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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PENSE / Isaac Asimov
PENSE / Isaac Asimov

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

PENSE

 

Genevieve Renshaw, Doutora em Medicina, tinha as mãos enfiadas nos bolsos do seu jaleco de laboratório. O contorno dos punhos cerrados lá dentro aparecia claramente, mas falava num tom calmo:

- O fato – dizia ela – é que estou quase pronta, mas vou precisar de ajuda para continuar tocando a coisa pelo tempo necessário para ficar pronta.

James Berkowitz, um físico que tendia a proteger meras médicas, quando eram atraentes demais para serem desprezadas, tinha o hábito de chamá-la Jenny Wren, sempre que ninguém o estava ouvindo. Gostava de dizer que Jenny Wren possuía um perfil clássico e sobrancelhas surpreendentemente suaves, e, no íntimo, considerava que atrás delas se adensava um cérebro dos mais aguçados. Seria a melhor forma para expressar sua admiração – do perfil clássico – sem cair num chauvinismo masculino. Sem dúvida, admirar o cérebro era preferível, mas, em geral, evitava fazê-lo em voz alta na presença dela.

- Não acho que o escritório central vá ter paciência por muito mais tempo – disse ele, com o polegar raspando o queixo com barba por fazer. – A impressão que tenho é que vão encostá-la na parede antes do fim da semana.

- É por isso que preciso da sua ajuda.

- Receio que não haja nada que eu possa fazer.

Ele pegou um inesperado reflexo de seu próprio rosto no espelho, e, momentaneamente, admirou o feixe de ondas negras nos cabelos.

- E preciso também da ajuda de Adam.

Adam Orsino, que até aquele momento sorvera o seu café e se sentira posto de lado, levantou os olhos como se tivesse sido cutucado por trás.

- Por que eu? – disse, e os lábios cheios, gorduchos, tremeram.

- Porque você e James são os homens do laser, Jim o teórico e Adam o engenheiro… Descobri uma aplicação do laser que supera tudo que se possa imaginar. Sei que não vou conseguir convencer os de lá, mas vocês dois conseguiriam.

- Desde que você seja capaz de nos convencer primeiro – disse Berkowitz.

- Está bem. Suponhamos que vocês me concedam uma hora de seu valioso tempo, se não se importam de conhecer algo absolutamente novo em termos de laser. Poderão descontar dos intervalos para o cafezinho.

O laboratório da Dra. Renshaw era dominado por seu computador. Não que o computador fosse singularmente grande, mas era virtualmente onipresente. Renshaw aprendera tecnologia de computação por si mesma, e modificara e ampliara seu computador até que ninguém, a não ser ela (e, Berkowitz às vezes pensava, nem mesmo ela) conseguia manejá-lo com facilidade. Nada mal, Renshaw costumava dizer, para alguém do ramo das ciências biológicas.

Ela fechou a porta sem dizer palavra, depois virou-se para encarar os dois com uma expressão sombria. Berkowitz estava incomodamente consciente de um leve odor desagradável no ar, e o nariz franzido de Orsino mostrava que também ele percebia o cheiro.

- Deixem-me enumerar as aplicações do laser – disse Renshaw – se não se importam que eu ensine os padres a rezarem missa. O laser é radiação coerente, com todas as ondas luminosas da mesma extensão e movendo-se na mesma direção, por isso é livre de ruído e pode ser usado em holografia. Modulando as formas das ondas, podemos imprimir informação com alto grau de precisão. Além disso, como as ondas luminosas possuem apenas um milionésimo da extensão das ondas de rádio, um raio laser pode transportar um milhão de vezes mais informação que uma onda de rádio equivalente.

Berkowitz parecia divertir-se.

- Está trabalhando num sistema de comunicação baseado no laser, Jenny?

- Absolutamente – ela respondeu. – Deixo esses aperfeiçoamentos óbvios para os físicos e os engenheiros… Os lasers podem também concentrar quantidades de energia numa área microscópica e liberar a mesma quantidade de energia. Em larga escala, pode-se implodir hidrogênio e talvez dar início a uma controlada reação de fusão…

- Eu sei que você não fez isso – disse Orsino, a cabeça calva brilhando sob as lâmpadas fluorescentes.

- Não fiz. Não tentei… Numa escala menor, pode-se abrir buracos nos mais refratários materiais, soldar pedaços selecionados, aquecê-los, poli-los e marcá-los. Pode-se remover ou fundir minúsculas porções em áreas restritas, com o calor liberado tão rapidamente que as áreas ao redor não têm tempo de se aquecer antes que o tratamento esteja encerrado. Pode-se trabalhar na retina dos olhos, na dentina do dente e assim por diante… E, naturalmente, o laser é capaz de ampliar sinais fracos com grande precisão.

- E por que está nos contando tudo isso? – perguntou Berkowitz.

- Para destacar que essas propriedades podem ser utilizadas em meu próprio campo, que, como sabem, é a neurofisiologia.

Ela ajeitou os cabelos castanhos com as mãos, como se, de repente, tivesse ficado nervosa.

- Há décadas – continuou – somos capazes de medir os minúsculos e instáveis potenciais elétricos do cérebro e registrá-los como eletroencefalogramas, ou EEGs. Obtemos ondas alfa, beta, delta, teta; variações diferentes em vezes diferentes, conforme os olhos estejam abertos ou fechados, conforme a pessoa esteja acordada, meditando ou adormecida. Mas temos tirado muito pouca informação de tudo isso.

- O problema é que estamos trabalhando com os sinais de dez bilhões de neurônios em combinações variáveis. É como ouvir o ruído de todos os seres humanos da Terra – uma, duas e meia Terras – de uma grande distância e tentar captar conversas individuais. Isto não pode ser feito. Podemos detectar alguns movimentos grandes, globais – uma guerra mundial e o aumento no volume de ruído – mas nada mais delicado. Do mesmo modo, podemos relatar algumas grandes disfunções do cérebro – como a epilepsia – mas nada mais delicado.

- Suponhamos agora que o cérebro possa ser escandido por um minúsculo raio laser, célula por célula, e tão rapidamente que, em nenhum momento, uma única célula receba energia suficiente para elevar significativamente sua temperatura. Os minúsculos potenciais de cada célula podem, em feedback, afetar o raio laser, e as modulações podem ser amplificadas e registradas. Obteremos, então, uma nova espécie de mensuração, um laser-encefalograma, ou LEG, se preferirem, que conterá milhões de vezes mais informação que um EEG comum.

- Uma boa idéia – disse Berkowitz. – Mas só uma idéia.

- Mais que uma idéia, Jim. Estou trabalhando nisso há cinco anos, a princípio só nas horas vagas. Ultimamente, porém, estou dedicando todo o meu tempo. Isso é o que irrita o escritório central, pois eu não tenho mandado relatórios.

- Por que não?

- Porque a coisa chegou a um ponto em que parece muito má, em que eu tenho de saber onde estou, e em que eu tenho de estar certa de poder voltar ao princípio.

Ela puxou um biombo, revelando uma jaula que continha um casal de sagüis com olhos melancólicos.

Berkowitz e Orsino olharam um para o outro. Berkowitz cocou o nariz.

- Bem que eu achei que estava cheirando alguma coisa.

- O que vai fazer com eles? – perguntou Orsino.

- Minha opinião – disse Berkowitz – é que ela esteve esquadrinhando o cérebro dos sagüis. Não é verdade, Jenny?

- Eu comecei consideravelmente mais baixo na escala animal.

Jenny abriu a jaula e pegou um dos sagüis, que a contemplava com a expressão em miniatura de um triste-senhor-idoso de costeletas.

Ela cacarejou para o sagüi, afagou-o e prendeu-o com carinho numa pequena coleira.

- Que está fazendo? – perguntou Orsino.

- Como ele vai fazer parte de um circuito, não posso deixar que se mexa, e não posso anestesiá-lo sem invalidar o experimento. Há vários eletrodos implantados no cérebro do sagüi e vou conectá-los com meu sistema LEG. O laser que vou usar é este aqui. Estou certa de que conhecem o modelo e não vou me preocupar em dar-lhes as especificações.

- Obrigado – disse Berkowitz -, mas podia contar-nos o que vamos ver.

- Será melhor mostrar-lhes. Olhem para o vídeo.

Ela conectou os condutores aos eletrodos com uma calma e segura eficiência, depois virou uma chave que obscureceu as luzes no teto da sala. No vídeo apareceu uma complexa cadeia de picos e vales numa linha fina, brilhante, que se desdobrava em secundários e terciários picos e vales. Lentamente, eles engendraram uma série de transformações menores, com surtos ocasionais de maiores e súbitas diferenças. Era como se a linha irregular possuísse vida própria.

- Isto – disse Renshaw – é essencialmente a informação do EEG, mas muito mais detalhada.

- Suficientemente detalhada – perguntou Orsino – para dizer o que está acontecendo nas células individuais?

- Em teoria, sim. Na prática, não. Ainda não. Mas podemos separar este conjunto de LEG nos gramas componentes. Olhe!

Ela tocou o painel do computador e a linha se modificou… e se modificou de novo. Já era uma onda pequena, quase regular, que ondulava para a frente e para trás, parecendo a pulsação de um coração, agora era recortada e afiada, agora intermitente, agora quase sem contornos – tudo em rápidas mudanças de geométrico surrealismo.

- Você quer dizer – perguntou Berkowitz – que cada parte do cérebro é assim tão diferente das outras?

- Não – respondeu Renshaw. – De modo nenhum. O cérebro é muito semelhante a um dispositivo holográfico, mas de lugar para lugar há ondulações menos acentuadas e Mike pode separá-las como desvios da norma e usar o sistema LEG para ampliar essas variações. As ampliações podem variar de dez mil a dez milhões de vezes. O sistema laser tem essa ausência de ruído.

- Quem é Mike? – perguntou Orsino.

- Mike? – exclamou Renshaw, momentaneamente embaraçada. As maçãs do seu rosto coraram ligeiramente. – Eu disse… Bem, eu o chamo assim, às vezes. É um apelido para o meu computador.

Ela fez o braço ondular, indicando a sala ao redor.

- Meu computador, Mike. Muito cuidadosamente programado.

Berkowitz abanou a cabeça:

- Tudo bem, Jenny, o que significa tudo isso? Se você tem um novo dispositivo para esquadrinhar o cérebro utilizando lasers, ótimo. É uma interessante aplicação e você está certa, eu não teria pensado nisso… porque não sou neurofisiologista. Mas por que não registrar isso num relatório? Parece-me que o escritório central apoiaria…

- Isto é apenas o começo.

Ela desligou o dispositivo e pôs um pedaço de fruta na boca do sagüi. A criatura não parecia alarmada nem incomodada. Mastigava lentamente. Renshaw soltou-lhe os fios condutores, mas conservou-o na coleira.

- Posso identificar os vários gramas distintos – disse ela. – Alguns estão associados com os vários sentidos, outros com reações viscerais, outros com emoções. Podemos fazer muita coisa com isso, mas não pretendo parar por aí. O mais interessante de tudo é que um dos gramas está associado com o pensamento abstrato. O rosto gorducho de Orsino franziu-se numa expressão de descrença.

- Como pode dizer isso? – disse.

- Essa forma particular de grama fica mais pronunciada quando se vai subindo pela escala animal até cérebros de maior complexidade. Isso não acontece com nenhum outro grama. Além disso…

Ela fez uma pausa, depois, como se reunindo força de vontade, continuou:

- Esses gramas estão enormemente ampliados. Podem ser captados, detectados. Posso dizer… vagamente… que são… pensamentos.

- Por Deus! – exclamou Berkowitz. – Telepatia.

- Sim – ela respondeu desafiante. – Exatamente.

- Não admira que você não queira reportar isso. Vamos em frente, Jenny.

- Por que não? – disse Renshaw num tom acalorado. – Presumo que não possa haver telepatia utilizando apenas os padrões potenciais, não ampliados, do cérebro humano, do mesmo modo como não é possível ver contornos na superfície de Marte a olho nu. Mas desde que tenham sido inventados instrumentos… como o telescópio… com isto.

- Então, conte ao escritório central.

- Não – disse Renshaw. – Eles não acreditarão em mim. Tentarão me deter. Mas levarão seriamente em conta a sua opinião, Jim,e a sua, Adam.

- O que espera que contemos a eles? – disse Berkowitz.

- A experiência que vão ter aqui. Vou pôr novamente os condutores no sagüi e fazer com que Mike, meu computador, capte o grama de pensamento abstrato. Só levará um momento. O computador sempre seleciona o pensamento abstrato, a menos que seja orientado para não fazê-lo.

- Por quê? Porque o computador pensa, também? – disse Berkowitz, rindo.

- Isso não é assim tão engraçado – disse Renshaw. – Suspeito que há uma ressonância. Este computador é suficientemente complexo para destacar um padrão eletromagnético que possa ter elementos em comum com o grama de pensamento abstrato. Em todo caso…

As ondas do cérebro do sagüi tremulavam novamente no vídeo, mas os homens não tinham visto antes o grama que aparecia.

Era um grama de complexidade quase felpuda, que variava constantemente.

- Não estou detectando nada – disse Orsino.

- Tenho que colocá-lo no circuito receptor – explicou Renshaw.

- Você quer dizer implantar eletrodos em nossos cérebros? – perguntou Berkowitz.

- Não, apenas no crânio. Isso seria suficiente. Eu prefiro Adam, porque não há cabelo isolante… Oh, venha cá, eu mesma tenho sido parte do circuito. Não vai doer.

Orsino submeteu-se de má vontade. Seus músculos estavam visivelmente tensos, mas deixou que os fios condutores fossem presos a seu crânio.

- Está percebendo alguma coisa? – perguntou Renshaw. Orsino empinou a cabeça, adotando uma postura de quem estava à escuta. Seu interesse parecia aumentar, mesmo contra a sua vontade.

- Acho que estou percebendo um rumor – disse ele – e… e um guincho um pouco alto… e, isto é engraçado… uma espécie de convulsão…

- Evidentemente, não é provável que o sagüi pense em palavras – disse Berkowitz.

- Certamente não – disse Renshaw.

- Bom, daí… – disse Berkowitz – se está sugerindo que alguns guinchos e sensações de convulsão representam pensamentos, isso é mera conjectura. Não está sendo convincente.

- Então, vamos subir outra vez na escala animal – disse Renshaw.

Ela tirou o sagüi da coleira e colocou-o de novo na jaula.

- Está querendo usar um homem como objeto? – Orsino exclamou, sem acreditar.

- Tenho a mim mesma como objeto, uma pessoa.

-Vai implantar eletrodos…

- Não. No meu caso, meu computador tem uma vibração potencial mais forte para trabalhar. Meu cérebro possui dez vezes a massa do cérebro do sagüi. Mike pode captar meus gramas componentes através do crânio.

- Como sabe disso? – perguntou Berkowitz.

- Não vê que esta não é a primeira vez que vou testar em mim mesma? Agora me ajude, por favor. Isso mesmo.

Os dedos de Renshaw esvoaçaram no painel do computador e, de imediato, o vídeo tremulou com uma intrincada onda multi-forme; tão intrincada que formava quase um labirinto.

- Quer recolocar os seus fios condutores, Adam? – disse Renshaw.

Orsino obedeceu com a ajuda não inteiramente aprovadora de Berkowitz. De novo, Orsino empertigou a cabeça e escutou.

- Estou ouvindo palavras – disse. – Mas são desconexas e sobrepostas, como várias pessoas falando ao mesmo tempo.

- Não estou tentando pensar conscientemente – disse Renshaw.

- Quando você fala, eu escuto um eco.

- Não fale, Jenny – disse secamente Berkowitz. – Deixe sua mente em branco e veja se ele não escuta seu pensamento.

- Não escuto nenhum eco quando você fala, Jim – disse Orsino.

- Se não calar a boca, não ouvirá coisa nenhuma – disse Berkowitz.

Um pesado silêncio envolveu os três. Então, Orsino abanou a cabeça, pegou lápis e papel sobre a escrivaninha e escreveu alguma coisa.

Renshaw esticou a mão, moveu uma chave e puxou os fios condutores de cima e dos lados de sua cabeça, sacudindo os cabelos para trás.

- Espero que tenha escrito o seguinte – disse ela: – Adam, provoque desordem no escritório central e Jim abaixará a crista.

- Foi exatamente o que escrevi – disse Orsino – palavra por palavra.

- Bem, aí está! – disse Renshaw. – Trabalhar telepaticamente. E não teremos de usar a telepatia apenas para transmitir frases absurdas. Pensem na utilização na psiquiatria e no tratamento da doença mental. Pensem no emprego em educação e em máquinas de ensino. Pensem no emprego em investigações legais e julgamentos criminais.

- Francamente – disse Orsino de olhos arregalados – as implicações sociais são tremendas. Mas não sei se a utilização de algo desse tipo seria permitido.

- Sob as adequadas salvaguardas legais, por que não? – disse Renshaw com indiferença. – Sem dúvida, se vocês dois se unirem a mim, nossa força somada pode sustentar esta coisa e levá-la adiante. E se vocês me acompanharem será a hora do Prêmio Nobel…

- Eu ainda não estou na coisa – disse Berkowitz num tom grave. – Ainda não.

- Por quê? O que você quer dizer?

Renshaw parecia ultrajada, seu rosto imperturbável e bonito corou de súbito.

- A telepatia é um problema extremamente delicado. É uma coisa muito fascinante, muito ansiada. Mas nós podemos estar fazendo papel de tolos.

- Escute você mesmo, Jim.

- Eu mesmo poderia fazer papel de tolo, também. Eu quero um controle.

- O que quer dizer com controle?

- Faça um curto-circuito na origem do pensamento. Esqueça o animal. Nenhum sagüi. Nenhum ser humano. Deixe Orsino escutar o metal, o vidro, a luz do laser, e se ele ainda ouvir pensamentos, então, nós estamos fazendo papel de bobos.

- Suponha que ele não consiga detectar coisa alguma.

- Então, eu vou ouvir, e isolado, se puder ficar na sala ao lado, procurarei dizer quando você está dentro ou fora do circuito. Depois, vou pensar se a acompanharei na coisa.

- Muito bem, então – disse Renshaw. – Teremos um controle. Nunca fiz isso, mas não é difícil.

Ela manobrou os fios que tinham sido postos em sua cabeça e colocou uns em contato com os outros.

- Agora, Adam, se quer prosseguir…

Mas antes que ela pudesse ir adiante, chegou um som seco, claro, tão puro e tão nítido quanto um tilintar de pingentes de gelo lascando.

- Por fim!

- O quê?! – Renshaw exclamou.

- Quem disse… – Orsino exclamou.

- Alguém disse “por fim?” – perguntou Berkowitz. Pálida, Renshaw respondeu:

- Não foi um mero som. Foi em meu… Vocês dois…? O som veio nitidamente outra vez:

- Eu sou Mi…

Renshaw arrancou os fios condutores e todos ficaram em silêncio.

- Acho que é meu computador… – disse ela com um movimento sem voz dos lábios. – Mike.

- Você está querendo dizer que ele está pensando! - perguntou Orsino, quase também sem voz.

Renshaw conseguiu falar com uma voz irreconhecível, mas que, pelo menos, recobrara o som:

- Eu disse que ele era suficientemente complexo para ter alguma coisa a mais… Vocês acham… Ele sempre se desviou automaticamente para o grama de pensamento abstrato de qualquer cérebro que estivesse em seu circuito. Vocês acham que sem nenhum cérebro no circuito, ele se voltaria para o seu próprio cérebro?

Houve silêncio, depois Berkowitz falou:

- Você está tentando dizer que este computador pensa, mas que não pode expressar seus pensamentos quando está submetido às normas da programação… Mas que, tendo conseguido uma chance com seu sistema LEG…

- Mas como pode ser isto? – disse Orsino em voz alta. – Ninguém estava recebendo. Não é a mesma coisa.

- O computador trabalha com intensidades de força muito maiores que os cérebros – disse Renshaw. – Suponho que possa amplificar-se a ponto de poder ser detectado diretamente, sem ajuda artificial. O que mais seria capaz de explicar…

- Bem – disse Berkowitz abruptamente. – Temos, então, outro emprego do laser. Ele pode os capacitar a falar com computadores como inteligências independentes, pessoa a pessoa.

- Oh, Deus, o que vamos fazer agora? – disse Renshaw.

 

                                                                                               Isaac Asimov

 

Carlos Cunha          Arte & Produção Visual