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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PODEROSA ATRAÇÃO / Carole Mortimer
PODEROSA ATRAÇÃO / Carole Mortimer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

A repórter Tyler Harwood tira a sorte grande quando é contratada para seguir os passos de Zak Prince durante uma semana. Uma entrevista exclusiva com o charmoso astro de Hollywood seria um grande passo em sua carreira.

Zak Prince não acredita que também tirou a sorte grande quando encontra Tyler. Embora não seja simpático à ideia de ser perseguido por xeretas, trabalhar com aquela morena estonteante, além de levá-la para jantar e tê-la como acompanhante na noite de estreia de seu filme, é algo extremamente agradável.

Mas... Começam a pipocar fotos escandalosas nos tabloides. Zak fica furioso e se sente traído. Seria Tyler uma mentirosa? Só há um meio de descobrir a verdade!

 

 

 

 

— Por que fiquei com a impressão de que você era homem? — Zak perguntou, observando a mulher pa­rada do lado de fora da suíte de seu hotel.

As sobrancelhas dela se ergueram sobre olhos de um marrom tão profundo que parecia chocolate der­retido.

— Não tenho a menor ideia. E você? — devolveu ela.

Ele franziu a testa, zangado. Sabia exatamente quem fora responsável por sua má interpretação.

— Acho que meu irmão Nik teve algo a ver com isso.

— Eu pareço homem? — provocou ela. Numa só palavra: não!

Mas Zak não sabia nada sobre ela. Nik lhe dissera apenas que havia concordado, em nome de Zak, com uma entrevista exclusiva. Tyler Wood o acompanha­ria durante uma semana. Nik, com sua arrogância usual, esquecera de mencionar que a repórter era jo­vem, bonita e mulher!

— Não mesmo — respondeu secamente, sem sa­ber com quem estava mais zangado, com seu irmão ou com essa bela mulher.

— Nik também esqueceu de me dizer que você é norte-americana.

— Ele fran­ziu o cenho, pois sabia que seria muito mais difícil manter uma relação profissional com essa bela com­patriota do que com o típico charlatão inglês que es­perava encontrar.

Tyler Wood encolheu os ombros.

— Obviamente seu irmão é um homem de poucas palavras.

Obviamente.

E Zak odiava não saber das coisas.

Embora Tyler Wood vestisse uma calça verde-musgo larga e uma camiseta preta, e apesar de seus cabelos curtos e escuros, penteados ao estilo arrepia­do e assexuado que estava na moda no momento, ela jamais poderia ser confundida com um homem. Fora aqueles olhos hipnotizantes, tinha belas feições, um nariz pequeno e arrebitado, lábios carnudos e cheios. Sua estatura miúda, de 1,60m, era tipicamente femi­nina. A calça ficava abaixo da cintura, acentuando os quadris; seus seios ostensivos — e claramente sem sutiã — sobressaíam por baixo da camiseta.

— O que uma americana está fazendo aqui, traba­lhando para um jornal inglês? — Zak estava curioso, pois sabia que havia jornais e revistas o bastante nos Estados Unidos para empregar uma repórter, sem que houvesse a necessidade de cruzar o Atlântico.

Tyler Wood fitou-o por vários minutos antes de responder à pergunta casualmente.

— O mesmo que leva um ator americano a atuar na Inglaterra, imagino. Trabalho. Será que posso entrar?

Zak sabia que não podia deixá-la parada a manhã inteira no corredor, mas ainda estava se acostumando com o fato de que a repórter que o seguiria durante uma semana era uma bela norte-americana.

Não ficara muito contente quando Nik lhe contou sobre a entrevista, embora tenha aceitado as razões de seu irmão quando ele explicou que o fizera apenas para proteger sua nova esposa, Jinx, de uma bomba de publicidade que estava a ponto de explodir sobre a sua cabeça inocente.

Tyler Wood foi a responsável pelo furo de reporta­gem, mas, depois de várias conversas com Nik, ela concordou em retroceder um pouco, em troca de uma semana entrevistando Zak, um ator que quase nunca saía das manchetes.

Mas Zak esperava um homem. O repórter o entre­vistaria e todos ficariam felizes. Ao descobrir que Tyler Wood era mulher, essa ideia se esvaiu comple­tamente.

Ele soltou um suspiro, impaciente.

— Acho que é melhor você entrar — permitiu, abrindo mais a porta.

Ela batia debaixo do seu queixo, Zak percebeu quando ela passou por ele, deixando um rastro de perfume fresco e floral.

Tyler sorriu, enfeitiçando-o, fitando-o por trás de cílios longos e negros.

Zak percebeu que se sentia incomodado, pois, em­bora mantivesse uma relação saudável com a impren­sa, sempre se baseou em suas regras, e certamente nunca achara nenhuma de suas repórteres atraente. Como poderia passar uma semana com esta mulher sem se aproximar dela?

Ela inclinou a cabeça para o lado, lançando-lhe um olhar indagador.

— Devo confessar que sempre tive a impressão de que você era mais relaxado e charmoso do que isso...

Zak tinha consciência de que esse era o lado que mostrava para a imprensa. No entanto, viria a desco­brir que seria muito difícil mostrá-lo para Tyler Wood se tivesse de passar muito tempo ao lado dela, o que parecia ser o caso...

Zak tentou diminuir a distância que havia imposto entre eles.

— São 9 horas da manhã. Eu só fui dormir às 4. Como poderia estar relaxado e charmoso?

Ela riu.

— Desculpe senhor Prince. Não quis dizer que o senhor não seja simpático.

Zak fitou-a com olhos azuis inquisidores. Sabia que, além de não estar charmoso, também não estava muito bonito. A festa da noite anterior fora muito agi­tada, e ele bebera um pouco demais. Saíra da cama cinco minutos antes de ela bater à porta.

Vestira rapidamente a calça preta e a camisa bran­ca de seda que usara na noite anterior. Passara a mão pela cabeleira loura, e sequer tivera tempo de se barbear. Aquele desleixo podia encaixar-se em duas ca­tegorias: propositalmente casual ou totalmente de­sarrumado.

E Zak sabia em que categoria se encaixa­va nessa manhã!

— Não estou sendo nada simpático — desculpou-se. — Talvez seja a idade. Eu conseguia curtir a noite toda e, na manhã seguinte, estava pronto para traba­lhar no estúdio. Mas isso é confidencial — acrescen­tou rapidamente, ao vê-la pegar papel e caneta.

— Ah! —- Aqueles olhos escureceram decepcio­nados. Logo, ela guardou o bloco e fitou-o atenta­mente. — Quantos anos você tem?

— Trinta e seis. E você?

— Vinte e seis — ela respondeu, sem hesitar. Ele assentiu. Já imaginava que ela tinha vinte e poucos.

— E você ainda consegue se divertir a noite toda e trabalhar de manhã?

Ela riu novamente.

— Nunca consegui. Zak encolheu os ombros.

— Então talvez ainda haja esperança para mim.

— Talvez — concordou ela. — Senhor Prince...

— Zak — ele corrigiu. — Senhor Prince fica me­lhor para o meu irmão Nik

— explicou.

E só podia haver uma pessoa como Nik: arrogante, determinado, impetuoso, um homem totalmente con­fiante. E também um marido feliz, pensou Zak de modo afetuoso.

— Eu só queria saber, senhor... Zak — corrigiu-se ao ver o olhar dele. — Você se sentiu pressionado por mim e por seu irmão para dar essa entrevista?

— Se me senti, pressionado? — repetiu incrédu­lo. — Não há o que sentir senhorita...

— Tyler — sugeriu ela, levemente sarcástica.

— Tyler — assentiu Zak, impaciente. — Eu fui pressionado. Para o que é essa entrevista, afinal? Para que veículo? — Ela o fitava impassível. — Tenho certeza de que o jornal que publicou seu último artigo sobre Nik e Jinx não está interessado nesse tipo de entrevista exclusiva.

Era imaginação dele ou aqueles grandes olhos cas­tanhos já não o encaravam mais? No entanto, não fi­caria surpreso ao vê-la envergonhada por trabalhar no jornal que estampara, na primeira página, a maté­ria sobre Nik e Jinx: um tabloide caçador de escânda­los era uma descrição gentil demais para essa raça.

Tyler sorriu novamente, ofuscando-o.

— Tem razão, senhor... Zak — corrigiu-se. — Mas o Daily Informer tem um jornal de domingo, com uma revista bem conceituada.

— E você pretende que a entrevista seja publicada na revista?

Ela virou-se para a janela, fitando a paisagem lon­drina.

— Esta vista é magnífica, não?

— Magnífica — concordou Zak secamente.

— Tyler, tenho a sensação de que você... — Ele parou ao ouvir alguém bater a porta.

— Deve ser meu fotógrafo — disse Tyler Wood, enquanto ele caminhava para a porta.

— Não. — respondeu Zak com firmeza.

— Acho que sim — continuou ela, fitando o re­lógio.

— Pedi a Perry que me encontrasse aqui às 9hl5.

— Eu não estava discordando do seu palpite — afirmou Zak.

— Só quis dizer que seu acordo com meu irmão não inclui um fotógrafo me seguindo por uma semana e metendo uma câmera na minha cara a cada minuto.

— Pelo menos, ele esperava que não in­cluísse.

Ela arregalou os olhos, em protesto.

— Mas preciso de fotos para acompanhar o arti­go...

— E você vai tê-las — disse.

— No fim da sema­na, quando for melhor para mim.

Parecia que Tyler ia discutir com ele, mas, ao ver o olhar em seu rosto, convenceu-se de que seria perda de tempo.

— Tudo bem — concordou. — Vou avisar ao Per­ry, depois podemos continuar...

— Na verdade, vou voltar a dormir, Tyler — Zak interrompeu. — Mas, se você quiser, não vejo pro­blema em se juntar a mim, para que possamos "con­tinuar”.

— Ele a fitou, desafiador e descontente por ter sido forçado àquela situação. Conhecer a mulher que o seguiria durante uma semana apenas o deixou mais inquieto.

Se ele não amasse e respeitasse seu irmão mais ve­lho e se não gostasse tanto da mulher de Nik, Zak di­ria a Tyler o que ela podia fazer com sua "entrevista exclusiva"!

Ela o fitou intensamente.

— Acho que você está gostando de brincar comi­go, Zak — disse, por fim.

— Sob outras circunstâncias, tenho certeza de que gostaria — provocou premiado pelo rubor que to­mou conta da face de Tyler. — Mas hoje? Agora? Com um fotógrafo do outro lado da porta? — Ele ba­lançou a cabeça.

— Tudo o que quero é voltar para a cama. Sozinho.

— Claro — concordou, dando passos largos e de­terminados em direção à porta. — Talvez possamos nos encontrar mais tarde? Sem o fotógrafo.

— Talvez — concordou. — Mas telefone antes — acrescentou zombeteiro.

— Odiaria chocá-la se me encontrasse aqui com alguém.

— Ele ergueu as so­brancelhas louras.

Tyler Wood parou, segurando a maçaneta da por­ta.

— Não me choco com tanta facilidade, Zak. Na verdade, foi uma surpresa agradável encontrá-lo aqui sozinho hoje.

— Touché. — Zak assentiu, divertindo-se com aquele comentário mordaz.

Antes de abrir a porta, ela parou.

— Quando você trabalhou com John Devaro, ano passado...

— Outra fã de John Devaro, não! — reclamou, an­tes de responder. — Sim, ele realmente é tão bonito quanto parece no cinema. Sim, ele é um cara muito engraçado. Sim...

— Eu só ia perguntar se você se sentiu ameaçado pelo fato de o nome dele aparecer acima do seu nos créditos — interrompeu Tyler secamente.

Zak foi pego de surpresa por aquele ataque inespe­rado.

— Nós discutimos isso e decidimos colocar em or­dem alfabética.

Ela assentiu.

— Então, nós nos vemos mais tarde.

— Um leve sorriso curvava seus lábios quando saiu da suíte.

Talvez Tyler Wood fosse mais do que apenas um par de olhos achocolatados e um sorriso encantador. Talvez ele tivesse subestimado o fato de ela ser mu­lher, e americana, tentando se adaptar em outro país, lutando em uma profissão dominada por homens.

E se a tivesse subestimado? Do seu ponto de vista, havia dois caminhos a seguir. Considerando a manei­ra como Tyler o deixara excitado sem sequer tentar, podia continuar sendo detestável, sem facilitar as coisas, ou ceder à atração que sentia por ela e tentar levá-la para a cama. Não conseguiria resistir!

Na verdade, não havia escolha.

 

— Arrogante maldito — zangou-se Perry, enquanto os dois caminhavam pelo grande saguão do hotel e saíam pela porta giratória.

Tyler não podia culpá-lo por estar descontente com a decisão de Zak de não ter um fotógrafo seguindo-o durante toda a semana. Os dois trabalhavam juntos há seis meses e isso nunca havia acontecido.

— Não se preocupe — reconfortou-o.

— Tenho certeza de que você vai dar um jeito, mesmo sem a ajuda dele, como já fez várias vezes.

— Tenho certeza que sim — reconheceu Perry, sa­tisfeito.

— Mas eu preferiria passar o tempo com vo­cês, sem ter de persegui-los e me esconder.

Tyler sabia que, durante os últimos seis meses, Perry queria aprofundar a relação que havia entre eles. Ela, porém, resistia.

Não é que não gostasse dele, e ele certamente era bonito, com seus cabelos negros longos e seus olhos azuis calorosos. Apenas não sentia nada por ele e o ti­nha mais como um irmão. Para a tristeza dele.

Mas ela não podia se envolver com alguém, prin­cipalmente com um amigo como Perry, sem lhe con­tar tudo sobre si mesma, algo que não tinha a menor intenção de fazer. Ninguém a conhecia.

 

Na Inglater­ra, era apenas Tyler Wood, a repórter iniciante, e queria que as coisas continuassem assim.

— Se eu fosse você, tomaria cuidado com Zak Prince — acrescentou Perry.

— Pelo que ouvi dizer, ele não fica sozinho com uma mulher nem por cinco minutos sem tentar seduzi-la!

Tyler fez uma careta.

— Pelo humor dele de manhã, acho que nem sem­pre consegue!

No entanto, ela sabia que isso não era verdade. Dos três irmãos Prince, Zak tinha o charme mais na­tural. O mais velho, Nik, mantivera-se arrogante­mente distante de relacionamentos até seu recente ca­samento. O mais novo, Rik, era o mais reservado e não falava sobre a sua vida.

Mas, obviamente, às 9h de uma segunda-feira, de­pois de um fim de semana atribulado, não era o mo­mento ideal para Zak despejar seu charme!

Fora Nik Prince quem, antes de desaparecer para a sua lua-de-mel, no dia anterior, marcara este encon­tro para às 9 da manhã.

Fizera-o deliberadamente? Foi um pouco indelicado de sua parte, tanto com Tyler quanto com Zak. Mas delicadeza não era uma característica frequentemente associada ao lendário Nik Prince!

Fizera de propósito, percebeu Tyler, espantada. Não fora um bom começo para a semana que passaria ao lado de Zak Prince.

— Diga-me — começou mais tarde, quando foi se encontrar com Zak Prince no saguão do hotel; ele ainda estava dormindo quando ela telefonou, às 16h.

— Sei o que fiz para aborrecer seu irmão e levá-lo a marcar nosso encontro para às 9h da manhã. Mas o que você fez?

— Ela arqueou a sobrancelha sobre olhos castanhos travessos.

— Muito inteligente Tyler. — Zak Prince sorriu muito mais relaxado agora, acomodado em uma grande poltrona, vestindo uma calça jeans surrada e uma camiseta larga. — Com Nik... Nunca se sabe. Mas acho que, para ele, isso era uma piada.

Tyler riu.

— Pois é — concordou Zak, sorrindo.

Tyler entendia perfeitamente por que ele havia ga­nho três Oscars. Seu sorriso era carismático, quase hipnotizante, levando em consideração toda a sua aparência: cabelos longos, dourados como uma plan­tação de trigo ao sol, olhos azuis como um céu de ve­rão, traços fortes, como se fossem talhados em pedra.

Tyler concentrou-se. Estava ali para encontrar um novo ângulo de Zak Prince para a sua matéria, não para ser enfeitiçada por ele.

Sabia que ele escondia algo além de seu charme e carisma. Houve rumores, claro, de envolvimento com mulheres casadas e de que o sucesso da empresa cinematográfica dos irmãos Prince se devia a cone­xões com o submundo, o que era um absurdo! Mas o sucesso sempre trazia rumores. Tyler queria desco­brir a verdade.

— Bem... — Ela se endireitou. — Peço desculpas pela confusão de hoje de manhã e sugiro que sigamos em frente.

— Para onde exatamente? — ele provocou. Tyler franziu o cenho. Não formulara bem a frase.

— Seu passado. Onde você nasceu sua família, no que está trabalhando agora, essas coisas.

— Tyler, não quero ensiná-la a fazer seu traba­lho...

— Mas, ainda assim, vai tentar? — arriscou ela. Ele deu de ombros. Parecia não perceber a atenção feminina que sua presença atraía. A maioria das mu­lheres no saguão não conseguia tirar os olhos dele.

— As pessoas já conhecem meu passado — me­nosprezou, parando para sorrir para a garçonete que trouxe as duas águas que haviam pedido.

Ele tinha razão, claro. Os três irmãos Prince e sua irmã mais nova eram filhos do lendário Damien Prin­ce, um ator que concentrara as atenções do público por mais de trinta anos, antes de sua morte prematu­ra, há vinte anos.

Durante a juventude, Zak sempre fora o bad boy da família, às voltas com problemas. Deixou a escola para estudar teatro, como seu pai, e, finalmente, en­controu seu nicho e acalmou-se, tornando-se um ho­mem charmoso e sedutor.

Mas todos os três irmãos, diretores da empresa Prince Movies, eram bem-sucedidos em suas áreas. Nik era diretor e Rik, roteirista.

— Você tem razão — Tyler assentiu. Ele estava apenas dizendo a verdade, e não sendo arrogante. — Posso pesquisar tudo isso. Então, o que você plane­jou para essa semana?

— Planejar?

— Ele tomou um gole de água.

Já vira Zak sendo entrevistado e assistira a grava­ções dele em um dos melhores programas de entre­vista. Sabia que, normalmente, ele não tinha trabalho algum, apenas respondia às perguntas, sempre explo­rando seu charme natural. No entanto, dessa vez não seria assim.

Será que ele sabia de algo? Será que suspeitava que essa entrevista não seria tão honesta quanto ela queria que parecesse?

— Por que você está na Inglaterra?

— Ela sorriu, determinada a não deixá-lo perceber que sua falta de cooperação a incomodava.

— Afinal, você mora nos Estados Unidos, então...

— Meu irmão mais velho se casou no final de se­mana, Tyler. Isso já não é razão suficiente para eu es­tar aqui?

Ela sentiu-se corar.

— Claro — concordou.

— Só queria saber por que você continua aqui.

— Queria? — murmurou ele, incrédulo. Ela deu de ombros.

— Duvido que essa entrevista tenha sido suficien­te para mantê-lo aqui.

— Duvidou bem. A estréia de Gunslinger é no sá­bado. Acho que esperam que eu vá.

Ele conseguira de novo, Tyler reconheceu, com um grunhido interno.

Claro que era a estréia do novo filme de Zak. Ela só havia esquecido.

Por que estava muito ansiosa para chegar aonde queria? Provavelmente. Bem, não cometeria o mes­mo erro novamente. Precisava de algo exclusivo, novo para o mercado, um ângulo diferente, algo so­bre o que ninguém tivesse escrito antes. E sabia que essa entrevista lhe daria essa matéria exclusiva.

— Desculpe Zak. Eu...

— Tyler — ele inclinou-se para frente, com uma expressão compassiva no rosto. — Para não desper­diçar meu tempo, posso sugerir que você vá para casa e pesquise um pouco sobre mim antes de continuar­mos?

Ela merecia aquela repreensão, sabia disso, mas, ainda assim, ele não precisava ter dito isso. O lendá­rio charme Prince! Até agora, não vira muito disso, o que apenas a convencia ainda mais que esse homem estava escondendo alguma coisa. Havia mais por trás de Zak Prince do que era mostrado. E ela iria desco­brir o que era!

— Isso não será necessário, Sr. Prince — disse ru­demente.

— Eu sei que sábado é a estréia. Eu me re­firo a algum outro trabalho na Inglaterra em que você esteja envolvido.

— Ela fitou aqueles olhos zombeteiros sem piscar.

Zak tinha que admitir que ela era corajosa. Corajo­sa e um pouco irritada no momento, se levasse em consideração o brilho de seus olhos cor-de-choco-laté.

Aquilo não era surpresa. Afinal, não estava facili­tando as coisas para ela. Mas, em seu trabalho, não precisava facilitar a vida de repórteres. O fato de nor­malmente fazer isso não significava que precisaria fazê-lo também com Tyler Wood.

Não sabia por que ela tinha de ser tão diferente. Algo nela o arrepiava. O relacionamento de ambos, contudo, se deteriorava, tornando-se apenas uma tro­ca de animosidades.

Ele deu de ombros.

— Vou almoçar com um diretor amanhã, para dis­cutir o início das filmagens, na semana que vem... Não, você não pode ir à reunião — acrescentou ao ver os olhos dela brilharem de animação.

Aquela luz desapareceu imediatamente e ela semicerrou os olhos, furiosa.

— Meu acordo com seu irmão dizia que eu teria acesso irrestrito a você durante uma semana. — Ela parou quando ele ergueu a sobrancelha, irônico.

— Não esse tipo de acesso, Sr. Prince.

— Normalmente, faço minhas próprias escolhas em relação a esse tipo de acesso — zombou. — E seu acordo foi com meu irmão, não comigo. Então, não poderá ir à minha reunião amanhã.

Ela abriu a boca para protestar, mas fechou-a e li­mitou-se a fitá-lo, totalmente frustrada. Zak encarou-a com consideração.

— Diga novamente para que tipo de revista é essa entrevista, srta. Wood.

— Para um suplemento de domingo — respondeu abruptamente.

Era apenas imaginação dele ou aqueles olhos cas­tanhos haviam ficado ligeiramente misteriosos?

— Um suplemento qualquer — repetiu ele delica­damente, com a sensação de que Tyler Wood estava escondendo algo. E ela não era boa nisso.

Ela ergueu o queixo desafiadoramente.

— Achei que eu estivesse conduzindo essa entre­vista, Zak, e não o contrário!

— Só quero saber um pouco mais sobre a mulher com quem vou passar a semana inteira. Afinal — acrescentou, sem deixá-la falar —, a maioria das pes­soas vai achar que você é minha mais nova namora­da.

— A mais nova em uma lista...

— Fez uma careta ao perceber o que dissera.

— Eu não devia ter dito isso. E que...

— É verdade — zombou ele.

— Não! Quer dizer... é, é verdade. Mas, ainda as­sim, eu não devia ter dito isso.

— Não, não devia. Mas deve ser a coisa mais sin­cera que você disse a noite toda.

Ela arregalou os olhos.

— Desculpe.

— Claro.

Então, comprimiu os lábios.

— Não sei do que está falando, Sr. Prince. Está di­zendo que fui desonesta com você?

Será que as mãos dela estavam tremendo? Não sa­bia ao certo, pois ela as juntara com força.

— Você não é a única que tem conexões, Tyler — acrescentou, vendo-a empalidecer. — A tarde, fiz al­gumas ligações para descobrir mais sobre você.

Agora, ela estava com o rosto lívido.

— E mesmo? — perguntou, distraída. — E o que descobriu?

Zak fitou-a intensamente, ainda mais certo de que ela estava escondendo alguma coisa.

— Na verdade, não muito. A imprensa sabe fechar o bico quando se trata de um dos seus. Descobri que você é considerada uma boa repórter, mas acaba se envolvendo emocionalmente. — Ele parou, antes de continuar.

— E que você teve uma discussão acalora- da com seu chefe há algumas semanas, que culminou com uma ameaça de demissão.

Ao fitá-lo, seus olhos pareciam duas grandes pis­cinas de chocolate derretido.

— Parece que ele não levou a ameaça adiante, não? Porque ainda tenho meu emprego — retrucou.

— Aparentemente não. — concordou ele, apertan­do os lábios.

— Por curiosidade, sobre o que vocês discutiram?

Tyler balançou a cabeça.

— Acho que isso não é da sua conta. Ele deu de ombros.

— Só queria saber se pode ter algo a ver com o acordo que você fez com o meu irmão.

— Claro que não. — devolveu ela.

— Agora, pare de falar de mim e concentre-se em si mesmo.

Ele inclinou-se para frente.

— Vou continuar perguntando até descobrir a ver­dade sobre você, Tyler.

— Advertiu-a.

Tyler fechou o caderno, decidida, e guardou-o em um dos bolsos da calça.

— Até hoje, eu acreditava no que a mídia dizia so­bre você: homem charmoso, fácil de se trabalhar, afável! — Ela riu em menosprezo. — Mas, na verdade, você é excepcionalmente rude, muito difícil de se tra­balhar e nem um pouquinho afável!

Zak esticou-se por cima da mesa de café e segurou o braço dela, impedindo-a de se levantar.

— E isso que você vai escrever em seu artigo? — Embora tivesse sido extremamente desagradável com ela, não estava acostumado a não ser admirado pelas pessoas, e não gostara nem um pouco da expe­riência.

Também descobriu que gostava da sensação da pele de Tyler sob os seus dedos. Era suave e sedosa e levou-o a indagar se o resto de seu corpo era igual­mente sensual e ardente.

— Relaxe, Tyler — sugeriu gentilmente.

— Nossa conversa ainda não terminou.

Ela o fitou friamente.

— Quer que eu fique aqui para me insultar ainda mais?

Ele sorriu.

— Não tenho mais insultos no momento, mas, se me der alguns minutos... Além do mais, estamos cha­mando atenção.

— Ele olhou para uma parte do sa­guão onde um grupo de pessoas, inclusive vários ho­mens, os encarava abertamente.

— É você que está chamando atenção — corrigiu ela, sentando-se abruptamente e soltando seu braço.

Zak observou enquanto ela passava os dedos sobre o lugar onde a segurara. Não usava anel e suas mãos eram longas e finas, seus dedos, delicados. Começou a imaginar como seria sentir aqueles dedos acarician­do suas costas e seu peito. E outras partes de seu cor­po...

— Estávamos falando sobre a discussão com seu editor — relembrou, irritado consigo mesmo por imaginar essas coisas sobre Tyler; afinal, era uma re­pórter.

Ela balançou a cabeça. Seus cabelos brilhavam com um castanho — avermelhado.

— Talvez você estivesse eu não estava.

— Fitou-o com ousadia, enquanto tomava um gole de água.

Com dificuldade, Zak conteve sua irritação. Essa mulher desencadeava reações em seu corpo que ele tentava manter bem longe dos olhos do público, e não eram apenas reações físicas! Só Deus sabia como ela era atraente...

— Então, sobre o que vamos falar? — ele zombou.

— Do fato de que você e o fotógrafo Perry Morgan são aparentemente inseparáveis? Ou vamos... Vai a algum lugar, Tyler? — perguntou quando ela pousou o copo na mesa e começou a fazer menção de se le­vantar.

No entanto, não finalizou a ação. A cor esvaiu-se de seu rosto e ela caiu de volta na poltrona, com os olhos fechados e a respiração fraca.

— Que diabos! — Zak aproximou-se dela. — Ty­ler!

— Agarrou-a pelos ombros levemente. — Tyler, fale comigo, droga!

Aparentemente, ela encontrou força suficiente para abrir um olho e fitá-lo.

— Vá embora — murmurou, enfraquecida.

Ele a ignorou inclinou-se e tomou-a nos braços.

Enquanto caminhava pelo saguão, totalmente alheio aos olhares ávidos que os dois atraíam, desco­briu que ela era muito leve. Sua expressão era de pura determinação.

— O que está fazendo? — indagou Tyler, abrindo os olhos e debatendo-se em seus braços.

— Achei que isso fosse óbvio!

— Zak entrou no elevador sem sequer fitá-la.

— Isso é... Para onde está me levando?

— Deba­tia-se ainda mais.

— Para a minha suíte — informou ele.

— E pare de se mexer assim; você vai acabar se machucando — disse, segurando-a com mais força. Ainda não sa­bia o que havia de errado com ela, e, até descobrir, não a deixaria ir a lugar algum!

— Você está nos expondo — protestou, ao ver o olhar chocado do casal que esperava o elevador quando ele saiu, ainda carregando-a nos braços.

— Não me importa — menosprezou ele, impa­ciente. Abriu a porta e fechou-a atrás de si. Em segui­da, aproximou-se do sofá e deitou-a sobre ele.

— Não se mexa — instruiu, antes de ir até o frigobar, sem ti­rar os olhos dela, embora Tyler não parecesse fazer esforço algum para se levantar. Estava novamente deitada com os olhos fechados, as bochechas com­pletamente pálidas.

Ou realmente estava doente ou havia elaborado um bom plano para conseguir a entrevista. Certamen­te não seria a primeira vez que uma mulher agira as­sim para entrar em seu quarto. No entanto, tinha de admitir, isso nunca acontecera durante uma entre­vista!

Se Tyler Wood estivesse realmente fazendo isso, tentando enganá-lo, iria descobrir como ele podia ser " excepcionalmente rude"!

 

— O que você está fazendo? — engasgou Tyler, ar­regalando os olhos e vendo Zak colocar alguma coisa em sua boca. Era um líquido forte, que queimou ao descer pela garganta. — Não! — protestou, tentando desesperadamente afastar sua mão, enquanto ele for­çava outro gole garganta abaixo. — O que é isso? — grunhiu, quando ele, por fim, a soltou.

— Conhaque — respondeu, satisfeito. — Com certeza, vai...

— Me deixar doente — concluiu ela. — Ainda mais de barriga vazia.

— Totalmente vazia. Na ver­dade, sentira-se mal porque não havia comido abso­lutamente nada, apenas uma torrada no café-da-manhã.

Quando se mudara para Londres, ficara impressio­nada com o custo de vida, e seu trabalho como repór­ter não pagava muito bem. Então, para sobreviver com aquele salário, como jurara que conseguiria ao sair de sua luxuosa casa em Nova York, dizendo à fa­mília que seguiria seu caminho sozinha, tinha de eco­nomizar em algumas coisas. Como comida, por exemplo.

Pão, leite e cereais eram artigos baratos e, nos últi­mos seis meses, Tyler vinha sobrevivendo à base des­sa dieta alimentar. Às vezes, presenteava-se com um hambúrguer.

— Por que você está de barriga vazia? — sondou Zak.

— São nove da noite. Por que ainda não jantou?

Porque jantar era um luxo que ela raramente podia se permitir. Na verdade, almoçar também. No entan­to, isso não diminuiria o efeito que o conhaque iria causar nela.

— Tenho alergia. — Ela ignorou aquelas pergun­tas e tentou se sentar.

— E se você não me levar para o banheiro em dez segundos, vou vomitar em cima desse tapete caro!

— Alergia? — repetiu Zak Prince, irritado, sem se levantar para ajudá-la.

— Que alergia, Tyler! — dis­se incrédulo, ao vê-la colocar a cabeça para o lado e, de fato, vomitar em cima do tapete.

Ao entrar na faculdade, ela descobrira que ingerir qualquer tipo de álcool lhe causava essa reação.

— Como... Que tipo de alergia? — perguntou Zak, voltando do banheiro com duas toalhas. Entregou uma a Tyler e jogou a outra no chão.

— A álcool — respondeu, antes de vomitar de novo.

Mas isso não podia durar muito tempo. Não havia nada em seu estômago, exceto uma fatia de pão e lí­quido!

No entanto, foi bastante desagradável enquanto durou. Tyler estava cansada e arrasada por ter passa­do mal na frente de Zak Prince. O fato de ele ter sido o responsável por lhe dar álcool não diminuía em nada sua sensação.

— Mas você só ingeriu uns goles — protestou ele, levando-a ao banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes, antes de acomodá-la novamente no sofá.

— A quantidade não importa — explicou. Já esta­va começando a sentir a dor de cabeça que normal­mente se seguia.

Dormir era o melhor remédio. Mas não poderia fa­zer isso até voltar para o seu apartamento.

Estava escuro quando acordou. Muito escuro. E muito silencioso. Fora o barulho de uma respiração constante..

Tyler prendeu o fôlego, mas o barulho continuou. Onde estava?

Mais precisamente, quem estava respirando a seu lado?

Sentou-se e gemeu sentir a cabeça doendo.

— Você está bem?

Alguém se mexeu a seu lado. Tyler fechou os olhos rapidamente, assim que a luz foi acesa. A lumi­nosidade intensificava ainda mais a dor que sentia. Reconheceu aquela voz!

— Tyler — repetiu Zak, preocupado.

O que estava fazendo deitada ao lado de Zak Prin­ce? Como fora parar ali? Ou melhor, o que ainda es­tava fazendo ali?

A última coisa de que se lembrava era de passar muito mal, saber que tinha ido dormir, e mais nada.

— Tyler, abra os olhos e fale comigo — ordenou Zak, segurando-a e sacudindo-a levemente.

— Se você não parar com isso, minha cabeça vai cair.

— Lentamente, ela se deitou.

No mesmo instante, Zak parou de sacudi-la.

— Parece que está de ressaca. — Ele estava se di­vertindo. — Tem certeza de que não bebeu antes de me encontrar ontem à noite?

Ignorando a dor em sua cabeça, ela arregalou os olhos e o fitou indignada.

— Eu já disse: sou alérgica a álcool! Só um gole e já fico terrivelmente mal.

— Com certeza. — Ele se apoiou no cotovelo e observou-a.

— Nunca vi ninguém passar tão mal quanto você. Antes de desmaiar, claro.

— Eu dormi — defendeu-se ela, estremecendo ao perceber como falara alto.

— Eu dormi — repetiu em voz baixa, consciente de onde estavam e da distância que a separava de Zak Prince. — Que horas são? — Ela virou a cabeça para ver a hora, mas não conseguia enxergar os números do relógio na mesinha-de-cabeceira.

Zak inclinou-se sobre ela.

— Um pouco mais de onze — disse.

— Não é tão mal — suspirou, aliviada. — Dormi por apenas uma hora e pouco...

— Um pouco mais de onze da manhã — esclare­ceu Zak, sorrindo.

— Não pode ser — protestou, tentando se sentar e deixando-se cair novamente ao perceber como estava perto dele. — Se já é de manhã, por que ainda está es­curo?

Ele deu de ombros.

— Sempre fico nessa suíte quando venho a Lon­dres. Durante uma filmagem, nunca sei a que horas vou dormir. As cortinas aqui são tão grossas que não deixam entrar nenhum raio de sol.

Tyler o fitava, boquiaberta. Estava chocada. Onze horas da manhã! Isso significava que passara a noite com ele?

Zak riu suavemente.

— Em geral, não é assim que as mulheres reagem depois de passar uma noite na cama comigo!

Tyler sentiu a face ainda mais pálida e os lábios, ligeiramente secos.

— Não passamos a noite na cama — gaguejou, por fim.

— Não? — indagou ele, olhando em volta.

Não havia como negar que estava em um quarto, nem que tinham dividido a mesma cama. Mas, certa­mente, não haviam... não haviam... ou será que ha­viam?

Ansiosa, ela arregalou os olhos e o fitou, procu­rando alguma resposta sobre o que acontecera na noi­te anterior, mas a expressão dele era indecifrável, e devolvia-lhe apenas um olhar zombeteiro.

— Sabe Tyler — começou Zak, tirando uma mecha de cabelo de seu rosto e deixando um rastro de fogo por onde seus dedos passavam.

— Acho um tre­mendo insulto você imaginar que eu pudesse me aproveitar de uma mulher que acabara de passar tão mal em minha suíte. — Seus olhos eram duros e bri­lhantes como enormes safiras.

Realmente, era um insulto, ela percebeu. No en­tanto, considerando a reputação dele... Não, era me­lhor nem pensar nisso, principalmente ao ver o brilho perigoso de seus olhos!

— Mas o mesmo não pode ser dito 12 horas de­pois! — afirmou, antes de inclinar a cabeça e beijá-la.

Tyler derreteu. Simplesmente derreteu. Seus lá­bios ficaram mais suaves e se prenderam aos dele. Seu corpo respondeu avidamente, enquanto ele a co­bria. Seus dedos traçaram um caminho delicioso em meio àquela cabeleira dourada.

A boca de Zak era gentil. Provava, mordia, causando-lhe formigamento nos lábios, antes de a sensa­ção se espalhar por todo o corpo.

Então, ela sentiu como se tivesse sido engolida por chamas. Ele intensificou o beijo, abrindo ainda mais a boca de Tyler, para permitir a inserção quente e apaixonada de sua língua.

Seus seios, com mamilos duros e convidativos, en­costavam no peito musculoso dele, que ela tanto de­sejava tocar. Suas mãos ansiosas clamavam por ele, acariciando-o a princípio e, logo, arranhando-o.

— Camareira! — Uma batida à porta acompanhou o anúncio.

Zak, cujos dedos acariciavam os seios fartos de Tyler por baixo da blusa, deu um pulo para trás, como se tivesse levado uma alfinetada.

— Droga! — murmurou. — Esqueci de colocar o aviso de "Não perturbe" na maçaneta. — Com um olhar muito zangado, levantou-se para abrir a porta.

Tyler estava deitada na cama, totalmente chocada. Zak Prince, o garoto dourado das telas de cinema, acabara de beijá-la. Sempre quisera saber o que sig­nificava ser inteiramente beijada, e agora sabia. Ain­da sentia seu corpo agitado e suas pernas trêmulas!

Não havia sido a atitude mais inteligente de sua vida, Zak repreendeu-se, enquanto lidava com a ca­mareira. Antes de mais nada, Tyler era repórter, e re­pórteres, em sua experiência, só queriam saber de uma coisa: da matéria.

E ele lhe dera um prato cheio!

Zak não sabia muito bem como agiria, mas tinha de dar um passo para trás, muitos passos para trás. Gemeu por dentro, lembrando-se da suavidade dos seios de Tyler por baixo da camiseta. Era tão bom to­car aquela pele aveludada, aqueles lábios delicados, que retribuíram seu beijo.

Mas é claro que retribuiriam de qualquer modo, percebeu contrafeito. Alegar que ele a seduzira du­rante a semana de reportagem seria a cereja do bolo para qualquer repórter!

— Se você está esperando um replay, acho que vai se decepcionar — disse, ao virar-se e encontrar Tyler ainda deitada na cama.

— Minha reunião é daqui a uma hora — anunciou, depois de olhar para o relógio.

— Mas talvez possamos retomar isso mais tarde — acrescentou, insultando-a deliberadamente.

Tyler sentiu a face vermelha enquanto tentava se sentar.

— Cadê meus sapatos? — perguntou, olhando em volta, confusa.

— Sua bota está no outro quarto — disse Zak. Ele ainda se lembrava da surpresa que teve, na noite an­terior, ao tirar os sapatos dela e descobrir que eram botas amarelo-escuro. — Diga uma coisa, Tyler, você usa essas roupas militares para disfarçar seu pouco peso e altura?

Ela se levantou abruptamente e franziu o cenho.

— E, junto com as aulas de teatro, você fez aula de grosseria ou é um traço natural de sua personalidade?

— Nunca parei para pensar nisso.

— Normalmen­te, ele não era grosseiro, mas Tyler parecia realçar esse lado.

— Acho que você deve tomar um banho antes de sair — aconselhou, quando ela começou a caminhar para a sala de estar.

— Não, obrigada — respondeu, sentando-se para calçar a bota, mexendo no nariz, já que o cheiro da noite anterior ainda pairava no ar.

— Não se preocupe com isso — disse Zak.

— Vou pedir à camareira que limpe o tapete.

— Sabe... — Parou para fitá-lo, obviamente inco­modada com o fato de ele ter relembrado sua indispo­sição na noite anterior.

— Se você fosse cavalheiro, não teria dormido na mesma cama que eu!

— Só há uma cama aqui — protestou Zak, encostando-se no batente da porta e observando-a, com os braços cruzados sobre o peito.

— Então, você devia ter dormido no sofá — de­volveu ela, calçando a segunda bota e apertando-a com tanta força que Zak sabia que estava cortando sua circulação sanguínea.

— Mas essa é a minha cama — relembrou ele.

— Sim, mas... Teria sido melhor se eu tivesse fica­do no sofá — insistiu ela, levantando-se.

— Eu não poderia fazer isso — garantiu zombeteiro.

— E se você tivesse passado mal de novo? Po­deria ter se engasgado no próprio...

— Por favor, não fale mais sobre isso! — Tyler quase gritou, recolhendo todos os itens que Zak tirara de sua bolsa na noite anterior.

— Realmente acho que você devia tomar um ba­nho antes de sair, Tyler — reiterou, fitando-a.

— Eu não... Ah! Não! — grunhiu ao se ver no es­pelho, ajeitando os cabelos, que pareciam o maior porco-espinho que Zak já havia visto. — Você podia ter me dito — rosnou, passando por ele, em direção ao banheiro.

— Achei que tivesse dito — gritou ao ouvir a água correndo.

Ela saiu do banheiro com os cabelos molhados e despenteados. Ele sorriu.

— Na verdade, não melhorou muito — implicou.

— Seu... — irrompeu Tyler, inspirando profunda­mente para se controlar, antes de continuar. — Não reparei que minha aparência havia repelido você há alguns minutos.

— Não. Uma mulher na cama vale mais do que duas voando — citou.

Os olhos dela brilharam intensamente.

— Eu nunca diria que você estava tão desespera­do!

Zak sorriu diante daquele insulto, pois sabia o que havia por trás dele — vergonha. Mas não tinha inten­ção de ajudá-la. O fato de que, aos olhos de muitos, ela também não seria totalmente isenta de culpa na­quela situação talvez a desencorajasse a escrever qualquer coisa.

Ele contraiu a boca e se afastou da porta.

— Acho que você vai ficar aliviada ao saber que não estou nem um pouco desesperado — garantiu ele. — Agora, com licença, tenho que tomar banho e me vestir antes da reunião.

— Claro — Tyler parecia agitada.

— Podemos nos encontrar mais tarde?

— Tudo bem — respondeu, perguntando-se sobre a vida pessoal dela. Seus pais ainda estariam vivos? Tinha irmãos? Onde estudara? Havia algum homem em sua vida? Essas indagações foram imediatamente seguidas pela pergunta: por que queria saber?

Fora forçado a aceitar a presença de Tyler em sua vida por uma semana, e, quando a semana terminas­se, não tinha intenção alguma de vê-la de novo. En­tão, por que se importava com essas perguntas?

Ele suspirou.

— Fui convidado para uma festa hoje à noite. Se quiser, pode vir comigo.

— Se eu não for me intrometer...

— Achei que você j á estivesse fazendo isso — res­pondeu Zak, com uma sinceridade brutal.

Tyler sorriu.

— Com certeza, deve haver alguém em sua vida no momento.

— Se houver, posso lhe garantir que você jamais vai conhecê-la — interrompeu ele.

— Se minha presença o incomoda tanto, por que concordou...

— Ela parou ao ver o olhar que ele lan­çava. — Você não concordou, não é?

— percebeu.

Ele sorriu zombeteiro.

— Você já sabe que não concordei. Tyler sorriu.

— Achei que sua falta de cooperação inicial fosse porque eu não era o homem que você esperava. Mas, agora, vejo que é algo muito mais profundo do que isso.

— Muito mais — confirmou ele. — Mas isso não muda o fato de que o acordo já foi feito, com ou sem o meu consentimento — continuou. — Agora, sugiro que você volte para cá às oito horas da noite. Assim, vou me certificar de que você vai jantar antes de sair­mos para a festa. Deus sabe o que diriam se você des­maiasse a caminho!

Ela ruborizou furiosamente.

— Sou perfeitamente capaz de me alimentar, obri­gada.

— É mesmo? — perguntou Zak, cético. — Ainda não vi nenhuma prova disso.

Os olhos dela reluziram de raiva.

— Já disse. Foi o conhaque que me deixou mal. O fato de eu não ter jantado ontem não teve nada a ver com isso.

Ele a fitou, refletindo e observando as cavidades em suas bochechas, a magreza de seu corpo, seus pul­sos tão finos que pareciam que iam se quebrar. Na verdade, Tyler Wood era magra demais.

— Tyler, eu lhe dei conhaque porque você quase desmaiou, supostamente por falta de comida. Isso nos leva de volta a uma questão: por que você não jantou ontem à noite?

— Não tive tempo. — Novamente, ela parecia evi­tar fitá-lo.

Zak não acreditou naquela explicação. Ela tivera tempo o bastante para comer entre o encontro às nove da manhã e à noite. A não ser que esperasse jantar com ele. Isso explicaria porque se sentia tão incômo­da com aquele tema.

— Volte às oito da noite, vestida para a festa — or­denou ele.

— Se não estiver aqui, vou sair sem você — advertiu-a, sem deixá-la reclamar.

Ela mordeu o lábio inferior. Desejava dizer a ele o que devia fazer com o jantar e com a festa, mas, ao mesmo tempo, essa atitude impulsiva e belicosa teria conseqüências, como, por exemplo, perder a oportu­nidade de fazer a entrevista.

Talvez fosse um pouco injusto que ele se aprovei­tasse tanto da vontade dela de entrevistá-lo, mas, na­quele momento, impaciente com a situação, confuso com o comportamento dela e — sim — frustrado pelo beijo apaixonado que haviam trocado, ele não estava a fim de ser justo!

Na verdade, era ainda pior. Ele tinha o pressenti­mento de que isso era apenas o início, que ainda se sentiria muito mais frustrado em relação a Tyler Wood...

 

— Onde você esteve a noite toda? Será que preciso perguntar? — Perry franziu a testa para Tyler ao se levantar dos degraus da escada, onde estava sentado, em frente ao prédio dela.

Tyler também franziu o cenho, ligeiramente ofe-gante depois de subir dois lances de escadas para en­trar em casa. Passara mal a noite toda e ainda não se sentia em sua melhor forma. A última coisa de que precisava no momento era que lhe perguntassem so­bre a noite anterior. Nada sobre a noite anterior!

— Perry — limitou-se a dizer, abrindo a porta de apartamento. Imediatamente, acalmou-se ao ver sua bagunça confortável, os móveis velhos, o sofá gasto e os livros espalhados por todos os lados. Apesar de tudo, aquele era o seu mundinho.

Depois do incidente matutino com Zak, preferia refugiar-se em seu mundo sozinha, para lamber suas feridas. No entanto, sabia que isso não seria possível, pois, mesmo sem ser convidado, Perry já havia en­trado.

— Tyler, eu fiz uma pergunta.

— Perry — interrompeu ela, com um olhar tão in­tenso que bastou para silenciá-lo. — Como pôde ver, acabei de chegar em casa — continuou calmamente.

— Então, será que podemos falar sobre isso depois de eu tomar banho e me trocar?

Na verdade, ela não devia explicação alguma a Perry. A despeito do que ele pudesse desejar, a rela­ção entre ambos sempre fora meramente profissio­nal. Mas ela sentia certa obrigação em relação a ele, principalmente depois de terem sido severamente re­preendidos, duas semanas antes, sendo ameaçados de demissão se não conseguissem uma matéria sen­sacional, incluindo fotos. Era aí que entrava Zak Prince.

— Certo — aceitou ele. — Vou me sentar e espe­rar por você. — Jogou-se no sofá gasto. — Tyler, você sabe que Zak Prince é...

— Agora não, Perry — ela avisou, já sem forças para falar de Zak. — Se quiser, pode tomar café — ofereceu ela, antes de se encaminhar para o quarto.

— Vou tentar não demorar.

— Não vou sair daqui -— garantiu ele.

Ao chegar ao santuário de seu quarto, Tyler respi­rou aliviada. Era a primeira vez que podia relaxar na­quela manhã, depois de acordar e se ver na cama, ao lado de Zak.

Estou na cama com Zak!

Esta lembrança era suficiente para fazê-la desfalecer.

Acordar e se ver na cama com ele já era ruim, mas o que se seguiu perturbou-a ainda mais: Zak Prince a beijara inteiramente.

E ela havia correspondido.

Se a camareira não tivesse interrompida.

O que teria acontecido? Os dois teriam continuado e feito amor?

Tyler gemeu relutante. Jamais poderia ter deixado isso acontecer. Zak já havia deixado bem claro que não a respeitava muito como repórter. Depois de se ter jogado em seus braços daquela maneira, ele não devia mais nutrir respeito algum por ela, nem mesmo como mulher.

— Tyler. — Perry bateu à porta do quarto. — Você está bem? Não estou ouvindo a água do chu­veiro.

— Estou bem — respondeu severamente, fitando a porta fechada.

— Talvez eu demore um pouco. Por que você não...

— Vou ficar bem aqui — informou ele, obstinado.

Lentamente, ficou de pé. Estava irritada com a in­sistência de Perry. Pegou uma roupa limpa e entrou no banheiro.

Meia hora depois, de banho tomado, vestindo uma camiseta branca e uma calça jeans limpa, com os ca­belos molhados e bem penteados, ainda não se sentia muito melhor. Tentava se arrumar por fora para le­vantar seu moral. Sabia que, com o que havia aconte­cido entre eles pela manhã, Zak estaria ainda mais ofensivo quando o encontrasse, à noite.

E Perry continuava sentado na sala!

— Café? — ofereceu ao sair do quarto, vendo que ele não havia se servido.

— Não, obrigado — recusou educadamente, levantando-se. — Eu não estava exagerando quando disse que Zak Prince não pode ficar nem cinco minutos sozinho com uma mulher sem tentar seduzi-la, es­tava? Mas, no seu caso, parece que não levou nem cinco minutos. — Ele a fitou com desprezo. Tyler sentiu as bochechas empalidecerem.

— Perry, você não tem direito algum...

— Não tenho direito! — exclamou ele, balançan­do a cabeça. — Tyler, fiquei cinco horas esperando que um de vocês saísse do quarto ontem. Então, quando cheguei em casa, tentei ligar para você. Ten­tei de novo às duas e às seis: — Ele torceu a boca iro­nicamente. — O fato de você ter chegado com a mes­ma roupa de ontem e com cara de quem acabou de acordar é mais do que suficiente para eu juntar dois e dois e chegar à resposta certa: quatro! Não acha? — Os olhos dele brilhavam acusadoramente.

Tyler soltou um longo suspiro. Ainda bem que Perry não estava no hotel quando Zak a carregou nos braços e a levou para o quarto.

— Perry, acho melhor você ir embora antes que diga algo de que pode se arrepender — alertou ela.

Ele ignorou o aviso.

— Isso é tudo o que você tem para me dizer? Ty­ler achei que nós gostássemos um do outro. Pelo me­nos como amigos — acrescentou, antes que ela pu­desse dizer alguma coisa.

— Claro que somos amigos. Mas não aconteceu nada entre mim e Zak Prince ontem à noite — disse com um tom pesado, pois sabia que isso não era ver­dade diante do que acontecera pela manhã. Mas não tinha a menor intenção de dividir com Perry sua hu­milhação.

— Pelo seu próprio bem, espero que não tenha acontecido. Temos que descobrir as sujeiras dele. Eu odiaria que você fizesse parte delas.

Essa era a única opção que seu editor lhe tinha dado, depois que Tyler destruiu a matéria sobre Jinx Nixon: descubra o maior número possível de escân­dalos sobre Zak Prince ou procure outro trabalho. Não queria ser demitida de seu primeiro emprego como repórter, apenas seis meses depois de ter deixa­do sua família, dizendo que seria perfeitamente ca­paz de se sustentar sozinha.

Na verdade, essa entrevista não era para um suple­mento de domingo, como dissera a Zak, e sim para alimentar a ânsia dos tabloides. Infelizmente, esse não era o tipo de jornalismo que tinha em mente quando fez seu corajoso anúncio para a família!

— Passei mal ontem à noite, e Zak Prince foi mui­to gentil...

— Você passou mal? — Perry aproximou-se e fi­tou-a, preocupado.

— O que aconteceu? Por que você passou mal? Precisa ir ao médico?

A um psicólogo, talvez, por ter sido estúpida e não ter rejeitado o beijo de Zak esta manhã!

— Não. — Ela riu.

— Não preciso ir ao médico. Sem querer, tomei um pouco de conhaque...

— Não. — gemeu Perry em solidariedade, ciente da alergia.

— Mas como...

— Foi um acidente — disse com firmeza. — Eu bebi. Passei mal. Zak Prince cuidou de mim. Fim de papo.

— Coitadinha — Perry solidarizou-se.

— E, quan­do você finalmente conseguiu chegar em casa, ainda ouviu minhas acusações. Posso preparar um pouco de café para compensar meu comportamento gros­seiro?

— Tudo bem — aceitou ela, caindo numa poltro­na, desejando esquecer esse embaraço entre eles. Desde que chegara a Londres, fizera poucos amigos. Não precisava afastar Perry também. E não queria mais discutir; estava começando a se sentir melhor.

No entanto, tinha de admitir: a ideia de encontrar Zak Prince às oito da noite bastava para deixá-la mal novamente!

-— Você está bonita — elogiou Zak, abrindo a por­ta de sua suíte exatamente às oito horas e vendo uma Tyler completamente transformada ali.

Ela estava bonita. Na verdade, muito bonita. O vestido vermelho tinha o caimento certo, realçava seios atrevidos e a curva dos quadris — obviamente, ela usava muito pouca roupa por baixo do vestido justo. O comprimento era um pouco acima do joelho, deixando à mostra pernas longas e bronzeadas. O sa­pato de salto alto, também vermelho, acrescentava uns sete centímetros à sua baixa estatura.

Ele percebeu que ela usava mais maquiagem que o normal — aqueles cílios negros ao redor dos olhos castanhos estavam mais longos e sedosos do que nunca, um rubor delicado coloria sua face e um bri­lho vermelho nos lábios deixava-os ainda mais cheios.

— Vestida para a guerra?

— Achei que fosse uma festa — devolveu, entran­do na suíte.

Zak sorriu e virou-se para observar o movimento de seus quadris. Não sabia muito bem o que esperar dela — a mulher irascível do primeiro e do segundo encontro, ou a mulher de hoje de manhã, que parecia confusa e nem um pouco desconcertada com a reação entre seus corpos na cama. Certamente não esperava por essa bela sereia. Ao chegar em casa, ela deve ter se recomposto e o resultado foi essa mulher bonita e dinâmica.

— Você também está muito bonito.

— Ela devol­veu o elogio e analisou-o de cima a baixo.

Zak franziu o cenho, incomodado com o olhar ava­liador de Tyler, observando sua aparência, com a ca­misa de seda creme e calça marrom. Será que ele a fi­tara da mesma maneira há alguns segundos, analisando-a naquele vestido vermelho? Com certeza, mas... Sem mas. Aqueles olhos castanhos desafiadores di­ziam que o que estava bom para ele também estava bom para ela.

Tyler Wood escondia muito mais do que deixava transparecer e do que ele acreditara a princípio.

— Obrigado. — Ele agradeceu o elogio da manei­ra mais casual possível.

— Não vou lhe oferecer um drinque antes de sairmos. Sabemos o que pode acon­tecer. — Agora, eram aqueles olhos azuis que a desa­fiavam.

Tyler sequer piscou diante da menção à noite ante­rior.

— Você disse que iríamos jantar antes da festa.

— No 0'Malley's — assentiu ele. — Se você esti­ver de acordo.

— Acho que não tem problema — respondeu seca­mente.

O restaurante escolhido era o lugar mais badalado do momento, o meio-termo entre um pub irlandês e um restaurante da mais alta cuisine inglesa. Mas, em­bora Tyler pudesse pensar o contrário, Zak não o ha­via escolhido por essa razão. 0'Malley's tinha um ambiente mais descontraído do que outros restauran­tes chiques de Londres, e ele não gostava de jantar em lugares muito formais.

Pelo pouco tempo que passara na companhia de Tyler, achava que ela tam­pouco gostaria. No entanto, baseando-se em sua apa­rência esta noite, sabia que ela se sentiria bem em qualquer lugar.

— Ótimo — disse, abrindo a porta para ela sair. Essa mulher espetacular ainda o deixava muito con­fuso, o que não acontecia com muita frequência.

Quando Tyler passou por ele, Zak sentiu o aroma de seu perfume, uma deliciosa mistura floral.

Acompanhando-a ao elevador, disse a si mesmo que ela, definitivamente, não fazia seu tipo. Odiava mulheres de cabelos curto, e detestava as calças lar­gas e nada femininas que Tyler usara no dia anterior. E, ainda pior, ela fazia parte daquela raça repugnan­te: repórteres!

Se detestava tantas coisas nela, por que a imagem dela pela manhã, delicada e dócil em seus braços, com o corpo quente e convidativo, invadira seus pen­samentos durante todo o dia?

— Você está bem?

Ele virou-se rapidamente ao ouvir aquela per­gunta.

— Por que não estaria?

— Por nada. — Tyler deu de ombros. — Só que o elevador já chegou e você parece não querer sair.

O elevador realmente havia chegado ao saguão. Várias pessoas esperavam para entrar, mas, depois de o terem reconhecido, não demonstraram pressa algu­ma para que ele saísse.

— Perdão. — Ele sorriu e segurou o braço de Ty­ler, caminhando pelo saguão do hotel suntuoso e ele­gante.

— Tem certeza de que está bem? — repetiu Tyler, assim que entraram no táxi, a caminho do restau­rante.

Não, ele não tinha certeza. De acordo com os co­mentários de seus irmãos, mulheres entravam e saíam de sua vida rapidamente. Embora gostasse da companhia delas — e de outras coisas! —, nunca pensava nelas novamente depois do fim do relaciona­mento. Na verdade, pensara mais em Tyler nas últi­mas 24 horas do que em qualquer uma dessas mulhe­res. Ainda sentia a suavidade daquela pele sob a sua mão, o calor convidativo que emanava daqueles lá­bios.

Eles não tinham um relacionamento, era por isso, tentou se convencer. Era apenas um desejo frustrado, só isso. Além do mais, tinha de tomar cuidado com suas ações e comentários perto de Tyler — ou pode­ria acabar na primeira página de algum tabloide.

— Estou bem — garantiu, confiante, feliz por ter tirado esse problema da cabeça. — O que você fez hoje? — perguntou, mudando de assunto.

— O que fiz hoje? — repetiu ela.

— Que diabos eu devia ter feito?

Zak deu um sorriso engraçado.

— Só estou puxando papo, Tyler.

Agora, ela parecia incomodada, não o fitava nos olhos. Seu ar de confiança estava um pouco abalado.

— Eu arrumei minha casa, se é que quer saber. Ele contraiu um pouco a boca.

— Que programa caseiro! — implicou, pensando na bagunça que haviam deixado para trás na suíte do hotel. — Você mora sozinha?

— Sim, moro sozinha. Mas isso não é da sua con­ta.

Realmente não era, mas, por algum motivo, ele queria saber se ela morava com o namorado, Perry Morgan, o que poderia ter sido um pouco constrange­dor, já que ela não havia dormido em casa na noite anterior!

— Além do mais — continuou Tyler firmemente —, sou eu quem devo lhe fazer perguntas.

— Só estava demonstrando um pouco de interesse, Tyler, tentando conhecer você melhor.

— Bem, prefiro que não o faça — disse rude­mente.

— Isso não me parece justo, já que você sabe tanto sobre mim.

— Sr. Prince... Zak — corrigiu-se, ao vê-lo erguer as sobrancelhas.

— Sua vida é um livro aberto. Qual­quer um pode ler sobre ela. E foi isso que você esco­lheu. Já o que eu escolhi...

— Ser a pessoa que expõe a vida dos outros — zombou ele.

— Mas mantém a sua completamente em segredo.

Ela deu de ombros.

— Essa é a minha prerrogativa.

Zak virou-se para fitá-la. Seu braço passava por trás das costas dela.

— E se eu quiser saber mais sobre você? — Então, apoiou a mão no ombro dela, acariciando gentilmen­te o lóbulo de sua orelha.

A atmosfera entre eles ficou tão tensa que parecia estática, envolvendo-os completamente. Por um mo­mento, Zak parecia não se importar. Toda a sua aten­ção se voltava para Tyler, para os seus beijos viciantes, para a vontade que sentia de acariciar seus seios novamente.

— Zak, você está planejando fazer algum joguinho comigo? — Ela interrompeu seus devaneios sen­suais e involuntários.

— Sei que fui bastante estúpida ontem à noite, por passar tão mal — corrigiu-se.

— Mas isso não lhe dá o direito de...

— De... — incentivou ele, incapaz de conter um sorriso ao ver o embaraço dela por causa da noite an­terior. No entanto, seus pensamentos estavam mais inclinados para o que acontecera pela manhã, e não na noite anterior!

Ela percebeu o sorriso.

— Você me deu conhaque — relembrou, indig­nada.

Era verdade, e ele não gostara de ver como aquilo a deixou tão mal. Mas não conseguia se arrepender de tê-la envolvido em seus braços pela manhã.

 

— Como eu poderia saber o que aconteceria com você?

— Não poderia — admitiu ela, suspirando. — Mas, ainda assim, você não pode supor que nós...

— Sim... — instou-a, fascinado pela maneira como ela sempre hesitava ao mencionar algo relacio­nado a sexo, principalmente à atração sexual que existia entre ambos.

Ele se perguntava o motivo. Na maior parte do tempo, Tyler era confiante, obviamente uma mulher bem-sucedida. Mas, diante de qualquer menção se­xual, ela se sentia imediatamente envergonhada. Quase como se...

— Você não é homossexual, é? — perguntou ele. Isso certamente faria seus irmãos rirem: Zak na cama com uma mulher que sequer se interessava por ho­mens!

— A julgar por hoje de manhã, parece que sou? — devolveu Tyler, ultrajada.

— Mesmo que eu fosse, não seria da sua conta — acrescentou apressadamen­te, arrependida por ter mencionado o que havia acon­tecido pela manhã.

Ele também não achava que fosse da sua conta, porque, independente da tentação que sentia inde­pendente do tempo que passaria com ela durante a se­mana, havia decidido que iria ignorar a atração se­xual que sentia por ela. Se não tivesse cuidado, esta seria a matéria!

— Tem razão — aceitou ele, afastando-se um pou­co dela. — Mas isso poderia dar uma perspectiva di­ferente para o que você escreveria sobre mim.

Tyler ignorou aquele comentário.

— Até agora, ainda não descobri nada novo para escrever sobre você.

—- Muito bem — disse ele, satisfeito, sentindo um tom de decepção na voz dela. — Sabe, Tyler, talvez você tenha escolhido o irmão errado. Nik não desper­ta muito interesse agora, depois de casado, mas acho que você descobriria que a discrição de Rik esconde algo muito mais interessante do que aquilo que você vai descobrir a meu respeito.

— Até agora, eu poderia achar o Pato Donald mais interessante do que você

— zombou ela.

— Então, sugiro que escreva sobre ele, porque ga­ranto que você não vai descobrir nada sobre mim que interesse a seus leitores!

Ser pressionado a dar essa entrevista realmente o irritara, mas ele só havia conseguido perceber isso depois de começar a falar sobre o tema. Ou será que essa onda de ira só havia se levantado depois de co­nhecer Tyler e ver como ela era bonita?

Repórteres já o haviam irritado antes, mas Zak di­rigia sua raiva à imprensa em geral, por eles fazerem de tudo, usarem qualquer método, para conseguir uma matéria. No entanto, desde que conhecera Tyler, essa raiva se tornara muito mais pessoal.

Na verdade, pensar que ela era capaz de usar esses métodos para conseguir uma matéria era um pouco desagradável e incrivelmente decepcionante.

Mas ele não tinha a menor ideia do que aquilo sig­nificava!

 

— Tyler! Meu Deus, Tyler, é você de verdade?

Haviam acabado de chegar ao 0'Malleys, e Tyler estava se sentando à mesa, quando parou, congelada, com medo de olhar para trás e encarar a pessoa que havia falado com ela.

Reconhecera imediatamente aquele sotaque in­glês. E pertencia a alguém que sabia mais sobre ela do que queria que Zak descobrisse!

— É você! — Gerald Knight apareceu na frente dela.

— Querida! — Ele segurou sua mão. — Você emagreceu tanto que quase não a reconheci. E seus cabelos curtos ficaram lindos!

— Ele sorriu antes de lhe dar dois beijinhos.

— Há quanto tempo está na In­glaterra, safadinha?

— Há vários meses — respondeu.

— E não me ligou?

— Ele a fitou com um ar cari­nhoso de reprovação.

— Que vergonha!

Ele soltou Tyler, que se virou e viu a expressão no rosto de Zak ao olhar para o outro homem.

Sentiu vontade de defender Gerald, pois sabia que ele havia desenvolvido esse jeito efeminado depois de anos trabalhando exclusivamente com mulheres.

No entanto, desejava não tê-lo encontrado, já que agora não tinha outra saída a não ser apresentá-los.

— Gerald Knight, este é...

— O ator, Zak Prince — concluiu Gerald, cumpri­mentando o outro homem efusivamente.

— Gerald Knight, o estilista? — perguntou Zak lentamente.

— Você já ouviu falar de mim!

— Gerald estava esfuziante, apesar de analisar a roupa de Zak com um olhar profissional. Era um homem pequeno e baixo, e sempre produzia seus próprios ternos e camisas. Esta noite, vestia um terno marrom, combinando com uma blusa em tom rosa-claro.

Tyler tinha certeza de que as roupas de Zak de­viam ser de uma grife tão boa quanto as de Gerald, mas ele ainda conseguia manter um visual mais ca­sual do que o outro.

— Claro — respondeu Zak. — Sempre vale a pena ir a seus desfiles em Nova York.

Gerald jogou a cabeça para trás e saltou uma gar­galhada sincera, chamando a atenção de várias pes­soas.

— Safadinho — brincou com Zak.

— Essas rou­pas não são feitas para que os homens as admirem.

— Não? — Zak arqueou a sobrancelha, zombeteiro. — Será que me enganei durante todos esses anos, acreditando que as mulheres se vestiam para ficar bo­nitas para os homens?

— Você se enganou totalmente. As mulheres se vestem para impressionar outras mulheres. E devo dizer Tyler, querida, que estou muito decepcionado por você estar usando um modelo Vera Wang. Qual é o problema com Gerald Knight? Principalmente ago­ra que você emagreceu tanto — continuou ele, admi­rado. — Você está um espetáculo. Eu não sabia que essa mulher fantástica estava escondida debaixo de toda aquela...

Nesse momento, Tyler parou de escutar e se con­centrou no que Zak devia estar pensando de tudo aquilo. Temia as perguntas que se seguiriam aos co­mentários indelicados de Gerald.

— Terra chamando Tyler. — De repente, o rosto dele apareceu bem na frente do seu. — Alô. Alguém em casa?

— Desculpe Gerald. — Ela desviou sua atenção do rosto perplexo de Zak.

— O que estava dizendo? — indagou, forçando um sorriso.

— Perguntei o que Rufus está achando de você agora. E do novo namorado, claro.

Tyler arregalou os olhos, não apenas ao escutá-lo falar de Rufus, mas também diante da suposição de que Zak era seu namorado! Poderia até ter achado graça daquele comentário, se não soubesse que tudo acabaria com uma risada histérica e descontrolada.

— Ops, tenho que ir — anunciou Gerald depois de olhar para o seu Rolex.

— Eu devia estar no teatro há 15 minutos. Não importa. Tenho certeza de que co­meçaram sem mim! Tyler, quanto tempo ainda vai fi­car em Londres? Ligue para mim, querida. Temos que almoçar juntos para jogar conversa fora. Tenho que correr! Tchau, Zak. — Com um breve aceno, saiu do restaurante, deixando uma situação absolutamen­te caótica para trás.

Tyler desabou sobre a cadeira. Parecia que fora atropelada por um trem-bala. Sequer ousava olhar para Zak para ver o que ele estava sentindo!

O que Gerald dissera? Tyler se desesperou.

Ele reconhecera que seu vestido era um Vera Wang. Quantos repórteres iniciantes poderiam com­prar um Vera Wang?

Gerald também havia pressuposto erroneamente que ela e Zak tinham um relacionamento.

E, o pior de tudo, havia mencionado Rufus...

Na verdade, nada naquele encontro fora positivo!

Zak soltou um longo suspiro e sentou-se diante dela.

— Ele é sempre assim?

— Sempre — disse com pesar.

— Só um pouco de Gerald já dura bastante tempo, se é que me entende.

— Entendo perfeitamente! Como você e Gerald Knight são tão amigos?

— Eu não entraria nesse assunto — desconversou ela, pegando o cardápio e agradecendo ao garçom com um sorriso.

— Não, obrigado. — Zak recusou o cardápio. — Vou começar com o camarão ao alho e, depois, o pato...

— Lamento, mas o cardápio mudou na semana passada, senhor. Não servimos mais o pato — des­culpou-se o garçom. — Mas recomendo o faisão...

— Não gosto de faisão — interrompeu Zak.

— Então, quem sabe...

— Quero uma carne, entre malpassada e ao ponto, com salada verde e batata frita — vociferou Zak.

Tyler escutou aquela conversa com interesse. Zak certamente fora rude com ela desde o início, mas des­pejava todo o seu charme sobre os outros. Inclusive com o porteiro do hotel, o motorista de táxi e o homem que os levara até a mesa. E fora gentil até mes­mo com o exagerado Gerald.

Então, por que estava sendo tão desagradável com o garçom? Principalmente porque o problema sequer era culpa dele. Ela fez o pedido — os mesmos cama­rões que Zak, mas seguido pelo peixe assado — com uma voz muito educada e sorrindo, para compensar a grosseria de Zak.

Quando o garçom desapareceu, ao ver o olhar questionador no rosto de Tyler, Zak disse:

— Eu estava com vontade de comer pato, está bem?

— Claro. — Tyler olhou à sua volta. Reconhecia quase todas as pessoas que estavam ali, fosse da tele­visão ou do cinema.

— Tyler.

Ela levou algum tempo para responder, tentando controlar sua decepção. Estava muito decepcionada com Zak. Tinha de escrever o artigo mais escandalo­so possível sobre ele, mas parte dela desejava não descobrir nenhum escândalo.

Mesmo que isso lhe custasse o emprego?

Sim, mesmo que lhe custasse o emprego, reconhe­ceu gravemente. Porque, apesar do jeito como ele se comportava, Tyler gostava de Zak Prince.

Enquanto se preparava para a festa, chegou à con­clusão de que o ressentimento que ele nutria diante dos métodos de que ela lançara mão para obter essa entrevista era compreensível. Mas a reação ao gar­çom, que estava apenas fazendo seu trabalho, e devia receber muito mal por isso, fora realmente desagra­dável!

— Eu queria muito comer pato — repetiu, uma vez que ela continuava em silêncio.

— Já disse que está tudo bem.

— Não, o que você quis dizer...

— Zak — interrompeu ela calmamente —, por que se importa com o que eu disse ou deixei de dizer? Sou uma repórter, cuja presença é indesejável; e você é um ator. Não somos casados e não precisamos expli­car nossas ações!

— Ela queria encerrar o assunto, embora ele tivesse um lado positivo: mantinha a con­versa longe do encontro com Gerald Knight.

Zak respirou profundamente, com a expressão dis­tante.

— Tem razão. Não importa.

Mas ele obviamente se importava. Sentia-se muito mal ao imaginar que ela — ou qualquer outra pessoa

— podia pensar mal dele. Interessante...

— Se eu fosse você, iria com calma na carne ver­melha. — Ela o fitou com um olhar divertido por cima do copo, tomando um gole de sua água com gás.

— Você pode ficar ainda mais agressivo.

— Não estou... — Ele parou, analisando-a. — Você está tentando me irritar deliberadamente, não?

De modo ingênuo, Tyler arregalou os olhos.

— Eu seria capaz disso?

— Seria. — Zak começou a sorrir. — Eu sempre a subestimo.

— É mesmo? — Ela manteve a expressão ingênua.

— E. — Zak havia estampado um largo sorriso no rosto. — Mas, por sorte, acabei de descobrir por quê.

— Descobriu?

Ele assentiu.

— Aposto que você queria me distrair por um tem­po, mas, infelizmente, esse tempo acabou.

Maldição!

Tyler continuou sorrindo.

— Acabou? — indagou suavemente.

— Sim — confirmou ele. — Você esperava que eu fosse me distrair o bastante para esquecer de lhe per­guntar como você conhece um estilista do naipe de Gerald Knight. Ou quem é Rufus. E, principalmente, quão gorda você era da última vez em que Gerald a viu. Também vou lhe garantir que você jamais passa­ria despercebida nesse vestido Vera Wang espeta­cular!

Quase histérica, Tyler pensou que havia também o fato de que Zak não havia reparado em Perry descen­do do táxi logo atrás deles. Ele ainda estava à espreita do lado de fora, esperando conseguir uma ou duas fo­tos quando eles saíssem!

— Então — provocou Zak, vendo que ela não ha­via respondido a nenhuma das três perguntas que fi­zera.

Tyler estava se tornando cada vez mais surpreen­dente do que imaginara antes de conhecê-la. E já não se referia mais apenas ao fato de que a pessoa que o entrevistaria era uma mulher.

Quando ela chegou ao hotel mais cedo, já havia percebido como estava bonita, como o vestido real­çava suas curvas. No entanto, uma vez que não se in­teressava por moda, não sabia diferenciar o vestido de um costureiro de renome de outro qualquer.

 

Além disso, a julgar pela maneira como se fala­ram, era óbvio que Tyler e Gerald Knight eram ve­lhos amigos.

E quem diabos era Rufus? Um antigo namorado? Um namorado atual? Irmão dela? Apenas outro ami­go? No entanto, pelo comentário de Gerald, não pare­cia que a relação entre eles era tão casual assim.

Mas, afinal, por que ele se importava? Tyler era apenas uma repórter entediante que entrara em sua vida. Com desgosto, Zak percebeu que, pela manhã, ao tomá-la nos braços e beijá-la, ela deixara de ser apenas uma repórter entediante.

— Então, o quê? — contra-atacou, sem fitá-lo, brincando com o copo de água mineral. Ela só levan­tou os olhos depois de alguns instantes sem resposta e encontrou Zak observando-a.

Tyler pareceu pensar rápido e, por fim, deu uma explicação.

— Gerald e eu nos conhecemos em Nova York, quando eu cobri um de seus desfiles. Por alguma ra­zão, ele gostou de mim e nos tornamos amigos.

Zak entendia como isso havia acontecido — ele mesmo estava começando a gostar dela. No entanto, isso era a pior coisa que podia fazer, levando em con­sideração quem ela era e o que fazia.

Talvez, se tentasse imaginar uma Tyler mais gor­da... Não, isso não iria funcionar. Tyler estava muito magra e continuaria bela mesmo com cinco quilos a mais. O fato de Gerald Knight, que vivia cercado por modelos esqueléticas, ter achado a magreza de Tyler atraente apenas confirmava sua opinião.

Além disso, com cinco quilos a mais ou não, ela continuaria ostentando olhos achocolatados. E, quan­to mais tempo Zak passava em sua companhia, mais apreciava seu senso de humor brincalhão.

Mas ainda havia o tal Rufus...

— E quem é Rufus? — perguntou Zak, arqueando as sobrancelhas.

— Ele gostava de você?

De repente, aquelas piscinas de chocolate ficaram repletas de lágrimas, que desapareceram num piscar de olhos, ao mesmo tempo em que a expressão de Ty­ler foi invadida por uma onda de raiva.

— Não sei. Não nos falamos há seis meses — ir­rompeu.

Não foi necessário Zak dizer nada. O primeiro pra­to chegou e lhes foi servido.

— Obrigado. — Ele sorriu para o garçom, insatis­feito consigo mesmo por ter sido tão duro com ele.

Tinha suas razões para reagir daquela maneira à mudança do menu. Mas não tinha a menor intenção de explicá-las a Tyler. Eram motivos pessoais e não deviam ser estampados em um tabloide!

— De nada — respondeu o garçom, obviamente aliviado, o que não fez Zak se sentir melhor por seu comportamento.

Olhar para a expressão irônica de Tyler do outro lado da mesa foi ainda pior.

— Esse sorriso sempre funciona? — ela pergun­tou.

Instantaneamente, Zak perdeu o apetite. Sim, aquele sorriso normalmente consertava os erros que cometia quando estava estressado. Como acontecera mais cedo.

— Cometi um erro — admitiu. — Tenho certeza de que você deve cometer alguns de vez em quando.

— Com frequência — respondeu. — Mas, normal­mente, sou madura o bastante para me desculpar.

Maldição! Ela não o conhecia, não sabia o que ha­via motivado seu mau humor. E, levando em conta a maneira como se intrometera na vida dele, Tyler não tinha o direito de ensiná-lo a se comportar. Ela...

— Espero que os senhores estejam gostando da comida. — O garçom estava de volta. Havia coloca­do dois recipientes com água e limão para eles limpa­rem as mãos depois de comerem o camarão.

Zak lançou um olhar intenso para Tyler, antes de se virar para o garçom.

— Perdão por ter sido tão rude em relação ao pato. Eu não devia ter descontado minha decepção em você.

— Por favor, não se preocupe, sr. Prince — disse o garçom.

— Sua reação foi muito calma se comparada à de uma senhora, na semana passada, que jogou uma taça de vinho em mim. Mencionei os dois incidentes ao chef e acho que ele está pensando em incluir o pato no menu novamente. — Ele se afastou da mesa com um brilho nos olhos.

Triunfante, Zak encarou Tyler, arregalando os olhos ao ver que ela estava mordendo o lábio inferior, tentando desesperadamente não rir. No entanto, seus olhos castanhos a entregaram.

— Você está rindo de mim?

— Não, mas vou rir. — Ela explodiu não em risa­das suaves e delicadas, mas em gargalhadas ressonantes.

Seus olhos brilhavam, as bochechas estavam coradas e seu sorriso era radiante. Estava linda.

E Zak não era o único homem no restaurante que pensava assim.

Várias cabeças se viraram na direção deles. Zak conhecia a maioria daqueles homens, e era amigo de alguns deles.

Finalmente, Tyler parou de rir e balançou a ca­beça.

— Sem dúvida, vão mudar o menu rapidamente e incluir o pato! Você realmente sabe ser incrivelmente charmoso quando quer, não? — disse ela, sem tentar esconder a admiração.

Ele fez uma careta.

— Quer dizer que, com você, não fui muito char­moso?

Ela deu de ombros, ainda sorrindo.

— Eu bem disse: quando você quer.

E ele não queria gastar seu charme com Tyler. Ela era muito perigosa. Era melhor escutá-la dizer que ele não era tão charmoso e relaxado como alegava a mídia do que descobrir o que havia por trás dele.

Zak não se envergonhava disso, apenas nunca tra­tara desse assunto em público. Na infância, enfrentou dificuldades que o levaram a se rebelar durante a ado­lescência. Depois de ter alcançado o sucesso como ator, conseguiu deixar isso para trás. Apenas algumas poucas vezes, como agora, essas dificuldades volta­vam à tona.

Nik lhe disse que ele devia ter revelado tudo há anos, mas, quanto mais tempo se passava, mais difí­cil era para Zak falar sobre algo tão pessoal. E não queria que esse fosse o tema da matéria que Tyler es­creveria sobre ele.

— Como minha mãe dizia, coma o camarão — disse, pegando um dos crustáceos e descascando-o.

Incrédula, Tyler ergueu as sobrancelhas.

— Sua mãe dizia muito isso?

— Acho que normalmente ela se referia a legumes e salada.

— Ele deu de ombros. — Mas o objetivo é o mesmo.

— "Cale a boca e coma."

— Exatamente.

 

Eles continuaram a comer e Tyler ficou satisfeita por ter conseguido fazer Zak se esquecer de Rufus e do que ele havia significado para ela.

Pelo menos momentaneamente, porque tinha cer­teza de que Zak voltaria ao assunto quando quisesse. Tinha de preparar uma resposta apropriada para quando ele o fizesse. Ainda não sabia o que diria, mas contar a verdade estava fora de cogitação.

Isso estava ficando muito complicado!

A princípio, quando havia decidido se mudar para a Inglaterra e se tornar uma repórter de sucesso, tudo parecera muito simples. Tudo o que precisava fazer era alugar um apartamento, arrumar um trabalho em alguma revista e escrever uma matéria sensacional, que a tornasse famosa dos dois lados do Atlântico. Então, depois do seu triunfo, poderia voltar para casa.

Bem, ela estava ali, encontrara um apartamento e um trabalho. Mas, quando teve a chance de escrever um artigo “sensacional", revelando a conexão entre Jinx Nixon e o famoso autor J.I. Watson, estragou tudo.

Sabia que seu fracasso se devia à tendência de se envolver emocionalmente, que Zak mencionara mais cedo. Nik apelara para a sua bondade e pedira que não escrevesse a matéria sobre Jinx. E ela, estupidamente, abrira mão de sua primeira chance de sucesso.

Não podia agir assim novamente com Zak Prince!

Sempre quisera ser repórter. No entanto, em sua família, ninguém trabalhava para um jornal ou para um canal de televisão. Podia-se ser dono de um, e pa­gar alguém para trabalhar nele, mas certamente não se trabalhava lá.

Por ser a única filha de pais muito ricos, a vida de Tyler já estava inteiramente planejada, antes mesmo que ela começasse a andar. A escola certa, a faculda­de certa, os amigos certos. Então, ajudaria sua mãe a cuidar das várias casas que tinham e dos numerosos projetos sociais em que estava envolvida, antes de conhecer o homem certo, casar-se e dar início ao mesmo processo, mas agora com os próprios filhos.

Em uma única palavra, sua vida estava completa­mente moldada.

Mas, quando seus pais escolheram seu marido seis meses antes, Tyler decidiu que não aguentava mais. Marcou o voo, fez as malas e partiu no mesmo dia.

Tudo seguia conforme o planejado até ela conhe­cer a família Prince!

— Sabe que você fica com rugas entre os olhos quando franze a testa dessa maneira? — murmurou Zak, que a observava há algum tempo.

Tyler fitou-o, impetuosa.

— Todos ficam com rugas entre os olhos ao fran­zir a testa.

— Tem razão. Na verdade, eu estava me pergun­tando por que você tinha feito essa careta.

— Nada que lhe interesse.

— Tudo bem. — Ele encolheu os ombros. — Se você já terminou, acho melhor irmos embora.

— Não quer sobremesa? — Ela lhe entregou o menu que recebera do garçom há alguns minutos.

Zak sequer olhou para ele.

— Eu não como sobremesa. Mas vá em frente — incentivou ao ver seu olhar de decepção.

— Não. — Ela abandonou o menu relutante; ado­rava sobremesa.

— Não quero recuperar toda aquela minha gordura.

Zak sorriu para ela.

— Você não me disse de que tamanho realmente era.

Não, e não queria que ele relembrasse a conversa com Gerald.

— Eu era um manequim maior... Tudo bem, dois manequins — admitiu, quando Zak arqueou as so­brancelhas. — Mas nunca recebi nenhuma reclama­ção.

— Ela o fitava desafiadoramente.

Ele ergueu as mãos em um gesto conciliador.

— E também não tem recebido nenhuma reclama­ção agora.

Tyler o fitou confusa. Não sabia se ele estava fler­tando ou não.

— Nós vamos para a festa de quem? — perguntou, alguns minutos depois, enquanto saíam do restauran­te, dando vazão à sua curiosidade.

— Calum McQuire.

— Calum McQuirel — Tyler quase gritou, segu­rando no braço dele animadamente. — Sempre quis... — Parou ao perceber o olhar de compaixão no rosto de Zak. — Pareço um menina de 15 anos, não?

— Sim — confirmou ele, sorrindo.

— Mas é bom saber que você não está tão acostumada com seus amigos sofisticados a ponto de não se impressionar em conhecer Calum.

Ela arregalou os olhos.

— Todos ficariam impressionados em conhecer Calum McQuire! Ele definiu o significado da palavra "privado". Se ele não quiser, ninguém consegue co­nhecê-lo, ou à sua família.

O ator escocês prezava tanto a sua privacidade que, há cinco anos, desde que seu filho nascera ele não dera sequer uma entrevista, nem falara com ne­nhum membro da mídia. E Zak estava levando-a para conhecê-lo! Talvez essa fosse sua matéria exclusiva.

— Nem pense nisso, Tyler — grunhiu Zak, ao ler os pensamentos dela.

— Você estará lá como minha convidada e advirto-a a não abusar desse privilégio.

Ele não pronunciou as palavras precisamente, mas ela ouviu a ameaça implícita que havia em sua voz. Caso se aproveitasse do encontro com Calum McQuire, Zak iria garantir que todas as portas se fe­chassem para ela — indefinidamente.

Droga! Estava ficando cansada de ameaças. Pri­meiro, o editor do Daily Informer, Bill Graham, e agora Zak.

Logo, perderia a paciência e não aguentaria mais receber ordens. Nesse momento, seria melhor que não chegassem perto dela!

No entanto, naquela noite, teria de controlar sua decepção. Calum McQuire, embora fugisse da im­prensa, devia ser uma boa pessoa, alguém que só que­ria manter sua esposa e seu filho longe dos holofotes que o seguiam por onde passava. Queria que seu filho tivesse a infância mais normal possível.

Tyler o compreendia perfeitamente!

Sorriu para Zak.

— Pode contar com minha discrição — garantiu, virando-se para partir.

Ele a segurava pelo braço, mantendo-a a seu lado.

— Interprete isso como uma prova de confiança.

— Ele é um ícone do cinema, Zak. — Tyler o fi­tou, indignada.

— Todos o amam. Em minha adoles­cência, até eu já fantasiei...

— Envergonhada, parou de falar. Estava dando informação demais!

— Você fantasiava... — insistiu ele, interessado. Tyler sentiu as bochechas coradas. Não porque acabara de admitir que tivera fantasias com o homem dos sonhos de todas as suas amigas de escola, mas porque o comentário a relembrara que ela costumava fantasiar com Zak também...

— Eu tinha 15 anos! — protestou, virando-se em busca de Perry. Enquanto estava lá dentro, aprovei­tando a melhor refeição que fizera em seis meses, ele estava parado ali fora, provavelmente sem comer.

Mas, a julgar pelo comentário de Zak, sabia que Perry jamais conseguiria entrar na festa de Calum McQuire. Logo, deveria tentar enviar algum sinal para avisá-lo que seria perda de tempo segui-los des­sa vez. Seria melhor se ele fosse comer alguma coisa.

No entanto, embora sentisse que Perry estava ali em algum lugar, não podia vê-lo. Claro, esse era o objetivo. Ainda assim...

— Você perdeu alguma coisa?

Sentindo-se culpada diante da pergunta inocente de Zak, Tyler virou-se e arregalou os olhos ao ver que estava cara a cara com ele. Depois das lembranças de suas fantasias adolescentes, não era muito fácil ficar tão perto dele.

Mas, naquela época, não passava de uma criança. Agora, era uma mulher de 26 anos. E ainda queria que ele a beijasse...

Lutava contra esse sentimento desde a manhã an­terior, quando fora para a suíte dele. Não, desde antes disso. Desde que Nik Prince lhe oferecera o acordo que lhe forçava a renunciar à história de Jinx e aceitar uma entrevista exclusiva com seu irmão.

Na época, sabia que não devia ter aceitado, pois, provavelmente, aquilo seria um suicídio profissional. No entanto, a tentação de não apenas conhecer Zak Prince, mas também de passar toda a semana ao lado dele, tudo isso fora demais para resistir.

Porque havia uma coisa que estava escondendo de Nik Prince, Bill Graham, Perry e até mesmo de Zak, principalmente de Zak! Seus sonhos adolescentes nunca a abandonaram-Na noite anterior, quando passou mal na frente de Zak, tudo o que queria era morrer. Quando ele a bei­jou pela manhã, achou que havia, de fato, morrido e ido para o céu!

Concentrara todas as suas forças na tentativa de ser profissional ao lado dele. Tentara esquecer a atra­ção que sentia. E, para ser sincera, Zak fora tão rude e zombeteiro que não foi tão difícil resistir a ele. Mas, agora, ele não parecia mais o ator de cinema, e sim o homem por trás da imagem, muito mais aces­sível.

Considerando a paixão que nutrira por ele na ado­lescência, isso não era uma boa ideia. Embora ela ti­vesse se mostrado ignorante no dia anterior, Tyler devia saber tanto sobre Zak quanto seus irmãos. Por­que, além de ter as paredes do quarto cobertas com pôsteres dele, guardava todas as entrevistas que ele dera e era uma enciclopédia ambulante do verbete "Zak Prince".

Então, não era uma boa idéia ficar a apenas alguns centímetros de distância dele. Seus olhos não se des­grudavam e os dois respiravam lentamente.

Ela sentia cada parte de seu corpo e estava total­mente consciente da presença de Zak, da suavidade dos cabelos louros, dos profundos olhos azuis, da boca belamente esculpida, com aquele sensual lábio inferior.

Como desejava beijar aquela boca, passar a língua sobre aquele lábio carnudo, prová-lo, sentir a força de seus ombros sobre as suas mãos, enquanto se apoiava nele, para conhecer...

Tyler piscou ao sentir uma luz forte varar a escuri­dão da noite.

— Que diabos foi isso? — Zak virou-se em dire­ção à luz. Mas só restara a escuridão. Ouviu-se o som de uma porta de carro batendo, seguido pelo barulho do motor, o que provava que aquilo realmente havia acontecido.

Devia ser Perry, retirando-se rapidamente depois de tirar uma foto deles, pensou Tyler espantada. Zak fitou-a novamente, sua expressão guardava apenas uma ira penetrante. Ela deu um passo para trás ao vis­lumbrar um brilho assassino em seus olhos.

Zak estava tão furioso com o que acontecera e se sentia tão traído, depois do agradável jantar que tive­ram que seria capaz de estrangulá-la.

— Você armou tudo isso — acusou ele. — Deliberadamente, você calculou tudo e armou para esse fo­tógrafo, que deve ser seu namorado...

— Ele não é meu namorado — negou. — E não seja ridículo. Como eu poderia...

— Você armou para cima de mim. — Zak estava furioso demais para escutar o que ela tinha a dizer. — Sem dúvida, amanhã, vai aparecer no jornal uma foto sua me olhando inocentemente, como uma menina sonhadora...

— Eu não estava olhando para você assim — en­gasgou Tyler, com o rosto pálido como a lua.

— Seus olhos imploravam que eu a beijasse — es­carneceu ele.

— Coisa nenhuma! — insistiu ela, indignada. — Era você que estava quase me beijando...

— Em seus sonhos — zombou Zak, sabendo que estava mentindo para Tyler e para si mesmo.

Ele estava a ponto de beijá-la. Passara a noite toda desejando beijá-la. Mesmo quando seu comporta­mento a mantinha afastada. Mesmo quando estava zangado com ela.

Ela estava maravilhosa naquele vestido vermelho, até seu penteado desgrenhado estava arrumado. E quanto àqueles olhos castanhos...

No entanto, com aquele último comentário, ela se afastou. Seus olhos pareciam ainda maiores quando contrastados com a palidez de seu rosto.

— Lamento decepcioná-lo, Zak, mas você nunca fez parte dos meus sonhos.

Era uma metáfora! Estava tão furioso com ela e com o fotógrafo que...

— Tyler Wood.

Irritado, Zak virou-se para a mulher que acabara de sair do táxi parado em frente ao restaurante. Ela era vagamente familiar, mas não sabia dizer onde já vira essa mulher alta, esbelta e loura. Mas sabia que sua interrupção não o agradava em nada.

Tyler também não parecia muito animada em ver a outra mulher. Sua expressão era totalmente neutra. Olhou de relance para Zak, que a fitava intensamen­te. Logo, virou-se e lambeu os lábios.

Ele analisou a loura novamente, sabendo, pelo comportamento de Tyler, que ela queria estar bem longe daqui. Ao perceber quem acompanhava Tyler, a outra mulher arregalou os olhos, sinceramente sur­presa.

Quem era ela? Outra repórter? Isso explicaria por que julgava conhecê-la. Ainda assim, não sabia por que Tyler estava quase tão verde quanto na noite an­terior, logo antes de passar mal.

A não ser que ela temesse que a outra mulher ten­tasse roubar sua entrevista exclusiva. No entanto, an­tes de concluir seu raciocínio, Zak sabia que isso não fazia o menor sentido. Durante os últimos 17 anos, concedera centenas de entrevistas. Já decidira que a exclusiva de Tyler não revelaria nada de novo.

— Sim, sou Tyler Wood — respondeu.

— Mas nós estamos com um pouco de pressa, então, se puder nos dar licença...

— Mas eu só queria dizer...

— Lamento, mas realmente temos que ir. — Tyler agarrou o braço de Zak e guiou-os na direção contrá­ria. Zak percebeu que isso não devia ter sido nada fá­cil, por pesar quase cinqüenta quilos mais que ela e ser trinta centímetros mais alto. A determinação de Tyler obviamente tinha de ser levada em considera­ção!

Bem, não daquela vez. Ele ainda estava zangado com o incidente do fotógrafo e não tinha intenção de ir a lugar algum com ela naquela noite. Além disso, queria descobrir de onde conhecia aquela loura, por­que tinha a impressão de que não gostava dela.

E, a julgar pela agitação de Tyler quando tomou seu braço, diria que ela também não gostava daquela mulher. A curiosidade é traiçoeira.

— Você não está sendo um pouco rude, Tyler? — murmurou, sendo conduzido por ela para longe do restaurante e da loura desconhecida.

Tyler lançou-lhe um olhar de advertência e conti­nuou caminhando.

— Para mim, a grosseria foi dela. Estávamos no meio de uma conversa quando ela interrompeu. — De repente, parecia que ela queria morder a própria língua por ter mencionado aquela conversa.

Como se alguém precisasse lembrá-lo! Na verdade, Zak não se importava com a outra mu­lher, e sim com a reação de Tyler diante dela. E isso, por sua vez, não tinha importância alguma se compa­rado ao incidente do fotógrafo. Ele parou abruptamente.

— Esqueça, Tyler. Não vamos a lugar algum.

— Mas você disse... Calum McQuire...

— Eu disse o que disse. Mas isso foi antes.

— Antes do quê? — Ela olhou em direção à loura, que deu de ombros e entrou no restaurante.

— Antes do fotógrafo — relembrou Zak, inflexí­vel.

Tyler engoliu em seco e fitou-o.

— Eu já disse que não tive nada a ver com isso.

— Não? — zombou ele. Quem mais poderia ter ar­mado aquela cena?

— Bem, acho que vamos desco­brir a verdade amanhã de manhã, não?

Ele mal se lembrava da última vez em que ficara tão furioso. Tinha de admitir que boa parte de sua rai­va estava direcionada a si mesmo. Desde que conhe­cera Tyler, estava confuso e um pouco fora de si.

Ela lambeu os lábios.

— Amanhã de manhã? — repetiu cautelosa.

— Isso. Se nossa foto aparecer em seu jornaleco amanhã de manhã, pode anular o nosso acordo!

Era isso que ele queria mesmo, que aquela mulher saísse de sua vida. Assim, não precisaria controlar cada palavra e cada ação sua. Acordaria de manhã e saberia que não precisava mais ver Tyler Wood.

Não era isso que ele queria?

 

Tyler olhou para Zak e piscou horrorizada, ao pensar que ele podia estar pondo um fim à entrevista. Tinha de encontrar Perry!

Imediatamente. Antes que ele mostrasse a foto dela com Zak a Bill Graham e tudo fugisse do contro­le. No entanto, isso não a impediria de estrangular Perry assim que o encontrasse!

O que ele achava que estava fazendo, tirando fotos dela e Zak juntos? Eles não eram a matéria e, com base na reação de Zak, ele também não achava que fossem. Embora parte de Tyler desejasse o contrá­rio...

Sentia-se aliviada por ter conseguido distrair Zak e desviar sua atenção da mulher que se aproximara de ambos em frente ao restaurante. Se Zak soubesse quem era, não esperaria até a manhã seguinte para encerrar a entrevista!

— Tenho certeza de que a foto não estará no Daily Informer amanhã

— garantiu Tyler.

Ele encolheu os ombros largos.

— Vamos ver.

— E você realmente não vai me levar à festa? — perguntou decepcionada, não porque não conheceria Calum McQuire, mas porque, apesar das interrup­ções, apreciara a noite com Zak.

— Não — confirmou ele, balançando a cabeça.

— Na verdade, sugiro que você aproveite aquele táxi e volte para casa — disse, apontando para o veículo de onde a loura havia saído.

Tyler lançou-lhe um olhar indagador. Ao ver sua ex­pressão, percebeu que ele falava sério. Mas, quanto à sugestão de pegar o táxi, esqueça! Ela dispunha de ape­nas alguns trocados, e não iria gastá-los no táxi.

Mesmo usando um vestido Vera Wang!

Além disso, não podia ir direto para casa.

Respirou profundamente.

— Vou andando, obrigada. Onde e a que horas nos encontramos amanhã?

A boca de Zak retorceu-se.

— Muito confiante, não?

De fato, não! Mas não iria deixá-lo ver isso.

— Já disse — insistiu ela. — Não tive nada a ver com aquela foto.

— Embora soubesse quem devia ter.

— E, como eu disse, vamos ver. Se você não vai pegar o táxi, eu vou.

— Sem dizer mais nada, entrou no carro e deu as instruções ao motorista. Lançou apenas mais um olhar para Tyler antes de o táxi mer­gulhar no tráfego noturno.

Sozinha, ela expirou profundamente e deixou os ombros caírem, impotente. Iria matar Perry quando o visse! Depois de dizer exatamente o que achava dele, claro!

Uma hora depois, quando chegou ao jornal, seu humor ainda não havia melhorado muito. O metrô es­tava lotado e seu vestido vermelho havia atraído muitos olhares masculinos maliciosos. Outras mulheres a fitaram com pena por ter de andar de metrô com uma roupa tão bonita.

Mas a caminhada da estação até o jornal fora a pior parte. O sapato de salto alto não fora feito para lon­gos passeios. Bolhas se formavam nos calcanhares e os tornozelos doíam.

— Que diabos aconteceu com você? — indagou Bill Graham ao desviar os olhos do computador.

Tyler franziu a testa.

— Você viu Perry?

— Esta noite? — Bill balançou a cabeça. — Ele devia estar com você.

— Pois é — murmurou ela, perguntando-se para onde Perry podia ter ido depois de sair do restaurante com tanta pressa. Para casa? Para a casa dela? Teria de tentar ambos os lugares.

Pelo menos, parecia que ele não correra para o jor­nal trazendo a foto. Isso era bom, mas não diminuía a raiva que Tyler nutria por ele. Ele havia destruído sua noite com Zak e acabado com suas chances de conhe­cer Calum McQuire. No entanto, tinha de admitir que o problema que se formou com Zak era o que mais a incomodava.

— Para onde você vai agora? — Bill quase acres­centou um "vestida assim", mas, pelo olhar desafia­dor de Tyler, achou melhor não.

— Para casa, acho. — Pelo menos, para mudar de roupa e continuar procurando Perry.

— Pegue um táxi. — Bill tirou uma nota de vinte libras do bolso e jogou-a em cima da mesa.

— Não pegaria bem se uma de nossas repórteres fosse pega pela polícia, suspeita de prostituição — explicou, vendo como aquele ato gentil surpreendera Tyler. — Não se preocupe. Posso classificar esse dinheiro como "gastos" — concluiu, antes de voltar a se con­centrar no computador.

Ela devia saber que aquilo não era apenas gentile­za. Bill Graham nunca era gentil!

Mas insinuar que ela parecia uma prostituta era demais!

Será que realmente parecia uma prostituta com aquele vestido? Ela olhou para a sua roupa, preocu­pada. O vestido deixava bastante à mostra, com sua gola baixa e tiras finas nos ombros. Ainda assim, ela não achava que...

— Você está linda, Tyler — grunhiu Bill, quando percebeu que ela continuava parada ali. — Agora, saia daqui. Tenho que trabalhar. — Ele empurrou o dinheiro na direção dela e, novamente, voltou ao computador.

Tyler pegou a nota e saiu — antes que ele mudasse de ideia e quisesse o dinheiro de volta!

Mas, antes de ir para casa, passou pelo apartamen­to de Perry. Agora que sabia que ele não fora corren­do para o jornal com a foto, tinha de falar com ele. Depois, teria tempo para pensar no encontro fortuito com aquela mulher na porta do restaurante.

Claro que a reconhecera. Elas só haviam se visto uma vez, mas Tyler não se esqueceria de Jane Morrow, a mulher que lhe dera a pista para seguir a histó­ria de Jinx Nixon.

Obviamente, a ex-editora de Jinx também não se esquecera dela, o que não era nenhuma surpresa, uma vez que perdera seu trabalho depois de falar com Ty­ler!

Mas, desde então, Tyler não a vira mais. Tampou­co desejava encontrá-la. Não respeitava a ética pro­fissional de Jane Morrow, depois que ela traiu a con­fiança de Jinx Nixon. Guiou-se apenas por sua paixão platônica por Nik Prince, que só estava interessado em Jinx, deixando-a furiosa.

Por sorte, Zak não a reconhecera imediatamente, mas Tyler sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele se lembraria de onde a conhecia. Quando isso aconte­cesse, ele certamente teria muito a dizer!

Provavelmente, concluiria que as duas estavam trabalhando juntas em uma matéria sobre Jinx Prin­ce, ou, por favor, não, sobre Nik Prince. Tyler enco­lheu os ombros. Todos sabiam que os Prince eram próximos. Zak certamente ficaria revoltado se achas­se que Jane Morrow estava ali para isso, enquanto, na verdade, Tyler não sabia o que ela queria.

Estar ao lado de Zak era como caminhar na corda bamba; bastava um movimento em falso para ela cair!

Não ajudava em nada pensar que a paixão adoles­cente que nutria por Zak estava se tornando uma emoção real e duradoura, depois de tê-lo conhecido. Ela não ousava dar nome a essa emoção. Nem para si mesma. Era perigoso demais...

— Do que você está rindo? — esbravejou Zak, de­pois de abrir a porta da suíte para Tyler, na manhã se­guinte. Zak se arrependeu de ter falado assim quando viu aquele sorriso se transformar em um olhar de in­certeza.

Mas ele estava de mau humor. O incidente da noite anterior ainda o irritava, principalmente depois de um jantar tão agradável. Ficara furioso por ter de ir à festa sozinho, tornando-se alvo para todas as soltei­ras presentes. E havia muitas delas, todas lindas e prontas para se divertir. E sequer tentavam esconder que queriam se divertir com ele.

Infelizmente, embora fossem bonitas e graciosas, não conseguiram animá-lo, já que não conseguia pa­rar de pensar em Tyler. Em como o encantara durante o jantar. Em como estava fabulosa naquele vestido vermelho. Em como queria ter chegado à casa de Ca­lum de braços dados com Tyler. Em como ela armara para cima dele em frente ao restaurante...

Mas o pior não era isso. Ele esperara ansiosamente pelo momento em que, depois da festa, poderia levá-la para casa e beijá-la loucamente. Sim, por mais que odiasse admitir, havia cometido o maior pecado para um ator: sentia-se atraído por uma repórter!

De repente, percebeu que Tyler continuava ali, fitando-o com um olhar adoravelmente confuso.

— Por que não posso sorrir? — indagou ela. Hoje, usava calças largas pretas com uma camiseta branca justa, que moldava perfeitamente o contorno de seus seios, revelando a Zak, mais uma vez, que ela não usava sutiã!

Ótimo! Zak gemeu por dentro. Agora, ele cobiça­va uma repórter!

Aqueles olhos castanhos demonstravam certa con­fusão diante do silêncio insistente dele.

— Não saiu nenhuma foto no Daily Informer.

— Não. Parece que você alcançou seu namorado a tempo de impedi-lo

— implicou Zak.

Ela corou ao escutá-lo referir-se novamente a Per­ry como seu namorado, mas Zak não soube dizer se aquele rubor era de vergonha ou raiva.

Tyler respirou fundo.

— Posso lhe garantir que Perry não tinha intenção de publicar nenhuma fotografia sua sem autorização. Admito que ele passou dos limites, mas...

— É isso que você acha?

— É — teimou. — Quando eu o vi ontem, ele me garantiu...

— O quê? O que ele lhe garantiu? — instou Zak. — Que não pretendia levar essa foto para o jornal? Que estava apenas coletando material para a sua ex­clusiva? — A raiva acumulava-se em seu corpo, sa­bia que seus olhos estavam duros como safiras e sua expressão, sombria. Mesmo que quisesse, seria inca­paz de controlar as palavras que saltavam de sua boca.

— E ele lhe garantiu isso antes ou depois de levá-la para a cama? — grunhiu furiosamente.

Tyler empalideceu.

— Eu... Ele... Você não tem o direito de me dizer essas coisas! — conseguiu pronunciar. Seus seios su­biam e desciam, acompanhando sua respiração agita­da.

Zak fitava fixamente seus olhos profundamente castanhos.

— Não? — desafiou-a. — Não? — repetiu, quase gritando, puxando-a para dentro da suíte e fechando a porta atrás dela, o que lhes dava mais privacidade.

—Acho que isso...

— Ele pegou um jornal e esfregou na cara dela — me dá o direito de dizer o que eu quiser!

Tyler piscou, entorpecida, antes de pegar o jornal das mãos dele. Ao ver a primeira página, virou o rosto.

Zak colocou as mãos nos bolsos, para controlar o impulso de segurá-la e sacudi-la. Havia memorizado cada palavra do que ela estava lendo.

E, por falar em amor, parece que Zak Prince, o príncipe dos Prince, tem uma nova mulher miste­riosa. Os dois foram vistos juntos no famoso res­taurante 0'Malley's, ontem à noite, e pareciam in­capazes de tirar os olhos um do outro. Dizem que são muito próximos. Será que, dessa vez, o prínci­pe pode estar pensando em casamento?

Aquele artigo, na coluna de fofocas, era um lixo, o que incluía o apelido que a imprensa lhe dera há al­guns anos. Mas não era o texto que o deixava tão fu­rioso. Não, era tudo culpa de Tyler. Percebera na noi­te passada que gostava dela de verdade. De sua apa­rência. De seu senso de humor peculiar. De sua fran­queza. Sua franqueza! Ah, que piada!

Ela fitou-o, completamente pálida.

— Mas... Eu não escrevo para esse jornal.

— Não, não escreve. Isso quer dizer que você man­teve a promessa de que nossa foto não sairia no Daily Informer. Você manteve o espírito da promessa — cor­rigiu sombriamente. — Mas isso não quer dizer que você não tenha procurado um colunista rival.

Ela arregalou os olhos, incrédula.

— Você não pode achar que eu tive algo a ver com esse artigo!

— Estou tentando não achar nada, Tyler. Na ver­dade, desde que recebi o jornal, às sete e meia, estou tentando não pensar. — Ele elevou o tom de voz no­vamente, provando como estava furioso.

Mas não precisava provar nada. Assim como não precisava ter recebido a ligação de seu irmão Rik, da França, para saber quem era a nova "mulher miste­riosa" . Aparentemente, a notícia já havia chegado também à internet, por onde seu irmão se informou.

No entanto, ele não revelou tudo a Rik. Ocultou-lhe principalmente o fato de que ela era repórter. De­pois de ler o jornal de Tyler do início ao fim, em bus­ca da foto, não ficou nada contente quando Rik cha­mou sua atenção para o jornal rival.

— Você acordou às sete e meia?

Ele estava desperto às sete e meia simplesmente porque não fora dormir.

Embora raras, as festas de Calum sempre eram di­vertidas. Ele era dono de si mesmo, algo raro no meio cinematográfico. Essa entrevista com Tyler mostrava a Zak que ele não tinha tanta sorte! Calum fazia o que queria, tinha amigos dentro e fora do cinema e a mis­tura dos dois grupos sempre era divertida.

No entanto, Zak chegou lá de mau humor, mostrando-se antissocial por uma ou duas horas, enquan­to bebia diversas taças de champanhe. Mas, afinal, o clima amigável acabou envolvendo-o e ele relaxou. Conversou por bastante tempo com uma professora da antiga escola de Calum, para a tristeza das mulhe­res que o perseguiam!

Chegou ao hotel às três e meia, mas não tinha con­seguido dormir. Enquanto bebia toda a garrafa de café trazido pela camareira, ouviu música.

Assim que escutou alguém colocando os jornais na porta do quarto, pulou da cama e foi pegá-los. Ao ver que não saíra nenhuma foto, começou a relaxar e cochilou no sofá, sem sequer trocar de roupa.

Minutos depois, foi acordado pelo toque do telefo­ne e pela voz curiosa de Rik.

Zak sabia que Tyler o enganara. No entanto, ele dissera que anularia o acordo se a foto saísse no Daily Informer. E não havia saído. Na verdade, a foto não fora publicada, mas a notícia sobre os dois terem sido vistos juntos era tão ruim quanto!

— Sim, eu estava acordado às sete e meia da ma­nhã, Tyler — rangeu por entre os dentes, tirando as mãos dos bolsos.

Não queria mais estrangulá-la. Decidiu que essa seria uma escapatória muito fácil para ela.

Segurou os ombros de Tyler, decidido. Se a colu­nista fora informada, e não era difícil adivinhar por quem, que ele e Tyler eram um casal, era exatamente isso que seriam. Por que ele se sujeitaria a uma fofo­ca totalmente infundada?

— Zak. — Tyler parecia inocentemente enfeitiçada. Enganosamente inocente!

E ele havia caído nessa armadilha. Considerava-se um homem do mundo, que já vira de tudo, tornando-se até mesmo cínico, porque conhecia todas as arti­manhas femininas para chamar a sua atenção. Mas a situação com Tyler fugira do controle. Ela o levara a acreditar que era exatamente o que dizia ser: uma re­pórter que só queria uma entrevista exclusiva.

Talvez essa fosse a intenção dela, mas ele não sa­bia e, sinceramente, não se importava. Agora, sabia que Tyler queria se promover associando-se a ele, in­dependente dos meios que a levassem a isso.

Pela manhã, enquanto pensava furiosamente na coluna de fofocas, indagando quais seriam os próxi­mos passos, decidiu que, se era isso que Tyler queria, iria recebê-lo.

Por um preço!

 

Zak estava prestes a beijá-la!

Tyler só percebeu isso segundos antes de ele abai­xar a cabeça e cobrir seus lábios.

Sonhava com esse momento desde que tinha 15 anos. Mentira na noite anterior ao dizer que nunca so­nhara com Zak! Mas, em suas fantasias, nunca era as­sim, nunca!

Se levasse em consideração a conversa que ha­viam tido, diria que Zak estava furioso. E raiva era a emoção dominante, enquanto sua boca atacava a dela. Segurava-a, moldando suas curvas com braços de aço.

A fúria e o desprezo que sentia por ela eram palpá­veis, e ditavam suas ações enquanto exigia uma rea­ção da boca de Tyler. Exigia e recebia, embora, men­talmente, Tyler gritasse "não"!

Somando-se ao que já lhe havia acontecido nas úl­timas 24 horas, isso era demais para ela. Primeiro, o embaraçoso encontro com Gerald no restaurante, de­pois, a estupidez de Perry ao tirar aquela foto proibi­da, seguida pela reação de Zak, e, por fim, o encontro com Jane Morrow. Após tudo isso, ainda teve uma tremenda discussão com Perry, quando finalmente o encontrou.

Ele se desculpara, dissera que não queria ter tirado a foto, que tudo fora apenas um reflexo de sua surpre­sa ao ver que ela e Zak estavam a ponto de se beijar.

Tyler escutara essa desculpa com ceticismo, mas, logo depois, sentira-se culpada quando Perry decla­rou que a amava que se apaixonara por ela no mo­mento em que se conheceram.

Ela achou que essa tivesse sido a última cartada, até ver a coluna de fofoca. No entanto, esse beijo do­loroso era muito pior do que tudo que havia aconteci­do antes.

Lágrimas quentes começaram a escorrer por seu rosto.

Zak percebeu imediatamente e levantou a cabeça, fitando-a com indagadores olhos azuis. Afastou-se um pouco e percebeu como ela estava aflita.

— Achei que você quisesse isso — grunhiu. — Um caso com Zak Prince, para virar matéria em seu jornaleco.

Que humilhação! Tyler estava aos prantos; solu­ços intensos sacudiam todo o seu corpo diminuto, e era impossível controlá-los.

Não, não era isso que queria! Uma retomada à atração inicial que sentia por ele seria uma boa idéia, um flerte, talvez até algo mais, se tivesse sorte, mas não aquilo!

Ela inspirou profundamente.

— Não tive nada a ver com o que foi publicado nessa matéria.

— Olhou para o jornal com desgosto. — Não conheço nem quero conhecer a pessoa que o escreveu. — No entanto, ela estava começando a se perguntar se realmente não conhecia o informante.

 

Só havia uma possibilidade: Jane Morrow. Aquela mulher tinha diversos motivos para estar ofendida com Tyler e para querer se vingar de qualquer mem­bro da família Prince. Incluindo Zak.

Mas Tyler sabia que não podia contar a Zak sobre a sua suspeita sem mencionar o nome da outra mu­lher, o que não queria fazer, uma vez que ele ainda não havia percebido de quem se tratava. Se tivesse percebido, certamente também a enfrentaria com essa questão.

— É isso, Zak — disse firmemente. — É tudo que tenho a dizer sobre isso.

— Ela ergueu o queixo. Um lampejo acusador azul invadia seus belos olhos cas­tanhos.

No entanto, agora Zak parecia perplexo, até que um sorriso relutante curvou seus lábios.

— E isso? — ironizou.

Ela ergueu as sobrancelhas, silenciosamente desa­fiadora.

— E isso — confirmou, sem titubear.

— Acredite ou não, cheguei ao ponto em que não...

— Não, não estrague tudo, Tyler — protestou ele.

— Você quer que eu me desculpe?

Ela piscou, confusa, e o fitou. Não sabia por que ele ia se desculpar: por beijá-la de modo tão desmedi­do ou por acusá-la.

— Isso fica a seu critério, não? — disse cuidadosa­mente, sentindo os lábios um pouco inchados por causa da impetuosidade daquele beijo.

— Certo — assentiu.

— Me desculpe. Sincera­mente.

Isso ajudava muito... Ela ainda não sabia por que ele estava se desculpando! Por que não podia ape­nas...

Tyler recuou ao ver Zak levantando a mão. Ele, fJbr sua vez, interrompeu o movimento ao perceber a reação involuntária dela. O que queria? Havia tenta­do dominá-la fisicamente. Na verdade, se ela fosse sensata, teria saído dali logo após proclamar sua ino­cência!

Zak moveu a mão de novo, dessa vez mais deva­gar, aconchegando-a em sua face e tocando gentil­mente seus lábios inchados.

— Machuquei você — disse asperamente.

O inchaço em seus lábios não se comparava à dor que sentia por dentro, por ele não confiar nela, profis­sional ou pessoalmente. Tentou esquecer o fato de que estava atrás de uma matéria mirabolante sobre ele — ele não sabia disso! Do mesmo modo que não sabia que ela jamais arriscaria a possibilidade de con­seguir seu furo de reportagem por causa de uma fofo­ca sobre eles.

Zak fora visto com uma "mulher misteriosa", e daí? Isso não passava de fofoca sem fundamento. Era uma situação irritante, mas, sem o nome da mulher misteriosa, a notícia era inútil.

De fato, Tyler estava aliviada por não ter sido pu­blicado nenhum nome. Se alguém nos Estados Uni­dos lesse a matéria e ligasse o nome Tyler Wood a seu verdadeiro nome, Tyler Harwood, que mudara ao chegar à Inglaterra, para esconder sua importante fa­mília, estaria encrencada.

Zak parecia aflito. Movia os dedos suavemente pe­los seus lábios.

— Lamento muito, Tyler. Não importa a provoca­ção, isso não é desculpa para o meu comportamento.

— Não importa a provocação? — repetiu. Será que ele ainda não acreditava em sua inocência?

Ele retorceu a boca.

— Não importa o que eu tenha considerado como provocação — corrigiu-se.

— Melhor. — Tyler preferia este Zak comparado àquele que a recebera na porta alguns minutos antes.

Pensara em ligar antes de aparecer, mas decidiu chegar sem avisar, pois, caso contrário, poderia lhe dar a chance de se recusar a vê-la. Agora, desejava ter ligado; assim, pelo menos saberia sobre a notícia no jornal e poderia prever o comportamento de Zak.

Entretanto, naquele instante, já não tinha mais ne­nhuma reclamação quanto ao seu comportamento.

A carícia em seus lábios era extremamente sen­sual, e seus joelhos estavam começando a fraquejar, o calor se acumulava em seu corpo. Ele estava muito perto, podia sentir o aroma penetrante de sua loção pós-barba.

Tyler engoliu em seco, fitando-o intensamente.

— Talvez... — Pigarreou, já que sua voz estava roucamente doce.

— Talvez você pudesse dar um beijo para sarar.

Zak arregalou os olhos.

— Um beijo para sarar?

Ela assentiu. Não estava segura de suas ações, o que não a impedia de seguir adiante.

Há poucos minutos, ele estava frio e distante, mas Tyler sabia que aquele não era o verdadeiro Zak Prin­ce. Estava furioso e, depois dos acontecimentos da noite anterior e dessa manhã, provavelmente tinha ra­zão. Mas, uma vez que ela manteve sua posição fir­me, ele parecia acreditar que não podia culpá-la pela foto ou pela matéria no jornal.

Sabia que estava brincando com fogo, mas sua via­gem para a Inglaterra já havia incendiado tantas jan­gadas que uma a mais não faria diferença.

Ele arqueou as sobrancelhas louras.

— Tem certeza, Tyler? Antes, eu estava furioso. Agora, estou incrivelmente excitado.

Ela sabia muito bem. O azul-celeste dos olhos dele haviam escurecido enquanto fitava sua boca, e suas bochechas estavam levemente coradas.

Além disso, seus corpos estavam tão próximos que teria sido im­possível não perceber como as coxas dele haviam se contraído e estavam, agora, coladas às suas. Com de­sejo. Um desejo que ela também sentia.

Tyler umedeceu os lábios, passando a língua aci­dentalmente pela ponta do dedo dele, que ainda a acariciava. Uma chama de fogo se acendeu naqueles olhos azuis ao sentir o toque quente e úmido.

Tyler ainda não sabia muito bem o que estava fa­zendo, ou aonde tudo aquilo levaria, mas desejava sentir os lábios de Zak em sua boca, e dessa vez sem raiva.

Segundos depois, ao sentir a boca de Zak na sua, teve certeza de que estava perdida!

Esticou os braços por cima de seus ombros largos e envolveu seu pescoço. Aproximou seu corpo ao dele de modo involuntário, enquanto a boca dele in­vadia seus lábios ardentemente.

As mãos que tocavam suas costas estavam tão quentes que poderiam queimar o tecido da camiseta. Então, Zak escorregou-as por baixo da blusa, e ela pôde sentir aquele toque firme e delicado contra a sua pele. Uma sensação intensa acompanhava cada carí-cia. Tyler ofegou quando uma daquelas mãos moveu-se para frente e segurou um de seus seios nus. O dedo que acariciava suas costas passara eroticamente para o seu mamilo enrijecido, enviando ondas de calor por todo o seu corpo.

Era tão bom sentir o toque de Zak, pensou, quase explodindo de desejo. Comprimiu-se ainda mais con­tra o corpo dele. Estava pegando fogo, tremendo, vi­brando. Uma dor pulsava entre as suas pernas e tor­nava-se quase insuportável. Quase!

Era bom demais, não queria que Zak parasse. Nun­ca vivenciara nada assim antes. Estava tão excitada que não via ou sentia nada além de Zak.

Meu Deus!

O prazer continuava a invadir seu corpo e nada mais existia ao redor. Nada mais importava, exceto por Zak e a paixão incrível que apenas ele era capaz de despertar nela. Parecia que seu corpo se derretia; a força de seu desejo a elevava a uma altura antes ini­maginável.

Não queria que isso parasse, não precisava de mais nada, apenas dos lábios de Zak. Agora, ele passava a língua por seus seios, capturando primeiro um mami­lo, depois o outro, sugando-o para dentro do calor de sua boca.

— Que diabos... — Zak reagiu à batida forte na porta. Estava completamente excitado, gozando das carícias de Tyler em seu peito e em suas costas, por baixo da camisa. E estava totalmente envolto pela perfeição de seus seios. — Há alguém na porta — grunhiu. Relutante, soltou-a e ajeitou sua blusa, para evitar cair em tentação e retomar o que haviam para­do, apesar da pessoa que esperava do lado de fora.

— Eu poderia ignorar, mas, se for a camareira para arru­mar o quarto, ela vai entrar de qualquer jeito — expli­cou, ao perceber o olhar confuso de Tyler.

Sempre achara conveniente se hospedar em um hotel quando ia à Inglaterra, mas, ultimamente, esta­va começando a perceber que também havia alguns pontos negativos, como a falta de privacidade!

Arrastou-se até a porta e abriu-a, impaciente.

— Sim — grunhiu para o homem parado no corre­dor. Obviamente, não era a camareira.

— David Miller, sr. Prince — apresentou-se o ho­mem, esticando a mão para cumprimentá-lo.

Sem saber quem era aquele jovem, Zak foi caute­loso.

David Miller sorriu amplamente.

— Estou aprofundando o artigo que saiu na colu­na... Sr. Prince! — protestou, quando Zak moveu-se para fechar a porta. — Essa é a " mulher misteriosa" ?

— O homem, outro repórter, olhou para dentro da suíte e viu Tyler. — Ei, não conheço você...?

Zak bateu a porta, interrompendo o que o repórter dizia. Franziu o cenho e olhou para Tyler, cujas bo­chechas estavam vermelhas.

Isso estava ficando ridículo. Estava acostumado ao interesse excessivo da mídia em sua vida, mas, ao longo dos anos, chegara a um acordo tácito com os repórteres: eles o deixavam em paz e, então, quando havia algo que merecesse destaque, ele contava tudo. No entanto, essa boa vontade mútua parecia ter eva­porado depois que Tyler Wood invadiu sua vida!

Há alguns instantes, Tyler se sentira fantástica nos braços dele, com a pele aveludada e o corpo ardente...

Ele jamais sentira um desejo tão opressivo. Muitas mulheres já haviam passado por sua vida, talvez mu­lheres demais, admitiu para si mesmo. Mas nunca co­nhecera ninguém como Tyler.

Ele a desejava e necessitava dela. Mas, ao mesmo tempo, sentiu certa inexperiência da parte dela, como se estivesse surpresa com a reação de seu corpo, e também ansiosa para seguir adiante. Isso fazia com que Zak quisesse protegê-la, o que devia ser o aspec­to mais ridículo em toda essa situação.

Tyler tinha 26 anos, era bonita, irascível e lutava por um lugar ao sol em uma carreira dominada por homens. Era muito improvável que fosse sexualmen­te inexperiente!

Talvez tivesse a capacidade de despertar essa sen­sação nos homens.

Zak guardou as mãos nos bolsos e franziu a testa.

— Miller parecia achar que a conhecia. Conhece? — perguntou, ainda sem saber se poderia acreditar na inocência dela.

Será que a presença daquele repórter em seu quar­to, inesperadamente, no exato momento em que Ty­ler também estava ali, não era coincidência demais?

Ela devia estar pensando na mesma coisa, já que parecia preocupada.

— Pessoalmente, não. — respondeu. — Mas fo­mos apresentados em uma conferência de imprensa há alguns meses.

Cético, Zak arqueou as sobrancelhas.

— Por quem?

Ela balançou a cabeça, sem encará-lo, e respon­deu:

— Não me lembro.

Será que não lembrava mesmo? Talvez ela conhe­cesse David Miller melhor do que queria admitir.

Independente disso, a interrupção daquele jovem havia esmorecido o interlúdio apaixonado entre eles e posto fim às consequências que se seguiriam.

Talvez essa fosse a intenção, confabulou Zak. Não... Como poderiam ter combinado isso se nem Zak sabia o que ia acontecer? Estava ficando comple­tamente paranoico em relação a Tyler. No entanto, depois de tantas "coincidências", ninguém poderia culpá-lo!

— Esqueça — ignorou ele. — Será que Miller vai se lembrar de onde a conhece? — Na opinião dele, que podia ser um pouco tendenciosa, nenhum homem jamais se esqueceria de Tyler.

— Não sei. Não sou adivinha Zak — defendeu-se, percebendo a ironia dele.

Há alguns minutos, ele considerara seriamente a possibilidade de levá-la para a cama e passar horas, dias, com ela, sem pensar em mais nada.

Muito bem, Zak arrependeu-se mentalmente. Uma atitude muito madura e responsável.

Perto de Tyler, não conseguia ser maduro e res­ponsável. Ao lado dela, sentia-se confuso e cegado pela luxúria, o que não era bom, levando em conside­ração a profissão dela.

O problema é que ainda não sabia que tipo de re­pórter ela era.

— Como você vai fazer para descobrir de onde ele a conhece? — insistiu, com curiosidade.

— Eu? — perguntou, arregalando os olhos.

— E, você. Você sabe quem ele é, então deve sa­ber para que jornal ele trabalha.

— Bem... Sei — admitiu, irritada.

— Mas, se eu começar a fazer perguntas, só vou levantar mais sus­peitas.

— Isso não é problema meu.

— E certamente não é meu — protestou ela.

— Não? — zombou ele. — Então você não deve se incomodar se vir seu rosto estampado ao lado do meu em algum jornal. — Ela empalideceu, tomada pelo pânico. Logo, sua expressão estava neutra nova­mente.

Era o mesmo pânico que demonstrara antes, ao ler a coluna de fofocas.

Tyler Wood estava escondendo alguma coisa, per­cebeu. Mas ele ainda não sabia exatamente o que era.

— Posso explicar minha presença em sua suíte. Eu estava trabalhando

— protestou.

— Vou ligar para David e explicar a situação.

Zak sorriu sem vontade, pois, embora ela conside­rasse sua presença ali meramente profissional, ele não pensava mais nela dessa maneira desde a primei­ra vez em que vira aqueles olhos achocolatados.

— Sim, você pode fazer isso. E quanto antes me­lhor, não acha?

— acrescentou.

Tyler piscou e, ao entender o que ele queria, fran­ziu o cenho.

— Quer que eu vá agora?

— Sim, quero que vá agora.

Porque, se ela não fosse embora logo, ele ia se es­quecer de tudo e começar a beijá-la novamente. Des­sa vez, ele se lembraria de colocar o aviso de "não perturbe" na porta! Não! Isso seria uma péssima idéia. Ela tinha de ir embora urgentemente. O mais rápido possível!

Então, quando a visse novamente, teria controlado o desejo de beijá-la. Esperava!

Nenhuma mulher jamais causara esse efeito nele, despertando uma vontade incontrolável de beijá-la. Mas, até que soubesse mais sobre Tyler, o que pre­tendia fazer assim que ela saísse, seria melhor se con­ter.

Afinal, ela era uma "mulher misteriosa", embora não no sentido sugerido na coluna de fofocas.

A julgar pelo encontro esfuziante da noite ante­rior, ela conhecia um estilista do status de Gerald Knight, e não parecia que a relação entre ambos se devia a um artigo que ela escreveu. Seu relaciona­mento com o fotógrafo Perry também parecia ser muito mais do que platônico.

Até então, de todas as pessoas com quem havia fa­lado, ninguém sabia nada sobre o passado de Tyler, antes de chegar à Inglaterra, há seis meses, com o in­tuito de se tornar uma repórter famosa.

Isso levantava algumas perguntas: onde Tyler pas­sara os primeiros 25 anos e meio de sua vida? De onde vinha? Quem eram seus amigos? Sua família? E a resposta que Zak mais queria descobrir, e que sabia que não obteria dela: por que nenhum de seus conhe­cidos em Londres sabia mais de sua vida, além do pouco que também contara a ele?

O que Tyler estava escondendo?

Porque, definitivamente, estava escondendo algu­ma coisa...

 

— Se por acaso Zak Prince o procurar, queria lhe pedir que não contasse nada do que sabe sobre a mi­nha vida particular — suplicou Tyler a Gerald Knight, enquanto almoçavam juntos.

Quando saiu do hotel, pela manhã, Tyler percebeu um ar desconfiado em Zak, o que a levou a fechar to­das as portas que deixara abertas, antes que ele tives­se a chance de atravessá-las e começar a fazer per­guntas.

De alguma maneira, nas últimas 24 horas, Zak in­vertera o jogo, e agora era ela que estava sendo ques­tionada!

Gerald arqueou as sobrancelhas, travesso.

— Por "vida particular", você quer dizer que não devo mencionar Rufus, nem o fato de você se chamar Tyler Harwood?

— Exatamente — disse, olhando em volta, a fim de se certificar de que ninguém escutava a conversa deles. Será que estava ficando paranóica? — Já é pés­simo Zak me achar inexperiente. Se ele souber quem realmente sou, nunca vai me levar a sério como re­pórter!

Ele riu suavemente.

— Adoraria ser uma mosca para presenciar um possível encontro entre Zak e Rufus!

— Isso nunca vai acontecer — jurou Tyler, estre­mecendo apenas ao pensar.

— Eu não teria tanta certeza, querida — brincou Gerald. Hoje, usava um terno creme, com uma blusa amarela e uma gravata creme. — Do meu ponto de vista, e a julgar pela coluna no jornal, Zak Prince pa­rece estar bastante interessado em você.

Ela sentiu-se ruborizar.

— Você está errado — insistiu.

— E apenas uma entrevista. Agora, prometa, Gerald. Por favor!

Graciosamente, ele desistiu.

— Sabe que eu não resisto a seus belos olhos cas­tanhos.

Menos um, pensou Tyler, grata. Agora, faltava David Miller, embora soubesse que seria muito mais difícil tirar alguma informação dele, como, por exemplo, descobrir quem lhe dera a dica sobre ela e Zak. Pela manhã, Tyler não fora sincera ao dizer que não lembrava quem a apresentara a David Miller, mas tinha certeza de que essa pessoa não tinha nada a ver com isso. Será que Jane Morrow podia ter procu­rado David Miller, numa tentativa de causar ainda mais problemas para a família Prince? Tyler espera­va que sua conversa com Miller dirimisse essas dúvi­das.

Enquanto esses problemas ocupavam sua mente, mantinha seus pensamentos afastados da imagem de Zak fazendo amor. Realmente não queria pensar nis­so. Naquele momento, não podia lidar com as possí­veis consequências dessa fantasia.

Durante toda a tarde, conseguira não pensar nisso nem uma única vez. Até voltar para a sua mesa no jornal e ver Zak confortavelmente instalado na sala particular de Bill Graham!

Arregalou os olhos, e suas pernas fraquejaram. Apoiou-se na mesa e empalideceu. De longe, viu Bill rindo — ele nunca ria — de algo que Zak dissera.

Mas essa não era a única coisa estranha que a pre­sença de Zak gerara. Bill havia fechado a porta da sala, o que nunca fazia. Gostava de manter os ouvi­dos atentos e os olhos abertos, para vigiar sua equipe.

Naquele momento, Tyler concentrou toda a sua atenção na sala de Bill e no que poderia estar aconte­cendo ali, ignorando tudo que a rodeava.

Que diabos Zak estaria fazendo aqui? Homens de seu calibre e status jamais frequentavam redações de jornal por vontade própria. Era a mídia que corria atrás deles, e não o contrário.

— Ele é ainda mais bonito ao vivo, não? — per­guntou Callie Rhodes, da editoria de moda, piscando para Tyler.

Tyler ruborizou ao pensar que vira toda aquela be­leza bem de perto na terça-feira e também naquele mesmo dia, pela manhã. Além de ver, havia tocado!

— Sortuda — suspirou Kelly Adams, outra repór­ter, olhando fixamente para Zak.

Sim, era muito sortuda!

Será que Zak viera criticar seus métodos jornalís­ticos?

Não conseguira realmente entrevistá-lo. Estava to­talmente consciente do corpo daquele homem, o que a tornava uma jornalista incompetente sempre que se aproximava dele.

Agora, Zak estava de pé. Os dois se cumprimenta­vam, sorrindo. Bill abriu a porta da sala e conduziu-o para fora. Ele caminhou na direção dela, ainda sor­rindo.

Tyler parecia colada ao chão, e um olhar horrori­zado desfigurava seu rosto. Ainda não o havia supe­rado choque de ver Zak aqui.

— Oi, Tyler — saudou, aproximando-se da mesa, com uma expressão totalmente impassível.

— Oi, Zak — respondeu, quase sem mover os lá­bios.

— Tchau, Tyler. — Ele acenou e continuou cami­nhando, passando por ela e seguindo para a porta.

— Tchau, Zak... Espere um minuto! — explodiu, deixando seu estado de torpor e correndo atrás dele. Percebeu que Callie, Kelly e todas as mulheres o fita­vam com olhares sedutores.

Se Zak houvesse lhe concedido aquele sorriso afe­tuoso e charmoso, como fizera com as outras, talvez Tyler se juntasse a elas!

— Zak — chamou, tentando impedir que ele en­trasse no elevador, apressando o passo, até alcançá-lo no corredor. — O que está fazendo aqui? — indagou.

Ele encolheu os ombros largos, por baixo da cami­seta preta. A calça jeans caía um pouco abaixo dos quadris.

— Não quero parecer rude, Tyler, mas você acha que isso lhe diz respeito?

A raiva coloriu suas bochechas.

— Bill Graham é meu chefe — objetou.

— Há alguma lei que diga que não posso vir aqui e falar com ele?

Ela cerrou os punhos e fitou-o.

— Não há nenhuma lei, mas Bill é meu chefe — repetiu em vão. Se Zak tivesse alguma reclamação em relação a ela, e devia ter várias, preferia que os dois discutissem isso antes que ele levasse o assunto a Bill Graham. — Isso significa que nossa entrevista acabou? — Se estivesse fora dessa, também perderia o trabalho.

— Você pediu para o Bill me tirar do seu pé?

— Impaciente, cresceu diante dele, que a fitava, confuso.

— Por que você pensaria isso?

Por muitas razões! Havia um fotógrafo inconve­niente seguindo-a. Por causa do jantar deles na noite anterior, o nome de Zak saíra na coluna de fofocas. E, talvez o pior de tudo, um tema que eles sequer men­cionavam, ela passara mal na suíte dele, antes de pas­sar a noite se recuperando na cama dele!

Tyler encolheu os ombros.

— As coisas não estão correndo muito bem nos úl­timos dias...

— Correndo muito bem? — exclamou Zak, incré­dulo.

— Tyler, desde que nos conhecemos, foi um desastre atrás do outro.

Tyler empalideceu diante daquele comentário, mas não podia deixar por menos. Sequer olhou para o elevador, que acabara de chegar.

— Não foi culpa minha — defendeu-se sem con­vicção, pois sabia que a maior parte dos desastres a que ele se referia fora culpa sua. Mesmo que não ti­vesse feito nada para causá-los!

— Bem, certamente não foi culpa minha — devol­veu Zak, entrando no elevador. — Você está livre para jantar hoje, Tyler? — acrescentou, inesperada­mente.

— Oh! Sim — aceitou ela, totalmente perplexa com aquele convite. A conversa deles não indicava que ele quisesse passar um minuto em sua compa­nhia, imagine uma noite inteira!

— Ótimo. — Ele apertou o botão. — E, caso tenha outro Vera Wang no armário, eu guardaria para o sá­bado à noite — avisou enigmaticamente.

Tyler o fitou, chocada. Sábado à noite? O que aconteceria no sábado à noite?

— Esteja no meu hotel, por volta das oito — con­cluiu, antes de as portas se fecharem, deixando Tyler parada no corredor, perguntando-se em que momento perdera o controle sobre a conversa.

Não, havia algo errado. Ela jamais tivera controle sobre aquela situação! Na verdade, passara metade do tempo sem saber do que Zak estava falando.

Sábado à noite era apenas mais um sinal disso. O que aconteceria no sábado à noite para que Zak qui­sesse vê-la em um vestido tão exclusivo quanto um Vera Wang? Na verdade, tinha outro...

— Ele é lindo — disse Kelly, efusiva, parada ao lado de Tyler.

— É — concordou Tyler vagamente. No entanto, em seu âmago, sentiu ciúmes da atração óbvia que Kelly demonstrava por Zak. Ele certamente era um homem lindo, cujos beijos a derretiam da cabeça aos pés, mas não gostava de ouvir outras mulheres falan­do sobre sua beleza. No entanto, tinha de admitir que esse comportamento era ridículo.

A aparência de Zak respondia por parte de seu su­cesso. Ele jamais seria tão famoso se fosse parecido com o Godzilla! Além do mais, não tinha direito al­gum de sentir ciúmes de Zak, embora desejasse o contrário.

— Você sabe quem é essa "mulher misteriosa" na vida dele? — sondou Kelly.

Tyler sempre gostou de Kelly, tanto pessoal quan­to profissionalmente. Mas, naquele momento, queria mandá-la cuidar da própria vida!

— Acho que não há mulher misteriosa — disse, sorrindo pesarosamente.

— A concorrência devia es­tar com pouca fofoca hoje. — Ela encolheu os om­bros, esperando que Kelly não insistisse naquele tema.

— Ah! — Ela parecia decepcionada. Então, seu rosto se iluminou. — Então, talvez ainda haja espe­rança para nós. Nos vemos, Tyler — despediu-se.

Tyler estava muito descontente com três pessoas.

Com Kelly, por babar pelo homem por quem ela estava cada vez mais apaixonada; era a última coisa que queria, mas não podia controlar seus sentimen­tos.

Com Zak, pela conversa totalmente desconcertante que haviam tido.

E, finalmente, com Bill Graham, por ter ficado de papo com Zak, rindo e se divertindo. E não tinha a menor ideia do que haviam falando! Sabia que Bill jamais lhe diria mesmo se perguntasse.

Sábado à noite!

Tyler despencou na cadeira quando o significado daquele dia, por fim, a atingiu brutalmente.

— Embora seja muito gentil de sua parte, tenho outros planos para sábado à noite, então tenho que declinar seu convite — concluiu Tyler, ofegante, sentada ao lado de Zak no táxi. Haviam saído do ho­tel um pouco depois das oito horas.

Totalmente indiferente Zak ouviu enquanto ela recusava o convite para ir à estréia no sábado à noite. Embora ela quisesse recusar, teria de acompanhá-lo. Caso contrário, teria de revelar por que não queria que sua foto e seu nome aparecessem no jornal de do­mingo.

Zak estava mais convencido do que nunca que esta era a razão que ela escondia por trás de sua recusa. Passara o dia inteiro tentando descobrir mais sobre esta “mulher misteriosa", mas aconteceu exatamente o que previra. Algumas pessoas, como David Miller, não sabiam nada sobre Tyler antes de sua chegada à Inglaterra; já aqueles que sabiam, como Bill Graham e Gerald Knight, não disseram absolutamente nada. Na verdade, sequer falara com Gerald Knight, já que ele havia passado o dia inteiro "ocupado".

Então, Zak bolara um plano para conseguir extrair alguma reação de Tyler e, com isso, ter uma ideia melhor do que, ou de quem, ela fugira nos Estados Uni­dos.

A alegação de que tinha outros planos para sábado à noite era um bom começo!

Ele encolheu os ombros, demonstrando um falso pesar.

— Então, acho que você terá que cancelar ou adiar seus planos.

— Não posso fazer isso — protestou.

— Que pena — disse Zak, antipático. — Bill Graham gostou da ideia quando comentei com ele hoje.

Tyler fitou-o, incrédula.

— Foi sobre isso que vocês falaram? Ele arqueou as sobrancelhas.

— Ele não lhe disse nada? — Sabia que o outro homem deixaria que ele tratasse disso com Tyler. Zak tinha a sensação de que Bill Graham sabia mais sobre Tyler Wood do que estava disposto a revelar, para Zak ou para qualquer um. Talvez até para a pró­pria Tyler.

— Não, ele não me disse — retrucou ela, furiosa. — Talvez você não tenha percebido, mas Bill Graham não gosta de facilitar a vida de seus funcionários!

— Na verdade, percebi. De qualquer maneira, ele aprova que você me acompanhe à estréia. Acho até que ele gostou da ideia de ter uma de suas repórteres sob os holofotes — acrescentou, provocando-a.

Tyler respirou fundo, provavelmente preparando-se para inventar outra desculpa, quando viu que o táxi entrara em uma rua privativa. Zak dirigiu-lhe um bre­ve sorriso antes de sair do carro e digitar o código de segurança, que fez os grandes portões de ferro se abrirem.

Ela parecia ligeiramente confusa quando Zak vol­tou a se sentar a seu lado. Agora, o táxi adentrava por uma estrada, em frente a uma casa imponente, em es­tilo vitoriano.

— Onde estamos? — perguntou por fim, assim que Zak abriu a porta para ela descer do carro.

Ele pagou o motorista e respondeu:

— Minha irmã Stazy também viu a notícia sobre nós no jornal de hoje.

— Rik deve tê-la avisado, reco­nheceu silenciosamente.

— E nos convidou para jan­tar — acrescentou, segurando o braço de Tyler.

Ela resistiu, puxando o braço e afastando-se.

— Você só pode estar brincando! — gritou incré­dula, totalmente horrorizada diante da possibilidade de conhecer outro membro da família Prince.

Stazy era a mais nova dos quatro irmãos e a única mulher. Muito feliz no casamento, agora estava em­penhada em encontrar boas pretendentes para os seus três irmãos.

Pela conversa que haviam tido mais cedo, pelo te­lefone, Zak teve a impressão de que Stazy queria sa­ber mais sobre a "mulher misteriosa". Logo, ela os convidara para jantar. E Zak não pretendia passar por isso sozinho.

— Acredite em mim. Stazy nunca brinca com es­sas coisas — informou ao mesmo tempo em que to­cou a campainha. — Ela pode não ser muito velha, mas se tornou excepcionalmente mandona desde que se casou, há um ano.

— E Zak tinha de admitir que estava curioso para saber o que sua irmã iria achar de Tyler.

Ela ainda parecia totalmente horrorizada diante da perspectiva de jantar com mais um membro da famí­lia!

— Não sei se isso lhe faz sentir melhor, mas o ma­rido dela, Jordan, também está aqui. Jordan Hunter, da cadeia hoteleira dos irmãos Hunter.

— Essa nova informação apenas aumentou o nervosismo dela.

Apesar de tudo, ela estava incrivelmente bonita, com um vestido preto na altura do joelho, cobrindo sua figura delgada. A maquiagem estava leve, e o ca­belo, pela primeira vez, não parecia um porco-espinho irritado, mas caía suavemente pela sua testa e curvava-se delicadamente atrás da orelha.

Estava tentando fazê-la sentir-se melhor. Tyler bufou e virou-se para a porta, que se abriu. Stazy, uma decoradora bem-sucedida, era muito rica, por mérito próprio. Jordan, por sua vez, era multimilionário. Mas ela se recusava a manter empregados na casa o tempo todo e preferia criar um ambiente mais aconchegante para a sua família.

Zak observava enquanto as duas mulheres se fita­vam. Pelo olhar de Stazy, sabia que Tyler a surpreen­dera positivamente. Então, perguntou-se como de­viam ser as mulheres com quem costumava se envol­ver, pois Stazy nunca aprovara nenhuma delas.

No entanto, de repente, o sorriso de Stazy esmore­ceu e foi substituído por um olhar perplexo. Zak en­tendia muito bem aquela sensação. Era assim que Ty­ler o fazia sentir durante a maior parte do tempo.

Foi ela que quebrou que o silêncio, que já se pro­longava a ponto de se tornar incômodo.

— Oi. Sou Tyler Wood. Acho que houve algum mal-entendido por eu ter sido vista com Zak algumas vezes. — Ela riu (forçadamente?).

— A "mulher misteriosa" na vida de Zak é só uma repórter. Na ver­dade, seu irmão Nik acertou tudo entre nós — acres­centou.

Tanta coisa acontecera essa semana, desde que co­nhecera Tyler, que Zak tinha de admitir que quase se esquecera desse pequeno detalhe!

Mas Stazy, obviamente, ainda se lembrava disso.

— Claro — respondeu. — Por que você não me explicou antes, Zak? Tenho certeza de que Tyler não quer jantar com a sua família — repreendeu-o, en­quanto entravam na casa.

E perder todo o prazer de passar mais uma noite na companhia de Tyler? Além do mais, quando Stazy os convidou para jantar, ele esquecera momentanea­mente a verdadeira razão que levou Tyler a entrar em sua vida. Isso só evidenciava ainda mais como aquela situação estava complicada. Provavelmente, porque as duas emoções que o haviam dominado nos últimos dias foram raiva e desejo, e ambas se concentravam na bela mulher a seu lado.

— Já íamos nos encontrar essa noite de qualquer maneira. Além do mais, eu não queria perder um jan­tar de graça! — brincou ele.

Stazy riu.

— Junte-se ao Jordan, palhaço. Vou levar Tyler até o toalete, assim podemos comer.

Tyler não precisava ir ao toalete. Na verdade, era difícil tirar os olhos e as mãos dela! Mas não podia impedir que sua irmã a levasse.

— Tudo bem. — Ele assentiu e encaminhou-se para a sala de estar, onde iria pedir que seu cunhado lhe servisse um uísque com soda. Dose dupla!

 

— Está bem, senhorita Harwood — respondeu Sta­zy Hunter abruptamente, depois de fechar a porta do banheiro. — Você tem cinco minutos para me expli­car por que está se disfarçando de repórter sob o nome Tyler Wood!

Tyler encarou a anfitriã, apavorada. Stazy a enca­rou de volta com seus olhos cinza e aquela determi­nação implacável que Tyler já vira diversas vezes em Nik e Zak. A boca, antes levemente arqueada num sorriso, se transformara em uma linha determinada.

Tyler havia pensado que tudo corria bem — tinha chegado até ali sem que ninguém descobrisse sua verdadeira identidade. Talvez ainda houvesse como salvar a situação...

— E explique-se muito bem para me convencer a não descer essas escadas e contar para o meu irmão quem você é de fato!

Tyler engoliu em seco, abalada por aquela amea­ça.

— Então você sabe quem eu sou?

— É claro que sei. E Zak também saberia se tives­se o hábito de ler qualquer coluna social nos Estados Unidos! Você é a socialite nova-iorquina que prati­camente dita o mundo da moda por lá.

Tyler sorriu, pesarosa.

— Nem um pouco o estilo do Zak, não é?

— Não.

— concordou a irmã, secamente.

— Mas certamente é o seu Ainda estou esperando, Tyler, e o tempo está passando.

— Ela arqueou a sobrancelha em tom inquisidor.

Os pensamentos de Tyler borbulhavam. É claro que Stazy sabia quem ela era. Como poderia conven­cer aquela mulher de que suas intenções com Zak eram as mais sinceras possíveis?

Principalmente quando elas não eram tão sinceras assim, reprovava-a uma voz em seu interior.

Está certo, talvez não fossem sinceras mesmo, mas a entrevista com Zak não tinha relação alguma com o motivo de ela estar ali como repórter usando um nome falso, tinha?

É claro que não. Ela nem sabia que conheceria Zak Prince ao tomar a decisão seis meses atrás.

Talvez se revelasse a verdadeira razão de ter es­condido aquele segredo — sobretudo de Zak —, con­seguisse evitar um verdadeiro desastre.

Talvez fosse o alívio de enfim poder falar livre­mente sobre a sua vida, ou então o olhar implacável de Stazy em busca da verdade que fez Tyler revelar a história num ímpeto.

Stazy não demonstrou qualquer reação. Apenas ouvia, sem dar qualquer indicação de acreditar ou não nas palavras de Tyler.

— Depois de ter uma séria briga com meus pais, principalmente com meu pai, porque rejeitei o mari­do que ele escolheu para mim, fiz minhas malas, comprei uma passagem para Londres e aqui estou. Mudei de nome porque ele é tão conhecido aqui e nos

Estados Unidos que receei conseguir um emprego por causa disso, ou pior, não conseguir nenhum por ser vista como uma menininha sem cérebro que só se preocupa com seus cabelos e unhas! E, se eu tivesse contado ao Zak quem sou, acho que ele não me teria levado a sério como repórter, se é que ele me leva a sério profissionalmente — explicou Tyler, lamentando-se.

Stazy finalmente se moveu, meneando a cabeça.

— Por que os homens dominadores não percebem como realmente são?

— questionou-se.

Tyler não respondeu. Será que aquele comentário indicava que Stazy havia acreditado nela? Stazy suspirou.

— Não sei se você vai acreditar, mas eu fiz algo parecido. Há 18 meses, também cheguei a mudar de nome. Três irmãos mais velhos que sempre pensaram saber o que é melhor para a sua irmãzinha. Três é de­mais! — revelou com um risinho.

— E Zak não tem a menor ideia de quem você seja?

— Não. — confirmou Tyler, embora tivesse certe­za de que ele desconfiava que ela não era quem pare­cia ser!

— Bom, a essa altura, acho que ele nem precisa sa­ber.

— Você acha? — perguntou Tyler, esperançosa. — Não vai contar a ele?

— Parecia bom demais para ser verdade.

— Agora não. — reiterou Stazy.

— Mas, se a situa­ção mudar, se eu achar que Zak vai se magoar por não saber, conto tudo.

— Ele não ficará magoado — assegurou Tyler prontamente, sem conseguir imaginar como sua ver­dadeira identidade poderia afetar Zak. Ela não estava mentindo; a matéria que ia escrever sobre Zak pode­ria não ser grande coisa, mas seu verdadeiro nome não deveria fazer diferença alguma.

— Você tem certeza? É a primeira vez que Zak traz alguém para jantar aqui.

— Mas só porque você insistiu — protestou Tyler.

— E você acha que é a primeira vez que eu convi­do uma das mulheres com quem Zak sai?

Tyler não queria saber dos outros casos de Zak!

 

— Eu não estou saindo com Zak! — garantiu, mesmo sentindo-se ruborizar. Essa mudança de colo­ração, geralmente relacionada ao assunto Zak, pare­cia estar se tornando uma característica permanente das faces pálidas de Tyler.

— Eu já disse, estou ape­nas fazendo uma matéria com ele durante esta sema­na.

Stazy ainda parecia muito pouco convencida.

— Só quero que você saiba que, em minha vida, Zak está sempre em primeiro lugar.

— Não pensaria o contrário — reconheceu Tyler, constatando a relação próxima da família Prince. — Mas não vou magoar Zak, se não contar quem real­mente sou, garanto.

Tyler estava determinada a jurar qualquer coisa para aquela mulher, a fim de impedir que Zak desco­brisse a verdade.

Stazy olhou a hora em seu relógio de ouro.

— Já estamos aqui há mais de cinco minutos — anunciou.

— Eles já devem estar preocupados.

Nem tanto, pensou Tyler, ao ver os dois homens altos, um moreno e um louro, interromperem a ani­mada conversa para apresentarem Tyler a Jordan.

Para a sua surpresa, após aquele início tenso, Tyler aproveitou a noite e deixou-se envolver pela conver­sa. Os Hunter eram um casal claramente feliz, e a re­lação de Zak com os dois também era muito agradá­vel. Na verdade, apesar da apreensão inicial, aquela foi uma das noites mais descontraídas de Tyler desde que chegara à Inglaterra.

— Obrigada por ter me convidado — agradeceu ela a Zak, no caminho de volta. — Stazy e Jordan são muito simpáticos.

Zak a fitou, irônico.

— E você acha que, na condição de minha irmã, Stazy não seria simpática?

— É claro que não quis dizer isso. — Tyler rubori­zou imediatamente.

— Você está me provocando de novo, não é?

— Só um pouquinho — confirmou ele, gentil. — O que vocês tanto conversaram lá em cima, quando chegamos? — indagou ingenuamente.

Inocente? Assim pareceu a Tyler. Mas Stazy tam­bém pareceu sincera ao prometer não contar nada a Zak, a não ser que fosse extremamente necessário. E não havia acontecido nada que pudesse alterar essa situação.

— Coisas de moda. Assuntos entediantes para ho­mens.

— Você não está sendo feminista demais? — cen­surou Zak. — Garanto que Gerald Knight, por exem­plo, teria se interessado.

— Gerald? — repetiu ela, brusca. Depois de suas preocupações anteriores, parecia muita coincidência que Gerald fosse mencionado nessa conversa.

Zak assentiu com a cabeça.

— Moda feminina certamente seria do interesse dele.

— Só porque é o ramo em que trabalha — replicou ela.

— O que quis dizer é que geralmente a moda fe­minina não interessa muito aos homens.

— Tem razão — confirmou ele. — Não me inte­ressa nem um pouco.

Então, o que ele estava pretendendo com aquela conversa? Provavelmente provocá-la.

— Talvez você queira informar seu endereço ao motorista — sugeriu Zak.

Tyler lançou lhe um olhar assustado no interior escuro do táxi.

— Meu endereço?

— Acabei de me dar conta de que, embora já te­nhamos jantado duas vezes juntos, nunca levei você em casa. Está na hora de me redimir.

Ela não queria que ele a levasse em casa! Não que­ria que ele soubesse onde morava.

— O que você está escondendo, Tyler? — Parecia saber o que se passava na mente dela. — Um marido e seis filhos? — E completando com uma voz mais grave: — Ou você divide o apartamento com mais al­guém?

— Claro que eu não...

— Com Perry Morgan, por exemplo — interrom­peu, franzindo o cenho.

— Eu já disse que não moro com Perry. Não moro com ninguém!

Zak aproveitou a oportunidade.

— Então não há problema em levar você para casa, não é?

Claro que havia. Um grande problema. Seu aparta­mento era seu canto, um espaço só seu, o primeiro que já havia tido; se Zak entrasse lá, ela nunca mais conseguiria voltar para casa sem se lembrar dele. E com os sentimentos que nutria por ele, aquilo se tor­naria insuportável.

E ainda havia outro fator: no início da noite, Zak havia ignorado sua recusa de ir à estréia no sábado. Seja lá qual fosse a ideia de Zak, ela não pretendia acompanhá-lo, independente do que Bill Graham fosse dizer a respeito! Mas, se Zak soubesse onde ela morava, invadiria ainda mais sua vida. E esconder-se em sua própria casa seria a única saída para aquele problema.

Iria enrolá-lo com outra desculpa, mas Zak já pre­via isso antes mesmo que ela dissesse alguma coisa.

Ele havia se surpreendido com a desenvoltura com que Tyler conversou com Stazy e Jordan; a irmã não tinha fama de ser fácil com as mulheres de seus ir­mãos!

Mas talvez a diferença tenha sido o fato de que Ty­ler havia se esforçado para provar que não era sua atual companheira.

Aquilo o irritara profundamente. O que significa­va exatamente estar saindo com alguém? Passar al­gum tempo junto? Tyler e ele haviam passado muito tempo juntos nos últimos dias. Beijar? Bem, Tyler e ele também haviam se beijado diversas vezes.

Para todos os efeitos, querendo Tyler ou não, ela estava muito presente em sua vida!

Mas é claro que ela não queria ser sua atual com­panheira. E por isso inventaria uma desculpa esfarra­pada para que ele não a deixasse em casa, muito me­nos o convidaria para conhecer seu apartamento!

— Na verdade, Zak — começou calmamente —, não quero que você vá até minha casa.

Nem um pouco esfarrapada! Simplesmente a ver­dade nua e crua. Ele a admirou pela sinceridade, em­bora se virasse contra ele.

Zak riu pesaroso.

— Nem pensar em poupar meus sentimentos, não é?

— E que acho que está na hora de voltarmos a ter apenas uma relação profissional — explicou.

Ele ultrapassara a relação profissional com aquela mulher havia muito tempo. Droga, eles haviam atra­vessado essa barreira no momento em que ele a levou para a cama três noites atrás.

Ela estava passando mal, mas, ao mesmo tempo, enquanto ela dormia, não demonstrava a expressão levemente agressiva que costumava estampar. Pare­cia delicada e atraente. E ele se tornou tão vulnerável àquilo quanto qualquer outro homem.

Não que tivesse visto as defesas de Tyler se desve­larem outra vez; na verdade, ela costumava ser tão irascível que acabava por afastar o interesse da maio­ria dos homens.

Talvez fosse até arrogância da parte dele, mas nunca havia se visto como "a maioria dos homens"...

Admita Zak, repreendia a si mesmo, você está to­talmente caído por uma mulher que corre tão rápido na direção oposta que você não está conseguindo nem acompanhá-la, quanto mais ultrapassá-la! Tal­vez fosse a novidade que o atraía: geralmente era ele que corria! Qualquer que fosse a razão, ele estava tão interessado por Tyler que talvez estivesse até se apai­xonando por ela. Mas essa ideia era ridícula. Uma es­trela do cinema apaixonado por uma repórter de tabloide... Já conseguia até ver as manchetes!

— Voltar a ter um relacionamento profissional? — Zak repetiu as palavras de Tyler. — Em que mo­mento tivemos esse tipo de relacionamento? O que você já tem para escrever em seu artigo? — acrescen­tou ele, ao vê-la assustada.

Era apenas imaginação dele ou as faces de Tyler haviam corado ao ser lembrada de que eles vinham se beijando mais do que realizando entrevistas ultima­mente? Na verdade, Bill Graham fora bastante con­vincente, afirmando que o artigo estava encaminhado e que pretendia publicá-lo na revista de domingo.

Mas, ao mesmo tempo, tinha quase certeza de que Tyler ficava ligeiramente constrangida sempre que ele mencionava o artigo. Ou Bill Graham era um ex­celente ator ou Tyler se deixava intimidar por sua pouca experiência como entrevistadora.

É claro que não deve ser fácil fazer perguntas quando o entrevistado está beijando você! Da forma como queria beijá-la agora.

Tyler estava linda aquela noite, o vestido-preto liso acentuava o tom castanho de seus olhos e conferia uma tonalidade rosada a seu rosto. E, ainda por cima, ela tinha se mostrado uma companhia divertida durante o jantar ao contar sobre as gafes vocabulares que havia cometido assim que chegou à Inglaterra.

Stazy gostou de Tyler, e Jordan ficou encantado com ela. Na verdade, se Zak não tivesse certeza de que Jordan era completamente apaixonado por Stazy, chegaria até a pensar que os modos provocadores de seu cunhado mereciam um soco na cara!

Estava com ciúmes.

Embora nunca tivesse sentido isso antes, Zak re­conheceu o sentimento. Esse conhecido monstro de olhos verdes destruidor e transformador de caráter que até então desconhecia.

Por isso precisava tanto beijar Tyler novamente. Longe de olhos curiosos e de interrupções, para que ambos pudessem explorar seus sentimentos. A quem queria enganar? Desejava ficar a sós com Tyler para fazer amor com ela até que ela perdesse os sentidos. Até que os dois perdessem os sentidos!

— Não temos sido nem um pouco profissionais — respondeu ela, rouca —, e é por isso que sugiro que amanhã passemos o dia juntos para você ler a lista de perguntas que preparei.

Passar o dia juntos parecia tudo bem para ele, mas ler lista de perguntas nem tanto.

— Responder a uma porção de perguntas preestabelecidas não vai um pouco contra o objetivo do ar­tigo?

A verdade é que ele não queria que Tyler o visse esforçando-se para ler aquelas perguntas!

Aquele era seu verdadeiro — e único — segredo. Fora rotulado de rebelde durante os tempos de esco­la, o garoto-problema da família Prince. Mas o que ninguém havia percebido era que ele se entediava na escola e causava problemas porque não conseguia acompanhar as aulas. Para ele, os livros não passa­vam de um emaranhado de letras.

Dislexia. Ele já era adulto quando recebeu o diag­nóstico, junto com seu QI de 160! Mas, assim que seu problema foi descoberto, suas dificuldades com a lei­tura deixaram de ser um incômodo. Com dois irmãos mais velhos e uma irmã mais nova, todos ávidos para ler para ele e ajudá-lo a memorizar os textos, essa questão que havia atormentado sua vida escolar per­deu a importância. As vezes, ele nem se lembrava disso.

Disléxico. O nome dado a alguém com problemas de leitura. Ele mal conseguia pronunciar aquela pala­vra, quanto mais lê-la ou soletrá-la! Tinha certeza de que a maioria dos disléxicos se sentia da mesma for­ma. Eram pessoas desafiadas pela formação de uma sequência de letras em uma palavra legível, e rotulá-las de disléxicas só lhes causava ainda mais confu­são.

E essa era uma história que Zak não queria que Ty­ler, nem qualquer outro repórter, publicasse!

Outros atores bem-sucedidos que haviam revelado problemas de dislexia provaram que não eram idiotas — pelo contrário, só eram desafiados pelas letras. Mas Zak havia decidido que jamais deixaria que pu­blicassem seu problema e começassem a dizer "o disléxico isso", " o disléxico aquilo"; era apenas uma deficiência de aprendizado e ponto final.

— Acho que sou capaz de escrever um artigo de modo que não pareça uma lista de perguntas e respos­tas.

— Tomara que sim — revidou ele. — Aceita um último drinque? — convidou Zak assim que o táxi parou em frente ao hotel.

— Se você não se importar, não, obrigada.

— Ty­ler claramente se ressentia do comentário crítico acerca de suas habilidades de repórter.

— E se eu me importar?

Os olhos de Tyler encontraram-se com os de Zak, impassíveis.

— Não adianta, não aceito.

Ele riu, mais uma vez desejando agarrá-la e beijá-la. Não se lembrava de ter sentido aquilo por nenhu­ma outra mulher.

— Você é muito teimosa, Tyler Wood.

Havia descoberto um pouco mais sobre ela duran­te aquela noite. Mas isso não significava que não es­tivesse determinado a saber mais. Por meios legíti­mos ou não.

Conhecendo Tyler como ele conhecia, presumia que precisaria recorrer a um caminho ilegítimo! Ela sorriu sarcástica.

— E preciso um teimoso para conhecer outro!

— Quer dizer que o teimoso aqui sou eu?

— Acho que você tem várias características, e a teimosia é apenas uma delas.

Zak sorriu de novo.

— Talvez você devesse vir comigo para me contar quais são as outras.

— A resposta continua sendo não.

— Você não pode reclamar por eu não tentar!

De fato, ele queria ir muito além do que apenas provocar Tyler. Esse era o problema. E, até que des­cobrisse mais a seu respeito, de onde ela vinha e quem esperava por ela nos Estados Unidos, se é que havia alguém, ele se mantinha cauteloso ao provocá-la ou ao levar aquela relação adiante.

Isso era o que seu lado racional lhe dizia.

O outro lado, aquele que desejava tomá-la nos bra­ços e carregá-la escada acima até a sua suíte, dizia que se dane, parta para cima dela!

— Não responsabilizo você por nada, Zak. Acon­teceu muita coisa numa noite só, está bem?

Não, não estava nada bem, mas, pelo tom de voz dela, sabia que não teria outra escolha.

— Está bem — aceitou antes de se inclinar e beijá-la levemente nos lábios.

— Obrigado pela noite ado­rável, Tyler. Eu me diverti muito.

Era verdade. Ele havia se divertido aquela noite. Mas tivera a esperança de beijá-la. Não, mais do que beijá-la; queria ir até o fim.

Ela pareceu levemente desconcertada após o beijo, mas sorriu.

— Boa-noite, Zak.

— Boa-noite, Tyler. Amanhã no mesmo horário? — perguntou ao descer do táxi.

— No mesmo horário.

Por meios legítimos ou não, reiterou ele, enquanto observava o táxi partir.

 

— Ah, de novo não! — murmurou Tyler ao ver o jornal que Bill Graham jogou sobre a sua mesa, com expressão severa.

Ela havia chegado muito cedo ao escritório — será que Bill nunca ia para casa? — para checar sua caixa de e-mails e outras mensagens e ler alguns documen­tos antes de tomar o metrô rumo ao hotel de Zak.

A foto — nada menos do que na primeira página de um jornal concorrente, dela e Zak entrando no táxi, Stazy e Jordan ao fundo, na porta da casa, ace­nando no fim da noite anterior — a advertia de que aquilo não poderia continuar.

— Como conseguiram- isso daqui? — exclamou ela, cobrindo instintivamente a foto com a mão, como se o gesto fosse impedir alguma coisa. Sabia que isso era impossível, afinal centenas, milhares, de cópias daquela mesma foto estampariam a primeira página daquele jornal, que seria distribuído por todo o país. Ou talvez até por todo o mundo?

Seu rosto empalideceu ainda mais quando se deu conta da repercussão daquele acontecimento. Ela não queria ver seu pai logo agora se intrometendo em sua vida outra vez!

Tirou a mão de cima da foto, examinando a cena com atenção. Estava entrando no táxi, com o rosto le­vemente virado contra a câmera. Será que era o sufi­ciente para não ser reconhecida? Ela estava mais ma­gra do que há seis meses, e seus cabelos também ha­viam crescido, então talvez...

— Na verdade — Bill interrompeu os pensamen­tos de Tyler com um tom sarcástico —, quero saber por que este jornal conseguiu esta foto e nós não? Onde estava aquele seu namorado Morgan enquanto isso?

— Ele não é meu namorado — protestou ela auto­maticamente.

— Esse ângulo da foto indica que o fo­tógrafo estava sobre o muro.

— E quem é que está se importando com o posi­cionamento do fotógrafo?

— explodiu Bill. — Ele conseguiu o raio dessa foto e nós não!

E não era só isso que o fotógrafo havia consegui­do; a manchete estampava: ZAK PRINCE LEVA SUA "MULHER MISTERIOSA" PARA CONHECER A FAMÍ­LIA! Zak ia matá-la. Aos pouquinhos!

A não ser que... isso fosse tudo culpa dele. Ele ha­via programado o jantar com Stazy e Jordan. Talvez ela é que fosse matá-lo. Aos pouquinhos!

— Duvido que Stazy e Jordan Hunter vejam isso dessa maneira. Talvez exijam uma indenização por invasão de privacidade — acrescentou ela com satis­fação.

— Tyler, se você está tendo um caso com ele, en­tão...?

— Não estou tendo um caso com Zak Prince! — interrompeu ela, furiosa.

— Está bem. Se você está saindo com Zak...

— Também não estou saindo com Zak — insistiu ela. — Bill, você, mais do que ninguém, sabe exata­mente por que estou sempre com Zak Prince.

— E como isso está lhe fazendo bem! — retrucou ele, áspero. — Pelo que a foto sugere, você estava ocupada demais se socializando com o cara para con­seguir tirar dele qualquer assunto interessante.

Qualquer assunto sensacionalista era o que ele queria dizer. E, quanto mais tempo passava com Zak, mais relutava em publicar esse tipo de coisa, mesmo que viesse a descobrir os segredos mais obscuros e sombrios dele.

Estava se tornando uma grande repórter! Talvez Rufus tivesse razão — ela não era impiedosa o bas­tante para a carreira de jornalista. Talvez fosse me­lhor desistir e... — Não, não podia pensar daquela maneira. Ela tinha de conseguir. Foi o que havia pro­metido a si mesma quando mudou de vida seis meses antes.

— Só estou querendo dizer que — murmurou Bill frustrado com a situação — se você realmente se en­volver com esse homem, então deve nos passar as coordenadas antes, está bem? Lembre a quem você deve lealdade — declarou ele, ao sair e bater a porta, mal-humorado.

Ela examinou a foto novamente. Alguém a identi­ficaria? A não ser que, como Bill, alguém já soubesse que ela estava saindo com Zak. Provavelmente não. Aquela poderia ser qualquer morena sorridente en­trando num táxi.

Sob qualquer outra circunstância, ela teria ficado orgulhosa por ter sido fotografada com Zak Prince.

Ficaria estática se fosse realmente a "mulher miste­riosa" da vida dele. Se fosse a mulher de sua vida!

Mas isso era outra coisa. Isso era perseguição. E ela tinha de tomar uma atitude imediatamente. Se Jane Morrow estivesse por trás disso, Tyler teria de impedi-la de levar a cabo sua vingança contra a famí­lia Prince. Antes que alguém se machucasse.

— Tyler! — Uma voz animada a chamou.

Tyler viu Perry entrar no escritório, aliviada ao ver seu olhar animado. Ela o evitava desde a sua declara­ção de amor, mas não havia nenhum traço em seu sor­riso indicativo do incidente. Gostava de Perry; na verdade, ele era seu único amigo de verdade na Ingla­terra, e não queria continuar evitando-o.

— Perry — correspondeu, calorosamente, virando a foto do jornal para baixo; não queria que Perry vol­tasse a adverti-la contra Zak. Já estava cheia disso.

— Acho que Bill está atrás de você.

— É coisa boa ou ruim? — indagou ele ao se sen­tar no canto da mesa, lindo, de camiseta casual e cal­ça brim.

Por que ela não se apaixonou pelo bonzinho e sim­pático Perry? Por que não se apaixonou por qualquer outra pessoa que não fosse Zak Prince?

Porque não, aceitou, lastimando-se. Era Zak que ela amava e provavelmente sempre iria amar.

— Não sei. E infelizmente tenho de sair logo; te­nho um compromisso agora de manhã.

— Zak Prince outra vez? — desaprovou Perry.

— Que sorte, não é? — Ela propositalmente fez pouco-caso do assunto.

— Que tal almoçar mais tarde? — Perry levantou-se com seus olhos azuis esperançosos.

Ela respondeu com uma careta de pesar.

— Não sei. Posso ligar para você depois? — Sor­riu encorajadora. Mas não tanto; não queria passar a impressão errada para Perry. De novo.

Ainda estava atordoada com a declaração dos sen­timentos dele. Não achava que tinha dado sinal al­gum, sobretudo quando tanto Zak quanto Bill pare­ciam achar que Perry era seu namorado!

— Tudo bem — respondeu ele, obviamente deter­minado a manter a conversa num tom leve e tranquilo.

Para alívio de Tyler. Talvez a amizade entre eles nunca voltasse a ser como antes, mas seria bom se ao menos voltassem a se falar sem constrangimentos.

— Até mais tarde, talvez — despediu-se ela ao sair.

Aquela conversa tinha feito com que ela se atra­sasse. Teria de ir diretamente para o hotel de Zak, sem tentar achar Jane Morrow antes. Mas aproveita­ria a primeira oportunidade para alcançá-la.

Entretanto, agora estava preocupada com outras coisas, além de Jane Morrow e Perry. Graças àquele fotógrafo, estava morrendo de medo de encontrar Zak. Seria demais esperar que ele não tivesse visto a foto. E, mesmo que não tivesse, ela sabia que teria de lhe contar.

Eleja tinha visto!

Ao se deparar com o olhar e a expressão de Zak ao abrir a porta, Tyler já sabia que confissões ou explicações não seriam necessárias. Embora tenha se surpreendido com o primeiro comentário de Zak!

— Sinto muito por envolver você nisso tudo, Ty­ler.

— Eu... Você sente muito?

— Ela piscou os olhos; essa não era a reação que esperava.

— Sinto. Alguém está brincando conosco. E não estou gostando nada disso.

Tyler pensou que sabia exatamente quem era aquele "alguém", mas não se sentiu à vontade para incluir o nome Jane Morrow na conversa.

Chegou a dar um pequeno telefonema pelo celular a caminho do hotel, mas o antigo funcionário de Jane se recusou a falar sobre ela. Sua secretária fora mais direta ao afirmar que achava que a mulher havia se tornado agente literária.

Tyler não teve tempo de continuar sua busca. No entanto, pretendia concluí-la assim que saísse do ho­tel de Zak.

Mas a reação dele à foto foi uma surpresa.

— Talvez alguém tenha dado a sorte de nos ver.

— Não acho — murmurou Zak. — Parece insis­tência demais!

— Insistência? — repetiu ela, sabendo exatamente como Jane Morrow poderia ser insistente! — Talvez por causa da estréia de sábado? — sugeriu ela.

— Afinal de contas, isso certamente desperta o interesse da imprensa a seu respeito. E, por falar em sábado, espero que tenha encontrado outra companhia para a estréia.

Zak lançou-lhe um olhar irônico.

— Por que eu faria isso?

Porque havia essa... Coisa entre eles que não deve­ria haver. Um tipo de frisson que a dominava sempre que estava perto de Zak e que deixava seus sentidos e nervos em alerta. Sentiu-se assim logo que o viu. Não, antes mesmo de vê-lo, a excitação corria em suas veias a cada quilômetro da viagem até o hotel.

Deus, como amava aquele homem. Amava-o por inteiro. A forma como seus cabelos louros cobriam suas maliciosas sobrancelhas, como ele ficava bem naquela camiseta desbotada e na calça brim que con­tornava sua cintura e quadris, a perfeição masculina daqueles pés sensualmente nus. E ela não era uma pessoa que se interessava especialmente por pés! Mas amava os pés de Zak, assim como todo o resto de seu corpo.

Suspirou melancolicamente antes de responder:

— Não é bem o meu estilo de programa, Zak.

O que era outra mentira. Antes de chegar à Ingla­terra, antes de se tornar simplesmente Tyler Wood, ela havia frequentado inúmeras estreias, assim como bailes de caridade e eventos para angariar fundos, tanto para crianças carentes quanto para espécies de macacos em extinção na selva africana.

Nos Estados Unidos, esperava-se que Tyler Harwood comparecesse à estréia de Gunslinger.

E o que Zak pensaria dela? Ele gostaria de Tyler Harwood? Duvidava disso. Assim como também não iria mais gostar de Tyler Wood depois da matéria es­candalosa que ela iria escrever a seu respeito!

Que ideia deprimente!

— Tyler? — Zak fitou-a curioso. — Você está chorando?

Ela não percebeu que chorava. De fato, se qual­quer outra pessoa tivesse feito a mesma pergunta, ela teria respondido com um desdenhoso "não". Mas era Zak que perguntava. Lágrimas quentes deslizaram por suas pálpebras até as faces. Era impossível negar.

— Você está chorando mesmo! — confirmou Zak. Ele se aproximou e tomou-a nos braços, segurando-a contra si, acariciando lhe a cabeça com uma das mãos e as costas com a outra.

Meu Deus!

Aquelas carícias e o cheiro de Zak despertaram re­pentinamente os sentidos de Tyler. Sentia os joelhos débeis e trêmulos e aninhou-se nos ombros largos da­quele homem.

— Se você não quer ir à estréia, não precisa! — murmurou ele, apertando-a ainda mais contra si. To­mou-lhe com as duas mãos as faces úmidas de lágri­mas, beijando-lhe cada um dos olhos. — Não gosto de ver você chorar. Embora você fique ainda mais bonita — acrescentou, encarando-a.

Tyler começou a rir.

— Você é o primeiro homem que eu conheço que me acha bonita com olhos vermelhos, rosto inchado e nariz escorrendo!

— Mas só você fica bonita assim — garantiu ele.

— Embora não goste de imaginar que outros homens já fizeram você chorar.

— Só você que pode, não é? — brincou ela, cons­ciente de que agora o mundo eram apenas os dois, Tyler e Zak, Zak e Tyler, e o resto, o passado, o pre­sente e a falta de perspectiva de um futuro comum não importavam mais.

Zak balançou a cabeça.

— Não quero fazer você chorar, Tyler. Fazer você chorar não está na lista das coisas que quero fazer com você!

O coração dela pareceu parar de bater por um ins­tante ao encarar Zak. O azul de seus olhos parecia ainda mais profundo, e Tyler via sua imagem refleti­da nas profundezas negras de suas pupilas dilatadas.

Ela engoliu em seco, com dificuldade para respi­rar.

— Você tem uma lista de coisas que quer fazer co­migo?

— Tenho — confirmou ele, gentil. — E o beijo de boa-noite de ontem também não passa nem perto! — zombou.

Ela tinha ido dormir sonhando com aquele beijo, revirando-se na cama e abraçando o travesseiro por horas sem conseguir adormecer.

Talvez porque soubesse que seu tempo com Zak era limitado? Talvez porque soubesse que, assim que ela descobrisse seu calcanhar-de-aquiles e o publi­casse, Zak nunca mais iria querer vê-la?

Sim, pelos dois motivos e, ao mesmo tempo, por nenhum deles. Quando ele descobrisse a verdade so­bre ela, quando o Daily Informer lhe chegasse aos olhos, mostrando aonde aquela intimidade o tinha le­vado, ele iria odiá-la acima de tudo.

Tyler não desejava aquilo. Não poderia conviver com a ideia.

— Também tenho uma lista — declarou ela, ani­mada. Deu um passo para trás e percebeu a expressão confusa de Zak. — Aqui está. — Ela mostrou seu ca­derno para ele. Seu coração ficou apertado ao ver a decepção no rosto de Zak.

Ela já havia cometido demasiados erros em sua vida! Mas agora era tarde demais para impedir que se apaixonasse por aquele homem, e não poderia com­plicar ainda mais as coisas entrando numa relação in­tensa com ele, que poderia ser vista mais tarde como jogo de interesses. No entanto, cada instinto de seu corpo implorava para estar nos braços dele, em sua cama, e que se danassem as consequências!

Zak olhou para o papel, tentando identificar aque­le aglomerado de letras e transformá-lo em palavras legíveis. Assim que conseguiu, percebeu que aquela era a lista de perguntas que Tyler queria lhe dar para a matéria que ia escrever.

Como é que eles tinham saído do tema " a beleza de Tyler e a lista de coisas que ele queria fazer com ela" e entrado naquilo?

— Sei que parece um pouco assustador — admitiu Tyler, vivaz.

— Mas, se passarmos por uma pergunta de cada vez, certamente vamos...

— Tyler, não fale comigo como se eu tivesse seis anos de idade! — rosnou ele, fechando o caderno fir­memente antes de colocá-lo sobre a mesa do café.

— E onde estão as lágrimas? Há alguns minutos, você estava em meus braços e agora voltou a falar de tra­balho!

O corpo de Zak ainda estava rígido, em consequência da proximidade de Tyler. Era Tyler quem es­tava jogando agora? Droga, ele tinha 36 anos, não jo­gava aquele tipo de joguinho. Com ninguém.

Ela franziu o cenho.

— Acho que é melhor, não acha?

Melhor para quem? Para ele? Essas oscilações de humor de Tyler não o agradavam.

Então, devia ser melhor para a própria Tyler. Mas por quê? Ela se sentia atraída por ele; e ele tinha cer­teza absoluta disso, pois já era um homem experien­te! Então o que a impedia? Outro homem? Ela tinha dito que não estava saindo com Perry Morgan, que morava sozinha, mas isso não significava que não houvesse alguém esperando por ela nos Estados Uni­dos.

Era a única explicação que parecia fazer sentido. Embora pudesse aplaudir a determinação de Tyler em resistir àquela atração entre os dois, será que ela não via que o fato de existir todo aquele desejo signi­ficava que ela não poderia continuar emocionalmente envolvida com essa outra pessoa nos Estados Uni­dos?

— Tyler...

— Zak, você pode parar por aqui, porque eu não vou ter um caso com você!

— Ela impediu qualquer movimento de Zak em sua direção, estendendo uma das mãos para mantê-lo afastado.

Ele parou bruscamente, os olhos faiscantes de ódio.

— Costuma ser educado esperar a pergunta para então respondê-la. — Ele não estava gostando das palavras dela e precisava feri-la como ela o estava fe­rindo.

Pois ele gostava de Tyler.

 

Droga, aquilo era mais do que gostar! Ele jamais havia se sentido daquela forma. Nunca desejou beijar uma mulher, querendo protegê-la ao mesmo tempo, como queria fazer com Tyler.

Ansiava por vê-la todos os dias. Pela manhã, acor­dara com um sorriso nos lábios, pois sabia que, em poucas horas, estaria com ela de novo.

Havia passado grande parte do dia anterior tentan­do descobrir mais sobre a vida dela — sem sucesso —, mas então percebeu que não precisava saber mais sobre ela do que já sabia. Nada disso importava mais. Estar perto dela já bastava.

Estava apaixonado por Tyler!

E aquele sentimento era estranho para ele. Total­mente. Já havia se interessado por outras meninas nos tempos da escola. Divertiu-se e gostou da compa­nhia de várias mulheres com as quais se envolvera durante anos, mas nada do que havia sentido se apro­ximava do que sentia por Tyler. Bastava saber que a veria de novo e já se sentia bem; estar com ela fazia-o sentir-se pleno.

Era dolorosamente óbvio ver que seus sentimentos não eram recíprocos! Com o que sentia por ela, ja­mais seria capaz de afastá-la como ela havia acabado de fazer. Apesar de tudo, ainda queria tomá-la nos braços e fazer amor com ela.

— Desculpe. Você tem razão, eu não poderia ter presumido... Talvez eu deva ir embora? Quer dizer, duvido que queira dar continuidade a essa entrevista depois disso — desculpou-se ela, acanhada.

Disso? Ela chamava aquilo tudo "disso" ? Ele ha­via acabado de se dar conta de que estava amando pela primeira — e última? — vez na vida, e ela o dispensava como se aquilo entre eles fosse algo desagra­dável, que ela preferia esquecer!

Tyler não sentia o mesmo que ele disse a si mes­mo, sofrendo uma pontada de dor no peito. Ela não poderia sentir, senão essa conversa destruidora de al­mas não estaria nem acontecendo.

Chegava a ser irônico. O eterno solteirão, Zak Prince. O Prince ardiloso. O príncipe dos Prince. To­dos os nomes ridículos que a mídia já tinha atribuído a ele nos últimos anos! E, quando finalmente se apai­xonava, quando não queria mais enganar ninguém nem continuar solteiro, a mulher que amava não o amava!

Seria até engraçado, se não o ferisse tanto!

— Você está certa. Não quero continuar com essa entrevista — disse Zak rispidamente, afastando-se; encarar Tyler agora era demais para ele.

Ela parecia desconfortável agora.

— Devo voltar amanhã?

Amanhã? Alguma coisa mudaria até o dia seguin­te? Ele não estaria mais apaixonado por ela? Ela des­cobriria repentinamente que o amava também? Nada disso seria provável de acontecer, admoestou a si mesmo, sobretudo o último fato. E esse era o único que importava.

— Eu ligo para você — disse rispidamente — mais tarde, muito mais tarde, no próximo século tal­vez.

— Está bem — aceitou ela, trêmula.

— Tenho al­gumas coisas para fazer ainda hoje.

Que coisas? Zak queria saber. E quem faria essas coisas com ela, se é que teria companhia?

Que ideia insuportável!

Zak Prince, o homem que nunca se envolvia seria­mente, estava apaixonado por uma mulher que se re­cusava até a lhe dar seu número de telefone, o que di­ria contar detalhes de sua vida! E ela sabia tudo a seu respeito.

O telefone tocou. Ele nunca pensou que alguma vez se alegraria ao ser interrompido por um telefone­ma e percebeu que Tyler também se sentiu aliviada.

— Fique onde está — ordenou ele, intimidador, antes de atender o telefone. Seus olhos arregalaram-se ao reconhecer a voz do outro lado da linha. — Max, mas é de madrugada aí em Los Angeles! — cal­culou ao consultar rapidamente o relógio.

— Está cedo ainda — respondeu seu amigo, des­contraído. — Além do mais, você me disse para ligar assim que encontrasse qualquer informação sobre essa Tyler Wood. Mas já vou advertir caro amigo, isso não sairá de graça. Também preciso de informa­ções sobre ela como pagamento.

— Pode falar — incentivou Zak, observando Tyler de olhos apertados enquanto ouvia Max.

Ela havia se virado para a janela, parecendo não ouvir a conversa. Não que houvesse muito a ouvir, pois Zak respondia a Max apenas " sim" ou "não".

Isso também não queria dizer que ele não estivesse achando a conversa com Max interessante. Porque estava. Estava achando muito interessante.

— Fico lhe devendo essa, Max — anunciou ao amigo ao terminar a conversa.

— Porém mais tarde, está bem?

A senhorita Tyler não está por acaso aí com você agora, está? — adivinhou Max astutamente.

— Por acaso está — confirmou Zak.

— E ela é morena, não loura.

— Bonita?

— Muito.

— Então vou deixar vocês aí — riu o outro homem antes de desligar.

Zak pôs o telefone no gancho lentamente antes de olhar para Tyler, ao vê-la virar-se. O silêncio prolon­gou-se entre os dois quando Zak a encarou.

— O que foi? — perguntou ela finalmente, er­guendo o queixo em defensiva, com o corpo tenso.

— Era um amigo meu de Los Angeles — comen­tou Zak desnecessariamente.

— Parece que Tyler Wood nunca escreveu uma matéria sobre Gerald Knight em nenhuma revista americana.

Ele a observou com interesse, vendo-a empalidecer visivelmente.

— Você mentiu para mim, Tyler.

 

Tyler fitou Zak, sem poder falar ou pensar. Ele... Eles...

— Você estava me investigando? — conseguiu, por fim, pronunciar.

Na véspera, havia suspeitado um pouco, mas não estava preparada para isso. Do que lhe valera pedir a Gerald que não dissesse nada?

Quando sua voz se soltou, seu pensamento tam­bém disparou. Alguém nos Estados Unidos estava in­vestigando para Zak algo que ela tinha dito. Se ele havia chegado a esse ponto extremo por causa de um comentário casual, o que mais poderia ter feito? Será que a visita a Bill Graham no dia anterior fora para investigá-la, e não para discutir a estréia como alega­ra?

Meu Deus, o que mais esse Max havia descoberto sobre ela nos Estados Unidos?

— Não comece a fingir que está indignada, Ty­ler...

— Não estou fingindo nada! — protestou caloro­samente, enquanto uma neblina rubra e raivosa a ce­gava. Só pensava em Zak fazendo indagações acerca de uma Tyler Wood nos Estados Unidos.

Como o amigo de Zak conseguiu a informação? Com quem teria falado para descobrir que não havia nenhum artigo sobre Gerald Knight escrito por uma

Tyler Wood? Porque, se ele tivesse falado com as pessoas erradas...

Ela sequer queria pensar nisso! Além do mais, Ru­fus morava em Nova York, não em Los Angeles. Por­tanto, seria difícil que ele soubesse sobre as indaga­ções de Max. E, caso soubesse de algo, talvez não percebesse quem era a Tyler Wood de quem falavam.

Continue pensando assim, Tyler! Sabia por expe­riência própria que Rufus tinha longos tentáculos na mídia, e não era tão difícil ir de Tyler Wood a Tyler Harwood! Ela devia ter escolhido um pseudônimo completamente diferente, mas optou por algo mais parecido com seu nome, pois não queria correr o ris­co de não responder quando a chamassem!

Olhou para Zak.

— Você não tinha direito algum de se intrometer em minha vida pessoal...

— Em sua vida profissional, Tyler — corrigiu, calmamente.

— E, sob as circunstâncias atuais, tenho todo o direito de perguntar. E continuo esperando pela resposta — relembrou-a.

— E vai continuar assim, porque, depois disso, não tenho a menor intenção de lhe contar nada. Na verdade, acho que seria melhor se puséssemos um fim a essa entrevista agora.

Ela sabia que isso seria um suicídio para a sua car­reira no Daily Informer; Bill Graham não deixara ne­nhuma dúvida quanto a isso. Mas era melhor ser de­mitida do jornal do que ter Zak sondando seu passado de maneira invasiva. Sem a entrevista, ele não teria mais motivos para continuar a investigar sua vida nos Estados Unidos.

E o mais irônico de tudo é que, se fizesse as per­guntas certas à sua irmã Stazy, ela poderia lhe dizer tudo que ele queria saber sobre Tyler.

— Você está fugindo, Tyler? — provocou Zak. Tão rápido e para tão longe quanto pudesse. Mas para onde iria? Para a França? Falava um

francês rudimentar, certamente não o bastante para viver e trabalhar no país. Alemanha? Idem. Na verda­de, isso se aplicava a todos os países europeus. Cana­dá? Talvez. A mesma língua, e outro país. Valia a pena considerar essa opção...

— Tyler. — A voz de Zak tirou-a de seus deva­neios. Ele a fitava fixamente, como se soubesse que fugir estava mais perto da verdade do que imaginara.

— Você parece ter todas as respostas, Zak — re­clamou, com os olhos brilhando. — Resolva você mesmo! — Estava tão furiosa que parte dela só que­ria atacá-lo. Mas a outra parte queria se desmanchar em lágrimas novamente!

Desde o momento em que o conhecera, sabia que Zak lhe traria problemas. Só não sabia que, além de roubar seu coração, ele também acabaria com seus sonhos profissionais. Bill Graham não teria outra es­colha a não ser demiti-la por incompetência, depois de falhar e não conseguir uma matéria sobre Zak. E talvez ela até merecesse!

Viera para a Inglaterra a fim de provar que podia ser uma boa repórter e, até agora, destruíra completa­mente a matéria da década, deixando que Nik Prince a levasse pela emoção. Agora, repetira o erro, apaixonando-se pelo irmão dele. Para piorar, também ha­via outro homem, que considerava apenas um amigo, mas que estava loucamente apaixonado por ela, com­plicando ainda mais sua vida.

Talvez não tivesse condições de se virar sozinha!

Zak balançava a cabeça.

— Você não tem motivo algum para fugir de mim.

— Tenho, sim. Por que você não podia deixar as coisas como estavam, Zak?

— Sua voz estava embar­gada, humilhando-a. Isso parecia minimizar a raiva que sentia dele.

— O que houve Tyler? — indagou. — De quem você está fugindo?

Não podia dizer. Se ainda tivesse uma mínima chance de se provar como repórter, ela o faria. Com ou sem a ajuda de Zak.

— Hoje, de você — acusou. — Mas amanhã pode ser de alguém completamente diferente.

— Não acredito. Você não é o tipo de mulher que foge.

Foi isso que dissera a si mesma quando saiu de Nova York, seis meses antes, mas talvez estivesse er­rada. Talvez estivesse fugindo desde o princípio.

Podia ter encontrado um apartamento em Nova York, um emprego — talvez não como repórter, por­que Rufus era realmente influente no mercado midiático de Nova York. Mas podia ter encontrado algum trabalho e provado sua independência assim.

Podia mesmo?

Já não sabia mais. Apaixonar-se por Zak, escutar aquelas palavras dele, dizendo que era destemida, ti­nha abalado sua crença no que estava fazendo.

Engoliu em seco.

— Zak, você não me conhece. Com a ligação do seu amigo, pode achar que sabe mais sobre mim do que sabia ontem à noite. Mas não sabe — repetiu. Talvez ela tampouco conhecesse a si mesma.

Precisava ir para algum lugar tranquilo e descobrir o que iria fazer com a sua vida.

— Você não está vendo? Estou tentando conhecê-la!

— Frustrado, Zak praticamente rosnou.

Ela sorriu um pouco desconcertada.

— Quando achar que me conhece, me ligue. Tam­bém estou tentando descobrir essa resposta.

— Tyler, você está reagindo assim apenas porque recebi a ligação de um amigo de Los Angeles?

— Não. — suspirou. — Mas acho que devíamos acabar com essa entrevista. E vou fazer o possível para pôr um fim a essa invasão de privacidade que dominou a sua vida nos últimos dias...

— Você sabe quem é o responsável? — Ele fran­ziu o cenho e fitou a foto dos dois no jornal.

— Acho que sim. Mas, não se preocupe, vou cui­dar disso.

— Você vai... — Exasperado, Zak parou. — Ty­ler, me dê um nome e eu mesmo cuido disso.

Ela o encarou, sem piscar. Não queria mencionar o nome de Jane Morrow. Seguindo o modelo protetor tradicional dos Prince, ele já estava furioso com o que Jane Morrow fizera com Nik e Jinx. Se achasse que Tyler estava em contato com ela, poderia acredi­tar que a ex-editora de Jinx ainda estivesse tentando levar vantagem em cima da família e que Tyler esta­va ajudando-a e incentivando-a a conseguir uma boa história!

— Acho que não. — Ela balançou a cabeça, viran­do o rosto para ele não ver as lágrimas que assoma­vam em seus olhos. Tinha de sair dali antes de derra­má-las.

— Com licença, preciso ir embora...

— Assim? — Segurou seu braço e virou-a.

— Ty­ler, que diabos está acontecendo aqui? Há três dias, você estava desesperada para conseguir essa entre­vista e agora está indo embora? Não entendo.

Desesperada? Ela parecia estar desesperada na se­gunda-feira de manhã? Provavelmente sim, pensou, sentindo-se arrasada.

Há três dias, antes de conhecer esse homem, esta­va sedenta por uma matéria, queria se firmar como repórter a qualquer custo. Agora, já não sabia mais o que queria. Exceto que não queria fazer nada que pu­desse magoar Zak. E também não queria que nin­guém fizesse nada que pudesse magoá-lo...

— Isso não está saindo da maneira como eu espe­rava.

— Realmente não estava. Apesar de sua paixão adolescente por Zak, cair de amores por ele não fazia parte de seus planos.

— E o que você esperava? — perguntou. Sinceramente? Depois de tudo que lera sobre ele,

sobre a vida charmosa que levava, sobre as mulheres com quem se envolvia, imaginara que Zak Prince destruiria todas as suas ilusões adolescentes e se mostraria um homem mimado e arrogante. Mas des­cobriu que estava redondamente enganada.

— Deixe-me adivinhar: mais brilho e glamour! — bufou Zak, lendo seus pensamentos. — Não sou as­sim, Tyler. Mas pessoas como você me imaginam as­sim.

Pessoas como ela...

Ela não era como aqueles outros repórteres que fa­ziam de tudo por uma boa história. Esse era o proble­ma. Mesmo sem ter descoberto nada sobre Zak du­rante a semana, descobrira isso sobre si mesma. E, se quisesse manter sua dignidade intacta, tinha de ir em­bora logo — antes de fazer papel de idiota e começar a chorar!

Ela sorriu com pesar.

— Infelizmente, os leitores do Daily Informer gostam de brilho e glamour no domingo de manhã. Você simplesmente não se encaixa com o que é pu­blicado sobre você.

Fora difícil para ela dizer isso, então sabia como Zak devia estar se sentindo. Ele apertou a boca e in­tensificou seu olhar, o que não parecia ser uma rea­ção muito positiva!

— Sinceramente, posso dizer que você também não se encaixa no que é esperado de você — zombou. — E não me refiro ao fato de que você não é homem, como eu imaginava.

Essa doeu de novo. E em um nível mais pessoal. Definitivamente, estava na hora de ir embora, antes que essa discussão virasse uma briga de lavadeiras.

Tyler mostrou-se falsamente despreocupada.

— Então, acho que nós dois nos decepcionamos, não?

Ele assentiu. Um nervo pulsava debaixo de seu maxilar.

— Acho que sim.

Ela engoliu em seco, sabendo que havia atingido seu objetivo. No entanto, indispor-se com Zak era muito doloroso!

— É melhor eu ir.

— É melhor mesmo — concordou Zak, virando-se de costas para ela.

Tyler fitou-o pela última vez, absorvendo todo o enorme comprimento daquelas costas viradas para ela. Nesse momento, sabia que não havia apenas pos­to fim à sua entrevista com Zak, pusera fim também à sua carreira como repórter. Antes que ela pudesse sequer começar.

Saiu da suíte do hotel sem saber para onde ir ou o que fazer...

— Por que você está tão deprimido, Zak? — per­guntou Rik, entrando na cozinha de Stazy.

Zak levantou os olhos da caneca de café que fitava intensa e perdidamente.

— Quando você voltou da França?

— Também é bom vê-lo — respondeu Rik sarcasticamente.

— E acabei de chegar, se é que você está interessado, o que acho que não está — disse, sentan­do-se em frente a Zak à mesa da cozinha.

— Stazy não comentou que você tinha voltado. — No entanto, a julgar pelo mau humor melancólico que o dominava desde que chegara, há meia hora, isso não era nenhuma surpresa. — E é bom vê-lo — disse, tentando sorrir e esforçando-se para espantar sua desesperança.

Depois que Tyler foi embora, sua suíte parecia pe­quena e opressiva. Então, sem mais nada a fazer e nenhum lugar aonde ir, Zak viera visitar Stazy. No mo­mento, ela estava no andar de cima, dando banho em seu filho, Sam.

— Como foi em Paris? — perguntou para quebrar o silêncio, e não porque estivesse realmente interes­sado.

Rik sorriu.

— Tão bonito e inspirador como sempre. Eu esta­va produzindo tão bem esse novo roteiro que estou escrevendo que não queria interromper tudo e partir

— acrescentou saudoso.

Zak sabia que, por alguma razão, Rik sempre tra­balhava bem em Paris e gostava de tudo lá. Por isso, quando começava a trabalhar em um roteiro novo, viajava invariavelmente para lá.

— Então, por que voltou? — perguntou, brincan­do com a colher no açúcar.

Onde estava Tyler? Zak queria saber. Será que pensara nele depois que deixou o hotel pela manhã? Ou, tendo abandonado a entrevista exclusiva com ele, será que já estava no rastro de outra estrela? Tal­vez alguém mais disposto a colaborar do que ele!

Possivelmente, concluiu com um suspiro. Como sua vida de solteiro que tanto curtia podia estar tão vazia e despropositada? Não se interessava nem mes­mo pelo filme que começaria a filmar na semana se­guinte.

— O quê? — indagou, levantando os olhos e en­contrando Rik encarando-o.

— Para a estréia de Gunslinger — anunciou Rik.

— No sábado. Foi por isso que voltei. Fui o roteirista, lembra?

— Claro — respondeu Zak, fazendo uma careta.

Como podia ter esquecido que Rik escrevera o ro­teiro de seu último filme? Infelizmente, sabia qual era a resposta: porque Tyler ocupava toda a sua men­te

— sua aparência, seu jeito de falar, o amor que sen­tia por ela!

— Qual é o problema, Zak? — perguntou seu ir­mão gentilmente.

Ele se endireitou de imediato.

— Por que tem que haver algum problema?

— Por favor, Zak — reprovou-o. — Sou seu ir­mão. Sei quando há algum problema. Você não está tão contente como sempre — continuou sem deixar Zak protestar. — Na verdade, eu diria até mesmo...

Ei, isso não tem nada a ver com aquela " mulher mis­teriosa" , tem?

— adivinhou, erguendo a sobrancelha. — Tem algo a ver com ela!

— Ele riu ao ver o olhar de escárnio de Zak.

— Quem é ela? Alguém que eu conheça ou vá conhecer?

— Deixe para lá, Rik — grunhiu Zak, advertindo-o.

— Deixar para lá? — perguntou Stazy, descendo depois de dar banho em seu filho e colocá-lo para dormir.

— Eu estava perguntando a Zak sobre a " mulher misteriosa".

— Tyler? — perguntou Stazy, servindo-se de uma xícara de café.

— O que tem ela?

Era impressão de Zak ou Stazy parecia um pouco incomodada? Não, tinha certeza de que não era sua imaginação. Certamente, havia um lampejo de preo­cupação nos olhos cinzentos dela.

— Acho que Zak está apaixonado — disse Rik, fitando-o admirado. Toda a família de Zak conhecia sua relutância em se envolver seriamente com al­guém.

Mas agora Zak percebia que aquilo não era relu­tância. Ele apenas nunca havia conhecido a mulher certa. Antes de Tyler...

— Apaixonado? Por Tyler? — Agitada, Stazy fa­lou mais alto. Fitou-o com um olhar preocupado. — Vocês dois pareciam bem íntimos ontem à noite, mas ela me garantiu que... Zak, não é uma boa idéia se en­volver com Tyler. Eu... Você... Ela não é bem o que parece.

Zak estudou bem sua irmã. Algo estava deixando Stazy muito inquieta. E, se isso envolvia Tyler, que­ria saber o que era. Mais do que isso, precisava saber o que era!

— Então, quem é ela? — perguntou. Todos os cen­tímetros de seu corpo estavam tensos, enquanto espe­rava pela resposta.

— Eu... Ela... — Stazy deteve-se. — Prometi a ela que não falaria sobre isso, não ia lhe contar, a não ser que isso pudesse magoá-lo de alguma maneira.

Zak levantou-se repentinamente, fitando sua irmã, incrédulo.

— Stazy, você me conhece há 22 anos. Sou seu ir­mão, pelo amor de Deus. Ainda assim, você está me dizendo que, apesar de tudo isso, prefere guardar o segredo de uma mulher que conheceu ontem à noite? — Quanto mais ele falava, mais se elevava seu tom de voz. Suas últimas palavras saíram como um grito acusador. E ele nunca gritava. Nada em sua vida o in­comodava a ponto de fazê-lo gritar.

E, a julgar pela expressão perplexa de Stazy, ela sabia muito bem disso.

— Não é assim — defendeu-se. — Você me dis­se... Vocês dois disseram... Zak, o Rik tem razão? Você está apaixonado por ela?

Ele contraiu o maxilar e rangeu os dentes.

— E se eu estiver? — disse, quase sem mover os lábios.

— Não, Zak! — grunhiu Stazy. — Eu percebi quem ela era no momento em que a conheci. E ela não negou quando a confrontei no toalete.

— Não chore Stazy. — Rik levantou-se e confor­tou a irmã, que parecia à beira das lágrimas.

"Ótimo!", pensou Zak. Tinha conseguido fazer as duas mulheres que amava chorarem em um só dia!

— Não tinha como você saber, Stazy — disse, ten­tando acalmar sua irmã, sentindo-se péssimo. — Eu mesmo só descobri hoje de manhã o que sentia por ela. Mas, se entendi bem, você disse que Tyler não é realmente Tyler?

Ele não estava entendendo nada. Como Tyler po­dia não ser Tyler? E, se não fosse Tyler, então quem diabos seria?

 

— Entenda Tyler, eu só quis falar com você aquela noite para lhe agradecer — disse Jane Morrow ale­gremente.

Tyler fitava a outra mulher, incrédula. Cumprindo a promessa que fizera a Zak, conseguira rastrear Jane Morrow até a agência literária para a qual trabalhava. As duas foram a um café para que pudessem conver­sar com mais privacidade.

Tudo isso para a outra mulher lhe agradecer por ter sido demitida do emprego anterior, já que amava o trabalho novo!

Tyler franziu o cenho.

— Você não está zangada? Ressentida? Com dese­jos de vingança? — sondou.

— Não! — A outra mulher riu. — Claro que, na época, eu senti tudo isso.

— Ela fez uma careta. — Mas eu amo o que estou fazendo agora e, sem um empurrãozinho, não teria conseguido.

— Ela ruborizou.

— Também tem um homem no escritório... Bem, mi­nha vida mudou completamente, posso lhe garantir. Foi por isso que tentei lhe agradecer quando a vi no 0'Malley's, na terça-feira.

Infelizmente, isso também significava que Jane Morrow não era a pessoa responsável pela fofoca nem pela foto.

Então, quem era? Tyler estava completamente perdida. Seu único consolo, se é que podia dizer isso, é que sua matéria com Zak havia chegado ao fim. Talvez fosse hora de essas outras coisas acabarem também.

Zak...

Meu Deus! Pensar nele fazia seu coração doer! Será que doía o bastante para ela se arrepender por não ter tido um caso com ele?

Ah, sim! Na verdade, desde que saíra do hotel, há algumas horas, já resistira ao ímpeto de voltar duas vezes, para se desculpar pelo que dissera e para con­fessar que cometera um erro ao se envolver com ele, mesmo que temporariamente.

Quando chegava a essa parte da desculpa, ela se controlava e não seguia adiante.

Como Zak dissera de modo tão sucinto, não havia pedido para ter um caso com ela. Então, como ela po­dia voltar e dizer que estava disposta a isso?

Não podia. Depois de tudo que lhe dissera, de suas palavras pungentes, tampouco podia lhe pedir que re­tomassem a entrevista.

Além do mais, não queria continuar a entrevistá-lo. Em algum momento de sua dolorosa conversa com Zak pela manhã, percebera que não era capaz de desencavar segredos e escândalos da vida de outras pessoas e torná-los públicos. Essa vida de repórter não era para ela...

Sua decisão se devia, em parte, ao que estava so­frendo nos últimos dias, enquanto alguém fazia exa­tamente isso com ela e Zak. Era desprezível.

Como Tyler Harwood, já fora uma personalidade bastante pública, mas, provavelmente devido à in­fluência de Rufus, nunca houve nenhuma notícia es­candalosa ou perniciosa. No entanto, as matérias dos últimos dias tinham essas duas características.

Ainda não sabia o que faria, se continuaria na In­glaterra ou se voltaria para os Estados Unidos, mas seu tempo no Daily Informer havia chegado ao fim.

Portanto, quando Zak entrou na redação do jornal, uma hora depois, ela estava recolhendo seus objetos pessoais!

Tyler sentiu seu rosto empalidecer ao vê-lo apro­ximando-se, respondendo a algumas repórteres que o cumprimentaram, enquanto, ao mesmo tempo, man­tinha seu olhar lancinante em Tyler.

O que ele estava fazendo? Depois dessa manhã, achou que nunca mais o veria, apenas nas telas de ci­nema. Ainda assim, três horas depois de se terem se­parado, ali estava ele.

Talvez não tivesse ido vê-la. Talvez quisesse ape­nas falar com Bill Graham pela última vez.

— Tyler Harwood, não? — rosnou, parado ao lado dela.

Tyler sentiu as pernas fraquejarem. Ele sabia. Como? Sua irmã devia ter lhe contado.

Zak a fitava friamente, despejando sobre ela todo o seu desprezo.

— Não sei que tipo de jogo você estava fazendo, Srta. Harwood...

— Tyler — interrompeu ela, sentindo os lábios dormentes. Queria que seu coração também estivesse dormente! — Stazy não lhe disse? Não explicou...

— Minha irmã, que é muito crédula, acha que há alguns aspectos de sua farsa que você mesma deveria me contar! — Seu tom ácido dizia a Tyler exatamen­te o que ele pensava a seu respeito.

Estava furioso, e Tyler sabia que ele tinha o direito de se sentir assim. Mas não com sua irmã. Stazy não merecia a fúria de Zak.

— Fui eu que pedi para ela me ajudar — informou Tyler impetuosamente.

— E ela me garantiu que só o faria se não o magoasse.

— Fofocas especulativas e fotografias condenatórias não entram nessa categoria para você? — gru­nhiu Zak.

Ele não podia continuar achando que Tyler era responsável por isso! O que podia dizer para conven­cê-lo do contrário? Obviamente, Jane Morrow já es­tava fora da equação e Tyler já sabia quem era o cul­pado. Além disso, mentir para Zak sobre a sua identi­dade não era a melhor maneira de convencê-lo que não havia mentido para ele sobre mais nada!

Ele parecia contrafeito.„

— Por isso minha ligação para Max em Los Ange­les deixou-a tão agitada. Você achou que ele poderia revelar sua verdadeira identidade?

Ela piscou ao ouvir aquele tom depreciativo.

— Não. — devolveu. — Não costumo ir a Los An­geles.

— Não é glamoroso o bastante para a queridinha da sociedade de Nova York? — rebateu Zak.

A conversa acalorada entre eles estava atraindo jnuita atenção. Desde que Zak entrara, havia se abati­do tal silêncio sobre a redação que Bill Graham saiu de sua sala.

— Duas vezes em uma semana, Zak? Cuidado ou vou achar que você gostou de minhas repórteres.

— Não vejo nenhuma repórter nesta sala a quem eu dedicaria meu tempo — rangeu Zak, lançando um olhar glacial.

A hostilidade no ar estava palpável.

Era tudo culpa sua, percebeu Tyler, pesarosa. Sa­bia que Zak estava zangado com ela e dirigira seu in­sulto para ela. Mas, para isso, havia atacado todas as repórteres do jornal.

— Por que não vem até o meu escritório, Zak? As­sim, podemos conversar

— Bill convidou, amistosa­mente. Apenas aqueles que o conheciam bem eram capazes de perceber o tom feroz em sua voz. Depois de seis meses, Tyler o conhecia bastante bem. No en­tanto, uma hora atrás, descobrira que não o conhecia tão bem quanto imaginava.

— Tyler pode se juntar a nós, se quiser — acres­centou Bill, ao ver que Zak sequer se movera.

Ela balançou a cabeça.

— Não, Bill, obrigada. Ainda tenho coisas a fazer aqui. Mas vão em frente — ofereceu. Assim, poderia escapar. O ânimo de Zak parecia assustador. Ele po­dia ter razão, mas, ainda assim, era assustador!

Ele a fitou uma vez mais, antes de se virar para o outro homem.

— Por que não? — ladrou, caminhando em dire­ção a Bill, não sem antes lançar um último olhar para Tyler.

Melhor assim! Ela queria sair dali. Principalmente depois que Zak insultou metade das pessoas com quem trabalhava há seis meses, e todas a fitavam com olhares mais e mais perplexos. E por que não? Todos ali sabiam tão bem quanto ela que Zak Prince fora in­crivelmente rude por causa de Tyler.

Quanto mais rápido saísse dali — e se afastasse de Zak —, melhor seria para todos!

— O que você acha que está fazendo, Zak?

— Bill Graham perguntou, fechando a porta do escritório.

Zak não respondeu, preferindo caminhar incansa­velmente pelo pequeno espaço. Sua conversa com Tyler o fizera sentir-se como um tigre enjaulado que precisava morder alguém!

Na verdade, ele sequer sabia ao certo o que estava fazendo ali. Sabia apenas que, depois de falar com Stazy, precisava comunicar a Tyler que o jogo havia acabado.

Tyler Harwood. Uma herdeira mimada. A prince­sa da sociedade. A lista de apelidos dados pela im­prensa era infinita.

Ele devia ter percebido que havia algumas coisas que não faziam sentido em Tyler Wood, como sua amizade com Gerald Knight, o vestido Vera Wang. Isso não condizia com seu emprego de repórter ini­ciante. Ele achava que havia algo diferente nela, mas não imaginara que era isso!

E por que estava tão furioso com isso? Pelo fato de ela ter mentido? Escondera dele grande parte de sua vida? Isso a transformava em outra mulher que não aquela por quem ele se apaixonara? Não sabia!

Bill tentou novamente.

— A não ser que eu esteja errado, você estava sen­do maldoso com Tyler.

Zak sorriu ironicamente.

— Quero sacudi-la até deixá-la tremendo! Bill fechou a cara.

— Acho que você já a sacudiu o bastante, mesmo sem tocá-la!

Zak fitou o outro homem.

— Ela me fez de bobo. E fez você de bobo tam­bém. Você sabe quem ela realmente é?

— Sei exatamente quem ela é, Zak — revelou Bill suavemente.

— Sempre soube.

Zak piscou, parou e olhou para o outro homem. Bill Graham sabia...

— Sente-se, Zak. — Bill suspirou pesadamente.

— Por favor — acrescentou, ao ver que Zak não se mexera.

Ele caiu na cadeira, do outro lado da sala, mais lívido do que nunca.

— Melhor assim — Bill aprovou. — Agora, va­mos esclarecer as coisas. Claro que sei quem é Tyler. O mérito de ter sido editora do jornal da faculdade não era suficiente para ela ser admitida aqui! Não, fiz isso como favor a um velho amigo.

— Ele deu de om­bros. — Mas Tyler me surpreendeu. Ela é boa, Zak. Talvez não como repórter de um tabloide — reconhe­ceu com pesar.

— Mas ela escreve muito bem.

— Não tenho como saber — murmurou Zak. O outro homem franziu o cenho.

— Há trinta anos, quando publicávamos notícias, e não esse lixo sobre quem está dormindo com quem essa semana, Tyler teria sido uma estrela.

Quer dizer, ela escreve muito bem para desperdiçar seu talento em um jornal como esse. Além disso — acrescentou, sorrindo —, ela tem consciência.

Zak não queria escutar isso, ainda estava furioso com ela.

— Você disse que contratou Tyler para fazer um favor a um velho amigo

— sugeriu astutamente.

— Isso mesmo — Bill riu ao perceber a astúcia de Zak.

— O pai de Tyler, Rufus Harwood, é um velho amigo. Devo muito a ele. Ele me ligou, explicou que Tyler viria para Londres procurar trabalho, e eu a contratei.

Zak já ouvira falar de Rufus Harwood. Era um magnata da mídia, dono de um canal de TV nos Esta­dos Unidos, várias estações de rádio e jornais.

Zak balançou a cabeça.

— Mas como ele poderia saber, quando Tyler foi embora dizendo que seria repórter — Stazy lhe havia confidenciado algumas coisas! —, que ela viria para esse jornal?

— Ele não sabia — admitiu Bill. — Mas Rufus sa­bia que, sem experiência, ela não conseguiria traba­lho em nenhum outro jornal. Se ele não tivesse me pedido, eu também não lhe teria oferecido a vaga. Como previsto, vários jornais a rejeitaram antes de ela vir parar aqui. O resto da história você já co­nhece!

Rufus Harwood. O pai de Tyler. Um homem ex­tremamente poderoso e de personalidade difícil, con­siderando o que dizia a mídia. Se não fosse por isso, por que mais sua única filha decidiria sair de casa, do país, para tentar se virar sozinha?

Zak não podia culpá-la por agir assim. Apenas por usá-lo e enganá-lo.

— Eu tive sorte de tê-la aqui — continuou Bill, sé­rio.

— Ela é adorável, Zak. Teimosa também, claro — acrescentou, com admiração.

— Ela não gostou do homem que Rufus escolheu para ela se casar.

Casar? Tyler estava noiva?

Zak estava transtornado e parecia ser capaz de ma­chucar alguém, porque Bill emendou apressadamen­te:

— Eu disse que ela não estava feliz, Zak. Na ver­dade, ela rejeitou totalmente a ideia de se casar com Richard Astor-Wilson. Isso deve ter realmente irrita­do Rufus — disse, rindo.

— Richard Astor-Wilson? — engasgou Zak.

Ele também conhecia esse nome. Uma família an­tiga. Muito dinheiro. Uma das famílias mais podero­sas de Nova York. E Tyler se recusara a casar com seu único filho e herdeiro!

— Você acredita nisso? — Bill assentiu ao perce­ber a expressão de Zak.

— Temos que gostar e admi­rar Tyler por ter agido assim. — Ele suspirou.

— E uma pena que ela esteja indo embora. Vou sentir falta dela...

— Ela está indo embora? — repetiu Zak, surpreso.

— Na verdade, ela estava arrumando a mesa quan­do você chegou...

— Zak se levantou e olhou para o salão principal.

Tyler não estava em lugar nenhum. Sua mesa tam­bém estava completamente vazia.

— Ela estragou aquela história sobre o seu irmão Nik e a namorada dele, agora mulher, claro. — Bill encolheu os ombros quando Zak virou-se para ele com o olhar acusador. -— E ela também não fez a ma­téria sobre você.

— Então, você a demitiu? — Zak explodiu. Tyler fora embora? Só Deus sabia para onde, por­que ele certamente não sabia!

— Não, eu não a demiti — eriçou-se Bill, irritado. — Mas ela pode ter achado que eu faria isso. Ela ti­nha que descobrir a maior quantidade possível de fo­focas sobre você, ou estaria na rua — explicou. — Eu nunca ia fazer isso, claro, mas...

— Porque você devia isso a Rufus Harwood — Zak zombou.

— Eu só queria mostrar que ela estava no caminho errado.

Tyler fora embora! Zak só conseguia pensar nisso.

— Ela sabe que você só a contratou a pedido de seu pai?

— Agora sabe — respondeu Bill.

— Mas antes não? — perguntou, franzindo o cenho.

— O que você acha?

— Acho — disse Zak, rangendo os dentes — que, se ela soubesse, mandaria você e seu trabalho para o inferno!

— Muito bem! — O outro homem sorriu, satisfei­to.

— Você sabe que ela é uma boa menina. Então, por que a está fazendo passar por isso?

Zak abriu a boca para responder, mas se calou. Por que a estava fazendo passar por aquilo?

Porque ela mentira sobre a sua identidade? Bem, não havia mentido, só havia omitido parte da verda­de. Ou estava tão zangado porque havia se apaixona­do por ela e o sentimento não era recíproco? Sim, provavelmente era isso.

— Eu não a despedi, Zak — repetiu Bill Graham calmamente. — Ela pediu demissão, porque não con­seguiu escrever aquela matéria sobre Nik e Jinx no mês passado. Porque, embora achasse que seria de­mitida se não descobrisse alguma fofoca interessante sobre você, também não conseguiu fazer isso. Eu lhe disse que ela tinha uma boa consciência.

Zak franziu a testa.

— Então, não havia um artigo exclusivo para a re­vista de domingo?

— Não. — confirmou o outro homem.

— O melhor do Daily Informer são os escândalos.

Agora, Zak estava totalmente confuso. Tyler deve ter se dedicado com todas as forças para vencer sozi­nha, pois abriu mão de todo o luxo e reconhecimento social a que estava acostumada para se tornar uma re­pórter iniciante num jornal de reputação duvidosa, indo trabalhar de metrô, morando num apartamento pequeno. E sem dinheiro para comer adequada­mente...

Tyler havia recebido duas tarefas de seu editor: primeiro a matéria sobre Nik e Jinx, e depois sobre Zak. Não escreveu nenhuma das duas, fez as malas e foi embora. Por que se deixara levar pela emoção?

Zak esperava que o envolvimento emocional de Tyler fosse um bom sinal.

— Eu posso não ter demitido Tyler, Zak. Mas tive razão para despedir outra pessoa esta manhã. — Bill Graham interrompeu seus pensamentos.

Zak interessou-se pelo assunto, concentrando toda a sua atenção no outro homem.

— Morgan... — arriscou. Bill deu um leve sorriso.

— Morgan — assentiu, apertando os lábios. — Se alguém me perguntar, direi que ele pediu demissão por motivos pessoais, mas, cá entre nós, não aceito que meus funcionários vendam notícias e fotos para jornais rivais!

— Então, Perry Morgan foi responsável pela fofo­ca sobre a "mulher misteriosa" em minha vida? Mas por que ele fez isso com Tyler? Achei que eles fos­sem amigos. — Mais do que amigos, lembrou.

— Ele não queria atingir Tyler. Queria atingir você — disse Bill. — Ele está apaixonado por Tyler, e tenho quase certeza de que não é recíproco — ele garantiu. — Se fosse, nada disso teria acontecido.

Bill suspirou.

— Ele disse que havia tirado uma foto de vocês, o que deixou você irritado. Acho que ele imaginou que, se pudesse provocar uma briga entre vocês, se você achasse que Tyler fora responsável, poderia impedir qualquer tipo de amizade, digamos, entre vocês dois. Ele conseguiu? — perguntou Bill, zombeteiro.

— Apenas até certo ponto — admitiu Zak, lembrando-se das acusações que fizera a Tyler depois de cada um desses incidentes, totalmente injustas.

— Sequer vou lhe perguntar aonde vai. — O editor riu ao ver Zak se encaminhando para a porta. — Diga a ela que deve escrever um livro.

— O quê?

— Diga a Tyler que ela deve escrever um livro. Uma biografia, talvez. Ela é boa investigadora, es­creve bem. Diga para ela escrever a biografia de Ru­fus.

— Ele sorriu. — Ele adoraria!

Zak balançou a cabeça com pesar, virando-se para a porta novamente. Então, parou, com uma expressão dolorosa, e fitou o outro homem.

— Não tenho o endereço de Tyler — admitiu, irri­tado.

No entanto, não achava que sua confissão merece­ria risadas tão expansivas do editor!

 

Apreensiva, Tyler fitava a porta de seu apartamento, enquanto ouvia uma segunda batida.

Será que Zak podia ter vindo insultá-la ainda mais? Bem, não podia agüentar mais isso. Já se sentia tão frágil que corria o risco de se partir ao meio. Se ele a insultasse mais uma vez, era isso que ia aconte­cer!

Este fora um dia péssimo. Tão ruim que, além de uma simples ligação e uma tentativa fracassada de fa­zer as malas, ela não conseguira fazer mais nada.

— Tyler, você está aí? — Ouviu a voz de Perry do outro lado da porta.

— Se estiver, abra a porta. Preci­so muito falar com você.

Era Perry. Não Zak.

Claro que não era Zak, ridicularizou-se, cami­nhando em direção à porta. Zak já lhe dissera tudo que queria!

— Tyler! — Perry cumprimentou-a aliviado. — O que está havendo?

— perguntou, seguindo-a para dentro do apartamento. — Você não me ligou para al­moçar e, quando telefonei para o jornal, Kelly disse que você foi demitida.

— Eu me demiti — corrigiu Tyler. — Não fui de­mitida, eu me demiti

— explicou, vendo o olhar per­plexo no rosto dele.

— Para onde você vai? — perguntou Perry ao ver a mala aberta no quarto dela.

Ela fechou a porta do quarto.

— Para casa. — Ela tentou sorrir.

— Você ia simplesmente fazer as malas e ir embo­ra? — perguntou, indignado. — Sem falar comigo?

— Claro que não. — Ela suspirou, sem saber ao certo se estava falando a verdade.

Não pensara em Perry durante todo o dia, portanto se esquecera completamente de ligar para ele para al­moçar. Talvez resolvesse telefonar para se despedir. Em algum momento. — Não vou embora neste minuto.

— Não entendo por que você tem que ir — Perry se opôs.

— Eu... Tyler, eu também me demiti.

— Ah, não, Perry. — Ela suspirou. Bastava ser responsável por sua vida e vê-la virada de pernas para o ar; não queria ser a culpada por complicar a vida de Perry também.

Ele encolheu os ombros.

— Não quero continuar trabalhando no jornal se você não estiver lá.

Então, percebeu que já era culpada. Parecia que esta situação estava ficando cada vez pior.

— Você não precisa ir a lugar algum, Tyler — dis­se Perry, ansioso.

— Podemos ser freelance. Na ver­dade, esta pode ser a oportunidade pela qual nós dois estávamos esperando... Como assim, não? — Ele pa­rou ao ver que Tyler balançava a cabeça.

— Perry, não fui totalmente sincera com você. Não sou a pessoa que você imagina. Meu sobrenome não é Wood. Eu... Meu pai é Rufus Harwood — dis­se relutante.

— Eu sei. — Ele ignorou aquela revelação.

— Você...

— Você sabe? — Ela estava estupefata. Perry sa­bia?

— Claro. Não sou tão estúpido. Eu a reconheci as­sim que você veio trabalhar no jornal — disse. — Isso não precisa mudar nada. Eu v0u para os Estados Unidos com você, se quiser mesm0 ir para lá. Quan­do seu pai vir como estou apaixonado por você, tenho certeza de que ele vai consentir em...

— Perry, pare! — gritou Tyler. Será que ele não escutara nenhuma palavra dela, no outro dia, depois que ele lhe disse que estava apaixonado por ela? Ob­viamente não.

Era por demais inquietante perceber que Perry sa­bia exatamente quem ela era desde o princípio.

— Você não pode estar apaixonado por mim. Se­quer me conhece — protestou.

Que ironia! Há pouco tempo, dissera a Zak que ele não a conhecia. No entanto, ele não alegara que esta­va apaixonado por ela!

Zak.

Tinha de parar de pensar nele! Do contrário, fica­ria louca. Mas de uma coisa tinha certeza: levando em consideração o amor que sentia por Zak, era inca­paz de alimentar em Perry a esperança de que, um dia, poderia retribuir seu sentimento.

— Lamento, Perry. Mas vou voltar para casa sozi­nha.

— Já seria uma situação muito traumática sem Perry. Levá-lo só pioraria as coisas.

Ele a fitou por um longo momento, então assentiu.

— Você tem razão. Provavelmente, essa é a me­lhor solução. Assim, você explica a situação à sua fa­mília e, em alguns dias, vou encontrar com você...

— Perry, você não está escutando! — interrom­peu, irritada com aquela insistência. — Não estou apaixonada por você.

— Claro que está — ele a contradisse. — Você só ficou um pouco confusa nesses últimos dias. É tudo culpa de Zak Prince.

— Ele fez uma careta ao men­cionar esse nome. — Nós estávamos nos dando mui­to bem até ele aparecer. E nós vamos...

— Perry, não! — Quanto mais ele insistia nesse caminho, mais agitada ela ficava. — Realmente não estou apaixonada por você. Gosto de você. Você foi um bom amigo desde que cheguei, mas... — Perry in­terrompeu-a, tomando-a em seus braços e tentando beijá-la.

Aquilo foi o fim da linha para Tyler. Ela começou a ficar zangada com ele. Não queria isso. Não sentia o mesmo por ele. E nunca sentiria.

Afastou sua boca da dele, empurrando-o para con­seguir se soltar.

-— Eu disse não, Perry! É sério! — O incômodo que sentira antes, ao descobrir que ele sabia quem ela era, voltou quando viu o olhar de determinação em suas feições furiosas.

— E ele, não? — acusou Perry, com o belo rosto totalmente transfigurado pela raiva.

Ela engoliu em seco.

— Não sei do que você está falando, mas, pelo bem de nossa amizade...

— Não quero ser seu amigo — vociferou. — Você sabe o que quero...

— Ao ouvir uma batida porta, ele parou. Sua expressão estava ainda mais transtornada.

Aquela interrupção deu uma sensação de alívio a Tyler. Não importava quem estivesse do outro lado da porta: o proprietário cobrando o aluguel, um pes­quisador, ou até algum vendedor. Aquilo era uma bênção. Estava com medo de Perry, que se tornara uma pessoa irreconhecível. E ainda tinha de lidar com o fato de que ele sempre soubera sua verdadeira identidade...

— É ele? — perguntou Perry, quando ela foi abrir a porta. — Zak Prince chegou com seu cavalo branco para resgatar a princesa?

Ela desejou que fosse Zak, mesmo sabendo que não era. Um vendedor poderia não ser o bastante para que Perry fosse embora de sua casa.

— Zak! — Tyler fitava-o, incrédula. A severidade de seu olhar apenas se intensificou quando viu Perry.

— Tyler — assentiu sucinto. A expressão em seus olhos era incompreensível. — Cheguei em um mau momento?

Apesar de seu tom sarcástico, Tyler seria capaz de rir, tamanho era o alívio que sentia com sua presença.

— De maneira alguma. Pode entrar. — Ela o pu­xou pelo braço para dentro do apartamento. Então, viu-se parada entre os dois homens, que se encara­vam intensamente.

Não sabia o que Zak fazia ali. Ele podia ter vindo acusá-la ainda mais, não se importava. Ele estava ali. Talvez pudesse ajudá-la a fazer Perry, que se tornara um completo estranho, ir embora.

— Ninguém quer você aqui, Prince — Perry anun­ciou inesperadamente.

Tyler bufou ao ouvir aquele insulto. Não só era um comentário rude, mas também não era verdade. Ela o queria ali, e muito

No entanto, Zak não pareceu se incomodar com o tom agressivo do outro homem, e sua expressão se suavizou quando a fitou.

— Isso é verdade, Tyler? — perguntou delicada­mente.

— Você quer que eu vá embora?

— Não! — respondeu bruscamente, forçando-se a respirar fundo e se acalmar. — Não, claro que não. — respondeu mais calma. — Na verdade, Perry, achei que você estivesse de saída. — Ela o fitou desafia­dora.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Não creio — disse, puxando-a para perto de si e envolvendo-a pela cintura. — Na verdade, Prince, você chegou bem na hora de nos felicitar. Tyler acei­tou meu pedido de casamento.

Tyler o fitou, consternada. Estava cada vez mais convencida de que Perry só se havia tornado seu ami­go porque sabia quem ela era. Ele não podia achar que ela... Ela não podia ter aceitado... Ele não estava falando sério!

Mas podia ver, pelo brilho de seus olhos e pelo ranger de seus dentes, que ele estava falando sério. Muito sério.

Zak sentiu como se tivesse levado um soco no es­tômago. Tyler não podia se casar com aquele ho­mem. Se ia se casar com alguém, tinha de ser com ele!

Agora, realmente parecia que alguém o havia dei­xado completamente sem ar! Jamais havia considera-* do a possibilidade de se casar com alguém e, de re­pente, no decorrer de quatro dias, sabia que sua vida nunca estaria completa sem Tyler. Nunca se sentiria totalmente vivo de novo se ela se casasse com outro homem!

Então, viu a expressão no rosto dela: uma mistura de incredulidade e desânimo. Não esperava isso de uma mulher que acabara de aceitar um pedido de ca­samento do homem que amava!

Zak endireitou-se.

— É verdade? Então Tyler deve ser muito bondosa — disse com a voz dura.

Os braços de Perry se contraíram ao redor da cin­tura de Tyler. Isso era o bastante para que Zak sentis­se vontade de bater nele!

— O que você quer dizer? — perguntou Tyler, um pouco confusa.

Zak encarou o outro homem.

— Quer contar para ela ou eu mesmo conto? Um rubor raivoso tormou conta da face de Perry.

— Não sei do que você está falando — protestou.

— Nem eu, Zak. — Tyler ainda parecia confusa.

Se Perry Morgan não parasse de tocar Tyler da­quela maneira íntima e possessiva, Zak não se res­ponsabilizaria por suas ações!

Guardou as mãos nos bolsos para evitar confusão.

— Seu amigo foi responsável por aquela notícia e por nossa foto nos jornais. Ele não lhe disse nada? — acrescentou ao ver Tyler fitar Perry, incrédula.

Por fim, ela escapou dos braços dele, diminuindo a dor no peito de Zak instantaneamente.

— E verdade, Perry?

— Claro que não é verdade — Perry zombou.

— Ele só está dizendo isso para nos afastar. Ele mesmo deve ter arquitetado isso. Pessoas como ele prospe­ram tanto com a publicidade que acabam criando as próprias notícias!

Até agora Zak se contivera e não batera em Perry porque não sabia como Tyler ira reagir. No entanto, neste exato momento, corria o risco de se esquecer de tudo e partir para cima!

— Estranho — rugiu, cerrando os punhos.

— Não foi isso que Bill Graham disse.

— Bill? — repetiu Tyler, pálida. — Mas...

— Ignore-o, Tyler — interrompeu Perry, furioso.

— Bill Graham não lhe daria um minuto de seu tem­po, imagine se lhe contaria algo tão pessoal!

Mas Zak e Tyler sabiam que Bill lhe dera muitos minutos, não uma, mas duas vezes. Naquele mesmo dia, pela manhã, quando ela saiu do jornal, os dois homens se reuniram no escritório de Bill.

— O que você acha, Tyler? Bill Graham me disse que demitiu esse cara ou não? — Zak arqueou a so­brancelha loura.

Parecia que Tyler não aguentava mais. Quando Zak se deu conta de tudo o que acontecera com ela pela manhã — a fotografia no jornal, a discussão com ele, a saída do jornal —, não se surpreendeu ao ver que ela parecia cambaleante. Queria poder facilitar as coisas para ela, mas precisava contar-lhe a verdade sobre Perry Morgan.

Tyler engoliu em seco.

— Acredito em você — disse, afastando-se ainda mais de Perry. Ela o fitou.

— O que é difícil de acre­ditar é que você tenha feito essas coisas, Perry! — Sua voz tremia de raiva e seus olhos brilhavam. — E você me disse que havia se demitido porque não que­ria continuar trabalhando lá sem mim! Acho melhor você ir embora.

O rosto de Perry estava transtornado.

— Mas nós vamos nos casar...

— Não vamos! — arrematou Tyler.

— Mesmo que você não tivesse feito essas coisas terríveis, eu não me casaria com você. Já lhe disse: não amo você.

Zak sentiu um alívio imenso ao ouvir aquelas pa­lavras e fitou-a com admiração. Sabia que era um cli­chê, mas ela ficava linda quando estava nervosa. Fi­cava toda tensa, com as bochechas vermelhas, acen­tuando seus olhos castanhos. E, dessa vez, sua raiva não se dirigia a ele!

— Você deve achar que Tyler Harwood é muito poderosa para se casar com um mero fotógrafo? — desdenhou Perry ao perceber que não tinha mais chance com ela.

Tyler o fitou mordaz.

— Ex-fotógrafo! Se conheço bem o Bill, você terá sorte se conseguir um emprego fotografando festas infantis! Quanto a mim, jamais tive a menor intenção de me casar com você, nem como Tyler Wood, nem como Tyler Harwood.

— Ela franziu o cenho. — Ad­mita que você só se tornou meu amigo porque sabia quem eu era desde o início!

Zak se compadeceu dela ao ouvir sua voz falhar, emocionada. Sabia como isso devia magoá-la. Perry Morgan sorriu incômodo.

— Por que outra razão eu me juntaria a uma repór­ter iniciante e não a uma profissional?

— Está na hora de você ir embora, mais do que na hora.

— Tyler fitou-o friamente, abrindo a porta para ele. — E não volte aqui nunca mais! — acrescentou, enquanto Perry Morgan arrastava-se pela sala.

— Sabe você realmente é uma...

— Vá embora, Morgan! — gritou Zak ao sentir que o outro homem iria ofender Tyler.

Pronto para saltar em defesa de Tyler se ele tentas­se dirigir-lhe mais alguma palavra, Zak observou-o indo embora. Na verdade, ele estava decepcionado por Perry não ter feito mais nada. Teria adorado bater nele!

Tyler fechou a porta firmemente e precisou de vá­rios segundos para se recompor antes de fitar Zak.

— Obrigada — murmurou.

— Ainda não acredito que ele... Eu devia ter imaginado — suspirou. — Foi ele que me apresentou a David Miller há alguns me­ses. Acho que eu não queria acreditar que Perry havia me traído. Até algum tempo, eu realmente achava que Jane Morrow era responsável por colocar a im­prensa no nosso encalço. Não queria mencionar o nome por que... Bem, você entende por quê.

Zak suspirou surpreso. Jane Morrow! Ela era a loura que haviam encontrado no 0'Malley's na se­gunda-feira à noite! Não era de se espantar que não se lembrasse dela. A única vez em que a vira foi quando encontrou Nik e ela jantando, algumas semanas antes de Nik conhecer sua mulher. Tyler balançou a cabeça.

— O que Perry queria com isso?

Estava na hora de apresentar a teoria de Bill Graham: que Perry percebera que o sentimento entre ela e Zak estava se aprofundando e estava determinado a acabar com aquilo. Será que Tyler estava pronta para ouvir aquilo?

Zak encolheu os ombros.

— Acho que ele ficou com ciúmes do tempo que você passava comigo.

Ela arregalou os olhos.

— Mas isso era trabalho.

Trabalho. Aquela palavra atingiu Zak como um tapa. Será que ele só significava isso para Tyler?

— Talvez ele realmente estivesse apaixonado por você — grunhiu Zak.

Seus olhos lançaram chamas achocolatadas.

— Ele estava apaixonado pela fama e pelo prestí­gio de meu pai! Se isso é amor para ele, eu não quero.

Não era assim que Zak a amava. Queria passar cada minuto do dia e da noite ao lado dela, dividir tudo com ela, conhecer e apreciar tudo de sua perso­nalidade, e receber seu amor e carinho em troca.

— Então, o que você fará agora? — perguntou.

— Bill me disse que você deixou o jornal.

— Já liguei para o meu pai e me reconciliei com ele. Vou para casa.

— Antes ou depois do nosso encontro no sábado? Tyler arregalou os olhos.

— Você ainda quer que eu vá à estréia com você?

— Por que não? — Tentou fazer sua resposta soar casual.

— Está um pouco em cima da hora para cha­mar outra pessoa. — Não queria que ela o conside­rasse dominador como Perry Morgan.

Ela sorriu.

— Pelo menos você foi honesto. Depois da farsa do Perry...

— Ela apertou os lábios ao mencionar o nome dele. — Preciso disso. Então, sim. Adoraria ir à estréia do filme com você. — Ela sorriu nervosa. — Como Tyler Harwood, se você estiver de acordo.

Ela podia ir até como Tyler Smith, desde que fosse com ele! Zak, finalmente, sentiu-se mais tranquilo.

— Certo. Bem, antes de ir, tenho algumas palavras de sabedoria para você do Bill.

Ela parecia cautelosa.

— Quais?

Zak sorriu confiante.

— Ele me pediu que lhe dissesse que você escreve muito bem para trabalhar em tabloides e que devia escrever um livro. Uma biografia. Ele sugeriu que es­colhesse seu pai como tema.

Zak foi totalmente conquistado pela explosão de risos de Tyler.

— Rufus adoraria! Ele provavelmente me deser­daria se eu sugerisse isso!

— Os olhos dela brilha­ram. — Ele sempre disse que as únicas biografias boas são aquelas não-escritas. Na verdade, ele... — Ela parou pensativa. — Sabe, não é má ideia — disse lentamente. — Poderia ser interessante.

— Pense nisso — aconselhou Zak, feliz por saber que veria Tyler no sábado à noite. — Você poderia escrever antes sobre mim, só para ele ver como você é boa.

De onde ele tirara aquela ideia? Escrever uma bio­grafia sua seria como arrancar um dente! No entanto, se Tyler fosse a escritora, isso significava que ela continuaria em sua vida por várias semanas, meses, anos...

— Você? — Ela ficou tão perplexa quanto ele diante daquela sugestão.

— Por que não?

— Como você ainda pode me pedir isso depois do desastre dos últimos quatro dias?

Ele queria pedir muito mais do que isso! E, com o tempo que teria a seu lado se ela escrevesse sua bio­grafia, talvez pudesse fazer isso.

— Não foi culpa sua. E só para lhe dar um pouco de material para você começar a refletir — acrescen­tou ele, encaminhando-se para a porta —, naquela noite no 0'Malley's, quando fui grosseiro com o gar­çom...

— Sim — incentivou ela.

— Eu reagi tão mal à retirada do pato do menu porque sou disléxico.

Provavelmente, eu poderia ter procurado outro prato no cardápio, mas isso levaria tanto tempo que ficaria óbvio para você e para qual­quer outro que eu estava tendo dificuldade para ler. Então, optei pelo caminho mais simples e pedi a car­ne.

Zak não lhe deu tempo de responder. Ele saiu do apartamento e fechou a porta atrás de si.

Era hora de começar a estabelecer mais confiança entre eles...

 

— Por que me contou isso sobre você?

— Contei o quê? — perguntou Zak inocente­mente.

Tyler estava sentada a seu lado, no banco de trás da limusine na qual ele fora buscá-la para ir à estréia. O vidro que os separava do motorista estava bem fe­chado.

Há dois dias, Tyler se perguntava por que ele lhe contara sobre a sua dislexia. Sabia que aquilo não era de conhecimento público, que era exatamente o tipo de fofoca suculenta que estava procurando para man­ter seu emprego no Daily Informer. Isso provavel­mente garantiria seu emprego lá, se ainda o quisesse. Mas não queria.

Mas isso ainda não explicava por que Zak lhe con­fidenciara algo tão íntimo, de maneira tão inespera­da...

— Sua dislexia — relembrou-o. Ele deu de ombros.

— Outro de meus segredos é que odeio estreias de filmes! Atuar é uma coisa, ser o centro das atenções como eu mesmo é totalmente diferente.

Por que ele estava lhe contando essas coisas tão ín­timas? Seria por causa da biografia que sugerira que ela escrevesse? Ou haveria outro motivo?

Ela franziu o cenho, concluindo que havia apenas uma maneira de descobrir.

— Odeio caviar — revelou.

— E eu tinha a língua presa até os dez anos, quando um ortodontista, um aparelho nos dentes e um fonoaudiólogo resolveram o problema.

Zak assentiu.

— Odeio hambúrgueres com picles. E só beijei uma menina no primeiro ano do ensino médio.

— As meninas do colégio me chamaram de boca de metal por dois anos. E eu odeio ostras.

— Meu primeiro encontro com uma menina foi um desastre. Eu vomitei em cima dela, do alto de uma roda-gigante. Odeio lula.

Tyler ainda não sabia onde isso ia parar, mas con­tinuou. Esperançosa!

— Meu primeiro encontro também foi um desas­tre. Minha mãe insistiu em ir junto! Odeio calda na panqueca.

— Isso está indo longe demais, Tyler — protestou Zak, rindo.

— Nenhum americano que se preze odeia calda na panqueca!

— Eu odeio — insistiu ela. — Mas amo panqueca com morango e creme.

— Eu amo pizza fria no café-da-manhã.

— Eu amo comer chocolate no café-da-manhã.

— Eu amo rosbife inglês.

— Eu amo salsicha à milanesa. Sei que deve pare­cer nojento, mas é ótimo.

— A expressão dele a fez rir.

— Prefiro críquete a baseball.

— Eu amo tênis, mais que esses dois.

— Eu amo você.

— Eu amo... Zak! — Tyler o fitava, perguntando-se se podia ter escutado errado. Será que Zak tinha dito que a amava?

— Eu não queria que tivesse sido assim — mur­murou ele, balançando a cabeça contrafeito e viran­do-se para ela. — Sei que não é a hora ou o lugar cer­to — acrescentou, ao ver que se aproximavam do lo­cal da estréia. — Esta noite, eu ia lhe mostrar que não é tão ruim assim ser vista comigo. Ia persuadi-la a fi­car na Inglaterra, talvez para escrever minha biogra­fia. Então, depois de algumas semanas, eu ia... droga! — Ele passou a mão pelos cabelos. — E verdade, Ty­ler. Eu amo você. Mas não espero...

— Também amo você, Zak — interrompeu-o, va­cilante, achando que aquilo não passava de um so­nho. — Também amo você! — repetiu, com um bri­lho nos olhos.

Zak segurou seu rosto e fitou-a profundamente.

— Você me ama? De verdade? — perguntou in­certo.

Tyler riu, incentivada pela insegurança de um ho­mem sempre tão confiante.

— Eu sou apaixonada por você desde que tenho 15 anos.

Ele fez uma careta.

— Eu era apaixonado pela Elizabeth Taylor quan­do tinha 15 anos, mas não passei a amá-la quando fi­nalmente a conheci, há dez anos!

— Mas eu passei a amá-lo no momento em que o conheci — garantiu Tyler.

Zak arqueou as sobrancelhas maliciosamente.

— Impossível. Fui rude e arrogante.

— Amei você mesmo assim — insistiu Tyler.

— Amo você, Zak. Muito — reiterou.

— O suficiente para se casar comigo? — ele arris­cou, com um olhar penetrante.

Seu coração deu um salto quando pensou na possi­bilidade de ser mulher de Zak. Mas...

— Você não precisa se casar comigo se não quiser — disse ela.

Zak sorriu.

— Se eu não me casar com você, acho que seu pai manda me prender e joga a chave fora! Na verdade, duvido que ele vá gostar da ideia de me ter como gen­ro.

Tyler balançou a cabeça.

— O que meu pai mais quer são netos. Acho que ele não se importa com quem vou me casar, desde que eu tenha filhos!

— Talvez ela estivesse exage­rando um pouco, mas, depois das longas conversas que tivera com seu pai e sua mãe nos últimos dias, passou realmente a acreditar que, se estivesse feliz, seu pai também ficaria feliz. — Além do mais — ela esticou a mão e tocou no rosto de Zak —, isso não tem nada a ver com meu pai, Zak. Só comigo e com você. Zak e Tyler. — Meu Deus! Aquilo era maravi­lhoso!

— Então, vamos nos casar — declarou Zak firme­mente.

— Que tal deixar de lado Tyler Wood e Tyler Harwood, e, em vez disso, adotar Tyler Prince?

Parecia incrível, era a realização de todos os seus sonhos. Zak abraçou-a e começou a beijá-la.

Há dois dias, sentira que o chão escapulia debaixo de seus pés. Pensar que não veria Zak novamente a deixara completamente infeliz. Na verdade, seu so­nho despedaçado de se tornar uma repórter perdeu a importância diante da possibilidade de nunca mais ver Zak.

E agora aquilo!

Era muito mais do que jamais desejara. Zak a ama­va. Ela o amava. Só isso importava.

Relutante, Zak afastou-se quando a limusine esta­cionou na frente do cinema. Ouviu o som de milhares de mulheres gritando seu nome.

Tyler queria gritar com elas, mas preferiu sorrir orgulhosa ao lado dele, em meio àquelas mulheres histéricas que batiam palmas enquanto eles caminha­vam a curta distância até o cinema. Flashes pipoca­vam.

Zak segurou-a com força.

— Sua foto vai estampar a primeira página de to­dos os jornais amanhã — advertiu.

Tyler deu de ombros.

— Quem se importa? — Ela não se importava. Fi­caria feliz em ser fotografada ao lado de Zak para o resto de sua vida.

— Talvez Richard Astor-Wilson se importe — implicou ele.

Ela arregalou os olhos.

— Você também sabe sobre Richard? Zak sorriu.

— Bill Graham sabia. Ele e seu pai são velhos amigos, sabe?

— Sei. Afinal de contas, não consegui nem dar o primeiro passo sozinha, não?

— Foi exatamente isso que você fez, Tyler — in­sistiu Zak.

— Tenho certeza de que Bill falou sério quanto ao livro.

Tyler sorriu.

— Já comentei isso com meu pai. Ele está pensan­do no assunto. Normalmente, isso significa sim! Quanto ao Richard... — Ela suspirou.

— Acho que não fui muito gentil com ele depois que deixei Nova York.

— Muito bem — disse Zak, satisfeito. Ela riu.

— Você tem um fã-clube enorme — murmurou ainda escutando as mulheres gritarem o nome de Zak.

Ele a fitou com olhos profundamente azuis e sor­riu.

— Eu quero um fã-clube com uma só pessoa — garantiu.

— Desde que seja você.

— Para sempre, Zak — prometeu, beijando-o.

— Sempre. —jurou ele.

— O fato de vocês não conseguirem tirar os olhos um do outro significa que vou ganhar outra cunhada?

Tyler virou-se curiosamente para o homem alto e moreno que falara com eles, reconhecendo instanta­neamente o mais novo dos irmãos Prince, Rik.

Zak envolveu-a pela cintura e riu para o homem mais jovem.

— Exatamente, Rik.

— Que ótimo! — Rik inclinou-se para dar um bei­jo caloroso na face de Tyler.

— Ele passou os dois úl­timos dias deprimido como um urso enjaulado — confidenciou, fitando seu irmão carinhosamente.

— Você é um homem de sorte, Zak — felicitou-o, cum­primentando seu irmão.

— Você é o próximo. — Zak arqueou as sobrance­lhas, sugestivo.

— Estou feliz assim — protestou Rik.

— Está mesmo? — perguntou Tyler, em um sus­surro, para Zak, assim que Rik se afastou para cum­primentar outro ator do filme.

— Falaremos sobre isso mais tarde — prometeu ele.

E Tyler não duvidava que, de agora em diante, eles não iam esconder nada um do outro. Sem segredos. Para sempre. Exatamente como devia ser!

 

 

                                                                  Carole Mortimer

 

 

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