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PROCURANDO DESESPERADAMENTE / Elisa Braden
PROCURANDO DESESPERADAMENTE / Elisa Braden

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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A senhorita Sarah Battersby está na extrema necessidade de um homem, de preferência um habilidoso na arte de enganar. Após a morte de seu pai ela ficará sem lar e sem um centavo. Com o tempo se esgotando, ela deve aceitar a proposta de um homem que detesta ou ficar o suficiente para garantir uma posição de professora contando uma mentirinha: que ela é prometida a outra pessoa. O problema? Ele não existe, tecnicamente. Mas Sarah se recusa a ser derrotada por detalhes insignificantes. A resposta está em encontrar o homem certo para o trabalho. E, por sorte, ela tropeçou com o candidato... embora ele pudesse necessitar de um pouco de cuidados.
Desesperadamente procurando um refúgio...
Para onde vai lorde Colin Lacey o problema o segue, mesmo quando ele tenta fazer o certo. Torturado e caçado por um criminoso brutal, ele é salvo da porta da morte pela teimosa e estranhamente atraente Senhorita Battersby. Em troca, ela pede um pequeno favor: fingir ser seu noivo. Temporariamente, claro. Com o perigo beliscando seus calcanhares, ele sabe que é errado querê-la, que é errado concordar com os termos dela. Mas quando Colin Lacey fez a coisa sensata?
Desesperadamente procurando um amor para conquistar tudo...
Enquanto as mentiras se tornam desejos e anseiam por algo mais profundo, eles percebem que será preciso mais do que paixão para salvarem-se do perigo que está por vir. Eles precisarão de um plano. Eles precisarão de sua família. Acima de tudo, eles precisarão de um amor forte o suficiente para fortalecer a determinação de uma dama e transformar o coração de um canalha.

 


 


CAPÍTULO 1

“Evitar os desconfortos e as indignidades do desespero requer inteligência. Infelizmente, nenhuma quantidade de súplica aumentará sua concessão desse produto cobiçado”.

A Marquesa viúva de Wallingham ao seu sobrinho ao receber sua solicitude de um aumento de recursos.

20 de agosto de 1817

Keddlescombe, East Devonshire

— Que expectativa, senhorita Battersby. Quando acredita que poderiam casar-se?

Sarah evitou o olhar de sua jovem aluna concentrando-se em troca na cesta de maçãs aos seus pés, pouca fruta nesta árvore não tinha amadurecido ainda, mas havia o suficiente para hoje, e isso teria que bastar.

— Não estamos comprometidos, senhorita Cresswell.

Um ramo frondoso retrocedeu e tremeu quando a ruiva Lydia Cresswell, de largas extremidades, arrancou outra maçã verde e a pôs na mão estendida de Sarah. A menina tinha treze anos e estava fascinada por tudo relacionado com noivado e romance, o que a fez procurar sua companhia. Mesmo assim, embora fosse dez anos mais nova que Sarah, já tinha crescido mais de um palmo e possuía braços terrivelmente longos, então lhe tinha sido atribuída a tarefa de subir na escada.

— Oh, mas o senhor Foote o disse.

Sarah franziu o cenho.

— A quem?

— Bom, a todos, suponho, ele insiste em que o aceitou.

Sua garganta se apertou e levantou o olhar para as estreitas costas da garota.

— Não deve ser vítima das intrigas. Recorde nossa recente lição de Provérbios.

Lydia suspirou ruidosamente e recitou: — Quem guarda sua boca, guarda sua vida.

Sarah apoiou as mãos nos quadris.

— Muito bem, Deus aprova a discrição, pratiquemos essa virtude, de acordo? — Ela olhou a cesta. — Acredito que isto é suficiente. — Seu tom sufocado deve ter sido ouvido, porque Lydia olhou por cima do ombro e assentiu antes de descer a escada.

Elas tinham conseguido doze maçãs, o suficiente para fazer os bolos que Sarah tinha prometido às meninas. Recolhendo a cesta apertou o lábio entre os dentes enquanto pensava na farinha e no açúcar que precisavam para isso, devia visitar o mercado na praça do povoado, e para esses artigos e o chá de sua mãe devia gastar seus últimos xelins.

Olhou à Lydia, que tirava folhas soltas de seu cabelo.

— Aqui — Sarah disse levantando a cesta nos braços da garota. — Leva isto à escola e diga à senhora Blake que pode esquentar o forno. Voltarei com os ingredientes restantes em breve.

— Oh! Está segura de que não deseja que eu vá ao...

— Bastante segura. — Quão último precisava era que a jovem fofoqueira em floração a observasse regateando com o moleiro por cada grama de farinha. A pobreza já era suficientemente humilhante. Sarah saudou com a mão a caminho da casa paroquial. — Vá, agora.

Ao ver Lydia descer para o extremo norte do comprido e verde vale, Sarah apertou os lábios e lutou contra o desespero que sempre se escondia nela, deixou que seus olhos desviassem-se para sua direita, onde o vale se alargava antes de terminar no mar, logo à esquerda, onde estava a Igreja da Santa Catalina em um estreito cruzamento de caminhos de formosa cor esmeralda. Na maioria das manhãs estava rodeado de névoa, mas pela tarde podia-se ver de qualquer lugar do vale a igreja, que era da época normanda, com sua orgulhosa torre de pedra do século XIII e suas enormes portas de carvalho que lhe resultavam tão familiar como suas próprias mãos. Seu pai tinha sido o vigário ali desde antes que ela nascesse.

Na ladeira oposta do vale, na metade da colina da igreja onde residiam, havia uma casa branca de dois pisos aninhada junto a um edifício de pedra maior e antigo que uma vez tinha sido parte de uma abadia e agora era o lar da Academia de St. Catherine para meninas de impecável comportamento.

Atrás dela jazia o vale vizinho, onde as casinhas brancas de Keddlescombe salpicavam a exuberante paisagem verde.

Fechou os olhos, estes vales gêmeos junto ao mar embalavam seu lar: a fiel igreja que tinha suportado o tempo, a agitação e a supressão de Túdor; a casinha onde tinha nascido e tinha sido criada; a escola que lhe deu tanto o propósito como os ganhos; o povoado onde não vivia nenhum estranho, tudo isso deveria lhe trazer consolo.

Deveria. Sua mão cobriu sua boca em um momento de debilidade. Não, ela não cederia terreno. Ela brigaria, como tinha feito durante dois longos anos e encontraria uma maneira. Deixando cair os braços aos flancos, apertou a mandíbula e apalpou os bolsos de sua roupa gasta e puída. O triste tilintar de poucas moedas só fez com que levantasse o queixo mais alto. Com passo decidido tomou o caminho da colina até a aldeia.

Quando entrou na praça central, o ferreiro, o Sr. Thompson, gritou uma saudação, e ela se obrigou a sorrir e lhe fez um gesto amistoso. Olhando ao seu redor notou que o recinto aberto no coração do povoado estava cheio de agricultores, pescadores e suas esposas. Havia esperado encontrar-se com menos pessoas neste dia em particular, mas agora era o momento mais difícil da colheita, e era de esperar tanta atividade. Baixando os olhos e a aba de seu chapéu de palha para evitar chamar a atenção, dirigiu-se à carroça do moleiro e o observou em sua localização habitual, no lado leste do vale.

— Ah, senhorita Battersby, — disse o alto e ancião senhor Miller enquanto ela se aproximava. — Tenha um bom dia. Deve ter vindo buscar um pouco de farinha.

— Assim é — ela sorriu cortesmente ao homem de rosto enrugado. — Um quilo, por favor.

A senhora Miller, sua esposa, mais redonda e muito mais jovem, apareceu atrás dele para dizer: — Tão pouca, senhorita Battersby? Não se pode fazer mais de um pão com essa quantidade insignificante, por que não comprar dez? É menos custoso por grama e dura um pouco mais.

O sorriso de Sarah se esticou.

— Um quilo é tudo o que necessito por agora — disse em voz baixa.

Os olhos da senhora Miller se lançaram por cima do ombro de Sarah e se esticaram. Foi toda a advertência que teve antes que uma mão não desejada pressionasse suas costas e uma voz detestável dissesse: — Tolices, ponha dez quilos, senhor Miller. — O homem que ela desprezava com todo o seu ser estava muito perto, murmurando amorosamente contra sua bochecha. — Não posso deixar que digam que minha prometida passa privações.

Usando seu cotovelo e a aba de seu chapéu, Sarah empurrou discretamente seu corpo magro, criando uma distância muito necessária para que sua mão caísse.

— Não sou sua prometida, Senhor Foote, por favor, deixe de afirmar o contrário.

O cabelo escuro, escorregadio e brilhante pela manteiga de porco que usava foi arrastada para trás de uma testa mais curta, que só fazia ressaltar os olhos relativamente pequenos, o nariz largo e o queixo comicamente proeminente do Sr. Foote, que era um homem muito pouco inteligente, mas isso não a incomodava muito.

De fato, se sua alma não fosse muito mais feia que seu rosto, ela poderia estar mais disposta a aceitá-lo, particularmente porque era um dos poucos e valiosos homens elegíveis a milhas de Keddlescombe que não era suficientemente velho para ser seu avô, nem o bastante jovem para requerer o consentimento dos pais para contrair matrimônio. Também era um latifundiário com quatro fazendas de inquilinos e um rendimento considerável, como gostava de recordar a ela e a sua mãe. Seus olhos escuros se estreitaram sobre ela, e seus pequenos lábios puxados para trás para revelar dentes marrons sobrepostos ao seu sorriso fez pouco para melhorar sua atratividade.

— Ah, vamos querida. O senhor e a senhora Miller certamente entendem as paixões da juventude, vejo pouca necessidade em disfarçar nossos afetos, apesar da... condição de seu pai.

O calor se acendeu em seu peito, elevando-se ao seu rosto, sua pele coçava com isso.

— Não fale do meu pai — ela soprou. — Não se atreva a pronunciar seu nome.

Como de costume, Félix Foote se negou a ser insultado e deu ao Sr. Miller um sorriso condescendente.

— As damas devem ser perdoadas por suas tolices, porque são delicadas em sua constituição. Temo que minha querida Senhorita Battersby esteja sobrecarregada pela má saúde do reverendo, o senhor Battersby.

— Pela última vez, — grunhiu, suas náuseas crescentes mesclavam com o desespero e a frustração — não sou sua senhorita Battersby. Não estamos comprometidos! Escute-me! Não estamos comprometidos! — Quando terminou sua voz era suficientemente alta para chegar ao resto do verde vale, ela sabia porque todos, simplesmente todos, na praça, se detiveram para olhá-la fixamente: a Sra. Jones, quem dirigia a padaria e dava à Sarah cinco pães à semana em segredo, o senhor Walton, que lhe tinha ensinado a montar quando tinha sete anos, Ann Porter, com quem havia jogado cricket neste vale, e uma dúzia mais que tinha conhecido desde a infância, todos permaneceram em silêncio e com os olhos arregalados enquanto a filha do vigário gritava soltando seu tolo temperamento além de seu ponto de ebulição.

O senhor Foote a agarrou pelo cotovelo e a atraiu para si, com o fôlego de pescado podre flutuando em seu rosto.

— Não é impróprio declará-lo, senhorita Battersby, todos no povoado compreendem sua posição. Necessitará do cuidado de um marido logo — seus dedos cravados em sua carne. — Argumentar o contrário é temerário.

Com o coração palpitando Sarah o olhou. Sua fúria não tinha para onde ir. Ele estava correto, logo seu pai se iria tanto em corpo como em mente, a vida provida pela igreja cessaria e ela e sua mãe não teriam nada, tragou e respirou contra a opressão em seu peito, sentindo-se bastante necessitada.

Durante mais de um ano Félix Foote tinha estado rondando-a, lhe recordando constantemente que ele era sua única opção. Ela tinha procurado outra, mas não havia aparecido, tinha estagnado e resistido, esperando que seu olho vagasse por outro lado.

Mas estava encurralada e o odiava, odiava estar tão empobrecida que só podia comprar um quilo de farinha por vez. De fato, quão único odiava mais era Félix Foote.

— Impossível — ela murmurou-lhe agora. — Não posso me casar contigo.

Aquele sorriso oleoso e nauseante reapareceu.

— Não pode se casar comigo. Por que não? — Riu em voz alta. — Não vejo uma fila de pretendentes que clamam à sua porta, atrevo-me a dizer.

Já tinha o bastante quando a decisão de mentir entrou em sua mente, ela não podia dizê-lo, não estava em sua natureza. Na verdade, era terrivelmente inepta para fingir, possuía uma tez clara que avermelhava de culpa inclusive pela enganação mais inócua. Suas alunas lhe haviam rogado uma vez que atuasse em uma de suas obras e nunca o tinham pedido de novo.

Tinha muitas falhas, o orgulho a primeira entre elas, mas não enganava, à exceção de hoje. Hoje a mentira escapou de seus lábios com tal facilidade que alguém teria pensado que era uma visitante frequente.

— Me casar com você é impossível, senhor Foote — anunciou com a voz carregada. — Porque estou prometida a outro.

Murmúrios de surpresa e sussurros especulativos ressoaram na praça do povoado, os olhos da senhora Miller ficaram tão arregalados como as rodas de sua carroça, enquanto a testa de seu marido se franziu em uma expressão de desconcerto. Por fim, o sorriso do senhor Foote se desvaneceu, substituído lentamente por um grunhido de desgosto.

— Quem? Olhe ao seu redor, senhorita Battersby. "Outro" não existe para ti. Talvez em tua dor dedicou-se a inventar fantasmas.

Ela inclinou a cabeça e lhe deu um sorriso tenso e satisfeito, ao que parecia o ódio podia emprestar uma audácia que de outro modo não possuía. De que outra maneira explicar sua escandalosa resposta?

— Creia no que quiser, senhor Foote, esse fantasma será meu marido, o senhor não engendrará meus filhos, além disso, se não cessar suas desprezíveis atenções, — puxou o braço de sua mão — lhe dará o castigo que merece.

~~*~~

25 de agosto de 1817

Whitechapel

A morte esperava, paciente e asquerosa, o sangue marcou os pulsos de Colin Lacey, onde estavam atados acima dele, molhando seus braços até seus ombros, mas o fluxo fazia muito que tinha parado, substituído pelo intumescimento. O gancho para carne que segurava as cordas manteve-o à mercê do carniceiro.

Nada seria concedido.

— Lástima que não tenha mostrado uma reticência igual nas mesas, meu lorde — murmurou o carniceiro. — Um pouco de moderação poderia haver economizado a ambos um grande trabalho. — Um suspiro, logo o estalo de uma faca deixando sua capa serviram como advertência.

Brilhante e fria agonia, a luz prateada brilhava atrás de suas pálpebras inchadas enquanto o ar assobiava através de seus dentes para os pulmões. A carne sobre suas costelas se abriu e jorrou um fluxo quente.

— Uma palavra, meu lorde, um nome e isto terminará.

Sua camisa, que tinha sido arrancada de suas costas horas antes, agora pendurava em três farrapos na cintura de suas calças. Imaginou que, se conseguisse liberar-se de suas amarras, o tecido seria conveniente para absorver seu sangue.

A risada oxidada sacudiu dentro de seu peito, nunca abandonaria aquele lugar pútrido, cheio de calor ao final do dia e com o aroma dos animais que deviam morrer ali. Não, seus ossos se uniriam aos do gado e porcos, não era tão parvo para acreditar que um nome o salvaria, nem ele nem ninguém mais.

— Vamos, agora é o irmão de um duque, seu herdeiro neste momento, não é? — O carniceiro se deteve como se Colin pudesse responder, e logo se respondeu com uma voz estranhamente suave e culta. — Sim. O herdeiro do duque de Blackmore não necessita de crédito em minhas humildes casas de jogo. Depois que o Ministério do Interior se interessou por meus negócios, a coincidência era algo mais do que podia suportar. A quem deu informação?

O longo silêncio lhe valeu outro corte, justo debaixo do último. Desta vez, embora a dor cintilou, não era mais que um pico branco em meio de uma gama de montanhas igualmente irregulares.

Uma porta rangeu, um par de botas se arrastaram pelo piso.

— Comece a falar.

— Senhor Spyder.

— Benning, confio em que esta interrupção seja de natureza vital.

— Sim, senhor, — movendo os pés cambaleou outra vez, logo baixou a voz — de Londres chegou a notícia, Johnstone enviou a notícia que o Clube Gallows foi invadido aproximadamente uma hora depois.

Se Syder alguma vez se zangava, Colin suspeitava que soaria como o escuro silêncio que seguiu às notícias de Benning. Mas Syder não tinha construído um império de roubo, brutalidade e vício ao ser escravo de seu temperamento.

— Quem foi?

— Dois dos homens do Kirkwood, junto com sete mais que nunca vimos tomaram o Johnstone, fizeram-no.

Mais silêncio, logo um suspiro de Syder.

— Meu lorde, temo que devo deixá-lo ao cuidado do Sr. Benning. Posso sugerir que solte sua língua. É menos sutil que eu em seus serviços.

Reflexivamente, Colin tragou contra sua áspera garganta. Passos tranquilos e de ritmo uniforme retrocederam até que uma porta se abriu e se fechou. Os nódulos saltaram.

— Durou mais que a maioria, meu lorde, o concedo. — Benning, a quem Colin recordava como uma besta maciça e marcada com mangas do tamanho de pedras de moinho, se aproximou o suficiente para que seu volume amortecesse o ruído do gado fora da porta. Seu fôlego flutuou sobre o rosto de Colin, cheirava a cerveja e cebolas.

— Me mate — sussurrou, sua dolorida mandíbula apenas capaz de formar as palavras. — Não tenho nada a dizer.

— Quer morrer, é claro. — Colin sentiu o sorriso na voz do bruto. — Mas não ainda. — Fortes passos golpeavam contra a terra endurecida, dirigindo-se em direção à mesa no extremo oposto do espaço. Foi onde Syder havia montado suas ferramentas, principalmente facas e outros cutelos, mas também martelos e serras. Depois do espancamento inicial do Benning, os olhos de Colin se haviam fechado. Em certo modo, isso tinha sido uma misericórdia, mas agora desejava saber o que Benning pegaria, que instrumento seria a fonte de sua próxima dose de agonia.

Metal raspou a madeira enquanto Benning levantava a ferramenta, fosse o que fosse, da mesa. O coração de Colin acelerou a um ritmo frenético porque se assustava agora.

Não podia dizer, não podia ser pior do que já tinha suportado. Ou poderia?

Benning se aproximou, uma brisa úmida de cerveja e cebolas banhava a testa de Colin. Um punho de pedra de moinho agarrou seu antebraço, justo debaixo da corda.

Querido Deus. Estava a ponto de perder sua mão. Escutou a si mesmo ofegando, lutando, agitado e arrasado. Sua mente voou para trás da horrorosa realidade, agachando-se na parte posterior de seu crânio.

Sua mão nunca voltaria a jogar. Nunca mais sentiria a pele de uma mulher. Querido Santo Deus.

Seus braços se sacudiram, não podia sentir a lâmina, só podia sentir o movimento e a pressão enquanto Benning trabalhava de um lado a outro. De repente suas mãos se liberaram, seus braços caíram agonizantemente para baixo, suas pernas o abandonaram, e desabou aturdido. Inútil, um montão aos pés de Benning.

— Ei — grunhiu o bruto, empurrando o joelho de Colin com sua bota. — Não há tempo para isso, meu lorde, me pagaram para que te soltasse e não para ser cortado pelo Syder.

O sangue de Colin golpeava dentro de sua cabeça, em guerra com seus ofegos, formando uma cacofonia ensurdecedora.

— P-pago — conseguiu dizer.

A corda que atava seus tornozelos foi tirada e cortada.

— Sim.

Tentando mover os braços, Colin gemeu quando as agulhas se acenderam na carne intumescida. O fogo se estendeu lentamente até que teve que apertar os dentes para não gritar.

Os trapos de sua camisa foram arrancados de sua cintura, cortados em tiras e envoltas ao redor de suas costelas. Um polegar maciço esticou sua pálpebra, um rosto impreciso e bicudo lhe devolveu o olhar, com os lábios grossos para baixo.

— Terá que esforçar-se, chegarão em um dia ou dois, mas estará morto se não correr rápido e para longe daqui. Entendeu?

— Sim. — Sentiu que um estremecimento começava sob sua pele, a sensação voltou para seus ombros, o que lhe fez querer vomitar. Mal podia mover os braços, mas ao menos ainda tinha as mãos, por isso ele estava muito agradecido.

— Quem te pagou? Foi meu irmão?

Benning ficou de pé e se dirigiu ao canto onde tinha atirado o casaco de Colin e se agachou para recuperá-lo.

— Não duvido que você saiba de alguma coisa — o dialeto do homem era espesso e redondo, complicado de entender. Antes deste ano, poucas vezes se associou com homens como Benning, Colin poderia ter tido problemas para seguir seus murmúrios. Muito tinha mudado.

— Então quem? Pensei que trabalhava exclusivamente para o Syder.

Benning o rodeou ficando atrás dele, agarrou-o por debaixo dos braços e o ajudou a levantar-se com um movimento brusco. Colin não pôde deter seu lamentável gemido quando uma dor insuportável lhe atravessou os ombros.

Suas pernas ao princípio se negaram a sustentá-lo e vergonhosamente desabou contra Benning, quem o sustentou com um pesado antebraço ao redor de seu peito e começou a forçar seus braços para entrar pelas mangas de seu casaco.

— As coisas mudam, o peixe gordo paga melhor.

Ofegando bruscamente, com a cabeça dando voltas, Colin se deteve para recuperar o fôlego quando Benning se voltou para ele e rapidamente fechou os botões como uma babá com um bebê.

— Quem é o peixe gordo, Benning?

A besta imprecisa terminou sua tarefa e se dirigiu à porta, abrindo-a para olhar para fora.

— Posso te levar ao seu cavalo, só isso.

— Quem quer que seja, deve ter dado uma soma principesca. Syder não o perseguirá por isso?

Benning voltou ao lado do Colin, agarrou-o pelo braço e o arrastou para frente, arrastando seu cambaleante corpo sangrando e debilitado para a porta.

— Comove-me sua preocupação, meu lorde, o fato é que não planejo ficar. O melhor é que faça o mesmo. — Benning colocou um chapéu sobre a cabeça dolorida de Colin e o desceu pela testa inchada.

A escuridão ao final do crepúsculo disfarçou seus movimentos, enquanto se arrastavam pelo curral algumas vacas se moveram e baixaram ao seu passo, mas não soaram gritos de alarme. Logo entraram em um estábulo, onde, ao que parecia, Benning já tinha selado Matilde. A linda égua baia se esfregou contra a mão estendida de Colin.

— Me alegro de ver-te, amor — Colin sussurrou acariciando seu cálido nariz. Seus braços, ainda débeis, caíram rapidamente aos seus flancos quando Benning a conduziu a um bloco de montagem.

— Crê que pode guiá-lo? — Perguntou.

Forçando seus olhos a abrir-se mais e tragando sua náusea persistente, Colin deu sua melhor imitação de seu antigo eu.

— O dia que não puder montar uma fêmea é o dia que estarei frio na tumba, Benning.

O homem soprou e agitou o braço para a rua.

— Essas são palavras proféticas, meu lorde.


CAPÍTULO 2

"De fato, a têmpera de um é provada e forjada na batalha. E, é óbvio, enquanto atravessa os vergonhosos caminhos da Inglaterra".

A marquesa viúva de Wallingham ao duque de Wellington após seu triunfante regresso.

— Nunca voltarei a ser o mesmo — as queixas do velho Sr. Hubbard não desconcertaram sua esposa, que estava sentada ao seu lado no banco do condutor da carruagem. A Sra. Hubbard simplesmente dirigiu à Sarah um olhar irônico e logo voltou para sua malha.

Sarah, entretanto, compadeceu-se de todo coração do velho granjeiro, três dias de viagem até Londres e três dias para retornar à Keddlescombe na incômoda carruagem sobre os caminhos cheios de buracos e enlameados do sul da Inglaterra eram suficientes para solicitar uma queixa do próprio Jó.

Se não tivesse sido absolutamente necessário repor os cofres da Santa Catharine, não haveria acompanhado o amável casal. Entretanto, a escola simplesmente não podia funcionar sem recursos, e em lugar de esperar semanas para que suas cartas fossem respondidas com o pagamento do semestre de outono, ela tinha eleito visitar os quatro pais que residiam em Londres e assegurar os recursos ela mesma, distraidamente ela acariciou o grosso couro da bolsa de moedas de seu pai, agora gorda e cheia. Os aborrecimentos temporários não eram nada: os recursos que havia adquirido manteriam em funcionamento a Academia da St. Catherine para meninas de impecável comportamento durante mais um mês.

O fato de que esta viagem também a tirasse da tormenta de intrigas da aldeia, bom, foi simplesmente uma feliz coincidência.

— Logo estaremos em casa, marido — a senhora Hubbard disse com doçura. — Outro meio-dia, quando muito — ela assentiu com a cabeça aos barris, caixas e bolsas de provisões empilhados ao redor do assento de Sarah. — Mesmo assim, não deveremos requerer outra viagem a Londres até o próximo verão. Tempo suficiente para se recuperar de todos os seus mal-estares.

O Sr. Hubbard grunhiu em resposta e cobriu os olhos com seu chapéu de aba larga, claramente preferindo um guisado de miséria às garantias de sua esposa.

Seu bom humor, entretanto, não se afundou tão facilmente.

— Pelo menos podemos viajar sob a chuva. Não é algo pelo que agradecer ao bom Senhor, senhorita Battersby?

Sarah levantou a vista para o tecido engordurado suspenso em um arco sobre eles.

— Certamente — sua voz tremeu quando as rodas encontraram um sulco profundo. Apoiou-se contra uma caixa rangente e afogou um gemido. — Que mais se pode pedir?

O aguaceiro constante tinha começado horas antes e tinha convertido o caminho em um lamaçal. Olhou a prega de seu vestido azul de lã. A carruagem já se atolara duas vezes no lodo avermelhado e escorregadio, o que tinha requerido sua saída das duvidosas comodidades da carruagem e isso deu lugar a manchas que requereriam um bom banho durante o dia.

Na metade de sua ascensão até à seguinte colina um dos cavalos tropeçou, o que provocou que a carruagem se sacudisse e tremesse em uma dura curva. O Sr. Hubbard lutou com as rédeas para recuperar o controle, mas a carruagem começou a deslizar-se.

— Agarrem-se forte! — Gritou enquanto os cavalos se apressavam a seguir. Sarah agarrou o assento plano de madeira com uma mão e a borda do lado da carruagem com a outra, preparando-se o melhor que pôde.

Um protesto queixoso e retorcida ressoou no marco de madeira e se mesclou com o relinchar assustado dos cavalos, já que seus esforços por se manter em pé fizeram com que a carruagem girasse de lado e começasse a derrubar-se.

— Meu Deus — a Sra. Hubbard gemeu enquanto o Sr. Hubbard gritava à sua equipe de cavalos com sons guturais e sem sentido de "haw" e "yip".

Sarah fechou os olhos com força, o coração lhe pulsava com força, o estômago revirou, sentiu que a carruagem se sacudia e arrastava para a direita, logo o som assustador e surdo dos cavalos correndo acompanhou a sensação de ser devorada à maior velocidade. Seus olhos se abriram de repente e se dirigiam à direção oposta. Descendo a colina, o Sr. Hubbard se recostou em seu banco puxando desesperadamente as rédeas enquanto a pesada carga empurrava os cavalos mais rápido do que deviam.

Deviam ter sido só uns segundos, mas pareceram horas, antes que finalmente recuperasse o controle, então estavam a centenas de metros na direção contrária, e os dedos de Sarah ficariam permanentemente impressos na madeira da carruagem.

— Céus — a Sra. Hubbard gritou, envolvendo um braço ao redor dos ombros trementes de seu marido. Sua bochecha manchada de lágrimas se voltou para Sarah. — Está bem, senhorita Battersby?

— N-não — limpou a garganta e obrigou as suas mãos a soltar seu agarre um por um, seus dedos levantaram-se. Pouco a pouco, seu fôlego voltou.

O senhor Hubbard agora estava abraçando a sua esposa enquanto ela soluçava baixinho.

A mão de Sarah pousou sobre seu coração tamborilando e se agachou e se esticou para acariciar as costas da senhora Hubbard.

— Estamos a salvo, agora — disse com voz baixa e tranquila. — Tudo está bem.

A anciã se voltou enrugada, olhou-a com olhos chorosos e sorriu tremendo enquanto apertava a mão de Sarah.

— É uma garota muito especial.

Sarah lhe devolveu o sorriso e perguntou ao Sr. Hubbard: — Acredita que deveríamos tentar subir a colina outra vez?

Ele sacudiu a cabeça.

— A carga é muito pesada, desviaremos pelo caminho a Littlewood, a meio quilômetro de volta. Adicionaremos várias horas a nossa viagem, mas é muito mais provável que cheguemos... a salvo.

Um soluço da Sra. Hubbard lhe valeu um suave tapinha e murmurou.

— Pronto, pronto, Margaret — disse seu marido. Depois de comprovar se os cavalos estavam lesionados, voltaram a subir à carruagem e se dirigiram ao Littlewood, que estava a mais de vinte milhas ao noroeste de Keddlescombe. O senhor Hubbard tinha razão: era uma rota mais longa, mas muito mais plana.

Uma hora mais tarde, justo quando o nervoso de seu quase desastre retrocedia e o frio de seu vestido úmido trouxe calafrios à sua pele, Sarah sentiu que a carruagem ficava lenta.

Estavam em um trecho do caminho muito arborizado e não tinham visto nenhuma outra alma desde que tinham tomado a rota de Littlewood que viajavam com pouca frequência. Em consequência, se surpreendeu quando ouviu o senhor Hubbard murmurar: — Malditos, deixando suas montarias vagando e impedindo o progresso de um homem trabalhador.

Curiosa, levantou-se de seu assento, apoiou uma mão no ombro da senhora Hubbard e olhou para o caminho. Ali, a uns dez metros de distância, havia uma égua baia, com seu abrigo marrom avermelhado escurecido pela água da chuva, com a sela vazia. Ela se rodeou com os braços e assentiu com a cabeça.

— Onde crê que estará o cavaleiro? — Perguntou a Sra. Hubbard, deixando sua malha em seu regaço.

O senhor Hubbard suspirou e sacudiu a cabeça.

— É provável que tomando uma p... hum, digo um descanso, alguns não entendem que um caminho rural não tem necessidade de cortesias. Malditos presunçosos da realeza, outros sempre cederão, perdão, senhorita Battersby.

Sarah piscou surpreendida.

— Não há necessidade que se desculpe, passou uma geração desde que minha família pôde ser considerada como tal, senhor Hubbard.

Ele grunhiu uma resposta neutra.

Ela entrecerrou os olhos através da suave chuva cinza, olhando a ambos os lados da estrada.

— Não vejo o cavaleiro, talvez o cavalo se extraviou...

— Pense o que quiser — disse o ancião com impaciência, entregando as rédeas à sua esposa.

— Devo limpar o caminho se quiser ver-me deitado em casa esta noite. — Com isso, desceu da carruagem e se aproximou do cavalo. Embora falou com suavidade, o animal afastou-se dele arrastando as rédeas no barro.

— Fique aqui, Sra. Hubbard — disse Sarah, caminhando com cuidado sobre o banco do condutor. Parece que ele pode necessitar da minha ajuda.

As palavras da Sra. Hubbard, "uma garota tão boa", seguiram-na enquanto descia, recolhia a saia com os punhos para evitar que se danificasse a barra, mas o barro estava perto e sugou suas botas, freando seu progresso e ameaçando seu equilíbrio. A égua relinchou e sacudiu a cabeça para evitar as mãos do senhor Hubbard. Sarah a observou aproximar-se de um matagal de faia e bordo do campo no lado direito do caminho.

— Tome cuidado — Sarah cantarolou enquanto caminhava em sua direção para interceptar a égua assustada. — Não desejaria danificar esse formoso casaco, não é? — Quando se aproximou dos pés do animal, o cavalo de repente se voltou e saiu disparado entre os arbustos, descendo por um caminho pouco profundo antes de deter-se debaixo de uma árvore robusta.

Os olhos de Sarah se encontraram com os do senhor Hubbard, quem se encolheu os ombros e se dirigiu à carruagem, se girou para onde estava o cavalo que estava empurrando algo no chão.

Ao longe ouviu que o senhor Hubbard a chamava, levantou um dedo, logo se dirigiu para a beira do caminho onde a erva e as trepadeiras espinhosas tinham começado a entremeter-se. Protegendo os olhos da chuva persistente, esticou o pescoço e entrecerrou os olhos entre as folhas. O cavalo movia algo marrom e pesado, dada a resistência do objeto aos seus movimentos e parecia estar coberto em.... tecido.

— Senhor Hubbard! — Assinalou freneticamente antes de apartar densas sarças e começar sua descida para a base da árvore. — Venha rápido! — Deslizando pela encosta, segurando uma árvore para estabilizar-se. Logo ela se aproximou do objeto que o cavalo tinha estado empurrando; jazia muito quieto ao lado do largo e extenso tronco da árvore, coberto com um casaco marrom de lã. Tinha medo de tocá-lo. Movê-lo. Porque, sem dúvida, era um homem, morto ou dormindo profundamente.

— Senhor — ela disse, esperando que sua voz o despertasse. Mais enfaticamente, não queria tocar um homem morto. Só a ideia a fez estremecer pior que cinco dias de chuva fria. — Senhor, encontra-se... mal?

Não cheirava a morto, os únicos aromas ao seu redor eram os da chuva, umidade, chão argiloso, cavalo úmido e folhas lavadas. Atrás dela ouviu o ruído do Sr. Hubbard blasfemando enquanto abria passo entre o matagal. Relutante a que o velho fazendeiro fosse testemunha de sua covardia, agarrou a parte superior do braço do homem. Os músculos debaixo da lã eram quentes e bastante firmes, mas ele permaneceu imóvel.

— Está respirando? — O senhor Hubbard perguntou atrás dela.

Ela sacudiu sua cabeça.

— É difícil dizer. — O homem estava deitado de barriga para baixo, com a cabeça virada e o chapéu caído torpemente sobre seu rosto, o braço que ela havia tocado estava metido protetoramente contra seu flanco, o pulso exposto estava em carne viva e descolorida e coberto com sangue seco. Alto e magro, estava sujo e bem vestido, seu casaco era de lã fina e penteada, comum em cavalheiros da alta sociedade. Estava úmido e manchado de barro.

Com cuidado, aproximou-se e se agachou para lhe tirar o chapéu de aba larga e estranhamente desmantelado, revelando cachos dourados pálidos. Ofegou, tropeçando para trás com o senhor Hubbard.

— Maldição — murmurou o velho. — Este foi pisoteado por uma equipe de arados ou paquerou muito com a esposa de um ferreiro.

De fato, seu rosto era um desastre manchado onde a carne estava grotescamente inchada, havia vários tons de negro e amarelo. Em poucos lugares preciosos não estava machucado nem esmigalhado, a pele estava pálida.

Ela voltou para seu lado.

— Se pudermos levá-lo à carruagem, talvez...

— Bem, senhorita Battersby — interrompeu, assinalando ao homem estendido. — Isto aqui é um problema e não do tipo que uma garota fina como a senhorita deveria lutar, sua carga é suficientemente pesada sem que um estranho adicione suas misérias.

Apertou a boca e levantou o queixo.

— Meu pai não me educou para ignorar a difícil situação dos necessitados.

Olhou-a com os olhos entrecerrados, ajustou-se o chapéu e soprou.

— Muito bem, então. — Ele assentiu com a cabeça para a égua. — Traga-a aqui, necessitaremos de sua ajuda.

Tomou quase uma hora, mas usando uma corda previamente empregada para assegurar a carga da carruagem, envolveram-na sob os braços do estranho, alavancaram-no sobre uma extremidade baixa e conseguiram subir seu corpo no cavalo. Logo levaram o cavalo de volta à estrada e o colocaram na parte traseira da carruagem, dali o Sr. Hubbard deu um puxão e deslizou o homem ao longo do piso da carruagem, arrastando-o até onde Sarah estava sentada com uma manta. Não era muito, e longe de ser cômodo, mas ao menos podiam transportar o homem inconsciente a um lugar seguro.

— Isto poderia lhe fazer mais dano que bem — o ancião ofegou enquanto baixava para assegurar o cavalo à parte traseira da carruagem.

Sarah levantou a vista, estava sentada no chão com a cabeça dourada do homem em seu regaço enquanto examinava seu rosto inchado e descolorido. Delicadamente ela apartou o cabelo de sua testa, surpreendentemente fino e sedoso.

— É quase seguro que tivesse morrido se o tivéssemos deixado aqui, senhor Hubbard.

— É provável que de todos os modos o faça.

— Ao menos não será devido a nossa insensibilidade.

A carruagem se sacudiu quando o velho fazendeiro voltou a subir ao banco do condutor. A Sra. Hubbard lhe entregou as rédeas e comentou sobre seu ombro: — Tem razão, senhorita Battersby, a Bíblia não elogia o bom samaritano porque "seguimos" é um caminho.

Nesse momento o homem ferido gemeu, sua cabeça retorcendo-se contra a coxa de Sarah.

Não despertou, mas Sarah tomou o movimento como um bom sinal.

— Sim — queixou-se o Sr. Hubbard, incentivando seus cavalos a avançar com um puxão. — A Bíblia menciona um unguento para o traseiro machucado de um homem? Porque quando chegarmos a Keddlescombe terei uma grande necessidade de tal cura.

~~*~~

Sua cama se balançou e rangeu como um navio sobre o oceano ao romper as ondas, possivelmente havia viajado uma vez mais a Liverpool, possivelmente estava a caminho da América neste mesmo momento. Ao longe ouviu um sopro equino e o golpe úmido e palpitante de cascos, a menos que estivesse deitado na adega com os cavalos, de fato, não estava no mar ao menos, não corporalmente.

Dedos brandamente passavam através de seu cabelo, cada centímetro lhe doía: a cabeça, o rosto, as costelas, os ombros e os pulsos. Mas aquele toque provocou emoções inesperadas de prazer que começavam em seu couro cabeludo e desciam por sua pele.

Com grande esforço obrigou seus olhos a abrir, a luz era um borrão opaco, amarelado, arranhado com madeira marrom piscando várias vezes, o borrão começou a acalmar-se em uma tela.

Era um tecido estendido sobre ele e o assobio era o som de chuva. Aqueles dedos doces e suaves brincavam com seu cabelo, sua cabeça estava elevada, seu pescoço embalado contra algo suave, mas firme, embora lhe doeu, virou a cabeça. Amplos olhos dourados se encontraram com os dele, os lábios suaves e arqueados se arredondaram em um “O”.

— Está acordado! — Ofegou.

Sim, estava acordado com a cabeça apoiada no regaço de uma mulher, ao que parecia. Quando tinha morrido? Syder... tinha sido capturado pelo Syder, golpeado, torturado e interrogado. E logo... jogado pelo Benning, tinha viajado ao sudoeste, à propriedade de um amigo, um lugar seguro, tinha pensado, mas só cavalgou dois dias antes de desabar sob uma árvore.

— Um anjo? — Soltou a palavra formando uma pergunta.

As pontas de seus dedos acariciaram seu cabelo enquanto os olhos cor mel e ouro sorriam ironicamente.

— Não, sou muito humana, temo.

Sem pensar, seu olhar deslizou de seu rosto aos seus seios cheios. Ela limpou a garganta e deteve os dedos.

— Talvez gostaria de um pouco de água. Pode sentar-se?

Ele suspirou, não desejava sair do regaço daquela mulher, porque não podia estar seguro de estar vivo. Ele assentiu, entretanto com sua ajuda, ficou de flanco e se levantou. Seus braços e ombros picaram com uma dor tão intensa que quase se derrubou, pontos brilhantes dançando em sua visão. Mas ela estava ali, seus braços surpreendentemente fortes apoiando-o contra uma caixa de madeira.

— Aqui — disse ela, sustentando um frasco em seus lábios, a água fria desceu pela garganta ao primeiro gole, seu corpo se voltou tão ambicioso que quase se afoga. Ela se acertou de imediato, controlando o fluxo para ele automaticamente, sua mão levantou o final onde ela sustentava o frasco. — Lentamente, agora — murmurou, sua voz tranquila e baixa o suavizava, o tranquilizava.

Depois de beber estava fraco como um gatinho recém-nascido, seus braços quase inúteis, sua visão uma névoa com manchas negras, todo seu corpo cheio de feridas de diversos graus. Sem querer ele deslizou para ela, sua cabeça no ombro vacilou, e um momento depois seu nariz foi enterrado na suave lã sobre uma pele mais suave, seus peitos gemeram.

— Engraçado — ela murmurou, suas mãos embalando seu pescoço e levando-o ao seu regaço.

O mundo se obscureceu. Quando voltou à luz, uma vez mais ela estava acariciando seu cabelo, desta vez distraidamente enquanto falava com alguém.

— ... um pouco de água, mas não sei mais o que fazer.

Uma voz rouca e masculina respondeu: — Não deve lhe dar muito ou se afogará.

Logo, uma terceira voz, de mulher de idade avançada, aconselhou: — Mantenha-o abrigado enquanto dorme, quando chegarmos ao povoado poderemos zelar melhor por sua comodidade.

Ofegando e desorientado, tentou abrir os olhos de novo. Ela estava ali, uma garota dourada acariciando seu cabelo.

— Para onde, — disse — para onde me leva?

Seus dedos se detiveram e se acomodaram contra seu couro cabeludo.

— Ao nosso povoado, Keddlescombe, no leste de Devonshire, chegaremos em poucas horas.

Não respondeu, seus olhos se fecharam quando os sons da chuva, cavalos e rodas de madeira estridentes se desvaneceram e desapareceram.

— ...preferiria outro lugar? Qual era seu destino?

Sua voz, tão tranquila e firme fez-lhe querer olhá-la, com seus olhos cor mel, seu queixo delicadamente bicudo e seu nariz inclinado para cima. Ela não era formosa, ele havia possuído mulheres incrivelmente formosas, mas ela o atraiu, esta mulher cuja carne suave e firme afastava a dor e o convidava a refugiar-se.

Ele não podia adverti-la.

— Sou...

Ela esperou enquanto ele recuperava o fôlego.

— Sim, você é...

— Estou... perigo.

— O que ele disse? — Perguntou o ancião.

— Ele está em perigo — ela respondeu.

Tentou protestar, mas não saíram mais palavras, nunca tinha estado tão débil, seus músculos pesados e doloridos, sua cabeça palpitava.

— Bom, a gente poderia supor — comentou a anciã. — Me pergunto se foi atacado por ladrões, mas porque não se interessaram por sua roupa?

— Ou botas, poderiam valer ouro — opinou bruscamente o homem.

A menina de mel não disse nada, eles não entendiam. Tragando contra uma garganta seca, sussurrou: — Vá embora.

Inclinou-se mais perto, voltando a orelha à sua boca. Cachos dourados que tinham escapado de suas forquilhas enroladas fortemente perto de sua cabeça, criando um halo um dos mais longos se esfregou contra sua bochecha.

— Deixa-lo — ela soava divertida. — Para onde quer ir?

Tentou sacudir a cabeça, mas o movimento foi leve.

— Deixe...-me.

Endireitou-se e se voltou para encontrar-se com seus olhos, um brilho apareceu nos dela, o ouro voltou-se duro e feroz.

— Não o deixarei, senhor, disso pode estar seguro.

À medida que aumentava sua frustração tirava ar de seus pulmões com determinação.

— Não me entendeu, deve... me deixar. Estou... — ofegou reunindo forças que não sabia de onde.

A luz ao seu redor já estava obscurecendo.

— Sou um perigo para você.

Permitiu que seus olhos se fechassem, lutando por manter-se acordado, para explicar por que ela deveria correr o mais longe possível dele. Mas de algum jeito não pôde transmitir sua mensagem corretamente. Em lugar de prestar atenção e ordenar ao ancião que se detivesse e retirasse-o de sua vista, ela simplesmente se endureceu, os músculos de suas coxas se esticaram sob seu pescoço.

— Não — disse ela, sua voz entrando através de uma névoa cinza. — É o senhor quem entende mal.

As últimas palavras que escutou antes que todo som retrocedesse fizeram pouco para aliviar sua mente, mas suspeitava que não era sua intenção. Pois tinha visto em seus olhos antes, sua declaração final foi uma declaração de verdade sem verniz: — Escute, agora está aos meus cuidados. Não o deixarei, e isso é tudo.


CAPÍTULO 3

“Ser brando de sentimento tem numerosas causas, mas só um resultado: a calamidade”.

A marquesa viúva de Wallingham a Lady Berne ao escutar os planos da dita mulher de adquirir um gato.

— Em que estava pensando? — Eleonor Battersby disse à sua filha. — Dificilmente podemos satisfazer nossas próprias necessidades.

Chegaram ao povo muito tarde nessa noite, e passava da meia-noite quando o estranho se instalou no dormitório de Sarah. Utilizando a manta para movê-lo, Sarah, o senhor Hubbard e a mãe de Sarah conseguiram levar o homem inconsciente ao quarto. Juntos tiraram o casaco e as botas e logo desembrulharam o lençol rígido de suas costelas, onde encontraram sinais óbvios de que o tinham cortado várias vezes com uma faca afiada, deixando ao descoberto os músculos e os ossos. Depois da advertência do Sr. Hubbard de que as feridas do homem e os sinais de união ao longo de seus pulsos indicavam tortura, todos tinham acordado em guardar silêncio sobre sua visita inesperada, ao menos no momento.

Agora, os Hubbard haviam partido, e Eleonor estava de pé a um lado da estreita cama, com sua camisola branca brilhando à luz da lanterna, uma expressão que Sarah não tinha visto frequentemente desde a infância.

— Tem uma resposta?

Incapaz de olhar a sua mãe aos olhos, Sarah se ocupou de escorrer um trapo no lavabo.

— Ninguém conhece nossas dificuldades melhor que eu, mamãe. Que mais devia fazer? Deixá-lo morrer?

Eleonor cruzou seus braços sobre seu peito.

— Poderia havê-lo deixado em Littlewood, na estalagem dali, As Raposas e os Galos.

— São As Raposas e as Aves — Sarah a corrigiu distraidamente, alisando o pano úmido sobre sua testa, o homem tinha acumulado uma grande quantidade de imundície ali. — E a quem importaria? Quem pagaria por seu alojamento?

Aproximando-se da cama, Eleonor agarrou o antebraço de Sarah.

— Tudo o que fazemos deve ser considerado cuidadosamente, agora temos pouco espaço para o erro, acreditei que sabia.

Sarah se endireitou, deslizando seu braço através do agarre de sua mãe até que pudesse pegar sua mão.

— Sim — espremeu o pano antes de recuperar seu braço e inundar o tecido no lavabo de novo.

— Este comportamento impulsivo não é comum em ti, filha, e é do mais preocupante.

Com as costas rígidas Sarah limpou o rosto do homem com toque ligeiro, cuidando da pele inchada e machucada ao longo de seus olhos e bochechas.

— Não é menos do que papai teria feito e eu o chamo um ato de misericórdia cristã 'impulsivo'.

— Então me explique como justifica inventar um compromisso falso, declarando-o ante toda a aldeia como algo que não é impulsivo.

O calor da vergonha floresceu sob sua pele, não tinha resposta, além de seu ódio permanente pelo senhor Foote, é claro.

— Meditei muito.

— Manteve-o à raia até agora, não é assim? — Eleonor rodeou o pé da cama para parar ao seu lado. — Foi uma mentira, uma mentira muito pública e claramente poucos acreditam, embora a maioria entende nossas razões. Mais que ninguém, seu pai e eu desejávamos que não se casasse por outras razões que não sejam o amor, mas deve fazê-lo, Sarah você sabe. Quando ele se for...

— Por favor, não fale disso, mamãe — suplicou com voz rouca.

A mão de sua mãe se pousou em seu ombro.

— Quando seu pai morrer perderemos tudo. Perderemos nosso lar e a escola também.

Sarah sabia que estava certa, o padre que tinham contratado para realizar os deveres da igreja de seu pai não tinha nenhum interesse em manter uma escola para meninas. Por agora, ao ter pago ao jovem e ambicioso Sr. Dunhill pelos escassos ganhos de seu pai, controlaram suas decisões com respeito à propriedade da igreja. Mas ele tinha apelado ao bispo para ser renomado como o novo vigário depois da morte de seu pai, uma vez que o Sr. Dunhill fosse vigário decidiria o que fazer com a antiga abadia, e tinha deixado claro que considerava que a Academia de St. Catherine para meninas de impecável comportamento era uma distração que não produzia suficientes ganhos para ser digna de sua atenção. De fato, pretendia que a abadia se convertesse em sua nova residência e a casa de campo no lar dos pais de sua esposa.

Nem Sarah nem Eleanor invejavam o Sr. Dunhill por ter direito às suas decisões. No entanto, essas decisões as deixariam sem lar nem ganhos. Sarah sabia há meses que devia assegurar um posto ou casar-se, e o Sr. Foote se havia convertido em sua única opção de marido.

— Não posso me casar com ele, mamãe, não posso.

A mão de sua mãe acariciou seu cabelo, as calosidades em seus dedos se engancharam nos cachos rebeldes.

— Tampouco pode se casar com um homem que não existe, Sarah, sua mentira não te protegerá por muito tempo.

Virou-se para olhar Eleonor aos olhos, apesar de todas as similitudes que ela e sua mãe compartilhavam, o cabelo rebelde e encaracolado, castanho claro, o queixo bicudo e o nariz arrebitado, seus olhos eram diferentes. Os de sua mãe eram verdes, resignados e obscurecidos pelas cargas que devia suportar.

— O que aconteceria se não fosse a mentira? — Sussurrou Sarah. — Pelo menos parece que tenho tempo suficiente para assegurar uma nova posição.

Eleonor suspirou e negou com a cabeça.

— Uma nova posição depois de dois anos de investigações fracassadas. — Riu entredentes secamente. — Seu pai é o crente nos milagres, Sarah, eu não.

— Um mês, possivelmente dois, isso é tudo o que necessito. Ann Porter disse que sabe de uma escola em Sussex...

— Não temos um mês ou dois.

O coração de Sarah se apertou dolorosamente, sua garganta se esticou.

— Por favor, não diga isso.

— Sabe o que seu pai comeu ontem? Uma casca de pão, nada mais, nos deixará logo.

— Por favor...

O braço de Eleonor se envolveu ao redor dos ombros de sua filha, sacudindo-a e estreitando-a simultaneamente.

— Minta aos outros, se for necessário, a mim inclusive, mas não engane a si mesma.

— Não posso casar com ele. Sabe que classe de homem é.

— Sim, sei também que se não o aceitar prometeu aumentar as rendas daqueles que não podem permitir-se, o Sr. Hubbard, o jovem senhor Lovejoy, te tem em um apuro, filha.

Durante longos minutos balançaram-se juntas, seu profundo cansaço as balançava como uma mãe balança a um bebê. Sarah deixou cair a cabeça para frente e deixou que o tecido se deslizasse pela curva da terrina de porcelana até converter-se em água, agora manchada de terra e sangue.

— Por favor, mamãe, só... — tragou saliva. — Por favor, me deixe tentar.

Sua mãe lhe deu um último apertão antes de soltá-la.

— Muito bem — Eleonor pegou o pedaço de roupa de cama limpa que tinha arrancado de um lençol velho, tinha-o dobrado para o lado oposto do homem inconsciente e lhe passou um dedo experimental pelas feridas. Os cortes eram vermelhos nas bordas e derramavam sangue lentamente, não estavam curando bem por si mesmos.

— Necessitaremos de um nome para seu misterioso pretendente, enviá-la a Londres com os Hubbard a coloca além do alcance da intriga e da especulação por um tempo, mas os aldeãos já suspeitam da sua mentira, e isso se converterá em um problema logo. — Empurrou e pressionou, logo, sem levantar a vista, estendeu a mão, seus dedos se agitaram. — Pano.

Automaticamente, Sarah obedeceu, retorcendo o tecido úmido e pondo-o na palma de sua mãe.

— O Senhor Foote é um homem ardiloso, detestável, concedo-lhe isso, mas razoavelmente preparado, se quer enganá-lo devemos nomear alguém real e acreditável — continuou Eleonor, limpando o sangue. O homem não se moveu, felizmente parecia completamente alheio aos cuidados de sua mãe. — Alguém por quem tivesse tido oportunidade de desenvolver uma amizade.

Assentindo, Sarah recuperou o fio e a agulha que sua mãe tinha recolhido antes e o colocou em sua mão estendida.

— Estou de acordo.

Eleonor ficou a trabalhar costurando a carne do homem, com a agulha cravando e perfurando.

— E essa pessoa deve estar o bastante longe para não se inteirar de sua enganação.

— Ou um participante disposto — Sarah pegou o candelabro e o sustentou sobre as feridas do homem.

A mão de sua mãe se deteve depois de apertar um dos nós. Jogou uma olhada ao rosto de Sarah, logo aos rasgos machucados e distorcidos do homem inconsciente, e logo à Sarah, suas sobrancelhas se levantaram ao dar-se conta ao amanhecer.

— Oh, filha. Este seu plano é muito improvável.

— Acredito que poderia funcionar.

— Mesmo se ele se recuperar.

— Fará.

— Não sabe quem é, poderia estar casado.

— É possível — suspirou Sarah. — Mas não necessito que se case comigo, só que diga que estamos comprometidos por um tempo.

— O que te faz pensar que aceitaria tal coisa? É um homem de recursos. — Eleanor agitou sua mão livre para o casaco que tinha sido colocado sobre uma cadeira de madeira no canto. — Não temos nada a oferecer.

— Neste momento — replicou Sarah — necessita-nos desesperadamente.

Reatando seus pontos, Eleonor sacudiu levemente sua cabeça.

— A gratidão é um meio precário para empenhar suas esperanças, Sarah, não sabe nada deste homem. Estas feridas não são arranhões causados por ter sido jogado de seu cavalo. O que acontece se ele for perigoso, um criminoso ou... um canalha?

Sarah olhou o peito nu do homem, tomando a constante ascensão e baixada de sua respiração como um sinal positivo.

— Pedirei que minta por mim —sentou-se na beira da cama, seu quadril golpeou brandamente seu braço, sua mão livre apartou o cabelo da testa. — Um canalha. — Ela sorriu através de seu cansaço. — Espero que sim.

~~*~~

Clack, tap. Clack, tap. Clack, tap. Hannah sentiu um arrepiou na nuca ao escutar o som das botas aproximando-se da porta. Clack, tap. Clack, tap. Paciente e medido, os sons, entretanto, fizeram-se mais fortes, mais fechados, pontuados com a nitidez de sua fortificação.

Ela se sentou muito quieta, o livro pesado contra suas coxas. Clack, tap. Clack, tap, a maçaneta girou-se, escutou o pequeno chiado, sentiu o assobio do ar em sua abertura.

Clack, tap. Clack, tap.

Seus olhos permaneceram fixos na página que já não podia ver.

— Bom dia, Hannah. — Sua voz era suave, cálida. Ela o tinha escutado falar com os outros e sabia que, com ela, ele era diferente. Uma mão acariciou brandamente seu cabelo uma vez, duas vezes. — O que é que está lendo?

Ele sempre queria saber.

— Os sonetos de Shakespeare — ela respondeu.

Outra carícia em seu cabelo, logo um divertido: — Acredito que já os tem todos memorizados.

— Tenho-os, eu gosto de ver as palavras.

Com um "humm" tranquilo ele se sentou na cadeira junto a ela, girando sua bengala entre seus dedos.

— Não deve descuidar sua matemática, Hannah, a poesia é edificante para a natureza humana, mas se requererá um profundo conhecimento das somas para administrar as contas de algum jeito, os números também podem te dizer muito sobre a natureza humana.

Ela não respondeu, em lugar disso tocou a página e lutou por manter sua respiração lenta e regular.

— Por exemplo, — disse, seu tom era o de um instrutor — recentemente descobri um desequilíbrio em um dos clubes, uma coisa menor, realmente. Deu-me curiosidade, então quando dei um puxão ao fio, sabe o que encontrei?

Ela sacudiu sua cabeça.

— Um homem ao qual acreditava leal tinha estado enchendo seus bolsos. Imagina. — Riu entredentes. — Naturalmente, desfiz-me dele, ao me roubar, ele te rouba, não posso permitir isso.

Controlar suas reações se voltou automático ao longo dos anos, já que as consequências de o provocar resultaram muito custosas. Mas cada vez que falava assim, como se as coisas que fazia fossem tão normais como tomar uma xícara de chá, seu estômago se contraía e se adoecia. Felizmente suas visitas tinham sido menos frequentes ultimamente.

— Estas são as lições que deve aprender, não faço nada para mim mesmo; tudo é para ti, Hannah, um dia entenderá que as ameaças devem ser identificadas rapidamente, do contrário apodrecem e se voltam intransigentes. — A bengala golpeou uma vez no silêncio, causando um estremecimento que ela imediatamente afogou, reatou seu lento giro daqui para lá. — Nos últimos meses tive oportunidade de vê-lo novamente com meus próprios olhos, um novo inimigo apareceu, não é para preocupar-se, sua ameaça é débil e frívola. Entretanto, assim como os números desequilibrados, essa ameaça é um fio que se pode seguir.

A mão acariciou seu cabelo, ela manteve seus olhos nas palavras, manteve suas mãos e corpo imóveis.

— É meu tesouro, querida Hannah, minha determinação de te proteger é firme. — A mão se afastou com um suspiro. — Matemática aplica sua notável mente àqueles temas que lhe servirão. — Levantou-se da cadeira com um golpe de sua bengala e um ligeiro roce de seu casaco. — Por agora, seu querido papai trabalhará para seguir os fios que podem danificar a tapeçaria. — Seus passos se retiraram. Clack, tap. Clack, tap. Clack, tap. O chiado da maçaneta, a rajada de ar. — E, uma vez que os encontre, os cortarei com uma força rápida e intransigente.

~~*~~

Sarah despertou com um grito afogado, com o coração revoando dentro de seu peito, o sonho tinha chegado de novo, ela apertou os lábios para aprisionar os gemidos que tinha dentro, cada vez era pior, requerendo um maior esforço para recuperar sua compostura.

Deu a volta, colocou o dorso da mão sobre a boca e ficou olhando para a janela, era difícil ver algo mais que o céu de sua posição no piso. A luz de antes do amanhecer pintava o mundo de um azul escuro enquanto as estrelas se pegavam como o pó a uma cortina, a saída do sol chegaria em uma hora, poderia voltar a dormir, o bom Deus sabia que seu corpo necessitava do descanso. Apertou os olhos, não, algum dia talvez pudesse se permitir o luxo de dormir toda a noite, mas hoje não era esse dia.

Um ofego, um rangido e o rangido da roupa de cama atraíram sua atenção para o homem em sua cama, era estranho pensar nele. Ela nunca tinha sido beijada, não a sério, de todos os modos, certamente os intentos de Bertie Lovejoy não contavam, já que ambos tinham doze anos e estavam sujeitos a um desafio de Ann Porter. Entretanto, segundo seus cálculos, nunca havia sido beijada por um homem, e agora um muito peculiar jazia em sua cama.

Sua respiração mudou, acelerou-se, apertando suas mãos contra o marco da cama, se sentou para olhá-lo. Seus olhos, menos inchados que ontem, abriram-se para encontrar-se com os dela, eram azuis, rodeados de vermelho em lugar de branco.

— Você, ainda está aqui.

Levantou-se para parar ao seu lado, alisando a saia de sua bata branca.

— Sim. Como se sente?

Ele fez uma careta e imediatamente ignorou sua pergunta.

— Matilda.

Ela piscou e sacudiu a cabeça.

— Sarah, — ela corrigiu. — Sarah Battersby, ontem o trouxemos para o nosso povoado. Está em minha casa. Lembra-se? É... Matilda é sua esposa?

Fechando os olhos por vários segundos, pareceu estar se recuperando. Possivelmente não podia ver muito bem, isso sem dúvida explicaria porque a confundia com outra mulher, ou sua cabeça poderia ter sido danificada severamente, sua mente estava confusa.

Seus lábios se crisparam e se esticaram.

— Matilda. Meu cavalo. Está ... a salvo?

— Seu cavalo? Oh! Sim, ela está sob o cuidado do Sr. Hubbard, seu estábulo é bastante bom.

— Alivia-me sabê-lo.

Por que ela teve a impressão de que estava sendo sarcástico? Alisou seu rebelde cabelo, que estava um pouco alvoroçado e confinado pela trança sobre seu ombro, logo se obrigou a unir seus dedos sobre seu ventre.

— Necessita de algo? Água? Caldo, talvez... Ainda é cedo, mas...

— Um urinol, senhorita Battersby, isso seria muito bem-vindo.

Tomou um minuto completo para que o rubor da vergonha subisse e florescesse. Tragou saliva, logo assentiu e olhou para outro lado. Limpou a garganta, tropeçou quando seu colchão de mantas se enredou em seus pés.

— E-ah, sim tenho um. — Assinalou o biombo que servia para dar privacidade em um canto da pequena habitação. — Posso o trazer, se quiser.

Rodou e se retorceu sobre um cotovelo, ofegando, quando o movimento esticou sua pele ferida e os cuidadosos pontos de sua mãe.

Correndo ao seu lado o advertiu: — Deve ter mais cuidado, seus ferimentos são profundos.

Enquanto deixava as mantas a um lado e deslizava uma perna até o chão, grunhiu: — Não necessito que me conte sobre meus ferimentos, senhorita Battersby.

Endireitou-se, com as mãos plantadas nos quadris.

— Não. Me pareceu que a razão pela qual está aqui é porque subestimou sua gravidade.

Ele grunhiu entredentes enquanto se sentava na beira da cama com a camisola agora lhe roçando os joelhos, preparou-se para ajudá-lo, alcançando seu antebraço nu.

Instantaneamente ele se apartou, a cabeça dourada e encurvada se inclinou enquanto reunia sua resolução para ficar de pé.

— Outra coisa que não necessito. Ajuda para mijar.

Bom, pensou, levantando o queixo, parece que mamãe estava certa a gratidão é uma extremidade frágil, de fato.

Entretanto, entendendo o orgulho melhor que a maioria, ela simplesmente assentiu e deu um passo para trás, dando-lhe espaço para levantar-se. Também conhecia os limites de sua força, por isso se manteve perto, a só uns metros de distância, com os braços cruzados debaixo de seu peito, as costas apoiadas contra a parede de gesso.

— Maldição — murmurou, os músculos de seus braços tremiam visivelmente enquanto apoiava suas mãos na beirada do colchão e tentava suportar parte de seu peso. Relaxou caindo de costas sobre a cama, ofegando como se acabasse de levantar um cavalo.

Ela esperou, um dedo golpeando seu braço oposto.

Tentou de novo, com os músculos tensos, os cotovelos tremendo enquanto se inclinava para frente, forçando-se a ficar de pé com um gemido agônico. Sua posição de pé, mais de cócoras, na realidade, não durou muito, já que a debilidade o fez cambalear e caiu para ela.

— Ooph!

Seus braços apanharam a maior parte de seu peso enquanto se desabavam contra a parede, mas a repentina pressão do corpo do homem que a esmagava quando tentava apanhá-lo lhe tirou o ar dos pulmões. Cálida e nua pele coberta de cabelo rangente pressionou sua bochecha, logo se deslizou para baixo até que seu nariz foi enterrado contra sua garganta. Ele estava tremendo por todos os lados, ela tentou empurrar contra seu peito, mas foi em vão, por ser um homem magro, era terrivelmente pesado.

— Dyah enk iss pozbul para mff a bih?

Seu peito estava agitado, o suor lhe corria pela garganta com a tensão de permanecer erguido.

— O-o que disse? — Ofegou, sua própria testa pressionada contra o gesso e seu ombro.

— Não posso respirar.

— Oh, de acordo. — Um de seus braços se dobrou, o que lhe permitiu deslizar de lado para a parede. — Melhor?

— Sim — ela deslizou seus braços ao redor de sua cintura, tomando cuidado de não perturbar os cortes ao longo de suas costelas, e aplanou suas mãos sobre os músculos de suas costas.

Ele ficou rígido.

— Em outro momento, — disse, com a voz tensa e afiada — responderia ao seu... afã com vigor abundante, neste momento, entretanto, confesso que a sedução não é o que mais me importa.

— Sedução? — Chiou.

— Não é para preocupar-se, me recupero rapidamente. — Ele deslizou um dedo tremente por sua bochecha, o tato ligeiro causou sensações perturbadoras que dançavam ao longo de sua espinha dorsal. — Dentro de um dia, mais ou menos, deverei estar em condições de lhe agradecer adequadamente.

— A...gradecer?

— Mmm, é bastante atraente —olhou-a com os olhos ainda inchados e machucados, mas faiscando com uma chama azul brilhante. — Estou muito ferido, mas então, quanto mais apertada é a espiral, mais potente é o lançamento.

Mal entendia uma coisa do que estava dizendo, entretanto, seguiu olhando-o dos pés até a cabeça, sentindo um calor agudo, que fazia com que o ar da habitação não fosse suficiente para satisfazer seus pulmões.

— Senhor — disse com firmeza como o faria com uma aluna descarada. — Estava tentando te ajudar.

Um canto de seus lábios se levantou.

— É claro que estava.

— Para te ajudar com o urinol — sua voz era clara e nítida, cada palavra enunciada com precisão de corte.

Tanto seus lábios como seus olhos perderam o sorriso.

— Ah, sim. — O mesmo canto de sua boca se elevou de novo, mas desta vez o sorriso foi irônico, como se agora risse de si mesmo. — Perdoa minha rabugice, um velho hábito, se poderia dizer.

— Vamos — disse energicamente, deslizando um braço ao redor de sua cintura e levantando seu braço sobre os ombros. Parecia à altura adequada para atuar como sua muleta. — Te ajudarei a chegar ao lugar.

Ele desabou contra ela enquanto se cambaleava, afastando-se da parede seus joelhos se dobraram e quase ofegou ante o peso repentino, mas durou só uns segundos antes de grunhir e levar a maior parte da carga sobre suas próprias pernas debilitadas. Ficaram balançando-se por um momento, ele a usava para manter o equilíbrio, mais que força.

— Está bem — disse. — Se apoie em mim, estou acostumada a cargas pesadas.

Sua cabeça caiu para diante enquanto foram lentamente para o canto coberto.

— Está insinuando que sou gordo?

— Não!

— Porque algumas mulheres preferem um cavalheiro corpulento, ou isso me disseram.

— Oh, pelo amor de...

— Presumivelmente, confundem fortes apetites de um tipo com os de outro ou talvez é simplesmente uma afeição pelo cheio.

— Acredito que sua mente pode estar confusa.

Fizeram uma pausa enquanto se moviam para a pequena área atrás do biombo.

— Sem lugar a dúvidas — disse. — Mas já a tinha confusa antes das lesões.

Ela desembrulhou seu braço ao redor de seus ombros e se agachou para colocar sua mão contra a parede.

— Pode... — tragou saliva e pigarreou, assinalando na direção da cadeira de madeira que seu pai tinha desenhado para usá-la com o urinol debaixo. — Pode se arrumar sozinho, ou... — embora ela se negou a olhá-lo aos olhos, viu como sua mão livre se enganchava sobre a queda de suas calças de montar, a cintura se afundou mais abaixo expondo os músculos magros e definidos de seu ventre inferior. Não estava gordo, refletiu, não estava gordo absolutamente.

— Se não puder então me atrevo a dizer que temos maiores problemas que uma mente confusa.

Sua voz era um rico barítono rugosa pelo sono, levou seu olhar à sua boca, e ele sorriu zombeteiramente. Tinha uns lábios lindos, surpreendentemente intactos comparados com o que lhe tinham prejudicado os olhos e as bochechas. Eram firmes em lugar de cheios, definidos nas bordas e curvados ligeiramente para cima nos cantos, claramente, a sua era uma boca que sorria facilmente e com frequência.

— Senhorita Battersby.

Gostava da forma em que dizia seu nome, a dicção aristocrática era nítida, enquanto o tom era quente e suave, como a manteiga derretida empapando uma casca dura.

— Geralmente não me oporia a agradar os desejos mais peculiares de uma dama.

A forma em que formou as palavras, com os lábios móveis e bem formados, arredondando e movendo-se ao longo das vogais, era fascinante. É claro, era provável que fosse a única parte de seu rosto que não lhe doía, então talvez isso explicava tudo.

— Entretanto, neste caso, devo protestar.

Piscando, ela repetiu: — Protestar?

— Sua presença vigilante enquanto eu faço minhas necessidades é um pouco indigna, temo.

Ela tropeçou para trás, seu ombro golpeando o biombo, agarrando-o cegamente para evitar que a coisa caísse, ela ofegou.

— Oh! Meu Deus!

Ele simplesmente sorriu como um demônio enquanto ela avermelhava de vergonha, não disposta a renunciar ainda mais à compostura, estabilizou o biombo e assentiu com firmeza, girando para a porta do dormitório.

— Eu... eu te trarei um pouco de caldo. Ah... e pão. — Girou a maçaneta, saiu da habitação e fechou a porta atrás dela com mais força que a necessária.

Fazendo uma careta ante o forte golpe, reclinou-se contra a madeira e se cobriu as bochechas com as palmas. — Como voltarei a olhá-lo?

O corredor vazio não respondeu, suspirou e se deu uns tapinhas no peito, logo abanou suas quentes bochechas e se dirigiu à pequena cozinha na parte dos fundos da cabana. O que deve pensar de mim? Perguntou às frias cinzas enquanto se inclinava para acender o fogo debaixo da panela porque, nunca olhou a um homem dessa maneira. É óbvio, a maioria dos homens que tinha conhecido estavam casados, ou suficientemente mais velhos para ser seu pai, ou tão familiares para ela que bem poderiam ter sido seus irmãos. Em Keddlescombe suas opções de companhia masculina eram poucas.

O Sr. Foote não contava.

O que a levou a sua terceira e mais premente pergunta: depois de tão humilhante interação, como, em nome do céu, digo a este estranho que atuará como meu prometido? Como o corredor vazio e as cinzas frias, a chama laranja que ardia sob a panela de ferro não respondia, e parecia que só ria.


CAPÍTULO 4

“Canalha parece ser a nova definição de 'galhardo' esta temporada.

Possivelmente pereça logo e economizarei a redefinição de 'regras' para incluir mendigos e vagabundos.”

A marquesa viúva de Wallingham a Lady Atherbourne em uma carta explicando as armadilhas das tolices românticas.

Quando Colin despertou no dia seguinte, a luz da tarde brilhava pela janela e a inimitável senhorita Battersby tinha desaparecido. Sua última interação tinha sido um ápice, com ela colocando uma tigela de caldo e uma fatia de pão sobre a mesa auxiliar e ele quase inconsciente, com a cabeça nadando depois de desabar de volta na estreita cama.

— Deveria comer algo antes de dormir — foi tudo o que disse antes de partir, com o rosto avermelhado e os olhos baixos.

Talvez não deveria havê-la incomodado assim, algo sobre sua atitude primitiva e seu discurso autoritário o provocou. Recordava todas as professoras que tinha tido, exceto que nunca tinha desejado beijar as suas professoras.

Atirando a um lado as mantas, conseguiu sentar-se e plantar os pés no chão de madeira rangente, a carne sobre suas costelas picava e puxava, mas não podia permitir que uma pequena dor o impedisse de ir embora. Ele era um perigo para ela, para qualquer um que o ajudasse.

Devia encontrar seu casaco e botas, encontrar Matilda, e logo completar a viagem ao seu destino original.

— Ah, vejo que está acordado.

Sua cabeça girou para a porta, ali, uma gêmea mais velha da senhorita Battersby estava parada, um montão de tecido dobrado entre suas mãos, um olhar severo em sua cara de duende.

— Deve ser a mãe da senhorita Battersby, não é?

— Mmm — ela afirmou. — E o senhor? Qual é o seu nome? Ou devo lhe chamar "estranho" ?

Vacilou antes de responder.

— Talvez isso seja o melhor.

Deu um passo adiante para colocar a pilha dobrada ao pé da cama.

— Um pouco de roupa para o senhor, do meu marido, há água e um pouco de sabão no lavabo.

— Obrigado.

— Parece estar muito melhor. — Seus olhos aterrissaram em sua mão, onde descansava sobre suas costelas. — Algum sinal de febre?

Nos dois primeiros dias depois de ter fugido de Londres, tinha tido febre, mas quando a senhorita Battersby o tinha carregado em sua carruagem, isso se tinha ido, substituído por uma fraqueza debilitante. Negou com a cabeça em resposta à pergunta da mãe.

— Estou melhorando, pareço tão bom que posso localizar meu cavalo e não a incomodarei mais.

A mulher apertou a boca.

— Vá embora quando o desejar, é sua escolha, naturalmente, entretanto minha filha não salvou sua vida, nem lhe curou as feridas, só para que morra por imprudência.

Piscou, desacostumado a ser castigado por uma mulher. De vez em quando, sua irmã o fazia, mas Vitória não tinha falado com ele em meses. Sua mãe tinha morrido fazia anos, e antes disso, mal podia incomodar-se em oferecer uma saudação, e muito menos uma repreensão. Fez um gesto para suas costelas.

— Esta foi sua obra?

Ela assentiu, seu queixo bicudo elevando-se.

— Tome cuidado e não se esforce muito, suas feridas são profundas e não curarão bem por si mesmas, deve manter os pontos de sutura intactos durante ao menos quinze dias.

— Agradeço-lhe, senhora, por sua amabilidade, por favor, transmita o mesmo a sua filha.

— Possivelmente deveria agradecer a ela.

Levantou-se, apoiando-se contra a mesma parede onde se derrubou contra a senhorita Battersby nessa manhã.

— Pensei que preferiria que houvesse uma distância entre um homem estranho e sua filha solteira. Não a preocupa que ela tenha dormido aqui ontem à noite?

O duro olhar da mulher se suavizou e cruzou os braços com uma pose estranhamente familiar.

— Sarah insistiu, negou-se a o deixar. — Ele soltou uma risadinha.

— Dei-me conta. — Transladando-se ao pé da cama, recolheu a pilha de roupa: camisa de linho, calças escuras. Objetos singelos e bem feitos que consertaram em numerosas ocasiões. — Onde está seu marido? Eu gostaria de lhe agradecer também por sua amável hospitalidade.

Seus ombros ficaram rígidos.

— Está adormecido.

Ele franziu o cenho.

— Não é um pouco cedo para...

— Tenho muito o que fazer — disse com aspereza. — O deixarei vestir-se e... — seu nariz se enrugou. — Bom, como disse, o sabão está no lavabo, e pode encontrar mais água no poço do jardim, tem guisado na cozinha, se por acaso quiser comer.

— Senhora Battersby. — Sua voz a deteve quando abria a porta. — Devo ir, e logo. Onde posso encontrar meu cavalo?

Sem voltar-se, ela respondeu: — Pergunte à minha filha. — Logo fechou a porta atrás dela como se a estivessem perseguindo.

— Demônios — murmurou, atirando a roupa de volta à cama antes de coxear para o lavabo. A teima infernal certamente era de família, já que as damas Battersby possuíam essa qualidade em abundância.

Deu uma olhada ao balde de água aos seus pés, o lavabo, e o pedaço de sabão caseiro colocado cuidadosamente junto a um pano, suspirou, eram obstinadas, mas também amáveis. A senhorita Battersby, Sarah, ele preferia pensar nela com esse nome, negou-se teimosamente a deixá-lo morrer. Tinha o cuidado obstinadamente, inclusive dormindo junto à sua cama... que não era dela, e sim uma que lhe tinha proporcionado, e pondo em risco sua própria segurança e reputação.

Olhando ao redor da pequena habitação notou alguns detalhes nos quais não havia reparado antes, o travesseiro na cadeira de madeira perto da janela estava bordado com pequenas flores e emoldurado com um babado. A colcha era um mosaico de tecidos, guingão, musselinas e algodões florais, tudo em tons lavanda, branco e amarelo, passou uma mão sobre elas, a costura fina, os tecidos estavam gastos, claramente reutilizados para um novo propósito, mas se tinha tido muito cuidado no desenho e na elaboração da colcha. A cama escura e de madeira era lisa, mas sólida e em bom estado, o colchão de plumas era volumoso e cômodo.

— Este é seu quarto, não é, doce Sarah? — Ele sorriu lentamente, vendo o lugar sob uma nova luz, porque deveria deleitá-lo ter dormido em sua cama, não podia dizê-lo, mas o fez. — Maldição — murmurou em uma conversação contínua consigo mesmo.

Sacudindo a cabeça tirou-se os calções sujos, pegou o tecido e o verteu no lavabo.

Ele precisava ir embora.

Esfregou vigorosamente a pele e se encolheu ante o brilho de água fria e a ardência do sabão, dificilmente eram os banhos aos quais estava acostumado, mas teria que servir.

Tinha que ir embora porque, se não o fizesse, sua obstinada e travessa senhorita Battersby estaria em perigo, não só pelo homem que o perseguia, mas sim pelo próprio Colin.

~~*~~

— Deixou-o ir embora — Sarah saiu correndo do salão da cabana, passou a escada e a porta de entrada, e no corredor de seu dormitório. Ao ver que a habitação estava vazia, girou para enfrentar a sua mãe, que a tinha seguido. — Por que não o deteve?

— Se tranquilize, filha — Eleonor repreendeu.

— Nós precisamos dele, mamãe. Eu preciso dele.

— Este plano tolo teu nunca ia...

Esfregando-os olhos, Sarah tratou de aliviar a dor seca atrás deles.

Infelizmente, seus dedos tiveram pouco efeito; a única cura era dormir.

— Ao menos te disse aonde ia?

Sua mãe fungou.

— Ao povoado, logo à fazenda Hubbard, ele mencionou um cavalo. Marigold, ou algo assim.

— Matilda.

Eleonor agitou uma mão com desdém.

— Apesar de tudo, são vários quilômetros, e dada sua condição, é aproximadamente tão manejável como cruzar o canal para tomar o chá com um francês odioso. Suponho que tenha se derrubado perto da velha horta ou reconheceu sua loucura e inclusive agora está retornando para cá.

O peito de Sarah se esticou ao pensar nele inconsciente, uma vez mais, passando junto à sua mãe, dirigiu-se à porta principal.

— Sabia que estava débil, e mesmo assim permitiu que fosse.

— O que queria que eu fizesse? Atasse pelos pés e mãos? Trancá-lo dentro de seu dormitório? Aquele homem não é nosso prisioneiro, ele é rico, provavelmente burguês. Inclusive poderia ter algum título.

Isso deteve Sarah onde estava, com a mão apoiada no pomo da porta principal da cabana.

— Você... — respirou fundo e se voltou para olhar à sua mãe. — Crê que é possível?

Eleonor se adiantou para agarrar a mão livre de Sarah.

— Se aceitar te ajudar, e isso é, no melhor dos casos incerto, será porque busca saldar uma dívida. Concordar com sua farsa absurda não é o único método possível de pagamento, possivelmente ele liquidará recursos para nós, uma vez que retornar com sua família. Uma recompensa muito melhor, atrevo-me a dizer, que essa estúpida pretensão que só te outorgará uma pausa temporária.

Sua mandíbula se apertou, e seu coração também o fez.

— Se deve morrer, ou ir embora sem que cheguemos a um acordo... ele é a única esperança, mamãe.

— Essa é a escolha dele, não a tua, por lástima, Sarah, não pode dobrar tudo e todos a sua vontade, faz muito tempo que aprendeu...

Sarah retirou sua mão, abriu bruscamente a porta e a fechou de repente. Às cegas, cruzou o jardim de rosas de seu pai, atravessou a pequena porta e saiu ao estreito caminho. O sol da tarde prodigalizava ao vale da igreja uma rica cor âmbar dourada, mas ela não notou.

Sua mãe estava equivocada, Eleonor se rendeu à má sorte que se morava como as águas de uma inundação que transbordam um dique. Mas ela não era quem devia casar-se com o Sr. Foote, não, esse miserável dever pertencia a Sarah.

Era Sarah quem devia estar de acordo com Deus para obedecê-lo, era Sarah quem devia permitir que ele a tocasse, era Sarah quem devia ter filhos.

Sua cabeça dava voltas enquanto negava, Eleonor não entendia, Sarah morreria de fome antes de fazer isso se o destino de sua mãe e o dos inquilinos do Sr. Foote não descansasse sobre seus ombros, ela teria deixado Keddlescombe em lugar de passar por tudo isto.

Eleonor poderia considerar a batalha já perdida, mas Sarah não tinha esse luxo. O preço do fracasso seria pago por ela, não por sua mãe e seria muito doloroso.

Suas pegadas ao longo da terra compacta da estrada do povoado se mesclaram com a brisa constante que soprava desde o mar, o ar estava fresco hoje e cheirava a salmoura, as ondas do Canal soavam como um tambor longínquo. Geralmente, essas boas condições seriam o bálsamo que ela necessitava, mas nada poderia aliviar o nó em seu peito; nada exceto encontrá-lo e persuadi-lo para que mentisse por ela.

Deixou que seus olhos percorressem o caminho por diante, onde gradualmente descia até o fundo do vale, logo voltava a subir pela ladeira oposta mais à frente da velha horta. Mais para lá do pico da colina, descia de novo para o povoado.

Ele era débil, e devia curar-se, não poderia ter chegado longe.

Ao passar a escola viu uma estrutura de pedra com janelas de arco gótico e uma parede coberta de hera, diminuiu o passo. Estava tranquilo, muito calmo, se deteve e girou para olhar o vale aberto, protegendo seus olhos do sol poente. Quando retornou à antiga abadia seus temores se confirmaram sem movimento, sem chiados de indignação ou deleite.

Sem risadas nem gritos as garotas se foram a alguma parte, talvez para explorar a praia, como gostavam de fazer. Ela lhes tinha advertido que não fossem a nenhum lado sem ela.

Keddlescombe era uma pequena aldeia povoada de gente boa, mas só se necessitava um momento com um calhorda para que o futuro de uma jovem se fizesse pedacinhos, um homem como Félix Foote.

A ideia acelerou seu passo e quando chegou à horta da colina, a tensão que percorria os músculos ao longo de sua espinha dorsal tomou conta de seu estômago e havia avermelhado a superfície de sua pele. Por que todos não podiam simplesmente fazer o que ela lhes tinha ordenado? Se o tivessem feito, o desconhecido ainda estaria em sua cabana, e as garotas estariam a salvo na abadia, e não sentiria a urgência de sacudir a todas até que compreendessem a precariedade de...

— Senhorita Battersby! É é... não esperávamos a ver... quer dizer, estávamos pensando... é um dia tão formoso, não é assim?

Sarah piscou quando Caroline Thurgood, a mais velha de suas alunas e a encarregada quando Sarah não estava presente na escola, emergiu detrás de uma das macieiras mais grossas, com a prega de seu avental levantada para sustentar o que parecia ser uma dúzia dos frutos. A garota tinha dezesseis anos, cabelo escuro e passavelmente bonita, de tez branca e olhos azuis de grossas pestanas. Como quase todas as garotas da Academia St. Catherine, era filha de pais ricos e ambiciosos que procuravam comprar o único que os faltava: um título. Em poucos meses Caroline voltaria para Londres, onde seria oferecida no mercado matrimonial a uma certa classe de cavalheiros, aqueles com bolsos vazios, mas uma linha de sangue para compensar. Era tarefa de Sarah lhes ensinar as habilidades requeridas para ser primeiras debutantes, logo esposas. Mas, sobretudo, devia as devolver aos seus pais com perfeita saúde e virtude, o que era impossível de garantir se não podia as controlar.

Ao examinar rapidamente o arvoredo onde a risada e as gargalhadas se converteram em olhares de culpabilidade à sua chegada, contou nove das doze garotas, todas vestidas de maneira similar, com avental que atualmente usavam como cestas de tecido.

— Onde estão as outras? — Ela perguntou. — A senhorita Pritchard, a senhorita Parnham e a senhorita Colton? As deixou sozinhas na escola?

Caroline tragou visivelmente, suas bochechas se avermelharam para combinar com suas maçãs.

— Não, senhorita Battersby, alguns dos moços da aldeia jogavam cricket no gramado, e pensei que não haveria problema...

— Senhorita Thurgood — murmurou Sarah. — Meu trabalho é determinar o que é potencialmente problemático e o que não. É por isso que estabeleço regras, seu trabalho é seguir essas regras e assegurar-se que as outras façam o mesmo em minha ausência. Pensei que era capaz de assumir essa responsabilidade, parece que estava equivocada.

Afastando-se da escada onde tinha estado arrancando maçãs, o cabelo carmesim de Lydia aproximou-se para defender a sua melhor amiga.

— Carol só queria que desfrutássemos do sol durante uma ou duas horas, senhorita Battersby. — Lydia olhou à Caroline antes de voltar a olhar Sarah com o queixo uma fração de polegada mais acima. — Não fez mais que chover durante toda a semana e estas maçãs iam se estragar e Mary Elizabeth é melhor no campo que qualquer garota...

— De fato — Caroline assentiu ansiosamente, sua voz sem fôlego. — Ela é uma verdadeira jogadora; inclusive os meninos o dizem.

— E Susannah só desejava ver a partida, enquanto Penélope compra um pouco de manteiga e nata para a senhora Blake, porque nós ficamos sem nada. E...

A paciência de Sarah com a garota faladora expirou abruptamente.

— Senhorita Cresswell!

As sobrancelhas vermelhas da menina se elevaram quase uma polegada, seus olhos se arregalaram.

— Sim?

— É o suficiente. — Mordeu o lábio inferior e assentiu, apertando suas maçãs. — Senhorita Thurgood, leve as garotas à escola, irei à aldeia e procurarei as outras.

Caroline tragou saliva e lhe fez uma reverência torpe, deixando cair uma das frutas de seu cesto improvisado, que rodou até deter-se na ponta da bota de Sarah. Os olhos muito abertos se encontraram com os de Sarah.

— Leva suas maçãs contigo.

Nove garotas se precipitaram para obedecer. Se ao princípio tivessem sido tão obedientes, pensou Sarah, cuidando de manter seu severo semblante. Enquanto as via levar suas cargas de frutas para a casa paroquial, lentamente se agachou para recuperar a maçã caída.

Com um sorriso impotente puxando seus lábios, sacudiu a cabeça, a guardou no bolso de seu sobretudo listrado, que não estava na moda, e reatou seu rápido caminho para a aldeia.

Keddlescombe não se parecia em nada a Londres, menos de vinte edifícios se amontoavam com o passar do chão do vale. A maioria das estruturas eram brancas com tetos de palha grossa, e rodeavam um modesto quadrado com um campo de erva ordenado e aberto no centro. Nesta época do ano, os agricultores e comerciantes convergiam na praça diariamente para oferecer o que arrecadaram da colheita, mas se alguém o desejava, todo o povoado podia atravessar-se a pé em cinco minutos, isso não incluía o tempo que se necessitava para responder a todas as saudações e corteses demandas de conversação, é claro, ela calculou em trinta minutos completos para ela ou sua mãe. O povoado poderia ser pequeno, ao redor de sessenta residentes na última recontagem, mas todos sabiam tudo sobre todos e o que não sabiam, especulavam.

Esta era a primeira incursão de Sarah no lugar desde sua impulsiva e pública declaração ao Sr. Foote. Respirou fundo, mantendo seu passo deliberadamente estável, seu olhar decididamente para frente.

Se ela parecesse envergonhada, então se compadeceriam, portanto, não devia permitir que a enormidade de sua mentira se misturasse em seus pensamentos. Primeiro, devia recuperar as suas alunas, logo localizar o ferido antes de fazer algo para machucar a si mesmo... ou a ela.

— Sarah! Bom dia — chamou Ann Porter do lado leste do gramado, onde ela olhava a partida de cricket improvisada. Sarah se aproximou de sua mais antiga amiga.

— Ann. — Pressionando a mão estendida de Ann, ela sorriu e assentiu com a cabeça para as crianças. — Quem está ganhando?

— Quem crê? A senhorita Colton é forte e muito boa como jogadora de boliches e ainda mais com o taco de beisebol. É uma maravilha que os moços lhe permitam jogar.

Olhando de esguelha ao semblante sardento de Ann e sua expressão melancólica, Sarah disse em voz baixa: — Poderia se unir a eles, sabe?

Ann riu entredentes.

— Bertie gostaria disso, não? Sua futura esposa jogando um jogo de crianças em lugar de cuidar dos cultivos.

— Todos merecem uma pausa de vez em quando.

Ann guardou silêncio e deslizou um braço ao redor da cintura de Sarah.

— Todos, menos você?

Enrijecendo, Sarah manteve seus olhos fixos na partida. Mary Elizabeth acabava de marcar novamente, causando que quatro meninos da equipe contrária colocassem a cara na palma de sua mão.

— Está meio morta, Sarah.

Ela fechou os olhos e suspirou.

— Outra vez isto, não.

O braço de Ann se apertou mais forte.

— Sim. Até que confesse que estou certa, esta é nossa conversação mais longa há meses. Sempre trabalha, e obviamente não obtém mais de uns poucos descansos de noite, se continuar assim acabará na tumba antes...

— Minhas alunas dependem de mim, assim como a minha mãe. Deveria deixar que tudo viesse abaixo porque estou cansada? — Riu secamente. — Até onde baixou sua opinião sobre mim?

Com um último tapinha na cintura de Sarah, Ann se apartou.

— O senhor Foote estava perguntando por ti esta manhã. Ele expressou... preocupação.

O ácido encheu o estômago de Sarah e lhe subiu à garganta.

— O senhor Foote toma liberdades inapropriadas pela relação que tem com minha família.

— Mmm. É impossível que este misterioso cavalheiro, do qual não me disse nada, convença o senhor Foote de que é uma loucura. Quando planejava compartilhar as boas novas com sua melhor amiga? E pergunto simplesmente por curiosidade.

O calor em suas bochechas causou o movimento incômodo dos pés de Sarah.

— Eu... tinha a intenção de te dizer... quer dizer, o teria feito.

— Se fosse verdade.

A negação se alojou na garganta de Sarah, mas não podia lhe mentir. Não a Ann.

— Oh, deixa de preocupar-se, estive guardando seus segredos desde que me encontrou mudando a bata atrás da igreja, Sarah, e não vejo porque deveria mudar as coisas agora.

— Tinha quatro anos.

Ann sorriu.

— E estava horrorizada. A menina do vigário, cujos vestidos eram encantadores e impecáveis.

Sarah baixou a vista para seu vestido gasto, desfiado e descolorido pela sujeira que nunca podia lavar completamente.

— Isso foi faz muito tempo. — Um chiado que vinha da partida foi uma distração bem-vinda, a equipe da Mary Elizabeth tinha marcado de novo. — Devo recolher meus cordeiros extraviados e levá-los para casa. Essas crianças foram esmagadas o suficiente por um dia.

Ann soprou.

Sarah lhe lançou um olhar de soslaio.

— Primeiro, entretanto, devo atender algumas... tarefas aqui no povoado. Vigia-as por mim? Não demorarei muito.

As sobrancelhas de sua amiga se arquearam, suas sardas reluziram sob a luz do sol.

— É claro.

Sarah se deteve quando passou junto ao ombro de sua amiga e disse em voz baixa.

— Obrigada, Ann.

Ann lhe dedicou o sorriso torcido que recordava de sua juventude, é claro.

Aliviada de poder retomar a missão pela qual tinha deixado a cabana, Sarah correu ao longo do Limekiln Lane, olhando de lado a lado por cada estreita rua transversal. A verdade é que só havia quatro. Keddlescombe era um povoado pequeno. Uma busca superficial das principais ruas entre lojas e casas no centro tomou uns minutos.

Enquanto se dirigia para o gramado, girou para o leste e viu a alegre porta verde da padaria. Possivelmente a Sra. Jones tinha escutado algo, seu ouvido para a intriga era bem conhecido. O sino soou quando Sarah entrou e sorriu à mulher grande, de cabelo gelo, que entrava na pequena habitação da padaria com os braços cheios de pães.

— Senhora Jones tem um pedido importante entre as mãos. Suponho que logo a verei na loja do senhor Canfield admirando sua nova baixela de vidro.

A mulher riu entredentes, sua voz como calhaus grossos.

— Nada tão afortunado como isso isto, é para o piquenique do domingo do reverendo Dunhill. O dever cristão é mais custoso para alguns, conforme tenho entendido. — Deixou os pães no balcão de madeira e começou a envolvê-los em papel marrom. — Mesmo assim, — continuou pensativa — esse velho e mal-humorado carniceiro devia contribuir com um porco para a ocasião, assim suponho que seria muito melhor que alguns.

— Um piquenique — Sarah piscou.

— Sim. No pátio da igreja, toda a congregação está convidada. O Sr. Dunhill o anunciou ao final de seu sermão, no domingo passado. Perdeu isso, não é? Não é surpreendente, nunca vi um homem falar tanto e dizer tão pouco. Cheio de tolices, ao contrário de seu querido papai. Senhor, sinto falta desses dias.

Sarah sorriu sem se comprometer, o jovem padre estava cheio de ambição e ardor, mas suas habilidades oratórias necessitavam de refinamento.

— Senhora Jones, perguntava-me se ouviu alguma notícia de um visitante em Keddlescombe.

— Visitante — suas mãos ataram habilmente um pedaço de corda, colocaram o pão envolto cuidadosamente na pilha crescente, logo agarraram outro pão e continuaram envolvendo sem romper o contato visual com Sarah. — Que tipo de visitante? — Os olhos marrons agudos rematados por sobrancelhas prematuramente brancas faiscaram com curiosidade. — Não vejo muitos desses por aqui.

Sarah sentiu seus ombros desabarem-se enquanto suspirava.

— Então, não escutou nada.

— Nunca disse isso.

Sarah inclinou a cabeça e entrecerrou os olhos.

— O que sabe? — A mulher soprou.

— Tomaria décadas para a crônica, querida, se deseja saber mais sobre as chegadas recentes, só posso repetir o que informou a esposa do Sr. Canfield, e sabe que ela gosta de exagerar.

Sarah esperou com impaciência enquanto a senhora Jones atava o seguinte pacote e desaparecia pela porta da padaria, retornando momentos depois com outro braço cheio de pão.

— Agora, bem, onde estava? Oh, sim. A Sra. Canfield. Ela disse que um homem entrou na loja no dia de hoje e tentou vender suas botas, eram boas Hessians, feitas em Londres, é bastante estranho, disse ela, já que não tinha outras que colocar.

Ficou sem fôlego quando seu coração chutou seu esterno.

— Quando foi isso?

— Não faz mais de um quarto de hora, diria eu.

Sarah se voltou e abriu a porta verde, lançando um "Obrigada, senhora Jones!" por cima do ombro, a duas portas de distância, a loja do senhor Canfield, repleta de artigos, desde tecidos até redes de pesca, e os espantosos chapéus de plumas da senhora Canfield, estava felizmente aberta. Ao entrar, seus olhos se pousaram nas bonitas botas proeminentemente apresentadas na vitrine dianteira. Claramente o estranho tinha estado aqui, e já se fora, porque o proprietário corpulento era o único presente.

— Senhorita Battersby! — A expressão de surpresa no rosto redondo do homem seria cômica se não entendesse o motivo: tinha evitado sua loja durante meses. Porque a tentação, depois de tudo, quando o tecido para vestidos novos ou luvas de couro fino ou inclusive as lindas velas de cera de abelhas perto do balcão estavam fora de seu alcance.

— Bom dia para o senhor, Sr. Canfield — disse com uma calma que não sentia. — Tenho entendido que veio um cavalheiro que lhe vendeu essas botas.

O sorriso agradável do lojista se voltou perplexo.

— Sim. Como... como sabe...

— Pode me dizer aonde foi?

— Bom, eu... — o Sr. Canfield apoiou uma mão sobre sua barriga redonda e se arranhou a cabeça com a outra. — Quanto a isso, não posso estar seguro, pediu indicações para ir à fazenda do senhor Hubbard, mas estava bastante mal. O pobre parece ter sofrido uma grande desgraça e não parecia estar bem de saúde. Quando descobriu que a fazenda estava a várias milhas de caminho, pareceu um pouco desanimado.

A mandíbula de Sarah se esticou em um suspiro.

— Não lhe disse nada mais, talvez seus planos.

O senhor Canfield negou com a cabeça e encolheu os ombros.

— Só pediu um par de botas pelas que deixava e um par de moedas, e logo se foi. O conhece, senhorita Battersby?

Em resposta ela só sorriu com força.

— Obrigada por sua ajuda, Sr. Canfield.

— É claro, sempre foi muito querida por aqui, estivemos esperando que viesse visitar a loja todas as semanas, como o fazia antes. Amamos muito os nossos filhos, mas nunca fomos abençoados com uma filha. A Sra. Canfield desfruta muito de sua companhia.

Sarah baixou a vista, sentindo o peso de algo frio assentar-se em seu peito, algo assim como a culpa.

— Minhas desculpas, Sr. Canfield. Temo que meu trabalho na Academia da Santa Catharine tem ocupado grande parte do meu tempo ultimamente, tentarei lhes visitar mais frequentemente, possivelmente venha com algumas das garotas.

O radiante sorriso do homem era sua recompensa pela concessão.

— A senhora Canfield ficará muito agradada.

Com um assentimento e uma despedida Sarah saiu da loja e deu uma olhada ao longo do Limekiln Lane, primeiro em uma direção, logo na outra. Quando viu uma multidão de meninos junto com suas três meninas e Ann Porter encolhida ao redor de algo verde, ela entrecerrou os olhos e começou a caminhar para a praça.

Quando se aproximou escutou um dos moços exclamar: — Meteu-se diretamente no caminho da bola! Não foi minha intenção!

— Robbie — respondeu Ann. — Ninguém te acusa de golpeá-lo a propósito.

Um gemido masculino foi seguido pelos ofegos simultâneos de Penélope e Mary Elizabeth e o grito de Susannah.

— Está acordado!

As palavras a fizeram correr em segundos, estava apartando o neto do Sr. Canfield e o neto do Sr. Hubbard. E ali, sentando-se sobre a erva com a ajuda de Ann sob seu braço, estava o homem que ela tinha estado procurando. O homem que tanto queria ir embora havia vendido suas botas por um pouco de moeda.

Estava pálido, ofegando fracamente, Sarah se ajoelhou ao seu lado, passando uma mão por seu ombro musculoso.

— O que aconteceu? — Exigiu.

— Robbie o golpeou com a bola de cricket — disse Susannah.

— Disseste que não era minha culpa! E sua cara estava assim antes.

— Calma, os dois — ordenou Sarah. Olhou a Ann. — Onde o golpeou?

— E... estava cruzando este lado do gramado quando Robbie disparou violentamente. Teria sido um sixer se a bola não tivesse golpeado a cabeça do homem...

Uma garganta masculina se esclareceu, e o homem em questão olhou à Sarah com os olhos entrecerrados, seus olhos azuis brilhando com um rastro de mau gênio.

— Minha facilidade para a linguagem permanece intacta, senhorita Battersby, posso responder por mim mesmo. — Agitou uma elegante e magra mão para seu rosto. — O inchaço faz com que seja difícil ver algo que não esteja diretamente em frente a mim.

— Este é o senhor pelo qual estava perguntando, senhorita Battersby? — A voz do senhor Canfield levantou a cabeça de Sarah, junto com sua sensação de alarme. O lojista estava na beirada de uma multidão crescente, que agora incluía a Sra. Jones e outros quatro proprietários.

A esta hora do dia todos fechavam suas lojas e se dirigiam para casa e deviam ter notado a comoção e vieram investigar.

— Eu... sim, é.

— Então devem conhecer-se — interveio a Sra. Jones. — Parece saber seu nome, ao menos.

Sua mente se revolveu por uma resposta, algo que teria sentido, mas não a obrigaria a mentir. Conheciam-se. Sim, ela supunha que sim. Assentiu em resposta à Sra. Jones.

Mas o padeiro estava longe de estar satisfeito.

— Como se conheceram? — Exigiu, cruzando seus grossos braços sobre seu peito e olhando com zanga ao estranho. — Alguma vez o tinha visto antes? De onde vem?

— Sim — adicionou o Sr. Canfield, um brilho de suspeita entrou em seu olho. — Vendendo botas. Parece um ácaro peculiar.

O estranho fechou um olho e elevou uma sobrancelha loira.

— Isso não foi o que disse quando me pagou a metade do que valiam.

— Agora, escute, jovem — protestou o Sr. Canfield. — Nossa senhorita Battersby é uma boa garota. Não vamos suportar sua associação com patifes de escorbuto.

— De fato — chegou uma voz repugnante de uns poucos metros atrás dela, fazendo com que o chumbo enchesse suas pernas e fechasse seu ar. Quando chegou Félix Foote? A serpente flutuava incessantemente cada vez que ela entrava na aldeia, como se a estivesse esperando, pronta para deslizar-se ao seu lado em qualquer momento. — Acredito que todos gostariam de saber quem solicita essa preocupação da nossa querida senhorita Battersby.

Ela queria vomitar cada vez que dizia tais coisas, reivindicando-a como uma égua que tinha ganho em um leilão. Bom, ela não tinha a intenção de ser outorgada como propriedade ao melhor comprador, faria o que fosse para frustrá-lo. O que fosse preciso.

Levantando-se lentamente, manteve sua mão sobre o ombro do homem e de costas ao Sr. Foote. Não olhou diretamente ao senhor Canfield, à senhora Jones, à Mary Elizabeth, à Susannah ou à Penélope. Ela especialmente não desejava encontrar-se com os olhos azuis do estranho, em troca, ela captou o cálido olhar de Ann. Era o único vínculo disponível para estabilizar-se antes de sair do precipício.

— Conhecemo-nos, sim — confirmou.

— Oh, sabia! — Exclamou o Sr. Canfield, como se tivesse descoberto um novo Continente.

Mesmo assim, os olhos de Sarah não abandonaram os de sua melhor amiga. A expressão perplexa de Ann era sutil para os outros, mas Sarah viu claramente sua confusão.

— De fato, somos mais que simples conhecidos, o estive cuidando em minha casa.

Os suspiros de vários aldeãos soaram em seus ouvidos. Deveriam reservar sua indignação, pensou, o necessitarão para o que está por vir.

— Sua caridade é admirável. — O tom do Sr. Foote estava longe de ser admirável. — No entanto, também é imprudente levar homens estranhos à sua casa.

— Ele não é um estranho — disse Sarah, sentindo o ar na borda do penhasco sob seus pés. Um passo mais e ela estaria voando. Ele a apanharia? Apesar do tempo que haviam passado juntos, ela não o conhecia o suficientemente bem para dizê-lo com certeza.

Ela nem sequer sabia seu nome.

— Sarah — Ann sussurrou com os olhos muito abertos, alarmados e colados aos de Sarah. Ao tragar, Sarah deu aquele passo final e perigoso e abandonou a terra pelos caprichos da queda.

— Somos mais que conhecidos — disse. — Estamos comprometidos.

Entre os suspiros e os gritos de "Oh!" e "Oh, Deus!" e "Oh, meu Deus!", da multidão de aldeãos, Sarah viu como os olhos de Ann cintilavam pela primeira vez, logo passavam por seu ombro, e finalmente, suavizavam-se e obscureciam com simpatia.

— Impossível — grunhiu o Sr. Foote. — Está mentindo.

Sarah não respondeu, ela estava lutando por respirar, era uma mentira. Uma muito, muito grande, as falsidades nesta escala eram estranhas para ela. Ela não tinha experiência como descarada, não tinha instruções de enganação.

Felizmente Ann Porter era uma amiga cuja lealdade se manteve firme, inclusive em meio ao salto de Sarah ao fracasso moral.

— Não — disse sua mais querida e antiga amiga. — Ela diz a verdade, vão casar-se.

Uma mão forte se aproximou para agarrar fortemente seu pulso.

— O que crê que está fazendo? — Sussurrou o estranho, com suas palavras recortadas, mas calmas, obscurecidas pelos murmúrios dos que os rodeavam.

— O que devo fazer? — Ela respondeu calmamente antes de colocar sua mão livre sobre sua mão dura. Logo, com uma respiração profunda, deliberadamente se inundou mais profundamente no abismo, muito longe da beira do penhasco, muito longe para retornar. — Com a saúde do meu pai tão precária, fomos resistentes a compartilhar nossas felizes notícias — anunciou à multidão. — Celebrar parecia... indecoroso. Mas agora, há poucas razões para manter nosso segredo.

Finalmente ela baixou o olhar para encontrar-se com o seu. O fogo azul tão quente, brilhava tão azul que a abrasou, uma advertência tão evidente como se houvesse rugido. Mesmo assim, ela não se atreveu a retirar-se. Não com Félix Foote revoando, uma serpente enroscada para golpeá-la ao primeiro sinal de debilidade.

Ela deu um tapinha nos dedos que atualmente tentavam estrangular seu pulso.

— Este homem é meu futuro marido e eu sou sua futura esposa. Agora, se nos desculparem, devo leva-lo ao meu querido lar, porque teve um dia muito difícil.


CAPÍTULO 5

“A loucura é a aflição mais desafortunada”.

A marquesa viúva de Wallingham a Lady Berne ao escutar uma longa descrição do novo companheiro felino de dita dama.

A mulher estava louca.

— Está fora de sua maldita mente. — Grunhiu em seu ouvido enquanto se arrastavam e cambaleavam juntos ao passar no caminho para a casa paroquial. Três garotas jovens abriram o caminho, saltando de vez em quando e logo voltando-se para olhar ao Colin e à louca senhorita Sarah Battersby.

O braço esbelto ao redor de sua cintura se apertou.

— Essa é uma boa maneira de falar com sua prometida.

— Isso está bem porque não estamos comprometidos. Pelo amor de Deus, o que te obrigaria a fazer tal afirmação? Nem sequer sabe quem sou.

A mulher que atualmente atuava como sua muleta desacelerou seu ritmo, o que também o obrigou a frear.

— É verdade — concedeu em voz baixa. — Quem é você, então?

— Maldito inferno — murmurou entredentes. — Não crê que deveria haver perguntado antes de declarar que nós vamos casar?

Aquele queixo bicudo se elevou.

— Para a maioria de nossos conhecidos, esteve adormecido, uma oportunidade pronta para as apresentações não se apresentou porque foi ferido e te cuidei.

— Suponho que crê que isso te dá direito a um pagamento, em forma de anel e um novo sobrenome, nada menos. Mulher de mente sanguinária, inclusive quando tira um homem meio morto da estrada, não pode resistir a lhe pôr a ratoeira em forma de pároco.

Sentiu que seu corpo se esticava ao longo de seu flanco, seus ombros ficavam rígidos.

— Não seja parvo, não espero nem desejo sua mão em matrimônio. Deus, inclusive agora poderia estar casado com outra.

— Então, o que foi esse lixo sobre...

— Simplesmente necessito que creiam que estamos comprometidos.

— Quer que minta a todo o seu povoado.

— Opõe-se a mentir? — Ela fungou. — Tinha a esperança de que demonstrasse ser um canalha.

Com a mandíbula flexionada, ele olhou a delicada e insolente inclinação de seu nariz, logo observou como a luz do sol fraco brilhava nos cachos rebeldes que se negavam a permanecer enrolados na parte posterior de sua cabeça. Nem as forquilhas nem sua vontade de ferro poderiam contê-los. Intentando que parecesse composta, a senhorita Sarah Battersby os precisava domar.

Deliberadamente, manteve sua voz baixa e suave.

— Estas presunções tuas são perigosas se for capaz de semelhante engano, como aparentemente deseja, certamente não pode confiar em que me comporte com honra e se isso for verdade, cada momento que passa em minha presença te põe em risco.

— Um risco que devo tomar.

A mulher era cega e estúpida, completamente louca ou infernalmente obstinada. Apostaria pelo último.

— Quando, precisamente, decidiu implementar seu pequeno engano? — Seu silêncio foi pontuado só com o roce e o ruído de seus passos e as risadinhas distantes das três garotas.

Deteve-se quando chegaram à beira da horta de maçãs, levando-o por volta de uma das árvores, tirando o braço dos seus ombros, fez uma careta pela dor em suas costelas e músculos. Embora fosse aborrecido em comparação com as batidas dentro de seu crânio, serviu-lhe como um aviso de porque devia convencê-la de que se retratasse de sua reivindicação, porque devia ajudá-lo a ir embora com toda a pressa. Passou seus dedos com cuidado no pequeno inchaço que se formava entre o pescoço e o crânio, apoiou-se contra a casca áspera e tentou recuperar o fôlego.

— Me responda, Sarah — disse com voz rouca. — Quando ideou este plano? E por quê?

Ela se negou a olhá-lo a um par de metros de distância, ficou olhando ao longo da estrada do povoado, com as mãos plantadas nos quadris. O sol poente fez com que seu cabelo brilhasse como uma coroa real, iluminou seus olhos como um brilhante e estranho ouro.

— Eu... necessito de tempo. Só um mês ou dois, e poderei assegurar uma posição, estou segura disso.

Franziu o cenho, sua impaciência cada vez maior.

— Fala claramente, mulher, me dói muito a cabeça para adivinhações.

Assustados olhos cor mel se voltaram para ele.

— Qual é o seu nome?

— Agora quer uma apresentação adequada?

— Sim.

Baixou o queixo e lhe dirigiu um olhar intimidante, ao menos, esperava que fosse intimidante. Quem demônios sabia que aspecto tinha com a forma em que sua cara havia sido golpeada?

— Responda às minhas perguntas, e possivelmente eu responda às tuas.

Ela piscou, olhou para a casa paroquial, logo depois de volta a ele.

— Muito bem. — Ela assinalou à erva debaixo da árvore. — Sentemo-nos. Parece que poderia descansar um pouco antes de reatar nossa viagem.

Queria argumentar que estava bem, forte e robusto, e era perfeitamente capaz de trafegar por um caminho rural sem sua ajuda ou um descanso, mas na verdade, mal podia sustentar-se, inclusive com a ajuda da velha macieira. Em lugar de refutar sua posição, deslizou-se sobre seu traseiro e assentiu com a cabeça ao terreno ao seu lado.

A maioria das mulheres que ele conhecia poderiam fazer uma careta ante tais assentos rústicos e maneiras grosseiras, mas não a senhorita Battersby. Ela não duvidou, em lugar de caprichosamente e com graça, afundou-se ao seu lado na almofada de erva, cruzou os braços sobre os joelhos levantados e soltou o que soava como um suspiro de alívio.

— Meu pai costumava me trazer aqui para recolher maçãs. — Olhou para os ramos, ponderadas aqui e lá com fruta verde e vermelha. — Todos os anos, exceto este.

Ao escutar a tensão em sua voz deixou que o silêncio caísse entre eles por um momento antes de perguntar: — Esteve doente, imagino.

— Sim. — Seu olhar baixou para encontrar-se com o seu, e logo caiu a um lugar de terra entre eles, onde jaziam duas maçãs velhas, marrons com podridão, entre um montão de folhas amareladas. — Ele está morrendo.

Talvez fosse a forma em que sussurrava as palavras, tão calmas que mal as podia distinguir do eco distante do mar e do ligeiro sussurro das folhas. Talvez fosse a forma em que se sustentava, imóvel e triste. Mas suas palavras fizeram com que seu coração se retorcesse dolorosamente, ela poderia ser uma mentirosa e uma caça fortunas, mas ele não desejava tal dor a ninguém.

Com uma inalação profunda e repentina, conteve-se e continuou: — Quando ele se for, sua vida irá com ele e minha mãe e eu perderemos... tudo. Seus ganhos, a casa. Inclusive a escola.

Um cenho franzido puxou sua testa.

— Não tem outra família que te acolha?

Ela sacudiu sua cabeça.

— O irmão da minha mãe morreu faz três anos, e sua viúva voltou a casar recentemente. Meu pai tem duas irmãs, mas nenhuma delas está em condições de nos apoiar.

— E os aldeãos? Parecem bastante carinhosos contigo.

Seus olhos se encontraram diretamente com os dele, disparando um ouro afiado.

— Não estamos dispostas a aceitar a caridade daqueles que não podem pagá-la, vou encontrar outra maneira. Simplesmente está demorando mais do que eu tinha suposto para assegurar uma posição.

Olhou ao longo dela, desde seu rosto de fada rodeado por um halo de cachos de mel, seu vestido desgastado, até suas arranhadas botas marrons.

— É suficientemente atraente — observou. — Não formosa, talvez, mas...

— Desculpe-me !

— Se usasse um vestido adequado para ti, seria aceitável para a maioria dos homens. Por que não apanha um dos aldeãos nos grilhões de suas pernas?

Seus olhos se estreitaram.

— Embora sua dicção seja perfeita, suas maneiras são terrivelmente grosseiras.

— Responda à pergunta — disse em voz baixa.

Por sua expressão, rebelde e ácida, ele suporia que ela considerava energicamente lhe dizer que fosse ao diabo. Mas ela devia estar bastante desesperada para tentar apanhá-lo, um estranho que se encontrava em circunstâncias duvidosas, em um compromisso falso.

Depois de vários minutos, ela suspirou e murmurou: — Suponho que merece sabê-lo. — Levantou o queixo e seus olhos se encontraram com os dele. — Há um homem que me ofereceu isso... muitas vezes.

Seu estômago deu uma sacudida estranha. Talvez não deveria ter comido muito guisado antes.

— Por que não aceitou?

— Ele não é um bom homem, não quero me casar com ele.

Nesse momento, com seus olhos encobertos e sua voz baixa, Colin viu tudo o que Sarah não podia dizer em voz alta. Este homem, quem quer que fosse, tinha tentado forçar sua mão, e ela resistiria até seu último fôlego. Sarah Battersby poderia estar ladrando enlouquecida, mas ela era uma lutadora. Viu-o no conjunto de seus ombros, retos e orgulhosos, no cacho e no apertão de seus punhos.

— Quem é ele? Como se chama? — As perguntas saíram da boca de Colin, mas não recordava ter decidido as perguntar.

Suas pestanas se elevaram para revelar aqueles olhos surpreendentes, como cair em um bote de mel iluminado por baixo.

— Félix Foote. Ele estava lá quando você... — ela agitou sua mão ao redor da parte superior de sua cabeça — sucumbiu à filha de Robbie.

— Ele estava lá agora?

— Mmm. Ele sempre está por aí, aparece cada vez que entro no povoado, cada vez que há uma oportunidade para me recordar que ele é minha única opção por seu dinheiro, por seu posto.

Keddlescomble é o lar de poucos homens de minha idade, e o Sr. Foote os tem... animado a procurar uma esposa em outro lugar.

— Por que prestaram atenção ao seu conselho?

— É dono de várias fazendas nesta paróquia, nenhuma das quais trabalha ele mesmo. O Sr. Foote se tornou bastante bem estabelecido cobrando aluguéis substanciais de seus inquilinos, aluguéis que pode aumentar em qualquer momento, se acredita ser um verdadeiro cavalheiro.

Colin se moveu quando as cãibras se acumularam ao longo de sua coluna vertebral e curvaram-se ao redor de seu pescoço com suas lesões, sentar-se em uma posição por muito tempo estava doloroso. Além do que, suas extremidades pulsavam atualmente com o desejo de levantar-se e voltar para a aldeia. Não podia dizer por que o desgosto na voz de Sarah, mas talvez não gostara.

— Ninguém gosta de estar encurralado — disse, mantendo seu tom casual. — Mas suspeito que sua resistência é mais profunda que o simples desgosto.

— Minhas razões são minhas.

— Deseja minha cooperação?

Ela mordeu o seu lábio e assentiu.

— O que o senhor Foote fez para merecer seu desprezo?

Sua mandíbula se apertou, seus lábios arqueados se esticaram. Um pequeno sulco apareceu entre suas sobrancelhas.

— Se lhe disser isso, deve ser na mais estrita confidencialidade, é muito importante. Entendeu?

— É óbvio.

Respirou fundo, soltou-o lentamente, puxou o tecido poeirento de sua saia onde se enrugava ao longo de seu joelho, entrelaçou seus dedos e apertou.

— Félix Foote é... — limpou a garganta com delicadeza. — O senhor Foote fez coisas. Coisas que nenhum cavalheiro faria. Revolucionando as coisas.

Enquanto observava a cor que se elevava em suas bochechas, Colin começou a perguntar-se se a senhorita Battersby tinha interpretado mal os torpes avanços de um homem. Talvez Foote tivesse tentado beijá-la e o tinha feito muito mal. Inocentes como Sarah eram propensas à histeria quando não entendiam do que se tratava um homem luxurioso. Sentiu que suas mãos se curvavam em punhos. Por que seu estômago estava girando com tanto vigor? Era o guisado, depois de tudo.

— Que coisas? Diga-me — ladrou isso.

As pestanas voltaram a baixar, desviou o olhar para a estrada.

— Quem vai à Academia de St. Catherine para meninas de impecável comportamento está ao meu cargo, seu bem-estar foi creditado à minha mãe, ao meu pai e a mim.

— Primeiro, surpreende-me que não possa pensar em um nome mais comprido para a escola. Segundo, está evitando responder mudando de tema...

Quando seus olhos voltaram para ele, cortaram-na a dor e a impaciência.

— Estou dando sua resposta.

Depois de um momento, ele assentiu para que ela continuasse.

— No ano passado encontrei o Sr. Foote e uma de minhas alunas no bosque atrás da igreja. Ele estava... forçando suas atenções sobre ela. — A voz de Sarah se quebrou na última palavra.

A agitação em seu estômago piorou, mas ela ainda não tinha terminado.

— Ao princípio não me dei conta do que estava vendo — continuou, sua voz agora áspera. — Ficou muito quieto, se ajoelhou em frente a ela com a mão debaixo de suas saias. Pensei que talvez ela tivesse sido ferida e ele a estava ajudando... — ela riu entredentes e logo tragou saliva, como se tentasse não vomitar. — Enquanto me aproximava, vi que ela estava chorando, ela não fez nenhum som, só ficou ali. Deixando-o tocá-la como se tivesse acontecido uma dúzia de vezes, e ela simplesmente devia esperar que terminasse.

Colin queria fazer perguntas. Quem era a menina? O que fez Sarah depois que os descobriu? Queria saber que aspecto tinha Foote para poder retornar ao povoado e golpear o porco podre. Permaneceu em silêncio.

— Ela... ela era uma menina linda e inteligente, além de sua idade. — Sarah riu brandamente quando uma lágrima se deslizou por seu rosto. A gota o fez duas polegadas antes que ela a tirasse. — Ela acabava de fazer doze anos, entretanto, já tinha aprendido quão malvados podem ser os homens.

Doze. A menina tinha doze anos. Colin fechou os olhos, incapaz de olhar ao rosto de Sarah por mais tempo. Doze. Recordou a sua irmã, Vitória, nessa idade, sentada em um banco fora de Blackmore Hall, desenhando em seu livrinho, olhando o lago de peixes com um sorriso tranquilo e um suspiro melancólico.

— Detive-o, atirei-lhe uma pedra na cabeça, pode suspeitar que fui eu quem o golpeou, mas nunca disse uma palavra a respeito, mesmo depois que a transferimos a outra escola em Exeter. Tirei-lhe seu brinquedo, possivelmente por isso está tão decidido a...

Colin piscou e voltou a centrar-se em Sarah.

— Crê que está te pressionando para que se case com ele como uma substituição?

— Talvez eu não tenha me incomodado em lhe perguntar isso, não posso suportar estar em sua presença.

— Por que simplesmente não diz a todos o que viu? Certamente isso denegriria seu nome suficientemente...

Ela sacudiu sua cabeça.

— Embora meu pai o desejasse de outra maneira, as garotas que vêm à Academia de St. Catherine estão aqui por uma razão, e não é para aprender matemática ou estudar poesia. Devem estar preparadas para o matrimônio. — Suspirou quando se soubesse, ela se arruinaria.

— Colin — disse-o em voz baixa.

Ela piscou.

— Como diz?

— Meu nome é Colin.

Sua boca formou um pouco do “O”.

— E seu sobrenome?

Fez uma pausa antes de responder.

— Clyde. — Não era uma mentira completa, Clyde era um de seus sobrenomes.

Assentindo, ela fungou, apoiou os braços nos joelhos e lhe dirigiu um sorriso irônico.

— Que aprazível o conhecer, Sr. Clyde. Consideraria se converter em meu prometido? Temporariamente, é claro.

Ele a olhou fixamente, incapaz de lhe devolver o sorriso.

— Não posso ficar, Sarah, o que te disse na carruagem é verdade. Sou um perigo para ti, quanto mais tempo permaneço, maior será o risco para sua segurança.

— Se fosse realmente perigoso, o último que faria seria me advertir...

— O homem que fez isto — se colocou uma mão sobre as costelas — não se deterá até me encontrar, inclusive pode machucar a quem me abrigar, a ti e à sua mãe.

Ela parecia desconcertada, suas sobrancelhas se juntaram, seus lábios se franziram.

— O que quer de ti?

Suspirando, Colin apoiou uma mão no chão e outra na árvore atrás dele. Pressionando a palma da mão contra a casca áspera, levantou-se sobre seus pés.

Sarah se apressou a ajudá-lo, colocando seu ombro debaixo de seu braço e envolvendo-se ao longo de seu flanco, era cálida e suave, com toda sua força esbelta. Uma mulher pequena, amável, construída de pura determinação, tão fraco como estava, seu corpo reagiu com uma apreciação surpreendente.

Inferno sangrento. Ele devia partir logo que fosse possível.

— Tomei algo dele — ele respondeu, ofegando as palavras como uma onda de enjoo que quase enviou-o de volta ao chão. Se apoiou nela, fechou os olhos e esperou que passasse.

— O que era?

Quando abriu os olhos, ela o estava olhando, com o rosto voltado para cima e para baixo. Muito perto, lentamente, sorriu.

— Tranquilidade de espírito.

— Não entendo.

Rindo, ele deslizou seu braço desde seus ombros até sua cintura e lhe deu um tapinha.

Uma cintura pequena, era inclusive magra, ela precisava comer mais.

— Sei, mas ele o faz e isso é o que importa.

Com isso, retirou-se dela e caminhou lentamente, com cautela, para a estrada. Ela não deveria estar tocando-o, ela deveria estar indignada por sua maneira familiar e lhe ordenar que deixasse de vê-la.

— Senhor Clyde! — Trotou ao seu lado. Uma mulher pequena e decidida.

— Me chame de Colin, estamos comprometidos, depois de tudo.

Seus passos se detiveram e logo reataram.

— Nós... estamos?

— No momento.

O silêncio caiu entre eles à medida que suas longas sombras se fizeram mais longas na terra compacta. Os sons de um bate-papo distante e juvenil percorriam o vale com uma brisa fresca.

— Tem a intenção de ir embora — Sarah disse em voz baixa. Não era uma pergunta.

Mantendo seus olhos para frente, assentiu.

— Amanhã necessitarei de sua ajuda para recuperar meu cavalo, o que diga aos aldeãos depois é inteiramente a sua descrição, não vou contradizer.

Durante longos minutos Colin se concentrou simplesmente em colocar um pé diante do outro, puxaram-lhe os pontos, queimaram-lhe as costelas, palpitava-lhe a cabeça como um polegar pisado por uma bota ou golpeado com uma bola de cricket. Inferno sangrento, ansiava sua cama, suas mãos acariciando sua testa e brincando com seu cabelo, sua voz calma e tranquilizadora lhe dizendo que descansasse. Além de sua irmã, nenhuma mulher lhe havia devotado tal cuidado.

— Por que o fez? — Perguntou em voz baixa.

— Fiz o quê?

— Resgatar-me, foi este teu truque.

Quando ele a olhou com os olhos entrecerrados, ela encolheu os ombros, a luz do sol fluía através de seu cabelo encrespado, rodeando seu rosto em âmbar.

— Levamo-lo conosco porque... bom, porque precisava, teria morrido ali, não podia deixar que isso acontecesse. — Seu queixo se inclinou uma fração. — Só mais tarde me perguntei se era a resposta.

— Ao seu problema.

— Às minhas orações.

Inclusive para seus próprios ouvidos sua risada era cínica.

— Me acredite, doçura, sou tudo menos isso, Deus entregaria qualquer um que fosse digno de sua benevolência.

— Mesmo assim, necessitava que alguém se interpusesse entre mim e o senhor Foote por um tempo, e apareceu — respondeu ela. — À falta de provas, estou escolhendo ver-te como uma bênção.

De novo riu.

— É a primeira vez que me falam dessa maneira, asseguro-lhe isso.

Chegaram à terra do vale antes que ela voltasse a falar.

— Deve ir embora amanhã, não é?

Suspirou, sua resistência diminuiu por suas feridas e a viagem interminável e enlameada a Londres. Ah, e meses sendo caçado por um carniceiro sem alma. Isso sim tirava o vigor de um homem.

— Te disse que não posso ficar.

— Não, eu... não estou te pedindo que fique para sempre, depois de amanhã é domingo, o padre, o Sr. Dunhill, organizou uma reunião no pátio da igreja, um piquenique. Consideraria... quer dizer, poderia possivelmente...

Olhando-a de soslaio, sacudiu a cabeça.

— Sinto, doçura, pode dizer aos seus companheiros paroquianos o que quiser, mas amanhã irei embora.

Sua garganta tragou com força, e ela assentiu.

O céu do leste se voltou um violeta pálido quando o sol se afundou debaixo da colina atrás deles, logo a escuridão viria. Logo a manhã, e com isso, sua partida, o que o fez um pensamento tão vazio, não sabia. No meio da descida para sua casa os pulmões e as pernas de Colin ardiam. Fez uma pausa, inclinando-se para diante com as palmas apoiadas nas coxas. Inferno sangrento, estava débil.

Uma mão cálida e suave pousou entre suas omoplatas justo quando uma saia desfiada se balançava em sua vista, perto de suas botas recém compradas.

— Devagar, Sr. Clyde — disse em voz baixa. — Ainda está sarando. — Os dedos se enroscaram em seu cabelo, foram tão rápido que sentiu como o toque de uma fada. — A bola de cricket não ajudou.

— Colin — ofegou, seu coração pulsava com um pouco mais de entusiasmo do que sua escalada exigia. Voltou a cabeça para ela. Estava perto, seu seio a centímetros de seu rosto. — Ao menos quando estivermos sozinhos.

— Muito bem, Colin.

Gostava da forma que ela dizia seu nome, gostava da sensação de suas mãos, gostava de seu rosto bem proporcionado e o rosto de fada. Gostava... isto poderia facilmente converter-se em desastroso. Graças a Deus que ia embora.

— Está suficientemente bem para chegar à casa?

Afastando seu olhar de seu corpete sacudiu a cabeça para limpar seus pensamentos e se endireitou. Sua resposta à sua pergunta foi reatar seu passo lento, ignorando a forma em que o caminho se desvanecia e se inclinava ante ele.

— Colin — disse ela, facilmente mantendo o ritmo ao seu lado. Por que tinha que dizê-lo assim, as duas sílabas como gotas de mel em sua língua?

Ele grunhiu.

— Obrigada.

— Por quê?

— Antes, no povoado, poderia ter exposto a verdade, as coisas teriam sido bastante abomináveis para mim se o tivesse feito. — Enquanto se aproximavam da cabana, que brilhava com a luz que desaparecia, ela trotou para abrir a porta.

Ele respondeu: — Se me conhecesse melhor não teria duvidado nem por um momento. — Ela olhou por cima do ombro.

— A alma da discrição, não é?

— Melhor como a alma da enganação.

O sorriso que lhe veio lento, sábio e um pouco travesso, roubou-lhe o pouco fôlego que tinha. Deus meu, quando se tinha convertido em uma tentação?

— Oh, tinha minhas suspeitas sobre ti — disse.

Enquanto ele caminhava pela porta aberta, ela se girou para enfrentá-lo, muito perto agora. O suficientemente perto para sentir as diferenças em sua altura, o estranho pulsar de sua proximidade. Ele franziu o cenho.

— Teve-as?

— Mmm. — Ela assentiu, ainda sorrindo, com as mãos nos quadris. — Sabia que um homem que poderia escapar do que obviamente suportou devia ter um pouco de inteligência. E quem poderia ser tão inteligente e ainda aterrissar em um lugar assim?

— Não é o tipo de homem que deve trazer para seu lar, isso é seguro. — Aproximou-se mais, com a cabeça inclinada para trás sobre seu delicado pescoço.

— Agora, aí é onde se equivoca, era exatamente o homem que necessitava, justo no momento que te necessitava. — Com isso, ela girou sobre seus calcanhares e se dirigiu para a porta da casa. — Como disse antes — disse sobre seu ombro enquanto girava o pomo. — Quando se ora por uma solução, e Deus te envia um canalha, o melhor é lhe agradecer.


CAPÍTULO 6

“Eu gosto de um bom passeio tanto como qualquer um, Humphrey. Entretanto, há um limite para minha apreciação da precipitação. Um limite que temo que tenhamos alcançado”.

A marquesa viúva de Wallingham ao seu companheiro Humphrey, ao presenciar como seu companheiro olhava com peculiar fascinação os atoleiros.

Os frenéticos golpes tiraram Colin de um sono profundo com o coração palpitando, tentando entender onde estava. Estava escuro, jazia em uma cama, debaixo de uma colcha.

— Sarah? — Disse uma voz feminina quando a porta se abriu com um chiado, revelando o tênue brilho laranja de uma vela. — Foi perambular de novo.

Escutou lágrimas e preocupação naquela voz. A Sra. Battersby junto à cama, que Sarah tinha insistido em que usasse e que estava muito cansado para negar-se, o sussurro das mantas que se deslocavam no chão precedeu o sussurro de Sarah.

— Quanto tempo?

— Se foi quando despertei já poderia estar em qualquer parte. — A angústia na voz da mãe era absoluta.

Mas Sarah, que se tinha posto de pé com um salto e pôs a bata, murmurou com calma: — Tudo sairá bem, mamãe. O encontraremos. Me dê dois minutos para pôr as botas e procuraremos juntas.

Um sopro, logo um gesto com a cabeça sombreada da mãe, logo a porta se fechou e a escuridão cobriu a habitação uma vez mais. Observou no fraco e prateado resplendor da janela enquanto Sarah corria para o pequeno armário em frente ao canto com o urinol e se inclinava para recuperar algo dentro.

— Ele faz isto frequentemente?

Ela gritou, sacudiu-se, gritou de novo quando golpeou a cabeça em uma prateleira dentro do armário, logo ficou de pé, esfregou-se a cabeça e provavelmente lhe lançou adagas.

— Deveria estar dormido — queixou-se, sua voz rouca e calma.

Levantando-se e puxando a um lado sua colcha, sentou-se na beira da cama enquanto o enjoo fluía sobre ele.

— É seu pai, não é?

Ocupou-se a colocar as botas, apoiou os quadris contra o armário e se inclinou para diante para colocá-las e atar os cordões, cabe destacar que não lhe respondeu.

— Sarah.

Levantou a cabeça e um suspiro exasperado pontuou movimentos bruscos enquanto atava os cordões.

— Sim, é meu pai e sim, o faz às vezes. Ele é... não é ele mesmo.

Recuperou suas próprias botas de debaixo da cama e rapidamente as pôs.

— Não — disse com firmeza. — Não, não, não. Deve descansar, Colin, necessitará da sua força...

Levantando-se da cama, apoiou-se contra a parede.

— Descansarei depois que localizarmos o seu pai.

Ela se moveu ao seu lado antes que ele pudesse dizer outra palavra, envolvendo seus braços ao redor de sua cintura e tentando atirá-lo de novo à cama. Sentiu sua suavidade como uma marca contra seu flanco, não usava espartilho, só a capa de linho sobre sua forma esbelta.

— Sarah — disse com voz rouca, resistindo facilmente aos seus intentos de movê-lo. — Estamos no meio da noite, e está parada em seu dormitório com seus braços envoltos ao redor de um homem, ao qual com razão chamou de canalha. Posso te sugerir que, em troca, mantenha uma distância razoável?

Ela soprou, seus braços tentando em vão puxar seu corpo, dois pés entre eles e a cama, sem pressionar suas feridas. Uma de suas mãos roçou acidentalmente suas calças. Teve que apertar a mandíbula para sufocar seu gemido.

— Não seja parvo — ela zombou. — Você mesmo disse que não sou particularmente atraente, tomarei isso como garantia da minha imunidade frente aos seus impulsos.

A mulher era sanguinária e imprudente. Alguém deveria lhe haver ensinado melhor o que era precaução.

— Não me conhece suficientemente bem para medir meus impulsos, além disso, apesar de seu impressionante vocabulário, senhorita Battersby, é perigosamente ingênua quando se trata de homens.

Ela soprou enquanto continuava puxando sua cintura e quadris, finalmente recorrendo a envolver ambos os braços ao redor de seu cotovelo e puxando, pressionando seu dolorido ombro. Ele puxou para trás, automaticamente, para evitar a dor de esticar a articulação, o que a fez perder o equilíbrio, tropeçar nele, caindo contra seu peito. Desta vez o gemido escapou, não pôde evitar, seus pequenos e firmes seios se apertavam contra ele, seus quadris formavam um berço perfeito para ele...

— Tolices, você mal consegue parar sem balançar como uma vara em um vento forte, me arriscarei.

Seu tom desdenhoso desolou seus nervos, incitou seu desejo de pressionar sobre ela a tolice de suas ações, de suas hipóteses sobre ele. Necessitava que lhe ensinassem uma lição, antes que pudesse pensar melhor nisso, sua mão deslizou até um lado de seu magro pescoço e, usando seu polegar ao longo de sua mandíbula para inclinar sua cabeça para trás, levou sua boca à dele.

O primeiro toque de seus lábios enviou uma inesperada rajada de fogo através de sua pele, se apartou e aspirou um segundo. O segundo beijo, puramente com fins de confirmação, foi pior, o arco daquela boca, suave e sensível, se rendeu e suspirou contra o seu, curvou e o acariciou e o tentou a fazer o que fez. No terceiro a doçura mudou e ficou mais quente, as mãos se apertaram em seu pescoço e cotovelo, puxando-a com força contra ele.

Pequenos mamilos eretos roçavam seu peito, lábios mordiscados e separados para lhe dar as boas-vindas, o interior de sua boca era cálido e doce, lar de uma curiosa língua que se enroscava ao redor da sua enquanto seu braço rodeava sua cintura e a aproximava mais, a esmagava contra suas costelas. A dor resultante mal se registrava pelo puro prazer dela. Logo, entretanto, tornou-se aguda o suficiente para rasgar sua consciência, recordando-lhe onde estava, quem era ele e por que nunca deveria havê-la tocado.

— Que demônios faz? — Murmurou contra sua boca, sua testa apoiada contra a dela enquanto ofegava e lutava por ignorar a dolorosa dor de sua excitação.

Sua resposta foi sem fôlego e um pouco arrastada.

— Essa não deveria ser a minha pergunta? — Um golpe calmo os separou.

Sarah negou com a cabeça e apartou as mãos dele para roçar seu cabelo rebelde, mal contido por uma trança.

— Eu... devo encontrar o meu pai. — Deu a volta e se dirigiu para a porta. Quando a abriu, sua mãe lhe entregou uma lanterna.

A mulher mais velha o olhou diretamente por cima do ombro de sua filha antes de retornar com Sarah.

— Olharei na igreja e no bosque.

Sarah assentiu.

— E eu o caminho e a praia, o encontraremos, mamãe.

Na luz laranja Colin viu o brilho de uma lágrima na bochecha da Srta. Battersby, franzindo o cenho e fechando os olhos Sarah a abraçou com força, sussurrando algo ao ouvido. A mãe assentiu, secou-se o nariz com um lenço e se retirou para desaparecer da porta.

— Vou contigo — disse uma vez que sua mãe se foi.

Sem voltar-se, ela respondeu: — Como quiser.

Passando uma mão pelo cabelo, ele respirou fundo e se arrastou pelo corredor, esperou que ela colocasse um casaco de lã escura e logo saiu pela porta principal.

A lua era uma luz suave no vale, o ar era fresco e salgado e felizmente se esfriava quando tomavam o caminho. Depois de seu beijo, se pudesse sequer chamar a tal conflagração com esse nome, necessitava de algo para apagar o fogo em seu sangue. Talvez devesse ir nadar, um nadar rápido e distraído em algum lugar longe daquela mulher peculiar.

Seus olhos seguiram seus passos, resolvidos e rápidos, seus ombros estavam rígidos, a prega de sua bata branca de linho brilhava na escuridão iluminada pela lua. Esfregou-se as palmas das mãos tentando romper o feitiço que ela havia arrojado.

Quando chegaram ao fundo do vale, Sarah deixou o caminho por um oco no pasto, à altura da cintura era um atalho desgastado que conduzia ao sul, para a costa. Ele poderia conseguir seu banho, depois de tudo.

Em questão de minutos suas botas deixaram o rastro duro para a areia suave e cheia de pedras. Diante, a lanterna de Sarah se balançava com seus passos.

— Papai! — Gritou, girando a cabeça para explorar a costa em ambas as direções. O movimento se deteve quando ela vislumbrou o que tinha visto uma fração de segundo antes.

— Sarah — ele murmurou enquanto a alcançava.

— Vejo-o. — Sua voz era rouca e dura, ela empurrou a lanterna em suas mãos e correu para a linha d’água onde as ondas rodavam nos joelhos de uma solitária figura de cabelo branco.

Depois de persegui-la, ele chegou justo quando passava o braço do homem frágil pelos ombros, ela tinha feito o mesmo com Colin muitas vezes. Isto explicava por que ela tão facilmente o tocava e o cuidava claramente, ela tinha estado cuidando de seu pai durante muito tempo.

— Retornaremos à cabana agora, papai — ela sussurrou enquanto se aproximava, o tremor do ancião era visível inclusive à tênue luz da lua. Sua camisa de dormir estava empapada em suas coxas, revelando um corpo tão magro que Colin se perguntou se não poderia sacudir-se como um navio desmantelado em um vendaval do Mar do Norte.

— Eleonor? — Mesmo a voz do homem era frágil e quebrada.

— Não, papai, sou Sarah devemos te levar para casa, está congelado.

— S... Sarah, sim, recordo agora, mas pensei que tinha se casado com aquele capitão naval e se mudado para... onde era?

Ela sacudiu sua cabeça.

— Não importa agora. Vem, vem comigo, papai.

Colin podia vê-la puxando o velho, mas ela não conseguia movê-lo. Ficou olhando as ondas que brilhavam de um branco prateado na distância. De repente, empurrou-a, fazendo-a tropeçar, agitando os braços para recuperar o equilíbrio.

Colin não perdeu tempo, deixou cair a lanterna e se meteu para estabilizá-la com um agarre sólido em sua cintura. Olhou por cima do ombro, os olhos sobressaltados e brilhando com lágrimas, que rapidamente tratou de ocultar. Seu coração se retorceu dolorosamente dentro de seu peito, apertando sua mandíbula quando a soltou.

— Ele... ele não está bem, não é sua culpa.

Colin franziu o cenho.

— O que foi isso de um capitão naval?

Ela apertou os lábios com os olhos cravados em seu pai.

— Ele não lembra.

Seus olhos seguiram os dela até o ancião, observou como uma brisa levantava uma mecha de cabelo branco até que se agitava como uma bandeira.

— Ele não lembra — ela repetiu.

— Lembrar que...

Ela riu entredentes, o som sem humor e triste.

— Tudo o que pensa é que sou sua irmã, ou minha mãe, em alguns dias, sou uma perfeita desconhecida para ele.

Tinha ouvido falar disto, uma de suas tias avós tinha sofrido de maneira similar antes de sua morte, inclusive perdendo a capacidade de falar. Mas só se inteirou disso através de seu primo, que tinha estremecido e mudado de tema antes de tomar outro gole do brandy que tinham estado compartilhando.

— Não podemos deixar que fique aqui muito mais tempo — disse Sarah.

Ela tinha razão, a água gelada estava adormecendo as pernas de Colin, empapando as botas trocadas pelas que tinha pago muito. Fazia só uns minutos que havia desejado um mergulho em água fria. Noção tola.

Os olhos de Colin se estreitaram.

— Acredita que é sua irmã? E casada com um capitão da Marinha?

Ela assentiu.

— Isso foi há trinta anos, a tia Sarah foi viúva duas vezes após isso.

Aproximou-se do ancião, deixando-o sentir sua presença antes de falar.

— Senhor Battersby — disse em voz baixa. — O mar é encantador, não é assim?

Agachado, os ombros ossudos se endireitaram e uma cabeça branca girou para ele.

Escuros e vazios olhos brilhavam à luz da lua, afundados em um rosto fundo e enrugado. Um cenho franzido baixou as sobrancelhas brancas.

— Conhecemo-nos, senhor?

Colin riu entredentes.

— Usualmente me chama de Capitão, mas suponho que ambos somos homens diferentes estes dias.

Os olhos piscaram.

— Capitão? George? Quando chegou?

Colocando sua mão sobre o ombro do homem, Colin teve que controlar-se, já que a fragilidade do homem se podia sentir através da camisola de linho. Pele sobre osso.

— Sarah me necessitava aqui, ela disse que você estava vagando.

Um pequeno sorriso puxou os lábios do homem.

— Eu gosto da água.

— Assim como eu. Mas está um pouco frio. O que diria de um fogo quente e uma conversação agradável?

Não respondeu durante muito tempo, logo se voltou para Colin com confusão em seus olhos.

— Onde está Eleonor?

Sarah, que se tinha movido para o lado oposto de seu pai, atraiu sua atenção e lhe embalou brandamente o cotovelo.

— Ela está na casa de campo, retornemos para ali agora, e ela te fará uma agradável xícara de chá.

— Eu gosto da água.

— Sei, papai, mas mamãe está te esperando. Não deseja vê-la?

— Eleonor?

— Sim, vamos procurar Eleonor, ela está na cabana.

Olhou ao Colin.

— Quem é você?

Os olhos de Colin se encontraram com os de Sarah. Os seus estavam cheios de dor.

— Sou seu marido.

— George?

Sem saber o que mais fazer, Colin assentiu.

— É hora de voltar com Eleonor, meu bom homem, ouvi que tem o chá preparado.

— Bom, vamos, então, Eleonor não gosta do chá frio. — Logo, como se houvesse sido ideia dele, o senhor Battersby se deu a volta e se dirigiu lentamente para a borda, com Sarah sustentando um braço e Colin o outro.

— É bom para ela, George — opinou o ancião, sua voz tremente, seus passos incertos quando deixaram a água rítmica para as pedras arredondadas e a areia fria da praia. — Não deve deixá-la só por mais tempo, ela te necessita.

Sentindo que o gelo se infiltrava e se afundava no centro de seus ossos, Colin tragou saliva pela causa, não pela água, não pelo vento, a verdade é que seu pai morreria logo e sua força de vontade de lutar não poderia durar para sempre. Ela necessitava de alguém, provavelmente um marido, mas não podia ser ele e para um homem que tinha jurado nunca se casar, isso deveria havê-lo enchido de alívio.

Em troca, a pedra dura em sua garganta tinha um sabor amargo, como ressentimento, como arrependimento, como uma perda, só compreenderia depois que fosse muito tarde.

~~*~~

Sarah tinha perdido uma grande quantidade de sensação em seus dedos e pés quando chegaram à casa de campo, felizmente sua mãe já tinha retornado e envolveu rapidamente seu pai em três mantas, sentou-o junto ao fogo da sala e lhe serviu chá quente.

Colin ficou na beira da habitação, olhando à Sarah, pensativa, e olhando para atrás. Quando ela o notou, aproximou-se com uma xícara da bebida fumegante, embora débil.

— Beba — ela disse, apertando os dentes para evitar que batessem. — Trarei outro par de calças de papai, não pode se permitir se resfriar.

— Quanto tempo está assim?

Olhou para trás, onde Eleonor se ajoelhou junto à cadeira de seu pai, suas mãos acariciando seu escasso cabelo enquanto o olhava com medo, pena e amor. Sarah tragou sua própria tristeza e pegou o braço do Colin para tirá-lo da sala. Ele a seguiu de bom grado escada acima até o dormitório de seus pais, onde ela abriu um baú e mexeu em uma pilha das velhas calças de seu pai.

— Aqui — ela disse, dando-lhe um par limpo. — Podem ser muito curtas, mas ao menos estão secas.

Pôs o chá na mesa junto a uma vela acesa e pegou a roupa dobrada, olhando-a com olhos machucados e esgotados.

— Quanto tempo, Sarah?

Suspirou e logo se sentou na beira da cama de seus pais. Esfregando o rosto com ambas as mãos, ela respondeu: — Faz dois anos que começamos a notar as mudanças, mas ao olhar para trás, sua enfermidade deve ter começado muito antes, anos, talvez. — Suas mãos caíram em seu regaço como uma marionete cujas cordas tinham sido cortadas. — Ao princípio, os sinais eram pequenos, esquecia as palavras, extraviava seus óculos de leitura, costumava se pôr difícil e discutia com minha mãe, era muito diferente, mas pensávamos que era normal para um homem da sua idade. Então, um domingo, simplesmente não apareceu no púlpito, esqueceu-se que era para dar um sermão, a igreja inteira esperou, e o encontramos aqui, cuidando de suas rosas, sem dar-se conta de que algo estava mal. Meu pai adorava seu trabalho, ele nunca haveria...

O colchão se afundou quando Colin se sentou ao seu lado, envolvendo uma manta que havia recuperado da cadeira de leitura de sua mãe sobre seus ombros.

— Conhece a causa?

Ela negou com a cabeça, seus polegares giravam um ao redor do outro, formigando agora com o calor.

Pouco a pouco voltou.

— O médico nos dizia pouco, que pioraria, que eventualmente sua mente, suas lembranças, tudo o que ele era iriam embora. — Suspirou de novo. — A paisagem e o ar puro às vezes ajudam.

— Sinto muito, Sarah, verdadeiramente não posso imaginar a dificuldade de ver seu pai deteriorar-se desta maneira.

Ela o olhou, juntando as bordas da manta de lã ao seu redor.

— Se isso fosse o único, acredito que mamãe e eu estaríamos... bom, sentiríamos dor, claro, mas enfrentaríamos sua enfermidade como o faz qualquer família. Infelizmente, no momento que nos demos conta do que estava acontecendo, ele tinha vendido em silêncio alguns dos objetos que tínhamos.

— O quê?

Ela soprou com uma risada seca.

— Oh, coisas tolas, na sua maioria móveis de salão que não necessitávamos, livros para a biblioteca da St. Catharine, comprou uma carruagem muito boa para um senhor, imagina para um vigário rural. Entre a solução das dívidas de papai e a contratação de um padre para encarregar-se de seus deveres na igreja, temo que nossas economias se esgotaram o bastante.

Colin esteve calado por vários minutos, não podia ver grande parte de sua expressão, já que a habitação estava iluminada só com a única vela que sua mãe tinha deixado acesa na mesinha de noite. Logo limpou a garganta para falar.

— Desejaria... desejaria poder fazer mais. Se tivesse recursos, eu...

Tomando uma respiração alarmada, ela o deteve imediatamente.

— Não.

— Só queria dizer...

— Se for rico ou não...

— Não sou. — Disse-o como se admitisse algo vergonhoso.

Apertou os dentes e assentiu.

— Em qualquer caso, não aceitaria, solicitar caridade não é a razão pela qual te contei sobre a enfermidade do meu pai ou nossas... dificuldades.

— Qual foi sua razão, então?

A bruxuleante luz laranja projetava estranhas sombras atrás dele, ocultando seus traços, mas ela imaginou que podia ver algo em seus olhos. Uma intensidade que fez com que um lampejo de sensação brilhasse ao longo de sua pele, não era um calafrio, precisamente mais uma consciência.

— Não sei — ela sussurrou. — Talvez simplesmente precisava dizê-lo em voz alta e você está aqui.

Ela viu um músculo saltar e flexionar-se em sua mandíbula antes que ele girasse sua cabeça para longe dela.

— Necessita de alguém. — Seu tom era desconcertante, quase zangado.

Quando voltou o calor da sua mente se fez mais lenta, o esgotamento dos últimos dias se elevou como uma névoa, encheu sua cabeça e pesou seus músculos até que ela começou a recordar . Ela se conteve antes de paralisar-se, mas suas palavras eram uma confusão.

— Ficarei até no domingo.

— Você... o fará?

— Então no domingo devo ir embora.

Ela assentiu, perguntando-se se estava sonhando.

— Vem. Vamos nos deitar. — Disse, levantando-se da cama e dirigindo-se à porta.

De novo, levou um momento para entender suas palavras.

— Não, está... ainda está se recuperando. — Imediatamente seu rosto estava a centímetros do dela, com as mãos apoiadas no colchão a cada lado de seus quadris enquanto se inclinava sobre ela. O movimento parecia repentino, mas provavelmente essa era sua mente faminta de sono jogando truques. Mesmo assim, sua proximidade era desconcertante, assim como suas palavras.

— Levar-te à cama. Entendeu? — Ela piscou lentamente, vendo o brilho de ira ao escutar o grunhido de suas palavras.

— Eu...

— O que entendeu, Sarah? — Por que seu coração pulsava com força, de repente, e por que a lembrança de seu beijo anterior seguia dançando em sua mente?

— Seus ferimentos.

— Diga-o.

— Bem, irei à cama. — Seu quente fôlego flutuou sobre seu rosto enquanto ele suspirava.

— Bem — se separou dela, elevou-se à sua altura máxima e estendeu uma mão, ela franziu o cenho, ainda muito confusa, mas deslizou sua mão entre as suas e lhe permitiu que a pusesse de pé. Estava surpreendentemente perto e quente.

— Obrigada — ela murmurou. Seu braço a rodeou e se acomodou em suas costas, mas, em lugar do abraço que ela quase esperava, ele a conduziu através da porta, grunhindo:

— Pelo amor de Deus, senhorita Battersby, não agradeça a um homem por te dar o que era teu ao princípio.


CAPÍTULO 7

“Para alguns, as boas maneiras e a habilidade na valsa compensam muitos defeitos.

Para outros, recomendo banhar-se mais frequentemente...”

A Marquesa viúva de Wallingham ao Sir Barnabus Malby em um salão de baile de Mayfair.

Um chiado ressoou no corredor da antiga abadia fazendo com que Colin estremecesse antes de seguir o som. Sabia que esta era uma escola para meninas, e normalmente encontrava a maioria das mulheres encantadoras, mas não tinha dormido bem na noite anterior. O chão tinha sido uma cama malditamente incômoda: fria, dura e implacável.

Ela nunca deveria haver se visto obrigada a dormir ali.

Suas botas ainda úmidas golpeavam o chão de madeira enquanto se aproximava da porta entreaberta do que devia ser a sala de música, dadas as notas incômodas que emanavam do interior, empurrando-a foi recebido pela presença de uma dúzia de meninas de idades compreendidas entre os doze e os dezesseis anos, que tomavam uma aula de dança. Com uma olhada catalogou-as como meninas ricas, seus vestidos eram em tons cremes, todos costurados por peritos, seus cabelos brilhantes, sua pele limpa e pálida. Se isso não fosse suficiente evidência, pareciam estar praticando uma quadrilha.

Uma ruiva mal-humorada tropeçou enquanto fazia uma reverência à garota em frente a ela, uma risonha de cabelo dourado com tendência a soprar riu a gargalhadas da cara da ruiva que ficou da cor de seu cabelo.

— Senhorita Parnham, agradecerei que mantenha sua compostura e mostre as boas maneiras que todas aprenderam aqui na Academia St. Catherine. — A nítida reprimenda atraiu instantaneamente a atenção de Colin para sua fonte, a senhorita Battersby, que estava junto à espantosa garota sem talento que tocava o pianoforte. — Recordem, devemos nos esforçar por tratar os outros com mais amabilidade da que nós gostaríamos que nos tratassem, já que nunca se sabe quando nos encontraremos em necessidade de bondade, só estamos seguras que ocorrerá.

Ela estava... fascinante, uma ligeira dobra entre suas sobrancelhas, seus lábios franzidos, seu cabelo selvagem afastado de seu rosto em um coque severo. Mais tarde, sabia ele, os cachos escapariam atrevidamente, mas era muito cedo para isso. Agora sua voz ordenava respeito, obrigando-o a endireitar sua postura e a inclinar-se com precisão, observando todas suas propriedades.

Queria beijá-la de novo, queria liberar aquele cabelo e fazer com que seus olhos cor mel brilhassem de desejo. O objeto de sua fantasia continuava agora falando pacientemente com a garota do cabelo e rosto vermelho.

— Senhorita Cresswell, quando for seu turno, comece com seu peso sobre o pé direito enquanto permite que seu pé esquerdo se levante e se deslize ligeiramente sobre o piso. Antecipe cada passo tal como o faria ao caminhar pela habitação, tente-o outra vez.

Ele cruzou os braços sobre o peito, apoiou-se contra o marco da porta e observou a instrutora, ela dirigia estas garotas como um capitão de navio, com autoridade natural, e elas respondiam com obediência.

Perguntou-se ociosamente como seria receber instruções dela, deixá-la fazer exigências severas que ele poderia satisfazer uma por uma até que ela se derretesse por ele. Rogasse por ele.

Respirando fundo, sacudiu sutilmente a cabeça. Não tinha sentido agradar tais fantasias. Ela não era e nunca poderia ser dele.

— Senhor Clyde?

Piscou levantando seus olhos de seu modesto corpete xadrez marrom e branco ao seu rosto.

— Sim?

Seu sorriso era ao mesmo tempo educado e desconcertado.

— Necessita de ajuda?

— Isso depende, Senhorita Battersby — respondeu antes de pensar melhor. — O que está oferecendo fazer por mim?

Por seu repentino cenho franzido deduziu que ela entendia que estava brincando com ela, mas não compreendia seu significado, então ele simplesmente sorriu brandamente e separou-se da parede para cruzar a habitação. Deu-lhe um educado assentimento enquanto se dirigia para o pianoforte quadrado e compacto, detendo-se e deixando a jovem aluna de música entre eles. A cabeça escura da menina girava de um lado a outro, suas mãos abençoadamente imóveis enquanto tratava de saciar sua curiosidade.

— Sua mãe mencionou que estava aqui dando aulas — continuou. — Desculpo-me pela interrupção.

Sarah olhou à sua pupila e logo a ele. Suspirou.

— Senhor Clyde, apresento-lhe a Senhorita Thurgood. Senhorita Thurgood, este é o Senhor Clyde.

A Senhorita Thurgood piscou lentamente para ele, suas pestanas ridiculamente longas como vassouras varrendo o ar em busca de teias de aranha.

— Um prazer conhecê-lo — disse sem fôlego.

— Igualmente. — Imediatamente sua atenção se dirigiu a Sarah, que ainda estava franzindo o cenho. — Senhorita Battersby, esperava que pudesse me ajudar a recuperar meu cavalo.

Seu rosto se esticou.

— Já enviei uma nota ao Sr. Hubbard, amanhã entregará Matilda na casa de campo, já que ele e a Sra. Hubbard assistirão aos serviços do domingo.

Assentindo, viu que seus lábios se dobravam nos cantos como se tivesse mordido algo amargo.

— Me perdoe, Senhor Clyde, mas o senhor é o futuro marido da Senhorita Battersby?

Quase tinha esquecido a menina entre eles, a Senhorita Thurgood provavelmente tinha dezesseis ou dezessete anos, se ele não se equivocava. Bastante bonita, supôs, mas absolutamente pouco interessante ao lado da Senhorita Battersby.

Encontrou-se com os olhos de Sarah.

— Isso foi o que me disseram.

O bate-papo na sala se acalmou, olhando ao seu redor notou a quietude entre as garotas, que o olhavam com medo ou fascinação, não podia estar seguro.

A garota ruiva, a senhorita Cresswell, recordou, falou primeiro.

— O que aconteceu com seu rosto?

— A tacada de Robbie fez tudo isso? — Perguntou outra.

— O senhor é de Londres? — Inquiriu a moça de cabelo dourado, a Senhorita Parnham.

Vagamente reconheceu-a como uma das garotas presentes quando foi golpeado pela bola de cricket. Distraidamente, esfregou o hematoma na união de seu crânio e sua nuca.

Ainda lhe doía um pouco, mas estava agradecido de que não tivesse sido pior.

— Parece que tem um título. Tem? — Perguntou uma delicada morena com olhos azuis claros e uma atitude tímida.

Outra garota, encorajada por suas companheiras, adicionou: — Por favor, nos conte sobre a temporada. Já esteve em um baile?

Um ligeiro aplauso da senhorita Battersby deteve o interrogatório.

— Meninas, isso é suficiente, sabem que não devem exibir tal impertinência. O senhor Clyde está indo embora.

Varrendo seus rostos com os olhos muito abertos, ansiosos e bastante trementes de curiosidade, sorriu-lhes.

— Não importa, senhorita Battersby, senhoritas, não sou um nobre, só um humilde cavalheiro, temo. Sim, vivi em Londres e sim, fui a um baile ou dois em meus tempos.

Os ofegos de seu público feminino teriam sido mais adequados se ele tivesse anunciado que uma vez tinha sido uma girafa vagando pelas planícies africanas. Entretanto, sua reação ficou clara ante a gagueira da senhorita Thurgood.

— Poderia... poderia descrevê-lo para nós?

— Sim, por favor, Sr. Clyde.

— Como é?

— Há muitos, muitos cavalheiros ali?

— Com títulos?

— Que classe de bailes dançou?

— A valsa?

— Oh, a valsa! As quadrilhas são tão tediosas, eu gostaria de aprender a valsa.

Colin tentou acompanhar as perguntas, realmente tentou, mas o bombardearam como uma descarga de flechas sobre as muralhas do castelo. O melhor que pôde fazer foi cobrir a cabeça e esperar um momento enquanto recarregavam. Falando figurativamente, é óbvio. Finalmente, a senhorita Thurgood lançou a flecha de fogo que aparentemente todas tinham estado esperando: — Poderia nos ensinar, Sr. Clyde? A valsa, é claro.

Outra descarga de “por favor” e “oh, por favor” surgiram da multidão. Sua armadura não pôde suportar o assalto.

— Está bem — ele admitiu, imitando alegremente a altivez ducal de seu irmão. — Mas primeiro, Senhorita Thurgood, deve aprender a tocar uma, e com maior habilidade da que demonstrou na quadrilha.

Ignorando o olhar de desaprovação de Sarah e seu ineficaz protesto, fez um gesto à senhorita Thurgood para que deixasse seu assento no pianoforte. Tomando seu lugar, deixou que seus dedos se acomodassem em posição. Foi como voltar para casa.

— Agora, — disse acariciando as teclas de marfim ligeiramente, com amor — Senhorita Battersby, tem uma partitura para uma valsa?

Ela não respondeu, em troca, a senhorita Thurgood pinçou em uma pilha, arrancou a odiada quadrilha e logo colocou uma valsa diante dele, uma peça simples e sem título em três e quatro tempos.

— Adorável — respirou. — Vamos começar, primeiro, uma valsa tem regularidade, mas isso não exclui a emoção. É uma dança para dois, terna em lugar de alegre. Observem. — Tocou um pouco, deixando que as notas fluíssem e se fortalecessem, logo que flutuassem e girassem, logo se repetissem com delicada alegria. — Vê, Senhorita Thurgood? Enfatize a primeira nota de cada compasso para que sirva de guia para os bailarinos, seus dedos devem deslizar-se com precisão sobre as teclas, não como uma mula sobrecarregada, venha, sente-se ao meu lado. — Moveu-se à sua direita. A menina de longas pestanas se sentou ansiosamente. e, juntos, tocaram. Duas vezes ela golpeou uma nota torpe, mas ele murmurou suas correções, e quando fizeram sua terceira vez através da canção, ele pôde declarar: — Acredito que a tem agora, tente uma vez por sua conta. — Levantou-se do banco, observando suas mãos. — Respire, Senhorita Thurgood, seja uma boa garota.

Ela tocou a melodia repetitiva duas vezes mais, ganhando confiança, até que sua interpretação ao menos pôde considerar-se passável, muito melhor que seus esforços anteriores. Ele não pôde evitar a quebra de onda de calor picante ante seu êxito, era mais do que tinha esperado, o suficiente para explicar o carinho da Senhorita Battersby pelo ensino. Ele estava... como explicar... orgulhoso, supôs. Para Colin foi uma sensação muito incomum.

Sem pensar, sorriu alegremente a Sarah, ela pareceu aturdida, e logo lhe devolveu o cenho franzido. Enviou-lhe um olhar inquisitivo, ela respondeu com as sobrancelhas levantadas e uma inclinação de sua cabeça para sua audiência absorta. As garotas olhavam a ele e à senhorita Battersby, seus deslumbrantes olhos traíam suas fantasias românticas.

À medida que a última nota da senhorita Thurgood se desvanecia, começaram a surgir os murmúrios e as conversações. O Sr. Clyde ensinou a senhorita Battersby a dançar? Foi assim que se conheceram? Ele era um tutor de música? Conheceram-se em um baile? Como apaixonaram-se? Imediatamente? Quanto tempo depois que se conheceram ele lhe propôs?, e assim sucessivamente, dando ao Colin uma dor de cabeça que rivalizava com seus dias de ressaca.

— Meninas! — Sarah disse bruscamente. — É o suficiente, pelo amor de Deus, se acalmem, uma dama deve frear sua curiosidade para não parecer grosseira ou muito ansiosa, na melhor das hipóteses, pode fazer uma consulta educada, mas nunca deveria, nunca, afligir um cavalheiro com perguntas invasivas.

Uma garota mais jovem, provavelmente de uns doze anos, desafiou corajosamente.

— Mesmo quando todos os outros o estão fazendo?

— Especialmente quando todos os outros o estão fazendo, Senhorita Turner, uma dama segue sua consciência; ela não se une a uma multidão.

Limpando sua garganta, ele tentou voltar a tomar o controle.

— Concederei sua solicitude de aprender a valsa com uma condição. — Doze pares de olhos se pousaram nele, esperando sem fôlego. — Prestem atenção às minhas instruções, e logo, se tiverem alguma pergunta, podem levantar a mão e eu responderei. Mas só uma de cada vez. Entendido?

Todas assentiram. Então, a ruiva levantou seu comprido braço. Ele suspirou.

— Sim, Senhorita Cresswell?

Ela engoliu com força.

— Dançará com a Senhorita Battersby? Ela é sua prometida, depois de tudo.

Novamente, doze cabeças assentiram com entusiasmo, cabe destacar que a senhorita Battersby não era uma das doze em seu lugar, ela parecia bastante doente.

Ele suspirou.

— Muito bem.

O protesto de Sarah veio imediatamente.

— Oh, mas...

— Senhorita Battersby — ele interrompeu, desfrutando de seu olhar de assombro consternado enquanto evitava a Senhorita Thurgood para parar-se em frente a ela. — Me honraria com uma valsa? — Ele estendeu sua mão. Sem luvas, mas então, só podia permitir-se as botas meio empapadas que usava.

Ela piscou três vezes antes de fazer uma reverência perfeita e deslizar sua mão na dele. Sua palma e as gemas dos dedos tinham as zonas ásperas mais intrigantes.

Brevemente considerou como se sentiriam em sua pele... não. Devia concentrar-se na tarefa em questão.

— Toque, Senhorita Thurgood — disse, agora ansioso para que esta lição terminasse rapidamente para que não tivesse que estar tão perto de Sarah Battersby, o suficientemente perto para cheirar seu aroma feminino e limpo, para imaginar coisas que não deveria desejar. Pôs a mão no seu braço e a conduziu ao espaço aberto perto das janelas, onde tinha visto as garotas dançarem antes. Com um gesto elegante levantou a outra palma e fez um gesto para a pista de baile. — Demonstremos como se dança uma valsa.

~~*~~

Ele era um instrutor excelente, pensou Sarah enquanto contava os passos das valsas alemãs e francesas para ela e suas alunas. Atraente, divertido, direto, mas amável, explicou o que queria tão perfeitamente que ela ficou surpreendida de que tivesse obtido transformar a interpretação de Caroline Thurgood de torpe a elegante em minutos.

Sarah não tinha podido realizar a mesma tarefa em meses.

Atualmente ele estava demonstrando a valsa de Sauteuse, exagerando seus movimentos e desacelerando e acelerando sua voz para um efeito cômico.

— Ao mesmo tempo, devemos ser melhores e dignos em nossa postura, com nossos queixos no ar e nossos narizes preparados para elevar-se por cima de aromas não desejados — entoou de maneira apropriadamente elevada, franzindo os lábios e demonstrando a posição da cabeça. — Embora abaixo — continuou em um tom mais alegre, — nossos pés estão desfrutando de um voo de fantasia. — Realizou um giro repentino, com graça, colocando seus calcanhares no chão e lhe piscando um olho.

Uma bolha de risada ameaçou surgir atrás de seus apertados lábios. As garotas não puderam demonstrar uma fortaleza similar, explodindo em risinhos indefesos ante suas palhaçadas.

Ele fingiu confusão.

— Nunca riam, minhas queridas, porque a valsa é um assunto sério. — Sua declaração poderia ter sido mais acreditável se não tivesse entrado em um falsete e logo caísse três oitavas nas últimas duas palavras.

A bolha de risada escapou, brotando dela como um jorro. Ele se deteve ao seu lado, suas mãos embalando as dela, seus olhos azuis dançando com luz enquanto olhava. A pele dela se esquentou, seu olhar se iluminou, seu estômago se inchou e borbulhou até que não teve nada mais que espuma dentro dela. Ela negou com a cabeça, ainda sorrindo como uma idiota, mas agora sem fôlego.

— O senhor é muito distraído, Senhor Clyde.

Ele lambeu os lábios e a olhou um pouco mais do que o confortável.

— Assim como você, Senhorita Battersby, distraída, em efeito.

— Err. Supõe-se que pretende beijá-la? — A pergunta foi sussurrada, mas suficientemente forte para chegar aos ouvidos de Sarah e fazer com que a espuma subisse de seu ventre às suas bochechas, queimando sua pele.

Outra garota suspirou, respondendo: — Oh, espero que sim.

Essa era Lydia, é claro, a tolice romântica da garota não seria repreendida, para a grande diversão de todos os outros, incluídos Colin Clyde, quem se pôs-se a rir e se apartou para inclinar-se em direção a elas de forma rígida. Seu estremecimento lhe recordou que ainda não tinha sarado.

— Colin — murmurou automaticamente, procurando seu braço.

Mas ele se retirou, e seu sorriso se desvaneceu quando deu um passo para trás.

— Senhoritas, deveriam encontrar um par para a valsa. — Ele se virou para a senhorita Thurgood. — Comece de novo, por favor.

Uma hora depois Sarah se maravilhou com sua resistência enquanto seus dentes mordiam seu lábio inferior, ela se encarregou de tocar o piano para que a senhorita Thurgood pudesse praticar a dança com Colin, o que lhe deu a oportunidade de vê-lo como tutor de cada menina, corrigindo a postura aqui, ajudando na busca do ritmo adequado ali.

Foi surpreendentemente paciente com todas elas, embora ela pudesse ver linhas de tensão ao redor de sua boca. E estava mais pálido que antes. Era difícil de julgar, já que seu rosto ainda estava inchado em alguns lugares e muito descolorido ao redor dos olhos, no nariz e nas maçãs do rosto. Para falar a verdade, ela não deveria sentir a menor atração por ele, já que sua aparência era bastante grotesca na atualidade. Mas algo a fez suspeitar que era bastante bonito. Talvez fosse a forma em que se comportava, sem questionar sua própria atração, sem preocupar-se que alguém pudesse achá-lo menos que encantador, em particular de qualquer pessoa do gênero feminino.

Seus olhos se desviaram de novo da partitura para o lugar que ele dançava com a senhorita Thurgood, sua mão descansando ligeiramente na cintura da menina. Uma nota amarga golpeou, seus dedos detiveram-se, junto com os tilintantes tons do pianoforte. Gemidos de garotas soavam através da habitação.

— Acredito que já é suficiente de dança por hoje — ela anunciou levantando do banco rigidamente. — A senhora Blake terá o almoço preparado logo, vão e refresquem-se para a lição da tarde em aquarelas.

Fizeram-no, mas só depois que cada uma se despediu pessoalmente do Senhor Clyde, demonstrando sua facilidade para fazer reverências e uns rápidos movimentos de pestanas. Por fim, ela e Colin ficaram sozinhos na habitação, ela se apoiou ligeiramente contra o piano e ele contra a parede da janela.

— Posso ver por que desfruta — ele disse apartando-se da parede e aproximando-se dela com passo indolente.

— Dançar?

— Ensinar oferece uma certa gratificação.

Ela sentiu que um pequeno sorriso curvava sua boca.

— Hmm — esteve de acordo. — Quando se tem êxito, parece que tem um dom para isso, Senhor Clyde, as garotas aprenderam rápido e bem sob sua tutela.

Ele ficou em silêncio enquanto ela ordenava as folhas de música, mas podia sentir que ele se aproximava, escutava o calmo toque de suas pegadas no chão de madeira.

Finalmente, fez-lhe uma pergunta em voz baixa.

— Onde aprendeu tudo isto, Sarah?

Surpreendida, Sarah se deteve para considerar o homem que estava a uns metros de distância. Ela não tinha esperado que ele perguntasse tal coisa, vivendo toda sua vida em Keddlescombe, estava acostumada a todos, desde Ann Porter até o velho Sr. Hubbard, que já conhecia sua história.

— Às vezes esqueço que é um estranho, — murmurou distraidamente, logo sacudiu a cabeça e suspirou, deslizando o montão de partituras na caixa de madeira esculpida de sua mãe. — Meu bisavô tinha um título, barão de Chalsea, meu avô era um terceiro filho, tão somente um ‘cavalheiro’. Entretanto, isso foi suficiente para que minha mãe tivesse uma temporada em Londres e alguns amigos entre a nobreza. Até que se casou com um vigário humilde e começou a trabalhar em Devonshire, é claro. — Sarah riu com ironia. — Isso a colocou firmemente na classe média, entretanto, ao final ela pôs a trabalhar suas boas maneiras e tênues conexões nobres quando papai sugeriu abrir uma escola. Me educaram aqui.

— Ah... esperava ter uma temporada, também, algum dia?

Ela riu.

— Céus, não, a escola começou em um esforço por proporcionar instrução acadêmica às filhas da aristocracia. Papai era um homem de Oxford, mas bastante moderno em suas convicções. Acreditava que as meninas deveriam ser educadas nas mesmas disciplinas que os meninos.

Um surpreso meio sorriso torceu os lábios de Colin.

— Seu pai é um radical?

— Nem tanto um radical, mas como um verdadeiro crente vê, o reflexo de Deus em todos nós. — Sua garganta se apertou quando a tristeza atou sua língua. — Ele acredita que deveria honrar isso ajudando a desenvolver o potencial completo de cada criança, seja menino ou menina, pobre ou príncipe, esperava eventualmente oferecer educação às meninas pobres, também.

— Uma proposta incomum.

Limpou-se garganta, sacudindo a melancolia.

— Sim, infelizmente foi assim quando não pôde atrair a mais de duas ou três alunas, minha mãe sugeriu trocar o enfoque para preparar as jovens para sua estreia. Depois de um tempo a escola se voltou bastante bem-sucedida, mas principalmente com a nobreza latifundiária e os que se enriqueceram através do comércio.

— Por que não seguir adiante. Parece uma solução ideal, você e sua mãe...

Suspirando com impaciência Sarah se voltou para a porta. Como a maioria das pessoas, ele simplesmente não entendia sua posição.

— Onde? A única razão pela qual a Academia de St. Catherine segue sendo solvente é porque a igreja mantém a abadia. O que propõe que usemos como dormitório uma vez que o Sr. Dunhill tome posse? Um pasto de ovelhas?

Ficou calado enquanto a seguia pelo corredor e para a entrada principal.

— Sinto muito, Sarah.

A um metro das portas suas simples e sinceras palavras a detiveram em seco, ela respirou fundo, com a esperança de afugentar o endurecimento infernal dentro de seu peito. Ela não devia render-se ao desespero, não agora, nem nunca, não serviria para nada.

Mãos cálidas pousaram sobre seus ombros, seu corpo alto e duro lhe roçou as costas.

— Faria mais se pudesse, juro.

Seus olhos se fecharam por um momento, só um momento, permitiu-se apoiar-se nele, imaginar o luxo de compartilhar suas cargas, confiar na força de outra pessoa por um tempo. Nada nunca tinha sido uma maior tentação.

Ela estava perdendo muito, e não podia detê-lo, só vê-lo passar devagar.

Inexoravelmente. Como um vagão que se desliza costa abaixo através do lodo escorregadio, rompendo-se enquanto cai lentamente.

Um soluço surgiu em seu peito, ela se desabou para frente. Fortes braços a apanharam, apoiando-se em sua clavícula, dando voltas ao redor de sua cintura.

Recolhendo-a forte.

— Superará isto — ele sussurrou em seu ouvido.

Sua resposta foi afogada.

— Que diabos te faz pensar isso?

— É forte mais forte que eu, sem dúvida, embora isso seja uma pobre comparação.

— Não sei por que diz essas coisas.

— Porque são certas.

Sua mão roçou seu antebraço onde pressionou sua cintura.

— Para mim você não parece débil.

Ficou rígido atrás dela, deu-lhe um beijo na têmpora e sussurrou: — Doce Sarah. — Lentamente ele retirou seu abraço, seus braços deslizaram, deixando uma sombra fria em seu rastro. Caminhou junto a ela para as grandes portas de carvalho e as abriu. A luz do meio-dia era cinza e aquosa onde caía sobre seu cabelo dourado, deixando-o pálido como um fantasma. Antes que as portas se fechassem atrás dele, deu-lhe um sorriso dilacerador. — Se você soubesse...


CAPÍTULO 8

“A natureza rústica do campo me acalma. A natureza rústica dos aldeãos tem um efeito oposto”.

A marquesa viúva de Wallingham ao seu vigário local ao pedido de sua presença em uma feira do povoado.

— No caminho? — Perguntou a senhora Jones bastante hesitante.

— Conheceram-se no caminho? — Secundou a Sra. Canfield. — Onde, por favor me diga.

Sarah reconheceu facilmente que ela era uma má mentirosa, e o piquenique no pátio da igreja do senhor Dunhill foi seu tribunal. Talvez inclusive seu castigo.

— Eu... estava viajando à... er, Bath. O ano passado. E... o cavalo do senhor Clyde se tornou coxo.

Falando de coxo, sua história estava se tornando em seu personagem com uma pressa terrível. Onde estava Colin, perguntou-se. Ele era muito melhor naquilo.

— Não recordo que tenha tido uma viagem à Bath — disse a Sra. Jones, franzindo seu cenho. A expressão recordava a época em que Sarah e Ann Porter tinham roubado um bolo de damasco do balcão da loja da senhora Jones. Ann tinha posto a coisa nas mãos de Sarah momentos antes que a senhora Jones retornasse da padaria, e Sarah tinha escondido o delicioso e pegajoso prazer atrás de suas costas. A senhora Jones nunca tinha sido facilmente enganada.

— Eu... quer dizer, foi uma viagem breve para... me reunir com a diretora de uma escola dali. Não vale a pena mencionar.

— Hmmm — opinou a senhora Jones.

— Bom, a sorte certamente esteve de seu lado, resgatando-a, querida. — Disse a Sra. Canfield, seus olhos brilhando com grande interesse. — E cuidar de suas feridas depois de ser jogado do mesmo cavalo! Deve casar-se contigo de maneira adequada e rápida, é o amuleto da boa sorte. — Olhou por cima do ombro de Sarah e levantou as sobrancelhas. — Senhor Clyde! Só estava dizendo "quão afortunado deve sentir-se”.

— De fato, sim — veio sua suave voz de trás e logo junto a Sarah, hoje usava outra das camisas de seu pai, junto com um chapéu alto. Colin tinha juntado as roupas emprestadas com seu próprio casaco de montar e calças de camurça, que ela tinha limpado e que sua mãe tinha consertado. Parecia bastante bem preparado para um homem que tinha encontrado quase morto fazia só uns dias.

— A senhorita Battersby foi enviada do céu — ele recolheu sua mão enluvada e lhe deu um beijo nos nódulos, seu coração esperneou e gaguejou dentro de seu peito. — Meu anjo da misericórdia — murmurou, seus olhos capturando os dela.

Por um momento ela se esqueceu de respirar, era tão bom que tinham combinado sua história antes de irem à igreja, nessa manhã. Desejando a verdade, ele havia aconselhado e mudado os detalhes que seriam alterados. Claramente, ele tinha muita experiência na arte de enganar, mas a história entupiu-se em sua garganta, esquentou suas bochechas, a fez tremer ao contá-la. Inclusive agora, com ele olhando-a com afeto, sentia-se envergonhada de mentir a duas mulheres que só lhe haviam mostrado amabilidade e uma pontada de pesar de que Colin não pertencia, de fato, a ela. Que ele iria sem que ela descobrisse aonde levavam aqueles novos sentimentos.

Na atualidade seus olhos azuis pareciam tão inocentes como um cordeiro recém-nascido, se atreveria a dizer que teria se perdido sem ela, literalmente. Voltou seu olhar às duas mulheres de meia idade, uma cética, mas abrandada, a outra cativada, e se pôs-se a rir.

— E agora, devo roubá-la por um momento, espero que me perdoem, senhoras.

Enquanto a guiava através da multidão de aldeãos que conversavam, ela murmurou: — Isto é mais difícil do que eu supunha.

Sem deixar de sorrir, Colin inclinou seu chapéu para os Millers e deslizou sua mão sobre a dela, onde sustentava seu braço. Deu-lhe um apertão.

— Só um pouco mais, amada.

Ela levantou uma sobrancelha.

— Amada?

— Querida, então?

Seu nariz enrugou.

— Muito... doce, acredito.

Seu sorriso esquentou seu ventre, fez com que seu coração revoasse e se movesse como uma borboleta.

— Curiosamente, — disse — frequentemente penso em ti em termos de mel, olhos de mel, cabelo de mel. — Os olhos azuis se concentraram em sua boca. — Lábios de mel.

Meu deus, onde estava o ar? Sua cabeça tinha começado a girar, o bate-papo dos aldeãos se desvaneceu ao seu redor. Tudo o que podia ver era aquele homem, que a olhou e não viu a conhecida senhorita Battersby, e sim Sarah, a mulher que desejava ser beijada.

Talvez ir ao piquenique tivesse sido um erro, embora Colin Clyde fosse muito convincente, ela seguia sendo uma mentirosa terrível, torpe e inibida. Mas, então, nada poderia convencer o Sr. Foote de sua indisponibilidade mais firmemente que ser esquadrinhado por outro homem.

— Sarah! — Ann Porter lhe fez um gesto com a mão para o canto do campo verde aberto, justo perto da borda da madeira. Quando se aproximaram, Sarah viu sua mãe de pé junto a Ann, com uma expressão de preocupação em seu rosto.

Sarah soltou o braço de Colin e correu para Eleonor.

— Mamãe, qual é o problema? — Ann respondeu: — O Sr. Foote a encurralou, fazendo todo tipo de perguntas.

— Se os Hubbard não tivessem vindo, eu... não sei o que poderia haver dito, era bastante contundente...

Tomando a mão de sua mãe, Sarah a sacudiu um pouco.

— Fez-te mal, mamãe? Ameaçou-te?

— Não. Simplesmente perguntou por ti e o Sr. Clyde, quanto mais perguntava, mais fraca eram minhas respostas, consegui esquivá-lo, mas...

Sarah terminou sua frase.

— Se preocupa que suspeite.

— Ele o faz — Eleonor zombou. — Preocupa-me que possa saber a verdade, o que só aumentará sua influência sobre ti.

Colin ficou rígido.

— Onde ele está?

Eleonor fez um gesto para uma das mesas mais longas, perto da parede leste da igreja. Sarah se girou para ver o Sr. e a Sra. Hubbard conversando um pouco acaloradamente com Félix Foote. Antes que ela pudesse dizer uma palavra, Colin estava perseguindo o trio, com uma intenção agressiva em cada linha de seu corpo.

— Oh, querida — sua mãe suspirou. — Não tinha me dado conta...

— Do que não se deu conta? — Ann perguntou.

Sarah observou que os ombros de Colin se endireitavam ao ver que se aproximava, e viu que os olhos do senhor Hubbard se abriam com alarme. Ela não podia ver a expressão de Colin, porque ele estava de costas a ela, mas a senhora Hubbard parecia estar gaguejando um protesto preventivo, e o senhor Hubbard tinha colocado seu curvado corpo entre Colin e o senhor Foote.

Imediatamente Sarah soube que devia intervir, foi para frente através da multidão, detendo-se o suficiente para permitir que a menina Miller perseguisse a sua irmã diante dela e corresse para o bosque. Foi então quando escutou a sua mãe responder à pergunta de Ann, um fio de bate-papo em meio dos sinos de urgência em sua mente.

— Tinha assumido que sua motivação era a gratidão ou inclusive o cavalheirismo — sua mãe disse a Ann. — Agora, vejo que é muito pior que isso.

Sarah não perdeu um momento ao ver que Colin avançava pouco a pouco contra a mão que o senhor Hubbard punha diante dele, sua postura desafiou o vívido Félix Foote, víbora de olhos estreitados, a dar um soco. À medida que se aproximava, apressando-se através da erva tosquiada, escutou Foote dizer: — Tenho muito mais direito a reivindicá-la que você, um estranho que vem de onde, precisamente?

A voz de Colin era surpreendentemente baixa e suave, considerando que parecia que desejava que a cabeça de Foote voasse de seus ombros.

— Entretanto, ela me escolheu, ela me pertence.

Alcançou o ombro do senhor Hubbard, golpeando a aba de seu chapéu no caminho, e pegou um punhado da lapela de lã do Foote, atraindo o outro homem até que o pobre senhor Hubbard se interpôs entre eles, cuspindo e lutando para endireitar seu chapéu.

— Se achar que esqueceu esse fato pertinente em algum momento no futuro, — continuou Colin em voz baixa — se descobrir que invadiu o lugar onde é inoportuno, por palavra ou ação, não necessitará de mais reivindicações, porque um homem morto não possui mais que sua tumba. — Soltou Foote com um empurrão, enviando-o longe.

Sarah se deteve, balançando-se em seu lugar como as garrafas naquela mesa. Ninguém nunca a havia defendido daquela maneira, ninguém tinha ameaçado com violência para protegê-la. Talvez estivesse fingindo, interpretando o papel ao máximo. Devia ser isso, era um excelente mentiroso, como ela tinha visto por si mesma.

Todo o dia, enquanto caminhavam juntos através dos aldeãos, detiveram-se e conversaram sobre seu "compromisso secreto", tinha mentido tão facilmente como informava sobre o clima: “Faz um formoso dia hoje, ensolarado e temperado, perfeito para almoçar fora. Apaixonamo-nos no caminho à Bath e estivemos nos correspondendo desde então.” Tão despreocupado era ele quando falava destas falsidades que, em ocasiões, a realidade se detinha e ela se encontrava acreditando nele. Neles enamorados, então, sua repentina ferocidade no que concernia ao Félix Foote não podia ter outra explicação. Colin estava atuando, e as fantasias de Sarah não eram mais que muitas tolices, ela não era Lydia Cresswell, uma romântica parva com uma imaginação superabundante, ela era Sarah Battersby, filha do vigário, vizinha virtuosa e instrutora responsável das meninas.

Ela era pragmática, não podia permitir-se ser outra coisa.

— Senhorita Battersby! — A senhora Hubbard gritou, espiando-a flutuar.

Sarah se sacudiu mentalmente e se colocou junto à mulher mais velha, agora estava suficientemente perto para ver que a fúria de Colin era bastante real e não havia se dissipado, com a mandíbula flexionada, os punhos apertados. Além disso, o Sr. Foote, quem se sacudiu a prega de seu casaco e lançou a ela e ao Colin um olhar feroz, parecia estar preparado para lutar.

— Moços — o senhor Hubbard disse com desgosto. — Estamos nos terrenos da igreja. A luta não tem lugar aqui.

A senhora Hubbard secundou a advertência de seu marido.

— Em efeito, devem comportar-se como cavalheiros se desejam agradar uma dama. Não é assim, senhorita Battersby?

O problema era que Sarah gostava do que Colin fazia, gostava que ele a tivesse defendido, ameaçando o desprezível senhor Foote. Por isso manteve sua resposta a um não comprometido, "Hmm". Logo, olhando diretamente à estreita cara do Sr. Foote, ela com suavidade curvou sua mão ao redor do cotovelo de Colin e se aproximou, quase abraçando seu flanco.

— Embora não aprovo a violência, senhor Foote, faria bem em prestar atenção ao conselho do senhor Clyde.

Os olhos do Foote se converteram em fendas malévolas, sua boca em uma linha apertada.

A serpente estava zangada.

— Este compromisso tão repentino é uma enganação, não posso provar, mas sei que é verdade.

A voz de Colin se voltou mais suave em vez de mais forte.

— Ela é minha, asqueroso verme, coloque isso na cabeça.

Foote abriu a boca para replicar, mas Sarah tinha tido o suficiente. Ela interveio bruscamente: — Inclusive se não o fosse, Sr. Foote, nunca seria sua, isso é tudo o que precisa saber.

O queixo da serpente se elevou e avançou.

— Se, como suspeito, seu compromisso é uma mentira, então não passará muito tempo antes que necessite de um verdadeiro marido, e rogará em minha porta. — Separou-se da mesa a fim de abandonar sua companhia, mas se deteve enquanto passava junto a Sarah. — Espero com ânsia esse dia, senhorita Battersby — murmurou com os dentes apertados antes de afastar-se.

Ela não se voltou para vê-lo ir-se. Suas palavras causaram calafrios ao longo de sua pele como milhares de aranhas.

— Não entendo por que ele é tão insistente — murmurou para si mesma. — Está como... obcecado comigo, não se fixa em outra mulher.

— Não entende? — Disse o senhor Hubbard.

Sarah negou com a cabeça.

A senhora Hubbard estalou e deu a Sarah um olhar peculiar.

— É claro que sim, querida menina.

— Honestamente não.

A mulher mais velha olhou ao seu marido aparentemente exasperada, e logo à Sarah.

— É a mesma razão pela qual concordamos seguir com isto, — assinalou com a mão para Colin — é uma das favoritas de Keddlescombe, senhorita Battersby, admirada por muitos de nós. O senhor Foote pode possuir terras, mas não é muito querido.

O senhor Hubbard soprou.

— Isso é certo, necessitaria que o polissem um pouco.

— A senhorita Battersby não polirá nenhum homem, disse Colin. — E menos ainda a esse pedaço de...

Uma elucidação da garganta do Sr. Hubbard deteve uma descrição mais detalhada do duvidoso personagem de Felix Foote.

Sarah piscou para Colin, inclinando sua cabeça para ver mais à frente da aba de seu chapéu, estava furioso, seus olhos brilhavam com indignação. Parecia estar lutando por conter-se, por que lhe importava tanto, ela não sabia. Supunha-se que aquilo era uma simulação, era uma enganação, mas estava obviamente zangado, e era de verdade. Sem pensar, encontrou-se acariciando seu braço com doçura, deu-lhe vários tapinhas antes de sentir o olhar da senhora Hubbard sobre ela. As perguntas agudas não foram formuladas, mas aos olhos da anciã, lentamente Sarah retirou a mão de onde se curvava ao redor de seu cotovelo.

O senhor Hubbard voltou a limpar a garganta.

— Aquela égua é uma garota tranquila e fácil quando não está preocupada com seu dono. Como disse que a chamava?

— Matilda.

— Ela é muito linda.

Depois da retirada de Sarah, Colin tinha se esfriado notavelmente. Inclusive se poderia dizer que tivesse congelado.

— Sim.

O senhor Hubbard assentiu, fungou e apoiou as mãos nos quadris.

— Ainda planeja partir hoje, então?

Uma longa pausa.

— Sim.

Uma palavra tão simples. Sim, ia sim, isto era provavelmente quão último ela veria dele.

Ele era um estranho, só o conhecia fazia uns dias. Por que sentia que alguém estava jogando veneno lentamente em seus pulmões?

Uma vez mais o senhor Hubbard assentiu, deixando que seus olhos se pousassem em suas botas.

— Bom, isso é o melhor, um cavalo assim não pertence a uma fazenda. Encantador e leal, mas dificilmente adequado para o arado. — Ele riu entredentes e logo dirigiu a Colin um olhar duro. — Não que ela não tentasse, claro, pela causa correta ela teria morrido, assim é que é feita, entende? Precisa de um bom homem, um homem sábio, para resistir a pedir tal coisa.

Os olhos de Sarah se lançaram entre os dois homens. Um músculo na mandíbula de Colin flexionou-se quando seu queixo se elevou.

— Pode ser que eu não seja nem bom nem sábio, senhor Hubbard, mas sei muito bem o que sou capaz de oferecer. — Olhou para o outro lado, logo a ela e logo ao velho fazendeiro. — E o que não posso.

Parecendo satisfeito, o Sr. Hubbard fungou, assentiu e logo estendeu o braço para sua esposa.

— Vem senhora. Devemos falar com o Reverendo Dunhill antes de ir, quanto antes o façamos mais rápido iremos.

Depois de despedir-se, o amável casal se afastou entre a minguante multidão. Sarah, mesmo tentando desentranhar sua conversação codificada, perguntou ao Colin: — O que quis dizer com o que pode oferecer?

— Nada de importante. — Seu sorriso era rápido e vazio. Estendeu o braço para ela, imitando o senhor Hubbard. — Vamos, senhora — grunhiu divertido com um sotaque de Devonshire perfeitamente executado. — Deixemos tranquila a sua mãe antes que o Senhor me leve.

Ela queria rir. Ela não pôde.

Ela queria que isto fosse real. Não era.

Tragando com força contra a dor em sua garganta, enfrentou-o, logo olhou ao seu redor para assegurar-se que tivessem privacidade antes de dizer em voz baixa: — Enquanto tenho a oportunidade, devo lhe agradecer, senhor Clyde. — Ela o olhou aos olhos.

O vermelho ao redor das íris azuis quase tinha desaparecido, deixando-os notavelmente similares a um céu claro.

— Recrutei-te para esta batalha, e aceitou o desafio sem nenhuma promessa de recompensa. — Ela baixou o olhar às suas luvas desgastadas, o couro fino e gretado com a idade. — Se pudesse pagar sua amabilidade, o faria.

— Você salvou minha vida, senhorita Battersby. — Um suave dedo levantou seu queixo. Um par de lábios quentes roçaram sua bochecha com um toque mínimo.

Seus olhos se fecharam fortemente, por um momento não queria despedir-se daquele homem.

Ela queria lhe rogar que ficasse. Seu coração tamborilava sua exigência de que fizesse precisamente isso. Não posso, ela respondeu a essa tolice. Vai embora e devo deixá-lo ir.

Seus lábios e sua mão a abandonaram.

— A maioria das pessoas julgariam que era uma causa sem valor, e teriam razão. — Quando ela abriu os olhos ele se deu meia volta, olhando o vale por volta do mar. — Possivelmente é hora que aumente seu valor a uma medida digna de seus esforços — murmurou. Seus olhos, distantes e pensativos, estavam rodeados de carne descolorida curiosamente, nos últimos dias, o feio azul, negro e amarelo de suas feridas se deslizaram de sua atenção.

— Toda vida é preciosa — disse com a voz constrangida em um fio. — Não importa quem é ou o que fez.

Esteve calado por um momento, simplesmente olhando por volta do mar, por fim ele a olhou e uma vez mais lhe ofereceu o braço. Ela tomou-o, e começaram a cruzar a erva para ir junto à sua mãe. À metade de caminho, inclinou-se para sussurrar: — Sentirei saudades, Sarah Battersby. De verdade, farei.

Eu também sentirei saudades, Colin, respondeu-lhe seu coração. Uma dor mais profunda do que deveria.


CAPÍTULO 9

“Não estou convencida de que a ausência faça crescer o carinho. Possivelmente deveríamos provar a veracidade deste axioma mais a fundo, você e eu.”

A marquesa viúva de Wallingham ao seu sobrinho em sua quarta solicitude de um aumento de recursos.

Três semanas mais tarde Blackmore Hall, Yorkshire

— Jane — gemeu Harrison Lacey, o oitavo Duque de Blackmore, à exuberante mulher que se sentava escarranchada sobre suas coxas, tentou soar severo. — Não cederei nisto.

Seu vestido rosa de seda rangeu quando se moveu, colocando os joelhos contra os braços de sua cadeira e mordiscando sua mandíbula.

— Te acompanharei, meu amor — ela respondeu com voz glacial, a borda de seus óculos roçando sua bochecha. — E isso é alguma coisa.

— Os caminhos são perigosos nesta época do ano. — Suas mãos rodearam sua cintura, atraindo o peito suave e generoso contra o seu, precisando absorvê-la dentro dele. — A viagem será...

— Desagradável, sei. — Seus lábios encontraram os seus, e por um momento, esqueceu-se de tudo. A carta de Colin, o aguaceiro sem fim que pintava a janela da antiga biblioteca. Tudo, menos ela.

Ela suspirou e ofegou contra sua boca, seus olhos marrons escuros se abrindo e agarrando seu coração.

— O risco é inaceitável, Jane.

— Preferiria que te seguisse?

Ele franziu o cenho, agarrando seus quadris suaves e arredondados reflexivamente.

— Não fará nada disso.

Ela simplesmente sorriu, suas covinhas brilhando intermitentemente. Maldição, a mulher o tinha dançando ao seu ritmo tão facilmente como um boneco com uma corda.

— Deve abandonar esta inclinação pela extorsão, está mal para a Duquesa de Blackmore.

Sua pálida e perfeita mão acariciou sua bochecha, o dorso de seus dedos riscando a borda de sua mandíbula.

— Neste momento não sou uma duquesa.

— Não?

— Sou a mulher que te ama muito para me separar de ti, Harrison, particularmente quando seu irmão está em perigo.

Ele grunhiu. Sua esposa sabia exatamente como dar a volta nele de dentro para fora.

— Além disso, — continuou — ele é meu amigo, e tenho desejo de ajudar.

Sentindo um olhar furioso cair sobre seu rosto, ele lutou contra uma velha amargura.

— As últimas duas vezes que tentou ajudar o Colin, te puseram em um perigo inaceitável.

— Isto é diferente.

— Como, precisamente?

Seu dedo indicador se deslizou distraidamente ao longo de seu nariz para tocar seu queixo.

— Estará comigo.

Suspirou profundamente e com grande pesar logo a levantou de seu regaço e se levantou de sua cadeira, deixando que suas saias caíssem em seu lugar e seus pés pendurassem um momento antes de deixá-la.

As bochechas arredondadas ruborizadas, olhos escuros atrás de grossas lentes brilharam quando seus tentadores lábios se separaram em um pequeno “O”.

— Harrison — ela suspirou. — Como eu adoro quando me levanta assim. — Ela levantou o rosto para beijá-lo.

Mas não podia render-se, não importava sua infernal sedução. Ele devia convencê-la de que ficasse em Blackmore, onde estaria a salvo. Pegando-a pela parte superior de seu braço, separou-a dele brandamente.

— É mais que as estradas, ele está sendo caçado, Jane. Não posso, — não o farei — te ter perto de semelhante perigo nunca mais.

Ainda não se recuperara por completo da última vez que Colin havia procurado refúgio com eles. Apenas uns meses antes, o irmão de Harrison havia aparecido em Blackmore e tendo sido açoitado por um sombrio criminoso de Londres de um extremo ao outro da Inglaterra. Sem ter aonde ir, Colin havia retornado à casa, e quando Jane tinha ido visitar a casa de campo onde se hospedava, o homem contratado pelo londrino a tinha sequestrado.

Harrison tinha passado um dia rastreando-a, longas e horríveis horas nas quais havia imaginado que se perpetrava todo tipo de barbaridades sobre sua nova esposa. Sua Jane.

Quando descobriu onde o homem a tinha levado, ele tinha estado a um fio de voar em pedaços a cabeça da doninha. Uma parte dele ainda desejava havê-lo feito. Felizmente para aquele montão de esterco, Jane tinha sofrido pouco mais que um susto. Harrison teria pensado que a experiência era suficiente para dissuadi-la de seu rumo atual. Mas ela não era uma senhorita pusilânime; ela era Jane.

— Devo esperar, então? Sento-me aqui na antiga biblioteca como uma paspalha, retorcendo o lenço e rogando ao Beardsley algum sinal de suas cartas? Oh, acredito que não.

Juntou as mãos atrás das costas e lhe deu seu melhor olhar gélido.

— Fará o que te mandei — disse brandamente. — Porque sou seu marido, e meu dever é te evitar todo dano.

Suspirando desdenhosamente, colocou-se os óculos no nariz pequeno, redondo e adorável.

— Quantos livros crê que eu deveria empacotar? Ao menos quatro, deveria pensar: dois para a viagem e dois para nossa estadia.

— Jane. Tem uma biblioteca cheia de livros.

— Excelente ponto. Por que economizar? Seis, é isso.

— Aqui. Leia tudo o que quiser, mas permanecerá aqui — por que parecia que cada vez que discutiam ele perdia a batalha antes que começasse? A frustração carcomia suas vísceras.

Ela deu um passo para ele, passou-lhe os braços pela cintura e apoiou a bochecha contra seu lenço.

— Me levará com você.

— Jane.

— Estarei a salvo porque estamos juntos e isso manterá Colin a salvo também, somos sua família. Ele necessita de todos, meu amor.

Suspirando e soltando suas mãos para as deslizar ao redor dela, sentiu que o nó de medo em seu peito começava a acalmar-se. Ele frequentemente achava que seu afeto sereno era um tônico, ela sabia, é óbvio, e o usou com grande resultado.

— O que está sugerindo?

— Um homem sozinho é vulnerável aos ataques, mas um homem rodeado de aliados... talvez este Sr. Syder pensará duas vezes antes de reavivar sua busca. Se ele escolher agressão sobre a cautela, então é provável que o possa tirar à luz, onde a ameaça que expõe pode ser mais fácil de enfrentar, tal como estão as coisas, Colin está fugindo de uma sombra e nós estamos perseguindo uma.

O trovão soou a distância, a chuva salpicou além da janela, Harrison a abraçou com mais força enquanto lhe acariciava as costas através de capas de casaco e colete.

— Como se converteu em uma estrategista?

Ela se tornou para trás e lhe deu um brilhante sorriso.

— A leitura é um passatempo muito iluminador.

Acariciou-lhe a bochecha com o dorso dos dedos, sua pele e seus olhos brilhavam de amor por ele. Alguns pensaram que eram simples, eram cegos.

— Talvez Colin seja seu amigo, mas inclusive você deve reconhecer que sua temeridade te pôs em perigo duas vezes. Não posso me arriscar a te perder, simplesmente não posso. — Sua voz era crua, as palavras irritadas e verdadeiras.

Quando seus olhos se suavizaram com compaixão, colocou sua mão sobre a dele, pressionando sua bochecha e depositando um pequeno beijo no interior de seu pulso.

— O risco não é maior que minha enfermidade por tísica ou escorregões nas pedras molhadas do terraço sul e quebrar a cabeça.

As náuseas frias se apoderaram dele pelas visões que ela apresentou. De seu sofrimento. Moribunda. Ele deve ter empalidecido, porque seus olhos se suavizaram ainda mais, e instantaneamente o tranquilizou: — Só quis dizer que, embora não haja nada seguro, sempre estarei mais segura quando estivermos juntos que quando estivermos separados. Ai de qualquer homem que se atrever a brincar com o Duque de Blackmore, porque é um inimigo formidável!

— Como é minha duquesa — reconheceu com ironia, deixando que sua cercania o acalmasse, apoiou sua testa contra a dela e respirou seu aroma a flor de maçã. — Se permitir isto, deve fazer o que te peço, Jane, sem argumentos, sem atrasos. Deve me deixar te proteger como melhor me pareça.

— Quando desafiei sua sabedoria de marido? — Sentindo um sorriso em seus lábios, ele respondeu: — Só sempre.

Ela se pôs-se a rir, o som rouco.

— Bom, tem-me ali. — Um golpe soou na porta. Era Beardsley, seu mordomo.

— Chegou uma mensagem urgente para o senhor, sua graça. — O homem baixo e calvo entregou ao Harrison uma carta manchada com água de chuva, logo fez uma reverência e retirou-se, fechando a porta calmamente. Harrison olhou o selo.

— De quem é? — Jane perguntou.

Franzindo o cenho, moveu-se rapidamente para a escrivaninha junto à janela para recuperar um abridor de cartas. Cortou debaixo do selo, desdobrou a nota e leu rapidamente o contido, a carta era ao mesmo tempo uma advertência e um chamado às armas.

— Chama a senhora Draper — disse com gravidade. — Diga-lhe que comece a empacotar, de imediato, logo escreva ao Digby e lhe peça que se prepare para nossa chegada.

Jane piscou, tomando a carta de sua mão enquanto se sentava na escrivaninha para escrever uma própria.

— Eu... pensei que íamos a Devonshire. Ali é onde está ficando Colin. Por que devemos abrir a casa de Londres?

— Leia.

Ela o fez, murmurou: — Oh, não — disse como único comentário.

— Ainda deseja vir? — Perguntou, esperando que ela cedesse, sabendo que não o faria...

Seus braços se deslizaram ao redor de seu pescoço por trás, o papel enrugando-se em sua mão. Beijou-lhe o lóbulo da orelha e logo sussurrou: — Tente me deter.

~~*~~

Uma semana mais tarde Thornbridge Park, Derbyshire

Vitória Lacey Wyatt, Viscondessa Atherbourne, pôs seu filho adormecido em seu berço.

— Aí, agora, doce Gregory — ela sussurrou. — Não deve deixar que o humor sombrio de seu papai perturbe seu sono.

O homem em questão se apoiou contra a janela do quarto das crianças com os braços cruzados e os olhos nublados pela tempestade, Lucien poderia estar olhando furiosamente, com indignação depois de sua discussão anterior, mas se manteve tão formoso como sempre, como um anjo caído. Por que isso a excitava daquele jeito, ela não podia dizê-lo. Mas sempre tinha sido assim, desde a noite em que se conheceram, quando ele a tinha beijado no passado, contra todo seu sentido de autopreservação. O escândalo tinha seguido, logo o matrimônio, além do tipo de amor que nunca tinha sonhado possível.

Suspirando, dobrou as mãos em sua cintura e o olhou aos olhos. Ele a fulminou com o olhar, a luz tênue da tarde repentina pintando seu rosto em tons de cinza e branco.

— Sabe muito bem por que não posso estar de acordo com isto, Vitória. — Sua voz era baixa por deferência ao seu filho adormecido, mas o retumbar de seu intenso tom barítono enviou calafrios através de sua pele. Mais de um ano de matrimônio, e mesmo assim fez com que seu ventre se agitasse como um pássaro capturado.

— Não lhe pediria isso...

— Surpreende-me muito que o tenha feito.

— Se a situação não fosse terrivelmente grave.

Apertou a boca e se separou da janela, caminhando para a porta a manteve aberta e lhe fez um gesto para que lhe precedesse. Ela abriu o caminho ao seu dormitório, onde poderiam conversar sem medo de despertar o pequeno Gregory. Quando entraram na opulenta habitação aquecida por um fogo crepitante, suspirou e se passou uma mão pelo cabelo negro antes de fechá-la e recostar-se contra a porta.

— Me convença.

Sua expressão era sombria, — quase sinistra-, por isso se perguntou por um momento selvagem se ele estava pedindo para ser seduzido a desistir de sua resistência.

— Não assim — ele murmurou lendo seus pensamentos em seu rosto. Seus tentadores lábios curvaram-se para um lado. — Bom, talvez mais tarde.

— Tem certeza? — Perguntou com voz gutural, jogando-se para ele e deixando que sua mão se apoiasse nos botões de seu colete. — Não me oponho a tais métodos de persuasão.

Gemendo, ele respondeu com um rápido beijo e um sussurro contra sua boca.

— Eu tampouco, mas temo que devemos falar disto, anjo.

Ela assentiu e lhe acariciou a bochecha antes de afastar-se para caminhar para a cama com dossel de seda azul centrada na parede perto da lareira. Sentada na beira, cruzou as mãos sobre seu regaço e esfregou um polegar no outro.

— Colin está em grave perigo. Harrison tem um plano, mas nos obriga a viajar a Londres, ele necessita da sua família.

— Vocês entendem que este é o homem responsável pela morte da minha irmã?

— Sim.

— Sem mencionar a quase ruína de Jane.

— Sim.

Lançou um suspiro intemperante e começou a caminhar.

— Ele é afortunado, não sou eu quem tenta matá-lo, por Deus.

Ela sorriu gentilmente, recordando quanto ódio ele tinha abandonado para amá-la.

— Sei, Lucien.

— E, entretanto, deseja que eu tire minha esposa e meu filho pequeno da comodidade e segurança do nosso lar e os transporte através da Inglaterra para proporcionar refúgio ao Colin Lacey para escapar de seus problemas. Problemas que, tendo em conta, são quase certamente de sua própria criação.

Ela acariciou a cama ao seu lado.

— Vem se sentar comigo.

Seus largos ombros ficaram rígidos, sua forma alta se congelou em seu lugar enquanto lhe lançava um olhar de consideração. Com os olhos fixos em seu peito, apertou os dentes e se dirigiu para ela, seus largos passos comendo a distância em segundos.

— Logo poderá duvidar da sabedoria de seu convite, anjo.

— Nunca me arrependerei de te ter perto de mim.

Afundou-se ao seu lado e tomou-a em seus braços, enterrando seu rosto em seu pescoço. Suas seguintes palavras foram amortecidas contra sua pele, mas ela entendeu.

— Não sei se posso fazer o que quer, daria qualquer coisa por sua felicidade. Mas isto...

Passou-lhe as mãos pelo cabelo, grosso e frio ao seu toque.

— Shh. Só escuta — ela sussurrou. — Sou mais jovem que Colin por quatro anos. Sabia disso?

Seus lábios deixaram um rastro de arrepio desde sua orelha até sua clavícula antes de responder: — Mm-hmm.

— Entretanto, sempre me senti mais velha, Colin tem uma espécie de doçura instintiva nele, um espírito exuberante e generoso que é inato, Harrison fez todo o possível por protegê-lo, mas não pôde estar ali todo o tempo.

Os lábios de Lucien se detiveram, seu fôlego esquentando sua pele. Lentamente ele se jogou para trás para olhá-la aos olhos.

— Isto é sobre seu pai.

Suas mãos caíram, aterrissando em seu regaço.

— Sim.

Endurecendo o rosto, sentou-se em silêncio, esperando que ela continuasse. Ela engoliu e respirou fundo. As lembranças fizeram com que lhe doesse o peito.

— Aos meus irmãos não permitiu a suavidade, risadas, brincadeira, carinho, amor. Para o meu pai estas eram brechas de debilidade na fortaleza que estava construindo e a debilidade era intolerável, tinha que destrui-los em pedaços e transformá-los em pedra.

A mão de Lucien apertou a sua onde estavam dobradas em seu regaço.

Ela continuou, sua voz cada vez mais rouca.

— Colin tem dom para a música. Ele... a sente cantando em seu sangue, como eu faço com a pintura, como uma força fora de seu corpo que vibra em seus ossos. É difícil de explicar, escutá-lo tocar o piano quando acredita que ninguém o está escutando... é maravilhoso.

Depois de um longo silêncio ele apertou suas mãos e lhe acariciou as costas.

— Adiante.

A dor dentro de seu peito se propagou por fora e agora a tinha enchido até que suas juntas, sua garganta olhos e coração doeram. Precisava de escape em forma de lágrimas, mas ela não se permitiria isso, Lucien devia entender, não devia conceder seu desejo simplesmente para deter seu lacrimejo.

— Colin tinha treze anos de idade quando papai topou com ele na sala de música em Blackmore Hall. Recordo... lembro de seu rosto, estava tocando uma canção que havia composto, e sua alegria pintou o ar que nos rodeava com luz, compartilhava sua alma com a música. Papai entrou na habitação. Vi-o, mas Colin não o fez. Ele... papai disse seu nome. Isso foi tudo. A música parou. Daquele momento até a morte de papai, há quatro anos. — Uma lágrima escapou contra sua vontade. Lucien a acariciou com um dedo e lhe beijou a têmpora. — Ordenou aos serventes que o barrassem da sala de música, despediu os tutores de Colin e o enviou a Eton com instruções ao diretor para fazer cumprir sua ordem.

— Vitória, amor, não quero ser mau, mas isso não desculpa o comportamento do Colin.

— Sei, ninguém está mais zangada que eu por seu egoísmo e imaturidade nos últimos anos.

Lucien levantou uma sobrancelha.

— Mas espero que entenda que esta não foi a primeira vez que papai havia se comportado assim. Tinha estado esmagando a vida do Colin durante anos antes disso, e Harrison antes que ele, nada era suficientemente bom para agradar o Duque de Blackmore. Qualquer coisa que os fizesse verdadeiramente felizes logo era proibida, como se papai não pudesse tolerar que seus filhos tivessem o que ele não tinha.

— Então, Colin se rebelou — Lucien disse veementemente. — Ele, então, se converteu em um bêbado, seduziu a minha irmã e logo a abandonou.

Ela sabia que ele tinha razão, as ações de Colin com Marissa Wyatt a haviam surpreendido, repeliram-na. Ainda tinha problemas para reconciliar o homem que tinha conhecido como seu encantador irmão com o canalha no qual se havia convertido depois de ter começado a beber muito. Por isso não tinha falado diretamente com Colin em mais de um ano.

— Depois que nossos pais morreram, ele mudou. — Continuou. — Tornou-se temerário, sem lhe importar como machucava os que o rodeavam. Sua irmã. Eu. Harrison. Sabe o difícil que foi para mim perdoar...

— Por favor, não espere que eu o faça. Nunca.

— Não, eu não espero, só digo estas coisas para que possa entender por que sempre o amarei. Para ti, Colin é um vilão. Para mim, ele é o menino que me abraçou sem pensar duas vezes e tocou sua música para mim e me fez rir até que me doeram os flancos. — As lágrimas se derramavam agora, com o nariz tampado. Ela fungou e deu ao seu marido um sorriso aquoso. — Esse é o homem que quero salvar, Lucien. Me ajudará?

Sabia o que estava perguntando e desejava com todo seu coração não ter que pôr esta carga sobre os ombros de seu marido. Se isto fosse algo mais que salvar a vida de Colin, ela não teria perguntado absolutamente, Lucien ficou calado por um longo momento, com a cabeça inclinada para frente enquanto olhava suas mãos entrelaçadas.

Quando finalmente levantou os olhos para encontrar-se com os dela, ela pôde ler sua decisão antes de dizer uma palavra.

— Sim, anjo — disse levando os dedos aos lábios e beijando-os com reverência. — Por ti, farei o que for necessário.

~~*~~

O crepitar do fogo no lar consolou Hannah enquanto o observava através da janela da sala de café da manhã. Sua bengala golpeava ligeiramente as pedras do terraço, felizmente, ela só pôde escutar o fogo.

— Quereria você uns pãezinhos, senhorita — a voz da governanta não a poderia distrair.

— Não — ela disse distraidamente. — Isso será tudo, Sra. Finney.

Ela devia olhar, esperar e avaliar seu estado de ânimo. Apareceu... quase jubiloso, seus passos mostravam um ritmo mais rápido, um toque da primavera.

Ele entrou na casa, desaparecendo de sua vista, ela continuou contemplando fora da janela pelos longos minutos de espera. Então, ela o ouviu, discreto, por cima do som das lenhas sendo comidas pelas chamas. Ruído seco, palmadinha. Ruído seco, palmadinha. Ruído seco, palmadinha.

— Hannah — ele disse, sua voz levando uma nota de triunfo, a maioria das pessoas não poderiam perceber. Mas ela o conhecido há dez anos. Descobrir cada variação sutil em sua conduta aparentemente monótona tinha sido necessário para a sua sobrevivência. — Lamentando a chuva, meu amor? Não se desespere, logo passará.

Ela não se deu a volta. Em lugar disso, ela observou uma gota de água que se deslizava pelo vidro antes que fosse substituída por outra.

— Eu gosto da chuva — ela disse.

Ruído seco, palmadinha. Ruído seco, palmadinha. Ruído seco, palmadinha. Uma mão brincou com um dos cachos em seu ombro.

— Lindo — ele respirou. — Assim como o de sua mãe, sente falta dela, não?

Como poderia? Cada vez que ela fechava os olhos, a mulher estava ali, o olhar fixo, vidrado, a cabeça em um ângulo antinatural. O braço estendido para sua filha, frio ao toque.

— Como eu, querida. Entretanto, vejo-a em ti. — Ele suspirou e se passou uma mão pela nuca como se acariciasse um cão favorito. — É um bom dia, Hannah, encontrei o fio, tudo o que fica é seguir para onde conduz e logo cortá-lo. — Um suave beijo caiu sobre a coroa de sua cabeça. — Paciência. Acuidade. Persistência. Estas são qualidades que deve cultivar, como o tenho feito eu. — Finalmente, ele se retirou, movendo-se para o fogo.

Permitiu-se uma respiração moderadamente profunda, não houve necessidade de uma resposta. Este era ele gargalhando em sua forma anormalmente restrita, é claro.

— Descansa tranquila, Hannah, seu papai se encarregará deste assunto logo e então poderemos continuar como antes.

Hannah não discutiu, ela não falou, observou como as gotas deslizavam pelo cristal, seguindo o rastro que deixava e, no interior, onde ele nunca podia ouvir, seu coração gritou até que sua voz fosse sangrenta e crua.

“Você não é meu Papai. Você não é meu Papai. Você não é meu Papai.”


CAPÍTULO 10

“Obter um posto é sua tarefa. A minha é assegurar-me de não convidar os ladrões a polir a prata.”

A Marquesa viúva de Wallingham a uma solicitante para o posto de criada pessoal durante uma entrevista extraordinariamente curta.

Sarah dobrou com cuidado o colete de seu pai e o colocou dentro de uma das caixas destinadas aos pobres. O senhor Dunhill tinha prometido distribuir as coisas de seu pai às famílias que precisavam. O que era estranho, considerando que ela e sua mãe agora podiam contar-se entre esse número.

— Crê que deveríamos levar a chaleira quando formos? — Eleanor perguntou quando entrou no salão com outra pilha de roupa. Ela a pôs ao lado da pilha que Sarah estava classificando. — É bastante frágil.

Tirando outra roupa da pilha, Sarah disse distraidamente:

— Dado que ainda não sabemos onde viveremos, sugiro que empacotemos só o que for necessário.

— Bom, a senhora Hubbard ofereceu...

— Sei, mamãe. Mas, quanto tempo podemos ficar com eles, de verdade?

Eleonor suspirou arqueando as costas como se lhe doesse, a faixa negra de tecido que rodeava seu braço se deslizou até seu cotovelo. A tirou e se passou uma mão pela testa assentindo com a cabeça, sua mão caiu ao seu quadril.

— Ouviu algo da escola em Exeter?

— Nada ainda.

— Ainda sustento que deveríamos viajar à Bath, há várias escolas excelentes ali, assim como famílias enriquecidas que podem necessitar de uma professora, e a prima Elizabeth terá uma tarefa muito mais difícil ao nos ignorar quando chegarmos à sua porta.

Ultimamente Sarah tinha encontrado pouco do que rir, mas a visão da prima altiva de sua mãe, que se negou a responder as suas cartas, ser importunada em sua própria porta era bastante divertida. Ela deu um meio sorriso e tirou um dos casacos de seu pai da pilha lhe dando uma sacudida, examinou as costuras um pouco gasta, mas alguém certamente poderia usá-lo por muito tempo, inesperadamente chegou ao pensamento o último homem que tinha tomado emprestadas as roupas de seu pai, possivelmente pela milionésima vez ela se perguntava por ele, Colin. Perguntava-se como estava, onde estava, se tinha encontrado segurança, se alguma vez pensou nela, a louca que o tinha reivindicado como seu prometido.

— Se assegure de procurar nos bolsos — murmurou sua mãe, olhando ao redor da sala em busca de sua chaleira. — Seu pai sempre estava escondendo coisas.

Sarah deixou o casaco em cima da caixa e procurou no bolso interior, um canto cravou seus dedos. Papel dobrado, tirou a carta selada e notou o gancho de ferro de seu pai no exterior. Era seu nome.

As lágrimas se acumularam em sua garganta, afogando-a, ao outro lado da habitação a porcelana tilintava.

— Se se quebrar, que assim seja — murmurou Eleonor. — Essa chaleira foi um presente da minha mãe no dia de minhas bodas. Aonde vou, vai.

Sarah apertou os dentes e colocou a carta no bolso de seu avental. Ela fungou e dobrou o casaco de seu pai colocando-o brandamente dentro da caixa.

Um golpe soou na porta. Sarah se voltou nessa direção, mas Eleonor estava diante dela.

— Vou atender — disse sua mãe limpando as mãos no avental e abrindo-se passo entre as diversas caixas que abarrotavam o chão do salão. — Provavelmente seja a sogra do Sr. Dunhill outra vez, deve vir medir as janelas para as cortinas ou algo assim.

Sarah meio sorriu, a mulher tinha visitado três vezes na semana anterior, sempre insistindo em que deveriam tomar-se todo o tempo que necessitassem neste período de luto. Entretanto, invariavelmente conseguiu sair com um conjunto de medidas ou um novo plano de móveis, tudo em preparação para tomar posse de sua casa de campo. No entanto, a voz que agora saía da porta aberta não era a de uma mulher, era de um homem, culto, suave, desconhecido. Sarah franziu o cenho, curiosa caminhou lentamente pelo salão e se deteve atrás de sua mãe.

Estava bem vestido, seu casaco de lã fina e cinza, sua cartola negra brilhava à luz do sol. Além de sua roupa descaradamente cara, possuía traços suaves e uma altura que o fazia bastante anódino.

— Ah, Sarah — disse Eleonor sobre seu ombro. — Este cavalheiro veio perguntar sobre a colocação de sua pupila na Academia para meninas de impecável comportamento de St. Catherine. Estava o informando, infelizmente, que fechamos a escola. Nossa última aluna se foi ontem.

— Lamentável, de fato — disse o homem, seus olhos escurecidos pela aba de seu chapéu, suas mãos enluvadas estreitadas impecavelmente sobre uma bengala com um punho prateado. — A Academia de St. Catherine veio com a mais alta recomendação.

— Oh — disse Eleonor. — Por quem, se não lhe importar que pergunte?

— Um amigo de um amigo conhece um homem local, Senhor Foote, acredito.

Um pouco nauseada pela lembrança de Felix Foote, Sarah recordou ter ouvido que tinha ido a Londres no mês passado, com que propósito não lhe importava saber. Ela simplesmente se sentiu aliviada de que ele tivesse desaparecido de Keddlescombe. Depois da morte de seu pai, a pausa de suas odiosas atenções tinha sido uma bênção.

Nesse momento ela sorriu com uma cortesia que não sentia.

— Espero que não tenha viajado de longe, senhor...

— Me perdoe, senhorita Battersby — disse tirando-se brandamente o chapéu. Seu cabelo era avermelhado e fino, e as mechas se penteavam cuidadosamente sobre seu couro cabeludo. — Syder, Horatio Syder. Vim de Londres, mas tenho assuntos de negócios que atender perto, assim não estava fora do meu caminho.

Seus olhos, que antes eram difíceis de ver, eram de um cinza pálido. Ele sorriu gentilmente, sua expressão suave e até encantadora, mas seus olhos lhe deram um calafrio. Descartando-o como um truque da luz, ela assentiu e respondeu com as maneiras que sua mãe lhe tinha ensinado.

— Bem, lamento muito havê-lo decepcionado, senhor Syder. Se o desejar, posso lhe proporcionar uma lista de escolas recomendadas para seu bairro. Que idade tem ela?

— Quatorze — disse, seus olhos brilhando pela primeira vez. Sim, de fato, decidiu. Um truque de luz, certamente. — E muito curiosa, é tudo o que posso fazer para persuadi-la de abandonar a biblioteca.

Sarah lhe devolveu o sorriso.

— Muitas de minhas alunas são iguais. — Ela balançou a cabeça e imediatamente corrigiu: — ex-alunas, deveria dizer, as expressões de assombro ao fazer uma nova descoberta sempre foi minha melhor recompensa.

Uma rajada de vento que soprava o fôlego assobiou desde o mar, empurrando o senhor Syder e arrepiando a pele de Sarah.

— Que grosseiro de nossa parte — Eleonor exclamou. — Se importaria de entrar? Estamos em meio ao empacotamento da casa de campo, por isso atualmente está terrivelmente cheia de coisas, mas sem dúvida podemos lhe oferecer uma xícara de chá.

Sarah piscou atrás da cabeça de sua mãe. Que demônios estava pensando ela? O salão não estava em condições.

— Eu adoraria, senhora Battersby.

Antes que Sarah pudesse protestar ou inclusive perguntar por onde a sua mãe tinha deixado seu engenho, Eleonor tinha acompanhado o cavalheiro à habitação amontoada com suas posses: pilhas de roupa de cama, roupas, livros e pratos, lembranças e tolas lembranças que deveriam haver se descartado durante anos. As coisas cobriam todas as superfícies, interrompidas só por caixas de madeira e dois velhos troncos. Ele tomou tudo com um olhar de investigação. Tinha a estranha impressão de que ele estava calculando seu valor em sua mente.

Sua mãe se ocupou de limpar o espaço no sofá solitário e gasto. Eleanor deu uns tapinhas na almofada e disse: — Agora, sente-se, se o desejar, senhor Syder, só levará um momento para fazer o chá, talvez minha filha possa lhe contar um pouco a respeito de suas habilidades como professora de meninas curiosas.

— Posso?

— Certamente, pode — Eleonor insistiu com uma inflexão enfática. — Parece que a pupila do Sr. Syder necessita de alguém com seu talento e experiência. Se não for em uma escola, talvez como um tutor privado ou professora. — As sobrancelhas de sua mãe se moviam para cima e para baixo de uma maneira muito peculiar antes de sair da habitação, detendo-se só o suficiente para recuperar a chaleira de porcelana que tinha estado empacotando.

Sarah havia dito à sua mãe que preferiria um posto em uma escola, onde poderiam estabelecer-se mais facilmente em um só lugar. De que outra maneira poderia proporcionar um lar para ambas? O matrimônio, talvez, mas ela já havia rejeitado a ideia. O único homem que poderia havê-la tentado nesse sentido a havia deixado fazia quase dois meses.

— Bom — disse ela agora que sua mãe não lhe tinha dado outra opção. — Talvez devêssemos nos sentar. — Abriu caminho através da habitação para tirar uma pilha de roupa de cama de uma cadeira e logo as deixou cair em uma caixa vazia antes de sentar-se.

A bengala do senhor Syder tocava as placas do chão, soava forte na habitação antes de sentar-se no sofá, apoiando a bengala contra o braço dobrado e colocando seu chapéu ao seu lado sobre a almofada. Os olhos cinzas a olharam fixamente.

— Keddlescombe é um lugar encantador, os aldeãos foram de grande ajuda, parece que sabem tudo o que acontece na área.

— O povoado é muito pequeno, seria mais difícil não se dar conta, me atreveria a dizer.

— Certamente. — Sorriu-lhe, mas seus olhos se apertaram. — Tenho um amigo que passou por este caminho recentemente. Escreveu-me cantando seus louvores tão verde, — disse. — O ar limpo e com aroma de mar muito diferente do pó de carvão de Londres, senti que simplesmente devia vê-lo eu mesmo. — Suas mãos descansavam junto aos seus joelhos, perfeitamente imóveis. O homem não se moveu, mal piscou. — Talvez o recorde.

Seu coração deu um chute contra seus ossos, de repente deu voltas, cambaleou e golpeou a um ritmo frenético. Uma febre fria e doente correu por seu sangue.

— Não, eu... não poderia dizer...

— Seu nome é Colin Lacey.

Os finos cabelos em seus antebraços se levantaram de sua pele.

— Lorde Colin Lacey, embora frequentemente prefere prescindir do título, já que é só uma cortesia de seu irmão, o duque de Blackmore.

Podia sentir o sangue sair da superfície de seu corpo. Talvez estivesse fugindo do homem sentado em frente a ela. O homem que tinha cortado as costelas de Colin, enegreceu seu rosto e o deixou inerte. Durante um minuto inteiro não pôde obter suficiente ar para falar, finalmente, quando o fez, suas palavras foram tênues.

— Temo que... não visitei o povoado ultimamente.

Seus olhos, cinzas como a morte, caíram sobre a faixa negra ao redor de seu braço.

— Está de luto — disse com voz suave.

— Sim.

Dando uma olhada ao redor da habitação, ele inclinou a cabeça.

— Seu pai, suponho — A forma em que o disse, casualmente, facilmente, como se fosse simplesmente um pedacinho mais para adicionar ao seu arquivo, congelou-a em seu assento. — Minhas condolências à senhorita. E à sua mãe, é óbvio.

Por que, quando sua respiração se tornou tão superficial, seu coração de repente sentiu-se apertado por uma prensa?

— Então, aonde disse que se dirigiu Lorde Colin quando se foi daqui, senhorita Battersby?

Ela tragou, quase afogando-se com a secura em sua garganta.

— Eu não conheço um lorde Colin.

Sua cabeça se inclinou de novo.

— Curiosamente, os aldeãos pareciam pensar o contrário.

— Estão equivocados.

— Isso é verdade?

Eleonor entrou trazendo uma bandeja com sua chaleira de porcelana e três xícaras pequenas, que tilintavam contra seus pires.

— Está recém feito, simplesmente não posso tolerar o chá morno. — Pôs a bandeja em uma das caixas e logo serviu uma xícara para cada um, quando foi entregar à Sarah a sua, ficou paralisada, aparentemente notando a expressão de sua filha. — O que aconteceu?

— Temo que o Sr. Syder está procurando o que não podemos proporcionar.

Seu sorriso se aplanou, logo desapareceu.

— Talvez seja uma questão de incentivo. — Tomou um sorvo do chá de sua mãe. — Agora vamos, senhorita Battersby, suas dificuldades não precisam continuar em sua veia atual. — A xícara retornou ao seu pires sem um som. — A senhorita poderia viver comodamente, pelo que estou disposto a oferecer por uma informação bastante irrelevante.

— Informação? — Eleonor franziu o cenho. — Pensei que estava aqui pela escola.

Sarah ignorou a sua mãe, incapaz de apartar o olhar do depredador de olhos mortos sentado em frente a ela.

— Não posso vender o que não possuo, senhor Syder.

Suspirando, inclinou-se para diante para devolver sua xícara à bandeja. Sua cercania pôs sua pele retorcendo-se com a necessidade de correr.

— Isso é do mais desafortunado. — Ficou de pé, devolvendo o chapéu à cabeça e a bengala à sua mão. Inclinando a cabeça minimamente, voltou a olhar ao redor da sala abarrotada. — Talvez uma mudança de circunstâncias a convença do contrário. — Com isso ele simplesmente girou sobre seus calcanhares, caminhou tranquilamente para a porta de sua casa, e saiu da casa sem outra palavra.

— Que diabos foi isso? — Perguntou Eleonor. Ainda flutuava perto da bandeja de chá, com a xícara na mão, claramente desconcertada.

Sarah se sentou em seu lugar sentindo que o gelo cristalizava dentro de suas veias.

— Essa foi a razão pela qual teve que voltar a costurar a pele de um homem, mamãe. — Sua voz era quase calma, mas talvez só o parecia porque seu coração ressoou com força em seus ouvidos.

— Esse foi...

— Sim.

— Oh, meu Deus.

De repente Sarah não podia suportar sentar-se mais tempo, ficou de pé e correu para a janela dianteira puxando a cortina. Ele se tinha ido, ao menos isso parecia, de sua casa.

— Devo advertir o Colin — murmurou, agora caminhando no espaço aberto ao longo da parede. Sua mão cobriu sua boca, logo voltou a cair ao seu lado. — Mas não tenho ideia de onde está, não me disse para onde iria, só disse que era mais seguro se eu não soubesse.

Sua mãe observava seu passo sem dizer nada. O que era incomum.

— Mamãe?

— Sim?

— Não sei o que fazer.

— Posso ver isso.

— Por favor, me diga o que devo fazer.

Eleonor cruzou os braços debaixo de seu peito.

— Possivelmente deveria dar ao senhor Syder o que ele quer.

Sarah deixou de andar , olhou a expressão fechada de sua mãe.

— Acabo de dizer que não tenho o que ele quer.

Vários pulsados do coração passaram.

— Talvez eu tenha.

— Você?

Eleonor fungou.

— Sim.

Incredulidade construída como pressão atrás de uma cortiça.

— E deseja vendê-lo a alguém que golpearia e torturaria um homem quase até a morte?

Um ligeiro rubor entrou nas bochechas de sua mãe.

— Não o desejo, mas... oh, sério, Sarah. Não me olhe assim. As possibilidades de que alguém ainda o encontre ali depois de todo este tempo são bastante remotas.

— Mamãe.

— Disse que só devia contatá-lo em caso de uma ameaça.

— Isto é uma ameaça. É a própria definição de uma ameaça!

Eleonor negou com a cabeça.

— Para ti, Sarah, só se houver uma ameaça para ti.

Seu coração começou a pulsar de novo, desta vez não por medo.

— Me diga, mamãe, devo encontrá-lo, adverti-lo. Por favor.

Os olhos de sua mãe se suavizaram.

— Este tipo, Syder, simplesmente te seguirá diretamente para ele, dá-se conta?

— Não se eu tomar cuidado.

Ao cruzar os braços Eleonor soltou outro suspiro e fechou a distância para Sarah.

— Tomaremos cuidado, porque o avisaremos juntas, não permitirei que se arrisque por sua conta.

— Muito bem — Sarah disse antes que sua mãe tivesse terminado de falar. — Onde ele está?

— Primeiro completaremos nossa embalagem, levaremos nossos pertences conosco, como tínhamos planejado.

Sarah franziu o cenho.

— Não, devemos...

— E logo, filha, formularemos uma estratégia, uma que evite a circunstância em que qualquer uma de nós caia sangrando junto ao caminho. Está claro?

A impaciência vibrava e ardia. Queria descartar as advertências sensatas de sua mãe. Em troca, não tinha mais remedeio que assentir e obedecer.

A mão de Eleonor pousou no ombro de Sarah.

— Não se preocupe, se soubesse aonde tinha ido o senhor Clyde...

— Lacey — Sarah disse fracamente. — Ou, mais apropriadamente, Lorde Colin, é irmão de um duque.

O longo silêncio de sua mãe estava cheio de perguntas. Felizmente, ela não as fez, porque Sarah tinha poucas respostas.

— Independentemente, se o Sr. Syder teve o primeiro indício de onde se escondia lorde Colin, não nos teria feito uma visita nem teria devotado recursos em troca da informação.

A pressão ao redor de seu coração começou a diminuir um pouco.

— Tem razão, mas Syder está muito perto do cheiro do Colin.

— Vamos terminar nosso trabalho aqui.

Sarah começou a protestar de novo, logo se deteve quando Eleanor levantou uma mão.

— Terminamos aqui — repetiu sua mãe. — Então veremos como salvar o seu estranho uma vez mais.


CAPÍTULO 11

“Pergunta-se por que me nego a viajar nessas carruagens. Agora tem sua resposta.”

A Marquesa viúva de Warlingham, ao seu filho Charles, ao inteirar-se de sua desastrosa saída com uma particular viúva em uma carruagem aberta e uma tormenta inesperada.

Cinco gavetas e dois baús, de algum jeito tinham arrumado para reduzir todas as suas mundanas posses a isso, e mesmo assim, a carruagem que o Sr. Hubbard lhes emprestou tinha estado pesada e lenta ao atravessar o caminho poeirento e cheio de buracos.

— Teremos sorte de chegar antes do amanhecer. — Eleanor murmurou. Sustentando-se unicamente no amplo respaldar do cavalo, era tudo o que via na densa escuridão.

Sarah sustentou a lanterna mais acima, seu braço estava dolorido e seu traseiro intumescido pelo duro assento de madeira.

— Disse que eram menos de doze quilômetros?

— Sim.

— Estivemos viajando por horas. — Tinham deixado a fazenda Hubbard pouco depois do entardecer.

Eleonor estava calada, olhando as costas do cavalo como se pudesse movê-lo mais rápido.

Suspirando, Sarah viu como seu fôlego se desvanecia no ar frio, esfregou distraidamente seu ombro, tentando aliviar a dor. Tinham passado três dias empacotando suas coisas da cabana, despedindo-se e deixando um falso rastro para Exeter. A urgência era como um fogo lambendo seus pés, enervante e exaustivo ao mesmo tempo. Precisava chegar a ele, queria assegurar-se de que estava a salvo.

— Acredito que aqui é onde viramos. — Eleonor disse com tom inseguro enquanto puxava as rédeas para desacelerar ainda mais o cavalo.

Sarah entrecerrou os olhos na escuridão.

— Está segura?

— Você gostaria de dirigir a carruagem?

— Felizmente. — Sarah replicou. — Exceto que se nega a revelar para onde iremos.

— Se lhe houvesse dito teria me deixado sozinha e teria partido por sua conta.

Era verdade, mas só se esfregou mais forte contra a frustração que sentia. O que tinha de mau em querer limitar o risco a si mesma? Nem sequer tinha se atrevido a contratar um moço para que entregasse a mensagem ao Colin, temerosa de que alguém mais acabasse ferido. Sua mãe se deslizou para frente, pousando-se na borda do banco de madeira.

— Sustente a lanterna mais alta, Sarah. Não posso ver o sinal.

— Não há nenhum sinal.

— É óbvio que há, só faz o que te digo. Sou sua mãe.

Suspirando em voz alta, Sarah obedeceu.

— Assim, isso é tudo.

Olhando além da tênue luz que se projetava com o passar do lombo do cavalo, Sarah distinguiu um pequeno muro de pedra e um poste de madeira.

— O que é isso exatamente?

Eleonor começou a dirigir o cavalo para frente, logo à direita, onde a parede deu passo a um caminho estreito.

— O caminho à Mansão Yarnsby?

— Quererá dizer a Mansão Yardleigh.

— Oh, sim. Yardleigh.

— Ele... está se escondendo em Yardleigh...

— Na Mansão, sim.

Sarah mal notou o longínquo estrondo do trovão e as duas pequenas gotas que golpearam sua luva, ele era irmão de um duque. Naturalmente escolheria uma casa senhorial como refúgio, esse devia ser seu destino original quando o descobriu na estrada à Littlewood. Mas por que Yardleigh? Ela só podia supor que ele tinha alguma relação com os donos.

Sarah tinha visitado o lugar uma vez quando tinha dez anos, seu pai tinha visitado o Barão doente que vivia ali. Mais tarde, o ancião e seu título tinham expirado, deixando a casa em mau estado. Eventualmente, foi comprada por uma família desconhecida, de recursos consideráveis que, segundo as intrigas do povoado, poucas vezes residiam no lugar.

Esperava que os novos proprietários conservassem a propriedade apropriadamente.

Recordou o encanto daquela mansão, estava constituída por duas alas. Uma delas era uma grandiosa estrutura quadrada elaborada com granito cinza violáceo, a outra ala era mais antiga, ripada de madeira, perpendicular ao longo daquele extremo. O conjunto da casa se assemelhava a um "T", ambas as seções construídas em épocas diferentes, mas curiosamente complementares.

Tinha contemplado casas maiores, situadas no caminho a Bath ou a Londres, as quais estavam estendidas como grandes dragões através de uma ampla paisagem verde. Mas só uma das alas da Mansão Yardleigh tragaria todas as pedras, janelas e tábuas de assoalho do chão de sua cabana. Mais ainda, gotas frias caíram em sua bochecha.

Olhou para o céu e logo examinou o halo que rodeava a lanterna.

— Está chovendo mamãe.

— Sim — Eleonor respondeu estalando a língua para o persistente cavalo.

— Não queremos estar empapadas quando chegarmos, esperemos que a casa esteja mais perto do que lembro. — Olhou para Sarah — Já é bastante mau que importunemos tão tarde a uma família abastada.

Infelizmente, chegaram muito depois que o céu se abriu e liberou seu dilúvio.

— Bom, suponho que será difícil nos seguir a pista, depois de tudo, a chuva certamente levará qualquer rastro de nosso progresso ao longo das estradas. — Comentou Sarah quando chegaram à entrada da casa.

— Se busca bom ânimo, — sua mãe resmungou detendo a carruagem — sugiro que o procure em outra parte, porque vejo pouco para louvar em nossas circunstâncias atuais.

Ambas desceram da carruagem gemendo pela rigidez em suas articulações e músculos.

Tinha sido uma viagem interminável, gelada e úmida. E ainda tinham que enfrentar a possibilidade de que Colin trocara de lugar faz muito tempo.

Três das janelas do piso inferior estavam iluminadas, significava que a casa estava claramente ocupada. Sarah deixou a lanterna junto à roda da carruagem.

— Deveríamos... deveríamos chamar?

— Preferiria ficar aqui até que nos convertamos em barro? — Eleonor respondeu.

Olhando à sua mãe, Sarah viu uma mulher magra e pálida, empapada e tremente, abraçando a si mesma em busca de calor, decidida, assentiu e se agarrou à sua saia de lã empapada pela chuva.

Dirigiu-se à porta no centro da ala de granito da Mansão Yardleigh, em cima da porta, à tênue luz das janelas, podia ver uma data esculpida na pedra angular: 1696.

Tomando uma respiração tremente, levantou a pesada aldrava de metal que havia na porta de madeira, golpeando três vezes. Passaram um ou dois minutos. A mandíbula de sua mãe se apertou para evitar que seus dentes batessem.

Finalmente, a porta se abriu, revelando uma mulher gordinha de bochechas rosadas, com o avental e a touca de uma criada. Entretanto, as chaves em sua cintura revelaram que era a governanta.

— O que é isto? — Gritou a mulher, estendendo sua vela para ver seus rostos. — Devem ter se equivocado de caminho.

— N... nós trazemos uma m... mensagem. — Seus lábios repentinamente não respondiam às suas ordens, possivelmente era pelo frio. — Para o Sr. Col, quer dizer, Lorde Colin Lacey.

A governanta franziu suas sobrancelhas.

— Não há ninguém aqui com esse nome. — Sua voluptuosa figura se moveu para segurar a porta. — Parece que enfrentou a tormenta por nada, espero que continuem uma boa viagem.

Sarah se inclinou para frente e agarrou o pulso da mulher.

— Por favor... é um assunto muito urgente. Se por acaso estiver aqui o informaria que a Srta. Battersby deseja falar com ele sobre um tema de suma importância?

— Não farei semelhante coisa. — Respondeu a governanta, puxando seu braço do alcance de Sarah. — Porque nesta casa não se encontra nenhum Lorde Colin Lacey. Além disso, é quase meia-noite. Que classe de ralé perambula nestas penosas horas, em meio de um aguaceiro?

A redonda mulher se aferrou à porta uma vez mais, olhando por cima do ombro de Sarah à humilde carruagem que ainda estava situada no caminho, a roda iluminada por sua lanterna.

— Nenhum Lorde te concederia uma audiência a estas horas, asseguro-lhe isso, agora, vá embora daqui. — Com isso fechou a porta, deixando Sarah sem palavras, olhando fixamente os painéis de madeira enquanto gotejavam sobre suas próprias botas.

— Golpeia de novo.

As palavras provinham de sua mãe, mas demorou um momento para as registrar.

— Adiante — disse Eleonor, agarrando seus cotovelos enquanto tremia, a chuva caindo na aba de seu chapéu. — Não cheguei até aqui para ver minha obstinada filha render-se tão facilmente.

Lentamente, Sarah se voltou para a porta e usou a aldrava três vezes mais.

Nada.

— Uma vez mais — gritou sua mãe. — Até que ela responda.

Levantando o pesado anel de metal, Sarah chiou quando foi arrancado de sua mão, esperava uma mulher redonda, de rosto vermelho, com uma touca branca e um avental listrado. Mas o que viu, entretanto, foi um homem. Um homem alto e magro com um colete de seda prateado, camisa de linho branca, calças escuras e botas reluzentes. Era bonito, muito bonito, com traços refinados e juvenis; cabelo de ouro pálido com fios muito curtos que mal resistiam ao impulso de ondular-se; e seus olhos eram tão azuis como um céu de verão.

Possivelmente era parente do Colin. Um primo ou um irmão. Era difícil de explicar, já que se sentia um pouco aturdida, sua mente girava em círculos. Significava que estava aqui. Depois de tudo, seu coração se agitou ante a ideia de voltar a vê-lo. Perguntou-se se poderia ser tão bonito como o cavalheiro que estava na frente dela, e imediatamente descartou a ideia. O espécime ante ela era realmente estranho, mesmo com aquele cenho franzido em seu rosto.

— Entrem ambas, estão empapadas até os ossos, peço-lhe desculpas, senhora Battersby.

— Deu um passo para trás e lhes fez gestos para que entrassem no vestíbulo que se encontrava iluminado com paredes angulosas de carvalho.

Sua mãe assentiu e entrou diante dela. Mas Sarah estava preocupada com o cavalheiro. Sua voz, era tão...

— Sarah.

Familiar...

— Entra, pelo amor de Deus.

Era ele, este era Colin. Lorde Colin. Curado e bonito, com um cabelo curto e vestido com os melhores ornamentos da riqueza. Ela não podia respirar, e de fato, deve ter vacilado um pouco porque ele a puxou pelo cotovelo e a empurrou mais à frente da soleira.

— Sarah. — Agora soava rouco, olhando-a fixamente com calor, preocupação e visível agitação. — O que ocorre, querida?

Piscando rapidamente, reuniu seu juízo melhor que pôde dadas as circunstâncias.

— Senhor Colin, mal o reconheci.

Soltou um suspiro, seu cenho franzido se soltou.

— Imagino que me vejo diferente à última vez que me viu. — Voltou-se para a governanta de bochechas rosadas e lhe ladrou.

— Acorda o menino do estábulo para que guarde a carruagem e cuide do cavalo, também quero habitações e banhos preparados para cada uma de nossas hóspedes logo que seja possível, entendeu? E o chá, senhora Poole, no salão. Agora!

A mulher assentiu com obediência e saiu por uma das quatro portas. Colin guiou Sarah e Eleonor para o que presumivelmente era o salão, era um espaço grande e luxuoso com paredes de painéis de madeira e cortinas de seda com listras verdes. A mesma seda cobria os dois sofás que se encontravam um em frente do outro, coordenados com cadeiras de veludos escuros e bordeados com madeira escura. A acolhedora e elegante habitação estava iluminada pelo suave resplendor dos candelabros estrategicamente localizados, junto com o fogo da lareira com marco de carvalho, suficientemente grande para albergar a carruagem do Sr. Hubbard.

Ao longe escutou Colin as convidar a sentar-se, antes de sair da habitação com a promessa de retornar. Sarah não se sentou. Em vez disso, olhou a seda de listras verdes nos sofás e logo o atoleiro de água de chuva que se acumulava aos seus pés.

— De repente ficou muito calada. — Observou Eleonor, quem também se manteve de pé, seu traje gotejando.

Sarah olhou os olhos de sua mãe, estavam tingidos de preocupação.

— Estou bem, mamãe. — Mentiu. — Simplesmente estou resfriada e cansada por nossa viagem.

Olhando de novo a habitação, seu olhar se concentrou na lareira. Puxou a fita de seu chapéu de palha empapado, o tirou e o agitou no fogo.

— Talvez deveríamos nos esquentar, assim poderíamos facilitar a conservação dos meus dentes que não deixam de chiar.

Seguindo o exemplo de Sarah, Eleonor puxou seu chapéu e se abriu passo através da extensão de piso de madeira polida e caros tapetes grossos. Juntas pararam perto da lareira, absorvendo o calor das chamas.

A porta se abriu, era Colin, seus braços estavam empilhados com o que pareciam ser mantas de lã. Seus largos passos, livres de dor, debilidade ou lesão, cruzaram a distância que havia entre eles em questão de segundos. Ele era forte outra vez e isso alegrou seu coração.

— Aqui. — Disse, pondo-lhe uma manta dobrada sob o nariz. — Pega duas e pelo amor de Deus, Sarah, sente-se antes que desmaie, está quase azul.

Colocando seu chapéu em uma mesa baixa, tirou uma das mantas e a envolveu ao redor de seus ombros, mal tinha terminado quando sentiu em seus ombros umas mãos magras e masculinas, foi empurrada para trás, até que se encontrou sentada na seda do sofá.

— Manchará...

— Silêncio. — Disse, seus dedos durando mais do que necessário em seus ombros, antes de serem retirados. — Fique aqui. — Logo se voltou para sua mãe, que se tinha envolto em duas capas de lã limpa e seca e deixara-se cair em uma das cadeiras de veludo.

— Encontra-se melhor, Sra. Battersby?

Eleonor assentiu.

— Muito melhor.

Colin se sentou no sofá que ficava em frente a Sarah, passou uma mão cansada pelo rosto e se inclinou para ela, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Me conte o que aconteceu.

Era isto, a razão pela qual tinha vindo ali, a razão pela qual tinha passado os últimos três dias em um estado febril. E agora que o enfrentava, àquele familiar desconhecido, as palavras se desvaneceram como brilhos de névoa queimados pelo calor do amanhecer. Seus únicos pensamentos radicavam no muito que havia sentido saudades, quão inesperada era a dor... como vê-lo de novo a destruiu.

— Sarah — sussurrou. — Me responda.

— Um homem que chegou ao povoado — respondeu sua mãe, a voz tremendo tanto quanto seu pequeno corpo. — Mencionou que tinha uma jovem pupila que queria enviar à Academia Santa Catharine. Quando lhe dissemos que a escola tinha fechado...

— Fechado? — Colin perguntou bruscamente. — Quando? — Sarah tragou saliva com força, perguntando-se se alguma vez voltaria a sensação aos seus dedos, sentia-os congelados.

— A última menina se foi faz uns dias, embora tenhamos planejado o fechamento durante as últimas seis semanas. — Respondeu Eleanor. — Desde que o senhor Battersby... morreu.

Com o olhar fixo nas chamas que dançavam e crepitavam na lareira, Sarah apertou o interior de suas luvas, talvez tivesse um pouco de sensação, mas o couro estava úmido e pegajoso, era incômodo. Embora as dobras morderam sua carne... um pouco de dor era melhor que o intumescimento, supôs.

— Sinto profundamente, por favor, aceite minhas condolências.

— Obrigada, meu senhor — Eleonor respondeu. — Sua morte não foi inesperada, mas veio com algumas mudanças de circunstâncias que resultaram ser um desafio para nós.

Sarah sentiu um formigamento em sua bochecha. Quando levantou a vista, os olhos azuis de Colin se cravaram em sua pele, quase acusatórios.

— Em qualquer caso. — Continuou Eleonor. — Este cavalheiro que nos chamou não parecia dissuadido pela notícia da escola. De fato, parecia muito ansioso por conhecê-la melhor, o convidei a entrar, como o ditavam as boas maneiras, e enquanto eu preparava o chá, ele...

— Ele fez muitas perguntas. — Sarah disse com voz rouca, incapaz de apartar a vista de seus olhos, aqueles olhos fascinantes, de céu sobre o mar. — A respeito de ti.

Sentado mais direito em seu assento, a mandíbula de Colin se endureceu, seu nariz se alargou.

— Sobre mim?

— Sim, te chamou por seu nome e mencionou que era seu amigo. — Sarah deixou que seus lábios se curvassem em um leve sorriso. — Seu verdadeiro nome.

— Sabia? O que lhe disse?

— Nada, só que não conhecia ninguém chamado Lorde Colin Lacey.

Desta vez foi a cabeça de Colin a que se voltou como se não pudesse suportar olhá-la.

Quando voltou a olhá-la sua expressão era dura e fechada.

— Que aspecto tinha? Disse quem era?

— Sim.

— E?

Apertando com mais força suas luvas, soltou um pouco e sentiu o couro lhe beliscar as palmas das mãos. A dor era tranquilizadora.

— Syder. Seu nome era Horatio Syder.


CAPÍTULO 12

"A frase 'cortejar o desastre' não estava destinada a ser tomada literalmente, Charles".

A Marquesa viúva de Wallingham ao seu filho, Charles, ao inteirar-se da forte aversão de certa viúva aos vestidos empapados e os chapéus arruinados.

Ela estava ali. Horas depois que ela e sua mãe tinham desaparecido escada acima para aquecer e dormir, ele mal podia acreditar. Quando escutou a senhora Poole dizer seu nome, seu coração latente tinha começado a pulsar de novo. Tinha retorcido dentro dele como uma faca ao ver seu rosto pálido como o leite tingido de azul.

— Deveríamos partir para Londres logo que passe a tormenta — disse Harrison. — É evidente que já esperamos muito tempo, se ele te houver rastreado até aqui. — O irmão de Colin estava perto de uma das janelas da sala de estar, com a postura rígida sob um casaco escuro e as mãos entrelaçadas atrás das costas.

Em certo modo pareciam-se, o duque de Blackmore era igualmente loiro e só uma polegada mais alto, com os traços refinados do lado da família de sua mãe.

Era um pouco mais pesado quanto aos ombros, mas ainda estava construído ao longo das mesmas linhas magras, na estimativa de Colin, aí era onde terminavam as semelhanças. Durante anos tinham estado em desacordo, Harrison tinha herdado grande parte da frieza de seu pai e o amor à propriedade por causa dele, Colin deixou que o brandy e a amargura fizessem a maior parte de seu pensamento. Só nos últimos quatro meses tinham começado a reconciliar-se. Jane ocupou-se disso.

— Não posso deixá-la para trás — Colin respondeu, passando uma mão pelo cabelo. Era mais curto do que gostava, mas depois de sua recaída com um surto de febre, tinha necessitado da mudança. — Tampouco pode voltar para o seu povoado, Syder a usará contra mim.

Harrison ficou em silêncio e quieto por um longo momento, olhando a garoa do amanhecer sombrio.

— Ela te importa, então.

Nesse momento Colin se sentou no mesmo lugar que ela havia ocupado à noite anterior, se não tivesse agredido o senso de decoro de sua mãe, ele haveria acompanhado Sarah escada acima, a teria visto banhar-se e logo dormir no frio piso de seu dormitório, só para escutá-la respirar.

Isso era o muito que "importava-lhe". Ele manteve sua resposta a um simples "sim", no entanto. Não tinha sentido ficar piegas, particularmente quando Harrison estava preocupado.

— Deseja levá-la a Londres. O que ela tem a dizer sobre isto?

Imediatamente o humor do Colin se obscureceu.

— Não tem sentido, ela virá conosco, isso é tudo.

Harrison simplesmente cantarolava uma resposta neutra, mas pelo resto permaneceu calado.

— Sabe o que ela tinha planejado depois de entregar sua mensagem aqui? — Colin escutou a indignação em sua própria voz, e era só uma fração do que ele sentia. — Ela e sua mãe iam conduzir aquela carruagem velha e desmantelada até Bath. Bath! Sem um homem que a proteja e pouco dinheiro para pagar a comida ou o refúgio, sem mencionar a completa falta de segurança da parte de uma prima ignorante de sua iminente chegada. Todo o assunto é uma tolice de descerebrados!

Afastando-se da janela para olhar ao Colin, Harrison levantou uma sobrancelha.

— Chancy, talvez. Entretanto, pelo que descreveu de suas circunstâncias, não é totalmente sem mérito. Bath oferecerá muito mais oportunidades de emprego ou matrimônio, se a senhorita Battersby desejasse...

— Não.

Por um momento Harrison pareceu divertido, mas isso era pouco provável. Seu sentido de humor era quase inexistente.

— Ela não deseja o matrimônio, então isso é surpreendente. Seria o mais sensato...

— Não é um tema de debate, ela não irá a Bath. — Colin se levantou do sofá e começou a caminhar. — Ela ficará aqui até que passe a tormenta, se tiver que alimentá-la como a um bebê, comerá o suficiente para lhe tirar o oco das bochechas. — Talvez aquilo se convertera em algo inoportuno, mas ela o estava deixando louco com seus planos ridículos. — Logo, ela me acompanhará a Londres, onde comprarei alguns vestidos adequados. Viu o que usa?

Harrison murmurou: — Não, não posso dizer...

— Trapos, isso é o que são, o que não está gasto se reparou tantas vezes que é pouco mais que remendos. Seu pai morreu faz seis semanas, ela está de luto, mas não pode pagar mais que uma faixa negra para simbolizar sua perda, é insustentável, Harrison.

O irmão de Colin não disse nada. Colin tomou isso como um acordo.

— Não, até que Syder tenha sido tratado adequadamente, ela seguirá sob meu cuidado e ela permanecerá perto, para que eu possa garantir sua segurança.

— Muito bem — Harrison disse em voz baixa. — Quem diremos que é ela? Os outros se perguntarão.

Colin se deteve junto a uma das cadeiras de veludo, Colin assentiu com a cabeça.

— Pensei muito nisto.

— Esperava-o.

— A apresentaremos como minha prometida.

Silêncio.

— Não é tão escandaloso como soa.

Mais silêncio, Colin reatou o ritmo.

— Esta solução oferece muitas vantagens, como minha prometida, ela teria todos os motivos para acompanhar a nossa família a Londres. Mas estão de luto, por isso não se espera que vão à maioria das funções da sociedade, sua mãe deve atuar naturalmente como sua acompanhante, o que explica a presença da Sra. Battersby bastante bem.

— Seu plano requererá que a senhorita Battersby e sua mãe sejam cúmplices em uma elaborada farsa. Isso não te preocupa?

Uma vez mais Colin se deteve, desta vez dando ao seu irmão um amplo sorriso.

— Ah, mas aí está o brilho disso, Harrison. Já o fizeram. — Brevemente ele explicou a enganação que ele e Sarah tinham levado a cabo em sua aldeia. — Então, verá, ela não pode se objetar.

Harrison se tomou um momento para responder.

— Não estaria muito seguro, as mulheres podem ser temperamentais.

As portas do salão se abriram para entrada da esposa do Harrison, Jane. Por todos os direitos, a maioria dos homens a despediriam de primeira vista, já que era baixa, com óculos, com o lado generosamente arredondado e singelo.

Entretanto, como Colin tinha visto enquanto assegurava sua amizade, ela também era bastante extraordinária.

— Isto, cavalheiros, parece perigosamente como conspiração. — Sorriu amplamente, suas covinhas brilhando, seus olhos escuros iluminados. — Devo insistir em ser incluída.

— Não há conspiração, asseguro-lhe isso, duquesa — disse Colin com uma piscada. — Simplesmente a eclosão de uma trama tortuosa, as diferenças são sutis, mas vale a pena as assinalar.

Ela foi primeiro ao Harrison, ficou nas pontas dos pés para o beijar e logo cruzou a habitação para apertar as mãos do Colin e lhe dar um sorriso para aquece-lo.

— Concordo, ainda assim eu gostaria de ser incluída.

— Será — Harrison respondeu soando algo sombrio. — Não se pode evitar.

— Excelente — disse alegremente, voltando-se para o Colin. — Como se sente esta manhã? Parece não ter dormido, me preocupa, já sabe.

Quando Harrison e Jane tinham chegado semanas atrás, ele estava no processo de recuperar sua força depois de uma longa febre e uma luta para curar-se completamente. Sua má saúde tinha atrasado sua viagem a Londres, um fato pelo qual agora estava agradecido. Do contrário, poderia haver perdido Sarah.

— Estou bastante bem — assegurou à Jane. — Melhor do que posso recordar haver estado em muito tempo, de fato possivelmente Harrison te explique o acontecido e lhe relate sobre os nossos planos. Se me desculparem, devo falar com a senhora Poole sobre o café da manhã.

Ele apertou seus dedos e beijou sua bochecha enquanto ela se engasgava de surpresa, logo saiu do salão para procurar a governanta. Encontrou-a na sala de café da manhã conversando com o mordomo sobre o serviço de café da manhã.

— Ah, senhora Poole e Underwood, também. Excelente!

O mordomo inclinou a cabeça e ambos murmuraram: — Meu senhor.

— Necessitarei de uma bandeja preparada para cada uma de nossas hóspedes, não economizem, quero um complemento total das ofertas de Cook, todo o melhor, entendido?

Os criados se sobressaltaram um pouco, mas assentiram.

— Senhora Poole, pode entregar uma bandeja à antecâmara da senhora Battersby, mas eu entregarei a outra pessoalmente.

— Oh! Er... sim, meu senhor.

Underwood, mais acostumado a dissimular seu desconforto, adicionou brandamente.

— Agora mesmo pedirei aos lacaios que preparem as bandejas, meu senhor.

— Muito bem, leve à minha habitação quando estiver preparada.

Com isso, quase correu pelas escadas principais para seu quarto de vestir, apressou-se através de um barbeado rápido e uma mudança de roupa, ensaiou em sua mente o que diria a ela. Não devia deixar que o contrariasse, seu obstinado orgulho bem que poderia impedir que aceitasse seu plano. Mas ele não podia permitir, ela devia estar de acordo.

Um golpe soou na porta, agradeceu ao lacaio e admirou a minuciosidade de Underwood e da senhora Poole, a bandeja estava cheia de pão, ovos ao vapor, presunto, toucinho, pãezinhos, geleia e mais muito mais. Sorrindo, levou— a pelo longo corredor até a porta de Sarah, golpeou firmemente duas vezes e escutou sua resposta.

Um suave, "Entre", ampliou seu sorriso ainda mais. Abriu a porta de par em par, entrando com confiança. Deteve-se. Deixou que a porta se fechasse atrás dele, seu fôlego o deixou na mão.

Estava sentada em um toucador delicado quando o olhou sobre os ombros, só lhe foi permitido vislumbrar um resquício, era magnífico. Fios em espiral de mel castanho dourado, exuberante, profundo e selvagem derramavam-se ao longo de suas costas. Os cachos que tinha lutado por conter durante muito tempo se desataram sobre seus sentidos, queria enterrar seu rosto neles, agarrá-los com suas mãos enquanto se conduzia para dentro de seu corpo.

A xícara de chá na bandeja estralava contra seu pires. Voltou a cabeça até que seus olhos, aqueles olhos cor mel, encontraram-se com os dele e se acenderam de surpresa.

— O que?... meu... meu senhor. — Ela se queixou com sua bata branca, puxando-a com mais força sobre seu seio.

Queria desembrulhá-la como um presente.

— A que devo esta visita? Aconteceu alguma coisa?

Sim. Algo tinha acontecido, o sangue tinha subido ao seu pênis e o tinha convertido em pedra, a luxúria tinha enchido sua cabeça como a névoa de Devonshire, espessa e impenetrável. Não conseguia ver sua saída.

— Isso é para mim?

Uma pergunta tão inocente, de fato, tudo o que tinha era para ela. Seu pênis, seus lábios, suas mãos e sua língua, tudo dela, só para ela.

— Cheira celestialmente — Ela se levantou e se aproximou dele, pegou a bandeja de suas mãos e a colocou sobre uma pequena mesa com tampo de mármore entre duas cadeiras. — Quanta comida! É muito mais do que poderei comer, mas agradeço sua entrega. A senhora Poole estava muito ocupada? Dirigir uma casa pode ser muito exigente, especialmente à primeira hora da manhã.

Seu bate-papo lhe deu tempo para deixar que a razão penetrasse nele. O que era bom.

Necessitava de seu engenho sobre ele.

— Trouxe-o para poder falar contigo. Sozinho. — Limpou garganta. — Comerá tudo.

Lançou-lhe um olhar duvidoso sobre seu ombro.

— Tudo? Lorde Colin, isto é mais comida do que normalmente como em três dias, sem importar quão apetecível seja.

— Vamos prescindir do 'senhor'. Sou Colin. Além disso, ilustrou meu ponto com precisão, não come o suficiente, e isso mudará aqui e agora.

Ela soprou meio rindo.

— Fará?

— Sim, está muito magra, mulher, sem nada que oculte seus ossos mais que um vestido puído.

Sarah ficou quieta, sua expressão passou do sorriso para o vazio, com os braços cruzados sobre seu abdômen.

— Entendi — disse em voz baixa. — Isso é tudo?

— Não, não é. Você e sua mãe me acompanharão a Londres, iremos depois que acabe a tormenta e as estradas se secarem um pouco.

Ela não disse nada, seu dedo agora tocava seu cotovelo ritmicamente.

— Uma vez em Londres, comprarei vestidos novos para ti, já que os teus são miseráveis. Vi tecidos melhores usados como bolsas de viagem. — Talvez ele pudesse ter expressado as coisas mais diplomaticamente, mas não tinha tempo de voltar atrás. Ele devia deixar sua posição em termos claros. Sua posição era ao seu lado, e isso era definitivo. — Ficará na casa da minha família, onde comerá, descansará e evitará o trabalho de qualquer tipo.

Seu rosto, tão pequeno e pálido, estava rodeado por aquela espiral de cachos, adquirindo um aspecto claramente obstinado. Seu queixo levantou uma fração, seus lábios apertados e planos. Se ele não soubesse melhor, suspeitaria que ela estava disposta a contradizê-lo com uma força significativa. Em troca, o dedo que golpeava aumentava sua cadência.

Seguiu adiante.

— Depois que a ameaça à sua segurança tenha sido eliminada, podemos discutir onde viverão você e sua mãe. Até então, ficará comigo.

— Terminou?

— Além de alguns detalhes, sim.

— Me perdoe, meu senhor, mas temo que tenha julgado mal a situação.

Cruzou os braços sobre o peito.

— Ah, sim?

— Mmm. Me recorde outra vez a quem o Sr. Syder está perseguindo. Era a ti, não?

— Bom, sim, mas...

— Qualquer pessoa que esteja perto de você deve, portanto, correr um maior risco, não menos.

— Não entende...

— Além disso, fiz todo o possível para evitar que caísse em suas mãos. Não uma, mas sim duas vezes.

— Sarah, sabe que estou agradecido...

— Então, o que te dá licença para ditar minhas decisões? Não te devo nada, já que não sou sua criada, nem há uma relação para que possa me ordenar, em todo caso, me deve uma.

Abriu a boca para discutir esse ponto preciso, devia-lhe, mas ela uma vez mais ficou diante dele.

— Além disso, se me inclinasse a aceitar suas demandas, que razão teria sua família para acolher a viúva e a filha empobrecidas de um vigário de povoado? Afirmamos que estou fazendo uma audição para o papel de professora? Suponho que o duque de Blackmore desfrute de um contato muito mais amigável com seus serventes e seus familiares do que é habitual ou, possivelmente, somos primos perdidos faz tempo, pedindo caridade de nossos...

— Será minha prometida — disse com calma, querendo que ela percebesse sua resolução. — Sua mãe será sua acompanhante.

Sua boca se abriu, seu peito teve trabalho com a respiração.

Aproveitou a oportunidade para oferecer a verdade, talvez isso a convencesse.

— Dirigimo-nos à Londres para que possa ajudar a desarmar ele e o seu império. Tínhamos a intenção de que minha presença pública atraísse o Syder, o incomodasse para que pudesse tornar-se... descuidado. Tem razão, ele está me perseguindo, chegou tão longe como eu estou disposto a ir com a ajuda do meu irmão, tomarei todas as precauções. Me rodearei de guardas, minha família e do beau monde para que, se se voltar tão audaz para me atacar, certamente estará guardando seu próprio ingresso à forca. — Colin deu dois passos para ela e logo se deteve. — Esse era nosso plano antes que te encontrasse, está claro que agora sabe de sua importância para mim.

Um pequeno cenho se franziu.

— Pretende atuar como isca? A que se refere com importância?

— Uma vez que soube de nossa conexão, supôs que eu te daria minha localização. — Ela fungou.

— Bom, não a mim, precisamente a deu à minha mãe.

Colin ignorou seu sarcasmo e a acusação, já que não significava muito. Ele tinha estado tratando de protegê-la do Syder enquanto se assegurava de que ele fosse informado se ela alguma vez o necessitasse.

— Estou seguro de que pretendia te seguir até mim. A tormenta ocultou seu rastro. Entretanto, a próxima vez que viaje à Bath ou retorne à Keddlescombe, vá a qualquer parte, a encontrará por sua conta. E vai ferir-te.

Sua boca trabalhava, seus olhos procuravam e desconcertavam.

— Com que fim? Agora que conheço sua estratégia, dir-lhe-ia de boa vontade a verdade, que planejou viajar a Londres.

Sacudindo sua cabeça, respondeu: — Dentro de uns dias saberá que estou em Londres, saberá sobre as medidas que tomei para me pôr além de seu alcance. Ele procurará acabar comigo, não te verei machucada.

O sulco sobre a ponte de seu nariz se aprofundou e seus lábios se franziram.

— Então, sua solução é que deveríamos fingir um compromisso. Outra vez.

— Sim — ele suspirou, aliviado de que ela enfim viu a razão. — Entendeu. — Logo lhe dirigiu um meio sorriso, recordando outra proposta, outro acordo entre ele e Sarah Battersby. — Como antes, seremos um para o outro, temporariamente, é claro.

— Perdeu por completo seus sentidos. — Ela soprou as palavras, sua cabeça tremia em negação.

— Para onde mais pode ir, Sarah? Me perdoe, mas você e sua mãe estão bastante desamparadas.

— Eu... vou encontrar uma posição uma vez que esteja estabelecida em algum lugar, só será uma questão de tempo.

— O tempo que você não comprou com recursos que não tem.

Seus olhos se estreitaram, seu orgulho se acendeu.

— O irmão de um duque não pode ser prometido a alguém como eu, simplesmente é um fato.

Podia ver que sua vontade se elevaria contra ele, resistindo além da última gota de razão, o entendeu, mas não podia permiti-lo.

Ela não devia negar-se a isto, o medo se acumulou em suas vísceras, onde se mesclava com o desejo que havia sentido desde o começo. A convencerei de que fique comigo, mesmo se tiver que seduzi-la para que aceite.

Resolvido, ele fechou a distância entre eles, aproximou-se até que cheirou flores silvestres em seu cabelo, observou seus olhos brilhar e fundir-se em sua mente, tirar-lhe a roupa branca de seu corpo e passar a língua... por toda parte, sobre mamilos com pele aveludada e ocos sombrios, ele tinha sonhado. Quando lhe chegou a febre, quando estava destroçado. Cada vez que fechava os olhos, às vezes, quando olhava para a escuridão, não conseguia dormir por falta dela.

Observou como sua garganta se agitava, seus doces seios se elevavam mais rápido com sua respiração.

— Com que facilidade se esquece, senhorita Battersby.

— Não — ela sussurrou, seus olhos afogando-o. — Não esqueci nada, em nem um momento.

Sentiu um lento e cálido sorriso curvar seus lábios.

— Então recorda que me importa pouco a convenção.

— Ninguém acreditará, eu e você, é absurdo. — Soava sem fôlego.

Ao cercar-se dela, esperava que ela se retirasse, mas ela não o fez, deixou que seu nariz tocasse e acariciasse os cachos em sua têmpora, respirou mais seu aroma. Devia ser sabão proporcionado pela Sra. Poole. Mas nela era intoxicante, como estar em um prado da primavera de sinos e trevos, verdes, selvagens e doces.

— Saberão que é verdade — murmurou. Incapaz de lutar por mais tempo com a necessidade, ele percorreu sua bochecha ao longo da dela, sentindo que seus amaciados cachos lhe amorteciam o passo, manteve suas mãos aos flancos, melhor não ceder à tentação.

— P-porque o diz?

Seus lábios roçaram os dela tão fracamente como a luz da lua em um parapeito. Seus olhos se fecharam, seu queixo inclinando-se mais para cima.

— Porque — ele respirou contra sua boca separada antes de retirar-se lentamente, deixando que um de seus cachos se enganchasse em sua bochecha e saísse. — Verão a forma em que a olho. — Deu um passo para trás com cuidado, apertando os punhos atrás de suas costas, sentindo cada centímetro de distância entre ele e o objeto de seu desejo. Mas devia ir-se antes de render-se. Antes de cometer o erro de pensar que alguma vez poderia ser suficientemente bom para ela. — Verão, doçura, e eles saberão.


CAPÍTULO 13

“Justo quando suponho que esgotou todas as ideias idiotas, tira uma velha relíquia da estante e lhe tira o pó para outra oportunidade.”

A viúva marquesa de Wallingham ao seu sobrinho depois da notícia de sua terceira admoestação em Oxford.

— Um compromisso? — A mãe de Sarah murmurou uma hora depois. Eleonor tirou uma forquilha dentre seus lábios e o cravou no penteado de Sarah. — Está segura que não confundiu seu significado?

Sarah passou a mão pela obra de sua mãe. "Moderado", pensou com alívio, por agora.

— Não há engano, disse-lhe que era absurdo, essa foi a palavra que usei, absurdo. — Se levantou do pequeno tamborete e pôs a escova emprestada no toucador emprestado.

— Deve atuar como nossa acompanhante, ao que parece.

Eleonor olhou deliberadamente a bandeja do café da manhã que Colin lhe tinha entregue antes, ainda com montões de comida que ela tinha sido incapaz de terminar, então voltou a olhar à Sarah.

— Parece que necessita de uma.

Burlando-se com muito entusiasmo, Sarah respondeu: — Obrigada, mamãe, não ocorreu nada.

E era verdade, tinha saído de sua habitação depois de seu quase beijo, a decepção a tinha deixado sem fôlego. Mas ela supôs que ele não tinha o costume de andar beijando por compaixão. Sua mãe a olhou com o conhecimento misterioso de uma mãe.

— Bom, nada alarmante, em qualquer caso.

Mais silêncio e especulação, Sarah limpou a garganta.

— Os duques de Blackmore estão esperando para nos conhecer no salão, a senhora Poole já deveria estar aqui para nos acompanhar para baixo.

— Sarah.

Baixou as mãos pelas dobras de seu vestido cor marrom apagada, encolhendo-se ante o tecido desgastado. Era o mesmo que usara ontem, porque seus baús permaneciam na carruagem, Colin tinha mencionado vestidos novos vergonhosamente, sua vontade se debilitara e seu orgulho se derrubara ante a tentação. Não devia render-se, aceitar seu plano absurdo, era dar a entender que uma união entre ela e um homem como Colin, bonito, rico, sensual, encantador, era inclusive possível. Não, sabia exatamente quem era ela e quem era ele, e por que ele nunca poderia sentir por ela aquela sensação de debilidade que ela sentia cada vez que via suas mãos magras, seu perfeito queixo ou seus formosos olhos azuis.

Entretanto, um vestido novo ou dois seria encantador, sua mão roçou a faixa negra sobre o braço. Quanto desejava vestir-se de preto para honrar o seu pai!

— Sarah, me olhe.

A demanda veio de sua mãe, então que ela obedeceu.

Como sempre, Eleonor estava limpa e ordenada, sua pele pálida mostrando sinais sutis de sua idade e das dificuldades, nas rugas finas das comissuras dos lábios e em seus olhos. Agora a preocupação enrugou sua testa.

— Não deve deixar que te convença de ações que poderiam resultar em... bom, em novas cargas... de caráter permanente.

Sarah sentiu que o calor subia e formigava em suas bochechas.

— Mamãe — ela protestou. — Se estiver de acordo com seu plano, e isso é pouco provável, estaríamos fingindo estar comprometidos, seria um drama, uma peça de teatro e temporário, asseguro-lhe isso. — Deu-se a volta e se ocupou de ordenar as poucas coisas no toucador. — Não tem por que preocupar-se.

Um golpe na porta assinalou a chegada da senhora Poole. Sarah estava agradecida pela interrupção, já que sua mãe podia ser tenaz quando se tratava de proteger a sua filha. Mesmo assim, temia encontrar-se com os duques.

~~*~~

Enquanto a senhora Poole as guiava pelos longos corredores de Yardleigh Manor, Sarah lançou olhares furtivos para sua prega. Os fios se afrouxaram, danos da última lavagem. A necessidade de voltar atrás e esconder-se em sua habitação era forte. Em troca, seguiu a governanta para as portas com painéis da sala, respirando justo antes que a senhora Poole golpeasse ligeiramente e as abrisse.

— Sra. Battersby — disse uma voz profunda, tranquila e masculina com calma, do lado da lareira. — E a senhorita Battersby.

Era alto, Sarah se deu conta, inclusive mais alto que Colin, e ligeiramente mais largo nos ombros, mas com o mesmo cabelo loiro muito curto. Sua mandíbula foi esculpida até uma borda fina, seus traços refinados e aristocráticos. O duque de Blackmore era um homem impressionantemente bonito, embora de uma maneira mais austera que seu irmão.

— Sua Graça — Eleonor murmurou, fazendo uma reverência e inclinando a cabeça brevemente.

Sarah seguiu seu exemplo, seu coração palpitava de temor.

— Confio em que tenham encontrado o alojamento ao seu gosto. — Suas palavras foram amáveis, mas seu tom era de gelo.

— Em efeito, Sua Graça, agradecemos-lhe sua amabilidade — disse Sarah.

— A casa não é minha, portanto não é minha amabilidade.

Ela piscou sem saber como responder, então de quem era? De Colin? De outra pessoa?

— Bom — disse Eleonor, iniciando uma conversação. — Quem nos haja proporcionado tão generosamente nosso alojamento, tem nossa sincera gratidão.

O duque simplesmente se limitou a olhar de longe, um comprido silêncio se estendeu antes que se limpasse uma garganta feminina, Sarah nem sequer havia notado a mulher parada atrás de uma das cadeiras de veludo. Era baixa, um pouco gordinha, com o cabelo marrom escuro retirado de sua cara redonda, à exceção da franja de cabelo ao longo de sua testa, era uma mulher bastante singela, cujo estilo era severo.

Os óculos faziam com que seus olhos parecessem maiores que o normal, se moveu lentamente até parar ao lado do duque. Quem era ela? Sarah se perguntou. Outro convidado, possivelmente? Certamente ela não é a...

— Senhoras, apresento a minha esposa, a duquesa de Blackmore.

Sarah olhou à sua mãe. Eleonor piscou para ela, juntas, aproximaram-se do incerto par e fizeram uma reverência à duquesa. Era uma mulher singela, e Sarah não pôde evitar dar-se conta de que a Duquesa de Blackmore estava requintadamente vestida de brilhante seda vermelha. Junto com o tom do vestido, o decote quadrado e uma faixa mais escura na cintura baixa eram bastante lisonjeiros. Exageradamente custoso, podia ver-se em cada ponto.

Uma vez mais Sarah pensou nos fios de sua própria prega, os pontos que ela mesma tinha costurado em lugar de contratar uma costureira de Londres ou inclusive uma costureira de Exeter. Ansiava desaparecer.

— De verdade — aventurou Eleonor — sentimo-nos honradas de lhe conhecer, Sua Graça, e muito agradecidas de ter sido beneficiárias de tanta generosidade.

A mãe de Sarah lhes deu seu melhor sorriso, responderam com melancolia, o duque sombrio e sem sorrir, a expressão da duquesa fechada e tensa.

Sarah só podia concluir que não estavam de acordo com ela nem com sua mãe. Duas mulheres malvestidas, de um obscuro povoado costeiro eram, de fato, uma má companhia para um poderoso duque e sua esposa. Tal reação não era inesperada, embora bastante incômoda.

Foi outro aviso de porque o plano do Colin era absurdo e destinado ao fracasso.

Mas ela tinha um terreno delicado para discutir sua loucura, já que havia perpetrado a mesma mentira em sua aldeia fazia só dois meses atrás. Ele a chamaria de hipócrita por suas objeções, e teria razão.

— S..Sra. Battersby, t..tenho entendido que é neta de lorde Chalsea — disse a duquesa com voz rouca e vacilante.

— Assim é — Eleonor respondeu. — Meu pai era seu terceiro filho, após, o título passou a um primo, que não conheço, pois não é próximo.

Dirigiu à duquesa um sorriso cálido e amável.

— Londres e Keddlescombe estão muito longe uma da outro em muitos aspectos.

Um sorriso tremente, pequeno e vacilante precedeu a cordialidade dos olhos escuros da duquesa. Ela se esticou para ajustar seus óculos.

— Achei Devonshire uma delícia, é minha primeira viagem a esta região, e se pode cheirar o mar em cada brisa, aqui.

Ao observar com curiosidade a mudança no comportamento da duquesa, Sarah quase não pôde escutar a crua pergunta do duque.

— Aceitou a proposta do meu irmão, senhorita Battersby? Ou podemos assumir que está em maior posse de suas faculdades que ele?

Bom, pensou, não foi precisamente cuidadoso com as palavras. Sua expressão a fez engolir com dificuldade.

— Eu... ele... quer dizer, lorde Colin parece estar mais empenhado.

— Precisamente porque sei como ele é, ainda não decidi.

Seus olhos eram azuis, mas um pouco mais cinzas que os do Colin, como um lago que se tinha congelado.

— Se não fosse por sua insistência, Sua Graça, minha mãe e eu estaríamos agora caminho a de Bath — assegurou-lhe.

Não disse nada em resposta, simplesmente a olhou de sua altura elevada até que sua esposa lhe passou um braço pelo cotovelo e lhe deu um empurrão sutil.

— Harrison — murmurou a mulher de óculos. — Seja agradável.

— Sim, Harrison — disse a voz do Colin atrás de Sarah, à entrada da sala. — Sejamos civilizados — caminhava para eles, seu olhar fixo em seu irmão, suas sobrancelhas desceram em um olhar fulminante. — Está falando com minha futura esposa, depois de tudo.

— Um compromisso falso, — respondeu Blackmore com desdém — e um plano absurdo.

Sarah piscou ao escutar suas palavras, que se ecoavam nos lábios do aristocrático. Colin se colocou ao seu lado, causando um arrebatamento de calor ante sua proximidade.

— Talvez — disse em voz baixa. — Mas é o meu plano, não o dela, não tolerarei que ninguém falte com o respeito com ela. Inclusive você.

Em lugar de responder diretamente ao seu irmão, Blackmore se dirigiu de forma fria para ela.

— Você é consciente que ele não dispõe de recursos próprios, mas sim que vive de uma atribuição sobre a qual tenho um controle completo?

— Harrison — Colin grunhiu.

— Além disso, — continuou o duque — as circunstâncias atuais do meu irmão são totalmente causadas por sua incapacidade para pagar as dívidas contraídas através de apostas esbanjadoras nas salas de jogo do senhor Syder.

A voz do Colin se aprofundou, soando mais zangado a cada segundo.

— Está equivocado, essa não é a razão, já saldei minha dívida, e sabe muito bem.

Blackmore o ignorou, sustentando com força o olhar de Sarah.

— Então, veja, senhorita Battersby, se seu interesse está em garantir um marido no qual se possa confiar para lhe proporcionar um lar e ganhos para a senhorita e a sua mãe, a aconselho procurar em outra parte.

— Harrison! — O silvo e a expressão de indignação da duquesa de Blackmore o levaram a apartar-se de Sarah enquanto franzia o cenho à sua esposa. — Não há nada que sugira que a senhorita Battersby seja de tal caráter.

— Ela não é — Colin grunhiu. — Em todo caso, tive muito trabalho para convencê-la a cooperar.

Com cuidado, Sarah limpou a garganta.

— Posso dizer algo?

Blackmore voltou a cabeça para ela e, surpreendentemente, fez-lhe um gesto afirmativo.

— Estou de acordo com Sua Graça.

Sua simples declaração pareceu aturdir a todos na habitação, incluído o duque, enquanto todos guardavam silêncio para esperar uma explicação mais detalhada.

— Se estivesse procurando um homem que nos apoiasse, procuraria em outro lugar. De fato, não teria envolvido o seu irmão em minha vida, ficou em Keddlescombe durante uns dias mais do que tinha planejado para me ajudar a evitar esse matrimônio.

Blackmore pareceu considerar seu ponto, logo respondeu com uma de suas frases.

— Talvez jogou fora um peixe pequeno a favor de um salmão.

A duquesa olhou ao seu marido horrorizada, Eleonor ficou sem fôlego, Colin foi o primeiro em falar.

— Pare com isso, irmão — sua voz era baixa e séria.

Mas foi a duquesa quem finalmente convenceu Blackmore a ceder, e seu tom foi surpreendentemente amável.

— Se não fosse pela senhorita Battersby, Colin estaria morto, meu amor. Não crê que lhe deva o benefício da dúvida?

O queixo de Blackmore baixou um pouco, seus olhos se suavizaram ao olhar a sua esposa.

— Talvez tenha razão, minhas desculpas por qualquer insulto, senhorita Battersby.

Sarah inclinou a cabeça aceitando suas desculpas, mas por dentro, ela entendia suas preocupações muito bem. A filha de um vigário, de uma pequena aldeia, com escasso sangue nobre, mal deveria estar na mesma habitação que o irmão de um duque, muito menos fingindo um compromisso, pela segunda vez. Se ela fosse o duque daria uma olhada à pobre mulher que tinha ante ele e tiraria a mesma conclusão óbvia.

— Ele... meu marido é bastante protetor com os que ama, — a duquesa disse com sua expressão mais amável e seu olhar mais direto que quando Sarah tinha entrado na habitação. — Não é tão duro quanto parece, asseguro-lhe isso.

Colin soprou.

— Ele é precisamente duro e não necessito do amparo de uma mulher, poderia me levantar sobre mim mesmo , se assim o quisesse.

A boca da duquesa se torceu e sufocou uma risadinha.

— Agora, posso fazer uma ideia.

A tensão ao longo da parte posterior do pescoço de Sarah se aliviou, e se permitiu sorrir à mulher que estava em frente a ela, a quem estava começando a pensar que tinha julgado mal. A duquesa agora parecia tímida em lugar de distante, Sarah havia observado um comportamento similar em algumas de suas alunas, quem demorava uma semana ou mais em relaxar-se e sentir-se cômodas com as novas amizades.

— Estamos aqui para discutir nossos planos para Londres — Blackmore interveio.

Colin assentiu e convidou todos a sentar-se, Sarah notou que tomou lugar junto a ela, em um dos sofás. Estava tão perto que podia sentir seu calor e o aroma de sândalo e a ar fresco, que alterava seus sentidos.

— Parece que a chuva está diminuindo, assim partiremos amanhã pela manhã — começou dizendo Colin. — Dei instruções ao Underwood e à Sra. Poole para que se encarreguem dos acertos, com sorte devemos chegar em três dias. — Olhou fixamente ao Blackmore. — O compromisso não é negociável, todos devem estar de acordo e contar a mesma história: a senhorita Battersby e eu nos conhecemos em Bath.

Ela estava ali para visitar a prima de sua mãe e eu estava procurando um novo cavalo para o estábulo de Blackmore, tropeçamos um com o outro quando esse mesmo cavalo ficou coxo e ela se deteve para me ajudar, e nos apaixonamos. Essa relação nos conduziu à proposta de matrimônio, e agora a levo a Londres para me reunir com minha família e preparar as bodas. Perguntas?

Estava ordenando, ao princípio suas palavras foram com força e logo desafiantes, com um tom resolvido. Tinha pensado em seu plano e estava decidido a levá-lo a cabo, nem seu irmão o deteria. Ele queria beijar sua formosa boca justo ali, em frente dos duques e inclusive de sua mãe, desejava tanto que seus lábios começaram a formigar, as palmas de suas mãos a humedecer e a respiração a acelerar.

— Londres é o domínio do Syder. O que te faz pensar que não a perseguirá uma vez que tenha feito pública sua relação com a senhorita Battersby? — Blackmore perguntou.

Colin o fulminou com o olhar.

— Ele pode tentar, mas nunca a tocará.

O duque suspirou.

— Colin, faremos todo o possível para evitar, mas inclusive Jane não estava a salvo dele nas terras de Blackmore.

— Ele não a tocará.

— Vai lhe dar o que quer, então, se se tratar disso?

Colin ficou em silêncio por um momento antes de responder.

— Não terei que fazê-lo, pelo que sei, através do meu contato no Ministério do Interior, faz tempo que estão atrás de seu bando. O império de Syder está caindo tijolo por tijolo, é por isso que está desesperado.

Os olhos de Blackmore se estreitaram sobre seu irmão.

— Ainda não me disse quem é este contato. Está seguro de que pode confiar nele? Depois de tudo, deixou-te à mercê daquele desprezível carniceiro.

Sarah olhou ao Colin, seu coração retorcendo-se ao recordar seus ferimentos, era a primeira vez que escutava uma explicação da causa, de algum jeito tinha estado ajudando ao Ministério do Interior. Negou-se a revelar informação vital, foi torturado, golpeado e cortado como um pedaço de carne, sentiu que seu grande café da manhã se agitava para escapar de seu estômago.

— Sei que está irritado por isso — disse Colin.

Dirigia a declaração ao Blackmore, mas bem poderia estar dizendo a ela.

Observou como o rosto do duque se voltava furioso, sombrio e cintilante. Sua voz, no entanto, era inquietantemente tranquila.

— Terei sua cabeça servida em uma bandeja.

— É por isso que insisto em falar com ele antes de te dizer seu nome, Harrison — disse Colin, silenciando a objeção de seu irmão com um olhar. — Assim é como deve ser.

— Peço-lhe perdão, lorde Colin, — disse Eleonor, inclinando-se um pouco para diante em sua cadeira de veludo, apoiando as mãos nos braços de madeira — mas se minha filha aceitou parte disto, temo que eu deva me opor aos términos difíceis.

Sarah teve que dar crédito à sua mãe por sua valentia e ao Colin por manter sua compostura, ele assentiu com calma.

— Não esperaria menos, senhora Battersby, se me permite explicá-lo, tentarei tranquilizá-la. — Continuando, relatou cuidadosamente os meses que passou sozinho correndo de um extremo da Inglaterra ao outro para escapar do alcance de Syder. Descreveu ter retornado à sua casa, Blackmore Hall, escondido em uma casa de campo, em terras do imóvel, e mesmo ali não estava seguro. — Nunca estive a salvo, nem quando estive escondido ou correndo sozinho, Syder opera na escuridão, ele está cômodo ali, o que ele teme é ser descoberto e ao me esconder e correr encorajei sua busca. Um homem sozinho, qualquer coisa pode acontecer, outro homem rico assaltado por ladrões, uma casa de campo em chamas, não é tão incomum. — Colin continuou dizendo. — Em troca, se eu estiver em um lugar proeminente em Londres, celebrando um novo compromisso, me reunindo com minha família, rodeado constantemente por eles e por outros, meu desaparecimento se notaria, seria difícil que me afastasse sem chamar a atenção, coisa que ele não quer, por isso o lugar mais seguro para Sarah está ao meu lado, se não pode me alcançar, não pode chegar a ela.

Eleonor, escutando pacientemente, terminou seu pensamento.

— E se ela e eu viajarmos juntas à Bath, como tínhamos planejado, estará em perigo.

— Estará, uma vez que eu apareça em Londres enviará seus homens para procurar Sarah, sem dúvida é um objetivo fácil.

Suspirando, Eleonor olhou à Sarah.

— Está de acordo com isto?

Os olhos de todos estavam de repente sobre ela, considerou o que se havia dito, o que Colin tinha explicado sobre o Syder. Ela sabia que era verdade, Syder o tinha perseguido até sua aldeia e quase a tinha ameaçado em sua casa. Mas, sobretudo, recordava cada vez que Colin a tinha beijado e como tinha se sentido ao vê-lo afastar a dor de sentir sua falta depois de uns poucos dias de amizade.

Como tinha sonhado bobamente que ele retornava à Keddlescombe sobre as costas de Matilda e se ajoelhava ao vê-la, declarando-lhe que não podia manter-se afastado, ela sabia que era uma fantasia impossível e, ao final, sua eleição não foi realmente uma eleição, absolutamente.

— Sim — disse, sabendo que poderia ser o maior erro de sua vida. — Estou de acordo.


CAPÍTULO 14

“Minha carruagem de viagem não dá a mínima para o sentimentalismo. Suas rodas só necessitam de uma amostra do barro de novembro para entupir-se alegremente, uma oportunidade que não oferecerei".

A Marquesa viúva de Wallingham à Lady Atherbourne em resposta à pergunta da dita senhora sobre sua possível assistência ao funeral da Princesa Charlotte.

Londres estava tão suja como ela recordava, exceto ali, ali era tudo delicioso, Sarah apartou as cortinas do salão na parte dianteira da Casa Clyde-Lacey e contemplou o Plaza Berkeley, o verde no centro era como uma joia tranquila, não poluída pela fumaça do carvão e a sujeira deixada para trás por muitos cavalos. Nunca tinha se preocupado por Londres cheia de gente, suja, com seus labirintos de ruas estreitas, ruídos de carruagens e aromas de fumaça acre e excrementos, mas talvez foi porque ela nunca tinha vivido em um lugar como aquele.

Deixando que a seda se deslizasse contra seus dedos e voltasse a cair em uma elegante curva ao longo da janela, Sarah se voltou para a duquesa, quem estava centrada em seu bordado e rindo de algo que Eleonor havia dito, durante os últimos dez dias Sarah tinha se afeiçoado muito com Jane, como a duquesa insistiu em ser chamada, seu humor faiscante e sua franca inteligência deixaram claro como havia ganho a evidente devoção de seu marido.

— Às vezes me pergunto se ele esqueceu com quem se casou — Jane disse à Eleonor. — Honestamente, me dizer que devo exercer moderação ao comprar livros, “Temos três bibliotecas cheias, uma aqui e duas mais em Blackmore Hall. Não é suficiente?” — Ela riu e negou com a cabeça. — Homem tolo.

— Sarah sempre foi igual com seus tecidos — disse Eleonor com um humor indulgente. — Cada vez que ela conseguia um pouco de dinheiro, invariavelmente a encontrava na loja do Sr. Canfield, sobre a musselina mais nova.

Sarah olhou seu singelo vestido negro de manga longa, fornecido por uma presunçosa mulher italiana com um toque de dramatismo, estava belamente costurado, requintadamente simples e melhor que qualquer outra coisa que ela tivesse feito ou usado. Tinham-lhe encomendado mais vestidos, ao menos isso era o que ela tinha entendido, seu italiano era bastante pobre.

— Encanta-lhe costurar — continuou sua mãe. — Sarah, recorda as colchas que fez para aqueles jovens que retornavam para casa depois de Waterloo?

Sorrindo ironicamente, Sarah disse: — Lembro que pensou que eu deveria passar menos tempo com eles e mais tempo ajudando na feira da colheita.

Jane suspirou e usou seu nódulo para empurrar seus óculos sobre seu nariz. Logo apunhalou sua agulha através do tecido esticado no aro do bordado.

— Invejo-te, Sarah, embora admire a excelência nesse campo, não a possuo.

Abriu-se a porta e entrou a irmã do Colin, lady Atherbourne. Sarah havia conhecido Vitória Wyatt e seu marido, Lucien, na manhã depois de chegar a Londres. Algo sobre esta viscondessa dourada lhe tinha recordado instantaneamente Colin, uma espécie de sincero encanto, supôs notavelmente, entretanto, o casal estava presente frequentemente na casa Clyde-Lacey quando Colin estava ausente, como se tratassem de evitá-lo, Sarah tinha a sensação de que havia uma ruptura entre os irmãos, mas não o tinha elucidado completamente.

Nesse momento Vitória agitou uma carta selada no ar e enviou a todos um sorriso radiante.

— Chegou, minhas queridas — anunciou com seus olhos verde azulados brilhando. — A última de lady Wallingham depois da carta da semana passada, isto deveria ser muito esclarecedor.

Sarah nunca tinha conhecido lady Wallingham, e por tudo o que tinha aprendido a respeito da marquesa viúva, não queria fazê-lo. Vitória a tinha chamado "a Dragão", enquanto Jane falava dela em tom sarcástico, mas temeroso, entretanto, enquanto Vitória mantinha uma correspondência regular com a mulher, ela havia seguido lendo em voz alta as cartas de Lady Wallingham durante suas visitas à Casa Clyde-Lacey. Tinha demonstrado ser todo um entretenimento.

— Escutem isto — disse Vitória afundando-se com graça em um divã de seda azul.

“Quando lhe solicitar que sofra outro tedioso almoço, ofereça comentários mordazes, mas sinceros. Atue habilmente, e o resultado será menos demandas de conversação e, felizmente, menos almoços.”

— Isso explica muito — Jane disse com um gesto de seus lábios.

— Certamente — disse Vitória, seus olhos explorando rapidamente a parte inferior da carta. — Ah, ela planeja ficar em Grimsgate Castle até a primavera em lugar de ir à cidade para o funeral da Princesa, a esperava tanto.

Todos na sala adotaram um semblante solene, a morte da princesa Charlotte (a única filha legítima do príncipe regente) e seu filho recém-nascido durante o parto tinham aturdido toda a Inglaterra, que se afligiu mais profundamente pela perda da amada jovem realeza.

Agora, Sarah e sua mãe não eram as únicas vestidas de preto; toda Londres a usava como um sinal de luto nacional, incluídas as outras damas na sala, de fato, a costureira italiana se queixou amargamente da escassez de crepe negro, ao menos isso era o que Sarah assumiu que tinha estado dizendo, a mescla de inglês e italiano tinha sido vertiginosa.

Entretanto, Lady Wallingham teve uma visão mais pragmática dos acontecimentos. Vitória leu a explicação da viúva em voz alta: "Toda a linhagem real poderia afundar-se no Tâmisa e afogar-se, e ainda assim eu não viajaria nesta época abominável do ano".

Sarah se voltou para a janela, escutando as outras damas rir e conversar seu peito sentia-se vazio. Ela sentia saudades de seu pai, mas, é claro, ele se tinha ido em todos os aspectos que importavam durante dois anos. «É verdade que sente falta do papai?, perguntou-se cruzando os braços sobre a cintura. Não é ao Colin, o homem que mal se incomoda em te desejar bom dia?» Ela o recordava como havia estado em Keddlescombe, sentado com ela na horta, com aquele sorriso travesso, insistindo em caminhar sozinho porque era muito orgulhoso para apoiar-se nela.

Despertando com ela na noite enquanto lutava por colocar as botas para procurar o pai dela na praia, dançando com ela na abadia e beijando-a na escuridão.

Fechou os olhos com força, ansiando um homem que nunca poderia ser seu, Lorde Colin tinha mantido uma cuidadosa distância, desde sua partida de Yardleigh Manor ela o via só no jantar todas as noites, e estranha vez falavam, Jane tinha explicado que estava ocupado em restabelecer sua presença nos clubes e renovar suas conexões com velhos amigos, tudo parte do plano, Jane lhe tinha assegurado.

Possivelmente o que precisava era deixar de lamentar-se e, em troca, estabelecer um plano próprio, sim, isso era todo um plano, olhou para baixo ao seu vestido novo, tirou um pé de debaixo de suas saias para admirar suas novas sapatilhas, que mostravam adoráveis jorros de missangas em um desenho formando redemoinhos.

— Vitória — ela perguntou, provavelmente interrompendo outro engenho de Wallingham. Não lhe importava. — Conhece alguém que necessite de uma governanta ?

Olhos grandes, de cor verde azulada, devolveram-lhe o olhar.

— Não estou segura por que pergunta.

Eleonor murmurou seu nome com um tom de advertência, mas Sarah tinha começado a pensar que esta era a solução que tinha estado procurando. Continuou: — Sabe que fui professora de senhoritas anteriormente? Dava aulas na Academia para meninas da Santa Catharine de Conduta Impecável, a escola do meu pai.

— Ora, esse é um nome comprido — Jane murmurou com expressão curiosa. — Impressionante.

— Infelizmente, minha experiência não foi em um lar, por isso obter uma carta de referência foi um desafio.

Vitória lhe dirigiu um sorriso brilhante e um gesto de assentimento.

— Acredito que posso ajudar com isso, farei algumas indagações. Quem sabe o que ocorrerá?

O alívio de Sarah esquentou sua pele, finalmente ela tinha encontrado sua resposta, não era o ideal, já que um posto em uma escola seria mais de seu agrado, mas se pudesse encontrar um posto em uma casa ao menos não ficaria na miséria novamente quando resolvesse o emaranhado de Syder e talvez procurar uma posição a distrairia daquela melancolia sem sentido.

— Obrigado — Sarah suspirou. — É muito generosa, ah, e em suas indagações, talvez deseje consultar as posições de professora e a de governanta.

Enquanto ela falava, uma brisa mais fresca flutuava atrás dela, onde estavam as portas. Estava tão agradada com seu novo plano e o fácil acordo de Vitória, que não se deu conta, agora, entretanto, deu-se conta de sua causa.

— Governanta? Acredito que não — dado o frio estalo das palavras do homem atrás dela poderia confundir-se facilmente com o duque. Mas em troca, era Colin, e soava furioso.

Ela se girou para olhá-lo, parecia furioso, seus olhos azuis brilharam e arderam através dela, seus ombros quadrados e rígidos. Onde estava seu canalha? Desde Yardleigh ela parecia havê-lo perdido por completo.

— Vai ser minha esposa, minha esposa não necessitará de uma carta de recomendação.

Sarah piscou, franzindo o cenho.

— Mas, nosso compromisso é uma farsa — olhou às outras damas da habitação, que também pareciam perplexas. — Não pode continuar para sempre, devo planejar meu futuro se quero ter alguma esperança de...

— Sarah — ele exclamou, seus olhos se pousaram brevemente em sua irmã, logo em Jane e logo em Eleonor. — Falemos em privado.

— Talvez eu devesse acompanhar... — o protesto de sua mãe veio como se esperava de uma acompanhante, embora fosse mais um cordeiro do que um leão.

— Em privado — repetiu, e logo resolveu o assunto avançando, agarrando o braço de Sarah por cima do cotovelo, e puxando-a do salão para o vestíbulo, logo para baixo por um corredor e para o escritório do duque.

Olhou maravilhada os escuros painéis de madeira em cada parede, a enorme escrivaninha de mogno, e a janela atrás dela que dava a um pequeno jardim.

— Não estive nesta habitação antes, é encantadora.

— Sarah — murmurou enquanto liberava seu braço para fechar a porta. — Não pode procurar trabalho, isso arruinará nossa história.

Cruzando os braços, dispôs-se a dar golpezinhos com um dedo na manga.

— Vitória simplesmente vai fazer averiguações, não precisa especificar para quem são.

Com a mandíbula flexionada e os lábios apertados e cansados, seu rosto parecia tão duro, tão destroçado pela frustração, tão diferente de como ela o recordava.

— O cargo de governanta é uma posição difícil e solitária, não é familiar, não é pessoal, seria infeliz em uma semana, sem mencionar que são vulneráveis a todo tipo de impulsos luxuriosos dos homens da casa. Não pode ser governanta.

— É claro que posso.

— Não tolerarei.

— Não tem voz no assunto.

Lançou um silvo de pura exasperação.

— Sarah, estou tratando te proteger. Não entende? Por que não pode simplesmente me permitir que te cuide?

— Cuidei de mim mesma, dos meus pais e de uma escola que albergava uma dúzia de meninas por dois anos, e o fiz só com uma parte do salário de um vigário rural, pagando as dívidas do meu pai e evitando os avanços não desejados do Félix Foote. — Deu-lhe um sorriso apertado, mas triunfante. — Acredito que isso me qualifica para dirigir meus próprios assuntos, meu senhor.

— Por que é tão obstinada? E deixa de me chamar de "MEU SENHOR", só o faz para me incomodar.

Seu dedo golpeou mais rápido seu braço.

— Como você esteve ausente durante grande parte de nosso tempo em Londres, não vejo onde tive a oportunidade de incomodá-lo. Meu senhor.

Sua agitação se deteve, suas mãos se pousaram em seus quadris.

— Queixa— se de que estive longe da casa.

Ela zombou.

— Eu mal reclamei. Por que deveria fazê-lo?

— Fez! Você incomodou-se que eu não...

— Isso é ridículo.

— ... alojei-me aqui contigo e agora está me castigando.

Entrecerrando os olhos, respondeu com a precisão e o cuidado que só uma professora de garotas jovens podia reunir.

— Meu desejo de conseguir uma posição que apoie a mim e a minha mãe não tem nada a ver com o senhor. Verá, meu senhor, apesar de suas frequentes afirmações do contrário, eu gosto de comer também, estou a favor de um refúgio adequado e de um banho ocasional, não sou um asceta, portanto necessito de recursos que devo ganhar através de um emprego. — Ela sorriu. — Um conceito estranho, talvez possa explicá-lo mais devagar, se quiser.

Aproximou-se dela, falando enquanto seus longos e lentos passos tragavam o chão entre eles.

— Sabe o que eu gostaria? — Sua voz agora era suave, seus olhos ardendo com intenção. Estava tão perto que a fina lã de seu fraque azul escuro roçou seu corpete.

Engoliu com força e retrocedeu, só para ver que ele estava à sua altura, passo a passo, até que a beira da mesa de mogno lhe deu um empurrão no traseiro. Seu rosto inclinado sobre o dele, seu fôlego quente e seu olhar mais quente enquanto fluía sobre sua pele.

— Eu gostaria de te ensinar o prazer, eu gostaria de começar por te beijar até que me rogue e nunca parar.

Suas pálpebras revoavam tão rápido como seu estômago. Uma dor baixa e quente se assentou entre suas coxas.

— Só diz estas coisas para me incomodar. — Não estava segura de quem havia dito aquelas palavras irônicas, mas a voz se parecia muito à sua.

O lento sorriso que lhe deu só fez com que o bater das asas, a dor e a debilidade piorassem.

— Você se incomoda, então, quando faço isto? — Riscando ligeiramente um dedo pelo seu pescoço, acariciando com ternura o pequeno entalhe na base. — A sua pele?

Aquele era seu Colin descarado, em efeito devolvido com toda sua força, ela mal podia pensar.

— Sarah, — gemeu, aproximando-se mais e abaixando a cabeça para passar seus lábios pelo flanco de seu pescoço — me deixe te beijar.

Ela se agarrou ao seu cabelo, frustrada pelas mechas muito curtas, gostava mais longas, para poder as sentir curvando-se entre seus dedos.

— Está me beijando — ofegou.

— Mmm, bom ponto, não há mais discussões. — Com essa recriminação final ele tomou seus lábios, deslizando sua língua ao longo de sua comissura, fez com que a Terra deixasse de girar e começasse de novo com uma chuva de faíscas. Ela gemeu e o convidou a entrar.

Ele o fez agarrando-a pela cintura e levantando-a para que se sentasse sobre a escrivaninha de mogno polida, empurrando o crepe negro com suas mãos até que seus dedos se envolveram ao redor da pele nua justo em cima de suas meias.

Justo debaixo de suas coxas.

Sua língua escorregadia deslizando-se e brincando contra a dela era só uma parte de seu prazer, em realidade, em todos os lugares em que a tocava havia uma fonte de sensação resplandecente: suas mãos nas coxas, apertando e acariciando; seu peito duro esfregando contra seus mamilos endurecidos através de capas de tecido; seu fôlego e seu aroma rodeando-a de sândalo e ar outonal fresco e só um pingo de café.

Quanto mais a tocava, mais alto subiam suas mãos, mais brilhantes cresciam as faíscas, até que ela se acendeu com o prazer dele.

Agarrando-se aos seus ombros, ela instintivamente abriu mais suas coxas para aproximá-lo dela pouco a pouco, seus dedos amassaram a pele até que seu polegar roçou seu núcleo, pressionando-a de tal maneira que as faíscas se converteram em uma explosão.

Ela ofegou e se sacudiu, sentindo que ele a tocava de uma forma que nenhum homem fez, a agradava de uma maneira que não tinha imaginado antes.

— Shh, doçura, calma — murmurou contra seus lábios. — Este pequeno e apertado botão demorará só um pouco mais de tempo em liberar-se, mas não desejo terminar nossa lição tão rápido.

Seu polegar desacelerou seus fascinantes círculos no centro de seu ser, fazendo com que a tensão em espiral se suavizasse e acalmasse. Enquanto isso, sua boca reatou seu acalorado caminho ao longo de seu pescoço.

— Isto — murmurou, acariciando a pele na união de seu ombro e pescoço. — Merece pérolas, requintados e luminosos fios de pérolas.

Ela sussurrou seu nome.

Usou sua outra mão para acariciar ligeiramente seu seio, acariciar, apertar e dar forma aos picos que franziam o crepe negro e crepitavam ao tato. Ela recapturou sua boca com a sua própria, pressionando, acariciando, mordiscando e persuadindo, tal como ele tinha feito a ela.

Seu gemido foi sua recompensa.

Seu polegar retomando um ritmo mais rápido ao redor do sensível nó no centro de seu corpo, esse foi seu triunfo. Seus músculos naquele lugar secreto se apertavam, choravam e se ondulavam com sua necessidade, seu mamilo, torturado por seus dedos, formigava e faiscava, exigia que terminasse o que tinha começado. Um fogo que não se apagaria por nada, exceto...

Ela quebrou-se de repente, como uma onda que rasgou a parte inferior de seu corpo, a mola soltou-se e as faíscas que estiveram acumulando dentro de seus seios e seu ventre, entre suas coxas e em todas as partes que sua boca havia tocado deflagraram em uma brilhante explosão, caindo em forma de ondas de prazer.

Ela soluçou seu nome contra o linho de seu lenço, Colin, Colin, Colin, ele havia lhe feito aquilo, tinha lhe dado o paraíso. Seu peito se agitou, sua mão acariciando meigamente a face interna da coxa, onde estava curiosamente úmida. Apoiou a testa em seu ombro, sem fôlego, como um cavalo que tinha corrido muito.

— Verá, querida — ofegou, sua voz gutural. — Deixar que me ocupe de você pode ser muito, muito satisfatório.

Os ecos de seu prazer ainda pulsavam dentro dela, fazendo-a débil, cálida e um pouco confusa.

— Está dizendo que o fez... para provar um ponto?

— É obvio que não. Não sabe nada de mim, essa era minha luxúria enlouquecida. Pura e simples.

— Não te acredito.

Suspirou, retirando uma mão de sua coxa com uma suave palmada e a outra de seu seio com um último e persistente golpe, como se precisasse alisar a seda.

— Faz tempo que sustenta que não sou terrivelmente atraente.

Apartando-se para trás para olhá-la com total incredulidade, riu a gargalhadas, sua cabeça tremendo.

— Pura loucura, a única explicação.

— Você fez isso!

Continuou rindo, parecendo genuinamente divertido por sua afirmação.

Ela supôs que devia catalogar suas observações para ele, possivelmente então recordaria quantas vezes a tinha deixado saber que ela estava longe de ser uma beleza aos seus olhos.

Ela os contou com os dedos.

— Primeiro, considerou-me "tarifa aceitável" para os outros, mas não para ti. Segundo, insultou repetidamente meus vestidos, chamando-os de farrapos e coisas piores. Terceiro...

— É o suficiente, obrigado.

— ... em várias ocasiões disse sem rodeios que sou muito magra.

Seu sorriso começou a desvanecer-se.

— É, precisa comer mais, Digby está proporcionando as bandejas como lhe disse?

— Você é a razão daquilo? — Todas as noites e todas as manhãs, sem importar se descia para tomar o café da manhã ou para jantar, encontrava uma bandeja empilhada, ridiculamente alta com presunto e queijo cortado em fatias, pão recém assado e, frequentemente, várias porções generosas do que ficava da comida anterior. Era como se fosse uma velha e doente cadela sendo tentada com as sobras, pelo amor de Deus. — Colin, não posso comer tudo aquilo, é absurdo imaginar que posso.

— Me agrade.

— Necessitaria de dez estômagos!

— Alguém deve assegurar-se de que não desmaie por falta de alimento.

— Há poucas possibilidades de que você e Digby conspirem...

— Sarah — disse, sua expressão se tornou séria. — Se esgotou, querida, a enfermidade de seu pai, sua morte, a escola, sua mãe e eu. Não fica nada mais que fios e determinação.

Lágrimas saltaram aos seus olhos sem que ninguém pedisse, sem que ninguém as quisesse, e de uma maneira totalmente humilhante. Ela o empurrou.

— Desça-me.

Deu um passo para trás, sua retirada lenta e relutante se deslizou de sua posição e alisou as saias, logo o cabelo e as bochechas, cruzando os braços e inclinando o queixo desafiadoramente, disse: — Não desejo nem mereço sua compaixão e se não fosse pela ameaça do Sr. Syder, tampouco teria aceitado sua caridade.

— Não tenho dó de você.

Ela tentou passar junto a ele, sustentando suas saias a um lado para evitar tocar suas calças, mas ele a deteve com uma mão ao redor de seu cotovelo. Sentiu o calor de seu agarre através de sua manga de seda.

— Colin.

Puxou— a mais para perto dele, seu nariz acariciando seu cabelo, respirando profundamente.

— A compaixão não deixa um homem louco com pensamentos de estar dentro de ti.

Seu fôlego a deixou, saindo a fervuras e debilitando seus joelhos. Por que tinha que ser tão irresistível?

— Tampouco um homem passa todas as noites sonhando te dar prazer tortuoso porque te acha pouco atraente.

De repente, puxou— a contra ele, pressionando seus quadris contra seu abdômen até que ela sentiu a dura e substancial protuberância entre suas coxas, apertando-se contra suas calças.

— E isto, doçura, certamente não se pode atribuir à caridade, isto só pode ser uma coisa. Desejo. Desejo a ti. Desejo a ti e pense o que quiser sobre o resto: a comida, os vestidos, sua busca de emprego. Mas nunca duvide da verdade disto. — Beijou-a com força, sua boca insistente e rápida.

Então, de repente, soltou-a, seu rosto avermelhou, seu nariz se alargou, as mãos elevadas para os flancos como se se rendesse. Caminhando para trás, manteve seu olhar até que chegou à porta. Logo, sem dizer uma palavra mais, voltou-se e a deixou só no escritório do duque, lutando por respirar, necessitada e dolorida.

Desejava-a, ou isso disse, afirmou que não sentia lástima por ela, mas ela entendeu bem seu instinto de compaixão. Tinha-o visto em Keddlescombe, com seu pai, suas alunas e com ela agora, ela devia decidir quanto podia aceitar para mantê-lo em sua vida.

Só um pouco mais de tempo, suplicou ao seu coração. O deixarei ir, me deixe ter isto.

Sua cabeça respondeu com o que ela sabia que era verdade: Nunca será suficiente.


CAPÍTULO 15

“A aparência da inocência pode ser efetiva como disfarce. Felizmente, não sou fácil de enganar”.

A Marquesa viúva de Wallingham ao escutar de Lady Berne o desalento da senhora pelo dano causado por sua nova companheira felina.

Agradável e cordial, segundo a estimativa do Colin, essas palavras descreviam perfeitamente o melhor amigo do Harrison, Henry Thorpe, o conde de Dunston. O senhor magro e de cabelo castanho estava de pé junto ao Harrison, com um copo de xerez na mão, com uma expressão de indiferença em seu rosto.

— Então, este senhor Simons...

Colin levantou uma sobrancelha ao Dunston enquanto levantava sua xícara de chá de seu pires.

— Syder — tomou um gole, não era brandy, mas ao menos era forte.

— Ah, sim, Syder — continuou Dunston. — Suponho que administra vários destes inferninhos de jogo? Quantos tem? Muitos, suponho.

Suspirando, Colin olhou ao Harrison, observando como seu irmão examinava seu relógio de bolso e logo olhou à Jane através do salão de Clyde-Lacey.

— Quatro, até agora, prepara mais, mas Syder possui mais que os inferninhos — Colin respondeu, embora não estava seguro de porque se incomodava. — Seu império se estende de um extremo de Londres até o outro, tem interesses em tudo, desde matadouros até casas de má reputação.

Dunston sorriu com seu sorriso agradável.

— Não há nada mau com esse último, atrevo-me a dizer.

Sacudindo a cabeça, Colin se concentrou em Sarah, que estava junto à Jane perto da lareira. Era encantadora, sua forma esbelta envolta em suave seda negra, seu cabelo brilhava brandamente à luz das velas, pequenos cachos de mel foram deixados engenhosamente soltos para emoldurar seu rosto. Desejava-a muito. Era assim tão simples. Ele não podia tê-la. Não se ele quisesse viver sozinho.

Uma vez mais a voz de Dunston se intrometeu.

— Harrison me disse que você quase foi pego esta manhã. Um bando te atacou quando saiu do White? Um homem deve levar uma faca para lutar com este tipo de crime. — Dando-se tapinhas em sua própria cintura, sorriu ao Colin. — O elemento surpresa, por assim dizer.

— Não requereria uma faca, uma pistola ou um sanguinário batalhão de lacaios se as posses do Syder se acabassem por completo — disse Colin. — Um evento que espero com grande ansiedade.

Foi o turno de Dunston levantar uma sobrancelha.

— Bom, isto é o que eu sei de Lorde Sidmouth, não que eu conheça muito bem o Secretário de Interior, sei que é jogador de xadrez terrível, esse é o alcance por mim conhecido. Em qualquer caso, escutei que Sidmouth está muito mais interessado em erradicar reuniões sediciosas de viciados empobrecidos que em desmantelar as empresas criminosas de Londres, por mais prejudicial que possam ser. — Dunston tomou um sorvo de xerez. — Suponho que, dados os recursos limitados do Ministério do Interior, necessitaria uma pessoa muito decidida para pressionar nos ataques e no tempo que parece preferir.

Colin olhou ao conde.

— Tal indivíduo faria bem em acelerar seus esforços, já que é sua pele a que estou protegendo.

Harrison olhou seu relógio pela segunda vez em três minutos, Dunston soltou um suspiro de exasperação.

— Qual é sua obsessão com essa coisa?

Dando ao Dunston um olhar próprio, Harrison respondeu: — Não é teu assunto — logo a atenção do duque se desviou de novo para sua esposa. Engoliu visivelmente.

— Seu irmão não tem remédio, entende? — Observou Dunston, dirigindo seu comentário ao Colin e inclinando seu copo de xerez em direção ao Harrison. — Atordoado, contando os minutos, literalmente. Converteu sua preocupação pelos relógios em uma preocupação por...

— Por que exatamente está em Londres? — Grunhiu Harrison. — Me atormentar com suas observações não solicitadas não pode ser a única razão.

— A caça foi terrível este ano. Muita chuva. — Dunston tomou outro sorvo e encolheu os ombros. — Escutei que tinha subido a Londres e decidi que não poderia ser tão tedioso como Fairfield Park, onde um quarto de hora de condução significa empapar-se. — Estremeceu-se e roçou uma mancha invisível em sua manga. — Além disso, necessitava de alguns coletes novos.

— Tem mais coletes que qualquer outro homem que tenha conhecido — replicou Harrison. — Isso inclui o príncipe regente Beau Brummell.

Dunston zombou.

— Nunca se tem muitos coletes.

Ao escutar uma risada característica do outro lado da habitação, Colin voltou sua atenção para Sarah. Ela estava sorrindo, escutando Jane atentamente.

Então, ela desejava planejar seu futuro, não é? Converter-se em uma governanta em uma casa desconhecida onde qualquer homem com vontade de agarrá-la poderia a encurralar em uma habitação vazia ou em um corredor à sombra, subir suas saias e fazer todo tipo de coisas luxuriosas com ela? Quando o inferno sangrento se congelar!

Ela se converteria em uma governanta sobre seu cadáver.

— Oh, queridos — disse Dunston. — Agora parece que temos dois irmãos apaixonados.

A cabeça de Colin girou para trás em sua direção. Ao ver seu sutil sorriso, Colin murmurou: — Dificilmente é isso, somos amigos, ela e sua mãe ficaram sem nada depois da morte de seu pai, ela necessita do meu amparo.

— Mmm. Se isso for verdade, então vá a uma igreja, velho amigo.

Dando ao Dunston um cenho franzido, Colin repetiu: — Uma igreja?

— Bom, já está dizendo a respeito que ela é sua prometida.

— Sim.

— Então se case com a garota.

Colin piscou várias vezes antes de responder com grande acuidade: — O que... eu... o que é que disse?

— Se case com ela.

Harrison se via tão desconcertado como se sentia Colin. O duque olhou fixamente a Dunston por um longo momento, logo ao copo na mão de Dunston.

— Acredito que teve suficiente xerez, Henry.

O conde riu entredentes.

— Não diga que você mesmo não o pensou.

Colin o tinha feito, mas não por nenhuma razão desinteressada. Ele não era suficientemente bom para Sarah. Ela tinha mais força e honra dentro de seu delicado pé que ele tinha em seu corpo.

— Parece-me que há um desafortunado e inevitável atraso no processo de invadir as nefastas atividades do Sr. Syder. O que resultou em um maior risco de morte ou mutilação para ti. — Dunston tomou outro sorvo e sorriu com suavidade. — Quem a protegerá quando se for? Ou, pior ainda, falta-te algum apêndice crítico?

— Meu Deus, homem. — Disse Harrison. — É do meu irmão que está falando.

— É claro — respondeu Dunston com calma. — Se seu irmão espera que a encantadora senhorita Battersby seja vista de maneira confiável, particularmente no caso de uma desgraça extrema de sua parte, não pode fazer nada melhor que lhe oferecer a posição de sua viúva ou esposa, não faz nenhuma diferença, de verdade. — Encontrou-se com os olhos de Colin. — Se ela pertencer à família de Harrison, ela não precisará de nada, a menos que ela se converta em bêbada e trate de manchar o nome da família comportando-se de uma maneira escandalosa. Então ele pode cortar seus recursos por um tempo, mas francamente, ela não parece ser desse tipo.

Colin não podia falar, simplesmente não podia, era quase perfeito. A resposta perfeita à sua situação terrivelmente imperfeita.

— Isso é patentemente ridículo — disse Harrison, agora olhando ao seu amigo. — Se Colin desejar que eu proveja à Srta. Battersby, com muito gosto o farei. Ele não necessita casar-se com ela. Inferno sangrento.

Sacudindo a cabeça, Colin se sentiu estranhamente aliviado de poder contradizer o argumento de Harrison.

— Ela nunca permitiria, ela se nega a aceitar o que considera caridade, a única razão pela qual aceitou tudo o que ofereci até agora é porque sabe que o perigo para ela é real.

— Mas se se casar com ela, o que é teu será dela — concluiu Dunston, que levantou seu copo em um brinde zombador. — Um dos muitos benefícios do matrimônio, bom, talvez "benefício" seja um pouco exagerado. Direitos de cama, agora há um benefício que posso respaldar.

A libido de Colin aceitou de boa vontade. Imaginou ter Sarah em sua cama todas as noites, podendo lhe fazer amor sempre que desejasse, ensinar-lhe o prazer e "beneficiar-se" até que ambos se derrubassem pelo esgotamento. Matrimônio com Sarah? Ele não a merecia, mas lhe oferecia o tão necessário amparo, talvez fosse o curso correto e honorável.

— Dunston — murmurou.

— Sim?

— É brilhante.

O conde sorriu e sorveu seu xerez.

— Eu sei.

Era fantástico a curto prazo, ele poderia cuidá-la e assegurar-se de que comesse em quantidade suficiente, compraria dúzias de vestidos, dado que Harrison havia restabelecido seus recursos, podia comprar uma casa para que vivessem e um bom piano para a sala de música, talvez inclusive ajudá-la a reabrir sua escola. Nunca tinha ouvido uma ideia melhor.

Só havia um pequeno defeito, já tinha sido bastante difícil convencê-la de participar de um simulacro. Casar-se realmente com ele?

Conhecendo o orgulho obstinado de Sarah, veria como uma obra de caridade elaborada. Ele devia convencê-la do contrário. Mas como?

— Colin, não tem que fazer isto — Harrison disse, soando vagamente alarmado. — Se se preocupa com seu bem-estar, oferecerei a você um posto como acompanhante de Jane, logo a compensarei de maneira extravagante, ganhará a vida e não poderá objetar.

Sacudindo a cabeça, Colin levantou uma mão.

— Sempre haverá homens como Félix Foote.

— Quem?

— Não importa, basta dizer que uma mulher solteira é particularmente vulnerável. Não, isto é precisamente o que deve acontecer.

O que precisava era de um bom conselho de alguém que pudesse entender como deveria aproximar-se dela com sua proposta. Olhando ao redor da habitação viu o James Kilbrenner, o conde de Tannenbrook, mais um gigante que um homem, que se comunicava principalmente através de grunhidos. Tannenbrook era amigo de Atherbourne e tinha aceitado adicionar sua enorme altura e sua impressionante amplitude à parede dos senhores que rodeavam Colin. Não estava casado, e era provável que permanecesse assim, já que seu tamanho exagerado, seu rosto contundente e sua atitude taciturna o mantinham fora das listas de elegíveis para a maioria das mães procurando maridos.

Não poderia lhe ajudar.

Logo vinha Lucien Wyatt, visconde Atherbourne, em circunstâncias normais Colin consideraria encarecidamente procurar o conselho de um senhor absurdamente bonito, já que tinha tido uma grande reputação como um encantador sedutor antes de casar-se com Vitória.

Mas tinha aquele pequeno assunto do ódio todo que o consumia, Lucien se aborreceu por suas transgressões reais contra a família Wyatt. Colin ainda estava doente por suas próprias ações, não podia imaginar como se sentia Atherbourne ou como havia resistido a vingar-se.

Outra fonte pouco provável de ajuda.

Olhando pela habitação, olhou à Eleonor, a mãe de Sarah, tomou um sorvo de chá e esticou o pescoço para ver o livro que Jane segurava. Parecia relaxada e contente pela primeira vez desde que a tinha conhecido, finalmente estava comendo e dormindo adequadamente, o que resultou em uma melhor cor em suas bochechas e mais brilho em seus olhos verdes.

Ela simplesmente te dirá que fale com Sarah.

Sempre tinha Jane, supunha que era uma grande amiga e lhe tinha dado conselhos valiosos no passado, ela tinha estado perto de Sarah, portanto poderia oferecer conhecimento do que funcionaria melhor. Tendo em conta a razão pela qual se viu obrigada a casar-se com o Harrison, pedir-lhe conselhos sobre como empurrar Sarah para o matrimônio poderia não ser o curso mais sábio.

Finalmente, chegou à Vitória, sua irmã, ela tinha sido sua amiga desde que eram crianças.

Ela tinha deixado de lhe falar durante mais de um ano depois de descobrir as coisas que ele tinha feito. Só recentemente tinha quebrado seu silêncio, isso só para oferecer palavras corteses. Mas ele a havia sentido abrandar-se por ele. O fato de que ela estivesse ali falava por si. Talvez estivesse disposta a perdoar o passado.

Tomando uma decisão, pôs sua xícara em uma mesa, deixou Dunston e Harrison, cruzou a habitação para onde as mulheres estavam agrupadas admirando a última aquisição de Jane.

— Vitória. — Quando ela levantou os olhos para encontrar-se com os seus, ele limpou a garganta. — Posso falar contigo?

Dando um assentimento relutante, levantou-se de seu sofá, seguiu-o à área entre um vaso e a janela central, longe dos outros na habitação, enquanto estava de pé ante ele, com o cenho ligeiramente franzido, seus familiares olhos azuis esverdeados cheios de perguntas e precaução, sentiu um puxão na região de seu coração. Tinha sentido saudades da sua gentil e doce irmã.

— Do que queria me falar? — Ela era mais reservada que antes de sua queda em desgraça, mais fria, como sempre, a culpa e o arrependimento que viviam dentro dele elevaram-se para enrolar-se dentro de seu peito. Por essa mesma razão ele tinha evitado pressioná-la para a reconciliação. Mas possivelmente poderia usar sua situação com Sarah para abrir uma porta na parede entre eles.

Respirou fundo e baixou o olhar ao chão antes de olhá-la aos olhos de novo.

— Tenho um... um dilema, poderia necessitar de um conselho.

Ela piscou, suas mãos enluvadas retorcendo-se em sua cintura.

— De minha parte?

— É um assunto delicado que envolve uma dama pela qual desenvolvi certa afeição.

De repente ela empalideceu, suas mãos se estrangularam entre si.

— Colin — ela suspirou. — Não outra vez.

— Outra vez?

— Me diga que não — seus olhos percorreram a habitação para assegurar sua privacidade antes de continuar em um sussurro — comprometeu outra jovem.

Ao retroceder, seu fôlego o deixou em um zumbido.

— Não!

— Estava tão segura de que tinha mudado. — Observou com horror como as lágrimas começaram a encher seus olhos. — Quem é desta vez?

— Tori, não entende...

— Deve se casar com ela, não pode renunciar à sua responsabilidade como fez antes.

— Isso é o que estou tratando de...

Ela ficou rígida quando viu algo sobre seu ombro, a escura presença ressoou com ira. Sentiu a força como o fôlego em seu pescoço. Antes que ele se voltasse já sabia quem estava parado ali.

— Atherbourne.

Seu cunhado se aproximou ao lado de sua esposa e se via tão ameaçador como ele havia imaginado.

— Quando Vitória está angustiada surgem minhas tendências assassinas, Lacey, é possível que deseje evitar uma maior provocação.

Apertando a mandíbula, Colin respondeu: — Não era minha intenção lhe causar angústia, ela é minha irmã, não procuraria incomodá-la.

— Me perdoará se acho que seus protestos não são convincentes depois de tudo o que fez. — Não sabia como responder, sua culpa o estava asfixiando.

— Lucien — Vitória disse brandamente, passando sua mão pelo braço de seu marido. — Talvez devêssemos...

— Nada a dizer, Lacey? — A postura do outro homem tomou uma inclinação agressiva. Seus olhos escuros brilharam com uma advertência. Uma tormenta estava a ponto de ser desatada. — Não há piadas ou separações inteligentes?

Notou que a habitação ficou em silêncio.

— O que tenho que dizer? — Disse em voz baixa. — Roguei perdão à Vitória e lhe rogo também, mas sei que para ti é impossível.

A cabeça de Atherbourne se voltou para trás, sua tormenta se expandiu até que Colin se imaginou rodeado de relâmpagos, um arcanjo iracundo chegou à justiça exata.

— Minha irmã está morta por sua culpa! — Rugiu.

Colin engoliu, sentindo o jantar que tinha comido antes agitando-se em seu estômago, elevando-se em sua garganta.

— Eu sei — sussurrou.

Seu reconhecimento se perdeu no meio do vendaval da fúria justa de Atherbourne.

— Seduziu-a, comprometeu-a, abandonou-a. Ignorou suas súplicas quando levava seu filho no ventre com a mesma facilidade com que apartaria um inseto irritante. Agora, para aqui e fala de perdão, ainda está respirando, Lacey, graças ao coração amável e amoroso da minha esposa.

Todos ficaram em silêncio durante um minuto inteiro. Colin olhou à Vitória. Suas lágrimas tinham sido liberadas e agora corriam por suas bochechas.

— Não posso mudar o que aconteceu, o que fiz — disse com voz rouca. — É minha maior vergonha, por favor, me acredite que não repetiria o mesmo erro. Inclusive contemplá-lo é abominável para mim. — Voltando seu olhar ao Atherbourne, cujo mau gênio começou a retroceder quando ele também notou as lágrimas de Vitória, Colin se dirigiu ao homem que mais tinha prejudicado. — Não te peço perdão porque fazê-lo supõe que o mereço. Não o mereço, algumas feridas são muito graves para serem perdoadas.

Respirando pesado e aparentemente aturdido pela declaração de Colin, Atherbourne engoliu visivelmente, suas narinas se alargaram.

— Espera que eu creia nisto.

— Não espero nada, não mereço nada.

Seus olhos se estreitaram sobre Colin.

— O que mudou?

Colin desejava poder simplesmente rir e encolher os ombros a um lado pela pergunta de Atherbourne, mas tinha uma dívida com o homem que nunca poderia ser paga. Não com palavras. Não com sangue. Nada poderia equilibrar a balança. Ele poderia, entretanto, responder com sinceridade.

— Não sabia que estava grávida quando ela... — deteve-se, limpou a garganta. — Em qualquer caso, foi o pior que fiz, Atherbourne, isso quer dizer algo, porque cometi muitos, muitos erros antes e depois. Quando Harrison descobriu a verdade cortou meus recursos, sem mais brandy, sem mais esconder-se. — Sua boca se curvou sem humor. — O mundo se vê diferente sem esse brilho agradável, os arrependimentos da gente tendem a arrastar-se e espalhar-se como trepadeiras espinhosas. Ser açoitado violentamente na Inglaterra e quase morrer várias vezes também põe os assuntos em perspectiva. — E Sarah, pensou, mas não pôde dizer. Sarah também me mudou.

Vitória, com os olhos brilhantes e luminosos, fungando, aventurou-se brandamente: — O que me escreveu, de seu desejo de fazer o melhor, de ser diferente que antes, de ser sincero, Jane o disse tanto. Eu... tinha medo de acreditar, Colin.

Deu-lhe um suave sorriso.

— Deveria saber que meus esforços nesse sentido estiveram longe de ser perfeitos, Tori. Mas sim, sou sincero.

O conde de Tannenbrook se aproximou em silêncio ao lado de Atherbourne e lhe colocou uma enorme palma no ombro.

— Todos estão escutando, Luc — disse em um profundo estrondo. — Este poderia ser um bom momento para fechar a noite.

Uma quebra de onda de alarme ardeu na mente de Colin imediatamente, sua cabeça girou enquanto esquadrinhava a habitação, avaliando o dano. Harrison parecia sombrio e esmigalhado. Dunston parecia fascinado, Eleonor parecia horrorizada, Jane se via triste, simpática e esperançada. Mas só havia um rosto que lhe importava, um rosto que apontaria ao céu ou ao inferno, a contragosto, encontrou-a.

Sentiu seu coração afundar-se na escuridão.


CAPÍTULO 16

“Ora! Os arrependimentos não me interessam. Tome melhores decisões e deixe de falar disso.”

A Marquesa viúva de Wallingham a Lady Berne ao se inteirar da abrupta dispensa de certo companheiro felino.

Tombada na escuridão de seu dormitório, Sarah deixou cair a cabeça para um lado para poder olhar pela janela. Não havia estrelas ali, ou talvez simplesmente estavam disfarçadas por nuvens e fumaça de carvão, um pouco de luz da lua jorrou em toda a habitação, ela suspirou e se deu a volta para colocar a mão debaixo da bochecha. Ele era diferente do que ela tinha pensado, mais forte, mais sombrio, com ela, em Keddlescombe, tinha sido gentil, amável, zombeteiro e sensual, divertido e cheio de encanto.

Enquanto ele tinha insinuado um passado cheio de arrependimento, ela não havia suposto que as cicatrizes fossem tão profundas, nem que sua causa fosse tão reprovável, dormir era um sonho agora, tão esquivo como as sombras ao longo das cortinas e do chão. Sua mente repassou inquieta tudo o que se havia dito entre Colin, Vitória e Atherbourne.

Sedução. Abandono. Uma criança e uma mulher perdidos. Colin, o motivo de tudo.

Deixando a um lado suas mantas, levantou-se e se dirigiu à lareira, onde as brasas ainda ardiam usando as cinzas para acender a ponta de um longo tronco de madeira , colocou sua mão em frente à chama e caminhou para a penteadeira perto da janela, onde durante o dia podia desfrutar da melhor luz. Procurou uma vela e baixou à chama para acender o pavio com cuidado, soprou a cinza e observou como se levantava e dissipava uma espiral de fumaça antes de deixar a um lado o fino pedaço de madeira.

Respirou profunda e ritmicamente, apoiando as mãos na fresca superfície da penteadeira, observando como a chama da vela dançava e piscava com cada exalação.

Pensei que era um bom homem. Um pouco canalha, sim, mas não malvado, realmente não.

Suas mãos se converteram em punhos apertados, suas unhas cravando-se em suas palmas. Ela tinha se equivocado a respeito dele. Ela o tinha deixado dormir em sua cama, beijá-la, tocá-la e lhe dar prazer, agora sentia que nunca o havia conhecido. O silêncio se instalou para sufocá-la, nenhum vento açoitou as janelas, nenhum fogo crepitava seu calor, nenhum passo assinalou a agitação dos serventes, o silêncio rugiu, pressionou e sufocou.

Quase por sua própria vontade, sua mão abriu uma pequena gaveta e procurou a comodidade do papel desgastado e enrugado ali, no canto dele, se entrelaçou entre seus dedos.

Puxou a carta dobrada e a abriu com cuidado, logo, no silêncio, pôde escutar a voz suave e reconfortante de seu pai.

“Querida Sarah! No dia que nasceu, as maçãs acabavam de amadurecer. Sua mãe não queria que te levasse ao pomar, mas insisti: sabe como posso ser às vezes, com você em meus braços, a colheita cheirando no ar e o mar mantendo o tempo à distância, resultou-me impossível imaginar um momento no qual poderia deixá-la ir embora de boa vontade.”

Deteve-se apertando seu punho vazio e apertando seus olhos doloridos e fechados. Se deu três pequenas palmadas e logo voltou a ler.

“Agora a decisão está sendo roubada pelo tempo, meu amor. Todos os dias, olho você e vejo uma bebê encantada com folhas verdes e maçãs vermelhas, uma bebê suficientemente pequena para descansar em minhas duas mãos. Todos os dias vejo a mulher que será. E trato de imaginar o homem digno de te receber aos seus cuidados.

Pura impossibilidade, devo te dizer. Porque nos olhos deste papai, não existe tal homem. Ainda assim, o tempo não se preocupa. Sempre viaja para frente. E assim, escrevo esta carta com a esperança de que, um dia, venha um homem impossível e o ache tão familiar, tão querido, como as árvores em nosso pomar e o mar em nossa praia.

Este homem procurará te merecer e quando ele falhar, procurará seu perdão. (Não o perdoe muito rápido. Como servo de Deus, posso dar fé de que um pouco de humildade é bom para a alma de um homem). Sua mente será forte para que possa tentar igualar à tua. Seu coração será feroz e verdadeiro pela mesma razão. Ele verá sua vida como a única razão para a sua, e a protegerá, em consequência. Verá a ti mesma no espelho de seus olhos, e será mais formosa, mais preciosa que para mim nessa manhã de setembro.

Já vê, minha menina querida. Impossível.

Sempre serei Seu amoroso papai.”

As lágrimas corriam por suas bochechas, apoiou a cabeça em seus braços cruzados e chorou por seu pai, por Colin, pelo que ela havia começado a esperar em segredo.

Uma baforada de ar sussurrou junto a sua bochecha. Quentes dedos se enredaram em seu cabelo e lhe acariciaram a têmpora, dedos fortes, suaves, familiares.

— Colin — ela grunhiu, sua voz tensa. — O que está fazendo aqui?

Ajoelhou-se junto a ela e continuou acariciando seu cabelo, o prazer disso foi tanto calmante como fascinante.

— Não conseguia dormir, queria ver-te, saber como está.

Foi então que ela se encolheu deslizando seus braços ao redor de seu pescoço, ela atraiu-o para si, deixou que seus braços a rodeassem como duas faixas implacáveis, o permitiu consolá-la enquanto os soluços a afogavam, reuniam-se e se derramavam em assombrosas rajadas.

— Ah, Sarah, sinto muito, querida, não queria que escutasse aquelas coisas daquela maneira.

Ela negou com a cabeça, o rosto molhado umedeceu sua camisa de linho.

— Isso não é... quero dizer, é, mas... estava lendo uma carta do meu pai.

Suas mãos acariciando o centro de suas costas, seus ombros e logo embalando sua cabeça, detiveram-se.

— Escreveu-te antes que ele...

Fungando através de um nariz tampado, Sarah assentiu.

— Sabia que estava perdendo suas lembranças, e por isso escreveu cartas, consegui encontrar cinco. Guardou-as nos lugares mais estranhos. — Ela soltou uma risadinha afogada. — Como se esperasse que as encontrasse por acaso.

Retrocedendo até que os braços de Colin caíram em sua cintura e suas mãos se pousaram em seus quadris, deu-se a volta e alisou o papel sobre a penteadeira com as palmas.

— Esta estava dentro de uma bota, descobri-a o ano passado, a li tantas vezes que acredito que a tinta está acabando.

Seu dedo roçou sua bochecha, levando uma gota de sua dor.

— Ele te amava.

Ela sorriu.

— Sim.

Colin assentiu, seus polegares giravam pequenos círculos em seus quadris.

— Sarah, o que escutou esta noite...

— Sobre seu passado?

— Sim, sobre isso, eu... quero me explicar.

— Por quê?

Pareceu surpreso pela pergunta.

— Precisa saber o que aconteceu.

Ela fungou desejando um lenço, antes que ela pudesse procurar um, Colin ofereceu o seu, ela pegou, esfregando o tecido entre seus dedos.

— Obrigada — disse com voz áspera.

— É importante que entenda a verdade sobre mim. Fiz coisas que lamento profundamente, coisas que trouxeram danos a inocentes.

Sarah secou o nariz e logo a parte inferior de seu queixo, onde as lágrimas tinham caído, ela respondeu: — Sei, a irmã de lorde Atherbourne.

— Sim, Mary Sophia Wyatt, seus irmãos a chamavam de Marissa. Ela e eu... fomos amantes, e eu... me estremeço ao pensar em quão egoísta era, nosso enlace não significava nada para mim, era uma brincadeira, uma maneira de frustrar o senso de propriedade do Harrison. Supus que quando terminasse com ela, ela continuaria com outro tipo, mas ela era muito mais frágil do que eu pensava.

Engoliu antes de continuar.

— Ela professou estar apaixonada por mim, escreveu-me tão incessantemente que comecei a jogar suas cartas ao fogo, quando se tirou a vida, pareceu-me que estava meio louca. Então, seu irmão mais velho acusou Harrison de ser o homem que a abandonou. — Ele soprou com uma risada seca. — Harrison, de todas as pessoas, sinceramente um absurdo, mas, lutaram um duelo pelo assunto. Harrison lhe disparou e Lucien herdou o título.

Apoiando as mãos nas coxas, ficou de pé e se voltou de costas um momento antes de voltar a olhá-la.

— Todo o tempo não disse nada, deixei que Harrison matasse um homem pelo que eu fiz, deixei que Atherbourne se casasse com Vitória quando sabia muito bem que ele poderia ter uma vingança em mente, descartei uma mulher que, mais tarde, descobri levava meu filho. — Sua voz se tornou áspera e dura.

— Estava em meus pensamentos mais frequentemente que nesses dias, mas foi pior depois, não podia viver com isso, o que tinha feito todos os dias, desde que soube do bebê soube que devia mudar ou morrer. Tratei de mudar, mas no caminho consegui causar mais dano à Jane, ao Harrison, a mim mesmo, mas estou decidido a seguir tentando e nunca mais repetir meus erros.

O silêncio se instalou de novo quando ela não respondeu à sua confissão, ele balançou a cabeça.

— Certamente deve ter perguntas.

— Não é de minha incumbência.

— Estamos comprometidos para nos casar.

— Não, estamos fingindo estar comprometidos. Por que parece que isso sempre se perde em nossas discussões?

Ele lançou um suspiro exasperado.

— Não tem curiosidade por...

— Não.

Passando uma mão por seu cabelo, caminhou para a cama e logo depois de retorno a ela.

— Desejo que entenda quem sou agora, para fazer isso deve entender quem era eu então. — Estava de pé sobre ela, seu formoso rosto envolto em consternação, iluminado pela luz das velas e escurecido pelas sombras. Ela o entendeu, deu-se conta melhor do que ela tinha suposto. O homem que tinha conhecido em Keddlescombe não era o mesmo homem que tinha feito aquelas coisas terrivelmente egoístas. Ele era o homem que tinha estado com seu pai nas frias águas do Canal da Mancha. O homem que tinha ameaçado Félix Foote em defesa dela. Mesmo assim, não era como se vivessem juntos quando isto terminasse. Sua relação foi uma circunstância. E quando essa circunstância chegasse ao seu fim, também o faria qualquer vínculo entre eles.

— Por que deveria importar? — Ela perguntou. — Uma vez que Syder já não seja uma ameaça, seguirei adiante e você também.

Isto pareceu incomodá-lo muito enquanto reatava o ritmo de sua respiração agitada.

— Estive pensando diferentemente sobre tudo.

Diferente? Ela fungou, o som foi vergonhosamente forte na habitação. Em sua viagem de volta à penteadeira deteve-se a poucos metros dela.

— Sim, quero dizer, eu... acredito que deveríamos... oh maldito inferno! Sarah, acredito que o curso correto é que nos casemos.

Ela esperou, mas ele não terminou seu pensamento. Ou, talvez o tinha feito.

— Um com o outro?

— Que diabos crê que estou tentando... sim, deveríamos nos casar um com o outro, um compromisso falso não é suficiente, deve estar protegida por mim no caso de minha morte. Como minha viúva estará bem provida; sua mãe também, Harrison se encarregará disso.

A habitação girava. Sua morte? Não, não, não, não. Ele não podia morrer. Ela não podia suportar sequer a ideia daquilo.

— O que aconteceu? — Perguntou bruscamente, mal consciente de pronunciar as palavras. — Por que fala de morrer? Syder te machucou? O que ele fez?

Com o coração chutando em seu peito, ela não pôde deter o frenético fluxo de perguntas. Mesmo quando chegou a ajoelhar-se de novo ante ela colocando suas mãos sobre as dela em seu regaço, a urgência em sua mente soava como sinos tocando um zumbido fúnebre, profundo e sinistro.

— Me responda! — Ela disse.

— Sabia que havia algum perigo, Sarah.

Não podia respirar, não podia deixar de lembrar como tinha sido o dia em que o tinha metido em uma carruagem no caminho a Littlewood, coxeando e ensanguentado.

— Prometeu... prometeu que Londres seria mais seguro.

— Não prometi, mas sim, é mais seguro. Nada é certo, querida, ainda estou aqui, sim?

Incapaz de deixar de tocá-lo, segurou suas bochechas ligeiramente arrepiadas em suas mãos, e aproximou seu rosto para que não pudesse confundir suas palavras.

— E aqui permanecerá, entendeu? Respirando, sorrindo e me dando ordens como se eu não tivesse a sensatez de comer uma comida adequada.

— Sempre ao seu serviço.

— Não salvei sua vida duas vezes para te escutar falar tão despreocupadamente sobre seu final.

— Sim, senhorita Battersby.

As lágrimas que pensou que tinha cessado saíram novamente.

— Para, Colin, isto não é uma brincadeira.

Ele suspirou e depositou um terno beijo em seus lábios.

— Não chore, querida. Só concordei.

Ela tentou fungar, mas agora tinha o nariz completamente tampado. Maldição, ela devia estar terrivelmente pouco atraente para ele em seu estado atual.

— Como evitará que lhe ataquem?

— Não sou o que importa.

— É óbvio que nos importa! À sua família... a mim.

— Então diga que sim. Se case comigo, Sarah.

Ela sentia o enxame dentro dela, zumbindo, estalando, necessitando e roçando. Exigindo um sim, seria tão fácil, só uma sílaba. Sim.

Mas seus olhos procuraram os seus, logo caiu à carta de seu pai, logo ao seu regaço.

Ela tinha confiado em um homem para que cuidasse dela. Um homem que havia pensado que nunca a abandonaria, nunca a deixaria sozinha para que a rasgassem, a arranhassem e para que tivesse que lutar por cada centímetro de sua existência. E logo teve-o, deixou-a, afastou-se pouco a pouco. Não porque quisesse, mas sim porque não tinha outra opção. O resultado foi o mesmo, ela estava sozinha. E ela devia cuidar de si mesma.

Confiar em um homem para esse propósito simplesmente a fazia complacente e vulnerável. Mesmo quando o homem em questão a amasse com todo seu coração.

Colin, é claro, não o fazia e nunca o faria.

Dizer que sim era o que ela queria, seu coração sussurrou ao ouvido. Sim.

Mas, ao final, seus lábios fizeram a única coisa sensata.

— Não, Colin — disseram. — Não posso me casar contigo.


CAPÍTULO 17

“Os presentes nunca são a resposta equivocada. E quando a pergunta é que tipo de presente, as joias sempre são as corretas.”

A Marquesa viúva de Wallingham ao seu filho, Charles, sobre suas lamentações sobre a natureza implacável de certa viúva.

Em primeiro lugar, tinha enviado flores. Foram necessárias quatro tentativas para determinar sua favorita ,as rosas, e se elas estavam disponíveis nessa época do ano. Em segundo lugar, tinha tentado raciocinar, assinalando que aceitaria prazerosamente qualquer condição que ela quisesse estabelecer se só dissesse que sim. Havia se sentido um pouco como mendigando, o que tinha sido muito humilhante, mas ele tinha estado em seu apogeu.

Sarah Battersby era a mulher mais teimosa, frustrante e confusa que havia encontrado.

Debaixo dele Matilda soprou como se estivesse de acordo, seu fôlego equino se tornou branco no ar gelado do Hyde Park. Sacudiu-lhe o pescoço.

— Graças ao céu é muito mais agradável, amor. Só por essa razão, darei uma maçã a você quando chegarmos em casa.

— Dá-te conta que seu cavalo não fala inglês?

Colin olhou à sua esquerda, onde Lorde Tannenbrook montava um corcel robusto do estábulo de Clyde-Lacey. O homem fez com que o cavalo parecesse o pônei de uma criança.

— Ela me compreende melhor que outras mulheres que poderia mencionar. — Talvez sua queixa fosse de mau humor, mas não lhe deu importância.

Ela tinha rejeitado sua proposta sem uma só palavra de explicação, dizendo só que seu passado não tinha nada a ver com sua decisão. Logo ela usou seu lenço para limpar as bochechas e o acompanhou a sair de seu quarto com a advertência de que retornasse ao seu.

Mas na semana seguinte negou-se a render-se, agora estava empregando sua terceira estratégia: presentes. Apalpou o bolso de seu casaco sentindo a forma das pérolas no interior com satisfação. Nenhuma mulher poderia deixar de ficar deslumbrada pelas joias. Era uma espécie de lei universal, certamente.

Tinha lhe surpreendido a ideia quando tinham ido a uma festa dada por Lady Bramstoke na noite anterior. Ao ver Sarah rir, falar e dançar com seu vestido negro com contas, imaginou pérolas, suas pérolas, adornando seu delicado pescoço branco. Sim, se imaginou colocando— as ali, o brilho suave era um pobre vizinho para sua pele.

Imaginou como um sinal para os outros homens.

Talvez uma vez que ela usasse suas pérolas, por exemplo, o odioso, corpulento e licencioso Sir Barnabus Malby se daria conta de que ela pertencia ao Colin, e se o sapo desejava manter seus olhos saltados em sua cabeça, os retiraria de seu decote com toda pressa. Ele tinha refutado algo grosseiro sobre Sir Barnabus ao Atherbourne, quem se encontrava perto.

Tinha sido um momento estranho de solidariedade com seu cunhado, que só havia dito: — Não poderia estar mais de acordo.

Na verdade, se as pérolas não causassem que Sarah se suavizasse com sua proposta, temia estar perdido. Seu último dispositivo restante era a sedução, e havia um problema com seu desdobramento: mal podia estar na mesma habitação que sua tentadora de olhos de mel sem a necessidade de se conduzir para dentro dela afligindo sua vontade.

Negou-se a repetir seus erros, a sedução, portanto, devia ser um beijo e um pouco de tato, nada mais. E simplesmente não havia maneira de que ele pudesse beijá-la ou tocá-la sem tomá-la.

— Agora não — Tannenbrook grunhiu assinalando com a cabeça os dois homens que iam diante deles, Atherbourne e Harrison, que pareciam ter notado certa comoção à distância, ao longo da beira do Serpentine. A predileção de novembro pelos aguaceiros transformou a semana passada em uma afeição pelo congelamento. O resultado foi um gelo espesso e escorregadio sob uma fina capa de neve. Dados os alaridos de alarme e as risadas que ressoavam em um atalho que serpenteava perto do lago, deduziu que alguém tinha caído.

Harrison disse algo ao Atherbourne e, juntos, os dois homens trotaram para uma abertura perto, de madeira, que bordeava Rotten Row. Ali desmontaram e ataram seus cavalos antes de cruzar o campo para investigar.

Enquanto isso, Colin e Tannenbrook se dirigiram à cerca de corrimão baixo e olharam através da extensão da erva e dos arbustos para onde uma pequena reunião de olheiros ria. Alguns se dobraram com sua alegria, algumas das damas tamparam-se a boca em aparente comoção. Quando um deles se fez a um lado Colin viu porque.

— Bom Deus, a moça perdeu suas saias.

A observação murmurada do Tannenbrook foi correta, mas só em parte. A "moça", uma ruiva muito alta e de extremidades largas, jazia estendida de barriga para cima com os pés a uns centímetros da borda da água, com as saias levantadas ao redor de sua cintura. Parecia que escorregara no gelo e havia caído sobre seu traseiro. Logo, dadas as marcas na neve fresca, seu impulso havia levado seus pés por uma pequena inclinação, levando as saias ao longo do caminho. Debaixo não levava nada mais do que o que a natureza lhe tinha dado, é claro que agora era visível para todos.

Harrison chegou primeiro, ladrando aos espectadores, levantou a jovem pelos braços. Atherbourne, enquanto isso, empurrou o ombro de um dos cavalheiros tristemente dobrados e usou sua altura superior para intimidar. A modéstia da jovem restaurou-se em segundos, mas o dano já estava feito.

Atrás dele sentiu outros cavaleiros aproximando-se, provavelmente para ver melhor. Se voltou para animá-los a seguir adiante e viu a faca meio segundo mais tarde.

Gritando, cravou seus calcanhares no flanco de Matilde conduzindo-a a girar para Tannenbrook, a faca bateu no grosso couro de sua bota, escura e grossa, o atacante levantou o braço para outro golpe, mas Colin havia conseguido liberar o pé do estribo e retrocedeu para bater o calcanhar no nariz do homem. Um rangido repugnante foi seguido por um jorro de vermelho e um grito de agonia.

Something, o cavalo de Tannenbrook, provavelmente sacudido contra o outro lado de Matilda, empurrando— a com força e enviando-a a um lado junto ao seu atacante, quem sustentava seu nariz e gemia ruidosamente. Tannenbrook estava sendo assaltado por dois homens ardilosos com casacos escuros e pesados. Eles também sustentavam facas, mas o enorme conde simplesmente lhes ofereceu um estranho sorriso de antecipação e agachou-se para agarrar a um deles pelo cabelo. Então, sua outra mão maciça agarrou a gola do segundo homem, e ele golpeou suas cabeças uma com a outra. O barulho da colisão ressoou.

Matilda dançou e se deslizou quase derrubando Colin enquanto lutava por recuperar o controle sobre ela. Trabalhou as rédeas, chupando ar frio em seus pulmões enquanto os músculos de suas pernas se esticavam para mantê-lo sobre suas costas. De repente, ela gritou de dor, elevando-se durante um momento sem fôlego antes de golpear o chão com força com os quatro cascos já cavando no cascalho de Rotten Row. O impulso de seu medo os empurrou a um galope aterrador. Correndo, agitando-se e trabalhando para escapar do que a havia sobressaltado, ela ignorou suas ordens, o puxar das rédeas.

Sem sinais de desaceleração, inclinou-se sobre seu pescoço estendendo-se para acariciá-la e dizer tolices tranquilizadoras. Teve a sorte de estar ainda montado.

Normalmente era a mais obediente dos cavalos, mas algo a tinha machucado.

Esticando seu pescoço ao redor, viu sangue em seu flanco, onde o atacante tinha posto seu corte.

A fúria fez com que o mundo branco ao seu redor se tornasse vermelho. Queria matar o homem que a tinha atacado tão descaradamente. Mas primeiro deve fazer com que Matilda se detivesse.

Eventualmente fez, mas quando ela se deteve a ferida estava supurando profusamente. Desmontou rapidamente, logo lhe acariciou os músculos tensos e trementes enquanto se movia para trás para examinar o corte profundo.

— Ah, amor — disse, com suavidade. — Lamento que lhe tenham feito mal.

Isso não ajudou muito, a menos que quisesse que a ferida piorasse, devia levá-la de retorno à casa Clyde-Lacey. Voltando a colocar as rédeas, ele se moveu ao seu lado, e juntos se dirigiram para onde tinha deixado Tannenbrook. As respirações estremecidas e dolorosas de Matilda o rasgaram.

Ela o tinha levado através da Inglaterra, de Richmond a Liverpool, de Yorkshire a Londres. Ela o tinha levado longe do açougue do Syder, havia-o levado, febril e delirante, até Devonshire. Ela o tinha levado à Sarah e os homens pagos por aquele carniceiro sangrento a tinham ferido, queria destroçá-los com suas próprias mãos, queria cortá-los e deixar que suas vísceras caíssem sobre Rotten Row.

Algo de seus pensamentos deve ter sido evidente em seu rosto, porque quando finalmente chegou ao Tannenbrook, o senhor machucado levantou uma sobrancelha e sacudiu a cabeça.

— Tentei guardá-los para ti. — Disse. — Meu cavalo saiu disparado, escaparam em uma carruagem que conduzia uns momentos depois do ataque. Suponho que estava destinada a te transportar.

Harrison se aproximou de seu cavalo com o rosto vermelho pelo frio e o esforço. Tanto ele como seu cavalo estavam respirando pesadamente.

— Sem sorte, desapareceu em Piccadilly, a carruagem era negra, sem marcas.

Colin franziu o cenho.

— Onde está Atherbourne?

— Dirigiu-se à casa Clyde-Lacey — respondeu Tannenbrook. — Queria assegurar-se de que Syder não procuraria dois objetivos ao mesmo tempo.

O alarme se acendeu através de Colin.

— Tenho os homens do Drayton vigiando a casa — disse Harrison — junto com outros quatorze lacaios contratados especificamente por sua experiência militar. O lugar mais seguro de Londres está ali.

Era um pequeno consolo, mas Colin aceitaria.

— Vem — disse empurrando Matilda para frente. — Temos que levá-la de volta ao estábulo, necessitará de costuras e descanso.

Então encontraria a maneira de persuadir Sarah Battersby para que se casasse com ele. Syder estava se tornando cada vez mais audaz, atacando-o durante o dia no meio do Rotten Row. Se ele fosse assassinado ela ficaria sozinha e desprotegida, ele não podia permitir que ela se demorasse mais.

Ela deve estar provida, pensou. Aconteça o que acontecer, ela deve estar protegida, porque nada mais importa.

~~*~~

A mãe de Sarah uma vez descreveu as compras na Bond Street como uma experiência de "esgotamento doloroso e agitação orçamentária". Sarah agora podia ver por que.

Quando saíram da loja da senhora Bowman Sarah se sentiu aturdida, esgotada.

A elegante mulher italiana e seus numerosos ajudantes tinham invadido Sarah como uma colmeia, medindo, cravando, avaliando com um olho calculador.

Depois que cessou o zumbido ela vislumbrou a atrocidade total na conta da costureira e quase desmoronou. Seus protestos à Vitória tinham sido recebidos com uma palma levantada e uma calma: — Não vou escutar mais sobre isso, tampouco o fará Colin — agora entendia por que Jane falava destas excursões com temor.

— Logo, acredito que devemos comprar as luvas adequadas para ti, Sarah.

A inocente declaração de Vitória se encontrou com gemidos simultâneos de Sarah e Jane.

— Agora vem — Vitória lhes sorriu por cima do ombro enquanto empurrava a porta para a Bond Street. — Não sejam tão débeis, bobinhas, é só mais uma loja.

Jane soprou e se levou os óculos ao nariz.

— Preferiria recolher o lixo do estábulo de Blackmore ou ir a um dos almoços de Lady Wallingham.

Eleanor riu entredentes.

— Sabe, simplesmente devo conhecer lady Wallingham um dia.

Quando seis lacaios as seguiram à rua, Vitória e Jane simplesmente se olharam e balançaram a cabeça.

— Ela soa bastante divertida.

— Claramente não a conheceu.

— Esse é o meu ponto — Leonor respondeu. — Eu gostaria de julgar por mim mesma.

Vitória limpou a garganta com delicadeza.

— Bom, pode ter essa oportunidade. Se certos eventos acontecerem.

Eleonor deu à viscondessa um cenho franzido.

— Não estou segura do que quer dizer.

— Ora, Sarah poderia encontrar um posto em um lar que viajaria a Londres para a temporada.

A mãe de Sarah perguntou: — Tem alguma notícia a respeito?

— Temo que não, é cedo ainda, se for necessário, perguntarei a lady Wallingham — Vitória respondeu. — Ela está familiarizada com as melhores famílias.

Jane adicionou: — E ela pode enumerar seus serventes de cor, de verdade é assombroso. Não sei como ela consegue.

Suspirando, Vitória ficou nas pontas dos pés para ver um dos lacaios muito altos que as rodeavam.

— Thomas, importaria de se mover à sua direita? Não posso ver rua abaixo.

O lacaio se desculpou e obedeceu imediatamente, foi então que Sarah viu uma garota de cabelo escuro que vinha para eles, vestida com um casaco preto e um chapéu de plumas. Levava um pacote envolto em papel marrom e falou animadamente com sua companheira, uma mulher mais velha com um chapéu combinando.

— Senhorita Thurgood — ela suspirou sentindo-se um pouco desorientada. Os olhos grandes da menina passaram por Sarah a princípio, logo voltaram para ela e se alargaram.

— Senhorita Battersby? — Rompendo em um amplo e radiante sorriso.

Caroline Thurgood se aproximou através do emaranhado de lacaios.

— Que agradável ver-te. Tão inesperado! E a senhora Battersby? Ambas parecem maravilhosamente bem. Não posso lhe dizer quão contente estou de ver-te aqui em Londres.

Sarah apresentou rapidamente Caroline às suas companheiras e viu como os olhos de Caroline se abriam ante os elevados títulos.

— Fazendo um pouco de compras, suponho? — Sarah perguntou.

Caroline assentiu com os olhos fixos nas duas damas tituladas.

— Comprando um artigo ou dois para a próxima temporada. Papai desejava esperar um ano mais, mas mamãe insiste em que terei minha estreia nesta primavera.

— Que formoso para ti — Sarah disse genuinamente agradada. Caroline era amadurecida para sua idade e bastante bonita, uma combinação da qual Sarah tinha poucas dúvidas que teria êxito no mercado matrimonial.

— Sabe, é uma grande coincidência ver-te aqui na Bond Street — Caroline exclamou com os olhos sorridentes e entusiasmados.

— De fato, especialmente porque Londres está tranquila nesta época do ano.

— Oh, mas isso é precisamente o que quero dizer, é o segundo conhecido de Keddlescombe com quem me encontrei desde a semana passada — a menina sacudiu a cabeça com incredulidade. — Não tinha ideia que o caminho de Devonshire estivesse tão bem transitado.

Franzindo o cenho, Sarah perguntou: — Sério? Com quem mais se encontrou aqui, senhorita Thurgood?

Os grandes olhos da menina piscaram lentamente e logo se acenderam.

— Ora, com o senhor Foote, é claro.

O estômago de Sarah se afundou em seus pés. O frio se filtrou rapidamente através de seu grosso casaco de lã.

— Perguntou por ti, logo perguntou pelo senhor Clyde. — Caroline sorriu, alheia à angústia de Sarah. — Naturalmente disse-lhe que estava tão bem como poderia esperar-se. Como está indo o Sr. Clyde? Espero que tenha se recuperado de seus ferimentos.

Dando à Caroline um sorriso tremente, ela assentiu.

— Ele está bem.

— Esplêndido! — Caroline olhou por cima do ombro à sua companheira, que esperava com impaciência fora de uma das lojas. — Eu deveria ir. Oh, senhorita Battersby, simplesmente devemos nos visitar enquanto estamos em Londres, estarei encantada de ter sua companhia.

Depois que se despediram e Sarah estava sentada dentro da carruagem de Atherbourne, seu coração demorou vários minutos em acalmar-se e seu estômago deixou de ameaçar rebelar-se. Félix Foote, aquele odiado homem estava em Londres perguntando por ela e por Colin, só a ideia fez com que ela retorcesse seus dedos em seu regaço, fizesse com que seus punhos se curvassem e se liberassem, curvassem-se e se liberassem.

Foi um aviso; isso foi todo um aviso do que devia fazer: assegurar uma nova posição para que ela e sua mãe tivessem alguma maneira de sobreviver quando aquele sonho transitivo terminasse.

Mas ela não queria fazê-lo, embora ela tivesse rejeitado a oferta de matrimônio de Colin, todos os dias depois dessa decisão sentia-se menos segura, mais equivocada. Conseguia sentir-se debilitada por ele, amando-o, querendo o que ele prometia. Durante a semana passada o argumento brincou com sua mente, repetindo-se como as recitações de memória de suas alunas.

Disse que ajudará a restabelecer a Academia St. Catherine, argumentou seu coração.

Mas tinha a escola antes e me vi obrigada a fechá-la quando papai morreu, sua mente foi refutada. Disse que se assegurará que eu tenha um lar, que mamãe tenha um lar e que o assegurará com recursos no nosso nome. Seus recursos são controlados por seu irmão. E se Blackmore desgostar de novo? Onde nos deixaria isso?

Ele mudou, sei que ele mudou, ele não arriscaria tal coisa, não posso arriscar tal coisa, o único do qual posso estar segura é de mim mesma. Te está concedendo a lua, Sarah.

Só por lástima.

Certo ou não, não pode simplesmente tragar seu orgulho e aceitar o presente que está oferecendo

O pensamento sedutor ficou com ela dia e noite, pulsando dentro de cada segundo como se estivesse vinculado aos batimentos do seu coração. Temia que se não estabelecesse um rumo diferente, na próxima vez que visse seu rosto formoso e tentador, seus lábios firmes e tentadores, seu corpo alto, magro e tentador, não só diria que sim, mas cairia de joelhos e lhe suplicaria que a tocasse como o tinha feito antes. E então lhe rogaria que nunca se detivesse.


CAPÍTULO 18

“O matrimônio é seu dever, assim como estar no Parlamento. Talvez não deseje ficar preso dentro de uma câmara de ecos escutando alguém desprezar suas ideias durante horas e horas. Possivelmente prefira estar montando. Entretanto, isso é o matrimônio. E isso é o que se deve fazer”.

A marquesa viúva de Wallingham ao seu filho, Charles, em muitas ocasiões.

— Juro, quando puser minhas mãos ao redor de seu pescoço ensanguentado, vou esmagar sua vida.

As pesadas sobrancelhas de Tannenbrook baixaram ante o duque, que estava sentado sobre seu cavalo, cavalgando junto ao Colin e uma coxa Matilda. Estavam em Park Lane, voltando para Berkeley Square. Dois dos três homens foram a pé, por isso seu ritmo era muito mais lento do que tinha sido quando se aventuraram a dar um passeio nessa manhã.

— Syder, quer dizer?

— Não — Harrison respondeu ao Colin. — O guarda negro que levou meu irmão ao perigo sem preocupar-se com sua vida. Ele me responderá quando isto terminar, isso eu juro.

Escutar um homem conhecido por sua frieza e aderência à propriedade descrever como asfixiar alguém era quase divertido. Colin estranha vez o tinha escutado falar com tanto entusiasmo, especialmente em sua defesa. Entretanto, não cabia dúvida de que os instintos de Harrison sempre tinham sido protetores para aqueles a quem amava, inclusive em sua forma mais dura e crítica e Colin tinha tido dificuldades para dar-se conta. Agora se perguntava o que o tinha cegado durante tantos anos, possivelmente as semelhanças com o comportamento de seu pai, uma aparência superficial no melhor dos casos.

Richard Lacey tinha sido frio e um dia tinha amado seus filhos, parecia estar obrigado a demonstrar o contrário. Harrison, por outro lado, tinha ensinado Colin a pescar, a montar, a atar as botas. Tinha-o levado a nadar e lhe tinha lido seus livros favoritos em segredo, tinha frustrado os castigos de seu pai e havia tomado muitos deles. Tão insuportável como Harrison podia ser às vezes, Colin estava agradecido por lhe ter como irmão.

— Por que não consegue ver que seria adequado me dizer quem é esse homem? Está além da minha compreensão. — Harrison queixava-se, seu rosto sombrio e seus olhos brilhando como o gelo.

— Talvez porque ameaçou sua vida repetidamente, — Colin respondeu estendendo a mão para acariciar brandamente as orelhas de Matilda enquanto caminhavam. Desejava poder mover-se mais rápido, mas queria evitar que a ferida sangrasse muito.

— Essa é uma pobre desculpa.

— Harrison, suportei a tortura por esta informação. Crê que lhe entregaria isso agora? Aqui, no meio de Park Lane?

O duque zombou.

— Eu sou dificilmente Syder.

Tannenbrook lançou ao Colin um olhar especulativo antes de perguntar: — Por certo, por que Syder quer tanto o nome deste homem? Sem dúvida, você demonstrou ser uma pedreira custosa e problemática.

Considerando cuidadosamente sua resposta, Colin refletiu sobre quanto revelar.

Muito, e a identidade de seu contato seria descoberta.

— Quando Harrison cortou meus recursos no ano passado, voltei para os jogos. Tive um pouco de sorte ao princípio, logo fui ao Clube Gallows.

— Um dos lugares do Syder.

Ele assentiu.

— Ganhei bastante na primeira vez e perdi substancialmente a partir de então. Mesmo no mais profundo de minhas taças, nunca tinha perdido tanto depois da quarta visita, suspeitei que os resultados tinham sido predeterminados.

— Maldito seja — Tannenbrook grunhiu. — Fraudaram os jogos.

— Mmm. Faltam muitas peças, aventurei-me e me queixei um pouco, mas as coisas seguiram igual, uma quinzena mais tarde recebi uma nota de um... — olhou a Harrison, que o olhou com o olhar furioso. — Um conhecido que trabalha com o Ministério do Interior em certos... projetos, ele tinha escutado que eu tinha estado frequentando o Clube Gallows e queria informação a respeito. Assim voltei, recolhi o que necessitava e o entreguei, além da minha dívida, não havia nada mais a respeito. Ele tinha sua informação; eu havia feito minha parte. Após Syder me perseguir todo o caminho até Liverpool e logo a Blackmore, comecei a suspeitar que procurava algo mais que um reembolso. De alguma maneira, quando o Ministério do Interior começou a mostrar interesse, deve ter rastreado até a mim. — Colin encolheu os ombros. — Não entendi o que realmente queria até que me pediu o nome, então sabia o suficiente sobre Syder para compreender que o Clube Gallows era o de menos. O resto de suas posses... — Colin engoliu. — Digamos que há coisas que preferiria acreditar que não existem.

— Você se negou a lhe dar o nome — disse Tannenbrook. — O que ele queria com isso? O ministro do Interior se ocupa quase exclusivamente das ameaças à Coroa.

Harrison grunhiu sua concordância.

— Isso para dizê-lo brandamente. Sidmouth está convencido que as rebeliões tomarão o controle e que todos terminaremos em guilhotinas.

Colin continuou: — Meu contato tem diferentes prioridades, acredita que a criminalidade entre a população da Inglaterra é igualmente uma ameaça e merece ser investigada. Devido à sua posição incomum, se fosse substituído, os recursos do Ministério do Interior seriam redirecionados. Tal como está, deve escolher seus projetos cuidadosamente. Em sua opinião, o desmantelamento do império de Syder é um prêmio digno de sacrifício, mas deve permanecer oculto se deseja completar a tarefa.

— Um homem com patente, entendo.

A observação de Tannenbrook foi muito próxima à verdade para o gosto de Colin.

— Quem é importa menos do que parece.

— E quando saberemos? — Harrison perguntou. — Isto deve terminar, não posso permitir que você, Jane ou qualquer um dos outros corram perigo.

— Ele disse que se fará no Natal.

— Um mês, isso não é suficientemente rápido. — Colin apertou a mandíbula e esfregou o pescoço de Matilda.

— Eu o disse.

O silêncio que seguiu se rompeu sozinho pelo suave rangido da neve, o golpe de cascos, o fôlego áspero de Matilda. Começaram a cair novos flocos, derretendo-se sobre a capa esfumaçada da égua.

Mayfair estava tranquilo, mas isso era de esperar. A maioria das famílias ficavam no campo até janeiro. O período de luto para a princesa Charlotte pôs um freio adicional aos entretenimentos em geral, permanecer visível dentro da sociedade tinha resultado difícil, já que havia pouca sociedade para ser vista.

Tentou alegrar-se de que essa noite fosse outra das festas de Lady Rutherford, a esposa do ancião marquês de Rutherford mostrava-se partidária a convidar os mesmos objetos e os fornecedores de intrigas às mesmas reuniões, por isso certamente seria divertido.

Entretanto, o único pensamento que animou seu espírito foi a antecipação de colocar pérolas ao redor do formoso e magro pescoço de Sarah. Talvez ele pudesse depositar um beijo justo na parte superior de sua coluna vertebral, logo mordiscar o caminho para o lóbulo de sua orelha.

Quando se aproximaram de Berkeley Square, suspirou de alívio. Graças a Deus. Quase estavam ali.

O som das rodas da carruagem vinha à distância quando se aproximaram, Colin pôde ver que era uma das de Atherbourne, que retornava ao lugar do extremo oposto, em direção à Bond Street.

— Parece que as damas retornaram das compras — Harrison murmurou com voz dura. — Terei que falar com Jane sobre isso.

— A carruagem está coberta de lacaios — Tannenbrook comentou. — Parecem ter um amplo amparo.

— Não é o suficiente. — As palavras deveriam ter vindo do Harrison. Em troca, as tinham saído do centro do peito de Colin, onde se tinha colocado um pedaço de pedra quando se deu conta que não estava segura na Casa Clyde-Lacey. Ela havia estado na Bond Street, onde qualquer um poderia tê-la levado.

Queria sacudi-la vigorosamente. Queria beijá-la e lhe acariciar os cachos de mel até que pudesse respirar de novo.

De repente, a carruagem se deteve duas casas longe de seu destino. Franzindo o cenho, observou como o veículo se movia de um lado a outro. Podia escutar débeis gritos de alarme provenientes do interior, logo, a porta se abriu com um estalo e saiu a senhorita Sarah Battersby. Saltou ao chão coberto de neve com as saias escuras recolhidas nas mãos.

Deteve-se para olhar enquanto ela corria para ele a cinquenta pés de distância, seu rosto quase da cor da neve, sua respiração frenética, seus olhos cor de mel enormes, redondos e temerosos em seu rosto de fada. Deixou cair as rédeas. Sarah, suspirou, sua voz tão fraca como repentinamente sentiu. Estava ferida? Alguém havia tentado atacá-la também?

— Colin! — Ela gritou deslizando os últimos passos e se chocando contra seu peito, fazendo-o tropeçar para trás. Suas mãos estavam em todas partes ao mesmo tempo. Em seu rosto, em seu pescoço, em seu peito, braços e mãos. — O que aconteceu? — Ela perguntou.

— Onde está ferido?

— Em nenhuma parte, doçura.

Girou-se para gritar de novo para a carruagem, — Necessitamos de um médico! — Logo, imediatamente, reatou seu frenético exame de sua pessoa, suas mãos enluvadas se esticaram para lhe escovar o cabelo e pressionar seu couro cabeludo. — Que demônios estava pensando? Sair para dar uma volta como se não te importasse nada! Me deixe te dizer algo, Colin Lacey, se você sobreviver a isso, eu vou te matar por sua imprudência. Marque minhas... — seu fôlego se estremeceu alarmantemente... — ...palavras, você... — Um pequeno soluço. — ...homem tolo. — As lágrimas corriam agora.

E tudo o que pôde fazer foi envolver seus braços ao redor de suas delicadas costas, abraçá-la com força e lhe sussurrar ao ouvido: — Está bem, Sarah estou ileso, tudo está bem.

Seu pequeno punho enluvado golpeou seu ombro quando ela soltou outro pequeno soluço. Com suas palavras amortecidas contra a lã de seu casaco, ela murmurou: — Se... se não está ferido, de onde vem todo este sangue?

Olhando atrás dele viu o rastro vermelho, austero e brilhante que empapava a neve branca.

— É Matilda, doçura. Ela foi cortada.

Tannenbrook deu um passo adiante para tomar a dianteira do cavalo.

— A levarei ao estábulo e me assegurarei que seu ferimento seja atendido.

— E informarei às damas que um médico será desnecessário — Harrison disse girando seu cavalo para a carruagem, que agora estava detida em frente à Casa Clyde-Lacey.

Colin assentiu com a cabeça e continuou acariciando as costas de Sarah.

Mas logo ela estava se afastando dele, fungando e limpando suas bochechas.

— Como? — Ela perguntou.

— Quer dizer como foi cortada?

Ela assentiu, seu queixo adotou uma inclinação claramente combativa.

— Houve um pouco de briga no Rotten Row.

— Uma briga.

— Sim, nada de que preocupar-se, Matilda foi a única ferida, e deverá curar-se bem se a costurarmos adequadamente.

Seus braços se cruzaram debaixo de seu peito, seu dedo tocando o flanco de seu cotovelo em um ritmo rápido.

— Foi Syder, não é?

— Bom, espero que só tenha um inimigo assim. — Um momento depois que o disse, deu-se conta do sarcasmo, provavelmente não era a melhor maneira de acalmar a fúria óbvia e crescente de Sarah.

Sua delicada mandíbula se apertou. Seu nariz voltado para cima. Parecia uma fada zangada.

— Poderia ter sido assassinado, Colin Lacey! Ou raptado e cortado em tiras. Tem ideia de como me senti quando vi esse rastro de sangue atrás de ti? — Ela fez um gesto selvagem para a longa mancha vermelha. — E se isso tivesse fosse seu? O que se supõe que devo fazer se for e lhe matam, me responda isso! — Ao final, rouca, sua voz estava cheia de lágrimas, cheia de algo menos definível.

— É precisamente por isso que devemos nos casar — respondeu, incapaz de reprimir sua exasperação. — Disse-lhe isso na semana passada. Pelo amor de Deus, tudo o que deve fazer é dizer sim, Sarah.

Desta vez suas mãos aterrissaram em seus quadris de maneira desafiante, seus olhos brilharam dourados.

— Talvez deveria me casar contigo, assim teria que me responder pelo resto de seus dias. Obrigada, alguém em sua vida deveria estar te ajudando a tomar decisões, já que está claro que não pode fazer suas próprias decisões sensatas!

Passaram duas pulsações antes que absorvesse a natureza assombrosa do que ela havia dito. É óbvio, seu coração pulsava com força, por isso duas pulsações não eram muito tempo. Mas quando finalmente entendeu, não pôde deter o sorriso lento, mas profundamente satisfatório que estava seguro que ela estava vendo em seu rosto.

— Então, estamos de acordo, doçura.

— Estamos.

— Essa foi uma maneira singularmente insultante de dizer que sim.

— Er... Colin. Eu não disse precisamente...

— Entretanto, aceito-a. Nós dois não somos perfeitos.

— OH, mas eu...

Ele segurou seu rosto de fada em suas mãos e depositou um prolongado beijo em sua doce boca inclinada. Logo lhe acariciou as bochechas com os polegares e lançou outro beijo suave e apaixonado sobre seus lábios de mel.

— Colin — ela sussurrou, seu fôlego quente contra seu queixo. Seus olhos estavam fechados, seu rosto sonhador voltado para cima. — Estou muito agradecida de que não esteja morto.

Beijou cada pálpebra, deixando que seus lábios roçassem com ternura sua têmpora antes de responder: — Como eu. — Colocando-a sob seu braço, dirigiu-a em direção à casa. — Agora entremos e nos esquentemos um pouco, se formos estar casados esta semana, tenho algumas tarefas que atender. A licença, a Igreja de São Jorge. Vitória insistirá em um café da manhã com bolo, é claro.

— Esta semana? — Ela chiou.

— Quanto antes melhor, doçura. — Ele baixou a cabeça para capturar seus lábios de novo enquanto caminhavam. Ela era mais viciante que o brandy. Mais embriagante. — Quanto antes melhor.


CAPÍTULO 19

“Digo, Lady Rutherford, isto explica muito sobre sua falta de inibição".

A Marquesa viúva de Wallingham à Lady Rutherford ao ir a uma das reuniões de dita mulher pela primeira vez (e última).

O que tinha aceito? A cabeça de Sarah dava voltas, sua pele estava quente e avermelhada, não podia decidir se era o ponche de rum em sua mão (tomou um sorvo para provar sua teoria) ou as pérolas ao redor de seu pescoço ou, mais concretamente, como tinha obtido as pérolas.

Seus olhos procuraram Colin através da multidão de convidados de Lady Rutherford, a maioria dos quais eram insossos e fúteis. É óbvio, Lady Rutherford era ambas as coisas, além de ser muito aficionada aos homens jovens, talvez isso fosse apropriado.

Sua mão se pousou no pescoço, possivelmente pela sétima vez essa noite, sentindo as pérolas redondas e suaves através da seda de suas luvas. Seus olhos se pousaram no Colin, brilhando atraentemente com seu colete preto e sua gravata branca, seu cabelo loiro dourado finalmente começava a frisar-se de novo. Só um pouco. Só o suficiente para que seus dedos os acariciassem.

Ela ia casar-se com ele dentro de uma semana. Seus joelhos se converteram em água. Ele era tão gloriosamente bonito...

Um cotovelo golpeou o dela derramando líquido em sua luva branca.

— Oh, sinto terrivelmente.

Sarah olhou à sua direita, e logo para cima e subiu um pouco mais. Uma das mulheres mais altas que tinha visto estava parada ali, vendo-se abatida e nervosa. À Sarah recordava Lydia Cresswell, o cabelo vermelho flamejante e uma camada leve de sardas trouxe à sua mente Ann Porter. Um vestido de seda de cor azul escura com redemoinhos de bordados e brilhantes lantejoulas no decote e a prega também era familiar.

— Senhora Bowman — Sarah adivinhou.

A mulher, uma mescla intrigante de cores antiquadas, altura incomum e vestido requintado, deu-lhe um olhar estranho com os olhos inteligentes.

— Seu vestido, não a senhora. — Disse rapidamente.

— Como soube?

— Eu não gosto particularmente dela, mas suas criações são magníficas. Eu faço um pouco de costura e reconheço uma mão experiente.

A ruiva de extremidades largas sorriu, seus olhos se iluminaram como um entardecer verde. Isso foi bastante fantasioso, como um pôr-do-sol verde. Sarah tomou outro sorvo de ponche.

— Sou Charlotte Lancaster.

Piscando para ela, Sarah assentiu lentamente.

— Agrada-me muito conhecê-la, senhorita Lancaster. Sou a senhorita Battersby, Sarah Battersby, me chame de Sarah e te chamarei de Charlotte, não será adorável?

A risada da mulher tinha o tom muito atraente, como o sino de uma igreja, mas mais leve, mais delicado.

— Eu adoraria, Sarah. — Apontou com a mão a multidão de pessoas fúteis, insípidas e muito tediosas que se amontoavam no cenário sobrecarregado do salão de baile de Lady Rutherford. — O que pensa disto?

— Acredito que preferiria estar em outro lugar.

De novo a risada realmente foi bastante agradável.

— Agrada-me saber que não sou a única.

Sarah olhou sua taça, fechando primeiro um olho e logo o outro.

— O que há nisto?

— Uma quantidade substancial de rum, acredito que poderia sugerir que empregue a precaução.

— Estou a ponto de me casar.

Olhos verdes se iluminavam sobre maçãs do rosto com sardas.

— Que maravilhosa notícia.

— Esta semana.

— Muito em breve, então, bem a tempo para o Natal, adoro o Natal.

— Ele quer assim. — Ela girou seu copo em direção ao Colin, derramando mais líquido em sua luva branca.

Charlotte se inclinou para seguir a direção do olhar de Sarah.

— Lorde Chatham? — Ela chiou soando horrorizada. — Contra quem perdeu uma aposta?

— Não — ela soprou. — Não o Senhor Chatham, embora seja estranhamente atraente, não é assim?

Com um som afogado Charlotte negou com a cabeça.

— Suponho que alguém poderia dizer isso se estivesse completamente cego.

Sarah considerou o homem de cabelo escuro que estava de pé junto ao Colin. Ela o havia conhecido antes e o achava encantador, inclusive magnético. Entretanto, estava bastante magro e não era tão bonito como o seu Colin, não havia cachos em seu cabelo, por exemplo, e seus olhos eram de um curioso tom de turquesa que tinha sido quase desconcertante quando os tinha fechado, encapuzados e avaliando.

— Suspeito que se crê bastante sedutor — Sarah refletiu em voz alta. — Talvez o seja. Mas, para mim, só há Colin.

Mais ofegos à sua direita.

— Lorde Colin? Lorde Colin Lacey? — Charlotte riu entredentes e sacudiu sua cabeça de cor vermelha brilhante. — Tem olho para os canalhas.

— Viu-o?

— Claro que sim, está de pé ali mesmo.

— Então sabe ou talvez não o faça, que também é um maravilhoso beijoqueiro.

— Oh, querida.

Sarah lhe dirigiu um cenho franzido.

— Não deve procurar descobrir isso por sua conta. Me veria obrigada a te fazer um grande dano corporal, e isso seria muito angustiante. Eu gosto muito de você.

Charlotte riu entredentes.

— Também gosto de você, Sarah. Não tem que preocupar-se, não tenho o menor interesse em beijar um canalha.

Suspirando, Sarah sorriu.

— Lástima — ela disse. — É extremamente prazeroso.

Essa era a simples verdade, como tinha demonstrado uma vez mais nessa mesma noite, quando se deslizou ao seu dormitório para lhe entregar as pérolas. Acabava de terminar de colocar o vestido, uma teia de seda bordada e negra combinada com uma roupa interior de seda carmesim, mas ainda não prendera o cabelo. Os cachos selvagens caíam sobre seus ombros quando se sentou na penteadeira contemplando os caprichos de tomar decisões que alteram a vida sob severa coação.

Tinha entrado tranquilamente, recostando-se contra a porta. Vislumbrou-o, ainda com sua roupa de montar, no espelho da penteadeira. Seu sorriso era perverso e lento. Assim como seus passos para ela.

— Estive sonhando com este momento — disse.

Nervosa, ficou de pé e caminhou para um divã creme antes de voltar-se para ele.

— Eu... Colin, devo te falar desta manhã... quero dizer, crê que é aconselhável... — aproximou-se mais, ela respirou sândalo e o aroma de ar limpo de sua pele.

— Sim. Muito recomendável, agora, deixa de preocupar-se e relaxe, tenho um presente para ti.

Ainda com sua roupa de montar tirou-se o casaco para que seus fortes ombros e seu magro torso estivessem cobertos só com uma camisa de linho e um colete de seda branco. Ela deixou que seus olhos se detivessem em sua garganta, logo, com amor, contornou sua firme mandíbula, seus lábios firmes e seus ombros firmes e musculosos. O calor se assentou sob seu ventre, conectando-se gradualmente com a dor entre suas coxas. Os dois floresceram até que ela quis alcançá-lo como uma flor no céu.

Colocando dois dedos no bolso de seu colete, tirou um duplo fio de pérolas brancas cremosas, as deslizando em uma corrente longa e aparentemente interminável.

— Eu quis dizer isto como um ponto de persuasão — murmurou, seus olhos azuis esquentando-se com intensidade. — Dê a volta.

Sua respiração se acelerou, seu coração começou a pulsar com força. Sarah obedeceu lentamente, dando-lhe as costas. Dedos longos e fortes se deslizaram brandamente por seu cabelo, acariciando e enviando calafrios de prazer insuportáveis através de seu couro cabeludo e debaixo de sua pele. Sentiu que seus mamilos se apertavam sob as camadas de seu corpete.

Tomando-se seu tempo, ele varreu seus cachos sobre seu ombro. O fez várias vezes, já que seu cabelo rebelde parecia não querer deixar seus dedos. Em sua última passada alisou sua mão sobre o seio dela, sua palma percorrendo um mamilo tão duro como as pérolas que sustentava. Ela ofegou e se estremeceu ante a aguda rajada de prazer, suas costas chocando com seu duro e quente peito.

— Calma doçura — disse, com voz rouca. Logo sentiu que as pérolas frias se deslizavam sinuosamente contra a pele de seu pescoço, prendendo-se, curvando-se e enrolando-se ao redor de seu pescoço. — Sonhei ver isto contra sua pele. Quando os comprei esta manhã pensei que poderiam suavizar sua resistência à minha proposta — lábios suaves e quentes tocaram sua nuca, justo por cima da linha de pérolas. — Agora que disse sim, vejo-as de maneira diferente. — Seu fôlego esquentou, seus dedos acariciando seu pescoço, seu cabelo e seu mamilo. — Ficará marcada como minha.

Ela gemeu, o calor e a necessidade dentro dela tremendo por ser apaziguada. Por sua própria vontade seu traseiro procurou os quadris dele e se encontrou com uma dureza fascinante.

— Um pouco primitivo, talvez — sussurrou-lhe ao ouvido, acariciando ali antes de dar ao seu lóbulo um pequeno e prazeroso beliscão. — Mas a ideia não deixará minha cabeça. — Sua respiração se fez mais áspera e mais rápida, seu peito bombeando. Ela acreditava que podia sentir seu pulso acelerando-se tão rápido como o seu. — Diga que os usará para mim, Sarah.

— Colin. — Seu nome era uma pergunta, uma súplica. Fechou os olhos e se esticou para atrás para embalar sua cabeça. O leve cacho de seu cabelo se assentou entre seus dedos.

— Nos casaremos o antes possível, em uns dias e logo usará meu anel em sua mão, e me levará dentro de seu corpo, e será minha de verdade. — Sua língua deslizou embaixo de sua mandíbula, deixando um rastro de umidade refrescante em sua boca quente. — Até então, me prometa que usará minhas pérolas e deixará que o mundo veja a quem pertence.

Ela, é óbvio, havia dito que sim. Repetidamente. Ele tinha recompensado sua resposta segurando ambos os seios e acariciando seus mamilos através de seu vestido até que lhe rogou que detivesse os movimentos insuportáveis, e lhe rogou que o desse mais. Logo, ele tinha recolhido sua saia e a acariciou delicadamente com seus dedos até que aquele prazer explodiu e alagou sua visão com luz, alagou seu corpo com ondas de prazer indescritível.

Inclusive agora, de pé em meio a senhoras tituladas e senhores vestidos de preto, ouvindo os acordes de uma valsa e observando o brilho dourado das numerosas velas de Lady Rutherford brincando com o cabelo de Colin Lacey como ela desejava, a necessidade dele a debilitava.

Se não soubesse melhor, suspeitaria que ele havia sentido suas dúvidas a respeito de aceitar casar-se com ele e a tinha seduzido deliberadamente para evitar que mudasse de opinião. Seus olhos se estreitaram sobre o homem que não podia suportar resistir. Ele estava dando um olhar duro ao seu companheiro. Então, ele a olhou fixamente e estava em chamas.

Desejava-a talvez tanto como ela o queria. Ela podia ver do outro lado da habitação, como se ele tivesse um sinal em suas mãos.

— Devo dizer que pode ter um ponto — Charlotte disse, olhando à Sarah e para onde estava Colin. Quase tinha esquecido que a ruiva existia. — Quando lhe olha assim, é bastante... afetuoso.

Sarah assentiu.

— Ele é muito bom nisso, não determinei exatamente quanto é uma técnica deliberada e quanto é o resultado de um sentimento genuíno, mas o efeito é o mesmo.

Charlotte empunhou um leque de renda em um vão esforço por esfriar suas bochechas.

Sarah tinha razão.

O homem era potente, por certo.

— Mesmo assim, ele é um escândalo ambulante — continuou Charlotte. — Se isto não fosse a festa de sua mãe, suspeito que não teria sido convidado, absolutamente.

Tomou longos minutos para analisar o que havia dito antes que Sarah se desse conta de a quem se referia Charlotte.

— Oooh, está falando de Lorde Chatham — Maldito rum. Como se esperava que uma dama pensasse com claridade depois de tomar uma bebida assim?

— Sim, como disse, estranhamente atraente, de uma maneira diabólica.

— Mmm. — O leque trabalhou mais rápido. — Pergunto-me se tentará reformar-se depois de herdar. Um marquesado leva responsabilidades de certa importância. Tem o patrimônio, é óbvio, e os arrendatários a considerar. Acrescenta a isso seu papel no Parlamento, e...

A nova amiga de Sarah continuou debatendo o assunto, mas Sarah só escutava um pouco. Colin ainda a estava olhando, seus olhos agora contornando sensualmente a linha das pérolas ao redor de seu pescoço. Como se ele também recordasse sua promessa e os momentos depois que lhe tinha dado. Ela suspirou de desejo e se rendeu a vontade de traçar as pequenas pedras preciosas com seus dedos.

Um cavalheiro, de pouca estatura e com uma desafortunada semelhança com uma carpa, parou ao lado de Charlotte. Parecia estar profundamente metido em suas taças, enquanto sua marcha cambaleava, seus movimentos eram lentos e descoordenados enquanto esticava o pescoço para examinar seu rosto. Sem explicação alguma o homem soltou um forte estalo de risada, dobrando-se e sustentando seu ventre. Apertando os lábios e inchando as bochechas, agitou a mão para apartar sua transgressão.

— Como se encontra? — Soluço — Na primeira experiência do inverno em Londres, senhorita Lancaster?

Sarah viu que o rosto de Charlotte passava de branco salpicado de sardas a vermelho, furiosa em questão de segundos. Desconcertada, Sarah observou como o homem se dobrava uma vez mais, incapaz de conter suas gargalhadas. Repetiu as palavras que soavam como “Pernas longas Lancaster”, mas à Sarah resultava difícil entendê-lo por que não podia controlar sua ofegante e obscena alegria.

Uma sombra enorme veio da esquerda de Sarah, passando à sua vista momentos antes que seu dono caminhasse em frente a ela e à Charlotte, logo agarrou com calma o lenço da carpa em um punho grande e poderoso.

— Lorde Tannenbrook — Sarah respirou, desorientada pelo golpe e confusa pela incongruência de suas ações em seu entorno atual.

O conde, que fez com que Charlotte parecesse pequena em comparação, com calma forçou seu feio prisioneiro em posição vertical, logo o levantou até que os dedos dos pés do homem pendurassem no ar sobre o chão de mármore de Lady Rutherford. O levantou sem aparente esforço, como o faria com um peixe em uma vara.

Charlotte se tampou a boca com uma mão e se apertou contra Sarah, tentando dar a Lorde Tannenbrook o espaço para fazer... o que fosse que tentava fazer.

— Misericórdia — Sarah murmurou, aturdida pelo poder físico puro do senhor loiro escuro. — Isso é muito... impressionante.

— Se desculpe — Tannenbrook disse com voz grave, mas tranquila.

O homem se engasgou e se retorceu, agarrando o braço de Tannenbrook.

Ao seu lado, Charlotte baixou os dedos de seus lábios o suficiente para sussurrar: — Espero que se negue.

Ao ver os intentos retorcidos do homem com cara de peixe para escapar e recordar a inexplicável humilhação de Charlotte, Sarah passou o braço pelo de sua amiga e a apertou.

— Devo confessar, eu também o espero.

Para Colin, a noite tinha sido nada menos que uma tortura. O salão de baile de Lady Rutherford era sufocante e estava abarrotado, suas únicas bebidas estavam desenhadas para que todos pudessem tomar uma taça. E um sangrento jogo de pérolas o estava deixando completamente louco.

Ao seu lado Benedict Chatham, visconde Chatham, jogou para trás meia taça do ponche de rum de sua mãe de um só gole e seguiu o olhar de Colin para Sarah.

Estava sozinha em um rincão, perto da tigela de ponche de rum que antes tinha rejeitado.

— Ela parece um pouco fraca — disse seu ex-amigo.

Colin olhou a pálida e magra estrutura de Chatham e levantou uma sobrancelha.

Chatham lhe deu um meio sorriso casual.

— Fez o seu ponto bem feito.

— Por que está aqui falando comigo?

Os olhos turqueses piscaram, mas, como sempre, mantiveram-se cínicos e avaliativos.

— Não estávamos falando?

— Vendeu o livro de apostas do Reaver ao meu irmão. — Chatham encolheu os ombros.

— Uma transação menor.

— Assegurou-me que não poderia pagar minha dívida, o que significava que Syder me mataria, entretanto, o fez de todos os modos.

O futuro marquês de Rutherford se voltou para a estátua de mármore do Poseidon que estava atrás dele e colocou sua taça vazia junto aos pés do deus. Provavelmente estava bastante bêbado, mas nunca sabia com o Chatham.

— Entretanto — disse ironicamente — ainda está vivo.

Com um sopro de desgosto, Colin se perguntou como poderia ter admirado Chatham durante tanto tempo. É claro, o homem era diabolicamente inteligente, um gênio de muitas maneiras, mas recordando como tinha tratado de imitar o cinismo e a libertinagem do visconde o fez tremer. Em parte, culpou a sua própria embriaguez, o catalisador de muitas decisões desastrosas.

Despedindo Chatham de sua mente, devolveu seu olhar à Sarah, que agora conversava com uma mulher alta, sardenta e ruiva. Franziu o cenho perguntando-se se poderia ser a mesma mulher que tinha perdido suas saias no Hyde Park. Parecia pouco provável que ela aparecesse na reunião de Lady Rutherford no mesmo dia. Talvez houvesse duas mulheres ruivas, anormalmente altas. Em Mayfair. Em novembro.

— Se o que busca forem os recursos, sugiro-te a Long Meg, a meio americana, mas infelizmente a meio americana está obscenamente rica.

Colin lançou um olhar mordaz ao outro homem.

— Usar mulheres para encher os bolsos é seu jogo, não o meu.

Um sorriso sardônico frisou os lábios de Chatham.

— Olhe, com que rapidez a uva amarga se converte no vinho doce da justiça. Posso supor que a bela senhorita Battersby é a causa desta nova pureza moral?

— A senhorita Battersby não é de sua incumbência.

Ao observar as duas mulheres, os olhos encapuzados do Chatham tomaram o aspecto peculiar que sempre tinha inquietado Colin. Comparou-o sendo medido por um predador: perigoso, calculista e volátil.

— Não — disse o visconde em voz baixa. — Ela é tua. — Aquele olhar voltou para Colin. — O que é uma pena.

Com seu estado de ânimo cada vez mais sombrio a cada segundo, Colin se aproximou de Chatham.

Eram da mesma altura, por isso foi capaz de encontrar aqueles olhos de cor turquesa misteriosos diretamente.

— O que significa isso? — Grunhiu.

Uma sobrancelha escura se elevou.

— Os que têm inimigos devem tratar de evitar adquirir debilidades.

— O que sabe do meu inimigo?

Algo brilhou atrás do olhar encapuzado de Chatham, mas desapareceu na seguinte piscada.

— O que sei: se continuar tentando ao diabo, nada te liberará de seu açougue. Com o tempo, seus capangas crescerão muito nervosos para ser comprados.

A cabeça de Colin se voltou para trás. Não havia dito a ninguém sobre o Benning, o único que saberia, além do Benning, era...

Uma forte explosão de chiados e gritos foi seguida por um estrondo reverberante, atraindo a atenção do Colin para os sons. A mesa de refrescos se havia partido pela metade, o vidro e a prata se pulverizavam pelo chão de mármore, o ponche prateado derrubado a vários pés de distância. E no centro dos refrescos quebrados, uma figura estendida, vermelha, ofegando, puxando seu lenço como se estivesse afogado. Lorde Tannenbrook estava parado sobre o homem feio, a intimidação irradiava de cada linha de seu corpo.

— Que demônios? — Colin murmurou, perguntando-se quem tinha sido suficientemente estúpido para provocar a ira do conde de Tannenbrook. O homem era do tamanho de um cavalo, além disso, áspero.

Sem pensar um momento procurou Sarah e a viu quase imediatamente, de pé a um lado da cena caótica, aferrando-se ao braço da "Long Meg" de Chatham. Parecia estar bem, inclusive sorrindo ante a calamidade do homem. Suspirou aliviado. Ela estava a salvo.

Olhando para o lugar onde Chatham tinha estado de pé Colin franziu o cenho e logo olhou e se foi. Não haveria mais respostas daquele homem.

— Parece que Tannenbrook deu um bom golpe — disse Harrison, aproximando-se da direção das portas. — Talvez devêssemos partir antes que Atherbourne decida entrar na refrega.

Colin assentiu com a cabeça. Mais que tudo, queria Sarah o mais longe possível do caos, sem importar a fonte. As palavras de Chatham ecoaram em sua mente, repetindo até que se pareciam com uma advertência ominosa. Ela é tua. Colin não pôde evitar adicionar o que sabia que era verdade. Ela era dele. Dele para protegê-la. Dele para perdê-la.


CAPÍTULO 20

“Como um baile, cada cortejo tem passos que devem levar-se a cabo até sua conclusão. Mas o baile deve concluir eventualmente, Charles. Dá-se conta disto, não é assim?”

A marquesa viúva de Wallingham ao seu filho, Charles, ante seu desejo rápido de dar a certa viúva tempo para recuperar seu afeto anterior.

Casado. Ele estava casado com Sarah.

Colin balançou a cabeça e tomou um sorvo de chá, deixando que seus olhos descansassem onde invariavelmente se pousavam, nela. Sarah conversava com Jane perto das janelas do salão da Casa Clyde-Lacey. Cabelo de mel com pérolas e um vestido prateado, rico em bordados brancos, resplandecia à luz do dia. A neve do exterior emitia um brilho da mesma cor que seu vestido.

Durante a maior parte de sua existência Colin tinha acreditado que nunca estaria disposto a colocar grilhões. Tinha pensado que o matrimônio era uma armadilha, ou ao menos desaconselhável para um homem que saboreava ser o soberano em sua própria vida. Mesmo horas depois da cerimônia teve dificuldades para conciliar sua visão anterior com sua satisfação atual.

— Me alegro por ti, Colin. Você e Sarah encontrarão muita felicidade juntos; estou segura disso.

Voltou-se para sua irmã, que estava sentada ao seu lado no sofá de veludo azul escuro. Vitória, que lhe tinha estado provocando cada vez mais desde sua confrontação, dirigiu-lhe um sorriso afetuoso.

— Sempre que não coloque minhocas em suas sapatilhas, é claro.

Ele riu.

— Só foi uma vez, Tori.

— Mmm. Mas memorável.

Rindo, pôs sua xícara na mesa baixa em frente a eles e logo se esticou para apertar sua mão.

— Obrigado por seu conselho, ao final foi persuadida por um cavalo ferido, mas suspeito que as flores e a segurança sentaram as bases para seu consentimento.

— Um bom cortejo sempre é um excelente começo, apesar da minha própria experiência.

Atherbourne se aproximou e estendeu a mão à sua esposa lhe dizendo que deviam ir para Wyatt House antes que a neve aumentasse. Vitória ficou de pé e Colin fez o mesmo antes que ela se voltasse para ele. Apoiou uma mão em seu braço e beijou sua bochecha.

— Desejo a ambos felicidade, irmão — disse, seus olhos azuis esverdeados brilhando suspeitosamente .

Colin assentiu.

— Obrigado, Tori. Agora, seja um amor e trate de não se converter em um regador.

Ela aspirou, riu e lhe deu um golpe brincalhão antes de afastar-se para despedir-se de Jane e Sarah. Atherbourne permaneceu em seu lugar, dando ao Colin um olhar duro. Logo o sombrio visconde estendeu sua mão, surpreendendo ao Colin até suas botas. Ele aceitou o gesto sentindo uma forte pressão dentro de seu peito, sentindo um lugar vazio de escuridão absoluta receber mínimo brilho de luz.

— Isto não é o perdão, Lacey — o outro homem disse em voz baixa. — Quero que saiba que duvido que alguma vez possa perdoar completamente o que fez.

Colin engoliu saliva e assentiu, liberando a mão de Atherbourne.

— Entendo.

— Entretanto, vejo uma mudança em ti, e por essa razão desejo-te o melhor em seu matrimônio. — Deu-se a volta antes de lançar um último pensamento sobre seu ombro. — Trate de não estragar isso.

Atherbourne e Vitória partiram pouco depois, e Eleanor se retirou cedo à sua habitação para escrever aos seus amigos em Keddlescombe sobre os detalhes das bodas, deixando Harrison e Jane sozinhos na habitação com Colin e Sarah.

— Harrison, — Jane disse alegremente — acredito que é hora de nos retirarmos, foi um dia formoso, mas estou bastante cansada.

O duque franziu o cenho e abriu seu relógio de bolso.

— Ainda não são cinco horas.

Jane olhou ao Colin, logo à Sarah, que estava olhando a neve cair sobre Berkeley Square, e finalmente, entrecerrou os olhos em seu marido.

— Sabe que recebi uma entrega ontem?

Harrison piscou.

— De que?

— Luvas, vários pares, estava pensando que deveria prová-los e me assegurar que encaixem à perfeição, que são ajustadas e prazerosas em minhas mãos.

A conversação junto com a repentina cor avermelhada e a respiração acelerada de Harrison estava começando a fazer com que Colin se sentisse terrivelmente incômodo.

— Deveríamos nos retirar — Harrison disse bruscamente, colocando sua mão na cintura de Jane para empurrá-la para as portas da sala de estar. — Imediatamente .

Sem outra palavra, o casal deixou Colin e Sarah sozinhos, fechando as portas atrás deles. No silêncio, o fogo crepitava, o suave som do vento soprava mais à frente do cristal, e o pulso de Colin soava mais rápido em seus ouvidos.

«Minha esposa — pensou olhando o delicado pescoço branco de Sarah. Suas pérolas jaziam ali como um convite. — Ela é finalmente minha»

Toda a luxúria e a antecipação que tinha estado reprimindo durante semanas se tinham acumulado como nuvens de tormenta, pesadas e grossas, agitando-se dentro dele. Sua virilha se esticou, endureceu e pulsou trovões de advertência. Suas razões para casar-se não significavam nada para essa parte tão dura dele. Tudo o que queria era ela e, no momento, sua mente estava igualmente consumida.

— É formoso — murmurou olhando delicados flocos brancos cair e reunir-se em uma curva ao longo da base da janela. — Nunca vimos muita neve no povoado, gosto bastante.

Empurrado para ela por uma força irresistível, aproximou-se deixando que seu nariz se pousasse em sua têmpora. Respirando-a, acariciou os suaves braços e entrelaçou seus dedos com os dela, flores silvestres e mel encheram seus sentidos até que esqueceu por completo onde estava. Tudo o que conhecia era ela, seu aroma, sua pele suave, foi então que o sentiu, o tremor. Ela estava nervosa.

— Não se preocupe, doçura.

Ela ficou rígida em seus braços.

— Não estou, estou bem.

Ele sorriu.

— Em comparação com o que? Está tremendo.

— É o frio.

Acariciou-lhe o pescoço justo por cima de suas pérolas.

— Talvez necessite de algo para te esquentar.

— Sim — ela disse antes de limpar sua garganta. — Um banho, pedi que se prepare um.

— Para nós? Sua inteligência é sua qualidade mais atrativa, doçura. Além de seu cabelo. E sua pele. E sua...

— Para mim. Eu... deve me dar um momento, Colin, para me preparar.

Queria gemer, queria levantá-la em seus braços e levá-la à cama. Sem banho, sem demora. Só uma corrida precipitada à posse. Mas controlaria a si mesmo, maldição. Ele o faria, ela merecia todas as suas considerações depois de tudo o que tinha suportado por seu bem.

— Muito bem — disse afastando-se de sua tentação. — Vá desfrutar de seu banho, irei a ti dentro de uma hora.

Assentindo, negando-se a encontrar-se com seus olhos, saiu correndo da habitação, deixando-o só com seus pensamentos e luxúria. Passou-se uma mão pelo cabelo, passeando ao longo da habitação sem ver nada, seu olhar vagou sobre a cadeira vermelha favorita de sua mãe, logo seu retrato sobre a lareira, logo as janelas onde a neve seguia caindo em meio à escuridão da noite. Enquanto suas pernadas longas e impacientes comiam o piso, os pensamentos em Sarah invadiam seus músculos e sua mente.

Ela era dele. Logo lhe pertenceria de todas as maneiras.

«Tua para proteger. — Esse pensamento também se negou a deixá-lo. — Trata de não estragar isso. — Seu ritmo se fez mais lento quando se aproximou do final da habitação em frente à lareira. Ela era sua responsabilidade agora. Sentiu que o peso da mesma pousava sobre seus ombros, uma carga pela qual tinha estado ansioso. — E se lhe acontece algo? — Sua mão pousou sobre a madeira polida, dourada. Era a cor de seu cabelo. — O que acontece se eu falhar? Como marido, como homem. — Seu coração se retorceu ante o pensamento.»

Recordou o olhar de Vitória no passado, quando ela descobriu o que ele tinha feito. Tinha estado aqui, na casa Clyde-Lacey. Atherbourne e Harrison tinham forçado sua confissão, e sua irmã tinha escutado cada palavra, seu coração quebrando-se em frente a ele. Ver tanta angústia e decepção nos olhos de Sarah era impensável. Mas pior era a ideia de que ela poderia ser prejudicada. Por sua culpa.

Suas mãos postas sobre a rica madeira cor mel vacilou, dando-se conta que o pianoforte era da mesma cor que seu cabelo. Alisando a madeira com os dedos, dirigiu-se lentamente para o banco e se sentou ante as teclas.

Então a compulsão se apoderou dele, seus pensamentos se converteram em notas, as notas se converteram em acordes e os acordes em música que já não estaria contida.

~~*~~

Uma hora, havia dito. Tinham sido duas. Sarah apertou o xale ao redor de seus ombros com mais força e suspirou, observando que seu fôlego empanava o vidro da janela de seu dormitório. A janela de seu quarto, ao menos seria deles se alguma vez chegasse.

«Maldição. O que o retém?»

Não houve ajuda para isso. Ela deveria buscá-lo brevemente, examinou seu traje, uma bata de seda de cor damasco e renda creme. Seu útil xale de lã era só para esquentar, mas lhe dava um grau adicional de modéstia. Debatendo só um momento, rapidamente colocou um par de sapatilhas e colocou a cabeça pelo corredor.

Estava tranquilo, exceto... ela podia escutar música. Música maravilhosa.

Encontrou-o onde o tinha deixado, no salão. Fechando as portas de painéis brancos atrás dela, ficou olhando seu improvável marido curvado sobre as teclas de um formoso pianoforte, com os olhos fechados, fosse em agonia ou êxtase.

Sua melodia era exuberante, complexa, os acordes mais baixos eram turbulentos e retorcidos, as notas superiores muito doces. Seu próprio coração palpitava enquanto escutava, sabendo que não havia partituras, nenhum outro compositor. Surgindo de Colin, a melodia se elevou no ar como uma tormenta, uma cascata de notas escuras, agitadas e profundas. Gradualmente suavizou-se como o padrão de chuva sobre no guichê de uma carruagem. Quando se voltou, tão sensual como a luz do sol de outono, tão rítmico como as ondas em uma orla, encontrou-se movendo-se para ele como se estivesse atada por uma linha longa e lustrosa que a puxava, puxava e a impulsionava para frente.

Mal recordava ter cruzado a habitação, não recordava ter decidido envolver seus braços ao redor de seu pescoço por trás, fechar os olhos e passar os dedos pelo encaracolado cabelo dourado. A canção gaguejou com seu primeiro toque, seu corpo sacudindo-se surpreso por sua audácia. Ela pôs seus lábios ao longo de sua dura mandíbula, esfregou seus seios contra suas costas para satisfazer uma necessidade que só aumentava mais. Seu cabelo caiu para frente para lhe escovar o rosto, rodeando-os com o aroma de seu sabão.

Seus ombros se agitaram com respirações pesadas, suas notas cessaram até que só ficava seu eco.

— Sarah — se queixou. Finalmente, girou-se no pequeno banco, agarrando sua cintura e puxando-a entre suas coxas lhe tirou o xale dos ombros, atirando-o com impaciência.

Fixando seus acalorados olhos azuis sobre seus mamilos suplicantes, ele apertou seu agarre em sua cintura, seus dedos pressionaram um pouco antes de aproximar-se e aproximá-la mais. A pele de sua testa e maçãs do rosto se esticou, ruborizando-se.

A cabeça caiu para diante como se não tivesse força para mantê-la erguida, seu rosto se pousou entre seus seios, seu fôlego esquentou a seda de damasco. Suas mãos começaram um deslizamento sensual sobre seus quadris e suas nádegas, pressionando e apertando, forçando seus quadris mais perto de seu corpo. Seus lábios acariciaram um duro e dolorido mamilo através da seda, forçando um grito afogado em sua garganta pela quebra de onda de fogo. Então, sua boca se abriu sobre a protuberância, desenhando-o e fazendo com que se retorcesse. Ela se arqueou para ele e gemeu seu nome. Sugou durante longos minutos antes de retirar-se para tirar a seda. Ela pensou que escutou o delicado rasgado do tecido, mas para então, não lhe importava nem um ápice, não com sua boca, tão quente como o fogo, chupando e trabalhando sobre seus mamilos nus. Primeiro um, logo o outro, suas pernas se debilitaram até que o único que evitou que se paralisasse aos seus pés era o forte agarre em sua cintura. Ele se aferrou a ela, envolveu seus fortes e inflexíveis braços ao redor dela, chupou, mordiscou e deu prazer aos seus seios. Suas mãos caíram à saia de sua bata, puxando a seda para suas pernas até que pôde agarrar suas coxas com suas mãos magras e fortes.

Uma dessas mãos desapareceu brevemente para desabotoar as calças. A outra se deslizou entre suas coxas, incentivando-a a que as abrisse, acariciando a tenra carne que a rodeava e a fez ofegar.

— Colin, por favor — ela suplicou apoiando as mãos em seus ombros, olhando fixamente seus olhos azuis, sentindo seus dedos acariciar, invadir e deslizar-se dentro, onde nenhum homem havia tocado.

Ele não disse nada, seus seios estavam inchados por seus cuidados, seus lábios separados em respirações ofegantes. Lentamente retirou um dedo de seu interior, só para retornar com dois. Logo enganchou esses dois dedos para frente, pressionando a parede de seu núcleo e usando-os para aproximá-la mais de uma poderosa e dolorosa explosão de necessidade. Explorou de um ponto dentro de seu corpo, privando-a de fôlego, de qualquer habilidade para resistir. Ele poderia ter o que quisesse se só fizesse isso outra vez. Ela caiu contra ele, soluçando, seus braços se envolveram ao redor de seu pescoço, seus pulmões se encheram de sândalo e o delicioso aroma de sua pele.

Quando ele retirou os dedos ela protestou, mas ele sacudiu a cabeça e voltou a agarrar suas coxas, forçando primeiro um de seus joelhos e logo a outra a dobrar-se, as colocando junto aos seus quadris no banco. Ela se sentou escarranchada em seu regaço agora, seus lábios roçaram os dele, suas mãos acariciando suas bochechas.

Sua língua se deslizou em sua boca, o sal e o persistente sabor do chá tão intoxicante para ela como o ponche de rum. Entre suas coxas sentiu um calor, algo contundente acariciando suas dobras. A suave ponta se umedeceu em seus sucos antes de empurrar e separar, procurando um lugar dentro dela.

Umas mãos fortes se apoderaram de seus quadris firmes e sensuais, seus lábios comeram os seus, uma quente pressão se formou onde suas dobras, deram passo para lhe permitir a entrada ofegando. Conteve o fôlego quando ele empurrou, logo soltou em um gemido quando a ardência se converteu em uma dor aguda. Suas mãos em seus quadris a baixaram brandamente. Seu firme impulso para cima lhe roubou todo o ar nos pulmões. Afundou-se completamente dentro dela, a pressão brusca era um prazer insuportável e uma dor estranha.

A mão enredada em seu cabelo atraiu-a para seu beijo. Seu braço ao redor de sua cintura controlava um novo ritmo enquanto lentamente se deslizava para fora e dentro, o calor e a fricção não eram familiares, mas de algum jeito era magnífico.

Seus mamilos se pressionaram e se esfregaram contra sua camisa, enviando sensações impactantes através de seu corpo, seus ofegos de prazer se converteram em um sorriso quando se deu conta que não se tirou a roupa. Nem sequer seu lenço.

Empurrando suficientemente forte para sacudir-se, ele expulsou qualquer pensamento de diversão de sua cabeça. Qualquer pensamento absolutamente, realmente só estava ele dentro dela. Impulsionar, bombear, mover e deslizar no interior gentil. Estava provocando uma tormenta elétrica que queria desesperadamente liberar-se, explorar e lavá-la em um dilúvio. A intensidade cresceu e se reuniu, agitando-se e rodando, seus quadris agora captavam seu ritmo, agora se movia mais rápido e empurrava mais forte.

— Por favor, Colin — suplicou de novo, arranhando seu casaco de lã, agarrando a roupa sobre seu pescoço musculoso. — Necessito...

Mesmo assim, não disse nada, deixando que suas ações comunicassem seus desejos, uma mão arrancou a seda de onde se uniam e passou seus nódulos sobre suas dobras antes de deixar que seu polegar se assentasse. Ali, no centro de cada sensação prazerosa, a acariciou com um ligeiro toque deslizante.

Deslizando. Deslizando. Deslizando. Pressionando e bombeando.

E seu corpo foi capturado por um raio, grandes ondas de implosão ardente. Ela soluçou seu nome, sentiu que sua boca se abria e sugava onde seu pescoço se encontrava com seu ombro, a acariciou, e empurrou até que um raio vaiou através de cada nervo e fibra até que as ondas se uniram e converteram o mundo inteiro em uma faísca brilhante e pulsante.

Seus impulsos se fizeram mais profundos e agudos, suas mãos freneticamente agarraram seus quadris. Bombeou e empurrou até que ela o ouviu gemer seu nome. Uma vez. Duas vezes. Logo ele deu um forte e final impulso, e ela sentiu que os músculos de seu pescoço endureciam até converter-se em pedra debaixo de suas unhas, sua voz chiava em um agonizante prazer. Gritando seu nome, apertou-a com mais força, seus dedos pressionando, seu corpo palpitou dentro dela, liberando-se dentro dela, até que juntos, regozijaram-se na culminação da tormenta.


CAPÍTULO 21

“Meu querido Humphrey, você é o único que me entende.”

A Marquesa viúva de Wallingham ao seu acompanhante.

— Ela está positivamente louca por ele. — A voz de Jane era divertida e absolutamente zombeteira. — Bom, talvez só um pouco. Ela não fala de nada mais que quão bonito é, quão inteligente é, o bem-educado. Fazem longas caminhadas na neve e passam horas abraçando-se ao lado do fogo. Abraçados! — Ela soprou e balançou a cabeça. — Pode imaginar?

Com uma mão sobre seu ventre Vitória riu sem poder fazer nada.

— Oh, deve parar, não posso... oh, é muito!

— Acredito que é muito bonito que tenha encontrado uma companhia que desfruta — disse Eleonor de uma das cadeiras de veludo verde da sala. Ela sorriu às duas mulheres, mas parecia desconcertada por sua risada.

Jane levantou um dedo.

— Escutem isto: Suas orelhas não penduram tanto como preferiria, entretanto, encontro esse pequeno defeito íntimo. A perfeição é, depois de tudo, uma forma de banalidade, nada é tão tedioso como a banalidade.

As lágrimas corriam por suas bochechas, Vitória lutou por controlar sua risada, o que fez com que Eleonor e Sarah se unissem.

«Sarah — pensou Colin, encontrando sua atenção fixa nela, como era quase constantemente».

Sentada junto a ele no sofá de mogno e seda, sua esposa riu junto com as outras damas antes de voltar para sua costura. Com o Natal a duas semanas de distância, ela tinha começado a elaborar uma pequena colcha para o filho pequeno de Vitória, Gregory. Suspeitava que era simplesmente um dos vários projetos planejados, já que ela passava grande parte de seu tempo livre com uma agulha na mão e o resto era, naturalmente, em sua cama.

Respirou fundo e uma vez mais tratou de concentrar-se na nota que tinha recebido nessa mesma manhã, mas seus olhos não queriam ver as palavras. Desejavam ver os cachos de mel estendidos sobre um travesseiro, um olhar doce que se aferrava ao seu enquanto empurrava dentro de sua apertada e úmida cavidade. Desejava ver como seus lábios se separavam surpreendidos quando o êxtase chegava.

— Para ser claros, estamos falando de um cão sim — esse era Harrison, emergindo brevemente do The Times.

— Não deixe que Lady Wallingham te ouça referir-se ao Humphrey dessa maneira — disse Jane. — Para seus olhos ele é seu melhor companheiro.

Ainda recuperando-se de sua risada, Vitória tirou um lenço da manga e secou as bochechas.

— Depois de tudo seus elevados protestos sobre a inutilidade do cão pulgoso.

Colin deixou que o bate-papo se desvanecesse ao seu redor e absorveu em silêncio a mensagem de seu contato do Escritório Central. A nota sem assinar se enrugou com a pressão de seus dedos.

“Cinco objetivos tomados desde a semana passada. A missão se aproxima de seu fim. Syder se desespera e intensificou o jogo. Aumente sua vigilância”.

Sua vigilância. Com o peito apertado e ardendo, olhou à Sarah. Casaram-se fazia tão pouco tempo, mas ele já não podia imaginar sua vida sem ela. A tranquila e sensata Sarah, a obstinada e enlouquecedora Sarah. A amadurecida e sensual Sarah. A amável e desinteressada Sarah. Sua formosa mulher.

Se alguma vez a tirassem sua vida terminaria. Era simplesmente assim.

Suspirou e passou uma mão pelo cabelo.

«Ela é tudo o que importa — pensou. — Não posso permitir que ninguém a machuque. Especialmente eu.»

— Colin — Sarah disse em voz baixa. — O que aconteceu? Parece angustiado.

Baixando seu olhar brevemente à nota enrugada em sua mão e logo olhando a colorida colcha, perguntou-se como ia protegê-la quando ela insistisse teimosamente em aventurar-se fora da Casa Clyde-Lacey. Ela argumentaria que ele não a escolheu para confiná-la, mas isso era irrelevante, tinha assuntos importantes que atender, não excursões pela roupa de cama em Pall Mall.

Talvez se ele a ocupasse mais a fundo estivesse muito esgotada para desafiar seus desejos. Notou que sua suave e pálida garganta se agitava enquanto engolia . O pensamento tinha mérito. Se ela estivesse em sua cama, ofegando e retorcendo-se debaixo dele, então não podia estar em perigo.

— Vem comigo — ele murmurou, de pé e esperando que ela se levantasse.

Olhou para baixo à sua costura, logo voltou a olhá-lo, seus grandes olhos dourados piscavam com consternação.

— Por quê?

Ele suspirou.

— Deve questionar tudo? Tenho algo que discutir em privado.

A contragosto ela recolheu sua costura e o seguiu para fora do salão, subindo as escadas até seu dormitório. Ela colocou a colcha dentro da cesta perto de sua cadeira de leitura e lhe franziu o cenho.

— Muito bem. O que está mal? Esteve decididamente mal-humorado esta manhã.

— Não quero que saia de novo sem minha permissão, entendeu? — Seus braços magros cruzaram-se debaixo de seus deliciosos seios.

— Não, temo que não.

— É óbvio que sim. Simplesmente está sendo obstinada.

Um dedo começou a golpear contra seu cotovelo.

— Atualmente cada vez que passo além da porta principal estou rodeada de um exército de lacaios altos e fortes.

Seu estômago ardia, suas mãos se curvavam aos lados.

— O que quer dizer com “fortes”?

— Syder?

— Sou seu marido.

Ela levantou uma sobrancelha e golpeou mais rápido.

— Sim. Parece que lembro algo disso, promessas em uma igreja ou algo assim.

Ele não apreciava seu sarcasmo, entretanto assentiu.

— Assim é — Deveria deixar de dar-se conta de quão “fortes” eram os lacaios e obedecer o seu marido. Estava nos votos que haviam dito um ao outro.

Certamente isso significava algo.

Seus olhos se estreitaram sobre ele, seus lábios se curvaram apertando-se.

— Sabe, muito antes de nos casarmos, dirigi minha vida com certa habilidade e competência. Inclusive tomei minhas próprias decisões sobre onde ir e com quem. — Seus olhos brilharam com mais sarcasmo. — Bastante impactante, quando o considera. Sarah Battersby, uma humilde mulher, sem marido, que usa sua pequena mente de pomba para ir de um lugar a outro sem contratempos!

— Me acredite, sou muito consciente de sua inclinação por cuidar-se e ordenar os outros ao seu gosto.

Algo parecido à dor apareceu em seu rosto, mas desapareceu antes que ele pudesse decidir se realmente o tinha visto.

— Só fiz o que tinha que fazer.

Dirigiu-se para ela, detendo-se a um pé de distância. Queria tomá-la em seus braços, mas nesse momento ela não parecia receptiva ao seu afeto.

— Sei — disse em voz baixa. — Mas agora me tem para cuidar de ti. Não pode aceitar que estou preocupado por seu bem-estar e desejo evitar que sofra danos?

Aquele dedo golpeou a um ritmo mais rápido contra seu cotovelo vestido de negro.

— Está em perigo tanto quanto eu, ou mais, em realidade. — Seus olhos se voltaram em um brilho calculista. — Se crê que o risco para mim é muito grande, aceitarei seus desejos. Sempre que seguir meu exemplo.

Aproximou-se mais.

— Maldição, Sarah, casei-me contigo para te proteger, desejaria que me permitisse isso.

O anterior brilho de dor retornou, desta vez assentando-se e fazendo-a empalidecer.

Suas vísceras se retorciam ante a visão. Inferno sangrento. O que havia dito? Ele só desejava protegê-la. Causar sua dor era precisamente o contrário de seu propósito.

— Minha oferta segue em pé — disse em voz baixa. — Pode provar a seriedade de sua advertência em ti mesmo. — Sua postura era rígida, seu queixo levantado em desafio.

Como se tinha metido nisto? Passando uma mão pelo cabelo e apoiando a outra em seu quadril, murmurou: — Sou um marido terrível.

Um pouco da rigidez deixou seus ombros e franziu o cenho.

— Não, não é.

Ele soprou.

— Sim, sou.

— Não.

— Sim.

— Colin.

— Já a fiz infeliz depois de uma semana.

Seus braços cruzados se desdobraram.

— Ao contrário, eu estou muito contente.

— Contente.

— Satisfeita.

— Está referindo-se a todas as vezes que te fiz...

Limpou garganta e arqueou as sobrancelhas em sinal de advertência.

— Estou falando em geral.

Aproximando-se mais até que nada os separou mais que seu aroma de flores silvestres, Colin baixou a cabeça e a voz.

— Está segura disso?

Sua única resposta foi várias respirações ofegantes, uma separação de lábios e um rubor de pele. Correu um nódulo ligeiramente desde sua mandíbula até a pequena marca na base de seu pescoço.

— Porque, se souber que sua satisfação diminuiu um quarto, não cessarei meus esforços até que cada centímetro seu esteja saturado de... satisfação.

Ela deu um pequeno gemido na parte posterior de sua garganta. Então agarrou seu rosto entre suas mãos e o atraiu para seu beijo. Sua boca doce se abriu contra a dele, procurando sua língua. Ele alegremente o fez, envolvendo-a em seus braços e tomando o controle.

Tinha tido muita prática despojando-a de sua roupa durante a semana passada.

Rapidamente pôs suas habilidades a trabalhar, desatando, desatando, descobrindo a sua bela esposa. Logo a levantou, amando a sensação de seus braços pegos ao seu pescoço, e a pôs brandamente sobre a cama. Antes de retirar-se por completo, deixou que suas mãos se detivessem em sua pele, acariciando sobre a carne cremosa e os mamilos duros de cor canela.

Seu gemido ofegante avivou a necessidade, endurecendo seu pênis tão intenso e rapidamente que lhe preocupava não ter paciência para atendê-la adequadamente, como desejava fazer.

«Controlá-lo-ei — jurou em silêncio. — Devo fazê-lo.»

Estava se convertendo em um padrão familiar, a primeira vez que fizeram amor não pôde dizer nada mais que seu nome. O fogo entre eles, literalmente, o havia deixado sem palavras, como um animal escravizado. Com outras mulheres ele sempre havia sido brincalhão e zombeteiro, com Sarah, sua obsessão era tudo além de si mesmo.

Mas se ele desejava ocupar sua mente e excluir todo o resto, incluídos os pensamentos de desafiar seus desejos, então devia concentrar-se só em seu prazer.

Respirando profundo e lentamente para acalmar seu corpo, ele cuidadosamente tirou a roupa e logo retrocedeu lentamente para a penteadeira.

— Colin — ela protestou, retorcendo-se contra a cama para apoiar-se sobre seus cotovelos.

O movimento empurrou seus seios redondos e formosos para diante.

— Não pode ir. — Sua voz era severa e exigente.

Baixou o olhar ao seu pênis completamente ereto, voando alto e avermelhado pela necessidade, logo lhe sorriu.

— Parece que vou a alguma parte, doçura? — Recuperou o que tinha estado procurando em sua penteadeira e retornou ao seu lado. Arrastando o extremo do fio de pérolas desde o oco de seu pescoço através de seu seio e ventre, deixou que as pedras brincassem no arbusto de cachos de mel em seu centro. — Além daqui, é claro.

Respirando com dificuldade, com os olhos dilatados, desabou-se sobre o travesseiro e ofegou: — Bom, seja rápido.

— Hmm — pronunciou enquanto se deitava ao seu lado, colocando uma de suas pernas entre as dela e apoiando o cotovelo junto à sua cabeça. Imediatamente, ela estendeu suas coxas, antecipando que ele aceitaria a sua demanda. — Talvez não muito rápido, professora.

Franziu o cenho quando ele arrancou as forquilhas de seu cabelo e estendeu os deliciosos cachos onde suas mãos podiam agarrá-los adequadamente.

— Professora? — Ela perguntou com voz rouca.

Tomou o fio de pérolas e o esticou ao longo de suas coxas.

— Perguntei-me durante muito tempo como seria receber instruções de ti. — Com um extremo do fio longo ele pressionou brandamente as pérolas entre suas reluzentes dobras, assegurando-se que se aninhassem contra seu nó firme e inchado. Logo, com pequenos e constantes puxões, colocou as pérolas sobre seu montículo, cruzando as planícies de seu ventre como um explorador, deixando que as pedras se arrastassem e pulsassem contra o pequeno centro de seu prazer. Um grito longo e agudo se afogou em sua garganta. Seus quadris se retorceram contra o colchão. Suas mãos arranharam a colcha e logo o travesseiro debaixo de sua cabeça.

— Logo descobriremos quanto tenho que aprender. — Continuou arrastando as pérolas para cima até que tocaram seu mamilo. Continuou puxando, agradando também aquelas pontas apertadas e enrugadas. Primeiro um, logo o outro, roçando as pérolas ao longo de suas curvas.

Finalmente, o extremo posterior do fio deixou suas dobras, soltando com um pequeno puxão, e ele levantou o colar para cobrir seu pescoço duas vezes. — Me diga, professora. Me diga o que quer.

Uma chama de mel se encontrou com seus olhos.

— Você.

Deu-lhe um sorriso malicioso.

— Isso é tudo?

— Dentro de mim, agora — ela grunhiu.

— Sim, senhora Lacey.

Sempre o aluno obediente, ele se aproximou dela e se meteu em seu calor escorregadio, empurrando forte e alto. Ela gemeu e aferrou-se ao seu cabelo, sua cavidade tremendo ao seu redor, ajustando-se à sua rápida invasão.

— Isso está melhor?

— Oh, Colin — ela gemeu. — Mais. Por favor.

Deu-lhe o que lhe pediu, empurrando seus quadris, enterrando seu rosto contra seu pescoço, onde as pérolas jaziam perfumadas com seu mel de flores silvestres. Provou a elas e a sua pele, passando sua língua pelas superfícies lustrosas até que ficou embriagado. Embriagado dela.

Sentiu que a acumulação de sua liberação se construía com cada forte golpe. Onde suas pernas se envolveram ao redor dele e seus calcanhares se cravaram na parte baixa de suas costas, enroscou-se e se estendeu, centrado em seu pênis. De repente, ela se aferrou a ele, arranhou-lhe os ombros e gritou seu nome com uma voz que quase havia desaparecido. Bombeou mais forte através de seus espasmos, mantendo sua intensidade o maior tempo possível antes que seu próprio clímax não pudesse ser contido por mais tempo. Com três embates finais soltou-o e perdeu todos os fios de si mesmo em suas profundidades.


CAPÍTULO 22

“Obviamente, uma esposa deve obedecer o seu marido em todos os assuntos importantes. Se continua acreditando que suas admoestações são suas próprias ideias, muito melhor”.

A Marquesa viúva de Wallingham à Lady Atherbourne em uma carta cheia de sábia sabedoria.

Ao ver Caroline Thurgood servir o chá no salão de cortinas vermelhas do senhor Thurgood, Sarah sentiu uma pontada de mau pressentimento. Ela engoliu e aceitou a xícara de sua ex-aluna. Talvez mais que uma pontada.

Ele se enfurecerá, ela castigou a si mesma, só um dia depois de que lhe pediu, muito bem, ordenou-lhe que ficasse em sua casa, simplesmente tinha que visitar a senhorita Thurgood.

A menina a tinha convidado a tomar o chá em sua casa na Grosvenor Street, duas casas longe de onde residia a família de Jane durante a temporada. Como se encontrava a minutos de uma rua tranquila de Berkeley Square, ela tinha raciocinado que a saída era o equivalente a permanecer dentro dos muros da Casa Clyde-Lacey. Suficientemente perto, em qualquer caso.

Além disso, o próprio Colin tinha ido ao White's sozinho esta manhã, dizendo que tinha um assunto importante para atender e as outras damas da casa tinham ido comprar livros, levando os numerosos lacaios. Se lhes permitiram aventurar-se além das portas da fortaleza designada do Colin, certamente ela também poderia. Sarah suspirou, sua lógica era sólida, mas estava bastante segura de que sofreria uma grande quantidade de desgosto por parte de seu marido à sua volta, especialmente porque só levou dois lacaios e o cocheiro.

Tinham sido tudo o que estavam disponíveis.

— A escola está em Bath — disse Caroline, com um brilho de emoção em seus olhos. — Muito respeitável. Pensei em você imediatamente, senhorita Battersby.

Sarah haveria dito à Caroline que já não era a senhorita Battersby, mas a menina não havia deixado de conversar desde a chegada de Sarah. Talvez devesse ter passado um pouco mais de tempo explicando as virtudes da restrição coloquial.

— O diretor é um vigário, como seu pai. Escreveu a papai a respeito de sua necessidade simplesmente desesperada para ter uma governanta no manejo da casa, e papai a mencionou no café da manhã e, bom, aqui estamos! — A menina tomou um sorvo de seu chá, suas pestanas formando sombras em suas bochechas. Então ela sorriu amplamente. — Tenho uma carta na qual o Sr. Lawson descreve os requisitos e a compensação é uma posição maravilhosa para alguém de seus talentos, quer dizer, se ainda não encontrou um trabalho.

Era uma posição maravilhosa, ideal para ela em todos os aspectos, de fato, sentiu um tipo peculiar de arrependimento por não ter estado disponível há dois meses, sem dúvida o faria. Ela poderia haver se mudado à Bath com sua mãe, talvez alugar uma casa pequena. Colin Lacey teria sido simplesmente uma triste lembrança de outono. Em troca, agora era seu marido e ela sua esposa. Era estranho como o destino conduzia a um por certos caminhos e fechava para sempre outros.

Limpando sua garganta com delicadeza, Sarah pôs sua xícara no pires e abriu a boca para responder.

— Oh! Parva de mim, quase esqueci — Caroline continuou. — É a mesma escola à qual Lydia, a senhorita Cresswell, irá na primavera. Isso não seria adorável? Lydia lhe quer muito, senhorita Battersby.

— Lady Colin Lacey.

As pestanas longas se deslizaram para cima e para baixo em uma rápida piscada.

— Rogo-lhe, me desculpe.

Sarah deu a Caroline um sorriso amável e repetiu: — Agora sou lady Colin Lacey. E não a senhorita Battersby. Casei-me desde a última vez que me viu. Me perdoe por não dizer à minha chegada.

— Oh! — A surpresa se converteu em confusão. — Mas pensei, estava segura que seu nome era Sr. Colin Clyde. Estou-me equivocando?

Ela sacudiu sua cabeça, a necessidade de explicar por que ela tinha participado de um engano foi uma das razões de sua reticência.

— As lesões de Lorde Colin não foram causadas por ser jogado de seu cavalo, tinha sido atacado por um criminoso perigoso quando chegou em Keddlescombe, temia que o vilão pudesse inteirar-se de sua presença e possivelmente segui-lo com a intenção de lhe machucar mais. Para proteger a mim e a todos os que estavam na aldeia, usou um nome falso.

Caroline ofegou e se tampou os lábios com os dedos.

— Que chocante e galante. Oh, você é tão afortunada, senhorita... quero dizer, lady Colin. Ele realmente era bastante descarado, estou segura ainda mais agora que se curou corretamente.

— Bobagem. — Sarah sorriu, recordando o dia e a noite anteriores quando ele a havia agradado com tanta diligência que se esqueceu de seu próprio nome. — Sim. Bastante.

Meia hora depois, ela e Caroline estavam se despedindo no vestíbulo. Atando a fita de seu chapéu, Sarah disse: — Terá um êxito maravilhoso em sua estreia, senhorita Thurgood, não tenho uma só dúvida.

— Obrigada por dizê-lo, Lady Colin. Talvez nos vejamos durante a temporada.

Sarah sorriu e murmurou um neutro: "Mmm". Em realidade, não sabia onde estaria na primavera. Colin tinha declarado explicitamente que só se casara com ela para protegê-la. Ela, por outro lado, casou-se com ele porque não podia suportar separar-se dele. O que aconteceria quando terminasse a crise com o Syder? Desvaneceria o interesse de Colin? A dó e a caridade não podem durar muito tempo, depois de tudo.

Caroline recolheu uma carta sem selar da bandeja de cartões de visita em uma mesa de mogno ao lado da porta.

— Tinha a intenção de lhe dar isto, a carta do senhor Lawson, é bem-vinda, é claro.

— Certamente não a necessitarei. — A menina riu.

— Imagino que não, é uma dama agora. Sinto que deveria fazer uma reverência.

Sarah olhou o papel dobrado em sua mão. Uma parte dela queria aceitá-lo, guardá-lo se por acaso. Outro queria declinar, acreditar nele, em seu matrimônio. Viu como Caroline o colocava de novo na bandeja.

— Não precisa de uma reverência, asseguro-lhe isso. Obrigada pelo convite encantador , senhorita Thurgood.

— Foi um prazer, Lady Colin.

Lá fora, esperando que a carruagem saísse das cavalariças, Sarah respirou o ar invernal e se perguntou se possivelmente estava cometendo um engano. Certamente não faria mal levar a carta com ela. Olhou à sua esquerda.

— Thomas — disse em voz baixa ao lacaio alto e de cabelo castanho. — Eu... parece que esqueci algo. Faria a gentileza de recuperá-lo para mim?

Ele discutiu por um momento, afirmando que seu dever era ser sua sombra, mas ela explicou que estaria sozinha por menos de um minuto. A contragosto, ele obedeceu, advertindo-lhe que "permaneça aqui até que eu volte, por favor”. Nos segundos que se foi, o cocheiro finalmente puxou a carruagem para a rua e se deteve justo diante dela, franziu o cenho enquanto focava na porta, notando que o brasão do Duque de Blackmore não estava presente, do mais peculiar.

Então, abriu-se. Uma faixa dura rodeou sua cintura e apertou até que todo o ar saiu de seus pulmões, elevou-se para cima até que seus pés abandonaram o chão e suas costelas foram esmagadas sob a pressão.

Ela não podia respirar, não podia entender. Seus pulmões arderam e suas pernas chutaram, encontrando-se só com botas de couro duro. Foi meio jogada, meio empurrada na carruagem, aterrissando dolorosamente sobre seus joelhos. Sua cabeça se chocou com a parede oposta, a dor aguda explodiu em seu crânio, aturdida e quando começou a ver, lutou por reunir suficiente ar para gritar. Ao longe escutou um grito, mas então a carruagem se movia, as rodas chocavam e rodavam, afastando-a da segurança. O sangue palpitava em seus ouvidos. A dor palpitava dentro de seu crânio.

— Por fim, senhorita Battersby. Uma feliz coincidência, de fato — veio a voz vil de uma serpente.

A comoção lhe provocou náuseas. Ela pensou que havia escapado, já não era sua preocupação. Ela tinha se equivocado.

— Devo dizer que desfruto lhe vendo nessa posição, uma mulher de joelhos tem uma grande quantidade de... intrigantes possibilidades.

Sua necessidade de ar lutou com sua necessidade de vomitar, com ofegos e respirações sibilantes, lutou por levantar-se, apoiando uma mão na parede. Seu chapéu se deslizou para adiante, por isso a aba lhe impedia de vê-la enquanto se levantava finalmente, sentou-se no assento em frente ao homem que desprezava mais que ninguém, com a possível exceção de Horatio Syder.

— Qu... o que acredita... que está fazendo, senhor Foote?

O cabelo penteado com pomada de Felix Foote brilhava à luz da janela. Seu sorriso de dentes marrons era alegre e grotesco.

— Estou ganhando meu prêmio, minha querida senhorita Battersby.

— Estou casada agora. Meu marido lhe matará por isso. — Ela não sabia se era verdade, mas parecia ser o que devia dizer nesta situação.

Sua risada era nasal e alta.

— Seu marido? Seu compromisso foi uma fraude, senhorita Battersby, eu sabia. — Ele golpeou um dedo contra sua têmpora, seus olhos muito pequenos brilhando com triunfo. — Vim a Londres procurar provas, seu sobrenome não é Clyde. Você raspou seus restos depois que o Sr. Syder terminou com ele e o vestiu com a roupa de seu pai.

Enjoada e, entretanto, ouvindo tudo com cuidado sobrenatural, piscou e tirou ar dos seus pulmões doloridos.

— Não importa como começou — disse. — Estamos casados agora. Colin Lacey não permitirá que levem a sua esposa. — Esperava que fosse verdade. Orou para que fosse verdade.

Seu sorriso se converteu em um grunhido.

— Ele é um cadáver. O senhor Syder simplesmente dará um fim ao assunto.

Como se a neve lá fora tivesse encontrado um caminho dentro de suas veias, Sarah se estremeceu e ficou gelada.

— Está aliado com o Syder, assim foi que ele soube que Colin estava em Keddlescombe.

Inclinou-se para diante.

— Temos interesses mútuos — seus olhos viajaram lentamente desde seu pescoço até seu peito, de suas pernas até as costas, permanecendo e iluminando-se até que se sentiu como se os vermes a estivessem comendo de dentro para fora. — O meu é você.

Era toda a advertência que ela tinha antes que ele estivesse sobre ela, rasgando suas saias, deslizando sua boca repugnante através de seu pescoço. Arranhou-lhe o rosto, empurrou-lhe o peito ossudo, gritou até que sua garganta estava destroçada. Mas ele era muito forte. Ele simplesmente agarrou um de seus pulsos e apertou até que ela gemeu de dor. Seu fôlego se deslizava por seu rosto, cheirando a carne podre. Segurando-se e tateando, sua outra mão se apertou em um de seus seios, a agonia provocou que ela gritasse.

— Por cada momento que resistiu a mim, senhorita Battersby, pagará com...

Lutando para escapar, sua bota aterrissou com força entre suas pernas, provocando um grito agudo que recordava um gato estrangulado. Foote se separou dela, liberando-a por fim de seu agarre e seu toque repugnante. Afaste-se. Deve escapar.

Ela se apressou para a porta puxando a maçaneta, agarrou o forro de couro com as unhas que continham a pele de Felix Foote. Abriu a maldita coisa, ela devia abri-la para poder liberar-se.

Voltar para o Colin.

A carruagem se deteve, a porta abriu-se de repente e ali, na frente, estava Horatio Syder com uma cartola em seu cabelo loiro-avermelhado.

E sorrindo em boas-vindas.

~~*~~

O medo tinha seu próprio peso, pulsou, zumbiu, sacudiu e pressionou sobre ele até que todos os nervos gritaram. Queria matar.

— Ela... ela insistiu, meu senhor, só me tinha ido um minuto, pode ser que menos.

Colin não queria escutar mais do Thomas.

— Fora da minha vista — disse em voz baixa, inclinando-se para frente e apoiando as mãos na escrivaninha de seu irmão.

Thomas vacilou, preocupando-se, com seu chapéu em suas mãos.

— Agora! — Rugiu Colin.

Um som surdo da garota ao lado, da posição parada de Thomas atraiu sua atenção.

— Senhorita Thurgood — Colin se esforçou muito por manter sua voz tranquila. Era difícil com o medo pulsando em cada batida do coração. — O que pode me dizer?

— Eu, realmente não... ela esteve ali de visita, Lorde Colin. Tivemos um tempo agradável. Servi o chá.

— Foi raptada.

O rosto da menina se enrugou e seus olhos de longas pestanas se encheram de lágrimas. Ela assentiu, aparentemente incapaz de falar. Seus punhos golpearam a escrivaninha e ele abaixou a cabeça entre os ombros.

— Viu algo? Quando aconteceu?

Quando finalmente falou, sua voz estava estrangulada por sua angústia.

— Estava parada na sala que dá à rua. Quando olhei para fora pensei que vi um homem que reconheci, mas devo ter me equivocado.

Seus olhos voaram para os dela.

— Quem?

— F... Félix Foote.

Suas narinas se alargaram, Colin retrocedeu.

— Está segura?

— Bom, não é por isso que eu...

— Está em Londres?

Ela se mordeu o lábio e assentiu.

— Mas, por que o senhor Foote faria mal à senhorita B? Sempre gostou muito dela. Inclusive insinuou que estavam comprometidos. É claro, ele não sabia que você e ela...

Rapidamente Colin pegou uma pluma e escreveu uma nota.

— Sabe onde se alojou? Ele disse? — Ladrou. Seus dedos se retorceram, seu lábio inferior tremia.

— Knightsbridge, ele alugou uma casa. — Ela deu o endereço, dizendo que o Sr. Foote lhe havia enviado uma carta que o continha.

Aproximou-se da mesa a toda velocidade, passou junto à senhorita Thurgood e abriu a porta do escritório.

— Digby! — Entrou no vestíbulo e voltou a gritar pelo mordomo de cabelo cor de areia.

— Digby! — Não teve que esperar muito. Digby sempre tão eficiente.

— Sim, meu senhor?

Entregou-lhe a nota.

— Que isto se entregue com toda pressa. Urgentemente, entendeu?

— Em seguida, meu senhor.

— E tenha um cavalo selado imediatamente.

Seu coração pulsava com força, mas sua visão era aguda, quase muito brilhante. Subindo as escadas de dois em dois, apressou-se a ir ao seu dormitório e procurou no armário até encontrar a faca, a deslizou cuidadosamente na cintura de suas calças, justo na parte baixa de suas costas. Colocou seu casaco e se apressou a descer ao vestíbulo.

Harrison entrou, tirando o chapéu e sacudindo-o. Deu uma olhada à cara do Colin e empalideceu.

— Quem? — Perguntou.

— Sarah, não passou uma hora.

— Vou contigo.

— Não. Harrison, não posso perder ninguém mais...

Seu irmão lhe lançou um olhar severo e atormentado.

— Não permitirei que enfrente isto sozinho.

Sentindo que tinha sido atingido no peito por um touro, ele assentiu.

— Melhor dizer ao criado que traga seu cavalo de novo. Vamos agora.


CAPÍTULO 23

"Alguns homens merecem morrer".

A Marquesa viúva de Wallingham à Lady Atherbourne em uma carta de excepcional gravidade.

Félix Foote se sentou em frente a ela, em seu salão de Knightsbridge, com as pernas cruzadas e a postura encurvada.

— Você tem a intenção de matá-lo, não? Devo ter garantias.

Syder girou sua bengala entre dois dedos, girando— a em seu lugar no piso de tábuas de madeira.

— Ele morrerá — confirmou em voz baixa. — Depois de um tempo.

A cabeça de Sarah seguia pulsando, fazendo sua visão imprecisa, seu estômago precário. Tiraram-lhe o gorro, por isso a luz do fogo lhe perturbou a visão, causando estranhas sombras e cintilação. Ambos homens falaram como se ela não estivesse sentada entre eles com os pulsos atados às costas e os tornozelos unidos. Sentou-se no chão com as costas apoiadas no sofá onde Syder estava retorcendo sua bengala preta como se tentasse desgastar um ponto da tábua.

Foote se esticou para empurrar uma de suas botas.

— Quero-a, a terei, esse foi nosso acordo. — Sua voz nasalada converteu suas palavras em um gemido. Era difícil ler Syder, e tinha medo de olhar a qualquer dos dois por temor a chamar a atenção, mas devido à mudança no ritmo dos dedos giratórios de Syder ela suspeitava que Foote estava começando a sobreviver à sua utilidade.

— Pode tê-la depois que nosso negócio for concluído, senhor Foote. — As palavras precisas e sem tom deveriam haver advertido à serpente que estava se aproximando perigosamente de um depredador muito mais letal, mas Félix Foote nunca tinha sido da classe intelectual.

— Coloquei-me em muitos problemas — se queixou. — Cortejei a puta por mais de um ano, viajei até Londres para caçar suas mentiras.

A bengala girava mais rápido. Indo e voltando. Indo e voltando.

— Para estar seguro, teve os entendimentos com Lacey e reconheceu o nome de sua mãe quando soube que tinha feito averiguações...

— Senhor Foote — disse Syder. — Estamos na culminação do nosso acordo, agora não é o momento de perder a confiança.

Foote se moveu com cautela em seu assento, ainda doído por sua colisão com seu joelho.

— Meu ponto é que, se não fosse por minha persistência em descobrir a verdade sobre o suposto compromisso da senhorita Battersby, não poderia haver seguido seu rastro até...

A ponta da bengala golpeou duas vezes. Tap-tap. Então, foi brandamente posta a um lado. Observou os polidos sapatos de Syder caminhar casualmente para a cadeira do outro homem.

As pernas do Foote descruzando e estendidas.

— O que você está...

Pernas esperneando, ofegos, um spray de líquido quente, metálico em seu rosto, em seu cabelo, seus olhos estavam fechados. Não era real, alguém estava ofegando, gemendo. Pranto. Desejava que se detivessem.

Não era real.

— Se tranquilize, lady Colin.

Não era real.

— Oh, eu gosto desse título, Lady Colin. — Os sapatos polidos voltaram para o sofá.

A bengala retomou seus movimentos retorcidos.

— Será como matá-lo duas vezes.

Penetrando profundamente, o gelo voltou, ela abriu os olhos, apertou os lábios até que seus dentes se cravaram na suave carne interior, sufocando sua angústia. O sangue gotejava de seu cabelo sobre o corpete de seu vestido, empapando a borda branca no decote. Doíam-lhe os ombros por sua posição incômoda. Seus dentes começaram a chiar.

Um dedo apartou um de seus cachos de sua testa, a mecha de cabelo empapado arrastando-se contra sua pele.

— Sabe, recorda a alguém, ela também tem uma curiosa resistência. Outro golpe, logo o dedo se foi. Encantador, o cabelo encaracolado.

Ela se sentou, tremendo no silêncio, perguntando-se quando a mataria. Perguntando-se se Colin viria, se ela queria que o fizesse. Não, ela não podia suportar que ele fosse destruído por ela. Ela preferiria morrer.

— Teria gostado de mim, acredito — Syder continuou com sua voz suave e uniforme. — Bastante brilhante. — Ele riu entredentes, o som quase normal. — Suponho que ela me persegue um pouco.

Foi então que se lembrou. Tinha falado de um bairro. Uma mulher. Ela tinha assumido que era uma mentira, mas talvez não fosse.

— Considerei te manter viva para atuar como sua professora, ela deve ser desafiada constantemente ou se aborrece. — Ele soltou outra pequena risada. Quase podia acreditar que estava escutando o pai de uma de suas alunas divertindo-se com carinho. — Por desgraça, tenho muitas exigências em meu tempo e não posso dedicar a atenção aos seus estudos como uma vez fiz. Tentei lhe explicar que estou construindo um reino para ela, me assegurando que nunca mais voltará a querer o que seu coração deseja. Às vezes pode ser... resistente.

A bengala deixou de dar voltas, o dedo retornou para acariciar seu cabelo, esfriando-se agora, enquanto o sangue diminuía sua garoa contra sua pele.

— É reconfortante falar dela com alguém que entende estas coisas. — O dedo se retirou, deixando só o sangue e seu horror atrás. — Lástima que deve morrer.

~~*~~

A casa não era nada, uma estrutura de tijolo liso similar a muitas ao longo da rua Sloane. Colin entregou as rédeas ao Thomas e assentiu ao Harrison.

— Espera Atherbourne e os outros.

— Irei contigo.

Sacudiu a cabeça.

— Syder é inteligente, necessitaremos do elemento surpresa, demorarei tanto quanto for possível. — Indicando o colete do Harrison, disse: — Cuidado com o tempo, em dez minutos venham todos, entra pelo jardim. Thomas.

— Senhor?

— Encontra um lugar para atar os cavalos, Sua Graça necessitará da sua ajuda.

Com a pele arrastando-se, a urgência corria por seu sangue, olhou em cada direção procurando sinais dos homens do Syder. A rua larga estava tranquila, a neve começou a cair, unindo-se ao que já estava derretendo e enlameando tudo, apertando os dentes, cruzou a rua para a porta pintada de preto, não se incomodou em chamar, abrindo um pouco a porta, escutou.

Uma voz. Syder.

Um gemido surdo e feminino. Seu coração, pulmões, ossos e sangue rugiram reconhecendo o som. Sarah. Era Sarah.

Empurrando a porta para abri-la, entrou e seguiu a voz a uma habitação à direita, o aroma metálico o alcançou primeiro. Seus pés cambalearam até deter-se. Seu coração se retorceu e se sacudiu com força dentro de sua jaula, estrangulando-se, apertando-o até que o sentiu quebrar-se.

Vermelho. Em todos lados, empapando a área ao redor da lareira, o apertado grupo de móveis onde Syder estava sentado, girando uma fina bengala com negligência entre seus dedos. Frente a ele, Félix Foote, seu corpo se desabou e ficou olhando fixamente para cima em uma cadeira, um olhar horrível, anormal.

Freneticamente, Colin procurou e a encontrou no chão, com a cabeça para frente, terrivelmente imóvel. Tropeçando vários passos mais na habitação viu que o sangue gotejava por seu rosto, cobrindo seu cabelo e pele.

Tanto sangue.

A luz se transformou em escuridão, o som ficou em silêncio, podia sentir-se balançando-se, toda a força drenando-se através de seus pés.

Ela não poderia estar... não Sarah. Por favor, pelo amor de Deus, não.

A voz de Syder emergiu através de um vale de névoa.

— Ela ainda está viva, meu senhor, não tema, estivemos conversando enquanto esperávamos sua chegada.

Pensou que talvez Syder se levantou do sofá para parar-se junto à forma encurvada de Sarah, mas não podia apartar os olhos dela. O conhecimento de que ela vivia foi expandindo lentamente sua visão, devolvendo-lhe a audição. Inclusive agora, podia ver o fino tremor de sua pele. Ela não o olhava, entretanto. Seus olhos permaneceram baixos até um ponto no piso perto de seus tornozelos atados. Engolindo sua necessidade de vomitar, preparou-se para mover-se, seu único pensamento era tomá-la em seus braços. Mas esses braços foram agarrados e puxados dolorosamente para cima, atrás de suas costas.

— Conhece o senhor Lyle — Syder disse, dando ao Colin um sorriso educado.

— Ele não é Benning, por certo, ainda está acima do chão, o que lhe dá um pouco de vantagem sobre meu antigo empregado.

Colin podia sentir o tamanho do homem pela força e o ângulo de seu agarre, era tão grande como Benning.

— Se a tocar, te matarei. — As palavras guturais surgiram sem a permissão de Colin, um voto que ele faria ao próprio Deus. Queria gritar e rugir essas palavras em seus olhos escuros enquanto sua faca se afundava no coração do carniceiro. Mas não era prudente conceder ao Syder nenhuma outra arma. Sabia com asquerosa certeza que Chatham tinha razão nesse sentido.

— Lorde Colin, nunca foi um tipo impulsivo, não é? Com estas ameaças desnecessárias não obtêm nada, me dê o nome e considerarei que nossa associação concluiu.

— Te fará pouco bem, reduziu seu império monstruoso a escombros.

— Ah, mas ele não tomou meu tesouro, não é? Com abundantes recursos e com o tempo, inclusive um advogado humilde como eu posso reconstruir o que se perdeu.

Não estava equivocado. Syder tinha começado como um "advogado humilde", tal como ele disse. Usando seu conhecimento da lei lentamente havia estendido seus venenosos braços para todos os bairros de má reputação de Londres, nenhum dos negócios tinha estado em seu nome, é óbvio.

Tinha mantido uma existência bastante oculta, fazendo-se passar por um advogado para o verdadeiro "proprietário", logo, para consolidar suas posses contratado outros para subornar cavalheiros de influência e para brutalizar ou assassinar qualquer outra pessoa que estivesse em seu caminho.

Era por isso que o contato do Colin se viu obrigado a levar as coisas com lentidão, a planejar, manobrar e desenredar com uma atenção insuportável. Para eliminar Syder para sempre não podia deixar nenhum resto, para que não ressurgisse como uma videira asquerosa e perniciosa.

— Neguei-me a te dar o nome antes. — Colin disse. — O que te faz pensar que o entregaria agora?

Syder acariciou os dedos vermelhos através dos cachos empapados de sangue da esposa do Colin.

— Isto. — Sentindo que seu estômago se contraiu e revirou, Colin quase vomitou. — É um assunto simples, meu senhor. O nome não pode ser mais querido para ti que a preciosa pele de sua amada.

— Não. — A tremente palavra não veio dele, mas sim dela.

— Sarah — suspirou.

— Não, Colin. Não deve... deixá-lo ganhar.

— Ele te matará, doçura.

Devastadores olhos de mel finalmente se levantaram para encontrar-se com os dele.

— Ele o fará independentemente disso, esforçou-se muito para recuperar sua honra, por favor, não me deixe ser a razão pela qual a sacrifica.

— Que bonito. — Syder disse. — O nome, meu senhor. — Tirou uma lâmina longa e familiar de um bolso costurado em seu casaco. — Com sua permissão.

Colin considerou a decisão, sabendo que ela tinha razão, no momento que Syder tivesse a informação lhe cortaria a garganta. E logo a do Colin.

Quanto tempo mais poderia atrasar-se?

— Certamente não espera escapar das consequências do que fez. — Colin disse acenando com a cabeça para o cadáver do Foote. — Isto lhe fará ser pendurado, Syder, e eu adorarei ver como seu pescoço se quebra dentro de uma soga.

— Improvável. — Sua voz era suave. Arrepiante. Pressionou a ponta da faca justo debaixo da delicada mandíbula de Sarah. — Se eu fosse você me preocuparia com seu formoso pescoço.

A respiração do Colin entrou e saiu. O homem atrás dele tinha afrouxado seu agarre, aparentemente distraído pela conversação. Só uns momentos mais.

Sarah gemeu quando a faca se retorceu. Um fio de seu sangue se deslizou para baixo para mesclar-se com o do Foote.

— Detenha-se! É Dunston.

Syder levantou a lâmina, voltando-se surpreso, ligeiramente gracioso.

— O conde de Dunston. — Ele riu entredentes. — Agradável, um dândi impecável. Se refere ao Dunston?

— Sim.

Os olhos cinzas perderam sua falsa diversão.

— Não acredito em você.

As suaves palavras foram pronunciadas um segundo e meio antes que seu mundo fosse dividido. Meio segundo antes que a lâmina de prata atravessasse a garganta de sua esposa.

Dois segundos antes a sala explodiu em um caos e três segundos antes de todo o bem que tinha sido ele queria morrer com ela.


CAPÍTULO 24

“Eu disse que não devia brincar com os homens do Lacey. Não supunha que me referia só ao Blackmore, não é?”

A marquesa viúva de Wallingham ao secretário de Interior, Lorde Sidmouth.

Não recordava havê-lo empurrado contra o bruto atrás dele, nem haver golpeado o homem contra o marco da porta. Não recordava haver agarrado a faca da parte traseira de sua cintura, tampouco ter cravado essa faca no braço, no ombro e na garganta do bruto. Mal recordava ter cruzado a habitação pelo Syder, ignorando os outros que se haviam amontoado no interior, ao escutar os gritos e disparos.

Em um momento, ele estava vendo como o sangue de sua esposa se derramava graças à ferida do carniceiro. Ao seguinte, estava se esquivando de um golpe mortal do Syder, agarrando o braço do homem com sua própria lâmina. Sentiu que algo lhe golpeava o ombro e o pescoço pela direita, era a outra mão de Syder.

Não era nada, a faca não era nada. Syder podia vencê-lo, cortá-lo, matá-lo. Mas já nada tinha significado. Colin já tinha morrido.

Os olhos de Syder se acenderam quando Colin agarrou seu pulso com calma no seguinte golpe. Sorrindo e com muita tranquilidade afundou sua própria faca entre as costelas do carniceiro. Retrocedeu e voltou a afundá-la com um grunhido satisfatório. Uma e outra vez. O sangue se deslizava lentamente até que a pele adquiriu um tom pálido e os olhos foram se apagando.

— Lacey! — O forte grito atrás dele não significava nada. Retirou-se e sentiu que a lâmina cravava de novo, uma pequena resistência e logo um deslizamento gratificante.

— Lacey! Para, homem, deve parar.

Umas mãos o puxaram, não queria parar, gostava de ver que a luz dos olhos de Syder se desvanecia.

— Ela ainda está viva, irmão — Harrison murmurou em seu ouvido depois de envolvê-lo solidamente em seus braços para afastá-lo do carniceiro. — Escutou? Ela ainda está respirando.

Alguém estava ofegando fortemente em seus ouvidos.

— S-Sarah?

— Ela te necessita.

Deixou que os braços o afastassem do corpo de Syder, agora coxeando e paralisando em um montão no chão. A bengala também se chocou contra as tábuas de madeira. Os olhos de Colin se moveram para ela, Sarah debaixo de todo aquele sangue estava branca e quieta, com os olhos cor mel fechados, a boca suave aberta.

Mas respirava. Atherbourne se ajoelhou a seu lado pressionando seu lenço com força contra seu pescoço, atrás dele Dunston questionou a um dos homens do Syder com sua afável voz endurecida pelo aço. Tennenbrook grunhiu enquanto atava as mãos de outro. Mas tudo o que viu foi a sua esposa.

Como se lhe tivessem disparado um canhão no peito, sentiu uma devastação e fogo inimaginável. Devia levá-la a um cirurgião. Agora.

— Harrison, — disse com voz rouca, caindo de joelhos ante ela, acariciando sua pálida e linda bochecha — um médico, um cirurgião, por favor. Deus, ela não pode morrer, ela não pode.

— Dunston tem um homem, ele está a caminho da Casa do Clyde-Lacey. Devemos tirá-la daqui, o homem do Dunston está esperando.

Atherbourne voltou seus olhos escuros e compassivos para o Colin.

— O corte não é tão profundo como parece, — disse o visconde em voz baixa — provavelmente o fez como uma advertência, com a intenção de mantê-la com vida por um tempo para obter sua cooperação, necessita costurar, mas...

— Não a deixar morrer — Colin notou que alguém já lhe tinha desatado as mãos.

Rapidamente cortou a corda que atava seus tornozelos e deixou cair a faca com um ruído surdo. — A levarei... a levaremos à casa, e ela não morrerá. — Ele deslizou seus braços atrás de suas costas e debaixo de seus joelhos para logo olhar Atherbourne. — Segure seu ferimento.

Ficou com Sarah em seus braços enquanto Atherbourne pressionava o linho agora vermelho contra seu pescoço. Ela era tão leve, tão pequena. Quando estava consciente e de pé em frente a ele, em silêncio com os braços cruzados e o queixo no ar, parecia indomável. Uma grande deusa imponente do mel e da teimosia, agora ela era só um pouco de osso delicado e muito pouca carne.

Enquanto esperavam que Thomas abrisse a porta da carruagem, Colin sussurrou ao seu ouvido, ignorando os flocos de neve que caíam e se aferrava às suas pestanas. Ignorando o sangue que manchava sua bochecha.

— Não me deixe, doçura. Por favor, não me deixe.

Subiram à carruagem, Atherbourne usou seus longos braços para manter a pressão em seu pescoço enquanto Colin a acomodava brandamente em seu regaço.

Leu a aflita simpatia do Atherbourne em seu rosto, queria gritar ao outro homem que ela viveria porque Sarah tinha que fazê-lo, já tinha morrido uma vez hoje, e se o fizesse de novo ele não poderia suportar.

Em troca apoiou seus lábios contra sua têmpora, onde seus cachos podiam lhe fazer cócegas no queixo. Ele a balançou com o movimento da carruagem que ia velozmente.

— Por favor, não vá, meu amor. Por favor, não vá.

~~*~~

Sarah estava tendo o sonho mais peculiar. Sua mãe lhe estava cantando uma melodia campestre de sua infância, talvez. Seu pai lhe estava sussurrando que a amava, dizendo-lhe que desejava vê-la ter seus filhos algum dia. Logo se uniu à canção. Ela jazia debaixo de sua colcha em seu dormitório na casa de campo. Tudo estava brilhante, provavelmente fosse meio-dia, mas se sentia tão fraca que mal podia manter os olhos abertos. Tentou perguntar à sua mãe pelo nome da canção, algo sobre isso era tão familiar, consolador.

Doía-lhe a garganta, a dor abrasadora distraía-a, era frustrante. Desejava falar, dizer ao seu pai que sentia muito sua falta. Algo roçou seus lábios, acariciou seus olhos, apartou o cabelo de sua testa. Uma mão cálida e forte envolveu a dela. Por fim, ela foi capaz de abrir os olhos um pouco. Seu pai estava ali sorrindo-lhe, mas não era sua mão, não era a voz que havia ouvido. Era Colin, sustentando seu pulso em seus lábios, balançando-se para trás e para frente na cadeira ao lado de sua cama.

Sarah suspirou, aliviada e feliz, ele estava ali. Seu marido deixou que seus olhos se fechassem e dormiu ouvindo uma terna canção de ninar, quando voltou a despertar estava sozinha desta vez, jazia em seu dormitório na casa Clyde-Lacey. Reconheceu as cortinas vermelhas e o divã creme debaixo da janela, a neve formava redemoinhos lá fora, piscando levantou a mão para liberar-se do que estava lhe causando aquela horrível dor no pescoço. Seus dedos encontraram ataduras de linho.

— Sarah?

Era sua mãe entrando com uma bandeja de chá. Ela tentou dizer: mamãe, mas saiu como um grasnido.

— Oh, querida, não tente falar, o cirurgião de Lorde Dunston disse que haveria um pouco de inflamação que te faria se sentir incômoda por uns dias. O médico de Blackmore te deu láudano para a dor. — Os dedos de sua mãe roçaram sua testa, logo a bochecha. — Vejamos se consegue tomar um pouco de chá.

Depois de um pouco de manobra Sarah conseguiu sentar-se e tomar pequenos sorvos. Era doloroso ao tragar, mas estava terrivelmente sedenta. Os dois desconfortos lutaram, e a sede ganhou. Terminou uma xícara inteira antes que seus olhos começassem a fechar-se, sua necessidade de dormir se intrometia.

— Mama — Ela articulou.

— Sim?

— Colin?

Preocupados olhos verdes se encontraram com os de Sarah. Um sutil cenho franzido.

Um olhar abatido. Ela agarrou o pulso de sua mãe.

— Colin? — Sarah repetiu.

Eleonor suspirou, alisando cachos tênues ao lado de seu penteado.

Parecia esgotada. Sentada na beira da cama, pegou sua mão.

— Ele está dormindo, esteve acordado durante três dias, demos a ele um pouco de láudano. — Ela leu os sinais de alarme na expressão de Sarah, porque apertando o agarre disse: — Ele está bem, além de não comer nem dormir, esteve louco de preocupação, filha, ele não se afastava de seu lado, seu irmão teve que levantá-lo e tirá-lo da habitação para que o cirurgião pudesse trabalhar em paz.

Uma vez mais, a mão do Sarah se deslizou para a bandagem em seu pescoço.

— Sim, cortaram-lhe, necessitaram-se alguns pontos de sutura, mas tanto o cirurgião como o médico nos asseguraram que deve sarar muito bem. Talvez fique uma pequena cicatriz, isso é tudo.

O láudano estava se apoderando dela agora com um peso quente e uma sensação de flutuação. Suas pálpebras se fecharam, sua mãe lhe depositou um beijo na testa.

— Dorme agora, meu doce bebê. Deixe que mamãe se preocupe com você.

Na terceira vez que despertou, a habitação estava às escuras, só o fogo e uma só vela serviam de iluminação. Na janela havia um homem com os ombros largos cobertos de linho branco, o cabelo loiro se gabando de seus cachos, estava de costas para ela, com a cabeça inclinada para frente, uma mão no quadril.

Seu coração se apertou, ela amava aquele homem, adorava sua generosidade e sensualidade, humor e engenho, amava inclusive seus pobres intentos de ser severo. Completava-a como a música, elevando-se e ressonando, cantando e cantando. Se ele pudesse amá-la da mesma maneira. Por um breve momento, quando Colin tinha entrado no salão de Knightsbridge, Sarah tinha pensado que poderia fazê-lo. Mas aquele tinha sido um momento desesperado. E às vezes o desespero se parecia muito ao amor, se moveu, sentindo as dores em cada parte de seu corpo... cabeça, garganta, costas, braços e joelhos. Respirando profundamente, esticou o pescoço para vê-lo claramente.

— Colin.

Desta vez seu nome era mais áspero que um coaxar. Ele se voltou, olhando-a com olhos azuis atormentados. Segurava uma carta em suas mãos, que rapidamente dobrou e guardou.

— Como se sente?

— Dói.

Caminhando para a cama, afundou-se ao seu lado e levanto sua mão entre as dela.

— Sei, doçura, me deixe te dar um pouco mais de láudano. — Ela negou com a cabeça.

— Como você está?

Deu-lhe um terno beijo no pulso e logo outro na ponta de seus dedos.

Afastando-se brevemente, mediu o líquido de uma garrafa e o verteu em uma xícara de chá, logo adicionou uma colherzinha de açúcar.

— Aqui — disse golpeando ligeiramente a colher contra a borda. — Beba.

Suspirando de novo, Sarah obedeceu, deixando que a ajudasse, levantando sua cabeça. Quando terminou a bebida, que tinha um sabor amargo e doce, segurou seu pulso.

— Não é sua culpa.

Negou-se a olhá-la aos olhos, colocando a xícara e a colher sobre a mesa com um tinido calmo.

— É totalmente minha culpa e nunca me perdoarei por isso. — Ele sorriu, o gesto quebrando seu coração. — Temo que há uma nova para adicionar à lista.

— Não, Colin. Minha.

— Era meu dever te proteger, falhei na tarefa mais fundamental.

Seu dever, sua tarefa, era como ela tinha temido, para ele era só era uma obrigação, outro ato de arrependimento e caridade em seu caminho para a redenção.

Engolindo com dificuldade, estremeceu-se pela dor. Entretanto, não podia tolerar que se culpasse pelo que Felix Foote e Horatio Syder fizeram.

Uma vez mais ela segurou seu braço, acariciando com seus dedos até que a olhou.

— Eu fui à casa da senhorita Thurgood.

— Deveria ter sabido que não cumpriria meus desejos, deveria ter estado aqui contigo.

Suspirando com impaciência, sacudiu a cabeça sobre o travesseiro.

— Minha culpa, não tua.

A lassidão se filtrou em seus músculos, as dores começaram a diminuir. O láudano estava fazendo efeito, queria seguir discutindo, mas mal conseguia pensar, a inconsciência fazia gestos como uma velha amiga. Uns lábios quentes e ternos percorreram sua testa, logo se conformaram com um suspiro contra sua boca. A doçura do beijo a fez querer chorar.

— Todos os dias, pelo resto da minha vida, recordarei o momento em que falhei com você, Sarah. — Seu quente fôlego fluiu enquanto sua testa descansava sobre a dela. — Soube da minha debilidade.

Levantando a cabeça, sussurrou suas últimas palavras segundos antes que o sonho a levasse.

— É de admirar que esteja pensando me deixar?

~~*~~

— Senhorita? — A governanta entrou na biblioteca onde Hannah estava sentada praticando xadrez. Os movimentos eram às vezes os mais difíceis. — Há um homem para ver-te, diz que tem notícias sobre seu pai.

Os dedos de Hannah se congelaram sobre seu cavalo. Se alguém mais estava ali com informação sobre Horatio Syder isso só poderia significar que estava morto. Ele nunca permitiu que outros a vissem, não em dez longos anos.

— Que entre — ela disse brandamente.

Fortes pisadas se aproximavam da porta da biblioteca. Clomp-clomp-clomp.

Ritmo regular, sem batida.

— Senhorita Syder.

Sem levantar a vista, ela levantou um dedo em sua direção.

— Esse não é o meu nome.

— Eu... peço-lhe perdão?

Finalmente, ela tomou uma decisão, o cavalheiro. Seguro. Foi o movimento correto para este jogo.

— Meu nome — ela disse girando-se ao homem grande e de aspecto rude na porta da biblioteca — não é Syder. — O homem feio parecia confuso com seu chapéu frouxo e desgastado retorcendo-se em suas mãos. — O que é o que queria me dizer?

Seu desconforto pareceu crescer. Puxou a gola de seu casaco de lã marrom como se lhe picasse.

— Lamento lhe dizer que seu pai, quer dizer, o Sr. Syder, está morto, senhorita.

Fechou os olhos lentamente, os deixou descansar e saborear o conhecimento.

Morto. Ele estava morto. Ela deixou que a percorresse, repetindo a palavra.

Morto. Morto. Morto.

— Sinto muito. Eu... eu estou sinceramente...

— Isso é tudo, então? Tem algo mais a me dizer?

Entrou mais na habitação, o barulho de suas botas lhe advertiu., clomp-clomp-clomp. Hannah abriu os olhos para ver o que estava fazendo. Pegou um envelope do interior de seu casaco e o colocou com cuidado em uma escrivaninha próxima.

— Fez acertos e reservou recursos. O nome do advogado está dentro, tudo está aí para quando a senhorita... é, quando a senhorita estiver preparada.

Pouco a pouco um sorriso se desenhou no rosto de Hannah.

— Obrigada, — disse em voz baixa, voltando para seu jogo — por certo é uma excelente notícia. Excelentes notícias.


CAPÍTULO 25

“Vê? Eu tinha razão. Conviria não o questionar no futuro.”

A Marquesa viúva de Wallingham à Lady Berne ao receber a confirmação de Lorde Dunston com o Ministério do Interior.

— Um desastre de sangue é o que era, — se queixou Dunston — literalmente, havia sangue por toda parte, preciso dar algumas explicações.

A postura relaxada do conde enquanto se recostava em um sofá azul no salão da casa Clyde-Lacey era um pouco informal pelo nível de tensão na habitação. Colin não podia preocupar-se.

Harrison, por outro lado, parecia bastante perturbado, parado rígido com suas mãos firmemente apertadas atrás de suas costas.

— Você deveria ser pego...

— Ora, ora, Blackmore. Só estava fazendo o necessário...

— ...e logo arrastado por um cavalo. Até que toda sua pele se rasgasse de você...

— ...para assegurar que um vilão louco fosse detido. — Harrison olhou seu amigo (uma relação sobre a qual Colin tinha sérias dúvidas) e disse em um tom suave e mortal.

— Pôs o meu irmão em um perigo insustentável.

— Bom, sim, mas só pelo melhor dos motivos.

— Quando pôde tê-lo ajudado a pagar sua dívida, possivelmente evitando a atenção do Syder, não fez nada. — Dunston inclinou a cabeça e se arranhou o queixo, vendo-se ligeiramente envergonhado.

— As coisas eram... delicadas nessa etapa. O fato de ter ajudado a bela jovem Lacey poderia ter exposto minha posição.

— Então permitiu que o perseguissem de um extremo da Inglaterra a outro.

— Dei-lhe um bom conselho — Dunston respondeu com indignação.

Harrison franziu o cenho.

— Que conselho? Quando?

— Quando estávamos todos em Blackmore. Julho, não é? Disse-lhe que lhe pedisse o golpe. O que fez.

— Não fez, o ofereci a ele.

Dunston levantou as mãos em um gesto amplo e encolheu os ombros.

— Aí tem. Sabia muito bem que não lhe permitiria que seguisse galopando através do país sem parar.

Atherbourne, sentado em uma cadeira grande perto do fogo, limpou a garganta como se se preparasse para falar. De pé, com o cotovelo apoiado na cornija, Colin lhe dirigiu um olhar agudo e sacudiu a cabeça.

— Suas presunções quase o mataram, — Harrison grunhiu — eles causaram o sequestro de Jane e agora, a esposa do Colin foi machucada.

Inclinando-se para frente e apoiando os cotovelos sobre os joelhos, Dunston olhou diretamente aos olhos do Harrison.

— Me escute, — disse, mostrando a dureza que Colin havia visto só umas poucas vezes em sua relação — nada se fez sem necessidade. Nada. Syder constantemente subestimou seu irmão, pensou que era inútil e impulsivo, isso foi o que fez Colin tão efetivo. Syder assumiu que o jovem e irresponsável Lacey se lançaria a resgatar o seu verdadeiro amor sem uma força adequada atrás dele. Antes disso, assumiu que Colin não poderia escapar de um matadouro em Whitechapel.

Colin franziu o cenho.

— Er... não escapei, precisamente.

— E antes disso, assumiu que Colin lhe daria meu nome depois de umas poucas horas de... o que foi que disse? — Dunston olhou Colin de soslaio. — Não há escapatória. Syder te liberou? — Sua risada sublinhou o absurdo ao considerar a ideia. — Certamente não.

Arranhando a cabeça Colin disse: — Seu homem, Benning, o fez, disse que um misterioso homem lhe havia pago, sempre supus que foi você. — Claramente, não tinha sido Dunston, isso deixava a outra pessoa. Colin balançou a cabeça, ainda não podia acreditar, Chatham simplesmente não era o tipo.

— Entretanto, ocorreu, — disse Atherbourne — acredito que todos podemos estar de acordo que o mundo está melhor agora que Syder está morto.

— Mmm — Dunston concordou recostando-se em seu afável ser. — Embora ele tenha deixado algo para trás. Não pude localizá-lo, ao que parece manteve-o bem escondido, duvido que alguém se perca do despojo. — Suspirou. Logo adotou um sorriso com um toque sinistro. — Uma última coisa que não esperava. Esse Lacey aqui seria o que pagou essa dívida em particular. Um pouco desordenado, mas bem feito, velho amigo. A arrogância foi uma das faltas menores de Syder, usou-a com grande vantagem.

Voltando-se para olhar para o fogo, Colin esfregou os dois pedaços de papel que segurava entre os dedos. Aquilo era uma nota que Syder havia enviado, tinham chegado minutos depois que Colin e Harrison tinham saído correndo pela porta da Casa Clyde-Lacey com a intenção de salvar Sarah. Só dizia:

Localizei o tesouro mais formoso de Devonshire esta manhã, não pude resistir. Espero sua resposta.

Logo deu o endereço do Foote na Sloane Street e se assinou simplesmente com “S”. Foi um aviso de como lhe tinha falhado. Não importa o que Dunston ou qualquer outra pessoa dissesse, viveria com esse conhecimento para sempre.

O segundo artigo foi uma carta do diretor de uma escola em Bath, descrevia uma posição ideal para Sarah, havia enviado Thomas de volta à casa da senhorita Thurgood para recuperá-la se por acaso ela decidisse deixá-lo.

Obviamente, ela não confiaria nele para cuidá-la como merecia. Sarah não tinha acreditado em Colin antes que a atacassem, não podia imaginar o que pensava dele agora.

— Me perdoem, cavalheiros — disse uma suave voz da porta, era Eleonor, parecendo cansada, mas agradada, seus olhos se enrugaram em um sorriso. — Lorde Colin, Sarah queria falar contigo. Mandou perguntar se iria a ela. — Engoliu saliva e ficou com a boca seca. Assentindo, cruzou a extensão da sala de estar detendo-se na porta quando Eleonor lhe tocou a manga.

— Antes que vá — disse em voz baixa — devo te dizer que sentiu sua falta terrivelmente estes últimos dias. Sei que não sou sua mãe, mas me permitiria te dar um conselho?

Ele assentiu.

— Quando o senhor Battersby foi o primeiro... afligido, perguntei-me se era minha culpa. O tinha envenenado sem saber com minha comida? Ou talvez não havia conseguido controlar seus hábitos de sono o suficiente, ou lhe tinha permitido trabalhar muito. — Ela riu com tristeza. — É natural culpar-se, suponho, quando nos unimos tão estreitamente que nos convertemos em parte um do outro. O que estou dizendo é que às vezes o melhor que se pode fazer pela pessoa que ama é simplesmente isso, amá-lo, completamente, sem medo ao que pode vir. Sem recriminação pelo que veio antes, ame-a e deixe-a que te amei em troca. — A mãe de Sarah se secou o olho com o nódulo e lhe deu um tapinha. — Esse é o meu conselho. Faça o que quiser.

De novo, Colin assentiu, incapaz de responder, logo saiu do salão e percorreu o corredor até seu dormitório. Deteve-se quando chegou à porta, olhando de novo para os papéis que tinha na mão.

A amo.

Ele o fazia, é óbvio que o fazia. Quem não poderia apaixonar-se loucamente por sua doce, doce Sarah. Amá-la não era o problema. Era lhe falhar.

O pomo, frio sob sua mão, girou. Ela não estava ali. Franziu o cenho, entrando na habitação, dirigiu-se à cama. Onde diabos tinha ido ela?

— Colin.

Escutou-se uma ansiada voz de sua direita, seu coração começou a pulsar de novo enquanto seus olhos a devoravam. Estava sentada no divã debaixo da janela, com uma manta no regaço e uma carta na mão. Seu cabelo de mel selvagem estava solto, colocou-o sobre um ombro enquanto o atava com uma fita branca que combinava com sua bata adornada com renda. Colin a olhou nos olhos, notando um brilho dourado, como se ela estivesse feliz de vê-lo. Os círculos escuros que havia debaixo tinham diminuído enormemente, e havia recuperado um toque de cor em suas bochechas.

— Fecha a porta, marido, desejo falar contigo.

Certamente soava como sua Sarah, sua voz suavizada por sua anterior rudeza, com um tom firme e autoritário. Sua pequena professora. Escondendo um sorriso, obedeceu, moveu-se para sentar-se a um lado da cama, em frente a ela, mas mantendo uma cuidadosa distância.

— Sinto-te melhor — sentia-se tão instável como um potro recém-nascido.

— Por que se manteve afastado?

Sua pergunta foi calma, como se tivesse estado ferida por sua ausência.

— Precisava descansar, era hora de sarar.

— Minha cura ocorre se estiver na habitação, Colin.

Deixando cair seu olhar em suas mãos, assentiu e soltou um suspiro.

— Sendo sincero, vim à sua porta frequentemente, com a intenção de entrar. Suponho que não quis te incomodar.

— Nossa porta.

Ele a olhou nos olhos.

— Como?

— Esta é nossa habitação. — Ela assinalou a cama em que se sentou. — Essa é nossa cama, é onde pertence.

Colin ficou imóvel, um pouco aturdido por sua repentina e ardente faísca.

— Está zangada.

— Estou muito bem.

Além da comoção de escutá-la pronunciar uma vulgaridade, ele se cambaleava pela implicação de que ela o queria seu lado.

— Eu, Sarah, não quis...

— Necessitava-te — o acusou, sua voz afogando-se um pouco. — Desejava ter seus braços ao redor de mim, e você... — seu queixo bicudo tremeu estranhamente. Um brilho de umidade encheu seus olhos — não estava ali.

Levantou-se da cama, jogou os papéis a um lado e caiu de joelhos diante dela. Suas mãos pousaram em suas pernas, alcançou suas mãos, baixou a cabeça para beijar os magros e calosos dedos que adorava.

— Me perdoe doçura, por favor, não chore. Só queria te dar o tempo e a distância que merecia.

— Distância? — Ela perguntou, aspirando. — Em todo caso, necessito de proximidade, grande quantidade de proximidade.

Ele a olhou e, cuidadosamente limpou uma lágrima com seu polegar. Sarah capturou sua mão e a sustentou contra sua bochecha. Colin sorriu, tremendo ante sua esposa.

— Sinto muito, Sarah, resolverei o problema imediatamente. — Sentindo a delicadeza de seus finos ossos e sua suave pele debaixo da palma lhe perguntou: — Está comendo o suficiente? Direi ao Digby que...

— Colin, — ela grunhiu — não comece a se repetir sobre a comida, dou-me conta que só se casou comigo por dó, mas me resulta muito cansativo que me trate como a um órfão faminto ao qual deve engordar imediatamente.

— Dó?

— Comerei quando tiver fome, além disso, é meu marido, você goste ou não...

O mundo se inclinou para um lado, um navio rodando em uma repentina onda abrupta.

— Não me compadeço de ti.

— E será meu marido até o final, por isso pode se resignar a um estado de proximidade no futuro.

— Não me casei contigo por compaixão, Sarah.

Seus olhos se encheram de novo, enrugando a testa.

— Naturalmente diria isso, sua amabilidade é uma das razões pelas quais lhe amo. Mas não precisa fazê-lo para evitar machucar meus sentimentos, estamos casados, isso não se pode desfazer.

A habitação de repente se fez mais brilhante. Pensou que deveria ser assim, porque ela brilhava em sua visão, seu rosto de fada envolto em luz. Sarah amava-o. Ela o havia dito, não? Talvez tivesse ouvido mal.

— Diga outra vez — disse com voz áspera, temendo piscar e arriscar-se a perder um sinal que simplesmente tinha estado divagando.

— O que?

— Isso... que me ama. Diga outra vez.

Ela franziu o cenho com confusão.

— É óbvio que te amo, homem tolo, pelo que mais eu teria aceito me converter em sua esposa?

Sua última palavra foi murmurada contra seus lábios, porque ele já não podia resistir a beijá-la. Sua esposa pegou seu rosto entre suas mãos e a beijo até que ambos ficaram sem fôlego, até que a luz que tinha visto lhe atravessou o coração e se expandiu para o exterior, explodindo por todo seu corpo em uma pluma brilhante e radiante.

Movendo-se para sentar-se ao seu lado no divã, Colin recolheu sua delicada suavidade em seus braços e apartou sua boca da dela só para poder beijar cada centímetro de seu rosto.

— Colin, — Sarah ofegou, suas mãos aferraram seus braços — o que... que é... isso é possessivamente esplendido, e enfaticamente não desejo que se detenha, mas não entendo.

— Ama-me — ele riu e lhe beijou o maravilhoso e arrebitado nariz. — Me ama.

— Sim — Sarah começou a sorrir, a lenta aparição dele se assemelhou a um amanhecer. — Te amo. Isto é uma surpresa?

— Não sabia, pensei que só estava fazendo o que frequentemente a forçava a fazer... escolher o caminho mais provável para sobreviver.

Seus olhos se suavizaram, aferraram-se aos seus.

— Em algum sentido, isso é verdade. Porque não posso viver sem ti.

Sacudindo a cabeça deu-lhe um terno beijo nos lábios de mel.

— Passarei todos os dias da minha vida ganhando sua confiança, minha doçura, disso pode estar segura, não terá nenhuma razão para procurar emprego em Bath. Construirei uma vida para nós em que nunca desejará outra coisa bendita... comida, batas, serventes. Teremos uma ala inteira dedicada aos cilindros de tecido.

Seus olhos se escureceram.

— E te protegerei com a minha própria vida, Sarah — riscou sua bandagem com um toque ligeiro como uma pluma. — Nunca mais será posta em perigo.

Ela tinha empalidecido grandemente, seus olhos se encontraram. Sarah assentiu em reconhecimento à sua promessa, mas sua reação foi oposta ao que ele teria querido.

— Está angustiada? O que eu disse que te incomodou, doçura?

— Nada, eu... obrigada, Colin, me dou conta que me vê como um dever. Confio em que se ocupe de mim. — Essas palavras cuidadosas e moderadas lhe abriram o peito. Então Sarah levantou seus olhos aos dele. Ela estava ferida, sangrando. Não seu pescoço, desta vez, mas sim seu coração. — E não quero soar ingrata, mas o que mais preciso é do seu amor, isso é a única coisa necessária para minha sobrevivência, a única coisa que não tenho. — Quando terminou, uma lágrima caía.

— Tem, Sarah, — sussurrou, incapaz de compreender como ela poderia duvidar — meu amor é teu, meu corpo e minha vida pertencem a você, doçura, é assim desde o momento em que tirou este canalha da lama e o declarou teu.

Sarah esperava recordar sempre este momento, o momento em que sua vida inclinou sobre seu eixo. Quando soube. Colin a amava. Ele o fazia.

— Ama-me — ela balbuciou agarrando seu cabelo com ambas as mãos e obrigando seu rosto a se aproximar a uma polegada do dela. — De verdade.

Os olhos da cor do mar do verão brilhavam e ardiam. Por ela.

— É... fácil, doçura. — Ele se esticou para afrouxar seus dedos. — E sim, amo-te, é como uma enfermidade, eu realmente não conseguia sair de Keddlescombe.

Sarah o segurou, subiu sobre ele até que ficou escarranchada sobre seus quadris e sustentou seu rosto à mercê de seus lábios.

— Colin, meu amor. — Beijo. — Te amo muito. — Mordida. — E eu gostaria de te agradecer. — Outro beijo. — Por me amar de volta — um beijo em seu perfeito queixo. — Fazendo amor com você agora.

Colin riu entredentes, o som retumbou desde seu peito até seus mamilos, que se endureceram rapidamente, pressionou-se contra ele insistentemente.

— Dois pontos, doçura. Primeiro, pode fazer amor comigo quando quiser, como quiser e por qualquer razão que considere que valha a pena. Segundo, estou ao seu serviço. No entanto, eu gostaria de te recordar o que te disse na casa de campo, na noite em que seu pai foi vagar.

Sarah se apartou o tempo suficiente para franzir o cenho.

— Que parte?

Colin a beijou docemente deixando que sua língua se atrasasse e a acariciasse até que ela se apertou contra ele com insistência.

— Não agradeça a um homem por te dar o que era teu desde o princípio.

Sorrindo com todo o amor que ela tinha contido, riu de alegria.

Então mergulhou-se de novo em sua boca. Sentia suas fortes mãos e musculosos braços ao mover-se ao longo de suas costas, cabelo e ombros.

— Está segura que se sente suficientemente bem? — Ofegou, seus olhos mais azuis, suas mãos agarraram o tecido de sua bata com sacudidas impacientes.

— Sim, te necessito.

Estava o arranhando, desesperada por ele. Rasgou seu lenço, camisa e colete, não era suficientemente rápida. Sua necessidade cresceu, doendo e rogando em seu ventre, em seus seios, mas sobretudo no interior. No profundo de seu núcleo o vazio chorou por falta de Colin, a dura tensão em seu rosto se relaxou um pouco.

— Graças a Deus — suas mãos agarraram seus quadris e logo se deslizaram para baixo, sobre a pele nua de suas coxas. — Fecha as pernas ao meu redor.

Depois de várias respirações ela conseguiu, cruzando os tornozelos na base de suas costas. Envolvendo um braço duro ao redor de Sarah, Colin parou em um só movimento, deixou cair sua manta e a levou à cama. Depositou-a sobre o colchão com muito cuidado, como se fosse um vaso de porcelana, retirando-se o tempo suficiente para desprezar seu casaco, seu lenço e desfazer-se de suas calças. Gemeu enquanto a cobria, ofegou quando a levantou contra ele, girando-os até que se sentou na cama com as costas apoiadas na cabeceira e ela sentada em seu regaço, sentindo sua ereção dura como pedra contra suas dobras úmidas e quentes.

— Oh! — Sarah murmurou cravando os dedos em seu pescoço.

— Se algo doer, doçura, quero que me diga — as palavras saíram de Colin, seus olhos tinham um brilho de preocupação, dizendo-lhe que falava a sério.

— Farei.

Brandamente desatou sua bata, tirando até que se juntou ao redor de seus quadris, seus seios estavam ali para saborear. Seus olhos se obscureceram e arderam quando caíram sobre as contusões.

— Não importa, Colin — Sarah sussurrou acariciando sua bochecha para acalmá-lo.

— Deve morrer.

— Já está morto.

— Deve morrer de novo, mais lentamente.

— Shh. Só me toque, querido, me deixe sentir o prazer que só você me dá.

Lentamente os músculos de seu abdômen se relaxaram e sua mão se aproximou para roçá-la ligeiramente sobre seu dolorido mamilo. Logo usou sua língua para rastrear cada hematoma que se desvanecia, para acariciá-la e deixá-la louca pelo desejo.

Seus dedos puxaram a fita que atava seu cabelo liberando-o para saltar para fora e fluir sobre seus seios e costas. Encheu suas mãos com seus cachos, atraindo-a para seu beijo, suas mãos encontraram sua cintura, levantou-se e deslizou lentamente, brandamente dentro de seu calor, enchendo o que estava vazio.

Esticando-a até que Sarah gemeu seu nome, Colin lhe permitiu controlar o ritmo, descansando suas mãos ligeiramente sobre seus quadris. Inclinou-se para frente e passou a língua por seu pescoço, esfregou seus mamilos contra seu peito agitado. Passou suas mãos sobre seu abdômen, onde três cicatrizes estriadas serviram como aviso de quanto tinha suportado. Ela sentiu como seu pênis duro e grosso pulsava, pulsava dentro dela como outro coração. Seu coração.

— Por favor, Colin — Sarah ofegou, passando os dedos sobre suas orelhas, queixo e descendo por sua clavícula. Estava tentando, mas não podia conseguir o ritmo correto. Estava-a deixando louca ao sentir aquela necessidade dentro dela. — Deve...

— O que, doçura?

Grunhiu sua frustração movendo seus quadris sobre ele e perdendo algo vital.

— Por favor — ela suplicou sem saber o que pedir ou como lhe fazer entender. — Te necessito.

— Ah, — disse zombeteiramente — a professora deseja renunciar ao controle, não é?

— Sim, precisamente isso. — Ela se retorceu contra Colin. — Agora, faça o que faz, e que seja rápido.

Riu tão forte que sacudiu a cama. Inclusive o sentiu dentro dela, movendo-se para cima de onde estavam unidos e saindo de sua garganta. A alegria pura em seus olhos se converteu em sua felicidade.

— Como sempre, doce Sarah, estou para te servir.

Com isso Colin agarrou sua cintura e lhe deu um empurrão surpreendentemente profundo, lançando um grito afogado de prazer, logo o fez de novo e outra vez e outras cinco vezes mais. Perdeu a conta, porque o maravilhoso prazer se reuniu, espremeu e explodiu com uma força impressionante. Sarah gritou e chorou de gratidão por seu domínio, em resposta tomou seu prazer profundamente em seu corpo.

Aferrou-se ao único homem que alguma vez provou ser uma tentação, depois, se deitaram tranquilamente debaixo das mantas, Colin a embalou contra seu peito. Sarah suspeitava que não ficavam ossos, já que só tinha sido reduzida à carne. Carne quente e satisfeita.

— Não me deixe nunca, Sarah. Rogo-lhe isso.

A rouca súplica lhe fez levantar a cabeça de seu ombro.

— Por que...

— Vi a carta da escola em Bath.

Seus olhos tinham medo, medo e tristeza reais. Ele acreditava que ela tinha querido tomar a posição, abandonar seu matrimônio.

Sarah riscou um dedo ao longo de sua testa.

— Recuperar a carta foi um momento de dúvida que lamento profundamente, temi que não me quisesse e se cansasse de ser meu benfeitor uma vez que o perigo tivesse passado. Fui tola.

— Isso nunca, doçura.

Ela sorriu e se moveu para que seus olhos e lábios pudessem flutuar diretamente sobre os dele.

— Além disso, não posso te deixar, — disse em voz baixa, absorvendo o milagre de seu amor — para onde eu iria sem meu coração?


CAPÍTULO 26

“Feliz Natal? Ora! Será um ponto de vista mais feliz quando tiver um neto, cachorrinho ingrato. E quando será isso, mmm?"

A Marquesa de Wallingham a si mesma ao ler uma carta recente de seu filho Carlos.

Ao ver seu marido acariciar amorosamente o cabelo negro do bebê que sustentava em seus braços, Sarah lutou por não suspirar. Talvez sua repentina necessidade de ar poderia ser atribuída ao sentimento. O mais provável é que era a imensa quantidade de pudim de ganso e ameixa assada que havia consumido no jantar, sua mão se pousou sobre seu ventre.

Misericórdia de mim, pensou, nunca tinha se enchido tão terrivelmente em sua vida como na atualidade, respirar seria um luxo. É claro, Colin tinha sido incorrigível, insistindo em que comesse mais e mais, e ainda mais, até que prometesse fazer tudo o que ele quisesse se só a desejasse. Seu sorriso malicioso tinha levado suas próprias promessas. Mas ao menos se deteve.

— Será um papai muito devoto, suponho. — As palavras vieram de Vitória, que estava sentada na cadeira vermelha mais próxima à Sarah. Surpreendida pelo inesperado comentário de sua cunhada, Sarah se girou para olhar ao seu marido, sentado ao seu lado em um dos sofás azuis perto do fogo ardente da sala de estar embalando o filho de Vitória.

— Mmm. Devotado? — Sarah murmurou. — Se ele for tão devotado a eles como é comigo, temo que todos serão tão redondos como um pudim de Natal.

Colin a olhou e levantou uma sobrancelha.

— Dou-me conta de que finalmente está começando a recuperar sua cor. Pode me agradecer isso depois.

Franziu os lábios e saudou com a mão para o fogo excessivamente quente e incômodo que tinha avermelhado suas bochechas.

— Serei agradecida com quem o merece, obrigada.

Um brilho familiar, acalorado, entrou em seus olhos.

— E se não o fizer? Ainda posso esperar um agradecimento adequado?

Sua respiração se acelerou e seu corpo se queimou por razões distintas à lareira.

— Bom — ela disse tragando contra uma garganta repentinamente ressecada. — Se insistir.

Vitória se levantou para recuperar seu filho dos braços de Colin. O bebê estava envolto na colcha que Sarah fez para ele, uma mescla de azuis e verdes. Sarah estava agradada com seu trabalho e notou que algumas das cores coincidiam com os olhos do pequeno Gregory.

— É hora da Roseanna te colocar na cama, meu amor — Vitória disse, levando-o à babá que esperava.

— Tenho-o! — Jane anunciou entrando no salão com Harrison, agitando uma carta no ar. — Lady Wallingham chegou, não perderemos nosso entretenimento da noite. — Todos se sentaram ao redor do fogo, Jane e Harrison, Lucien e Vitória, Sarah e Colin, e Eleanor para escutar como Jane compartilhava as melhores guloseimas da Marquesa de Wallingham.

— Ela parece estar mais preocupada com o legado de Lorde Rutherford. — A notícia da morte do Marquês de Rutherford na noite da reunião de Lady Rutherford tinha sido o tema de muita conversação nas últimas semanas. Ajustando seu espetáculo, Jane continuou: — Oh, querida. Tem uma opinião bastante baixa do novo Lorde Rutherford. Escutem isto: Chatham, porque eu não serei persuadida a me referir àquele libertino pelo título previamente estimado de seu pai, indubitavelmente provará redimir-se em todos os aspectos. Alguns sugeriram que sofrerá uma milagrosa transformação em sua herança, que uma nova joia em seu cetro converterá um lobo faminto e voraz em algo parecido a um cavalheiro. Sua mãe tem uma maior probabilidade de unir-se a um convento de monjas, e todos sabemos das predileções de Lady Rutherfor.

Jane se deteve para outro, "Oh, querida", e uma risadinha antes de ler em voz alta.

— Ela fez uma boina para o Humphrey. Ela diz que é um pouco desequilibrado, mas ela culpa suas "orelhas tristemente diminutas”.

Rindo, Vitória disse: — Talvez eu pinte um retrato do Humphrey e acrescente um pouco de longitude aduladora para sua...

— Não vais fazer tal coisa — disse Atherbourne.

— Por que não?

— Pintar o cão significa que terá que passar uma quantidade excessiva de tempo na companhia de Lady Wallingham, o que significa que eu devo fazer o mesmo.

Eleonor, enquanto os observava, interrompeu.

— Eu mantenho que Lady Wallingham não pode ser tão má como dizem. Ninguém pode ser assim.

— Não, tem razão. Ela é pior. — Disse Jane.

— Sim — Vitória concordou. — Muito parecida com um dragão.

Inclusive Harrison comentou: — Se as visitas forem necessárias, recomendo durações curtas. E, se for necessário, reclamar uma enfermidade repentina. — Todos riram, exceto Harrison. — O único que pode ser mais desagradável, para mim, é Lorde Dunston.

Colin gemeu.

— Não outra vez com o mesmo.

— Enganou-me durante anos, nunca conheci o homem. Como se pode confiar em alguém desse tipo?

Sacudindo a cabeça, Colin respondeu: — Se tiver a intenção de continuar com esta hostilidade, talvez possa esperar um mês ou dois antes de ter um distanciamento a grande escala.

— Por que?

Colin olhou à Sarah por um longo momento, e logo depois de volta ao Harrison.

— Dunston e eu estamos em meio a uma... transação.

Harrison se quebrou.

— Que transação?

Suspirando, Colin voltou a olhar Sarah, que franziu o cenho com sua confusão.

— Ia-lhe dizer isso, querida. — Logo se dirigiu ao Harrison e aos outros. — Yardleigh Manor, estou comprando-a, a venda deve estar finalizada em umas poucas semanas.

Sarah estava assombrada.

— Oh, Colin — se perdeu no meio de perguntas de todo o mundo. Ele as respondeu à sua vez.

— Sim, Dunston era o dono, o Conde tinha a intenção que a casa de Devonshire fosse como um refúgio para ele e os que o ajudaram em seus projetos.

Não, Colin não pensou que Dunston mentiria sobre isto, como o tinha feito com todo o resto. Sim, também queria que Eleonor vivesse ali. Sim, se Sarah estivesse de acordo, ele acreditava que podiam usar parte da casa para reabrir a Academia da Santa Catharine para garotas de Impecável Comportamento. E, sim, esteve de acordo em que o nome da escola era comprido e majestoso.

Quando terminou de responder o seu interrogatório, Colin parecia aturdido. Por fim, sorriu à Sarah e lhe fez a pergunta que parecia mais preocupante para ele.

— Está contente, querida?

Em lugar de responder com palavras, ela respondeu com um beijo choroso que durou um pouco mais do que tinha previsto. Quando finalmente se separaram, Sarah se abanou com sua mão.

— Há alguém que quer chocolate quente?

Com gritos de acordo, todos ficaram de pé. Eleonor sugeriu a música.

Vitória insistiu em que Colin se sentasse no pianoforte.

— Oh, faça, Colin — suplicou. — Passou muito tempo desde a última vez que te escutei tocar.

Colin olhou à Sarah, um pequeno sorriso começou a frisar seus lábios, uma pergunta em seus olhos.

Ela assentiu com a cabeça.

— Por favor, marido, me faria muito feliz.

Inclinou-se para sussurrar no seu ouvido.

— Estou sempre ao seu serviço.

Logo sentou-se diante das teclas fazendo uma pausa para respirar, fechou os olhos e começou a tocar, era similar à canção que havia tocado na noite de suas bodas. Mas, em todo caso, era mais rica, mais complexa a cada passagem, podia sentir lembranças fluindo por suas veias, tão quentes como o vinho, cada nota era um momento, uma razão pela qual ela o amava.

“Chuva sobre o campo. Ondas sobre uma orla.

Este homem procurará te merecer e quando for pouco, procurará seu perdão.

A luz do sol sobre as maçãs. Lábios sobre uma boca.

Sua mente será forte para que possa tentar igualar à tua.

Tormenta sobre um teto. Pérolas sobre um pescoço.

Seu coração será feroz e verdadeiro pela mesma razão.

Neve sobre uma rua. Sangue sobre um piso.

Ele verá sua vida como a única razão para ele, e ele a guardará em consequência.

Luz sobre uma janela. Mão sobre uma bochecha.

Verá a si mesmo no espelho de seus olhos, e será mais formosa, mais preciosa que para mim nessa manhã de setembro.”

Sarah olhou aos olhos de seu marido e se viu ali. Formosa. Preciosa.

— Já vê, minha querida menina Impossível.

 

 

                                                    Elisa Braden         

 

 

 

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