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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PRAZER PROIBIDO / Carole Mortimer
PRAZER PROIBIDO / Carole Mortimer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

— Você está apenas meio-viva, Helen — dizia Leon Masters —, e eu juro que vou derreter esse seu gelo.

Era verdade. Desde a terrível noite de sua lua-de-mel, quando foi barbaramente violentada pelo marido bêbado, Helen tinha pavor dos homens. Mesmo agora, já viúva, agarrava-se à redoma que havia construído para si mesma como a uma tábua de salvação. E, por mais que Leon a tentasse, Helen tinha medo de arriscar. Sabia que era melhor deixar que seus fantasmas continuassem adormecidos. O que ela não sabia era como resistir, por mais um dia que fosse, à atração de Leon.

 

 

 

 

-Venha comigo, Helen! — Jenny pe­diu mais uma vez, os longos cabe­los loiros emoldurando um rosto bonito e sem pintura, os olhos verdes brilhando, revelando a sua beleza interior. — Não posso ir lá sozinha! Ia ficar tudo claro demais.

— Não quero ir, Jen — suspirou Helen. — Já disse há mais de uma semana que não quero ir.

Jenny, prima de Helen, adoçou a voz, como fazia sempre que queria alguma coisa.

— Mas eu estava contando com você. Ninguém vai sozi­nha a esse tipo de festa, senão todos ficam pensando que estou à procura de um namorado.

A boca de Helen abriu-se num sorriso.

— E você está, não está?

— Claro que estou, mas ninguém precisa ficar sabendo. Os rapazes gostam de achar que eles é que estão atrás das moças e não o contrário.

— Não estou com espírito para ir, Jen. Além disso, meus cabelos estão uma droga e não tenho nada para vestir.

Jenny olhou com atenção para a prima. O rosto de Helen estava magro demais, os olhos cor de violeta pareciam tristes e sua boca cheia e bonita raramente sorria. Ela tinha uma beleza frágil, com os cabelos pretos chegando à altura dos ombros, os olhos muito profundos que pareciam esconder se­gredos, o corpo pequeno e perfeito, com as curvas nos lugares certos; no entanto, parecia que ninguém conseguia quebrar seu ar frio e sua maneira delicada mas distante. Tinha sido assim desde o acidente, há dois anos, quando Michael, seu marido, morrera. Mas as coisas não deviam continuar assim! Jenny convidou e foram juntas para o quarto.

— Se olhar bem, tenho certeza de que vai encontrar o que vestir; ou, então, use um dos meus vestidos.

— Não, obrigada — respondeu Helen. — A maior parte de sua roupa é indecente.

Sorrindo, Jenny concordou.

— São mesmo, não é? Mas eu gosto de me sentir meio tentadora. — Parou na frente do armário de Helen e começou a examinar os vestidos. — Não pode usar nenhum deles. Pelo menos, não em uma festa como essa.

Helen sentou-se na cama, olhando para Jenny sem ne-nhum interesse. Há dois anos dividiam o apartamento, e Jenny, muito alegre, estava sempre procurando fazer com que ela saísse daquela depressão.

Jenny, com vinte e sete anos, exercia uma grande influência sobre Helen. Ajudava a organizar sua vida e tinha estimulado a prima até ela arranjar o emprego na agência de turismo. Se não fosse por Jenny, Helen teria ficado em casa, vivendo com o dinheiro que Michael lhe deixara. Mas Jenny havia mostrado que todo mundo trabalhava, até os ricos. Então He­len começou a trabalhar, das nove às cinco, cinco dias por semana. Conseguia alguma satisfação no trabalho, é verdade, mas sabia que, se parasse, não ia sentir muita falta.

— Falando assim, até parece que a festa vai ser uma orgia

— E provavelmente vai acabar numa orgia, mesmo, de madrugada, Helen. Mas a essa altura já quero estar longe de lá e, de preferência, com Matt.

— Matthew Jarvis! Não sei o que vê nele, Jenny.

— Ele é muito atraente.

— Atraente e sexy, não é o que quer dizer?

— É. Sexy. E qual é o problema com sexo? Faria muito bem a você, Helen.

— Não sei se me faria bem.

— Faria, sim. Bom, este é o vestido para você. — Tirou um vestido de seu próprio armário e mostrou-o a Helen. — Vai ficar perfeito, com o contraste de seus cabelos escuros.

Helen também achou que aquela seda cor de ouro ficaria linda perto de seus cabelos. Mas balançou a cabeça, recusando.

— Sabe que nunca posso usar nada seu. Fica muito aper­tado no busto.

Jenny olhou para as poucas curvas que tinha e depois para os seios redondos e firmes de Helen, que era mais magra de quadris e cintura do que ela.

— Este tecido vai deixá-la linda — disse, encorajando-a.

— O que há de errado com os meus vestidos?

— Tecido demais. Como é, você vai comigo? Helen passou a mão nos cabelos, meio indecisa.

— Estou horrível!

— Por que não lava a cabeça e arruma os cabelos? Ainda dá tempo para fazer isso.

— Preferia mesmo não ir, Jenny.

— Mas vai — Jenny respondeu com firmeza. — Lave os cabelos e não quero saber de mais discussão. Vai e está acabado.

— E o que acontece depois que você sair com Matthew Jarvis?

— Não sei se vou sair com ele.

— Sei que vai. E aí? O que vai acontecer comigo? Não pretendo ficar para a orgia.

Jenny deu risada. Enquanto olhava Helen lavar os ca­belos, continuou:

— Não achei mesmo que você ia ficar. Não se preocupe, não a deixarei lá, entregue aos piratas.

— Mesmo que deixasse, ninguém conseguiria ir muito longe comigo. Muitas pessoas me conhecem, lá, e sabem que devem me deixar em paz.

— Vai encontrar muitas caras novas hoje à noite. Nunca estive numa festa de Leon Masters antes.

— Leon Masters? Aquele Leon Masters?

— Por quê? Existe outro? Pensei que tivesse dito quem estava dando a festa — Jenny disse, aparentando inocência.

— Não. Não me disse. E sei por que não me disse. O homem é um depravado!

— Sei disso. Não é maravilhoso? Não vejo a hora de encontrá-lo — disse Jenny, sonhadora,

— Tem certeza de que essa festa não vai ser uma orgia do princípio ao fim? Já ouvi dizer que as festas dele se tornam completamente loucas.

— Também já ouvi isso — respondeu Jenny. — Por isso estou esperando por ela com ansiedade.

— Você não tem mais jeito! Não sei como foi se meter com essa turma louca.

— Brent me apresentou a eles. — Brent era o produtor de televisão onde Jenny trabalhava. Foi também através dele que ela conheceu Matthew Jarvis, outro produtor de televisão.

— Só podia ter sido ele — disse Helen. — Ele é tão imoral como todos os outros.

— Brent anda ótimo, agora que sabe que não tenho in­tenção de dormir com ele.

— Está vendo o que quero dizer? Acho que não vou...

— Vá secar os cabelos — Jenny interrompeu. — Não temos tempo para seus sermões. Enquanto tomo banho, tra­te de pintar as unhas.

— Pensei que tinha dito para secar os cabelos.

— Está bem. Primeiro seque os cabelos, depois pinte as unhas. — E desapareceu dentro do banheiro.

Helen foi fazer o que Jenny lhe dissera. Sempre acabava fazendo o que Jenny sugeria; e nem podia ficar zangada, porque Jenny fazia tudo com a melhor das intenções. Além disso, às vezes era mais fácil concordar que discutir.

Arrumou os cabelos em ondas largas, fez uma maquila-gem leve, acentuando os olhos azuis. Jenny estava certa a respeito do vestido: caía maravilhosamente, revelava bem o redondo de seu busto e delineava com perfeição o profundo vale entre seus seios.

— Está maravilhosa! Vire-se, Helen, e deixe eu ver as costas.

— Está muito justo aqui em cima. — Helen apontou para os seios.

— Está perfeito!

Só então Helen reparou na prima. Arregalou os olhos quando viu Jenny usando um vestido preto, estilo grego, que por pouco não era indecente.

— Você vai sair assim?

— Encantador, não acha, Helen? Helen parecia chocada.

— Conheço um adjetivo melhor para ele. As pessoas vão ter uma impressão errada de nós quando nos virem usando essas roupas.

— Bobagem! Em comparação com as outras, estaremos até vestidas demais.

Chegando à festa, Helen viu que Jenny estava certa. Mui­tas das mulheres usavam tão pouca roupa que era quase como se estivessem nuas. Mesmo assim Helen não se sentia muito à vontade em seu vestido ousado e tratou de passar despercebida no meio daquela gente tão colorida.

O apartamento era luxuoso, de cobertura, sem dúvida grande demais para um homem sozinho. Ainda não tinha conhecido o dono da festa e achava que nem ia encontrá-lo no meio de tanta gente. Aceitou a bebida que lhe ofereceram, depois tratou de ficar quieta em um canto. Meia dúzia de casais tentavam dançar em um espaço reduzido.

— Ótima festa, não? — Jenny falou perto dela, sem tirar os olhos daquele mar de rostos.

— Você acha? — Helen perguntou, sem muito ânimo.

— Fantástica. Viu Leon Masters em algum lugar?

— Não procurei por ele.

— Então vamos começar a procurá-lo.

— Por quê?

— Porque ele é sensacional.

— Isso é uma questão de opinião.

— Você não acha que ele é fantástico? — Jenny parecia surpresa.

— Acho, sim. Mas ele é um pouco demais.

— Demais? Como assim?

— Bem, ele é demais em tudo. Alto demais, bonito demais, ousado demais...

— Sexy demais — acrescentou Jenny, com malícia.

— É. Isso também.

— Mas é um ator excelente.

— E tem que ser, pelo muito que ganha. Li em uma revista que estava ganhando milhões de libras pelo último filme. Ninguém vale tanto dinheiro assim.

— Não sei não. Se eu tivesse vários milhões, eu o com­praria — disse Jenny, os olhos brilhando.

Helen deu uma boa risada.

— Você é impossível!

— Desde que eu consiga fazer você rir, não me importo com o que sou. Você não ri quanto devia.

— Não acho que tenha muita coisa de que rir — falou Helen, novamente séria.

— Eu sei. Desde que Michael... Helen mudou rápido o assunto.

— Parece que estou vendo o seu ator sexy. — Indicou Leon Masters, que cruzava a sala.

Jenny olhou ansiosa para onde Helen mostrara.

— Puxa, preciso conseguir uma apresentação. Vou pedir a Brent. Vem comigo?

— Não, obrigada. Não quero ficar ouvindo ele dizer como se acha lindo.

— Talvez ele não seja convencido.

— Quer apostar?

— Não. Embora Matt e Brent achem que ele é sensacional.

— Sinto muito, minha querida, mas para mim isso não é recomendação nenhuma.

— Tudo bem. Fica bem sozinha?

— Acho que ficarei em segurança — brincou Helen.

— Até já.

Helen olhou, divertida, a maneira como Jenny convencia o chefe a apresentá-la ao dono da casa, depois como tentava con­quistar Leon com sua beleza. Mas, pelo modo como Leon con­versava com ela, não parecia que a prima estava tendo sucesso.

De repente ele olhou na direção de Helen e seus olhos castanho-dourados e penetrantes encontraram os dela. Helen sentiu-se sem jeito e virou a cabeça, com as faces em fogo. Ele a havia olhado de modo insolente e ela se sentira quase nua, a medida em que aquele olhar percorria o seu corpo.

Tornou a olhar para ele e se sentiu melhor, porque agora ele parecia mais interessado no que Jenny dizia. Pelo menos Jenny ia ficar contente.

Mas não conseguiu esquecer logo o assunto. Leon olhara como se ela fosse uma mulher atraente e há muito tempo ela não tinha essa sensação.

Era clara, bonita para quem gostasse do tipo de mulher alta, e tinha cabelos castanho-claros. E Leon Masters, com seu olhar, fez com que ela se sentisse muito feminina.

Ele era um sucesso no meio teatral há mais de quinze anos, estava sempre trabalhando e sua atuação era perfeita. Há pouco tempo ela tinha visto uma peça dele na televisão, em que fazia o papel de um homem estúpido e idiota, muito diferente do que era na realidade. Naquela noite, parecia um macho dominador; estava todo vestido de preto, com uma camisa de seda preta que lhe caía muito bem e calça justa e bem-feita.

A maior parte das mulheres da festa sentia-se atraída pelo charme e magnetismo que ele irradiava. Helen achou-o real­mente atraente. Tinha os cabelos de um castanho-claro, bem compridos, olhos castanho-dourados vivos, um nariz bem-feito, boca de lábios sensuais e algumas linhas ao lado da boca que só a experiência pode dar. Essas unhas serviam para acentuar mais ainda a sua masculinidade. A maior parte das mulheres presentes teriam dado tudo para serem as companheiras dele naquele momento e, no entanto, ele estava sozinho.

Helen sabia que ele tinha trinta e quatro anos e que não era casado. Vendo-o agora conversar com Jenny e uma outra moça, podia entender isso. Por que ele queria casar, se podia ter centenas, milhares de mulheres no minuto em que desejasse?

— Está se divertindo?

Helen virou-se e, sorrindo, perguntou a Matthew Jarvis:

— E você, está?

— Assim não vale! Perguntei primeiro.

— Está boa a festa, sim.

— Hoje você está maravilhosa!

— Quer dizer que não estou sempre maravilhosa? — ela brincou.

Matthew Jarvis era um homem bonito, de trinta e poucos anos, cabelos escuros e olhos azuis; no entanto, ela se sentia fria perto dele, como de qualquer outro homem, nos últimos dois anos. Nenhum deles podia tocá-la, agora.

— Você sabe que não foi isso o que eu quis dizer. É que hoje você está diferente.

— Emprestei o vestido de Jenny — explicou Helen.

— Ficou ótimo para você. E onde está a prima tão en­cantadora? — Virando-se, Matt viu Jenny. — Minha nossa! O que é que ela está vestindo? Ou deveria dizer despindo?

Helen não controlou o riso. Ouvindo a risada gostosa da prima, Jenny e Leon olharam para ela. Jenny acenou para os dois e Helen teve que enfrentar novamente o olhar de Leon.

— O vestido está bem de acordo com ela — disse a Matt.

— Sei disso, mas não gosto dele.

— E tem importância o que você gosta?

— Sei que não, você nunca me aceitou. Por quê, Helen?

— Não é nada contra você, Matt. Não gosto nem confio em homem nenhum.

— Esse é um desafio a que poucos homens podem resistir — falou uma voz atrás de Helen.

Ela se virou e deu de cara com Leon Masters e Jenny ao seu lado. Não gostou que ele tivesse se intrometido na conversa. Encarou-o, firme, com medo de amolecer diante do calor daquele olhar.

— Gosta de um desafio, sr. Masters?

— Qual é o homem que não gosta?

— Esta é minha prima Helen, Leon — Jenny apresentou.

— A fria Helen — Leon murmurou, com voz suave e ainda olhando para ela.  

Aquele olhar estava de novo deixando Helen sem jeito.

— Como adivinhou?

— Não foi difícil.

Helen começou a sentir um estranho calor. Por que ele continuava olhando para ela daquele jeito? Era como se Matt e Jenny não existissem e ele só tivesse olhos para vê-la.

— Vamos dançar, Jenny — Matt sugeriu. — Acho que pão precisam de nossa presença aqui.

— Boa idéia — disse Jenny, sorrindo ao ver a cara as­sustada de Helen.

— Mas, Jenny... — Helen começou e então sentiu que alguém segurava seu pulso.

— Tomarei conta de Helen para você — Leon falou. — Mas não procurem por nós quando terminarem, porque não estaremos aqui.

— Cuidado, Helen — Matt avisou de leve —, até o gelo se derrete.

— Helen... — começou Leon.

— Meu nome é West. Sra. West — falou Helen, sentindo o perfume gostoso da loção que ele usava; e também um aroma muito mais penetrante, forte e masculino, que deveria excitar seus sentidos, se ela não fosse imune a todos os homens.

— Sua prima não me disse que era casada.

— O que ela lhe contou a meu respeito?

— Na verdade, quase nada. Não vi marido nenhum quan­do você chegou — disse Leon.

— Não sabia que tinha nos visto quando chegamos.

— Nunca deixo de ver uma mulher bonita.

— Espero que não esteja se referindo a mim.

— Sua prima é encantadora, mas ela não tem a sua fragilidade nem a beleza delicada que você tem. Notei-a assim que chegou.

A quantas outras mulheres ele teria dito a mesma coisa, naquela noite?

— Então, devo considerar que me fez um elogio?

— Por que não? Diga, é verdade que não gosta de homens? — Ele parecia muito surpreso.

— Não acredita?

— É que algumas mulheres dizem isso só para parecerem mais interessantes.

— Sinto desapontá-lo, mas comigo é verdade. — Com exceção de seu marido, claro.

— Como?

— Deve gostar de seu marido.

— Claro — ela concordou, hesitante.

— Ele está com você?

— Não.

— Nesse caso, quer sair?

— Mas a festa é sua — Helen respondeu espantada.

— Quero sair e pensei que quisesse vir comigo.

— Pensou que eu... A troco de que pensou que eu quisesse? — perguntou, furiosa, embora estivesse também curiosa.

— Não queria? — Ele parecia divertido. Era tão alto que a fazia sentir-se pequena e muito frágil.

— Claro que não! O que o fez pensar assim?

— Você mesma.

— Eu? Tenho certeza de que se enganou, sr. Masters. Não quero ir a lugar algum com o senhor.

— Não era isso o que seus olhos diziam há uns mi­nutos atrás.

Helen tinha que inclinar a cabeça um pouco para trás para o encarar.

— Acha que toda mulher que olha para você fica logo atraída? — ela perguntou.

— Não; mas eu estou atraído por você, Helen fria.

— Não quer dizer Helen gelada?

— Não; fria é uma temperatura apenas um pouco fora do normal; e eu gostaria de achar que você logo chega ao normal.

— Sinto muito discordar, sr. Masters, mas gelada é a palavra adequada.

— Algum homem a magoou, não é? — Ele parecia interessado. Helen respondeu, muito séria e distante:

— Os homens não chegam tão perto de mim a ponto de me causarem alguma dor. Agora, se me dá licença... — Ten­tou sair de perto dele, mas ele a segurou com força.

— Quantos anos tem? — Leon perguntou, suave.

— Minha idade não tem nada a ver com a maneira como me sinto.

— Vinte? Vinte e um?

— Vinte e dois.

— O que aconteceu? Ele a abandonou?

— Ele? — Helen sentia um nó na garganta.

Muito suavemente ele pegou a mão de Helen e, virando-a, olhou a aliança que ela usava.

— O seu marido. Ele deixou você? — Ergueu o rosto dela para olhar bem dentro de seus olhos.

Ela sentiu ainda mais o aperto na garganta, mas respondeu:

— Acho que se poderia dizer isso, sr. Masters. Ele morreu.

— Seu marido está morto? — Ele não parecia acreditar.

— Eu não iria mentir sobre isso — ela falou, tirando a mão da dele. Procurou se afastar novamente e dessa vez ele não a segurou.

Tinha que sair dali! Falar sobre Michael tinha lhe trazido de volta à memória lembranças dolorosas, coisas que ela preferia esquecer. Saiu do apartamento e do prédio o mais depressa que pôde. Queria escapar daqueles olhos e daquele sorriso que pareciam caçoar dela.

Leon Masters não tinha o direito de se intrometer em coisas que Helen construíra ao seu redor. Há meses ninguém lhe falava nada sobre Michael, talvez porque Jenny sempre impedisse. E, claro, Jenny não ia imaginar que Leon pudesse fazer perguntas tão pessoais! Ou será que Jenny achava que já era hora de parar com essa proteção? Afinal, tudo aquilo havia acontecido há dois anos e a dor de Helen deveria ter diminuído. Mas não tinha! Se pelo menos ela pudesse chorar, desabafar, tirar tudo da cabeça! Mas as lágrimas nunca vieram e ela ficara só com a amargura.

Estremeceu quando um casaco de veludo foi colocado em seus ombros. Sentia de novo o aroma gostoso de loção de barba. Mãos carinhosas ajeitaram seus cabelos, que ficaram presos na gola do casaco.

— Não pensei que estivesse mentindo, Helen — Leon disse suavemente, puxando a gola do casaco para abrigá-la do frio da noite. — Achei apenas você muito criança para ter sido casada e já ser viúva.

— Tinha vinte anos quando ele morreu — ela disse, com voz não muito firme.

Leon começou a andar ao lado dela, acertando seus passos aos dela.

— Quanto tempo ficou casada?

No mesmo instante ela parou e disse:

— Vamos fazer de conta que você não veio atrás de mim — Entregou o casaco a ele e pediu: — Deixei meu casaco em seu apartamento, peça a Jenny que o leve quando for para casa.

Helen mais sentiu do que viu que Leon continuava a seu lado. Começou a ficar com raiva. Por que ele não ia embora e a deixava em paz?

Leon pôs o casaco de volta nos ombros dela.

— Vai pegar um resfriado se insistir em ficar com a pouca roupa que está usando.

— Ah, então é isso! Mas este vestido é emprestado, não é nada do que realmente sou, não é meu estilo. Sinto muito que, por causa dele, tenha tido uma impressão errada a meu respeito. Não estou disposta a ter um caso qualquer com você nem com ninguém.

Com força ele a agarrou pelo braço, fazendo-a voltar-se. Levantou seu queixo e Helen foi obrigada a ver a raiva que havia nos olhos dele.

— Não fique tão convencida de que quero ter um caso com você! Mulheres frias não fazem o meu tipo.

Helen ficou pálida como cera.

— Jamais perdoarei você por ter dito isso. Tire as suas mãos de cima de mim — ordenou com voz controlada, sol­tando chispas de ódio.

— Tiro a mão coisa nenhuma! — Puxou-a com tanta força para mais perto que ela teria caído se ele não a se­gurasse. — Pelo menos não antes de quebrar um pouco desse gelo! — E seus lábios se apertaram contra os dela de maneira selvagem.

Helen sentiu o gosto de sangue na boca quando ele ar­ranhou, com os dentes, seu lábio inferior. Estava nauseada com o contato da boca de Leon contra a sua, das mãos apertando seu corpo contra o dele. Virava a cabeça de um

para o outro, tentando escapar daquela boca que a castigava. Mas ele continuava a beijá-la.

Estava à beira de um ataque nervoso quando ele a soltou. Tensa, os olhos grandes aparecendo demais no rosto pálido, ela esfregou as costas da mão na boca, tentando eliminar os últimos vestígios daquele beijo.

— Meu Deus! Você não tem nada de fria; está é morrendo de medo! — ele falou, quase tão pálido como ela.

— Odeio você! — Helen cuspia as palavras. — Odeio você, compreendeu bem? Odeio você! —As lágrimas corriam pelas faces dela. — Como ousou me tocar? Como ousou?

Desesperada, Helen saiu correndo, para fugir dele. O ca­saco que estava em seu ombro caiu no chão e lá ficou. Só pensava em se afastar o mais depressa possível e só parou quando teve certeza de que ele não a seguira. Fez sinal a um táxi e nem se preocupou com a aparência que devia estar, toda desarrumada e com restos de sangue nos lábios.

 

Quando Jenny chegou em casa, uma hora mais tarde, encontrou Helen jogada no sofá. Jenny acendeu a luz e chegou perto da prima.

— Minha nossa, o que foi que ele fez para você?

— Quem? — perguntou Helen, ainda tonta. Jenny acariciou o cabelo dela e disse com raiva:

— Leon Masters.

Helen começou a reagir. Um forte tremor invadiu seu corpo, fazendo seus dentes baterem.

— Como soube?

— Ele me contou. É por isso que estou aqui. Depois de ter sumido da própria festa por quase uma hora, ele voltou e disse que você estava precisando de mim. Não disse por quê, mas pude adivinhar o motivo. O que foi que ele fez, Helen?

— Ele... Ele me beijou! — Ela estremeceu ao pensar no que tinha acontecido, sentindo ainda a pressão daqueles lábios firmes contra os seus. Ninguém mais a havia beijado desde que Michael... e ela estava furiosa por Leon Masters ter ousado isso.

Jenny olhou-a bem e perguntou:

— Foi só isso?

Helen afastou-se, indignada.

— E não é suficiente?

— Mas... bem, Helen foi só um beijo. — Com um sorriso malicioso, acrescentou: — Você já foi beijada antes.

— Não! Não! Não fui. Pelo menos desde Michael. — Helen parecia ter dificuldade em pronunciar o nome de Leon. — Odeio ele!

— Quem? Michael?

— Leon Masters! Ele me beijou e foi horrível!

— Ele conseguiu só confusão. Sua boca está machucada e amanhã seus lábios vão estar inchados e doloridos.

— Já estão doloridos, Jenny.

— Na certa ele não gostou de você ter resistido.

— Foi por isso que fez isso. — Helen apontou a boca machucada. — Ele me beijou porque disse que... disse que eu era fria.

— Ele sabia que você já foi casada?

— Claro que sabia. Mas achou que era dever dele me arrancar dessa frigidez.

— Que homem sem sensibilidade! Contou a ele sobre o acidente, sobre...

— Não! — Helen interrompeu. — Não contei nada. E por que devia contar? Ele não significa nada para mim!

— Mas sei que ele gostaria de saber, Helen. Ele prati­camente me obrigou a apresentá-la.

— Gostaria que você tivesse dito não.

Helen começou a se levantar e Jenny disse rapidamente:

— Fique aqui. Vou limpar o seu rosto e vai se sentir melhor.

— Não ia a lugar nenhum. Estava só procurando ficar mais confortável.

Jenny voltou num instante e, muito delicadamente, lim-pou o rosto da prima. Falou baixinho:

— Ele foi um pouco bruto com você.

Helen gemeu quando Jenny tocou num ponto mais doído.

— Bruto? Ele agiu como um animal.

— Não. Não foi tanto assim.

— Foi, sim — Helen insistiu. — Acho que agiu assim porque, sendo quem é, pensou que eu ia ficar encantada com a atenção que estava me dando. Deve ter achado que eu senti atração por ele.

— E não sentiu?

Helen tocou o lábio machucado.

— Isto não responde à sua pergunta?

— Acho que sim. — Helen levantou-se e foi até o telefone, começando a discar.

— Para quem está ligando? — Para o homem.

— Que homem?

— Leon Masters.

— E para quê?

— Ele me pediu que avisasse se você tinha chegado em casa e se estava bem.

Helen levantou-se para sair da sala.

— Se ele estava tão preocupado a esse respeito, deveria ter vindo para saber. Mas, claro, ele não quis se dar ao trabalho.

— Ele queria vir — Jenny disse. — Trouxe-me até aqui e pediu para entrar, mas achei melhor não.

— Ainda bem que agiu assim. Nunca mais quero vê-lo! E se fosse você desligaria o telefone, porque ele nunca vai ouvir a campainha com todo o barulho daquela festa louca.

— Mas ele... Leon? — Jenny voltou a atenção para o fone. — Sim, sei que estava esperando o meu telefonema. Sim. Não. Sim. Eu... Claro...

— Vou dormir. Por favor, não me acorde quando chegar. Jenny segurou o fone longe do ouvido e tapou o bocal

com a mão. Em seguida, murmurou:

— Ele quer falar com você.

— Diga a ele que não temos nada para falar. — Helen saiu da sala.

Um instante depois Jenny entrou no quarto.

— Ele diz que é importante.

— Não temos nada a nos dizer — Helen respondeu, firme. — Diga que não estou interessada.

— Não posso dizer isso a ele — falou Jenny, escandalizada

— Está bem, diga o que quiser, mas não quero nem saber mais dele. E Jenny, por favor, não diga nada a ele sobre a minha vida particular.

— Não vou fazer isso, principalmente porque não sei de tudo.

— Então, não conte o que sabe.

— Não tinha nenhuma intenção de contar.

— Você pode não querer contar, Jenny, mas estive com ele tempo suficiente para saber que, se ele insistir, acaba conseguindo o que quiser com você.

— Qualquer coisa que quiser?

— Qualquer coisa — Helen respondeu, sentindo-se mais calma pelo modo brincalhão com que Jenny falava.

Mas ficou muito tempo acordada ainda, ouvindo Jenny dormir. Podia se ressentir e odiar a intromissão de Leon Masters em sua vida, poderia até odiá-lo por beijá-la, mas havia uma coisa que precisava reconhecer: em dois anos, desde a morte de Michael, ela não tinha chorado nem uma vez, por coisa alguma. E, no entanto, meia hora depois de conhecer Leon Masters, ela chorou tanto que chegou quase à histeria. Gostasse ou não de pensar nisso, ele tinha sido a primeira pessoa a tirar um tijolo da muralha que Helen havia construído ao seu redor, para esconder as emoções. E ela não gostava.

 

Tem certeza de que não quer vir? — insistiu Jenny. — Vai ser divertido.

— Não estou a fim de um passeio de barco — Helen explicou, o nariz enfiado num ótimo livro de mistério.

Jenny riu.

— Não é exatamente um passeio de barco. Afinal de contas, ir até a França para passar o dia não é só um passeio de barco.

Helen apoiou o queixo nos joelhos; estava de tênis já velhos e uma blusa aberta no pescoço, por causa do calor.

— Para mim, é. Mesmo porque, não quero ir para à Fran­ça; estou muito bem aqui.

— Mas você pode ler esse livro a qualquer hora!

— E também posso ir para a França a qualquer hora! Sabe que trabalho numa agência de turismo e consigo des­conto nas passagens.

— Mas esta viagem não custaria nada.

— Não quero ir — repetiu Helen, firme. — Ainda não esqueci a última vez que você me convenceu a ir a um lugar onde eu não queria! — Ao dizer isso, Helen passou a mão sobre o lábio, ainda machucado, mesmo depois de uma semana. — Todos no escritório acharam que alguém tinha me assaltado.

— Não foi minha culpa se Leon Masters se encantou por você.

Helen concordou com a cabeça,

— Ainda bem que agora parou de telefonar! — disse, lembrando-se que ele tinha telefonado durante cinco dias seguidos. Mas há dois dias Helen não sabia mais dele.

— Ainda bem, por quê? Você já estava começando a amo­lecer. — Jenny caçoou dela.

— Claro que não. — Mas Helen sabia que sua negação não parecia muito real. — Estou contente que ele tenha parado.

— Talvez não tenha e esteja tentando uma maneira di­ferente de se aproximar.

— Fazendo com que a distância me faça sentir falta? — Helen perguntou, desconfiada.

— Alguma coisa no gênero.

— Se foi isso, não deu resultado. — Tem certeza?

— Absoluta.

— E por que você não vem, hoje? — Jenny insistiu mais uma vez. — Tem o tempo exato para se arrumar. Matt vai chegar daqui a uns dez minutos. Não quer mudar de idéia?

— Não, não quero. Tive uma semana dura e só quero deitar aqui e relaxar. — Helen espreguiçou-se e bocejou, cansada.

— Poderia descansar no barco.

— Não, obrigada. Conheço aquela turma. A gente tem que lutar o tempo todo contra aqueles homens que só pen­sam em sexo. Por falar nisso, você tem visto bastante o Matt esta semana, não é?

Jenny ficou corada com a observação e comentou:

— Ele não pensa só em sexo...

— Quer dizer, então, que ele mudou?

— Não, sua boba — disse Jenny, sorrindo, — O que quero dizer é que ele não tem agido assim comigo. Ele até achou ruim que eu tivesse usado aquele vestido na festa de Leon Masters.

— E eu gostaria que você não tivesse me convencido a usar o seu vestido. Leon teve uma impressão errada a meu respeito. Acho que o vestido fica muito bem em você, mas em mim... como tenho muito mais busto que você, parecia provocante demais, um perfeito convite!

— É. Ele se sentiu convidado e atacou com força!

— Com força demais! Ele me assusta. Parece sempre tão... tão convencido, tão arrogante!

— Desde que ele consiga fazer você sentir alguma coisa, já considero isso um progresso.

— Como, um progresso?

— Você está sem emoção nenhuma, apática, desde que

Michael morreu.

— Sei que não tem sido fácil conviver comigo, Jenny. E que depois de Michael, acho difícil viver com qualquer pessoa.

— Sei disso, minha querida — Jenny apertou a mão da prima. — Saiba que não é difícil viver com você, pelo con­trário. O que acontece é que parece que você perdeu a von­tade de viver; se fechou dentro de si mesma e não quer contato com ninguém. Gostaria tanto que você pusesse uma pedra sobre tudo isso e voltasse a ser o que era antes.

— Não se pode voltar para trás, Jenny. 0 que aconteceu, aconteceu, e não se pode mudar. Jamais serei a mesma

pessoa novamente.

— Ainda gostaria que... — A campainha a interrompeu. — Deve ser Matt e ainda não estou pronta. Seja um amor, atenda-o enquanto acabo de pentear o cabelo.

— Está bem.

— E trate de não seduzir o meu namorado...

— Até que não é má idéia.

Helen abriu a porta e convidou Matt para entrar. Foram até a sala. Ele estava muito bem, com calça e camisa bran­cas, parecendo saudável e atraente.

— Ainda não está pronta, Helen?

— Não vou — disse ela, cruzando as pernas ao sentar.

— Não vai? Mas... — Ele se voltou para Jenny, que vinha entrando na sala. — Helen acabou de me dizer que não vai!

— Já sabia — disse Jenny.

Seria imaginação de Helen, ou realmente Jenny e Matt trocaram olhares?

— Minha presença é assim tão importante? Tenho certeza de que preferem ficar sozinhos a ter a companhia de uma terceira pessoa.

— A verdade é que gostaríamos muito que viesse conosco — disse Matt.

— Já disse tudo isso a ela, Matt — falou Jenny, pegando a bolsa. — Ela consegue ser muito teimosa quando quer.

— Mas...

— Ela não quer ir, Matt — Jenny disse, firme. — E nada vai mudar a opinião dela.

Desta vez não era impressão. Havia alguma coisa que eles sabiam e Helen não. Jenny tinha enfatizado muito a palavra "nada". Que haveria por trás disso tudo?, pensou Helen.

— Tem alguma coisa que ainda não me contaram? — Helen perguntou.

— Por que pergunta isso? — quis saber Jenny.

— Pelo seu jeito. Há alguma coisa?

— Bem, na verdade... — Matt começou,                         -

— Não. — Jenny o interrompeu. — Não há nada. Va­mos, Matt?

— Mas...

— Vamos, Matt? — Jenny insistiu. Matt suspirou, concordando. Mas disse:

— Está certo, vamos. Mas ele não vai gostar nada disso.

— Ele? — Helen perguntou, cheia de suspeita. — E quem é ele?

Jenny olhou para Matt com raiva.

— Agora veja o que conseguiu, Matt! Não tinha intenção nenhuma de contar que ele estava por trás do convite.

— Já vi que "ele" é Leon Masters, não é?

— É ele mesmo — disse Matt. E, virando-se para Jenny continuou: — Que adianta mentir, Jenny? Leon quer que você vá, Helen.

— Isso é o que você queria dizer com "uma maneira diferente de se aproximar"? — Helen perguntou zangada à prima.

— Está vendo o que conseguiu fazer, Matt? — Jenny estava furiosa com Matt. — Por que não ficou quieto?

— Ainda bem que ele não ficou quieto, Jenny. Então, hoje eu deveria ir como companhia para Leon Masters! Mi­nha nossa! Esse homem é petulante! Será que não consegue receber um não como resposta?

— Acho que há muitos anos ninguém lhe diz não. É uma experiência nova para ele — disse Jenny.

— Então essa nova experiência vai continuar. A resposta ainda é não.

— Seja razoável, Helen — disse Matt. — Leon não é uma pessoa fácil de se lidar. Pode ser muito ruim, se quiser.

— Sei disso — Helen respondeu, com amargura. — Mas não tenho que dizer sim. Outras mulheres talvez tenham sido obrigadas a fazer o que ele quis; sei muito bem como ele é influente no mundo dos artistas.

— Não vamos exagerar — disse Matt. — Ele nunca pre­cisou usar de chantagem para conseguir mulher nenhuma. Quando disse que ele podia se tornar muito ruim, quis dizer no modo de agir, nas palavras que usa. Que eu saiba, nunca usou a própria influência contra ninguém.

— Com ninguém, a não ser comigo. Ele estava usando vocês para conseguirem me arrastar a esse passeio, hoje. Mas tudo que conseguiu foi aumentar a distancia entre nós. Diga-lhe que o plano falhou, que não gosto dele e não quero sair com ele.

— Mais uma nova experiência. A maioria das mulheres que conheço adorariam ter a oportunidade de estar com ele — disse Matt, achando incrível aquela reação de Helen.

— Então elas que fiquem com a oportunidade — con­cluiu Helen.

— Vamos embora, Matt — Jenny passou o braço no de Matt —, vamos antes que você estrague mais a situação. Já se intrometeu bastante por um dia.

— Como podia saber que você não tinha contado a Helen que o convite partiu de Leon?

— Devia ter usado um pouco de intuição.

— Por favor, não discutam mais sobre isso. Não vale a pena — falou Helen.

Jenny se inclinou e beijou o rosto da prima.

— Desculpe, querida. Fiz apenas o que achei que seria melhor para você.

— Tentando me envolver com Leon Masters?

— Com qualquer homem, não importa qual.

— Obrigada! — E Helen parecia mesmo aborrecida. Jenny suspirou.

— Sabe o que eu quis dizer. Estava apenas tentando ajudar. — Posso muito bem passar sem essa espécie de ajuda — disse Helen, ainda aborrecida.

— Está bem. Sei quando perdi a luta. Tenha um dia gostoso.

— Você também. E não se preocupem em voltar logo por minha causa. Fico muito bem sozinha.

— Não tinha mesmo intenção de voltar logo — disse Matt.

— Não seja um mau perdedor — disse Jenny, caçoando de Matt.

— E que vou dizer a Leon? Ele vai ficar furioso! — quei- xou-se Matt.

— Vamos pensar em alguma coisa para dizer — co­mentou Jenny.

— Digam a verdade: que não estou interessada. Helen voltou a ler o livro, fingindo um interesse que na

verdade não sentia, até que os dois saíssem. Aí, recostou-se no sofá e ficou pensando. Leon Masters tinha sido muito petulante ao usar sua própria prima para obrigá-la a estar com ele. Tinha certeza de que a idéia de conservar a pre­sença dele em segredo tinha partido dele mesmo.

Ainda bem que ela havia resistido ã insistência de Jenny. Não queria tornar a encontrar Leon Masters, de jeito ne­nhum. Ele era uma tentação e ela tinha medo de que sua decisão não fosse tão firme como parecia.

O livro, que até então parecera bom, não prendia mais a sua atenção; seus pensamentos vagavam, relembrando coisas que só lhe traziam dor e sofrimento. Por que era sempre Leon Masters que a fazia voltar a pensar em tudo que queria es­quecer? Por que ele conseguia fazê-la ficar ao mesmo tempo zangada e à vontade? O que é que ele tinha que conseguia...

Seus pensamentos foram interrompidos pela campainha da porta que tocava insistentemente. Levantou-se e foi aten­der. Não estava esperando ninguém. Só se fosse alguém procurando por Jenny.

Ficou de boca aberta ao ver quem estava de pé, na porta.

Era Leon Masters, muito atraente em sua roupa esporte, um raio de sol iluminando seus cabelos castanho-claros.

— O que quer? — ela perguntou, áspera.

— Quero entrar.

— Por quê?

— Porque não quero ficar falando com você aqui de pé — ele falou com delicadeza, não se impressionando com o tom dela.

Mesmo assim ela não o convidou para entrar.

— O que está fazendo aqui?

Leon não esperou mais que ela o convidasse. Passou por ela e entrou na sala.

— Lugar gostoso — disse e sentou-se.

— Gostamos muito daqui. — Olhando bem para ele, Helen observou friamente: — Não me lembro de ter lhe dito para entrar.

Ele sorriu e recostou-se melhor no sofá, esticando bem as pernas para a frente.

— Se esperasse pelo seu convite, ainda estaria de pé na porta. Sente-se, Helen, e sossegue.

— Sossegar? Com você? Não posso estar sossegada perto de alguém em quem não confio.

Ele suspirou e com voz paciente disse:

— Sei que sofreu muito, mas...

— Que quer dizer com isso?

— Sei que perdeu o seu marido muito jovem. Mas não pode deixar que isso estrague o resto de sua vida.

Helen deu um sorriso amargo.

— Você não sabe de nada, portanto não me venha com conselhos.

— Você é jovem demais para ser enterrada junto com o seu marido. Precisa continuar a viver e não se afogar em memórias do passado.

— Cuide de sua própria vida! — Os olhos de Helen soltavam fagulhas de ódio. — Ninguém convidou você para vir aqui, e nem pediu seu conselho; portanto, por que não vai embora?

— Não — ele respondeu com calma. — Por que não foi para o passeio de barco, com Jenny e Matt?

400

401Amor Proibido

— Eles não lhe disseram?

— Disseram uma porção de coisas: que você estava cansada e queria passar o dia descansando, que enjoava no mar e muitas outras desculpas. Mas o motivo real estava muito clara

— Já tinha dito a Matt que não iria, antes mesmo de saber que você estaria lá — disse Helen, defendendo-se.

— Sei disso. Não sou tão ruim assim. Não vou fazer nada contra Matt porque ele deixou escapar que eu também es-, taria presente.

— Não me incomodo a mínima com o que você vai fazer. — Ela cruzou as pernas e sentou-se o mais longe possível de Leon.

— Achei mesmo que não ia ligar. — Inclinou-se para a frente. — Sabe, você parece uma garotinha sentada assim sobre as pernas cruzadas.

— Mas pode ficar certo de que não sou uma garotinha!

— Graças a Deus. — Ele sorriu. — Mesmo com vinte e dois anos, você parece um pouco jovem demais para mim; mais jovem do que isso não daria nem para pensar.

— Pensar no quê?

— Em seduzir você.

Helen levantou-se no mesmo instante e ficou por trás da cadeira, como se esta pudesse protegê-la.

— É melhor ir embora — ela falou, bem seca. Ele nem se mexeu.

— Já disse que não, Helen. Vou conseguir você, por isso é melhor se render sem lutar.

— Luto com você ou com quem tente chegar perto de mim.

— Amava tanto assim seu marido?

De repente ela se sentiu calma de novo, o rosto sem nenhuma expressão.

— Meus sentimentos por meu marido só interessam a mim mesma.

— Essa sua máscara cai de vez em quando, não é, Helen? De vez em quando minha Helen muito fria se torna uma mulher ardente, tão ardente como já deve ter sido anterior­mente, não é, Helen? Alguém mais a faz ficar assim em fogo? — ele continuou, ousado. — Algum outro homem a faz ficar tão ardente como eu consigo fazer?

402

Amor Proibido

Ela não o olhou e continuou se afastando.

— Está se elogiando demais, sr. Masters.

— Por que não gosta que toquem em você, Helen?

— Nossa, como odeio você! — Olhou bem firme para ele. — Quem lhe deu o direito de vir aqui para me fazer per­guntas tão pessoais? Quem você pensa que é que pode...

— Vou ser seu amante, Helen — ele a interrompeu com voz suave.

— Você o quê?

— Seu amante. E isso o que vou ser.

— Mas... mas não quero um amante. — Ela estava pálida como cera. — Por favor, pare com isso. Pare com isso. — Intimamente ela se detestava por demonstrar fraqueza. — Deixe-me em paz. Oh! Leon, por favor, deixe-me em paz. — Suas últimas palavras saíram quase como um soluço.

Ele se levantou e ficou na frente dela.

— Não posso, minha Helen tão fria. Você conseguiu me agarrar. Se é tempo o que quer, posso lhe dar; mas você tem que me deixar vê-la, estar com você, falar com você.

Ela o encarou, mostrando nos olhos todo o medo que sentia.

— Mas por que eu? Por que tem que ser eu? Há milhares de mulheres que...

A mão dele acariciando sua face interrompeu o que ela dizia; ela se afastou novamente.

— Tem que ser você. Nem eu mesmo sei explicar por quê, por isso não me pergunte. Já tentei estar com outras mulheres, mas não consigo tirar você da cabeça.

— Mas... nem ao menos gosto de você — ela falou, desesperada.

— Atualmente você não gosta de homem nenhum. Suas emoções estão mortas. Gostaria de estar próximo de você quando decidir começar a viver de novo. Acha que isso é pedir demais?

— Nunca mais quero me envolver com homem algum.

— Mas precisa se envolver. Precisa deixar que algum tipo de relação aconteça com você.

— Mas não... não quero nenhuma relação. — Ela o olhava, pedindo com os olhos que a compreendesse — Você não entende? Não quero isso.

— Está bem; esqueça isso agora. Apenas saia comigo hoje.

— Achei que tinha dito para eu esquecer tudo.

— Sair para passar o dia fora não é relação nenhuma. Mandei meu cozinheiro preparar uma cesta de piquenique quando soube que não ia ao passeio de barco conosco.

— Seu cozinheiro?

— Do meu barco.

— Quer dizer que de novo deixou os seus convidados? — Ela estava espantada.

— Parece que deixar meus convidados se tornou um há­bito para mim — ele sorriu, os dentes muito brancos fazendo contraste com a pele queimada.

Helen deu um sorriso tímido e, ao ver que ele assobiava, perguntou:

— Que aconteceu?

— E a primeira vez que sorri para mim. Ela corou.

— Na última vez em que estivemos juntos você não foi lá muito agradável comigo.

— Não fui mesmo. Você é completamente diferente das mulheres que já conheci e não sei muito bem como lidar com você. Não estou acostumado com mulheres que não...

— Caem por você no mesmo instante — ela completou.

— Não ia dizer isso. Você não caiu por mim, Helen? Responda com sinceridade.

— Você é muito atraente, seguro de si, muito...

— Você se sente atraída por mim?

Ela mordeu os lábios, sabendo que ia despertar raiva nele. — Não — admitiu baixinho, incapaz de olhá-lo.

— Você tem que se esforçar para ser cruel com as pessoas ou isso é uma atitude natural? — ele perguntou com voz tensa.

— Desculpe, mas achei que devia ser sincera.

— Como eu fui com você?

— Você foi sincero quando disse que me desejava: estou sendo sincera também quando digo que comigo não é assim. Sinto muito se isso não é o que queria ouvir.

— Diabos, Helen! Você não sente coisa nenhuma. Mas está adorando isso tudo. Está adorando ver como pode judiar de mim. Bem, não estou sentido. Estou é com uma raiva dos diabos! Vim aqui...

— Porque quer ter um caso comigo — ela terminou por ele — Mas não há nada que eu possa fazer, se não quero você. Não pode me forçar a sentir alguma coisa.

— O problema com você é que não tem sentimento de espécie alguma.

Helen deu as costas para ele.

— Ainda bem que não tenho. Eu... — Ela parou de falar quando ele a virou, decidido. — Não me beije. Por favor, não me beije — gritou, angustiada.

Ele afastou-a com brutalidade.

— Não quero beijar você. Quero é sacudi-la tanto, até que fique toda tremendo mas não quero beijá-la. Você devia era ter morrido junto com o seu marido, porque não existe mais um pingo de sentimento em você! — ele disse cruelmente.

— Queria mesmo ter morrido! Meu Deus, como queria ter morrido!

Ela ouviu a porta bater quando ele saiu. Depois atirou-se no sofá, chorando a soluçando. Embora afirmasse categori­camente que não tinha sentimento algum, Leon Masters a estava fazendo viver novamente. Ele a arrancava aos poucos da concha e isso era muito mais doloroso do que o inferno em que vivera nos últimos dois anos,

 

— Mais café? — Jenny perguntou.

Era segunda-feira de manhã e as duas se preparavam para ir trabalhar. Helen não tinha conseguido tomar nada do café.

— Não, obrigada. Preciso ir já embora. Não quero chegar tarde no serviço.

— Uma vez só não vai fazer diferença. Acho que outra xícara de café lhe faria bem.

Helen concordou com a cabeça, mas disse:

— Acho que eu preciso de um bule inteiro de café, mas tenho que terminar de me arrumar.

— Não sabia que Leon vinha para cá — Jenny disse depressa. — Pelo menos até que partimos e notei que ele não estava a bordo.

Helen parecia muito interessada em pentear o cabelo.   :

— Foi tudo bem, Jenny. Ele não demorou muito.

— Demorou o suficiente para deixá-la transtornada de novo; e logo quando estava começando a se recuperar. Quan­do cheguei, você parecia um fantasma!

— Estava bem — Helen mentiu. — Mas não acho que Leon Masters vai me amolar de novo. Todo homem gosta de conquistar, mas comigo está sendo uma batalha e ele não vai querer perder mais tempo.

— Talvez ele não seja a pessoa certa para você — disse Jenny, pensativa. — Mas que você está precisando de al­guém em sua vida, isto é verdade. Precisa de alguém que se preocupe com você, Helen.

— Por quê?

— Porque... bem, porque todo mundo precisa de amor.

— Eu não preciso. Pelo menos não dessa espécie de amor. E o que Leon quer de mim não é amor. Ele apenas me deseja, entendeu, Jenny? É só desejo.

— Já é um começo.

— Não para mim.

— Talvez tenha razão.

— Não vai trabalhar hoje? — perguntou Helen vendo a prima ainda de camisola.

— Brent me deu o dia de folga por ter sido uma boa menina. — Vendo a expressão no rosto de Helen, completou: — Não é nada do que está pensando. Já lhe disse que não há nada entre Brent e eu. Como trabalhei até mais tarde na sexta-feira, tive folga hoje, Além disso, ele vai estar fora o dia todo.

— Bem, já vou indo. Jen, sobre Brent: se algum dia quiser conversar sobre ele, sabe que pode contar comigo.

— Sei que posso contar com você, Helen. Está atrasada, é melhor ir, senão vai perder o emprego.

Helen saiu correndo, pegou o metro, e mesmo assim chegou quinze minutos atrasada. Embora pedisse desculpas ao chefe, ele parecia um pouco aborrecido.

Começou a trabalhar, mas seus pensamentos escapavam, voltando para o último fim de semana. Depois que Leon Masters foi embora ela se sentiu péssima, mas pensou muito sobre o que ele disse. De certo modo estava orgulhosa de si mesma. Afinal, Leon Masters era um homem importante, uma celebridade... e estava atraído por ela.

— Está colocando essa carta no fichário errado, sra. West. — O chefe estava a seu lado. — Está se sentindo bem?

— Realmente me confundi, senhor; mas estou perfeita­mente bem, obrigada,

— Então concentre-se, sra. West, para evitar problemas.

— Sim, sr. Walters — disse Helen e sorriu para Sally, que lhe piscava do outro lado da sala.

O sr. Walters era o único homem trabalhando naquela sala, onde havia seis moças. Talvez por isso fosse exibido e mandão; ou talvez realmente precisasse agir daquela ma­neira para controlar tantas moças juntas na mesma sala.

Sally aproximou-se de Helen com a desculpa de arquivar algumas cartas.

— Teve um bom fim de semana, Helen?

— Não foi ruim.

— Eu me diverti muito — disse Sally. — Steve me levou para conhecer a mãe dele. Ela me pareceu um pouco pos­sessiva, mas logo dou um jeito nisso.

— Não tenha muita certeza disso, Sally. Mães possessivas raramente mudam — Helen dizia isso por experiência própria. Sabia que a mãe de Michael nunca vira defeito algum no filho.

— Nem pretendo mudá-la. Steve e eu é que vamos mudar para a Austrália. A maior parte de minha família mora lá, agora que perdi meus pais.

— E como Steve se sente a respeito da mudança?

— Ainda não sabe de nada, mas tenho certeza de que vai concordar. Minha irmã vai arranjar um bom emprego para ele, na firma que meu cunhado tem.

— Já resolveu tudo, não é, Sally?

— Assim evito discussões.

— Que você tenha sorte! — Helen respondeu, achando que as coisas não iam ser tão fáceis como Sally supunha.

— Sra. West — Helen se virou e viu o chefe a sua frente —já chegou tarde hoje e perdeu a maior parte do tempo con­versando. Seria demais pedir-lhe que se dedique ao trabalho?

— Desculpe, sr. Walters.

Daí para a frente Helen se concentrou no trabalho, pro­curando não pensar em mais nada.

De repente começou a ouvir conversas abafadas a seu lado. Pelo jeito como falavam, alguém muito importante devia estar na agência. Ouviu então Katy dizer:

— Tenho certeza de que é ele. Vi um de seus filmes na semana passada e o reconheceria em qualquer lugar.

Oihou para o escritório a sua frente, para ver de quem estavam falando. Assim que reconheceu a figura de Leon Masters, sentiu que o sangue fugia de sua cabeça. Ele estava tremendamente atraente com uma jaqueta de couro sobre calça e camisa bege.

Ficou ainda mais pálida quando notou que ele estava olhando para ela. O que estaria fazendo ali? Não podia ser coincidência. Mas como ele havia descoberto onde ela tra­balhava? O que ele queria? Começou a entrar em pânico. Estava certa de que ele a deixaria em paz depois da última cena que tiveram. Agora ele falava com o sr. Walters. O que ele poderia querer ali?

Levou um susto quando Katy chegou perto dela e perguntou:

— Helen, aquele não é Leon Masters?

Helen engoliu em seco e ia responder quando o sr. Walters a chamou.

— Sra. West, este senhor quer falar-lhe.

Pela expressão do sr. Walters, Helen sabia que ele não tinha reconhecido Leon Masters. Se tivesse, teria agido de modo diferente.

Helen levantou-se, sentindo que as outras moças olhavam espantadas para ela.

— O que quer? — disse a Leon num sussurro. — Não devemos receber visitas aqui.

— Vim levá-la para almoçar — Leon respondeu sem se perturbar.

— Mas, eu...

— Não diga que já almoçou, porque sei que não é verdade, perguntei a seu chefe. Além disso, Jenny me disse que você nunca sai para almoçar antes de uma hora. — Olhou para o relógio de ouro que tinha no pulso. — É quase uma hora. Vamos?

— Jenny lhe disse onde eu trabalhava?

— Fui até o seu apartamento; esqueci que estaria tra­balhando. Jenny me mandou aqui. Não fique zangada com ela porque lhe disse que queria ver você para me desculpar.

— Poderia ter se desculpado pelo telefone.

— Achei que seria melhor junto com o almoço. Pegue seu casaco e vamos.

— Não vou a lugar nenhum. Eu...

— É melhor vir, Helen. Não quer fazer uma cena aqui, não é?

— Não vou fazer cena nenhuma.

— Mas eu vou, Helen.

— Fazer uma cena aqui, comigo? Uma pobre moça de escritório?

— Uma moça linda, mas muito teimosa. A diferença é que não ligo para publicidade. E você?

Helen sabia quando estava vencida. Pegou o casaco e, sem olhar para ninguém, saiu com ele.

— Por que tinha que fazer tudo isso? Quando voltar do almoço, as meninas vão ter mil perguntas para me fazer!

— Deixe para se preocupar com isso depois. — Leon se­gurou-a pelo braço e levou-a até o carro. Era um lindo Pors­che cor de ouro, parado em lugar proibido.

— Onde vai me levar?

Ele abriu a porta do carro para que ela entrasse.

— Já disse. Vamos almoçar. Entre, Helen, porque estou vendo um policial muito bravo vindo para cá.

— Tenho certeza de que, com o seu charme, você vai dar um jeito — disse ela com sarcasmo.

— Talvez. — Depois de fechar a porta do lado deia, Leon deu a volta no carro e se acomodou também. Manobrou rápido e entrou no tráfego. — Mas não pretendo perder tempo com o guarda.

— Que quis dizer quando falou em publicidade, no escritório?

— Apenas que não ligo que saibam que me sinto atraído por uma jovem encantadora.

Helen suspirou e tornou a explicar: — Não me referia a você. O que quis dizer quando per-guntou se eu aguentaria a publicidade?

— Achei que não gostaria que eu lhe causasse problemas em seu local de trabalho.

— Foi só isso?

Estavam se dirigindo para fora da cidade e, por um ins­tante, Leon virou-se para olhá-la.

— O que mais eu poderia querer dizer?

— Não sei. Você é que deve me dizer.

— Não faço idéia de outra coisa — ele confirmou, balan­çando a cabeça.

— Você realmente não sabe? — ela perguntou ansiosa.

— Sabe o quê, Helen? Não estou entendendo! Você tem algum segredo em seu passado? — Um sorriso iluminava o rosto dele.

— Não brinque sobre isso, Leon.

— Então você tem um segredo?

— Há alguns anos não era segredo nenhum. E não aguen­to, se começar tudo outra vez.

— Helen, não estou entendendo nada... É melhor me con­tar logo.

Helen torcia as mãos, nervosa, com medo de falar.

— Meu... meu marido foi Michael West. — Olhou para ele, esperando ver aborrecimento em seu rosto.

— E daí? O que tem... Michael West?

— Ele mesmo. — E abaixou a cabeça.

— Aquele dos Hotéis West?

— Esse mesmo.

— Foi casada com Michael West? — Ele parecia não acreditar no que estava ouvindo.

— Fui.

— Então você deve ser...

— Sou a moça que casou com ele, viveu com ele dois dias apenas e depois deu o fora. Fui chamada de caça-dotes pela imprensa durante semanas, depois que tudo aconteceu.

 

Não pode ser! — exclamou Leon, olhando de novo para ela.

— Mas sou. — Havia um sorriso amargo nos lábios dela.

— Você, então, é a garota que ficou com ele apenas até o casamento ser consumado? A garota que todos disseram que tinha casado apenas para conseguir o acordo do divórcio?

Os lábios de Helen não paravam de tremer.

— Isso mesmo.

— Não acredito! Está apenas inventando tudo isso. Que

está procurando fazer? Causar sensação?

— Estou dizendo a verdade, Leon!

— Não! Aquela moça não pode ser você! Você não é

nada assim.

Ela lhe deu um sorriso.

— Você é a segunda pessoa que acha que eu não seria capaz de fazer isso. Fico agradecida por isso.

— A segunda pessoa?

— Jenny também sempre acreditou em mim.

— Então, realmente foi casada com Mike West?

— Fui, sim.

— Meu Deus!

— Agora entende por que não quero que me vejam com você? O que você faz e o que diz é sempre notícia. Se a imprensa nos visse juntos não sossegaria enquanto não sou­besse tudo a meu respeito. Então o caso com Michael ficaria em evidência de novo e eu não iria aguentar tudo outra vez. E também não faria bem nenhum para você.

— Se é a viúva de Mike, por que trabalha?

— Não esqueça que Mike morreu num acidente de automóvel quatro meses depois do casamento. Não houve tempo para o divórcio nem para ficar com todo aquele dinheiro que a imprensa diz que reclamei. Pelo testamento dele, todo o dinheiro ficou para seus pais. Recebi apenas uma pequena quantia; é o sufi­ciente para viver sem trabalhar, mas não é uma fortuna.

— Ainda não posso acreditar em tudo isso!

— Não pode acreditar que eu tenha sido casada com Mike ou que tenha feito tudo o que disseram que fiz?

— Em nada disso. Encontrei Michael West algumas ve­zes; ele era uma criança mimada e tinha todos os vícios. — Continuou com desprezo na voz: — Você não poderia ter se casado com alguém como ele!

— Mas casei! E paguei por isso um milhão de vezes. — Notou que estavam voltando à cidade. — Onde vamos agora?

— Para meu apartamento — ele disse, firme. — Preci­samos conversar sobre isso e vamos fazê-lo em particular.

Helen olhou para o relógio e disse:

— Não posso. Tenho que voltar para a agência. Minha hora de almoço está terminando.

— Diga que ficou doente.

— O sr. Walters saberia que é mentira.

— Então, perca o emprego. Acabou de me dizer que tem o suficiente para viver sem trabalhar.

Ela respondeu, muito séria:

— Tenho o dinheiro, mas gosto de trabalhar e de estar com outras pessoas. Compreendo que o que acabei de contar foi um choque para você, mas não gostaria de vê-lo envolvido no meu passado escandaloso. Tentei evitar isso, mas você não aceitou a sugestão. O melhor agora é me deixar na meu trabalho e esquecer que um dia nos conhecemos e que tivemos esta conversa.

— Vamos esquecer coisa nenhuma! — As mãos dele aper­tavam o volante com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos. — Vamos conversar sobre isso, exatamente como eu disse.

— Não. — Ela recusou, firme. — Não posso falar sobre jsso com ninguém. E você não deve se envolver comigo.

— Eu mesmo decido sobre isso, depois de conversarmos. Helen engoliu em seco e falou:

— Tem muita força em suas decisões, Leon, mas nada pode mudar o meu passado.

— Decidirei sobre o seu passado depois que souber mais a respeito dele. E se não vai falar sobre isso agora, falaremos hoje à noite, no jantar.

— Já lhe disse. Não é bom que o vejam comigo, Leon.

— Se a faz mais feliz não ser vista comigo, jantaremos em meu apartamento — Leon disse, determinado a fazer como queria.

Não era nada disso que Helen queria e começou a tremer.

— Não se preocupe, minha querida e fria Helen. Meu empregado estará lá para nos fazer companhia.

— Conversar sobre o assunto não vai adiantar nada — Helen tentou explicar.

— Talvez assim eu possa compreender melhor.

— A mãe de Michael me chamou de caça-dotes, é isso o que quer tentar compreender?

— Gostaria de saber mais detalhes sobre o assunto. Só isso. Você vem, hoje à noite, Helen?

— Posso conversar sobre o caso, mas prometa que depois não vai mais pensar sobre tudo isso, vai tentar esquecer que me conheceu. Está bem?

— Não vou prometer nada. Vamos apenas conversar.

— Muito bem, Leon. Vou jantar com você e então fala­remos sobre o caso todo.

Naquele momento chegaram à agência de turismo e Helen se despediu.

— Até mais tarde, Leon.

— Passo às oito horas para pegá-la.

— Estarei pronta.

Helen desceu do carro e entrou na agência. Como havia imaginado, as meninas estavam todas alvoroçadas para sa­ber se ela tinha mesmo saído com Leon Masters. Helen negou, não querendo que ninguém soubesse da verdade. Sabia como as notícias corriam velozes, ainda mais quando estavam relacionadas com pessoas importantes como Leon Masters

— Realmente parecia ser ele — disse Katy, não muito convencida do contrário.

— Acho que não era — disse Sue. — Leon Masters parece ser mais moço.

— Não vem ao caso se é parecido ou não; o fato é que você nunca nos contou que tinha um namorado tão bonito! — Com essa frase, Sally pôs um fim à discussão. — Há muito tempo são namorados, Helen?

— Não. Na verdade só saímos duas ou três vezes. Mas vou vê-lo de novo, hoje à noite.

— Você é uma moça de sorte! — comentou Sally. Mas Helen não achava que tinha tanta sorte assim; na ver­dade, já estava quase arrependida de ter concordado em ir.

Terminado o dia de trabalho, Helen foi para casa e encontrou Jenny, que ficou surpresa ao saber que ela ia jantar com Leon.

— O pior de tudo — disse Helen — é que ele quer que eu conte todo o caso de Michael e não sei se vou conseguir falar a respeito.

— Você ainda não se sente à vontade para conversar sobre seu casamento, Helen? Afinal, já faz tanto tempo!

— Acho que nunca vou me sentir bem.

A pessoa que mais sabia sobre o casamento frustrado de Helen era Jenny. Mas mesmo ela não sabia de tudo. Nunca Helen se abrira tanto, a ponto de contar todos os detalhes.

— Pretende contar tudo a Leon? — Jenny perguntou.

— Nunca consigo me controlar quando estou com ele e acabo falando até o que não quero. Mas não consigo falar com ninguém a respeito de Michael.

— Já falou bastante com ele e isso é um grande passo Talvez agora consiga pôr tudo para fora.

— O problema é que Leon é muito conhecido e pertence ao mundo do teatro e do cinema. Está muito em evidência e eu não aguentaria ter repórteres de novo atrás de mim.

— Vale a pena qualquer sacrifício só para estar com ele, Helen. — Jenny parecia muito sincera ao dizer isso.

— Não sei, não. Ele é muito dominador.

— Talvez por isso mesmo ele seja o homem que você

precisa.

— Não preciso de homem nenhum. Principalmente dele. Jenny, ele parece ser o mesmo tipo de homem que Michael era!

— Você deve estar brincando, Helen! São completamente diferentes. Leon é um homem maduro, que sabe o que quer. Michael era um meninão mimado que a toda hora procurava socorro com a mãe.

— Engraçado, Leon falou quase a mesma coisa que você

a respeito de Michael.

— Por quê? Leon o conheceu? — Jenny estava surpresa.

— Esteve algumas vezes com ele. — Helen fez uma pausa, suspirou e continuou: — Fiquei tão cega pelo charme de Michael que acabei arruinando a minha vida.

— Isso não significa que não possa refazê-la com alguém que a faça feliz.

— Alguém como Leon? — Por que não?

— Porque tenho certeza de que Leon não é a pessoa certa. Aliás, Jenny, por favor, quando ele chegar diga que mudei de idéia e que não vou mais jantar com ele.

— E acha que ele vai aceitar essa decisão?

— Então... então diga qualquer coisa; que fiquei doente, Que saí, o que quiser, mas por favor dê um jeito de ele ir embora. — Helen parecia desesperada.

— Acho que não vai adiantar nada. Mesmo que eu dis-sesse que você tinha mudado de país, ele era bem capaz de ir correndo atrás.

— Jenny por favor dê um jeito; acho que vou me trancar

no quarto. — Vou fazer o possível, mas não me culpe se ele arrombar

a porta do quarto.

   Helen ficou assustada ao pensar em tal possibilidade. Mas ele não chegaria a tal extremo! Quando Leon queria uma coisa geralmente a conseguia. Mas daí até arrombar uma porta... era bem diferente!

Pouco antes das oito horas Helen subiu e trancou-se no quarto; às oito em ponto ouviu a campainha e em seguida o som de conversa. De repente, tudo ficou em silêncio de novo. Leon devia ter ido embora.

— Helen?

Levou um susto ao ouvir a voz dele do outro lado da porta. Notou que ele forçava o trinco, para ver se abria.

— Helen, sei que está aí. Saia, para podermos conversar. Ela ficou quieta, achando que, se não respondesse, pro­vavelmente ele iria embora.

— Helen, se não abrir vou arrombar a porta — ele disse,

em tom ameaçador.

Helen ficou tão assustada que não sabia o que fazer.

— Abra, Helen, ou não tem coragem de me enfrentar? Resolveu mostrar que tinha coragem de sobra. Devagarinho

abriu a porta e olhou firme para ele. Como Leon estava atraen­te, de camisa branca, calça preta e um lindo casaco branco também! Era difícil resistir a um homem tão atraente! Calmamente ela saiu e se dirigiu para a sala; Leon seguiu-a.

— Jenny, gostaria de falar com Helen a sós; você nos dá licença? — Leon perguntou, muito delicado.

— Claro, e veja se consegue pôr um pouco de juízo na cabeça de minha prima. Ela é muito teimosa.

Helen sentou no sofá e Leon veio para o lado dela.

— Agora me diga o que aconteceu e por que resolveu mudar de idéia sobre o nosso jantar.

Ela ia começar a falar quando, pensando melhor, achou que, se abrisse a boca, Leon acabaria por vencê-la, com todos os argumentos que tinha. Era difícil ganhar dele numa discussão.

— Parece que resolveu não abrir a boca. Será que vai ser preciso que eu fale o tempo todo? — Ele tirou um de seus charutos, acendeu-o e, depois da primeira baforada, continuou: — Por que mudou de idéia? Não foi falta de consideração me fazer vir até aqui para só então desistir de sair?

— Tenho o direito de mudar de idéia, não tenho?

— Mas podia ter me telefonado, avisando; assim, não precisaria ter vindo até aqui.

— Desculpe, mas isso nem me passou pela cabeça.

— Sabe que eu já preparei o jantar para nós?

— Verdade? Sinto muito, Leon.

— Isso faz você mudar sua decisão? Se não vier comigo, vou ficar muito mal com Max.

— Max? Quem é Max?

— O meu empregado; ele cozinha que é uma maravilha!

Como é, vamos?

— Não estou com muita fome.

— Então vou ligar a Max para dizer que não vamos.

— Você está me fazendo sentir culpada!

— E é para se sentir, mesmo. Max é um ótimo cozinheiro e não vai entender que alguém não queira comer o que ele

preparou.

— Estou me sentindo ainda pior!

— A única maneira de acabar com esse sentimento de culpa é ir comigo até a minha casa, ser apresentada ao Max e depois jantarmos tudo de delicioso que ele preparou.

Que tal? Vamos?

Helen ainda titubeou, mas Leon segurou-a pelas mãos e

a fez levantar.

— Vá mudar de roupa e vamos indo!

— Está bem; estarei pronta em dez minutos.

Helen foi para o quarto. Jenny estava lá, lendo uma revista.

— Vi que estava rindo lá na sala. Isso é bom. Como é,

vai sair com ele?

Tirando um vestido de seda vermelha de dentro do ar­mário, Helen respondeu:

— Vou; ele me disse que o empregado já tinha tudo pre­parado para o jantar. Achei melhor ir. — Colocou o vestido que lhe caía muito bem e, chegando perto do espelho, retocou

a maquilagem,

— Sabia que Leon ia convencê-la, Helen. Ele tem muita determinação e sempre consegue o que quer. Fico contente porque você está indo.

— Jenny, o que devo dizer sobre Michael?

— Conte toda a verdade.

— Não posso fazer isso. Se começar a falar sobre ele vou sofrer tudo de novo.

— Talvez contando tudo você consiga se livrar do pesadelo e não sofrer mais por causa dele. E acho que Leon é a pessoa certa para você contar, tudo.

— E se ele me odiar depois que souber de tudo?

— Faz muita diferença para você se ele a odiar? — Jenny perguntou com um sorriso malicioso.

— Acho... acho que sim. — Ela mesma ficou surpresa ao reconhecer que a opinião dele era importante.

Jenny abraçou-a com carinho e disse:

— Tenho certeza de que ele não vai odiá-la.

— Deus a ouça, Jenny. Tenho que ir; acho que ele já deve estar impaciente. Até mais, Jenny.

Helen entrou na sala e sentiu aprovação nos olhos de Leon. Ficou feliz com isso, sentiu-se ainda mais feminina. Era bom ser admirada!

Em quinze minutos chegaram ao apartamento dele. Leon ajudou-a a descer do carro e levou-a até o elevador. Subiram e, ao abrir a porta do apartamento, ele comentou:

— Não permita que Max a deixe nervosa; às vezes ele faz isso até comigo!

— Está brincando comigo, não é? — Helen sorriu, os dentes muito brancos e bonitos iluminando seu rosto.

— Cada dia acho você mais bonita! — Ele se aproximou bastante dela.

Ela se afastou imediatamente, dizendo:

— Por favor, não faça assim.

— Não sei o que aquele bastardo fez com você, mas acho que atrapalhou demais.

— Não quero falar sobre isso, Leon. Por favor.

— Não vamos falar nisso por enquanto. Nesse instante uma voz os interrompeu.

— Sr. Masters, o jantar já está pronto para ser servido.

— Obrigado, Max. Esta é a sra. West, Max.

Max era magro, alto, cabelos grisalhos muito bem penteados.

— Muito prazer, srta. West.

— Eu disse sra. West — corrigiu o patrão.

— Sra. West — falou Max com um tom de desaprovação na voz.

— Helen West é viúva — completou Leon.

Max cumprimentou-a de novo e depois se encaminhou para dentro, em direção à cozinha.

— Acho que ele não acreditou que eu seja viúva.

— Com toda a razão. Você não parece nem ter idade para ser casada, que dirá viúva! Vamos tomar um aperitivo. Que prefere? Um martíni?

Ele serviu Helen e preparou um uísque para si próprio. Sentaram-se no sofá.

— Seu apartamento é maravilhoso! Você mesmo escolheu

a decoração?

— Pelo jeito vamos adiar a conversa para depois do jantar, não é? — Leon era muito inteligente e decidido. Ela sabia que ia ser difícil evitar a conversa.

— O jantar está servido, senhor. — Mais uma vez Max viera interrompê-los no momento certo, pensou Helen.

Levantaram-se e foram para a sala de jantar. Comeram com prazer, porque realmente tudo estava delicioso. Depois, voltaram à sala para tomar o café.

—Vamos falar agora sobre Michael West? — propôs Leon.

— Eu... eu ainda nem comentei como gostei do jantar e...

— Você não vai me contar tudo?

— Não posso. Realmente não posso. Não suportaria que você achasse que estou sendo exagerada.

— Não vou achar nada, Helen. Só quero que me conte para tirar isso da cabeça de uma vez.

— É que você frequenta o mesmo meio de Michael, e o que para vocês pode parecer insignificante, para mim pode representar muita coisa.

— Talvez eu não fique chocado com o que vai me dizer. Sei que o que seu marido fez não deve ter sido pouco, senão você não o deixaria depois de dois dias de casada. Sei que não desiste facilmente das coisas, portanto deve ter sido algo muito forte para deixá-la assim.

— Nem sabe como agradeço pela confiança que tem em mim. Mas muita gente pensou diferente, na ocasião, achando que Michael era bom demais para fazer alguma coisa errada. — Aos poucos Helen ia se sentindo mais descontraída.

— Nunca convivi com ele — disse Leon —, mas estive em algumas de suas festas, que me pareceram aborrecidas. Onde o conheceu?

— Ah, por que você acaba sempre me fazendo falar?

— Helen, quero ser a pessoa com quem você possa se abrir e contar tudo. Realmente quero que confie em mim.

— E não vai me querer menos depois que lhe disser tudo? — perguntou Helen, preocupada.

— E por que eu iria gostar menos de você?

— É capaz de acontecer isso. Sei lá... — Helen fez uma pausa, suspirou fundo e perguntou: — Tenho mesmo que lhe contar?

— Nada no mundo me fará gostar menos de você, Helen. Vou fazer o seguinte: vou ficar sentado aqui ouvindo, não vou nem olhar para você. Assim, você fica mais à vontade. Está bem?

— Não me sinto nada à vontade e...

— Acho que precisa contar a alguém para tirar isso da cabeça e voltar ao normal. Noto que cada vez que chego perto, você dá um jeito de escapar. O que quer que tenha causado essa reação, precisa ser eliminado; e falar a respeito do caso vai ajudar.

— Está bem; vou contar. Mas não me culpe se depois você começar a me odiar.

— Não vou fazer nada disso. Para mim, sei que foi tudo culpa de Michael West. Então, vamos começar? Onde o conheceu?

— Na Suíça. Estava passando minhas férias lá.

— Estava num dos Hotéis West?

— Estava. Eu tinha economizado durante um ano inteiro para poder ter essas férias esquiando na Suíça. Esse passeio tinha sido o meu sonho dourado durante muito tempo. Quando o filho do dono do hotel veio falar comigo, fiquei maravilhada.

— Nunca tinha ouvido nada a respeito dele?

— Já tinha lido alguma coisa nos jornais, mas às vezes a imprensa exagera tanto... Achei que muito do que diziam gra somente para causar sensação e vender mais jornais.

— A verdade é que nunca a imprensa realmente contou tudo sobre Michael West. Pelo contrário, sempre foram mui­ta discretos,

— Acho que agiram assim devido à influência da mãe dele. Ela sempre o protegeu demais. A família dele é muito poderosa e soube usar esse poder contra mim! — Ao dizer isso, Helen olhou para Leon e notou quanto calor humano ele tinha para lhe dar, a atenção com que ele a ouvia!

—A imprensa fez muito alarde sobre o caso, Helen? Nessa ocasião eu estava filmando nos Estados Unidos e não soube muito a respeito.

— O caso foi muito comentado e, claro, sempre estiveram

contra mim.

— Então, você o conheceu na Suíça; e como casou com ele?

— Casei porque o amava; pelo menos, achei que o amava.

— E por que ele casou com você? — Leon perguntou.

— Porque... Nem sei. Por que acha que ele casou comigo?

— Acho que porque era a única maneira de conseguir você. Helen olhou para ele, muito pálida.

— Foi isso mesmo, mas só percebi depois que estávamos casados.

— Sei que Michael West tinha muito charme e sabia como conquistar uma moça com uma linda declaração de amor.

— Exatamente. Fiquei encantada com ele, achei que o amava e logo em seguida casamos. Depois da cerimônia, ele me levou para conhecer a mãe dele. Ela ficou furiosa ao saber que tínhamos casado. Fiquei tão sem jeito que nem sabia o que dizer!

— E Michael?

— Ele parecia estar se divertindo muito com a situação, foi minha primeira decepção com ele. Até então ele tinha sido sempre tão atencioso e cheio de amor, que estranhei a maneira como se comportou.

— E depois da casa da mãe dele, o que fizeram?

— Fomos a uma festa.

— Uma atitude bem própria de Michael West. Qualquer outro homem preferiria ter ficado sozinho com a noiva. Mas ele resolveu levá-la a uma festa...

— Era uma festa muito louca, cheia de gente barulhenta. Havia bebida demais, todos já estavam meio tocados... e... acho que até havia drogas circulando.

— Provavelmente, havia mesmo. — Ele não parecia surpreso.

— Quando voltamos para o apartamento de Michael era muito tarde, mais de três horas da manhã, acho. Michael tinha bebido demais e... — Ela parou, sentindo-se incapaz de continuar.

— E aí, Helen, o que aconteceu?

— Bem, ele... ele...

— Diga, Helen. — Ele chegou bem perto dela, segurou seu rosto entre as mãos e disse baixinho e com muito ca­rinho: — Diga.

As lágrimas escorriam pelo rosto de Helen e ela parecia não poder falar. Suspirou fundo e tentou continuar.

— Eu... nós fomos para a cama.

— Só isso? — Ele parecia espantado.

— Não! Claro que não foi só isso. Michael me violentou naquela noite. Entendeu bem, Leon? Ele me violentou!

Leon envolveu-a com os braços e a fez encostar a cabeça em seu ombro. Muito delicadamente ele a agradava, pas­sando a mão em seus cabelos.

— Achei mesmo que devia ter acontecido algo assim. Ago­ra já passou tudo, Helen. Ele não pode mais judiar de você.

— Você não entendeu, Leon — ela falou com a cabeça encostada em seu ombro. — Isso não foi o fim de tudo. Michael me violentou nessa noite e na noite seguinte me entregou para o melhor amigo dele.

 

Leon afastou-a ligeiramente para poder olhar em seus olhos. Ele parecia zangado.

— Ele fez o quê? — Havia um tom de ameaça em sua voz.

— Ele me entregou para Rolf Sears. — Helen não pôde se controlar e começou a chorar novamente.

— Ele... eu... não... — começou Leon.

— Nem sabe o que dizer, não é verdade? — ela falou com amargura na voz. — Nem eu sabia o que dizer quando Rolf entrou no quarto, aquela noite.

Leon levantou-se e começou a andar de um lado para o outro como uma fera enjaulada; depois parou em frente dela.

— E Rolf ficou?

Helen olhou para ele, com indignação nos olhos ainda cheios de lágrimas.

— Claro que não!

Parte da tensão que Leon estava sentindo parecia ter sido aliviada. Mas continuava com linhas de preocupação na testa.

— Acabe de contar.

— E acha que ainda tem mais para contar?

— Quero saber o que aconteceu desde que Sears entrou em seu quarto.

Helen suspirou, mas resolveu continuar:

— Preciso lhe contar o que aconteceu antes. Como a si­tuação estava tensa entre eu e Michael, ele resolveu dar uma festa no dia seguinte, para distrair. Achei que seria bom. Mas durante a festa Michael começou a beber demais e com isso fiquei com medo que depois ele novamente me possuísse com violência.

— Você deveria tê-lo deixado depois da primeira noite Por que ficar com ele e aguentar maiores insultos?

— Porque, apesar de ter sido possuída com violência, eu ainda era a mulher dele e queria que tudo desse certo. Afinal de contas, eu não era a primeira noiva cujo marido, por estar bêbado, agira mal.

— Era virgem na sua noite de núpcias?

— Era. — Ela baixou os olhos. — E como queria evitar a mesma situação da noite anterior, acabei deixando todos na festa e fui deitar. Rolf entrou no quarto e eu achei que era Michael. Quando percebi que não era, fiquei furiosa e exigi uma explicação. Ai, Rolf me disse que Michael é que o havia mandado.

— Bastardo sujo! — Leon estava indignado.

— Levantei correndo para procurar Michael e contar a ele o que Rolf tinha dito... e... encontrei-o na cama, com outra mulher. Fiquei ali parada, incapaz de me mexer ou falar. Michael deu uma gargalhada e me disse que eu dei­xasse de ser tão puritana; que ele já tinha conseguido de mim o que queria e que... que eu era um fracasso na cama.

Helen estava pálida, a cabeça abaixada, parecendo muito preocupada; não tinha coragem de enfrentar o olhar de Leon.

Mas resolveu continuar:

— No mesmo instante saí correndo para o quarto, arrumei minhas coisas e fui para o apartamento de Jenny, onde estou até hoje. Meus pais estão mortos e Jenny é a única parenta que tenho,

— Nunca mais viu Michael depois disso?

— Vi, sim.

— Quando?

— Depois de alguns meses.

— Por quê?

— Porque ele era meu marido.

— Boa droga de marido! Ele era apenas um cretino muito egoísta que conseguiu você da pior maneira possível. Se eu já a conhecesse na ocasião, teria proibido que o visse de novo.

— Não está entendendo, Leon. Eu o vi alguns meses depois. Isso não lhe dá nenhuma idéia de por que resolvi

falar com ele?

— Você ficou grávida?

— É tão difícil assim de acreditar? Uma criança pode ser gerada por um ato de amor ou por simples prazer carnal,

não se esqueça disso!

Leon concordou com a cabeça, mas ainda parecia espantado. — Eu já tinha pedido o divórcio e Michael tinha vindo até o apartamento para discutir o caso comigo. Ao me ver, logo percebeu que eu estava grávida. Então disse que não me daria o divórcio, porque queria aquele filho.

— E você resolveu voltar para ele?

— O que mais eu podia fazer? — ela perguntou, zangada.

— Eu não tinha como sustentar a criança sem o auxílio de Michael e ele se recusou a me ajudar, a não ser que eu

voltasse para casa. Mas eu o fiz prometer que não haveria nenhum contato físico entre nós.

— Promessa que ele não pretendia cumprir, não é?

— Mas acreditei nele, quando falou. O fato de estar espe­rando um filho deveria tê-lo feito me respeitar. Mas não adian­tou nada. Deixei-o de novo e ele morreu num acidente de carro quando ia me buscar de volta. Acabei perdendo o bebê. Você não está acreditando em mim? — ela perguntou, sentida.

— Claro que estou. É que não entendo por que os jornais publicaram a notícia da morte dele como se ele fosse um herói, deixando para você a parte do vilão.

— A mãe dele é que conseguiu tudo. Mas, acredite-me Leon, a coisa que eu menos queria era publicidade. Tenho tentado apagar esses meses de minha vida e fingir que eles nunca existiram, mas não posso esquecer o fato de Michael ter mandado Rolf para o meu quarto. Até hoje me sinto mal e suja por causa disso. Até hoje sinto tanta vergonha dessa situação que tenho vontade de morrer.

— Pois eu tenho vontade de matar aquele porco nojento! Ainda bem que West já está morto, senão era bem capaz de matá-lo também. E aquele Sears... ele que se cuide, senão... Como West pôde agir assim com você, sendo seu pró-prio marido?

— O caso todo foi uma sujeira só. E agora você tem aversão por mim. — A voz dela tremia enquanto falava Levantou-se para ir embora. — Gostaria de ir para casa agora. Pode me levar?

— Ainda não vai para casa; pelo menos não antes que eu possa me desculpar pela maneira como agi na noite em que nos conhecemos. Com toda a razão você não me deixava tocá-la! Devo ter magoado você profundamente; e não quero dizer no sentido físico, mas no seu íntimo.

Helen não pode esconder o alívio que sentia ao ouvi-lo.

— Quer dizer que não ficou com ódio ou nojo de mim?

Não seja boba, Helen. Você não pode ser culpada pela insensibilidade de Michael. Ele é o culpado; ele não tinha o direito de estragar a sua vida e torná-la gelada de corpo e espírito. — Leon começou novamente a andar de um lado para o outro; depois, parou em frente dela. — Meu Deus! Helen, como você deve ter se sentido mal quando eu disse que queria ser seu amante! — Havia admiração no olhar dele. — Ainda quero ser. Mas acho que a idéia a deixa muito assustada, não é?

— É verdade — ela concordou baixinho.

— Meu Deus, eu poderia... Helen, não sei o que fazer a seu respeito. Sinto-me tão atraído por você que a maior parte do tempo não faço outra coisa a não ser pensar em você. E, para ser bem sincero, não estou acostumado a ouvir recusas de mulheres.

— Está perdendo o seu tempo comigo. — Helen parecia assustada, os olhos muito abertos e brilhantes. — Não posso; simplesmente não consigo pensar em deixar que você me toque. — Um tremor percorreu-lhe o corpo.

— Acha que não sei disso? Pensa que não percebo que você estremece e se afasta de mim cada vez que me aproximo?

— Não é você que me causa essa sensação, Leon. E a proximidade de qualquer homem.

— Eu sei, por isso é que não explodi ainda. Quero você, Helen. Desejo-a tanto que não posso raciocinar quando você está perto de mim!

— Não há nada que se possa fazer — ela falou, desanimada e infeliz. — Sou fria, gelada, completamente insensível.

Ele balançou a cabeça, um brilho de esperança nos olhos.

— Você não é insensível; está apenas assustada por ter sido tão magoada e tem medo de sofrer de novo. Fique certa de que eu nunca a faria sofrer. Amar e sofrer são as maiores emoções da vida. Você só conseguiu sentir o sofrimento até agora; é por isso que só está meio viva.

— Não quero sentir esse tipo de emoção!

Leon sentou-se no braço do sofá, perto dela, e passou a mão muito delicadamente em seu rosto. Ela estremeceu.

— Não se afaste — ele pediu. — Só quero tocá-la,

nada mais.

Ela fez o maior esforço para ficar quieta e permitir que ele acariciasse seu rosto, não sentindo prazer nenhum no contato da mão dele. Mas pelo menos não sentia aversão.

— Gostaria tanto de beijá-la — ele murmurou. — Mas não se preocupe que não vou fazer isso. Só quero que saiba que fazer amor não é só aquele prazer animal que Michael West mostrou; pode ser a coisa mais linda do mundo quando é partilhado por duas pessoas que se amam.

— Já chamei você de animal, uma vez.

— Quando? Não me lembro.

— Disse isso para Jenny, depois que você me beijou.

— Eu me senti como um animal naquela noite. Sei que sou um diabo, às vezes. Mas não estou acostumado a levar o contra; ainda mais de você, por quem fiquei atraído no mesmo instante em que a conheci! Não pude entender por que você não se sentia do mesmo modo. Achei que, ao me rejeitar, estava mostrando desprezo por mim e isso me deixou louco!

— Não era desprezo, Leon! De jeito nenhum. Como eu gostaria de poder corresponder ao que você sente por mim! Acredite, gostaria muito.

Leon se afastou dela.

— Poderia achar que suas palavras são um convite; mas sei que não são. Gostaria de poder mostrar a você que fazer amor é a melhor coisa do mundo. Gostaria de poder trazê-la para o meu mundo de amor.

— Não, Leon! Por favor! Não me peça isso! — ela suplicou

— Tenho que levá-la para casa antes que comece a me precipitar. Acho que consegui conquistar um pouco de sua confiança, mas vou estragar tudo se não sairmos já daqui.

Helen se levantou no mesmo instante.

— Estou pronta para ir.

— Muito bem. Vou pegar o seu casaco.

— Agradeça a Max pelo ótimo jantar.

— Falo com ele. — Leon foi para dentro.

Helen mal podia acreditar que tinha contado tudo a Leon, que tinha aberto seu coração daquele jeito!

— Seu casaco está aqui. É melhor vesti-lo, está frio lá fora — Leon disse quando voltou.

— Obrigada.

— Jenny estará em casa? — ele perguntou, já no carro.

— É bem capaz. Acho que ela não ia sair.

— Se ela não estiver gostaria que eu ficasse com você até ela chegar?

— Não, não precisa.

— Você não gostaria de ter companhia? Acho que está muito abalada para ficar sozinha.

— Agradeço a sua bondade.

— Não estou oferecendo bondade, Helen. Só não quero que fique sozinha remoendo tudo em sua cabeça.

Com um sorriso, ela respondeu:

— Não tenho intenções suicidas, se é no que está pensando.

— É claro que não tem! Você não seria covarde a esse ponto! Se eu achasse que podia ser não a deixaria sozinha nem um minuto.

— Covarde? — Ela parecia não entender.

— Você tem que ser ou muito corajosa ou muito covarde para levar a vida que leva e acho que não é nem uma coisa nem outra.

— Corajosa não sou mesmo, principalmente depois de tudo o que me aconteceu. Minha única vontade era sumir e me esconder. De um certo modo me escondi; me escondi atrás de Jenny.

— Mas não vai mais se esconder — ele falou, muito firme.

— Acho que não consigo me esconder de você!

— Fico feliz com isso, porque quero vê-la de novo, Helen, Ela não pôde esconder a surpresa. Leon continuou:

— Mas tenho que viajar amanhã e vou ficar umas se­manas fora.

— Compreendo. — Ela sabia que tinha que ser assim. Ele estava lhe dando o fora de uma maneira delicada.

— Não compreende coisa alguma! Realmente quero tor­nar a vê-la. De verdade, Helen. Não posso deixar de fazer essa viagem para os Estados Unidos porque vamos filmar lá e não tenho como recusar.

— Não tem importância. Compreendo perfeitamente bem. — Ela baixou os olhos e pareceu entretida com as mãos.

— Não tome esse tipo de atitude comigo! — Leon falou, zangado, — Você não está entendendo nada! Tenho que ir porque há mais pessoas que dependem da minha ida. Se

fosse só por mim, não iria.

— Já lhe disse que compreendo muito bem. Contei-lhe coisas muito importantes hoje, mas você não precisa se sen­tir atado a mim por causa disso. Não sou criança e posso...

— Pode é calar a boca! Você merecia que eu a pusesse nos joelhos e lhe desse umas boas palmadas; ou então, fazer uma coisa que você acharia bem pior. Gostaria mesmo é de beijá-la até que perdesse os sentidos.

No mesmo instante Helen ficou tão pálida que ele se arrependeu do que disse.

— Não vou fazer nada disso. — Sorriu, ao ver o suspiro de alívio de Helen. — Desse jeito você não me faz ficar orgulhoso por ser homem.

— Desculpe, Leon. Você tem sido tão bom para mim!

— Não tenho sido bom não, acho que tenho sido egoísta. Quero ser o homem em sua vida quando você retornar a viver. Se eu quisesse ser bom, diria apenas boa-noite, iria embora e nunca mais a veria. Mas não é isso o que quero fazer. O que quero é fazê-la sentir outra vez e isso poderá ser tão doloroso para mim como para você. Mas vou lhe prometer uma coisa, Helen: só farei amor com você quando você me pedir.

— Nunca vou lhe pedir isso!

— Vai, sim; tenho certeza de que vai. Só espero poder cumprir minha promessa.

Chegaram ao prédio onde Helen morava e ele virou-se para olhá-la.

— Não vai ser fácil manter essa promessa; acho você bonita demais. Vou estar pensando em você durante todo o tempo em que estiver nos Estados Unidos. Que tal se eu ligasse de lá para você?

— Você quer ligar? — A voz dela era quase um sussurro.

— Claro que quero. Por mim, levaria você comigo, mas provavelmente não acha que é boa idéia, não?

— Tenho que trabalhar, você sabe.

— Se o trabalho é a única razão para não ir, desista dele. Ela deu uma boa risada e respondeu:

— Você não tem jeito; sabe que tenho que trabalhar.

— Gostaria de ter você comigo, Helen. Não acredito nessa necessidade de trabalhar.

— Preciso trabalhar porque assim tenho alguma coisa para fazer. Na verdade, não tenho necessidade do dinheiro porque sou rica. Como viúva de Michael, herdei um dinheiro que a avó tinha deixado para ele. Mas nunca toquei nele, porque se não queria Michael, também não quero seu di­nheiro. Quis devolvê-lo mas a mãe dele não quer falar co­migo, nem mesmo através de advogados. O dinheiro está no banco, rendendo juros.

— A mãe dele não vai querer esse dinheiro. Mas acho que deve ficar com ele pelo menos para compensar um pouco toda a dor e humilhação que Michael lhe causou.

— Você e Jenny têm muitas opiniões em comum.

— Ela também pensa como eu? — E mudando de tom: — Use o dinheiro, Helen, e trate de viver um pouco. Mas não aproveite demais; não gostaria de vê-la envolvida com ninguém, enquanto estiver fora. Quer que eu entre com você ou fica bem sozinha?

— Fico bem sozinha, obrigada. Boa noite, Leon.

— Não me dá um beijo de boa-noite?

— Não!

— Achei mesmo que não ia dar. Ligo para você dos Es­tados Unidos.

— Se não quiser, não precisa ligar.

— Eu quero ligar. — Leon olhou firme para ela e começou a falar, com a voz carregada de emoção: — Helen, eu...

— Boa noite, Leon. — Helen saiu rápido do carro e ouviu em seguida o barulho forte do veículo partindo a toda velocidade.

Enquanto subia para o apartamento, ia pensando se tinha feito bem de ter contado tantas intimidades de sua vida.

Jenny levantou-se quando a viu entrar, desligou a tele­visão e perguntou:

— Divertiu-se bastante?

— Muito. Esteve tudo ótimo.

Helen foi direto para o quarto e começou a se preparar para deitar. Jenny seguiu-a.

— Vai tornar a vê-lo?

— Não faço idéia.

— Não quer conversar sobre o assunto? — Não tenho nada para conversar.

— Como assim? Nem ao menos sabe se vai vê-lo de novo?

— Não sei mesmo, Jenny. Acho que vou direto para a cama; estou muito cansada.

Helen deitou-se mas continuou acordada, pensando em Leon Masters. Ele tinha ouvido toda a história e não parecia desi­ludido com ela; pelo contrário, dissera que queria vê-la de novo. Será que ela queria também? O fato de ter contado a verdade a havia deixado muito aliviada, mas ao mesmo tempo enver­gonhada. Será que teria a coragem de enfrentá-lo novamente? Sentia-se confusa; ela não tinha nada a oferecer a Leon. Via-o apenas como um caçador e ela como a caça!

— Ainda está acordada? — ouviu Jenny perguntar.

— Não consigo dormir, Jenny.

— Está preocupada com Leon?

— Não estou bem preocupada, estou é confusa. Sei como me sinto com os homens; sei que sou completamente fria mas com ele é um pouco diferente.

— Então sente alguma coisa por ele?

— Não sei bem o quê, mas sinto alguma coisa. Embora eu o ache muito atraente e muitas vezes tenha até vontade de ficar perto dele, fujo no instante em que ele chega perto de mim. Por isso é que me sinto confusa.

— Acho que você só precisa de tempo. — Jenny continuou, muito animada: — Fico contente de saber que finalmente alguém parece estar conseguindo derreter o gelo!

— E se ele não tiver paciência de esperar que eu vença esse problema?

— Ele não me parece do tipo paciente, mas se compreende o tipo de problema que você tem, acho que saberá esperar.

— Contei a ele tudo sobre Michael, Jenny. Achei que depois ele não ia mais querer me ver, mas isso não aconteceu.

— Vai vê-lo amanhã, então?

— Não. Ele me disse que tem de viajar por algumas se­manas. Provavelmente quando voltar já terá me esquecido.

— Não vejo por que ele iria esquecê-la!

— Você sabe muito bem que espécie de homem ele é. Tem sempre muitas mulheres em sua vida!

— Helen, ninguém chega aos trinta e quatro anos sem alguns casos na vida!

— Alguns casos! Ele já teve tantos, que dá para perder a conta! Tenho que ser realista, Jenny. Tenho certeza de que ele vai me esquecer com essa ida aos Estados Unidos.

Helen adormeceu naquela noite com muita tristeza em seu coração.

Helen esperou a semana toda que Leon ligasse, mas nada aconteceu. Era incrível como tinha se acostumado a vê-lo e como sentia falta de sua presença. Era como se, por ter contado coisas tão íntimas, tivesse ficado sob a proteção dele.

No domingo, ao abrir o jornal, sentiu seu coração se apertar. Nas colunas sociais, aparecia a fotografia de Leon com a estrela de seu filme, Crystal Graves. Era uma loira bonita e alta e Leon olhava para ela como se pretendesse muito mais do que olhá-la apenas.

Helen se sentiu traída. Leon a havia esquecido! Ela tinha sofrido tanto durante aquela conversa e agora via que não significava nada para ele. Leon estava saindo com outras mulheres, divertindo-se muito.

Não! Ela não queria pensar assim. Sabia que Leon podia ser cruel às vezes, mas tinha certeza de que ele não estava se divertindo à sua custa! Provavelmente ele tinha decidido não se envolver mais com ela; afinal, devia ser muito de­sagradável conviver com uma mulher que quase desmaiava cada vez que ele chegava perto!

Entregou o jornal para Jenny e começou a arrumar a louça do café; conservou um sorriso nos lábios, porque não queria que Jenny percebesse como estava sofrendo. De ma­neira bem casual perguntou:

— Boa fotografia, não acha?

— Deve haver algum engano — disse Jenny, olhando

fixo para ela.

— Não pode haver enganos numa fotografia — respondeu

Helen, fingindo não estar aborrecida.

— Deve ser apenas uma fotografia para publicidade — Jenny insistiu. — Os estúdios costumam criar uma atmos­fera romântica em torno do casal principal do filme.

— Mas achando que a foto foi para publicidade, lembre-se, Jenny, de que ele não me telefonou como disse que faria.

— Ele tem estado muito ocupado; além disso, ainda há a diferença de horário; talvez ele só tenha tido tempo para ligar muito tarde aqui e achou melhor não nos acordar.

— Não adianta ficar arranjando desculpas, Jenny. Se quisesse, tenho certeza de que Leon teria telefonado. Acho que o assustei e ele tratou de me dar o fora.

— Não acredito que ele esteja dando o fora!

— Então, vamos dizer que ele preferiu Crystal Graves. E olhando para ela vejo bem por quê.

Jenny estava impaciente.

— Você nem ao menos sabe se ele está realmente inte­ressado por essa artista!

— Está bem. O que sei é que ele ficou de me ligar e não ligou e isso para mim já chega.

— Você é muito teimosa — disse Jenny, suspirando. E mu­dando de tom: — Matt e eu vamos sair, hoje. Quer vir conosco?

— Matt? Não era com Brent que você saía? Jenny corou ao responder:

— Já disse para esquecer essa conversa. Como é, vem

conosco?

— Não precisa me convidar para sair, Jenny. Afinal de contas, não preciso de tanta proteção assim!

— Achei que você ia preferir sair do que ficar aqui sozinha e ainda por cima triste, por causa da notícia do jornal.

— Não vou ficar triste. Tenho muito o que fazer. Preciso lavar a cabeça, tenho um ótimo livro para ler e quero ver aquele filme bem antigo e romântico que vão passar hoje na televisão.

Helen dirigiu-se para o quarto e preparou as coisas para o banho. Quando terminou, Jenny já tinha saído. A água quente e gostosa parecia relaxá-la e livrá-la das tensões.

Ouviu então a campainha do telefone. Não devia ser nin­guém importante, não ia sair do banho para atender. 0 telefone parou de tocar, mas recomeçou depois de alguns segundos. Desta vez ela saiu apressada do banho, enrolou-se na toalha e foi atender.

— Alô?

— Helen?

Estremeceu ao reconhecer a voz de Leon. Ele parecia tão

próximo!

— Quem está falando? — Não queria que ele percebesse

que havia reconhecido a voz.

— Sou eu, minha fria Helen — ele respondeu com uma risada.

— E quem é eu?

— E quem mais a chama de fria Helen? — Ele já não

parecia tão animado.

— Ah, é você — ela falou sem entusiasmo.

— É disso que eu gosto em você, Helen. Você parece tão animada ao me ouvir — ele falou com sarcasmo. — Que estava fazendo quando liguei?

— Estava tomando banho.

— Meu Deus! — ele disse do outro lado, como se estivesse gemendo.

— Que aconteceu?

— Não aconteceu nada. Pelo menos nada que eu pudesse contar pelo telefone. É que... diga-me, o que está vestindo?

— Bem, na verdade...

— Você não está vestindo nada?

— Nada.

— Oh, Deus! — ele gemeu de novo.

— Tem certeza de que está bem?

— Só uma coisa está ruim. Estou muito longe de você. — Só em pensar em você aí, falando comigo, completamente nua, está me deixando louco.

— Não seja sem-vergonha!

— Helen, eu...

— Vamos deixar de intimidades, sr. Masters. Na verdade, não tenho vontade nenhuma de falar com você. Você é um

grandessíssimo...

— Helen, é melhor se acalmar e me dizer o que a está

deixando tão brava.

— Crystal Graves.

— E o que tem ela?

— Não finja, Leon. Sei que tem saído com ela.

— Estou trabalhando com ela — ele disse, muito seco.

— Quando disse que estava saindo com ela não falei que era para trabalhar, não é? Notícias assim voam, Leon. Vi

a foto no jornal de hoje.

— Não vou discutir isso pelo telefone. Posso passar aí agora?

— Você está aqui em Londres?

— Estou em meu apartamento. Cheguei faz meia hora. Por isso a voz dele parecera tão próxima.

— Pensei que fosse ficar fora mais duas ou três semanas!

— Podemos conversar sobre isso também, quando eu che­gar aí. Mais quinze minutos e estou chegando.

— Mas... — Ela não pôde terminar porque ele desligou Helen olhou para o telefone com raiva, como se ele fosse

o culpado pelo ódio que sentia. Agora, em quinze minutos tinha que estar pronta e dar um jeito de secar os cabelos.

Ainda estava esfregando a toalha no cabelo para secá-lo quando a campainha da porta tocou. Só dez minutos haviam passado. Enrolou a toalha na cabeça e foi para a porta. Se ele esperava encontrá-la toda arrumada e atraente, ia ter o maior choque da vida. Seus jeans e camisa não tinham nada de feminino; que dirá de elegante e atraente.

A campainha tocou de novo. Helen abriu a porta e se viu diante de um Leon muito queimado, mostrando clara­mente que aquele bronzeado não tinha sido adquirido no trabalho. Seus cabelos estavam com um castanho ainda mais bonito e os olhos pareciam felizes por vê-la.

Sem uma palavra, ela se dirigiu para a sala.

— Você se vestiu! — Ele parecia desapontado.

— Claro que me vesti! Bem, que está fazendo aqui? — Que maneira gelada de me dar as boas-vindas! Estou

aqui para ver você.

— Quis dizer aqui, na Inglaterra. Não vá me dizer que veio de tão longe só para me ver — Helen falou o mais irónica que conseguiu,

— Foi exatamente o que fiz. Consegui pegar um avião hoje de manhã bem cedo e tomo outro de volta amanhã bem cedo, de modo que chego lá em tempo para as filmagens de amanhã.

— É verdade? — Helen não podia acreditar.

— Claro que é.

— Mas, por quê?

— Tinha que ver você — ele falou com emoção na voz.

— Não podia ter só telefonado? Teria sido muito mais fácil e muito menos cansativo,

— Não queria só falar com você no telefone. Queria ver você. — E perder a oportunidade de estar com Crystal Graves?

— Eu tinha que ser visto com Crystal para a publicidade do filme — ele falou com impaciência.

— Não acredito. — No entanto, Helen lembrava que Jen-ny já tinha suspeitado disso.

Leon parou em frente dela, seu corpo forte e quente per­turbando-a com aquela proximidade. Segurando-lhe o quei­jo, ele disse:

— Crystal foi só publicidade. — Fez uma pausa e conti­nuou: — Mas houve muitas outras mulheres que não foram. Tenho que admitir que tentei esquecê-la, que não queria

estar envolvido com você. E, para ver se conseguia me livrar,

saí com várias mulheres na semana passada. E quer saber

o que senti com elas? Nada. Absolutamente nada — Leon falou aborrecido, sacudindo a cabeça como se ele mesmo não conseguisse acreditar no que estava dizendo. — Claro que as levei para a cama. Queria me perder dentro delas, queria que os corpos delas fossem aquele que eu desejava.

Mas não eram! Não eram de jeito nenhum! Helen pôs as mãos nos ouvidos.

— Não quero ouvir mais nada!

— Mas vai ouvir tudo — ele disse zangado, puxando as mãos dela para baixo. — Porque, quer queira, quer não, você me conquistou. Estou completamente atado a você. Quero você como nunca quis ninguém na vida. Desejo você com uma emo-

ção tão forte que me sinto até tremer. Então qualquer que seja o seu problema, temos que, juntos, dar um jeito nele. Agora não mais só por você, mas por mim também.

Helen engoliu em seco, assustada pela raiva que sentia nele.

— Você sabe que eu não consigo... Você sabe que não posso!

— Sei de tudo, não é Helen? Mas tenho que possuí-la. Simplesmente preciso. Você é como fogo em meu sangue. Aquelas outras mulheres foram apenas necessidade física, mas eu queria você o tempo todo que estava com elas.

Helen balançava a cabeça de um lado para o outro, os

olhos muito abertos de medo.

— Mas eu não posso! Não posso nem que você me toque!

— Sei muito bem disso. A única coisa que me impede de ficar completamente louco é saber que não é só comigo que você não consegue. Sei que você odeia todos os homens,

sem exceção.

— Mas eu não odeio você — ela corrigiu no mesmo ins-tante; e sentiu um calor estranho ao pensar no que estava dizendo.

— Graças a Deus por isso! — E ele deu um profundo suspiro de alívio. — O fato de você não desgostar de mim torna mais fácil o que vou lhe dizer. Helen. quando eu voltar dos Estados Unidos, quero que venha morar comigo.

— Você quer o quê? — ela perguntou quase sem fôlego.

— Quero que venha morar comigo — ele disse muito calmo, com os olhos olhando bem no fundo dos dela.

          

- Você está louco?!

Leon, muito agitado, passou a mão pelos cabelos e insistiu:

— Não estou louco, Helen; estou frustrado e realmente

quero que vá morar comigo.

— Mas por quê? Não vejo por que insistir quando você

sabe que para mim é impossível.

— Não é impossível, Helen. Sei que tem aversão por mim, como por qualquer homem; posso muito bem entender isso. O que West fez com você foi muito cruel. Quero ajudá-la a superar esse sentimento de ódio contra todos os homens.

— E você acha que me convidando para morar junto com você isso vai resolver alguma coisa? — Ela parecia não entender.

— Por mais estúpido que possa lhe parecer, acho que ajuda. Você disse que não quer ser vista comigo para que a imprensa não volte a falar sobre você. Pois bem, se morar comigo, ninguém saberá que estamos nos vendo.

— Acho que é um plano louco.

Realmente Leon se sentia enlouquecido, mas era de desejo por ela! Por ela tinha vindo da América por apenas um dia,

só para vê-la!  

— Tenho certeza, Helen, que convivendo comigo todos os dias, numa vida normal, você vai acabar se acostumando comigo e então não terá mais medo de mim.

— Não acho que vá dar certo.

— Acho que, pelo menos, devíamos tentar. Assim eu poderia ver você todos os dias, no café da manhã, à tarde quando voltasse do trabalho. Tenho certeza de que acabaria se acos­tumando com a idéia de ter um homem perto de você.

— Não sei. Tudo me parece tão estranho! Não seria me­lhor esquecermos que um dia nos conhecemos?

Leon segurou-a pelos ombros e olhando firme para ela falou com decisão:

— Não quero esquecer tudo! Não quero e não vou, en­tendeu bem? Sei que lhe prometi que não faria amor com você enquanto não me pedisse e pretendo manter a pro­messa. Mas preciso ter você perto de mim. Preciso estar com você, preciso! — A emoção era tão grande que a voz dele mal saía. — Acha que estou pedindo muito?

— Mas... o que eu iria dizer a todos? E a Jenny?

— Diga toda a verdade a Jenny. Ela vai compreender e aprovar. Quanto aos outros, não diga nada a ninguém. Você vai se sentir mais livre e assim será mais fácil se relacionar comigo.

— O fato é que não quero me relacionar com você.

— Como pode dizer isso, Helen? Sente-se feliz em estar só meio viva? E enquanto espero por você, também eu me sinto meio vivo. Talvez leve muito tempo, mas um dia quero sentir seu corpo nu de encontro ao meu, quero sentir o seu desejo tão grande como é o meu agora por você!

Helen estava tão vermelha que parecia que todo o seu sangue tinha subido para o rosto.

— Leon, como pode querer consertar o que Michael fez comigo se você também só pensa em fazer amor?

— Só vou fazer quando você quiser.

— Mas pode ser que eu nunca queira.

— É um risco que preciso correr. Vamos enfrentá-lo juntos?

Helen torcia as mãos, sem saber o que resolver; princi­palmente estando tão perto dele e sentindo a influência daquela presença marcante.

— Não precisa decidir agora. Ainda tenho que ficar duas semanas fora; até lá você já terá decidido.

— E enquanto isso você vai continuar a ver outras mu­lheres, não é?

— Não, porque não ia adiantar nada. Sempre que levei alguma mulher para a cama, é porque queria estar com ela. Mas agora só posso pensar em fazer amor com você.

— Então como quer que eu vá viver com você, se não quero contato físico? Sei como um homem reage quando quer uma mulher.

— Sua presença não vai me dar muita paz de espírito, mas prefiro estar perto do que longe de você.

— Acho que ainda prefiro ficar por aqui, Leon.

— Aí você terá a imprensa toda atrás de você, porque não pretendo sair daqui.

— Mas não acha que a imprensa acabará sabendo que estou em seu apartamento?

— Por que eles haveriam de saber? Se resolvo ficar mais tempo na minha própria casa, ninguém tem nada com isso.

Helen não sabia o que pensar; será que aquela idéia po­deria dar certo? Será que era uma loucura?

— Pensei muito, Helen, e acho que é a melhor solução. O fato de ter vindo da América só por um dia deve mostrar como estou desesperado!

Realmente Leon parecia mais magro e abatido, mas não era isso que ia convencê-la.

— Não sei, Leon. Nem ao menos sei se quero me envolver

com você.

— Vamos tentar Helen. Por favor, me dê uma chance!

— Preciso pensar.

— Você tem duas semanas para pensar, enquanto estou fora. Converse com Jenny, se acha que isso pode ajudar; tenho certeza de que ela vai achar boa a idéia. Prometo não pressionar você. Se decidir ir morar comigo eu a espero para jantar daqui a duas semanas, quando estarei de volta. Se você não estiver lá saberei que decidiu permanecer fe­chada em sua concha, onde ninguém poderá machucá-la, mas onde você continuará viva apenas pela metade.

— Leon, não diga isso...

— Tem razão, não devo pressioná-la. Tenho uma idéia, vamos sair um pouco? Vou levá-la para conhecer meus pais.

— Seus pais? — Parecia incrível que ele mantivesse con tato com os pais.

— Tenho pais — disse ele, rindo —, e também duas irmãs, ambas casadas e com filhos.

— Então sua mãe deve estar esperando que você se case e lhe dê um neto! — No mesmo instante em que falou Helen se arrependeu.

— Como posso dar um neto se estou amarrado a você? Helen, é tão difícil estar perto de você e não poder tê-la! Vamos sair.

— Seus pais não vão achar esquisito você me levar lá?

— Não, vão adorar. Agora estão morando no interior, depois que meu pai se aposentou. Ele tinha um escritório de advocacia na cidade e agora que pode morar no campo está felicíssimo.

— Você não quis ser advogado como ele?

— Era o sonho dourado de meu pai, mas eu não tinha jeito para ficar lidando com leis ou sentado o dia todo num escritório. E seus pais, Helen?

— Eles morreram há seis anos. Também os pais de Jenny morreram nesse dia. Era noite de Natal e eles estavam vol­tando para casa, quando um rapazinho completamente bêbado atingiu-os com o carro. A mãe de Jenny ainda sobreviveu por dois dias, mas depois também se foi. Acho que por termos passado por essa tragédia juntas é que somos tão unidas.

— Por que, então, ela não a impediu de cometer o grande erro de casar com West? Sendo tão unidas ela poderia tê-la aconselhado, não acha?

— Na ocasião ela estava viajando, a negócios. Achei que iria lhe fazer uma boa surpresa, quando voltasse. — Helen suspirou fundo e continuou: — Realmente foi uma surpresa, mas péssima.

— Se sairmos agora, poderemos chegar à casa de meus pais para o almoço. — Leon achou melhor mudar de assunto ao notar como ela estava ficando triste.

— Então ligue para eles enquanto troco de roupa.

— Vem mesmo comigo?

— Vou, mas com a condição de você explicar a eles que somos apenas amigos.

— Isso vai ser muito difícil, pois basta eles notarem como a olho para saberem que a quero muito mais que a uma amiga.

Realmente, se ele a olhasse como a olhava agora, seus pais saberiam logo o que ele pensava. Havia muito calor naqueles expressivos olhos.

Helen vestiu um conjunto verde-garrafa e um cinto estreito, um pouco mais escuro. Essa cor lhe ficava muito bem e fazia seu cabelo parecer um pouco mais escuro; sentia-se atraente. Foram para o carro e Leon comentou:

— Você está linda, Helen. Não vou conseguir tirar os

olhos de você.

— O que seus pais disseram?

— Ficaram felizes por saber que vou levá-la.

Helen ficou contente ao ouvir isso. De repente, perguntou:

— Acha que eles vão me reconhecer? Durante muito tem­po minha fotografia apareceu em todos os jornais. Seria

horrível se...

— Eles não vão reconhecê-la — Leon falou, procurando acalmá-la; sem sentir colocou a mão sobre as dela. — Mesmo que a reconhecessem, tenho certeza de que não iriam julgá-la.

— Eles sabem que já fui casada?

— Não contei a história de sua vida pelo telefone, Helen. Além disso, não considero que tenha sido casada; uma noite junto com alguém não pode ser considerada um casamento.

— Mas essa única noite produziu uma criança, não es-

queça disso, Leon.

— Não posso nem pensar em você grávida dele — Leon falou com raiva. — Não suporto nem pensar nisso. — Ele passou a mão pela testa como se com isso pudesse tirar o pensamento da cabeça.

Helen colocou a mão no braço dele e disse:

— Odiei cada segundo de tudo o que aconteceu. — Depois de uma pausa, continuou: — Pensei que gostava dele, mas

depois do que fez comigo, percebi que foi apenas fogo de palha. Assim, acabou no mesmo instante em que começou.

— Essa foi a primeira vez que você tocou em mim, Helen. No mesmo instante ela retirou a mão.

— Desculpe; não queria...

— Gostei muito que tivesse feito isso — ele disse, com um agradável sorriso naquela boca sensual e bonita. — Pode me tocar quando quiser e, agora que já aconteceu a primeira vez, acho que vai ser mais fácil.

— Pode ser — ela concordou. Intimamente, estava sur­presa por ter tido a coragem de tocá-lo! Talvez um dia tudo pudesse ficar bem entre eles. Tomara! Como ela gostaria de voltar a sentir, a viver! Na verdade, tinha gostado do contato com a carne dele, tão firme e quente; tinha gostado de sentir aquela força máscula nele.

— Amanhã você vai estar tão cansado que não vai con­seguir participar do filme. — Ela mudou de assunto, para esconder sua confusão. — Está valendo a pena.

Chegaram na casa, grande e bonita, cercada por um gra­mado muito verde e bem-tratado.

— Espero que gostem de mim — ela falou, um pouco ansiosa

— Tenho certeza de que vão adorá-la.

A mãe dele veio encontrá-los no terraço. Era uma mulher pequena, de cabelos grisalhos, ainda com muitos traços bo­nitos e irradiando felicidade.

Leon beijou a mãe e havia muito carinho em seus olhos.

— Onde está papai?

— Está na estufa, cuidando das plantas. Já mandei cha­má-lo. — Ela virou-se para Helen, sorrindo. — Você deve ser Helen. — Pegou-a pelo braço, dizendo: — Vamos entrar. Meu marido não vai demorar.

Os três entraram na casa, conversando alegremente. Daí a pouco entrou o pai de Leon.

— Leon, meu filho! — disse Charles Masters, numa voz profunda e agradável.

Os dois homens trocaram um aperto de mão e Helen notou como se sentiam felizes, um na companhia do outro. O pai de Leon era alto, magro e muito atraente, apesar de seus setenta anos. Helen achava que Leon ia ficar igualzinho ao pai, quando fosse mais velho.

Charles Masters olhou para Helen e disse num tom muito simpático:

— Então esta é a garota que você trouxe para nos co-nhecer, Leon? Ela é encantadora! — Ele sorriu para Helen e ela sentiu-se bem com a sinceridade do velho.

— Quando vai fazer o meu filho entrar para o rol dos homens sérios? — Charles Masters perguntou, piscando para Helen.

Helen ficou vermelha e completamente sem jeito. Olhou para Leon em busca de socorro e tentou falar:

— Eu... Nós...

O pai de Leon segurou a mão esquerda de Helen e viu a aliança que ela ainda usava, para evitar a aproximação de outros homens. Agora se arrependia de não tê-la tirado; como iria explicar tudo?

— Pelo jeito, você já fez com que ele se tornasse um homem sério — o pai de Leon disse, mostrando a aliança.

— A aliança não significa que nos casamos, papai. Tam­bém não pense que estou andando com mulheres casadas — explicou Leon, vindo em auxílio de Helen. — O que acon­tece é que Helen é viúva.

— Desculpe-me — disse Charles Masters.

Leon achou melhor desviar a atenção do assunto.

— Quando vamos almoçar, mamãe?

— Assim que seu pai trocar de roupa.

— Já estou indo — disse o paí.

— Então vou ver se está tudo em ordem — disse a mãe de Leon, indo para a cozinha.

Helen olhou nervosa para Leon, assim que ficaram sozi­nhos. Tinha notado que ele estava bravo.

— Tire isso de uma vez! — ele falou com dureza.

— Tirar o quê?

— Tire o diabo desse anel do dedo!

— Mas...

— Tire, Helen; já falei para tirar. Não quero que use essa aliança enquanto estiver comigo. Não quero que fique usando esse anel, como se ainda pertencesse a ele! Tire!

Helen tirou a aliança e guardou-a na bolsa.  

— Sinto muito, Leon.

— E nunca mais use-a de novo; pelo menos, enquanto estiver comigo! — Leon estava realmente furioso.

Se os pais de Leon notaram que ela havia tirado a aliança não disseram nada. Conversaram bastante durante aquele almoço típico de domingo. Havia rosbife, legumes, pudim de Yorkshire e torta de maçã de sobremesa. Helen não co­meu muito, ainda preocupada com a raiva que Leon estava sentindo por ela. Sempre que seus olhos se encontravam ela sentia a fúria contida que havia naqueles olhos.

Depois do almoço, a mãe de Leon levou Helen para dar uma volta pelo jardim.

— Espero que meu marido não a tenha deixado sem jeito, há pouco. Não sabíamos que era viúva; se soubéssemos, não teríamos dito nada.

— Não se preocupe com isso, sra. Masters. Não é um

fato recente.

— Leon pareceu aborrecido com o caso. Há muito tempo

se conhecem?

— Há algumas semanas — respondeu Helen. De fato, fazia pouco tempo que o conhecia; mas tinha sido suficiente para ele conseguir mudar sua vida tão bem-ordenada!

— Ele nunca nos falou sobre você, até hoje — continuou a sra. Masters.

— Talvez ele não tenha achado que valia a pena.

— Eu diria exatamente o contrário, Helen.

— Somos apenas amigos — afirmou Helen.

— Leon nunca trouxe moça alguma para nos conhecer, até hoje — disse a sra. Masters olhando firme para ela.

— Mas a verdade é que somos apenas amigos, sra. Mas­ters. Eu mal conheço o seu filho.

— Mas tenho certeza de que ele se preocupa muito com você; acho que gosta de você.

Helen sabia que ele não gostava dela; apenas a desejava, apenas queria seu corpo, nada mais.

— Acho que está enganada, sra. Masters. Realmente não existe nada entre nós.

— Gostaria que me chamasse de Catherine. Tenho a im­pressão que vamos nos tornar amigas. Ficaram ainda algum tempo na casa com os pais de Leon,

depois se despediram. No caminho de volta a Londres, Helen falou:

— Sua mãe está certa de que existe algo sério entre nós.

— E existe, mesmo. Pelo menos não vejo nada de engra­çado em nossa situação.

— Você sabe o que eu quis dizer. Como você nunca levou uma garota para seus pais conhecerem, eles ficaram agora imaginando coisas. E você me prometeu que não faria isso.

— Está zangada comigo?

— Claro que estou!

— Você é encantadora quando está brava, mas quero

que saiba que eles gostaram muito de você.

— Também gostei deles, mas... Ele interrompeu-a e falou sério:

— Nunca levei moça nenhuma para conhecer meus pais porque nunca achei que nenhuma valia a pena. Quis levar você e tinha certeza de que eles iam aprová-la; realmente não me enganei, eles gostaram muito de você.

Helen ficou quieta, contente que os pais dele tivessem se dado bem com ela e meio confusa, sem saber se gostava ou não da idéia de ser a primeira garota que ele apresentava aos pais. Quando chegaram em frente ao prédio onde Helen mo­rava, Leon disse:

— Não vou entrar. Tive um longo dia e preciso pegar o avião amanhã bem cedo. Pense bem sobre a minha proposta,

está bem?

Helen tinha esquecido da proposta durante todo o dia e lembrar dela deixou-a em pânico. Mas prometeu que iria

pensar sobre o assunto.

Com muito carinho, Leon segurou o rosto dela entre as mãos. — Você sabe a que decisão eu gostaria que você chegasse, não é? — Oíhando-a bem de perto, ele continuou com voz suave: — Posso beijá-la, Helen?

Helen estremeceu ao ouvir isso e tentou se livrar das

mãos dele.

— Não se afaste, Helen. Tudo o que peço é um beijinho nada mais.

— Não; ninguém mais me beijou desde... que...

— Só um beijinho, Helen. Quero só sentir os seus lábios nos meus, só isso. Não vou ser selvagem como na noite em que a conheci. Serei gentil e delicado desta vez, prometo!

— Está bem — disse Helen, torcendo as mãos, muito nervosa. Fechou os olhos e repetiu: — Está bem.

Então sentiu os lábios quentes de Leon sobre os seus; ele a beijava suave e delicadamente como prometera, provava seus lábios como se fossem néctar vindo do céu. Ela podia sentir as mãos dele tremendo de encontro a seu pescoço e o esforço que ele fazia para controlar as próprias emoções.

Finalmente ele se afastou um pouco, com um brilho de felicidade nos olhos.

— Meu Deus, como desejo você, Helen! Eu a quero muito! Por favor, venha morar comigo quando eu voltar!

— Mas, Leon...

— Nunca implorei em minha vida, mas poderia pedir-lhe de joelhos que viesse, se isso ajudasse.

— Leon, por favor, não se envolva tanto comigo. Não gostaria de fazer você sofrer.

— Já estou completamente atado a você, Helen, e não há nada que eu possa fazer para evitar isso. Senti que seu beijo foi uma promessa.

— Talvez esse beijo seja tudo que você terá de mim. — Espero que não. Sinceramente espero que isso não

aconteça.

Helen se despediu e foi para o apartamento. Sentia que estava tremendo, mas não tinha sentido repulsa por Leon quando ele a beijara, nem quisera se afastar. Era como se um novo sentimento estivesse tomando conta dela.

Jenny entrou na sala, vinda da cozinha onde tinha tomado um café. Assustou-se com a palidez de Helen.

— Não está se sentindo bem?

— Leon me beijou e eu... eu acho que gostei! Jenny ficou surpresa com a resposta de Helen. Mal podia acreditar que a prima estivesse voltando a sentir alguma coisa de novo. Antes que pudesse responder, o telefone tocou. Helen correu para atendê-lo, certa de que era Leon.

— Decida da maneira certa — ele disse. — Preciso pensar, Leon.

— Tenho certeza de que vai dar certo. Sei também que não deveria tê-la beijado; não vou conseguir dormir, não vou ter um minuto sem pensar em você, enquanto estiver fora. Mas esteja lá em casa quando eu voltar, Helen. — Sem dizer mais nada, ele desligou.

Helen colocou o fone no gancho; estava tão confusa que não sabia o que pensar, muito menos o que resolver.

— É melhor me contar o que está acontecendo — falou Jenny, puxando a prima para sentarem no sofá.

Helen contou tudo a Jenny e se sentiu melhor depois de ter falado. Jenny não se mostrou surpresa com a idéia de ir morar com Leon; apenas perguntou:

— E você vai?

— Não sei, ainda não sei.

 

Algumas semanas mais tarde Helen ainda não sabia o que fazer. Logo mais Leon estaria chegando e ela ainda não tinha resolvido nada.

Ele havia cumprido a promessa e não tentara se comunicar com ela. Talvez, se ele tivesse falado de novo e mostrado que ainda pensava do mesmo jeito, a decisão fosse mais fácil.

— Jenny, não sei o que fazer. Não sei o que sinto por

ele, mas não o amo.

— Se você sente alguma coisa por ele, acho que deve ir

— respondeu Jenny.

— Mas ele também não me ama!

— Mas deve sentir alguma coisa por você, pois sei que nunca viveu com outra mulher antes. Ou você está pensando

em casamento?

— Ele não me pediu em casamento e, mesmo que tivesse, não é o que quero. Você não fica chocada com a idéia de que eu vá morar com ele, Jenny?

— Acho que ele é a melhor coisa que já lhe aconteceu nos últimos dois anos. Nessas semanas em que o conheceu você começou a viver e a sentir novamente. E é só isso o que importa.

Helen deixou que a emoção a vencesse. Se não fosse agora para a casa dele, talvez nunca mais o visse. E ela queria muito vê-lo, porque a lembrança daquele beijo doce e deli­cado não saía de sua memória. Naquele momento, chegou a uma decisão.

— Vou arrumar a minha mala.

 

Na hora em que Helen chegou ao apartamento de Leon, já não se sentia tão segura. E se ele tivesse mudado de idéia? E se ele não tivesse avisado Max de que ela ia chegar?

Assim que tocou a campainha, Max abriu a porta. — Boa noite, sra. West. — Pegou a mala dela. — Por favor, venha comigo que vou lhe mostrar o seu quarto. Já

está preparado.

Helen acompanhou-o, aliviada. Pelo menos era esperada! Max levou-a a um quarto decorado em branco e azul-claro, todo car-petado com um grosso tapete branco. A mobília era laqueada e as cortinas, muito leves, balançavam sob a brisa suave da noite. Um vaso com rosas vermelhas dava o toque de boas-vin-das. Em seguida Max mostrou-lhe o banheiro, que formava conjunto com o quarto, também com decoração azul e branca.

— A que horas está esperando o sr. Masters? — ela per­guntou, sentindo-se meio sem jeito.

— Ele ligou do aeroporto há bem pouco tempo e disse que viria logo. Ele queria falar com a senhora, que ainda não tinha chegado. — Max dirigiu-se para a porta e, ao

sair, perguntou:

— Precisa de mais alguma coisa, sra. West?

— Não, obrigada. Está tudo ótimo.

Helen sentou-se na cama. Pelo menos, não tinha sido tão ruim a sua chegada. Lembrou-se então que Leon não sabia que ela tinha vindo. Mas as rosas vermelhas mostravam que ele a esperava; o que ele teria pensado quandoutelefono, e soube que ela não estava lá?

Levantou-se, e, chegando até as flores, tocou-as, sentindo o seu perfume. Notou que entre elas havia um cartão. Pe-gou-o e leu "Muito obrigado". Leon agradecia por ela estar lá. No entanto, ele ainda não sabia que ela tinha ido. Que pena que tinha chegado tarde e que ele já tivesse telefonado!

Sentiu lágrimas nos olhos. Não via a hora de Leon chegar de vê-lo novamente. Ia arrumar-se, para estar linda quando ele chegasse. Vestiu um conjunto de veludo azul, com calça bem justa que a deixava muito elegante. O cabelo solto e ondulado enfeitava seu rosto e os olhos pareciam mais bri­lhantes do que nunca.

Sentindo-se bonita, desceu e foi para a sala esperar por Leon. Pegou uma revista para ler mas não conseguia prestar atenção no que lia. Há duas semanas que não se viam e ela não sabia bem como cumprimentá-lo. Ouviu o barulho da chave na porta e em seguida a voz de Max.

— Boa noite, senhor. Espero que tenha feito boa viagem. O jantar estará pronto em dez minutos.

— Acho que não vou jantar, Max — disse Leon.

— Assim que estiver pronto pode nos chamar, Max — disse Helen, chegando perto deles. Foi só aí que Leon a viu.

— Max me disse que você não tinha vindo! — Leon falou, parecendo encantado por vê-la.

— Cheguei depois que você telefonou.

— Oh! Helen, minha doce Helen! — Ele chegou perto dela e lhe acariciou o rosto.

— Max me indicou o quarto azul para ficar; está bem? — Está ótimo; era esse que eu tinha reservado para você. Fica ao lado do meu.

Leon não tirava os olhos dela.

— Nessas duas semanas não pensei em mais nada a não ser em beijá-la — ele falou muito baixo e suave.

— Também pensei naquele beijo — ela respondeu, ficando corada como uma menina.

— Pensou mesmo? Fico feliz. — Depois de um suspir fundo, ele continuou: — Você é uma tentação para mim, Helen! Não me dá ao menos um beijo de boas-vindas?

— Da última vez, você quis um beijo de despedida; agora

quer um beijo de aló?

— Posso arranjar mais mil desculpas para beijar você. Quando liguei para cá e soube que você não estava, tive vontade de ficar na cidade e beber até não poder mais. Depois, resolvi vir para casa, tomar um banho e ir procu­rá-la. Mas tive a felicidade de encontrá-la aqui. Isso não

merece um beijo?

Ele puxou-a para perto dele, amoldando seu corpo ao dele.

— Ponha seus braços em meu pescoço, querida. Quero sentir suas mãos em meu corpo — ele falou em seu ouvido. — Quero que me toque, Helen, que me acaricie! Não sente quanto eu preciso disso? — Abaixando o rosto ele beijou-lhe o pescoço.

Ela enfiou a mão por baixo do casaco que ele vestia e através da camisa de seda sentiu o calor que vinha de seu corpo tenso, dos músculos fortes das costas.

Helen encostou a cabeça no peito de Leon e ele chegou os lábios junto à orelha dela, a língua seguindo sua curva

suave e delicada.

— Leon, não acho...

— Eu sei, Helen. Quero que lembre que duas semanas atrás você não me deixaria chegar assim tão perto.

Era verdade e a maneira como ela estava reagindo às carícias dele a deixava preocupada. Há muito tempo não se sentia perto de um homem e o toque apenas das mãos dele punha-a trêmula e emocionada. Sabia que Leon queria ir para a cama com ela, mas nunca mencionara que a amava. E ela já estava começando a aceitar as carícias dele e até mesmo a gostar delas.

— Leon, é melhor me soltar, agora.

— Ainda não, minha querida.

Mais uma vez ele procurou os lábios dela, forçando-os a se abrirem. Helen sentia a umidade gostosa da boca de Leon, ao mesmo tempo em que ele tocava seu corpo com as mãos, acompanhando todas as suas curvas. Começou a derreter, ali, seu corpo colado ao dele, sua boca entreaberta como um convite a maiores intimidades. Não tinha dúvidas sobre como terminaria aquele abraço.

Finalmente, conseguiu se desvencilhar dele; estava sem fô-lego, tremendo de emoção. Mal podia acreditar que tinha deixado Leon chegar a um contato tão íntimo com ela, como nunca outro homem havia feito. Michael não tinha se preocupado em beijá-la ou acariciá-la na noite de núpcias. Ele queria apenas se satisfazer nela; precisava somente de uma mulher, qualquer mulher. E o fato dela ser sua esposa tinha significado apenas que não tinha precisado convencê-la a ir para a cama com ele.

Foi arrancada de seus pensamentos quando Leon a sa­cudiu mostrando raiva naqueles olhos que instantes antes só refletiam desejo.

— Esqueça-o! Esqueça aquele maldito bastardo!

— Eu tento, Leon. Mas cada vez que você chega perto de mim, começo a me lembrar de como foi com ele e não posso...

Ele afastou-a de si com raiva.

— O pior insulto que você pode me fazer é me comparar com ele! É melhor você ir embora se acha que vou abusar de você, como ele fez. Quero fazer amor com você e não violentá-la.

— E existe alguma diferença?

— Sabe muito bem que existe — ele falou furioso.

As mãos de Leon, que antes a haviam acariciado tanto, agora estavam fechadas em atitude de quem gostaria de agredir. Sem dizer nada, ele se virou, entrou numa porta que deveria ser de seu quarto e bateu-a com força.

Quando Max veio da cozinha, encontrou Helen encolhida numa poltrona, pálida e triste.

— Está bem, sra. West?

— Estou bem, obrigada. Talvez esteja apenas com fome. Max pareceu aliviado e respondeu:

— Logo que o sr. Masters quiser, servirei o jantar. Max deve ter achado esquisito que, apesar de Helen declarar

que estava com fome, mal tocou na comida. Havia frango cozido com molho madeira e legumes; de sobremesa, torta de pêssego. Tudo estava delicioso e com um aspecto ótimo, mas Leon, sentado em frente dela, não tinha boa cara.

Ele viera jantar depois de um banho reconfortante e es­tava vestido de preto, a camisa aberta no peito, parecendo muito atraente. Mas sua raiva não tinha diminuído.

Após o jantar, sentaram na sala. Leon fumava um charuto e tomava conhaque; aliás, ele tinha tomado bastante vinho no jantar e várias doses de conhaque, agora. Helen, preocupada, olhava de vez em quando para ele, enquanto saboreava o café.

— Pode tirar esse olhar preocupado de cima de mim, Helen. Não vou avançar em cima de você como um bêbado furioso.

— Não precisa ser grosseiro, Leon. Acho que nosso acordo não vai funcionar. Vou pegar minhas coisas e vou embora.

— Ela se levantou.

— Sente-se, e ouça bem. Não vou deixar você ir embora e vou fazer com que você esqueça aquele maldito homem. Devagarinho você está me deixando louco, mas farei com que nunca mais lembre daquele animal que foi seu marido.

Juro que vou fazer!

Ele parecia abatido, com olheiras, e a boca estava tensa,

com uma expressão de raiva contida.

— Desde o dia em que a conheci tenho sofrido com essa situação. Talvez, se a tivesse levado para a cama logo no início, como sempre fiz com todas as mulheres que quis, fosse diferente. Mesmo assim duvido, porque você é o tipo da pessoa da qual não vou conseguir esquecer.

— Você bem que tentou me esquecer com aquela atriz,

Crystal Graves.

— Saber que eu estava com ela aborreceu você?

— Claro que não — ela respondeu rápido, para esconder o que realmente sentia. Agora que experimentara o que era o calor do corpo dele tão próximo, não gostava de pensar em Leon com outra mulher. Sentia-se esquisita: não queria que ele estivesse com outra mulher e ao mesmo tempo não

queria se dar a ele.

— Por que está tão tensa, Helen?   .

— Não estou tensa.

— Sei que está. Parece que a perturba a idéia de que

eu possa estar com outras, não é?

— Não sei! Acho que sim, mas o pior é que não sei por que me perturba tanto!

— Minha querida Helen! Você está sentindo coisas normais!

— Não sei, Leon. Acha que algum dia eu conseguirei ser sua?

— Tenho certeza que sim. — Leon chegou perto dela e beijou-a com carinho na boca. — Sinto muito a respeito das outras mulheres. Mas lembre-se de que sou doze anos mais velho que você e, se tivesse ficado sem mulher nenhuma, esperando você surgir, seria eu que estaria frustrado agora.

— Só aquela artista é que me perturba. Você já me co­nhecia; então, por quê?

— Já disse: estava completamente louco por você e não queria me sentir atado; mas não adiantou.

— Também eu estou começando a me sentir ligada a você, Leon.

— Minha querida, fico tão feliz ao ouvir isso! — Ele pu­xou-a de novo para bem perto e acariciou seus cabelos. Ela passou os braços ao redor da cintura dele e descansou a cabeça em seu peito. Sentia-se protegida e bem nos braços dele. Mesmo assim suspirou tão fundo, que e!e perguntou:

— Não é fácil viver, não é?

— Tem razão, Leon. Principalmente quando se tem al­guma coisa que se quer esquecer. Acha que algum dia es-quecerei tudo o que Michael fez para mim? — Ela afastou a cabeça e olhou bem dentro dos olhos dele. — Deixei que você me beijasse hoje e gostei do beijo; mas, quando penso em ir além disso... sei que não vou conseguir.

Ele apertou-a nos braços, colando seu corpo no dela e disse em seu ouvido:

— Temos tempo, Helen. Às vezes sinto que estou apres­sando as coisas e sei que não devia. Mas acho você tão linda e atraente! — Ele suspirou fundo e continuou: — Sabe que posso ver seus seios, daqui? — A voz dele ficou mais rouca ao dizer isso; suas mãos subiram da cintura de Helen em direção a seus seios; por sobre a blusa ele os acariciou, depois tentou desabotoar o primeiro botão. — Quero ver seu corpo, Helen. Deixe-me olhar você.

— Aqui, Leon? Max pode entrar a qualquer minuto!

— Ele nunca me interrompe. — Com as mãos, ele tentava desabotoar os últimos botões da blusa.

— Nunca? Então é um hábito seu ter mulheres aqui?

— Helen, você não vai querer conversar sobre elas agora? Ela se soltou dos braços dele e retrucou, enquanto tornava

a fechar a blusa:

— Vou me deitar.

— É um convite? — Leon olhava para ela com um ar de brincadeira nos olhos brilhantes.

— Claro que não! — Ela queria parecer ofendida, mas na verdade não estava.

— Sempre se deve tentar, não é? — Mudando de tom, continuou: — Está bem. Vá deitar, Helen.

— E você? Que vai fazer agora?

— Vou ficar por aqui tomando um pouco mais de conha­que. Acho mesmo que vou ficar bêbado, porque assim, mes­mo que eu entre em seu quarto, não vou conseguir nada.

Helen ficou apavorada. Abrindo bem os olhos, perguntou:

— Acha que vai acabar entrando em meu quarto?

— Não precisa ficar assustada, Helen. Não vou incomo­dá-la. E desculpe minha atitude de momentos atrás. Ama­nhã tudo vai estar bem.

— Vai trabalhar amanhã?

— Vou, sim. Saio daqui às seis e meia.

— Gostaria que eu tomasse café com você, amanhã?

— Não vai ser muito cedo para você?

— Um pouco. Mas morando aqui, vou ter que sair mais cedo para chegar a tempo no trabalho.

— Vai continuar trabalhando?

— Claro! O que eu ia ficar fazendo aqui o dia inteiro, enquanto você trabalha?

— Ficaria esperando por mim. Não gosto da idéia de você continuar a trabalhar. Quero encontrá-la aqui quando chegar em casa. Quero você aqui, Helen!

— Você está parecendo um marido, Leon. Estou apenas morando aqui. Minha vida continua como sempre foi.

— Desista do emprego, Helen. Se eu tiver alguma folga durante o dia, quero ter a certeza de encontrá-la aqui.

— Você está querendo ser muito machão, Leon. — Havia um sorriso em seus lábios carnudos.

— Se estou, a culpa é sua, porque nunca me senti assim antes. — Ele passou a mão nos cabelos, balançou a cabeça e depois disse: — Vá deitar, Helen, antes que eu mude de idéia sobre beber até ficar bêbado e ficar incapaz de mais nada!

— Sobre o café, amanhã...

— Faça-me companhia, se quiser. E peça a sua demissão amanhã; ou melhor, nem apareça no serviço.

— Não posso fazer isso.

— Pode e vai fazer assim, Helen. Não quero que continue trabalhando e chegue aqui tão cansada que não queira nem conversar.

— Então você acha que só porque você quer, vou lar­gar tudo?

— Se não fizer, acabo ligando para aquele seu chefe muito tonto e digo a ele que você não vai mais.

— Leon, você não pode tomar conta da minha vida!

— Mas já estou tomando; quando decidiu vir para cá, você pôs a vida em minhas mãos. Vou ajudá-la a viver completamente.

— E a que preço vai me ajudar?

Ele olhou-a muito zangado, decepcionado mesmo.

— Não existe preço, Helen. Se algum dia fizermos amor, será porque você quer fazer! Você está aqui para se acostumar a ter um homem em sua vida, mas não pretendo levá-la parai a cama só porque está aqui. Se você quiser fazer amor comigo, terá que me dizer isso. Vou beijá-la e acariciá-la, mas o convite para o amor terá que partir de você!

Ela fez com a cabeça que concordava.

— Você tem toda a liberdade para ir embora à hora que quiser. Pode ser que depois que vença esse seu trauma, descubra que não sente atração nenhuma por mim.

— Não acho que isso vai acontecer!

— Não acha mesmo? — Ele parecia mais animado.

— Já sinto muita atração por você. Fico gelada apenas quando você começa a se tornar muito íntimo.

— Ainda bem, Helen. Tinha medo de ajudá-la a vencer a barreira que você sente em relação ao amor físico e

depois perdê-la.

— Leon, isso não vai acontecer!

— Vá deitar, Helen. E abandone o emprego, por mim,

por favor.

— Amanhã decidimos isso. Boa noite, Leon.

— Boa noite, minha querida.

Helen foi para o quarto, sentindo-se confusa. Não sabia explicar o que estava acontecendo com ela mesma. Era atraída por Leon, mas ao mesmo tempo tinha medo desse sentimento. Tinha medo de estar começando a sentir amor por ele!

Não devia se apaixonar por ele; Leon era um homem muito acostumado a ter quantas mulheres quisesse e ela seria apenas uma a mais na vida dele. Mas, será que se importava com isso? Não valeria a pena viver com ele du­rante algum tempo, embora houvesse depois a dor da se­paração? Parecia incrível que ela estivesse pensando assim. Não conseguiu dormir como devia. Passou a noite toda entre um cochilo e outro, sem conseguir descansar direito. Antes das seis, já estava de pé. Se tomasse um banho rápido, teria tempo de tomar café com ele antes que ele saísse para trabalhar.

Pegou a toalha, roupas e foi para o banheiro. Tinha um sorriso nos lábios, pensando em como seria gostoso tomar banho de banheira, coisa que não tinha no apartamento que dividia com Jenny. Mas o sorriso sumiu quando viu que a banheira já estava ocupada. Leon estava lá, aprovei­tando o calor gostoso do banho. Imediatamente Helen ficou vermelha como um pimentão.

— Bom dia — ele disse, muito alegre.

Helen evitou olhar para ele. Mas já tinha percebido como era forte e musculoso aquele corpo nu e molhado.

— Desculpe, não podia imaginar que estivesse aqui.

— Eu é que devia pedir desculpas. — Ele não parecia nada aborrecido por ela estar ali. — Há tanto tempo que o quarto azul não é usado, que esqueci de fechar a porta.

— Já estou saindo — Helen disse, rápida.

— Não vá. — Ele estendeu a mão e pegou-a pelo tornozelo. — Venha me fazer companhia.

— Preciso ir — falou tão baixo, que mal se podia ouvir.

— Precisa, nada — continuou com voz suave e convida­tiva. — Tire a roupa e venha; a banheira é bastante grande para nós dois.

Helen ficou parada, sem saber o que dizer, sentindo-se já sem roupa, pois sua camisola era muito transparente.

Leon apertou mais a mão em redor de seu pé e fez com que ela perdesse o equilíbrio. A água esparramou por todos os lados quando Helen caiu dentro da banheira.

— Por que fez isso? — ela perguntou, indignada.

— Porque de outra maneira iria passar o resto da manhã tentando convencê-la a me fazer companhia no banho. Além disso, ninguém jamais dividiu o apartamento comigo e nun­ca até hoje convidei mulher alguma para entrar junto na banheira. Você pensou o quê, Helen? Que eu ia fazer amor com você aqui dentro? Para uma pessoa que tem medo até da palavra sexo, até que você tem muita imaginação!

Leon levantou, saiu do banho, pegou uma toalha e co­meçou a enxugar. Helen também saiu da banheira, a ca­misola molhada grudada no corpo como uma segunda pele, fazendo mais evidentes as suas curvas. Seus seios firmes pareciam querer arrebentar o fino tecido que os cobria.

Pingando água, virou-se e encontrou Leon olhando para ela, examinando cada pedacinho de seu corpo completamen-te revelado pela camisola colada. Ele não estava mais en-rolado na toalha; estava nu.

— É melhor ir para o seu quarto e trancar a porta — ele falou com voz baixa e emocionada.

Ela ficou ali parada, incapaz de dizer alguma coisa, como se nem tivesse entendido o que ele dissera.

— Meu Deus, Helen. Você é bonita demais. Seu corpo é

a coisa mais desejável que já vi. — Seu desejo era tão grande que mal podia conter-se. — Não vai para o seu quarto? Ela continuava pregada no chão, incapaz de falar ou de mover-se.

— Se não for agora para o seu quarto, não serei capaz de me controlar, Helen.

Essas palavras a tiraram daquele estado de choque. He­len balançou a cabeça para voltar à realidade e disse:

— Você já tomou o seu banho e quero tomar o meu. Portanto, é melhor que você saia.

Por alguns segundos ele a olhou, depois começou a sorrir.

— Para quem tem tanto medo de sexo, até que você é bem corajosa. — Pegou a toalha e enrolou-se nela.

— Não sou tão medrosa assim; além disso, você me disse que eu é que teria que pedir para fazer... fazer aquilo.

O sorriso de Leon cresceu ainda mais.

— Eu poderia tirar um prazer imenso de seu corpo, antes de chegar "àquilo", como você chama.

Ela sentia o rosto em fogo; sabia que estava pratica­mente nua naquela camisola molhada, mas resolveu não se mexer dali.

— São seis e quinze e já está atrasado. Não quer sair e me deixar tomar banho?

— Prefiro ficar aqui, contemplando-a. — Com os olhos percorreu todo o corpo dela, detendo-se nos seios, na cintura, no ventre...

— Não fique me olhando assim como olha todas as mu­lheres que encontra — ela disse, zangada.

— Você merece apanhar.

— Você não faria isso, faria?

— Ele bateu em você alguma vez?

— Uma vez, quando perdi o bebê. Recusei ir para a cama com ele e ele me bateu.

— Que homem horrível! Justamente quando ele devia ser o mais delicado possível! — Leon chegou junto dela e fez com que ela se ajeitasse em seus braços. — Se estivesse carregando o meu filho no ventre, eu a trataria com o maior carinho do mundo!

Ela se afastou e perguntou, assustada:

— Não é isso o que está querendo, não é?

— Que você tivesse um filho meu? Por que não? Adoro crianças! Gostaria de ter filhos, sim!

— Então sua mãe está mesmo esperando que você lhe dê netos?

— Acho que sim. E acho que eles não se incomodariam se você me ajudasse a trazê-los ao mundo. — O sorriso feliz voltou de novo a seus lábios. — Claro, teríamos que casar, primeiro.

Helen virou-se, esvaziou a banheira e abriu a torneira para tornar a enchê-la. Tudo isso lhe deu tempo para pensar no que responder. Depois, virou-se para ele e disse:

— Não conte comigo para isso.

— Para isso o quê? Casar ou ter um filho?

— Os dois. Ainda não estou preparada para nenhum dos dois.

O sorriso de Leon abriu-se mais ainda, e havia um toque irônico nele. Disse, então:

— Devia esperar que eu a pedisse em casamento para depois recusar. E eu não a pedi.—Abriu a porta do banheiro que dava para seu quarto. Antes de fechar a porta, disse: — Volto para o jantar. Espero que já tenha pedido a sua demissão do emprego até lá.

— Você nunca desiste das coisas?

— Sei muito bem o que quero e isso inclui você aqui quando eu chegar, todos os dias.

— Está bem — ela concordou, sabendo que mais cedo ou mais tarde faria como ele queria.

Ele fechou a porta do quarto e Helen esperou a banheira acabar de encher para então entrar no banho.

Estava certa quando temia os sentimentos que brotavam dentro dela por Leon; agora ela já o amava e esse amor estava se tornando forte demais para que lutasse contra ele. Seu único desejo era que ele estivesse brincando quando falara sobre casamento e filhos. Porque ainda havia uma coisa a respeito dela que ele não sabia e que ela não queria que ele soubesse!

 

O sr. Walters ficou furioso quando Helen lhe disse que aquele era o seu último dia de trabalho. Achou até melhor que ela não ficasse até o fim do dia e que fosse logo embora. Ela não discutiu e foi ar­rumar suas coisas.

Sally tinha ficado muito alvoroçada para saber se a saída dela era causada por aquele homem tão parecido com Leon Masters. Se ela soubesse que era o próprio, ia ter um choque!

Ela saiu do escritório; o dia estava lindo, com muito sol e céu azul. Era estranho não ter mais emprego e isso a tornava ainda mais dependente de Leon. Agora ela teria somente a companhia de Leon, e um pouco a de Max. Ao pensar nisso resolveu ligar para Jenny e convidá-la para almoçar.

Encontrou-a na porta do restaurante; entraram e senta­ram-se numa mesa.

— Então, desistiu do emprego, Helen? Acha que agiu direito? — perguntou Jenny, ao saber de tudo.

— Leon quis assim.

— E o que é que você quer?

— Quero tudo aquilo que ele quiser. Ele me faz sentir viva, atraente e bonita. — Os olhos de Helen brilhavam ao dizer isso.                                                                

— Acho que você o ama!

— Acho que sim, Jenny. Não é incrível? — Uma sombra de tristeza passou pelo rosto de Helen. — Mas, isso não muda as coisas comigo! Ele teria feito amor comigo, não só ontem à noite como hoje de manhã também; bastava que eu tivesse querido. Mas eu não podia, Jenny. Simplesmente não consegui deixar. É como se eu tivesse uma doença e por mais que faça para melhorar, não consigo!

— Você tem muito tempo para conseguir. E vai conseguir tenho certeza.

— Leon diz a mesma coisa. Mas acho que não é justo para ele. Talvez eu nunca consiga ser dele. E não acho que ele vai conseguir ser paciente por muito tempo mais, embora ele diga que sim.

Jenny sorriu e, segurando a mão da prima, disse:

— Não se preocupe e deixe as coisas acontecerem.

— Fico muito tensa quando estou com ele. Ele é muito sensual e parece que sinto as vibrações de seu corpo. É muito difícil resistir a ele!

— Então não resista — disse Jenny, sempre muito prática.

— E que acho que, se um dia eu for dele, nunca mais vou querer ficar longe. Sabe, Jenny, eu me sinto viva com ele. Nunca pensei que fosse me sentir assim de novo; mas eu vibro cada vez que ele está perto de mim!

— Essa experiência está lhe fazendo muito bem, Helen. Nota-se até em seu rosto que você está vibrante e pronta para viver todos os momentos bons da vida. — Olhando para o relógio, Jenny levantou-se. — Estou atrasada. Li­gue-me até o fim da semana, está bem?

Helen passou a tarde distraída, olhando vitrines e apro­veitou para comprar um vestido lilás, que combinava muito bem com seus olhos.

Era tarde quando chegou ao apartamento de Leon. Assim que entrou, percebeu que ele já estava em casa, pois havia no ar o cheiro de seu charuto.

Mal tinha apoiado o pacote sobre uma cadeira, quando ele veio da sala como uma bala. Parecia furioso.

— Onde esteve o dia todo?

Helen ficou aborrecida com aquele jeito mandão.

— Não sabe que gente educada primeiro diz boa-noite? — ela falou, procurando parecer distante.

— Onde esteve? — ele perguntou de novo, mais bravo ainda, enquanto a segurava pelos ombros.

— Por quê?

A atitude calma dela pareceu deixá-lo ainda pior.

— Porque cheguei cedo em casa, a tempo de almoçarmos juntos. Mas você não estava. Telefonei para a agência de turismo e aquele seu chefe idiota disse que você tinha estado lá, mas já tinha ido embora. No apartamento de Jenny nin­guém atendeu. Liguei para o estúdio de televisão onde ela trabalha e me disseram que ela tinha saído para almoçar e que depois tinha uma reunião. Não é para deixar qualquer um louco? E afinal, onde esteve?

— Só porque não me encontrou não é motivo para fazer esse drama — falou Helen, o mais calma que conseguiu. — Almocei com Jenny e depois fui fazer umas compras. Pelo pacote que trouxe você já poderia ter deduzido. — Abrindo a bolsa, tirou de dentro um pacote quadrado, muito bem embrulhado. — Trouxe até um presente para você.

— Você me trouxe um presente! Não estou muito acostumado a ganhar presentes de mulher; estou mais habituado a dar. — Leon olhava para a caixa que tinha nas mãos. — O que é?

— Abra e veja.

Leon desembrulhou a caixa e abriu-a. Dentro havia uma grossa corrente de ouro e um medalhão muito lindo. Ele passou a corrente sobre a cabeça e o medalhão ficou bri­lhando em seu peito forte, no meio dos pêlos escuros.

— Mandei gravar umas palavras no medalhão, Leon. Ele virou a medalha e lá estavam escritas três palavras:

"Com amor, Helen". Leon parecia emocionado ao lê-las; olhou depois para ela e perguntou:

— É verdade?

Helen chegou a se arrepender de ter mandado gravar aquelas palavras. Mesmo que achasse que era verdade não deveria ter tornado isso tão óbvio. Era dar a Leon mais poder do que ele já tinha conseguido sobre ela.

— Não ficaria muito bem se só tivesse gravado "De He­len", não é? Afinal de contas você está me ajudando muito e quis ser grata.

— Compreendo, foi por gratidão! — Continuou em tom frio: — Muito obrigado.

 

As coisas tomaram um ar de rotina daí para frente. Leon passava o dia todo trabalhando e Helen ficava em casa, pro­curando se distrair com livros ou com algum trabalho manual. Passavam os serões conversando sobre assuntos impessoais e o único contato que tinham era o beijo que Leon lhe dava todo dia de manhã, quando saía, e à noite, quando chegava A cena do banheiro nunca mais se repetiu. Helen se as­segurava de que ele estivesse vazio, antes de entrar. A si­tuação entre eles era tão impessoal, que pareciam dois ami­gos que estivessem passando alguns dias juntos, Helen es­tava odiando aquela situação. Ela não sabia se a atitude de Leon era de propósito ou se ele perdera o interesse por ela. Ela, ao contrário, estava sempre pensando nele, an­siando por estar junto dele.

Leon não parecia mais preocupado a respeito de sexo. Muitas noites trabalhava até tarde e nunca tentava tocá-la. Já estavam morando juntos há duas semanas quando, mais uma vez, ele ligou para avisar que ia ficar trabalhando até mais tarde.

— Sei que é folga de Max — ele estava dizendo —, mas deve ter alguma coisa na geladeira e sei que você dará um jeito.

Claro que ela daria um jeito! Mas naquela noite tinha resolvido fazer um jantar gostoso para ele.

— Tem mesmo que trabalhar hoje?

— Se não tivesse, não estaria aqui. Acho que não vou chegar muito tarde. Veja televisão; me parece que hoje tem um programa muito bom,

— Não quero ver televisão. Quero estar com você — ela falou com um desafio na voz.

— E por que essa vontade repentina de me ver? Você nem repara em mim quando chego em casa!

— Sabe muito bem que isso não é verdade!

— Não fíque se iludindo, Helen. Não é a minha companhia que quer. Talvez esteja um pouco sozinha; por que não vai ver Jenny?

— Ela vai sair.

— Então já tinha telefonado para ela?

— Nada disso. Ela me telefonou hoje de manhã e me disse que ia a uma festa com Matt.

— Provavelmente era a festa de Suzanne.

— Isso mesmo; como é que soube? — ela perguntou,

espantada.

— Também fui convidado.

— E por que não vai? Ou talvez você vá, não é? Sabe, não acredito que vá ficar trabalhando. Você vai à festa, não é? — ela falou num misto de raiva e choro.

— Helen...

Estava nervosa demais para ouvi-lo. Ainda mais que re­solvera fazer um delicioso jantar, só para os dois; e também tinha planos especiais para o fim da noite. Por isso continuou falando, cada vez mais zangada:

— Se quer ir à festa, vá de uma vez; mas não fique mentindo para mim. Odeio que mintam para mim!

— Helen, ouça...

— Sei que você acha que eu o afastei de todos os seus amigos, mas lembre-se de que a idéia de morarmos juntos foi sua. Você tem toda a liberdade de mudar de idéia no dia e na hora que quiser.

— Andou bebendo?

— Claro que não.

— Pois está parecendo. Estou trabalhando e não vou a festa nenhuma. Se não acredita, venha até aqui e poderá

tirar a dúvida.

A raiva que ela sentia pareceu sumir.

— Não vai mesmo à festa de Suzanne?

— Se fosse, teria dito a você. — Com a voz muito doce, continuou: — Está com ciúme, Helen?

— Claro que não. — Fez uma pausa e falou muito baixo: — Estou, sim; muito. Queria que você viesse para casa, Leon.

— O que quer dizer com isso, Helen?

— Você sabe.

— Então diga, Helen, quero ouvir você dizer.

— Quero... Não posso falar, Leon. Não posso. — Sua voz sumiu num soluço.

— Então, tenho que trabalhar. — Ele bateu o fone no gancho, sem querer ouvir mais.

Helen fez a mesma coisa. Porco, ela pensou, isso é o que ele era. Idiota, sujo, cretino! Ele estava agindo assim de propósito. Ele não ia pedir nada a ela; ela é que tinha que pedir a ele! E ele a estava deixando louca de desejo por ele! Ela o odiava. Ele que fosse para o inferno!

Foi para a cozinha, abriu o forno, tirou o pato assado que fizera com tanto carinho e jogou-o no lixo. Tinha planejado tornar aquela noite inesquecível e ele estragara tudo! Depois, sentou-se num dos banquinhos do bar e chorou até não poder mais. Mas nem isso conseguiu vencer a frustração que sentia. Naquele instante ouviu barulho de chave girando na fe­chadura. Passou a mão no rosto, para tirar os vestígios das lágrimas e no cabelo, para ajeitá-lo. Não queria que Leon percebesse que estivera chorando. Ia agir friamente, como se fosse indiferente a ele.

Só quando ela se viu frente a frente com uma loira muito bonita e alta é que se deu conta de que mesmo que Leon tivesse resolvido voltar para casa, não teria dado tempo de ele chegar tão rápido.

As duas mulheres se olharam, desafiantes. Helen reco­nheceu a loira como a atriz de um dos últimos filmes de Leon. Seu nome era Sharon Melcliffe e ela estava maravi­lhosa, num vestido longo de seda preta que lhe caía como uma luva. Tinha um corpo perfeito e Helen podia perceber que ela não usava nada por baixo. Sentiu-se feia e insigni-ficante perto daquela beleza.

— Quem é você? — perguntou a mulher.

— Ia lhe perguntar a mesma coisa — ela mentiu, sabendo perfeitamente bem quem ela era. Por que ela tinha uma chave do apartamento de Leon? A resposta parecia óbvia.

A artista movia-se de cá para lá como se conhecesse o lugar.

— Tudo está igualzinho como era antes — disse, olhando para Helen. — A não ser você. Você não estava aqui da última vez. Está no lugar de Max?

— Claro que não — Helen falou friamente.

— Achei mesmo que não podia ser; Max nunca deixaria Leon. Então onde está Max? E a noite de folga dele, não é?

— Exatamente.

— Claro, eu e Leon sempre comíamos fora nessa noite. Onde está Leon?

— Trabalhando — Helen disse, mais seca ainda.

— E você acredita nisso?

— Ele acabou de ligar do estúdio. — Helen ficava cada vez mais zangada.

— Claro que ligou; antes de sair para alguma festa. E se você ligar para o estúdio agora, vão lhe dizer que não podem chamá-lo. Leon é sabido. Ele gosta de ter uma mulher em casa, mas não quer deixar de ter suas outras distrações — disse Sharon.

— É mesmo?

— É por isso que fui para a América com um amigo. Peguei Leon numa mentira dessas e deixei-o. Se você não está no lugar de Max, deve estar me substituindo.

— Acho que sim.

Os olhos azuis de Sharon olhavam Helen de uma maneira esquisita.

— Não conheço você de algum lugar? — perguntou Sharon.

Helen estava espantada.

— Como assim?

— Tenho certeza de que já a vi antes. Mas guardo melhor nomes do que fisionomias. Como se chama?

— Helen. Meu nome é Helen Course. — Ela deu seu nome de solteira.

— Não me parece familiar. Não importa, com o tempo acabo me lembrando.

— Queria ver Leon por algum motivo especial? — per­guntou Helen, mudando de assunto.

— Nada de especial. Apenas vim para saber como ele vai, mas vendo você aqui, sei que vai muito bem. Vou deixar minha chave do apartamento com você. Não vou mais pre­cisar dela, porque vou me casar.

— Parabéns!

— Não precisa ser amável, srta. Course. Posso perceber que, na verdade, me odeia.

— Não é bem assim.

— Não precisa fingir. Provavelmente eu me sentiria igual se estivesse na sua posição.

— Não está entendendo a situação, srta. Melcliffe.

— Entendo, sim. Aproveite bastante, enquanto está du­rando; posso dizer por experiência própria que está no fim. Ele sempre diz que tem que ficar trabalhando até mais tarde, quando o caso está no fim.

— É melhor sair, srta, Melcliffe.

— Já notei que sabe meu nome.

— Eu a reconheci quando entrou; li um artigo sobre você numa revista.

— Essas revistas são um lixo. Ficam inventando casos para a gente. Cada amante que tive consideraram como um futuro marido.

— E pelo jeito deve ter tido um colosso de amantes!

— Tive mesmo! Mas o melhor deles foi, sem dúvida ne­nhuma, Leon. O problema é que ele não quer saber de casa­mento, ao passo que meu noivo é péssimo amante mas, além de querer casar, ainda é milionário. Mesmo que o casamento não dê certo, tenho certeza de que ficarei bem de vida depois do divórcio. — Sharon olhou para Helen e soltou uma gostosa gargalhada. — Deixei-a chocada? Não fique; meu noivo sabe muito bem por que vou casar com ele.

— Então, que sejam felizes! — disse Helen, cansada da­quela conversa.

Sharon estendeu a chave para Helen, dizendo:

— Aqui está a chave do apartamento; diga a Leon que não vou precisar mais dela.

Helen pegou a chave; talvez isso fizesse Sharon ir embora mais depressa.

— Desta vez Leon arranjou uma mulher bem diferente, não tenho dúvida — falou Sharon, saindo.

Helen sentou-se no sofá, depois que Sharon Melcliffe saiu.

O mundo parecia ter desmoronado a seus pés. Leon tinha dito que ninguém morara com ele antes, que ninguém es­tivera na banheira junto com ele e agora ela percebia que tudo isso tinha sido mentira. Helen tinha a sensação de ter levado um golpe na cabeça e estava ferida de morte.

Quando ouviu o barulho da chave, duas horas mais tarde não se moveu do lugar. A sala estava escura e fria e ela permanecia encolhida no sofá.

Leon acendeu a luz da sala e chegou perto dela para beijá-la, como de costume. Mas Helen se afastou e ele mal tocou o rosto dela. Leon não disse nada e foi preparar um uísque.

— Também quer um uísque?

— Não, obrigada — ela respondeu com voz fria.

Só então ele percebeu a mesa muito bem arrumada para dois.

— Não era nada importante.

— Claro que era — ele disse, passando os dedos nos cabelos de Helen. — Se me tivesse dito, teria dado um jeito de vir.

— Não tem importância. — Mudando de tom, Helen per­guntou: — Divertiu-se muito?

— Trabalhando? Tive que rodar a mesma cena uma por-ção de vezes e mesmo assim o diretor não ficou satisfeito. Vou ter que refazer tudo. Acho que estava com o pensamento

longe dali.

— O pensamento e você também. Sei que não estava

trabalhando, Leon.

— Ainda está pensando que fui à tal festa? -— ele falou, impaciente. — Helen, já disse e vou repetir: estava trabalhan­do, entendeu bem, trabalhando. E estou morto de cansaço.

— Então vou apenas lhe entregar isto e deixá-lo descansar sozinho. — Ela entregou a chave a ele.

Ele não pegou a chave. Olhando para ela, perguntou apenas:

— Isto quer dizer que vai embora?

— Esta não é a minha chave, Leon.

— Então, de quem é?

— Você não sabe?

— Claro que não! Se soubesse não estaria perguntando. — Sentou-se e continuou a tomar o uísque.

— Uma amiga sua veio aqui logo depois que você ligou

— ela falou com calma estudada. — Sharon Melcliffe.

— E foi ela quem lhe deu a chave?

— Ela mesma. E mandou dizer que agora não precisava mais da chave porque vai se casar.

— Bem próprio de Sharon. — Uma sombra de raiva pas­sou pelos olhos dele. — E daí para a frente você pôs a cabeça a funcionar, não é?

— Nem precisei. Ela não fez segredo nenhum sobre o fato de ter morado aqui com você. — Helen estava zangada e queria demonstrar isso.

— Ela disse isso, exatamente?

— Não exatamente, mas foi como se dissesse.

— O que é que ela disse, exatamente?

— Bem, disse que tinha a chave; sabia quando era a noite de folga de Max; e...

— E você imaginou o resto! Não vou negar que tive um caso com ela, mas ela nunca morou aqui!

— Mas ela tinha a chave!

— Já lhe disse que tivemos um caso; mas acabou quando conheci você — ele falou, muito sério.

— Já tinha acabado tudo com ela, antes de hoje? — Helen mostrava que não estava acreditando.

— Claro!

— Não foi essa a impressão que tive, Leon. Ela conhecia tão bem os seus hábitos!

— Hábitos? Que espécie de hábitos? Espero que não te­nham conversado sobre minha vida sexual!

— Eu não discuti a respeito, mas ela fez questão de dizer que considerava você o melhor amante que ela já conheceu.

— Helen parecia enojada ao dizer isso.

— Preciso lembrar de agradecer a Sharon pela opinião.

— Ela parecia acostumada ao seu hábito de mentir, dizendo que está trabalhando, quando na realidade não está. E ela ainda disse que a sua atração por mim deve estar no fim, porque já começou a mentir assim — falou Helen, zangada.

— Você concordou com ela?

— Não. Pedi que fosse embora. Achei que ela já tinha me insultado o suficiente.

Leon permaneceu quieto, o que irritou mais Helen.

— Ela também disse que estava nos Estados Unidos, quando você esteve lá.

— É verdade.

— Ela foi uma daquelas mulheres com quem você...

— Foi.

Helen escondeu o rosto nas mãos. Sentia tanto ódio que nem conseguia falar. Mas tinha que revelar o que sentia!

— Odeio você, Leon! Odeio o que está me fazendo!

Leon levantou, chegou perto dela e tirou as mãos com que ela escondia o rosto.

— Nunca fingi ser inocente, Helen. Você sabia sobre essas mulheres com quem estive na América! Por que conhecer uma delas a deixou assim?

— Porque não aguento pensar em você com ela, fazendo amor... Não aguento e odeio você por isso. — Um soluço escapou de sua boca, mas foi imediatamente sufocado pela boca dele que se uniu ã dela de um modo selvagem. Seus lábios forçaram os dela a se abrirem. Ela lutou contra ele com todas as forças, odiando a maneira com que a beijava. Finalmente conseguiu livrar-se.

— Pare, Leon. Não faça assim comigo.

No mesmo instante ele se controlou e, muito devagar, pós as mãos nos ombros dela.

— Não aguento mais continuar nesta situação com você, Helen. Você tem me acusado de muita coisa. Tenho procu­rado ser paciente, há duas semanas me limito a dar-lhe beijos de irmão, ao entrar e sair da casa, mas tudo isso está me deixando louco. Não tenho ficado trabalhando até tarde porque quero, mas porque preciso. Tenho chegado em casa tão cansado que não consigo nem pensar direito; mas é a única maneira de não pensar em ir para a cama com você. Não pode entender isso?

— Não tinha pensado a esse respeito!

— Claro que não! Você é um convite para tudo o que eu quero e, no entanto, tenho que tratá-la como se eu fosse o seu irmão!

— Não é assim — ela gritou com raiva. — É exatamente ao contrário; você me trata como se eu fosse uma estranha como se não significasse mais nada pra você.

— Não significar nada para mim? Fico excitado só de olhar para você! Não consigo deixar de pôr as mãos em você! E ainda me diz que não ligo para você? Foi uma pena Sharon ter vindo aqui amolar você, mas quero que saiba que ela nunca significou nada para mim.

— E eu? O que é que eu sou? — Helen insistiu.

— A pessoa mais importante na minha vida.

— Leon! — Ela se atirou nos braços dele, os lábios en­treabertos num convite.

— Tem certeza de que quer que a beije? Não poderei parar, se começar a beijá-la.

— Não sei se vou querer que você pare.

— E se quiser?

— Vamos pensar nisso se acontecer. Acho que é um passo que estou dando na direção certa.

Ele abaixou a cabeça e colou seus lábios nos dela.

Para Helen, aquilo era o fim dos longos dias em que ela queria estar com ele; sentia o corpo em fogo. Seus braços acariciavam o pescoço dele e ela só podia pensar na sensação deliciosa de senti-lo perto.

Os lábios dele escorregaram pelo pescoço dela, com a cabeça encostada na dela, Leon a fez sair do sofá e ficaram os dois ajoelhados no tapete macio em frente à lareira. Seus corpos estavam tão unidos, que Helen podia sentir a exci­tação crescendo dentro de Leon.

Pela primeira vez na vida sentiu-se excitada também; os bicos de seus seios estavam duros e firmes ao se encostarem naquele peito cabeludo. As mãos dele se moviam nas costas dela com movimentos eróticos, produzindo arrepios de prazer.

Ele a fez ir abaixando até deitar sobre o tapete grosso e quente; deitou-se então sobre ela. Juntaram os lábios no­vamente e ela não protestou quando ele lhe tirou a blusa e, abrindo seu sutiã, acariciou seus seios nus.

Helen desabotoou a camisa dele e tirou-a. Sentiu o contato frio do medalhão que lhe dera, entre seus seios. Com as mãos acariciava as costas dele, apertando-o mais quando sentiu os lábios dele num de seus mamilos.

— Ele fez isso com você? — Leon perguntou com desejo na voz. — Ele lhe deu prazer, assim?

— Não... nunca. — Ela mal conseguia falar com a língua dele passando por sua pele. — Ele nunca me tocou assim.

— Seu corpo é meu, Helen, meu! — Com uma das mãos pegou a mão dela, girando-a para acariciá-lo também. — Seu corpo é meu, Helen — Leon repetiu, com um fundo suspiro. — Quero possuí-la, Helen.

Ela também disse que queria, sentindo-se cada vez mais excitada pelos lábios dele, que iam de um para outro de seus mamilos enrijecidos.

Helen arqueou o corpo ao sentir que ele desabotoava o botão de sua calça e abria o zíper. Depois, com delicadeza, Leon puxou a calça dele para baixo.

Somente quando sentiu o contato de suas coxas nuas com a pele dele é que deu conta de que estavam nus. De repente foi tomada de pânico e ficou imóvel. Leon não se apercebeu dessa mudança e continuou a beijar-lhe os seios.

— Helen, entregue-se querida. Entregue-se a mim.

— Leon... — Ela começou a sentir-se nauseada.

— Minha querida... — Ele olhou para ela cheio de desejo, que foi substituído por angústia ao ver o rosto pálido e desesperado de Helen. Com um gemido saiu de cima dela. — Saia daqui, Helen.

— Leon...

— Saia daqui, Helen — ele falou como se estivesse fora de si. — E tranque a porta de seu quarto. Não quero ser responsável pelo que posso fazer.

— Desculpe, Leon.

— Não fique aí se desculpando — ele falou, cobrindo o rosto com o braço. — A não ser que queira ser violentada de novo.

Helen correu e trancou a porta do quarto, como ele tinha mandado. Leon parecia desesperado e incapaz de se controlar.

Ela se atirou na cama, soluçando. Não era justo! Ela tinha desejado Leon do mesmo modo como ele a desejava! Mas não tinha conseguido chegar até o fim! Não tinha conseguido deixar Leon fazer amor com ela. Agora, talvez ele a odiasse!

Mas, tinha quase acontecido, quase mesmo! Quem sabe na próxima vez... Será que haveria uma próxima vez? Será que Leon se arriscaria numa próxima experiência?

Helen colocou a camisola e deitou-se, mesmo sabendo

que não conseguiria dormir depois do que tinha acontecido.

A porta de comunicação entre seu quarto e o banheiro

foi aberta de repente, Leon entrou na quarto, vestindo um

roupão marrom.

Helen acendeu a luz do abajur, enquanto ele arrancava as cobertas da cama. Como ela tinha sido idiota! Tinha fechado a porta do quarto, mas esquecera a do banheiro! No entanto, Leon não tinha cara de quem fosse possuí-la à força.

— Esqueceu isto — ele falou, muito pálido e agitado. — Não quero que Max, de manhã, encontre essas coisas na sala e tire conclusões erradas. — Estendeu a roupa que ela estava usando.

— Claro! — Ela o olhava como se pedisse desculpas — Leon, eu... Sinto muito pelo que aconteceu. Gostaria que fosse diferente. Eu tentei. Realmente tentei.

— Sei que tentou. Mas você sabe muito bem o que fez para mim. Recusou-se a ser minha. E não foi agradável.

— Não fiz de propósito, Leon. Por favor, procure com­preender. Não consegui ir até o fim.

— Não conseguiu, não é? Mas eu a estou prevenindo, Helen. Não faça isso de novo comigo. — Com raiva ele se dirigiu para a porta. — Da próxima vez, pode ser que eu não consiga me controlar. Está bem prevenida, Helen? Não tente fazer isso de novo!

— Mas eu...

— Estou avisando: se você me deixar de novo no estado de excitação em que me deixou, vou possuir você, quer quei­ra, quer não. — Ele bateu a porta com tanta violência que o quarto todo estremeceu.

 

Helen não quis levantar cedo no dia seguinte. -Preferia não ver Leon antes que ele saísse para trabalhar. Além disso, estava abatida e pálida, por não ter dormido direito.

Leon parecia ainda pior. Além de olheira, tinha rugas de preocupação entre os olhos tristes e sem vida. Estava sentado à mesa, com uma xícara de café em uma mão e um charuto na outra, quando ela entrou na sala de jantar.

Helen hesitou um momento antes de começar a falar:

— Bom dia, Leon. Você está um pouco atrasado hoje, não está?

Ele a olhou de um modo tão distante que Helen teve certeza de que ainda estava zangado.

— Por isso você ficou escondida em seu quarto? Esperando até ter certeza de que eu tinha saído?

Era incrível como ele sabia exatamente o que ela pensava!

— Não vai trabalhar hoje?

— Vou só mais tarde. Avisei que só chegaria por volta das dez horas. Sente-se, Helen.

Helen sentou-se na cadeira em frente à dele e serviu-se de uma xícara de café.

— Sobre ontem à noite, Leon...

— Tem certeza de que quer falar sobre isso? — ele per­guntou muito friamente.

— Temos que falar sobre o assunto — ela insistiu. — Sei que você acha que fiz tudo de propósito, mas...

Leon levantou, arrastando a cadeira para trás.

— Vamos para a sala, Helen. Não me parece que você queira comer; então, vamos conversar num lugar mais con­fortável. Estou com uma ressaca monstruosa; a pior de toda a minha vida.

Helen seguiu-o até a outra sala.

— Ficou bebendo, ontem à noite?

— Vou ignorar a estupidez dessa pergunta. Diga o que quer sobre ontem. Estou ouvindo.

— Você ficou bêbado ontem, depois que eu fui para a cama? — ela insistiu.

— Que mais esperava que eu fizesse?

— Sinto muito, Leon. Realmente.

— Acredito. Mas quero que saiba o que fez comigo. Estava pronto para possuí-la e você... Bem, o seu olhar mostrava que, em vez de estar me desejando, querendo ser minha, estava pensando naquele porco cretino de seu marido. Como acha que eu me senti?

— Eu não queria que isso acontecesse.

— Não queria, mas o fato é que cheguei um pouco mais perto de seu corpo, para depois dar em nada. Acha que eu poderia ir dormir feito uma criança comportada, depois disso?

— Sei que está zangado comigo. Prefere que eu arrume minhas coisas e vá embora? — Helen estava quase chorando.

— E dessa maneira que você acha que resolve tudo? — Ele parecia mais bravo ainda. — Fugir? Você é covarde! Em vez de se ajudar, só quer saber de fugir cada vez que chego perto. Se é o que quer, então vá embora! Por que diabo eu devo me importar se você fica ou vai?

— Mas você se importa, não? — ela perguntou, com medo de que Leon quisesse que ela fosse; Helen não queria isso!

— Claro que me importo! Não faz a menor idéia do que a cena de ontem me causou, não é?

Ela fez que não com a cabeça.

— Você não sabe nada a respeito de um homem, seu corpo ou suas necessidades, Helen. O que aconteceu entre nós ontem à noite conseguiu me deixar mais louco ainda

por você. Ainda não pude possuí-la e preciso conseguir isso. preciso desesperadamente.

— Então não quer que eu vá embora?

— Faça como quiser. Vou ter que viajar dentro de al­guns dias.

— Por quê, Leon? Por minha causa? — Ela quase gemia ao continuar: — Não me diga que eu estou fazendo você sair de sua própria casa!

— Não é assim, Helen. — Ele sorriu, mas era um sorriso triste. — Esta viagem para os Estados Unidos já estava marcada há algumas semanas. Não pense que a arranjei só para ficar longe daqui. Vou porque preciso; embora não tenha a menor vontade de ficar dando entrevistas, é o que vou fazer. Mas esperava que já tivéssemos vencido as suas barreiras e tinha pensado em levá-la comigo.

— E agora?

— E agora vou sozinho.

— E eu? O que vou fazer?

— Gostaria de poder sugerir alguma coisa. Sabe, Helen, acho que não podemos prolongar esta situação por muito mais tempo. Assim, enquanto eu estiver fora, procure decidir sobre o nosso relacionamento e aceitá-lo.

— E se eu decidir fugir?

— Então não poderei impedi-la. Devagarinho, você está me destruindo, Helen, e preciso pôr um fim nisso. Se você for embora, não acredito que vá esquecê-la, mas pelo menos voltarei a me respeitar.

Helen se sentiu tão culpada que, sem perceber, foi-se aproximando de Leon.

— Não chegue tão perto de mim, Helen.

— Que pena que tudo isso esteja acontecendo!

— Não sinta pena, Helen. Apenas cresça e fique esperta. Todos os homens têm o mesmo tipo de corpo, mas é o senti­mento que existe por trás das ações que os torna diferentes. Estava fazendo amor com você, ontem, e não violando seu corpo. Mas se você não pode aceitar a diferença, vamos acabar com esta farsa. Pense bem nisso, enquanto eu estiver fora.

479Amor Proibido

— Eu desejei você ontem à noite, Leon. É que não con­segui ir até o fim.

Ele levantou impaciente e, pegando o casaco para sair, disse: — Quando tiver certeza de que pode chegar até o fim, avise-me. Não vou aguentar passar pela mesma recusa de ontem. Vou agora para o estúdio, embora esteja ainda muito agitado. Até mais tarde; nem vou beijá-la, porque não sei se consigo mais me controlar.

Helen se afundou um pouco mais no sofá, parecendo desesperada.

— Não fique tão preocupada. Você ainda tem algumas semanas para se decidir. — Ele saiu, batendo a porta.

Se Helen não o aceitasse, ela o perderia. Era essa a amea­ça que existia por trás do que ele dissera. Seus pensamentos estavam completamente confusos. Ela o amava, queria estar com ele; mas não adiantava dizer isso. A única coisa que provaria que isso era verdade era ser possuída por ele; e isso ela não podia fazer. Tinha pensado muito sobre tudo isso, a noite inteira, e agora tinha um prazo para a decisão final! O que fazer?

Resolveu sair um pouco. Talvez o ar fresco fizesse bem.

Andando sem rumo, Helen ia remoendo os acontecimen­tos. Leon estava certo, ela não podia continuar a tratá-lo daquele jeito. O melhor era mudar-se do apartamento dele, não havia outra solução. Mas ia esperar até que ele viajasse; assim evitaria ver a decepção dele e também ficaria o má­ximo de tempo possível junto dele. O exercício fez bem a Helen e a certeza de ter chegado a uma decisão deixou-a mais animada. Resolveu voltar para o apartamento.

— A sra. Masters telefonou, enquanto a senhora estava fora — disse Max assim que ela entrou.

— Não disse a ela que Leon só voltaria à noite?

— Ela queria falar com a senhora mesmo. Disse que ligaria mais tarde.

— Muito bem, Max. Obrigada.

Helen foi para a sala sem entender como a mãe de Leon sabia que ela estava no apartamento dele. Será que ele

480

Amor Proibido

tinha contado? Ficou envergonhada, pois ela ia imaginar coisas que não tinham existido.

Preferia não ter que atender o telefone quando a sra. Masters ligou outra vez.

— Espero que não se incomode por eu a estar procurando, Helen — disse a sra. Masters numa voz quente e agradável.

— Claro que não; é um prazer.

— Charles achou que não devia ligar, que Leon ficaria

zangado comigo!

— Acho que Leon não ficará aborrecido, sra. Masters. — Helen é que estava zangada com ele. Leon não tinha o direito de contar a ninguém que ela estava morando com ele, nem mesmo aos pais.

— Amanhã vou à cidade fazer compras e gostaria de saber se você quer ir comigo. Se não quiser, não tem im­portância, não ficarei aborrecida. — Quase sem parar, con­tinuou: — Leon me disse que em geral você fica em casa e eu realmente gostaria de sua companhia.

Helen não sabia o que dizer. Na verdade, gostaria muito de sair, mas com a mãe dele? O que Leon iria dizer? Para ganhar tempo e poder pensar, perguntou:

— Amanhã?

— Isso mesmo. Eu passaria por aí por volta do meio-dia e poderíamos almoçar na cidade, antes de fazer as compras.

— Vou, sim, sra. Masters. Com muito prazer. Quer passar por aqui ou se encontrar comigo em um restaurante?

— Vou até o apartamento. Meu trem pode atrasar e não quero deixá-la esperando. Vamos almoçar fora, está bem?

— Ótimo. Estarei esperando, sra. Masters.

— Prefiro que me chame de Catherine.

— Muito bem, Catherine. Até amanhã.

Quando Leon chegou, aquela noite, Helen olhou-o com expressão aborrecida.

Ele suspirou fundo e disse:

— Que aconteceu com você? Não gostou de meu ultimá-tum de hoje de manhã?

— Ainda não pensei sobre isso. — Pelo menos não tinha pensado mais, desde que decidira partir assim que ele fosse viajar.

Ele sentou, parecendo muito cansado.

— Então, que diabo aconteceu? Tive um dia horrível, nada deu certo, e ainda por cima encontro você sentada aí com ódio nos olhos! — Encostou a cabeça para trás e fechou os olhos: — Meu Deus, como estou cansado!

— Sua mãe ligou, hoje — Helen lhe disse para começar o assunto.

— Ela vai ligar de novo ou devo telefonar para ela? — perguntou Leon com voz sonolenta.

— Ela ligou para falar comigo.

— Com você? — Agora ele estava bem desperto, prestando atenção no que ela dizia.

— Exatamente. Por que disse a eles que eu estava mo­rando aqui? Não era melhor ter me poupado desse vexame?

— Você ficou envergonhada?

— Claro que sim. Eles devem ter uma opinião péssima a meu respeito.

— Pelo contrário. Foi bom eu ter contado. Minha mãe vem à cidade de vez em quando e sempre passa por aqui. Preferia que ela entrasse de repente e a encontrasse aqui?

— Talvez tenha razão. Contou tudo a eles?

— Tudo o que era necessário. Claro que coloquei um pouco de romantismo na história toda. Sabe, eles são um pouco antiquados!

— O que quer dizer com "um pouco de romantismo"?

— Contei a eles que estávamos apaixonados.

— O quê? — perguntou Helen, furiosa.

— Eles nunca iriam compreender a verdadeira razão.

— Mas... e agora? Como devo agir com ela amanhã?

— Por quê? — ele perguntou, surpreso. — O que vai haver amanhã?

— Ela me convidou para fazer compras com ela, amanhã. Como devo agir? E, no mínimo, ela vai esperar me ver fazendo carinhos em você, vibrando de amor... — Ela parou ao vê-lo sorrir. — Pare de rir, Leon, não tem nada de engraçado.

— Não fique tão preocupada, Helen. Tenho certeza de que você saberá dar um jeito.

— O ator é você, Leon, não eu. — Helen se arrependeu imediatamente de dizer isso. — Desculpe, Leon.

Leon aproximou-se e pegou a mão dela.

— Não se desculpe, querida. Sabe que tenho esperanças

no nosso futuro?

— Nunca vou conseguir convencer sua mãe, Leon. Ela

vai pensar que sou uma vagabunda.

— Ninguém vai pensar isso de você. Com toda a sua doçura e inocência, ninguém no mundo pode pensar isso de você. Meus pais já sabem de tudo o que saiu nos jornais, na época do seu casamento com West. E eles não acredita­ram numa só palavra do que foi publicado.

— Gosto de seus pais, Leon. Eles são como você.

— Isso quer dizer que gosta de mim?

— Você sabe que eu gosto.

— Às vezes chego a achar que não — ele disse, triste.

— O que sinto é mais do que gostar, Leon.

— O que é? Diga, Helen.

— É... é... gostar demais.

Ele soltou a mão dela e reclinou-se na poltrona.

— Não quer se comprometer, não é?

— Você nunca me pediu que tivesse um compromisso;

acho que não quer isso.

— Você parece que sabe tudo, dizendo o que quero e o

que não quero.

Ela sabia que tinha deixado Leon aborrecido, mas nada no mundo a faria mudar de idéia sobre o que decidira dois anos atrás. Nunca mais ia querer se envolver com alguém a ponto de ter um relacionamento permanente. Além do mais, achava que Leon também não queria compromisso nenhum; ele estava cansado, exausto até, procurando motivo para discutir com ela.

— É melhor jantar, Leon, e depois ir deitar mais cedo. Ele a olhou com tanto ódio que Helen teve medo.

— Posso ter trinta e quatro anos e ser bem mais velho

483Amor Proibido

que você, Helen, mas não estou decrépito. — As palavras pareciam sair de sua boca como labaredas de fogo. — Mas tem razão sobre o jantar. Vou jantar... mas vou jantar fora. Vou onde, tenho certeza, sou muito querido. — Leon, eu...

— Não se preocupe, Helen. Não vou chocar a sua cabeça tão pura e inocente com os detalhes do que vou fazer. Jovem como você é, pura e imaculada, não vai aguentar ouvir.

— Leon, não vá!

— Você tem alguma coisa de bom para me oferecer? — Não, mas... — Sua voz sumiu.

— Então, até logo. Não precisa me esperar, vou voltar tarde.

Já era quase dia quando Helen ouviu Leon voltar; e ele parecia completamente bêbado, pelo modo como tropeçava, nos móveis.

Na manhã seguinte, Helen foi tomar café bem mais tarde. Dessa vez ele já tinha saído. Sabia que estava prejudicando a vida dele e, quanto mais depressa sumisse, melhor.

Pouco antes do meio-dia a mãe de Leon chegou. Helen não tinha muita idéia de como tratá-la, principalmente por­que sabia que Leon tinha mentido sobre o tipo de relacio­namento dos dois. Mas não se sentia culpada; pelo menos ela estava apaixonada.

Chegaram ao restaurante e a sra. Masters pediu frango e uma garrafa de vinho.

— Nem pode avaliar como Charles e eu estamos contentes por saber que Leon vai se acomodar — disse a sra. Masters, com um lindo sorriso. :— Vai ser ótimo ter um casamento na família.

Helen quase engasgou ao ouvir isso. Ia ser difícil fingir para a sra. Masters.

— Leon me disse que não lhe fizesse perguntas, Helen. Mas acho que pode compreender como estou entusiasmada; por isso, desculpe a minha curiosidade.

— Claro que entendo. — Helen resolveu saber mais deta­lhes. — Quando Leon lhe disse para não me fazer perguntas?

484

Amor Proibido

— Ontem à noite, quando me ligou. Ele me pareceu mal-humorado, mas acho que é devido ao excesso de trabalho.

— Tem trabalhado demais, mesmo. — Helen sabia que essa não era a causa do mau humor.

— Já resolveram a data do casamento?

— Não. Ainda não. — Leon não devia ter inventado essa história; estava sendo difícil mantê-la.

— O que Leon lhe contou sobre meu casamento anterior?

— Nada, minha querida. Apenas que foi uma experiência horrível para você.

Helen sacudiu a cabeça, concordando.

— Charles e eu não somos tão antiquados como Leon pensa. Compreendemos perfeitamente bem e achamos justo que vocês fiquem juntos no apartamento por algumas se­manas. E se chegarem a termos mais íntimos, é até razoável. Leon já tem mais de trinta anos e você, já tendo sido casada, não faz tanta questão que a noite de núpcias seja a primeira noite que passam juntos, não é?

Helen se sentia incapaz de dizer alguma coisa inteligente. Mas a sra. Masters não pareceu notar o seu silêncio e continuou:

— Sei como o lado físico do casamento é importante. Não é tudo, claro, mas quando falha, parece que todo o resto não dá certo.

— Leon e eu não temos dormido juntos — Helen final­mente falou. — E não pretendemos isso. Estamos vivendo juntos justamente para ver se o que sinto por ele é o sufi­ciente para...

— Leon me explicou, querida — interrompeu a sra. Mas­ters. Depois com um sorriso, continuou: — Se ainda não marcaram a data do casamento, ainda não pensaram em ter filhos, não é? Não vejo a hora de ter um neto nos braços. E Leon vai ser um pai excelente! — ela completou, feliz.

— Tenho certeza de que vai — disse Helen, imaginando um bebê lindo como Leon nos braços da sra. Masters. A diferença é que ela sabia que a mãe ia ser outra pessoa e não ela.

— Helen, se você acabou de almoçar, vamos indo, porque tenho muito o que comprar.

Realmente, passaram a tarde toda nas lojas, andando de uma para outra.

Ao chegarem ao apartamento, tomaram um chá e sen­taram para descansar.

— Estou exausta — disse Helen tirando os sapatos para descansar os pés doloridos. — Você parece estar bem disposta, Catherine. Como consegue?

— Prática, minha filha, prática.

— Minha mãe já conseguiu deixá-la exausta? — pergun­tou Leon, entrando na sala. Ele beijou a mãe e se serviu de uma dose de uísque.

— Não se preocupe comigo — a sra. Masters respondeu. — Prometo não ficar corada se você beijar Helen.

— Sei que você não ficaria, mas Helen ficaria, não é, querida? — Pela primeira vez desde que entrou, ele olhou para Helen. Seus olhos estavam frios.

— Não, Leon. Eu também não ficaria corada por isso — ela desafiou.

— Nesse caso... — Leon chegou perto e beijou-a nos lábios. O rosto de Helen ficou vermelho quando ele se afastou.

Para a sra. Masters aquele beijo deveria ter parecido carinhoso apenas, mas havia uma emoção muito maior por trás dele.

— Está vendo, mamãe? Não disse que ela ia ficar corada? — Leon disse em tom de brincadeira.

A sra. Masters sorriu e começou a conversar com Leon sobre o trabalho dele. A maneira agradável com que os dois falavam fez Helen lembrar das conversas deliciosas que ti­vera com Leon logo que se mudara para o apartamento dele. Virou-se, tentando esconder as lágrimas que teimavam em saltar de seus olhos. Leon ia viajar na manhã seguinte e essa era a última vez que iam estar juntos; ela não estaria mais ali quando ele voltasse!

A sra. Masters ficou para jantar, coisa que geralmente fazia quando vinha para a cidade. Leon tinha sido muito educado com Helen, mas ficou a maior parte do tempo con­versando com a mãe. Depois do café, ele se levantou para levar a mãe para casa.

— Não vem conosco, Helen? — a sra. Masters perguntou. Helen olhou para Leon como se perguntasse se devia

aceitar ou não.

— Venha, Helen. Charles vai adorar vê-la de novo. Diga a ela que venha Leon.

— Venha conosco, Helen. Assim você me faz companhia, na volta — Leon disse.

Helen sabia que ele não a convidara com boa vontade; mas se ela não fosse junto, não ia ficar nada com ele, que ia embora no dia seguinte. Tinha que ir, mesmo que Leon preferisse que ela ficasse.

Embora a mãe protestasse, Leon insistiu para que sen­tasse na frente, porque era mais confortável.

— Você não se incomoda se eu for na frente dessa vez, Helen? Realmente não me sinto bem, sentada atrás no carro.

— Claro que não — respondeu Helen, amável. — Além disso, vou tê-lo só para mim no caminho de volta — ela falou só para desafiar Leon.

Ele a olhou com raiva.

Quando chegaram, o sr. Masters insistiu para que en­trassem e tomassem uma xícara de café, juntos. Mas Leon recusou, dizendo que tinha que se deitar mais cedo para poder viajar na manhã seguinte.

Então o velho senhor convidou Helen para voltar uma outra vez. Despediram-se dos pais de Leon e começaram a viagem de volta.

Helen sentou-se na frente, mas permaneceu quieta. Sen­tia que estava cada vez mais distante.

— Quer dizer alguma coisa? — ele perguntou de repente.

— Tem alguma coisa sobre a qual queira falar? — ela respondeu com outra pergunta.

— Não.              

— Nem eu.

— Nesse caso, vou ligar o rádio, se não se incomoda. Helen sentia os lábios tremendo e cada vez tinha mais

vontade de chorar.

— Não me incomodo, pode ligar — ela disse.

Tocava uma música triste, cheia de desencontros e adeu­ses. Helen não podia mais reter as lágrimas e não sabia o que fazer para que Leon não as visse.

Quando chegaram ao apartamento, já era mais de meia-noite. Helen foi para o quarto.

— Onde vai? — perguntou Leon, com voz macia.

— É muito tarde e sei que não quer estar cansado ama­nhã. Então, já estava indo deitar.

— Venha conversar comigo — ele falou, preparando um uísque para tomar.

— Mas você disse no carro que não queria conversar!

— No carro eu não queria mesmo. O que quero conversar não dava para ser falado no carro. Venha sentar-se, Helen. É importante.

Ela sentou numa poltrona.

— Não sei o que tem para conversar; ontem à noite... Ele a interrompeu.

— Ontem à noite você me disse coisas que eu não queria ouvir. Então, saí e bebi até não aguentar mais.

— Ouvi você chegar e percebi que deveria ter estado bebendo.

— Desde que conheci você, tenho bebido e fumado demais. — Ao dizer isso, acendeu um charuto.

— Já notei, mesmo.

— E o que pretende fazer a esse respeito?

— Não posso fazer nada Leon. Já tentei mas não con­sigo mesmo.

— Não quis dizer nada sobre isso, Helen. Estou falando sobre o compromisso final.

— Não entendi — ela falou, espantada. — Que compro­misso final?

— Casamento.

— Mas sei que você não quer casar.

— Pare de dizer o que quero e o que não quero. Helen. Por que tem tanta certeza de que não quero casar com você?

Helen não conseguiu responder. Achava que ele não que­ria, mas não sabia explicar por quê.

— Helen, sei que amanhã, assim que eu for embora, você também vai, e para sempre.

— Como soube?

— Notei que a noite toda havia lágrimas em seus olhos e que você procurava escondê-las. Mas você não vai embora amanhã, nem nunca, Helen. Vamos nos casar e você vai para os Estados Unidos comigo, como minha esposa.

Ela estava tão espantada que riu, nervosa, antes de con­tinuar a falar:

— Sei que você é um homem importante e influente, Leon, mas nem você conseguiria tirar uma licença de ca­samento em tão pouco tempo!

Ele abriu a carteira e pegou um pedaço de papel.

— Já providenciei a licença desde a semana passada — ele entregou o papel para ela.

Helen estava tonta.

— Não pode ser verdade!

Leon pegou o papel de volta, antes que ela o molhasse com lágrimas.

— Dois dias depois que a conheci, pensei em casar com você, Helen; amanhã, às dez horas, você vai se tornar a sra. Leon Masters.

 

Helen afastou-se dele, sentindo uma dor tão profunda que parecia envolver todo o seu corpo.

— Você sabe que isso é impossível.

— Que espécie de resposta é essa?

— Você sabe muito bem que é impossível.

Ele segurou-a e fez com que ela ficasse de frente para ele.

— Olhe para mim, Helen. Agora diga-me por que não pode casar comigo!

Ela o encarava com os olhos mergulhados em tristeza. Não precisou dizer mais nada, porque ele a entendeu.

— Não estou querendo o lado físico do casamento, Helen; quero apenas que seja minha esposa.

— Mas não é justo para você, Leon.

— Quero casar com você. Eu a amo, Helen. Amei você desde o dia em que a conheci e sempre soube o que queria com você: casamento. Fui tão orgulhoso que não pude ima­ginar que você talvez pensasse diferente. Quando me deu o fora, fiquei louco da vida e achei que estava mentindo quando disse que era casada, só para se livrar de mim. Depois, fiquei feliz quando soube que você era viúva. Mas quando a beijei, me assustei com a sua frieza! — O rosto dele mostrava a dor que aquelas lembranças lhe traziam-

Helen estava dividida entre a alegria de saber que Leon a amava e a dor de não poder casar com ele. Aliás, não poder casar com ninguém!

Leon chegou perto dela e segurou seu rosto entre as mãos.

— Não estou lhe pedindo mais do que você pode dar, Helen. Quero apenas que seja minha esposa e ficarei sa­tisfeito apenas com isso pelo tempo que achar necessário

— ele disse com sinceridade e carinho. — Sempre quis casar com você.

— Mas nestas últimas semanas você pareceu tão distante!

— Achei que, vivendo juntos, teríamos mais chance de acertar nossa situação, mas vejo que me enganei; apenas piorei as coisas.

— E você acha que o casamento vai resolver tudo?

— Acho que se você se sentir segura, tudo se resolverá.

— Com muita delicadeza ele acariciava o rosto dela. — De qualquer maneira, não teria feito amor com você antes de casarmos, Helen. Queria apenas que você quisesse, do mes­mo modo como eu queria. Acho que a segurança que o ca­samento traz vai ajudar você e isso é o que mais quero.

— Mal posso acreditar que me ama, Leon — ela disse, gozando a idéia de amar e ser amada.

— Gostaria que eu provasse o meu amor por você?

— Acho que sim — ela respondeu com timidez.

— Como estou feliz! — ele disse, chegando os lábios nos dela, forçando-os a se abrirem. Helen se entregou comple-tamente, beijando-o com igual paixão.

Era como se estivesse trocando um beijo pela primeira vez! Helen não ofereceu resistência quando as mãos dele percorreram seu corpo, detendo-se nos seios e nos mamilos rijos. Seus corpos estavam colados um no outro. Ela podia sentir o desejo crescendo nele e respondeu a essa paixão com igual intensidade.

Tinha medo de que ele soubesse como era enorme o amor que sentia! Mas agora, queria os beijos dele. Tremia de prazer enquanto ele lhe desabotoava a blusa e lhe acariciava os seios nus. Como era delicioso o contato daquelas mãos fortes em sua pele! Sentia ondas de prazer com os movi­mentos circulares que os polegares dele faziam percorrendo seu corpo!

Bem devagar, ele foi descendo os lábios pelo pescoço dela, chegando finalmente era seus seios, Leon estava completa mente tomado pelo desejo e ia ser difícil para ele controlar-se. Embora ela não quisesse, sabia que pre­cisava fazê-lo parar.

Helen desejava dar-se a ele, queria pertencer a ele e sentir que seus corpos tinham se tornado apenas um. Mas não podia!

Com muito esforço, conseguiu livrar-se dos braços dele.

— Por quê? — ele perguntou, transtornado. — Ama outra pessoa?

— Sabe que não.

— Mas também não me ama, não é? — O tom de deses­pero permanecia na voz dele.

— É isso mesmo — ela mentiu, odiando-se por causar tanta tristeza e dor nele.

— E o fato de eu amá-la tanto não significa nada para você?

Se pelo menos ela pudesse dizer a ele quanto o amava!

— Helen, você não se preocupa por estar me causando tanta dor?

— Não quero que você sofra, Leon.

— Mas então por que não casa comigo? E por causa da imprensa, Helen? Tem medo de publicidade? — Ele a olhou com nova esperança. — Se é por isso, fique sosse­gada; como marido, farei tudo para evitar qualquer abor­recimento para você!

— E se você começar a acreditar em tudo que os jornais disserem a meu respeito? Eles sabem inventar boas histórias e esse tipo de publicidade não será bom para você; poderia até arruinar a sua carreira.

— Prefiro ter você do que minha carreira, Helen. Tenho o suficiente para viver, sem trabalhar mais. Tenho também outros negócios que me manteriam ocupado. Mas acho que você está exagerando um pouco a situação. O que causou sensação há dois anos talvez não seja tão boa notícia agora.

— Não sei. Mas eles me arrasaram naquela época.

— Sei disso. Você chegou até a perder o bebê por causa disso!

— Isso é outra coisa que você precisa saber: se houver algum dia um casamento em minha vida, não quero saber de ter filhos.

— Eles não são necessários, se você não os quer. Ela sorriu em dúvida.

— Não é assim que sua mãe pensa!

— Você não vai casar com minha mãe e sim comigo! Além disso, você poderá mudar de idéia, com o passar do tempo. Ainda é muito moça e pode muito bem esperar mais alguns anos, para só depois resolver ser mãe.

Ela não queria esperar; ela tinha que esperar, e para sempre! Quando perdeu o bebê, os médicos lhe disseram que provavelmente ela não seria capaz de ter outro filho! Era por isso que, embora Leon a amasse e ela também o amasse tanto, não podia se casar com ele. Não seria justo. Agora ele estava completamente apaixonado por ela, porém mais tarde, quando o fogo da paixão passasse, ele ia querer ter uma família. E isso ela não podia lhe dar.

— Precisa mesmo haver casamento? — ela perguntou, sem coragem de olhar para ele.

— Como assim? Você preferia ter só um caso comigo?

— Não era isso que você pretendia, desde o início?

— Não era um caso que eu queria. Helen, e já provei isso quando lhe contei que, logo depois de conhecê-la, pensei em casamento.

— Então é casamento ou nada?

— Exatamente.

— Então, vai ter que ser nada.

— Helen, está querendo me dizer que preferia ter um caso comigo do que casamento? Logo você que sempre mor­reu de medo de sexo?

Ela não respondeu nada, ficou apenas olhando para as mãos. Era melhor que ele não soubesse a verdade.

— Não quer um casamento sem a complicação das rela­ções físicas?

— Não quero nenhuma espécie de casamento.

— Você deve sentir alguma coisa por mim, Helen, para querer ser minha amante.

— Não, Leon — ela mentiu. — Compreendo agora que preciso ter relações sexuais algum dia, E o melhor é que eu tenha como amante um homem experiente como você, que possa me fazer sentir prazer.

— Pare de falar como uma vagabunda! — ele disse com ódio. Havia tanto sofrimento nos olhos dele que Helen sentiu vontade de morrer. — Não quero ser seu amante e sim seu marido.

— Sinto muito, Leon.

— Saia da minha frente, Helen. Não quero mais vê-la; não tenho mais o que falar com você. — Ele se afastou para mais longe, os músculos tensos, o corpo tremendo.

— Leon...

— Saia daqui, já disse. Vá procurar outro homem a quem possa dar seu corpo, já que para mim você nunca quis. — Ele deu uma risada nervosa. — Como você mudou em poucos dias! Passou de um coelhinho assustado para uma vagabunda!

Ele tinha toda razão de insultá-la; mas como lhe doía ouvi-lo dizer essas coisas!

Leon passou por ela, foi direto para o quarto e bateu a porta.

Helen quase desmaiou de alívio ao se ver sozinha. Não sabia como tinha conseguido resistir! Se ele a tivesse beijado de novo, ela não saberia esconder o amor que sentia por ele.

Na manhã seguinte, ao sair, Leon disse:

— Não quero encontrá-la aqui quando voltar do trabalho.

— Não estarei aqui.

— Não consigo compreendê-la. Se tivesse dito que não me amava, seria razoável. Mas querer apenas um caso, acho intolerável.

— Não adianta tentar me entender, Leon. Até logo. Ele virou-se rápido e beijou-a como um selvagem, che­gando a machucar seus lábios.

— Acho que vou visitá-la quando voltar e, quem sabe, aceitar a sua oferta. — Passou as mãos pelo corpo dela, agora não mais com amor, mas com insolência; segurou os seios entre as mãos.

— Se fui eu que consegui trazer nova vida a esse corpo, é justo que eu seja o primeiro a experimentá-lo.

— Leon! — Ela nunca o tinha visto como um homem que só pensa numa mulher como uma fêmea.

— Não se preocupe, Helen. — E afastou-a de si. — Não tenho vontade nenhuma de procurá-la, a não ser que fique desesperado de desejo. Cuide-se; não vá fazer nada de que se arrependa mais tarde. — E saiu.

Helen foi para o quarto arrumar suas coisas. Poderiam ter sido tão felizes, juntos! Se pelo menos ele não tivesse tocado em casamento!

Quando o telefone começou a tocar, teve certeza de que era ele quem estava ligando. Levantou logo o fone:

— Leon, eu...

— Desculpe — disse uma voz masculina, mas infeliz­mente não sou Leon Masters. Estou falando com a sra. West, não é?

— Sim, é ela mesma.

— Sra. Michael West?

De repente, ela soube quem era e bateu o telefone no gancho. Era um dos repórteres que, na época, não lhe tinham dado paz. E ela caíra na armadilha! Ao bater o telefone, admitira ser a sra. Michael West.

Mais que depressa saiu do apartamento de Leon e foi para o de Jenny, à procura de refúgio. Ao chegar na porta, hesitou, preferindo tocar a campainha do que usar a própria chave. Afinal, não morara ali nas últimas semanas.

Jenny abriu a porta.

— Que aconteceu? — Jenny perguntou. — Perdeu a chave?

— Não, Jenny. Como não tenho estado com você, achei que poderia estar com algum amigo e não quis me intrometer.

— Bobagem, Helen. Estou sozinha. Não é toda moça que tem um artista maravilhoso querendo ir para a cama com ela.

Helen ficou vermelha e respondeu:

— Nós não fomos para a cama.

— Eu sei disso, Leon me contou.

— Quando ele lhe contou?

— Ele me ligou do aeroporto hoje de manhã e me con­tou. Disse também que achava que você estava precisando de ajuda.

— Não sei por que ele achou isso — Helen disse, mas no fundo ficou triste porque ele tinha ligado para Jenny e não lembrara de ligar para ela.

— Vamos conversar sobre tudo isso, Helen. Espere um minuto enquanto vou preparar um café para nós. Sente-se, já volto.

Helen não se sentou, foi até o quarto, deixou lá a mala e depois voltou à sala. Jenny trouxe o café e, enquanto o tomavam, retomaram a conversa.

— Foi boa a sua estadia com Leon?

— Foi, sim, Jenny. Ele é maravilhoso. Fiquei apenas um pouco sem jeito quando ele me levou para conhecer os pais.

— Por quê? Eles não são pessoas agradáveis?

— Pelo contrário! São ótimos e foram muito delicados comigo. Mas pode avaliar como me senti, morando com Leon sem ser casada, e sendo apresentada aos pais dele?

— Eles ficaram chocados.

— Não, entenderam a situação. Mas não vou mais me preocupar com isso, porque está tudo acabado. Decidimos...

— Você decidiu, Helen, não esqueça — interrompeu Jenny —, e acho que sei o motivo disso. Mas Leon não sabe, não é?

— Não. Achei melhor não dizer nada.

— Mas você nunca teve certeza disso, Helen. Os médicos só disseram que seria difícil você engravidar de novo, mas não deram absoluta certeza. Você podia fazer mais alguns exames.

— Não ia adiantar nada, porque eles poderiam me dizer que eu tenho alguma chance e aí eu me casaria com Leon, acreditando nisso. Não posso fazer isso para ele, Jenny. Sei que ele espera ter filhos e eu não tenho certeza de

poder tê-los.

— Você está se rendendo antes de começar a lutar, Helen. Leon a ama e quer casar com você e não somente

para ter filhos.

— Não adianta, Jenny; não vou mudar de idéia. Ele não

devia ter se queixado para você!

— Ele parecia arrasado, quando falou comigo. Não devia estragar a vida dele sem nem ao menos lhe dizer por quê.

— Se eu contasse o motivo, ele me faria casar e sei que não devo. Você não entende, Jenny, que é por amá-lo tanto que não posso aceitar o casamento?

— E se um dia ele resolver casar com outra?

Só de pensar na possibilidade, Helen sentiu como se uma faca estivesse sendo cravada em seu coração.

— Ao menos ele poderia ter a família que tanto quer — Helen disse, as lágrimas querendo saltar de seus olhos.

Levantou-se para disfarçar, mas logo voltou para junto

de Jenny.

— Não atrapalho se voltar a morar aqui?

— Claro que não; senti a sua falta. Não tenho saído muito; vejo Matt de vez em quando, mas estou preocu­pada com Brent. Tem sido muito difícil trabalhar para

ele ultimamente.

— Deve estar apaixonado sem ser correspondido — co­mentou Helen.

— Talvez seja isso mesmo.

— Acho que sim, Jenny. Essas últimas semanas com Leon me ensinaram muito. Ele estava sempre zangado e

explodindo.

— Brent não explode, mas está sempre me criticando.

— Acho que Brent gosta de você, Jenny.

— Não seja boba! Claro que não é isso!

— Mas você gosta dele, não é? Jenny deu um suspiro fundo e admitiu:

— Gosto dele desde o dia em que comecei a trabalhar lá.

— E nunca demonstrou nada?

— De jeito nenhum. Como poderia continuar trabalhando com ele, se tivesse demonstrado? Ele nunca ligou para mim!

— Acho que Brent está com ciúme, Jenny. Desde quando ele começou a perturbar você? Desde que começou a sair com Matt?

— Acho que sim; mas não pode ser verdade. Antes de começar a me criticar e amolar, ele me tratava como se eu fosse sua irmã!

— Mude de tática, Jenny, e veja que resultados consegue.

— Não posso mudar assim de uma hora para outra. Não posso passar de irmã para amante, assim de repente!

— Quer ser apenas amante dele?

— Acho que ele nunca ofereceria mais do que isso.

— Não vale a pena tentar?

— Acho uma loucura, Helen, mas vou tentar.

No dia seguinte, Helen quase morreu de susto! Viu uma fotografia sua e de Leon na primeira página do jornal. Já havia até esquecido aquele telefonema do repórter para o apartamento de Leon. E agora, via-se frente a frente com a notícia.

Estava tudo sendo desenterrado de novo; os detalhes sór­didos de seu casamento com Michael West estavam ali es­critos. Mas agora parecia que nada podia ser pior do que estar longe de Leon.

De repente Helen teve certeza de quem tinha dado a notícia de que ela estava com Leon: Sharon Melcliffe.

Pouco depois o telefone começou a tocar, e não parou mais. Depois de uma hora dessa situação, Helen tirou o fone do gancho. Não queria falar com ninguém sobre seu relacionamento com Leon, muito menos com aqueles re­pórteres abelhudos, loucos atrás de motivos para fazer fofoca.

Na hora do almoço Jenny entrou no apartamento, muito preocupada. Brent estava com ela.

— Helen — Jenny disse —, só agora fiquei sabendo da notícia no jornal. Você está bem?

— Não vou tomar nenhuma atitude desesperada, Jenny.

— Disse isso a ela o tempo todo — falou Brent —, mas ela estava tão preocupada com você, que achei melhor tra-zê-la até aqui.

— Foi muito amável — Helen disse a Brent —, obrigada. Há quanto tempo não o via!

— Não vim para casa correndo só para ver vocês dois trocando amabilidades — Jenny falou um pouco irritada.

— Não estou aborrecida com a notícia no jornal, Jen­ny; sei que eles imprimem qualquer coisa que possa ven­der mais exemplares. Além disso, como Leon falou, no­vidades que causaram sensação há dois anos não signi­ficam muito agora.

Jenny pareceu mais sossegada. Ao ver Jenny e Brent juntos, muito à vontade um com o outro, Helen desconfiou

de alguma coisa.

— Aconteceu alguma coisa de novo, para me contarem?

— Pedi a Jenny que se casasse comigo — disse Brent, muito feliz. — Aliás, não pedi; disse a ela que íamos casar. Ela andava discutindo muito comigo nos últimos tempos, então não dei chance para nova discussão.

— E quando vão casar? — perguntou Helen, animada.

— O mais cedo possível. Não sou criança para ficar es­perando mais tempo — explicou Brent.

— Ninguém disse que precisa ficar esperando até casar — disse Jenny com malícia.

— Não quero nada disso! Vamos casar primeiro! — Brent

estava sério.

— Não sabia que era tão antiquado. — Jenny sorriu.

— Há muita coisa que ainda não sabe a meu respeito, Jenny, mas vai logo descobrir — Brent disse e sorriu também.

— Brent me deu a tarde de folga, Helen, para que eu possa comprar um vestido para celebrarmos o noivado hoje à noite. Não quer vir conosco? — Jenny tinha ficado ainda mais bonita, com tanta felicidade.

Helen preferiu ficar, pensando. O que vira no jornal já não a aborrecia tanto como acontecera da outra vez. Estava mais velha agora e mais amadurecida; sabia encarar as coisas de outra maneira.

Quando a campainha tocou, Helen achou que podia ser algum repórter, mas não se sentiu amedrontada. Se tinha que enfrentá-los, era melhor fazer isso de uma vez.

Com coragem e determinação, abriu a porta. Quase caiu para trás quando viu quem estava ali, à sua frente.

— Leon...

— Em carne e osso — ele disse e entrou no apartamento.

 

Ela fechou a porta e foi para a sala, onde já o encontrou sentado no sofá.

— Que está fazendo aqui?

— Tentei ligar para você, mas estava sempre ocupado.

Achei melhor vir até aqui.

— Você já não devia estar nos Estados Unidos?

— Voltei quando soube do escândalo que os jornais estão publicando. E, pelo jeito, eles não devem ter lhe dado paz

o dia inteiro!

— O telefone não parou um minuto; por isso deixei-o fora do gancho. Quando você chegou, pensei até que fosse

um repórter.

— Não parece contente em me ver, Helen. E vim porque

achei que precisaria de mim — ele falou com amargura.

— Preciso de você, Leon, e muito. Mas não devia ter vindo! Como ficou sabendo das notícias daqui?

— Liguei para o apartamento para ver se você realmente tinha ido embora e Max me contou o que havia acontecido. Tenho certeza de que foi Sharon quem falou com os repórteres,

— Acho que sim.

— Você não me parece muito aborrecida com o que acon­teceu. E pensar que temia tanto a publicidade!

— Era isso que esperava? Por isso veio aqui? Esperava que eu caísse chorando em seus braços?

— Não é nada disso, Helen. Errei quando fui para os Es­tados Unidos. Deveria ter ficado e feito amor com você até deixá-la inconsciente; aí, não poderia recusar-se a casar comigo.

Helen olhou para Leon achando-o cada vez mais atraente. Mesmo assim, tinha certeza do que dizia, quando respondeu:

— Ainda assim, eu teria recusado.

— Só há uma maneira de provar isso, — Ele puxou-a para perto de si, arqueando o corpo dela para amoldar-se ao dele. — Vou amá-la, Helen, nem que isso seja a última coisa que eu fizer na vida.

— Leon, não!

— Não lute, Helen; só pensei nisso enquanto vinha para cá. Você é tudo o que quero na vida, minha querida.

Leon beijou-lhe os lábios, ardendo de paixão. Dos lábios, passou para o pescoço e logo estava com a cabeça entre os seios dela. Helen sentia tremores de emoção ao sentir os ca­rinhos dele; correspondia a seus beijos, colava-se mais a ele.

— Não quero mais lutar contra você, Leon.

— Minha querida! — ele murmurou e carregou-a para o quarto.

Gentilmente colocou-a na cama e logo em seguida jun­tou-se a ela. Helen soube então o que era estar no paraíso! Não pensou em Michael nem em mais nada quando sentiu que finalmente pertencia a ele. A felicidade era tão grande que não dava lugar a nenhum outro sentimento.

Depois, ele descansou a cabeça entre seus seios.

— Você me odeia, Helen?

— Leon, sinto-me agora uma mulher completa; não po­deria nunca odiá-lo por isso. Você foi maravilhoso!

— Quando se tem uma mulher perfeita, tudo é maravi­lhoso — ele disse, olhando fundo em seus olhos.

— Não desapontei você?

Em vez de responder, Leon beijou-a novamente, fazendo com que novas ondas de prazer percorressem seu corpo.

— Você é tudo o que eu esperava em uma mulher, Helen. Hoje foi maravilhoso, amanhã será melhor ainda. Gostaria de passar a vida toda aqui, em seu, braços. Onde está Jenny? Volta logo?

— Saiu com Brent; vão se casar o mais cedo possível.

— Brent? Pensei que fosse Matt.

— Eles descobriram agora que se amam desde que se conheceram e nenhum dos dois tinha coragem de admitir isso. Agora que sabem, vão casar.

— Falando de casamento, quando vai ser o nosso?

— Não vou casar com você, Leon.

Ele sentou-se na cama e ficou olhando fixo para ela. — Que quer dizer com isso, Helen?

— Que não vou casar com você, Leon.

— Depois do prazer que tivemos juntos depois que sentimos o auge do amor, você diz que não quer casar comigo! Por quê?

Helen ficou quieta, incapaz de pôr em palavras o que lhe

ia na alma.

Leon segurou-a pelos ombros e forçou-a a olhar para ele.

— Eu a amo, Helen, e sei que me ama também. Acabei de fazê-la minha e agora eu também sou todo seu. Não pode deixar de casar comigo!

Ela deu um sorriso muito sem graça.

— Não quero e não vou voltar para os Estados Unidos

sem você, Helen.

Ela se livrou dos braços dele, levantou-se e vestiu um robe. Virou-se para ele e disse, bem calma:

— Não disse que não iria com você; disse apenas que não vou casar com você.

— Não quero você em nenhuma outra condição a não ser casada — Leon disse, vestindo a roupa. — Se não vai ser minha esposa, então não vai ser nada. Achei que tínhamos feito amor porque nos amávamos. Mas vejo que me enganei. Bem, que tal ter sua experiência de amor carnal com um especialista? — Ele foi para a porta do quarto e disse com voz sentida: — Você sabia que eu a amava, Helen, e no entanto me usou apenas para um prazer físico. — Saiu do quarto batendo a porta.

Ela foi até a sala, atrás dele. Leon já estava quase saindo quando se virou e disse:

— Se este encontro tiver alguma consequência, quero saber.

— Consequência?

— Não seja tão ingênua, Helen. Você pode ficar grávida; isso pode acontecer, depois do que fizemos.

— Eu aviso, se acontecer — ela concordou, sabendo que não havia possibilidade nenhuma.

— Faço questão de que avise. Talvez você não queira a criança, mas eu quero.

 

Viver passou a ser uma agonia para Helen, depois daquele momento de felicidade. Foi ficando cada vez mais magra e abatida e, seis semanas depois, estava até feia.

— Precisa ir ao médico — aconselhava Jenny.

— Não vai adiantar nada, Jenny. Nem ele nem ninguém pode curar o que sinto.

— Você tem que se ajudar, Helen. Talvez um médico possa lhe dar algum remédio que a faça dormir e comer melhor. Está cada dia mais magra e não me parece bem. Não tem cabimento ficar assim por um homem. Soube que Leon se retirou da vida social e não tem sido visto ultimamente. Mas se você não se cuidar, vai acabar se retirando do mundo!

Helen acabou concordando. O médico examinou-a muito bem e o resultado foi um choque para Helen. Nunca esperou ouvir o que ele lhe disse.

Saiu do consultório andando sem rumo, atônita. Quando se deu conta, estava em frente ao prédio onde Leon morava. Sentiu mais do que nunca a necessidade de estar perto dele.

Naquele momento ouviu a voz de Max ao seu lado.

— Boa noite, sra. West.

— Boa noite, Max.

Agora Helen lembrava que era quinta-feira, noite de folga de Max.

— Como vai a senhora? — Max perguntou, educado.

— Bem, obrigada. — Sabia que estava mentindo e pela sua cara Max podia ver que ela não estava muito bem. — E o sr. Masters, vai bem?

— Ele não está bem, sra. West. Não está doente, mas não está nada bem. Por que não sobe e vai vê-lo? Tenho certeza de que ele gostaria de vê-la.

— Pensei que ele estivesse em Portugal, em filmagens.

— Deveria estar, mas ele desistiu de fazer o filme. Então o diretor lhe deu uns meses para descansar.

— Você disse que ele não estava doente, Max. O que há

com ele.

— Está bebendo demais, sra. West. Helen se sentiu culpada por ter levado Leon a isso. Devia ajudá-lo agora, do mesmo modo como ele a havia ajudado,

quando precisara.

— Vou subir e conversar com ele, Max.

— Vai ser ótimo, sra. West. Obrigado.

Helen estava tão nervosa quando parou em frente da porta do apartamento, que foi difícil tocar a campainha, de tanto que suas mãos tremiam.

Leon abriu a porta; estava irreconhecível. O cabelo com­prido e maltratado, as roupas amassadas, os olhos inchados. Na mão, tinha um copo de uísque pela metade.

— Que diabo quer aqui?

— Quero entrar — ela disse timidamente.

Ele abriu a porta.

— Entre. Que quer? Outra lição? — perguntou, querendo

insultá-la.

— Não.

— Então que veio fazer aqui? Ver a queda de um poderoso?

— Claro que não.

— Porque eu cai, Helen — ele disse com muita amar­gura. — No entanto, ainda a quero! Mesmo me sentindo

mal deste jeito.

— E também estou tão mal quanto aparento, Leon.

— Nós estamos nos destruindo, Helen. Ficaram os dois quietos, arrasados.

— Por que está aqui, Helen? — ele perguntou, agora não

mais para insultá-la.

— Encontrei Max lá em baixo e ele me pediu para subir.

— Se ele não tivesse pedido, não teria subido?

— Pensei que você estivesse filmando em Portugal.

— E me encontrou aqui, bêbado. E agora, que vamos fazer?

— O que gostaria de fazer, Leon?

— Gostaria de ir para a cama com você; por uma semana,

sem interrupções.

— Também gostaria disso — ela disse, tímida e vermelha.

— Mas não vai me usar de novo, Helen. Estou quase morto por causa daquilo.

— Leon...

Ele olhou-a bem, depois agarrou-a, beijando-a como um louco. Trocaram beijo após beijo, com um desejo insaciável. Quando parecia que só com a entrega total ele ficaria sa­tisfeito, Leon afastou-a um pouco, a respiração ofegante, o coração batendo descompassado.

Vai voltar a morar aqui? Não como minha esposa, sei que não quer isso. Mas preciso desesperadamente de você, Helen. Não posso mais viver sem você. Veja em que estado ficamos, desde que nos separamos.

— Você ainda me ama?

— Ainda tem alguma dúvida sobre isso?

Não. Realmente não poderia haver dúvida. Ele tinha fi­cado tão abalado com a separação como ela. Não havia dú­vida nenhuma; eles se amavam até demais.

— Tenho uma coisa para lhe dizer — ela falou, nervosa.

— Helen, não vou aguentar você dizer que vai embora.

— Gostaria de ficar. Mas sente-se, que preciso falar com você.

Eles se sentaram e, muito devagar, ela começou:

— Há dois anos atrás, quando perdi o bebê...

— Não precisa ter filhos — ele interrompeu. — Você é tudo e que quero.

— Deixe eu acabar de falar, Leon. Quando perdi o bebê, os médicos me disseram que eu não poderia ter mais filhos.

— Então é por isso que não queria casar comigo? Achou que eu faria questão de ter filhos e...

Leon interrompeu-se, veio para junto dela e segurou suas mãos.

— Diga a verdade, Helen. Como se sente a meu respeito?

— Amo você, Leon. Acho que sempre amei.

— Minha querida. — Ele beijou-a novamente. — Isso é tudo que importa para mim. Se mais tarde quisermos filhos, poderemos adotar algum. Gostaremos deles como se fossem nossos. Case-se comigo, Helen. Por favor, diga que sim.

— Ainda não lhe disse tudo, Leon.

— Nada mais tem importância para mim. Só quero saber que você me ama.

— Amo você demais, Leon, mas...

Ele a interrompeu, pondo a mão sobre seus lábios.

— Quando vamos casar, Helen?

— Deixe eu acabar de falar — ela disse, sorrindo.

— Só depois que disser que casa comigo.

— Está bem. Caso com você, Leon.

Ele deu um grito de alegria e levantou-a nos braços.

— Minha querida! Eu a amo como nunca pensei que pudesse amar! — E beijou-a tanto que ela chegou a ficar tonta.

— Leon, por favor! Ainda tenho uma coisa importante

para lhe dizer.

— Nada é tão importante como saber que vai casar comigo.

— Vou ter um filho seu.

Ele olhou-a sem poder entender.

— Mas você acabou de dizer...

— Pois é. Eu acreditei nisso até hoje. Mas, acabei de sair do médico e é verdade, Leon. Estou grávida. Não é

maravilhoso?

— É mais que maravilhoso! Quando eu estava me sen­tindo mais deprimido, consegui tudo de uma vez só. Em primeiro lugar, você! E agora até o bebê! É mais que fan­tástico e sensacional juntos!

— Não se importa de já se tornar pai, assim depressa?

— Só posso ficar feliz com a notícia, Helen.

— Acho que agora estou pronta para outra lição de como fazer amor, Leon — ela disse, feliz.

— Minha querida, vamos ficar na cama quanto tempo você quiser. Só não quero perdê-la de vista, enquanto você não tiver dado o sim que nos unirá para sempre.

Ele carregou-a nos braços e foram para o quarto, esque­cidos do mundo.

 

 

                                                                  Carole Mortimer

 

 

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