Ian a abraçou fortemente. -Eu te amo e nunca faria isso.
-Eu sei. Desculpe por ter batido em você.
-Tudo bem. Sei que ficou nervosa. Estou muito feliz que teremos mais um filho, eu esperei tanto por isso. Obrigado.
-Também estou feliz.
-Então meu amor, nós vamos cuidar deste bebezinho, você vai se cuidar e não pode ficar nervosa, certo? Venha aqui. - Ian lentamente sentou na cadeira, puxando-a
para que sentasse em seu colo e a abraçou. -Isso foi um pesadelo, eu jamais magoaria você desta maneira, Jayne, você é minha mulher e nunca faria nada para colocar
em risco nosso casamento.
-Eu sei, mas eu fiquei com medo de perder você.
-Não vai me perder, meu amor, eu jamais te deixaria por nenhuma mulher neste mundo, muito menos por aquela louca dos infernos.
-Estou com vontade de matar aquela mulher, ela foi a causadora daquele pesadelo que passamos, por causa dela você ficou tanto tempo longe de mim sem memórias. Por
que ela veio aqui?
-Calma. Você não vai fazer nada, sabe que tem que levar a gravidez na paz, meu anjo. Vamos esquecer isso tudo, por favor. Não quero mais ouvir falar naquela mulher
e nem no que aconteceu. Este assunto morre aqui.
-E se ela tentar algo com você de novo?
-Eu a mato. - Jayne o olhou e tocou seu rosto que havia ficado vermelho, tamanha força com que ela havia batido. -Nunca havia levado um tapa no rosto.
-Desculpe-me, Ian.
-Vou perdoá-la por ter batido em mim porque entendo que tenha ficado furiosa e ter achado que estava certa. Ainda mais quando acabou de saber que estava grávida.
Mas nunca mais faça isso de novo, pois não vou tolerar, Jayne. - disse sério.
-Se me prometer nunca mais deixar ninguém beijá-lo. - disse tentando sorrir e Ian balançou a cabeça e soltou um sorriso com incredulidade.
-Nós já passamos por isso, mas não sabíamos que estávamos traindo, quase perdemos nosso casamento por causa de Megan e Enrique. Nós superamos aquela confusão, mas
conscientemente da minha parte nunca acontecerá e nem da sua porque o que temos é maior que tudo. Confiamos um no outro, nos amamos, nos respeitamos e somos companheiros
em tudo. Poucas pessoas têm isso e nós precisamos manter o que temos.
-Eu sei, eu te amo, Ian. - ela o abraçou fortemente.
-Eu também.
Ian beijou sua testa demoradamente e ficaram os dois ali quietos até que aquela sensação entre os dois passasse. Estava ficando frio, a noite caíra e eles ainda
continuavam ali mudos e abraçados.
Ele levantou e entrou com Jayne nos braços que se mantinha abraçada ao seu pescoço e com a cabeça em seu ombro. Angel e Josh estavam indo para a mesa de jantar.
-O que aconteceu, papai? Mamãe está bem?
-Está, Josh, não se preocupe. Nós vamos para o quarto, jantem e depois vão dormir. Kate vai ajudar vocês. - disse Ian.
-Vocês não vão jantar? - perguntou Angel.
-Diga à Anna para levar o jantar no quarto mais tarde, nós precisamos ficar sozinhos hoje, está bem? A mamãe está cansada e precisa descansar.
Ele a levou para o quarto, a deitou na cama e acendeu a lareira, tirou as suas botas e as de Jayne. Ian deitou-se ao seu lado, puxou Jayne para deitar em seu peito
e a envolveu com os braços, puxou as cobertas para ficarem aquecidos e ficaram silenciosos, apaziguando seus corações.
**
Nas próximas semanas tanto Ian quanto Jayne evitaram ir à cidade depois de um novo confronto com Megan. Ian pediu para que ela partisse, mas não poderia obrigá-la,
então, evitar foi a ordem dele. A última coisa que Ian queria era Jayne voando nos cabelos de Megan, e ele acreditava que aquilo aconteceria literalmente, ou algo
pior.
Bem, mas infelizmente ele não conseguia controlar tudo.
-Como vai, papai? - disse Jayne sorrindo ao se aproximar da mesa no escritório de seu pai no banco da cidade.
-Ora, até que enfim minha filha lembrou-se que tem um pai.
-Não seja dramático, papai, nos vimos a duas semanas. - disse sorrindo e lhe beijando o rosto.
-Duas semanas é muito tempo para quem mora tão perto.
-Tem razão, mas se estava com saudades, por que não foi me visitar?
-Sou um velho ocupado. - disse com um risinho. -Estou com saudades dos meus netos. Onde estão?
-Em casa. Eu somente passei para lhe dar um beijo. Trouxe Mary para comprar algumas coisas no armazém e eu precisava encomendar alguns vestidos para minha gestação,
estou tendo dificuldade de entrar neles. Nós já estamos voltando para a fazenda.
-Sim, vejo como sua barriga cresceu visivelmente. Tem certeza que só tem um aí dentro?
Ela riu e acariciou a barriga.
-Creio que sim, mas ando com uma fome de leão. Como tudo que vem pela frente.
-Isso é bom. Quando irá ver sua mãe? Ela queria saber notícias de sua gravidez. Está tudo bem?
-Sim, estou ótima e seu novo netinho também, não se preocupe. Nós iremos almoçar com vocês no domingo, está bem assim, papai?
-Ah está ótimo, avisarei sua mãe. - disse sorrindo.
-Vou indo, pois Mary está me esperando. Diga que mandei um beijo para mamãe.
Jayne o beijou e saiu do banco, andou sorrindo pela rua e se encontrou com Mary que colocava as compras no carro de Jayne.
-Já comprou tudo, Mary?
-Sim, estou pronta para ir, se você estiver.
-Ora, ora, quem eu vejo aqui. Sra. Buller.
Jayne virou e deparou-se com Megan. Sentiu um embrulho no estômago vendo aquela mulher ali na sua frente, a olhando ironicamente.
-Está atrapalhando meu caminho, com licença. - disse Jayne desviando dela e indo até a porta do carro.
-Vejo que está grávida!
-Como é observadora, eu nem tinha percebido. O que quer?
-Só queria ver de perto o que Jake tanto vê em você.
-Jake não vê nada em mim, agora meu marido Ian... - ela disse enfatizando seu nome. -Vê em mim o que nunca vai ver em você. Tem muita ousadia em permanecer na cidade
e ainda ousar me dirigir a palavra.
-A cidade é pública, não pode me impedir de ficar. E quanto a Jake, ele um dia vai acordar e voltará para mim.
-Fique longe de Ian senão eu mato você. Tem muita sorte de eu ainda não ter metido uma bala na sua cabeça depois de tudo que fez.
-Calma Jayne. - disse Mary com os olhos arregalados.
-Isso mesmo, calma Jayne. Aceitar o seu destino é uma decisão sábia, sabe como é... Para evitar aborrecimentos.
-Não me subestime, não pensarei duas vezes em acabar com você. Ian não quer nada com você, já causou problemas demais.
-Verdade? Jake não pensa assim. Sabe, ele adora encontros às escondidas e nossos momentos juntos são intensos e cheio de paixão. Um homem não é fiel, querida. Certamente
Jake não o é e seu fogo é algo pecaminoso.
Jayne perdeu a cabeça e deu um tapa no rosto de Megan que cambaleou e a olhou com os olhos fulminantes.
-Você é uma rameira. Ian jamais se deitaria com uma. - disse Jayne.
-Não foi o que me demonstrou ontem quando passamos a tarde juntos.
Jayne sem pensar colocou a mão pela janela do carro e puxou uma espingarda, apontou para Megan com uma rapidez estrondosa. Mary assustada tapou a boca com a mão
para sufocar um grito.
-Você não tem amor à vida. Repita o que disse que eu te mato aqui mesmo. - disse Jayne seriamente, tentando se controlar para não atirar.
-Vai atirar em mim?
-Se não sair da minha frente, juro que estouro seus miolos.
-Eu vou embora, mas saiba que Jake tem se encontrado comigo para momentos de paixão e disse que não estava contente em ter outra criança para ter que encher a barriga.
Já basta ter que aguentar uma filha bastarda. -Jayne engatilhou a arma. -Tudo bem, eu vou embora. Se acalme, senhora Buller, se atirar em mim vai para a cadeia.
Há muitas testemunhas que diriam que atirou em uma dama indefesa e desarmada.
Megan virou-se com um sorriso malicioso nos lábios para ir embora. Jayne segurou a espingarda com uma mão, deu alguns passos indo de encontro a Megan que se afastava;
segurou-a pelos cabelos, deu uma rasteira nas suas pernas a derrubando em uma possa de água. Megan gritou e Jayne a prendeu contra o chão, ainda segurando seus cabelos
e empurrando dolorosamente suas costas com o joelho.
-Não sou assim boazinha e tonta como pensa, Megan. Vou te dar um aviso e este será o último. Fique longe de Ian. Porque se você tentar afastá-lo de mim como fez
da outra vez, eu te mato. E se ousar chamar minha filha de bastarda novamente, você ficará sem dentes.
-Solte-me, sua louca.
-Só mais uma coisinha. Quantas vezes Ian disse que amava você? Aposto que nenhuma, mesmo quando ele pensava que era Jake. Saiba que a mim ele diz todos os dias,
às vezes várias vezes num só dia. Coisa que você jamais ouvirá.
Jayne a soltou, levantou olhando ao redor e muitas pessoas que circulavam pararam para olhá-las. Virou-se e foi até o carro, desengatilhou a espingarda e a jogou
no banco de trás.
-Vamos, Mary!
Mary não disse uma palavra, estava estática e com os olhos arregalados. Ela rapidamente deu a volta e entrou no carro. Jayne entrou e foi embora.
-Pode voltar a respirar Mary.
-Oh Deus, Jayne, eu pensei que você ia atirar naquela mulher.
-Juro que tive que me controlar para não fazê-lo. Você não imagina a vontade que eu tenho de matar esta mulher. Ai que ódio!
-Ela é muito baixa, até eu fiquei com ódio dela. Se David se envolvesse com alguma mulher eu morreria. Você não acreditou no que ela disse sobre Ian, não foi?
-Não.
-Ele estava com você ontem à tarde?
-Não.
-Então como sabe que não é verdade?
-Confio em Ian. Jamais me trairia com esta mulher baixa. E se fosse verdade ela não falaria assim abertamente, não é?
-Não falaria?
-Claro que não. Acha que Ian aceitaria que ela me contasse que ele dorme com ela? Isso foi um jogo. Ela estava me provocando para que eu brigasse com ele.
-Bom, pensando assim pode ser certo.
-Eu já briguei com ele uma vez, até bati nele. Não vou cair neste jogo de novo.
-Você bateu em Ian? Teve coragem? - perguntou espantada.
-Tive, estava com tanto ódio. Não sei como ele não me bateu de volta.
-Bom, realmente, nem sei como ele não bateu mesmo. Um homem receber um tapa na cara é uma humilhação muito grande, Jayne.
-Eu sei. Por isso é que nunca mais vou ficar contra ele novamente. E se essa mulher não parar de me atormentar ela vai virar comida de corvos.
Megan levantou com a ajuda de um homem, estava toda enlameada.
-Que mulher descontrolada, onde já se viu tratar uma dama como eu desse jeito? O senhor viu? Ela parece um animal. - Megan disse.
-A Sra. Buller tem gênio forte. O que houve, a senhorita está bem?
-Como eu posso estar bem? Olhe isso, estou cheia de lama. Aquela ensandecida arruinou meu vestido.
-Uma maldade para uma dama como a senhorita.
-Que vergonha, esta maluca me derrubar assim na frente de todo mundo. Ai esta mulher me paga.
-Se a senhorita desejar poderá falar com o xerife. Dizer que ela a ameaçou.
-O xerife? Não, nada de xerife. Preciso banhar-me e trocar de roupa. Como se chama, senhor?
-John Mess.
-Obrigada pela ajuda, Sr. Mess.
Ela aceitou o lenço que ele oferecia e limpou o rosto e suas mãos.
-Disponha. E se precisar de ajuda para outras coisas pode me pedir. - disse ele com uma voz maliciosa e com um sorriso irônico nos lábios.
Megan parou e deu uma boa olhada nele. Era um homem bem apessoado e usava boas roupas. Estava elegantemente vestido com casaca e colete e sua gravata estava impecável.
Usava inclusive um relógio de bolso com a corrente presa ao botão que claramente era de prata. Ela maliciosamente o contabilizou de cima a baixo e sorriu.
-Hum... O senhor é muito galanteador. A que exatamente se refere?
-Posso lhe acompanhar até sua casa? Para evitar que a senhorita seja atacada novamente por alguma senhora enfurecida.
-Estou no hotel.
-Não é dessa cidade, não me recordo de tê-la visto.
-Não, não sou. Eu somente estou aqui temporariamente.
-Por favor? - disse oferecendo o braço para ela apoiar. -A senhorita deve assear-se e logo se sentirá melhor.
Megan sorriu para ele e algo maléfico lhe passou pela cabeça, ela enganchou no seu braço e saíram da rua.
**
Megan estava deitada sob os lençóis com a cabeça escorada na mão e olhava com uma cara dissimulada para John.
-Então, vai me ajudar a recuperar Ian?
-Vou.
-Isso deve ter um motivo. Qual é?
-Quero vingança. Eu queria matá-lo, mas se quer ficar com ele me contento em ficar com seu ouro.
-Que ouro?
-Ian tem um ouro escondido, e eu o quero.
-Por que teria um ouro escondido?
-Seu pai tinha uma mina de ouro, meu pai me contou. Pensei que não era certo, mas ele gasta o dinheiro naquela fazenda enquanto diz que o ganha com aqueles cavalos.
Só um idiota acreditaria nisso. Depois que ele se casou, incrivelmente começou a ficar rico, não é engraçado?
-Não era por causa do dote de sua esposa?
-Não, não acredito nisso, em minha investigação descobri que Jayne era viúva, portanto não tinha dote quando se casou. Ian tem ouro e um informante me disse que
havia encontrado mais ouro na mina. Se você quer matar Jayne e seus filhos por mim tudo bem, só me interessa o ouro. Eu ajudo você a ficar com Ian e você me ajuda
a pegar o ouro.
-Trato feito, mas não o machuque. E eu fico com a fazenda, afinal eu mereço morar naquela bela casa do que aquela desgraçada.
-Tudo bem, eu vou voltar para o Novo México com o ouro, não me importo com aquela fazenda.
-É muito ouro?
-Acho que sim.
-Então poderei ter uma parte.
-Não seja abusada, ficará com Ian e a fazenda, e só. O ouro é meu. E eu te ajudo a se livrar daquela família.
-Está bem. Acho que você poderia arrancar o segredo daquela bastarda da filha deles. - disse rindo. -Ela pode dizer onde o ouro está.
-Ela não vai falar assim facilmente, ela é uma menina. Se é que ela sabe.
-Meu bem, se você colocar uma arma na cabeça dela ela irá falar, não acha? Ela é novinha e deve ser uma tonta, se ameaçá-la ela ficará acuada como um coelhinho e
fará tudo o que você quiser.
-Verdade, uma menina amedrontada faz qualquer coisa.
**
-Enquanto a senhorita compra o presente para sua mãe vou passar no banco e deixar este bilhete para seu avô, está bem? Não saia daqui.
-Sim, James, obrigada. - disse Angel sorridente.
Ela entrou na loja e James seguiu para o banco, já na entrada viu uma moldura de quadro que lhe agradou.
-Bom dia.
-Bom dia, senhorita Buller. Mas esta mocinha cresceu tanto, que bela, igualzinha a sua mãe.
-Obrigada.
-Deseja alguma coisa?
-Eu trouxe este retrato dos meus pais, eu queria ver se eu conseguia uma moldura que ela caiba, quero dar de presente.
-Deixe-me ver... Oh! Mas que linda fotografia, seus pais fazem um casal adorável. Eu tenho uma moldura perfeita para ela, é esta aqui.
O senhor de cabelos brancos e com os óculos caindo no nariz vagarosamente andou pelo meio da loja dando passos estreitos. Dali a alguns minutos ele mostrou a Angel
uma belíssima moldura em cor dourada, toda talhada a mão.
-É lindíssima! Mas eu somente tenho este dinheiro. - disse retirando as notas de dinheiro e algumas moedas de dentro de uma bolsinha de tecido que estava presa em
seu pulso e colocou sobre o balcão. -Isso dá?
O homem ajeitou os óculos e contou o dinheiro.
-Sim querida, tome esta moeda de troco. Sabe... Eu gosto muito de seu pai. Ele sempre foi um homem generoso, merece um presente bonito. Eu me lembro de quando o
pequeno Ian vinha aqui para comprar coisas para sua casa. Trazia o dinheiro dentro de uma guaiaca de couro tão velha que parecia que o dinheiro passaria pelos buracos.
- disse rindo. -Eu fico feliz de ele ter se tornado rico, e o mais importante, de bom coração.
-Estes biscoitos cheiram bem.
-Seu pai adorava estes biscoitos quando era garoto. Ele vinha aqui e espichava os olhos para os biscoitos que minha mulher fazia. Eu sempre tinha um prato igual
a este aqui e ele sempre vinha me visitar, mas eu desconfio que ele estivesse mais interessado nos meus biscoitos. Prove um.
Ele lhe ofereceu e Angel pegou um biscoito de canela e mordeu.
-Hum, mas é uma delícia. Ele tinha razão de querer seus biscoitos.
-Pode pegar alguns e levar para ele.
O senhor colocou a fotografia na moldura, embrulhou num papel pardo e amarrou com um cadarço de sisal. Angel tirou um lenço de linho e colocou alguns biscoitos nele.
-Quanto custa os biscoitos?
-Nada, é um presente para seu pai, pelos velhos tempos.
-Obrigada, meu pai vai adorar.
Angel pegou o embrulho e saiu da loja. Olhou ao redor e não viu James. Ela encostou-se à parede da varanda e ficou observando a rua. Estava contente, sabia que seus
pais adorariam o presente.
Angel foi surpreendida por um puxão no braço. O homem estranho a puxou pela lateral em uma estreita viela entre a loja e uma casa. Angel agarrou o quadro contra
seu corpo e ele tapou sua boca com a mão quando ela tentou gritar. O estranho a imprensou com toda força contra a parede, engatilhou a arma e encostou debaixo de
seu queixo.
-Olá querida. Quietinha senão seus miolos vão ficar espalhados nesta parede. Você vai fazer o que eu disser, entendeu?
Angel assentiu com os olhos arregalados.
-Você sabe onde seu pai esconde o ouro?
Ela estreitou os olhos e logo negou com a cabeça.
-Você vai descobrir onde seu pai esconde o ouro da mina e vai me contar. Se não fizer isso eu mato você e seu irmão, penduro sua mãe numa árvore de cabeça para baixo
e faço tiro ao alvo com ela e arranco a cabeça do seu pai e dou aos porcos. Fui claro?
Angel com os olhos arregalados ouvia aquilo tudo, sentia um pânico dentro de si que jamais pensou em sentir em sua vida. Não sabia o que fazer e ele continuava a
lhe sufocar com a mão.
-Vou soltá-la, se gritar ou fazer algo para chamar a atenção, eu te mato bem aqui. - ele tirou a mão de sua boca e ela tremia agarrada ao pacote. -Boa menina, agora
vá. E se contar isso para alguém, já sabe o que irá acontecer. - ele guardou a arma dentro do casaco e deu um passo para traz. Angel continuou presa à parede, com
dificuldade de respirar.
Ouviram engatilhes de armas e os dois olharam para o lado.
-Se afaste da menina agora mesmo. - disse James apontando duas armas para John, uma em cada mão.
-Calma, não está acontecendo nada, somente estávamos conversando.
-Está tudo bem, Angel? - ela olhou com os olhos arregalados para John e ele estreitou os olhos e ela assentiu que sim com a cabeça. -Venha para cá. - Angel correu
e foi ao lado de James. -Quem é você?
-John Mess, trabalho no jornal.
-Não se aproxime dela de novo.
-Somos amigos.
-Não. Não são. Nunca mais se aproxime dela assim ou faço você engolir meia dúzia de balas. Vamos senhorita Angel.
Os dois saíram e John ficou ali com um sorriso no rosto. Angel olhou para trás e ele fez o formato de arma com a mão e atirou fazendo som com os lábios e rindo.
Angel engoliu em seco e virou-se rapidamente, pensava que não iria conseguir andar tamanho era seu pavor.
James segurando seu braço a guiou até o coche de água onde tinham deixado seus cavalos amarrados.
-Dê-me o embrulho. O que aquele homem estava falando com você, senhorita Angel?
James pegou o pacote e colocou nos alforjes de seu cavalo e a ajudou a subir no seu.
-Nada.
-Nada? Está branca como um mármore. E aquele homem estava colado na senhorita e não gostei nada do que vi. Se não me contar, vou contar ao seu pai o que eu vi.
-Não James, por favor, não foi nada, ele não disse nada demais, somente estávamos conversando, só isso. Não fale nada para meu pai.
-Me desculpe em dizer isso, mas acho que está mentindo, senhorita.
-Ele queria saber se poderia escrever sobre a fazenda e estava fazendo algumas perguntas, só isso.
-Não vou lhe forçar a falar, mas vou lhe dar um conselho, me conte que eu posso ajudar se tiver algo errado. Está bem?
-Está bem, James. Mas está tudo bem, não se preocupe.
James não acreditou em Angel, mas ficou quieto, subiu no cavalo e voltaram para a fazenda.
**
Ian estava na cidade com David e de longe avistou Megan entrando no hotel.
-Olha quem eu estou vendo. - disse colocando as mãos na cintura.
-Deixe para lá, Ian.
-Ela me paga. Espere-me aqui, David.
-Ian...
Ian não deu atenção a David e foi atrás dela.
-Sua chave, senhorita.
-Obrigada.
-Onde arrumou dinheiro para ficar hospedada neste hotel por tanto tempo, Megan? - Ian perguntou atrás dela.
Megan virou-se e sorriu para ele.
-Isso não é da sua conta, meu bem.
-Verdade não é, mas é da minha conta o que está fazendo aqui.
-Não estou fazendo nada.
-Megan, eu já avisei para ir embora de West Side.
-Só vou embora com você. Mas como sua cabecinha está difícil de acertar, tenho que ficar.
Ian a puxou pelo braço fortemente. Ela gemeu como se fosse uma gata.
-O que está planejando, sua maluca?
-Ai, nada, as pessoas estão olhando. Venha, vamos ao quarto que lá conversaremos.
-Não vou ao seu quarto.
-Então não vai mais falar comigo.
Megan virou-se e começou a subir as escadas. Ian pensou em não ir, mas não queria um escândalo na porta do hotel e precisava convencer Megan a deixar a cidade, então
a seguiu, entrou no quarto e cruzou os braços sobre o peito.
-Megan, pare de criar problemas. Eu soube que interpelou Jayne na rua. Não percebe que está fazendo com que eu te odeie mais? Nunca vou voltar para você e garanto
que as coisas não vão acabar bem para você. Eu geralmente sou um homem calmo, mas viro um demônio com quem tenta machucar minha mulher e meus filhos.
-Jake, eu não vou voltar para casa sem você. Eu quero minha família e ter meu filho com você, como deveria ter sido antes desta insossa Jayne roubá-lo de mim. -
disse entortando a boca e falando com cara de nojo.
Ian respirou fundo, nada que dissesse colocaria a realidade dentro da cabeça daquela mulher.
-Eu não sou sua família, não terei um filho com você e não me chamo Jake. Você enlouqueceu. Jake existiu porque você o inventou. Eu amo Jayne e não vou deixá-la,
coloque isso na sua cabeça de uma vez por todas.
-Nunca vou desistir de você.
Ele bufou quase sem paciência.
-Por que demorou tanto tempo para vir aqui?
-Porque não conseguia encontrá-lo e não tinha dinheiro para vir.
-Está gastando dinheiro à toa. E que roupas são estas? Se passando por uma dama, o que quer, ser como Jayne?
-Tenho mais classe que aquela sua fazendeira estúpida.
-Escute aqui, eu vim falar com você na paz e te garanto que será a última vez que vou falar.
-Jake, meu amor... - disse ela se aproximando lentamente e o olhando sedutoramente, o tocando no peito. -Lembra-se das nossas noites de amor? Lembra-se como eu te
enlouquecia?
-Pare com isso.
-Meu amor, nós estamos sozinhos aqui no quarto, sou toda sua, pode fazer o que quiser. - ela foi desabotoando os botões da camisa de Ian e o beijando no pescoço,
mas ele segurou as mãos dela e a empurrou, fazendo-a cair sobre a cama.
-Nunca mais toque em mim. Este é meu último aviso, vá embora e nunca mais se aproxime de Jayne de novo, senão eu vou matar você. Será que fui claro desta vez? Eu
não estou brincando, Megan, pegue suas coisas e saia da cidade e me deixe em paz.
Ian foi em direção a porta e a abriu. Megan caída de costas na cama e escorada pelos cotovelos ficou enfurecida.
-Você vai se arrepender, Jake! Vou ter você de volta e isso é um fato. Vai voltar a dormir na minha cama.
Ian virou-se e a olhou.
-Não durmo com rameiras.
Ele virou e saiu batendo a porta. Megan levantou-se furiosa. Pegou uma jarra que havia sobre uma mesinha e aos gritos a estilhaçou na porta.
-Ah cretino, vou te mostrar quem é a rameira, vou acabar com aquela mulher. Eu juro.
Ian saiu com a fúria exalando pelos poros e foi de encontro a David na rua que batia o pé nervosamente com as mãos na cintura. Algumas pessoas o olharam sair da
recepção do hotel e vendo seu olhar saíram da frente.
-Vamos embora. - Ian disse a David.
-Ian, o que você fez?
-Nada.
-Nada? Por que está com a camisa desabotoada?
Ele fechou os botões e olhou para David.
-Não aconteceu nada, não me olhe deste jeito.
-Se Jayne sabe que você entrou no quarto de hotel com aquela mulher, estará com problemas.
-Ela não vai saber e eu não fiz nada. Mas aquela doida não vai desistir. Tenho que tirar ela da cidade antes que me arrume mais problemas.
-Pelo jeito não vai ser fácil.
-É não vai. Mas que inferno! O que esta mulher tinha que ter aparecido aqui depois de tanto tempo. Será que nunca vou ter paz na minha vida?
-Calma, amigo, não fique assim. Vai conseguir resolver isso.
-Espero que sim, senão vou matá-la. Não vou permitir que ninguém se meta entre mim e Jayne de novo. Isso nunca mais.
-Venha Ian, vamos embora.
**
Era tarde da noite, Jayne e Ian foram para o quarto se preparar. Ela soltou os cabelos e o escovou, retirou o vestido ficando de espartilho e a roupa de baixo, enquanto
isso Ian tirava sua roupa.
-Onde esteve esta tarde, Ian?
-Estava com David e Willian.
Jayne virou-se e olhou seriamente para ele.
-Com Willian?
-Sim. E por que pergunta?
-Não deveria perguntar?
-Não. Anda sempre querendo saber onde estou ultimamente. O que deu em você?
-Você anda mentindo para mim. Por que está mentindo?
-Não estou mentindo.
-Está. - disse gritando.
-Não grite.
-Me diga onde esteve.
-Já disse, estava com David e depois com Willian.
Jayne levantou e foi em sua frente, furiosa.
-Mentiroso!
-Não estou mentindo.
-Will veio aqui e disse que não tinha visto você.
-Bem isso ele me disse quando cheguei na casa dele.
Ele a puxou e a deitou na cama e sentou escarranchado sobre as suas pernas e segurou seus pulsos sobre a cabeça com uma só mão.
-Solte-me, Ian!
Ian retirou uma faca da bainha de seu cinturão de couro e colocou na frente do rosto dela.
-Shh, fique quieta. Não quero machucar você.
Jayne arregalou os olhos e ficou muda, seu coração sentiu um baque.
Ele passou a faca nos cadarços do espartilho, os cortando. Ela gritou, achando que ele iria feri-la. Ela se olhou e ele soltou seus pulsos, colocou a faca na bainha,
tirou o cinturão e o jogou no chão. Ele calmamente olhou para ela se escorando com as mãos pelas laterais de sua cabeça.
-Por que fez isso? - ela sussurrou.
-Isso está apertando nosso filho, não devia mais usá-lo. Quantas vezes já pedi que não o use?
-Não estava apertado, é especial para grávidas.
-Hum, então desculpe. Esta gravidez está afligindo seus miolos, achei que era culpa do espartilho. - disse brincando e Jayne acabou rindo.
-Maluco, você me assustou! - ela deu vários tapas em seus braços. -E a gravidez não está atingindo meus miolos, estou completamente sã.
-Não, Jayne, não está. Está cismando com tudo, agressiva e chora à toa.
Ela suspirou cansadamente e ele acariciou seu rosto.
-Desculpe meu amor, só quis dissipar este clima ruim que você quis criar, novamente.
-Tem razão, ando muito irritável. Mas me diga o que está fazendo. Está se encontrando com Megan?
-Sim, Jayne, eu me encontrei com ela. Somente a vi por acaso na cidade e aproveitei para lhe dar um último aviso. Para que fique longe de mim e de você, que vá embora
daqui. Meu amor, eu pensei que você não entraria no jogo dela. Droga, se não confiar em mim, e que pé vamos ficar?
-Peguei suas mentiras, o que quer que eu faça? Fique quieta? Eu não sou uma mulher de ser traída e ficar quieta.
-Eu sei que não. Mas vai ter que parar com as crises, está bem? Não houve nada entre ela e eu. Somente nos falamos por quinze minutos.
-E eu não podia saber disso?
-Desculpe, não queria ter mentido, mas não queria aborrecê-la.
-Eu não quero brigar com você por causa dela, Ian, me desculpe. É que a presença dela na cidade está me deixando irritada. Fico com ciúmes.
-Não precisa sentir ciúmes. Não existe nenhuma mulher neste mundo que me faça pensar em ficar longe de você, muito menos essa mulherzinha que me deixa louco de raiva.
-Então me prometa que nunca mais mentirá. Pode conversar comigo, contar as coisas, qualquer coisa. Isso é a confiança que existe entre nós.
-Tudo bem, você está certa, eu prometo. Ando preocupado e com isso estou cometendo tolices.
-Tem algo mais que te preocupa?
-Sabe que agora no inverno eu dispensei muitos homens, porque logo virá a neve e o trabalho diminui muito, assim evitamos despesas, pois por outro lado teremos outras.
Sem pasto, gastaremos muita aveia e verduras. Mas eu acho que em relação aos homens, eu vou mandá-los voltar. Assim me sentirei melhor com a fazenda bem protegida.
-Ian, não vai faltar dinheiro.
-Não, não vai, mas sabe que me preocupo com vocês.
-Não se preocupe com isso, temos o suficiente para passar o inverno todo sem trabalhar, meu bem.
-Eu sei. É que... - ele suspirou. -Desculpe-me, estou meio atrapalhado.
-É e estragou um espartilho caríssimo. Se você gostaria de economizar eu sugeriria que não cortasse um espartilho que custou duzentos dólares.
-Tudo isso? - Ian perguntou espantado. -Santo Cristo.
Ian rolou para o lado e deitou na cama de costas, fechou os olhos e respirou fundo. Jayne olhou para si e fez careta, jogou o espartilho para o chão e olhou demoradamente
para ele. Ela sentou sobre suas pernas, abriu a camisa dele, e depois o beijou. Ele a envolveu pelas costas suavemente.
-Vou compensar você por isso.
-Vai?
Ela lentamente retirou seu chemise de linho enquanto ele a olhava com admiração e desejo.
Ele sorriu e a abraçou. Girou e deitou-a de costas, beijou sua barriga e foi subindo lhe beijando o corpo e Jayne fechou os olhos sentindo seus lábios. Ele beijou
seus lábios, ardentemente, segurando-a pela nuca.
-Seu corpo é meu e eu sempre vou gostar dele. Seus seios estão maiores e adoro isso. - ele tomou seu tempo beijando-os. -Nunca vou achar sua barriga feia porque
carrega meu filho, mulher.
-Você é tão doce.
-Ainda podemos fazer isso? - ele perguntou ofegante.
-Acho que sim. Com cuidado.
-Prometo ser cuidadoso.
Ele apagou o lampião da mesinha de cabeceira e a beijou novamente e os dois se amaram noite adentro.
**
-Mas que diacho de arado, tinha que quebrar logo agora. - Mitchel disse tentando colocar os parafusos no arado.
-Mitchel!
-Desculpe minha deusa, mas estou ocupado.
-O arado é mais importante que eu?
-Não querida, mas tenho que consertar isso, eu já olho para você. Quero acabar isso de uma vez.
Chloe ergueu a saia e colocou o pé bem na frente dele encima do arado. Mitchel parou o que estava fazendo e ficou olhando para a bota marrom dois centímetros do
seu nariz, ele lentamente foi levantando a cabeça seguindo com os olhos pela perna de Chloe. E engoliu em seco sentindo um fogo lhe percorrer todo o corpo.
-O que... O que significa isso, querida?
-Significa que você anda muito relapso comigo e estou aqui exigindo meus direitos de esposa.
-Direitos de esposa? - perguntou rindo.
-Sim.
-O que seria isso?
-Mitch... Antigamente quando você me via nesta posição não precisava me perguntar o que eu queria. Precisa perguntar agora?
-Não, é que estamos no celeiro, e estou todo sujo de poeira.
Ela o puxou pelo colarinho o fazendo se levantar.
-Isso impede alguma coisa?
-Bem, não. - disse sorrindo erguendo sua sobrancelha e fazendo sua costumeira cara de safado, jogou a chave de rosca que tinha na mão por cima do ombro e a beijou.
Pegou-a no colo e os dois rindo foram para o fundo do celeiro onde tinha uma pilha de feno e os dois jogaram-se nela e rolando riam e se beijavam e ali fizeram amor.
-Este é meu toureiro!
-Desculpe, realmente ando muito relapso. Então eu dou permissão para você fazer isso quantas vezes quiser.
-Vou fazer mesmo. Meu resguardo já acabou e você continua cauteloso. Não precisa mais disso.
-Fico feliz que faça e vou tomar nota sobre isso.
-Eu não sou mais cocote, Mitchel, mas eu não perdi minhas manias e meu desejo por você.
-Vi que não. E isso me agrada muito.
-Que bom, não quero ser uma mulher monótona.
-Monótona, você? Você pode ser qualquer coisa, querida, menos monótona.
-Vamos, meu toureiro, eu já coloquei esquentar água para você tomar banho na tina.
-Preciso tomar banho?
-Claro que precisa seu tonto. - ela riu.
-Está bem. Algo de especial está acontecendo hoje e eu não sei?
-Fiz meu primeiro jantar. Portanto temos uma situação solene.
Mitchel olhou para ela com os olhos arregalados.
-Você cozinhou o jantar?
-Bem, eu tenho aprendido muitas coisas com Maria, apesar de ela falar meio enrolado com este sotaque mexicano, nos damos bem. E hoje eu fiz meu primeiro guisado!
-Isso é fabuloso, Chloe, mas sabe que não precisa fazer isso se não quiser. Por isso tenho a criada.
-Eu quis fazer para você e eu estou gostando muito de cozinhar.
-Então tenho certeza que vou gostar.
-Terá que ser sincero.
-Serei, eu juro.
Mitchel foi levantar, mas Chloe o puxou de volta o beijando.
-Só para despedida.
-Hummm... Despede-se de novo.
Ela riu e o beijou novamente. E os dois levantaram tirando as palhas que haviam ficado presas nos cabelos e nas roupas. Eles foram para dentro da casa para Mitchel
tomar seu banho e mais tarde ele deliciou-se com o guisado que Chloe tinha feito.
A mesa estava bonita e naquele momento Mitchel a amou mais ainda, porque estava comendo o guisado de coelho mais delicioso que já tinha provado; e ele sabia que
tinha sido feito com o maior esmero do mundo. E o sorriso que iluminou o rosto de Chloe quando ele elogiou a comida e repetiu o prato iria ficar guardado na sua
memória pelo resto de sua vida.
A vida às vezes era muito boa. Foi este agradecimento que ele fez a Deus quando foi dormir abraçado à sua mulher.
**
-Hoje é sua última oportunidade de ir até seu pai, Srta. Angel. Se não fizer, eu farei. - James disse, cruzando os braços sobre o peito.
-Certo, James, este assunto não está me deixando dormir, de qualquer maneira. - disse com um suspiro.
Angel saiu do estábulo e foi de encontro de Ian que estava vestindo as luvas de couro e preparava-se para sair.
-Papai, eu posso falar com o senhor? - Angel perguntou.
-Agora não, filha, eu estou de saída, quando eu voltar nós falaremos.
-É importante.
-Certo. O que é?
-O senhor tem ouro?
-O que? - perguntou espantado e com os olhos arregalados.
-O senhor possui ouro? Quer dizer, eu nunca o ouvi falar sobre isso, mas é importante.
-Por que está me fazendo uma pergunta destas, Angel?
Ela torceu as mãos nervosamente.
-Sinto muito que eu não tenha falado antes, mas estes dias que eu estive na cidade um homem me abordou. Ele estava me perguntando sobre isso e me ameaçou com uma
arma. Queria que eu descobrisse e dissesse a ele onde está seu ouro. Eu disse que não sabia de nada. Ele ameaçou o senhor, a mamãe e Josh. No início achei que era
uma ameaça absurda e fiquei com medo de contar porque ele disse que eu não podia, mas James me pressionou, ele está certo e fui medrosa por ter ficado calada por
estes dias.
-De que homem está falando? Eu o conheço? - falou bruscamente e ela se assustou, arregalou os olhos e deu um passo atrás.
-Eu... Eu não sei! Nunca o tinha visto, ele disse que trabalha no jornal. É só o que sei.
-Droga! Infernos!
-Desculpe...
-Tudo bem. Tudo bem. - ele esfregou os olhos e tentou se acalmar. -Fez mal, muito mal em não me contar isso antes, Angel. Vá para dentro e fique com sua mãe, não
quero que saia de casa.
Ele virou e subiu no cavalo.
-Aonde vai?
-Vou resolver isso. James!
Ele veio correndo.
-Sim, patrão?
-Estou de saída. Deixe todo mundo de prontidão na fazenda, arme-os até os dentes. Se vir alguém estranho, atire.
-Sim, senhor.
Angel foi para o quarto e sentou na cama. Espremia as mãos com força, estava apavorada.
-Oh meu Deus! Angel, sua estúpida, por que foi tão covarde e não contou antes? Que não aconteça nada ao meu pai. - ela disse a sim mesma.
Dali algum tempo ouviu um imenso tiroteio vindo de fora. Olhou pela janela e avistou um imenso bando no alto da fazenda adentrando em suas terras. Os homens de sua
fazenda carregaram-se com suas armas e revidavam. Jayne correu e pegou suas armas e uma espingarda. Angel assustada correu até a sala.
-Mãe, o que está havendo?
-Angel, eu quero que se esconda com Josh no seu quarto e fique lá.
-Eu quero atirar. - disse Josh.
-Meu bem, faça o que mamãe disse, vá com Angel, vá! Katie, vá com eles fique lá e não os deixe sair.
-Sim, senhora.
Jayne começou a atirar pela janela e se assustou quando viu tantos homens se aproximar da casa. Respirou com dificuldade e com os olhos arregalados.
-Ai meu Deus!
Os tiros começaram a estilhaçar as janelas e ela abaixou-se abaixo de uma delas. Angel voltou carregando uma arma e se abaixou ao lado dela.
-Angel, volte para o quarto.
-Não, mãe, eu vou ficar ao seu lado. Kate ficará com Josh. Foi para isso que me ensinou a atirar, não foi?
-Tudo bem, então fique abaixada e tome cuidado, tente mirar antes de atirar, não desperdice as balas.
Os momentos que seguiram foram de terror, uma chuva de balas cravejava impiedosamente a casa estilhaçando tudo dentro dela. Jayne ficou mais aterrorizada ainda quando
viu os estábulos em chamas.
-Mãe, os cavalos! - gritou Angel.
Um homem entrou na sala e apontou a arma para elas, Jayne lhe deu um tiro e ele caiu, outro entrou e atirou quase a acertando. Mas ela atirou nele. Jayne correu
e entrou no quarto de Josh que estava com Kate, ambos estavam apavorados e com os olhos arregalados.
-Venham. - Jayne pegou na mão de Josh o puxando e foram até seu quarto. -Ajudem aqui. Jayne tentou empurrar a cômoda, Kate e Josh ajudaram e com dificuldade a empurraram
do lugar.
-O que é isso? - Kate perguntou.
-Um alçapão. Entrem aí.
-Mas mãe...
-Entre Josh, e não saia daí até eu vir buscá-los!
-Está bem, mamãe.
-Kate, não saia daqui e não se afaste dele por nada deste mundo.
-Sim, senhora. - disse apavorada e Angel chegou ao quarto.
-Mãe, eles são muitos.
-Me ajude aqui, Angel, rápido empurre.
Angel a ajudou a empurrar a pesada cômoda para seu lugar escondendo a entrada do alçapão e voltaram para a sala. Jayne vendo o estábulo pegando fogo e ouvindo a
agitação dos cavalos que relinchavam em desespero não sabia o que fazer.
-Mãe, eles vão morrer se não soltá-los.
Angel saiu correndo pela porta dos fundos, sem que desse tempo de Jayne segurá-la.
-Angel, volte aqui... Droga!
Jayne saiu correndo atrás de Angel atirando para dar cobertura e a ajudou a abrir as porteiras soltando os cavalos gritando e os tocando para que eles saíssem dali
correndo, e quando tiraram todos, Jayne puxou Angel pelo braço para que saíssem dali para fugirem do fogo, ela sentiu um violento golpe no rosto e caiu desmaiada.
**
Quando Jayne com dificuldade tentou abrir os olhos, viu alguns vultos na sua frente que mal conseguiu identificar. Sentia uma dor violenta no seu rosto.
-Finalmente está em minhas mãos, sua estraga prazeres.
Ela reconheceu Megan na sua frente que estava com um sorriso malicioso nos lábios. Jayne estava com as mãos amarradas atrás do respaldo da cadeira. A corda estava
muito apertada e feria seus pulsos, ela deu um puxão, mas gemeu pela dor. Havia uma mordaça em sua boca. Olhou para o lado e viu Ian desacordado, amarrado em uma
cadeira, seu rosto e seu braço sangravam e um pouco mais distante estava Angel, também amarrada numa cadeira com uma mordaça na boca, estava com os olhos arregalados
e o rosto molhado nas lágrimas.
Ela falou entre a mordaça e somente saiu palavras desconexas, Megan foi até ela e tirou a mordaça da boca.
-Ian... Angel. - gritou ela. -O que quer sua louca?
-O que acha que quero? Meu marido de volta.
-Ian não é seu marido.
-Não é por sua causa que atrapalha minha vida, mas agora vou matar você e essa sua filha bastarda, então eu terei Jake somente para mim. O seu filho o tal Josh,
onde ele está?
-Sua miserável, não toque nos meus filhos. Vou matar você.
Megan bateu em seu rosto fortemente quase a fazendo cair da cadeira. Angel tentou gritar, mas seu grito foi abafado pelo pano em sua boca.
-Não adianta tentar fugir, de hoje vocês não me escapam.
**
Antes que o tiroteio em sua fazenda começasse Ian seguia para a fazenda de Willian, quando foi surpreendido com um tiro no braço que o fez cair violentamente do
seu cavalo. O cavalo assustou-se e saiu correndo e Ian gemeu tentando virar-se no chão, o sol estava brilhante no céu e ele tentou olhar contra ele para ver a imagem
de um homem que parou na sua frente, mas a luz do sol o impedia.
-Olá Ian Buller, vamos acertar nossas contas.
-Quem... Quem é você? - disse ele completamente tonto e gemendo pela dor.
-Vai saber.
O homem o puxou pela camisa e lhe afligiu o rosto fortemente com um soco fazendo Ian desmaiar. Então alguns homens o colocaram deitado de bruços encima de um cavalo
e ele foi levado até a sua fazenda.
**
Um homem jogou água no rosto de Ian fazendo-o despertar, ele piscou-se diversas vezes tentando ver onde estava, ficou horrorizado quando viu Jayne e Angel amarradas
daquela maneira e Megan com tantos homens dento de sua casa.
-Megan, sua maldita. O que você está fazendo? - gritou Ian quando a viu. Tentando se desvencilhar das cordas. Gemeu fortemente com a dor em seu braço onde havia
sido atingido pela bala.
-Jake, eu somente quero você de volta.
-Ian não vai amar você desse jeito Megan, não vê isso?
Ela deu outro soco no rosto de Jayne, fazendo seu nariz sangrar.
-Megan, por favor, pare com isso. - gritou Ian. -Deixe-a ir, o que quer?
-Ela tirou você de mim, merece morrer.
-Deixe-a em paz. Não vê que ela está grávida, como pode fazer isso?
-Você a ama, Jake?
-Ela é minha mulher, e vou matar você.
-Vai mesmo? Não me ama, não vai voltar para mim?
-Isso nunca! Eu vou arrancar suas tripas pela boca, Megan.
-Como você é teimoso. Podia evitar isso tudo, mas não, fica aí dizendo que esta insossa é sua mulher, que a ama e blá blá blá. Então, vai vê-la sofrer... - disse
furiosa.
-O que vai fazer? - disse arregalando os olhos.
-Diga-me Jayne... - disse Megan virando-se para encará-la. -Você ama seu Ian?
Ela somente gemeu, estava com o rosto muito ferido e doía muito.
Ian sentiu seu coração arrebentar, tinha que tirá-la dali, mas não conseguia se soltar das cordas, que tentava arrancar de seus pulsos.
-Já que o ama, já que você é propriedade dele, vou dar-lhe um presente.
Megan foi até à lareira com brasas acesas dentro e tirou um ferro de marcar gado que cintilava vermelhamente pelo fogo. Jayne e Ian arregalaram os olhos vendo aquilo.
-Não... O que vai fazer sua louca? - gritou Jayne.
-Megan, não faça isso, pare com isso! - gritou Ian.
-Já que você é propriedade dele, eu vou marcar sua pele de pêssego com este B, igual vocês marcam gado e seus cavalinhos. Ficará tão linda. - disse ela ironicamente
com um sorriso nos lábios.
-Não. Por favor, não faça isso... - Jayne gritou e começou a chorar.
Ian sentiu o terror inflar dentro de si. Megan foi até ela e rasgou sua blusa. Jayne olhou para Ian com o pânico estampado em seus olhos que deixavam lágrimas rolarem
impiedosamente. Ian a via ali na sua frente e não podia fazer nada, debatia-se na cadeira tentando soltar-se e gritava.
-Acho que isso vai doer, Jayne. - Megan disse.
-Megan, eu me caso com você! - Ian gritou enlouquecido na cadeira tentando se soltar.
Ela parou já quando o ferro estava bem próximo do peito de Jayne.
-Casa?
-Caso, eu vou embora com você, iremos agora mesmo, somente eu e você, mas deixe Jayne em paz.
-Não sei se posso fazer isso, Jake, ela vai voltar e atrapalhar nossa vida como fez da outra vez que tirou você de mim.
-Não, ela não vai fazer isso. Da outra vez foi minha culpa, agora ela não vai nos atrapalhar, mas você tem que me prometer soltá-la e a minha filha.
Angel com os olhos arregalados tentava soltar suas mãos amarradas por trás da cadeira.
-Você me ama, Jake?
-Amo, Megan, amo e eu quero ficar com você. Olhe para mim, sou eu... Jake, o seu Jake. Eu vou para casa com você, em Portland e ninguém mais vai nos atrapalhar.
-Diga que não a ama.
-Eu não a amo, quero ficar com você, Megan, somente você, mas não a machuque. Ela está grávida e seria um pecado muito grande machucar uma mãe grávida, não é?
-Seria, mas não me importo, se jurar ir embora comigo, a deixo em paz.
Ian olhou para Jayne que chorava e o olhava com os olhos arregalados. E depois olhou para Megan.
-Eu juro que vou com você. Agora me solte, vamos embora, vamos voltar para Portland, juntos, só eu e você. Deixe-as aqui, elas não significam nada. Eu gosto de mulheres
fortes, como você.
-E seus filhos?
-Não ligo para eles, são uns filhos ingratos, pirracentos, e eu não quero este filho que ela espera, somente quero ir embora com você.
-Então por que não quer que eu os mate?
-Deixe-os viver, na vergonha de eu abandoná-los. Ela liga muito para o que o povo fala, depois que todo mundo souber que os abandonei por outra mulher, saberão que
não valem nada. Isso será pior que a morte.
-Hum... Acho que vou fazer o que me pede. - disse pensativa. -Mas e a fazenda e o ouro, vai deixar tudo para ela? Eu quero dinheiro, não tolerarei mais viver contando
moedas enquanto ela fica se divertindo.
-Ian a olhou espantado, quase sem entender o que ela dizia.
-Que ouro? Do que está falando?
-Do ouro da mina, eu sei que existe, John me disse.
-John? De que John está falando? Não existe ouro, isso é uma lenda.
-Mas ele me disse. Ele estava mentindo?
-Isso, solte este ferro e me desamarre, para que possamos ir e mande todos estes homens embora. Deixe-a com a fazenda, não quero mais nada disso aqui. Só quero você.
Eu tenho bastante dinheiro e eu posso comprar uma fazenda para nós, melhor que essa. Eu lhe comprarei jóias, lindos vestidos, eu a levarei conhecer o mundo, mas
tire todos daqui e vamos.
-Ainda não, Ian Buller. - disse John entrando com um sorriso.
Ian o olhou e lembrou-se de seu rosto quando foi atingido na estrada, mas não sabia quem era aquele homem.
-Quem é você?
-Sou John Mess.
-O que quer?
-Onde está o ouro da mina?
Ian ficou atordoado com aquela pergunta inesperada e tão distante de seu mundo naquele momento.
-Não existe nenhum ouro.
-Ian, não me enrole. Sou neto de Eliot Mess, que trabalhava na mina com seu pai. Quero saber onde está o ouro que foi retirado de lá.
-Não existe ouro nenhum, não seja louco e isso faz muitos anos.
-De onde você tirou dinheiro para construir esta fazenda belíssima? Está usando o ouro, duvido que seus cavalos dêem tanto lucro.
-Dá para ver que não entende nada de cavalos. Meus cavalos são puros sangues, seu imbecil. Tem sequer idéia de quanto vale pelo menos um deles?
-Não acredito! Sei que existe um ouro e eu o quero, senão vou matar sua família, começando por esta belezinha aqui.
Ele puxou Angel da cadeira e colocou uma faca na sua garganta.
-Não! Deixe minha filha em paz.
-Vou perguntar mais uma vez e quero uma resposta rápida, pois senão cortarei a garganta dela como meu pai cortou a de sua mãe. - Ian arregalou os olhos, sentiu que
seu coração estrangulou no peito e não conseguiu pronunciar as palavras. -Sim Ian, foi meu pai que matou sua mãe, ela não quis revelar onde o ouro estava e isso
o deixou um pouco furioso, então eu vou tentar novamente, quem sabe agora você me revela onde está. Prometo ser mais persuasivo do que ele foi.
-Por favor, ela é só uma menina! Deixe-a ir! - Jayne gritou assustada.
-Seu miserável, eu vou matá-lo por isso! - disse rangendo os dentes de raiva. -Deixe minha família em paz.
-Jake, você prometeu que abriria mão delas por mim, acho melhor não voltar atrás. Portanto elas não são mais sua família.
-Jurei não voltar, então as deixe ir.
-Sou um homem de negócios. Ian Buller, Megan quer você e eu quero o ouro, então vamos acabar logo com isso. Onde está o ouro? Eu juro que corto a garganta dela e
mato sua mulher bem lentamente se não me disser.
Ele com um sorriso malvado, segurou o queixo de Angel e colocou a ponta da faca sobre sua têmpora.
-Pare. Eu digo onde está. Eu lhe dou tudo o que tenho. Todo o ouro, todos meus cavalos, tudo. Agora solte minha filha.
-Onde está?
-Escondido, no porão. Solte-a!
O homem riu e lentamente fez um corte da têmpora até o meio da bochecha. Angel gritou pela dor, assim como Ian e Jayne pelo horror.
-Seu bastardo. Eu disse onde está o ouro. Juro que vou matá-lo!
O homem abaixou a faca e riu.
-Tente, imbecil.
-Angel! Angel olhe para a mamãe, seja forte, vamos sair daqui. - Jayne disse aos soluços e tentando puxar os pulsos para que se soltassem das cordas. Angel gemeu
e soluçou contra o agarre do homem. -Maldito bastardo! Ela é só uma criança.
O homem riu.
-E o que me importa? Um pirralho tentou vender a um conhecido algumas pepitas. Não foi difícil descobrir de onde ele era e de onde tinha tirado as pepitas. É obvio
que eu vim para a cidade para estudá-lo, Ian Buller. E o que descobri é que é um homem muito rico e com certeza você esconde muitas barras de ouro em algum lugar
e você vai me dizer.
-Que pirralho?
-Isso não importa. Fale agora ou retalharei o resto de seu rosto. - disse e colocou a faca novamente sobre sua bochecha.
-Me desamarre, vou levá-lo até o ouro.
John tirou a faca de perto de Angel e quando Megan chegou perto de Ian, para desamarrá-lo da cadeira ele ergueu os dois pés e a atingiu com toda força e raiva nas
suas coxas a derrubando, ela caiu de costas soltando o ferro de marcar gado que segurava na mão e bateu com a cabeça no chão ficando meio desacordada.
Angel aproveitou que John distraiu-se, pisou forte com o salto de sua bota sobre seu pé e lhe deu uma cotovelada em suas costelas, soltando-se dele. Ian levantou
com a cadeira na qual estava amarrado e jogou-se contra a barriga de John. Ele deixou a faca cair de sua mão, os dois trombaram contra o chão. A cadeira estilhaçou-se
e os dois travaram uma luta.
Ian mesmo com as mãos amarradas jogava-se contra ele com toda fúria e foi golpeado ferozmente no rosto por John. Jayne ainda amarrada olhava tudo sem poder fazer
nada, puxando-se violentamente para se soltar. John pegou a arma e apontou para Ian que estava caído no chão e quando ia puxar o gatilho, foi atingido diversas vezes
no peito e caiu. Ian virou-se e avistou Angel com os olhos arregalados empunhando a arma. Estava em pânico, e seu lado esquerdo estava todo ensanguentado.
-Corte minha corda, Angel, rápido. - Ian gritou.
Ela piscou algumas vezes, como se tentasse sair de seu transe, soltou a arma e com as mãos trêmulas pegou a faca que estava no chão e cortou as cordas dos punhos
de seu pai. Ele rapidamente a pegou e cortou as cordas de Jayne e os três se abraçaram fortemente assustados.
-Você está bem, Jayne?
-Sim, estou bem. Está ferido!
-Estou bem.
Jayne pegou um lenço e colocou sobre o rosto de Angel.
-Não se preocupe meu amor, ficará tudo bem, foi só um arranhão.
Um bandido entrou na sala e apontou uma espingarda, Ian se jogou no chão, pegou a arma que Angel havia soltado e atirou entre seus olhos.
Lá fora o tiroteio recomeçou, os assustando. Mitchel, Willian e David e mais alguns homens adentraram na fazenda atirando e abatendo os bandidos que estavam do lado
de fora.
Eles se abaixaram pelas balas que saltaram pelas vidraças. Ian pegou a arma do homem e a espingarda e jogou para Jayne.
Alguns homens adentraram dentro da casa e além dos tiros e abates, uma briga corporal começou. Jayne puxou Angel para trás de si, pegou uma arma e atirou em alguns.
Os homens saiam por todos os lados e eles tentavam defender-se como podiam.
Megan acordou e vendo aquilo, devagar pegou a barra de ferro, levantou, gritou quando chegou perto de Jayne para acertá-la pelas costas. Ian virou-se e se pôs na
frente de Jayne e defendeu-se com o braço, a batida com o ferro foi forte e ele gritou de dor e quase caiu.
-Você estava mentindo, Jake? Está defendendo esta vadia! - gritou.
Megan veio com tudo para cima dele o golpeando diversas vezes, ele gritava e tentava se desvencilhar e de repente agarrou a barra arrancando de sua mão, pôs-se de
pé e deu um soco nela, que caiu. Ela tentou se arrastar com o nariz sangrando, ele a pegou pelos cabelos e a ergueu, estava enlouquecido de fúria e Megan tentava
se desvencilhar e gritava, ele bateu nela novamente, fazendo-a cair no chão.
-Sua cadela. - gritou Megan, olhando para Jayne.
Megan agarrou a faca que estava no chão e correu para cima de Jayne gritando. Quando ela se aproximou, foi atingida na barriga por Jayne que empunhava a barra de
ferro. Jayne deu alguns passos para trás com os olhos arregalados. Megan assustada olhou para sua barriga e para Ian.
-Jake, você disse que ia se casar comigo. - disse com dificuldade.
-Prefiro morrer.
Ela cambaleando tentou chegar até Ian, mas ele com a pistola, mirou e atirou no meio da testa e Megan caiu morta. Jayne e Angel correram e abraçaram Ian fortemente.
Outros homens entraram na casa e Willian entrou atrás atirando. Outra briga foi travada entre os homens, e esbarraram em um dos longos troncos que haviam colocado
queimar na lareira, ele rolou e chocou contra uma cortina e ela começou a pegar fogo. Jayne foi para cima de um dos homens que havia agarrado Angel e ela tentava
se desvencilhar dele.
Jayne estava sem balas e para livrar-se dele pegou um vaso e chocou com toda força sobre sua cabeça. Correu até o escritório puxando Angel pela mão, abriu a caixa
com as duas pistolas que ela havia dado a Ian, que estava encima da mesa. No que as engatilhou um homem atirou quase a acertando e uma estátua estilhaçou-se ao seu
lado, ela virou-se rapidamente empunhando uma pistola e atirou no homem.
Angel trambalhou se escorando na mesa, estava tonta. Jayne deu a arma para Angel e pegou uma espingarda que estava presa na parede, engatilhou-a rapidamente. O fogo
estava se espalhando pela casa com uma rapidez impressionante.
Mitchel entrou na casa atirando, empunhava uma arma em cada mão disparando, um tiro atrás do outro, atingindo todos os bandidos que estavam na sua frente. James
estava ferido e cambaleando atirou num dos homens que mirava para atingir Ian pelas costas, logo caiu desacordado.
Um dos homens entrou e mirou em Angel, ela virou-se e tentou mirar para defendem-se, mas ouviu-se um zumbido, como se algo tivesse cortado o vento, o homem arregalou
os olhos e derrubou a arma e logo caiu. Todos olharam para Richard que segurava uma longa espada e havia atingido o homem para defender Angel.
-Richard!
-Devemos sair, o fogo está se alastrando. Vamos Angel. - Richard gritou puxando Angel pela mão.
Um bandido entrou na sala, Jayne atirou em um e Richard com movimentos muito rápidos decapitou o outro que veio por suas costas.
Já havia muita fumaça e o fogo estava incontrolável. Jayne começou a passar mal, Ian e David tentaram tirá-la da casa com Angel.
-Temos que pegar Josh. - gritou Jayne.
-Onde ele está?
-No porão em nosso quarto, o alçapão fica embaixo da cômoda.
-Saiam daqui.
-Não, eu quero meu filho.
Uma viga caiu quase os atingindo.
-Vá para fora, eu vou pegar Josh. Venha comigo Will. - Ian gritou.
David amparou Jayne e a levou para fora, Richard levou Angel que mal sustentava suas pernas.
Willian e Ian tentaram passar em direção ao quarto, mas o fogo estava alto. Enquanto isso Mitchel puxava James que estava desacordado.
Ficaram em frente à casa, e Jayne vendo as enormes chamas e partes dela desmoronar, queria voltar atrás de Ian e Josh, mas David a segurou. Angel começou a chorar
vendo a casa ser queimada.
Ian entrou no buraco onde ficava o porão do ouro que já estava desmoronando, gritou nervosamente por Josh, mas não ouviu nenhuma resposta. Algumas vigas estavam
caídas e a fumaça enchia o buraco. Ian tossia e cobriu a boca com um lenço, tentou empurrar algumas madeiras que estavam queimando para poder passar, gritou sentindo
suas mãos queimarem. Avistou Kate embaixo de uma viga, estava desacordada.
-Willian me ajude aqui. - gritou ele.
Eles tentaram retirar a viga, mas era pesada demais e para conseguir tiveram que fazer esforço dobrado. Willian a pegou no colo para tirá-la dali, enquanto Ian continuou
gritando por Josh e vasculhando pelo escuro e fumegante espaço até que o encontrou atrás de uma pilha de barras de ouro. Desesperadamente ele se jogou no chão e
ouviu seu coração encostando o ouvido em seu peito.
-Josh! Está vivo, meu Deus!
Ian o pegou no colo e subiram as escadas o mais rápido que puderam, a fumaça já os estava sufocando, logo que eles saíram dali as escadas com o resto do chão do
quarto desmoronou. Tentaram sair da casa com dificuldade, fugindo das chamas. Jayne gritava aos prantos por Ian e Josh, pensando que não voltariam mais. Ian e Willian
saíram da casa e logo que saíram correram jogando-se no chão, exaustos e sem ar puro nos pulmões. Jayne correu os abraçando. Ian tentou fazer Josh respirar assoprando
ar pela sua boca e ele começou a tossir voltando a si.
-Papai, mamãe. - disse resmungando muito tonto e tossiu muitas vezes.
-Calma filho, vai ficar tudo bem.
Tristemente todos com o rosto e roupas sujas de fuligem ficaram ali olhando a casa desmoronar e ser consumida pelas chamas. Estavam com uma imensa dor em seus corações.
-Nossa casa, Ian. - disse Jayne chorando.
-Calma, meu bem, o importante que estamos bem.
-Tudo acabou, está tudo destruído.
-Foi minha culpa...
Todos viraram e olharam para Angel, que olhava para a casa com os olhos arregalados e com lágrimas escorrendo pelo rosto, misturando-se com o sangue de seu corte.
-Angel, não foi sua culpa. - Richard disse a abraçando.
-Me perdoe papai, me perdoe. - e ela soluçou nos braços dele.
Richard retirou um lenço do bolso e colocou sobre o rosto dela.
-Calma, amor, vai ficar tudo bem.
Angel amoleceu em seus braços.
-Angel!
Jayne virou-se e vomitou e Ian a amparou.
-Jayne! Meu Deus, o bebê. Você está bem?
-Bem, sim... Não.
-Alguém pegue a carroça, vamos para a casa dos pais dela, sua mãe vai nos ajudar.
Pegaram a carroça que estava distante e não havia sofrido danos e colocaram Jayne, Angel e Kate dentro. David pegou Josh que estava meio desfalecido e o colocou
na carroça. Richard e os rapazes seguiram atrás a cavalo, deixando para trás um bloco de chamas e corpos espalhados por todos os lados.
Ian tentou dirigir a carroça rapidamente e foi para a casa dos sogros que os receberam apavorados com todo aquele alvoroço. Sra. Cullen tomou todas as providências
para ajudar todos que estavam feridos.
A Sra. Cullen pegou o vidro de álcool e colocou sob o nariz de Jayne e ela tossiu e voltou a si um pouco desorientada.
-Meu bem, se acalme. Eu mandei chamar o médico. Você vai ficar bem. Você não vai ter o bebê, não está na hora. Foi somente um mal súbito.
-Como estão meus filhos... - disse tentando levantar-se da cama.
-Jayne, respire e tente se acalmar. Está muito nervosa, assim vai piorar as coisas, querida. Pense no seu bebê. Ian vá ficar com as crianças, eu cuido dela. - disse
Sra. Cullen.
-Meus filhos, como estão?
-Estão bem, Jayne, fique calma, eu tomo conta deles. - Ian disse.
Ele beijou sua testa e acariciou seu cabelo.
-Quero vê-los.
-Eles estão bem, mas eu vou vê-los para ver se estão descansando. Assim que o médico atendê-los eu volto aqui para você, está bem? Promete ficar aqui?
-Angel... Seu rosto.
-Foi só um arranhão, como você mesmo disse. Eu cuido disso.
Ela assentiu.
Ian saiu nervoso e foi para sala, estava imundo e com as mãos queimadas que lhe doíam fortemente. Sr. Cullen serviu uma bebida a ele que tomou o copo todo de uma
vez.
-Acalme-se, homem. Logo o médico chegará para ver Josh e ajudar Jayne e Angel. Há tantos feridos que precisaríamos de mais meia dúzia de médicos, incluindo você
que está um caos. Mas você precisa ficar calmo, vai dar tudo certo.
-Meu Deus, que pesadelo.
-Ian. Se acalme, senão vai ter um troço! Tome... Beba mais um gole, quem sabe assim você se acalma. Precisa lavar-se.
Ele bebeu mais um copo cheio de uísque em um gole só.
-Vou ver Josh e Angel. Onde estão?
-Josh no antigo quarto de Jayne e Angel no de Julia.
Depois de um longo tempo o médico chegou e foi cuidar de Josh que precisava de oxigênio, já sabendo do que havia acontecido pelas informações de Mitchel que o fora
buscar, eles já trouxeram dois cilindros de oxigênio e rapidamente o colocaram na cama com um balão para inflar e jogar ar para dentro de seus pulmões. Uma das criadas
ficou fazendo a contração no balão para ajudá-lo. Depois o médico foi atender Angel e só então entrou no quarto para ver Jayne.
-Ele está bem? - ela perguntou.
-Sim, parece que está bem, seus batimentos cardíacos estão normais. Apenas ficou agitado demais, mas agora está bem.
-Ele nunca foi quietinho, chuta como um potrinho.
O médico riu.
-É um menino ou menina muito forte, vai dar-lhe trabalho depois de nascer. Mas agora precisa descansar e ficar tranquila até a hora do seu bebê nascer, descanse
muito e não faça esforço, carregar peso, andar a cavalo, nada. Será mais seguro para ambos.
-Está bem, eu ficarei em repouso completo.
-Seu rosto deve levar compressas frias várias vezes por dia para que desinche. O corte no supercílio sangra muito, mas foi bem pequeno, nem precisa de pontos. Vai
ficar roxa por alguns dias.
-E como está Josh e Angel? Ian precisa de cuidados, pois estava com o rosto muito machucado e suas mãos também.
-Estão bem. Estou cuidando deles.
-Fale logo, em detalhes, todos os seus ferimentos ou o senhor me verá levantar desta cama e correr esta mansão em um minuto!
-Que mulher teimosa. Pode deixar que eu tomo conta deles. Josh está recebendo um balão de oxigênio no outro quarto. Ele está bem, vai se recuperar logo, só ficou
um pouco intoxicado com a fumaça, sem nenhum outro ferimento. Katie só teve alguns arranhões e está tomando oxigênio e sua filha, Angel, precisou levar pontos no
rosto, mas ficará bem. Deve ter os cuidados para não infeccionar o corte. Estava muito assustada e em choque, então lhe dei uma dose de láudano e agora ela está
dormindo, creio que somente acordará amanhã.
-Este corte no rosto, foi muito fundo? Deixará uma cicatriz?
Ele suspirou.
-Sim, ficará uma cicatriz, infelizmente.
-Oh Angel... - disse cobrindo o rosto com as mãos. -E Ian?
-Ian está um pouco ferido sim, mas agora vou atendê-lo, mas não são ferimentos graves, algumas queimaduras nas mãos e pequenos cortes e hematomas no rosto. O...
Bem, o ferimento de bala no seu braço é o mais grave, mas nada que não possamos contornar, ele precisa ficar sem febre e logo estará inteiro.
-Oh Deus... Com tudo isso o senhor quer me deixar aqui nesta cama? Eles precisam de mim!
Jayne foi levantar, mas a Sra. Cullen a segurou pelos ombros.
-Pare Jayne.
-Mãe...
-Eu disse que pare! - ela suspirou. -Minha filha, não se preocupe com eles, eu vou cuidar deles. Pense em você e no seu bebê agora, você precisa se acalmar para
que não tenha outra crise. Acredite na sua mãe, eu cuidarei deles, como se fossem meus filhos. Por favor, quer correr o risco de ter um troço e perder este bebê?
- disse a Sra. Cullen.
-Não, claro que não. É que... Está bem, eu farei tudo o que disser.
-Durma, vou cuidar dos ferimentos do seu marido agora. Lembre-se, Sra. Buller, repouso absoluto. - disse o médico.
-Está bem.
Ele se afastou dela e foi até a porta.
-Sra. Cullen fique de olho nela e qualquer coisa me chame o mais rápido possível.
-Pode deixar doutor, vou cuidar dela.
O médico saiu do quarto e foi até a sala, Ian estava sentado em uma cadeira e uma criada estava lavando suas mãos com uma toalha de linho branco e água fria dentro
de uma bacia.
-Obrigada, moça, deixe que me encarregue disso agora.
Ela assentiu e deixou a sala. O médico sentou na sua frente e olhou para suas mãos.
-Não é tão mal como pensei agora que tirou a fuligem.
-Então, como está Jayne?
-Ela está bem e vai dormir agora, Sr. Buller, foi somente um susto. Ela não teve sangramento e pelo que ouvi, os batimentos do bebê são ferozes. Posso até apostar
que é um grande e forte menino.
Ian riu pelo nervoso que sentia.
-Angel vai ficar com uma cicatriz muito feia no rosto?
O médico o olhou e suspirou.
-Vai ficar com uma bela cicatriz, Sr. Buller.
-Infernos!
-Façam de conta que não se importam com isso, assim ela superará mais rápido.
-Fazer de conta que não me importo? Acha que eu a humilharia com algo assim? Que não gostaria mais dela por isso? - perguntou incrédulo.
-Não foi isso que disse, só torne as coisas mais fáceis para ela. É jovem e deve se importar por sua beleza. Agora se cale e deixe-me cuidar deste seu ferimento
à bala, depois lhe passarei um unguento nas queimaduras, e este supercílio aí, vai levar alguns pontos também.
-Vai me passar um unguento? Tipo estes de ervas?
-Sim, é bom para queimaduras.
-O senhor nunca gostou de unguentos.
-Bem, sempre se pode começar e não tenho nenhum outro remédio para queimaduras, portanto, silêncio, vai ficar bem.
Ele tirou o pano ensanguentado que estava amarrado ao redor de seu braço e com uma tesoura cortou a manga da camisa. Olhou de um lado a outro.
-A bala atravessou, parece que não está tão mau. Mas já perdeu muito sangue, Ian, vou limpar isso e costurar.
-Sim, estou bem, o que me preocupa é...
Ian olhou para o médico e viu suas vistas escurecerem e caiu no chão.
-Oh céus. - disse o médico o amparando.
Logo ele e o Sr. Cullen o colocaram deitado no sofá. O médico gritou pedindo à criada que trouxesse água quente e panos limpos. Fez todo o procedimento que precisava
para cuidar dele.
-Sr. Cullen, eu gostaria que quando me chamassem fosse para cuidar de um e não de três ou quatro de uma vez como fazem.
-Doutor, como eu gostaria de nunca chamá-lo.
-Estes rapazes têm muita sorte, mas deveriam ficar fora de confusão.
-A confusão é que nos persegue, não é nossa culpa, apenas rebatemos. Alguém deveria avisar estes bandidos para nos deixarem em paz. -Mitchel disse, encostado no
batente da porta e com os braços cruzados no peito.
-Isso é verdade. Devo reconhecer.
-Como ele está?
-Bem, Ian vai dormir algumas horas. É preciso limpar bem o ferimento e trocar os curativos regularmente para não infeccionar. Ele não pode ter febre. Vocês devem
colocar panos de água fria na sua cabeça todo o tempo. E bem, têm que limpar também a costura do rosto, o supercílio está cortado, uma cicatriz encima da outra.
Ele já tinha uma marca bem aí.
-Cicatrizes é o que não nos falta. Ele vai ficar bem?
-Vai. Vou dar mais uma olhada em todos os feridos e depois irei, mas amanhã eu volto para vê-los novamente. Todo o cuidado possível com o ferimento da Srta. Angel.
O médico seguiu ao quarto para ver Jayne e Mitchel chegou próximo a Ian que dormia no sofá.
-Seria bom levá-lo para uma cama. - disse Sra. Cullen.
-É melhor não mexermos nele, deixe-o aí, somente vou arrumar estas almofadas aqui... Ele ficará mais ajeitado.
Mitchel o fez e olhou para Ian por alguns minutos.
-Você vai sair dessa, meu garoto. Agora é a vez de nós reconstruirmos sua casa... De novo. - disse baixinho.
-Casa? - perguntou Sra. Cullen sem saber o total do acontecido.
-Eles queimaram a casa deles, Sra. Cullen. Não sobrou nada em pé.
-Meu Deus, mas que desgraça! - ela soluçou. -Eles tiveram sorte de todos sobreviverem. Coitadinha da minha filha.
-Realmente... Eles tiveram muita sorte.
**
Algumas horas depois Ian acordou, ainda estava meio zonzo, levantou do sofá gemendo por causa de seu braço e sua cabeça doía imensamente. Já era noite e a sala estava
vazia e só estava iluminada por algumas velas. Tomou um pouco de água de uma jarra que havia sobre uma das mesinhas e seguiu para o corredor onde ficavam os quartos
para ver seus filhos. Josh dormia e parecia tranquilo. Ian acariciou seus cabelos e beijou sua testa. Logo foi ao outro quarto e Angel também dormia. Richard estava
sentado em uma poltrona, estava sério e com os olhos fixos nela. Ian respirou fundo e entrou. Logo Richard endireitou-se na poltrona.
-Desculpe ainda estar aqui, Sr. Buller. Sei que não é adequado estar no seu quarto, mas não queria deixá-la sozinha, estava muito atordoada.
-Vou desculpar desta vez.
-Obrigado.
-Como ela está? - Ian perguntou baixinho.
-Dorme há horas, ela estava cansada. Parece tranquila agora depois de tanto nervosismo e choro inconsolável.
-Foi um dia difícil para todos, mas ela foi incrível, muito valente.
-Sim, ela é uma pessoa muito especial.
Ian o observou por um minuto.
-E você gosta muito dela, não?
-Mais do que o senhor imagina.
-Obrigado por ter vindo ajudar, Richard.
-Sinto muito que eu não tenha chegado antes, Sr. Buller. Foi uma coincidência eu estar indo à sua casa e ter podido ajudar.
-Você se arriscou para nos ajudar. Sempre serei grato por isso.
-O senhor deveria estar descansando, está ferido.
-Sei.
Ian se aproximou da cama e acariciou os cabelos de Angel. Olhou consternado para o comprido curativo sobre sua bochecha.
-Sinto muito, filha. - ele sussurrou.
-Ela está se sentindo culpada pelo que houve. Não sei ao certo como, pois suas frases estavam desconexas. Ela só repetia uma e outra vez. Foi minha culpa... Foi
minha culpa.
Ian suspirou cansadamente.
-Ela apenas demorou em dar um alerta, mas não foi culpa dela o que houve, ia acontecer do mesmo jeito.
-Espero que a convença disso.
Ian assentiu e consternado beijou sua testa.
-Deveria ir para casa e dormir.
-Não quero deixá-la, gostaria de estar aqui quando ela acordasse, se o senhor me permitir.
-Certo. Qualquer problema ou se aparecer febre nos chame.
-Sim senhor.
Ian saiu do quarto e foi até o quarto onde Jayne repousava e sentou na beirada da cama.
Ele a olhou preocupado. O rosto dela estava todo roxo pelas pancadas que recebera de Megan. Ele deitou ao seu lado e acariciou sua barriga. Jayne acordou e quando
viu que era Ian, deitou sobre seu peito e ele a abraçou forte.
-Foi um pesadelo? - ela sussurrou.
-Não, meu amor, não foi.
-E como estão Josh e Angel? Eu preciso vê-los.
-Eles estão bem, querida. Acabei de vê-los e você não vai levantar-se. Amanhã você pode estar com eles. Só espero que a cicatriz no rosto de Angel não a deixe triste.
-Foi muito feio?
-Não foi pouca coisa, mas precisamos esperar para ver amanhã quando trocar o curativo.
-Suas mãos e seu braço...
-Não é nada, somente estão um pouco queimadas, e meu braço ficará bom logo.
-Ian, um tiro não é nada. Precisa se cuidar, por favor.
-Eu vou, prometo. E você como se sente?
-Meu rosto dói, mas estou bem. O que vamos fazer? Nós perdemos tudo. Nossa casa, nossos cavalos.
As lágrimas rolaram dos olhos deles, aquilo era uma imensa perda, a fazenda significava muito para os dois.
-Eu sei meu bem, mas daremos um jeito. O que importa é que estamos bem. Não pense nisso agora.
-Eu sei.
-Agora durma um pouquinho, descanse. Tudo vai ficar bem.
-Eu amo você.
-E eu amo você.
Ian beijou seus lábios lentamente e a abraçou e assim os dois dormiram.
Quando amanheceu Ian acordou, gemeu pela dor que sentiu ao mexer o braço, e sua cabeça latejava. Ele olhou para o lado e Jayne dormia. Ele levantou e segurou a cabeça
entre as mãos. Levantou meio cambaleante e saiu do quarto. A casa parecia deserta e silenciosa. Espiou no quarto de Angel e a Sra. Cullen estava sentada na cama
com um pano na sua testa. Richard estava sentado na poltrona e dormia. Havia um cobertor o cobrindo, que pareceu que alguém o colocou.
Ian gemeu quando se aproximou da cama e viu o corte com os pontos.
-Parece pior do que imaginei. - ele sussurrou. -Como ela está?
-Está sem febre, graças a Deus. Eu limpei o ferimento e espero que continue assim. Deus, Ian! Você está horrível, volte para a cama agora mesmo.
-Estou bem.
-Não, não está. Volte para a cama, ainda é muito cedo. Se não se cuidar terá febre. É isso que quer?
-Tudo bem, eu voltarei.
-Certo, logo levarei algo para amenizar suas dores, sinto que poderia gritar. Deixarei um chá preparado para Jayne caso acorde com dores novamente. Quanto a você
creio que precisará algo bem forte.
-Obrigado, Sra. Buller e desculpe tanto transtorno.
-Ora, vocês são meus filhos, o que acha que faria? Deixá-los a esmo? Vamos filho vá, vá.
-Se precisar de mim, por favor, me chame.
-Pode deixar.
Ian voltou a deitar-se, gemeu alto quando deitou, precisava algo para amortecer suas dores logo, ou enlouqueceria. Sra. Buller foi generosa lhe dando uma dose de
morfina que o deixou fora do ar por quase todo o dia, o que foi uma benção.
**
Quando acordou e sentiu-se mais recuperado e se alimentou, foi até a varanda, escorou-se na cerca com os cotovelos, olhou suas duas mãos enfaixadas e ele chorou
aos soluços, seus nervos estavam em frangalhos e precisava colocar aquilo tudo para fora.
Ian não soube quanto tempo ficou ali, mas foi bastante. Mal notou a chegada dos rapazes a cavalo.
-Como está, Ian? - Mitchel perguntou se aproximando com os rapazes.
-Estou bem, somente estou esgotado. Meu Deus! Perdi tudo que levei tanto tempo para construir!
-O que importa é que Jayne e seus filhos estão bem.
-Eu sei. Tudo parece um pesadelo. Aquele maldito, eu gostaria de ressuscitá-lo e matá-lo novamente pelo que fez a Angel. Ficará marcada. É só uma menina.
-Ela vai ficar bem, Ian. É só uma marca, ela vai superar.
-Ela está com febre.
-Oh Deus! - David suspirou e esfregou os olhos. -Tudo bem, fique calmo, vai passar e ela vai se recuperar. Ela é jovem e forte.
-Assim espero. Meu Deus, onde vamos morar? Eu não tenho dinheiro para construir outra casa, perdi até meus cavalos. Eu fiquei sem nada.
-Ian! Vejo que está atordoado e não consegue ver as coisas claramente. Eu entendo. Mas você tem mais dinheiro que todos nós juntos. Ele está lá debaixo daqueles
escombros, portanto use-o. - Mitchel disse.
-Não! - Ian negou.
-Rapaz, deixe este trauma de lado e de ser tão teimoso. Acha que seus pais estariam felizes com isso? Eles deixaram aquele ouro para você porque era fruto do trabalho
deles. Você já havia afrouxado com essa sua birra, por favor, não volte à estaca zero. Você tem uma família maravilhosa, pare de pensar somente em você e seus fantasmas.
-Mitchel disse.
-Por causa dele perdi meus pais e agora quase perdi Jayne e meus filhos e perdi tudo que construí minha vida toda.
-Não foi por causa dele, Ian! Foi por causa da ganância das pessoas. Eu sempre o apoiei em esconder aquela fortuna, mas agora, vou dizer uma coisa. Que se dane!
- gritou. -Aquele ouro é seu, então, não precisa esconder de ninguém. O que quer? Construir um barraco de madeiras podres e levar Jayne e seus filhos morar lá? Pelo
amor de Deus, chega disso tudo! Você é Ian Buller, e quer queira ou não é o homem mais rico de todo o Texas, então aja como tal. O ouro não te domina, você domina
o ouro. - disse Mitchel seriamente. -Pense nisso e pense na sua família. Pare de querer bancar o honorável o tempo todo. Pare de ser um mártir. Seja pai e marido
e dono do haras mais espetacular que eu já vi na vida de novo! Melhor, seja maior do que era. Se escolher continuar com isso, eu não vou apoiá-lo dessa vez. - David
disse.
Ian ficou olhando para David com os olhos arregalados. Nunca tinha o visto falar naquele tom, era o mais sossegado de todos.
-Vou pensar.
-Ah! - disse indignado soltando a respiração. -Se você se negar a fazer isso, você vai levar uma surra de mim, ouviu? Só não o esmurro agora porque você está no
seu momento de choque e não vai enxergar nem uma manada de búfalos a um palmo o seu nariz, se encontrasse uma. - Mitchel disse.
-Tudo bem, eu vou pensar sobre isso.
-Faço minhas as palavras de Mitchel e David, Ian, acho que está na hora de você assumir tudo. - disse Willian.
-Eu também concordo. - David disse. -Não é justo você culpar o ouro pela perda dos seus pais e de nossos familiares. Nenhum de nós culpa. Você deve pensar em Jayne
e nas crianças, ela lutou muito para manter aquela fazenda e torná-la no que era hoje. Vocês merecem usufruir daquele ouro e retomar de onde pararam e não voltar
para trás, como se fossem dois pobres.
-David tem razão, você não é pobre, Ian, e nem um rico. Você é um milionário. Já provou que pode ser um homem poderoso por suas próprias pernas, não precisa provar
mais nada a ninguém e nem a você mesmo. Agora o que precisa é vender aquele ouro, reconstruir sua fazenda e cuidar da sua família. Pode fazer isso como sempre fez
e usando o que você tinha debaixo dos seus pés. - disse Mitchel.
-Está bem rapazes, já disse que vou pensar. O que é isso, vocês viraram minha mãe?
-Se ela estivesse aqui lhe daria umas palmadas para que acorde.
-Daria para algum de vocês pararem de me dar sermão e me arrumar um café?
-Tudo bem, nós já dissemos o que pensávamos, agora é com você. Pense bem. Agora eu também gostaria de um café.
-Ah isso aí, vou pedir à uma criada. A Sra. Cullen não vai me enxotar para fora, vai? - David perguntou na porta da varanda.
-Creio que não.
-Não se preocupe Ian, nós vamos reconstruir sua casa rápido para vocês poderem voltar para a fazenda.
-Obrigado.
**
-Como está se sentindo? - Ian perguntou sentando na cama e segurando a mão de Jayne.
-Estou bem, meu rosto é que está doendo um pouco.
-Eu imagino. Mas está melhorando.
-Angel ainda está com febre?
-Sim. Richard está com ela. Recusa-se a sair e deixar que outra pessoa coloque panos frios em sua testa. - Ian disse e suspirou.
-Ele gosta dela.
-Eu sei.
-Onde está Josh?
-Está bem, sua mãe o estava ajudando a trocar de roupa.
-Nossa filha foi muito corajosa, não foi?
-Foi. Não nega que é sua filha. Se não fosse ela ter atirado naquele homem, talvez eu estivesse morto.
-Oh, não diga isso. - ela suspirou. -Acha que ela ficará bem?
-Acredito que sim, com o tempo ela ficará boa disso tudo. O doutor disse que a febre não está tão alta. Espero que continue assim.
-Quem está com ela agora?
-Richard.
-Ainda não foi descansar?
-Não, ele não quer sair de seu lado.
-Agora o que vamos fazer? Nossa casa está destruída. - disse Jayne tristemente olhando para Ian.
-Vamos reconstruir.
-Como? Quanto nos custaria para comprar todos os móveis, construir uma casa, nem sequer temos roupas. Estou usando as camisolas de minha mãe.
-Ficaremos na casa de seu pai até reconstruirmos a nossa, ele já nos ofereceu, mas isso será bem rápido, eu lhe garanto.
-Do que está falando?
-Temos uma fortuna escondido debaixo da nossa casa, quer dizer, dos escombros dela.
-Mas... Você vai usá-lo? - perguntou espantada.
-Vou.
-Eu pensei que depois do que aconteceu, você odiaria mais aquele ouro.
-Sim, eu estava indo por este caminho, mas os rapazes falaram tantas coisas que até fiquei tonto e pensei muito. Aquele ouro sempre foi motivo de tristeza, mas acho
que está na hora de ele ser um motivo de alegria. Eu havia dito que eu queria uma casa nova, pois as madeiras já estavam velhas, então... Agora acho que será uma
obrigação. E se realmente não conseguirmos mais recuperar nossos garanhões, precisaremos de muito dinheiro para adquirir outros.
-Está bem, se quer usá-lo, tudo bem, mas creio que precisará trocar aqueles tabletes por dinheiro, e não poderá ser por aqui perto. Já que não quer que ninguém saiba
que tem esse ouro.
-Não se preocupe, tenho meios para fazer isso. Tenho um comprador na Califórnia. Sempre comprou meus tabletes quando precisei vender.
-Isso não é perigoso?
-Gabriel é um amigo meu e dos rapazes, então ele tem o feito por muitos anos e nunca me traiu. Não especula de onde sai o ouro, pois ele mesmo tem a sua mina. Ele
tem tanto dinheiro que não sabe nem como gastá-lo, sempre foi honesto, pelo menos comigo.
-Pode mesmo confiar nele?
-Não cegamente porque não sou tolo, mas o suficiente.
-Confio no seu julgamento. Fazendo isso você deixará que alguns fantasmas deixem de lhe atormentar. Afinal, se todos os homens ricos não usufruíssem de suas riquezas,
não haveria homens ricos.
-Acho que sim. Um homem não pode viver preso ao passado quando está tentando construir um futuro. Está na hora de me libertar.
-Estou orgulhosa de você, meu amor. Vou apoiá-lo no que você decidir.
-Vamos nos sair bem, sempre nos saímos.
-E nossos cavalos?
-Eu não sei. Alguns estão pela fazenda e os que estavam no cercado estão bem, mas a maioria dos garanhões... Talvez tenham ido para muito longe, e sabe que se alguém
encontrá-los, não irão devolvê-los. Alguns não tinham a minha marca.
-Eu sinto muito, isso foi minha culpa. Eu tinha muito dó de marcá-los a ferro, Ian.
-Eu sei e não estou culpando você. Nós podemos encontrá-los ainda.
-Nem a Lady e o seu potrinho?
-Não. Somente Tornado e Trovão e mais cinco estavam na fazenda esta manhã quando fui lá, eles voltaram por conta própria, mas ver a fazenda naquele caos foi a visão
mais triste que já tive, Jayne. Minha vida toda no chão.
-Eu sei meu amor, deve ter sido horrível. - disse acariciando seu rosto. -Ian, o potrinho é tão novinho, ele mal conseguia correr ainda, não é acostumado a ficar
solto e nem a Lady. Eles podem se ferir.
-Ela é uma égua muito destemida, meu amor, vai cuidar bem dele, eles devem estar em algum lugar.
-Acha que ela pode voltar sozinha para casa assim como os outros?
-Se Tornado e Trovão voltaram, talvez os outros também voltem. Mas vou continuar a procurá-los. - os dois se abraçaram.
-Prometa-me que vai encontrar a Cherise, ela está prenhe, precisa de nós; e Lady e o potrinho, por favor. Eu ainda não dei um nome a ele. - disse o olhando tristemente.
-Vou encontrá-los, eu prometo. Não se preocupe, ele é um potrinho valente, vai ficar bem.
-Valente... - disse pensativa. -Seria um bom nome para ele, não seria?
Ian sorriu e lhe acariciou o rosto.
-Seria. Prometo que vou trazer Valente para casa. Quer jantar conosco na sala de jantar?
-Oh sim, eu gostaria muito. Não quero ficar comendo sozinha neste quarto. Estou bem para ir e vir.
-Bem, então, é melhor você trocar de roupa. Eu acho que seu pai não gostaria muito de você sentar à mesa de camisola. Sua mãe lhe arrumou algumas roupas.
-Sim. Infelizmente ele não gostaria. Nós não temos tanta liberdade aqui, não é?
-Tudo bem, alguns sacrifícios terão que ser feitos por um tempo.
-Bem, peça para Anna vir ajudar a me vestir e então vou ver Angel primeiro de tudo, sinto que ela precisa de mim agora e acredito que tenhamos que carregar Richard
para a sala de jantar para que se alimente descentemente.
-Podemos tentar.
**
Pela milésima vez Richard torceu o pano empapado de água fria e colocou na testa de Angel. Ele estava esgotado, seus olhos ardiam, seus músculos doíam a cada movimento
que fazia, mas não sairia dali.
Angel moveu-se, piscou e virou o rosto, tentando focar a vista. Soltou a respiração em um suspiro cansado.
-Angel... Oi meu amor, estou aqui.
-Richard.
-Que bom que acordou, pensei que nunca o faria.
Ela olhou perdida para o quarto, como se não identificasse onde estava.
-O que aconteceu? Onde estou?
-Estamos na casa de seus avôs. Seu ferimento infeccionou e você teve febre, esteve desacordada desde então. Mas graças a Deus a febre cedeu.
-Por quanto tempo estive desacordada?
-Por quatro dias.
-Quatro dias? - perguntou assustada.
-Sim, foram longos dias, mas agora você está bem, vai ficar boa e se levantar logo daí.
-Você parece muito cansado.
-Sim, mas não importa; o que importa é você se recuperar.
-Você esteve aqui cuidando de mim todos estes dias? - perguntou espantada.
-Sim, Angel, eu estive.
-Por quê?
-Você está com dor? O doutor disse que se você sentisse dor poderia tomar uma dose de morfina.
-Richard!
Ele respirou fundo.
-Por nada, Angel, eu somente queria retribuir o cuidado que você me deu quando estive doente. Queria ter certeza que estava bem.
-Não pode repetir que me ama e ainda assim está aqui há quatro dias?
-Sim, pequena bruxa. Eu estou aqui por que a amo. Satisfeita? - disse com um leve tom zangado e exasperado.
Ela sorriu e então gemeu, pois seu rosto doeu. Ela levou a mão ao ferimento para tocá-lo, mas Richard segurou sua mão.
-Não toque.
-Quão feio está isso? Ficarei com uma cicatriz?
-Não se importe com isso agora, precisa melhorar, tome este chá, deve estar com sede.
Ele pegou a caneca e colocou nos lábios dela, que tomou um gole.
-Dê-me um espelho.
-Sua mãe e seu pai estavam aqui um segundo antes de você acordar, vou chamá-los para que saibam que está acordada. Vou pedir algo para você comer, deve estar com
fome.
-Richard Montgomery, não me faça gritar. Dê-me um maldito espelho.
-Angel, isso não é necessário. Você precisa de tempo.
-Richard!
-Deus santo sua teimosia é de triturar os nervos.
Ele suspirou, levantou e pegou um espelho redondo, com um cabo ornado de pérolas, que havia sobre uma penteadeira e entregou a ela.
-Vai melhorar com o tempo, Angel.
Angel relutou por um minuto antes de olhar para o espelho, quando o fez, sentiu como se tivesse levado um soco no estômago, arregalou os olhos e soltou um grito
agudo que ecoou por toda a mansão Cullen.
**
Quando Ian chegou à sua fazenda a casa era um imenso aglomerado de madeiras negras. As únicas coisas que ficaram em pé foram as três lareiras com suas imensas chaminés
de pedras. Uma visão triste. Ian já havia contratado homens para remover tudo e começariam a reconstruir logo que conseguisse o dinheiro.
-Bem, rapazes, nós temos que ficar de olho em tudo, eles vão tirar todos os escombros e quando chegarem ao porão onde está o ouro, nós mesmos o faremos, para evitar
confusão.
-Eu concordo; melhor evitar problemas. - disse Willian.
-Misericórdia, senhor! Como hoje está gelado. - David disse esfregando as mãos. -Eu acho que faremos umas fogueiras ao redor com as madeiras para afugentar um pouco
essa porcaria de frio.
-Sim, podemos fazer. Ian, olhe aquilo! - gritou Willian.
Todos olharam e avistaram os cavalos Thor, Eros e Danna mais meia dúzia de cavalos descendo lentamente a colina em direção à fazenda. Mitchel vinha atrás os impulsionando.
-Meu Deus! - disse Ian com um sorriso.
Eles calmamente para não assustá-los foram de encontro a eles e Ian os abraçou lhes acariciando. Logo os colocaram em um dos cercados.
-Não é uma beleza que encontrei no caminho?
-Fabulosos. Obrigado, Mitchel.
-Disponha. Mas nenhum sinal de Lady e o potrinho.
-Ainda tenho esperança de encontrá-los. - Ian disse com um suspiro.
James se aproximou, caminhando devagar, seus ferimentos não foram tão graves, mas estava com o braço em uma tipóia e mancava. Havia levado dois tiros, um no ombro
e outro na perna.
-James. Como se sente? - Ian perguntou.
-Baleado. - disse com humor e Ian riu.
-Conheço o sentimento. Você deveria estar na cama; nós cuidaremos de tudo por aqui.
-Não posso ajudar com as madeiras, mas posso ficar de olho nos homens e orientar no que precisar.
-Como queira. Chame um dos rapazes, quero que os examinem os cavalos para ver se não estão com nenhuma machucadura e os alimente.
-Sim, senhor.
-Fico feliz que nada mais grave tenha lhe acontecido. Como estão Anna e Anabel?
-Bem, somente estão um pouco assustadas ainda. Por sorte estavam em casa quando chegaram e se esconderam no porão. Mesmo com tudo que aconteceu, tivemos sorte e
temos que agradecer a Deus por nossas vidas.
-Está certo, James. Está certo.
**
Alguns meses se passaram e Ian tocava a construção da casa com todo vapor, queria reconstruí-la rapidamente para que sua família pudesse voltar para casa. Eram muito
bem recebidos na casa de seus sogros, mas odiava não estar em sua própria cercania, era como perder seu comando.
Ian com os rapazes e um grupo armado havia viajado para a Califórnia vender o ouro. A cidade especulou diversas possibilidades e espalhou diversos murmúrios de onde
ele conseguira tanto dinheiro para reconstruir sua fazenda com tanta rapidez e ainda mais requintada, mas... Ter barras de ouro escondidas em seu porão, não foi
uma delas.
A quantia era considerável, pois além de construir a casa, tinham que decorá-la, adquirir os móveis, louças. Tiveram que comprar todas as roupas, calçados, pois
haviam ficado somente com a roupa do corpo.
Já haviam construído um estábulo novo para os cavalos, ainda maior e melhor que o outro, colocando até algumas modernidades para melhor acomodar seus preciosos cavalos.
Não deixavam Jayne fazer nada, o que a deixava irritada de vez em quando, pois sempre fora muito ativa e ficar parada lhe parecia um martírio, mas sabia que era
necessário para que seu bebê ficasse bem.
Jayne conseguiu segurar a gravidez até o nono mês, e foi despertada no meio da noite sentindo fortes dores.
Ian acordou a casa inteira com seus gritos. Jayne ficou em trabalho de parto até à tarde e ele andou pela casa como um atormentado.
Quando Ian ouviu o choro do bebê, saltou da cadeira e ficou olhando para a porta do quarto com os olhos arregalados esperando que alguém viesse falar algo. Seu coração
batia descontroladamente no peito.
Angel abriu a porta e olhou para ele e sorriu, correu e o abraçou.
-Pai, ele nasceu, é um menino.
-Um menino, que maravilha! Como eles estão? - disse emocionado.
-Bem, mamãe quer vê-lo.
Ian sorriu para Angel e com os dedos retirou a mexa de cabelo de seu rosto e colocou para trás do ombro. Ela automaticamente baixou o rosto.
-Obrigado, filha, mas não quero que esconda seu rosto assim e nem fique observando o chão como se ele fosse uma paisagem. Sou seu pai e não quero que tenha vergonha
de se mostrar para mim. Estamos entendidos? Já disse isso muitas vezes.
-Não quero que me olhe e se lembre daquele dia.
-Angel, precisa parar de se culpar, eu não a culpo, certo?
-Está bem, papai, o que seja; agora vá ver seu filho. É um lindo bebê.
Ele assentiu e beijou sua testa.
-Irei. Você tem uma visita.
-Visita? Não espero visitas.
Ela olhou para o lado e viu Richard, que estava em pé ao lado da poltrona.
Ela automaticamente deu um passo atrás e puxou o cabelo para o rosto, cobrindo-o.
-Boa tarde Angel. - ele disse com um sorriso.
-Não o esperava.
-Bem, creio que é um dia abençoado. Parabéns pelo seu irmão.
-Obrigada, mas é inapropriado. Não deveria ter vindo e nem quero que volte. - ela olhou para seu pai. -Vou para o meu quarto.
Ela girou nos calcanhares e saiu da sala. Todos ficaram ali, paralisados sem saber o que dizer. Richard sentiu seu peito oprimir, puxou o ar com força, pois sua
garganta estava travada.
Ian estava desconcertado e olhou para Richard.
-Sinto muito Richard, ela ainda está revoltada. Peço que a desculpe.
-Eu... Eu entendo. - disse triste.
-Dê tempo ao tempo. Isso vai passar.
-Certo. Parabéns pelo seu filho, Sr. Buller.
-Obrigado.
Richard assentiu e foi embora.
Ian entrou no quarto e Jayne estava deitada nos travesseiros com os olhos fechados. Ele parou bruscamente sentindo um medo terrível, a visão dela desacordada era
algo que não queria ver, lembrou-se do parto de Josh.
-Não se preocupe Ian, ela está bem, só está cansada. E seu filho também está bem. - a mãe de Jayne disse sorrindo.
Ela sabia o que estava passando na mente de Ian naquele momento.
Ian olhou o belo menino que estava no colo de Sra. Cullen. Estava quietinho enrolado numa manta. Ele lhe acariciou o rostinho levemente com o dedo, então o pegou
no colo, sussurrou algumas palavras doces para ele e beijou seu pequenino nariz. Ian virou-se e foi até a cama, sentou na beirada e beijou Jayne na testa. Ela abriu
os olhos lentamente e o olhou.
-Oi, meu amor. - disse ele, tentando controlar sua emoção.
-Oi.
-Nosso bebê é lindo.
-Ele está bem?
-Sim filha, fique tranquila, ele é perfeito. Mas você precisa descansar agora. - disse Sra. Cullen.
-Deixe-me segurá-lo.
Ian colocou o bebê nos braços de Jayne e os dois ficaram o olhando.
-Ele é realmente lindo! - disse ela com lágrimas nos olhos enquanto abria a manta e olhava seus dedinhos.
-Dê-me ele aqui, filha, você precisa descansar.
Jayne estava exausta e logo adormeceu. Ian ficou ao lado dela segurando sua mão por um longo tempo, depois saiu e foi para a varanda, precisava de ar fresco. Estava
imensamente feliz. Jayne estava bem e ele havia ganhado mais um filho que tanto havia esperado.
Agradeceu a Deus por ter sido abençoado novamente, mesmo depois de tanta tristeza.
**
Ian foi até sua fazenda, a casa já estava praticamente pronta, e todos os amigos o ajudavam a comprar o que precisava para decorar. Estava ficando muito mais bonita
que a anterior que se esvaiu em chamas. Ian estava feliz e espantado quando olhava como estava ficando o resultado final; ao contrário de Jayne que estava angustiada
com o mistério que envolvia sua casa nova. Parecia que o dia que poderia vê-la nunca chegava.
Jayne estava na sala, confortavelmente sentada em uma das poltronas, rodeada de almofadas e o bebê estava no colo de Mary que havia vindo visitá-los. O bebê acordou
e começou a resmungar.
-Dê-me ele aqui, vou dar de mamar, deve estar com fome.
-Vai dar de mamar na frente da visita? Jayne, isso é inapropriado.
-Mãe, Mary não é uma visita, é da família.
-É inapropriado.
Ian chegou à sala, tirou o chapéu e parou quando viu a sala com visitas.
-Boa tarde senhoras.
Elas o saudaram e Ian então foi até Jayne, beijou-a na testa e olhou para seu filho com um sorriso. O pegou devagar, tentando segurá-lo com cuidado, o olhou por
alguns minutos, conversou com ele e o beijou nas suas rosadas bochechas e depois o colocou no colo de Jayne. O pequeno começou a mamar e os dois o olhavam emocionados.
-Ian é homem, não deveria presenciar estas coisas.
-Sra. Cullen, quando Jayne estava desacordada no nascimento de Josh quem a segurava era eu. Julia e Emily seguravam o bebê para que mamasse.
-Oh meu Deus, não consigo imaginar tal cena grotesca. Por que não tinham uma ama de leite?
-Foi uma emergência, Josh não estava disposto a esperar. Eu não me importo com estas coisas. Fiz o que tinha que fazer.
-Vocês dois fazem um belo par, não possuem decoro nenhum um com o outro.
-Estamos acostumados desta maneira. - ele disse dando de ombro de forma despreocupada e todas riram.
Ian sorriu e beijou Jayne e os dois ficaram observando Christian.
-Onde está Angel? Não a vi hoje? - Ian perguntou.
-Está fechada no quarto, de novo.
Ian soltou bruscamente a respiração.
-Isso não está indo longe demais?
-Depois de ela ter se negado a ver o Sr. Montgomery quando veio visitá-la, está deprimida mais que nunca.
-Não entendo, ela se recusou a vê-lo, agora está deprimida porque ele não quer mais vê-la. Que diabos acham que devo fazer com estes dois? - ele disse exasperado.
-Angel não está sabendo ligar com a cicatriz de seu rosto. Está envergonhada achando que está feia. Mas sofre ao estar longe dele, isto é bem claro. Richard por
outro lado gosta dela, mas tem este problema com sua doença. Eu realmente não sei o que fazer também. Eles agora estão nessa briga de empurra e estica.
-Acho que temos que deixar que o tempo se encarregue disso. Eles saberão encontrar seu próprio caminho. - Sra. Cullen disse.
-Sou o pai dela, eu devo impedir que ela faça tolices.
-Tomará uma atitude quando a próxima situação se apresentar, no momento eles precisam de tempo e devem resolver por si mesmos. Ambos estão lutando com seus próprios
demônios. Seus medos os deixam confusos. Fugir um do outro é o mais seguro que conseguem fazer para lidar com seus problemas.
-Mamãe com seus pensamentos profundos. - Jayne disse.
-Sim, mas verdadeiros.
**
Richard estava ao piano; ele tocava com os olhos fechados, os cabelos desalinhados caindo sobre o rosto, sentia a música entrar em sua alma. Tocava uma Ária de Poppea,
Bel piacere è godere, Ato III, Cena I, de Agrippina de Handel. Até que ele bateu as duas mãos no teclado e jogou a cabeça para trás, puxando ar para seus pulmões.
-Angel, minha amada. O que devo fazer com você?
**
-Angel, meu amor, você precisa sair do quarto. - Jayne disse quando sentou na cama olhando para ela que contemplava os campos pela janela.
-Estou bem aqui.
-Matt tem vindo todos os dias, querendo visitá-la. Está preocupado com você. Permitirei que ele entre se você aceitar recebê-lo por um momento. Afinal cresceram
juntos, já foram muito amigos. Creio que sua preocupação é verdadeira.
-Não quero vê-lo.
-Se esconder do mundo não vai resolver seu problema.
-Não posso mudar isso, estou tentando me acostumar.
-Filha, não é assim terrível como você está vendo. É apenas uma linha, não é o que você é, o que você representa e não tem porque se envergonhar e se esconder. Ninguém
deixou de amar você por causa de uma porcaria de cicatriz.
-Ele nunca mais vai me querer.
-Quem?
-Richard.
Jayne suspirou.
-Oh meu bem, deixe-me lembrá-la que Richard veio visitá-la, mas foi você que o rechaçou. Ele estava lá, foi ele que ficou cuidando de você, se negando a deixar o
quarto, mal dormindo, mal se alimentando, colocando compressas enquanto você delirava de febre. Quando seu pico de febre ocorreu ele passou mal e tivemos que acalmá-lo.
Entende o que significa?
Angel olhou espantada para sua mãe.
-Ele passou mal?
-Ele fica com falta de ar quando perde o controle de seu nervosismo, lembra-se? Ele teve uma crise, mas foi fraca e logo passou.
-Foi por minha causa?
-Angel, Richard ama você, isso está mais claro que água e sinceramente, eu fiquei chocada quando você o mandou embora daqui daquela forma tão grosseira. Seu pai
ficou espantado, e olha que a princípio eu até achei que ele iria gostar. Mas você foi horrível e ingrata com Richard e agora fica aí, deprimida como se ele é que
estivesse fazendo as coisas erradas.
Angel suspirou e secou as lágrimas.
-Ele é tão bonito, e agora eu estou feia.
-Não está feia, querida! É só uma cicatriz, Angel, com o tempo ela vai suavizar mais e você nem vai ligar para ela. Sempre será linda.
-Acha mesmo?
-Sim. Seu pai tem cicatrizes no corpo, eu tenho cicatrizes no corpo e isso impediu que nos amássemos e fossemos marido e mulher?
Angel ficou pensativa e suspirou.
-Não.
-Bem? Richard cuidou de você, veio vê-la mesmo sabendo que estava marcada. Você acha que ele estava se importando com isso?
-Acha que fui má com ele?
-Foi.
-Acha que ele pode me perdoar se eu pedir desculpas? Acha que ele ainda gosta de mim?
-Bem, isso eu não sei, mas você poderia escrever uma carta se desculpando.
-Estou me sentindo tão mal. Parece que meu coração foi arrancado do peito.
-Eu sei, está assim porque o que fez está a machucando mais do que se tivesse ele por perto.
-Acho que está certa.
-Eu sempre estou certa. - Angel sorriu. -Bem então, quem sabe você tenta reverter estes maus momentos? Tenho certeza que ele vai entender que você estava muito triste,
mas que ainda gosta da companhia dele.
-Acha mesmo que ele não se importa?
-Meu amor, se ele se importasse, acha que teria voltado?
-Acho que não.
-Bem, então o que deve fazer? - Angel pensou um pouco.
-Vou escrever um pedido de desculpas por minha grosseria?
-Isso meu amor, mas primeiro, vai tomar um banho, ficar linda e perfumada, vai comer sua refeição e então vai sentar nessa mesa e escrever uma linda carta ao Conde
Richard Montgomery. Dou-lhe permissão para convidá-lo para vir visitá-la e fazer um lanche com você. O que acha?
Angel assentiu.
Jayne levantou da cama e foi até a frente de Angel, ergueu seu queixo com os dedos, forçando-a a olhá-la.
-Lembre-se Angel. Os meus olhos estão aqui em cima e não lá no chão. Nunca mais quero vê-la olhando para o chão quando fala comigo ou com qualquer outra pessoa.
Você é a mais linda princesa dos Buller, entendeu?
-Sim, mamãe.
**
Angel enviou algumas cartas para Richard, mas ele não enviou resposta para nenhuma delas.
A cada dia que passava se sentia mais triste achando que Richard havia mudado de idéia e desistido dela novamente. E o pior era saber que ele havia se aproximado
tanto e ela o havia empurrado para longe.
O amor era uma coisa complicada.
Richard por outro lado lutava com os sentimentos dentro de si para evitar aquele amor que lhe torturava. Estava atormentado.
Havia se passado dois meses desde que tentou visitá-la. Ele ficou arrasado, mas por outro lado, sabia que estava sendo difícil para ela, mas no fim achou que era
o melhor caminho. Cada um vivendo sua vida.
Então Kate começou a lhe trazer cartas de Angel e ele não sabia o que fazer, novamente, somente sabia que teria que tomar uma decisão.
**
-Olá Matt.
-Olá Angel. Como você está? - disse tirando o chapéu rapidamente e passando a mão pelos cabelos revoltos.
-Estou bem, obrigada.
-Eu... Eu fico feliz que tenha melhorado.
-Minha mãe me disse que você veio todos os dias.
-Sim, eu... Sabe, isso não era para ter acontecido.
-O que não era para ter acontecido?
-Bem, é que soube que queriam o ouro e depois feriram você.
-Feriram todo mundo.
-Sinto muito.
-Achei que era minha culpa, mas meu pai diz que não. Sei que ele somente quer que eu não me sinta culpada.
-Você não teve culpa de nada, Angel.
Ela levantou os ombros como se não ligasse.
-É o que é.
-Você continua linda e eu...
-Matt, não precisa ficar dizendo que estou linda. Agradeço que queira me agradar, mas não precisa me bajular. Não sou tola e já não sinto pena de mim mesma. Estou
bem.
-Não estou bajulando, eu realmente acho você linda, e sinto muito pelo seu rosto, mas você vai ver, logo sumirá, e eu queria poder vir vê-la outras vezes. Sinto
muito sua falta.
-Pode vir, se meu pai permitir. Ele anda cauteloso como se uma árvore fossem me engolir. Ordenou que Kate fosse minha sombra e pode apostar que não longe daqui há
alguém armado de olho em mim, mas pode pedir.
-Pedirei. Vejo que seu pai está cauteloso mesmo.
-Como está sua fazenda?
-Com muito trabalho e pouco dinheiro.
-Com o tempo o terá.
-Fico feliz que tenha me recebido.
-Não lhe quero mal.
Ele amassou o chapéu entre as mãos.
-Amanhã trarei meu cavalo novo para mostrar-lhe, gostaria?
-Sim, Matt, gostaria de ver seu cavalo.
-Isso é ótimo.
-Devo entrar agora, obrigada pela visita.
-Eu realmente sinto muito. Se eu pudesse ter evitado, o faria.
-Não precisa ficar repetindo isso, eu entendo.
-Bem, então até amanhã.
-Até amanhã, Matt.
Angel virou e entrou na varanda e olhou quando Matt subiu no cavalo e foi embora.
-Não gosto desse rapaz. E não gosto de você voltar a vê-lo.
Angel olhou para Kate.
-Vocês quase me deixaram surda de tanto repetirem que devo sair do quarto e falar com as pessoas e quando o faço acham ruim.
-Sim, é certo, mas confraternizar com Matt não era meu objetivo.
-Qual era seu objetivo, Kate?
-Seu conde cabeça dura.
Angel sorriu de maneira triste.
-Sim, ele é. - Angel fechou os olhos quando o vento bateu em seu rosto. -Talvez esteja na hora de esquecer meu conde cabeça dura.
-Sinto muito Angel.
-Eu também Kate.
-Meu casamento vai ser no sábado, seu pai disse que já estaremos de volta à fazenda e celebraremos. Você assistirá, não é?
-Kate, eu não perderia seu casamento por nada neste mundo. - Angel abraçou Kate fortemente. -Eu a amo muito, quero que seja muito feliz.
-Vou ser, princesa, e vou rezar para que seu príncipe venha por você.
**
Jayne ficava cada vez mais curiosa sobre a casa. Tudo estava muito estranho e demorado e os murmúrios estavam fervilhando por todo lado.
Ao amanhecer Jayne parou atrás de Ian enquanto ele se vestia, ele a olhou com o canto do olho enquanto colocava o colete. Com as mãos na cintura, ela batia impacientemente
o pé no chão.
-Por que você está me olhando com esta cara? Você está parecendo um estouro de boiada. O que houve? - Ian perguntou calmamente.
-Ian Buller, eu já estou muito impaciente. Meus nervos vão arrebentar.
-Com o que?
-Não se faça de desentendido. Eu já lhe pedi mil vezes que me levasse à fazenda para ver a casa e você sempre acha uma desculpa.
-Você está se recuperando do parto, meu amor. - disse calmamente.
-Estou bem, já faz dois meses que pari! Não foram os meus olhos que pariram seu filho, portanto posso muito bem ver a minha casa.
-Mas não pode cavalgar ou andar na carroça e já que aquela geringonça que chama de carro pegou fogo, tem que esperar.
Jayne fez uma cara feia.
-Ficou feliz com isso, não é? Vibrou por eu ter perdido meu carro. Você podia odiá-lo, mas eu gostava muito dele. Devia respeitar isso.
Ian suspirou e colocou o casaco e depois olhou para ela.
-Desculpe Jayne, sinto pelo seu carro.
-Não, não sente.
-Não, eu não sinto pelo carro. Sinto por você estar triste.
-Quero ver minha casa!
-Jayne, eu pedi que tivesse paciência, quero que veja a casa quando estiver pronta e quando pudermos voltar definitivamente.
-Quando isso vai acontecer? Estou cansada de ouvir os mexericos dos empregados que não cansam de falar da mansão dos Buller, das imensas quantidades de caixotes
que chegam à cidade toda vez que o trem chega à cidade. E que estes caixotes são enviados à fazenda nova e fascinante dos Buller. Isso da fazenda Buller, aquilo
da fazenda Buller e eu que sou a dona dela nem consegui ver uma tábua! Alguns dizem que tinha caixas marcadas com nomes do estrangeiro! O que veio do estrangeiro?
Quando faço perguntas todo mundo desconversa, mente e ri.
Ian estava segurando o riso enquanto ela movia os braços nervosamente e falava sem parar.
-A casa foi construída em tempo recorde. Eu gastei uma fortuna para pagar tantos empregados e que tudo fosse providenciado o mais rápido possível, mas você não vai
ver a casa até que esteja habitável e que possamos viver lá. Você me fez uma promessa e vai ter que cumprir.
-Deus! Maldita hora que fiz esta promessa estúpida, mas juro que a quebrarei se não me deixar ver a casa logo.
-Bem, eu estou indo à cidade, hoje chegará um grande carregamento, serão muitos caixotes e preciso ir.
-Ian!
-Amanhã, meu amor, amanhã, eu prometo.
-Promete mesmo?
-Sim. - ele segurou seu rosto entre as mãos e sorriu. -Amanhã você a verá. Depois do carregamento de hoje acho que já podemos ir para casa.
-Bem, então presumo que teremos camas para dormir, um teto na cabeça e uma cozinha para comermos? O básico é o suficiente, com o tempo colocaremos as outras coisas.
-Sim, querida, nós teremos o básico. Eu comprei o mais simples para nos acomodarmos o mais rápido possível. Mas eu creio que não terá aquela sua cama com dossel
novamente.
-Bem... Era uma cama preciosa e eu gostava das leves cortinas de gaze, mas eu... - disse tristemente. -Não faz mal, quem sabe futuramente poderemos mandar fazer
uma com o marceneiro como da outra vez.
-Sim, espero que sim, meu amor. Estou me esforçando.
-Eu sei, desculpe, é que estou cansada de ficar tantos meses sem sair.
-Eu imagino, sei que foram meses muito difíceis para você, mas amanhã retornaremos para nosso velho rancho. Eu só temo que não tenha a casa como antes, mas eu tentei
agradá-la, espero que goste do que consegui em tão pouco tempo. Depois teremos tempo para ir ajeitando-a a seu gosto. Prometo que deixarei você comprar umas toalhinhas.
Ela riu e bateu em sua barriga.
-Toalhinhas heim? Ok, está bem. Vou gostar de tudo e se não tiver tudo no começo, não faz mal, estarmos juntos e é o que importa. Eu só quero voltar para casa antes
que minha mãe me deixe louca.
-Eu a amo, sabia disso?
-Sabia, e obrigado por tudo, sei que anda cansado e tentando fazer tudo o mais rápido possível. Precisava descansar mais, Ian.
-Tirarei um descanso depois, quando estiver em casa. Tenho que ir, até à noite, meu amor.
-Se eu não tiver morrido de curiosidade e impaciência.
-Só mais um dia, conseguirá.
-Humf! - bufou e o beijou levemente. -Bom trabalho.
-E o que eu mereço?
Jayne sorriu, rodeou seu pescoço com os braços e o beijou.
**
Ian, Jayne, seus filhos e Kate voltaram à fazenda. Ele parou a carroça próxima ao portão e Jayne olhou espantada a nova entrada com uma tora plana e talhada com
o desenho dos cavalos e o nome "Fazenda Buller".
Ele desceu o caminho da fazenda e Jayne parou de respirar quando a imensa casa de dois andares, pintada de branco com uma varanda gigantesca de madeira reluzente
surgiu diante dela. As janelas resplandeciam a luz do sol e a grade da varanda era toda ornamentada com desenhos e rodeava toda a frente e os fundos da casa, nos
dois andares.
-Cristo! - disse ela.
-Pai, está linda! Tem certeza que é nossa casa? - Angel gritou.
-Sim, querida, esta é nossa casa.
-Podemos entrar? - perguntou Josh, eufórico.
-Podem. Ela está pronta para que possamos voltar ao nosso lar.
Jayne estava parada boquiaberta e não disse nada.
-Não vai querer entrar, Sra. Buller?
Ela o olhou com os olhos arregalados.
-Ian! Ela ficou linda. Não imaginei que seria tão grande.
-Fico feliz que tenha gostado. Todo este pesadelo acabou Jayne, estamos em casa novamente com nossa família. E será uma vida nova.
-Minha família é a única coisa que me importa.
-Para mim também. Mas se temos algum ouro podemos ter um regalo.
-Não está se sentindo mal por usar aquele ouro?
-Não. Na verdade estou aliviado, parece que o usei por um bom motivo. Cortei todos os fios com os fantasmas do meu passado. Estou me sentindo muito bem e feliz.
Jayne acariciou o rosto de Ian sorrindo lindamente.
-Mas também não precisava ter nos torturado deste jeito sem nos deixar ver a casa, sem que tudo estivesse pronto e arrumado, não acha? Isso foi maldade sua.
-Pensando bem, acho que foi maldade sim, desculpe, mas eu queria fazer uma surpresa. - disse rindo. -Pode me perdoar?
-Tudo bem, eu vou perdoá-lo por isso. Está linda, adorei.
Ela gritou e se jogou em seus braços e os dois rodaram, rindo.
Angel ajudou Kate a descer da carroça com Christian e depois ela e Josh correram para dentro da casa, sorridentes e empolgados, subiram os degraus da imensa casa
e pararam na varanda para contemplar sua fazenda. Não havia nenhum resquício de toda aquela desgraça, aquilo tudo somente ficaria nas suas lembranças.
-Eu não acredito que estamos em casa novamente. Parece um sonho. - Angel disse. -Adorei as varandas, papai! - gritou e in riu e acenou.
-Vamos entrar, quero lhe mostrar tudo. Espero que goste, Jayne. - Ian disse pegando-a pela mão e puxando-a para dentro.
Eles foram passando por cada cômodo e Ian empolgado como se fosse uma criança mostrava tudo à Jayne. Porque colocara uma parede aqui, porque colocara um móvel ali.
Jayne olhava tudo com atenção e com um sorriso nos lábios. Tudo estava espetacular, com um luxo e requinte que ela jamais imaginou, nem conseguia pronunciar nada
e ele falava sem parar.
-Então... Gostou?
-Muito, é linda. Comprou até as louças. Adorei a cozinha, enorme!
-Bem, na verdade, esta parte quem comprou foram Emily e Mary que se encarregaram dos detalhes femininos. Não entendo destas minúcias, de como fazer uma decoração
elegante. Emily e sua mãe deram o ar mais requintado e como elas conhecem bem o seu gosto... - disse Ian sorrindo.
-Humm, vejam que traidoras, mas eu adorei. - ela riu. -E seu bom gosto melhorou bastante nestes últimos anos, Ian.
-Um pouco, eu tive uma boa professora. - respondeu rindo.
-Algumas coisas nunca mudam. - disse ela ironicamente pegando uma caneca de alumínio na cozinha e mostrando a ele.
-Ah, sabe que gosto de beber um café nesta canequinha na varanda.
-Ian, isso é uma das coisas que mais amo em você.
-Sei. Isso e com os meus pés encima da cerca. - disse rindo e ela riu. -Ah deixe-me mostrar a melhor parte.
-Qual é?
-Nosso quarto.
Eles subiram as escadas e quando chegaram à frente a uma porta ele tapou seus olhos com as mãos. Ela riu e se deixou conduzir. Chegando dentro do quarto ele retirou
a mão de seus olhos e ela olhou ao redor.
-Ian...
-Gostou?
Ela começou a circular dentro do quarto como uma tonta.
-Minha nossa! De onde tirou esta cama? É ainda mais linda que a outra, céus, é magnífica! E estes móveis? E aqueles móveis da sala, são antiguidades.
-Um mercador veio à cidade, disse que haveria um leilão de móveis antigos que pertenceram a nobres europeus, foi em Dakota, então eu fui e comprei tudo.
-Você foi à Dakota num leilão? Quando? - perguntou espantada.
-Fui. Alguns dias após eu ter vendido o ouro.
-Mas você disse que ia para ver um garanhão.
-Bem, eu queria fazer uma surpresa. E quando disseram que tinha cama com dossel, tive que ir.
-Mentiu.
-Não menti, somente ocultei uma partezinha. Perdoa-me?
-Está perdoado. - disse rindo e pulando em seu pescoço o abraçando.
-Sabia que ia gostar. A cama é bem parecida com aquela que ficamos no hotel na França e você adorou; então eu a comprei. O homem disse que é do século XVIII. Que
pertenceu a um cara que não me lembro quem foi, está escrito num papel que ele me deu.
-Ian, é lindo. Obrigada.
-Bem, cabem umas quatro pessoas dormindo aqui.
-Nossa família aumentou, assim quando nossos filhos resolverem nos trazer café na cama ou lermos para eles, terá espaço. - disse rindo.
-E caso aconteça algo como aquela briga no Saloon, eu não precisarei dormir no celeiro. - Jayne riu. -Eu estava pensando em outra coisa. - disse a beijando e a olhando
maliciosamente.
-Hum, nem imagino no que está pensando.
-Teremos que inaugurar esta beleza aí que me custou uma fortuna.
-Imagino... E podemos inaugurá-la hoje à noite.
-Perfeito.
-Temos uma lareira.
-Hum... Há uma em cada cômodo. Temos mais chaminés que aquelas fábricas que construíram em Denver.
-Sei que sim. Nada mais de frio no inverno. - disse rindo.
Os dois beijaram-se intensamente.
-Ham... Ham... - Angel pigarreou, os dois pararam de se beijar e olharam para ela meio encabulados.
-Será que vai ter comida nesta casa? Eu estou com fome.
-Claro que vai, Anna preparou o jantar. Sempre penso em tudo.
Eles riram e foram olhar os outros cômodos, a sala de banho, os quartos das crianças, o escritório... E então foram à sala de jantar. Jayne parou na porta e ficou
de boca aberta era... descomunal. Uma grande mesa retangular estava centrada, com cadeiras de costas altas e veludos brocados. A mesa estava posta com uma linda
toalha de linho branco e rendas e um jogo de jantar belíssimo, taças de cristal e talheres de prata.
Havia dois candelabros de três andares circulares com dezoito velas cada uma e cintilavam iluminando a sala, juntamente com mais candelabros ao redor da sala e dois
candelabros de seis velas no centro da mesa. Uma lareira de pedras e mármore imensa guardava um fogo que crepitava.
Ian a pegou pela mão e a levou até a mesa onde havia uma bandeja com uma garrafa de cristal boleada em ouro com uma tampa de vidro redonda como uma bola. Ele retirou
a tampa e colocou o vinho em duas taças e ofereceu a ela.
-Gostou?
-Está tão... Iluminada!
-Gosto de luzes no jantar.
-Ian, é tudo tão elegante, parece que não estou na minha casa.
Ian retesou-se.
-Jayne, você não gostou? - perguntou apreensivo.
Ela soltou um soluço e seus olhos encheram de lágrimas.
-Oh tudo está tão lindo, eu adorei, mas... Mas eu estou tão espantada com esse luxo, jamais imaginaria que você...
-Jayne... - ele a interrompeu. -Não tenho mais medo de mostrar meu poder e meu dinheiro. Sou o que sou e aí está, uma bela casa para minha princesa. Não é nada demais,
realmente entendi isso. E isso é o que somos. Posso pagar e daí? Ainda tomarei meu café na caneca de esmalte e colocarei meus pés na cerca. Mas agora posso sentar-me
em qualquer lado da casa, e do andar de cima eu verei toda minha fazenda.
Ela riu emocionada.
-Você disse que um dia gostaria de ver a fazenda de cima toda manhã.
-Sim, eu disse e resolvi que teria isso.
-Muito bem, meu amor, eu estou feliz por você. E posso perguntar se sobraram alguns daqueles tabletes de ouro, ou gastou tudo?
-Querida, você irá se surpreender com o tanto que restou, o preço do ouro está muito alto, teremos coisinhas cintilantes em um protegido porão por muitos e muitos
anos.
-Pai! Não vi nenhum quadro com nossas fotos. - Angel disse triste, entrando na sala.
-Infelizmente, isso eu não pude providenciar.
-Ah verdade, o quadro que lhes dei de presente também. - disse Angel.
-Não tem problema, não vamos ficar pensando no que perdemos, se ficarmos tristes a cada coisa que lembrarmos que não está na casa, será sempre assim. Amanhã vou
chamar o fotógrafo e iremos bater uma foto e emoldurá-la. Agora que nosso bebê chegou, teremos fotos dele também.
-Oba, eu adoro fotografias! - disse Josh rindo.
-Um brinde. - Ian ergueu a taça e Jayne brindou e beberam o vinho.
-Agora vão assear-se e trocar de roupa para se preparar para o jantar. Kate vai ajudá-los. Darei uma espiada na cozinha para ver o que Anna está preparando e ver
todos os detalhes.
Jayne colocou a taça na mesa, beijou Ian, ergueu as saias e saiu rapidamente da sala se dirigindo à cozinha. Ian riu e as crianças saíram rindo pela casa para irem
para o quarto.
Ian bebeu o vinho com um sorriso no rosto e respirou fundo, fechando os olhos. Foi até a porta dupla com armações de madeira e vidros quadriculados, abriu-a e respirou
o ar fresco. Olhou para o horizonte, contemplou o pôr do sol, bebeu outro gole de vinho e sorriu.
Estava feliz e sentindo-se bem consigo mesmo.
Jantaram alegres naquela primeira noite na casa, tudo estava perfeito. Ian pareceu não se esquecer de nada e se faltava alguma coisa, Jayne não se importava, sua
alegria de estarem na fazenda novamente era imensa.
**
Angel naquela tarde estava sentada sobre um cobertor na grama. Estava mastigando um talinho de mato como sempre gostava de fazer, estava dentro dos limites da fazenda
por exigência de seu pai, proibida de sair sem um acompanhante em hipótese alguma.
Ela olhava para as montanhas que contrastavam com o céu azul. O sol agraciava apesar do ar gélido, mas aquele dia parecia extremamente monótono e ela sentia um imenso
vazio no peito.
-Pensando em um poema para escrever para mim?
Angel virou-se assustada e quando avistou Richard parado a olhando com um sorriso nos lábios, levantou meio atrapalhada com suas imensas saias e parou na frente
dele como uma estátua.
Os dois ficaram mudos, olhando um ao outro.
-Richard! - ela soltou num sussurro.
-Boa tarde, Srta. Buller. - ele disse e fez uma lenta reverência.
-O que faz aqui? Eu... Eu pensei que não iria mais falar comigo, não respondeu as minhas cartas e a mais de dois meses que não me visita.
-Perdoe-me por isso. Eu creio que fui cruel com você.
Ela suspirou.
-Talvez eu tenha merecido isso. Eu fui muito inapropriada tomando a liberdade de lhe escrever sempre e depois de minhas grosserias...
Angel baixou a cabeça, olhando para o chão e puxou uma mexa de cabelo sobre o rosto, cobrindo a cicatriz.
-Teimosa é a palavra para defini-la, Srta. Buller.
Ele suavemente retirou a mecha de seu rosto, colocando-a atrás da orelha. Ela ficou vermelha e engoliu em seco.
-Como está seu irmãozinho? Creio que você esteja muito feliz.
-Obrigada, oh, sim estou muito feliz, ele é um anjinho e está ótimo. Está sendo a alegria da casa.
Ela o olhou por um minuto com um lindo sorriso e os olhos brilhantes, o que fez Richard sorrir.
-Imagino.
Automaticamente ela puxou o cabelo para o rosto e olhou para o chão.
-Por que nunca respondeu minhas cartas? Eu imagino que você preferia ficar sozinho. Desculpe.
-Tudo bem, doçura, chegou a hora de nós solucionarmos os vários problemas que temos aqui.
-O que?
-Primeiro, eu não quero que você esconda seu rosto de mim e nem de ninguém.
Ele ergueu seu queixo com o dedo, forçando-a a olhar para ele. Depois colocou seu cabelo para trás.
-Mas é que eu... Estou feia... - disse num sussurro e empurrou as lágrimas para não chorar na frente dele.
Richard suspirou.
-Não, não está. Você continua linda, Angel, nunca deixe ninguém fazer você pensar ao contrário. Para mim essa cicatriz não é feia e nem sinal de vergonha. Você não
pode se esconder por causa disso.
-Mas...
-Shhh... - ele segurou seu rosto e lentamente beijou sua bochecha, sobre a cicatriz, olhou em seus olhos e sorriu. Angel estava atordoada olhando para ele. -Prometa
para mim que você não vai mais se esconder e nem se envergonhar.
Ela demorou a responder e ele acariciou sua bochecha.
-Prometa, Angel.
-Prometo.
-Acredite em mim, sou perito em me ocultar e reconheço que não é certo fugir ou se esconder em um ovo com medo do mundo.
-Algo mudou para você?
-Sim mudou. Agora respondendo sua pergunta. Sim, eu precisava mesmo ficar sozinho.
-Ficou muito zangado comigo?
-Não foi por isso, eu entendi sua revolta e que precisava de um tempo para se adaptar. Não fiquei zangado com você, querida. Afastei-me porque precisava tomar uma
difícil decisão.
-Decisão?
-Sim. Estava brigando com meus demônios.
Angel olhava para ele, parecia tão sereno, olhava-a carinhosamente e aquilo fazia o coração de Angel aquecer e disparar no peito como nunca. Richard lentamente pegou
sua mão e a beijou demoradamente, depois a colocou sobre seu coração.
-Você venceu, Angel, com sua insistência e seu amor eu consegui derrubar um imenso muro.
-Do que você está falando?
-Vim lhe perguntar, na verdade lhe implorar para que seja minha esposa. - Angel paralisou e ficou olhando para ele com os olhos arregalados. -Eu amo você e acredito
que seu amor pode me manter vivo, porque percebi que longe de você eu sou um homem sem vida e infeliz.
Angel deixou que as lágrimas rolassem de seus olhos e não conseguiu dizer nada. Richard novamente envolveu seu rosto com as mãos e sorriu. Secou sua lágrima levemente
com o polegar e a olhava ternamente. -Aceita se casar comigo, Angel?
-Mas você quer se casar comigo mesmo com esta cicatriz?
Ele soltou a respiração.
-Já não havíamos passado por este primeiro problema?
-Sim, tínhamos.
-Então?
-Aceito.
-Mas você quer se casar comigo mesmo eu sendo doente?
Ela o olhou franzindo os olhos.
-Vê? Ambos temos problemas com algo, se você não liga para meu defeito, por que eu ligaria para o seu? Nós nos amamos e é isso que importa, certo?
-Sim, está certo. - disse sorrindo.
-Tem certeza?
-Toda certeza deste mundo.
Richard riu e abraçou, envolvendo-a com seus braços.
-Oh Richard, amo tanto você.
-Eu também. Nunca duvide disso.
Ele a beijou, os dois ficaram amortecidos pela sensação e seus corações descompassaram. Ele afastou seus lábios dos dela e a olhou, Angel mal sentia suas pernas
e ambos tentavam respirar.
-Definitivamente você me deixa sem ar. - ele disse com um sorriso.
-Teremos problema com isso? - disse brincando.
-Bem, estou nervoso, sem ar, mas isso foi algo que jamais senti. Nunca me senti tão vivo na minha vida. Beijar você é como tocar o céu.
Angel sorriu e o abraçou e os dois ficaram juntos por alguns minutos somente embriagando-se com seus braços.
-Estou tão feliz. Senti muito sua falta.
-Eu também senti sua falta.
-Angel, eu vou falar com seus pais e pedir sua mão. Acha que teremos algum problema com isso?
-Problema? Acho que não. Eles gostam de você.
-Certo. Mas preciso lhe dizer uma coisa antes. Isso pode mudar sua decisão. Se mudar, eu vou entender.
-O que? Não vou mudar de opinião.
-Angel, preste atenção. Eu preciso viajar.
-Para onde?
-Vou à Londres, onde tenho minha casa e meus negócios, preciso resolver alguns problemas que surgiram e encontrar outro administrador para uma de minhas propriedades
e vou testar um novo tratamento.
-Por quanto tempo teria que ficar lá?
-Eu não sei.
-Eu não entendo. Pediu-me em casamento e vai embora?
-Eu não vou embora, apenas farei esta viagem. Eu preciso ir. Recebi uma carta de meu tio que é médico e ele me garantiu que este tratamento é muito eficaz e que
vai melhorar muito minha vida. Preciso testá-lo, mas para isso preciso ir para Londres e juntamente com isso tive estes problemas nos negócios que somente eu posso
resolver. Quando eu voltar nós nos casaremos. Você entende?
Angel ficou muda, queria entender o que ele lhe dizia.
-Entendo o que está tentando fazer e eu aceito. Vou esperar por você. Sei que precisa deste tempo para melhorar eu vou apoiá-lo, mas vou ficar muito triste de ficar
longe de você.
-Eu sei, eu também vou, mas eu te prometo que quando eu voltar tudo estará bem. Nunca senti isso e nunca convivi com alguém, não quero correr o risco de decepcioná-la,
Angel. Eu quero ser o homem que você merece. Preciso saber lidar com isso. E também talvez este novo remédio que descobriram me ajude.
-Posso confiar em você? Você vai voltar, não vai?
-Eu te juro que vou voltar. Não vou perdê-la por nada nesta vida. Eu amo você, Angel, e vou lutar por você. Teremos nossa família, nossos filhos, e eu vou fazê-la
muito feliz.
-Eu também, prometo que vou fazê-lo feliz.
Os dois sorrindo e emocionados se abraçaram fortemente.
-Ah Angel, meu anjo que caiu do céu, eu espero que Deus nos abençoe e que me dê uma vida longa para ficar ao seu lado.
Angel se afastou dele e o olhou com o olhar cheio de amor.
-Vai dar e eu vou cuidar de você.
Richard lhe beijou a testa demoradamente, cerrando os olhos.
-Vamos, quero falar com seus pais. - disse sorrindo e acariciando seu rosto.
**
Ian e Jayne estavam no quarto com Christian quando Anna veio chamá-los avisando que o Sr. Montgomery estava os esperando na sala com Angel.
-Ora, finalmente. - Jayne disse espantada e sentiu um frio no estômago.
-Demônios! Se isso for o que eu estou pensando... - Ian resmungou.
-Bem, nós já sabíamos que em algum momento isso aconteceria. Você ainda não mudou de idéia? Vai dizer não?
-Pensei que você diria. - disse a olhando ironicamente.
-Eu não estou propensa a negar isso, mas vamos ver o que ele vai dizer.
-Boa tarde, Sr. e Sra. Buller. - disse Richard levantando-se do sofá quando Ian e Jayne entraram na sala.
-Como vai, Richard?
-Estou bem. Eu gostaria de conversar com os senhores, se não estiver incomodando. Sei que vim sem anunciar, mas Angel disse que vocês não se importariam.
-Não há problema. Por favor, fique à vontade.
Todos sentaram e os quatro conversaram. Richard explicou porque iria viajar e pediu a mão de Angel. Falou de seus sentimentos e de suas intenções com Angel. Ela
estava nervosa, espremia as mãos e não tirava os olhos dos pais, analisando o que fariam. Ian e Jayne não sabiam se aceitavam a proposta de Richard. Aquilo tudo
era apreensivo demais.
Ian olhou seriamente para Jayne e ela assentiu com a cabeça.
-Eu confesso que isso tudo não me agrada, Richard. Mas penso que se está indo viajar é porque realmente quer ficar bem para poder dar uma boa vida para minha filha.
Eu vou cobrar isso.
-Tenha certeza disso, Sr. Buller. Se isso realmente funciona talvez meu problema esteja solucionado, mesmo que não esteja curado. Eu prometo Sr. Buller, que quando
eu voltar tudo estará bem. Para falar a verdade estou esperançoso e eu quero fazer isso por mim e por Angel. Eu vou fazer de tudo para fazer sua filha feliz. Eu
só não me caso e levo Angel comigo, porque acho que não é certo. Não sei como será este tratamento e não quero expor Angel. Acho que dessa maneira será mais seguro
para ela ficando aqui com os senhores. Mas eu quero selar o compromisso para que ela saiba que voltarei para ela.
-Nisso eu concordo plenamente. Eu não ficaria tranquila com Angel tão longe sem saber as circunstâncias. - Jayne disse.
-Tudo bem, Richard, vou aceitar que fiquem noivos. Iremos fazer um jantar formal de noivado antes que viaje. Você terá um compromisso com minha filha e comigo. Não
se esqueça disso.
-Não vou me esquecer, senhor.
-Tudo bem, então que assim seja. Só espero que estejamos tomando a atitude certa.
-Pai, eu estou muito feliz, obrigada.
-No sábado faremos uma festa de noivado.
-Festa? Mas não seria somente um jantar?
-Meu anjo, por acaso você acha que seus tios vão querer ficar de fora? Um jantar com a família do tamanho da nossa no fim é uma festa. - disse Jayne e todos riram.
-E além do mais, minha única filha deve ter do bom e do melhor e tudo deve ser nos conformes.
-Verdade, mãe.
-Será ótimo, Sra. Buller.
-Então a partir de agora você faz parte da família, Richard, não me decepcione porque não serei condescendente. Espero que leve isso tudo com maturidade e responsabilidade,
digno dos Buller.
-Não o decepcionarei Sr. Buller.
-Então temos um noivado para preparar, vamos fazer um brinde. - Jayne disse e chamou Anna para servir.
Eles ficaram mais de uma hora conversando e Richard contou como eram seus negócios e patrimônios em Londres, contou sobre seus concertos de piano, sobre sua família.
Foi agradável para todos e Ian gostou muito do rapaz.
-Boa tarde senhor.
Richard levantou do sofá e apertou a mão de Ian e beijou a mão de Jayne. Angel o levou até a varanda e agoniada respirou profundamente, mas ao mesmo tempo feliz.
-Está nervosa, meu anjo?
-Muito. Vamos ficar bem, não vamos?
-Vamos, eu prometo, Angel. - Richard acariciou seu rosto docemente. -Eu preciso ir.
-Virá me ver antes de sábado?
-Claro. Venho vê-la amanhã à tarde. E... Quem sabe nós não poderíamos tocar um pouco de piano.
Ah... - disse tristemente. -Meu pai não comprou outro piano e o que era de meu avô queimou no incêndio.
-Hum, eu sinto muito. Mas você terá um piano para tocar quando for morar comigo.
Ela abriu um sorriso gigantesco.
-Jura? Podemos ter aulas então? Quer dizer... Você vai querer continuar me ensinado?
-Mas é claro.
-Mas eu terei que pagá-lo ainda?
Richard soltou uma gargalhada e riu mais um pouco depois, de si mesmo. Nem se lembrava de quando foi a última vez em que havia gargalhado. Adorou aquilo e acariciou
o rosto dela.
-Creio que terá que me pagar, mas eu encontrarei uma maneira diferente para que você o faça e não será com dinheiro.
Angel ruborizou, mas sorriu.
-É maravilhoso! Obrigada.
Richard pegou sua mão e beijou demoradamente e foi embora. Angel ficou ali o vendo distanciar-se, nem sabia o que estava sentindo, mas virou-se e correu para o quarto
com uma felicidade que não lhe cabia no peito.
-Agora já deu sua resposta, Sr. Buller, não adianta ficar com estas ruguinhas de preocupação. - disse Jayne o olhando.
-Não vá dizer que está tranquila, porque não está.
-Não. Estou fazendo tipo. - Ian riu e a abraçou. -Mas meu coração diz que estamos fazendo a coisa certa. Eles ficam lindos juntos e se amam, terão uma linda família.
E ela terá mais tempo de amadurecer até que volte.
-Assim espero, meu amor.
-Eu não nego que estou apreensiva com isso tudo, mas vamos ter fé. Vamos dar uma chance à vida.
-Vou tentar. Bem, eu vou à casa dos rapazes para avisar sobre o jantar no sábado. Você pode enviar uma nota aos seus pais?
-Sim, o farei.
-Bem.
-E eu vou ver o que preciso preparar. A propósito, como está se saindo o esposo de Kate com a forja nova?
-Está indo bem, melhor do eu esperava.
**
-Você está linda, filha.
-A senhora também. - disse Angel espremendo as mãos.
-Não fique nervosa, é só um noivado.
-Sei, quando for o dia do casamento creio que vou desmaiar.
Jayne riu e acariciou o rosto de Angel e lhe ajeitou os cabelos.
-Todas nós mulheres pensamos que vamos desmaiar, mas nada passa.
-Estão prontas? - Ian disse na porta do quarto. -Estão lindas.
-Obrigada, pai. Sim, veio com os pais e o irmão.
Eles foram para a sala e todos estavam sorridentes e conversavam. Quando Richard viu Angel parou de respirar, olhou-a paralisado. Angel foi até ele e parou na sua
frente sorrindo nervosamente.
-Boa noite.
-Boa noite, Angel. Você está deslumbrante.
-Obrigada.
-Estes são meus pais.
-Muito prazer. - disse sorrindo.
-Você é linda, Angel. Agora entendo porque meu filho se apaixonou por você.
-Obrigada, Sra. Reyes, senhor Reyes, é um prazer conhecê-los.
-Bem, é um encanto, Srta. Buller. - disse o Sr. Reyes.
-Então teremos um pedido de casamento hoje, mas será que este rapaz vai cuidar bem da minha pequena? - disse Mitchel observando Richard.
-Mitchel, não seja metido. Ian e Jayne devem saber o que estão fazendo. - disse Chloe.
-Não estou sendo metido, quero o bem dela.
-Não se preocupe Mitchel, Ian não entregaria Angel se soubesse que o rapaz não é do bem. - disse David.
-Eu sei, mas o que eu não sei é o que estão escondendo. Consigo ver uma conspiração por debaixo dos panos.
-Não seja dramático. - disse Willian rindo.
-Bom, foi você mesmo que disse para Ian casá-la logo, agora não invente coisas. - disse Emily rindo.
-Não estou inventando nada. Parem de pegar no meu pé.
-Ocupe sua boca com um gole de uísque. Quem sabe a bebida amortece seus miolos e você para de se preocupar. - David disse dando um copo de uísque para Mitchel e
rindo.
Angel estava sentada ao lado de Richard e não conseguia tirar o sorriso do rosto, o olhava com um carinho imenso. Richard estava nervoso, mas transparecia serenidade
em seu rosto e conversava com Angel.
Ele respirou fundo, sorriu lindamente para ela e levantou do sofá.
-Gostaria de pedir a atenção de todos, por favor.
Todos pararam de conversar e olharam para ele. Jayne e Ian se olharam sentindo um frio no estômago. Angel o olhava com os olhos brilhantes, seu coração disparado
no peito.
-Senhora, senhor Buller. Obrigado pela bela recepção e por sempre terem me tratado de maneira tão gentil e sei também que inicialmente não aprovaram meu casamento
com Angel. Mas creio que tudo ficará bem e farei de tudo para que Angel tenha uma vida boa, feliz e prometo que nunca faltará nada a ela. Eu a amo de todo meu coração.
Com ela eu senti vontade de viver, de melhorar e para falar a verdade este é um momento que eu jamais pensei que viveria. Então eu agradeço a Deus por ter colocado
Angel na minha vida. Senhor Buller, aqui diante da minha família e da sua eu oficialmente peço a mão da sua filha em casamento.
Ian o olhava atentamente e demorou em responder. Todos o olhavam esperando uma resposta, mas ele não disse nada. Angel fechou o sorriso e Jayne estranhou sua atitude.
-Ian, não vai responder? - perguntou Jayne calmamente tocando seu braço. Ian olhou para Jayne e depois para Angel, respirou profundamente.
-Richard, me desculpe, eu não nego que estou apreensivo.
-Pai...
-Calma filha. - disse Jayne.
-Eu espero que você sempre esteja bem como está hoje e que faça minha filha feliz. Eu concedo a mão de Angel em casamento.
Angel tentou respirar e ficou aliviada, por um momento ela pensou que Ian negaria; que houvesse mudado de idéia.
Richard retirou um saquinho de veludo do bolso e Angel levantou-se.
-Angel, com este anel eu selo meu compromisso com você. Eu prometo que farei de tudo para fazê-la feliz. Eu te amo e é uma honra tê-la como minha esposa e mãe dos
meus filhos. Não estou apenas lhe dando um anel, estou lhe dando meu coração e minha vida.
-Eu vou cuidar do seu coração e da sua vida, com todo meu amor.
Richard sorriu e beijou a mão de Angel e todos bateram palmas e foram parabenizá-los e aos pais. Serviram champanhe e fizeram um brinde.
-Ian você me deu um susto. - disse Jayne cochichando para ele.
-Eu estava nervoso.
-Tudo bem, amor. - ela virou-se para todos. -Vamos à mesa, o jantar será servido.
Todos seguiam para a mesa e Mitchel puxou Ian pelo braço.
-Tudo bem, agora você será obrigado a me contar o que esconde, viu? - disse falando baixinho.
-Depois eu conto.
O jantar transcorreu alegre e todos conversaram sobre os noivos e outros assuntos. Jayne e Sra. Cullen caprichosamente haviam preparado uma linda mesa e um delicioso
jantar. O padrasto de Richard nunca fora de muita conversa, mas estava animado e conversou muito com Ian e os rapazes, no geral sobre negócios.
Quando já era tarde Angel acompanhou Richard e seus pais até a varanda. Despediram-se dela e Richard esperou seus pais afastarem-se e olhou carinhosamente para ela.
-Está feliz? - perguntou ele.
-Muito.
-Pensei que seu pai iria negar.
-Quase morri de susto.
-Ele está com medo que eu morra e a deixe viúva.
-Não diga isso. Isso não vai acontecer.
Ele sorriu e segurou a mão dela delicadamente.
-Você não disse que me amava lá na sala.
-Não disse?
-Não.
-Por que eu não disse acha que não amo?
-Não, eu somente gostaria de ouvir.
-Pois eu te amo, Richard. Vou amar para sempre.
Richard sorriu e acariciou seu rosto e beijou sua testa.
-Agora vou dormir sossegado. - ela riu.
-Quando vai viajar?
-Daqui alguns dias, eu estou preparando tudo.
-Vou sentir muito sua falta.
-Eu também, mas é preciso.
-Eu sei.
-Virei amanhã à tarde para vê-la.
-Esperarei ansiosa.
-Boa noite, futura Sra. Montgomery.
-Boa noite, futuro marido.
Richard lhe beijou os lábios e desceu as escadas. Virou-se para ela e lhe mandou um beijo com a mão. Ela acenou um adeus e suspirou.
Seu coração transbordava de tanta felicidade.
**
Quando estava na hora de dormir se recolheram para seus quartos, Jayne colocou as crianças para dormir os aconchegando nas cobertas e lhes dando um beijo de boa
noite.
-Tenho minha própria lareira! E olhe estes lençóis, mamãe, são macios e cheirosos, parece que escorrego neles. - disse Angel sorrindo.
-Sim, meu bem, fico feliz por você.
-Quando chegar o dia de me casar, eu perderei este lindo quarto.
Jayne levantou uma sobrancelha.
-Prefere ficar em seu quarto novo a morar com seu suposto marido?
-Meu suposto marido tem nome, mamãe, chama-se Richard, e não, eu morarei onde ele me levar. Provavelmente me levará a morar na casa da colina. Mas pode conservar
este quarto para quando eu vir visitá-la e quiser passar a noite aqui?
-Claro, meu amor, sempre terá um quarto aqui para você. E como esta cama é imensa, terá lugar para seu bem longínquo e suposto marido que já tem um nome.
-Ainda não o aceita, mamãe?
-Eu o aceitei, querida, mas não sabemos quando este casamento ocorrerá, então, digo que aproveite bem seu quarto e sua casa nova, ainda temos coisas para arrumar
e gostaria que me ajudasse.
-Sim, mamãe, eu a ajudarei. Preciso aprender como gerenciar uma casa, afinal terei a minha e terei que comandar as criadas e mandar preparar o jantar e todas as
outras coisas.
-Sim, Angel, eu lhe ensinarei tudo o que precisa para ser uma excelente senhora Montgomery. Oh céus, será uma condessa. Isso é uma coisa que jamais imaginei. - Jayne
disse espantada e Angel riu.
-É certo, mas ainda serei uma Buller.
-Sim, sempre será uma Buller, mesmo que seu sobrenome não seja. Nunca esqueça isso, bebê.
-Eu não esquecerei, mamãe.
-Agora durma. Boa noite, chérie.
-Boa noite, mamãe.
Jayne entrou no quarto e Ian a esperava com duas taças de champanhe na frente da lareira; sorriu para ela quando a viu entrar.
-Champanhe! - exclamou impressionada.
-Sim, eu achei que hoje poderíamos brindar com algo mais requintado que uísque, vinho ou tequila. Um brinde a nossa nova casa e ao noivado de nossa princesa. A um
novo recomeço.
-Estamos sempre recomeçando e sempre juntos. - ela sorriu e pegou a taça, brindaram e beberam. -Estou muito feliz Ian. Eu adorei tudo.
-Eu também. Acho que vou demorar um pouquinho a me acostumar com tudo, mas conseguiremos.
-Verdade, e eu só quero uma noite tranquila com você.
-Não creio que vai ser muito tranquila, Sra. Buller. - disse a envolvendo pela cintura e sorrindo lindamente para ela, puxando-a para seu corpo.
Os dois se beijaram e começaram a se embalar como se estivessem dançando. Olhavam-se carinhosamente admirando o rosto um do outro.
Os dois sorriram amorosamente e beijaram-se lentamente enquanto acariciavam seus corpos levemente com as pontas dos dedos, deslizando suavemente, despertando o desejo
em ambos.
Ian desceu seus lábios beijando seu pescoço, puxou lentamente a camisola de Jayne para cima até as coxas e a sustentou nos braços, ela lhe abraçou pelo pescoço com
os braços e com as pernas pela sua cintura e ele deu alguns passos até chegar à cama e lentamente se deitou sobre ela, a olhou nos olhos e acariciou seus cabelos,
sorriu com todo amor para ela e a beijou novamente e perderam-se de desejo um pelo outro.
**
-Quando eu fiquei sabendo, não acreditei. Na cidade está todo mundo comentando!
Angel se virou assustada e deu de cara com Matt.
-Ai Matt, que susto!
-Diga que é mentira!
-Do que está falando?
-Seu noivado. Diga que não ficou noiva daquele almofadinha.
-Eu não acredito que você tenha vindo aqui, com tanta grosseria para me afrontar.
-Responda.
-Sim, eu e Richard ficamos noivos e vamos nos casar.
-Você me traiu!
-O que? Como assim, o traí?
-Você se fez de idiota, estávamos próximos novamente e você foi lá e noivou com aquele granfino, sem ao menos, me dizer uma palavra.
-Em primeiro lugar eu e você somos amigos, não temos nenhum outro tipo de relacionamento. Segundo, não tenho que informá-lo de nada sobre minha vida, pois não lhe
devo explicações. E além do mais eu deixei que se aproximasse porque me tocou o coração sua preocupação comigo quando eu estava triste.
-Você não vai se casar com ele.
-Pois observe. Agora já que está armado para uma briga vá embora porque não estou com disposição para brigas.
-Você vai se arrepender, vou acabar com aquele idiota.
-Não se atreva a fazer nada contra ele.
-O que está havendo aqui? - Ian gritou furioso logo atrás de Angel, fazendo-a pular e virar-se.
-Nada, pai, Matt está de saída.
-Estavam brigando.
-Não é nada. Matt que se alterou, ele já está indo embora.
-Guarde minhas palavras, Angel. - Matt disse de forma ameaçadora.
Matt estava focado em Angel e não percebeu Ian puxar a arma e colocá-la em seu rosto.
-Pai! - Angel gritou assustada.
Ian a puxou pelo braço colocando-a atrás dele.
-Está ameaçando minha filha, seu moleque?
-Não Sr. Buller, somente estou me despedindo.
-Não volte a pisar aqui na minha casa e esta é o último aviso que dou. Dirija a palavra a Angel novamente e é um homem morto. Desta vez não estou brincando. Nossa
trégua acabou assim como minha paciência.
Matt colocou o chapéu e saiu da fazenda. Angel ficou olhando espantada.
-Está bem, filha?
-Sim, não foi nada.
-Tem certeza, devo me preocupar?
-Conhece Matt, ele gosta de bufar, nunca muda. Achei que estava tranquilo.
-Disse à sua mãe que era um erro deixá-lo se aproximar novamente. Fique bem longe dele.
-Pode deixar pai, mas Matt é inofensivo.
-Nunca subestime Matt, moça. Você não tem ideia do que um homem com ciúmes pode fazer.
**
Angel ficou pensativa em seu quarto. Não permitiria que Matt ameaçasse Richard, era um idiota por pensar que podia fazer o que queria em relação a ela.
Ela foi até a caixa de madeira que tinha encima de uma mesinha e a abriu, pegou o revolver Smith & Wesson de seis tiros que tinha ganhado de sua mãe e o enfiou na
bota. Foi para o estábulo e pegou seu cavalo, sem falar nada para ninguém foi em rumo à fazenda de Matt.
Acabaria com essa picuinha de uma vez por todas.
Matt estava em casa, chutando as coisas que apareciam em sua frente e amaldiçoava Angel e Richard.
-Quem eles pensam que são? Angel é minha e não vai se casar com ele, nunca, só por cima do meu cadáver.
Ele foi até um armário e retirou uma caixa sob um cobertor, retirou um embrulho de pano. Ele olhou para o interior e retirou um punhado na sua mão. Nela brilhavam
três pepitas pequenas de ouro. Ouro que havia roubado da mina de Ian antes que ele mesmo tivesse que tê-la explodido com um monte de dinamites.
-Porcaria, somente me restaram três. Tenho que dar um jeito de vender isso. Mas como? Terá que ser bem longe de West Side, senão corro o risco de alguém saber. Mas
terei que ter cuidado. Se eu tivesse sido mais cuidadoso aqueles bandidos não teriam descoberto onde eu morava e não teriam vindo atrás do ouro e me roubado e ainda
atacaram a fazenda dos Buller. Eu tive sorte de não ter sido morto, mas se o senhor Buller descobrir que foi minha culpa que sua casa pegou fogo me matará. Maldição.
O que vou fazer agora é matar este desgraçado de Richard Montgomery. Angel vai ser minha. Já estou cansado de rastejar, vou mostrar quem realmente é Matt Macollin.
Matt ouviu um barulho e olhou para trás. Angel estava encostada contra a mesa, olhando-o com os olhos arregalados.
-Você é o culpado de tudo. - ela sussurrou, engasgada. -Quando meu pai descobriu que havia alguém mexendo na mina, era você.
-Não, Angel.
-A tentativa de sequestro no mesmo dia que minha mãe foi baleada, foi a maneira de me ter para que pudessem chantagear meu pai e saber onde estava o ouro. Por sua
causa minha mãe quase morreu, por sua causa, meu pai alimentou o desespero de esconder essa porcaria de ouro que tanto o machucou. Você trouxe aquele homem que quase
matou minha família e nos fez perder a casa. Você, seu bastardo, quase acabou com minha família por causa de dinheiro. Por sua causa tenho esta marca em meu rosto.
-Não!
-Você dedurou meu pai, avisou aos bandidos que era ele que vendia ouro na Califórnia. Você merece morrer, Matt!
-Vocês Buller são engraçados. Acham que podem fazer tudo e todos os outros são lixos. Você deveria ter ouvido seu pai quando disse para ficar longe de mim, agora
que veio dentro de minha casa, são minhas regras.
Angel girou para correr, mas Matt foi mais rápido, ele agarrou Angel pelos cabelos e a puxou de volta com toda força. Ela gritou pela dor, e aterrissou sobre uma
cadeira, que quebrou, fazendo-a cair no chão. Ela gemeu pela dor e tentou se mover.
Matt foi sobre ela e se acavalou em sua cintura.
-Mocinha mimada, eu vou ensinar umas lições para que entenda como uma mulher deve tratar seu homem.
-Matt... Pare com isso. Deixe...
Ele deu um tapa em seu rosto fazendo seu lábio cortar e sangrar.
-Não tem autorização para falar, entendeu?
Angel começou a chorar e ele agarrou seus cabelos e bateu com sua cabeça no chão e se aproximou de seu rosto, encostando seu nariz no dela.
-Nem tem permissão para chorar, Angel.
Ele então a beijou, com um beijo forte e rude que feriu seus lábios, ela apertou os olhos e tentou empurrá-lo, mas foi inútil.
-Sabe o que eu devia fazer, Angel? Fazê-la minha agora mesmo. Isso seria bom. Mas vou agir corretamente com você, mesmo que não mereça. Primeiro eu vou matar seu
conde, arrancarei suas vísceras e deixarei seu corpo para os urubus comerem, depois a arrastarei dessa cidade e nos casaremos, você será minha, de uma vez por todas,
entendeu?
Ela só choramingou, quando ele a beijou novamente, então ele se levantou; puxou-a do chão com força e a colocou sentada em uma cadeira. Angel estava tonta e gemeu
pela dor, ela viu que seu lado direito próximo às costelas estava sangrando, devia ter se ferido com as lascas da cadeira quebrada.
-Fique aí, não se mova que vou arrumar uma corda. Comporte-se, senão farei coisas que farão você me obedecer, fui claro?
Ela assentiu.
-Boa menina. Assim que eu a quero, futura esposa, calminha e obediente. Coisa que você nunca foi, uma mulher obediente.
Ele se afastou um pouco, procurando em um baú uma corda. Estava resmungando palavras que ela não conseguiu entender.
Ela então colocou a mão por debaixo da saia e alcançou a pistola que havia colocado presa em sua bota.
Quando Matt se virou Angel atirou, um tiro que acertou sua barriga. Matt cambaleou para trás e olhou para Angel com os olhos arregalados.
-Você atirou em mim, sua vadia.
-Vá para o inferno, seu desgraçado.
Ele cambaleou e se escorou na mesa, então pegou a arma do coldre e rapidamente mirou em Angel. Ela engatilhou o revolver para acertá-lo novamente, mas um estrondo
que quase a deixou surda eclodiu na sala. Angel ficou petrificada olhando Matt basicamente voar longe com o peito estraçalhado e cair no chão, morto. Angel se virou
e viu Richard na porta, apontando um rifle Henry de alavanca de ação calibre doze, a fumaça do disparo saindo pelo cano.
Ela ficou olhando para ele com os olhos arregalados.
Ele correu até ela e se ajoelhou, soltando o rifle no chão, tocou seu rosto todo ferido.
-Angel, meu amor, você está bem?
-Richard. - ela sussurrou e o abraçou caindo aos soluços.
-Calma, meu amor, está tudo bem, está tudo bem. Está ferida.
-Como sabia usar um rifle?
-Bem, sua mãe me disse um dia que era perigoso não andar armado, eu comprei um rifle e uma pistola e tenho praticado. Se eu estou no Texas, devo me defender como
no Texas.
-Como me achou?
-Estava indo à sua casa quando de longe vi você a cavalo, então eu vim atrás de você. Fiquei preocupado. Quando estava na varanda ouvi o tiro.
-Graças a Deus.
Ele a abraçou novamente e ela gemeu de dor.
-Venha vou levá-la para casa.
Ele a pegou no colo e foi para fora, sentou-a na sela e montou, logo cavalgou para a fazenda. Chegando lá gritou por ajuda e Ian veio correndo.
-Angel! O que houve com ela?
Ian a puxou do cavalo, e ela desmaiou em seus braços.
-Angel! - gritou Jayne que desceu os degraus correndo.
-Foi Matt, senhor. Ela estava em sua casa, ele machucou-a e ia atirar nela, mas eu cheguei a tempo de impedir que fizesse o pior.
-Matt? Aquele bastardo! Eu vou arrancar suas tripas pela boca.
-Ele está morto.
-Você o matou?
-Angel atirou nele, depois eu atirei.
-Muito bem. Queria matá-lo eu mesmo.
-Como ela saiu sem que ninguém visse? - Jayne perguntou.
-Agora não importa.
Ian correu para dentro e todos foram atrás. Colocou Angel na cama e Jayne correu pegar a bacia de água com um pano e limpar seu rosto ensanguentado.
-Angel, bebê, acorde. Oh Deus, isso é um ferimento de bala? - disse olhando sua barriga ensanguentada.
-Não sei senhora.
-Obrigado, Richard por ter salvado Angel.
-Meu coração disse que algo ia acontecer, estava angustiado em vê-la, por isso vim antes de ir para a estação.
-Oh, ia viajar hoje.
-Creio que já perdi o trem. Mas isso não importa, ela me importa.
-Ian, ela precisa do doutor.
-Vou enviar alguém buscá-lo.
-Senhora, o que houve? Oh meu Deus, o que houve com a menina? - Anna perguntou entrando assustada no quarto e todos olharam para ela sérios, sem dizer uma palavra.
-O que foi? - Anna perguntou angustiada.
-Matt fez isso, Anna.
-O que? Matt? Mas... Ele não poderia, Matt nunca a machucaria.
-Anna, Matt fez isso e ele está morto.
Anna tapou a boca com a mão e soltou um soluço.
-Sinto muito.
Ela saiu correndo do quarto, aos prantos.
-Pobre Anna, difícil suportar perder um filho, mas pior é saber o tipo de filho que ele era.
-Eu nunca pensei que ele fosse capaz de machucá-la desta maneira.
-Ele enlouqueceu, eu acredito.
-Vou mandar buscar o médico.
Ian saiu do quarto e Richard foi ao lado da cama e retirou os cabelos de Angel que caiam sobre seu rosto.
-Volte para mim, meu amor. - sussurrou.
Algumas horas depois Angel acordou e gemeu, olhou para o lado e Richard estava ao lado da cama, segurando sua mão.
-Oi amor. - ele disse. - Angel olhou em roda, perdida e assustada.
-Calma, você está em casa, está salva. Sua mãe e seu pai estavam aqui agora mesmo, ela foi levar os lençóis sujos para baixo e seu pai está lá embaixo falando com
Anna e o pai de Matt.
Angel soltou um soluço e Richard a abraçou.
-Não chore Angel, está tudo bem.
Eles ficaram abraçados por alguns minutos até que Ian entrou no quarto com Jayne. Então Richard se afastou.
-Foi ele, papai. - Angel disse.
-Foi ele o que, filha?
-Era Matt que estava roubando ouro da mina, foi ele o chamariz de todos os bandidos que vieram atrás de ouro. Desde quando atiraram na mamãe como agora.
-Meu Deus. - Jayne gemeu.
-Você não deveria ter ido à casa dele depois daquela briga, o que foi que eu disse para você? Fique longe dele, mas foi teimosa e me desobedeceu, olha no que deu.
- Ian falou e Jayne bufou.
-Como se alguma vez ela ouvisse que não pode sair sozinha da fazenda.
-Sermões não vão adiantar de nada agora. - Richard disse.
-Vá se acostumando com as teimosias dela, Richard.
-Tenho uma leve ideia. - disse sorrindo.
-Matt ia matar Richard, estava fora de si de raiva porque ficamos noivos. Eu só queria falar com ele, jamais imaginei que iria enlouquecer e me agredir desta maneira.
- Angel disse.
-Ele sempre foi fora de si, mas nunca imaginei que chegaria a isso. - Jayne disse.
-Sinto muito, filha, mas ele mereceu o fim que teve. Todos nós estávamos nos esquivando de ver a verdade.
-Eu atirei nele. - ela choramingou.
-Mas fui eu que o matei, não precisa se lamentar por isso, Angel, você não fez nada errado.
-Richard está certo, Angel, você não teve culpa de nada.
Richard a abraçou e ela chorou em seu ombro.
-Tudo vai ficar bem, amor, acabou, descanse, eu estarei aqui.
-Não me deixe.
-Nunca. Eu não vou a lugar nenhum.
**
-Você está bem?
-Sim, estou bem.
-Angel, eu preciso falar com você.
-Sei o que vai dizer, Richard. Não vá. Esqueça esta viagem, por mim.
-Não posso, eu já marquei tudo, meu amor, eu já adiei esta viagem por duas semanas, porque queria estar com você para que se recuperasse. Será somente por alguns
meses, eu prometo que vou voltar.
-Tenho um pressentimento ruim.
-Nada vai acontecer e você só ainda está sensível pelo que aconteceu.
Angel suspirou desconsolada.
-Por que ninguém nunca me ouve?
-Eu a ouço, meu amor, mas isso não muda o fato de eu ter que solucionar problemas com meus negócios, e não posso mais adiar. Isso envolve outras pessoas, Angel,
envolve dinheiro. Dinheiro o qual vai sustentar a senhora depois de se casar comigo.
-Certo. Isso não muda o fato que estou com um mau pressentimento.
Richard beijou seus lábios e depois suas mãos.
-Eu trouxe um presente para você.
-Sei, quer comprar minha calmaria. - ele riu.
-Oh e isso funciona?
-Raramente.
-Certo, anotarei isso para o futuro. Mesmo assim darei o presente.
Ele tirou do bolso um saquinho de veludo e deu a ela. Angel desenrolou e dentro havia um colar com um pingente com uma nota musical e no centro havia um pequeno
diamante.
-Oh Richard, é lindo!
-Nos conhecemos por causa da música, achei que seria um bom adorno para que sempre se lembre de que a amo e nunca, jamais a abandonarei.
Eles se abraçaram fortemente.
-Eu amo você minha moça teimosa.
-Também amo você. Prometa que vai voltar logo para mim.
-Eu prometo.
Richard prometeu, mas as coisas não saíram como esperado.
**
Alguns meses depois...
Jayne entrou no quarto e ficou por um segundo olhando para Angel. Ela estava sentada na poltrona, em frente à janela, olhava para fora com o olhar perdido e lentamente
acariciava o colar que Richard havia lhe dado.
-Angel, querida, você está bem?
-Acho que Richard não vai voltar, mãe.
-Meu bem, não fale assim, sei que ele está bem e vai voltar.
-Por que não escreve? Por que não recebo uma carta dele há meses, ele sempre me escreveu e agora nenhuma carta. Aconteceu alguma coisa.
-Angel, olhe para mim.
O coração de Jayne partiu-se em ver tanta tristeza no rosto de sua filha. Imaginava o que ela estava sentindo.
-Não perca a esperança, ele vai voltar, ele prometeu.
-E se ele não voltar, o que vai ser de mim?
-Se ele não voltar, você vai seguir com sua vida, recomeçar e um dia vai conhecer outra pessoa.
-Eu não quero outra pessoa, quero Richard, sou sua noiva e não serei de mais ninguém. E todo mundo vai saber que sou uma noiva largada. Ninguém mais vai querer se
casar comigo.
-Ah querida, a vida nem sempre é como desejamos, ele estava doente, talvez estivesse enganado com esta viagem. Talvez tenha sido um erro da parte dele ter noivado
com você e ter ido embora. Talvez um erro maior meu e de seu pai de ter permitido isso. Mas eu sei que se ele puder, vai cumprir sua promessa, mas não podemos ficar
cegos com esta esperança. E além do mais todos os rapazes iriam gostar de se casar com você.
-Acha que ele está vivo?
-Sinceramente sim. Senão a família dele teria nos avisado, meu bem.
-Ah e nem notícias deles tenho, foram para Londres também e evaporaram no ar. Disseram que foram se encontrar com ele. Nenhuma notícia de ninguém da família Montgomery!
Isso não é estranho?
-Bem, sim, mas o gerenciador do restaurante da família não disse que os Montgomery teriam problemas e que não tem notícias de que Richard tenha morrido. Disse que
a família está na Europa, os empregados ainda estão na casa de Richard, isso quer dizer que um dia voltarão.
-Então acha que se arrependeu de ter ficado noivo?
-Isso não! Quem em sã consciência se arrependeria de ter uma esposa linda como você? Ele não seria louco o bastante para isso. E ele sempre pareceu um homem muito
correto, não faria uma canalhice dessas. Seu pai não vai perdoá-lo e nem eu se ele ousou fazer uma coisa dessas. Eu mesma vou a Londres e o caço.
-Mas ele é um conde. Ele tem propriedades e empregados lá em Londres, e se ele se casou com alguém? Alguém mais sofisticada que eu?
-Angel, ele não faria isso.
-Ai mãe, eu sinto tanta saudade dele. Não aguento mais esta espera.
-Eu sei querida, mas tenha fé. Cedo ou tarde você terá notícias dele.
Angel suspirou e secou as lágrimas.
-Bem. O que me resta, esperar.
-Por que não treina seus saltos, hãn?
-A senhora me mandando saltar? Odeia que eu salte.
-Na verdade eu não odeio, somente quero que se cuide. Eu tenho orgulho de vê-la saltando.
-Tem? - perguntou espantada.
-Sim, você é boa. E quem sabe eu não a inscreva em uma competição?
-A senhora deixaria?
-Posso pensar com carinho no caso. Mas isso futuramente.
-Mulheres não participam destas competições.
Jayne deu de ombros.
-Uma Buller pode fazer o que quiser. Você é minha filha e pode fazer tudo que acha que pode.
-Está me ensinando a quebrar as regras da sociedade, mãe?
-Estou te ensinando a não baixar a cabeça para tudo. Quebrar regras é bom de vez em quando. Nós mulheres temos que seguir as regras da moralidade e da sociedade
e quando casamos devemos seguir as regras do marido, mas jamais podemos não ter desejos e sonhos próprios.
-Entendi. - Angel sorriu e a abraçou. -O papai a trata com tanto carinho, não a trata mal como vejo às vezes os maridos tratando as esposas. A senhora e o papai
agem tão diferente dos outros.
-Nós nos amamos e somos flexíveis. Eu sou uma mulher que passou por muita coisa, filha, me acostumei a ser livre na minha maneira de me expressar, e quando conheci
Ian, ele nunca me recriminou. Ele apesar de ser um homem sem muito estudo, sem fineses, ele é sensível e espontâneo. Nós nos importamos um com o outro e com as nossas
vontades.
-Posso ser assim com Richard?
-Pode, se compartilhar de suas ideias. Richard é diferente de seu pai, mas ele é uma pessoa tranquila e amorosa, cuidará muito bem de você.
-Espero que sim.
-Richard a ama, vi isso, ele mesmo me disse e eu confio nele. Portanto tranquilize seu coração e tenha paciência, cedo ou tarde chegará uma carta.
Mas nenhuma carta chegou e assim se passaram mais dois meses.
**
Ian estava cuidando dos cavalos juntamente com Jayne. Ele havia contratado uma forte segurança para sua fazenda novamente. Sabia que havia sido um erro ter abaixado
a guarda da outra vez mandando homens embora, mas não cometeria aquele erro novamente.
Ian cobriu a testa com a mão fazendo sombra sobre os olhos para ver uma movimentação na porteira de sua fazenda. Saiu das coxias e seguiu para frente da casa olhando
para ver, James estava a cavalo com uma espingarda e deu abertura para alguém passar.
Jayne viu aquilo e foi indo de encontro a Ian, e então o viu. O rapaz que montava um belíssimo corcel negro era Richard. Ian e Jayne se olharam espantados.
-Richard! - disse Jayne espantada. -Que maravilha vê-lo, nós estávamos apreensivos com sua ausência e falta de notícias.
Jayne soltou um grito assustado quando sem avisar Ian puxou Richard pelo casaco, o tirando do cavalo e o derrubando no chão.
-Seu miserável! O que estava pensando? Não vou admitir tamanho desrespeito com minha filha.
-Ian, solte-o, pare, vai machucá-lo.
-Eu avisei quando estaria voltando. - Richard disse assustado.
-Avisou? Não recebemos suas cartas há muito tempo.
-Que estranho, sempre escrevi, Sr. Buller.
-Richard? - veio a voz atrás deles.
Ian ergueu Richard do chão e todos olharam para a varanda. Angel estava em pé, segurando Christian acavalado em sua cintura esquerda. Mas o que deixou Richard boquiaberto
e sem fôlego foi como ela estava vestida. Ela usava uma calça de couro marrom, botas longas e uma blusa branca, estava com um coldre marrom na cintura, e carregava
uma pistola. Seu cabelo estava semi preso, caindo pelo seu ombro direito.
Richard não conseguia respirar e podia jurar que nunca tinha visto uma filha tão parecida com sua mãe, estava linda, deslumbrante e seu coração quicou no peito.
Todo o resto do mundo se apagou e só existia Angel.
Richard deu um passo para ir de encontro a ela. Mas Ian o segurou pelo casaco e ele o olhou.
-Não me pediu permissão para falar com a noiva que abandonou. Aliás, ex noiva.
-Não a abandonei! Enviei cartas. A última que enviei eu disse que iria me encontrar com meu mestre, que ficaria um tempo sem escrever por causa da longa viagem,
e que a previsão de minha volta seria este mês, mas creio que não recebeu. Quando voltei à Londres e vi a carta que ela enviou através de meu gerenciador do restaurante,
fiquei alarmado e peguei o primeiro navio para os Estados Unidos. Há quanto tempo não recebe?
-Meses, Richard.
-Peço desculpas por isso, Angel deve ter ficado muito preocupada.
-Infeliz, assim foi como ela ficou. - disse Ian.
-Desculpe Sr. Buller, mas deve estar acontecendo um engano.
-Nenhum engano. Oito meses, Richard, você ficou fora por oito meses e não perdoarei. Angel não é mais sua noiva. Agora vá embora.
-Pai!
-Para dentro, Angel.
-Deixe-me falar com ele.
-Entre, agora! - Ian gritou zangado.
Angel virou e entrou. Richard entrou em pânico e olhou para a Sra. Buller que também parecia assustada e depois para Ian.
-Senhor, eu sei que está zangado, mas meu tratamento demorou mais do que imaginei, foi uma sucessão de problemas que tive que resolver para que pudesse voltar e
morar aqui em paz. Por favor, acredite, em nenhum momento desisti de Angel e eu enviei cartas, mas devem ter se perdido. Deixe-me falar com ela, eu a amo e voltei
para que possamos nos casar.
-Ian, por favor, solte-o. - Jayne disse e Ian o soltou.
-Vou pensar em ouvir mais do que tem a dizer, mas não hoje, vá embora e quando eu estiver disposto a lhe ouvir, eu o chamarei.
-Mas senhor, por favor.
-Vá antes que lhe tire daqui e não lhe conceda a chance de se explicar.
-Richard, vá, por favor, Ian está nervoso, precisam esfriar a cabeça. Vá, eu converso com Angel, está bem?
Ele engoliu em seco, mas assentiu e subiu no cavalo.
-Uma coisa que deve aprender, rapaz. Nesta família, nunca, em hipótese alguma, uma mulher é ferida, maltratada ou inferiorizada, fui claro? Pense nesta lição antes
de sequer pensar em maltratar Angel, seja de que maneira for. Mesmo casado eu a arrancaria de você se a fizesse chorar. - Ian disse.
-Eu amo Angel, não vou desistir dela.
Richard virou o cavalo e foi embora.
-Ian, pelo amor de Deus, o que está fazendo? - Jayne disse assustada e um tanto zangada.
-Ele precisa aprender que fazer minha filha de tola não é uma opção.
-Mas ele disse que enviou as cartas, pode ter se perdido, sabe como as mensagens são um problema.
-Bem, eu sei disso, não sou idiota.
-Angel não vai perdoar você se ele não voltar.
-Ah, ela vai assim que entender o que estou fazendo.
-E o que infernos está fazendo?
-Primeiro eu o intimido, agora eu quero ver as loucuras que fará por nossa filha. Se a quer de volta, lutará por ela, não?
-Isso foi um jogo?
Ian deu de ombros.
-Se ele a ama agora deve estar morrendo de medo de perdê-la. Provará seu amor para ela, e isso fará com que Angel se sinta valorizada. Estes últimos meses foram
um inferno para ela. Ela está endurecendo, Jayne.
-Eu sei, agora entendo. Bem, então vamos esperar para ver o que ele faz. Espero que esteja fazendo a coisa certa.
-Confie em mim, em breve ele fará uma loucura.
Quando Ian entrou em casa Angel estava na sala com Christian.
-Pai...
-Por favor, querida, eu sei que ouviu a conversa entre eu e sua mãe. Eu a conheço como a palma de minha mão, você tem o mesmo costume dela de ficar ouvindo atrás
das portas.
-Ei! - Jayne reclamou.
-Bem, é um fato, então sabe o que estou fazendo. -Ian disse.
-Mas e se ele não voltar?
-Angel, isso é que eu quero testar, se a ama, virá. Espero que amanhã ele esteja aqui. Então conversaremos. Quer ter a prova que realmente a ama como diz e que te
dará valor? Pois aí tem. Espere e veremos.
Angel ficou olhando boquiaberta para seu pai, mas não disse nada.
Seria bom ver Richard provar seu amor, não? Afinal ela tinha sofrido e chorado tanto que havia pensado que nunca mais choraria em toda sua vida. No último mês, Angel
havia endurecido seu coração, entendera muitas coisas e uma coisa mais importante, entendera que deveria ser forte e não ficar deitada na cama chorando como uma
criança.
Não era mais uma criança, era uma mulher, e era esta mulher que Richard se casaria. Apesar de tudo ela ainda o amava, intensamente.
-Estamos de acordo? - Ian perguntou.
-Sim, pai.
**
Angel estava no quarto, sentada em sua penteadeira, usava somente a camisola de linho branca, ornada com renda francesa, longa até os pés e o penhoar combinando.
Ela lentamente penteava os longos cabelos que estavam compridos até sua cintura. Cada movimento era languido e suave. Havia dois lampiões acesos que iluminavam o
quarto.
Richard a olhava paralisado pela porta de vidro e seu coração doía. Amava-a desesperadamente e vê-la daquela maneira quase o enlouqueceu.
Angel soltou a escova de cabelos sobre a penteadeira, pegou o vidro de perfume e borrifou um pouco no ar e o cheirou, levemente sorriu. Ela levantou da banqueta,
pegou um livro que estava sobre a penteadeira e virou-se para ir para a cama, foi então que se assustou e derrubou o livro. Richard estava em pé, na varanda, olhando-a
através da porta de vidro. Angel ofegou e foi até lá.
Richard fez sinal para que ela abrisse a porta. Ela relutou por um minuto, mas abriu.
-Como subiu na varanda, desta altura?
-Faria qualquer coisa para falar com você.
-Pensei que meu pai disse que não somos mais noivos.
-Angel, por favor, me ouça.
-Meu pai vai ficar muito zangado se ver você aqui.
-Pois que veja, mas não sairei daqui até que nós resolvamos nosso contratempo.
-Contratempo? Chama isso de contratempo?
-Sim, um equívoco e eu quero que entenda de uma vez por todas que eu amo você e que nem em um minuto pensei em desistir de você.
-Sempre esteve relutante em me aceitar.
-Isso foi antes de assumir o noivado com você. Não sou nenhum leviano. Eu estou aqui, voltei para você e acredite em mim, você era o único motivo deste mundo para
voltar para cá, sendo que tudo conspirava para que eu ficasse em Londres. Minha mãe se recusou a voltar. Meu tio conspirou para que eu ficasse como sua cobaia para
os medicamentos e testes, eu fui um tolo e me deixei enrolar por seus argumentos. Mas seu tratamento foi muito eficaz. Depois resolvi que iria ver meu mestre então
fui de encontro a ele, foi quando mandei a última carta.
-Por que queria ver seu mestre?
-Ele é como um pai para mim, eu queria que viesse comigo, e o que me deixou mais feliz é que ele veio, assim como Jeremiah, ele vai ficar na casa da cidade e cuidar
do restaurante. Olhe meu amor, eu sei que parece tudo muito fugaz e errado para você, mas eu não agi de má fé. Foi um erro eu ter ido para lá, Angel, e eu sinto
muito, mas precisa acreditar em mim. Eu enviei cartas avisando os motivos de ficar mais tempo, mas se não chegaram foi um erro de alguém, eu as enviei, juro. Eu
nunca faria tal canalhice de noivar com você e deixá-la.
-Cheguei a pensar que tinha encontrado outra noiva, alguém mais bonita, alguém que não tivesse o rosto...
-Pare!
Ele se aproximou e segurou seu rosto entre as mãos.
-Nunca mais se atreva a repetir isso. Eu amo você e não ligo em nada esta sua pequena marca; assim como você não se importou pelo fato de eu ser doente. Pensei que
já tínhamos encerrado este assunto.
-É que eu estava muito triste, só conseguia pensar nos motivos que teria para me deixar.
-Bem, eu sinto muito, mas estava equivocada e isso acabou. Não existe no mundo mais nenhum motivo para deixá-la. Eu voltei e vamos ficar juntos e nada vai nos separar.
Você é minha noiva, meu amor e não aceitarei que desista de mim. Você lutou muito por mim, lembra-se?
Ela assentiu.
-Você me ama mesmo?
-Ah minha doce Angel, eu a amo como a lua ama as estrelas, como a areia ama o mar, como os pássaros amam cantar. Ficar longe de você foi uma tortura, e acredite,
nunca mais foi fazer tal loucura de me afastar de você novamente. Eu a amo, e preciso de você. Você ainda me ama?
Uma lágrima escorreu de seus olhos e Richard a secou com o polegar.
-Sim, eu ainda o amo.
-Ainda quer se casar comigo, Angel?
-Sim, eu quero.
Ele sorriu e a beijou, envolvendo-a entre seus braços.
-Acho bom que queiram se casar realmente, porque eu não admitirei que um homem esteja no quarto de minha filha, há esta hora, com ela de camisola e se resfolegando
desse jeito, sem que aja um casamento depois.
Os dois se soltaram rapidamente e olharam com os olhos arregalados para Jayne, que estava na porta do quarto com os braços cruzados.
-Mãe!
-Sra. Buller, eu...
-Shhh! - disse erguendo a mão para que não falassem. -Não comece com esta ladainha. Eu ouvi tudo e sim, irão se casar e sim, é hora de você ir embora antes que Ian
acorde e arme uma confusão, Sr. Montgomery. Ele pode não levar as coisas tão mansamente como eu. Amanhã com o sol alto no céu você volta e refarão este noivado,
certo?
-Claro, Sra. Buller. A senhora está a favor?
-Meu bem, eu estou e fico aliviada que tenham se acertado e acabado este pesadelo, agora vá, vá.
Ele riu beijou Angel e beijou Jayne no rosto e foi sair pela varanda.
-Richard! - Jayne chamou.Ele se virou e a olhou.
-Pode descer pela escada e sair pela porta da frente, antes que quebre o pescoço tentando descer esta varanda.
Ele sorriu, deu a volta e saiu pela porta. Jayne então olhou para Angel.
-Tem sorte de seu pai estar dormindo e que Richard estava aqui lhe pedindo sua mão, porque senão já imaginou as consequências?
-Ele não fez nada demais.
-Claro que não. - disse ironicamente. -Os jovens nunca pensam que estão fazendo as coisas erradas. Ai se eu não soubesse pelas minhas próprias contas. Agora vá para
cama sonhar com seu príncipe.
Angel sorriu e abraçou Jayne.
-Obrigada mãe.
Jayne suspirou e a abraçou de volta.
-Agradeça ao seu pai. Ele queria que Richard provasse que a ama e arriscar levar um tiro é uma boa prova de amor para mim.
-Para mim também. Ele me ama.
-Sim, meu anjo. Meu coração está leve novamente, graças a Deus. - sussurrou. -Amo você, filhotinha.
-Eu também.
Angel deitou e Jayne foi para seu quarto, deitou na cama e suspirou.
-Ele foi mais rápido do que pensei. - Ian resmungou.
Jayne olhou para Ian, assustada e com o cenho franzido. Ele estava imóvel, com os olhos fechados, pensou que estava dormindo.
-Ian, está acordado? Sabia que Richard estava ali?
-Claro, eu não sou surdo e nem idiota.
-Jesus, e como não foi lá dar um flagrante?
-Pra que? Você se encarregou desta parte e ele a pediu em casamento de novo, não?
-Você é terrível! - Jayne disse rindo e o beijou.
**
Com a volta de Richard a paz se instaurou novamente. Sempre era assim, depois de uma tempestade eles usufruíam de paz e calmaria.
Richard estava bem e animado. Seu mestre chinês estava encantado em conhecer West Side e toda a grande família de Angel. Era um homem que gostava de ouvir as aventuras
que contavam sobre o novo mundo.
Angel se divertia com ele que não falava bem o inglês e dizia as palavras enroladas. Era um homem com o coração e conhecimentos espetaculares, adotara Richard como
um filho e o zelava. Jayne adorava passar horas com ele travando conversas exploradoras e divertidas.
Richard decorou sua casa na colina para receber Angel depois do casamento, ela perdera aquele ar fúnebre de um mausoléu, recebeu belas cortinas, móveis, quadros,
estatuetas e belas louças.
Richard estava feliz, tanto que jamais pensara estar na sua vida.
Ian aceitara o casamento da filha e estava orgulhoso do que estava vendo. Um casal apaixonado e feliz e sabia, então, que sua filha teria uma boa vida ao seu lado
de Richard. Estava feliz.
**
No dia do casamento de Angel e Richard todos estavam eufóricos e arrumaram um belo altar para a celebração da cerimônia religiosa e um imenso banquete com muita
comida, bebida e músicos para embalar a festa. O casamento seria pela manhã e deveria se estender até a noite.
Jayne olhou Angel pelo espelho quando terminou de lhe colocar as últimas flores nos cabelos.
-Filha, você está linda. - disse emocionada.
-Mãe, por favor, não vá chorar senão eu vou chorar também.
-Tudo bem, eu não vou chorar.
-Já está chorando, Jayne. - disse Emily rindo.
-Ah, não consigo me segurar, estou emocionada.
-Mãe, eu te amo. - disse a abraçando.
-Eu também, meu amor.
-Está na hora. Richard já está no altar. - Kate disse batendo na porta.
-Ai meu Deus.
-Calma, respire fundo e faça o que ensaiamos, vai dar tudo certo.
-Ai, eu vou desmaiar.
-Não pode desmaiar antes de me dar um abraço. - disse uma voz diferente vindo da porta do quarto.
-Tia Julia! - gritou Angel.
-Julia, eu pensei que não viria. - Jayne disse emocionada.
Angel correu e a abraçou e depois Jayne e Emily fizeram o mesmo.
-Quanta saudade, meu Deus! Mas eu não perderia este casamento por nada deste mundo. - Julia disse.
-Que bom que veio, minha irmã.
-Jayne, este é um grande dia para você. Eu tinha que estar presente.
-As três irmãs juntas novamente.
-Sim. Meu lugar é aqui.
Ian chegou ao quarto e seu coração se encheu de alegria.
-Você está linda, filha.
-Obrigado, papai.
Angel o abraçou e Jayne ficou emocionada os vendo daquela maneira.
-Vamos, não vamos deixar o noivo esperando. - Ian disse.
Todos se posicionaram em seus lugares no altar e ao redor. A música começou a tocar e Richard se virou, nervoso por ver Angel se aproximar com seu pai. Tentava controlar
sua emoção, mas quando a viu tão linda pensou que ia desabar bem ali.
Angel sentiu o mesmo quando o viu. Ian entregou Angel para Richard e lhe deu um beijo na testa.
-Você está linda, Angel.
-Você também.
Eles se olharam por alguns instantes e se viraram para o reverendo.
A cerimônia correu linda e todos assistiram emocionados. E depois seguiram para o brinde e o almoço. Todos os convidados foram cumprimentar os noivos.
-Julia...
Ela se virou e deu-se com Mitchel que a olhava espantado por vê-la.
-Mitchel... Como vai?
-Estou ótimo e você?
-Muito bem. Este é meu marido Reinard Redford.
-Muito prazer, sou Mitchel Vaiz. - disse estendendo a mão para ele.
-É um prazer conhecê-lo.
-Que bom que pode vir para o casamento, Jayne deve estar muito feliz.
-Sim, felizmente deu tempo. Viemos para ficar.
-Vão ficar morando aqui?
-Sim, Reinard vai trabalhar aqui como médico.
-Isso é bom, estávamos precisando de mais um médico, a cidade está crescendo e ainda continuamos levando muitos tiros. Um só não dá mais conta. - disse Mitchel rindo
e Julia e Reinard também riram.
-West Side nunca vai perder seu jeito e parece que nem vocês.
-Isso nunca. Afinal Texas é Texas.
-Como vai, Julia? - disse Chloe se aproximando com o pequeno Gregory agarrado em sua mão.
-Chloe. Eu estou bem. Oh, que gracinha. É seu filho?
-Sim, este é Gregory. - disse Mitchel.
-Parabéns, ele é muito lindo.
-Obrigada. - Chloe disse.
-É uma mulher de fibra por ter voltado. - disse Mitchel sorrindo.
-Meu pai tem outro nome para isso. Mas não tenho medo de críticas.
-Bem, seja bem vinda de volta. Espero que sejam felizes aqui.
-Seremos e nosso filho também será. Eu quis que ele nascesse aqui, perto da família.
-Julia, meus parabéns! - disse Mitchel.
-Obrigada.
-Teve algum problema por não ser casada?
-Na verdade conseguimos nos casar, na Escócia. Lá eles têm muitas liberdades sobre o casamento que outros lugares não têm. Nosso filho vai nascer dentro do casamento
e é válido, caso queiram saber disso.
-Isso é bom, afinal, parece que o mundo muda.
Mitchel pegou Gregory no colo e abraçou a cintura de Chloe.
-Até mais, Julia. - disse se afastando.
-Está feliz, minha princesa? - perguntou Ian enquanto embalava Jayne levemente ao som da música.
-Muito, meu amor. Eu espero que Angel seja feliz.
-Vai ser, querida, e logo nossos netos estarão correndo por aqui.
Jayne riu encostando a cabeça no peito de Ian e ele riu.
-Você está linda.
-Ainda me acha linda depois de tantos anos?
-Você está cada dia mais linda para mim.
-Você também, e já estão aparecendo uns fiozinhos brancos aqui nas suas têmporas e eu acho que ficará mais bonito do que já é.
Ian soltou uma bela gargalhada.
-Como você mente.
Os dois riram e se beijaram e continuaram a dançar.
-Está feliz, Sra. Montgomery? - Richard perguntou dançando com Angel que nem por um minuto parava de sorrir, tamanha sua felicidade.
-Muito, nunca imaginei que pudesse ser tão feliz.
-Eu também, nunca imaginei que um dia estaria me casando. Parecia algo tão distante de minha vida.
-Está feliz por ter se casado comigo?
-Muito. Vamos ter uma bela vida juntos. Eu prometo.
-Eu também prometo.
-Eu te amo, Angel.
-Eu também te amo, Richard.
Richard sorriu lindamente e lentamente beijou Angel.
A tarde transcorreu festiva com a baderna costumeira dos rapazes e das crianças. A música rodava alegre com a rabeca, violino, banjo, violão e gaita. E embalavam
com a batida dos pés na madeira.
-Atenção... - Ian disse batendo a colher na taça de cristal e todos o olharam. -Eu estou muito feliz hoje. Angel não é minha filha de sangue como sabem, mas a primeira
vez que eu a peguei no colo, quando ela tinha seis anos, ela sorriu para mim, enrolou seus dedinhos nos meus cabelos e dormiu. Ela parecia gostar de mim e se sentiu
segura nos meus braços. Naquele momento eu a considerei minha filha e assim sempre será. - Ian olhou para Jayne e as lágrimas corriam de seus olhos. -Minha família
é meu tesouro e hoje também vamos celebrar nossas preciosas amizades. Somos fortes porque somos unidos, amigos, irmãos, esposos, esposas, pais e filhos. Somos unidos
porque fizemos um pacto de nunca abandonarmos um ao outro ou enganar. E cada pessoa que entra para nossa família faz parte dela por inteiro e tem que seguir nossas
regras. Valorizamos a vida e espero poder passar para meus filhos este valor e assim para meus netos e que eles passem aos seus filhos. Uma vez, eu me senti sozinho
neste mundo e agora eu tenho todos vocês e eu só agradeço por isso. Um brinde a todos e a Angel e Richard, que vocês sejam muito felizes e que a partir de hoje vocês comecem a escrever sua própria história.

 

 

                                                   Janice Ghisleri         

 

 

 

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