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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PENSAMENTO E VIDA / Chico Xavier
PENSAMENTO E VIDA / Chico Xavier

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

PENSAMENTO E VIDA

DITADO PELO ESPÍRITO EMMANUEL

 

Perguntou-nos coração amigo se não possuíamos algum livro no Plano Espiritual, suscetível de ser adaptado às necessidades da Terra.

Algumas páginas que falassem, ao es­pírito, dos problemas do espírito... Algo leve e rápido que condensasse os princípios superiores que nos orientam a rota ...

E lembramo-nos, por isso, de singela cartilha falada de que dispomos em nossas tarefas, junto aos companheiros em trânsi­to para o berço, utilizada em nossas escolas de regeneração, entre a morte e o renasci­mento.

Anotações humildes que repontam do cérebro como flores que rebentam do solo, sem pertencerem, no fundo, ao jardim que as recolhe, por nascerem da Bondade de Deus que conjuga o Sol e a gleba, a fonte e o ar, o adubo e o vento, para nelas instilar a cor e a forma, a beleza e o perfume...

Eis aqui, portanto, adaptada quanto possível ao campo do esforço humano, a nossa cartilha simples.

“Pensamento e Vida”, chamamos-lhe no Mundo Espiritual e, sob a mesma designa­ção, oferecemo-la aos nossos irmãos de luta, temporariamente internados na esfera física, para informá-los, ainda uma vez, de que o nosso pensamento cria a vida que procura­mos, através do reflexo de nós mesmos, até que nos identifiquemos, um dia, no curso dos milênios, com a Sabedoria Infinita e com o Infinito Amor, que constituem o Pensa­mento e a Vida de Nosso Pai.

EMMANUEL

Pedro Leopoldo, 11 de fevereiro de 1958

 

 

O ESPELHO DA VIDA

A mente é o espelho da vida em toda parte.

Ergue-se na Terra para Deus, sob a égide do Cristo, à feição do diamante bruto, que, arrancado ao ventre obscuro do solo, avança, com a orientação do lapidário, para a magnificência da luz.

Nos seres primitivos, aparece sob a ganga do instinto, nas almas humanas surge entre as ilusões que salteiam a inteligência, e revela-se nos Espíritos Aperfeiçoados por brilhante precioso a retratar a Glória Divina.

Estudando-a de nossa posição espiri­tual, confinados que nos achamos entre a animalidade e a angelitude, somos ímpelidos a interpretá-la como sendo o campo de nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar.

Definindo-a por espelho da vida, reco­nhecemos que o coração lhe é a face e que o cérebro é o centro de suas ondulações, gerando a força do pensamento que tudo move, criando e transformando, destruindo e refazendo para acrísolar e sublimar.

Em todos os domínios do Universo vibra, pois, a influência recíproca.

Tudo se desloca e renova sob os prin­cípios de interdependência e repercussão.

O         reflexo esboça a emotividade.

A emotividade plasma a idéia.

A idéia determina a atitude e a palavra que comandam as ações.

Em semelhantes manifestações alon­gam-se os fios geradores das causas de que nascem as circunstâncias, válvulas oblitera­tivas ou alavancas libertadoras da existência.

Ninguém pode ultrapassar de improviso os recursos da própria mente, muito além do círculo de trabalho em que estagia; contudo, assinalamos, todos nós, os reflexos uns dos outros, dentro da nossa relativa capacidade de assimilação.

Ninguém permanece fora do movimento de permuta incessante.

Respiramos no mundo das imagens que projetamos e recebemos. Por elas, estaciona­mos sob a fascinação dos elementos que provisoriamente nos escravizam e, através delas, incorporamos o influxo renovador dos poderes que nos induzem à purificação e ao progresso.

O reflexo mental mora no alicerce da vida.

Refletem-se as criaturas, reciprocamen te, na Criação que reflete os objetivos do Criador.

 

VONTADE

Comparemos a mente humana — espe­lho vivo da consciência lúcida — a um grande escritório, subdividido em diversas seções de serviço.

Aí possuímos o Departamento do Dese­jo, em que operam os propósitos e as aspi­rações, acalentando o estimulo ao trabalho; o Departamento da Inteligência, dilatando os patrimônios da evolução e da cultura; o Departamento da Imaginação, amealhando as riquezas do ideal e da sensibilidade; o Departamento da Memória, arquivando as súmulas da experiência, e outros, ainda, que definem os investimentos da alma.

Acima de todos eles, porém, surge o Gabinete da Vontade.

A Vontade é a gerência esclarecida e vi­gilante, governando todos os setores da ação mental.

A Divina Providência concedeu-a por auréola luminosa à razão, depois da labo­riosa e multimilenária viagem do ser pelas províncias obscuras do instinto.

Para considerar-lhe a importância, bas­ta lembrar que ela é o leme de todos os tipos de força incorporados ao nosso conheci­mento.

A eletricidade é energia dinâmica.

O         magnetismo é energia estática.

O         pensamento é força eletromagnética.

Pensamento, eletricidade e magnetismo conjugam-se em todas as manifestações da Vida Universal, criando gravitação e afinida­de, assimilação e desassimilação, nos cam­pos múltiplos da forma que servem à romagem do espírito para as Metas Supremas, traçadas pelo Plano Divino.

A Vontade, contudo, é o impacto deter­minante.

Nela dispomos do botão poderoso que decide o movimento ou a inércia da máquina.

O cérebro é o dínamo que produz a ener­gia mental, segundo a capacidade de refle­xão que lhe é própria; no entanto, na Von­tade temos o controle que a dirige nesse ou naquele rumo, estabelecendo causas que co­mandam os problemas do destino.

Sem ela, o Desejo pode comprar ao eng­ano aflitivos séculos de reparação e sofri­mento, a Inteligência pode aprisionar-se na enxovia da criminalidade, a Imaginação pode gerar perigosos monstros na sombra, e a memória, não obstante fiel à sua função de registradora, conforme a destinação que a Natureza lhe assinala, pode cair em deplo­rável relaxamento.

Só a Vontade é suficientemente forte para sustentar a harmonia do espírito.

Em verdade, ela não consegue impedir a reflexão mental, quando se trate da cone­xão entre os semelhantes, porque a sintonia constitui lei inderrogável, mas pode impor o jugo da disciplina sobre os elementos que administra, de modo a mantê-los coesos na corrente do bem.

 

COOPERAÇÃO

       Para que alguém dirija com êxito e eficiência uma empresa importante, não lhe basta a nomeação para o encargo.

       Exige-se-lhe um conjunto de qualidades superiores para que a obra se consolide e prospere. Não apenas autoridade, mas dire­ção com discernimento. Não só teoria e cultu­ra, mas virtude e juízo claro de proporções.

       Dilatados recursos nas mãos, a serviço de uma cabeça sem rumo, constituem tesou­ros nos braços da insensatez, assim como a riqueza sem orientação é navio à matroca.

       Quem governa emitirá forças de justiça e bondade, trabalho e disciplina, para atin­gir os objetivos da tarefa em que foi situado.

       Quando o poder é intemperante, sofre o povo a intranqüilidade e a mazorca, e, quando a inteligência não possui o timão do caráter sadio, espalha, em torno, a miséria e a crueldade.

Daí, conhecermos tantos tiranos nimba­dos de grandeza mental e tantos gênios de re­quintada sensibilidade, mas atolados no vício.

No mundo íntimo, a vontade é o capitão que não pode relaxar no mister que lhe édevido.

E assim como o administrador de um serviço reclama a ajuda de assessores cor­retos, a vontade não prescindirá da ponde­ração e da lógica, conselheiros respeitáveis na chefia das decisões.

No entanto, urge que o senso de coope­ração seja chamado a sustentar-lhe os im­pulsos.

Nas linhas da atividade terrestre, quem orienta com segurança não ignora a hierar­ quia natural que vige na coexistência de todos os valores indispensáveis à vida.

Na confecção do agasalho comum, o fio contará com o apoio da máquina, a máqui­na esperará pela competência do operário, o operário edificar-se-á no técnico que lhe supervisiona o trabalho, o técnico arrimar­-se-á na diretoria da fábrica e a diretoria da fábrica equilibrar-se-á no movimento da in­dústria, dele extraindo o combustível econô­mico necessário à alimentação do núcleo de serviço que lhe obedece aos ditames.

Observamos, assim, que no Estado In­dividual a vontade, para satisfazer à gover­nança que lhe compete, sem colapsos de equilíbrio, precisa socorrer-se da colabora­ção a fim de que se lhe clareie a atividade.

A cooperação espontânea é o supremo ingrediente da ordem.

Da Glória Divina às balizas subatômicas, o Universo pode ser definido como sendo uma cadeia de vidas que se entrosam na Grande Vida.

Cooperação significa obediência constru­tiva aos impositivos da frente e socorro im­plícito às privações da retaguarda.

        Quem ajuda é ajudado, encontrando, em silênCiO, a maiS segura fórmula de ajuste aos processos da evolução.

 

INSTRUÇÃO

         Já se disse que duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus.

         Uma chama-se Amor, a outra, Sabe­doria.

         Pelo amor, que, acima de tudo, é ser­viço aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas próprias virtu­des; e, pela sabedoria, que começa na aqui­sição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhe co­municam os reflexos da própria grandeza, impelindo-a para o Alto.

Através do amor valorizamo-nos para a vida.

Através da sabedoria somos pela vida valorizados.

Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade.

Bondade que ignora é assim como o poço amigo em plena sombra, a dessedentar o viajor sem ensinar-lhe o caminho.

Inteligência que não ama pode ser com­parada a valioso poste de aviso, que traça ao peregrino informes de rumo certo, dei­xando-o sucumbir ao tormento da sede.

Todos temos necessidade de instrução e de amor.

Estudar e servir são rotas inevitáveis na obra de elevação.

Toda a cultura intelectual é formada em cadeia de gradativa expansão.

As civilizações sucedem-se, ininterrup­tas, ao influxo da herança mental.

A arte, na palavra ou na música, no buril ou no pincel, evolui e se aprimora, por

intermédio da repercussão a exprimir-se no trabalho dos cultivadores do belo, que se inspiram uns nos outros.

A escola é um centro de indução espiri­tual, onde os mestres de hoje continuam a tarefa dos instrutores de ontem.

O livro representa vigoroso ímã de força atrativa, plasmando as emoções e concep­ções de que nascem os grandes movimentos da Humanidade, em todos os setores da reli­gião e da ciência, da opinião e da técnica, do pensamento e do trabalho. Por esse dína­mo de energia criadora, encontramos os mais adiantados serviços de telementação, porqüanto, a imensas distâncias, no espaço e no tempo, incorporamos as idéias dos espí­ritos superiores que passaram por nós, há Séculos.

Sócrates reflete-se nas páginas dos dis­cípulos que lhe comungavam a intimidade, e, ainda hoje, consumimos os elevados pen­samentos de que foi ele o portador.

Retrata-se Jesus nos livros dos apósto­los que lhe dilataram a obra, e temos no  Evangelho um espelho cristalino em que o Mestre se reproduz, por divina reflexão, orientando a conduta humana para a cons­trução do Reino de Deus entre as criaturas.

Conhecer é patrocinar a libertação de nós mesmos, colocando-nos a caminho de novos horizontes na vida.

Corre-nos, pois, o dever de estudar sem­pre, escolhendo o melhor para que as nossas idéias e exemplos reflitam as idéias e os exemplos dos paladinos da luz.

 

EDUCAÇÃO

          Disse-nos o Cristo: “brilhe vossa luz ...“ (1)

          E ele mesmo, o Mestre Divino, é a nossa divina luz na evolução planetária.

          Admitia-se antigamente que a recomendação do Senhor fosse mero aviso de essên­cia mística, conclamando profitentes do Culto externo da escola religiosa a suposto relevo individual, depois da morte, na imaginária corte celeste.

Hoje, no entanto, reconhecemos que a lição de Jesus deve ser aplicada em todas as condições, todos os dias.

A própria ciência terrena atual reconhe­ce a presença da luz em toda parte.

O corpo humano, devidamente estudado, revelou-se, não mais como matéria coesa, senão espécie de veículo energético, estrutu­rado em partículas infinitesimais que se atraem e se repelem, reciprocamente, com o efeito de microscópicas explosões de luz.

A Química, a Física e a Astronomia de­monstram que o homem terrestre mora num reino entrecortado de raios.

Na intimidade desse glorioso império da energia, temos os raios mentais condicionan­do os elementos em que a vida se expressa.

O        pensamento é força criativa, a exte­riorizar-se, da criatura que o gera, por inter­médio de ondas sutis, em circuitos de ação e reação no tempo, sendo tão mensurável como o fotônio que, arrojado pelo fulcro lu­minescente que o produz, percorre o espaço com Velocidade determinada, sustentando o hausto fulgurante da Criação.

A mente humana é um espelho de luz, emitindo raios e assimilando-os,repetimos.

Esse espelho, entretanto, jaz mais ou menos prisioneiro nas sombras espessas da ignorância, à maneira de pedra valiosa in­crustada no cascalho da furna ou nas anfractuosidades do precipício. Para que retrate a irradiação celeste e lance de si mesmo o pró­prio brilho, é indispensável se desentrance das trevas, à custa do esmeril do trabalho.

Reparamos, assim, a necessidade im­prescritível da educação para todos os seres.

Lembremo-nos de que o Eterno Benfei­tor, em sua lição verbal, fixou na forma imperativa a advertência a que nos refe­rimos:

“Brilhe vossa luz.”

Isso quer dizer que o potencial de luz do nosso espírito deve fulgir em sua gran­deza plena.

E semelhante feito somente poderá ser atingido pela educação que nos propicie o justo burilamento.

Mas a educação, com o cultivo da inte­ligência e com o aperfeiçoamento do campo íntimo, em exaltação de conhecimento e bon­dade, saber e virtude, não será conseguida tão-só à força de instrução, que se imponha de fora para dentro, mas sim com a cons­ciente adesão da vontade que, em se consagrando ao bem por si própria, sem constran­gimento de qualquer natureza, pode libertar e polir o coração, nele plasmando a face cristalina da alma, capaz de refletir a Vida Gloriosa e transformar, conseqüentemente, o cérebro em preciosa usina de energia superior, projetando reflexos de beleza e subli­mação.

 

(1) Mateus, 5:16 — Nota do autor espiritual.

 

          Para encontrar o bem e assimilar-lhe a luz, não basta adimitír-lhe a existência. É indispensável  buscá-lo com perseverança e fervor.

          Ninguém pode duvidar da eletricidade, mas para que a lâmpada nos ilumine o apo­sento recorremos a fios Condutores que lhe transportem a força, desde a aparelhagem da usina distante até o recesso de nossa casa.

        A fotografia é hoje fenômeno corriquei­ro; contudo, para que a imagem se fixe, na execução do retrato, é preciso que a emulsão gelatinosa sensibilize a placa que a recebe.

A voz humana, através da radiofonia, é transmitida de um continente a outro, com absoluta fidelidade; todavia, não prescinde do remoinho eletrônico que, devidamente disci­plinado, lhe transporta as ondulações.

Não podemos, desse modo, plasmar rea­lização alguma sem atitude positiva de con­fiança.

Entretanto, como exprimir a fé? — in­daga-se muitas vezes.

A fé não encontra definição no vocabu­lário vulgar.

É força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na Sabedoria de Deus que é a sabedoria da própria vida. Palpita em todos os seres, vibra em todas as coisas. Mostra-se no cristal fraturado que se recom­põe, humilde, e revela-se na árvore decepada que se refaz, gradativamente, entregando-se às leis de renovação que abarcam a Na­tureza.

Todas as operações da existência se desenvolvem, de algum modo, sob a energia da fé.

Confia o campo no vigor da primavera e cobre-se de flores.

Fia-se o rio na realidade da fonte, e dela não prescinde para a sua caudal larga e profunda.

A simples refeição é, para o homem, es­pontâneo ato de fé. Alimentando-se, confia ele nas vísceras abdominais que não vê.

Todo o êxito da experiência social re­sulta da fé que a comunidade empenhe no respeito às determinações de ordem legal que lhe regem a vida.

Utilizando-nos conscientemente de seme­lhante energia, é-nos possível suprimir longas curvas em nosso caminho de evolução.

Para isso, seja qual for a nossa inter­pretação religiosa da idéia de Deus, é im­prescindível acentuar em nós a confiança no bem para refletir-lhe a grandeza.

Recordemos a lente e o Sol. O astro do dia distribui eqüitativamente os recursos de que dispõe. Convergindo-lhe porém, os raios com a lente comum, dele auferimos poder mais amplo.

O Bem Eterno é a mesma luz para todos, mas concentrando-lhe a força em nós, por intermédio de positiva segurança íntima, decerto com mais eficiência lhe retrataremos a glória.

Busquemo-lo, pois, infatigavelmente, sem nos determos no mal.

O tronco podado oferece frutos iguais àqueles que produzia antes do golpe que o mutilou.

A fonte alcança o rio, desfazendo no próprio seio a lama que lhe atiram.

Sustentemos o coração nas águas vivas do bem inexaurível.

Procuremos a boa parte das criaturas, das coisas e dos sucessos que nos cruzem a lide cotidiana. Teremos, assim, o espelho de nossa mente voltado para o bem, incorpo­rando-lhe os tesouros eternos, e a felicidade que nasce da fé, generosa e operante, liber­tar-nos-á dos grilhôes de todo o mal, de vez que o bem, constante e puro, terá encontrado em nós seguro refletor.

 

TRABALHO

Se nos propomos retratar mentalmente a luz dos Planos Superiores, é indispensável que a nossa vontade abrace espontaneamente o trabalho por alimento de cada dia.

No pretérito, apreciávamo-lo por atitude servil de quantos caíssem sob o ferrete da injúria.

A escola, as artes, as virtudes domésti­cas, a indústria e o amanho do solo eram relegados a mãos escravas, reservando-se os braços supostos livres para a inércia dou­rada.

Hoje, porém, sabemos que a lei do tra­balho é roteiro da justa emancipação. Sem ela, o mundo mental dorme estanque. Fugir-lhe aos impositivos é situar-se à margem do caminho, onde o carro da evolução marcha, inflexível, deixando à retaguarda quantos se amolgam à ilusão da preguiça.

O usurário não padece apenas a infeli­cidade de seqüestrar os bens devidos ao Bem de Todos, mas igualmente o infortúnio de erguer para si mesmo a cova adornada em que se lhe estiolarão as mais nobres faculda­des do espírito.

Não vale, contudo, agir por agir.

As regiões infernais vibram repletas de movimento.

Além do trabalho-obrigação que nos re­munera de pronto, é necessário nos atenha­mos ao prazer de servir.

Nas contingências naturais do desen­volvimento terrestre, o espírito encarnado écompelido a esforço incessante, para o sus­tento do corpo físico. Recolhe, de graça, a água pura, os princípios solares e os recursos

nutrientes da atmosfera; entretanto, é pre­ciso suar e sofrer em busca da proteína e do carboidrato que lhe assegurem a euforia orgânica

Cativo, embora, às injunções do plano de obscura matéria em que transitoríamente respira, pode, porém, desde a Terra, fruir a ventura do serviço voluntário aos semelhan­tes todo aquele que descerre O espelho da própria alma aos reflexos da Esfera Divina.

O         trabalho-açãotransforma o ambiente.

O         trabalho-serviço, transforma o homem.

As tarefas remuneradas conquistam o agradecimentode quem lhes recebe o con­curso, mas permanecem adstritas ao mundo, nas linhas da troca vulgar.

A prestação de concurso espontâneo, sem qualquer base de recompensa, desdobra a influência da Bondade Celestial que a todos nos ampara sem pagamento

A maneira que se nos alonga a ascen­são, entendemos com mais clareza a neces­sidade de trabalhar por amor de servir.

Quando começamos a ajudar o próximo, sem aguilhões,matriculamo-nos no acrisola­mento da própria alma, entrando em sintonia com a Vida Abundante.

Nos círculos mais elevados do espírito, o trabalho não é imposto. A criatura cons­ciente da verdade compreende que a ação no bem é ajustamento às Leis de Deus e a ela se rende por livre vontade.

Por isso, nos domínios superiores, quem serve avança para os cimos da imortalidade radiosa, reproduzindo dentro de si mesmo as maravilhas do Céu que nos rodeia a espe­lhar-se por toda parte.

 

ASSOCIAÇÃO

          Se o homem pudesse contemplar com os próprios olhos as correntes de pensamento, reconheceria, de pronto, que todos vivemos em regime de comunhão, segundo os princí­pios da afinidade.

          A associação mora em todas as coisas, preside a todos os acontecimentos e coman­da a existência de todos os seres.

          Demócrito, o sábio grego que viveu na Terra muito antes do Cristo, assevera que “os átomos, invisíveis ao olhar humano, agrupam-se à feição dos pombos, à cata de comida, formando assim os corpos que co­nhecemos”.

Começamos agora a penetrar a essência do microcosmo e, de alguma sorte, podemos simbolizar, por enquanto, no átomo entregue à nossa perquirição, um sistema solar em miniatura, no qual o núcleo desempenha a função de centro vital e os eletrons a de pla­netas em movimento gravitativo.

No plano da Vida Maior, vemos os sóis carregando os mundos na imensidade, em virtude da interação eletromagnética das forças universais.

Assim também na vida comum, a alma entra em ressonância com as correntes men­tais em que respiram as almas que se lhe assemelham.

Assimilamos os pensamentos daqueles que pensam como pensamos.

É que sentindo, mentalizando, falando ou agindo, sintonizamo-nos com as emoções e idéias de todas as pessoas, encarnadas ou desencarnadas, da nossa faixa de simpatia.

Estamos invariavelmente atraindo ou re­pelindo recursos mentais que se agregam aos nossos,fortificando-nospara o bem ou para O mal, segundo a direção que esco­lhemos.

Em qualquer providência e em qualquer Opinião, somos sempre a soma de muitos.

Expressamos milhares de criaturas e mi­lhares de criaturas nos expressam.

O desejo é a alavanca de fosso senti­mento, gerando a energia que consumimos, segundo a nossa vontade.

Quando nos detemos nos defeitos e fal­tas dos Outros, o espelho de nossa mente reflete-os, de imediato, como que absorven do as imagens deprimentes de que se cons­tituem, Pondo-se nossa imaginaçãoa dige­rir essa espécie de alimento, que mais tarde se incorpora aos tecidos Sutis de nossa alma. Com o decurso do tempo nossa alma não raro passa a exprimir, pelo seu veículo de manifestação o que assimilara fazendoo seja pelo corpo carnal, entre os homens, seja pelo corpo espiritual de que nos servimos, depois da morte.

É por esta razão que geralmente os cen­sores do procedimento alheio acabam praticando as mesmas ações que condenam no próximo, porqüanto, interessados em descer às minúcias do mal, absorvem-lhe incons­cientemente as emanações, surpreendendo-se, um dia, dominados pelas forças que o representam.

Toda a brecha de sombra em nossa per­sonalidade retrata a sombra maior.

Qual o pequenino foco infeccioso que, abandonado a si mesmo, pode converter-se dentro de algumas horas no bolo pestífero de imensas proporções, a maledicência pode precipitar-nos no vício, tanto quanto a có­lera sistemática nos arrasta, muita vez, aos labirintos da loucura ou às trevas do crime.

Pensando, conversando ou trabalhando, a força de nossas idéias, palavras e atos alcança, de momento, um potencial tantas vezes maior quantas sejam as pessoas encar­nadas ou não que concordem conosco, po­tencial esse que tende a aumentar indefini­damente, impondo-nos, de retorno, as conse­qüências de nossas próprias iniciativas.

Estejamos, assim, procurando incessan temente o bem, ajudando, aprendendo, ser­vindo, desculpando e amando, porque, nessa atitude, retletiremos os cultivadores da luz, resolvendo, com segurança o nosso proble­ma de companhia.

 

SUGESTÃO

          Comenta-se o fenômeno da sugestão mental, qual se fora privativo de gabinetes magnéticos específicos, mobilizando-se hip­notizadores e hipnotizados, à conta de tau­maturgos.

          Grasset, o eminente neurologista da es­cola de Montpellier, chega a classificar as sugestões em duas categorias: — as intra-hipnóticas, que se efetuam no curso do sono provocado, e as pós-hipnóticas, que se rea­lizam além do despertar.

Entretanto, a sugestão é acontecimento de toda hora, na vida de todos os seres, com base na reflexão mental permanente.

Dela se apropriou com mais empenho a magia, que, significando o governo das forças ocultas, tem sido, antes de tudo, o clima de todas as cerimônias religiosas na Terra, cerimônias essas em que se conjugam as forças de poderosas mentes encarnadas e desencarnadas, gerando sucessos que im­pressionam a mente popular, disciplinando-lhe os impulsos.

Força mental pura e simples, carreando a idéia por imagem viva, a sugestão, como a eletricidade, o explosivo, o vapor e a de­sintegração atômica, não é boa nem má, de­pendendo os seus efeitos da aplicação que se lhe confere. Temo-la, assim, não apenas no altar da oração e nos simbolos sagrados do serviço religioso, aconselhando a virtude e o progresso ao coração do povo, mas tam­bém nos espetáculos deprimentes dos ritos bárbaros e na demagogia de arrastamento,

ressumando o psiquismo inferior que inspira a licenciosidade e a rebelião.

Nossas emoções, pensamentos e atos são elementos dinâmicos de indução.

Todos exteriorizamos a energia mental, configurando as formas sutis com que in­fluenciamos o próximo, e todos somos afe­tados por essas mesmas formas, nascidas nos cérebros alheios.

Cada atitude de nossa existência pola­riza forças naqueles que se nos afinam com o modo de ser, impelindo-os à imitação cons­ciente ou inconsciente.

É que o princípio de repercussão nos comanda a atividade em todos os passos da vida.

A escola é um lar de iniciação para as almas que começam as lides do burilamen­to intelectual, constituindo, simultaneamente, um centro de reflexos condicionados para milhões de espíritos que reencarnam para readquirir pelo alfabeto o trabalho das pró­prias conquistas na esfera da inteligência.

Com o auxílio dos múltiplos instrutores que nos guiam da cátedra e da tribuna, pelo livro e pela imprensa, retomamos no mundo a nossa realidade psíquica, determinada pela soma de nossas aquisições emocionais e culturais no passado, com a possibilidade de mais ampla educação da vontade para o de­vido ajustamento à Vida Superior.

Somos hoje, deste modo, herdeiros po­sitivos dos reflexos de nossas experiências de ontem, com recursos de alterar-lhes a di­reção para a verdadeira felicidade.

Auxiliando a outrem, sugerimos o auxi­lio em nosso favor. Suportando com humil­dade as vicissitudes da senda regenerativa, instilamos paciência e solidariedade, para co­nosco, em todos aqueles que nos rodeiam.

Ajudando, ajudamo-nos.

Desservindo, desservimo-nos.

Por intermédio da sugestão espontânea, plantamos os reflexos de nossa individuali­dade, colhendo-lhes os efeitos nas individua­lidades alheias, como semeamos e obtemos no mundo o cânhamo e o trigo, a cenoura e a batata.

Somos, assim, responsáveis pela nossa ligação com as forças construtivas do bem ou com as forças perturbadoras do mal.

 

ENTENDIMENTO

O         cultivador do campo não prescinde do arado com que sulcará o corpo da gleba.

O         estatuário recorrerá ao buril para afeiçoar o mármore à idéia criadora que lhe inflama a cabeça.

A criatura interessada na produção de reflexos mentais protetores de sua senda não dispensará o entendimento por alicerce do trabalho renovador.

Entendimento que simbolize fraternida­de operante.

Simpatia que se converta em fulcro de força atrativa, exteriorizando-nos a melhor parte, para que a melhor parte dos outros se exteriorize ao nosso encontro.

Todos somos compulsoriamente envolvi­dos na onda mental que emitimos de nós, em regime de circuito natural.

Categorizamo-nos bons ou maus, con­forme o uso de nossos sentimentos e pensa­mentos, que, no fundo, constituem cargas de energia eletromagnética, com as quais feri­mos ou acalentamos, ajudamos ou prejudica­mos, vitalizamos ou destruimos, e que vol­tam, invariavelmente, a nós mesmos, impreg­nadas dos recursos felizes ou infelizes com que lhes marcamos a rota.

Quando coléricos e irritadiços, agressi­vos e ásperos para com os outros, criamos por atividade reflexa o desalento e a intem­perança, a crueldade e a secura para nós mesmos, e, quando generosos e compreensi­vos, prestimosos e úteis para com aqueles que nos cercam, criamos, conseqüentemen­te, a alegria e a tranqüilidade, a segurança e o bom ânimo para nós próprios.

Responde-nos a vida em todas as coisas e em todas as criaturas, segundo a natureza de nosso chamamento.

Até o ingresso na Consciência Cósmica, todos os seres se distinguem pela face de luz com que se alteiam para os cimos da evolu­ção e pela face de sombra pela qual ainda sofrem a influência da retaguarda.

A própria posição vulgar do homem na Terra vale por símbolo dessa condição espe­cífica. Por cima o fulgor pleno do Sol, por baixo a escuridade do abismo.

Todos recolhemos do Pai Celeste os es­timulos ao futuro e todos padecemos os re­flexos do passado a se nos projetarem sobre a existência.

Desatando, assim, as algemas do mal que nós mesmos forjamos em detrimento de nossas almas, há que buscar o bem, senti-lo, mentalizá-lo e plasmá-lo com todos os po­tenciais de realização ao nosso alcance.

Para começar, precisaremos separar o criminoso da criminalidade, como o lavrador que estabelece diferença entre o verme e a plantação, para abolir o domínio do primei­ro e enriquecer a utilidade da segunda. E assim como o trabalhador rural extingue a praga, salvando a lavoura, é necessário que o nosso entendimento improvise meios de auxiliar o companheiro que caiu sob o guan­te da delinqüência, sem alentá-la.

Apequenar-se para ajudar, sem perder altura, é assegurar a melhoria de todos, acen­tuando a própria sublimação.

Entretanto, só o culto infatigável do entendimento pode garantir-nos o equilíbrio indispensável no serviço de autoburilamento em que devemos empenhar os nossos melho­res sonhos, de vez que apenas o amor puro é capaz de criar em nossa mente a energia da luz divina, a expandir-se de nós em re­flexos de protetora renovação.

 

BERÇO

Excetuando-se os planos organizados para as obras especiais, em que Espíritos missionários senhoreiam as reservas fisioló­gicas para a criação de reflexos da Vida Su­perior entre os homens, impelindo-os a maior ascensão, todo berço de agora retrata o ontem que passou.

O caminho que iniciamos em determi­nada existência é o prolongamento dos ca­ minhos que percorremos naquelas que a pre­cederam.

Esfalfa-se a investigação científica na Terra, estudando o continuísmo biológico.

Núcleos de cromossomos e veículos ci­toplásmicos, fatores de ambiente e genealo­gias familiares são chamados pelos geneti­cistas à equação dos problemas da origem e é natural que de suas indagações surjam re­sultados notáveis, quais sejam aqueles que tangem aos caracteres morfológicos e às surpresas da adaptação.

O escalpelo da observação humana, po­rém, não consegue, por agora, ultrapassar o recinto externo da constituição orgânica, de­tendo-se no exame da conformação e da es­tatura, da pigmentação e do grupo sangüi­neo, alusivos à filiação corpórea, já que os meandros da hereditariedade psíquica são, por enquanto, quase que integralmente ina­cessíveis à sondagem da inteligência ter­restre.

E que as células germinais, por semen­tes vivas, reproduzem os nossos clichês da consciência no trabalho impalpável da for­mação de um corpo novo.

Na câmara uterina, o reflexo dominan­te de nossa individualidade impressiona a chapa fetal ou o conjunto de princípios ger­minativos que nos forjam os alicerces do novo instrumento físico, selando-nos a des­tinação para as tarefas que somos chamados a executar no mundo, em certa quota de tempo.

Nisso não vai qualquer exaltação ao determinismo absoluto, porque ninguém pode suprimir o livre-arbítrio, com o qual articula­mos as causas de sofrimento ou reparação em nossos destinos, dentro do determinismo relativo em que marchamos para mais altas formas de emoção e pensamento, na con­quista da liberdade suprema.

Pelo transe da morte física, regressa­mos à Vida Maior com a soma de realizações que nem sempre são aquelas que devêramos efetuar. Em muitas circunstâncias, as ima­gens trazidas da permanência na carne são fantasmas temíveis, nascidos de nossas pró­prias culpas, exigindo reajuste e pagamento, a modelarem para os nossos sentidos o in­ferno torturante em que se nos revolvem as queixas e aflições.

 Eis, porém, que a Justiça Fiel, por mi­sericórdia, nos concede o retorno para a bênção do reinício. Retomamos, assim, atra­vés do berço, o contato direto com os nos­sos credores e devedores para a liquidação dos débitos que contraímos, cujo balanço efetivo jaz devidamente contabilizado nas Leis Divinas.

É desta maneira que comumente renas­cemos na Terra, segundo as nossas dívidas ou conforme as nossas necessidades, assi­milando para esse fim a essência genética daqueles que se nos afinam com o modo de proceder e de ser.

Os problemas da hereditariedade, em razão disso, descendem, de forma geral, dos reflexos mentais que nos sejam próprios.

Em verdade, por vezes, abnegados cora­ções, cultivando a leira do amor pelo sacri­fício, trazem a si corações desditosos, guar­dando transitoriamente, nos braços, mons­truosas aberrações que destoam do elevado nível em que já se instalaram; contudo, de­vemos semelhantes exceções ao espírito de renúncia com que fazem emergir das regiões infernais velhos laços afetivos, distanciados no tempo, usando o divino atributo da ca­ridade.

De conformidade com a regra, porém, nosso berço no mundo é o reflexo de nossas necessidades, cabendo a cada um de nós, quando na reencarnação, honrá-lo com tra­balho digno de restauração, melhoria ou en­grandecimento, na certeza de que a ele fomos trazidos ou atraídos, segundo os problemas da regeneração ou da mordomia de que care­cemos na recomposição de nosso destino, perante o futuro.

 

FAMÍLIA

          A família consangüínea, entre os homens, pode ser apreciada como o centro essen­cial de nossos reflexos. Reflexos agradá­veis ou desagradáveis que o pretérito nos devolve.

          Certo, não incluímos aqui os Espíritos pioneiros da evolução que, trazidos ao am­biente comum, superam-no, de imediato, criando o clima mental que lhes é peculiar, atendendo à renovação de que se fazem in­térpretes.

          Comentamos a nossa posição no campo vulgar da luta.

          Cada criatura está provisoriamente ajus­tada ao raio de ação que é capaz de desen­volver ou, mais claramente, cada um de nós apenas, pouco a pouco, ultrapassará o hori­zonte a que já estenda os reflexos que lhe digam respeito.

O homem primitivo não se afasta, de improviso, da própria taba, mas aí renasce múltiplas vezes, e o homem relativamente civilizado demora-se longo tempo no plano racial em que assimila as experiências de que carece, até que a soma de suas aquisições o recomende a diferentes realizações.

É assim que na esfera do grupo consan­güíneo o Espírito reencarnado segue ao en­contro dos laços que entreteceu para si pró­prio, na linha mental em que se lhe caracte­rizam as tendências.

A chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum modo, a natural aglu­tinação dos espíritos que se afinam nas mes­mas atividades e inclinações.

Um grande artista ou um herói preemi­nente podem nascer em esfera estranha aos

sentimentos nos quais se avultam. É a ma­nifestação do gênio pacientemente elabora­do no bojo dos milênios, impondo os reflexos da sua individualidade em gigantesco traba­lho criativo.

Todavia, na senda habitual, o templo doméstico recine aqueles que se retratam uns nos outros.

Uma família de músicos terá mais faci­lidade para recolher companheiros da arte divina em sua descendência, porque, muita vez, os Espíritos que assumem a posição de filhos na reencarnação, junto deles, são os mesmos amigos que lhes incentivavam a for­mação musical, desde o reino do Espírito, refletindo-se reciprocamente na continu ida­de da ação em que se empenham através de séculos numerosos.

É ainda assim que escultores e poetas, políticos e médicos, comerciantes e agricul­tores quase sempre se dão as mãos, no culto dos melhores valores afetivos, continuando­-se, mutuamente, nos genes familiares, pre­servando para si mesmos, mediante o traba­lho em comum e segundo a lei do renasci­mento, o patrimônio evolutivo em que se exprimem no espaço e no tempo. Também é ar, de conformidade com o mesmo principio de sintonia, que vemos dipsõmanos e clepto­maníacos, tanto quanto delinqüentes e en­fermos de ordem moral, nascendo daqueles que lhes comungam espiritualmente as defi­ciências e as provas, porqüanto muitas inteli­gências transviadas se ajustam ao campo genético daqueles que lhes atraem a compa­nhia, por força dos sentimentos menos dig­nos ou das ações deploráveis com que se oneram perante a Lei.

A tara familiar, por esse motivo, é a resultante da conjunção de débitos, situan­do-nos no plano genético enfermiço que me­recemos, à face dos nossos compromissos com o mundo e com a vida. Dessa forma, somos impelidos a padecer o retorno dos nossos reflexos tóxicos através de pessoas de nossa parentela, que no-los devolvem por aflitivos processos de sofrimento.

Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e alegria que já consegui­mos tecer, por intermédio do amor louvavel­mente vivido, mas também as algemas de constrangimento e aversão, nas quais reco­lhemos, de volta, os clichês inquietantes que nós mesmos plasmamos na memória do des­tino e que necessitamos desfazer, à custa de trabalho e sacrifício, paciência e humildade, recursos novos com que faremos nova pro­dução de reflexos espirituais, suscetíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior, conturbada e infeliz.

 

FILHOS

Nasce a criança, trazendo consigo o pa­trimônio moral que lhe marca a individuali­dade antes do renascimento no plano físico; no entanto, receberá os reflexos dos pais e dos mestres que lhe imprimirão à nova chapa cerebral as imagens que, em muitas oca­siões, lhe influenciarão a existência inteira.

Indiscutivelmente, a instrução espera-lhe o espírito em nova fase, enriquecendo-lhe o caminho nesse ou naquele mister; contudo, importa reconhecer que a palavra escrita, em confronto com a palavra falada ou com o exemplo direto, revela poderes de re­percussão menos vivos, mormente quando torturada entre os preconceitos da forma gramatical.

E que a voz e a ação prática jazem im­pregnadas do magnetismo indutivo que se desprende da reflexão imediata, operando significativas transformações para o bem ou para o mal, segundo a natureza que lhes per­sonaliza as manifestações.

As crianças confiadas na Terra ao nosso zelo são portadoras de aparelhagem neuro­cerebral completamente nova em sua estru­tura orgânica, à feição de câmara fotográ­fica devidamente habilitada a recolher im­pressões. A objetiva, que na máquina dessa espécie é constituída por um sistema de len­tes apropriadas, capazes de colher imagens corretas sobre recursos sensíveis, é repre­sentada na mente infantil por um espelho renovado em que se conjugam visão e obser­vação, atenção e meditação por lentes da alma, absorvendo os reflexos das mentes que a rodeiam e fixando-os em si própria, como elementos básicos de Conduta.

Os pequeninos acham-se, deste modo, àmercê dos moldes espirituais dos que lhes tecem o berço ou que lhes asseguram a es­cola, assim como a argila frágil e viva ante as idéias do oleiro.

Não podemos, pois, esquecer na Terra que nossos filhos, embora carreando consigo a sedimentação das experiências passadas, em estágios anteriores na gleba fisiolõgica, são Companheiros que nos retomam transi­toriamente o convívio, quase sempre para se reajustarem conosco, aos impositivos da Lei Divina, necessitados quanto nós mesmos, de provas e ensinamentos, no que tange ao tra­balho da regeneração desejada.

Excetuados aqueles que transcendem os nOSSOS marcos evolutivos, à face da missão particular de que se investem na renovação do ambiente comum, todos eles nos sofrem os reflexos, assimilando impressões entra­nhadamente perduráveis que, às vezes, lhes acompanham os passos desde a meninice até a morte do corpo denso.

Tratá-los à conta de enfeites do cora­ção será induzi-los a funestos enganos, porqüanto, em se tornando ineficientes para a luta redentora, quando se lhes desenvolve o veículo orgânico facilmente se ajustam ao reflexo dominante das inteligências aclima­tadas na sombra ou na rebeldia, gravitando para a influência do pretérito que mais de­veríamos evitar e temer.

É assim que toda criança, entregue à nossa guarda, é um vaso vivo a arrecadar-nos as imagens da experiência diária, com­petindo-nos, pois, o dever de traçar-lhe no­ções de justiça e trabalho, fraternidade e ordem, habituando-a, desde cedo, à discipli­na e ao exercício do bem, com a força de nossas demonstrações, sem, contudo, furtar-lhe o clima de otimismo e esperança. Acolhendo-a, com amor, cabe-nos recordar que o coração da infância é urna preciosa a in­corporar-nos os reflexos, troféu que nos re­tratará no grande futuro, no qual passaremos todos igualmente a viver, na função de her­deiros das nossas próprias obras.

 

CORPO

       Abstendo-nos de qualquer digressão científica, porqüanto os livros técnicos de educação usual são suficientemente esclare­cedores no que reporta aos aspectos exte­riores do corpo humano, lembremo-nos de que o Espírito, inquilino da casa física, lhe preside à formação e à sustentação, cons­ciente ou inconscientemente, desde a hora primeira da organização fetal, não obstante quase sempre sob os cuidados protetores de Mensageiros da Providência Divina.

Trazendo consigo mesmo a soma dos reflexos bons e menos bons de que é porta­dor, segundo a colheita de méritos e prejuí­zos que semeou para si mesmo no solo do tempo, o Espírito incorpora aos moldes re­duzidos do próprio ser as células do equipa­mento humano, associando-as à própria vida, desde a vesícula germinal.

Amparado no colo materno, estrutura-Se-lhe o corpo mediante as células referidas, que, em se multiplicando ao redor da matriz espiritual, como a limalha de ferro sobre o ímã, formam, a principio, os folhetos blas­todérmicos de que se derivam o tubo intes­tinal, o tubo nervoso, o tecido cutâneo, os ossos, os músculos, os vasos.

Em breve, atendendo ao desenvolvimen­to espontâneo, acha-se o Espírito materiali­zado na arena física, manifestando-se pelo veículo carnal que o exprime. Esse veículo, constituído por bilhões de células ou indivi­duações microscópicas, que se ajustam aos tecidos sutis da alma, partilhando-lhes a na­tureza eletromagnética, lembra uma oficina complexa, formada de bilhões de motores infinitesimais, movidos por oscilações eletro­magnéticas, em comprimento de onda específica, emitindo irradiações próprias e assi­milando-as irradiações do plano em que se encontram, tudo sob o comando de um único diretor: a mente.

Desde a fase embrionária do instrumen­to em que se manifestará no mundo, o Es­pírito nele plasma os reflexos que lhe são próprios.

Criaturas existem tão conturbadas além-túmulo com os problemas decorrentes do suicídio e do homicídio, da delinqüência e da viciação, que, trazidas ao renascimento, de­monstram, de imediato, os mais dolorosos desequilíbrios, pela disfunção vibratória que os cataloga nos quadros da patologia celular.

As enfermidades congênitas nada mais são que reflexos da posição infeliz a que nos conduzimos no pretérito próximo, reclaman­do-nos a internação na esfera física, às vezes por prazo curto, para tratamento da desar­monia interior em que fomos comprometidos.

Surgem, porém, outras cambiantes dos reflexos do passado na existência do corpo.

culpa disfarçada e dos remorsos ocultos. São plantações de tempo certo que a lei de ação e reação governa, vigilante, com segurança e precisão.

É por isso que, muitas vezes, consoante os programas traçados antes do berço, na pauta da dívida e do resgate, a criatura évisitada por estranhas provações, em plena prosperidade material, ou por desastres fi­siológicos de comovente expressão, quando mais irradiante se lhe mostra a saúde.

Contudo, é imperioso lembrar que re­flexos geram reflexos e que não há paga­mento sem justos atenuantes, quando o deve­dor se revela amigo da solução dos próprios débitos.

A prática do bem, simples e infatigável pode modificar a rota do destino, de vez que o pensamento claro e correto, com ação edi­ficante, interfere nas funções celulares, tanto quanto nos eventos humanos, atraindo em nosso favor, por nosso reflexo melhorado e mais nobre, amparo, luz e apoio, segundo a lei do auxílio.

 

SAÚDE

A saúde é assim como a posição de uma residência que denuncia as condições do morador, ou de um instrumento que reproduz em si o zelo ou a desídia das mãos que o manejam.

A falta cometida opera em nossa mente um estado de perturbação, ao qual não se reúnem simplesmente as forças desvairadas de nosso arrependimento, mas também as ondas de pesar e acusação da vítima e de quantos se lhe associam ao sentimento, ins­taurando desarmonias de vastas proporções nos centros da alma, a percutirem sobre a nossa própria instrumentação.

Semelhante descontrole apresenta graus diferentes, provocando lesões funcionais di­versas.

A cólera e o desespero, a crueldade e a intemperança criam zonas mórbidas de na­tureza particular no cosmo orgânico, impon­do às células a distonia pela qual se anulam quase todos os recursos de defesa, abrin­do-se leira fértil à cultura de micróbios pa­togênicos nos órgãos menos habilitados à resistência.

É assim que, muitas vezes, a tuberculo­se e o câncer, a lepra e a ulceração apare­cem como fenômenos secundários, residindo a causa primária no desequilíbrio dos refle­xos da vida interior.

Todos os sintomas mentais depressivos influenciam as células em estado de mitose, estabelecendo fatores de desagregação.

Por outro lado, importa reconhecer que o relaxamento da nutrição constrange o corpo a pesados tributos de sofrimento.

Enquanto encarnados, é natural que as vidas infinitesimais que nos Constituem o veículo de existência retratem as substâncias que ingerimos. Nesse trabalho de permuta constante adquirimos imensa quantidade de bactérias patogênicas que, em se instalando comodamente no mundo celular, podem de­terminar moléstias infecciosas de variegados caracteres, compelindonos a recolher, assim, de volta, os resultados de nossa imprevi­dencia.

Mas não é somente aí, no domínio das causas visíveis, que se originam os proces­sos patológícos multiformes.

Nossas emoções doentias mais profun­das, quaisquer que sejam, geram estados enfermiços.

Os reflexos dos sentimentos menos dig­nos que alimentamos voltam-se sobre nós mesmos, depois de convertidos em ondas mentais, tumultuando o serviço das células nervosas que, instaladas na pele, nas vísce­ras, na medula e no tronco cerebral, desem­penham as mais avançadas funções técnicas; acentue-se, ainda, que esses reflexos menos felizes, em se derramando sobre o córtex encefálico, produzem alucinações que podem variar da fobia oculta à loucura manifesta, pelas quais os reflexos daqueles companhei­ros encarnados ou desencarnados, que se nos conjugam ao modo de proceder e de ser, nos atingem com sugestões destruidoras, di­retas ou indiretas, conduzindo-nos a deplorá­veis fenômenos de alienação mental, na obsessão comum, ainda mesmo quando no jogo das aparências possamos aparecer como pessoas espiritualmente sadias.

Não nos esqueçamos, assim, de que apenas o sentimento reto pode esboçar o reto pensamento, sem os quais a alma adoe­ce pela carência de equilíbrio interior, im­primindo no aparelho somático os desvarios e as perturbações que lhe são conseqüentes.

 

VOCAÇÃO

A vocação é a soma dos reflexos da experiência que trazemos de outras vidas.

É natural que muitas vezes sejamos iniciantes, nesse ou naquele setor de serviço, diante da evolução das técnicas de trabalho que sempre nos reclamam novas modalida­des de ação; todavia, comumente, retoma­mos no berço a senda que já perlustramos, seja para a continuação de uma obra deter minada, seja para corrigir nossos próprios caminhos.

De qualquer modo, o titulo profissional, em todas as ocasiões, é carta de crédito para a criação de reflexos que nos enobreçam.

O administrador, o juiz, o professor, o médico, o artista, o marinheiro, o operário e o lavrador estão perfeitamente figurados na­quela parábola dos talentos de que se valeu o Divino Mestre para convidar-nos ao exame das responsabilidades próprias perante os empréstimos da Bondade Infinita.

Cada espírito recebe, no plano em que se encontra, certa quota de recursos para honrar a Obra Divina e engrandecê-la.

Acontece, porém, que, na maioria das circunstâncias, nos apropriamos indebita­mente das concessões do Senhor, usando-as no jogo infeliz de nossas paixões desgover­nadas, no aloucado propósito de nos ante-pormos ao próprio Deus.

Daí a colheita dos reflexos amargos de nossa conduta, quando se nos desgasta o corpo terrestre, com o doloroso constrangi­mento do regresso às dificuldades do recomeço, em que o instituto da reencarnação funciona com valores exatos.

E como cada região profissional abran­ge variadas linhas de atividade, o juiz que criou reflexos de crueldade, perseguindo ino­centes, costuma voltar ao mesmo tribunal, onde exercera as suas luzidas funções, com as lágrimas de réu condenado injustamente, para sofrer no próprio espírito e na própria carne as flagelações que impôs, noutro tem­po, a vítimas indefesas. O médico que abusou das possibilidades que lhe foram entregues, retorna ao hospital que espezinhou, como apagado enfermeiro, defrontado por ásperos sacrifícios, a fim de ganhar o pão. O grande agricultor que dilapidou as energias dos cooperadores humildes que o Céu lhe con­cedeu, para os serviços do campo, vem, de novo, à gleba que explorou com vileza de sentimento, na condição de pobre lidador, padecendo o sistema de luta em que prendeu moralmente as esperanças dos outros. Artistas eméritos, que transformaram a inteligên­cia em trilho de acesso a desregramentos inconfessáveis, reaparecem como anônimos companheiros do pincel ou da ribalta, debai­ xo de inibições por muito tempo insolúveis, à feição de habilidosos trabalhadores de úl­tima classe. Mulheres dignificadas por nomes distintos, confiadas ao vicio e à dissipação, com esquecimento dos mais altos deveres que lhes marcam a rota, freqüentemente vol­tam aos lares que deslustraram, na categoria de infimas servidoras, aprendendo duramen­te a reconquistar os títulos veneráveis de esposa e mãe...

E, comumente, de retorno suportam pre­terição e hostilidade, embaraços e desgostos, por onde passem, experimentando sublimes aspirações e frustrações amargosas, porqüanto é da Lei venhamos a colher os refle­xos de nossas próprias ações, implantados no ânimo alheio, retificando em nós mesmos o manancial da emoção e da idéia, para que nos ajustemos à corrente do bem, que parte de Deus e percorre todo o Universo para voltar a Deus.

 

PROFISSÃO

Pelos contatos da profissão cria o ho­mem vasta escola de trabalho, construindo a dignidade humana; contudo, pela abnega­ção emite reflexos da beleza divina, descer­rando trilhos novos para o Reino Celestial.

A profissão, honestamente exercida, em­bora em regime de retribuição, inclina os semelhantes para o culto ao dever.

A abnegação, que é sacrifício pela feli­cidade alheia, sublima o espírito.

É por isso que todos os povos sentem necessidade de erguer, no ímo do próprio seio, um altar permanente em que rendam preito aos legítimos heróis.

A abnegação que começa onde termina o dever possibilita a repercussão da Esfera Superior sobre o campo da Humanidade.

O delinqüente comum, algemado ao cár­cere, inspira piedade e sofrimento, O pala­díno de uma causa nobre, injustamente re­cluso no mesmo sítio, provoca respeito e imitação.

O administrador consciente e amigo que reparte os bens do serviço, gastando a parte que lhe compete com escrupulosa probidade, é um padrão de virtudes terrenas. O homem que cede suor e sangue de si mesmo, a bene­fício de todos, sem cogitar do seu interesse, é um apóstolo das virtudes celestes.

A ama, devidamente paga por seu tra­balho, junto à criança que lhe recebe cari­nho, é credora natural de atenção e reconhe­cimento, mas o coração materno, em cons­tante renúncia, arrebata, quem o contempla, à glória do amor puro.

É assim que o matemático, laureando-se de considerações públicas, dignamente gra­tificado pela obra que realiza, é catalogado à conta de cientista, e o cientista, mergu­lhado no trabalho incessante, em favor da tranqüilidade e da segurança da civilização, esquecido de si mesmo, é classificado por benfeitor.

Pela fidelidade ao desempenho das suas obrigações, o homem melhora a si mesmo, e, pela abnegação, o anjo aproxima-se do homem melhorado, aprimorando a vida e o mundo.

Nas atividades que transcendem o qua­dro de serviços remuneráveis na Terra, fruto das almas que ultrapassaram o impulso de preservação do próprio conforto, descem os reflexos mentais das Inteligências Celestes que operam, por amor, nas linhas da bene­merência oculta, linhas em que encontramos os braços eternos do Divino Incognoscível, que é Deus.

Nessa província moral do devotamento sem lindes, em que surpreendemos todos os corações humanos consagrados ao serviço espontâneo do bem, nem sempre respira o gênio, por vezes onerado de angústia pela soma dos reflexos infelizes que carreia consi­go desde o passado distante, mas identifica­mos facilmente os altos sacerdotes de todas as religiões, os admiráveis artistas de todas as pátrias, os nobres inventores de todos os cli­mas, os artífices iluminados de todos os povos e as grandes mães, tanta vez esqueci­das e sofredoras, de todas as latitudes. Por todos esses a Espiritualidade Superior desce gradativamente à esfera humana, sem qual­quer ligação com o pagamento da populari­dade e do ouro, porque é aí, pelo completo desprendimento de si mesma, no auxilio aos outros, que a alma vive o apostolado subli­me da renúncia santificante, atraindo o Pen­samento Divino para o burilamento e a as­censão da Humanidade.

 

SOCIEDADE

A sociedade humana pode ser compa­rada a imensa floresta de criações mentais, onde cada espírito, em processo de evolução e acrisolamento, encontra os reflexos de si mesmo.

Aí dentro os princípios de ação e rea­ção funcionam exatos.

As pátrias, grandes matrizes do pro­gresso, constituem notáveis fulcros da civi­lização ou expressivos redutos de trabalho, em que vastos grupos de almas se demoram no serviço de auto-educação, mediante o ser­viço à comunidade, emigrando, muita vez, de um país para outro, conforme se lhes faça precisa essa ou aquela aquisição nas linhas da experiência.

O         lar coletivo, definindo afinidades ra­ciais e interesses do clã, é o conjunto das emoções e dos pensamentos daqueles que o povoam. Entre as fronteiras vibratórias que o definem, por intermédio dos breves apren­dizados “berço-túmulo”, que denominamos existências terrestres, transfere-se a alma de posição a posição, conforme os reflexos que haja lançado de si mesma e conforme aque­les que haja assimilado do ambiente em que estagiou.

Atingida a época de aferição dos pró­prios valores, quando a morte física deter­mina a extinção da força vital corpórea, em­prestada ao espírito para a sua excursão de desenvolvimento e serviço, reajuste ou ele­vação, na esfera da carne, colhemos os re­sultados de nossa conduta e, bastas vezes, é preciso recomeçar o trabalho para regenerar atitudes e purificar sentimentos, na re­construção de nossos destinos.

Dessa forma, os corações que hoje opri­mem o próximo, a se prevalecerem da gale­ria social em que se acastelam, na ilusória supremacia do ouro, voltam amanhã ao ter­reno torturado da carência e do infortúnio, recolhendo, em impactos diretos, os raios de sofrimento que semearam no solo das neces­sidades alheias. E se as vitimas e os verdu­gos não souberem exercer largamente o per­dão recíproco, encontramos no mundo social verdadeiro círculo vicioso em que se entre­chocam, constantemente, as ondas da vin­gança e do ódio, da dissensão e do crime, assegurando clima favorável aos processos da delinqüência.

Sociedades que ontem escravizaram o braço humano são hoje obrigadas a afagar, por filhos do próprio seio, aqueles que elas furtaram à terra em que se lhes situava o degrau evolutivo. Hordas invasoras que ta­lam os campos de povos humildes e inermes, neles renascem como rebentos do chão con­quistado, garantindo o refazimento das ins­tituições que feriram ou depredaram. Agru pamentos separatistas, que humilham irmãos de cor, voltam na pigmentação que detes­tam, arrecadando a compensação das pró­prias obras. Citadinos aristocratas, insensí­veis aos problemas da classe obscura, depois de respirarem o conforto de avenidas sun­tuosas costumam renascer em bairros ator­mentados e anônimos, bebendo no cálix do pauperismo os reflexos da crueldade risonha com que assistiram, noutro tempo, à dor e à dificuldade dos filhos do sofrimento.

Em todas as épocas, a sociedade huma­na é o filtro gigantesco do espírito, em que as almas, nos fios da experiência, na abas­tança ou na miséria, na direção ou na subal­ternidade, colhem os frutos da plantação que lhes é própria, retardando o passo na planí­cie vulgar ou acelerando-o para os cimos da vida, em obediência aos ditames da evolução.

 

PROSPERIDADE

Prosperidade na Terra quer dizer fortu­na, felicidade.

Grande parte das criaturas, almejando-lhe a posse, pleiteia relevo, autoridade, domínio...

Gastam-se largos patrimônios da exis­tência para conquistar-lhe o prestigio e não falta quem surja no prélio estudando as for­ças ocultas para incorporar-lhe o bafejo.

Milhões dos homens de hoje vivem à cata de ouro e predominância, com o mesmo empenho com que antigamente, em aprendi­zados mais simples, se entregavam aos mis­teres primitivos de caça e pesca.

E que, na procura desse ou daquele va­lor da vida, mobilizamos a energia mental, constituída à base de nossas emoções e desejos.

O espelho do coração, constantemente focado no rumo dos objetos e situações que buscamos, traz-nos à rota os elementos que nos ocupam a alma.

Não esqueçamos, todavia, que, na labo­riosa jornada para a Glória Divina, nos con­fundimos sempre com aquilo que nos possui a atenção, demorando-nos nesse ou naquele setor de luta, conforme a extensão e dura­ção de nossos propósitos.

Como no filme cinematográfico, em que a história narrada é feita pelos quadros que se sucedem, ininterruptos, a experiência que nos é peculiar, nessa ou naquela fase da vida, constitui-se dos reflexos repetidos de nossos sentimentos, gerando idéias contínuas que acabam plasmando os temas de nossa luta, aos quais se nos associa a mente, identifican­do-se, de modo quase absoluto, com as cria­ções dela mesma, à maneira da tartaruga que na carapaça, formada por ela própria, se isola e refugia.

Em razão disso, o conceito de prospe­ridade no mundo é sempre discutível, porqüanto nem todos sabem possuir, elevar-se ou comandar com proveito para os sagrados objetivos da Criação.

Muita gente, pela reflexão mental inces­sante em torno dos recursos amoedados, pro­gride em títulos materiais; entretanto, se os não converte em fatores de enriquecimento geral, cava abismos dourados nos quais se submerge, gastando longo tempo para liber­tar-se do azinhavre da usura.

Legiões de pessoas no século ferem o solo da vida, com anseios repetidos de saliência individual, e adquirem vasto renome na ciência e na reli­gião, nas letras e nas artes; contudo, se não movimentam as suas conquistas no amparo e na educação dos companheiros da senda humana, quase sempre, muito embora ful­gurem nas galerias da genialidade, sofrem o retorno das ondas mentais de extravagância que emitem, caindo em perigosos labirin­tos de purgação.

Há, por isso, muita prosperidade apa­rente, mais deplorável que a miséria mate­rial em si mesma, porque a mesa vazia e o fogão sem lume podem ser caminhos de lou­vável reparação, enquanto o banquete opí­paro e a bolsa farta, em muitas ocasiões, apenas significam avenidas de licença que correm para o despenhadeiro da culpa, de onde só conseguiremos sair ao preço de lon­gos estágios na perturbação e na sombra.

Muitos religiosos perguntam por que motivo protegeria Deus o progresso material dos ímpios. Em verdade, porém, semelhante fortuna não existe, de vez que a prosperi­dade, ausente da reta conduta, não passa de apropriação indébita e é como roupa bri­lhante cobrindo chagas ocultas, que exigem a formação de reflexos contrários aos enga­nos que as originaram, a fim de que a prosperidade legítima, a expressar-se em serviço e cultura, amor e retidão, confira ao espírito o reflexo dominante da luz.

 

HÁBITO

O hábito é uma esteira de reflexos men­tais acumulados, operando constante indução à rotina.

Herdeiros de milênios, gastos na reca­pitulação de muitas experiências análogas entre si, vivemos, até agora, quase que àmaneira de embarcações ao gosto da cor­renteza, no rio de hábitos aos quais nos ajustamos sem resistência.

Com naturais exceções, todos adquiri­mos o costume de consumir os pensamentos alheios pela reflexão automática, e, em razão disto, exageramos as nossas necessidades, apartando-nos da simplicidade com que nos seria fácil erguer uma vida melhor, e for­mamos em torno delas todo um sistema de­fensivo à base de crueldade, com o qual fe­rimos o próximo, dilacerando conseqüente­mente a nós mesmos.

Estruturamos, assim, complicado meca­nismo de cautela e desconfiança, para além da justa preservação, retendo, apaixonada­mente, o instinto da posse e, com o instinto da posse, criamos os reflexos do egoísmo e do orgulho, da vaidade e do medo, com que tentamos inutilmente fugir às Leis Divinas, caminhando, na maioria das circunstâncias, como operários distraídos e infiéis que deser­tassem da máquina preciosa em que devem servir gloriosamente, para cair, sufocados ou inquietos, nas engrenagens que lhes são próprias.

Nesse círculo vicioso, vive a criatura humana, de modo geral, sob o domínio da ignorância acalentada, procurando enga­nar-se depois do berço, para desenganar-se depois do túmulo, aprisionada no binômio ilusão-desilusão, com que despende longos séculos, começando e recomeçando a senda em que lhe cabe avançar.

Não será lícito, porém, de modo algum, desprezar a rotina construtiva. É por ela que o ser se levanta no seio do espaço e do tem­po, conquistando os recursos que lhe enobre­cem a vida.

A evolução, contudo, impõe a instituição de novos costumes, a fim de que nos desven­cilhemos das fórmulas inferiores, em marcha para ciclos mais altos de existência.

É por esse motivo que vemos no Cristo —        divino marco da renovação humana —todo um programa de transformações visce­rais do espírito. Sem violência de qualquer natureza, altera os padrões da moda moral em que a Terra vivia há numerosos milênios. Contra o uso da condenação metódica, ofe­rece a prática do perdão. A tradição de raça opõe o fundamento da fraternidade legítima.

No abandono à tristeza e ao desânimo, nas horas difíceis, traz a noção das bem-aventuranças eternas para os aflitos que sabem es­perar e para os justos que sabem sofrer.

Toda a passagem do Senhor, entre os homens, desde a Manjedoura, que estabelece o hábito da simplicidade, até a Cruz afron­tosa que cria o hábito da serenidade e da paciência, com a certeza da ressurreição para a vida eterna, o apostolado de Jesus é resplendente conjunto de reflexos do cami­nho celestial para a redenção do caminho humano.

Até agora, no mundo, a nossa justiça cheira a vingança e o nosso amor sabe a egoísmo, pelo reflexo condicionado de nossas atitudes irrefletidas nos milênios que nos precedem o “hoje”. Não podemos desconhe­cer, todavia, que somente adotando a bon­dade e o entendimento, com a obrigação de educar-nos e com o dever de servir, como hábitos automáticos nos alicerces de cada dia, colaborando para a segurança e felici­dade de todos, ainda mesmo à custa de nosso sacriffcio, é que refletiremos em nós a ver­dadeira felicidade, por estarmos nutrindo o verdadeiro bem.

 

DEVER

O dever define a submissão que nos cabe a certos princípios estabelecidos como leis pela Sabedoria Divina, para o desenvol­vimento de nossas faculdades.

Para viver em segurança, ninguém des­prezará a disciplina.

Obedecem as partículas elementares no mundo atômico, obedece a constelação na glória da Imensidade.

O homem viajará pelo firmamento, a lon­gas distâncias do lar em que se lhe vincula o corpo físico; no entanto, não logrará fazê­-lo sem obediência aos princípios que vigem para os movimentos da máquina que o trans­porta.

Dessa forma, pode-se simbolizar o dever como sendo a faixa de ação no bem que o Supremo Senhor nos traça à responsabilida­de, para a sustentação da ordem e da evo­lução em Sua Obra Divina, no encalço de nosso próprio aperfeiçoamento.

Cada consciência bafejada pelo sol da razão será interpretada, assim, à conta de raio na esfera da vida, evolvendo da super­fície para o centro, competindo-lhe a obri­gação de respeitar e promover, facilitar e nutrir o bem comum, atitude espontânea que lhe valerá o auxilio natural de todos os que lhe recolhem a simpatia e a cooperação. Com semelhante atitude, cada espírito plasma os reflexos de si mesmo, por onde passa, abrin­do-se aos reflexos das mentes mais elevadas que o impulsionam à contemplação de mais vastos horizontes do progresso e à adequa­da assimilação de mais altos valores da vida.

Desse modo, pela execução do dever —          região moral de serviço em que somos constantemente alertados pela consciên­cia —, exteriorizamos a nossa melhor parte, recolhendo a melhor parte dos outros.

Acontece, porém, que muitas vezes cria­mos perturbações na linha das atividades que o Senhor nos confia, e não apenas des­conjuntamos a peça de nossa existência, como também colocamos em desordem mui­tas existências alheias, desajustando outras muitas peças na máquina do destino.

Surge então para nós o inexorável cons­trangimento à luta maior, que podemos no­mear como sendo o dever-regeneração, pelo qual somos compelidos a produzir reflexos inteiramente renovadores de nossa indivi­dualidade, à frente daqueles que se fizeram credores das nossas quotas de sacrifício.

É dessa maneira que recebemos, por imposição das circunstâncias, a esposa in­compreensiva, o esposo atrabiliário, o filho doente, o chefe agressivo, o subalterno infe­liz, a moléstia pertinaz ou a tarefa compul­sória a beneficio dos outros, como gleba espiritual para esforço intensivo na recuperação de nós mesmos.

E por esse motivo que de nada vale de­sertar do campo de duras obrigações em que nos vejamos sitiados, por força dos aconte­cimentos naturais do caminho, de vez que na intimidade da consciência, ainda mesmo que a apreciação alheia nos liberte desse ou daquele imposto de devotamento e renúncia, ordena a razão estejamos de sentinela na obra de paciência e de tolerância, de humil­dade e de amor, que fomos chamados inti­mamente a atender; sem isso, não obstante a aparência legal de nosso afastamento da luta, somos invencivelmente onerados por ocultas sensações de desgosto ante as nossas próprias fraquezas, que, começando por li­geiras irritações e pequeninos desalentos, acabam matriculando-nos o espírito nos ins­titutos da enfermidade ou na vala da frus­tração.

 

CULPA

Quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentimento de culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifes­tações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma.

E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos de nossa lembran­ça amarga, transforma-se num abcesso men­tal, envenenando-nos, pouco a pouco, e expe­lindo, em torno, a corrente miasmática de nossa vida íntima, intoxicando o hausto es­piritual de quem nos desfruta o convívio.

A feição do ímã, que possui campo mag­nético específico, toda criatura traz consigo o halo ou aura de forças criativas ou destru­tivas que lhe marca a índole, no feixe de raios invisíveis que arroja de si mesma. Épor esse halo que estabelecemos as nossas ligações de natureza invisível nos domínios da afinidade.

Operando a onda mental em regime de circuito, por ela incorporamos, quando mo­ralmente desalentados, os princípios corro­sivos que emanam de todas as Inteligências, encarnadas ou desencarnadas, que se entro­sem conosco no ámbito de nossa atividade e influência.

Projetando as energias dilacerantes de nosso próprio desgosto, ante a culpa que adquirimos, quase sempre somos subitamen­te visitados por silenciosa argumentação in­terior que nos converte o pesar, inicialmente alimentado contra nós mesmos, em mágoa e irritação contra os outros.

É que os reflexos de nossa defecção, a torvelinharem junto de nós, assimilam, de

imediato, as indisposições alheias, carrean­do para a acústica de nossa alma todas as mensagens inarticuladas de revolta e desâ­nimo, angústia e desespero que vagueiam na atmosfera psíquica em que respiramos, me­tamorfoseando-nos em autênticos rebeladoS sociais, famintos de insulamento ou de es­cândalo, nos quais possamos dar pasto à imaginação virulada pelas mórbidas sensa­ções de nossas próprias culpas.

É nesse estado negativo que, martela­dos pelas vibrações de sentimentos e pensa­mentos doentios, atingimos o desequilíbrio parcial ou total da harmonia orgânica, enre­dando corpo e alma nas teias da enfermi­dade, com a mais complicada diagnose da patologia clássica.

A noção de culpa, com todo o séquito das perturbações que lhe são conseqüentes, agirá com os seus reflexos in­cessantes sobre a região do corpo ou da alma que corresponda ao tema do remorso de que sejamos portadores.

Toda deserção do dever a cumprir traz consigo o arrependimento que, alentado no espírito, se faz acompanhar de resultantes atrozes, exigindo, por vezes, demoradas existências de reaprendizado e restauração.

Cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o reajustamento tão imediato quanto possível de nosso equilíbrio vibratório, se não desejamos o ingresso inquietante na escola das longas reparações.

É por essa razão que Jesus, não apenas como Mestre Divino mas também como Sábio Médico, nos aconselhou a reconciliação com os nossos adversários, enquanto nos achamos a caminho com eles, ensinando-nos a encontrar a verdadeira felicidade sobre o alicerce do amor puro e do perdão sem limites.

 

AUXÍLIO

Auxiliar espontaneamente é refletir a Vida Divina por intermédio da vida de nosso “eu”, que se dilata e engrandece, à propor­ção que nos desdobramos no impulso de auxiliar.

A Eterna Providência é o reservatório do Amor Infinito, em doação permanente, solicitando canais de expressão que o dis­tribuam, aos quais provê com matemática precisão.

É necessário, porém, estejamos de ata­laia no celeiro de nós mesmos, a fim de que não impeçamos o eterno dar-se de Nosso Pai, dando incessantemente dos bens de que Ele nos enriquece.

Quem observa os princípios da eletrici­dade não ignora que o fluxo constante da força, para a consecução dos benefícios que ela produz, reclama um circuito completo. Se não houvesse pólos positivos e negativos, não disporíamos do favor da luz e do movi­mento.

Quem conhece igualmente o manancial sabe que a água, para manter-se pura, exige escoadouro.

Toda obstrução, por isso mesmo, signi­fica inércia e enfermidade.

A lei do auxílio permite a solicitação, mas determina a expansão para que a ajuda não desajude.

O sangue que não circula gera a necro­se que traduz cadaverização dentro do corpo vivo.

O homem que saiba governar muitos bens reunidos, construindo com eles a base do trabalho e da educação de muitos, é qual

represa em lide, no campo social, missio­nário do progresso que as leis da vida nu­trem de esperança e saúde, segurança e ale­gria; ao passo que o detentor de numerosos bens, sem qualquer serventia para a comu­nidade, é um sorvedouro em sombra à mar­gem do caminho, usurário infeliz que as mes­mas leis da vida cercam de angústia e medo, solidão e secura.

O amparo que recolhemos corresponde ao amparo que dispensamos. E o amparo que dispensamos está invariavelmente segui­do de vastos acréscimos potenciais para a hipótese de nos fazermos mais úteis.

Lembremo-nos de que refletir as bên­çãos de Deus no socorro espontâneo ao pró­ximo, sem o tambor da vaidade a estimular-nos o exclusivismo, é atrair os reflexos de Deus para aqueles que nos cercam e que, igualmente em silêncio, se deslocam ao nosso encontro, prestando-nos assistência efetiva.

Ajudar com o sentimento, com a idéia, com a palavra e com a ação, ajudar a todos e melhorar sempre é invocar, em nosso fa­vor, o apoio integral da vida.

Não nos esqueçamos, pois, de que o auxilio que prestamos às criaturas, sem exi­gência e sem paga, é a nossa rogativa silen­ciosa ao Socorro Divino, que nos responde, invariável, com a luz da cooperação e do suprimento.

 

HUMILDADE

          A humildade, por força divina, reflete-se, luminosa, em todos os domínios da Natureza, os quais expressam, efetivamente, o Trono de Deus, patrocinando o progresso e a renovação.

          Magnificente, o Sol, cada dia, oscula a face do pântano sem clamar contra o insul­to da lama; a flor, sem alarde, incensa a glória do céu. Filtrada na aspereza da rocha, a água se revela mais pura, e, em seguida às grandes calamidades, a colcha de erva cobre o campo, a fim de que o homem reco­mece a lida.

A carência de humildade, que, no fundo, é reconhecimento de nossa pequenez dian­te do Universo, surgem na alma humana doentios enquistamentos de sentimento, quais sejam o orgulho e a cobiça, o egoísmo e a vaidade, que se responsabilizam pela dis­córdia e pela delinqüência em todas as di­reções.

Sem o reflexo da humildade, atributo de Deus no reino do “eu”, a criatura sente-se proprietária exclusiva dos bens que a cer­cam, despreocupada da sua condição real de espírito em trânsito nos carreiros evolutivos e, apropriando-se da existência em sentido particularista, converte a própria alma em cidadela de ilusão, dentro da qual se recusa ao contato com as realidades fundamentais da vida.

Sob o fascínio de semelhante negação, ergue azorragues de revolta contra todos os que lhe inclinem o espírito ao aproveitamen­to das horas, já que, sem o clima da humil­dade, não se desvencilha da trama de sombras a que ainda se vincula, no plano da animalidade que todos deixamos para trás, após a auréola da razão.

Possuída pelo espírito da posse exclusi­vista, a alma acolhe facilmente o desespero e o ciúme, o despeito e a intemperança, que geram a tensão psíquica, da qual se deri­vam perigosas síndromes na vida orgânica, a se exprimirem na depressão nervosa e no desequilíbrio emotivo, na ulceração e na dis­função celular, para não nos referirmos aos deploráveis sucessos da experiência cotidia­na, em que a ausência da humildade coman­da o incentivo à loucura, nos mais dolorosos conflitos passionais.

Quem retrata em si os louros dessa vir­tude quase desconhecida aceita sem cons­trangimento a obrigação de trabalhar e ser­vir, a benefício de todos, assimilando, deste modo, a bênção do equilíbrio e substanciali­zando a manifestação das Leis Divinas, que jamais alardeiam as próprias dádivas.

Humildade não é servidão. Ë, sobretu­do, independência, liberdade interior que nasce das profundezas do espírito, apoian­do-lhe a permanente renovação para o bem.

Cultivá-la é avançar para a frente sem prender-se, é projetar o melhor de si mesmo sobre os caminhos do mundo, é olvidar todo o mal e recomeçar alegremente a tarefa do amor, cada dia.

Refletindo-a, do Céu para a Terra, em penhor de redenção e beleza, o Cristo de Deus nasceu na palha da Manjedoura e des­pediu-se dos homens pelos braços da Cruz.

 

TOLERÂNCIA

          Vive a tolerância na base de todo o pro­gresso efetivo.

          As peças de qualquer máquina supor­tam-se umas às outras para que surja essa ou aquela produção de benefícios determi­nados.

          Todas as bênçãos da Natureza constituem larga seqüência de manifeStações da abençoada virtude que inspira a verdadeira fraternidade.

Tolerância, porém, não é conceito de Superfície.

É reflexo vivo da compreensão que nas­ce, límpida, na fonte da alma, plasmando a esperança, a paciência e o perdão com es­quecimento de todo o mal.

Pedir que os outros pensem com a nossa cabeça seria exigir que o mundo se adaptasse aos nossos caprichos, quando é nossa obriga­ção adaptar-nos, com dignidade, ao mundo, dentro da firme disposição de ajudá-lo.

A Providência Divina reflete, em toda parte, a tolerância sábia e ativa.

Deus não reclama da semente a produ­ção imediata da espécie a que corresponde. Dá-lhe tempo para germinar, crescer, florir e frutificar. Não solicita do regato improvi­sada integração com o mar que o espera. Dá-lhe caminhos no solo, ofertando-lhe o tempo necessário à superação da marcha.

Assim também, de alma para alma, éimperioso não tenhamos qualquer atitude de violência.

A brutalidade do homem impulsivo e a irritação do enfermo deseducado, tanto quan­to a garra no animal e o espinho na roseira,

representam indícios naturais da condição evolutiva em que se encontram.

Opor ódio ao ódio é operar a destruição.

O autor de qualquer injúria invoca o mal para si mesmo. Em vista disso, o mal só é realmente mal para quem o pratica. Revidá­-lo na base de inconseqüência em que se ex­pressa é assimilar-lhe o veneno.

É imprescindível tratar a ignorância com o carinho medicamentoso que dispensamos ao tratamento de uma chaga, porqüanto gol­pear a ferida, sem caridade, será o mesmo que converter a moléstia curável num aleijão sem remédio.

A tolerância, por esse motivo, é, acima de tudo, completo esquecimento de todo o mal, com serviço incessante no bem.

Quem com os lábios repete palavras de perdão, de maneira constante, demonstra acalentar a volúpia da mágoa com que se acomoda perdendo tempo.

Perdoar é olvidar a sombra, buscando a luz.

Não é dobrar joelhos ou escalar gale­rias de superioridade mendaz, teatralizando os impulsos do coração, mas sim persistir no trabalho renovador, criando o bem e a harmonia, pelos quais aqueles que não nos entendam, de pronto, nos observem com diversa interpretação, compreendendo-nos o idioma inarticulado do exemplo.

Oferece-nos o Crísto o modelo da tolerância ideal, em regressando do túmulo ao encontro dos aprendizes desapontados. Longe de reportar-se à deserção de Pedro ou àfraqueza de Judas, para dizer com a boca que os desculpava, refere-se ao serviço da redenção, induzindo-os a recomeçar o apostolado do bem eterno.

Tolerar é refletir o entendimento fraterno, e o perdão será sempre profilaxia segura, garantindo, onde estiver, saúde e paz, renovação e segurança.

 

ORAÇÃO

A oração é divino movimento do espe­lho de nossa alma no rumo da Esfera Supe­rior, para refletir-lhe a grandeza.

Reportamo-nos aqui ao apelo vivo do es­pírito às Potências Celestes, quer vestido na fórmula verbal, quer absolutamente sem ela, na silenciosa mensagem da vibração.

Imaginemos a face de um espelho vol­tada para o Sol, desviando-lhe O fulgor na direção do abismo.

Esta, na essência, é a função da prece, buscando o Amor Divino para concentrar-lhe a claridade sobre os vales da ignorância e do sofrimento, da miséria e do ódio, que ainda se estendem no mundo.

Graduada, desde o mais simples desejo, a exteriorizar-se dos mais ínfimos seres, até a exaltação divina dos anjos, nada se faz na Terra sem o impulso da aspiração que orienta o passo de todas as criaturas...

No corpo ciclópico do Planeta, a oração é o movimento que o mantém na tela cósmi­ca; no oceano, é o fenômeno da maré, pelo qual as águas aspiram ao grande equilíbrio. Na planta, é a chamada fototaxia ou anseio com que o vegetal se levanta para a luz, in­corporando-lhe os princípios; no animal, é o instinto de curiosidade e indagação que lhe alicerçam as primeiras conquistas da inteli­gência, tanto quanto, no homem comum, éa concentração natural, antes de qualquer edificação no caminho humano.

O professor planeando o ensinamento e o médico a ensimesmar-se no estudo para sanar determinada moléstia, o administrador programando a execução desse ou daquele serviço, e o engenheiro engolfado na con­fecção de uma planta para certa obra, estão usando os processos da oração, refletindo na própria mente os propósitos da educação e da ciência de curar, da legislação e do pro­gresso, que fluem do plano invisível, à fei­ção de imagens abstratas, antes de se reve­larem substancialmente ao mundo.

Orar é identificar-se com a maior fonte de poder de todo o Universo, absorvendo-lhe as reservas e retratando as leis da renova­ção permanente que governam os funda­mentos da vida.

A prece impulsiona as recônditas ener­gias do coração, libertando-as com as ima­gens de nosso desejo, por intermédio da força viva e plasticizante do pensamento, imagens essas que, ascendendo às Esferas Superiores, tocam as inteligências visíveis ou invisíveis que nos rodeiam, pelas quais co­mumente recebemos as respostas do Plano Divino, porqüanto o Pai Todo-Bondoso se manifesta igualmente pelos filhos que se fazem bons.

A vontade que ora, tange o coração que sente, produzindo reflexos iluminativos atra­ vés dos quais o espírito recolhe em silêncio, sob a forma de inspiração e socorro íntimo, o influxo dos Mensageiros Divinos que lhe presidem o território evolutivo, a lhe reno­varem a emoção e a idéia, com que se lhe aperfeiçoa a existência.

Dispomos na oração do mais alto siste­ma de intercâmbio entre a Terra e o Céu.

Pelo divino circuito da prece, a criatura pede o amparo do Criador e o Criador res­ponde à criatura pelo princípio inelutável da reflexão espiritual, estendendo-lhe os Braços Eternos, a fim de que ela se erga dos vales da vida fragmentária para os cimos da Vida Vitoriosa.

 

OBSESSÃO

Observando-se a mediunidade como sin­tonia, a obsessão é o equilíbrio de forças in­feriores, retratando-se entre si.

Fenômeno de reflexão pura e simples, não ocorre tão-somente dos chamados mortos para os chamados vivos, porque, na es­séncia, muita vez aparece entre os próprios Espíritos encarnados a se subjugarem reci­procamente pelos fios invisíveis da sugestão.

A mente que se dirige a outra cria ima­gens para fazer-se notada e compreendida, prescindindo da palavra e da ação para insi­nuar-se, porqüanto, ambientando a repeti­ção, atinge o objetivo que demanda, proje­tando-se sobre aquela que procura influen­ciar. E, se a mente visada sintoniza com a onda criadora lançada sobre ela, inicia-se vivo circuito de força, dentro do qual a pa­lavra e a ação se incumbem de consolidar a correspondência, formando o círculo de en­cantamento em que o obsessor e o obsidiado passam a viver, agindo e reagindo um sobre o outro.

Não há, por isto, obsessão unilateral. Toda ocorrência desta espécie se nutre àbase de intercâmbio mais ou menos comple­to. Quanto mais sustentadas as imagens in­feriores de um Espírito para outro, em re­gime de permuta constante, mais profundo o poder da obsessão, de vez que se afastam da justa realidade para o circuito de sombra em que entregam a mútuo fascínio.

É o mesmo que se verifica com a pedra quando em serviço de gravação. Quanto mais repetida a passagem do buril, mais entranhado o sulco destinadO a perpetuar a minu­dência da imagem.

Lembremo-nOS, ainda, do disco comum, em cujas reentrâncias sutis permanecem os sons fixados para repetição à nossa vonta­de. Muita vez a mente obsidiada se asseme­lha à chapa de ebonite, arquivando ordens e avisos do obsessor (notadamente durante O sono habitual, quando liberamos os próprios reflexos, sem o controle da nossa consciên­cia de limiar), ordens e avisos que a pessoa obsessa atende, de modo quase automáticO, qual o instrumento passivo da experiência magnética, no cumprimentO de sugestões pós-hipnóticas.

Quanto mais nos rendamos a essa ou àquela idéia, no imo de nós mesmos, com maior força nos convertemos nela, a expres­sar-lhe os desígniOS.

É assim que se formam estranhos dese­quilíbrios que, em muitas circunstâncias, concretizam moléstia e desalento, aflição e loucura, quando não plasmam a crueldade e a morte.

Toda obsessão começa pelo debuxo vago do pensamento alheio que nos visita, oculto.

Hoje é um pingo de sombra, amanhã linha firme, para, depois, fazer-se um painel vigoroso, do qual assimilamos apelos infelizes que nos aprisionam em turbilhões de trevas.

Urge, pois, que saibamos fugir, desassombrados, aos enganos da inércia, porque o espelho ocioso de nossa vida em sombra pode ser longamente viciado e detido pelas forças do mal que, em nos vampirizando, estendem sobre os outros as teias infernais da miséria e do crime.

Dar novo pasto à mente pelo estudo que eleve e consagrar-se em paz ao serviço incessante é a fórmula ideal para libertar-se de todas as algemas, pois que, na aquisição de bênçãos para o espírito e no auxílio espontâneo à vida que nos cerca, refletiremos sempre a Esfera Superior, avançando, por fim, da cegueira mental para a divina luz da Divina Visão.

 

ENFERMIDADE

Ninguém poderá dizer que toda enfer­midade, a rigor, esteja vinculada aos pro­cessos de elaboração da vida mental, mas todos podemos garantir que os processos de elaboração da vida mental guardam positi­va influenciação sobre todas as doenças.

Há moléstias que têm, sem dúvida, fun­ção preponderante nos serviços de purifica­ção do espírito, surgindo com a criatura no berço ou seguindo-a, por anos a fio, na dire­ção do túmulo.

As inibições congeniais, as mutilações imprevistas e as enfermidades dificilmente curáveis catalogam-se, indiscutivelmente, na tabela das provações necessárias, como cer­tos medicamentos imprescindíveis figuram na ficha de socorro ao doente; contudo, os sintomas patológicos na experiência comum, em maioria esmagadora, decorrem dos refle­xos infelizes da mente sobre o veículo de nossas manifestações, operando desajustes nos implementos que o compõem.

Toda emoção violenta sobre o corpo é semelhante a martelada forte sobre a engre­nagem de máquina sensível, e toda aflição amimalhada é como ferrugem destruidora, prejudicando-lhe o funcionamento.

Sabe hoje a medicina que toda tensão mental acarreta distúrbios de importância no corpo físico.

Estabelecido o conflito espiritual, quase sempre as glândulas salivares paralisam as suas secreções, e o estômago, entrando em espasmo, nega-se à produção de ácido clorí­drico, provocando perturbações digestivas a se expressarem na chamada colite mucosa. Atingido esse fenômeno primário que, muita vez, abre a porta a temíveis calamidades orgânicas, os desajustamentos gastrintestinais repetidos acabam arruinando os proces­sos da nutrição que interessam o estímulo nervoso, determinando variados sintomas, desde a mais leve irritação da membrana gástrica até a loucura de abordagem com­plexa.

O pensamento sombrio adoece o corpo são e agrava os males do corpo enfermo.

Se não é aconselhável envenenar o apa­relho fisiológico pela ingestão de substâncias que o aprisionem ao vício, é imperioso evitar os desregramentos da alma que lhe impõem desequilíbrios aviltantes, quais se­jam aqueles hauridos nas decepções e nos dissabores que adotamos por flagelo cons­tante do campo íntimo.

Cultivar melindres e desgostos, irrita­ção e mágoa é o mesmo que semear espi­nheiros magnéticos  e adubá-los no solo emo­tivo de nossa existência, é intoxicar, por conta própria, a tessitura da vestimenta cor­pórea, estragando os centros de nossa vida profunda e arrasando, conseqüentemente, sangue e nervos, glândulas e vísceras do corpo que a  Divina Providência nos concede entre os homens, com vistas ao desenvolvi­mento de nossas faculdades para a Vida Eterna.

Guardemos, assim, compreensão e pa­ciência, bondade infatigável e tolerância construtiva em todos os passos da senda, porque somente ao preço de nossa incessan­te renovação mental para o bem, com o apoio do estudo nobre e do serviço constante, é que superaremos o domínio da enfermidade, aproveitando os dons do Senhor e evitando os reflexos letais que se fazem acompanhar do suicídio indireto.

 

MORTE

        Sendo a mente o espelho da vida, enten­deremos sem dificuldade que, na morte, lhe prevalecem na face as imagens mais pro­fundamente ínsculpidas por nosso desejo, àcusta da reflexão reiterada, de modo inten­so. Guardando o pensamento — plasma fluí­dico — a precisa faculdade de substanciali­zar suas próprias criações, imprimindo-lhes vitalidade e movimento temporários, a maio­ria das criaturas terrestres, na transição do sepulcro, é naturalmente obcecada pelos qua­dros da própria imaginação, aprisionada a fenômenos alucinatórios, qual acontece no sono comum, dentro do qual, na maioria das circunstâncias, a individualidade reencarna­da, em vez de retirar-se do aparelho físico, descansa em conexão com ele mesmo, so­frendo os reflexos das sensações primárias a que ainda se ajusta.

Todos os círculos da existência, para se adaptarem aos processos da educação, ne­cessitam do hábito, porque todas as con­quistas do espírito se efetuam na base de lições recapituladas.

As classes são vastos setores de traba­lho específico, plasmando, por intermédio de longa repercussão, os objetivos que lhes são peculiares naqueles que as compõem.

É assim que o jovem destinado a essa ou àquela carreira é submetido, nos bancos escolares, a determinadas disciplinas, in­cluindo a experiência anterior dos orientado­res que lhe precederam os passos na senda profissional escolhida.

O futuro militar aprenderá, desde cedo, a manejar os instrumentos de guerra, cultuando as instruções dos grandes chefes de estratégia, e o médico porvindouro deverá repetir, por anos sucessivos, os ensinos e experimentos dos especialistas, antes do ju­ramento hipocrático.

Em todas as escolas de formação, vemos professores ajustando a infância, a mocidade e a madureza aos princípios consagrados, nesse ou naquele ramo de estudo, fixando-lhes personalidade particular para determi­nados fins, sobre o alicerce da reflexão mental sistemática, em forma de lições per­sistentes e progressivas.

Um diploma universitário é, no fundo, o pergaminho confirmativo do tempo de re­capitulações indispensáveis ao domínio do aprendiz em certo campo de conhecimento para efeito de serviço nas linhas da coleti­vidade.

Segundo o mesmo principio, a morte nos confere a certidão das experiências repeti­das a que nos adaptamos, de vez que cada espírito, mais ou menos, se transforma na­quilo que imagina. É deste modo que ela, a morte, extrai a soma de nosso conteúdo men­tal, compelindo-nos a viver, transitoriamente, dentro dele. Se esse conteúdo é o bem, teremos a nossa parcela de céu, correspon­dente ao melhor da construção que efetua­mos em nós, e se esse conteúdo é o mal esta­remos necessariamente detidos na parcela de inferno que corresponda aos males de nossa autoria, até que se extinga o inferno de purgação merecida, criado por nós mes­mos na intimidade da consciência.

Tudo o que foge à lei do amor e do pro­gresso, sem a renovação e a sublimação por bases, gera o enquistamento mental, que nada mais é que a produção de nossos refle­xos pessoais acumulados e sem valor na cir­culação do bem comum, consubstanciando as idéias fixas em que passamos a respirar depois do túmulo, à feição de loucos autên­ticos, por nos situarmos distantes da reali­dade fundamental.

É por esta razão que morrer significa penetrar mais profundamente no mundo de nós mesmos, consumindo longo tempo em despir a túnica de nossos reflexos menos fe­lizes, metamorfoseados em região alucinató­ria decorrente do nosso monoideísmo na som­bra, ou transferindo-nos simplesmente de plano, melhorando o clima de nossos refle­xos ajustados ao bem, avançando em degraus conseqüentes para novos horizontes de as­censão e de luz.

  

AMOR

O amor puro é o reflexo do Criador em todas as criaturas.

Brilha em tudo e em tudo palpita na mesma vibração de sabedoria e beleza.

É fundamento da vida e justiça de toda a Lei.

Surge, sublime, no equilíbrio dos mun­dos erguidos à glória da imensidade, quanto nas flores anônimas esquecidas no campo.

Nele fulgura, generosa, a alma de todas as grandes religiões que aparecem, no curso das civilizações, por sistemas de fé à pro­cura da comunhão com a Bondade Celeste, e nele se enraíza todo o impulso de solida­riedade entre os homens.

Plasma divino com que Deus envolve tudo o que é criado, o amor é o hálito dEle mesmo, penetrando o Universo.

Vemo-lo, assim, como silenciosa espe­rança do Céu, aguardando a evolução de todos os princípios e respeitando a decisão de todas as consciências.

Mercê de semelhante bênção, cada ser éacalentado no degrau da vida em que se en­contra.

O verme é amado pelo Senhor, que lhe concede milhares e milhares de séculos para levantar-se da viscosidade do abismo, tanto quanto o anjo que o representa junto do verme. A seiva que nutre a rosa é a mesma que alimenta o espinho dilacerante. Na ár­vore em que se aninha o pássaro indefeso, pode acolher-se a serpente com as suas armas de morte. No espaço de uma penitenciária, respira, com a mesma segurança, o criminoso que lhe padece as grades de sofrimento e o correto administrador que lhe ga­rante a ordem.

O amor, repetimos, é o reflexo de Deus, Nosso Pai, que se compadece de todos e que a ninguém violenta, embora, em razão do mesmo amor infinito com que nos ama, de­termine estejamos sempre sob a lei da res­ponsabilidade que se manifesta para cada consciência, de acordo com as suas próprias obras.

E, amando-nos, permite o Senhor per­lustrarmos sem prazo o caminho de ascen­são para Ele, concedendo-nos, quando im­pensadamente nos consagramos ao mal, a própria eternidade para reconciliar-nos com o Bem, que é a Sua Regra Imutável.

Herdeiros dEle que somos, raios de Sua Inteligência Infinita e sendo Ele Mesmo o Amor Eterno de Toda a Criação, em tudo e em toda parte, é da legislação por Ele estatuída que cada espírito reflita livremen­te aquilo que mais ame, transformando-se, aqui e ali, na luz ou na treva, na alegria ou na dor a que empenhe o coração.

Eis por que Jesus, o Modelo Divino, enviado por Ele à Terra para clarear-nos a

senda, em cada passo de seu Ministério to­mou o amor ao Pai por inspiração de toda a vida, amando sem a preocupação de ser ama­do e auxiliando sem qualquer idéia de re­compensa.

Descendo à esfera dos homens por amor, humilhando-se por amor, ajudando e sofrendo por amor, passa no mundo, de sen­timento erguido ao Pai Excelso, refletindo-lhe a vontade sábia e misericordiosa. E, para que a vida e o pensamento de todos nós lhe retratem as pegadas de luz, legou-nos, em nome de Deus, a sua fórmula inesquecí­vel: — “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”

 

                                                                                            Chico Xavier

 

 

                      

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