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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PRINCESA INOCENTE / Chantelle Shaw
PRINCESA INOCENTE / Chantelle Shaw

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio "SEBO"

 

 

 

A Casa Real dos Karedes

VIRGEM PROIBIDA

 

Uma família real dividida por orgulho e sede de poder, reconciliada pela inocência e pela paixão.

A simples e tímida Kitty Karedes é a princesa de quem ninguém se lembra... até precisar ser a anfitriã do baile do palácio. Ela planeja tudo com perfeição, mas não tem tempo de comprar um vestido para arrasar na festa. Devido ao seu descuido, o magnata Nikos Angelaki a confunde com uma garçonete! Sentindo-se humilhada, Kitty o evita sem revelar sua identidade. Mas quando ele a vê novamente nadando nua ao luar, tem a chance de apreciar as curvas que suas roupas escondiam! O desejo é irresistível, mas logo Nikos descobre que seduziu uma princesa... e que ela terá um filho seu!

 

Nikos Angelaki parou à entrada do salão de baile e observou os quinhentos convidados que dançavam ou tomavam champanhe à luz dos candelabros. Os homens de smoking negro; as mulheres vestiam modelos coloridos de alta costura e exibiam uma enorme variedade de joias. Olhou as horas e começou a atravessar o salão em direção ao lobby, consciente dos muitos olhares em sua direção. Aos 32 anos, não se importava com a atenção que sua aparência e sua riqueza despertavam.

Era a primeira vez que participava de um baile da realeza ou visitava o palácio de Aristo e estava impressionado pela elegância e esplendor.

A família real da Casa de Karedes era uma das mais ricas da Europa e sua lista de convidados incluía membros da aristocracia e chefes de Estado, que não sabiam que o convidado de honra do príncipe regente crescera nos cortiços de Atenas.

Nikos se perguntou cinicamente se o mordomo que o levara para a sala de estar formal para cumprimentar o príncipe Sebastian teria sido tão obsequioso, se soubesse que a mãe de Nikos trabalhara como criada da cozinha no palácio. Mas nunca revelara isto nem mesmo a Sebastian.

Atravessou o hall e entrou no salão de banquete, ocupado apenas por uma garçonete que, ao contrário dos outros criados, dobrava tranquilamente os guardanapos.

Os convidados já haviam jantado; o voo atrasado fizera Nikos perder a refeição e o vazio no estômago o levava a olhar a seleção deliciosa de canapés. Negócios primeiro, pensou com firmeza. Era noite em Aristo, mas ainda era começo da tarde na costa leste dos Estados Unidos, e precisava contatar um cliente em Nova York. Andou em direção à garçonete que, de costas para ele, ainda não notara sua presença.

— Pode me dizer se há algum lugar onde não serei interrompido? Preciso fazer um telefonema urgente.

A voz profunda e grave era tão sensual que os pelos finos no corpo de Kitty se arrepiaram e ela virou a cabeça, o coração disparou, quando viu o homem que entrara silenciosamente no salão. Reconheceu-o imediatamente... Nikos Angelaki, magnata bilionário da marinha mercante, playboy e um dos amigos mais chegados de seu irmão.

As fotos que Kitty vira dele nos tablóides despertaram seu interesse, mas nada a havia preparado para o impacto de Nikos em carne e osso. Era suave, sofisticado e extremamente sexy.

Bem mais alto que a média, o smoking impecável destacava as pernas longas, as coxas musculosas, o peito amplo e os ombros largos. Mas foi o seu rosto que capturou sua atenção. Belo era uma palavra inadequada para descrever a perfeição cinzelada de suas feições. Os malares altos e o queixo quadrado, as sobrancelhas pesadas arqueadas sobre olhos da cor da meia-noite e uma boca larga, sensual.

No silêncio que se estendeu, Kitty sentiu sua arrogância e autoconfiança... e uma intensa e indesejada consciência sexual a fez estremecer...

Percebeu que o estava encarando e ruborizou.

— Há uma pequena sala de estar por ali — indicou uma porta.

— Obrigado.

Os olhos dele percorreram o seu corpo, observando rapidamente o não muito elegante vestido preto de coquetel. Kitty desejou com fervor ter comprado um vestido novo para o baile... alguma peça sedosa e decotada que o faria olhar para ela com apreciação masculina, não descartá-la sem um segundo olhar.

Mas jamais se interessara por roupas. Apenas quando repassara a lista dos preparativos para o baile e vira o item 'comprar vestido' percebera que não tinha nada adequado para usar no mais importante evento social do ano no palácio.

De qualquer maneira, não tinha confiança suficiente para ousar vestir roupas sensuais. E certamente jamais teria chance com um homem como Nikos. Ele não demonstrara tê-la reconhecido, mas o protocolo exigia que se apresentasse e se sentiu constrangida pela timidez de que sofria desde a infância. Não pela primeira vez desejou partilhar a autoconfiança e a personalidade exuberante de sua irmã, a princesa Elissa.

Era a princesa Katarina Karedes, quarta na linha de sucessão ao trono de Aristo. Fora treinada praticamente desde o nascimento para lidar com situações sociais, mas sempre achara difícil falar com desconhecidos e ainda estava tentando se fortalecer para cumprimentar Nikos quando ele falou de novo.

— Acho que você é necessária no salão de baile para servir champanhe, percebi que muitos convidados estão com as taças vazias. — Sorriu brevemente, esperando que obedecesse à ordem imediatamente e voltou a atenção ao seu celular.

Kitty olhou-o, atônita à sugestão de que deveria servir bebidas. Geralmente, tinha pouca responsabilidade com o baile, mas aquele ano, com a rainha Tia de luto pela morte do rei, Sebastian lhe pedira que cuidasse de tudo. Seb tinha preocupações demais. Depois da morte inesperada do pai, Sebastian logo teria se tornado o novo rei, mas a chocante descoberta de que a metade do diamante Stefani, que fazia parte da coroa real de Aristo, era falsa, e que o diamante desaparecera, atrapalhara todos os planos para a coroação. Pela tradição real, Sebastian não poderia ser coroado se não tivesse o diamante e, até que fosse encontrado, teria apenas o título de príncipe-regente.

Perdida em pensamentos, Kitty percebeu de repente que Nikos Angelaki a observava com impaciência.

— É melhor que volte ao trabalho. — Parou e olhou-a. — Na verdade, podia me trazer champanhe... e algo do bufê.

Era um convidado, lembrou-se Kitty, seu dever como anfitriã era garantir que todos fossem bem servidos. Mas o tom arrogante a aborreceu; as pessoas que não a conheciam a chamavam de Alteza. Ou Nikos não a conhecia ou não sabia que ela devia ser chamada pelo título real. Nikos se dirigira a ela como se fosse uma criada. Não sabia quem era?

— Espera que o sirva?

O tom áspero chamou a atenção de Nikos. Não a vira bem quando entrara no salão e formara a impressão de uma jovem sem beleza, de pequena estatura, usando um vestido que lhe assentava mal.

Mas agora, ao estudá-la mais atentamente, percebeu que era bem interessante. Tinha curvas generosas, os quadris amplos abaixo da cintura fina e seios voluptuosos. Nikos criou uma imagem mental da moça usando um vestido de grife com um decote amplo que mostrasse os seios como pêssegos maduros; viu-se removendo lentamente o vestido e despindo-a para banquetear os olhos com sua nudez. Sentiu o corpo vibrar numa indesejada consciência sexual.

Não era seu tipo, pensou com irritação. Gostava de louras altas e elegantes, não de morenas pequenas e curvilíneas. Os óculos de armação pesada eram pouco atraentes, mas a pele era lisa e de um suave tom dourado, os malares altos destacados pelo rubor rosado e aquela boca carnuda e luxuriosa parecia um convite para ser beijada.

Inferno! Era evidente que estava celibatário há muito tempo. Era viciado em trabalho e, sob sua liderança, os lucros da Petridis Angelaki Shipping cresciam sempre. Gostava de se divertir, mas sabia que o príncipe Sebastian não ficaria contente se seduzisse uma criada do palácio.

— Se não for muito difícil. Afinal, é o seu trabalho.

Kitty pensou nas horas que passara organizando a festa e sentiu raiva; seus deveres não incluíam atuar como criada pessoal para um dos amigos do irmão. Duas manchas vermelhas cobriram suas bochechas.

— A ideia de um bufê é que os convidados se sirvam.

Viu-o franzir a testa enquanto os olhos lhe percorriam o corpo e, de repente, percebeu que o vestido preto de gola alta e mangas compridas, comprado dois anos antes, na esperança de fazê-la parecer mais magra, era quase idêntico ao uniforme que as criadas usavam. O trabalho dela!

Nikos Angelaki não sabia quem era! Evidentemente acreditava que era uma das criadas do palácio e não sabia se devia estar divertida ou insultada pelo engano.

Pensou em dizer quem era, mas algo a impediu. Era humilhante ser confundida com uma criada. Ouvira diversos comentários desagradáveis dos convidados sobre ela, que era a princesa feia e não tinha a linda aparência da irmã: ...vinte e seis anos... oh, não, não é casada... deve ser difícil viver à sombra da adorável Liss. A princesa Katarina é inteligente, mas não tem a beleza da princesa Elissa.

Kitty sorvia a beleza do rosto masculino e se assustou com o anseio intenso de correr os dedos pelos cachos de cabelos negros e sedosos caído na testa.

Ficou apavorada com a possibilidade de ele ser capaz de ler seus pensamentos, mas não conseguia afastar o olhar do dele e sentiu algo indefinível entre eles que fez sua pele formigar e seus seios incharem. Para seu horror, os mamilos endureceram e cruzou os braços rapidamente, enquanto seu rosto ardia.

Nikos reconheceu o brilho de desejo nos olhos da garçonete e ficou furioso quando seu corpo reagiu. Não tinha intenção de se envolver com uma serviçal, apesar da química evidente entre eles.

Devia ir logo para a sala de estar e fazer o seu telefonema, mas, por motivos que não conseguia explicar, hesitou. Teve o ridículo impulso de tomá-la nos braços e beijá-la até que desmaiasse. Com os olhos presos aos montes firmes dos seios, viu que era muito feminina, com uma adorável silhueta de ampulheta que podia não estar tanto na moda, mas era incrivelmente sexy. Sentiu uma fisgada forte de fome sexual na virilha, que o fez inspirar com força, as narinas se abrindo.

— Qual é o seu nome? — A voz era áspera.

— E... Rina. — As palavras saíram sem pensar e então era tarde demais para retirá-las. Não compreendia o que a fizera esconder sua própria identidade. — Sou nova aqui.

— Compreendo.

Nikos andou em direção a ela e Kitty sentiu o coração disparar; ficou tentada a se virar e correr. Mas, quando parou a centímetros dela, viu a curiosidade sexual nos olhos dele e o choque a imobilizou. Certamente tinha se enganado. Nikos tivera algumas das mulheres mais lindas do mundo e há meses mantinha um caso apaixonado com uma estrela de Hollywood, Shannon Marsh. Não podia se sentir atraído por ela. Passou a língua nos lábios secos e se assustou quando a expressão nos olhos dele se intensificou com um brilho predador.

― Alguma coisa me diz que você ainda tem muito a aprender, Rina. — A voz era carregada de uma mensagem sexual tão evidente que um arrepio de excitação correu pela sua espinha. Tivera uma vida muito protegida e, aos 26 anos, tinha dolorosa consciência de sua inexperiência sexual, mas o calor no olhar de Nikos era evidente até mesmo para uma noviça como ela.

— É melhor eu ir... e trazer o seu champanhe, sr. Angelaki. — Afastou-se antes de ceder à tentação de encostar o corpo contra a rigidez dele.

— Sim, é melhor. — Nikos riu suavemente. — Só por curiosidade, como sabe o meu nome?

— Vi fotos suas e li sobre o senhor em jornais. Tem a reputação de ser um milionário playboy com uma loura diferente nos braços, a cada semana.

— Não deve acreditar em tudo que lê nos jornais, Rina. Além disso, minha vida particular não é da conta de ninguém, não acha?

— Claro, não é da minha conta que troque de mulheres com tanta frequência como outros trocam as meias.

Após uma pausa carregada de tensão, Nikos jogou a cabeça para trás e riu.

— Será que o príncipe Sebastian sabe que tem uma rebelde entre seus empregados? — Segurou-lhe o queixo com dedos fortes. — Se não tiver cuidado, esta boca atrevida lhe causará muitos problemas, Rina.

Ela ficou presa entre ele e a mesa e o calor do corpo de Nikos, misturado ao perfume da colônia e o cheiro masculino de limpeza a fez perder o fôlego.

Por alguns segundos tensos, pensou que Nikos a beijaria. Segurou a respiração, dividida entre o medo e a fascinação sentiu um forte desapontamento quando ele a libertou bruscamente. É claro que não tivera intenção de beijá-la; que estupidez dela.

Nikos imaginou se ela sabia como era fácil ler seus pensamentos... ou como ficara tentado a aceitar o convite mudo e esmagar-lhe a boca em seus lábios. Precisou de cada grama de força de vontade para se afastar.

— Vá para o salão de baile antes que eu decida contar ao príncipe como relutou em fazer o trabalho para o qual foi contratada. E, Rina... não se esqueça do meu champanhe.

A arrogância aquele homem era de tirar o fôlego, mas a culpa era dela por ele confundi-la com uma criada. Soltando uma imprecação muito pouco adequada a uma princesa, virou-se e saiu da sala de banquete.

 

Kitty passou o resto da festa evitando Nikos Angelaki, mas não conseguiu esquecê-lo. Nenhum homem jamais a olhara como Nikos... com uma fome sexual crua que lhe despertara um anseio desesperado e a deixara com desejo de que a tivesse tomado nos braços e feito amor apaixonadamente com ela na mesa de banquete. Constrangida demais com a fantasia, pedira a uma das criadas que o servisse.

Depois se escondera atrás de uma coluna e o observara dançar com diversas mulheres. Se não fosse pela sua mentira estúpida, poderia ter pedido a Sebastian que os apresentasse e talvez ele dançasse com ela. Mas não saberia o que dissera ele. Era tímida demais com homens e os poucos romances que vivera na universidade foram desastrosos. Angustiada com a sensação de completo fracasso, desejou que o baile terminasse logo para ficar sozinha na biblioteca com seus livros.

O rei partilhara sua fascinação pela história de Adamas e ela guardava como um tesouro as lembranças das noites que haviam passado juntos pesquisando seus ancestrais. Nada era igual sem o pai, sentia uma falta desesperada do rei Aegeus.

Cansada da festa, saiu para o terraço e inspirou o ar quente e pesado com o perfume de jasmim e madressilva. O silêncio era uma bênção depois do barulho de vozes e música, mas essa paz não durou muito.

— Bem, bem, Kitty Karedes! Não percebi que era você. Vi uma mulher se afastar furtivamente do salão e presumi que viera se encontrar com um amante, mas, a menos que o gelo tenha derretido, isto não é provável, é?

— Vasilis! Não vou mentir e dizer que estou contente por vê-lo, mas acredito piamente que você é capaz de espionar amantes — replicou Kitty com desdém.

Sentiu a familiar onda de repulsa ao olhar para Vasilis Sarondakos, então lhe deu as costas na esperança de que entendesse a mensagem e a deixasse sozinha. Mas Vasilis era famoso por sua falta de sensibilidade.

A família Sarondakos era uma das mais importantes da aristocracia de Aristo e o pai de Vasilis, Constantine, fora um grande amigo do falecido rei.

Aos 18 anos, Kitty era extremamente ingênua e jamais tivera um namorado. Com o encorajamento do pai, saíra com Vasilis, mas ficara profundamente traumatizada quando, bêbado, ele a atacara. Alegara que o corpo luxurioso de Kitty era sexy e que ela o provocara. Acreditara nele e, envergonhada, não contara à família o acontecido.

A lembrança do hálito com cheiro de álcool e das mãos úmidas lhe rasgando o vestido e apertando os seios ainda a perseguia e, dois anos antes, quando o pai sugerira que se casasse com o filho do grande amigo, ficara impressionado com sua recusa veemente.

— Então, ainda sem sinais de um marido no horizonte, Kitty? — provocou Vasilis, parando tão perto que ela ficou presa entre o corpo dele e a balaustrada baixa do terraço. — Devia ter se casado comigo quando teve oportunidade.

— Prefiro tomar veneno — Kitty tentou se afastar e ficou mais tensa quando ele se debruçou e descansou as mãos nas laterais do corpo dela, prendendo-a. Não o temia ali, tão perto dos convidados e do irmão, mas detestava seu sorriso sem pudor e a maneira como a olhava, como se a despisse mentalmente.

— É assim? — Vasilis riu, desdenhoso. — Talvez não deva ser tão apressada, minha pudica princesinha. Sebastian me disse outro dia que temia que você ficasse solteirona e solitária, com apenas seus livros por companhia.

— Não acredito que Sebastian tenha discutido meus assuntos particulares com você.

— Ele teria dificuldade, você não tem assuntos particulares. — Vasilis riu de novo, orgulhoso pela saída espirituosa. — Aposto que ainda é virgem, não é, Kitty? Muita gente acha que é lésbica e talvez seja por isto que Sebastian queira que se case. Com os boatos de que o diamante Stefani é falso e Sebastian adiando a coroação, há rumores de que seu primo Zakari, de Calista, poderá reivindicar o trono. O povo de Aristo já está inquieto e a família Karedes não precisa de mais um escândalo.

— Não há escândalo! Sebastian é o rei legítimo e será coroado o mais breve possível — disse Kitty, furiosa. — Zakari Al’Farisi é o rei de Calista, mas não tem direito ao trono de Aristo ou de ser o único governante das ilhas Adamas.

Kitty não sabia como Vasilis descobrira que o diamante era falso, mas não confirmaria o que podia ser apenas uma suposição.

— O povo de Aristo não precisa se preocupar. E quanto a me casar com você... o inferno terá que congelar primeiro! Usando toda a força, libertou-se dos braços de Vasilis. — Deixe-me em paz, Vasilis, você me enoja. Não contei à minha família o que aconteceu entre nós por respeito à amizade que meu pai tinha pelo seu. Mas agora que papai está morto, se algum dia se aproximar de novo, direi aos meus irmãos que tipo de homem você é e nunca mais será recebido no palácio.

— Será a sua palavra contra a minha — resmungou Vasilis, mas não acreditava no que dissera; a família Karedes era muito unida e cerraria fileiras em defesa de um de seus membros. — De qualquer maneira, acha que realmente quero me casar com uma mulher que reage ao sexo com o calor de uma pedra de gelo? Você tem muitos problemas com sexo, Kitty, deveria procurar um terapeuta.

— Não tenho problemas... — Kitty cerrou os dentes em fúria impotente, enquanto Vasilis sorria e saía do terraço.

Kitty sabia que devia voltar ao salão, mas era incapaz de fazê-lo. As cruéis provocações de Vasilis ecoavam em sua mente, fazendo-a se sentir um fracasso total.

Era uma princesa e deveria ser bela e encantadora, a rainha do baile, mas fora confundida com uma garçonete; jamais brilharia num evento social.

Seria assim toda a sua vida? Seria uma solteirona, como dissera Vasilis, sem amor e paixão, agarrando-se às lembranças da noite em que um belo e sexy magnata grego quase a beijara? Os olhos se encheram de lágrimas e o som da música e das risadas a fez se sentir mais solitária do que nunca.

Com um soluço abafado, desceu a escada do terraço e correu pelo gramado. Esta noite, quando ficara à margem da pista de danças e observara como todos pareciam ter um par, enfrentara o fato de que era uma princesa solitária e virgem, sufocada pela formalidade da vida dos membros da realeza. De repente, sentiu como se o palácio que sempre amara fosse uma prisão e estivesse desesperada para ser livre... escapar da vida de deveres e descobrir quem Kitty Karedes realmente era.

Correu pelos jardins, distanciando-se das luzes do salão de baile. A muralha externa do palácio tinha 3m de altura, mas Kitty conhecia o portão secreto, meio escondido por trepadeiras. A luz da lua, encontrou o esconderijo da chave e segundos depois, desceu a trilha estreita que levava à pequena caverna na base do penhasco.

Maldito Vasilis Sarondakos e sua língua venenosa! Não era uma solteirona, não tinha problemas com sexo; e daí, que era virgem aos 26 anos? Não era menos mulher por isto!

Tirou os sapatos e andou até a água, acalmando-se com o som suave das ondas batendo na areia. Sabia que não seria perturbada, pois a pequena caverna era uma praia particular e a única maneira de chegar a ela era pelos jardins do palácio, um caminho que poucas pessoas além da família conheciam.

O luar iluminava o mar, atraindo-a e, impulsivamente, desabotoou o odioso vestido preto e deixou-o cair na areia. Colocou os óculos sobre uma rocha e tirou os grampos dos cabelos de um castanho rico, sacudindo a cabeça para que se derramassem por suas costas até a cintura.

Cada item de roupa removida a fazia sentir que um insulto desaparecia. E daí, que não tinha um corpo magro como o de uma modelo? Mulheres deviam ter seios e quadris redondos e não estava envergonhada do próprio corpo.

O mar prateado a chamava e, num momento de desafio contra todas as restrições de sua vida, tirou o sutiã e a calcinha e correu nua para a água, os cabelos soltos voando atrás.

 

Nikos não lamentava o fim do baile. Voara para Aristo depois de uma semana de intensas negociações em Dubai e as 18 horas de trabalho por dia agora cobravam seu preço. Gostava do príncipe Sebastian e o admirava, mas estava cansado da conversa tola dos convidados e das mulheres se oferecendo para aquecer sua cama.

Talvez tivesse se cansado de louras, pensou, saindo ao terraço, uma garrafa de champanhe pela metade na mão e o paletó do smoking pendurado no ombro.

Sentira-se frustrado a noite toda por não conseguir tirar da mente a garçonete Rina. Não a vira de novo, mas sabia que a química entre eles não fora imaginária; intrigara-o mais que qualquer outra mulher e se sentira irritado por ela ter desaparecido.

Andou pelas sombras dos jardins, pensando que o palácio era tão maravilhoso como sua mãe lhe contara. Ouvira-a descrever a riqueza e o luxo enquanto olhava em torno do apartamento pobre e velho em que viviam e achava que um lugar como aquele não poderia existir.

Caminhou até a muralha e estava prestes a voltar quando se lembrou de a mãe ter lhe falado sobre um portão na muralha e além dele um caminho que descia até a praia. Nikos pegou uma das lanternas chinesas que iluminavam o caminho e ergueu-a enquanto procurava o portão. Achou-o bem escondido por trepadeiras e puxou-o. Para sua surpresa, o portão se abriu e, curioso, seguiu o caminho que se estendia.

O terreno descia, íngreme, até algumas rochas. Nikos o seguiu e chegou a uma caverna pequena e baixa. Era seca, observou, erguendo a lanterna para estudá-la, a maré não chegava até ela. O ar tinha cheiro de algas e, através da abertura, podia ver o mar brilhando ao luar.

Quando chegou à boca da caverna, parou abruptamente e o coração disparou. A mulher a poucos metros dele era real e seu corpo de ampulheta lhe indicou claramente quem era... mesmo sem as roupas.

 

Kitty cruzou a baía e voltou, depois boiou de costas e apreciou a lua e as estrelas. Sentia-se ousada e cheia de poder... tão nua e sem constrangimentos como Eva no jardim do Éden. Havia alguma coisa perversamente sensual na carícia da água em seu corpo nu. Adorava nadar e se sentia leve e graciosa na água, como uma ninfa, em paz com seu corpo e não odiando-o por não ser esguio e magro.

A praia era sombria à luz da lua, as enormes rochas que se erguiam de cada lado da entrada da caverna pareciam gigantes sem rostos. E, de repente, Kitty percebeu a figura de um homem, seu coração quase pulou pela garganta.

Deus do céu! Teria Vasilis a seguido? Nenhum dos outros convidados do baile conhecia a passagem para a praia, mas Vasilis estivera lá muitas vezes com os irmãos dela. A perspectiva de encontrar seu atormentador naquela praia deserta a fez estremecer. Vira a maneira como a olhara no terraço, o sorriso lascivo que se transformara em ódio quando deixara claro que não queria nada com ele.

Vasilis não ousaria tocá-la do lado de fora do salão do baile, mas aqui não havia ninguém para ajudá-la... ou ouvir seus gritos.

As nuvens cobriram a lua e, aproveitando a escuridão, Kitty saiu da água e se escondeu atrás de uma rocha, o coração disparado. A figura se moveu e se aproximou, parando do outro lado da rocha.

— Oi, Rina — disse uma voz lenta — esta é a segunda vez esta noite em que a apanho matando trabalho. Não devia estar no salão de baile fazendo seus deveres?

— Você! — exclamou, enquanto as nuvens se dividiam e o luar iluminava as feições de Nikos Angelaki. O ataque lhe pareceu a melhor defesa e, embora sua nudez a obrigasse a continuar escondida, a voz era áspera. — Sabe que está invadindo? Esta é uma praia particular.

— Realmente é, pertence à família real e eu tenho a permissão do príncipe Sebastian para estar aqui — replicou Nikos, a voz fria. — A única invasora é você... a menos que tenha permissão?

Kitty olhou-o, sem saber como responder sem revelar sua identidade. Estava muito consciente da própria nudez e desejava que um buraco se abrisse no chão e a engolisse.

— A festa ainda não acabou, o que está fazendo aqui? — sussurrou, a voz rouca de constrangimento.

— Estava muito quente no salão e resolvi andar até a praia para tomar um pouco de ar. Mal pude acreditar quando saí da caverna e a vi.

— Devia ter dito alguma coisa, pensei que estava sozinha — disse Kitty, rubra de mortificação. Esperava que Nikos tivesse chegado depois que entrara na água, mas logo ele matou aquela pequena esperança.

— Tive medo de assustá-la — a voz era divertida, o tom traduzindo algo mais. — Além disso, que homem de sangue quente teria falado e se arriscado a perder aquela visão? Tive tanto cuidado para não fazer barulho que mal respirei. Observá-la revelar o seu corpo lentamente foi a experiência mais erótica da minha vida.

Kitty percebeu que o divertimento desaparecera da voz, substituído por uma sensualidade sem disfarces, o que a fez estremecer de novo. Mas a ideia de que lhe revelara o corpo luxurioso, que tanto desprezava, fez Kitty ter vontade de chorar de vergonha.

— Você é desprezível! Posso até acreditar que não quis me assustar, mas se fosse um cavalheiro, teria fechado os olhos.

Nikos riu.

— Ah, mas jamais aleguei ser um cavalheiro, Rina. Sou um pirata, um oportunista. Não respondo a ninguém e faço o que me agrada. E garanto-lhe, ágape, você me agrada muito.

Kitty não sabia como reagir a esta declaração assustadora e se abraçou, olhando para ele sobre o topo da rocha.

Era tentadora como uma sereia da mitologia grega, admitiu Nikos observando os ombros nus e a massa de cabelo escuro que lhe cobria as costas em cachos molhados.

Quando a vira, pensara que tivesse ido à praia para se encontrar com um amante. Mas ninguém aparecera e, para ser honesto, ficara completamente atordoado pela visão do belo corpo nu correndo para a água.

Quando Rina se livrara das roupas feias, ficara alucinado com a beleza dela. Os raios do luar haviam iluminado cada reentrância e curva do corpo maravilhoso e tingira de prata a pele sedosa. Segurara a respiração quando ela soltara os cabelos, deixando-os cair como um rio de pura seda; inspirara r fortemente quando desabotoara o sutiã e revelara os seios de pele leitosa ao seu olhar faminto.

Sua excitação fora instantânea e desconfortavelmente rija. A urgência de mergulhar entre aquelas coxas macias era tão aguda que agradeceu à escuridão que tudo escondia. Não parecia importar o quanto tentava racionalizar sua reação a ela ou lembrar a si mesmo que gostava de louras esguias e graciosas... e preferia uma cama grande para fazer amor.

Rina o intrigara antes, quando reconhecera a química entre eles. Agora, desejava-a com uma fome rude e primitiva, que fazia seu sangue ferver. Queria fazer amor com ela ali na areia, sob as estrelas, com uma paixão selvagem e básica.

 

Apesar do calor, Kitty tremia... pelo choque de ver Nikos e por estar molhada. Disse a si mesma que os mamilos haviam endurecido por causa do frio e não pela intensa consciência do homem mais sexy que já conhecera.

Cerrou os dentes para impedir que batessem e desejou que ele voltasse ao palácio. Seu vestido estava em algum lugar do outro lado da praia, mas preferia ficar onde estava a noite toda e sofrer hipotermia, que se expor a ele de novo.

— Aqui, vista isto enquanto vou buscar suas roupas — Nikos colocou o paletó sobre a rocha; Kitty agarrou-o, grata, e o vestiu. Ficava enorme nela; as mangas caíam além das mãos e a bainha alcançava o meio das coxas. A seda do forro era deliciosamente sensual contra a pele nua; ainda tinha o calor do corpo de Nikos e o cheiro leve de sua colônia de barba e algo mais, que identificou como o aroma limpo e masculino do corpo dele.

O sangue se transformou em lava quando, na imaginação, substituiu o paletó pelos braços de Nikos; viu-o se livrando das roupas e caindo com ela sobre a areia. Qual era o problema com ela? Com o rosto escarlate, ergueu os olhos para ele e viu o brilho do desejo naqueles olhos.

Estremeceu de novo, e desta vez em todo o corpo... em reação a Nikos, e não de frio. Viu-o ficar tenso, os olhos se estreitarem e soube que o fogo entre eles era terrivelmente real.

Por mais incrível que fosse, Nikos Angelaki... playboy e mulherengo em série... a achava atraente. Pela primeira vez em seus 26 anos se sentiu uma mulher desejável e quis saborear o momento... certa de que, a qualquer minuto, ele piscaria e perceberia que era pequena demais, gorda demais e feia demais.

— É melhor que espere na caverna, ficará mais aquecida lá — ele sugeriu, rompendo o silêncio. A voz era tão áspera que Kitty se perguntou o que o fizera ficar zangado.

Nikos se virou e começou a caminhar. Kitty hesitou, o coração aos pulos, antes de sair de trás da rocha e correr até a praia. Quase imediatamente ele voltou e lhe segurou o braço, virando-a para ele. Então os dedos apoiaram o queixo e ergueu o rosto para ele.

— Ninguém lhe disse que é perigoso nadar sozinha no mar? Você poderia ter problemas com a correnteza e ninguém jamais saberia. — O olhar desceu para o corpo pequeno abrigado no paletó e tentou tirar da mente a lembrança dela correndo nua pela areia.

— Você sempre nada nua à luz do luar?

— Não, é claro que não. Sei que é uma praia particular e pensei que não seria perturbada. Como você, vim respirar ar puro, mas o mar pareceu tão convidativo que fui tomada por um impulso louco... de me despir e mergulhar.

— Verdade? — A voz de Nikos agora soava macia como veludo acariciando sua pele. A química do casal estava no ponto de combustão e a cabeça dela girava numa estranha mistura de antecipação e excitação.

De repente, Nikos a puxou com força contra o corpo.

— O que está fazendo?

— Seguindo meu impulso louco, o mesmo impulso que nós já sentimos no salão de banquete. Não pode negar, Rina — ele a advertiu quando ela balançou a cabeça freneticamente — eu leio a sua mente.

Lembrando-se da sua vergonhosa fantasia erótica, em que ele lhe levantava a saia e a tocava onde homem nenhum a tocara, Kitty rezou para que ele não fosse real. Mas a cabeça de Nikos se abaixava em direção à dela e lhe pareceu que tudo acontecia em câmera lenta. Ficou tensa, dividida entre o anseio de fugir dos braços dele e correr de volta para o palácio e a chocante necessidade de ceder tudo que ele parecia determinado a ter.

Molhou os lábios subitamente secos com a ponta da língua... e, observando-a, Nikos sentiu os músculos do ventre enrijecerem. Jamais sentira fome tão grande por uma mulher. Inclinou a cabeça lentamente, saboreando a antecipação e explorando-lhe o formato dos lábios com a língua antes de tomar a boca com uma ânsia que não mais controlava.

Até a boca de Nikos tocar a de Kitty, ela não acreditou que a beijaria, mas seu arquejo de susto foi sufocado pela pressão firme dos lábios que exigiam sua rendição, da língua que persuadia os lábios a se abrirem e lhe permitirem a entrada na boca úmida. E não tinha poder para impedi-lo; perdida desde o momento em que a tocara, apanhada num vendaval de emoções enquanto pela primeira vez experimentava a doçura intensa do desejo sexual.

Nikos passou a mão pela nuca de Kitty, mergulhou os dedos nos cabelos úmidos e puxou-a gentilmente, virando-lhe a cabeça para aprofundar o beijo. Sua reação foi instantânea e teve um efeito devastador na libido de Nikos, fazendo-o abraçá-la pela cintura com o outro braço e puxá-la com força contra a sólida extensão de sua ereção.

Rina era pequena e macia e, sob o paletó que a cobria, percebia o contorno das curvas generosas que haviam se mostrado uma tentação irresistível quando se despia à luz do luar. Tinha cheiro e gosto de mar, percebeu, quando moveu a boca para o pescoço e acariciou a omoplata feminina com a língua. Estava acostumado a mulheres que usavam roupas de grife e afogavam o próprio cheiro em perfumes caros, mas havia um toque terreno, quase pagão, nesta mulher, que despertava uma resposta profunda nele. Era naturalmente sensual e totalmente afinada com sua feminilidade; o instinto lhe dizia que seria uma amante generosa e aventureira.

Os olhos dele foram atraídos pelo profundo vale entre os seios e, com um gemido, reclamou-lhe a boca de novo, esmagando os lábios macios enquanto a mão mergulhava sob o paletó e acariciava um dos seios.

Devia tê-la assustado; todo o corpo de Kitty se contraiu e, sentindo a reação, ele tirou a mão, sentindo uma fisgada intensa de pena por ter negado o prazer de lhe acariciar o mamilo rijo.

Theus, estava diante de uma feiticeira, uma ninfa do mar que o tentava a esquecer tudo, menos o desespero de mergulhar profundamente naquele corpo, possuí-lo. Mas sentiu a tensão nela e, reunindo todas as suas forças, afastou a boca, a respiração difícil.

— Isto é loucura, devíamos voltar ao palácio. Mas minha sanidade parece ter desertado, Rina. A escolha é sua: quer parar agora e voltar, ou ficar comigo e tomar champanhe ao luar?

Parecia um momento que mudaria sua vida, mas Nikos apenas a convidara para tomar champanhe, garantiu Kitty a si mesma. Ele a observava atento, esperando sua resposta. Nenhum homem jamais a convidara para tomar champanhe numa praia ao luar, nenhum homem jamais a beijara como Nikos, ou despertara a paixão que agora sabia ser parte inerente dela.

Depois de uma vida de dever e protocolo, Nikos Angelaki era como uma brisa de ar fresco. Era moreno, sexy e perigoso, mas a fazia se sentir ousada... e o calor nos olhos dele a fez se sentir desejável, pela primeira vez. Obrigou-se a encontrar os olhos dele, como se fosse se jogar de um precipício.

— Adoro champanhe.

Ele não respondeu. Durante alguns segundos de agonia, achou que mudara de ideia e a mandaria embora. Mas ele relaxou e seu sorriso lento a fez perder o fôlego.

— Então venha — disse estendendo a mão.

Os dedos dele se fecharam em torno dos dela e até mesmo aquele pequeno gesto foi maravilhosamente novo. Tinha 26 anos e jamais caminhara na praia de mãos dadas com um amante.

Nikos não sabia que era uma princesa; pensava que fosse uma garçonete chamada Rina e, por algumas horas, poderia ser apenas uma mulher que conhecera um homem; alguém livre para aceitar a química entre eles.

A caverna estava iluminada pela lanterna que Nikos deixara; a luz suave destacava a beleza do rosto dele e Kitty sentiu um aperto no peito quando focalizou a curva sensual de sua boca.

Permaneceu em pé, insegura, enquanto ele se sentava na areia seca e dava batidinhas ao lado. Ela entendeu o convite, sentou e ele lhe estendeu a garrafa.

— Tome um pouco, você está tremendo de novo. E pena não ser conhaque, mas acho que precisará se contentar com este Bollinger.

Esticou-se na areia e o corpo magro e rijo se espalhou tentadoramente diante dela. A camisa de seda estava aberta no pescoço, expondo o corpo bronzeado e uma massa de pelos escuros. Era tão masculino, tão extraordinariamente viril, pensou Kitty, abalada, enquanto se ajoelhava na areia e pegava a garrafa.

― Não parece certo tomar champanhe da garrafa, é muito... decadente.

— Decadente? — A risada profunda de Nikos ecoou pela caverna. — Que curiosa mistura de contradições você é, Rina. Parece tão pudica como uma governanta vitoriana; no entanto, nadou nua, ao luar. Preciso também citar que você está nua debaixo do meu paletó?

Não se lembrava da última vez que vira uma mulher ficar ruborizada, pensou Nikos. As mulheres sexualmente confiantes com quem convivia eram jogadoras sofisticadas, há muito distantes dos primeiros rubores de inocência virginal.

O pensamento o fez franzir a testa enquanto observava Kitty tomar um gole de champanhe. Ela parecia uma mistura bem curiosa: tímida num momento, ansiosamente reativa no outro. Quando a beijara, tivera a impressão de que era uma experiência nova, mas depois da hesitação inicial abrira os lábios sob os dele e o beijara de volta, com tanta paixão que descartara essa ideia.

Nem precisava lembrar que não estava usando nada, reconheceu Nikos quando ela lhe entregou a garrafa e ele tomou um grande gole. O paletó era grande demais e os botões ficavam tão baixos que podia ver os contornos arredondados dos seios. Já estava arrependido do impulso louco de a convidar a ficar. Jamais tomava decisões apressadas; mas, por algum motivo, Rina perturbava seu cérebro frio, lógico... além de outras partes do corpo. Queria beijá-la de novo e nunca mais parar, mas obrigou-se a relaxar e tentar ignorar a tentação de provar o champanhe nos lábios dela.

— Então, Rina, o que a levou a ser uma garçonete? Oh, senhor...

— Eu... um, precisava trabalhar. Como a maioria das pessoas, preciso ganhar a vida e não sou treinada para fazer mais nada. — Pensou nos anos que passara estudando para obter seu diploma universitário e em seu trabalho para o museu de Aristo.

— Sempre viveu em Aristo? Esta era fácil.

— Nasci aqui e jamais quis viver em qualquer outro lugar. Aristo é o lugar mais lindo do mundo.

Nikos riu.

— Visitou muitos outros lugares, então... com o salário de garçonete?

— Bem... não.

Não podia contar que passara um ano viajando pela Europa e visitara Paris, Roma, Londres, Veneza e Florença e depois ficara seis meses numa escola elitista na Suíça. Que se hospedara em palácios reais e mansões aristocráticas, conhecera fabulosas galerias de arte e museus, passeara pelos pontos mais belos do continente e nada, para ela, se comparara a Aristo, a jóia do Mediterrâneo.

— Aristo é meu lar e amo isto aqui.

A paixão dela pela ilha o intrigou. Gostava do lugar ou das pessoas?

— Tem família aqui?

O que diria se lhe revelasse que a família dela governava Aristo há gerações?

— Tenho mãe, uma irmã, irmãos... — a voz falhou quando pensou na pessoa que faltava na lista. — Meu pai morreu há alguns meses.

— Lamento.

Kitty ouviu a nota de compaixão e lágrimas fizeram seus olhos arderem.

― Sinto tanta falta dele, não acredito que não está mais comigo. — Passou os dedos pelos olhos e se assustou quando Nikos capturou sua mão e limpou as lágrimas com o polegar.

— Desculpe.

Não queria chorar diante dele. Fora ensinada a jamais demonstrar emoção e uma das regras de ouro da família real era exercer o autocontrole em todos os momentos. Constrangida, tentou se afastar de Nikos, mas ele passou um braço pelos ombros de Kitty e puxou-a para ele.

— Não peça desculpas, sei como é devastador perder o pai ou a mãe. Minha mãe morreu há muitos anos, mas jamais a esquecerei. Não esquecerá seu pai, Rina, mas as lembranças se tornarão menos dolorosas e um dia pensará nele sem a tristeza que sente agora.

Ele lhe tirou os cabelos do rosto e Kitty fechou os olhos, acalmada pela carícia dos dedos. Sentiu o hálito quente no rosto quando ergueu as pálpebras e se perdeu na profundidade escura do olhar de Nikos. Era tão forte, tão vivo, e queria absorver um pouco de sua força; sentia-se fraca, perdida...tão solitária.

Timidamente, descansou a mão no peito dele e sentiu a batida firme do coração. O silêncio era total, como se estivessem isolados do mundo e fossem as duas únicas pessoas do universo. Podia ouvir a respiração de Nikos... não mais firme, mas rápida, como a batida do coração; ergueu os olhos para ele e o fitou, hipnotizada por sua beleza masculina.

Nikos sabia que devia se mover e romper o feitiço, mas seus músculos não obedeciam. A luz da lanterna, as lágrimas nos cílios de Rina eram como diamantes minúsculos e o sofrimento evidente nos olhos dela o comoveu. Perdera a mãe quando tinha 16 anos, mas ainda se lembrava da dor e do vazio.

A perda de Rina ainda era recente demais e o apelo por conforto nos olhos dela mexeu profundamente com ele. E isto era tudo que pretendia lhe dar quando abaixou a cabeça e roçou suavemente os lábios nos dele. Por um momento, ela não reagiu, mas ele também não a puxou para ele e apenas a provou de novo, delicadamente, oferecendo-lhe o calor do seu corpo e silenciosamente fazendo-a saber que compreendia a agonia de sua dor. Mesmo quando ela abriu os lábios para ele e virou a cabeça para trás, Nikos tinha certeza que estava no controle. Mas os lábios dela eram tão tentadoramente suaves que não resistiu. Mergulhou a língua entre eles e bebeu o néctar do champanhe misturado ao gosto que era só dela.

Lentamente apertou um dos braços em torno do corpo macio e mergulhou a mão nos cabelos úmidos. Parecia seda contra sua pele e o coração começou a bater com a força do desejo. Puxou-a para mais perto e esmagou-lhe os seios no peito.

Kitty não identificou o momento em que o beijo mudou de uma carícia gentil para outra de paixão faminta, que lhe abalou a alma e transformou seu sangue em lava. Tudo o que sabia era que a boca de Nikos tomava a sua com força e a língua não mais traçava o contorno de seus lábios, mas mergulhava em sua boca com uma volúpia feroz que a fazia tremer.

Uma pequena voz lhe dizia que devia parar, mas não queria sair dos braços dele e se sentir fria e sozinha de novo; queria que a abraçasse com força para absorver o calor do corpo dele. As mãos lhe abraçaram a nuca e ela se apertou contra ele, sem protestar quando a deitou na areia e se juntou a ela.

Agora os corpos estavam unidos pelos quadris e a ereção de Nikos se aninhava entre suas coxas e fazia seus músculos enrijecerem. Isto era errado, muito errado, e tinha que parar. Mas, quando ele lhe tomou a boca mais uma vez, num beijo lento e intenso, ela correspondeu. Apenas mais alguns minutos nos braços dele, pensou. Certamente não era pedir demais... alguns beijos apaixonados daquele homem sexy antes de voltar à sua vida solitária. Mas agora não se sentia mais relaxada estava consciente de uma dor estranha no baixo ventre e, quando ele afastou a boca, não conseguiu evitar um pequeno murmúrio de protesto.

― Theos, Rina! — A voz áspera de Nikos ecoou no silêncio da caverna. — Isto é insanidade. Deve ir embora enquanto ainda tenho um pouco de controle. Porque, se não for, não garanto a você que serei capaz de parar.

 

As palavras de Nikos fizeram uma intrusão indesejada no nevoeiro que enevoava o cérebro de Kitty. Não queria pensar, queria sentir e tocar, perder-se no mundo de prazer sensorial que aqueles beijos evocavam. Sentia-se no limiar de um lugar novo e maravilhoso e Nikos lhe dava a escolha de passar pela porta ou fechá-la.

Mas ela não queria mais ser sozinha; as chamas do desejo nos olhos de Nikos lhe disseram que nesta noite não precisava ser.

Timidamente, tocou-lhe o rosto e traçou-lhe a boca com a ponta do dedo. Mal podia acreditar que estava deitada numa caverna escura com aquele homem sexy e a sensação de irrealidade atordoou-a. Não desejava mais nada além dos beijos dele. Sua timidez a impedia de falar, mas a mensagem silenciosa do olhar foi suficiente para Nikos, que a beijou com fome desesperada, e então, nada mais tinha importância, a não ser a textura, o toque e o gosto dele.

A sensação das mãos de Nikos lhe roçando levemente a pele enquanto abria o paletó a fez se lembrar das mãos grosseiras de Vasilis; ficou tensa, quase em pânico. Mas o brilho de apreciação masculina nos olhos de Nikos, quando abriu lentamente o paletó e descobriu a brancura dos seios, fez Kitty estremecer com outra espécie de sensação. O pânico desapareceu aos poucos enquanto ele delicadamente tomava os seios em suas palmas avaliando seu peso e maciez.

— Belos — disse ele, rouco, e passou a ponta dos dedos sobre os mamilos numa carícia suave. A sensação foi tão intensa que Kitty arquejou e fechou os olhos.

Nikos levou as mãos de Kitty à frente da camisa e ajudou-a a desabotoá-la, com as mãos trêmulas empurrou o tecido para o lado e revelou o peito amplo e musculoso. A pele dourada e acetinada era coberta por pelos escuros que desciam, afinando, em forma de seta em direção ao ventre plano e rijo. Ele a puxou de encontro ao peito e ela segurou a respiração ao primeiro contato de um peito masculino com os seios macios.

Era tão bom, tão certo e tão sedutor que ela se aproximou ainda mais, adorando a força dos braços em torno dela, enquanto ele lhe tomava a boca mais uma vez e a beijava até que ela perdesse o fôlego.

Nikos se convencera de que estava no controle e que apenas deixaria as coisas irem até certo ponto antes de parar. Jamais fora dominado por um desejo realmente incontrolável. Por motivos que não compreendia, Rina era diferente; a necessidade absoluta de fazer amor com ela era inédita e ficou chocado ao perceber que era incapaz de controlá-la.

Frustrado pela incapacidade de resistir a ela, beijou-a com fúria, quase com raiva, mas ela reagiu com uma paixão tão doce, que desistiu de lutar contra si mesmo e diminuiu a pressão dos lábios até o beijo se tornar sensual e suave e cada vez mais erótico.

Ao senti-la tão entregue em seus braços, Nikos traçou uma linha de beijos acompanhando o movimento das mãos e fez círculos preguiçosos com a língua sobre um mamilo, que cresceu e enrijeceu com a carícia.

A sensação da boca de Nikos em seus seios era indescritível e, quando sugou um dos mamilos, tomando-o todo dentro da boca, Kitty instintivamente arqueou as costas, os dedos se curvando nos cabelos dele. Deixou escapar um pequeno grito e se contorceu debaixo dele, erguendo os quadris, inquieta, enquanto o prazer aumentava insuportavelmente.

— Nikos... — O nome soou como um gemido e Kitty jogava a cabeça de um lado para o outro, quando ele transferiu a atenção ao outro mamilo, na mesma deliciosa tortura. Ele rosnou alguma coisa que ela não compreendeu, mas sua intenção se tornou evidente quando ele soltou último botão do paletó e abriu-o para revelar a curva suave do ventre e o triângulo de pelos entre as coxas. Ajoelhou-se sobre ela e Kitty ficou ruborizada quando ele contemplou seu corpo.

Estava completamente exposta; nenhum homem jamais a vira nua e a timidez desesperada, combinada com as inseguranças sobre si mesma, fez Kitty tentar se resguardar com as mãos.

Era hora de pôr um fim a esta loucura, reconheceu Nikos, tentando ignorar a profunda sensação de desapontamento. Não conseguia compreender como haviam chegado até este ponto, mas ela era tão sexy que tentaria até um santo.

Mas Rina ficara tensa, notou a insegurança dela e não seria justo persuadi-la a levar o desejo até o fim... embora soubesse que seria capaz de fazê-lo.

Mais um momento e abotoaria o paletó e os dois voltariam à sanidade, disse a si mesmo. Respirou fundo e lutou pelo controle, mas não conseguiu se impedir de roçar a mão de leve pelo ventre macio, então descê-la ainda mais. As coxas eram lisas e sedosas e ouviu-a arquejar quando os dedos lhe acariciaram os cachos sedosos.

― Por que você se esconde de mim? Tem um corpo lindo, Rina. Estou completamente louco por você.

— Está?

Nikos pensou que ela lembrava uma corça tímida, com aqueles grandes olhos castanhos, pronta para fugir e, no entanto, também pronta para ficar, se soubesse como lidar com ela.

— O que acha? — Tomou-lhe a mão e posicionou-a sobre o enorme volume entre as coxas.

Viu os olhos se abrirem, as pupilas dilatarem e não conseguiu se impedir de abaixar a cabeça e beijar os lábios inchados. A sensação da boca se abrindo ameaçou destruir-lhe o controle já precário e, tentado além do que podia suportar, levou a mão para o triângulo de seda e gentilmente acariciou o núcleo da feminilidade.

O corpo dela pulou em reação e, por um momento, achou que o afastaria. Então, lentamente, ela relaxou e o sangue voltou a pulsar nas veias quando gentilmente a separou e descobriu uma evidência clara de excitação.

Kitty sentiu Nikos abri-la e a respiração parou quando ele passou um dedo em suas dobras sedosas e úmidas. Podia sentir a umidade traidora entre as pernas e ficou constrangida mas ele gemeu de satisfação e penetrou-a com o dedo, enquanto o polegar encontrava aquele botão de nervos e suavemente o acariciava com efeitos devastadores.

— Oh...

O choque de experimentar pela primeira vez a carícia íntima de um homem levou Kitty a gritar. A sensação do dedo de Nikos se movendo dentro de seu sexo era um êxtase além da imaginação e estremeceu com as intensas sensações que a tomaram. Para o corpo inexperiente, parecia impossível que pudesse haver mais, mas a dor dentro dela crescia e exigia e, seguindo um instinto tão antigo como o tempo, tentou puxá-lo para cima dela.

— Espere, ágape.

A voz era rouca, como se ele também não estivesse mais no seu controle e fosse levado por uma necessidade profunda e básica que não podia mais ser negada.

Kitty não soube como se despiu sem que ela percebesse mas, de repente, estava nu, o paletó aberto, e ele se deitava sobre ela, os pelos ásperos das coxas e do ventre arranhando-lhe ligeiramente a pele macia. Sentiu a ereção pressionar o seu ventre... tão rígida e desconhecida que ela abriu os olhos e viu o rosto acima.

O que estava fazendo? Permitiria mesmo que Nikos... um homem que só conhecera aquela noite... fizesse amor com ela? Sim, não queria que ele parasse mas, para ser justa com Nikos, devia confessar sua inexperiência.

— Nikos, preciso lhe dizer... — Mas o resto se perdeu sob a boca de Nikos, que lhe tomou os lábios num beijo tão profundo, tão intenso que esqueceu suas dúvidas e temores.

— Dizer o que, que não está tomando a pílula? Não se preocupe, cuido disso.

A rouquidão sensual de sua voz a envolveu como um casulo e Kitty percebeu vagamente quando ele estendeu a mão e pegou o preservativo no bolso do paletó com a agilidade de longa prática. Então se deitou de novo sobre ela, instalou o corpo rijo e musculoso entre suas coxas e ela sentiu a ereção pulsar e pressionar, impaciente, contra a sua abertura.

Então era isto, o momento sobre o qual pensara durante toda a sua vida adulta. Seu coração galopava, a respiração era curta e irregular e, de repente, teve medo e tentou fechar as pernas. Mas era tarde demais, Nikos já avançava e com gentileza, mas firme, afastou-lhe as pernas e penetrou-a com uma estocada profunda e poderosa que fez Kitty gritar. — Theos! — Parou imediatamente e olhou para ela.

― É a sua primeira vez? Como pode ser?

Começou a se retirar, mas agora, depois do primeiro choque da penetração, os músculos de Kitty se ajustaram em torno dele e a dor breve passara. Ela adorou a nova e maravilhosa sensação de tê-lo dentro dela, preenchendo-a completamente, e a dor inquieta mais uma vez exigia alívio.

― Não pare... por favor. — Agarrou-se aos ombros dele, puxando-o para baixo e, sentindo sua indecisão, abraçou-o com as pernas, incentivando-o a penetrá-la de novo. Era um convite irrecusável e penetrou-a de novo, mais devagar desta vez. O poder de cada estocada, porém, não foi menos intenso e Kitty se arqueou debaixo dele, entregando-se ao prazer de senti-lo se movendo dentro dela.

Mais profundamente, mais rijo e Nikos soube que perderia o controle. Passou as mãos sob as nádegas de Kitty e ergueu-a para que pudesse mergulhar ainda mais fundo, estabelecendo um ritmo rápido e frenético que os levou à beira do abismo.

A dor que lhe queimava o ventre era agora insuportável e Kitty sentiu como se seu interior se esticasse até o limite, se partiria a qualquer instante.

— Por favor... — Não suportava mais, tinha que acontecer agora.

Curvou os dedos nos cabelos molhados de suor na nuca de Nikos e agarrou-se a ele enquanto a penetrava de novo e de novo, erguendo-a cada vez mais e aumentando a excitação a cada estocada.

E, de repente, enquanto tremia, desesperada, ele deu outra estocada devastadora e a represa se rompeu. Uma onda de prazer a tomou enquanto os músculos se contraíam em pulsações avassaladoras e as ondas se irradiavam até que cada centímetro de seu corpo participava do êxtase.

Quase simultaneamente, ouviu um gemido baixo que parecia ter sido arrancado da alma de Nikos e sentiu os grandes tremores que lhe abalaram o corpo quando alcançou o próprio orgasmo. Nikos caiu sobre ela e Kitty sentiu o coração dele bater com força.

Num gesto de proteção tão antigo como a humanidade, abraçou-o e aninhou a cabeça nos seios, segurando-o com força durante aqueles poucos momentos de total vulnerabilidade. Lágrimas lhe encheram os olhos e a ternura invadiu o seu coração.

Ele acabara de lhe dar a experiência mais incrível de sua vida e ela sentia como se suas almas, além de seus corpos, tivessem se transformado em uma só.

Parecia impossível que ele também não se sentisse assim. Mas cedo demais ele se ergueu nos cotovelos e a olhou, o brilho dos olhos não mais de paixão, mas de raiva.

— Por que diabos não me contou que era virgem?

Kitty viu a expressão severa de Nikos e rapidamente esqueceu a ideia de que a intensa paixão que haviam partilhado significava mais que o alívio da luxúria. A sensação de que suas almas se haviam ligado era uma ilusão causada pela intensidade de sua primeira experiência sexual e a frieza nos olhos dele a advertiu de que não partilhava sua fantasia.

Agora que o calor da paixão esfriava, sentiu-se ligeiramente enjoada e seus braços e pernas tremiam em choque pelo que acontecera. Mas o orgulho exigia que escondesse seu tumulto emocional de Nikos.

— É assunto meu — disse, a voz leve, tentando demonstrar que a entrega de sua virgindade não era importante.

Nikos não aceitou.

— Mas agora você tornou isso assunto meu. Não tenho o hábito de seduzir virgens. Se tivesse me contado, teria parado.

— Mas não queria que você parasse.

A força da paixão que ele despertara nela fora uma revelação e, naqueles momentos selvagens, esquecera tudo, só pensara na sua necessidade de preenchimento. Apenas agora as recriminações surgiam na sua mente.

Nikos se afastara e a observava, os olhos semicerrados, cheios de suspeita. Kitty soube, intuitivamente, o que o incomodava. Era um playboy com uma conhecida aversão a compromisso. Adivinhou que estava tentando imaginar o que poderia querer dele e, sem dúvida, determinado a não conceder nada. Talvez temesse que se tornasse pegajosa e emocional? Não podia saber que preferia morrer a lhe mostrar o quanto a afetara.

Sentindo-se extremamente autoconsciente agora, Kitty fechou o paletó, ruborizando com o olhar sarcástico que lhe dizia que era tarde demais para aquela modéstia.

— Se quer a verdade, minha virgindade havia se tornado uma amolação. — Tentou parecer confiante e convincente. — Queria que minha primeira vez fosse boa, mas queria um homem, não um menino desajeitado e inexperiente. Sua reputação como amante foi uma tentação a que não resisti e, certamente não fui desapontada... — sua voz falhou —...mas peço desculpas se meu desempenho e experiência desagradaram você.

— Não seja ridícula, não fiquei desapontado — Nikos disse secamente, lembrando-se da avassaladora intensidade de seu alívio. — Você foi maravilhosa, ágape.

Ele se deitou de costas, observando as sombras no teto da caverna. O choque de descobrir que fora seu primeiro amante estava desaparecendo e reconheceu que tinha sido o melhor sexo que tivera em muito tempo. Olhou para Rina, deitada ao lado dele, e relaxou lentamente, aliviado por ela não tentar se aninhar nele. Parecia que não precisava se preocupar; embora virgem, compreendia as regras. Não pretendia vê-la depois desta noite, mas se pudesse confiar que ela nada exigiria, não via motivos por que não poderiam se encontrar de vez em quando, quando viesse a Aristo.

— Também tenho uma confissão a fazer — disse preguiçoso, virando-se de lado e enrolando uma mecha dos cabelos ainda úmidos no dedo.

O coração de Kitty quase parou.

— Você é casado?

— Theos... não! Sou divorciado e, desde que expulsei minha ex-esposa da minha vida, sou decididamente solteiro.

Nikos sentiu o ódio familiar enquanto pensava na mulher que acreditara amar, a amargura misturada à raiva de si mesmo, por ter sido tão idiota. A terrível traição de Greta fora um aprendizado duro, mas aprendera bem a lição. Jamais confie numa mulher. Afastou sua mente do passado e percebeu que Rina o olhava, assustada.

— Se está com ilusões românticas a meu respeito, sugiro que as esqueça bem depressa, ágape. Valorizo minha liberdade acima de tudo.

Kitty tentou assimilar a ideia de que fora casado, a primeira informação verdadeira que soube sobre ele. Não conseguia imaginá-lo casado, não combinava com sua imagem.

Percebeu que a observava, a expressão nos olhos escuros indecifrável. Apesar do tumulto que sentia, conseguiu dar de ombros, descuidada.

— Então é sorte minha ter deixado de acreditar em contos de fadas há muito tempo. Não tenho ilusões sobre o tipo de homem que você é, Nikos, mas ainda estou curiosa para ouvir sua confissão.

A tensão desapareceu e Nikos sorriu.

— Também não tinha permissão para vir à praia.

— Então, como sabia do caminho pelo portão do jardim?

— Minha mãe me contou quando eu era criança. Estava caminhando pelo jardim e de repente me lembrei e pensei em procurá-lo, sem saber se era verdade ou apenas um boato que ouvira quando vivia em Aristo.

Não havia motivo para não contar a Rina que sua mãe tinha sido uma criada no palácio, pensou Nikos. Parecia irônico que tivesse se sentido atraído por uma criada e não por uma das convidadas sofisticadas do baile. Talvez tivesse um desejo secreto de voltar às suas raízes, pensou com ironia. Mas sua vida privada por tudo o que sabia, seria ameaçada se Rina vendesse uma história de como o conhecera aos tablóides. MINHA SESSÃO DE SEXO NA AREIA COM O MAGNATA GREGO poderia ser uma das manchetes, mas a revelação de que Nikos Angelaki era filho ilegítimo de uma criada do palácio venderia ainda mais e se recusava a ter a reputação de sua mãe enlameada.

— Pensei que você fosse grego.

— Minha mãe nasceu e foi criada em Aristo, numa aldeia chamada Varna.

Kitty conhecia cada pedaço de Aristo e se lembrava da pequena aldeia de pescadores. Havia algumas propriedades grandes nas colinas acima de Varna e talvez a família dele fosse proprietária de uma delas.

— E você visita a família dela com frequência?

— Não. — O queixo de Nikos endureceu quando pensou nos parentes que jamais conhecera... na família da mãe que a expulsara quando ficara grávida dele. Não havia mais nenhum vivo, de acordo com o investigador que contratara. Os avós morreram sem saber que tinham um neto e levaram a identidade de seu pai ao túmulo.

A mãe de Nikos se recusara com firmeza e lhe dizer o nome do homem que a engravidara e abandonara... revelando apenas que era um pescador grego. Realista, ele aceitou que jamais saberia quem era seu pai, mas isto não o impediu de pensar em quem seria.

— Toda a família de minha mãe já morreu. — O tom advertia que não pretendia continuar a conversa.

Virou-se de costas de novo e de repente se sentiu exausto, as pálpebras pesadas. Não dormiria, prometeu a si mesmo. Apenas fecharia os olhos por uns dois minutos...

Kitty ouviu o ressonar calmo de Nikos e cuidadosamente se afastou. Parecia curiosamente vulnerável no sono e ela ansiava por tirar o cacho de cabelos caído na testa dele.

Era tão belo; poderia olhá-lo para sempre. Mas o que aconteceria quando acordasse? O rosto queimou quando os imaginou se vestindo descuidadamente e voltando juntos para o palácio. Supunha que ele diria boa noite... talvez até a beijasse de novo? Fora treinada para as regras da etiqueta, mas não conhecia as normas entre amantes.

Nikos pediria para vê-la novamente, ou perguntaria o seu número de telefone? Em que momento lhe contaria que era a princesa Katarina, irmã de seu melhor amigo... e não uma garçonete chamada Rina?

Não devia ter mentido para ele, pensou, desesperada. Mas, quando o conhecera e ele a confundira com uma criada, não tinha ideia de que seriam amantes antes que a noite acabasse. A enormidade do que fizera a atingiu com a força de um terremoto e levou a mão à boca para sufocar um grito desesperado. Tinha que ir agora, antes que Nikos acordasse.

O coração disparado, levantou-se lentamente e procurou seus óculos. Nikos havia deixado suas roupas sobre uma rocha. Tirou o paletó dele, dobrou-o cuidadosamente e o deixou ao lado de Nikos. Então colocou apenas o seu vestido.

Os sapatos não estavam à vista e decidiu não procurá-los, Nikos poderia acordar a qualquer momento. Correu descalça até os fundos da caverna, atravessou a passagem estreita entre as rochas e subiu o caminho que levava ao portão.

Andou pela escuridão, temendo que Nikos a seguisse; mas não ouviu o som dos passos dele. Atravessou o jardim e entrou no palácio pelas cozinhas agora vazias. Não viu ninguém no caminho até o seu quarto, a respiração difícil quando entrou e viu seu reflexo no espelho. Mal reconheceu a mulher que olhava para ela, com os lábios inchados, os cabelos soltos e embaraçados.

O que fizera? Kitty mergulhou o rosto nas mãos, como se pudesse apagar as lembranças da paixão incontida partilhada com ele. Só Deus para saber o que pensar dela, mas sua opinião não seria pior do que a sua. Sentiu-se grata pensando que jamais o veria de novo; não deixaria que descobrisse sua verdadeira identidade. Era bem melhor que pensasse que tivera um encontro de uma noite com uma empregada doméstica chamada Rina...

 

Nos dias seguintes, Kitty fez o que pode para esquecer Nikos... e falhou. Quando fechava os olhos via o rosto dele e, à noite, sonhava que estava em seus braços.

Frustração sexual era uma nova e indesejada experiência, mas logo outro motivo a manteve insone. Sua menstruação estava atrasada... e sempre fora muito regular; e, à medida que os dias passavam sem sinais que a acalmassem, reconheceu que não podia ignorar sua preocupação. Apesar do medo de ser reconhecida, um dia dirigiu até o centro de Ellos, a capital de Aristo e, escondendo-se atrás de grandes óculos de sol e um chapéu de abas largas, comprou um teste numa farmácia cheia de fregueses.

O resultado do teste foi previsível e chocante. Estava esperando um bebê de Nikos. Não sabia como era possível, Nikos usara preservativo. Agora tinha que enfrentar o fato de que era uma princesa grávida e solteira.

Ainda estava em estado de choque quando Sebastian a encontrou na biblioteca.

— Ah, aí está você, Kitty. Está se sentindo bem? Anda muito pálida e mamãe está preocupada com você.

― Estou bem — disse Kitty, e virou o rosto, mas Sebastian viu suas lágrimas.

— Ei, Kitty-Kat, qual é o problema?

— Nada. — A preocupação do irmão e chamá-la pelo apelido que lhe dera na infância causaram abalo nas emoções de Kitty. Cobriu o rosto com as mãos, e grandes soluços sacudiram o seu corpo.

— Kitty! Que diabos...? — A voz de Sebastian era áspera de ansiedade enquanto se aproximava e a abraçava. — Vamos, conte-me, qualquer que seja o problema não pode ser assim tão ruim. Sabe que sempre a ajudarei.

Só havia uma maneira de anunciar.

— Estou grávida.

Por alguns instantes, o silêncio pareceu um eco do choque de Sebastian.

— O quê? O que quer dizer? Não compreendo.

— É simples, vou ter um bebê.

Mais uma vez Sebastian ficou mudo, mas finalmente se endireitou, o queixo rígido quando perguntou com calma letal:

— Bebê de quem?

O rosto belo e arrogante de Nikos surgiu na mente de Kitty.

— Não posso contar — sussurrou, infeliz.

— Não seja ridícula... — Sebastian parou, então franziu a testa. — Está dizendo que não sabe, que o pai pode ser um entre muitos parceiros? Theos, Kitty, você tem uma vida secreta sobre a qual eu nada sei?

— Não... é claro que não, sei quem é o pai... só pode ser uma pessoa. Mas foi um acidente e ele... ele não vai gostar. Decidi não contar a ele.

— Não ligo a mínima se ele gosta ou não — rosnou Sebastian, afastando-se dela e passando a mão nos cabelos — é com você que estou preocupado. Kitty... você é uma princesa real da Casa de Karedes, a quarta na linha de sucessão ao trono e não pode ser mãe solteira.

Kitty mordeu os lábios; não era de admirar que Sebastian estivesse abalado. Na noite do baile, Vasilis Sarondakos lhe dissera que a família real não suportaria outro escândalo. Jamais uma mulher da família real de Aristo tivera um filho ilegítimo e as implicações poderiam abalar os alicerces da Casa de Karedes.

Mas não tinha escolha; estava grávida e não ter o bebê estava fora de cogitação. Envolver Nikos era outra questão, era o amigo mais próximo de Sebastian. Seu coração se partiu ao ver o rosto atônito do irmão. Como ficaria se soubesse que fora seduzida por um homem em quem tinha absoluta confiança?

E mentira para Nikos, permitira que acreditasse que era uma garçonete chamada Rina. Como reagiria se revelasse que não só era uma princesa, mas que também concebera um filho dele?

Se está com ilusões românticas a meu respeito, sugiro que as esqueça bem depressa, ágape. Valorizo minha liberdade acima de tudo.

Lembrava-se bem das palavras dele. O problema era dela, lidaria com isso sozinha; teria que se afastar da vida pública e viveria tranquilamente em algum lugar distante do palácio. Tinha uma fortuna pessoal e suas qualificações permitiriam que seguisse sua carreira como pesquisadora do museu.

Respirou fundo e uma calma estranha substituiu o pânico. Tudo ficaria bem, conseguiria resolver o problema. Mas não tinha a intenção de revelar a identidade o pai do bebê.

— Sebastian, lamento, não posso lhe contar.

— E mamãe? Ela terá que saber... e, tão cedo depois da morte de papai, partirá o coração dela. Theos, Kitty, que confusão.

Essas palavras a encheram de culpa e vergonha.

― Conversarei com a mamãe e o resto da família, apenas me dê alguns dias para... para pensar. Por favor, Seb.

Sebastian hesitou, o olhar fixo ao dela, então acenou.

― Mas se algum dia descobrir quem é o pai, vou matá-lo.

 

Uma semana depois, Kitty estava no balcão do palácio, acenando para a multidão que se reunira para celebrar o Dia da Independência, quando as Ilhas Adamas se tornaram independentes da Inglaterra. A rainha Tia, ainda consumida pelo sofrimento pela morte do marido, tivera uma infecção pulmonar e seus médicos a aconselharam a não participar das cerimônias. O príncipe Alex e a esposa Maria estavam na América e o príncipe Andreas na Austrália, com a esposa Holly. Liss tinha outros deveres reais no exterior; assim, Kitty agira como consorte de Sebastian... consciente de que, quando fosse mãe solteira, não poderia comparecer mais em ocasiões de Estado.

Era um belo dia de junho, típico do começo do verão em Aristo. O sol brilhava sobre a multidão que havia seguido o desfile de carnaval pelas ruas, até o pátio do palácio. Kitty sorria e acenava, tentando ignorar o desconforto do pesado vestido formal de seda e da tiara de diamantes que lhe causada dor de cabeça.

— Acho que nunca vi tanta gente participando desta comemoração, centenas de pessoas vieram lhe demonstrar seu apoio, Sebastian — comentou quando saiu do balcão e entrou na sala de estar, tirando as luvas brancas e entregando-as a um lacaio.

O irmão estava conversando com um convidado e, ao ouvir a voz dela se virou... e, quando Kitty viu quem era o companheiro do irmão, o coração perdeu uma batida. As vozes das pessoas em torno desapareceram e ela sentiu um som peculiar.

— Nikos, acho que não conheceu minha irmã, a princesa Katarina...

Sebastian se calou, evidentemente confuso pela expressão de fúria gelada de Nikos Angelaki e a palidez súbita de Kitty. O silêncio tenso entre eles causou uma onda de interesse na sala e Kitty percebeu os olhares curiosos dos convidados. Mas seu olhar chocado estava preso ao rosto de Nikos.

Ele foi o primeiro a falar.

— Oh, nós nos conhecemos, meu amigo — disse ele, o tom gelado. — Mas parece que a princesa Katarina gosta de jogos e infelizmente deixou de se apresentar adequadamente, não é Rina?

O choque e a raiva foram tão grandes que Nikos quase engasgou. A mulher que saíra do balcão e o olhava com medo foi reconhecida imediatamente, depois de passar as últimas três semanas dominando os seus pensamentos... No entanto, vestida com roupas régias e uma tiara, era alguém que não reconhecia.

Mentira para ele aquela noite, e como mentira! Fechou os olhos por um instante e tentou controlar a raiva insana que o fazia querer sacudi-la e exigir que lhe explicasse por que fingira ser uma serviçal, em vez de lhe contar que era a princesa Katarina Karedes.

Achara divertido o fingimento? E por que diabos dormira com ele? Não, fizera sexo com ele, e então mentira por omitir quando não o avisara que era virgem.

Mas Nikos dormira. Dominado pela exaustão e fisicamente saciado depois de fazer amor, sentira-se mais relaxado do que nunca, incapaz de combater o cansaço. Ao acordar, descobriu que dormira por uma hora e Rina desaparecera.

Lembranças da paixão intensa que haviam partilhado invadiram a mente de Nikos. E outra lembrança, da conversa particular que tivera com Sebastian quando chegara ao palácio naquele dia, fez o seu coração disparar.

Sebastian estava tenso e sério e, depois de lhe pedir segredo dissera que outro escândalo estava prestes a abalar a Casa de Karedes. Sua irmã, a princesa Katarina, fora seduzida por um desconhecido e estava grávida.

Theos, não! Não podia ser verdade. Olhou para Rina... incapaz de pensar nela como a princesa Katarina... e tentou descobrir a verdade em seu rosto pálido. Não de novo, não com ele. Não depois da tragédia do passado que jamais esqueceria, não enquanto vivesse. Mas soube imediatamente que não era uma brincadeira cruel. Era inteiramente possível que Rina tivesse engravidado dele e, pelas linhas se formando na testa de Sebastian, era evidente que sua amizade com o príncipe estava prestes a ser destruída.

Kitty não conseguia afastar os olhos do rosto de Nikos e a raiva que via nos olhos dele a encheu de medo. Ele não podia adivinhar o seu segredo, pensou, mas a mão se moveu instintivamente para o ventre e ela viu os olhos dele se apertarem ao perceber o gesto revelador.

Sebastian estava falando, mas as palavras não eram registradas no cérebro de Kitty enquanto observava a expressão preocupada se transformar em crescente compreensão e depois em fúria. O som forte em seu ouvido aumentou, como se estivesse à beira de uma cachoeira. E então começou a cair e uma grande escuridão a tomou.

Kitty abriu os olhos lentamente e olhou para o afresco de querubins que adornava o teto. Por um momento se sentiu desorientada, mas então o cérebro funcionou. Girou a cabeça e percebeu que estava na pequena antessala da sala de estar formal. Lembrou-se da escuridão que a envolvera e compreendeu. Devia ter desmaiado pela primeira vez na vida, e alguém a levara para lá e a deitara no sofá. Via a silhueta de Nikos contra a luz brilhante do sol e, embora não visse suas feições, sentia a raiva partindo dele em ondas.

Nikos! Tirou as pernas do sofá e se sentou depressa, então arquejou ao sentir uma náusea forte. Passar mal diante dele seria a pior das humilhações, então cerrou os dentes e esperou que a sala parasse de girar.

— Há um copo de água na mesa ao seu lado. Sugiro que tome um pouco — disse ele, a voz áspera.

Kitty pegou o copo e levou-o à boca; as mãos tremiam tanto que mal conseguiu beber, mas a água estava gelada e refrescante e lentamente a náusea passou. Levantou-se e lançou um olhar para ele; então não conseguiu segurar um pequeno grito ao ver o hematoma no queixo de Nikos.

— O que aconteceu com o seu rosto?

— Sebastian.

Kitty não podia acreditar.

— Ele bateu em você?

Recordou a expressão de compreensão chocada que vira no rosto do irmão pouco antes de desmaiar e sentiu medo.

— Depois do que me contou, não o culpo — disse Nikos ainda naquela voz fria e curta que não disfarçava a raiva. — Se está preocupada, não me defendi; Sebastian estava defendendo sua honra e, para ser honesto, pensaria menos dele se não tivesse me esmurrado. — Fez uma pausa.— Mas foi uma forma dramática de descobrir que vou ser pai. — O sarcasmo era a única forma de extravazar a fúria que queimava nele. — Com você desmaiando e o príncipe-regente agindo como um boxeador diante de centenas de dignitários e jornalistas, a história provavelmente será manchete na imprensa mundial.

Nikos inspirou profundamente e se virou para olhar sem ver pela janela. Sentiu uma sensação profunda de irrealidade, uma sensação de que sua vida estava para mudar completamente, mas sabia que precisava controlar a raiva e conhecer os fatos.

— É verdade? — A voz áspera raspava a garganta e ele foi obrigado a se virar para ela. — Você está mesmo grávida ou é apenas um de seus jogos peculiares?

— É verdade, fiz um exame e ontem meu médico confirmou.

Não sabia como esperava que Nikos reagisse, mas não imaginara aquela raiva gelada.

— E a criança é minha, como Sebastian acredita? Kitty ruborizou.

— É claro que é sua. Era virgem quando o conheci e não pulei na cama de uma dúzia de amantes desde então. Não queria envolvê-lo, nem mesmo compreendo como posso estar grávida. Você usou preservativo.

— Ele falhou. Quando acordei, vi que havia uma chance de tê-la engravidado. Quando não a encontrei na caverna, procurei-a e percebi que suas roupas tinham desaparecido e você fugiu de mim. Se tivesse ficado, teria lhe dito que havia a possibilidade de uma gravidez e insistido que mantivesse contato comigo para me informar o que aconteceria.

Nikos respirou fundo, lembrando-se de sua preocupação nos dias seguintes, quando descobrira que fizera sexo com Rina usando um preservativo defeituoso. Quando não conseguiu encontrá-la, a preocupação se transformou em medo... de que a história se repetisse. E agora percebia que isso acontecera.

Lembranças que sufocara por tanto tempo ressurgiram: cinco anos atrás, sua amante engravidara. Dissera a Greta que sentia que uma parte de sua identidade faltava por não saber quem era o pai e jurara não abandonar a mulher que ficasse grávida de um filho dele. Pouco depois, quando Greta lhe contara que esperava um bebê, casou-se com ela. Mas seu desejo de se casar com a modelo dinamarquesa não fora apenas pelo bem da criança, ele a amava.

Depois do choque inicial, ficara feliz sobre o bebê, sabendo que seu filho seria sua única relação de sangue no mundo. Mas, um mês depois do casamento, ocorreu a tragédia. Jamais esqueceria o telefonema que recebera da Dinamarca, para onde ela viajara num compromisso de trabalho, contando-lhe que sofrera um aborto.

Nikos olhou sem ver pela janela do palácio, lembrando-se da dor que sentira. Fora um golpe terrível, mas sufocara-o para consolar Greta, sem saber que suas lágrimas eram falsas. Nos meses que se seguiram, ela pareceu se recuperar bem e voltou à carreira de modelo em tempo integral.

Mas logo surgiram as rachaduras em seu casamento. Greta gostava de festas, de animação e o acusara de ser um marido enfadonho. E se recusara a tentar gerar outro filho, a carreira era mais importante para ela.

Então descobrira que era viciada em cocaína, um fato que escondera antes do casamento, e isto causara uma série de brigas, cada vez mais amargas. Durante uma das raivas provocadas pelo uso da droga, ela revelara que jamais quisera um filho... mas, quando ficara grávida e Nikos a pedira em casamento, agarrou a oportunidade de se casar com um bilionário. Durante a viagem para a Dinamarca, depois do casamento, não tivera um aborto espontâneo... pusera um fim proposital à gravidez.

Nikos obrigou-se a afastar Greta da mente. Era passado e, quando soube pelos jornais que morrera por overdose de cocaína, não sentiu nada. A partir do momento em que descobrira que friamente o privara de seu filho, seu coração congelara.

Mas não se sentia frio agora. Pela primeira vez em cinco anos alguma coisa o emocionava e Nikos olhou para a mulher que afirmava estar carregando um filho seu. O destino lhe dera outra oportunidade e faria tudo para garantir que esta pequena vida criada por sua semente tivesse chance de crescer.

 

Kitty olhou para Nikos, atordoada pela tristeza que via nos olhos dele. Parecia devastado pela notícia de que estava esperando um filho dele. O queixo estava rijo, a pele tão esticada sobre os malares que parecia que suas feições tinham sido talhadas em mármore... frio, duro e totalmente impiedoso.

A ideia de ser pai definitivamente não o agradava... pensou ela amargamente. A pequena chama de esperança que existia em seu inconsciente se apagou e apenas o orgulho tornou sua voz forte.

— Não fique tão preocupado, Nikos, não quero nada de você. Este problema é meu e lidarei com ele, não precisa se envolver.

Alguma coisa brilhou nos olhos dele, uma emoção que Kitty não identificou mas que lhe tornou as pernas bambas; deixou-se cair no sofá.

—Lidar com ele? — perguntou num tom perigoso. —Você está falando de uma vida humana, de que maneira está pensando em lidar com isto?

— Quero dizer que cuidarei do bebê de todas as maneiras, inclusive a financeira. O que acha que eu quis dizer? — Os olhos se arregalaram à implicação dessas palavras. — Você não pode pensar... — respirou, trêmula, e, quando falou, a voz era firme.

― Vou ter este bebê e, no que me diz respeito, não há outra alternativa que consideraria. Mas, como já disse, você não precisa se envolver, Nikos.

Nikos sentiu a enorme tensão diminuir. Ela parecia convincente, mas Rina, ou Katarina, como agora a conhecia, era uma excelente atriz... já era experiente nisso.

— Mas estou envolvido — disse ele implacável, os olhos presos aos dela. — Você está grávida de um filho meu e tenho uma responsabilidade em relação a vocês dois, que pretendo honrar plenamente.

Pensou novamente em como ela o enganara e sentiu outra onda de raiva.

— Quando pretendia me contar, ou nem se importaria? Kitty abaixou a cabeça.

— Não soube o que fazer nestas últimas semanas — admitiu. Nikos riu.

— Enquanto estava tentando decidir, eu fazia o possível para encontrá-la. Fiz uma investigação no palácio e me disseram que não havia nenhuma criada aqui chamada Rina. Então entrei em contato com todas as empresas de fornecimento de jantares em Aristo. Não se surpreenderá ao saber que ninguém ouviu falar sobre você. Então, me diga, Rina, você sempre se disfarça de criada, ou tentou deliberadamente me fazer de idiota?

— Eu não... — Kitty mordeu os lábios quando viu a raiva nos olhos dele. — Você tem todo o direito de ficar zangado.

— Bem, é bom saber... — a voz era cheia de sarcasmo — ...porque estou furioso... já estava arrependido... já estava arrependido Vossa Alteza. Inferno! — Passou uma das mãos pelos cabelos. — Nem mesmo sei seu nome, Rina ou Katarina.

— É Kitty, o apelido que meu pai me deu quando era pequena. — Arriscou um olhar de relance para ele e seu estômago deu um nó. Era ainda mais bonito do que se lembrava, num terno cinza-claro e camisa azul. Parecia distante e inacessível, em cada centímetro, o magnata sofisticado e educado. — Não o enganei intencionalmente. Você me confundiu com uma criada e achei mais fácil continuar assim. E sei que não teria acreditado em mim se tivesse revelado quem sou. Todos no baile me comparavam desfavoravelmente com minha irmã Liss e tinham razão: eu não parecia uma princesa glamorosa, aparentava ser uma garçonete malvestida, como você me confundiu. Quando nos encontramos na praia, fiquei impressionada quando me achou atraente. Você me fez me sentir linda, embora não seja, e quis continuar a ser a sexy Rina, não a feia Kitty.

— E, tendo me convencido de que era a garçonete Rina, decidiu que era uma boa oportunidade para perder a virgindade com um homem experiente e não com um menino desajeitado? — Nikos lembrou as palavras que lhe dissera quando descobrira sua inocência sem qualquer gentileza na voz ou na expressão. — Você é herdeira da coroa de Aristo... em que diabos estava pensando?

— Foi um momento de loucura, jamais sonhei que teria consequências tão catastróficas.

— Mas teve, e agora temos que encará-las. A única solução possível é nos casarmos.

Não havia alternativa, reconheceu Nikos silenciosamente enquanto observava Kitty ficar de boca aberta com o choque. Jurara nunca mais se casar, mas se quisesse seu bebê... e queria, sem dúvida nenhuma... então teria que sacrificar sua liberdade e se casar com uma mulher que se mostrara tão mentirosa como a primeira esposa.

— Pode não ser o ideal — disse, enquanto Kitty balançava a cabeça —, mas, acredite, isto também não é o que eu queria. Mas prometi a Sebastian que cumpriria o meu dever.

A sala subitamente pareceu girar... ou era ela? Kitty se deixou cair nas almofadas.

— É uma ideia ridícula. — Odiava a palavra “dever".

— Tem sugestão melhor? Estou intrigado, Alteza, o que pretende fazer? Antes de qualquer coisa, quero deixar muito claro que nenhum filho meu será ilegítimo. E devo advertir que Sebastian pareceu muito aliviado quando lhe garanti que tenho a intenção de me casar com você o mais depressa possível. Ele já tem problemas demais no momento, não precisa de mais esta preocupação com você.

— Ele não precisa se preocupar comigo, posso cuidar de mim mesma — disse Kitty, teimosa, sabendo que a preocupação de Sebastian não era apenas por ela, mas pelo efeito devastador que uma gravidez não planejada teria sobre a monarquia.

Mas se casar com Nikos? Casar com um homem que estava furioso por ela ter mentido e que a olhava com desprezo, como se fosse um inseto? Não era apenas ridículo, era uma loucura e não concordaria.

— Como podemos nos casar? Não nos amamos.

— Amor é uma ilusão encontrada apenas em livros e filmes. Com frequência as pessoas confundem luxúria com amor, mas eu jamais cometerei este erro. Estou sugerindo um casamento de conveniência apenas pelo bem do nosso filho. Não sei quem foi meu pai, minha mãe jamais me disse o nome dele, mas sempre me perguntei se me pareço com ele ou se temos algumas tendências em comum. Não permitirei que um filho meu sofra o trauma de não saber de onde veio.

Kitty se assustou com a emoção crua na voz dele e ficou ainda mais chocada ao perceber que ele falava mesmo muito sério.

— Nikos, vamos ser sensatos, estou apenas com três semanas de gravidez e seria loucura nos casarmos às pressas e então... e então descobrir que não foi necessário. — Sua voz se quebrou ao se imaginar perdendo o bebê a quem já amava. — Temos muitas opções. Se quer fazer parte da vida do bebê, podemos chegar a um acordo sobre seu acesso a ele. Pode visitar o palácio regularmente... — sentiu os olhos dele sobre ela e se perdeu. — O que estou tentado dizer é que não há necessidade de decisões apressadas. Não sou uma garçonete mal paga, tenho fortuna e uma família que me apóia. Conseguirei criar o bebê sozinha.

O sangue de Nikos gelara ao ouvir a palavra 'acesso' e, de repente, percebeu que, se não tivesse cuidado, as coisas poderiam sair muito erradas. Era evidente que Kitty queria criar sozinha o filho deles, mas estava igualmente determinado a fazer parte da vida da criança. Seria um pai em tempo integral, não um quase desconhecido que o visitava de vez em quando. Kitty dissera que não precisava dele e certamente tinha como criar o filho sem sua ajuda.

De alguma forma, precisava convencê-la de que era indispensável... e estava preparado para usar chantagem emocional para persuadi-la a se casar com ele.

— Então, vai dizer a sua mãe, que está doente e sofrendo pela morte de seu pai, que se recusa a se casar com o pai do seu bebê... e que não se importa que suas ações causem vergonha à família real? Sebastian está conversando com a rainha agora, ansioso para que ela saiba da gravidez por ele, não por um boato dos criados, inevitável depois da cena na sala de estar. — Os olhos dele pareciam penetrar a mente de Kitty, que deu um pequeno grito de dor. — Podemos apenas esperar que os convidados ou jornalistas presentes à recepção não tenham adivinhado que você está grávida. Se nos casarmos logo, ninguém precisa saber.

Observou Kitty torcendo as mãos nas dobras do vestido azul de cetim. O vestido longo disfarçava sua forma, mas podia imaginar, sob o material, as curvas cheias do busto, a cintura fina, os quadris arredondados e sentiu a pontada já familiar de frustração sexual que o atormentara desde a noite do baile.

Sentiu um impulso súbito de tirar todos os grampos dos cabelos de Kitty e passar os dedos pelas mechas sedosas de um castanho rico e, quando ela ergueu os olhos, viu que eram de um castanho-escuro, profundo, macios como veludo e cercados por cílios impossivelmente longos e espessos.

— Onde estão seus óculos? Ou fazem parte da fantasia na pequena exibição teatral da noite em que nos conhecemos? — Nikos perguntou zombeteiro e se forçou a se afastar da tentação daquela boca carnuda e rosada. Estava furioso por desejá-la, apesar de saber que mentira para ele. Não compre; entendia por que se fizera passar por uma garçonete e detestava a ideia de que o fizera de idiota, mas não conseguia esquecer a paixão selvagem que tinham partilhado e estava consciente, pelo aperto em suas entranhas, da impaciência de seu corpo para repetir tudo.

— Estou usando lentes de contato e já lhe disse que não o enganei deliberadamente; as coisas apenas... aconteceram.

A voz de Kitty era tensa enquanto tentava imaginar o choque e a preocupação da mãe quando soubesse da gravidez. A rainha Tia queria que ela se casasse com Nikos, admitiu, e Sebastian gostaria de uma solução rápida para eliminar o constrangimento do problema: Mas como poderia se casar com um homem que deixara claro que não acreditava em amor e jamais gostaria dela?

— Não se engane, Kitty — disse Nikos, enquanto estudava as emoções que se sucediam no rosto dela — não vou simplesmente sair e permitir que cuide sozinha de nosso filho. Fique avisada, vou lutar pela custódia. Mesmo que isto signifique o fim da minha amizade com Sebastian, não terei escrúpulos em arrastar toda a família real para os tribunais e o resultado será muito prejudicial à monarquia.

Kitty sabia que Nikos pretendia fazer exatamente o que ameaçava e sentiu um arrepio na espinha quando lhe encontrou o olhar. Na primeira vez em que o viu, percebeu nele um lado impiedoso, que escondia sob um verniz de encanto sedutor. Não havia sinais de encanto agora. Dissera que era um pirata e percebeu com terrível certeza que, se escolhesse lutar contra ele, perderia.

— Estou totalmente determinado a ter meu filho vivendo comigo na Grécia. Depende de você ter um papel ativo na criação dele.

— O que quer dizer... ter um papel ativo na criação dele? E o meu bebê! E por que acha que é um menino? Pode muito bem ser uma menina — disse Kitty, abalada com a declaração de que a criança viveria na Grécia. — Não pode esperar que eu deixe Aristo, passei aqui minha vida toda. Se tivermos que nos casar, por que não pode viver aqui no palácio?

— A sede de meus negócios é em Atenas e preciso viver lá — explicou friamente. — Naturalmente, como minha esposa, viverá comigo e, embora os laços com Aristo e a família real continuem fortes, nosso bebê, menino ou menina, crescerá na Grécia. Já discuti isto com Sebastian e ele está de perfeito acordo — acrescentou, como se isto resolvesse o assunto.

Kitty estremeceu à finalidade daquelas palavras. Sebastian concordara e, embora o irmão fosse incapaz de forçá-la a se casar com Nikos, sabia que não tinha escolha. Parecia que grades de prisão estavam se fechando em torno dela. De repente, a sala pareceu encolher e ela se levantou e correu para a porta.

Pelo bem do bebê e da família real, teria que se casar com Nikos, mas a perspectiva de se prender numa união sem amor com um homem que jurara não se casar e, além disso, estava furioso com ela por tê-lo feito de idiota, encheu-a de desespero.

— Preciso de tempo para pensar — sussurrou, cada músculo ficando mais tenso quando Nikos se moveu com a velocidade e a graça de uma pantera para se posicionar diante dela.

— Sebastian me disse que, longe de ser a garçonete sem instrução que me levou a acreditar que era, é uma acadêmica brilhante e sei que compreende a gravidade da situação. Tem que tomar uma decisão agora. Sebastian e sua mãe sabem que estou lhe pedindo que se case comigo. Estão nos esperando nos aposentos da rainha para informar sua resposta e, como vejo a situação, nenhum de nós tem outra escolha.

Apesar de sua mente gritar em silenciosa rejeição, Kitty reconheceu com o coração pesado que ele estava certo. Cautelosamente ergueu os olhos para ele e, mesmo em meio ao tumulto emocional, foi tomada de desejo ao ver o belo rosto. Parecia que haviam feito amor há séculos e, quando focalizou os olhos na linha cruel da boca, pareceu impossível que ele uma vez já a beijara com intensa paixão. Sua aura de poder era tangível e se sentiu fraca e vazia; tudo estava a favor dele, não tinha forças para lutar.

— Quando? — perguntou, os lábios entorpecidos. — Suponho que o casamento terá que se realizar dentro de poucos meses.

— Mais cedo do que isto, Sebastian já escolheu o dia 11 de julho e cancelou todos os outros eventos de Estado.

— Mas isto é daqui a três semanas! Não posso passar por isto, Nikos.

— Sim, pode; porque, para ser franco, Kitty, você não tem escolha.

 

Kitty pouco se lembrou das três semanas seguintes; quase acreditava que estava sonhando. Esperava acordar e descobrir que jamais conhecera um homem chamado Nikos Angelaki e que não estava grávida do filho dele.

Mas, quando abriu os olhos na manhã do dia do casamento e viu o vestido de noiva pendurado na porta do armário, foi obrigada a aceitar a realidade: em algumas horas seria a esposa dele e, pelo bem da criança que esperava, não podia fugir ao destino que a esperava.

— Eu lhe disse que todas as noivas ficam lindas no dia do casamento — disse Liss mais tarde, enquanto alisava uma ruga da ampla saia de seda do vestido de noiva. — Você está maravilhosa, este vestido destaca sua figura perfeitamente. Não ouse usar aquelas camisetas largas que gosta tanto! Não que Nikos vá permitir, ele tem uma vida social muito intensa e aposto que lhe comprará muitas roupas lindas, em que você ficará muito sexy, para todas as festas que frequentarão na Grécia.

— Sabe que não gosto de festas e, em alguns meses estarei enorme e certamente nada sexy... apenas gorda. Já ganhei peso, especialmente no busto; não acha que o decote está muito baixo?

Estudou o corpete, bordado que minúsculas pérolas e cristais, e o monte firme dos seios que pareciam na iminência de saltar pelo decote.

— Os olhos de Nikos não se afastarão dos seus seios — garantiu Liss. — E estou feliz por ter deixado seus cabelos soltos, é um penteado muito mais suave do que aquele coque.

— Suponho que sim, mas não é muito prático. — Os cabelos macios de Kitty eram naturalmente ondulados e desciam pelas costas quase até a cintura. A conselho de Liss, deixara-os soltos e, em vez de uma tiara e um véu, escolhera um aro delicado de rosas brancas para usar na cabeça. Liss a maquiara levemente, enfatizando os olhos castanhos e apenas uma camada de gloss rosado nos lábios.

O resultado foi extraordinário; Kitty mal conseguia acreditar que a mulher refletida no espelho era ela. Após uma noite de loucura, sua vida mudara completamente. A mão se moveu instintivamente para o ventre e ela respirou fundo. Ia se casar com Nikos pelo mesmo motivo que ele se casava com ela... pelo bem da criança que haviam gerado... e não havia razão para se sentir emotiva ou enganada pelo romantismo da ocasião.

— Você não deve parecer prática, este é o dia do seu casamento e vai se casar com um homem muito sexy, que lhe mandou isto... Gaea — chamou a criada — traga as flores que o sr. Angelaki enviou.

A criada foi até o corredor e voltou levando um delicado buquê de botões de rosas brancas e cor-de-rosa, que entregou a Kitty.

— Sei que este é um casamento de conveniência, mas é óbvio que há alguma coisa entre você e Nikos. Vi como ele a olhava no jantar da noite passada... como se não pudesse esperar para levá-la à cama. — Sorriu quando o rosto de Kitty ficou escarlate. — E me ligou de Nova York há alguns dias para me perguntar quais são suas flores favoritas.

― Ligou? — O coração de Kitty perdeu uma batida quando mergulhou o rosto nas flores e inalou seu perfume delicado. Nenhum homem jamais lhe mandara flores e o fato de que Nikos se esforçara para lhe dar o buquê a encheu de esperança de que este casamento não estaria destinado ao fracasso. As rosas eram um talismã de esperança quando se olhou de novo no espelho e viu que Liss não mentia: por milagre, realmente estava linda.

― Obrigada por me ajudar a me aprontar. Sabe como sou ruim com roupas, mas, graças ao seu conselho e à habilidade do costureiro, meu vestido é tudo o que sonhei.

— Mal posso esperar para ver a reação de todos quando a virem, especialmente Nikos. — O sorriso desapareceu quando viu os olhos de Kitty brilhantes de lágrimas não derramadas. — Espero que saia tudo bem. Sei que o bebê não foi planejado e que está sendo forçada a se casar. Mas quero que saiba que todos nós só desejamos o melhor para você e tenho certeza que o casamento com Nikos é uma decisão certa.

— Espero que sim — disse Kitty, um tremor na voz. Naquelas três semanas Nikos visitara o palácio apenas duas vezes e em ambas, não ficaram sozinhos. Ele fora educado e encantador e conquistara completamente a rainha Tia, mas para Kitty parecera distante; não soube como conversar com ele. Mesmo os telefonemas que fizera da América haviam se limitado às perguntas sobre sua saúde e se estava se alimentando bem.

Kitty o tranquilizou quanto a isto. Tivera náuseas apenas em duas manhãs e estava bem e saudável, com um enorme apetite. A mãe lhe dissera que era do tipo que mostrava a gravidez muito cedo e afirmara que ela estava florescendo, mas não tinha certeza de qual seria a reação de Nikos ao corpo já crescendo com o bebê.

Mas, mais importante, ele iria querer ver seu corpo? Se não fosse pelo bebê, acharia que a paixão selvagem que haviam partilhado fora apenas um sonho e que a sensação da boca e das mãos dele em seus seios, em seu corpo, era fruto da imaginação.

Nikos esperaria que partilhasse sua cama nesta noite... na noite de núpcias? Kitty observou no espelho seu rosto ficar vermelho e sentiu os seios crescerem e ficarem pesados. Não haviam conversado sobre este aspecto do casamento, mas Nikos era viril demais e não aceitaria uma vida sem sexo. Mas não dissera, em nenhum momento, que ainda a desejava nem a tocara de nenhuma forma.

Liss olhou as horas.

— Melhor irmos; já está preparada?

— Tão preparada como jamais ficarei — murmurou, o coração batendo com força quando se dirigiu para a porta e se virou para olhar o quarto onde passara toda a vida. Sentiu uma pontada forte de tristeza ao pensar que, de agora em diante, seu lar seria em Atenas, com Nikos.

A capela particular nos terrenos do palácio estava cheia de convidados. Quando Kitty passou pela porta em arco, foi recebida por um murmúrio de vozes excitadas e cabeças se voltaram para vê-la.

Mas ela só tinha os olhos para o homem alto, de ombros largos, num terno cinza, em pé diante do altar. Nikos devia saber que Kitty chegara pela reação dos convidados, mas permaneceu de costas, sem dar um olhar para ela e sua óbvia relutância em olhar para a mulher com quem era obrigado a se casar atingiu Kitty como uma pancada; por um momento, foi tomada pelo pânico e estremeceu.

— Você está bem? — sussurrou Sebastian, olhando o rosto pálido. — Theos, Kitty, não vai desmaiar, vai?

As notas da música do órgão encheram a capela e pareceram ecoar no corpo de Kitty. Ela tropeçou e, por alguns segundos, sentiu um impulso imenso de se virar e fugir da igreja, de Nikos e do casamento sem amor que a esperava. Mas, quando viu a ansiedade nos olhos do irmão, a lição ensinada em toda a sua vida... que precisava cumprir seu dever a qualquer custo... a socorreu. Apertou o buquê e se obrigou a sorrir para Sebastian.

— Estou bem.

A caminhada pela aleia pareceu durar uma eternidade e, quando finalmente chegou ao lado de Nikos, ergueu os olhos para ele e se deparou com aquele olhar inexpressivo.

Nikos deu as respostas numa voz clara e fria; mas Kitty, com um nó na garganta, apenas conseguiu sussurrar. Sentiu uma profunda tristeza com a mentira dos dois quando prometeram amar e honrar um ao outro até que a morte os separasse. Os olhos ficaram marejados de lágrimas quando ele pôs a aliança, seguida por um anel com um chuveiro de diamantes.

Quando o sacerdote disse a Nikos que podia beijar a noiva, Kitty virou a cabeça, esperando um roçar de lábios indiferente, mas assustou-se ao ver o súbito clarão de desejo nos olhos dele. O coração disparou quando a tomou nos braços, o corpo forte pressionado ao dela. Para seu espanto, não parecia mais frio e distante e não tentou impedi-lo, quando Nikos inclinou a cabeça e tomou seus lábios com fome evidente.

Desejara-o por tanto tempo que não controlou a reação a ele. Beijou-o com igual fervor, aceitando, feliz, a penetração da língua, sentindo um arrepio de excitação sexual quando ele gemeu, frustrado, à intervenção delicada do sacerdote que lembrou a eles que sua exibição apaixonada era testemunhada por duzentos convidados.

Seu casamento era de conveniência e muito distante da união por amor com que sonhara, reconheceu Kitty enquanto andavam pela aleia em direção ao sol, mas, para o melhor e para o pior, era a esposa de Nikos Angelaki e chegara a hora de esquecer suas fantasias românticas e aceitar que, se o homem com quem se casara não a amava, pelo menos a desejava.

— Você está linda nesse vestido de noiva — disse ele durante a recepção, depois que o almoço, os discursos e os brindes de champanhe haviam terminado e ela avisara que sairia para mudar a roupa para viajarem a Atenas. — Não demore muito, ágape, ainda temos a viagem até Atenas e estou impaciente para ficar sozinho com minha esposa.

O brilho intenso nos olhos de Nikos causou uma apreensão nervosa em Kitty e ela correu ao quarto, para vestir o conjunto preparado para a viagem, desesperada para passar alguns minutos longe de sua presença perturbadora.

O conjunto de seda cor de jade fora escolha de Liss e destacava suas curvas e a favorecia pelo colorido. Enquanto estudava seu reflexo no espelho, perguntou-se se Nikos gostaria quando descobrisse que apenas usava sutiã e uma calcinha de renda francesa.

Parecia que ele queria um casamento de verdade e não podia negar que a química sexual deles era tão forte como no dia do baile. Mas, apesar de desejá-lo, sentia-se nervosa à perspectiva de partilhar sua cama.

A intimidade de fazer amor era um assunto importante para Kitty, mas achava que Nikos considerava o sexo o único benefício do casamento forçado.

Perdida em pensamentos enquanto caminhava pelo corredor, esbarrou em Vasilis Sarondakos e o coração disparou.

― Não parece uma noiva alegre — disse ele, desdenhoso.― Qual é o problema, Kitty? Tem medo de deixar o noivo sozinho por muito tempo e que a atenção dele se afaste... para sua irmã, talvez?

Vasilis estava bêbado, a fala lenta e um hálito forte de álcool. Não gostara de ver o nome dele na lista de convidados, mas era um velho amigo da família e não precisaria vê-lo nunca mais. Tentou passar, mas ele lhe agarrou o braço e empurrou-a contra a parede.— Me larga! Vasilis a apertou e riu.

— Tem todos os motivos para se preocupar. Liss foi abençoada com grande beleza e Nikos é um playboy notório.

— Cala a boca, Vasilis! — Kitty não conseguia deixar de sentir inveja da beleza da irmã e se desprezava por isto. — Não há nada entre Liss e Nikos, ele se casou comigo.

— Ah, mas o motivo para este casamento apressado não é tão secreto como você gostaria. Mas tenho que admitir a vitória de Angelaki... ele é um alpinista social ainda mais impiedoso do que imaginava e descobriu o ouro em você. Quem mais seduziria deliberadamente uma princesa virgem e ingênua, engravidaria a moça e então se casaria com ela depressa para poupar constrangimentos à família real? Estou surpreendido por Sebastian não tê-lo tornado um cavalheiro do reino por serviços além e acima do dever — terminou, amargurado.

— Não seja ridículo — disse Kitty, chocada pelas palavras de Vasilis. Como sabia de sua gravidez? — O que quer dizer quando afirma que Nikos é um alpinista social? Ele é um bilionário, dono de uma empresa externamente bem sucedida.

— Uma empresa que herdou depois de seduzir outra mulher idiota — disse Vasilis, zombeteiro. — Nikos Angelaki é filho ilegítimo de uma camponesa. Cresceu nos cortiços de Atenas e, quando adolescente, já estava envolvido no submundo do crime. — Fez uma pausa, observando a expressão chocada de Kitty e sorriu, satisfeito. — Pelo que vejo, seu marido não lhe contou nada sobre seu passado. Pergunte-lhe sobre a tatuagem no ombro, se não acredita em mim. De alguma forma, ele conheceu uma milionária, Larissa Petridis, filha do magnata da marinha mercante Stamos Petridis — continuou Vasilis. — Larissa herdou a empresa do pai e era uma solteirona atraída por rapazes bonitos. Logo ficou enfeitiçada pelo encantador Nikos, apesar de ele ser vinte anos mais novo que ela. Nikos agarrou a oportunidade para escapar de uma vida de pobreza e se tornou amante dela e, quando Larissa morreu, lhe deixou a Petridis Shipping. Nada mal para o garanhão de uma mulher velha e solitária, não é?

Kitty ficou tonta com as palavras venenosas de Vasilis, mas estava determinada a não revelar o choque que sentira.

— Não acredito em você — afirmou. — Como sabe tanto sobre Nikos?

— Contratei um investigador, gosto de descobrir os esqueletos nos armários das pessoas. Nunca se sabe quando a informação pode ser útil. Se quiser, eu lhe mostrarei o relatório que meu investigador me mandou sobre Angelaki, é uma leitura interessante. Quase tão interessante como o exemplar desta semana da revista Glamorous — acrescentou Vasilis, sorrindo da expressão perplexa de Kitty.

— Há alguma coisa para ler numa publicação dedicada unicamente a boatos sobre celebridades?

— Não muito, mas há muitas fotos mostrando o que seu marido estava fazendo nas três semanas anteriores ao casamento.

— Nikos estava nos Estados Unidos, trabalhando num acordo de negócios.

― Bem, certamente estava trabalhando muito, mas no quarto de dormir e não numa sala de reuniões. Enfrente a verdade, Kitty, você não é o tipo de Angelaki... e imagino que foi o motivo por que passou as últimas semanas com sua amante, Shannon Marsh... aqui está a prova.

Tirou uma cópia da revista do bolso do paletó e abriu-a numa página dupla de fotos que mostravam Nikos ao lado de uma loura bronzeada e linda. Ele também estava bronzeado e belo, com um cacho de cabelos caindo na testa. Estava relaxado e rindo com a linda companheira e a óbvia familiaridade entre eles, a loura pressionando os seios nus no peito também nu e musculoso de Nikos, lhe partiu o coração.

Tirou a revista das mãos de Vasilis e leu o curto parágrafo sob as fotos, empalidecendo quando viu seu nome e a insinuação de que, embora estivesse prestes a se casar com uma princesa europeia, Nikos ainda era louco pela amante americana.

— Eu lhe disse que devia ter se casado comigo. Não a teria humilhado no dia do casamento. Muitos convidados que estão aqui hoje certamente leram isto no café da manhã e há muitas especulações sobre o motivo real da pressa no casamento.

Kitty sentiu uma onda de náusea às palavras de Vasilis e sua frágil autoconfiança se rompeu.

Os convidados não a olharam na capela por que se transformara numa linda noiva... estavam comparando-a com Shannon Marsh, cujo corpo glorioso era mostrado numa revista de circulação mundial.

E Nikos e sua aparente ansiedade para levá-la à cama... como poderia desejá-la quando tinha Shannon esperando por ele na América?

Libertou-se das mãos de Vasilis e não teve pena quando ele tropeçou. Ficou chocada ao perceber que todo o corpo tremia em reação ao que soubera. A tensão não seria boa para o bebê e forçou-se a respirar fundo e se controlar. O bebê era o único motivo para o casamento, era tudo o que importava e, a partir daquele momento, concentraria todas as suas energias na vida que crescia dentro dela.

— Angelaki só se casou com você para ter uma noiva da realeza.

As palavras odiosas de Vasilis a seguiram quando desceu a escadaria, mas não parou ou olhou para trás. Sabia porque Nikos se casara com ela, sabia que queria o bebê. Mas lhe dissera uma vez que valorizava a liberdade acima de tudo e as fotos na revista eram prova de que não tinha a intenção de cumprir seus votos de casamento.

 

O treinamento de uma vida inteira foi a salvação de Kitty no tempo restante da recepção; de alguma forma, conseguiu sorrir para os convidados que se espalhavam pelos gramados, onde o helicóptero de Nikos esperava para levá-los à Grécia.

Assim que levantaram voo, ela fechou os olhos e fingiu dormir, incapaz de enfrentar Nikos. Lembrou a si mesma que, até o casamento, ele era livre para agir como quisesse... até mesmo para frequentar uma praia com a amante seminua... mas sentiu-se humilhada por ele ter se exibido tão abertamente com ela.

Quanto à história que Vasilis lhe contara sobre o passado de Nikos,.. não sabia o que pensar. Conhecendo a maldade de Vasilis, era muito provável que tivesse contratado um investigador para descobrir informações sobre Nikos e supunha que os fatos podiam ser facilmente verificados.

Não se importava por Nikos ter sido pobre, mas a possibilidade de ele ter adquirido riqueza e sucesso às custas das emoções de uma mulher mais velha e rica a abalava.

Seus pensamentos a atormentavam enquanto o helicóptero sobrevoava o mar e seu coração doeu à medida que Aristo desaparecia a distância. No começo da viagem, Nikos conversara com o piloto, mas depois se sentou-se ao seu lado e, apesar de tudo que soubera sobre ele, seus sentidos ficaram alertas ao sentir o olhar dele nela. Fechou os olhos com força, tensa, mas depois de alguns momentos ele suspirou e, pelo som, Kitty percebeu que apenas estava lendo o jornal.

Nikos morava no centro de Atenas, num edifício em forma de torre que se erguia bem acima das ruas movimentadas da cidade. Era diferente demais da tranquilidade de Aristo e Kitty sentiu uma pontada de saudade quando a limusine entrou no estacionamento e parou.

— Quando estiver trabalhando, meu motorista, Stavros, a levará para onde quiser. É um guarda-costas treinado, não saia do apartamento sem ele — disse Nikos quando entraram no elevador.

— Não tinha guarda-costas em Aristo e não precisarei de um aqui — argumentou Kitty, aborrecida.

— Aqui é diferente de Aristo, onde todos gostam da família real e ninguém pensaria em ferir vocês. Mas em Atenas você chama muita atenção. Todos, inclusive a imprensa, estão fascinados pela ideia de ter uma princesa vivendo aqui. Impossível não ter visto os paparazzi que nos seguiram desde o aeroporto. Sua foto estará na primeira página de todos os jornais de amanhã e, infelizmente, esse interesse nem sempre é saudável.

— O que quer dizer?

— Quero dizer que há pessoas que se ressentem da minha riqueza e da sua. Não quero amedrontá-la, Kitty, mas precisa saber que há uma possibilidade de sequestro... que pode ser reduzida a zero se fizer o que estou dizendo e ficar sempre perto de Stavros.

Instruíra Stavros a segui-la por toda parte, mas não apenas para garantir sua segurança. Kitty garantira que desejava o bebê, mas não correria riscos... saberia onde ela estava a cada minuto do dia.

A expressão de Nikos advertiu Kitty a não insistir no assunto, mas seu coração se apertou. Pensara que teria mais liberdade em Atenas, longe do protocolo sufocante da vida no palácio, mas parecia que trocara uma prisão por outra e agora teria um carcereiro particular.

O elevador parou no último andar e Nikos a surpreendeu ao tomá-la nos braços e carregá-la para dentro do apartamento.

— Agora você é realmente minha esposa — disse ele, franzindo o cenho quando percebeu como enrijecera ao toque dele.

Kitty sentiu o estômago fazer um nó ao pensar se ele pretendia levá-la ao quarto e consumar o casamento. Não conseguia esquecer as fotos dele e Shannon Marsh na revista e lutou para sair dos braços dele; Nikos finalmente a soltou.

— Sou pesada demais para você, vou lhe quebrar as costas.

— Acho improvável, ágape — disse ele, a voz lenta e os olhos estreitos quando ela se recusou a lhe encontrar o olhar.

Era a primeira vez que entrava na casa dele e talvez fosse natural que estivesse tensa, pensou Nikos. Esta seria a casa dela também a partir de agora e devia lhe parecer muito diferente do que estava acostumada. Sua cobertura era luxuosa, mas não era um palácio real.

Ambos teriam que se acostumar, reconheceu. Gostava de seu espaço e desde o divórcio jamais levara qualquer uma de suas amantes ao apartamento. Agora Kitty viveria aqui; mas era sua esposa, não sua amante e não podia esperar que seu relacionamento se limitasse ao quarto de dormir. Certamente tomariam juntos o café da manhã e jantariam quando voltasse para casa à noite e não sabia bem o que sentia sobre partilhar seu domínio particular. Vivera sozinho por tanto tempo que se acostumara, mas em alguns meses haveria um bebê e sentiu uma enorme excitação ao imaginar a vida nova, com um filho.

Seria um bom pai, pensou, seu filho não sentiria falta de nada, especialmente de amor. Mas, pelo bem da criança, precisava ajudar Kitty a se sentir feliz em Atenas. Olhou para ela, o foco fixo nos montes firmes dos seios sob a blusa de seda. A saia se amoldava às belas nádegas e, ao se imaginar tirando-a, sentiu-se enrijecer. Estava muito tentado a levá-la imediatamente para a suíte master e provar que, a partir daquele momento, aquele seria o único lugar onde ela gostaria de estar... na sua cama.

O coração disparou e ele colocou uma das mãos no ombro de Kitty, acariciando-lhe os cabelos castanhos que pareciam seda contra a sua pele. Queria afastar os cabelos para o lado e pressionar os lábios no pulso que batia na base do pescoço, mas novamente percebeu a tensão e afastou a mão.

Não sabia o que havia errado com ela e, francamente, não queria saber. Quando a beijara na igreja, a reação dela tinha sido uma indicação satisfatória de que partilhava sua impaciência para consumar o casamento. Mas depois ela gelara e sua tensão o deixara perplexo. Talvez precisasse de tempo para se acostumar: o casamento e a gravidez além da saída de Aristo eram grandes mudanças.

Dominando a impaciência de levá-la para a cama, afastou-se.

— Vou lhe mostrar o apartamento e talvez você comece a se sentir mais à vontade.

— Obrigada.

Kitty seguiu Nikos, o coração apertado enquanto olhava em torno. O apartamento era ultramoderno e minimalista, com piso de mármore branco, com sofás de couro negro e peças de prata. Era um típico apartamento de solteiro, destinado a um executivo ocupado, não um lugar para criar um bebê. Lembrou-se com tristeza dos aposentos de crianças no palácio, com brinquedos espalhados pelo chão e a grande estante cheia com os livros que amava. Lágrimas lhe encheram os olhos quando pensou no pai, que a visitava todas as noites e lia para ela, mesmo se tivesse que interromper o trabalho.

Não conseguia imaginar Nikos fazendo isto com o filho deles nem viver aqui com ele, fingindo que eram uma família feliz.

— Você não precisa passar muito tempo aqui — disse ele quando mostrou a cozinha brilhante, com bancadas de aço. — Meu mordomo e cozinheiro, Sotiri, cuida de tudo do lado doméstico. Eu o apresentarei a você mais tarde.

Nikos continuou pelo amplo corredor, atravessou uma elegante sala de jantar e três grandes quartos de dormir, um dos quais Kitty imaginou poder ser transformado no quarto do bebê. No fim do corredor, Nikos abriu a última porta... e Kitty parou.

As janelas da suíte master davam para a Acropolis que, com a chegada do crepúsculo, estava iluminada por holofotes e brilhava, dourada, contra o céu índigo.

Era uma visão maravilhosa, mas a atenção de Kitty estava voltada para a cama imensa, com a cabeceira de couro e lençóis de seda negros. Espelhos do chão ao teto cobriam toda uma parede, refletindo a cama... e seus ocupantes, percebeu ela, o coração batendo com força enquanto via a champanhe esfriando no balde.

Era um quarto destinado à sedução e Kitty se perguntou quantas mulheres Nikos levara lá e se tinham parado para apreciar a vista antes de se juntarem a ele na cama enorme. Olhou para Nikos, o coração disparado enquanto se perguntava se ele pretendia levá-la para a cama naquele momento.

— A criada desfez as malas enviadas do palácio e guardou suas coisas em seu quarto de vestir. Venha, vou lhe mostrar.

Nikos atravessou o quarto até uma porta e Kitty o seguiu, grata pelo alívio. O quarto de vestir era grande, com enormes armários de carvalho, uma penteadeira combinando e um grande sofá, e havia outra porta que levava ao banheiro.

O pânico diminuiu quando ela percebeu que teria alguma privacidade.

Nikos abriu os armários e estudou as poucas roupas que continham.

— Por que não mandou trazer todas as suas roupas de Aristo?

— Isto é tudo, nunca tive muito interesse em moda.

— Bem, sugiro que comece. — Passou a mão com impaciência pelos cabides. — Sei que ainda está de luto por seu pai, mas seu guarda-roupa não pode consistir apenas de conjuntos negros.

— Não são roupas de luto, uso preto por que me faz parecer mais magra.

— Você não fica bem de preto. Precisamos fazer compras, frequento muito a sociedade e minha agenda já está cheia de convites de pessoas que estão ansiosas para conhecer minha esposa, e princesa.

Kitty não deixou de pensar que as 'pessoas' que Nikos mencionara ficariam muito desapontadas quando a conhecessem e vissem que não era a princesa glamorosa e sofisticada que esperavam.

Nikos se aproximou e as borboletas em seu estômago voaram com mais velocidade quando tomou sua mão e a levou ao quarto.

— Gosto da roupa que está usando agora — murmurou, a voz tão profunda que fez Kitty se arrepiar; segurou a respiração quando ele passou a mão pelo ombro dela e desceu-a até o seio.

— Liss escolheu-a para mim. Ele riu suavemente.

— Então é uma pena que não tenha escolhido todas as suas roupas.

Às palavras dele, Kitty sentiu a fisgada familiar de inveja e todas as suas inseguranças voltaram. Não precisara que Vasilis lhe dissesse que não era o tipo de Nikos, sabia muito bem que não tinha o corpo de modelo como Liss ou Shannon Marsh e não suportava a ideia de que ele comparava suas curvas generosas com o corpo tonificado e maravilhoso da amante americana.

Nikos tirara o paletó e a boca de Kitty secou quando ele começou a desabotoar a camisa.

— Quero dormir sozinha esta noite — disse, ousada. — Foi um longo dia e estou exausta.

Nikos parou às palavras dela.

— Neste caso, por que não dormiu na viagem? Seu fingimento infantil de que estava dormindo não me enganou nem por um segundo.

A nota de impaciência na voz dele despertou a raiva de Kitty. Estava tudo bem para ele, tudo correra como queria. A vida dela fora virada do avesso, enquanto a dele pouco mudara.

— Você está certo, eu fingi que estava dormindo... para não ter que conversar com você. E só a ideia de ir para a cama com você me deixa doente.

O queixo de Nikos enrijeceu.

— Não foi esta a impressão que me deu quando a beijei na igreja. O que causou esta mudança tão súbita?

Kitty ruborizou quando se lembrou da maneira como reagira a ele. Mas, então, não sabia que passara os dias anteriores ao casamento com a amante americana. A ideia de se despir diante dele e expor o corpo a fez se encolher.

— Qual é o problema, Kitty? — Sentia-se frustrado por sua incapacidade de compreendê-la.

Kitty hesitou.

— Durante a recepção, quando fui mudar a roupa, encontrei alguém... um amigo da família... — a voz desapareceu ao chamar o odioso Vasilis Sarondakos de amigo — e soube de coisas sobre você, seu passado; que cresceu na pobreza e teve problemas com a lei. Soube também dos rumores de que deve seu sucesso nos negócios a uma rica herdeira, Larissa Petridis, que deixou para você, em testamento, a empresa de comércio marítimo que herdara do pai porque você foi amante dela.

— Quem é este amigo? Pelo menos tenha a decência de dizer quem foi o indivíduo que teve tanto trabalho para me apunhalar pelas costas.

— Foi um amigo de Sebastian... Vasilis Sarondakos. Nikos riu.

— Sarondakos não é amigo de seu irmão, Sebastian só o incluiu na lista de convidados por que o rei Aegeus era muito amigo do pai dele.

— Os boatos são verdadeiros?

— Os detalhes do meu passado não são segredo. Cresci nos cortiços, em condições que você nem pode imaginar. Como poderia, uma princesa que passou a vida inteira num palácio real, cercada de luxo e riqueza? Minha mãe trabalhou incansavelmente para me vestir e me alimentar, mas era jovem e sem instrução, obrigada a lutar sozinha depois que o homem que a seduziu... meu pai... abandonou minha mãe e a família a expulsou quando descobriu que estava grávida. — O rosto de Nikos enrijeceu. — Você não sabe o que é ter fome, andar pelas ruas como um cão sem dono, atrás de comida para sobreviver. Não tenho vergonha do meu passado e a fome alimentou minha determinação de criar uma vida melhor para mim e minha mãe. Mas é verdade que, no fim da adolescência, fui atraído pelas gangues de rua e, se não fosse por Larissa Petridis, poderia estar na prisão agora, em vez de ser o presidente de uma empresa bilionária.

Kitty olhou para Nikos com uma expressão atribulada.

— Então você seduziu uma mulher mais velha e se tornou amante dela na esperança de herdar sua empresa?

— Meu relacionamento com Larissa não está aberto a discussões — disse Nikos friamente. — Admito que herdei a Petridis Shipping de Larissa, mas, embora fosse uma pessoa maravilhosa, era péssima para negócios e, quando herdei a empresa, estava à beira da falência. Trabalhei muito para recuperá-la e tenho todo o crédito pela situação em que está agora, com lucros recordes.

Enquanto falava, Nikos havia se aproximado e Kitty percebeu que estava presa entre ele e a cama. Podia sentir a raiva emanando dele e, o coração disparado, deu um grito de susto quando ele estendeu a mão e lhe segurou o queixo.

— Me largue.

— Qual é o problema, Kitty? Tem medo de se sujar se eu a tocar, agora que sabe que sou filho de camponeses e não um aristocrata de sangue azul?

— É claro que não — negou ela instantaneamente.

Não se importava com sua condição social ou de onde vinha. .. o que a incomodava era onde estivera, e com quem, nas semanas anteriores ao casamento.

— Não devíamos ter nos casado — disse ela, as imagens dele fazendo amor com Shannon povoando sua mente. — Não devia nunca ter deixado que me convencesse a me casar... quero uma anulação.

— Por que acha que não sou bom o bastante para você? Sei que é uma princesa, mas não tinha ideia de que fosse uma esnobe mimada.

— Não é este o motivo — respondeu, irritada. Pegou a bolsa e tirou a revista que Vasilis lhe dera, toda a raiva e infelicidade explodindo numa torrente de emoção. — Você me fez de idiota, Nikos... não apenas aqui na Grécia, mas no mundo inteiro. A Glamorous tem circulação mundial e todos, incluindo os convidados para o nosso casamento, viram estas... — jogou a revista nele, aberta na página onde estavam aquelas fotos horríveis. — Todos devem ter rido de mim pelas costas, a gorda e feia Kitty, cujo marido passou as semanas anteriores ao casamento exibindo seu caso com a bela amante loura. Não é de admirar que houvesse tanta especulação sobre o motivo real por que se casou comigo. As pessoas terão apenas que somar dois mais dois para perceber que estou grávida. Como eu, todos que viram estas fotos sabem que você nunca teve a intenção de ser um marido fiel.

Kitty respirou fundo, o corpo trêmulo, o coração batendo forte. Precisava se controlar, isto não era bom para o bebê. A fúria desapareceu quando foi tomada por uma onda de náusea. O quarto começou a girar e, de repente, mãos fortes lhe seguravam os ombros, obrigando-a a se sentar na cama, apertando sua cabeça para baixo.

— Respire fundo... de novo — a voz de Nikos era impaciente. — Se continuar assim, pode perder o bebê.

— Talvez fique aliviado se perder, pelo menos podemos pôr um fim a este casamento de fachada.

Ele praguejou.

— Acuse-me do que quiser, mas nunca disso. Nosso filho foi concebido por acidente, mas eu não me arrependo, mesmo que você se arrependa.

— Não me arrependo... é claro que não. E sei que você quer o bebê... assim como sei que foi o único motivo por que se casou comigo.

Nikos olhou para ela, o rosto inexpressivo.

— Você quase desmaiou, vou chamar o médico.

— Não preciso de um médico, estou bem agora. Apenas fiquei aborrecida, foi tudo.

— Sobre as fotos? — Nikos olhou para a revista. — Onde conseguiu a revista? Não sabia que lia este lixo.

— Não leio, Vasilis me deu. — Kitty ficou horrivelmente constrangida com a perda do controle e queria que a deixasse sozinha, mas o brilho de determinação nos olhos dele advertiu-a de que não permitiria que o assunto morresse. — Sabia que tinha ido à América depois que concordei em me casar com você, mas preferia que tivesse sido honesto sobre os motivos que o levaram lá. Obviamente não foi a negócios e sim para ver sua amante e nem se deu ao trabalho de ser discreto. Fez de mim objeto de riso, Nikos, e nunca o perdoarei por isto.

Quando ele não respondeu, ela ergueu a cabeça e viu-o estudando as fotos com atenção... e provavelmente comparando-a com a bela Shannon, pensou Kitty, infeliz.

— E verdade que fui aos Estados Unidos com o objetivo de me encontrar com Shannon. Tivemos um bom relacionamento de alguns meses antes de eu conhecer você. Foi um caso sem importância; ambos temos uma vida ocupada e nos encontrávamos sempre que estávamos no mesmo país. Mas devia a ela a cortesia de terminar tudo frente a frente e não num telefonema.

A cabeça de Kitty se ergueu à palavra 'terminar', mas as fotos ainda a perseguiam.

— Nestas fotos você e Shannon estão bem mais do que frente a frente. Vocês estão praticamente nus e grudados um no outro. Não me importo....compreenda, apenas detesto a ideia de que os convidados do casamento sentiram pena de mim... a princesa Gorda que não consegue segurar seu homem nem antes de chegar ao altar.

— Theos, Kitty, por que tem uma opinião tão ruim sobre você mesma? — rosnou Nikos, impaciente. — Tem um corpo fantástico e sabe que mal posso manter as mãos longe de você. Se tivesse mais controle na noite em que nos conhecemos, talvez não estivéssemos agora nesta situação. — Ergueu a revista. — Estas fotos são antigas, foram tiradas há meses, logo depois que conheci Shannon e nosso caso estava no auge. Quando a visitei há três semanas para lhe dizer que ia me casar, nós nos encontramos em Nova York, nem chegamos perto da praia do Caribe onde estas fotos foram tiradas.

— Mas o artigo dá a impressão de que as fotos são recentes.

— É claro, revistas como esta publicam lixo o tempo todo e infelizmente não há nada que os impeça de usar fotos de arquivo. Tiveram cuidado ao escrever o texto para não sugerir que estavam se referindo às fotos acima. Vou entrar em contato com meus advogados e ver se conseguimos que a revista peça desculpas mas, para ser honesto, aprendi a ignorar os paparazzi e sugiro que faça o mesmo.

Era fácil para ele dizer... não tinha sido ele a fazer papel de idiota. De repente, Kitty se sentiu tão cansada que mal conseguia pensar direito. Não tinha a coragem de olhar para ele e deu um pequeno grito de susto quando ele se abaixou ao lado dela, tomou-lhe o queixo na mão e ergueu-lhe o rosto para o dele.

— Eu me casei com você hoje com a intenção determinada de ser um marido fiel. Admito que não vivi como um monge antes de conhecê-la, mas agora há o bebê para considerar e cumprirei meu dever para com você e nosso filho. Shannon é passado — disse ele, enquanto Kitty tentava ignorar a dor de ouvi-lo enfatizar a palavra 'dever' — e você é o futuro, Kitty.

A mão dele estava na coxa dela e a carne queimava sob a saia de seda. Parecia devastadoramente sexy, com o cabelo caindo na testa e Kitty ficou seriamente tentada a erguer as mãos para o peito nu e passar os dedos nos pêlos finos que faziam uma seta em direção ao ventre plano e desapareciam sob a cintura da calça.

Sabia que queria levá-la para a cama, podia ver a fome ferina nos olhos dele, ouvir sua respiração acelerada. Mas queria fazer amor com ela por que a desejava ou por que achava que era seu direito ter sexo com a esposa com quem se casara por dever?

— Mas não somos como qualquer outro casal, nós nos casamos por que estou grávida. Acho que devemos esperar um pouco antes de... antes de termos relações.

— Devo compreender que 'ter relações' significa sexo?

— Nós mal nos conhecemos. — Agitada, levantou-se rapidamente da cama e ele também.

— De acordo, mas nos conheceremos muito mais depressa" se partilharmos a cama.

— Não é a este tipo de conhecimento a que me refiro. Dentro de poucos meses seremos pais. Certamente devemos passar algum tempo juntos antes da chegada do bebê para conhecer os pensamentos e os sentimentos um do outro. Há mais num relacionamento além de sexo.

A chama nos olhos dele morreu e os olhos ficaram gelados. Na verdade, não há; foi a química sexual que nos uniu e a criança que produzimos foi o resultado da paixão, a única ligação entre nós.

Ele viu o brilho de mágoa nos olhos dela e por uma fração de segundo alguma coisa lhe apertou o coração, mas descartou-a. A sugestão de Kitty, de que deviam partilhar seus pensamentos e sentimentos, era sua ideia particular de inferno. Seus pensamentos eram só dele; e aprendera, há muito tempo, ao crescer nas ruas, a não confiar em ninguém... e esta lição fora brutalmente reforçada pela ex-esposa.

— Sabemos que somos sexualmente compatíveis e acredito que é uma base tão boa para um casamento como qualquer outra. A química entre nós é tão intensa agora como na noite do baile. Mas talvez isto a convença...

— Nikos... — ele se moveu antes que ela pudesse reagir e a exclamação de protesto se perdeu quando a tomou nos braços e aproximou a boca dos lábios dela. Os lábios eram firmes e se moviam sobre os dela com urgência feroz, enquanto a língua lhe acariciava os lábios com a determinação implacável de despertar uma reação.

Estava se tornando cada vez mais difícil resistir a ele. Apertada ao seu peito, Kitty sentia o calor que emanava dele e aspirou seu cheiro limpo, masculino... uma mistura de sabonete e loção pós-barba e outro cheiro mais sutil e masculino... que lhe inflamava os sentidos. Queria que jamais parasse, nada importava a não ser Nikos e a maestria de seu toque. A mente e o corpo lutavam entre si e a cautela perdia para as sensações que ele despertava nela; podia sentir sua decisão abandonando-a.

Uma das mãos de Nikos lhe tomou a nuca, virando a cabeça para aprofundar o beijo e transformá-lo em alguma coisa tão erótica que a vontade própria de Kitty desapareceu e ela se encostou nele, abrindo a boca para ele.

Mal percebeu quando lhe desabotoou a blusa e a tirou. E então, de alguma forma, estavam deitados na cama e ele lhe tirara o sutiã. Arquejou quando Nikos lhe tomou os seios nas palmas e os dedos roçaram suavemente os mamilos rijos.

Era seu marido; estavam unidos por causa da criança que haviam concebido durante um encontro breve e apaixonado e talvez ele estivesse certo. Talvez o sexo fosse o começo de um relacionamento.

Estava tão confusa sobre o que queria, mas a ereção sólida de Nikos, apertada em sua coxa, afastava a incerteza de sua mente e a substituía por um desejo intenso que lhe transformava o sangue em lava e a empoçava na junção das pernas. Desistiu de lutar contra ele e os anseios do próprio corpo e passou os braços pelo pescoço de Nikos. Mas, em vez de reagir aos avanços tímidos de língua, ele ergueu a cabeça e olhou-a, os olhos escuros brilhantes.

— Sim, a química ainda existe, não é, ágape?— A boca se curvava num sorrido de desdém enquanto ela o olhava, tonta.

Para seu espanto, afastou-se dela e saiu do quarto, deixando-a seminua na cama. Voltou quase imediatamente com o que parecia uma pilha de roupas de cama.

— Lençóis. Vai precisar deles se pretende dormir no sofá do quarto de vestir. — Parou e os olhos fizeram uma trilha insolente pelo rosto ruborizado e os seios nus, onde os mamilos se erguiam, provocantes. — A menos, é claro, que tenha mudado de ideia sobre querer dormir sozinha?

— Eu... — Kitty se sentiu doente de humilhação por ter sucumbido tão facilmente ao charme fatal de Nikos.

— Ainda não tem certeza, estou vendo. — Nikos riu suavemente, andou até a cama, deixou os lençóis caírem no colo dela e a tomou nos braços. — Ambos sabemos que posso fazer amor com você o resto da noite e você estaria desejosa nos meus braços, mas não quero uma esposa relutante. Jamais tomei uma mulher contra a vontade dela e não pretendo começar com você, ágape.

Passou pela porta de ligação, entrou no quarto de vestir e jogou-a sem cerimônia no sofá.

— Sabe onde me encontrar quando admitir a verdade.

— A verdade de que o acho irresistível, suponho? — Odiava-o e odiava a si mesma por sua patética incapacidade de resistir a ele. — Terá que esperar muito tempo.

Em resposta, ele lhe deu um beijo breve forte nos lábios que a deixou ardendo por mais.

— Acho que não. E, antes que me esqueça, o sofá abre e faz uma cama muito confortável. Durma bem Kitty... — ele se virou à porta e lhe deu outro sorriso sarcástico — ...se puder.

 

O sofá-cama era tão confortável como Nikos dissera, mas Kitty se virou e se debateu sob os lençóis pela maior parte da noite enquanto lutava para combater o impulso de enterrar o rosto no travesseiro e chorar.

Finalmente caiu num sono leve e acordou com os raios de sol entrando pelas frestas da cortina.

Demorou-se tomando banho e secando os cabelos, mas não podia adiar para sempre o momento de lidar com Nikos. A fome e o reconhecimento de que precisava se alimentar pelo bem do bebê a levaram a sair do quarto.

Encontrou-o à mesa do café da manhã posta no terraço, Tendo o jornal. Usava jeans claro e camisa creme que contrastavam com a pele bronzeada e estava impossivelmente belo. Kitty parou à entrada, tentando controlar a profunda atração por ele.

Nikos se levantou e puxou uma cadeira para ela. Kitty se preparou para uma pergunta sarcástica se dormira bem e sabia, pelas olheiras profundas, que ele adivinharia que quase não dormira, mas para seu alívio ele não fez comentários sobre a noite anterior.

— Há frutas, iogurte e pães frescos, mas se quiser outra coisa, pedirei a Sotiri.

— Isto está ótimo, mas nada de café, obrigada. Não consigo tomá-lo desde que engravidei.

— Tem tido muito enjoo matinal?

— Realmente não... tive náuseas algumas vezes mas, infelizmente, não atrapalharam meu apetite; já estou com as roupas apertadas. — Parou e ficou completamente vermelha ao perceber os olhos de Nikos se dirigindo para a blusa esticada sobre os seios. — Sem dúvida ficarei muito mais pesada.

Os olhos de Nikos se entrecerraram ao tom aborrecido e fez a pergunta que o estava atormentando.

— Como se sente sobre o bebê, Kitty?

— Não sei. Para dizer a verdade, tudo me parece parte de um sonho e penso sempre que um dia acordarei e me verei no palácio em Aristo sem muito mais a pensar além do meu trabalho de pesquisa para o museu.

— É isto que quer?

— Estaria mentindo se não dissesse que parte de mim gostaria de estar no palácio. Aristo foi meu lar a vida toda e foi horrível deixá-lo e vir para um lugar novo. Não conheço nada de Atenas e, pelo que vi, parece grande e movimentada e provavelmente passarei o tempo todo me perdendo.

Nikos percebeu a nota de desalento na voz dela e pela primeira vez percebeu o quanto fora difícil para ela deixar a ilha que amava.

— Farei o que puder para ajudá-la a se instalar aqui. Não tomei providências para uma lua de mel, mas reservei alguns dias de folga para lhe mostrar a cidade. Estive pensando no que você disse ontem à noite e, pelo bem da criança, acho que estava certa ao sugerir que nos conhecêssemos melhor e nos tornássemos... amigos.

Amigos! Kitty se sentiu chocada; para dizer a verdade, não podia se imaginar sendo amiga de Nikos. Era distante demais, sexy demais para estabelecerem uma amizade confortável. Mas não era isto que queria? Uma oportunidade de conhecer melhor o homem atrás daquele exterior frio?

— Quanto à gravidez parecer irreal, isto pode mudar depois que você for atendida por um obstetra. Ele sugeriu que faça um ultrassom para determinar a data em que o bebê vai nascer.

— Isto não será difícil, há apenas uma data em que pode ter sido concebido... — Mais uma vez Kitty ruborizou e não ousou olhar para Nikos enquanto se lembrava da paixão que haviam partilhado.

Ele não sabia por que se recusara a consumar o casamento na noite anterior e não compreendia sua timidez ou suas inseguranças sobre o próprio corpo. Mas, se estava impaciente, escondia bem e o inesperado sorriso caloroso que lhe deu a fez perder o fôlego.

— O que gostaria de fazer hoje? Posso lhe mostrar os melhores lugares para fazer compras em Atenas. A Ermou Street tem algumas butiques excelentes.

— Se vamos nos conhecer melhor, então a primeira coisa que deve compreender é que detesto fazer compras. Mas gostaria de explorar a cidade. Você sempre viveu aqui?

— Sim, mas as ruas onde cresci não ficam no roteiro dos turistas e tenho certeza de que não quer conhecer os cortiços.

— Você não é responsável pelas circunstâncias do seu nascimento. E deve estar orgulhoso do quanto conquistou, é um dos homens de negócios mais bem sucedidos da Grécia.

Nikos deu de ombros, mas as palavras dela calaram fundo. Seu sucesso era extraordinário, mas nunca parara para pensar em suas conquistas, estava sempre planejando o negócio seguinte. Mas supunha que se sentia orgulhoso... o menino pobre que chegara ao topo. Jamais tivera ninguém com quem partilhar isto, mas Kitty o fez se sentir bem sobre si mesmo e percebeu que sua esposa podia parecer calma e tímida, mas era profundamente perceptiva.

Ele relaxou e se recostou na cadeira, sorrindo de novo para ela, percebendo como o sol fazia seus cabelos brilharem como seda.

— Se não quer fazer compras, onde gostaria de ir?

— Ao Partenon, ao Templo de Zeus, aos Jardins Nacionais— ela listou os pontos mais famosos. — Você é um ateniense nativo, assim acho que conhece bem todos esses lugares.

— Certamente conheço, ágape — jamais pensara em si mesmo como um ateniense nativo; sempre se sentira sem raízes e incompleto por não saber quem fora seu pai. Mas reconheceu que era orgulhoso da cidade e queria mostrá-la a Kitty e, algum dia, ao filho deles. — Então vamos bancar os turistas — levantou-se e lhe estendeu a mão. — Compreendo que sente falta de Aristo, mas eu a farei amar Atenas.

Nikos também a faria amá-lo? Pensou Kitty três dias depois enquanto caminhavam pelo Museu Arqueológico Nacional. Fora um guia entusiasmado, mostrando-lhe todos os pontos importantes da cidade e, durante os dias que passaram juntos, revelara-lhe um pouco do Nikos real.

O motorista Stavros e o mordomo Sotiri eram devotados a ele e Kitty ficou impressionada por ele despertar tanta lealdade em seus empregados. Para um homem tão rico e bem-sucedido, preferia as coisas simples da vida... boa comida, bons amigos... e ela descobriu que partilhavam muitos interesses em filmes e escritores contemporâneos, o que levou a algumas discussões interessantes, quando ela se esquecia da timidez e conversava animadamente.

Pelo menos fora do apartamento, estavam desenvolvendo a amizade que ela sugerira e, embora soubesse que ele pensava no futuro, guardava como tesouros as poucas indicações do homem real que era.

Mas, de volta ao apartamento, a tensão entre eles voltava, despertada pela intensa consciência sexual que queimava como lava de um vulcão adormecido, prestes a explodir a qualquer momento.

Era uma situação que ela mesma criara, admitiu Kitty, pensando na noite anterior, quando mais uma vez não conseguira dormir e ficara olhando a porta que ligava o quarto de vestir ao de dormir e se perguntando se algum dia teria coragem de atravessá-la.

Mas não podia se libertar de sua cautela. Não tinha medo da intimidade física do sexo, mas temia que, caso se entregasse a Nikos, ele teria um poder sobre ela que ainda não estava preparada para lhe dar.

— Para onde, agora? Devemos continuar ou prefere voltar? Você parece cansada hoje e, pelo bem do bebê, não quero que fique exausta.

— Gostaria de continuar. Não é incrível pensar que algumas dessas peças são do século VII a.C? Temos algumas esculturas antigas no museu de Aristo, do tempo dos impérios romano e bizantino, mas a coleção aqui na Grécia é a mais importante do mundo e nem sei como dizer o quanto estou feliz em vê-la.

— Estou contente por você gostar de Atenas, ágape — disse Nikos suavemente, sentindo uma mistura de diversão e impaciência quando Kitty ruborizou de novo. Olhava para ele com seus enormes olhos cautelosos, lembrando uma corça nervosa pronta para correr caso se aproximasse demais.

No começo, quando se recusara a dormir com ele, pensara que era algum tipo de jogo. Conhecera mulheres que usavam o sexo como arma e se recusavam a praticá-lo como uma forma de conseguir o que queriam, tinha presumido cinicamente que Kitty era assim. Mas descobrira que sua esposa era diferente. Jamais conhecera uma mulher como ela e estava cada vez mais convencido de que sua natureza doce e tímida não era fingimento.

— Se está entediado, podemos ir embora... e voltarei outra vez.

— Não estou nem um pouco entediado, ágape. Seu conhecimento sobre o assunto é impressionante e você o faz parecer mais fascinante do que qualquer manual. — Ficou supreendido ao ver que estava realmente dizendo a verdade.

Gostava de conversar com Kitty e ouvir sobre seu trabalho como pesquisadora do Museu de História de Aristo. Tinha uma inteligência aguda e paixão total pelo trabalho.

Raramente tinha conversas interessantes com mulheres, admitiu Nikos. Suas ex-amantes eram invariavelmente modelos ou socialites que gostavam de falar sobre si mesmas ou sobre os últimos rumores nos tablóides e ele deixava que falassem, dando respostas adequadas durante os jantares obrigatórios antes de levá-las para a cama.

Com Kitty não podia atender às fortes necessidades do corpo e levá-la para a cama. Não compreendia por que ela se mantinha afastada; sabia que o queria e dormira tão pouco quanto ele nas últimas noites. Mas não a tomaria como um adolescente à mercê de seus hormônios. Estava decidido a esperar até ela resolver as questões que evidentemente a aborreciam. .. assim, não tinha escolha a não ser conversar com ela e, para seu espanto, descobriu que gostava dela como pessoa e valorizava sua amizade.

— Na verdade, há alguma peça no próximo salão que quero lhe mostrar. Esta pequena estatueta foi esculpida por volta de 540 a.C. e foi encontrada há vinte anos em Aristo, em Varna, uma pequena aldeia de pescadores. Lembro-me que você disse que a família de sua mãe era de lá e pensei que se interessaria em ver um pouco de sua herança cultural.

― Minha herança cultural? Não conheci minha família de Varna. Meus avós cortaram todos os contatos com minha mãe quando ela ficou grávida de mim e suponho que eles jamais souberam da minha existência.

― Mesmo assim, você tem raízes em Aristo. Estive pensando que seria bom traçar sua árvore genealógica. Um dia nosso filho pode querer saber sobre o lado paterno da família.

― Não conseguirá descobrir quem foi meu pai, minha mãe levou a identidade dele para o túmulo.

— Isto deve ser estranho. Imagino que sente como se parte de você estivesse faltando. Mas acho que é mais um motivo para pesquisar o lado de sua mãe... para que possa contar a nosso filho uma história o mais completa possível.

Ela se afastou para olhar a peça seguinte, deixando Nikos olhando-a. Era quase perceptiva demais, pensou ele. Não saber a identidade do pai sempre o assombrara e Kitty tocara um nervo exposto quando adivinhara que sentia como se parte dele estivesse faltando. Seu filho talvez o completasse, mas ficou enervado com a compreensão de que Kitty provavelmente adivinhava o quanto aquele bebê significava para ele.

Os paparazzi estavam esperando quando saíram do museu... um grupo de quatro ou cinco montados como caronas em motocicletas e que começaram a tirar fotos apesar das reclamações de Nikos.

— Alguém deve ter reconhecido o carro e os chamado — rosnou Stavros depois de abrir a porta para entrarem e então correr para o lugar do motorista e se afastar da calçada com toda a rapidez.

— Então é hora de trocar de carro — disse Nikos, irritado, enquanto olhava pela janela traseira para os fotógrafos que os seguiam de perto.

Estava acostumado com a atenção da imprensa, mas seu casamento com uma princesa fora notícia em todo o mundo.

— Tente se livrar deles, Stavros.

— Não vamos voltar para o apartamento?

— Acho que não vai gostar de para onde estamos indo agora, mas temos que cuidar do seu guarda-roupa, ágape, e vamos fazer compras.

Stavros era um motorista habilidoso e logo conseguiu despistar os motociclistas. Chegaram a Kolonaki... um bairro rico da cidade, famoso por suas butiques de grife. Nas duas horas seguintes, Kitty observou Nikos escolher diversos vestidos em cores vivas e modelos sensuais que sabia que não lhe cairiam bem.

— Experimente-as. — O brilho de aço nos olhos advertiu-a que discutir seria inútil.

A vendedora os levou a uma sala particular para que Kitty pudesse experimentar as roupas com conforto. Mas, quando saiu de trás da cortina, com um vestido justo que não deixava nada à imaginação, parou abruptamente ao ver Nikos sentado num sofá esperando por ela.

— O que está fazendo? — perguntou baixinho, totalmente consciente da vendedora ao lado e do fato de que os seios corriam o risco de sair pelo decote. Gostara de sua companhia no museu, mas fazer compras era uma tortura e o olhou com raiva.

— Aconselhando-a sobre o que lhe cai bem. E, depois de ver as roupas que trouxe de Aristo, acredite, você precisa de ajuda. — Passou os olhos pelo corpo curvilíneo e, para seu horror, Kitty sentiu os mamilos enrijecerem. — Muito bonito — Nikos sentiu uma fisgada forte de desejo ao se imaginar abrindo o vestido e libertando os seios magníficos. Mexeu-se na cadeira, desconfortável. — Definitivamente, vamos levar este — disse à vendedora, os olhos ainda presos em Kitty enquanto a tensão sexual explodia entre eles. — Experimente o próximo, não temos o dia todo.

Quando deixaram a butique, seguidos por três funcionários carregados de sacolas, Kitty estava inquieta e furiosa.

— Espero que tenha gostado de me humilhar — sussurrou enquanto lutavam para passar pela multidão que se reunira para ver um dos mais ricos magnatas gregos e sua esposa princesa.

— Como a humilhei?

— Fazendo-me experimentar todas aquelas peças, andar diante de você como se fosse meu dono. Nenhum daqueles vestidos que insistiu em comprar me serve bem e foi um desperdício de dinheiro, jamais vou usá-los.

— Oh, usará, ágape. Na verdade, usará o vestido vermelho esta noite. Fomos convidados para uma festa beneficente de uma causa que apoio e todos os olhos se voltarão para a minha esposa.

O protesto horrorizado de Kitty morreu em seus lábios quando ficou cega com os flashes de uma dúzia de máquinas fotográficas. Os paparazzi os haviam descoberto, mas Stavros usou os ombros largos para abrir caminho até o carro, onde Nikos e Kitty entraram apressadamente.

— Por que estão tão interessados? Não fiz nada para chamar a atenção, não salvei uma vida ou pratiquei um ato sensacional de caridade. Sou apenas a feia, a tediosa Kitty Karedes que, por um acidente de nascimento, é uma princesa.

— Agora você é Kitty Angelaki e não é nem feia nem tediosa. Mas concordo com você, as pessoas estão obcecadas por celebridades.

— As pessoas em Aristo não, nada parecido com isto jamais aconteceu comigo lá. Até costumava andar de bicicleta e toda a atenção que recebia era um aceno ou um sorriso. — Recostou-se no banco do carro e colocou a mão protetoramente sobre o ventre, mais abalada do que queria demonstrar por aquela fascinação da imprensa por ela. Sentia uma saudade desesperada da tranquilidade e paz do palácio e da liberdade que gozava em Aristo.

Quando chegaram ao apartamento, Sotiri os recebeu.

— Algumas caixas chegaram de Aristo para você, srta. Kitty — levou-os à sala de estar onde quatro grandes caixas estavam empilhadas.

— Meus livros... — Kitty esqueceu os horrores das compras ao abrir uma das caixas e sorrir diante das dúzias de livros contidos nela.

— Theos! Todas estas caixas estão cheias de livros? Onde vai guardar tudo isto? Não há lugar para eles em meu estúdio.

— São meus livros de pesquisa e preciso deles — disse Kitty, teimosa.

— Bem, vou pedir a Sotiri que as leve para um dos quartos de dormir vazios e você pode transformá-lo num escritório para trabalhar... embora duvide que tenha tempo livre e, naturalmente, não precisa de dinheiro.

— Vou continuar a escrever meu livro sobre a história antiga das ilhas Adamas e gostaria de continuar a trabalhar como pesquisadora do museu de Aristo, até o bebê nascer. Além disso, você ficará no trabalho o dia todo, o que mais devo fazer?

— Presumi que gostaria de se envolver em trabalhos de caridade. Uma amiga minha, Melina Demakis, é uma anfitriã conhecida em Atenas e organiza almoços e outras atividades de levantamento de fundos para diversas organizações de caridade. Vou pedir a ela que lhe telefone.

O coração de Kitty se apertou à perspectiva de encher seus dias com almoços com as damas ricas e bem-intencionadas, que apoiavam organizações de caridade. Devia haver alguma coisa melhor, pensou, infeliz.

— Estava pensando em trabalhar como voluntária num hospital, como costumava fazer em Aristo.

— Quer dizer onde foi atacada por um paciente com problemas mentais? Sebastian me disse que seu pai a proibiu de voltar lá depois do incidente.

— Não foi de propósito. Ele estava batendo os braços e atingiu meu rosto, mas não sabia o que estava fazendo. Meu pai era protetor demais.

— Eu também sou. Além disso, como poderia trabalhar num hospital com paparazzi seguindo você o tempo todo? Você seria um aborrecimento, não uma ajuda.

— Os paparazzi não saberiam onde estou se não atraísse tanta atenção indo a toda parte numa limusine com um guarda-costas ao lado.

— Bem, você certamente não sairá deste apartamento sem Stavros. Está grávida, Kitty, e não permitirei que você e nosso bebê corram riscos.

— Não tenho a intenção de me arriscar ou colocar o bebê em risco. E o que quer dizer com 'não permitirá'? Desde quando manda em mim?

— Desde que você se tornou minha esposa... e, mais importante, desde que concebeu meu bebê. — Olhou as horas e saiu andando pelo corredor. — Tenho uma hora de trabalho no estúdio. Sugiro que comece a se vestir para a festa. Pela minha experiência, mulheres demoram demais para se aprontar.

A referência final a mulheres... com ênfase no plural... foi a última gota e Kitty ficou seriamente tentada a jogar nele uma estatueta de porcelana de Afrodite que ficava sobre um móvel ao lado. Mas Nikos já entrara no estúdio e, depois de alguns minutos ela foi para o banheiro da suíte e preparou um banho de banheira, esperando que uma longa imersão em água quente a acalmasse.

Uma hora depois, estava de pé em frente ao espelho e estudava sua imagem com horror. O vestido longo de noite, feito de cetim cor de rubi tinha um corpete justo, sem alças e uma saia ainda mais justa que destacava seus quadris e nádegas e se abria no meio das coxas com um corte que pelo menos permitia que andasse. Era o vestido mais ousado e sexy que já vira e a fazia parecer até leviana. Qualquer mulher que usasse um vestido daqueles chamaria atenção... mas esta era a última coisa que queria na festa daquela noite.

Imediatamente Kitty tirou o vestido; o pretinho básico que comprara em Aristo não era feio e, pelo menos, não a fazia parecer uma mulher que andava pela calçada para ganhar a vida. Melhor ainda, não chamaria atenção e poderia se esconder num canto e lá ficar a noite inteira.

Penteou os cabelos num coque no topo da cabeça, trocou os sapatos de saltos de dez centímetros, que combinavam com o vestido vermelho, por outro de saltos de cinco centímetros e atravessou a porta de ligação com o quarto no momento em que Nikos saía do banheiro.

Estava maravilhoso num smoking preto e camisa branca, a gravata solta junto ao pescoço. Parecia o que era, um magnata bilionário e sofisticado, com uma atração sexual crua que faria cada mulher na festa ficar com os joelhos fracos. Kitty não ficou imune a ele; sentiu uma fisgada intensa de anseio sexual.

Mas a expressão no rosto dele mostrou que não estava nada satisfeito com a aparência dela e as sobrancelhas se uniram enquanto andava em direção a ela.

― Não é o que queria, ágape — observou o penteado severo e o vestido pudico — pensei que tínhamos decidido que usaria o vestido vermelho.

― Não, você decidiu que eu usaria o vestido vermelho.

Mas me recuso a sair parecendo uma leviana que você pegou em algum bar.

— Prefere parecer que vai a um enterro? Você tem cinco minutos para se trocar. É minha esposa, Kitty, e espero que se vista de acordo, não com alguma coisa que a faz parecer uma tia solteirona.

— Eu me sinto mais confortável usando roupas da minha escolha — começou, então deu um grito assustado quando ele estendeu a mão e lhe rasgou o vestido, jogando os botões pelo quarto.

— O que pensa que está fazendo? Como ousa?

— Ouso, Kitty mou — a voz não mostrava mais aborrecimento e sim um desejo sexual tão intenso que despertou nela uma reação idêntica — porque você é minha esposa. — Com dedos hábeis tirou os grampos dos cabelos e eles despencaram pelos ombros e costas. — Agora tem dois minutos para trocar de vestido ou correr o risco de eu terminar de rasgar este e se lhe arrancar a roupa, pode apostar que não iremos a lugar nenhum esta noite, a não ser para a minha cama.

O brilho de determinação nos olhos dele mostrou a Kitty que tinha toda a intenção de cumprir a ameaça. Uma retirada digna parecia a única opção e, de cabeça erguida, ela voltou ao quarto de vestir e cerrou os dentes ao ouvir a risada sarcástica.

Ela o odiava, disse a seu reflexo, com lágrimas de mortificação lhe ardendo nos olhos enquanto tirava o vestido arruinado e vestia o vermelho. Era o mais arrogante, odioso homem que conhecia e era uma ironia cruel saber que era o único homem que a fazia doer de desejo. Porque o queria, reconheceu com honestidade relutante. Quisera-o aquela noite na caverna e o desejava agora. Não era medo do ato físico de fazer amor que a fazia dormir no quarto de vestir, era o medo de se entregar a ele, corpo e alma, e nada receber de volta.

Poderia amá-lo, pensou enquanto escovava os cabelos. Mas seria uma idiota se lhe entregasse o coração, o dele era de gelo e deixara claro que jamais seria diferente.

A porta entre os dois quartos se abriu e, pela segunda vez, os olhos se encontraram no espelho. Rapidamente ela abaixou os dela, mas seu coração disparou quando ele ficou atrás dela.

— Sabia que este vestido ficaria bem em você. Está maravilhosa.

Kitty passara toda a vida adulta ansiando que alguém a achasse atraente, mas o elogio frio de Nikos a deixou estranhamente desapontada. Estava apenas sendo educado, decidiu ela. Provavelmente pensava que suas nádegas eram enormes e se arrependia de ter insistido que ela usasse aquele vestido.

— Realmente não faz meu estilo. Quero usar outra coisa, Nikos... outro dos vestidos que comprou hoje, de preferência algum que não chame tanto a atenção.

— Não seja ridícula. E não fique olhando para o chão. Um vestido como este precisa ser usado com autoconfiança.

Tirou uma caixa de veludo estreita do bolso do paletó e a abriu para tirar um delicado pingente de rubi e diamante, suspenso numa corrente de ouro. Sorriu quando ela arquejou.

— Isto combina perfeitamente com o vestido — murmurou enquanto o fechava em torno do pescoço dela.

As mãos dele eram quentes contra sua pele, mas Kitty estremeceu quando a virou até a frente do espelho. Mais uma vez seus olhos se encontraram e sentiu a fisgada familiar de tensão entre eles. O pulso na base do pescoço batia erraticamente sob a pele e ela segurou a respiração quando ele abaixou a cabeça e roçou os lábios em seu ombro.

— Hora de sair, Kitty mou. Tenha pena de mim esta noite. Cada vez que olhar para você, imaginarei que não está usando nada, apenas o colar.

Ela engoliu com força à fome ferina nos olhos dele.

— Não devia dizer coisas assim.

— Por que não, se é verdade? E em breve a imagem em minha mente se tornará realidade. Minha paciência está no fim, ágape — advertiu, então se virou e saiu do quarto, deixando-a com o coração disparado.

 

O baile foi realizado num exclusivo hotel cinco estrelas no centro de Atenas. Quando o carro parou diante da escadaria externa, Kitty olhou pela janela para os flashes das câmeras dos paparazzi e sentiu o medo familiar na boca do estômago. Nikos devia ter visto a tensão por que franziu a testa ao se debruçar em direção a ela.

— Relaxe, ágape, você parece prestes a ser jogada aos leões em vez de participar de uma festa na qual é a convidada de honra.

— Prefiro os leões.

— Não me diga que ainda está preocupada com o vestido. Eu lhe disse, você está sensacional e todos os olhos estarão em você.

— Não quero que ninguém preste atenção em mim. Sempre fui péssima em me socializar.

— Mas deve ter frequentado a eventos e festas no palácio.

— Sim, mas jamais gostei. Liss sempre foi a garota das festas e ela tem a aparência e a confiança para entrar num salão cheio de estranhos. Fico com a língua presa e nunca sei o que dizer às pessoas; você ficará desapontado comigo, Nikos.

― Não percebi que achava tão difícil participar de um evento social. — Ficou abalado pela revelação. — Mas lhe garanto que não ficarei desapontado com você, Kitty. E estarei seu lado para fazer todas as apresentações. Já pensou que as pessoas podem se sentir nervosas com a perspectiva de conhecê-la?

— Por que as pessoas ficariam nervosas por me conhecer?

— Porque você é uma princesa. Acho que muita gente fica impressionada pelo seu status real, sem mencionar que é extremamente instruída e inteligente. Pense nisso — murmurou Nikos enquanto Stavros abria a porta e ele saía, voltando-se para ajudá-la.

Ela ficou tão chocada à possibilidade de as pessoas ficarem nervosas por conhecê-la que mal percebeu o grupo de jornalistas em torno deles. Então soltou uma exclamação de susto quando Nikos a abraçou, abaixou a cabeça e a beijou na boca. Os lábios dele eram quentes e firmes e ela respondeu plenamente, os olhos arregalados quando ele interrompeu o beijo depois de um momento desapontadoramente breve.

— Por que fez isto? — sussurrou, enquanto ele lhe tomava a mão, passava-a sob seu braço e a acompanhava pela escoaria e depois para dentro do hotel.

— Somos recém-casados, Kitty mou — lembrou ele, os olhos brilhando de divertimento e mais alguma coisa que lhe deu um nó na boca do estômago. — Pensei que era hora de darmos aos paparazzi alguma imagem digna de uma foto.

No momento em que entraram no salão de baile, ornaram-se o centro das atenções... o mais famoso magnata bilionário da marinha mercante de Atenas e sua esposa, e princesa. Olhando para as mulheres em seus coloridos vestidos de grife, Kitty teve que concordar que ficaria muito mal com seu pobre vestido preto.

Não seria possível para ela se esconder num canto no ousado vestido vermelho e Nikos cumpriu sua promessa de não sair do seu lado. Movia-se sem parar de um grupo para o outro, apresentando Kitty e dando início a conversas sobre assuntos nos quais ela tinha interesse, assim sempre tinha o que dizer.

Ficou impressionada ao perceber que Nikos tinha razão e que muitas pessoas não eram hostis, apenas se sentiam desajeitadas na presença de um membro da realeza e não sabiam como tratá-la. Ansiosa para deixá-las à vontade, esqueceu a timidez e conversou com elas e, para sua surpresa, descobriu, na metade da festa, que estava realmente se divertindo.

Isto não era tão ruim, pensou ela enquanto se dirigia ao bar em busca de um copo de suco de frutas. Vendo que a confiança dela crescera, Nikos a deixara por alguns minutos, mas Kitty não ficou sozinha por muito tempo.

— Princesa Katarina? Meu nome é Darius Christakis e sou conferencista da Universidade de Atenas.

Ela percebera o homem que a olhara muitas vezes e agora, enquanto ele estendia a mão, Kitty sorriu e o cumprimentou.

— Sr. Christakis.

Era muito bonito, pensou ela, e estava atraindo os olhares interessados de diversas mulheres. Mas parecia ter olhos apenas para ela e Kitty se assustou quando ele ficou levemente ruborizado.

— Darius, por favor.

— E eu sou Kitty — disse ela, querendo deixá-lo à vontade. — O título é muito formal, não acha?

— Na verdade, acho você maravilhosa. — O rubor do homem aumentou. — Estudei um artigo seu sobre as cruzadas no século doze e seu impacto sobre a Grécia e as ilhas próximas no Mediterrâneo e, para ser honesto, foi o mais fascinante artigo que já li. Devo admitir que a imaginei uma acadêmica de óculos e saia xadrez, mas ao contrário descubro que é linda... se não se importa que eu diga.

― Não me importo — disse Kitty rindo, a autoconfiança aumentando com a descrição que fizera dela. A admiração evidente nos olhos dele a fez se sentir grata a Nikos pela transformação.

— Estava pensando se aceitaria ser uma conferencista convidada da universidade. Seu trabalho no museu de Aristo é muito conhecido e meus alunos realmente gostariam de conhecê-la.

Com uma súbita confiança, acenou para Darius.

— Gostaria muito.

— Ótimo, talvez possamos nos encontrar em breve e discutir uma data?

— Temo que minha esposa precise consultar sua agenda antes de assumir qualquer compromisso. — Nikos apareceu ao lado de Kitty, as sobrancelhas cerradas enquanto passava um braço possessivo pela cintura dela e a apertava com tanta força contra ele que ela mal respirava.

— Nikos, este é Darius Christakis... — começou Kitty parou ao ver a hostilidade evidente nos olhos de Nikos enquanto olhava o outro homem.

— Seus companheiros estão esperando por você, sr. Christakis, é melhor voltar para eles.

— Certo. — O homem recuou com um sorriso breve e nervoso para Kitty.

— Isto foi incrivelmente rude. Ele queria apenas conversar sobre um artigo que escrevi.

— Ele queria mergulhar dentro do seu vestido, ágape. Percebi como a olhou a noite toda.

— Bobagem... De qualquer maneira, foi você que insistiu para que eu usasse este vestido.

— Do que estou arrependido agora — murmurou Nikos enquanto a levava para a pista de dança e a tomava nos braços. — Você está atraindo atenção demais dos homens e descobri que sou muito possessivo. No futuro, pode usar alguma coisa bege e larga para esconder seu corpo maravilhoso de todos, menos de mim.

Certamente estava implicando com ela, pensou Kitty, então percebeu que a expressão nos olhos escuros era mortalmente séria.

— Está com... ciúme, Nikos?

Ficou escarlate quando as palavras lhe deixaram os lábios, certa de que ele negaria. Mas, ao contrário, os olhos dele se entrecerraram e apertou os braços em torno dela, fazendo sua rija excitação pressionar-lhe o ventre.

— É uma emoção com a qual não estou familiarizado, Kitty mou, mas se você apenas olhar para outro homem enquanto estivermos aqui, mostrarei a todos o quanto sou possessivo... e como estou impaciente para fazer amor com minha esposa.

— Nikos! — Kitty não conseguiu controlar o arrepio da intensa consciência sexual que crescera nela nos últimos dias. A pulsação do desejo que tentara tanto ignorar agora lhe percorria o sangue. Estavam se movendo ao ritmo da música, os corpos tão unidos que ela podia sentir cada músculo e nervo das coxas rijas pressionadas contra sua carne macia.

— Você me tira o fôlego esta noite... minha dama de vermelho — Nikos murmurou no ouvido dela, a voz tão baixa e rouca que parecia reverberar em todo o seu corpo.

Sentia a aspereza da face dele contra a sua e soube que, se virasse a cabeça um milímetro, suas bocas se encontrariam. O coração disparou quando ele passou a mão nos cabelos dela e quando exerceu uma leve pressão, Kitty ergueu o rosto para ele e sentiu o hálito quente na pele antes que os lábios dele tomassem os dela num beijo profundo, lento, sensual e irresistível.

Os outros pares na pista de dança desapareceram e a música parecia distante. Nada existia a não ser Nikos: a força de seus braços segurando-a contra o peito, os movimentos langorosos nela, num beijo embriagador que pareceu durar uma vida.

Impotente, Kitty respondeu, sua cautela e inseguranças esquecidas quando o fogo cresceu em seu interior com vida própria e urgência; e deixou escapar um pequeno murmúrio de protesto quando ele ergueu a cabeça.

— Hora de ir para casa — rosnou ele enquanto a tirava da pista de dança e se dirigia com determinação à anfitriã.

Kitty quis lhe dizer que não seria educado sair no meio da festa, mas seu cérebro parecia ter parado de funcionar e seu corpo queimava. No carro, a caminho de casa, tentou se lembrar dos motivos por que se recusara a fazer amor com Nikos... mas ele não parecia mais o estranho distante do dia do casamento. Fora um companheiro encantador e delicado nos últimos dias e ficara enfeitiçada por ele. Quanto a seus medos de que não se sentia atraído por ela, quando antes tivera encontros apenas com modelos louras e belas... tivera olhos apenas para ela esta noite e seu ciúme do professor universitário a fizera se sentir desejável.

Era uma massa de emoções confusas quando o elevador os levou ao apartamento e não ousou olhar para Nikos, embora soubesse que a observava. A tensão entre eles era tangível e ela arquejou quando as portas do elevador se abriram e ele a tomou nos braços como se ela nada pesasse.

— O que está fazendo? — Agarrou-se aos ombros dele e lhe olhou o rosto, o coração batendo com força quando viu o brilho determinado nos olhos dele.

— O que quis fazer quando chegamos no dia do nosso casamento — disse ele enquanto se dirigia a passos largos ao quarto de dormir, onde as cortinas estavam fechadas e a iluminação dos abajures acesos era suave. — E o que ambos queremos agora — acrescentou ao colocá-la em pé. — Seu corpo me enviou mensagens a noite toda, ágape.

E nos últimos dias, embora ela não soubesse, pensou Nikos, lembrando-se dos sorrisos tímidos que lhe dera, da maneira como umedecia os lábios com a ponta da língua rosada num convite inconsciente e a forma como olhava para ele com aqueles grandes olhos castanhos quando pensava que ele não perceberia. Nas últimas noites, ficara acordado dolorido de frustração, lutando contra a tentação de atravessar a porta de conexão entre os dois aposentos e tomá-la nos braços.

— Quero que seja minha esposa em todos os sentidos, Kitty, — acariciou-lhe o rosto com a ponta dos dedos. — Quero recapturar a paixão que partilhamos e a desafio a negar que também quer isto; seu corpo já a traiu, ágape.

Seguindo o olhar de Nikos, viu os mamilos se apertarem contra a seda. Segurou a respiração quando ele lhe empalmou os seios e os acariciou, roçando os dedos sobre os mamilos; então arquejou ao prazer que a dominou. O vestido era uma barreira intolerável; queria sentir-lhe as mãos na carne nua e, de repente, nada mais importava a não ser satisfazer o desejo que a queimava.

Mas não sabia o que dizer... como revelar que estava pronta para se tornar sua esposa. Ações pareciam mais fáceis do que palavras; então, os olhos presos aos dele, estendeu a mão para trás e abaixou o zíper que fechava o vestido. Por um segundo, ele não reagiu e a tensão gritava quando Nikos abaixou a cabeça e lhe tomou a boca num beijo de posse total.

Kitty não usava sutiã e, enquanto Nikos abaixava lentamente a seda vermelha, os seios emergiam como pêssegos maduros e se soltaram nas mãos dele. O corpo de Nikos reagiu e por um segundo, se sentiu tentado a rasgar o vestido, jogá-la na cama e possuí-la depressa, com força. Mas dominou a impaciência; sentia a insegurança de Kitty e soube que devia tomá-la devagar, excitá-la até ela doer por ele como doía por ela, até a frustração sexual exigir alívio.

Abaixou o vestido, que caiu numa poça vermelha em torno dos pés dela; pela renda da calcinha, Nikos viu a sombra escura dos cachos sedosos que lhe protegiam o sexo e ouviu-a inspirar fundo quando dobrou um dedo na cintura e a puxou.

Quando fizera amor com ela pela primeira e única vez, Kitty ficara meio escondida nas sombras, mas agora seu corpo estava exposto em toda a sua glória voluptuosa e ele banqueteou os olhos, segurando-lhe suavemente as mãos que tentavam cobrir os seios.

— Por que se esconder de mim? Você é linda, Kitty, e jamais quis uma mulher como a quero.

Kitty estremeceu e observou, impotente, enquanto ele se despia, revelando o peito e as coxas musculosas e a impressionante ereção. Por alguns segundos ficou lá, um deus grego desejando-a.

E então a tomou nos braços e apertou o corpo macio contra a sua rigidez e a beijou até sua mente se esvaziar de tudo, menos da necessidade desesperada do toque, especialmente naquele ponto entre as pernas que pulsava e doía. A língua de Nikos mergulhou entre os lábios dela, aprofundando o beijo, e Kitty reagiu sem pensar, a paixão igual à dele. Nikos gemeu e ergueu-a para a cama, deitando-se ao lado dela, uma perna sobre seus quadris para prendê-la aos lençóis.

— Você tem seios magníficos, Kitty mou. — A necessidade crua e ferina a fez arquear quando a boca traçou uma linha dos lábios ao vale entre os seios. O toque da língua num mamilo, depois no outro, provocou um grito, e Kitty mergulhou os dedos nos cabelos escuros para lhe segurar a cabeça junto aos seios.

Ele riu suavemente e o hálito lhe acariciou a pele, e quando tomou cada mamilo na boca e sugou, ela moveu os quadris, inquieta, e sentiu a umidade fluir entre suas pernas.

— Nikos... — a insegurança desapareceu quando ele desceu a mão pelo ventre até as coxas e a deixou descansar perto de onde queria que a tocasse. Segurou a respiração quando gentilmente lhe separou as pernas e, quando introduziu um dedo e a acariciou, Kitty se abriu, permitindo maior acesso, incentivando aquela investigação erótica.

A rigidez da ereção lhe apertava a coxa; estremeceu quando Nikos lhe tomou a mão e levou-a para tocar o seu membro pulsante. Era tão rijo e poderoso e a qualquer segundo o abrigaria dentro dela. Então ele se moveu, segurou-lhe as nádegas e a ergueu; cobriu-a com o corpo e a penetrou com uma estocada firme.

Por um momento Nikos ficou imóvel, apenas olhando-a, os olhos escuros queimando os dela. Então começou a se mover com estocadas firmes e regulares enquanto a penetrava mais e mais profundamente, estabelecendo um ritmo pagão que ecoava as batidas do sangue nas veias. Sentia a tensão dentro dela crescer a cada estocada; agora Nikos se movia mais depressa, com mais força, levando-os inexoravelmente ao êxtase total.

Kitty perdeu o contato com a realidade, que se resumia a ele e às sensações e ao prazer que se construíam e cresciam. Segurou-se nos ombros de Nikos enquanto a tempestade rugia. Pequenas ondas começaram profundamente e se espalharam por todo o corpo enquanto o orgasmo se aproximava. O desespero a fez soluçar o nome dele e lhe pedir para nunca, nunca parar. E, de repente, estava lá, suspensa por segundos infinitos enquanto ele se retirava quase completamente e então com a poderosa estocada seguinte, a represa se rompeu. Kitty foi abalada por espasmo após espasmo de uma sensação tão intensa que a fez gemer, um som abafado preso na garganta.

Nikos continuou a se mover, cada estocada mais poderosa e mais urgente que a anterior. Mas, quando os músculos internos de Kitty o abraçaram, aquele controle formidável foi abalado e, com um gemido áspero, Nikos se derramou dentro dela, o corpo estremecendo com o poder daquele orgasmo.

Depois, Kitty ficou quieta, apenas olhando o teto. A cabeça de Nikos repousava em seus seios e ela passou os braços pelas costas dele, mergulhada na mesma sensação que tivera na caverna: que suas almas estavam totalmente ligadas. Era uma ilusão, é claro, causada pela intensidade da paixão que haviam partilhado. Para Nikos, tinha sido apenas sexo... maravilhoso, mas apenas sexo. E ele enfatizou o fato ao sair de cima dela e se deitar de costas, o corpo esticado nos lençóis de seda, os braços sob a cabeça como se fosse um sultão que acabara de desfrutar dos serviços da concubina predileta.

— Está vendo, ágape, não há dúvida sobre nossa compatibilidade sexual.

Respirou fundo e se perguntou por que tivera tanta relutância em se afastar. Gostaria de descansar a cabeça naqueles seios magníficos e simplesmente ficar ali. Mas a curiosa sensação de proximidade que tivera depois do orgasmo não era real, garantiu. Era apenas sexo bom que não queria que terminasse. Sexo fantástico, o melhor que já tivera em muito tempo... talvez em toda a vida. Não significava nada, casara-se com Kitty porque queria seu filho e o fato de o sexo com ela ser dinamite era apenas um bônus adicional que lhe satisfazia o corpo e deixava o coração intocado.

A pele de Kitty esfriou sem o calor e o peso do corpo de Nikos; ansiava por se aninhar a ele, deitar a cabeça sobre seu peito. Mas agora que não mais a preenchia, sentiu a distância aumentar ainda mais. Para sua proteção, era vital que erguesse novamente as defesas contra ele; não sabia o que esperar depois do sexo. Parecia distante, perdido em pensamentos, e Kitty decidiu fugir para o seu quarto. Mas, quando se sentou, ele estendeu o braço e passou-o pela cintura dela.

— Onde você vai?

— Vou dormir no meu quarto.

— E tarde demais para fugir, ágape, você é minha e vai dormir comigo. Além disso — puxou-a de volta e se deitou sobre ela — pretendo fazer amor com você muitas vezes esta noite.

— Muitas vezes?

— Certamente, ágape, começando desde agora.

No reflexo dos dois na parede de espelhos, Kitty viu, no ombro dele, a tatuagem de um escorpião.

— O que é isto?

Nikos seguiu o olhar dela no espelho.

— Uma lembrança do meu passado... é a marca da gangue de rua à qual pertenci quando adolescente. Stavros e Sotiri eram membros da mesma gangue e costumávamos ganhar dinheiro em lutas ilegais de boxe, sem luvas, nos clubes de becos.

— Deus do céu! Quantos anos você tinha?

— Quinze... mas era maior do que muitos dos meus adversários e os tubarões que organizavam as lutas não se importavam.

— Quer dizer que lutava com homens, embora fosse pouco mais que um menino?

― Muitas coisas do meu passado não são bonitas, ágape. Tive uma infância difícil... cresci conhecendo fome e privação e muitas vezes minha mãe não tinha o dinheiro para pagar o aluguel e éramos jogados nas ruas. Mas, embora a vida fosse dura, jamais duvidei do amor dela por mim. Ela trabalhou literalmente até morrer para me alimentar e cuidar de mim.

Jamais contara aquilo a ninguém, não sabia porque sentia a necessidade de revelar a Kitty tanto sobre seu passado. Ela continuou calada, esperando.

— Minha mãe tinha pavor de que eu seguisse uma vida de crimes mas, quando eu tinha 16 anos, conseguiu o trabalho de governante de Larissa Petridis e pude viver com ela nos aposentos dos criados na mansão Petridis. Stamos Petridis tinha morrido alguns anos antes e deixara a Petridis Shipping para a única filha. Larissa não se casou e não tinha filhos, mas se interessou por mim. Pagou meus estudos e, embora ferisse meu orgulho, aceitei, sabendo que, se me formasse, poderia conquistar um bom emprego e sustentar minha mãe, assim como ela havia me sustentado.

Ficou deitado de costas, as lembranças que tentara esquecer por tanto tempo voltando para assombrá-lo.

— Minha mãe morreu de câncer antes de eu me formar. Theos, tinha pouco mais de 30 anos. As dificuldades que enfrentara cobraram seu preço e, quando ficou doente, não teve forças para lutar. Por algum tempo, fiquei meio louco de dor, mas Larissa me convenceu a fazer alguma coisa de bom da minha vida. Ofereceu-me um emprego na empresa e logo mostrei habilidade para os negócios... embora houvesse boatos sobre a minha rápida escalada na empresa. Diziam que era amante de Larissa. Não havia fundamento nos boatos, via Larissa como uma segunda mãe e ela me tratava como o filho que nunca teve. Mas se divertia com os rumores de que havia algo entre nós. Quando morreu, fiquei tão chocado como os outros, quando descobri que deixara tudo para mim. Tomei conta da empresa e trabalhei duro para torná-la um sucesso. Ficou em silêncio, os olhos escuros e torturados.

— Tenho certeza que Larissa teria orgulho de você. Kitty queria chorar pelo menino solitário que fora, pelo homem que construíra uma muralha em torno do coração. Agindo por instinto, sem se importar de se revelar demais, tomou-lhe o rosto nas mãos e beijou-o. Um beijo que oferecia conforto e compreensão e uma ternura que abalou até o âmago de Nikos.

A paixão cresceu rapidamente entre eles; Nikos deitou-se sobre ela e a penetrou, levando os dois ao auge do prazer. Era apenas sexo bom; repetia o mantra mentalmente enquanto a possuía de novo e de novo e sentia o prazer aumentar até se tornar intolerável e ele não conseguir mais se controlar.

A alquimia sexual era uma força poderosa que os ligava, mas era apenas isto, garantia a si mesmo enquanto os suaves gemidos de prazer de Kitty lhe abalavam o que restava do controle.

Mas depois, apoiando a cabeça nos seios dela, sentiu-se mais relaxado do que em qualquer outro momento de sua vida. E mais tarde, quando se deitou ao lado dela e abraçou-a, Nikos dormiu pacificamente, pela primeira vez, em anos.

 

Os raios de sol penetrando através das fendas das cortinas tiraram Kitty de um sono profundo. Espreguiçou-se e se virou, sorrindo ao ver a chávena de chá de camomila que Nikos deixara sobre a mesinha de cabeceira.

Estava no segundo mês de gravidez e frequentemente acordava com náuseas. O chá era o único recurso que parecia lhe acalmar o estômago e Nikos o fazia para ela todas as manhãs, não permitindo que saísse da cama até tomá-lo.

Vira um novo lado dele nestas últimas duas semanas. Ainda parecia distante de vez em quando e trabalhava muito mas, nas maioria das noites, voltava para casa a tempo de poder jantar com Kitty.

A volta de Nikos para casa era o momento mais importante do dia. Gostava de conversar com ele, falar sobre o trabalho de cada um, discutir os acontecimentos. Era tão apaixonada por política como por história e em Nikos descobrira alguém que gostava de desafiar suas opiniões; também expor as dele. Fazia-a se sentir viva e, quando a tomava à noite, fazendo amor com paixão, dava-lhe mais prazer do que achara possível existir.

Depois da noite do baile de caridade, foram a diversas festas e eventos sociais e, lentamente, ficava mais à vontade num salão repleto de estranhos. Todos pareciam fascinados por seu status real e, onde quer que fosse, era o foco de interesse do grande círculo de amigos e associados de negócios de Nikos.

E era difícil não chamar a atenção, quando Nikos insistia que usasse vestidos glamourosos que agora enchiam seus armários. E, aos poucos, suas inseguranças desapareciam e ela florescia com a atenção constante e o desejo permanente que tinha pela esposa.

Ouviu o barulho do chuveiro e sabia que ele surgiria maravilhoso, vestido num dos ternos de grife que usava para trabalhar. Olhou-se no espelho da parede e viu que estava com os cabelos desarrumados e a pele com uma tonalidade peculiar de verde. A náusea estava forte; no dia anterior, vomitara, mas felizmente ele já havia saído. Sentou-se lentamente, rezando para o enjoo passar. Não suportava a ideia de vomitar perto dele, mas seu corpo não lhe dava ouvidos e, com um arquejo, pulou da cama e correu ao seu banheiro.

Nikos a encontrou cinco minutos depois e, ignorando seus apelos para ir embora e deixá-la em paz, ficou com ela e depois lhe limpou o rosto com uma toalha molhada como se Kitty fosse criança.

— Está se sentindo melhor?

Kitty viu seu reflexo no espelho e lágrimas lhe encheram os olhos ao perceber a pele pálida e os cabelos sem brilho. Estava horrível e ficou constrangida por ele vê-la assim, vulnerável e feia.

— Detesto me sentir assim.

— E um efeito colateral natural da gravidez. O médico disse que, dentro de algumas semanas, você se sentirá melhor.

Ele a fez parecer como uma criança mimada que exagerava algum fato trivial.

― Você é um homem e nunca teve que passar por isto. Não tem ideia de como me sinto horrível agora. Está tudo bem para você, seu corpo não está mudando e se tornando irreconhecível, crescendo como um balão. E não tem que se preocupar com o que come no jantar, sabendo que provavelmente vai tudo sair antes do café da manhã.

― É verdade, mas valerá a pena no final... quando o bebê chegar.

― Suponho que sim. — Envergonhou-se daquela explosão tola. — Estou bem agora, Nikos, vá trabalhar.

— Se fosse qualquer outro dia, cancelaria meus compromissos e ficaria em casa, mas tenho diversas reuniões programadas.

Ela só queria tomar um banho e lavar os cabelos para se sentir um pouco mais humana, de novo.

— Não preciso de você, a náusea está passando e daqui a pouco vou comer. Pensei em procurar algumas das organizações de caridade que posso apoiar. Você disse que tem uma amiga que organiza eventos para levantamento de verbas.

— Sim, Melina Demakis; vou procurar o telefone dela. Mas não quero que trabalhe demais, sua prioridade é cuidar da saúde, a sua e do bebê.

— Eu sei. Mas você fica no escritório o dia todo e não posso apenas ficar sentada até o bebê chegar.

— Está bem... venha comigo e lhe darei o telefone de Melina.

O escritório de Nikos era decorado no mesmo estilo minimalista do apartamento; o único item pessoal era uma pequena foto numa moldura em cima da escrivaninha. Era de uma mulher com cabelos negros e sorriso gentil.

— E minha mãe. Foi tirada quando eu era criança; é a única foto que tenho dela.

— Ela era muito bonita e parece gentil,

— E era.

Kitty percebeu um brilho dolorido nos olhos dele, rapidamente escondida; então Nikos abriu a agenda.

— As informações sobre Melina estão aqui. Já estou atrasado e talvez não volte para o jantar, mas Sotiri cozinhará para você. Assim, coma... pelo bem do bebê.

No final da manhã estava se sentindo bem e, depois de tomar banho e se vestir, tomou um enorme desjejum. O dia se estendia diante dela, vazio e solitário. Já ligara para Melina Demakis e conversara sobre as organizações que gostaria de apoiar e marcara um encontro com ela e diversas outras mulheres, que faziam parte de comitês, para a semana seguinte. Parecia uma existência muito vazia.

Pegou o jornal do dia e leu as notícias sem muita atenção até encontrar um nome que despertou o seu interesse. Conhecera o irmão Thomaso quando inaugurara um hospital em Aristo, para o qual ele levantara fundos. Já idoso, o sacerdote vivia em Atenas e estabelecera um centro para cuidar de crianças e jovens pobres.

No artigo, o irmão Thomaso falava dos problemas que os muito pobres enfrentavam e pedia apoio financeiro e pessoal; Kitty ligou imediatamente e marcou uma visita.

Bem mais tarde, pela janela de um táxi, Kitty observava, preocupada, o trânsito pesado nas ruas. Ficara no centro muito mais tempo do que planejara e uma consulta ao relógio mostrou que estava muito atrasada para o encontro com Stavros, em frente ao Museu Arqueológico Nacional.

Não se sentia bem por enganar Stavros e Nikos; na verdade, ligara para o escritório de Nikos, mas a secretária lhe dissera que estava em reunião e lhe dera instruções para não ser perturbado. Kitty admitiu que podia ter deixado uma mensagem, temia que ele não lhe permitisse visitar urna área perigosa da cidade.

Era a palavra 'permitir' que a deixava furiosa. Compreendia a preocupação com o bebê, mas era adulta e capaz de tomar suas próprias decisões.

Depois que Stavros a deixara, entrara no museu e escapara por uma porta lateral e fora ao centro de táxi. A visita ao irmão Thomaso a convencera que encontrara alguma coisa de valor para fazer.

Mas não podia continuar a enganar Nikos; precisava convencê-lo de que não corria perigo trabalhando no centro juvenil. Quando o táxi parou diante do museu, o coração se apertou ao ver Nikos esperando por ela ao lado de Stavros.

— Stavros não tem culpa nenhuma, eu o enganei, mas posso explicar.

— Pode? — Nikos lutava para controlar a raiva. Quando Stavros lhe telefonara, interrompera a reunião da diretoria e dirigira como um louco, com medo de um sequestro. Mas, ao vê-la, outro medo lhe deu um nó nas entranhas. Agradeceu à equipe de segurança do museu que ajudara a procurar por ela e agarrou seu braço com força, machucando-a.

— Não podemos conversar aqui, entre. — Stavros abriu a porta do carro.

Kitty não discutiu; ficou no canto do banco enquanto ele dava a volta e se sentava ao lado dela. O silêncio durante a viagem estraçalhou-lhe os nervos e, quando caminhou diante dele pelo corredor do apartamento, teve vontade de correr e se trancar no banheiro.

Na sala de estar, ele se serviu de uma dose de uísque e bebeu de uma vez. Então se voltou para ela.

— Onde esteve, Kitty? — Segurou-lhe o queixo com força.

— Nikos... está me machucando! — Não almoçara e agora a dosagem de açúcar no sangue estava baixa; temia desmaiar. — Me largue e lhe contarei, pelo amor de Deus, Nikos! Está me assustando e isto não é bom para o bebê.

— Então ainda há um bebê? — Ele a empurrou para longe, os olhos nos dela, tão escuros e amargos.

— É claro que ainda há um bebê, por que não haveria?

— Você me diga, Kitty. Esta manhã me disse que odiava estar grávida. Então, fugiu de Stavros e saiu sozinha, sem dizer a ninguém onde iria. Mas talvez não quisesse que soubessem, talvez tenha ido a uma clínica para lidar com o problema desta gravidez.

— Que clínica? Minha gravidez não é problema, não compreendo o que está dizendo, Nikos. — Então as palavras fizeram sentido. Lidar com o problema desta gravidez!

Deixou-se cair no sofá.

— Você não pode querer dizer... não pode pensar... que eu... me livraria do meu bebê?

— Por que não? Foi isto que minha primeira esposa fez.

— Não! Certamente sua mulher não teria feito isto... eu não faria isto. — Levantou-se, tonta e cruzou a sala em direção a ele.

Tomou-lhe a mão e apertou-a no próprio ventre, os olhos presos aos dele.

— Nosso bebê está aqui, dentro de mim, e apenas o destino decidirá se nascerá saudável e bem dentro de sete meses. Mas farei o que puder para alimentá-lo e protegê-lo e nunca, jamais, farei qualquer coisa para feri-lo. Por favor, Nikos, tem que acreditar em mim. — Ele estava imóvel e gelado. — Não disse que odeio estar grávida, disse que odeio ficar enjoada quando você está perto de mim. Fiquei... constrangida por você me ver daquele jeito.

Finalmente ele se moveu.

— Não pode evitar o enjoo. — Olhou para a mão sobre o ventre de Kitty e curvou levemente os dedos como se, de alguma forma, pudesse segurar o bebê. Ergueu os olhos para o rosto dela e sentiu um choque ao ver as lágrimas descendo. — Pensei... você estava tão infeliz esta manhã e parecia se ressentir da gravidez. Quando soube por Stavros que havia desaparecido e como se livrara dele, acreditei que só havia um motivo para isto. Minha experiência passada determinou meu julgamento e tive uma conclusão errada. — Afastou-se, o rosto como uma máscara da tristeza.

— Perdão. Sua primeira mulher realmente...?

— Abortou meu filho? Sim. — Jamais falara disso antes e, de repente, precisou contar à esposa toda a história.

Não era de admirar que seu coração estivesse escondido sob camadas de granito, pensou Kitty. Queria abraçá-lo, mas sabia que a rejeitaria e agora entendia o motivo. Sua fé e confiança na humanidade não haviam sido apenas abaladas, mas destruídas completa e cruelmente.

— Onde está Greta agora?

— Morreu há dois anos de overdose.

Agora compreendia por que queria tanto o bebê; significava tudo para ele e sabia que, o que quer que acontecesse entre eles no futuro, jamais poderia separá-lo do filho.

Mas nem poderia pensar num futuro sem ele. Amava-o, admitiu Kitty silenciosamente, amava-o desde que o conhecera. Gostaria de poder ir a ele e lhe dizer que sempre estaria lá para ele. Mas Nikos não queria seu amor e não o faria se sentir culpado por não amá-la.

Não sabia o que lhe dizer e, embora estivesse a poucos metros, a distância entre eles parecia infinita.

O cansaço a tomou e, com ele, uma profunda sensação de derrota. Nikos jamais baixaria a guarda, jamais sentiria confiança e amor. Dissera-lhe que era incapaz de amar e aceitara, mas conservara a esperança de que, com o tempo, a paixão se tornasse mais profunda. Agora sabia que isso jamais aconteceria. Suas cicatrizes emocionais eram profundas demais e não podia culpá-lo por não querer correr o risco de ser ferido de novo.

De repente, Nikos se voltou para ela.

— E então, onde você estava?

— Fui visitar um centro para crianças e adolescentes pobres. Li sobre ele no jornal e me lembrei do sacerdote que o administra, irmão Thomaso, que conheci em Aristo. Devia ter lhe contado, Nikos, mas tive medo que me impedisse. Não tem ideia da vida horrível de algumas dessas crianças. Quero fazer alguma coisa realmente útil e significativa, dar essas crianças o que precisam, alguém que as ouça, alguém que se importe...

Ela parou, desencorajada, mas sua reação a surpreendeu.

— Com minhas experiências, sei como é a vida delas.

Parecia tentar compreendê-la. Era uma princesa, mimada a vida toda e, no entanto, queria ajudar os pobres e desesperados que viviam nas ruas. Nenhuma mulher que conhecia tinha tanta consciência social e não sabia como lidar com Kitty.

— Eu lhe contei que herdei de Larissa a Petridis Shipping. Mas não quis a fortuna pessoal dela, estava determinado a fazer a minha, assim destinei o dinheiro a um fundo que dá apoio financeiro a diversas causas, entre elas o centro que você visitou.

Um novo respeito por ela brilhou nos olhos dele.

— Não deve assumir muitos compromissos enquanto está grávida e, depois que o bebê nascer, ficará muito ocupada. Mas estou procurando alguém para ser presidente do fundo que estabeleci. A posição é sua, se a quiser.

Kitty acenou, feliz. Nikos lhe segurou o queixo e ergueu o rosto para vê-lo.

— Pensei que fosse tão vazia como as outras mulheres que conheci, Kitty, mas você sempre me surpreende.

Para sua surpresa, não se arrependia de ter lhe falado sobre seu passado. Depois de Greta, acreditara que jamais confiaria em ninguém, mas quando olhava os olhos suaves e castanhos de Kitty sentia-se... curado.

De repente, franziu a testa quando a viu oscilar.

— O que há de errado, está doente?

— Esqueci de almoçar e agora me sinto enjoada de novo. Acho que não vou conseguir jantar.

— Kitty! Acha que pode se preocupar um pouco menos com as outras pessoas e mais com você?

Tomou-a nos braços e carregou-a pelo corredor.

— Desculpe, sei que está preocupado com o bebê.

— Na verdade, ágape, estou preocupado com você. — Ela parecia infinitamente frágil e um sentimento indefinido lhe apertou o coração, mas forçou-a desaparecer.

Parou na cozinha e a fez tomar um copo de leite e comer uma banana. Depois carregou-a ao quarto, tirou-lhe a roupa, ajudou-a a vestir uma camisola e a deitou. Kitty deixou que cuidasse dela como um bebê, feliz e sonolenta. Dormiu segundos depois de repousar a cabeça no travesseiro, mas Nikos ficou acordado até tarde, seus pensamentos não no passado... mas no futuro com aquela mulher tão estranha.

 

Kitty, elegante num conjunto de linho creme, repassou suas notas pela última vez. O salão de banquete do hotel estava cheio de convidados para o almoço em benefício do centro da juventude de irmão Thornaso e, no papel de presidente da fundação, estava prestes a fazer o discurso sobre os objetivos do centro e a necessidade de doações. Ao lado dela, Nikos sorriu.

― Esta nervosa, ágape? Há centenas de pessoas aqui.

— Estou bem.

Sabia que, quando chegasse ao palco e começasse a falar sobre o centro e as vidas das crianças que a instituição ajudava, ficaria calma.

― Tem certeza? Está um pouco ruborizada — murmurou Nikos, os olhos brilhando maliciosamente enquanto a mão lhe subia pela coxa.

― Quer se comportar... pelo menos até mais tarde, quando estivermos sozinhos? Você tem um apetite insaciável, Nikos.

— Só por você, Kitty mou.

A promessa sensual nos olhos dele causou a fraqueza familiar nas pernas de Kitty. Mas tinha que fazer seu discurso e depois iriam ao hospital para fazer o seu primeiro ultrassom.

A organizadora do evento anunciou o nome de Kitty.

— Deseje-me sorte.

Arquejou quando Nikos se debruçou e lhe reclamou a boca num beijo lento e suave.

— Você não precisa de sorte... é uma oradora brilhante. Te­nho muito orgulho de você, ágape.

Ela ruborizou e lhe deu um daqueles sorrisos gentis que faziam o coração de Nikos se apertar. Quando subiu ao palco, ele se juntou aos convidados que a aplaudiam, sentindo um misto de orgulho e frustração; recentemente, ela parecia lhe dominar os pensamentos com exclusão de tudo mais e se sen­tia estranho por isto.

Desde o dia em que Kitty fora ao centro pela primeira vez, um laço frágil se desenvolvera entre eles. Nikos admitiu que as últimas semanas tinham sido... felizes. Diminuíra signifi-; cativamente suas horas de trabalho para passar mais tempo com ela e estava surpreso e ligeiramente assombrado com o quanto apreciava a companhia da esposa.

Kitty não era mais uma pessoa cautelosa e reservada e, desde que se tornara presidente da Larissa Petridis Founda­tion, sua confiança em si mesma crescera. Levava muito a sério seu trabalho e a imprensa a chamava de Princesa Protetora. Tornara-se uma celebridade em Atenas e até ele se assombrava com sua transformação em uma princesa graciosa e bela.

Encorajava-o a falar sobre as questões que ainda o assom­bravam e, graças a ela, começava a aceitar seu passado e a ter esperanças no futuro. Mas percebia que Kitty escondia algu­ma coisa, especialmente quando faziam amor e isto o tornava relutante em baixar a guarda.

A imprensa os esperava quando saíram do hotel. Kitty lida­va com os jornalistas com uma dignidade tranquila, sorrindo e ficando parada com o braço de Nikos em sua cintura enquanto os fotógrafos tiravam fotos.

Kitty estava satisfeita por terem conseguido despistar os paparazzi na chegada ao hospital. O ultrassom era um assunto privado e não queria partilhar essa experiência com o resto do mundo.

O obstetra, dr. Antoniadis, era considerado o melhor da Grécia e, depois de fazer alguns exames em Kitty, perguntou que tipo de parto ela preferia.

— Se possível, sem dor — brincou, um pouco nervosa ao pensar no nascimento do bebê.

Nikos estendeu a mão e tomou a dela.

— Estarei com você a cada minuto.

E, por algum motivo, a força da voz e sua mão presente, fez Kitty ter vontade de chorar.

Uma enfermeira surgiu e a levou para trocar a roupa e se preparar para o ultrassom. Deitou-a no leito especial e passou gel sobre o ventre.

— Vocês não verão muito neste estágio — explicou o técnico enquanto uma mancha cinzenta aparecia na tela. — Queremos realmente checar a batida do coração... e aí está, este pequeno pulso é o seu bebê.

Kitty olhou a tela, a mancha indistinta de células e pontos minúsculos, mas claramente visível que batia ritmicamente, e se encheu de emoção. Naquele momento, a gravidez se tornou real, não apenas vaga, uma linha na tira do kit de gravidez e uma náusea matinal. Havia uma vida crescendo dentro dela, seu filho... e de Nikos.

Ela piscou para limpar a umidade nos olhos e se virou para ele. E mais lágrimas se formaram ao ver a expressão de Nikos. Ele se debruçava para a frente, olhando intensamente a imagem granulada, os ombros tensos, em imobilidade absoluta, como se temesse se mover e a imagem na tela pudesse desaparecer.

― Nikos. — A voz era um soluço e ele se moveu e lhe segurou a mão, ergueu-a na altura da boca e lhe beijou os dedos.

― Daremos tudo ao nosso bebê — disse ele, a emoção crua.

― É claro que daremos, mas uma criança precisa principalmente de amor e nós a amaremos... seja menino ou menina.

Depois passaram pelo parque do hospital, sob os raios do sol do fim de tarde.

— O que você quer... um menino ou uma menina?

— Não sei e não me importo.

Trocaram um olhar cúmplice, sabendo que o que realmente importava era que o bebê fosse saudável.

— É excitante, não é... pensar que em alguns meses o bebê estará aqui conosco?

— Sim, é excitante. — Nikos também sorriu, segurando-lhe a mão. — Fale-me sobre sua infância — pediu. — Já lhe contei como foi a minha, mas a sua deve ter sido muito diferente, crescendo num palácio com os outros membros da família real.

— Bem, certamente não senti falta de nada, o palácio é um lugar maravilhoso para viver e crescer. Mas não era apenas a questão material. Havia cinco crianças e jamais me senti solitária. E meus pais sempre tinham tempo para nós. Eu era especialmente próxima do meu pai. Quando era pequena, ele costumava ir ao quarto das crianças e ler histórias do meu livro favorito... Russian Fairy Tales and Fables. Ele me dizia que, quando crescesse, me tornaria uma linda princesa, como nos contos de fadas, e me casaria com um belo príncipe.

Mas nos contos de fadas o príncipe sempre amava a princesa... o que mostra uma diferença entre a fantasia e a vida real, pensou Kitty.

— Gostaria de ainda ter o livro, que foi perdido num incêndio que destruiu parte do quarto das crianças. Está esgotado e as poucas cópias existentes são de colecionadores particulares. Jamais poderei lê-lo para nosso filho.

— Compraremos outros para o nosso bebê.

Nikos pensava na própria infância, quando faltara tudo, até mesmo o atendimento das necessidades básicas. Kitty dissera que uma criança precisava mais de amor que de coisas materiais e talvez estivesse certa. Sabia que amaria o filho, mas que tipo de pai seria se não teve um modelo? Sentia-se inadequado para o papel.

Pensou, pela primeira vez, como a vida dela era diferente do que sonhara quando criança. Não se casara com um príncipe e vivia longe de Aristo e do palácio real... Kitty não se queixava, mas sabia que não gostava de viver num apartamento no centro de uma cidade movimentada.

— Talvez seja hora de começarmos a procurar uma casa, distante do centro, com um jardim onde o bebê possa brincar quando crescer; você gostaria?

— Seria bom, mas você gosta do seu apartamento.

— Humm, mas quero o que for melhor para o nosso filho... vou entrar em contato com alguns corretores de imóveis. Mas uma mudança leva tempo e estive pensando em transformar seu quarto de vestir no quarto do bebê. A menos que esteja planejando voltar a dormir lá?

Kitty enrubesceu.

— Você pode preferir dormir sozinho quando estiver com nove meses de gravidez e do tamanho de uma baleia. Sério, Nikos, já ganhei peso.

— Eu sei — disse ele, parando e puxando-a para os seus braços. — Seus seios estão maiores... e eu definitivamente sou um homem que gosta de seios — começou a desabotoar a blusa para acariciar as curvas cheias que esticavam o tecido. Passou um dedo de leve pelo rosto dela e viu um tremor de reação.

— Você parece cansada, ágape.

— Oh! — Kitty ficou aborrecida, não gostava que Nikos a achasse cansada; queria que lhe dissesse que era linda e sexy e que estava ansioso para levá-la para a cama. — Bem, não estou, estou ótima.

— Que pena, estava pensando que devíamos passar o resto da tarde deitados... e, para que não se sinta entediada, eu me deitaria com você e... a divertiria.

— Neste caso, é melhor irmos para casa — deixou escapar um gemido de aprovação quando Nikos assaltou sua boca num beijo faminto.

Não era longe do apartamento, mas Nikos estava tão impaciente que já lhe tirara o blazer e desabotoara a blusa quando o elevador chegou à cobertura.

— Não deve continuar a me carregar — protestou quando a tomou nos braços e se apressou pelo corredor. — Não sou leve, Nikos.

Ele riu.

— Gosto de carregá-la, você cabe bem nos meus braços — murmurou ele. Ao chegarem ao quarto, tirou-lhe a blusa e o sutiã.

Kitty percebeu, com desagrado, que os seios estavam maiores e os mamilos crescidos e mais escuros. Era tão diferente das louras magras e de seios pequenos com quem Nikos saía no passado e um pouco da antiga insegurança voltou. O sol iluminava o quarto e ela se sentiu nervosa em ficar nua. Sempre tinham feito amor à luz suave dos abajures.

— Vou fechar as cortinas — disse ela, afastando-se e cruzando os braços sobre os seios.

— Por quê? Estamos no último andar e ninguém pode nos ver. Qual é o problema, Kitty? Por que não gosta que eu veja o seu corpo? Não pense que não percebi que você se esconde sob os lençóis sempre que pode.

Kitty abaixou a cabeça quando ele lhe afastou os braços.

— Sou gorda, e não é só por causa da gravidez. Sempre tive curvas acentuadas e jamais gostei do meu corpo... não desde...

Nikos colocou um dedo sob o queixo de Kitty e lhe ergueu o rosto.

— Não desde o quê, ágape?

Olhou para ele, infeliz, mas viu apenas preocupação e decidiu confiar nele.

— Meu pai sempre foi muito protetor e eu era ridiculamente ingênua. Então, meu pai me convenceu a sair com o filho de um de seus amigos. A noite foi um desastre, meu acompanhante me assaltou no banco traseiro do carro.

— O que quer dizer com assaltou? Ele tentou estuprá-la?— Nikos sentiu uma raiva letal e o impulso de tomar Kitty nos braços e, simplesmente, abraçá-la.

— Não, não, ele estava bêbado demais. Mas rasgou o meu vestido e... e me tocou e, quando tentei fazê-lo parar, me acusou de provocá-lo. Me fez ter vergonha do meu corpo e suponho que o incidente ganhou uma dimensão exagerada na minha mente. Quando conheci você e fizemos amor na caverna, estava fingindo ser outra pessoa e esqueci minhas inibições...— a voz desapareceu, então olhou para Nikos e disse com desespero:

— Eu me sentiria melhor com as cortinas fechadas.

Ele balançou a cabeça e puxou-a para perto dele, segurando-a gentilmente enquanto lhe acariciava os cabelos.

— Quem é este amigo da família que a violou e abalou sua autoconfiança?

― Vasilis Sarondakos.

― Theos! Sarondakos de novo! Espero, pelo bem dele, que nunca o encontre porque meu punho está coçando para encontrar o rosto dele. Mas há outros meios de vingança. Sei que Vasilis gastou a fortuna que herdou do avô e está procurando desesperadamente um fiador para os seus negócios. Não será uma pena se não conseguir o dinheiro de que precisa? — Havia um brilho frio nos olhos dele. — Vou pedir alguns favores aos meus amigos banqueiros. — E então sorriu para ela, o calor substituindo a raiva gelada que sentia por Vasilis.

— Esqueça Sarondakos, ágape. Deve ter orgulho de seu corpo maravilhoso e não querer escondê-lo. Sente vergonha quando faço amor com você?

Kitty balançou a cabeça. Ele lhe acariciava os cabelos, acalmando-a e libertando-a da tensão. O coração dela pareceu parar quando Nikos a afastou um pouco e lhe segurou os seios.

— Quero ver os raios de sol dourarem seu corpo quando fizer amor com você, quero poder observar seus olhos escurecerem quando a toco assim. — Roçou as pontas dos polegares nos mamilos e depois os rolou entre os dedos, uma sensação maravilhosa percorrendo todo o corpo de Kitty. — E quero vê-la inteirinha, Kitty, cada centímetro adorável de você.

A saia dela escorregou para o chão e Kitty o viu prender a respiração quando o olhar se fixou nas meias finas, nos sapatos de saltos altos e na pequena tira de renda branca que lhe cobria a feminilidade.

Os bastos cabelos castanhos caíram e ele os empurrou para trás dos ombros e lhe segurou os seios de novo, os olhos brilhando sob as pálpebras pesadas.

— Theos, como pode duvidar do que faz comigo? — Tomou-a nos braços, a ereção pulsante lhe empurrando as coxas enquanto lhe assaltava a boca num beijo feroz, faminto. De alguma forma, conseguiu se livrar das roupas e deitá-la de costas na cama sem afastar seus lábios que se beijavam.

A luz do sol, os cabelos de Nikos brilhavam como cetim negro enquanto se movia sobre o corpo dela, desacelerando para tomar cada mamilo na boca enquanto a mão mergulhava entre as coxas e um dedo a penetrava. Estava molhada e pronta para ele e arqueou os quadris numa súplica muda. Nikos retirou o dedo e gentilmente abriu mais as pernas. Ela pensou que a tomaria imediatamente, mas deixou escapar um pequeno grito quando a cabeça de Nikos mergulhou e a boca lhe tomou o sexo, a língua substituindo o dedo, se introduzindo.

— Nikos... não! — Constrangida, segurou-lhe os cabelos e tentou puxar-lhe a cabeça, mas Nikos não interrompeu a carícia íntima e logo ela esqueceu tudo, menos o calor intenso do desejo e a crescente necessidade da posse plena.

Quando achou que não suportaria mais e se sentiu à beira do abismo, Nikos se moveu sobre ela e a penetrou com uma estocada firme, a ereção tão poderosa que precisou parar enquanto os músculos de Kitty se esticavam para acomodá-lo. E então se moveu de novo, depressa e firme, cada estocada construindo uma tensão até se tornar insuportável e Kitty sentiu os primeiros espasmos pulsando intimamente no seu corpo.

Kitty quase gritou quando, onda após onda de sensações dominaram seu corpo, mas algum instinto a fez reprimir os gemidos. Fechou os olhos para que ele não visse a profundidade de suas emoções quando o orgasmo assaltou os dois simultaneamente.

Nikos era o amor de sua vida, pensou, enquanto ficavam deitados juntos e a respiração dos dois lentamente se regularizava. Depois da incrível paixão que acabavam de partilhar, parecia-lhe impossível que ele não sentisse nada por ela, alguma pequena medida de afeição que poderia dar esperança ao seu coração faminto.

Mas quando Nikos se afastou e espreguiçou langorosamente, o sorriso satisfeito era o de um homem que acabara de desfrutar de um sexo fantástico que lhe deixara o corpo saciado e as emoções intocadas. Ele se levantou e os olhos dela o seguiram, impotentes, o estômago apertado diante da beleza masculina do corpo rijo e esguio, brilhando como bronze à luz do sol da tarde. Pensou que ele se dirigia para o banheiro, mas ele saiu do quarto e voltou alguns minutos depois com uma estreita caixa de veludo.

— Eu lhe comprei um presente.

― Outro? — protestou, pensando em tudo com que já a presenteara e que trocaria pelas palavras que ansiava ouvir. Mas sabia que jamais as diria. Era sua esposa e a mãe de seu filho, mas não o amor de sua vida; talvez, jamais seria.

— Não vai abri-lo?

Kitty abriu a caixa e olhou o colar de diamantes; era maravilhoso e evidentemente, muito valioso.

— É lindo, mas já me deu tantos presentes. Não precisa comprar nada, Nikos.

Ele tirou o colar da caixa e o colocou no seu pescoço, uma peça fria ao contato da sua pele.

— Gosto de lhe comprar presentes, quero que saiba o quanto a aprecio.

— Aprecia?

— Certamente — sorriu sensualmente enquanto se debruçava nos travesseiros para admirar os diamantes. — Nosso casamento não é o que ambos escolheríamos, mas reconhecemos a responsabilidade que temos para com o bebê. Acho que nos tornamos amigos, além de amantes, e nosso relacionamento, baseado em respeito e confiança, é o melhor presente que podemos dar ao nosso filho.

Era por isto que se esforçava para passar tanto tempo com ela... para se tornarem amigos? Tudo pelo bem do bebê? É claro, reconheceu, o coração cheio de dor. O filho deles cresceria num ambiente harmonioso, com um pai e uma mãe que se tratavam bem como bons amigos que eram. Devia ser o bastante, mas não era, e o futuro sem amor que se estendia diante de Kitty de repente lhe pareceu muito triste.

 

Nikos sentiu os últimos espasmos terminarem e descansou a cabeça nos seios de Kitty. A pele dela era suave sob seu rosto e inalou seu perfume suave. Ficou tentado a permanecer deitado sobre ela, os corpos unidos, mas depois de alguns momentos rolou para o lado e olhou para o teto, sentindo a familiar frustração ao perceber que, embora o sexo fosse cada vez melhor, a distância entre eles parecia aumentar.

Ele não gostava de mulheres pegajosas, deveria ficar satisfeito por Kitty não se aninhar junto dele depois do sexo e simplesmente se afastar assim que a paixão terminava. Mas, perversamente, Kitty era tão pouco emotiva com a intimidade física. Nikos gostaria que fosse diferente.

Pelo menos, não era mais tão tímida sobre o seu corpo e não se cobria, pensou enquanto estudava os seios voluptuosos e as nádegas arredondadas e se sentiu excitado de novo. Sabia que não devia se queixar do casamento. Davam-se bem fora da cama e sua vida sexual era maravilhosa. Então, por que sentia que faltava alguma coisa... alguma coisa indefinida que não compreendia, mas parecia ser o motivo de se sentir vazio?

— Pensei que poderíamos oferecer um jantar na semana que vem. Fomos convidados para diversos jantares recentemente e é hora de retribuir.

— Certo... mas não pode ser na semana que vem, vou a Nova York domingo e ficarei lá até o fim de semana seguinte.

— Não sabia que ia fazer uma viagem de negócios. Shannon Marsh morava em Nova York. Estaria Nikos planejando encontrá-la? Imediatamente descartou essa ideia. Confiava em Nikos; casara-se com ela por que queria o filho e, pelo mesmo motivo, seria fiel a ela. Mas não queria que ele viajasse, estavam se relacionando tão bem, melhor do que jamais ousara esperar, e temia que, enquanto estivesse longe, o marido pudesse voltar a ser o antigo e frio Nikos. Kitty gostaria de ir com ele.

— Talvez eu possa ir com você?

— Lamento, não desta vez. Estarei ocupado toda a semana e você ficará entediada. — Viu o rápido brilho de mágoa nos olhos dela e pensou em mudar de ideia. Mas o motivo real era que não a queria com ele. Pensava demais nela e precisava provar a si mesmo que poderia manter distância quando quisesse.

— Bem... talvez numa outra vez.

Mas ficou fria com ele pelo resto do fim de semana e Nikos não percebeu ou não se importou. Quando se afastou dele na cama no sábado à noite, em vez de puxá-la para seus braços ele se virou e dormiu, sem perceber suas lágrimas.

Deu-lhe um adeus gelado e Nikos apenas saiu, sem olhar para trás. Kitty sabia que precisava parar de ansiar pelo que jamais teria e aceitar o que possuía... um marido atencioso, encantador, extremamente viril, determinado a fazer do casamento o sucesso possível.

Os dias se arrastavam e sentia uma falta enorme dele. Nikos telefonava todas as noites, mas a conversa era fria, difícil. A distância entre eles não era apenas física; houvera uma sutil mudança em seu relacionamento e ela temia estar perdendo a ténue proximidade que crescera entre eles.

Compreendeu que devia deixar o orgulho de lado e confessar seu amor por ele. O pior que poderia acontecer era ele lhe dizer que jamais a amaria.

Perdida em pensamentos, não percebeu que Sotiri chegara ao terraço trazendo o seu café, até ele parar perto da mesa e exclamar:

— Anastasia!

Kitty seguiu seu olhar até o retrato da mãe de Nikos, que fora entregue aquela manhã e estava encostado a uma cadeira.

— É o nome dela? Não sabia que a conheceu, Sotiri.

— Claro... Nikos e eu crescemos nas mesmas ruas. A mãe dele era uma dama adorável, todos gostavam dela. Nikos ficou de coração partido quando ela morreu. Onde arranjou essa pintura?

— Fiz uma cópia da pequena foto na escrivaninha e a mandei para um artista de Aristo que recentemente pintou os retratos da família real. Nikos me disse que a foto era sua única lembrança da mãe e achei que seria bom ter uma pintura dela. O artista fez um belo trabalho e pensei em dar a ele de presente quando chegar domingo... que é também o dia do seu aniversário. Acha que vai gostar, Sotiri?

— Acho que ele vai ficar sem palavras, sra. Kitty — hesitou, então disse em voz baixa:

— Ele tem um coração, sabe, apenas o esconde muito bem.

Kitty passou o domingo dividida entre a excitação pela chegada de Nikos e o medo de ele não gostar da pintura ou do motivo por que a daria a ele. Soubera pela secretária que o avião em que viajava pousaria em Atenas no fim da tarde; Sotiri preparara um jantar especial e ela pusera a mesa com capricho, com candelabros e flores, com o retrato embrulhado sobre a cadeira dele.

Decidiu usar um vestido simples de seda dourada, de que ele gostava, colocou o colar de brilhantes e deixou os cabelos soltos. Com tudo pronto, caminhou pelo apartamento, impaciente, o coração disparado.

Mas ele não chegou. Quando anoiteceu, a tensão aumentou e, finalmente ligou para o seu celular.

— Angelaki — atendeu Nikos. Kitty franziu a testa ao ouvir sons de música e vozes femininas ao fundo.

— Nikos, estou esperando você há horas.

— Está? Não me lembro de ter avisado a que horas chegaria.

— Não, mas pensei... — a voz de Kitty desapareceu. — Já está em Atenas? Onde você está?

— No cassino... encontrei alguns amigos no aeroporto. Não espere por mim, ágape, posso demorar.

— Certo. — As mãos tremiam quando desligou o telefone, lágrimas queimavam os olhos. Nikos não podia ter deixado mais claro que não tinha pressa de vê-la de novo.

 

 

 

Nada mudara, pensou Nikos enquanto olhava em volta no cassino. Era a mesma velha multidão de solteirões agrupados em torno da mesa de roleta, as mesmas mulheres vazias flertando com homens ricos. Este tinha sido seu modo de viver por anos e jamais questionara se gostava ou não dele, pensou enquanto se afastava de uma loura predadora e andava em direção à saída.

Não sabia por que fora até lá. Mas era mentira, reconheceu, passando a mão pelos cabelos. Fora ao cassino por que estava com medo de ir para casa. Ele... Nikos Angelaki... o garoto mais durão das ruas, o adversário mais temido numa sala de reuniões.

Conhecera esta sensação que lhe queimava as entranhas... quando se sentara ao lado de sua mãe no hospital e lhe prometerá ganhar o dinheiro para o tratamento de câncer, e ela sorrira triste, e lhe dissera que era tarde demais. Tivera a mesma sensação doentia quando olhara para Greta, fora de si com a cocaína, e percebera que matara seu bebê.

Mas esta sensação agora era diferente e o atormentara a semana toda. Era a saudade de Kitty, tão grande que se sentia apenas meio vivo; era a aceitação total de seu amor por ela. Não podia mais ignorar seus sentimentos, não pertencia mais à vida de boates e cassinos; pertencia ao seu lar, sua esposa.

Era quase meia-noite quando entrou no apartamento. Achava que as luzes estivessem apagadas e Kitty tivesse ido para a cama; mas havia uma claridade sob a porta da sala de jantar. Foi até lá, abriu a porta e parou. Alguém tivera muito cuidado para pôr a mesa... mas duvidava que Sotiri tivesse arranjado o centro de mesa florido ou pendurado a faixa de aniversário na parede.

Um ruído leve atrás dele lhe mostrou que não estava mais sozinho e se virou para ver Kitty parada à porta. Estava usando um vestido dourado brilhante que exibia seus belos seios e o desejo o tomou. Então o olhar subiu para o rosto dela e viu que os olhos dela estavam vermelhos, como se tivesse chorado.

— Como foi sua viagem?

— Bem. — Olhou de volta para a mesa. — Se soubesse que havia planejado um jantar para nós, teria voltado para casa mais cedo.

— É seu aniversário e tem o direito de passá-lo como quiser. Nikos deu uma risada vazia.

— Tinha esquecido que era meu aniversário até entrar e ver a faixa. O último aniversário que festejei foi quando fiz dezesseis anos e minha mãe ainda estava viva. — Olhou para o pacote embrulhado. — Como sabia que é hoje?

— Olhei no seu passaporte. Não vai abrir seu presente?

Nikos não sabia o que esperar, ou a razão de seu coração bater tão irregularmente; não se lembrava de ter recebido um presente de aniversário e não sabia como reagir.

Depois de um momento de hesitação, rasgou o papel e olhou em silêncio atônito o retrato, sentindo uma ardência pouco familiar atrás das pálpebras.

— Você gostou? O artista trabalhou com uma cópia da foto de sua mãe. Acho que fez um bom trabalho, não acha?

— Eu... não sei o que dizer. — As emoções que reprimira por tantos anos arrastavam um caminho de fogo dentro dele. Havia tantos anos que a mulher, capturada tão perfeitamente na tela, sorrira para Nikos e lhe dissera que o amava. Enquanto olhava a imagem da mãe, sentiu o coração se partir e se abrir.

— Nikos? — A imobilidade gelada não era a reação que Kitty esperava; mas, quando ergueu os olhos, ela viu os cílios brilhantes de lágrimas. — Oh, Nikos... não! — Correu para ele e lhe tocou o rosto com dedos trêmulos.

— Não tive a intenção de transtorná-lo.

— Não me transtornou. — Ele lutou para controlar as emoções que o tomavam como uma torrente sem freio, liberada de uma barreira que caía de repente. — E um presente maravilhoso, Kitty, não acredito que teve tanto trabalho. Por que fez isto?

— Porque sei o quanto a amava. E porque eu amo você, Nikos, com todo o meu coração.

— Kitty! — Ele colocou a pintura cuidadosamente sobre a mesa, então se voltou para ela e segurou-lhe os braços com força.

— Está tudo bem, sei que não se sente isso por mim. Acho que amou Greta e compreendo que, depois do que ela lhe fez, nunca mais vai querer amar ninguém. Mas eu me apaixonei por você aquela noite na caverna e, embora tenha tentado muito negar meus sentimentos, sei que amarei você até morrer.

Queria que ele dissesse alguma coisa, mesmo se fossem as palavras de rejeição que esperava, mas Nikos apenas olhava Kitty como se nunca a tivesse visto antes.

De repente, ele disse:

― Também tenho algo para você.

Era a última coisa que esperava que ele dissesse e mordeu o lábio quando subitamente a soltou e foi até a pasta. Entregou-lhe um pacote quadrado e ela o pegou com o coração doendo. Pelo menos era pesado demais para ser uma jóia, pensou, esperando poder se mostrar feliz com o presente quando seu coração estava se partindo por Nikos não ter dito nada quando lhe confessara como se sentia.

— Abra-o, ágape. Não sou bom com palavras e não tenho prática para dizer o que preciso dizer. Mas meu presente explica bem.

Assustada pelo tremor na voz dele, Kitty rasgou o papel e seu coração... o tempo... o universo... pareceu parar quando reconheceu o livro familiar de sua infância.

— Russian Fairy Tales and Fables... o livro que meu pai costumava ler para mim — a voz parecia vir de muito longe. — É o presente mais maravilhoso que já me deu, Nikos. Como o conseguiu? — E, mais importante... queria perguntar por qual razão, mas estava com medo.

— Um dos motivos que me levou a Nova York foi me encontrar com o colecionador que o possuía e persuadi-lo a se separar dele. — A mão trêmula lhe afastou os cabelos do rosto. — Sei o quanto sente falta de seu pai e como este livro é especial para você. Quero... — a emoção lhe prendia a voz na garganta — ...quero ser um bom pai para o nosso filho, Kitty, um pai como você teve... que lia histórias todas as noites e amava seus filhos, sem reservas. — Olhou para os suaves olhos castanhos de Kitty e viu o amor... o amor dela por ele... e sentiu uma flecha lhe perfurando o coração.

— Mas, mais importante que isto, encontrei o livro por que não sabia de que outra maneira lhe dizer que você é minha vida, Kitty. E tudo o que sou, tudo pelo que trabalhei, não tem sentido sem você.

Kitty suspirou, trêmula, sem ousar esperar que aquelas palavras significavam mesmo o que pensava.

— Não precisa fingir... ou dizer coisas apenas por que acha que quero ouvi-las. Compreendo como seu passado o afetou, tornou impossível para você até mesmo confiar em outra pessoa...

Nikos pôs um dedo de leve sobre os lábios de Kitty.

— Confio em você, Kitty mou. — Com as palavras, veio uma sensação de liberação e alegria indescritíveis. Sua esposa era honesta e aberta, corajosa e extraordinariamente generosa; o amor dela por ele brilhava nos olhos castanhos e ele o sentiu invadi-lo, limpá-lo até ficar fraco com o alívio e o poder da força do amor dele por ela. — Amo você, Kitty — tomou-a nos braços... e segurou-a apertada ao peito, sentindo seus corações baterem em uníssono. — Acho que me apaixonei por você quando a confundi com uma garçonete no baile do palácio... e, com certeza, depois que fiz amor com você na caverna e então você desapareceu. Fiz tudo para encontrá-la, não poderia perdê-la.

— Teria pedido a Rina para ser sua amante? — perguntou Kitty, os olhos se abrindo ao sorriso terno de Nikos.

— Era tudo o que poderia oferecer na ocasião. Jurara nunca mais me casar de novo e certamente jamais amar de novo; mas então descobri que havia um bebê... e em poucas semanas quebrara meu primeiro juramento e estava rapidamente a caminho de quebrar o segundo.

― Oh Nikos — A expressão nos olhos dele lhe dizia mais claramente do que qualquer palavra que o que ele dizia era verdade... que, inacreditavelmente, milagrosamente, ele a amava.

E como compreendia o quanto fora difícil para ele admitir seus sentimentos para si mesmo, que dirá para ela... e se permitir ser vulnerável e aberto ao sofrimento... ela o amou ainda mais. Então as palavras não eram o bastante e ela estendeu a mão para lhe empalmar o rosto e roçar a boca na dele, a emoção jorrando dela quando ele respondeu instantaneamente e a beijou com uma paixão tão doce, com tanto amor, que ela chorou.

— Não chore... — Nikos tomou-a nos braços e a carregou pelo corredor. — Jamais quero fazê-la chorar, Kitty mou.

Mas os olhos dele também estavam úmidos quando chegou ao quarto e a colocou em pé, ao lado da cama. Abaixou o zíper do vestido dourado e gentilmente o abaixou, deixando-o cair numa poça brilhante aos pés dela.

— Você é tão linda, tão suave e perfeita — sussurrou ele contra a boca de Kitty enquanto removia o resto das roupas, as próprias e a deitava na cama, posicionando seu corpo sobre ela. — Depois do que aconteceu com Greta e o bebê, me senti gelado por dentro e, para ser honesto, estava contente por nada, jamais, afetar as minhas emoções. Não queria gostar de ninguém nunca mais e disse a mim mesmo que era feliz tendo dúzias de mulheres que nada significavam. Não queria me casar com você e certamente não esperava amá-la, mas você se insinuou aos poucos sob a minha guarda. Foi sempre tão generosa, doou-se tanto e, embora tenha tido uma infância privilegiada, foi capaz de entender e se comover por aqueles que nada tiveram. Algumas vezes penso que quer mudar o mundo e certamente me mudou, Kitty. Você me fez sentir algo novo e me fez ver que estava sendo covarde ao negar o que sinto por você, embora tivesse certeza de que não podia me amar quando a obriguei a deixar o lar que ama, sua família. Podemos nos mudar para Aristo, se você quiser. Quero que seja feliz, Kitty, e percebi, na semana que passei nos Estados Unidos, que não me importo onde vivo, desde que seja com você.

Ela balançou a cabeça com firmeza.

— Você pertence a Atenas, Nikos, e eu pertenço a você. Mas concordo, não importa onde estivermos desde que estejamos juntos... você, eu e o bebê. — Ela traçou com os dedos a linha do queixo e a curva sensual da boca de Nikos e o desejo a tomou de novo, quando o corpo dele se moveu junto ao dela. — Mas, Nikos, acha que podemos parar de falar agora, para que eu possa lhe mostrar o quanto o amo?

 

E Kitty o fez com tanta paixão, generosidade e amor, que não era necessário mais esconder que o coração de Nikos se preencheu da emoção que ele negara por tanto tempo. E, quando o corpo dele cobriu o da esposa e eles se uniram como se fossem apenas um, pareceu a Nikos que suas almas, como seus corpos, haviam se fundido. Ele soube que o amor que partilhavam duraria a vida toda.

 

                                                                                Kate Hewitt  

 

                      

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