Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PREDESTINED / Abbi Glines
PREDESTINED / Abbi Glines

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                   

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

la pensou que depois de ajudar a salvar o seu noivo de uma eternidade no Inferno, as coisas retornariam à normalidade. Bom, tão normal como pode ser a vida quando vê almas e seu namorado é a Morte. Mas, para Pagan Moore, as coisas estão inclusive mais estranhas.
O alto, popular e arrebatador de corações Quaterback 1 da escola, Leif Montgomery, desapareceu. Enquanto que a cidade está louca de preocupação, Pagan está uma pilha de nervos por outras razões. Aparentemente, Leif não é um adolescente normal. Nem sequer é humano. De acordo com a Morte, Leif não tem alma. O marechal pode estar desaparecido, mas segue aparecendo nos sonhos de Pagan... Sem ser convidado.
Dank sabia desde o começo que Leif não era humano. Mas não lhe preocupava uma simples criatura sem alma. Agora, deu-se conta do grave engano que cometeu. A alma de Pagan foi marcada desde seu nascimento como uma restituição para um espírito tão escuro que nem sequer a Morte pode aproximar-se, Dank sabe que salvar a alma de Pagan não será fácil. E já desafiou ao Céu para ficar com ela. Se o Inferno também quiser uma parte dele, então que venha.
A úmida rua estreita parecia vazia. Música de jazz se ouvia à distância, mas o som era baixo. Quanto mais me afastava das dispersas luzes da rua e me introduzia na escuridão, os sons da risada, os bondes e a vibrante música tradicional que só se encontrava no Big Easy se desvaneciam. Estive aqui antes, em inumeráveis ocasiões.


#
#
#

#
#
#


A Morte se encontrava frequentemente nestas ruas escuras. Mas esta noite, não estava aqui para tomar uma alma. Vim por outras razões. Raciocinei reunindo as peças. A fúria dentro de mim era difícil de controlar. Tinha sido imprudente. Eu! Uma maldita Divindade toda poderosa, deixando passar algo perigoso, além de meu radar, sem ser detectado. Como pude deixar que isto acontecesse? Sabia a resposta. Pagan. Ela me consumia. Meus pensamentos. Meus desejos. Meu propósito. Não tinha sido capaz de ver nada com o resplendor de Pagan, me cegando de todo o resto. Agora, tenho que averiguar por que e logo
1 QUARTERBACK (v.) - o capitão do time.
tenho que arrumar isto. Porque Pagan Moore era minha. Sua vida, sua alma, seu coração. Nada se interporia em meu caminho. Nenhuma antiga maldição. Nenhum menino sem alma. E absolutamente, nenhum Senhor ou Espírito Vodu.
ó me virei para ver as bonitas bolhas. Eu gostei da cor rosa, era a melhor. Recordava-me um chiclete. Pensei em algo que podia prometer a mamãe que faria, se me comprasse um.
Talvez limpar debaixo de minha cama ou possivelmente arrumar os sapatos em seu armário. Mas só me detive um segundo e pensei nisso. Agora, minha mãe se foi. As lágrimas nublaram minha visão e emiti um soluço aterrorizado. Advertiu-me que poderia me perder na multidão se não mantivesse seu ritmo.
Normalmente, tomo sua mão quando estamos em multidões, mas hoje levava uma pilha de livros. Era minha responsabilidade não perdêla.
Mas fiz. Onde dormiria? Olhei nervosamente às pessoas que enchiam as ruas. O Festival das Artes e Entretenimento havia trazido gente de todas as partes para nossa pequena cidade.
Esticando minha mão para limpar meus olhos, para poder encontrar um policial que me ajudasse, solucei e por um segundo esqueci minha crise, quando o bolo me alcançou.
— Não chore, eu a ajudarei.
Franzindo o cenho, estudei ao menino diante de mim. Seu cabelo loiro curto e olhos grandes, mas amigáveis, e luziam preocupados. Nunca o tinha visto antes. Não ia a minha escola. Talvez fosse um turista.
Quem quer que fosse, sabia que não podia me ajudar. Era só um menino também.
— Perdi minha mamãe — disse, sentindo vergonha de que tivesse me visto chorando.
Assentiu e estendeu sua mão. — Sei. Vou leva-la para ela. Está bem. Prometeu-me isso.
Tragando o nó em minha garganta, pensei em sua oferta. Quem poderia me ajudar? Dois pares de olhos procurando um policial eram melhores que um, eu supunha.
— Hum, se pudesse me ajudar a procurar um policial para poder encontrá-la seria bom. — Sorriu como se pensasse que era divertido. Não era uma brincadeira e nada disto era motivo para sorrir.
— Realmente sei onde ela está. Confie em mim — Sua mão seguia estendida para mim. Com o cenho franzido, pensei em todas as razões pelas quais isto era provavelmente uma má ideia.
Não poderia ser muito maior que eu. Talvez ele tivesse sete como muitos. Mas parecia tão seguro de si mesmo. Além disso, não era um adulto desconhecido. Não me sequestraria.
— Está bem. — Respondi finalmente, deslizando minha mão na sua. Seu rosto pareceu relaxar. Esperava que não nos perdêssemos. — Onde estão os seus pais? — perguntei me dando conta de que possivelmente poderiam ajudar.
— Por aqui, em alguma parte. Respondeu e uma pequena careta lhe enrugou o rosto. — Vem comigo. Sua voz era suave, mas firme. Do tipo que me recordava a de um adulto.
Mantive-me ao seu lado enquanto tecia uma rota através dos corpos em nosso caminho. Tratei de jogar uma olhada às pessoas enquanto nos apressávamos, para ver se reconhecia a alguém, mas não tive sorte.
— Aí está. Disse o menino enquanto parava de procurar, fazendo sinal com o dedo para a calçada em frente.
Efetivamente, ali se encontrava minha mamãe e parecia realmente triste. Tinha um olhar assustado em seu rosto, enquanto agarrava os braços das pessoas que passavam e falava freneticamente. Dei-me conta que me procurava. Precisando tranquilizá-la, soltei a mão do menino e corri em sua direção.
Seus grandes olhos, redondos e aterrorizados me encontraram e deixou escapar um soluço, logo começou a chamar a meu nome — Pagan, Pagan, Pagan!
Meus olhos se abriram e o ventilador de teto me saudou, o sol fluía através de minha janela e minha mãe frustrada golpeava minha porta.
— Vai chegar tarde à escola. Agora, levante, neste momento.
— Estou acordada. Se acalme. Gritei com voz rouca pelo sonho e me obriguei a me sentar.
— Juro menina, que cada vez é mais difícil acorda-la. Agora se apresse. Fiz panquecas para o café da manhã.
— Está bem, está bem. Disse e esfreguei os olhos sonolentos. Tinha tido outro desses sonhos. Por que sonhava com fragmentos de minha na infância e por que acabo de me dar conta de que o mesmo menino me ajudou em cada uma das minhas experiências traumáticas?
Tinha-me esquecido desse dia no festival, que havia me perdido. Mas ocorreu. Recordava agora. E esse menino... Tinha estado ali. Por que era tão familiar?
Minha porta se abriu suavemente e minhas preocupações se desvaneceram ao ver Dank caminhando para o meu quarto. Tinha começado a utilizar a porta em lugar de aparecer do nada e me assustar. Era um pequeno pedido que sempre tratava de honrar.
— Está fazendo panquecas... Creio que me dará algumas quando vier busca-la para ir à escola? Sua voz era profunda e hipnótica.
Inclusive agora, queria suspirar e desfrutar da calidez que enviava através de mim. Pus-me de pé e fechei a curta distância entre nós. Detendo-me bem em frente dele, pus ambas as mãos sobre o seu peito e sorri aos seus assombrosos olhos azuis.
— Até que Leif apareça não é exatamente sua pessoa favorita. Já sabe. Franziu o cenho e odeie que minha mãe estivesse sendo tão difícil. Eu não gostava de lhe fazer franzir o cenho. Mas, por desgraça, com o meu ex-namorado, de repente, desaparecido, minha mamãe culpava a mim por romper com ele por outro menino. Não é como se pudesse lhe dizer a verdade. Pensaria que estou louca de verdade desta vez e nunca poderia deixar o hospital psiquiátrico.
— Ouça. Disse Dank, estendendo a mão para acariciar minha face. — Pare. Isto não é culpa sua. Além disso, nós dois sabemos que não necessito de comida. Suas panquecas só cheiram muito bem. Às
vezes, pode ser bem capaz de ler minhas emoções. Embora, outras vezes me incomoda muito.
— Bom, talvez se me explicasse exatamente o que quer dizer com, Leif não é humano, então não me sentiria tão culpada. Dank suspirou e se sentou em minha cama. Seus olhos azuis, ainda tinham um rastro da luz que se acendia neles quando tirava uma alma de um corpo no momento de sua morte. Envolvi meus braços ao redor de seu pescoço, me esforçando muito para manter a expressão séria em meu rosto. Quando o tinha tão perto era difícil pensar de maneira coerente.
— Eu lhe disse que não estou totalmente seguro do que Leif é exatamente. A única coisa que sei, é que não tem alma. É a única coisa que tenho certeza. Coloquei uma mecha de seu cabelo escuro atrás de sua orelha e decidi lhe dar uma oportunidade de fazer beicinho.
— Bom o que você acha que ele é? Dank arqueou as sobrancelhas e um sorriso sexy apareceu em seu rosto, formando uma covinha.
— Beicinho Pagan? Sério? Esperava mais de você do que isso.
— Quando minha garota começou a jogar sujo contra mim, hein?
Empurrei seu peito e lhe mostrei a língua. —Isto não é jogar sujo.
Sua risada divertida enviou um estremecimento de prazer pela minha coluna. —Sim, é, Pagan. Eu não gosto de te ver fazendo beicinho. Já sabe.
— PAGAN, DESCE PARA COMER! VAI CHEGAR TARDE! A voz, muito alta, de minha mamãe subiu pelas escadas.
— Vá comer. Vou estar lá fora em vinte minutos para pega-la. Sussurrou em meu ouvido antes de beijar minha têmpora e me pôr de pé.
Pus minhas mãos em meus quadris para começar a discutir, mas desapareceu antes que eu pudesse dizer uma palavra. — Só porque é A Morte não significa que possa ser grosseiro. Sussurrei no quarto vazio, no caso de estar o suficientemente perto para me ouvir. Com um zangado "Umm" eu me dirigi ao banho para me aprontar.
— Não vai ter tempo de sentar e comer seu café da manhã, isso se tiver a intenção de chegar ao primeiro tempo antes que soe o sinal, — disse minha mãe com o cenho franzido enquanto caminhava para a cozinha.
— Sei, vou comer uma panqueca. — Peguei uma das panquecas que tinha empilhado no prato no centro da mesa e me senti imediatamente culpada por ter demorado tanto para me preparar. Era evidente que tinha deixado tudo para preparar um café da manhã quente e rico para mim, para começar o dia. E tudo o que tinha tempo de fazer era levar uma panqueca e comê-la em meu caminho para o Jipe de Dank.
— Sinto muito, mamãe. Adormeci. Obrigada por isso. Disse me inclinando para beijá-la na bochecha antes de recolher minha mochila em frente à mesa da cozinha.
— Preciso lhe comprar um despertador, — murmurou, e tirou uma cadeira para sentar-se.
— Prometo que amanhã me levantarei meia hora antes. Guarde as sobras na geladeira e as esquentamos no micro-ondas pela manhã e as desfrutamos juntas. Ela não sorriu, mas sim franziu o cenho para sua xícara de café. Droga, ela sabia como me fazer sentir mal.
Tirando uma cadeira, sentei-me sabendo que estaria saltando de volta em menos de três minutos, mas queria fazê-la feliz e queria lhe perguntar a respeito de meu sonho.
— Lembra quando era uma menina e me perdi na Feira das Artes e Entretenimento?
Deixou a xícara sobre a mesa e sua testa se enrugou com a lembrança. Tinha a esperança de que minha testa não enrugasse assim quando estivesse mais velha. À exceção da coisa da testa, não me importaria parecer como minha mãe na sua idade. Seu corte de cabelo ao estilo Joãozinho e escuro tinha um aspecto brilhante e suas pernas eram sexys para uma mulher adulta.
— Umm... Acredito que sim. Oh! Sim, essa vez tinha minhas mãos cheias de livros e se supunha que agarrasse a minha saia. Deus,
isso foi terrível. Lembrei o momento em que notei que seu aperto se soltou e logo dei à volta e não estava mais ali. Meu coração parou de bater. Provavelmente cortou cinco anos de minha vida nesse dia.
Então era real. Os olhos marrons escuro de mamãe apareceram sobre a borda da xícara de café enquanto tomava um gole. Queria lhe perguntar mais, mas o cenho franzido em seu rosto me deteve. Sua atenção se fixou sobre meu ombro, à janela. Dank estava aqui. Odiava que pensasse que minha relação com ele tinha algo a ver com o desaparecimento do Leif. O fato era que nunca tinha tido a oportunidade de romper com o Leif. Ele desapareceu antes que pudesse. Entretanto, se lhe dissesse isso, as coisas seriam ainda piores. Senão soubesse que não é humano então também me preocuparia, mas sabia a verdade.
— Tenho que ir mamãe. A amo. Gritei indo em direção à porta. Não queria escutar seu bate-papo sobre se me preocupava, devido a partida de Leif.
Já está quase na hora.
Fiquei paralisada nos degraus da entrada da casa. Minha mão estendida apertou o frio corrimão de ferro. Conhecia essa voz.
— Pagan. - Dank estava diante de mim instantaneamente. Levantando meus olhos para me encontrar com os seus, sacudi a cabeça para me esclarecer.
— Viu... viu alguém ou... mmm, ouviu algo? - Tropecei em minhas palavras, ainda aturdida pela voz falando diretamente em meu ouvido.
A cor azul nos olhos do Dank passou de seu azul brilhante normal a esferas piscando. — Pagan, seus olhos...
Chegou até mim e segurou meu rosto em suas mãos enquanto me estudava. Não se supõe que a Morte sinta medo por nada, entretanto, podia vê-lo em cada dobra de seu cenho franzido. O fato de que seus olhos luziam como chamas azuis significava algo.
— O que aconteceu com os meus olhos? Perguntei-lhe em um sussurro de pânico. Dank me apertou contra ele com força.
— Anda, vamos.
Deixei-lhe fazer tudo, levou-me até o Jipe, e inclusive me acomodou no interior e me pôs o cinto de segurança.
—Dank, me diga o que está errado. Roguei-lhe enquanto me beijava brandamente nos lábios.
— Nada. Nada que eu não possa arrumar. Assegurou-me e pressionou sua testa junto à minha. — Escute, Pagan, não tem nada com o que se preocupar. Isto está sob controle. Se lembra do que lhe disse. O que a Morte protege não pode ser prejudicado... E você, ele acariciou com a ponta de seu polegar minha bochecha, — é a única coisa que protejo.
O estremecimento que eu nunca parecia ser capaz de controlar quando sua voz descendia uma oitava e era toda suave e sexy parecia lhe fazer feliz. Sempre me dava um sorriso sexy quando estremecia.
— Está bem, mas ouvi uma voz. Em meu ouvido. Como quando fala comigo, mas está longe. Dank se esticou e respirou fundo.
— Sério?
Assenti e vi que fechava os olhos com força enquanto um grunhido furioso vibrava contra seu peito.
— Ninguém chega tão perto de você. Nada consegue estar tão perto de você. Beijou a ponta de meu nariz e logo fechou a porta antes de aparecer no assento do motorista ao meu lado. Esperava que não estivesse muito distraído com outra coisa para não estar prestando atenção ao que minha mamãe fazia. Estava olhando pela janela até um momento atrás, então as coisas poderiam complicar-se.
— Já está trancada em seu quarto escrevendo. Disse Dank, enquanto arrancava com o Jipe e saía à rua. Não lhe perguntei como sabia o que pensava. Estou acostumada a isso a esta altura. Não podia me preocupar com nada sem que ele soubesse. Era obcecado por resolver todos os meus problemas. Normalmente, isso me frustraria, mas neste momento morando com os problemas, eu necessitava.
— O que disse a voz? Sua voz era tensa e notei que tratava de controlar o grunhido de aborrecimento que me divertia quando era provocado por causa do ciúme. Neste momento, não era divertido. Para nada.
— Já está quase na hora — respondi, estudando sua reação. Sua mão esquerda apertou o volante enquanto se aproximava e apoiava sua mão em minha coxa.
— Me encarregarei disto imediatamente. Não vi nada, mas o senti. No momento em que ficou paralisada, o senti. Não é uma alma. Não se trata de uma divindade. Não é nada com o que esteja familiarizado, mas isso deixa só algumas coisas que podem ser. E lhe prometo Pagan, que nenhuma dessas coisas é um problema para mim. Assim para de se preocupar. Eu sou a Morte, bebê lembra? - Deixei escapar um suspiro e cobri sua mão com a minha.
— Sei respondi, e comecei a riscar corações em sua mão com a ponta de meu dedo.
— Senti falta de você ontem à noite. - Ele sussurrou com voz rouca. Sorri para suas mãos enquanto ele dava volta na sua e estreitava a minha. Eu gosto de saber que sente saudades.
— Bom.
Um sorriso divertido foi sua resposta.
uando Dank parou no estacionamento da escola, fiz minha busca diária pelo carro de Leif. E tal como os dias anteriores, não se encontrava em seu lugar. Em vez de tomar o cobiçado lugar de estacionamento do menino mais popular da escola, manteve-se vazio. Foi como se todos estivessem lhe esperando. Perguntando. A última vez que tinha visto Leif foi no dia em que pensei que Dank estava perdido para sempre. Gee, uma transportadora que tentava matar meu corpo e forçar a mão da A Morte, por estranho que pareça, converteu-se em minha amiga, conseguiu tirar a alma de meu corpo sem a ajuda da A Morte. O problema foi que já era muito tarde. A Morte já tinha quebrado as regras e tinha que pagar por isso. Ficava a decisão de me converter em uma alma penada errante ou voltar para meu corpo e viver. Apesar de que a única pessoa que tinha amado ardia no inferno como um anjo cansado por não fazer seu trabalho quando chegou o momento de me tirar a vida. Gee tinha me explicado que Dank estaria atormentado ainda mais nos abismos do inferno se soubesse que eu era uma alma perdida. Ele quereria saber que vivia. Que seu sacrifício foi por algo. Eu faria algo para aliviar sua dor. Então voltei para meu corpo pela manhã e escolhi a vida. Por ele.
Logo, ele esteve na escola essa manhã e eu não tive nem sequer um momento para falar com o Leif e lhe explicar. Só corri para Dank. Depois que Dank me explicou tudo e me contou do engano, de que Leif não era humano, tínhamos ido buscá-lo. Mas Leif Montgomery tinha desaparecido. Isso foi faz um mês.
—Não franza o cenho. A voz de Dank irrompeu em meus pensamentos enquanto sua mão segurava meu rosto e me estudava. Podia ouvir meus medos. Não havia razão para explicar minha repentina mudança de humor.
— Ele voltará?
Dank deixou escapar um suspiro enquanto olhava por cima de meu ombro.
—Temo que sim.
— Por que a incomoda? Sei que diz que Leif não tem alma, mas conheço Leif. Passei o tempo com ele. Não é mau. É incrivelmente doce.
Esses olhos azuis que amava, acenderam-se e o resplendor ao que estou acostumando me advertiu que havia dito um pouco demais. Dank não levava bem a emoção do ciúme. Era completamente novo para ele e não era algo que pudesse dirigir.
— Leif é o que deve ser. Foi criado, Pagan. Fez seu trabalho. Não é doce. Não tem alma.
Inclinei-me para frente, beijei sua mandíbula e logo sussurrei: — Calma menino grande. Nos dois sabemos quem é o dono da minha alma.
—Está bem. Respondeu Dank, logo mordiscou meu ouvido, — E não esqueça disso.
Estremeci por seu quente fôlego sobre minha pele.
Golpes em minha janela me sobressaltaram, separei-me de meu sexy namorado e me voltei para ver Miranda, minha melhor amiga, me olhando pela janela com uma expressão divertida.
— Salva pela melhor amiga. Murmurou Dank, pressionando um último beijo em meu pescoço, antes de alcançar minha mochila e me abrir a porta de seu carro. Saiu à luz da manhã parecendo um Deus grego. As calças que penduravam de seus quadris cobriam seu traseiro deliciosamente bem formado. Dank podia verdadeiramente brilhar em uma camiseta ajustada ao corpo e o fazia diariamente. Hoje a camisa que exibia seu impressionante peito era de um azul escuro. Nunca trocava suas botas negras, mas eu gostava. Era algo assim como sexy. Parecia um menino mau inclusive com minha mochila vermelha em seu ombro esquerdo. Observei com uma inevitável fascinação enquanto se dirigia a frente de seu Jipe para abrir minha porta. Tinha aprendido com as más, a não abrir a porta de meu lado do carro. Não gostava. Podia sentir os olhos de Miranda em mim, mas não me importava. Vermes podiam estar comendo os olhos do meu namorado. Além disso, entendia-me por completo. Miranda pensava igual ao resto do mundo, que Dank Walker era o vocalista da banda de rock Cold Soul. Irônico,
sei. Dank cantava com a banda, mas não passava tempo com eles frequentemente. Miranda era uma grande fã.
Dank abriu minha porta e saí por fim, afastando meus olhos dele para encontrar o olhar de minha amiga.
— Bom dia para você também. Brincou Miranda, deslizando seu braço no meu. — Me perguntava quanto tempo ia levar para deixar de olhar, a meu namorado na cadeira de balanço com olhos de cachorrinho e me notar um pouco.
Dei-lhe uma cotovelada. - Fica quieta.
Ela riu. — Garota, por favor, me diga que não tratou de ser sutil com seu olhar luxurioso, porque fracassaste. Esse menino sabe que deseja seu corpo.
— Já basta, - sussurrei. Dank veio por trás de mim, enchendo de calor e formigamentos todo meu interior.
— É impossível que deseje meu corpo mais do que desejo o seu.
Miranda começou a abanar-se com a mão.
— Querido Senhor, tenha piedade, acredito que poderia desmaiar.
A mão de Dank cobriu a minha e a apertou. — Nos encontraremos lá dentro. Vou levar isto para seu armário.
Sempre era tão bem, procurava me dar tempo a sós com Miranda. Assenti com a cabeça, sem sequer me importar que tivesse um sorriso tolo em meu rosto.
Miranda tirou seus óculos de sol, apoiando sobre sua cabeça. Seus cachos eram perfeitamente armados, sabia por experiência que leva horas de trabalho. A garota dormia com bobs em sua cabeça como se fosse 1980 ou algo assim. Seus olhos marrons brilhavam enquanto observava o traseiro de meu namorado, enquanto abria caminho dentro da escola.
— Esse é um bom pedaço de...
— Miranda! - Repreendi-a com um sorriso, porque é obvio que tinha razão. Mas ainda assim, não tinha que dizer em voz alta.
— Muito ciumenta? Brincou.
Só revirei meus olhos. O olhar de Miranda percorreu o espaço vazio de Leif, no estacionamento. Não podia explicar a Miranda sobre o Leif. Nem sequer sabia que via gente morta, ou como Dank estava acostumado a lhes chamar, "almas errantes". Até que conheci Dank, tinha tido que viver com meu segredo.
— Pergunto-me, onde está?
Quando Leif desapareceu, Dank e eu decidimos manter nossa relação discreta. Foi até a semana passada, quando tínhamos começado a estar juntos ao ar livre. Quando as autoridades e os pais de Leif tinham me perguntado, disse a ambos que Leif e eu tínhamos acabado de romper. Que tinha sido sua decisão. O que não era uma mentira total; desapareceu sem deixar rastro. Isso é uma forma de romper as coisas. A princípio, seus pais ligavam diariamente para me perguntar se tinha ouvido falar dele. Pararam depois de que Leif chamou e lhes assegurou que estava bem. Parece, que havia lhes dito que necessitava de um tempo para resolver certos problemas. Curiosamente, depois que ligou para seus pais, eles pareciam estar completamente a vontade com seu desaparecimento. Já não vinham me procurar. Tinha visto sua mãe no supermercado semana passada e me sorriu brilhantemente como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo. Os meninos na escola foram fazendo pouco a pouco a mesma coisa. Ninguém o tinha mencionado muito. Era... Estranho.
— Então, estudou para esse teste de trigonometria? Perguntou Miranda sorrindo, como se não tivesse acabado de se preocupar com Leif. Uma vez mais... Estranho.
— Sim. Até tarde ontem à noite. — Miranda se queixou, e acomodou o seu cabelo por cima do ombro. Era um de seus gestos dramáticos que me fazia rir.
— Se não passar, meus pais me manterão no sótão pelo resto da vida. Terá que ir me ver e deslizar mantimentos por debaixo da porta.
— Duvido que seja tão mau. Além disso, estudou, verdade?
Revirou seus olhos uma vez e me olhou. — Um pouco. Sim.
— Viu Pequenas Mentirosas ontem de noite, não?
Com um profundo suspiro que fez que seus ombros subissem e logo baixassem respondeu: — Sim. O capítulo da semana passada e o desta semana. Não pude evitar. Tenho uma coisa com Caleb.
Agarrando seu braço, levei-a para dentro. — Vamos. À biblioteca. Temos trinta minutos para que não seja trancada em um sótão pelo resto da vida.
Miranda me olhou. — Te amo.
—O mesmo.
Felizmente, o fantasma da biblioteca se encontrava em outro lugar hoje. A alma que sempre perambulava por aí era uma distração.
i quando Pagan levou a Miranda até a biblioteca. Estaria ocupada por um momento e eu tinha um lugar aonde ir. Havia uma alma que não queria deixar esperando por mim. Tinha que estar lá no momento desta morte. Uma vez que Pagan entrou na biblioteca e soube que estava a salvo, no momento, parti.
Antes de Pagan, não tinha entendido o amor. Antes dela, tomar almas era fácil. Agora, conhecia as emoções. Sabia da dor e o sentimento de perda e isso faziam meus objetivos mais difíceis. Especialmente com os mais jovens. Apesar de que sabia que conseguiriam outra vida muito em breve, compreendia a dor de sua família, já que perdiam alguém amado. Porque embora, a alma desse menino retornasse, não seria o mesmo. Eles não saberiam que o menino que amavam seguiria com eles quando a alma retornasse com uma nova vida.
— Está na hora, não? O menino me olhou quando entrei em seu quarto de hospital. Tinha ido falar com ele antes. Várias vezes, na realidade. Queria que entendesse que morreria logo, mas se seguisse minhas instruções, então lhe daria outra vida. Sua alma seguiria vivendo. Logo esta vida acabará. Seu lábio inferior tremia enquanto me olhava fixamente.
— Sim, está na hora. — Vai Doer?
Neguei com a cabeça.
— Prometi que não doeria, não?
Assentiu com a cabeça e apertou o dinossauro verde com mais força no seu peito, colocando-o debaixo de seu queixo. Tinha passado uma semana da última vez que estive aqui. Seu rosto parecia mais
pálido e os círculos sob seus olhos estavam mais escuros. A enfermidade tomou o controle.
— Mamãe acredita que vou melhorar. Tratei de lhe dizer que não seria assim.
A opressão no peito apareceu. Isto costumava ser tão fácil.
— Aqueles que lhe amam não querem aceitar que seu corpo nesta vida está muito doente para continuar. Mas recorda: — Vai voltar. Vai nascer em um corpo novo e voltará para esta família. Talvez não amanhã ou no dia seguinte, mas um dia voltará.
Ele suspirou e esfregou o nariz contra Teddy que obviamente amava.
— Sim, mas me disse que não recordaria esta vida. Que esqueceria quem fui antes. Não quero esquecer mamãe e papai. Não quero esquecer a Jessi, embora seja chata às vezes, é minha irmã maior.
Esta era a razão pela qual A Morte não estava destinada a sentir emoções. Queria abraçar ao menino em meus braços e lhe fazer falsas promessas. Algo para acalmar seu medo, mas este era seu destino. Estaria de volta logo. Já Tinha me perguntado por sua alma atrás quando me reuni com ele à primeira vez. Sua irmã tinha dezesseis anos. Em seis anos, daria a luz a um bebê que ia nomear com o nome de seu irmão e esta alma voltaria.
— Sei, mas tem que confiar em mim. Esta é a maneira que funciona a vida. Pode não recordar esta vida, mas sua alma sempre estará unida a seus seres queridos. Sua alma será feliz e embora não recorde, sua alma se sentirá como se estivesse em casa.
O menino assentiu com a cabeça e baixou o dinossauro.
— Mamãe acaba de sair para me buscar um pouco de gelo. Podemos esperar até que retorne? Quero lhe dizer adeus. — Afogou-se nessa última palavra.
Assenti e retrocedi, enquanto a porta de seu quarto se abria. Sua mãe entrou. Também estava mais magra desde a minha última visita e a dor e o medo que a rodeava eram impressionantes. Os círculos escuros debaixo de seus olhos estavam quase como se ela fosse a que poderia morrer hoje.
— Lamento ter demorado tanto, querido. Tive que ir ao andar de cima para conseguir o gelo que você gosta. — Apressou-se para o seu lado. A roupa enrugada pendurava em sua frágil figura. Já estava em contradição. Sabia. Podia haver dito a seu filho que ia melhorar, mas sabia que não era assim.
— Mamãe. - Sua voz enfraquecida soou com mais força do que esperava. Vi como o pequeno menino tomou a mão da sua mãe. Dispunha-se a consolá-la. Seu corpo poderia ser jovem, mas sua alma não era. Tinha uma alma amadurecida. Uma que havia visto muitas vidas. No momento da morte a alma começava a substituição. Apesar de que sua mente era a de um menino de cinco anos, sua alma sabia que sua mãe o necessitava muito nestes momentos.
— Te amo. - Disse e um soluço sacudiu o corpo dela. Queria abraçá-la para ajudar a aliviar sua dor, mas não podia. A Morte não estava destinada a confortar.
— Também te amo, meu doce menino. Sussurrou apertando sua pequena mão entre as suas.
— Nunca me irei. Esta bem? Não fique triste. Tentou como tantos outros, explicar aos que deixavam para trás que ia voltar. Mas igual a todos os seres humanos, começou a chorar e a sacudir a cabeça em negação. Enfrentar a perda de seu pequeno filho era muito para que sua mente compreendesse.
— Não fale assim, querido. Vamos lutar contra isto, — disse com uma ferocidade que só uma mãe desesperada podia reunir em um momento como este.
— Não, mamãe. Tenho que ir agora, mas lhe prometo que sempre estarei aqui.
Aproximei-me de seu lado enquanto sua mãe cobria seu pequeno corpo com o seu. Sua pequena mão se estendeu para mim e a agarrei. Assentiu e tomei sua alma.
— Sempre me chamam para os mais difíceis. Por que isso? Mmm...? Por que agradei a sua namorada, me chama? - grunhiu Gee, enquanto passeava no quarto do hospital.
— Isto não se trata de você, Gee. Trata-se do menino. Tome sua alma agora. Não precisa ver o resto. Tem que ir para cima.
Gee olhou à mãe chorando sobre o corpo que tinha abrigado uma vez aquela alma. Seus soluços eram cada vez mais intensos e as enfermeiras começaram a precipitar-se na sala gritando. Imediatamente, Gee tomou a mão da alma e se foi sem dizer uma palavra. Poderia ser uma dor no traseiro, mas não era cruel. É por isso que sempre pedia por ela quando se tratava de uma morte como esta. Com um último olhar à aflita mãe, saiu do quarto. Amaria seu neto um dia e o abraçaria enquanto lhe contava tudo a respeito de seu tio. A alma não pode recordar essa vida, mas ele saberia quão lutador foi seu tio e que a vida que tinha experimentado durante um curto período de tempo nunca seria esquecida. Em sua seguinte vida, ele envelheceria junto com seus netos para lhes contar histórias.
— Olá, — murmurou Pagan em seu suave, sex e doce tom que significava que sentia saudades. Normalmente, durante o dia não vou pegar almas. Só as difíceis ou com as quais eu tenha feito conexão. Não tinha que estar lá para que um corpo morresse. Só teria que estar lá para tomar a alma vinculada a esse corpo. Então, apesar das pessoas morrerem a cada segundo de cada dia, nem sempre estou lá no momento. Por isso, às vezes, a gente vê o "fantasma" de seu ente querido pouco depois de sua morte. A alma permanece no corpo até que eu vá buscá-la. Também há almas que se negam a ir. As que não querem partir. As que se convertem em almas perdidas e vagam confusas pela terra por toda a eternidade.
— Parece... Triste — disse ela, envolvendo seus braços ao redor de minha cintura.
— Só estou pensando e asseguro, puxando-a forte contra meu peito.
— Só tomou uma alma, não? — repete, me estudando.
Concordo.
— Um pequeno?
Concordo, outra vez.
— Um menino.
Entendia-o. Falamos isto antes. Havia tantas coisas que queria saber e eu me sentia impotente, não queria que ela se preocupasse. Eu não consegui dizer não à menina.
— Quando vai voltar?
— Em seis anos.
— Quem tomou?
—Gee.
—OH, bem. Ela gostará.
Ri. Gee não é a pessoa mais agradável que conheci, mas por uma estranha razão gostava de Pagan. Mesmo quando ela achava que era adolescente e sofria de esquizofrenia.
Ela inclinou a cabeça contra meu peito e suspirou. A Morte não era algo com a qual Pagan lutava muito bem, mas começava a entendêla melhor.
A árvore não era tão alta. O estúpido Wyatt não sabia nada. Só porque era uma menina não significava que eu não pudesse subir, também. Eu lhe mostraria. Quando chegar aqui, estarei a caminho do topo. Assim não pensará que as garotas não podem fazer o que os meninos fazem. Sim! Podemos fazer melhor. Porque somos mais legais.
Olhando para trás para ver se mamãe me olhava da janela da cozinha, encontrei tudo limpo e me subi ao ramo com a casca dura. Era quente e pegajosa. Uma vez que tive ambas as mãos e pernas firmemente enganchadas a seu redor, comecei a tentar escalar. Sem sequer olhar para baixo. Segui mantendo meu caminho até que chegasse ao topo. Sem razões para baixar o olhar. Isso poderia prejudicar. Uma lasca me cortou a mão e gritei, retirando-a para ver se estava sangrando. Havia uma pequena lasca cravada em minha mão e pressionei a palma contra minha boca, utilizando meus dentes para tirar isso Sorri com satisfação uma vez a pequena lasca estava entre meus dentes. Tirei-a e cuspi o objeto ofensivo.
Vê, foi tão difícil como para qualquer menino. Wyatt e sua estúpida boca dizendo que eu era fraca. O que seja! Continuei minha ascensão ao topo. Melhor, que veja de uma vez que sou muito mais legal que ele, porque posso subir muito alto, vai me deixar entrar em sua nova casa da árvore. Esse pôster de "só os meninos" parecia plenamente estúpido, de todo jeito. Mamãe dizia que devia ignorá-los e deixar que os meninos tivessem seu esconderijo especial, mas eu não podia fazer isso. Não era justo quando fui eu quem teve a ideia da casa da árvore, em primeiro lugar. Além disso, tudo o que Miranda queria fazer era que nos maquiássemos e fizéssemos às unhas. Quem quereria perder tempo dessa maneira? Eu não!
Meu pé escorregou e me segurei forte tentando não entrar em pânico. Podia fazer isto. Minhas mãos começaram a suar e meu agarre firme se debilitava. Isso não era bom. Movi meu braço, assim poderia encontrar outro ramo onde me agarrar, mas logo meu outro pé escorregou e cai de costas em queda livre. Isto ia doer.
— Ups, a peguei, — disse uma voz familiar e abri meus olhos para ver um menino me olhando. Segurando-me. Estranho. Sacudindo minha cabeça, levantei o olhar para árvore da qual acabava de cair e tentei recordar de onde conhecia este menino. Eu bati minha cabeça e esse cara me pegou?
— Uh. — Respondi, ainda confusa. Estava caindo. Então... este menino me segurou e falou comigo.
— O que fazia lá em cima? É muito alto.
Voltei meu olhar para ele outra vez.
— Uh, eu, uh... você me segurou? - perguntei incrédula.
Ele riu, e o azul bebê de seus olhos pareceu escurecer.
— Sim, por que acha que não está caída no chão com alguns ossos quebrados?
Sacudi minha cabeça e me levantei. Ele me baixou facilmente e, outra vez, observei quão familiar me parecia. Ia ao colégio conosco?
— De onde você veio?
Deu de ombros:
— Andava por aqui, vi você subir muito alto e vim, se necessitasse de ajuda.
— Te conheço? — Perguntei-lhe, notando como em seu rosto se formava um estranho sorriso.
— Gostaria que sim, mas não. Ainda não. Não é a hora.
— O que significa isso?
Ele era estranho e falava como um adulto.
— Pagan Moore, traz seu traseiro aqui se quiser ver a minha casa da árvore antes que os meninos cheguem, — Wyatt estava de pé na rua, sorrindo como se acabasse de me oferecer um milhão de dólares.
O que dizia sobre uma "olhada"? Eu queria ENTRAR. Não dar uma estúpida olhada. Olhei para trás para o menino que tinha me segurado, se por acaso quisesse vir também, mas ele se foi.
— Está quase na hora, está quase na hora, está quase na hora, Está quase na hora.
Sentei-me na cama sem fôlego, enquanto o canto em meu ouvido se desvanecia. A mesma voz de ontem. Conhecia essa voz, não? E o quê queria dizer com "está quase na hora.”.
Agarrei minha cabeça entre minhas mãos e suspirei. O que estava acontecendo? Estes sonhos pareciam tão reais. Como lembranças que havia esquecido. O mesmo menino. A mesma voz.
Olhei através de meus dedos, logo quando a luz entrou pela janela. O sol não tinha saído por completo ainda. Não havia nenhuma maneira que eu voltasse a dormir. Mamãe se emocionaria se conseguisse me levantar a tempo para tomar o café da manhã com ela hoje. O sonho ia me incomodar. Precisava perguntar ao Wyatt sobre essa árvore. Teria que lhe contar sobre a queda? Não recordaria. Talvez sim.
Saí de minha cama, escovei o cabelo e parei diante da janela, estudando o velho carvalho. Sentia como se houvesse outra lembrança ligada a essa árvore, mas não podia recordar. Deixei minha escova, calcei minhas sandálias e desci. Queria sair daqui. Era quase como se a árvore, de repente, me devorasse de algum jeito invisível.
O ar frio da manhã me fez tremer enquanto descia as escadas da varanda e cruzava a grama toda molhada. Uma jaqueta teria sido uma decisão inteligente, mas estava tão ansiosa para sair e ver esta árvore.
Observando o jardim procurando algo estranho ou raro, caminhei para árvore. Era a mesma que sempre esteve aqui. Nada tinha realmente mudado. Exceto, possivelmente, que o ramo de baixo era agora mais fácil de alcançar. Estudei o lugar da árvore e recordei, diretamente antes de cair, e calculei o quão longe realmente caí. Poderia um menino me apanhar se caísse para o mesmo impacto? Isso parecia altamente improvável.
Ela estava assustada. Podia senti-la, inclusive, a um continente de distância. Olhando para Gee, franzi o cenho porque não tínhamos acabado. Teria que reunir até oitocentas almas mais, antes de finalizar o dia.
— Temos que nos apressar — disse, me girando para levar a obstinada alma que não queria ir.
— Espera, não vai me ajudar a convencer a esta a ir? Quero dizer, vamos menino apaixonado, sei que quer voltar para sua garota e tudo, mas temos trabalho a fazer.
— Mas esta é obstinada. Deixa-a vagando pela terra pela eternidade se for o que quer. Tentei.
Gee franziu o cenho e aproximou:
— Ela está bem? Posso ir. Pode mandar alguém para...
— Não, necessita de mim. Vamos. Esta é uma causa perdida.
—UGH, você é tão malditamente impaciente. — Gee me olhou perturbada.
— Não tenho tempo para isto. Pega a alma ou deixa-a, não me importa. A necessidade de chegar até Pagan me consumia. Não podia me concentrar.
— Faça o que puder com ela. Eu a encontrarei na próxima parada. Tenho que vê-la. Não esperei a resposta de Gee.
Ela se encontrava em seu jardim dos fundos, olhando esse velho carvalho. Seu cabelo caía por suas costas em suaves e recém-penteadas ondas, no qual parecia fora de lugar com sua calça de pijama e sua camiseta.
— Está bem? — perguntei, me aproximando por trás e agarrandoa entre meus braços. Nem sequer se assustou. Que eu apareça do nada se tornou normal para ela. O pensamento me faz sorrir, mas sua tristeza apagou o sorriso de meu rosto. Algo lhe incomodava.
— Por que está aqui fora tão cedo, olhando uma árvore? — Perguntei, descansando meu queixo em cima de sua cabeça.
— Tive um sonho, e não foi a primeira vez. Penso... Penso que tem algo que ver com essa voz.
Aumentando o meu aperto, observei o jardim com a luz da manhã cedo. Não há nada aqui além de nós dois. Ela estava a salvo, recordeime disso.
— Me conte sobre o sonho. – A incentivei.
Deslizou suas mãos sobre as minhas e deixou cair sua cabeça sobre meu ombro.
— São muitas lembranças de minha infância. Lembranças que esqueci. Em uma delas está este menino. O mesmo. Sempre me ajuda. Não o recordava até que o sonho começou, mas agora acredito que é uma lembrança real. Não só um sonho. Posso recordar tão claramente como se ele estivesse ali. — Parou e assinalou à árvore diante de nós.
— Nessa árvore, eu subi uma vez. O fiz porque Wyatt dizia que não podia fazer, porque era uma menina. Queria lhe provar que estava enganado. Subi, mas caí... e ele me segurou.
— Wyatt?
Neguei com a cabeça.
—Não. O menino. Ajudou-me a encontrar a minha mãe na multidão quando me perdi e houve outras ocasiões. O vi. Conheço-o.
Um grunhido furioso de ciúmes me escapou antes que pudesse detê-lo.
Pagan se sacudiu entre meus braços e franziu o cenho.
— O quê?
Sacudi minha cabeça e tomei uma profunda respiração. Esta não era uma emoção com a qual eu era bom. Comecei a me perguntar se alguma vez seria. Eu era egoísta e possessivo. Pagan era minha.
— Acredita que é real? - Arrumei-me para perguntar. Teria que me manter focado no problema em questão. Odiava saber que alguém a tinha salvo quando era pequena. Não me caiu muito bem. Algo estava errado. Ela o tinha esquecido e agora suas lembranças retornavam. A voz. Precisava encontrar essa voz.
— Sim. Acredito que a voz em meu ouvido era do menino. Ela saiu de meus braços. — Deixa de grunhir Dank, não seja um animal, Deus.
Tinha razão, é obvio. Estava zangado. A possessiva necessidade de reclamá-la como minha me superava. Essa voz tão perto dela entrou em seus sonhos. Foi de noite enquanto estava longe dela, assim ele pôde aproximar-se. Teria que mudar isso. Sem sonhos. Só teria que sair mais de dia. Odiava estar longe dela quando estava acordada. Mas não tinha muitas opções. Esta... esta coisa não ia aproximar-se mais dela.
— Não vou deixa-la mais sozinha de noite. Não até que terminemos isto.
Pagan franziu o cenho e sacudiu sua cabeça.
— Não, não quero que vá durante o dia. Vou sentir sua falta.
Eu ia sentir falta dela, também.
— Eu não gosto que ele esteja tão perto de você. Está entrando em sua mente por que eu não estou aqui para senti-lo. Para detê-lo.
Ela mordeu o lábio superior e estudou meu peito por um momento, finalmente levantou o olhar para a mim.
— O que acontece com Gee?
— O que acontece ela?
— Poderia ficar comigo. Por agora.
Poderia. Não ficaria louca com isso, Gee gosta de Pagan, tanto quanto Pagan gosta de Gee. Poderia confiar que Gee me avisasse se Pagan precisasse de mim.
— Vou falar com Gee.
Pagan resplandeceu e pôs seus braços ao redor de meu pescoço.
— É tão fácil. É difícil discutir com você
Beijei a ponta de seu nariz.
— Eu gosto de fazê-la sorrir, Pagan.
— E eu gosto de ouvir sua voz sexy me dizendo coisas doces. — Respondeu.
— Me Beije, Dank. Sussurrou, pressionando seus lábios contra os meus. Não era algo com a qual tivesse que me animar. Às vezes que tínhamos nos beijado, sua alma tinha tentado sair de seu corpo. Eu não sabia como pará-la. Nossos beijos eram sempre curtos. Agora, outras coisas... passávamos momentos fazendo outras coisas.
— Hmmm... Acha que poderá manter sua alma dentro desta vez?
— murmurei contra seus lábios.
Ela soltou uma risada nervosa.
—Tentarei.
O sabor de sua doce língua enviou todos os pensamentos fora de minha mente. Nesse instante só tinha uma necessidade. Um propósito. Pagan. A satisfação deslizou através de mim quando percorri minha língua por seu lábio superior, lutando pela urgência de mordê-lo. Seu lábio inchado sempre me tentava. Um suave gemido trouxe de volta meus sentidos e senti sua alma começar a reagir à atração que sentia por mim. Gentilmente, rompi o beijo e pus distância entre nós dois, enquanto nos olhávamos com fome e agarrando rápidas e curtas respirações.
— Sinto muito, — ela sussurrou.
Sacudindo minha cabeça, sorri para sua desculpa inocente. Sua alma sabia que era minha. O fato de que ela estivesse tão disposta a vir para mim, era bonito. Inclusive, embora me causasse uma frustração extrema, quando eu a queria agarrar em meus braços e beijá-la sem sentido, durante horas. Até que não encontrássemos uma resposta do porque viria para mim, isso não ia acontecer.
— Não se desculpe Pagan. - Respondi, me adiantando para agarrar sua mão e levá-la aos meus lábios. — É hora de entrar e se preparar. Acredito que prometeu a sua mãe que tomaria o café da manhã com ela esta manhã.
Assentiu, deslizou de minha mão antes de girar para dirigir-se para a casa. Quando alcançou a porta se girou a me olhou.
— Te vejo logo.
—Sempre. Respondi.
o momento em que ela entrou e fechou a porta, eu o senti. Fechei meus olhos e deixei que meus sentidos o superassem. Abrindo-os lentamente observei o pátio dos fundos, até que meus olhos se dirigiram até a fonte do sonho de Pagan. Já tinha visto este espírito antes. Um brilho zombador em seus olhos frios me devolveu o olhar, enquanto tirava não um cigarro, mas dois de sua boca.
— O que quer com Pagan? - Perguntei, mantendo o olhar sobre ele. Os senhores espíritos possivelmente podiam manipular os humanos e suas vidas, mas não tinham nenhum poder sobre mim. Possuía todas as chaves. Sem mim, o vodu de um senhor espírito seria nada para a morte. Seu poder vinha daqueles que acreditavam nele. E acabavam em minhas mãos.
— Ela me pertence. — O arrogante espírito se centrou em mim. Podia ver a advertência detrás de seus olhos. Sabia que tinha ultrapassado.
— Não, não pertence.
O senhor espírito se moveu para trás. Seu movimento foi mais um deslize que um passo pondo distância entre nós. O grunhido de meu peito se encontrou com meus ouvidos e de repente entendi sua necessidade de espaço.
— Esta garota está marcada como uma restituição. Sua mãe fez o trato. Sabe o custo.
O quê? Sem querer tirar meu olhar do senhor espírito, olhei para ver se Pagan que estava nos observando da janela de sua cozinha. Neguei-lhe o intento de pôr distância entre nós e o fulminei com um frio olhar nos olhos, ao qual só podiam considerar como um demônio para os seres humanos. O culto e a crença dos que praticavam o vodu era o único lugar de onde tirava seu poder. Sem eles, ele não existiria.
— Pagan Moore é minha. Deixe-a. Nunca cruzou comigo antes, mas posso lhe assegurar que um senhor espírito do vodu não é rival para mim. Sabe disso.
A indecisão na postura do senhor espírito era evidente. Retrocedeu.
— Mas a restituição deve ser feita.
— NÃO com Pagan, não. Qualquer trato que tenha com sua mãe é com sua mãe. Pagan não tem nada a ver com isso.
— Nunca a conheceria se eu não a tivesse salvado. Teria tomado sua alma enquanto estivesse esticada no chão, morrendo. Sou eu quem não gosta de ver os meninos morrendo. Não importa a quem toma. Está viva por mim. Significa um propósito para mim. Salvei-a para meu filho. Vigiei por ela durante todos estes ano.
Tremendo de raiva, controlei minha necessidade de destruição. Tentava aniquilar a um senhor espírito do vodu no quintal dos fundos de Pagan, ele traria todo o inferno até aqui. Este era um lugar seguro para ela. Um lugar sem pesadelos.
— Deixe-a ou se verá comigo.
— A garota tem que escolher ou tomarei meu pagamento de qualquer maneira, — assobiou.
—Bem! Deixe que ela escolha, — rugi.
Logo partiu e fiquei sozinho.
O que em nome dos deuses tinha feito a mãe de Pagan?
— Então o menino amante está em excursão, — anunciou Wyatt, o namorado de Miranda e meu amigo de infância, enquanto deixava sua bandeja diante de mim. Escolhi o pão porque era a única coisa em toda a bandeja que realmente conhecia e belisquei um pedaço antes de olhálo.
— Sim. — Foi minha única resposta antes de fazer estalar uma parte crocante de pão dentro de minha boca.
— Não lhe fale disso. Está toda deprimida, — reclamou Miranda, lhe dando um tapa no braço.
Wyatt continuou me olhando, o que era ligeiramente desconcertante. — O que? — disse, encontrando-me com seu olhar.
Deu de ombros.
— Nada, só pensava em algo, e ia lhe perguntar e bem... Esqueci. Sacudiu a cabeça como se a esclarecesse e agarrou sua garrafa d’água.
Leif. Estava pensando em Leif. Pouco a pouco tinha desvanecido das lembranças de todo o mundo. De todo o mundo, exceto das minhas, é obvio. Por que será isso?
— Wyatt, você se lembra da casa da árvore que construiu e não deixava que as garotas entrassem? - Wyatt levantou o olhar de sua comida e me sorriu. Sim, e você estava tão malditamente zangada. Acredito que pendurei esse letreiro só para lhe chatear.
Estou segura de que o fez. Wyatt tinha vivido para me fazer ficar com raiva. Tínhamos uma grande batalha de meninos contra garotas, naquele tempo. Naquele tempo Miranda era feliz brincando com suas bonecas Bratz, o que só dava a ele mais munição. Miranda me fazia ficar mal. As bonecas faziam com que os meninos pensassem que éramos débeis e eu não era tão fraca.
— Lembra-se da árvore em meu quintal dos fundos, que subiu e dizia que eu não podia? - Wyatt franziu por um minuto e logo um sorriso rompeu em sua cara.
— SIM, e você a subiu um dia e caiu, mas um menino a ajudou ou algo assim. Não sei. Não acreditei em sua história então, e não acredito nisso agora. Parecia um pouco desatinado. — E continuou e continuou falando sobre o quão rápido subia nessa árvore e sua óbvia destreza para fazê-lo, mas minha mente se encontrou em outras coisas.
O menino tinha que ser real. Esse sonho era uma lembrança. Por que o esqueci?
—Vai comer isso? - A pergunta de Wyatt rompeu meus pensamentos, e empurrei a bandeja para ele. Não estou segura a que "isso" se referia, mas todas "essas" coisas não iam estar em um lugar perto de minha boca.
— Escolhe.
— Querida, obrigada. Tomou a bandeja e a pôs diante dele.
Miranda estremeceu enquanto baixava o olhar. Esse tinha sido exatamente o meu pensamento.
— Então, Pagan, Quando vamos ter um encontro duplo, com você e Dank?
— Uh... Não sei. Não sabia que queria.
Miranda inclinou a cabeça a um lado e me deu um olhar incrédulo.
— É obvio que queremos. Foi você que esteve evitando.
Não. Wyatt era amigo de Leif. Wyatt não estava louco por mim e Dank. Sentiu como se estivesse enganando Leif, inclusive, embora tivesse contado a todos que Leif tinha rompido comigo. Joguei um olhar para Wyatt, que parecia feliz comendo a comida que lhe tinha dado, esperando minha resposta. Tinham esquecido Leif completamente?
— Oh, certo, bem, me deixe falar com ele. Ele foi por um tempo, mas quando retornar, a gente faz.
Wyatt sorriu e tomou um gole d’água. Troquei minha atenção para a mesa atrás de nós, onde normalmente se sentava Leif, como um rei em seu reino. Ninguém parecia consternado por sua ausência. Nem sequer Kendra, sua namorada por anos, antes que rompesse as coisas com ela, estava. Tinham sido realmente um casal ou ele só estava jogando com sua cabeça?
Kendra jogou sua cabeça para trás e riu de algo que um dos meninos havia lhe dito e olhei fascinada como paquerava abertamente com eles. Agradecida de que ela tivesse esquecido o Dank, uma vez que se foi, pela primeira vez. Não tive que lutar com ela flertando com ele, quando voltou. Era quase como se não existisse. Logo seus olhos apanharam os meus e um brilho de conhecimento me surpreendeu, antes que olhasse para linha direita e chiasse o nome de outra chefe de torcida que se aproximava da mesa. Ninguém se preocupou mais com o marechal estrela, nunca mais.
— Preciso escovar os dentes e retocar meu batom. Vem? - Perguntou Miranda, levantando-se.
Assenti e me levantei para segui-la para fora da cafeteria.
— Então, Miranda, não parece que Wyatt está muito zangado pelo Leif. — Enrolei-a, esperando ver como me respondia.
Miranda me olhou por cima de seu ombro.
— Quem?
Mamãe não se encontrava em casa. Fantástico. Estava sozinha. Fechei a porta atrás de mim e esquadrinhei a cozinha para ver se havia algum visitante não desejado, flutuando ao redor. No caso de Leif, andar ao redor. A casa parecia limpa, mas isso não acalmava muito meus nervos. Deixei a mochila sobre o banco e caminhei para a geladeira para pegar algo para beber e me fazer um sanduíche.
Uma salada de tacos completa e uma panqueca crocante estavam envoltas em um recipiente com uma nota na tampa.
Saí com o Roger. Chegarei tarde. Pedi sua comida favorita de Tacos.
Te amo.
Mamãe.
Acrescentando a isto que me deixou sozinha em casa, poderia beijar seu rosto. Estava faminta depois de comer só pão. Tive monitoria com dois alunos novos, depois das aulas e não pude comer então. Agora passavam das seis e juro que meu intestino grosso comia o fino. Necessitava de comida. Agarrei minha salada, uma lata de refrigerante e me dirigi para a sala. Depois de ouvir Miranda falar sobre o capítulo de Pequenas Mentirosas desta semana, queria vê-lo por mim mesma.
Afundando no sofá pus um pé debaixo de mim e liguei a televisão. Graças ao fantástico Roger, o namorado de mamãe, tínhamos uma bonita tela de sessenta e duas polegadas em nossa parede.
Roger era o gerente do distrito com melhores compras na área, assim obtinha contratos assassinos. Já tinha dado à indireta no supermercado que queria um novo notebook. O velho se dirigia rapidamente para a tumba.
— Pagan.
Gritei, deixei cair meu garfo, esquadrinhando a sala em busca da voz do proprietário.
Leif se encontrava sob o marco da porta na cozinha. Não parecia fantasmagórico ou monstruoso. Só era como Leif. Exceto que se encontrava em minha casa, sem ser convidado. E não tinha alma.
— Pagan, — repetiu.
Abri minha boca para lhe perguntar que demônios, quando desapareceu e Gee irrompeu pela porta como se estivesse na guerra.
— Onde ele está? Onde está essa pequena merda? Posso senti-lo. Agora, ONDE DEMÔNIO ESTÁ?
Olhei como Gee esquadrinhava a sala e espreitava a cozinha.
— Se foi. Maldito covarde. Gritou enquanto irrompia nas escadas.
Sentei-me congelada, esperando que Gee entrasse em casa.
Sentia-me ainda em choque por que Leif esteve em minha casa, e Gee gritasse maldições, enquanto procurava em cada esquina.
— Está bem? — perguntou, uma vez que voltou para a casa. Tentei assentir, mas não pude. Em vez disso, forcei que um "hum hum" saísse de minha garganta. Meu coração ainda estava tão acelerado, que poderia atravessar meu peito.
— Respira profundamente, Peggy Ann. Respirações profundas. Não deixe que sua majestade faça que chova no inferno e que todos se interponham em seu caminho, só porque sua namorada está cagando de medo. Seu colorido vocabulário provocou-me risadas e pude respirar profundamente como ela havia sugerido.
— Isso. Boa garota. — Afirmou com um sorriso satisfeito e se sentou no sofá junto a mim.
Baixei o olhar para minha salada, tratando de assumir que Leif esteve em minha casa. Só apareceu, do nada. Seria outra coisa, que se parecia com o Leif? Parecia com Leif, com certeza.
— Vai comer isso? — Sua pergunta soou mais como uma ordem quando assinalou para a tigela de salada, que milagrosamente não tinha sido derramada pelo chão durante o drama.
Precisava comer isso. Não tinha comido em todo o dia, mas a fome se foi. Agora me sentia ligeiramente doente.
— Era Leif, verdade? — Perguntei-lhe, girando meu rosto, assim podia lhe fazer a pergunta de frente.
— Sim. Merdinha. Mostrando-se como um maldito covarde e a assustando dessa maneira. Não é tão doce agora, verdade?
Olhei para trás, onde ele estava parado. Não parecia aterrador. Parecia preocupado. Ou possivelmente culpado.
— Dank resolve isto. Deixa de se preocupar. Agora, vai comer isto ou não? Porque parece delicioso.
Sacudi minha cabeça e Gee pegou, instantaneamente tinha um garfo em sua mão.
— Beba o refrigerante se sentir-se mal. Não quer entrar em choque. O açúcar ajuda.
Assentindo, tomei um pequeno gole de meu refrigerante gelado e doce e meu estômago pareceu assentar-se.
— Por que veio aqui?
— Porque queria falar com você, suponho. — Respondeu Gee, depois de meter outra garfada cheia de salada em sua boca.
— Os meninos do colégio, seus pais. Todos o esqueceram.
Gee assentiu.
— Sim, fizeram. Ele não tem alma, Pagan. Recorda, você a tem. Seu corpo é só uma casa para ela. Aqueles que têm alma o esqueceram porque sua alma nunca esteve vinculada a dele. Não se pode conectar com algo que não existe.
— Por que eu lembro dele? — Minha voz saiu em um sussurro. Quase tinha medo de escutar a resposta para isto.
Gee deixou o garfo na tigela e suspirou.
Isto não era bom.
—É diferente. Ele tinha... Havia esta... UGH, por que diabos Dank, não lhe explicou esta merda? — Gee colocou a quase vazia vasilha com a omelete sobre a mesa de café, cortou um pedaço antes de encostar-se e me olhar.
— Sua alma foi marcada quando era pequena. Leif tem algum tipo de reclamação sobre sua alma. Agora, não se assuste. Dank é mais que capaz de arrumar isto antes que Leif se vincule a você.
Eu não gostei de como soava isso. Vincular? Engasguei.
Gee assentiu e pegou outra parte da tigela de panqueca. Mantinha tudo isto de forma casual. Talvez eu precisasse me acalmar. Ela não parecia preocupada. Mas, me vincular?
— Deixa de franzir o cenho, Peggy Ann. Não é tão ruim. Então, assim é a coisa: sua mamãe tomou uma má decisão. Tem um espírito escuro determinado a reclama-la. As coisas poderiam ser piores, — terminou, com um dar de ombros.
—Como? Como poderiam ser piores? Um espírito escuro? Levantei meu refrigerante, e meu estômago se revolveu diante do pensamento do que um espírito escuro significava realmente.
— Como poderia ser pior? Bom, para começar, poderia estar sem a completa devoção da Morte em pessoa. Vamos, Peggy Ann. O que um espírito escuro pode fazer contra a Morte? Refiro-me, sério, - Gee revirou seus olhos e engoliu a última parte da tigela de panqueca que comia.
Bebi suas palavras, desejando que fossem mais reconfortantes.
— Tem algo de bom gravado nesta coisa? — perguntou, dirigindose ao controle da televisão.
— Um, sim, olhe o que quiser. — Murmurei e bebi meu refrigerante desejando que Dank pudesse voltar para casa.
Agora.
or favor. Se pode salvá-la então, só faça! Faça o que tiver que fazer. — Pediu minha mãe com lágrimas caindo por seu rosto.
A anciã enrugada afastou a vista de mim. Seu cabelo branco ressaltava contra sua pele escura. Estudou-me cuidadosamente antes de levantar seu olhar vítreo e fixá-la em minha mãe. — Está pedindo algo que provocará coisas que possivelmente não deseja.
—Faça algo. Rogo-lhe isso, o que puder fazer. Os doutores não podem ajudá-la. Está morrendo. Faça algo, por favor. — A voz de minha mãe se rompeu quando soltou um ruidoso soluço.
— Etel não aprovará isto, você sabe, — disse a anciã quando foi coxeando a uma prateleira com centenas de vasilhas cheias de coisas estranhas que não reconheci. — O que você pedir não importa. Não há outra forma. Se ele quiser que ela viva. Ele fará essa chamada.
Olhei enquanto ela caminhava arrastando o pé ao redor da mescla de diferentes artigos que tirou da prateleira, murmurando para si mesmo.
— Quem é ele? — Ouvi minha mamãe perguntar.
Eu estava me perguntando o mesmo. Ele parecia ter a última palavra, não a anciã. Por que mamãe lhe pedia que me ajudasse? Não entendia. Ela não parecia como nenhum doutor que tivesse visto. Quando fiquei em coma, as paredes brancas do hospital em que tinha passado os últimos meses eram a última coisa que recordava ter visto. Logo, despertei e ela se encontrava aqui. Com esta estranha mulher em uma pequena e suja casa, que cheirava estranho.
— O único que pode salvar esta garota — disse, arrastando os pés para mim enquanto agitava a fedorenta beberagem e começou a cantar suavemente.
— Onde está ele? Precisa ir buscá-lo? — O pânico na voz de mãe me fez lutar por manter os olhos abertos. Sabia que estava assustada. Os médicos não esperavam que despertasse. Tinha-os escutado cochichando, enquanto pensavam que dormia. A enfermidade avançava em meu corpo. Estava doente. Minha mãe estava triste.
— Você pensa que eu faria isto se ele não estivesse aqui. — O humor na voz da anciã era óbvio. — Este gris-gris* eu não faço. Só ele.
Antes que minha mãe pudesse perguntar algo, a porta se abriu e entrou um menino não maior que eu. Seus olhos recordavam a um mar agitado, que formava redemoinhos, quando fechou a porta atrás dele. O loiro e desordenado cabelo caía sobre seus olhos e não parecia lhe importar a escura anciã.
Ele estava doente também? Um suave murmúrio em uma língua que não entendi saiu de sua boca, enquanto a sala começou a escurecer e meus olhos se fecharam lentamente.
— É o momento. — A voz familiar sussurrou em meu ouvido.
Sentei-me na cama respirando com dificuldade. A luz do sol entrava por minha janela e o brilhante e corajoso amarelo do meu quarto parecia em desacordo com a escura prisão com a qual estava sonhando. De onde tinha vindo isso? E esse acento da anciã. Tinha sido grosso e... E Cajun? Logo, o rapaz. Uma vez mais ele estava ali enquanto que eu estava doente. Eu estive doente. Tive uma milagrosa recuperação à idade de três anos. Esta lembrança do menino era a primeira que tinha tido. Quem era ele? E por que a voz havia dito "É o momento" em vez de "Está quase na hora"?
Olhando em volta pelo quarto procurei a Gee.
— Pagan. — Dank se encontrava em pé em frente a minha cama e inclinando-se para me arrastar em seus braços.
— Gee disse que ele chegou a você. Não pode vê-lo, mas o sentiu. Não pôde detê-lo, assim, ela foi me buscar.
Assenti com a cabeça, deixando que me mimasse. Isto era uma reação de consolo que precisava, nestes momentos. Nada disto tinha sentido.
— Recordei algo. Outro sonho. Não tem sentido, mas se for real... então explica algo. Algo do meu passado.
*Gris- gris – Feitiço.
Dank virou para trás e me olhou.
— O que? — A tensão em sua voz não me surpreendeu. Estava bravo.
—Estive doente uma vez. Quando era pequena. Realmente doente. Tive leucemia e os médicos não deram nenhuma esperança a minha mãe... e... e logo melhorei. Foi um milagre. Nunca falamos disto depois. Mamãe nunca se preocupou se poderia voltar. As consultas com meu médico terminaram poucos anos depois e foi o final disso.
O agarre de Dank se converteu em um férreo aperto. — O que recordou em seus sonhos?
— Foi tão real, Dank. Podia, inclusive, cheirar o aroma mofado da casa velha.
— Conte-me. — Incentivou-me, enquanto seus dedos passavam através de meu cabelo enredado, tratando cuidadosamente de desfazer os nós que encontrava em seu caminho.
— Uma anciã estava lá. Seu sotaque era duro. Foi difícil entender tudo o que dizia. Nem sequer estou segura de que tipo de sotaque era. Mas fazia um... feitiço, acredito. Mamãe me levou com ela. Pediu-lhe que me salvasse. Então, o menino, o dos outros sonhos, estava lá. Começou a cantar algo e logo... despertei com as palavras "é o momento" sendo repetidas em meu ouvido.
Dank suspirou e apoiou sua testa sobre a minha.
Isto não era tranquilizador.
— Entendeu isto? Sabe o que está acontecendo? É por isto que Leif reclama minha alma?
Não respondeu imediatamente. Em troca, embalou minha nuca em sua mão e escondeu sua cabeça na curva de meu pescoço. Embora eu desfrutasse de estar sendo abraçada por ele em minha cama, sua relutância a me responder tirava a sensação cálida que sentia normalmente nesta posição.
— Dank, — repeti.
— Foi um médico Vodu que visitou nesse dia Pagan. Sua mãe recorreu à magia negra para salvar seu corpo.
O quê? Traguei a bílis em minha garganta. Do que está falando? O vodu não era real, mas o medo que atravessou meu corpo me disse para que acreditasse no vodu. Sabia algo e não disse.
— Não entendo. — Consegui afogar o terror que estrangulava e fechava minhas vias aéreas.
— Vou encontrar uma forma de arrumar isto. O mal reclamou sua alma. As divindades não se associam com os espíritos vodus. Eles não são todo-poderosos, mas podem usar seu poder sobre os humanos para causar dor. Uma restituição deve ser usada, com o fim de enviá-los longe de ti. Eu posso lhe proteger, mas o espírito que está atrás de você é o espírito vodu mais poderoso que há. Não irá sem brigar.
— Leif é um... Um espírito vodu? — Isso não podia ser certo. Leif não era mau.
— Pagan, os que não têm alma só podem pertencer a um lugar. O Criador não cria seres sem alma. Ele não tem nenhum uso para eles. Uma alma só pode ser criada pelo Criador. Portanto, quem não tem alma é mau. Leif é o produto de um dos mais fortes espíritos malignos que há. O senhor Vodu dos mortos, Ghede, é poderoso pelos cantos e as orações que recebe dos humanos. Leif é sua criação. Seu filho. Leif é o príncipe da morte dentro da religião vodu. Sua conexão com ele é a razão pela qual vê almas. Antes que ficasse doente, antes que sua mãe a levasse a médica vodu, tinha visto alguma alma?
Não podia recordar. Isto era demais.
Vodu? Minha mãe me salvou com Vodu? Oh, Deus.
— Como... Como pode resolver isto? — perguntei, precisava que alguém me assegurasse que ia ficar bem.
Talvez isto fosse só outro sonho. Talvez eu despertasse e seria normal outra vez. Dank deixou cair seus braços ao redor de mim e ficou em pé. Eu não gostei da distância. Eu o queria ter por perto.
— Quando não tomar almas, eu encontrarei uma forma de acabar com isto. — Fez uma pausa e afastou o olhar de mim. — Gee vai ficar contigo até que tenha resolvido isto.
O que? Não!
— Quer dizer que vai partir? — Lutei contra as lágrimas que picavam em meus olhos e ameaçavam cair. Não podia fazer isto sem ele aqui. Queria ser forte e valente, mas agora mesmo só o necessitava perto de mim.
Dank deixou escapar um suspiro, fechou os olhos e passou a mão por seu rosto. Sei que tornava isto difícil para ele, mas não queria que partisse. Mesmo amando a Gee, eu queria Dank.
— Não há outra solução para isto Pagan. Não posso exatamente renunciar ao meu trabalho. Ainda tenho que tomar almas. Todo meu tempo livre será para mante-la a salvo.
— Mas...
— PAGAN! CAFÉ DA MANHÃ! —A voz de minha mãe soou pelas escadas, interrompendo minha tentativa de suplicar.
—Anda e se prepare Pagan. Vá para escola. Não estarei desaparecido por completo. Cada vez que puder estarei aqui.
— Promete?
— Sim.
— Bem, Peggy Ann, aonde nos dirigimos primeiro?
Voltei o olhar para Gee, que tinha diminuído o passo ao meu lado, dei-me conta que ela não parecia um etéreo "transportador" a não ser a Gee que tinha conhecido no hospital psiquiátrico. Seu cabelo loiro estava bicudo e branqueado. Sua sobrancelha se encontrava perfurada outra vez, e parecia que tinha acrescentado outra pequena barra ao lado dela. O diamante em seu nariz sem dúvida não era real e, certamente, usava lápis labial negro.
Fazia que gótico parecesse patético, em seus intentos de obter o estilo.
— O que está olhando Peggy Ann? Acaso sentiu muitas saudades de mim?
— Tinha esquecido quão bem pode obter o louco estilo de bunda malvada.
Gee explodiu em uma gargalhada. — Disse bunda, — Gee disse bastante forte, fazendo que me estremecesse um pouco. — Minha pequena princesa está crescendo.
Revirei os olhos e olhei além de Gee para ver Miranda de pé em seu armário com o Wyatt, me olhando com uma horrível expressão em seu rosto. Ela recordaria de Gee do hospital psiquiátrico? Merda. Não tinha pensado nisso.
— Um, minha amiga Miranda a viu... já sabe, de antes. O que vou lhe dizer?
Gee seguiu meu olhar e saudou aos meus amigos como se fossem velhos companheiros dela.
— Não está me olhando com a boca aberta porque se lembra de mim, Pagan. Faz, porque não me encaixo com o perfil das pessoas com as quais você normalmente anda.
Ia responder, mas decidi não fazê-lo. Gee tinha razão. Meus amigos não tinham piercings em seus rostos, ou vestiam minissaias curtas com botas militares altas. Ou se maquiavam com esmalte de unhas e lápis labial negro. Gee, definitivamente, ia chamar a atenção.
— Então, não se lembra de você do manicômio?
Gee negou com a cabeça, — Não, Dank se encarregou disso.
Com um suspiro de alívio me aproximei de Miranda. Não queria dizer mais mentiras hoje. Alegrei-me porque não teria que inventar algo para apaziguar as perguntas de Miranda. Embora fosse ter que encontrar alguma maneira para que Miranda deixasse de olhar Gee como se tivesse um terceiro olho. Gee era realmente linda vestida como uma rebelde. Seguro que era magnífica quando era toda uma transportadora, mas fazia que este look brilhasse bem também.
— Miranda, Wyatt, este é minha amiga Gee. — Logo, fiquei perplexa. Não tinha pensado nele até ali.
O olhar horrorizado e um pouco confuso de Miranda passava de mim para Gee, prolongando um pouco mais em Gee.
— Gee? — perguntou Miranda.
—Sim, Gee. Olhe sua amiga já pode dizer meu nome. Ela não é lerda? — Brincou Gee, obviamente desfrutando do incômodo momento. Dei-lhe uma cotovelada nas costelas e uma advertência com o olhar.
— Gee é uma amiga de fora da cidade. Seu, eh, pai é um amigo de minha mãe e ficará comigo por umas poucas semanas. — Enrolei-me com minhas próprias palavras. Se eles acreditassem em mim, isso seria um milagre.
— Se esta fascinante apresentação terminou, irei encontrar uma máquina de lanches. Preciso uma Coca-Cola e uns Snikers, já que me tirou correndo de casa antes do café da manhã, — Gee se despediu com uma sacudida de cabeça e partiu em direção à sala de professores. Certamente não faria. Não, ela provavelmente faria e iria.
— Então, está morando contigo? Em sua casa? Por favor, me diga que fecha sua porta, porque parece uma louca. Talvez você devesse dormir com a sua mãe. Digo sinceramente Pagan, provavelmente esteve em um cárcere ou — Miranda ofegou e cobriu sua boca, — arrumada que ela... Oh, por Deus! É por isso que está aqui! O que foi que fez? Isso é tão perigoso...
— Miranda, acalme-se. — Interrompi seu balbucio e agarrei seu braço. — Não esteve no cárcere. É inofensiva. Só gosta de chamar a atenção. Agora, deixa de inventar cenários insanos e relaxe.
— É do tipo de estilo moderno, — Wyatt elevou a voz. Dei-lhe um "fica quieto" com meu olhar e enganchei meu braço no de Miranda.
— É excêntrica, mas é divertida. Vai amá-la uma vez que ignore sua aparência e linguagem colorida.
— Linguagem colorida? Oh, não, amaldiçoa muito?
Assenti com a cabeça. — Sim e é divertido. Deixaria um marinheiro com vergonha.
— Já gosto, — disse Wyatt, olhando para onde Gee ia dobrando a esquina. —Não disse que ia à sala de professores? Porque essa é a única máquina vendedora que há no caminho. — Suspirei e fui com Miranda para nosso primeiro período de aulas.
— Ali, é provavelmente exatamente para onde vai.
— Isso é genial — respondeu Wyatt com admiração, muito alto, — Umm, auch, bebê. — Seguiu. Miranda bateu em suas costelas com seu cotovelo bicudo.
Comecei a rir pela primeira vez em toda manhã, antes de recordar Leif e a marca em minha alma. Meu sorriso desapareceu rapidamente.
abe, estive pensando... — disse Gee enquanto chegava ao meu lado. Caminhava pelo deserto, tomando as almas dos soldados cansados. Odiava as guerras. Tomavam muito de meu tempo.
— Oh, você perdeu uma. — Gee assinalou uma alma ao lado do corpo que uma vez habitou.
— Não me esqueci de uma Gee. Não quer ir, — repliquei, descontente de que estivesse aqui quando se supunha que devia estar com Pagan. — Por que está aqui?
— Bom, olá para você também, Dank. Caralho, que frio! Pagan está segura, jantando na casa de sua amiga Miranda. Miranda não gosta de mim. Estou segura que tem medo de mim e espera que beba seu sangue ou algo assim.
Grunhi: — Parece? Trata de parecer menos atemorizante.
— Como seja, escuta, como não pode ir dizer lhe "Deixa de rondar a minha garota pedaço de bunda estúpida de merda", e logo acabar de uma vez? Compreendo que você faz parte dos seres humanos nestes dias, mas Dank é A Morte. O que acontece com toda esta angústia?
Terminei com a última alma e depois caminhamos pela estrada coberta de fumaça, havia automóveis feitos sucata pelo que acabara de acontecer. As ambulâncias começavam a chegar e o tráfego crescia por quilômetros.
— Não posso dizer a um espírito vodu que se detenha e esperar que o faça. Não tenho nenhum controle sobre um senhor espírito vodu. Seu poder provém dos seres humanos. É um espírito maligno. Não é uma alma humana.
Gee suspirou. — Isto é ridículo. Que demônios fez sua mãe?
Jaslyn, outro transportador, apresentou-se e enviou às almas tiradas dos restos e saudou Gee antes de desaparecer.
Logo, estávamos dentro da casa de outra celebridade. A América estaria de luto amanhã. Mas, por desgraça, tratava-se de uma ocorrência regular. O frasco de pastilhas estava aberto e vazio ao lado da cama e a alma parecia confusa. Voltei-me para Gee.
—Leva esta, logo retorna para Pagan. Já estou quase terminando, e está somente me atrasando.
Gee grunhiu e fez um gesto à alma antes que ambos desaparecessem. Graças a Deus. Necessitava um pouco de paz e tranquilidade. Além disso, tinha o hospital para visitar.
Gee não quis ficar para comer com Miranda. O que foi, provavelmente, uma boa ideia, já que teria assustado à mãe de Miranda. Ia abrir a porta do carro quando de repente os pelos de meus braços se arrepiaram. Dando uma olhada à porta principal de Miranda, pensei retornar a sua casa correndo e me lançar no interior. Mas meus pés se sentiam pesados. O que se encontrava aqui não permitiria que me afastasse tão facilmente. Onde estava Gee quando a necessitava?
— Sou só eu, Pagan. — A voz de Leif me surpreendeu, e me arrumei para me girar lentamente. Efetivamente. Era Leif. Parecendo tão normal como quando esteve de pé na porta de minha cozinha. Mas não era normal. Os pelos arrepiados de meu corpo demonstraram que ele não era normal. Ele nunca tinha me causado isto antes. Seria porque agora eu sabia o que ele era?
— Leif? — Minha voz soou rouca, esperava não ver o menino que tinha confiado transformar-se em um estranho demônio em frente aos meus olhos. Deus esperava que não.
— Podemos falar?
Essa seria uma má ideia. O vodu não era legal. E sabia que tampouco o era seu príncipe dos espíritos. Onde estava Gee? E o que eu poderia fazer a respeito?
— Umm... Eu... Assustou-me como a merda, assim eu não estou segura de querer isso.
Ele riu e quase relaxei. Sinto-me tão familiarizada com esse som. O sorriso de Leif sempre me fez sorrir.
— Não há nada que temer. Nunca lhe faria mal.
Esfreguei os pelos de meus braços, pensando que meu corpo não estava de acordo, e ele deu de ombros: — Respeito isso, não posso fazer nada. Não mais. Não ficarei na forma humana por muito tempo. Vai reagir assim diante de mim.
Forma humana? Por mais tempo?
— O que quer?
Deu um passo para mim e me apertou contra a porta do carro. O frio metal não fez nada para acalmar o calor estranho que vinha de seu corpo.
—Hmm... Deveria ter adivinhado que me faria essa pergunta primeiro. Sempre ao ponto. — O sorriso torcido que sempre gostei brilhou. — Mas necessito que confie em mim e que me escute.
Confiar nele? Não era provável.
— Alguma vez a machuquei, Pagan?
Bom... Não exatamente. Respondi só com uma pequena sacudida de cabeça.
— E nunca o farei. Não estive sempre lá quando necessitou de mim? A árvore, quando caiu... O momento em que morria pela doença em seu corpo.
A compreensão se apoderou de mim e o olhei fixamente. Seus olhos azuis. A forma da mandíbula. Sua postura. A curva de seus lábios e o som de sua voz. Ele — era Leif — era o menino de meus sonhos.
— É você.
Uma pessoa comum teria necessitado de mais elucidações, mas Leif não era humano. Entendeu o que quis dizer. Assim em seu lugar, simplesmente assentiu com a cabeça.
— Por quê? Não entendo.
— Você foi prometida a mim. O poder de meu pai a curou e em retribuição, sua mãe prometeu sua alma para mim.
Estou sonhando de novo, obviamente, porque isto soava ridículo.
— Vejo isso em seus olhos. — Seu sorriso aumentou. — Sua alma me reconhece. O fogo está aí. — Levantou um espelho que saiu de um nada e olhei com horror para meus olhos que já não eram de um verde familiar, mas sim da cor do fogo. Minhas pupilas rodeadas pelo que pareciam estar titilantes chamadas de cor laranja.
Tremendo, sacudi a cabeça e me separei do carro para pôr mais distância entre nós.
— Pagan... — Começou, então seu rosto ficou furioso, quando olhou ao redor e partiu uma vez mais.
— Perdi-o outra vez, verdade? Bom, Merda! — vaiou Gee.
Apoiei-me no para-choque de meu carro e envolvi meus braços ao redor de minha cintura.
— Está bem? Não lhe tocou, ou sim?
Voltei o rosto para olhar a Gee que ficou rígida, olhando diretamente meus olhos.
—Seus olhos — disse, estendendo a mão e tocando minha bochecha com cuidado. — Que caralho?
Neguei com a cabeça e me afastei dela. Necessitava de Dank. Isto estava errado. Meus olhos estavam além de ser horripilantes.
— Onde está Dank? — Minha voz soou rouca, não queria chorar diante de Gee. Gee não era da classe de ser que queria emoções diante dela.
—Entra no carro, vou dirigr. — Ordenou Gee, assentindo com a cabeça para o lado do passageiro. Normalmente, não estaria de acordo com sua condução, porque tudo o que Gee fazia, o fazia perigosamente, mas no momento não podia me concentrar o suficiente para dirigir. Assim fiz o que me disse, e me afundei no assento do passageiro.
— Onde está Dank? — Repeti enquanto ela arrancava o carro, acelerando pelo meio-fio.
— No Afeganistão, ocupando-se desses idiotas que se explodem.
— Quando vai voltar?
Gee suspirou e olhou em minha direção. — Não por um tempo, Pagan. Tem que fazer frente a essa merda vodu que está espreitando você.
Estendi a mão e girei o espelho retrovisor para estudar meus olhos. Sua cor normal tinha retornado e a confusão no estômago diminuiu um pouco.
— Seus olhos estavam estranhos, Peggy Ann. Não vou mentir. Isso foi algo estranho, muito estranho.
— Sei! Não acha que deva contar ao Dank? — Só o queria de volta. Sentia falta dele e depois de meu encontro com o Leif, necessitava dele para me sentir segura. Por muito que eu adorasse Gee, não me dava à segurança que necessitava.
— Direi a ele, mas agora mesmo não vou deixar você. O príncipe vodu está atrás de ti. Assim tenho que me manter perto.
Lutei contra a urgência de chorar. Em troca, mordi o interior da bochecha e mantive meus olhos fixos nas casas que passavam.
— Está bem, Peggy Ann. Eu me encarregarei.
Não estou tão segura disso, mas me sentei em silêncio, enquanto ela cantava fora de tom uma canção que os Three Doors Down tocavam no rádio. Uma vez que nos paramos, não esperei que ela saísse. Se não podia ter Dank, então queria a minha mãe. Por sorte, seu carro já estava ali. Quando cheguei à porta, voltei meu olhar para Gee.
— Estarei com minha mãe um momento. Pode sentir-se como se estivesse em casa.
— Enquanto estiver com ela, por que não lhe pergunta a respeito da merda de vodu em que a colocou? — Respondeu Gee e logo desapareceu.
Entrei e senti alívio ao ver mamãe feito um novelo no sofá, com uma tigela de pipocas em lugar de estar escondida, escrevendo em seu
escritório. Poderia afastá-la de ver CSI Miami 2. De sua escritura, nem tanto.
— Olá, carinho, desfrutou do jantar com Miranda?
Deixei-me cair a seu lado e agarrei um punhado de pipocas, me perguntando se seria realmente capaz de comer depois do susto que acabara de ter. Tinha que tomar cuidado com o que falava. Se mamãe escutasse a mais mínima inquietação em minha voz, suspeitaria e começaria a me lançar perguntas até que cedesse e lhe contasse tudo. Centrando-me em manter meu tom casual e não afetado, respondi: — Sim, tivemos camarões fervidos, milho e salada. A salada tinha framboesas, nozes e queijo de cabra. Foi surpreendentemente bom. Inclusive com o enfeite doce.
— Oh, isso parece delicioso. Terei que pedir a receita.
—Vai ficar encantada. Está na categoria de comida saudavelmente estranha.
Mamãe riu entre dentes e mordiscou o punhado de pipocas em sua mão. Não me sentia segura de como falar disto. Diria: "Mamãe, Recorda quando quase morri e me levou a esse médico vodu?" Tive a sensação de que resistiria se me aproximasse dela diretamente assim. Mas tinha que saber a verdade.
Voltei minha atenção à televisão e observei a cena de crime de uma jovem estrangulada, enquanto que a equipe do CSI fazia o seu trabalho. Estalei umas pipocas em minha boca e me arrumei para mastigar. A manteiga se sentia pesada em meu estômago sensível, assim eu decidi que era melhor não comer mais.
— O que a incomoda, Pagan?
Dei uma olhada para a minha mãe, observava-me em lugar da televisão. Que fácil podia ler meu estado de ânimo. Era impossível ocultar um problema para essa mulher.
—Um... Pensava em... — Fiz uma pausa e debati inclusive se deveria dizer algo. Realmente quero saber isto? Tomei as sobrancelhas franzidas de minha mãe como um sinal de que ela esperava que eu terminasse. Seu cabelo escuro estava escondido atrás das orelhas e não
2 CSI: Miami mostra o trabalho da equipe de investigadores do sul da Flórida que soluciona crimes através da mistura de métodos científicos, técnicas tradicionais, tecnologia de ponta e instinto apurado para descobrir pistas.
usava nada de maquiagem. Pude ver sua preocupação e amor brilhando em seus olhos. Sabia por que o tinha feito. Mas ainda tinha que escutar sua explicação. Talvez algo que ela soubesse ajudaria Dank a pôr fim a isto.
— Lembra quando era criança e estive doente? — Comecei e vi como seu cenho se aprofundou e me fez um gesto breve. — Bom, quase morri. Lembro-me disso. E assim... Tive um sonho. Mais como uma lembrança. Estava em uma velha choça e você também estava ali. Havia uma senhora velha. — Parei quando o pânico começou a piscar em seus olhos. Estava certa. Não era necessário explicar mais. Sabia exatamente o que tinha sonhado.
— Foi real, não? Levaram-me a um médico vodu e... ela ou ele me curou.
Mamãe tragou saliva e negou com a cabeça quase freneticamente.
—Oh, Deus! — Murmurou, baixando o olhar à mão que deixou cair as pipocas que estava segurando. Ela alguma vez esperou que eu o recordasse?
— O que lhe prometeram mamãe? Qual era o pagamento por minha cura?
Mamãe colocou o copo sobre a mesa de café em frente a nós e se levantou. Senti mais tranquila do que na realidade me sentia quando começou a caminhar de um lado a outro diante da televisão.
—Oh, Deus. Oh, Deus. Oh, Deus. — Cantou em voz baixa. Agora começava a sentir pânico. Esta não era a reação que eu esperava. Minha fria, tranquila, calma mãe, nunca tinha tido um colapso diante de mim.
— Diga-me, mamãe. — Exigi.
Correu ambas as mãos pelo cabelo curto e logo as apoiou em seus quadris vestidos do pijama. Os porcos voadores cor rosa no fundo estavam tão felizes, sem preocupações e tão incrivelmente desconjurados com a mulher que os levava. Comecei a me perguntar se teria algum ataque de pânico, pela forma em que sua respiração se acelerou.
— Não sabia mais o que fazer, — sussurrou, com um soluço quebrado e rodeou com os braços sua cintura, como se precisasse manter-se inteira.
— Entendo. O que preciso saber é qual foi o pagamento que foi requerido.
Mamãe por fim enfocou seus olhos cheios de dor em mim.
— Por que me está perguntando isto? Alguém há... Algo há... Fez contatado contigo?
Explicar que meu namorado era A Morte e que uma portadora de almas se encontrava em minha casa, provavelmente escutando meu ipod e pintando as unhas dos pés de uma cor escura, não soava exatamente como o melhor plano. Assim me decidi por algo mais acreditável.
— Tive um sonho. Vi-o. Lembrei-me de tudo. Inclusive do aroma de mofo rançoso.
Um pouco de alívio se apoderou de sua expressão tensa. Assentiu com a cabeça e limpou as mãos na parte dianteira de suas calças de pijama com nervosismo.
— Está bem. Um sonho. Isso está bem. — Falava mais para si mesmo, que para mim. Esperei.
Finalmente voltou o olhar para mim.
— Estava desesperada, Pagan. Uma enfermeira no hospital me falou sobre um novo médico vodu no pântano. Não sabia nada de vodu. Enviaram-nos ao Hospital Infantil de Nova Orleans porque tinham um especialista muito recomendável. A cultura ali era tão diferente. Não sabia no que acreditar. Não dei importância no princípio. — Fez uma pausa e respirou fundo. — Mas então... Mas logo me disseram que não iria despertar. Entrei em pânico. Levei-a para a anciã. Não sabia nada dela ou de seus métodos. Pensei que talvez tivesse uma droga milagrosa. — Deixou escapar uma gargalhada dura. — Quero dizer, quem acredita em feitiços de todo jeito? Não esperava que realmente preparasse algo e logo o menino entrou. — Fechou os olhos com força. Olhei as rugas de sua testa mais profundas. Tinha sido Leif. Agora, sabia sem sombra a dúvidas.
— O moço era muito jovem. Mas seus olhos... Seus olhos eram aterradores. Começou a cantar e uma névoa escura caiu sobre o quarto.
— Abriu os olhos e me olhou. Pude ver a lembrança disso em seus olhos. A experiência a perseguia. —E logo nos levantamos de novo no quarto do hospital. Era como se nós nunca tivéssemos partido dali. Você estava sentada na cama, falando muito sorridente com uma enfermeira. Os círculos sob os olhos se foram. Queria macarrão com queijo e alguém foi buscar um pouco. Os médicos e enfermeiras começaram a chegar ao nosso quarto. Foi um milagre. Não tinham nenhuma explicação, mas não havia sinais da enfermidade em seu corpo. — Tragou com tanta força que pude ver sua garganta contrair. — Nem sequer ficou algum sinal de que a enfermidade tivesse estado ali. Desapareceu. Foi uma maravilha médica. Então, um dia todo mundo se esqueceu disso e foi como se nunca tivesse acontecido.
Isto era tudo o que sabia. Não lhes prometeu nada. Só havia dito que lhes daria o que quisessem. Não tinha ideia de que tinha lhes dado minha alma. Pus-me de pé com as pernas trêmulas e caminhei ao redor da mesa de café e a abracei. Não porque merecia, mas sim porque apesar de que tinha cometido um grave engano, tinha feito porque me amava.
i, o que está errado?
Solucei e olhei para um menino de minha idade. Seu cabelo era loiro e tinha olhos azuis amistosos. Dei de ombros e limpei o nariz com a manga. Queria ficar sozinha e chorar. Não queria explicar as coisas a um estranho.
— Nada — murmurei, e olhei para minhas sapatilhas sujas. Acabava de comprar minhas brilhantes sapatilhas rosa na semana passada, mas agora depois de correr pelo bosque no meio do barro estavam todas sujas. Não importava. Mamãe se incomodaria. Não era minha intenção. Nunca quis sujá-las. Precisava aprender a não falar com estranhos.
— Algo a está incomodando, — disse o menino e se sentou no degrau da varanda junto a mim. Quem era este menino?
— Só coisas, — eu disse, brincando com os cordões de meus sapatos sujos.
— Sou bom para arrumar coisas. Arrumo o que me disser, eu poderia ajudar — respondeu.
Era sério? Eu só queria que me deixasse em paz. Dando de ombros, pensei que a verdade provavelmente o faria fugir. Levantei a cabeça e o olhei fixamente.
— Vi minha avó morta hoje. Fomos a sua casa porque teve um ataque do coração e morreu. Todo mundo estava vestido de preto e fomos visitar seu caixão em sua casa, comer e outras coisas. Eu a vi deitada. Parecia adormecida, mas não respirava. Logo fui à cozinha para encontrar os livros para colorir que sempre deixavam para mim. E ali estava. Sorrindo como sempre fazia. Estava tão feliz de ver que tinha despertado. Fui abraçá-la e se foi.
Parei, esperando o olhar horrorizado que minha mãe que tinha me dado quando lhe contei a mesma história, mas não foi assim. Talvez ele não entendesse.
— Então dei à volta e ali estava de novo. De pé atrás de mim. Parecia triste e negou com a cabeça para mim. Senti-me tão feliz de vê-la com vida, que corri para dizer a mamãe. Mas quando voltei para a sala onde estava o caixão, minha avó ainda seguia ali estendida como se dormisse. Minha mãe seguia chorando.
Parei outra vez, esperando que o menino fugisse de mim. Mas seguia sentado, esperando que dissesse algo mais. Queria que alguém me escutasse hoje. Em troca, minha mãe havia me dito que a deixasse e me ameaçou com não me deixar sair se dissesse algo mais a respeito disto. Parei então, ela soluçava tão forte que me senti mal. Não queria lhe causar tristeza. Só tratei de fazê-la sentir melhor.
— Continue — disse o moço.
— Bom, disse a minha mamãe que me acompanhasse. Levei-a a cozinha e minha avó seguia de pé como a tinha deixado. Parecia triste de novo e negou com a cabeça para mim. Minha mamãe não a viu. Em troca, ficou olhando e me perguntou do que se tratava. Assinalei a minha avó e minha mãe ainda não viu nada. Franziu o cenho sob o olhar e me disse que ela tinha que voltar para as visitas. Logo, lhe falei de que a avó estava ali e congelou. A expressão de seu rosto não era feliz. Olhou-me... Muito, muito assustada.
Não terminei. Sabia que o menino escaparia de mim agora.
— Portanto, viu a alma de sua avó, — respondeu com total naturalidade.
Assenti com a cabeça. —Acredito que, isso era como seu fantasma. Porque acredito que vi seu espírito.
— Sim, é como seu fantasma.
Sequei os olhos. As lágrimas tinham cessado desde que o menino tinha aparecido.
— Está bem ver almas. Não é uma má coisa. Entretanto, sua mãe nunca entenderá. Ninguém fará. Deseja evitar incomodar às pessoas, precisa atuar como se não as visse. Se ignorar, logo lhe deixarão sozinha. Se deixar saber que pode vê-las, a seguirão em todas as partes — Explicou.
Franzi o cenho, estudei-o. Parecia saber muito a respeito disto. Vê aos mortos, também?
— Como sabe que não é a primeira vez que vi?
Deu de ombros. —Suponho que estiveste vendo durante uns dois anos.
Minha boca se abriu. E como sabia? — Vê fantasmas também?
Assentiu com a cabeça e um sorriso torcido apareceu em seu rosto. Realmente não acredito que ele estivesse louco.
— Sim, vejo-os.
— Posso fazer algo para deixar de vê-los?
Franziu o cenho e sacudiu a cabeça. Ele deve desejar não poder vêlos, também.
— Então, fica desta maneira?
— Temo que sim. — Respondeu. — Mas veja desta maneira, faz de você especial. Pode ver algo que ninguém mais pode. Pensa nisso como um super poder em lugar de algo ruim.
Não era provável. Eu queria ser capaz de voar ou talvez ser invisível, mas não me interessava ver gente morta.
— Pagan! Pagan! Peggy Ann!
Meus olhos se abriram de repente e Gee pairava sobre meu rosto.
— Não se supõe que deve dormir enquanto vou dar uma ronda fora e ao redor da casa. Mas, o que acontece? Fui durante uns cinco minutos e já está dormindo.
Estiquei e me sentei no sofá. Começava a perder o sono devido a estas lembranças. Não pude evitar dormir. Bocejei e lancei a Gee um olhar irritado.
— Não pude evitar.
— Bom, seria bom se ao menos tentasse não dormir.
— Desta vez me alegra de havê-lo feito. Permitiu-me recordar algo que queria recordar. Foi uma lembrança que me alegra ter de volta.
Gee franziu o cenho. — O que foi?
— O dia do velório de minha avó. Eu a vi. Vi sua alma. Sorria para mim porque sabia que eu podia vê-la. Minha mãe, é obvio, assustou-se quando lhe disse a respeito, mas cheguei a me despedir dela. — Fazendo uma pausa, dirigi meu olhar para Gee. —Por favor, me diga que não é uma alma perdida. Por favor, me diga que Dank simplesmente recuperou sua alma.
Gee deixou de mastigar sua unha do dedo polegar e sacudiu a cabeça. — Sua avó se foi. Dank provou à maioria de seus familiares. Os que estiveram perto de ir, se foram. Sei que é um fato que a alma de sua avó voltará logo.
Deixei escapar um suspiro de alívio e envolvi meus braços ao redor de minha cintura. Foi uma bonita lembrança. Amava a minha avó. Incomodar a minha mãe esse dia não era algo que recordava com carinho, mas agora entendia por que lhe incomodou.
— Foi Leif quem me ensinou a ignorar as almas.
Gee revirou seus olhos. — Bom, lhe daremos uma medalha de honra por esse ato de bondade. Dado que a razão pela qual, inclusive, pode ver as almas, é por sua culpa.
Tinha razão, é obvio. Entretanto, o Leif de meus sonhos era tão similar ao menino que tinha conhecido no passado. Era difícil de esquecer isso. Nada nele parecia perigoso.
— Agora, quero chocolate e algumas dessas coisas que sua mamãe fez e quero ver um pouco mais desse programa que vimos ontem. Estou cansada de cuidar de sua bunda. Necessito um pouco de tempo.
Fazia dias que não tinha visto Dank e Gee não se separou de meu lado nem uma vez. Sabia que não era seu trabalho ideal e odiava que estivesse cansada dele. Levantei-me do sofá e me dirigi à cozinha.
— Quer um refresco ou leite com bolachas de chocolate? — Perguntei-lhe.
— O leite. Faz que as bolachas de chocolate tenham um gosto melhor.
A emoção em sua voz me fez rir. Peguei duas panquecas e servi dois copos cheios de leite. Poderíamos ter a comodidade de comer e ver
Gossip Girl, enquanto ela gargalhava e tirava sarro de tudo o que faziam. A tripulação do Upper East Side 3 divertiu Gee ao extremo.
Não tinha visto Pagan em três dias. Ao entrar em seu quarto, observei-a enquanto escovava o cabelo. As calças jeans que usava eram um pouco muito justas para eu achar bom. Não dirigia o ciúme muito bem. Seria mais seguro se usasse algo um pouco menos sexy. Meus olhos viajaram das botas de couro negro altas até os jeans justos, muito justos que lhe abraçavam o traseiro como uma luva. Logo, a pele nua na parte baixa das costas brilhou para mim quando levantou os braços para torcer as largas mechas escuras de seu cabelo para cima, em uma massa selvagem de cachos no topo de sua cabeça. Era bonita e era minha.
Fechei a porta atrás de mim e ela se girou sobressaltada. Imediatamente, um sorriso iluminou seu rosto quando seus olhos pareceram me comer. Correu para mim e se jogou em meus braços tão rápido que um tipo normal cairia. As pernas revestidas com seus jeans que estava admirando, envolveram-se firmemente ao redor de minha cintura e choveram beijos em meu rosto. Era possível que meu coração se sentisse bem quando não tinha um?
Envolvi meus braços ao redor de sua cintura. — Também senti saudades — sussurrei, capturando seus lábios com meus. Não insistiu mais, mas me deixou provar o suficiente antes de atirá-la para trás e olhá-la.
— Estou tão emocionada. Senti saudades como uma louca.
— Será difícil me concentrar no cenário se está se pavoneando com esses jeans que mostram seu corpo incrivelmente lindo. Sabe o que a favorece?
3 É um bairro no distrito metropolitano de Manhattan, na cidade de Nova Iorque.
Encontra-se localizado entre o Central Park e o rio East River, abrangendo uma área de 4,7km.
Rindo, moveu-se em meus braços e tomou meu rosto com ambas as mãos e me beijou no nariz e na testa.
Imediatamente me aproveitei da situação e a deitei na cama. Seus olhos ficaram grandes e redondos, com a surpresa, baixei sobre ela e comecei a beijar seu pescoço, tomando pequenas lambidas em sua clavícula. Este era o tipo de beijo que poderíamos fazer com segurança.
O suspiro contente de Pagan se tornou um pouco louco. Eu adorava esses pequenos sons sensuais que paravam quando estávamos juntos desta maneira. —Mmmmm, me beije na boca. — Sussurrou.
Neguei com a cabeça, sabendo que um beijo poria fim a este momento especial muito em breve. Não me encontrava preparado para deixá-la ainda. Havia fantasiando com seu aroma e sabor durante vários dias. Agora que a tinha debaixo de mim, estava querendo mais. Necessitava o suficiente para que pudesse passar esta noite.
— Ah! — Exclamou, enquanto mordia a carne tenra na curva de seu pescoço e ombro. Sorrindo em sua pele sedosa e cálida, inalei profundamente.
Pagan levantou os quadris pressionando-se mais perto de mim. A necessidade se acendeu dentro de mim e sabia que tinha que pôr distância entre nós. Quando se esfregava e se apertava contra mim, assim confidencialmente, sempre terminava sendo minha perdição. Empurrei o estreito contato de nossos corpos pondo um pouco de espaço necessário entre o calor que parecia tão disposta a compartilhar comigo, gemi pela frustração e a negação.
Pagan sentou-se e rastejou para envolver os braços em volta do meu pescoço. Seus suaves lábios me beijaram na têmpora. — Confia em mim, Dank Walker, só tenho olhos para ti. Ninguém mais se aproxima.
Com um grunhido de brincadeira, girei a cabeça e mordi sua orelha. — É bom saber disso. Não quero é uma noite sem noção com a morte, ainda não, enquanto toca seu tempo.
— Dank!
Ri entre dentes, e dei de ombros. — Diria que estou brincando, mas não estou.
Pagan sacudiu a cabeça com exasperação, agarrou sua jaqueta e se levantou. — Vamos ver meu namorado roqueiro em ação. — Respondeu com um sorriso.
Esta noite era para me divertir com Pagan. Não ia deixar que os problemas que nos rodeiam a arruinassem. Leif já tinha me afastado dela o suficiente. Tinha que fazer um concerto com a banda e Pagan queria experimentar o funcionamento perfeitamente.
Entrou no corredor e olhou para trás sobre o ombro e sorriu. — Vem ou o que?
A fumaça se aconchegou no chão do palco, quando as luzes estroboscópicas 4 se acenderam e os fãs gritaram. Dank me levantou contra ele e me beijou nos lábios. — Você fica aqui. Vou ir e voltar entre os descansos. Quero ver você, enquanto estou cantando.
Assenti com a cabeça, com entusiasmo, e deu um último beijo em minha testa antes de sair correndo para o palco onde os outros membros do Cold Soul já se encontravam em seu lugar e preparados para tocar. Todas as luzes do palco se acenderam e Dank se uniu ao baterista e baixista em uma abertura natural e intensa em uma canção que não reconheci.
Dank passeou até o microfone enquanto seus dedos dançavam através das cordas do violão. Tive vontade de gritar junto com o centro cívico lotado de gente. A camiseta cinza justa que vestia destacou cada ondulação deliciosa em seu estômago. Agradeci que o violão lhe cobrisse os impressionantes abdominais. Eu não gosto da ideia de escutar garotas gritando seu nome para conseguir uma imagem de seu corpo perfeitamente formado.
Girou a cabeça e seus olhos se encontraram com meus. Um brilho de prazer brilhou neles, então me piscou um olho. É obvio que tinha ouvido minhas preocupações. Não sentia saudades do fato de que
4 Permite visualizar um objeto que está girando como se estivesse imóvel ou girando
muito lentamente.
gostava que outras o olhassem, não me alegrava. O sorriso malicioso em seus lábios aumentou e sua covinha sexy brilhou para mim.
Lancei um beijo com uma mão e ele atuou como se o apanhasse, tocou os lábios com dois de seus dedos antes de voltar para a multidão.
Honestamente, estou muito perto de desmaiar aqui mesmo. Quem pensou que a morte pode ser tão incrivelmente doce?
De repente, a multidão gritando se calou, justo no momento que Dank abriu a boca para cantar.
"O sol se põe quando eu desvio o olhar.
A escuridão reclama no céu e eu gostaria que soubessem que nada pode fazer para me impedir de estar contigo.
Mas fico fora de vista e só sussurro a para ti. As palavras que não posso dizer.
Palavras que não é necessário escutar.
As palavras que não posso evitar que se enrede em meu caminho.
Agora bem, não posso estar sozinho.
Agora, estou sob sua influência.
Tem feito cargo de mim e agora, não posso ignorar o que me mostraste.
Reclamaste-me e não me importa quem saiba.
Reclamaste-me e não me importa quem o veja.
Estou debilitado e me fortaleço em seus braços.
Reclamaste-me e preciso te sentir perto.
Meu coração acelerou enquanto seus olhos se voltaram para mim. Não tinha ouvido esta canção antes e tinha todos seus discos em meu ipod. Sua língua apenas apareceu em seus lábios quando os umedeceu, então capturo meu olhar e abriu a boca outra vez.
Fiquei com vontade de mais do que jamais poderia compreender.
Eu estou indefeso, precisando ceder a suas ordens.
Esperando ver-te sorrir, está me consumindo e atando minhas mãos.
Nada do que ofereço poderia ser digno de seu amor.
É um milagre que me visse e não fugisse nunca.
Vou passar toda minha vida tratando de ser o homem que acredita que sou.
Agora bem, não posso estar sozinho. Agora, estou sob sua influência.
Tem feito cargo de mim e agora, não posso ignorar o que me mostraste.
Reclamaste—me e não me importa quem saiba.
Reclamaste—me e não me importa quem veja.
Estou debilitado e me fortaleço em seus braços.
Reclamaste—me e preciso te sentir perto.
Seus lábios franzidos lançaram-me um beijo antes de voltar sua atenção à multidão e seguir cantando.
Mantém o fogo dentro de seu olhar.
Hipnotiza a todos os que entram em seu labirinto.
Não sei nada de seus pensamentos, mas tenho que tomar o sol no calor de seus raios.
Nada do que fazemos cada vez poderia estar equivocado. É sempre perfeita em todo sentido.
Agora bem, não posso estar sozinho. Agora, estou sob sua influência.
Tem feito cargo de mim e agora, não posso ignorar o que me mostraste.
Reclamaste—me e não me importa quem saiba.
Reclamaste—me e não me importa quem veja.
Estou debilitado e me fortaleço em seus braços.
“Reclamaste—me e preciso te sentir perto."
A canção chegou a seu fim e a multidão começou a gritar seu nome. O orgulho brotou dentro de mim ao pensar que este brilhante menino... Era meu.
— Então esta é a nova aventura do Dank? — Olhei para trás por cima do ombro, para encontrar a origem da voz sarcástica. A garota tinha um sorriso irritado em seu rosto muito atraente. Uma cabeça cheia de cachos loiros que chegava quase até a diminuta cintura, que parecia injusta, tendo em conta o tamanho de seu peito. A parte superior da camiseta sem mangas tinha duas taças D que se derramam fora da linha do decote de corte baixo. Se me dissesse que acabava de sair de uma sessão de fotos para a revista Playboy não ficaria surpresa.
—Normalmente vai para... bom, um tipo mais notável. Surpreende-me que o mantenha muito ocupado.
Sim, não tinha me equivocado com o tom sarcástico em sua voz. A garota não me agradava. Mas o que dizia não fazia sentido. Sabia com certeza que Dank não tinha "aventuras amorosas", e que eu era a única relação que jamais tinha tido, não estando segura de como responder a sua evidente falta de conhecimento a respeito dele, assim dirigi minha atenção de novo ao palco e vi que ele levava a milhares de pessoas a um frenesi de excitação.
— Muito boa para falar comigo, verdade? Bom, já veremos. Estou por aqui muito mais tempo que você e meu pai é o patrocinador do Cold Soul, todos me conhecem. Dank não gostaria que fosse grosseira comigo.
Finalmente, não pude morder a língua por mais tempo e girei minha cabeça para encontrar seu olhar. — Quando disser algo que valha a pena responder, com muito gosto lhe responderei. Mas é óbvio que não sabe absolutamente nada sobre Dank. Se você se escutasse, se daria conta de como soa incrivelmente estúpida. — Seus olhos se iluminaram com fúria e fiquei com vontade de rir por sua reação. A garota podia insultar, mas não suportava uma resposta.
— Espero que tenha desfrutado de seu passeio, cadela, porque já acabou. Dank não se conformará com uma coisa tão pouca com ele. Sou muito importante para me alterar.
Meu sangue começou a ferver e dei um passo para ela — Acaba de me chamar de cadela? — Sussurrei.
Ao princípio, parecia muito contente com minha ira, mas logo desapareceu seu sorriso divertido e uma expressão de terror iluminou seu rosto. Começou a retroceder longe de mim. Fiquei com vontade de rir em voz alta. Recordou um dos valentões da escola primária do qual todos falavam. Uma vez que gritavam, acovardavam-se. Senti uma sensação de poder para dirigir esta situação por mim mesma. Não ia esperar Dank para lhe dizer a cadela que era.
— Não. — A garota retrocedeu contra a parede e fiquei com meu olhar zangado fixo nela, amando sua expressão de horror. Isto era muito divertido.
— Pagan, pare.
Fiquei imóvel ante o som da voz de Dank, enquanto se interpunha entre nós duas. O suor de seu peito tinha empapado a camisa e agarrava-se com mais força à pele. Logo se voltou e olhou para a outra garota.
— O que está acontecendo? — Ouvi-lhe perguntar. O que? Por que estava preocupado por ela?
— Atacou-me, eu só tratava de falar com ela e me atacou.— Balbuciou a jovem com lágrimas. Está chorando? Maldita seja, inclusive soava acreditável.
— Não a toquei...
— Agora não, Pagan — Dank me interrompeu, e fiquei com a boca aberta para ele e a garota que aparentemente consolava. Acaso tinha entrado em um universo alternativo? Nada disto tem sentido.
— Ela... Ela sussurrou. — Gaguejou a moça, assinalando com uma de suas largas unhas vermelhas em minha direção. Bom, talvez o tivesse feito. Mas me chamou de cadela.
— Chamou-me... — Comecei e uma vez mais Dank me cortou. — Espera Pagan.
A confusão se converteu rapidamente em ira e não ia esperar até que terminasse de falar com a garota, escutando-a com sua boca cheia de mentiras. Deveria ter me perguntado se eu estava bem. Não a ela. Não ia ficar aqui de pé e seguir escutando isto. E lhe asseguro que não ia ficar para tentar me defender se não ia sequer me dar a oportunidade de falar. Fui para a porta traseira, esperando que Dank me seguisse, mas uma vez que abri a porta, notei que ele não estava atrás de mim.
Ferida, furiosa e confusa eu olhei fixamente para a noite. Não tinha um carro. Dank não ia vir atrás de mim. Dependia completamente dele e me deixou sair. As lágrimas ferveram de meus olhos e comecei limpa-la e decidi deixá-los sozinhos. Não queria que ninguém me visse chorar.
— A levarei para casa. — A voz de Leif me sobressaltou. Girei e o encontrei apoiado contra sua caminhonete, me olhando.
Não queria que me visse chorar, sequei as lágrimas que corriam por meu rosto. Não podia ir com o Leif. Era um espírito maligno atrás de minha alma. O cenho franzido em seu rosto me recordou o moço que chegou no hospital para me ver depois de meu acidente. Estava tão preocupado que tinha dormido na sala de espera a noite toda. Em minha vida inteira, Leif estave lá quando eu necessitava de alguém. Nada nele alguma vez foi espantoso. Nenhuma só vez me machucou. Olhei para a porta fechada, desejando que Dank caminhasse através dela, mas não aconteceu nada. A ira queimou a minha garganta e me doeu o coração.
— Claro, obrigado, Leif. Seria bom um passeio.
Deixar Pagan sair, ferida e irritada tinha sido quase impossível. Entretanto, a distância que pus entre ela e a criatura sem alma, diante de mim, era melhor. A ira e a dor rodando fora dela eram muito irritadas. Tinha que averiguar o que era esta coisa. Não podia fazer isso com a angústia de Pagan atrás de mim. Queria terminar com ela tê-la em meus braços e tranquilizá-la, mas não podia lhe dar uma oportunidade de escapar deste assunto.
— Quem é? — Grunhi, baixando o olhar para a loira.
Sorriu e se endireitou, esquecendo-se de sua atuação uma vez que Pagan deu a volta na esquina.
— Ninguém que conheça, Dankmar. — Respondeu, e levou uma larga unha vermelha até minha camisa, — mas isso poderia mudar.
Dei um tapa em sua mão com força suficiente para que gritasse de dor. Bem. Queria lhe causar dor. Esteve muito perto de Pagan. E minha menina bobamente valente esteve olhando-a como se ela pudesse com o demônio.
— Está abaixo de mim. — Recordei—lhe com uma voz fria. — Agora, me diga por que estava perto da minha Pagan, — perguntei.
Deu de ombros e cruzou os braços sobre o peito. — Fiz o que me disseram que fizesse. É meu trabalho, Dankmar. Também tem que cumprir com seu trabalho, Não?
— Não jogue comigo. Quero as respostas agora. Preciso alcançar Pagan. Não tenho tempo para isto.
Riu e o medo gelado se apoderou de mim.
— Muito tarde, — disse com uma voz monótona, antes de desaparecer.
Não querendo acreditar que era verdade martelando em minha cabeça, pus-me a correr pelo corredor pelo qual Pagan tinha saído somente uns minutos antes. Não havia nem rastro dela. Abri a porta traseira e o estacionamento se encontrava cheio de automóveis vazios. Nada. Fechando os olhos. Procurei por sua alma. E pela primeira vez desde que a conheci não pude escutá-la.
— NÃÃÃOOOO!
eus olhos estavam pesados. Não podia recordar por que.
Lutei para abri-los, mas nada. Onde me encontrava? Onde estava Dank? Por que não posso abrir os olhos?
—Shhhh, está bem, Pagan. Não se preocupe. Tenho você.
Era a voz do Leif. Por que está aqui?
— Leif?
Dedos anormalmente quentes afastaram o cabelo de meu rosto e estremeci enquanto meu corpo se arrepiava. Não era por prazer.
— Sim, estou aqui — Murmurou e continuou mexendo no meu cabelo.
— Onde estou? Por que não posso abrir os olhos? — O pânico em minha voz foi evidente.
— Está comigo agora. Onde pertence. Onde sempre pertenceu. Foi minha do momento em que a escolhi, quando éramos crianças. E quanto a seus olhos, poderá abri-los logo. Seu corpo humano tem dificuldades para tratar com a viagem, lamento isso. — Nada do que dizia tinha sentido.
— Não entendo.
— Só descansa. Se sentirá melhor logo.
Utilizei cada polegada de força em meu corpo lutando sem fim para abrir meus olhos. Mas não aconteceu nada. Tudo ficou escuro. Até que, exausta, entrei na escuridão.
Piscando lentamente, levantei o olhar ao que parecia ser gaze escura. Estudando-a com confusão, notei que caía sobre a cama em que eu estava recostada. Girei minha cabeça para observar ao redor e notei que a iluminação era a causa de uma tênue luz alaranjada. Levantei-me sobre meus cotovelos e me perguntei se isto era real ou se era um sonho. Velas cobriam o quarto e faziam a luz que piscava dançar através do teto. Entretanto, as paredes eram de pedra, o quarto foi elaboradamente decorado com candelabros e uma aranha de cristal. Tinha que estar sonhando. Sacudi minha cabeça para limpá-la, deslizei meu pé sobre a borda da cama, notando pela primeira vez os lençóis de seda negra nos quais estive dormindo. A enorme cama de ferro parecia fora de lugar em um quarto com paredes de pedra. Onde se supõe que estou e como cheguei a este lugar?
Sentei-me ali, estudando as pequenas chamas em frente de mim e me concentrei no que podia recordar: Estava no concerto do Dank. Ali estava uma garota... Uma garota má. Uma garota que Dank tinha consolado. Oh, corri e Leif me encontrou.
Ofegando, saltei da cama e dei a volta, procurando uma porta. Isto não era um sonho. Precisava sair dali. Algo não estava bem. Leif tinha me raptado. Drogou-me. Por que tenho que ser uma rainha do drama e fugir? Antes que meus nervos ficassem loucos, a parede de pedra à esquerda da cama começou a mover-se e uma porta oculta se abriu.
Leif entrou no quarto vestido com seus habituais jeans e camisa polo. Parecia tão normal. Parecia-se com o quarterback do colégio. Seu cabelo loiro perfeitamente despenteado como se tivesse estilo. Os olhos azuis nos quais uma vez confiei brilhavam, enquanto se encontravam com meus. Era tão difícil de acreditar que era malvado.
—Despertou, — disse enquanto fechava a porta arás dele.
— Onde estamos?
Leif estendeu as mãos e sorriu. — Minha casa. Você gosta?
Rompi o contato visual com ele. Não era a resposta que eu procurava e ele sabia.
— Por que estou aqui, Leif?
Sorriu, e arqueou uma sobrancelha. Não foi uma expressão a que estivesse familiarizada. Leif nunca pareceu ser presunçoso.
— Porque me pertence.
Obriguei-me a não me deixar levar pelo pânico, enquanto mantinha a minha expressão de calma, e dava outro passo para ele.
— Não lhe pertenço, Leif. Não sou uma posse. Sou uma pessoa. Por favor, me leve de volta para casa.
Leif deixou escapar uma forte gargalhada que não continha nada de humor. — Então, Dankmar ficará com o que eu criei? Não acredito Pagan. — Parou e passou a mão através de seu desordenado cabelo. Foi um movimento que o vi fazer centenas de vezes. De algum jeito, ver esse pequeno gesto humano aliviou ao medo ao qual me mantinha.
— Pode vê-lo, ele estava obrigado a lhe amar. É diferente. Ele viu isso. Mas o que não lhe explicou foi que era diferente porque eu lhe fiz diferente. Não ele. Não o destino. É minha. Foi moldada a minha criação. Deve me escolher. — Estendeu sua mão. — Esta bem, confia em mim. Meu tato nunca a machucará.
Negando com a cabeça, dei vários passos atrás, até que minhas costas tocaram a cabeceira de ferro.
— Alguma vez a machuquei, Pagan? Escuta sua alma. Sabe onde pertence. O fogo relampeja em seus olhos justo agora, é sua alma me buscando. — Parou em frente a mim e sorriu como se tivesse um maravilhoso segredo para compartilhar. Estendeu sua mão para mim.
— Me dê sua mão.
Meus olhos. Ele era a razão pela qual meus olhos brilhavam com uma estranha cor laranja, e quer que lhe dê minha mão? Não acredito. Isto é um problema.
— Por favor, me leve para casa. Só quero ir a casa. — Implorei.
Franzindo o cenho, Leif deixou cair sua mão estendida. — O que devo fazer para que confie em mim? Confia na A Morte, sem lugar para dúvidas. A Morte, Pagan. Ele é A Morte. Como pode confiar em uma criação que toma as almas da terra e não confia em mim? Nunca permitiria que saísse ferida. Nunca permitiria que estivesse sozinha.
— Mas ele aparece e cai sem sentido sob seu feitiço. O que fez para merecê-la? Não salvou sua vida. Deveria tomar sua alma quando era uma menina. Deixou a sua mãe chorando a perda de sua menina e não teve remorso. Isso é o que ele faz.
— Por que me salvou?
Leif me deu um pequeno e triste sorriso e inclinou a cabeça a um lado, me estudando. —Não sou seu sonho mais escuro, Pagan. Posso caminhar na escuridão, mas vi uma vida digna e a escolhi. Meu pai a escolheu. Esteve de acordo no que significa para mim. Agora tem que aceitar que a vida que sempre teve está chegando a seu fim. Já é hora. Supunha-se que morreria nesse dia, na estrada e quando A Morte viesse, eu tomaria sua alma em seu lugar. Deveria confiar em mim. Sua alma e meu espírito são a mesma pessoa. Mas a Morte rompeu as regras — grunhiu Leif, e caminhou em volta de um dos muitos candelabros iluminando a habitação. — Tive que ficar um pouco mais. Sabia que A Morte estava contigo, mas acreditei que o que fazia, era o mesmo interesse que, mostrava em qualquer outra alma, a preparando. Em troca, o louco se apaixonou por você.
Observei horrorizada enquanto alargava sua mão sobre a flama, causando que está crescesse até que a ponta roçou a palma de sua mão. Seu punho apertado sobre a flama se virou para mim e abriu sua mão para revelar uma bola de fogo.
— Não posso controlar A Morte, mas posso controlar aos mortos. Esses que escolhem ficar na terra. Caminham entre a escuridão sob o mando de meu pai. Sob meu mando. Necessito alguém para preencher a solidão. Você foi minha companhia por quinze anos, nem sequer notou. Mas suas lembranças lentamente retornarão. Verá que, de fato, me pertence.
Dank é mais forte que isto. Repeti esse aviso em minha cabeça para que meu coração deixasse de golpear meu peito. Me encontrará. Inclusive se estiver no mais profundo do Inferno. Olhando para meu redor, seriamente duvidava que ali fosse onde estivesse. Nada neste lugar me recordou o Inferno. Bom, exceto que estava apanhada aqui com um espírito Vodu.
— Só me raptou da terra? O que há com minha mãe? Não posso deixá-la, — essa era na realidade a menor de minhas preocupações, mas ele conhecia minha mãe e tinha que jogar isso na sua cara.
Leif franziu o cenho e fechou a distância entre nós, deixando meu corpo em estado de alerta máximo. Tive que me obrigar mentalmente a não retroceder por causa de sua proximidade. Não estava segura de como dirigir isto. Assegurava que minha alma era dele, mas isso não significava que eu tinha que fazer tudo o que ele quisesse.
— Retornarei logo. Nem sequer notará que fui. Só necessito um lugar onde falar contigo. Para lhe explicar isso sem... — parou e uma expressão de amargura curvou os lábios, — essa estúpida transportadora ou Dankmar continuamente danificando meus intentos.
Assim que me deixar irei para casa. Não ficaria nesta horripilante cela para sempre. Essa foi a melhor notícia que tinha escutado desde que ele entrou no quarto. Respirar se tornou mais fácil.
— Se preocupava que mantivesse prisioneira? Vamos, Pagan, você me conhece melhor que isso. Quando não me assegurei que estivesse feliz? Quando tentei machuca-la? Nunca. — Terminou, alargando seu braço para tomar minha mão e apertá-la. Queria apartá-la de repente e correr para o outro lado do quarto, mas não o fiz. Enfurecê-lo não era a melhor ideia. Planejava me deixar ir para casa, eu não ia fazê-lo trocar de opinião por uma discussão.
— O que é o que quer falar comigo? — Perguntei-lhe em um suave tom, de não confrontação. Isso pareceu lhe agradar, sorriu. Este era o Leif que conhecia. Só ver seu sorriso eu me tranquilizei.
— Assim está melhor. Seu coração deixou de acelerar. Não tem por que se assustar. Nunca temas a mim.
É uma lástima. Eu não era fã dos malvados espíritos, assim sempre lhe temeria.
— Vem caminhar comigo, por favor. Podemos caminhar um momento enquanto lhe mostro ao redor, — disse, pegando suavemente meu braço. Não me sentia com humor para fazer um percurso pelo Inferno, mas queria ir para casa, assim deixei que me dirigisse à porta de pedra que fazia jogo com as paredes perfeitamente. Nunca a teria descoberto se ele não a tivesse usado.
O ar frio e úmido não me surpreendeu tanto como fez meu entorno. Isto não era o Inferno. Apesar de que cheirava muito similar ao que eu esperaria que fosse. O vapor que se elevava da rua de asfalto negro em frente a mim, era úmido pelo ar da noite, o que deveria ser um anormalmente dia de inverno quente, não eram as profundidades do Inferno. Os velhos e desmantelados edifícios franceses forravam à rua cheia de bares, discotecas e lojas de vodu abertas. Poderia não estar no inferno, mas era o mais parecido com ele. Uma porta de bar diretamente em frente a nós se abriu e um menino saiu tropeçando — só porque um homem mais forte o lançou à rua para logo fechar a porta firmemente. O menino começou amaldiçoar, rir e fazer um escândalo. Onde estão os pais deste menino? Devia ser meia noite.
Uma mulher correu pela rua enquanto gritava rindo, logo se deteve e levantou seu já muito pequeno top para que seus peitos ficassem livres e nus frente ao homem que a perseguia. Ela deu a volta e seguiu correndo com seus saltos de agulha, com seus peitos completamente nus à vista de todos. O homem finalmente a apanhou e a fez girar, levantando-a em seus braços, enterrando seu rosto em algum lugar onde eu não preferia ver. Afastando meu olhar deles e seu comportamento repugnante eu vi uma velha carruagem fazendo seu caminho para nós. Pergunte-me se essa era a razão pela qual as ruas cheiravam a esterco e vômito.
— Vamos, Pagan, devemos conversar. Vamos dar um passeio. — Leif me dirigiu para a carruagem enquanto o cavalo parava em frente a nós.
— Iremos nisto? — Perguntei enquanto me levantava para subir à parte traseira da carruagem.
— Sim, — respondeu sorrindo e tomou o assento frente a mim em vez de sentar-se ao meu lado. Agradeci a distância, mas eu não gosto do fato de que seus olhos estivessem frente aos meus.
— Então, o que pensa da Bourbon Street 5? É tudo o que sempre tinha imaginado?
Sinceramente, nunca tinha pensado na Bourbon Street absolutamente. Nenhuma vez em minha vida imaginei que seria isto. Agora, sabia a exata localização na Luisiana, que Leif me trouxe. Pus minha atenção de volta às ruas, enquanto as passávamos. Luzes de cores brilhantes, janelas com mulheres nuas e placas que asseguravam ter os melhores pratos da cidade enchiam as ruas, também. As lojas de vodu eram intermináveis e os pequenos bonecos que sempre me vinham à mente quando alguém mencionava Vodu, cobriam as janelas. Isso era tudo o que sabia do vodu. Um pequeno boneco que cravavam agulhas se alguém não lhe agradava. Era uma ideia divertida, nada mais. Como estava enganada.
— Essas lojas, as que são de Vodu... — Comecei e Leif riu.
5 A Bourbon Street está localizada em Nova Orleans, Luisiana. É uma antiga vizinhança
francesa, com velhos edifícios que datam do século XVII.
— É propriedade de gente que normalmente extorque aos turistas. Nenhum só deles tem algum poder. Imagino que se um espírito vodu real tivesse a graça de tocar suas portas, fechariam a porta e fugiriam da cidade. O vodu não é real nestas ruas. Só se pode encontrar muito profundamente por esses escolhidos que os espíritos querem que os encontrem.
Oh, fabuloso, os espíritos malignos são exigentes? Isto não pode ser pior. Trato de não revirar os olhos, mas o sorriso no rosto do Leif me diz que ele sabe que tento me levar bem. Os velhos edifícios franceses começam a dar lugar a edifícios mais limpos, mais elegantes. Perguntava-me se veria uma linda parte de Nova Orleans, antes de retornar para casa.
— Este é o Distrito Jardim. É uma zona agradável. A maioria das mansões mais bem conservadas pode encontrar aqui mesmo. — Sem importar quão fascinante fossem, não me interessava as vizinhanças de Nova Orleans.
— O que quer falar comigo, Leif? Por que estou aqui? — Leif se inclinou para frente e apoiou os cotovelos sobre seus joelhos. Enrijeci em meu assento com o fim de manter uma distância segura dele. Felizmente, pareceu não dar-se conta.
— Sei que não entende agora o que sua mãe fez. Recordará todas as vezes que estive entrando em sua vida. Saberá que estive nesse dia que a velha rainha Vodu removeu a enfermidade de seu corpo. Sim, fiz também a petição, meu pai requereu, pediu uma restituição por isso. Toda ação vem com um pagamento. Não do tipo monetário, como as lojas de vodu daqui querem. O Vodu real pede algo mais. O pagamento mais caro que pode ser. Eu queria que vivesse Pagan. Observei-a do momento em que chegou a Nova Orleans. A enfermeira a observava porque era a neta da rainha vodu. A trouxe para mim, para me ver no primeiro dia que chegou. Fique fascinado por você. Meu pai procurava a minha companheira e eu lhe pedi que a petição fosse você. Disse que tínhamos que esperar. Isso significava que ocorreria quando o destino decidisse. Quando os doutores disseram que não veria outro dia, sua mãe foi com a enfermeira e a trouxe para a velha rainha vodu, que me chamou.
Parou, me olhou por um momento. Já conhecia a maior parte disso, exceto, a conexão com a enfermeira. Depois de tomar uma respiração profunda, quase um suspiro, Leif continuou: — Uma vida não pode se dada de graça. O custo é uma vida por outra vida. Salvei sua vida e ao fazê-lo, comprei sua alma. Foi minha desde o dia que esteve saudável. Após isso estive perto de você.
Minha mãe vendeu minha alma ao diabo. Isso era o que me dizia. Exceto que era difícil pensar em Leif como o diabo. Parecia tão normal sentado em frente a mim. Fora um menino normal, com quem pude terminar e logo me afastar dele.
— Nada disto faz sentido. Por que voltou humano? Por que me ignorou por anos? Por que fingiu? Por que me quer? Por que só não me deixa ir? — As perguntas saíram de minha boca. E Leif começou a abrir a boca outra vez quando uma expressão furiosa tomou seu lugar. Isso era novo. Não se parecia com o Leif que eu conhecia. Por que cuspi tudo isso? Oh, Deus, não deixe que se converta em um horrível demônio.
— Está aqui. Como diabos você chegou aqui tão rápido? —Rugiu e a carruagem parou.
Olhei ao meu redor enquanto Leif se levantava e saltava de seu assento e me deixava sozinha. As luzes da rua se apagaram, acenderam e as ruas muito transitadas que percorremos se foram. Isto era francamente horripilante. Uma mão tomou meu braço e me devorou, gritei, mas imediatamente me calei, Dank me pegava em seus braços.
*— Está bem. — Assegurou-me e deixei escapar um soluço de alívio. Estava aqui. Iria para casa. Passou sua mão pelo meu cabelo. — Shhhh, tenho você. Se foi.
— Onde? Está seguro? — Sussurrei contra seu peito.
— Sim, fugiu em vez de me enfrentar. Se foi, Pagan. Asseguro-lhe isso. — Assenti em seu peito, envolvendo meus braços em sua cintura e inalando seu aroma. Não me importava que machucasse meus sentimentos mais tarde. Que reagisse de forma exagerada. Só queria ir deste lugar.
— Vamos para casa — sussurrou em meu ouvido.
ão vai melhorar a situação se continuar olhando-a daí como se fosse seu maldito cão de guarda — queixou-se Gee, da cadeira na qual se sentava na esquina do dormitório de Pagan.
Nem sequer me preocupei em responder sua brincadeira. Não podia afastar meus olhos de Pagan, enquanto permanecia deitada em sua cama. A salvo. Aqui comigo e segura. A ira dentro de mim fervia porque fora arrebatada na frente do meu nariz. Tinha sido paciente com o tratamento com esses espíritos, mas já não mais. Meteram-se com o menino errado. Não haveria mais criaturas sem almas perto de Pagan. Não esperarei para ver quais são suas intenções. Terminarei com sua existência. Devo começar com a Kendra. Não poderia ser outra pessoa desaparecida. Posso me assegurar de que ninguém a recorde. Não quero esperar até que esqueçam que existiu. Deverá ser um corte limpo. Kendra deverá desaparecer quando Leif o fizer. Incomoda-me que esteja ainda por aqui, apesar de que não causou nenhuma preocupação desde sua partida. Observei-a, mas atuou como a caprichosa animadora, idiota de sempre. Nenhuma só vez se aproximou de Pagan ou tentou paquerar comigo para incomodá-la. Pelo menos eu mando em mim e nos meus.
— Está com essa expressão em seu rosto de "vou chutar o traseiro de alguém", Dankmar. O que planeja? — Perguntou Gee.
Quase tinha esquecido a presença de Gee na casa. Estava aqui quando retornei preocupado com Pagan. Isso é tudo o que podia dizer de Gee. É leal, e Pagan conseguiu ganhar a lealdade de Gee. Agora, me desfazer dela será um problema.
— Kendra precisa ir. Aqui não há lugar para criaturas sem almas e não a quero perto de Pagan.
— Oh, bom. Eu gosto desse plano. Essa cadela deveria ter ido quando Leif o fez. Estive observando-a na escola, não está causando problemas porque ninguém recorda que esteve ali. Leif a deixou aqui por uma razão.
— Exatamente. — Estamos de acordo uma vez. Mas quando se tratava da segurança de Pagan, sempre contava com Gee. Pagan murmurou algo dormindo e virou. Observei assombrado como suas pestanas revoavam contra suas altas maçãs do rosto. O lábio inferior gordinho que tanto adoro se sobressaía um pouco, como se estivesse fazendo beicinho. As escuras mechas de seda de seu cabelo se pulverizavam em seu travesseiro. Tudo nela era incrível, — Por favor, deixa de olhá-la como um cachorrinho doente de amor. É muito chato, — irritou-se Gee.
—Então, passei de ser um cão de guarda a um cachorrinho doente de amor. O que tem contra as descrições caninas?
Gee riu em voz baixa. — Não sei. Possivelmente necessito de um cão.
— Sim, como se isso fosse acontecer. Uma transportadora com um cão como mascote. Onde vai deixá-lo enquanto estiver trabalhando? No sétimo céu?
—Bom, não é uma caixa cheia de surpresas? Para sua informação, imaginei que se deixarem que A Morte tivesse uma humana, eu posso ao menos ter um cão.
Ia começar a lhe responder quando os olhos de Pagan piscaram lentamente e os abriu. Pude ver suas pupilas dilatadas enquanto tratava de concentrar-se.
— Olá. — Grunhiu com voz sonolenta. Era hora de Gee ir embora.
— Vai, Gee. Chamarei se necessitar de você aqui. — Ordenei, sem me incomodar em olhá-la. Desfrutava observar Pagan despertar e não queria perder isso por um segundo.
— Vejo que estou sobrando aqui — disse Gee em tom divertido, fazendo Pagan ri.
— A verei logo, Gee — gritou Pagan, enquanto Gee saía da casa.
— É bom mesmo. — Suspirei, me sentando ao lado de Pagan e me inclinando contra a cabeceira. Estendi meu braço e puxei Pagan para recostar sua cabeça em meu peito.
—Mmmm... — Esteve de acordo, ainda não completamente acordada. Leif tinha drenado a energia em seu corpo humano. Isso era perigoso para um humano, entretanto o idiota o fez. Pagan sentiria os efeitos por um par de dias. Eu a trouxe para casa no meu jato particular e dormiu a viagem toda.
— Não posso manter os olhos abertos, mas quero ver você. — Joguei com seu cabelo, enredando suas mechas ao redor de meus dedos.
— É por culpa do Leif. Usou um método de transporte que não é para os humanos. Mas pagará.
—Lamento haver ido. — A pequena desculpa de Pagan me incomodou. Não tinha nenhuma razão para desculpar-se. Entrou em pânico e dirigiu a situação erroneamente.
— Não, sou eu quem lamenta não ter lhe explicado sobre essa loira sem alma. Não devia ter descartado suas habilidades. Ao vê-la tão perto de ti, assusto-me. Tomei por missão averiguar porque se encontrava ali.
Pagan bocejou, logo jogou sua cabeça para trás para me olhar — Era uma sem alma?
Assenti. —Distraiu-me e a incomodou com o propósito de deixa-la disponível para o Leif. Caí em sua armadilha. — Admitir meu fracasso deixou um sabor amargo em minha boca. Falhei com você duas vezes.
— Não, eu caí em sua armadilha. Tratava de me proteger e atuei como uma namorada tola, ciumenta e fui. — O sono tinha desaparecido de sua voz agora. Não gostava que me culpasse disto. Se não a tranquilizasse, levantaria e começaria a destrambelhar sobre meu equívoco.
— Tinha ciúmes? — Irritei-me e seu olhar determinado se transformou em um sorriso tímido.
— Sabe que sim. A garota me dizia que era sua mais recente aventura e deu a entender que saía com uma garota diferente cada
semana. Sei que não devia acreditar em seus comentários, mas me chamou de cadela e bom, queria esbofeteá-la.
— Chamou você de quê? Perguntei-me se Leif sabia disso. Como pensa que lhe pertence. Como se sentiria se soubesse que sua pequena garota malvada a chamou por esse nome vulgar? — Fiz uma pausa e tomei uma profunda respiração. Estar furioso enquanto sustento a uma muito sonolenta e exausta Pagan em meus braços, não é uma boa ideia.
— Não devia cair em suas provocações, — murmurei zangado comigo mesmo.
— Não, não é sua culpa. Além disso, não devia ter sentido ciúmes. Se tivesse sido mais madura nada disto teria acontecido.
— Hmm, eu gosto que você tenha sentido ciúmes.
Rindo, beliscou-me através do fino algodão de minha camisa e começei a rir. O som era tão novo para mim. Antes de Pagan, não acredito ter rido nunca.
— Então, O que planeja com seu sexy namorado roqueiro para o Dia de São Valentim 6? — perguntou Miranda, vindo ao meu lado tão logo saí de meu carro. Tinha me esquecido do Dia de São Valentim, mas duvidava que A Morte reconhecesse esta celebração. Além disso, Dank tinha saído outra vez esta manhã. Gee estaria aqui logo. Deixei-a comendo os waffles restantes e a calda de morango que mamãe tinha posto para mim na mesa da cozinha, antes de ir muito cedo a uma convenção de escritores em Chicago. Estaria viajando a semana toda. Por tudo o que ocorria neste momento, era provavelmente o melhor. Gee poderia permanecer em forma humana e vagar livremente pela minha casa enquanto esperávamos Dank encontrar uma solução para o meu problema.
Ao pensar em Leif, olhei para seu lugar no estacionamento e deixei de caminhar, ao ver sua caminhonete estacionada. Oh, Deus,
6 O Dia de São Valentim, também conhecido como o Dia dos Namorados, é uma data
especial comemorada por casais de várias partes do mundo, onde se celebra o amor e a união das pessoas que se amam.Nos EUA comemora-se no dia 14 de Fevereiro e no Brasil no dia 12 de Junho.
está aqui. O que significa isso? Todo mundo o tinha esquecido. Agora está de volta.
— Sei que rompeu com o Leif, mas, maldição, não tem que olhar sua caminhonete como se fosse a pior coisa que já viu. Retornou de sua viagem de visita a seus avós no Norte. Vai acostumar-se a estar perto dele de novo. Não é grande coisa.
Seus avós? O que? Lembrava dele? Minha cabeça começou a doer. Isto era muito. Nada tinha sentido.
— Aí estão minhas garotas. — A voz de Gee se quebrou ante ao meu ataque de pânico interior e assinalei com meus olhos para a razão de minha expressão de horror. Ela entendeu. Seus olhos piscaram para a caminhonete do Leif e logo depois de novo a mim. —Bom, olhem, olhem, o rei retornou ou deveria dizer "príncipe", — sorriu por sua própria brincadeira e apertou meu braço. — Hoje será muito divertido, não?
Comecei a sacudir a cabeça e ela apertou meu braço com mais força.
— Sorria e fique bonita, Peggy Ann. Isso é tudo o que tem que fazer. Tenho tudo sob controle, — disse entre dentes e me levou para a porta da escola. Miranda nos seguiu em silêncio, o que por si só era um milagre. Mas pensando bem, Gee sempre a assustava de todos os modos.
Gee não deixou de me seguir até que chegou ao meu armário. Miranda havia dito seu adeus e foi em busca do Wyatt, logo que entramos no corredor. Agradecia sua partida porque precisava falar com Gee a sós.
— O que vou fazer?— Sussurrei enquanto olhava freneticamente ao redor, procurando qualquer sinal de Leif.
— Vai atuar como se tudo estivesse bem. É seu ex, atua como as garotas fazem ao redor de seus ex, — Gee expandiu uma bolha de chiclete na boca, como se não fosse uma maldita grande coisa.
— Gee, com certeza está atrás de minha alma. — Espetei zangada.
Revirou seus olhos. — Com certeza não fará nada pelo Dank.
— Mas Dank não está aqui.
— Peggy Ann, eu estou aqui. Além disso, está aqui porque Dank se desfez de seu pequeno ajudante. Não tem a ninguém que o informe.
Pequeno ajudante? O que? — Pode falar-me sobre isso, por favor?
Gee se apoiou no armário do lado e atirou um fio de chiclete de sua boca enquanto descansava uma bota no armário inferior. —Kendra era uma sem alma, querida. Agora não está mais. Dank se encontrava irritado quando a trouxe de volta de Nova Orleans. Não é um fã do Bairro Francês, já sabe. Todos os antigos edifícios franceses o tiram do sério. Mas a mim, eu gosto de todo o álcool. Exceto logo que às mulheres estão nuas. Isso pode ser um pouco chato.
Kendra era uma sem alma. Apoiei a testa no frio metal, enquanto Gee continuou tagarelando sobre Nova Orleans. É obvio, Kendra era uma sem alma. Isso tinha sentido. Se Leif estava tão apaixonado por mim, então nunca estaria em uma relação com outra pessoa. Todas suas brincadeiras eram destinadas a me conduzir diretamente aos braços do Leif. E Dank, tinha fingido com ela porque me protegia. Deus, eu fui uma idiota.
— Portanto, foi... — Disse a mim mesma.
Gee deixou de falar de rosquinhas e seu presente para o mundo, suspirou, obviamente frustrada, de que seu intento de mudar o tema tivesse fracassado.
— Sim, e Dank fez sua limpeza. Nem uma alma a recordará. Sem nenhum sentido duplo.
— Gee?
— Sim.
—Necessito uma Coca Cola e uma barra de chocolate. Muitos chocolates.
Gee riu e se retirou de sua posição contra os armários. — Vou nessa. A verei nas aulas.
— Obrigada.
Observei-a enquanto se dirigia pelo corredor para a sala de professores.
A risada de Leif ressonou pelos corredores e me virei para vê-lo de pé junto ao mesmo grupo de meninos que sempre o rodeavam. Não olhou em minha direção, e as Cheerleaders 7 se encontravam penduradas em cada uma de suas palavras. Era como se nada tivesse ocorrido este ano. Isto era muito similar à mesma cena que tinha presenciado no primeiro dia de aulas. O dia que tinha conhecido Dank sentado na parte traseira da minha sala. Sorrindo, dei a volta e me dirigi à sala de aulas. As coisas podem estar todas confusas, mas agora, pensando no quão sexy Dank tinha sido esse dia, enquanto resistia de não olhar sua adorável covinha, isso fazia as coisas mais interessantes. Tinha pensado que não era mais que outra alma naquele tempo. Naquele tempo. Uma que realmente podia falar. Muitas coisas mudaram. A alma que pensei que me espreitava não fazia. Tinha estado ali, para levar minha alma, porque devia morrer. Entretanto, algo mudou seu parecer. Eu gostei de saber que o tinha afetado de uma forma que nenhum outro ser humano o tinha feito jamais. Tinha quebrado todas as leis do universo por mim. Deixou-me viver.
— Coca Cola e Snickers, — Anunciou Gee, enquanto punha a lata fria em minha mão e deixava cair o Snickers à frente de minha camisa.
— Gee, — Chiei surpreendida e agarrei rapidamente a barra de chocolate, antes que golpeasse o chão e fosse pisoteado pela multidão de estudantes que corria à sala de aula do segundo período.
— Os mendigos não podem ser seletivos. — Interveio junto a mim.
— Pode ser uma presunçosa. — Espetei-lhe, abrindo o Snickers e tomando um gole.
— Sim, mas me quer de todos os modos.
Só pude assentir com a cabeça. Tinha a boca cheia e é obvio que tinha razão. Queria-a.
— Ouça de onde tirou isso? — Exigiu Miranda enquanto corria a meu lado. Inclinei a cabeça para Gee, que sorriu. As duas sabiam que não havia forma de que Miranda pedisse algo para Gee.
— Oh. — Foi sua resposta. Então, pareceu superá-lo rapidamente e sussurrou em voz alta: — Já falou com o Leif? E o estranho é que Leif
7 Líderes de torcida.
retornou depois que Kendra se foi? É como se estivéssemos jogando a dança das cadeiras.
Não pude evitar me esticar ante a menção de Leif e o nome da Kendra. Se Miranda pensava que isto era estranho, realmente estaria achando estranho ao saber a verdade. Tratei de imaginar em meu cérebro o fato de que Kendra era uma criatura sem alma, mas era demais. Já tenho bastante com o Leif e sua reclamação de minha alma, no momento. Devia pôr a Kendra e sua existência fora de minha cabeça. Talvez a esquecesse como todo mundo.
Gee pigarreou suavemente. — Não, mas ele vem para cá e terei um assento em primeira fila. Maldita seja, devia ter agarrado um pouco de pipoca enquanto entrava na sala.
Leif vinha diretamente para nós com seu sorriso torcido e arrogância. —Olá, Pagan, como está? — perguntou, detendo-se frente a mim, assim não podia fugir. Apesar de que tinha respaldo em cada lado, Miranda e Gee, eu desejava desesperadamente que Dank estivesse aqui.
— Hum, bem, obrigada, e você? — Sentia os olhos dos outros estudantes sobre nós. Isto era o que todos tinham estado esperando. O drama e a angústia adolescente que alimentava nossas vistas. Se tão somente soubessem...
— Vejo que fez uma nova amiga. — Desviou o olhar para Gee e o brilho de advertência em seus olhos era evidente. Realmente a desafiava?
— Uh, sim, tenho.
— Já sabe o que dizem, fora o velho, — mencionou Gee, levantando as sobrancelhas e olhando-o diretamente, — e abre caminho para o novo e melhorado.
Leif ficou rígido e me preocupei que ela tivesse ido muito longe. Estávamos no corredor, com um montão de seres humanos. Talvez fosse prudente se mantivéssemos a calma do malvado espírito.
— Uma questão de opinião, — sua voz era controlada e fria. Sabia que Gee se divertiria com isto e o pioraria.
— Um, está bem, foi bom ver você de novo Leif, né, o verei por aí.
— Peguei o braço da Gee e o sustentei firmemente entre o meu,
atirando-a, enquanto rodeava Leif e caminhamos o mais rápido possível para o banheiro de garotas. Podia ouvir a respiração pesada de Miranda enquanto corria atrás de nós para manter-se perto. Onde se encontrava Wyatt quando o necessita? Não é que fosse melhor. Miranda escolheria a intriga e o drama muito por cima de uma sessão de demonstração de afeto com seu namorado, em qualquer momento.
—Maldição, Peggy Ann, está correndo como se os demônios do inferno estivessem lhe pisando o rabo. — Gee riu entre dentes por sua própria brincadeira. Não achei nem um pouco engraçado.
— Por favor, fique bem. — Troquei meu foco longe de Gee e encontrei Miranda nos observando com um olhar de preocupação em seu rosto mesclada com determinação. Notei que ela estava pronta para o caso de Gee me atacar, e se preparava mentalmente para me defender.
— Sou amável, — Gee arrastou as palavras e tirou seu braço fora do meu alcance. — Por Deus, se controle, Pagan. Come seu chocolate e bebe seu refresco. Acredito que seu nível de açúcar está baixo e está se fazendo uma cadela.
Suspirando, apoiei-me contra a parede ao lado do banheiro e tomei um gole da Coca Cola em minha mão. Precisava falar com Gee a sós, mas a postura de amparo de Miranda dizia que não iria a nenhuma parte. Em troca, comi minha barra de chocolate e disparei um olhar de advertência na direção de Gee.
—Quando, uh, uh, Dank estará de volta? — A voz da Miranda tremeu. Gee parecia achar isto entretido.
— Não estou segura, provavelmente ligará esta noite.
— Vai dizer que Leif está de volta? — perguntou com cautela.
É obvio que sim, logo que o veja. Melhor ainda, podia enviar Gee para lhe dizer. Não estou segura de poder convence-la a me deixar sozinha, com o Leif tão perto agora, mas ia tentar com todas minhas forças.
— Claro, mas não é grande coisa. Leif terminou comigo antes de ir. — É simplesmente amável. Já sabe. — Nem sequer me criou isso.
Miranda franziu o cenho, aproximou-se do espelho e começou a arrumar alguns de seus cachos que pensava que parecia fora de lugar.
— Mm, bom, os ex-namorados podem ser um problema. Inclusive os mais lindos, como Leif.
Não tinha ideia. — Acredito que tudo vai ficar bem.
Gee achou isto divertido e a fulminei com o olhar, o que só a levou a rir mais forte.
Miranda olhou por cima do ombro e franziu o cenho para Gee, mas não disse nada.
— Bom, terminei. Meu açúcar no sangue deve estar bem agora. Vamos para aula, já é tarde.
alma em pé ao meu lado olhava com ansiedade, enquanto o menino sobre o corpo antigo da alma chorava em voz alta. Não me agradava situações como esta. Necessitava um transportador imediatamente. Entretanto, não ia deixa-lo até que alguém escutasse os gritos do moço e saísse correndo para ver como se encontrava.
—Acorda, avô, vamos acorda. — Gritou o menino, sacudindo o corpo vazio estendido no campo. Lágrimas corriam pela cara suja do menino.
Apesar de que ele queria acreditar que seu avô só dormia, sabia a verdade. Os soluços rasgando seu corpo eram um indicador de que já tinha aceitado o fato de que seu avô faleceu.
Olhei por cima da alma cujo rosto estava tenso pela frustração. Não parecia gostar de ver o menino irritado.
— Vai estar bem. Você já teve vários anos para fazer uma mossa em sua vida. —Disse a alma e seus olhos se elevaram para encontrar-se com meus. Alguma paz lhe percorreu.
—Sinto chegar tarde, Dankmar. — Desculpou-se Kitely, enquanto aparecia à direita da alma.
Assenti com a cabeça, mas não disse nada mais. O transportador tomou a alma e se foi. Mas eu esperei. Deixar ao menino aqui sozinho com seu avô morto não era algo com o que me sentia cômodo. Não é que fosse se machucar. Sua alma não estava marcada para sair da terra. Sua vida seria muito longa.
Mas deixá-lo chorar aqui sozinho me parecia mal. Vi agarrar punhados da camisa do ancião e enterrar sua cara no tecido. Seus soluços eram cada vez mais tranquilos agora. A aceitação era sempre mais fácil para os jovens.
— COLBY! —Chamou uma voz feminina e levantei meu olhar para ver uma moça com o cabelo curto de cor vermelha que vinha correndo pela colina. O temor gravado em sua cara, seus enormes olhos marrons brilhavam com a mesma ansiedade dos de seu filho. Sua preocupação era por seu filho, e não se dava conta ainda de que seu pai se foi. Olhei ao menino uma vez mais, enquanto levantava a cabeça e gritava para sua mãe. Meu trabalho aqui já tinha sido feito. Então os deixei.
A casa cheirava a amônia e vapor de desinfetante. Era um aroma familiar. Todas as casas dos anciões que visitava cheiravam iguais. A anciã, colocada firmemente em sua cama com várias colchas artesanais que eram uma mescla de modelos brilhantes e diversas cores, não deixavam nenhuma dúvida que a tivesse feito ela mesma, olhou-me com olhos nublados. Tinha vivido muito. Foi uma boa vida para ela. Cento e cinco anos nesta terra era um presente que muito poucos recebiam. Só as melhores e mais honradas almas recebiam estas vidas.
— Bom, tinha que chegar a hora. — Sussurrou com voz enfraquecida.
Não podia deixar de rir. Esteve me esperando. Os mais velhos sempre o faziam. Sabiam quando chegava o momento. Estas eram as almas mais fáceis de tomar.
— Estou aqui há muito tempo, querida, só que você é impaciente.
— Burlei-me dela com o carinho que seu marido tinha utilizado quando ainda vivia. Lembrava-me dele lhe sussurrando: A verei mais à frente, minha querida, antes de sair de seu corpo. Ela tinha sorrido através de suas lágrimas. Isso tinha sido há quase cinquenta anos.
— Ah, você o escutou. — Sorriu e as rugas em seu rosto se enrugaram ainda mais.
— Escutei.
— Bom, vamos seguir adiante com isto, estou pronta para ver meu homem. — Sussurrou, e uma série de tosses demoliu seu frágil e pequeno corpo, antes que eu atraísse para mim sua alma.
Quando entrei no quarto de Pagan, Gee se encontrava sentada na cadeira púrpura que uma vez tinha sido onde eu passava as noites.
Dirigindo meu olhar à cama, notei que não havia ninguém. Fulminei Gee com o olhar. — Onde está?
— Insolente, insolente, Dankmar. Está com o açúcar no sangue muito baixo? — Arrastou as palavras. Que diabos queria dizer com o nível de açúcar baixo?
— Onde está, Gee?
Gee suspirou em voz alta e esticou as pernas. Por uma vez, não usava as botas negras e altas, que era tão aficcionada. Tinha seus pés nus e suas unhas eram uma sombra horrível de cor verde brilhante.
— Está no banheiro, céus.
Voltei-me para espreitar fora do quarto quando Gee me deteve.
—Um, Dankmar, não acredita que ela aprecie que entre enquanto esta no chuveiro.
Tinha razão, é obvio. Não estava pensando. Tinha passado quase vinte e quatro horas desde que a tinha visto e me encontrava mais e mais frustrado a cada minuto. Leif tinha saído completamente de meu radar e eu ainda seguia em um ponto morto sobre como tratar com ele. Pensei que depois de ter eliminado a Kendra, ele apareceria, mas não tinha recebido nenhuma resposta.
— Perdeu um dia muito divertido. — A voz cantada de Gee não era algo no qual encontrava consolo. Isto significava que ia dizer algo que certamente me incomodaria.
— O que perdi?
— Bom, vamos ver, inteirei-me que Pagan tem açúcar em seu sangue e se converte em uma autêntica p... bruxa se não comer uma barra de chocolate durante um momento estressante. Também me inteirei de que Miranda, de fato, ama as intrigas e, muito possivelmente, a Pagan mais do que ama ao menino esguio sobre o que se pendura. — Gee fez uma pausa, logo fez uma careta quando notou meu grunhido furioso. Não estou de humor para jogos.
— Ah, e Leif retornou da visita dos seus avós no Norte. Toda a escola era um enxame de emoção.
Ele tinha retornado à escola. Minha eliminação de Kendra não o tinha enviado a mim, tinha-o enviado de volta ao mundo de Pagan. Não esperava por isso.
— Pagan está bem?
Gee se levantou e me lançou um sorriso divertido a sua maneira, antes de dirigir-se para a porta. —Sim, é obvio. Estive com ela, como disse essa anciã que tomamos na semana passada, depois de que incendiasse sua casa cozinhando? Ah, sim, disse: "como arroz queimado à frigideira". — Gee começou a rir. — Essa era uma anciã divertida. Espero transportar sua alma de novo à próxima vez. — Logo, Gee saiu do quarto.
O vestido rosa pálido que pendurava na parte exterior da porta do armário de Pagan me chamou a atenção. O suave tecido parecia quase o suficiente precioso para tocar a pele de Pagan. Aproximei-me dele e levantei a prega e esfreguei a delicada textura sedosa entre meus dedos.
— Você gosta? — perguntou Pagan antes de envolver seus braços ao redor de minha cintura.
— Eu adoro. Quando o usará? — perguntei, me girando em seus braços para olhá-la e desfrutar de suas feições.
—Bom. — Mordeu a parte inferior de seu lábio e olhou nervosamente de mim ao redor para ver seu vestido. Vi em uma loja e só... gostei. Parece que preciso de um lugar para usá-lo... — interrompeu-se, me olhando esperançada. Estava me pedindo que a levasse a um lugar agradável? Nossas últimas semanas não tinham sido divertidas para ela. Estivemos tratando com o Leif e sua merda. À parte do concerto que terminou horrivelmente, eu não a tinha levado a nenhum lugar.
A porta rangeu e elevei meus olhos para ver Gee colocar sua cabeça de volta para dentro. — Chama-se Dia de São Valentim, idiota, — anunciou. — Se for sair com uma humana, Dankmar precisa lembrar de seus dias festivos. — Gee me deu um olhar de exasperação antes de fechar a porta uma vez mais. Dia de São Valentim. Tinha esquecido essa data. Os dias de festa pelo geral significam mais trabalho para mim. As pessoas deprimidas tendem a terminar as coisas em ocasiões especiais e os festeiros bebiam muito e logo ficavam atrás do volante dos veículos. Mas o dia de São Valentim não era tão mau quanto suicídio e acidentes automobilísticos.
— Sinto muito, Pagan. Não sou muito bom nisto, parece. Poderá me perdoar por não pensar no fato de que tenho que fazer mais que só aparecer em seu quarto ou ir contigo à escola? Sou uma merda de namorado, verdade?
— Ignore a Gee. Simplesmente gosta de fazê-lo passar um mau momento. Honestamente, não comprei isto com a esperança de que me levasse a nenhum lugar no Dia de São Valentim. Só o vi e me lembrei de que quis que me pusesse de rosa pálido uma vez, para o baile. Pensei que talvez quando tivéssemos tempo, poderia me levar em algum lugar contigo.
Beijei o topo de sua cabeça. Leif seguia interferindo em nossas vidas e eu não gostava. Minha mente se centrava muito nele e na alma de Pagan; tinha descuidado dela. — No Dia de São Valentim nós temos um encontro e definitivamente quero que ponha esse vestido.
Dank tinha ido de novo. Tinha passado a noite comigo, ou ao menos estava ali enquanto dormia. Ontem à noite havia cantado minha canção. Sentia saudades de ouvi-lo cantar.
Promoveu mudanças na letra, como se tivesse estado aperfeiçoando. O som de sua voz desesperada me fez feliz de estar deitada em minha cama vendo-o. Sabia com segurança de que ficaria de joelhos se tivesse tentado ficar de pé. Seu cabelo negro caiu em seus olhos enquanto baixava o olhar do violão em suas mãos e tocava o princípio da canção. Reconheci-a imediatamente. As palavras flutuaram em minha cabeça toda manhã, enquanto cantarolava a inquietantemente doce melodia.
“Não estava destinada para o gelo. Não lhe fizeram para a dor.
O mundo que vive dentro de mim me traz só vergonha.
Estava destinada para os castelos e a vida sob o sol.
O frio correndo através de mim deveria tê-la feito fugir.
Entretanto, fica, se agarrando a mim.
Entretanto, fica estendendo uma mão que empurro longe.
Entretanto, fica, quando sei que não é correto para ti.
Entretanto, fica.
Entretanto, fica.
Não posso sentir o calor. Preciso sentir o gelo.
Quero ter tudo dentro e adormecido até que não possa sentir a faca.
Então a afasto e grito seu nome.
Sei que não posso necessitar de ti, entretanto te quero perto.
Entretanto, fica te agarrado a mim.
Entretanto, fica estendendo uma mão que empurro longe.
Entretanto, fica, quando sei que não é correto para ti.
Entretanto, fica.
Entretanto, fica.
Não posso sentir o calor. Preciso sentir o gelo.
Quero ter tudo dentro e adormecido até que não possa sentir a faca.
Então te afasto e grito seu nome.
Sei que não posso necessitar de ti, entretanto te quero perto.
Entretanto, fica te agarrando a mim.
Entretanto, fica estendendo uma mão que empurro longe.
Entretanto, fica, quando sei que não é correto para ti.
Entretanto, fica.
Entretanto, fica.
Oh, a escuridão sempre será minha capa e você é a ameaça para revelar minha dor.
Então parto, parto e apago minhas lembranças.
Preciso enfrentar a vida que era para mim.
Não fique e arruíne meus planos.
Não pode ter minha alma, oh, não sou um homem.
O recipiente vazio que habito não tem a intenção de sentir o calor que traz
Então te afasto e te afasto.
Ooooh.
Entretanto, fica.
Entretanto, fica.
Entretanto, fica."
— O que faz aqui sozinha, parecendo estar em outro mundo? — perguntou Miranda, me surpreendendo fora de meus pensamentos ao golpear uma mão contra a bilheteria fechada, junto à minha. Não pude manter o sorriso em minha cara.
— Dank. — Respondi.
Miranda arqueou as sobrancelhas e se abanou com uma mão. — Garota não a culpo, esse menino pode usar um par de jeans como ninguém.
Ri e sacudi minha cabeça. Miranda apreciava os homens verdadeiramente. Ela amava Wyatt, mas isso não lhe impedia de olhar o resto da população masculina.
— Falando de picante, aqui vem o último namorado digno de babar. — Sussurrou Miranda.
Não era o que queria ouvir ou falar neste momento. Olhando por cima de meu ombro, vi como Leif saudava aos que passava até conseguir abrir caminho para mim. Era tão fácil fingir que era normal. Fechando a porta de minha bilheteria dei à volta para o olhar de frete.
— Leif, — murmurei. Era o melhor que podia fazer.
Aparentemente, achou minha resposta divertida porque seu sorriso aumentou. — Pagan, é bom ver você também.
Sim, sim. Não era um brincalhão?
— O que necessita? — Perguntei um pouco muito bruscamente porque Miranda me deu uma cotovelada dura.
— Bom, perguntava-me sobre a monitoria. Quero dizer, agora que estou de volta tenho que manter minha qualificação e sabe que não posso fazer isso sem ajuda.
O que seja. De jeito nenhum que um espírito vodu fosse disléxico. Acreditava que eu era idiota?
— Ah, bom, quando se foi preenchi sua vaga. Mas estou segura de que há outros monitores disponíveis se achar que realmente necessita. — Esforcei-me ao máximo em enfatizar meu ponto, sem que suspeitasse.
— Mas você foi muito prestativa. Duvido que alguém seja capaz de me ajudar da forma que você o fez. — Ele estava gostando disto. O brilho em seus olhos dizia que desfrutava de cada minuto. Queria afastá-lo e me dirigir à aula, mas só causaria drama e atrairia atenção que eu não queria. Então coloquei a alça da minha mochila sobre meu ombro e parti sem dizer uma palavra. Ouvi Miranda pedir desculpas por meu comportamento, o qual era ridículo, mas ela não sabia.
— O que aconteceu? Quero dizer, sei que ele rompeu contigo, mas tem Dank agora. Por que guardar rancor? — Perguntou Miranda depois de haver me alcançado.
Abri a boca para responder quando seu telefone celular tocou, me interrompendo.
Miranda buscou em sua bolsa a toda pressa para encontrá-lo antes que um professor o escutasse.
— Sabe que deve desligar essa coisa na escola. Conseguirá que lhe confisque isso de novo. — Repreendi-lhe.
Tirou de sua bolsa e me mostrou um olhar irritado antes de responder.
— Olá.
— Por quê? O que está acontecendo no campo?
Miranda agarrou meu braço para me parar. Seu rosto estava confuso. — Temos que ir até o campo. Não sei por que, mas era Krissy LotS disse que tinha que ir ao campo de futebol imediatamente, depois desligou. Havia sirenes ao fundo.
Sirenes? — Meu interesse tinha passado de só curiosidade a alarme.
— Deve vir comigo, agora. — Gee apareceu diante de mim, e realmente não a notei aproximar-se. Aparecer de um nada assusta as pessoas.
— Temos que ir ao campo de futebol, — expliquei, enquanto Miranda ignorava-a se apressava entre outros estudantes.
— Eu sei, — respondeu Gee, sem um centímetro de sua normalmente atitude sarcástica. Em troca, soava preocupada. Isso só podia significar... Oh, Deus.
Não fiquei ali e esperei uma explicação. Em troca, fui atrás de Miranda e chegamos à porta que conduz ao campo de futebol ao mesmo tempo. Corremos todo o caminho para um campo que se encontrava repleto de pessoas e duas ambulâncias. Só havia uma pessoa que ambas conhecíamos que ia ao campo cada manhã para correr. Wyatt.
stava paralisada. De pé ali, enquanto os paramédicos trabalhavam incansavelmente sobre o corpo de Wyatt, o qual não respondia, eu não podia me mover. Os soluços e as súplicas de Miranda para Wyatt, para que este despertasse, soavam muito longe.
Nada era real. Era quase como se estivesse observando um fato fora de meu corpo. Além de minha avó, nunca experimentei perder um ser querido. Achei que ele não morreria. Dank teria me avisado sobre isso, verdade? Acaso ele não sabia estas coisas de antemão?
No momento em que escutei seu nome em meus pensamentos, ele apareceu, ficando como um formoso anjo escuro atrás do paramédico inclinado sobre o Wyatt, lhe administrando a RCP 8. Preparava o desfibrilador para reanimar seu coração. Nada mais tinha funcionado.
Os olhos do Dank encontraram os meus e pude ver a dor naquelas profundezas azuis. Isso não podia significar o que eu acreditava que significava. Somente veio para me tranquilizar, verdade? Wyatt era simplesmente muito jovem para morrer. Ele era meu amigo. Não qualquer amigo, a não ser um que tinha tido durante toda minha vida, ou ao menos durante o tempo que posso recordar. Fazíamos concursos de comer cachorros quentes, e brincávamos de Motocross com as bicicletas. Wyatt foi quem me ensinou a andar de skate, e eu era quem lhe punha fígado de frango de isca em seu anzol sempre que íamos pescar. Ele odiava este tipo de coisas. Dava-lhe náuseas. Era uma parte de minha vida, e eu não queria deixá-lo ir. Acaso Dank não via isso?
— Wyatt, por favor, bebê, por favor, abre os olhos para mim. — Soluçou entrecortadamente Miranda, enquanto eles colocavam as duas
8 CPR — em inglês é um procedimento utilizado para manter o bombeamento do coração e
permitir o fluxo de oxigênio até que se interne o paciente em um centro médico, usa-se desde que chega a ambulância até que interne em um hospital, pois não é permanente.
paletas em seu peito, da mesma forma em que tinha visto fazer as pessoas em Grey’s Anatomy. 9
O peito do Wyatt subiu e desceu em um rápido movimento enquanto todos pareceram flutuar sobre ele, lhe rogando que respondesse. Mas nada. Vi-os fazer de novo, com os mesmos resultados. Não ocorria nada. Então, vi como a alma de Wyatt se levantava de seu corpo e se dirigia diretamente para Dank. Nunca olhou para trás enquanto um transportador que nunca antes havia conhecido, deu um passo adiante e em um instante depois desapareceram. Wyatt partiu.
O horror do que acabava de presenciar se sentiu como uma punhalada no peito. Ele tinha afastado Wyatt de mim. Como podia afastar alguém de mim tão facilmente? Miranda caiu ao chão quando os paramédicos anunciaram a hora da morte como 08h02min. Não me atrevi a me virar e ver se Dank seguia ali, presenciando como nosso mundo vinha abaixo. Em vez disso, aproximei-me de Miranda e me uni a ela na erva úmida pelo sereno matinal. Envolvendo meus braços ao redor de seu corpo, deixei-me levar pela dor.
Os paramédicos pensavam ter sido um aneurisma cerebral, mas não se saberia com certeza até depois da autópsia. Ver o corpo de Wyatt enquanto subiam o zíper da bolsa de plástico em que se encontrava metido, foi o momento mais estranho de toda minha vida. Embora eu soubesse que ele já não estava ali, entre nós, foi um momento estranho. Contive o impulso de saltar e correr para eles, e exigir que lhe deixassem sair dali.
Ele não seria capaz de respirar nessa bolsa. Odiava os espaços fechados. Uma vez o tinha colocado em meu armário e fechado a porta com chave, quando o deixei sair tinha tido um completo ataque de ansiedade. E agora eles o fechavam nessa bolsa de plástico, e dentro de pouco estaria enterrado.
O veríamos dentro de um caixão e logo o perderíamos para sempre.
Nada de bolsa de basquete. Nada de NBA.
Wyatt tinha ido embora.
9 Série Americana do canal ABC, drama médico.
Miranda não tinha falado nem comido desde que sua mãe se apresentou na escola, imediatamente depois de receber a chamada de aviso. Não nos levantamos do chão quando sua mãe chegou. Com trabalho, arrumei-me para convencer Miranda a levantar-se e as duas entraram na parte traseira do Cadillac de sua mãe, até sua casa. Agora, ela estava caída, feito uma bola, em sua cama rosa macia com o boneco de pelúcia que Wyatt lhe deu de presente pelo dia de São Valentim do ano passado. Tinha um colar ao redor de seu pescoço com um diamante em forma de um pequeno coração. Ele economizou durante quase um ano para comprá-lo. Por doze meses me parou no corredor pelo menos duas vezes por semana, me sussurrando o perto que estava de consegui-lo. Eu lhe sorria e negava com minha cabeça, porque eles eram tão horrivelmente doces.
— Quanto tempo pensa em seguir aqui? — perguntou Gee, e eu saltei surpreendida por sua chegada. Não esperava que estivesse aqui. Franzi o cenho e olhei para Miranda, me perguntando se tinha dormido. Sabia que o comprimido que sua mãe lhe deu logo que chegamos, era para dormir.
—Está dormindo, mas não consegue ouvir ou escutar tudo. Estou disfarçada. — Explicou Gee.
Não queria ir para minha casa. Não queria deixá-la. E, honestamente, tampouco queria ver Dank. Sentia-me confusa e ferida, e A Morte não era precisamente a quem queria ver neste momento. O quarto de Miranda era mais seguro.
—Passarei à noite aqui. Não irei até que ela esteja melhor. — Respondi-lhe em um tom cortante. Uma parte de mim estava zangada também com a Gee. Isto tinha sido sua obra depois de tudo. Não lhes passaria pela mente que eu tivesse querido saber que Wyatt ia morrer com antecipação? Talvez pudesse havê-lo detido. Se soubesse que sofreria um aneurisma, eu poderia ter feito algo.
— Está zangada com ele, verdade? — perguntou Gee, com total naturalidade.
Simplesmente, assenti com minha cabeça.
—Isto tinha que acontecer cedo ou tarde. Não pode amar A Morte, Pagan, e não aceitá-lo. É para isto que foi criado. Não é só um menino sexy que sabe cantar e tocar o violão.
Sabia disso, é obvio, mas neste momento, não queria falar disso. Não com ela, e tampouco com ele.
— Só lhe diga que preciso de tempo. Não quero que apareça por aqui. Não quero encará-lo neste momento. Preciso chorar sozinha.
Gee abriu a boca para protestar, mas a fechou quando a olhei com frieza.
— Bom, está bem. Se é assim como se sente...
— É.
— Dizer que está zangada seria dizer pouco, — disse Gee, enquanto entrava no quintal de Miranda, onde eu estive esperando desde que foi falar com Pagan. Não me sentiria bem interrompendo Pagan quando ela se encontrava no quarto de Miranda. Em vez disso, enviei Gee.
—O que lhe disse? — O frio temor de ter machucado os sentimentos que Pagan tinha por mim estiveram me consumindo por dentro desde que tomei a alma de Wyatt. Se tão somente tivesse prestado atenção à ordem do dia e reconhecer seu nome... Mas não o fiz. Esta tinha sido a primeira vez que tinha passado por cima de algo como isto. Sempre reconhecia às almas que representavam algo importante. Não podia entender como pude ter perdido a alma de Wyatt. Sua morte me surpreendeu tanto quanto aos outros. Se soubesse, prepararia Pagan.
Quando cheguei ao campo de futebol e encontrei o corpo do Wyatt, quase me neguei a levar sua alma. Mas enquanto estava ali, vendo Pagan, dei-me conta de que não podia. Tinham me dado uma oportunidade, depois de romper as regras. Não me dariam outra. E eu não podia deixá-la.
Minha natureza egoísta se impôs. Incapaz de olhá-la nos olhos agachei-me e tirei a alma do corpo sem vida. Conhecia esta alma desde antes. A alma de Miranda era seu par. Sua dor seria muito profunda,
porque perdeu uma parte de si mesmo. Odiava saber que eu tinha algo a ver com isso.
— Está desgostosa, Dank. Agora mesmo, o fato de que você seja A Morte a faz ver e entender de forma diferente. Até agora, nunca tinha dado conta de seu objetivo, já que nunca antes afastou a alguém dela. Agora, sabe. E está lutando com o fato de que a maioria dos seres humanos odeia, temem e se acovardam frente À Morte, e está apaixonada por ela.
A auto aversão se apoderou de mim, e abaixei a minha cabeça. Isto era inevitável. A Morte não era algo que os humanos quisessem. Agora, minha Pagan descobriu quão difícil era em realidade me querer. Hoje destrocei seu mundo e o deixei em pedaços, e não havia nenhuma maldita coisa que pudesse fazer para arrumá-lo.
— Te ama, Dankmar. Sei que o ama. Mas isto não vai ser fácil de assimilar para ela. É um conceito complicado para mim, e não sou humana. Seu cérebro humano necessitará de um período comprido para acostumar-se a tudo isto. Só lhe dê tempo, e espaço.
Espaço? Como se supõe que vou lhe dar espaço? Não posso estar sem ela umas horas. Como posso retroceder e esperar?
— Como? — perguntei, levantando a vista para olhar Gee.
Esperava que, uma vez em sua vida, tivesse algo inteligente a dizer.
— Como? Pois, demônios, Dank, acha que me pareço com o louco Criador? Não sei. Simplesmente faça.
— Simplesmente faça... — Repeti, olhando para a janela, de onde podia sentir os batimentos do coração de Pagan. Ela estaria a salvo ali. Teria que lhe dar tempo para aceitar o que sou. Esperava que não tomasse muito.
— Ficará aqui e cuidará dela? — Precisava saber que alguém a cuidaria enquanto lhe dava um pouco de espaço.
Gee revirou seus olhos e pôs uma mão em seu quadril. — Sabe que o farei. Eu também estou preocupada com ela, Dank. Não vou a nenhuma parte. E aposto que Pagan agora mesmo não queira ter você ao seu lado como uma carga pesada, por que não vai tratar com alguns espíritos vodu e chutar traseiros?
Isso era o primeiro em minha agenda. — É o que pretendo fazer. Depois disto, enfrentar Leif é a última coisa que necessita. Tenho que encontrar uma forma de me desfazer dele.
Deixando escapar um suspiro de alívio, Gee assentiu, estando de acordo comigo. — Sim, deve fazê-lo, e este é o momento perfeito para isso.
s funerárias costumavam ser lugares dos quais me afastava, porque as almas errantes tendiam a entupi-las. Hoje, entretanto, sentei-me ao lado do Miranda, sustentando sua mão firmemente entre as minhas. Puseram-nos na seção familiar da mãe de Wyatt. Ela disse que nós duas fomos tão próximas dele como qualquer um da família. Tendo em conta que estivemos juntos desde o jardim de infância, tive que concordar. O Halloween que nos vestimos como os Três Mosqueteiros me veio à mente e um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Não tinha sentido vontade de sorrir nos últimos dois dias. Miranda e eu tínhamos chorado juntas. Ontem passamos duas horas falando de diferentes coisas que Wyatt fazia para nos fazer rir nos últimos anos. Tinha sido agridoce recordá-lo. Depois de um tempo, Miranda ficou tão nervosa que sua mãe lhe deu um comprimido para dormir.
Também tinha o fato de que sentia saudades de Dank. Quase parecia como se estivesse traindo Wyatt ao sentir saudades de Dank, mas não podia evitá-lo. Amava-o. Mas no momento, não me sentia preparada para enfrentá-lo. Talvez depois de enterrarmos Wyatt e nos adaptarmos à vida sem ele, seria capaz de falar com Dank. De olhá-lo aos olhos e não gritar de fúria. Tive tempo suficiente para pensar nisso e sabia que existia uma razão para qual Dank não me contar isso. Mas ainda não estou pronta para escutar essa razão.
Minha atenção se desviou para Leif enquanto ele entrava e abraçava à mãe do Wyatt, depois apertou a mão do pai de Wyatt, antes de tomar um assento entre os outros estudantes que tinham chegado hoje. O que era quase todo mundo. Ele caminhou entre eles como se fosse mais um. Como se se preocupasse com a morte de Wyatt. Isto me fez zangar-me, pensei em como se sentia desrespeitosa a sua presença. Wyatt pensava que Leif fosse seu amigo. Confiou em Leif. Mas todo o tempo, Wyatt foi uma ferramenta para Leif. Uma maneira de aproximarse de mim. Afastei minha atenção de Leif, antes que lhe exigisse respostas, eu olhei a funerária.
O funeral começaria dentro de uns trinta minutos. Então, todos estariam de pé. Meu olhar passou por cima de todos e os reconheci da escola. Alguns eu conhecia, outros não. É curioso como quando um de nós morre, todos nos unimos como um só. Inclusive se não nos conhecíamos uns aos outros ou se nos odiávamos, reuníamos para esse dia.
Procurei a minha mãe. Ela voltou para casa tão logo se inteirou e partiria de novo amanhã. Assegurei-lhe que não deixaria Miranda durante uns dias, assim não havia necessidade de que ficasse em casa e perdesse os dois últimos dias da convenção por mim. Estava sentada junto à mãe e ao pai de Miranda. Alegrei-me de que estivesse aqui. Vêla dava um pouco da força que tanto necessitava.
As portas se abriram e entrou alguém que não esperava que estivesse hoje aqui. Jay Potts tinha sido meu namorado desde a nona série até o final da escola ano passado, quando decidiu ir à universidade e seus pais se mudaram também. Rompemos porque as relações à longa distância nunca funcionam. Ao ver Jay passear pelo corredor senti as lágrimas nos olhos. Nós quatro, Miranda, Wyatt, Jay e eu tínhamos sido um grupo desde o primeiro ano até o final de nosso terceiro ano do Ensino Médio. Assim, muito das minhas lembranças do Ensino Médio das quais Wyatt estava, Jay também estava. Seus olhos marrons escuros encontraram os meus e me deu um sorriso triste.
— Jay está aqui. — Sussurrou Miranda enquanto levantava a cabeça e o olhava falar com os pais de Wyatt.
— Sei. — Parecia lógico que ele estivesse aqui ao final. Wyatt ficaria encantado em vê-lo.
— Me alegro, — disse Miranda através de seu choro.
— Eu também. Simplesmente parece correto.
— Estou de acordo.
Miranda apoiou a cabeça sobre meu ombro e nos sentamos ali enquanto o Pastor falava e logo o caixão foi fechado e levado à tumba já preparada para Wyatt.
— Não posso vê-los baixá-lo a terra. — A ansiedade na voz de Miranda misturado com o tremor de seu corpo me disse que provavelmente era uma boa ideia estar tão longe quanto fosse possível.
Levei-a ao outro lado da funerária para que não pudéssemos ver a tumba.
— Vamos sentar aqui até que tenha terminado — Persuadi-a.
— Está bem. — Concordou e se deixou cair sobre o banco frio ao meu lado. — Isso foi horrível, Pagan.
— Sim, foi.
— Acredita que sua alma estará por aqui o tempo suficiente para vê-lo?
Sabia que não, mas não acredito que fosse a resposta que ela quisesse ouvir.
— Não sei. Talvez. Suponho que tudo é possível.
Ela assentiu com a cabeça e retorceu o lenço entre suas mãos.
Olhei por cima do cemitério e notei umas poucas almas perdidas abatendo-se sobre as tumbas. Aquelas eram as que tinham visto seu próprio funeral. Não quiseram ir. Alegrei-me de que Wyatt não tivesse resistido. Era mais fácil sabendo que ele ia ter outra vida logo.
— Por que está zangada com o Dank?
A pergunta de Miranda me surpreendeu. Não pensei que tivesse se dado conta de minha separação de Dank nos dois últimos dias. Tinha passado a maior parte de seu tempo chorando e dormindo.
— Nunca disse que estava zangada com o Dank, — respondi—lhe.
— Mas está. Não tem que dizer.
Suspirando, apoiei o queixo nas palmas de minhas mãos e me inclinei para frente, pressionando os cotovelos nos joelhos.
— Só um pequeno drama de relação. Nada do que valha a pena falar agora.
Miranda assentiu e se aproximou de meu lado.
—Te amo, Pagan. — Declarou com voz rouca.
— Eu também te amo.
Pagan e Miranda se sentaram lado a lado, de mãos dadas enquanto olhavam por cima do cemitério em frente a elas. Fiquei fora da vista de Pagan e as observei. Sabia que não queria me ver hoje aqui. O pensamento era difícil de assimilar. Ela passou a mão pelos cachos de Miranda em um gesto reconfortante que eu vi as mães utilizarem com seus filhos. Por mais que eu quisesse falar com ela, lhe explicar, sabia que, por agora, isto é o que tinha que fazer. Ajudava seu duelo consolar Miranda. Ambas perderam alguém especial em suas vidas. Wyatt, por ser a alma que estava conectada a Miranda trazia uma dor mais intensa, mas a alma de Pagan era uma semelhante a de Wyatt. Esta era a primeira vida de Pagan e a alma de Wyatt se conectava com a sua.
Miranda apoiou a cabeça no colo de Pagan e Pagan se aproximou e enxugou uma lágrima de seus olhos. Eu queria fazer isso por ela. Queria consolá-la. Mas não podia. Isto era tão difícil.
Um movimento pela extremidade de minha visão chamou minha atenção, e me voltei para ver um tipo fazendo seu caminho para as garotas. Era alto, com cabelo loiro comprido preso em um rabo de cavalo. O traje escuro que usava significava que esteve no funeral, mas não reconhecia este menino da escola. Pagan se fixou nele e Miranda estava agora sentada. As duas garotas se levantaram para saudá-lo. Vi como abraçou Miranda com força e ela chorou suavemente em seus braços enquanto lhe falava. Assegurava que Wyatt seguia ali, cuidando dela. Inclusive disse:
— Sabemos que não pode estar muito longe de ti. Sempre estará flutuando a seu redor, a protegendo.
A seguir, Miranda deu um passo atrás e ele voltou seu olhar para Pagan. O brilho translúcido que se entretece conectando as almas gêmeas, lentamente se envolveu ao redor de Pagan e do menino. Congelado no lugar, vi com horror como Pagan entrou em seus braços e ele a abraçou mais fortemente do que tinha sustentado Miranda. Com mais familiaridade. Ela esteve em seus braços antes. Quando Pagan deu um passo atrás, ele pareceu resistente a deixá-la ir. Minhas pernas começaram a mover-se. Isto não estava acontecendo. Sua alma podia ir procurar outra alma para conectar-se. Pagan era minha. Já tinha um espírito vodu enlouquecido reclamando-a, não necessitava uma maldita, alma humana fazendo o mesmo.
Os olhos de Pagan se elevaram e se encontraram com meus. Imediatamente, deu um passo atrás, pondo distância entre ela e o menino. Sabia que o azul em meus olhos havia, manifestado esta emoção. Não podia controlar seu brilho quanto não podia controlar minha ira. O menino finalmente afastou seu olhar de Pagan e voltou à cabeça para ver o que tinha chamado sua atenção. Uma pequena careta apareceu em seu rosto até que se fixou em meus olhos. Então, o medo que todos os seres humanos sentiam quando se encontravam com o olhar da Morte se apoderou de seu rosto. Isso amigo, sou a Morte, agora afaste-se de minha garota. Não disse nem uma palavra. Em troca, subi os degraus passando o menino e parei diante de Pagan.
Tragou saliva com nervosismo enquanto me olhava. Logo, seu olhar se deslocou para o menino que nos olhava.
— Um, Jay, este é Dank Walker, meu namorado.
Queria cair de joelhos e lhe pedir perdão. Ouvi-la ainda me reclamando como dela, enviou alívio através de meu frio corpo. Alcançando sua mão, apertei-a e acariciei brandamente o polegar ao lado de minha mão. Essa era toda a tranquilidade que necessitava. A alma atrás de mim, evidentemente, a alma destinada a ser seu companheiro aqui na terra, não significava nada, sempre e quando Pagan me quisesse.
— Dank, — disse, olhando para mim. Este é Jay Potts. É um, uh, meu amigo. Graduou-se o ano passado e foi à universidade. Ele e Wyatt eram muito próximos.
Jay Potts não tinha sido só seu amigo. Tinha sido seu namorado do momento em que era estudante de primeiro ano até que romperam no final do ano passado. Sabia que lhe preocupava me incomodar e não podia culpá-la, dado que tinha estado espreitando por aqui com os olhos brilhantes e grunhindo. Voltei à cabeça e o fulminei com o olhar. Não pude evitar nunca gostei deste menino.
— É um prazer conhece-lo, Jay — disse com calma.
Uma pequena risada veio de Miranda e senti o corpo de Pagan aliviar-se um pouco. Isto divertia Miranda e agora Pagan tolerava algo que pudesse pôr um sorriso no rosto de sua amiga.
— Um, sim, igualmente. — Estudou-me um minuto. Meus olhos já não brilhavam, por isso, provavelmente, ele tratava de decidir se o tinha imaginado. Seu cérebro humano lhe convenceria de que tinha sido o sol me pegando justo no rosto ou de alguma outra história inventada, com o fim de que tivesse sentido. Então, algo se iluminou em seus olhos. — Espera, Dan Walker, não é o cantor do Cold Soul?
A emoção e o assombro em sua voz fez com que Pagan se aliviasse por completo e movesse um pouco mais perto de mim. Não queria falar com este menino. Queria envolver meus braços ao redor dela e lhe pedir que me escutasse. Para que perdoasse o que eu era. Mas ela queria que esta reunião fosse boa. Podia lê-lo em suas emoções.
— Sim, sou eu, — respondi-lhe, mas tanto quanto a queria, não pude forçar um sorriso a sua maneira.
— De maneira nenhuma, oh, céus, uau. — Começou a revolver seus bolsos e tirou sua carteira. Uma velha entrada de um dos concertos do Cold Soul e uma caneta foram postos diante de minha cara. — Poderia assinar isto? Sou um grande fã. Meus irmãos de ATO não vão acreditar. Isto ajudará a não limpar pelo menos uma semana.
Antes que pudesse entender o que acabava de dizer Pagan respondeu:
— Oh, felicidades, Jay. Não sabia que estava na Alpha Tau Ômega. Isso é impressionante. Sei que era seu objetivo principal quando foi aceito na UT.
Era um Grego. Sabia o que era. Tinha estado em festas da fraternidade mais do que queria recordar, devido à estupidez de bêbados.
Jay sorriu mais para Pagan.
— Sim, a competência foi dura, mas a superei. — Estava ali de pé com a caneta e a entrada para o concerto em meu espaço pessoal.
Pagan apertou minha mão e logo deixou ir. Queria que fizesse isto. Está bem. Faria por ela, mas eu gostaria de fazê-lo a minha maneira.
Tomei o ingresso e a caneta e escrevi uma breve nota rabiscada para Jay, continuando com a assinatura que tinha adotado quando
comecei no grupo Cold Soul. Empurrei para ele e tomei a mão de Pagan de novo e levei aos lábios.
— Você está estranha — sussurrei e lágrimas brotaram de seus olhos. Beijei-lhe a mão, logo a soltei e a deixei ir. Havia um lugar aonde precisava ir. Nada ia interferir de novo entre nós. Sentia-me cansado de esperar que Leif fizesse um movimento. Queria terminar isto hoje.
Dando um passo atrás, assenti com a cabeça como despedida e deixei os três ali. Não me preocupei em deixar Jay com Pagan nesse momento. Estou seguro de que entenderia a mensagem quando lesse a entrada.
Depois de tudo, quando um homem diz:
Ela é minha. Esta é sua primeira e única advertência.
Dank Walker.
Sabe que se não estou preparado para uma briga que não pode ganhar, então será melhor que deixe a merda.
oje era o dia de São Valentim. E sabia que não havia nenhuma maneira de ser capaz de deixar Miranda para sair em um encontro com o Dank. Wyatt tinha planejado uma noite romântica e esteve irritando-a com pequenos bilhetes por semanas que deixavam pistas sobre o que fariam. Entrei no dormitório de Miranda, e ela tinha todos bilhetes sobre sua cama em um círculo a seu redor. O urso que tinha lhe dado ano passado estava situado em seu colo e o colar que tinha guardado tanto se encontrava em sua mão. Esfregava o afável diamante enquanto olhava os bilhetes em frente a ela.
Quando fechei a porta atrás de mim, sua cabeça levantou e um pequeno sorriso curvou seus lábios. — Olá, não a esperava aqui hoje. Não tem um encontro?
Neguei com a cabeça e me aproximei para me sentar na quina da cama, com cuidado de não mover ou me sentar em um desses pequenos pedaços de papel que agora eram tesouros.
— Não, hoje estou aqui contigo. Dank pode esperar. Acredito que necessita mais de mim do que ele, neste momento.
O sorriso de Miranda cambaleou e apertou o urso em seu colo mais firme. — Eu reli todas estas pistas um milhão de vezes e não pude entendê-lo. Planejou durante meses. A gente pensaria que... — sua voz se quebrou e respirou fundo, — a gente pensaria que devia ter descoberto qual era a surpresa para agora. Mas Wyatt era tão bom para guardar segredos. Não queria que eu averiguasse. Queria me surpreender.
Tinha razão, é obvio. Wyatt amava irritá-la. Irritava-a, inclusive quando éramos meninos.
Eu sempre tinha sido etiquetada como aquela que fazia as coisas divertidas e perigosas, e Miranda se parecia com uma boneca vestida de cor rosa, nos olhando com desaprovação. Ele apaixonou-se por ela naquele tempo. Naquele tempo. Era algo que ele não entendia, mas inclusive quando menino queria tocá-la. Tratava-a como a uma princesa dos contos de fadas. Algo frágil e precioso. Sempre revirei meus olhos com desgosto, mas recordando-os agora dessa maneira, isso me fez sorrir.
— Vou ficar bem, Pagan. Passou todos os dias comigo desde, desde então. —Interrompeu e tocou a imagem à direita de sua cama. Era Wyatt em seu uniforme de basquete, sorrindo brilhantemente com seu troféu do MVP do jogo do ano passado, do campeonato estadual.
— Saia com o Dank. Divirta-se. Por mim.
Não podia me divertir com o Dank sabendo que minha melhor amiga estava debruçada em sua cama com os bilhetes de seu namorado morto, enquanto chorava a sós. Tinha que tirá-la de casa.
— Tenho uma ideia melhor. Dank está ocupado esta noite. Liberei-o de nossos planos e decidiu que faria o concerto de Atlanta, que Cold Soul está fazendo esta noite. Originalmente, ele lhes disse que não podia ir, mas agora já se dirige para lá. — Bem era mentira, mas ela nunca saberia. — Então, você e eu vamos assar bolachas de chocolate e ver a primeira temporada inteira do The Vampire Diaries. — Não era uma fanática de The Vampire Diaries, mas Miranda era viciada na série. Tinha todas as temporadas no DVD e em iTunes. Podia vê-la em qualquer lugar que ela estivesse. Como já havia dito, era viciada.
Miranda apoiou o queixo na cabeça do urso e olhou por cima, para mim, através de suas largas pestanas que se frisavam à perfeição, sem absolutamente nenhum tipo de ajuda. — Está bem. Posso fazer isso. — Respondeu.
— É obvio que sim. Agora levante e vamos assaltar a despensa de sua avó por faíscas de chocolate. Talvez tenha algumas dessas faíscas de manteiga de amendoim ainda. Poderíamos fazer bolachas de manteiga de amendoim também.
Miranda colocou ao urso para baixo e pôs o adorável colar sobre a mesa, junto às fotografias de Wyatt.
Logo, rigorosamente reuniu cada bilhete disperso ao redor de sua cama, os contando para que não perdesse nenhum e os pôs então ao lado do colar. Uma vez que tinha terminado, se voltou para mim.
— Vamos cozinhar bolachas. Não como há dias.
O aroma de mofo, terra e o mal encontrou meu nariz quando entrei na cabana de madeira velha. O exterior podre da casa deixava difícil acreditar que não tivesse cedido, a algo tão simples como uma chuva torrencial. As paredes no interior não eram muito melhor do que esperava ver.
Prateleiras cheias de frascos de artigos destinados para feitiços e beberagens ridículas, com a intenção de curar o corpo, causar enfermidade, eliminar as lembranças e um sem fim de outros fins cobriam a maior parte das paredes. As pessoas valentes que se aventuravam nesta parte do pântano e caminhavam através desta porta eram os mais desesperados por uma resposta. A maioria das pessoas que conheciam o verdadeiro poder do vodu, mantinham-se afastadas. Não era um mal necessário para os seres humanos meterem-se nestes problemas. Poderia possui-lo, lhe roubar a alma se os permitisse.
A anciã que tinha vindo ver estava sentada junto ao fogo da fogueira e coberta por uma colcha de crochê. Levantou da cadeira de balanço e moveu-se no momento em que entrei na cabana. Ela me sentia. Inclusive alguém que viveu uma vida controlada pela união profana do vodu sabia quando A Morte estava perto.
Ela me esperaria em breve, mas não era seu tempo ainda.
Retornaria por ela há seu tempo e sua alma seria destinada ao Inferno pela eternidade. Disso estava seguro. Um médico vodu nunca obtinha outra vida. Uma vez que vendiam sua alma, esse era o resultado. Não há como voltar atrás. A taça de lata em suas mãos se assentava a seu lado em uma pequena mesa feita à mão. Pude ver o tremor de seus braços enquanto a colocava com cuidado.
— Minha carne arrepiada diz que você está aqui. Estou pronta para encarar minhas decisões. — A voz da anciã tremeu enquanto se dirigia para mim. Apareci diante dela, me apoiando no forno de carvão negro quente.
— Ah, entretanto, eu ainda não venho por sua alma, — disse arrastando as palavras no dialeto que sabia que a anciã entenderia facilmente.
Franzindo o cenho, olhou-me, a parte branca de seus olhos se sobressaiu contra a escuridão de sua pele.
— Crê que eu tola?
Rindo, neguei com a cabeça. — Muito bem, poderia entender com outras palavras, não estou aqui por ti ainda. Não irei antes que obtenha o que vim buscar.
— O que pode ser? Eu não morrer.
Assenti com a cabeça. — Não morrerá, esse não é o porquê eu estou aqui.
Ela se moveu em sua cadeira e tratou sem êxito sentar-se reta. Suas costas estavam tão encurvadas para frente que seu intento era impossível.
— Me diga o que quer e não dê voltas com isso. Eu não gosto que esteja aqui.
Não, estou seguro de que ela não me queria em sua casa. Eu era o final de sua vida. A única vida que ela conseguiria. Mas não estou aqui para apaziguar o medo de uma anciã. Estou aqui para saber o que exatamente fez a Pagan.
— Me fale a respeito da garota a quem salvou a vida...
A anciã começou a negar com a cabeça e um olhar de horror em seus olhos.
— Não, não posso fazê-lo. Um espírito salvou a essa garota, é ruim do pior.
— Sei que Ghede a salvou. Não é isso que estou perguntando. O que tem que fazer para que ele pare de amaldiçoar sua alma?
Suas mãos nodosas lutaram nervosamente com a manta em seu colo. Ghede era o senhor do espírito vodu dos mortos, o pai de Leif. Em sua religião era o fim de tudo. Apesar de que eu diante dela, não enfrentaria a mim por toda a eternidade. Eu simplesmente ia remover sua alma.
Ghede seria o senhor dela enquanto enfrentasse a sua eternidade.
— Qualquer coisa que Ghede faça, custa. Isso sua mãe sabia quando me obrigou a salvar essa dívida.
— Então, me diga o que pode fazer para mudá-la. — Exigi cada vez mais cansado de que esquivasse da pergunta.
Com um profundo suspiro, a mulher elevou seus olhos frágeis para encontrar meus. — Uma alma por uma alma é o que custa. Nada menos pode oferecer. Talvez custe mais. Ghede quer essa garota.
Saindo da casa em ruínas, tomei uma profunda baforada de ar. Embora não fosse exatamente ar fresco... Havia um aroma úmido rodeando a casa do médico vodu. Com um sorriso ante a ironia, olhei por cima do ombro uma vez mais, antes partir para ir convencer a Pagan de que precisava encarar à única pessoa que eu sabia entenderia as consequências das decisões dela. Antes que Ghede decidisse começar a exigir seu pagamento.
iranda tinha dormido depois de quatro episódios. Eu não podia dizer que não me sentia aliviada. Se eu tivesse que me sentar e assistir uma cena mais do Stefan e Elena ia gritar. A angústia era muito para mim neste momento. Desliguei a televisão e tirei uma manta que a mãe de Miranda mantinha enrolada no centro de entretenimento e a estendi sobre a silhueta adormecida de Miranda.
Tínhamos deixado um desastre na cozinha e embora esteja segura de que sua mãe estaria encantada que Miranda tivesse cozinhado e comido algumas bolachas, não queria deixar a confusão para que ela limpasse.
Recolhendo o prato grande com as bolachas e os dois copos de leite restantes, dirigi-me à cozinha. Uma vez que entrei na porta vi Leif sentado com os cotovelos apoiados sobre a mesa e o olhar fixo em mim, quase gritei e deixei cair tudo. Engoli o grito de sobressalto na garganta e evitei fazer uma confusão ainda maior na cozinha.
— O que está fazendo aqui? — perguntei, tratando de manter a calma à medida que me aproximava da pia e colocava os copos na água e sabão para logo colocar o prato de bolachas.
— Esperei até que ela dormisse para poder ver você. É Dia de São Valentim, sabe. Estive esperando anos para passá-lo contigo e fazer com que realmente se lembre. Este ia ser meu ano. Agora estaria comigo eternamente, se A Morte não tivesse perdido a cabeça uma vez que chegou a lhe dar uma olhada.
Pus uma mão em meu quadril e o olhei. Não me encontrava com humor para isto. Não agora. Não esta semana especialmente.
— Escuta Leif, sabe o que passei esta semana. Não pode respeitar isso e só retroceder? — repliquei.
Um olhar de ternura brilhou em seus olhos e baixou o olhar para suas mãos ainda apoiadas na mesa em frente a ele. — Sinto muito pela sua perda, Pagan. Mas se Dankmar não houvesse fodido com seu destino nunca teria experimentado a dor de perder Wyatt. Os dois tinham que ter sido as tragédias que afetassem a nossa pequena cidade neste ano escolar.
Minha mente imediatamente foi para Miranda. Ela havia perdido ambos. Oh, Deus, isso a teria devastado por completo. A teria derrubado. Mas Dank deteve isso. Pode não ter sido capaz de deter o destino de Wyatt, mas ele mudou o meu. Eu estou aqui para ajudar a curar Miranda, e ia ficar bem. Ela estaria.
— Bom, então, foi algo bom que Dank decidiu que valia a pena me salvar. Miranda nunca poderia ter dirigido duas perdas com meses de diferença.
Leif suspirou e se recostou na cadeira, deixando cair às mãos no seu colo. —Sempre pensa nos outros em primeiro lugar, Pagan?
Sua pergunta me surpreendeu. É obvio que não. Só uma pessoa desinteressada pensaria em outros primeiro, e eu não era desinteressada. Quando eu queria algo, ia atrás disso e fodia a quem se interpusesse em meu caminho. — Só ponho a quem amo primeiro, mas também a maioria das pessoas o faz.
Leif negou com a cabeça. — Não, não fazem. A maioria dos humanos fica antes inclusive daqueles a quem mais ama. É sua natureza. Esta conversa começava a ficar estranha. Queria que Leif fosse, para que pudesse limpar a cozinha e ir para cama.
— Basta dizer o que você veio dizer e ir, por favor. Não quero falar com você.
— Disse que queria passar o Dia de São Valentim contigo este ano. Inclusive trouxe presentes. — Brilhou seu sorriso torto e de um nada tirou uma dúzia de rosas vermelhas e negras junto com uma boneca de vodu real com um colar de prata ao redor de seu pequeno pescoço. O pendente que pendurava dela era um rubi talhado em forma de uma lua.
Elevei os olhos para olhá-lo, não estando segura do que pensar deste presente. — Trouxe-me uma boneca vodu e rosas negras? — Perguntei incrédula.
Leif se pôs a rir e recostou em sua cadeira. — Pensei que a faria rir. O colar é o verdadeiro presente. E as rosas também. Eu gosto das rosas negras. Recordam minha casa.
Retrocedendo um pouco até que o balcão inteiro estivesse entre os presentes e eu, vi-o aproximar-se. Não queria que ficasse em nenhum lugar perto de mim com esse colar. Sabia que o vodu era maior em talismãs e se isso era um talismã, não o queria perto de mim. Nenhum espírito ia me ter.
O sorriso divertido do Leif caiu em um cenho franzido. — Não acha que seja divertido, verdade? — A boneca vodu e as rosas negras se desvaneceram imediatamente e só uma dúzia de rosas vermelhas e rosadas se manteve junto com o colar que me aterrorizava.
— Um, não, é o colar o que quero que afaste de mim — Expliquei sem afastar meus olhos dele, enquanto repousava inofensivamente na sua mão.
— O colar? Tem medo do colar? Por quê?
— Porque não quero ser possuída por um espírito maligno — cuspi, retrocedendo um pouco mais. Perguntava-me se poderia gritar pela Gee e se ela me escutaria. Mas então correria o risco de despertar Miranda e isto não era algo que precisasse testemunhar.
Leif compreendeu e pôs-se a rir de novo. Isto não era gracioso. Por que tinha que ser tão gracioso todo o tempo?
— Acha que este colar é um talismã?
— Sim, não sou estúpida, Leif. Eu continuo com A Morte, você sabe.
Leif suspirou e colocou o colar sobre a mesa. — Nunca lhe faria mal. Já lhe disse isso, mas se nega a acreditar. — Não afastei os olhos dele enquanto ele permanecesse ali, estendendo o colar como se fosse uma peça preciosa, o qual só me convenceu mais que estava cheio de toda classe de maldade. Uma vez que o expôs na mesa a seu gosto, levantou os olhos aos meus. — Sabe, Pagan, o medo pode dar lugar ao amor.
Fiquei olhando o colar sobre a mesa sem saber o que fazer com ele. Diabos, até tinha medo de tocar as rosas que tinha deixado atrás.
Podia ser perigoso pega-lo e joga-lo fora? Talvez eu devesse deixar ali e ir procurar a Gee, ou melhor, ainda, o Dank.
Aproximando-me da porta, apareci na sala para ver se Miranda ainda estava profundamente adormecida. Bem. Tinha tempo de fazer algo com estes presentes antes que ela despertasse.
Sua voz me fez me mover do meu lugar no momento em que me chamou por meu nome. Imediatamente, estava de pé em frente a sua casa, me preparando para o enfrentamento que ia ter com sua mãe quando sua voz me chegou.
Encontrava-se na casa de Miranda, na varanda dos fundos quando a alcancei. Um grito afogado de surpresa lhe escapou e logo sorriu deixando escapar um suspiro que devia estar contendo. — Oh, isso foi rápido. Graças a Deus, — disse com pressa e correu para mim, me rodeando com seus braços ao redor de meu pescoço.
Até agora isto estava bem. Teria vindo muito antes, se soubesse que este era o tipo de recepção que teria. Empurrando-a com mais força contra meu peito, inalei o aroma de seu xampu e a beijei na têmpora. — Mmmm, isto é bom — disse em sua cabeça. Ela suspirou em meus braços e logo se afastou o suficiente para ver meu rosto.
— Temo que tudo vá ladeira abaixo a partir daqui. — Explicou.
Não era o que eu queria ouvir. Esperava que o próximo movimento fosse ela me pedindo que a beijasse e logo talvez levá-la para sua casa para que eu pudesse me embalar na cama com ela.
— Leif esteve aqui, — começou, e eu me estiquei, afastei a minha atenção dela para deixar que meus sentidos escanceassem a área por espíritos. Mas não senti nada. Salvo uma pequena geada em algum lugar próximo. Não era o suficientemente forte para ser um espírito real, mas não era bom tampouco. Segurando Pagan mais perto, vasculhei a mais indesejável presença e notei que algo se encontrava dentro da casa.
— Quem está lá dentro? — perguntei pondo Pagan atrás de mim e me dirigindo à porta de atrás.
— O que? Não, foi-se. Miranda está aí dormindo. — Pagan se apressou para manter-se atrás de mim, mas ante a menção de Miranda estando sozinha fechei a distância mais rápido do que um humano poderia possivelmente viajar, e abri a porta para encontrar a essência palpitante escura tombada na mesa da cozinha, na forma de uma lua. A pedra vermelha quase palpitava por tanta maldade. Rosas vermelhas jaziam a seu lado, por isso olhei para os artigos tratando de averiguar o que via.
— É por isso que o chamei. — Soprou Pagan depois, finalmente, chegando ao interior.
— O colar? — Perguntei.
— Sim, Leif o deixou e me dá medo tocá-lo.
Meus olhos se dirigiram de novo às rosas. Leif trouxe essas também? — Não é um colar. Tem parte de um espírito vodu. Não todo o ser, o suficiente para que quando estiver perto desse espírito sinta uma adesão a ele.
Escutei o assobio de sua respiração enquanto Pagan inalava.
— Sabia que era algo assim — murmurou com raiva. Lá estava minha garota e sua coragem. O príncipe do vodu tinha enchido seu saco. Se não estivesse tão irritada por essas malditas rosas, riria de mim.
— De onde vieram as rosas?
— De Leif, por quê? Estão cheias de merda maligna também?
Então Leif trouxe as rosas. Espera. Havia algo que tinha que recordar a respeito de hoje. As caixas de chocolate em forma de coração que tinha visto em todas as partes hoje enquanto recuperava as almas.
Era o dia de São Valentim.
E tinha me esquecido. Pois bem, demônios.
— Não, só são rosas. — Respondi-lhe. Não assinalei que eram formosas rosas. Da classe que só a magia pode produzir. Provavelmente nunca morram.
Seriam eternamente belas se ela as colocasse em um vaso em seu quarto. E então eu recordaria o terrível namorado que sou, cada vez que as visse. Por que esse espírito vodu é melhor nisto que eu?
— Mesmo assim não as quero. Posso queima-las?
Meu coração se sentiu tão pesado ao escutar seu desgosto. Estalei meus dedos e as rosas se incendiaram.
— Dank! O que está fazendo? Vai queimar a casa ou pelo menos a mesa — disse Pagan correndo a pia e olhei para trás para vê-la enchendo uma jarra de água. Minha garota não acreditou que protegeria a mesa. Estalei meus dedos para fazê-lo e o fogo se extinguiu sem deixar nada atrás. Nem sequer um pequeno monte de cinzas.
A água fechou atrás de mim e ouvi Pagan deixar escapar uma pequena risada. — Suponho que vi o fogo e não pensei bem nas coisas.
— Foi lindo. —Respondi e ela ruborizou adoravelmente.
— O que acontece com o colar? — perguntou com o olhar vacilante na pedra maligna sobre a mesa.
— Posso me desfazer disso com a mesma facilidade, se prometer não correr a pia por uma jarra de água nesta ocasião — brinquei.
Pagan riu e assentiu com a cabeça. — Acredito que posso me segurar. Nem sequer me incomodei em estalar esta vez. Em troca, fiquei olhando-o enquanto as chamas entraram em erupção e em questão de segundos nada ficou.
Uma vez que já não tinha ficado nada de Leif, voltei minha atenção completa para Pagan.
— Lamento ter perdido o dia de São Valentim.
Ela sorriu. — Está bem. Passei a maior parte do dia com Miranda. Comemos bolachas e vimos The Vampire Diaries.
Colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha, recordei que tinha algo para ela. Estava esperando o momento perfeito para mostrarlhe e não podia pensar em um melhor momento que agora. — Vem para fora comigo, tenho algo para você. — Sussurrei antes de me inclinar e pressionar um casto beijo em seus lábios.
— Está bem — sua voz era suave e tênue. Eu gostei de saber que ainda lhe afetava, inclusive depois de tudo o que lhe tinha feito passar.
Sustentando sua mão, levei-a para fora e descemos as escadas da varanda dos fundos até que estávamos no jardim localizado no lugar mais afastado do pátio de Miranda. Assenti com a cabeça a um dos bancos de pedra ornamentados que se alinhavam no jardim e logo ela chegou atrás de mim com um sorriso. A suave textura rangente do papel de presente que ela tinha escolhido encheu minhas mãos e o mostrei vendo como seus olhos se iluminavam ao ver o pacote de cor azul pálido brilhando.
— Bonito truque. — Ela brincou, sorrindo para mim.
Ajoelhei-me em frente a ela e pus a caixa em suas mãos. — Sim, bom, sou bom para alguns shows de entretenimento de vez em quando.
Mordendo o lábio inferior com ansiedade tomou. — Quase me dá tristeza abrir o papel. É bonito.
—Vou lhe comprar um rolo inteiro, Pagan. Só abre.
Assentindo, rasgou o lado e o papel ficou no esquecimento, à medida que caiu ao chão. A caixa de cetim branco ficou assentada em seu colo enquanto pouco a pouco abria a tampa. Não estava seguro se recordaria exatamente o que era, mas pensei em esperar e ver se descobria isto por sua conta.
Pagan levantou o broche de ouro pequeno da caixa.
O brilho de emoção em seu rosto me disse que procurava através das lembranças, procurando onde tinha visto o broche em sua mão. Estive guardando-o por mais de quinze anos. Reverentemente tocou as pedras de cristal de cor rosa que decoravam o coração em forma de filigrana.
— A vovó me deu isso. Eu me encontrava doente e no hospital, e ela tinha ido ficar com mamãe no hotel próximo. Alternavam-se para estar comigo. Então, a vovó teve que ir para sua casa porque seu coração a incomodava e seu médico a queria em casa sob observação. Foi o dia que trouxe este broche. Chorava tanto quando me disse que o sustentara perto do meu coração sempre. Assim eu sempre saberia que ela me amava.
Pagan levantou o olhar assombrado para mim. — Então, quando... quando... — calou-se sacudindo a cabeça em frustração. A lembrança estava ali. Sabia que estava e queria que ela recordasse sem minha ajuda. Era algo que eu tinha esperado pacientemente que recordasse desde que tinha descoberto exatamente quem eu era.
Seus olhos verdes expressivos mostraram emoções tão diferentes. Finalmente, abriu a boca e sussurrou: — Ai meu deus! — E soube que tinha recordado.
— Então você, Dank, você deve ter falado comigo. Para me dizer que ia morrer, mas que obteria outra vida. Meu corpo estava doente. Que quando retornasse enviara-me a outro lugar e voltaria de novo.
— Ai, Meu deus! — Pagan se deteve e respirou fundo.
— Eu lhe dei este broche. Disse que o queria levar comigo. Disse que poderia arrumá-lo e o meti em seu bolso... mas...
— Mas nunca voltei a vê-la. Porque sua alma foi apagada da lista. A única razão pela que me lembrei de você foi por causa deste broche. Sabia que tinha sido uma alma que se salvou. Às vezes isso acontece. É estranho, mas às vezes o Criador muda de opinião. Pensei que tinha acontecido isso. Então me agarrei a esse broche que uma menina me deu que queria levar algo desta vida para a seguinte. Pensei que uma vez que seu nome aparecesse nos livros de novo, me asseguraria de que obtivesse seu broche, justo como o solicitou. Entretanto, seu nome apareceu muito antes do que esperava. Isso me intrigou. Não podia entender por que o Criador deteria sua morte como uma menina para tomá-la só uns poucos anos mais tarde perto da idade adulta. Portanto, vim para vê-la. Para ver o que aconteceu com esta alma que era tão única. Por que tinha quebrado todos os moldes que me tinha acostumado ao longo de minha existência.
A mão de Pagan cobriu sua boca quando um pequeno soluço escapou. Não tinha a intenção de fazê-la chorar. Só queria lhe dar algo que uma vez foi muito querido.
— Oh, Dank — exclamou deitando-se em meus braços. — Não posso acreditar que não me lembrava de você.
Chorava porque esqueceu que conheceu A Morte quando era menina?
Sustentando-a em meus braços, fiquei sem palavras. Como a consolava por algo como isto?
— Este é o presente mais precioso e perfeito que jamais tenha recebido de uma pessoa. Deu-me uma lembrança que recordarei para sempre. Deu-me algo de minha avó que eu não sabia que tinha. O guardou e o trouxe de novo até mim. Isto me trouxe até você.
Senti uma umidade em meus olhos e pisquei confuso pela estranha sensação. Uma gota d’água correu por minha bochecha. Olhei para a escuridão, enquanto sustentava Pagan em meus braços, com assombro.
A Morte acabava de derramar uma lágrima.
pequena margarida amarela que tirei do ramo de mamãe, que seu namorado lhe trouxe, parecia um pouco triste sem todas suas pétalas. Fiz girar o caule entre meus dedos e franzi o cenho. Flores estúpidas. Doces estúpidos. Estúpidos coelhinhos de pelúcia com sua estúpida pele roxa. Ah, e globos estúpidos, estúpidos em forma de coração.
Tudo era uma estupidez.
Coloquei o caule na minha mão, no riacho atrás de minha casa.
A margarida danificada flutuou por um momento, enquanto a rápida corrente a levava até que vi que afundava lentamente na superfície barrosa. Merecia por ser estúpida, pensei com birra. Cruzando meus braços vazios, fulminei com o olhar a água à medida que passava correndo. Não tinha nada mais que fazer.
Então, terminei aqui com todas essas coisas estúpidas no dia de hoje.
— Não teve um bom dia? — Perguntou uma voz familiar atrás de mim. Dei a volta e vi um moço loiro com amistosos olhos azuis, sorrindome. Senti que o conhecia, mas não pude averiguar de onde o tinha visto antes.
Talvez jogasse em uma das outras equipes que tinham jogado beisebol este ano. É difícil de reconhecer às pessoas quando não têm sua boina de beisebol e uniforme. Fora dali, todos têm o mesmo aspecto. Comecei a responder até que notei o cão de pelúcia branco e esponjoso em sua mão. O animal de pelúcia tinha um coração vermelho cheio de doces de chocolate em suas patas.
Inclusive ele recebeu um estúpido presente de São Valentim. Decidi que não queria falar com ele e dei à volta para olhar para a água. Talvez se ele se desse conta de que eu era grosseira, iria embora.
—Tem algo contra os animais de pelúcia e chocolates? — Perguntou em um tom divertido. Não pensava que era gracioso. Nem um pouco. Menino estúpido com seu estúpido presente de São Valentim. De uma garota estúpida.
— Sim, o que acontece se tiver? — Respondi em um tom azedo.
— Bom, parece cômico que tenha problemas com essas coisas. Quero dizer há um monte de coisas que as pessoas não gostam. Serpentes, por exemplo, ou aranhas. — Estremeci me fazendo revirar os olhos.
— Posso desgostar do que quiser, não é assim? É um país livre.
Pigarreou e soou suspeitosamente como se estivesse ocultando um sorriso. Tinha muitas vontades de lhe bater e ver se pensava que era gracioso. Porque sabia que eu poderia lançar um gancho direito melhor que a maioria dos meninos de minha rua.
Não, ele não riria de tudo depois que o golpeasse.
— Acredito que pode. Tenho curiosidade de por que odeia estas coisas. À maioria das meninas gostam. — O fato de que já não soasse brincalhão, a não ser realmente confuso, salvou-o de meu punho.
— Quer saber por quê? — Perguntei, mudando meu olhar furioso para a sua direção. —Direi por que. — Franzi o cenho, tragando o nó na garganta. Odiava que isto realmente me desse vontade de chorar. As lágrimas eram para covardes estúpidos.
— Estou escutando. — O menino me convenceu.
— Porque isso é a única coisa que todo mundo fala hoje. Todos andam por ai com seus corações de chocolate e ursos de pelúcia e coelhinhos, inclusive estúpidos, enquanto caminham pelos corredores. Balões atados às cadeiras com essas bregas linhas estúpidas "Te amo" neles. Quero dizer, realmente, temos nove. Não amamos a ninguém ainda. Pelo menos não DESSA maneira. E para piorar as coisas, o estúpido traseiro do Jeff deu a Miranda, minha melhor amiga, um coelho de cor púrpura com um grande balão unido e uma grande caixa de chocolates. E ela compartilhou um pedaço de seu doce comigo? NÃO! Não o fez. Disse que não seria romântico dar de presente um doce de seu São Valentim. Logo, quando lhe pedi para sentir a suave pele de seu coelho, negou com a cabeça e o aconchegou contra ela como se tivesse uma enfermidade que lhe pudesse contagiar. Que tão absurdo é isso? Né?
Certamente ridículo. Logo, volto para casa e minha mamãe ainda tem um grande buquê de flores e uma caixa com forma de coração sobre a mesa de parte de seu namorado. Estava segura que conseguiria um caramelo então. MAS NÃO! A caixa se encontrava vazia. Comeu tudo. Por que mantém uma estúpida caixa vazia?
Deixei meu furioso discurso o tempo suficiente para olhar sobre meu ombro para o menino através de meu cabelo e ver se ele me olhava como a um bebê chorão. Mas ele tinha esse sorriso estúpido em sua cara outra vez. Eu acho que, dado a que ele recebeu chocolates, pensou que o fato de eu não os receber era divertido.
Dei a volta pensando em lhe bater de todas as formas ou lhe dizer que fosse embora e voltar a entrar. Entretanto, sustentou o cachorrinho cuja pele parecia realmente mais suave que a do coelhinho púrpura que Miranda tinha recebido do Jeff e a caixa de bombons para mim.
Confusa, levantei meu olhar para ele.
— Isto é para você. Pode sentir a pele tudo o que queira e comer cada um desses bombons. É tudo para você. Trouxe para você... Quer dizer, se quiser.
— Para mim? Mas, por que para mim? Nem sequer me conhece — balbuciei, querendo desesperadamente me aproximar e tomar os presentes. Tinha muita vontade de comer o chocolate.
— É o Dia de São Valentim e bom, estive te observando há muito tempo e você é a única pessoa que quero que seja meu São Valentim.
Meus olhos se abriram e o broche de ouro sobre a escrivaninha ao lado de minha cama brilhou com as correntes de luz da madrugada. Lembrei-me desse São Valentim. Sentia-me mal porque ninguém queria que eu fosse seu São Valentim. Todas as meninas na escola tinham recebido algo de algum menino. Inclusive Wyatt tinha dado algo a Julie Thursby. Mas eu não tinha conseguido nada. Wyatt havia dito aos meninos que não era uma menina porque podia correr mais rápido que eles e batia um balão além do possível. Mas até me incomodava.
Leif soube e havia me trazido algo.
Tinha comido cada um desses bombons antes de ir para cama nessa noite. Milagrosamente, não tinha me dado uma dor de estômago como o que mamãe disse que me daria quando lhe confessei no jantar que me enchi de chocolate. Lembranças como esta fazia muito difícil
temer Leif. Ele realmente foi muito bom comigo toda minha vida. Talvez não fossem todos os defeitos.
Esse fato me recordou que queria levar minha alma ao Inferno.
Talvez essa não fosse a forma como ele via, mas era a forma como eu o via. E estar perto dele quando não estava em sua forma de "ser humano" me deixava arrepiada. Odiava a sensação que se apoderava de mim quando ele estava perto. Os pelos de meus braços e pescoço se arrepiavam e retrocedia imediatamente.
Pensando no Dia de São Valentim, recordei o cachorrinho. Encontrava-se no sótão, em algum lugar de uma caixa. Não tinha sido capaz de me desfazer dele quando já tinha descartado todos meus brinquedos infantis. Não podia recordar onde o tinha conseguido, mas sempre me pareceu muito especial para mim. Como se não pudesse me desfazer dele. Realmente tive um momento difícil ao deixá-lo no apartamento de cobertura. Agora a ideia de que um presente de um espírito vodu estivesse em minha casa era inquietante. Tinha que tirálo. Claro que tinha dormido com ele durante anos, mas isso era antes. Isto é agora. Queria-o fora.
Sentada na cama, decidi que teria que esperar e ver se Gee ou Dank se apresentava hoje. Disse-lhe que tinha a intenção de voltar para casa ontem de noite, mas que não era seguro. Ele pensava que estava ali com Miranda e disse que ele e Gee se alternavam para vigiar a casa. Fiquei esperando que Gee aparecesse do nada, mas ela não o fez.
Então, arrastei-me na cama e adormeci.
A porta de meu dormitório se abriu e andando com passo majestoso entrou Gee.
— Então está aqui. Estou vigiando a casa da Miranda sem prestar atenção a algo da noite, porque estou cansada de minha engenhosidade. Logo, dou conta de que definitivamente não a sinto ali. Então faço uma comprovação rápida, e adivinha o que? Não estava lá, Pagan. — Posou seu olhar sobre mim, se deixando cair na cadeira da esquina e cruzando as pernas. — Portanto, venho aqui para dar uma olhada e olhe, aqui está. Perdi uma noite inteira no quintal de Miranda, quando poderia estar comendo em sua cozinha e vendo o chuta traseiros do Chuck Bass 10 na televisão. — Sorriu divertida com ela
10 É um dos protagonistas da série norte-americana Gossip Girl, apoiado nos livros homônimos.
mesma. — Rima. Chuta traseiros do Chuck Bass 11. — Revirando meus olhos, levantei e me aproximei do armário para pegar um pulôver. Se Gee estava aqui, então, poderíamos ir procurar esse cachorro de pelúcia no sótão.
— Aonde vai? Acabo de chegar. — Gee grunhiu.
— Vamos ao sótão. Tenho um cachorro de pelúcia lá em cima que Leif me deu e o quero fora.
— O que?
— Só vamos Gee, explicarei enquanto procuramos.
— Dankmar, preciso falar contigo. — Parei em frente à casa de Pagan e me virei para ver Jasyln. A ansiedade em seu rosto era alarmante. Os transportadores normalmente não tinham problemas reais. Gee era uma exceção porque ela tinha feito amizade com uma humana. Jasyln era uma transportadora típica. Seu único objetivo era dirigir as almas.
— O que passa Jaslyn? Não tenho muito tempo.
— Sei senhor, mas realmente tem que escutar o que tenho que dizer ou umm... explicar. — Olhou nervosamente para a casa. — Tem que ver com seu um... a alma, né...
— Tem haver com Pagan, a garota que amo. — Terminei por ela.
Ela não estava segura da terminologia, já que nunca havia sentido a emoção.
— Sim, Pagan. Já vê... — O giro nervoso de suas mãos começava a me incomodar.
— Fala Jaslyn. Se se tratar de Pagan, então preciso saber agora.
— Assentiu com a cabeça rapidamente como um menino desobediente que acaba de ser repreendido e olhou para o chão.
11 Em ingles: Bad ass Chuck Bass
— Olha senhor, o menino cuja alma foi transportada. Ele conhece Pagan. Ele, né, não devia morrer. Esse não era seu destino. Não chegou muito longe antes que sua alma morra em pedaços...
— O QUE quer dizer com que não devia morrer? Seu corpo já não era utilizável. Senti-me atraído para ali. Sua alma podia então manterse em seu corpo para esperar a minha chegada. E a que refere com PERDEU sua alma? — Não pude evitar o rugido que saiu de meu corpo. Isto não tinha nenhum sentido. Ficou louca Jaslyn?
— Sim, sei senhor, senti-me atraída para ali também. Mas algo aconteceu. Outro poder o levou. O poder tinha o direito devido a uma... uma restituição. — O gelo encheu minha couraça vazia com a compreensão, foi quando caiu a ficha. A restituição pedia uma alma por uma alma. Uma que estivesse perto do coração de Pagan.
—Não. — Olhei, espreitando a porta pela qual estive a ponto de entrar só uns minutos antes. Isto não podia estar acontecendo. Wyatt não podia ser uma alma do Ghede devido a Pagan. Ela nunca seria capaz de viver com isso se soubesse.
Entretanto, poderia afastá-la disto? Tinha que conseguir a alma do Wyatt de volta. Ele não poderia ser capaz de voltar para esta vida, mas sua alma pertencia ao Criador. Wyatt não tinha feito nada de errado. Nunca tinha se vendido ao Ghede.
— Dankmar, senhor, não é tudo. — O suave sussurro de Jaslyn cortou-me como lâminas de barbear. Isto não poderia ser pior.
— O que? — Sussurrei olhando-a.
— O Criador. Ele quer vê-lo. Agora.
cho que possivelmente morrerei por inalação de pó. — Queixou-se Gee enquanto abria outra caixa das dezenas de caixas de papelão que minha mãe tinha colocado aqui nos últimos anos.
— Oh, deixa de ser tão dramática! O que é um pouco de pó? Esteve em edifícios em chamas.
— Sim, bom, porque é minha obrigação. É meu trabalho. Entretanto, meu trabalho não diz que tenha que fazer trabalho manual em um sótão com um ser humano. — Rindo de mim mesmo, abri a caixa que acabava de descer da pilha longamente perigosa que minha mãe tinha feito. Quero dizer, entendo que ela trate de economizar espaço aqui, mas uma pilha de caixas que quase tocava o teto não era exatamente uma decisão inteligente.
— Quer que procure nesta? — perguntou Gee enquanto deixava a caixa que tinha baixado a um lado.
— Sim, por favor.
— E é um cachorro de pelúcia branco, não?
— Sim... Bom, possivelmente já não seja exatamente branco. Passaram muitos anos, assim a pele pode estar um pouco descolorida agora. — Gee grunhiu para si enquanto começava a procurar em sua caixa.
Movi-me atrás dos artigos que tinha empacotado faz só oito anos, porque tinha sido incapaz de me fazer dá-los para caridade. Uma bolsa pequena com letras de lentejoulas que diziam Las Vegas me fez sorrir. Minha mãe me levou a uma convenção de escritores uma vez. Foi um das últimas viagens que fiz com ela. Sempre me aborrecia, mas na viagem a Las Vegas conheci um amigo... Acredito. Sacudindo a cabeça, coloquei-a de lado e encontrei uma camiseta dos Backstreet Boys que ganhei num natal. Deus, eu tinha sido uma idiota. Depois, encontrei uma caixa de sapatos que soube sem olhar que continha as cartas que Miranda e eu trocávamos na escola.
Tinha de coisas inúteis e interessantes, tais como: "Acho que gosta do Kylie?" Ou "Viu a maneira que o traseiro do Ashley está nessas calças jeans, Deveria fazer dieta", ou minha favorita, "Acho que a senhora Nordman tem um cabelo novo no queixo hoje?" Sim, essa caixa de sapatos não tinha preço. Infelizmente, não havia um cachorrinho de pelúcia. Frustrada, fechei a caixa e a deixe de lado.
— Bom isto foi um fracasso... — Golpeie minha mão sobre minha boca para não dar uma gargalhada.
Gee posava frente ao espelho que uma vez esteve em meu dormitório de "princesa". Mas essa não era a parte divertida. Gee encontrou minhas roupas de vestir, que eu não quis me separar quando tinha dez anos, mas já não as queria no meu quarto. Pôs meu vestido de sino com um par de saltos de Branca de Neve que não encaixava nem de longe em seu pé. Em sua cabeça levava o véu que tinha ido com meu traje da Jasmine.
— Como estou? — Perguntou rodando mais rápido do que um ser humano seria capaz de fazer com a saia de Sino flutuando em frente dela. Eu sempre rodava nesse vestido também, tentando com todas minhas forças sem conseguir que se destacasse à perfeição.
— Fabuloso, deveria usá-lo para trabalhar. — Disse e logo soltei uma grande gargalhada.
— Não sei o que Dank pensaria se me apresentasse brilhando como se tivesse pronta para uma viagem a Disney World. Temeria enviar a alma comigo. — Sentei-me na caixa atrás de mim, não podia parar de rir ao vê-la vestida tão ridícula.
— Assustaria-o... Até a morte! — Ri mais forte ante meu próprio pequeno trocadilho. Gee começou a dizer algo mais quando um som atrás de mim converteu minha risada em um pequeno chiado.
— Que diabos, Jaslyn? Esta não é uma festa — Queixou-se Gee e me aliviou um pouco saber que Gee conhecia a ruiva pálida que apareceu em meu sótão. Suas feições perfeitas, translúcidas, eram tão similares as de Gee, quando estava no modo de "portador" que rapidamente somei dois mais dois.
— Sinto muito, Gee — Parou e lentamente olhou o vestuário de Gee com o cenho franzido, e confusão em seu rosto.
— Deixa de tolices Jas e me diga por que está aqui — A curtou Gee, fez os objetos de vestir desapareceram de seu corpo e uma vez mais estava vestida com suas calças jeans, suéter com capuz e botas.
— Oh, né, sim... Bom, uh, Dankmar necessita de você. — A atenção de Gee se desviou da portadora para mim.
— E quanto a Pagan?
— Oh, né, não disse nada. Só disse que necessitava de você. — O cenho franzido no rosto do Gee me disse que não estava tão segura disto. Mas se Dank pediu por ela, então devia ser importante.
— Irei passar o dia com Miranda. Podemos procurar o cachor... A coisa mais tarde. — Comecei a falar. Gee assentiu com a cabeça para mim.
— Bom, vamos agora, antes que eu vá. Não precisa ficar aqui sozinha.
— Está bem.
Me dirigi às escadas, então olhei para Gee para lhe pedir que, por favor, me deixasse saber se algo andava mal, mas ela falava em voz baixa com a Jaslyn em uma conversa muito intensa, por isso as deixei sozinhas. Gee não demoraria muito. Dank não a deixaria ir por muito tempo.
Além disso, Dank estava bem. Ele era A Morte. Não há com o que me preocupar.
—O que está acontecendo Dankmar? — Exigiu Gee, na sua chegada com a Jasyln no cemitério fora da pequena funerária na cidade de Pagan. Veio à tumba de Wyatt para ver se havia algum rastro de atividade. Sua alma não ficou vagando pela terra. O único outro lugar no que poderia estar era com o Ghede no Vilokan. Se for assim, encontrava-se completamente fora do radar. Encontrá-lo seria quase
impossível. Nenhuma deidade ou ser criado pelo Criador tinha estado nunca no Vilokan. A ilha sob o mar era para os espíritos do vodu e as almas que reclamavam na terra.
— Wyatt. Sua alma não devia ser tomada. Ele nunca esteve nos livros. — Continuava soando incrível quando o dizia. Inclusive depois de falar com o Criador. As decisões tinham sido tomadas. Com o poder da restituição no lado do Ghede, isto poderia piorar.
— O quê? — Seu tom de incredulidade não me surpreendeu. Eu tive a mesma reação. Isto nunca tinha acontecido. E se não encontrasse uma maneira de detê-lo, o Criador esperaria que entregasse a Pagan ou a sua mãe ao Ghede. Nenhuma das duas era uma opção.
— Ghede, ele tomou a alma de Wyatt pela restituição de Pagan. O Criador não acredita que vá parar ai. Wyatt foi uma advertência para mim ou para Pagan. Não se deterá até ter Pagan em suas garras.
Gee se deixou cair na lápide detrás dela. — Oh, merda.
— Não quero que diga a Pagan ainda. Não se pudermos arrumar isto sem que ela saiba. As implicações da morte de Wyatt seriam muitas para que ela aguentasse. Iria se sacrificar sem dúvidas. Não permitirei. Pararei isto.
Gee assentiu com a cabeça totalmente de acordo. Sabia que podia contar com ela. Jaslyn pelo contrário, estaria disposta a oferecer Pagan em uma bandeja de prata. Ela não entendia, mas mesmo assim era difícil tê-la perto de mim. Queria saciar minha irritação em alguém e sua indiferença a punha direto no caminho da minha ira.
— Onde está Pagan agora? — Perguntei, variando meu cenho franzido, de Jaslyn para Gee, e de novo.
— Ela está com Miranda — assegurou-me.
Estava bem. Necessitava de Gee neste momento. Tínhamos que encontrar uma maneira de penetrar no Vilokan. O inferno seria muito mais fácil.
Convencer Miranda para um dia de compras não foi fácil, mas tinha que sair. Depois de forçá-la a vestir-se e empurrá-la para meu carro, dirigimos ao centro comercial. Quatro horas mais tarde, ela mostrou sinais de vida. Estava muito agradecida.
— Necessito de um café. — Anunciei quando saímos de nossa terceira loja de sapatos. Arrumei isso para encontrar dois pares de sapatos sem os quais não poderia viver. Um deles era um par de sandálias amarelas que tinha um pouco de salto. Os outros eram botas de cor bege que combinavam perfeitamente com minha jaqueta de couro bege. A melhor parte era que tinham desconto. Miranda, entretanto, não tinha comprado nada. Íamos, pouco a pouco, para chegar ali.
Ela tinha tentado provar uns sapatos na loja anterior.
Eu a tinha obrigado, mas ao menos os tinha posto.
— Eu também, — respondeu Miranda, voltando-se para a Starbucks em vez de ir a para a próxima ala do centro, onde se localizava Wide Mouth, a cafeteria favorita do Wyatt. Entendi, e honestamente, não estava segura de poder entrar no Wide Mouth agora, tampouco.
— O que quer? —Perguntei, tirando minha carteira.
— Não sei, peça para mim o mesmo que você, — disse ela com um gesto de mão e se aproximou para encontrar uma mesa.
Não podia lhe pedir o mesmo que eu. Eu sempre pedia um café com leite com caramelo, nata batida igual ao Wyatt pedia. Fui para o lado para que as pessoas atrás de mim pudessem pedir e estudei o cardápio atrás do mostrador. Fazia anos que não pedia algo mais que um café com leite e caramelo. Nem sequer estou segura de conhecer algo mais para pedir.
— Ouvi que o chocolate quente é incrível — sussurrou Leif em meu ouvido. Ele tinha forma humana, porque os pelos de meus braços não arrepiaram.
— Sou uma menina grande. Prefiro o café — espetei-lhe sem olhar para trás, para ele. Ele riu em voz baixa.
— Sim, sei. Café com caramelo, leite com nata batida. — Me estiquei, olhei para onde se encontrava sentada Miranda. Observavanos com um olhar divertido e triste em seu rosto. Sabia que rapazes como Leif recordavam Wyatt. Entretanto, era outra razão para permanecer malditamente longe dele. Se só entendesse a insinuação e me deixasse em paz. Nunca estaria de acordo em lhe dar minha alma. Que se foda a estúpida restituição ou o que fora.
— Não. — Repliquei e me aproximei do caixa para pedir e pôr espaço entre os dois.
A garota no caixa comia Leif com os olhos e não prestava nem um ápice de atenção a mim. Ela começou a jogar com uma mecha de seu cabelo castanho ao redor de seu dedo e bateu suas pestanas. Se a garota tola soubesse... Ele não era o Senhor Todo-Americano.
Pigarreei para chamar sua atenção e quando isso não funcionou, literalmente, tive de golpear a área do caixa em frente a ela.
— Olá, perdão, mas é minha vez. — Afastou seu intenso olhar de "vem por mim" do Leif e me olhou. Bem, agora vai cuspir em meu café.
— Já sei. Esperava que pedisse — o tom da moça estava irritado.
— Bom, não me dei conta. Parecia ocupada.
Tinha as bochechas avermelhadas e pronta para dar rédea solta a sua réplica ágil quando Leif tossiu ruidosamente. Sua voz soava suspeita, como se estivesse ocultando um sorriso.
— Acredito que começamos com o pé errado, — a voz de Leif era suave e profunda. Tal como imaginou a garota em sua mente. As garotas realmente eram fracas quando se tratava de homens atraentes.
— Só precisamos pedir, quero um chocolate quente e você quer um... — Fixou o olhar em mim, como se estivéssemos aqui juntos. Comecei a abrir a boca para corrigi-lo, quando decidi que era melhor ir com ele se não quisesse a saliva da garota em meu café com leite.
— Oh, né, que sejam dois grandes... uh... dois grandes... um... — Pude sentir a raiva e impaciência na garota, mas não deixei que isso me detivesse. Tratei de encontrar algo no cardápio que certamente nós pediríamos.
— Quero dois cafés com leite, de moca, com nata e chocolate polvilhado no topo, grandes, por favor. — Informou Leif à garota.
Que diabos? Não lhe dava permissão para pedir por mim. Inclusive, se o que ele pediu soasse tão bem. Aproximou-se de mim, pagou à garota enquanto paquerava com ela, cruzei meus braços e esperei até que terminasse. Quando voltou para mim sorrindo, grunhi.
— O que? Não podia decidir. Ajudei. Você adora o chocolate. Você gosta do moca com leite.
— Não recordo ter pedido sua ajuda. Posso pedir sozinha. — Sussurrei. Leif deu de ombros e pegou meu braço, me pondo de lado para que as pessoas que estavam na fila atrás de nós pudessem pedir. Quis me afastar dele, mas pegou meu braço perto dele.
— Por que insiste em estar irritada comigo todo o tempo? — Acaso não sabia? Abri a boca para lhe dizer exatamente como me sentia a respeito de sua reclamação sobre minha alma, quando Miranda ficou de pé e correu para a porta da cafeteria para o Centro comercial.
Empurrei Leif enquanto passava e saí atrás dela.
Ela girou à esquerda e se dirigiu à porta de trás pela qual tínhamos entrado. Peguei meu ritmo e esquivei das pessoas que paravam para ver como perseguia Miranda. Minha primeira preocupação foi que possivelmente lhe recordei algum momento doloroso. Minha segunda preocupação foi que um policial ia me prender por pensar que ia lhe fazer algum mal. E logo me preocupei com chocar acidentalmente contra uma pessoa em minha busca.
Menos mal, parou nas portas que levavam ao estacionamento onde estacionamos. Seus ombros se moviam enquanto se segurava no cabo para tratar de recuperar o fôlego. Minhas duas bolsas que estava levando estavam aos seus pés.
— Miranda, o que aconteceu? — Perguntei, sem fôlego, quando definitivamente me encontrei com ela.
As lágrimas corriam por suas bochechas enquanto olhava para longe. A devastação estava tão profundamente gravada em seu rosto que me perguntei se alguma vez a dor iria embora.
A garota que tinha conhecido toda minha vida mudou completamente nesse dia no campo de futebol, enquanto víamos o corpo sem vida de Wyatt.
— Não posso, — soluçou sacudindo a cabeça, — só não posso.
Envolvi meu braço ao redor de seus ombros e a aproximei. Ela desabou a meu lado, chorando e triste. Fui muito longe hoje. Não estava preparada para isso. A culpa me corroía. Devia ter feito isto em uma saída menor. Sair aos poucos. Eu e minhas grandes ideias.
— Vem, vamos para casa. — Insisti que abrisse a porta e entrasse no carro.
— Podemos...? — Miranda soluçou — Podemos ir visitar sua tumba? Tenho que fazê-lo. — Não estava de acordo. Ela não estava pronta para isso ainda. Eu tampouco estava preparada para isso. Mas não podia me negar. Abri a porta do lado do passageiro e Miranda entrou.
Talvez, pudéssemos ir. Se isso era o que ela queria fazer, então eu seria forte e iria com ela. Mas primeiro, íamos passar por sua casa. Ela necessitaria uma pequena dose de coragem e sua mãe tinha um armário inteiro com algo alcoólico que ia necessitar.
s cemitérios à noite são muito mais horripilantes que durante o dia. Tentei desesperadamente ignorar as almas abatendo-se sobre as tumbas, que supus, eram delas. Mas era muito difícil não saltar cada vez que aparecíamos diante de uma tumba e uma alma aparecia na nossa frente. Queria agarrar Miranda pelo braço e detê-la para que a alma pudesse vagar mais à frente, mas isso só a teria confundido e faria saber às almas que eu as podia ver. Assim em vez disso, fechei os olhos com força e tratei de fingir que não caminhávamos entre as almas. Oh, como odiava o pai de Leif por esta estúpida maldição.
— Faz frio aqui, — disse Miranda, rompendo o silêncio.
Olhei enquanto tomava outro gole da garrafa de vinho que tinha nas mãos. Tinha encontrado um vinho de sobremesa que eu sabia que ela poderia beber. Vir ao cemitério à noite não era minha melhor ideia de passar um momento agradável, mas não queria que ela perdesse o controle ou, Deus não queira, que corresse assustada na noite da maneira que correu pelo centro comercial. Eu não estava disposta a persegui-la entre almas.
— Sim, — disse, tirando minha jaqueta de couro bege e a vestindo nela.
— Quer? A esquentará? — Miranda me ofereceu a garrafa de vinho.
Olhei-a para a sua mão. A cor pálida e o aroma frutado me tentavam. Podia beber um pouco para diminuir meu desconforto. Mas eu dirigia, assim neguei com a cabeça.
— Não, estou bem.
Miranda esperou um segundo mais antes de atrair o vinho a seu peito. — De acordo, se estiver segura. Mas ajuda de verdade. Não ia discutir com ela. Estou segura de que o vinho lhe ajudava muitíssimo. Três semanas antes, não teria podido lhe pagar para caminhar através do cemitério à noite. Ter alguém querido enterrado aqui muda as coisas.
— Aí está, — sussurrou, detendo-se finalmente.
Meu olhar seguiu o seu. A tumba de Wyatt se encontrava ainda fresca e coberta de flores. Umas poucas começavam a murchar, mas a maior parte das flores ainda seguia tão encantada como tinham estado em seu funeral.
—Nos sentemos no banco — disse Miranda, quase reverentemente.
Os pais do Wyatt tinham posto um banco aos pés de sua tumba. Perguntei-me sobre isso quando o vi no dia do funeral. Pensei que só estaria ali durante o funeral, mas quando fomos, olhei para trás e ainda estava ali.
— Aí está o que eu mandei. — A voz da Miranda se quebrou enquanto nos sentávamos e olhávamos as coroas de flores que havia diante de nós. A bola de basquete grande e redonda que se recostava na cabeça de sua tumba era feita de cravos laranja e botões de oro negros 12. Miranda tinha insistido histericamente com o florista que fizesse uma coroa que parecesse uma bola de basquete. Fizeram para ela. Era bonito. Wyatt teria adorado.
— Ficou muito bom, — assegurei.
— Sim. Se ele pudesse vê-lo.
Não estava segura de como responder a isso. Não queria lhe dizer que sua alma não estava aqui e que eu o vi indo embora. Mentir não era meu ponto forte e passei mal estando de acordo com ela quando eu sabia mais coisas.
— Lembra a vez que trouxemos o quadriciclo do Wyatt até aqui, pelo caminho do bosque atrás de sua casa? — A voz de Miranda tinha um toque divertido.
— Sim. — A polícia nos perseguiu por saltar tumbas com sua moto de quatro rodas. Wyatt e eu assumimos a culpa e deixamos Miranda de fora. Wyatt sempre tinha sido protetor com ela e, honestamente, tinha nos pedido que não o fizéssemos. Tínhamos escutado durante todo o caminho até aqui falar sobre o quanto estava
12 É uma flor originária da Espanha
mal com isso e como os fantasmas das pessoas sobre cujas tumbas tínhamos saltado nos perseguindo. Eu sabia claro, que se equivocava e não me preocupava.
— Minha mãe ainda não tem nem ideia do que aconteceu. Nem sequer lhe disse que foram perseguidos, porque temi que não me deixasse sair com delinquentes.
Ri e um pequeno sorriso apareceu nos lábios do Miranda. Era tão bom ver esses sorrisos. Eram muito poucos e distantes entre si.
Miranda tomou outro gole de vinho. Seus bebericos haviam se tornado goles. O olhar vítreo em seus olhos me disse que havia conseguido o efeito desejado. Senti-me culpada por conseguir o vinho, mas ela precisava estar relaxada para confrontar isto. Recordar o passado. Isso era bom. Valia a pena uma garrafa de vinho e consumo de álcool de menores.
— Whoa, não são quem esperava ver aqui — disse Leif, enquanto se aproximava de nosso lado. Miranda deixou escapar um pequeno grito, logo lhe seguiu uma risadinha depois de dar-se conta que era Leif e não um zumbi quem tinha se unido a nós.
— E bebendo? — Os olhos de Leif se levantaram da garrafa de vinho de Miranda para encontrar com meu olhar.
— Ela queria vir aqui. Imaginei que necessitava um pouco de incentivo para confrontá-lo.
Leif assentiu com a cabeça e um pequeno cenho franziu sua testa. Perguntei se sentia pela perda dela ou se inclusive sentia falta de Wyatt.
— Posso entender, respondeu.
Miranda se aproximou mais de mim e deu uns tapinhas no lugar ao lado dela.
— Veem e sente-se. — Ordenou para Leif.
Queria lhe dizer que ele era o mais perigoso aqui fora, mas mantive minha boca fechada. Pelo menos, do outro lado de Miranda não teria que ver sua cara.
—Toma, está bom — respondeu Miranda, empurrando a garrafa para Leif suavemente. Certo, possivelmente já bebeu suficiente.
— Claro, — respondeu ele, e pude vê-lo inclinar a garrafa pela esquina de meu olho.
— Perdão por ter fugido hoje e... por tê-lo deixado ali. — Miranda começou a balbuciar. Sim, tinha tido suficiente. Cheguei do outro lado dela e agarrei a garrafa de Leif.
— Alcançou seu limite, Miranda. Um pouco mais e amanhã me odiará. —Expliquei enquanto tirava à cortiça do bolso e tampei a garrafa, antes de pô-la entre meus pés.
— Preocupo-me com você, mas vi Pagan com você, — respondeu Leif lhe batendo o joelho.
— Sssssim. Não saberia o que fazer sem ela. — Balbuciou Miranda.
Leif se inclinou para diante e pude sentir seu olhar em mim.
— Ela é muito especial. — Concordou.
Miranda assentiu com a cabeça e começou a apoiar sua cabeça em meu ombro, mas falhou e caiu. Tanto Leif como eu a agarramos antes que pudesse cair de cara na terra fresca e nas flores.
Rindo, Miranda se balançou de trás para frente enquanto a sentávamos de novo. Tinha bebido mais que suficiente. Duvido que recorde algo amanhã. Com sorte, não despertaria abraçando o vaso sanitário.
— Sabe, acredito que é hora de voltarmos para casa, — eu disse, agachando para agarrar a garrafa de vinho e depois me levantei. — Vamos. Colocaremos você na cama.
— Ajudarei a levá-la para o carro — Ofereceu Leif e comecei a negar quando Miranda caiu de joelhos e riu a gargalhadas.
— Sim, obrigado, — murmurei. Seria de muita ajuda se Gee não tivesse desaparecido completamente hoje. Mas estava por minha conta e Leif era o único "ser" me espreitando neste momento. Leif parecia muito satisfeito com esta mudança de acontecimentos, e tive que reprimir o impulso de lhe dizer que eu podia fazer por mim mesma. Porque estava mais que segura de que terminaríamos dormindo no cemitério se tivesse que levá-la para o carro, sozinha.
Leif se agachou e a agarrou por debaixo dos braços. Ela se balançou em seus pés e Leif envolveu seu braço ao redor de sua cintura.
— Calma garota, — disse.
— Calma garota. — Imitou Miranda rindo como se houvesse dito a coisa mais graciosa que nunca tivesse escutado. Nota para mim, Miranda é um peso leve. No futuro, uma taça de vinho será seu limite.
— Adeus, Wyatt, te amo muito, — gritou Miranda enquanto Leif a guiava pelo caminho que fizemos do estacionamento até aqui. Como eu, Leif podia ver as almas, esquivou-se e as afugentou assim eu não teria que as atravessar no caminho para a saída.
— Te amo muito. — Miranda começou a cantarolar com tristeza. A bêbada triste começava a emergir. Não tinha pensado sobre essa possibilidade.
Leif abriu a porta do lado do passageiro e deixou Miranda no assento em vez de deixar que caísse. O que devia admitir foi muita consideração. Especialmente para um espírito vodu.
Dirigi-me ao lado do condutor quando ouvi fechar a porta do passageiro e abrir a da parte de atrás. Voltando minha cabeça, vi Leif entrar no assento traseiro. Não havia maneira de que isso acontecesse.
Parei, abri a porta do passageiro de meu lado e coloquei a cabeça.
— O que acha que está fazendo? — Disse.
— Estou me assegurando de que cheguem à casa a salvo. — Respondeu com um sorriso educado no rosto.
— Oh, não, não vai fazer. Sai, fora!
— Não seja tão má, Pagan. — Interveio Miranda do lado do carona.
Revirando os olhos, deixei sair um suspiro exasperado. Bem, se queria ser o príncipe encantador podia sê-lo. Não ia tratar com ele agora mesmo. Precisava levar Miranda para casa antes que desmaiasse, ou pior, vomitasse no carro.
— Tanto faz, — resmunguei e fechei a porta de repente para lhe dar um efeito extra.
Arrumei para arrancar o carro e levá-lo a estrada sem olhar atrás, nem reconhecer a presença do Leif. Pretendia ignorá-lo todo o caminho até a casa. Talvez se zangasse e desaparecesse. Deus sabe que Miranda não se inteiraria. Deslizei meus olhos para ela e vi suas pálpebras ficarem pesadas.
— Fica acordada. Não serei capaz de leva-la para dentro se estiver desmaiada. Não queremos que seu pai saia e a encontre desta maneira.
Isso a animou. Se seu pai a encontrasse bêbada ficaria furioso. Bom, pode. Seus pais estavam tão preocupados com ela que possivelmente entenderiam. Ou poderiam interná-la em um centro psiquiátrico. Ela realmente não queria ir para um desses.
— Assim esta melhor, mantem esses olhos abertos, — baixei sua janela. — O ar frio a ajudará e se começar a enjoar, por favor, vire para janela e vomita.
Miranda riu e apoiou a cabeça no encosto de cabeça, deixando que a fria brisa lhe voasse o cabelo de um lado a outro de sua cara.
— De quem foi à ideia de embebedá-la? — perguntou Leif do assento traseiro.
Ia me apegar ao meu plano de ignorá-lo, assim alcancei o volume da rádio para subi-lo quando Miranda disse arrastando as palavras:
— Deeee Paaagaaaan, éee tão inteligeeenteee.
Leif riu entre dentes do assento traseiro. Tinha que estar de acordo com ele. Eu também questionava minha inteligência.
— Podemos fazer ooooutra vez a... amanhã? — perguntou Miranda. Neguei com a cabeça.
— Não. Acredite, a dor de cabeça que vai ter amanhã me dará razão. Isto foi coisa de uma só vez.
Miranda fez um som de "pffft" que causou que cuspisse saliva.
Parei no caminho de entrada de Miranda, esperando por completo que Leif simplesmente evaporasse quando abriu a porta do carro como um humano e começou a tirar Miranda do carro. Genial, o Príncipe Encantador ia seguir com seu educado comportamento. Segui-o à porta e a mãe de Miranda se encontrou ali conosco.
Dei um passo adiante e entreguei a garrafa de vinho meio vazia.
— Ela queria ir ver a tumba de Wyatt esta noite. Peguei isto porque pensei que ia necessitar. Sinto muito...
Sua mãe levantou a mão para me deter.
— Não, está bem. Entendo. Isto não é pior que os comprimidos que estive lhe dando. — O tom de voz de sua mãe soou derrotado. Havia escutado esse tom antes em minha mãe. Esperava que não fizessem com Miranda o que minha mãe fez comigo.
— Só vai para casa, Pagan. Sua mãe já me ligou atrás de você. Seu avião chegou faz uma hora. Cuidarei de Miranda esta noite.
Assenti e dei um passo atrás quando Miranda se meteu nos braços de sua mãe e fechou a porta.
— Parece que estamos sozinhos, você e eu. — Disse Leif, completamente. Satisfeito.
ão estou só e vou para casa. — Respondi dando a volta e me encaminhei para o carro.
Não ia dar o prazer de olhar para trás. Abri a porta do carro com um pouco mais de força do que era necessário e entrei. Alcançando as chaves que tinha deixado na transmissão, procurei e não pude encontrar. Frustrada, acendi a luz e olhei ao redor do volante para ver que minhas chaves não se encontravam ali.
Comprovei meus dois bolsos e comecei a me agachar e procurar pelo chão quando a porta do lado do passageiro se abriu e Leif deslizou para dentro com minhas chaves pendurando de seus dedos.
Grrrrrr... Alcancei-as e as arrebatei facilmente de seus dedos e as empurrei na transmissão.
— O que planeja fazer, Leif? Irá comigo visitar minha mãe? Hmmm... Porque é mais que provável que Gee esteja lá pouco depois de que eu chegue e está desejando lhe dar um chute na bunda.
Leif se inclinou para trás no assento, ficando a vontade.
— Não, Pagan, eu penso que você e eu precisamos conversar.
— Sobre o que? O fato de que quer tirar minha alma para algum ritual vodu ou o fato de que espreitou toda minha vida e logo tirou minhas lembranças? Já sei! Quer falar sobre como mentiu sobre tudo desde o começo e me fez pensar que era um bom partido. Escolhe um tema porque vou falar de todos.
Leif deixou escapar um cansado suspiro e esfregou a palma no joelho quase nervosamente. Antes, quando pensava que era humano, pensava que era um gesto lindo. Agora, eu não estou muito afeiçoada com esse gesto.
— Está zangada comigo. Entendo. Inclusive entendo. Eu sempre esperei que você soubesse...
— Então por que não me disse isso?
— Porque a escolhi. Era seu propósito. É seu propósito. Não entende? Você morreu Pagan. Morta. Desaparecida. Conseguiu outra vida e perdeu completamente a oportunidade nesta vida. Porque você ia morrer. A Morte não estava apaixonada por ti então. Ia agarra-la como se supunha que devia. Não havia nada que ninguém pudesse fazer para lhe deter, exceto sua mãe. Ela pôde escolher a entrega-la ao Ghede, e assim o fez. Não se deu conta, mas quando suplicou a um doutor vodu que salvasse sua vida com magia vodu, ela a entregou ao meu pai. Assim viveu. Não morreu. A Morte não a tomou. Você tinha que crescer com sua mãe e ter uma amizade com a Miranda e inclusive com o Wyatt. Você tinha que VIVER. Não teria esses anos se eu não a tivesse escolhido. Esta vida que tem agora, deveria terminar nessa noite no Hospital Infantil de Nova Orleans.
Escutar essa explicação foi duro. Tragando o repentino nó em minha garganta, comecei a dar a volta quando Leif agarrou o volante.
— Não. Não terminamos de falar.
Tentei girar, mas o volante não se movia. O carro ficou encabeçado para os subúrbios da cidade e a velha ponte East Gulf.
— Certo, de acordo. Mantiveste-me viva. Tinha que viver esta vida. Aprecio, mas agora quero mantê-la e não lhe importa. Você reclama que me quer e me necessita, mas não poderia lhe importar menos o que eu quero. É muito egoísta de sua parte. É tudo sobre o que Leif quer. Não leva em consideração o que eu quero. Atua como se fosse sua posse e eu devia estar feliz sobre isso.
Leif não me respondeu imediatamente. Tentei girar o volante outra vez e não pude. Suspeitava que se eu tirasse as minhas mãos do volante, o carro conduziria sozinho. A ideia de que possivelmente Leif não me deixaria ir para casa começou a crescer. Meu ritmo cardíaco se acelerou e tentei me manter calma. Se esse não era seu plano, não queria lhe dar nenhuma ideia.
— Tentei fazer isso fácil para você. Tentei fazer esta transição de maneira que pudesse aceitar. Protegi-a da verdade. Queria que tomasse esta decisão porque você queria. Não porque a estive forçando, mas nós ficamos sem tempo. Há algo que deve saber. — Leif assinalou para a parte da estrada justo antes da ponte. — Pare.
Não estava segura se dirigia para mim ou ao carro, porque eu não ia parar, mas o carro se deteve e parou sem minha ajuda.
— O que é que preciso saber? — Perguntei-lhe, golpeando o volante por me haver traído.
— Não vai gostar disto. Não queria que soubesse. Mas quando se negou a aceitar que sua alma era a restituição pela vida que meu pai lhe concedeu, meu pai decidiu que tomaria sua restituição em outra parte.
O que queria dizer isso? Significava que a dívida foi paga por completo e que seria livre agora? Porque se fosse assim, não havia nada sobre isso que eu não gostasse.
— Pagan, me olhe. — Ordenou Leif, e voltei minha cabeça para me encontrar com seu olhar firme. — A morte de Wyatt foi só o começo. Ghede tomará mais. A todos ao seu redor. Ele tomará um por um, até que ceda e aceite vir comigo ou até que não fique ninguém mais para tomar.
Um intumescimento se estabeleceu em mim e olhei para Leif. Era como se tivesse falado em outro idioma. Entendi o que dizia, mas o significado debaixo de suas palavras era quase impossível para mim. Queria empurrá-lo para trás, empurrá-lo para fora. Não podia haver dito o que acabava de escutar. Não havia maneira de que esta restituição de minha alma afetasse a outros. Só a mim. Não... Não ao Wyatt. Não, estava ali. Tinha visto Dank. Leif mentia.
Sacudindo minha cabeça quase violentamente gritei:
— NÃO! VOCÊ está mentindo. É um mentiroso. Eu vi o Dank. Vio tirar a alma de Wyatt. Dank nunca teria tomado uma alma para seu pai. Ele nunca haveria...
— Dank não sabia. — Interrompeu-me Leif, — Disse-lhe sobre isso de antemão? Preparou-a para a morte de seu amigo? Não. Não o fez. Porque a morte de Wyatt não era o destino. Meu pai usou seu poder sobre sua restituição sem pagar para matar o corpo que habitava a alma de Wyatt. Dank foi atraído ali para recuperar a alma do corpo porque esse é seu trabalho. Ele estava tão surpreso como você.
Não tinha resposta. Dank não me disse isso. Nunca tinha me preparado para isso. Poderia isto simplesmente ocorrer? Poderia este senhor espiritual dos mortos tomar almas porque eu não cumpri suas ordens?
— Mas... Mas me disse que minha morte e a de Wyatt seriam as tragédias deste ano escolar. Isso significaria que a morte de Wyatt era o destino.
— Menti. Queria que estivesse zangada com o Dank. Podia sentir sua dor e sabia que se manteria longe dele.
Mentiras. Parecia que Leif só sabia como viver com mentiras. Queria-me ao seu lado, assim mentiu de todas as maneiras que pôde para conseguir o que queria. E agora, seu pai ia matar pessoas inocentes que eu amava se não me rendesse. Quem seria a seguinte? Mamãe? Miranda? Não podia esperar para averiguar. Isto não ocorreria outra vez. Dank havia dito que ele era maior que isto. Ele poderia detêlo, mas era muito tarde agora. Wyatt já tinha perdido a vida por mim. Não podia me sentar e esperar que alguém mais morresse. A dor e a culpa seriam piores que uma eternidade com o Leif. Deixei ir o férreo controle que tinha no volante e meus ombros se afundaram em derrota.
— Bem. Irei contigo.
Leif não respondeu imediatamente. O carro ficou em marcha e se moveu na estrada. Olhei através de uma neblina, enquanto conduzia a si mesmo para a ponte. Imediatamente, minha cabeça se estrelou contra o encosto de cabeça pela velocidade do carro, agarrei freneticamente o volante e comecei a apertar os freios imprestáveis.
— Leif! Ajude-me! — Chorei e o volante fez um brusco giro à direita logo que estivemos no meio da ponte.
— Tenho você, Pagan. — A voz de Leif estava calma, apesar do carro romper através do corrimão e irmos a toda velocidade para as águas do oceano abaixo de nós. Nem sequer tive tempo de gritar antes que tudo ficasse escuro.
Gee apareceu diante de mim, me detendo de ir mais longe na minha busca de espíritos vodu em sua principal Meca de New Orleans. Sabia que estavam aqui, em alguma parte, um portal que os levava ao Vilokan, o espírito vodu de outro mundo. Só três lugares no mundo tinham um portal. Com o tempo, New Orleans tinha se convertido no
portal mais famoso para os espíritos. Aqui os humanos lhes davam boas vindas e os celebravam. Inclusive os católicos começaram a aceitálos e integrá-los em sua religião.
—Temos um problema. — As palavras de Gee não continham sarcasmo, nem humor. Eram sérias. O que significava que qualquer que fosse o problema, envolvia Pagan.
Preparando-me, perguntei-lhe:
— O que?
— Fui revisa-la, tal como me disse. Havia carros de polícia em sua casa. Sua mãe está muito perto de um colapso emocional, se já não tiver sofrido um, e havia lanchas de resgate, helicópteros e ambulâncias na Ponte East Gulf. O carro de Pagan foi encontrado a um quilômetro rio abaixo. Há marcas de derrapagens na ponte e uma abertura do tamanho de um carro no corrimão onde o carro chocou.
— Ela não afogou, — declarei, sabendo que o corpo de Pagan não tinha morrido. Eu não tinha sido convocado.
— Claro que não está. Mas todos pensam que morreu. Levou Miranda para casa ontem à noite e ela se embebedou. Leif a acompanhou em casa segundo o que diz a mãe de Miranda. Agora estão se perguntando se também estava intoxicada e é obvio se Leif também está desaparecido, outra vez, e pensam que os dois se encontravam no carro que caiu ao rio.
— Vilokan, — grunhi.
Leif a tinha levado ao Vilokan. Sabia que havia uma ilha debaixo d’água. Mas só os espíritos vodu poderiam entrar através do fundo do mar. Os portais eram a única via para que qualquer pudesse entrar.
— Isso foi o que eu pensei, também, mas não poderia levá-la se ela se negasse.
Ele tinha contado. Leif havia lhe dito sobre Wyatt e é obvio ela aceitou. Faria algo para salvar àqueles que amava. Tinha-a visto renderse por mim sem nenhuma pergunta. Minha bela alma se sacrificava uma vez mais. Maldito Ghede. Ele pagaria por isso. Pagaria com a extinção do Vodu. Seu mundo se fechará para este mundo. Farei que deseje nunca haver se aproximado de Pagan.
Com um rugido de fúria, empurrei a luz que estava junto a mim com força suficiente para mandá-la voando para o centro da concorrida rua. O cristal se fez em pedacinho e gente correu gritando enquanto as buzinas dos carros soavam.
— Um movimento brilhante, Hulk. Vá e mate a alguém que não está destinado a morrer hoje, por que não? Como se o Criador não estivesse o suficientemente zangado, agora mesmo. — Queixou-se Gee antes de me empurrar e começar a andar com irritação.
Não tinha matado a ninguém. No máximo o que tinha feito era causar algum machucado a uns poucos carros e à luz. O caos que tinha criado não tinha sido intencional, mas seria muito útil.
hiffon negro flutuava acima de minha cabeça quando abri meus olhos. Isto era familiar. Já tinha acontecido isto antes. Piscando várias vezes até que pude me concentrar, estudei a delicada malha envolta sobre minha cabeça. Era encantador, mas horripilante. Velas de todos os diferentes tipos em candelabros de prata revelavam os móveis do quarto, as chamas encheram-no com um brilho suave.
Estive aqui antes. Tratando de me concentrar, sentei e olhei ao meu redor. As paredes de pedra que me rodeavam davam ao largo quarto uma sensação de escuridão. Um abajur de cristal grande flutuava no centro do quarto. O teto era alto e feito de pedra, igual às paredes. Pouco a pouco, minha mente começou a trabalhar e eu me lembrei de que este era o quarto de Leif. Ele me trouxe aqui antes. Encontrava-me em Nova Orleans. Isto era bom. Havia uma porta oculta em algum lugar destes muros que me poria na Rua Bourbon. Poderia sair dali e chamaria Dank. Ele viria por mim, ficarei bem.
Pus-me de pé e fiquei imóvel à medida que mais lembranças começaram a brilhar em minha mente. Meu automóvel voando pela estrada. Tinha sido incapaz de controlá-lo. Leif era quem o controlava.
Girou o volante e nós batemos contra o corrimão e logo nós... Então nós...
— Está acordada. — A voz de Leif rompeu minha concentração e dei a volta, para vê-lo entrar por uma porta oculta. Do outro lado do quarto.
Não é como eu mesma recordava. Quantas portas haviam neste quarto?
— Nós. Você, nós batemos contra a ponte. Sobre o oceano. — Leif assentiu com a cabeça com um sorriso singelo. Pelo menos observei arrependimento por nos haver conduzido através do Golfo do México.
— Sim, fiz. Sinto muito, mas era a forma mais rápida de chegar até aqui sem que tenha que me transportar. A última vez eu fiquei realmente esgotado, mas tinha que traze-la aqui em sua forma humana. Tentar extrair sua alma seria impossível, considerando que a Morte nunca faria isso, tinha que traze-la até Vilokan através da estrada mais próxima...
— Vilokan? Que é Vilokan? Não estamos em Nova Orleans? E nos lançar no oceano é a rota mais próxima para onde?
Leif começou a rir e se sentou na beirada da cama. Queria estar zangada com ele, mas algo em minha mente me recordava que não podia lhe jogar a culpa.
— Sinto muito. Vilokan é meu lar. É o mundo dos espíritos na religião vodu. Encontra-se sob a água. É uma ilha preciosa. Não posso esperar para lhe mostrar isso.
Sacudindo a cabeça, aproximei-me da porta que a última vez tinha me conduzido diretamente à Rua Bourbon. — Estive fora dessa porta. Sei o que há ali fora. Nós não estamos sob a água. Estamos em um edifício na Rua Bourbon.
Leif se levantou, aproximou-se da parede e empurrou-a. — Não há porta, vê.
— Mas estive fora dessa porta. — Insisti.
— Sim, quando fiz uma porta que saiu da mesma. Mas a menos que faça uma porta ali, então não há. Foi através de um portal especial que só os espíritos vodu podem criar. Temos três. Uma em Nova Orleans, uma no Haiti, e uma no Togo, na África. Todos estes lugares têm a maior população de crentes. Nossos espíritos são chamados ali e temos os portais para trazer humanos ou almas daquelas cidades para Vilokan.
— Está me mantendo aqui? — A compreensão de que desta vez poderia estar presa nesta ilha sob a água começou a afundar.
Leif franziu o cenho, então a compreensão parecia aparecer em seu rosto.
— Não lembra? Devia ter adivinhado que a viagem poderia ter confundido sua cabeça um pouco. Tudo voltará a você, mas não vou sentar-me ao redor e esperar por isso.
De pé, Leif fechou o espaço entre nós e comecei a retroceder quando ele pôs suas mãos a cada lado de minha cabeça. Irradiava calor, até que imagens pouco a pouco começaram a piscar em meus olhos. Então, algo como uma tela de cinema se criou atrás de minhas pálpebras, lembrei-me de tudo. Cada horrível detalhe.
Dando um passo para trás, fora de suas mãos, cobri o rosto com ambas as mãos. Estaria aqui. Para sempre. Wyatt tinha ido por minha culpa. Miranda tinha perdido tanto de nós, por mim culpa. E Dank, nunca saberia o que se passou. Poderia inclusive me encontrar aqui?
— Sinto muito, tive que fazê-lo. Ontem à noite só lidou com esta notícia uns poucos minutos, antes de nos afundar. Com o tempo, estas coisas se curam. Prometo-lhe isso.
O tom suave de Leif era tão desconjurado como as palavras que saíam de sua boca. Acaso notava que acabou de dizer que meu amigo MORREU por MIM? Não havia nada a dizer. Não havia nada a dizer sobre o fato de que me encontrava presa aqui eternamente com ele, enquanto o homem que eu amo caminha pela terra me buscando. Minha mãe chorando por mim. Miranda...
Oh, Deus! Não quero pensar em Miranda. Não está emocionalmente estável. Isto não é algo que dirigiria com facilidade.
— Sei que é muito para processar neste momento. Mas todas essas coisas são desse mundo. Tem que deixar de lado a vida que conhecia. — Leif me dirigiu um sorriso e estendeu seus braços retos, como se estivesse me oferecendo o mundo. — Pagan, pode viver aqui como nunca viveste antes.
Não tinha uma resposta a isso. Ele realmente não entende. A humanidade que pensei que possuía, ao menos um pouco, na realidade não existia, foi uma ilusão. As emoções e pensamentos de Leif não eram as de um ser humano normal.
Acreditava que me que oferecia um maravilhoso mundo, que era muito maior, daquele no qual eu tinha nascido. Mas era uma prisioneira. Sempre seria uma prisioneira. Encontrava-me aqui, porque não podia permitir que seu pai tomasse mais nenhuma alma. Era minha alma, a que tinha sido condenada. Era minha alma, que teria que pagar.
— Vem comigo. Vou lhe mostrar a ilha. É bonito aqui. Você adorará. É como um paraíso que outros poderiam ter imaginado. Vamos
caminhar ao longo da branca costa e a água é de um azul cristalino. Logo verá meu pai. Quer conhece-la oficialmente. E...
— Não vou sair deste quarto. — Pode ter o poder para me obrigar a permanecer aqui, mas isso não significa que tenho que obedecê-lo. Era uma maldita mascote irritada, ele podia jogar comigo. Ficaria aqui. Talvez vá perder minha sanidade e começar a falar com amigos imaginários. Isso seria preferível, a esta realidade.
— Pagan, por favor, não faça isso. Aborrecer-se-á aqui. Quero mostrar todas as coisas que há em Vilokan, você gostará. É seu lar. Por favor, vem comigo.
De maneira nenhuma, no inferno. Neguei com a cabeça e caminhei para me sentar na cama. —Tem algum livro aqui? Queria ter meu iphone. — Coloquei a mão em meu bolso para ver se meu telefone estava no último lugar que o tinha visto. Mas, é obvio, não estava.
— Temos uma biblioteca inteira. Cheia de tudo o que quiser ler. Vem comigo. Conseguiremos alguns, não pode ler todos. — A esperança em sua voz só acendeu mais minha fúria.
Sacudindo minha cabeça, disse: — Não, obrigado. Só dormirei — Informei-lhe, sacudindo os lençóis de cetim negro, dei-lhe as costas. Não ia ser capaz de dormir, mas talvez se pensasse que fazia, seria capaz de me livrar dele, no momento. Tê-lo aqui não me ajuda a fazer frente às coisas. A porta atrás de mim, foi aberta e logo fechada, deixei escapar um suspiro. Rodando sobre minhas costas, olhei fixamente o chiffon negro e tratei de imaginar minha eternidade. Via-se muito triste. Com sorte a loucura chegaria rapidamente.
Devo ter dormido porque o som da porta de pedra me deu um susto.
Esfregando meus olhos, sentei-me e observei Leif entrando no quarto.
Seu sorriso era tentador quando seus olhos se encontraram com meus. Bom, aproximar-se de mim deixava-o nervoso.
Talvez fosse a pior "companheira" e me deixaria ir e procuraria uma nova companheira de jogos.
— Sente-se melhor depois do cochilo? — perguntou, parando nos pés da cama.
Não, nunca me sentirei melhor de novo. Nem sequer darei uma resposta a essa pergunta tão ridícula. Leif aceitou meu silêncio, sem muita preocupação. Tratava com minha atitude muito bem. E por que usava um smoking?
— Meu pai gostaria que jantasse conosco.
— Não. — Nunca.
— Pagan, não pode rechaçar Ghede. Não posso protege-la de qualquer castigo que ele diga que mereça. Por favor, não lhe desobedeça.
Tinha que estar brincando. Estou presa na versão vodu do inferno e pensa que farei xixi por seu estúpido papai? — Não. — repeti.
A fria determinação de Leif começou a desmoronar um pouco. Pude ver a frustração em seus olhos e me perguntei se na verdade poderia incomodá-lo, ao ponto de se desfazer de mim. É obvio, não esperava que me enviasse de volta a terra, mas me atiraria em seu fosso de fogo ou algo assim. Teriam inclusive um desses?
— Está bem, escuta. Se fizer isto por mim eu... Vou enviar a alma de Wyatt para você. Inclusive será capaz de falar com ele. Sua alma é diferente quando não está na terra. Uma vez que uma alma sem corpo deixa a terra e habita mais à diante, pode falar. É só na terra que requer um corpo para a comunicação. Entretanto, quando lhe falar vai ser diferente. Não o fará com sua boca. A voz de Wyatt estará em sua cabeça. Sua alma fala com sua alma.
Wyatt. Poderia ver e falar com Wyatt. Pus-me de pé e caminhei ao redor da cama para a porta. — Bom, vamos fazer isto.
Leif começou a rir atrás de mim. — Tenho que tomar nota disto. Só tenho que encontrar o incentivo adequado para pô-la em movimento. Deus, tivesse pensado antes em Wyatt. E não pode usar isso no jantar. Ghede exige respeito. Precisa se vestir de acordo com seus desejos.
— Bom Ghede terá que superá-lo porque quando me lançou da maldita ponte só tinha um par de calças jeans, um suéter e uma jaqueta de couro. Não sabia exatamente o que empacotar para esta excursão. — Sorrindo, Leif fez um gesto com sua mão, que, mas parecia um patético intento de espantar a uma mosca.
— Ficará bonita e meu pai estará satisfeito.
Ao baixar o olhar, contive o fôlego. Sabia que tinha um pouco de busto, mas o apertado decote do vestido ridiculamente extravagante fazia subir meus seios até meu nariz. Ou ao menos isso parecia. A saia do vestido estava ao meu redor como um aro. O que era isto, 1800?
— Por que acaba de me pôr em um vestido de Scarlett O'Hara? É consciente de que avançamos na moda, mais de cem anos?
Leif riu entre dentes e me ofereceu seu cotovelo. — Meu pai desfrutará da festa. Mardi Gras 13 é sua época favorita do ano. Hoje em dia, o Mardi Gras está em seu apogeu ao longo das ruas de Nova Orleans, de modo que meu pai tem suas próprias celebrações aqui. O mais provável é que ele lance contas de rosário na mesa e nos sirva King Cake 14. Você gostará de verdade. É conhecido por ser a alma das festas.
— Sério? E eu que pensava que ele era conhecido por ser o espírito maligno do mal dos mortos. Louca de mim.
Leif sacudiu a cabeça para mim. — Não pode dizer essas coisas, Pagan. Não vai passar. Não posso evitar que a castigue. Por favor, escuta o que digo. Se não o fizer, não serei capaz de trazer Wyatt para você esta noite.
Isso foi suficiente para me fazer calar. Tenho que morder minha língua e negociar com ele. Baixando o olhar, para o vestido lavanda e púrpura escuro, com pérolas que adornavam, perguntei-me se teria que suportar este ridículo vestido todas as noites. Se for assim, isso significa que conseguirei ver Wyatt?
— Vamos. O jantar espera e deve estar faminta.
Meu estômago grunhiu em resposta e Leif sorriu antes de abrir a porta e me permitir sair. Desta vez, não havia ruas fedorentas. Em troca, o amplo corredor se encontrava adornado com abajures de gás e algumas esculturas com máscaras ao longo das paredes. Era o tipo de máscaras que se veem nos bailes à fantasia.
Elegante e bom... Deliciosas eram as únicas maneiras de descrever.
13 Mardi Gras: é o nome do carnaval que se celebra em Nova Orleans, Luisiana e Mobile,
Alabama (EUA). Celebra-se o dia antes da Quarta-feira de Cinza. Refere-se ao último dia para desfrutar dos prazeres tanto culinários como carnais antes da época de abstinência que marca o início da Semana Santa e a Quaresma 14 King Cake: é um tipo de torta associada com a festividade da temporada em uma série de países, e em outros lugares com o pré-Quaresma celebrações do Mardi Gras /Carnival.
— Estas são lembranças do Mardi Gras passado. Cada ano, meu pai faz uma festa à fantasia, o FAT Tuesday 15 e cada máscara é a ajuda sempre recordada por estas paredes.
Se não desprezasse tudo relacionado com este lugar poderia achá-lo interessante.
15 FAT Tuesday: é o nome tradicional para o dia antes da Quarta-feira de Cinza, o primeiro dia
de Quaresma.
mãe de Pagan se encontrava em duelo. Podia ouvir sua dor desde fora da casa. Tinha passado dois dias procurando uma maneira de penetrar em Vilokan. Mas Pagan não quereria que sua mãe chorasse sua morte. Não quereria saber que sua mãe tinha uma completa crise emocional. Agora mesmo, esta era a única coisa que podia fazer por ela e em troca, podia encontrar algo, algo que sua mãe recordasse a respeito da noite com o doutor vodu na choça.
Bater na porta seria o que ela esperava. Via-me como o namorado de Pagan. Queria que acreditasse que não sou um ser humano, teria que entrar de uma maneira diferente. Só esperava que não se assustasse muito.
Apareci no banquinho do bar, diretamente em frente à mãe de Pagan. Ela se encontrava sentada a mesa com uma xícara de café. Podia sentir o cheiro de uísque em sua bebida.
Os olhos fundos se destacavam com anéis escuros por não dormir, seu olhar se encontrou com o meu. Surpreendentemente, nem sequer se alterou. Em troca, olhou-me diretamente e me estudou em silêncio. Não houve manchas de lágrimas correndo por seu rosto.
Seu rosto era o de uma completa perda e angústia. Tinha visto essa expressão em outras mães, que enfrentam à perda de seu filho. Mas esta dor de mãe fez que meu peito doesse. Talvez, porque compartilhava sua dor. Embora soubesse que Pagan não estava morta, foi-se. Por agora.
— Dank. — Por fim falou. Sua voz era pequena e áspera pelo pouco uso.
— Sim — respondi, à espera que dissesse mais.
Não o fez imediatamente. Tinha sua cabeça inclinada e procurava em meu rosto as respostas a suas perguntas, sabia que se acumulavam em sua cabeça. Pensou que tinha bebido até dormir e que se encontrava sonhando.
Possivelmente alucinando. Várias explicações diferentes correram através da névoa de seus pensamentos
— Como você...? — Calou-se, não sabia o que dizer exatamente. Como acaba de aparecer de um nada? Ainda podia ver a incerteza em seus olhos.
— Porque não sou um ser humano. Sou algo mais. — Deixei-a assimilar essa informação.
Deu um suspiro de cansaço e empurrou a xícara de café e uísque longe dela.
— Bom, tive muito disso, suponho.
— Não sou uma alucinação. Estive aqui em sua casa quase todas as noites no momento em que a alma de Pagan esteve marcada pela morte. Vigiando-a.
— Você sabia que ia morrer? — A pergunta de sua mãe era uma mescla de ira e confusão.
Sacudindo a cabeça sustentei seu olhar. — Não. Pagan não está morta. Não lhe permiti morrer no acidente de carro que deveria ter tomado sua vida, e não morreu quando seu carro caiu dessa ponte.
Empurrando a si mesma de novo para fora da mesa, ficou de pé.
— Tenho que ir para cama. Não dormi há um tempo e agora estou perdendo a cabeça, — murmurou.
Pus-me de pé e detive em seu caminho. — Não. Não o fará. Sou real e o que estou lhe dizendo também, Pagan está viva. Sua alma está em seu corpo. Entretanto, o espírito vodu a quem a vendeu, quando era uma menina, tem direito sobre ela e neste mesmo momento ele a tem. Necessito que me escute, confie em mim e me ajude.
Pouco a pouco o rosto de sua mãe, passou da incredulidade ao horror. Comprovei que estava estável, até que suas pernas se encontraram com a poltrona de couro atrás dela, deixou-se cair nele e a compreensão afundou mais em seu rosto. Não estava seguro se
acreditava ou não, mas sabia que minhas palavras tinham algo de verdade.
— O espírito vodu? — sussurrou com voz entrecortada.
— Sim, o médico vodu que abriu a alma de Pagan com o fim de salvar sua vida.
Sacudiu a cabeça e levantou os olhos de novo para mim. — Nunca prometi sua alma. Nunca faria algo desse tipo. Só perguntei por qualquer forma de fazer alguma magia especial ou poção milagrosa para curá-la. A enfermeira, a enfermeira disse que sua avó poderia nos ajudar. Encontrava-me desesperada e disposta a tentar qualquer outra via. A medicina tradicional não funcionava. Pensei que com as ervas e remédios naturais da anciã, poderia ter alguma possibilidade de fazer algo que os médicos não puderam. Nunca... Nunca... Prometi a sua alma.
Os seres humanos eram tão ingênuos, dos poderes sobrenaturais ao seu redor. As coisas que acreditavam muito, outros tinham uma fácil explicação. Os conceitos de magia e poder eram tão exagerados que eles assumiam uma cura natural. Essa seria uma explicação médica que cobre tudo.
— O vodu não é ervas e recursos naturais. É uma religião. Uma que se faz poderosa pelos maus espíritos, quando os seres humanos acreditam neles. Se não acredita, então não podem fazer dano. Mas se alguma vez encomenda responder uma solicitação, encontra-se em dívida com o espírito que responde. Quis salvar a sua filha da morte. Só há um espírito vodu que pode fazer isso. Um poderoso. O espírito do Senhor dos mortos, que pode outorgar a vida. Ele gosta de conceder a vida dos meninos. Mas não é por amabilidade. Porque então, ele é dono de sua alma. Pediu ao medico vodu que fizesse o que fosse por ela. Entretanto, Ghede, o espírito senhor dos mortos, podia fazer algo. E assim o fez. Deu vida a Pagan quando era seu destino morrer. Sua alma teria uma vida curta desta vez. Sua outra vida teria sido mais longa. Permitiu que o mal trocasse isso porque não estava disposta a deixá-la ir. Agora, Ghede veio reclamar o que por direito lhe pertence.
Ela não falou imediatamente. Vi como se afundava mais com minhas palavras e processava tudo o que lhe havia dito. Não é fácil para os humanos entender. Pelo menos não os temas espirituais. Mas esperava que, devido ao que tinha experimentado do poder do vodu naquela vez, pelo menos poderia abrir sua mente.
— Está me dizendo que Pagan esta... Ela está em...?
— Vilokan, o reino mais à frente ou espiritual, onde os espíritos vodu habitam. Está aí em sua forma humana. Eles não podem tomar a alma de seu corpo sem a Morte e posso lhe assegurar que a Morte não levará sua alma. — Lhe explicar que eu era a morte seria levar as coisas um pouco muito longe. Tinha dado a sua mente tudo o que era capaz de dirigir.
— Como faço? O que devo fazer? Se estiver em Vilokan. Há alguma maneira em que possa trazê-la de volta? Como posso solucionar este problema?
— Você não. Mas eu o farei. Só necessito que recorde daquela noite. Do momento em que a enfermeira veio e o momento em que Pagan se curou. Logo, necessito que recorde a infância de Pagan. Este menino, um menino loiro que entrou em sua vida várias vezes. Necessito que recorde tudo. Inclusive o que acreditar que não é importante. Preciso saber.
Assentiu com a cabeça e logo franziu o cenho. — E se estiver dormindo? Isto não é um sonho?
— Não, está muito acordada. De fato, por que não vai e prepara uma taça de café sem o uísque desta vez? Precisa ficar tão alerta quanto é possível.
— Sim, está bem, e, não toma café? — perguntou voltando para me olhar.
— Não, obrigado. Estou bem. — Assegurei-lhe, e se apressou a entrar na cozinha para preparar a xícara. Levantei-me e me aproximei do bar, peguei uma das muitas fotos de Pagan alinhadas no mesmo. Encontrava-se sorrindo com alegria para a câmara, com os braços pendurados sobre os ombros de Wyatt e Miranda. Esfreguei a polpa de meu dedo polegar por cima de seu doce sorriso, logo, coloquei a imagem em seu lugar.
— Acaba de me ocorrer algo. A mãe de Miranda disse que Leif entrou no carro com ela e que está desaparecido também.
Sem me virar para olhá-la, respondi.
— Sim, imagino. Considerando que Leif é o filho de Ghede.
O forte ruído da xícara golpeando o chão de ladrilhos me recordou que tratava com um humano aqui. Um que, a diferente de Pagan, não via almas durante toda sua vida. Realmente preciso dizer as coisas com um pouco mais de cuidado.
Quando aceitei o convite de Ghede, nenhuma vez imaginei o que veria na longa mesa de seis metros. Inclinando-se para trás, com um sorriso sinistro em seu rosto, estava uma figura alta com uma cartola negra, um par de óculos escuros e dois cigarros pendurando em sua boca. Por isso podia dizer, usava um smoking de caudas. Seus dois pés apoiados na mesa, enquanto se reclinava na cadeira de mármore e um enorme encosto que, recordou-me mais, a um trono de um filme de princesas.
Salvo, como a maioria dos outros elementos na sala, era negro.
Leif nos tinha colocado à direita dele e sorria com orgulho como se houvesse trazido sua apreciada posse para impressionar a seu pai.
Uma mulher escassamente vestida colocou uma taça de prata gigante diante de mim e me sentia um pouco preocupada de que seus seios fossem explodir em minha cara. Encontrava-me aterrorizada de tomar ou beber algo, que um montão de espíritos vodu colocasse algo em minha comida, mas queria ver Wyatt. Por isso me forcei a pegar a taça e abrir os lábios.
O fedor queimou meu nariz e rapidamente a coloquei de novo em seu lugar. Não tomarei isso.
A risada de Leif me sobressaltou e de um puxão chamo a atenção de Ghede, para vê-lo golpear a mesa com uma mão e rir surpreendentemente em voz alta, sem deixar cair nem uma vez um cigarro de sua boca.
— Diverte-me filho, — gritou e o resto dos assistentes, na mesa, se uniram a sua risada.
A mão de Leif tomou a minha sob a mesa, em um intento de apertar e logo a afastei rapidamente.
Não queria que me tocasse.
— Você não gosta de rum, — declarou Ghede para que o resto da mesa escutasse.
Rum. Então era isso. Não, eu não gostei do rum.
— Não, - respondi incapaz de sustentar seu olhar penetrante, inclusive com os óculos escuros. Ainda podia senti-lo.
— Ah, podemos solucionar isso.
É muito improvável.
— Poderia ter um pouco de refrigerante, pai? — perguntou Leif e por uma vez me senti agradecida por sua presença.
Tinha a boca muito seca.
— Sim, traz um pouco de refrigerante. — Ordenou a uma das mulheres de pé, ao redor da mesa, à espera de fazer sua vontade.
— Obrigada, — consegui articular. Wyatt recordei a mim mesma. Fazia isto pelo Wyatt.
— Ah, e tem modos. Escolheu uma boa, filho. Agrada-me. Leif sorriu a meu lado e senti o impulso de vomitar.
— Um brinde. — Ghede anunciou em voz alta ao resto da mesa.
— Ela se apaixonou pelo Dankmar. Correto. — Gozou das respostas de surpresa que vinham dos outros. Olhei debaixo da mesa, pela primeira vez desde que tinha me sentado, e tive que me esforçar para não bocejar. Pelo menos meu vestido não destacava. Cada mulher na mesa se encontrava vestida de uma maneira similar ao estilo antigo. Entretanto, seus peitos eram muito maiores, por isso na realidade tinha o decote à altura de seu nariz. Minha respiração ficou presa, quando observei um dos homens, afastar a parte da frente de uma dama até que seu peito inteiro ricocheteou livre.
Afastei o olhar e estudei outro lado da mesa.
Os homens estavam vestidos com trajes de etiqueta e inclusive vários usavam máscaras negras. Os penteados das mulheres eram
alarmantemente altos. Cachos empilhados ao menos trinta centímetros, joias brilhantes, plumas e outros acessórios. Todos beberam abundantemente e riam estridentemente. Um chiado forte trouxe meus olhos de novo ao outro lado da mesa e vi como o homem que descobriu os peitos da mulher, agora deixava o traseiro dela na beirada da mesa, com seu vestido levantado, e tinha as pernas estendidas enquanto gritava com deleite. Quando o homem foi desabotoar suas calças fechei os olhos e movi minha cabeça para a parede, atrás da cabeça de Leif. Querido Deus, iriam... fazer na mesa. O que tinha acordado?
— Pai, por favor, Pagan não está acostumada a este tipo de comportamento. Por esta noite pode se conter? — perguntou Leif ao meu lado e queria enterrar minha cara em seu ombro e começar a cantarolar uma canção, que disfarçasse os fortes grunhidos que vinham do homem tão somente a uns metros.
— O que? O sexo é parte da diversão. Que é uma festa sem o prazer da carne? Nada. Essa não é a resposta.
A mulher começou a gemer em voz alta e gritar palavras que nunca tinha ouvido antes. O braço de Leif rodeou meus ombros e a seu lado usei seu braço para calar o som, enquanto meus olhos seguiam hermeticamente fechados.
— Sinto muito, Pagan — sussurrou em meu cabelo.
Se ele realmente sentisse, não teria me subornado para que viesse a este lugar. Não era uma comida, isto era... Uma... Maldita orgia. Mais gemidos se uniram e me encolhi com horror, quando as mulheres davam sugestões vulgares e os homens gritavam descrições desagradáveis.
Isto não era nada como o que tinha imaginado.
— Por favor, Pai pode nos desculpar? — perguntou Leif.
— Hmph, suponho. Não quero parar minha festa. Leva à garota, enviarei comida para vocês.
Aliviada, levantei-me com cuidado de não lançar uma olhada para a mesa e deixei que Leif me levasse ao quarto, de novo na segurança do grande corredor.
— Ai. Meu Deus. — Sussurrei horrorizada. Minha mente sempre ficaria traumatizada.
— Sinto muito. Esperava que com meu pai ali, pudessem conterse, mas...
— Mas ele é um doente pervertido. —Terminei por ele. Leif começou a abrir a boca, mas o interrompi.
— Não o faça. Não me importa o que tenho e o que não posso dizer sobre ele, aqui. Essa foi à experiência mais repugnante de minha vida. E você só me levou diretamente a ela. Sem preparação, nem advertência.
— Porque se não, se não a tivesse visto, meu pai a teria castigado.
— E isso não foi um castigo?
— Não, encontra-se entretido. Ele é o um espírito vodu sobre muitas coisas. O erotismo é um deles.
— Uf, Oh, uf! — Neguei com a cabeça e comecei a caminhar para o quarto em que tinha estado antes.
— Não quer ver a biblioteca? — perguntou Leif.
Pensei no que acabava de ver e tive uma ideia do que a biblioteca continha, provavelmente noventa por cento de pornô, era uma saída importante para mim.
— Não, prefiro lavar com cloro meus olhos e meus ouvidos. — Espetei-lhe de volta.
— O que acontece com Wyatt?
Tinha utilizado o poder dessa jogada. Detive-me e o fulminei com o olhar.
Odiava que ainda tivesse algum controle sobre mim.
— Se você sentiu de verdade por esta noite, então o envie para mim agora.
Leif assentiu com a cabeça. — Feito. E vou lhe trazer comida, também. Comida normal e refrigerante.
Não discuti, porque sabia que, quando meu estômago se recuperasse dessa cena asquerosa da que fui testemunha, ia ter fome. Fazia um tempo desde que tinha comido.
— Cruza à direita, é a terceira porta. — Instruiu Leif. Era boa com as direções, assim não necessitava que me recordasse isso, mas mesmo assim, assenti com a cabeça e segui meu caminho. Agora, sentia-me aterrorizada do que poderia ser testemunha nestes corredores.
A porta era de uma cor púrpura escura, com uma grande caveira negra esculpida em mármore montado no centro da mesma.
Não tinha prestado atenção à porta quando tínhamos saído, anteriormente.
É triste, mas isto foi uma lembrança reconfortante para mim.
Anteriormente, tinha-o odiado. Agora, depois da horrível experiência, decidi que tinha que estar muito bem informada sobre este quarto, porque não a deixaria de novo.
Ao olhar para meu vestido, queria tira-lo. Lembrei-me das outras mulheres e me fez sentir suja em usá-lo. Entretanto, não vi minhas outras roupas.
porta se abriu com um rangido atrás de mim e me voltei esperando ver Leif com a comida, mas era Wyatt. Fechou a porta atrás dele e um sorriso triste se curvou em seus lábios.
Era mais sólido do que se supunha que as almas eram.
— Olá, Pagan. — Olhei-o enquanto registrava que só tinha falado em minha cabeça.
— Wyatt, sinto muito. — Respondi me aproximando dele.
— Isto não é sua culpa, Pagan. Não entendia nada disto ao princípio, mas Leif me visitou em várias ocasiões e me explicou tudo.
— Não, é minha culpa. Se tivesse ido com ele quando reclamou minha alma, você estaria vivo. Mas não sabia. Se tivesse sabido que iriam tomar outra pessoa em meu lugar, nunca teria ficado.
— Pensou que A Morte desistiria com o tempo. — Respondeu.
— Sim, pensei. Suponho que sabe sobre Dank agora. — Wyatt assentiu com a cabeça então, estendeu-me sua mão e embora não estivesse segura se a minha atravessaria a sua ou se era sólido como parecia, estendi a mão para pegar a dele. A mão dura e fria sob a minha me surpreendeu.
— Não é como as outras almas. Eles não podem falar e não são sólidas.
— Acredito que é por que estamos aqui. Aqui, Ghede faz as coisas como ele quer que sejam. Acredito que... Uh — Wyatt deixou de falar e olhou para outro lado. Quase parecia incômodo, e pouco a pouco, o jantar desta noite voltou para mim e me dei conta do que estava tratando de dizer.
— Ele usa as almas como entretenimento? — perguntei, Wyatt me olhou e assentiu. Meu estômago se sentiu mal de novo. Ghede tinha utilizado Wyatt dessa maneira? Ia vomitar.
— Não, Pagan, não me obrigou a fazer nada de... essas coisas. Simplesmente o vi. Acredito que por minha idade me mantém a salvo disso, não estou seguro. —Apoiei-me ao lado da cama e me afundei no relevo. — Tem a intenção de que fique aqui, já sabe. — Levantei meus olhos para o Wyatt e assenti.
— Sei. Só desejo que houvesse uma maneira de que pudesse tiralo. Não é justo que tenha que permanecer aqui agora que eu aceitei vir. Ele me tem. Não vou.
— Como esta Miranda? — perguntou Wyatt e a dor em seus olhos cortou através de mim.
Lembrei-me dela sentada em sua cama com suas notas rodeandoa e o urso de pelúcia que lhe tinha agradável em seu colo. Não podia lhe dizer o muito que ela lamentava sua morte. Seria muito.
— Está bem. Sente sua falta imensamente, mas cada dia fica melhor. —Assegurei-lhe. Seu rosto caiu.
— Isso era antes. Quando tinha você. Agora perdeu aos dois. — As palavras não ditas que penduravam no ar entre nós eram grossas e dolorosas.
— É mais forte do que pensa. — Assegurei-lhe, mas a lembrança de seu corpo desequilibrado cambaleando para fora do cemitério dizia outra coisa completamente distinta.
— Espero que sim. — Poderia dizer pelo tom de sua voz que não estava de acordo. Tinha razão, é obvio. Miranda era como uma flor frágil. Uma que necessita de ternura e cuidados especiais. Wyatt sempre tinha entendido e tratou de lhe dar exatamente o que necessitava. Amava-o por isso.
— Ele está vindo. — disse Wyatt, olhando fixamente a porta fechada.
— Pode ficar? —perguntei, não estava disposta a vê-lo partir.
— Não. Mas vou voltar outra vez.
— Fique. Pedi que o deixe. — Wyatt sacudiu a cabeça.
— Não quero Pagan. Não quero estar perto dele. — Compreendi-o. Leif tinha tirado tudo de Wyatt. Seu futuro. Sua eternidade.
— Adeus, Pagan.
— Adeus.
Leif abriu a porta e Wyatt passou ao seu lado sem dizer uma palavra. Franzindo o cenho, Leif fechou a porta e se aproximou da mesa junto à cama e deixou uma bandeja de prata cheia com elementos reconhecíveis, como queijo e bolachas, morangos, carne de porco e bolachas com gotas de chocolate.
— Não gosta de mim. — murmurou Leif, enquanto entregava um grande prato redondo de porcelana.
— Não, não gosta. Mas, quem pode culpá-lo? Tirou-lhe a eternidade. Agora está preso aqui para sempre. — A linha de ira de minhas palavras lhe fez estremecer.
— Não tomei sua alma, Pagan, meu pai o fez. Não tinha nem ideia que ia fazê-lo. Ghede não dá respostas a ninguém dentro do nosso reino. Ele toma as decisões que lhe agradam e se excede em coisas prazerosas e corrompe atividades agradáveis, fazendo as coisas que devem ser satisfatórias e boas como condutas depravadas. Nada do que possa dizer o deterá. Era um menino quando me pediu para escolher uma alma. Não tinha ideia de quais eram as consequências. Escolhi você. Então, não sabia o que isso significava. Pode me odiar, mas trate de entender que eu não sou o meu pai.
Pode não ser seu pai, mas não tinha coragem de enfrentá-lo. Era fraco. Mas acaso não soube sempre? Inclusive quando eu pensava que era um ser humano, Leif tinha sido fraco. Nunca aceitava realmente o peso de suas ações. Sempre lhe fazia sentir como se suas desculpas fossem algo precioso e especial, e que seria estúpida se não as aceitasse. O carisma que tinha levado tinha ganhado muitos avanços. Quem era ele exatamente? Se seu pai era Ghede então, quem era Leif?
— Quem é sua mãe? — Leif fez uma pausa, fixando a vista em seu prato. O morango caiu de seus dedos no prato, logo suspirou com cansaço antes de levantar os olhos e me olhar através de suas longas pestanas loiras.
— Minha mãe é Erzulie, é a razão de que minha pele seja pálida e meu cabelo loiro. É a deusa vodu de muitas coisas. O amor é uma... A vingança é outra. Tem muitos amigos e desfruta das mesmas coisas que faz meu pai. Vejo-a de vez em quando, mas a maior parte do tempo vivo com meu pai. Nunca teve nenhum desejo de ter filhos, mas não sou o
único. Têm vários, muitos dos quais andam pela terra. Está atrás dos homens humanos, tentando levá-los para sua cama. — Sua mãe era uma deusa vodu do sexo amalucado. Genial.
Peguei um bocado de porco e mastiguei enquanto esta informação se afundava em mim. Nunca questionei sua verdadeira cor de pele até esta noite. Quando vi que seu pai era de cor negra me surpreendi. Mas também estive chocada pela selvagem orgia que passava e esse tipo de precedência.
Depois de tomar um longo gole da lata de Coca-Cola que Leif tinha me levado, estudei-o por um momento.
— Não fala como seu pai, tampouco. Ele tem um pouco de acento Cajun. — Leif deu de ombros.
— Passei a maior parte de minha vida a seguindo. Adotei seu acento, assim estaria em linha com sua vida. Não queria que sentisse saudades.
— Então todos esses sonhos que tive são reais? Essas coisas realmente aconteceram. Há mais lembranças que esqueci? — Leif olhou fixamente a comida em seu prato. Logo fez um pequeno encolhimento de ombros
— Talvez uns poucos mais. — Mentia. Nem sequer podia me olhar.
— Uns poucos mais? Isso é tudo?
Deixando seu prato na mesa, Leif ficou de pé e começou a caminhar para o extremo da cama. Viu como eu comia o queijo e as bolachas no prato. Tinha a sensação de que não ia gostar desta resposta, e decidi que seria melhor que comesse antes que eu perdesse o apetite de novo.
— Estive contigo muitas vezes em sua vida. Quando estava sozinha ou triste, eu estive ali. Quando corria perigo, ali estava eu. Era o que fazia. Meu pai disse que era minha e devia protege-la. Assim o fiz. Sinto que não recorde. Não foi algo que fiz de propósito. É só que eu não tenho alma e sua alma não pode recordar por muito tempo quando não estou perto de você.
— Por que quer que recorde aqueles tempos? O que escolheu para eu sonhar? — Leif se deteve e pôs suas mãos sobre o corrimão ao pé da cama. Seus intensos olhos azuis me penetraram.
— Porque essas foram às vezes que me apaixonei um pouco mais por você. — Não. Não, não, não, e não. Não queria que me amasse. Queria que me deixasse ir.
— Você não me ama, Leif. Se me amasse, nunca teria sido capaz de me manter contra minha vontade. — Leif grunhiu de frustração e levantou as mãos.
— Já lhe disse que não posso controlar meu pai. Ele salvou sua vida. É seu dono, Pagan.
—Ninguém é meu dono. — Leif negou com a cabeça.
— Não quero discutir com você. Não esta noite. Vamos comer, de acordo? —Caminhou de volta e agarrou seu prato.
Terminei de comer minha comida até que meu estômago esteve definitivamente satisfeito e logo bebi até a última gota de meu refrigerante. Não estava segura de quanto tempo passaria antes que eu tivesse a oportunidade de voltar a comer. Porque de maneira nenhuma queria voltar para aquela sala de jantar. Poderia morrer de fome, pouco me importava.
— Está cheia? — Perguntou Leif, levantando e empilhando os pratos na bandeja.
— Sim. — Era a única resposta que ia obter de mim. Voltou-se para sair e logo se deteve. Seus ombros caíram com um profundo suspiro e me devolveu o olhar.
— O que posso fazer para lhe demonstrar que a amo? Algo além de permitir que vá, porque não posso. Farei qualquer outra coisa que me peça. Quero que aceite isto. A nós. Só me diga. — Devolvi o olhar e sabia o que podia fazer para que minha eternidade fosse mais suportável.
— Libera Wyatt com um transportador. Não o prenda aqui.
— Se convencer a meu pai para liberá-lo com um transportador, então acreditará que a amo e deixará que isto funcione entre nós?
Senti um nó formando-se em minha garganta diante da promessa que estava a ponto de fazer. Estaria atirando a pequena esperança de que Dank pudesse me salvar nisto. Mas a alma de Wyatt estava em jogo por minha culpa.
— Sim, se levar a alma de Wyatt para a mão de um portador e me demonstrar que assim foi. Uma vez que saiba que aconteceu e que sua alma está onde lhe corresponde, então ficarei contigo. Farei o que puder para fazê-lo feliz. Para nos fazer... A nós... Felizes. — A cara de Leif rompeu em um sorriso, pela primeira vez em toda a noite.
—Temos um trato. Descansa um pouco, Pagan. Amanhã será um novo dia e não posso esperar para começar a eternidade com você.
Não estava totalmente de acordo com ele. Acabava de destroçar meu coração.
De pé na escola derrubada que ficou devastada pelo tornado que acabava de levantar todo um povo, não podia me concentrar em meu objetivo. Tinha que procurar a entrada de Vilokan. Mas as almas tinham que ser tomadas. Espreitava através das gretas do edifício, tirando as almas cheias de dor dos corpos dos meninos e professores. Vários portadores me seguiam em minha vigília.
Cada vez que passava um menino cuja alma não tinha que ser tomada, sentia alívio. Uma vida mais que se salvou da tragédia.
Segui o rumo a cada edifício e casa sem contar as almas. Só me levou alguns momentos e logo caminhei pelos caminhos lamacentos da Nicarágua, onde tinham almas de mulheres doentes e meninos que nunca tiveram uma oportunidade. Casas de papelão e pisos de lodo enchiam a terra. Não havia água potável em quilômetros. Tanta pobreza aqui, enquanto em outros lugares havia tanta abundância.
Os distintos países, continentes, causas, passavam frente a mim, enquanto arrebatava as almas dos corpos.
A morte ocorria frequentemente. Era um escuro vazio que uma vez caminhei sem alegria. Depois, Pagan entrou em meu mundo e tinha feito tudo bom. Fazia que o vazio se fosse dando uma razão para existir.
Agora, havia partido. Eu lhe faltei. Encontrava-me a ponto de assaltar as ruas de Nova Orleans e rasgá-las do principio ao fim até encontrar o portal que procurava.
— Dankmar — A voz de Gee me chamava, e me afastando de minha tarefa, olhei-a.
— O que? — Grunhi. Vê-la só me fez recordar Pagan. Minha Pagan.
— Ghede vai liberar a alma de Wyatt para um portador. O Criador me chamou. Disse que o avisasse, e que pode fazer com essa informação o que te agrade.
— Onde? Quando? — Perguntei-lhe enquanto disparava a esperança através de meu peito.
— Esta noite. Ele quer que faça o mais breve possível. — Por quê? Qual era seu jogo?
— Onde? — Exigi.
— Na Rua Bourbon. — Então o portal se encontrava na rua Bourbon.
— Necessito dos portadores que irão conosco. Dirige-os. Eu me encarrego do resto.
Gee correu para me seguir o ritmo enquanto eu espreitava a rua para a igreja católica, onde um sacerdote acabava de terminar com sua vida. Tinha que lutar com a alma, então poderia chamar as tropas. — Por quê? O que vai fazer?
— Vou explodir o maldito Inferno para entrar. Isso é o que vou fazer.
— Quer dizer: Vilokan?
— A mesma coisa.
stava farta deste espaço. Inclusive, embora as enfermeiras fossem realmente agradáveis, sentia saudades do meu quarto. Eu gostava de meu tapete rosado e macio e minhas bonecas Bratz. E perguntei a mamãe se podíamos ir pegá-la, mas disse que estava muito longe. Não quis me deixar por muito tempo, e eu tampouco quis que ela fosse por um momento. Agora que a avó retornou a casa para ver seu doutor, éramos somente mamãe e eu. Ela foi pegar um pouco de café e algo quente para comer, disse. Sei que não dormiu muito bem na cadeira ao meu lado, que se converteu em uma cama. Mas me alegrei de que ficasse.
De noite me dá medo. O quarto era muito escuro e às vezes minha porta se abria e ninguém estava ali. Mamãe disse que os fantasmas não eram reais, mas eu não estou tão segura.
Já sentia saudades da avó. Ela me lê um conto cada manhã. Quis perguntar a mamãe se podia me ler uma história, mas seus olhos se viam muito sonolentos. Coloquei a mão sob meu travesseiro e tirei o bonito agulheiro em forma de coração que a avó tinha me deixado. Sempre gostei quando punha sobre suas camisas. Disse que meu avô o deu no dia de seu casamento. Havia lhe dito que agora ela tinha seu coração. Isso era uma tolice, mas soava como o tipo de coisa doce. Eu o tinha agora, porque tinha o coração da avó. Sempre poderia recordar que ela me amava.
A porta se abriu e entrou um garoto que eu não conhecia. Ele não vestia branco ou azul, assim não era um médico ou uma enfermeira. Seu cabelo negro era um pouco comprido à frente, mas ondulava no final. Uns olhos realmente azuis me estudaram e o olhei fixamente de volta. Tinha as pestanas longas como uma menina, mas ele levava uma jaqueta negra de couro e jeans desalinhados e um par de botas negras, mas não eram muito femininas. Era o irmão mais velho de alguém que se perdeu?
— Olá, Pagan — disse com uma voz cálida, profunda, que me fez sentir à vontade.
— Ouça, como sabe meu nome?
Ele riu um pouco. — Porque vim para lhe falar de algo.
— Supõe-se que não devo falar com estranhos. — Respondi, sacudindo a cabeça e assinalando meu dedo para a porta. A mamãe teria um ataque quando retornasse ao quarto. Teria um ataque quando retornasse e o encontrasse aqui.
— Isso está bem, mas eu não sou exatamente um estranho. Você me verá outra vez logo. Estou aqui para lhe explicar algo e necessito que me escute, certo?
Assenti.
— Seu corpo está doente. Os médicos não vão ser capazes de fazêlo melhorar. Mas seu corpo é só uma casca. É uma alma. Quanto a este corpo que ficou muito doente, a alma terá que deixá-lo e é aqui onde entrarei. Estarei aqui para lhe tirar deste corpo doente e logo apresentarei a uma jovem moça formosa que parecerá uma princesa de contos fadas. Ela a levará a um lugar onde lhe darão um novo corpo.
— Mas, como minha mamãe me conhecerá se estiver em um corpo diferente? Ela conhece somente este corpo.
— Isso é verdade. Vê, a vida que tem agora morrerá. Lembra-se quando seu avô morreu?
Assenti.
— Bom, sua alma deixou esse corpo, foi enviado para cima e lhe deram um novo corpo. Uma nova vida. Sua vida seguinte, sua alma estará perto da alma de sua mamãe e as almas de todas as pessoas que ama. As almas se unem em cada vida. Não recordará esta vida, mas sua alma recordará as almas que ama.
Então, teria que me sentar e esperar a mamãe no Céu e voltaria a vê-la outra vez?
— Certo.
O menino pareceu feliz com minha resposta. — Boa garota. Agora, a próxima vez que me vir saberá que é a hora. Virá comigo. Não tente ficar com seu corpo, porque quer ter outra vida, certo?
Não entendi realmente, mas assenti. Então recordei o bonito coração de minha avó. Apertei-o forte e perguntei: — Pode pegar isto e me dar depois que minha alma deixar meu corpo? Quero tê-lo comigo.
O menino franziu o cenho e alcançou o coração de cor rosa em minha mão estendida.
— Acredito que poderia fazer isso, — respondeu.
Vi como o deslizou em suas calças jeans.
A porta se abriu e entrou minha mamãe. — Ouça meu amor, trouxe um pouco desse suco de laranja que você tanto gosta — disse com voz feliz. Olhei ao menino e ele pôs seu dedo sobre os lábios, negou com a cabeça e logo se foi.
— O que é isto? — Perguntei, levantando o vestido de seda estranha que tinha encontrado em minha cama quando despertei.
Leif deixou uma bandeja cheia de rosquinhas, frutas, nata, pão, queijo nata e bacon antes de me responder. — É o vestido cerimonioso que usará esta noite.
— Umm, não, eu quero minhas calças jeans.
Leif apertou sua mandíbula e se levantou. — Não, Pagan, usará o que lhe diga que use. Estou cansado de que seja tão difícil. Lembre-se que, se eu fizesse os acertos para a alma de Wyatt, se o entregasse a um transportador, você faria todo o possível para que isto funcionasse.
Bem, merda. —Não sabia que você teria que escolher meu vestuário a partir de agora, isso é tudo. — Queixei-me e deixei cair o vestido negro de novo à cama e agarrei uma rosquinha cheia de nata.
— Sei, e, normalmente, não vai ser assim, mas há certos momentos que tem que usar certas coisas. Este é um desses momentos. Estará comigo em posição de minha princesa, estando com Ghede.
— Mas parece com uma camisola. — Argumentei.
— Ficará um encanto em você, — respondeu Leif.
Voltei a olhar à peça de seda ofensiva. Ghede fazia tudo o que tinha em sua mão para que fosse tão sexual?
— Se cobrirá adequadamente. Prometo isso. Entretanto, deveria se sentir cômoda com sua pele. Aqui é reverenciado e apreciado. Há poucos que a ocultam. Cobrir toda a pele está destinado a aumentar o atrativo, não a ocultá-lo.
Queria meu jeans. Agora. Só de ouvi-lo falar de minha pele, deixou minha pele arrepiada. Esperava que insinuasse meu corpo a seu pervertido pai, estava louco. Aceitei a fazer este trabalho, não me converter em uma prostituta.
— Só falta tempo para acostumar-me.
— Quando vamos dar a alma de Wyatt a um portador? — Realmente queria mudar de assunto.
— Esta noite.
Bom. Tinha a esperança de que fosse hoje. Tomando a taça de prata, detive-me e a levantei para Leif. — O que há nisto?
— Suco de uva. É fresco e não se parece com nada do que tenha provado. — disse Leif, com um sorriso divertido.
Dado a que estaria aqui pela eternidade, tinha que começar a confiar nele. Pus a taça nos lábios e tomei um gole. O suco doce golpeou minha língua e rapidamente bebi mais. Tinha razão. Não se parecia com nada que alguma vez tenha provado. O rico sabor despertou minhas papilas gustativas e me senti um pouco enjoada. Acendeu-se o alarme em minha cabeça e rapidamente deixei a bebida e alcancei a tigela de frutas.
— Foi uma corrida de açúcar, Pagan. Nada mais, — disse Leif quando alcançou sua taça.
Eu não estava tão segura disso, mas também me encontrava algo paranoica. Com uma boa causa.
— Você gostaria de visitar Wyatt antes dele partir?
— Sim, por favor, — consegui parecer amável nesse momento.
Evidentemente tinha agradado, Leif sorriu intensamente.
Terminei o meu café da manhã, e esperei que Leif tomasse isso como uma indireta para ir. Ele havia batido na porta e me perguntou se eu queria café da manhã, e logo me deu tempo suficiente para me desfazer da roupa que tinha me dado ontem à noite, meu pijama. Que era de flanela, graças a Deus.
Tive um sonho ontem à noite, de uma lembrança, que absolutamente não tinham haver com Leif. Ele não entrou em minha cabeça. Lembrei do dia que Dank foi no meu quarto de hospital, e eu lhe tinha dado meu broche. As lágrimas queimaram meus olhos ao recordar o broche que agora se encontrava ao lado de minha cama. Era a única coisa que lamentava não ter trazido comigo.
— Levarei esta bandeja, e voltarei logo. Talvez finalmente possamos ter esse tour, — disse Leif em tom jovial. Tinha muito para ser feliz. Tinha ganhado.
— Poderia enviar Wyatt para me ver? — Isso era tudo o que realmente importava.
Leif assentiu com a cabeça. — É obvio.
Fechou a porta atrás dele e me perguntei se isto alguma vez ia melhorar.
onvenceu-lhes a me deixarem ir. — A voz de Wyatt entrou em minha cabeça e me voltei para vê-lo de pé em minha porta.
— Sim, é o mínimo que posso fazer.
— Mas, e você? O que lhes prometeu para que estivessem de acordo com isto?
— Nada que não teria que fazer de todos os modos. Estou presa aqui com o Leif. Só lhe prometi que não seria uma malcriada eterna, se me concedesse este desejo.
Wyatt sorriu. — Você sabe como ser uma malcriada.
— Olhe quem fala "O Senhor As meninas não estão permitidas”.
O sorriso de Wyatt cresceu. — Não vai esquecer-se disso alguma vez, verdade?
— Não e tenho uma eternidade para pensar nisso.
Seu sorriso divertido se desvaneceu. Não tinha a intenção de nos recordar a ambos os que me esperava.
— Deus, se pudesse leva-la comigo. — Sua voz se reduziu a um sussurro.
— Eu também. Mas isto é... É o meu destino. Não é o seu e estou muito agradecida que vai ser posto em liberdade.
— Você crê que a Mor...te, Dank virá?
Duvidava que Ghede lhe permitisse aproximar-se de mim. Além disso, que bem lhe faria? Não podia lhe permitir à Morte que me levasse. Ghede tomaria a vida de outra pessoa que amava e estaria de volta nesta mesma situação.
— Não importa se o faça. Tenho que pagar esta indenização.
Wyatt negou com frustração a cabeça. — Isto é tão mau.
Não poderia estar mais de acordo, mas cheguei a um acordo com isto. Forcei um sorriso. — Faria algo por mim?
— É obvio — respondeu rapidamente.
— Diria a Dank que sempre o amarei? Que sinto não poder sair daqui. Estou protegendo aos que amo. Mas pensarei nele todos os dias e vou cantarolar sua canção para mim mesma todas as noites, quando for dormir.
Wyatt assentiu com a cabeça, logo fez uma careta. — Isso é um pouco, muito brega para meu gosto, mas sim, acredito que posso lhe transmitir isso.
Revirei os olhos e ele riu entre dentes. Era quase como se estivéssemos sentados um frente ao outro na cafeteria de novo.
— Ele vai retornar e já sabe o que sinto por ele.
— Te amo, Wyatt. Vou sentir saudade e chorei quando ele abriu a porta.
Deteve-se e me olhou. — Eu também a amo, Pagan. Sentirei saudades também. Em cada vida.
Soluçando, consegui assentir com a cabeça antes que desaparecesse através da porta.
— Sabe Dankmar, quando me disse que iríamos explodir o inferno, pensei que falava a sério. Entretanto, um grupo de transportadores e você, não são suficientes para acabar com uma turma de espíritos vodu.
Eu tinha um plano, mas uma vez, Gee não precisa saber de tudo. Ela fez o que lhe pedi e isso era suficiente.
— Tenho o que necessito respondi simplesmente.
— Espero que você saiba algo que eu não saiba, porque não só estamos a ponto de enfrentar um montão de espíritos vodu, e também vamos fazê-lo em seu próprio terreno. Aqui mesmo, em sua Meca. Alguma vez escutaste o ditado, "a vantagem de jogar em casa"? Bom, esta é a descrição.
— Entendi Gee.
Com um suspiro de cansaço, caminhou ao meu lado com as centenas de transportadores em nossa esteira. Parecíamos como o diabo com groupies 16 dos exércitos celestiais, mas não me importava.
Meu plano era forte. Isto funcionaria ou iria contra Vilokan e destruiria todo espírito que cruzasse meu caminho. Pediram minha ira, pois bem, agora a tinham.
A porta se abriu depois de uma batida rápida. — É hora. — Anunciou Leif sorrindo brilhantemente.
Tinha muita vontade de esbofetear o sorriso de sua cara, mas no lugar disso eu ajustei a minha camisola negra que era obrigada a usar e dava graças a minha boa estrela que era larga. — Vamos fazer isto. — Respondi-lhe e me dirigi para a porta. Ofereceu seu braço e me neguei com a cabeça. — Não, isto não terminou ainda. Deixe Wyatt seguro em mãos de um portador e fora deste lugar, então cumprirei com minha parte no trato.
Leif pareceu pensar nisso um momento e logo assentiu com a cabeça. Pelo menos, era razoável.
— Você marca o caminho — Disse no corredor. Não tinha ideia de aonde íamos.
— Sabe que Dankmar provavelmente estará aqui, Pagan.
16 Um groupie ou Grooper na América Latina, no sentido estrito da palavra, é uma pessoa que
procura intimidade emocional sexual com um músico famoso ou outra celebridade. Entretanto, este termo também se aplica a uma jovem admiradora de um determinado cantor ou grupo musical, aos que segue incondicionalmente.
Sim, já tinha me preparado para isso. O impulso de correr para seus braços protetores ia ser forte, mas tinha que manter minha cabeça clara. Vidas dependiam de mim. As vidas das pessoas que amo.
— Imagino que estará. — Respondi-lhe com frieza.
— Entende as consequências se for com ele.
— Sim, Leif, sei que vai matar a todos os que amo e tomar suas almas para que vivam aqui, na fornicação, por toda a eternidade. Entendi.
Leif se deteve e se voltou para me olhar. — Pagan, isto não é sobre mim. Já lhe disse isto, é meu pai. É a forma em que opera. Não posso controlá-lo. Não tem nem ideia de quanto o tive que enrolar para que devolvesse a alma de Wyatt. E para ser honesto, a única razão, eu acredito, para aceitar é porque acredita que assim negará de ir com Dankmar e que vai ser ele quem a controlará.
Senti um mal-estar no estômago. Realmente odiava seu pai.
— Agora, por favor, entenda, nenhuma dor que tenha sofrido é porque eu o quisesse. Nunca quis lhe fazer dano. Eu sempre pensei que me queria. Que sua alma me queria. Diabos, quando chego a qualquer lugar perto de você, seus olhos ficam como se tivessem sido apanhados no fogo. Supunha-se que me quisesse. Mas não o faz. Em lugar disso quer a ele. E não pode tê-lo, Pagan. Nunca esteve destinado a acontecer.
Abri a boca para gritar quão injusto era tudo isto, mas rapidamente a fechei de novo. Tinha que deixar de estar zangada com ele. Esta era minha vida agora. Em algum ponto tinha que aceitá-la. Hoje seria um bom dia.
— Está bem.
Leif arqueou uma sobrancelha. — Está bem?
— Já me ouviu, Leif. Já disse que sim. Agora vamos.
Parecia um pouco desconcertado, mas logo assentiu com a cabeça e continuou liderando o caminho. Passamos de um salão de máscaras a outro, até que duas grandes portas se abriram mais adiante e pude ver a familiar imagem da rua Bourbon.
Caminhamos através de habitantes que conhecia pelo jantar de ontem à noite, e estremeci enquanto sorriam sadicamente para mim. Estou presa com estes psicopatas.
— Já basta — Vaiou Leif, quando um dos homens lançava olhadas lascivas ao meu peito.
Aproximou-me dele e fui com muito prazer.
— Então, isto é algo para ver, não é assim? — disse Ghede enquanto caminhava no grande vestíbulo. Vestia mais uma vez uma cartola, óculos escuros, e um smoking com cauda.
— Não a deixe incômoda, Pai. — Declarou Leif.
— Quem? Eu? — perguntou em um tom divertido. Observei-o enquanto levantava a mão e colocava dois cigarros na boca e logo dirigiu sua atenção às atividades realizadas lá fora. Já o tinha visto uma vez e não queria voltar a vê-lo.
Wyatt entrou na sala, flanqueado por ambos os lados, por mulheres virtualmente nuas. O que não foi uma surpresa começar a pensar que todas as mulheres aqui, menos eu, gostavam de usar tão pouco como fosse possível.
Uma das mulheres passava uma longa unha vermelha pela metade da camisa de Wyatt e logo continuou para baixo, por cima de seu zíper. Ele não se alterou, mas pude ver a tensão em seu rosto.
— Por favor, detenham-nas. — Sussurrei a Leif, que seguiu meu olhar.
Ele negou com a cabeça e se inclinou para mim. — Se fizer uma cena, logo meu pai fará que isto seja muito pior. Se não quiser ver uma dessas duas montada em Wyatt aqui, não diga nenhuma palavra. Wyatt sabe. É por isso que está tão tranquilo.
A ingestão da bílis ardeu em minha garganta e tive que afastar meus olhos deles e rezar para que o transportador não demorasse a chegar.
As ruas lá fora de repente ficaram vazias e tranquilas.
— Ah, A Morte se aproxima! Os cansados correram a ocultar-se.
— Ghede arrastou as palavras e tirou os dois cigarros de sua boca para exalar pequenos anéis de fumaça antes de levar à boca de novo.
— O que quer dizer? — Disse-lhe Leif.
— Dank está perto. As almas das pessoas nas ruas o sentem e saíram correndo. A diferença de você, a maioria dos seres humanos não se aferra à Morte quando está em sua forma verdadeira. Claro, gostam do cantor Dank Walker, mas quando está realmente na forma da A Morte, eles se ocultam.
Vi como as escuras ruas se fizeram mais brilhantes. Sussurros e risadas nas minhas costas faziam querer correr para fora para evitar tudo isto, mas Wyatt se agitou a minha esquerda e recordei por que fazia isto. Ele me deu um sorriso triste e logo Ghede lhe fez gestos de adiantar-se.
Dank, junto com mais portadores dos que jamais tinha visto, encheu a rua frente às portas. Gee se encontrava diretamente junto a ele. Sua expressão feroz escrutinou a multidão no interior e imediatamente me encontrou. Neguei com a cabeça em sua direção, lhe fazendo saber que não podia ir para eles. Se eles trouxeram todos estes portadores para me levar, estavam sem sorte, porque eu não iria. Não podia.
— Bem, bem, bem, Dankmar e seus amigos. A que lhe devemos esta honra? — perguntou Ghede em voz alta, divertida.
— Sabe por que estou aqui, Ghede — respondeu Dank, travando sua expressão em mim. A fria determinação em seus olhos se transformou em fúria quando seu olhar se posou em meu vestido.
— Tsk, não sei o que quer dizer. Você disse que a deixaria escolher, — anunciou Ghede brilhantemente, agitando a mão em minha direção.
— Ela o fez.
Gee deu um passo para mim e o braço de Dank saiu disparado e a reteve. Ele entendeu.
— Não. Você a obrigou a escolher. Isso não era parte do acordo, — respondeu Dank. O veneno em sua voz me fez tremer. Nunca o escutei soar tão sinistro.
— Aqui está a alma que você veio buscar, — Ghede empurrou Wyatt para Dank e com muito gosto Wyatt foi. Um transportador deu um passo para frente, e imediatamente ela e a alma de Wyatt partiram.
— Agora, é tudo o que queria? Ou quer perguntar a ela você mesmo? — Ghede deu a volta e fez gestos para ir à frente. — Vem aqui, Pagan. — Convenceu-me.
Leif me apertou o braço e me empurrou suavemente para seu pai. Tratei de recordar a mim mesma que se atuasse de maneira assustada, Dank me levaria, e terminaria com isto.
Depois, perderia a alguém mais. Tinha que manter a calma.
— Lhe pergunte Dankmar. — Incitou Ghede, que me empurrou diante dele.
Os olhos de Dank perfuraram os meus. Tratava de me dizer algo, mas não estou segura do que. Em seu lugar, fechei os olhos com força e lutei com força e logo os abri e olhei diretamente para ele. — Quero que...
— Não lhe perguntei nada disso ainda, Pagan. Guarda esse pensamento um momento mais. — Interrompeu-me. Seu olhar duro atravessava Ghede que estava atrás de mim.
— Mexeu com a pessoa equivocada desta vez, Ghede. Você gosta do entretenimento, mas nunca quis ser o ator de ninguém.
Os transportadores começaram a mudar para as laterais, cobrindo as ruas enquanto homens grandes com espadas reais penduradas na cintura enchiam a rua atrás e ao lado de Dank.
Ofegos e chiados e outros sons horrorizados vieram atrás de mim, mas eu fiquei assombrada quando o exército ao redor de Dank cresceu.
— Trouxe os guerreiros por uma garota? — A voz de Ghede soava incrédula.
—Sim. — Foi a única resposta de Dank. Deu um passo para frente estendeu a mão para mim. Eu queria agarrá-la e correr para ele, mas neguei com a cabeça enquanto as lágrimas enchiam meus olhos. — Não posso. — Engasguei-me.
— Confia em mim, — respondeu. Escutei tantas vezes as mesmas palavras do Leif nas últimas semanas, mas nada do que ele fez foi digno de confiança. Dank era diferente. Ele era A Morte. Conhecia as razões pelas quais tinha medo de ir. Mas seu "confia em mim" era suficiente. Dei um passo para frente e pus minha mão na sua. Ele me aproximou do seu lado.
— Má escolha, pequena. — Ghede chiou do outro lado da porta.
— Não, Ghede. Você é o único que fez uma má escolha. Não tome o que é meu.
Dank inclinou a cabeça e me beijou na têmpora. — Te amo e me encarregarei. Ninguém mais vai morrer. Confia em mim. Agora, quero que vá com a Gee e saia do caminho. — Sussurrou-me ao ouvido.
Assenti, mas rapidamente joguei os braços ao redor de seu pescoço e o apertei com força antes que a mão de Gee se envolvesse ao redor de meu braço.
— Vamos. Haverá muito tempo para isso depois, — disse Gee, puxando-me para que fosse com ela. Soltei Dank e me apressei a continuar com ela antes que me arrancasse o braço.
— Tomou uma alma que era muito jovem para defender-se. Uma alma que pertencia ao Criador. Trocaste o destino e logo decidiu jogar com um mundo que não é seu. Saiu de seu reino e levou outra alma que não estava sob seu governo. Agora lhe dou uma alternativa, Ghede. Fechamos este portal, assim como os que se encontram na África e Haiti, onde os guerreiros estão de guarda e os selamos por toda a eternidade. O poder do vodu vai terminar aqui. Justo agora. Passou da raia. — A forte voz de mando de Dank tinha um auge nas ruas.
O sorriso de brincadeira de Ghede tinha desaparecido.
— Ou deixa a alma de Pagan ir. Livre de qualquer restituição. Manter-se-á afastado dela e de sua família por toda a eternidade e seguirá sendo como é. Mas lhe advirto que se vir seu filho, a você ou qualquer de seus espíritos, se aproximando uma vez mais de Pagan, vou terminar esta religião. Não haverá segundas oportunidades. É sua escolha.
Ghede deu a volta e encontrou o olhar com o Leif, a qual estava fixo no meu. Seu pai o deixava escolher. Senti um pequeno toque de simpatia pelo menino que estava em minha vida por muitos anos. Eu sabia que havia lembranças que nunca recordaria, onde Leif entrou em minha vida quando eu necessitava de alguém. Estaria agradecida por aqueles momentos. Se só tivesse sido o homem honesto, puro, doce,
que parecia. Mas era um produto do mal. Nada mudaria isso. Era egoísta e fraco. Nunca seria suficiente para mim. Meu coração nunca poderia amá-lo. Minha alma nunca poderia querê-lo.
Então ele respondeu: — Deixe que vá.
tênue tecido de cor rosa balançava suavemente em suas pernas enquanto ela vinha para mim. Preferi observar sua entrada em vez de me aproximar dela. Saltos prateados cobriam seus pequenos e delicados pés. A bainha de seu vestido roçava a sua pele justo acima de seus joelhos. A linha de sua cintura estava coberta por um cinturão de gaze com uma ampla faixa de cetim. Diretamente em cima de seu coração, o familiar coração de filigrana brilhava enquanto que a luz golpeava suas pequenas pedras rosa. O vestido não tinha alças, por onde a suave pele de seus ombros fosse visível, assim como também a elegante curva de seu pescoço. Normalmente, desfrutava ver seu cabelo solto, mas tinha a massa sedosa de seus cabelos cor café recolhidos em um elegante coque, deixando seu pescoço e ombros nus.
Quando estava a uns passos de distância, movi-me para ela e lhe ofereci minha mão. Ela deslizou sua mão na minha e a conexão de nossas palmas enviou ondas de calor por todo meu corpo. A luz que iluminavam seus olhos fazia que o verde deles brilhasse. Estava submerso na profundidade de sua beleza, enquanto ela me olhava. Depois de pegar cada detalhe de sua perfeita parte enquanto entrava, pareceu quase impossível que sua alma excedesse a beleza exterior. Mas como eu me tinha empapado da formosa alma que via tão claramente através de seus olhos, sabia que sim era possível.
— Dank, temos que estar no palco, homem. Se ela já estiver aqui, então vamos.
Loose, meu baterista, interrompeu-me. Com o cenho franzido, revirei meus olhos para me encontrar com seu olhar. Os dreadlocks loiros longos que deixava às garotas loucas estavam penteados em um rabo de cavalo. Estava tentado a me aproximar e arrancá-los de sua cabeça.
Pagan acabava de chegar. Sua mãe tinha lhe dado um passe para mim. Esteve passando tempo extra com o Miranda e sua mãe desde sua volta. Ambas pareciam necessitar de tranquilidade já que ela se encontrava de fato viva. Quando o automóvel caiu no oceano, perdeu a memória. Bom, essa foi nossa história. Acredita-se que Leif se afogou. Além disso, as lembranças sobre ele se desvaneceriam rapidamente. Muitas pessoas já o estavam esquecendo.
— Só estou dizendo que já é hora. — Queixou-se Loose. Pagan riu atrás de mim.
— Está bem. Vá e faça rock.
Deslizei minhas mãos entre as suas e a empurrei comigo. — Não sem você lá em cima, para que possa lhe ver.
Este também era seu baile de graduação, mas eu não gostava da ideia de outros meninos dançando com minha garota. Ela estava muito bonita esta noite.
— Sem queixa de minha parte, — disse, enquanto me seguia.
Detivemo-nos a esquerda do cenário e a beijei suavemente nos lábios. Só queria lhe dar um beijo rápido, mas seus braços se enrolaram ao redor de meu pescoço e mordeu meu lábio inferior pelo que decidi que a multidão podia esperar.
Puxando-a contra mim, desfrutei do doce sabor que só Pagan tinha. Seus lábios suaves se amoldavam debaixo dos meus e lutei para permanecer concentrado, esperando o momento em que sua alma liberasse. Um suave gemido escapou de sua garganta e meu sangue começou a ferver debaixo de cada pequena carícia de seus braços e sua língua. A concentração se tornava cada vez mais difícil. A pressão de seu suave peito contra o meu me provocou um estremecimento que corria através de mim. Por que sua alma não se liberou ainda?
Não podia seguir com isto ou todo pensamento coerente me abandonaria. Quentes dedos roçavam meu abdômen enquanto ela deslizava uma mão debaixo de minha camisa.
Ofegando, separei-me dela e observei seus lábios inchados e vermelhos e suas pesadas pálpebras.
— Sua alma. Ela não está se liberando. — Consegui dizer isso. Correndo sua mão por meu peito, sorriu-me fracamente. — Também notei isso. Por que se deteve?
Acaso a petição de Leif sobre sua alma a tinha afetado? Sacudindo minha cabeça, decidi que no momento não me importava. Não ia desperdiçar este inesperado presente. Agachei-me e a tomei em meus braços, e comecei a dar largas pernadas por volta do quarto onde estavam guardados nossos equipamentos.
— O que está fazendo?
— Vou desfrutar de uma larga sessão de beijos com minha garota. Isso é o que estou fazendo. — Expliquei, entrando no quarto e fechando a porta atrás de mim com meu pé.
— Oh, — ofegou antes que a empurrasse contra a parede, levantando-a enquanto ela enrolava suas pernas ao redor de minha cintura. Saboreei sua boca como nunca tinha feito antes, sem pensamentos de autocontrole rondando por minha cabeça. A única coisa em que pensava era no sortudo que era.
A banda do Dank cantou quatro de suas canções mais populares e a classe de 2012 da preparatória Breeze desfrutou de cada minuto disso. Só teríamos dois meses mais até que caminhássemos através do cenário e recebêssemos nossos diplomas.
— Ouça linda. É a pior distração que possa imaginar. — Disse-me Dank nessa escura e suave voz que tanto amava.
Loose dizia à multidão que retornaríamos depois de um recesso de quinze minutos. Pus meus braços ao redor de sua cintura e descansei minha cabeça em seu peito.
— Meninos, tocaram muito lá em cima. — Disse-lhes. Joguei minha cabeça para trás para estudar seu ridiculamente perfeito rosto.
— Estão um pouco fora de si esta noite, mas acredito que é por todas as garotas que gritam nossos nomes e o fato de que estão tão
perto. Normalmente há mais distancia entre nós e eles, e notar a quem pertencem os gritos é difícel, por não dizer impossível.
— Dã, então está me dizendo que estas garotas lhes interessam? Deu de ombros. — De certo modo.
— Poderia lhes apresentar às garotas, se na verdade estão interessados. Dank sacudiu sua cabeça.
— Não, por favor, não faça. Quero manter estes meninos em uma seção além de minha vida. Não ao meu redor o todo tempo. A última coisa que preciso é que um deles comece a sair com uma garota do Breeze.
Eu gostava que esta parte de sua vida estivesse de um lado, e isolada do resto. Já compartilhava Dank com... A morte. Não queria compartilhá-lo com ninguém mais.
— Quer dançar... Ou possivelmente... Retornar a esse quarto de armazenamento? — perguntou me abraçando pela cintura.
— Sim ao baile e sim a ao quarto de armazenamento. Nessa ordem, por favor. — Respondi, sentindo de novo minha pele esquentar ante a lembrança das mãos de Dank sobre mim.
Não nos dirigimos à concorrida pista de baile. Dank me puxou contra ele, e começou a cantar em meu ouvido, enquanto dávamos voltas ao redor de nosso pequeno mundo privado, longe do palco e da multidão. Esta era, para muitos, a melhor graduação que qualquer garota pudesse ter.
— Não já estivemos em cada loja deste centro comercial? — Queixei-me enquanto meus pés começavam a protestar.
Miranda me fulminou com o olhar e franziu o cenho.
— Precisamos do vestido perfeito e os sapatos perfeitos para usar debaixo de nossas togas de graduação. Temos que tirá-los e ir diretamente para a festa que meu pai dará depois da cerimônia. Pensei que com seu namorado quente e roqueiro cantando em um palco e um montão de garotas rodeando-o, talvez você quisesse ficar sexy.
Dank não só tinha conseguido que Cold Soul cantasse em nossa graduação, mas sim também tinha conseguido trazê-los para a festa. Claro, eu estava mais que segura que o pai do Miranda lhes pagaria bem. Dank tinha que pagar algo aos meninos. Assim era como se mantinham.
Afundei-me no banco mais próximo e captei o aroma do queijo fundido dos pretzels da padaria em frente de mim. Era o aroma mais angelical que existia sobre a face da terra.
— De acordo, se você me comprar um desses deliciosos pretzels cheios de queijo fundido, continuarei torturando meus pés em busca da perfeição.
Olhando, revirou seus olhos.
— Está bem. Mas tem que compartilhá-lo. Cheira incrível e não preciso comer um inteiro sozinha. A última coisa que preciso é engordar enquanto procuramos vestidos.
Miranda jamais tinha estado perto de engordar. Foi minha vez de revirar os olhos. A garota era uma cabeça dura.
Passei uma nota de dez dólares e me recostei de novo no assento.
— Por favor, só vá e compre um grande. Demônio, compra dois. Comerei um e meio.
— Não, não fará. Recorda que tem que estar incrível para seu quente e sexy namorado. Um e meio desses pretzels são milhares de calorias, e não é um movimento na direção correta...
— Só é pretzels, Miranda. E esses são baixos em gordura, — a recordei.
Abriu sua boca para replicar, mas logo voltou a fechar e se encaminhou para a padaria. Havia tornado a ser ela mesma. Tomou um tempo para retornar definitivamente. Alguns dias, ela queria falar sobre do Wyatt. Outros dias, não podia suportar escutar seu nome. Às vezes suas mudanças de humor me desconcertavam. Vê-la com seu quadril inclinado para a direita com sua mão apoiada nela enquanto esperava impacientemente na fila me fez sorrir. Sua faísca voltou. Um menino atraente deu a volta e a notou. Falou-lhe e parecia estar oferecendo que fosse primeiro. Mas ela não cedeu e sua postura permaneceu firme. O menino ficou um pouco decepcionado porque Miranda rechaçou seu oferecimento.
Não voltou para a normalidade por completo e provavelmente nunca o faria. A velha Miranda teria flertado para conseguir estar na frente na fila. Esta dificilmente pode estar junto a alguém do sexo oposto.
—Este assento está ocupado? — perguntou uma quente e sexy voz. Afastei meu olhar e sorri para Dank.
— Sim. Estou guardando para meu sexy namorado, — respondi brincando.
Dank se sentou junto a mim e pôs seu braço em cima de meus ombros. —Mmm, bom, ele devia ter chegado mais cedo. Dormi demais.
Rendi-me, me aconcheguei contra ele.
— Salve-me de Miranda. Trata de me matar a ‘ponta’ de compras.
— Impossível. Inteirei-me que A Morte sente algo por ti, pelo qual não pode ser assassinada facilmente.
Belisquei seus abdominais através de sua camiseta. Sentia-me tão bem quando estava perto dele e não ter que me preocupar com nada mais que coisas normais de adolescentes, como uma melhor amiga que logo estaria me olhando impacientemente com cara de recriminação.
— Averiguou algo a respeito de Wyatt? — perguntei baixando a voz. Ele assentiu.
— Sim. Umm, digamos que sua morte foi anormal... Um evento único. Assim que seu retorno também é único.
— O que? — perguntei me levantando do assento para poder ler sua expressão.
Dank se estirou e colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha. —Só espera. Entenderá logo.
— Aham, me desculpem meus pombinhos, mas este é um dia de compras de emergência e já tenho nosso combustível. Agora, Dank, precisa ir e estar todo deslumbrante e sexy em outro lugar. Necessito de toda a atenção de Pagan hoje. — Miranda tinha adquirido um tom mandão.
Dank beijou minha boca suavemente, logo embalou meu rosto em suas mãos e sussurrou: — Te amo. — Em meu ouvido antes de levantar-se e ir, me deixando feito um atoleiro de pudim.
— Vejo-te logo, Miranda. Não a canse muito — Brincou Dank enquanto dava a volta e se afastava. Olhei além de Miranda, que observava seu traseiro assombrada. Levantei uma de minhas bolsas de compras e a golpeei brandamente em um flanco.
— OUÇA! —Chiou enquanto se afastava.
— Deixa de olhar o traseiro de meu namorado. — Repliquei.
Dei-me conta que possivelmente Miranda só rechaçava aos meninos que mostravam interesse nela. Aqueles como Dank, os que não viam como uma traição para o Wyatt prestava atenção.
Mordendo seu lábio, ela tratou de conter um sorriso. — Sinto muito, é muito difícil não fazê-lo.
— Bom, tente.
— Desmancha prazeres. — Murmurou, enquanto batia em meu braço.
— Caminhemos e comemos. Quero ver se tem um sutiã sem alças da Vitória's Secret.
Protestando, deixei que a tirasse de mim e arranquei minha metade de pretzel de sua mão. Ao menos tinha algo delicioso para suportar esta tortura.
Fui abrir a porta do quarto de Pagan quando alguém esclareceu sua garganta atrás de mim. Não tinha sido cuidadoso e havia me tornado um pouco... crédulo, escapulindo do quarto de Pagan nas manhãs. Teria que enfrentar as consequências por esse engano. Dando a volta, frente à mãe de Pagan, de pé ao final do corredor com suas mãos em seus lábios e as sobrancelhas arqueadas. Seu cabelo castanho escuro um pouco revoltado devido ao sono, mas ela já vestia suas
roupas de trabalho: calças de ginástica e uma camiseta. Com uma mancha de café nela.
— Bom dia — Tratei de soar o mais educado possível.
Não que ela pudesse evitar que viesse ao quarto de Pagan quando quisesse, mas eu seguia sem querer que ela fosse minha inimiga.
— Bom dia, Dank. A que devemos esta visita tão cedo? Desta vez eu esclareci minha garganta.
— Pensei em levantar Pagan. Não quero que ela se atrase para tomar o café da manhã. — Bem, isso soou lamentável.
— De verdade? Bom, só para que esclareçamos as coisas, dei-me conta que, o namorado de minha filha é... Bom... Algo que não é exatamente humano. Mas ainda espero que siga minhas regras.
— É obvio, — respondi.
Observou-me por um longo momento, logo, começou a descer as escadas. Permaneci congelado sem estar seguro se ela queria que fosse ou não.
Detendo-se e olhando para trás por cima de seu ombro, sorriu.
— Vamos. O alimentarei, enquanto espera. — Logo continuou sua descida pelas escadas.
Sorri para mim mesmo enquanto a seguia, Quem era eu para desobedecer a sua mãe?
Uma vez chegamos à cozinha, sua mãe abriu um gabinete e tirou a mistura para panquecas, um grande recipiente e uma colher.
—Aqui. Lê as instruções e começa a misturar os ingredientes enquanto esquento o fogão, — ordenou-me enquanto empurrava os ingredientes em meus braços. Não planejei preparar o café da manhã junto com a mãe de Pagan, mas tinha passado tempo desde que ela e eu conversamos. Nossa última conversação privada foi na noite em que falamos da alma de Pagan.
— A chave para fazer panquecas como Pagan gosta, é muita manteiga. Manteiga real faz com que as bordas dourem.
Guardei essa informação para usá-la em futuras conversas.
— Quando ela era pequena, eu fazia suas panquecas em forma do Mickey Mouse. Bom, sua cabeça ao menos. Ela as amava. Ela fazia os olhos, nariz e boca com frutas e logo cobria tudo com xarope.
Recordei aqueles olhos verdes, muito grandes para seu rosto, me estudando da cama do hospital no dia em que tinha ido falar com ela. Ela tinha perdido todo seu cabelo e seu rosto era frágil e magro, mas sua mente era afiada como uma tachinha. Depois desse dia, sempre recordei quando caminhei no quarto de meninos terminais para lhes explicar o que estava por vir. Seu rosto sempre veio à minha mente, e agora me perguntava o que tinha passado com essa alma.
Sua mãe tomou o recipiente de minhas mãos. Felizmente, me tinha arrumado isso para misturar o leite, os ovos e a farinha apropriadamente. Seu assentimento de aprovação era um sinal disso.
— Então, Dank Walker, alguma vez vai me dizer o que é exatamente?
Tinha me perguntado se agora que Pagan estava em casa, sã e salva, livre de espíritos vodus que queriam sua alma, sua mãe alguma vez me questionaria sobre o que eu sou.
Esclarecendo minha garganta, apoiei meu quadril contra o balcão e cruzei meus braços em cima de meu peito. Não estava seguro se ela na verdade queria a resposta a esta pergunta.
— Bom isso depende se realmente quer que o diga. Talvez seja melhor que só saiba que vou proteger a Pagan por toda a eternidade. Ela nunca terá que temer à morte. — Detive-me nessas últimas palavras e esperei.
Sua mãe acabava de derrubar um pouco de manteiga na chapa quente, congelou e lentamente baixou a colher e o recipiente no balcão. Sua cabeça girou em câmara lenta até que seus olhos se encontraram incredulamente com meus.
—Está dizendo... Quero dizer... Você não pode ser... Está dizendo... Não, isso não pode ser possível. — Negou com sua cabeça e me deu uma última franzida de cenho, antes de voltar sua atenção de volta à panqueca em frente a ela. Ela o deslizou em um prato e me passou isso.
— A primeira sempre é a melhor. Por que não toma se... Você come?
Não ocultei minha diversão, enquanto alcançava o prato.
— Sim, eu como. A eternidade seria terrivelmente aborrecida sem comida.
risada de minha mãe subiu pelas escadas, enquanto pesadamente abria minhas pálpebras e observava o alarme, que não tinha tocado esta manhã. Provavelmente porque não tinha programado, mas esses eram só detalhes. Uma voz baixa serpenteou pelas escadas e o tom alto da voz de minha mãe lhe uniu. Ela não se encontrava no telefone. Alguém se encontrava aqui.
Sentando-me direita na cama, cobri minha boca. Minha mãe deixou que Roger passasse a noite aqui? Em toda minha vida, ela nunca deixou que um namorado dormisse na casa. Desenredando minhas pernas dos lençóis e as deslizando por um lado da cama agarrei meu curto penhoar amarelo e saí pela porta para apanhá-la com as mãos na massa. Não que na verdade me importasse. Apenas seria divertido ver sua cara ruborizada tratando de me explicar à situação. Correndo pelas escadas, descendo-a de dois em dois, golpeei o último degrau e girei pela esquina e patinei até a cozinha. Sentado à mesa de minha cozinha com um prato cheio de panquecas e bacon em frente a ele, estava Dank. Seus cachos negros se encontravam perfeitamente desordenados e a pálida camisa azul que lhe convenci a comprar, fazia que seus olhos ressaltassem e abraçava seu tonificado peito. Um toque de humor iluminava seus olhos e seus lábios estavam contraídos em um pequeno e sexy sorriso, que era incrivelmente adorável. E esses lábios eram exatamente o que deveria estar desfrutando desta manhã. A última vez que falei com o Dank, disse-me que me acordaria com beijos.
Deslizei meu olhar até minha mãe, que estava sentada, sorrindo como se conhecesse um segredo enquanto sustentava com suas mãos o que provavelmente era sua quarta xícara de café de hoje. Tinha penteado seu cabelo sem uso atrás de suas orelhas e seus óculos se encontravam na ponte de seu nariz, como uma professora de escola.
— O que estão fazendo? — perguntei incrédula.
— Tomando o café da manhã e conversando. O que poderia estar fazendo se tivesse levantado a tempo, — replicou minha mãe com um pouco de acidez em seu tom. Tirava-a do sério se dormisse até tarde.
— As panquecas estão deliciosas, Pagan. Não posso acreditar que não levante cedo para desfrutar disto cada manhã. — Disse Dank.
Fulminei-o com o olhar. — Está de seu lado, então?
Ele assentiu enquanto levava outro pedaço a sua boca. Traidor. Ele não passou no meu quarto para me levantar porque preferiu comer as panquecas de minha mãe.
— Espero que desfrute de suas panquecas. Irei me preparar, já que meu despertador não soou. Deveria preocupar-me por algo mais, — disse e logo me dirigi para as escadas.
A risada afogada de minha mãe me disse que possivelmente meu alarme se descarregado graças a ela.
—Panquecas deliciosas. — Murmurei e me dirigi ao chuveiro.
Parecia que foi ontem quando caminhava por este ginásio pela primeira vez. A classe de Orientação do primeiro ano tinha sido tão emocionante como aterradora. Miranda e eu tínhamos sentado na quarta fila dos degraus do lado esquerdo, tomando as mãos fortemente enquanto o diretor Cagle nos dava às boas-vindas e lia as regras. Wyatt tinha entrado tarde e se sentou junto a mim. Todos eram tão jovens. Conheci o Jay esse dia. Ele era um estudante de Segundo ano e se sentava com a equipe de basquete. Veio para nós e se apresentou com o Wyatt. Perguntou-lhe se planejava unir-se à equipe. Ele o tinha visto jogar no Ensino Fundamental. Ganhamos o campeonato estadual no ano anterior. Wyatt era assim bom. Logo, Jay lhe perguntou se eu era namorada de Wyatt e todos nós rimos como se essa fosse a coisa mais divertida que tínhamos escutado. Duas semanas depois, Jay me pediu para sair em nosso primeiro encontro.
As lembranças voavam por minha mente enquanto via todos meus companheiros de classe. Todos nós usávamos a mesma toga azuis rei e todos tinham a mesma expressão. Alívio, emoção e um toque de incerteza. Entramos neste edifício sem saber em que grupos nos
encaixaríamos, quais eram os melhores professores e que almoços comeríamos na cafeteria. Agora sabíamos todas essas coisas e mais.
Em meu último dia neste ginásio, estava sentada no meio de duas das pessoas mais importantes de minha vida. Miranda sustentava minha mão direita e Dank minha mão esquerda. Miranda apertava minha mão tão forte que temia sofrer perdas de sangue e Dank acariciava minha outra mão com seu polegar. Inclusive sentada no meio deles, não podia evitar me sentir um pouco sozinha. Não tínhamos uma das peças importantes do quebra-cabeça. Wyatt também devia estar aqui. Sabia que Miranda pensava o mesmo. Essa era a razão pela qual não me queixei do fato de que ela virtualmente triturava os ossos de minha mão. Raciocinei que se minha mão direita a ajudava a passar por tudo isto, então, felizmente faria o sacrifício.
— Está bem? — Sussurrou Dank em meu ouvido.
Assenti e descansei minha cabeça em seu ombro.
O orador convidado terminou seu discurso seguido pelo Krissy Lots. Uma vez que ela terminou, passamos ao palco um de uma vez enquanto fomos chamados por nossos nomes para receber nossos diplomas. Assobios retumbavam pelo lugar quando os estudantes passavam ao palco.
— Pagan Annabelle Moore.
Recebi um apertão tanto da mão do Dank como da mão do Miranda enquanto me dirigia ao palco. Aplausos seguidos por um assobio do Dank e um sonoro "Bravo" de Miranda, trouxeram um sorriso ao meu rosto. Enquanto tomava meu diploma, cruzei o cenário e outro grito que vinha da parte de trás de cenário captou minha atenção. Observando, vi o Jay recostado contra a porta, aplaudindo e sorrindo abertamente. Perguntei se voltava porque sabia que seria difícil para mim a ausência de Wyatt. Sorrindo em sua direção, fiz meu caminho para fora do palco e me dirigi para meu assento.
— Tem um fã na parte traseira, — disse Dank em um frio e sério tom quando me sentei.
— Oh, não. É só Jay. Não sabia que estaria aqui hoje.
A mandíbula do Dank se esticou e deu a volta para olhar na direção do Jay. Oh, Deus, isto não era bom. Um Dank frio e ciumento poderia ser perigoso. Atirei o braço em Dank.
— Tudo bem, de verdade. Penso que provavelmente veio porque Wyatt não está aqui. Você sabe, para mostrar condolências. Eles eram próximos.
Os olhos do Dank passaram de estar zangados a estar visivelmente surpreendidos enquanto seu olhar posou diretamente sobre meu ombro. Curiosa, voltei minha cabeça e vi um menino com cabelo castanho escuro, encaracolado, e uma camiseta polo laranja junto ao Jay. Falavam e Jay sorria para o que fosse que o menino lhe comentava. Ele devia ter trazido um de seus irmãos de fraternidade. Logo, o menino girou para olhar em nossa direção e uma estranha paz veio sobre mim. Era uma coisa estranha. Não era algo que tivesse sentido com um estranho antes. Seu olhar encontrou o meu e sorriu. Logo voltou sua atenção para Miranda, que nem sequer olhava em sua direção. Ele quase tinha uma expressão de reverência em seu rosto. Observei-os um momento, logo dei à volta em meu assento.
— Pagan. — Sussurrou Dank
— Mmm. — Respondi-lhe me aproximando para poder escutá-lo melhor.
—Recorda quando lhe disse que o retorno de Wyatt seria único?
— Sim.
— Bom, ele está de volta.
Franzindo o cenho deixei que meus olhos se encontrassem com os seus. —Quem está de volta?
Os olhos do Dank se deslizaram para a porta, onde estavam os meninos e logo se encontraram com meus.
— Wyatt. Sua alma está de volta.
"Ela era minha. Era o dono de sua alma... até que A Morte roubou seu coração”.

 

 

                                                                  Abbi Glines

 

 

              Voltar à “Página do Autor"

 

 

                                                   

O melhor da literatura para todos os gostos e idades