Criar uma Loja Virtual Grátis
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PALACIO HANZEL / Barbara Biazioli
PALACIO HANZEL / Barbara Biazioli

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT 

 

 

Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

- Este ano teremos uma árvore de Natal maior, Cora! – escuto Romeo conversar com Cora. Eles estão sentados na escada em forma de arco. A neve transforma a paisagem e os deixam assim, discutindo situações dentro de casa. Eles insistiram para ir brincar lá fora, mas os convencemos que ficar doente nessa época poderia atrapalhar os planos do Papai Noel.
- Claro, né, Romeo! – Cora concorda lindamente. Ela está com seus cabelos soltos e sobre o casaco rosa e o jeans que ela veste, está o poncho que Maria fez e que ela insiste em chamar de cobertor com buraco no meio. Ela irradia uma espécie de feitiço sobre as pessoas que a olham. Ela é a minha perfeitinha de narizinho arrebitado que imita os passos da mãe na sala espelhada. Tenho vontade de trancá-la em um lugar e protegê-la desse mundo, mas com certeza apareceria alguém que a salvaria da minha proteção e eu passaria de pai a carrasco em menos de dez minutos.
- Tomara que venha com esquilos! – Romeo que pula entre o primeiro e o segundo degrau confessa sua vontade para Cora. Ele parece não sentir frio e usa seu habitual macacão jeans e uma camisa branca; está de meias, uma de cada cor e isso deixa Victoria um pouco irritada às vezes. Ela tenta entender o motivo pelo qual ele não usa meias da mesma cor, mas ele já explicou, ele acha chato ter cores iguais em seus pés quando ele os balança ao estar sentado.
Romeo é galanteador, consegue de Maria tudo e mais um pouco. Há alguns dias, entrei na cozinha e observei uma cena que quase sempre se repete, mas resolvi registrar.
Cora e Romeo sentados sobre a ilha da cozinha enquanto esperavam Maria fazer um bolo de chocolate, existia mais farinha nos dois do que na receita.
Quase sempre é assim; sempre tem Maria ao redor dos meus filhos, assim como ela esteve ao meu redor. Escuto Vick chamando por Romeo, ela quer que ele troque de roupa.
Ele protesta, mas Vick se apoia no parapeito do mezanino com uma troca de roupas na mão e dispara:
- Romeo, suba agora, ou então ficaremos sem uma árvore de Natal. – ela diz séria e linda. Eu a olho como se fosse a primeira vez, sempre que a observo caminhar pela casa é como se fosse a primeira vez.
- Mãe! As meias! –Romeo esbraveja.
- O que tem as meias, Romeo? – ela segura um par de meias verdes e mostra para ele.
- São iguais, oras! – ele cruza os braços e sobe os degraus, indo em direção ao seu quarto. Antes era a academia que foi levada para a área próxima à casa da piscina.
Por fim ele se trocou depois de tanto resmungar, colocou um casaco verde escuro sobre a calça jeans, um gorro marrom e verde que cobriu suas orelhas, e nos pés, uma meia vermelha e a outra verde. Ele venceu novamente, ele detém um poder sobre pequenas coisas.
Cora sobe os degraus e caminha em minha direção. Ela tem olhos lindos, um castanho claro esverdeado, o cabelo liso, castanho claro e uma boca carnuda. Ela tem encantamento, é feminina e ama tons de rosa e esse mundo incompreensível de princesas e fadas. Ela consegue de mim coisas que fazem Victoria se revirar, mas eu faço. Semana passada eu fiquei de guarda no closet de seu quarto; segundo ela, um monstro queria roubar o castelo de uma de suas princesas.
Claro que parecia algo simples, mas quando Vick entrou no quarto de Cora e me viu com uma panela na cabeça e uma colher de pau na mão, ela não entendeu, mas Cora explicou que era para me proteger do monstro e naquela noite eu esperei Cora dormir e voltei para o meu quarto.
Victoria aplicou um sermão do tipo isso não pode se tornar frequente! Mas foi a primeira vez e a última, afinal, na manhã seguinte, enquanto Cora estava na aula de balé, eu pedi para Gunter arrumar uma caixa grande de madeira, coloquei uma corrente e um cadeado lacrando a caixa. Em um dos lados coloquei um papel, nele estava escrito: “Devolver o monstro”, e deixei a caixa no jardim. Victoria não entendeu nada, até que tudo estivesse pronto.
Quando Cora chegou, eu a chamei e ela correu para o meu colo. Expliquei que foi muito difícil capturar o monstro e que o ‘capacete’ de ontem me protegeu e que a ‘espada’ ajudou, mas que o monstro agora iria voltar para casa dele e que ele nem era tão mau assim, ele queria apenas brincar.
Cora sorriu ao olhar para a imensa caixa e disparou: “Você é o príncipe das minhas princesas!” Victoria sorriu e mais à noite me lembrou disso com uma cena linda de ciúmes das princesas de Cora.
-Vamos? –Victoria me desperta enquanto estou com Cora em meu colo, ela revira meu cabelo e eu sou completamente apaixonado por ela, por elas.
-Vamos. –retorno e beijo Vick no rosto.
- Papai beijou a mamãe! – Romeu fala com um boneco do Hulk na mão, fazendo cara de nojo e solta um argh! Romeo é uma criança comum, mas apresenta uma inteligência que surpreende. Ele cria o próprio universo e o desfaz em questão de minutos. Ele é habilidoso com números, e isso encanta Victoria. Mas claro que, como ele é precoce para sua idade, se encontra naquela fase de meninos contra meninas. Aahhhh... Deixe que ele chegue à fase em que ficamos absurdamente jogados aos pés delas...
Descemos a escada em forma de arco rindo do jeito de Romeo. Chegamos na garagem e Gunter abre a porta e cumprimenta as crianças; elas o cumprimentam de volta. Cora e Romeo são colocados em suas cadeirinhas; Gunter não vai nos acompanhar.
Assim que alcanço a rua e as crianças se encantam com a neve, causam um alvoroço no banco de trás e pedem para brincar enquanto a neve cai. Victoria que está linda com seu casaco branco e jeans que combinam com sua bota bicos finos em cor vinho, entorta a boca assim que eu prometo deixá-los brincar quando chegarmos ao lugar onde se vende árvores de Natal.
- Evan, você não pode permitir tudo! –Victoria me adverte e mesmo brava ela é encantadora.
- Você sabe que sou um fraco diante deles – falo baixo para somente ela ouvir -, Mas são apenas algumas bolas de neve, não correrão riscos. – ela alcança a minha mão e mesmo depois desses anos me sinto terrivelmente abalado por essa mulher.
O som toca Seal, Kiss From a Rose, olho para a mão de Vick que quase some sob a minha e algo bom acontece toda vez que estou perto dela, ela está constantemente dentro de mim, e isso é o que me faz feliz.
Chegamos ao Park Tennessee, onde as crianças escolherão a árvore de Natal. Elas acabam de saltar do carro e correm entre elas. Cora o chama e em seguida estão lá, se divertindo. Mesmo tendo ralhado comigo no carro, agora Vick está junto a eles. E como eles se divertem correndo e atirando bolas de neve uns nos outros. Isso me faz rico.
Ao olhar para minha vida de protetor das princesas de Cora e advogado do meu filho Romeo e sua obsessão por meias de cores diferentes, me remeto ao passado, o que eu era, e por pouco e muitas vezes pensei em desistir.
Hoje tenho duas metades que preferem viver, as metades que um dia estiveram no consultório de chão imperfeito do Dr Ethan Palmer e tinham certeza de que meu caso não havia mais salvação.
Volto no tempo, mesmo estando ali, observando minha vida perfeita e lembro como tudo começou.

 


 

 

Capítulo 1
Evan
Foram setenta e oito sessões, até o presente momento. Foram setenta e oito visitas ao Dr Ethan Palmer, analista respeitado e um dos nomes mais influentes na área
psicanalista. Sua tese faz parte de alguns currículos universitários.
Foram setenta e oito vezes a mesma situação de pontos de vista diferentes. Mas para mim, Evan Louis Maccouant, a sala de piso imperfeito do consultório Palmer era
meu porto seguro, meu norte e meu lugar preferido. MENTIRA! Por diversas vezes eu quis descansar meu punho sobre o nariz do Dr Ethan; o homem que dispara as verdades
que eu preciso entender, mas eu não quero, e essa é a verdade.
- Super heróis estão nos gibis! – ele me advertiu por diversas vezes, mas eu não consigo digerir alguns petiscos do meu passado. Sim, eu participei de um coquetel
em que não fazia questão do convite. Foram mais de setenta vezes em que eu analisei minha vida e detesto todos os pontos em que chego. Por setenta e oito vezes eu
tentei me convencer e fracassei.
- Maria! – chamo minha governanta. Uma reunião me deixa ansioso, porém tenho o devido controle sobre a situação. Mas tento analisar minha última consulta, há mais
de noventa dias eu estive lá, disparando o fracasso de ter sido um idiota, o tipo de idiota que não vê o que está diante de seus olhos e, por isso, minhas consultas
sobre ser um idiota são para falar de como me sinto culpado também.
- Sim, Sr. Maccouant. – ela responde assim que chega à porta da suíte recém reformada. Agora tudo é branco, preciso de paz.
- Por favor, entre. – peço, ela atende.
- Sr., espero que por baixo dessa toalha exista uma cueca. – Maria que cuida de mim desde que nasci, me adverte.
- Não tem cueca, Maria e, por favor, pare de me chamar de Senhor. – Eu a abraço – Poderia, por gentileza, passar essa camisa. – mostro uma camisa azul, com punhos
brancos, ela foi adquirida na Bélgica. Como um amuleto da sorte. Ela observou a camisa e percebeu que estava impecável, porém acatou o meu pedido e desceu a escada
em forma de arco rindo da situação. Ela conhece e sabe sobre o meu perfeccionismo.
Entre os meus demônios, existe eu mesmo como um ser infernal. Não me perdoo por minha tão incoerente inocência, não admito meu passado e se fosse possível, junto
com a camisa que comprei na Bélgica, teria comprado um novo Evan, sem correntes ou assombrações. Se eu pudesse deixaria esse Evan traído na Bélgica ou em qualquer
fim de mundo longe da minha realidade. Meu celular incansavelmente insiste em tocar e eu resolvo atender.
-Alô? – não conheço esse número, ligo o viva voz e coloco o celular sobre o balcão de relógios e abotoaduras ao centro do closet. Olho as gravatas e talvez a azul
seja de bom gosto, ela é sóbria e séria.
- Oi, Evan, sou eu a Cristal! – Meu olhar fuzila a peça de seda azul e em seguida disparo meu olhar de repulsa contra o aparelho. Caralho, como ela conseguiu esse
número?
- Oi, Cristal. – não quero falar com você, e você deveria ter percebido isso por eu não ter retornado seus recados. Sou seco e frio, nada fora do comum ou algo que
exigiria de mim grande gasto de energia.
- Quero te ver! – Como explicar para uma moça que isso é impossível? Afinal, ela não tem nada que valeria a pena ser reprisado. Infelizmente vai ficar querendo.
- Cristal, eu não estou na cidade e também estou ocupado, se puder ser breve. – encurto a conversa enquanto termino de me vestir.
- Você não me ligou! – Oras, porque eu não quis!
- Não tive tempo! – Claro que tive, mas a verdade é que não gostei da nossa foda. Você é muito nova, e apesar de possuir certa vivência, não adquiriu a experiência
para me fazer retornar a sua ligação.
- Não conseguiu cinco minutos para retornar uma simples ligação, Evan? – Na realidade eu tive todo tempo do mundo, vários cinco minutos; inclusive na noite passada
enquanto eu fodia bem gostoso com Dominique. Que pena, foi nossa última foda, ela está se mudando essa manhã para Nova Zelândia. A verdade é que realmente eu não
quis te ligar, penso comigo.
- Não, muito trabalho e preciso desligar! – Não sei por quanto tempo suporto essa conversa.
- Evan, vamos nos encontrar! – Não, claro que não! Chata pra caralho, deve haver uma saída para eu foder sem ninguém me ligando depois. Não quero compromisso e muito
menos contato futuro depois de uma foda. Meu histórico nesse sentido é realmente negativo.
- Melhor não. – Firme e direto, estou a um passo de desligar o telefone na cara dela. Não faça isso, Evan, foi educado nas melhores escolas de New York e isso não
seria agradável.
- Por quê? – Puta que pariu, essa merece o prêmio. Será que vou ter que ser direto e dizer que não gostei, que não quero? Provavelmente vou ter que ser bem mais
direto.
- Porque eu não quero, porque você deve achar alguém da sua idade e com menos compromissos do que eu. – Ainda estou conseguindo manter a civilidade.
- Mas, Evan, eu fiz alguma coisa errada? – Que merda! Fez tudo errado, está me ligando e tem um sexo oral horrível, além de gostar de música eletrônica. Tudo bem,
esse último item admito ser capricho meu.
- Escute, Cristal, não quero ser rude com você. – Mentira, eu quero sim! – Mas peço que não me ligue mais.
- Você é um canalha! Bem que minhas amigas me avisaram, me alertaram sobre sair com um cara influente como você. Imagino quantas não experimentaram seu desprezo
pós foda!
- Bom, em números eu não sei te responder, mas posso garantir que as chatas como você realmente saborearam meu total desapego. – Até que aguentei bem, no segundo
minuto de conversa eu queria ter desligado e mesmo assim continuei aturando essa infeliz.
- Você não vai encontrar alguém como eu! – ela grita, eu odeio gritos!
- Deus te ouça! – desliguei a ligação e o celular. Mulher chata do cacete, vai se foder.
Poderia ter um jeito simples e divertido de foder sem que elas pudessem me encontrar, maldita Susan! Puta! Lembrar de Susan me faz voltar a um passado que gostaria
de apagar. Ela poderia ter tido um efeito benéfico sobre minha vida, mas não, resolveu encabeçar uma lista de fatos indesejados. Sim, eu tenho uma lista.
E depois de setenta e oito visitas continuo com meus tormentos, continuo com minha falta de habilidade com frustrações. Mesmo depois de tantas horas com o mestre
da análise, eu ainda sou o garoto que quase correu de Harvard. Ainda sou um garoto. O garoto que fica remoendo informações que já foram processadas e agora precisam
ser deletadas, mas eu não consigo.
“Estou dividido... suspirei e Dr. Ethan olhou sobre os óculos em minha direção... e minhas duas metades preferem morrer” – desabei em minha última consulta, e desde
então vivo exclusivamente para os negócios. Milionário e infeliz Evan Louis Maccouant, gênio das importações e altamente insatisfeito com sua vida pessoal.
Coloco meu terno sob medida, termino meu café da manhã, ajeito a gravata azul escura sob o colete que cobre a camisa perfeitamente alisada e parto para Maccouant
Import Inc, meu refúgio.
Ainda hoje vou encarar Dr. Ethan novamente, consulta de número 79 e talvez algo mude, talvez... O fato é que preciso que mude. Desço em direção à garagem e meu passado
resolveu atormentar meu presente essa manhã, esfrego meu polegar e indicador na testa e sou surpreendido por Gunter.
- Bom dia, senhor. – Gunter me recepciona com a porta do Jaguar preto aberta, me olha como se eu fosse um fantasma e por muitas vezes foi exatamente isso que pensei
que eu fosse, uma assombração.
- Bom dia, Gunter. Como vai Caroline? – pergunto sobre a esposa de Gunter que está lutando contra um tipo raro de câncer. O diagnóstico atingiu a todos e ele tem
que ser mais forte em nome de sua filha Alice que completa três anos no final do mês, ela é minha afilhada. Quando Caroline se sentiu mal, estávamos comemorando
o aniversário de meu pai. Foi há cinco meses. Naquela tarde de domingo eu presenciei Gunter chorando pela primeira vez e foi a primeira vez que observei um homem
rezar. Naquele mesmo dia eu servi de motorista para ele e de babá para a doce Alice, mas nada está como antes.
O câncer é raro. Mesmo estando no início, é algo que preocupa os médicos, mas preocupa Gunter que tem que olhar para a pequena Alice e ter fé. Fé para que a mãe
possa ver a filha crescer.
- Hoje ela acordou melhor que ontem, tem dias que são melhores que outros. – Percebo a voz embargada dele.
- Você sabe que pode contar comigo. – Coloco minha mão sobre o ombro dele assim que me sento no banco de trás.
- Sim, senhor, agradeço.
- E Alice? – Alice com certeza veio para esse mundo para alegrar não só Gunter. Meu pai e minha mãe simplesmente oferecem tudo como se fossem avós da pequena, que
quase sempre dorme na casa dos meus pais, tudo por conta do Central Park que fica exatamente em frente.
- Linda, senhor. Graças a Deus a temos como um anjo. Ela faz os dias de Caroline mais felizes.
- Fico feliz, Gunter. Gosto da pequena, ela é atrevida na medida certa. – Percebo que ele sorri e isso me deixa menos tenso com a conversa.- Podemos ir.
- Sim, senhor. – Ao pensar em Caroline esqueço meu passado. O presente de algumas pessoas é mais trágico do que as possíveis tragédias que vivi. O carro ganha as
ruas e tento resolver alguns assuntos por telefone antes da reunião.
- Aplique vinte milhões. Prefiro a longo prazo desta vez, não quero ações, Robert, quero apenas essa aplicação e a deixe esquecida; apenas a movimente caso a Stanley
Inc venha a ser vendida. – Minhas ordens são claras ao gerente que cuida de minha conta há quase dois anos.
- Sr. Maccouant, a aplicação será efetivada dentro de duas horas, existe um forte rumor sobre a venda da Stanley, vou lhe manter informado. – Robert é competente.
Foi um dos poucos amigos do ensino médio que eu trouxe para os dias atuais, mas essa formalidade que ele insiste em usar durante o expediente me assusta; parece
que estou falando com alguém décadas mais velho do que eu, ou ele me coloca como se eu fosse um milênio mais velho do que ele.
- Obrigado – agradeço e desligo. Olho para a Sétima Avenida movimentada através da janela do Jaguar. Gunter, meu motorista aos olhos da humanidade, é também um amigo
e conhece meus gostos musicais e deixou One, do Metallica, em um volume relativamente alto assim que desliguei o celular. Gunter acompanhou cada passo para minha
decadência na época em que tudo aconteceu, foi paciente e me levou muitas vezes em seu ombro quando o álcool me deixava aleijado e inútil. Não existe nada nesse
mundo que eu não faria por ele e acredito que ele pense da mesma forma.
Quando comecei a terapia com Dr. Ethan, foi escondido, apenas Gunter sabia e me ajudava a fugir de Harvard para as consultas. Foi ele quem me apresentou o psicanalista
e servia como meu cúmplice. Até hoje é assim, minha mãe nunca desconfiou e meu pai sempre foi a pessoa que mais preservei nesse mundo, não merecia saber sobre o
filho fracassado.
Preciso fechar esse contrato com a FitPoint e esquecer do trabalho no período da tarde; preciso encarar essa segunda-feira de forma altamente lucrativa. Tenho alguns
minutos com Dr. Ethan às 14h. Não sei por que marquei, mas acho que preciso ouvir pela 79ª vez que preciso esquecer tudo que aconteceu.
–Aumente o volume, Gunter. – peço e em seguida apenas James é audível.
Quando decidi arquitetar todo o projeto de entrega dos veículos das concessionárias de meu pai, eu não tinha nenhuma ideia de que isso resultaria em aplicações milionárias
às nove da manhã de uma segunda-feira. A verdade é que meu pai arriscou muito na época, um garoto com um pouco mais de quinze anos consegue desenhar uma forma eficiente
de entrega, mas quem acreditaria em mim? Jonh Maccouant acreditou e em seguida duas montadoras pequenas resolveram comprar minha ideia. Fiz melhor, desenvolvi para
cada uma delas uma estratégia diferente e, assim, antes de completar meus dezessete anos, eu tinha o meu primeiro milhão guardado.
Fruto do meu trabalho, minha ideia e meu projeto. A partir daí foi um pequeno trajeto até eu começar as pequenas entregas de dentro do meu quarto e depois disso,
comecei a importar pequenos lotes de grande interesse; abastecia alguns salões de cabelereiro com um xampu que prometia milagres e era vendido apenas na Europa.
Assim, a fama das minhas entregas explodiram. Antes dos dezenove anos, quase desistindo da minha própria vida, meu pai me visitou em Harvard. Foi a primeira vez
que o Sr Maccouant me visitou e poderia jurar que ele sabia que eu não estava bem.
Ele entrou em meu dormitório e disse que eu poderia investir mais em meu projeto que ele financiaria, olhou em meus olhos e tenho absoluta certeza que ele entendeu
o quanto eu estava sozinho. – Não existe nesse mundo algo que não tenha remédio, a não ser que estejamos falando da morte. Ele sabia mas me poupou. Passamos a tarde
no campus conversando e ele apoiou cada ideia maluca da importadora, e quando ele me abraçou e disse que tinha orgulho de mim, eu senti que poderia seguir em frente.
Não por mim, mas por ele que acreditou na minha vida quando eu estava quase desistindo dela.
Temos alguns heróis nessa vida, o meu eu chamo de pai.
Assim que Gunter para o carro em frente à Maccouant, eu passo as coordenadas sobre o meu dia que espero terminar com mais de meio milhão de dólares em minha conta.
Minha vida resumida em grandes lotes e contratos colossais, resumida também em atos profissionais e distantes de qualquer valor emocional.
Nem sempre foi assim, tento me enganar todos os dias brincando de bem sucedido homem das importações. E todas as manhãs quando piso em minha importadora tento me
convencer que meu passado foi algo fantasioso e que existiu apenas em minha mente. Mas não consigo, sei exatamente o que é real em minha vida, quase nada eu diria.
Aos dezoito anos e com minha vida universitária começando, tudo que eu menos queria era ter tido a experiência da traição. Fui traído da pior forma, ou melhor, da
única forma, fui traído por amigos.
- Evan! – Susan gritou. Estava nua, sentada em cima de Paul, que também estava nu. Não conseguia dizer uma única palavra. Naquele momento o que eu mais queria era
arrancar a cabeça dos dois. Uma fúria sem controle cresceu do meu calcanhar até a boca do estômago e eu fechei meus punhos e terminei de adentrar no quarto.
O fato é que flagrar pessoas de sua confiança provando que não a merecia é pior do que contam as histórias. É como se algo alertasse em sua mente sobre a podridão
humana, sobre a inocência e sobre o quão tolo podemos ser ao depositar créditos em pessoas que não sabem o que fazer com eles.
- Puta que pariu! – Paul levou as mãos até a cabeça e tirou Susan de seu membro; os dois filhos da puta estavam trepando dentro do quarto do alojamento estudantil.
No meu quarto! Balbuciaram algumas palavras e eu sentia nojo, deles e de mim.
- Calem a boca, seus filhos da puta! – Foi minha primeira frase. Ela saiu ecoando pelo corredor, alarmando os outros que saíram dos quartos sem entender nada. A
porta estava fechada. Um tipo de força nasce e morre dentro de nós diante do desagradável, diante de atos covardes. Sim, é uma covardia todo e qualquer ato que atinja
nossa confiança.
- Evan...eu... por favor, é que...
– Cala a boca, sua puta, vadia – gritei e essa foi minha segunda frase e saiu de forma alta, grossa e extremamente enfurecida pela cena. Meus nervos tremiam e meus
punhos estavam fechados e minha mão direita depositou um soco sobre a cômoda.
- Escute...
– Cala a boca, seu filho da puta, maldito, e saia daqui. – rosnei interrompendo-o.
- Cara...
– Não, não fale nada, apenas suma e de preferência da cidade. - Uma estranha e nada normal serenidade me invadiu. –Paul, desapareça ou infelizmente vou usar o que
sei contra você.
- Não precisa. – Ele tremia enquanto vestia suas roupas de qualquer jeito. – Não vai ouvir falar de mim.
- Paul – o chamei assim que ele alcançou a maçaneta. Ele olhou para mim e a serenidade esvaiu com um soco na boca dele. O implante de alguns dentes resolveria esse
problema, mas eu não estava preocupado, arrebentei a boca do puto bastardo – Saia daqui agora.
- Evan! – Susan me chamou enquanto Paul batia a porta do quarto segurando o sangue que explodia de sua gengiva com dois dentes faltantes.
- Não olhe para mim, sua viciada vadia, pegue seu lixo e suma. – Ela vestia as roupas chorando e por dentro algo esfriava, algo morria. Sim, qualquer tipo de compaixão
naquele momento morreu com a confiança que deveria ter nas pessoas.
- Por favor...
– Não me peça nada, não fale nada e dê graças a Deus que fui muito bem educado, caso contrário poderia dar um soco na sua cara também. – a interrompi com os punhos
fechados. Eu daria um soco nela se não fosse a minha educação.
- Eu não tenho para onde ir! – ela gritava. – Você sabe o que meus pais fizeram, me tiraram tudo. Não posso voltar para casa deles! - Eu odeio gritos.
- Foda-se! Enfie sua cara em uma carreira gigantesca de pó, mas desta vez não haverá ninguém para te ajudar, e francamente espero que não tenha mesmo. – terminei
a frase segurando a porta aberta para que ela sumisse.
- Me perdoa? – ela implorou e eu loucamente gargalhei.
- Perdoar é para Deus, posso lhe garantir que estou muito longe de ser agraciado com essa dádiva. Pegue carona e desapareça com Paul. – Olhei nos olhos dela enquanto
ela caminhava para fora do quarto.
- Você é importante para mim! – ela desabafou aos prantos do lado de fora do quarto.
- Você a partir desse dia não existe mais, e isso para mim basta. – Bati a porta na cara dela e me deitei no chão, com a barriga para cima. Fiquei por mais de duas
horas nessa mesma posição, analisando tudo que aconteceu. Não o ocorrido dessa tarde, mas toda a história de Paul Meriden, toda a energia que apliquei para ajudá-lo,
todo o dinheiro e toda confiança. O mesmo sobre Susan.
Em algum momento eu sei que fui apaixonado por ela, pelos cabelos escuros e olhos esverdeados, um corpo magro de um pouco mais de um metro e sessenta. Eu havia salvado
Susan de uma overdose de cocaína. Ela ficou à beira da morte e não sei ao certo se foi amor ou compaixão, mas durante um ano e dois meses me senti responsável por
ela, infelizmente.
Olhando para minha vida agora percebo que nada me abala, dificilmente algo me assusta. Devo à terapia, ao Giovani e ao Sebastian. Foram tantas madrugadas bebendo,
não por ela, mas em nome de meu ego; eu era invencível, ou pelo menos, pensei que fosse.
Desço do carro depois de alguns minutos e puxo todo o ar possível e saio em direção à Maccouant. Olho para os dois lados da calçada e o caminhar apressado das pessoas
tão presente todos os dias está lá, da mesma forma, e o meu jeito igual de todos os dias também, apesar de grande fortuna não tenho grandes expectativas e isso não
é bom.
- Bom dia, senhor.
- Bom dia, Sra. Everhill. – retorno o cumprimento de minha assistente assim que entro e fecho a porta em minhas costas.
- Senhor, aqui estão os contratos e os memorandos da Alemanha. – Ela me entrega um calhamaço de papel e alguns envelopes.
- Obrigado, Jony já chegou? – ela respondeu negativamente com a cabeça com certo receio, odeio atrasos. Apanhei os papeis e subi em direção à minha sala.
- Bom dia, Sr. Maccouant! – A nova assistente me recepciona com a voz estridente. Essa garota é minha última tentativa em ter alguém como auxiliar, mas confesso
que não gosto do cabelo dela, particularmente não gosto de louras, ainda mais se não for natural. Mas no caso de Bianca, é uma série de fatores que não me agrada,
a voz chata também é desfavorável. Acho que o único ponto positivo é o alemão e o francês fluentes. Não gosto dela, ponto.
- Bom dia. – Seco e com um traço firme em meus lábios. Devo treinar esse lado, ou deixá-lo como está, o que possivelmente aconteça.
- Aqui estão seus recados. – Ela me entrega um punhado de papéis – Ah! Senhor Maccouant. – Ela me chama assim que me viro de costas para ela e apesar do seu chamado,
me mantenho de costas.
- Sim. – respondo e espero que ela tenha um bom motivo para ter interrompido meu caminho, a olho sobre meu ombro.
- Hoje, logo no primeiro horário uma mulher ligou e pediu seu número de celular. Ela disse que era do departamento jurídico da prefeitura, então passei o número,
ela disse que retornaria mais tarde. – Meu sangue ferveu.
- E quem é essa mulher? Ela tem nome? – pergunto ainda de costas e contendo minha respiração.
- Sim, claro, me desculpe, Valquíria. – bufei, eu conheço o departamento jurídico e posso garantir que nunca ouvi falar desse nome e pior, ninguém do departamento
entraria em contato comigo, com certeza teriam ligado para o Jony.
Me viro de frente à Bianca e olho dentro dos seus olhos. – Você está despedida. – Permaneço de frente a ela esperando que essa filha da puta desça e desapareça do
meu alcance.
- Mas...mas...por quê? - Ela estava com os olhos quase transbordando e isso não me comoveu, isso me deixou completamente puto da vida.
- Apenas retire-se da minha empresa. – Entrei na minha sala batendo a porta. Péssimo sinal, para os que estão à minha volta sabem que não gosto de nenhum tipo de
cena.
- Inferno! – blasfemo em alto e bom som. Semana passada eu marquei uma consulta com Dr Ethan exatamente por conta disso, por conta de mulheres que insistem em algo
que não posso oferecer e tudo que menos preciso é ter idiotas à minha volta que facilitem o acesso dessas mulheres.
Preciso me concentrar em meus objetivos, os objetivos de minha importadora que acaba de ganhar uma filial na Alemanha e em breve teremos uma negociação em Paris.
Mas todos os dias me lembro daquela tarde maldita e todos os dias tento apenas aceitar o que Dr Ethan repete em todas as consultas: “Pertence ao seu passado e você
não vive mais lá”. Confesso que não consigo, ainda não consigo. Parece que a qualquer momento vou ser apunhalado e que todos estão esperando para me trair.
Claro que não é comum, sou jovem e não precisaria me propor a trabalhar todos os dias. Sou o único herdeiro das concessionárias do meu pai e isso me deixaria tranquilo
por algumas gerações, mas existe algo sobre próprias conquistas que me levam a olhar para minha sala, dentro de um prédio que comprei com meu dinheiro, e sentir
orgulho. Tenho orgulho do que faço e do que construí. O telefone toca sobre a minha mesa.
- Sim. – atendo ríspido.
- Sr. Maccouant, os senhores da Fitpoint estão à sua espera na sala de reuniões.
- Ok, a atendente já foi embora?
- Sim, senhor.
- E Jony? – pergunto e percebo que minha assistente quase engasga ao responder que não, que Jony ainda não havia chegado; ela conhece minha intolerância com atrasos.
- Perfeito. – Respiro fundo. – Sra. Everhill, não quero nenhuma assistente. Dobro seu salário, mas a partir de hoje não quero nenhum tipo de idiota me cercando,
estamos acertados? – Estou irritado e caminho de um lado para o outro. É como um caminho de pólvora, do nada me sinto reprimido por conta do meu passado e tudo vira
uma avalanche de coisas ruins.
- Sim, senhor. – Sra Everhill responde com a voz firme e cautelosa. E ainda tem essa porra dessa reunião, mais de seiscentos mil dólares estão em jogo e a maldita
consulta e seu motivo pulsam em minha mente como um pus dentro da ferida. Merda! Grande merda!
Mais um dia no paraíso, penso comigo, e olho para a tela do computador que inicia com uma foto do planeta, lembra o poder e lembra o meu tamanho diante de tudo isso.
Preciso exercitar a teoria sobre ser pequeno e ser parte da obra de Deus. Sei que Dr. Ethan se esforça, mas foram setenta e oito consultas e então foram setenta
e oito formas de analisar o que aconteceu. Preciso me concentrar no dia de hoje, um dia por vez, assim como ex-alcoólatras ou ex-dependentes químicos, um dia por
vez.
Vamos, Evan, você pode, claro que pode. São seiscentos mil em um único contrato de remessa, esse será seu vigésimo cliente nesse valor apenas este mês. Meu subconsciente
me lembra a todo momento do meu sucesso profissional, a vida pessoal está uma bosta, mas pelo menos eu estava milionário. Deprimido, porém com alguns trocados no
bolso.
Quem diria, eu deprimido. Sim, eu estava, minha vontade era voltar para minha sala, meus jogos, meu lado adolescente diante de um video game; sinto-me velho e jovem
ao mesmo tempo. Algo ruíra dentro de mim, da pior forma, do pior aspecto. Ódio quase que mortal de Susan, só não é mortal porque ninguém morre duas vezes, ou morre?
Acho que Susan morre todos os dias para mim e depois volta a viver como uma assombração.
Preciso esquecer tudo isso e fechar esse acordo, preciso me ater ao presente. Me levanto e ando em direção à sala de reuniões.
- Bom dia, senhores. – cumprimento-os assim que entro na sala que cheira a café recém servido. –Desculpe a demora, estava em uma ligação. – Ligação com meu passado,
por causa de uma constante sensação de impotência do presente. Onde está o Jony? Pergunto-me internamente.
- Sem problemas, na realidade estamos adiantados em quase dez minutos. – Monrad Sulivan responde. Ele está na casa dos cinquenta e poucos anos, ostenta um anel de
advogados em seu dedo mindinho além de um terno sob medida perfeitamente alinhado em seu corpo; casado, pai de dois filhos médicos.
- Demoramos, mas acertamos. – Sr. Gregori Avrelin, experiente no ramo de negociações exteriores, pai de um engenheiro, casado com Phoebe, cliente assídua do salão
de minha mãe. Ele confessa nos primeiros instantes o que eu esperava ouvir depois de dezessete minutos de reunião, geralmente esse é o prazo médio para fecharmos
acordos desse porte. Não posso esquecer de agradecer ao Giovani pelas informações. Conhecer particularidades de meus clientes me dá poder de fogo nas negociações.
- Fico satisfeito em proporcionar segurança e confiabilidade, Srs. – respondo com uma linha sorridente e fechada em meus lábios.
- Mas... – Maldito seja Tyson Smith, quase sessenta anos, solteiro, está na cara que não fode há muito tempo, o mau humor deixa isso bem claro. – Não concordo com
a cláusula 3. – Outro maldito, Jony, já era para estar aqui. O filho da puta sabe que odeio atrasos e Smith fala justamente da cláusula sobre atrasos ou não envio
de remessas.
-Vamos rever a cláusula e chegar a um comum acordo. –Jony tem menos de dois minutos para entrar por essa porta senão eu mesmo o espanco.
- Senhores, bom dia, desculpe o atraso. – Ele me olha e sabe que vai ouvir um caminhão de merda por conta dos minutos que ele destinou ao sono e não à reunião.
- Espero que atrasos não sejam algo comum. – Gregori alfineta e eu tenho vontade de arrancar a cabeça do Jony.
- Não, na realidade é algo que não tolero. – Meus olhos metralham Jony discretamente. - Mas vamos rever a cláusula 3. – mudo o assunto para evitar um homicídio.
Enquanto Jony alterava sob minha análise a maldita cláusula que está impedindo que mais de meio milhão entre na minha conta, tento me concentrar na reunião, mas
algo está me incomodando, não sei o que é. Tento me ater a FitPoint e no contrato mais longo que fechei esse mês. Serão trinta e seis meses de importação de toda
linha deles criada e industrializada na Europa. Minha empresa vai cuidar de todo processo para que tudo da FitPoint seja devidamente legalizado e comercializado
dentro dos Estados Unidos da América.
- Sr. Maccouant, acertamos a cláusula 3, passa a ser 15% a multa sobre atrasos. – Bufo.
- Perfeito. – respondo esperando o acerto final, quase onze minutos de reunião, isso seria um novo recorde.
Quando se fecha acordos que envolvem grandes quantias, o mais importante é o resultado final, o cumprimento de prazos e saber que o seu cliente pagou pelo preço
justo. Não existe uma pechincha quando se trata de um bom trabalho, ninguém consegue vender competência e excelência profissional a troco de amendoins.
- Negócio fechado! – Monrad me dá a resposta que de fato já esperava. Quando essa negociação começou, tudo que eu precisava era que esse cara escutasse minha proposta
e hoje ele está aqui fechando o acordo que preciso.
- Um prazer fechar essa parceria, estaremos à disposição. – Claro que dentro das cláusulas, penso comigo enquanto o trio de senhores assinam um calhamaço de papel,
e uma ideia acaba de me ocorrer. Olhar homens efetivando uma parceria comercial me trouxe inspiração. Três homens, fechando um acordo, assinando um contrato, para
um bem comum, diabolicamente essa ideia exerceu o milagre de me fazer sorrir.
Seria uma ideia absurda se não fosse tão agradável. Analisei friamente e concluí que seria possível unir alguns interessados, uma sociedade secreta para um tipo
de sexo que já pratico, mas sem cobranças futuras; como um fetiche. Uma reunião casual de tempos em tempos, assim como as entregas de minha empresa. Viajei para
um mundo perfeito de fodas sem telefonemas absurdos em manhãs de segunda-feira, sem cobranças e alguma competição. Isso eu ainda não consigo visualizar com clareza,
mas é possível, claro que é.
- Evan, posso lhe chamar assim? – Gregori, o mais velho, pergunta e por conta da minha ideia e do valor que minha conta acaba de receber, eu pouco me importo como
ele vai me chamar.
- Fique à vontade. – Que ideia do caralho, tenho uma lista que toparia na hora. Tento conter o sorriso que escapa quase inclinando o canto direito da minha boca.
- Estou surpreso com o desenvolvimento de sua importadora. Em menos de dois anos conseguiu atingir um lugar no ranking para poucos. - ele elogia e nem imagina que
tudo isso é fácil para quem se aplica.
- Obrigado, tenho me esforçado para isso e a meta é crescer pelo menos quarenta por cento até o próximo semestre. – Terminem de assinar e saiam, penso comigo. –
Para qualquer alteração ou dúvida, acionem o Jony. – Estendi a mão com o intuito de encerrar essa reunião.
- Até logo, Evan. – Tyson o mais calado e o último dos três sócios a sair se despede um pouco antes de fechar a porta da sala de reuniões.
- Jony? – o chamo com sorriso cínico no rosto.
- Sim, senhor?
- Compre um despertador e um relógio. Posso garantir que com o valor que pago pelos seus serviços isso não seria nenhuma ofensa ao seu orçamento. – Sarcasmo, é baixo,
mas às vezes é necessário.
- Me perdoe pelo atraso, congestionamento.
- Não se justifique, sabe que odeio explicações. – concluo e saio da sala. Preciso arquitetar meu plano. Subo os degraus e sinto meu celular vibrar no bolso interno
do meu paletó.
- Alô? – atendo o celular enquanto caminho para minha sala.
- Fala, seu pilantra! – É Giovani que já mostra sinais de embriaguez logo pela manhã. O canalha está de férias, ele tira férias a cada três meses, filho da mãe.
Eu nunca imaginei que tecnologia da informação pudesse dar tanto dinheiro. Proteger informações e criar sistemas é altamente rentável para meu amigo bêbado do outro
lado da linha.- O que você vai fazer na quinta-feira?- ele pergunta com a voz mole – Está rindo de mim, seu bastardo?
- Sim, Giovani, estou rindo de você. Por que a curiosidade sobre minhas atividades na quinta-feira? –Tenho receio de perguntar sobre os planos de Gio, Vegas não
foi uma experiência fácil.
-Vamos para Madri? – Ele é maluco, apesar de que não tenho mais nada de importante para resolver por aqui, penso por alguns instantes. Tenho sim, caralho!
-Tenho uma reunião quinta-feira com os Brigens. – Respiro fundo - Por um acaso está pensando em repetir em Madri o que fizemos em Vegas?
Las Vegas foi enlouquecedora. Foram doze dias e por pouco alguns de nós não paramos em uma capela e nos casamos com uma das garçonetes que conhecemos. O resultado
da noite foi um prejuízo de quase cem mil dólares entre limousines, bares e mulheres. Consegui apostar e recuperar uma boa grana no pôquer, mas acabei gastando tudo
por lá mesmo na noite seguinte.
- Meu jato vai decolar às 20h e se for possível sim, repetiremos. Precisamos apenas do mesmo número de mulheres ou mais.- Ele gargalha.
- Então, meu amigo, vamos pra Madri! Termino a reunião e vou direto para o aeroporto, mas vamos evitar problemas com a polícia; em Madri podemos ter problemas mais
sérios com as autoridades.
- Combinado, até quinta! E fodam-se os problemas, pra tudo temos uma solução – Com a voz menos molenga ele se despede e desliga o telefone. Filho da puta deve estar
bebendo desde ontem.
Preciso relaxar, Madri é o melhor lugar para isso. Inclusive é por lá que posso colocar em prática minha ideia. Preciso reunir todos por lá, mas antes preciso formatar
melhor a ideia, esculpir de uma forma que seja atraente e que todos aceitem. Meu celular vibra sobre a mesa, é Giovani de novo.
- Fala, seu puto!
- Evan, teremos companhia, ou melhor, companhias.
- Mulheres? Quantas? – pergunto assim que me sento e reclino a cadeira de couro. Aperto play e Red Hot Chilli Peppers toca Otherside.
- Mas você é um puto mesmo, Evan! – Ele brinca com a voz mais firme em tom de piada.
- Não são mulheres? Desculpa, meu amigo, não gosto de homens. – Sacaneio e deslizo o mouse sobre a mesa para atualizar minha caixa de e-mails.
- Mulheres nunca faltam, mas é que Andrew, Carl e Benjamin estão em Madri e vão ficar até a próxima semana.
- Não acredito! Aqueles canalhas! – Gosto desse trio. Minha empresa presta serviço para eles e eles me remuneram grandiosamente por isso. Andrew, Carl e eu nos conhecemos
quase na mesma época, há mais de dez anos. Foi no colégio e nossa diferença de idade é de menos de um ano. Benjamin é o mais velho do trio, vinte e cinco anos, e
quando as Indústrias Brandy começaram as suas atividades no ramo alimentício, meu pai foi quem vendeu o primeiro caminhão para eles. Alguns anos depois eles compraram
uma frota e tornaram-se amigos. Othon e Isabela Brandy foram padrinhos de casamento dos meus pais e basicamente Benjamin e eu quase que crescemos juntos.
-Parece que Carl fez um acordo milionário e está comemorando. – Giovani sempre bem informado, mas essa informação chegou primeiro em minhas mãos.
- Notícia velha, queridão, é a Maccouant que vai cuidar da importação. – Gosto do que faço, mais ainda de quanto ganho. Pablo D’Angelo, pai de Carl, foi o segundo
contrato da minha transportadora. O primeiro foi com as concessionárias do meu pai. D’Angelo & Pagatella Máquinas agropecuárias, eles vendem para o mundo e eu cuido
das entregas, ou melhor, a Maccouant.
- Seu filho da puta, deve ter arrematado uma fatia gorda desse acordo. – Claro, penso comigo, caso contrário nem perderia meu tempo. Porra, 371 e-mails, é para acabar
com o pouco que resta do meu humor.
- Podemos dizer que não precisaria de nenhum outro contrato, apenas esse poderia me manter por pelo menos dois anos. – Uma risada fecha a frase.
- Não sei qual é o seu segredo sobre negócios, mas devo admitir que agora também não seria uma boa hora. O efeito do whiskey já passou e não seria interessante conversar
sobre ‘como o maldito Evan ganha milhões’. – Ele faz piada sobre minha humilde poupança.
- Não há segredo, Giovani, apenas me esforço. Já que o efeito da bebida passou, posso te confidenciar algo? – Ele me conhece desde os sete anos, temos a mesma idade
e estava comigo em Harvard quando tudo aconteceu.
- Diga aí! – Ele brinca.
-Vou ao Dr. Ethan hoje. – Minha voz quase que some assim que termino a frase.
- Sério? Quando foi a última vez? – O espírito brincalhão dele vai embora e fica meu amigo, o amigo que me ajudou a sair do fundo do poço.
-Três meses. – respondo de maneira curta.
- Muito tempo, acho que foi seu maior período sem consultas. – Esse cara me conhece bem.
- Sim, maior período, acho que tive uma recaída, não sei. – murmurei, quase um sopro, mas serviu como escape, me senti aliviado ao dizer. Rodava a caneta na mesa,
minha cabeça girava com ela.
- Mas o que aconteceu? – Ele sabe que posso simplesmente sentir o gosto da raiva apenas por passar alguma situação que lembre meu passado.
- Nada em especial, apenas uma garota que estava saindo resolveu falar sobre envolvimento emocional e esse tipo de... coisa... relacionamento, me incomoda. – Apegos
me incomodam penso comigo.
-Faz quanto tempo que tudo aconteceu? Três anos?
- Sim, eu sei que foi apenas uma traição, mas o problema todo, não sei, sempre acho que vai acontecer de novo, sempre acho que todas serão Susan, todos serão Paul.
– Respiro fundo e penso por alguns instantes. – Essa merda toda que vivi... Caralho, Giovani, ajudei um cara a se livrar de um problema, ele participou de um estupro
coletivo você sabe. – Bufo. – A garota se matou! Ela meteu uma porra de uma bala na cabeça depois de alguns meses. Eu ajudei aquela garota a se matar, eu paguei
a indenização, eu paguei pela vida dela... não quero mais falar. – Eu travo e um silêncio acontece de ambos os lados por pelo menos dois minutos.
- Nem todas serão Susan e nem todos serão Paul. – Giovani quebra o silêncio. – Então não fale mais, guarde para Dr. Ethan.
- Ok. – Quero desligar – Te encontro no aeroporto às 18h na quinta-feira.
- Ok. – Ele desliga e me levanto, caminho em direção à janela.
401 e-mails gritam para serem lidos e minha cabeça está no campus da faculdade, na noite em que conheci Susan. Gostaria de voltar no tempo e não tê-la conhecido.
Por que diabos estou pensando tanto no que aconteceu há tanto tempo?
Remeto-me ao passado e como se fosse hoje consigo sentir o cheiro do lugar, do banheiro imundo e ouço as conversas dos idiotas que apenas assistiam tudo.
Passava das nove horas da noite e não tinha vontade alguma de sair do quarto. Apesar das festas, das garotas, estava mais interessado em fugir das pessoas da minha
idade. É estranho, mas aos dezessete anos e com uma conta gorda graças a um projeto que deu certo, eu queria mais, mais dinheiro, ser o melhor, perfeccionismo. Deveria
ter escutado os meus instintos e evitado contato com seres da minha espécie.
Estou diante da janela da minha sala, pensando no maldito histórico que impreterivelmente terei que carregar. O barulho alertando sobre a chegada de mais e-mails
me resgata do passado.
409 e-mails se amontoam, e eu divido meu olhar entre a tela e a rua, pessoas e suas buscas eufóricas, e eu procurando o que buscar. O telefone sobre a mesa toca.
- Sim? – atendo assim que volto para minha mesa.
- Sr. Maccouant, Greyce Suher, executiva da Forbes quer uma entrevista, ela insiste – Sra. Everhill deve estar cansada de me passar esse recado; é a quarta vez,
três eu neguei.
- Diga a ela para agendar para duas semanas. – Ouvi a respiração da Sra. Everhill, era como se dissesse: O quê? Vai mesmo estampar a capa da Forbes? Eu teria rido,
mas consegui me controlar, sim, eu vou ajudar essa revista.
- Perfeitamente senhor. – Desligo e retiro meu paletó, deixo à mostra meu colete em tom azul escuro e volto a olhar as pessoas, os passos apressados, quantos ali
deveriam estar com pressa? Por conta do emprego, por conta de seus respectivos companheiros, por conta de uma incabível e fora do normal busca em ser o que já são.
Respectivos companheiros, isso soma à minha ideia.
A imagem dos três homens comemorando em apertos de mãos um negócio financeiramente rentável estala em minha mente, como se me inspirasse e desse mais um detalhe
à minha ideia.
Eu poderia fechar com outros senhores um negócio sexualmente rentável e divertido, como as partidas de golfe que Sebastian insiste em perder para Ramon.
Pode ser divertido para Andrew, Carl e Benjamin, o trio inseparável, jogam squash duas vezes por semana. Giovani é claro que vai topar, aquele tranqueira vai aceitar
na hora. Andrew é primo de Carl e as famílias são sócias no ramo agropecuário. Meu celular toca novamente e eu abro a primeira gaveta verificando a bateria reserva
caso precise.
- Alô? – atendo e não reconheço o número.
- Evan? - Uma voz familiar chama pelo meu nome do outro lado da linha
- Sim? –respondo tentando lembrar, mas não consigo.
- Sou eu, Bryan!- Caralho, esse cara estava sumido há alguns meses.
- Não acredito, cara, você sumiu!
- Negócios, Evan, negócios. Tem um desgraçado apostando cem mil para domingo no Golfe, devo aceitar?- Ele brinca e tem barulho ao seu redor.
- Aposto que é o Ramon! – Esse cara é fera no Golf.
- Ramon também está aqui, mas é o Alexander que quer perder a grana.
- Onde vocês estão?
- Brasil! Na realidade estamos saindo do país em alguns minutos, estamos no aeroporto. – Ramon havia me convidado para essa viagem, mas eu tive tantas reuniões na
semana passada que seria impossível remanejá-las para depois.
- O que vocês estão fazendo aí? Quem vocês estão enrolando?
- Não diga isso, somos do bem! – Ele gargalha, é um desgraçado mesmo. -É a maior concentração de mulher bonita do planeta. – Sem querer Bryan alimenta meu projeto.
- Estive no Brasil há dois anos, realmente é um paraíso. – Disparei.
- Cara, conhecemos umas cariocas que são de pirar, e tem duas paulistas que eu comeria todos os dias. – Variedade é algo que me agrada.
- Imagino a putaria que deve ter sido, pena que não participei, precisamos nos organizar. – E minha ideia tomou forma, claro, por que não? Por que não organizar
nossas fodas, de forma divertida, competitiva, conheço alguns bons competidores, e por que não lucrar com isso?
- Sim, vamos nos organizar e em ordem alfabética comeremos todas as gostosas. – Ele riu com malícia – Estamos de férias ainda, mais duas semanas, tem algum plano?
- Sim, eu tenho e isso inclui vocês! Esqueçam o golfe, tenho algo melhor. – Caralho, que ideia, respondi de pronto, mas seria melhor se tivéssemos mais investidores,
a brincadeira seria bem melhor.
- E quais são os planos?
- Os melhores, que tal Madri?
- Você é louco? Atravessar o oceano?
- Sim, e você não vai se arrepender – Garanto que não, penso comigo.
- Bom, me dê dois minutos, deixa eu ver com esses desgraçados. Alex e Ramon, Evan está nos convidando para uma reuniãozinha em Madri, o que vocês acham? – Escuto
Bryan repassando o recado e a confirmação comemorativa dos dois, esse bando de vadios. – Onde em Madri?
- Assim que você chegar em Nova York me ligue que te passo as coordenadas. – Acho que foi a melhor ideia que tive depois da importadora, penso.
- Em nove horas eu te ligo.
- Aguardando. – Apertei o vermelho do celular arquitetando a putaria.
Preciso colocar no papel e ver as diretrizes e seus pontos principais.
Me perco dentro de minha ideia e diante dos papéis intermináveis que preciso assinar e conferir. Os ponteiros do relógio não perdoam e o tempo some diante dos compromissos
impressos que tenho diante dos meus olhos.
578 e-mails ocupam minha caixa de entrada e estou sem a menor vontade de ler. É quase hora do almoço e arrasto o mouse para fechar a tela, mas uma mensagem da Gutemberg
e Associados me chama a atenção:
...
De: G & Associados
Para: Evan Louis Maccouant
Assunto: Nota de falecimento
Data: Segunda- Feira, 21 de setembro – 08h55
Senhores,
É com extremo pesar que informamos o falecimento de Maurice Ian Gutemberg.
A família prestará suas últimas homenagens no Centro Arqueal de Madri a partir das 14h de amanhã.
Sem mais,
Gutemberg &Associados S/A.
- Caralho! – falo alto – Não acredito, aquele velho me dava a sensação de que passaria dos cem anos. Philip Gutemberg, filho único de Maurice, está sentado sobre
um império, a maior importadora da Espanha.
A Maccouant fez algumas pontes para a Gutemberg em um dos momentos de crise e ajudou nas entregas e remessas entre os continentes. Maurice sempre teve uma fortuna
sob a sua bunda e mesmo assim sempre foi humilde. Uma perda para o império que ele ergueu e manteve por tanto anos.
Preciso almoçar. Me afasto da mesa e alcanço meu paletó e o visto caminhando para fora da minha sala e alcançando os degraus para o primeiro andar.
- Sra. Everhill, vou almoçar e retorno apenas amanhã.
- Sim, senhor. – Ela sabe que apenas essa informação é o suficiente. Segunda-feira turbulenta. Vou a pé até o restaurante.
- Bom dia, Sr. Maccouant. – George me atende aqui no Tribecca Grill há pelo menos dois anos, todas as segundas.
- Bom dia, George.
- Sua mesa, senhor. – Ele me guia por todo restaurante de colunas de tijolos aparente e iluminação impecável, como se eu não conhecesse o lugar. – Por favor. – Ele
aponta para a mesa redonda, no canto entre duas paredes e uma janela com vista perfeita para a rua.
- Obrigado, George, por favor me traga uma garrafa de Finé. E Wallace, ainda não chegou? – pergunto sobre o cara que mantém contrato com minha importadora; ele é
proprietário da Jonnes&Weiser Transportes Marítimos. Quando minhas cargas precisam atravessar o oceano é com ele que converso, nos conhecemos em Harvard um ano depois
da traição.
Um grande amigo que mesmo sem saber o motivo pelo qual eu recusava participar das festas, era solidário e trazia cerveja para o campus, jogávamos vídeo game quase
que a madrugada toda e vez ou outra saíamos para uma boa trepada com as garotas da irmandade. Nosso almoço nunca é marcado. Somos clientes assíduos do mesmo restaurante
e vamos quase sempre no mesmo horário. Quando isso acontece, acabamos por fazer a refeição juntos e trocamos ideias.
-Ainda não, Sr. A Finé o senhor prefere gelada? – ele responde.
- Sim, por favor. – Assim que George sai, alcanço meu celular, e no bloco de notas esboço o que ronda minha mente.
- Senhor. – George abre a garrafa e me serve. – Gostaria de fazer seu pedido? – O educado garçom acrescenta mais um detalhe ao meu projeto, fazer um pedido.
- Sim, George, salada com mussarela de búfala e o salmão grelhado, acrescente molho de maracujá.
- Sim, senhor, com licença. – Ele sai e eu leio sobre a ideia ousada que agora está anotada.
O intuito é ser uma rede social de poucos integrantes, mas quantos? Isso não importa, deve ser direto e sem percalços, contra isso um contrato. E como se algo apitasse
em meus ouvidos, alcanço o celular e digito os números do meu advogado.
- Jony!
- Sr. Maccouant? – ele responde.
- Preciso abrir uma empresa.
-Uma filial da Maccouant? – Inocente Jony.
- Não, ramo diferente. – Sou sucinto.
- Qual ramo, senhor? – Poderia ser ramo alimentício, mas melhor tratar com seriedade esse assunto.
- Entretenimento, busque as informações e o que será preciso e me retorne.
- Perfeitamente. – Ele desliga e minha ideia passa ao próximo nível.
- Com licença, seu pedido senhor. – George me serve e meus olhos apreciam a comida antes mesmo de meu paladar e um turbilhão acontece, uma onda de novas ideias em
cima da primária estupenda me flagra. Seria eu um pervertido? Não, sou apenas homem e gosto de fato de uma boa trepada.
- Obrigado, George. – O garçom se afasta e o garfo desliza sobre a carne rosa e apetitosa. Sim, sou um filho da puta maldito que ainda precisa de terapeuta. Às 14h,
seu desgraçado, não esqueça, minha mente me lembra do compromisso.
Enquanto fatio a carne suculenta, penso que talvez eu seja o cara que vai morrer milionário e solteiro, não penso na possibilidade de me amarrar a uma única mulher.
E essa decisão é por conta própria. Se fosse seguir um exemplo, eu seguiria o exemplo dos meus pais; são felizes, casados há mais de vinte anos, não lembro de ter
presenciado sequer uma discussão entre eles. Tive uma infância feliz e pais presentes nas etapas de minha vida. Mas para eu ficar com uma mulher, definitivamente,
ela precisaria me oferecer algo que nenhuma outra ofereceria, mas o quê? Pare de pensar nisso, você pode comer todas, esqueça Susan! Todas serão Susan! – meu subconsciente
me alertava sobre as chances de tudo se repetir.
É como uma maldição, não paro de pensar nessa vadia e tudo me lembra ela como nunca aconteceu, não vou poder me enfiar na bebida como sempre fiz. Talvez se Tiely
não tivesse mencionado nada em relação a namoros e relacionamentos sérios eu não estivesse nessa guerra com meu passado. Ela foi doce, mas eu só queria uma foda
de vez em quando, nada sério, e quando a vi no salão da minha mãe conversando como se fizesse parte da família, algo me incomodou, ou melhor, tudo me incomodou.
Meu celular vibra sobre a mesa e antes de atender fatio mais um pedaço de carne e coloco na boca.
-Sim – respondo de forma grosseira e com a boca cheia. A ligação interrompe meu momento masoquista, momento que eu sinto as chicotadas em ter sido um otário, o maior
de todos, inclusive quando dispensei a gostosa da Tiely na terça-feira e marquei a consulta com Dr. Ethan.
Mas o motivo pelo qual eu precisei das consultas não é apenas a traição de amigos, é um conjunto de fatos poderosos que me levaram ao sentimento de culpa. A palavra
culpa abrange um horizonte que não tem como medirmos, não sabemos a distância. Não foi apenas o fato de minha namorada estar trepando com o cara que eu tirei da
merda, é o fato dela ter feito isso muitas vezes com ele e o pior de tudo, ela participou de forma ridícula no estupro da pobre garota; ela atraiu a jovem para uma
armadilha e isso é nojento apenas por lembrar.
Era noite de terça-feira e Susan me garantiu que estaria na irmandade para uma reunião de amigas, mas ela mentiu, ela sempre mentiu. Mas desta vez alguém iria morrer,
não naquela noite, alguns meses depois, por culpa desta terça-feira. Era para ser uma festa e acabou em uma competição pessoal com Andressa Sulmian, a garota linda
com QI elevado, bolsista em Harvard e que morria de vergonha apenas por responder o meu bom dia. Ela era linda, mesmo tímida e introvertida. Por detrás daqueles
óculos havia uma garota inocente, que tinha um pai deficiente físico que não poupou esforços para apoiar a filha.
Céus! Andressa era o sorriso escondido que irritava Susan e eu não sabia. Susan a odiava porque era isso que ela possuía de sobra dentro do coração e, por Deus,
se eu soubesse o quanto essa culpa me arrastaria para o fundo do poço eu jamais teria ajudado Susan.
Susan convidou Andressa para a tal festa de amigas, amigas que nunca foram, apenas os caras da fraternidade, incluindo Paul. Andressa foi estuprada por mais de dezessete
caras, a fizeram beber, cheirar e tirar a roupa. Filmaram, fotografaram e a ameaçaram. Como uma garota teria coragem de voltar para a faculdade depois dessa merda
toda? Ela não voltou, não contou a ninguém, até que ficou doente, depressão, e sua mãe resolveu pedir ajuda para uma psicóloga que conseguiu de Andressa toda a história,
mas nessa época tudo estava na internet e foi fácil achar os culpados. Eles se entregaram e contrataram os melhores advogados, mas a moça, a vítima, era pobre e
seus advogados trabalharam de graça, apenas em nome da justiça.
Uma indenização foi imposta, além de trabalhos voluntários e cada um dos culpados cumpriu e pagou, incluindo Paul, com meu dinheiro, mas como e com quanto se devolve
a uma pessoa a vontade de viver? Quando Paul me pediu o dinheiro, segundo ele seria emprestado. Explicou que seus pais não o ajudariam e, para ser franco, nem meus
pais souberam do que fiz, pelo menos não na época. Fiz porque ele era meu amigo, o cara que visitava minha casa com seus pais quando eu era criança, mantivemos contato
e, por coincidência, nos encontramos em Harvard. Acho que a pior coincidência. Depois de tudo, descobri que Paul estava em Harvard como ultima tentativa de seus
pais em relação a ele. Mas alguém havia acabado com a própria vida.
Andressa tinha vergonha de dizer bom dia, como ela poderia encarar um bando de putos que a estupraram na faculdade? Como ela poderia andar na rua sendo que as fotos
de todo o inferno que viveu estavam em toda a rede? Como ela poderia viver se ela havia sido assassinada mais de dezessete vezes? Alguns meses depois, e mesmo com
todo dinheiro que recebeu, ela desistiu. Comprou uma arma de forma clandestina, deixou todo dinheiro para o pai e a mãe, junto uma carta que foi publicada pelo jornal
da faculdade algum tempo depois.
Pai, mãe, vocês são os meus anjos.
Peço que me perdoem, já que estou assassinando sua única filha, mas não tenho como seguir em frente, não posso seguir em frente. Diante dos meus pés existe um abismo
e me sinto cair, todos os dias. Todos os dias sinto todas as dores daquela noite, sinto vergonha e lamento desistir, mas é a única saída.
Peço que orem, não apenas por mim, orem por aqueles que contribuíram para minha morte, eles também precisam de ajuda. Pessoas que fazem o mal precisam de alguém
lhes desejando o bem, eles são humanos, eles erram, assim como estou errando agora.
Rezei a noite passada pedindo para que Deus e sua infinita misericórdia ampare você, meu pai, que depende de uma cadeira de rodas e eu sei que chora pela minha dor.
Me perdoa, meu querido pai, eu não serei sua advogada. Rezei também por você, minha amada mãe, que me amparou todos esses meses durante tantas madrugadas que acordei
chorando e aos berros por conta de pesadelos intermináveis, pesadelos enquanto eu dormia, pesadelos enquanto estava acordada. Virei prisioneira de algo que não tenho
forças para me libertar.
Peço que Deus conforte seus corações. Não tenho como eu pedir que entendam minha atitude, mas posso pedir que compreendam que eu já estava morta desde aquela noite
e que nada me faria mudar, não existe ressureição para minha alma, não existe perdão para o que estou fazendo agora, mas existe o alívio de não viver mais em um
mundo onde não fui bem vinda.
Pai, mãe,
Se vocês realmente me amam, não chorem por mim, porque agora eu estou em paz.
Andressa Sulmian
Nessa época eu fiquei por uma semana sem sair do quarto. Eu havia pago a indenização de Andressa em nome de Paul, nunca ninguém soube que fui eu o patrocinador da
liberdade dele, isso morreria comigo. Eu havia salvo um futuro assassino.
-Sr. Maccouant? – Gunter com uma voz estranha chama pelo meu sobrenome e me desperta do pensamento sobre um passado horrível. Penso na hora em Caroline que pode
ter tido uma piora e ele precise ir até ela.
- Sim, Gunter? Está tudo bem? – respondo rápido e preocupado.
-Bom, não, quero dizer, sim, mas é que acabei de receber uma ligação. – Ele está tenso.
- Gunter! – Sugiro uma advertência no tom ríspido de minha voz.
- Srtª Hogrand – Esse sobrenome deixa o peixe que está em meu estômago azedo e posso sentir o gosto em minha boca. É como se a tarde da traição acontecesse de novo
e de novo.- Susan, meu Deus, Susan teve um problema ontem e faleceu. – O peixe apodrece e a água de mais de vinte dólares a garrafa se torna um frasco de fel. Ela
morre todos os dias para mim e mesmo assim ela teima em voltar. Mas agora é alguém de fora que anuncia o funeral e algo não funciona bem. Estou indiferente e é como
se alguém me desse a notícia que treinei por três anos.
- Qual é o problema? – Susan! Meu pensamento não consegue assimilar a informação. Penso no Dr. Ethan e nos anos em que arrasto essa mulher em minha mente e todas
as vezes que brindei pela sua morte, por todas as vezes em que bebi e desisti de pensar. Eu não a amei, mas é fato que me odiei por muito tempo.
- Sr, obviamente estou ciente da discrição sobre esse assunto, mas é que seria inconcebível não passar o recado. Susan teve uma overdose e chegou a óbito, foi em
Amsterdã. – Vaca maldita! Deve ter enfiado o nariz em uma prato de cocaína, obedeceu minhas ordens.
- Lamento. – Encurto a conversa com Gunter, mas Dr. Ethan terá minutos a mais. Susan! Meu cérebro repetia o nome da puta.
- Perdoe ter que ser o portador de tal notícia. – Gunter se desculpa.
- Gunter, estou no Tribecca.
- Estou a caminho senhor. – Desliguei o celular e nenhuma emoção ou comoção me invadiu. Ela havia encontrado o que tanto procurou. Com certeza foi Flitcher, o mordomo
de Susan, que ligou para Gunter. Na época em que namorávamos, ele visitou Susan algumas vezes e em uma delas Gunter estava lá. Gunter chegou a me acompanhar no fim
de semana junto com Caroline em uma viagem para casa de veraneio da família Hogrand em Aspen. No dia em que terminamos, Flitcher ligou para Gunter que educadamente
não me repassou nenhum recado.
Olho para George e apenas aceno discretamente, ele entende e me traz a conta.
- Obrigado, Sr. Maccouant.
- Obrigado. – Minha despedida foi bem diferente de meu cumprimento de chegada. Algo estava morto em mim e não era Susan, ela havia falecido há três anos.
Hoje me sinto como uma casa funerária, um morre parecendo que iria viver e a outra vive como se fosse morrer. Um choque, um conflito meu para com meus demônios.
Me senti em queda livre e uma satisfação pessoal infelizmente me invadiu; pensar nela morta, não era o que eu desejava, mas de certa forma, algo bom chegou com essa
notícia. Uma ponta de culpa me invadiu por não sofrer por essa morte estúpida de Susan, mas não perdurou até eu entrar no banco de trás do Jaguar enquanto Gunter
abria a porta.
Sim, as pessoas podem morrer duas vezes, primeiro elas morrem para nós e depois de fato; elas partem desse plano, tudo é um plano.
Gunter acelera, e meu pensamento sobre o cheiro de flores de dois funerais está ao meu redor. Sinto o aroma de cada um dos velórios, e outro estralo se impõe à minha
audição, a vida é curta, Evan! Mesmo para Maurice que faleceu aos oitenta e poucos anos, é curta porque ele viveu, criou um império e fez seu legado. Curta para
Susan, que não soube usar seus minutos. Maldição!
- Senhor? – Gunter acelera o carro e me chama olhando pelo retrovisor.
- Sim? – Encaro os olhos dele que parecem buscar tristeza em mim.
- Foi Flitcher quem me ligou. – Gunter sabe de mais alguma coisa, mas ainda não sei se quero mais alguma coisa de Susan além do que já sei. Ficamos em silêncio e
Gunter por algumas vezes me espiava pelo retrovisor.
- Existe mais alguma coisa que eu precise saber sobre a Susan? – pergunto e olho pela janela.
- Não que precise, mas ela mantinha um diário e nele ela pede perdão pelo que fez. – Ele espia de novo pelo retrovisor. – Acredito que as pessoas mereçam perdão,
mas antes de mais nada, acredito que devemos nos perdoar.
Entrelaço meus dedos e olho para minhas mãos. Como pequeno filme lembro-me do nosso primeiro beijo. Ela procurou por mim pelo campus por alguns dias depois que se
recuperou da overdose, ela carregava algumas maçãs em uma sacola e nos encontramos no corredor principal.
-Difícil te achar! – ela disse sorrindo e naquele dia eu achei o sorriso mais lindo do mundo.
-Me esforço muito para isso. – Brinco com ela, ela se mostrou uma garota diferente da moça que carreguei.
-Isso é para você. – Ela me entrega a sacola com maçãs. – Pelo visto você é super vida saudável e eu não quero ser uma péssima companhia ou má influencia para você.
Então, estou treinando em apenas oferecer o que há de melhor, ok? –Ela usava um jeans colado ao seu corpo e uma regata branca que combinava com suas sandálias de
dedos de fora.
- Gosto de maçãs, mas não precisa de treinamento para isso. – Alcanço o sacola.
-Preciso sim, pretendo passar boa parte do meu tempo fazendo isso com você, se você quiser, é claro. – Ela estava com um rabo de cavalo e uma franja caída sobre
suas sobrancelhas, ela era linda.
- Não precisa fazer isso porque ajudei você com o seu contratempo. – Tento ser discreto e começamos a caminhar pelo passadiço movimentado.
- Meu contratempo quase me tirou a vida e você a devolveu. Tudo aconteceu há quase um mês e desde então toda vez que lembro do seu rosto, ali do meu lado no hospital,
eu me sinto culpada e não uso mais nada. - Nos sentamos em um banco perto de algumas árvores e ela sorria sem parar. –Você salvou a minha vida, Evan, e a não ser
que não queira, gostaria de poder retribuir de alguma forma.
- Senhor? – Gunter me desperta do passado. – Chegamos. – O carro já estava parado há alguns minutos diante do consultório do Dr. Ethan.
Capítulo 2
Evan
- Boa tarde, Evan. – Dr. Ethan e seus óculos sobre o nariz fino me recebem em seu consultório. Ele não usa terno ou algo social, está sempre de jeans e camisa, quase
sempre quadriculada. Muitas vezes me sinto um tolo, patético em vir até aqui e dizer: Olha só, eles me enganaram e agora não consigo confiar ou me aproximar de ninguém!
Mas eu ainda preciso olhar para a cara do Dr. Ethan, mesmo que isso comprove o quanto sou tolo.
- Boa tarde. – Retorno seu cumprimento de maneira sucinta, quero vomitar tudo em cima dele.
- Conhece o lugar, sinta-se à vontade. – Caminho até a poltrona marrom de couro legítimo e me sento, mesmo tendo o divã como opção. Mas a sensação de deitar e contar
o que está acontecendo, me passa a sensação de estar em um estágio terminal de alguma doença grave. - Três meses, tivemos um progresso. Quase noventa dias sem consulta
ou telefonemas inusitados por conta de seu estado de embriaguez elevado. – ele zomba de forma séria, quase perco o terapeuta por conta daquela noite.
- Acho que hoje não está sendo um bom dia e quanto às doses, tenho me policiado. – Assim que sento, reclino e apoio meus cotovelos sobre meus joelhos; não fiz questão
de tirar meu paletó e meus dedos se entrelaçavam.
- O que aconteceu? – Meus olhos estavam na direção da irregularidade do piso laminado, a cor escura disfarça algumas falhas; perfeccionismo, um mal que me habita.
- O motivo que me fez ligar semana passada para marcar essa consulta se tornou irrelevante perto dos motivos que tenho para começar a falar. – Ethan se acomoda na
poltrona verde de frente para mim e me olha através de seus óculos que ele acaba de limpar as lentes em sua camisa de flanela.
- Me fale sobre eles. – ele pede e cruza as pernas. Por diversas vezes é quase uma ameaça, mas me sinto bem em falar com esse especialista.
Olho para o bem conceituado doutor e respiro fundo antes de começar. - Semana passada eu decidi não sair mais com uma pessoa. Essa pessoa falou sobre namoro, envolvimento
e compromisso e esse tipo de coisa ainda me leva a um passado que tento esquecer, mas não consigo. – Respiro fundo e retomo. – Mas – paro por alguns instantes e
pisco demoradamente antes de continuar. - Susan faleceu ontem à noite. - disparo e puxo ar para meus pulmões e ficar sentado me incomoda. Levanto e ando até a janela
e olho para o reflexo de meus olhos na janela impecavelmente limpa do consultório.
Dr. Ethan deixa o silêncio apenas para mim e, para ser franco, às vezes não sei o que fazer com essa falta de barulho.
- Semana passada senti apenas necessidade em dizer que nada mudou e que eu ainda me sentia uma vítima cretina do passado, mas agora, o meu passado está morto de
fato e sinto culpa por não sentir nada. – declaro olhando para as pessoas que caminham lá embaixo. - Ethan, não consigo lidar com relacionamentos, sempre penso que
alguém pode morrer e eu possa de novo ajudar o culpado.
- Me diga, Evan, que tipo de emoção você tem ao falar de Susan? – ele pergunta e eu não sei a resposta. Eu saberia dizer sobre o que eu sinto por mim, e é ódio,
por ter confiado e depois a zombaria pelos corredores e tudo isso me transforma em alguém sem emoção alguma em relação a Susan.
- Não sinto nada ao falar dela, mas sinto raiva de mim ainda. – Olho para o prédio em frente e me concentro nas plantas da escadaria de incêndio. – Mas acho que
a odeio ainda. – concluo.
- Entendo, mas agora vai ter que lidar com a morte; vai ter que superar o fato de não ter mais acesso a Susan e dizer o quanto a odeia. – Ele ajeita os óculos com
o indicador. – Você vai ter que superar o passado e agora é pra valer. Hoje é sua consulta de número 79 e a tragédia não mudou; o que muda é a forma como a encara.
Andressa morreu e isso não foi culpa sua, já conversamos sobre isso, você tentou ajudar.
- Minhas metades ainda preferem morrer. – Me dou conta que o diálogo é feito entre duas pessoas que não se encaram. Odeio as verdades de Ethan. – Ajudei Paul sem
saber que ele e Susan tinham um caso e que, por alguma idiotice, decidiram prejudicar uma bolsista, pobre garota. – Esfrego minha testa com o polegar e o indicador.
- Então mate essas duas metades que vivem no passado. Metades que conseguem sobreviver em um período sem oxigênio e deixe o Evan por inteiro viver nos dias atuais,
onde a vida dele está acontecendo e ele está mais interessado em enterrar diariamente uma pessoa que de fato não existe mais. – ele fala baixo e me irrita como ele
é sensato. – E quanto a Paul Meriden, o que sente quando fala dele? Desculpe, você não fala dele. Todas as vezes você insiste em falar dela, falar de Susan, e toda
essa carga emocional inválida é canalizada em apenas uma ponta. – Ele espera por alguns segundos e continua. – O que você sente ao pensar em Paul? Porque ele estava
lá, ela não errou sozinha e por algum motivo você o bloqueia.
- Dr. Ethan, Paul era um grande amigo. – Paro por alguns instantes e penso antes de falar. – Ele participou de um estupro coletivo, só não foi pra cadeia porque
eu paguei a fiança e a indenização da pobre moça que se matou meses depois. Eu ajudei um assassino, pode não parecer mas o que fiz foi financiar mais alguns meses
de vida de alguém que estava decidida a não viver mais. – Uma raiva explode dentro de mim e fecho meus punhos.
- Mas ele te traiu tanto quanto Susan e ele mal é mencionado em suas consultas. – Dr. Ethan cutuca.
- Eu sei, tenho vergonha de ter ajudado um criminoso, mas ele era meu amigo e me chamava de irmão e talvez por isso eu não sinta tanto ódio pelo que ele fez, mas
sinto ódio por tê-lo ajudado. Eu pedi para ser enganado quando apresentei os dois, não quero repetir tudo isso. - Esfrego meu polegar e indicador na testa e retomo.
– Ela eu odeio porque salvei a sua vida e depois ela pouco se importou com a minha, afinal, foi eu quem andou pelos corredores aguentando todo tipo de brincadeira
impiedosa, mas segui em frente. Agora Paul, Paul manteve um caso com ela pouco tempo depois que eu os apresentei, e não demorou muito para que o estupro acontecesse,
fui enganado por meses.
- Evan, acho que você não odeia Paul porque conseguiu dar um soco na boca dele e não pôde fazer o mesmo com Susan. – Ethan me irrita. – Perdoe-se por ter confiado
e tente não pensar na morte de Andressa como sua.
-Eu não apenas confiei, fui enganado por meses e depois, a morte de Andressa... – Respiro fundo fechando os olhos e deixo todo silêncio para ele.
Muitas vezes pensei em jogar o Dr. Ethan daqui de cima, mas ele me oferece o que poucos fazem: a verdade. Por mais de quarenta minutos ele repetiu como se fosse
um mantra que eu deveria seguir adiante, pois não havia precipícios, e pela primeira vez me senti o garoto mimado, senti vergonha e talvez eu devesse viver nos dias
atuais, já que são nesses dias que Susan não existe mais, de fato não mais.
- Evan, quanto aos relacionamentos que você evita ou rompe assim que se tornam relacionamentos de fato, você perde a oportunidade de entender que nem todas serão
Susan. – Dr. Ethan continua sentado, calmo e eu encaro meus olhos na vidraça. Foram longos minutos frente a frente comigo mesmo, entre caminhadas em torno das poltronas,
eu sempre parava diante da vidraça.
Dr. Ethan, continuou falando sobre o presente que precisamos desligar do passado, perguntou como me sentia diante da morte de Susan por algumas vezes, como se fosse
um teste de memória, perguntou se ir ao funeral estava em meus planos e depois de responder que não sentia nada em relação a morte dela e que ir ao funeral não era
meu objetivo, ele concluiu que eu havia superado a traição, mas eu tinha que restaurar meu orgulho ferido e tentar não pensar em Andressa com tanta culpa. Essa é
a parte mais difícil.
Olhar para a própria vida e tentar reerguer os tijolos de seu orgulho destruído, tentar esquecer algo que te fez frio e sem confiança alguma nas pessoas, tentar
estabelecer uma conexão confiável com seres da mesma espécie e seguir a vida. Essa é a parte mais complicada, eu preciso apenas entender que não tenho culpa.
Uma mensagem chega ao meu celular e um dos aviões que deveria ter decolado há vinte minutos está parado no JFK. Atrasos não me agradam, nunca.
- Evan, nem todas serão Susan. – ele fala removendo os óculos e levantando da poltrona. – Ela teve participação na sua vida, faz parte de sua história, agora você
pode filtrar tudo e recolher apenas os bons momentos ou continuar arrastando isso para a eternidade. – Ele coloca os óculos e agora está diante de mim, olhando em
meus olhos. - Não acha que é um peso morto e grande demais para você gastar energia carregando? Canalize isso para algo em seu presente, algo para o seu futuro.
Existirão outras Susans e outros Pauls, mas hoje existe um outro Evan. – ele termina a frase e eu concordo com ele, internamente.
Sim, outro Evan, mais forte e sem emoção.
Me despedi do Dr. Esqueça-o-Passado e desci o elevador pensando sobre o que agregaria minha vida continuar me martirizando sobre algo que não está em meu domínio,
não posso mudar e fico todos os dias analisando o que aconteceu. A verdade é que meu orgulho está ferido ainda, mas é a morte de Andressa que pesa todos os dias.
Me sentia o super herói antes de tudo, salvei a vadia de uma overdose e o puto de um processo muito pior, destinei amizade e muito dinheiro para duas vidas que realmente
não mereciam.
Gastei dinheiro com internações inúteis de Susan, que prometia algo que ela nunca cumpriu. Ela gostava de se drogar e isso nos afastava algumas noites, possivelmente
foram nessas noites em que Paul e ela se aproximaram. Não posso pensar mais nisso.
Chamo por Gunter e nosso destino é o aeroporto JFK; mesmo tendo pessoal para resolver prefiro não arriscar. No caminho penso em todas as consultas e acredito que
Dr. Ethan se tornou um ouvinte de um garoto repetitivo. Preciso esquecer, preciso seguir adiante, preciso dar forma e cor à ideia que me ocorreu hoje. Preciso de
um objetivo para meu futuro e esquecer essa âncora morta que carrego há três anos.
Perco mais de duas horas no aeroporto e enfim a carga é despachada. Não posso admitir que esse tipo de incidente aconteça. Em alguns contratos pagaria pequenas fortunas
por conta de um atraso.
Mas agora a ideia da sociedade é a única meta que tenho em mente, uma distração sexual, com cardápio único e com um lugar exclusivo, longe de Nova York, um território
neutro. Preciso falar com o mais imprestável do bando todo.
- Alô? – Sebastian atende na segunda chamada.
- Seu puto, preciso falar com você. – disparo e ele já gargalha. Confesso que já quis matar Sebastian na adolescência. Nos conhecemos na escola e quando ele se mudou
houve uma espécie de magia em torno do garoto novo. Ele atraía olhares e era o garoto mais interessante do colégio. Ele falava sobre cucos e aves empalhadas. Tinha
histórias sobre Boston e Chicago e o maldito era boa pinta, sempre foi e até hoje uma legião de mulheres treparia com ele simplesmente pelo prazer da companhia.
- Estou embarcando para Paris, volto em uma semana. – ele responde.
- Na verdade estamos indo para Madri na quinta-feira e possivelmente vamos ficar alguns dias.
- Estamos? Não me diga que o bando todo de Vegas vai detonar Madri. – Ele solta uma risada e quase concordo.
- Mais ou menos isso. Assim que chegarmos em Madri eu te ligo.
- Ok. Ficou sabendo do Gutemberg? – ele pergunta.
- Sim. – respondo de forma rápida.
- Pois é, vamos ver quanto tempo o bastardo do Philip vai conseguir gerir o império do pai. - Ele é sarcástico e sem querer tenho outra ideia, mas dessa vez não
é sobre fodas, é sobre uma possível aquisição em Madri.
- Talvez ele consiga ter êxito se deixar de lado alguns caprichos e participar mais dos assuntos da Gutemberg e associados. – respondo torcendo para que ele não
consiga.
- Resumindo, ele não vai conseguir. – Sebastian responde rindo e debochando. Espero mesmo que não, penso. Sebastian sempre alfinetou Philip, algo não é compatível
entre eles.
- Nos falamos na sexta-feira, queridão. – Nos despedimos e agora é questão de tempo.
Os dias seguiram e mais alguns contratos foram captados em nome da Maccouant Import Inc.
Jony levantou todas as hipóteses sobre a empresa de entretenimento e Giovani já havia me passado pelo menos umas vinte mensagens sobre a viagem. Mal sabe ele a
proposta que tenho para oferecer. Era para eu me sentir um cafetão? Porque francamente não é assim que me sinto.
Confiar simplesmente na maioria das pessoas que pretendo envolver nessa sociedade não seria algo que eu faria apenas no fio do bigode. Preciso de um contrato sobre
sigilo, preciso de homens com a devida proporção monetária para manter a qualidade, o padrão e a entrega, porque teremos que fazer nossas entregas. Um Clube de sexo,
mais um eu diria, mas esse é organizado e possuirá cláusulas severas e diretas. Para todos que ofereci o encontro em Madri, apenas um não poderá comparecer, Philip,
por conta do pai.
Faltando apenas um dia para viagem, Jony redigiu o contrato, usando o possível nome fantasia da empresa para cada um dos envolvidos, apenas Philip receberá por e-mail.
Assim que termino o jantar, alcanço meu notebook e abro meu e-mail pessoal. São mais de duas mil mensagens e me dou conta que há dias não verifico essa conta. Nesse
instante, um e-mail de Robert aparece e acho prudente olhar, afinal, ele fez uma aplicação milionária para mim alguns dias atrás.
De: Robert Jonh Cooller
Para: Evan L. Maccouant
Assunto: Viagem
Data: Quarta-feira, 23 de setembro.
Evan, embarco para Londres amanhã pela manhã, e como sei que não faz nenhuma movimentação bancaria sem que eu analise as questões, peço que espere. Volto em uma
semana.
Abç
Robert,
Robert seria um forte candidato, afinal, depois do ano novo em Vegas, acredito que nada me surpreenderia. Retorno o e-mail e combino de ligar para ele assim que
chegar em Madri. Por enquanto todos os envolvidos se conhecem, não acredito que teria problemas.
Me deito e olho para o teto, sem sono ou qualquer tipo de sentimento. O funeral de Susan será por esses dias e me flagro lembrando da noite em que a salvei. Prometi
a mim mesmo que aquela seria a última vez que lembraria de Susan.
-A garota de vermelho precisa de ajuda! – Alguém gritou do corredor apontando para o banheiro. Muitos correram, quase todos, inclusive os caras que me convidaram
para essa merda, mas alguém precisava de ajuda e nessa época havia um Evan inocente, um cara de alma caridosa e foi esse cara que entrou no banheiro e viu uma moça
suja de vestido vermelho se debatendo no chão imundo do banheiro.
- Chamem uma ambulância! – gritei e não havia ninguém por perto. A peguei e a levei, passando por todos os covardes que apenas olhavam espantados. Era a primeira
festa que eu participava e de repente me arrependi de ter tomado essa decisão.
Foram mais de quatro horas no hospital e depois um interrogatório sobre drogas e de onde estávamos vindo. Na tentativa de não prejudicar ninguém, apenas declarei
que não a conhecia, que a vi passando mal e ajudei. O dia já estava posto quando Susan se recuperou e eu estava sentado ao lado de sua cama, ainda não sei o que
esperei sentado ali. Eu poderia tê-la deixado e partido, mas não.
-Acho que estou com problemas. – Foi a primeira frase de Susan. Foi a primeira vez que ouvi a voz dela e apenas concordei. Ainda hoje concordo, ela sempre teve problemas.
- Sim, não acredito que possa ser benéfico o uso de cocaína, independente da proporção. – Fui curto e gentil, se é que isso era possível.
- Foi você quem me trouxe? – ela perguntou e eu acenei com a cabeça. – Obrigada. – ela sussurrou e em seus olhos havia quase um pedido de clemência como se não quisesse
fazer o que faz, uma rebelde sem causa, já percebe-se que vem de família rica.
- Não precisa me agradecer, você mora no campus? – perguntei e levantei seguindo em direção à janela.
- Sim, é meu segundo ano, preciso levar mais a sério essa merda. – Ela trava a frase assim que solta a última palavra. – Desculpe, mas é que meus pais estão me pressionando
tanto e eu não sei como agir. Sou filha única e parece que a salvação mundial está em minhas mãos. – Ela se ajeita na cama e tenta dar um jeito no cabelo.
- Bom, vejo que está bem e que está sem bolsa. Aqui está o dinheiro para o taxi e espero que fique bem. – Deixo cem dólares em cima da mesa e caminho em direção
à saída.
- Ei, espere, qual é o seu nome? – ela pergunta e eu não me viro para olhar, apenas respondo olhando para minha mão na maçaneta. Sinto uma sensação estranha, sinto
vergonha por ela.
- Evan. – respondo apenas isso e abro a porta. Saio e deixo para trás o rosto que iria me assombrar pelos próximos anos.
Adormeci pensando que aquele rosto foi responsável por tantas consultas, responsável por um orgulho severamente ferido e responsável por eu ser o que eu sou hoje.
Pensei que não haveria outro Evan para salvá-la desta vez.
Quando o dia nasceu eu já estava devidamente suado pelo treino, esmurrei o saco de areia por mais de trinta minutos e corri como se estivesse fugindo. Estava, mas
era de mim e as poucas horas de sono com certeza me trariam um dia irritado.
Tento resolver o que preciso o mais rápido possível e assim que termino a reunião com os Brigens, Gunter me leva até o aeroporto JFK. Giovani me espera em uma sala
e não percebe o momento em que chego e me sento ao seu lado, ele está distraído com celular.
- Esse recorde é meu Giovani! – falo olhando para a tela enquanto ele joga Galaga. Coloco minha bagagem ao lado da dele, um dos seus seguranças está sentado de frente
a ele.
- E aí, seu puto! Vou pegar um café. Temos que esperar. Quem disse que possuir um jato te faz dono do espaço aéreo? Vamos atrasar em uma hora a decolagem. - ele
dispara e caminhamos até o café.
A atendente que serve o café olha para Giovani e depois para mim, a vejo perdida e logo ela se esconde atrás do balcão.
- Gio, é loucura, mas funciona. – disparo palavras sem coerência e ele me encara. – Alguma vez dentro de todas as putarias que já participou, você pensou em possuir
uma rede secreta de sexo?
Ele quase engasga e me encara, como se eu fosse um terrorista e estivesse gritando no JFK que tenho uma bomba.
- Evan, poderia ser mais claro? – Ele quase implora e eu sorrio.
- Claro que sim, peço que preste atenção e analise, pois é fato que vou levar adiante. - Giovani termina o café e eu peço outro para ele. A moça tropeça nela mesma
quando aceno em sua direção. – Um clube de sexo com direito a menu, é claro que vai dar certo. – concluo.
- Então, por favor, me convença. – Ele cruza os braços e eu apenas sorrio, como se fosse uma proposta simples, mas confesso que não há nada de simplicidade, quero
foder de um jeito diferente.
Assim que a segunda rodada de café foi servida e a atendente saiu, eu comecei.
- Uma rede de solicitações. Você sabe que seu pau precisa foder uma morena, não pare por aí, meu caro amigo, coloque detalhes, cabelo liso, enrolado, baixa, alta,
magra, gostosa, bilíngue, por que não? Mas a grande sacada está aí, todos levarão morenas e você determina como solicitante daquela foda quem você quer foder.
Os olhos de Giovani quase saltam, mas ele sorri e é novamente ponto para Evan, e eu continuo. - Uma rede social interna, apenas para os sócios; é lá que você coloca
o perfil de sua foda e como um jogo, todos os envolvidos levam a merenda, opções e uma brincadeira com direito a orgasmos.
- Evan, você é um pervertido. – Giovani dispara sorrindo.
- Não é perversão, é diversão, e na verdade isso já acontece, mas agora teremos o nosso. – Olho para os lados e prossigo – Escute, não existe nada de errado nisso.
Andrew, Carl, Benjamin e Ramon desembolsam fortunas em suas apostas no golfe e o Sebastian é um dos que mais perde dinheiro com isso, ele é péssimo no golfe.
- Sr. Maccouant, está me falando sobre uma competição infame! Podemos trepar de graça, por que pagaríamos um clube?
- Não é esse o ponto, meu amigo, eu lhe garanto que nunca precisei pagar por isso. A verdade é que ser escondido e ser inapropriado torna a disputa melhor. São várias
opções à sua escolha, alguns homens lhe trazendo dentro dos padrões o que você soliticou.
- Evan, isso é sério, vamos oferecer uma proposta dessas para desconhecidas! – Ele está assustado.
- Não, Giovani Makenzie, vamos oferecer sexo. O melhor sexo da vida delas.
- Posso saber onde será a sede do clube só para garotos? – Giovani e suas perguntas infinitas.
- Estou vendo duas propriedades, uma em Las Vegas, uma antiga casa de shows que precisa de uma grande reforma, e a outra em Madri, um palácio de algum século aí,
que caiu nas mãos de um homem que não está conseguindo manter a estrutura. Também precisa de restauração, mas confesso que é esse o lugar.
- Vai desembolsar uma fortuna para um clube de sexo? – Ele zomba.
- Sim, e a fortuna não é tão grande, como disse, o cara se afundou em dívidas. Tenho alguns trocados guardados para esse tipo de situação. – Peço a conta para a
atendente que nos encara assim que concluo a frase.
- E você não pensou que assim que elas pisarem no clube podem recusar? – Acho que quero dar um soco na cara dele.
- Você recusaria um prato de comida depois de dias andando pelo deserto? Elas não serão obrigadas a nada, sou absolutamente contra o estupro. Elas serão convencidas
e como recompensa, um bom orgasmo. – Pago a conta e nos levantamos. – Acredite, uma boa trepada e alguns trocados não vão arremessá-las ao inferno.
- Elas não, mas nossas almas definitivamente não terão qualquer tipo de misericórdia ou salvação. – Gio gargalha.
- Eu sei. Vamos, durante a viagem você terá tempo de me ouvir. – Andamos em direção ao embarque privativo e seguimos para o jato. Percebo o espichar de olhos de
Giovani em minha direção, ele tenta entender e não há nada para entender. É só uma brincadeira cara e alguns milhares de dólares não farão diferença na conta dele
e muito menos na conta dos demais.
- Evan, quais são os riscos? – ele questiona enquanto guardamos as malas em um armário lateral. Puta merda, esse jato novo é incrivelmente maior e mais bonito que
o antigo.
- Todos. – respondo e procuro pelas garrafas. – Mas são os mesmos riscos que corremos quando trepamos em Vegas com um bando de lunáticas que adoram orgias. Lembra
do ultimo réveillon? –Encontro o bar muito bem abastecido.
- Nem me lembre, fiz o check in no Bellagio e fui parar no The Venezian, ainda não lembro o que aconteceu. – Ele pega o copo que acabei de completar e se senta.
- Então, Gio, a diferença que será um jogo. Além de você procurando sua foda, terão outros bastardos procurando também e Sebastian aguarda a minha ligação assim
que chegarmos em Madri. Vou colocá-lo no acordo.
- Mas não seria arriscado fazer esse tipo de convite em Nova York? Afinal, todo mundo conhece sua cara, vai ser vítima de chantagem e a quantidade de grávidas que
surgirão na porta da sua casa será assustadora. – ele zomba e toma uma dose generosa do Bourbon.
- Não faremos em Nova York, pelo menos não em Manhatan. Também não vamos sair como um bando de loucos com uma placa na mão: Gostaria de trepar com alguns homens?
Vamos filtrar as possíveis candidatas ao convite. – Sorrio e bebo de uma vez a dose toda.
Não tocamos no assunto durante alguns minutos, até que Giovani não aguenta e começa a bateria de perguntas, e eu pacientemente começo a explicação.
É fato que ele se acomodou na poltrona de seu jatinho de milhões e me olhou como se eu fosse uma ameaça à humanidade. É fato que me sinto assim às vezes, mas neste
caso estou propondo uma diversão diferente.
Uma casa, devidamente estruturada para tal atividade, uma lista de adjetivos a serem preenchidos por nossas, digamos... encomendas, um fundo mensal pago pelos sócios
e sigilo, total e absoluto. Para isso, um contrato rigoroso e com multas severas. Detalhadamente expliquei sobre os valores, que cobririam os custos de remessa e
hospedagem, afinal, elas seriam nossas por apenas vinte e quatro horas.
Entre suas ajeitadas e nossas doses de Bourbon caro, prossegui com a proposta como se estivesse tratando de um acordo de importação milionário; e de fato estava,
mas nesse caso, poderíamos devolver as encomendas. Os olhos de Giovani se abriram em um único relance quando deixei claro que as solicitações deveriam manter um
padrão; não encontrei meu pau no lixo e prezo pelas minhas refeições.
- Evan, você é louco, é questão de tempo até que lhe internem. – ele zomba e entro com mais detalhes. Explico sobre a Hell-line que Alexander pode elaborar e que
vai contar com a experiência em TI de Giovani que é mestre em hackear tudo que envolva tecnologia.
- Não é loucura, meu querido, apenas diversão. Você continua fodendo suas garotas como sempre fez, mas de vez em quando teremos uma reunião como se fosse o pocker
de terça de homens casados. – Bebo e sorrio, ele nega com a cabeça e eu estendo a mão e alcanço minha mala. No bolso frontal um envelope com o contrato, entrego
para Giovani que se acomoda e lê atentamente enquanto cruzamos o oceano.- E não se esqueça que você vai levantar as informações de cada encomenda, afinal, não quero
ninguém com passagem policial ou que não tenha nada a perder.
O silêncio paira e apenas o zumbido do vento a mais de quarenta mil pés é audível. Posso admirar os detalhes do Jato Lineage, todo em marfim, possivelmente cinco
ambientes sociais, acredito que valha algo em torno de cinquenta milhões.
- Evan. – Giovani acaba com minha admiração assim que me chama.
- Sim? – respondo me levantando e caminhando para o bar, pego a garrafa e volto para minha poltrona.
- Aqui diz de maneira técnica, mas resumindo, a “encomenda” pode estar em qualquer lugar do mundo. Passaporte? Visto? Sabia que prostituição internacional é crime?
– Ele balança as folhas e eu sorrio de canto.
- Meu caro, você acha que eu arquitetaria um plano que pudesse colocar em risco nossa integridade moral? Claro que não. Para as encomendas outro contrato, elas assinam
como coordenadoras de atividades em grupo por período pré estabelecido de vinte quatro horas, isso não se enquadra no código penal sobre prostituição. – Encho meu
copo e completo o do Giovani.
- Cara, você quer montar uma gincana de fodas? Cada um traz sua prenda! – Ele gargalha.
- Se o seu pau se sente melhor assim, chame do que quiser, apenas criei uma negociação sexualmente satisfatória, ou você resolveu trepar com apenas as mulheres que
já conhece? Francamente, Giovani, foi sorte você não ter contraído nenhuma doença venérea em Vegas. – Ele gargalha novamente e eu também.
- Quem mais faz parte disso? – ele questiona.
- Somos no total de treze homens, apenas um não estará presente. - Olho pela janela e tudo está imensamente escuro e tempestuoso, mas não há sinal de chuva, a tempestade
é por minha conta.
- Quem são? – Ele volta os olhos para o papel e retira os sapatos, colocando os pés sobre a poltrona.
- Você conhece todos. – Paro por alguns instante e Giovani alcança um controle remoto e aperta o play. Fear on the Dark, do Iron Maiden, começa em um volume não
tão alto.
- Então diga quem são os sortudos que vão praticamente trepar em ordem alfabética? – ele zomba.
- Sebastian vai nos encontrar em Madri em dois dias, ele está em Paris. Bryan, Alexander e Ramon estão a caminho também. Robert tem alguns compromissos em Londres
e também estará lá. – Bebo mais um gole e percebo o segurança de Giovani caminhando para um dos ambientes. – Carl, Benjamin e Andrew já estão em Madri.
- Faltam três bastardos e tenho esperança que algum desses faltantes seja menos imprestável quanto os demais. – Ele toma o restante do seu copo e estende para que
eu complete.
- Desista, Makenzie, ninguém com alto nível de pudor faria parte dessa negociação e tão pouco seria nosso amigo. – Descanso meu copo e ando com as mãos no bolso.
– Wallace, junto com Cesar, chegam amanhã à noite, e Philip... confesso que esse eu tenho meus interesses. Sei da amizade dele com Wallace e meu assunto com Philip
se estende para a Gutemberg Associados, preciso manter esse cara por perto.
- Negócios, Evan? Tudo sempre será negócios? – Ele desaprova e não tem como eu socar a cara dele, ele é meu melhor amigo, filho da puta de melhor amigo.
- Sim, e todos serão Paul e possivelmente teremos algumas Susans. – Mudo minha expressão e caminho pelo jato, percebo que Gio se levanta e me segue.
- Evan, um dia, uma mulher vai fazer você mudar de ideia; vai fazer você entender que Susans e Pauls são as exceções e não a regra. – Ele é apenas um ano mais velho
do que eu e às vezes penso que ele é o irmão mais velho, bem mais velho.
- No dia em que uma mulher me fizer sorrir apenas pelo ato simples de alegria, eu me caso, escreva isso. Por enquanto, não penso nesse tipo de tragédia em minha
vida. – Olho sobre o ombro e vejo que ele negativa com a cabeça.
Somos naturalmente diferentes. Ele é o cara de flores e bombons, ursos de pelúcia e coração acelerado. Eu sou exatamente o oposto e não consigo imaginar eu, Evan
Louis Maccouant, dentro de uma floricultura escolhendo um ramalhete de flores ou encomendando chocolates. Estou longe desse raciocínio.
- Cuidado, Evan, tudo é um plano. Acredite, existe uma força poderosa em tudo que acontece ao nosso redor e diante de nós. E isso não é filosofia, é energia. – Eu
detesto a razão que Giovani tem às vezes.
- O assunto aqui não é meu futuro, são nossas fodas. – Volto à poltrona.
Nos sentamos e ele voltou a ler o contrato. Olho pela janela e sei que ainda teremos algumas horas, sei também que todas as vezes que Ethan me alertou sobre o passado,
ele alertava sobre esse tipo de situação; não consigo fazer nada a não ser pensar nos malditos e tentar blindar essa merda de vida.
- Gio. – o chamo baixo.
- Sim? – ele responde concentrado na leitura.
- Susan faleceu. – digo quase em sussurro e ele espicha os olhos para mim.
- Ela morre há três anos, todas as malditas vezes que falamos sobre ela e você enche a cara. Nega que a amou, mas é fato que foi isso que aconteceu. Admita que amou
a mulher errada! Você não consegue, Evan, você não pode admitir isso, afinal você nunca erra. Sou o merda do seu amigo que fala a verdade, então, conforme-se e pare
com essa história que ela morreu. – Ele se zanga e eu o entendo. Brindei tantas vezes à morte de Susan que agora não parece que seja uma novidade.
- Ela faleceu em Amsterdã, há cinco dias, overdose. – termino a frase e ele larga o contrato de lado e me encara.
- Ela morreu mesmo? – Ele quase não acredita e eu olho para o rosto incrédulo de Giovani Makenzie e confirmo com um aceno.
- Sim, ela morreu pela última vez. – respondo e volto meus olhos à janela. Não consigo lamentar. É como se não a conhecesse e de fato acho que nunca a conheci.
- Lamento. – Ele é sucinto. - Mas espero que você supere esse capítulo. Susan, Paul e Andressa, pare de se culpar e se sentir como se a bala que atravessou a cabeça
da garota tivesse sido disparada por uma arma que estava em sua mão. Você ajudou, fez o que pode, esqueça e viva como se sua parte no assunto todo não tivesse acontecido.
– Ele empurra o cabelo para trás exasperado e respira fundo. – Ei, cara, escute, sou seu amigo, imagino o que é acordar um belo dia e descobrir tanta sujeira ao
seu redor, mas você é a porra da parte limpa, entenda isso. – Gio descarrega de uma única vez.
- Não lamente, já lamentamos outras vezes a morte dela, mesmo quando não aconteceu. Não acredito que agora isso seja necessário. – falo baixo e encaro a janela.
– Obrigado, Gio.
O silêncio voltou e ficou até que pousamos em território espanhol. Fomos para o Ritz e nenhuma palavra foi dita, não precisamos pronunciar nada. Foram tantas madrugadas
bebendo e falando sobre os mais variados e infinitos temas sobre Susan que todos eles se esgotaram. Eu estava esgotado, sempre estou esgotado sobre esse assunto.
- Evan, nem todas serão Susan. – Giovani diz assim que para diante da porta do seu quarto. Eu segui pelo corredor e de repente parei e olhei sobre meu ombro esquerdo.
- Eu sei, mas é fato que eu sempre serei Evan, isso por si só já é uma grande tormenta. – Continuei meu caminho e segui para minha suíte.
Capítulo 3
Evan
‘É de primordial importância averiguar o histórico de cada encomenda.
Não será aceito nenhum tipo de entrega sem o devido contrato assinado’
Foram mais de três horas com todos os envolvidos. Mesmo não estando presente nos conectamos com Philip e realizamos a reunião como se decidíssemos o futuro do mundo
e a tão cobiçada paz mundial. Claro que houve as mudanças de contrato, tive que ceder para alguns caprichos e fantasias. Confesso que não é fácil ouvir algumas coisas
e, por outro lado, a diversão estava garantida. Todos amigos, o mais distante é Philip que mantém residência fixa em Madri, mas meu interesse com ele agora é outro.
Por diversas vezes, antes de começarmos a reunião, Sebastian pediu para não incluir Philip Gutemberg, mas eu não posso ceder por conta de uma desavença pessoal.
Sebastian garantiu durante todo o tempo que ele não era de confiança e que possivelmente eu encararia outro Paul em minha vida. Lousan aproveitou o momento em que
apenas nós dois estávamos e disparou algumas coisas contra Gutemberg, seus luxos e a falta de disciplina em pagamentos.
Discordei porque sei que Gutemberg não vai querer se passar por falido diante de milionários mais jovens que ele. Philip Gutemberg é o mais velho dos treze homens.
- Quem diria... Conseguiu convencer doze homens de uma loucura, e o pior, ninguém reclamou do valor a ser pago mensalmente. – Giovani interrompe meus pensamentos
bem na hora em que estava soltando uma gargalhada ao lembrar das vontades de Wallace. Cristo! Ele é louco! Estamos na sala de conferência do Ritz.
- Não é uma questão de convencer, é ter propriedade no que se propõe. – Recolho os contratos com as devidas marcações e olho para o bando entusiasmado.
- Ei, Evan! – Sebastian me chama e se levanta de uma das poltronas.
- Fala. – Sorrio ao responder.
- Foi o melhor projeto que me foi proposto nos últimos anos. – Ele dá um tapa em meu ombro e propõe uma balada para comemorarmos.
Joy Eslava, uma balada forte e bem conceituada, foi proposta por Robert e aceita por todos. Robert que é amigo de todos, além de cuidar das aplicações de cada um
dos envolvidos, é o único que não estará presente no Clube. O contrato dele é diferente, ele recebe as mensalidades e paga cada uma das encomendas com depósitos
em conta e de forma discreta, longe de qualquer averiguação. Precisávamos de um homem que soubesse de tudo e de todas, mas de maneira neutra. Robert Jonh Cooller
passou a ser o tesoureiro da putaria.
Estávamos a caminho do Joy Eslava, seria esse o teste para o inicio do acordo? Um clube de homens que proporciona a melhor foda, de acordo com a vontade de cada
pau e com o mesmo padrão das trepadas casuais que temos. Sim, temos um acordo entre cavalheiros, os mesmos cavalheiros que se dividem em três taxis e seguem para
a caça.
- Maccouant? – Alexander que está sentado ao meu lado no taxi, que ganha as ruas de Madri, me chama.
- Fala, queridão. – respondo enquanto mando uma mensagem para Jony sobre todas as alterações contratuais e peço que ele me mande por e-mail assim que redigitá-los,
assim os que estão presentes já firmam o acordo.
- Clube 13. – ele diz e eu a princípio não entendo, mas em seguida apenas sorrio e aceno de forma positiva. Accord Entretenimento tem um nome de guerra: Clube 13.
Jony responde perguntando se mantém o nome Accord como razão social e eu respondo que sim, digito sorrindo e nem me lembro dos últimos acontecimentos trágicos que
rodearam a minha vida. Definitivamente esta nova forma de análise fará efeito mais rápido do que os cinquenta minutos gastos na sala do Dr. Ethan.
Vinte minutos depois estávamos na fila para entrar. Ninguém usou nenhum tipo de artimanha para furar fila, queríamos ficar lá, de pé, afinal, havia uma dúzia de
mulheres e seus sexos ferozes nos encarando. Automaticamente lembrei de Benjamin quando ressaltou sua bondade em dividir o próprio corpo com no mínimo duas mulheres,
ele é fã de ménage a trois. Ou seja, duas a menos na conta dessa fila, mas não quero me precipitar, temos uma pista de dança e um bar esperando nossa avaliação;
porque de fato é isso que acontece. Avaliamos detalhadamente nossas presas, não apenas a beleza, varias beldades perderam a chance de um bom orgasmo comigo para
mulheres que eram infinitamente mais divertidas.
Adentramos a casa e Sebastian junto com Ramon laçaram cada um, uma mulher pela cintura, passei ao lado deles e a única parte da frase que ouvi do Sr Lousan foi:
‘Deixaria você gozar na minha boca’. Não sei o que ela respondeu, mas eu sei que ela está nas mãos do mais puto de todos e Ramon visita o lado interno da calcinha
da loura que ele agarrou.
O lugar é um teatro antigo, extremo bom gosto e grande; as pessoas começam a tomar posse de suas bebidas e seus lugares na pista de dança.
- Evan, ali. – Gio aponta para o canto da pista, abaixo dos camarotes e eu acredito que uma boa trepada pode salvar uma vida. Meu pau lateja.
O DJ sabe exatamente o que fazer e eu sei exatamente onde devo ir. Passo pelo bar, peço uma dose de whiskey e percorro o ambiente, preciso saber de todas as minhas
opções.
A noite se afunda nas horas que estamos nos esbaldando até que a conversa entre os cavalheiros, incluindo Sebastian que despistou sua primeira presa e agora foge
das outras que ele arrematou, insiste em dizer que o Clube deveria ser em Madri e por estarmos em pleno acordo, assim seja feita nossa vontade.
- Americanos? – Uma voz feminina e suave invade meu sistema auditivo e peço para os céus que a visão valha a pena, viro meu rosto e agradeço o arcanjo pela prece
atendida.
- Sim, mas se isso for um problema me torno europeu a seu pedido. – respondo de pronto e a deixo sem saída.
- Prefiro americano, prefiro o que vejo agora e gostaria de saber se vou ter o privilégio de experimentar essa noite. – Ela é direta, morena de olhos escuros, não
tão alta e também não é magra, sou um apreciador nato de curvas, nada cadavérico ou que lembre um saco de ossos.
- Mereça! – sussurro em seu ouvido e ela me arrasta para longe dos outros que nem percebem que estou sendo sequestrado e peço aos céus que seja por um bom motivo.
A morena se chama Michele, e com certeza possui experiência necessária para me deixar satisfeito. Ela me encosta em uma parede e desliza o indicador do meu queixo
até o cós de meu jeans e o coloca para o lado de dentro percorrendo de um lado para o outro. Estou de pau duro e ela sabe disso.
- Como posso merecer? – ela pergunta e beija o canto da minha boca.
- Assim. – Eu a encosto na parede e espalmo minha mão por sua coxa torneada e subo. Ela está sem calcinha e isso facilita meu trabalho. Beijo com força sua boca
e subo minha mão para o encontro de suas pernas e brinco na região livre de pelos.
A viro de costas e subo seu vestido vermelho. Algumas pessoas passam do nosso lado e agora o local estava menos isolado. Beijo seu pescoço e ela arrepia, os pelos
de sua pele se eriçam e posso ouvir sua respiração acelerada. - Não acho que mereça, mas não tenho tempo de verificar isso agora. Deslizo minha mão pelo belo traseiro
redondo e a levo para seu abdômen. Desço minha mão direita e brinco novamente em seu sexo, com a mão esquerda puxo quase que bruscamente seu cabelo, suspendendo
seu queixo e a fazendo gemer.
- Por favor! – ela clama.
-Por favor o quê? – questiono murmurando e ela remexe seu sexo molhado sobre meus dedos.
- Me ajude a merecer! – ela pronuncia quase em forma de dor e eu encaixo meu quadril em seu traseiro para que ela sinta o quanto é duro o que a espera.
- Talvez. – respondo e paro o que estou fazendo.
- Continue. – ela implora.
- Não aqui.- replico e a levo para um dos banheiros. Existe uma movimentação excessiva e a bebida impede que os homens do banheiro reclamem da garota. Entramos em
uma cabine e os olhos de Michele se perdem e não sabem onde olhar.
- Mereça! – repito e ela agarra minha calça desfazendo o zíper e o botão. Ela treme e a minha visão é feliz, ao se inclinar a jovem morena deixa à mostra uma par
de seios fartos que com certeza vou sugar com força.
Ela ajeita o vestido, senta na privada e coloca todo meu cumprimento dentro da boca. Seguro um gemido surdo e ela prossegue, brincando com a língua, deslizando meu
pau para perto de sua garganta e eu deixo, afinal, ela tem que merecer. Meu membro pulsa em sua boca e enquanto ela exerce seu papel de faminta, eu alcanço o preservativo
no bolso do meu jeans.
- Ainda não merece, mas vou ser um bom menino e enterrar gostoso em você. – Coloco o preservativo e a levanto; a coloco apoiada de costas para mim e suspendo seu
pé sobre o sanitário. Preciso ver com clareza onde vou me enterrar.
Ela está molhada e meu pau dói, assim que verifico o preservativo me enfio dentro da morena de uma única vez e a deixo rebolar com meu pau socado nela. Seguro em
seu quadril e enterro com força, ela grita e isso acorda uma porção de demônios que estavam cochilando.
- Mereça! – ordeno e ela rebola e eu enterro.
- Vou gozar! – ela sussurra e eu entro com mais força, mais pressa, com mais firmeza dentro do sexo encharcado.
Puxo seus cabelos novamente e de novo estoco dentro dela e ela explode. Pervertidamente fodo dentro da cabine do banheiro masculino e a deixo curtir um pouco mais
de mim e eu começo a seguir o caminho de uma bela e demorada gozada, mas para isso preciso de um rebolado mais forte e contínuo.
Saio dela e me sento sobre a tampa, ela instintivamente senta sobre mim e cavalga, desliza no subir e descer e eu pulso ainda mais. Ela tem um rosto bonito, simétrico
e marcante, mas não movimenta nenhuma energia futura em mim. Quero apenas gozar e de preferência mais vezes essa noite, não necessariamente com a mesma pessoa.
Deslizo a alça de seu vestido e seus seios se apresentam gentilmente para mim. Agarro-os e mordisco com certa força os bicos rígidos e ela geme, os aperto e os engulo
e ela mantém o subir e descer que possivelmente vai me fazer feliz.
- Mais forte. – peço para que ela sente com força e assim vou sentir a entrada do seu útero e ela é obediente; ela o faz em uma sequência magnífica e eu encho o
preservativo.
Nossa respiração se encontra e nosso suor também. A noite começou muito bem e espero poder repetir o orgasmo de outras formas, com outras mulheres e em outros lugares.
Nos ajeitamos dentro das roupas bagunçadas e saímos da cabine sob o olhar curioso dos homens que ouviam os gemidos da morena. Mas nem tudo é perfeito. Assim que
alcançamos o lado de fora do banheiro, ela alcança a minha mão e entrelaça os dedos nos meus e isso não foi algo inteligente. Soltei no mesmo momento e ela se contraiu
em dúvida.
- Ei, acabamos de fazer amor, e eu nem sei o seu nome! – Tudo errado e ela desperdiça um orgasmo muito bom com uma ventania de palavras que realmente não aprecio.
- Escute, não fizemos amor, não tenho por hábito praticar esse tipo de coisa. O que fizemos foi sexo, uma trepada casual e sem qualquer tipo de interesse a não ser
satisfação sexual. E quanto ao meu nome, lhe darei o benefício da dúvida. – Beijo o seu rosto e a deixo com todo o benefício concedido.
Ela até murmurou algo, mas lembrar dos dedos dela entrelaçados aos meus, me leva para o dormitório de Harvard e definitivamente essa é a lembrança que preciso realmente
apagar. Misturo-me na multidão dançante e não vejo sinal dos outros, me apoio no balcão e peço mais uma dose.
- Estava trepando, seu bastardo! – Benjamin me encontra no balcão e levanta uma garrafa de cerveja para o atendente.
- Não sou de fazer isso. – respondo brincando e ele gargalha.
- Evan, nos conhecemos há muito tempo, então o que disse na hora que fechamos esse acordo é algo que exijo. – Benjamin e sua tendência ao sexo em grupo.
- Benjamin, não me importo se você possui uma garota fixa que topa percorrer o mundo com você para fazer esse tipo de sexo, mas ela é responsabilidade sua. Isso
deixou de ser uma brincadeira, não somos escoteiros e tudo isso que acordamos como cavalheiros envolve sexo, dinheiro e o mínimo de lealdade. – ele me olha e suspende
um dos cantos da boca. –Tudo tem seu preço, tudo e todos. – concluo.
- Fique tranquilo, Greta é de minha confiança e sabe como deve se comportar. E ela sabe que sou bom em recompensas. – Ele termina a dose e sai em direção à pista
de dança.
Flagro-me quase gargalhando da reunião. Somos pervertidos e assumidos, mas estamos falando de sexo, o bom e prazeroso sexo, que apenas por imaginar faz minha calça
se ajustar e meu pau doer. Homens, com diferentes desejos e com disposição monetária para esse tipo de atividade, somos apenas capazes de colocar em prática a vontade
de muitos.
- Evan, não sei o que você estava pensando quando bolou tudo isso, mas é impossível não pensar na diversão. – Sebastian chega e se apoia ao meu lado no balcão. Juntos
observamos Benjamin com duas morenas e definitivamente ele é sociável.
- Charper, a ideia central é diversão. Cansei da terapia do Ethan, não que ele não seja hábil no que faz, sou eu que não estou com nenhuma tendência a seguir alguns
de seus conselhos. Por exemplo, esqueça o que aconteceu, talvez eu não queira esquecer. – Peço mais uma dose e em minutos sou servido.
- Evan, você não pode simplesmente esquecer. Susan fez parte da sua vida, e isso você não vai mudar. Mas a pergunta que não quer calar: o que você, meu caro, vai
fazer com essa informação? – ele dispara e vira o copo olhando para uma loura que quase quebra o pescoço ao olhar para ele.
- O que eu vou fazer? O que já fiz, reuni os mais imprestáveis e de confiança para um acordo diferente, não correremos riscos de ligações futuras, tudo com contratos
e valores seriamente estabelecidos. – respondo e flerto com uma das garotas de um grupo.
- Melhor decisão, Maccouant. Afinal de contas, sexo é sempre bem vindo. – Sebastian bate o copo no meu e cada um dispara para um lado da Joy Eslava.
O som alto e as luzes se fundiam e minha visão ali era realmente feliz. Um treino, pensei comigo. Um treino de como convencer uma mulher que ela pode se divertir
fazendo sexo com alguns homens, não necessariamente com todos, mas de repente isso seria fato; todos podem sim querer a mesma mulher depois de ter trepado com as
outras.
Oras, que homem nessa terra não adoraria poder escolher a sua foda? Estamos pagando, elas estão aceitando e tudo não passa de um jogo, um jogo de garotos.
Olhei na direção da pista de dança e percebi uma jovem, primeiro sinal de que eu poderia me aproximar foi seu sorriso. Ah, Mulheres! Se vocês soubessem o que passa
na cabeça de um homem ao ver um sorriso convidativo. Melhor não saber, vocês dominariam o mundo e nos fariam de escravos e o pior, adoraríamos essa situação.
Aproximei-me da bela jovem de vestido preto, colado ao corpo e percebi quando sua respiração mudou. Ela bebericou algo que estava em seu copo, possivelmente whiskey
pela cor. Cabelos claros e olhos bem marcados, está escuro e as luzes me confundem quanto a cor deles. Ela sorri e então esse é o sinal de que posso começar a conversa,
ou seria proposta?
- Oi. – digo encostando meus lábios em sua orelha. Percebo que os pelos de sua pele se arrepiam e eu gosto do que vejo.
- Oi. – ela responde macio e eu apenas leio seus lábios. O som não permite ouvir o timbre de sua voz.
A levo para longe do palco, onde o som não estivesse tão alto. Como presidente do melhor clube do planeta, necessito testar minha teoria sobre sexo contratado. Não
é prostituição, é apenas um negócio, um negócio rentável com direito a orgasmos.
Trata-se de diversão, todos viajam o tempo todo e a garota pode ser de qualquer canto desse planeta. Claro que temos um padrão, não se trata apenas da beleza, é
um conjunto; e beleza aos olhos de doze homens pode muito bem ter um conceito diferente e é aí que está a graça.
Nos aproximamos de um pilar e seus olhos estavam em minha boca e isso era um sinal, um bom sinal.
- Posso não ser o que você espera. – digo em seu ouvido e de novo os pelos de sua pele se arrepiam, posso não ser o que ela espera, mas estou acima do que ela realmente
merece, em todo caso isso é um treino.
- Como sabe o que estou esperando? – Ela é malcriada, e isso me possibilita armamento pesado. Não quero fodê-la aqui, ou esta noite, quero provar a teoria de que
o clube funciona.
A encosto com força, e forço meu quadril contra seu ventre; puxo seu cabelo suavemente e suspendo seu queixo; deslizo minha boca desde o seu maxilar até a ponta
de sua orelha e a escuto gemer. Minha outra mão segura forte sua cintura e ela oscila na respiração, ela está tensa e isso a deixa indefesa. Ótimo, penso comigo.
- O que eu gostaria de fazer com você, merece hora e lugar, talvez mais pessoas, e isso eu tenho certeza que vai contra seus princípios. – Obviamente ela não tem
muitos, mas eu não me importo. – Então se realmente acha que pode responder a todas as expectativas, concorde com o que eu tenho a lhe propor antes de lhe contar
do que se trata. Do contrário, pode ir, infelizmente pode ir. – sussurro em seu ouvido.
Afinal de contas, eu sei sussurrar, sei como chorar, sei muito bem onde encontrar respostas e acima de tudo, sei bem como mentir.
- Eu topo. – ela diz e meu ouvido está próximo de sua boca. Não posso beijá-la, é regra, não podemos em hipótese alguma nos beneficiar da encomenda antes da entrega.
- Ótimo, então precisa saber que tudo será devidamente acertado e que um contrato a protegerá. Afinal de contas não posso permitir que nada de mau aconteça a você.
– digo baixinho, quase um sopro em seu ouvido e definitivamente ela está mais interessada na doçura que coloco nas palavras do que no conteúdo dessa conversa.
- Posso ao menos saber do que se trata? Adiante uma parte do assunto. – ela questiona quase em tom de protesto, mas a excitação não deixa e esse é o ponto; a presa
vulnerável é fato que a aceitação seja inevitável.
- Será você, eu e mais onze convidados... – Pressiono ainda mais o seu corpo e ela sente o quanto estou duro, mas ela trepida a voz e algo pode dar errado - O que
me diz? – concluo.
- Está me perguntando se eu quero ir para cama com doze homens? – A pobre jovem se limita ao mero móvel onde eu faria sexo com ela; sexo absurdamente covarde que
tenho em mente.
- Não. – Olho nos olhos da loura de olhos claros e a deixo sem saída. – Estou apenas lhe convidando para um sexo altamente satisfatório e, por favor, não se prenda
a números.
- Posso me arrepender em aceitar. – Ela trepida a voz novamente, mas desta vez está a meu favor.
- Na verdade você já aceitou, e possivelmente pode se arrepender caso volte atrás. – Beijo o canto de sua boca. Esse é o limite e estou na primeira negociação; estou
tentando convencer o cliente sobre os benefícios dessa negociação.
- Isso é complicado. – ela diz e eu beijo o seu pescoço.
- As outras não falaram isso. – soltei a frase sem pensar e até o presente momento ela é a única. Preciso falar com os outros e de repente teremos uma noite de estreia
ou o fato de mencionar outras pode ter assustado a bela loura.
- Outras? – ela questiona e eu beijo seu rosto demoradamente e depois selo sua boca.
- Sim, outras, os demais estão aqui e tudo isso vai acontecer com hora marcada. Não vai ser hoje que eu vou poder ter a visão do seu corpo nu ou ter o privilégio
de fazer você gozar, porque a nossa intenção é apenas satisfazer e não vou mentir, adoraria ver um orgasmo seu. Estou me segurando para não estragar a surpresa,
tenho certeza que nesse exato momento – Enfio minha mão sob seu vestido e encontro o tecido úmido de sua calcinha e deslizo meus dedos pelo seu sexo molhado e quase
desisto e fodo com ela ali mesmo. –, você também gostaria muito de gozar para mim. – afirmo e ela geme enquanto brinco. Quebro uma regra e usufruo um pouquinho da
encomenda, mas hoje é um dia livre, hoje é o primeiro dia do Clube 13.
- Gostaria de comprovar se realmente me faria gozar. – Ela me desafia e tenho quase pena de pensar em suas pernas bambas e seu sexo vermelho e dolorido, porque é
exatamente isso que eu faria. Enterraria nela incansavelmente até que, por desistência, a encheria e partiria para a próxima. Esse é o intuito, sem emoção, sem decepção
e sem qualquer tipo de envolvimento afetivo.
- Um desafio? - Beijo o canto de sua boca e solto um pequeno murmúrio, ela estremece. – Gosto de ser desafiado. Me lembre disso amanhã, assim que minha língua estiver
dentro de você, ok? – Agora era a vez dela gemer.
O acordo, assim como em minhas negociações com a importadora, foi fechado em tempo recorde, e eu a foderia e ela não me perturbaria. Pedi um minuto e mandei uma
mensagem para Sebastian, Benjamin e Wallace.
‘Primeira encomenda Clube 13, loura, de estatura média, olhos claros, inglês fluente, GOSTOSA, estou no pilar perto da entrada.’ - 01h43
Em alguns minutos chega a resposta:
‘Parece que tivemos a mesma ideia. Olhe para sua direita, sentido bar. A diferença é que hoje não existe um solicitante e sim doze, ela aceitou, marco no Ritz?’
– Sebastian 01h47
Sebastian está com uma morena e ao lado dele está Wallace conversando com uma loura alta; ele ainda não recebeu a mensagem.
‘Marque para amanhã, no Vincci Via 66, às 22h, não esqueça dos dados de sua encomenda, nome e telefone e confira, ok? Você nem pense em marcar no Ritz” – Evan –
01h51
‘Evan, repassei todas as coordenadas para todos, vamos ver se mais alguém tem a mesma habilidade que nós. As encomendas de hoje serão cortesias de Madri, não haverá
pagamentos ;) ’ – Sebastian 01h55
- Então, hoje eu não vou gozar para você? – A loura que me pergunta deslizando as mãos sobre meu tórax.
- Hoje não, mas amanhã... – Encosto meus lábios em sua orelha e inalo profundamente enquanto pressiono meu corpo contra o dela que ainda está apoiado no pilar. –
Amanhã eu quero poder arrancar toda a sua roupa, quero poder lamber e engolir você inteirinha, quero que essa noite, quando for dormir, se é que vai conseguir, pense
na minha língua entrando em você até que goze lindamente na minha boca, quero que você fique molhada apenas por imaginar minha boca engolindo você e você pulsando
em minha língua, quero que nesse momento você sinta a fisgada bem aqui. – Mexo em sua calcinha molhada. – Porque amanhã eu vou entrar tão gostoso em você que você
possivelmente nunca mais vai esquecer.
Ela geme, está excitada e comprovadamente as emoções alteram nosso bom senso. Agradeço aos céus por isso.
Em questão de minutos as mensagens chegam e cada filho da puta conseguiu sua prenda. Nem sempre será assim, por exemplo, dessa vez nenhuma receberá absolutamente
nada e tudo é um teste. Espero apenas não responder por prostituição caso alguma coisa dê errado.
Aqui existe um acordo milionário para quem quebra as regras, ou em caso de falta e não envio de um substituto, existe também a preocupação de que ninguém saiba,
por isso acredito que nunca teremos um substituto, não podemos correr riscos.
- Posso saber o nome da linda loura que vou ter o prazer de fazer gozar amanhã no Vincci, às 22h? –pergunto ainda com a minha boca em sua orelha.
- Paola, mas como sabe que eu vou estar lá? – Ela tenta usar de charme, mas não funciona. Pelo menos comigo esse tipo de artimanha se torna ineficaz.
- Porque eu tenho certeza que você vai ficar com muita raiva se outra Paola gozar em seu lugar. – Beijo seu pescoço.
- Você costuma agir dessa forma, ser assim, tão direto e irresistível? – Ela se contorce sob mim.
- Apenas quando merecem. – Pego o celular dela, olho o número, gravo em meu celular e devolvo. –Amanhã, vou te esperar no Vincci Via 66 às 22h. Faça por merecer.
- Não vai me dar o seu número? – ela pergunta.
- Sim, amanhã no Vincci Via 66. – respondo, beijo sua boca com força e saio em direção à pista de dança.
‘Evan, você é um puto, treinando para o Clube?’ – Alexander 02h15
‘Obrigado, sim, estamos em fase experimental’ – Evan 02h17
Me apoio no balcão do outro lado longe da agitação, peço uma dose do que há de mais forte. Havia um bom motivo para tudo isso acontecer, mas prefiro acreditar nas
péssimas razões que me levam a concluir tudo isso.
As horas seguiram e aos poucos o bando todo foi se juntando em torno do balcão. O local estava menos cheio e entre nós havia a cumplicidade do que estava para acontecer.
- Bom, pelo visto vocês conseguiram suas presas. – Benjamin com um copo de Whiskey fala olhando para a mulher que atravessa o nosso caminho.
- Sim, por acaso você não conseguiu nenhuma, seu putão? – Sebastian apoia os cotovelos no balcão e chama pelo atendente.
- Amanhã você verá, seu cretino. – Ele sorri e todos os envolvidos com a sociedade brindam o novo empreendimento.
Bryan mexe em seu relógio Tissot e de repente me lembro do garoto atordoado do ginásio. Flautista por vontade dos pais, estudamos juntos desde o colégio e depois
disso as motocicletas eram nossa diversão. Pouco mais de 22 anos, pais rigorosos, quando teve a oportunidade de sair de casa ele a abraçou. Aos dezenove anos convenceu
seu pai a investir em uma academia e hoje é uma rede em expansão nos Estados Unidos e está vendendo a marca Outline para mais quatro países; sem contar nos suprimentos
que ele detém a patente. Algumas celebridades prestigiam sua marca.
- Bryan, muito bom os números da Outline. – o elogio enquanto levanto o copo e peço mais uma dose ao atendente. - Estava em destaque na sessão de economia a crescente
de sua empresa.
- Você é o primeiro que enxerga isso. Semana passada meu pai enviou uma mensagem assim que encaminhei os números: Fui feliz em financiar seu projeto. Não que isso
mudaria algo, mas sempre tentei atingir os níveis elevados de Gerard Kleyn, mas isso se tornou impossível. – Bryan estava em um estado avançado de embriaguez e isso
facilitou o desabafo.
- Ei, Kleyn, apenas mantenha o foco. Ele se orgulha de você, acredite. – Ele vira o restante da dose e pede mais uma. – Vamos marcar um track day, acelerar aquela
sua sucata e descarregar essa energia, ok? – o convido brincando em relação à sua moto de mil cilindradas. O DJ vai até o passado e solta Under Pressure, Queen e
David Bowie, um verdadeiro clássico.
- Evan, tento me convencer disso todos os dias. – Ele apanha o novo copo e vai em direção à pista de dança que ainda tem bastante movimento.
Todos ali têm alguma frustração, algo que precisa ser esquecido ou superado, mesmo tendo grandes quantias em suas contas, vejo todas as vontades. Nem tudo o dinheiro
pode comprar, mesmo que pudesse, como compraríamos a felicidade? Por dose? Assim como o atendente nos serve o whiskey? Ou por quilo? Por dia? Se a felicidade pudesse
ser comprada, em breve lançariam os planos pré pagos e então teríamos dias exatos para nossas frustrações; ou seja, evitaríamos a tristeza e seria uma questão de
tempo até que a felicidade se tornasse algo trivial.
Talvez um dos que tenho menos intimidade seja Cesar. Os pais dele sempre foram clientes do meu pai na concessionária. Donos de uma indústria de borracha, assim que
montei minha importadora eles fecharam negócio comigo. Ele é reservado, chama atenção da mulherada com seu olhos claros e seu jeito sério-enigmático. Sei que ele
guarda algo a sete chaves; estou só esperando a bomba explodir.
Olho para Andrew e eu sei o quanto ele batalhou para conseguir a vaga que ocupa. Não é fácil ser CEO da divisão de marketing da Nike. De todos, é o único que trabalha
para uma empresa na qual não possui vínculo familiar. Amalia Vennez, sua mãe, é cliente do salão de minha mãe e profunda entusiasta de obras para caridade junto
a POWER&HEART, e eu sei o quanto Andrew desloca forças e faz a potente marca que trabalha fazer suas doações. Andrew foi sequestrado há dois anos e hoje anda com
dois seguranças. Na época seus pais disponibilizaram uma verdadeira fortuna em buscas e outra fortuna para o resgate. Ele foi libertado vinte e oito dias depois,
irreconhecível e em estado de choque. Foi deixado na interestadual onde foi encontrado às quatro da manhã.
Confesso que quando o visitei no hospital e tentei fazer com que ele falasse alguma coisa, lembrei de como nos conhecemos e que quase saímos na porrada por conta
de uma gostosa que, por fim, acabou dando para o Sebastian. Carl, seu primo, foi quem apartou e depois de alguns goles, rimos de toda a situação. Mas isso não foi
o suficiente. Segundo Amalia, Andrew ficou mudo por dias, como se não escutasse ou assimilasse nada que fosse direcionado a ele.
Andrew também é paciente do Dr. Ethan até hoje. Quando me lembro dessa história penso em o quanto sou tolo por achar que dois filhos da puta podem me afetar, agora
apenas um que não sei por onde anda.
É claro que nem todos possuem problemas do nível de Andrew, mas existe outras formas de amedrontar um homem. Ramon, por exemplo, enfrentou na justiça um processo
contra uma mulher que jurava que os gêmeos que ela tivera eram dele e ele decidiu fazer uma lista de todas as suas trepadas. Resultado? Impossível! Afinal, ele gosta
de boas doses e o que fez enquanto não estava sóbrio é um mistério. O processo durou menos de seis meses e foi constatado através de onze exames de DNA que ele não
era o pai. Ramon pai de gêmeos? Para ele significava o apocalipse. Não pelas crianças, ele leva jeito para a função paternal, prova disso são seus sobrinhos que
têm verdadeira devoção pelo tio.O problema era aturar uma mulher que ele nunca viu ou se viu, não lembrava mais.
Conheci Ramon na mesma festa que conheci Andrew, através de Sebastian, que desde aquela época já perdia no golfe para Ramon. Era a festa comemorando minha entrada
em Harvard, uma época feliz. Quando Sebastian decidiu organizar a festa, ele garantiu que era apenas nós, Gio, ele e eu. Quando me dei conta, estava na casa de Giovani
com um número considerável de mulheres rebolando sobre a mesa de jantar. Sebastian sempre foi um puto, e mesmo sendo amigo dele há tantos anos, sei pouco sobre sua
vida. Sei que foi adotado e que antes disso algo muito ruim aconteceu, mas seja lá o que foi nunca perguntamos. Mesmo em seus porres ele nunca deixou escapar algo
sobre seu passado antes de ser adotado.
Giovani, ele e eu éramos uma ameaça. A mãe do Gio costumava dizer que não havia nada de santo em nossos rostos quando nos juntávamos, e ela estava certa. Giovani
teve seu momento rebelde antes de se tornar presidente da Makenzie Technology. Aos dezessete anos invadiu o sistema operacional de Wall Street, foram apenas quinze
minutos de pane e uma multa milionária que Peter Makenzie teve que desembolsar. Ele prestou serviço comunitário e ficou proibido pelos pais de chegar perto de qualquer
coisa eletrônica por alguns meses. Ele nunca obedeceu, mas também nunca mais se meteu em confusão. Pelo menos não nessa proporção. Alguns meses depois de se formar,
fechou contrato com a Oracle, empresa que cuida da segurança de informação financeira. As maiores redes bancárias dos Estados Unidos são clientes da Oracle, cujo
o dono é Alexander Von Humbolt, meu vizinho desde os três anos.
Alexander estudou na Europa e depois voltou para Nova York. Assim que chegou decepcionou seu pai, Frederich, das industrias Fred&Zulman de alumínio. Frederich pensou
que poderia passar o bastão da empresa para Alexander, mas teve que passar para Kimberly, sua irmã mais nova que ainda está em Londres, cursando economia. Foi por
telefone que recebeu a notícia que iria assumir a presidência assim que voltasse. Ela ainda não voltou; Kim é linda e a última vez que conversei com ela foi no dia
de ação de graças um ano atrás quando ela visitou os pais.
Me contou que estava feliz e que dividia o quarto em Oxford com uma canadense com vocação para a comédia stand up. Saudades da Kim. Nunca dormi com ela, uma pena.
Mas há aquele código entre amigos de não foder a irmã do outro. Kim voltou para Oxford com a responsabilidade de cuidar de uma das maiores indústrias dos Estados
Unidos em alguns anos. Frederich sabe que ela ainda tem pelo menos quatro ou cinco anos antes de voltar e, enquanto isso, ele vai ter que encarar as reuniões de
terça-feira. Sei que ele odeia essas reuniões porque ele sempre fala sobre isso no campo de golfe em Pebble Beach na Califórnia, quando arrisca suas tacadas com
meu pai e Stefan Cooller, pai de Robert.
Antes de sairmos da Joy Eslava, brindamos algumas vezes e muitas das histórias foram resgatadas, as derrapadas de Giovani na Route 66, as tacadas fracassadas de
Sebastian que sempre perde para Ramon, os quase filhos de Ramon, Andrew e sua paixão por carros antigos que fez Carl viajar por quase onze dias dentro de um Ford
Shelby Cobra 1964. Alexander questionou Wallace sobre amordaçar mulheres e Benjamin esclareceu sobre sua tara grupal, Robert riu e ainda não sei se ele sente alívio
ou não por não participar das futuras reuniões.
Saímos da Joy Eslava e o sol estava lá, imponente e tudo isso não passa de uma simples e insana diversão. Caminhamos e em pouco tempo estávamos a caminho do Ritz.
Em anos, essa é a primeira vez que nada pulsa como algo infeccionado em minha mente; essa é a primeira vez depois da traição que não lamento profundamente ser quem
eu sou.
Capítulo 4
Evan
‘Fica expressamente proibido manter qualquer tipo de relacionamento com a convidada contratada depois da data pré estipulada em contrato. Não cabendo exceção.’
Claro que Benjamin havia conseguido duas encomendas, mesmo sabendo que talvez não seria com elas que ele treparia. Estamos no Bar-lounge e ainda faltavam alguns
minutos para o horário marcado. Deixamos a recepção avisada, e bem paga, que algumas mulheres procurariam por nós. Reservamos o espaço e também onze suítes, as melhores
que o Vincci Via 66 pode oferecer.
Não demorou nada para que as presas de Sebastian, Carl, Andrew e Alexander chegassem. Sem perfil a ser obedecido, duas louras e duas morenas que possivelmente causariam
uma ejaculação precoce adentram o bar, cada um deles segue em direção a elas e as deixam à vontade. O atendente educado que olhava por várias vezes entre os cílios,
esboçava um sorriso e negativava com a cabeça; a inveja é um dos pecados mais praticados desse planeta.
Elas mal pegaram os copos e outras quatro morenas chegaram, Wallace, Bryan, Cesar e Benjamin se prontificaram a colocá-las com as demais. Havia um névoa, um flerte
no ar, a cobiça e a imaginação sobre sexos molhados. O lugar é atraente e a iluminação é adequada para fazermos nossas escolhas, o som ambiente é agradável, Colin
Hay toca Into my Life ao fundo. Um sofá grande posto em torno da janela, tudo em vermelho e marfim. Ao centro, dividindo o ambiente onde nós estamos e elas, um aparador
em madeira escura e banquetas altas. Elas estão do outro lado, visíveis e desejadas próximas ao balcão. Abajures com suas cúpulas enfeitadas com penas brancas esvoaçantes
e grandes cadeiras vermelhas estão espalhadas formando um ambiente sexy e luxuoso.
Instintivamente o lugar passa a exalar o aroma do sexo. Sim, temos um, e nosso sexo oposto sente esse aroma à distância, tudo se torna convidativo envolvente e insinua
a situação que levará aos orgasmos.
Benjamin comenta sobre a sua segunda presa que ainda não chegou e isso me admira. Ele lembra do rosto dela, coisas de Benjamin, entre elas a excelente memória. Não
demora muito e as três mulheres, incluindo a Paola, a segunda de Benjamin e de Ramon, entram, duas louras e uma ruiva. A única diferente foi convidada por Ramon,
não me sinto atraído por ruivas. Enfim, Giovani se senta e recepciona sua loura que posso jurar ser menor de idade, isso me causa calafrios.
Assim ficaria fácil e não precisaríamos desembolsar a fortuna que desembolsamos para trepar com nossas convidadas, mas é aí que mora o segredo, não vou fazer Paola
gozar, outro fará em meu lugar. A dança das cadeiras substituída por mulheres, grosseiramente e diretamente falando seria isso.
Ao nosso pedido o atendente aumenta o som, as bebidas começam a fazer efeito sobre nossas convidadas e suas risadas aumentam. Elas estão interagindo e é disso que
precisamos, tudo sem qualquer tipo de vergonha. A loura convidada de Giovani me chama a atenção além das outras. Ela é a menor, pernas grossas e torneadas, não é
uma vítima de academia, apenas uma abençoada por natureza.
- Ei, Gio, qual é o nome da sua convidada? – pergunto para ele, mas a estou encarando e ela retribui. Sinto meu pau dizer: Olá, vamos fazer um excelente trabalho
essa noite.
- Evan, eu a trouxe. – ele adverte e eu sorrio em relação ao que ele disse, mas mostro meu sorriso para ela. Ela é linda, olhos marcados e cabelos longos, usa um
vestido azul até a altura das coxas e que cobre todo seu colo.
- Eu sei, meu querido, mas infelizmente eu terei que roubá-la. – Brinco e bebo uma dose exagerada de Bourbon.
- Um dos mandamentos de Deus; não roubarás. – Ele zomba não acreditando que eu vá foder com sua convidada, pelo menos vou fazer antes de qualquer um aqui.
Mandamentos? O problema aqui vai além disso, estou desejando a mulher do próximo! The Cure com In Between Days começa e eu acompanho o ritmo da música com meu pé.
Gio olha e estranha, mas eu retribuo com um sorriso dizendo: Ei cara, sou eu quem vai foder gostoso com ela.
- Então, a venda para mim! – declaro e ele quase engasga e os demais escutam. Sebastian declara que gostaria de ver o que tem embaixo do vestido azul da loura de
Giovani. Automaticamente já declaro que sou o sortudo que vai fodê-la.
- Não, Evan, aqui tenho duas propostas e nenhum valor em minhas mãos. – Gio dispara e todos o olham assustados, afinal de contas eu havia criado um monstro.
-Você quer leiloar a sua convidada? – pergunto já gostando da ideia, mas uma prova de poder entre um bando de putos.
- Sim. – E mesmo os que não estavam interessados na pequena fada de pernas grossas, passaram a ficar interessados, como se isso pudesse provar que o pau de um é
maior que o do outro.
- Então começamos com quinhentos dólares. – Wallace dispara e seu lance é coberto por Ramon que oferece mil dólares, apenas levantando o indicador. Carl mostra dois
dedos e Bryan rindo mostra três, que tem seu lance vencido por Sebastian que espalma a mão sobre a mesa. Benjamin apenas olha, ele quer duas, ele trouxe duas, tem
por direito duas refeições.
- Sebastian, meus parab... – antes que Gio termine a frase eu disparo dez mil dólares. Qualquer um ali cobriria a oferta, mas cabe o bom senso e a política da boa
vizinhança.
Nenhum outro lance foi ofertado, e todos brindaram a minha vitória imposta. Eu a foderia de qualquer jeito.
- Escute, Evan, boa foda, meu interesse agora está naquela ali. – Sebastian aponta discretamente para uma das convidadas que veste um vestido verde claro decotado
e curto, marca seios torneados e sua pernas bem treinadas. – Na verdade, eu entrei no leilão apenas para ver você perder dinheiro. – O puto dá risada e eu pouco
me importo. O fato é que o Clube funciona em sua totalidade e isso é mais um empreendimento de orgulho Maccouant.
Benjamin declara que foi ele quem trouxe a mulher que Sebastian quer foder e por conta disso haverá algumas ofertas, já que o próprio Benjamin quer ela e a outra.
Foi questão de minutos até que um novo leilão começasse com ela e com as demais e, por fim, as últimas que não despertaram desejos em comum foram escolhidas pelos
perdedores dos leilões anteriores.
- Evan, esses valores serão destinados a elas? – Gio questiona.
- Sim, mas elas terão que merecer, mas qual é mesmo o nome da sortuda que eu arrematei? – pergunto e bebo o restante do meu copo.
- Zara Maphey, vinte anos, estudante de veterinária e mora em Londres, está a passeio por aqui. –Giovani e sua habilidade em levantar todas as informações.
- Tem o número da identidade dela também? – zombo.
- Sim, e caso queira saber, é filha de pais divorciados, a mãe é artista plástica e o pai tem uma rede de farmácias. – Ele descobriu tudo sobre a garota que vou
foder.
Sebastian, atento ao que Gio falava, perguntou de forma brincalhona se Benjamin também havia feito a lição de casa sobre sua convidada que ele havia arrematado no
leilão, e a única informação que ele possuía sobre ela era o nome: Valentina.
E antes do assunto se esticar, Benjamin caminhou até o bar e falou algo no ouvido de uma das suas presas. Ela sorriu com ar de malícia e pareceu entender bem o que
ele havia dito. Ele a deixou por alguns instantes e foi em direção a outra que também seria sua ao mesmo tempo e repetiu o ato de cochichar algo em seu ouvido. Os
olhos da pobre menina se abriram em relâmpago e ele a encarou, a deixando tímida, em seguida falou mais alguma coisa e os três partiram para o quarto que Benjamin
havia escolhido.
O mundo é realmente frequentado por pessoas estranhas, com vontades esquisitas e com um desejo profundo em ser algo bem diferente do que são. Na mistura de rostos
femininos e assustados, havia a curiosidade, havia a vontade de saber mais sobre esses homens fantasiados de tarados insanos ou seriam tarados fantasiados de homens
que ainda não sabem nada sobre sexo e estão tentando ser o melhor em algo desconhecido?
O fato é que estávamos em um baile à moda antiga, mulheres de um lado, os homens do outro. Talvez o propósito seja diferente, mas o resultado basicamente é o mesmo.
Então cada cavalheiro convidou uma dama para dançar... ou quase isso.
O olhar de Paola em minha direção mostra surpresa e quase desistência. Acredito que Ramon conseguiu convencê-la que o orgasmo é inevitável e que ela não se arrependeria.
Do contrário, ela poderia ir embora, ninguém ali está sendo obrigado a nada.
Andei em direção à Zara e ela abriu seus olhos como se não acreditasse. Acredite Zara, depois de hoje a palavra sexo terá outro significado em sua mente.
Subimos até o último andar, havia reservado a suíte presidencial e pedi que entregassem frutas frescas e vinho. O quarto e seu luxo fez com que Zara ficasse surpresa
por alguns instantes. Tudo é rico e tudo deslumbra pessoas que possivelmente não possuem fácil acesso a esse tipo de lugar.
Me posicionei em suas costas e minha respiração movimentava seu cabelo e fazia com que os pelos de sua pele arrepiassem. Ela remexeu os ombros sutilmente a alcançou
a barra do vestido e brincou tentando despejar no vestido sua tensão e esse é o tipo de sentimento que não quero dela. Quero-a com tesão, com fortes pontadas no
encontro de suas pernas, quero sua virilha molhada apenas por imaginar minhas mãos em seu corpo, quero que ela sinta meu perfume essa noite e quando o sentir novamente
em um futuro no qual eu certamente não farei parte, ela se lembre que, independente de quem seja, ela vai desejar um orgasmo como o dessa noite.
- Relaxe. – peço baixinho em seu ouvido e ela quase desmonta sobre as próprias pernas. Saio de trás dela e ando em direção à garrafa de vinho. Sirvo duas taças,
uma eu entrego sem brindar e a outra descanso sobre o aparador ao nosso lado. – Por favor, aprecie seu vinho. – peço e sinto que ela tem medo de dar um passo em
direção à cama e talvez eu deva avisá-la que esse será o móvel menos utilizado desse quarto.
Ela bebe uma generosa dose do vinho, buscando refúgio e isso vai fazer com que ela destrave tudo que preciso. Seguro a taça de sua mão e coloco ao lado da minha,
seguro seu pulso e a trago para junto do meu corpo, preciso que ela se acostume com que em breve será enterrado nela. Ela geme de forma surda, apenas o tilintar
de suas cordas vocais que ficaram roucas chegam a mim e isso pulsa o que está dentro de minhas calças.
- Quer ir embora? – pergunto quase encostando meus lábios nos dela. Ela treme, cogita responder, mas sua voz falha. Assimilo como um sim e a beijo com força, mordo
seu lábio inferior e ela agarra minha cintura colocando seu ventre contra meu pau que a quer de forma ríspida e molhada.
Laço sua cintura com meu braço e com a outra mão seguro forte seu cabelo pela nuca e mantenho o beijo, forte, desesperador e ela suspende a perna esfregando o interior
de sua coxa em minha perna. Perfeito, Zara Maphey não imagina o quanto podemos evoluir com isso. Solto de sua cintura e deslizo minha mão pelo seu traseiro e afundo
meus dedos entre suas pernas, outro gemido e isso é um sinal de que um orgasmo não será tão difícil para ela.
Desvencilho nossos corpos e olho nos olhos dela enquanto minha mão desce o zíper lateral de seu vestido. Facilmente ele se abre e eu a ajudo retirá-lo, mas quando
volto meus olhos em seu corpo, sinto um colapso dentro de minha cueca. Zara está sem sutien e seus seios são fartos e empinados, seus bicos rígidos pedindo uma leve
mordida, sinto vontade de deslizar meus dentes sobre seus bicos rosados e mordê-los sutilmente. Não sou homem de passar vontade e antes de colocar minha boca sobre
eles e sugá-los, deslizo as pontas dos meus dedos sobre eles e tudo fica mais intenso. Eu a beijo novamente e agarro um deles em minha mãos, massageio com intensidade
e deixo que o bico enrijecido deslize entre meu indicador e dedo médio, ela se contorce e eu aprecio esse tipo de situação.
Solto de sua boca trazendo seu lábio comigo e a encosto no aparador ao lado das taças e ela apoia as mãos e eu desço minha boca entre seus seios e subitamente o
sequestro com minha boca. Ela cheira bem, tem uma pele macia e o desenho de sua barriga é bonito, bem traçado, nada forçado, apenas a silhueta majestosa que faz
meu pau vibrar ainda mais.
Ela alcança minha camisa e tenta desabotoá-la, tem sucesso com apenas um botão e eu a interrompo.
- Isso te incomoda? – pergunto segurando minha camisa branca, desabotoando-a e ela morde o lábio, sugerindo curiosidade e ansiedade. Ela olha meu tórax e desce seus
olhos até meu abdômen, e ver sua boca quase se abrindo ao ver que um treinamento disciplinado traz benefícios como o trincado do meu corpo, foi realmente sedutor.
- Sim. – ela responde e eu abro o botão da minha calça jeans. – Eu termino – ela diz e vem em minha direção e se ajoelha diante de mim. Não existe nenhum tipo de
sentimento, existe tesão, pau duro e uma boceta molhada apenas, e ela desce o zíper, desce minha calça e assim que minha boxer preta deixa de me cobrir, meu comprimento
se mostra duro e pulsante. Ela o engole, sem cerimônia ou vergonha, e não existe nessa santa terra um homem que não aprecie um ato tão delicado quanto esse, lábios
vermelhos e uma língua habilidosa nos engolindo.
Ela está de joelhos e posso ver o desenho de seu rosto indo e vindo, e por vezes vejo seus seios e suas coxas. E ela ainda está de salto e isso me excita ainda mais.
Continue, penso comigo, temos um longo percurso pela frente, sem pressa.
Ela devora com fome e desliza suas mãos macias sobre minhas pernas e algumas vezes ela ajuda sua boca com uma de suas mãos. Sumo e apareço, como se fosse mágica,
mas é um bom sexo oral, altamente apreciado por seres da minha espécie. A levanto e ela enxuga sua boca, eu a pego de novo pelos cabelos de sua nuca e a puxo com
um pouco mais de força. Seu queixo suspenso facilita o beijo, e enquanto eu a beijo me livro do que sobrou de minhas roupas e meus sapatos.
A levo para mais perto do aparador e a viro de costas para mim, apoio suas mãos sobre o móvel e deslizo minhas mãos pelo seu corpo. Abro suas pernas sutilmente e
agora me distancio para apreciar a imagem de uma mulher de saltos, calcinha cavada e um traseiro redondo e bonito, empinado para mim, implorando para ser fodida
e eu sou obediente. Vou até meu jeans e alcanço o preservativo e o visto.
Me aproximo do seu corpo e de novo a massageio. Suas mãos estão espalmadas sobre o aparador de madeira, suas mãos claras e o móvel escuro formam um contraste sedutor.
Delicadamente eu coloco sua calcinha de lado e afundo meus dedos em seu sexo. Ela está muito molhada e ali eu brinco, com a ponta do meu indicador percorro seu clitóris
calmamente e pressiono, ver suas pernas falsearem é fantástico.
Coloco meu dedo dentro dela, apertada, um sexo bonito de ser tocado e tão úmido que me deixa a ponto de explodir. Preciso olhar para ela e ver esses lábios molhados
que aceitam meus dedos assim com tanta facilidade. Ela geme mais alto e eu continuo, entro e saio e ela pede mais.
A viro de frente para mim e apoio seu traseiro no aparador, ela abre os braços e segura no móvel e agora me coloco de joelhos diante dela. Desço sua calcinha e vejo
um sexo perfeito, pele clara, sem marcas, sem pelos exagerados, apenas um ralo trajeto de pelos claros que mostram o nirvana. Afasto suas pernas e o cheiro dela
é bom, beijo sobre o caminho de pelos claros e vejo seu sexo brilhar de tão molhado. Preciso fazê-la gozar. Ela está receptiva e antes que eu pudesse calcular o
que eu devo fazer, meus dedos separaram seus lábios rosados e minha língua foi em direção de seu clitóris. Ela gemeu alto e eu olhei para cima e encontrei os olhos
dela me observando e isso foi tão sexy que me impulsionou a sugar calmamente onde minha língua massageava.
- Não para, por favor! – ela implorou, e sob minha língua eu sentia o pulsar de um orgasmo iminente, ele estava a caminho e eu o esperava. Mantive exatamente o mesmo
movimento e de repente suas mãos estão em meu cabelo e ela goza lindamente em minha boca, rebolando e esfregando seu sexo em meu rosto.
Me levantei e a levei até o banheiro, onde um espelho preenche toda a parede. É disso que preciso, visão panorâmica do excelente trabalho que estou fazendo.
Coloco-a de frente para mim e habilidosamente estendo uma tolha sobre a bancada de mármore cinza que está gelada e a apoio ali, na altura perfeita. Ela abre as pernas
e eu vejo tudo que me espera, uma pele molhada, lisa e pulsante. Chego perto e deslizo meu pau em seu sexo, do começo ao fim, ela pulsa e geme até que enfio com
gosto e ela me agarra pela cintura com suas pernas.
Enterro com força e ela grita, e eu agarro seu seio, brincando com seus bicos e ela me puxa querendo um beijo. Vou e volto para dentro dela, sinto o bater lá dentro.
Ela é apertada e pela forma como geme estou prestes a ver outro orgasmo, mas não o quero agora. Paro e ela protesta, coloco meu indicador em sua boca e peço silêncio.
Entro e saio mais devagar e, quanto mais ela protesta, mais lentamente eu o faço. Permaneço por alguns minutos fazendo isso e de repente entro de uma vez e ela grita,
e eu saio dela.
- Não! – ela briga e eu sorrio. A tiro de cima do balcão e a coloco apoiada nele mesmo diante do espelho, agora vejo seu rosto corado e seus saltos me ajudam a entrar
onde estava.
Seguro em seus cabelos e levanto seu rosto para que ela veja, para que ela sinta e para que ela implore. Entro e saio com força, ela geme e eu posso ficar nesse
movimento por horas, um tesão absurdo, um sexo simples, porém, adquirido de forma irreverente, uma disputa entre homens.
- Quero sentir mais de você... aproveite o que estou lhe oferecendo agora. – Ela coloca seu dedo indicador na boca e o deixa molhado e para minha alegria ela enfia
em seu bumbum, me convidando para enrabá-la e esse é o melhor convite que uma mulher pode fazer.
Me enterro mais algumas vezes até que ela goze e meu trabalho estaria parcialmente concluído.
Obedeço seu chamado e gentilmente a invado por trás, mais do que apertada. Não posso garantir a experiência que ela possui nesse segmento, mas o que posso garantir
é que seu rebolado com meu pau dentro dela pode abreviar essa ação.
Ela mantém e eu tento, mas algumas reações do corpo humano não possuem controle e depois de alguns minutos eu gozo majestosamente dentro dela, ou melhor, encho o
preservativo.
Ela me olha através do espelho e mostra sua exaustão.
- Espero que daqui alguns minutos eu possa me enfiar em você novamente, eu quero. – disparo e ela acena que sim, com um sorriso satisfeito. – Venha. – A levo até
a cama e a sento, removo seus sapatos e beijo sua testa.
- Você poderia ser menos apaixonante. – ela observa.
- Não sou apaixonante, Zara, acredite. – A deixo e vou em direção do chuveiro, preciso me recompor e repetir a dose.
Capítulo 5
Evan
‘O contrato tem validade de sete anos entre os sócios. A sociedade poderá ser desfeita,
apenas em caso de morte de um dos membros’
Foram inúmeras negociações até que o Palácio de Madri fosse adquirido por um valor razoavelmente satisfatório. Passaram-se quase três meses desde o encontro em Madri
com os membros do Clube no Vincci Via 66.
Zara conseguiu muito de mim naquela noite. Confesso que quando ela me chamou de dentro do banheiro e eu prontamente fui ao seu encontro, quase gozei com a cena:
ela apoiada na bancada da hidro com as pernas abertas se masturbando. Agradeço pela ideia de deixar preservativos espalhados, poderia ter cometido uma loucura.
Mas, alguns minutos depois, assim que estávamos nos recompondo, o telefone do quarto tocou; era Benjamin e pediu para falar com Zara. Ela me olhava enquanto escutava
Ben do outro lado da linha e por fim disse não.
Benjamin havia convidado Zara para a última rodada de Menage e chegou a ligar novamente perguntando se eu queria alguma que estava em seu poder, por uma questão
de estar satisfeito e por querer mais um pouco de Zara, eu recusei.
A noite foi louca e o dia chegou iluminando o corpo de Zara que dormia profundamente na cama. Eu estava sentado na poltrona ao lado da janela, tudo havia saído como
planejado.
Era hora de partir. Deixamos os quartos e a maioria das garotas estava dormindo quando saímos. Deixamos tudo pago, refeições e bebidas, e partirmos para o Ritz.
Sebastian dividiu o taxi comigo e com Giovani, os demais resolveram ir para outro lugar. Sr. Lousan estava curiosamente sorridente e Gio e eu preferimos o benefício
da dúvida. Mais tarde, perto do horário do jantar nos encontramos no bar do Ritz.
São doze homens com vontades estúpidas e possivelmente incoerentes. Wallace fez questão de ressaltar o que fez na noite do Vincci Via 66. Amarrou a pobre moça e
a fez gritar, a fez gemer e ele garante que nem sempre o prazer era o culpado pelos gritos da pobre moça.
Depois daquela noite, nossas conversas se tornaram algo divertido pela Hell-line, onde elaboramos a lista de adjetivos que buscaríamos em nossas encomendas. E era
por ali que atualizávamos as conversas, já que grande parte do tempo a maioria estava trabalhando, construindo o próprio império e isso se tornou divertido.
Usamos um jeito simples de solicitar, mas, se bem feito, conseguiríamos exemplares altamente qualificados. Cada membro precisa fazer sua lição de casa e entender
que temos um padrão para as fodas. De qualquer forma, selecionaríamos apenas as que chegassem mais perto do pedido. Através de um sorteio, Sebastian foi o sortudo
que pode escolher a primeira encomenda oficial. Estava começando a ficar bom, seria a inauguração oficial do Clube 13.
Solicitante: Sebastian Charper Lousan
Características
Cabelos: Castanhos.
Cor dos olhos: Claros (realmente não vou me lembrar da cor deles depois).
Altura: Aproximadamente 1,70, tentem não escolher algo muito diferente disso.
Pele: Clara, não necessariamente branca.
Peso: Não quero nada cadavérico, por favor, CURVAS SINGELAS, MAS QUE POSSUA CURVAS!
Nacionalidade: Americana (testando as habilidades de vocês, seus putos, em relação ao passaporte e visto das encomendas kkkkkk).
Condição social: Nenhuma alpinista social ou fanática por jogadores de futebol. Meu ponto forte é o golfe! KKKKKKKKKKK
Idade: Vamos tentar ficar entre os 21 e 26 anos, ok?
Fluente em línguas: Não a estou levando para uma conversa e espero que ela não fale muito enquanto estiver mantendo o sorriso do garotão aqui com uma bela boquete.
Apenas inglês, para quem não entendeu.
Escolaridade: Rejeito analfabetas e dou preferência para universitárias, entendido?
Casa própria: Não gostaria de foder com nenhuma mendiga da 9ª avenida, certo? Porém não precisa ser uma milionária, dinheiro eu já tenho o meu.
Ponto fraco: Não faço questão de nada em específico, mas se tiver algum fetiche ou queda por homens de pau grande, eficaz e perfeito, seria melhor. Assim, ela não
se assustaria com o meu que se enquadra perfeitamente nessa lista. Não invejem rapazes, é uma questão de ser abençoado. ;)
Virgem: NÃO! Apenas em último caso, ninguém merece ter que ficar ensinando a pegar num pau ou como rodeá-lo com a língua.
Vamos lá, seus putos, 45 dias para entrega!
Abraço por trás do gostosão, Sebastian!
Assim que a solicitação de Sebastian chegou e eu consegui parar de rir, o prazo passou a ser algo preocupante. Nem sempre as garotas dirão sim, apesar de que não
tenho vivência com os nãos. Mas 45 dias é o prazo mínimo, e tudo depende da situação, mas essa é graça, afinal, o não cumprimento, ou seja, a não entrega, resulta
em uma multa milionária e ninguém quer levar a fama de fracassado sexual. Na realidade, o Clube passou a ser a competição mais infame do planeta.
Somos todos competidores, e isso é algo irremediável.
E parafraseando o Dr. Ethan, estou canalizando toda minha angústia em algo positivo em meu presente. E foder mulheres variadas definitvamente é uma ótima forma de
catarse.
Ligo para Gunter e aviso que estou descendo. Passa das oito horas da noite e hoje foi uma típica segunda-feira problemática. Meu paletó está no mesmo lugar desde
às oito da manhã, meu almoço foi aqui mesmo, e agora, analisando tantas segundas-feiras turbulentas, depois de tanto tempo, é a primeira vez que não vou ao Tribecca
Grill e consegui superar os três meses sem qualquer contato com Dr. Ethan. De certa forma, boa parte desse Evan estava liberto de alguns de seus demônios, mas a
maioria ainda mora por aqui.
Oito e quarenta marca o Rolex em meu pulso quando desço a escada e paro diante da porta de madeira de minha importadora. Ouço o boa noite do segurança, respondo
e saio.
Durante o trajeto pouco foi dito, mas Gunter já sabe de tudo sobre o Clube. Preciso dele a par de qualquer manobra paralela que faço. O som de Linkin Park com From
the Inside está alto e assim fica até que eu chego em casa.
Me desligo de tudo, tomo o banho mais demorado de toda a minha vida e descarrego tudo nas doses de Bourbon.
A revista que estampei há pouco mais de dois meses estava sobre meu criado mudo e resolvi ler algo sobre mim mesmo, talvez tivesse coisas interessantes a meu respeito.
Não lembro que horas eram quando dormi.
O dia chega e passa a manhã. Quando percebo isso, treino por uma hora e verifico as imagens da reforma concluída do palácio. De fato é um palácio, fica nas margens
de vias urbanas e possui dezenove quartos, duas cozinhas, quatro salas, entre elas a sala de cinema que Sebastian fez questão de montar. Segundo ele, uma cortesia
da Charper&Lousan, o restante foi cobrado e acredito que ele fez um preço de amigos, eu acho.
Tudo ficou perfeito. O bar que remete ao Temple Bar na Irlanda, um grande balcão em madeira e bancos altos e estofados, cor predominante marrom e preta; ao centro
um pole dance, para satisfazer os caprichos de Andrew, Carl e Cesar. O bar fica na segunda ala, assim quem estiver na sala que recepciona não vai ter acesso visível
às nossas dependências de atividade social. Essa sala é simples e apenas as portas, quatro no total, estão à mostra entre o sofá longo e os vasos que dividem o espaço
em tom marfim com os quadros que Benjamin e suas manias trouxe.
Cada quarto foi decorado de acordo com o membro ocupante. Apenas Giovani, Sebastian e eu mantivemos a normalidade, o do Wallace poderá um dia ser aberto para exposição
bizarra.
A sala vitrine onde as encomendas ficarão enquanto são analisadas pelo solicitante ficou exatamente como o projeto; o puto do Sebastian entende bem do que faz. O
palácio conta com mais de quarenta câmeras de segurança, além de vídeo, temos o áudio, apenas os quartos estão livres de qualquer tipo de filmagem.
Uma sala em meia lua, na parede um imenso espelho para elas, para nós, um mostruário e isso realmente é excitante. Essa sala fica dentro do bar e uma cortina em
tom de vinho tinto cobre a vitrine por completo. Uma mesa grande para oito cadeiras convida para um pôquer, ainda não encontrei ninguém à altura para essa disputa
comigo.
Retorno o e-mail admitindo o bom trabalho da empreiteira e delego a Jony a contratação de pessoal capacitado ao trabalho de cozinheira, camareira, barman, manutenção
e serviços gerais. Jony sabe onde encontrar essas pessoas e como terão que trabalhar, todas com contrato de sigilo e uma pomposa remuneração. O melhor cala a boca
de todos: dinheiro.
Os dias correm, e as fotos das garotas que se enquadram na solicitação do Sebastian chegam. Devo admitir que Benjamin é um puto de mão cheia, foi um dos primeiros
a enviar a foto, como rege o contrato, assim não teríamos nenhuma garota rejeitada na noite do Clube.
Benjamin é o único participante que tem uma garota fixa. Seu fetiche é o trabalho em grupo e francamente, ainda não conheci um homem que rejeitasse isso; duas mulheres.
Para ele é o nirvana poder ter acessos múltiplos e escutar as suas histórias é algo hilário algumas vezes.
Sua última aventura foi em Berlim, e Greta estava lá. Ela é um rosto desconhecido para nós, mas de confiança de Benjamin. Segundo ele, o ponto tenso dessa noite
em Berlim foi quando Greta o amarrou em uma cadeira enquanto ela engolia o sexo da outra garota que ele não se lembra o nome, mas que tinha um sexo de milhões.
Eles estavam em hotel antigo, cinco estrelas e de acordo com a descrição de Ben, Greta é grega, fluente em cinco idiomas, CEO de uma multinacional especializada
em motores, se não me falha a memória ela é engenheira mecatrônica. Ela tem 30 anos, praticante de BDSM e bissexual. Cabelos enrolados e corpo vítima de treino e
corrida. Benjamin é detalhista com suas presas e pensar que uma mulher nesse nível topa estar a mercê dele é algo surreal.
E o ponto alto da noite em Berlim, para alívio de Benjamin, foi quando Greta ordenou para a outra jovem que o soltasse.
- Solte-o – Greta sussurrou ainda sugando os clitóris da moça que se contorcia. – Preciso gozar naquele pau. – ela terminou a frase fazendo a moça chegar a um orgasmo
altamente qualificado. Segundo Benjamin, a cena foi essa, e depois disso ele revezava entre as pernas das duas, até que Greta retirou a jovem da cama e pediu para
que Benjamin a enrabasse.
- Greta sabe das coisas. – Benjamin disse e concluiu a conversa levando o copo com vodka até a sua boca. Estávamos no La Rouge, em Vegas, quando ele contou essa
história.
Mas eu preciso arrumar minha mala. Amanhã pela manhã chegaremos juntos a Madri, apenas Philip que mora na Espanha vai estar por lá, e os onze membros de Nova York
aproveitarão o jato de Giovani. Esqueço as histórias tenebrosas de Benjamin
Não vou mentir, estava ansioso.
O relógio cuco colocado no salão principal do Palácio e que hipnotizava Sebastian, marcava nove horas da noite. Ele ficou por muito tempo olhando os detalhes do
cuco, já estava aqui no palácio e foi um tal de Hanzel Martin que o fez, apenas mandei restaurar. A data de construção do cuco é de mais de noventa anos e acredito
no valor da peça.
- Hanzel Martin. – Sebastian disse em voz alta e chamou minha atenção que já estava nele.
- Sim, ele quem fez o cuco. – Me aproximei dele enquanto os outros estavam no bar. Eram apenas ele e eu. – Gosta de relógios cuco, Sebastian? – perguntei porque
já estava há mais de quinze minutos olhando a peça e por vários momentos percebia que ele estava em outro plano.
- Tenho curiosidade sobre essas peças, lembram minha infância. – Ele é sucinto. – Tenho uma sugestão, aceita? – ele pergunta.
- Sim. – respondo e me aproximo ainda mais.
- Palácio Hanzel. – ele disse apenas isso e eu concordei com um pequeno aceno com a cabeça. – Vamos comemorar nossa estreia. – Ele coloca a mão em meu ombro e entramos
no bar com os demais.
As garotas estavam a caminho. Jony se virou em dez e conseguiu colocá-las todas no mesmo voo. Trabalho maior foi centralizá-las em New York, afinal elas vieram de
vários pontos: Washington, Canadá, Las Vegas e Miami. Foram colocadas em um hotel e por dois dias inteiros elas ficaram sendo tratadas como rainhas, tudo e todos
têm seu preço, isso é fato.
Assim que os empregados foram devidamente apresentados e as bebidas servidas, escutamos a porta principal se abrir. Simon, o barman que deveria apresentar um programa
de humor, recepciona as garotas e as coloca na sala vitrine. Existe um buffet moderado esperando por elas, nada de muita comida, não queremos ninguém com problemas
de digestão essa noite. Champagnhe, vinho, frutas e bombons afrodisíacos que Andrew trouxe de Amsterdã, não deveria confiar nisso, mas agora já era tarde e algumas
moças já estavam se deliciando com a iguaria.
Olho para todos e estranho nos encontrarmos sem os trajes sociais do nosso cotidiano, todos aqui de jeans e camisa, como se estivéssemos em um Pub.
Sebastian recebe algumas mensagens e isso o deixa preocupado, ele esfrega a nuca com força e chega puxar o ar de todo o ambiente para dentro de seus pulmões. Ao
fundo Closer, de Kings Of Leon, toca e a conversa se solta, tanto para nós quanto para elas. Lousan desliga o celular, se aproxima do bar e pega uma dose exagerada
de Bourbon e vira de uma única vez, algo o preocupa.
- Então, Sebastian, alguma encomenda que se enquadre em sua solicitação? – Giovani pergunta e Philip se aproxima da vitrine e bebe demoradamente sua dose de Bourbon
e encara Sebastian, mas não fala absolutamente nada.
Sebastian caminha em direção à vitrine e olha demoradamente para cada uma das beldades, um banquete para qualquer tipo de cura sexual. Mas os olhos de Sebastian
estão perdidos e posso jurar que ele não estava prestando atenção em nenhuma delas.
- E aí, seu puto! – Wallace pergunta de longe, sentado no sofá oval bebendo vodka.
Ele não responde e continua olhando, agora seus olhos não circulam mais por entre as meninas, ele parou em uma específica, a de vestido claro, acho que é rosa ou
lilás.
-A de lilás. – ele disse baixo e continuou. – As outras vocês podem leiloar, bom apetite, rapazes.
Andrew se manifesta por ter conseguido o exemplar do solicitante e declara que deveria ganhar algum prêmio para quem conseguisse isso. Philip sugere que o membro
que conseguisse isso poderia ser o primeiro ou o único do exemplar da próxima solicitação. Resumindo, um escolhe a foda do outro, não que seja uma regra, mas foi
acatado a fim de quebrar a rotina futuramente.
Sebastian vai até Simon e pede que ele verifique o quarto e coloque camisinhas perto da janela, no aparador de uma única gaveta que fica exatamente ao lado. Depois
ele caminha até a porta, entra na sala que nos serve de vitrine e todas as mulheres olham para Sebastian e ele caminha até a sua escolhida e a pega pela mão beijando-a
com força diante de todos. Isso foi surpreendente, mas era como se ele precisasse disso, precisasse de uma fuga, algo estava preocupando Sebastian.
Começamos o leilão e para nossa surpresa, algumas meninas começaram um show particular dentro da vitrine. Elas perceberam que se tratava de um espelho falso que
elas se encaravam constantemente, olhando o batom, a roupa e comparando com as outras.
Então um striper sensual com mulheres tirando a roupa uma da outra começou a deixar Benjamin em estado de ebulição. O que tinha nesses chocolates de Amsterdã? Cristo!
Elas estão se beijando e Benjamin se manifesta.
- Quero as duas mais altas! - ele disse e nenhum outro ali entrou na competição, mas para nossa surpresa ele entrou na sala e agarrou as duas, beijando-as quase
simultaneamente e, depois disso, foi questão de minutos até que cada um de nós estivéssemos em nossos aposentos; menos Carl que levou a sua escolhida para o pole
dance.
É noite de estreia oficial e o som ambiente era Woman in Chains, do Tears for Fears, em todos os quartos é possível ouvir a música.
-Vem comigo. – eu disse a que escolhi. A coloquei de pé ao centro do quarto e removi sua calcinha. – Agora, faça por merecer. – ordenei e ela se colocou de joelhos
diante de mim. Não, ela não iria rezar.
Quando se tem disposição física e financeira para esse tipo de aventura, nada é fora no normal. Ninguém aqui tem parâmetros de normalidade. Todos se escondem no
dia a dia e tornou-se divertido essa disputa entre garotos. E agora é uma questão de tempo até que tudo se torne de fato o pôquer de terça à noite dos homens casados.
Capítulo 6
Sebastian
‘Cabe multa o não envio da encomenda, ou, em caso de não comparecimento, o não envio do substituto. Favor evitar esse tipo de contratempo’
Quando Evan propôs tal atividade, eu pensei que seria algo falido ou que não fosse passar de algo simples, sem padrões ou sem esse tipo de qualidade. Enganei-me.
Estou diante de uma mulher que acaba de tomar seu banho, percebo sua virilha vermelha. Ela é adepta de sexo forte e não possui limites. Isso me permitiu descarregar
minha tensão e meu tesão. Admiro seu corpo torneado sair do banheiro, em seu rosto a satisfação que segundo ela foi única. Cabelos enrolados até a cintura, corpo
curvilíneo e sem pelos, essa é a melhor parte. Pude ver seu sexo molhado, brilhante e tentador. Lembrar dela massageando o próprio clitóris enquanto o sexo pulsava
foi algo extraordinário e eu precisava realmente disso.
- Posso saber o nome do homem que conseguiu um número significativo de orgasmos meus essa noite? – Ela tem a voz rouca, suave, um timbre bonito e não tem vergonha
de se enxugar diante de mim. Sinto meu pau latejar novamente e o lençol marfim não consegue esconder, seus olhos capturam minha ereção.
- Sebastian. – Me levanto e mostro o quanto já estou duro. – Posso saber o seu? – pergunto e estou diante dela, de joelhos.
- Achei que não fosse perguntar. – Ela levanta a perna e apoia na cama, deixando seu sexo à minha disposição. – Sou a Mel, Melinda. – ela disse em gemido e eu afundei
minha língua entre suas pernas. Aquela seria a segunda rodada de orgasmos, tanto dela, quanto meus.
Mas minha cabeça estava em um delito, estava preocupado e quando o dia nasceu e Mel ainda estava dormindo, desci até a cozinha.
O projeto interno do Palácio Hanzel foi elaborado e executado pela Charper&Lousan e deixo toda a modéstia que nunca tive de lado e admito o excelente trabalho. Uma
escada em forma de arco desce por dois patamares que dispõe de vista para todo o espaço social. Uma sala de vídeo fica no subterrâneo e Evan colocou uma sala de
segurança para que Gunter possa manter nossa privacidade em absoluta segurança, afinal, apenas os empregados estarão por aqui na maioria dos dias.
A cozinha com mais de trinta metros quadrados, planejada em ébano e marfim, conta com uma ilha gigantesca e doze banquetas altas da mesma cor, apenas o estofado
bordado em vermelho, Accord. Essa área é reservada apenas para os membros, nenhuma encomenda pode dispor dos ambientes do palácio sem que um de nós autorizasse.
Os utensílios e eletrodomésticos em inox, tudo rico e sofisticado, Evan não poupou gastos e eu fiz um preço camarada.
O café da manhã estava posto e eu preciso apenas de uma xícara para despertar. Sento na banqueta e minha cabeça ainda gira em torno do delito. Fisicamente estou
ali, mas mentalmente estou tentando resolver uma merda que fiz.
- Bom dia, Sebastian. – Evan me surpreende e quase derrubo a xícara.
- Bom dia, Evan – Ele coloca café na xícara e senta de frente a mim.
- O que está acontecendo? - Ele me conhece e sabe que algo me preocupa, mas se eu contar, ele vai enfiar essa faca em meu pescoço.
- Problemas na Charper. Preciso resolver uma negociação e isso está me tirando o sono.
- Pensei que quando viajasse, deixasse tudo nas mãos de Carter.
- Na maioria das vezes sim, mas certos aspectos requerem minha atenção pessoal. – Sou convincente e ele parece se dar por satisfeito com a resposta e se coloca à
disposição caso eu precise de alguma coisa. Preciso de alguns milhões para pagar uma multa por ter sido imbecil.
Conversamos sobre meus novos contratos e sobre o rosto dele na capa da Forbes. Rimos sobre alguns detalhes que ocorreram dentro de cada quarto e por vezes percebi
o olhar de soslaio de Evan. Não, ele não estava convencido que meu problema era com a Charper.
- Ei, Lousan, sabe que pode contar comigo. Se estiver em alguma situação difícil, de repente eu posso te ajudar. – Ele se oferece, mas agora é tarde demais, a merda
já estava feita.
Preciso me livrar desse problema, enquanto posso me livrar. Não posso arrastar isso, não sei onde estava com a cabeça quando resolvi infringir uma das regras.
- Valeu, cara, mas logo tudo se resolve. – respondo tentando acreditar no que acabei de dizer.
Evan voltou para o quarto com a xícara dele e mais uma, para sua acompanhante. Evan sempre foi bom em seus projetos, menos os pessoais. O único que ele teve fracassou
da pior forma e eu estava lá, tentando trazê-lo de volta à vida e Giovani também teve seu papel importante. Nos tornamos invencíveis nos Pubs nova-iorquinos, quase
todas as noites estávamos lá, servindo de muletas para ele.
Apenas à noite as meninas foram levadas ao aeroporto. Nenhum problema, ninguém reclamou de absolutamente nada e tudo ocorreu como planejado. Clube 13, Palácio Hanzel
estava em plena atividade.
Um brinde ao bando mais sortudo do planeta! Carl levanta o copo, estamos no bar e Simon consegue me tirar das preocupações. Ele tem o dom de fazer comédia e se coloca
como azarado em suas histórias. Ele compara a sua vida de casado com a vida de um presidiário e diz: Pelo menos o presidiário toma banho de sol! – Ele brinca com
a liberdade que perdeu ao se casar.
- Mas você é casado, Simon? – Philip pergunta e olhar para cara dele me irrita; ele não me desce e eu tentei alertar Evan sobre o caráter desse cara.
- Já me divorciei quatro vezes! – Simon responde e todos caem na risada. Mas era hora de voltar. Hoje é noite de domingo e na terça pela manhã tenho uma reunião
em Portland, mas antes, tenho que tentar resolver essa merda que me enfiei.
Passava das duas da tarde quando chegamos em Nova York. Eu estava destruído, não descansei no voo de volta porque aquele bando de putos fez a maior farra.
Wallace tem um gosto estranho para sexo e quase tenho como certo que ele gosta de um fio terra. Onde já se viu se sentir atraído por sangue? Espere o ciclo menstrual
de suas garotas então, e aí faça a festa. Mas dor e tesão não são algo que assimilo muito bem. O fato é que não vou participar de nada que ele esteja presente, melhor
evitar.
Meu celular toca e quando eu vejo o nome respiro fundo, preciso praticar mais alguma atividade, buscar refúgio no Himalaia ou me livrar dela. Não posso me livrar
dela, preciso dela.
- Sim, Carter, já voltei! – atendo já respondendo a primeira pergunta da inquisição que ela vai começar, porque ela vai começar; porque ela é assim, chata, insuportável
e competente. Ela é minha voz no mundo. Ela é a Charper&Lousan para os outros continentes e a única mulher que confio minha vida. Nos conhecemos há mais de quinze
anos, e é de fato uma longa história.
- Charper, deixa eu te explicar uma coisa: apesar de eu conseguir operar alguns milagres clandestinos em nome de sua empresa, ainda não tenho o dom da mutação. Isso
quer dizer que não posso me transformar em você para atender os japoneses! – ela grita. É a única que pode gritar comigo, e no fundo eu gosto.
- Que japoneses, Carter? – Alcanço minha agenda sobre meu criado mudo em meu quarto e olho para os compromissos de hoje e não acredito que esqueci. Olho para o relógio
e tenho menos de vinte minutos para chegar a Charper.
- Os japoneses da Alemanha! – Ela é cínica. Achei que fosse dormir um pouco, mas é claro que isso é algo que não mereço.
- Estou a caminho. – respondo e desligo. Saindo do quarto e vestindo um paletó azul escuro por cima da camisa e do suéter, não vou ter tempo de colocar um terno.
Como eu pude esquecer esse compromisso? Merda! Meu celular toca e espio o número e o maldito problema agora me liga. Não posso atender e com certeza você é a próxima
da minha lista a ser resolvida.
- Duck? – chamo meu motorista assim que chego em minha cozinha. – Deixe o carro preparado estou descendo, tenho uma reunião na Charper.
- Eu o levo senhor. – ele oferece.
- Duck, agradeço, mas eu tenho menos de quinze minutos para chegar lá e eu conheço sua forma de dirigir politicamente correta. – Ele ri.
- Senhor, caso queira, posso acionar o modo fugitivo? – ele brinca e tem liberdade para isso. Esse cara tomou um tiro por mim, meu motorista e segurança; devo minha
vida a ele.
- Consegue em menos de quinze minutos? São mais de trinta quadras e o trânsito nova-iorquino? – o desafio.
- Com certeza, senhor. – ele aceita. Gosto do Duck, sobrenome estranho, mas ele prefere ser chamado assim do que François, que segundo ele, é menos masculino e não
condiz com sua postura viril.
Nunca duvide de alguém com sobrenome curioso e que se chama François. Realmente ele chegou em menos de quinze minutos e eu quase sofri um ataque cardíaco. Agora
eu só preciso encarar os japoneses da Alemanha... e a Carter.
Ser proprietário de um prédio de dez andares em Manhatan atrai olhares, ainda mais quando se modifica o prédio o deixando com a minha cara. A fachada de vidro e
alumínio é escura e a porta com mais de três metros de altura que se abre em duas folhas é de madeira branca, contraste magnífico, e é de ótimo gosto. Charper&Lousan
em metal cravado na madeira clara, é o cartão de visita.
Subo os dez andares torcendo para que Carter esteja mais calma, serena e sem intenção de me matar.
Saio do elevador em disparada abotoando meu blazer, todos estão me olhando e alguns dizendo “boa tarde” com estranheza, e eu tentando colocar meu cabelo para trás,
chego à sala de reunião e está vazia.
- Se suas trepadas vão foder com a minha integridade mental, me avise! – Carter chega com as pastas para a reunião e rosnando assim que fechou a porta da sala. Impecável
em seu vestido azul escuro até a altura dos joelhos e saltos pretos. Ela não está calma, ela não está serena e possivelmente me mataria.
- Não faço esse tipo de coisa. – tento brincar e ela suspende a sobrancelha esquerda e isso é algo que sempre me aterrorizou, e acho que ela sabe disso. Ela fica
muito séria com esse coque no topo da nuca e isso também é ameaçador.
- Sebastian, em nome de Deus, eu não sei onde estou com a cabeça que ainda não arremessei nada contra você, uma bala de calibre 38, por exemplo. – Ela bufa e espalha
as pastas sobre a mesa.
- Oras, você me ama, somos praticamente irmãos e sua vida seria algo torturante sem a minha presença! – Sorrio e ela mantém a sobrancelha lá no alto, como se dissesse
‘ainda vou te matar’.
- Charper, eu realmente devo te amar muito, mas não escondo minha vontade de separar seu tronco dessa coisa redonda em cima do seu pescoço, coisa redonda que deveria
ter um cérebro, com memória e, assim, essa coordenadora de assuntos internacionais não teria um colapso toda reunião. – Ela sorri mantendo a sobrancelha levantada.
- Você acha minha cabeça redonda? Tipo, grande? – Vou em direção à vidraça e tento ver meu reflexo e desaprovar a opinião que a Carter tem sobre minha cabeça.
- Não faça isso, Charper, não me irrite ainda mais! Não acho sua cabeça grande, só acho que às vezes ela não funciona como deveria. – Chata pra caralho. O celular
dela está tocando e ela atende.
- Oi, Josh, tudo bem? – Deve ser o engomadinho, executivo da bolsa de valores, mala e chato que é o cacete. - Claro que sim! – Por que ela não grita com ele como
grita comigo? Esse cara é um insuportável. - Até mais tarde, amor! – A cara de tonta dela enquanto fala com ele é algo nojento. Ela desliga o telefone.
- Era o insuportável? – pergunto olhando as pastas que ela arruma.
- Você sabe o nome dele, e você é um insuportável! – ela rosna e eu estou cantando Marvin Gaye, Sexual Healing. Estalo meus dedos acompanhando o ritmo da música
e isso a irrita mais ainda. Tento alcançá-la para dançar comigo, mas ela ameaça me matar com uma das pastas.
-Você precisa relaxar mais, Carter! Acho que o Sr. Insuportável não está sabendo deixá-la satisfeita. – falo e alcanço o superior dos seus ombros tentando fazer
uma massagem, mas ela me ameaça com o salto.
- Charper, como eu posso relaxar se tenho um bebê com mais de um metro e oitenta e cinco para tomar conta? Você deveria pagar meu terapeuta! E não mencione sobre
minha vida sexual. É mais saudável que a sua! – Ela termina de arrumar a mesa e me encara cruzando os braços e batendo o pé. Carter é uma espécie de ser assexuado
para mim, ela é a minha melhor amiga, a única no planeta que sabe além do que deveria a meu respeito.
- Você vai ao terapeuta? – pergunto fazendo charme e entortando a boca enquanto enrugo entre as sobrancelhas.
- Ainda não, mas trabalhando com você é uma questão de tempo! – Ela sorri no final da frase; ela está mais calma e eu estou vivo.
- Ufa, ainda bem que sorriu, do que se trata mesmo essa reunião? – perguntei apenas para provocar e consegui, ela pegou uma pasta e deu em meu ombro.
-Juro por Deus que se eu não for para um hospício, eu vou presa! – ela grita e sai da sala.
Carter é uma das pessoas mais competentes que conheço e a única que sabe da minha história, de toda a minha história. Uma que não gosto nem de pensar.
Mesmo depois do dia que ela foi embora da Casa Moisés, mantivemos contato e estudamos juntos em Oxford. Me hospedei na casa dela por lá e quando montei a Charper&Lousan,
ela foi o primeiro nome que me ocorreu. Tem o salário mais alto da minha empresa e confio em absoluto no que ela faz. Menos quando se trata de relacionamentos. Ela
começou recentemente uma espécie de namoro com Joshua Morrison, Josh para os íntimos, mas para mim ele sempre será o insuportável.
Me arrependo de tê-la mandado a uma reunião de aplicações, se não fosse isso ela não o teria conhecido. Mas o pior de tudo, ele é o cara que cuida das aplicações
da Charper na bolsa. E pelo visto o namoro vai bem, obrigado. Perdi minha amiga de Pub, ela agora dedica as terças-feiras a ele, somente a ele.
Os japoneses entraram na sala com a Carter, que me olhou e a sobrancelha ainda estava lá no alto, me ameaçando. Claro que eu sabia do que se tratava a reunião, eu
só quis brincar um pouco, mas ela não encarou dessa forma.
Os japoneses investiram em um centro antigo na Uper e querem que eu traga o lado oriental para esse centro e, é claro, que vai me render uma receita razoável e o
trabalho vai ficar perfeito.
Enquanto decidíamos sobre valores e prazo, meu celular vibrava em meu bolso. Continuei demonstrando com meus rabiscos em uma folha branca vários conceitos para esse
centro comercial, e os japoneses afirmavam positivamente que era exatamente isso que eles queriam. Fechamos com chave de ouro e com um convite para conhecermos a
matriz deles na Japão.
Insistentemente meu celular continuou a tocar e quando a reunião acabou e eu olhei o número, percebi que era hora de resolver, não poderia protelar mais. Atendi
tão logo o último cliente saiu da sala.
- Escute, não quero ser grosso com você, mas não quero que me ligue mais, não quero mais falar com você. Entenda que não existe sentimento. Eu expliquei para você
da última vez que estivemos juntos, o que não era nem para ter acontecido e você prometeu que não me ligaria mais. – falo calmamente enquanto caminho para minha
sala e fecho a porta.
- Sebastian, eu... eu não consigo ficar longe de você. – Ela está chorando e eu não me perdoo por isso, mas não posso enganá-la. Foi um erro continuarmos e eu até
pensei que pudesse desenvolver algo por ela, mas não foi o que aconteceu.
- Eu te avisei, naquela noite... você terá que esquecer meu rosto pela manhã! Eu sei, eu deveria ter resistido e não ter aceitado o seu convite, mas o fato é que
não podemos mais nos ver; vai ser melhor para você e para mim também. – Ela soluça e eu me condeno. Não era isso que eu queria, mas os encontros depois da noite
do Vincci Via 66 se tornaram algo arriscado e a verdade é que não sinto absolutamente nada por ela.
-Acho que não consigo sem você. – Ela está chorando muito e não é isso que eu quero, não quero ninguém sofrendo por mim... não mereço.
- Onde você está? – pergunto e ela me fala que está em frente ao prédio da Charper e isso me assusta, esse tipo de perseguição. Há dois anos atiraram contra mim.
Foi uma mulher anos mais velha que se tornou obsessiva. Ela me perseguia e foi Duck que me salvou. Quando prenderam a mulher, Santina era o nome dela, descobriram
que ela era imigrante ilegal e depois disso eu nunca mais ouvi falar dessa louca.
Confesso que tenho medo de gente que me persegue, isso não é normal.
- Estou descendo. – Fui direto e preciso que isso não se prolongue mais.
Desci em direção à rua e a vi, do outro lado da rua, enxugando o rosto e mais magra. Não é algo bom de olhar, ninguém merece sofrer, mas eu não posso seguir adiante
com isso. Ela está mal vestida, com um jeans sujo e cabelos desgrenhados, como se tivesse dormido na rua.
Atravessei a rua e parei diante dela. A menina de cabelos castanhos e olhos verdes me agarra pela cintura, e esse tipo de situação não me agrada.
- Vem comigo. – A levei até um café, estava tranquilo e pude escolher uma mesa no fundo. Pedi dois cafés grandes e olho por alguns minutos para a menina que veste
um jeans surrado e uma regata desbotada.
Eu sei que ela está em Nova York por conta de uma amiga e que depois de Madri não deveria ter me encontrado com ela. Quando ela apareceu aqui em Nova York, dizendo
que havia perdido o emprego e que decidiu voltar, eu pensei que ela estava voltando para sua terra de origem, o Canadá.
Mas não foi o que aconteceu e agora tenho a sensação de que ela não come há dias e me sinto péssimo por isso. Quebrei uma regra que achei que não teria importância,
mas teve. Ela se apaixonou por mim e eu não lembro de sentir nada parecido com isso por alguém. Sei dos riscos, inevitavelmente esse tipo de sentimento, apesar de
ser magnífico, pode se transformar em algo aterrorizante, eis que estou com essa visão diante de mim.
- Valentina, foi incrível o que aconteceu, mas é fato que deveria ter ficado tudo naquela noite no Vincci. Eu deveria ter recusado seu convite e também não deveria
ter feito os meus, mas tudo acaba de fato agora. – Esfrego a minha nuca e respiro fundo antes de retomar a conversa. – Você precisa de dinheiro para voltar para
o Canadá? Eu te dou o dinheiro, o que você não pode é destruir a sua vida porque nada vai mudar. – falo calmamente, mas ela soluça sem parar e isso me irrita um
pouco.
- Não quero seu dinheiro, quero você, quero seu amor, quero ser sua...me entende? – Ela enxuga o rosto com um guardanapo de papel e bebe um pouco do café.
- A única coisa que posso te oferecer é o que você não quer. Não posso ser seu, e também não sei o que é o amor para poder lhe oferecer. Você merece alguém que possa
lhe dar tudo isso, mas essa pessoa não sou eu. – Tento ficar sério e não transparecer a piedade que estou sentindo, esse é o tipo de sentimento que não ajuda.
- Eu pedi demissão na Espanha para vir atrás de você. Naquela noite olhei seus documentos em sua carteira e seu sobrenome está no Google de maneira repetitiva. Foi
fácil, achei que pudéssemos ficar juntos e agora estou sem dinheiro, sem você e sem vontade de continuar viva. – Não gosto desse tipo de conversa.
- Valentina, me escute, não vamos ficar juntos, eu não quero e você não merece. – Seguro a mão gelada dela. Ela está gelada, retiro meu blazer e a visto. – Fique
com ele.
- Como eu vou voltar para o Canadá, olhar para os meus pais e dizer que os anos na Espanha foram por água baixo porque me apaixonei pela pessoa errada? Como eu vou
voltar sem um puto no bolso e dizer que estou com vontade de morrer?
- Eu vou te ajudar, confia em mim, isso tudo vai passar e você vai ser tão feliz que possivelmente nem vai se lembrar do meu rosto. – Continuo segurando a sua mão
e ela para de chorar.
- Não acredito que eu possa ser feliz longe de você. – ela confessa e isso não está funcionando, vou partir para o lado prático.
- Valentina, eu vou pagar seu retorno para o Canadá e vou lhe dar uma boa quantia e você não vai precisar escutar nenhum tipo de sermão dos seus pais. – Ela me olha
e sente que não vai ter como recusar minha proposta. – Vai ser como se nada tivesse acontecido, eu garanto.
- Sebastian, o que uma mulher precisaria ter ou fazer para conseguir conquistar seu coração? – ela pergunta massageando os meus dedos.
- Acho que eu precisaria ter um, antes de mais nada. – Me levanto, coloco algumas notas sobre a mesa e a levo para fora dali. – Me diga onde você está hospedada?
- San Martim. – ela responde com vergonha. San Martim é um abrigo para moradores de rua.
- Faz tempo que você está lá? – pergunto acenando para um taxi.
- Há quatro dias, desde que Gabriele me pediu para sair da casa dela. Eu estava bebendo muito e isso causou problemas com os pais dela. Gabriele estava comigo na
noite que Benjamin me convidou para o Vincci, ela recusou. – ela conversa e estou preocupado com Valentina, ela é frágil e está com o emocional abalado e não posso
me sentir culpado, foram alguns encontros e não houve promessas.
Entramos no taxi e continuei a conversa. Quero que ela fique tranquila, não quero ninguém sofrendo por mim, ninguém merece sofrer.
- Mas você estava fazendo o que na Espanha? De repente você pode voltar e eu quero poder te ajudar. – O taxi ganha as ruas assim que passo para o motorista o lugar
que devemos ir e Valentina, que não tenho ideia do sobrenome porque na noite em que nos encontramos Benjamin perguntou apenas o nome e o telefone e não tinha nenhuma
regra. Era a primeira noite do Clube e foi em um hotel, não havia nada comprometedor, começou a falar.
- Tive meus problemas na Espanha, Sebastian. Você foi uma boa razão para eu fugir porque foi isso que eu fiz. Na noite do Joy Eslava estava vendendo drogas, e quando
Benjamin se aproximou eu pensei que ele quisesse algo para curtir, mas não, ele foi tão doce. – Ela coça a testa e não me olha. Seus cabelos estão bagunçados e meu
blazer cobre suas mãos. Estou surpreso com a história, a conheci há mais de quatro meses, em Madri nos encontramos de novo duas vezes e depois de algumas semanas
ela estava em Nova York.
- Por que você entrou nessa? – perguntei.
- Precisava de dinheiro, o aluguel estava atrasado e surgiu a proposta para trabalhar na rua, com sexo ou vender cocaína em baladas de alto nível. Prostituição não
estava nos meus planos e achei fácil ganhar dinheiro assim, mas eu estava devendo muito e por mais que eu ganhasse, eu precisaria vender muito mais e a polícia por
diversas vezes levou o dinheiro que eu tinha para não me prender, e com isso, levava as drogas também. Em resumo, estava devendo para o dono das drogas, para a dona
da casa que eu morava e não tinha como resolver. – ela desabafa.
- Bom, eu vou te ajudar como eu disse. Suba, pegue suas coisas. – Saio do taxi e peço para que ele espere. Acompanho Valentina pelos corredores que exalam um cheiro
terrível, o lugar é sujo e sinto pena dela.
Chegamos no quarto que ela divide com mais oito pessoas. A sacola dela está escondida no forro de madeira, ela não tem muita coisa e o pouco que tem está em um saco
plástico.
Não consigo pronunciar uma só palavra, preciso apenas ajudar Valentina a voltar para o Canadá, ela precisa recomeçar.
Saímos do abrigo e pedi para o taxi nos levar até o The London, um hotel cinco estrelas na Times Square. Ela precisa de roupas, um banho e ajuda.
Faço o check in e subimos, no rosto de Valentina havia esperança sobre algo que pudesse acontecer, mas não vai. Entramos no quarto, a levei até o banheiro e retirei
toda a roupa dela. Acionei a hidro e a coloquei ali dentro.
- Não vai entrar aqui comigo? – ela pergunta em choramingo.
- Não, Valentina, esse banho é só seu, me dê alguns minutos eu já volto, ok? – Ela acenou com a cabeça e eu beijei a sua testa.
Desço para o centro comercial e nem me atento em qual loja estou. Peço algumas trocas de roupa, jeans, vestidos, casacos, blusas e alguns shorts. Em outra loja compro
alguns sapatos e em outra, roupa íntima. Ela não pode chegar sem absolutamente nada na casa dos pais, ela precisa se reerguer.
Volto com as sacolas e peço que ela espere mais um pouco, compro duas malas Samsonite e volto para o quarto.
Ela estava mexendo nas sacolas e me olhou com tanta gratidão, mas eu sentia necessidade de ajudá-la, como eu nunca ajudei ninguém.
- Comprou roupas para mim. – ela disse chorando. – Minha irmã caçula vai querer usar essa bota. – Ela sorriu ao falar da irmã que possivelmente é uma criança ainda.
Não sei a idade de Valentina, talvez vinte e cinco ou vinte e seis, mas vê-la diferente e mais alegre me conforta.
- Sim, você vai voltar com roupas novas, com dinheiro no bolso e se quiser temos um cabelereiro aqui perto. O que acha de resgatar a garota linda do Vincci e voltar
com a cabeça erguida para o Canadá? – Ela sorri e algo me traz alívio.
- Faria isso por mim? – ela perguntou sorrindo, mas seus olhos estavam tristes. Ela precisaria de muito apoio no Canadá, mas minha ajuda termina no embarque dela
no JFK.
- Sim, eu vou fazer. – respondo e ligo para o meu banco. Peço uma reserva de uma quantia razoável, trinta mil dólares e avisei que retiraria amanhã pela manhã; em
seguida liguei para companhia aérea e perguntei sobre os voos para o Canadá e deixei tudo esquematizado para que ela embarcasse no primeiro voo, às nove e quarenta
da manhã.
Ela se distraiu com as roupas, algumas ela voltou até a loja e trocou e por alguns instantes a percebi feliz, era isso que eu queria.
Ligo para o Duck e aviso onde estou e apesar da insistência dela para que eu fique com ela essa noite como despedida, eu recusei e avisei que amanhã, às sete horas
da manhã, eu a pegaria e a levaria para o aeroporto, ela aceitou e eu voltei para minha casa.
Capítulo 7
Sebastian
‘É expressamente proibido usufruir da encomenda antes da entrega, por uma questão de respeito e total lealdade ao acordo’
O relógio marca nove horas quando o rosto de Valentina cruza o portão da área de embarque. Com ela algumas peças de roupa novas, com o cabelo diferente e com a passagem
que ela fez questão de comprar com parte do dinheiro que dei a ela, trinta mil dólares. Ela partiu e eu me senti bem em fazer o que fiz, não só por tê-la despachado
para o país de origem, mas por tê-la ajudado a deixar o passado triste de Madri para trás.
Ela estava entusiasmada em voltar para o Canadá. Seu passaporte estava em ordem e falava dos pais e da irmã mais nova com alegria e isso me deixava tranquilo. A
única coisa que me pediu foi para levar como recordação meu blazer e, a essa altura, eu nem me importo. Quero apenas que ela fique bem e se um paletó azul escuro
feito sob medida por Geramond na Áustria vai fazê-la melhor, que ela o leve. Quando eu voltar para Áustria encomendo outro. O importante é me livrar desse problema.
Não tenho tempo para mulheres apaixonadas grudentas. Lição aprendida, Sebastian. Concentre-se nas fodas. Fo-das! É para isso que elas servem.
Meu telefone toca insistentemente e quando olho para a tela percebo que tenho algum problema a caminho.
- Fala, Carter! – disparo saindo do aeroporto e o avião que leva Valentina decola.
- Charper, em nome de Deus, me fala que você já chegou em Portland? – ela rosna e eu me puno. Merda, esqueci. Preciso me orientar, estou tendo problemas sérios com
a minha memória. Mas agora o problema já estava resolvido e tenho apenas que domar a Carter que tenta não cometer um homicídio.
- Quais são as possibilidades de cancelarmos essa reunião? – pergunto e sinto o bufar dela do outro lado da linha
- A mesma possibilidade de você criar asas ou ser virgem! – Ela pega pesado e não vou conseguir chegar antes das dezesseis horas em Portland.
- Entendo... poderia adiá-la para o final do dia? Às dezessete horas eu tenho certeza que consigo chegar. – Me preparo para o tiroteio.
- Vou tentar, mas Charper, coloque um alarme no celular em seus compromissos. O que está acontecendo com você? Há meses está nessa de esquecer compromissos importantes.
Eu não posso ficar respondendo como sua preposta o tempo todo, afinal eu não sou um ser onipresente. – Eu já disse que ela é chata pra caralho? Se não fosse tão
competente...
- Estava com um problema, mas já resolvi.
- Sei, e por que não me chamou para conversar? – ela questiona.
- Não quis atrapalhar seu “namoro” com o engomadinho insuportável. – ela rosna.
- Charper, qual é o nome do engomadinho? – Ela está batendo o pé no chão tenho certeza.
- Joshua Morrison, o chato, por quê?
- Muito bem, Charper, sabe o nome dele, pare de chamá-lo de engomadinho e insuportável, e agora me deixe resolver o seu problema em Portland. – Ela desliga rindo
e eu tento providenciar uma passagem com urgência para Portland. Volto para o aeroporto e compro a passagem, tenho menos de duas horas para ir e voltar. Então, para
não correr o risco de perder o voo e a Carter cumprir com a promessa sobre me matar, eu resolvo tudo do aeroporto.
Ligo para Keylan, minha governanta, e peço que ela arrume minha mala e em seguida ligo para Duck e aviso que em pouco tempo estarei de partida. Preciso que ele traga
alguns documentos e minha bagagem até o aeroporto. Hoje pela manhã eu dispensei seu serviço de motorista, quanto menos pessoas souberem de Valentina é melhor, e
nesse caso ninguém, além de mim, sabe sobre ela.
Quatro dias em Portland, um contrato milionário com uma multinacional e tudo voltará ao seu eixo, não tinha nenhum problema e minha vida estava de novo tranquila.
Benjamin resolveu dar uma festinha particular alguns dias depois do meu retorno. Uma festa no estilo de Benjamin é algo preocupante, mas é uma oferta irrecusável.
Devo admitir, o apartamento de Benjamin na quinta avenida é algo surreal; ele investiu muito bem as aplicações da família e mora com o luxo de milhões.
É noite de quarta-feira e alguns membros do Clube, como Giovani, Evan e Alexander, estão presentes. Algumas garotas circulam pela festa e em um dos quartos está
Greta. Todos nós somos curiosos em relação a ela, e saber que ela está em um dos quartos com outra mulher, faz uma ereção dolorosa acontecer dentro da minha cueca.
- Então está me dizendo que Greta nesse exato momento, está nua e com outra mulher dentro de um dos quartos? – Giovani pergunta assim que nos debruçamos sobre o
parapeito da sacada que permite uma vista espetacular sobre Nova York. Benjamin mora no último andar e seu apartamento é um duplex. O som de Good Gilrs Go Bad, de
Cobra Starship, está relativamente alto para quem está dentro do apartamento, da sacada pouco se ouve.
- Sim, ela está no quarto auxiliar com Miriad, uma amiguinha dela da Grecia. – Ben responde sorrindo e Evan negativa com a cabeça.
- E o que você está fazendo aqui que não está lá as fodendo? – Alexander questiona.
- Meu caro, já me servi das duas, deixem elas lá e na hora que dormirem eu as acordo. – Ele pisca com um dos olhos e mexe na virilha.
- Quem é o próximo a escolher a encomenda? – pergunto e Evan suspende a sobrancelha.
- Não sei, vamos tirar a prova no pôquer. – Evan desafia, sabendo que ali ninguém ganharia dele.
- Evan, pôquer? Para de ser puto, eu to fora. – respondo e ele ri.
- Vamos fazer o seguinte, eu escolho, vamos testar as habilidades de cada um. – Alexander se oferece ao sacrifício e minutos depois uma mulher de cabelos castanhos
claros, quase um dourado que combina perfeitamente com a sua pele, sai do quarto vestindo uma camisa branca, que fica enorme nela, mas sexy também.
- Benjamin, quem é ela? – Giovani pergunta e todos nós encaramos a mulher. Cristo! Ela não é real. pensei comigo.
- Greta, minha Greta. – ele responde sorrindo.
- Tem certeza que você não é um apaixonado enrustido por ela? – Evan pergunta estranhando a forma como ele respondeu.
- Não é paixão, não é amor, é pau duro só de pensar no que ela faz. Ela é inteligente e gostosa, busca diversão como eu. Quando nos conhecemos em Amsterdã, não tínhamos
ideia de que nossa amizade se estenderia. São quase três anos em que ela me acompanha e posso garantir, a melhor foda é sempre com ela. – Ele não tira os olhos dela
que bebe um pouco de água.
- Ela é gostosa pra caralho. – disparo.
- Eu sei. – Ele a esta encarando e de repente ela cruza toda a sala e vem na direção dele e segura pelo colarinho de sua camisa e o beija forte, mordendo a boca
dele.
- Acabei de chupar gostoso a Miriad e ela gozou lindamente na minha boca, mas eu quero gozar em você. – ela sussurrou no ouvido de Benjamin que esticou o copo em
minha direção e saiu levando Greta com ele.
Puto sortudo, a tal Greta é algo incompreensível de tão gostosa e as outras garotas circulam pelo apartamento. Elas conhecem bem o lugar e uma delas está sentada
no balcão perto da sacada e me encara. Talvez eu precise de uma foda, bem dada.
Me aproximo da loura que bebe algo escuro, acho que é vinho, e ela sorri. Não preciso dizer muito e nem meu nome ela quis saber. Fomos para um dos quartos e a bela
loura que parecia inofensiva é quase uma ameaça à humanidade.
Ela desabotoa minha camisa e minha calça e me deixa completamente nu, estamos ouvindo David Guetta, com Sexy Bitch, e agora estou nu de pau duro e a loura dança
enquanto remove seu vestido vermelho, colado em seu corpo. A maldita não veste nada por baixo do vestido.
Corpo perfeito, e ela não retirou os saltos e isso me deixa louco. Ela rebola perfeitamente e eu preciso visitar o Benjamin mais vezes, esse desgraçado.
Ela alcança uma camisinha no criado mudo, como se aquele quarto fosse dela ou como se ela frequentasse a casa. Rasga o papel laminado e dispensa qualquer preliminar.
Coloca a camisinha na boca e me veste, perfeitamente habilidosa ela coloca o preservativo e sente o quanto estou duro.
- Agora, venha comigo. – Ela se apoia na janela, deixando a bunda arrebitada em minha direção. – Quero que me foda olhando para a Big Apple. – ela dispara e em seguida
segura um dos lados do seu belo traseiro. – Vem, quero você aqui. – ela enfia o indicador no próprio sexo e isso pode ser considerado uma covardia.
Enterro gostoso e ela grita. Aos nossos pés uma Nova York iluminada e agitada, nem imagina que naquele último andar acontece algo estupendo.
Fodo com a loura que não fez questão de saber meu nome e é exatamente isso que estou procurando. Alguém que não queira nada de mim, que não queira saber nada a meu
respeito e que não me procure no dia seguinte. Me desliguei do mundo lá fora, desliguei de mim mesmo e mantive o movimento para dentro da loura que pedia por mais
e eu queria mais, muito mais.
Saímos da janela e fomos para a cama e depois o banheiro, até que por fim, chegamos ao mesmo resultado. Gozamos e nenhuma palavra foi dita, nenhum tipo de pergunta
e agora entendo por que Benjamin costuma trazer mulheres para o seu apartamento. Ele traz o tipo de mulher que não perturba, apenas fode.
Saio do quarto e vejo Alexander no celular, digitando sem parar, ele por hora sorri e depois desfalece o rosto.
- Ei, tudo bem aí? – aponto com o queixo para o celular nas mãos dele.
- Sim, estou falando com a minha irmã, em Londres. – Céus, a Kim, ela é gostosa demais. – Ela não se conforma em ter que assumir a empresa do meu pai, ela sente
medo. – Ele lê atentamente as mensagens. – Ela tem vinte anos, é natural que esteja tensa, mas ainda tem alguns anos até que termine seu curso e volte.
- Ela vai se sair bem e seu pai não corre o risco de falir, afinal, não é você que vai tomar conta dos negócios da família. – zombo e ele ergue o dedo do meio com
um sinal obsceno enquanto lê mais uma mensagem que chega.
- Ela vai aproveitar o período sem provas e vai nos visitar. Parece que a amiga de quarto dela vem junto, mas não vão ficar, é apenas a escala do voo. – Alexander
sorri ao falar da irmã mais nova e por alguns segundos sinto curiosidade em saber o que é ter irmãos.
- Você tem sorte, tem uma irmã. – disparo.
-Sim, a Kim é doce e tem uma alma que não foi colocada nesse mundo para sofrer. Você sabia que essa garota que ela divide o quarto é bolsista, se mantém em Londres
como garçonete, trabalha à noite toda e Kim a ajuda com a compra de materiais e às vezes até roupas? – ele fala com orgulho da irmã. – Kim decidiu ajudá-la desde
que a viu chegando de madrugada com alguns embrulhos laminados nas mãos, eram as sobras da cozinha que ela levou para poder ter algo para comer. – Alexander se comove
ao lembrar da historia.
- Que bacana Alex, e quando ela vai vir? – pergunto mudando de assunto.
- Daqui a quatro dias, decidiu acompanhar a amiga. Parece que houve uma morte na família e ela não teria condições financeiras de custear a viagem. Kim a ajudou
e vai acompanhar a amiga durante o funeral.
- Que pena que são nessas circunstâncias. – disparei e saí para buscar duas bebidas no bar e volto minutos depois. – Não tem nada que lhe interesse aqui? – perguntei
ao rodear o ambiente com o copo em minha mão.
- Sim, mas eu não estou com pressa. – ele sorriu de canto e olhou para as meninas que estavam apenas de calcinha sentadas no sofá gigante de Benjamin.
Brindamos e alguns goles depois a loura que eu havia acabado de foder me chama com o indicador. Ela queria uma segunda rodada, e eu também.
Eu saio do apartamento de Benjamin por volta das três da manhã. Evan está no quarto com uma morena, Giovani idem mas com uma loura e Alexander está no sofá assistindo
uma cena linda de três mulheres se lambuzando com chantilly e línguas habilidosas. O dono do apartamento ainda estava com Greta.
Acordo e meu celular já brilha, alguém me procura. Não olho o número, me levanto e vou em direção ao banheiro. Um longo banho e depois preciso de muita paciência
para duas conferências por conta de uma maldita cor que foi patenteada e agora temos que mudar o projeto.
Saio do banho e alcanço meu celular, sete ligações e um e-mail. Das sete ligações, cinco são da Carter e o e-mail é da Hell-line.
Solicitante:
Alexander Von Humbolt
Características
Cabelos: Louro.
Cor dos olhos: Azuis.
Altura: 1,60 / 1,70.
Pele: Branca.
Peso: Magra.
Nacionalidade: Latina (Temos aqui um pedido difícil, loura, olhos azuis e latina!)
Condição social: Não aceito ninguém na linha da miséria.
Idade: 25 anos (aceito variação de 10% para cima ou para baixo)
Fluente em línguas: Inglês, não estou com paciência para o espanhol.
Escolaridade: Superior completo para não haver problemas.
Casa própria: Rejeito pessoas na linha da miséria como já mencionado. Pessoas nessa situação já recebem minhas doações financeiras.
Ponto fraco: Pés.
Virgem: Se acharem uma com essa idade, dentro desses padrões e virgem, favor enviar para pesquisa em algum centro de estudos humanos, trata-se de uma raridade.
Então bonecas, vocês terão 70 dias para entrega.
Não se atrasem e nem pensem em modificar a data. Fui bonzinho e concedi alguns dias a mais pelo nível de dificuldade.
Alexander.
Termino de ler e retorno a ligação da Carter, que avisa sobre a patente e que o memorando está sobre a minha mesa. Ela não vai participar dessa reunião, está a caminho
de Boston e vai representar a Charper em uma licitação de lá.
Minha vida havia voltado para o seu curso natural e ainda não sei se eu devo ficar feliz ou não com isso.
Capítulo 8
Evan
Alguns anos depois...
- Escute aqui, seu puto, você quis apostar e perdeu! – Ramon ataca Sebastian e eu estou a mercê de alguns goles e tudo se torna engraçado.
- Ramon, seu latino de merda, você roubou! – Sebastian ataca Ramon que faz uma dancinha engraçada com o taco de golfe na mão. Estamos em Monterey, na Califórnia,
no Spyglass Hill, o campo preferido de Ramon, mas não acho que tenha sido uma boa ideia reunir o bando todo, com exceção de Robert que está em Tokio, para esse final
de semana. Já tomamos duas multas por bagunça durante as tacadas.
Carl e Andrew voltam de uma das tacadas conversando e gesticulando, Wallace nem ousou segurar no taco. Ninguém aqui ganha de Ramon, ele frequenta campos de golfe
com o pai desde os três anos de idade.
Philip garantiu que ganharia e, como sempre, se frustra diante de algumas derrotas. Alexander senta no carro elétrico e tira onda da cara do Philip emburrado, como
se não soubesse que Ramon domina essa porra de jogo. Cesar está viajando a negócios.
- Esse ano completamos quatro anos de Clube 13! – Giovani comenta assim que Ramon acerta a tacada.
- Faltam alguns meses ainda. – comento e bebo um gole de vodka.
- Poderíamos fazer algo especial. – Sebastian sugere e todos olham para ele.
- Defina, especial... – peço e continuo. – Sua última sugestão de algo especial foi no mínimo complicado. Você transformou Accord em delivery de mulheres para uma
festinha de jogadores de futebol e alguns artistas. Confesso que foi lucrativo e arriscadíssimo.
- Tudo sempre esteve sob controle e correu perfeitamente. Eles precisavam de alguns petiscos e nós sabíamos o endereço da cozinha. Além do que, Evan, e considere
isso um elogio, você sabe muito bem administrar essa joça. As festas que oferecemos a políticos, jogadores e artistas, em total sigilo, nos rendem milhões. Quando
deixar de ser interessante, podemos parar a qualquer momento.
- Ok, o que você tem em mente? – pergunto. Melhor não mexer muito nesse assunto. É raro Sebastian elogiar alguém. Melhor eu me sentir envaidecido e seguir adiante.
- Um pedido diferente, algo novo. Se fizermos um gráfico, a maioria que comemos no clube mantém o mesmo padrão, cabelos castanhos ou louros e ponto. Foram algumas
asiáticas que deram um trabalho desgraçado para achar; puto do Wallace que queria açoitar orientais. Ainda bem que concedeu quase 4 meses para entrega. – Sebastian
diz.
- Como assim pedido diferente? Já comemos de tudo! – Carl protesta.
- Não, não comemos. – Philip sorri. – Ruivas, ruivas naturais, todas elas, estou fazendo a minha solicitação, melhor anotarem meu pedido. – Ele pisca.
- Já comemos ruivas, seu imbecil. – Sebastian defende e como sempre ataca Philip.
- Sim, mas estava mais para um catálogo de alguma marca de coloração do que ruivas de fato. – Todos ficam em silêncio e tentem buscar na memória, mas Philip tem
razão.
- Ruivas? – pergunto com desdém. – Não sinto atração por ruivas e vocês sabem disso. – Defendo minha preferência.
- Evan, você não tem atração porque ainda não encontrou uma ruiva de verdade; uma com olhos verdes e cabelos encaracolados e corpo curvilíneo. Na hora que uma dessas
cruzar seu caminho, você vai ver. – Philip defende seu pedido e continua. – Então, suas putas, anotaram? Ainda faltam algumas informações, não quero nenhuma pobre
ou que não saiba pronunciar algumas palavras de nível universitário. Não me importo se é virgem ou não e também espero que não tenha nenhum ponto fraco e, para finalizar,
vamos aproveitar que alguns de nós estará na Europa. – Philip brinda e tenta disfarçar sua preocupação com a Gutemberg e associados. Eu sei tudo sobre a crise e
já movimentei um batalhão para que ninguém faça nenhuma proposta de compra, apenas eu.
- Ok, Philip. – Vou agradar esse cretino e quem sabe isso facilita as coisas com minha futura aquisição. – Qual é o prazo? – pergunto.
- Dois meses, é o suficiente, já passamos por testes piores e conseguimos entregar. – Todos concordam e Sebastian não sorri, ele sempre tem um pé atrás com Philip
e não sei se é apenas pessoal.
Terminamos o final de semana e voltamos para Nova York, menos Philip que viajou para Madri. Preciso manter as informações atualizadas sobre esse cara e sua importadora.
Algumas informações sobre a Gutemberg chegam e tudo está caminhando conforme o esperado. Mas eu preciso encontrar a ruiva dos sonhos desse idiota. Antes, eu preciso
resolver os papéis da minha filial em Paris. A verdade é que estou aliviado, me livrei da Lívia. Tudo bem que fui um calhorda e a larguei em Madri, mas também pudera,
a maníaca me seguir até lá! Quase que descobre sobre o Clube por conta de Philip que não pode ver uma mulher, que perde qualquer sentido de direção.
Passam das nove da noite e estou no meu escritório. Maria pergunta se preciso de mais alguma coisa e eu a dispenso por hoje. Preciso terminar de ler isso hoje e
encaminhar para o Jony e pronto. Maccouant Import filial Paris, entrará para minha lista de patrimônios. Meu celular toca e eu não atendo, preciso me concentrar,
nada pode escapar de minha leitura e nenhum detalhe pode ficar de lado.
São quase dez horas da noite quando termino de ler e encaminho para o Jony avaliar e a campainha toca insistentemente. São apenas alguns passos e do meu escritório
tenho acesso visual da porta, estou tomando coragem de levantar para atender.
- Sr.? – Gunter surge me chamando. Um dia eu vou saber como ele faz isso; surge do nada.
- Oi, Gunter. – respondo.
- Devo alertá-lo que quem aperta a campainha é a Srtª Lívia. Estou observando-a pela câmera de segurança sobre a porta há pelo menos dez minutos e ela não parece
estar feliz. – Gunter conclui lembrando que talvez eu tenha problemas com ela caso a ignore.
- Deixe-a entrar. – Gunter faz uma cara de total reprovação, mas acata minha ordem.
Assim que ele abre a porta, Maria aparece para saber o que está acontecendo com a campainha e nesse exato momento Lívia entra como um touro bravo dentro da minha
casa. Ela está furiosa, talvez não tenha gostado de Madri.
- Evan, você é a pior coisa que aconteceu na minha vida! – Ela dispara apontando o dedo na minha cara e isso não é bom.
Maria tenta se aproximar e ela por pouco não a agride, e aí, realmente não é algo que eu possa tolerar.
- Escute, Lívia, que parte do “eu não quero mais você” você não entendeu? Caralho, eu te larguei em Madri, não aguento mais a sua perseguição e agora você entrar
aqui e tentar agredir a Maria é algo inconcebível. – Fui até a porta e pedi que ela saísse.
- Você me usou, fui sua fodinha de terça-feira e agora arrumou outra e quer me dispensar! – Ela mantém os gritos e isso é algo que eu não suporto. Ela deveria ficar
feliz, eu dispensei várias partidas de pôquer por conta dessas ‘fodinhas’.
- Por que você está espantada com isso? Não assinei nenhum contrato com você, não prometi absolutamente nada para você e você não é nada minha, absolutamente nada.
– Se fosse alguns anos atrás eu precisaria do Dr. Ethan, mas agora sei bem o que eu quero e o que eu não quero. Lívia entra para segunda opção.
- Você acha justo, Evan? Justo me usar como me usou e agora fazer isso? Você me deixou em Madri! – Ela continua gritando e não sei por quanto tempo eu posso suportar.
- Aqui não é uma questão de justiça, é uma questão de ser verdadeiro. Estou olhando em seus olhos e dizendo que acabou tudo e olha que nem começamos. Não gosto de
você como deveria para continuarmos. – Gunter e Maria nos deixam a sós. – Lívia, não existe nada entre nós. Você criou tudo isso dentro da sua cabeça e passou a
acreditar, deixou de dar as aulas na Gael e, para piorar, colocou minha mãe na confusão. E outra coisa, você chegou em Madri sozinha, sabia bem como voltar.
- Você queria que eu fizesse o quê? Esperasse você comer todas da companhia de dança diante dos meus olhos? – Ela está irada e anda de um lado para o outro. Ela
nunca subiu as escadas dessa casa, o máximo que aconteceu foi uma foda na casa da piscina antes da reforma. A reforma aconteceu porque ela invadiu a casa e quebrou
algumas coisas, não conseguiu entrar na casa da frente porque estava devidamente trancada. Isso foi há quase três semanas enquanto estávamos no Caribe.
Eu deveria ter feito algo contra ela, mas na época senti pena ao olhar as filmagens. Depois que ela destruiu o jardim e a vidraça da casa da piscina, ela ajoelhou
no meio do gramado e começou a chorar, deitou e gritou que me amava, uma cena deprimente.
- Não comeria ninguém na sua frente porque não gosto de plateia durante uma boa trepada. E peço que pare de gritar, você está dentro da minha casa e não admito gritos.
– Olho com desprezo para ela.
- Evan, eu te juro, eu poderia ser a melhor coisa de sua vida, mas estou decidindo ser a pior. Eu vou ser o seu inferno aqui na terra e um dia eu vou fazer você
chorar como eu chorei por você. – Ela me olha com raiva e eu a olho com indiferença.
- Bom, já que vai ser o meu inferno aqui na terra, peço que faça isso ali fora. – Seguro a maçaneta da porta e a convido a se retirar da minha casa.
- Acredite, Evan, sou o tipo de coisa ruim que acontece com pessoas boas. – Lívia sai da minha casa com promessas terríveis e mais alguns bla bla blas sobre como
eu vou chorar. Impossível, penso comigo.
Escuto o aviso da mensagem que chegou, possivelmente Jony já leu e fez as alterações. Gunter e Maria voltam para o escritório e perguntam se está tudo bem. Respondo
que sim e Gunter me avisa que através de seus contatos dentro da delegacia está conseguindo uma ordem de restrição contra ela.
- Obrigado, Gunter, eu deveria ter feito algo desde o incidente. Bendita seja a sua mania de segurança que o fez colocar tantas câmeras.
-Por nada, senhor. Se me permite vou até minha casa para separar algumas roupas que Alice vai precisar amanhã. – Ele está triste e como um pesadelo tudo volta em
sua vida. A doença que matou Caroline há menos de um ano, está matando sua filha também.
- Vou com você, quero vê-la. – Saímos em seguida.
Enquanto ele dirigia, fiz questão de ir no banco da frente. Ele não estava a trabalho e eu estava acompanhando um amigo. Ele ganhava as ruas e eu voltei para um
passado que fez parte da minha vida, que ajudou a construir boa parte do que sou, me remeto à última noite de Caroline.
Passava das dez da noite, estávamos todos no hospital, inclusive Alice. Meu pai e minha mãe ao lado de Gunter, Maria estava com Alice em seu colo e eu não queria
acreditar. Pouco antes, o telefone de Gunter tocou, era alguém do CTI dizendo que Caroline queria ver a filha, queria beijá-la e o quanto mais depressa agilizamos
tudo e corremos para o hospital.
A sala de espera era fria e o cheiro de morte que cerca os hospitais impregna em nossas roupas, se enfia por baixo de nossas peles e parece que seremos os próximos.
- Minha mãe ainda está doente? – Alice perguntou para Maria e isso me deixou pequeno e com dor. Me senti impotente, fraco e inútil. Maria estava sentada com Alice
em seu colo.
- A sua mãe está tomando o remédio para acabar com o bichinho. Lembra do bichinho que eu te expliquei? – Maria trata Alice com tanto amor que enche os olhos. A forma
como ela explica essa doença, ela deixa tão suave a forma bruta de morte que está acontecendo dentro das duas, mas Caroline está um nível mais avançado.
- Eu lembro sim. Mamãe tem um bichinho igual o meu, mas acho que o dela deve ser maior, ele deve ter mais fome.
Uma enfermeira chega e pega Alice, ela já conhece a garotinha. Alice faz o tratamento do seu câncer nesse mesmo hospital, em algumas semanas ela vai começar a quimioterapia.
– Vamos dar um beijo de boa noite na mamãe? – A enfermeira explica que Caroline vai dormir por muito tempo e que precisa de um beijo de boa noite. Não conheço alguém
nessa terra que não se sentiria triste ao ver a cena.
- Será que minha mamãe vai querer que eu durma com ela? – A inocente Alice nem imagina que a enfermeira menciona o sono da morte e isso faz Gunter não segurar o
choro, mas ele se veste de homem forte e acompanha a filha.
Segui a enfermeira e Gunter, mas fiquei no corredor. A enfermeira saiu e deixou a porta aberta, me encostei na parede e esperei. Eu queria ouvir a voz de Caroline,
tão jovem, tão bonita, o primeiro e único amor de Gunter.
- Ei, minha bonequinha. – Caroline disse baixo, com a voz fraca. –Você é a bailarina mais linda desse mundo. – Me aproximo da porta e vejo Caroline deslizar com
dificuldade as costas dos dedos pelo rosto de Alice.
- Mamãe, você vai dormir? – Alice pergunta e se acomoda entre o braço e o corpo de Caroline, como se fosse um ninho.
- Sim, mamãe precisa descansar. – Caroline beija o topo da cabeça de Alice.
- Mas você vai dormir só hoje, né? Amanhã eu posso vir aqui e te dar outro beijo de boa noite, certo? – Alice pergunta e assim que reparo no rosto de Gunter, uma
lágrima cai. Caroline deixa o choro sair de forma discreta, parecia que ela queria poupar Alice, mas poupar do quê, Santo Deus!?
- Meu amor, escute, mamãe vai ter que dormir por muito tempo. Eu quero que você cuide do papai enquanto eu estiver descansando, tudo bem? – Alice se levanta e olha
nos olhos da mãe.
- Eu vou cuidar, mas você vai ter que acordar e ver se eu fiz direito. – Alice sabe que em breve a mãe não estará mais aqui.
- Eu vou acordar, mas pode ser que demore muito. Pode ser que eu precise dormir muitas e muitas noites e eu confio em você. Sei que você vai fazer um ótimo trabalho.
– Ela abraça a menina e Gunter nega com a cabeça, como se pedisse em silêncio que ela fique, que ela se livre daquela doença que está matando seu grande amor.
Caroline fica por muito tempo atracada com Alice, até que sussurra em seu ouvido. – Minha princesa, a mais linda, a mais bela bailarina do mundo, eu vou te amar
para sempre, mesmo dormindo, mesmo que você não se lembre mais de mim, eu sempre vou amar você.
Fazia muito tempo que não sentia meus olhos tão molhados, fazia tempo que eu não sentia uma emoção assim.
Alice pede o colo do pai que a abraça e eu me sinto um monte de coisa alguma. Pai e filha e um choro silencioso, até que a enfermeira volta e avisa sobre o horário.
Caroline pede para ficar a sós com Gunter e assim que a enfermeira sai do quarto com Alice estico meus braços para ela que agarra em meu pescoço.
Logo minha mãe aparece com meu pai pelo corredor e leva Alice dali.
Sei que eu não deveria ficar, é o momento de despedida do casal, mas por alguma razão, quase como uma força magnética, sou atraído de volta à porta que a enfermeira
deixou aberta.
Gunter está sentado numa cadeira bem perto à cama de Caroline. O rosto dela está molhado pelas lágrimas, mas seu olhar é sereno. Já o meu amigo tem o olhar destruído.
Ele segura a mão dela junto ao rosto dele sorvendo do toque dela, uma última lembrança de seu grande amor.
- Meu amor, eu sei o quanto você está triste... Eu também estou por deixar os dois grandes amores de minha vida para trás, mas você precisa ser forte....pela Alice.
Gunter mal consegue falar e só acena a cabeça em negativa.
-Sim, precisa. Eu sei que Alice não vai ficar por muito tempo também. Sinto que logo eu e ela estaremos juntas novamente... e eu quero que você esteja preparado.
- Como? – ele fala em desespero, em meio às lágrimas que não cessam de descer. – Vou perder os dois anjos de minha vida. Deus não pode ser tão cruel assim comigo!
- Ele não foi cruel. Tivemos a chance de viver por um tempo juntos e esses anos foram os melhores de minha vida. Nunca me arrependi de ter casado com você. Te amei...
te amo... desde o primeiro instante em que nos vimos. Lembra que você não queria ficar comigo porque dizia que eu era bem mais nova que você?
Gunter esboça um meio sorriso em meio ao choro.
- Mas você foi teimosa como uma mula.
- E essa minha teimosia nos levou ao casamento e à filha linda que tivemos. Não, Gunter, Deus não está sendo injusto com você, e sabe por quê? Porque ele vai te
dar uma nova chance.. – ela sussura no final.
- Nova chance? Como? Você não está curada e está me dizendo que nossa Alice também vai me deixar...
- Olhe pra frente, meu amor, e quando menos esperar o amor vai bater à sua porta.
Ele nega veementemente com a cabeça.
- Não! Eu não vou amar de novo! Dói demais amar e perder. Se não for você, não será mais ninguém!
Caroline sorri e solta a mão que ele segurava e acaria o rosto dele.
- Eu estarei lá em cima cuidando de você; farei de tudo pra que dê certo, e não ouse me desafiar. Você sabe que sempre ganho. – Ela sorri, tão linda... E Gunter
levanta-se da cadeira e a beija.
Saio de perto da porta deixando o casal despedir-se.
É um momento triste, mas, ao mesmo tempo, me dá uma estranha sensação de paz. Caroline sempre foi calma, meiga, inteligente, com sorriso solto e sim, muito teimosa.
Essa conexão que eles têm é tão rara de ser encontrada nos casais modernos. Conheço poucos. Meus pais são assim. Sempre juntos, sempre se tocando. Mesmo na discordância
eles parecem dançar no mesmo ritmo. Será que algum dia terei isso para mim? Será que, como disse Caroline, Deus não esteja sendo perverso, mas olhe para mim com
bons olhos e me perdoe pelo que fiz? Eu não sou religioso, eu não sei orar; se isso for uma exigência, já estou condenado ao inferno. Melhor dizendo, meu inferno
é aqui, agora.
Volto à sala de espera e encontro meus pais sentados com Alice no colo. Ao me ver, ela corre para os meus braços.
- Tio Evan, minha mãe vai dormir para sempre. – ela diz baixinho, soluçando e eu queria apenas fazer parar de doer o que está ferindo minha pequena Alice.
- Ela precisa dormir, minha linda, ela está cansada. – Tento apenas repetir o que Caroline disse, tento deixar convincente a história de que ela está cansada, porque
de fato ela estava mesmo.
- Mas não precisava dormir para sempre. Era só dormir por alguns dias, então eu ia deitar do lado dela e ia cantar baixinho, assim quando ela acordasse ela iria
me ver e eu poderia ver ela de novo. – Ela soluça e eu a levo para fora.
- Ei, você sabia que o lugar que ela vai dormir é feito de algodão?
- Minha mãe vai dormir no céu, tio Evan, lá é feito de algodão, para não machucar ninguém. – Tento não deixar uma lágrima cair, mas não consigo. Estou diante da
minha fraqueza e ela enxuga meu rosto. –Tio Evan, todo mundo vai dormir no céu? – ela pergunta e eu tenho que mentir.
- Sim, todo mundo vai dormir no céu, só não podemos ir todos de uma vez. – Tento distrair e ela pede um chocolate e tudo que ela quisesse naquele momento ela conseguiria.
Só não a quero sofrendo.
Volto ao encontro dos meus pais e os vejo em uma conversa sobre o tempo que ela resistiu, como ela lutou e o quanto ela suportou. Minha mãe não tinha Caroline apenas
como uma funcionária, elas eram amigas e meu pai era satisfeito por poder contar com alguém tão presente na vida da minha mãe. Meu pai pegou Alice e beijou seu rosto.
Despedimo-nos assim que eles entraram para visitar Caroline. –Vamos? Está na hora de irmos para casa.
Ela acenou com a cabeça e eu a peguei, deixando que ela se agarrasse em meu pescoço novamente, mas ela levava a barra de chocolate e por alguns minutos dentro do
carro, ela se distraiu e esqueceu sobre o sono da mãe.
Naquela mesma noite, Caroline Doehl Gunter faleceu, às onze e quarenta; ou melhor, ela foi dormir no céu numa cama de algodão.
Chegamos à casa de Gunter e confesso querer fazer mais por ele, sei que pago um ótimo salário e dou as melhores condições, mas isso não é nada perto da sua real
situação.
Alice está bem debilitada, emagreceu muito, mas ainda sorri. Sou um sortudo por fazer parte da vida dessa menina, sou padrinho dela e ela é um raio de alegria, mas
talvez esse raio esteja perdendo a força e não sei por quanto tempo a teremos por aqui.
- Tio Evan! – ela disse quase sem força, mas disse sorrindo. Ela está sentada no sofá, brincando com suas princesas e cavalos coloridos.
- Oi, minha linda! – Me aproximo e a pego no colo.
-Vai brincar de boneca comigo hoje certo? – Ela sempre me faz brincar de boneca, e eu sempre aceito.
- Eu vim até aqui exatamente para isso. – Dou um sorriso e ela corresponde. Eu sou um fraco.
Quando se tem uma queda apaixonante por garotinhas de olhos verdes, fica fácil encarar uma sessão com bonecas. Eu representava uma princesa que tinha um cabelo muito
comprido e Alice se divertia com a voz engraçada que eu fazia.
-Tio Evan, você é a princesa mais estranha que eu conheço. – ela dispara e Gunter que está a poucos metros arrumando algumas roupas, sorri do comentário.
- Pois é, acho que eu não sou bom com essas moças. Que tal arrumarmos um príncipe, assim a voz ficaria melhor, o que me diz? – Alcanço um boneco que pensei ser o
par romântico de uma delas, mas ele já era o namorado que Alice usava.
- Esse não, vamos brincar que você é esse! – Ela me entrega um boneco do burro falante de Shrek, e isso fez todos, inclusive a babá que estava na sala, sorrir.
-Acertou em cheio, minha linda. – Gunter me alfineta.
- Está certo, vou tentar ser um bom burro, ok? – perguntei.
- Você é um burro bonito, tio Evan! – Ela me encanta, mesmo doente é um doce e isso me destrói.
Brincamos por quase uma hora, já era tarde e ela começou apresentar sinais de sono. Ela pediu que eu a levasse para cama junto com uma dúzia de bonecas, e eu o fiz,
sempre vou fazer. A cobri, dei um beijo em sua testa e saí, deixando a luz acesa, ela tem medo de escuro.
Alice tem duas babás, uma empregada e uma enfermeira sempre com ela. Gunter trabalha comigo, mas em geral o dispenso durante o dia para que ele possa aproveitar
seu tempo com ela.
Me despedi de Gunter que estaria de folga amanhã por conta de alguns exames de Alice e voltei para minha casa.
Enquanto eu dirigia de volta, pensei em tudo que já presenciei e confesso que me sinto ridículo pelas vezes que perdi meu tempo em contar para o Dr. Ethan que eu
me sentia injustiçado. Faz mais de três anos que não falo com o psicanalista, acho que superei os pontos que precisava.
Injustiçado é Gunter que tem que lidar com a morte e com a vida, e mesmo assim, não se apoia em seus dramas pessoais. Ele perdeu sua esposa jovem e linda e agora
assiste diariamente sua filha se despedir.
O relógio marca vinte horas quando eu desço a escada da Maccouant. É noite de terça-feira e tudo que mais quero é chegar na minha casa, mas meu celular toca e tenho
plena certeza que algo vai mudar meus planos.
- Fala, Sam! – atendo Samantha. Minha amiga há pouco mais de dez anos e secretária da Gael, é como uma irmã e meu pau não fica duro por ela.
- Oi, Evan! Algum plano para essa noite, sr. executivo das importações? – Ela brinca e o som atrás dela está alto, é Van Halen com Jump.
- Bom, pelo visto se eu não tinha, passei a ter, certo? – Ela gargalha.
- Chacal! – ela fala e isso me arrepia.
- Sam, odeio esse lugar, tem outra opção? – Ela me convence com meia dúzia de palavras macias e por fim aceito o convite.
Combino de passar na casa dela às vinte e duas horas, e o que eu não faço por ela? Desde que ela não fique atrás do Sebastian como uma tonta, apesar de que há muito
tempo ela não menciona o nome dele, isso já é um progresso.
Os pais da Sam são médicos e fazem parte do programa Sem Fronteiras da POWER&HEART, fundação da minha mãe que ajuda crianças com câncer e visita lugares onde não
têm o mínimo de saneamento básico, educação ou sistema de saúde.
Mas o fato é que eu estava a caminho da Chacal com a tagarela da Sam. Ela repetiu umas mil vezes que algum DJ muito conhecido estaria lá e ela não perderia a chance
de um pole dance bem executado. Chegamos na porta da Chacal e Benjamin e Alexander estão conversando com algumas meninas, corre-se o risco de Sebastian estar a caminho
ou já estar lá dentro.
- E aí, cara! –Alexander que já mostra sinais nítidos de embriaguez me provoca e Benjamin está com a boca colada na orelha de uma jovem atrás de mim.
- E aí, Alexander. – o cumprimento e ele esta rindo à toa.
- Espero que Sebastian não venha. – Sam fala em meu ouvido mas Benjamin, que até pouco tempo tentava agarrar a jovem, escuta.
- Ele não vem. Ele está em Londres, uma reunião em uma tal de Edding, está sabendo de alguma coisa, Evan? – ele continua e dirige a pergunta para mim.
- Ele comentou algo ontem. Um tal de Leonard Colffer o convidou para um evento, indicaram a Charper&Lousan para a arquitetura de um prédio. – concluo e entramos
na Chacal.
O som alto quase me incomoda e Sam se perde em meio a confusão de pessoas que tentam se aproximar do tal DJ.
- Já conseguiu sua ruiva? -Alexander me pergunta e eu havia esquecido da solicitação do Philip.
- Caralho, eu havia esquecido, mas temos tempo ainda. – respondo.
- Eu também não arrumei absolutamente nada. Estava resolvendo alguns problemas e minha irmã estará de volta em seis meses e estava organizando a papelada para eles
e a presidência em nome dela, grande responsabilidade. – O efeito da bebida vai embora e Alexander se concentra na Sam que está no pole dance. – Gostosa essa sua
amiga, hein, tá comendo ali? – ele pergunta.
- Impossível, ela é uma amiga e não rola nada entre nós. – respondo e ele nega com a cabeça. – E você também não vai comer, ela não é dessas, ok?
- Evito ter amigas gostosas, assim eu não perderia amizade alguma, esse papo que não rola... não é comigo. – Ele levanta a mão para o garçom e pede algumas bebidas.
Benjamin retorna da pista de dança e junto com ele o meu celular e o celular de Alexander recebem uma mensagem, duas mensagens, uma do Wallace e outra do Sebastian
que está em Londres. Duas fotos de duas ruivas, na mensagem de Sebastian ele colocou: Fazendo um esforço para não fodê-las antes de vocês! Na mensagem de Benjamin
ele colocou: Corram, seus putos, o tempo está passando.
Ao som de Titanium colocamos alguns assuntos banais em dia. Durante a noite, Ramon postou algumas fotos sobre a nova propriedade em Malibu; Carl e Andrew apareceram
algum tempo depois e o que era para ser breve se estendeu pela madrugada.
A noite terminou como sempre quando saio com a Sam, não fico com ninguém e ela também não, somos empata foda um do outro, mas ela é uma boa companhia.
Eu estava extremamente cansado e a única coisa que pensava era na minha cama, e foi exatamente para ela que eu fui. Sozinho.
O telefone do escritório não entende que dormi menos de três horas e ele insiste em tocar. Tenho duas reuniões e prometi a mim mesmo que não faço mais isso; tentar
atravessar a noite na balada e depois encarar um dia de trabalho, nunca mais.
Corro o mouse pela tela e escuto as mensagens chegarem em meu celular. Os desgraçados estão conseguindo suas encomendas e eu não estou com cabeça para isso. Como
vou escolher uma ruiva se nem atração por elas eu sinto? E o pior é que não posso simplesmente escolher qualquer uma, porque na pior das hipóteses eu vou ter que
fodê-la.
Merda! Agilizo uma papelada que deve ser encaminhada para Paris e peço para Jony verificar a quantas anda a Gutemberg e Associados depois que explodiu em todos os
tabloides os problemas com taxas que eles não pagaram.
Segundo Jony, Philip conseguiu afundar a importadora do pai. Como único herdeiro, está respondendo diante uma diretoria que não aceita fechar as portas ou correr
o risco de ser vendida. Mas os impostos estão se acumulando e eu estou aqui, pronto para ajudá-lo.
Peço para que Jony faça a primeira proposta, apenas para sentir o terreno e depois disso tenho prazo para conseguir. Sou bom na conquista e excelente administrador,
gosto dos meus resultados, todos eles.
Enquanto verifico meus e-mails, mais mensagens e fotos de mulheres chegam no meu celular e eu não posso me distrair agora, estou a ponto de comprar mais uma importadora
e isso seria perfeito. Aos vinte e seis anos, detentor dos nomes de maior poder no setor de importação e exportação.
O dia corre e quando me dou conta a Sra. Everhill se despede. Era mais de sete horas da noite e eu precisava realmente da minha cama.
Gunter me espera e entro na XC60. Led Zepelin, com Stairway to Heaven, toca baixinho. Peço para que Gunter aumente o som e tento relaxar pelas próximas quadras.
Me sinto estagnado, me sinto sem passos novos e talvez o Clube tenha se tornado o pôquer de terça à noite dos homens casados.
Se fosse algum tempo atrás eu seria um dos primeiros a conseguir a encomenda, mas agora não encaro como antes e me sinto novamente sozinho. Sem querer me flagro
olhando o telefone do Dr. Ethan na tela do meu IPhone e isso não é bom.
- Gunter, preciso encontrar uma ruiva desta vez. – disparo e o olhar dele pelo retrovisor desaprova minhas atividades em Madri.
- Lamento, senhor, mas não tenho nenhuma em meu estoque. – ele zomba e eu rio negando com a cabeça. – Perdeu a graça, senhor? – Gunter pergunta.
- Desculpe? – O encaro.
- O Clube, senhor, perdeu a graça, certo? – Ele está me lembrando de uma conversa que tivemos, logo depois que o clube começou as atividades. Ele avisou que depois
de algum tempo esse tipo de brincadeira perde a graça, deixa de ser a prioridade e passa ser um estorvo. Gunter tinha razão. Agora minha preocupação era conseguir
a encomenda para não pagar a multa ou ter que recorrer a um substituto.
- Gunter, eu sei que você avisou, mas eu já estou bem satisfeito com minha dose de raiva pessoal por algumas de minhas escolhas. – Ele sorri de lado e seguimos para
minha casa. Preciso descansar.
Capítulo 9
Evan
‘É plausível o envio de um substituto, desde que o mesmo encaminhe duas encomendas. Neste caso, não há necessidade de cumprir a lista de adjetivos do solicitante,
mas é obrigatório manter o padrão das entregas’
Meu dia mal começa e duas mensagens sobre a reunião em Paris em alguns dias não me deixam pensar que hoje é domingo e eu decretei esse dia para não sair de casa
e realmente é isso que vou fazer.
Treinei por duas horas até que meus punhos não aguentassem mais, tomei um banho demorado e me joguei no sofá da sala de vídeo e por lá fiquei até que Maria me avisou
sobre o almoço e sobre uma carta que estava no chão da sala, sem selo ou remetente.
Desci para almoçar e depois peguei a tal carta que possivelmente é obra da Lívia. Aviso Gunter sobre o ocorrido e ele toma as devidas providências. Não tenho mais
paciência com essa garota. Há dois meses ela entrou aqui e fez ameaças, quero que ela suma.
Por mais que eu queira ficar em casa, eu me canso de fazer nada e para que minha cabeça não remoa assuntos devidamente enterrados, eu saio sem direção, apenas por
dirigir no trânsito enlouquecedor de Nova York.
Eram mais de oito horas da noite quando os últimos mandam as fotos com as encomendas e então eu faço uma conta rapidamente em minha cabeça; tenho três dias para
despachar uma ruiva para Madri.
Ligo para Gunter e aviso que estou no Pub em frente ao Pastis. Ele avisa que Alice está dormindo e que em alguns minutos chegará. Preciso de mais um par de olhos
para encontrar uma ruiva para o maldito Philip Gutemberg.
Do lugar onde estou consigo ter uma vista panorâmica. Não escolhi o lugar, simplesmente dirigi sem rumo e estacionei. Não estou muito longe de casa, mas a pé me
renderia uma boa caminhada.
Pedi uma cerveja e corri meu polegar pela tela do celular, algumas mensagens dos putos e algumas fotos ousadas de suas presas. Aprovo todos com um ok como de costume
e analiso a que Carl enviou, gostosa pra caralho.
Quando o Clube 13 completou um ano, eu fiz uma surpresa, levei não apenas a encomenda do perfil solicitado, eu levei treze garotas aleatórias. Cheguei minutos depois
de todos e alguns já tinham trepado com algumas do leilão e foi incrível. Claro que foi, um par de línguas femininas me engolindo e outro par me beijando não é algo
desagradável. É impetuoso e ousado, é sexy e altamente proveitoso desde que haja empenho e dedicação. São quatro sexos femininos, famintos por orgasmos e se o cara
não estiver em sua melhor forma, todo o plano pode se esvair.
Naquela mesma noite, ou melhor, já era dia, o Palácio estava em silêncio e eu desci até a cozinha, precisava de água, precisava me recompor e acredite, olhar quatro
mulheres nuas dormindo ao seu redor é o que podemos chamar de sexualmente tentador. Mas meu corpo precisava de água e quando cheguei na cozinha flagrei Wallace tomando
alguns comprimidos e notei sangue em suas costas. Algo não estava dentro da normalidade, apesar que o Clube 13 foge de qualquer coisa nesse sentido. Mas Wallace
não estava bem, ele estava tomando remédios para virilidade e tinha plena certeza de que daria conta das seis que estavam com ele, não funciona bem assim.
Nós homens precisamos de um tempo para nos recompor, por isso preliminares ajudam a satisfazer e preparam o terreno a ser explorado. Perdi a conta de quantas vezes
as garotas do meu quarto haviam gozado em minha mão e antes disso havia degustado o orgasmo delas em minha boca. Quando começamos não houve tanto sacrifício e confesso
que foi uma das minhas melhores performances, teria durado mais se duas delas não tivessem tido a ideia de praticar um meia nove enquanto as outras duas me engoliam.
Gozei lindamente sobre elas.
Mas a questão é que Wallace sempre foi o cara que morria em primeiro lugar mas nunca, em hipótese alguma, empatava em segundo e nesse dia, dispensamos as meninas
antes do previsto, e passamos mais de quatro horas no hospital. Os comprimidos deram algum tipo de reação colateral que ele evita falar até hoje.
Nada me tira da cabeça que ele sucumbiu ao cansaço e dormiu no meio da trepada. Vontade de rir apenas de pensar na hipótese.
Se tivéssemos feito um diário sobre cada aventura no Palácio, teríamos uma enciclopédia, sem contar que Carl se tornou um verdadeiro instrutor do Pole Dance e que
Andrew pedia gentilmente para suas garotas fazerem um striper de acordo com Las Vegas, o que fazia Giovani muitas vezes dividir a plateia. Mesmo tendo aprontado
o que ele aprontou em Vegas, acho que é um lugar onde ele gostaria de viver.
Gunter chega e o maldito está de social e agora parece que estou com um guarda costas e não com um olheiro procurando uma presa. Uma presa ruiva, bonita e gostosa,
segundo o maldito Philip Gutemberg.
- Gunter, precisa renovar seu guarda roupa. – zombo enquanto ele abre o botão do seu paletó escuro e se senta.
- O que temos que procurar desta vez? – ele pergunta e sinto que ele está sendo sarcástico e talvez ele tenha aprendido isso comigo.
- Uma ruiva natural, bonita, nada que lembre um filme de suspense ou algo do gênero, preciso agradar Philip. – Gunter nega com a cabeça e ri da situação.
-Ah! Sim, ainda é a vez da ruiva. – ele zomba e eu apenas o ignoro.
Ele aponta para uma mulher que está na calçada bem próximo de nós e Gunter ri de canto pela própria escolha.
- Senhor, essa se enquadra em O Chamado ou A Hora do Espanto? – Ele ri e eu também.
- Gunter, não está ajudando e se eu não conseguir uma encomenda, vou te mandar como substituto em meu lugar. – Ele olha atravessado e nega com a cabeça.
- Eu não iria. – ele afirma.
- Iria sim, mas para evitar, vamos encontrar alguém que de fato se encaixe em parâmetros aceitáveis. –Pedi mais duas cervejas e continuamos a busca. Claro que Gunter
sabe de tudo que acontece. Ele tem acesso às câmeras de segurança do Palácio e segura minha onda aqui em Nova York com a minha mãe que, por algumas vezes, quis saber
o motivo pelo qual eu visitava Madri com tanta frequência.
Uma das gravações que Gunter inclusive me ligou foi quando Sebastian chegou bêbado no palácio e ficou por quase duas horas encarando o cuco da sala principal. Essa
foi a primeira vez que eu vi Sebastian chorando e também fui o único. Quando abri a porta e o vi de joelhos diante do relógio, balbuciando algumas palavras, o levei
para o seu quarto e o deixei. A garota que ele trouxe aquela noite se divertiu com Benjamin. Sebastian saiu do quarto na noite seguinte e a única coisa que ele pronunciou
foi: O passado é um ótimo lugar para se visitar às vezes. Ele tomou uma xícara de café e ficou por mais dois dias no palácio, sozinho com os empregados.
Nunca consegui entender que tipo de demônio Sebastian carrega ou que tipo de sofrimento ele chegou a viver. O que sei é que, mesmo ele sendo insuportável grande
parte das vezes, foi o cara com quem eu pude contar.
- Senhor? – Gunter me traz de volta ao presente.
- Sim? – Olho para ele que está me encarando.
- E aquela? – Ele aponta para uma mulher que poderia ser minha tia e acho que Gunter perdeu o feeling da paquera ou não tem noção do que é uma mulher jovem.
- Gunter, essa se enquadra no filme de terror e não é ruiva. – Levo meu copo até a boca e imagino Gunter como meu substituto um dia, quase caio na gargalhada.
- Mas acho que aquela ali se enquadra. – ele fala e viro minha cabeça sobre meu ombro esquerdo, mas confesso que não levo mais a sério as indicações dele. Talvez
não tenha sido uma boa ideia tê-lo chamado para esse tipo de trabalho.
- Onde, Gunter? – pergunto e viro meu corpo todo sobre a cadeira.
- Saindo do taxi, acho que está com a família. – Gunter indica a ruiva descendo do carro.
- Caralho! –falo alto.
- O que foi, senhor? Ela se enquadra no perfil suspense ou terror? – Gunter zomba e eu troco de lugar para poder olhar melhor. Não estou tão longe dela, mas pelo
iPhone aproximo o quanto posso o seu rosto e a vejo apenas olhando ao seu redor.
- É ela. – digo apenas isso e escuto Gunter pedindo mais duas cervejas.
Ela parece encantada com o lugar. Cabelos rubros e domados, acredito que seja seu irmão ao lado, são semelhantes e vermelhos. Seus pais são jovens e agora o garçom
se aproxima. Ela sorri para o garçom e acho que talvez eu nunca tenha visto um sorriso tão tímido e bonito.
Como eu posso me aproximar dela? Não posso chegar ali, no meio do jantar em família e dizer: Olá, você se enquadra no perfil de uma solicitação. Mas eu não posso
perdê-la de vista. Tiro uma foto, e disparo para os putos antes mesmo de conversar com ela, minutos depois um festival de putarias chega em meu celular.
Os pedidos chegam e ela não come, está remexendo a comida e chega a empurrar os talheres. Ela não está feliz e seu irmão fala muito. A mulher que acredito que seja
a mãe, gesticula em direção ao filho e o pai se movimenta sobre a cadeira.
Preciso fazer essa mulher me notar, mas sentado aqui, e ela do outro lado dentro do Pastis, vai ser difícil. Deixo algumas notas sobre a mesa do Pub e saio. Caminho
lentamente e a encaro, coloco meu celular na orelha e finjo falar. Paro por alguns minutos e mantenho meu olhar em sua direção até que por uma prece alcançada, ela
me olha.
Ela é linda, encantadora e agora me encara sem medo, como se o vidro da janela a protegesse. Ela não desvia o olhar e me sinto desafiado. Penso nos riscos de entrar
no Pastis e ir até sua mesa e analiso que talvez não seja uma boa ideia.
- Senhor, vai precisar de muito mais do que uma troca de olhares para levá-la para Madri. – Gunter me lembra do pouco tempo que tenho e do muito que tenho a fazer.
- Eu sei, mas... – Um ônibus para na minha frente, cobrindo toda a visão e por um impulso resolvo descer para o metrô. Covarde.
- Devo alertá-lo que não possui nenhum dado sobre a bela jovem do restaurante e que isso possa vir a dificultar o seu encontro, a não ser que tenha dons místicos.
Caso não tenha, é prudente que volte lá e ao menos saiba onde possa encontrá-la. – Gunter está falando na minha orelha e eu não tenho como voltar lá e saber, preciso
de um bom motivo para abordá-la.
Caminho pelo metrô por mais alguns minutos e decido voltar, não vou encontrar ninguém nesse perfil tão bonita quanto ela e depois de Philip, quem sabe eu possa fodê-la
gostoso?
Volto e as pessoas dificultam meu retorno pela escada e depois de algum tempo, quase me degladiando com os demais transeuntes, consigo voltar para a superfície nova-iorquina,
mas já era tarde demais.
Atravessamos a rua e entrei no Pastis, pedi informações sobre a família que estava sentada perto da janela, mas eles não tinha muito o que informar.
Voltei para casa em silêncio e Gunter foi para a casa dele. Mas na minha cabeça algo martela insistentemente, preciso achar essa ruiva, mas onde?
Deitei na cama pensando na vermelhinha e onde eu poderia encontrá-la, mas nada vinha em minha mente, nenhuma luz, nenhum lugar. Preciso encontrar a ruiva ou vou
ter que pedir para Gunter um favor colossal.
Capítulo 10
Evan
‘Fica determinado que é imprescindível o aviso antecipado em pelo menos doze horas sobre envio de um substituto; o mesmo é de responsabilidade do membro que o enviou’
Toda segunda-feira deveria ser ensolarada e com pistas sobre uma ruiva, mas como não tinha nenhuma das duas informações, resolvi chamar o Gunter e pedir para ele
algo complicado: ele seria o primeiro substituto do Clube e estaria substituindo o presidente do antro.
Gunter ganhava as ruas de Nova York a caminho da Maccouant Import e eu estava arrumando coragem para convidá-lo a me substituir. Já havia arrumado duas nobres moças
de Madri mesmo que toparam fazer o teatro de moças escolhidas na noite e foram eleitas para visitarem o clube, prejuízo de quase cinco mil euros.
- Gunter? – o chamo e ele me olha desconfiado.
- Senhor? – Ele suspende a sobrancelha.
- Você sabe o que eu gostaria de pedir, certo?
- Não, eu não sei! – ele zomba. – E o senhor sabe que a resposta é não. – Ele nega com a cabeça.
- Gunter, você não precisa participar de nada, apenas me substitua e leve as duas moças que já foram até pagas, preciso encontrar aquela ruiva.
- Isso é obsessão, e tem mais ruivas por aí. Que tal mudar o foco e livrar esse pobre empregado de atravessar o oceano?
- Medo de avião ou dos urubus? – pergunto brincando.
- Medo de desrespeitar a memória de Caroline. – ele responde triste e isso me entristece também.
- Apenas me substitua essa vez, não precisa fazer nada, apenas participe do leilão e entregue para alguém a encomenda que você arrematar. – Eu sei que ele vai e
eu preciso encontrar a ruiva.
O dia correu como nunca e Gunter deve estar se preparando para Madri. Pela primeira vez me ocorreu que o clube pode não ter sido uma boa ideia. Quando idealizei
o clube não pensei que um dia chegaria o dia de encerrar tudo e por isso criei um prazo de validade que talvez venha a me atrapalhar. São sete anos, antes disso
a Accord Entretenimento não pode encerrar suas atividades, a não ser que algum membro venha falecer.
Não é o caso e nem quero. Preciso apenas encontrar essa ruiva e encaminhá-la como cortesia de Evan Maccouant, futuro proprietário da Gutemberg e Associados. Não
preciso encaminhar a ruiva como encomenda para o Clube, posso encaminhar em alguma data comemorativa já que aquele puto gosta de ruivas.
Mas o fato é que eu não sei por onde começar essa busca e ela pode ser apenas uma turista e já pode ter retornado para seu país de origem. É fato também que por
questão de honra preciso encontrá-la, não sei o porquê, mas preciso.
Merda! Soco a mesa e me levanto. Passa das sete horas da noite e minha única alternativa é voltar para casa.
Passo longos minutos no escritório e penso onde eu posso encontrar informações sobre a ruiva, mas de repente algo me faz desistir. É loucura, não tem a menor possibilidade
de conseguir encontrar essa jovem em Nova York, ela pode nem mais estar aqui. Desisto e subo para tentar dormir. A única coisa que sei é que Gunter vai encarar os
leões e depois eu vou sucumbir ao interrogatório daqueles putos. Talvez eu não tenha feito uma escolha feliz em mandar a foto da ruiva, agora eles pensam que eu
vou chegar lá com algo tão exclusivo e na realidade estou encaminhando o Gunter e um par de vadias.
Enfim, durmo.
Já havia passado das dez da manhã e eu estava correndo atrás do meu próprio rabo por conta de uma ruiva. Não a solicitação de Gutemberg, a ruiva do Pastis.
Gunter enviou novos usuários e senhas de acesso ao monitoramento da Companhia Gael de Artes, pertence à minha mãe, que há alguns anos decidiu que pela segurança
seria melhor termos acesso e gravação tanto de áudio quanto de vídeo de todas as dependências da Companhia.
Confesso que tenho evitado ir até lá. Tive problemas e prometi para Sra. Rose Maccouant que me controlaria. Mas espiar sobre possíveis possibilidades não faria mal
algum. Eu havia perdido a ruiva do Pastis e agora Gunter estava no meu lugar em Madri. Uma foda casual, sem grandes expectativas, apenas por distração.
Mas o fato é que é emocionante acessar as câmeras e ver cada ala da Companhia, é como um cardápio 3D, apesar que promessa é promessa. Merda!
Mas só vou espiar e saio. Nada de escolher e depois eu vejo o que faço em relação ao Philip Gutemberg.
Acesso as câmeras e um turbilhão de coisas acontecem como explosão em minha mente, as conversas de Gio: ‘Existe um plano poderoso”, e acredito que exista, pois a
ruiva alucinógena que me entorpeceu há duas noites estava girando majestosamente sobre a madeira do piso de Gael. De fato, tudo faz parte de um plano.
Observei a bela jovem de equilíbrio perfeito por muitos minutos, até que decidi usar minha mãe como desculpa e ter uma boa razão para me deslocar até a Gael.
Algo não estava bem, algo de estranho acontecia e pensar no Clube não é algo que me deixa feliz, não como antes. Passou a ser uma obrigação e acho que Gunter tem
razão, perdeu a graça.
Tento me concentrar no trânsito e não pensar na reação dos membros do clube ao ver Gunter como meu substituto. Aperto play e ColdPlay toca Every Teardrop is a Waterfall.
Aumento o som e apenas conduzo o XC60 até a Gael e confesso não ter absolutamente nada planejado e isso me assusta um pouco.
Estaciono o carro em frente a Gael e assim que entro Samantha faz uma cara como se eu fosse algo que a enxurrada trouxe.
- O que você está fazendo aqui? – ela se levanta e me cumprimenta com um beijo no rosto e aperta meu cotovelo. Eu sei o que ela quis dizer; você já arrumou confusão
demais por aqui! Eu sorrio para ela e ela nega com a cabeça. – Posso saber quem é a vítima? O Arold do hip-hop? – ela zomba e de repente desfalece o rosto. – Evan,
ela acabou de chegar! – Sam adverte e sabe que estou ali por conta da novidade, ela sabe das câmeras e sabe que não sou bem vindo aqui por algumas garotas.
- Relaxa, Sam, eu sei que ela é nova, de onde ela é? – pergunto e Sam nega com a cabeça.
- Evan, o que aconteceu com a Lívia não basta? – Levanto os ombros. Não me interessa o que aconteceu, mortos não se levantam.
- Sam, de onde ela é? Anda, me fala. – Ela sorri e solta o ar pelo nariz, desaprova algumas de minhas brincadeiras.
- Ela é da Escócia, acabou de se mudar e está hospedada no Palace. – Ela me entrega quase tudo que eu preciso.
- Obrigado, minha querida, mas agora eu preciso ver de perto o que as câmeras desse lugar estão filmando. Você, por favor, deixe uma cópia do cadastro dela aqui
sobre a mesa, assim que eu descer eu pego, ok?. – Beijo o rosto dela e escuto o momento em que ela pragueja algo do tipo: Você ainda vai cair na própria armadilha.
Escuto quando Sam concorda com meu pedido, ela não negaria absolutamente nada para mim, aguentei muito a Chacal por conta dela.
Mas sigo e subo os degraus, escuto os passos do hip-hop ao som de Whistle do Flo rida e em seguida a música turbulenta vai ficando baixinha e eu alcanço os degraus
e o último andar onde Vivaldi tem a honra de tocar para ela.
Saco meu iPhone e tiro uma foto discretamente. Ela está nas pontas dos pés, perfeita, e acho que ela pode voar. Me apoio no batente e a observo, e de repente percebo
que os espelhos transmitem essa imagem perfeita de forma multiplicada. Me encanto pela leveza e pela quantidade agradável de ruivas ao meu redor. Mas ela, Victoria
Campbell, está de olhos fechados, e isso me deixa espaço para imaginar o que ela estaria imaginando enquanto faz esse tipo de feitiço. Ela é linda, ou mais do que
isso.
De repente sou flagrado por ela abrindo seus olhos e talvez não tenha percebido que estou aqui, não sabe o que fiz para estar aqui, e foi compensador.
A música está quase acabando e ela mantém o equilíbrio, se mantém perfeita como se tivesse nascido para fazer isso, voar.
- Espetacular! Vivaldi agradeceria pessoalmente.- disparo sem pensar e ela parece querer se esconder. Por que se esconderia? É linda, mesmo suada. Esse suor que
desce pela seu rosto me faz imaginá-la nua e nas pontas dos pés, usando apenas as sapatilhas. Cristo! Minha calça fica justa e meu pau pulsa por pensar nela assim,
sobre mim.
- Obrigada.- ela agradece baixinho, sua voz é doce e mesmo ofegante ela é calma ao responder. Ela caminha em direção ao aparelho de som e meus olhos não conseguem
fugir dela.
- Oi, filho! - Minha mãe me tira da hipnose e Victoria olha com estranheza, como se não acreditasse que Rose é a minha mãe.
- Oi, mãe, podemos ir? – pergunto olhando para a ruiva que mexe no coque lindo que foi esculpido no alto de sua nuca, definitivamente eu tenho um problema, ela é
linda.
- Evan, eu quero que conheça Victoria Campbell. Ela seria a nossa aluna, mas acabou de ser convidada para integrar o corpo de balé. - Minha mãe me dá a melhor notícia.
Ela estará sempre por aqui, porém, lembro-me da última instrutora e isso pode não ser bom. Não posso repetir o erro, puno-me internamente.
Ela parece querer ir até a janela, ela olha encabulada para mim, para o chão e para o rosto de minha mãe.
- Muito prazer, Victoria – Me aproximo e estendo minha mão em sua direção e quando ela a alcança sinto como se tocasse um anjo. Mão pequena e macia, ela me olha
como nunca ninguém me olhou. Ela encara meu rosto e eu gosto dessa forma tímida que ela tem. Inocente? Talvez, mas não me parece ser do tipo de grandes baladas e
pelo gosto musical e pela forma que dança, não acredito que goste de confusão. Acho prudente avisá-la que sou a maior confusão de sua vida.
- Prazer. – De novo a voz quase sussurrada e esquecemos que minha mãe está assistindo a cena e realmente eu não me importo.
- Mulher de poucas palavras. – digo em quase murmúrio e ela tenta achar a conexão entre o cérebro e o corpo, isso é mágico.
- Apenas palavras necessárias - ela retribuiu o murmúrio, mas não está mais tão tímida e sinto me alfinetar com o pouco que diz. Céus! Ela é sexy e inocente.
- Gosto disso! – respondo de imediato e me esforço ao máximo para não sorrir abertamente, mas o franzido doce de seu cenho me encanta e é como se ela quisesse me
dizer algo. ‘Oh, por favor, diga’ – clamo internamente.
- Vamos, deixe a Victoria prosseguir com seu show particular. - Minha mãe diz, saindo em direção ao jardim para pegar sua bolsa e alguns papéis.
- Gostaria de ver esse show novamente. – declaro assim que ficamos sozinhos e ela deixa um coral perfeito invadir seu rosto, um rubor lindo e atraente. Ela inteira
me atrai e isso pode ser um problema que acabo de adotar.
- Estarei aqui todos os dias. – ela responde e é como se quase se arrependesse de ter falado e ela mal sabe o que penso em fazer com ela aqui, de frente a esses
espelhos.
- Parece que meu dia começou, enfim, a ter boas notícias.- Me aproximo do seu rosto e disparo. Ela me convenceria de qualquer coisa, apenas por possuir o sorriso
mais extraordinário que já vi em toda a minha vida.
- Vamos, Evan. Até logo, Victoria. – Minha mãe caminha em direção à porta enquanto me chama.
- Até breve. – Estendo minha mão para ela novamente e isso é algo que eu gostaria de fazer com frequência... tocá-la.
Saio da companhia junto com minha mãe que suspende uma das sobrancelhas e ali mesmo já observo o julgamento dela, mas ela não se contenta, e espera enquanto eu pego
o cadastro de Victoria sobre a mesa, dobro e coloco em meu bolso.
- Evan, eu te amo mais do que qualquer coisa nesse mundo, mas tenho vontade de lhe dar as palmadas que evitei durante a sua infância. – Ela não está sorrindo.
- Mãe, não sei do que a senhora está falando. – Tento evitar o assunto Lívia.
- Mas eu te ajudo a saber; Lívia foi um problema e ainda acho que ela te cerca por aí. – Ela passa o braço em torno do meu.
- Mãe, não se preocupe, não planejo fazer absolutamente nada contra ninguém. – Caminhamos em direção ao outro lado da rua e nos sentamos no Fildz, um lugar onde
eu possa ter a visão perfeita de quem entra e sai da Gael.
- Evan, essa menina acabou de chegar do outro lado do oceano, não a faça querer voltar. – Pedimos o almoço e depois de poucos minutos já havíamos acabado a refeição.
Minha mãe precisou atender um chamado em seu salão e eu continuei ali, sentado, esperando o momento em que ela sairia e eu poderia conversar com ela.
Preciso de algo acidental, um esbarrão e nada planejado. Quem diria, eu querendo planejar não planejar nada e de repente ela sai da companhia, linda de cabelos molhados
e com a Samantha, meus planos se foram e então eu decidi seguir as meninas.
Não sei por quais ruas andamos, minha visão estava nela, mesmo quando ela entrou no Olive para almoçar, eu fiquei ali, do outro lado, perto de uma pequena árvore,
e então ela saiu na companhia de Sam, mas cada uma foi para um lado.
Estava mais fácil, ela entrou na Barnes&Noble e eu a segui. Lá dentro, entre as prateleiras e os livros, ela gosta de arquitetura. Ela leu algumas páginas, escolheu
dois e partiu. Linda com a sacola nas mãos e eu não me canso de olhar e, quando percebi, a mão doce e pequena me impediu de ser atropelado. Eu estava encarando-a
e o sinal fechou e eu realmente não vi.
Possivelmente fui salvo por alguém que agora temo destruir. Não deveria ter feito isso, eu já havia encaminhado Gunter e duas vadias, não preciso foder com a vida
dessa garota e agora eu devo algo a ela. Ela não merece passar pelo que tenho em mente.
De repente a foto que encaminhei para os demais me deixa com ódio próprio e talvez eu seja merecedor desse tipo de sentimento.
Pergunto se ela está bem, porque eu não estou. Pretendo arruinar sua vida, porque é isso que eu faço de melhor. A última eu larguei em Madri e a outra, morreu com
a cara em prato de cocaína; sem contar que em meu histórico existe um registro de suicídio.
- Sim, e você?. – ela responde e pergunta como estou. Estou com medo, essa é a verdade.
- Estou, graças a você. – respondo e ela esconde um sorriso por detrás dos lábios e eu a beijaria ali mesmo.
- Reflexo. – ela responde sem jeito e com uma timidez fascinante.
- Obrigado por não ter falhado. – agradeço sorrindo e tento quebrar o clima tenso e adorável que está suspenso entre nós. Existe algo que não consigo explicar e
talvez essa seja a primeira vez que fico profundamente feliz apenas pelo fato de estar em tão grata companhia.
- Não precisa agradecer. – ela responde de forma tão doce e algum tipo de bagunça acontece aqui dentro, não sei se vou saber colocar em ordem.
- Está voltando para Gael? - pergunto colocando a mão em suas costas. Não gostaria de saber que ela está sozinha por aí e de repente andar só pode ser perigoso;
ela pode encontrar alguém como eu na próxima esquina e isso eu não poderia admitir.
Ela gagueja ao responder que precisa ir e eu nunca pensei em achar encantador alguém gaguejar.
- Não respondeu minha pergunta. - disparo em protesto e olho dentro dos olhos dela que, por fuga, arruma o cabelo em um coque bagunçado e lindo. Tudo que ela faz
passou a ser bonito e eu estou com problemas.
- Sim, estou voltando para a companhia. Minha bolsa ficou na sala de dança - ela responde e eu resolvo acompanhá-la.
- Não precisa trabalhar? – ela pergunta olhando para minha roupa e estranhando o tempo que tenho em acompanhá-la.
- Não, não preciso, literalmente. – Sorrio e pressiono meu polegar e indicador na testa. Estou tenso e sem querer sorrio ao pensar que não preciso trabalhar, mas
mesmo assim o faço.
Nessa mesma tarde descobri que ela não gosta que riam dela; descobri que posso me sentir atraído e que, mesmo correndo todos os riscos, eu estava decidido a não
enviá-la para lugar nenhum se não para minha casa.
A deixei na porta da Gael e voltei para meu escritório. Tentei encaixar algumas peças, mas fazer isso com uma mulher dançando As quatro Estações de Vivaldi em minha
mente fica difícil. Me sentei e inclinei a cadeira para trás e olhei pela janela, buscando algo que não sei bem o que é. Porque na verdade nunca busquei absolutamente
nada e agora me vejo olhando para os dados de uma escocesa em minhas mãos.
Sem pensar duas vezes, ligo para o Melk e solicito o que há de melhor relacionado ao balé. Passo por e-mail tudo que preciso e agora eu quero que ela dance para
mim; quero que ela saiba que estarei lá assistindo e preciso que seja hoje. Amanhã a essa hora já estarei em Paris.
Assim que recebo o ok de Melk sobre a entrega do que pedi, resolvo ligar e saber quais são as chances que tenho de ver Victoria Campbell com os presentes. Estou
tenso e assim que ela atende, tento parecer normal, calmo, mas estou de toalha na cintura e me segurando para não prestar uma homenagem a essa ruiva.
Ela fala com certo desacato e isso me afeta positivamente. Imagino que ela esteja jogada em uma cama de hotel, sabe-se lá vestindo o que e isso me deixa aflito.
Explico minha situação e ela lindamente aceita, e eu, Evan Louis Maccouant tento buscar em minha mente uma recordação de algum momento em meu passado em que eu tivesse
ficado feliz como estou agora. Nenhuma lembrança que estivesse na mesma frase; mulher e eu, e agora conto os minutos para me encontrar com ela.
Existe um plano, para tudo nesse mundo existe um plano, e o meu era não perder essa ruiva de vista. Quando cheguei ao hotel e olhei para ela descendo a escada, me
senti perdoado. Alguém lá em cima esqueceu o quanto fui um fodido de um bastardo e colocou essa mulher em meu caminho. O sorriso dela é o que chamo de perfeito.
Me rendo! Estava irremediavelmente atraído por uma ruiva. Imediatamente amaldiçoo o filho da puta do Gio, por ter jogado essa praga sobre mim.
Saímos em direção à companhia de dança. Tento saber mais sobre ela, mas é frustrante, ela pouco diz e o que fala me deixa com uma confusão atordoante. Ela quer me
ensinar a ter paciência e eu pouco sei sobre querer aprender. Nunca fui um bom aluno em alguns aspectos, e a espera não está entre as lições que aprendi, expectativas
não me agradam.
O fato é que não existe ninguém preparado para assuntos que envolvam sentimento. Victoria dança para mim e eu não consigo chegar a uma solução simples para o que
está acontecendo. Eu a quero, mas possivelmente ela não vai querer alguém que tem por hobby leiloar mulheres em um palácio em Madri.
Quando a dança termina eu tenho vontade de beijá-la, de encostar em seu corpo e, de preferência, sem roupa, mas ela desvia de mim e isso me atordoa.
Ela começa uma explicação e pede para se aproximar, eu deixo e ela explode com uma explicação simples e totalmente inédita em minha vida.
- Primeiro? – foi o que respondi e em seguida eu deixei claro o quanto a queria, mas confesso que ser o primeiro beijo de uma mulher foi algo que nunca imaginei
ser tão sexy. Explorar a boca doce e macia, deslizar minha língua sobre a língua tímida de Victoria e sentir seu coração disparado, foi altamente sedutor. Ela me
seduzia simplesmente por sorrir e agora eu não sei o que fazer, eu nunca sei o que fazer e sem querer eu a deixo em uma situação terrível. Eu acabo com a magia de
seu primeiro beijo fazendo o que sei de melhor, fodo com pessoas do bem.
Quando chego em casa arremesso uma estatueta do meu escritório na parede, tento descarregar minha tensão e focar na minha viagem para Paris. Preciso não procurar
mais a garota atrevida que me devolveu o presente. Preciso ficar longe dela, mas não posso deixar mais ninguém se aproximar. Sem saber, eu acabo de decretar que
ela seria minha, apenas minha, como nunca nenhuma outra foi.
- Evan? – A voz está longe e escuto uma risada doce, uma melodia, algo familiar e bom de se ouvir.
- Evan? – repete meu nome e eu demoro a entender o que está acontecendo, como se fosse um transe, até que meus olhos cobrem o motivo de eu ser o cara mais feliz
do planeta.
- Oi! – digo baixinho e Victoria me olha como se fosse a primeira vez e como se há tempos não me visse.
Todas as manhãs eu tento agradecer por ter o que tenho: minha esposa, meus filhos e por meus pais que estão na Escócia. Tenho uma boa vida e tenho a mulher mais
linda do planeta me encarando, escuto Romeo provocar Cora e Victoria está sentada ao meu lado.
-Está tudo bem? – ela pergunta sorrindo e isso me salva. Não que eu corresse o mesmo risco do passado, isso eu sei que não vai mais acontecer. O passado é apenas
para uma questão de registro, lição, mas é um lugar sem oxigênio ou vida a ser compartilhado. O sorriso de Victoria me salva apenas por me salvar, e eu sorrio simplesmente
pelo ato de alegria por estar com ela e Gio retorna em minha memória ‘Um dia... uma mulher...’ Sim meu amigo, você tinha toda razão do mundo. E como prometido, eu
me casei com ela.
- Sim, meu amor, está tudo perfeito. – A puxo para o meu colo e podemos olhar as crianças correndo e jogando suas bolas de neve. Que cor teria o mundo sem o rosa
doce de Cora? Sem as cores diferentes das meias de Romeo? Que cor teria o mundo para mim sem a ruiva que me faz feliz? – Está tudo perfeito. – Beijo seu rosto e
ela suspende os ombros.
- Estava tão longe, te chamei por duas vezes e você nem respondeu. – ela fala enquanto mexe no meu cabelo.
-Pensando. – respondi e ela beija entre minhas sobrancelhas.
-Segundos pensamentos, Sr. Maccouant? – Ela franze o cenho e de leve faz o mesmo com o nariz, linda e minha.
- Sempre tenho segundos pensamentos, Sra. Maccouant, e para ser honesto quero falar sobre eles com você. – Ela me olha espantada e eu deixo uma sombra de um sorriso
quase escapar pelo canto de minha boca.
- Certo, e você poderia adiantar o assunto? – Ela protesta lindamente.
- Certamente, minha esposa. – A levanto do meu colo e me coloco diante dela selando sua boca. –Estava pensando em você nua, de sapatilhas Repetto, dançando El Otono
para mim, ou poderia ser você e eu, nus, sem música ou sapatilhas, porém exaustos. – Ela sorri e me beija e isso faz de mim um homem melhor.
- Eu aceito dançar para você esta noite, Sr. Maccouant. – Victoria sussurra assim que sua boca soltou da minha.
- Credo! Papai beijou a mamãe, Cora!
- Coisas de príncipe, Romeo, seu bobo, eles fazem isso!
Capítulo 11
Sebastian
Algumas notícias deveriam ser filtradas e repassadas em melhores condições, ou não deveriam existir. Nesse exato momento, por mais que eu tente, eu não consigo não
me culpar, não pensar o quanto sou um fodido e o quanto quero que tudo isso seja mentira.
Era para ser uma brincadeira de adultos, pouco me importa o substituto de Evan a essa altura. Era para ser sempre divertido e agora essa merda. Quero voltar no tempo,
em alguma noite no Palácio. Pode ser na noite em que Andrew decidiu trepar com duas mulheres no palco do pole dance, tudo bem ele ter feito, mas avise para que ninguém
se surpreenda com uma mulher sentada na sua cara e outra no seu pau.
Tento me distrair e tento acreditar que tudo isso que acabei de ler é mentira. Mas não é.
Evan acaba de conquistar um problema homérico, resolveu ficar com a encomenda do Philip. Todos querem a ruivinha que ele arrumou, todos desejam a moça da foto que
ele mantém escondida, mas o que ninguém imagina é que tenho um problema muito maior, e não tem como resolver.
Preciso de alguns goles e preciso fazer isso agora. Pego a chave do carro e Duck não tem tempo de me segurar, no bolso do meu paletó uma carta que gostaria que fosse
mentira. Mas não, eu sou culpado, eu deveria ter feito mais, eu deveria ter recusado o primeiro convite e deveria ter morrido na noite do cuco.
Sou um bastardo responsável por uma morte, sou um idiota com uma vida de merda que agora tem um peso para carregar. Foda-se, eu sempre vou ser esse entulho. Foi
assim que eu cresci, foi isso que eu ouvi e quando não eram os tapas em minha cara, eram as ofensas.
Paro em uma rua e sem olhar o nome do bar me apoio no balcão. Peço uma dose por vez, peço que ele me sirva o que tiver de mais forte. Em cada copo que levanto penso
na minha infância, penso nos golpes, penso na culpa que vou ter que carregar.
O atendente nega me servir e eu insisto, não estou nada bem e tudo gira, tudo dói e alcanço meu celular. Procuro números e ligo para o Giovani. Está tocando Sail,
do Awolnation, e eu tento acompanhar o ritmo da música.
- Ei, cara, estou fodido. – disparo assim que Giovani fala alô.
- Onde você está? – ele pergunta e eu não tenho ideia de onde eu esteja.
- Cara, eu sou a pior experiência de Deus. – disparo e desligo o aparelho. Não quero falar com mais ninguém, não deveria ter ligado e peço mais uma dose.
Viro sem olhar o que tinha no copo, jogo duas notas de cem dólares sobre o balcão e saio. Vou até o carro e coloco o endereço da Carter no GPS. Preciso conversar
com alguém que tenha liberdade de me espancar.
Dirijo sem problemas apesar do álcool e chego na casa da minha amiga de infância. Minha amiga da Casa Moisés que sabe que sou um desgraçado por natureza.
- Carter? – chamo pela minha amiga na porta da sua casa. Escuto um barulho de pessoas descendo as escadas e talvez pelo fato de eu estar bêbado, eu tenha feito alarde,
mas quem mandou ela morar em um lugar tão fresco? Escolheu o lado esnobe da City.
- Cristo! – Voz de homem, merda! É o insuportável.
- Que mané Crissssssssto o quê? Sou eu, Sebastian Charper Lousan, mas se você fica feliz em me chamar assim, amigão. – zombo com a cara do engomadinho.
- Charper!- Carter grita. – Olha como você está! Destruiu seu carro e colocou-se em perigo, além de colocar as outras pessoas em risco tambem! – Ela está furiosa
e se eu fosse ela, me batia.
- Vamos colocá-lo para dentro. – O engomadinho tenta acalmar a Carter mas acho que não vai conseguir.
Sou arrastado para dentro da casa da Carter e quando me dei por conta, o engomadinho estava sentado na beira da hidro e eu estava embaixo do chuveiro e a água gelada
caía sem piedade, mas eu também não sou digno disso.
Josh, arruma uma troca de roupa sua e Carter arruma o quarto de hóspedes para mim, não quero nada além de um sono eterno.
O dia surge e uma dor de cabeça merecida me acompanha. Olho para o mancebo ao lado e vejo minhas roupas lavadas e passadas, o relógio marca três da tarde e eu desço
assim que me troco.
A mesa posta com algumas frutas, suco e café, ao lado da xícara um bilhete.
Charper,
Não coloque sua vida em risco. Pense em tudo que já viveu e chegou onde chegou. Estou com você e só por hoje não vou brigar com você por conta de sua imprudência.
Remanejei sua agenda para a próxima semana. Tire esses dias de folga e tente resolver suas assombrações.
Caso não esteja na minha casa assim que eu chegar, eu espero poder lhe encontrar na sua.
Beijo
Carter
p.s – fico triste em saber que sou substituída por algumas doses, pensei que fôssemos amigos.
Carter não imagina, mas não mereço ter amigos. Tomo um pouco de suco e procuro a chave do meu carro. Assim que saio vejo a lateral do meu Aston Martin One-77 devidamente
destruída e o muro do jardim da Carter destruído também. A caixa de correio caída. Eu fiz isso tudo ontem?
Volto para meu apartamento e não gosto de ver Giovani parado na portaria como se eu fosse um foragido, mas acho que sou.
- Que tipo de merda você tem na cabeça? – Giovani dispara.
- Todo tipo. – Subo e ele vem atrás, não sei se quero companhia. Mas ele sobe comigo e o elevador se torna pequeno demais para nós dois.
Quando chego em meu apartamento Gio está em silêncio, e eu me sinto culpado por tudo, inclusive pelo que aconteceu na noite do cuco.
Vou para o meu quarto e Gio fica na sala. Somos amigos e eu sei que ele não vai me condenar. Quando volto, passo por ele, vou até a cozinha e pego um pouco de água
e o encaro.
- Você acha justo fazer o que fez? – Ele me olha terrivelmente decepcionado.
-Não, não deveria ter ligado. – respondo e bebo a agua.
- Não, Sebastian, você não deveria ter desligado. E para ser franco, deveria ter me ligado antes de começar a beber. Quando a Carter me ligou e avisou de sua situação,
eu achei que estava falando de outro cara, você nunca fez isso. – Ele retira o paletó e joga em cima do sofá. –Vai me dizer o que está acontecendo?
- Giovani, é uma soma de coisas absurdas, eu apenas precisava de alguns goles. – Tento parecer calmo e não quero contar o que aconteceu. Preciso deixar isso como
está, entre mim e o papel que está no bolso interno do meu paletó.
- Ok, espero que possa confiar em você. – ele dispara e sente que não vou dizer mais nada, não posso dizer mais nada.
- Cara, eu vou ficar bem, já estou bem. – minto. – Evan vai deixar o Clube, certo? – pergunto porque há três dias encontrei com o motorista dele como substituto
e isso não é normal, ele é o anfitrião da porra toda.
- Eu não sei, Sebastian. – Ele é sucinto e olha para a tela do celular. – Mas acredito que cada um encontra suas razões para tomar algumas atitudes. Ele enviou um
substituto e cumpriu o contrato, pronto.
- Não, Giovani, ele ficou com a encomenda do Philip e você sabe que ele está com ódio de Evan por conta da proposta de compra da Gutemberg e Associados. – Gio concorda
internamente comigo, eu sei.
- Acredite mais nas pessoas, Sebastian. Qualquer um está sujeito a fazer besteira e ser perdoado. – Ele sem querer me espeta e eu acato. Estou com raiva de Evan
porque ele não acreditou em mim quando falei de Philip e seu caráter duvidoso, e eu sei o que Philip vai fazer; ele vai atormentar Evan, e se ele descobrir que Evan
está mesmo com sua encomenda, mesmo que não o interesse, ele vai fazer de tudo para destruir.
- Estou tentando, Gio, mas não acredito que eu tenha sido agraciado com esse tipo de virtude; acreditar nas pessoas. – disparo.
- Não é uma questão de graça e sim uma questão de treino. – Gio pega seu paletó, se despede e sai do meu apartamento. - Escute, você tem amigos, sabe o que é isso?
Não estou falando das nossas reuniões em Madri, estou falando de amigos. Você é um dos caras que ajudou Evan, lembra? Eu sei que vocês tiveram uma briga e tudo ficou
um pouco estranho, mas a amizade está lá e, cara, eu também sou seu amigo.
- Gio, eu sei, mas existem algumas atitudes nossas que não têm explicação. – Bebo mais água.
- Não quero explicações. Entenda, Sebastian, pra amigo a gente não precisa se explicar e pra inimigo muito menos, eles não acreditariam. – Gio e suas frases enigmáticas.
– Escute, não sei o que está acontecendo, mas não acha que é muita imprudência sua sair dirigindo assim? Que você não quisesse ligar para o Evan, afinal, vocês brigaram
porque... porque... por que mesmo? Ah! Sim! Por conta de um substituto, você não aceitou e achou que pudesse despejar sobre ele o quanto ele foi mimado e acabou
no consultório do Dr. Ethan.
- Eu sei. – respondo.
- Não, Sebastian, não sabe. Ele enviou Gunter porque ele estava procurando pela encomenda de Gutemberg e sabia que não teria tempo de enviar de acordo com a descrição.
Ele mandou o substituto porque não teria que seguir o pedido, e ele cumpriu, mandou duas garotas. – Ele olha para mim como se quisesse me bater. – Sebastian, Evan
não foi parar no consultório do Dr. Ethan porque ele foi traído pela vadia da Susan e pelo filho da puta do Paul, ele foi parar lá porque alguém havia morrido e
você sabe da história.
- E agora ele corre o risco de passar por tudo isso de novo. – disparo.
-Isso tudo é medo de perder o amigo, Sebastian? – Ele me olha desafiando e a verdade eu acredito que seja isso. Perder o que temos, o clube, a lealdade, toda mudança
provoca isso. Abaixo minha cabeça, não gosto de mudanças, elas nunca aconteceram para me beneficiar. – Entendi.– ele termina a frase e vai embora de vez.
Eu sei que não deveria ter dito a porção de bosta que eu disse, eu deveria ter me controlado, mas agora já era tarde e, francamente, tenho medo de ter que parar
no consultório do Dr. Ethan pelo mesmo motivo do Evan.
Eu sei que vou ter que aturar a Carter mais tarde. Eu sei que ela vai falar um caminhão de coisas que eu não quero, mas eu preciso ouvir. Liguei para o pessoal da
empreiteira da Charper e pedi para que fossem até a casa dela consertar o muro. Marcaram para amanhã logo no primeiro horário e eu exigi que fossem hoje, acataram.
Caralho, eu estou destruindo tudo ao meu redor. Preciso evitar o contato com as pessoas por um tempo e colocar minha cabeça em ordem. Preciso de uma nova diretriz
e preciso disso com urgência.
Coloco mais um pouco de água no copo e viro, preciso matar a sede, mas confesso fingir que foi uma dose de Bourbon.
Volto para o meu quarto e alcanço a carta. Preciso ler de novo e tentar encontrar algo que não me culpe mais sobre o que ela fez. Pego meu ipod e aperto o play,
Damien Rice toca 9 Crimes e eu começo a leitura.
Canadá, o sol está se pondo.
Sebastian, meu encantador e gentil Sebastian.
Está uma tarde fria e tudo parece sombrio e triste. Tomei uma decisão e não há nada que possa ser feito, mas eu gostaria de dividir com você.
Houve um tempo em que tudo em minha vida era ruína e desespero, até que aceitei um convite que parecia cruel, mas não era. Fui tratada como rainha por um rei e descobri
algo sobre realeza e vagabundos.
Naquela noite, eu me senti a mulher mais linda, mais desejada, mais importante e a mais sortuda. Fui parar na sua cama, em um hotel luxuoso em Madri e isso é realmente
bom de se lembrar nesse exato momento. Nesse momento eu preciso apenas de boas recordações.
Mas eu recebi junto com um orgasmo, um aviso: Você terá que esquecer meu rosto pela manhã! Confesso que não queria esquecer e pedi para ficar por mais alguns minutos
onde estava. Eu estava com você entre meus braços e isso faz parte das recordações que preciso nesse momento.
Acredite, naquela noite não me senti usada ou suja. Me senti importante e me senti bem em estar com quem eu estava, a prova disso foram nossos futuros encontros.
Ah! Esses encontros onde eu conheci um homem charmoso, gentil e que sabe o que falar na hora certa em que eu mais precisava ouvir. Céus! Era como estar no paraíso
e você é alguém que sempre vai estar comigo, porque você eu amei de graça, porque você me fez rica por alguns dias.
Tenho toda a gratidão do mundo por você; me colocou em uma avião, me deu dinheiro e tentou recuperar minha auto estima e conseguiu.
Claro que eu queria você, seu amor e seu coração, mas você deixou claro que não tinha um e isso me deixou triste. Não por mim, mas pelas mulheres que se entregarão
e não terão nada em troca, absolutamente nada além de quartos luxuosos, champagne e um par de roupas caras.
Sebastian, existe um plano perfeito, traçado em nossa vida. Admito estar sendo covarde pela minha decisão, porque estou deixando sozinha nesse mundo sujo, doente
e com gente ruim, minha irmã caçula, que adorou aquela bota e eu dei de presente para ela semana passada.
Dormi todos esses anos com o seu paletó em minha cabeceira, seu perfume está nele ainda. Deixei um bilhete para minha irmã nunca o levar em uma lavanderia, mesmo
que ele se acabe em pó, ele se acabará com seu cheiro.
Sou fraca, Sebastian, há alguns anos meus pais faleceram em um acidente de carro e naquela noite, quando eu fiquei no hospital antes de saber da morte de ambos,
eu rezei para que minha irmã pudesse ser forte e continuar com sua vida. Mas eu não pedi por mim e como eu disse, sou fraca. Acabei com todo dinheiro da pouca herança
que recebemos, e minha irmã ficou sem nada, porque eu decidi ser um lixo e enfiar minha vida em uma latrina.
Meu querido, o sentimento de um suicida é semelhante a de um assassino, o que muda é o alvo. Não estou encerrando nada que valha a pena, estou poupando minha irmã
de parar sua vida e ficar tentando me salvar a todo momento; não é normal alguém precisar de um herói o tempo todo.
Saio desta vida para entrar em outra, de outra forma, com novas dores e outros sabores. Eu não sei o que vou encontrar ou se vou ter um castigo por isso, mas acredito
que essa seja a melhor decisão. Não pude dividir minha vida com você, mas estou dividindo minha morte.
Lembre-se de mim sorrindo, porque é assim que eu quero estar em seus pensamentos.
Sebastian, foi a mistura do seu corpo ao meu que me leva a escrever essa carta, eu não consegui esquecer seu rosto pela manhã.
Fique com o que eu tenho de melhor. Fique com meu amor, e eu estou levando comigo o sorriso do homem que tentou me salvar, mesmo sem saber que foi a minha ruína.
Com amor,
Valentina.
Não sei exatamente o que pensar, mas ontem à noite essa carta me pareceu cruel. Não tenho como verificar a veracidade, o remetente é de uma agência dos correios
e nem o seu sobrenome eu sei. O que sei é que posso ser um rei, mas sei como ser um vagabundo da pior espécie.
Preciso esquecer do mundo e de todos que fazem parte dele.

 

 

                                                   Barbara Biazioli         

 

 

 

                          Voltar a serie

 

 

 

 

      

 

 

O melhor da literatura para todos os gostos e idades