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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PECADO MORTAL / Carole Mortimer
PECADO MORTAL / Carole Mortimer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

Quando a irmã de Tâmara morreu, ao dar à luz uma menina, Tâmara jurou que seria, para Kelly, a mãe que ela tinha perdido. No entanto, menos de um ano depois, Leo Marcose a descobriu. Ele também tinha perdido um irmão querido - Alex, o pai de Kelly - e achava que a criança era filha de Tâmara, uma mulher vulgar. Autoritário e insensível, Leo queria levar Kelly embora. Desesperada, Tâmara submeteu-se a tudo o que ele queria, concordou até em casar-se com ele. Mas mulher alguma poderia resistir ao inferno de desprezo e sedução que Leo estava criando: mesmo odiando Tâmara, ele queria possuí-la à força!

 

 

 

 

Tâmara sorria, encantada, para o bebê adorme­cido. Kelly era a coisa mais importante de sua vida e faria qualquer coisa para mantê-la sempre ao seu lado.

Sentou-se na poltrona e relaxou completamente. Estava exausta, não iria aguentar por muito tempo. Trabalhava o dia inteiro fora e, quando chegava em casa, cuidava da me­nina. Ela ficava durante o dia com a sra. Ellis, uma vizinha, e, ultimamente, choramingava a maior parte do tempo: seus dentes começavam a nascer.

Tâmara colocou as mãos no rosto. O que poderia fazer? Se Tiffany não tivesse morrido logo após dar à luz Kelly saberia, ao menos, a quem pedir ajuda. Mas Tiffany tinha morrido e Tâmara não sabia quem era o pai da garota. Se ela não tivesse trabalhado dois anos fora, nada daquilo teria acontecido e, provavelmente, Tiffany estaria viva. Se ao me­nos... se ao menos! Quantas vezes havia repetido essas mes­mas coisas no último ano? E o que tinha adiantado? Nada!

Ela nunca deixaria Kelly, não importa o que pudesse acontecer. Perdida nesses pensamentos, assustou-se ao ou­vir alguém batendo na porta. Olhou rápido para Kelly. Ainda estava dormindo. Tinha demorado muito para pegar no sono e Tâmara não permitiria que alguém a perturbasse.

Levantou-se e dirigiu-se para a porta, antes que batessem de novo. Kelly resmungou, abriu os olhos verdes e fez cara de choro.

— Está tudo bem, querida — disse, tentando fazer com que o bebê voltasse a dormir. Houve mais um toque na porta e Tâmara percebeu que era a dona da pensão. A voz da visitante não ia permitir que Kelly ficasse calma.

— Sei que está aí, srta. Newman! — Um riso malicioso acompanhou a declaração. — Onde mais poderia estar? — comentou baixinho, mas Tâmara ouviu e não gostou.

Abriu a porta, furiosa, e ficou parada, vendo que a mulher ia entrando, mesmo sem ser convidada. A sra. Marks tinha uma característica marcante: a curiosidade. Tâmara tinha que ter muito cuidado com o que falava para ela, tudo era motivo para ofensas. Quando se mudou para aquele quarto, não fez nenhum comentário sobre a paternidade da criança e a sra. Marks parecia não se importar de vê-la com um bebê. Tâmara não se deu ao trabalho de explicar que era apenas a tia; a outra não iria mesmo acreditar.

Se tivesse encontrado um lugar barato, conveniente e próximo do trabalho, já teria saído daquela pensão. Mas era impossível; ninguém estava interessado em alugar um quarto para uma moça, ganhariam o mesmo com um solteiro e não teriam os incômodos do bebê. Na verdade. Tâmara ficara admirada com a atitude da sra. Marks: só havia re­comendado mais silêncio. Mas como era possível acalmar uma criança cujos dentes estão nascendo e doem?

— O que deseja, sra. Marks? — perguntou, firme.

— Não fale dessa maneira comigo, garota — respondeu a senhoria, caminhando pelo quarto, inspecionando tudo. — Ponha-se no seu devido lugar!

— Estou muito bem assim, sra. Marks, — Tâmara contro­lava-se para não demonstrar que se ofendia com as insinuações dela. — A senhora veio aqui por algum motivo especial ou é só uma visita? — Não queria dar o prazer de mostrar que estava irritada, mas tinha tido um dia de muito trabalho, levado uma hora para fazer com que Kelly dormisse, e não estava disposta a ficar ouvindo as fofocas da outra.

— Não precisa ficar nervosa. Vim para informar que Bert e eu andamos conversando novamente e chegamos a uma conclusão. Não é muito boa — ela falou calmamente.

Tâmara percebeu o que aquilo significava. Passou a mão pelos cabelos e disse:

— Desculpe-me pelo barulho, sra. Marks, mas são os dentes de Kelly que estão...

— Já ouvi muitas desculpas e não adiantou nada. Essa criança não faz nada a não ser chorar, e isso tem me complicado com os outros inquilinos. Tenho que fazer alguma coisa.

— Kelly não passa o tempo todo chorando, ela é como todos os outros bebês! — Estava furiosa, indignada, — Por Deus, se a senhora sentisse dor, também choraria.

— Provavelmente, mas a questão é outra. Tenho que pedir para você sair daqui.

— Sair? — Tâmara assustou-se. — Mas... não tenho ne­nhum lugar para ir.

— Sinto muito, querida. — A voz dela era tranquila, gentil. — Se dependesse apenas de mim, você poderia ficar; mas Bert quer ocupar este quarto a partir do final desta semana.

— Mas... — Tâmara estava pálida, seus movimentos e suas reações mostravam o choque que tinha levado. — Para onde posso ir?

— Bem, eu é que não sei. Será que aquele seu amigo

não pode ajudá-la.

Tâmara fez que não com a cabeça. Não podia pedir ajuda para Ken. Ele achava que ela não devia ter ficado com Kelly para criar e, se não fosse por isso, teria insistido no pedido de casamento. Tâmara gostava da idéia de tornar-se sua mulher, mas com a exigência dele seria impossível. Nun­ca se afastaria de Kelly, faria qualquer coisa para ficar com a sobrinha, inclusive recusar o pedido de casamento de Ken.

— Não, eu... — começou a falar, mas foi interrompida pelo choro da menina.

— Está vendo? — a sra. Marks comentou, satisfeita. — Não há um momento de paz. Sinto pena pela dor do bebê, mas seria muito melhor se não tivesse que ouvir esse choro a noite inteira. — Caminhou até a porta e, virando-se, avi­sou: — Lembre-se, até o final da semana.

Como poderia esquecer? Tâmara pegou Kelly nos braços e tentou acalmá-la. Como se percebesse as dificuldades da tia, e para ajudá-la, a criança parou de chorar. Suas mãozinhas acariciavam o pescoço de Tâmara, como se lhe dissesse para não se preocupar com as pessoas, pelo menos, não com todas.

 

Nos dois dias seguintes, Tâmara passou sua hora de almoço à procura de um quarto para alugar, mas não conseguiu nada. A maioria deles não aceitava crianças pequenas e, nos lugares em que ela seria aceita, o ambiente não era bom para um bebê. Tâmara estava desanimada; nem Ken ajudava.

— Ponha a criança num orfanato e case-se comigo — era só o que ele dizia.

— Nem em sonho eu faria isso. Kelly é a única pessoa que restou da minha família — respondeu, controlando-se.

— Podemos ter a nossa própria família, é só se casar comigo.

— Se você pensa assim, por que não aceita Kelly? — Tâmara não o amava, mas se casaria com ele para dar um lar à sobrinha.

— Não quero o filho dos outros — Ken falou, secamente, olhando para a garota que brincava no chão.

Tâmara não se preocupou em responder. Naquela situa­ção, era a última coisa que devia fazer. Precisava falar com um amigo, mas todos tinham se afastado, quando souberam do bebê. Apenas Ken e Mary continuaram a vê-la. Ken, porque tinha a esperança de se casar com ela, e Mary, porque era uma amiga de verdade.

— Venha, querida, é hora do banho — disse, abaixando-se e pegando Kelly no colo.

— Não pode ser mais tarde? — Ken reclamou — Faz muito tempo que não converso com você.

— Não posso, criança precisa de horário.

— Você faz tudo para ela, mas quando é que vai arrumar tempo para cuidar de si mesma?

— Quer insinuar que estou feia? Isso não é muito educado, Ken! — Seus olhos verdes fixaram-se nele.

— Sabe muito bem que não quis dizer isso. — Seu rosto estava vermelho. — Você sempre está bonita, e sabe disso.

Tâmara sabia que era muito atraente. Já tinha sido mo­delo fotográfico e, se negasse sua beleza, estaria mentindo. Seus cabelos escuros eram macios, leves como as folhas de outono quando caem, e seus olhos verdes tinham um brilho especial. O nariz pequeno e os lábios sedutores formavam um rosto maravilhoso. O corpo esbelto era perfeito e sua beleza era totalmente natural.

Tinha sido modelo, até o nascimento de Kelly. Depois. foi impossível manter o ritmo daquele emprego. O horário descontrolado e as viagens repentinas não permitiriam uma vida saudável para Kelly. Sua única opção foi aproveitar o diploma de secretária e aceitar uma proposta de trabalho. Ganhava bem menos do que como modelo, mas tinha umas economias que ajudavam. Toda semana era obrigada a tirar um pouco de dinheiro da poupança.

— Quer me ajudar cora o banho! — perguntou, enquanto arrumava o pijama da menina

— Não, obrigado — Ken respondeu, pegando o jornal. Não insistiu; já conhecia o desinteresse dele por Kelly.

Suas atitudes demonstravam isso e a garota parecia sentir o mesmo por ele.

Adorava a hora do banho da sobrinha. O banheiro ficava alagado, tudo era motivo de farra na água. Tâmara olhava-a, carinhosamente: não tinha herdado os cabelos louros e os olhos azuis de Tiffany, mas tinha o mesmo gênio descontraído da tia.

— Ma... ma... ma... — Kelly balbuciou.

— Mamãe, mamãe — encorajou-a. — Vamos, querida, diga mamãe.

— Ma... mama... — A voz soava fraca e, sem demora, Kelly voltou a divertir-se com a água.

— Você é uma macaca — Tâmara disse, sorrindo. — Uma macaquinha — repetiu, ao ver que a menina estava gostando.

Depois do banho, beijou-a e colocou-a no berço.

— Durma bem, querida. Seja uma boa menina.

— Isso não adianta nada — Ken comentou, afastando o jornal e olhando para elas.

— Ela é uma menina ótima. O problema é que você não gosta de crianças.

— Ora, mas eu gosto. Vou amar os meus filhos. Mas continuo achando que você não devia ter assumido a res­ponsabilidade por Kelly, após a morte de sua irmã. Já na-quela época, eu dizia que achava impossível e que seria loucura de sua parte. Essa criança está estragando você, física e financeiramente. Podia ser uma das modelos mais bem pagas do mundo, mas em vez disso...

— Escolhi dar todo o meu amor a Kelly e fazer o possível para construir um lar para nós. Já falamos nisso uma porção de vezes, e não vou mudar de idéia. Amo Kelly e farei de tudo para tê-la sempre ao meu lado.

— Está bem, está bem, faça o que quiser. Não consigo entender uma coisa: como é que você não sabe quem é o pai? Tiffany não comentou nada sobre ele?

— Ela recusou-se. Deve ter pensado que ele nunca mais seria necessário, não podia imaginar que não ia criar a filha. — Sua voz ficou trêmula ao se lembrar da irmã, jovem e cheia de vida. Era assim, até engravidar. Depois, tudo tinha mudado. Tâmara sabia que Tiffany tinha amado muito o pai de Kelly, mas ele a abandonara e era bem provável que nem soubesse da morte dela.

— Kelly é minha filha — insistiu —, e não desistirei dela por nada deste mundo!

 

No dia seguinte, foram visitar Mary. Teria sido melhor se Tamara fosse procurar um quarto para alugar, mas es-tava acostumada a passar seu dia de folga junto de Kelly. Mary sempre ficava feliz ao vê-las. Tinha duas meninas e esperava mais um bebê. Ela e Peter, o marido, também estavam em dificuldades financeiras; moravam num apar­tamento muito pequeno.

— Oi, amor! — Mary sorriu e pegou Kelly nos braços,

— Nossa! Como está ficando pesada! — Olhou para Tâmara

e continuou: — Mas você não me parece bem. O que houve?

A moça contou sua conversa com a sra. Marks e a difi-

culdade em arrumar um outro lugar para morar.

— Oh... — Mary suspirou, preocupada. — Vocês podem vir passar alguns dias aqui.

Tâmara sabia que o convite da amiga era sincero, mas não podia aceitar.

— Não, obrigada, Mary. Vou arrumar um lugar. Imagine o que Ken sugeriu — falou, lembrando-se dele.

— Ken! Ele não ajuda em nada.

— Vamos mudar de assunto. Trouxe algumas maçãs para fazermos uma torta. Você prepara a massa e eu limpo as frutas, está bem?

— Combinado. Deixe Kelly brincando com Samantha. Por alguns momentos, elas se esqueceram de seus problemas,

divertindo-se como duas colegiais ao se sujarem de farinha.

— Somos piores do que as crianças — Tâmara disse, sor-rindo e tentando limpar o cabelo e o rosto, cheios de farinha.

— Você não é muito mais do que uma criança. Quantos anos tem? Vinte e um? Vinte e dois?

— Vinte e um. Um ano mais velha do que Tiffany. As vezes, fico imaginando o que aconteceria, se ela ainda fosse viva. Eu poderia continuar trabalhando como modelo e sus­tentar a família toda. Achei tão cruel a morte dela. Era tão jovem, estava começando a viver.

— E o pai de Kelly? — Mary perguntou, curiosa.

— É como se ele nunca tivesse existido. — Deu um sorriso nervoso e continuou: — Mas ele deve ser muito bonito; Kelly não herdou os traços de Tiffany.

— Você já remexeu nas cartas de Tiffany para tentar descobrir quem é o pai? Aquelas cartas que estão na caixa que era dela.

— Não, eu não poderia. Seria violar a privacidade de Tiffany. As cartas estão no nome dela, não tenho o direito de ler.

— Mas você não precisa abrir as cartas — Mary disse animando-a. — Veja o nome e o endereço do remetente. Tenho certeza de que pode fazer isso,

— É verdade — concordou, relutante. — Mas acho que não devo.

— Claro que deve! O momento não é para se preocupar com a privacidade de ninguém. Há motivos suficientes para você olhar aquelas cartas.

Tâmara sabia que ela tinha razão. Tiffany deixara uma caixa cheia de cartas, e Tâmara tinha quase certeza de que descobriria o nome do pai de Kelly numa delas; mas sempre lhe faltou coragem para procurar.

Naquela noite, depois de ter feito Kelly dormir, tirou a caixa do armário, colocou-a na sua frente e ficou olhando-a por alguns minutos. Abriu-a e hesitou: talvez estivesse me­xendo em segredos que só iriam piorar a situação.

Respirou fundo e começou a ler os envelopes. Tiffany sempre tinha falado de seus namorados e Tâmara ia reco­nhecendo os nomes dos remetentes. Havia apenas um de que não ouvira falar, e sentia que era ele o pai de Kelly.

Colocou as outras cartas na caixa e decidiu, para o próprio bem da menina, que devia ler a carta e confirmar suas sus­peitas. Abriu o envelope e começou a ler. As palavras estavam meio apagadas, sinal de que Tiffany a lera muitas vezes e que tinha chorado muito. Alex Marcose dizia que não a veria nunca mais. Não havia nenhuma menção ao bebê, mas a data da carta coincidia com o período de gravidez da irmã. Tâmara concluiu que o sr. Alex Marcose sabia da existência do bebê e por isso mesmo tinha decidido abandonar Tiffany.

Escreveu uma carta dizendo que tinha algo de muito importante para conversar com ele e, no dia seguinte, co­locou-a no correio. Mas isso não a deixou tranquila; conti­nuou a procurar um quarto para alugar. Era possível que o sr. Marcose tivesse mudado, ou que não fosse procurá-la ao reconhecer seu nome. O endereço dele ficava numa das regiões mais ricas de Londres, e pessoas como aquelas se esqueciam facilmente de suas responsabilidades. Provavel­mente já havia se esquecido da existência de Tiffany.

Três dias depois, como a carta não foi devolvida, concluiu que ele a recebera e não pretendia responder. Não tinha achado nada para alugar e a situação começava a ficar desesperadora. Quase não dormia, de tanta preocupação. Kelly também não ajudava: percebia a aflição da tia e ficava tão tensa quanto ela.

Tâmara ninou a menina e, assim que a achou mais calma, pegou uma revista, tentando concentrar-se num artigo. Mas não conseguiu; largou a revista e começou a cochilar.

Um barulho na porta acordou-a. Levantou-se. Se fosse a sra. Marks, ela faria...

— Srta. Newman! Srta. Newman! Visita para você. Visita! Quem poderia ser? Era alguém que a sra. Marks não

conhecia; senão, não teria acompanhado a pessoa até o quarto. Abriu a porta e arregalou os olhos, ao ver o homem ele­gante ao lado da senhoria. O olhar da mulher era malicioso, o que não a surpreendeu.

— A senhora... — Tâmara hesitou — pode ir, agora, sra. Marks — continuou, firme, e ficou esperando que ela se afastasse.

Olhou novamente para o homem: os olhos azuis dele es­tavam fixos nela.

— Não quer entrar? — perguntou, nervosa.

— Quanta confiança, srta. Newman! — Sua pronúncia era de estrangeiro. — Nem sabe quem eu sou. Meu nome é Leandro Marcose.

— Oh, mas.,.

— Antes que diga qualquer coisa, acho que deve saber que o meu irmão Alex morreu.

Tâmara empalideceu, não esperava aquilo. Como aquele homem podia falar com tanta indiferença da morte do ir­mão? Sua única chance para o futuro de Kelly estava aca­bada. Seus olhos verdes se encheram de lágrimas.

O estranho continuava a olhá-la intensamente e, mesmo com os olhos lacrimejando, Tâmara pôde perceber que ele era muito atraente. Se havia alguma semelhança física entre ele e o irmão, era fácil entender por que Tiffany se entregara a Alex.

Ainda estava com a porta aberta, e ele entrou, sem es­perar que ela repetisse o convite. Seu ressentimento au­mentou ao notar a expressão de desgosto com que ele olhava para o quarto. Quem pensava que era para assumir aquele ar de superioridade? Ela havia feito tudo para dar o melhor para Kelly, filha do irmão dele. O fato de morarem ali não significava que a menina não tinha todo o amor...

— Olhe — Tâmara falou, voltando à realidade —, acho que você perdeu a viagem. Não poderá me ajudar.

O olhar dele penetrava no rosto dela.

— Por favor, srta. Newman, deixe que eu mesmo resolva se posso ou não lhe ser útil. Sua carta parecia tratar de algo urgente, e se não fosse por isso não teria vindo. Agora me diz que não posso ajudá-la. O que a faz pensar que o meu irmão poderia ajudar mais do que eu? — Seu olhar acompanhava os movimentos nervosos de Tâmara. — Não podemos nos sentar?'

— Oh, desculpe. — Ela sentou-se e pediu para ele fazer o mesmo.

— Será que não quer me explicar o que é que apenas o meu irmão teria condição de fazer? Ou é tão particular que: não posso ficar sabendo?

— Não está sendo educado, sr. Marcose. — A insinuação dele deixou-a furiosa.

— Não? Mas é por sua culpa. Mandou uma carta urgente para o meu irmão e, quando chego aqui, recusa-se a explicar o que está acontecendo. — Levantou-se num só movimento; seu corpo musculoso era notável. — Acho que tem razão, parece que perdi a viagem.

Tâmara levantou-se para acompanhá-lo à porta mas Kelly acordou e começou a chorar. Sem se preocupar com o olhar surpreso dele, ela entrou no quarto para acalmar o bebê, antes que os outros inquilinos começassem a reclamar. O rosto de Kelly estava molhado de lágrimas e Tâmara, não resistindo, pegou-a no colo.

— Pronto, querida — disse baixinho. — Tudo está bem, meu anjo.

Leandro Marcose parou na porta do quarto, o rosto muito sério.

—Então—sua voz era de surpresa —, você tem uma criança.

— Tenho. — Sorria carinhosamente para Kelly.

Os olhos verdes e grandes da menina fixaram-se naquele homem alto, sério, e ela balbuciou, animando-se:

— Mamãe... mamãe.

Tâmara ficou radiante: era a primeira vez que Kelly a chamava de mamãe.

— Como você é esperta, querida! Agora, tente dormir.

Mamãe está com uma visita e não gostaria que você se comportasse mal.

Não precisa se preocupar comigo. Se era esse o motivo peio qual você queria a ajuda do meu irmão, está certa; eu realmente não posso ajudá-la. Você mesma escolheu esse destino e não é do meu feitio envolver-me com problemas particulares.

— Verdade, sr. Marcose? — perguntou, firme, oferecendo para que ele pegasse Kelly no colo. Leandro não teve outra opção a não ser pegar aquela criança delicada em seus bra­ços fortes.

Tâmara observava Kelly mexendo nos botões da camisa branca do tio. Não parava de sorrir, mostrando os dois den-tinhos. Leandro olhou-a bem e virou-se, pálido, para Tâmara.

— Esta criança... — Sua voz tremia; ele não tinha certeza das conclusões a que havia chegado. — Não há dúvidas de que você é a mãe, e o pai... — hesitou — era o meu irmão, não?

— Sim, era ele. Mas eu...

— Por favor! — interrompeu-a, levando Kelly para a sala e sentando-se na poltrona. Os olhos da menina brilhavam para ele: estava gostando do modo como a tratava. Era rara a presença masculina naquela casa: apenas Ken ia lá, mas ele não gostava dela. Leandro Marcose olhava-a carinhosa­mente; sua arrogância havia desaparecido.

— Qual é o seu nome, menininha?

— Kelly — Tâmara falou. — Já tem dez meses. — Ainda não queria contar que não era a mãe; alguma coisa lhe dizia que não era o momento cero.

— Hum... E que tipo de ajuda eu posso lhe dar? — ele perguntou, olhando para os cachos macios do bebê.

— Nenhuma! — Tâmara disse, surpresa. — Queria ver o seu irmão, mas ele está... morto. — A palavra quase não saiu. — Eu mesma resolverei os meus problemas.

— Discordo. Será que é preciso lembrá-la de que Kelly é minha sobrinha?

Tâmara estremeceu. Como pôde se esquecer? Balançou a cabeça e disse, firme:

— Você tem apenas a minha palavra, e não posso saber, com certeza, se Alex é o pai!

— Claro que pode! — Ele levantou a voz e Kelly ameaçou um choro. — Está tudo bem, queridinha. — Colocou-a no chão e levantou-se para acender um cigarro. Ficaram em silêncio, por alguns segundos. — Quer dizer que não sabe se foi o meu irmão ou algum outro amante seu o pai da criança? — Sua voz era de desprezo. — Fique tranquila, eu sei quem é o pai da criança. Kelly é parecida com Alex, seus traços são os mesmos. Não reparou nisso? Ou será que se esqueceu do rosto do meu irmão? Teve tantos amantes assim?

Tâmara controlou-se para não responder a tantos insultos.

— E o que pretende fazer, sr. Marcose? Me perdoar?

— Isso é que não, srta. Newman. — Seus lábios citavam tensos. — Kelly é minha sobrinha e vou tratar bem dela. Não adiantaria eu dar dinheiro à senhorita, sei que gastaria em outras coisas. Percebo que tem muita afeição pela menina, mas receio que haja muitos homens em sua vida e isso não será...

Tâmara deu um tapa no rosto dele. Foi um gesto instin­tivo, de defesa. Virou-se para Kelly e pegou-a do chão. As duas o olharam, apreensivas.

— Não tenho muita afeição por ela — disse, controlando a voz —, eu a amo. E nenhum... nenhum estranho vai tirá-la de mim. Oh, sei que pode dar muita coisa para ela, percebo que deve ser muito rico. Mas eu a amo, será que não significa nada para você?

— Não é o suficiente — ele respondeu secamente. — E como você sabe, sou muito rico. Alex deve ter comentado isso e você achou que ele seria sua grande chance. Mas a criança era muito pequena e você não pôde identificar quem era o pai. Agora, vendo que se parece com Alex, decidiu aparecer e mostrá-la a nós. Qual é o problema, srta. New-man? Está cansada de cuidar da menina? Quer voltar a ter a vida que levava antes de ela nascer? Não deve ter sido nada difícil para o meu irmão cair na sua armadilha...

Tâmara não acreditava no que estava ouvindo. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo com ela! Sabia que tinha sido ela mesma quem provocara todas aquelas humi-lhações, mas, se ele tivesse lhe dado uma chance para se explicar, diria que não tinha certeza de Alex ser o pai porque ela não era a mãe de Kelly. Agora, não tinha opção: se contasse a verdade, ele poderia levar Kelly, e talvez nunca mais a visse.

— Kelly é minha vida — disse com simplicidade. — Não permitirei que você a tire de mim.

— Não poderá me impedir, se for essa a minha intenção. Se algum de seus... admiradores aparecer por aqui, terei provas suficientes do seu mau comportamento. Se isso acon­tecer, tomarei a guarda da menina. E o que quer?

— Acha que o dinheiro pode comprar tudo, não, sr. Marcose? — Por favor, me chame de Leo. E como devo chamar você?

— Tâmara.

— Um nome diferente... Mas, voltando à sua pergunta, sei que o dinheiro não compra tudo, mas quase tudo. Nesse caso, ele me ajudará muito no que eu quiser.

— E o que quer? — perguntou, apertando nos braços a menina já adormecida.

— Quero um futuro bom para Kelly. Mas não posso levá-la para casa e dizer que é filha do meu irmão. É uma criança linda e quero ajudá-la em tudo o que for necessário. Decidi que o melhor é me casar com a mãe dela e fazer com que passe por minha própria filha.

                              

-O quê? — Tâmara olhava-o, sem en-tender. —Você deve estar brincando!

— Não, não estou brincando. A decisão final cabe a você. Pode escolher: ou desiste de sua filha ou se casa comigo.

Tâmara ajeitou Kelly no colo e ficou olhando para o bebê, que dormia. Virou-se para aquele homem sério. Ele poderia estragar toda a sua vida, e, se era isso o que queria, estava conseguindo.

Seu rosto tinha traços fortes. Os cabelos, muito bem pen-teados, davam-lhe uma expressão de autoridade. Como po-deria deixar Kelly viver sob os cuidados daquele homem tão frio? Iria ficar sem o amor da mãe? Percebeu que ele não se incomodava com a felicidade dela, estava decidido a ter a menina, custasse o que custasse. Se contasse que não era a mãe, isso só iria piorar a situação, pois ele aí levaria do mesmo jeito. Era melhor não contar a verdade.

— Por que... por que você faria uma coisa dessas? — perguntou, nervosa.

— Por que não? — respondeu, sem alterar o tom indife­rente. — E não fique tendo idéias erradas. Faço isso pen­sando apenas no futuro de Kelly. Você, como mulher, não me interessa; não gosto de nada que seja de segunda mão.

— E do que gosta, sr. Marcose? — perguntou, ignorando o insulto.

— Alex não comentou a meu respeito?

A pergunta era para testá-la. Tâmara sentiu que estava ficando vermelha.

— Não — disse, disfarçando. — Não me lembro. Na ver­dade, acho que nunca conversamos sobre você.

— Parece-me que Alex se esqueceu de muitos de seus relacionamentos. Também nunca ouvi falar de você. — Seu olhar tinha um brilho diferente, os olhos estavam mais es­curos. — O que fazia, antes de conhecê-lo?

— Trabalhava como modelo. — Tentou controlar a raiva. 0 tom dele era provocador e insinuava coisas erradas a seu respeito.

— Verdade? Alex devia gostar muito dessa profissão, al­guma coisa o atraía para as manequins. — Seu olhar per­correu o corpo de Tâmara. — Ah, sim, lembro-me de você. Fez aquela propaganda de produtos para maquilagem, não?

— Foi o meu último trabalho — respondeu, notando a reprovação dele.

— Pensa em voltar a essa profissão?

— Por agora, não. Tenho Kelly e ela é tudo para mim.

— Não precisa ficar me convencendo do seu amor. Já lhe dei as opções, é só escolher a que quer.

— Não é tão simples assim.

— Talvez. Você... tem namorado?

— Tenho um amigo, mas é apenas amigo. Ele não é o motivo das minhas dúvidas. Pensa que me agrada a idéia de me casar com um homem que conheço há apenas uma hora? A única coisa que sei sobre você é que se diz tio de Kelly.

— Não seja dramática. Se quer os meus dados, posso dar: já sabe o meu nome, tenho trinta e seis anos e sou solteiro. Tenho muitas propriedades e negócios no mundo inteiro. Sou grego, mas passo a maior parte do tempo em Londres. Se você se casar comigo, irá morar numa casa de campo. Kelly irá junto e eu arrumarei uma babá.

— De jeito nenhum! Se... veja bem, é uma hipótese... se eu aceitar o casamento, não permitirei que outra pessoa cuide de Kelly. Posso fazer isso muito bem. Se eu quisesse uma babá, teria contratado uma e continuaria a ser modelo. Mas não aprovo essa idéia. Vou cuidar dela, enquanto for pequena.

— Então acho que você não tem muita escolha.

Tâmara entendia o que ele queria dizer, mas não estava convencida.

— Por favor! Olhe, tenho outra proposta. Você poderia cuidar de Kelly e de mim, poderíamos ir morar na casa de campo, mas não precisaríamos nos casar. O que acha?

— Para mim, não há problema, mas a semelhança de Kelly com Alex ou... ou comigo mesmo é muito evidente. Nesse caso, prefiro assumir a paternidade. Alex teve um caso com você, mas, na Grécia, ele tinha uma noiva, e, se ela souber de sua existência, se sentirá humilhada, desprezada. No meu país, não se aceita que uma mulher solteira tenha filhos.

— Será que devo lembrá-lo de que o seu irmão também é responsável pelo nascimento de Kelly? A mulher não é a única culpada por ser mãe solteira.

— Eu sei, e é por isso que quero cuidar de Kelly e de você. Se Alex fosse vivo, ele mesmo assumiria a responsa­bilidade; então eu farei isso por ele.

— E o amor, não conta nada para você?

— Não está querendo me dizer que amou o meu irmão, está? Tâmara controlou-se ao ouvir seu tom irônico. Tiffany tinha amado Alex. Ele podia pensar o que quisesse, mas era verdade.

— Claro que sim! A prova é que Kelly nasceu. Nenhuma mulher solteira teria uma criança, se não tivesse amado o pai dessa criança... ou, pelo menos, não precisaria ter. Hoje em dia, não é necessário.

— Meu ponto de vista é bem diferente do seu. Qualquer criança, concebida por amor ou não, deve nascer. Se você não tivesse amado Alex, Kelly não teria nascido? Agora há pouco me disse que não tinha certeza de que Alex era o pai. O que significa isso? Será que amou todos os homens que dormiram com você?

— Sr. Marcose, se é essa a opinião que tem a meu respeito, não será um risco muito grande casar comigo? Talvez eu prejudique muito a sua reputação.

— Não terá chance. Viverá numa casa de campo tranquila e sossegada.

— É mesmo? E o que ficará fazendo, enquanto eu estiver lá, fora de perigo?

— Trabalhando. Tenho um apartamento em Londres e ficarei morando nele. Raramente visito a casa de campo e, depois de sua mudança, irei menos ainda. Não tenho muita vontade de bancar o marido apaixonado.

— O... quê?

— Teremos que fingir uma certa afeição mútua na frente dos outros — ele disse, impaciente.

— Não espere nada de mim! Não poderia fingir um sen­timento por alguém que eu...

— Odeia? — Leandro sugeriu. — Pode ter certeza, Tâ­mara Newman, de que sinto o mesmo por você. Mas acho que o meu irmão deve ter sentido um pouco de amor. Não sei se ele percebeu que tipo de mulher você é, ou se soube que era o pai da criança. — Respirou fundo e continuou: — Tenho que ir. Os preparativos para o casamento ficam por minha conta. Você será informada.

— Será que posso ter algum tempo para pensar melhor? Foi tudo tão rápido...

— Como, rápido? Você devia ter previsto algo parecido, quando escreveu a carta.

— Não. Realmente, não. Pensei no seu irmão... Alex po­deria me ajudar.

— E por que a necessidade dele agora? Kelly já tem dez meses. Você o avisou quando ela nasceu? Ah, desculpe... tinha me esquecido de que você não sabia se Alex era o pai. Mas, por que essa necessidade repentina de ajuda?

Tâmara teve vontade de não responder, mas percebeu que ele insistiria até que dissesse alguma coisa.

— Tenho que deixar este quarto até o final da semana e não tenho outro lugar para ir. Ninguém aceita uma mãe solteira, e pensei que Alex poderia me ajudar, até que en­contrasse onde ficar.

— E agora você deve escolher entre casar-se com um homem que odeia ou perder alguém que ama. Que situação desagradável! Mas foi você quem quis esse destino. Devia saber que Alex nunca se casaria com você.

— Por que devia saber?

— Porque ele era noivo. No meu país, o noivado é sagrado. Ele morreu quatro semanas antes de casar, e não fique pensando que você foi a única com quem se envolveu. Houve um outro caso com uma modelo.

— Pelo comportamento que teve, ele não devia amar a noiva.

— Amor! O que interessa o amor para o casamento? A noiva dele era decente e de boa família, daria muita alegria

ao marido.

— Tudo que não sou, aparentemente — Tâmara disse, seca.

— Se você diz... Mas é óbvio que, para ele, as suas qua­lidades foram mais importantes do que as de Katina. — Olhou para o relógio. — Tenho um compromisso importante agora. Você tem até sexta-feira para pensar. Mas fique certa de que Kelly irá comigo, não importa a sua decisão. Você pode, perfeitamente bem, viver a sua própria vida.

— Kelly é a minha vida — ela repetiu, segura do que dizia.

— Sexta-feira procuro por você.

O quarto pareceu ficar vazio, quando ele se foi. O cheiro do cigarro ainda pairava no ar, A situação de Tâmara já era desesperadora e, agora, mais ainda. Leandro Marcose oferecia um futuro para Kelly com o qual ela nunca havia sonhado, mas isso significava um casamento com um homem

que desprezava.

Ficou do lado do berço, com lágrimas nos olhos.

— Oh, querida — sussurrou —, o que devo fazer? O que devo fazer?

 

No dia seguinte, Tâmara e Kelly mudaram para um outro quarto. Não acreditava em sua sorte: a nova senhoria, uma senhora muito amável, disse que não se incomodava com o bebê e que até poderia cuidar dele, enquanto Tâmara fosse trabalhar. A única pessoa que ficou sabendo da mu­dança foi a sra. Marks. Tâmara achou melhor não contar nada para Ken ou para Mary, pois não queria envolvê-los em seus problemas. Homens como Leandro Marcose fariam de tudo para obter uma informação que lhes fosse útil.

A última visita de Ken tinha sido decisiva. Ele, como Leandro, deu o ultimato: ou se casavam e ela desistia da menina, ou ele iria desistir dela. Já fazia muito tempo que esperava e não estava mais disposto a ficar se iludindo, esperando que Tâmara mudasse de idéia. Ken saiu dizendo que não ia aparecer mais.

Sua saída foi um alívio para ela. Não ia conseguir ficar ou­vindo, calada, o modo como Ken se referia a Kelly, e não queria brigar ou dizer alguma coisa de que, depois, se arrependesse.

Era muito cedo quando deixou a sobrinha com a sra. Street. O novo quarto ficava bem longe do trabalho. Seu chefe, Howard Hathaway, dirigia uma agência pequena, onde Tâmara fazia de tudo: era secretária, assistente, te­lefonista, servia o café e limpava o escritório.

Não se incomodava com o serviço, só não gostava quando Howard fazia alguma insinuação para cima dela; mas nunca tinha perdido o controle da situação. Ele tinha uma esposa simpática e dois filhos.

— Bom dia, Howard — disse, colocando um embrulho em cima da mesa. — Desculpe o atraso, mas tive que com­prar alguma comida.

— Não tem problema. O dia nem começou e você já parece cansada. O que houve?

— Nada — respondeu, disfarçando. — Kelly dormiu muito pouco esta noite.

— Dor de dente — ele disse, compreendendo a situação. Tâmara pegou as cartas que haviam chegado e que es­tavam sobre a mesa.

— Não, não foi dor de dente. Kelly decidiu que duas horas da manhã é hora de brincar e não de dormir. E não adianta tentar explicar a uma criança de dez meses que você está cansada e precisando dormir. Ela não entende.

— É, sei disso. — Ele riu. — Deixe isso assim como está e faça um café para nós.

Na hora do almoço. Tâmara foi visitar Mary. Era sexta-feira e estava nervosa com o que poderia acontecer. Tinha ido ver a amiga para desabafar, mas acabou não dizendo nada. Mary já tinha muitos problemas e não seria bom ficar ouvindo mais desgraças.

Quando voltou para o trabalho, percebeu que Howard tinha tido um daqueles almoços cora muita bebida. Seu com­portamento começava a ser inconveniente. Tâmara preparou um café bem forte e entregou uma xícara para ele.

— Para quem é isso? — ele perguntou, com os olhos vermelhos.

— Beba, Howard. Isso o ajudará a sentir-se melhor.

— Está insinuando que estou bêbado?

Não sabia o que responder. Howard ficava de mau humor quando bebia e era melhor não provocá-lo. Ia sair da sala quando, de repente, ele puxou-a pelo braço e a fez sentar-se em seu colo.

— Howard! — gritou, profundamente chocada. Ele nunca tinha tomado tanta liberdade. — Pare com isso!

— O que há de errado, garota? Você não é sempre tão fria, é? O que me diz daquela...

— Não permito que fale assim, Howard! Não me provo­que. Kelly nasceu por amor, não queira deturpar os fatos. — Tentava soltar-se dos braços dele. — Acho que você já falou demais por hoje!

— Concordo plenamente.

Tâmara estremeceu ao ouvir aquela voz profunda e séria. Olhou para os olhos azuis de Leandro Marcose, que olhava para os dois, fazendo uma idéia errada do que via. Levan­tou-se, arrumando a saia e a blusa.

— Quem é você? — Howard perguntou, sentindo-se pe­queno diante daquele homem forte.

Leandro entrava no escritório, inspecionava o local; seu olhar desaprovava a desordem.

— Sou Leandro Marcose. Devo fazer a mesma pergunta a você. E o que estava fazendo com a minha noiva, antes de me ver entrar?

Howard olhou surpreso para Tâmara, que também estava espantada.

— Sua noiva? Leandro Marcose? Você não me contou que estava comprometida! — disse, acusando-a.

— Tâmara não precisa lhe dar satisfações de sua vida particular — Leandro falou, olhando para Howard com su­perioridade. — A não ser que ela queira contar a novidade.

— Sua voz era calma e segura.

Tâmara estava agradecida por ele a ter defendido, mas logo em seguida ficou intrigada. O que ele estava fazendo lá? Ela não tinha dado o endereço do trabalho: será que a sra. Marks... Não, claro que não. Como ele a tinha desco­berto? Sabia que ele estava ansioso e, assim que a tirasse dali, ia querer ouvir a decisão. Queria ir embora. Os insultos que Howard tinha feito a ela e a Kelly eram imperdoáveis; não podia continuar trabalhando com ele.

— Que novidade? — Howard perguntou, confuso. — Não soube de nada.

— O senhor ficaria sabendo hoje, sr. Hathaway, mas de­pois de ver o seu comportamento não acho necessário dizer mais nada. O senhor será capaz de entender que Tâmara não trabalhará mais aqui. — Virando-se para ela, pergun­tou: — Está pronta para ir?

Sem dizer nada, Tâmara pegou a bolsa, as compras, e seguiu os passos do "noivo". Só então Howard percebeu que ela estava realmente deixando o trabalho e, pegando-a pelo braço, implorou:

— Tâmara, por favor! Desculpe, por favor, peço desculpas pelo que fiz.

— Compreendo que isso aconteceu por causa da bebida, Ho­ward — ela disse, retirando o braço —, mas não posso ficar aqui, depois de ter ouvido o que você disse de Kelly e de mim.

Howard não tinha o que responder. O olhar de Leandro lhe ordenava silêncio. Era difícil acreditar que Tâmara co­nhecesse aquele homem importante. Sabia que ela tinha sido modelo, e era bem provável que o tivesse conhecido nesse meio. Será que era o pai de Kelly?, Howard se per­guntou. Não havia dúvida de que ela atraía qualquer olhar masculino; era bem possível que ele fosse o pai da criança.

— Se nos der licença — Leandro Marcose falou, olhando para a expressão confusa de Howard. Abriu a porta e Tâ­mara não teve outra alternativa a não ser sair.

Leandro não a deixou abrir a boca até que estivessem sentados em seu carro esporte.

— Pode falar agora.

— Não tenho nada a dizer. — Seu corpo estava tenso.

— Se isso for verdade, você é uma mulher muito diferente. É a primeira que encontro que quer ficar em silêncio. — Olhou-a, surpreso.

— Não deve ter muita experiência com mulheres. Conheço várias que gostam de ficar quietas.

— Ah, mas isso é diferente. Eu também conheço muitas desse género, mas sei que, no fundo, gostariam de falar muitas coisas. Já vivi trinta e seis anos e posso lhe garantir que aprendi um pouco sobre as mulheres. Eu, como você, tive muitas... amigas, está bem assim?

— Entendo, sr. Marcose, entendo muito bem.

— Não, não entende. Mas não importa. — Deu uma olha­da para ela. — E meu nome é Leo.

Tâmara apertou os lábios para pararem de tremer. Todos os seus esforços para nunca mais vê-lo tinham ido por água abaixo. Devia ter imaginado que homens como ele não de­sistem do que querem. E ela não era completamente insig­nificante para ele: era a mãe de Kelly.

— Não posso chamá-lo de Leo — falou, depois de ter certeza de que estava controlando os nervos. — Ser o tio de Kelly não o torna uma pessoa da minha intimidade. Se você não fosse parente do pai dela, preferia nunca tê-lo conhecido. Queria ver Alex de novo por pura necessidade, não por escolha própria.

— E o fato dele estar morto torna a sua necessidade menor? Ou será que ficaria aguentando as gracinhas do patrão para sobreviver?

Leandro Marcose estava furioso, não havia dúvida. Tâ­mara ainda não o tinha visto assim. Conhecia apenas sua arrogância e sua indiferença. A raiva modificava o brilho dos olhos: de azul-escuros passavam para cinzentos. Achou-os fascinantes, mas tinha que se controlar. Aquele homem devia ser igual ao irmão: num segundo, conseguia envolver a mulher que quisesse.

— Será melhor se você não fizer nenhuma gracinha — ela disse, firme.

— Não terá a oportunidade de aceitar ou recusar um carinho meu. — Seus olhos percorriam os cabelos escuros de Tâmara, o rosto delicado e quase sem pintura, o corpo perfeito e atraente. O farol ficou verde e ela pôde aliviar-se daquele olhar. — Você não me atrai nem um pouco.

— Pode ter certeza de que é reciproco!

— Ótimo. Acho que agora podemos conversar normal­mente. Gostaria de saber o que você pretendia, mudando de endereço e não me avisando de nada.

— Não tive nenhuma segunda intenção,

Acha que isso adiaria a sua resposta? Pensa que, depois de saber da existência de Kelly, eu deixaria vocês irem para onde quisessem? Claro que não! Deve reparar muito pouco no que aconteceu à sua volta, Tâmara Newman. Está sendo vigiada, desde o dia em que a conheci.

— o quê?

— Está sendo vigiada — ele repetiu calmamente.

— Quer dizer que você colocou um detetive atrás de mim?

Quantos homens ele disse que visitaram o meu quarto? — perguntou, indignada.

— Apenas um, e aparentemente não estava com uma

expressão muito satisfeita quando saiu.

— E mesmo? Que pena, eu devia estar cansada. Meus homens costumam ficar muito satisfeitos — respondeu, sen­tindo-se triunfante por falar aquilo.

— Tâmara! Não deve falar dessa maneira.

— Por que não? Não é isso o que você pensa de mim? Não acha que os homens me visitam apenas por um motivo?

— Seus olhos verdes brilhavam de raiva.

— Nunca falei isso.

— Claro que não, mas é isso que sempre insinua.

— Não da maneira como você diz agora. Se eu achasse que ia para a cama com todo homem que aparece, o futuro de Kelly já estaria resolvido... Eu simplesmente teria tirado a menina de você. Mas acredito que tenha amor pelos ho­mens que... que você agrada.

— Bem, obrigada pela consideração, sr. Marcose, mas não preciso dela. Não me importo com o que faz ou pensa de mim. Não me casaria com você, nem que fosse o último homem sobre a face da terra.

— Nem pelo bebê? — ele perguntou delicadamente.

— Nem por ele!

Não houve nenhum comentário e Tâmara agradeceu por estarem perto da pensão. O que ele faria agora? Será que voltaria atrás com a palavra? Percebeu que ele não tinha se incomodado ao ouvir sua recusa e ficou aflita com isso. A verdade era que faria tudo para ficar com Kelly; se fosse necessário, até se casaria com ele.

Chegando à pensão, encontrou a sobrinha brincando com a sra. Street. Pegou-a e subiram para o quarto. Kelly não parava de olhar para o homem alto, ao lado da tia; seus braços se ofereciam para ir para o colo dele. Tâmara não pode resistir e deixou que Leandro a pegasse. Kelly sorria para o rosto sério do tio e sua inocência deixou-a emocionada.

— Desculpe — disse baixinho —, vou passar um café. — Foi para a cozinha, sentindo-se uma boba. Imaginou que, por um lado, eles realmente pareciam uma família. Pena que Kelly tivesse herdado tão pouco dos traços da mãe. Pobre Tiffany! Dera a vida por aquela coisinha doce e meiga que, agora, divertia-se no colo do tio, seu maior inimigo.

Oh, Deus, como se arrependia de ter escrito aquela carta! Devia ter dado tempo ao tempo e esperado as coisas melho­rarem. Mas o desespero a levara a criar um problema maior.

— Tâmara?

Não se moveu, tentando esconder as lágrimas que lhe corriam pelas faces. Sentiu o toque leve das mãos dele no ombro e virou-se, devagar, até que ficaram frente a frente. Leandro segurou seu queixo, vendo os olhos molhados.

— Pare com isso, Tâmara, não é necessário. Só serve para estragar a sua beleza.

— Pensei que já estivesse estragada — disse, tentando sorrir.

— Eu nunca ignorei a sua beleza. Nunca comentei que acho Kelly parecida em tudo com você? — disse. — Por que colocou o nome de Kelly na menina?

— É o apelido de Kerina — explicou, sabendo que esse nome era raro, Tiffany o havia escolhido nas poucas horas de vida que lhe restaram, depois do parto. Tâmara nunca se acostumou com aquele nome tão pouco inglês, e logo começou a chamar a menina de Kelly.

— Tem certeza? — ele perguntou, devagar.

— Claro. — Que pergunta boba! Será que ele achava que ela não sabia o nome da filha. — Por quê? — perguntou, curiosa, percebendo que ele tinha feito alguma descoberta.

— Esse era o nome de minha mãe. Alex amava-a muito.

— Seu olhar demonstrava respeito. — Acho que ele real­mente amou você, era raro falar de nossa mãe. Não diria nada sobre ela a qualquer...

— Amante? — Tâmara completou. — Mas o que o leva a pensar que ele falou dela? Pode ser que eu tenha escolhido por acaso.

— Não acredito, é um nome muito diferente.

Teve vontade de concordar com ele. Tiffany não pensou muito, antes de escolhê-lo. Na ocasião, estava muito cansada para responder a qualquer pergunta que Tâmara fizesse. Alex devia ter falado da mãe para a irmã, não havia outra explicação. Será que ela o tinha julgado mal? Mas, não; agora sabia que Alex tinha uma noiva e que ia se casar com ela, se não tivesse morrido. Alex Marcose devia ter sido como ela imaginava: um rapaz que queria apenas se divertir. E Tiffany, apaixonada, entregara-se a ele.

— No que está pensando?— Leandro perguntou, voltando à sua arrogância.

— Estava pensando e decidi que vou me casar com você. Mas tem uma condição.

— Acho estranho que você, nesta situação, ainda queira fazer alguma exigência.

— Você é quem sabe — Tâmara disse, balançando os ombros. — Não farei parte da sua vida, se você se envergonha de mim. Se isso acontece, acho melhor eu e o bebê ficarmos longe. Mas, se nos casarmos, quero que moremos na mesma casa

— Você não quer nada, fará o que eu quiser! Sabe tão bem como eu que não temos nenhum desejo de morar na mesma casa. — Estudava as reações dela. — Ou será que também quer ser uma esposa satisfeita e completa?

— Claro que não! — Ficou vermelha de raiva por ele ter deturpado sua proposta. Queria que desistisse da idéia do casamento; cuidar dela e de Kelly seria o suficiente. — Nem penso nisso, mas, se vamos mesmo nos casar, acho que é melhor que Kelly... por ela... que a mãe e o pai morem juntos. Ou será que você pretende ser um pai que faz visitas de seis em seis meses? E que, quando chega em casa, vem com um monte de presentes?

— Essa não era a minha intenção, mas também não pensei em morar com você. Tem que admitir que será impossível.

Oh, ela admitia, e como... por isso é que tinha feito aquela proposta.

— Então, acho que o casamento também será impossível. Não daria certo, mesmo. O que eu diria, quando Kelly me perguntasse por que moramos em casas diferentes. E o mes­mo que não ter pai, seria difícil de fazê-la entender.

— Meu Deus, você fala como se fosse eu o culpado por esta situação!

— E não é? Alex era seu irmão, ele não faria o mesmo por você? — perguntou, provocando-o.

— Nunca deixei de assumir minhas responsabilidades, nem ele. Alex teria ajudado você, se soubesse da sua... situação.

— E se eu não quisesse a caridade dele?

— Bem, seria problema seu. Mas isso não vem ao caso, o que importa é que não posso morar com você.

— Ah, não pode. Sabia que essa seria a sua resposta, e a minha é que, sem essa condição, não há casamento. Se quiser, podemos até brigar no tribunal para ver quem tem direito sobre a criança. E vou brigar, mesmo! Mas acho que você também não gostaria de muita publicidade neste caso.

— Talvez não, mas iria vencê-la.

— Pode ser. Mas seria capaz de envolver Kelly nesta luta desgastante?

— Você seria? Oh, está bem! Ficaremos juntos. Terá que ser perto de Londres, tenho muito trabalho aqui. — Olhava-a, impaciente. Sentia que ela havia conseguido o que queria.

Tâmara não acreditou: seu plano não tinha dado certo. Não queria aquele casamento, muito menos morar com ele. Hesitando, voltou a falar:

— Bem... talvez, você tenha razão. Nós... nós poderíamos morar separados.

— Não, você é que está certa. Kelly precisa de ambos. Tâmara sentiu um frio na barriga. O que iria acontecer

com ela, agora?

 

Tâmara estava sentada no banco do jardim e sorria para Kelly, que engatinhava para ela. As tardes das últimas semanas tinham-se passado as­sim. Kelly adorava ficar no jardim; para ela, aquilo era uma imensa floresta a ser explorada. O ar puro dera às duas uma aparência saudável e disposta.

Fazia três semanas que tinha se casado com Leandro Marcose. Agora, chamava-o de Leo; seria estranho se os outros a ouvissem falar no sr. Marcose.

A sra. Harvey, que comandava a casa, devia achar muito diferente aquela família; principalmente, os aposentos de dormir. O quarto de Leo era ligado ao de Tâmara por uma porta, mas essa sempre ficava trancada, e ele nem sequer tinha a chave.

O assunto da babá foi resolvido, contratando uma moci­nha para ajudar Tâmara. Lucy era muito amável e, sem demora, Kelly apegou-se à nova companheira.

Tudo corria bem. Tâmara diria que estava muito feliz, se não tivesse se casado com aquele homem. Eles não con­versavam e ela sabia que o silêncio dele era a forma de expressar seu descontentamento. A única coisa que reco­nhecia era que ela era uma boa mãe. E, querendo ou não, Leo também tinha que admitir que Kelly amava-a muito.

A menina brincava no meio das flores e estava toda suja de terra. Tâmara tinha quase certeza de que Leandro Mar­cose não gostava de ver a filha suja daquele jeito, mas ainda não havia reclamado. Olhou para o relógio; era a hora de ele chegar, a pior hora do dia.

Vendo-o aproximar-se da casa, Tâmara percebeu que não vinha sozinho. A distância do jardim até a porta de entrada era grande, mas pôde ver que havia uma loira que sorria, provocante, e que passava o braço no de Leo.

Tâmara levantou-se. Kelly percebeu o movimento brusco e olhou em direção a casa.

— Papai!

Tâmara pegou-a no colo, enquanto a menina sorria para ele.

Leo vinha na direção delas, e a mulher ainda estava ao seu lado. Vendo-os, Tâmara confirmou suas suspeitas; a loira que vinha com seu marido era Rachel Winter!

Os olhos azuis da recém-chegada brilharam de surpresa, ao reconhecê-la.

— Tâmara, querida — disse, devagar. — O que está fa­zendo aqui? Com certeza não é a babá, é?

Tâmara corou de raiva. Ela e Rachel nunca tinham sido amigas, Rachel não podia ver homens bonitos que se atirava para cima deles e não desgrudava. E estava fazendo exa-tamente isso com Leo.

— Não, Rachel, não sou a babá — respondeu, seca, e olhou firme para o marido.

— Tâmara é minha esposa, Rachel. Pensei que você sou­besse — Leo disse, indo brincar com Kelly.

— Sua esposa? — O olhar dela não escondia o espanto. — Sabia que você havia se casado, querido, mas nunca diria que era com Tâmara. Na verdade, nem sabia que vocês se conheciam. — Deu um sorriso malicioso e continuou: — Mas, vendo essa criança linda no seu colo, percebo que já se conhecem há um bom tempo. Agora entendo por que você sumiu de repente, Tâmara.

— De onde vocês se conhecem? — Leo perguntou, curioso.

— Nós duas somos modelos, querido. — Rachel deu uma risada. — Bem, pelo menos, éramos — corrigiu. — Você sabia que teria chance de ser uma modelo internacional? Se bem que, é claro, inferior a mim.

— Não precisa se preocupar em competir — Leo disse, com educação. — Você é maravilhosa. — Sorriu para Lucy, que vinha chegando, trazendo limonada. Entregou Kelly para ela e disse: — Dê banho nela, por favor. Tâmara ficará conosco. — Sentou-se entre as duas e serviu-lhes o refresco. — Avisei a sra. Harvey de que teremos mais uma pessoa para o jantar, Tâmara. Você ficará, não é, Rachel?

— Será um prazer, Leo — respondeu, cruzando as pernas num gesto provocante. — Mas não quero atrapalhar os seus afazeres, Tâmara. Ficarei muito bem acompanhada com o seu marido.

Tâmara controlou-se ao ouvir a voz insinuante de Rachel. Poderia ficar ali por medida de segurança, mas não daria esse prazer a eles; não faria papel de boba em sua própria casa. O que será que Rachel era para Leo? Se suas suspeitas fossem verdadeiras, então Leo não devia tê-la trazido para casa. Afastou esses pensamentos da cabeça e disse:

— Lucy é quem dá banho em Kelly. — Sua voz era calma. Realmente, Leo tinha insistido em que Lucy é que deveria dar banho e verificar se Kelly dormia bem durante a noite.

— Entendo — Rachel comentou, saboreando um gole do suco. — Sinto muito por Tiffany.

Tâmara ficou paralisada. Olhou rapidamente para Leo. Rachel não imaginava a confusão que poderia criar, citando aquele nome.

— Obrigada — respondeu, depressa. Oh, Deus, tinha que mudar de assunto antes que Leo suspeitasse de algo sobre Tiffany. — Achei lindas as suas fotos tiradas na África! Foi Neil Adams, o fotógrafo?

— Foi. — Rachel concordou, gostando do elogio. — Ele é ótimo. Tiffany é que ia fazer aquelas fotos, mas desistiu. Acho que foi na época em que começou a ficar doente.

Leo olhava para as duas, sem entender o que falavam, e Tâmara não estava conseguindo esconder o nervosismo.

— Sim... eu me lembro... Tiffany teve que desistir das fotos porque não queria que ninguém percebesse que estava engordando.

— O que aconteceu com ela? — Rachel perguntou. — Ouvi falar sobre sua morte, mas ninguém me contou o motivo.

Tâmara ficou pálida. A morte da irmã ainda era recente e sofria muito ao se lembrar de Tiffany. Desde a morte dos pais, há três anos, elas tinham ficado muito próximas e agora Tiffany também tinha morrido.

— Ela estava... estava doente há muito tempo — explicou, hesitando.

— Sim, mas que tipo de doença? — Rachel insistiu.

Tinha que inventar uma resposta, não podia simples­mente dizer que tinha morrido dando à luz Kelly. Se dissesse isso. tudo o que estava fazendo para conservar a sobrinha iria por água abaixo.

— Bem... ela...

— Espero que você nos desculpe, Rachel — Leo inter­rompeu-a. — Minha esposa e eu temos que dar boa-noite para o bebê. Ficará bem, enquanto isso?

— Claro que sim, querido. — Rachel sorria para ele, — Mas volte logo, está bem?

Leo pegou firme no braço de Tâmara e levou-a direto para o quarto dela. Fez com que se sentasse e, olhando-a dentro dos olhos, começou:

— Agora, quero saber quem é Tiffany.

— Era — corrigiu-o automaticamente. — Ela... ela era uma amiga.

— Muito próxima, pelo que notei.

— Exato. — Levantou-se rapidamente, — Uma amiga muito próxima. Está satisfeito?

— Não, não estou. Meu irmão também conheceu uma Tiffany. O que aconteceu? Vocês ficavam trocando de na­morados? Passavam o de uma para a outra?

Tâmara ficou branca. Quer dizer que Alex tinha comen­tado sobre Tiffany? Leo não parecia ser do tipo que ficasse ouvindo as histórias de amor dos outros. Tinha que ter muito cuidado com o que dizia ou poderia acabar se dando mal.

— Não, não ficávamos! Não sei de nada sobre o relacio­namento de Tiffany e Alex. — Virou-se para ele, zangada, e perguntou: — Posso saber o porquê dessa... dessa mulher estar aqui? Ou você acha natural trazer suas amantes para dentro de casa? Se for assim, acho melhor que more sozinho no seu apartamento. Eu me importo com os comentários dos empregados, mas talvez o mesmo não aconteça com você!

O silêncio era total. Estava nervosa, e o fato de ele nem se incomodar com isso deixou-a mais nervosa.

— Acha que tenho um caso com Rachel? — ele disse, cruzando os braços. — E qual é a prova contra mim?

— Não se faça de juiz, Leo, não preciso de nenhuma prova. O relacionamento entre vocês é evidente. Tenho cer­teza de que ela não veio aqui para me ver. — Riu. — Nem sabia que eu era sua esposa. Aliás, ela quase se esqueceu de que você era casado. Pensou que eu fosse a babá!

— Difícil de acreditar, não? Você tem um ar inocente que confunde os outros, e muitas mulheres encarariam os enganos de Rachel como um grande elogio.

— Não sou muitas mulheres! E não foi um elogio, co­nheço-a muito bem. Ela quer que eu me sinta inferior, e consegue isso — confessou.

Leo sorriu. Era o primeiro sorriso, desde que tinha che­gado em casa.

— Você não deve se sentir inferior. Também conheço Rachel muito bem. — Voltou a ficar sério. — Mas não per­mito que você a julgue como se fosse um caso meu. Ela era amiga de Alex.

— Mais uma!

— Mais uma! — ele repetiu, pensativo.

— Mas agora ela é sua... amiga, certo?

— Errado! Rachel esteve viajando este ano e não pôde fazer uma visita de pêsames. Acho que não nos custa muito tratá-la bem, não é?

— Não precisa explicar para mim — Tâmara disse, séria. — Só quero que você não traga suas mulheres para cá. É pedir muito?

— Rachel não é minha mulher! — Leo deu um passo e ficou na frente dela. — E, por favor, seja educada com a visitante que está na nossa casa.

— Esta não é a minha casa. Estou aqui pelas circunstâncias! O máximo que posso fazer é tolerá-la. Não vou ser simpática com a sua amiga. Não gosto de Rachel Winter, nunca gostei.

— Não seja criança!

— Mas eu sou, já se esqueceu? — Sua voz estava triste. Nas últimas semanas se sentira completamente ignorada. — Você me trata como se eu fosse uma hóspede, uma estranha. Não fala comigo, nunca fica perco de mim. Devo mesmo parecer uma criança, passo o dia inteiro e converso apenas com Kelly. — Fez uma pausa. — Odeio estar aqui! Odeio!

Leo endireitou-se e, olhando para ela, disse:

— Sabia o que ia encontrar, casando-se comigo, forçan­do-me a morarmos na mesma casa. Você tem a sra. Harvey e Lucy para conversar.

— Ah, tenho? — gritou, furiosa, jogando os cabelos para trás. — Para elas, eu sou a dona de tudo, acham que só posso dar ordens; e, para você, sou desprezível. Tive um bebê sem me casar com o pai e, por isso, você me julga a pior das...

Leo lhe deu um tapa, antes que ela pudesse falar qualquer coisa. Tâmara colocou a mão no rosto e olhou para ele, não acreditando no que Leo tinha feito. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Oh, Deus! — ele disse, nervoso, tentando se aproximar dela. — Desculpe, desculpe.

— Não! Deixe-me sozinha! Deixe-me sozinha.

— Não, não... — O arrependimento em sua voz era sin­cero. — Por favor, Tâmara! Você estava falando coisas que não são verdadeiras, e o único modo de fazê-la parar foi... talvez não seja a única maneira. Mas você teria gostado menos ainda do outro método.

— Que... que método?

— Beijos também interrompem histeria. Mas, no seu caso, só teria sido pior. — Pegou-a delicadamente pelo queixo. — Sorria. Vamos, dê um sorriso para mim; ou, se não for por mim, dê por você mesma. É muito bonita para ficar aborrecida.

Ela enxugou as lágrimas e deu um sorriso trêmulo.

— Desculpe, não é sempre que sou tão... tão emotiva.

— E não é sempre que sou tão bruto. Mas talvez seja bom você chorar. — Sua voz era gentil. — Teve um ano muito difícil, é bom desabafar. — Afastou-se e perguntou: — Vamos dar boa-noite para a nossa pequena?

Tâmara concordou, arrumou os cabelos e comentou baixinho:

— Devo estar horrível.

— Não diga isso. Você é linda, nada menos do que isso. E uma mulher linda e muito difícil — Leo disse, secando uma lágrima que corria. Tâmara estava gostando de sentir a mão dele em seu rosto.

— Verdade? — Ela começava a se animar. — Por quê, difícil?

— Você é muito misteriosa. Há horas em que consigo definir o que você é, mas, num segundo, sinto que a estava julgando mal. O que você é, Tâmara? Inocente ou experiente?

— Um pouco dos dois — respondeu, gostando do que tinha ouvido. — Tenho Kelly para provar uma de suas dú­vidas. A outra, acho que compete a você me responder.

Leo voltou a ficar sério, com um brilho de indiferença nos olhos. Tâmara não gostava de vê-!o assim. Tinha que odiá-lo e tinha que fazer com que ele sentisse o mesmo por ela. Já havia conhecido, por poucas vezes, a atração e o charme que Leo exercia. Qualquer mulher adoraria estar nos braços dele; mas, e ela? O que estava sentindo? Odia­va-o? Não. Odiava o que Alex tinha feito com sua irmã.

— Se você estiver bem — Leo falou com frieza —, podemos ir ver Kelly.

Não respondeu... A indiferença mantida naquele casa­mento voltava a existir. Foram para o quarto da menina, ouvindo seus gritinhos de alegria. Tâmara sorriu ao vê-la: não se importava mais pelo fato de estar casada sem amor, de saber que nunca amaria o marido e que nunca seria amada por ele. Por Kelly, faria qualquer coisa; inclusive, viver com aquele homem.

— Oi, meu anjo. Tem se comportado bem? — disse, pe­gando-a do colo de Lucy.

Leo foi para perto delas e Tâmara pensou que qualquer

pessoa que os visse agora imaginaria que eram uma família extremamente feliz. Como estaria errada.

— Pa... pai, papai — Kelly balbuciou, atirando-se para os braços de Leo. Ela o adorava e Tâmara tinha que aceitar a nova situação.

— Você a ensinou a dizer papai? — ele perguntou, surpreso.

— Eu... bem... ensinei! — respondeu, fugindo do olhar dele.

— Obrigado. — Mas não havia nenhuma emoção no agradecimento.

Tâmara não sabia se ele tinha gostado ou não, mas Leo era louco por Kelly e, no fundo, devia estar se sentindo orgulhoso.

— Será que você pode ficar com a menina enquanto eu me troco para o jantar? Não vou demorar. — Estava decidida a não permitir que Rachel Winter a olhasse com superio­ridade. Iria vestir alguma coisa bem atraente. Leo tinha insistido em comprar muitas roupas e usaria uma delas.

— Tudo bem — ele concordou. — E, por favor... seja educada com Rachel. Não é pedir muito, é?

— Não, acho que não. Leo... me desculpe. — Ele olhou-a, sem entender. — Por ter agido como uma esposa ciumenta. Não tenho esse direito e acho que nunca terei. Talvez, por­que não me sinta realmente casada,

— Mas você está, claro que está!

— Bem... — desviou os olhos e fez um carinho em Kelly. — Temos você para provar que estamos, não é, querida?

— Kelly pode passar por minha filha, e você sabe disso. As diferenças são imperceptíveis. — A voz dele era fria. — Mas a única pessoa que deve saber a verdade é ela mesma, e nós contaremos, quando crescer.

"Será que também contaremos que não sou a mãe?", Tâ­mara se perguntou. Kelly devia saber de Tiffany, sua mãe verdadeira, mas o que Leo acharia dessa revelação?

— Você está certo. Vou me vestir e volto num segundo, para dar um beijo no bebê.

—Vou colocá-la na cama. Depois, farei companhia à nossa convidada; não podemos deixá-la tanto tempo sozinha. Quando você descer, eu subo para me trocar.

Tâmara não sabia que roupa escolher. Acabou se deci­dindo por um vestido verde, que a deixava muito atraente. Era justo, moldava o corpo, e o verde fazia sobressair o castanho dos cabelos.

Voltou para o jardim e percebeu que eles ainda não a tinham visto. Rachel e Leo conversavam animadamente. Por mais que ele dissesse que não havia nada entre eles, não podia acreditar. Rachel sorria e segurava o braço de Leo; seus gestos não pareciam nada formais.

— Espero que não os tenha feito esperar — disse, com educação, antes que pudessem se recompor.

Leo levantou-se imediatamente, os olhos percorrendo, com satisfação, as belas formas do corpo de Tâmara. Parecia que era a primeira vez que a via; já havia dito que a achava muito bonita, mas nunca tinha demonstrado que sentia al­gum desejo por ela. Seu olhar, agora, dizia que queria pos­suir o que estava vendo.

Leo foi ao encontro dela e beijou-a; um gesto que mostrava que tinha sentido sua ausência.

— Será que posso lhe dizer que está maravilhosa? — Seu olhar era sincero. Pegou-a pelo braço e entraram na casa. — Fique com Rachel, enquanto tomo banho e troco de roupa. Não demoro nada.

Tâmara não sabia o que conversar com Rachel. Não ti­nham nada em comum. Não gostava dela, e era visível que Rachel também não sentia prazer em ficarem juntas.

— O que tem feito? — perguntou finalmente.

— Trabalhado, é claro. Deve ser horrível para você ficar o tempo todo em casa. Nunca a imaginei como mãe.

— Não sabia que você pensava em mim, Rachel. — Tâ­mara tentava ser agradável.

— Não, realmente não penso — respondeu, sorrindo. — Só fiquei surpresa de vê-la aqui. Mas, sendo mulher de Leo, não é estranho que fique em casa. Você deve ter conhecido Alex... charmoso, não? Mas não tanto quanto Leo. Ele é perfeito, não acha? É o homem perfeito.

— É o meu marido, Rachel.

— Ah, eu sei, mas isso não me impede de achá-lo fasci­nante. E também não o impede de me achar muito bonita. — Seu sorriso era provocador.

— Vejo que continua sendo franca e dizendo tudo o que pensa — Tâmara disse, seca. — Você está na profissão er­rada, Rachel, devia procurar algo mais lucrativo.

— Não pretendo ser modelo o resto da vida. — Rachel sorriu; seus lábios eram perfeitos. — Oh, não, Tâmara, vou ser tão esperta como você e me casar com um homem bem rico. Por falar nisso, como foi que você conseguiu? Nunca a encontrei em festas, dessas que as mulheres vão para arrumar marido rico.

— Não precisei ir atrás de Leo, ele me achou. — E era verdade: ele é que a tinha achado, mas não da maneira como Rachel pensava.

— Verdade? Há quanto tempo estão casados?

— Não muito — Leo respondeu, entrando na sala e di­rigindo-se para perto de Tâmara. — Não é mesmo, querida? — E sorriu.

Ela corou. Estava se aborrecendo com a presença daquela mulher. Leo tinha dito que era necessário manter as apa­rências do casamento, mas teriam que fingir tanto na pre­sença de Rachei?

— E, não faz muito tempo. Leo, você viu se Kelly estava dormindo.

— Vi. — Ele sorriu ao pensar no bebê. — Estava tão bonita como a mãe.

— Obrigada — ela disse, balançando a cabeça.

— Digo apenas a verdade. Bem, vamos jantar?

 

Leo insistiu em levar Rachel para casa e Tâmara não en­tendeu por quê, Suas suspeitas deviam estar certas: eles eram amantes. Aquele pensamento deixou-a triste. Era humilhante imaginar Leo fazendo amor com alguma mulher que ela co­nhecia; principalmente porque essa mulher era Rachel Winter.

Era quase uma hora da madrugada quando ouviu o carro dele chegar. Já fazia mais de duas horas que tinha saído,

e Tâmara podia imaginar o que ficara fazendo. Tentou dor­mir, mas não conseguia parar de pensar.

Ao ouvir os passos dele no quarto ao lado, levantou-se, vestiu o robe, saiu para o corredor e ficou parada na frente da porta entreaberta do quarto do marido. Seus olhos verdes estavam brilhando de raiva; suas faces, vermelhas de ódio.

Leo olhou-a de cima a baixo. Não estava entendendo aque­la situação.

— Quer alguma coisa, Tâmara? Ou isto é uma visita? Ela entrou no quarto, sem se preocupar com sua roupa transparente.

— Não tente me enrolar, Leo, não vai conseguir. Perguntei a você se Rachel era sua amante e você me disse que ela...

— Não era — ele completou. — E ainda não é! — Olhava-a de um jeito diferente: parecia demonstrar algum sentimento. — O que pensa que fiz? Acha que levei Rachel para casa para nos amarmos loucamente? E que, depois, voltei para casa tranquilamente? É isso o que imagina?

— Por que não? — disse, defendendo-se. — E você, tam­bém não pensa assim?

— Ah, não, eu não penso. Mas, se eu fizer amor com alguém, não vou sair andando por aí, contando para o mundo inteiro. Diga-me uma coisa: você, honestamente, consegue imaginar Rachel amando algum homem? Eu não consigo. Ela não tem sentimentos, só tem beleza e sofisticação. Nunca faria nada com ela e, além de tudo, sou um homem casado.

— Você não conhece Rachel, ela não está nem um pouco interessada em saber se você é ou não casado. Está decidida a arrumar um marido ou um protetor, e disse que as suas qualidades são perfeitas.

— E não são?

— Aparentemente, são.

— Entendo. É por isso que invadiu o meu quarto no meio da madrugada, com os olhos cheios de raiva? — Seu rosto se alertou. — Acha seguro entrar no quarto de um... um tarado? É isso que pensa de mim, não?

— Não, eu... — Tâmara estava ficando com medo. Per­cebia que ele se zangara. — Não quis dizer isso...

— Sei muito bem o que você quis dizer. Agora, vai sair do quarto, ou quer que eu corresponda às suas expectativas?

— Expectativas? — repetiu, fechando melhor o robe.

— Claro. Entendi muito bem o que você espera de mim. Tem certeza de que se sente segura ao meu lado?

— Está brincando comigo. — Riu, nervosa.

— Será? — ele perguntou, insinuante.

— Sabe que sim. Você nunca... nunca se aproximou de mim.

— O que esperava que eu fizesse? — ele perguntou, dando uma gargalhada. — Você é a mãe da minha sobrinha.

— Eu... você...

— Por favor, Tâmara, saia daqui! Não sei o que quer, mas é bem possível que eu não possa ajudar.

— Seu... seu pretensioso! Vim apenas para lhe dizer que desprezo o seu comportamento.

— É mesmo? Bem, não me importo. Vivo segundo o que acho que é certo.

— E Kelly?

— O que há com ela? Está ótima, cercada de cuidados e de amor. Qual é o problema para ela, se os pais não se amam? Pense bem, Tâmara: Kelly está sendo tratada da melhor maneira possível. Mesmo que você não tenha amado Alex, ele ficaria contente de saber que a filha está bem.

— Quantas vezes vou ter que repetir que Kelly é fruto de um amor? Já se esqueceu.

— Não, não me esqueci. E que acho difícil acreditar que você tenha amado meu irmão. É muito mais madura do que Alex.

— E não sabe que ter um bebê e cuidar dele sozinha ajuda a amadurecer?

— Você sabe que eu teria ajudado, se soubesse antes, e ajudaria mesmo que Alex não quisesse. Sou contra a idéia de vê-la fazendo tudo sozinha.

— E a solução foi o casamento. Pobre Leo! Fez de tudo para não sujar o nome da família. Casou com uma mulher que não conhecia e que não soube lhe garantir que o pai da criança era o irmão.

— Já disse que não quero ouvi-la falando assim. O bebê é a cara da família; se não vê isso, é porque prefere ser cega. — Seu rosto estava sério.

— Kelly se parece com você.

— E com Alex.

— Claro que sim, não precisa nem dizer.

— Por que não? Nem todos os bebês se parecem com os pais.

— Sei disso. Mas se Kelly lembra você, também lembra Alex. — Será que não? Oh, Deus, tomara que sim, Tâmara pensou.

— Talvez — ele disse, voltando a desabotoar a camisa. — Se já terminou o que tinha a dizer, eu gostaria de ir dormir.

— Oh, sim... — Virou-se para a porta, mas antes de sair disse: — Desculpe interrompê-lo.

— Não tem problema. Espero que você tenha acreditado que eu não me atiro nos braços de Rachel. Outra coisa: pare de pedir desculpas, não precisa.

— Desculpe... Oh!

— Por favor, Tâmara, vá! Tivemos muitas brigas hoje e não acho que isso seja relaxante.

— Des... Boa noite.

— Boa noite — Leo falou, gentil.

 

No dia seguinte, Tâmara acordou com dor de cabeça e de garganta. Estava se sentindo pés­sima Não havia um motivo razoável para aquilo: alimentava-se bem, descansava e não tinha com que se preocupar. Com muito esforço, levantou-se para trocar de roupa. Já passava das oito horas e Kelly não demoraria nada a berrar lá debaixo.

Mas não conseguiu ficar de pé. Fechou os olhos e dormiu novamente, só acordando quando ouviu alguém batendo de leve na porta do quarto.

— Pode entrar.

Leo entrou, com Kelly no colo. Tâmara tentou se esconder debaixo das cobertas, mas o marido veio sentar-se ao seu lado.

— Bom dia, Tâmara. Sua filha não pára de chamar pela mamãe. Não consegui resistir e a trouxe aqui.

— Oi, querida! — Sua voz estava rouca. — Faz tempo que ela acordou? Não costumo dormir até tão tarde.

— Sei disso. Mas, de vez em quando, é bom. Kelly acordou às sete, e desde então venho tentando distraí-la, mas me parece que não sou um bom substituto.

— Não diga isso. Kelly adora você, e sabe disso — falou, sorrindo, e pegou a menina, colocando-a na cama.

— Você está bem? — Leo perguntou, percebendo a voz dela diferente.

— Estou. Você não vai trabalhar? — Mudou de assunto.

— Não. Hoje é sábado e pensei que podia passar o dia com minha família... — Leo olhou-a bem. — Você não está boa, posso ver isso. Por que mentiu para mim?

— Não menti! — Sua voz estava fraca e confirmava a men­tira. — Se você quer passar o dia conosco por causa do meu comportamento de ontem, não precisa se incomodar. Não sei por que falei tudo aquilo, não estava agindo normalmente.

— Mas você tinha razão — ele disse. Levantou-se e cami­nhou para a janela. — Tem razão, quando diz que não passo muito tempo com você e com Kelly, e quero mudar isso.

— Por favor! Nós não precisamos... ou melhor, eu não preciso da sua bondade. Se quiser passar o dia com Kelly, pode passar. Não me inclua nos seus planos, não quero aborrecê-lo mais.

— Não seja criança! Você sempre age assim, quando está preocupada ou fraca. O que acontece agora?

— Nada — ela respondeu, sentindo-se realmente muito doente para discutir. — Não quero fazer uma cena de esposa para chamar a atenção do marido. Felizmente, Kelly é bem mais simples. Ela adoraria ficar com você, querido papai.

— Você não vem conosco?

Tâmara balançou a cabeça, dizendo que não, e sentiu que a dor estava aumentando. Seu único desejo era voltar a dormir.

— Estou meio sonolenta. Se você ficar com Kelly, poderei dormir mais um pouco. Pode ser assim? — perguntou, não se incomodando muito com o que ele poderia responder.

— Se é isso o que quer — Leo falou vagarosamente. — Volto para vê-la mais tarde. Durma bem.

— Obrigada — respondeu, fechando os olhos.

 

Tâmara acordou quando ouviu alguém entrando no quar­to. Já era bem tarde e Leo a olhava, preocupado.

— Oi... — sua voz estava bem fraca.

— Trouxe um pouco de chá. Acho que você já dormiu bastante, é impossível que continue cansada.

— O que quer insinuar?

— Nada, Tâmara, não quero insinuar nada — ele respon­deu, sorrindo. — Você é bem objetiva no que fala. — Caminhou pelo quarto. Seu corpo era musculoso e atraente. Tâmara teve que admitir que Leo era muito bonito, o tipo de homem que ela jamais poderia sonhar em ter como marido.

— Será que cuidar de Kelly não é demais para você? — ele continuou. — Sabe que eu queria uma babá. Você teria mais tempo livre e menos desgaste físico. Mas você não quis — disse, contrariado.

O corpo de Tâmara estava quente, como se tivesse febre, e tenso. Ajeitou-se melhor na cama, sem se incomodar com a camisola transparente.

— Claro que não quis. Kelly é minha filha. Quero gastar todo o meu tempo e a minha energia com ela. E tudo que tenho neste mundo.

— Acho que está enganada. Você tem a mim, também. Ou se esqueceu?

— Não me esqueci, mas esse casamento não é importante, não é? Logo que Kelly possa entender a nossa situação, deixarei você livre.

— Por que continua com esses pensamentos bobos? Eu...

— Por favor, Leo, não vamos discutir agora. — Colocou a mão na testa e continuou: — A única coisa que quero é voltar a dormir e nunca mais acordar. Minha cabeça dói, minha garganta dói, meu corpo está moído e eu... — Seus lábios tremeram e lágrimas começaram a rolar petas faces. — Oh, Leo, me sinto... me sinto horrível!

Por um momento, ele não soube que atitude tomar. Fi­nalmente, aproximou-se e colocou a mão em sua testa.

— Por que não falou antes, sua bobinha? — Encostou-a no travesseiro. — Vou chamar um médico, agora mesmo. Volto num segundo.

Tâmara estava com os olhos cheios de lágrimas quando ele saiu. Pobre Leo, como devia ser difícil para ele demons­trar preocupação por alguém a quem desprezava. Mas ela estava doente de verdade.

Leo chamou o médico e, depois de meia hora, já tinha o diagnóstico. Era só uma gripe, mas muito forte.

— No entanto — disse o médico, olhando preocupado para Leo —, não é uma simples gripe. Ela também está com estafa. Acho que o senhor devia ajudá-la mais. E muito delicada para fazer todo o serviço sozinha.

— Sim, concordo, entendo — Leo respondeu secamente. Não gostava de que os outros ficassem dando palpite sobre sua vida, mas tinha que aceitar a opinião do médico. — O que devo fazer?

— Assim que a gripe passar, leve-a para tirar umas férias num clima quente e agradável.

— Oh, mas eu... — Tâmara protestou — eu não quero viajar.

— O médico é quem sabe, farei o que ele mandar. Fique descansando — Leo disse, olhando-a, indiferente.

— Mas...

— Não tem nenhum mas, minha cara — o médico a in­terrompeu. —-Você deve fazer o que nós achamos que é melhor. — E indicou a porta para que a deixassem descansando.

— O senhor tem certeza de que minha esposa precisa viajar? — Leo perguntou, quando já estavam fora do quarto.

— Tenho. Ela está muito fraca e a melhor solução é dar-lhe umas férias.

— Compreendo. E o bebê? Tâmara não conseguiria ficar sem a menina.

— Mas isso não é necessário. Afastá-las só iria piorar a situação de sua esposa. — Escreveu a receita e entregou-a. — Veja que ela tome os comprimidos e descanse bastante. Sei que essas mães muito novas não conseguem ficar muito tempo longe dos bebês; acham que ninguém cuida tão bem quanto elas.

— Nisso eu concordo com o senhor. — Leo sorriu. — Tenho medo de que Tâmara queira fazer tudo pelo bebê. E minha esposa, quando decide alguma coisa vai até o fim.

Os dois caminhavam para a saída e iam rindo.

— A sra. Marcose precisará de muito cuidado, por alguns dias. Se ela não quiser comer, não insista. Voltarei daqui a uns dois dias, mas, se precisar de mim antes, pode chamar.

Leo despediu-se, agradecido, mas assim que fechou a por­ta parou de sorrir.

 

Tâmara estava de cama há quatro dias e já começava a ficar irrequieta. O médico tinha voltado e dito que a gripe estava melhorando, mas que ainda devia ficar em repouso.

Ela agora estava com Kelly e com Lucy. Não via motivo para não brincar com a menina; só não a deixava se apro­ximar muito, para não pegar o resfriado.

— Espero que Kelly não tenha lhe dado muito trabalho — disse, sorrindo para Lucy. — Sei que, de vez em quando, ela faz isso. — Riu, ao ver os olhos verdes de Kelly fixos nela. — Sim, querida, estou falando de você. Que amor que você é!

— Ela tem se comportado muito bem, sra. Marcose. Seu marido tem ficado muito tempo com ela — Lucy explicou.

A expressão de Tâmara mudou, ao ouvir falar de Leo. Sabia que ele estava passando mais tempo em casa do que o de costume, mas quase não o tinha visto. Na verdade, só o via quando ele acompanhava o médico até o quarto. Sabia que ele perguntava pelo estado dela, mas não fazia visitas. Parecia que Leo estava preocupado com alguma coisa, impaciente.

Tâmara voltou à realidade, ao ver Lucy sorrindo para ela.

— O que importa é que Kelly está bem — comentou. Mas, no fundo, ficava intrigada com o fato de a criança ser

tão sociável. De uma hora para a outra, Tâmara tinha deixado de ser o centro de atenção do bebê, e isso a preocupava. Será que Leo não a acharia necessária, quando descobrisse que Kelly não era tão dependente de seu amor? Estremeceu só de pensar nisso. Não podia perder Kelly, não podia!

Lucy percebeu que ela estava ficando cansada. Pegando a menina do chão, disse:

— Acho melhor levá-la daqui, já está quase na hora de Kelly dormir.

— E eu também. — Riu. — Não se preocupe, Lucy. não vou ficar de cama por muito tempo, São mais alguns dias, depois vou aliviá-la desse trabalho.

— Estou bem, não estou cansada.

— Sei disso, mas a verdade é que estou com saudade de ficar ao lado de Kelly — Tâmara confessou. — Muita sau­dade, mesmo.

Assim que ficou sozinha, voltou a sentir-se triste. Não aguentava mais ficar trancada naquele quarto. Se ao menos Leo fosse visitá-la, o repouso seria mais agradável. Mas era bem provável que ele tivesse se esquecido da existência dela. Fazia dois dias que não se viam, e Tâmara resolveu que era hora de aparecer.

Tirou as cobertas. Ia surpreender Leo, jantando na sala. Ele devia estar se sentindo como se fosse solteiro, mas ela ia aparecer novamente.

Colocou os pés no chão e fez força para se levantar. Suas pernas tremiam demais! O banheiro parecia tão longe.

Com muita dificuldade, alcançou-o. Agora teria que voltar e sentiu que talvez fosse impossível. Sua cabeça rodava. Tinha que voltar para a cama. Não seria capaz de vestir-se e aparecer, alegremente, para Leo.

O caminho para a cama parecia não ter fim. Resolveu apoiar-se na mesa, no armário, para tornar a volta mais fácil.

Tinha que tentar; não podia ficar ali, parada, o dia todo, e também não queria chamar Leo para ajudá-la. Seria muito humilhante.

Deu um passo e não sustentou o próprio peso. Tudo rodou, escureceu, e ela acabou caindo no chão. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Teria que esperar que alguém viesse socorrê-la. Sua queda havia feito barulho e a ajuda viria logo em seguida.

Leo abriu a porta. Vendo-a caída, pegou-a no colo e co­locou-a na cama.

— O que aconteceu?

Tâmara não conseguia encará-lo, queria disfarçar que estava chorando.

— Eu caí — disse baixinho.

— Isso eu vi — ele respondeu calmamente, tentando fazer com que ela se sentisse mais à vontade. — Quero saber o que é que você estava fazendo fora da cama. Sabe que deve ficar deitada mais alguns dias. São ordens do médico.

Tâmara estava nos braços dele e sentia o calor que ema­nava de seu corpo. Tinha o rosto úmido de lágrimas. Le­vantou os olhos e não conseguiu fixá-los em Leo.

— Por favor, não fique bravo comigo — pediu.

Ele a olhava, com intensidade. Tâmara corou, tentando sustentar aquele olhar.

— Não quero ficar bravo com você — Leo disse gentil­mente. — Só queria saber por que desobedeceu às ordens do médico... e as minhas também.

— Pensei que fossem só suas — ela disse devagar.

— O que quer dizer?

— Sei que prefere ignorar a minha existência, mas eu não suportava mais ficar aqui. É tão solitário.

Por um momento ele ficou em silêncio, ainda segurando-a junto ao corpo.

— Eu... — hesitou — nunca preferi ignorar a sua existência; pelo contrário, se você não existisse, eu também não conheceria Kelly... e sabe o quanto nós a amamos. Fico muito satisfeito de ver que você me deu uma menina tão linda.

— Mas você nem me visitou, só aparece quando tem que acompanhar o médico.

— E queria que eu viesse? Pelo que sei, você me pediu para ficar bem longe.

— Sabe que eu não quis dizer isso. Devo lembrar que eu estava muito nervosa; só falei para desabafar.

— O que você disse naquele dia não é muito diferente do que você sempre me diz. — Leo encarou-a. — Se eu não vim visitá-la, foi porque não a quis incomodar com minha presença.

— Foi esse o motivo? — perguntou, curiosa. — Sei que você não gosta de mim, mas...

— Tâmara! — ele a interrompeu, encostando-a no travesseiro e puxando as cobertas. Sentou-se ao seu lado e continuou: — Nunca falei isso. Você tem uma péssima mania de colocar as palavras na minha boca. Já expliquei o porquê de não ter vindo. Mas, se isso lhe agrada, posso ficar um pouco aqui. Quer?

— Se tem certeza de que não vou atrapalhar... impedir você de fazer coisa melhor, ou de ver...

— Nem de fazer coisa melhor, nem de ver alguém — Leo a interrompeu, levantando-se e puxando uma cadeira para perto da cama. — Como está passando?

— Estou bem agora, Leo, obrigada. — Deu uma risada alegre. — E pensar que eu queria descer e mostrar a você que já estava curada.

— Agora é que eu posso ver quanto você está fraca. Tomei algumas providencias para a nossa viagem e...

— Viagem? Já falei que não quero ir a lugar nenhum.

— E eu já falei que nós vamos. Você sabe que não voltarei atrás com a minha palavra.

— Você é muito arrogante, Leo. Não é uma qualidade que eu aprecio num marido.

— Sinto muito, se não sou o que esperava. Mas sempre fui assim.

— Bern, não é uma coisa para se ter orgulho — Tâmara arriscou. — E continuo dizendo que não quero viajar. Não poderia deixar Kelly.

— Comentei com o médico sobre isso e ele me respondeu que nem pensava em afastá-la de você. Não sei como pude me esquecer que vocês, ingleses, não gostam que uma outra pessoa cuide de seus bebês,

— Mas você tambem não gostaria de deixá-la, não é? Tenho certeza de que você se cansaria menos com ela do que comigo.

A expressão de Leo mudou. Seus olhos brilharam como nunca.

— Não diria isso. Pelo contrario, acho que seria... interessante.

— E o que decidiu? — ela perguntou, sentindo-se confusa. — Levaremos o bebê? Para onde vamos?

— Tenho uma casa de praia na França. Você tera tudo o que precisa. Há um casal que mora lá e que me trata muito bem. Lucy também ira conosco, para ajudar a cuidar da menina. Quero só ver a cara de alegria de Kelly, quando chegarmos lá.

— Ela é uma menina ótima, E sua alegria aumentou, desde que nos mudamos para cá.

— Desde que voce se casou comigo — Leo corrigiu. — Não importa quanto você queira se esquecer disso, mas nos-so casamento é um fato.

— Sera que temos que voltar sempre ao mesmo assunto? Estava conseguindo me distrair, e você agora estragou tudo.

— Desculpe — ele disse, levantando-se. — Sinto muito pelo mal que lhe causo. Vou deixá-la sozinha, antes que a aborreça ainda mais.

— Você não sente muito! Faz isso de propósito, só para ficar me lembrando da minha situação.

— E qual á a sua situação?

— Você já sabe o que penso dela.

— Voce é minha mulher! Não se esqueca disso!

— Não fale comigo assim! Não dou esse direito a ninguém.

— Você esta ficando exritada, Tâmara. Ja imaginava que minha visita a perturbaria. Fique calma.

— Não sou uma crianca, Leo, não me trate como se fosse. Mas acho melhor você ir. Fico contente que tenha ficado comigo, e obrigada por me ajudar. Estou me sentindo can-sada, acho que não estou tão bem como pensava.

— Está certo. Se você quiser me ver novamente, peça para Lucy me avisar. Não quero vir aqui contra a sua vontade.

Tâmara ficou calada e, logo em seguida, Leo saiu do quar­to. Oh, por que ele era assim? Sabia muito bem que ela não pediria a Lucy para chamá-lo. Seria muito humilhante, e ele sabia disso!

 

Quando o médico veio vê-la novamente, disse que já podia se levantar, mas que, ao primeiro sinal de cansaço, voltasse para a cama.

— Gripe tern que ser muito bem curada.

— Minha esposa é muito teimosa — Leo comentou.

— Bem... Nesse caso, é melhor que a sra. Marcose não desça a escada. É aconselhavel que alguém a carregue para baixo e que a deixe repousando. A companhia de outras pessoas lhe fará bem.

— Faremos isso — Leo garantiu.

Tâmara ficara apenas ouvindo o que os dois discutiam. Sentia-se ignorada. Eles falavam sem se preocupar com ela, sem se lembrar de que tinha direito de decidir a própria vida.

No mesmo dia, Leo carregou-a para baixo.

— Obrigada — ela disse, sorrindo.

Ele pegou o paletó e vestiu-o, rapidamente.

— Estarei em casa a tempo de levá-la para cima.

— Você vai sair? — perguntou, arrependendo-se imedia-tamente de ter demonstrado seu desapontamento.

— Claro.

— Para onde?

— Acha que tem o direito de saber de todos os meus passos? — ele perguntou, sem perceber que ela o estava achando terrivelmente atraente.

— Não tenho?

— Talvez... talvez, se não me agredir toda vez que falo com você.

— Não é essa a minha intenção. — Seus lábios tremiam.

— Então, pense antes de falar. Desde que nos casamos, venho tentando ser delicado com você e, por vezes, acho que tenho conseguido. Mas me parece que nos conhecemos muito pouco. Não posso fazer nada para preencher o vazio que você deve estar sentindo, levando essa vida. E não ad-mito que arranje alguém para consola-la. Não permitirei que um escândalo estrague a infância de Kelly.

— O que esta insinuando?

— Quero dizer que deve ser doloroso para você ter que se afastar de todas as suas antigas amizades. De seus amiguinhos.

— Você esta me insultando, Leo!

— Talvez esteja, mas é assim que eu quero! Você é uma ótima mãe para Kelly, mas não consigo entender o seu passado.

— Mas não é... — Tâmara parou. Como poderia contar sobre sua vida?

— Mas não é o que?

— Esqueça. E fico contente de saber qual é a sua opinião sobre mim.

— Voce não sabia?

— Não, acho que não. Começava até a achar que voce estava gostando de mim. — Deu um sorriso forçado. — Bobagem, não?

— Não, não é. Eu reahnente tentei tratá-la com todo o res-peito, mas não consigo aceitar o seu passado, e nem quero isso.

Tâmara desviou o olhar e apertou os lábios que tremiam. Ele não sabia o mal que estava lhe fazendo.

— Voce me odeia, não é?

— Não poderia odiar a mãe de Kelly.

— Talvez não, mas você me odeia como pessoa.

Os olhos de Leo brilharam. Foi até a porta e, virando-se para ela, disse:

— Não consigo odiar você. Quem me dera conseguir! Tâmara não sabia o que responder. Ficou olhando, fascinada

e maravilhada, para aquele homem tao atraente. Todo o seu corpo parecia cheio de energia. Abraça-lo seria fantastico. Olhou para aqueles olhos azuis, e disse baixinho:

— Leo, eu...

— Silêncio!

Tamara não acreditava no poder que ele tinha sobre ela, Estava paralisada.

Leo a olhava, fixamente; suas rnãos estavam irrequietas.

— Você faz isso de propósito? — ele perguntou.

— Isso... isso o quê?

— Não se faga de ingênua! Desde que a conheci, eu a vejo provocante, sedutora. Sempre que a encontro é assim; inclusive, naquele dia em que entrou no meu quarto.

— Por um único motivo: só para lhe dizer o que eu estava sentindo com relação ao seu comportamento.

— Acredite que eu tambem não senti nada. Bem, agora que ambos conhecemos a opinião do outro, acho que podemos esquecer esse assunto, não é? E acho que posso me sentir livre para fazer o que bem entender.

— Você... você... eu não tocaria em você, nem que fosse o ultimo hornem sobre a face da terra!

— Ótimo. Temos um ponto em comum. Até logo! — A porta bateu as suas costas.

Por alguns segundos, Tâmara ficou esperando que a porta se abrisse, mas percebeu que ele não voltaria. Sentou e começou a chorar. Agora, também estaria livre para fazer o que bem entendesse.

 

Tâmara estava pálida; seu corpo, paralisado. Não gostava de viajar de avião, sentia-se mal. Seu estado de nervos piorou quando percebeu que Leo é que ia pilotar. Olhos arregalados, hesitou em entrar no avião.

— Vamos, Tâmara, não pretendo jogá-la no meio do ocea­no — Leo disse, rindo do medo dela.

— Você... você não pretende pilotar esse avião, não é, Leo? O pessoal do aeroporto não vai permitir.

— Não podem me impedir de pilotar o meu próprio avião. Só se eu não tivesse brevê, mas eu tenho.

Seu avião! Ela devia ter adivinhado.

— Entendo. — Seus lábios estavam secos. — Leo, temos mesmo que viajar?

Sua resposta foi pegá-la pelo braço e colocá-la dentro do avião luxuoso.

— Está com medo de mim. Tâmara? Você, que é tão corajosa, tão decidida? Não venha me dizer que tem medo de voar. Ou é o piloto que assusta você?

— Eu... nunca gostei de avião.

— Não é de mim que tem medo?

— Não. Confio em você. — Colocou Kelly num berço es­pecial e disse: — Sempre confiei.

Leo olhou-a de um jeito diferente, mas não fez nenhum comentário. Entrou na cabine e sorriu para o co-piloto que já o esperava.

A viagem não demorava muito, mas Tâmara estava petrificada. Lucy tentava distraí-la, mostrava-se compreensiva e fazendo de tudo para deixá-la mais tranquila. Leo saiu da cabine e perguntou, sorrindo:

— Como vai a família? — Olhou para ela: — Tudo certo?

— Só ficarei bem quando pisar ern terra firme — res­pondeu, sorrindo amarelo. Olhou para Kelly, que começava a acordar e já fazia cara de choro.

— O que foi? — Leo pegou-a no colo. — Você não vai chorar, vai, minha pequena? — Sua voz era doce e a garota mudou de expressão. Abriu um sorriso, mostrando os dois dentinhos. — Ah, assim é melhor. Agora, temos que ajudar a mamãe a sair do avião, esquecer esta parte da viagem e aproveitar as férias.

— Eu... tomara que consiga — Tâmara disse, corando.

— Vai, sim — Leo prometeu.

Quando chegaram ao aeroporto, havia uma limusine branca esperando por eles. No caminho para casa, Leo ia contando sobre as vezes em que tinha ido para lá. Falava e mostrava os pontos mais interessantes da costa.

Tâmara adorou a casa. Era um sobrado enorme. Devia ter uns doze quartos, seis banheiros, duas salas imensas e uma cozinha que ficava sob o comando da sra. Marie Duval.

Esperava que a casa fosse menor, sentia-se estranha e se perguntava se aquelas férias seriam iguais às de todas as famílias normais.

Leo entregou o bebê adormecido para Lucy e disse:

— Marie mostrará o quarto de Kelly. Ficarei aqui e ser­virei uma xícara do café delicioso de Marie para a sra. Marcose. Quando acabar, venha tomar também.

— Sim, senhor.

Tâmara tomou o café. que era mesmo uma delícia.

— O que vai fazer o resto do dia? — perguntou, com naturalidade.

— O que todo mundo faz, quando está de férias. Quero almoçar tranquilamente e depois passear na praia.

— Verdade? — Não conseguiu esconder o espanto. — Mas você não tem nenhum trabalho para fazer?

— Por que deveria?

— Pensei que esta viagem fosse de negócios para você.

— Pensou errado. Esta é a suposta lua-de-mel que todo mundo acha que tivemos antecipadamente. — Percebeu o olhar de espanto de Tâmara. — É verdade. Meus amigos acham que Kelly é minha filha e sabem que estamos casados há apenas algumas semanas.

— Não estão chocados?

— Por que deveriam? Eu sou um homem e você é uma mulher.

— Eu ficaria chocada.

— Você não faz aquilo que diz.

 

Tâmara conheceu o casal Duval na hora do almoço; eram franceses e entendiam muito pouco de inglês. Marie sorriu o tempo todo e Tâmara achou que era uma forma de de­monstrar que tinha gostado dela. Kelly brincava e chamava a atenção do casal. Ficaram amigos num instante.

Ao ouvir o nome de Ales, olhou para Leo e perguntou, assim que Marie saiu da sala:

— O que eles falaram de Alex?

— Nada importante.

— Mas você parece perturbado.

— Não estou perturbado. — Levantou-se, segurando a xícara de café. — Marie só disse que, agora que tenho Kelly, será mais fácil recuperar-me da morte de Alex. — Seu olhar estava fixo no mar.

— Entendo.

— O que você entende, Tâmara? — Virou-se, encarando-a. — Não consigo saber quem você é. Será que o fato de o pai de Kelly ter morrido não afeta você? Não se importa?

— Já falei...

— Já falou o quê? — Seu olhar era sério. — Você nunca falou nada. Quando perguntei se tinha amado Alex, res­pondeu-me que Kelly tinha nascido do amor. Suas respostas são vagas, não me esclarecem nada. Perguntei sobre Tiffany e você me disse que era uma amiga. Será que a morte de uma amiga, há um ano, choca mais do que a de um homem que deve ter amado? Será?

— Tiffany era... ela era uma amiga muito querida. — Não conseguia sustentar o olhar de Leo.

— Mais do que Alex?

— Alex e eu... ficamos pouco tempo juntos. Tiffany era uma amiga de infância.

— E Alex era só o seu amante!

Tâmara levantou a cabeça. Tinha que dizer alguma coisa, ou iria piorar a situação.

— Alex era... Ele não me amava!

— Sei disso. Alex amava uma mulher chamada Tiffany... a mesma que você conhecia. Sabia que ele a amava?

— Como sabe que Alex amava Tiffany?

A resposta dele foi inesperada e desconcertante.

— Porque ele me contou! Sabia disso?

Fez que não com a cabeça. Alex tinha amado Tiffany! Parecia muito bom para ser verdade.

— Não, eu não sabia. Fiquei sabendo que Tiffany o amava, mas... mas só percebi isso quando ela morreu.

— Talvez ela tivesse receio de contar a você. Não queria provocar ciúme, ela poderia supor que, se você soubesse, o tiraria dela. Ela sabia do bebê?

Tâmara poderia rir daquela pergunta. Quer dizer que os pais verdadeiros de Kelly tinham se amado. Mas, então, por que Alex abandonara Tiffany? Por que duas pessoas que se amavam tinham morrido sem saber disso? Havia muitas perguntas, e não sabia como respondê-las.

— Sim, ela sabia — disse, desviando o olhar.

— Como eu pensava. Tiffany se afastou do meu irmão porque você esperava um filho dele.

— Não, ela não sabia, ela...

Tâmara estava atordoada, não podia se arriscar a falar mais.

— Sim? Ela o quê?

— Nada, não é importante.

— Pode ser que para você não seja, mas para mim é. — Leo controlava a ansiedade, estava ficando nervoso.

— Por quê? Para ter certeza de que seu irmão não amou alguém tão ruim como eu? Onde você quer chegar, Leo? Quer me dizer que Alex amava tanto Tiffany quanto ela o amava? Que ela era boa, gentil, carinhosa, tudo o que eu não sou? — Sua voz tremia de emoção. — Eu a amei muito.

— O suficiente para tirar Alex dela? Ou Tiffany não sabia que você tinha um caso com ele? — Seus lábios estavam tensos. — É essa a resposta, não é? Você e Alex se encon­travam às escondidas!

— Não! Chega, não vou responder mais nada. Deixe-me sozinha, Leo. Deixe-me sozinha!

— Não, não vou; desta vez, você não escapa. — Pegou-a pelo queixo e a obrigou a encará-lo, — Vai me contar tudo sobre o relacionamento que teve com Alex e sobre a mulher que ele amava, Tiffany. Nunca a vi, gostaria que me falasse dela.

— Eu... ela...

— Vamos, Tâmara, não tente me enrolar. Já conheço você, esqueceu-se disso? Sei que ainda tem dúvidas com relação ao pai da criança e que permite que o próprio patrão tome liberdades com você. E ele é um homem casado, vi a aliança. É a aliança? É disso que você gosta? Roubar os homens de outras mulheres? Acha isso excitante?

— Você gostaria que eu dissesse sim?

— Quero que me diga a verdade! Encarou-o, furiosa.

— Então, a resposta é sim! Sou tudo isso que você disse de mim. Agora, será que posso ficar sozinha? Antes de me casar com você, só tinha problemas financeiros, nunca tive que discutir tanto sobre a minha vida. — Riu, nervosa. — Não teria escrito aquela carta, se soubesse que ia acabar dando nisso! Preferia ter passado fome do que me casar com um tirano. Mas não tive outra escolha, não é? Ah, não, o sr. Marcose queria que tudo fosse segundo sua vontade. Você conseguiu, Leo: tem uma filha linda e uma esposa mal-humorada. Está satisfeito?

— Você está mentindo para mim. Quer que eu pense mal de você. Por quê? O que espera ganhar com isso?

— Liberdade.

— Liberdade para fazer o quê? Viver sem acompanhar o crescimento de Kelly? Sem vê-la ficar tão bonita como a mãe? — Balançou a cabeça. — Você não conseguiria.

— Não. E, sabendo disso, você aproveita para me dizer coisas horríveis e para me ignorar. Sabe que não posso res­ponder à altura, nunca iria me separar de Kelly. Se eu não a amasse tanto, não teria me casado com você e evitaria tanto tormento para mim.

— Você, atormentada? — Seu tom era de espanto. — Como acha que me sinto, casado com uma mulher que não me deixa chegar perto?

— Mas você faiou... falou que o casamento não seria...

— E não será! O melhor para nós dois é ficarmos amigos.

— Acha que isso será possível — ela perguntou, voltando a ficar calma. — Depois de tudo o que foi dito e feito?

— Podíamos tentar. Você ajudaria, se contasse um pouco mais sobre Tiffany. Como a conheceu?

— Ela também era modelo. Eu gostava muito dela. Não consigo entender por que Alex e ela se separaram. Não foi por minha causa, estava viajando na época.

— Eu sei por quê. Você não foi a culpada, eu é que fui. Alex já era comprometido.

— Eles se amavam, Leo!

— Pensei que fosse coisa passageira, achei que Alex ia esquecê-la rapidamente. — Seu rosto estava atormentado.

— O que foi que você fez? — ela perguntou, devagar, percebendo que ele queria contar algo que não tinha contado a ninguém.

— Pedi a Alex para se afastar de Tiffany por três meses. Não poderiam se falar nem pelo telefone. Depois desse prazo, veríamos como é que ele se sentiria.

— Como ele se sentiu?

— Ainda a amava muito. Desculpe. Deve ser difícil para você escutar isso, mas ele a amava. — Leo demonstrava arrependimento pelo que tinha feito, estava perturbado. — Obriguei-o a escrever uma carta para Tiffany, dizendo que nunca mais a veria. Se depois dos três meses o amor per­sistisse, prometi que poderia ficar com ela.

— Você estava testando Tiffany também. Queria ver qual seria a reação dela, depois de ler a carta?

— Sim! Mas paguei por isso, paguei muito por esse erro.

Tiffany também. Sua gravidez a impediu de ir atrás do homem que amava. Se o procurasse naquele estado, nunca saberia se estava voltando por amor ou por sentir-se obri­gado a assumir a responsabilidade pela criança.

— E o que aconteceu depois, Leo? — Tâmara perguntou, percebendo que ele precisava desabafar.

— Assim que terminou o prazo, Alex me pediu para ir procurá-la.

— Mas ele não foi! Eu estava ao lado de Tiffany, quando morreu, e ela não o via desde que recebeu a tal carta, meses antes.

— Ela ainda o amava?

— Muito.

— Alex morreu quando estava a caminho para vê-la — Leo explicou, dando um suspiro. — Sou o culpado por isso. Eles poderiam estar vivos e felizes, mas ambos estão mortos.

Tâmara deu um passo na direção dele. Hesitava em con­fortá-lo, tinha receio de que a recusasse.

— Você não pode se culpar, Leo. Tiffany ia morrer de qualquer jeito. Falei com o médico e ele me garantiu que ela não tinha chances de sobreviver.

— Mas poderia ter sido diferente, se Alex estivesse ao lado dela. — Ele não parava de se torturar. — É por isso que Kelly significa tanto para mim... Ela é uma parte de Alex.

— Vamos passear pela praia, Leo. — Tinham falado muito do passado, e era doloroso. — Você tem que relaxar, não pode ficar se culpando por uma coisa que já aconteceu, não adianta nada. Garanto que Tiffany não tinha nenhuma chance de sobreviver. O melhor que temos a fazer é ir para a praia e aproveitar nossas férias.

— Pode ser que para você seja fácil esquecer, mas para mim é diferente. Meu irmão poderia estar vivo, se eu não...

— Pare com isso, Leo! Não se torture assim. Pense no futuro de Kelly. É nisso que deve pensar.

— Você está certa, mas também tenho que pensar no seu futuro — ele disse, acalmando-se.

Tâmara sorriu. Estava feliz por ele ter desabafado com ela. Mas, agora, deviam pensar apenas no futuro. Ambos tinham se arrependido das coisas que haviam feito. Tâmara, por deixar Tiffany sozinha na Inglaterra, e Leo, por duvidar dos sentimentos do irmão.

Devia odiar Leo por não ter permitido que Alex ficasse com sua irmã, mas havia alguma coisa que a impedia de ter raiva. Leo não podia imaginar o que ia acontecer, quando mandou o irmão se afastar de Tiffany.

— Se é esse o problema, já está resolvido. Gostaria de nadar. O que acha?

— Você é muito persistente, não?

— Muito.

— Então, vamos. Kelly ficará bem com Lucy — ele disse, antes que ela perguntasse. — Tem que dar todas as ins­truções e deixar Lucy fazer as coisas. Afinal de contas, você está aqui para descansar.

Tâmara riu; estava se sentindo à vontade. Talvez as férias fizessem bem ao relacionamento deles.

— Acho engraçado — falou, enquanto caminhavam para o quarto. — Faz dois meses que não trabalho e estou aqui para descansar.

— Mas antes disso você trabalhou demais. Sente saudade do tempo em que era manequim? — ele perguntou, através da porta aberta que ligava os dois quartos.

Tâmara parou na frente do espelho e ficou se olhando, pensativa. Os olhos verdes e os cabelos castanhos brilhavam como nunca; a pele e os traços delicados estavam em per­feitas condições. Poderia ser uma modelo internacional, mas não tinha essa ambição.

— Não, Por quê? Está pensando em me mandar trabalhar?

— Claro que não! As mulheres Marcose não precisam trabalhar.

Tâmara foi até a porta e ficou parada, olhando os movi­mentos de Leo, que tentava achar o calção de banho.

— E eu sou a sra. Marcose, não é? — perguntou, divertida.

— Não tenha dúvida. Você é minha esposa e... — Olhou-a, malicioso. — Sugiro que feche a porta, senão vai acabar me vendo sem roupa.

— Oh... claro! — Corou e, sem demora, foi ao banheiro para se trocar,

Leo tinha comprado alguns biquinis e uma saida-de-ba-nho para ela. Escolheu um verde, sua cor preferida. Saiu do banheiro, sentindo-se seminua. O biquini era minúsculo.

Leo estava apenas de calção; seu corpo era incrivelmente atraente! Alto, forte, musculoso e bronzeado. Usava uma corrente de ouro com uma medalha que tinha um emblema. Caminharam para a praia, em silêncio. Tâmara olhava para a medalha, tentando se lembrar de onde conhecia aquele emblema.

— Claro! — disse, de repente. — Meu anel!

— Você o perdeu? — ele perguntou, surpreso. Pegou a mão esquerda dela e viu que o anel estava lá. — Não, ele está aqui. Devia estar falando de algum outro.

— Não. — Ela riu. — Sua medalha e o meu anel têm o mesmo emblema.

— Ah, é o emblema da família.

— Um pássaro da paz — ela disse, olhando para o desenho na jóia.

— Acha bonito?

— Sim. — Desamarrou a saída e deixou-a cair na areia. — Vamos ver quem chega primeiro na água?

— E qual é o prêmio do vencedor?

— O que você quiser.

— Está certa. — Ele estendeu a toalha na areia e per­correu com os olhos a corpo bonito de Tâmara, as pernas compridas, a pele jovem e bem cuidada.

— E qual vai ser o prêmio? — perguntou, ansiosa pela resposta.

— Quem perder terá que passar bronzeador nas costas do outro.

— Oh... — Que desapontamento! Estava certa de que ele proporia algo mais interessante. — Vou perder de propósito; gosto de passar bronzeador.

— Eu também. — Leo sorriu. — Acho que é uma corrida para se perder.

Ele ganhou, e ela sabia que ia ganhar. Mas gostou de es­palhar o óleo nas costas dele; a pele era macia e quente. Leo ficou deitado, sorrindo, sinal de que também estava gostando.

— Hum... sua mão é suave. Você já deve ter feito isso muitas vezes.

— Não, eu... você está me provocando. Leo!

— Não. Estou apenas elogiando sua habilidade. Sei que você é uma mulher vivida.

— Desculpe — ela disse, com sarcasmo. — Tinha me esquecido do meu passado; não acontecerá de novo.

— Lá vem você na defensiva. Fiz só uma observação inocente. — Leo apoiou-se no cotovelo, olhando para o mar.

— Desculpe. — Tâmara parou de espalhar o óleo e se deitou na areia, afastada dele.

Seus olhos se abriram, ao sentir pingos de água caindo no braço. Leo estava curvado sobre ela, seus rostos muito próximos. Tâmara sentiu que o coração disparava e a res­piração ficava ofegante.

— Não está desculpada. — Sua voz era séria. — Você me deixa confuso e faz isso de propósito.

— O... que quer dizer? — perguntou, quase sem voz. Leo passou a mão pelo rosto dela, afastando o cabelo da face.

— Você me força a fazer certas coisas. Tinha prometido a mim mesmo não tocá-la, mas agora há pouco... — Afas­tou-se e voltou a olhar para o mar. — Isto é loucura!

Tâmara colocou a mão no ombro dele e fez com que se virasse.

— O que há, Leo? — Sabia que estava mexendo com fogo, mas sentia que tinha que se aproximar dele.

— Deixe-me sozinho, Tâmara! — Afastou a mão dela. — Será que não percebe quando tem que me deixar sozinho?

— Mas eu...

Leo puxou-a para perto, abraçando-a. Acariciou sua mão.

— Macia — disse baixinho. — Macia e bonita.

Ela ficou quieta; estava gostando do carinho dele. Nunca tinha conhecido um homem tão atraente como Leo. Na primeira vez que o viu, achou-o arrogante e frio. Era um homem de negócios, trabalhava muito e era solitário. Mas agora, depois do casamento e de Kelly, percebia que ele estava se permitindo sentir e deixar fluir suas emoções.

— Leo... — sussurrou.

Ele parecia não ouvi-la. Olhava, fascinado, para o corpo dela.

— Seu corpo é... perfeito. Ninguém diria que você teve um bebê há um ano.

Mas ela não tinha tido! O que poderia fazer para contar a verdade. Como começaria?

— Leo, eu...

— Não diga nada. — Inclinou-se e beijou-a no pescoço. Tâmara sentiu a respiração acelerar e o corpo queimar.

Nunca tinha se imaginado sentindo aquela sensação que Leo estava provocando. Perdia o controle de si mesma, mas não podia se permitir isso. Leo beijava-a e acariciava-a de uma maneira como ninguém havia feito. Ela não estava resistindo e, sem poder se controlar, passou os braços pelo pescoço dele.

— Oh, Leo... — sussurrou, pedindo para que não parasse.

— Você gosta das minhas mãos no seu corpo? — Os olhos azuis estavam cheios de desejo.

— Eu...

— Não responda! — Ele se esforçava para se afastar dela. — Não tenho o direito de perguntar isso e nem de tocar em você! Vou para casa. Quando estiver pronta, vá também.

— Mas, Leo! — Sentou-se na areia, vendo que ele recolhia a toalha. — Temos mesmo que ir já?

— Eu tenho. — Seu olhar estava atormentado.

Tâmara seguiu-o com o olhar, mas ainda sentia sua pre­sença. Leo estava começando a se tornar importante para ela... e isso era muito perigoso! Não podia se envolver com ele. Nem depender tanto dele. No entanto, sentia que fazia parte de uma família que amava.

Como seria um filho de Leo? Provavelmente, parecido com Kelly, pensou. Ninguém ia ser capaz de dizer que as crianças não eram irmãs. Afastou esses pensamentos. Que sonho! Nunca poderia ter um filho de Leo. Nunca! Se o relacionamento deles chegasse a esse ponto, ele perceberia o quanto ela era inexperiente e descobriria que não era mãe de Kelly. Leo não podia tocá-la; nunca a perdoaria por ter mentido sobre a maternidade de Kelly.

Será que conseguiriam continuar a viver juntos, sem se tocarem? Tâmara duvidava. Leo era um homem e ela não podia imaginá-lo fazendo amor com outra mulher, alguém como Rachel Winter. Não, não permitiria.

Leo não fez nenhum comentário sobre o incidente da praia. Estavam jantando e Tâmara percebeu que ele não falava nada por causa da presença de Marie; mas, assim que acabaram de jantar, convidou-a para tomarem o café na outra sala.

Parecia tranquilo, sem pressa para falar, e Tâmara ficou nervosa e agitada ao vê-lo assim. Controlou-se o quanto pôde. Finalmente, explodiu:

— Por Deus, Leo! Diga alguma coisa.

Seu olhar estava sério, compenetrado. Sentou-se numa poltrona e ficou encarando-a.

— Quero me desculpar pelo que aconteceu hoje à tarde. Não tinha a intenção de tocá-la.

— Eu... não foi importante. — Sentia o rosto ficar vermelho.

— Foi, sim! — Sua voz era firme. — Minhas atitudes não foram de acordo com o que lhe prometi. Tinha dito que este casamento seria sem envolvimento.

— E sem envolvimento significa...

— Significa nenhum contato físico. Você não deve aceitar uma relação sexual com alguém que despreza.

— Oh, mas eu...

— Por favor, deixe-me acabar. Gostaria que você se es­quecesse do que aconteceu na praia. Tire isso da cabeça.

— Não posso, Leo. Tenho certeza de que você também sentiu que as coisas entre nós mudaram.

Leo foi até o carrinho de bebidas, serviu-se de uísque e respondeu:

— O fato de eu ter desejado você não pode ser negado, mas deve ser esquecido. E isso não vai acontecer de novo.

— Como pode saber? — ela insistiu, mas ele não respon­deu. Tâmara tinha que fazê-lo voltar a falar; não podia ficar naquela situação embaraçosa. — Leo?

— Porque não vou permitir que aconteça novamente — disse, colocando o copo na mesa. — Não sou um menino que não sabe resistir ao charme de uma mulher bonita. Você pode duvidar, mas sou capaz de me controlar.

— E eu?

— Você o quê? — Olhou-a, surpreso,

— Eu não estava,.. — Tâmara desistiu de falar o que tinha sentido.

— Sendo fria? — ele completou. — Sei disso, não sou bobo. É natural que você também tenha sentido alguma coisa. O corpo, desde que sinta prazer, entrega-se a ele, e eu...

— Sim? — Tâmara o incentivava — Você o quê? — Levan­tou-se e ficou olhando-o. — Nunca vi tanta discrição na minha vida! Você fala de fazer amor como se fosse algo científico; não leva em conta o instinto, o sentimento e o amor. Sim, eu estava excitada, mas não permitiria que você fizesse amor comigo. Meu corpo não se entregaria ao prazer, não mesmo!

Falava muito séria, mas não estava bem certa se aquilo era verdade. Quando ele a deixou na praia, sentiu que po­deria ter se entregado a ele. Tinha sido essa a sua vontade.

— Você está nervosa — Leo disse, calmo. — Se pensasse bem no que está dizendo, veria que não é tão simples. Não posso satisfazer os seus desejos e não permito que arranje um amante.

— Meu Deus! — Tâmara estava chocada. — Não acredito no que estou ouvindo! Não quero um amante! Quero apenas levar a minha vida em paz e cuidar do bebê. Foi você quem quis falar sobre o que aconteceu... Eu já tinha esquecido.

— Não diga isso. Vi o modo como me encarou durante o jantar; seus olhos estavam cheios de curiosidade. Devia estar imaginando como seria fazer amor comigo. Todas as mulheres fazem isso. Quis saber qual o motivo de eu ter agido daquela maneira, não é?

— Eu sei o motivo — falou, furiosa. — Você não tem

sentimentos, só sabe racionalizar. Será que tem que pensar em tudo? Para você, nada acontece com espontaneidade?

— Algumas vezes — ele respondeu, tentando se justificar. — Sou um homem, e os homens têm que usar a cabeça.

— Não você, Leo. Tudo o que faz é extremamente pla­nejado e calculado, só depois é executado.

— Minhas atitudes de hoje não foram planejadas nem calculadas.

— Não? Então, isso significa que ainda há esperança para você.

— Não haverá ocasião. Não cairei em tentações como a de hoje — Leo disse, sério.

— Veremos... Veremos!

 

Nos dias seguintes, Tâmara percebeu que seus sentimentos com relação a Leo estavam se modificando. Não o via mais como um homem arrogante e insensível; conheceu o desejo dele, sentiu a atração que sentira por ela. Leo era um homem que também tinha amor para dar, e Tâmara sabia que ele lutava para esconder isso.

Passavam o dia inteiro na praia, com Kelly. Se Leo se inco­modava de ficar com a esposa, o mesmo não acontecia com ela.

No quarto dia das férias, Tâmara estava tomando café quan­do chegou uma carta de Mary. Seus olhos se encheram de lágrimas e não conseguiu evitar que os soluços lhe sacudissem o corpo. Leo deixou o jornal de lado e olhou para ela

— Alguma coisa errada? — indicou a carta.

— Por que fez isso, Leo? — ela perguntou, sem dizer mais nada.

— O que foi que eu fiz?

— Esta carta é de Mary.

— Ah! — Suspirou, entendendo o que ela queria dizer.

— Não consigo acreditar! Você comprou uma casa para eles!

— Não comprei uma casa para eles — corrigiu. — Seus amigos fazem questão de me pagar. Queria dá-la de pre­sente, e Deus sabe que posso, mas Peter nem quis ouvir falar disso. Nem se importou, quando eu disse que era um presente para o meu afilhado.

— Uma casa é um presente muito diferente. — Tâmara sorriu. — Mesmo para alguém tão rico como você. Por que fez isso?

Leo pegou o jornal, dobrou-o e colocou-o sobre a mesa.

— São seus amigos — disse simplesmente.

— E... e isso implica na compra de uma casa?

— Claro. Você estava triste, preocupada com eles, prin­cipalmente agora, com o nascimento de Daniel. Pensei que pudesse ajudá-los dando um presente, e como tenho dinhei­ro, não havia motivo para não fazer o que fiz.

— Mas o que você fez não é muito comum.

— Não dramatize. Fiz, simplesmente, o que podia fazer. Se prefere, encare a compra como uma transação comercial. — Seu olhar era distante.

— Onde você é o perdedor — Tâmara disse, sorrindo. — Mary escreveu que você não quis aceitar nenhum juro. Não me parece um bom investimento.

— Discordo. Você ficou feliz, não ficou?

— Muito.

— É o que importa — Leo disse, levantando-se.

— Por que se importa em me ver feliz? — Tâmara per­guntou, percebendo que ele queria fugir da conversa, — Não sabia que eu fazia parte de seus planos.

— Não vamos discutir.

— Você quer fugir? Não consigo ter uma conversa normal com você.

— Esta não é uma conversa normal; e, desde o erro que cometi ao tentar beijá-la, não teremos mais conversas nor­mais. Foi um erro, acredite!

— Mas você não... não me beijou — disse, corando.

— Acho que você se lembra muito bem do que aconteceu.

— Você me tocou e acariciou! É pecado?

— Você me pergunta isso? — Balançou a cabeça. — Você é a mãe da filha do meu irmão.

Tâmara levantou-se, tensa.

— E se não fosse? O que aconteceria? Você continuaria a ter essa aversão por mim?

— Já que a situação não é essa, eu realmente não posso...

— Continuaria, sim! — ela concluiu, dando um suspiro.

— Não posso responder.

— Por quê? Tem medo? Não quer admitir que sentimos alguma coisa muito forte um pelo outro? Você não é um robô, Leo, não tente ser. Responda à minha pergunta!

— Não fale assim comigo!

— Responda, Leo!

— Você é igual a uma criança; não desiste do que quer. Se... — ele falava com cuidado — se não fosse a mãe de Kelly, tenho que admitir que a acharia muito desejável. Mas você é a mãe e isso muda tudo.

Leo dirigiu-se para a porta.

— Onde você vai?

— Vou passar o dia fora. Tenho um compromisso.

— É mesmo?

— É. — Seus lábios estavam tensos. — Um compromisso de negócios.

— Tenha um bom dia, então — ela disse, provocando-o. — E... não trabalhe muito, viu?

— Não tenho mais tempo para discutir com você, Tâmara. Conversaremos quando eu voltar.

— Vai ser difícil. Você sempre dá um jeito de fugir do assunto. Oh, vá embora, Leo!

— Qualquer dia, você vai me mandar embora para sem­pre, Tâmara. E, quando esse dia chegar, não sei que atitude vou tomar.

— Gostaria de saber.

A resposta dele foi sair batendo a porta.

Oh, Deus! Tâmara olhou para o prato, quase intacto, e não teve a menor vontade de comer. Pobre Leo, sempre que discutiam voltavam aos mesmos insultos.

Tâmara estava muito ligada a ele; via-o como um homem atraente e um homem que era seu marido. Seus cabelos macios, seus olhos que ficavam cinzentos quando estava nervoso e azuis quando tinha desejos, seu nariz e sua boca de traços fortes, seu corpo alto e musculoso; tudo em Leo era atraente. Desde o primeiro momento em que o viu, per­cebeu que ele tinha uma personalidade muito forte. Agora, estava se sentindo dominada por ele.

Forçou um sorriso quando Lucy se aproximou com Kelly. Ela e Leo tentavam manter as aparências na frente dos empregados, mas havia horas em que isso era difícil.

Lucy chegou sorridente, trazendo Kelly no colo. Já estava pronta para ir para a praia.

— Oi, querida! — Tâmara pegou-a. — Hoje, vamos à praia sem o papai; ele foi trabalhar.

— Oh! — Lucy exclamou. — Se quiser... se quiser, eu posso ir junto.

— Claro que não, é o seu dia de folga, obrigada. Você vai à vila?

— Só para dar uma olhada. Mas, se precisar de mim, posso ir outro dia e...

— De jeito nenhum. — Tâmara pegou o queixinho de Kelly. — Podemos ficar muito bem sozinhas, não é! — Vi-rou-se para Lucy e continuou: — Estas são as suas férias também; aproveite. E obrigada por ter aprontado Kelly.

 

Já estava bem quente quando chegaram à praia. Tâmara armou o guarda-sol e colocou a menina na sombra. A praia era linda, propriedade particular da família Marcose.

Colocou a sobrinha num cercadinho que Leo tinha com­prado e foi nadar.

Leo e ela tinham ficado muito tempo juntos naqueles dias, e estava sentindo falta dele. Mas onde estava seu orgulho! Sua independência. Alguma coisa lhe dizia que não conseguiria mais ficar longe daquele homem; queria depender dele.

Perdida nesses pensamentos, assustou-se ao sentir um toque no ombro. Olhou, furiosa, para alguém que estava se divertindo com ela.

— O que pensa que está fazendo! — perguntou para o homem que estava ao seu lado.

— Bem, estava nadando tranquilamente, até que fui atraído por esses cabelos acobreados maravilhosos. Tinha que vir conhecê-la.

— Precisava me assustar desse jeito. — Tâmara tentava se acalmar e passava a mão para tirar o cabelo do rosto.

— Não tive culpa. Tentei chamá-la, mas você não me ouviu. Saíram da água e Tâmara viu que ele era muito bonito,

alto, forte e bronzeado. Aparentava uns trinta anos.

— E o que está fazendo aqui?

— Aqui na praia? Ou na França?

— Na praia — ela respondeu, sorrindo. — Nadando, acredita?

— Será que podemos ir para o guarda-sol? — Olhava-o, im­paciente. — Estou preocupada com a minha filha que está lá.

— Claro!

Kelly dormia. Tâmara pegou a toalha, secou o cabelo e ofereceu-a para o estranho.

— Sou Neil Adams — ele apresentou-se, sentando na areia ao lado dela.

— Tâmara Marcose — disse, estranhando o próprio sobrenome.

— Tem um lindo bebê.

— Obrigada, também acho.

— Tenho visto seu marido e a menina brincando na praia.

— Meu marido? Quando você o viu?

— Nestes últimos dias. Vejo vocês três tomando sol. Seu marido não veio hoje? — perguntou, estendendo a toalha ao sol para secar.

— Não.

— Sinto que conheço você — ele disse, observando-a de perto. — Não é uma cantada, não. Eu realmente já a vi em algum outro lugar.

Tâmara acreditou, pois ele também lhe era familiar. Perguntou:

— Você mora em Londres?

— Morava. Agora, estou morando aqui. Tenho uma casa na praia ao lado, é por isso que vejo vocês. Costumo nadar todos os dias. — Seus olhos se arregalaram. — Tâmara! Claro, Tâmara Newman! Você sumiu, fiquei imaginando onde poderia encontrá-la. Sou fotógrafo. No mês passado, quis chamá-la para fazer umas fotos; perguntei por você em todas as agências, mas ninguém sabia do seu paradeiro.

— Deixei de ser modelo.

— Percebi. Mas não acha estranho eu ter procurado tanto por você, e você estar tão perto de mim?

— Acho que não — respondeu, passando óleo na pele sensível. — Estamos aqui há apenas alguns dias. — Olhan­do-o bem, perguntou: — Quando você fala em Neil Adams, quer dizer "o" Neil Adams?

— Depende do que você entende pelo "o".

— O famoso e conhecidíssimo fotógrafo? — Acho que sim — admitiu, rindo.

— Claro que é você mesmo. — Seus olhos estavam bri­lhando. — E você queria me fotografar?

— Ainda quero. Só você tem a cor de cabelos de que preciso para tirar umas fotos de pôr-do-sol. Não venha me dizer que não pode!

Tâmara balançou a cabeça, pensando no que Leo acharia da idéia.

— Não posso, realmente; mas há outras modelos com a cor dos meus cabelos, não sou a única.

— É, sim. Ponho a minha mão no fogo, se ele não for natural!

— É natural — admitiu, corando.

— Que pena! Era justamente de você que eu estava precisando.

— Bem, não posso lhe dizer que não me sinto lisonjeada. Você é Neil Adams, e qual é a modelo que não sonha em posar para você?

— Será que seu marido não a deixaria fazer essas fotos? Se não for você, não farei o trabalho — perguntou, obser­vando as reações dela.

— Leo não aprova que a esposa trabalhe.

— Leo? Você é casada com Leo Marcose.

— Você o conhece?

— De vista. Conheci melhor o irmão dele.

— Alex? — Estava interessada; não sabia muita coisa sobre o pai de Kelly. — Conheceu Alex?

— Sim, conheci — ele concordou e olhou para o mar. — Sinto muito a morte dele. Leo deve ter ficado bastante cho­cado, eles eram muito ligados.

— Sim — ela disse baixinho.

— Pelo menos, ele tem você para ajudá-lo. É muito pior quando não se tem ninguém para ficar junto nessas horas.

— Ah, mas eu ainda não estava casada com Leo — co­mentou, sem pensar. Vendo que Neil olhou para Kelly, como se calculasse sua idade, Tâmara estremeceu.

— Entendo — ele disse, embaraçado. — Bem, pelo menos ele tem você agora.

— Não é o que você está pensando. Gostaria de ex­plicar, mas...

— Não precisa me explicar nada. Por que eu deveria saber sobre o casamento de vocês? Estão aqui de férias? — mudou de assunto.

— Apenas por algumas semanas. Leo também tem ne­gócios — respondeu, lembrando-se de que, no princípio, Leo tinha dito que não ia trabalhar.

— Não o reconheci, quando vi vocês de lá — Neil levan­tou-se e indicou o mar. — Bom, tenho que ir agora, estou com convidados em casa. Posso vê-la amanhã?

— Acho que sim, mas... — Como explicaria seu receio com relação à opinião de Leo?

— Não se preocupe, Tâmara. Vi Leo poucas vezes, mas posso imaginar que tipo de marido ele seja. E, vendo você, não posso culpá-lo por ser ciumento.

— Obrigada por entender. Acho que ele não gostaria de saber o modo como nos encontramos; Leo é muito possessivo. — Tâmara teve vontade de contar que Leo a vigiava, era muito desconfiado.

— Talvez a gente se encontre amanhã mesmo, quem sabe?

— Seria ótimo. — Despediu-se e ficou olhando-o entrar no mar.

Não teve tempo de pensar nas coisas que Neil havia dito pois Kelly acordou e começou a chorar. Queria brincar e Tâmara levou-a para se molhar um pouco.

Ficaram juntas até a hora do jantar, quando Lucy voltou e ficou tomando conta da menina. Tâmara sabia que Leo ainda não havia chegado, mas, assim mesmo, resolveu ir se aprontar.

Estava tomando café, depois do jantar, quando ele chegou. Olhou-o com indiferença; não queria demonstrar que já es­tava preocupada com a demora dele.

Leo serviu-se de uísque e caminhou para o sofá, onde ela estava sentada.

— Boa noite.

— Já jantei — foi a resposta dela, ignorando o cumprimento.

— Eu também, comi na vila.

— Verdade? E não passou pela sua cabeça me avisar? Não sabia que você não vinha para o jantar.

— Mas eu... Os... os negócios demoraram mais do que eu tinha previsto.

— É mesmo? — provocou. Percebia a hesitação dele.

— O que quer insinuar, agora? Que não fui trabalhar? Que saí com outra mulher? — Estava ficando zangado.

Tâmara assustou-se ao vê-lo tão irritado, mas achou-o mais atraente. Usava uma calça branca e uma camisa cre­me, e as cores claras realçavam sua pele bronzeada. Seus olhos brilhavam, acinzentados.

— Bem, eu... — ela começou, incerta.

— Você parece uma mulher ciumenta... E é minha esposa!

— Leo exclamou, virando o uísque num gole só.

— Não estou com ciúme. Estava ótima, até que você che­gou. Que culpa tenho, se você vive de mau humor?

— Não estaria de mau humor se não percebesse suas suspeitas.

— Não tive suspeitas! — Sentia-se como uma criança que não consegue esconder a raiva. — Mas estou começando a ter. Por que você se defende tanto?

— Não estou me defendendo! — Foi direto para a porta.

— Vou para o meu quarto.

— Mas, Leo, ainda é muito cedo. Não vi você o dia inteiro

— falou, recuperando a calma.

— Tenho que ler alguns papéis. — Sua voz era seca.

— Pensei que não fosse trabalhar durante as férias.

187Piícado Mortal

— Eu também pensava, mas apareceram alguns impre­vistos que exigem a minha presença. Amanhã vou passar o dia fora, também.

— Oh, Leo! — Seu desapontamento era evidente. — E mesmo necessário?

Os olhos dele estavam atormentados, confusos.

— Tenho que ir. — Saiu e fechou a porta.

Tâmara ficou parada, olhando para a porta. O que poderia fazer? Ainda eram nove e meia; sua única opção era ir para o quarto, ler um pouco e esperar que o sono chegasse.

As onze, fechou o livro. No estado de espírito em que se encontrava, histórias de amor não eram a leitura mais in­dicada. Leo não queria se aproximar dela e Tâmara sabia que ele desejava possuí-la. O que podia fazer? Não conseguia dominar seus sentimentos, estava fascinada. Era só ele apa­recer, e ela se descontrolava.

Tinha que se cuidar; não podia se entregar a um homem que desprezava. Precisava se convencer de que o odiava.

Colocou o livro no criado-mudo e se recostou no traves­seiro. O abajur estava aceso e não queria desligá-lo, pois ainda estava sem sono. Não tinha se cansado durante o dia, Kelly já não dava muito trabalho. Tâmara passava a maior parte do tempo sem ter o que fazer, e Leo nem se incomodava em entretê-la. Se ao menos...

Sentou-se na cama, ao ouvir alguém abrindo e fechando a porta; a pessoa tinha entrado.

— Lucy? — perguntou assustada.

— Não, não é Lucy. — Leo entrou e caminhou para perto da cama.

A luz do abajur iluminava-o; estava de calça de pijama e roupão. Fazia muito calor e Tâmara usava uma camisola fininha; puxou o lençol para esconder o corpo.

Devia ter imaginado que era ele, pois a porta que tinha sido aberta era a de ligação.

— Vim para pedir desculpas.

— Desculpas? — perguntou, apreensiva.

— Pela minha grosseria de há pouco. Não devia ter des­carregado a minha raiva em você, você não fez nada de errado. — Seu olhar era distante, não conseguia encará-la.

— Você estava furioso. Quem melhor do que eu para ser a vítima?

Leo sorriu.

— Se quer que eu me sinta culpado, fique sabendo que já conseguiu.

— Não tive essa intenção, só quis dizer que você tinha que desabafar a raiva com alguém. Se fosse ao contrário, eu também brigaria com você.

— Sabe ser séria, e ainda é tão jovem. Às vezes, me esqueço de que você é jovem; sua segurança e seu compor­tamento me confundem.

— Não, não é assim que estou agora — ela disse, passando as mãos nos cabelos.

— Você está linda. — Chegou bem perto dela. — Você é muito atraente, Tâmara... irresistível. Como posso dormir sossegado, sabendo que está no quarto ao lado? — Sentou-se na cama e passou a mão pelo ombro dela. — Fico fascinado com você, sinto-me pegando fogo.

Ouvia-o atentamente; seu corpo implorava a Leo que a possuísse. Parecia que estavam de volta àquele dia, na praia: eram os mesmos desejos e impulsos. Aproximou-se dele; estava fora de si.

Leo não resistiu e envolveu-a nos braços. Seus corpos abraçados pediam por carinhos, seus olhares eram de desejo e Leo não conteve a vontade de beijá-la.

Ela não fazia a mínima idéia de como seria o primeiro beijo deles, mas Leo foi delicado: encostou seus lábios úmi-dos, despertando outros desejos no corpo de Tâmara.

Deitou-a na cama, dPecado Mortal

Sinto muito a morte dele. Leo deve ter ficado bastante cho­cado, eles eram muito ligados.

— Sim — ela disse baixinho.

— Pelo menos, ele tem você para ajudá-lo. É muito pior quando não se tem ninguém para ficar junto nessas horas.

— Ah, mas eu ainda não estava casada com Leo — co­mentou, sem pensar. Vendo que Neil olhou para Kelly, como se calculasse sua idade, Tâmara estremeceu.

— Entendo — ele disse, embaraçado. — Bem, pelo menos ele tem você agora.

— Não é o que você está pensando. Gostaria de ex­plicar, mas...

— Não precisa me explicar nada. Por que eu deveria saber sobre o casamento de vocês? Estão aqui de férias? — mudou de assunto.

— Apenas por algumas semanas. Leo também tem ne­gócios — respondeu, lembrando-se de que, no princípio, Leo tinha dito que não ia trabalhar.

— Não o reconheci, quando vi vocês de lá — Neil levan­tou-se e indicou o mar. — Bom, tenho que ir agora, estou com convidados em casa. Posso vê-la amanhã?

— Acho que sim, mas... — Como explicaria seu receio com relação à opinião de Leo?

— Não se preocupe, Tâmara. Vi Leo poucas vezes, mas posso imaginar que tipo de marido ele seja. E, vendo você, não posso culpá-lo por ser ciumento.

— Obrigada por entender. Acho que ele não gostaria de saber o modo como nos encontramos; Leo é muito possessivo. — Tâmara teve vontade de contar que Leo a vigiava, era muito desconfiado.

— Talvez a gente se encontre amanhã mesmo, quem sabe?

— Seria ótimo. — Despediu-se e ficou olhando-o entrar no mar.

Não teve tempo de pensar nas coisas que Neil havia dito pois Kelly acordou e começou a chorar. Queria brincar e Tâmara levou-a para se molhar um pouco.

Ficaram juntas até a hora do jantar, quando Lucy voltou e ficou tomando conta da menina. Tâmara sabia que Leo ainda não havia chegado, mas, assim mesmo, resolveu ir se aprontar.

Estava tomando café, depois do jantar, quando ele chegou. Olhou-o com indiferença; não queria demonstrar que já es­tava preocupada com a demora dele.

Leo serviu-se de uísque e caminhou para o sofá, onde ela estava sentada.

— Boa noite.

— Já jantei — foi a resposta dela, ignorando o cumprimento.

— Eu também, comi na vila.

— Verdade? E não passou pela sua cabeça me avisar? Não sabia que você não vinha para o jantar.

— Mas eu... Os... os negócios demoraram mais do que eu tinha previsto.

— É mesmo? — provocou. Percebia a hesitação dele.

— O que quer insinuar, agora? Que não fui trabalhar? Que saí com outra mulher? — Estava ficando zangado.

Tâmara assustou-se ao vê-lo tão irritado, mas achou-o mais atraente. Usava uma calça branca e uma camisa cre­me, e as cores claras realçavam sua pele bronzeada. Seus olhos brilhavam, acinzentados.

— Bem, eu... — ela começou, incerta.

— Você parece uma mulher ciumenta... E é minha esposa!

— Leo exclamou, virando o uísque num gole só.

— Não estou com ciúme. Estava ótima, até que você che­gou. Que culpa tenho, se você vive de mau humor?

— Não estaria de mau humor se não percebesse suas suspeitas.

— Não tive suspeitas! — Sentia-se como uma criança que não consegue esconder a raiva. — Mas estou começando a ter. Por que você se defende tanto?

— Não estou me defendendo! — Foi direto para a porta.

— Vou para o meu quarto.

— Mas, Leo, ainda é muito cedo. Não vi você o dia inteiro

— falou, recuperando a calma.

— Tenho que ler alguns papéis. — Sua voz era seca.

— Pensei que não fosse trabalhar durante as férias.

— Eu também pensava, mas apareceram alguns impre­vistos que exigem a minha presença. Amanhã vou passar o dia fora, também.

— Oh, Leo! — Seu desapontamento era evidente. — E mesmo necessário?

Os olhos dele estavam atormentados, confusos.

— Tenho que ir. — Saiu e fechou a porta.

Tâmara ficou parada, olhando para a porta. O que poderia fazer? Ainda eram nove e meia; sua única opção era ir para o quarto, ler um pouco e esperar que o sono chegasse.

As onze, fechou o livro. No estado de espírito em que se encontrava, histórias de amor não eram a leitura mais in­dicada. Leo não queria se aproximar dela e Tâmara sabia que ele desejava possuí-la. O que podia fazer? Não conseguia dominar seus sentimentos, estava fascinada. Era só ele apa­recer, e ela se descontrolava.

Tinha que se cuidar; não podia se entregar a um homem que desprezava. Precisava se convencer de que o odiava.

Colocou o livro no criado-mudo e se recostou no traves­seiro. O abajur estava aceso e não queria desligá-lo, pois ainda estava sem sono. Não tinha se cansado durante o dia, Kelly já não dava muito trabalho. Tâmara passava a maior parte do tempo sem ter o que fazer, e Leo nem se incomodava em entretê-la. Se ao menos...

Sentou-se na cama, ao ouvir alguém abrindo e fechando a porta; a pessoa tinha entrado.

— Lucy? — perguntou assustada.

— Não, não é Lucy. — Leo entrou e caminhou para perto da cama.

A luz do abajur iluminava-o; estava de calça de pijama e roupão. Fazia muito calor e Tâmara usava uma camisola fininha; puxou o lençol para esconder o corpo.

Devia ter imaginado que era ele, pois a porta que tinha sido aberta era a de ligação.

— Vim para pedir desculpas.

— Desculpas? — perguntou, apreensiva.

— Pela minha grosseria de há pouco. Não devia ter des­carregado a minha raiva em você, você não fez nada de errado. — Seu olhar era distante, não conseguia encará-la.

— Você estava furioso. Quem melhor do que eu para ser a vítima?

Leo sorriu.

— Se quer que eu me sinta culpado, fique sabendo que já conseguiu.

— Não tive essa intenção, só quis dizer que você tinha que desabafar a raiva com alguém. Se fosse ao contrário, eu também brigaria com você.

— Sabe ser séria, e ainda é tão jovem. Às vezes, me esqueço de que você é jovem; sua segurança e seu compor­tamento me confundem.

— Não, não é assim que estou agora — ela disse, passando as mãos nos cabelos.

— Você está linda. — Chegou bem perto dela. — Você é muito atraente, Tâmara... irresistível. Como posso dormir sossegado, sabendo que está no quarto ao lado? — Sentou-se na cama e passou a mão pelo ombro dela. — Fico fascinado com você, sinto-me pegando fogo.

Ouvia-o atentamente; seu corpo implorava a Leo que a possuísse. Parecia que estavam de volta àquele dia, na praia: eram os mesmos desejos e impulsos. Aproximou-se dele; estava fora de si.

Leo não resistiu e envolveu-a nos braços. Seus corpos abraçados pediam por carinhos, seus olhares eram de desejo e Leo não conteve a vontade de beijá-la.

Ela não fazia a mínima idéia de como seria o primeiro beijo deles, mas Leo foi delicado: encostou seus lábios úmi-dos, despertando outros desejos no corpo de Tâmara.

Deitou-a na cama, desamarrou o roupão e deitou-se ao lado dela. Seus corpos estavam quentes, apaixonados, loucos de amor. Os olhos azuis de Leo brilhavam.

— Quero você, Tâmara. — Seu tom era de desespero. — Quero você!

Mais do que as palavras, seu corpo ardente dizia tudo.

— Leo, eu...

Ele silenciou-a com seus beijos.

— Não fale nada, apenas sinta, Sinta o desejo que há entre nossos corpos, o prazer que podemos trocar.

— Mas, Leo... — Tentava trazê-lo de volta à realidade, mas ela mesma sentia-se completamente envolvida por seus sentimentos.

— Sinta, Tâmara — sussurrou.

Seu corpo estava alucinado de desejo. Leo levantou a camisola e acariciou-a. Tâmara não imaginava que existisse tanto prazer, nunca ninguém a tinha tocado daquela ma­neira. Os dedos dele percorriam seu corpo, deixando-a de­sesperada de paixão.

Estavam envolvidos pelo amor e não conseguiam parar. Leo, delicadamente, começou a tirar a camisola dela.

— Oh, por favor, Leo! Não... — Seus olhos arregalaram-se ao ver a própria nudez.

Ele prendeu a respiração.

— Ah, sim — murmurou, quase sem voz. — Ah, sim, querida — repetiu, apaixonadamente.

Tâmara entregava-se aos beijos e às carícias. Passou as mãos pelo corpo de Leo e tentou desamarrar sua calça; mas ele a afastou e disse:

— Ainda não, Tâmara.

— Por favor, Leo! — Seu corpo implorava para ser possuída. Ele levantou-se e afastou-se para vê-la melhor.

— Quero ver cada detalhe de seu corpo maravilhoso... não quero tê-lo no primeiro impulso. Quero que você me veja também. Quero excitá-la mais que qualquer outro ho­mem que já tenha possuído você. Quero que você me deseje muito, e só a mim.

Ela ficou perturbada ao ouvir isso.

— Você não deve dizer isso!

— A única coisa que desejo é fazer amor com você a noite inteira, Quero que você não pense em nenhum outro homem, não deseje ninguém, além de mim. Será que é difícil de entender?

Desamarrou a calça do pijama, deixou-a cair e voltou a deitar-se na cama. Seus corpos quase eram um só, quase...

Tâmara respondia a todos os movimentos de Leo, seu corpo deleitava-se de prazer; mas lembrou-se de que tinha que fazê-lo parar, não podia deixar que a possuísse.

— O que está fazendo? — ele perguntou, sussurrando, percebendo que ela se retraía. — Por que ficou tão fria.

— Porque... porque você está agindo como um tarado! — disse, encarando-o, sentindo-se fraca ao ver que Leo se afas­tava. — Você me quer só para provar a sua virilidade, a sua masculinidade. Não conseguira isso de mim, quero que saia do quarto. Vá embora!

Leo levantou-se, subitamente inibido com a própria nu­dez. Seus olhos percorreram a corpo de Tâmara, que se cobriu rapidamente.

— Um pouco tarde, não acha? — Leo ainda estava louco de desejo.

— Foi você quem começou! — Encarou-o, ressentida.

— Mas você não me impediu!

— Eu... eu tentei.

— Não, não mesmo! Acha que sua frieza me tocou. Tâmara sentou-se, agarrando o lençol junto ao pescoço.

— Não o chamei para vir aqui, ninguém o convidou. Leo abaixou-se e pegou suas roupas; mas não se vestiu.

— Você sempre se oferece, quando olha para mim. Não poderia acontecer outra coisa, desde o momento em que entrei aqui. Percebi que queria me seduzir, seu corpo me chamava.

— Eu não fiz isso!

— Sim, fez sim. — Passou a mão por entre os cabelos. — Devo estar ficando maluco. Meu Deus, tenho que sair daqui.

— Gostaria que se fosse — ela falou baixinho. Leo olhava-a, demonstrando o tormento que sentia.

— E pensar no que eu falei outro dia! Se não controlar o meu desejo, isso vai acontecer sempre; mas eu vou mudar. Desta vez vai ser diferente, prometo a você!

— Tomara — ela disse, não muito certa se era aquilo o que queria.

 

No dia seguinte. Tâmara acordou meio zonza. Pensou que tivesse sonhado, mas, vendo a camisola jogada no chão, lembrou-se do que havia acontecido entre ela e Leo.

Teve que admitir que não tinha freado seus impulsos na noite anterior. Mas onde estava a indiferença que Leo pro­meteu que teria? Assim que se tocaram, seus corpos foram dominados pelo desejo.

Arrependia-se de tê-lo feito parar. Ela amava Leo e, como toda mulher apaixonada, queria entregar-se ao seu amor! Gostaria de ter ficado nos braços dele a noite inteira.

E isso quase teria acontecido. Como é que suportariam viver juntos sem se tocarem? Será que conseguiriam abafar seus sentimentos? Odiava-se por não ter as respostas. Precisava esquecê-lo, não podia mais se deixar envolver por Leo.

O que a tinha feito voltar à realidade na noite, anterior foi a referência que ele fez aos outros homens de sua vida. Se a possuísse, saberia que ela nunca havia sido de outro homem. Isso nunca poderia acontecer, seria o seu fim.

Levantou-se, devagar, pensando se teria coragem para des­cer e encará-lo normalmente. Não seria capaz disso, teria que tomar um banho frio e ficar mais calma. Tinha chorado muito na noite anterior, seus olhos estavam inchados. Entrou no banheiro e parou em frente ao espelho; seu rosto estava triste. Não podia deixar que Leo a visse naquele estado.

Tomou banho e maquilou-se um pouco. Ficou com outra aparência. Desceu, decidida a enfrentar a situação. Seus nervos estavam à flor da pele ao entrar na sala, mas não havia ninguém. Lucy e Kelly estavam brincando do lado de fora da casa e não havia sinal de Leo.

— Bom dia, sra. Marcose — Lucy cumprimentou-a, sorrindo.

— Desculpe, Lucy, perdi a hora. Kelly já tomou o café?

— Já, sim. Tomamos o desjejum com o sr. Marcose. Ele pediu para que ninguém a incomodasse e a deixasse dormir bastante.

Tâmara corou e torceu para que Lucy não percebesse.

— Obrigada. — Serviu-se de café e perguntou: — Leo... meu marido já foi para a praia?

— O sr. Marcose não está, saiu há uma hora.

— Saiu

— Sim. Disse que a senhora sabe onde ele está.

— Foi sõ isso que ele falou?

Lucy pegou Kelly no colo e nem percebeu o desaponta­mento na voz de Tâmara.

— Disse também que não voltaria para o jantar e que a senhora já estava informada.

Tâmara voltou a tomar café, desejando não pensar mais no assunto, mas não conseguiu. Leo estava tentando ignorar o que havia ocorrido entre eles. Suspirou: nunca seria capaz de esquecer os carinhos dele. Teria que esperá-lo chegar em casa e... querendo ou não, encará-lo friamente.

— Seu marido me pediu para ficar com Kelly, sra. Mar­cose... — Lucy olhava-a, receosa. — A senhora se importa?

Bem, pelo menos alguém naquela casa se preocupava em saber sua opinião.

— Não, Lucy, não me importo. Eu... estou pensando em dar uma caminhada pela praia. Quer ir junto?

— Será ótimo, sra. Marcose. Vou pegar as coisas de Kelly e volto já.

Caminharam até a praia. Lucy e a menina sentaram-se debaixo do guarda-sol e Tâmara continuou andando na di-reção da casa de Neil Adams. Não podia ser muito longe, se ele sempre nadava aquela distância. Precisava mudar de ares, não aguentava mais ficar dentro de casa. Neil a convidara: por que ela não podia lhe fazer uma visita?

Andou bastante até chegar na casa dele, mais do que tinha imaginado. Viu que havia outras pessoas com Neil, sentadas na frente da casa. Teve vontade de voltar, mas, depois de andar tanto, precisava de uma bebida gelada.

Alguns rapazes se levantaram e foram para o mar. Na­quele momento, Neil avistou-a e chamou-a, satisfeito:

— Tâmara! Venha cá.

Apresentou-a aos amigos e levou-a para dentro da casa.

— Nossa, quanta gente! — ela comentou, bebendo um gole de limonada.

— E não estão todos aqui! — Ele riu. — No Natal, seremos doze. Três homens e três mulheres estão fazendo compras em Nice.

— O que vocês fazem durante o dia?

— Nadamos, fazemos caça submarina, tomamos banho de sol... Na verdade, seis dos que estão aqui vieram a trabalho. Bob é o fotógrafo; Paul, o produtor; Sheila, uma das modelos, e as outras três que estão em Nice também são modelos.

Tâmara tinha reconhecido Sheila no momento em que a viu: uma morena de olhos azuis, que saía sempre em capas de revista. Já tinha feito viagens como aquela, mas nunca para lugares tão sofisticados. As modelos que estavam ali de­viam ser muito famosas, pois o ambiente era bem refinado.

— Parece que todos se divertem muito — comentou.

— E como! Vão embora daqui a três dias, e eu voltarei a ter paz e tranquilidade. Quando você viaja?

— Leo ainda não disse nada.

— Poderíamos nos encontrar, quando o pessoal for em­bora. Será que Leo viria aqui?

— Não sei... Ele não sabe do nosso encontro.

— Não? — Neil repetiu, pensativo. — Imaginava isso. Talvez eu possa aparecer na sua casa. Não o conheço muito bem, mas acho que ele aceitaria um convite para vir aqui.

— Podemos tentar. — Tâmara não tinha muita certeza da reação de Leo: ele podia ser arrogante e agressivo. — Eu gostaria de vir.

— Onde está o bebê? — Neil perguntou, enchendo nova­mente o copo dela.

— Está com a babá. Leo, como um bom grego, acha que não devo ficar o tempo todo com o bebê. Eu, particularmente, não aprovo a idéia, mas ele é muito insistente.

— Posso imaginar. Trouxe maio?

— Estou com ele por baixo da roupa. Gostaria de uma toalha, é possível?

— Claro, vou pegar. — Obrigada.

Enquanto ele saiu, Tâmara tirou o vestido. Seu biquini cor de ferrugem combinava bem com o bronzeado. Seu corpo era perfeito: pernas longas, curvas nos lugares certos.

— Uau! — Neil exclamou, entregando-lhe a toalha. — Que beleza!

— Você costuma fazer elogios para mulheres casadas?

— Tâmara perguntou, com o rosto vermelho.

— Se são como você, sim... se não, não. Que perda para o mundo da fotografia... E a nossa perda é o lucro de Leo.

— É — Tâmara disse, desanimada.

— Não me parece que você esteja convencida disso. — Ele olhava-a nos olhos.

— Estou, mas acho que Leo não pensa assim.

— Claro que pensa — ele afirmou, puxando-a para fora.

— Vamos nadar, está um dia lindo para ser aproveitado. Nadaram por meia hora e depois ficaram conversando. Ti­nham muita coisa em comum, conheciam as mesmas pessoas e isso ajudava a animar a conversa. Quando Tâmara se deu conta da hora, já eram cinco e meia: precisava voltar para casa.

Vestiu-se e sorriu, agradecida, para Neil. A visita tinha lhe feito bem, estava alegre e relaxada, mas agora era hora de voltar para o mundo da indiferença junto de Leo. Se ao menos ele não a ignorasse tanto! Mas, na noite anterior, ele não tinha...

Parou de pensar naquilo. Era passado, melhor esquecer o que havia acontecido.

— Tenho que ir, Neil — disse, devolvendo a toalha.

— Fique para o jantar. Já recusou o almoço, não pode recusar também o jantar.

— Recusei o almoço, porque não estava com fome, mas tenho que jantar em casa.

— Leo está esperando por você?

— Não, mas eu...

— Então, vai ficar aqui.

— Não posso ficar aqui desse jeito.

— Não há problema, levo-a para casa e espero você se trocar. O jantar aqui é tipo americano, cada um se serve na hora que quer.

Tâmara estava receosa, mas queria encontrar outras pes­soas e conversar. Por que não podia aceitar? Leo não ia mesmo jantar em casa, e comer sozinha era horrível.

— Está bem, aceito, mas tenho que ir para casa ver o bebê e trocar de roupa.

— Ótimo, vou pegar a chave do carro. — Não demorou nada. Voltou sorrindo. — Pronta?

— Pronta — ela concordou e olhou, incerta, para os ami­gos de Neil que estavam na praia. — Não é melhor avisá-los?

— Oh, não, não vão sentir a nossa falta. — Abriu a porta do carro e a ajudou a entrar. Era um conversível branco, ideal para aquele tempo quente. — Somos liberais, cada um faz o que bem entende.

Não demoraram nem cinco minutos para chegar. Tâmara ofereceu-lhe um drinque e subiu.

Lucy estava acabando de dar banho em Kelly. Foi ao encontro delas. Sentia-se culpada por não ter ficado com a menina durante o dia, mas fazia tempo que não tirava um dia só para si mesma.

— Ela se comportou bem? — perguntou, pegando Kelly no colo.

— Ela nunca dá trabalho, sra. Marcose — Lucy respon­deu, sorrindo.

— O sr. Marcose telefonou? — perguntou, com indiferen­ça, vestindo a camisola em Kelly.

— Não. A senhora estava esperando que ele ligasse?

— Não, mas imaginei que podia ter mudado de idéia. Vou jantar fora e não gostaria que ele chegasse antes de mim.

Beijou Kelly.

— Durma bem, querida. Virei vê-la, quando voltar. — Colocou-a nos braços de Lucy. — Não devo chegar tarde. Provavelmente, antes mesmo do sr. Marcose.

Foi para o quarto e tomou um banho ligeiro. Escolheu um vestido amarelo, vestiu-o, penteou os cabelos e passou batom. Não queria deixar Neil esperando muito tempo.

— Que beleza! — Neil exclamou, ao vê-la entrar na sala. — Podemos ir?

— Podemos, Kelly está ótima, não devia ter me preocupado.

— Mãe é sempre mãe. Ela já foi dormir?

— Já.

— Era o que todas as meninas bonitas deviam fazer — ele disse, olhando-a, cheio de insinuações.

— Está me paquerando de novo. — Riu. — Esqueceu que sou casada?

— Gosto de paquerar mulheres casadas, é mais seguro — ele respondeu, entrando no carro. — As solteiras querem logo namorar sério, essas coisas.

— É mais seguro se o marido não é ciumento. — Tâmara riu, descontraída.

— Mas ele está ocupado no trabalho.

— Ele quem?

— Quem? Leo, é claro.

— Ah! — Ela corou. — Mas não o imagino com ciúme.

— Eu imagino. Talvez você nunca tenha dado motivo para isso. O temperamento dos gregos é fogo, nessas situações.

Oh, ela sabia, já tinha conhecido a fúria de Leo, mas não queria pensar nele, queria se distrair e esquecer que estava apaixonada.

A noite começou muito agradavelmente. Os convidados que tinham ido para Nice ainda não haviam voltado, mas Neil lhe garantiu que logo chegariam, e iriam dançar na praia.

Sheila e ela eram as únicas mulheres da festa e não pararam de dançar até que se sentiram exaustas. Bob, que também era fotógrafo, pegou o violão e começou a cantar. As músicas eram conhecidas e todos o acompanhavam.

O ambiente estava descontraído e alegre. Tâmara encostou a cabeça no ombro de Neil e continuaram a cantar, tranqui­lamente, até que, de repente, ela deparou com um olhar que reprovava seu comportamento. Empalideceu e todo seu bom humor foi embora: Leo encarava-a, com desprezo.

O pessoal que estava fazendo compras em Nice tinha voltado, e Tâmara ficou paralisada quando viu que Rachel Winter estava entre eles. Ela segurava o braço de Leo como se ele fosse seu companheiro. Tâmara controlou-se para es­conder o ciúme que estava sentindo.

Neil segurou seu braço, quando viu que ela estava indo na direção do outro casal.

— Fique calma. Tâmara — disse baixinho. — Rachel adoraria provocar uma briga.

Sabia que ele tinha razão, mas isso não diminuía sua raiva. Ao contrário, o ar superior e a arrogância de Leo fizeram seu ódio aumentar.

— Não demonstre ciúme. Tâmara — Neil aconselhou, ten­tando sorrir naturalmente. — É justamente isso o que ela quer.

Forçou-se a voltar à calma, mas não conseguiu, ao ver que Rachel Winter e seu marido se serviam de bebida, tran­quilamente.

— Mas é o meu marido, Neil. Não posso fingir que não o estou vendo com outra mulher

— É a primeira vez que isso acontece?

— O que você acha? Oh, sei que as coisas entre nós não andam bem, mas nunca pensei que fosse chegar a esse ponto. Sinto-me... sinto-me traída.

— Por que as coisas não andam bem?

— Está tudo errado. — Seus olhos se encheram de lá­grimas. — A única coisa que mantém o casamento é Kelly; nós a amamos demais.

— É, percebi isso. Mas, se as coisas vão mal... — ele balançou a cabeça. — Bem, Rachel é... é muito atraente e totalmente amoral. E Leo é... é um homem.

— Entendo o que você quer dizer, Neil, mas isso não torna as coisas mais aceitáveis.

— Sei disso, querida, — Pousou as mãos no ombro dela.

— Estou apenas tentando lhe dizer que o homem é muito diferente da mulher. Sexo faz parte da vida dele.

— E se o homem não o encontra em casa, sai à procura, não é assim?

— Qualquer coisa parecida — ele respondeu, embaraçado.

— E Rachel não deixa escapar nenhuma oportunidade.

— Sei disso, ela mesma me contou.

— Ela?

— É. Leo levou-a lá em casa há algumas semanas — Tâmara comentou, com relutância.

— Meu Deus! Ele fez isso mesmo? E você não desconfiou de nada?

— Eu... — Ela não queria olhar para Leo, não poderia suportar vê-lo com Rachel Winter. — Eu perguntei a ele sobre isso e ele me afirmou que não havia nada.

— O que você esperava que ele dissesse? Meu Deus, Tâ­mara, não pode ser tão ingênua!

— Acho que você tem razão.

— Bem, agora é hora de provar que concorda comigo. — Passou a mão no queixo dela, tentando acalmá-la. — Eles estão vindo para cá.

Tâmara estremeceu. Não queria vê-lo junto daquela mu­lher. Virou-se e encontrou o olhar furioso do marido.

Ele estava muito atraente. Vestia um terno creme e uma camisa marrom, aberta no peito. Leo tinha muito gosto, sabia como cuidar de si mesmo, mas agora o que mais chamava a atenção era o seu rosto: o olhar penetrante e os lábios tensos.

— Neil — cumprimentou, antes de se dirigir a Tâmara.

— Não sabia que você vinha aqui. — Sua voz era fria. — Se soubesse, podíamos ter vindo juntos...

Quanto fingimento! Leo estava de braço dado com a amante e agia como se tudo fosse muito natural. Tâmara tinha acreditado, quando ele lhe garantiu que eram só ami­gos, mas agora... Ah, ela ia entrar no jogo dele, fingindo que não estava com raiva. Mas, quando chegasse em casa, ele ia ter que ouvir tudo o que ela tinha a dizer.

— Não sabia que vinha. Neil me convidou durante a tarde — disse, sorrindo.

— Desde quando você conhece a minha esposa? — Leo perguntou, virando-se para ele.

— Bem, eu...

— Nós nos conhecemos há anos — Tâmara o interrompeu. Sentia que tinha aprendido muito, desde o primeiro encontro com Neil. Descobriu que, se continuasse a amar o marido, sofreria demais. Não podia imaginá-lo com outra mulher depois do que havia acontecido entre eles, na noite anterior.

— Leo e eu fizemos compras esta manhã, não é mesmo, querido? — Rachel falou, sentindo que devia entrar na con­versa. Segurava o braço dele como se fosse sua propriedade.

— Nós nos encontramos por acaso — ele disse, defen­dendo-se do olhar acusador de Tâmara.

— Almoçamos juntos também — a outra falou, olhando provocante para Leo. Queria provar que tinha passado o dia todo com eie.

— Sim — Leo concordou rapidamente.

Tâmara sentia que estava sendo apunhalada. Era evi­dente que Leo tinha corrido para os braços daquela mulher...

— Como foi o seu encontro de negócios, querido? — per­guntou, percebendo que ele estava embaraçado.

— Acabou muito mais cedo do que estava previsto — ele respondeu, firme.

Claro, ela podia imaginá-lo despachando rapidamente o que tinha para fazer, para passar o resto do tempo com Rachel Winter, uma mulher maravilhosa.

— Entendo. — Sua voz era meiga. — Que pena que você não me avisou.

— Parece-me que não foi necessário.

— Não, acho que não. — Olhou para Rachel, ignorando a satisfação que brilhava em seus olhos. — É bom vê-la novamente, Rachel.

— É mesmo?

Tâmara teve vontade de dar um tapa naquela mulher e de berrar para todo mundo que seu marido a amava, mas sabia que não era verdade. Leo não devia sentir nada por ela; tinha até convidado a amante para aquelas férias.

Não respondeu ao comentário de Rachel; olhou desespe-radamente para Neil e disse.

— Neil estava de saída para me levar para casa.

Leo ficou furioso ao ouvi-la; seus oíhos não escondiam a raiva que sentia

— Já que estou aqui, posso muito bem levar minha esposa para casa — disse, olhando para o fotógrafo.

— Oh, mas... — Ela ia protestar, mas ficou quieta ao ver os oihos fuzilantes de Leo.

— Nós acabamos de chegar, querido — Rachel falou, im­plorando para que ele ficasse. — Não precisa ir agora.

— Preciso, sim.

— Almoçamos juntos amanhã? — ela insistiu, os olhos cheios de sedução.

— Não tenho certeza...

— É uma ótima idéia — Neil o interrompeu. — Traga Tâmara com você. Meu carro vai para o conserto e não poderei buscá-la; mas, se você vem, Leo, pode trazê-la junto.

Neil falava como se ele e Tâmara já tivessem combinado almoçar juntos, e ela ficou agradecida pelo apoio morai que ele estava lhe dando.

— Você concorda? — Leo perguntou. Seu olhar não de­monstrava o que estava sentindo com relação a Neil, mas pedia para que ela recusasse o convite.

Mas Tâmara não ia permitir que ele a trancasse em casa e ficasse saindo sozinho com a amante.

— Será ótimo — concordou.

— Muito bem — ele disse rapidamente. — A uma hora, estaremos aqui.

— Combinado. Vejo-a amanhã. Tâmara. — Neil pegou o braço dela e a ajudou a se afastar do outro casal. — Man­tenha a calma. Apesar de tudo, ele é seu marido.

Tâmara virou-se para Rachel e a viu, cheia de charme, conversando com Leo.

— Diga isso a ela.

— As coisas nem sempre são o que aparentam. Dê uma chance a Leo de se explicar.

Ela deu, ficando quieta o caminho inteiro de volta para casa. O silêncio dentro do carro era opressivo. Leo não escondia a raiva que estava sentindo por dentro. Mas por que estava assim? Ela é quem tinha o direito de ficar furiosa: tinha sido muito humilhante vê-lo entrando de braço dado com a amante.

Entraram na casa, e Tâmara não resistiu à vontade de falar

— Leo, eu...

— Fique quieta! Não provoque uma discussão aqui em­baixo. Vamos para o quarto, não quero que os empregados ouçam a nossa conversa.

— Eles não podem, não é mesmo? —Sua voz era de ressentimento. — Fui humilhada na frente daquelas pessoas e os seus empregados não podem nem saber que você tem uma amante!

— Disse para ficar quieta! Vamos para o seu quarto e lá conversaremos.

— Meu quarto?

— Não precisa se preocupar comigo — Leo disse, quase sorrindo. — Não estou com a mínima disposição de fazer amor com você.

— Porque já fez amor hoje, não é?

O rosto dele se transformou. Leo estava realmente furioso.

— Vamos para o seu quarto!

 

Tamara entrou no quarto, acendeu o abajur e virou-se para Leo.

— Pronto, estamos no meu quarto. E agora?

— Quero saber o que você estava fazendo na casa de Neil. — Seus olhos estavam fixos no rosto dela.

— Você quer saber o que eu... — Riu. Colocou as mãos na cintura e disse: — Não acha mais importante falarmos do fato de você ter passado o dia inteiro com outra mulher? E que, depois de terem feito amor, foram para a casa de outra pessoa? Acho isso muito mais importante!

— Suas acusações são injustas.

— São mesmo, querido?

— Você não tem nenhuma prova...

— Tenho sim, seu cínico. Você me disse que estava pre­cisando de umas férias, mas o que queria mesmo era ficar perto da sua namorada. Você me despreza!

— Eu desprezo você? — Seu rosto estava vermelho. — Você me acende inteiro e depois me recusa, me força a ir buscar a satisfação com outra mulher; e ainda diz que eu desprezo você? Será que não imagina a tortura que provocou dentro de mim, desde ontem à noite?

— Ah, percebo, e você saiu correndo para a sua amante e pôde desabafar! — Tâmara gritou, perdendo a noção do que estava dizendo.

— E se isso for verdade? — ele explodiu. — Não tenho o direito de ir buscar a minha satisfação com quem me queira?

— Não, não tem. Tenho as mesmas necessidades que você, e não posso fazer nada. Ah, desculpe; esqueci que as mulheres não sentem os mesmos desejos, não é verdade? Deveria me sentar e sentir alívio ao ver que você não me quer. — Balançou a cabeça. — Mas não é assim. Leo. As mulheres também têm desejos; a única diferença é que nós não podemos demonstrá-los.

— E por isso que estava nos braços de Neil Adams, poucos minutos atrás? Estava querendo satisfazer suas necessida­des? — Olhava-a, sério.

— O que o faz pensar que eu já não estivesse satisfeita? — Encarou-o, defendendo-se. — Fui para a casa de Neil antes do almoço.

— Meu Deus! Quer dizer que nós dois fomos saciar nossos desejos com outras pessoas?

Tâmara não podia continuar a mentir; sua raiva estava passando e queria contar a verdade para Leo.

— Não fiz nada disso. Não poderia...

— Está tentando me dizer que esse casamento significa alguma coisa para você? — Seu olhar estava fixo nela, ob­servando todas as suas reações.

— Isso não vem ao caso. O que importa é que eu acredito na fidelidade no casamento, mas me parece que você não pensa assim.

— E se eu pensar? — perguntou, acalmando-se também. — Mas... não pensa! Rachel e você, você...

— Não fizemos nada do que você está pensando. Admito que Rachel não pára de tentar me seduzir, mas não seria capaz de encostar um dedo nela.

— Mas você acabou de falar...

— Falei apenas o que você esperava ouvir, Tâmara! Não consigo mais olhar para nenhuma mulher que não seja você. Quando a vi com Neil, tive vontade de dar um soco na cara dele. — Passou a mão pela testa úmida. — Não sei como pude me controlar.

— Não entendo, Leo, pensei que você... Rachel fez de tudo para que eu pensasse que você...

— Que eu era amante dela... Faz isso de propósito, e fui um bobo, permitindo que falasse o que quisesse. — Sentou-se na cama e colocou as mãos na cabeça — Você está me arruinando!

— Mas eu não fiz nada!

— Nem precisa. Se o casamento continuar como está, não dará certo — disse, encarando-a.

Tâmara sentiu o coração disparar; suas pernas estavam trémulas.

— Leo, nós não podemos...

— Por que não? — Sua voz era calma. — Não posso mais ficar assim. Desde que a vi pela primeira vez, tive vontade de tê-la nos braços; e agora, não consigo pensar em nada que não seja você. Será que me compreende?

Sua vontade era correr para os braços dele e entregar-se completamente. Seria difícil conter aquele amor, principal­mente agora que sabia que ele também a desejava. Mas isso era impossível; tinha que reprimir suas vontades!

— Não dará certo, Leo.

— Por que não? Somos marido e mulher, nada mais nor­mal do que...

— Não! Eu... não posso, entende?

— Sente repulsa por mim?

— Você sabe que não. — Não conseguia encará-lo; os olhos de Leo estavam cheios de desejo. — Ontem à noite,..

— Ontem à noite, você me quis. Eu não devia ter falado; teria sido melhor se eu tivesse amado você, até não termos forças para mais nada. Não pude esconder o que sinto por você, e sei que você também acabaria...

— Não, eu não. — Sentou-se ao lado dele e continuou: — Não permitiria que você fizesse amor comigo, e não posso explicar o porquê. Um dia, quando Kelly crescer e for capaz de entender tudo, contarei o que você quiser saber.

— Um dia! Mas eu a quero agora — ele disse, puxando-a para perto. Tâmara não protestou; não aguentaria resistir aos lábios implorantes de Leo. Abraçaram-se e deitaram lado a lado.

Ambos se entregaram aos beijos e às carícias: não podiam calar aquele amor. Leo mordiscava sua orelha e Tâmara ia perdendo o controle sobre si mesma. Não percebeu quando ele abriu o zíper do vestido para tocar sua pele.

— Deixe-me ficar com você esta noite, Tâmara — ele pediu. — Por favor.

Oh, Deus, aquilo era tudo o que ela queria; mas, como podia se permitir? Bastava uma noite com ele, e perderia tudo o que amava no mundo: Kelly e Leo. Conhecia o orgulho dele. Assim que descobrisse a verdade, não permitiria que ela ficasse junto deles.

Não respondeu. Dizer que não o desejava seria impossível; sua única alternativa era relaxar.

— O que há? O que aconteceu? — ele perguntou, levan­tando a cabeça.

Sua expressão era de alguém que estivesse sendo inter­rompido no meio de um sonho. Ela percebeu que tinha que falar alguma coisa para acabar logo com aquilo.

— Não posso, Leo. Não posso continuar.

— Por que não? — Ele fazia força para entendê-la. — Se você estiver se sentindo mal...

— Não é isso.

— Então, o que é? — perguntou, voltando a beijá-la.

— Eu... não posso continuar porque... porque estaria usando você apenas como substituto.

— Substituto? — Seu olhar se modificou. — De quem? Tâmara respirou fundo: tinha que inventar alguma coisa

para não se entregar a ele. Não queria mentir, mas era o único jeito.

— De Alex, é claro — falou, odiando-se por mentir. Leo não comentou nada. Levantou-se bruscamente, como

se tivesse levado um banho de água fria.

— Leo, eu...

— Não diga mais nada — falou por entre os dentes. — Quer dizer que todo esse tempo que ficamos juntos fui apenas um substituto do meu irmão? Meu Deus, você não presta!

Tâmara estremeceu: a reação dele foi mais violenta do que tinha previsto.

— Você é muito parecido com ele, não pude evitar. Leo voltou a olhá-la, confuso.

— Você já disse isso uma vez, mas éramos completamente diferentes.

— Talvez não no modo de ser. Mas, fisicamente.,. Sempre que olho para você me lembro dele. Se permitisse que me amasse, estaria fazendo amor com Alex e não com você.

— Entendo — ele disse, abotoando a camisa. — Você realmente amava Alex?

— Eu... sim! Mas também sou tudo aquilo que você falou a meu respeito. — Vendo que Leo não a entendia, explicou: — Agora é que tenho certeza de que Alex foi o pai de Kelly. Quando ela nasceu, não pude saber quem era o pai; e Alex nem imaginava que fosse ele.

— Porque sabia quem você era! — ele disse cruelmente.

— Isso mesmo. Mas eu o amei, e foi por isso que deixei Kelly nascer.

— E não posso fazer amor com você porque você se lembra dele?

— Exato — ela concordou. — Você me entende?

— Ah, sim, entendo. Você acha que somos muito parecidos?

— Muito.

— Está bem. Eu a verei amanhã. Não quero ser o subs­tituto de ninguém, principalmente do meu irmão — ele dis­se, saindo calmamente do quarto.

O café da manhã teria sido tomado em completo silêncio, se não fossem os murmúrios de Kelly. Leo não estava bravo; seu rosto demonstrava preocupação. Tâmara não se arris­cava a faiar nada, não conseguia acreditar em tudo o que tinha dito. Havia prometido a si mesma não mentir mais e fez justamente o oposto,

Leo devia odiá-la; ela mesma sentia ódio do próprio com­portamento. Deixara-o declarar seus sentimentos, para de­pois recusá-lo, dizendo que preferia o irmão.

A reação dele foi estranha: de bravo, ficou pensativo, e era assim que estava se comportando naquela manhã.

Leo colocou o jornal sobre a mesa. Sorriu para Kelly e olhou para Tâmara.

— Voltarei para Londres depois de amanhã — informou.

— Não terei tempo de arrumar nossas coisas — respondeu, não escondendo a surpresa. — Está muito em cima da hora

Leo abaixou-se para pegar o chocalho de Kelly antes de dizer alguma coisa. Seus movimentos eram tranquilos e Tâ­mara percebeu que nunca iam conversar sobre o que tinha acontecido na noite anterior.

— Eu disse que voltarei. —- Seu olhar era frio. — Nossas férias foram programadas para algumas semanas, não vejo motivo para você se apressar.

— Mas eu... Você quer voltar sozinho?

— Essa era a minha intenção. — Pegou novamente o brinquedo de Kelly e entregou-o, dizendo: — Se não parar de jogar isso no chão, queridinha, vou tirá-lo de você.

A resposta de Kelly foi jogá-lo de novo. Sorriu, alegre­mente, e disse:

— Papai...

Tâmara não pôde deixar de sorrir. Leo também não resistiu.

— Você não quer que voltemos juntos? — ela repetiu, voltando ao assunto.

— Não é necessário. Você ficará bem com Kelly.

— Mas você... Depois de amanhã? — perguntou, lem­brando-se da data.

— Exato.

— Entendo — disse, com firmeza.

— O que você entende?

— Já sei por que você quer voltar para Londres. É tão evidente! — Tâmara riu, nervosa. — Neil me contou o dia em que Rachel voltará para lá e é depois de amanhã. Vocês não perdem tempo! E pensar que eu acreditei na sua ho­nestidade. Como fui boba!

— Obrigado pelo voto de confiança. E fique sabendo que eu não sabia que Rachel estava de partida.

— Não acredito!

— Acredite no que quiser. Sei o que estou falando.

— Por que você não me diz a verdade? Será que não pode admitir? Você pode fazer o que bem entender, não fará nenhuma diferença para mim.

— Disso tenho certeza. Mas não vou mentir para ajudá-la a se sentir menos culpada.

— Não me sinto culpada.

— Pois devia. Será que percebe o quanto se oferece, quan­do está comigo? É difícil de resistir; os homens não têm muito controle sobre os seus desejos.

— Pensei que você não perdesse o controle.

— Com você é diferente, e não tenho vergonha de confessar. E, quando eu pegar fogo, não hesitarei em exigir o que é meu.

— Você... você não conseguirá! — ela exclamou, perce­bendo que suas mentiras tinham sido em vão.

— Conseguirei, Tâmara. Fique preparada. — Levantou-se e saiu, sem dizer mais nada.

Acompanhou-o com o olhar e percebeu que Leo estava falando sério: ele ia possuí-la de qualquer jeito. Kelly jogou a chocalho na chão para lhe chamar a atenção e Tâmara olhou para ela, sorrindo.

— Querida, não me esqueci de você. O que faremos agora? Vamos à praia ou dar um passeio? — Pegou a menina no colo e foi aprontá-la para saírem.

A manhã passava tranquila, e Tâmara se esforçava para esquecer Leo; mas não podia frear seus pensamentos. Sen­tia-se excitada ao imaginar a maneira pela qual Leo passaria a tratá-la.

Um pouco antes da hora da almoço, ele chegou e subiu para se trocar. Quando voltou para a sala, estava com uma aparência irresistível. Vestia uma calça e uma camisa es­portes cor de creme. Parecia muito seguro de si.

— Está pronta para ir? — perguntou friamente.

— Sim — respondeu, dando os últimos retoques no vestido verde.

A casa de Neil parecia mais cheia do que na véspera. Assim que entraram, Leo dirigiu-se para Rachel. Tâmara ficou parada, pois não conhecia as pessoas que estavam ali; mas Neil aproximou-se trazendo um copo de cuba-libre.

— Como está? — perguntou, entregando-lhe a copo.

— Tudo bem — respondeu, percebendo que Leo os observava.

— Seu rosto maravilhoso me diz outra coisa — Neil falou, notando as olheiras. — Não se esqueça de que sou fotógrafo. Não precisa mentir para mim. Sua expressão me diz que está triste.

— Não quero pensar nisso.

— Você não pode ficar com Leo apenas para manter a criança! Acabará se estragando e a Kelly também. Sei muito bem disso, pois vivi esse tipo de situação. Meus pais se odiavam, mas ficaram juntos por causa dos filhos. É horrível para a criança; ela sente e percebe que é o único elo do casamento. Kelly não precisa passar por essa experiência.

— Mas não é o nosso caso...

— As pessoas sempre acham que o que acontece com elas é diferente — ele falou, sorrindo.

— Mas é, realmente. Nós... não nos amamos, esse é o problema.

— Você se casou por causa de Kelly?

— Sim, mas não é o que você está pensando — respondeu, sem olhar para Neil. Seu rosto estava vermelho.

— Pensei que o bebê fosse fruto de um gesto impensado de Leo. — Sua. voz soava como se fosse difícil imaginá-lo tendo esses momentos.

— Mas não foi.

— Que rolo!

— Concordo plenamente. — Tâmara riu, nervosa.

— Ele não está tendo um caso com Rachel — Neil falou, muito sério.

— Como sabe disso?

— Porque perguntei a ela.

— Você... perguntou? E ela simplesmente respondeu?

— Não, não foi bem assim. — Ele estava embaraçado. — Eu... falei para ela que estava interessado em você e que queria saber o que achava da opinião de Leo.

— Não acredito!

— Falei e funcionou. Rachel me respondeu que ia tentar seduzi-lo nos próximos dias, e que adiaria a viagem, se percebesse que Leo estava sentindo alguma atração.

Leo tinha lhe dito a verdade, quando falou que não sabia da partida de Rachel; e ela não tinha acreditado. Talvez o estivesse julgando mal.

— Acho que é melhor irmos almoçar — Neil sugeriu. — Espero que se sente do meu lado, pode ser?

— Leo não gostará disso.

— Leo! Se não existisse o bebê, eu tiraria você dele agora mesmo. Não merece alguém tão bonita como você!

Tâmara sentou-se ao lado de Neil. Rachel, entre ele e Leo. Não conseguia evitar o olhar do marido, que mostrava claramente como detestava vê-la perto do outro. Todos di­vertiam-se e aproveitavam o almoço, mas estavam perce­bendo a tensão que existia entre aqueles quatro.

Na hora de servir o café, Leo estava a ponto de perder o controle. Colocou a xícara no pires e disse, com firmeza:

— Você deve estar fascinado pela minha esposa, Neil, pois não desgruda os olhos dela. Tenho certeza de que está perturbando Tâmara.

Todos na sala ficaram quietos e receosos do que poderia acontecer. Os olhares iam de Leo para Neil e dele para Tâmara. Ela não soube o que fazer; ficou paralisada, ao ouvir a franqueza do marido.

— Não acho sua esposa apenas fascinante, Leo — Neil respondeu, olhando profundamente para ela. — É maravi­lhosa. Mas não é por isso que não desgrudo os olhos dela. Há alguma coisa em seu rosto que me é extremamente fa­miliar. Talvez seja o modo como mexe a cabeça.

— Verdade? — Leo disse, forçando um sorriso.

— É. — Neil olhava-a, pensativo. — Acho que me lembra uma outra modelo. A cor dos cabelos é diferente, mas há alguma coisa que...

— Você deve estar se lembrando de Tiffany — Rachel disse, sem nenhum interesse; estava ficando aborrecida com aquela conversa.

Tâmara desviou o olhar; não queria nem imaginar o fim que aquele diálogo teria.

— Será? — Neil pensou. — Sim, é com ela mesma — concordou finalmente. — Você se parece com Tiffany. Lem­bro-me de que ela morreu há pouco tempo... Você a subs­tituiu naquelas fotos, Rachel. Como descobriu que era dela que eu estava me lembrando?

— Só podia ser. Elas..

— Mas não éramos nada parecidas — Tâmara a inter­rompeu rapidamente, mas sabendo que era muito tarde para tentar esconder a verdade. — Tiffany era loira e tinha olhos azuis, nada parecida comigo.

— Mas era, Tâmara — Neil insistiu. — Lembre-se de que eu tenho muita experiência em entender e captar as expressões das pessoas. Era exatamente dela que eu estava falando.

— Claro que era! — Raquel já não aguentava mais aquela conversa.

— Não seja grosseira, Rachel — Neil falou, irritado. Não entendia a atitude dela. — Por que tem tanta certeza?

— Porque eram irmãs. — Percebeu o espanto de Neil e riu. — Não sabia?

Tâmara parou de escutar o que estavam falando e olhou para Leo. Seu olhar estava cheio de desgosto e seu corpo, tenso. Tâmara culpou-se por ter deixado que aquilo acon­tecesse. Devia ter desconfiado que Rachel, cedo ou tarde, revelaria coisas que Leo não podia saber.

Não tinha meios de continuar a mentir. Não negaria o fato de ser irmã de Tiffany e seria muito delicado explicar para Leo o porquê de ter omitido sua identidade.

Percebeu, pelo olhar que ele lhe lançava, que teriam mui­to o que conversar em casa. Leo ia querer saber da morte de Tiffany e por que tinha acontecido.

Na hora em que aquelas perguntas fossem feitas, teria que revelar algumas verdades, e seria muito difícil para ela.

 

Leo dirigiu em completo silêncio. Ao chegarem lem casa. desceu e abriu a porta do carro para ela. Tâmara estava receosa do que poderia acontecer. Leo abriu a porta da casa e olhou para Tâmara. Seu rosto estava perturbado, não conseguiria mais ficar quieto.

— Por que escondeu isso de mim?

Já esperava pela pergunta, mas ainda não sabia como res­ponder. Fazia duas horas que Rachel Winter tinha revelado o segredo, e Tâmara não tinha descoberto um modo de se explicar.

— Não sei.

— Você devia ter imaginado como eu me sentiria, quando descobrisse que você é irmã da mulher que o meu irmão amava. Por que se casou comigo? Para vingar-se do que fiz à sua irmã?

— Não. Eu... não acreditava que sua família fosse nos ajudar — falou, controlando o que ia dizer. — Tiffany morreu porque amava seu irmão!

— E você teve uma filha dele; fez isso por vingança?

— Talvez. — Sua voz era baixa.

— Conte-me o que aconteceu. Quero entender o porquê de você ter uma criança com o homem que sua irmã amava. — Seu olhar estava arrogante, provocador.

— Por favor, Leo. Alguém pode entrar aqui, está quase na hora de Kelly acordar da sesta. Tenho que ir vê-la.

— Não aja como uma supermãe, Kelly pode esperar al­guns instantes. Há outras perguntas que estão me deixando confuso e gostaria de esclarecê-las.

— Tenho que ver Kelly, Leo.

— Você vai se sentar e responder o que eu quiser! — Fez uma pausa, esperando que ela se sentasse. — Como sua irmã encarou o bebê? Ela sabia que Alex era o pai?

— Sim, sabia. — Não podia mais fingir para Leo; tinha que responder tudo o que ele perguntasse e suas respostas a levariam à destruição.

— Você contou para ela? Mesmo sabendo que o amava?

— Não precisei falar nada.

— Claro. Mas como pôde ficar grávida? Não percebeu quan­to seria humilhante para ela vê-la carregando um filho dele?

— Não fiz isso! Eu... eu a amava muito. Nunca faria nada de mal a ela.

— Talvez seja verdade, mas você gostou de me ver hu­milhado, não? Ontem à noite...

— Quero esquecer o que houve — ela o interrompeu. — Já passou e aconteceu o que tinha que acontecer.

— Não é tão simples assim. Você falou uma coisa que me deixou preocupado. Disse-me que não poderia se entre­gar a mim porque eu a lembrava do meu irmão. — Sua voz estava tranquila. — Porque éramos muito parecidos, não foi o que disse?

A vontade de Tâmara era correr para os braços de Leo e deixar que ele a possuísse.

— Sim — murmurou, torcendo para que ele não perce­besse seus sentimentos.

— Entendo — respondeu, respirando fundo. — Espere um instante, Tâmara, por favor. Quero mostrar uma coisa para você.

— Eu... tenho que ir ver o bebê. — Espere um pouco!

Leo saiu e voltou com uma fotografia. Colocou-a na frente dela. Tâmara pegou-a, sentindo o coração apertado. Era uma foto de Tiffany junto de um rapaz. Estavam sorrindo, muito felizes.

— O que quer que eu diga? — Tâmara perguntou, olhando para Leo, sem entender o que ele pretendia.

— Esta é a sua irmã. — Leo perguntou, indicando a garota.

— É — respondeu, olhando novamente para a foto.

— E quem é que está do lado dela?

— Como posso saber?

O rapaz era muito bonito: alto, moreno, olhos castanhos. Sua expressão era de alguém que mantinha um segredo que apenas os dois sabiam: ele e Tiffany.

— Não tente insinuar nada de mal sobre Tiffany. Não me venha dizer que ela estava traindo o seu irmão.

— Não, lógico que não. Meu irmão sabia que ela o amava. — Olhou para a foto e perguntou de novo: — Quer dizer que você não conhece esse homem?

— Isso é importante?

— Muito importante,

— Você quer apenas arranjar um motivo para odiar Tiffany.

— Não, não é isso. O fato de você ter me mentido sobre Tiffany ser sua irmã...

— Não menti, ela também era uma grande amiga.

— Isso é secundário, Tâmara. Você podia ter me contado... mas preferiu ficar quieta. Pergunto-me o porquê disso e per­cebo que, se você me omitiu uma coisa, pode estar omitindo outras. Ontem à noite você me recusou, alegando que eu a lembrava do meu irmão; quando ouvi isso, fiquei chocado, mas não estava disposto a discutir. Hoje, passei o dia inteiro pensando sobre o assunto, e você acaba de confirmar minha suspeitas. Você nunca conheceu o meu irmão, não é?

— Como pode dizer isso? Kelly...

— É filha dele, não há dúvida; mas você não é a mãe. Esse rapaz que está na foto junto de Tiffany é o meu irmão Alex. E você nem o reconheceu.

Tâmara ficou pálida. Olhou novamente para a fotografia e viu o sorriso dos dois. Não podia ser Alex Marcose! Era moreno, olhos castanhos, completamente diferente de Leo.

— Meu Deus! — exclamou, chocada.

— E se a criança não é sua, só pode ser de Tiffany.

— Sim — concordou, totalmente atônita.

— Tiffany morreu há um ano, suponho que tenha sido logo depois de dar à luz Kelly, não?

— Duas horas depois.

Leo também começava a ficar pálido.

— Deus, você deve me odiar pelo que fiz a eles! E com você também! Se eu tivesse sabido a verdade, não teria me casado com você e nem dito tantos insultos!

— Não teria tirado Kelly de mim?

— Teria, sim — confessou.

— Foi por isso que fiquei quieta. Percebi, pelas suas ati­tudes no nosso primeiro encontro, que, se eu falasse que era apenas a tia da menina, você a tiraria de mim; e eu não a deixaria por nada deste mundo.

— Não consigo entender por que você não desistiu dela; poderia visitá-la quando quisesse e teria sua própria vida. Você é tia de Kelly, teria todos esses direitos.

— Você nunca entenderá, Leo, não é mesmo? Não preciso ser a mãe verdadeira para amar a criança como se fosse minha própria filha.

— Cometi um erro, quando duvidei do amor que Alex sentia por Tiffany — admitiu, voltando a lembrar-se da morte do casal.

— Ela nunca culpou ninguém, Leo — Tâmara disse, per­cebendo que ele estava amargurado.

— Imagino... Ela deve ter sido uma mulher muito bonita.

— Era.

— E você me considera o responsável pela morte deles.

— Não é verdade — disse, com firmeza. — Você permitiu que Alex voltasse a procurá-la. Não pode se culpar pelo acidente que aconteceu.

— Talvez não. Dizem que o motorista estava dirigindo na contramão. Mas ele não foi o único a morrer; meu irmão também se foi!

Tâmara compreendia melhor porque Kelly era tão im­portante para ele. Ela era a única parte que tinha sobre­vivido do irmão,

— Já passou, Leo. — Tentou confortá-lo. — O passado não pode ser desfeito.

— É verdade, temos que pensar no nosso futuro. O que vai acontecer agora?

— O que quer dizer? — Ela não conseguia encarar aqueles olhos azuis.

— Você deve saber o que quero dizer. Estou confuso, completamente confuso. Tinha formado uma opinião sobre você e agora vejo que estava totalmente errado. Preciso de tempo para pensar no que fazer.

— O que acontecerá conosco? — perguntou, hesitando entre querer ou não ouvir a resposta. A base do casamento deles tinha sido destruída, tudo o que Leo havia dito e pensado sobre ela precisava ser reformulado. Ele devia estar muito confuso... ela mesma estava.

— Realmente, não sei. Vou sair para pensar melhor e volto mais tarde. — Virou-se e saiu, sem dizer mais nada.

Tâmara sentia o mundo desabando sobre a cabeça e não podia fazer nada para impedir. Mas Leo não tivera a reação que ela imaginara. Ficou bravo e confuso ao mesmo tempo, mas não gritou ou a acusou do mal que lhe havia feito.

Subiu e foi para o quarto de Kelly. Ficou olhando para o bebê que ainda estava dormindo. Queria passar a tarde inteira junto dela, pois tinha o pressentimento de que aquelas seriam suas últimas horas ao lado da menina. Teria feito isso, se Marie não tivesse vindo avisar que Neil a estava esperando lá embaixo. Penteou o cabelo, passou o batom e desceu.

— Oi, beleza — cumprimentou-a, beijando seu rosto. As mãos de Tâmara tremiam. Se Leo voltasse e a en­contrasse com Neil...

— Gostaria... gostaria de um drinque? — ofereceu, ten­tando ser natural.

— Agora não, obrigado. — Olhava-a de perto. — Mas aceitaria um convite para jantar.

— Oh, mas...

— Não precisa se preocupar com Leo — disse, entendendo sua hesitação. — Quando saí de casa ele estava lá, e Rachel tentava convencê-lo a jantar com ela.

— Bem, nesse caso.,. — Seus lábios estavam tensos. — Gostaria de ficar?

— Claro que sim. Vim aqui porque preciso falar com

você e pedir desculpas pelos problemas que devo ter criado. Leo estava muito zangado, quando chegou em casa? — per­guntou, sentando-se numa poltrona que ela indicou.

— Por que acha que ele estava zangado?

— Não acho; sei que estava. Percebi o modo como a olhou durante o almoço e vi que seus olhos estavam cheios de raiva. Parece-me que ainda não passou. Leo se serviu de muita bebida, agora há pouco.

— Não posso imaginá-lo bêbado! Ele é muito controlado para deixar que isso aconteça.

— Oh, não estava bêbado — Neil comentou. — Mas bebia uísque como se fosse água. E Rachel fazia de tudo para chamar a atenção dele.

— Imagino. E você resolveu vir aqui e me fazer companhia

— É, foi — ele admitiu.

— Gosto de saber que você se preocupa comigo. Tem certeza de que Leo não chegará logo?

— O que acha?

— Você está certo: ele deve estar fazendo tudo para se esquecer de que eu existo — disse, suspirando. — Vamos mudar de assunto. O que mais você tem para me dizer?

— Queria saber se você mudou de idéia com relação a voltar a ser modelo?

—Já lhe disse. Leo não gostaria que eu voltasse a trabalhar.

— Leo! E se ele não existisse, você voltaria para o tra­balho? Tenho umas propostas imediatas para você. Será que aceitaria?

— Não posso responder agora. Deixei de ser modelo para cuidar de Kelly, mas... não sei se ainda serei necessária. Eu a amo, mas... Estou confusa.

Você não é a mãe de Kelly e também não é a esposa de Leo, não? — ele perguntou tranquilamente. — Já lhe disse que conheço muito bem as expressões das pessoas, e a sua não me diz que é a mulher de Leo.

— Não seja bobo, Neil — Tâmara exclamou, rindo. — Claro que sou. Somos casados.

— Não foi o que eu falei. Você pode estar casada com ele, mas nunca se entregou a ele.

— Como pode dizer isso? Kelly...

— Não é sua filha — ele completou, com convicção. — Os olhos das pessoas dizem tudo e posso garantir que você é inocente. Nunca dormiu com um homem.

— Não seja ridículo, Neil! Acho que você é que bebeu demais. Não sei de onde tirou essas ideias, mas são...

— Verdadeiras! A expressão no rosto de Leo, quando ouviu Rachel dizer que Tiffany era sua irmã, foi de total surpresa, como a minha; e assim que vocês saíram de casa, andei investigando os fatos...

— E descobriu respostas falsas.

— Não — ele negou gentilmente. Ficou quieto, ao ver que Marie entrava na sala para avisá-los de que o jantar estava servido.

Quando Tâmara sentou-se à mesa, recapitulou os acon­tecimentos do dia. Leo estava sabendo seu segredo e, agora, Neil também. Sentia-se indefesa e desprotegida. Não havia mais nada de tão ruim que pudesse afetar seus sentimentos. Seu dia estava sendo um desastre total.

Neil não teve como continuar a conversa, pois Marie en­trava constantemente para servi-los. Tâmara olhava para ele e percebia que não tinha desistido de descobrir a verdade; não pararia, até confirmar suas suspeitas.

Marie serviu o café na outra sala. As portas estavam abertas e a vista dava para o mar. Olhando para aquela paisagem tranquila, Tâmara começou a sentir que seu corpo relaxava.

— Está melhor? — ele perguntou, vendo-a mais calma.

— Bem melhor, obrigada.

— O que me diz do meu trabalho de detetive?

— Depende das suas conclusões.

— Tiffany era a mãe de Kelly e Alex, irmão de Leo, o pai. Não sei como conseguiu convencer Leo de que você era a mãe, mas o motivo eu posso imaginar. Ele deve ter recebido um choque, ao ouvir a verdade, e isso foi agora há pouco, não?

Não havia como tentar esconder a realidade. Tâmara confirmou:

— Você está certo, mas o que me espanta é que Leo não teve uma reação tão dura como eu esperava. Não sei o que se passa na cabeça dele.

— E por isso que ele está bebendo desesperadamente na minha casa? Como se o amanhã não existisse?

— Acho que sim.

— O que você pretende fazer?

— Não sei. Vou esperar por ele e ouvir o que decidiu. Agora que sabe a verdade, acho que não vai permitir que eu fique com eles.

— E como se sente?

Como poderia se sentir? Não ficaria mais com Kelly e teria que encarar Leo como se fosse um estranho. Aquilo seria quase impossível!

— Não me responda — Neil disse suavemente. — Posso imaginar o que se passa com você. E o que fará, se isso realmente acontecer?

— Não sei. — Ela estava tentando não pensar, — Acho que vou procurar um emprego, tentar uma vida nova.

— Olhe, Tâmara, ainda quero tirar fotos suas. Você é a única para esse trabalho. Se quiser, pode ir morar na minha casa, até achar um lugar para você.

— Minha esposa não vai a parte alguma com você — uma voz profunda e furiosa falou.

Os dois se viraram, sentindo-se culpados. Leo tinha en­trado sem que percebessem. Estava tenso e furioso. Cami­nhou na direção deles, sorrindo amargamente.

Tâmara se assustou: aquele não era o Leo que havia saído há poucas horas. Estava suado, a camisa aberta quase completamente, parecia... parecia um animal

— Leo! — exclamou, levantando-se rapidamente.

— Sim... Leo! — Ele a fuzilou com o olhar. — Pelo que ouvi da conversa de vocês, não me esperavam tão cedo.

Neil irritou-se com a insinuação. Levantou-se, e disse devagar:

— Não é o que está pensando, Leo.

— Tenho certeza de que é — ele explodiu, olhando para o outro.

— Marcose, escute...

— Não! Escute você — Leo falou com firmeza, dando um passo na direção dele. — Gostaria de ficar a sós com minha mulher. Saia da minha casa o mais rápido possível.

— Eu não vou...

— Vá agora. — Leo o interrompeu. — Já pedi com edu­cação, mas, se você não for, farei outra coisa. Entendeu?

— Tâmara? — Neil olhou-a, incerto de deixá-la sozinha.

— Será melhor, Neil.

Nunca tinha visto Leo tão perturbado e tão agressivo. Talvez Neil estivesse certo, quando disse que ele estava bebendo muito. Havia alguma coisa muito estranha nele.

— Ouviu a minha esposa, Adams — Leo falou, contro­lando a voz. — Saia. — Seus olhos estavam fixos nele.

— Tem certeza? — Neil olhou para ela, preocupado.

— Sim — respondeu imediatamente, vendo que o marido estava se enervando com a demora.

— Então... — ele começou a falar, assim que Neil se foi. — Não perdeu tempo, não? Foi apenas eu sair para você chamar o seu amante. Mas, infelizmente, percebi a ausência dele no jantar.

— Verdade? — Desviou o olhar. — Fico surpresa ao ouvir isso. Você está num estado em que seria difícil notar alguma coisa.

— O que quer insinuar? — Seus olhos vermelhos brilha­vam de raiva.

— Que bebeu demais!

Leo deu uma gargalhada nervosa.

— Não estou bêbado. Precisaria beber muito mais para perder o controle.

— Você deve estar brincando! E fique sabendo que Neil não é meu amante, é apenas um amigo.

— É mesmo? Seus amigos costumam convidá-la para ir morar com eles?

— Não é o que você está pensando.

— Só sei de uma coisa. Cheguei no limite da minha pa­ciência com você.

— O que... o que quer dizer?

— Não fique nervosa, Tâmara. — Deu um sorriso cruel.

— Poderíamos aproveitar as próximas horas... mas você nem quer saber disso. Fui procurar Rachel para ir para a cama com ela. — Percebeu o espanto nos olhos de Tâmara.

— Por que esse choque? Não era isso o que você sempre suspeitou de mim? Que ela era a minha amante?

— Sim, mas eu...

— Hoje seria o primeiro dia em que eu faria amor com uma mulher, desde que nos casamos. E teria feito amor com ela, se... se conseguisse tirar você da cabeça! — Seu olhar estava distante: era uma mistura de angústia e raiva. — Não consegui sentir nada por ela! Nada!

— Entendo — ela disse baixinho.

— Não, não entende. Você me impossibilitou de fazer amor com outra mulher. Não consigo pensar em nada que não seja você. Minha única opção é deixar que você me satisfaça

— Não! — gritou, desesperada, percebendo qual tinha sido a decisão dele.

— Ah, sim. Não aceitarei nenhuma desculpa ou recusa. Não há razão para eu não ter o que muitos outros homens já tiveram.

— Não, Leo. Você não sabe.

— Sei que você vai para o seu quarto, esperar por mim!

— Sua expressão continuava perturbada.

— Não posso, Leo.

— Fará o que eu mandei. Terei você, custe o que custar. Quero me libertar deste feitiço que você me colocou. Vá para o quarto! — repetiu, autoritário. — Estarei lá daqui a dez minutos.

Olhou-o, implorando, mas percebeu que ele não mudaria de idéia. Leo estava decidido.

— Tâmara! — ele a chamou. — Não pense em fugir. Se tentar, irei buscá-la e a trarei de volta, nem que seja à força. Preciso me livrar desse desejo que invadiu o meu corpo, desde a primeira vez que a vi. Dez minutos...

 

Tamara entrou no quarto, chorando. Leo ia forçá-la a fazer amor, sem se importar com os sentimentos dela.

Seu corpo estava tenso. Deitou-se na cama, mas não con­seguiu parar de chorar. Como é que Leo era capaz de forçá-la? Claro, ele sabia que ela o desejava... Toda vez que se aproxi­mava, sentia que ela o chamava para mais perto. Não teria outra escolha, senão se entregar, e Leo sabia disso.

Se era assim que tinha que ser, ele não a encontraria dei­tada na cama, esperando-o. Levantou-se e decidiu preparar-se para a sua primeira noite com um homem: sua lua-de-mel.

Tomou banho, passou uma lavanda pelo corpo e vestiu sua camisola branca. Escovou o cabelo, deixando-o bem ma­cio. Apagou a luz do teto e acendeu o abajur; o clima seria perfeito para a consumação do casamento.

Sentou-se na cama e ficou esperando o marido; estava pronta para encará-lo.

Não esperou quase nada; logo depois, Leo bateu na porta e entrou. Mediu-a de cima a baixo com o olhar, fazendo com que se sentisse como uma tola; que toda aquela pre­paração tinha sido perda de tempo.

— Quer dizer que quer bancar a virgem para mim. — Sua voz era irônica.

— Se isso significa não recusar você, então, está certo — respondeu, percebendo a ironia dele, mas sem demonstrar que o que estava fazendo era verdadeiro. — O que mais poderia ser?

— Admita que você não me recusaria. — Leo sentia-se dono da situação. Tirou o roupão, revelando que usava ape­nas a calça do pijama.

— Não tenho outra escolha.

— Não, não tem. Tire essa camisola ridícula e deite-se na cama. — Tâmara não se mexeu, — Quer que me sinta um estuprador? Que besteira! Você não tem o direito de usar a cor branca.

— Tenho o direito de me aprontar como bem quiser para a lua-de-mel — disse, controlando a mágoa.

— Mas não pode usar essa cor, ela implica numa virgin­dade que você não tem — ele falou, dando uma risada. — Tire isso e deite-se.

— Não posso, Leo.

— Deite-se

— Por favor, Leo, não faça dessa maneira. — Seus olhos verdes brilhavam, implorando para que ele não continuasse agindo com tanta crueldade.

— Terei você da maneira como quiser. Não vejo por que deveria me preocupar com você... muito menos com o que você sente. Vai tirar, ou eu terei que fazer isso?

— Como fez na última vez?

— Exatamente. Só que desta vez, você não vai escapar. — Sentou-se na cama; seus olhos não desgrudavam do corpo de Tâmara.

— Leo...

— Comece!

— Não posso, com você me olhando assim — falou, chorando.

— Comece! — Era uma ordem

Tâmara mordeu o lábio: não teria outra opção. Tirou a camisola e sua nudez ficou à mostra. Sentia-se invadida por aquele olhar.

— Está satisfeito?

— Um pouco. — Sua voz era firme, — Só ficarei total­mente satisfeito depois de tê-la nos meus braços.

Ele levantou-se e Tâmara correu para baixo do lençol; mas não precisava ter medo, ele estava apenas tirando o pijama, revelando um corpo musculoso e atraente.

— Talvez você possa sentir um pouco de prazer comigo. — Entrou debaixo do lençol e continuou: — Não quero ape­nas possuir você, quero que me deseje ardentemente. — Sorriu, sarcástico. — Conseguirei tudo o que quiser.

Tâmara falou, tensa, ao sentir o corpo dele apertando-se de encontro ao dela:

— Apague a luz, Leo.

— Não — ele respondeu, beijando-a. — Quero vê-la fa­zendo amor comigo, quero ver todas as reações que desperto em você.

— Oh, Deus, Leo! — Estava chocada. — Isso é um castigo? Sua mão percorria o corpo de Tâmara; seus lábios toca­vam os ombros e desciam, beijando-a.

— Espera que eu lhe dê amor? Que a trate como uma esposa de verdade?

— Não. — Começava a sentir que seu corpo se entregava àquelas caricias que a exploravam. — Mas eu...

— Fique quieta! Fale apenas depois de ter experimentado comigo. — Leo passava a língua pelo corpo dela.

Envolveu-a nos braços, tentando que aqueles dois corpos se tornassem um só. Seus lábios a beijavam sem parar. Tâmara não podia resistir mais: Leo sabia como deixá-la excitada e fora de si.

— Gosta, Tâmara? — ele sussurrou. — Diga que sim.

— Eu... — Foi silenciada pelos beijos. — Gosto muito — disse, quase sem voz.

— Ótimo. Passe a mão pelo meu corpo. Sinta! Onde está a experiência? Não sabe como satisfazer um homem?

— Não sei nada. Nada!

— Vou ensinar.

Forçou a mão dela a tocar seu corpo, mostrando como deixá-lo mais excitado. Tâmara nunca tinha tocado um ho­mem, e achou o corpo de Leo fascinante.

Os dois estavam envolvidos num mesmo sonho. Ambos queriam entregar-se totalmente ao outro, o desejo era pro­fundo e sincero. Tâmara sentia que aquela noite era real-mente a lua-de-mel com que sempre sonhara.

Deitado sobre ela, Leo beijava-a com volúpia e ia perdendo o controle.

— Oh, Deus — ele sussurrou. — Não posso esperar mais. Me chame, Tâmara... me chame.

— Sim, sim! Venha, Leo — pediu, implorando para que ele a saciasse. — Quero que você me possua.

— Possuir!  

— Sou sua, Leo... só sua!

Tâmara não pôde pensar em mais nada. Seu corpo ex­perimentava uma sensação completamente nova. As ima­gens que vinham em sua mente movimentavam-se com mui­ta pureza e beleza. Estava sendo penetrada por ele.

Os lábios de Leo não puderam silenciar o grito de prazer que ela sentiu. Ele olhou-a, pálido.

— Não pode ser—murmurou. — Não pode ser! — repetiu, não acreditando no que tinha descoberto.

Tâmara relaxou, seu corpo ainda pegando fogo. Leo, fi­nalmente, tinha lhe dado o que ela mais queria.

— Foi maravilhoso, Leo. — Sua voz era de alguém que voltava de um sonho.

— Maravilhoso?

Ele afastou-se; sua expressão mostrava desespero.

— Você nunca tinha sido tocada por um homem — falou, sem entender direito o que acontecera.

— E isso importa? — perguntou, beijando seu ombro. Leo levantou-se de um pulo; passou as mãos pelo cabelo

e virou-se para encará-la.

— Nunca violei uma virgem! — gemeu, cobrindo o corpo dela com o lençol.

Tâmara queria rir do espanto dele. Estava se sentindo ótima: tinha sido mulher de Leo!

— Volte para a cama, Leo. Amanhã conversaremos. — Sua voz era suave.

— Claro que conversaremos. — Estava atônito. — Acredito que você deve querer voltar o quanto antes para a Inglaterra.

— Quero? — ela perguntou, sem entender o que ele dizia.

— Sim, eu... Oh, Tâmara, me desculpe! Por que não me contou?

— Faria alguma diferença? Você não teria acreditado.

— Tem razão. — Leo pegou o roupão e o vestiu. — Não posso desfazer o erro que cometi com você, mas prometo que farei de tudo para remediar o que lhe causei.

— O quê?

— Sim, prometo a você que darei tudo o que for neces­sário. Vou tentar, juro que sim.

— Como?

— Farei tudo o que você me pedir, comprarei uma casa para você e lhe darei uma boa pensão.

Daria tudo a ela, menos o que mais desejava: ficar junto dele para sempre.

— Você quer que eu me vá?

— É preciso, Tâmara. Tem que admitir que não daria certo. Ela não entendia por quê, mas percebia que Leo não

queria tê-la por perto. Talvez não tivesse gostado de fazer amor com ela; esperava alguém mais experiente. Mas Tâ­mara não ia se esquecer do prazer que tivera com ele; seria incapaz de amar outro homem que não fosse Leo.

— Por que não? Por que não daria certo?

— Porque não poderei encará-la normalmente! — Leo explicou, desviando o olhar.

— Está bem —- disse, sentindo-se triste. — Irei embora o mais rápido possível.

— Não há pressa. Não estou conseguindo raciocinar, acho melhor conversarmos amanhã. — Olhou-a rapidamente. — Tente descansar, será bom para aliviá-la do mal que lhe causei.

— Leo, eu...

— Por favor, não diga nada.

— Mas, Leo...

— Por favor. Temos que descansar e esperar até amanhã. — Abriu a porta e disse, sorrindo: — Nunca conheci ninguém que me deixasse tão confuso como você.

— Oh, Leo! — Seus olhos se encheram de lágrimas.

— Tâmara... — Virou-se para olhá-la. — Desculpe!

— Por favor, não...

— Tem razão. Não há desculpa que possa reparar o que lhe fiz. — Saiu devagar, fechando a porta, sem fazer barulho.

Tâmara escondeu o rosto no travesseiro e começou a cho­rar. Percebeu que o motivo de ter que deixá-lo era que ela não havia conseguido lhe dar nenhum prazer. E não poderia ficar ao lado dele, sabendo que não a amava.

Não ia esperar pelo dia seguinte: partiria para a Ingla­terra agora mesmo. Pegaria um avião, antes que Leo desse pela sua falta.

Telefonou para o aeroporto e reservou um lugar no vôo das onze da noite. Seu coração estava pequeno, mas era melhor ficar longe de Leo e esquecer os prazeres que ele lhe dera.

Foi para o quarto de Kelly com os olhos embaçados pelas lágrimas. Não sabia quando a veria novamente, mas espe­rava que Leo permitisse que se encontrassem o mais breve possível. Não aceitaria nenhum dinheiro dele, ficaria na casa de Mary e Peter, até arranjar um emprego e alugar um quarto. Provavelmente voltaria a ser modelo.

Eram dez e meia. Tâmara já havia arrumado suas coisas; faltava apenas arranjar alguma condução para levá-la ao aeroporto. Pensou em Neil e telefonou para ele.

O amigo não perguntou nada pelo telefone, mas ela per­cebeu o olhar de curiosidade de Neil, ao pegá-la em casa.

— Para o aeroporto? — ele perguntou, ligando o carro. — Se não for muito trabalho.

— Claro que não. — Sorriu. — Estou contente por você ter se lembrado de mim para ajudá-la.

— Não tinha mais ninguém — disse, com sinceridade.

— Entendo. — Fez uma pausa e olhou rapidamente para ela. — Agora, você tem um olhar diferente.

— O que quer dizer? — Tâmara corou.

— Você me entendeu. É por isso que está indo embora?

— Sim — respondeu, percebendo que Neil realmente ob­servava e conhecia as expressões das pessoas. Tinha visto no rosto dela que havia sido possuída por Leo.

— Por minha causa, não? Ele ficou bravo, quando viu que estávamos juntos?

— Ficou, mas não foi essa a razão que o levou... não foi por sua causa.

— E o bebê? Como se sente, deixando-o com ele?

— O que você acha? — Não conseguiu esconder as lágrimas. Kelly estava crescendo, ficando mais bonita e alegre. Era

horrível ter que deixá-la, mas Leo faria tudo para que a sobrinha ficasse bem. Ele não a amava, mas amava Kelly.

— Desculpe, Tâmara, — Neil tentava confortá-la. — Deve ser muito difícil para você.

— Sim.

— Tem certeza de que quer mesmo ir embora? — per­guntou, estacionando o carro no aeroporto.

— Tenho outra escolha?

— Poderia lutar pelo que quer.

— Não sei mais o que quero. Depois desta noite... — Ela se sentia miserável.

— Acho que você aprendeu muito esta noite. — Pousou a mão no ombro dela.

— O quê, por exemplo?

— Que Leo acha você muito atraente e que deseja apenas você. Não é o bastante?

— Não — respondeu, controlando os soluços.

— Quer que ele a ame, não é?

— Por que diz isso?

— Porque essas lágrimas não são apenas pelo bebê! Você ama Leo, não?

— Sim, eu o amo, mas ele não sente o mesmo por mim.

— Como sabe?

— E óbvio. — Riu, nervosa, — Será que não viu no rosto dele o que sente por mim?

— O rosto de Leo é muito difícil de ser analisado, mas posso lhe garantir que a atração que você exerce sobre ele nunca existiu com nenhuma outra mulher. Você o tira do sério, desconcerta todos os movimentos dele.

— Talvez, no passado; agora, ele já sabe como sou.

— Não sei, não. Acho que ele é do tipo de homem que, quando ama alguém, é para o resto da vida.

— Talvez... Mas não sou esse alguém.

— Pode estar enganada... — Parou de falar e olhou para fora do carro. — Tenho certeza de que está. Um carro acabou de chegar e aposto que é Leo.

— Leo! Mas... — Ficou muda ao ver que ele abria a porta e a encarava furioso.

— Vou ter que pedir mais uma vez para que deixe minha esposa em paz!

— Leo, não é o que está pensando!

— Pode explicar o que quiser quando chegarmos em casa. — Seus olhos estavam fixos em Tâmara. — Vá para o nosso carro, por favor.

— Leo, deixe-me explicar — ele pediu.

— Não vai explicar nada. — Ajudou-a a sair do carro de Neil. — Espere-me no carro.

— Desculpe, Neil — Tâmara disse, olhando-o, receosa.

— Faça o que seu marido quer, será melhor.

Leo voltou para o carro, depois de cinco minutos. Trouxe a mala e colocou-a no banco de trás.

— Você foi grosseiro com Neil?

— Não.

— O que disse a ele?

— Falei apenas que, no futuro, você não ficará com ne­nhum outro homem que não seja eu.

— Estou indo embora, Leo. — Esforçava-se para manter a cabeça erguida. — Não vou mudar de idéia, posso pegar outro avião amanhã.

— Não vai fazer isso — ele disse calmamente. — Não permitirei que se afaste de mim.

— Não acha que é melhor eu ir agora? Estamos apenas prolongando uma agonia.

— Agonia! Como acha que me senti, nesta última hora? Quando voltei e vi que você tinha partido?

— Nem percebi que você tinha saído. — Sua voz mostrava o ressentimento por não ter sido avisada.

— Fui dar um passeio na praia, para me acalmar — Leo falou, controlando a voz emocionada. — Precisava pensar melhor. — Parou o carro em frente a casa e saiu para abrir a porta para ela.

Tâmara saiu, com a ajuda dele. Senti-lo tão próximo fez com que percebesse o quanto o amava. Controlou-se para não abraçá-lo e foi em direção a casa.

— Por que me trouxe de volta? — perguntou, depois de entrarem na sala. Seu olhar estava fixo nele. — Significa apenas que teremos que nos despedir novamente.

— Não se despediu de mim, quando tentou ir embora. — Nem precisava. Você já havia dito que me mandaria

de volta.

— Mas não assim! Não passou pela minha cabeça que você fosse fugir no meio da noite. Não aguentaria não saber do seu paradeiro.

— Eu... eu o avisaria logo; não ficaria muito tempo sem ver Kelly. Você me disse que eu poderia vê-la quando quisesse.

— Oh, Tâmara. — Ele balançou a cabeça. — Que tipo de monstro você acha que eu sou? Não seria capaz de tirar a sua filha de você.

— Mas ela... ela não é... — Seu rosto ficou vermelho.

— Não importa como, mas ela é sua filha. Admito que no passado eu não teria escrúpulos em tirá-la de você, mas agora, sabendo do amor que sente por ela, vendo todos os seus sa­crifícios para mantê-la ao seu lado; não faria isso. Está mais do que provado que você tem o direito de ser a mãe dela; eu é que tenho que mostrar que sou capaz de ser o pai. Parece-me que ainda não fui um bom pai, nem um bom marido.

— Não diga isso. Kelly ama você — Tâmara falou, sen­tindo que ele estava sendo muito sincero no que dizia.

— E você? O que sente por mim? — Deu uma gargalhada. — Não me responda, posso imaginar seus sentimentos.

— Então, por que me trouxe de volta? Por que não me deixou sair, simplesmente, da sua vida?

Leo ficou pálido; seu olhar era profundo e cheio de emoção.

— Se você for embora, Tâmara, agora ou a qualquer hora, não será fácil para mim continuar vivendo.

— Mas você me pediu para ir embora, para morarmos separados.

— Queria apenas que me desse a chance de mostrar o que eu realmente sou. Não pedi, e nunca pedirei, para nos separarmos para sempre.

— Já conheço você. — Não entendia o que ele queria dizer.

— Não, não me conhece. — Serviu-se de uísque e o tornou num gole só. —Agi como um animal, esta tarde, não pensei... não pensei em nada, além de mim mesmo. Você não imagina

o choque que levei quando senti que você nunca havia estado com outro homem. Tenho vergonha do que fiz a você e... tenho vergonha do que causei a nós dois.

— Mas eu... — Não sabia como convencê-lo de que tinha adorado estar nos braços dele. — Gostei do que aconteceu. Gostei muito, Leo!

— Sei que tenho uma certa experiência — ele disse, desviando o olhar. — Combinamos perfeitamente bem na cama. Você soube exatamente o que fazer para me satisfazer por completo; e torço para que o mesmo tenha acontecido com você. Mas...

— O quê, Leo? — Já não aguentava vê-lo tão angustiado.

— Não quero que você sinta apenas atração sexual por mim; é por isso que quero viver em outra casa.

— O que você quer de mim, Leo? — Sua voz era cheia de esperanças. — O que mais posso dar a você?

— Não sei se tenho esse direito, Tâmara. Cometi muitos erros no nosso relacionamento. — Seu olhar continuava per-turbado. — Amanhã, voltarei para a Inglaterra. Você pode ficar aqui mais alguns dias e, quando voltar, ajeitaremos para que você e Kelly fiquem na casa. Eu ficarei fora até... até que...

— Até o quê, Leo? — perguntou, sentindo-se ansiosa. Ele colocou o copo na mesa e se aproximou.

— Até que você me aceite de volta.

— Mas não precisa esperar por isso,

Leo passou a mão pelo rosto dela e, sorrindo, disse:

— Não posso me satisfazer apenas fisicamente com você. Tive uma sensação maravilhosa, quando a tive nos braços. Saí do quarto porque sabia que seria muito difícil para mim resistir à tentação de fazer amor com você outra vez.

Aquela era a causa da saída tão repentina dele! E Tâmara tinha achado justamente o contrário: pensava que ele não a havia aprovado nem gostado da relação. Pensou que fosse esse o motivo para ele a mandar embora. Não conseguia acreditar no que Leo estava dizendo; era bom demais para ser verdade.

— Eu queria que você tivesse ficado, Leo — falou baixi­nho. — Tentei pedir, mas você nem me ouviu.

— Você estava dominada pelo desejo. — Seu olhar era impaciente. —Fui seu primeiro homem, é natural que tenha gostado de mim. Mas eu quero mais, quero que me ame.

— Mas você já tem o meu amor. — Tremeu ao ouvir as próprias palavras.

— Não, Tâmara. — Colocou as mãos na cabeça; seu rosto estava triste. — Não quero que seja assim. Faz muito tempo que descobri que estou amando você. Amo seu modo de ser, sua meiguice, seu corpo também, não posso negar, mas não é apenas por ele. Eu amo você, Tâmara, tudo que você é.

Não podia acreditar no que ouvia. Leo, o intocável, a amava! Seu rosto iluminou-se.

— Oh, Leo, eu o amo também.

— Não, você ama apenas uma parte de mim.

— Não, não! — Arjraçou-o, cheia de amor. — Naquela primeira noite em que quase fizemos amor, percebi que não podia mais me enganar. Admiti que estava amando você, desde o dia em que trouxe Rachel para a nossa casa. Tive muito ciúme, mas não me permitia aceitar que era por amor. Oh, Leo, eu amo você!

Ficou na ponta dos pés e começou a beijá-lo. Leo não pôde resistir; foi-se entregando àquele amor.

— Tomara que seja verdade — disse, beijando-a. — Não permitirei que se afaste de mim. Não permitirei.

— Não vou deixar que você me mande embora, não vou, nem que você me obrigue — ela falou, sentindo-se muito feliz.

Seus lábios se encontraram, e o beijo despertou o desejo que sentiam. Estavam sedentos por saciar todo aquele amor,

Obrigado, meu Deus, obrigado por ter me ajudado a voltar da praia na hora certa. Fui para o seu quarto para contar o que tinha decidido e não encontrei ninguém. Vi que o armário estava aberto e que suas roupas haviam sumido. Não sabe como me senti. Principalmente quando me lembrei de Neil Adams. Pensei que fosse morrer, querida.

— Não ia embora com Neil — ela explicou. — Ele estava apenas me levando para o aeroporto.

— Não imagina quanto sofri nos últimos dias, acreditando que você estivesse apaixonada por ele — disse, apertando-a de encontro ao corpo.

— É um amigo, Leo, nada mais. Neil descobriu a verdade sobre os pais de Kelly.

— Se eu tivesse descoberto, evitaria um grande tormento para mim mesmo. Nunca pensei que pudesse ter ciúme de alguém, mas você quase me matou de tanto ciúme. Você é a primeira e única mulher que amo, Tâmara.

— Você também, Leo.

— Quero ouvir você dizer isso muitas vezes. Não consigo acreditar, parece um sonho.

— Sinto a mesma coisa, Leo. Você... gostaria de dormir comigo? — Corou levemente.

— Você quer?

— Muito, muito mesmo.

Leo pegou-a no colo e beijou-a, antes de começar a subir a escada.

— Leo, alguém pode nos ver! — ela exclamou, lembran­do-o dos empregados. — O que vão dizer?

— O que quiserem! Amo você, e não me importo se os outros acham estranho que eu ame loucamente a minha esposa nas primeiras horas do dia. Não me importo com mais nada!

Tâmara olhou-o, radiante. Não queria esperar nem um segundo para se entregar ao homem que adorava.

 

 

                                                                  Carole Mortimer

 

 

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