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Series & Trilogias Literarias
Evie Milton sabe que nunca se casará. Mas isto não significa que ela não possa celebrar o noivado da irmã com Finlay Stone, o Duque de Carlisle. Tudo muda quando a futura noiva fuja com o homem errado, Agora, se há quaisquer esperanças de evitarem um escândalo devastador, Evie e Finlay precisarão trazer a noiva em fuga de volta, sem demora. E Evie precisará ignorar a crescente atração que sente pelo maravilhoso duque que jamais poderá ser dela...
Para evitar se deserdado, Finlay precisa de uma esposa, e o quanto antes. Encontrar uma candidata não foi uma missão complicada, no entanto, mantê-la por perto é outra história. Perseguir a garota torna-se sua única opção. O que ele jamais antecipou foi a maneira como ele começaria a se sentir em relação à Evie. Ela é linda, gentil, madura...e a candidata mais inviável do mundo a se tornar sua esposa. Se ao menos ele conseguisse convencer seu coração disso...
Apenas um beijo espontâneo é necessário para acabar com as melhores intenções dos dois. Contudo, conforme segredos vêm à tona, será que Evie e Finlay conseguirão encontrar seu “Felizes para Sempre” — ou será que a ligação pecaminosa que eles criam está condenada a terminar em corações partidos?
C A P Í T U L O 1
1827, Marlborough, Wiltshire
Finlay Stone, Duque de Carlisle, encarou seu advogado.
Nada faria ele acreditar no que o homem disse. O pai não controlaria a vida dele, nem mesmo após a morte. O decreto não poderia ser válido.
— Com licença, Smithers, mas pode repetir o que acabou de me dizer? Tenho certeza de que não ouvi direito.
O advogado limpou a garganta e levantou o pergaminho mais uma vez.
— Você é duque há um ano, que seu pai descanse em paz. No entanto, agora tenho a liberdade de dizer que o seu pai fez uma demanda no testamento. Caso você não se case dentro de um ano após a morte dele, terá 60 dias a partir do aniversário da morte para fazê-lo. Caso falhe em cumprir tal determinação, o grosso de sua fortuna, o dinheiro e quaisquer bens não vinculados, serão revertidos para seu primo, Andrew Stone, de Kent.
Finn se recostou na cadeira, passando a mão pelo cabelo.
A mente dele parou ante a ideia de se casar. Sem mencionar o que homens deveriam fazer com o sexo oposto. A ideia de ser forçado a tal dever o apavorava e o entusiasmava.
Porém apavorava mais.
— Então, eu manteria Carlisle Hall de Wiltshire, mas não terei dinheiro para manter a propriedade funcionando além da renda que ela produz, que todos sabemos não é suficiente.
— Isso mesmo, Sua Graça. Como proprietário de várias propriedades lucrativas, perdê-las para seu primo teria um grande impacto financeiro. As consequências seriam devastadoras para aqueles que dependem de suas propriedades para obter sustento.
Sugiro que se case logo, retenha seus bens e assegure o próprio futuro o mais rápido possível.
Uma esposa?
Ele sentiu a reviravolta em seu estômago e se virou para olhar pela janela. Não podia perder o próprio lar, o único lugar que ele já amou. Deus sabe que o pai, um pervertido, estivera muito ocupado festejando em Londres para se preocupar com a família em casa.
Sua mãe faleceu quando ele estava com oito anos, e o pai quase não o notava. Finn prometeu ser uma pessoa melhor do que ele.
Alguém que seus criados e amigos respeitariam, um proprietário confiável e irreverente.
— Bem, então creio que preciso voltar a Londres e encontrar uma noiva. — o advogado limpou a garganta, e Finn olhou para cima, seus olhares se cruzaram. — Há algo mais que eu deva estar ciente, Smithers?
— Seu pai decretou que deve encontrar uma esposa aqui em Wiltshire. Alguém de Marlborough é preferível. Ele decretou que deve se casar com uma mulher de seu condado, pois considerou que seria melhor para os funcionários que tivessem uma senhora que estivesse familiarizada com a área e os moradores da região.
Finn apenas encarou o advogado.
O pai havia enlouquecido?
Era bem provável se considerasse o comportamento errante que apresentou em Londres pouco antes de morrer. Finn decerto havia considerado a ideia de seu pai ter perdido a cabeça.
Porém, uma esposa de Woodstock? Havia apenas duas famílias nobres morando nas proximidades, se é que poderia chamá-las assim. Uma delas contava com várias filhas, todas com menos de dez anos. Não serviriam. A segunda família, os Milton...
Finn tentou se lembrar da dinâmica da família.
O pai era um cavalheiro que vivia da renda de uma pequena propriedade. Ele duvidava que houvesse qualquer dote para qualquer uma das meninas. Eles, no entanto, tiveram um filho, embora mal tivesse saído das fraldas.
— Na verdade, meu pai está afirmando que preciso me casar com uma das garotas Milton, que se bem me lembro são duas.
Smithers assentiu, sentou-se na cadeira diante da escrivaninha, e remexeu na papelada em sua bolsa de couro.
— Isso mesmo, Sua Graça. A Srta. Milton mais velha já passou da idade de se casar, mas a mais nova, Lucy, não.
— Como é mesmo que se chama a mais velha? — Finn perguntou, um rosto veio à mente da última temporada, de quando ele estava na cidade.
— Ah. — disse Smithers, examinando mais a fundo a papelada.
— Senhorita Evie Milton. Acredito que ela é amiga da Duquesa de Whitstone e de seus pares.
A visão de uma beldade de cabelos escuros, prestes a se tornar uma solteirona convicta, entrou em sua mente. Ele dançou com ela, ou assim se lembrava, apesar de que a conversa mostrou-se um pouco estranha, já que ela não se mostrou muito disposta a falar. O
que, na verdade, era uma surpresa considerando que ela e suas amigas eram algumas das mulheres mais opinativas da sociedade.
— A senhorita Milton não mora em Londres, na casa da Marquesa de Ryley?
Ele franziu a testa, certo de que havia ouvido falar que depois do casamento com o marquês, a marquesa permitiu que as amigas permanecessem em sua propriedade londrina. A Srta. Milton era uma delas.
— Exato, Sua Graça.
— Hm. — Finn se recostou na cadeira, perguntando-se como seria a aparência de Lucy, a Milton mais jovem.
Se fosse tão notável quanto a irmã, ela serviria muito bem ao propósito. Era jovem ainda, de uma família respeitável e da região.
Todos os requisitos listados no testamento do falecido pai.
— Há alguma chance de o Sr. Milton ter algum dote para as filhas?
Não que importasse, ele era podre de rico e poderia se dar ao luxo de ter uma esposa que viesse com muito pouco, ou nada neste caso. Mesmo assim, providenciar o sustento das filhas mulheres para o caso de não se produzir um herdeiro menino falava muito do caráter de um homem. Se eram amorosos, vanguardistas e honrados. Todas as características que faltavam em seu pai.
— Duzentas libras por ano. A Srta. Milton mais velha recebeu seu estipêndio quando completou 25 anos. Claro, presumiram que estaria casada até então, porém não aconteceu. A mais jovem, Srta.
Lucy, tem vinte e dois anos.
— Ótimo. Bem, então... — Finn disse, se levantando e encerrando esta reunião. — Amanhã começarei a cortejar a Srta.
Lucy Milton e tudo estará acertado até o final do mês. Nos falaremos quando estiver resolvido.
Smithers fez uma reverência.
— Muito bem, Sua Graça. Desejo-lhe felicidades em seus esforços e aguardo as boas notícias.
— Sim, bem... — Finn disse, sentando-se e observando o advogado sair da sala. Boas notícias podem ser um exagero demais. Resignação caberia melhor neste contexto.
Finn puxou um pedaço de pergaminho, pegou uma pena e rabiscou uma carta para que o Sr. Milton o esperasse amanhã às onze. Ele não disse ao cavalheiro o motivo, apenas deixaria que a família acreditasse que se tratava de uma atração mútua seguida de cortejo como em qualquer outra situação que o levariam a propor a Srta. Lucy. Assim, seria melhor.
Algo que ele entendia bem é que nenhuma futura noiva gostaria de saber que recebeu uma proposta por pura necessidade do noivo.
Ou, neste caso, para evitar o inconveniente da deserdação.
C A P Í T U L O 2
Três semanas depois, Marlborough, Wiltshire A CARRUAGEM DE EVIE fez a curva para a curta entrada da casa da família dela, nos arredores de Marlborough. A carta, escrita de maneira apressada pela irmã uma semana antes, parecia prestes a abrir um buraco em seu vestido. Foi pura sorte ter levado uma semana para organizar a viagem de Londres para Wiltshire, pois uma semana inteira foi o necessário para se preparar para a percepção de que a irmã mais nova dela se casaria.
A última vez que recebeu notícias de Lucy, ela não havia mencionado nem uma única vez Sua Graça, portanto, ser noiva dele veio do nada. A irmã, embora bem-humorada, não era uma mulher tola e propensa a decisões precipitadas. Estar para se casar com um libertino perverso, um como o Duque de Carlisle, a fez pensar que a irmã, sossegada e inteligente, havia perdido o juízo.
Ela falaria com os pais quando chegasse, para se assegurar de que também não haviam perdido a cabeça quanto ao casamento de sua filha com um duque. Sem dúvida, ficaram emocionados ao imaginar Lucy se casando com alguém de um título tão elevado. O
duque era o vizinho mais próximo deles, mas nunca havia demonstrado interesse pela família.
Evie olhou para os carvalhos que passavam ao longo da estrada.
Ela dançou com ele em Londres, estava um pouco distraída na época com as tribulações da amiga naquela noite, mas ainda podia se lembrar de seu cheiro. Sândalo e especiarias. As mãos dele eram grandes e fortes no toque baixo de suas costas. Ela precisou olhar para cima para encontrar o olhar dele, e a memória a fez estremecer mesmo agora.
Um olhar do perverso Duque de Carlisle, e os joelhos dela ficaram um pouco fracos. Tão bonito com sua mandíbula angular e nariz reto perfeito. O sorriso dele era mortal, e o olhar intenso e acolhedor era pior. Não que tal olhar fosse direcionado a ela. Ah, não, ele mostrou pouco interesse por ela. Na verdade, parecia entediado e desinteressado em sua tentativa de conversa fiada para passar os minutos da dança, Evie acabou por fingir estar se divertindo nos braços dele enquanto contava os minutos para o final da dança.
Ela o observava, às vezes, em eventos na alta sociedade, invejava as mulheres que capturavam sua atenção. Quão sortudas eram por ter um patife desses atento aos seus encantos. O fato de a irmã ter capturado o coração dele a deixava desconcertada. Ela estava feliz pela irmã mais nova, é claro, mas uma parte dela também gostaria de ter encontrado um homem assim. Casar-se, amar e ser amada.
Evie suspirou e se deixou cair nas almofadas de veludo. Ela supôs que não aconteceria agora. Não na idade que estava, mas pelo menos poderia se contentar em ser tia algum dia. Mimar as sobrinhas e sobrinhos o quanto quiser. A irmã merecia toda a felicidade que lhe fosse concedida. Ela era a pessoa mais doce que Evie conhecia, além das melhores amigas dela, em Londres.
A carruagem parou diante da mansão georgiana de sua família.
Evie olhou para a casa de pedra dourada que brilhava como um farol ao sol da tarde. As muitas janelas brilhando, dando boas-vindas à casa.
Um lacaio abriu a porta, e ela desceu, apoiando-se em sua mão:
— Obrigada. — ela disse e se voltou para a casa.
Um cavalo estava amarrado a um dos postes perto da frente da residência, e um pensamento terrível passou pela mente de Evie.
Por favor, não seja a besta do duque.
Ela precisava falar com os pais e falar com a irmã a sós.
Certificar-se de que este era um casamento bem-vindo. Não apenas porque um duque optou por uma esposa que vivia perto. A falta de um dote substancial pelo menos dizia a Evie que a união era baseada no afeto.
Evie tirou as luvas enquanto caminhava em direção à entrada, e olhou para cima quando a porta se abriu, e Lucy parou diante dela: mais alta do que ela se lembrava, mas tão bonita quanto, com seus cabelos dourados e figura esguia.
Evie sorriu.
— Lucy. — disse ela, rindo enquanto a irmã quase que correu na direção dela e a envolveu com os braços. — Você cresceu! — ela disse, a voz abafada por todos os abundantes cachos da irmã.
Lucy riu, abraçando-a com mais força antes de se afastar.
— É tão bom vê-la. Não posso dizer o quanto preciso de você aqui. Temos muito o que discutir.
Evie lançou um olhar para a casa e deu o braço à irmã.
— Suponho que o duque está aqui agora?
Lucy concordou.
— Ele está. Estão todos na sala de visitas tomando chá. Ouvi a carruagem e sabia que seria você. Estão nos esperando. Mamãe está muito satisfeita por vir ficar conosco por umas semanas.
— Estou satisfeita também.
Elas seguiram em direção à casa, entraram no saguão e Evie deu a uma criada sua pelica e chapéu.
— Venha, Evie, é hora de conhecer meu noivo.
— Foi tudo tão rápido. Eu nem sabia que ele a estava cortejando.
Evie observou Lucy e notou o leve rubor que coloriu as bochechas dela. O duque a havia seduzido? Ela não deixaria o cavalheiro sair livre dessa. Seus lábios beijáveis eram o que mais incitava as fantasias das mulheres na cidade.
— Ele veio há três semanas para visitar o papai, algo a ver com terras ou algo assim, mas foi durante a sua estada aqui que fomos
apresentados. Ele foi muito gentil e atencioso, e volta com frequência desde então.
— Então, é um casamento por amor? — Evie perguntou, esperando que fosse verdade.
A reputação do duque tornava impossível não julgar e se perguntar se seus motivos eram honrados.
— Eu gosto muito dele, é muito gentil. Acredito que você também gostará dele, Evie.
Evie não se preocupou em mencionar que já conhecia Sua Graça, não havia necessidade de causar problemas por algo tão pequeno. Em qualquer caso, ele dançou com muitas mulheres na cidade. Era bem improvável que ele se lembrasse dela.
Elas adentraram na sala de visitas da frente, um pequeno espaço mobiliado com os artesanatos e tricô da mãe e os muitos livros do pai. Este cômodo era onde se reuniam quase todas as noites, antes e depois do jantar, e não se parecia em nada com os salões das grandes casas que pontilhavam a paisagem inglesa.
Era diminuto, e com a presença alta e dominante do duque, a sala parecia ainda menor.
— Evie. — O pai disse ao mesmo tempo em que a mãe, assim que ela apareceu. Os dois deram passos na direção dela com os braços estendidos, e ela os abraçou. — Estamos muito felizes por você estar em casa para passar um tempo conosco. Sentimos sua falta, querida.
Ela sorriu, afastando-se da mãe e de seu aroma reconfortante de lavanda que sempre fez Evie pensar em sua casa.
— Estou feliz por estar em casa. Senti saudades de todos vocês.
Ela olhou e encontrou o olhar calculista do duque. Ele a observava, e Evie olhou para o pai, à espera das apresentações.
— Ó, me perdoe, minha querida. Apresento minha filha mais velha, Srta. Evie Milton. Evie, esta é Sua Graça, o Duque de Carlisle. O noivo de Lucy.
Lucy corou ao se posicionar ao lado do duque, sua altura menor em comparação ao corpo mais alto dele, que a fazia parecer ainda mais delicada e frágil. Linda e perfeita para ele.
O duque fez uma reverência.
— Senhorita Milton. Que bom revê-la.
Evie fez uma reverência elegante.
— Eu... É sim, Sua Graça.
Ela o observou por um momento e, ao se lembrar que a noiva estava ao lado dele, estendeu o braço para Lucy colocar a mão sobre a dele.
— Como está Londres, Evie? — Lucy perguntou, dando pulinhos ao lado do noivo, os cachos dourados dela balançando ao lado do rosto.
— Movimentada. Todos que são alguém comparecem. Molly e eu passeamos no parque quase todos os dias para manter a sanidade. Nós nos tornamos excelentes amazonas, creio eu, muito melhores do que costumávamos ser.
— Ó, eu me preocupo com você, minha querida. — a mãe dela disse. — A senhorita Sinclair ainda mora na antiga casa da marquesa Ryley?
— Sim, mamãe. — disse Evie, falando sobre a antiga dama de companhia de Willow que agora acompanhava Evie e Molly pela cidade. — Não poderíamos ficar lá se ela não morasse conosco.
— Isso é verdade. — disse o pai, gesticulando para que ela se sentasse diante da lareira.
Evie fez o que ele pediu e estendeu as mãos em direção ao calor, grata por sair da carruagem e estar em casa. Ela se virou para a irmã e para o duque, e os estudou enquanto também se sentavam.
— Suponho que devo parabenizá-los. Estou muito feliz por vocês, Lucy. Sua Graça. — disse Evie.
Os dois formavam uma dupla estranha, mesmo que retratassem, ou pelo menos tentassem retratar, o contrário. O duque se sentava rígido como uma vara ao lado da irmã dela que, comparada a ele, estava relaxada e borbulhante como sempre.
Talvez ele gostasse de mulheres mais extrovertidas do que ele, embora tal ideia fosse contra tudo o que ela sabia dele. Alguém poderia pensar que um libertino consumado, um homem que seduzia o sexo frágil com intenções perversas, não pareceria tão desconfortável com a irmã de Evie.
Os olhos de Evie se estreitaram, analisando as feições dele.
Ele estava suando?
— Estamos muito felizes por estar aqui para as bodas, Evie. Sua Graça terá seu bom amigo, o Marquês Ryley, ao lado dele, e eu gostaria de você ao meu lado, se estiver disposta.
Satisfação inundou Evie ao pensar em auxiliar o pai a dar a mão da filha mais nova em casamento. Embora houvesse uma diferença relativa de idade entre elas, foram próximas quando crianças e, como todas as jovens, sonhavam em conhecer os maridos e ter um casamento memorável.
— Claro. Eu ficaria honrada.
Ela olhou para o duque e tentou ignorar a intensa inspeção que ele fazia dela. Virou-se para Lucy, mas a irmã parecia alheia à atenção do duque. Evie pigarreou, sem saber o que o duque pretendia, ou, porque a achava tão interessante. Ela estendeu a mão para verificar se o cabelo não havia escorregado dos grampos ou se o fichu estava afundado no vestido. Não, tudo estava em ordem.
— Onde será o casamento? — ela perguntou, querendo permanecer interessada e animada ante as bodas iminentes da irmã.
— Em minha propriedade. — disse o duque, interrompendo a resposta da irmã dela. — A sala de estar do Palácio de Stoneheim é muito grande e acomodará todos os que pretendemos convidar.
Evie se ajeitou no lugar, mais aquecida agora.
— Estou curiosa para saber como se conheceram, contem-me.
— Eu precisava tratar de negócios com o Sr. Milton e fiz uma visita tarde dessas. — respondeu o duque antes que qualquer outra pessoa pudesse falar. — Uma agradável visita que se tornou ainda melhor quando encontrei sua irmã, Srta. Milton. Pedi para voltar a visitá-los e, a partir daí, descobrimos que nos dávamos muito bem.
Lucy sorriu para Evie, mas havia algo nos olhos da irmã que a fez retesar-se. A luz dentro deles era um pouco menos brilhante quando se falava do noivado. Os olhos de Evie se estreitaram, e ela se perguntou o motivo para tal oscilação. Por fora, a irmã parecia feliz e animada com o casamento que se aproximava, mas Evie não
estava convencida. Ela conhecia a irmã melhor do que qualquer outra pessoa no mundo e não estava tão feliz quanto fingia ser.
Por que, no entanto, era outra questão.
— É uma história adorável. Estou muito feliz por vocês dois.
Evie sorriu para a irmã e prometeu a si que, quando estivessem sozinhas, perguntaria se tudo estava tão bem quanto diziam estar.
Que as suspeitas dela estavam incorretas, e que a irmã estava apenas nervosa. Casar-se com um duque não era pouca coisa, ainda mais para mulheres como elas, que apesar do pai cavalheiro, pouco teriam a oferecer além delas mesmas.
Lucy sorriu.
— Eu não sabia que já conhecia Sua Graça, Evie. Há quanto tempo se conhecem?
Evie olhou para o duque enquanto tentava se lembrar exatamente quando haviam se encontrado pela última vez.
— No meio da última temporada, eu acredito. Dancei o cotilhão com a Srta. Milton no baile que realizo todos os anos em Londres.
Os olhos de Lucy se arregalaram com a exatidão de detalhes e olhou tanto para o duque quanto para sua irmã mais velha. Evie o encarou de volta, sem esperar que ele se lembrasse, decerto não com tantos detalhes.
Evie sabia haver dançado com ele naquele baile, mas a dança específica a havia escapado. Ela nem pensava que ele se lembrava do nome dele.
— Creio que esteja certo, Sua Graça. Admito que o senhor tem uma memória melhor do que a minha. — disse, fazendo pouco da situação.
— Foi um momento agradável na área de dança. Um que guardarei com carinho na memória agora que seremos cunhados.
Lucy encontrou os olhos de Evie, uma pergunta em seus orbes azuis. Evie encolheu os ombros, sem saber que o duque se lembrava tão bem da dança.
A mãe os interrompeu e começou a falar do tempo e de quem realizaria o casamento, e Evie deixou a conversa fluir em torno dela.
O duque e Lucy formavam um par deslumbrante, não importava que Lucy não fosse titulada.
Se a perguntassem antes, ela diria que o duque se casaria com uma mulher nobre e de título, não com a filha mais nova de um cavalheiro sem um tostão. Contudo, ali estavam eles, discutindo convites e para onde o casal feliz iria, na viagem de lua de mel.
Evie ouvia e comentou alguns pontos aqui e ali, mas uma parte dela não conseguia deixar de sentir um pouco de ciúme da irmã mais nova. Aos vinte e sete anos, ela presumiu que já estaria casada e que seria mãe. Não aconteceu assim, e as chances de tal destino ocorrer eram quase nulas. Mas, ao menos a irmã seria feliz, o que era pelo menos um conforto.
O DIA SEGUINTE foi um dia perfeito de verão. Evie estava sentada do lado de fora em um pátio que dava para os modestos jardins de seu pai. Não eram tão grandiosos quanto os do duque no Palácio de Stoneheim, mas poucos lugares na Inglaterra eram tão grandiosos quanto a casa de campo dele.
Evie observou enquanto o duque e Lucy passeavam pelos jardins, parando de vez em quando para falar de uma rosa ou árvore em particular. A irmã parecia satisfeita e feliz, mas não se sentia à vontade com o duque, e Evie não pôde deixar de se perguntar por quê.
O que a irmã estava escondendo?
— Você percebeu, mamãe, que Lucy nutria sentimentos pelo duque ou que ele, por sua vez, por ela? Nunca socializamos com a família dele. Até mesmo eu, em Londres, só sabia algo do duque devido aos bons casamentos de minhas amigas. Não acha que Lucy pode estar um pouco fora de sintonia com ele? Aberta ao ridículo devido à falta de conexões?
A mãe terminou o gole de chá e pousou a xícara na mesa diante delas.
— Tive minhas preocupações em relação a esses assuntos, é claro, mas estou certa de que o duque é um bom homem, que não
vai deixar Lucy sofrer qualquer maldade ou inveja que possa surgir por causa desse casamento.
Evie não queria chatear a mãe e dizer que Lucy seria visada, por algum tempo, por aqueles da alta sociedade que pensavam que o casamento com o duque estava além de suas expectativas. Eles a fariam pagar por se casar com um homem que só as mais elevadas deveriam ter tirado do mercado casamenteiro.
— Quanto aos sentimentos dela pelo duque, acredito que gostam muito um do outro. Tenho até esperanças de que, com o tempo, o duque venha a amar nossa Lucy. Creio que ela já o ama.
Evie observou a mãe sem acreditar naquelas palavras.
— Lucy ama o duque? Ela contou isso para a senhora?
— Bem, não. — a mãe disse, e virou-se para a filha mais nova.
— Mas olhe para ela, a maneira como estuda o duque, como se agarra a cada palavra dele. Ah, sim, acredito que ela o ama muito.
— Mamãe. — disse Evie, em tom reconfortante. — Também olho para os cavalheiros quando converso com eles, mas não significa que estou apaixonada. Eles não se conhecem há tanto tempo, e temo que Lucy não vá gostar de ser duquesa. Sabe o quanto ela ama a liberdade, a vida aqui em Wiltshire e as pessoas que conhecemos em Marlborough. Ela não será mais capaz de circular nessa esfera ao se tornar a Duquesa de Carlisle.
— Ó, Duquesa de Carlisle, soa bem, não concorda?
— Mamãe. — Evie repreendeu. — Lucy vai sentir falta das amigas. Ela nunca tentou ser nada além do que fomos criadas para ser. Filhas de um cavalheiro sem título e sem dotes. Não considera nada estranho que o duque tenha resolvido, um belo dia, passar aqui para tratar de supostos negócios imobiliários e, no momento seguinte, noivar com nossa Lucy? É estranho. Não me importa o quão bem “Duquesa Lucy” soe para você. É estranho.
A mãe se virou mais uma vez na direção dela, e estendeu o braço para segurar sua mão.
— Minha querida, sei ser difícil ver sua irmã mais nova se casar antes de você, e com um par tão elevado, mas, por favor, fique feliz por Lucy. Ela o ama muito e precisará de sua orientação e apoio durante as próximas semanas.
— Não estou com inveja, mamãe, se é o que está insinuando.
Sim, eu nutro esperanças de que um casamento se torne uma realidade para mim, embora pareça cada vez menos possível na minha idade, mas estou feliz por Lucy. Só quero garantir que Lucy esteja satisfeita e realizada. Assim que houver a certeza disso, irei me lançar aos preparativos do casamento com tanto entusiasmo que até você ficará farta de mim.
A mãe dela riu, e Evie sorriu, mas quando se virou para olhar Lucy e o duque, a dúvida irritante não diminuiu. Algo não se encaixava. Nada nesse namoro apressado fazia sentido, e ela iria sanar as dúvidas antes de permitir que a irmãzinha, alguém que ela sempre prometeu proteger, se casasse com quem não amava.
— Obrigada, minha querida. — disse a mãe. — E não se desespere. Agora que sua irmã está para se casar com um duque, é apenas questão de tempo até que um cavalheiro deseje se associar à família Carlisle e peça a sua mão. Essa conexão fará com que você fique em evidência para homens de riqueza e de nome.
— Não creio...
— Você verá, Evie. — disse a mãe, interrompendo-a. — Também terá um casamento feliz até o final da próxima temporada. A irmã da Duquesa de Carlisle não pode ser uma solteirona.
Evie gemeu, pegando um biscoito de açúcar e dando uma mordida substancial.
— Nunca pretendi ser uma solteirona, mamãe, como bem sabe, mas também não vou permitir que ninguém me exiba como um cavalo novo e premiado. — a mãe arfou, e Evie sustentou o olhar da matriarca, queria que ela soubesse que não era uma brincadeira.
Só porque a irmã seria duquesa não significava nada. Não para a sociedade. Alguns de suas amigas mais próximas eram casadas: uma com um duque, outra com um marquês e uma com um conde.
E nada fez para mudar a situação e posição de Evie ou Molly perante a sociedade. Apenas lhes dava acesso a bailes e festas que, de outra forma, seriam negados às duas. Nenhum homem de riqueza ou nome dobraria o joelho diante dela e pediria sua mão apenas porque as amigas haviam se casado bem.
Não seria diferente com a irmã tornando-se duquesa.
Ter uma irmã em posição tão elevada na esfera social não mudaria sua situação. Afinal, ela ainda era uma mulher sem título, sem herança e com vinte e sete anos. Os cavalheiros, infelizmente, eram imunes a mulheres como ela, no tocante ao que elas poderiam proporcionar. Um prêmio inestimável que vale muito mais do que qualquer outro.
C A P Í T U L O 3
M AIS TARDE NAQUELA NOITE, Evie sentava-se sozinha no quarto, penteando os cabelos com a escova quando a porta se abriu, revelando a irmã, confusa.
— Você precisa me ajudar, Evie. — Lucy deixou escapar enquanto entrava no quarto, fechava e trancava a porta detrás dela.
— Não posso me casar com o duque.
Evie olhou para a irmã por um instante, estava horrorizada. Teria a irmã enlouquecido desde que ela a havia deixado na sala de estar com a família, nem uma hora antes?
— O quê? Por que não?
Lucy foi até onde ela estava sentada diante da lareira, para secar os cabelos após lavá-los. A irmã se deixou cair na cadeira em frente a ela, as bochechas e lábios de um branco fantasmagórico.
— Ele apareceu aqui há menos de um mês e tem me cortejado desde então. Mamãe ficou tão satisfeita e feliz que não eu quis aborrecê-la. Sabe bem como ela andava nos últimos meses, foi bom vê-la revigorada.
— Mamãe esteve doente? Evie não sabia disso. Por que não soube disso? — Ela jamais me contou algo do gênero nas cartas.
Espero que não seja nada sério.
Lucy franziu a testa quase sempre perfeita.
— Eu não acredito que esteja. Creio que muito do semblante desamparado de mamãe tem algo a ver com o fato de papai não querer viajar para Bath nesta temporada. Em todo caso, ela ficou
feliz e animada, e o duque foi atencioso e gentil. Antes que eu percebesse, ele estava se curvando diante de mim e me pedindo para ser a esposa dele.
Evie suspirou.
Era típico da irmã se meter em tal apuro.
— Não precisava dizer sim, Lucy.
Lucy fez um som que mais parecia um cachorro ferido.
— Sei que não precisava — ela gemeu. —, mas me senti compelida. Ele é tão rico e poderoso. É dono da maior parte das terras ao redor da propriedade de papai. Eu não queria ofendê-lo e acabei dizendo sim sem pensar no assunto. Mas não posso me casar com ele, não quero ser duquesa.
Evie bufou, incapaz de acreditar no que ouvia. As mulheres da cidade fariam quase qualquer coisa para usar uma tiara ducal na cabeça, mas essa era a Lucy, nunca se importou com essas coisas.
— Há muito poucas mulheres que não gostariam de ser uma duquesa. Tem certeza de que não é você quem está doente?
— Não é brincadeira, Evie. Não posso me casar com o duque porque... bem... porque já estou apaixonada por outra pessoa.
— O quê! — Evie ficou de pé e a escova caiu de seu colo, fazendo barulho ao tocar o chão. — Não pode estar apaixonada por alguém e ter dito sim ao duque. O que estava pensando, Lucy?
Lucy se levantou e começou a andar de um lado para o outro, da cama até a lareira. As mãos em punhos ao lado do corpo diziam a Evie que a irmã estava incomodada e sem saber o que fazer. Evie respirou fundo para se acalmar, precisava da mente clara para pensar no que deveria ser feito.
— Não sei se se lembra, mas mamãe me levou para Gretna ano passado, para visitar uma prima. O que ela não sabe é que eu me aproximei do Sr. Anthony Brown na época, deve saber quem é, um cavalheiro fazendeiro que mora do outro lado de Marlborough. Ele está me cortejando há alguns meses e Evie... — Lucy disse, aproximando-se dela e apertando as mãos da irmã. — Eu o amo muito. Ele é tudo o que eu sempre quis, e quando estou com ele, não me importo com mais nada.
— Você se deitou com ele?
Evie fechou a boca com um estalo ao perceber estar boquiaberta pelas revelações da irmã. Como e quando tudo isso havia acontecido? E como ela não sabia? Ela deveria ter estado ali para a irmã. Guiá-la e ajudá-la nisso. Embora o pai não quisesse que nenhuma das duas se casasse com um fazendeiro, caso testemunhasse a felicidade da filha ao estar com o cavalheiro, ele poderia ter cedido. Nem seu pai, nem a mãe, eram tão rígidos ou tão implacáveis.
— Claro que não. O Sr. Brown é um cavalheiro, mas eu desejo ser esposa dele, e ele pediu minha mão. Em segredo, é claro, ninguém pode saber do nosso amor ainda. Papai nunca vai aprovar.
— a irmã voltou a se sentar e colocou as mãos no colo. — Admito ter beijado Anthony, mas nada mais. Isso eu prometo a você.
Já era algo, Evie supôs.
— Então, veja só, eu não posso me casar com o duque, e se Anthony descobrir que eu concordei em me casar com o Duque de Carlisle, ele nunca me perdoará. Papai disse que mandará que os proclamas sejam publicados. Minha vida acabará se eu perder Anthony. Por favor, Evie. Por favor, me ajude.
Evie mordeu o lábio, sem saber o que fazer.
O que se faz em situações como essas? Sua mente saltou de ideia em ideia, descartando-as segundos após surgirem. A única possibilidade seria dizer a verdade, por mais difícil que fosse.
— Precisará contar a verdade a mamãe e papai e romper o compromisso com Sua Graça. É sua única opção.
— Não. — Lucy arfou, a mão indo ao pescoço. — Estarei arruinada se fizer isso! A cidade inteira vai pensar que sou uma atrevida maquinadora sem nenhuma consideração para com o duque. Quando descobrirem que o Sr. Brown já era meu noivo, vão me evitar e me odiar. O duque pode ficar tão furioso que pode tentar prejudicar papai financeiramente por vingança. Não, ninguém deve saber que fui eu quem desfez o noivado. Precisamos evitar que papai publique os proclames, e você precisa fazer o duque pensar que pediu a irmã errada em casamento.
— Eu? — Evie perguntou, apontando para si. — Não posso seduzir um duque. Vou ficar arruinada. Pense por um momento no
que está me pedindo, Lucy.
— Você é uma solteirona convicta. Pensei que não se importaria.
Raiva substituiu a compaixão que sentia pela irmã.
— Posso não estar casada, mas não sou uma prostituta que se empenhará em consertar o erro cometido por outra pessoa. Você precisa contar a verdade. Foi você quem mentiu para os dois homens. É você que precisa consertar algo aqui.
Lucy se ajoelhou diante da cadeira dela, e tomou as mãos de Evie: — Me desculpe, Evie. Estou desesperada. Por favor, por favor, me ajude. — a irmã implorou, apertando ainda mais as mãos dela.
Evie balançou a cabeça, olhando para a irmã, a quem ela começava a se perguntar se ainda conhecia. O que ela estava pensando, metendo-se nessa mentira?
— Eu não saberia nem como roubá-lo de você, e foi você que ele pediu em casamento. Ele gosta de você, não de mim. Esse plano nunca funcionará. Deve reconhecer o erro, infelizmente.
— Você é muito mais bonita do que eu. Não será tão difícil.
Apenas mostre a ele que está mais interessada nele que eu. Vou me distanciar nos próximos dias, ficarei indisponível ou ausente quando ele vier visitar, e você fará companhia a ele por mim. Em todo caso, ele só fala, não tentou me beijar, felizmente, e é chato. —
a irmã franziu os lábios e virou a cabeça, pensativa. — As fofocas de Londres o pintam como um libertino, um patife, mas não acredito ser verdade. Ele nunca tentou me seduzir, nem uma única vez.
Tenho certeza, porém, de que ele tentaria beijar você. Como eu disse, você é muito mais bonita do que eu.
A ideia de o duque beijar Evie fez com que calor se acumulasse em seu âmago, e ela se deixou cair na cadeira, um pouco atribulada.
— Se eu tentar roubá-lo, ele pensará o pior de mim. Ninguém faz tal coisa com a própria irmã, e ele é um cavalheiro, não faria isso com a noiva.
— Não, não, não. Ele só vai acreditar que os sentimentos que desenvolveu por mim, eram equivocados. Como disse, vocês já se conheciam. Decerto, poderá usar tal fato a seu favor. Ele não me ama, disso eu sei, então não será tão terrível para ele no final. Não
precisa se casar com ele, apenas faça com que ele desvie a atenção de mim, para que ele mesmo decida encerrar o noivado.
— Mas... e se ele resolver propor casamento para mim, então?
Como você disse, me resignei ao meu destino na vida. Não sei se conseguiria me casar com um homem de sentimentos tão inconstantes.
— Evie, minhas ações para com o duque, meu casamento, podem arruinar a família se ele descobrir meu noivado anterior.
Precisa fazê-lo olhar para você, se apaixonar por você se possível, mas precisa fazer isso logo. Por favor, me ajude.
— Lucy — Evie suspirou. — Quando ele voltará para visitá-la? —
perguntou ela, resignando-se a contar a verdade ao duque ela mesma, não importando o que Lucy quisesse que ela fizesse.
Ela não poderia seduzi-lo. Era uma ideia horrível. Não porque ele não era bonito de morrer, com a mandíbula cinzelada e o nariz reto e aquilino, não. Ele era uma visão encantadora, mas, porque ela não conseguia seduzir um homem a afastar-se da irmã, mesmo que fosse solicitada a fazê-lo.
Era impossível imaginar, e ele questionaria sua lealdade para com a família se tentasse tal coisa. Ele a consideraria uma pessoa horrível. E ela seria uma pessoa horrível.
Não, ela contaria a verdade ao duque e faria Lucy reconhecer seu erro. Era o melhor para toda a família. O duque decerto compreenderia. Como a própria Lucy disse, mal se conheciam. Não era como se o possível casamento tivesse nascido do amor. Tudo daria certo. Amanhã mesmo ela resolveria esse problema, e todos poderiam voltar às suas vidas normais.
C A P Í T U L O 4
F INN CAVALGARA em velocidade para chegar à tempo para a visita vespertina à Srta. Lucy Milton. Ele se demorou com o mordomo devido a uma carta do advogado que queria notícias do casamento. Ou seja, quando aconteceria e o lembrava do tempo que corria contra ele.
Ele puxou as rédeas diante da propriedade modesta de arenito, suspirou e passou a mão no queixo. O que estava fazendo? Ele iria se casar com uma mulher a quem não amava e tudo por uma questão de dinheiro.
Certo, era muito dinheiro, os fundos necessários para manter suas muitas propriedades e as pessoas que dependiam dele para viver. Mesmo assim, a ideia de se casar com uma mulher de quem não gostava o incomodava. A senhorita Lucy Milton era uma jovem encantadora, inteligente e alegre, e ao que parece, muito apaixonada por ele. Ele deveria estar satisfeito por encontrar uma esposa, uma garota local que não era apenas filha de um cavalheiro, mas de seu condado natal. Era a definição exata do que o pai havia exigido no testamento, mas ele não estava contente.
Ele não sentia nada por ela que passasse de uma conhecida dos arredores, não mais do que uma amiga.
Uma lembrança da Srta. Evie Milton atravessou seus pensamentos, e ele sentiu o sangue se agitar. Ele não pensara que iria revê-la tão cedo, pois acreditava que ficaria em Londres. O fato de que ela voltaria para casa mais cedo, para participar dos
preparativos do casamento da irmã, não havia sido cogitado por ele.
Erro estúpido, e agora um que assombrava seus sonhos.
Evie era um pouco mais velha que Lucy. Fazia parte do círculo íntimo de amizades de algumas das mulheres mais poderosas e influentes da alta sociedade. E que ele fosse para o inferno, ela era linda. Se ela fosse um pouco mais jovem, ele a teria cortejado em vez da irmã, contudo ela já beirava os trinta anos de acordo com seus cálculos. Seus anos de fertilidade já teriam ficado para trás.
Ela não era para ele.
Ele precisava de uma esposa que lhe desse filhos. Uma esposa jovem era o mais adequado para esse caso. Como ele precisava se casar, pelo menos iria garantir que teria filhos, e logo. Ter um herdeiro seria pelo menos uma coisa a menos com que se preocupar.
Finn saltou e entregou o cavalo a um jovem cavalariço que o esperava, e deu uma moeda ao menino pelo serviço. O menino agradeceu de forma profusa, e Finn caminhou até a porta, preparando-se para fingir ser o noivo que em verdade não era.
A porta se abriu, e ele olhou para cima, esperando ver o jovem lacaio que também fazia as vezes de mordomo. A pessoa diante dele com certeza não era um homem. A Srta. Evie Milton era a descrição perfeita de uma mulher. Voluptuosa e com curvas em todos os lugares certos. Suas mãos começaram a suar nas luvas pela vontade de passá-las sobre cada parte que pudesse do corpo dela. As bochechas dela ficaram vermelhas, os olhos estavam arregalados e brilhantes, e ele se preparou para não agir como o libertino que diziam ser, e puxá-la contra ele para um beijo intenso.
Tomar aqueles lábios carnudos e fundi-los aos dele.
Finn engoliu em seco, lembrando-se de fazer uma reverência: —
Srta. Milton, boa tarde. Espero encontrá-la bem hoje.
Ela sustentou o olhar dele e deslizou os olhos por todo ele, como uma carícia. Ele não deveria estar reagindo a ela dessa maneira.
Ela não servia para ele, no entanto, havia algo na Srta. Milton que fazia seu sangue queimar. Sempre o fez queimar, mesmo que ele tenha se prometido nunca agir como um canalha como seu progenitor. Ele só podia imaginar quantos bastardos o pai havia
posto no mundo e estavam espalhados por Londres, antes que morresse no ano passado.
— Sua Graça, que oportuno para mim. Eu estava prestes a dar um passeio e ver se minha cachorra está bem. Ela está prenha, sabe. Talvez queira se juntar a mim. — ela perguntou a ele, descendo para o degrau mais baixo e fechando a porta detrás dela.
Finn deveria se mover para o lado e abrir espaço, mas não conseguiu mover um único pé. Ele era um desgraçado, e um que parecia ser mais parecido com o pai do que ele gostaria de admitir.
— Agradeço a oferta, mas devo cumprimentar seus pais e a Srta. Lucy.
— Ó, meus pais e minha irmã não estão em casa no momento.
Lucy queria visitar Marlborough, algo a ver com um chapéu novo e uma mala de viagem, creio eu. Então, veja, só eu estou aqui hoje.
Ela passou por ele sem se preocupar se ele a seguiria ou não. O
som dos passos dela no caminho de cascalho era alto nos ouvidos dele enquanto ela se afastava. Finn ficou lá parado por um minuto.
Debateu suas escolhas e decidiu que uma caminhada faria bem a todos, desde que ficassem no terreno da propriedade, e à vista da casa. A falta de uma acompanhante para ela poderia ser negligenciada.
— Muito bem, me juntarei a você, Srta. Milton.
Ela parou e se virou. Em seguida, afastou uma mecha solta de cabelo que havia caído no rosto. Finn engoliu em seco. A ação não deveria ser nada sedutora, nem o encher de desejo de ser o único a deslizar a mecha de cabelo atrás da orelha dela, mas foi.
Ele era um demônio da pior categoria e deveria ser açoitado por pensar assim da irmã da própria noiva. Houve a oportunidade, no ano anterior, de cortejar a Srta. Milton durante a temporada, mas decidiu não o fazer. Matrimônio não era um pensamento a atribular sua mente na época. Por estupidez, ele imaginou que teria tempo para escolher uma esposa. Embora a dança deles deva ser considerada memorável, pelo menos para ele, não o fez perder a cabeça e declarar amor eterno.
Forçando-se a controlar os pensamentos rebeldes, ele cruzou as mãos atrás das costas e ergueu o queixo com toda a seriedade,
para dar início ao passeio pelo jardim. Uma façanha de dificuldade inimaginável porque a Srta. Milton caminhou para além da entrada de cascalho, de forma proposital, saindo da vista da casa e avançava em um ritmo que tornou impossível continuar com a passada calma que ele começou.
— Qual é a pressa? — ele perguntou, aproximando-se dela. Um leve rubor cobriu as bochechas dela, e ela apontou para a frente.
— Minha lébrel irlandesa está em trabalho de parto, ou foi o que Ben, nosso jardineiro, disse esta manhã, e quero ficar com ela.
— Você tem uma lébrel irlandesa? — Finn perguntou em meio a passos vacilantes.
Ele não era um entusiasta da criação de cães, nunca confiou nas feras. Ele podia tolerar cachorros pequenos, mas um lébrel? A raça era tão bestial quanto aparentava.
— Eu tenho. — ela respondeu com um sorriso. — O nome dela é Docinho.
Docinho?
Os lábios dele se contraíram ante o nome ridículo, mas ele continuou a segui-la para ver o animal de estimação da Srta. Milton.
— Espero que esta Docinho seja amigável.
— Ó, sim. Docinho tem um temperamento muito tranquilo. Ela vai ficar bem, como o senhor está comigo, ela não terá motivos para desconfiar de sua pessoa. Em geral, ela fica comigo dentro de casa, mas devido ao seu estado, mamãe não a deixará entrar até que os filhotes nasçam.
— Permite que o cachorro viva dentro de casa?
Animais de estimação foram algo inexistente na infância dele.
Havia um gato de guarda um tanto estranho, mas era um selvagem e daria um belo arranhão se alguém tentasse pegá-lo. Quanto a cães, o pai os detestava. Cavalos eram os únicos animais permitidos, e apenas porque serviam a um propósito.
— Claro. Docinho dorme na minha cama sempre que estou em casa, sinto falta dela, mas também estou muito animada para ver os filhotes.
Ela o estudou por um momento enquanto mordia o lábio inferior, e a imagem que ela representava enviou uma onda de desejo ao
pênis dele. Ele apertou a mandíbula, desviando o olhar para remediar o absurdo. O que diabos havia de errado com ele? Ou ele ficara longe da cidade por demasiado tempo; e da cama de mulheres dispostas, ou ele gostava da Srta. Milton mais do que admitia para si. Não era uma revelação útil, já que estava prestes a se casar com a irmã dela.
— Nunca teve animais de estimação quando criança, não é, Sua Graça?
Ele manteve a atenção à frente, e avistou o que pareceu um canil perto de uma pequena cabana.
— É muito astuta, Srta. Milton.
— Temos amigos em comum, Sua Graça. Eu conheço um pouco o senhor. Por falar nisso, gostaria de me chamar de Evie? Eu prefiro em vez de Srta. Milton.
Prazer vibrou por ele ao pensar em tal ato, mas não podia se permitir. Ele só poderia tratar a Srta. Milton com mais familiaridade após o casamento com a Srta. Lucy. Até lá, ele não a chamaria pelo nome de batismo.
— Creio ser melhor continuar com Srta. Milton e Sua Graça, se não se importa. Quando eu me casar com a Srta. Lucy, acredito que podemos ter um relacionamento mais familiar.
— Por curiosidade, no entanto, qual é o seu primeiro nome, Sua Graça? Se estiver disposto a me contar, é claro.
Ele limpou a garganta, sem saber se deveria dizer. Ao fazê-lo, seu argumento de segundos antes cairia por terra.
— Finlay, mas os mais próximos me chamam de Finn.
— Devo admitir que... — disse ela, rindo um pouco. O som foi mais doce do que qualquer outro que já ouvira, ele não deveria achá-la tão descontraída, e nem tão relaxante estar perto da Srta.
Milton, mas era assim que se sentia. Mais do que quando estava com a noiva. Era um maldito inconveniente, para não falar errado.
— ...eu havia imaginado um nome muito mais severo, austero, para um duque.
— Minha mãe escolheu meu nome. — disse ele sem pensar.
Ele quase não mencionava a mãe, a quem perdera quando era jovem. Pensar nela sempre o deixava melancólico, no entanto, com
a Srta. Milton ele se viu capaz de falar do único parente que demonstrou afeto a ele, embora por poucos anos, e sem nenhuma melancolia. Apenas orgulho e amor.
— Que nome acredita que um duque deveria ter, Srta. Milton?
Estou curioso para saber.
— Hm. — ela lançou um olhar provocador a ele e continuou em direção ao canil. — Eu não sei. Suponho que talvez George ou Arthur, ou até William. Finlay parece um nome descontraído e feliz.
Até que combina com você. — ela disse e seus olhares se cruzaram.
Ele sorriu sem perceber, gostando do pequeno passeio, para não falar dela. Ele estava gostando muito dela também. Mais do que gostava dos muitos passeios com a Srta. Lucy Milton. Quando ele saía para passear com a noiva, em muitas ocasiões os dois ficavam minutos sem falar, e às vezes, Finn precisava revirar o cérebro para pensar em algum tópico para conversarem. O diálogo não era fácil com a Srta. Lucy. Ele acreditava que ela era um pouco tímida perto dele, pois afinal ele era um duque, e muitas vezes provocava tais reações quando perto do sexo frágil.
A Srta. Milton, entretanto, parecia um paradoxo.
Era fácil conversar com Evie, e uma pequena dúvida mesquinha se insinuou na mente dele, que havia cometido um erro ao escolher a mais nova das irmãs. Que ele deveria ter dedicado mais tempo para ver quem seria adequada para ser a esposa dele. Em vez disso, ele entrou em pânico e escolheu a filha do primeiro cavalheiro que passou por ele, e que se encaixava nos requisitos do pai.
Tal debate interno o lembrou do porquê de haver dispensado a Srta. Milton em primeiro lugar. Ela estava pronta para ser uma esposa aprazível. Mas ele precisava de uma noiva que lhe desse herdeiros. A Srta. Lucy cumpriria bem o papel. Ela ainda teria muitos anos pela frente para conceber filhos.
No momento em que chegaram ao canil, um homem, que a Srta.
Milton apresentou a ele como Ben, os esperava. Por suas roupas gastas, polvilhadas de lama e fuligem, Finn soube dizer trabalhar como jardineiro, o que ela já havia mencionado.
A senhorita Milton entrou no canil, grande e coberto, e Finn a seguiu em um ritmo mais lento, não queria perturbar a cachorra com a presença dele. A área cercada era grande, o que precisava ser para acomodar um lébrel irlandês. A cachorra de pelo castanho estava deitada em uma cama de palha, e quatro filhotinhos já mamavam.
— Ela já os teve. — disse ele, ajoelhando-se ao lado da Srta.
Milton, mantendo as mãos bem longe da mãe e dos filhotes.
A Srta. Milton não. Ela caiu no chão ao lado da cabeça de Docinho, acariciou seu rosto e inclinou-se para beijar a cabeça do animal. Logo, estendeu a mão e correu um dedo pelas costas dos novos filhotinhos. Um sorriso de adoração deslizou nos lábios dela, e algo dentro de Finn se apertou.
Como seria ser visto dessa maneira? Com absoluta adoração e amor. Ele supôs ser semelhante ao que acontecia quando uma mulher dava à luz a um filho. Amor incondicional pela prole, desde o segundo em que se punha os olhos em seu novo bebê. O pai dele não se importava nem um pouco com ele. A principal prioridade dele era decidir quem seria a próxima parceira de cama. O filho era o menor de seus problemas, contanto que estivesse em casa, com saúde e fora do caminho, o pai estava contente.
— Deixe a Docinho cheirar você, daí você poderá sentar-se mais perto se quiser. Ela sabe que estou relaxada ao seu lado, portanto, sabe que não está aqui para machucá-la, e nem os filhotes.
Finn estendeu a parte de cima da mão, devagar, na direção de Docinho, e ela o cheirou por um momento antes de se deitar e colocar a cabeça no colo da Srta. Milton. Tendo parecido passar no pequeno teste, ele sentou-se na cama de palha ao lado da Srta.
Milton, apenas observando os cachorrinhos brigarem por uma teta.
— Eles são charmosos, eu admito.
— Quando forem desmamados, você pode ficar com um, se quiser. Tenho vários amigas que pediram um filhote de Docinho, quando a cruzamos, mas posso segurar um para você. — ela o estudou um momento. A cabeça dela se inclinou um pouco para o lado. — Consigo vê-lo com um cachorro tão grande. Um duque deve ter um lébrel.
Ele olhou para os filhotes, sem nunca ter pensado muito na ideia, embora acreditasse que poderia ter um animal de estimação, se quisesse. O pai nunca havia permitido, mas tal fato não significava que ele não pudesse arrumar um agora se assim decidisse. Talvez, se desse uma chance aos cães, pudesse gostar mais deles, afinal.
Um pensamento novo e que ele consideraria.
— Vou refletir acerca disso. — ele se viu dizendo, e estendeu a mão para passar o dedo em um filhote preto que parecia ávido por leite. — Acha que Docinho vai ter mais filhotes hoje? — ele perguntou, nunca havia visto um cachorro dar à luz antes. Foi isso que repetiu para si, convencendo-se de este ser o motivo pelo qual desejava ficar neste canil quentinho, acariciando filhotes.
Porém, ele sabia ser porque queria passar mais tempo com a Srta. Milton, longe da família dela e da sociedade que os esperava em Londres.
Seu bom amigo, o duque de Whitstone, falava muito bem dela, e ele entendia por quê. Ela não era espalhafatosa, mas inteligente e doce. Ela adorava o grande cão, cuidava da irmã e da família. Não havia ninguém que pudesse não gostar dela. O fato de que ela era muito mais que bonita também tornava o tempo ao lado dela mais agradável. Olhar para tamanha beleza o dia todo nunca seria uma tarefa árdua.
EVIE PUXOU o duque para longe dos filhotes depois de uma hora sussurrando, segurando e acariciando as adoráveis bolinhas de pelo, para que voltassem para a casa. A família dela deveria chegar às quatro horas, e já passava das três quando voltaram.
Os dois sentaram-se na sala da frente, que permitia à Evie que observasse a entrada. Tomavam o chá com biscoitos que a cozinheira havia preparado para eles. Ela o estudou enquanto comia uma fatia de bolo de cenoura.
O Duque de Carlisle sentava-se ereto e rígido em sua cadeira, todo regrado, não era mais o nobre relaxado com quem ela
conversara no canil apenas meia hora antes.
Era um absurdo que a irmã acreditasse que ela seria capaz de seduzir um espécime tão belo de homem, de afastá-lo da amada.
Embora se dessem bem e parecessem estar em termos amigáveis, não significava que ele a considerasse bonita tanto quanto ela o considerava belo.
Tendo ela nunca beijado um homem, como ela seria capaz de seduzir um libertino experiente? Sua irmã pedir já era absurdo. Não, se a felicidade de Lucy dependia de desfazer o acordo com o duque, então era Lucy quem precisaria contar a verdade a ele. Que contasse que amava outro, que não se casaria com ele. Esta era a melhor forma de lidar com o assunto, e Evie a colocaria em prática assim que os pais e a irmã chegassem.
Ela franziu a testa ao erguer a xícara à boca.
O que o duque faria depois do fato? Ele voltaria para a cidade?
Ele se casaria com uma mulher muito mais próxima a ele em riqueza e situação? A ideia deixava um gosto amargo na boca, e ela pegou mais açúcar para colocar no chá.
— Pensei em fazer um baile de noivado daqui a algumas semanas. Acredita que sua irmã concordaria com tal evento?
A pergunta a tirou de seus pensamentos desanimados e a fez voltar-se para o duque.
— Creio que ela gostará muito disso. — mentiu Evie, sabendo que a irmã odiaria tal extravagância. Ser exibida diante de todos os amigos mais íntimos do duque como se ela estivesse apaixonada por ele. Não, ela não podia permitir que chegasse tão longe. Ela faria Lucy acabar com essa loucura.
— Vou precisar de ajuda para fazer uma lista de convidados adequada. Você e a Srta. Lucy gostariam de me visitar amanhã, para começarmos?
Evie pousou a xícara de chá na mesinha que os separava.
— Talvez possamos nos juntar ao senhor para almoçar e, em seguida, começar a lista.
Não que alguma lista ou baile fosse de fato ocorrer. Quando Lucy voltasse para casa, o duque seria liberado de sua proposta e
tudo voltaria ao normal. Fora o fato de a irmã se casar com o Sr.
Brown.
— Acredito ser uma boa ideia.
Ele abriu um pequeno sorriso, os olhos dele demorando-se nos lábios dela por um momento antes de voltar para o biscoito que segurava.
Uma onda de prazer vibrou através dela ante o interesse dele até que o som das rodas da carruagem do lado de fora chamasse sua atenção. Evie olhou pela janela e viu a mãe e o pai descendo do veículo, o semblante da mãe era de angústia. Evie se levantou, o estômago revirando pela desgraça iminente. Assim que a porta da frente se abriu, ela os encontrou no foyer, deixando o duque sozinho na sala de estar.
— O que aconteceu? — perguntou ela à mãe, cujo rosto estava pálido e os olhos avermelhados como se ela estivesse chorando há muito tempo.
A ausência de Lucy a fez parar.
— Lucy está bem, mamãe? Onde ela está? — ela perguntou, virando-se para o pai, que apenas ficou parado, olhava para ela como se tivesse perdido toda capacidade de sentir e emocionar-se.
— Ela desapareceu! — a mãe gritou, os olhos se enchendo de lágrimas, os soluços lamentosos e altos preenchendo o cômodo.
— Como assim desapareceu? Explique! — Evie exigiu, sacudindo o pai um pouco pelo braço. — Pai, conte-me o que aconteceu.
Todos os tipos de possibilidades passaram por sua cabeça, de que a irmã havia sofrido um terrível acidente e não estava mais viva.
Decerto que não. A ideia não valia nem a pena de ser cogitada.
— Ela se foi. — repetiu a mãe em meio a mais gemidos que fizeram as pernas de Evie começarem a tremer de que sua irmãzinha pudesse ter realmente falecido.
— Ela fugiu. Com... com... o Sr. Brown! Você o conhece, o fazendeiro que mora a oeste de Marlborough. Lucy pediu para ir buscar um tecido para um vestido novo, e eu disse que logo me juntaria a ela, pois havia encontrado a Sra. Oyster, minha amiga.
Pensei em encontrá-la na loja de moda administrada pela Sra. Clay,
mas quando cheguei lá, nem cinco minutos depois, ela havia sumido. A vendedora me entregou uma missiva. Era de Lucy e continha desculpas e planos que havia feito para si.
— O que a carta diz exatamente? — Evie perguntou, raiva substituindo o medo devido ao que a irmã havia feito.
Como ela poderia fazer isso aos pais delas que, com certeza, morreriam de preocupação até que voltassem a vê-la? Quanto ao Sr. Brown, ele deveria ser mais adulto em vez de agir de forma tão egoísta. Ela diria algumas palavras bem severas a ele quando o encontrasse.
— Não muito. Ela nos pediu para avisar o duque da mudança de sentimentos para com ele e liberá-lo do compromisso. Que ele se case com outra.
— Perdão, Sra. Milton? — disse o duque ao sair da sala de estar com o cenho franzido para os pais dela, como se os dois fossem crianças rebeldes. — O que minha noiva fez?
— Parece que Lucy fugiu, Sua Graça. Fugiu para se casar com um fazendeiro que conhecemos aqui de Marlborough. Lamento muito. — disse Evie, voltando-se para os pais e levando a mãe para a sala de estar, para que se sentasse. — Pelo menos Lucy pretende se casar, mamãe. Tenho certeza de que tudo ficará bem quando ela voltar para casa.
— Ela se arruinou, e para quê? Esse Sr. Brown... Ele é um fazendeiro, Evie. Eu esperava que o casamento de Lucy, em tão alta estima, ajudasse a resolver sua situação delicada, Evie, mas parece que não será o caso. O Sr. Brown não tem posição social, você sempre será uma solteirona.
Evie se sentou ao lado da mãe e pegou a mão dela entre as suas para confortá-la. O fato de o duque ter ouvido tudo o que a mãe acabara de dizer foi mortificante o bastante para que ela fizesse uma cena a respeito.
— Sabe que não me importo com a maneira como minha vida se fez. Ficarei muito bem. Nossa preocupação agora deve ser Lucy.
— Está certa. — concordou a mãe ao segurar o braço da filha.
— Devemos torcer para que ela se case e seja feliz.
— O que farão a respeito dos atos dela? — o duque exigiu, caminhando para ficar diante da lareira, os olhava com desgosto.
Em algum momento, o pai delas também entrou na sala e sentou-se no sofá ao lado das duas.
— Não sabemos para onde foram, Sua Graça. — o pai disse com a voz cansada. — Lucy vai voltar para casa quando se casar, creio eu. Não vejo sentido em persegui-la e tornar a situação um escândalo.
— Ela é minha noiva. Sugiro que deva fazer mais que isso.
Evie esfregou as costas da mãe quando as palavras do duque provocavam outro ataque de histeria.
— Sentimos muito por sua perda, Sua Graça, mas há pouco que podemos fazer, exceto ir atrás dela. Ela poderia estar em qualquer lugar agora. Pode ter fugido em qualquer direção. Tenho certeza de que, com o tempo, seu coração vai se curar e encontrará outra noiva.
— É como devemos agir. Ir atrás de sua irmã e informá-la de que assinou um contrato para se casar comigo. Que ela vai sim cumpri-lo, ou arruinarei sua família muito além do que essa escapada será capaz.
— Como é? — disse o pai, ficando de pé, cara a cara com o duque, que era muito mais alto.
Evie suspirou.
Se o pai pretendia intimidar o duque, não pareceu funcionar, se a linha fina que os lábios dele formaram fosse alguma indicação.
— Desculpe, Sr. Milton, mas o senhor estava lá quando os contratos foram assinados. Contratos que conferem ao senhor uma grande soma de dinheiro de modo a garantir que o casamento fosse realizado em sessenta dias. Esse valor tornou-se uma dívida agora que sua filha fugiu com outro homem. Portanto, a menos que mantenha aquelas mil libras em uma gaveta de sua escrivaninha para me reembolsar pelo meu incômodo, sugiro que faça o que eu peço e vá atrás de sua prole.
— Meu pai não pode mais fazer viagens longas, Sua Graça. O
médico recomendou que ele ficasse perto de casa. — disse Evie,
sentindo que precisava defender os pais que eram tão inocentes como o duque em tudo isso.
Não que Lucy houvesse contado a ela essa última parte do plano. Ela não fazia ideia de que a irmã tomaria rumos tão drásticos para terminar seu noivado. Ela deveria dizer a verdade ao duque, não fugir com o Sr. Brown.
Nossa, que bagunça.
— Ele tem o coração fraco. — disse a mãe, soluçando para causar efeito.
O duque caminhou até a janela, murmurando baixinho antes de virar-se para encarar os três. Os olhos dele pareciam um pouco selvagens, e Evie estremeceu ao vê-lo. Quando contrariado, o duque ficava envolto em uma aura um tanto estranha, mas atraente.
Ele aparentava ser muito menos refinado, menos duque e mais homem. Um homem muito agradável que voltara a ser desimpedido para o sexo oposto.
Ele gesticulou em direção a Evie.
— Sua filha vai me acompanhar. Para dar respeitabilidade à Srta. Lucy quando voltarmos para casa. Eles não podem ter ido longe, e retornaremos em um ou dois dias.
— Evie não vai a lugar nenhum com você, Sua Graça. — o pai vociferou, o rosto ficando um pouco vermelho com sua irritação.
Evie se levantou, indo até ele e o acompanhando de volta até a cadeira que estava sentado: — Sente-se, pai. Sabe bem que o médico disse que não quer que você se estresse de forma alguma.
— Você não pode viajar com um homem na carruagem. Será arruinada e nunca mais poderá se casar.
— Levarei Mary comigo, e parece ter se esquecido que eu já sou conhecida por ter passado da idade de me casar, pai. O duque viajará fora da carruagem, em um cavalo, não é, Sua Graça? —
disse ela, olhando o duque em busca de concordância. — Todas as normas sociais serão atendidas, prometo, caso me permita, é claro.
O pai dela olhou para a mãe por um momento. Em seguida, os ombros caíram, e ele suspirou: — Muito bem. Evie viajará com o duque para trazer Lucy para casa. Se partirem hoje, há uma chance de pegá-los antes do anoitecer. — o pai agarrou-a pelo braço,
segurando-a com firmeza. — Ela não deve se casar com o Sr.
Brown, minha querida. — ele sussurrou apenas para seus ouvidos.
— Não tenho dinheiro para pagar o duque. Se Lucy se casar com o Sr. Brown, estaremos arruinados de vez, perderemos a casa.
Evie suspirou, o coração um pouco mais apertado diante dos problemas do pai. No entanto, nem tudo estava perdido. Eles compartilhavam amigos em comum. Talvez o duque pudesse ser persuadido a deixar o dinheiro como um empréstimo e permitir que o pai dela o reembolsasse com o tempo, caso Lucy fosse mais rápida do que eles e já estivesse casada quando a encontrassem.
Evie poderia pedir. Afinal, eles eram vizinhos em Wiltshire.
Ela assentiu.
— Iremos, papai. — ela sussurrou, antes de se despedir deles.
Ela foi para o quarto, pois precisava arrumar uma mala e avisar a criada, Mary, para se preparar. Havia muito a fazer e muito pouco tempo para isso.
C A P Í T U L O 5
A ESTRADA PARA Londres mostrava-se árdua e a jornada duas vezes mais demorada porque ela havia acabado de fazer este percurso, dois dias antes. A criada dela sentava-se à sua frente, a pele da moça se tornava mais acinzentada a cada quilômetro. Não era um bom presságio para Mary não estar bem tão cedo na viagem. Ainda havia muitos, muitos dias pela frente.
— Você está se sentindo mal, Mary? Está quieta e pálida. — ela perguntou, inclinando-se para apertar a mão de Mary, sacudindo-a um pouco quando ela não respondeu. — Mary?
A jovem se recostou nas almofadas, respirou fundo e se acalmou.
— Ó, senhorita Milton, me sinto muito mal. Agora que já completei vinte e um anos, pensei que as dificuldades que sentia na infância para viajar teriam deixado de me incomodar, mas não.
— Sente como se estivesse prestes a vomitar? — Evie perguntou, deslizando para o lado da carruagem, para baixar um pouco a janela.
Estavam viajando na carruagem do duque, um veículo opulento e alto, e a última coisa que Evie queria era ver o conteúdo do estômago de Mary espalhado pelo chão ou pelas almofadas de seda. Ela duvidava que o duque apreciasse o presente.
— Sim, senhorita. Mary se curvou para frente, segurando o estômago.
— Pare a carruagem. Por favor, Srta. Milton.
Evie gritou para o condutor pela janela e, em momentos depois, a carruagem parou. Assim que Mary pôs um pé para fora, esvaziou o estômago, errando por pouco as botas dela, mas os cascos do cavalo do duque não tiveram a mesma sorte.
O cavalo olhou para Mary com desdém, se é que cavalos eram capazes de tal feito. Mary estava alheia a todos, apenas continuou a despejar quantidades enormes de fluido por todo o solo. Evie ergueu os olhos para o duque e notou que ele também ostentava uma carranca de desdém e impaciência que combinava com a do cavalo.
Evie saltou do veículo, foi até Mary e esfregou as costas da criada, dando conforto de qualquer maneira que pudesse. Graças.
Ela parou de arfar e estava apenas respirando fundo, tentando acalmar o estômago.
— Sente-se um pouco melhor? — ela perguntou, levantando-se e avaliando os arredores.
Por entre as árvores à frente, Evie avistou o que parecia ser o início da próxima cidade, Hungerford. No retorno de Londres, eles costumavam trocar de cavalo aqui, mas não quando saíam de Marlborough. Ela supôs que poderiam parar para almoçar, embora fosse um pouco cedo para isso.
— Devemos entrar em Hungerford. Não é longe, e creio ser melhor que Mary não volte para a carruagem por ora. Podemos adiantar a refeição, o que pode ajudar o estômago inquieto dela.
Não concorda, Sua Graça? — perguntou, sustentando o olhar dele.
Os lábios do duque se estreitaram, mas ele cedeu e assentiu.
— Concordo. Vou na frente e peço o almoço para todos nós.
Charlie. — disse o duque ao lacaio que estava sentado na parte de trás da carruagem. — Caminhe com a Srta. Milton e com a Srta.
Mary até o The Bear Inn. Encontrarei vocês lá.
Evie ajudou Mary a caminhar em direção à pousada e, quanto mais perto da cidade, mais cor aparecia no rosto de Mary. O mal-estar estava indo embora. Seus olhos voltaram a brilhar, um bom sinal de que uma caminhada era a melhor solução para Mary se sentir melhor.
— Creio que foi a carruagem que a fez se sentir mal, Mary.
Vamos almoçar e, com algum otimismo, você estará bem o suficiente, esta tarde, para continuar em direção a Londres.
— Creio que vou ficar bem, Srta. Milton. Sinto muito por ser um incômodo. Imaginei que meu mal-estar em viagens havia ficado no passado. Parece que não.
— Não, e não tivemos tempo esta manhã para tomar um café-
da-manhã farto antes de sairmos, o que pode ter contribuído para seu enjoo.
Evie avistou a pousada caiada na movimentada cidade mercantil e encaminhou-se para a porta da frente. Era uma grande estalagem, com muitas pessoas apressando-se em todos os cantos, e todas parecendo muito ocupadas com suas tarefas. Uma linda janela em arco ia do primeiro ao segundo andar e a fez pensar no White's em Londres e a famosa janela em arco do clube.
O duque, que devia estar observando-as de dentro, saiu para o sol, e uma pequena vibração de prazer reverberou dentro dela.
Ele era um homem tão bonito.
Ou a irmã estava confusa, ou, de fato, estava apaixonada pelo Sr. Brown para trocar o duque por um fazendeiro. Evie não conseguia se ver afastando-se do duque caso ele a pedisse em casamento. Se ele a tivesse escolhido para ser a noiva, ela o teria feito se apaixonar por ela, não importa quanto tempo isso pudesse ter levado. O duque as observou caminhar para a estalagem, e Evie estremeceu quando o olhar dele avaliou a aparência dela, deslizando-se como uma carícia. Se ele pensava que ela não havia notado, estava enganado. Havia pouco que ela não discernisse no que se referia ao duque.
Ele gostava do que via?
Ela supôs que, agora que a irmã dela havia fugido com outro homem, ela não precisava mais se preocupar com o apelo de Lucy para que Evie o roubasse e o forçasse a terminar com o noivado.
Evie só podia esperar que a irmã estivesse casada quando os alcançassem. O duque poderia ficar desapontado por um tempo, mas decerto seu coração se curaria. Isso se o coração dele
estivesse ligado à irmã dela. Pois, às vezes, a maneira como ele falava e como a olhava, a faziam duvidar que fosse esse o caso.
Eles pararam diante do duque, e ele se curvou, estendendo o braço para Evie.
— Srta. Mary, já parece muito melhor. Srta. Milton, o almoço será servido em uma sala privada.
O interior da estalagem estava tão movimentado quanto o lado de fora. A taverna estava cheia de mesas e pessoas comendo.
Alguns sentavam-se no bar, comiam e bebiam, ocupados discutindo assuntos de todos os tipos enquanto esperavam pela próxima diligência ou por uma troca de cavalos.
A criada encarava a cena como se jamais tivesse visto tal movimento, e Evie a puxou para onde o duque as estava conduzindo. Ele abriu uma porta e gesticulou para que entrassem. A sala privada era iluminada e arejada e contava com uma vista para o lindo rio Dun. A mesa estava cheia de pães e frios, queijo e um bule de chá fumegante.
Evie ficou com água na boca ante a visão e foi em frente, sentando-se em frente à janela para observar o que acontecia no rio.
— Parece maravilhoso, Sua Graça. Obrigada pelo delicioso almoço.
Ele se sentou em frente a ela, enchendo seu prato com uma seleção do que estava diante deles.
— Claro. Não é problema algum.
Evie se serviu de uma xícara de chá e, após tomar um gole da bebida escura, suspirou de alívio.
— Que refrescante. Não creio que poderia sobreviver sem chá, não concorda, Mary?
Mary deu uma risadinha, e o duque sorriu.
Em seguida, ele cortou um grande pedaço de queijo e colocou-o no prato.
— Eu não, Srta. Milton.
— Vamos para Reading em seguida. Mas temo que a carruagem passará horas em estradas irregulares e acidentadas. Não
chegaremos à próxima cidade antes do anoitecer. Acredita estar bem o suficiente para continuar, Srta. Mary?
— Acredito que sim, Sua Graça. Agora que estou comendo algo, vai ficar tudo bem, tenho certeza.
NÃO FOI O CASO. Finn estava parado ao lado de seu cavalo, que pastava na grama ao lado da estrada enquanto a Srta. Mary regurgitava o almoço pela terceira vez em poucos minutos. Nem um quilômetro adiante na estrada, e a carruagem precisou encostar para que a criada pudesse vomitar. Não era possível, e não seria algo que ele fosse permitir continuar acontecendo. Se ele quisesse alcançar a Srta. Lucy Milton antes que ela fugisse com o cavalheiro e admirador preferido, precisariam viajar depressa e sem percalços.
Ele precisava se casar com Lucy. E precisava se casar com ela logo, antes que seu tempo acabasse, e ele perdesse toda a sua renda para o primo, perderia tudo exceto a grande propriedade.
A impaciência o consumia, e ele suspirou, a mente furiosa tentando descobrir como prosseguir.
— Já chega! Não podemos continuar assim. Srta. Milton, você deve cavalgar comigo até chegarmos a Reading. Dickens e Charlie acompanharão a Srta. Mary até que volte a Hungerford na carruagem e providenciarão uma carruagem particular para levá-la de volta a Marlborough. É óbvio que ela não conseguirá viajar toda a distância até Londres, quanto mais até Gretna, se precisarmos ir tão longe. Peço desculpas, Srta. Milton, mas não podemos perder mais tempo.
— Mas eu ficarei desacompanhada. — disse a Srta. Milton, com os olhos arregalados de escândalo.
Ela estaria, infelizmente, mas havia pouco que ele pudesse fazer a respeito. A criada não podia viajar com eles. O estômago da moça não foi feito para longas distâncias, isto estava claro.
— Iremos como irmão e irmã até Londres e, de lá, tomaremos uma carruagem sem identificação para o norte, para nos prevenir de
olhares curiosos.
— Dickens. — disse ele, voltando-se para o condutor. —
Esperaremos por você em Reading.
— Pode deixar, Sua Graça. — Dickens disse, voltando para o assento elevado da carruagem.
— Quanto tempo acredita que ficaremos em Reading? E se encontrarmos alguém que conhecemos? Estarei arruinada.
— É um risco que devemos correr para trazer sua irmã de volta.
Sinto muito, porém minha decisão está tomada.
A boca exuberante da Srta. Milton se estreitou em uma linha de descontentamento antes de ela se virar para Mary e segurar as mãos da criada entre as dela. Ela foi muito gentil com a moça, falou com ela mais como uma igual do que como uma mulher que era sua funcionária.
Como duque, ele nunca havia pensado muito nas pessoas que trabalhavam para ele, desde que cumprissem seus deveres e agissem de maneira aceitável devido à posição que ocupavam em uma residência ducal. Ele sempre foi justo e gentil, mas não amigável. Era algo inovador em se ver.
— O que está pensando, Mary? Está feliz com este plano?
Mary assentiu com a cabeça, os cabelos escapavam dos grampos devido ao infortúnio de passar o dia todo com o estômago revolto.
— Não posso continuar, Srta. Milton. Lamento muito.
A Srta. Milton ajudou Mary a voltar para a carruagem, a mão sempre massageando as costas da criada para confortá-la.
— Vai ficar tudo bem, Mary. Só espero que a viagem de volta para casa não seja muito cansativa para você.
— Eu também. — disse Mary, ao subir no veículo. — Obrigada, Srta. Milton. Sua Graça. — a criada disse antes de se recostar nas almofadas e fechar os olhos.
— Assegure-se de que a Srta. Mary esteja em segurança em uma carruagem particular de volta à propriedade da Srta. Milton.
Preste bastante atenção para que, caso ela precise parar, o façam sempre que necessário. Nós nos encontraremos em Reading amanhã.
— Muito bem, Sua Graça. — respondeu o condutor que moveu as rédeas para virar a carruagem e seguirem a estrada que acabaram de percorrer.
— Venha, Srta. Milton. — disse Finn, estendendo a mão para ajudá-la a subir no cavalo dele.
Ela olhou para ele de esguelha, depois para o cavalo, e seus olhos se arregalaram. Sem dúvida, a ideia de montar naquela grande besta e viajar até Reading era a última coisa que ela gostaria de fazer. Ela se virou, acenou para a carruagem que se afastava e, então, fez o que ele mandou. Foi até ele e estendeu a mão para que ele a segurasse.
No momento em que envolveu os dedos em torno dos dela, ele sentiu-se aquecer, dos braços até o peito. Ele a puxou para cima do cavalo, envolveu as mãos dela em torno da cintura dele e as firmou diante dele. Não era necessário que ela o segurasse com tanta força, mas contra seu bom discernimento, ele gostou que ela o fizesse.
Ela se apoiou nas costas dele, abraçando-o com força, e a sensação das pernas dela, os braços em volta dele, fez a mente dele zunir com ideias. Outras imagens deles juntos, emaranhados e bem apertados. Ele fechou os olhos, preparando-se para a longa viagem que esta tarde representaria até alcançarem Reading.
Sem mais delongas, ele virou a montaria a incitou a um galope, precisava se distrair da mulher atrás dele. Finn logo percebeu o erro de colocar Evie atrás dele. Ela ondulava contra as costas dele a cada passada, e agora ele conhecia a sensação dos seios dela.
Macios e cheios, proibidos ao toque dele. Ele estava prestes a se casar com outra pessoa, ele se lembrou. A mulher atrás dele era a irmã de sua noiva.
Proibida.
As horas iam aparecendo no horizonte. Horas de tortura misturadas com prazer. Ele não sobreviveria, disso estava certo.
C A P Í T U L O 6
O BUMBUM DE EVIE ficara dormente, horas antes, e ela não sentia mais as pernas. Também doíam, e a cada passo dos cascos do cavalo, ela se encolhia, querendo descer do animal e nunca mais subir em outro.
Cavalgar tantas horas sem estar acostumada ao exercício não era nada aceitável. Um passeio ao redor do Hyde Park era uma coisa, mas quilômetros na garupa de um cavalo, em terreno irregular, escorregadio e, por vezes rochoso, era outra bem diferente. Ela ficaria grata por voltar para a carruagem no dia seguinte, e não apenas porque seu bumbum ficaria grato. Ela se perguntou se aguentaria mais um dia assim, sentada atrás do Duque de Carlisle sem que suas mãos fizessem algo inapropriado, como acariciar seu peito.
Evie espiou por cima do ombro dele, movendo os olhos para ver seu perfil. Apesar de toda a dor que sentia no bumbum, seu corpo não sentia nada além de prazer. Prazer provocado pelo duque.
Ele era tão atraente.
Seu nariz reto, a mandíbula esculpida e os lábios de aparência doce a deixaram sem ar e dolorida, não apenas na parte de trás. A ideia de que o plano de sua irmã de se casar com outro fosse frustrado, e o duque se tornasse seu cunhado, fazia Evie saber que teria que limitar o tempo passado com a irmã a partir do dia do casamento.
Havia algo no duque que ela gostava e, no fundo, o queria para si. Tolice da parte dela, na verdade, já que nunca havia pensado muito nele quando estavam em Londres e circulavam em meio ao mesmo grupo de amigos. Mas agora, no interior e rumo a Londres, sobrava pouco para a imaginação. Era tudo o que ela pensava.
Evie flexionou as mãos, sentindo as linhas duras e musculares dele sob os dedos antes de juntá-los para impedir sua carícia inadequada. Ele enrijeceu ante o toque dela, algo que ele vinha fazendo várias vezes ao longo da jornada ao Norte. Os seios dela pesavam no vestido de viagem. Os mamilos endureceram por escorregar contra as costas dele. Por um tempo, ela encostou a cabeça nas costas dele, em uma tentativa de arrancar o máximo de prazer que fosse possível.
Ele era tão irresistível que, se não parassem logo, ela ficaria tentada a se esfregar contra ele como uma gata procurando um macho que a satisfaça.
Uma carruagem passou por eles, Evie olhou em frente e viu o contorno de uma aldeia de tamanho considerável. Alívio se espalhou por ela que logo estaria de pé. Apesar de todas as reações deliciosas que o duque provocava dentro dela, ela ficaria agradecida em ficar sobre os dois pés.
Em pouco tempo, o duque puxou o cavalo diante da pousada The Crown, um prédio de tijolos vermelhos com um estábulo logo ao lado. Ele estendeu a mão, oferecendo o braço.
— Aqui, deixe-me ajudá-la a descer. — ele disse e os olhares dos dois se cruzaram.
Evie desviou a atenção para a mão dele e a apertou com força.
Por que ele era tão envolvente? Tão generoso e charmoso?
Tão indisponível.
Bem, ao menos na opinião dele, ele era.
Ele estava, neste exato momento, perseguindo a irmã dela para implorar que se casasse com ele, mesmo que ela estivesse apaixonada por outra pessoa. A ideia de ele conseguir fazer tudo que se propunha a realizar encheu-a de desespero, e ela escorregou do cavalo.
Ela esperava que as pernas a mantivessem em pé, mas em vez disso, os joelhos cederam, e ela continuou em uma espiral descendente até que seu traseiro atingiu o chão do pátio, empoeirado e rochoso.
— Srta. Milton! — gritou o duque, saltando da montaria e se abaixando para ajudá-la.
Ele apertou as mãos dela e a ajudou a se levantar.
— Obrigada, Sua Graça. — disse ela, esticando a mão para trás e tentando massagear o bumbum sem ser evidente demais para os transeuntes. — Parece que fiquei muito tempo sentada hoje.
O duque franziu o cenho para ela, com toda a seriedade.
— Eu deveria ter perguntado se estava acostumada a viagens tão longas a cavalo. Peço desculpas pela minha falta de cuidado, Srta. Milton.
— Evie, por favor. Srta. Milton me faz parecer uma solteirona.
Ele abriu um pequeno sorriso, e em seguida entregou o cavalo a um jovem cavalariço que o esperava, feito isso a conduziu para dentro.
— Nesse caso, pode me chamar de Finn então. Ainda mais que seremos irmão e irmã em breve.
— Verdade. — disse ela, sorrindo de volta antes de segurar o braço dele.
Eles entraram na estalagem e pararam na taverna. Era bem semelhante à que almoçaram em Hungerford.
— Dois de seus melhores quartos, por favor. Por uma noite.
O taberneiro esfregou as mãos no avental encardido e estudou os dois.
— Eu só tenho um quarto sobrando. É o melhor que tenho. Os olhos do taberneiro se focaram em Evie, e ela se aproximou do duque, escondendo-se um pouco atrás do braço dele.
— Minha irmã e eu precisamos de quartos separados. Serei generoso com o pagamento.
O homem deu de ombros e cruzou os braços sobre o peito largo.
— Não posso fazer nada, sinto muito. Tenho um quarto. É pegar ou largar.
Evie olhou para o duque e não deixou de notar a expressão de dor que cruzou o rosto dele. Ela supôs que não era com ela que ele queria ficar sozinho, mas com a irmã dela. Não importa o que Lucy pensava do duque, Evie não fazia ideia se os sentimentos dele eram genuínos. Tudo o que ela havia visto das reações dele quando ao lado da irmã dela dizia que sim.
Talvez ele estivesse com o coração partido porque a irmã dela havia fugido com outro homem.
— Nós ficaremos com o quarto. — ele disse com a voz neutra.
— Peça a uma criada que leve uma banheira para minha irmã, e vamos querer um bom jantar, com vinho. Além disso, roupa de cama extra, já que terei que dormir no chão.
Os olhos do taberneiro brilharam ao perceber que o homem à sua frente era um cavalheiro de posses.
— Eu posso levar um colchão extra que temos, se for do seu agrado. Pode colocá-lo na frente da lareira para mantê-lo aquecido.
— Servirá muito bem. Obrigado.
O homem gritou por uma Masie, e uma jovem desgrenhada entrou correndo na taverna, as bochechas vermelhas de exaustão e uma pequena linha de suor na testa.
— Leve o cavalheiro e a irmã para nosso melhor quarto e depois volte aqui para mais instruções.
A jovem fez uma reverência e gesticulou para que a seguissem.
— Claro, papai. — ela absorveu a aparência deles e fez um gesto para que a seguissem. — Por aqui, por favor.
Eles subiram um pequeno lance de escadas e caminharam por um corredor estreito antes de Masie destrancar uma porta e abri-la, mostrando para os hóspedes seus melhores aposentos. O cômodo contava com uma lareira já acesa e pronta para quem chegasse para ocupar o espaço. A moça foi até lá e com bastante destreza jogou alguns gravetos e avivou o fogo.
Havia duas cadeiras diante da lareira. Uma grande cama de madeira ficava no meio do cômodo e, além dela, uma pequena antecâmara com uma porta. Evie se aproximou para averiguar onde a porta levava e encontrou um banheiro com uma pequena banheira. Evie supôs que pelo menos poderiam se banhar e cuidar
de suas necessidades pessoais sem que o outro ouvisse e visse nada. Uma pequena dádiva, já que precisariam compartilhar o mesmo aposento. Evie esperou na ponta da cama até que a criada fosse embora.
No momento em que a porta se fechou atrás da criada, ela se aproximou e puxou a roupa de cama, verificando se haviam piolhos nos lençóis. O lençol e as fronhas estavam limpos e cheiravam a limão e, para felicidade dela, livre de insetos.
— Você pode ficar com a cama. Vou dormir na frente da lareira no colchão que trarão.
Ela caminhou pelo cômodo, observou a fileira de janelas que davam para a avenida principal da cidade, as carruagens movimentadas e as pessoas.
Será que a irmã dela teria passado por ali no caminho para Londres? Passaram em Londres primeiro, ou teriam ido para o Norte por outra estrada?
A jornada para o norte poderia ser uma perda de tempo para todos, em especial se Lucy já estiver casada com seu Sr. Brown. Ou pior, estivesse escondida em algum lugar como Bath.
Um movimento no canto do olho chamou sua atenção, e ela se virou para ver o duque puxando a camisa pela cabeça, jogando-a ao acaso em cima da poltrona diante do fogo agora crepitante. O lenço, colete e casaco já descartados.
Sua boca secou ao ver o corpo esculpido dele. Ela nunca havia visto um homem em um estado assim, tão nu. Os dedos coçaram para percorrer o centro do peito dele, o ligeiro declínio que apontava próximo ao cós das calças, uma estrada que ela decerto gostaria de viajar. Ela mordeu o lábio, todo o tipo de pensamentos deliciosos e obscenos atravessando a cabeça.
Qual seria o gosto da pele dele se ela esticasse a língua e lambesse? Aquele pequeno monte de pelos no peito dele seria áspero? Faria cócegas no rosto dela se encostasse a cabeça nele?
Evie se virou para olhar pela janela.
De onde surgiram essas ideias? Ela fechou os olhos por um momento, enojada de si pela contemplação rebelde. Se ele a pegasse o cobiçando, a irmã solteirona da noiva dele, não
terminaria bem. Não importa o quanto ela desejasse ser interessante para ele, ela nunca seria capaz. Ele estava prometido a outra, e ela precisaria se lembrar disso até ver se sua irmã estava de fato casada e feliz com sua escolha.
Essa compreensão a deixou muda, e ela olhou pela janela, se perguntando o que faria a respeito da verdade. A irmã havia pedido que ela ajudasse a romper o acordo, mas fazê-lo sem que ele soubesse que Lucy era a favor desse plano a fazia parecer uma irmã malvada e vil.
Mas também, ele estava ciente de que a irmã dela havia fugido com outro homem, então ele deve, pelo menos, ter cogitado que Lucy não o queria como ele esperava. Não que Evie sonhasse em se casar com o duque, mas decerto não se importaria com um ou dois beijos roubados da bela fera. E se esse beijo levasse a mais, ou se eles descobrissem serem uma combinação melhor do que ele com a irmã dela, não havia nada de errado nisso. Na verdade, ela jamais sentira frio na barriga, ou o coração acelerado como quando estava perto de Sua Graça.
A simples visão dele sem camisa a fez sentir uma urgência em lugares que ela não sabia que poderiam doer e a fez ansiar por coisas que ela pensava estarem perdidas para ela. Talvez a irmã fugir e romper o noivado fosse um sinal, uma possibilidade de que Evie pudesse ter uma chance de ser feliz, afinal.
Ela deu uma olhada no duque, que agora estava vasculhando a mala de viagem, procurando talvez uma muda de roupas. Tudo isso, no entanto, dependia de ele a ver sob uma luz romântica, o que, no momento, ela não acreditava que ele via.
— Eu vou me lavar. — disse ele, passando por ela como se andar seminu em um quarto com uma mulher que não era a esposa dele fosse algo natural.
O patife...
Uma batida soou na porta, e Evie permitiu a entrada da criada.
Dois homens corpulentos trouxeram baldes de água quente que colocaram perto da entrada do banheiro, e uma refeição farta e vinho que puseram em uma pequena mesa diante da lareira.
— Voltaremos em uma hora para retirar a louça e preparar a segunda cama. — disse a criada, fazendo uma rápida reverência antes de sair.
Evie sentou-se diante do fogo e serviu duas taças de vinho, o cheiro de cordeiro e vegetais fez seu estômago roncar. O duque se juntou a ela, agora vestido de forma respeitável mais uma vez, mas ainda tão bonito quanto o pecado.
Um grunhido de satisfação saiu dos lábios dele ao ver a comida, e ela lutou para não reagir ao som. Ela não era ela mesma com ele.
Ela jamais havia reagido dessa maneira a um homem, então, por que o duque a fazia agir assim? Quando estavam em Londres, ela não se comportou como uma debutante obcecada ao dançar com ele. Contudo, também não ficaram sozinhos na ocasião, e ela estava muito mais preocupada tentando lembrar os passos da dança do que com o que ele pensava dela. Se ao menos isso.
— Estou faminto. — disse ele, sorrindo para ela enquanto tomava um gole do vinho.
Evie conhecia bem a sensação, e nem sempre pela comida que estava diante dela. Ela assentiu e sorriu.
— O cozido e o pão estão com um cheiro delicioso. Obrigada por tudo isso, Finn. Pagarei a você pela viagem até Londres quando puder. Peço desculpas por meu pai não ter podido fazê-lo antes de partirmos.
— Eu entendo a situação de seu pai. Não é uma despesa expressiva. Creio que posso suportar alguns dias na estrada com minha irmã. — ele disse e a boca dele formou um sorriso malicioso.
Evie riu do comentário dele acerca da mentira que disseram ao proprietário da pousada, de que eram parentes. Ela pegou o garfo, apunhalando uma batata. O ensopado explodiu como um caleidoscópio de sabor na língua dela, a carne tenra e saborosa, os vegetais cozidos com perfeição, e não passados. O pão quente e com especiarias. O vinho tinto complementava o cordeiro e deixou os músculos cansados de Evie calmos e relaxados como se ela tivesse mergulhado em um banho quente e profundo.
— Nunca viajei para a Escócia. Só espero que a carruagem chegue amanhã, para que eu não tenha que viajar montada atrás de
você em seu cavalo mais uma vez. Não acredito que meu corpo seja capaz de mais tantas horas em cima de sua montaria.
Ele sorriu.
— Peço desculpas mais uma vez, Evie. Deveria ter perguntado se conseguia cavalgar tal distância. Este erro não se repetirá.
Ela encolheu os ombros.
Uma das principais razões por trás do desconforto dela era o fato de que ela precisou abraçá-lo por muitas horas. Mesmo agora, seus dedos podiam sentir os contornos do corpo dele, o calor da pele, o cheiro de sândalo e linho limpo e passado. Agora que ela o havia visto sem camisa, bem, essa imagem ficaria impressa na mente dela e não ajudaria seu corpo a se recuperar de ser pressionado com força contra ele por horas a fio.
— Por favor, não sinta que precisa dormir no chão por minha causa. A cama é grande o suficiente para nós dois, e como você sabe, ninguém nos conhece aqui, mesmo se nos pegassem juntos.
Evie tampou a boca, sem saber de onde veio o pensamento escandaloso. Ou talvez ela soubesse. De anos desejando encontrar um marido como as amigas, alguém que a amasse com tanta paixão e devoção quanto os delas as amavam. O corpo dela, às vezes, doía fisicamente com a necessidade de ter o mesmo. Ser tão feliz quanto elas. Mesmo assim, ela e o duque não podiam compartilhar a mesma cama. O chão teria que ser o bastante para ele.
Ele balançou a cabeça, tomando um gole de vinho.
— Não consigo fazer isso. Você é uma dama solteira e irmã da minha noiva. Não seria certo.
Evie pensou na resposta dele.
Ele precisava entender que as chances de ele se casar com Lucy eram nulas agora que a irmã havia fugido com outro homem.
Ele com certeza conseguia ver isso.
— É provável que Lucy já esteja casada agora, e mesmo que não seja o caso, decerto você não deseja se casar com uma mulher que está apaixonada por outra pessoa.
O duque merecia felicidade, como todos. Não havia razão para que ele passasse o tempo que fosse cortejando outra pessoa para
então se casar. Ele era jovem e havia muito tempo a frente para escolher uma noiva.
— Você não sabe se ela está casada.
— Não. — ela concordou.
Mas, entendia muito bem que Lucy não queria se casar com o duque, mesmo que não houvesse um Sr. Brown envolvido na fuga de sua irmã.
— É claro, eu não quero me casar com uma mulher que se atirou em outra pessoa, mas há outras coisas em jogo.
— Que coisas? — Evie perguntou, estudando-o enquanto ele se sentava para frente, ajustando-se na cadeira.
— Várias coisas. Houve um pagamento. Os contratos de casamento foram assinados.
Tudo verdade, infelizmente, mesmo assim, até que os votos fossem proferidos, ninguém era obrigado a seguir com o acordo.
— Lucy e o Sr. Brown estão um dia à nossa frente de viagem.
Pelo que sabemos, podem ter ido a cavalo em vez de usar uma carruagem, tornando-os mais rápidos do que nós. Ele pode ter obtido uma licença especial, e há planos de se casarem em Londres. Você pode chegar tarde demais.
— Posso chegar tarde demais, mas tenho que tentar.
— Por quê? — Evie perguntou, curiosa agora.
Ele ergueu a mão para ajeitar o lenço que não estava mais lá desde que havia tirado camisa antes do banho. Em vez disso, a ação dele atraiu o olhar dela para o pescoço dele, para a camisa que estava com apenas alguns botões fechados. Ele tinha um pescoço adorável. Ela olhou para a refeição, precisava distrair-se dele.
— Havia um acordo. Eu sou um duque. Quem rejeita ser duquesa, pelo amor de Deus?
— Finn. — ela disse com o tom um pouco repreensivo. — Sinto que devo avisá-lo que, se minha irmã ainda não estiver casada quando a encontrarmos, ela pode não querer se casar com você e não vou forçá-la. Nem vou permitir que você o faça.
Ainda mais porque ela sabia que a irmã jamais iria querer se casar com um duque. Que confusão terrível haviam criado!
Ele a encarou por um momento, os olhos se estreitando.
— Também não vou forçá-la, mas acredito que mereço uma explicação e, ao menos, um pedido de desculpas. Não gosto de escândalos e discussões. Já tive o suficiente disso para durar duas vidas, e não vou ver meu nome jogado na lama e transformado na fofoca mais recente de Londres, tudo devido às ações de sua irmã.
— ele fez uma pausa para limpar a boca com o guardanapo em um movimento grosseiro. — Se ela não desejar se casar comigo, vou garantir que ela se case, portanto, meu nome não poderá, e nem será associado a ela outra vez.
Evie largou o garfo e recostou-se na cadeira, a exaustão inundando-a de repente.
— Temo que não tenha escolha nesse caso.
— Temo que esteja errada. — disse ele, voltando a comer com gosto.
Evie se levantou e partiu para o banheiro privativo.
— Vou colocar os baldes de água quente na banheira e me refrescar.
— Ah, deixe-me ajudá-la. — disse ele, levantando-se e caminhando em direção aos baldes antes que ela tivesse a chance de dizer que era mais do que capaz.
Evie recuou e observou enquanto ele despejava os quatro baldes na banheira, os músculos das costas dele flexionando sempre que ele se curvava, uma tentação mais uma vez.
— Obrigada. — Evie chegou para o lado quando ele passou.
— Por nada. — ele parou ao lado dela, e ela olhou para cima, encontrando os olhos azuis tão profundos dele com pálpebras pesadas fizeram sua pele arrepiar de consciência. — Aproveite seu banho, Evie. — a voz dele era profunda e rouca.
Evie forçou as pernas a se moverem na direção do outro cômodo, mas parou na soleira e olhou para ele por cima do ombro:
— Eu irei... Finn.
C A P Í T U L O 7
F INN ESTAVA NO INFERNO. Literalmente. O som da água do banho espirrando no cômodo adjacente; os gemidos e suspiros de Evie sempre que ela relaxava na pequena banheira, eram uma tortura. A mente dele se encheu de imagens do corpo nu e doce dela, de seus seios adquirindo um tom rosado devido à água quente. A pele macia e perfumada pelo sabonete.
Ela deve ter um gosto delicioso, e ele queria beijar cada parte dela. Deliciar-se com o sabor dela, se empanturrar até não poder mais. Ele se inclinou para frente na cadeira, e pôs a cabeça entre as mãos. Estava noivo, caramba. Ele se casaria com a irmã de Evie.
Tal ideia o deixou reticente.
Estava ficando sem tempo para cortejar e se casar com qualquer outra pessoa de seu condado. Não que houvesse muitas candidatas para se escolher. Lucy Milton era a única que atendia às necessidades dele e ao decreto que o pai deixara em testamento.
Jovem para ter filhos e filha de um cavalheiro.
A Srta. Milton mais velha poderia substituir a mais nova, ele supunha, mas era muito mais velha. Era menos provável que lhe desse filhos. Ela era uma solteirona a caminho de se juntar às matronas da alta sociedade durante as temporadas, e cuidar das jovens pupilas em vez de ser uma dama recém-casada.
Ele suspirou, odiando a ideia de Evie ser condenada a tal destino. Ela pode não ser adequada para ele, um duque que
precisava de filhos saudáveis e logo. Porém, ela seria uma ótima escolha para um cavalheiro rico, ou mesmo um lorde.
Na verdade, ele precisava pensar no que faria se Lucy já estivesse casada. Por que ela concordou em se casar com ele, se ela estava apaixonada por outra pessoa era algo que ele não era capaz de compreender, mas não importava agora. Se ele conseguisse convencer a Srta. Lucy a ceder ao curso atual; voltar para Wiltshire e se casar com ele, tudo ficaria bem. Antes que os sessenta dias do prazo dele terminassem, e ele ficasse sem um tostão.
Não que a ideia de se casar com a garota o enchesse de expectativa agora. Ela fez uma escolha, por mais absurda que fosse, e deveria aceitá-la. Não, ele se asseguraria de que ela estivesse casada para que ele pudesse propor noivado à outra, voltar para casa e encontrar uma candidata para ontem.
A porta do banheiro se abriu, e Evie entrou no quarto. A cada passo, a roupa dela balançava contra as pernas e dava a ele uma visão maravilhosa de seus tornozelos. Ela vestiu um longo roupão, o que garantia certa discrição, mas, ainda assim, o sangue dele esquentou ao vê-la.
Os cabelos não estavam mais presos, mas caídos por cima dos ombros, cachos escuros e soltos. Os lábios dela estavam rosados pelo banho e a pele brilhava. Ele desviou o olhar para o fogo. Não precisava olhar para ela mais do que o necessário. Ela era muito tentadora, muito doce e inocente para ele ter pensamentos desses.
Do que ele gostaria de fazer com ela. De como ele violaria aqueles lábios carnudos, beijaria seu pescoço e sugaria os seios que assombrariam os sonhos dele, desta noite em diante. Ela se sentou na cadeira em frente a ele e, incapaz de se negar tal momento, absorveu a imagem que ela representava, desde os pés descalços até os lábios deleitáveis.
— Está certo de que deseja dormir no chão? Está pagando pelo quarto. Eu me sinto mal por você ter que ficar desconfortável.
À menção que ele dormiria no chão, uma batida soou na porta.
Finn mandou que entrassem e se levantou quando um jovem criado
carregou um colchão para dentro, e uma criada bem atrás dele com lençóis e cobertores.
— Aqui está, senhor. — disse a criada, ajudando o jovem a arrumar a cama diante da lareira. Finn e Evie ficaram de lado e observaram enquanto os dois montavam a cama no chão com rapidez. — Precisa de mais alguma coisa, senhor?
— Não, isso é tudo. Obrigado.
Ele os seguiu até a porta e fechou o ferrolho enquanto os passos dos criados ecoavam pelo corredor. Evie olhou para a cama improvisada por um momento antes que o olhar deles se encontrassem.
— Bem, se está certo disso, então... Boa noite, Finn.
— Boa noite, Evie.
Ele não a observou enquanto se acomodava sob os cobertores, nem olhou para ver quando ela adormeceu e rolou de costas. Ao som de respirações profundas e regulares, ele se virou para ela, um sorriso curvando seus lábios ao perceber que ela dormia no centro da cama, um dos braços estendido para o lado, ocupando a maior parte do espaço vazio.
Finn ficou sentado por mais várias horas diante do fogo, observando enquanto a madeira se transformava em cinzas.
Alimentou o fogo para ficar bem alto durante toda a noite, antes de se acomodar na cama improvisada. Para a surpresa dele, estava mais quente do que imaginava, mas ainda assim o sono o evitou. A exalação suave vinda do outro lado do cômodo o fez ansiar por coisas que não deveria querer, era insuportável.
Ele estava no inferno.
EM ALGUM MOMENTO no meio da noite, Evie estremeceu ao acordar. Ela se sentou, tateando para encontrar os cobertores, que havia chutado, e que estavam amontoados no final da cama. O
quarto estava escuro, exceto pelas poucas lascas de luar que entravam pelas cortinas fechadas.
Ela olhou para onde o duque dormia, um amontoado diante do fogo que brilhava com brasas, mas sem madeira. Evie deslizou para fora da cama e caminhou com cuidado até o fogo.
Ela pegou uma das toras ásperas que haviam sido empilhadas com cuidado de um lado e a jogou nas brasas. A lenha adicionada às brasas chiou e cuspiu um momento antes de reacender fogo e o calor delicioso afugentar o frio.
Após verificar se a grade de proteção estava no lugar, ela passou na ponta dos pés pelo duque. Por um tempo, se sentou na cadeira e se aqueceu antes de voltar para a cama. Havia uma corrente de ar no cômodo que parecia capaz de congelá-la até os ossos.
O pé dela ficou preso no colchão, e ela tombou, incapaz de se erguer. Evie caiu com força sobre o duque, amenizando a queda com as mãos o tanto quanto podia, embora a sensação do peito nu e sólido dele contra as palmas dela a fizesse queimar.
— Eu sinto muito, Finn.
— O que raios está fazendo? — ele disse, as palavras arrastadas pelo sono.
Ela se encolheu, só podia imaginar o que ele estava pensando.
Que ela estava se jogando nele, literalmente. Já era ruim o bastante que ela tivesse de fato cogitado fazer isso, mas sem a aprovação dele.
— Eu estava atiçando o fogo e tropecei na sua cama. Peço desculpas.
As mãos dele foram parar na cintura, e ele a ergueu de cima dele, colocando-a no outro lado da cama.
— Você está bem? Machucou-se quando caiu?
Apenas o orgulho.
Era bem provável que ele acreditasse que ela havia se jogado em cima dele de propósito, para provocá-lo a atacá-la. Rubor subiu em suas bochechas, e ela sentiu-se grata pelo fato de o quarto estar repleto de sombras, para que ele não pudesse ver o constrangimento dela.
— Eu estou bem. Peço desculpas. — ela gaguejou, movendo-se para o lado da cama e assim voltar para a dela.
— Espere... — as mãos dele percorreram os braços dela, aquecendo-a mais do que qualquer fogo seria capaz. Evie ficou rígida e reprimiu um suspiro de prazer ante o toque dele. — ... sua pele está fria como gelo.
A declaração dele a tirou de seus devaneios.
— Por isso que vim até o fogo. Eu ia me aquecer em uma cadeira por um tempo.
Ele empurrou os cobertores e deu um tapinha no espaço ao lado dele: — Venha, deite-se ao meu lado. Vou mantê-la aquecida.
Ninguém saberá e nenhum dano será causado à sua reputação.
Prometo isso a você.
Ela olhou para o espaço ao lado dele com desejo. Não gostaria de nada mais do que estar perto do duque e de toda a beleza estonteante dele, mas não podia. Deitar-se ao lado dele era uma tentação que ela acreditava que não poderia se negar.
— Eu não deveria. — ela hesitou, a voz sem fôlego.
Não havia esperança para ela. Sempre que estava perto dele, ela agia como uma debutante tola que estava vivendo sua primeira noite em um salão de baile ao lado de um homem.
— Mas você irá.
Ele apertou a mão dela, puxando-a para se deitar ao lado dele antes de endireitar os cobertores para cobrir os dois. O braço dele deslizou pela cintura dela e ele a ergueu contra o peito.
Evie olhou para a escuridão do quarto, o peito dele era uma extensão sólida de músculos contra as costas dela. Um calor reconfortante infiltrou-se em suas veias geladas, e ela podia sentir os olhos ficarem pesados de sono, embora o corpo zumbisse de necessidade. Ela se mexeu para ficar mais confortável, e o aperto dele aumentou.
— Fique quieta.
A respiração dele fez cócegas no pescoço dela que mordeu o lábio, tentada a se mexer um pouco mais para ver o que o duque faria.
— Desculpe, estava tentando ficar confortável. Evie adormeceu com um sorriso se formando nos lábios.
EVIE ACORDOU com a sensação de contentamento. Em algum momento durante a noite, ela se virou na cama e agora estava deitada sobre o duque. A cabeça dela estava aninhada no ombro dele, a perna sobre uma das dele, e o braço caiu sobre o peito, onde ela podia sentir a batida constante de seu coração.
Ela deveria se mover, sair da cama e se vestir, mas não conseguia. Não queria. Deitar nos braços de um homem, bem grudada a ele durante o sono, era uma experiência deliciosa que ela nunca tivera. Era novo e adorável. Quem não gostaria de começar o dia desta maneira?
Ele se mexeu um pouco ao lado dela, puxando-a para perto e dando um beijo suave na cabeça dela antes de enrijecer. Evie divagou acerca do gesto inesperado. Com certeza, ele não teve a intenção de beijá-la.
— Peço desculpas, Evie. O sono sempre me deixa um pouco confuso pela manhã. Não queria acossá-la desta maneira.
Ela ergueu a cabeça e encontrou o olhar dele.
O coração dela bateu um pouco mais rápido ante a inspeção das pálpebras pesadas dele. Mesmo que a vida dela dependesse disso, ela não conseguiria se mover. Se ele fosse como qualquer outro cavalheiro que rondava a alta sociedade, decerto ele poderia se inclinar e beijá-la? Aproveitar uma oportunidade quando esta surgisse.
Ela queria que ele a beijasse.
O primeiro beijo dela, e talvez o último, deveria ser com um homem como o duque. Se ela nunca mais fosse beijada na vida, pelo menos teria experimentado um beijo com um homem que ela valorizava e gostava.
Ele suspirou, rolando de costas para olhar para o teto com vigas de madeira antes de deixar a cama, caminhar em direção à cadeira onde havia deixado as roupas na noite anterior.
As costas dele flexionaram enquanto ele vestia a camisa com certa pressa, seguiu-se o colete e jogou o lenço em volta do
pescoço sem amarrá-lo.
— Vou descer, pedir o café-da-manhã e ver como está nossa carruagem. Devo retornar em breve.
Evie se sentou, segurando os cobertores contra o peito e ficou olhando para a porta que se fechou, deixando-a sozinha. A saída apressada dele foi devido à reação que teve a ela? Reações com as quais ele não contava. Ainda iam ficar juntos por algum tempo, semanas talvez, se ele ficasse convencido de que Lucy estaria casada, e nenhum escândalo obscurecesse seu nome, talvez procurasse outra mulher para ser sua esposa.
Eles decerto se davam bem o bastante e havia coisas em comum, não riqueza ou conexões, mas o lugar que nasceram, o senso de dever em fazer a coisa certa, além de amigos em comum.
Combinavam melhor do que o duque e Lucy, pelo menos Evie pensava assim.
O que ela sentia sempre que estava perto do duque era novo, e nada parecido com as emoções sem brilho que outros homens haviam desencadeado no passado. O corpo dela parecia ganhar vida, ansiar por estar perto dele, querer ouvir a voz autoritária e imponente dele soar. A maneira como ele a abraçou na noite anterior e o beijo espontâneo esta manhã precisavam significar algo.
Ou não?
C A P Í T U L O 8
U MA HORA DEPOIS, após um farto desjejum de bacon, presunto e café, eles estavam na estrada, rumo a Slough.
Ele esperava que chegassem a Londres ao anoitecer, ainda mais agora que, ao entrar na taverna, o proprietário da pousada o avisou contente que a carruagem chegaria em breve.
Finn estava grato por isso. Não estava certo de como sobreviveria a outro dia com Evie atrás dele no cavalo. O peito dela saltando contra as costas dele, as mãos dela escorregando para parar acima das calças dele, fazendo-o desejar que estivessem mais baixas, que o acariciassem. A ideia de tê-la preencheu os sonhos dele, e ele acordou incerto se os sonhos não haviam se tornado uma prazerosa realidade. Sem pensar, ele a havia beijado e a puxado em um abraço como se ela fosse uma amante depois de uma boa aventura. Antes que a sensatez o trouxesse de volta à realidade.
Não, pelo menos na carruagem, ele seria capaz de pensar com clareza e manter uma distância segura da deliciosa Evie, que não era adequada como noiva, por mais formosa que fosse. Uma solteirona em formação que já havia passado da idade de gerar filhos. Se ele seria forçado a se casar, a esposa deveria ser uma mulher cinco anos mais jovem, pelo menos, e não da mesma idade.
Até uma debutante serviria se pudesse encontrar uma em Wiltshire, perto de sua casa em Marlborough.
Eles saíram do pátio da pousada e atravessaram a rua principal da cidade. A noiva dele havia fugido com outro homem. Poderia, muito bem já estar casada com o Sr. Brown, o que encerraria a chance dele de se casar antes do prazo de 60 dias.
O que fazer?
Se ele continuasse para o norte de Londres para perseguir a Srta. Lucy, decerto minaria suas chances de cortejar outra pessoa a tempo de se casar, a menos que jogasse fora os pensamentos conflitantes acerca da irmã de Lucy e cortejasse Evie. Ele iria procurar o médico dele em Londres e pediria a opinião dele acerca de mulheres mais velhas e a possibilidade de ter filhos.
A duquesa de Whitstone e a condessa Duncannon tiveram filhos no ano anterior, e eram quase da mesma idade de Evie. Talvez a idade de ter filhos ainda não tivesse passado, afinal.
Finn torceu o nariz na direção ao chão da carruagem, o olhar deslizando para as botas de viagem de Evie, que estavam gastas e precisando de novas solas. Cada momento que ele passava perto de Evie, ele era tentado a devastar aquela boca bonita dela. Uma boca que ocupava seus pensamentos com mais frequência do que a da Srta. Lucy já fora capaz.
A carruagem ressoava na estrada um tanto irregular, o único som vinha das rodas no solo e da conversa do condutor com o lacaio que o acompanhava. O silêncio de Evie era estranho. Havia um livro grosso aberto no colo dela, mas ele não a havia visto virar nenhuma página nos últimos cinco minutos. Ele não podia deixar de se perguntar no que ela estava pensando, ou fingia ler.
Estava pensando nele?
Finn gemeu por dentro ante a visão do lábio inferior dela, apertado entre os dentes, pensativa. Evie o desconcertava, o tentava e o intrigava mais do que ele se sentia confortável.
Como ele não a notou em Londres nos últimos anos? A Srta.
Milton não passava de uma conhecida de vista, uma amiga em comum do Duque de Whitstone. Um terrível mistério, de fato.
Porque ela não estava alto o suficiente na escada da nobreza para você olhar.
Finn rangeu os dentes com a vozinha de repreensão que sussurrou em sua mente. E a voz estava certa. Ele sempre planejou se casar com uma mulher de riqueza e posição, e não tão cedo. Ele precisava agradecer a seu pai por levá-lo às pressas ao altar.
Evie e a irmã não eram nenhuma dessas coisas, e ainda assim o pai dele, escandaloso e nefasto, estava, sem dúvida, rindo dele. Ou talvez, rolando de rir da posição que o filho se encontrava devido ao testamento idiota dele. Agora não lhe restava mais opções além das irmãs Milton.
Eles chegariam a Londres esta noite. Seria tarde, um acontecimento feliz e que deveria impedir qualquer um de vê-los juntos e sem uma acompanhante. Eles fariam uma parada em Londres, e partiriam para Gretna em uma carruagem sem identificação. Quanto menos chamativos estivessem na estrada, melhor.
Finn se encostou nas almofadas, observando Evie.
Ele sentiu os ossos aquecerem mesmo na manhã fresca ao pensar em tê-la sob o mesmo teto. Jamais recebeu uma mulher para passar a noite na casa dele. Pelo menos, não desde a época em que a mãe dele era viva.
Evie era uma tentação que ele duvidava ser capaz de ignorar por muito tempo, por isso fazia sentido que para satisfazer a vontade do pai, que as atenções dele se voltassem para a mulher diante dele.
Não havia mais tempo para encontrar outra candidata, mais adequada às necessidades dele, e ele gostava de Evie. Ela era sensata e bonita, e como duque, ele nunca poderia se casar com alguém que fosse disparatada.
Pouco tempo depois, a carruagem encostou ao lado da estrada.
Finn verificou onde estavam, e à distância podia ver o Castelo de Windsor e Eton encostados nas colinas adiante. Não estavam longe de Salt Hill. A carruagem afundou quando o condutor desceu da cabine, antes de vir aparecer à janela: — Os cavalos precisam de um descanso, Sua Graça. Esta é uma bela vista, caso desejem passear um pouco, fazer o desjejum com o piquenique que o taberneiro preparou.
— Talvez devêssemos parar para o almoço, Sua Graça? Estou um pouco faminta.
Finn observou ao redor e viu os campos abertos em ambos os lados da estrada, a floresta que circundava os campos mais distantes.
— Claro. — ele disse, abrindo a porta da carruagem e descendo.
Ele se virou e ajudou Evie a sair, e no momento em que as mãos dos dois se tocaram, um arrepio percorreu o braço dele que precisou se esforçar para soltar a mão dela antes que o cocheiro percebesse as circunstâncias.
Evie caminhou pelo gramado que garantia uma vista desimpedida do grande castelo e da escola para meninos.
— Este é um bom lugar para arrumarmos o almoço.
Finn se juntou a ela, agachando-se para se sentar na grama. O
chão estava quente, um pouco úmido. Ele não fazia um piquenique como este desde que era criança, e a babá o levava para passear.
— Estamos a apenas algumas horas de Londres daqui. Faremos uma pausa para pernoitar em minha casa em Londres antes de partirmos para a Escócia, em um ou dois dias. Se avançarmos bem, poderemos alcançar sua irmã antes que ela se arruíne ainda mais.
Não que fosse salvá-la agora.
A Srta. Lucy havia feito a escolha dela e não era ele. Ela viveria ou morreria pela própria espada. Contudo, ele iria garantir que o Sr.
Brown se casasse com a garota boba e, ao fazer isso, eliminaria a associação com a Srta. Lucy. Ele nunca mais permitiria que nenhuma das fofoqueiras da sociedade usasse a família dele como motivo de chacota. Suportara tal acontecimento quando seu pai estava vivo. Não voltaria a fazê-lo.
Evie suspirou, e ele olhou para ela de relance, perguntando-se o que aquele som doce significava e odiou o fato de que o corpo dele reagia a ela sem aviso ou sentido.
— Por que está suspirando e não diz nada, Evie? Há algo errado com meu plano?
Ela abriu a cesta de piquenique que trouxera da carruagem, tirou dois pães e entregou um para ele.
— Estou curiosa para saber por que continua a perseguir Lucy se ela fugiu com outro homem. Como duque, acredito que suas opções são infinitas, que poderia se casar com quem escolhesse.
Se fosse assim tão simples.
— A Srta. Lucy é do meu condado natal e é jovem, e eu pensei ser descompromissada. Ela vem de uma boa família e teria me servido muito bem. — ele fez uma pausa. — No entanto, venho pensando um pouco no que disse nos últimos dois dias, de Lucy e suas ações, e não vejo mais um futuro para nós. A viagem para o norte agora é para garantir que ela se case, e que nem a minha, nem a sua família, sofram as consequências sociais da escolha dela.
— Quando se trata de assuntos do coração, sabia que fala com pouquíssima emoção? Fala como se não se importasse com Lucy de jeito algum, nem se preocupasse que ela tenha fugido com outro homem.
— Não sou um homem de emoções ou palavras fantasiosas. —
ele afirmou. Odiou ser visto como alguém sem sentimento. Ela mordeu um pedaço de presunto, e a atenção dele voltou-se para os lábios dela.
Meu Deus, ela mastigava com a maior doçura.
— Meu pai é um verdadeiro cavalheiro, mas não somos da nobreza. Não somos ricos nem fazemos parte da beau monde, por isso acho estranho seu interesse em minha irmã. Do nada, e sem aviso, recebi uma carta de Lucy dizendo que ela estava noiva, e de você. Um duque.
Evie era muito mais inteligente do que ele pensara a início, e se ele não tomasse cuidado com as respostas, ela descobriria, sem dúvida alguma, que ele só propôs à Lucy porque não restava outra escolha. Por que falaria com emoção se não havia nenhuma quando se tratava de Lucy? Ele era um canalha e deveria ter contestado o testamento do pai em vez de permitir que a cláusula absurda dele decidisse sua vida.
— É como você já sabe. Eu tinha negócios com o seu pai e conheci a Srta. Lucy. Ela me pareceu uma mulher agradável e jovial, e julguei que seria adequada como minha noiva.
A mentira trazia um gosto amargo na língua dele.
Ele encontrou os olhos castanhos avelã de Evie repletos de severidade e teve a sensação esmagadora de que ela podia desvendar a mentira dele como se estivesse escrito na testa dele.
Uma sobrancelha arqueou, e ele lutou para não se mexer no lugar.
— Lucy escolheu outro. Está tão certo assim de seu plano inicial?
— Não posso me casar com sua irmã agora. Não depois do que ela fez. — ele admitiu. — Não participarei de tal escândalo, seria um início nefasto para um casamento. Mas, como cavalheiro, vou garantir que ela se case e limitarei o escândalo que recairá em você e sua família. Mulheres que fogem com amantes sempre impactam aqueles que são deixados para trás.
— Suponho que Londres se divertirá muito com o que Lucy fez, e ficarei na boca de todos até que haja um novo evento escandaloso e o interesse das pessoas voe para outro lugar.
O tom abatido dela provocou algo estranho dentro dele, e ele jogou um pedaço de pão na boca, para se sentir menos tentado a puxá-la para seus braços e acalmá-la.
A ideia de Evie sofrer rechaço, que fosse provocada e evitada, não era algo que ele desejasse ver. Jamais. Por um lado, ela não merecia e por outro, ele já esteve exatamente no lugar onde Evie agora estava. O pai estava sempre causando escândalos que eram comentados por meses.
Seus amigos em Eton perguntavam das histórias, zombavam e riam dele. Não deixaria isso acontecer com ela. Ele serviu vinho tinto em duas taças e entregou uma delas à Evie, determinado a tirar a expressão abatida e triste que recaiu no rosto dela.
— E você, Evie? Mora em Londres e circula na mesma sociedade que eu. Eu imaginaria que uma mulher tão atraente e inteligente como você já estaria casada.
Finn engoliu um gole robusto de vinho. Hoje ele parecia determinado a se enterrar em elogios inadequados. As bochechas dela ficaram rosadas, e Finn precisou admitir que, de vez em quando, valia a pena dizer coisas que não eram dignas de um cavalheiro, ou que não deveriam ser ditas a uma mulher solteira.
Decerto, se ele a fizesse corar e a pele de porcelana dela ficar em um bonito tom de rosa.
— Não, não estaria. — disse ela, recusando-se a olhar para ele.
— Eu moro em Londres com Molly e não trilho o mesmo caminho que algumas de nossas amigas. Minha idade não me torna a mulher mais procurada em um baile, não que, quando eu era mais jovem, fosse diferente. Como sabe, minha família não possui título, nem é rica. Somos mais conhecidos em Bath do que em Londres, e suponho que fui considerada insuficiente.
— Você não é insuficiente em nenhum sentido. — disse ele, esmorecendo ao usar palavras tão inadequadas.
Logo ele seria tão infame quanto o pai. Ele a analisou por um momento, observando enquanto ela mastigava o sanduíche de pão com presunto dela. Ela o tentava. Na verdade, ele queria fazer coisas perversas e deliciosas com ela.
Desde a morte do pai, ele passava mais tempo morando em Wiltshire, cuidando das propriedades e negócios. Reencontrar Evie, passar um tempo com ela, mais tempo do que havia passado com a Srta. Lucy — tudo o que ocupava a mente dele desde que deixou Marlborough era como a mulher diante dele seria sob ele na cama.
Seus longos cachos chocolate espalhados pelo travesseiro dele. Os doces gemidos sussurrados no ouvido dele quando ele a levasse ao clímax.
— Lamento que não tenhamos nos conhecido melhor em Londres. Temos amigos em comum, fomos a vários bailes e festas juntos, no entanto, nunca conversamos com tanta honestidade e franqueza como nos últimos dois dias. Lamento, de verdade.
E ele lamentava mesmo. Nunca havia dito nada mais verdadeiro.
Se ele precisaria mudar os planos e cortejar Evie para cumprir a cláusula do testamento do pai, mais conversas como aquela eram o que eles precisavam. Evie precisava gostar dele também, confiar nele.
Um pequeno sorriso surgiu, e ele queria encurtar o espaço entre eles dois e beijá-la. Ver se os lábios dela eram tão suaves quanto ele imaginava.
Foi isso que cruzou a mente dele quando ele a puxou para o peito na noite anterior. O pai o chicotearia se descobrisse o que ele havia feito, mas ele não se conteve. Ele queria tê-la nos braços por uma noite e, então ele deixaria de lado a antipatia por escândalos e se entregaria.
Ainda assim, a ideia de realizar tais fantasias o fez abrir um sorriso para ela. Ele sofreria a ira de quem quer que fosse, contanto que pudesse abraçá-la outra vez.
— Eu também lamento. — ela disse, olhando para ele. — Agora me conte mais de sua propriedade. Nunca estive no Palácio de Stoneheim, mas ouvi dizer ser adorável.
— Meu bisavô o construiu e fez um estudo do Palácio de Blenheim, daí a proximidade do nome e do design da casa. Na verdade, são quase um par de espelhos.
Eles falaram por algum tempo acerca de seus lares, e do interior, das proximidades de Marlborough e, pela primeira vez na vida, Finn não se sentia como se estivesse usando uma máscara ou de nariz em pé, mas estava sendo apenas ele mesmo. Era de fato uma sensação inebriante e à qual ele poderia se acostumar.
C A P Í T U L O 9
ELES NÃO CHEGARAM a Londres como planejado depois que uma das rodas da carruagem perdeu um parafuso de suporte e ameaçou cair. A jornada para Salt Hill foi lenta, e não foi até que o sol baixasse no céu do oeste que eles chegaram à agitada Pousada Moinho de Vento. Foi um revés de que eles não precisavam, não se quisessem garantir que Lucy estivesse de fato casada e não apenas vivendo em pecado com o Sr. Brown.
Amanhã, eles iriam para Londres e de lá partiriam.
Embora a pousada estivesse mais movimentada do que a que ficaram na noite anterior, eles conseguiram quartos separados. A sala de jantar privativa, infelizmente, estava ocupada. Por isso, eles precisaram fazer o desjejum em seus aposentos.
Evie desejou boa noite ao duque no momento em que a esposa do taberneiro trouxe os pratos de rosbife e vegetais, vinho tinto para ela e cerveja para o duque, conforme o pedido dele.
O quarto do duque ficava do outro lado do corredor, e enquanto a esposa do dono da pousada se agitava no quarto de Evie, arrumando a mesa para o jantar, Evie sentiu os nervos à flor da pele ao parar em frente ao duque para lhe desejar uma boa noite.
Algo havia mudado entre eles hoje.
Seu corpo não parecia mais o mesmo, decerto não quando Finn a olhava como fazia agora, as pálpebras pesadas e um deslizar de contemplação em seus orbes azuis. Ela não deveria querê-lo. Ele ainda era o noivo da irmã dela, mais ou menos, ela supunha.
Embora ele tenha declarado que não se casaria mais com Lucy, e Lucy tenha dito ela mesma que não queria o duque. Portanto, não havia nada de errado em Evie considerá-lo atraente, fantasiar se...
Se ele estaria disposto.
— Será que a carruagem será consertada a tempo de sairmos amanhã de manhã cedo? — ela perguntou, dando um passo para o lado enquanto a esposa do taberneiro entrava no quarto do duque para preparar a mesa com o jantar dele.
— Creio que sim. Há um fabricante de carruagens aqui em Salt Hill, e ele prometeu consertá-la com rapidez. Chegaremos em Londres amanhã conforme planejado.
Evie agradeceu à mulher quando ela desejou boa noite.
Por um momento, Evie olhou para o duque, seu corpo era uma profusão de emoções, desejos e necessidades. Ela respirou fundo para se acalmar, reprimindo o desejo de se jogar nele e ver onde isso iria levar. Se é que haveria qualquer lugar.
— Bem, obrigada pelo lindo dia. Nos vemos pela manhã.
— Boa noite, Evie. Durma bem.
— Boa noite. — ela respondeu e fechou a porta antes que o duque voltasse para o quarto dele.
Evie se banhou e se vestiu para dormir, entrou sob as cobertas e desejou estar em casa, onde poderia se esgueirar até a biblioteca e escolher um livro para ler. Ou mesmo se aconchegar diante da lareira em seu quarto confortável e pensar em qualquer coisa, exceto no homem que ocupava o quarto do outro lado do corredor.
O que havia de errado com ela para ele ocupar tanto a mente dela? Nunca havia acontecido algo parecido. Eles mal se falavam em Londres, não deveria haver razão alguma para que o fizessem agora, mas ele havia mexido com ela. Ele era um duque e ela era uma solteirona em formação. Não poderiam ser mais opostos.
E ainda assim, ele fazia o coração dela bater forte no peito e a pele arrepiar com consciência. Jamais havia sentido isso, e detestaria perder esse sentimento.
Porém, talvez, ela não precisasse. Se a irmã estivesse casada, e o duque precisasse encontrar outra mulher para ser sua esposa, talvez essa outra pudesse ser ela.
O pensamento a animou e a assustou da mesma forma. Evie suspirou, rolando para o lado e olhando para a janela. Ela havia se esquecido de fechar as cortinas, e a noite de luar banhava um pequeno quadrado do chão do quarto com luz.
O berro de um homem no corredor, seguido por passos correndo nas tábuas do piso de madeira, a tirou de seus pensamentos.
Evie arfou, sentando-se.
Havia trancado a porta?
Uma voz feminina juntou-se à do homem, e ela ficou quieta, ouvindo a discussão. A voz do homem gritava uma oitava acima da voz da mulher, algo acerca de ela dormir com o padeiro, e de como ele ia matar o desgraçado sufocando-o com o próprio pão.
Uma leve batida na porta a fez se levantar.
Ela saiu da cama e vasculhou o quarto até encontrar o penico detrás do biombo. Ela o pegou e o manteve junto ao corpo enquanto caminhava até a porta.
— Quem é? — perguntou, esperando que sua voz soasse mais confiante do que se sentia.
— Sou eu. Finn. Me deixe entrar.
O medo do casal discutindo a deixou por um instante, e outro medo a atravessou. O que o duque queria? O que ela queria fazer se o tivesse para si outra noite? A sós.
Ela alcançou a maçaneta, feliz por descobrir haver sim trancado a porta. Abriu uma fresta, e viu o duque em toda a sua glória. Ele usava apenas a camisa, que estava aberta na altura do pescoço. O
cabelo estava desgrenhado, como se ele também tivesse acabado de ser tirado do sono. Felizmente, ele usava calças, mas ela não conseguia parar de inspecioná-lo como uma pessoa faminta de sustento. Os olhos dela observaram os pés descalços dele, e ela reprimiu um sorriso. Parecia que ele havia pulado da cama para a porta dela, tal percepção provocou sensações estranhas e deliciosas em seu interior.
— O que foi, Sua Graça?
— Deixe-me entrar, Srta. Milton. Parece que está havendo uma briga doméstica e preciso garantir que permaneça segura.
Evie olhou para o corredor e viu o casal discutindo, o marido ou amante, quem quer que fosse, dava passadas naquela parte do corredor com as mãos gesticulando, e a mulher tentava acalmá-lo.
Ela recuou, abrindo a porta, e o duque entrou. Ele fechou e trancou a porta, apoiando-se ali por um momento.
— Pensei que esta noite seria melhor para você, mas esta pousada parece ter pessoas que gostam de discutir sem consideração ou cuidado para com os outros que estão abrigados entre suas paredes. Peço desculpas, Evie.
Evie suspirou, caminhou até a cama e sentou-se ali, ao final dela.
— Não estou incomodada, de verdade.
Evie observou o estado de quase nudez dele, a camisa aberta na frente a provocava com vislumbres de seu peito musculoso.
Calor vibrou entre suas coxas, e ela cruzou as pernas.
O olhar dele queimava nela, a atenção dele passeando no corpo dela como uma carícia tentadora. A respiração de Evie acelerou, e ela mordeu o lábio, desejando que seus pensamentos se tornassem realidade. Ela estava se tornando tão escandalosa quanto a irmã.
Ele se sentou ao lado dela, e a cama afundou um pouco, fazendo-a cair em cima dele.
Ele a olhou com se ela o tivesse assustado.
— Eu, hm, eu só queria garantir que você estava segura. — ele disse depois de um tempo, a voz um estrondo profundo e rouco.
— Estou muito bem. A discussão deles não me acordou, no entanto. Eu já estava acordada. — ela disse, precisando parar de falar logo antes de começar a tagarelar sem sentido. — Se não estou enganada, ela teve um caso.
— Sim. — ele a encarou, e o ar sumiu de seus pulmões.
Ele era tão bonito, com os belos olhos azuis e queixo marcado.
Como esse homem já não era o marido de alguém? Amante de alguém? Embora, ela supusesse que ele já fosse o amante de alguém. Que duque não andava com um bando de mulheres correndo atrás dele?
Apesar de toda a força interior que ela possuía, nada conseguia fazê-la desviar os olhos dos dele. Ela poderia se perder com este
homem. Havia algo nele que a atraía, prendia sua atenção e a fazia querer ficar.
— Parece que acalmou lá fora. Talvez devesse voltar. — ela sussurrou.
Por que, no entanto, ela não conseguia entender, estavam sozinhos.
— Sim. — ele sussurrou, sem se mover.
Nem ela queria que ele fizesse. Ela queria que ele a beijasse.
Uma necessidade a atravessou, e Evie se levantou, encarando-o.
Ele não tirou o olhar dela, o desejo em seus olhos era um reflexo do dela, ela tinha certeza.
— Eu vou beijar você, Finn.
Evie engoliu o medo, nunca havia sido tão ousada ou proativa na vida. Ela queria que seu primeiro beijo fosse com este homem. Este duque honrado e belo que estava perseguindo a irmã dela apenas para garantir que o escândalo não fosse muito grande.
Evie afastou todos os pensamentos sobre Lucy. Sua irmã havia feito uma escolha. Estava apaixonada por outro homem e já deveria estar casada. Pedira a Evie que arruinasse o contrato dela com o duque. Não havia nada de errado em roubar seu primeiro beijo.
Ela se inclinou, eliminando o espaço entre eles, e seus lábios se tocaram. O último pensamento que ela teve foi que de fato os lábios dele eram tão macios quanto ela suspeitava.
FINN NÃO SE SENTIA como ele mesmo. Seu corpo se contraia de necessidade, um desejo de tomar a força a mulher que o beijava com tal doçura que o coração dele doía.
Sem pensar, ele estendeu a mão e segurou o rosto dela.
Aprofundou o beijo, empurrando a língua contra a dela. Ela não se assustou ou se apavorou com a ação dele. Não, ela não fez nenhuma dessas coisas. Em vez disso, ela o beijou com a mesma necessidade frenética. Envolveu os braços no pescoço dele e se empurrou contra o peito dele.
A camisola dela não era uma barreira de fato, e o contorno de seu corpo, seus seios... Meu Deus, seios deliciosos e pesados provocavam seu peito. As pernas longas e finas que pararam entre as dele faziam seu corpo doer. Maldição, ele a queria. E a queria como nunca quis ninguém na vida.
O beijo se aprofundou, tornou-se incendiário, e ela se empurrou contra ele, jogando-os de volta na cama. Ela o dominou, o beijo deles nunca interrompido, e fome rugiu por ele como uma febre. Ele estava faminto por ela. Ele a queria tanto que, se estivesse sendo racional, o assustaria, mas o pensamento lógico estava muito longe no momento, então ele se deixou levar. Permitiu-se desfrutar dela e de sua doce boca.
Finn a rolou de costas, aproximando-se para se acomodar entre as pernas dela. Seu pênis rígido, as bolas apertadas. Ele se abaixou, levantando uma das pernas dela contra o quadril dele e se empurrando contra seu centro quente.
Seria tão fácil afastar-se, arrancar as ceroulas e entrar em seu calor úmido e acolhedor. Ela ondulou contra a masculinidade dele, e ele gemeu, imitando-a e provocando um delicioso suspiro dos doces lábios dela. Um estrondo soou do lado de fora, e eles se alarmaram, o beijo terminou. Como um balde de água fria jogado neles, Finn avaliou a posição em que estava e com quem.
O que estava fazendo?
Ainda não havia decidido se Evie era mesmo uma candidata a esposa. Planejara conversar com o médico da família acerca das chances de Evie gerar filhos em sua idade. E aqui estava ele, duro como pedra, pronto para rasgar as calças e tomá-la assim mesmo.
Não era correto, e não apenas por esse motivo.
Dois dias atrás, ele estava prestes a se casar com a irmã dela.
Ele não podia tocar em Evie até ter certeza de que Lucy estava casada com o Sr. Brown. O que faria depois disso, com quem se casaria, ele ainda precisaria decidir.
Finn olhou para Evie, as bochechas coradas pela atividade física, os lábios carnudos e um pouco vermelhos devido ao beijo.
Ela parecia uma fruta madura e pronta para ser colhida, e a ideia de se perder nela era uma tentação difícil de negar, mas ele precisava.
— Eu devo ir. Sinto muito. — ele conseguiu dizer, rastejando para longe dela e ignorando a visão dela deitada, mole e pronta para um amante... para o amor dele.
Ele ajeitou a roupa antes de abrir a porta e observar o homem bêbado cambalear pelo corredor antes de desaparecer em um quarto.
— Boa noite, Evie. — disse ele, sem olhar para trás.
Fazer isso significaria apenas uma coisa. Que ele não iria embora, que não era uma opção. Não agora, pelo menos.
C A P Í T U L O 1 0
EVIE SE BANHOU e se vestiu cedo, pois o sono a escapou.
Na noite anterior, quando o duque entrou no quarto dela, ela pareceu ter perdido todo o autocontrole. Seu corpo havia queimado com uma necessidade que nunca havia experimentado. Seu corpo doía pelo toque dele, por um beijo, por coisas que nenhuma mulher solteira deveria ansiar. Ela não queria nada mais do que rasgar as calças dele, tomá-lo nas mãos e torná-lo dela.
Ela queria ser preenchida e inflamada, queria mais dos beijos deliciosos e profundos dele, que a deixaram com a cabeça girando.
O que a irmã dela, Lucy, não viu no duque, ela não conseguia entender. Ele era um duque, só para começar, muito acima de qualquer um com quem as irmãs poderiam cogitar se casar. Ele era gentil e leal, a ajuda que ele se propôs a dar a família delas para garantir que Lucy se casasse antes de seguir com a vida dele era prova disso.
Mesmo assim, depois da noite passada, Evie descobriu como era a sensação de querer algo que não se pode ter. Ela não queria apenas convencer o duque de desistir de se casar com Lucy como a irmã havia pedido. Ó não, agora ela o queria para si.
Mas, como fazer um duque vê-la mais do que uma solteirona, uma mulher que estava muito abaixo dele em posição e riqueza?
Evie arrumou suas coisas, colocou-as em sua pequena valise e saiu do quarto, desceu as escadas. A carruagem estava atrelada e já aguardava no pátio da pousada assim que ela chegou. A roda
mais uma vez fixada corretamente ao veículo e com a quantidade correta de parafusos. Evie colocou a valise no veículo, queria dar uma pequena caminhada antes de partirem.
O duque não estava em lugar nenhum, mas Evie encontrou o condutor.
— Dickens, vou dar um pequeno passeio pela rua principal. Não demorarei mais do que alguns minutos.
O cocheiro tirou o chapéu.
— Claro, Srta. Milton. Informarei Sua Graça quando o vir.
— Obrigada. — ela respondeu.
Ela deixou a pousada tumultuada e partiu pela rua principal da cidade. Havia algumas lojas, uma padaria, várias casas e outras pousadas que pareciam tão movimentadas quanto a Moinho de Vento. Poucas pessoas estavam fora de casa tão cedo, e ela não se apressou, aproveitando a solidão e os exercícios que levariam várias horas para ser capaz de realizar de novo.
A viagem de hoje a Londres não deveria durar tanto quanto a jornada do dia anterior e, com algum sucesso, não teriam nenhum problema com a carruagem que pudesse atrasá-los. Em Londres, o duque havia dito que perguntaria se Lucy e o Sr. Brown haviam passado direto ou parado.
Uma pequena parte de Evie esperava que tivessem continuado para a Escócia. Seria quase impossível encontrá-los em Londres e, se ainda estivessem na estrada, Evie poderia passar mais tempo com o duque.
A sós.
Depois da noite anterior, o ar fresco do campo ajudou a clarear os pensamentos de Evie. A irmã não queria o duque, então se tentasse persuadi-lo, fazer com que ele a visse como mais do que a irmã escandalosa de sua ex-noiva, não haveria nada de errado.
Não era nada contra a lei.
O beijo que compartilharam dizia, em alto e bom som, que eles eram uma boa combinação. Despertou algo dentro dela, uma chama que ela não conseguia vislumbrar extinguir-se. Não foi um beijo doce e casto na bochecha ou nos lábios, mas um arrebatamento total, que a deixou com a boca dormente e o corpo desejoso por
muito tempo depois que ele saiu do quarto. Ela queria mais, e Evie era um tanto engenhosa quando queria algo.
— Srta. Milton, é você? Srta. Milton!
Evie olhou para o outro lado da rua e parou ao ver a Srta. Emma Malcolm, uma herdeira que vivia na mesma quadra que ela em Londres e que havia acabado de noivar com o Conde Mcfarlane.
A jovem era de natureza doce, mas uma terrível fofoqueira. Evie olhou para trás em direção à pousada e suspirou em silêncio por não ser capaz de escapar antes de ser encurralada.
— Srta. Malcolm, que bom vê-la por aqui. O que a traz a Salt Hill?
A jovem riu, parando diante dela na rua, a acompanhante um pouco atrás.
— Ó, a propriedade do meu pai fica a apenas um quilômetro e meio daqui. Viemos para casa para nos preparar para meu casamento com o conde, mas voltaremos a Londres amanhã, na verdade. E o que a traz a Salt Hill?
Os pensamentos de Evie tornaram-se tumultuados tentando descobrir o que dizer. Ela supôs que poderia dizer a verdade. Que a irmã fugira com um fazendeiro após concordar em se casar com um duque, e agora ela e o duque em questão a estavam perseguindo.
— Também estou voltando para Londres. Hoje, na verdade.
Estive visitando minha família em Wiltshire.
— Que adorável para você. Ontem mesmo encontrei sua irmã, creio eu. Você nos apresentou na última temporada, quando ela foi a Londres e ficou por várias semanas, caso se lembre. — A Srta.
Malcolm franziu a testa, pressionando os lábios. — No entanto, ela não estava acompanhada e viajava com um homem que não parecia do nível dela, se não se importa que eu diga. Ele não estava vestido de maneira tão elegante quanto a Srta. Lucy, parecia distraído, quase como se esperasse que alguém aparecesse atrás dele ou algo assim.
Evie lutou para não agarrar os braços da Srta. Malcolm e arrancar mais informações dela.
Ela havia visto Lucy, e ontem!
Significava que eles deveriam chegar à Londres hoje. Talvez a viagem para o norte tivesse sido adiada em um dia ou mais, e Evie e o duque teriam tempo para alcançá-los.
— Ah, sim, Lucy estava viajando antes de mim. Vamos nos encontrar amanhã na cidade.
— Seu primo falou o mesmo. — disse a Srta. Malcolm.
— Meu primo? — Evie perguntou.
— Bem, sim. — a Srta. Malcolm riu, mas até mesmo Evie pôde ouvir o traço de nervosismo em seu tom. — O cavalheiro com a Srta. Lucy. Ele se apresentou como primo de vocês. Um fazendeiro, o que pensando bem, explicaria por que ele parecia tão mal vestido.
O rosto bonito da Srta. Malcolm perdeu a cor.
— Eu peço desculpas, Srta. Milton. Não quis ser tão rude.
Evie decidiu ignorar a impressão que a moça teve do Sr. Brown, a mente zumbia pelas notícias de Lucy. Ela precisava voltar e contar ao duque. Esta era uma boa notícia.
— Devo deixá-la agora, Srta. Malcolm, mas desejo-lhe uma boa viagem para Londres amanhã e muitas felicidades nas núpcias que estão por vir.
A jovem sorriu, satisfação estampada em suas feições.
— Obrigada, Srta. Milton. Farei questão de enviar um convite para você.
Evie fez uma reverência elegante.
— Será um prazer aceitar. Tenha um bom dia.
Evie acenou um adeus e partiu para a pousada em um ritmo acelerado. De todas as cidades para se passar, encontrar alguém de Londres, e não qualquer um, mas uma fofoqueira dedicada era mais que azar. E para Lucy também. Mas as notícias de Lucy eram o que Evie precisava ouvir. Pelo menos, os dois haviam viajado pelo mesmo caminho, e com apenas um dia de vantagem.
A preocupação maior de Evie era que Lucy e o Sr. Brown tivessem ido para Bath e viajado para o norte de lá. A jornada era muito mais rápida e tranquila na grande estrada do norte, mas não havia nenhuma pista quanto ao caminho que deveriam seguir.
Ela deu a volta no pátio da pousada, e seus passos vacilaram ao ver o duque, andando atrás da carruagem, o sobretudo voando
atrás dele como uma capa. Prazer substituiu todos os pensamentos acerca da irmã e, por um momento, ela se deixou apreciar a visão do duque, seu porte atlético em plena exibição para qualquer um que o estivesse observando.
— Aonde você foi? — perguntou o duque, parando e prendendo-a com o olhar. — Pensei que algo terrível tivesse acontecido a você.
Evie parou diante dele, erguendo o queixo para encontrar o olhar dele.
— Fui dar uma volta e tenho notícias de Lucy.
— Você tem?
Todo o aborrecimento com o passeio dela desapareceu, e ele a puxou para a carruagem, ajudando-a a entrar. O duque também entrou e sentou-se à frente dela.
— O que você está fazendo?
— Viajarei na carruagem. Estou sem vontade de cavalgar hoje.
— E quanto ao seu cavalo? — perguntou ela, olhando pela janela enquanto o cocheiro conduzia o cavalo do duque bem em frente da janela da carruagem.
— Ele será amarrado na traseira da carruagem, vai ficar bem lá.
Evie não estava certa do que pensar acerca do duque voltar a estar tão próximo a ela de novo, ainda mais depois da noite passada. A carruagem era opulenta e espaçosa, mas ele era muito grande, ocupava muito espaço do lugar.
A viagem para Londres seria de fato muito longa...
Ele a estudou por um momento, e ela lutou para não mexer na manga do vestido.
— Conte-me essas notícias da Srta. Lucy. Como descobriu essa informação?
— Queria dar uma volta, como disse. Sabia que teríamos uma longa viagem de carruagem hoje, e queria fazer um pouco de exercício antes de partirmos. Encontrei a Srta. Malcolm. Deve ter ouvido que ela acabou de noivar com o Conde Mcfarlane.
Ele balançou a cabeça, virando-se para olhar pela janela no momento em que a carruagem baixou ante o peso do condutor subindo na cabine. O duque bateu no telhado, e a carruagem deu uma guinada para a frente.
— Eu não sabia disso, mas conte-me mais da sua irmã. Ela esteve aqui em Salt Hill. Há pouco, eu presumo.
— Ontem. A Srta. Malcolm esbarrou nela e no Sr. Brown, então pelo menos sabemos que eles estão juntos. Estavam seguindo para Londres, estão apenas um dia à nossa frente.
O duque esfregou o queixo pensativo.
— Com alguma sorte, eles vão parar um tempo na cidade antes de viajar para o norte. Afinal, talvez não tenhamos que ir até Gretna para garantir que sua irmã se case com esse Sr. Brown.
— Essa é minha esperança também.
Evie não queria viajar todo o longo percurso até Gretna, pelo menos não mais. Dias a fio em uma carruagem e noites em pousadas que nem sempre teriam a garantia de serem confortáveis e limpas. Não era o ideal.
— Qual é o plano assim que chegarmos a Londres? — ela perguntou.
— Vamos para minha casa na cidade. Enviarei meu administrador para tentar localizar a Srta. Lucy e o Sr. Brown.
Averiguar se ainda estão na cidade ou se viajaram para o norte.
— Posso voltar para minha casa em Londres, se for melhor. Se formos ficar em Londres por um dia ou mais, não é bom eu ficar sob seu teto.
Não que Evie não quisesse passar mais tempo com Finn, ela queria, como uma desesperada, mas não era correto, e ela não precisava trazer mais nenhum escândalo para a própria família. A irmã já havia conseguido fazer o suficiente.
— Sobre a noite passada, Evie...
Evie ergueu a mão, não queria que ele mencionasse o quanto lamentava o beijo deles ou que a repreendesse por instigar a falta de decoro. Ela não queria ouvir como era errado e os motivos para não voltar a acontecer.
— Não há nada para discutir.
— Preciso discordar desta conclusão.
Evie engoliu o nervosismo que a assolava com a simples sugestão do beijo deles. Os olhares deles se cruzaram, ela estava resignada em escutá-lo.
— Muito bem, quer discutir nosso beijo?
A atenção dele se desviou para os lábios dela, e o nervosismo atravessou toda a sua pele. O ar pareceu evaporar-se na carruagem, a expectativa ressoando nela.
Ele limpou a garganta.
— Sim, o beijo. Queria que soubesse que não desejo mal algum em relação a você por conta de sua conduta. Pensei no assunto e concluí que se sentia aborrecida com a discussão que ocorreu do lado de fora de nossos quartos e precisava de conforto.
Os lábios de Evie se contraíram, e ela não conseguiu conter uma risada ante ao raciocínio dele.
— Não foi por isso que eu beijei você, Finn.
O beijo teve muito mais a ver com o desejo dela por ele do que com qualquer outra coisa.
Ele a encarou, o rosto dele era uma máscara ilegível.
— Por que me beijou então?
— Eu o beijei porque quis. Não porque estava com medo pela minha segurança. Gosto de você e gostei da maneira como me observou ontem à noite. — disse Evie, encolhendo os ombros. —
Considerei que talvez gostasse de me beijar também.
Um músculo na mandíbula dele se contraiu, e ele se virou para olhar pela janela. Não era a resposta que ela queria, mas ela também nunca se jogou em um duque antes, não havia como saber como esses homens aristocráticos reagiriam.
— A honra exige que eu garanta que a Srta. Lucy esteja casada antes de prosseguir com qualquer outra pessoa. Sei que meu compromisso com sua irmã chegou ao fim no momento em que ela fugiu com o Sr. Brown, mas, ainda assim, eu não deveria tê-la beijado. Foi errado e peço desculpas.
Evie afastou a pontada de dor que as palavras dele causaram e se ajeitou no assento de couro macio.
— Chegou a beijar Lucy, Sua Graça? — ela perguntou, voltando ao tratamento formal já que o beijo havia sido um erro.
Diabos. Não havia sido um erro. Foi maravilhoso, e se ele ao menos fosse capaz de admitir tal fato, poderia haver esperança para eles, afinal.
— Claro que não! — as palavras deles saíram um pouco esganiçadas pelo escândalo, e ela se perguntou por quê. Por que beijar a noiva parecia tão inadmissível? — Não conheço a Srta.
Lucy há muito tempo e não acreditei que ela seria receptiva a esse tipo de afeto. — disse ele, passando a mão no queixo.
Evie observou a mão dele deslizar contra o rosto, marcado apenas pela menor sombra de barba por fazer. A lembrança daqueles lábios nos dela, da pele dela esfolada pelo beijo ardente, a bombardeou, e ela se contorceu no lugar.
Talvez, na idade avançada de vinte e sete anos, ela já tivesse perdido a paciência e quisesse mais. Queria um marido que pudesse beijá-la, amá-la, o tanto e sempre que ela quisesse.
— Creio que agora entendo por que a Srta. Lucy não estava interessada em me beijar. Eu não era o escolhido dela.
— Sinto muito que minha irmã tenha agido desta forma com o senhor, mas não posso lamentar pela escolha dela. Se viesse a se casar com Lucy, ela não teria sido feliz, e o casamento dos dois seria sofrido por causa disso. Creio que qualquer casal que venha a se casar deve respeitar e gostar um do outro, ter um desejo mútuo caso queriam que a união dure a vida toda. Sei que é isso que quero para mim quando me casar. Quero desejar meu marido, querer estar perto dele tanto quanto eu desejar.
Os músculos no queixo dele se contraíram, e os olhos aqueceram enquanto a observavam. As palavras dela eram carregadas de mais significado do que apenas semântica. Conversa escandalosa de que o duque não gostava, mas Evie não pôde evitar.
Ele a enlouquecia ao infinito.
— Temos muitas horas pela frente neste transporte. Trouxe seu livro consigo hoje, Evie?
— Não, não trouxe. — ela respondeu.
Agora que estavam sozinhos a caminho de Londres, tudo o que ela conseguia pensar em fazer era beijá-lo mais uma vez. Sentir as mãos dele nela, o corpo dele empurrando o dela da maneira mais inadequada. A desaprovação dele ao ato só fazia querê-lo ainda mais.
— Um jogo de cartas, talvez. Trouxe um baralho, Sua Graça?
Ele se encolheu.
— Não, não trouxe. — ele disse, imitando as palavras dela.
— Bem, então... — disse Evie, sorrindo para ele. — Só resta me beijar de novo para passar o tempo. Seria tão divertido quanto.
C A P Í T U L O 1 1
F INN LIMPOU a garganta, perguntando-se se havia ouvido direito. Evie pediu que ele a beijasse de novo, mesmo depois de ele dizer que não poderiam fazer tais coisas? Ela era uma tentação, não podia negar, não importa quantas vezes dissesse a ela ou a si que deveria deixá-la em paz.
Uma pequena parte dele sentiu que flertar com ela seria errado.
Ele ainda precisava determinar se a consideraria como futura noiva, mas depois da noite anterior, a ideia de ter Evie em sua cama pelo resto da vida era uma ideia que fazia sentido para ele. Mesmo agora, ele queria puxá-la para seu colo e tomar aquela doce boca com a dele. Tocá-la, perder-se no desejo ardente dela.
Finn gemeu por dentro.
Ele se transformou no pai, um homem sem autocontrole. O
sorriso perverso e provocador que ela abriu para ele não o estava ajudando em nada, e a atrevida sabia disso muito bem. Ele mal dormiu na noite anterior, depois de se revirar e rolar na cama a noite toda. Por um tempo, ele cogitou aliviar-se com a própria mão.
Havia algo em Evie que o atraía, o fazia questionar tudo o que pensou querer. Uma noiva alguns anos mais jovem do que ele, de uma família rica e nobre. Evie não preenchia nenhum desses requisitos e, ainda assim, era ela que fazia o sangue dele pulsar com força.
Maldição, ele precisava se controlar. Ele se mexeu no lugar, seu pênis despertando quando a língua rosa dela escorregou e molhou
o lábio inferior.
— Diga-me que você não acabou de me pedir para beijá-la de novo. — disse ele com a voz mais severa que conseguiu. — Não ouviu o porquê de não podemos nos beijar de novo?
— Eu estava ouvindo. — disse ela sem vergonha na voz. — Não estou noiva e, depois da decisão de minha irmã, dois dias atrás, você também não. Não estaríamos fazendo nada de errado se passássemos o tempo de uma maneira tão deliciosa. Ninguém precisa saber, então não é escandaloso agir de acordo com nossos desejos.
Deliciosa?
Ele também considerava os beijos dela deliciosos.
— Delicioso ou não, devemos tentar não repetir, por um tempo pelo menos.
Finn se retesou quando Evie se inclinou para a frente, e a visão de seus seios acomodados no vestido de viagem chamou a atenção dele. Ela estava com um vestido azul-marinho escuro e uma pelica creme, e era a perfeição absoluta.
Ele forçou-se a voltar a recostar-se na almofada, longe da deliciosa e tentadora natureza dela.
— Não deveria se atirar em cavalheiros como agora. Um dia pode encontrar alguém que vai aceitar suas provocações e pedir mais do que está disposta a dar.
— Caso isso aconteça, então ele não é um cavalheiro. E eu não me atiro em ninguém. Inclusive, minhas amigas podem atestar a veracidade de minha declaração. Isso é, até agora, com você. Por que não vai me beijar de novo? Não se divertiu?
Divertir-se?
Ele se deleitou com o prazer de tê-la em seus braços. De se perder no beijo, nos pequenos gemidos e suspiros dela.
— Foi satisfatório.
— Satisfatório? Ó, não, não podemos deixar isso assim.
Antes que Finn soubesse o que estava acontecendo, Evie estava ao lado dele no banco, olhando para ele, um sorriso malicioso e provocador no rosto bonito dela. Ela era uma mulher bonita, com seus longos cachos escuros como chocolate e lábios cor de rosa.
Isso o fez se perguntar por que ela nunca havia sido arrebatada e carregada para o altar. Como ela ainda não havia se tornado a esposa de alguém anos antes?
— Por que você não se casou, Evie?
— Eu? — ela perguntou, surpresa com a pergunta.
Ela se recostou um pouco, e Finn respirou fundo mais uma vez.
Tê-la tão perto provocava sua mente de forma estranha, tornava-a turva e densa, nada como ele costumava ser, além de estar em branco.
— Sim, você. É uma mulher bonita, seu pai é um cavalheiro, e suas amigas possuem altas posições na sociedade. Por que nunca se casou?
— Está tentando me distrair de beijá-lo de novo, não está, Sua Graça?
Ele não gostava de voltar a se chamarem com propriedade, mas talvez fosse necessário. Eles não deveriam estar se beijando e se acariciando. Pelo menos, não ainda.
— Nunca foi cortejada? — ele perguntou, recusando-se a responder à pergunta dela.
Ela se recostou nas almofadas e olhou pela janela um momento antes de dizer: — Fui mandada para uma escola na França.
Conheci minhas amigas na Escola de Etiqueta para Meninas da Madame Dufour, antes delas se casarem na alta sociedade.
Suponho que, ao longo dos muitos anos observando todas serem cortejadas e depois casadas, perdi minha chance de encontrar o amor.
— Antes de Willow herdar a fortuna da Viscondessa Vance, eu precisava voltar para a pequena propriedade de meu pai ao final de cada temporada. Por alguns anos, minha família não teve condições de me enviar a Londres para me juntar às minhas amigas para a temporada, então passei todo esse tempo longe da sociedade e das oportunidades de conhecer novas pessoas. O tempo passou e agora tenho vinte e sete anos. Uma solteirona para alguns.
— Sinto que perdemos uma oportunidade por nós dois estarmos em Wiltshire e nunca termos nos encontrado lá.
Ele havia estado tão distraído tentando se distanciar do pai, mantendo a propriedade funcionando enquanto seu progenitor espalhava sua semente por toda a cidade, criando escândalos aos cântaros, que ele não parou para ver quem estava ao seu redor.
Mesmo em Londres, ele conheceu Evie, dançou com ela e, ainda assim, se afastou dela sem olhar para trás.
Um erro tolo.
— Não passei muito tempo em Londres nos últimos anos. E
desde então, com a morte de meu pai, há um ano, me mantive ocupado.
— Eu soube que ele faleceu. Sinto muito pela sua perda.
— Não sinta. — ele disse sem perceber. — Ele nunca cuidou da família, apenas das prostitutas dele. Mesmo agora, além do túmulo, ele está tentando governar minha vida.
— Como assim? — ela perguntou, olhando-o com curiosidade.
Finn se assustou ao perceber haver falado demais. Uma façanha fácil ao conversar com a Srta. Milton. Quando ela não estava tentando beijá-lo, ela era uma ouvinte muito boa e falava com sensatez, não era uma debutante boba que ria e corava toda vez que alguém falava. Ele gostava da maturidade dela. Combinava com ele e a personalidade dele melhor do que a Srta. Lucy jamais poderia.
A irmã de Evie era um pouco risonha e sorria com frequência demais para o gosto dele. Não que ele não quisesse uma esposa que sorrisse, mas ele teria preferido uma que não sorrisse como uma lunática para todos com quem encontrasse.
— Só quis dizer... — continuou ele. — que a reputação dele manchou a minha. Não importa o que possa ter ouvido acerca da minha pessoa, Evie, não sou nada como meu pai. Não temos nada em comum além do título que herdei.
Ela estendeu a mão e segurou o braço dele, apertando-o um pouco antes de soltá-lo.
— Você é um homem honrado, Finn. Não importa o que aconteça, nada pode mudar a opinião que tenho de você. No momento em que a mão dela escorregou para longe, ele sentiu falta do toque. Ele gostava de Evie tocando-o e, nos últimos dias, pouco
mais atravessava a mente dele. Ele não era como o pai, ele repetia em silêncio. Beijar uma mulher solteira não o tornava depravado como o pai.
— Obrigado. — ele disse, as palavras dela significavam mais para ele do que de qualquer outra pessoa que já dissera o mesmo para ele.
A carruagem fez uma curva e, olhando pela janela, Finn avaliou a paisagem menos bonita da área arbustiva que era marcada por pedreiras.
— Vamos almoçar no Magpies em Uxbridge. Os preços são razoáveis por lá.
— Já parei lá a caminho de casa. A torta de carne deles é mesmo saborosa. — disse Evie, inclinando-se sobre ele para olhar pela janela, embora tivesse uma do lado dela. — Talvez possamos gastar nosso tempo de outras maneiras afinal, Finn. Você pode não precisar me beijar de novo se quisermos manter uma conversa tão animada como a que acabamos de ter.
Finn riu, mas por dentro ele não conseguia parar de pensar em todas as maneiras pelas quais ele poderia instigar outro beijo com a deliciosa Evie. Conversa animada que se danasse.
EVIE DESPERTOU várias horas depois, após um farto almoço em Uxbridge, como prometido. A carruagem parou de forma abrupta.
Ela se sentou, esfregando o pescoço e percebeu que dormira apoiada em Finn. Ela abriu um pequeno sorriso e olhou pela janela.
Esta não era a casa dela, e pela aparência da enorme mansão georgiana que se agigantava diante deles, esta era, com certeza, a casa do duque.
Como prometido, o duque não tentou beijá-la de novo durante a jornada deles para a cidade. Em vez disso, ele comprou um baralho de cartas na pousada onde comeram, e jogaram várias partidas de vinte e um antes que ela implorasse por uma trégua para apenas relaxar e aproveitar as últimas horas com o duque.
Era apenas uma questão de tempo antes que se cansasse do sacudir da carruagem e adormecesse. Que ela acordaria com a cabeça no colo do duque não era o que ela havia imaginado quando fechou os olhos.
Evie se sentou, o duque se assustando quando ela se ergueu para sentar-se ao lado dele. Ela olhou para ele e viu que ele também parecia ter acabado de despertar.
— Peço desculpas, Finn. Não foi intencional me deitar em seu colo desse jeito.
Ele ajeitou a postura e esfregou a mão no queixo enquanto tentava observar os arredores.
— Não se incomode, Srta. Milton. Ninguém jamais saberá que dormimos juntos.
Calor subiu pelo pescoço até atingir suas bochechas. Ela olhou de relance para ele e viu o horror que as palavras dele causaram em seu rosto.
— Peço desculpas, Evie. Minhas palavras saíram erradas. Só quis dizer que nosso cochilo na carruagem foi normal e nada inconveniente. Estamos totalmente vestidos, não estamos?
Evie olhou para o vestido apenas para ter certeza de que estava mesmo toda vestida.
— Vamos passar a noite aqui? — ela perguntou, querendo mudar de assunto. Como ela pôde adormecer com a cabeça no colo do duque? Sua mãe sofreria uma apoplexia se soubesse. Quanto ao pai dela, exigiria um casamento. — Pensei que me levaria até minha casa, com Molly.
— E vamos. — disse ele, e pareceu grato pela mudança de assunto. — É muito tarde, e eu não queria causar um alvoroço em sua casa por causa de seu retorno. Minha criadagem está nos esperando, e um quarto foi preparado para você. Ninguém jamais saberá que você ficou aqui. É apenas por uma noite. Vou levá-la para sua casa amanhã, se não precisarmos viajar para o norte atrás de sua irmã.
Evie estava cansada demais para discutir o plano dele e apenas segurou a mão estendida, agradecida pela ajuda para sair da carruagem pela primeira vez em tantas horas. As costas doíam, e
ela se alongou para trás, tentando relaxar os músculos tensos e doloridos.
— Se eu puder tomar um banho em meu quarto, Sua Graça.
Estou bem dolorida e cansada.
— Claro, vou pedir um assim que entrarmos.
— Obrigada.
Eles seguiram para dentro da casa, e Evie não pôde deixar de ficar maravilhada com a grandeza que a encontrou. As paredes revestidas de mármore, uma escada em espiral feita de carvalho levava ao andar de cima e grandes retratos de família estavam pendurados ao longo das paredes, todos os duques do passado olhando-os e julgando-a pela plebeia que ela era.
O mordomo curvou-se e pegou o sobretudo do duque.
— Os quartos estão prontos, Sua Graça, e o jantar está pronto para quando estiverem preparados para comer.
— Obrigado, George. — Finn disse, ele também alongou os ombros. — Uma bandeja de comida enviada para nossos quartos vai servir muito bem, e você pode mandar subir uma banheira para a Srta. Milton?
O mordomo curvou-se mais uma vez.
— Claro. — ele sinalizou em direção à escada. — Gostaria que eu a acompanhasse até o seu quarto, Srta. Milton?
Evie olhou para o duque que sorriu concordando.
— Boa noite, Srta. Milton.
— Boa noite, Sua Graça.
Evie subiu com o criado o longo lance de escadas antes de atravessar um corredor bem iluminado que também estava repleto de retratos de família e uma abundância de flores de estufa.
Ela havia visto opulência semelhante nas casas de Ava, Willow e Hallie, ainda assim ver que o homem que ela andou beijando nos últimos dois dias era tão rico quanto as amigas a encheu de desconforto. Claro, ela sempre soube que ele era um duque, mas nunca havia reparado no quão abastado ele era. Tal constatação fez com que o noivado dele com Lucy, e os sonhos dela de tê-lo para si, parecessem frágeis, se não impossíveis.
Fez com que ela se sentisse inferior e indigna. Havia tantas mulheres nobres e ricas que seriam mais adequadas para ele, que foram criadas para se casar com um homem assim. Ela não era uma dessas mulheres.
O mordomo abriu a porta do quarto dela por aquela noite, e Evie não pôde conter o grito de alegria ao ver o cômodo. As paredes eram pintadas de um creme claro e brilhante, mas a roupa de cama era de um verde rico, os móveis de madeira escura dando ao quarto um caráter masculino, mas muito bonito. Evie cruzou a soleira e foi até a cama para passar a mão na colcha de seda.
Como prometido, Evie ceou e depois afundou em uma banheira que dois criados de libré trouxeram para ela. Ela estava sentada na frente da lareira secando os cabelos quando uma batida leve soou em sua porta. Nervosismo revirou seu estômago, e ela fechou o roupão antes de abrir a porta.
Evie abriu um pouco a porta e encontrou Finn parado diante dela.
— Há algo de errado? — ela perguntou, procurando por palavras, sem saber o que dizer agora que estavam sozinhos de novo, e na casa dele. Ninguém para interrompê-los.
— Eu, é... — ele gaguejou, o olhar movendo-se por cima do ombro dela para olhar o quarto. — Espero que as acomodações sejam do seu agrado.
Evie assentiu, olhando de volta para o quarto, a cama como um farol de tentação, ainda mais agora que o duque estava parado diante dela.
— É adorável. Creio que nunca tive um quarto tão bonito assim.
— Deveria sempre ter coisas bonitas. — ele disse, a voz baixa e rouca.
O coração dela apertou-se ante as palavras doces dele e, por um momento, ela não conseguiu se mover. Ela queria se inclinar e beijá-lo, receber mais do que sabia que ele poderia dar a ela, mas ela não o fez. Toda a ousadia parecia tê-la abandonado depois de hoje, quando ele fez todo o possível para manter distância. Talvez ele não quisesse mais beijá-la, e ela estava se enganando
pensando que o único beijo que eles haviam compartilhado significou algo. Para o duque, pelo menos.
O pensamento a deixou esgotada, e ela caminhou para o centro do quarto. Uma mão disparou e agarrou seu braço, puxando-a de volta.
— Boa noite então, Evie. — ele sussurrou, eliminando quase todo o espaço entre eles, os lábios dele separado dos dela por apenas um fio de cabelo. Os joelhos dela ameaçaram ceder quando ele encurtou de vez a distância entre eles e a beijou. Ela estava certa de que ele pretendia que fosse um beijo casto, apenas um boa-noite entre amigos, mas não foi nada casto.
No momento em que os lábios dos dois se tocaram, ele aprofundou o beijo, a língua torcendo-se com a dela e enviando toda a razão dela para o espaço. Evie estendeu a mão, segurando-o pelos ombros para se impedir de cair no chão de tanto prazer. Ela queria que ele a beijasse, queria muito estar de volta em seus braços, e como foi ele a beijá-la desta vez deixou uma sensação inebriante percorrendo em seu sangue.
Ele deu um passo à frente, acompanhando-a até que ela se aproximou da parede ao lado da porta. Prazer e necessidade dispararam por ela, seu corpo não era dela, mas dele para reivindicar.
Evie nunca havia estado com um homem.
Algo lhe dizia que esse era o desejo de que as amigas haviam falado quando conversavam de seus casamentos. Como um olhar, um toque ou um pequeno sorriso poderia fazer toda a razão fugir, e elas seguiriam seus maridos para ver onde o interlúdio deles levaria.
— Eu não deveria querer você tanto quanto quero. — ele disse contra seus lábios antes de beijá-la mais uma vez.
O beijo foi diferente de qualquer outro, não que ela tivesse outros beijos para comparar, mas o que estava acontecendo agora entre eles não era nada casto. Ele a beijava como se estivesse faminto pelo toque dela, como se desejasse devorar cada grama de sua carne. Ela estremeceu ante a ideia de ele a beijar em outro lugar, de sua língua que agora se enredava com a dela, saborear sua pele, seu corpo, nos lugares mais privados.
— Não pare. — ela implorou, beijando-o com tanto desejo quanto podia. Ainda assim, ela não conseguia saciar-se dele. E
então as mãos dele deslizaram pelo corpo dela, passou por seus seios e se acomodaram nos quadris dela antes de deslizar para trás e agarrarem seu traseiro. Ele a puxou contra o corpo, ondulou contra seu núcleo. Evie gemeu, calor líquido se acumulando entre suas pernas.
— Finn... — ela arfava, agarrando-se a ele como uma tábua de salvação.
Nunca havia se sentido como agora. Como se fosse murchar e morrer se ele não continuasse o que havia começado, e ele havia começado. Foi ele quem a beijou desta vez. O som de passos na escada soou, e Finn se afastou, indo parar de pé no corredor assim que o mordomo começou a caminhar naquela direção.
— Sua Graça, seu administrador está aqui, como solicitado.
— Obrigado, George. Por favor, diga ao Sr. Cleavers que descerei em instantes.
— Claro, Sua Graça. — o criado respondeu e os deixou com tanta rapidez quanto chegara.
Finn suspirou, voltando-se para Evie: — Devo ir. Preciso falar com meu administrador de sua irmã e o Sr. Brown. Ver o que ele pode descobrir.
— Claro. — disse Evie, respirando para se acalmar e esperando que ele não notasse que o coração dela batia mil vezes mais rápido.
— Esperemos que estejam em Londres e possamos encontrá-los.
— Sim. — o duque voltou a pisar no quarto dela e a beijou mais uma vez.
Evie ofegou, deleitando-se com o toque dele, antes que ele a soltasse e partisse pelo corredor para encontrar o administrador.
Evie fechou a porta e caiu contra ela. Um pequeno sorriso deslizou em seus lábios. Depois daqueles dois beijos, parecia que o duque não era tão indiferente como afirmava. Talvez houvesse sim uma chance para eles.
C A P Í T U L O 1 2
A MANHÃ SEGUINTE trouxe a notícia de que sua irmã e o Sr. Brown estavam de fato em Londres e não haviam viajado rumo ao norte, para a Escócia. A informação era tanto agradável e preocupante. O Sr. Brown pretendia se casar com Lucy mesmo ou estava apenas aproveitando a oportunidade, longe da segurança da família dela?
Evie estava sentada à mesa do café-da-manhã, o duque estava ao lado dela e lia o jornal, e ela não pôde deixar de pensar que é assim que um casal deveria fazer o desjejum. O duque contara a ela as novidades que descobrira e agora lia as manchetes.
— Precisamos viajar até St. Giles e ver se podemos forçá-los a aparecer. Virá comigo? — ele perguntou de repente, olhando para ela em busca de uma resposta.
Evie pousou a xícara de chá, sem saber se havia ouvido bem.
— Deseja que eu vá com você?
— Sim. — ele dobrou o jornal, colocando-o ao lado. — O que me leva a outro assunto que eu gostaria de discutir com você. Acerca de suas acomodações enquanto estiver em Londres.
Evie franziu a testa, pensando que já haviam discutido tal detalhe.
— Eu pensei que eu voltaria para minha residência habitual em Londres.
Ele a estudou por um momento antes de dizer: — Eu quero que você fique aqui, Evie. Comigo. Ninguém sabe que estamos em
Londres tentando encontrar sua irmã para impedir a ruína dela.
Caso se torne conhecido que estamos aqui e por quê, a situação de todos só iria piorar. Falei com os funcionários e meu administrador e os informei de que, até onde eles sabem, ainda estamos em Wiltshire e não voltaremos a Londres por várias semanas.
Evie entendeu o plano dele e viu fazer sentido. A ideia de ficar sob o teto do duque, escondendo-se do mundo, tendo apenas a si como companhia...
— Muito bem, e se formos vistos? Minha reputação será arruinada.
— Não será. Não permitirei. — A determinação no tom dele acalmou a pequena turbulência que o plano dele gerara.
— Se está certo disso, ficarei aqui com você. Evie se afastou da mesa e foi para a porta. — Se viajaremos para St. Giles, preciso me trocar.
— O que há de errado com o seu vestido? — o duque perguntou, a voz alta para alcançá-la.
Evie se deteve no limiar do cômodo, voltando-se para encarar o duque.
— Você deveria se trocar também. Se quisermos nos misturar àqueles que moram naquela parte decadente de Londres, é melhor você tirar essas botas hessianas polidas à perfeição e o casaco refinado. Você será assaltado antes de darmos dois passos para fora a porta da carruagem.
FINN SORRIU para Evie enquanto ela desaparecia no foyer. Calor infiltrou-se em seus ossos ao assimilar que ela ficaria em sua casa por alguns dias. Somente os dois, aninhados longe da alta sociedade, com a companhia apenas um do outro.
Nesse ponto, ele estava ficando cada vez menos preocupado com a Srta. Lucy e o Sr. Brown, em encontrá-los, ou pelo escândalo que todos esses acontecimentos causariam se as pessoas descobrissem. Ele prometeu ao pai de Evie que ajudaria a garantir
que a filha não seria arruinada, mas fora isso, havia pouco entre ele e a ex-noiva.
Finn afastou a cadeira e seguiu para o quarto se trocar, como Evie sugeriu. Menos de uma hora depois, eles estavam na carruagem indo em direção a St. Giles. Região que, até onde o administrador dele conseguiu averiguar, a Srta. Lucy estava se hospedando.
Evie se sentava ao lado dele na carruagem, com o lábio preso entre os dentes enquanto olhava para fora. As ruas de Mayfair logo deram lugar às áreas mais pobres da cidade, mostrando as dificuldades que os pobres enfrentam todos os dias.
— Não se preocupe, Evie. Trouxe uma pistola e não sou incapaz de me cuidar.
— Mas pode cuidar de nós dois, caso haja problemas? — ela olhou para ele. — Trouxe algum dinheiro? Não consigo passar por uma criança necessitada e não dar nada a ela.
Ele assentiu e bateu no bolso do peito. A jaqueta que ele pegara emprestado de um dos cavalariços era bem confortável, uma surpresa, além de adequada a esta expedição.
— Sim. Pode doar tudo se quiser.
Ela envolveu o braço no dele, puxando-se para perto dele.
— Eu sabia que você era um bom homem. Uma característica que continua me provando vez após vez. O rosto doce dela se inclinou em direção ao dele e o fez sentir coisas estranhas. Finn aproveitou a oportunidade para se abaixar e tomar seus lábios.
O corpo dele rugiu com um sentimento de posse, e ele tomou a boca de Evie, deslizando a língua contra a dela. Ela trazia o gosto de chá e do mel que colocara na torrada esta manhã. A ideia de ter essa mulher para sempre ocupava a mente dele tanto quanto de vê-
la na cama dele, e não diminuía. Evie Milton combinava com ele, era de caráter semelhante e sensata. Ela seria uma boa duquesa e esposa, mesmo aos vinte e sete anos.
As mãos dela agarraram a lapela do casaco dele, puxando-o para mais perto, e ele aproveitou a oportunidade para tocá-la. O
vestido que ela usava era de lã grossa, nada parecido com as
roupas normais dela. Na verdade, parando o beijo, ele observou o vestido e franziu a testa.
— O que você está usando? Não pode ser confortável. — disse ele, observando a lã grossa e o corte mal ajustado.
— É um dos vestidos da copeira. Eu a paguei para usá-lo, e ela ficou mais do que feliz em se livrar dele. — ela observou o traje dele. — Você também está muito bonito. Creio que gosto de ver você tão robusto.
Ele riu, recostando-se contra as almofadas, mas não antes de pegar a mão dela e segurar em seu colo. Um gesto simples e doce que parecia tão natural quanto beijá-la.
A carruagem dobrou uma esquina, e Finn atentou para onde estavam.
— Devemos chegar logo.
— Será que vamos encontrar Lucy hoje?
Evie olhou para ele com expectativa, e ele desejou poder dizer a ela que sim, mas ele não estava certo disso. O administrador dissera que, embora algumas pessoas avistassem o casal, a localização exata do alojamento deles ainda não era conhecida.
— Andaremos pelas ruas onde me disseram que eles foram vistos. Talvez estejam por aí e nós os encontraremos assim.
Finn havia se precavido e dois cavalariços corpulentos os acompanhavam na parte de trás da carruagem e o condutor também não estava desarmado. Levar uma mulher para esta parte da cidade não era uma rotina, mas Evie era a única que sabia como era o Sr. Brown. Ele mesmo nunca conhecera o sujeito.
Um pouco depois, a carruagem parou na Rua Newman, e Finn ajudou Evie a descer. Ele observou o local que estavam e aqueles que notaram a chegada deles. Ele a puxou para perto e começou a subir a rua estreita de paralelepípedos em que havia roupas penduradas no espaço acima de suas cabeças e crianças corriam com os pés descalços.
Evie enfiou a mão no bolso dele, pegou uma das poucas moedas que ele trouxera e deu para uma menina que segurou sua mão.
— Odeio ver crianças com tão pouco. Nossos governantes deviam fazer mais para ajudar os pobres.
Finn não poderia estar mais de acordo, e muitas vezes ele doava para instituições de caridade e orfanatos. A tarefa de tirar os pobres dessa vida de miséria exigia mais do que os fundos de um duque.
Exigia que todos tomassem parte na ascensão deles.
Eles observaram as pessoas por quem passavam, Evie olhava para cima e para baixo de todos os becos que cruzavam. A área tornava-se úmida e em condições piores quanto mais andavam.
— Não posso acreditar que Lucy permaneceria em um lugar desses. O Sr. Brown era um fazendeiro. Decerto possui fundos para pagar por acomodações melhores do que as que esta área oferece.
— Parece que não.
Finn odiava dizer a Evie tais verdades, mas para Lucy estar vivendo em tais condições, longe da família e amigos, havia uma boa chance de ela ter se arruinado além do reparável, e talvez não fosse possível manter ocultas as ações dela por mais muito tempo.
Eles entraram em um beco, e Evie distribuiu mais moedas para um grupo de crianças que pularam e gritaram ante tal sorte inesperada antes de saírem correndo. A via se abria para um grupo circular de casas de dois andares. Todas eram edificações de madeira com janelas quebradas, madeira apodrecida e buracos em alguns lugares.
Havia um forte odor de urina e fezes humanas, Finn se contraiu.
Evie engasgou, o corpo dela ficou rígido ao lado dele, e ele olhou para ela de relance. Os olhos estavam arregalados e a pele pálida.
— O que foi? — ele perguntou, pegando a mão dela e sacudindo um pouco quando ela não respondeu.
— Alguém jogou algo no meu vestido lá de cima.
Os olhos dela se encheram de lágrimas, e Finn olhou para cima e encontrou uma mulher grande e risonha inclinada para fora da janela.
— Tenha um bom dia, milady! — disse a mulher, virando o penico sobre o parapeito da janela mais uma vez para garantir que o recipiente estivesse vazio.
Finn olhou para a senhora antes que ela desaparecesse entrando.
— Venha, vamos voltar para casa. Sempre haverá o amanhã.
— Eu não posso entrar em sua carruagem com essa sujeira em mim, Finn. O cheiro nunca mais sairá.
— Não se preocupe com isso. Comprarei uma nova carruagem.
Ele a puxou de volta para a direção de onde vieram, sem jamais avistar Lucy ou o Sr. Brown em suas andanças. Não importava, os dois seriam encontrados em breve, e então Finn garantiria que o malandro se casasse com a mulher que ele roubou dos pais, ou ele não sabia o que faria. Uma coisa certa era que não permitiria que Evie sofresse o efeito das ações da irmã dela. Ele não permitiria que um grama de escândalo o atingisse, ou a Evie.
Eles chegaram ao estábulo de casa dele, e Finn ajudou Evie a voltar para dentro, ordenando que as criadas trouxessem água para um banho. Ele lutou para não se encolher ante o cheiro que impregnava as roupas dela, que precisariam ser queimadas.
— Sinto-me humilhada. — disse ela ao lado dele enquanto ele a ajudava a subir as escadas. Felizmente, a urina não atingiu o cabelo, apenas atingiu as costas antes de escorrer pela parte de trás do vestido. — Eu sinto muito, Finn. Sua carruagem talvez nunca se recupere deste cheiro.
Ele riu, pegando o braço dela e puxando-o para entrelaçar-se ao dele.
— Você logo estará limpa, e a carruagem não é nada. Não foi sua culpa o que aconteceu.
— Obrigada, Finn.
Finn a acompanhou até a porta do quarto dela e a abriu.
— Vou mandar uma criada subir para ajudá-la a se despir e se preparar para o banho. Voltarei logo, e então você se sentirá melhor.
— Já que eu sou uma mulher parada diante de você cheirando aos fluidos corporais de outra pessoa, você é muito gentil com suas palavras.
Ele ergueu o queixo dela, inclinou-se e a beijou, não se importou se algum dos criados da casa os visse.
— Aproveite seu banho, Evie. Vou pedir que o almoço seja trazido para você em uma bandeja, se desejar.
— Obrigada. — ela disse ao entrar no quarto e dar a ele uma última olhada antes de fechar a porta.
Finn respirou fundo, afastando a imagem dela, tirando as roupas e entrando na água quente e perfumada do banho.
Nua.
Ele suspirou, forçando os pés a seguirem para o quarto dele para se trocar. Ele poderia cortejá-la sem impedimentos assim que Lucy se casasse e anulasse o compromisso deles de uma vez por todas. E então, ele poderia buscar o que estava se tornando uma pequena obsessão.
Evie.
C A P Í T U L O 1 3
EVIE NÃO DESVIOU o olhar da porta, que a separava do duque mais uma vez, nem por um instante. Estava ficando cada vez mais difícil manter distância dele, queria perguntar se o que ela começava a suspeitar haver entre eles era apenas da parte dela.
Ela não acreditava que fosse esse o caso, mas era difícil saber o que o duque estava pensando na maior parte do tempo, a não ser naqueles momentos em que ele a beijava, e então ela sabia o que ele estava sentindo.
Uma batida soou, assustando-a, e ela abriu a porta, um pouco desapontada ao ver criados carregando uma grande banheira e baldes, uma criada atrás deles com lençóis secos e um sabonete.
Evie deu um passo para trás, e deixou que entrassem, observou-os enquanto montavam a banheira diante da lareira acesa e davam-lhe olhares interrogativos aqui e ali.
Ela supôs merecer tal inspeção.
Afinal, ela era uma mulher solteira ficando sob o mesmo teto que o patrão deles. É bem provável que pensassem que ela era amante dele, mas do jeito que se sentia agora, não era bem como uma amante. Ela se sentia como uma fossa.
A criada ajudou-a a despir-se e Evie a dispensou, pedindo que queimasse o vestido o mais depressa possível. Lucy e ela estavam acostumadas a tomar banho sozinhas, e não precisavam da ajuda
de ninguém. A água estava perfumada e cheirava a lavanda, e ela testou o calor com o pé antes de entrar na banheira, abaixando-se.
Felicidade foi o primeiro pensamento que passou por sua cabeça. Felicidade completa. Evie deitou-se na banheira, deslizando o sabonete pelos dedos enquanto se ensaboava. E se inclinou para frente, lavando os ombros antes de se recostar e levantar uma perna para limpá-la. O terrível fedor que a seguia desde St. Giles se foi, e ela estava grata por isso. Como alguém poderia jogar tal conteúdo em uma pessoa inocente era incompreensível para ela.
Sua mente zumbia com pensamentos sobre o duque. As mãos dela deslizavam pela pele, e ela fechou os olhos, pensando nas mãos dele em sua carne, provocando e acariciando seu corpo, apertando seus seios e beijando seus mamilos.
Ela suspirou, o queria tanto.
Ninguém beijava ninguém como o duque a havia beijado. Não, a menos que fossem amantes ou pelo menos a caminho de se tornarem amantes. A ideia de ir para a cama com o duque não era um pensamento tão escandaloso, pelo menos não mais. A noite na pousada quando ele se deitou sobre ela na cama, a dureza dele provocando a carne molhada dela havia tornado a respiração entrecortada. Talvez voltar àquela pousada mais uma vez. Estar sozinha com o duque.
— Evie?
O som da voz dele tão perto dela, a fez gritar, e ela se ajeitou, para cobrir-se.
— Finn. — ela disse, usando o nome de batismo dele. — O que está fazendo aqui?
— Peço desculpas, pensei que já teria saído do banho.
Ela se virou e notou que ele estava bem à frente da porta, e ainda assim perdida em suas próprias reflexões, ela não o ouviu entrar, nem fechar a porta atrás dele.
— Eu estava coberta de excremento humano. Talvez me demore um pouco mais no banho.
Evie afundou na água para tentar cobrir a nudez. Uma tentativa inútil. Ela conseguia se enxergar sob as águas límpidas, e não restavam dúvidas de que o duque também conseguia.
— Eu considerei tal possibilidade, e escolhi ignorá-la.
Evie olhou por cima do ombro, encontrando o olhar dele. Ela estremeceu com o desejo que leu nos orbes azuis dele. Ele parecia miserável, perdido e confuso, e o coração dela deu um pequeno salto no peito. Os últimos dias foram alguns dos mais agradáveis de sua vida. Ela não conseguia entender por que Lucy trocaria este homem maravilhoso e honrado por outra pessoa.
O duque era um bom partido para qualquer mulher, e ainda assim ele estava no quarto dela, sozinho, e ela nua. As amigas dela ficariam escandalizadas se soubessem dos pensamentos impróprios que atravessavam a mente dela, neste instante. De todas as coisas que se poderia fazer com um homem que nenhuma mulher de virtudes intactas deveria saber.
Mas ela havia lido livros suficientes em seus vinte e sete anos para saber o que acontecia entre um homem e uma mulher. Fazer aquelas coisas com o duque a fazia estremecer e sentir ardor em lugares que ela nunca havia sentido.
Ela estendeu a mão para a toalha na cadeira próxima e, de pé, envolveu-se nela antes de se virar para o duque.
— O que você quer, Finn, o que quer de verdade? — ela perguntou, não falando apenas desta noite, mas de sempre.
Ele queria uma esposa rica e nobre para ser sua duquesa, ou uma mulher de Wiltshire sem dinheiro e sem conexões satisfaria seu sangue aristocrático?
— Eu quero você. — ele disse por fim, cruzando a sala e erguendo-a nos braços.
Evie suspirou, deixando de lado as inibições e a toalha e apenas se agarrou a ele, envolvendo os braços em volta do pescoço dele e beijando-o tão ferozmente quanto ele a beijara.
A roupa que ele usava antes seria áspera contra a nudez dela, mas agora ele usava vestimentas adequadas para um duque, e o traje era macio e exalava um cheiro fresco e limpo. Ela se envolveu nele, enganchando as pernas nas costas dele e pressionando seu sexo dolorido contra o dele.
Ele gemeu durante o beijo, girando-a e caminhando para trás, em direção à cama. Ele a carregou como se ela não pesasse nada e
a colocou na cama. Ela quicou uma vez e deu uma risadinha. O
duque não saiu do final da cama, o olhar dele a devorava com avidez. Ele passou a mão pelo queixo antes de tirar o casaco e rasgar o lenço.
— Eu quero você. Ninguém mais. Só você.
As palavras dele enviaram uma onda de calor que subiu a espinha dela, e esperança floresceu em seu peito. Ele estava sendo sincero em suas palavras? Ela esperava que sim. Evie se ajoelhou na cama, estendendo a mão para ajudá-lo a se despir. Ela o queria também, doía com o desejo dele.
Juntos, eles o despiram da jaqueta, colete e lenço, as peças de roupa amontoando-se aos pés dele. A visão do peito musculoso dele a deixou com água na boca. Evie passou a mão pelos músculos tensos que se flexionavam sob seu toque e a cada respiração irregular que o duque dava. Finn estava quente, o coração batia em um crescendo rápido de necessidade. Ela havia provocado essa reação. Ela fez com que ele a desejasse, e mais ninguém.
— Não deveríamos fazer isso, Evie.
As palavras eram ofegantes e continham uma pitada de arrependimento. Ele estava dividido entre fazer o que era certo e esperado de um cavalheiro e o que ambos queriam. E agora, Evie o queria e danem-se as normas sociais que estavam violando.
— Você não me quer? — ela o provocou e mergulhou as mãos nas calças dele para desabotoar os botões que o mantinham longe dela.
Ele encostou a testa na dela, a respiração tocando-a no rosto.
— Maldição, sim, eu quero você, mas não somos casados. É um ato pecaminoso.
Evie encontrou o olhar dele quando os dedos dela deslizaram no primeiro botão das calças dele.
— Nós somos adultos consentindo, Finn. Não há nada de errado com o que vamos fazer.
Ela precisava disso, mesmo que por uma noite. Se perder com um homem que fazia seu sangue cantar e seu corpo ansiar. Ele ergueu uma sobrancelha, sem se mover para afastar as mãos dela.
— Está certa de que deseja fazer isso? — ele perguntou e a mão dele segurou a dela quando ela desabotoou mais um dos botões.
— Ó, sim, faremos isso. — Respondeu ela, deslizando o botão de sua casa.
Ele se inclinou para frente, beijando o pescoço dela.
Um arrepio a percorreu, e ela deslizou a mão para dentro das calças, tocando-o pela primeira vez. A masculinidade era enrugada, longa e larga, e ainda assim a pele era a mais macia que ela já havia sentido, como aço envolto em veludo. A mão dele agarrou a dela, mostrando, sem palavras, o que ele gostava.
E ela gostou também.
— Gosta disso? — ela perguntou, quando ele gemeu, beliscando a pele do pescoço dela.
— Porra, sim... — ele gemeu, o uso da palavra a chocou e agradou.
Ele não era um duque dos mais certinhos. Nem sempre. Não com ela, e não assim. Eles caíram na cama, e ela deslizou as pernas em volta da cintura dele, querendo o peso, o corpo dele contra o dela. O peito dele roçou seus seios, seus mamilos pequenos e os bicos duros que latejavam pelo toque dele. Evie se apertou contra ele, querendo que ele aliviasse a dor que ele provocava.
— Você é tão linda. — ele disse entre beijos enquanto descia para seus seios, a língua saboreando a pele dela, os dentes dando pequenas mordidas doces ao longo do caminho.
Ela poderia se perder nos braços deste homem. Inveja e ciúme ondularam pelo corpo dela por ele ter sido noivo de sua irmã, que se Lucy não fugisse com outro homem, agora mesmo poderia ser sua irmã nos braços dele. Evie afastou os pensamentos inúteis e perturbadores. Ela não pensaria em tal horror.
O duque a estava beijando, ela que estava debaixo dele, na cama, na casa dele. Ela lutaria pelo que queria, e ela o queria, ansiava por tudo dele, esta noite e todas as noites depois. Ela afundou os dedos nos cabelos dele enquanto a boca dele cobria um mamilo, a língua lambendo a carne sensível. Evie se agarrou a ele e
se esqueceu de todos os problemas, dos segredos, e se permitiu apenas desfrutar.
Finn.
FINN IA PARA O INFERNO e, em seguida, para o céu, com a sensação de Evie embaixo dele. Seduzir uma mulher poucos dias depois de a noiva ter fugido com outro homem não era o ato de um cavalheiro. No entanto, nada, exceto um desastre natural, iria afastá-lo do corpo delicioso de Evie naquele momento. Seus seios, em particular, eram do tamanho perfeito para as mãos dele.
Evie suspirou o nome dele; uma respiração ofegante que dizia a ele, mais do que tudo, que ela gostava do toque dele. Ela se esfregava contra ele, um alongamento de sereia que empurrava seu monte encharcado contra o membro dolorido dele, e por um momento, a mente dele ficou em branco. Ele pressionou contra ela, dando a ela o que ambos queriam, e lutou para não se guiar para dentro de sua doce vagina.
— Você está me provocando, Finn. Pare de me provocar. — ela arfou, os dedos emaranhados nos cabelos dele e puxando um pouco.
Ó, como ele amava o som do próprio nome nos lábios dela.
Como amava como ela ondulava, empurrava e o beijava com tanto abandono, sem se importar que ele era um duque, um membro abastado do reino. Ela o via como um homem que poderia lhe dar prazer e companhia. Ele se casaria com essa mulher assim que a irmã dela estivesse casada como Sr. Brown.
Ele nem sempre quis uma mulher com a mesma idade, mas não conseguia se ver com outra pessoa além de Evie. O fato de ela ser de Wiltshire, de seu condado natal, e cumprir todos os decretos do pai, também não devia ser esquecido.
Ele se abaixou entre eles, posicionando-se na abertura de seu núcleo quente e deslizou em seu calor. Ela estava tão quente e apertada que ele reprimiu um gemido. Sendo a atrevida impaciente
que Evie era, ela ergueu os quadris, empurrando-o um pouco mais para dentro dela. Ele arfou com o prazer que o movimento desencadeou, lutou contra o desejo de empurrar até o fim.
— Droga, Finn. Me faça sua. Estou ansiosa por você. Decerto pode sentir o quanto eu o quero.
— Eu sinto sim, amor. — ele disse, ignorando o sinal de carinho que escapou com tanta naturalidade de seus lábios. Foi o calor do momento, nada mais.
Ele acalmou a parte dele que queria entrar em pânico com tal lisonja. Ela se moveu mais uma vez, e desta vez ele empurrou-se para dentro dela, fazendo-a dele. Ela jogou a cabeça para trás, gemendo com a intrusão. Finn respirou fundo, se preparando e beijando o pescoço dela, demorando-se ao sugar a pequena veia que descia da orelha dela até o ombro.
A pele dela era doce e cheirava a primavera, a jasmim e a deliciosas coisas com mel. Tão bom. Ele queria lamber e saboreá-la por toda parte. Ele empurrou ainda mais fundo, levantando as pernas dela mais alto nos quadris dele para tomá-la de forma rápida e certeira.
— Finn. — ela gemeu, as mãos dela deslizaram pelas costas dele até acariciar a bunda dele. — Ó, sim.
Por um momento, ele perdeu toda a capacidade de pensar direito, ele empurrou forte e fundo, dando a ela o que ela queria, e ele também. O som de pele com pele soava alto no quarto, uma sinfonia de desejo ou prazer, e o som mais satisfatório que ele havia ouvido em uma eternidade.
Ele não era um libertino, um patife que pulava entre as camas das viúvas da alta sociedade ou das prostitutas que se ofertavam em Covent Garden. Ele havia beijado mulheres, sim, tivera uma amante de quem ele se separou assim que soube precisar encontrar uma esposa dentro de sessenta dias, mas nunca ele quis agradar uma mulher tanto quanto queria agradar Evie.
Não apenas aqui e agora com ela embaixo dele, com ele a arruinando de forma absoluta, mas com outras coisas também. Ele a tornaria sua duquesa. Alguns diriam que ele era um idiota por ir de
uma irmã para a outra, mas ele estava com o tempo limitado, e Lucy escolheu outro para ser seu marido.
Ele não podia se casar com alguém de sua camada social, de sua posição ou riqueza, além de que, não queria. Não agora que conhecia melhor Evie. Era a ela que ele queria. Evie o rolou de costas e montou nele. Finn arfou, não esperando tal atitude.
— Eu quero tentar desta forma. — ela mexeu um pouco no pênis dele, e ele respirou fundo, lutando contra o desejo de gozar.
Ela enrijeceu em cima dele.
— Ó, eu não machuquei você, machuquei, Finn?
Deus não, não. Não havia dor entre eles, apenas prazer, prazer satisfatório que o rasgava.
— Não, de forma alguma. Por favor, continue.
As palmas das mãos dela empurraram-se no peito dele, e ela se ergueu para cima e para baixo nele, fazendo-o perder toda noção de onde estavam. Ele não esperava que ela fosse tão astuta ou aventureira na primeira vez. Não que ele estivesse reclamando, ele aceitaria tudo o que ela oferecesse.
O pênis dele parecia aço, as bolas doíam com a necessidade de liberação, e a visão dos seios dela, balançando acima do rosto dele, fazia pouco para conter o desejo dele de foder, tomar o que ele queria até que a semente dele jorrasse fundo nela.
Finn agarrou os quadris dela, ancorando-a nele e a ajudou a montar em seu pênis. Ela chegou a um ritmo, e ele mordeu o lado da boca, tentando conter a liberação.
— Porra, isso é bom. — disse ele, empurrando-se dentro dela cada vez que ela escorregava sobre ele.
A união deles tornou-se frenética, e então a visão mais perfeita e bela que ele já viu na vida se criou acima dele. Evie jogou a cabeça para trás, gemendo o nome dele enquanto seu sexo se apertava e se contraía em torno do pênis dele, puxando a liberação dele para se misturar com a dela.
Ele despejou tudo o que havia, desfrutou dela ordenhando-o de cada pequena gota antes que ela afundasse em seu peito, a batida do coração dos dois em sincronia.
— Bem... — ela arfou, a cabeça aninhada sob o queixo dele. Ele sentiu um beijo dos mais leves no peito e fechou os olhos, deleitando-se com o toque dela. — Foi maravilhoso, e algo que acredito que adoraria fazer outra vez.
Ele riu, rolando-a para o lado dele antes de erguê-la contra o corpo, mantendo-a perto.
— Quer agora... — ele disse, brincando, mas sabendo muito bem que agora que ele a teve uma vez, ele a teria outra vez. E de novo, e talvez de novo depois dessa, antes que precisasse voltar para o quarto pela manhã.
— Ó, sim. — disse ela, olhando para ele.
Tão perto, ele podia ver os orbes castanhos luminescentes e as pequenas manchas de cobre neles. Algo no peito dele bateu forte, e ele estendeu a mão, deslizando uma mecha do cabelo dela que havia caído em cima do olho para trás da orelha.
— Bem, então, sendo um cavalheiro, sabe que eu não posso negar nada para você. Se for esse o seu desejo, estou às suas ordens.
Um pequeno sorriso perverso deslizou na boca deliciosa dela, uma boca que ele nunca se cansaria de beijar, era uma certeza.
— Hm, às minhas ordens. Gosto muito de ouvir essas palavras.
Vou cobrá-lo por suas palavras, Finn.
Ele se inclinou, incapaz de não a saborear mais uma vez. O beijo foi demorado, aquecido e o pênis dele se mexeu. Maldição, ele era um canalha. Ele acabara de deflorar uma virgem, não poderia tê-la novamente tão cedo. Finn deveria ser chicoteado.
— Por favor, estou ansioso para repetir.
— Eu também. — disse ela, beijando-o de novo e o despojando de todos os modos sensatos e cavalheirescos.
EVIE ACORDOU TARDE na manhã seguinte, se virou para olhar para Finn e não encontrou nada além de uma cama fria e linho, que estava, com certeza, vazio de um certo cavalheiro duque. Ela se
sentou, olhando ao redor. A pequena mesa diante da lareira estava posta com um delicioso café-da-manhã com pão quente, presunto e ovos. Um bule de chá fumegante, quase implorava para que ela se sentasse à mesa. Evie empurrou os cobertores para o lado, deslizou uma camisola pele corpo nu e seguiu para a mesa.
O fogo, reavivado há pouco, irradiava calor. Evie sorriu para a comida, sabendo que Finn havia passado ali há tempo aqui, cuidando dela após a noite de êxtase dos dois. Uma noite que esperava com muita ansiedade que voltasse a se repetir com frequência.
Como era maravilhoso estar nos braços dele, ser amada e acariciada, adorada e beijada até que ela acreditasse que não poderia suportar muito mais. Evie se sentou na cadeira mais próxima ao fogo e pegou o bule de chá, servindo-se de uma xícara e adicionando uma gota de leite, como gostava. O fato de ele ter enviado um café-da-manhã tão delicioso para ela dizia, mais do que qualquer outra coisa, que ele se importava.
Esse senso de cuidado poderia levar a mais? Isso ela não sabia, mas sempre foi uma pessoa otimista e lutaria para que ele gostasse dela tanto quanto temia estar começando a gostar dele.
A porta do quarto dela se abriu, e Finn entrou.
Vestido com um par de calças bege e paletó azul, ele abandonara o colete e vestia uma camisa e gravata. O cabelo ainda estava úmido do banho daquela manhã.
— Bom dia. — disse ela, incapaz de conter o pequeno sorriso que a presença dele trouxe em seu rosto.
Ele ergueu o queixo dela com a mão, inclinando-se como se fosse beijá-la. O sangue dela esquentou com a proximidade dele, e o pensamento de repetir tudo o que haviam feito na noite anterior passou por sua mente.
— Bom dia, Evie. — disse ele, dando um beijo suave e muito curto em seus lábios.
Ele se sentou em frente a ela, colocou uma porção robusta de presunto, bacon e ovos em um prato e se serviu de chá.
— Tenho uma proposta para você. — a voz dele continha uma pitada de apreensão, e Evie cruzou o olhar com o dele,
perguntando-se no que ele estava pensando.
— Que tipo de proposta? — ela perguntou, a ideia de que ele a pediria para ser a amante dele azedando o gosto do chá na boca.
— Eu quero que você seja minha esposa.
C A P Í T U L O 1 4
EVIE ESTAVA na sala de estar da frente, na casa do duque, olhando para a movimentada Mayfair adiante e pensando em Lucy.
Onde ela estava? Estava segura? Casada?
Ela permaneceu detrás das cortinas transparentes para que ninguém pudesse vê-la e pensou no que fariam a seguir. Como encontrariam Lucy e garantiriam o casamento dela antes que fosse tarde demais? Como iriam impedi-la de se arruinar além do reparável? Caso já não estivesse arruinada.
— Andar de um lado para o outro e roer as unhas não vai fazer Lucy aparecer diante de você, Evie. Venha tomar chá comigo. —
disse o duque, levantando-se da mesa e seguiu para onde o mordomo havia acabado de deixar uma bandeja de chá e biscoitos doces.
— Eles já podem ter partido para a Escócia. — disse ela, virando-se para ele. — Podemos ter perdido nossa chance aqui em Londres.
— Não, não perdemos. Tenho homens vigiando o estábulo da Pousada Cavalo Branco. Dentro de uma hora já saberei dizer se eles passarem por lá.
— E se viajarem para o norte por outros meios? O que faremos então?
— Eles não fariam isso. — Finn disse, aproximando-se dela e pegando-a pela mão para levá-la ao sofá e tomar uma xícara de
chá. — Todos param no Cavalo Branco. Eles também o farão.
Uma confusão soou no saguão, e Evie olhou para Finn quando o som distinto da voz da irmã dela se elevou acima da voz do mordomo.
— É Lucy. — disse ela, levantando-se e quase correndo para a porta da frente. — Lucy! — ela chamou, não acreditando que a irmã estava aqui.
Na casa do duque, segura e bem. Lucy ficou rígida e virou-se para ela, alívio substituindo a ira em seu rosto sempre bonito.
— Evie. — disse ela com os ombros caindo de alívio. — Você está aqui. Ó... — ela suspirou. — Estou tão feliz!
Evie encurtou a distância entre elas e, quanto mais se aproximava da irmã, mais notava a aparência desgrenhada. Os vestidos limpos e bem passados, os cabelos sempre para cima e em perfeita ordem haviam desaparecido, e até mesmo o rosto mostrava pequenas manchas de sujeira nele.
— Lucy, eu estou tão feliz em vê-la. — Evie a puxou para um abraço apertado e conseguiu sentir a tensão na coluna da irmã. —
O que aconteceu? Você está chateada. Eu a conheço muito bem.
Os olhos da irmã se encheram de lágrimas, e Evie a acompanhou de volta à sala de estar, Finn abriu a porta e se afastou quando entraram na sala.
— Venha, tome uma xícara de chá. Parece que precisa de sustento.
— Ó, Evie... — a irmã dela soluçou, as lágrimas caiam pelas bochechas sem impedimento. — Fui uma idiota e temo que, quando contar o que aconteceu, você nunca me perdoará, e nem o duque.
A menção de Finn fez pouco para ajudar a diminuir o nervosismo de Evie. O fato de a irmã estar sem a companhia do noivo, ou marido, também era motivo de grande preocupação. Elas entraram mais na sala de estar, e Finn fechou a porta, dando privacidade às duas, dele e dos criados.
Evie puxou Lucy para se sentar ao lado dela no sofá e serviu uma xícara de chá que entregou à irmã. O fato de ela estar sem o Sr. Brown deixou Evie com uma sensação de incerteza, o estômago parecia afundar. Se Lucy não estava casada, então estaria
arruinada. Não era o que ela esperava para a irmã, sempre vibrante e entusiasmada.
— O que aconteceu, Lucy? Conte-me tudo. Onde está o Sr.
Brown?
— Ó, Evie... — disse a irmã, em um ataque de lágrimas, a xícara de chá chacoalhava no pires. — É tudo tão confuso. Eu baguncei tudo.
Lucy fungou, e Evie enfiou a mão no bolso e passou um lenço para ela. Outra esquisitice, pois Lucy sempre carregava um lenço e qualquer outra coisa que ela pensasse que seria necessária em qualquer situação.
— Você sabe que eu fugi com o Sr. Brown, Anthony, e tudo estava indo às mil maravilhas, mas quando chegamos à Londres dois dias atrás, ele encontrou alguns amigos de Bath, e tudo mudou.
Estávamos hospedados em uma pensão em St. Giles, e ele começou a sair à noite, me deixando sozinha. Dizia que não era correto que eu o acompanhasse por não sermos casados, por isso eu não ia. Então, na noite passada, ele voltou bêbado e...
— Ele não forçou você a nada, não é, Lucy?
A ideia de que a irmã havia sido agredida não era uma ideia que gostaria de contemplar, e o Sr. Brown iria querer estar a muitos quilômetros daqui, caso tivesse tocado em uma única mecha de cabelo da cabeça de Lucy.
— Não, não, nada disso, posso garantir, porém, ao retornar, ele declarou que viajaria para o estrangeiro com os amigos. Eu acreditava que ele era um fazendeiro, estabelecido e feliz em Wiltshire. O que aconteceu com o amor pela terra e pelo condado dele, ou com o amor dele por mim?
— Então, não está casada com ele? — Evie apertou a mão de Lucy quando ela não respondeu, embora, pelo rosto pálido e o nariz vermelho de tanto chorar, Evie já soubesse a resposta.
— Nós não nos casamos. Ele me deixou esta manhã, e eu usei o resto do meu dinheiro para vir até a casa do duque. Eu sabia que vocês estavam procurando por mim. Eu os vi ontem andando pelas ruas de St. Giles, e sinto muito, Evie, mas eu me escondi de você.
— Lucy, estávamos apenas tentando garantir que o Sr. Brown fizesse a coisa certa e se casasse com você. Não íamos mandar você para casa se assim não desejasse.
— Eu sei. — disse ela, inclinando a cabeça para baixo. — Tentei voltar para casa em um coche de aluguel, mas só tinha dinheiro o bastante para vir até Mayfair. Eu ia escrever para mamãe e papai, para que enviassem alguém para me buscar, mas agora que você está aqui, estou a salvo.
Evie suspirou, desejando que fosse verdade, mas a irmã não havia pensado muito nas circunstâncias em que se encontravam, ou o que significava para ela. Circunstâncias que Evie não precisaria se preocupar quanto a si, já que o duque a havia pedido em casamento. Evie havia prometido que se casaria com ele assim que a irmã se casasse e estivesse encaminhada. Mas ver Lucy solteira e, com certeza, arruinada, não era bem o que queria encarar.
— O duque queria garantir que estivesse casada. Papai nos mandou seguir você, sabe. Você precisará retornar para casa e, se Deus quiser, com o tempo o escândalo passará.
Lucy olhou ao redor, observou as paredes decoradas cobertas com papel de parede de seda, os muitos livros e a lareira de mármore. Um sorriso se espalhou por seu lindo rosto.
— Eu não ficarei arruinada, Evie. O duque ter vindo atrás de mim prova que ele se importa. Só preciso me casar com ele.
Evie ficou rígida ante as palavras da irmã. Casar-se com o duque? O que a irmã estava pensando!
— O duque de Carlisle está comigo para garantir que o Sr.
Brown faça a coisa certa e se case com você. Agora que sabemos que não é o caso, tudo o que nos resta é levá-la para casa e tentar limitar o escândalo. Por sorte, nossa família não é muito conhecida na cidade, e você pode escapar de muita vergonha social.
Lucy enxugou as lágrimas com o lenço de Evie, o semblante iluminando-se mais a cada minuto.
— Fugi com o Sr. Brown porque pensei que o duque não se importava comigo tanto quanto o Sr. Brown. Mas eu estava errada.
Ele veio atrás de mim, sem dúvida, para tentar impedir meu noivado.
Eu pensei que ele pediu a minha mão apenas porque eu estava lá e sou maior de idade, mas creio que esta percepção é incorreta.
— O que está dizendo? — Evie perguntou com o estômago revirando, a sala girando a seus pés.
— Não haverá escândalo, Evie, porque me casarei com o duque.
Para a sociedade, ele ainda é meu noivo. Ele é um cavalheiro. —
Lucy continuou. — Ele não desistiria de um entendimento, não se os contratos foram assinados.
Evie engoliu em seco, sem saber se era capaz de pronunciar quaisquer palavras naquele momento.
— Você deseja se casar com o duque? Apesar de tudo? Não acredito que seja uma opção, Lucy.
Era algo terrível a se pensar, mas Evie não podia permitir que o duque se casasse com sua irmã. Não agora, não após a noite passada. Havia se apaixonado por ele e esperava, de todo o coração, que ele também estivesse apaixonado. Afinal, ele havia pedido a mão dela em casamento. Deve haver afeto entre eles.
— Claro, ele ainda me aceitará, Evie. — Lucy riu, mas até Evie pôde ouvir o tom nervoso nas palavras. — Você verá. A honra e a aversão dele a escândalos garantirão tal resultado.
Evie não queria ver nada daquilo se concretizando, e era uma péssima irmã por pensar em Lucy daquela maneira. Nos últimos dias em que passaram juntos, ela passou a respeitar e se importar com o duque. Ele era um homem bom, doce e divertido e, como Lucy disse, honrado.
Ao saber que a mulher com quem ele havia assinado um contrato de noivado não havia se casado; e que de fato, reconhecia ter cometido um erro de julgamento, ele ainda se casaria com ela?
Se ele fizesse tal coisa, o que significava para ela, Evie? O que ela faria se o homem que amava se casasse com a irmã dela?
— Você terá que falar com o duque, mas você fugiu com outro homem, Lucy. É improvável que ele perdoe essa tolice e ainda se case com você. Embora seja verdade que ele veio atrás de você para garantir que sua reputação fosse mantida intacta e que não tivesse cometido um erro, não acredito que ele permitirá que você seja esposa dele.
— Por que você não quer me ajudar? Por que não me defende?
Do jeito que fala, soa como se não desejasse que eu me torne uma duquesa. — Lucy se levantou, foi até a janela e olhou além das cortinas. — Eu gostava do duque, sim. Posso não o amar, mas concordei em ser a esposa dele.
— Você também me pediu para seduzi-lo, para afastá-lo de você. Esqueceu-se assim tão depressa do que estava disposta a me pedir para que pudesse se casar com o seu Sr. Brown?
Lucy se virou, e a encarou com olhos inocentes e arregalados.
Era como se ela não se lembrasse do pedido e se sentisse escandalizada pelas palavras. O que a irmã pretendia?
— Por favor, me diga que não o fez. Sabe que eu só estava brincando. Nunca iria querer que se jogasse no duque por minha causa. Não o seduziu, seduziu, Evie? Você não o fez desistir de mim...
Evie respirou fundo para se acalmar enquanto o mundo ao redor dela começava a ficar fora de controle.
— Lucy, eu nunca seduzi o duque para que se afastasse de você.
Isso era verdade. Quando eles, por fim, ficaram juntos, foi mútuo e com a compreensão de que Lucy estaria casada quando alcançassem o casal fugitivo. O duque há muito repensava o acordo com a irmã dela. As ações de Lucy garantiram isso. Eles não fizeram nada de errado.
Evie não pretendia romper o noivado da irmã. Lucy havia feito isso sozinha. E agora, mudar de ideia, repreendê-la e implorar por algo que ela não queria ouvir... mesmo que, para começo de conversa, ela tenha pedido exatamente isso, era injusto.
Tudo nessa situação era injusto.
— Claro que não considerei uma brincadeira, mas não o seduzi para afastá-lo de você, Lucy. Você o deixou por outro homem. Ia se casar com o Sr. Brown.
Uma batida na porta soou, e Evie se levantou, indo abri-la.
O duque estava ali, o olhar deslizando por cima do ombro dela para encontrar sua irmã, que estava sentada na sala além. Evie recuou e abriu mais a porta para que ele pudesse entrar. O duque
olhou para o outro lado do cômodo e, como da água para o vinho, a conduta dele mudou. Ele se endireitou, o sorriso sumiu de seu belo rosto e foi substituído pelo semblante de um duque, todo nobre e educado.
— Srta. Lucy, que bom que se juntou a nós.
Lucy explodiu em outra poça de lágrimas e se levantou, correndo até o duque, jogando-se em seus braços. Ela colocou as mãos nas costas dele, segurando-o firme.
— Ó, Sua Graça. Você me salvou. Sinto muito. O Sr. Brown me fez acreditar que ele me amava, e que eu era especial. Fui uma idiota em segui-lo. Ele é a pior das pessoas. Por favor, diga que me perdoa. Diga-me que não perdi o seu carinho.
Evie fechou a porta.
Por mais que ela amasse a irmã, sempre a protegesse do mundo, suas ações naquele momento se assemelhavam às de uma criança mimada e ruim. O que a irmã estava pensando ao se jogar no duque como se ele ainda fosse livre para se casar com ela? Pelo menos, Evie esperava que ele não estivesse livre, nem que as esperanças e sonhos dela com ele estivessem destruídas.
— Você não está casada? — o duque perguntou, afastando Lucy um pouco dele, segurando-a com o braço esticado.
A visão de Lucy nos braços do duque não caia bem, e Evie estreitou os olhos, toda a esperança de que pudesse haver um futuro para eles ia, aos poucos, se desfazendo diante de seus olhos.
— Eu cometi um erro. Fui enganada, sabe. O Sr. Brown não era quem eu pensava ser. Por favor, me diga que eu não o perdi. Como um cavalheiro, sei que você não me jogaria aos lobos.
Evie observou com horror enquanto Lucy olhava para Finn, os olhos se enchendo de lágrimas. Ela parecia abatida e perdida, precisando de apoio. Evie deveria querer ajudá-la, e ela queria, de verdade, porém, não queria que a irmã ficasse com Finn. Ela havia escolhido o Sr. Brown. Era para ela estar, neste exato momento, casada com ele. E não parada diante do homem a quem Evie amava e adorava, pedindo para honrar seu pedido de casamento.
Finn olhou para Lucy, parecia estar sem palavras. Evie desejou que ele dissesse não a Lucy. Não, ele não se casaria com ela, não
após ser trocado por outro.
— Você assinou contratos para se casar comigo, Sua Graça. —
Lucy disse, usando o título dele pela primeira vez desde que o reencontrou. — Sei que fiz mal a você e prometo nunca mais ser persuadida a me desviar no futuro, mas não desejo trazer escândalo para minha família, se puder evitar. E para a sua família também. —
acrescentou ela, caminhando até Evie e pegando-a pela mão. —
Não estou certa, minha querida? Tanto a família de Sua Graça quanto nossa família serão para sempre comentadas, caso não nos casemos.
— Os proclamas ainda não foram publicados, Lucy. Ninguém precisa saber que o duque pediu a sua mão.
— Ó, bem, depois que o Sr. Brown me deixou na noite passada, eu escrevi para papai e pedi a ele para anunciar nosso noivado.
Espero que não se importe, Sua Graça. Com os contratos assinados, sua honra e minhas desculpas, esperava que pudéssemos nos casar e ter uma vida feliz, juntos. Assim como planejamos.
Evie olhou para Lucy e não conseguia acreditar no que estava ouvindo. A irmã havia enlouquecido? Pensar que o duque poderia perdoá-la assim depois de tamanha indiscrição era absurdo.
— Você mandou que publicassem os proclamas? — Finn encontrou o olhar de Evie, e ela viu a decepção dentro deles. Uma decepção que ela também sentia.
— Lucy, como você pôde fazer isso com o duque?
A irmã deu uma risada nervosa, mas Evie não conseguia ver nada de divertido na situação.
— Como eu não o faria? — Lucy olhou de um para o outro, os olhos estreitados, pensando. — O duque veio para Londres tentando me alcançar, não veio? Sem dúvidas porque ainda se preocupa e quer casar-se comigo. Sinto muito pelos problemas que causei. Desejo me casar com Sua Graça se ele me aceitar. Você me aceitará, não é, Finn?
— Eu... é... — ele murmurou, olhando para Evie, um tanto abalado.
— Lucy, por favor, pode nos deixar? Desejo falar com Sua Graça a sós. Peça ao mordomo no saguão para levá-la ao seu quarto.
Lucy olhou de um para outro mais uma vez antes de assentir e, sem dizer mais nada, encaminhou-se para a porta, mas não antes de parar ao lado de Evie.
— Por favor, me ajude a convencer o duque, Evie. Sei que me ama e fará isso por mim porque somos irmãs e sempre nos apoiamos. De verdade, sinto muito por todos os problemas que causei.
Evie acompanhou Lucy até a porta, fechando-a sem dizer uma palavra à irmã antes de se dirigir ao duque.
— Você não pode se casar com Lucy. Eu a amo, amo sim. Ela é minha irmã, e farei de tudo para protegê-la, mas isto? Não, isto não.
— O escândalo será atroz para nossas famílias se eu não honrar minha proposta e me casar com ela.
— Creio que, após o que ela fez, assim como você, Finn, que se dane o escândalo. E quanto a nós? E quanto ao meu pedido de casamento?
O duque passou a mão pelos cabelos, e caminhou a frente da lareira.
— Nunca me ocorreu que ela não estaria casada. Eu esperava que pudéssemos nos casar assim que estivéssemos convencidos de que a Srta. Lucy estava casada com o Sr. Brown, mas não parece ser o caso. Não importa o quanto não gostemos da situação, estou, na verdade, comprometido com sua irmã...
— E você me arruinou. — ela disse, incapaz de não verbalizar aquela verdade, embora odiasse dizer tais palavras.
Não era culpa do duque que eles tivessem dormido juntos. A culpa era tanto de Evie quanto dele. Um desejo mútuo que foi posto em prática.
— Eu devo me casar, Evie, e estou ficando sem tempo para isso.
Se sua irmã me prende em um contrato, é com ela que devo me casar. Não importa o quanto eu deseje que fosse você.
Ela respirou fundo para se acalmar, pensando nas palavras dele antes de se lembrar do que ele disse.
— Como assim está ficando sem tempo para se casar? Está doente e precisa gerar um herdeiro antes que fique sem tempo?
O pensamento a fez querer vomitar. Ela não suportaria se Finn estivesse doente.
— Não. — ele suspirou e bagunçou o cabelo outra vez. — Eu não estou doente. O que deixei de dizer é que meu pai decretou em testamento que, se eu não me casasse um ano após a morte dele, teria apenas sessenta dias para fazê-lo, ou perderia os fundos monetários necessários para administrar o Palácio de Stoneheim e minhas outras propriedades.
Evie fez uma pausa ante as palavras dele, a pressa em garantir a mão da irmã dela por fim fazendo sentido.
— Você propôs casamento a Lucy para não perder sua herança?
— Propus. — disse ele, ainda andando de um lado para o outro, os cabelos cada vez mais em pé.
— Você poderia ter se casado com qualquer uma. Por que minha irmã?
— Meu pai também decretou que eu deveria me casar com uma mulher do meu condado natal, e que fosse filha de um cavalheiro.
Sua família atende aos meus requisitos.
O duque se sentou e olhou para o fogo, perdido em pensamentos.
— Por que você não pensou em mim como futura esposa quando visitou papai pela primeira vez?
Afinal, eles se conheciam de Londres. É verdade que não se conheciam bem, mas havia amigos em comum, circulavam na mesma esfera social, e escolher a irmã parecia estranho para Evie.
Ou, talvez, ele não a desejasse dessa forma. A ideia deixou um vazio enorme em seu âmago.
— Porque você tem a minha idade. Eu sou um duque. Preciso de uma esposa que me dê um herdeiro. Temia que sua idade fosse um impedimento para isso.
Evie sentiu a boca se abrir com as palavras dele e, por um momento, foi incapaz de responder. Ela era muito velha? Não havia dúvida de que ela era mais velha do que Lucy, alguns bons anos, na verdade, mas ainda não completara vinte e oito. Mulheres mais
velhas que ela ainda carregavam filhos. Ora, Ava havia acabado de ter um filho, no ano anterior, e ela é apenas dois anos mais velha que Evie. O que ele estava pensando?
— Então, por que propor casamento à minha pessoa, se durante todo esse tempo eu era muito velha para seus padrões exigentes?
O duque ergueu os olhos, compreensão surgindo em seu rosto.
Ele se levantou e foi até ela, pegando suas duas mãos. Evie se afastou, queria saber a verdade. Toda ela, mesmo que fosse tão feia quanto as ações da irmã hoje cedo.
— Você sabe que me importo com você, Evie. Fomos íntimos.
Seria errado da minha parte não propor.
— Mas agora não é? Você já estava comprometido com minha irmã, contudo, agora que ela estará arruinada se vocês não se casarem, e um odioso escândalo bateria à sua porta, eu sou deixada de lado. Parecerei a maior idiota da história, mas sobreviverei. — disse ela, se esforçando para não chorar. — Afinal, sou uma mulher capaz de resistir a qualquer tempestade.
— Eu quero você. Você sabe que sim. — ele disse, estendendo a mão para ela.
Evie se afastou ainda mais dele.
— Não tema, Sua Graça. A sociedade jamais imaginaria que um duque tão viril e poderoso como você perderia seu tempo com uma mulher da mesma idade. Que desagradável e vulgar!
— Evie, isso não é verdade, e você sabe disso.
Ela encolheu os ombros indo em direção à porta.
— Nada disso importa agora. Você precisa de uma esposa, e sua noiva está disponível de novo. Ela é jovem e lhe dará herdeiros.
Eu talvez não. Sem mencionar que sua aversão ao escândalo será evitada caso siga seu plano original.
— Evie. — disse ele, aproximando-se dela e virando-a para olhar para ele. — Fomos íntimos. Eu não posso abandonar você.
— Sempre coloquei minha irmã acima de qualquer pessoa, cuidei e a protegi durante toda a sua vida. Não vou deixá-la à própria sorte. Mesmo que ela tenha culpa no cartório. Você se casará com ela, e eu ficarei bem. Não falaremos mais deste período
e, assim que eu sair desta casa, o que se passou entre nós será esquecido. Estamos acordados?
Ele olhou para ela, o rosto bonito e aristocrático, que ela beijou com abandono, não seria mais dela. Um caroço pareceu se alojar em sua garganta, e ela tentou engolir.
— Como podemos continuar como se nada tivesse acontecido entre nós? Não posso me casar com sua irmã nessas circunstâncias, não seria correto.
— Você não dirá nada a ela. Você não pode. Fazer isso arruinará minha reputação e a dela, porque ela cancelaria o casamento se soubesse a verdade.
— Evie. — disse ele carrancudo, as mãos apertadas nos ombros dela. — Como vou ficar longe de você?
— Sua família já passou por escândalos suficientes para durar duas vidas, você mesmo disse, por isso será capaz. Terá um casamento feliz com minha irmã e manterá distância de mim porque é necessário. É dessa forma que ficará longe de mim.
Um músculo tremeu na testa dele antes que recuasse, o abismo entre os dois crescendo mais e mais a cada minuto.
— Voltarei para minha casa em Londres com Lucy. Mamãe e papai podem viajar para Londres para o casamento. As núpcias de vocês devem ser vistas como um evento alegre e muito celebrado.
Um casamento em Wiltshire não vai bastar.
O duque assentiu, mas não disse nada, apenas a observou.
— Sinto muito, Evie. — ele sussurrou.
Evie caminhou até a porta, esperando que o duque a impedisse, enquanto rezava para que ele não o fizesse. Eles nunca poderiam ficar juntos. Não agora, pelo menos.
— Eu também sinto muito. — disse ela na porta, antes de abri-la e deixá-lo para trás.
Evie subiu e arrumou suas coisas, explicou a situação para Lucy antes de sair pela frente da casa do duque e arrumar um coche de aluguel, mas deixou seu coração lá dentro.
C A P Í T U L O 1 5
F INN COMEÇOU a fazer as aparições de praxe exigidas dele sempre que estivesse na cidade, a temporada estava em pleno andamento. Ele compareceu a vários bailes, bancou a noivo amoroso, no entanto, jamais sentiu tanta pena de si.
Como ele se casaria com a Srta. Lucy se Evie existia neste mundo? Tal cenário era insuportável. As últimas três semanas foram uma tortura. Desfilar ao lado de uma mulher pela cidade, como se fossem o casal mais feliz da Inglaterra o fazia querer vomitar, o fazia querer invadir o salão de baile naquele instante, e exigir que Evie caísse em si. Que ignorasse o que todos pensavam, que o fato de ele se casar com ela em vez da irmã criaria um escândalo e que eles vivessem uma vida longa e feliz juntos.
Ele a queria de volta. Odiava vê-la se tornando a dama inglesa perfeita, cortês, obediente e doce, ajudando a irmã a se preparar para o casamento, e muito feliz em permitir que ele e a Srta. Lucy passassem um tempo juntos sempre que ele a visitava. Não ia à casa dela em Londres para ver a noiva.
Deus o perdoe, ele ia lá ver a Evie.
Finn estava ao lado de seu amigo, o duque de Whitstone, bebericando um uísque enquanto Sua Graça observava a duquesa de Whitstone dançar um minueto com o visconde Duncannon.
— A Srta. Lucy será uma boa esposa para você, Finn. Admito que fiquei surpreso ao saber que iria se casar com a Srta. Milton
mais jovem. Sempre supus que você e a Srta. Milton mais velha combinavam melhor em temperamento. Pelo menos, quando estivemos juntos em Londres, foi o que percebi.
Finn estava bem ciente de que ele e Evie eram um par melhor, ela era melhor que qualquer um que já tenha cruzado o caminho dele. Inferno, mesmo agora, enquanto espiava Evie do outro lado do salão, falando com o grupo de amigas, rindo e sorrindo, ele sabia do quanto sentia falta dela.
Ele a amava.
As últimas três semanas na cidade foram um inferno. O sono o iludia. Parecia que ele não podia mais descansar sozinho, sentia falta de tê-la ao seu lado, alguém para se esticar e puxar para um abraço sempre que quisesse.
Ele bebeu o resto do uísque, preparando-se para falar as palavras que tentara não pronunciar nos últimos dias.
— Cometi um grave erro e não sei como consertar a situação.
O duque olhou para ele, franzindo a testa.
— Conte-me tudo. Talvez eu possa ajudá-lo. — disse Whitstone, observando-o com algo semelhante à pena.
Como se já suspeitasse que ele ansiava por Evie em vez de Srta. Lucy, sua noiva. Finn suspirou, pois odiava-se mais que tudo.
O que ela iria fazer?
— Eu propus casamento à irmã errada, e agora há pouco que se possa fazer.
O duque assentiu, voltando-se para observar os dançarinos no salão.
— Sei algo sobre o que aconteceu entre você e Evie. Ava me contou alguns detalhes. O que o fez concordar em se casar com a Srta. Lucy depois de ela se jogar em outro homem? Não é obrigado a se casar com ela depois de ela o tratar com tão pouco respeito.
— Eu sei que não sou, mas ela escreveu para o pai, pedindo que os proclamas fossem publicados, assim que o Sr. Brown fugiu para o continente. Sem mencionar que ela implorou a Evie para ajudá-la a reconquistar o noivo. Se eu tivesse desfeito o compromisso, o escândalo teria sido enorme. Meu nome seria falado em Londres
por meses a fio. Eu não conseguiria suportar passar por isso mais uma vez.
— E prefere suportar uma vida inteira de miséria em um casamento que não quer? — o duque debochou dele, antes de limpar a garganta. — Se acredita que a Srta. Milton está satisfeita com esta decisão, você está se enganando. Nenhuma mulher quer que ver o homem por quem está apaixonada se casando com a irmã.
Ouvir tal coisa em voz alta fez seu sangue gelar.
Também o fez refletir acerca de o que o fizera concordar com tal atuação. A Srta. Lucy não nutria sentimentos por ele, nem demonstrava respeito tendo em vista o que fizera, enquanto ele tinha uma noção esmagadora de que o que sentia por Evie, era algo que ele não conseguiria viver sem. Ele se importava profundamente com ela. Mais do que ele já se importara com qualquer outra pessoa em sua vida. A opinião dela era a que ele mais valorizava, então, quando ela exigiu que ele salvasse a reputação da irmã, ele não pôde negar.
— Acredita que Evie ainda me ama? — Finn fechou os olhos por um momento, precisava interromper a visão de Evie no outro lado do salão. — Eu não sei como vou me manter longe dela. Pensar em todas as vezes que ela visitará Lucy no Palácio de Stoneheim.
Passará temporadas conosco aqui na cidade, e eu devo me manter distante, devo não me afetar pela presença dela. É uma coisa impossível de se pedir a um homem.
— Algo impossível de se pedir a um homem que está amando.
Amor?
A palavra reverberou em sua mente mais uma vez e ele lutou para não entrar em pânico com a decisão que precisava tomar. O
casamento seria na próxima semana. Como ele poderia seguir com tal teatro? Ele não conseguiria, mas significava que ele amava Evie?
Finn olhou para onde ela estava com as amigas no mesmo instante em que ela olhou de relance na direção dele. Seus olhos se encontraram. Sustentaram-se. O tempo parou, a música foi ficando mais longe, e tudo o que restava no recinto eram os dois.
Arrependimento, selvagem e brutal, o rasgou, e ele lutou para não caminhar pelo salão de baile e tomá-la nos braços, dizer a ela que estava arrependido. Que cometeu um erro, não apenas em Londres, mas também em Marlborough. Que ele deveria ter pensado em pedir que ela fosse sua noiva!
Ele sempre gostou de Evie, a conheceu através de amigos em comum, por que ele permitiu que a visão deturpada dele acerca das mulheres e da idade delas interferissem em sua decisão é que ele não conseguia entender. Um erro de que ele se arrependeria para sempre, mas pelo menos ele poderia fazer algo agora. Antes que fosse tarde demais.
Ela se voltou para as amigas, interrompendo o contato, e a ação o cortou como uma lâmina. Finn convocou um lacaio, precisava de outra bebida.
— Como um duque cancela um casamento? Diga-me, Whitstone, como consegui me colocar nessa posição? Meu pai era o homem que Londres inteira observava e produzia fofocas em torno de suas ações, não eu. Como permiti que isso acontecesse?
Whitstone deu um tapinha no ombro dele.
— Nós somos humanos, Finn. Podemos ser duques, mas cometemos erros. Veja Ava e eu. Eu a perdi por anos ao acatar o decreto de meus pais e acreditei nas mentiras deles. Você acredita que deveria aceitar a Srta. Lucy e suas mentiras, aceitar como ela o tratou e, assim, perder a única mulher que amou? Não deve, e não precisa que eu diga isso, pois já sabe o que é o certo a fazer.
Maldito seja o escândalo que causará. Você é o duque de Carlisle.
Quem vai negar ou ridicularizar você? Ninguém.
Finn refletiu sobre as palavras de Whitstone, sabendo serem verdadeiras. Seu amigo estava certo, é claro. Ele não podia se casar com a Srta. Lucy. Ele não a amava, nem poderia se casar com uma mulher que havia fugido com outro homem, não importava o que o cancelamento do casamento fizesse à reputação dela. Ela não se importou com ele quando escolheu o Sr. Brown.
O olhar dele viajou para Evie mais uma vez, e calor se infiltrou em seus ossos pela primeira vez desde que ela deixou a casa dele,
três semanas atrás. Ele não poderia se casar com a Srta. Lucy, não quando amava Evie.
Amava-a tanto que tudo em que conseguia pensar era em consertar as coisas, em tê-la em seus braços e amá-la pelo resto de seus dias da melhor maneira possível.
— Você está certo. — disse ele a Whitstone, um peso saindo de seus ombros ao som das palavras ditas em voz alta. — Consertarei as coisas e me casarei com a mulher que amo. Não com a mulher de quem estou noivo.
— Bom homem. — Whitstone disse, pegando um uísque de um lacaio e batendo seu copo contra o de Finn. — Parabéns pelo futuro casamento. Sei que será muito feliz e não se arrependerá dessa escolha.
Finn sorriu, sorvendo o líquido âmbar.
— Acredito que não. Ao amor. — ele disse, brindando a emoção.
— Ao amor. — Whitstone concordou, sorrindo ante a brincadeira.
NA TARDE SEGUINTE, Evie sentava-se na sala da frente da casa em que morava em Londres com Molly, seus pais estavam sentados diante da lareira, discutindo o casamento de Lucy na próxima semana. Evie tentou ignorar a conversa, a empolgação pelo enlace da filha mais nova com um dos homens mais ricos e de posição da Inglaterra.
Evie já havia decidido o que faria quando a irmã se casasse, e Molly concordou em acompanhá-la. Eles viajariam para o exterior, visitariam a Europa e veriam todas as coisas bonitas que nunca haviam visto.
Ela não poderia ficar na Inglaterra e assistir à irmã começar sua vida com o homem que Evie amava. Ela não conseguiria. Fazer isso seria a tortura mais intensa, para não mencionar que seria insuportável. As últimas três semanas que estiveram na cidade foram sim insuportáveis. Ver a irmã se distanciar do duque, brincar e
provocá-lo como se nunca tivesse fugido com o Sr. Brown haviam mudado a opinião dela acerca da própria irmã para sempre.
Claro, ela sempre a amaria, mas já não a respeitava tanto. Não conseguia imaginar como Lucy era capaz de fazer tal coisa com o duque, um bom homem, não que ele não possuísse defeitos, de maneira alguma, contudo era um bom homem sim.
Seu estômago se revirou, e a náusea agora sempre presente a atingiu. Ela vinha ficando a cada dia mais nauseada. A viagem para o exterior não poderia acontecer em melhor hora. Ela precisava fugir de ver o duque e Lucy juntos. Era isso que a deixava indisposta. Ou algo mais estava.
Haveria outras aventuras em sua vida, outros cavalheiros admiradores, e talvez até mesmo um homem que a amasse tanto quanto ela temia amar o duque.
A porta da sala se abriu, e o mordomo anunciou o duque de Carlisle.
Evie se levantou, fazendo uma reverência quando ele entrou antes de voltar a se sentar. Seus pais se levantaram, foram até o duque e o rodearam por vários minutos. Durante a conversa, Lucy se juntou a eles, os cabelos dourados emoldurando seus ombros, os lindos olhos azuis lançando um olhar coquete ao duque sempre que ela pensava que ele a olhava.
Evie olhou para o tricô em seu colo.
Ela deveria ter adivinhado que ele a visitaria esta tarde, ele vinha todas as tardes. Deveria ter ido para o quarto ou desaparecido na sala de estar do andar de cima, porém não o fez. O coração tolo dela vivia para tais visitas, para ouvir a voz profunda e sedutora dele falar de nada de importância por uma hora ou mais antes de partir.
Os momentos com ele aqui a lembravam de quando ficaram juntos na viagem para a cidade. Aquela época parecia um milhão de anos atrás e nunca mais se repetiria. Ela mal podia esperar para partir para a Europa com Molly. Ela não podia mais chamar Londres ou Wiltshire de casa. Não se significasse que ela teria que ver a felicidade de sua irmã, que custava a sua, quase todas as semanas.
Ela sentiu o estômago se contrair e ficou rígida.
Ela não passaria mal na frente de todos. A viagem dela para o exterior tinha mais um motivo para ser em boa hora. Naquela mesma manhã, ela havia visitado um médico na Rua Harley e foi informada de que estava grávida. Evie apertou a barriga. Uma sensação de certeza, mas também de medo, a preencheu. Molly disse que iria ajudá-la no exterior com o bebê, e no retorno para casa, quando se estabelecesse em algum lugar no interior.
Um plano que elas iam discutir com a duquesa de Whitstone quando ela chegasse em breve. E como se o mero pensar em Ava a conjurasse, ela valsou para dentro da sala, bonita como sempre, cumprimentando a todos.
Ava apertou a mão de Evie e puxou-a dali, arrastando-a para a sala de estar do andar de cima.
— O que é tão importante? Quando recebi a carta de Molly, fiquei com medo do pior. Você está doente?
— Vou explicar tudo quando estivermos sozinhas.
Evie levou Ava para a sala privada e ficou feliz em encontrar Molly lá, lendo um livro. Verificou se havia criados por perto antes de fechar e trancar a porta. Ela se encostou na madeira, sabendo que a melhor maneira de anunciar as novidades era ser direta e evitar hesitação.
— Estou grávida de um filho do Duque de Carlisle. — Molly, como esperado, não reagiu. A duquesa, no entanto, levantou-se da cadeira, boquiaberta, mas sem palavras. — Diga-me que isso não é verdade. Evie. Decerto está brincando. — Ava olhou entre as duas e voltou a sentar-se, devagar, quando percebeu que Evie e Molly permaneceram quietas.
Evie veio sentar-se com as duas.
— Por favor, não fique zangada, Ava, está me deixando mais nervosa do que já estou.
Ava olhou para ela, e a testa sempre perfeita ficou marcada com uma carranca.
— Ele vai se casar com sua irmã na próxima semana. Se esqueceu disso, minha querida?
Como poderia se esquecer?
Se ela não estivesse grávida do duque, ela poderia ter aprendido a conviver com o casamento da irmã com o homem que amava, e ela o amava. Mais do que ela jamais pensou amar alguém em sua vida. Ela havia pensado que casamento, namoro e afeto nunca seriam seus, mas estava errada. Com o duque, poderia ter tido todas essas coisas, mas ele iria se casar com outra agora.
— Acima de tudo, este é o motivo de eu viajar para a Europa, fora as saudades de voltar à França e visitar outros lugares.
Devemos ficar longe por ao menos um ano até voltarmos.
— O que você fará quando voltar para a Inglaterra? Creio que se estiver com uma criança no colo ao voltar, as pessoas irão notar. O
duque e sua irmã com certeza.
— É aí que você entra, assim espero. — disse ela, preparando-se para pedir ajuda.
Ela não estava acostumada a depender de ninguém para nada, mas precisaria da ajuda das amigas se quisesse sobreviver a essa mudança de situação.
— Eu? O que você gostaria que eu fizesse? — Ava perguntou.
— Precisamos que você verifique se há alguma casa vazia em suas propriedades em que Evie possa morar. Longe da sociedade, mas perto de uma comunidade onde ela pode ser capaz de criar o filho sem a censura de ninguém que conhecemos. — disse Molly, respondendo por Evie.
Ava não respondeu por vários minutos.
— Bem, é claro, vou ajudá-la, todavia não vou mentir para Whitstone, de modo que ele saberá o motivo para você estar se escondendo em uma de nossas propriedades.
Evie era capaz de entender muito bem e assentiu.
— Muito bem, desde que Sua Graça não diga a ninguém sobre meu paradeiro ou conte o motivo de meu desaparecimento da sociedade. Ninguém precisa saber, o Duque de Carlisle definitivamente não.
— Hm. — Ava disse, estreitando os olhos para Evie. — Está certa desta escolha? Se contasse a Carlisle de sua situação, acredito que descobriria que ele romperia o noivado com Lucy e se
casaria com você. Você o ama, não o ama? Por que não lutar por ele em vez de fugir para a Europa?
— Consegue imaginar o que a sociedade pensaria se descobrisse o que eu fiz? Para eles, dormi com o noivo de minha irmã e fiquei grávida de um filho dele. Não posso deixar ninguém saber o que eu fiz, não se eu quiser proteger a criança que estou carregando de ser rotulada de bastarda, entre outras coisas.
— As pessoas farão perguntas. Está preparada para os questionamentos? — Ava perguntou.
— Terei alguns meses para me preparar para as perguntas enquanto estivermos na Europa. Se eu tiver que ver minha família, ou Lucy e o marido dela, devo garantir que meu filho estará seguro em casa, e só os visitarei com moderação. Não posso ver todos juntos. O simples pensar em Finn, perdido para sempre, é uma dor que não posso suportar.
— Você o ama muito, Evie. Por favor, diga a ele a verdade. Eu sei que o duque se esquivou da sociedade, das fofocas e escândalos, tudo porque o pai dele costumava fomentá-los, mas ele ignoraria todas essas possibilidades se soubesse que você está esperando um filho dele. Ele ama você, tenho certeza, e não deseja se casar com Lucy. Deveria dar a ele a oportunidade de escolher.
— Dei a ele a oportunidade, e devido às maquinações de minha irmã e sua ameaça do escândalo, o duque a escolheu. Nenhuma criança em meu útero alteraria sua escolha. Ou ele deseja estar comigo, ou não.
— No entanto, ele ama você. — afirmou Molly. — Na outra noite, no baile de Lorde e Lady Hood, eu o observei pela maior parte da noite. Ele fez pouco além de olhar para você, os olhos dele a seguiam como se você fosse a única mulher presente.
— Eu sei que o duque nutre afetos por mim, mas ele escolheu honrar o compromisso com Lucy, e não importa o que Lucy tenha feito, eu a amo e nunca desejo vê-la rejeitada pela sociedade apenas por ter sido enganada por um homem que mentiu para ela.
— Também gosto da sua irmã, Evie, mas ela decidiu fugir. Se o namorado dela não tivesse fugido, já estaria casada com ele. O
duque e você precisam se lembrar disso ao decidirem separar-se.
Por que vocês dois deveriam sofrer as consequências de outra pessoa? Sim, Carlisle não deveria ter proposto casamento a Lucy, mas ela também não precisava concordar quando, o tempo todo, ela estava apaixonada por outra pessoa.
— E ela não tinha a intenção de se casar com o duque. — Molly disse, os lábios franzidos.
— O que quer dizer com isso? — Ava perguntou, olhando para Molly antes de se virar para Evie.
Evie suspirou, sabendo que Ava merecia saber toda a verdade.
— Na noite anterior à fuga de Lucy com o Sr. Brown, ela me pediu para seduzir o duque, ou pelo menos convencê-lo de que ele cometeu um erro ao pedir a mão dela. Ela me pediu para ajudá-la a, de alguma forma, cancelar o contrato.
Ava se engasgou, a mão foi para as pérolas em seu pescoço.
— Diga-me que isso não é verdade. Sua irmã pediu tal disparate, e você ainda está disposta a deixar que ela se case com o homem que ama, e que ama você também? Não posso permitir que o casamento deles ocorra. Seria um erro, e ambos serão cobrados dessa decisão no instante em que deveriam consumar o casamento.
A ideia de Lucy deitar-se com o duque fez o estômago de Evie revirar, e ela respirou fundo para se acalmar.
— Tudo o que você diz é verdade, eu sei disso, mas não muda nada. O duque pode me amar tanto quanto eu o amo, mas ele foi até Lucy primeiro, e agora ela precisa do nome dele para salvar a própria reputação. Eu não vou ser um obstáculo.
— Você também precisa do nome do duque para salvar sua reputação, Evie. E se pensar por um momento que Carlisle ficará satisfeito por você não ter contado a ele que está carregando um filho dele, será uma idiota maior do que já é.
— Ava... — disse Evie, uma pontada de dor perfurando seu coração com as palavras da amiga. — Você é cruel.
— Estou sendo honesta. Carlisle vai odiar o fato de que um filho dele é ilegítimo porque você não contou a verdade. Ele vai descobrir, Evie. A verdade sempre tem um jeito de aparecer.
— Exatamente. — disse Molly, balançando a cabeça em concordância.
Evie olhou para as amigas. Elas eram bem intencionadas, mas Lucy era sua irmã. Como poderia arruinar a única chance de a irmã manter a reputação intacta? Ninguém sabia, além do grupo de amigas, que Evie fora íntima do duque e que o amava além da razão. Sua reputação estava segura, contanto que ela pudesse desaparecer na parte selvagem da Inglaterra com seu bebê, para nunca mais voltar.
— Eu sei o que você está dizendo, e eu a amo por sua honestidade, de verdade. — Evie estendeu os braços e apertou as mãos de ambas as amigas. — Mas já me decidi e estou determinada a permitir que o duque e Lucy continuem com os planos de um futuro juntos. Ficarei feliz em me retirar da sociedade e não atrapalhar ninguém.
Ava balançou a cabeça, os lábios puxados em uma linha fina de desaprovação.
— Eu não concordo com isto. Você é Evie, nossa amiga impulsiva, divertida e determinada. Deve lutar por seu coração e por um futuro feliz.
— Posso ter perdido o duque... — disse Evie, amando as amigas pelo apoio e honestidade. — ...mas não ficarei com o coração partido. Terei uma pequena parte dele quando nosso filho nascer, e esse filho será meu maior amor. Um sinal de que o que tivemos juntos era real, mesmo que fosse apenas passageiro.
Molly suspirou, e deu um sorriso melancólico.
— É adorável, mas ainda não concordamos. Você precisa dizer a verdade ao duque e agora, antes que seja tarde demais.
— Eu concordo. — Ava acrescentou. — E se não fizer isso, Evie Milton, esteja avisada de que eu vou.
C A P Í T U L O 1 6
F INN ANDOU pela sala de estar do conde Tinley, durante o baile anual de Sua Senhoria, os sons abafados de música e conversa infiltravam-se na sala. O baile estava longe de ser uma noite divertida, estava tumultuado, muitas pessoas presentes, o calor sufocante dos corpos compactados e os inúmeros odores eram suficientes para fazê-lo querer ir embora, montar no cavalo e voltar para Wiltshire.
Ele praguejou, passando a mão pelos cabelos. Amanhã seria o dia do seu casamento. Uma ocasião que não poderia acontecer. Ele tentou fazer o que Evie pediu, se preparar para se casar com Lucy, mas não conseguiu. Não poderia se casar com uma mulher que não amava, muito menos que não conhecia.
Ainda mais quando a mulher que ele amava estava, neste exato momento dando a ar da graça no salão de baile que ele havia acabado de deixar. Os olhos dela brilhavam de animação enquanto conversava com as amigas, o rosto tão doce quanto ele se lembrava. O tempo em que eles estiveram separados foi uma tortura, e ele não aguentaria mais tanta dor.
Ele a amava.
Ele a queria e que o resto fosse para o inferno. Ele se casaria com ela, não importa o que ela pensasse do assunto. Não importava que ele tivesse cometido um erro ao pedir a Srta. Lucy para ser sua noiva. Ele nunca deveria ter se preocupado com a reputação de Lucy, nem com o escândalo que envolveria suas famílias caso ele
cancelasse o compromisso. Ela fugiu com outro homem, pelo amor de Deus. Ele era um tolo por chegar a pensar em salvar tal união.
A porta da sala se abriu, e ele se virou para ver Lucy, que ria e segurava a mão de um cavalheiro que ele nunca havia visto. Os passos dela vacilaram no instante em que ela o viu, as bochechas ficando de um vermelho brilhante que não combinava com ela.
— Sua Graça, eu não sabia que estava aqui.
Ele ergueu uma sobrancelha, observando-a e ignorando o cavalheiro.
— É o que parece. — ele falou devagar.
Lucy olhou entre o homem ao seu lado e Finn, mordiscando o lábio inferior entre os dentes. Ela exalava culpa, e o humor de Finn parecia prestes a se alterar.
— Por favor, me conte, Srta. Lucy. Quem é seu amigo?
Os olhos de Lucy se encheram de lágrimas e, um momento depois da pergunta, ela estava procurando um lenço no bolso, com o rosto molhado de lágrimas.
— Sinto muito, Sua Graça. Este é o Sr. Brown, o homem que amo. Ele voltou por mim, sabe.
— Ora, ele voltou? — Finn falou devagar, fechando a mão em punho antes de caminhar até o sujeito alto e magro.
Ele o socou direto no nariz, o que o fez cambalear para trás antes de cair sentado com força. Lucy gritou, ajoelhando-se ao lado do canalha caído, o lenço dela agora era usado para limpar o nariz do desgraçado que sangrava.
— Você quebrou meu nariz. — o homem murmurou, os dedos beliscando a ponte de seu nariz.
— Você quebrou o nariz dele. — Lucy arfou, enxugando o rosto do homem com pouco efeito.
Finn flexionou a mão, encolhendo os ombros.
— Peço desculpas, mas creio que o senhor esteja demasiado atrasado.
Lucy se levantou, colocando as mãos nos quadris.
Ela olhou furiosa para ele, lembrando-o de Evie pela primeira vez desde que conheceu a garota. Ele sentiu desconforto, sabendo haver perdido Evie, e tudo por causa desta mocinha problemática
parada diante dele. Ele deveria ter ignorado o cavalheirismo, permitido que ela se arruinasse devido às próprias ações tolas, e se casado com Evie como ele desejava.
Em vez disso, ele permitiu que Evie arcasse com a ruína sozinha. Ele não se importava que ela fosse da mesma idade que ele, ou se ela não pudesse lhe dar filhos. Finn queria estar com Evie, e se a Srta. Lucy não desfizesse o compromisso deles, então decerto ele o desfaria.
— Eu não posso me casar com você, Sua Graça. Amo o Sr.
Brown, e ele será meu marido.
Finn riu, mais do que feliz com as palavras dela, e fez uma reverência.
— Como quiser, Srta. Lucy. E vamos todos esperar que, desta vez, nada mais afaste o seu Sr. Brown de você antes que o casamento seja realizado. Porque desta vez... — ele disse, inclinando-se para que apenas ela pudesse ouvir. — ...eu não estarei lá para salvá-la, não importa quantas lágrimas derrame.
Finn deixou Lucy boquiaberta atrás dele na sala de estar com o maravilhoso Sr. Brown e foi para o salão de baile, determinado a procurar Evie. Ele precisava encontrá-la, dizer que sentia muito e que era um desgraçado por não deixar a irmã problemática dela para enfrentar a ruína, alcançada por sua própria iniciativa, e se casar com Evie.
Ele agiu como um desgraçado, e já não sabia dizer que não era um. Tudo o que ele podia esperar era que Evie o perdoasse, permitisse que ele mostrasse ter cometido um erro, um erro colossal, e que lamentava.
EVIE, tendo se cansado do baile e vendo sua irmã bajular o duque de Carlisle como se estivesse apaixonada por ele, deixou o evento social e ficou esperando enquanto o lacaio chamava um coche de aluguel para ela. Quando um apareceu na esquina, ela agradeceu ao rapaz antes de dar ao cocheiro seu endereço, e entrar.
Assim que se sentou no banco, a carruagem deu uma guinada para o lado, e ela assistiu com horror e choque em partes iguais quando o duque de Carlisle se juntou a ela, fechando a porta com um baque e batendo no teto para sinalizar que estavam prontos para partir.
Ela o encarou.
— O que está fazendo aqui? Faça esta carruagem parar e saia, Sua Graça. — ele estendeu a mão para ela, e ela o empurrou. —
Não me toque, Finn. Não tem o direito de me tocar, não mais.
— Por favor, Evie. — implorou ele, a visão de seu belo rosto tentando-a, mais do que nunca, a se jogar em seus braços.
Lembrar-se de Lucy a fez parar, e ela cruzou os braços sobre o peito para interromper suas ações impulsivas.
— Eu cometi um erro, Evie. Um erro colossal de que espero que me perdoe. Me dê outra chance.
— Você vai se casar com minha irmã. Não há mais nada para dizermos.
— Há muito mais a dizer. Por favor, deixe-me tentar.
Evie olhou pela janela, para Mayfair, observou a paisagem enquanto as casas grandes e opulentas passavam. Ela não deveria querer dar uma chance a ele. Ele não merecia uma, não de verdade. Ele escolheu a irmã dela só porque ela chorou. Evie suspirou, pode não ter sido o único motivo, mesmo assim, ela não sabia se queria permitir que ele verbalizasse mais coisas que só a machucariam.
— Deixe-me explicar. Não vou deixá-la até que o faça. Vou acompanhá-la por toda a Londres, se for preciso.
Evie balançou a cabeça ante a insistência dele, mas supôs que nunca conseguiria dormir se não soubesse o que ele queria dizer.
Nunca seria capaz de seguir com sua vida, viajar para o exterior e ter o filho dele se houvesse coisas não ditas entre os dois.
— Muito bem, o que precisa me dizer?
Ele deu a ela um pequeno sorriso antes de parecer se preparar para falar sua verdade.
— Acabei de falar com sua irmã, e nosso compromisso acabou por duas razões. Primeiro, antes de flagrá-la com o Sr. Brown, decidi
encerrar nosso noivado...
— O quê? — Evie lançou o tronco para frente. — Como assim, você acabou de flagrar Lucy com o Sr. Brown? Onde? No baile? —
ela bateu no teto. — De volta para onde nos pegou. — ela gritou pela janela para o condutor.
A carruagem diminuiu a velocidade e virou na próxima esquina possível enquanto Evie se voltava para o duque.
— Você flagrou Lucy com o Sr. Brown? Por que não foi me buscar? Onde ela está agora? Vai fugir com ele de novo?
Finn franziu a testa, segurando a alça da carruagem enquanto o veículo virava outra esquina.
— Eu não sei, Evie. Ela estava muito ocupada ajudando-o com um nariz sangrando.
— O Sr. Brown estava com o nariz sangrando? Ele foi ferido?
— Sim. — Finn disse, segurando-a pelos braços e puxando-a para se sentar ao lado dele no banco. — Porque eu o fiz sangrar.
Primeiro, por fugir com uma mulher inocente; segundo por deixá-la sozinha para encontrar o caminho de casa; terceiro porque ele ameaçou tanto a sua reputação quanto a de sua irmã ao agir como um canalha. Eu faria o nariz de qualquer pessoa sangrar se pensasse em agir de maneira que machucasse você.
As palavras dele penetraram na mente dela, e Evie se esqueceu de Lucy por um momento para se concentrar no que ele estava dizendo.
— Você deu um soco nele? Por mim?
— Sim, e irei garantir que, desta vez, ele não fuja para Paris antes de se casar com sua irmã. Não verei o nome da sua família manchado, e sua reputação junto, devido ao comportamento dele.
A carruagem parou do outro lado da rua da casa de Lorde Hood, e Evie ouviu a voz da irmã antes de vê-la. Lucy estava parada na calçada, o Sr. Brown ao lado dela, ainda segurando um lenço no nariz. Evie riu por dentro ao ver o demônio em tal estado. Ele merecia muito mais do que um nariz sangrando, isso era certo. Ela empurrou a janela para baixo, inclinando-se para fora.
— Lucy, peça ao Sr. Brown para acompanhá-la até aqui. Preciso falar com você.
A irmã a avistou e, puxando o Sr. Brown, começou a atravessar a rua. Os passos dela tornaram-se vacilantes quando avistou o duque de Carlisle dentro da carruagem. Evie abriu a porta, dizendo a Lucy que ela precisava entrar sem nem abrir a boca. A irmã suspirou, mas fez o que ela pediu, acomodando-se, e ao Sr. Brown, em frente a Evie e ao duque.
O duque fechou a porta com força e cutucou o teto para o condutor retornar ao endereço dela em Londres. A carruagem deu uma guinada para a frente, assim como o discurso de Lucy.
C A P Í T U L O 1 7
— O DUQUE SOCOU o Sr. Brown. Sem qualquer aviso ou necessidade de fazê-lo. Nós merecemos um pedido de desculpas.
Evie se perguntava em que momento a irmã se tornara uma megera.
Nunca
havia
demonstrado
tanto
egoísmo
ou
autoindulgência, mas nas últimas três semanas em Londres, ela se superara. A confiança de Lucy de que o duque a aceitaria de volta, apenas porque ela quis assim, era atípico para a garota.
Ou, pelo menos, para a garota que Evie conhecera antes da fuga de Wiltshire com o Sr. Brown. As atitudes dela esta noite foram a prova de que ela nunca se importou de verdade com Finn ou com ninguém além dela mesma.
— Sua Graça não vai se desculpar com ninguém, Lucy. Creio que é você quem precisa se desculpar e explicar o que está fazendo. O que o Sr. Brown está fazendo em Londres? Fui levada a acreditar que havia viajado para o exterior com amigos, senhor. —
Evie falou com o olhar fixo no cavalheiro.
A tentativa dela de repreendê-lo, lembrando-o do erro cometido não adiantou muito. O Sr. Brown parecia tão cego quanto a irmã para os próprios erros e para os problemas que ambos haviam causado.
— Cometi um erro e voltei para a mulher que amo. Eu só fui até Devon e dei meia volta.
— Que cavalheiresco da sua parte. — disse o duque com voz arrastada, observando todos com um ar desinteressado.
— Lucy, você ainda deseja se casar com o Sr. Brown? E quanto ao seu compromisso com o duque?
— Não há compromisso algum, decerto não após saber o que o Sr. Brown descobriu acerca de Sua Graça. Não que eu me importe mais, já que o homem que amo voltou para mim. — a irmã cruzou os braços, fazendo beicinho como uma criança.
Evie suspirou.
— O que descobriu? — o duque perguntou.
Evie o sentiu enrijecer ao lado dela e o observou, notando o olhar duro e queixo tenso. Não poderia haver mais nesta história horrenda que ela já não soubesse.
— O que descobriu, Lucy? — Evie também ficou tensa, apesar de não saber o que a irmã estava prestes a dizer. Com Finn tenso ao lado dela, ela não pôde deixar de pensar que era grave e nada do que ela quisesse ouvir.
Lucy sorriu, franzindo os lábios.
— Bem, quanto a isso, antes de o Sr. Brown partir para Devon, ele encontrou seus companheiros de viagem na Pousada Lincon.
Ele estava almoçando e ouviu uma conversa entre o Sr. Smithers e um colega de trabalho. Você sabe quem é o Sr. Smithers, não sabe, Sua Graça? — Lucy perguntou, sorrindo. — Estavam falando de uma restrição de tempo que o cliente deles estava enfrentando, e de como o problema pode ser resolvido. O cliente em questão era o duque de Carlisle.
— Uma conversa muito interessante. — o Sr. Brown recostou-se nas almofadas, um olhar triunfante cruzou seu rosto. — Afirmaram que o duque de Carlisle precisava de uma noiva de seu condado natal, Wiltshire, que seja filha de um cavalheiro ou que pertença à pequena nobreza, se possível. O Sr. Smithers também mencionou que o duque só tinha sessenta dias para cumprir os requisitos do testamento, ou enfrentaria a ruína financeira.
— Eu era essa noiva necessária. — Lucy acrescentou. — Estou muito feliz que meu Sr. Brown voltou para me buscar antes de eu me casar com um homem que só me ofereceu casamento para manter seus milhares de libras.
— Você não precisava dizer sim, Lucy. — afirmou Evie, querendo lembrar à irmã que ela era tão culpada por toda essa bagunça quanto o duque.
Não que a notícia de que o duque precisava de uma noiva ou enfrentava a ruína financeira fosse novidade para ela. Não, ela já havia descoberto essa informação infeliz. Esperava, no entanto, salvar Lucy dessa verdade.
Nenhuma mulher queria ouvir que o possível futuro marido só a escolheu por necessidade. Saber que a afeição dele por ela se devia ao medo de perder a própria fortuna a deixava com uma dor no peito. Eles passaram tanto tempo juntos, foram íntimos... aquele sentimento não poderia ser falso. O duque era capaz de amar, Evie estava certa disso. Se o duque tinha esta mesma certeza, entretanto, era outra questão.
— Você já amava o Sr. Brown antes de o duque propor matrimônio, só precisava ser honesta, Lucy.
Lucy fez um gesto em direção ao duque, que permaneceu quieto, para a irritação de Evie.
— Ele é o duque de Carlisle. Quem diz não a tal homem?
— Você deveria ter contado. — Evie digeriu todas as informações enquanto a carruagem passava por Mayfair de maneira ruidosa.
— Devo dizer que está se comportando de maneira muito autoritária em tudo isso, Evie. Sabia que eu não queria me casar com o duque. Concordou em tentar dissuadi-lo de mim, assim como eu pedi.
— Você sabia que a Srta. Lucy não queria ser minha esposa? —
o duque a olhou com fixação, como se a visse pela primeira vez, como se ela fosse uma estranha que ele mal conhecia em vez da mulher que compartilhou sua cama, uma companheira. A decepção em seus orbes azuis deixou uma sensação de vazio por dentro, e ela estremeceu. — Por que não me contou? — ele perguntou.
Evie olhou para a irmã.
Como Lucy poderia envolvê-la em seus estratagemas?
— Eu avisei para ela contar a verdade a você, mas ela fugiu antes que eu a obrigasse a ir em frente. Eu concordei em ajudá-la,
mas nunca iria fazer tal coisa, apenas deixei que ela pensasse assim.
— Eu não teria viajado atrás da sua irmã se soubesse que o Sr.
Brown era de fato quem ela queria. Eu a teria deixado enfrentar as repercussões da própria escolha.
— Eu nunca pedi para você ir atrás de mim. Pensei que fugir era o bastante para convencê-lo a desfazer o contrato.
— Ao contrário do seu Sr. Brown, eu sou um cavalheiro. — Finn repreendeu. — Um duque. Não agimos de forma tão pouco cavalheiresca. Havíamos assinado um contrato de casamento e, infelizmente, eu precisava de uma noiva e dentro de pouco tempo.
Você era minha única opção, então eu precisava ter certeza de que o Sr. Brown era o homem que queria, antes de ir procurar uma noiva em outro lugar.
— Bem, parece que você encontrou uma substituta em minha irmã. Já propôs casamento à Evie, Sua Graça? Ou o que o Sr.
Smithers disse sobre as garotas Milton é verdade?
— O que ele disse? — Evie exigiu, inclinando-se.
Ela odiava a ideia de que as pessoas estavam falando de sua família, ou que outras pessoas como o Sr. Brown pudessem ouvir essas mesmas conversas.
— Que por eu ser a mais nova das irmãs Milton, eu lhe serviria melhor já que estou em idade reprodutiva. Você, uma solteirona com quase vinte e oito anos, já havia dado adeus aos seus anos férteis.
Ou assim o duque pensava.
Evie arfou, o estômago embrulhado, não só devido à verdade das palavras da irmã, também pelo filho que carregava e que, ao que se supunha, ela era velha demais para carregar. Como o duque se atrevia a ser tão cruel? Tão desprezível com uma mulher que, aliás, é da mesma idade que ele.
— Chega, Lucy. — Evie encontrou os olhos da irmã e ficou feliz por ela ter calado a boca e se recostado, parecia ter entendido que ela havia escutado o suficiente. — Seu casamento com o Sr. Brown acontecerá na próxima semana, em vez de se casar com o duque.
Um acontecimento pequeno é melhor, creio eu e, em seguida, você se retirará para a fazenda do Sr. Brown em Wiltshire. Longe da
sociedade e de quaisquer ramificações que possa enfrentar devido às suas ações.
— Por que devemos nos esconder? — Lucy choramingou, olhando para o duque. — O duque tem mais culpa do que eu.
— Eu teria que discordar dessa ideia. — o tom baixo e rígido do duque interrompeu a conversa, e Evie não deixou de notar o aviso nas palavras. — Viajei muitos quilômetros nas últimas semanas tentando garantir que sua reputação fosse salva. Não era minha obrigação. Eu poderia ter deixado você jogar fora tanto sua reputação quanto sua vida. Mas, não o fiz.
— Só porque você precisava de uma noiva devido às implicações financeiras e não porque se importava com minha família ou comigo. Sua honra e motivos não são puros, Sua Graça.
— Chega. — disse Evie, olhando entre a irmã e o duque.
A carruagem parou diante da casa dela em Londres, e ela abriu a porta, saindo para a calçada de paralelepípedos. A irmã a seguiu, marchando para a casa. O Sr. Brown fez menção de acompanhá-la, mas Evie parou em frente a porta da carruagem para impedi-lo: —
Você pode visitar minha irmã amanhã à tarde. Boa noite, Sr. Brown.
— disse ela, ignorando os protestos da irmã antes de desaparecer dentro de casa, resmungando sobre a injustiça da vida e de irmãs mais velhas e intrometidas.
O duque desceu da carruagem e fechou a porta com um estalo decidido.
— Preciso falar com você, Srta. Milton.
— Amanhã é um bom dia para o senhor também, Sua Graça.
A carruagem se arrastou rua abaixo, e Evie se virou, precisava entrar e digerir tudo o que descobrira acerca do duque e da irmã, de quem decidiu que, naquele instante, não gostava muito. A jovem no andar de cima não era uma representação da criação que ambas receberam, ou da moral que ela pensava que ambas tinham.
— Por favor, Evie. Deixe-me entrar.
Evie parou no degrau após o apelo do duque.
Maldita fosse por ser fraca quando se tratava dele. Por querer ouvi-lo explicar suas ações. Ela olhou para cima e para baixo na
rua, e não vendo ninguém, e esperando que ninguém estivesse os observando de suas janelas escurecidas, cedeu.
— Muito bem, mas não por muito tempo. Estou cansada e precisando de solidão depois da noite que acabamos de suportar.
O duque a seguiu casa adentro sem dizer outra palavra quando chegaram à sala da frente. Evie fechou a porta, feliz por ver que a lareira estava acesa naquele cômodo.
Devia fazer pouco tempo que Molly havia saído dali. Ela se sentou diante da lareira, colocando as mãos no colo e se preparando para ouvir o duque. Ele caminhou diante do fogo antes de vir se sentar ao lado dela, mas ainda assim, não disse nada. Evie não viu problemas em quebrar o silêncio: — Pediu a mão da minha irmã apenas para salvar sua fortuna?
— Sim. — ele respondeu após um momento, a vergonha se infiltrando em seus orbes azuis antes que a irritação substituísse aquela emoção. — E você concordou em tentar me persuadir a terminar meu noivado com Lucy? Nenhum de nós é inocente nisso.
— Eu sei. — disse Evie, odiando o fato de ter concordado em ajudar Lucy. Não que ela planejasse executar tal plano, ela planejava fazer Lucy contar a verdade. Não que o duque fosse acreditar. Não agora, depois do fato. — Mas eu pretendia fazer Lucy romper o noivado que ela não queria. Ela partiu antes que eu tivesse a chance de fazê-lo. Essa é a verdade.
O duque esfregou a nuca e se virou para ela.
— Isso é loucura, Evie. Eu não quero brigar com você.
— Nem eu quero brigar com você, mas você abordou minha irmã por necessidade, e não por ter alguma reação emocional a ela. A proposta que me fez foi pelo mesmo motivo? Quanto tempo resta para que a cláusula de seu pai entre em vigor?
— Apenas algumas semanas antes de perder o que preciso para manter minhas propriedades funcionando. Manterei terras e propriedades, mas estarei sem dinheiro.
— Portanto, minha pessoa deve bastar já que minha irmã não está mais disponível. Ou será que não? Já que estou senil e incapaz de carregar uma criança.
— Perdoe-me por ter tal pensamento. Não acredito que seja verdade, e não a vejo como uma solteirona, ou uma mulher senil. A suposição foi feita de forma irresponsável. Meu pai se casou na casa dos trinta com uma mulher dez anos mais nova. Eu pensava desta forma porque é o que se costuma fazer, não porque era meu desejo fazê-lo.
Ela ergueu a sobrancelha, olhando para ele por baixo do nariz.
Não era a façanha mais fácil quando ele se sentava ao lado dela e mesmo nesta posição a dominava com sua altura.
— Você se importa comigo, Finn? Ou o que eu sinto por você é unilateral?
— Não, claro que não é unilateral. — ele franziu a testa, passando a mão pelos cabelos e deixando-os em pé. — Ainda preciso de uma noiva, desesperadamente, e deve ser uma mulher de boa família e de meu condado natal, Wiltshire. Não me resta dúvidas de que as estipulações foram muito concisas porque ele desejava que eu falhasse na missão. Ele nunca se importou com o filho, e deve ser por isso que parou de frequentar a cama da minha mãe depois que eu nasci. O falecido duque se importava apenas com ele e com suas prostitutas. Era um patife infame que Londres adorava odiar. — O duque estendeu a mão e pegou as mãos dela, segurando-as com firmeza. — O que eu sinto por você, Evie, não é nada como o que sinto por sua irmã. Embora eu gostasse dela, é você que desejo ver, ouvir e estar. Foi você quem capturou meu coração.
Queria acreditar nele.
Ela perdeu seu coração para o duque durante o tempo em que passaram juntos. Na verdade, ela percebeu em sua primeira noite no The Bear Inn, quando ele a abraçou durante a noite, permitindo que ela se aquecesse. Foi quando ela suspeitou que seu coração havia sido tocado. Apesar disso, nada mudava o fato de que ele perseguiu a irmã dela apenas para satisfazer um testamento.
Claro, um duque precisava de fundos para administrar suas propriedades, mas fazer uma mulher acreditar que ela era desejada quando não era, não era o ato de um cavalheiro. Como ela poderia
confiar que ele estava dizendo a verdade agora? Que ela era diferente, que era desejada e amada.
— Você mentiu para mim. Para a minha família.
— Eu não fui o único a agir na mentira. — ele respondeu, silenciando-a. — Você e sua irmã planejaram como acabar com o noivado? Pensou em me seduzir? Suas ações na minha cama foram todas fingidas?
Evie arfou.
Como ele ousava perguntar tal coisa?
— Eu nunca faria uma coisa dessas, e caso me conhecesse, saberia a mentira que essas palavras são.
— Evie. — ele suspirou, apertando um pouco as mãos dela. —
Por que não me contou que Lucy estava apaixonada por outra pessoa? Todo o tempo que estivemos juntos, senti como se estivesse sendo dividido em dois. Entre a honra e o que desejo, o que quero. Diversas vezes me critiquei pela escolha que fiz, pois era a errada. Se eu soubesse que minha preocupação não era justificada, que poderia agir de acordo com meus desejos e anseios, sem sentir que estava imitando meu pai, um canalha que gostava de escândalos e agia sem honra, nosso tempo juntos poderia ter sido muito melhor.
— Você estava decidido a trazê-la para casa. A cena em que você lembrava a meu pai do dinheiro recebido por ele ao assinar o contrato de casamento sempre esteve em minha mente. Como eu poderia contar? Eu acreditava que assim que você visse Lucy, casada e feliz, não importaria o que ela me pediu para fazer, as próprias ações dela tornariam seus planos discutíveis.
— Há muito perdoei essa dívida. Eu não farei seu pai me devolver nada se é o que a preocupa.
— Não pensei que fosse. — admitiu Evie, querendo dizer a ele que havia mais a ser dito. Que ela estava carregando um filho dele, mas queria que ele a escolhesse por ela, não porque precisava de uma esposa. — O que faremos agora? — ela perguntou, odiando a trepidação em seu tom.
Por tudo que ocorrera, ela não queria perder o duque, mas também não se casaria com ele só para assegurar a riqueza dele.
— De fato, o quê. — o duque se arrastou e seus olhares se cruzaram.
FINN QUERIA puxar Evie para seus braços e beijá-la para afastar o medo, as dúvidas que ela carregava. Ele precisava que ela soubesse que ele a adorava, e somente a ela. Que ele condenava o testamento e a cláusula que o pai criara e que ofuscara sua vida, virando-a de cabeça para baixo.
— Evie. — disse ele, ajoelhando-se diante dela. — Saiba que o que estou prestes a pedir a você é feito porque, em minha essência, é o que eu quero. Saiba que o que estou prestes a perguntar é porque eu amo você, mais do que qualquer herança ou honra que um homem pode ter. Minhas palavras são porque eu quero você e mais ninguém, e se eu tivesse percebido antes, poderia ter salvado a todos de muitos problemas e discussões.
Ela se mexeu na cadeira. Os lindos olhos escuros dela estavam atentos a cada palavra dele.
— O que você gostaria de me perguntar?
T antas coisas, mais do que poderia contar.
— Minha primeira pergunta seria: Evie, de hoje em diante, você me dará a extrema honra de se tornar minha esposa? De casar-se comigo e ser minha duquesa como deveria ser desde o início? — o coração dele batia rápido no peito, era de um crescendo que ele sabia que ela podia ouvir. O relógio no parapeito da lareira marcou alguns segundos e, ainda assim, ela não falou. O fogo crepitava, e ele lutou para manter-se paciente. Ele precisava saber o que ela estava pensando. — Evie? Aceita se casar comigo?
Ela abriu um pequeno sorriso, e uma pequena parte dele se alegrou. Esperançosa de que ela lhe daria uma segunda chance.
Com certeza, todos merecem uma.
— Está certo de que não sou muito velha para ser sua esposa?
E se eu não puder ter filhos?
— Eu não me importo, contanto que eu tenha você. Você significa mais para mim do que qualquer coisa que eu não tenho, já tive ou talvez nunca venha ter. Ouviu o que eu disse, meu amor? —
ele perguntou quando ela ficou quieta. — Eu amo você, quero você.
Deste dia em diante, e para sempre. Diga-me que sente o mesmo e tire-me dessa tortura que tenho vivido nas últimas três semanas.
Ela sorriu, os olhos se voltando para ele.
— Estou tão feliz por ter dito as palavras que disse, pois eu me sinto da mesma forma.
Finn se inclinou para frente, sobre os joelhos, e seus olhos ficaram à mesma altura.
— Case-se comigo. Case-se comigo assim que eu conseguir uma licença especial. Não quero passar nem mais uma noite longe.
Ela deslizou os braços pelos ombros dele, e ele sentiu calor subir pela espinha. Ele sentira saudades. Tantas, que às vezes pensava que ficaria louco por não estar com ela. Uma vida com Evie seria para sempre uma aventura, assim como as viagens deles, e ele mal podia esperar para começar a jornada.
— Eu me casarei com você. — disse ela, por fim. Ela desfez a distância entre eles e o beijou de leve nos lábios. O enlace foi curto, casto e longe do que ele precisava e queria de sua futura esposa. —
Eu também amo você. — ela admitiu.
Finn a puxou para seus braços, não queria que ela saísse dali jamais. Ele tomou sua boca em um beijo ardente, um sentimento que vinha crescendo nas últimas semanas desde que voltaram à cidade. A língua dela se fundiu com a dele, e seu corpo ganhou vida pela primeira vez desde que ela saíra de sua vida.
— Eu quero você. — ele disse, beijando a bochecha e indo mordiscar a orelha dela. Eram as orelhas mais bonitas que ele já havia visto, e esta noite com o pequeno pingente de diamante pendurado nelas, eles a faziam parecer ainda mais bonita, se é que era possível. — Debaixo de mim e em sua cama esta noite. Não quero sair daqui. — ele sussurrou no ouvido dela, sentindo um leve arrepio percorrer o corpo de Evie.
— Quero isso também. — ela arfou quando a mão dele segurou um seio, o polegar e o indicador encontraram seu mamilo e o rolou
entre eles. — Isto é pecaminoso, sabe bem. Tem certeza de que não quer esperar até que estejamos casados?
— Não consegui tirar minhas mãos de você nas últimas semanas. Não vou começar a fazer isso agora. Será minha esposa em um ou dois dias. Não vejo mal nenhum em ficarmos juntos.
— Hm. — disse ela, levantando-se e puxando-o para ficar diante dela. Ele elevou-se sobre ela e não pôde evitar passar as mãos na carne macia e deliciosa daquele rosto.
Inferno, ela era linda, doce e dele. Por inteiro.
Ele a pegou nos braços, ignorando os protestos de que eles seriam vistos e saiu da sala.
— Onde é o seu quarto? — ele perguntou quando chegaram ao topo da escada, Evie ficou de um tom profundo de vermelho quando passaram por um lacaio assustado.
— Segunda porta à sua esquerda. — disse ela, brincando com os cabelos da nuca dele.
O toque dela o deixou louco, e ele respirou fundo, acalmando-se.
Eles estariam sozinhos em breve, e então poderiam demorar-se o quanto quisessem. E, antes que esta semana terminasse, ela seria a nova Duquesa de Carlisle. Como deveria ter sido desde o início.
A porta do quarto dela ficou entreaberta, e ele a empurrou, fechando-a com o pé. Alívio derramou através dele que ele era dela, e ela era dele, e logo ninguém nem nada poderia voltar a afastá-la dele. Nem família, escândalo ou honra inabalável.
Nada.
C A P Í T U L O 1 8
EVIE ESTAVA PARADA ao lado do duque de Carlisle, na bela igreja paroquial de St. George na praça de Hanover e trocava votos com Sua Graça. Como prometido, ele obteve uma licença especial e, dois dias após pedir sua mão, ela estava se casando com ele. As amigas estavam nos bancos atrás deles, nenhuma delas era capaz de esconder o prazer que sentia, assim como Evie foi incapaz de conter o sorriso em seus lábios.
O duque voltou-se para ela e repetiu os votos proferidos pelo padre, e ela sentiu-se aquecer. Ele estava ao lado dela, vestido com um casaco superfino azul-escuro. O lenço destacava o belo rosto, e ela precisou de toda a concentração para não se jogar nos braços dele, como havia feito nos últimos dois dias.
Ele insistiu que ela viajasse com ele para Doctor's Commons em Londres para obter a licença especial do arcebispo de Canterbury.
Estar de volta a uma carruagem com Sua Graça, a sós por algum tempo, acabou sendo uma viagem bastante agradável.
O padre os declarou marido e mulher, e ele a pegou pelo braço para se virarem e sorrir para os amigos. Enfim casados.
MAIS TARDE NAQUELA MANHÃ, eles estavam nos jardins da casa do duque em Londres, celebrando a cerimônia de casamento.
No dia seguinte, eles voltariam para Wiltshire para informar aos pais dela do enlace e para comparecer ao casamento da irmã dela.
Lucy havia voltado para casa no dia anterior, tendo declarado querer se casar com o Sr. Brown na igreja da família em Marlborough. Os pais delas viajaram com Lucy e o noivo, querendo garantir que Lucy voltasse para casa para se casar.
Evie não contou aos pais da proposta do duque. Descobririam em breve, e ela não precisava deles na cerimônia. Quando ela retornasse para casa, haveria tempo para celebrações.
— Que belo marido você tem. — Molly disse ao passar uma taça de champanhe para Evie e sorrir para o duque que conversava com Whitstone, Lorde Duncannon e o Marquês Ryley.
— Não é? — Evie concordou, esperando que o café-da-manhã de casamento acabasse logo para que pudessem ficar a sós.
Ela não havia contado a ele sobre o bebê, mas o faria hoje. Ele se casou com ela sem saber que ela estava grávida. Ela não queria declarar os votos com qualquer dúvida de que ele a queria como esposa porque a amava e não porque ela estava carregando um filho.
— Estou tão feliz, Molly, e triste também. Não vamos mais morar juntas. — Molly dispensou as preocupações da amiga e tomou um gole de sua bebida: — Não se preocupe com isso. Sabe que estou mais do que feliz em visitar minha família em Hertfordshire. Então, conforme planejado, viajarei para a França. Desejo rever Paris, e então, quando eu voltar para casa, talvez você me permita segui-la por toda parte durante as temporadas de Londres, e assim terei algo para ocupar meu tempo. Posso ser solteira e ter duas ou três mechas de cabelo grisalho na cabeça, mas ainda há muita diversão para ser aproveitada, e estou determinada a fazê-lo.
— Você deve. — Evie concordou, dando o braço à sua amiga mais antiga. — É mais do que bem-vinda para ficar conosco durante a temporada ou quando desejar. Minha porta estará sempre aberta para você. Não tenho como agradecê-la o suficiente por ser minha companhia e apoio nas últimas semanas. Sei que por vezes não agi como a pessoa mais sã.
— Você acreditava ter perdido o amor de sua vida. É o suficiente para deixar qualquer um, um pouco louco.
— Quem está louco? — o duque perguntou, envolvendo o braço em volta da cintura de Evie e levando-a para mais perto dele.
— Eu que estava, marido, quando pensei ter perdido você. — ele se inclinou, beijando-a, sem receios, na frente de seus amigos.
O beijo, uma doce troca, demorou mais tempo do que deveria e algumas risadas abafadas no entorno os trouxeram à razão.
— Nunca vai me perder, minha querida, prometo a você. — o duque sussurrou para que somente ela pudesse ouvir.
Ava, Hallie e Willow se juntaram a elas.
Ter todas as amigas aqui tornaram o dia mais especial, e ela estava grata pelo amor e apoio.
— Bem. — Willow disse, um brilho provocante nos olhos. —
Agora, só nos resta uma.
— Uma o quê? — Molly perguntou, olhando para todas.
— Uma de nós solteira. O que devemos fazer, senhoras? Eu sugiro que na próxima temporada prometamos estar todas na cidade para garantir que nossa querida Molly encontre o cavalheiro dos seus sonhos. — Ava disse, sorrindo com malícia.
— Eu imploro que não façam uma coisa dessas. — disse Molly, balançando a cabeça. — Estarei no exterior, como sabem. Talvez eu nem esteja de volta antes do ano que vem.
— Você estará, nós nos certificaremos disso. Existem alguns conhecidos de Whitstone que eu sei serem adequados e honrados para nossa Molly. Vou dar um baile e os convidarei.
— Por favor, não. — Molly balançou a cabeça, o rosto ficando um pouco pálido. — Não serei negociada como uma de suas éguas premiadas, Ava.
Evie sorriu para as amigas enquanto planejavam e tramavam para Molly. Finn pegou a mão dela e puxou-a na direção da casa, as amigas tão envolvidas na conversa que não perceberam que eles se afastavam.
— O que você está fazendo, Finn?
— Acredito que nossos amigos já nos tiveram por bastante tempo. É hora nos conhecermos melhor como marido e mulher.
Ela ergueu a sobrancelha, incapaz de evitar um sorriso.
— Mesmo? Que safadeza da sua parte!
— Não faz ideia. — Finn a puxou pela casa e, felizmente, sem passar por um único criado.
Só de vê-los não seria difícil saber o que pretendiam. Evie riu ante o pensamento assim que ele a puxou para os aposentos ducais da casa, fechando e trancando a porta com um estalo decidido. Ele se encostou na porta de madeira pintada, lentamente arrastando o lenço para longe do pescoço antes deixá-lo de lado. O botão de cima de suas calças foi o próximo, e calor lambeu a pele dela, a expectativa vibrando em seu núcleo.
— Você é impaciente.
— Eu sou. — ele se afastou da porta e chegou nela com alguns passos. Em seguida, a ergueu nos braços e beijou-a de forma profunda enquanto caminhava para a cama. Evie esperava que ele a jogasse na opulenta cama, porém, ele não o fez. Em vez disso, a colocou de pé e a virou para que ela ficasse de frente para a cama.
— Abaixe as mãos para se apoiar.
Ela fez o que ele pediu, expectativa fluindo através dela. Ela podia sentir o núcleo ficando úmido e mexeu o bumbum contra Finn, querendo-o com um desespero que a deixava sem fôlego. Ar frio beijou suas pernas quando as mãos grandes dele agarraram a bainha de seu vestido, e o deslizaram até a cintura. Evie mordeu o lábio, pensando como a vida de casada já se mostrava agradável.
Safadeza, de fato.
FINN JÁ ESTAVA em estado de semi-ereção desde que ele vira sua bela Evie caminhando até o altar para se tornar esposa dele. Ele conversou com os amigos no jardim o máximo que pôde, mas tudo o que conseguia pensar era em ter a noiva só para ele. Sozinha em sua cama. Sua duquesa ao lado dele, nos aposentos ducais.
A duquesa, é claro, possuía seus próprios aposentos aqui e em suas numerosas propriedades rurais, mas ele queria que Evie
dormisse com ele. Que estivesse sempre ao alcance de seu braço.
Sua esposa choramingou quando ele deslizou a mão pela coxa dela, deslizando-a contra seu corpo e provocando sua entrada molhada. Ela estava quente e pronta para ele, e com a outra mão, ele libertou o pênis, segurando-se na mão.
— Eu vou foder você, Duquesa. — ele disse ao levantar o resto do vestido dela e empurrar o pênis contra seu sexo, provocando-a com golpes lentos e deliciosos.
— Ah, sim... — ela se engasgou, as mãos em punhos na cama.
Ela deslizava de volta para ele, provocando-o. — Foda-me, Finn.
As palavras provocantes o enlouqueceram e, sem esperar, ele empurrou bem fundo dentro dela. As mãos dele se ancoraram nos quadris dela, segurando-a enquanto ela tomava cada impulso. Ela estava tão apertada, esmagando-se sobre ele, e ele respirou fundo, querendo dar-lhe prazer tanto quanto ela o fazia ter. Ele não conseguia se fartar dela.
Finn empurrou Evie para a cama.
— Fique de joelhos, minha querida.
Ela se esforçou para fazer o que ele pediu, e ele se aproximou dela. Ele deslizou dentro dela de novo, e um prazer primoroso fez os dois gemerem. Desde a primeira vez que estiveram juntos, era sempre assim. O prazer que eles proporcionavam um ao outro era algo do qual ele nunca se cansaria. Finn empurrou-se e encontrou um ritmo rápido e delicioso, um que Evie gostou. Ela ofegava e gemia diante dele e se deixou cair para abafar os ruídos na cama.
Ele a empurrou em direção ao clímax, provocando-se junto. O
interior dela se contorceu, agarrando-o como uma luva, ordenhando-o e a respiração dele tornou-se entrecortada. Ela era tão linda, tão disposta e sua.
A palavra minha reverberou em sua mente, e ele se afundou nela e sorriu enquanto ela ondulava contra ele, procurando-o, querendo que ele a fodesse.
— O que você está fazendo? Pare de me provocar, Finn.
Finn desceu sobre ela, uma mão deslizando pelo corpete para apertar seu seio, provocando os mamilos eretos e enrugados. Eles cabiam em suas palmas, e ele estava impaciente para beijá-los,
lambê-los e descer a trilha deliciosa até estar entre as pernas dela e levá-la ao clímax com sua língua. Tantas coisas para fazer, e agora eles tinham todo o tempo do mundo para fazer.
Não querendo esperar mais, ela se empurrou de volta para ele, tomando as rédeas. O corpo dele se apertou, e ele gemeu, bombeando-a de novo. O ato de amor deles tornava-se frenético a cada segundo que se aproximavam do ápice do prazer.
Finn gemeu enquanto as contrações trêmulas da liberação dela o puxavam e o apertavam, e ele gozou, com força e por muito tempo, fodendo-a até ela desabar na cama, ainda com o vestido de noiva, mas satisfeita além da razão. Ele caiu ao lado dela, rindo do estado deles e do que haviam feito.
— Pelo menos desta forma, podemos voltar para o café-da-manhã de casamento, e ninguém vai perceber.
— Mesmo? — Evie disse, sentando-se e puxando os grampos do cabelo.
— O que você está fazendo? — ele perguntou, incapaz de reunir energia suficiente para impedir seu progresso.
— Não vamos voltar para o jardim, marido. Você vai fazer amor comigo o dia todo e a noite toda. Se ainda não sabia, tenho vinte e sete anos. Tenho alguns anos para compensar pela falta de marido.
Ele sorriu, soltando o lenço de vez.
— Bem, não posso dizer não a isso.
Ela desceu sobre ele, beijando-o antes de descer por seu pescoço.
— Não, você não pode. E agora que você está exatamente onde quero, há outra coisa que eu gostaria de tentar.
— Hm? E o que seria? — disse ele, fechando os olhos e apreciando o toque dela.
— Bem, o que eu quero beijar agora está em suas calças, então por favor, Sua Graça, deite-se e deixe-me explorar o que é meu.
Finn gemeu, o pau se contraindo ante a ideia de ver Evie tomá-lo com a boca, que, por si só, era quase capaz de fazê-lo gozar. Ele colocou os braços atrás da cabeça e sorriu.
— Sou todo seu, Duquesa.
— Sim, claro que é. — Sua Graça concordou.
EVIE ACORDOU na manhã seguinte, com o estômago protestando e se revoltando pelo novo dia. Ela empurrou os cobertores e voou para fora da cama, correndo em direção ao penico atrás do biombo e vomitou. Chegou a tempo por pouco.
A náusea a envolvia como sempre acontecia a esta hora da manhã, e ela se deixou cair de costas contra a parede, esperando que o mal-estar passasse, cedo ou tarde. No entanto, ela lidaria com esse efeito colateral indesejável por um presente muito precioso.
— Evie? Está se sentindo mal? — Finn deu a volta na tela e se ajoelhou diante dela, estendendo a mão para tocá-la na testa. —
Você está um pouco quente e úmida. Foi algo que você comeu?
Ele a ajudou a se levantar e então a pegou no colo, levando os dois de volta para a cama. Evie se aqueceu contra a presença quente e calmante dele, antes que ele a deitasse na cama, acomodando-a de novo. Como o marido perfeito, ele serviu um copo de água e o entregou a ela: — Quer que eu mande trazer uma tisana? Um banho? O que vai fazer você se sentir melhor, minha querida?
Evie estendeu a mão, puxando-o para se sentar ao lado dela.
— Nada vai me fazer sentir melhor, não por um tempo, pelo menos. Deve se preparar para suportar tais aborrecimentos por alguns meses ainda. Foi o que o médico me recomendou há algumas semanas quando o consultei.
O duque franziu o cenho, o rosto era uma máscara de confusão.
— O que há de errado? Deve haver algo que possamos fazer.
Não é possível que passe mal todas as manhãs.
Evie riu, bebendo a água.
— A condição que o médico diagnosticou vai passar, Finn. Ele diz que ao chegar ao quarto mês voltarei a ser eu mesma.
Ela estava sendo vaga, querendo que ele adivinhasse as boas notícias. E se os olhos arregalados e a boca escancarada dele fossem alguma indicação, ele havia descoberto seu segredo.
— Você está grávida?
Ela assentiu com lágrimas nos olhos ao dar a notícia tão bem-vinda. Um bebê. O bebê deles.
— Estou. Sei que deveria ter contado antes, mas estava com medo. Bobeira, na verdade. — disse ela, enxugando o rosto. — Eu deveria ter confiado no seu amor.
— Você imaginou que se me contasse eu só me casaria com você por obrigação e para cumprir os requisitos estúpidos do meu pai. — Finn se juntou a ela na cama, puxando-a contra o peito. —
Estou feliz que não tenha me dito. Agora, nem você, nem ninguém pode pensar que me casei com você por tais motivos. Eu me casei com você porque a amo. — ele a beijou com vontade, tirando o copo da mão dela e o colocando na mesinha ao lado da cama. —
Eu adoro você. Não consigo nem dizer o quanto essa novidade me deixa feliz.
— De verdade? — ela perguntou, apertando-o com força. —
Estou tão feliz. Estava um pouco preocupado que você pensasse ser muito cedo.
— Não. — ele disse, seus olhares se cruzaram, e o amor que brilhava em seus orbes azuis fez o coração dela pular. — Um filho com você, para começar nossa família, jamais seria cedo.
Evie estendeu a mão e tocou-o no queixo, sentindo a barba por fazer nas palmas das mãos. Ele estava tão bonito e desgrenhado depois de uma noite de amor e sono. Como ela o adorava.
— Estou muito feliz em ouvir isso, pois eu não poderia concordar mais.
— Devíamos voltar para Wiltshire. Você precisa descansar e minha governanta em Stoneheim saberá exatamente como deixá-la confortável, para que você não passe por nada que não precise.
A ideia de voltar para casa era atraente. O ar do campo, a mãe dela para ajudá-la nos próximos meses.
— Eu gostaria muito.
— Maravilhoso. — Finn saltou da cama e correu para chamar os criados. — Partiremos hoje se você concordar.
— Com certeza, concordo. — disse Evie, antes que outra reviravolta se apoderasse de seu estômago, e ela corresse para fora
da cama pela segunda vez naquela manhã.
O duque deu a volta no biombo e massageou as costas dela.
— Pensando bem, talvez seja melhor viajar quando as náuseas se acalmarem. Não há pressa.
Evie assentiu, voltando-se de novo no penico.
— Creio ser uma boa ideia.
E P I L O G U E
A Temporada, Londres — Um ano depois
EVIE BALANÇAVA os berços de Marcus Finlay Stone, Marquês de Lexington e de Lady Marigold Stone no quarto recém-decorado para eles em Londres. Ela havia acabado de ler uma história de ninar e, esta noite, ela e Finn iriam ao primeiro baile da temporada desde o casamento.
Evie se abaixou, dando um tapinha em sua cachorra, a lébrel, Docinho, antes de partir. Eles ainda não haviam voltado para a cidade desde que viajaram para Wiltshire, preferindo ficar no campo durante o período de confinamento, e porque o duque havia perdido o interesse pela alta sociedade.
Mas, o dever chamava, e ela prometeu às amigas que iria à temporada deste ano apenas para garantir que a amiga Molly encontrasse um marido tão maravilhoso e doce como elas.
— Está pronta, minha querida? — Finn perguntou, entrando na sala, as calças pretas o abraçavam, e o casaco superfino com um colete bordado de prata o faziam parecer muito mais que apenas bonito. Ela sentiu-se vibrar, e teve o desejo de se beliscar para ter certeza de que ele era todo dela e de mais ninguém.
— Estou apenas colocando nossos bebês na cama. Não são adoráveis?
Finn sorriu e entrou no quarto para dar um beijo em cada um dos filhos. Ele a puxou para fora do cômodo, desejou boa noite à babá e deu instruções de onde eles poderiam ser encontrados se a presença deles em casa fosse necessária.
— Sei que está nervosa por deixá-los, mas tudo ficará bem. Eles estão seguros e felizes, prestes a dormir. A babá vai cuidar deles, e eu preciso cuidar de você. Merece um pouco de diversão e rever suas amigas. Já faz quase um ano.
— Eu sei. — disse Evie ao descer as escadas e pegar o xale de um lacaio que esperava. Finn a ajudou a entrar na carruagem e bateu no teto. A carruagem avançou, e Evie olhou para trás, para a casa, rezando para que tudo corresse bem.
— É uma mãe maravilhosa. Estou muito feliz por ser minha.
Calor se espalhou por ela, e ela se virou para Finn, aninhando-se nele como costumava fazer na viagem que fizeram sozinhos.
— E você é um bom pai. Obrigada pela vida maravilhosa e plena que me deu.
Lágrimas encheram seus olhos, e ela fungou. Sabia que nem toda a emoção era devido ao seu amor por Finn, mas também por estar longe de seus preciosos bebês pela primeira vez. Ela respirou fundo para se acalmar, repetindo o que Finn havia dito a ela.
Tudo ficaria bem. As crianças seriam bem cuidadas.
— Vocês vão mesmo tentar juntar Molly com algum cavalheiro que julguem adequado? Não pude evitar sentir que ela não estava nem um pouco entusiasmada com esses planos, se as palavras dela durante o chá, tarde dessas, fossem alguma indicação.
Evie lançou um olhar para o duque.
— Mesmo? Pensei que ela pareceu concordar com nossa ajuda.
Finn fez um som de deboche e sorriu.
— Vocês são todas cegas se pensam ser esse o caso. Molly parecia prestes a cuspir fogo, sem mencionar que ouvi rumores.
— Rumores? Que tipo de rumores? Ó, Céus.
Evie esperava que não houvesse nada de errado com a amiga.
Ela não havia comentado muito da viagem ao exterior, apenas que foi agradável, e que adoraria repetir.
— Rumores de que ela, de alguma forma, se envolveu com um certo duque na Itália. Ele é inglês, viveu no exterior por muitos anos.
Na verdade, tem casas na Itália, Espanha e Inglaterra. Um libertino, é claro, nunca se casou, e é improvável que o faça, mas ele está em Londres para a temporada, e isso é um verdadeiro escândalo.
— Ele está aqui? O que você acredita que o trouxe de volta à Inglaterra?
Finn sorriu para ela, piscando.
— Pois é, o que será que o trouxe de volta à Inglaterra? Não consegue adivinhar, minha querida?
Evie olhou para o marido por um momento, mal conseguindo acreditar.
— Molly?
O duque a beijou, sorrindo.
— Sim. Molly...
Tamara Gill
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