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Primeiro além do tempo e do espaço, foram o silêncio, a serenidade e a calma do universo mundo. O imenso céu permanecia em estado de quietude e de total vazio...Não havia coisas, nem elementos, nem objetos que chocassem. Não se conhecia o barulho, nem o estrondo, nem o fragor...Tudo estava envolto num nebuloso e obscuro manto de paz, sossego e silêncio...Não se conheciam as ondas dos mares, cujas tranquilas águas assemelhavam-se a espelhos transparentes.
Assim o relato de Popol Vuh, o livro sagrado dos mitos e lendas dos maias que o povo quiché guardou em segredo durante séculos, no qual se descreve a criação da Terra, o surgimento das árvores, o brotar das plantas e dos cipós, a criação do homem..., o estalido da vida...
Cobertos pela obscuridade, sob as aguas transparentes do mar oceano, os Criadores, Tepeu, Gucumatz, os Formadores, os Progenitores, tudo observavam. Até que um dia olharam juntos na mesma direção, Tepeu e Gucumatz uniram seus pensamentos, refledram e falaram...Concluíram que o homem devia nascei; que a vida devia fluir, e exclamaram: Que se faça a luz e encha o vazio! Que se separem as aguas e a terra fique a descoberto! E suas palavras saíram do fundo das aguas, romperam o silêncio e trans passaram a obscuridade até chegar ao coração do céu, cujo nome é Furacão, de onde saíram os raios, os relâmpagos e os trovões para dar a luz, força e sorn às palavras.
Pelo poder das palavras e dos pensamentos dos Criadores todas as cavidades, buracos e vazios do universo se preencheram. A obscuridade se encolheu e deixou lugar ao resplendor: e houve amanhecer, claridade..., e entardecer, penumbra.
Os Criadores podiam ter vivido tranquilos durante toda a eternidade sob as águas claras, sempre calmas, do mar oceano, protegidos pelas serpentes de plumas de cor verde e azul..., mas falaram, refletiram e uniram seus pensamentos. E exclamaram: Que da Terra saíam montanhas, que cresçam ao seu redor pinhos e ciprestes...E que os férteis vales se estendam entre os montes...Que os mananciais e fontes brotem, que corram os rios e os arroios pelo seu cursa natural!
Gucumatz se dirigiu então, ao Coração do Céu, ao Furacão, e aos demais deuses que estavam presentes e exclamou: Devemos estar contentes com nossa obra e prosseguir sem desmaio até culminá-las!
Assim, em vez de descansar, os Progenitores, os Formadores, criaram todos os anirnaizinhos e passarinhos dos bosques, aos cervos, aos coelhos, aos duendes e aos espíritos dos campos, as cobras, serpentes e víboras..., aos animais selvagens, o leão, o tigre, o javali, o coiote, o gato montês, e também plantaram as trepadeiras das cipós... E a cada criatura lhe designaram uni lugar e uma morada: as aves construíram seus ninhos no alto das arvores e dos cipós, e ali se reproduziram; os cervos brincariam junto das margens dos rios e passeariam nos vales.
Agora, disseram os deuses, todos vós outros, animais e pássaros, e árvores e plantas, deveis adorar-nos porque somos vossos deuses e criadores. Em agradecimento por vos ter dado vida, deveis louvar-nos: entoais louvores e cânticos em nossa honra!
Mas os deuses não receberam resposta alguma, então concluíram, já que nem os animais nem as aves falavam, que deviam criar outros seres que lhes obedecessem. Alguém deve custodiar os cipos, pensaram os Criadores, e em seguida fizeram o homem. Moldaram uma figura humana com barro da Terra, com argila misturada com lodo, Mas logo viram os deuses que semelhante criatura não tinha consistência nem se sustinha, que o material era débil e destrutível.
Gucumatz, Tepeu e Furacão falaram, uniram novamente seus pensamentos e passaram para a açâo: construíram um homem de madeira, E os Criadores, os Formadores, talharam uma figura consistente, lavraram bonecos que se unissem e procriassem. Mas logo atentaram os deuses, que esses bonecos, mesmo falando e movendo-se, careciam cie energia e estavam ocos e secos; não tinham um espírito interior que os animassem, não sentiam, nem gemiam, nem riam, nem choravam; não tinham alma.
Os deuses não podiam esperar nada de semelhantes homens sem alma e enviaram contra eles uni dilúvio e os destruíram e aniquilaram até não ficar um só boneco de madeira sobre a face da Temi.
Recomecemos, disseram os deuses; e outra vez os Criadores, os Formadores, o Coração do Céuf cujo nome é Furacão, se entregaram ao novo intento de criação do homem Todo o anterior tinha sido um ensaio, urna prova malsucedida, Agora jã estamos preparados para criar o verdadeiro homem... Assim disseram os deuses e uniram novamente seus pensamentos e olharam outra vez na mesma direçâo e viram vir os animais selvagens, o gato montês, o coiote; e as aves, corvos e periquitos...Os animais e as aves se aproximaram, uns traziam na boca e outros no bico, espigas brancas e espigas amarelas...
E ensinaram aos deuses o caminho que levava ao lugar onde a comida era abundante. Um dos lugares era a Terra de Paxil e o outro chamava-se Cayalá... então souberam que tipo de alimento tinha que conter o sangue e a carne do novo homem, e em seguida moeram as espigas, e com a farinha de milho fizeram uma massa que deram de comer aos pais dos primeiros homens.
Então, o Coração do Céu, chamado Furacão, os Criadores, os Formadores, Tepeu e Gucumatz exclamaram: Façamos o homem de carne e osso! Dotemo-Ihe de razão, conhecimento e inteligência!
E assim, os primeiros homens conheciam todos os sabores e sua visão chegava além das montanhas, seus ouvidos percebiam os sons mais imperceptíveis, falavam com a boca, andavam e corriam com suas pernas...Demos graças aos deuses, louvemos seus nomes, pois somos criaturas perfeitas...
Mas o Coração do Céu, chamado Furacão, os Criadores, os Formadores, Tepeu e Gucumatz observaram a conduta dos homens e viram que se exaltavam, que queriam ser iguais aos deuses, pelo que, prontamente, retaliaram suas qualidades, mermaram sua sabedoria, sua inteligência e sua capacidade de discernimento.
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