Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PROCURANDO POR SEU AMOR PERDIDO / Maya Banks
PROCURANDO POR SEU AMOR PERDIDO / Maya Banks

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

PROCURANDO POR SEU AMOR PERDIDO

 

–Ao ver isto, não é difícil acreditar na instituição do casamento, não é? –comentou Ryan Beardsley.

Estava observando como dançava seu amigo, Rafael de Luca, com sua nova esposa, Bryony.

O banquete estava sendo celebrado em um edifício municipal da ilha Moon. Não era o lugar mais apropriado para uma festa desse tipo e nunca teria imaginado que seu amigo acabasse celebrando ali seu casamento. Mas se deu conta de que era normal que Rafael e Bryony quisessem casar nessa ilha que tanta importância teve em sua relação.

A noiva estava muito bela e sua incipiente barriguinha a fazia brilhar ainda mais.

Em meio a pista, Bryony dançava abraçada a seu marido. Só tinham olhos um para o outro. Não pareciam conscientes de todas as pessoas que os observavam. E seu amigo Rafael sorria como se fosse o homem mais feliz do mundo.

–Parecem muito felizes, quase muito – comentou Devon Carter a seu lado.

Ryan riu ao ouvi-lo. Olhou para Devon. Contemplava os recentemente casados com uma mão no bolso da calça e uma taça de vinho na outra.

–Sim, é verdade – respondeu ele. Riu ao ver que Devon fazia uma careta de desagrado. Sabia que ia ver-se nessa situação muito em breve. Viu que a ideia não o agradava muito, mas decidiu levantar o assunto de todos os modos.

–O que é que te ocorre? Copeland continua insistindo?

–Sim. E não sabe até que ponto. Está empenhado em que me case com Ashley. Não vai aceitar nosso acordo empresarial até que consinta. Agora que encontramos o local adequado para o complexo hoteleiro, estou preparado para dar o passo seguinte. Mas Copeland quer que saiamos antes durante um tempo. Quer que Ashley tenha tempo para costumar-se a mim. Não o entendo, esse homem parece viver no século XIX. Não conheço ninguém mais que intervenha dessa maneira no casamento de sua filha. E, para piorar a situação, é uma condição indispensável para que possamos seguir fazendo negócios. Não consigo compreendê-lo…

–Ao menos se trata de Ashley, me ocorrem outras mulheres com as que estaria muito pior – recordou-lhe Ryan pensativo.

Devon o olhou com gesto pormenorizado.

–Continua sem saber nada de Kelly?

–Não. Mas estou a pouco tempo procurando, acabarei encontrando-a.

–Não sei por que quer encontrá-la. Acredito que seria melhor que a esquecesse e seguisse adiante com sua vida. Está muito melhor sem ela.

Apertou os lábios e olhou a seu amigo antes de responder.

–Já sei que estou melhor sem ela. Não quero encontrá-la para lhe pedir que volte a fazer parte de mim vida.

–Então, por que contratou um detetive para que a encontre? Não o entendo! Acredito que deveria deixar que o passado continue no passado. Supera de uma vez o que ocorreu e olhe para o futuro.

Ryan ficou uns segundos em silêncio. Era difícil de explicar, mas sentia a necessidade de saber onde estava e o que estava fazendo. Tinha muito claro que não devia importar se estava bem ou não. Sabia melhor que ninguém que lhe convinha esquecê-la, mas não podia.

–Quero conseguir algumas respostas –murmurou então– Não chegou a descontar o cheque que dei e quero me assegurar de que não lhe aconteceu nada.

Sabia que era uma desculpa muito pouco convincente, mas era tudo o que tinha. Devon franziu o cenho ao ouvir suas palavras e tomou um gole de vinho.

–Depois do que fez, imagino que se sente um pouco envergonhada e não quer mostrar a cara.

–Talvez tenha razão –respondeu Ryan.

Mas tinha a sensação de que havia algo mais. O incomodava que essa mulher seguisse o preocupando, mas não podia evitá-lo. E o surpreendeu que não cobrasse o cheque que lhe deu.

Não entendia por que continuava pensando nela, mas era assim, estava presente em cada um de seus pensamentos.

Tinha passado muitas noites em claro durante esses últimos seis meses, perguntando-se se estaria bem e a salvo. Não queria sentir-se assim e tratava de convencer-se de que era normal que se preocupasse e que se sentiria igual com qualquer mulher que estivesse nas mesmas circunstâncias.

–Bom, trata-se de seu dinheiro e de seu tempo – disse então Devon– Olhe, aí esta Cameron. Acreditei que esse ermitão não ia sair de sua fortaleza nem sequer para uma ocasião tão especial como esta.

Cameron Hollingsworth abria caminho entre os convidados. Viu que as pessoas se afastavam instintivamente para deixá-lo passar. Era alto e forte. Emanava poder e elegância por todos os poros. Seu caráter frio fazia que não fosse uma pessoa muito afável, mas normalmente conseguia relaxar quando estava com seus amigos.

O problema era que só tinha três amigos: Ryan, Devon e Rafael. Não tinha paciência para ninguém mais.

–Sinto o atraso – disse Cameron quando chegou a seu lado. Ficou olhando uns instantes os recém-casados. Seguiam na pista de dança.

–Como foi a cerimônia? –perguntou Cameron.

–Linda –repôs Devon– O sonho de qualquer mulher. Mas sei que Rafael pouco importava como foi a cerimônia. Somente queria que, ao final do dia, Bryony fosse dele.

Cameron riu ao ouvi-lo.

–Pobre desgraçado. Não sei se deveria felicitá-lo ou dar os pêsames – disse o recém-chegado.

–Bryony é uma mulher boa e encantadora, Rafael teve sorte de encontrá-la – respondeu Ryan.

Devon assentiu com a cabeça e Cameron sorriu.

–Ouvi dizer que para você falta muito pouco para dar esse passo. –disse Cameron a Devon.

O aludido amaldiçoou entre dentes.

–Prefiro não falar disso. O que de verdade interessa-me é saber se conseguiu adquirir o solar onde se edificará o hotel agora que sabemos que não poderá ser na ilha Moon.

Cameron o olhou com incredulidade.

–Acaso duvida da minha capacidade para os negócios? Cheguei a um acordo e temos oito acres em frente à praia de Saint Ângelo. Além disso, consegui muito bom preço. A construção começará assim que conseguir organizar os trabalhadores. Se trabalharmos duro, acredito que conseguiremos terminá-lo a tempo e cumprir assim o prazo que nos havíamos proposto em um princípio.

Os três homens olharam então a Rafael, que continuava dançando com sua esposa. Tiveram que mudar por completo seus planos depois que Rafael decidiu que o hotel não podia construir-se na ilha Moon, mas a Ryan resultava difícil zangar-se com ele ao vê-lo tão feliz.

Sentiu que algo vibrava em seu bolso e tirou o telefone celular. Estava a ponto de recusar a chamada quando viu na tela quem era. Franziu o cenho e se desculpou enquanto saía rapidamente do edifício.

Surpreendeu-o uma forte brisa marinha que lhe agitou o cabelo. Adorava o aroma do mar. Fazia muito bom tempo. Era o dia perfeito para celebrar um casamento na praia.

–Alô?

–Acredito que a encontrei, senhor –disse o detetive sem sequer parar para saudá-lo.

Ficou sem fôlego ao ouvi-lo.

–Onde?

–Ainda não deu tempo para enviar um de meus homens para que confirme. Acabo de receber a informação faz uns minutos e tenho a suficiente certeza de que é ela para avisá-lo. Amanhã poderei lhe dizer algo mais.

–Onde? –perguntou Ryan de novo.

–Está em Houston, trabalha em um restaurante. Nos custou localizá-la porque havia um problema com seu número de Seguridade Social. A pessoa que a contratou se equivocou em um dos dígitos. Quando corrigiram o engano, não demoramos para encontrá-la. Poderei lhe entregar um relatório completo e algumas fotografias amanhã pela tarde.

Houston.

Isso pareceu muito irônico.

Passara todo esse tempo vivendo muito perto dela e sem saber.

–Não, não é necessário – disse Ryan– Irei eu mesmo. Poderei chegar a Houston em duas horas.

O detetive ficou uns segundos em silêncio.

–Mas talvez não se trate dela. Prefiro terminar de solicitar toda a informação e evitar que vá a Houston para nada.

–Acaba de me dizer que pensa que se trata dela – respondeu Ryan com impaciência– E, se não for, não penso fazê-lo responsável do engano.

–Então, quer que diga a meu ajudante que não vá fazer fotografias?

–Se se tratar de Kelly, saberei de imediato – disse depois de ficar uns segundos pensativo– Se não for ela, entrarei em contato com você para que continue procurando-a. De momento, não há necessidade para que envie ninguém ao restaurante. Irei eu mesmo.

 

Ryan conduziu pelo bairro de Westheimer tentando encontrar o que procurava.

Chovia a cântaros. O detetive dissera que Kelly trabalhava em um pequeno restaurante na zona oeste de Houston.

Não o surpreendeu que escolhesse esse tipo de trabalho. Quando se conheceram, era garçonete em um restaurante da moda em Nova York.

Se houvesse descontado o cheque que ele deu, não haveria necessitado trabalhar, ao menos durante algum tempo.

Recordou que, inclusive depois de comprometer-se, Kelly o havia assegurado que queria voltar à universidade. Então, não tinha entendido seu desejo, mas decidiu apoiar sua decisão. Teria preferido que dependesse completamente dele, embora sabia que era algo egoísta por sua parte sentir-se assim.

Cada vez custava mais entender por que não havia descontado o cheque que lhe deu.

Depois de falar com o detetive, despediu-se de Rafael e Bryony, desejando-lhes muita felicidade. Não disse a Cameron nem a Devon que por fim tinha dado com o paradeiro de Kelly. Limitou-se a comentar que tinha um assunto urgente e que devia partir.

Tomou a primeira barca para Gavelston. Mas quando chegou a Houston já era muito tarde e passou a noite em um hotel do centro da cidade. Não conseguiu dormir.

Tinha amanhecido com o céu cinza e coberto de nuvens. Começou a chover quanto saiu do hotel e não tinha parado após. Pensou na sorte que tiveram Rafael e Bryony no dia anterior.

Imaginou que já teriam saído para sua lua de mel.

Olhou a tela de seu GPS e viu que ainda estava a várias quadras do restaurante. Para piorar a situação, todos os semáforos que encontrava estavam vermelhos.

Não entendia por que tinha tanta pressa em chegar. Não era provável que fosse partir antes da sua chegada.

Tinha infinidade de perguntas em sua cabeça, mas sabia que não ia poder conseguir nenhuma resposta até que falasse com ela.

Poucos minutos mais tarde, estacionou frente a um pequeno restaurante.

Ficou olhando-o perplexo, não podia acreditar que Kelly trabalhasse em um lugar como aquele.

Sacudindo a cabeça, saiu de sua BMW e foi correndo até a porta do local. Entrou enquanto tentava sacudir a chuva da roupa.

Olhou seu redor e foi sentar em uma mesa no fundo do restaurante. Uma garçonete que não era Kelly se aproximou pouco depois e lhe entregou o cardápio.

–Só quero um café, por favor – murmurou ele.

–De acordo – respondeu a garçonete.

Retornou alguns minutos depois com o café.

–Se quiser algo mais, é só pedir.

Estava a ponto de abrir a boca para perguntar por Kelly quando viu outra garçonete. Era ela.

Usava sua juba loira um pouco mais longa que antes e presa em um rabo-de-cavalo, mas estava seguro de que se tratava dela. Sentiu uma corrente elétrica que lhe percorreu o corpo ao vê-la ali.

Quando se girou e a viu de perfil, ficou sem fôlego e sentiu que estava a ponto de desmaiar.

Não podia acreditar.

A curva de seu ventre não deixava lugar a dúvidas.

Estava grávida.

Levantou a vista e viu que Kelly também o havia visto. Abriu seus olhos azuis e ficou imóvel.

Antes que pudesse reagir de algum modo, viu que Kelly apertava com fúria os lábios.

Não entendia por que parecia estar tão zangada com ele.

Viu que apertava os punhos, o deu a impressão que estava desejando lhe dar um murro. Depois, sem dizer nada, deu meia volta e foi para a cozinha.

Franziu o cenho ao vê-la desaparecer. O encontro não aconteceu como previu. Não tinha muito claro que tipo de reação havia esperado, mas parte dele tinha sonhado com que Kelly se desculpasse e o pedisse entre lágrimas que voltasse a aceitá-la.

O último que havia esperado era encontrá-la grávida e trabalhando em um restaurante de má reputação como aquele.

Era o tipo de situação em que era normal encontrar uma mãe solteira sem recursos, não a uma mulher que estava a ponto de terminar uma carreira universitária com excelentes qualificações.

Grávida…

Inalou profundamente para tentar se acalmar. Necessitava saber de quantos meses estava.

Parecia estar de sete meses ou possivelmente mais.

Um nó se formou em sua graganta ao pensar nas possibilidades que essa situação apresentava.

Não podia acreditar. Sentiu de repente tanta angústia que custava respirar.

Se estava grávida, grávida de sete meses, havia a possibilidade que aquele fosse seu filho.

Mas também podia ser o bebê de seu irmão.

 

Kelly Christian entrou correndo na cozinha e tratou de tirar o avental. Amaldiçoou entre dentes enquanto tentava desatar sem muita sorte o nó. Era quase impossível com as mãos tão trêmulas.

Perdeu a paciência e arrancou o avental sem esperar desatá-lo. Deixou-o no cabide onde todas as garçonetes penduravam os seus.

Não entendia o que fazia Ryan ali nem como havia conseguido encontrá-la. Partiu de Nova Iorque sem saber o que ia fazer com sua vida. Mas era algo que nesse momento apenas tinha importado. Não tentou se esconder, inclusive tinha imaginado que Ryan poderia tê-la encontrado se o houvesse proposto. Mas já tinham passado seis meses e não entendia por que apareceu justo nesse momento.

Estava segura de que não se tratava de uma coincidência. Esse restaurante não era o tipo de lugar que alguém como Ryan Beardsley frequentava. Sabia que ninguém de sua família se dignaria a entrar em um restaurante que não fosse de cinco estrelas.

Mas sacudiu a cabeça ao ver o que a presença desse homem estava conseguindo. Não gostava de sentir-se assim nem queria sentir tanta amargura.

–O que há, Kelly? –perguntou-lhe Nina.

Virou-se e viu que a outra garçonete a observava com preocupação.

–Fecha a porta –sussurrou Kelly.

Nina fez o que lhe tinha pedido.

–Está bem? Não tem bom aspecto, Kelly. Trata-se do bebê?

Suas palavras a fizeram recordar que estava grávida e o que Ryan teria pensado ao vê-la nesse estado. Tinha que sair dali o quanto antes.

–Não, não me encontro bem – disse então — diga a Ralph que tive que ir, por favor.

–Ele não vai gostar disso – advertiu Nina– Já sabe quanto se zanga quando faltamos o trabalho. Tem que estar quase moribunda para que te permita tomar um descanso.

–Então, diga-lhe que deixei o trabalho – murmurou Kelly enquanto ia para a porta dos fundos.

Mas, antes de sair ao beco, olhou de novo a sua companheira.

–Me faça um favor, Nina. É muito importante, de acordo? Se alguém no restaurante perguntar por mim, qualquer pessoa, não lhe diga nada.

Nina abriu muito os olhos.

–É que está metida em alguma confusão? –perguntou a mulher.

–Não, não é isso. Juro. Trata-se de meu ex-noivo. É um verdadeiro canalha e acabo de vê-lo no restaurante.

Nina apertou furiosa os lábios e a olhou com decisão.

–De acordo, querida. Não se preocupe com nada, eu me encarrego dele.

Saiu pela porta e foi pelo beco para seu apartamento, estava muito perto. Ia ficar ali e pensar no que podia fazer.

 

De caminho para casa, deteve-se zangada. Por que tinha que sair correndo de seu trabalho e devia esconder-se? Depois de tudo, não tinha feito nada errado. Sabia que deveria ter-se aproximado dele e dado um murro em vez de sair fugindo como se fosse uma delinquente.

Subiu as velhas escadas até seu apartamento. Quando entrou, fechou a porta e se apoiou nela. Tinha os olhos cheios de lágrimas. Não queria voltar a ver-se nessa situação. Não desejava que ninguém voltasse a ter tanto poder sobre ela. Esse homem tinha-lhe quebrado o coração.

Ao pensar nele, levou as mãos ao ventre e o acariciou devagar, tentando acalmar ao bebê e a ela mesma.

–Nunca devia ter me apaixonado por ele –sussurrou– Fui uma tola ao pensar que poderia chegar a fazer parte de seu mundo e que sua família chegaria a me aceitar.

Sobressaltou-se a sentir que se movia a porta na qual estava apoiada. O coração começou a pulsar com força.

–Kelly, abre a porta agora mesmo! Sei que está aí!

Tal e como tinha temido, tratava-se de Ryan. A última pessoa que queria ver nesse momento.

Golpeou de novo a porta e o fez com tanta força que teve que afastar-se dela.

–Vá embora daqui –gritou ela– Não quero falar com você.

De repente, a porta tremeu e se abriu de repente. Instintivamente, deu alguns passos atrás e cobriu a barriga.

Ryan enchia a soleira da porta e lhe pareceu mais alto e forte que nunca. Fulminava-a com o olhar, como se pudesse ver o que estava pensando.

Não podia acreditar que estivesse ali, de novo em sua vida. Temia que voltasse a partir seu coração.

–Fora daqui – disse ela tentando controlar sua voz para parecer tranquila – Saia daqui ou chamo a polícia. Não quero falar com você.

–Pois é uma pena – repondeu Ryan indo para ela – Porque eu sim quero falar com você. Para começar, quero saber de quem está grávida.

 

A Kelly custou controlar a ira. Olhou-o enquanto tentava se acalmar.

–Isso não é da sua conta. —Viu que Ryan apertava com força os dentes.

–Se esse bebê é meu, tenho que saber.

Cruzou os braços e o olhou com firmeza.

–Por que ia ser? — Ryan teve a desfaçatez de acusá-la de não ser fiel. Por isso não entendia que entrasse dessa maneira em seu apartamento com a suspeita de que o bebê pudesse ser dele.

–Por que me pergunta isso? Estivemos comprometidos para nos casar. Vivíamos juntos e tínhamos relações sexuais como todo mundo. Tenho direito de saber se esse bebê é meu.

–Bom, temo que isso não há maneira de saber. — disse ela sem deixar de olhá-lo – Depois de tudo, transei com tantos homens ao mesmo tempo… inclusive seu irmão, que se esqueça – adicionou enquanto dava de ombros. Foi até a cozinha e Ryan a seguiu. Sabia que estava furioso, podia senti-lo.

–É uma prostituta, Kelly. Uma prostituta fria e calculista. Estragou tudo o que tínhamos em troca de uma aventura sexual fora de nossa relação.

Girou-se para olhá-lo ao ouvir suas duras palavras. Apertou os punhos. Desejava esbofeteá-lo mais que tudo no mundo, mas conseguiu controlar a ira.

–Saia daqui. Vá e não volte nunca mais – ela disse. Ryan parecia tão zangado e frustrado quanto ela.

–Não vou a nenhuma parte, Kelly. Antes, tem que me dizer o que quero saber.

–Esta criança não é sua, certo? Já está contente? Agora, saia de minha casa.

–Então, é de Jarrod?

–Por que não pergunta a ele?

–Porque nunca falamos de você – respondeu Ryan.

–Eu tampouco quero falar de vocês. O que quero é que saia de minha casa. Não é seu bebê –insistiu ela– Saia de uma vez de minha vida. Eu fiz o que me pediu e saí da sua.

–Não me deixou mais saída que lhe pedir isso.

Cada vez estava mais furiosa, não podia acreditar.

–Como? Ao menos você pôde tomar uma decisão, eu não tive tanta sorte.

Ryan a olhava com incredulidade.

–Certamente… Vejo que continua sendo a mesma e que adora se fazer de mártir.

Foi até a porta principal e a abriu. Esperava que Ryan se desse por aludido. Mas não se moveu.

–Por que vive assim, Kelly? Não posso entender por que fez o que fez, eu teria lhe dado tudo. De fato, fui o bastante generoso ao te dar bastante dinheiro quando rompemos. Preocupava-me que pudesse ver-se em uma situação complicada sem meu apoio econômico. Por isso me surpreende tanto ver que vive em um apartamento como este e que tem um trabalho que está muito abaixo de sua capacidade.

Nunca odiou tanto alguém como odiava Ryan nesse momento. Deu-se conta de que o odiava tanto quanto o amou. Tinha um nó na garganta e não podia respirar. Recordou o dia em que se viu frente a ele, completamente destroçada, e vendo como preenchia um cheque e o entregava sem mal olhá-la. Seus olhos tinham demonstrado então que não a queria, que nunca amou. Quando mais tinha necessitado dele, Ryan a decepcionou, tratando-a como se não fosse mais que uma prostituta. Sabia que nunca ia poder perdoá-lo.

Muito devagar, voltou para a cozinha. Abriu a gaveta onde guardava o cheque. Tinha-o dentro de um envelope. Era um aviso de todos os sonhos que se romperam e de até que ponto alguém podia chegar a trai-la. Olhava-o de vez em quando, mas prometeu a si mesma que nunca o descontaria, por mais necessitada que estivesse. Tirou-o da gaveta e voltou para o vestíbulo. Apertou o envelope entre suas mãos e o atirou a ele.

–Aí tem seu cheque –disse entre dentes– Leve isso e saia para sempre de minha vida.

Ryan abriu o envelope e tirou o cheque.

–Não entendo –respondeu ele olhando-a de novo nos olhos.

–Nunca entendeu –sussurrou ela – E, como vejo que não vai sair do apartamento, irei eu.

Antes que Ryan pudesse detê-la, saiu e fechou atrás dela a porta.

Ryan ficou olhando o cheque que tinha em suas mãos com incredulidade. Sentia-se muito confuso. Não entendia por que Kelly estava tão zangada nem por que falava como se fosse um homem ruim e desprezível. Não acreditava ter feito nada para que o tratasse dessa maneira. Olhou a seu redor. Era um apartamento pequeno e muito simples. Os móveis eram baratos e velhos. Foi à cozinha e abriu a geladeira. Amaldiçoou entre dentes ao ver que só havia leite, um pouco de queijo e um pote de manteiga de amendoim. Tampouco encontrou comida nos armários. Cada vez estava mais zangado. Não entendia como podia viver dessa maneira, nem sequer tinha comida. Olhou de novo o cheque que segurava em suas mãos e sacudiu a cabeça. Escreveu muitos zeros ali para que pudesse manter-se sem trabalhar durante muitos meses. Não conseguia compreender por que não o descontou. Tinha muitas perguntas na cabeça. Pensou que possivelmente se sentisse culpada pelo que tinha feito e, embora tarde, tinha consciência para não aceitar seu dinheiro.

Quão único tinha claro nesse momento era que não pensava sair dali. Não tinha nenhum sentido que vivesse dessa maneira e trabalhasse tanto quando podia permitir-se levar uma vida melhor. Nem sequer queria pensar em como pensava subsistir depois que nascesse a criança.

Seu filho ou não, não iria embora dali até assegurar-se de que ia ter uma vida digna. Acreditava que Kelly não estava se cuidando. Era algo que ele sempre fez e estava disposto a continuar fazendo-o, ela gostasse ou não.

 

Kelly saiu pela parte de trás do edifício. Não voltou para o trabalho, embora soubesse que isso teria sido o mais inteligente. Podia viver sem receber um dia, mas ia sentir falta das gorjetas que esteve economizando durante esses meses. Precisava pensar e tentar se acalmar. Tinha deixado de chover, mas o céu seguia encoberto e havia grandes nuvens negras na distância. Ela se sentia igual por dentro. Tinha os olhos cheios de lágrimas, mas tentou acalmar-se. Não queria que Ryan tivesse tanto poder sobre ela.

Havia um pequeno parque infantil a três quadras de seu apartamento. Estava abandonado. Nunca viu crianças brincando ali. Os balanços estavam vazios e o vento os balançava brandamente. Sentou-se em um dos bancos. Sua mente era um autêntico caos de ira, dor e surpresa. Não sabia que fazia ali esse homem.

Ryan ficara surpreso ao vê-la grávida. Durante esses últimos meses, tinha passado muito tempo pensando em sua relação e, ao mesmo tempo, tentando esquecê-lo. Mas não podia fazê-lo.

Deu-se conta de que tinham ido muito depressa. Passou muito pouco tempo depois que se conheceram em um restaurante de Nova Iorque até que se comprometeram. Não teve oportunidade de conhecê-lo de verdade. Apaixonou-se por ele à primeira vista e se deixou levar. Não parou para pensar que Ryan não estivesse sendo sincero com ela ou que na realidade não estivesse disposto a comprometer-se. Os obstáculos que tiveram então lhe pareceram insignificantes.

Pertenciam a dois mundos distintos. Ryan procedia de uma rica família, mas ela tinha sido o bastante inocente para acreditar que isso não importava e que o amor era suficiente. Acreditava que seus amigos e sua família acabariam por aceitá-la. Tinha sido bastante estúpida para concentrar-se em ser unicamente a noiva perfeita.

Deixou seus estudos na universidade, permitiu que Ryan a aconselhasse como vestir-se e a convencesse para que fosse viver com ele. Tinha acreditado que o amor podia tudo, mas tinha se dado conta depois do quão equivocada esteve.

Ryan nunca a amou como ela a ele. De outro modo, não a teria traído como o fez. Fechou os olhos e respirou profundamente. Não queria chorar.

Quando terminou tudo entre os dois, ela partiu de Nova Iorque tão depressa quanto pôde para Houston. Com muito trabalho, tinha conseguido subsistir nessa cidade.

Não era uma situação ideal, mas era tudo o que tinha. Não ia poder voltar para a universidade até que nascesse o bebê. Por isso estava trabalhando tão duro e economizando tudo o que podia quando chegasse esse momento. Vivia no apartamento mais barato que tinha encontrado. Pensava mudar-se para um lugar melhor quando nascesse o bebê. Poderia então terminar os dois semestres que ficavam para licenciar-se e, com um pouco de sorte, conseguir assim um trabalho melhor. Não queria depender de Ryan Beardsley. Tampouco queria saber nada de sua família nem de seu dinheiro.

Esse era seu plano, mas a aparição de Ryan tinha conseguido transtornar sua vida. Esfregou as têmporas com as pontas dos dedos. A cabeça doía e estava muito cansada. Não sabia o que trazia esse homem entre as mãos, mas estava muito esgotada para pensar nisso.

Incomodava-a estar reagindo dessa maneira. Acreditava que não tinha por que fugir dele nem esconder-se em um banco do parque. Ela não fez nada errado e não ia permitir que Ryan transtornasse seus planos. Estava decidida a conseguir que saísse de seu apartamento e disposta a chamar a polícia se chegasse o caso. Acreditava que esse homem já não tinha nenhum poder sobre ela.

Imaginou que tinha reagido assim pela surpresa. Sua aparição fora inesperada e não teve tempo para refletir.

Respirou profundamente um par de vezes para tentar se acalmar. Mas tinha um nó na garganta. Deu-lhe a impressão de que não ia ser nada fácil livrar-se de Ryan e que esse homem poderia chegar a transtornar seus planos. Acreditava que, se Ryan metesse na cabeça que esse bebê era dele, não ia poder afastá-lo. Mas, se tentasse convencê-lo de que não era assim, Ryan ia pensar que seu irmão era o pai. A situação era muito complicada. O primeiro que queria fazer era tirar Ryan de seu apartamento. Não tinha tanto dinheiro nem contatos como ele, mas tampouco estava disposta a deixar que a avassalasse.

Caiu-lhe uma gota de chuva na cabeça e suspirou frustrada. Tinha começado a chover de novo. Se não retornasse ao apartamento o quanto antes, acabaria ensopada.

De volta para ali, conseguiu animar-se um pouco ao pensar que possivelmente ele já teria ido. Embora andava depressa, chegou completamente ensopada em casa. Estava tremendo quando abriu a porta do apartamento.

Não a surpreendeu ver que Ryan continuava na sala, dando voltas como um leão enjaulado. Girou-se para ela ao ouvi-la entrar.

–Onde demônios esteve? –perguntou zangado.

–Isso não é da sua conta.

–Claro que é. Não voltou para o trabalho. Está chovendo e está ensopada. Por acaso ficou louca?

Riu ao ouvi-lo.

–Parece que sim. Ou talvez estivesse louca e já não o esteja. Saia daqui, Ryan. Este é meu apartamento e não tem direito de estar em minha casa. Não pode fazer o que quiser. Se não me deixar outra opção, juro que chamarei a polícia e conseguirei que me deem uma ordem de afastamento.

Ryan a olhou surpreso e com o cenho franzido.

–Acaso acha que te machucaria?

–Não acredito que seja capaz de me bater, mas há outras maneiras de machucar às pessoas.

Ele amaldiçoou entre dentes, parecia frustrado.

–Tem que comer. Não há nada de comida no apartamento. Não se dá conta de que tem que se cuidar e cuidar do bebê? Está trabalhando de pé todo o dia e não come o suficiente.

–Fala como se de verdade se importasse –respondeu ela – Mas os dois sabemos que não é assim. Não se preocupe por mim, Ryan. Cuido muito bem de mim mesma e também do bebê.

Ryan foi para ela com ira.

–Claro que me importa. Não fui eu que botei tudo a perder. Foi você que fez isso, não se esqueça.

Não podia acreditar. Levantou a mão tremente e assinalou a porta.

–Saia daqui. Agora mesmo –disse com firmeza.

–Tudo bem. Irei, mas voltarei amanhã às nove da manhã –respondeu Ryan.

Franziu o cenho ao ouvir suas palavras.

–Tem consulta com o médico e vou te levar.

Deu-se conta de que tinha aproveitado bem o tempo que o deixou sozinho em seu apartamento. Embora um homem com os contatos que tinha ele, só precisava fazer algumas chamadas para conseguir qualquer coisa que pudesse necessitar.

—Pode não estar entendendo, Ryan. Terei que lhe deixar isso muito claro. Não penso ir a nenhum lugar com você. Não somos nada e não tem que cuidar de mim. Tenho meu próprio médico e não vai me levar a nenhum outro.

–E quando foi a última vez que viu seu médico? –perguntou ele– Tem muito mau aspecto, Kelly. Não está se cuidando. E isso não pode ser bom nem para você nem para o bebê.

–Não finja que se importa –insistiu ela– Limite-se a sair daqui, por favor. — Ryan abriu a boca para protestar, mas não o fez. Foi para a porta e girou antes de sair.

–As nove da manhã. Vou leva-la ao médico queira ou não.

–Quando as rãs criarem cabelo –murmurou ela enquanto fechava a porta de repente.

 

À manhã seguinte, Kelly despertou cedo, como fazia cada dia. Mas olhou o relógio e viu que tinha dormido mais da conta. Ia ter que se apressar para chegar ao restaurante às seis. Tomou banho e rapidamente se vestiu.

Quando abriu a porta para sair de casa, suspirou ao ver que Ryan não a esperava nas escadas. Esse homem estava transtornando sua vida e conseguindo que se convertesse em uma pessoa paranóica. Deu-se conta que não tinha conseguido esquecê-lo. Soube assim que o viu no restaurante no dia anterior.

Poucos minutos depois, chegou ao trabalho. Nina já estava servindo cafés da manhã aos clientes mais madrugadores. Vestiu o avental e saiu à sala de refeições com o bloco de notas na mão.

Durante a primeira hora, tentou concentrar-se no trabalho e não pensar em Ryan, mas não teve muito êxito. Equivocou-se com três dos cafés da manhã que serviu e derramou café quente em cima de um de seus clientes.

Decidiu que o melhor que podia fazer era voltar para a cozinha e tentar acalmar-se. Estava já um pouco melhor e pronta para voltar a trabalhar quando Ralph entrou furioso.

—Que demônios está fazendo aqui? –perguntou-lhe.

–Trabalho aqui, não lembra? – respondeu ela com o cenho franzido.

–Não mais. Fora daqui.

Empalideceu ao ouvi-lo e um nó se formou na garganta. Não podia acreditar.

–Está-me despedindo?

–Ontem saiu do restaurante durante as horas de mais trabalho. Sem dizer nada, sem avisar. E não voltou durante todo o dia. Que demônios esperava? Volta hoje como se nada tivesse acontecido e vários clientes se queixaram.

Respirou profundamente e tentou se tranquilizar.

– Ralph, necessito deste trabalho. Ontem… não me encontrava bem, certo? Não voltará a ocorrer.

–Isso já sei. Não voltará a acontecer. Não deveria tê-la contratado – disse seu chefe – Mas necessitava desesperadamente de uma garçonete. De outro modo, nunca teria contratado uma grávida.

Não queria ter que suplicar, mas não ficava outra opção. Sabia que ninguém ia contratá-la em seu estado. Só precisava uns meses mais, até que o bebê nascesse. Até então, esperava ter podido economizar dinheiro suficiente para poder cuidar da criança durante uns meses e terminar a universidade.

–Por favor – disse com lágrimas nos olhos– Dê-me outra oportunidade. Nunca voltarei a me queixar, prometo. Nem voltarei a faltar. Preciso deste trabalho.

Mas Ralph tirou um envelope do bolso de sua camisa e o entregou.

–Aqui tem o que te devo, menos o dia de ontem, claro.

Aceitou-o com mãos tremulas. Ralph saiu da cozinha sem dizer nada mais. Estava furiosa. Embora tivessem passado meses, Ryan seguia arruinando sua vida. Tirou o avental e o atirou ao chão. Saiu pela porta de trás como tinha feito no dia anterior. De volta ao apartamento, olhou o envelope que levava na mão. Sentia-se desolada. E se arrependeu nesse momento de ter deixado que o orgulho a dominasse. Deveria ter aceitado o cheque que Ryan lhe deu. Assim teria tido a oportunidade de terminar seus estudos e poder cuidar de seu pequeno. Tinha muitas razões para recusar seu dinheiro e para rasgar esse cheque em mil pedaços. Acreditava que por isso o tinha conservado durante seis meses, porque uma parte dela esperava poder ter a satisfação de devolvê-lo em pessoa. Tinha sido importante para ela poder fazê-lo e que Ryan não tivesse a satisfação de sossegar sua consciência com esse dinheiro como se fosse uma prostituta. Mas seu maldito orgulho foi a causa de ter que trabalhar de pé durante muitas horas ao dia e de que não pudesse permitir um apartamento um pouco melhor. Decidiu que tinha que deixar de lado seu orgulho, ir ao primeiro banco que encontrasse e descontar o cheque de Ryan Beardsley.

 

Ryan subiu as escadas até o apartamento de Kelly. Havia muitos degraus em mal estado e áreas sem corrimão. Parecia-lhe incrível que não caiu pelas escadas em alguma ocasião. Não sabia se ia encontrá-la no apartamento, mas passou pelo restaurante antes de ir a sua casa e um homem bastante desagradável, um tal Ralph, havia-lhe dito que Kelly não estava ali. Franziu o cenho ao ver que a porta de seu apartamento não estava fechada com chave. Abriu-a e encontrou Kelly de joelhos no chão, procurando algo debaixo da cadeira de balanço.

Viu que murmurava frustrada enquanto se levantava do chão.

–O que acha que está fazendo?

Kelly gritou sobressaltada e girou para olhá-lo.

–Fora daqui! –exclamou ela.

Levantou as mãos para que se acalmasse.

–Sinto ter te assustado, mas a porta não estava fechada com chave.

–E acha que isso te dá o direito de entrar sem bater? Não te ocorreu bater na porta? Se não ficou claro ontem, mas não quero vê-lo aqui, Ryan.

Kelly foi à cozinha e a seguiu. Viu que abria e fechava todos os armários. Parecia estar procurando algo com desespero. Já tinha imaginado que não gostaria de vê-lo ali, mas teve a esperança de que estivesse um pouco menos zangada nesse dia.

Perdeu a paciência ao ver que ficava de novo de joelhos. Foi até onde estava e a ajudou a levantar-se.

–O que está procurando?

Kelly se afastou para que deixasse de tocá-la.

–O cheque. Estou procurando o cheque!

–Que cheque?

–O cheque que me deu.

Tirou-o então do bolso e a olhou.

–Este cheque?

Kelly tentou agarrá-lo, mas ele o elevou por cima de sua cabeça.

–Sim! Troquei que opinião e vou recebê-lo.

–Sente-se, Kelly, por favor. Explique-me o que aconteceu. Depois de esperar seis meses e de jogar o cheque em minha cara, como é que mudou de opinião? Ficou louca?

Ficou surpreso com a afirmação dela. Kelly se deixou cair em uma das cadeiras da cozinha e cobriu o rosto com as mãos. Ficou perplexo ao ver que começava a chorar. Não sabia o que fazer. Nunca pôde suportar vê-la assim. Sentiu-se muito aborrecido.

Apoiou o joelho no chão e, com suavidade, afastou-lhe as mãos do rosto. Kelly afastou a vista. Parecia envergonhada, como se não quisesse que ele a visse nesse estado.

–O que aconteceu, Kelly? – perguntou-lhe.

–Me despediram do trabalho. – respondeu ela entre soluços – E foi por sua culpa.

–Por minha culpa? O que eu fiz?

Ao ouvir suas palavras, Kelly o olhou indignada.

–O que você fez? Nada, não é? Nunca é sua culpa, não é a primeira vez que ouço isso. Aposto que tudo é minha culpa, como foi tudo o que ocorreu durante nossa relação. Limite-se a me dar o cheque e saia daqui. Não terá que voltar a preocupar-se comigo.

–De verdade espera que eu vá e que te deixe assim? –perguntou ele com incredulidade enquanto voltava a guardar o cheque – Temos muito do que falar, Kelly. Não vou a nenhuma parte e você tampouco. O primeiro que vamos fazer é ir a um médico para que faça uma revisão das suas condições. Não tem bom aspecto. Sinto ser tão direto, mas alguém tem que lhe dizer isso.

Kelly ficou lentamente em pé.

–Não penso ir a nenhum lugar com você. Se não vai me dar o cheque, saia daqui. Não temos nada mais do que falar.

–Falaremos do cheque depois de ir ao médico – respondeu ele. Ela o olhou com desprezo.

–Como se atreve a me chantagear dessa maneira?

–Chame como quiser, não me importa. Vai ao médico comigo. Se te disser que está bem, entregarei o cheque e não terá que voltar a me ver.

–Tem certeza? –perguntou-lhe ela com certa desconfiança. Ele assentiu com a cabeça. Sabia que nenhum médico estaria satisfeito com seu estado. Parecia esgotada e estava pálida. Viu que ficava pensativa, como se estivesse decidindo se ia aceitar suas condições ou não. Respirou tranquilo ao ver que fechava os olhos e suspirava.

–De acordo, Ryan. Irei com você ao médico. E quando nos disser que estou perfeitamente, não quero voltar a vê-lo.

–Se disser que está bem, não terá que fazê-lo.

Kelly voltou a sentar-se na cadeira. Não podia acreditar, não parecia consciente de quão mau estava. Acreditava que necessitava de alguém que cuidasse dela e se assegurasse de que comesse bem. Também precisava descansar o suficiente.

–Bom, deveríamos ir já. A consulta é dentro de meia hora e não sei se haverá muito tráfego.

Viu que se deu por vencida. Levantou-se, tomou sua bolsa e foi para a porta.

 

Kelly não deixou de olhar pela janela durante o trajeto no carro. Sua discussão com Ryan tinha conseguido esgotá-la. Queria-o fora de sua vida. Nem sequer podia olhá-lo, era muito doloroso. Viu que estacionava frente a um moderno edifício. Era uma clínica médica. Subiram no elevador até o quarto andar e Ryan se encarregou de falar com a recepcionista.

Preencheu os papéis com seus dados médicos e uma enfermeira a acompanhou ao lavabo. O primeiro requisito era um teste de urina. Quando terminou, outra enfermeira a levou até um dos consultórios, ali a esperava Ryan.

Fulminou-o com o olhar ao vê-lo. Abriu a boca para lhe dizer que saísse dali, mas Ryan se adiantou.

–Quero estar presente quando o médico falar com você –disse ele. Deu-se conta de que tinha essa batalha perdida, não queria discutir ali com ele. Apoiou-se na maca, tentando convencer-se de que já não ia ter que suportá-lo durante muito mais tempo. Assim que o médico lhe dissesse que estava bem, poderia livrar-se por fim dele.

Poucos minutos mais tarde, chegou um doutor jovem e lhe dedicou um sorriso. Pediu que se deitasse na maca. Mediu-lhe o ventre e escutou os batimentos do coração do bebê. Depois, aproximou uma máquina e aplicou um gel transparente na sua barriga. Levantou a cabeça sobressaltada ao ver o que fazia. O gel estava muito frio.

–O que esta fazendo?

–Pensei que gostaria de ver seu bebê. Vou fazer uma ecografia para medi-lo e comprovar a data aproximada em que completará a gestação. Tudo bem?

Kelly assentiu com a cabeça e o doutor começou a mover um aparelho sobre sua barriga. Depois, assinalou algo na tela da máquina.

–Essa é a cabeça –disse o médico. Ryan se aproximou para poder ver o monitor. Ela tinha que estirar muito o pescoço para poder observar a tela. Ao vê-la assim, Ryan colocou uma mão sob a nuca para que pudesse vê-lo mais comodamente. Encheram-lhe os olhos de lágrimas ao ver a imagem e não pôde evitar sorrir.

–É linda –murmurou ela.

–Sim, é – respondeu Ryan muito perto de seu ouvido.

–Bom, linda ou lindo –se corrigiu Kelly.

–Vocês gostariam de conhecer o sexo do bebê? –perguntou-lhes o médico– Podemos tentar averiguá-lo.

–Não, quero que seja uma surpresa –disse ela.

O médico seguiu examinando a imagem e fazendo algumas anotações. Depois, limpou-lhe a barriga.

Entregou-lhe uma imagem do que acabaram de ver na tela. Era incrível ter uma ecografia de seu bebê, mas estava um pouco nervosa, o médico estava fazendo muitas anotações em sua caderneta.

–Estou um pouco preocupado com você –disse o doutor.

Kelly franziu o cenho e tratou se levantar. Ryan a ajudou a fazê-lo.

–Tem a pressão muito alta e encontramos traços de proteína em sua urina. Vi que tem as mãos e os pés inchados e temo que não está se alimentando muito bem, deveria pesar mais a estas alturas da gravidez. São sintomas de pré-eclâmpsia e se trata de uma condição muito perigosa que pode ter consequências sérias.

Não podia acreditar. Estava sem palavras.

–O que é a pré-eclâmpsia? –perguntou Ryan ao doutor.

–Trata-se de uma complicação que está associada com uma hipertensão provocada durante a gravidez e com elevados níveis de proteína na urina. Pode resultar em uma eclâmpsia. Em casos severos, ficam em perigo a vida do feto e da mãe – explicou o médico– Se sua condição piorar um pouco mais, terá que ser internada no hospital e ficar ali até que chegue o momento de dar a luz. Se você e seu marido não me asseguararem que vai fazer repouso absoluto e se cuidar mais, terei que interná-la no hospital.

–Não é meu… –começou ela.

–Com isso não se preocupe –a interrompeu Ryan– Não deixarei que mova nem um dedo. Tem minha palavra.

–Mas… –protestou Kelly.

–Não quero ouvir nenhum “mas” – disse o médico enquanto a olhava sério nos olhos– Acredito que não entende quão perigosa é esta condição. Se piorar, poderá morrer. A eclâmpsia é a segunda causa de morte materna nos Estados Unidos e é a complicação mais frequente que nos deparamos durante a gravidez. Isto é muito sério e tem que tomar todas as precauções necessárias para que não piore.

Viu que Ryan estava muito pálido e ela também sentiu que lhe gelava o sangue.

–Doutor, asseguro-lhe que a partir de agora Kelly se limitará a descansar e a comer –assegurou Ryan.

O médico assentiu com a cabeça e se despediu dos dois.

–Eu gostaria que voltasse dentro de uma semana. Se sentir uma forte dor de cabeça ou vê que piora o inchaço de suas mãos e seus pés, vão diretamente ao hospital, de acordo?

Assim que ficaram sozinhos, Kelly se sentou na maca. O que o médico acabava de lhes dizer tinha conseguido assustá-la. Ryan se aproximou e lhe apertou carinhosamente as mãos.

–Não quero que se preocupe com nada, Kelly.

Esteve a ponto de começar a rir ao ouvi-lo. Nunca teve tantos motivos para estar preocupada. Sentiu vontade de gritar e sair correndo da clínica.

–Venha, vamos – sussurrou ele. Deixou que a acompanhasse até o estacionamento e que a metesse no carro sem protestar. Não podia acreditar que estivesse acontecendo algo assim.

Ryan ligou o motor e começaram o trajeto de volta a seu apartamento, mas ela seguia sem poder falar. Não tinha mais trabalho, e segundo o que acabava de lhe dizer ao médico, era melhor assim. Se continuasse trabalhando no mesmo ritmo, sua condição poderia piorar rapidamente. Mas não sabia como ia poder subsistir sem trabalhar. Estava desesperada e não gostava de sentir-se tão vulnerável como o estava nesses momentos.

Sobressaltou-se ao ouvir o celular de Ryan. Este respondeu a chamada e o olhou de esguelha ao ver que pronunciava seu nome.

–Vamos agora ao apartamento de Kelly, para recolher suas coisas. Reserve duas passagens de Houston e me ligue quando tiver o número de voo e a hora de embarque. Depois, ligue ao consultório do doutor Whitcomb em Hillcrest e lhes peça que enviem o histórico médico de Kelly ao doutor Bryant de Nova Iorque. Encarregue-se de manter as coisas ao dia no escritório, que Linda analise os contratos que necessitem minha assinatura. Voltarei para o escritório dentro de uns dias. — Ryan desligou pouco depois e guardou o telefone.

–Pode-se saber do que estava falando? –perguntou ela com incredulidade.

–Vem para casa comigo – respondeu ele.

–Por cima de meu cadáver – replicou ela furiosa.

–Não estou pedindo – insistiu isso Ryan com firmeza–precisa de alguém que cuide de você, já que você se nega a fazê-lo. Acaso quer pôr em perigo a saúde do bebê? Ou a sua? Dê-me uma solução, Kelly. Demonstre-me que posso sair daqui sabendo que vai ficar bem.

–É que não entende que não quero nada de você?

–Sim, me deixou isso muito claro quando se deitou com meu irmão. Mas o caso é que esse pode ser meu filho ou meu sobrinho. De um modo ou outro, não vou embora daqui sem saber que os dois estão bem. Por isso tem que vir comigo a Nova Iorque. E, se negar, terei que te levar arrastando até o avião.

–Não é seu filho – disse ela.

– Então, de quem é?

–Isso não é da sua conta.

–Vai vir comigo –insistiu Ryan – Não faço isso somente por um bebê que nem sequer sei de quem é.

–Por que o faz então?

Ryan não respondeu. Quando chegaram a seu apartamento, saiu do carro antes que Ryan pudesse lhe abrir a porta e ajudá-la. Subiu as escadas tão depressa quanto pôde, mas ele a seguia muito de perto e não lhe deu tempo de fechar a porta de seu apartamento antes.

–Temos que falar, Kelly.

–É verdade. Disse-me que poderíamos falar do cheque depois de ir ao médico. Estava disposto a jogar isso na minha cara quando me chamou de prostituta. Agora sou que quero esse cheque e pouco me importa já o que pense de mim.

–Já não há trato.

–Maravilha! –replicou ela com sarcasmo.

–Quero que volte para Nova Iorque comigo.

–Está louco – disse com incredulidade– Por que iria a algum lugar com você?

–Porque precisa de mim.

Sentiu uma forte dor no peito ao ouvi-lo e ficou sem fôlego.

–Já precisei de você em outra ocasião e não o tive.

Separou-se dele antes que Ryan pudesse responder. Estava muito assustada, mas não podia dar seu braço a torcer. Ryan ficou em silêncio. Quando voltou a falar, notou algo diferente em sua voz, parecia muito afetado por algo.

–Vou sair à farmácia para comprar o que te receitou o médico. Também comprarei algo para comer. Quando voltar, espero que já tenha feito a mala.

Sentou-se na cadeira de balanço assim que ficou sozinha. Tinha uma forte dor de cabeça e esfregou a testa para tentar aliviá-la. Sua vida mudou por completo em umas poucas horas. Só dois dias antes, teve um plano. Um plano bastante bom. Mas ficou sem trabalho, tinha problemas de saúde e seu ex-noivo a estava pressionando para que voltasse para Nova Iorque com ele.

Não fazia qualquer graça ter que fazê-lo, mas se deu conta de que ia ter que ligar para sua mãe. Jurou a si mesma que nunca voltaria a lhe pedir nada, mas nesse momento se deu conta de que não tinha outra opção.

Tomou o telefone e respirou profundamente antes de marcar seu número. Nem sequer sabia se Deidre continuava vivendo na Florida. Sua mãe tinha deixado de ocupar-se dela assim que terminou seus estudos no colégio. Faltou-lhe tempo para jogá-la de casa. Estava desejando poder viver com seu último namorado.

Teve inclusive o descaramento de lhe dizer que já lhe tinha dedicado dezoito anos, os melhores de sua vida. Anos que nunca ia recuperar e que tinha esbanjado criando uma filha que nunca quis ter. Ao recordá-lo, esteve a ponto de desligar o telefone, mas sua mãe já tinha atendido.

–Mamãe? –perguntou ela.

–Kelly? É você?

–Sim, mamãe. Sou eu. Ligo porque preciso da sua ajuda. Veja… Estou grávida e preciso ir viver com você.

Sua mãe ficou em silêncio.

–Onde está esse noivo tão rico que tinha?

–Já não estamos juntos – repondeu Kelly – Agora vivo em Houston. Perdi meu trabalho e não me encontro bem. O médico se preocupa com minha saúde e a do bebê. Necessito um lugar onde ficar durante umas semanas, até que esteja melhor.

Ouviu que sua mãe suspirava.

–Não posso te ajudar, Kelly. Richard e eu estamos muito ocupados e a verdade é que nem sequer temos espaço em casa.

Sentiu-se muito magoada. Já tinha imaginado que de nada ia servir ligar para sua mãe. Desligou sem se despedir, não tinha nada mais que lhe dizer. Sua mãe nunca foi uma mãe de verdade, limitou-se a cuidá-la porque não tinha outra saída, se não fazê-lo.

–Amo você – sussurrou enquanto acariciava a barriga – E sempre a amarei. Vou desfrutar de cada momento que passar contigo.

Apoiou as costas na cadeira de balanço e olhou ao teto. Sentia-se muito vulnerável. Fechou os olhos. Estava esgotada… despertou de repente quando alguém lhe sacudiu o ombro.

Abriu os olhos e viu que Ryan a olhava preocupado. Tinha um prato e um copo de água nas mãos.

–Trouxe comida tailandesa – disse ele. Era sua comida favorita e a surpreendeu que o recordasse.

Levantou-se com dificuldade e tomou o prato que lhe oferecia. Ryan foi à cozinha buscar uma cadeira e se sentou a seu lado. Incomodava-a que ele estivesse observando-a enquanto comia e decidiu concentrar-se no que tinha no prato.

–Não vai servir de nada me ignorar – disse ele então.

Deixou de comer e o olhou.

–O que quer, Ryan? Continuo sem entender o que faz aqui ou por que quer que volte com você para Nova Iorque. Não entendo por que se importa tanto como estou. Deixou-me muito claro faz uns meses que me queria fora de sua vida.

–Está grávida e necessita de ajuda. Não parece motivo suficiente para que queira te ajudar?

–Não! Não é!

Ryan apertou os dentes, zangado.

–Muito bem, direi isso de outra maneira – disse ele – Você e eu temos muito do que falar. Entre outras coisas, tenho que saber se sou o pai da criança. Necessita de ajuda e posso ajudá-la. Alguém tem que cuidar de você. Necessita de um bom médico e posso te proporcionar todas essas coisas.

Desesperada, levou as mãos à cabeça e se deixou cair contra o respaldo da cadeira de balanço. Ao vê-la assim, Ryan ficou de joelhos a seu lado e lhe tocou com cuidado um braço, como se estivesse acariciando um animal selvagem e assustado.

–Venha comigo, Kelly. Sabe que somos nós os que temos que solucionar esta situação. Tem que pensar no bebê. — Não gostava que tentasse manipulá-la dessa maneira, fazendo com que se sentisse culpada. –Não pode trabalhar. O médico disse que deve fazer repouso para não pôr em perigo sua saúde e a do bebê. Se não aceitar minha ajuda, faça ao menos pela criança. Ou acaso é seu orgulho mais importante que seu bem-estar?

–E o que se supõe que vamos fazer quando chegarmos a Nova Iorque, Ryan? – perguntou-lhe ela.

– Vai descansar e, enquanto isso, falaremos de como vai ser nosso futuro.

Um nó se formou em sua garganta ao ouvir suas palavras. Falava com muita seriedade e a surpreendeu que falasse do futuro deles três. Sabia que não devia aceitar sua proposta, mas tampouco podia deixar de fazê-lo. Tinha estado disposta a engolir seu orgulho e aceitar o cheque, imaginou que também podia fazer o que lhe sugeria Ryan pelo bem do bebê.

–De acordo, irei – sussurrou ela. Ryan a olhou triunfante. –Então, vamos fazer as malas e sair daqui o quanto antes.

 

Quando Kelly despertou à manhã seguinte, demorou uns segundos em recordar onde estava. Custava acreditar, mas estava em Nova Iorque e com Ryan. Em poucas horas, esse homem a ajudou a fazer as malas e a tinha levado ao aeroporto. O avião aterrissou no aeroporto de La Guarda quase a meia-noite e um carro os esperava para levá-los até seu apartamento. Quando chegaram, estava tão esgotada que foi diretamente ao quarto de hóspedes. Era incrível estar ali de novo, em uma casa que era tão familiar. Esse lugar tinha sido seu lar e sentiu uma grande dor no peito ao ver-se ali de novo. Até o aroma desse apartamento lhe parecia familiar. Perto desse quarto de hóspedes estava o que Ryan e ela tinham compartilhado, onde tinham feito amor infinidade de vezes e onde foi concebido o bebê que crescia em seu ventre. Mas também foi ali onde sua vida tinha mudado para sempre. Era uma situação muito complicada, mas já tinha aceitado que não tinha outra opção. Tomou banho rapidamente, vestiu-se e foi à sala. Ryan estava ali, escrevendo algo em seu computador portátil. Levantou a vista ao ouvi-la.

–O café da manhã está pronto. Estive esperando que se levantasse para comer.

Foi à cozinha, onde alguém tinha preparado uma mesa para dois. Ryan começou a servir ovos, presunto e torradas nos dois pratos. Sentou-se à mesa e se deu conta de que fazia muitas semanas que não se sentia tão bem. Não foi consciente do quão esgotada estava até que o médico a obrigou a descansar.

–Como se encontra? –perguntou Ryan.

– Bem – murmurou ela enquanto mastigava. Tinha recuperado o apetite e se concentrou na deliciosa comida que tinha frente a ela. Tudo aquilo era muito estranho. Comportavam-se com deliciosa educação, como se a situação fosse normal. Mas não era. Teria preferido voltar para seu quarto e esconder-se sob a colcha, era muito mais suportável que ter que compartilhar esse café da manhã para dois que Ryan preparou.

—Durante algum tempo, vou ficar trabalhando de casa –disse ele.

–Por que?

–Não é óbvio? –perguntou-lhe Ryan.

–Isto não vai funcionar. Não posso ficar em casa com você me vigiando todo o tempo. Prefiro que vá ao trabalho e faça sua vida normal.

Sem dizer nada mais, Ryan se levantou e saiu da cozinha. Incomodava-a que agisse como se ele fosse a vítima, como se ela fosse uma prostituta horrível e ingrata. Deu-se conta de que nunca ia poder superar o que Ryan fez com ela. E ele se comportava como se estivesse esperando que lhe pedisse perdão, quando era Kelly a vítima inocente.

Terminou de tomar o café da manhã e saiu da cozinha. Foi à sala e se deteve frente às grandes janelas. Dali se via toda Manhattan.

–Não deveria estar de pé – disse Ryan atrás dela.

Suspirou e se girou para olhá-lo, mas ficou sem fôlego ao ver que só vestia uma toalha. Virou-se de novo, mas já era muito tarde, tinha essa imagem gravada na retina.

Embora não precisasse vê-lo para recordar com perfeição sua anatomia. Tinha um torso largo e musculoso. Sempre gostou especialmente de seus abdominais.

–Sinto tê-la envergonhado –sussurrou Ryan– Depois do que houve entre nós, não pensei que fosse um problema.

Sentiu vontade de começar a rir. Ele não a tinha envergonhado, mas não podia deixar de pensar no que havia sob essa toalha e isso era o que menos graça fazia, que sua mente a estivesse traindo. Respirou profundamente e se girou para olhá-lo com frieza.

–Se pensa que podemos continuar onde paramos só porque fomos amantes, está muito equivocado.

—Meu Deus, Kelly. Pensa acaso acha que tentaria forçá-la a ter relações sexuais comigo quando está grávida e o médico te mandou fazer repouso?

–Acredito que não quer que te responda – replicou ela. Viu que tinha conseguido ofendê-lo. Ryan a olhou furioso.

–Além disso, o que te faz pensar que quero estar com você depois de que transou com meu irmão?

Apertou os punhos e respirou profundamente para não deixar-se levar pela ira.

–Bom, como seu irmão não importou, pensei que era algo que gostavam de fazer em sua família.

Ryan a fulminou com seus olhos azuis. Depois, deu meia volta e saiu da sala. Quando ficou sozinha, suspirou e se deixou cair na poltrona que tinha mais perto. Não sabia por que sentiu a necessidade de acrescentar mais lenha ao fogo. Já não a interessava defender-se. Ryan não acreditou nela quando pediu, quando de verdade importava.

Era muito doloroso estar de volta a Nova Iorque. Nesse lugar havia muitas lembranças do tempo que passaram juntos. Nervosa e um pouco desesperada, foi à cozinha. Abriu todos os armários e o freezer para ver se Ryan tinha todo o necessário para preparar um de seus pratos favoritos. Quando viu que era assim, colocou tudo na bancada. Era um alívio ter algo para fazer.

Recordou então que sempre a encantou cozinhar para Ryan.

–Que demônios acha que está fazendo? –perguntou Ryan entrando de repente na cozinha. Tirou-lhe a frigideira que segurava nas mãos e a levou até a sala. –Sente-se — ordenou quando chegaram ao sofá. Depois, colocou uma almofada na mesa de centro para que pusesse ali os pés. –Provavelmente não entendeu bem as ordens do médico. Tem que descansar, não pode estar de pé – disse Ryan pronunciando lentamente cada sílaba. Pareceu-lhe que estava muito mais calmo do que esteve uns minutos antes.

Ela também estava mais tranquila. Decidiu que tinha chegado o momento de esclarecer algumas coisas.

–Temos que conversar – disse ela. Ryan a olhou com desconfiança, mas se sentou frente a ela.

–Do que quer falar?

–Quero saber por que foi a Houston e como conseguiu me encontrar.

Ele ficou em silêncio.

–Contratei um detetive –confessou depois. Olhou-o boquiaberta.

–Por que queria me encontrar? Para poder me insultar outra vez? Para pôr minha vida de pernas para o ar? Não o entendo. Sei o que pensa de mim. Deixou-o muito claro quando me expulsou de sua vida. Por que ia querer me encontrar e voltar a desenterrar o passado?

–Pelo amor de Deus, Kelly! –exclamou Ryan– Desapareceu sem se despedir de ninguém e não descontou o cheque. Pensei que algo tivesse acontecido com você. Ou inclusive que tinha morrido.

–Suponho que foi uma desilusão para você descobrir que eu continuava viva.

–Não volte isto contra mim –grunhiu Ryan– Foi você que estragou nossa relação, que decidiu que eu não era suficiente para você. Decidi te procurar porque, apesar do que fez e de que queria te esquecer, não podia suportar a ideia de imaginá-la perdida e só em alguma parte… — Ryan ficou calado e afastou a vista. Uns segundos depois, voltou a olhá-la. –Já respondi duas perguntas, agora quero que me responda.

Kelly e Ryan levantaram a cabeça ao ouvir a companhia da porta. Pouco depois, entrou no salão seu irmão, Jarrod.

–Olá, Ryan. O porteiro me disse que estava de volta e… –disse Jarrod – Olá, Kelly – acrescentou com expressão de surpresa ao vê-la ali. Ryan olhou então para Kelly e viu que ficou gelada. Não queria que pensasse que ele tinha planejado essa situação. Acreditava que os três precisavam esclarecer algumas coisas, mas sabia que não era o momento mais adequado. Levantou-se da poltrona e foi ao encontro de seu irmão.

Tinha demorado meses em superar seu aborrecimento e voltar a ter uma relação normal com seu irmão. Sempre se deram bem e Jarrod tinha uma chave de seu apartamento. Entrava e saía a seu desejo. Mas as coisas mudaram depois que Jarrod transou com sua noiva. As duas pessoas mais importantes de sua vida o tinham traído. Quando por fim conseguiu perdoar seu irmão, decidiu que possivelmente tinha chegado o momento de encontrar Kelly e, embora não pudesse perdoá-la, tratava ao menos de entender por que o tinha feito. Embora o perdoou, sua relação tinha mudado. Pensou que possivelmente tinha chegado o momento de que falassem os três, acreditava que assim poderia por fim superar o que tinha acontecido, mas preferia esperar que Kelly se recuperasse um pouco.

–Não é um bom momento, Jarrod –disse Ryan.

– Isso já vejo – respondeu seu irmão olhando com nervosismo a Kelly. Girou-se então e viu que ela estava tremendo, parecia muito pálida e apertava com força os punhos.

–O que queria? –perguntou a seu irmão ao ver que não partia.

–Nada importante. Só queria saudar e dizer que mamãe quer que jantemos lá na sábado. Ultimamente o vejo muito pouco, esteve ocupado com o complexo hoteleiro e esperava poder passar um pouco de tempo com você.

Suspirou ao ouvi-lo. Sempre foram grandes amigos, mas Kelly mudou tudo. Não gostava nada que uma mulher se houvesse interposto entre os dois. Depois de tudo, Jarrod era mais que um irmão. Depois que seu pai morreu, Ryan o tinha criado quase como se fosse seu filho.

–De acordo, ligarei mais tarde para mamãe e poderemos conversar você e eu. Mas agora não é o melhor momento.

–Entendo-o. Até mais tarde –disse Jarrod.

Acompanhou-o à porta.

–É que vai voltar com ela depois do que aconteceu? –sussurrou seu irmão antes de sair. Franziu o cenho surpreso.

–Por que fala disso? Acaso não se preocupa que possa ser seu o bebê que está esperando? — Jarrod fez uma careta ao ouvi-lo e empalideceu.

–Foi isso o que ela te disse?

–Não, ela não me disse isso. Mas é possível que seja.

–Não, não pode ser – insistiu seu irmão – Sei que é um assunto delicado, mas usei proteção. Sinto muito, mas o bebê não é meu.

Jarrod saiu do apartamento e foi até o elevador. Ryan fechou a porta e suspirou. Odiava estar nessa situação. Estava zangado com Kelly, com seu irmão e com ele mesmo. Estava quase seguro de que o bebê era dele. Quando voltou para a sala, surpreendeu-lhe a expressão no rosto de Kelly. Parecia muito alterada e nervosa.

–Se voltar para o apartamento, vou embora daqui. Não penso estar na mesma sala com ele. – disse ela enquanto o olhava diretamente nos olhos.

–Sabe de sobra que vem muito por aqui.

Kelly apertou ainda mais os punhos.

–Não penso ficar aqui. —Não entendia por que estava tão zangada com seu irmão. Acreditava que era Jarrod o que devia sentir-se ofendido. Depois de tudo, ela o tinha acusado de tentar violentá-la. Parecia-lhe que nada tinha sentido e estava cansado de tentar entender o que acontecia.

–Jarrod acaba de me dizer que usou proteção com você– disse ele então. Pareceu-lhe que suas palavras lhe causavam muita dor, não era a reação que tinha esperado dela.

–E acreditou nele, é óbvio – respondeu Kelly. Parecia estar a ponto de começar a chorar.

–O que quer dizer? Que não o fez? Continua afirmando que o bebê não é meu? –perguntou-lhe. Até esse momento, não tinha sabido até que ponto desejava ser o pai dessa criança. Olhou-a nos olhos para pedir sem palavras que dissesse o que ansiava ouvir, que era o pai.

Mas seu rosto não expressava nada.

–Eu não afirmo nada.

Cada vez se sentia mais frustrado. Kelly se fechou em si mesma e não ia conseguir lhe tirar nada. Sentiu vontade de atravessar a parede com o punho.

–Vou sair um momento –disse então– Trarei algo para comer.

Enquanto descia no elevador à garagem, soou o telefone celular. Tirou-o a contra gosto.

–O que? –respondeu zangado.

–Ryan? – perguntou sua mãe um pouco confusa. Ryan se meteu no carro e fechou os olhos. – O que há com você?

–Nada, mamãe. É que tenho muito trabalho hoje. O que queria?

–Não sei se seu irmão falou, mas gostaria que viesse jantar amanhã de noite. Respirou profundamente antes de contar a sua mãe o que acabava de descobrir. Não ia ser fácil, mas se deu conta de que não podia ocultá-lo.

–Mamãe, tenho que te dizer que Kelly está aqui comigo e que está grávida.

Sua mãe ficou uns segundos em silêncio.

–Entendo… Bom, suponho que então será melhor que não convide Roberta ao jantar.

Fez uma careta ao ouvir o tom com o que falava sua mãe. Roberta Maxwell era a jovem com quem sua mãe levava algum tempo tentando casá-lo. Nunca gostou de Kelly nem da ideia de que se casasse com ela. Mesmo assim, sempre tratou com educação a sua noiva, ele não teria permitido que o fizesse de outro modo. Depois do que aconteceu com Kelly, não teria se admirado que sua mãe aproveitasse a ocasião para lhe recordar que não gostou dela desde o começo. Mas sua progenitora se mostrou sempre muito compassiva.

–Acredito que será melhor deixar o jantar para outra ocasião. Não é um bom momento para Kelly nem para mim.

Despediu-se de sua mãe e deligou. Ligou o motor e saiu da garagem. Conduziu durante alguns minutos sem um destino em mente. Mas não demorou para chegar a seu edifício de escritórios, era como se seu carro soubesse o caminho. Estacionou e subiu aos escritórios da empresa.

Jansen o olhou surpreso e não o surpreendeu em nada que o fizesse. Acabava de lhe dizer que ia estar uns dias sem aparecer por ali.

Foi diretamente ao seu escritório. Sentou-se em sua poltrona e deu a volta para contemplar a vista da janela. O céu se nublou essa manhã. Era um dia cinza e frio. Depois de passar vários dias no Texas, com um clima quente inclusive no inverno, estava-lhe custando adaptar-se ao frio de Nova Iorque. Soou o telefone e esteve a ponto de não responder. Viu que se tratava de Cameron.

Seu amigo ia perguntar por que se foi tão depressa da ilha Moon. Não gostava de lhe dar explicações de nenhum tipo, mas se deu conta de que não tinha nenhum sentido adiar mais o inevitável.

–Você e Devon já estão de volta? –perguntou-lhe quando respondeu.

–Por fim te localizo! Passei muito tempo te ligando. Onde tinha se metido? –quis saber seu amigo.

–O detetive me ligou e me disse que tinha encontrado Kelly.

Cameron ficou calado. Depois, ouviu que murmurava, imaginou que estaria contando a Devon.

–E?

–Encontrou-a em Houston. Sai da ilha para ir pessoalmente ver se era – explicou – E, em efeito, era Kelly e voltou para Nova Iorque comigo.

–Como? –perguntou Cameron estupefato – Por que fez algo assim?

–Está grávida, Cameron.

–Não posso acreditar. O que está acontecendo? Ultimamente, aparecem mulheres grávidas por toda parte. Vou te fazer a mesma pergunta que fiz a Rafael quando Bryony reapareceu de repente em sua vida. Como sabe se o filho é seu?

–Não disse em nenhum momento que seja meu – respondeu Ryan– Tudo que comentei é que está grávida.

–Claro. E pretende que eu acredite que trouxe a sua ex-novia de volta a Nova Iorque grávida de outro homem?

–Não me fale assim. O caso é que pode ser meu filho. Ou possivelmente seja de meu irmão. Entende agora meu problema?

–Pois sim, é um problema muito grande que me alegra não ter. O que te contou ela?

–Esse é outro dos problemas, está zangada comigo, furiosa. Trata-me como se ela fosse a vítima. Não entendo. Não quis me dizer de quem é o bebê.

–Bom, provavelmente não sabe – comentou Cameron – Se transou com você, com seu irmão e possivelmente com alguém mais, é normal que não saiba quem é o pai.

Não gostou de ouvi-lo, mas se deu conta de que podia estar certo.

–Esse comentário está equivocado, Kelly não é nenhuma prostituta.

–Não disse que era.

–Mas insinuou.

–Sei que está muito aborrecido, Ryan, mas não se zangue comigo. É meu amigo e me preocupa que esteja perdendo a cabeça. Acredito que não deveria ter tentado encontrá-la. Agora já não tem remédio, mas deveria fazer o quanto antes o teste de paternidade.

–Prefiro não chegar tão longe –sussurrou Ryan– tudo o quero saber é por que se distorceram tanto as coisas – adicionou enquanto sacudia a cabeça. Sabia que essa conversa não ia levá-lo a nenhuma parte. Cameron era um tipo duro que não perdoava facilmente.

–Sinto muito que se veja nesta situação, Ryan – disse então seu amigo– O que precisa é sair, tomar alguns drinques e ter uma breve aventura. Deveria abandonar essa espécie de celibato que impôs a si mesmo desde que rompeu com Kelly.

Ryan riu ao ouvir a sugestão de seu amigo.

–Espera um momento, Devon quer falar com você – comentou Cameron. Uns segundos depois, estava falando com ele. –Não vou repetir o que Cameron já te disse, mas estou de acordo com ele – disse Devon – Só queria comentar que vou estar alguns dias incomunicável.

–Acaso está fugindo para se casar com Ashley? –perguntou-lhe Ryan sorrindo.

–Não e eu não gosto dessas brincadeiras – disse Devon – Surgiu um problema com a construção do hotel e decidi ir pessoalmente solucioná-lo. Já sofremos muitos atrasos e acredito que isto será o mais rápido.

–Quando vai?

–Depois de amanhã. Iria antes, mas não posso. E Cameron vai estar fora do país a partir de amanhã. Tampouco posso pedir ajuda a Rafael, depois de tudo, está em lua de mel.

–Agora o entendo – murmurou Ryan – Na realidade, me ligou para ver se eu poderia fazer isso.

–Sim, mas depois de ouvir o que passou, terei que ir eu mesmo –disse Devon.

Ryan ficou um momento pensativo e tomou rapidamente uma decisão.

–Não, eu irei.

–Sério? Mas, não acaba nos dizer que Kelly está em sua casa?

–Sim, mas pode vir comigo. Acredito que será perfeito. Assim podemos estar longe de tudo. Teremos tempo para falar e tentar solucionar as coisas.

Seu amigo ficou em silêncio.

–De verdade quer voltar com ela? Depois do que te fez? –perguntou-lhe Devon.

–Ainda não sei. Preciso ter algumas respostas antes de tomar uma decisão tão importante. Mas, se o bebê for meu, não vou permitir que volte a partir.

–Muito bem, então te enviarei um correio eletrônico detalhando todos os assuntos que deve fiscalizar na ilha. Mantenha-me informado de como vai tudo e recorda que posso ir eu mesmo se surgir qualquer problema.

–Assim o farei –assegurou Ryan– Como certo, sei que pensam que estou louco, mas me alegra poder contar com seu apoio.

–Sim, acredito que está louco – replicou Devon – Mas é sua vida e sua felicidade, amigo.

Despediu-se deles e ficou olhando o telefone celular depois de desligar. Ligou depois para Jansen. Deu-lhe uma longa lista de instruções. Entre outras coisas, teria que encontrar um obstetra para Kelly. Ia necessitar que um médico lhe desse permissão para viajar. Se tudo estava bem, gostaria de poder passar alguns dias a sós com ela para poder falar do que aconteceu e tentar solucionar as coisas. Depois, fez outra lista com as coisas que tinha que comprar. Kelly ia necessitar de todo tipo de roupa.

 

Sentada na cama, Kelly refletiu sobre sua situação e se deu conta de que não podia continuar ali. Tinha sido o bastante tola para acreditar que podia viver em um lugar onde podia cruzar com Jarrod a qualquer momento.

A exasperou ter que vê-lo essa manhã na sala de Ryan. Havia-se sentido paralisada imediatamente e teve que suportar seu gesto de fingida inocência. Não gostava de sentir-se tão vulnerável, não o suportava. Teria-lhe encantado poder lhe dar um bom murro e contar a Ryan que tipo de pessoa era seu querido irmão.

Odiava Jarrod pelo que lhe tinha feito e a Ryan por não ajudá-la quando mais precisou dele. Tinha tomado a decisão e não pensava trocar de ideia. Não ia ficar ali.

Pensou nas alternativas que tinha. Não podia ir embora sem saber aonde. Devia planejá-lo bem. Tinha que encontrar um lugar seguro para ela e para o bebê.

–Quer ir embora, verdade?

Sobressaltou-se ao ouvir a voz de Ryan. Falava-lhe da porta. Sem saber por que, sentiu-se culpada e não gostou em nada sentir-se assim.

–Não tenho motivos para ficar.

–Venha comigo à sala – sugeriu enquanto lhe estendia a mão. Durante alguns segundos, ficou olhando a mão que lhe oferecia. Sabia que não devia aceitá-la, mas algo em sua voz a convenceu e a deu. Ryan a puxou com suavidade e a levou pela mão à sala. Sentou-se no sofá e fez um gesto para que ela se acomodasse a seu lado.

–Comportei-me como um cretino e sinto muito – disse Ryan enquanto passava uma mão pelo cabelo com nervosismo– Não deveria ter que suportar mais estresse na condição em que está e não fiz nada senão piorar a situação. —Ela abriu a boca para responder, mas Ryan colocou um dedo nos seus lábios para impedi-la. — Deixe-me terminar – pediu – Estive toda a manhã no escritório. Surgiram alguns problemas em um projeto muito importante e meus sócios não podem encarregar-se deles. Tenho que ir fiscalizar umas obras e quero que venha comigo.

Ficou olhando-o sem entender. Não compreendia por que Ryan parecia desfrutar desenterrando o passado quando os dois sabiam que sua relação tinha morrido muitos meses antes e era irreparável. Além disso, foi o próprio Ryan que tinha dado por terminada a relação e a expulsou de sua vida como se fosse uma bolsa de lixo, como se não fosse importante para ele.

–Quero cuidar de você, Kelly. Eu gostaria que pudéssemos esquecer o que ocorreu no passado e nos concentrar no presente.

–Está falando a sério?

–Sim, muito a sério. Temos que solucionar muitas coisas e não poderemos fazê-lo se não estiver disposta a passar algum tempo juntos para que possamos conversar.

Nesse momento, sentiu-se tão vulnerável que sentiu vontade de chorar. A teria encantado que Ryan tivesse querido escutá-la meses antes, não nesse momento.

Tinha-a decepcionado mais que ninguém porque ele era seu noivo, que devia ter estado de seu lado. Parecia-lhe incrível que queria arrumar as coisas com ela depois de tão grave traição.

Ryan lhe acariciou brandamente a bochecha e a surpreendeu ver que seus dedos tremiam. Seu olhar era uma súplica e não soube o que dizer. Uma parte dela se negava a continuar com essa pantomima, mas lhe custava dizer que não. Sacudiu a cabeça para negar-se, mas Ryan, que seguia com a mão em sua bochecha, deteve o movimento enquanto lhe acariciava os lábios com o polegar.

–Não vai haver nenhum tipo de pressão, promessas nem obrigações. Estaremos os dois sós em um complexo hoteleiro na praia. É um começo, é tudo o que te peço. Só o que estiver disposta a me dar.

–Mas o bebê…

–Nunca faria nada que pudesse pôr em perigo seu bem-estar. Terá que ir ao médico para que ele te dê um bom parecer para viajar.

Tinha que reconhecer que a ideia era muito tentadora. Ryan estava pedindo que fosse com ele, não o ordenava. Essa situação a devolveu ao passado durante uns segundos e recordou quão carinhoso tinha sido sempre com ela. Mas sabia que não tinha futuro, nunca poderia estar com um homem que não confiava em sua palavra, e sabia que lhe custaria muito trabalho despedir-se dele depois de passar uma semana juntos na praia.

Ficaram uns segundos em silêncio. Depois, decidiu que o faria. Não sabia muito bem por que, pensava que não iam esclarecer nada, mas queria passar esse tempo com ele antes de seguir adiante com sua vida. Assentiu com a cabeça e viu que Ryan suspirava aliviado.

Acreditava que fingia muito bem a sua preocupação com ela, mas não acreditava possível. Se fosse assim, nunca a teria afastado de seu lado e seguiriam juntos, esperando com ansiedade a chegada de seu primeiro filho.

–Iremos esta tarde ao médico. Se nos disser que pode viajar, voaremos amanhã mesmo. Assim deveria aproveitar esta tarde e esta noite para descansar. Assim que chegarmos ao hotel, o mais duro que terá que fazer cada dia será caminhar do quarto à praia e da praia ao quarto.

—Quero quartos separados –pediu ela.

–Já reservei uma suíte. — Franziu o cenho ao ouvi-lo, mas decidiu não protestar. –Não se arrependerá, Kelly – disse Ryan– Podemos fazer isto, podemos arrumar as coisas.

Fechou os olhos ao ouvir suas palavras. Ryan falava com tanta intensidade que não era difícil deixar-se seduzir pelo que dizia. Mas sabia que não iam poder avançar até que falassem do que tinha ocorrido no passado. E ela não queria ter que recordar o pior dia de sua vida, quando não encontrou ninguém que acreditasse.

O médico lhes disse que uma semana de descanso e relaxamento era justo o que Kelly necessitava e recordou que devia ir ao hospital mais próximo se os pés inchassem mais ou tivesse algum outro sintoma de pré-eclâmpsia.

Enquanto falavam com ele, Kelly olhou de vez em quando para Ryan. Este escutava com atenção cada palavra do doutor, como se fosse um preocupado marido e pai. E não lhe agradava vê-lo tão interessado, justamente o contrário.

Quando retornaram ao apartamento de Ryan, encontraram várias bolsas no vestíbulo. Eram de lojas de moda feminina, inclusive uma da loja de lingerie mais famosa da cidade.

–Maravilha, parece que Jansen trouxe o que pedi –comentou Ryan ao ver as bolsas– Tudo isto é para você, para a viagem.

Levou-as a sofá e fez um gesto para que se sentasse e fosse olhando as coisas. Um pouco confusa, foi ao sofá. Encontrou vários vestidos de gestante para a praia, algum de noite, trajes de banho, sandálias e vários conjuntos de lingerie. Ryan tinha pensado em tudo e tinha acertado com os tamanhos.

–Não tinha por que… – murmurou ela. Sem que apenas fosse consciente disso, tinham voltado para seus antigos hábitos. Durante sua relação, Ryan lhe deu muitos presentes.

–Bom, na realidade não fiz, mas sim Jansen –explicou Ryan. Sentia vontade de rir ao imaginar Jansen, o atraente secretário de Ryan, no departamento de lingerie feminina e roupa de gestante.

–Como está Jansen?

–Bem, como sempre.

–Obrigada por tudo isto –disse ela então.

–Não há de que –respondeu Ryan com um sorriso– Por que não se deita um momento enquanto faço as malas? Depois, podemos jantar. Como saímos amanhã pela manhã, será melhor que nos deitemos cedo.

Kelly deixou a roupa no sofá e se levantou lentamente. Sabia que estava cometendo um engano e era melhor manter distância, não queria voltar a cometer os mesmos enganos do passado. Embora o deixasse muito claro, não podia evitar que seu coração desejasse os bons momentos e sentisse falta deles. Sentiu de repente uma tristeza imensa e saiu da sala antes que Ryan pudesse ver suas lágrimas.

 

À manhã seguinte, Ryan a despertou sacudindo suavemente o ombro. Tomou banho enquanto lhe preparava o café da manhã. Quando terminaram de comer, Ryan desceu à garagem a bagagem dos dois.

Esteve muito calada durante o trajeto até o aeroporto. Por um lado, atraía-lhe passar uma semana na praia com Ryan, mas temia estar a sós com ele. Esteve tão concentrada na ira e no ódio que sentia por esse homem, que não foi consciente de que ainda estava apaixonada. Não podia acreditar que amasse um homem que não a correspondia, sobretudo depois que a traiu como o fez. Parecia-lhe patético que ainda sentisse algo por ele.

Ryan tinha alugado um avião particular para levá-los diretamente à ilha. O voo durava só umas horas, mas teve tempo suficiente para arrepender-se da decisão que tinha tomado e lamentou não poder voltar atrás.

—Por que não joga o respaldo para trás? – sugeriu-lhe Ryan enquanto o fazia por ela– Fique de lado e te darei uma massagem nas costas.

Estava muito incômoda e nervosa para que seu oferecimento não a tentasse. Girou-se para a janela e esperou. Não pôde evitar suspirar de prazer quando Ryan começou a lhe massagear as costas. Era incrível sentir suas mãos relaxando pouco a pouco a tensão que havia em seus músculos. Bocejou ruidosamente e se acomodou no assento. Durante uns minutos, esqueceu o passado e o futuro. Concentrou-se nesse momento e no bem que se sentia ter Ryan cuidando dela com dedicação e carinho, como o tinha feito quando estavam juntos.

Adormeceu com um sorriso no rosto. Ryan a despertou quando estavam a ponto de aterrissar. Fazia muito tempo que não se encontrava tão relaxada.

Uns minutos mais tarde, Ryan lhe rodeou os ombros enquanto a ajudava a descer do avião. Acompanhou-a ao carro que os esperava enquanto o chofer colocava a bagagem no porta-malas. O hotel aonde iam se alojar era muito luxuoso e ficava na praia.

Ryan disse que, quando terminassem de construir o complexo hoteleiro no que estavam trabalhando, aquele ia parecer um pouco mais que um motel de estrada.

A suíte que Ryan tinha reservado era espaçosa e cômoda. Sentou-se no sofá assim que entrou e ficou com o olhar perdido enquanto contemplava a praia particular que tinham ao seu dispor. Ele se ajoelhou a seu lado e tirou seus sapatos. Viu que observava seus pés para ver se estavam mais inchados. Depois, começou a massageá-los. Não pôde evitar gemer ao sentir suas mãos.

–Você gosta?

–Muitíssimo –confessou ela. Ryan seguiu dando a massagem enquanto a observava de vez em quando. Em um certo momento, ela levou as mãos ao ventre e sorriu.

–Está se mexendo? –perguntou Ryan. Assentiu com a cabeça.

–Posso tocá-lo?

Tomou a mão de Ryan e a colocou onde teve a sua uns segundos antes. Sorriu ao ver a expressão de surpresa em seu rosto quando o bebê deu um chute.

–É incrível! Dói?

–Não –respondeu ela rindo– Nem sempre é agradável, mas não dói.

Ryan continuou com a mão no mesmo lugar durante uns segundos mais. Viu que estava muito sério. Pouco depois, levantou-se.

–Quer jantar na terraço ou prefere ir ao restaurante?

–Aqui, por favor –disse ela– Eu gosto muito da vista que temos e estaremos mais à vontade no quarto.

Ryan assentiu e foi até onde estava o telefone para pedir o jantar. Meia hora mais tarde, um garçom levou a comida em um carro e preparou a mesa na terraço da suíte. Comeram em silêncio, desfrutando do entardecer e o som das ondas. Quando terminaram, Ryan sugeriu que se deitasse, mas ela não estava cansada. Fazia muito tempo que não se sentia tão relaxada e estava desejando dar um passeio pela praia. Disse a Ryan, que franziu cenho, não parecia gostar da ideia, mas terminou aceitando.

Foi maravilhoso passear pela tranquila praia, com a brisa marinha agitando seu longo cabelo. Tirou as sandálias e se agachou para recolhê-las, mas Ryan se adiantou. Adorava sentir a areia molhada entre seus dedos.

Aproximou-se da água e ficou ensimesmado olhando o ir e vir da água sobre seus pés. Ryan também se descalçou e se aproximou até onde estava ela.

Seguiram passeando e lhe rodeou a cintura com o braço, mas ela resistia, não queria aproximar-se mais dele.

–Não deveríamos ir muito longe –comentou Ryan pouco depois– Tem que fazer repouso, lembre-se. Prometi ao médico que ia descansar.

–Isto é muito mais relaxante que passar doze horas ao dia em pé – respondeu ela.

–Isso não voltará a acontecer – disse Ryan com seriedade enquanto lhe apertava mais a cintura.

Ela não disse nada, mas se separou dele ao voltar para o hotel. Quando entraram na suíte, foi direto ao sofá.

–Quer beber algo? –perguntou ele.

–Um suco, se for possível.

Ryan procurou no frigobar da suíte e voltou pouco depois a seu lado com um suco de laranja.

–Deveria se deitar já –disse ele– Já terá tempo de conhecer bem este lugar quando tiver dormido.

Estava cansada, mas não gostava de dar por terminado um dia que tinha sido maravilhoso. Estar com ele depois de tantos meses provocava sentimentos agridoces. Não podia seguir pensando no passado. Ia estar ali com Ryan uma semana e a teria encantado poder partir de zero.

O sofá era tão fofo e baixo que, embora tentasse durante bastante tempo, não pôde levantar-se. Riu, pareceu-lhe uma situação muito cômica. Ryan se aproximou, tomou suas mãos e a puxou.

Ficaram durante algum tempo um em frente ao outro e aproveitou o momento para estudar suas feições. Era a primeira vez que o olhava dessa maneira, sem tentar esconder suas emoções.

–Boa noite, Ryan –sussurrou ela. Durante uns segundos, pareceu-lhe que ele estava a ponto de beijá-la. Se o tivesse feito, não sabia como teria reagido.

–Boa noite, Kelly. Que descanse – disse ele então. Foi para o quarto pensando no que acabava de ocorrer e lamentando que não tivesse acontecido nada mais.

 

Kelly mal pôde dormir essa noite. Passou horas deitada na cama, observando o teto e recordando o passado.

Reviveu o momento que conheceu Ryan e como a conquistou. Sua relação tinha sido apaixonada e intensa desde o começo. Desde que a convidou para jantar pela primeira vez, tinham passado semanas juntos, vendo-se cada dia.

Quando só estavam há um mês de relação, foi viver com ele. Um mês mais tarde, Ryan a pediu em casamento. Nunca soube muito bem por que a escolheu para que fosse sua esposa. Não pensava que fosse pior que ele em nenhum sentido, mas Ryan Beardsley era um homem muito rico. Podia ter qualquer mulher a seu lado e não tinha terminado de compreender por que a queria.

Não tinha contatos nem procedia de uma boa família. Não tinha dinheiro nem prestígio. Era só uma estudante universitária que pagava as aulas trabalhando como garçonete.

Mas isso mudou quando chegou Ryan na sua vida. Com a sabedoria que lhe dava a distância, tinha chegado a pensar que esse foi um de seus grandes enganos. Tinha deixado que Ryan trocasse por completo sua existência e se deixou seduzir pelo conto de fadas. Acreditou por completo nele e nunca lhe passou pela cabeça que seu amor não fosse correspondido.

Perguntou-se como reagiria Ryan depois de tantos meses se ela tentasse contar outra vez a verdade para que soubesse o que aconteceu realmente naquele dia, quando não acreditou e decidiu afastá-la de sua vida.

Não acreditou nela então e não pensava que isso fosse mudar. Seus olhos se encheram de lágrimas quando apareceram em sua mente imagens daquele fatídico dia.

 

Kelly ficou olhando o teste de gravidez, não sabia se ria ou chorava. Escondeu-a rapidamente e começou a pensar em como ia dizer a Ryan. Esperava que gostasse da ideia. Pensavam casar-se logo e estavam acostumados a falar frequentemente de seu desejo de serem pais. Estava desejando dizer-lhe.

Sabia que nesse dia ia estar no escritório e pensou em ir vê-lo e lhe fazer uma surpresa. Estava entusiasmada, desejando ver sua expressão quando contasse.

Ouviu de repente um ruído na sala e sorriu. Não ia ter que esperar. Ryan estava em casa. De vez em quando, passava pelo apartamento sem avisar para fazer uma surpresa e almoçar com ela.

Chamou-o então e ficou sem palavras ao ver Jarrod aparecer na porta de seu do quarto. Visitava-os com frequência, mas sempre o fazia quando Ryan estava em casa.

–Jarrod, o que faz aqui? Ryan está no escritório. Não voltará até dentro de umas horas.

–Vim para falar com você.

–Do que se trata? –perguntou ela com curiosidade – Vamos à sala. — Mas Jarrod não deu atenção e entrou no quarto. Aquilo lhe deu mau pressentimento e estremeceu.

–Quanto quer em troca para romper com Ryan e ir embora?

Ficou estupefata. Imaginou que não o tinha entendido bem.

–Como?

–Não se faça de tola, porque não é. Quanto dinheiro quer?

–Como pode tentar me comprar? Foi sua mãe que pediu que o fizesse? Os dois estão loucos. Amo Ryan e ele me ama. Vamos nos casar.

Viu que Jarrod ficava mais nervoso ainda.

–Esperava que deixasse isso mais fácil. Estamos te oferecendo bastante dinheiro. —Quando viu que falava no plural, deu-se conta de que também a mãe de Ryan estava por trás dessa operação.

Estava a ponto de lhe dizer que se fosse dali, que não queria voltar a vê-los em sua vida, quando Jarrod se aproximou um pouco mais. Olhava-a ameaçadoramente e, instintivamente, deu um passo atrás.

–Acredito que deveria ir. Agora mesmo –disse ela enquanto ia para o telefone.

Jarrod se equilibrou sobre ela e lhe tirou o celular. Estava muito atônita pelo ataque e demorou para reagir e defender-se.

Atirou-a na cama e se deitou sobre ela, tocando-a em todo o corpo e tentando despi-la. Kelly levantou o joelho para tentar golpeá-lo na virilha, mas Jarrod se afastou a tempo e a segurou com mais força ainda.

Gritou aterrorizada. A estava machucando muito. Estava furiosa e não podia acreditar que ia violentá-la na cama de seu próprio irmão. Pensou que se tornou louco e estava segura de que Ryan o mataria quando soubesse. Ao ver que não ia parar, reuniu as poucas forças que ficavam para lutar e tratar de defender-se. Por fim conseguiu lhe dar um bom golpe nos genitálias.

Jarrod grunhiu e aproveitou para afastar-se dele enquanto tentava cobrir-se com o que ficava de roupa.

Ficou em pé e levou a mão à garganta. Doía como se tivesse tentado estrangulá-la.

–Ele te matará quando souber –disse soluçando– Como pôde me fazer algo assim? É seu irmão, maldito canalha!

Foi para a porta. Só tinha uma coisa em mente, escapar dali e ir em busca de Ryan. Mas as palavras de Jarrod a detiveram.

–Nunca acreditará em você.

–Está louco –disse ela chorando.

Mas Jarrod esteve correto. Ryan não acreditou. Seu irmão tinha ligado do apartamento pouco depois que ela saiu e teve a brilhante ideia de contar exatamente o que sabia que Kelly ia dizer a seu noivo.

Mas Jarrod lhe disse também que Kelly o seduziu e que, quando lhe jogou na cara que fora infiel a Ryan, ela se zangou e disse que ia inventar uma história e contar a seu noivo que tinha tentado violentá-la.

Imaginou que Jarrod o tinha feito muito bem porque Ryan se mostrou muito frio com ela quando a viu entrar em seu escritório minutos depois e, depois de lhe contar a verdade, exatamente o que Jarrod tinha advertido que ia dizer, seu noivo se limitou a lhe entregar um generoso cheque e a pedir que partisse.

 

Kelly seguiu deitada na cama, sem poder pensar em outra coisa que não fosse esse horrível dia. Estava ali para descansar e esquecer o passado, mas continuava sentindo-se traída pelas pessoas nas quais acreditou.

Quando Ryan bateu na porta de seu quarto, voltou para a realidade. Já tinha amanhecido e não dormiu quase nada.

Custou levantar-se. Vestiu um roupão e abriu a porta. Ryan já estava vestido. Usava uma calça jeans e uma camisa. Parecia preparado para ir ao trabalho.

–Deixei o café da manhã preparado na cozinha. Tenho que passar umas horas na área de construção. Acha que estará bem sozinha?

Assentiu com a cabeça. Alegrava-a não ter que falar com ele essa manhã depois da noite que tinha passado. Necessitava de tempo para recuperar-se.

–É óbvio. A que horas voltará?

–São oito – respondeu Ryan olhando o relógio– Imagino que voltarei por volta das doze. Podemos almoçar no restaurante do hotel e depois, se preferir, dar um passeio pela praia. Aproveite este tempo para descansar. Prefiro que não vá à praia sozinha.

–Não vai me acontecer nada se sair sozinha do hotel.

–Sei, mas prefiro estar contigo.

Ficou sem palavras ao ouvir tal afirmação e se limitou a assentir com a cabeça.

–Muito bem, a verei na hora do almoço.

Fechou a porta de seu quarto e se apoiou contra ela. Era o primeiro dia dessa semana durante a qual ia tentar esquecer o passado e ver se podiam arrumar as coisas. Cada vez lhe parecia mais complicado.

Encheu a banheira de água quente, estava desejando poder tomar um banho relaxante. Sabia que não lhe convinha que a água estivesse muito quente nem devia permanecer dentro muito tempo.

Depois de vinte minutos desfrutando desse prazer, saiu a contra gosto da banheira. Vestiu-se e foi à cozinha para tomar o café da manhã.

Fazia muito tempo que não tinha tanto apetite.

Quando terminou, procurou uma toalha e saiu à praia. Depois de uns meses trabalhando como garçonete no restaurante, parecia um luxo poder passar um dia deitada na areia.

Acomodou-se sob uma das sombrinhas que havia na praia. Era incrível fechar os olhos e deixar-se levar pelos aromas e os sons que a rodeavam. Acreditava que esses dias iam ser umas verdadeiras férias para sua alma. Não demorou para vencê-la o sono depois da noite de insônia que tinha passado. Decidiu deixar-se levar e desfrutar de uma sesta enquanto esperava Ryan.

 

Ryan voltou para a suíte ao meio-dia. Procurou Kelly, mas não estava em nenhuma parte. Deu-se conta de que não o obedeceu e tinha decidido sair do hotel sem esperá-lo. Sabia que estava muito atencioso com ela, mas não podia evitar, estava muito preocupado.

Saiu ao terraço e a buscou com o olhar na praia. Ao não vê-la, foi para as sombrinhas. Não demorou a encontrá-la, estava deitada de lado e completamente adormecida.

Sua garganta fez um nó ao ver essa imagem tão bela. Viu que estava descalça e que seus tornozelos continuavam inchados, mas não tanto como estiveram dois dias antes. Sentou-se a seu lado e acariciou sua sedosa cabeleira ruiva.

Baixou depois por seu braço e seguiu até tocar o volumoso ventre. Kelly suspirou e, sem despertar, aproximou-se mais a ele. Morria de vontade de abraçá-la e afastou a mão para não cair na tentação.

Teria ficado encantado poder apagar os últimos seis meses e retornar ao passado, mas era impossível. Tinha-o traído e, o mais importante nesses momentos, era o filho que esperava.

Embora Kelly não o tivesse admitido, estava quase seguro de que ele era o pai. Sacudiu-lhe ligeiramente o ombro para despertá-la. Adorou ver como se espreguiçava pouco a pouco e sorria.

–Está há muito tempo aqui? –perguntou Kelly meio sonolenta.

–Não, só uns minutos. Tem fome?

Kelly assentiu com a cabeça e se levantou. Deu-lhe a mão para ajudá-la. Depois, acompanhou-a de volta à suíte com o braço rodeando seus ombros.

Enquanto Kelly tomava banho e trocava de roupa, ligou para Devon para lhe contar como ia a construção. Foi um alívio que seu amigo não perguntasse por ela. Embora seus amigos e sua família pensavam que se tornou louco, cada vez estava mais convencido de que estava fazendo o correto. Não pôde esquecê-la durante esses meses e para ele era muito importante tentar averiguar por que tinham terminado tão mal as coisas entre os dois. Embora não pudessem voltar a estar juntos, precisava saber para poder seguir adiante com sua vida.

Quando Kelly saiu do dormitório, deu-se conta de que havia mais brilho e luz em seus olhos. Não a tinha visto assim desde que a encontrou no restaurante de Houston. Parecia-se mais à mulher com a que tinha compartilhado sua vida durante algumas e intensas semanas.

Recordou o quanto esteve apaixonado por essa jovem risonha e carinhosa. Parecia que estava um pouco nervosa, não se acostumava a estar a sós com ele e o incomodava que houvesse essa barreira invisível entre os dois.

–Está preparada? –perguntou ele.

Kelly assentiu. Colocou-lhe uma mão nas costas para acompanhá-la à porta e estremeceu ao sentir sua pele nua.

Jansen fazia muito bem seu trabalho. Esse vestido de verão ressaltava todas as maravilhosas curvas de seu corpo. As alças do decote se atavam na nuca e todas as costas ficava à vista.

O teria encantado acariciá-la no preciso lugar onde a estava tocando nesses instantes. Queria fazê-lo até que ela respondesse e comprovar assim, tal e como temia, que a atração não tinha desaparecido.

No restaurante, sentaram-nos perto de um grande janela com vistas à praia. Observou-a enquanto Kelly lia o menu e tentava decidir o que ia pedir. Sentindo que a olhava, levantou a vista e sorriu timidamente. Devolveu-lhe o gesto. Não podia olhar esses olhos azuis sem perder-se neles. Era linda e adorou ver que já não o olhava com ódio.

–Ryan! O que está fazendo aqui? –gritou alguém perto dali. Fez uma careta ao ouvir essa voz. Girou-se e viu que Roberta Maxwell se aproximava de sua mesa. Amaldiçoou entre dentes. levantou-se e a saudou a contra gosto.

–Estou aqui por trabalho, o que me surpreende é que você esteja aqui –respondeu Ryan.

–Bom, é um de meus lugares favoritos –disse ela entre risadas– Eu adoro a gastronomia e as praias desta ilha. Por que não apresenta a sua acompanhante, Ryan?

Estava seguro de que Roberta sabia muito bem quem era Kelly, tão seguro quanto estava de que sua presença ali não era nenhuma coincidência. Imaginou que sua mãe era a culpada dessa situação. Incomodava-o que tentasse se intrometer em sua vida dessa maneira e lamentou ter contado onde ia estar essa semana. Teve a esperança de que… Isso já não era importante. Roberta estava ali e ia ter que enfrentar essa situação.

–Roberta, apresento Kelly Christian. Kelly, Roberta Maxwell é uma amiga da família –anunciou ele. A recém-chegada sorriu provocante ao ouvi-lo e brincou com sua camisa.

–Bom, querido. Algo mais que uma amiga, não acha?

Viu que Kelly a olhava com reticência e decidiu que não tinha por que ser educado.

–Agora, se me perdoar, isto era um almoço privado…

–Bom, mas temos que nos ver enquanto estiver aqui. Poderíamos jantar juntos. Foi uma pena que não pôde ir a casa de sua mãe a última vez que jantamos ali juntas, já sabe quanto a aprecio –insistiu Roberta.

Afastou dissimuladamente a mão dessa mulher e deu dois passos atrás.

–Temo que vou estar muito ocupado, talvez podemos nos ver quando voltar a Nova Iorque. Kelly e eu estaremos encantados em convidá-la para jantar –disse ele para que se desse por entendida. Suas palavras não conseguiram que Roberta deixasse de sorrir.

–Certamente, querido... Não entendo por que teve que voltar para mulher que foi infiel.

Kelly empalideceu ao ouvir suas duras palavras.

–Já chega! Será melhor que vá. Avise a minha mãe por mim e diga que deixe de meter-se em minha vida. E você deveria fazer o mesmo.

Roberta fez uma careta, mas não partiu.

–Tampouco precisava que ficasse assim. Imagino que tem que tratá-la com educação. Depois de tudo, não sabe se a criança que está grávida é sua. — deu meia volta e se afastou antes que pudesse lhe dizer nada mais.

Estava tão furioso que sentia vontades de quebrar algo. Mas se sentiu pior ainda ao voltar para a mesa e ver que Kelly se pôs em pé e apertava zangada os punhos.

–Sinto muito – disse Ryan.

–Já não tenho fome – respondeu Kelly.

–Não faça isso, tem que comer. Não deixe que essa mulher consiga o que queria.

Cada vez estava mais zangada.

–Essa mulher sabe muito sobre nossa situação, não acha? — Sem dizer nada mais, saiu do restaurante.

Foi direta a sua suíte e amaldiçoou entre dentes quando a chave eletrônica resistiu a funcionar. Quando conseguiu, abriu a porta com força e fechou de uma pancada. Passou o ferrolho e foi para seu quarto. Não demorou para escutar vozes e golpes na porta. Ryan parecia furioso. Mas ela também estava muito zangada para que isso importasse.

Tudo aquilo não era mais que uma farsa e estava cansada de aguentá-la. Teve que suportar que Ryan e seu irmão a humilhassem, mas não estava disposta a ter que aguentar, além disso, os comentários de mulheres como essa tal Roberta Maxwell. Estava tão furiosa que não se deu conta de que Ryan tinha entrado na suíte até que o viu em seu quarto.

–O que há com você, Kelly? Você não é assim. Não sei o que pretendia conseguir me impedindo de entrar. Não vai conseguir nada fugindo dos problemas.

–Por que acha saber como sou? Se aparentemente que nunca chegou a me conhecer.

–Suponho que isso é verdade. – respondeu Ryan zangado.

–Quero sair daqui no primeiro voo. Isto é uma perda de tempo. Nunca vamos poder arrumar as coisas entre nós, Ryan.

–Mas fizemos um trato. Íamos passar uma semana aqui sem pensar no passado.

–Acaso não viu o que acaba de ocorrer no restaurante? –perguntou ela com incredulidade– Como essa mulher sabe tanto de nós se não o tivesse contado você mesmo? Como vamos esquecer o passado quando essa mulher acaba de jogá-lo em minha cara? Eu não gosto que riam de mim.

–Nunca falei de você com ela – disse Ryan com firmeza.

–Então, por que sabia tanto?

–Não estou mentindo. Por que te custa tanto confiar em mim? Não fui eu quem a traiu.

Fez uma careta ao ouvi-lo. Sempre voltavam para mesmo assunto. Ryan estava convencido de que ela o tinha traído e se negava a aceitar que pudesse haver outra explicação. Estava muito furiosa para continuar falando com ele.

Deu meia volta e apertou os punhos. De repente, Ryan a fez girar sobre seus calcanhares e a beijou enquanto lhe agarrava a cintura com as mãos. Tentou afastar-se dele, mas a agarrava com força e não o conseguiu. Passados uns segundos, o beijo se tornou mais suave e terno, não pôde evitar gemer. Ryan a aproximou da cama sem deixar de beijá-la e conseguiu que se deitasse no colchão.

–Durante um tempo, Kelly, limite-se a estar calada. Não quero palavras. Parece que não podemos ter uma conversa normal sem nos magoar. Assim, embora só sejam uns minutos, quero me comunicar com você sem falar –disse Ryan olhando-a nos olhos.

Não soube o que dizer e se perdeu em seus olhos. Apesar dos problemas que tinham e a falta de confiança, seguia desejando-o. Uma voz em seu interior lhe disse que se deixasse levar e a recordou o quão maravilhoso seria voltar a fazer amor com ele.

Mas, por outra parte, temia que Ryan não o visse da mesma maneira e pensasse que continuava sendo uma prostituta. Esse pensamento a devolveu à realidade como um jarro de água fria.

–Não posso fazer isso. — disse ela enquanto se levantava – Sabendo o que pensa de mim, não posso fazê-lo –adicionou enquanto cruzava de braços e afastava a vista. Depois, afastou-se um pouco mais dele e o observou com desconfiança.

–Não me olhe assim, como se estivesse a ponto de atacá-la. – assegurou Ryan. Deu meia volta e saiu do dormitório.

Sentiu-se mais só que nunca. Foi ao banheiro e jogou água fria no rosto. Tinha uma forte dor no peito e vontade de chorar. Estava desesperada. Não pensava suplicar que acreditasse. Já o tinha feito e não serviu de nada. Desolada, rompeu a chorar.

Os três últimos meses tinham sido muito tristes, mas durante esses últimos dias tinha sofrido muito mais. Era duro ter que estar com o homem que tanto amou e ver em seus olhos o que pensava dela. Voltou chorando à cama e se aconchegou sob a colcha. Uns minutos depois, sentiu que alguém se sentava na cama.

–Sinto muito, Kelly –disse Ryan enquanto lhe acariciava a bochecha– Não chore. Por favor, não chore. —Com cuidado, ajudou-a a se levantar e a abraçou contra seu torso. –Me perdoe. Não era minha intenção aborrecê-la nem fazer que se sentisse mau. Juro – insistiu ele – Roberta veio com a única intenção de me afastar de você. —ficou calada ao ouvi-lo.

–Está preparado para admitir que sua mãe me odeia e estaria disposta a fazer qualquer coisa para livrar-se de mim? Se não falou com Roberta de nós, quem acha que o fez?

–Sei – reconheceu Ryan – Mas não vai conseguir nada. Assim que voltar para casa, falarei com ela. Prometo. Não vou deixar que te machuque.

Kelly relaxou contra seu torso. Desejava acreditar nele mais que nada no mundo. Viu que começava a dar-se conta de como era sua mãe e se perguntou se estaria disposto a aceitar sua versão dos fatos.

–Fica comigo, Kelly. Temos muito do que falar –disse Ryan enquanto limpava suas lágrimas– E não podemos fazê-lo se voltar para Houston. Além disso, quero cuidar de você e de nosso bebê.

Olhou-o nos olhos. Parecia estar sofrendo tanto quanto ela. Esteve a ponto de abrir a boca para dizer que ele não era o pai, mas não o fez.

–Por mais problemas que tenhamos, podemos solucioná-los.

–Eu não sou tão otimista – murmurou ela. Ryan a beijou então e o fez com tanta ternura que seus olhos encheram de lágrimas. Era incrível voltar a estar entre seus braços e esquecer durante uns minutos quanto doeu sua traição.

–Temos que falar do bebê –recordou Ryan. Ficou uns segundos calada.

–Se te disser que o bebê é seu, acreditará em mim?

Notou que Ryan ficava sem fôlego. Tomou seu rosto entre as mãos e a olhou diretamente nos olhos.

–Sim, acreditarei, Kelly.

Levantou-se na cama e respirou profundamente antes de dizer a verdade.

–É seu –sussurrou então. Ryan suspirou aliviado e a beijou de maneira apaixonada e possessiva. Custou-lhe afastar-se dele. O coração pulsava a mil por hora e não podia deixar de olhá-lo.

–Acredita em mim? Tenho que saber, Ryan.

–Acredito – respondeu ele com solenidade enquanto lhe acariciava o ventre. Teria gostado de perguntar se também acreditava no resto de sua história, mas não podia fazê-lo.

Ao ver que ficava calada, Ryan a olhou preocupado.

–Acredito, Kelly. De verdade. Jarrod me disse que usou proteção com você. Estou seguro de que não transou com nenhum outro homem e que com meu irmão só ocorreu uma vez, não é assim?

Ficou gelada ao ouvi-lo. Havia tanto dor em seu peito que lhe custava respirar. Angustiada, voltou a chorar.

–O que há com você? Por que chora?

Sentia-se tão magoada quanto furiosa.

–Se de verdade deseja arrumar as coisas, não volte a pronunciar seu nome em minha presença. Queria passar comigo uma semana sem falar do passado. É o que disse. Se voltar a falar dele, vou embora. Está claro?

Surpreendia-o que fosse tão veemente. Abriu a boca como se estivesse a ponto de protestar e ela se separou dele para levantar-se da cama. Mas Ryan a agarrou antes que pudesse fazê-lo.

–De acordo, nada do passado. Não voltarei a falar disso, prometo. Então, vai ficar?

Ela fechou os olhos. Estava muito cansada para seguir discutindo. Doíam-lhe todos os músculos do pescoço e também a cabeça. Ryan notou e começou a fazer uma suave massagem.

–Ainda me importa, Kelly. — Apoiou sua testa contra a de Ryan.

–Tenho medo. – confessou ela.

–Eu também. — Surpreendeu-a que o admitisse e se separou dele para olhá-lo nos olhos.

–Não me olhe assim. Não é a única que sofreu. Acabo de te dizer que não ia falar do passado, mas não é a única que sofreu com tudo o que ocorreu. Importava-me muito, queria me casar com você…

Ryan se deteve e, um pouco nervoso, passou as mãos pelo cabelo. Parecia muito cansado e um pouco abatido.

–Ainda quero me casar com você -lhe disse então.

 

Ryan admitiu como se lhe acabasse de ocorrer, como se não gostasse da ideia de casar-se com Kelly, mas não podia fazer nada para evitá-lo.

Ficou olhando-a, parecia um pouco incomodado. Ela estava muito atônita para falar algo. Sabia que Ryan não a amava nem confiava nela. Pensava que era uma prostituta e parecia estar disposto a acreditar que essa criança era dele, mas só porque seu irmão assegurou que tinha usado um preservativo. E mesmo assim, queria casar-se com ela. Sem poder evitar, pôs-se a rir com vontade.

–Não era essa a reação que esperava – disse Ryan.

–Acaso suas palavras eram uma proposta de casamento? –replicou ela.

–Não. Sim. Não sei… – balbuciou ele. – Eu gostaria de poder chegar a essa situação, mas sei que ainda temos um longo caminho adiante. Só quero que me diga que ainda te importo o suficiente para ficar aqui e lutar para tentar arrumar as coisas. Iremos devagar, pouco a pouco. Não permitirei que volte a acontecer algo como que ocorreu no restaurante.

–E como vais conseguir isso? –perguntou ela– Como vai conseguir que me aceitem sua família e seus amigos? Sempre me dizia que era minha imaginação, mas sabe que não é assim. Sua mãe não me suportava e seus amigos não sabiam o que tinha visto em mim. E é óbvio que seu irmão pensou que era, além disso, uma mulher infiel. Uma opinião que você também aceitou.

Ryan ficou de repente em pé e a olhou zangado.

–Disse que não queria falar do passado. Ou o fazemos ou não, mas se eu não posso, você tampouco –disse ele–Limite-se a me responder Kelly. Vai ficar? Está disposta a tentar e ver se podemos voltar a ser felizes juntos?

Olhava-a com impaciência, esperando uma resposta, mas não era tão fácil. Tinha que pensar. Custava imaginar-se de novo com ele. Não queria ver-se em uma situação em que a palavra de outros importasse mais que a dela.

Sabia que não era boa ideia, mas algo em seu interior se removeu ao pensar na possibilidade de voltar a estar com Ryan. Dizia a si mesma que só estaria com ele até que o bebê nascesse. Para poder descansar tudo o que necessitava, ter um teto sobre a cabeça e comida no prato.

Mas também sabia que não ia poder continuar a seu lado sem que seu coração se visse envolvido. Tinha que decidir se estava disposta a perdoar e esquecer para poder estar com ele ou se lhe convinha mais romper todo contato com ele para tentar seguir adiante com sua vida.

Outra possibilidade era conformar-se com alguns momentos especiais com o homem que amava e odiava em partes iguais.

Viu que Ryan parecia desolado ao ver que não lhe dava uma resposta. Recordou ter estado nessa posição, pedindo a alguém que a amasse e confiasse nela. Mas não era uma pessoa vingativa.

–Ficarei – disse então. O olhar de Ryan se iluminou ao ouvi-la.

Rodeou-a com os braços e a beijou com ternura nos lábios. Havia muita emoção nesse beijo e se deu conta de que ele tinha temido de verdade que o rechaçasse. Era como se a vida estivesse pondo a cada um em seu lugar e se encarregasse de que Ryan sofresse tanto quanto ela sofreu. Mas isso não fez que se sentisse melhor. Não desejava que ninguém sentisse tanta dor como ela havia sentido seis meses antes.

–Passe a tarde comigo, Kelly. Tem que comer. Pedirei que nos tragam comida e podemos fazer um piquenique na praia enquanto contemplamos o entardecer. Providenciei que Jansen comprasse um traje de banho se por acaso quisesse entrar na água.

Colocou sua mão sobre a de Ryan.

–Eu adoraria –disse ela.

Ryan e Kelly foram até a mesma sombrinha sob a qual ela esteve essa mesma manhã. Ele se assegurou de que estava cômoda. Depois, tirou a comida que o restaurante tinha preparado e metido em uma cesta para eles dois. Sentou-se a seu lado e começaram a comer.

Kelly não se deu conta até esse momento da fome que tinha. Comeram em silêncio uns minutos, enquanto contemplavam como o céu ia tingindo-se de quentes cores e o sol ia descendo para o horizonte. Fechou os olhos um instante e deixou que a brisa fosse aplacando os nervos.

Tinha sofrido muito durante esses últimos meses e estava cansada. Desejava poder levar uma vida tranquila, sem estresse, embora só fosse durante uns dias. Queria esquecer-se das noites que tinha passado em claro, chorando e dando voltas na cabeça a tudo o que tinha ocorrido. Desejava viver no presente e fingir que tudo seguia igual. Essa viagem podia ter sido sua lua de mel.

–No que está pensando? –perguntou Ryan.

–Neste paraíso e em quão fácil é fingir que tudo está bem – respondeu ela enquanto o olhava nos olhos.

–Poderíamos fingir, mas não temos por que fazê-lo.

–Como passou esta manhã? Pôde solucionar os problemas que havia? –perguntou ela para trocar de assunto.

–Sim, só se tratava de um mal-entendido. Entre hoje e amanhã, podemos arrumá-lo. Tenho uma reunião com os construtores locais e com o capataz que contratamos para que fiscalizasse o projeto –disse Ryan– Se tudo sair bem, não terei que fazer nada mais e poderemos desfrutar de uns dias de descanso.

–Quando tem que voltar para Nova Iorque? –perguntou ela com o coração em um punho. Sabia que essa fantasia desapareceria assim que voltassem para a realidade.

–Ainda não sei, mas não tenho pressa –respondeu Ryan enquanto a observava –Agora mesmo prefiro me concentrar nos dias que vamos passar juntos.

Assentiu com a cabeça ao ouvi-lo.

–Dormirá comigo esta noite, Kelly? — ficou boquiaberta. –Não me olhe assim, não me referia a isso –se desculpou Ryan – Eu gostaria que dormíssemos juntos. Dormir, nada mais. Na mesma cama. Eu adoraria dormir abraçado a você.

A ideia de dormir entre seus braços a atraía mais do que estava preparada para admitir. Necessitava dele. Respirou profundamente e assentiu com a cabeça. Ryan tomou sua mão e a apertou com força. Seguiram assim até que saíram alguns empregados do hotel para acender tochas na praia. Já era noite fechada. Alguns minutos depois, começaram a escutar a música que chegava do hotel. Kelly apoiou a cabeça no ombro de Ryan, fechou os olhos e se concentrou na melodia dessa música mesclada com o relaxante som das ondas. Ryan lhe deu um beijo na bochecha e abriu os olhos. Olhou para o céu e viu uma estrela cadente.

–Faça um desejo –sussurrou ela.

–O meu já se cumpriu –respondeu Ryan– Peça você.

Fechou os olhos de novo e o fez, mas não pôde evitar sentir um grande pesar em seu coração. Sabia que alguns sonhos não chegavam a realizar-se nunca.

Ryan ficou de pé e a puxou para que se levantasse. Pensou que queria voltar para o hotel, mas a levou até a beira do mar. A lua se refletia na água e o céu se encheu de estrelas. Era um momento mágico. Sem dizer nada, Ryan a abraçou e começaram a dançar ao ritmo da longínqua música que soava no hotel. Ficaram assim um bom momento, com seus corpos cada vez mais perto. Recordou nesse instante quão bem encaixavam, como um só ser.

Algum tempo depois, deixaram de dançar. Ryan lhe acariciou o cabelo e deu-lhe um carinhoso beijo na testa. Olhou-o nos olhos, estavam cheios de necessidade e desejo, mas também de esperança. Ficou sem fôlego ao ver que se aproximava lentamente e se fez eternos os poucos segundos que demorou a beijá-la.

Foi o beijo mais romântico e doce que já tinham lhe dado em sua vida. Pensou que dizia muito mais do que aquele homem poderia ter expressado com palavras. Teve claro que ainda se importava com ela e também que a desejava. Quando por fim deixou de beijá-la, abraçou-a com força e a segurou assim durante muito tempo.

 

Kelly vestiu a camisola e se olhou de cima a baixo. A vestimenta, de cetim e renda, era muito bonita, mas se sentia vulnerável e quase nua. Seus seios tinham crescido muito desde que ficou grávida e seu ventre a impedia de ver os pés.

Suspirou e ficou olhando a porta. Ryan a esperava em seu quarto, mas lhe custava dar esse passo. Confiava nele, mas não podia dizer o mesmo dela. Sentou-se na cama.

Tinha muitas dúvidas e se deu conta de quanto tinham mudado as coisas entre os dois. Sempre foi desinibida com Ryan. Recordou a infinidade de vezes que foi ela a iniciar um encontro sexual. Ryan estava acostumado a trabalhar com o notebook na cama e ela o incitava e tentava até que conseguia monopolizar toda sua atenção e que se esquecesse do trabalho.

Mas aconteceram muitas coisas após e nem sequer se atrevia a ir a seu quarto. Ryan bateu na porta e a abriu uns centímetros.

–Tudo bem?

Assentiu com a cabeça e ele se aproximou e sentou a seu lado na cama. Não disse nada. Limitou-se a colocar a mão sobre seu colo e esperar que ela a tomasse. Depois de uns segundos, o fez. Ryan ficou então de pé e a puxou suavemente.

–Nós dois estamos cansados. Será melhor nos deitarmos já. Nos preocuparemos com o amanhã quando chegar.

Esse Ryan parecia diferente do que tinha conhecido. Antes, costumava planejar tudo. Tinha listas, agendas cheias e calendários com notas por toda parte.

Levou-a pela mão até seu quarto e a deixou na cama. Depois, afastou-se um pouco, como se pudesse intuir que ela necessitava de um pouco de espaço.

Suspirando, meteu-se entre os lençóis e se colocou de lado e de costas a ele. Sentiu que se afundava um pouco o colchão quando Ryan se meteu na cama. Poucos segundos depois, estava abraçando-a. Rodeou sua cintura com um braço e a atraiu mais para seu corpo. Sentiu vontade de chorar ao ver-se assim. Sentiu muita saudade dele.

–Não existe o passado – sussurrou Ryan ao ouvido– Só nós e o presente.

Suspirou ao ouvi-lo. Deu-se conta de que foi estúpido tentar fingir que esse passado não existia quando os dois podiam senti-lo, era um muro que os separava e do qual não conseguiam livrar-se.

Ryan a beijou no pescoço e se aproximou um pouco mais a ela. Depois, baixou a mão até seu ventre. Era um gesto doce e amargo ao mesmo tempo. Não podia esquecer o que tinha ocorrido e lamentava que não tivessem podido estar assim desde o começo.

–Relaxe e dorme, Kelly. Só quero te abraçar. — E se deu conta de que isso era o que queria ela também.

Quando Kelly abriu os olhos, pensou que estava muito cômoda e muito a vontade. Demorou uns segundos em dar-se conta de que estava em cima de Ryan. Tinha a bochecha apoiada em seu ombro e uma perna em cima dele. Recordou que assim era como costumava despertar cada manhã quando viviam juntos. Envergonhou-a ver-se assim e tentou afastar-se, mas Ryan não permitiu.

–Não se mova. Eu gosto de tê-la assim –disse a ela.

Kelly levantou a cabeça para olhá-lo. Imaginou que já tinha acordado há algum tempo.

–Há uma coisa que não mudou, continua linda quando desperta pela manhã –sussurrou Ryan. Pareceu-lhe que falava com sinceridade e, sem pensar no que estava fazendo, deu-lhe um beijo.

Ao princípio, Ryan mostrou certa surpresa, mas pareceu gostar que tomasse a iniciativa. Não se moveu enquanto beijava sua boca. Pouco a pouco, foram separando os lábios e o beijo se tornou mais íntimo e apaixonado, entrelaçando as línguas e deixando-se levar no momento. Ryan a abraçou com força e sentiu que lhe custava respirar.

Antes que se desse conta do que tinha acontecido, ele a tinha feito girar e estava deitada de costas no colchão. Ryan tinha colocado o joelho entre suas pernas enquanto devorava sua boca. Havia tanta paixão e tanta necessidade que ficou sem fôlego. Os beijos eram ternos e, no minuto seguinte, ardentes e apaixonados. Com uma mão, Ryan lhe desabotoou os dois botões do decote. O tecido da camisola se abriu, deixando seus seios descobertos. Faltou-lhe tempo para acariciá-los e cobrir um dos mamilos com a boca. Estremeceu ao senti-lo e começou a retorcer-se de prazer. Levou as mãos à cabeça de Ryan e lhe agarrou o cabelo para que não se movesse dali, para que continuasse fazendo o que estava fazendo.

Depois de deliciosos segundos de prazer, Ryan deixou de brincar com seus mamilos para olhá-la nos olhos e o que viu em seu olhar a deixou sem fôlego.

–Quero fazer amor com você, Kelly. Não sabe quanto necessito de você, mas não é minha intenção piorar as coisas entre nós. Tem que desejar tanto quanto eu –disse ele.

–Desejo-o mais ainda –confessou ela. E era verdade. Pôde ver em seus olhos quanto gostava de ouvi-lo e a beijou apaixonadamente. Depois, deixou de beijá-la e se separou dela, abraçando-a com ternura, como se fosse uma valiosa peça de cristal que temesse quebrar. ,

Olhou-a de cima a baixo, quase como se a visse pela primeira vez. Depois, abriu pouco a pouco sua camisola e foi baixando-a até deixá-lo à altura de seu volumoso ventre. Ajudou-a a levantar os quadris e terminou de tirá-la. Sentia-se muito vulnerável só com a calcinha. Ryan lhe acariciou a barriga.

–Nosso bebê – sussurrou emocionado. Agachou-se e beijou o ventre com ternura. Seus olhos se encheram de lágrimas ao vê-lo, tinha um nó na garganta.

–É linda –murmurou Ryan– Sinto não tê-la visto crescer e ver como ia mudando seu corpo. Não sabe como é sexy .

–Você também acha que é uma menina?

–Acredito que sim, não sei por quê. A verdade é que não me importa. Só quero que estejam os dois bem.

Ryan baixou a mão por seu ventre até deslizá-la entre suas pernas. Sobressaltou-se ao sentir suas íntimas carícias e não demorou para começar a gemer pouco depois.

–Eu adoro vê-la assim, sempre gostei… –sussurrou Ryan. Não podia deixar de retorcer-se enquanto ele seguia acariciando-a. Estava a ponto de alcançar o clímax. Sentia muita impaciência, desejava senti-lo em seu interior, mas tampouco queria deter essa doce tortura. –Separa as pernas – murmurou Ryan.

Fez o que lhe pedia. Viu que ele a olhava com ardente desejo e depois descia por seu corpo e voltava a acariciar sua parte mais íntima. Foi separando com delicadeza as dobras de sua pele e ficou sem fôlego ao ver que começava a percorrer cada centímetro de seu sexo com a língua. Estremeceu-se com força ao senti-lo em seus clitóris, excitando-a com leves carícias que fizeram ansiar muitas mais. Fechou os olhos e agarrou com força o lençol. Era um amontoado delicioso de sensações. Não havia nada igual, era indescritível, intenso, maravilhoso. Mal podia suportá-lo. Era uma grande de onda de prazer detrás da outra, não podia deixar de gemer nem gritar, faltava-lhe o ar. Levantava os quadris ao ritmo que Ryan marcava com seus dentes e sua língua. Foi incrível.

Quando por fim recuperou o fôlego e o bom senso, levantou a cabeça e viu que Ryan a olhava com satisfação.

Estremeceu-se ao vê-lo assim, sentiu que era seu e ele sabia. Levantou-se e, sem deixar de olhá-la, deslizou-se em seu interior e conseguiu levá-la de novo ao orgasmo. Ryan começou a mover-se sobre ela e notou que também ele estava a ponto de alcançar o clímax.

–Não posso mais, querida. Sinto muito. –gemeu ele– É muito incrível e passou tanto tempo da última vez…

O abraçou com força, mas Ryan seguia apoiando-se com as mãos no colchão, como se temesse machucá-la ou bebê. Beijou-a de novo, apaixonadamente, quase com desespero e se estremeceu de prazer entre seus braços. O sexo sempre tinha sido maravilhoso com Ryan, mas não costumava perder o controle com tanta facilidade.

Quando terminaram, ficaram como estavam durante uns deliciosos minutos, tentando recuperar a respiração. Adorava estar tão perto dele. Giraram até ficar os dois de lado na cama, com as pernas e os braços enredados e seu membro ainda dentro dela.

Respirou profundamente, desfrutando do aroma de Ryan. Teria sido muito fácil esquecer que estiveram separados durante seis meses e não pensar em quanto tinha sofrido e como se sentiu só. Era fácil imaginar que tinham seguido juntos e que estavam em casa, juntos na cama. E, embora só fosse durante uns minutos, decidiu deixar-se levar por essa fantasia.

 

Ryan não se moveu, continuou abraçando Kelly enquanto tentava analisar o que acabara de ocorrer. Aparentemente, não era mais que um apaixonado encontro sexual. De fato, um dos melhores que teve em sua vida. Mas sabia que significava muito mais.

Não tinha sido só sexo. Se fosse, seu coração não se sentiria como nesse momento, cheio de emoções e de esperança. Sempre tinham funcionado muito bem nesse terreno, mas o que acabava de ocorrer tinha sido muito mais intenso, muito mais importante.

Acariciou brandamente as costas de Kelly e deu-lhe um terno beijo na cabeça. Depois, separou-se dela o suficiente para poder olhá-la nos olhos. Viu muita dor neles e foi como sentir uma bofetada. Parecia frágil e assustada. Perguntou-se se estaria assim por sua culpa ou pelo que acabara de acontecer. Esperava que não se arrependesse do que tinha ocorrido.

–No que está pensando? Diga-me que não lamenta, Kelly. Não suportaria isso. – sussurrou ele com a voz carregada de emoção. Ela negou com a cabeça e suspirou aliviado.

Acariciou-lhe a face. Desejava-a e queria voltar com ela. Já não importava o que tinha feito. Depois de romper com Kelly, teve vários meses para analisar sua relação e se deu conta de que também teve parte de culpa. Acreditava que tinha trabalhado muito e não se ocupou dela como merecia. Por um motivo ou outro, as coisas se torceram e estava decidido a descobrir as causas para não voltar a cair nos mesmos erros.

Sem poder resistir, beijou-lhe a testa e depois as pálpebras. Plantou outro beijo mais na bochecha e um na boca. Sentiu que voltava a excitar-se.

–Está cômoda de lado? –perguntou ele– Ou prefere estar em cima?

Sem esperar que respondesse, a tomou entre seus braços e a fez girar até tê-la sentada montada sobre ele. Era incrível voltar a estar assim com ela. Fechou os olhos para tentar se acalmar e respirou profundamente. Não tinha podido evitar perder o controle na primeira vez e esperava poder durar mais e estender assim o prazer para os dois.

Kelly apertou as coxas contra seus quadris e se levantou ligeiramente antes de voltar a sentar-se. Começou a lhe acariciar os quadris. A gravidez tinha enchido seus seios, os mamilos eram mais escuros e grandes. Sua boca salivou ao vê-los assim, estava desejando saboreá-los de novo. Brincou com eles entre os dedos até que Kelly ficou sem respiração, sentiu como os músculos de seu sexo se contraíam e teve que deter-se durante uns segundos para não terminar antes do tempo.

–Eu adoro seu corpo. Está linda grávida, Kelly. Não posso deixar de te tocar, deixa-me louco.

Deu-lhe de presente então um sorriso que conseguiu chegar à sua alma. Kelly tomou suas mãos e se apoiou nelas para levantar levemente os quadris, como tinha feito uns minutos antes. Cada vez custava mais não deixar-se levar.

–Deixa-me louco – murmurou de novo. Ela voltou a sorrir. Sem soltar as mãos, começou a mover-se lentamente, seguindo o ritmo que marcava seu próprio prazer. Olharam-se nos olhos e mantiveram esse contato visual durante todo o tempo, até que não pôde aguentar mais.

Kelly começou a ofegar, parecia estar a ponto de chegar ao clímax. Ele também estava perto, mas esperou que ela chegasse antes. Quando o sentiu, abraçou-a com força e tomou então as rédeas dos movimentos. Acariciou-a e a beijou enquanto lhe dizia o quão bela era.

Não demorou para alcançar o orgasmo, foi um momento incrível. Ela se deixou cair sobre seu torso e o beijou no pescoço. Deu-se conta de que não podia viver sem ela, tinha que assegurar-se de que não voltasse a deixá-lo. Sentia que Kelly lhe pertencia, era seu filho o que crescia em seu ventre e viu com claridade o que tinha que fazer. Ela necessitava dele e ele estava desejando cuidar dela.

Estava disposto a esquecer o passado e esperava que ela quisesse retomar a relação. Depois de tudo, não foi ele que a traiu.

–Gostaria de tomar o café da manhã na cama? –perguntou ele então.

–Eu adoraria. Além disso, acredito que não poderia me mover, embora quisesse – confessou Kelly.

Sorriu ao ouvi-la. Não tinha nada mais que gostava do que ficar na cama com ela. De fato, esperava poder convencê-la passar assim todo o dia.

–Vou pedir que nos subam algo para comer –disse ele– Volto logo –adicionou enquanto lhe dava um beijo no nariz.

Separou-se dela e se sentou na cama. Olhou-a por cima do ombro e viu que tinha lhe roubado o travesseiro. Não pôde evitar começar a rir. Era algo que sempre tinha feito.

–Não vou devolvê-lo – murmurou ela.

–Não se preocupe, não há nada tão importante para mim como o conforto de minha garota – respondeu ele.

Kelly levantou as sobrancelhas ao ouvi-lo e ficou olhando-o.

–Sou? –perguntou então ela.

–O quê?

–Sua garota –repetiu Kelly – Preciso saber o que significa o que aconteceu. Voltamos a estar juntos? Não sei muito bem o que é isto e não penso dar nada por certo.

Respirou profundamente ao ouvir isso. Era um assunto delicado. Não queria estragar tudo o que tinham conseguido durante as últimas horas.

–Isso depende de você –disse ele– Acredito que deixei muito claro o que quero e para onde eu gostaria que fosse a relação. É você que tem que decidir o que quer.

–Minha cabeça me diz que seria uma idiota se aceitasse sua proposta – murmurou Kelly.

–E o que te diz o coração?

Kelly suspirou.

–Meu coração me diz que isto é o que quero. E o que dizem seus sentimentos, Ryan? De verdade quer isto?

–Sim, Kelly, quero. Desejo tanto que a ideia de que saia do meu lado parte meu coração.

–Mas eu nunca sai de seu lado – disse Kelly.

–Não falemos disso, de acordo? Aconteça o que acontecer então, o fato é que não quero que vá agora. Não poderia suportar.

–Certo. – sussurrou ela. Disse-o tão baixinho que mal o entendeu.

–Certo?

–Quero ficar. Não sei o que vai acontecer, mas quero tentar.

Sentiu um alívio tão grande ao ouvir suas palavras que ficou sem fôlego. Sentiu vontade de abraçá-la com força e não soltá-la jamais, mas se controlou. Não queria assustá-la.

–Vamos fazer muito mais que tentar. — prometeu ele – Vamos conseguir, Kelly. Desta vez, dará certo.

 

–Parece que não se dá por vencida, não é? –murmurou Kelly ao ver que Roberta se aproximava. Ryan levantou a vista e suspirou. Não parecia feliz com a interrupção. Depois de passar toda a manhã e parte da tarde na cama, tinham decidido sair para jantar. E, assim que sentaram à mesa, viram que se aproximava Roberta, que parecia ter estado vigiando-os como um falcão. Não estava ciumenta. Acreditava que Roberta não era o tipo de mulher que Ryan podia gostar. O que mais a incomodava era ver que havia outras pessoas que sabiam muitos detalhes sobre sua relação. Sempre soube que a família os amigos de Ryan não gostavam dela. Tinha dado a impressão de que ele começava a entender isso, mas sabia que sempre iam ter essa pressão em sua relação.

Roberta se deteve frente à mesa e se agachou para dar um beijo no rosto de Ryan, deixando uma marca de carmim. Kelly suspirou com resignação. Sabia que teria que suportar outra desagradável cena. Ela estava aborrecida, mas viu que Ryan parecia furioso.

–Roberta, que demônios…?

–Não se zangue. Só vim me despedir. Meu voo sai amanhã pela manhã e queria falar com você para ver quando podíamos nos ver em Nova Iorque. Sua mãe está desejando que vamos jantar em sua casa – respondeu Roberta enquanto olhava Kelly com certo desdém. Sabia que estava tentando provocá-la, mas Kelly aproveitou a ocasião para bocejar e olhar a recém-chegada como se sua presença a aborrecesse. – O que acha neste fim de semana? –perguntou Roberta– Estou segura de que Kelly não importará. Depois de tudo, você e eu somos velhos amigos.

–Mas me importa – disse Ryan – Se não tem nada mais a me dizer, preferiríamos que nos deixasse sozinhos, por favor.

–Em breve te ligo. – murmurou Roberta. Quando ficaram sozinhos, Ryan a olhou com frustração.

–Sinto muitíssimo, Kelly. Quero que saiba que não fiz nada para animá-la.

Sorriu ao ouvi-lo e ofereceu-lhe seu guardanapo para que limpasse a marca de batom.

–Já tinha imaginado. Já foi bastante claro com ela ontem, não sei por que tornou a insistir. Pergunto-me o que lhe terá prometido sua mãe.

–Não deixemos que estrague o que foi até agora um dia incrível –disse ele.

–Diz isso pelo sexo? Vejo que é a única coisa que os homens precisam para pensar que um dia foi incrível. – brincou ela.

–Bom, é verdade. Mas é que com você não foi só sexo, a não ser muito mais, Kelly.

Ruborizou-se ao ouvi-lo. Parecia falar com sinceridade. Estava conseguindo que começasse a sonhar com coisas que tinham parecido impossíveis até esse momento, como que pudessem voltar a retomar sua relação.

–O que quer fazer depois de jantar? –perguntou ela.

–O que acha se dermos outro passeio pela praia? Talvez pudéssemos ir à tenda que o hotel tem na praia e dançar um momento. Amanhã poderíamos aproveitar para ir a algum outro lugar se não estiver muito cansada. Aluguei um carro conversível para que possamos nos movimentar com comodidade.

–Parece-me um plano incrível e muito divertido.

Deu-se conta de que tinha passado muitos meses sem fazer nada divertido, adorava estar ali com ele e poder desfrutar sem preocupações. Não pôde evitar sorrir ao pensar nisso.

–Eu adoro vê-la sorrir outra vez – sussurrou Ryan– Fica linda quando sorri. Quero que seja feliz, Kelly. Farei todo o necessário para que seja.

Com essas palavras, sentiu que ia desvanecendo parte da dor e a ira que tinham atendido seu coração durante meses.

–Quero que isto funcione – confessou ela então.

–Por que não descontou o cheque que te dei, Kelly? Fiz isso para que pudesse ter uma segurança econômica durante algum tempo. Sabe o que senti ao vê-la trabalhando naquele restaurante e vivendo em um pequeno e velho apartamento? Nem sequer tinha comida ali.

–Costumava comer no trabalho – explicou ela.

– Acha que isso faz que me sinta melhor? Por que não usou o dinheiro que te dei? Poderia ter terminado seus estudos na universidade. Não teria por que começar a trabalhar, ao menos durante algum tempo.

–Tenho orgulho, Ryan. Suponho que, se não tivesse conseguido esse trabalho, e tivesse necessitado para comer, teria terminado por descontar um cheque que me fazia sentir muito pouca coisa.

–Tanto me odiava? –quis saber Ryan – Preferia trabalhar e viver em condições tão péssimas antes de aceitar algo meu?

–Não me faça perguntas se não estiver preparado para ouvir as respostas.

–Acredito que já me respondeu – respondeu Ryan fechando os olhos.

–Você também me odiava – disse ela. Ryan negou com a cabeça. –Como não? Insultou-me e fez coisas horríveis, como me atirar esse cheque na cara. Fez isso com tanto desprezo que ainda recordo como me fez sentir.

–O que esperava? Pelo amor de Deus, Kelly, acabava de saber que se deitou com meu irmão. Levava no dedo o anel com a qual nos tínhamos prometido, já estávamos organizando o casamento e transou com meu irmão!

–E é obvio, ele não tem a culpa de nada – respondeu zangada – Me diga, Ryan, quanto demorou para perdoá-lo? Quanto tempo passou antes que voltasse a entrar e sair de sua casa e se juntassem todas as semanas para ir jantar na casa de sua mãe?

Ryan parecia furioso.

–Passou algum tempo. Estava muito zangado com ele e com você. Mas ao final, tive que decidir se estava disposto a deixar que aquilo estragasse nossa relação. Jarrod é meu irmão.

Kelly se levantou do sofá, esquecendo que tinham prometido não falar do passado.

–E eu era a mulher com quem ia se casar, Ryan. Não merecia ao menos a mesma consideração?

–Estava zangado e acredito que tinha direito a estar. Não vou me desculpar por isso, mas agora quero que o tentemos de novo. Os dois cometemos enganos.

Teve que respirar profundamente para tentar tranquilizar-se. Custava-lhe falar do passado sem que voltasse a sentir a mesma raiva e a mesma dor de sempre.

 

Kelly não tinha palavras para definir o medo que dava entrar no avião de volta a Nova Iorque. Os dois últimos dias tinham sido perfeitos e, se aquilo tinha sido só um sonho, não queria despertar.

–Tudo vai bem – disse ele como se tivesse podido perceber quão nervosa estava– Confia em mim.

Teria gostado que fosse tão simples. Tentou relaxar e se preparou para o longo voo. Foi Ryan então que pareceu ficar mais e mais nervoso conforme se aproximavam de Nova Iorque. Não tinham falado de como ia ser sua vida em Nova Iorque, nenhum dos dois tinha querido estragar os doces momentos que tiveram na ilha falando da dura volta à realidade.

Um carro os esperava no aeroporto para levá-los de volta ao apartamento de Ryan. Estava nevando. Ryan a rodeou com seu braço e deu-lhe um beijo na têmpora.

–Sabe o que gostaria de fazer agora? Vou pedir que nos levem o jantar para casa, comeremos frente à lareira e depois, faremos amor até que amanheça.

Suspirou ao ouvi-lo e relaxou contra seu torso. Ryan intuiu perfeitamente o que precisava escutar nesse momento para poder relaxar.

—Me diverti muito na ilha – disse ela.

–Me alegro. Eu também. Foi como nos velhos tempos, verdade? Ou talvez inclusive melhor.

Kelly assentiu com a cabeça. Ela também tinha a sensação de que dessa vez podia ser melhor, era uma relação mais honesta e real. Tinham passado os últimos dias rindo, conversando e fazendo amor.

Ficaria feliz em não ter que voltar para Nova Iorque.

—Pedi a Jansen que ligasse para a clínica. Tem uma consulta com seu médico manhã.

Sorriu ao ver o quão preocupado estava.

–Depois dos últimos dias que passei com você, acredito que já estou muito melhor. — Viu que Ryan gostava de ouvi-la e deu um beijo nos lábios.

O carro se deteve poucos segundos depois, já tinham chegado ao edifício de Ryan. Ele saiu rapidamente e a ajudou, acompanhando-a até a porta para que não se esfriasse muito. Enquanto subiam no elevador, um nó se formou em seu estômago. Não gostava nada estar ali, em sua casa e nessa cidade.

–O chofer não demorará em subir as malas. Por que não se acomoda no sofá? Enquanto isso, prepararei a lareira. Tem fome?

–Não, agora mesmo não. Mas eu adoraria que pedisse comida tailandesa para jantar.

–Isso parece – respondeu Ryan – Agora, deite no sofá e ponha os pés para cima. Tem os tornozelos um pouco inchados depois do voo.

Era incrível tê-lo tão atencioso com ela, mas não se queixou e seguiu seus conselhos. Ryan chegou pouco depois com um suco. Estava sentando-se no sofá quando soou o telefone celular. Viu que Ryan franzia o cenho ao ver quem ligava.

–Olá, mamãe – saudou ao atender. – Sim, já estamos de volta. Escute, mamãe. Por que disse a Roberta que fosse? Eu não gosto que se meta em minha vida. Tem que aceitar que Kelly está comigo. Se não puder fazer isso, vamos ter sérios problemas você e eu.

Pareceu-lhe incrível que ele falasse assim e gostou de ver essa nova faceta de Ryan.

–Já veremos – continuou ele pouco depois – Por agora, precisamos passar algum tempo juntos sem interferências de nenhum tipo. Ligarei quando estivermos preparados para ir jantar em sua casa.

Ela fez uma careta ao ouvi-lo, mas era a mãe de Ryan e tinha que suportar certas coisas. Depois de tudo, tratava-se, além disso, da avó de seu bebê.

–Eu também te amo, mamãe. Acabamos de chegar e os dois estamos cansados. — Ryan desligou e deixou o telefone no sofá. –Minha mãe se desculpou pela atitude da Roberta e também pela sua. Quer que vamos jantar em sua casa o quanto antes e lhe disse que faremos quando estivermos preparados – explicou ele. Como não sabia o que dizer, não disse nada. Tomou o copo do suco e bebeu. Alguém chamou à campainha e Ryan se levantou do sofá.

–Deve ser nossa bagagem. Voltarei logo.

Deu-lhe um beijo na testa e saiu da sala. Deitou-se de lado no sofá e ficou absorta olhando a maravilhosa vista.

Continuava nevando e não se cansava de observar como caíam os flocos, era muito relaxante. Também era agradável ter a lareira acesa, parecia um lar de verdade. Cobriu-se com a manta de sofá e não lutou contra o sono quando os seus olhos foram fechando. Sabia que Ryan a despertaria quando fosse a hora de jantar.

Quando Ryan voltou para a sala, viu que Kelly adormecera. Tinha um aspecto muito inocente, não era assim como imaginava uma mulher capaz de colocar um irmão contra outro. Sabia que era melhor não pensar nessas coisas. Prometeram-se esquecer do passado, mas não podia evitar. Preferia não pensar nisso e concentrar-se nessa segunda oportunidade. Mas, para obtê-lo, tinha que descobrir o que era o que tinha falhado no passado. Cedo ou tarde, iam ter que falar disso. Tomou seu telefone celular e, sem fazer ruído, foi a outro cômodo para ligar para Devon e a Cameron.

 

Ao dia seguinte, Ryan levou Kelly ao médico. O médico não gostou em nada de ver o quão inchados tinha os tornozelos. E ainda havia proteínas em sua urina. Fez-lhe muitas perguntas e voltou a advertir que devia fazer repouso.

Ryan escutava atento cada palavra do médico. Temeu que a prendesse em seu quarto assim que chegasse em casa e não a deixasse sair até que nascesse o bebê. De volta ao apartamento, não esperou que ele dissesse e se deitou no sofá com os pés levantados.

–Suponho que não precisa que esteja todo o tempo deitada. Sempre e quando tomar cuidado e não faça nada exagerado – disse Ryan. Gostou de ver que se mostrava razoável. –Pensei que talvez podíamos sair para jantar fora esta noite se gostar. Encarreguei Jansen que comprasse roupa de inverno e um casaco. Ao menos até que esteja melhor e possa sair você mesma em compras – disse Ryan –E vamos ter que comprar coisas para o bebê muito em breve – recordou. Surpreendeu-a o comentário, mas se deu conta de que tinha razão. Só ficavam umas semanas para que o bebê nascesse e ela não tinha comprado nada.

–Não há pressa, não se preocupe. Pedirei que me consigam algumas revistas e livros sobre bebês para que possa ir lendo-os. Podemos preparar uma lista. Será divertido, já verá.

 

–Rafael me ligou hoje – disse Ryan a Kelly enquanto jantavam.

–Como está? Ainda não consigo acreditar que sofreu um acidente com um avião de pequeno porte, perdeu temporalmente a memória e que depois se apaixonou pela mulher que pensava arrebatar suas terras para construir o hotel.

Ryan fez uma careta ao ouvi-la.

–Faz com que soe tão…

–Terrível? Sei que é seu amigo, mas sempre me pareceu arrogante e pouco respeitoso, sobretudo com as mulheres. E sei que nunca gostou de mim – disse ela com sinceridade.

–Mudou. Sei que parece incrível, mas esse acidente transtornou por completo sua vida. O caso é que Bryony e ele retornaram de sua lua de mel e virão a Nova Iorque dentro de uns dias. Têm que falar com uma agência imobiliária para pôr à venda seu apartamento de solteiro.

–Vão se mudar? — admirou-se. Rafael gostava muito da cidade e não o imaginava em nenhum outro lugar.

–Sim, vão viver na ilha Moon.

–Então, sim deve estar apaixonado – disse ela surpreendida.

–É incrível o que um homem apaixonado pode fazer pela mulher que ama. Quer que façamos algo juntos.

–Ao que se refere? –perguntou ela com certa desconfiança.

–Devon, Cameron, Rafael, Bryony, você e eu. Pensei que não seria mal convidar também aminha mãe. Sei que o primeiro encontro com ela será o mais duro e acredito que será mais fácil se houver outras pessoas presentes.

–E Jarrod? –perguntou então.

–Não vou convidá-lo. Nunca faria isso, Kelly – respondeu Ryan.

–Quando seria o jantar?

–Semana que vem. Vão estar bastante ocupados preparando o apartamento para vendê-lo. Poderíamos ir jantar no Tony´S. Você gosta desse lugar, verdade? Prefiro fazê-lo em um restaurante. Assim temos mais liberdade para ir quando quisermos se não se sentir à vontade.

Suspirou um pouco angustiada. Viu que Ryan tentava facilitar as coisas. Sabia que amava muito seus amigos e também a sua mãe.

–De acordo – murmurou ela – Podemos ir, é óbvio –adicionou com um sorriso um pouco forçado. Ryan tomou as mãos entre as suas.

–Desta vez, vamos conseguir , Kelly.

—Faz-me sentir melhor vê-lo tão convencido – respondeu ela.

– Acaso tem dúvidas?

– Mentiria se negasse. Tenho medo. Nem sequer me atrevo a sair do seu apartamento – disse com sinceridade –Eu não gosto nada da pessoa em que me converti, sei que sou uma Kelly muito diferente da que conheceu faz uns meses. Agora sou mais cuidadosa e me custa mais confiar nas pessoas.

Ryan ficou olhando-a nos olhos.

—Se case comigo – disse de repente. Soltou uma de suas mãos e viu que a metia no bolso. Ficou boquiaberta ao ver que tirava uma caixinha de veludo. Continha um maravilhoso anel com um grande diamante. Ryan o tirou da caixa e o ofereceu. Kelly o olhava como se tivesse ficado louco. –Não sabia se preferiria que te oferecesse o anel que me devolveu. Tenho-o guardado. Ao final, decidi que merecemos começar do zero e comprei este outro. — Não podia deixar de tremer. –Sei que não estou sendo muito romântico e que nossas circunstâncias não são perfeitas. Tinha decidido esperar um pouco mais até que chegasse o momento adequado e tivéssemos solucionado nossos problemas. Mas não pude me conter. Quando meus amigos e minha família a verem de novo, quero que saibam que estamos juntos, que é a mulher com quem vou me casar e que tem todo meu apoio.

Seus olhos se encheram de lágrimas e tinha um nó na garganta.

–Mas Ryan… Há tantas coisas que… O que ocorreu…

–Sim, sei – a interrompeu – Temos muito que conversar, mas queria fazer isto antes para que soubesse que, aconteça o que acontecer quando falarmos disso, continuarei querendo que se torne minha esposa. Tem que saber que é assim.

Limpou com a mão as lágrimas que rodavam pelas faces.

–Nesse caso, sim. Casarei-me com você. — Tomou o anel e o colocou com cuidado. Depois, deu-lhe um beijo nos lábios e se levantou da cadeira.

–Vamos – pediu Ryan – Quero voltar para casa e poder estar a sós com você. Estou desejando te abraçar e te ter só para mim – acrescentou com emoção. Foram diretos ao carro e ali puderam beijar-se de novo. Depois de tanta solidão e tanto dor, Kelly voltava a sentir por fim uma cálida luz que a iluminava por dentro.

 

Kelly despertou e viu que Ryan não estava na cama com ela. Olhou o relógio e viu que já passava das nove.

Imaginou que estaria trabalhando. Tinha sido muito fácil acostumar-se de novo a essa casa e a estar com ele. Quando começaram a sair uns meses antes, confiavam plenamente um no outro. Mas tudo tinha mudado, custava-lhe mais confiar nas pessoas e também tinha aprendido que tudo podia mudar muito rapidamente.

Seguia sem entender por que Ryan não acreditou nela. Quando pensava nisso, chegava à conclusão de que não a amou tanto quanto ela a ele ou que não confiava em sua palavra. Fosse qual fosse a razão, quando as coisas ficaram difíceis, sua relação se rachou como o cristal. E isso o fazia temer por seu futuro juntos. Mas preferia não pensar nisso. Talvez estivesse sendo uma estúpida ao confiar tanto em Ryan, mas tinha nascido uma esperança nova em seu interior e se aferrava a ela. Uma esperança que a cegava e não deixava ver a verdade. Esperava que dessa vez fosse diferente. Embora para isso tivesse que suportar que o homem ao que amava pensasse que foi infiel. E nada menos que com seu irmão.

Foram muitas as vezes em que tinha passado pela cabeça levantar o assunto e tentar conseguir que a escutasse, mas tinha medo que não acreditasse. Além disso, sabia que o passado já não podia ser mudado. Passara dias sem poder pensar em outra coisa, não sabia o que fazer. Uma parte dela desejava contar a verdade.

Por outro lado, acreditava que era melhor esquecer seu orgulho para poder ser feliz. Depois de tudo, era uma vida com Ryan o que mais desejava e acreditava que possivelmente merecesse a pena concentrar-se nesse objetivo e não pensar em nada mais. Mas doía que Ryan seguisse pensando que ela tinha sido capaz de trai-lo dessa maneira. Respirou profundamente e se levantou da cama. Foi até a sala para ver se Ryan tinha acendido a lareira. Não só tinha acendido um bom fogo, mas também a esperava um fabuloso café da manhã na mesa.

Mas o que mais chamou a atenção foi um lindo par de sapatinhos de bebê. Pegou com cuidado. Eram amarelos e muito suaves. “Porque disse que ainda não tinha um par. Amo você, Ryan”, dizia o cartão que tinha deixado sobre a mesa. Sentou-se na cadeira com lágrimas nos olhos.

–Não deveria te amar tanto – sussurrou ela com emoção.

Mas não podia evitá-lo. Sabia que foram feitos um para o outro e precisava dele para ser feliz. Essa manhã foi a primeira de um novo ritual de conquista que estava conseguindo apaixoná-la mais ainda. No dia seguinte, quando saiu da cama, encontrou-se com outro presente.

Era um livro sobre o cuidado do bebê. Outra manhã deixou-lhe um par de casaquinhos ao lado do café da manhã. Um rosa e outro azul. “No caso de...” tinha escrito Ryan.

Quando foi à sala no dia seguinte, não encontrou nenhum presente, mas sim um bilhete. Nele dizia que tinha uma surpresa para ela no quarto de hóspedes. Entusiasmada, foi até lá. Ao abrir a porta, viu que estava cheio de coisas para o bebê. Havia uma cadeira de passeio, um berço que já estava montado, um balanço, vários brinquedos, um trocador… Não entendia como podia ter enchido esse quarto sem que ela se desse conta. Ao lado da janela havia uma cadeira de balanço com uma manta amarela sobre um dos braços. Foi até ali e a tocou. Sentou-se depois nela e olhou a seu redor. Durante os dois últimos dias, havia-se sentido um pouco mais cansada, mas não disse nada a Ryan. Não queria preocupá-lo. Ele se esforçava muito por fazer que cada dia fosse especial.

Era essa noite que passariam com seus amigos e sua mãe. Ryan tinha conseguido com seus cuidados e seu carinho que se sentisse muito mais forte e custava pensar que essas pessoas pudessem dizer ou fazer algo que turvassem sua felicidade. Ryan queria casar-se com ela e acreditava que nada mais importava.

Quando chegou a hora de preparar-se para o jantar, foi ao armário e tentou encontrar a roupa perfeita para essa noite. Preocupava-a vestir algo que fosse muito sexy. Não podia tirar da cabeça que essas pessoas tinham uma opinião muito baixa dela. Sentiu vontade de vestir algo muito modesto e conservador, mas a incomodava deixar-se influenciar pelo que outros pensassem dela. Continuava em frente ao armário quando Ryan se aproximou por detrás e a abraçou. Estremeceu-se ao sentir que mordiscava seu pescoço. Suspirou, encantada com suas cuidados.

–Por que está aqui olhando sua roupa com a vista perdida? – perguntou ele. Virou-se para abraçá-lo e o beijou.

–Voltou muito cedo hoje.

–Estava desejando vê-la.

–Não sei o que vestir para o jantar. Quero usar algo com o que não pareça a prostituta que acreditam que sou.

Ryan a olhou pormenorizado. Separou-a do armário e foi com ela à cama. Sentaram-se e a abraçou.

–Vista o que vestir, ficará linda. – disse Ryan – Deixa de preocupar-se tanto.

–Sei. Sei que é absurdo, mas não posso evitá-lo. Estou muito nervosa.

–Não quero que se preocupe, Kelly. O passado é o passado. Eu te perdoei. E se eu te perdoei, eles deveriam ser capazes de fazer o mesmo.

Ficou imóvel ao ouvi-lo e sentiu uma grande dor em seu peito. Ryan a perdoava por algo que não tinha feito. Custou não explodir ao ouvi-lo. Sabia que Ryan não estava tentando feri-la e estava segura de que não tinha nem ideia de quanta dor causaram suas palavras.

–Nós dois cometemos enganos. Também tenho parte da culpa. O importante é que não permitamos que algo assim volte a ocorrer –disse Ryan. Ela assentiu com a cabeça. Não se atrevia a falar e tampouco sabia o que dizer.

Fechou os olhos e o abraçou. Ryan pensava que estava assim por culpa do jantar. Deixou que a consolasse sem dizer que eram suas palavras as que mais mal fizeram. Ryan foi ao armário e, poucos segundos depois, tirou um lindo vestido azul escuro. O mostrou e sorriu.

—Este ficaria fenomenal.

Fechou os olhos. Ele a tinha perdoado. Sentiu vontade de chorar. Acreditava que deveria ser ela quem o perdoasse e não o contrário.

 

Kelly engoliu em seco e entrou no restaurante contendo o fôlego. Ryan falou com um garçom que os acompanhou a uma mesa na parte de trás. Chegaram e seu noivo sorriu ao ver que Rafael já estava ali, sentado ao lado de uma mulher que não podia ser outra que sua esposa, Bryony.

Também estavam a mãe de Ryan, Devon e Cameron. Seu pulso acelerou ao vê-los ali juntos. Ficou ao lado de Ryan enquanto este saudava todos.

–É óbvio, todos recordam de Kelly e não preciso apresentá-la. –anunciou Ryan então– Bom, todos menos você, Bryony. — Ryan se girou para olhá-la. –Kelly, apresento-lhe Bryony de Luca, a esposa de Rafael. Bryony, quero que conheça minha noiva, Kelly Christian.

Todos ficaram em silêncio com as palavras de Ryan. Sua mãe nem sequer tentou esconder o terror que tinha produzido tal declaração. Inclusive Bryony, que não a conhecia, parecia muito surpreendida enquanto se levantava para saudá-la. Foi então quando viu que ela também estava grávida.

–Prazer em conhecê-la – disse Bryony com um sorriso um pouco forçado. Parecia-lhe incrível que inclusive essa mulher soubesse o suficiente sobre para julgá-la e tratá-la com frieza. Kelly sorriu um pouco nervosa e deixou que Ryan a guiasse até uma cadeira. Deu-se conta de que ia ser uma noite muito longa.

–Como está, Kelly? –perguntou-lhe Devon com educação. Estava sentado a seu lado e supôs que se viu obrigado a lhe dirigir a palavra.

–Estou bem –sussurrou ela – Um pouco nervosa –reconheceu. Devon pareceu se surpreender com sua honestidade. Ryan começou a conversar animadamente com seus amigos e com sua mãe. Ela ficou calada observando ao resto das pessoas. Ninguém tentou incluí-la na conversa. E, uma vez, quando se aventurou a fazer um comentário, todos ficaram em silêncio e decidiu não voltar a fazê-lo. Suportavam-na porque amavam Ryan, mas sentia que a observavam com desdém. Foi um alívio que servissem por fim a comida e ter assim ao menos algo no que concentrar-se. Nunca se sentiu tão fora do lugar.

Era uma das piores noites de sua vida e estava desejando poder sair dali com Ryan. A comida não tinha sabor de nada, tinha um nó no estômago e, depois de vários intentos, deu-se conta de que era melhor não comer. Limitou-se a tomar sorvos de água e a imaginar que continuava na praia com ele, dançando sobre a areia e à luz da lua. Ia ter que viver com pessoas que a julgava, como os que a rodeavam essa noite no restaurante. Além disso, ia casar com um homem que a perdoou por um erro que ela nunca cometeu.

Não entendia por que estava suportando tudo aquilo. Estava pronta para dar por terminada essa situação quando levantou os olhos e viu que se aproximava Jarrod. Foi diretamente dar um beijo em sua mãe. Depois, olhou para Ryan e a ela. Não pôde evitar sentir um suor frio nas costas ao vê-lo ali. Notou que Ryan também estava tenso. Ficaram em silêncio, era como se todo mundo estivesse atento a ela para ver como reagia. Doíam-lhe a cabeça e o estômago. Nunca se sentiu tão humilhada.

–Sinto chegar tarde – disse Jarrod– Havia muitíssimo tráfego. — sentou-se ao lado de sua mãe. Kelly não podia acreditar. Não podia sequer olhar para Ryan. Não entendia como podia ter-lhe feito algo assim. Estava convencida de que ele não o havia convidado, mas acreditava que ao menos deveria ter deixado muito claro aos outros que Jarrod não era bem-vindo. Sabia que todos a observavam, mas se negava a olhá-los. Não queria lhes dar a satisfação de vê-la tão magoada. Tinha a vista cravada em Jarrod e em sua mãe.

Estava farta que todos a olhassem por cima do ombro. Ficou em pé. Já não a importava que não a aceitassem, ela tampouco os aceitava.

–Estou cansada de tudo isto – disse enquanto olhava a todos os comensais – Não suporto seus olhares de desdém. Julgaram-me e acreditam que não sou suficientemente boa. Podem ir todos ao inferno! — Depois, concentrou toda sua atenção no Jarrod. –Maldito canalha! Não quero vê-lo nunca perto de mim nem de meu filho. — Viu que Ryan começava levantar-se, mas lhe fez um gesto para que voltasse a sentar-se. –Não, por favor, fique. Sei que não quererá decepcionar a sua família nem seus amigos – disse com amargura. E, antes que Ryan pudesse reagir, afastou-se deles. Saiu à rua. Fazia muito frio, nem sequer tinha incomodado em recolher seu casaco. Estava gelada, mas era quase agradável sentir o ar gélido no rosto.

 

A primeira coisa que Ryan pensou foi sair correndo atrás de Kelly, mas estava muito furioso e tinha que deixar as coisas muito claras antes de ir. Não pensava permitir que ninguém tratasse mal Kelly nem a fizesse sentir-se humilhada. Ficou de pé e olhou ameaçadoramente seu irmão.

–O que é o que aconteceu aqui? –perguntou furioso enquanto olhava também a sua mãe.

Jarrod parecia um pouco confuso e viu que empalidecia.

–Não se zangue com ele, Ryan. Fui eu quem o convidou – disse sua mãe – Se insistir em voltar com essa mulher, pensei que estaria bem que voltássemos a nos ver todos juntos. Ou pensava deixar de lado a sua família? Não acha que essa mulher já nos causou muito dor?

Ryan amaldiçoou entre dentes e sua mãe não pôde evitar fazer uma careta de surpresa ao ouvi-lo.

–Não já a feriu muito? – rebateu ele – Estou farto. Já não aguento mais. Não penso permitir que voltem a humilhá-la dessa maneira nem que tentem nos separar. — Depois, olhou a seus amigos. –Rafael, Bryony, foi um prazer vê-los de novo. Espero que tenhamos oportunidade de voltar a fazê-lo antes que saiam da cidade.

Despediu-se também de Devon e de Cameron, os dois pareciam muito aborrecidos.

–Sinto muito – murmurou Devon. Sem dizer nada mais, afastou-se dali. Tinha que encontrar Kelly. Pensava levá-la para casa, desculpar-se e prometer que nunca a faria passar por nada parecido. Saiu depressa, rezando para que estivesse a salvo e fosse de volta para casa. Tinha um nó no estômago e temia que Kelly se fartou tanto a ponto de não querer voltar com ele.

Deteve um táxi e deu seu endereço. O trajeto até sua casa pareceu eterno, rezando para que ela estivesse ali quando chegasse.

Quando o táxi se deteve frente a seu edifício, saiu correndo.

–Viu a senhorita Christian? – perguntoue ao porteiro.

–Sim, senhor. Entrou faz uns minutos.

Foi então quando pôde por fim respirar. Correu até o elevador e, pouco depois, entrava em seu apartamento.

–Kelly? Kelly, querida, onde está? —Foi direto ao dormitório e a encontrou sentada na cama. Estava muito pálida e tinha um gesto de dor no rosto. Viu que esteve chorando.

–Pensei que ia poder fazer isso. — disse Kelly – Acreditei que ia ser capaz de esquecer o passado e aceitar que outras pessoas pensassem o pior de mim. O que mais me importava era que nós estivéssemos bem, mas me equivoquei.

–Kelly… — O olhou e ele não disse nada mais. sentia-se muito impotente.

–Esta noite, suportei durante muito tempo que seus amigos e sua mãe me olhassem com desprezo enquanto te dedicavam gestos compassivos. Custa-lhes acreditar que tenha querido voltar comigo. Depois de tudo, sou a prostituta que te traiu da pior maneira possível. Foi então quando me dei conta de que não merecia isso. Nunca mereci isso. E esta tarde, antes que fôssemos ao jantar, perdoou-me. Disse-me que já não importava o que tinha feito no passado porque tinha me perdoado e queria olhar para o futuro.

 

A dor de seus olhos se transformou em ira. Viu que apertava os punhos e as lágrimas começaram a rolar pelas suas faces.

–Eu, em troca, não te perdoo. E tampouco posso esquecer que me traiu.

Suas palavras o confundiram ainda mais. Instintivamente, deu um passo atrás.

–Que não me perdoa?

–Aquele dia, eu te disse a verdade – sussurrou ela com a voz quebrada pelas lágrimas – Te pedi que acreditasse em mim. Fiquei de joelhos e supliquei isso. E, o que fez você? Deu-me um cheque e me expulsou de seu lado. Seu irmão me atacou, tentou me violentar. Eu não fiz nada para incitá-lo. Tive hematomas em meu corpo durante duas semanas depois que me atacou. Estava tão atônita pelo que Jarrod tinha feito que não podia pensar em nada, só em te encontrar quanto antes para poder me sentir a salvo. Sabia que você arrumaria as coisas e me protegeria. Estava segura que ia cuidar de mim. Era tudo que tinha em mente, chegar quanto antes a seu lado. E, quando o fiz, nem sequer podia suportar olhar no meu rosto. — Cada vez era maior o nó que tinha no estômago. Custava-lhe respirar. –Não quis me escutar –sussurrou ela enquanto chorava– Já tinha feito uma ideia do que tinha ocorrido e não me escutava.

Ele engoliu em seco e se aproximou dela. Preocupava-o vê-la tão alterada e tentou fazer que se sentasse na cama. Mas Kelly não permitiu que a tocasse. Deu-lhe as costas e viu que lhe tremia todo o corpo.

–Estou te escutando agora, Kelly – disse ele – Me conte o que aconteceu. Acredito em você, juro. —Mas não precisava que ela contasse, já sabia. Não tinha deixado de pensar naquele fatídico dia e se negou a entender o que de verdade tinha ocorrido. Estava furioso. Seu irmão mentiu para ele, tinha emaranhado a verdade para conseguir que acreditasse nele.

–Já não importa se acredita em mim ou não – sussurrou Kelly enquanto girava para olhá-lo– Deveria ter acreditado em mim quando de verdade importava. Tentou me violentar, atacou-me, me machucou… Quando tentei me defender e disse que ia te contar isso tudo, Jarrod riu de mim. Disse-me que ia se assegurar de que você nunca acreditasse em mim –adicionou ela– Eu disse que se equivocava. Recordei-lhe que me amava e que o faria pagar pelo que me tinha feito… — Kelly não pôde seguir falando, as lágrimas a afogavam.

“Meu deus, como pôde acontecer algo assim?”, pensou desesperado. Recordou a chamada de seu irmão. A princípio, custou acreditar nele. Mas depois, Kelly chegou muito alterada ao escritório e disse exatamente o que Jarrod o tinha advertido que ia contar. Estava horrorizado, não podia assimilá-lo.

–Fez? – perguntou ele com um nó na garganta– A violentou?

Voltou a começar a chorar e cobriu o rosto com as mãos. Queria abraçá-la

–Se tivesse visto o quão contente estava esse dia. Acabava de descobrir naquela manhã que estava grávida. Estava tão feliz. — Não pôde terminar a frase, as lágrimas não o permitiram.

–Kelly, não sabe quanto sinto. Pensei que… Se tratava de meu irmão! Nunca pensei que pudesse chegar a fazer algo assim. Acreditei que te apreciava e me deu a impressão de que se davam bem. Como ia acreditar que Jarrod pudesse fazer algo tão desprezível?

–Mas não foi dificil acreditar que eu pudesse fazer isso. –disse Kelly com tristeza nos olhos.

Não podia respirar, sentia-se desesperado e muito impotente. Não sabia o que fazer. Kelly tinha razões para odiá-lo. Viu que se levava as mãos à cabeça e esfregava as têmporas. Depois, balançou-se como se estivesse a ponto de perder o equilíbrio.

–Kelly! –exclamou enquanto ia para ela. Mas não permitiu que a tocasse.

–Afaste-se de mim.

–Kelly, por favor. — Foi então ele quem rogava. E não se importou. Estava disposto a fazer o que fosse necessário para arrumar as coisas.

–Amo você. Nunca deixei de te amar. – confessou então ele. Kelly o olhou com grande pesar e sem poder deixar de chorar.

–O amor não deveria provocar tanta dor. Isso não é amor. O amor é confiar plenamente no outro – respondeu ela. Estava desejando poder abraçá-la e oferecer o consolo que tinha negado meses antes, quando ela mais necessitava. Kelly tentou sair do quarto. Agarrou-a pelo cotovelo para evitar, não podia suportar que se afastasse dele. –Por favor, não vá.

–É que não se dá conta de que jamais vamos poder estar juntos, Ryan? –perguntou Kelly com dor no olhar– Não confia em mim. Sua família e seus amigos me odeiam. Que tipo de vida me espera? Mereço algo melhor. Alguns obstáculos são impossíveis de superar. — Fechou um instante os olhos com gesto de dor. Voltou a balançar-se e teve que agarrar-se à cômoda.

–Kelly, o que está sentindo? –perguntou muito preocupado. Ela esfregou a testa e abriu os olhos, mas tinha o olhar perdido.

–Minha cabeça… – gemeu ela com um fio de voz. Deu-se conta de que estava muito mal. Não era somente o desgosto que sofreu essa noite, havia algo mais. Assustou-se ao ver o quão pálida estava. Antes que ele pudesse reagir, suas pernas dobraram e caiu ao chão.

 

– Kelly! –gritou Ryan assustado enquanto ia para ela. Seu primeiro impulso foi abraçá-la, mas seu corpo estava rígido e estava sofrendo convulsões. Tinha espuma nos cantos dos lábios e a mandíbula apertada. Rapidamente, tirou o celular e marcou o número de emergências.

–Necessito de uma ambulância. Minha noiva… Está grávida... Acredito que está tendo um ataque. —Sabia que o que dizia não tinha muito sentido. Tentava manter-se calmo para poder ajudá-la, mas era muito complicado nessas circunstâncias. O operador que o atendia fez algumas perguntas. Uns segundos depois, o corpo de Kelly perdeu sua rigidez e a cabeça caiu para trás. Levou os dedos ao pescoço, rezando para encontrar seu pulso.

–Não me deixe, Kelly –sussurrou com desespero– Por favor, aguenta. Eu te amo tanto… —Levantou sua mão, ainda usava o anel de compromisso. Beijou a palma com desespero, não podia deixar de chorar. Nunca esteve tão assustado. Ouviu algum tempo depois aos médicos na porta de seu apartamento.

–Aqui! – gritou do dormitório. Entraram depressa e o separaram de Kelly. Começaram a ocupar-se dela enquanto ele os observava completamente imóvel.

Colocaram-na em uma maca e foram depressa ao elevador. Quando saíram à rua, subiu à ambulância com eles. De caminho ao hospital, tirou o telefone celular. Não sabia a quem chamar, não havia ninguém. As pessoas em que confiava, especialmente seu irmão, tinha-o traído.

Cobriu o rosto com as mãos e tentou acalmar-se. Não podia perder o controle nesses momentos. Kelly precisava dele.

Ryan escutou em silêncio enquanto os médicos diziam que Kelly estava muito grave. Tinham-lhe posto soro com sulfato de magnésio para baixar a pressão arterial e evitar que tivesse convulsões, mas se esse tratamento não funcionasse, iam ter que fazer uma cesárea para tirar o bebê.

–Mas não é muito cedo para a criança?

–Não fica outra solução. –disse o médico– Se não fazermos nada e sua condição não melhorar, os dois podem morrer. A única solução para a eclampsia é tirar o bebê. Estamos fazendo testes para ver se seus pulmões maturaram o suficiente. Está de trinta e quatro semanas de gestação e acredito que teria possibilidades de sobreviver sem muitas complicações.

Desesperado, passou as mãos pelo cabelo e fechou os olhos. Sentia que ele era o culpado. Deveria ter cuidado e mimado ela durante toda a gravidez. Mas, em vez de fazê-lo, tinha-a posto em uma situação muito complicada e ela se viu obrigada a trabalhar em muito más condições. Nem sequer tinha sabido facilitar as coisas desde que retomaram a relação, submetendo-a de novo às críticas e à frieza de sua família e seus amigos.

Foi até a porta do quarto. Deteve-se antes de entrar. Tinha medo de que sua mera presença fosse muito para Kelly. Nunca se sentiu tão envergonhado. Arrependia-se muito do que tinha ocorrido. Abriu devagar e entrou. O quarto estava na penumbra. Viu Kelly deitada na cama e conectada a todo tipo de aparelhos. Aproximou-se devagar para não incomodá-la. Seguia muito pálida. Tinha os olhos fechados, mas franzia o cenho. Não sabia se estava preocupada ou dolorida, possivelmente fossem as duas coisas. Viu que respirava com dificuldade e lhe encolheu o coração. Aproximou uma cadeira e se sentou. Tomou a mão que tinha mais perto e a levou os lábios.

–Sinto muito, Kelly – sussurrou com a voz entrecortada pela emoção– Não sabe quanto o sinto…

 

–Ryan, Ryan, acorda.

Abriu os olhos ao ouvir essas palavras e não pôde evitar gemer quando tentou levantar a cabeça. Sentia muita dor no pescoço. Demorou para acostumar-se à luz que entrava pela janela. Já era de dia. Olhou para Kelly, continuava adormecida. Tinham elevado um pouco a cama e tinha uma nova bolsa de soro. Girou-se então enquanto esfregava o pescoço. Devon estava atrás dele e o olhava com preocupação.

–O que aconteceu? –perguntou seu amigo. Com cuidado para não despertá-la, ficou de pé. Fez-lhe um gesto para que saíssem os dois do quarto. Viu Cameron no corredor, também parecia muito preocupado.

–O que fazem os dois aqui?

–O jantar de ontem à noite foi muito tenso – disse Devon– Tentei ligar depois que saiu, mas não respondia. Assim fui a seu apartamento. O porteiro nos disse que uma ambulância levou Kelly ao hospital. Assim viemos para ver como se encontrava.

Ryan fechou os olhos. Seguia com um nó na garganta.

–Está bem? Acredito que deveria se sentar – disse então Cameron.

– Comeu? — Ele negou com a cabeça.

–Quer nos contar o que ocorreu? –perguntou-lhe Devon.

–Não saberia por onde começar. Como vocês se sentiriam se tivessem cometido o pior engano de sua vida e acreditaram que não há maneira de arrumá-lo?

–Não conheço toda a história, mas acredito que não é o único culpado – disse Devon então.

–Meu irmão a atacou –replicou Ryan furioso– Tentou violentá-la e, quando Kelly se defendeu, ele me chamou me contando uma engenhosa história. Disse-me que se deitaram juntos e que, quando lhe disse que era um engano, ela o ameaçou contando que tinha tentado violentá-la para que eu não rompesse o compromisso.

Devon e Cameron o olhavam estupefatos.

–Como vou superar algo assim? –disse Ryan– Como Kelly vai me perdoar? Ontem, antes de ir ao restaurante, fui tão magnânimo ao lhe dizer que a perdoava –acrescentou com sarcasmo– Disse-lhe que queria esquecer o passado para poder ter um futuro juntos e a assegurei que a perdoava por ter-me sido infiel.

Cameron e Devon se aproximaram e o agarraram cada um por um ombro.

–Não sei que dizer – sussurrou Devon– Sei que a ama.

–Sim, nunca deixei que amá-la. E, mesmo assim, a tenho ferido muito. Como vou conseguir que volte a confiar em mim?

 

Jarrod o olhou com resignação ao abrir a porta de seu apartamento e ver que se tratava de Ryan. Este não lhe deu tempo para fazer nem dizer nada. Agarrou-o pelo pescoço da camisa e o empurrou contra a parede.

–Que demônios…?

Não pôde terminar a frase. Deu-lhe um murro que o fez cair ao chão. Cameron e Ryan ficaram esperando que se levantasse de novo. Jarrod o olhava sem entender nada enquanto limpava o sangue da boca.

–O que há com você, Ryan?

–Por que fez isso? –perguntou Ryan então enquanto o fulminava com o olhar– Por que? — Viu que empalidecia ao ouvir suas palavras. Era um alívio que ao menos não tentasse negar ou dissesse que não sabia do que estava falando.

–Sinto muito.

Não podia acreditar, nem sequer ia defender-se. Foi de novo para ele e lhe deu outro murro. Dessa vez, Jarrod nem sequer tentou levantar-se.

–Sente muito? Tentou violentá-la! Mentiu para mim – disse sem poder controlar sua fúria– Como pôde fazer algo assim? Era a mulher com quem ia me casar. Por que fez algo tão horrível?

–Pergunte a mamãe.

Deu um passo atrás. Não podia acreditar.

–Mamãe? Foi ela que te pediu que o fizesse?

Jarrod se levantou com dificuldade do chão e se apoiou na parede da sala.

–Sim, ficou louca quando descobriu que ia se casar com Kelly. Disse-me que não ia permitir que cometesse esse engano e se casasse com uma caça fortunas como Kelly. A princípio, pensei que isso passaria. Mas não mudou de ideia. Pediu-me que fosse falar com Kelly e oferecesse dinheiro para romper o compromisso. E que, se ela se negasse a aceitá-lo, poderia preparar uma armadilha com a história do estupro. Juro que não era minha intenção violentá-la, Ryan. Só queria que você pensasse que tínhamos transado.

–Meu Deus! Que loucura! –exclamou Cameron. Ryan não sabia o que dizer. Parecia-lhe incrível que sua própria mãe tivesse sido capaz de fazer algo assim. –Foi ela que me convidou ontem à noite para que fosse ao jantar. Mas me disse que você queria que fosse, juro. Fez-me acreditar que Kelly e você queriam esquecer do passado e começar de novo. Não pensava ir, não queria aborrecer Kelly nem que se zangasse comigo, mas mamãe me disse que você queria que fosse. A verdade é que tinha a esperança de que pudessem esquecer tudo e voltássemos a ser uma família. Como nos velhos tempos…

Ryan se sentia muito enojado para continuar ali, escutando suas desculpas.

–Você já não é de minha família. Só Kelly e nosso filho, ninguém mais. Não quero voltar a vê-lo. Se aproximar dela, irá se arrepender.

–Ryan, não. Por favor – rogou Jarrod– Por favor...

Já ia para a porta para sair, mas se deteve o escutar suas palavras.

–Ela te suplicou que a deixasse em paz como está me suplicando agora, Jarrod? Pediu que parasse? —Seu irmão se ruborizou e afastou o olhar.

–Vamos embora daqui, venha – disse Cameron. Quando saíram à rua, Ryan pediu a seu amigo que se fosse sem ele.

–Vou ver minha mãe.

–Tem certeza que não quer que vá com você?

–Sim, é algo que tenho que fazer sozinho.

 

Ryan bateu na porta de sua mãe com os nós dos dedos. Quando uma das criadas abriu, pediu para avisá-la.

Pouco tempo depois, sua mãe entrou na sala onde a esperava.

—Ryan? Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou, preocupada. Eu não te esperava.

Ele olhou para ela em descrença. Pareceu impossível, até aquele dia não tinha conhecimento de como era, na verdade, a mulher que tinha dado a vida. Ela sempre fui muito vaidosa e egoísta, mas nunca imaginou quanto maliciosa ela poderia se tornar.

Não saíam as palavras, não sabia como dizer quanto a odiava.

–Está bem? –perguntou-lhe de novo enquanto se aproximava e colocava uma mão em seu braço.

Afastou sua mão enojado, não queria nada dela.

–Não me toque – sussurrou furioso – Sei o que fez. Sei o que Jarrod e você fizeram a Kelly. Nunca os perdoarei.

Sua mãe o olhou consternada. Depois, cruzou os braços.

–Ela não serve para você, Ryan. Se não estivesse tão obcecado com ela, você também teria se dado conta.

–Nem sequer vai negar. Meu Deus! O que Kelly fez para merecer algo assim? Agora mesmo, está no hospital. É meu filho que carrega no ventre, seu neto. Estava grávida quando pediu a Jarrod que a atacasse. Tem que ser uma psicopata para fazer algo assim – disse com ódio.

–Tenho que proteger meus filhos e não me arrependo de nada – respondeu ela– O faria de novo. Entenderá quando nascer o bebê. Um pai tem que estar disposto a tudo pelo bem de seu filho. O protegerá acima de tudo e não vai permitir que cometa o pior engano de sua vida sem fazer nada para evitá-lo. Já me dará a razão dentro de uns anos.

Não sabia o que dizer. Parecia-lhe assombroso que tentasse justificar-se desse modo. Suas ações não tinham sido só imorais, mas também delitivas.

–Espero não chegar nunca aos extremos aos que você chegou. Feriu muito uma mulher inocente só porque pensava que não me merecia. O que não entende é que ela é muito melhor que você. Somos nós os que não merecemos alguém como Kelly em nossa família.

Sua mãe parecia furiosa.

–É como todos os homens, só pensa com a virilha. A luxúria o cega, mas se dará conta dentro de uns anos de que já não vê as coisas da mesma maneira. E então me agradecerá por ter tentado te proteger. Poderia encontrar alguém melhor e não entendo que não seja capaz de vê-lo por si mesmo.

–Estou seguro de que nunca te agradecerei o que fez. Já não quero saber nada de você. Não permitirei que minha futura esposa tenha que vê-la nem tampouco os filhos que tenhamos.

Ela o olhou com a boca aberta. Ficou muito pálida de repente.

–Não fala a sério!

–Muito a sério. Não é minha mãe. Não tenho mãe. Kelly e nosso filho são minha família. Nunca a perdoarei. Não quero que se aproxime de Kelly nem de mim. Se o fizer, pedirei uma ordem de afastamento. Entendeu bem?

Sua mãe ficou olhando-o sem poder articular palavra alguma.

–Não tenho nada mais a te dizer.

Deu-se meia volta e saiu dali. Sua mãe o chamou, mas não deu atenção. Não olhou para trás.

Meteu-se em um táxi e pediu ao condutor que o levasse ao hospital. Kelly e o bebê precisavam dele.

Não sabia se ela ia poder perdoá-lo, mas ia assegurar-se de que não lhe faltasse nunca nada. Ia cuidar deles, embora fosse à distância e passaria o resto de sua vida tentando recuperá-la.

 

Kelly despertou e tudo era silêncio a seu redor. Era um alívio ter se libertado por fim do zumbido dos ouvidos. Já não doía a cabeça. Olhou a seu redor e se deu conta de que estava no quarto de um hospital. Recordou então tudo o que tinha passado. Havia-se sentido muito mal na noite do jantar e supôs que perdeu os sentidos.

Presa pelo pânico, levou as mãos ao ventre. Foi um alívio ver que continuava grávida, mas não sabia se o bebê estava bem. O quarto estava na penumbra, só entrava um pouco de luz por debaixo de uma porta. Supôs que seria de noite. Seus olhos foram adaptando-se à escuridão e viu então que Ryan estava sentado em uma cadeira a seu lado.

Olhava-a com atenção, viu que havia muita emoção em seus olhos azuis.

–Olá –sussurrou Ryan em voz baixa – Como está?

–Não sei. Minha cabeça já não dói. Ainda tenho os pés inchados?

Ryan levantou ligeiramente o lençol.

–Um pouco, mas estão melhores. Estão lhe dando medicação para controlar a pressão e também monitoram o bebê para assegurar-se de que está bem.

–E como está? –perguntou muito assustada.

–Por agora está bem. Sua pressão arterial se estabilizou, mas me disseram que talvez tenham que fazer uma cesárea se voltar a subir.

Fechou os olhos ao ouvi-lo. Ryan se aproximou dela e a abraçou.

–Não se preocupe, querida. – murmurou enquanto lhe dava um beijo– Tem que estar tranquila. Está em muito boas mãos. Encarreguei-me que assim seja. Estão atentos à sua saúde em todas as horas e o médico me disse que o bebê pode sobreviver.

Sentiu-se muito aliviada ao ouvi-lo, mas estava muito cansada para dizer nada mais.

–Vou cuidar de você, Kelly –prometeu Ryan– De você e do bebê. Ninguém voltará a te machucar. Eu prometo.

Seus olhos se encheram de lágrimas ao ouvi-lo. Não tinha forças para discutir. Algo tinha se quebrado dentro dela e não sabia como poderia consertá-lo. Ryan se afastou então e viu que parecia muito preocupado. Também havia muito amor em seu olhar. Não sabia se isso ia ser suficiente. Sabia que a amava e que se sentia culpado. Mas ela não sabia se seria capaz de perdoá-lo.

–O que vai acontecer? –sussurrou ela– Tenho que ficar aqui? Posso voltar para casa?

Nem sequer sabia se a casa de Ryan seguia sendo seu lar. Sua relação estava no ar, mas não ficava mais remédio que voltar com ele enquanto estivesse em perigo a saúde do bebê. Ryan tomou sua mão entre as dele.

–Ficará aqui até que o médico dê alta. E, durante o resto da gravidez, terá que fazer repouso absoluto. — Tinha muito medo e Ryan se deu conta. Aproximou-se e deu-lhe um beijo na testa. –Não quero que se preocupe por nada, querida. De acordo? Eu me ocuparei de tudo. Iremos a algum lugar bonito e quente. Não terá que fazer nada mais que estar deitada na praia observando o entardecer. Contratarei um médico que esteja cuidando de você em todo momento.

–Ryan, não podemos escapar para uma ilha tropical. Se nos limitarmos a ignorar os problemas, não vamos poder solucioná-los.

–Por agora, se concentre em ficar melhor enquanto eu me ocupo de eliminar qualquer preocupação que possa ter. — Abriu a boca para protestar, mas Ryan deu-lhe um beijo para que não o fizesse. –Sei que temos que arrumar algumas coisas, Kelly. Quando disse isso pela primeira vez, não sabia até que ponto era verdade. Mas agora temos que deixar esses problemas à margem e nos concentrar em sua saúde e na do bebê. O que acha?

Deu-se conta de que tinha razão e assentiu com a cabeça. Apesar do que tinha ocorrido no passado, sabia que Ryan estava sendo sincero e se importava com sua saúde e a da criança mais que qualquer outra coisa.

 

–Minha ideia era levá-la de férias se acha que está em condições de viajar. Quero que esteja em um lugar quente e atendida a todo o momento. Posso me encarregar de que um avião particular nos leve a ilha e ali terei um médico que a atenda.

O médico ficou pensativo uns segundos.

–Talvez seja o melhor. Ao menos se sentirá mais tranquila em um lugar mais quente e recuperará antes as forças – respondeu o doutor – Seria muito negativo que desse a luz antes de tempo e com ela beirando a depressão.

Seu coração encolheu ao pensar na profunda tristeza que estava sentindo Kelly. Estava disposto a fazer qualquer coisa para conseguir que voltasse a sorrir.

–Se me der um bom parecer, começarei a organizar tudo –disse Ryan– Quero o melhor para ela e farei o que for necessário para que se recupere.

–Acredito, senhor Beardsley. Por que não me dá o nome do médico que vai contratar? Também quero os dados do hospital onde será atendida. Encarregarei-me de enviar-lhes o histórico médico e me assegurar de que estão preparados para cuidar dela.

–Obrigado – disse com sinceridade– Kelly e eu o agradecemos de coração.

–Cuide dela. Eu não gosto de vê-la tão triste.

Ryan assentiu. Ia cuidar dela.

 

Sentada na poltrona ao lado da janela, Kelly se distraía vendo como caíam os flocos de neve.

–Quer uma manta? –perguntou Ryan. Girou a cabeça surpreendida ao ver que já tinha retornado.

–Sinto tê-la sobressaltado.

–Não o fez, não se preocupe. Não tinha ouvido você entrar, isso é tudo.

Aproximou-se dela e se apoiou na borda da janela.

–Acabo de falar com seu médico e está disposto a te dar alta. — ficou boquiaberta ao ouvi-lo. –Mas há algumas condições. Preocupa-se muito com sua saúde.

–Que condições?

–Já arrumei tudo. Não se preocupe com nada. Concentre-se em ficar melhor e mais forte.

Tinha passado esses dias no hospital como se tivesse a cabeça em branco. Custava-lhe pensar com claridade e cada vez se sentia mais cansada.

–Sairemos da cidade. Uma ambulância vai te levar ao aeroporto e voaremos até a ilha de Saint Angelo em um avião particular.

Não podia acreditar.

–Ryan, não pode sair de Nova Iorque. Pode passar semanas antes que nasça o bebê. Não pode passar tanto tempo cuidando de mim nem abandonar seu trabalho. Sua vida está aqui.

Ryan se ajoelhou frente a ela e tomou suas mãos.

–Minha vida está com você. O bebê e você é o mais importante. Além disso, há muitas pessoas na empresa capazes de dirigi-la durante minha ausência. Meus sócios também vão me dar uma mão. Estaremos a poucos minutos do lugar onde estamos construindo o complexo hoteleiro, assim posso me encarregar de solucionar qualquer problema que possa surgir ali.

Não haviam tornado a falar do jantar com seus amigos e sua família nem da conversa que tiveram depois em casa. Sabia que Ryan se sentia muito culpado e atormentado com o que contou. Sabia que não lhe convinha falar disso nem perder a calma. Queria protestar e dizer que não podia continuar organizando sua vida, mas não tinha energia para fazer isso.

–Kelly, no que está pensando, querida?

Olhou-o nos olhos. Parecia muito preocupado e a olhava como se estivesse tentando ler seus pensamentos.

–Estou cansada – disse com sinceridade. Também se sentia fraca, insegura e arrastava uma grande dor em seu coração. Mas tratava de fazer o melhor para o bebê. Não podia explicar tudo o que sentia, era um esforço muito grande.

–Sei, querida –disse Ryan enquanto acariciava carinhosamente sua bochecha– Sei que não tenho direito de pedir isso, mas o vou fazer de todas as formas. Confie em mim. Deixa que cuide de você e a leve a Saint Angelo. Sei que você adora a ilha.

Sempre foi muito fácil deixar que ele levasse as rédeas. Nesse momento, oferecia-lhe, além disso, o que sempre quis. Seu amor e seus cuidados. Era a fantasia com a que sonhou, mas temia que não durasse. Já tinha passado por aquilo. Os dias na ilha foram idílicos, mas depois tinham que retornar à fria realidade de suas vidas.

–Quero ficar lá até que nasça o bebê –sussurrou ela. Não queria que nascesse em Nova Iorque nem ter a seu redor pessoas que a desprezavam.

–Já me encarreguei disso. — Surpreendeu-se ao ouvi-lo. –Venha comigo, Kelly. Confia em mim. Ao menos, de momento.

Pensou que talvez poderia ficar na ilha depois que o bebê nascesse. Supôs que Ryan já teria se dado conta de que seu relacionamento não teria futuro. Atraía a ideia de viver ali com o bebê. Acreditava que não necessitaria muito, só um apartamento. Assim que se recuperasse, poderia encontrar um posto como garçonete. Não tinha medo de trabalho duro. E, quando Ryan quisesse ver a criança, poderia ir à ilha. Sentiu-se um pouco mais forte ao pensar na possibilidade que se abria frente a ela e assentiu com a cabeça.

Viu que Ryan parecia muito aliviado. Inclinou-se sobre ela para beijá-la, mas ela afastou o rosto e ele a beijou na bochecha.

–Tenho que voltar a sair para terminar de organizar tudo. Voltarei assim que puder. Necessita que eu traga algo? — Ela negou com a cabeça e Ryan ficou em pé. –Vou fazer tudo o que estiver em minha mão para que volte a sorrir, Kelly – prometeu ele antes de sair.

Kelly girou a cabeça e continuou observando os flocos de neve pela janela.

 

Não tiveram nenhum problema com o voo nem com o transporte até a casa de praia. Ryan tinha assegurado de que Kelly estivesse cômoda em todo momento. Todo mundo estava atencioso com ela.

Assim que chegaram, recebeu-os o médico que ia tratá-la e uma enfermeira pessoal que ia residir na casa com eles. Quando Kelly viu a maravilhosa casa, ficou sem fôlego. A propriedade estava rodeada por altos muros. Entraram atravessando umas grades de ferro. Seguiram por um caminho de pedras. O jardim era maravilhoso, olhasse onde olhasse havia arbustos com flores de todas as cores. A casa estava a só uns metros da praia. Adorava a ideia de poder sair diretamente da porta traseira da casa.

Tentou negar, mas Ryan se empenhou a entrar com ela nos braços. Em vez de mostrar a casa, levou-a diretamente ao alpendre traseiro, de onde se acessava diretamente à praia. Não demorou para sentir a brisa marinha agitando seu cabelo. Fechou os olhos e respirou profundamente.

–Isto é lindo –sussurrou ela.

–Alegra-me que você goste porque é seu – respondeu Ryan com um sorriso. Ficou imóvel entre seus braços e o olhou nos olhos. Estava sem palavras.

–Não entendo.

Ryan a deixou no chão e se sentaram nos degraus do alpendre.

–Comprei-a para você. Para nós. Esta é nossa casa – explicou ele.

Não sabia o que dizer. A sensação de irrealidade e tristeza que a envolveu durante os últimos dias começou a desvanecer-se. Começou a ver as coisas com mais claridade. Viu que Ryan estava fazendo um esforço incrível para fazê-la feliz e cuidar dela. Sentiu que a esperança renascia em seu interior, mas tinha que ser precavida.

–Não entendo, Ryan. Você vive em Nova Iorque. Sua vida está ali. Sua família está ali. Seu trabalho, sua empresa, seus amigos. Não pode se mudar para esta ilha só porque aqui passamos dias muito felizes.

–Não posso? –perguntou Ryan enquanto tomava sua mão– Há muitas coisas que ainda não sabe, Kelly. Não quis contar isso quando aconteceu porque estava no hospital. Falei com meu irmão e com minha mãe e disse que não quero saber nada deles. Já não fazem parte de minha vida, de nossas vidas.

–Mas Ryan… – murmurou ela com lágrimas nos olhos.

–Não derrame nenhuma lágrima por eles nem por mim. Não merecem suas lágrimas e não me arrependo do que fiz. A única coisa que me arrependo é de ter permitido que lhe fizessem tanto mal e de ter sido incapaz de vê-lo com meus próprios olhos.

–Sim, mas não precisaria romper com eles se não tivesse sido por mim – disse ela com verdadeira dor– São sua família, Ryan. Agora está zangado, mas talvez as coisas mudem dentro de um ano ou dois. Cedo ou tarde, jogará em minha cara que o separei deles.

–Não, você não é responsável pelo que fizeram, foram eles. Fizeram algo horrível e não merecem sua consideração, tampouco a minha. Não quero que nosso filho seja exposto a esse tipo de gente. Foi minha decisão, Kelly. De verdade acha que permitiria que eles fizessem parte de nossa vida depois do que lhe fizeram?

Não podia deixar de chorar. Não tinha sido sua intenção separá-lo de sua família. Ela não queria ter que vê-los, mas não desejava que Ryan tivesse também que sofrer.

–Mas não quero falar deles –disse Ryan– Já não me importam. O que quero é falar de nós. Acha que será capaz de me perdoar algum dia, Kelly? Poderá voltar a me amar?

Ryan se levantou e desceu os dois degraus do alpendre. Depois, ficou de joelhos frente a ela e tomou suas mãos.

–Uma vez, ficou de joelhos para me rogar que acreditasse em você e me pedir que não te desse as costas. Chegou agora o momento de te suplicar, Kelly. Não mereço seu perdão e entenderia que não o fizesse, mas tenho que pedi-lo de todas as formas. Eu te amo. Desejo mais que tudo ter uma vida com você. Aqui, nesta ilha, longe da infelicidade do passado.

–Quer que fiquemos aqui? –perguntou ela. Ryan assentiu. Viu que tremiam suas mãos.

–Comprei esta casa e no hospital têm seu histórico médico. Assegurei-me que o bebê tenha os melhores cuidados possíveis. Quero que comecemos de novo. Que desta vez seja de verdade um começo. Rogo que me dê essa oportunidade para poder conseguir que volte a me amar.

Sentiu que se derretiam as paredes de gelo de seu coração e permitiu que renascesse a esperança em seu interior. Dessa vez, não tentou detê-la. Tomou o rosto de Ryan entre as mãos, estava chorando. Havia dor e desespero em seu olhar, também um pouco de medo.

–Te amo tanto –disse ela com a voz entrecortada– Passei muito tempo zangada e te odiando. Foi um peso que não me deixava avançar. Mas não posso seguir vivendo assim.

Ryan fechou os olhos. Quando os abriu de novo, viu que se sentia muito aliviado. Também parecia vulnerável e se deu conta de que estava tomando a decisão adequada.

–Se perdoar todas as coisas que te disse, eu também te perdoarei por não confiar em mim.

–Meu Deus, Kelly –gemeu ele– Mereço tudo o que me disse e muito mais. O que te fiz foi imperdoável. Como pode me perdoar quando eu não me perdoo?

Inclinou-se para ele e o beijou. Acariciou-lhe o rosto com as mãos e também o cabelo.

–Belo casal formamos os dois! Cometemos enganos, mas não nos demos por vencidos. E acredito que isso nos fez mais fortes. Sinto que teve que renunciar a sua família por minha culpa. Disse adeus também à cidade em que viveu sempre. Comprou esta casa aqui porque sabia que eu adoraria. É uma amostra incrível de seu amor. Se não te perdoasse, estaria rechaçando todo o amor que pode me dar e não quero viver sem você, Ryan. Os últimos meses foram os piores de minha vida e não quero voltar a me sentir assim.

Ryan a abraçou com força. Não podia respirar, mas não importou. Estavam juntos. Juntos por fim. Sem a dor nem a tristeza do passado. Sentiu que tinha tirado um grande peso de cima ao dizer que o amava e que o perdoava. Fazia muito que não se sentia tão livre nem tão leve. Estava feliz. Muito feliz.

–Te amo tanto, Kelly –disse ele–. Sempre te amei. Ia à cama pensando em você, preocupado de como estaria ou se por acaso seria feliz. Inventei algumas desculpas para explicar por que contratei um detetive quando a verdade era que não podia suportar a ideia de viver sem você.

Kelly sorriu e apoiou a testa contra a dele.

–Acha que seremos capazes de nos perdoar a nós mesmos, esquecer as coisas que não podemos mudar e nos concentrar em nosso amor e em nosso futuro? –perguntou ela.

–Sim, acredito que podemos fazer isso – respondeu Ryan sem soltá-la. Depois, separou-se dela e a olhou com um grande sorriso. Havia muita emoção em seus olhos. – Case comigo, Kelly. Agora mesmo. Não quero esperar nem um dia mais. Nos casaremos aqui, em nossa praia. Só você, eu e nosso bebê.

–Sim, casarei-me com você.

Ficaram abraçados nesses degraus durante muito tempo. Nessa praia iam criar seus filhos. Ali passariam os melhores anos de sua vida, rindo, amando-se e recordando o lugar onde juraram amor eterno junto com a promessa de lutar para superar juntos os problemas que a vida pudesse proporcionar.

Ficaram ali sentados até que o sol se pôs. Depois, quando a lua brilhava já no alto e se refletia sua luz na água, Ryan levou Kelly nos braços até a praia e dançaram ao ritmo que marcavam as ondas.

 

                                                                                Maya Banks  

 

                      

O melhor da literatura para todos os gostos e idades

 

 

              Voltar à Página do Autor