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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PRONTA PARA AMAR / Charlene Sands
PRONTA PARA AMAR / Charlene Sands

 

 

                                                                                                                                   

 

 

 

6° livro / PRONTA PARA AMAR

 

 

A herdeira do império Elliot, Bridget Eliot, estava decidida a expor todos os segredos de sua família, quando sofreu um acidente que a deixou sem memória e à mercê de um estranho muito sexy - Mac Riggs. De repente, descobrir quem ela realmente era, já não parecia mais tão urgente. Tudo o que Mac conseguia deduzir a respeito de sua desconhecida, a julgar pelo comportamento e aparência, era que vinha de uma família de posses. Ele não tinha idéia do motivo que a havia trazido ao Colorado, mas estava determinado a desvendar os mistérios que se escondiam por trás daqueles belos olhos azuis. A qualquer preço.

 

                         HERDEIRA DESAPARECIDA!

 

A herdeira dos Elliot foi vista pela última vez há alguns dias.

A polícia está à procura de Bridget Elliot, neta do editor milionário Patrick Elliot, desaparecida há quatro dias.

A srta. Elliot, 28 anos, foi vista pela última vez em Hamptons, onde com­pareceu à cerimônia de casamento de seu primo Cullen, na mansão da fa­mília. De acordo com um camareiro contratado es­pecialmente para o even­to, seu veículo foi visto deixando a propriedade às 22:12.

A polícia foi alertada quando a senhorita Elliot não apareceu para traba­lhar na revista Charisma, publicada pela Editora El­liot, onde é editora foto­gráfica. Moradores do seu prédio afirmaram que já não a vêem há alguns dias.

Fontes próximas à fa­mília dizem que a srta. Elliot recebeu um telefone­ma anônimo, pouco antes do casamento, de alguém que afirmava deter infor­mações nas quais ela esta­ria interessada. Até o pre­sente momento, a polícia ainda não suspeita de as­sassinato.

Patrick Elliot, o pa­triarca da família, disse aos repórteres que não medirão esforços para lo­calizar a srta. Elliot.

— Não descansaremos até que ela volte para casa, sã e salva — disse o atual presidente da Editora El­liot, prestes a se aposentar. — Faremos o que for pre­ciso.

 

 

 

 

 

— Não se atreva a me deixar na mão agora — im­plorou Bridget. Apesar da súplica, porém, o maldito carro de aluguel morreu. O motor parou e não houve meio de fazê-lo voltar a funcionar.

Ela olhou pelo pára-brisa, à procura de ajuda, mas só viu a vasta extensão de terra seca do Colorado, uma longa estrada e um sol nascente que prometia um calor abrasador. Nascida e criada em Nova York, Bridget estava acostumada aos dias quentíssimos de junho, mas nunca havia estado no Colorado, e torcia para nunca mais ter razões para voltar.

Mas sua missão era nobre. A pista quente que lhe haviam passado na noite anterior, durante o casamen­to de seu primo, Cullen, levou-a a tomar o último vôo noturno para Colorado. Bridget tinha passado a noite inteira viajando, fazendo planos e torcendo para en­contrar material para o último capítulo do seu livro que exporia as mentiras e os segredos impostos à sua família por duas gerações e a verdadeira face de Patrick Elliot, o patriarca do clã e proprietário da Edito­ra Elliot, um dos maiores conglomerados editoriais do mundo, seria finalmente revelada. A máscara do clã Elliot cairia por terra. O escândalo poderia acabar com o seu avô.

E ele merecia. Sua mais recente decisão havia sur­preendido toda a família. Ele havia anunciado sua aposentadoria no início do ano, mas em vez de esco­lher logo o sucessor, transformou a sucessão num jogo amargo entre irmãos, incitando seus quatro fi­lhos a lutarem uns contra os outros, por conta dos ne­gócios.

Fora a gota d'água para Bridget.

Ela decidiu se dedicar à procura do filho de tia Finola. O bebê, concebido quando a sua tia ainda era uma adolescente, havia sido entregue para a adoção, uma adoção forçada, imposta por Patrick. Sua tia ja­mais havia conseguido se refazer do episódio, devo­tando sua vida à revista Charisma na tentativa de preencher seu vazio. Como era a editora fotográfica da revista, Bridget tinha muito contato com a tia, po­dendo ver freqüentemente em seus olhos a dor da perda do bebê, ainda mais de vinte anos passados.

Bridget finalmente havia conseguido avançar nas investigações. Alguém confiável alegara conhecer a identidade da criança. Ela teria de ir a Winchester para localizar o filho de sua tia Fin.

Já eram quase seis da manhã, mas não havia nin­guém na estrada. Se ela tivesse pego a auto-estrada 25, com certeza já estaria salva, mas as orientações dadas pelo seu informante a haviam desviado para aquela auto-estrada menor, de mão dupla.

Bridget suspirou, deixando-se cair sobre o assen­to. Não tinha tempo a perder. Lembrou-se do celular. Pelo menos poderia pedir ajuda. Talvez a companhia pudesse mandar outro carro. Suas esperanças, porém, se desfizeram um minuto depois. O celular estava sem bateria. Bridget sempre esquecia de recarregar o maldito aparelho. Com essa já eram duas baterias arriadas em poucos minutos.

Ela tentou girar a chave na ignição novamente.

— Vamos lá, por favor — implorou ela aos céus. — Funciona!

Qual uma criança desobediente, o Honda Accord se recusou a cooperar. Nada. Sequer um ruído.

— A locadora vai ter de se ver comigo — resmun­gou ela, jogando a bolsa para trás e saindo do carro.

Ela bateu a porta e começou a caminhar. Lembra­va-se vagamente de ter visto uma placa, indicando que o município de Winchester estava a 15 quilôme­tros de distância. Se os seus cálculos estivessem cor­retos, ela devia estar a cerca de 7 quilômetros e meio de seu destino.

— Eu consigo — disse ela, pisando no asfalto com as botas de salto alto. Sempre na última moda, uma verdadeira representante da revista Charisma, Brid­get agora se perguntava por que não havia se lembra­do de colocar os tênis na mala.

O xerife Macon Riggs saiu do carro de patrulha com determinação e seguiu em direção à mulher deitada ao lado da estrada. Seu corpo estava imóvel e pe­rigosamente perto da beira do precipício. Ela nunca teria sobrevivido se tivesse caído. Seu rosto estava de lado e as pernas retorcidas, mas foi sua nuca ensan­güentada que mais o preocupou. Não havia dúvida de que ela havia batido com a cabeça na pedra de granito ao seu lado, suja de sangue.

Ao se aproximar, ele descobriu um rosto lindo, po­rém inexpressivo. A mulher tinha cabelos loiros es­curos e seus lábios, ainda rosados e com vida, esta­vam levemente apartados.

Ele pegou na sua mão e a apertou.

— Senhorita, pode me ouvir?

Para surpresa de Mac, os olhos da jovem se abri­ram imediatamente. Belos olhos azul-violeta. Ela olhou fixamente para ele, pestanejando várias vezes. Seu cabelo loiro, a pele clara e aquele tom especial de azul em seus olhos faziam dela uma mulher memo­rável.

— Sou o xerife Riggs. Você vai ficar bem. Parece que sofreu um acidente.

— Um acidente?

Sua voz estava fraca. Sua expressão confusa fazia supor que estava desorientada por conta do feri­mento.

— Você bateu a cabeça naquela pedra. Ela parecia perdida.

— Não se mexa. Você está muito perto da beira de um precipício. Já volto.

Alguns segundos depois, Mac estava novamente ao seu lado com a caixa de primeiros-socorros que sempre trazia no carro.

— Não vou deslocá-la até ter certeza de que pode se mexer. Está sentindo dor em algum lugar?

A mulher balançou levemente a cabeça.

— Não exatamente, a não ser pela minha cabeça que está doendo para caramba.

Mac conteve um sorriso, admirando o seu autocontrole.

— Faço idéia. Consegue se sentar?

— Acho que sim.

Ele se agachou e passou o braço em torno dos seus ombros para ajudá-la a erguer o tronco. Mac teve de desviar os olhos para não se deter no decote em V do suéter cor de framboesa que expunha seu belo colo.

— Ótimo. Agora posso examinar a parte de trás da sua cabeça.

— Parece grave?

Mac fez um exame superficial. O sangue havia coagulado em seu cabelo. Aparentemente não havia mais nenhum sangramento. Ele não tinha como saber por quanto tempo ela estivera inconsciente. Ainda bem que ele havia decidido patrulhar aquela estrada. Ela poderia ter rolado para o lado errado e caído no Deerlick Cannyon.

— Você parece muito bem. Não acho que seja nada grave.

Mac se preparou para cuidar do machucado. To­cou-o de leve com uma gaze molhada, separando o cabelo para ver a extensão do ferimento.

— Dói?

— Não. Pode continuar.

— Qual o seu nome? — perguntou ele para distraí-la do desconforto que ela se recusava a admitir. Ele a havia visto contrair-se quando tocou a cabeça com a gaze.

— Meu nome?

— Sim, e já que estamos trocando informações, não gostaria de me dizer o que estava fazendo por aqui? O que aconteceu? Você caiu?

A mulher ficou tensa. Seu corpo enrijeceu. Ao ver que ela ainda hesitava, Mac prosseguiu num tom mais suave.

— Certo, comecemos pelo seu nome.

— Meu nome é... — recomeçou ela. — Meu nome é...

Ela se virou para ele e fitou seus olhos com uma expressão de pânico, pestanejando várias vezes. Olhou depois em todas as direções, aparentemente procurando pela sua memória.

— Não sei quem sou! Não consigo me lembrar de nada!

As lágrimas brotaram em seus olhos e ela pestanejou mais uma vez, com força, tentando se conter. De­sesperada, começou a repetir freneticamente:

— Eu não sei, eu não sei...

Mac achou que seria perigoso mantê-la tão perto da beira do precipício. Ele se levantou e a pegou pe­las mãos para erguê-la lentamente.

— Tudo vai ficar bem. Vamos ao médico para ele examinar você.

— Oh, meu Deus. Não consigo me lembrar de nada! Não sei quem sou, nem o que estou fazendo aqui. — Ela puxou a manga de Mac e perguntou: — Onde estou?

— Município de Winchester.

Ela olhou para ele sem expressão. Ele completou:

— Colorado.

Ela balançou a cabeça com força e arregalou os olhos. Mac pôde ver a determinação em seu rosto en­quanto ela tentava urgentemente se lembrar de algu­ma coisa.

— Eu moro aqui?

— Não sei. Parece que você estava a pé. Vamos in­vestigar e procurar para ver se descobrimos algum carro. Não há nenhum sinal de seus pertences. Ne­nhuma bolsa ou mala, nada. O que quer que você ti­vesse nas mãos na hora do acidente, deve ter rolado precipício abaixo quando você caiu. Isso se você realmente tiver caído. Uma coisa posso garantir: com essas botas que você está usando, duvido que estives­se pedindo carona.

Ela olhou para as botas de couro preto macio e en­tão avaliou o resto de suas roupas. Jeans de marca, um suéter e um grande cinto de camurça preta, mas nenhuma jóia, a não ser um relógio com um diaman­te. Ela não reconheceu absolutamente nada daquilo. Era como se estivesse olhando para as roupas de uma estranha.

— Não consigo me lembrar. Meu Deus! Não con­sigo me lembrar de nada!

— Vamos ver o dr. Quarles.

Mac pegou na sua mão, mas as pernas dela bambearam ao dar o primeiro passo. Ele a segurou para impedir que caísse. Virou-a de frente para ele, pres­sionando o corpo dela contra o seu. Ela passou os braços em torno do seu pescoço, reclinando-se sobre ele para se apoiar. Ele a segurou por um momento, deixando que ela descansasse a cabeça em seu peito até se recuperar. Seu desespero era compreensível. Despertar num ambiente estranho, sem ter idéia de quem se era ou do que estava fazendo devia ser muito assustador.

Mac teve de usar todo seu autocontrole para dri­blar o nó em sua garganta e a leve aceleração de seus batimentos cardíacos. Ela era bonita, sua pele macia, e a sensação de tê-la nos braços, deliciosa. Já fazia muito tempo que Mac não experimentava nada pare­cido. Ele quase havia esquecido como era abraçar uma bela mulher. As palavras dela, porém, fizeram com que ele voltasse a se concentrar no seu dever.

— Minha cabeça está rodando.

Mac não hesitou. Tomou-a nos braços e caminhou lentamente até o carro de patrulha. Checou a área mais uma vez antes de acomodá-la. Não havia ne­nhum carro à vista, nem vestígios dos seus pertences. Ele voltaria mais tarde com alguns de seus assistentes para investigar a vizinhança. Precisava primeiro le­var a jovem ao médico. Depois tentaria descobrir mais coisas sobre a sua identidade e solucionar o mis­tério do seu surgimento ali.

Ela não sabia quem era. Não se lembrava de nada a seu respeito. Focou os olhos no homem que a carre­gava no colo. Xerife Riggs. Ele era gentil, mas forte, e ela se sentiu segura e protegida. Ela só contava com o conforto que seus olhos escuros estavam lhe pro­porcionando. Eram olhos bonitos, pensou ela, e ele devia ter um belo sorriso quando baixava a guarda, o que não parecia ocorrer com muita freqüência.

A sorte havia sido muito generosa com ela fazendo com que Mac a encontrasse e impedindo que ela ro­lasse precipício abaixo, mas só fora até aí. Ela havia percorrido todos os cantos de sua mente nos últimos minutos à procura de algum indício ou registro, mas em vão.

Nada.

O xerife a colocou no carro de patrulha.

— Você está bem? — perguntou ele, com o rosto a poucos centímetros dela.

Ele se deteve e encarou-a, sem conseguir desviar o olhar. Ela sentiu o cheiro da sua colônia pós-barba, um odor sutil masculino almiscarado que definia muito bem o xerife. Ela teve a sensação de que ele a defenderia a qualquer custo. O instinto lhe dizia que ele levava seu trabalho e sua vida muito a sério. Mac sentou-se e ligou o carro.

— Avise-me se achar alguma coisa familiar — disse ele quando partiram.

Ela observou a paisagem pela janela. Eles entra­ram num vale onde fazendas e ranchos se sucediam ao longo da auto-estrada. As cadeias de montanhas ao fundo formavam um pano de fundo magnífico para o resto do cenário. Ela vasculhou sua mente mais uma vez à procura de alguma pista da sua iden­tidade. Será que morava lá? Seria aquela sua terra na­tal? Ela podia ter alguma missão a cumprir por lá. Talvez estivesse de férias. Será que estava indo se en­contrar com alguém?

Como nada lhe veio à mente, ela fechou os olhos, na esperança de dar fim à sensação de desorientação. Rezou para que o médico desse boas notícias.

— Fique onde está — disse o xerife quando eles estacionavam em frente a um posto de saúde. — Vou dar a volta e pegar você.

— Acho que posso caminhar. — Ela abriu a porta da viatura e saiu. O ar quente a atingiu em cheio e ela teve de respirar fundo para se equilibrar, apoiando-se no carro.

O xerife Riggs aproximou-se dela imediatamente, preocupado.

— A vertigem passou?

— Eu não disse isso — disse ela, sentindo nova­mente os efeitos de tentar ficar de pé. — Mas está melhorando.

Sem hesitar, ele enlaçou a sua cintura e a ajudou a entrar no consultório.

Meia hora depois, após um exame minucioso, o dr. Quarles chamou o xerife.

— Mac, parece que esta jovem está com amnésia retrógrada. Nesses casos, o paciente não consegue se lembrar de nada que aconteceu antes do acidente, ou incidente. A causa pode ser tanto uma pancada na ca­beça, quanto um quadro de estresse. A boa notícia é que não há nenhum dano permanente. Ela está bem fisicamente. Vai ter apenas um pouco de dor de cabe­ça por um dia ou dois. Ainda assim, não seria má idéia fazer alguns exames no hospital, por segurança. Os ferimentos são leves, mas eu me sentiria mais se­guro se...

— Quando vou recuperar minha memória? — per­guntou ela incisivamente, interrompendo o médico.

O dr. Quarles balançou a cabeça.

— Eu não posso responder a essa pergunta. Pode levar horas, dias ou até semanas. Às vezes o paciente passa meses sem se lembrar de nada. Nesse tipo de amnésia, o paciente começa a se lembrar das coisas mais antigas, mas devo precavê-la de que talvez ja­mais se lembre daquilo que pode ter causado a sua amnésia. A mente tende a bloquear tal tipo de infor­mação.

— Pode ser então que nunca me lembre do que aconteceu comigo?

— É possível — respondeu o doutor. — Avise-me imediatamente se a dor de cabeça persistir. Você deve se sentir bem melhor amanhã.

— Mas, mas... — começou ela a dizer, à medida que foi tomando consciência do seu estado. — Está me dizendo que não vou recuperar minha memória logo?

— Logo?

— Hoje! Doutor, preciso saber quem sou! Hoje!

— Talvez não seja possível. Não há como saber quando você vai começar a se lembrar das coisas.

— Deve haver algo que o senhor possa fazer! — Alarmada, ela começou a tremer. Seu corpo sacudia incontrolavelmente. — Não — disse ela passando a mão pela testa. — Isto não está acontecendo! Para onde vou? O que vou fazer? — Ela se recusava a cho­rar, mas não podia controlar a convulsão. Não conhe­cia ninguém em Winchester. Nem em outro lugar qualquer, na verdade. Não sabia se tinha uma família. Não sabia nada sobre si mesma. Revirou a mente mais uma vez, tentando se lembrar de alguma coisa, apenas uma, mas nada lhe ocorreu. Nem mesmo seu próprio nome! Parecia um terrível pesadelo.

O dr. Quarles olhou para o xerife antes de pousar o seu olhar sobre ela novamente. Ele falava suavemen­te, de uma maneira que transmitia segurança, fazendo-a crer que aquele homem realmente havia seguido a vocação ao optar pela medicina.

— Tenho um quarto livre em casa. Era de minha filha Katy, que se casou. Você poderia ficar conosco até resolver esta situação.

Ela estava perdida. Não sabia como responder a uma oferta tão generosa. As palavras não eram sufi­cientes para expressar sua gratidão. Sua garganta fe­chou de emoção e tudo o que ela conseguiu foi mur­murar um agradecimento.

— Então está combinado. Vou só ligar para minha mulher para avisar que teremos uma hóspede em casa.

O olhar dela se voltou para os olhos escuros e in­decifráveis do xerife Riggs. Por alguma estranha ra­zão, ela precisava da sua aprovação. Em pouquíssimo tempo ela passara a confiar cegamente no homem que provavelmente havia salvo sua vida naquela ma­nhã.

O xerife fitou-a por um longo momento, como se estivesse se decidindo a respeito de alguma coisa. Seus lábios se curvaram sutilmente quase num sor­riso.

— Espere, John — disse o xerife Riggs num tom de comando, detendo o médico antes ele saísse da sala. — Tenho uma idéia melhor. — Olhou então para ela com um olhar penetrante e disse:— Ela pode ficar comigo.

 

Mac não sabia se havia tomado aquela atitude por se sentir responsável pela segurança dela, ou pelo modo como ela o encarara com aqueles olhos incríveis, mas o fato é que não podia abandonar sua protegida, ainda que fosse para deixá-la nas mãos de John e Dóris Quarles, um dos casais mais respeitados de Winches­ter.

Ela o olhou diretamente nos olhos e, franzindo as sobrancelhas, perguntou num tom que parecia... es­perançoso.

— Você quer que eu fique com você?

Ele concordou com um gesto, mas se sentiu na obrigação de esclarecer suas intenções. Ele não a es­tava pedindo em casamento, mas certamente teria se interessado por ela se a tivesse conhecido sob outras circunstâncias. Não eram muitas as mulheres que despertavam o seu interesse ultimamente. Mac havia adotado uma postura mais cínica em relação ao sexo oposto. Já tinha sido casado uma vez, mas a experiên­cia havia deixado marcas dolorosas. Alguma coisa nela, porém, o havia fisgado. Ele lhe daria ajuda, casa e comida.

— Digo por razões estritamente profissionais. Moro atrás da delegacia. Vai ser muito mais fácil dar seqüência às investigações com você por perto. O dr. Quarles mora a uns 25 quilômetros daqui, não é mes­mo, doutor?

— É verdade. Doris e eu temos uma bela casa, mas fora dos limites da cidade.

Mac explicou.

— Pode ficar tranqüila, não vamos ficar sozinhos. Minha irmã Lizzie mora comigo. Ela é professora. Passa o dia inteiro às voltas com adolescentes. Vai adorar ter a companhia de um adulto.

— Acho que é o melhor a fazer, doutor — expli­cou ela para John Quarles. — Tenho que trabalhar com o xerife para descobrir minha identidade. Muito obrigada pela oferta. Vocês estão sendo muito gene­rosos e gentis comigo.

Ela sorriu, deixando ver duas covinhas nos cantos de sua boca. Mac julgou ser seu o mérito daquele sorriso,mas tratou imediatamente de deter o curso daqueles pensamentos. Não fazia sentido nenhum se deixar atrair por um par de olhos azuis e um corpo cheio de curvas. Ele tinha um trabalho a fazer. Ela provavel­mente recuperaria a sua memória em breve. Ou talvez alguém aparecesse antes disso, procurando por ela.

—O senhor já terminou o exame? — perguntou Mac ao médico.

— Sim. Receitei um analgésico. Quero que vocês me comuniquem se ela tiver mais vertigens, des­maios ou qualquer coisa incomum.

— Pode deixar — disse Mac. Olhou então para a sua nova hóspede e perguntou. — Está pronta, Jane?

— Jane? — disse ela, torcendo o nariz.

— Jane Doe. É como costumamos chamar as mu­lheres envolvidas em procedimentos legais que não podem ser identificadas — disse ele suavemente. Afinal, ele tinha que chamá-la de algum jeito. — A menos que prefira outro nome.

— Meu verdadeiro nome seria perfeito — comen­tou ela um pouco triste.

— Vou me empenhar em descobri-lo.

Ela olhou novamente para ele com os olhos reple­tos de esperança e então deu de ombros.

— Acho que Jane é um nome tão bom quanto qual­quer outro.

— Certo, Jane. Vamos para casa.

Pela primeira vez na sua vida, Mac estava levando uma mulher para casa para apresentar à irmã mais nova.

Era o caso de se pensar que havia sido ele a bater com a cabeça na pedra e não Jane.

— Não quero atrapalhar seu trabalho, xerife — disse Jane, sentada à sua frente na aconchegante co­zinha de Mac.

Ele a havia conduzido até a sua casa depois de lhe mostrar a delegacia, na principal rua da cidade. Sua casa ficava numa tranqüila rua residencial, bem atrás.

A delegacia era bem moderna, com grandes jane­las do chão até o teto, mas a casa do xerife era exatamente o oposto. Ela se encantou com a casa assim que entrou nela. Havia muito calor humano naquele lugar.

— Pode me chamar de Mac — disse ele, esboçan­do um sorriso. — E isto aqui é trabalho. Espero que esteja disposta a responder a algumas perguntas. Eu vou dar uma volta mais tarde com os meus assistentes pura investigar a área onde você caiu.

Mac lhe passou uma xícara de café e um sanduíche de peito de peru.

— Oh, obrigada.

— Estou apenas cumprindo com o meu dever — disse ele automaticamente.

Ela riu. O homem só pensava em trabalho.

— Não, eu quis dizer pela refeição.

Ele se deteve por um momento, olhando-a no fun­do dos olhos.

— Não chega a ser exatamente uma refeição. Lizzie cozinha bem melhor do que eu. Deve chegar de­pois das três.

— Espero que ela não se importe com minha pre­sença.

Ele retrucou quase que imediatamente.

— Ela não vai se importar. Vai é encher os seus ouvidos. Minha irmã adora uma boa conversa, espe­cialmente se for ela a falar.

— Entendi — disse ela, provocando o xerife sisu­do. — É por isso que me queria por aqui. Para dividir o fardo, não é?

Para a sua surpresa, ele não negou veementemente o que ela dissera, mas entrou no jogo.

— Você entendeu direitinho. É mesmo muito perspicaz.

Jane respirou fundo. Na situação em que estava, não podia se dar ao luxo de bancar a engraçadinha.

— Obrigada pelo sanduíche. — Ela deu uma mor­dida e então tomou um gole do café. — O que você queria me perguntar?

Mac coçou a cabeça e então se inclinou para fren­te. Fez uma pausa e a estudou de cima a baixo. Jane perdeu o fôlego. Ele gostou do que viu e apesar de ter tentado, não conseguiu esconder a sua reação inicial.

Aquele breve instante havia trazido uma certa dose de satisfação depois de tudo o que havia passa­do. Jane não sabia muita coisa sobre si mesma, mas entendia alguma coisa do sexo oposto. E o xerife Mac Riggs era um homem muito interessante, tanto física quanto mentalmente.

— Preciso saber se você veio para cá por conta própria ou se alguém teve a intenção de lhe fazer mal. Desculpe-me, mas tenho que perguntar.

Aquela idéia não havia lhe passado pela cabeça, mas ela não chegou a ficar alarmada. Sentia-se, na verdade, vazia, como uma folha de papel em branco. Jane vasculhou sua mente, na esperança de encontrar ao menos uma centelha de reconhecimento.

— Não sei. Não consigo me lembrar. Você acha que é possível que alguém tenha me deixado deliberadamente à beira daquele precipício?

— Talvez. Um namorado ciumento, quem sabe? Já aconteceu outras vezes, O fato é que você não tem nenhum tipo de identificação. Não achei nenhum car­ro abandonado na estrada, mas vamos checar mais tarde. Você não tinha nada consigo.

— Eu sei — disse ela, contendo a frustração. Sabia que o xerife só estava querendo se inteirar dos fatos. — É estranho, mas não tenho respostas. A única coi­sa de que me lembro é de acordar na estrada, com a luz do sol aquecendo o meu corpo e olhar para os seus olhos. Lembro de tê-los achado bonitos — disse ela, repreendendo-se logo depois por ter revelado em voz alia algo que tinha a intenção de guardar apenas para si mesma.

O xerife olhou mais uma vez para ela com uma ex­pressão indecifrável.

Apesar do embaraço, Jane notou que não havia muito a seu respeito para manter em segredo. Cada nova revelação, por mais insignificante que pudesse parecer, ganhava um significado todo especial para ela. Ela tinha tão poucos lugares para ir e sabia tão pouco a respeito de si mesma que era como se cada nova observação pudesse ser uma pista para sua ver­dadeira identidade.

Ela ficou se perguntando se a atração que sentia por Mac Riggs era por ele a ter salvo ou se aquele policial alto, escuro e sério, de traços marcantes e olhos sensuais era mesmo o tipo de homem por quem ela se interessaria em outras circunstâncias.

— Mais alguma coisa? — perguntou ela, pegando os pratos.

Mac a deteve imediatamente, roçando a sua mão ao pegar o seu prato de volta. Aquele contato físico com Mac deixou-a desconcertada, com o coração aos pulos. O arrepio que percorreu sua espinha foi deli­cioso, ainda que inesperado. Jane já tinha muito com o que se preocupar para desejar o homem que havia sido suficientemente gentil para trazê-la para dentro de sua casa e lhe oferecer proteção.

— Não quero que você banque a garçonete por aqui — disse ele com firmeza.

Ela disse com veemência:

— Só estou fazendo minha parte. Se não tem mais perguntas, vou limpar a cozinha. Você não tem uma investigação a fazer?

Mac piscou e contraiu os lábios, mas Jane teve cer­teza de que ele havia contido um sorriso.

— Sim, senhora. Vou já cuidar disso — respondeu ele prontamente, ficando de pé e estufando o peito. Retomando o controle da situação, ele disse: — Lizzie vai chegar daqui a pouco. Se você precisar de al­guma coisa antes disso, é só ligar.

Ele anotou um número num bloco sobre o balcão. Depois enfiou o seu chapéu na cabeça, fez uma careta ao vê-la limpar a mesa e se despediu com um meneio de cabeça.

Ele seguiu a passos largos para o carro de patrulha, estacionado na entrada da casa. Jane o observou sair e percebeu que ele era tão atraente de costas quanto de frente. Suas calças apertavam as suas nádegas fir­mes e a camisa marrom chocolate evidenciava os om­bros largos. Ele ligou o motor e deu um último olhar antes de ir embora.

Ela se sentia segura e protegida quando Mac esta­va por perto, mas assim que ele se foi, sua coragem desapareceu. Ela estava sozinha. Não apenas naquela casa estranha, mas dentro de sua própria cabeça. Não se lembrava de nada, não havia nada em que ela pu­desse se agarrar, e isto era o que mais a assustava.

Jane passeou pelos cômodos da casa, tentando se ambientar. Estava ansiosa com a perspectiva de co­nhecer a mulher que, apesar de todas as certezas de Mac, podia não gostar da sua intromissão.

Ela abraçou o próprio corpo, protegendo-se de um novo tremor convulsivo. Não sabia se seria capaz de sobreviver se não recuperasse a memória. Neste exa­to momento, nada parecia real. Ela entrou no quarto que Mac lhe havia destinado e se deitou na cama.

O colchão de casal era muito confortável. Ela olhou em torno, admirando a bela decoração. Prova­velmente era Lizzie quem cuidava disso, a julgar pe­los evidentes toques femininos como cortinas de ren­da e castiçais de parede com velas perfumadas, que não faziam lembrar muito a seriedade do xerife Riggs.

Jane se cobriu com uma colcha macia e fechou os olhos, esgotada de um dia traumático. Adormeceu na esperança de que, quando acordasse, sua memória já tivesse retornado e o pesadelo tivesse ficado para trás.

Jane acordou com o som de alguém cantarolando uma música que não foi capaz de reconhecer. Ela abriu os olhos e viu um ambiente estranho à sua vol­ta, pestanejando várias vezes enquanto lançava olha­res pelo quarto. Tudo parecia... desligado. Por um se­gundo, não registrou nada. Depois, tudo veio nova­mente à sua mente quando ela se lembrou do seu sú­bito aparecimento em Winchester. Ela se lembrou do xerife Riggs levando-a para dentro. Ela havia ador­mecido no quarto de hóspedes da casa dele.

Ela se sentou na cama na esperança de se lembrar de alguma coisa que tivesse acontecido há mais de 24 horas. Como nada lhe veio à mente, ela se levantou rapidamente e olhou pela fresta da porta para desco­brir quem estava cantarolando.

— Olá. Não tive a intenção de acordá-la — disse uma mulher magra de cabelos curtos castanho doura­dos e os mesmos olhos cor de café de Mac. Ela foi até Jane com um grande sorriso nos lábios. — Não con­sigo tirar esta música da cabeça. Não percebi que es­tava cantarolando em voz alta e perturbando sua paz.

— Não reconheci a música — disse Jane. — Será que eu deveria?

— Não, se você não tiver o costume de ouvir mú­sica country. Essa é a última do Tim McGraw.

— Oh — disse Jane dando de ombros, descobrin­do uma coisa nova sobre si mesma. — Pelo visto, não gosto de música country.

A mulher sorriu mais uma vez e estendeu a mão.

— Oi, sou Lizzie, a irmã de Mac. Não se preocupe, depois de alguns dias aqui você vai saber tudo sobre música country.

Jane lhe deu a mão, mas em vez de sacudi-la, Liz­zie pousou a outra mão sobre a de Jane e a apertou gentilmente.

— Mac me falou da sua situação. Sinto muito pela amnésia. Deve ser muito estranho não saber quem você é. — Ela então sorriu calorosamente. — Você é muito bem-vinda aqui pelo tempo que precisar para recuperar a memória. Não diga a Mac que eu disse isso, mas ele é o melhor policial destas redondezas. Se houver uma maneira de descobrir quem você é, ele a encontrará.

Jane concordou. Ela já o havia classificado como um homem da lei dedicado.

— Ele resolveu me chamar de Jane Doe. Lizzie franziu as sobrancelhas.

— Nossa, mas que original! Esse homem não tem mesmo imaginação.

— Não tem importância. Pode me chamar de Jane.

— Certo, Jane. É um prazer conhecê-la. Seja bem-vinda. Mi casa es su casa.

— Não posso lhe dizer o quanto estou agradecida pela sua hospitalidade. Seu irmão também foi muito gentil comigo. Muito obrigada, do fundo do meu co­ração.

Lizzie dispensou os agradecimentos com um gesto rápido.

— Estou muito feliz de ter companhia. Mac lhe contou que eu dou aula no segundo grau? São uns diabinhos. Mas eu os amo mesmo assim.

Jane riu.

— É fácil perceber que você adora o seu trabalho. Ela concordou.

— Adoro mesmo, mas não vejo a hora de fazer uma pausa. As aulas vão acabar em breve e eu vou ter o verão todo de férias.

Jane tentou adivinhar qual seria sua profissão. Será que ela tinha uma carreira? Será que alguém es­tava sentindo sua falta? Ou será que ela havia viajado até lá em férias?

— Conte-me — perguntou ela a Lizzie, curiosa.

— Aquela música que você não consegue tirar da ca­beça fala sobre o quê?

— O nome é "Viva como se fosse morrer". Fala sobre viver a vida na sua plenitude. De tirar o máxi­mo dela enquanto ainda estamos aqui sobre a terra.

— Ela então deu de ombros. — Pelo menos é a minha interpretação.

— E você faz isso? — perguntou Jane, quase certa de qual seria a resposta de Lizzie. — Eu quero dizer, você vive a vida em toda a sua plenitude?

O sorriso de Lizzie desapareceu e ela pensou seria­mente antes de responder.

— Não. Gostaria de me aventurar mais, mas acho que nunca fui uma pessoa de correr muitos riscos.

Surpresa, Jane percebeu que não sabia o que dizer a seu próprio respeito.

Lizzie se recuperou e prosseguiu, falando:

— Além do mais, quem iria cuidar do Mac? Ele precisa de mim. Ele não tem ninguém especial em sua vida. Divorciou-se há alguns anos.

Jane não conhecia Mac Riggs muito bem, mas teve a distinta impressão de que aquele xerife grande e forte não precisava de ninguém para cuidar dele. Ele parecia bastante capaz em todos os aspectos. Um homem que não queria, nem precisava de complicações na sua vida. Mac Riggs parecia gostar da sua vida exatamente como era. Jane achou que ele deveria manter a irmã junto de si para poder cuidar dela e não o contrário. Pareceu-lhe também que Lizzie havia sacrificado alguma coisa na sua vida em nome do irmão.

Jane se sentiu na obrigação de comentar:

— Ele tem sorte de ter você, Lizzie. Na verdade, vocês dois têm sorte de ter um ao outro. Como gosta­ria de saber se também tenho irmãos.

Lizzie pegou na mão de Jane, com um olhar calo­roso e reconfortante.

— Você vai recuperar a sua memória logo, logo. Quem sabe até amanhã mesmo? Enquanto isso, saiba que já tem uma amiga em Winchester.

Jane não tina a menor idéia de quem ela era, mas achou que teria gostado de ter Lizzie Riggs como amiga.

— Obrigada.

— Desatei a falar como louca e nem perguntei se você queria tomar um banho. Prefere uma ducha ou um banho de espuma? Aposto que está louca para ti­rar essas roupas.

A perspicácia e generosidade de Lizzie deixaram Jane à vontade. Ela seria eternamente grata por isso.

— Eu gostaria muito. Não sei por que, mas tenho a sensação de já estar há 24 horas com estas roupas. — Ela olhou para Lizzie com a cabeça em redemoinho. — Talvez esteja mesmo.

— Talvez. Mais uma razão para você tirá-la e ves­tir alguma coisa limpa.

Jane estava prestes a dizer que não tinha mais nada para vestir, mas Lizzie tomou a dianteira.

— Eu arranjo uma roupa para você. Relaxe e curta o banho. Vou mostrar onde fica o banheiro. Sais de banho, aqui vamos!

Jane mal podia esperar para tirar as roupas e tomar um belo banho. O episódio serviu para que aprendes­se mais uma coisa a seu respeito. Ela trocava uma du­cha por um banho de espuma quentinho sem pestanejar.

Mac entrou na cozinha e pendurou o cinto com o coldre e o chapéu num cabide de parede bastante usado. Lizzie já havia falado várias vezes em reformar a cozinha, mas Mac gostava das coisas como estavam. As mudanças o incomodavam e ele já havia se acos­tumado aos tapetes baratos e às cortinas ultrapas­sadas.

— Oi,Liz — saudou ele.

— Não é a Lizzie — corrigiu uma voz, fazendo-o virar. — Sou eu.

Ele deu um passo para trás, ao vê-la na cozinha, com o cabelo loiro molhado, todo penteado para trás, deixando os olhos cor de alfazema ainda maiores e mais expressivos.

— Lizzie está fazendo uma aula de pilates. Ela confiou em mim para esquentar seu jantar. Espero que não se incomode.

— Tudo bem — murmurou Mac.

— Ela disse que não precisávamos esperá-la para jantar. Você vai ser obrigado a ficar comigo.

Ficar com aquela mulher linda que estava se dedi­cando a preparar o jantar não era nada mau, pensou Mac. Ele ficou lá, parado, observando-a enquanto ela cuidava da comida. Ele reconheceu as roupas de Liz­zie. Uma calça Levi's que realçava as suas nádegas e u camiseta do Winchester Wildcats que nunca havia caído tão bem na sua irmã quanto em Jane.

Qualquer macho com sangue correndo nas veias, ainda que não tivesse as habilidades detetivescas do xerife, seria capaz de perceber que ela não estava usando nada debaixo daquela camiseta. Os bicos de seus seios despontavam do tecido e cada vez que ela se mexia, o conjunto balançava.

Céus!

Ele teve de se conter para não imaginar o que ela poderia não estar usando sob a calça.

— Acho que você é que vai ser obrigada a ficar co­migo. Precisa de ajuda?

Jane se deteve com a luva de amianto na mão, pronta para pôr o assado no forno.

— Obrigada, mas já resolvi tudo. O jantar vai ficar pronto mais ou menos daqui à uma hora.

Ele foi até a geladeira buscando algum alívio para o calor que subia pelo pescoço, lembrando-se do que o havia feito voltar mais cedo. Ele tinha novidades para Jane.

— Quer uma cerveja? — perguntou ele, estendendo-lhe uma garrafa.

Jane fechou a porta do forno e se ergueu para enca­rá-lo.

— Não sei. Será que gosto de cerveja? Mac pegou uma segunda garrafa.

— Só tem um jeito de descobrir.

Ele lhe deu a cerveja e fez um gesto para que ela se sentasse à mesa. Eles ficaram de frente um para o ou­tro.

— Você está bem?

Ele se sentia obrigado a cuidar dela, e Mac nunca era negligente com as obrigações.

— Descansei um pouco à tarde e isso me fez um bem enorme. Estou me sentindo bem melhor.

— Dor de cabeça?

O cabelo molhado de Jane emoldurou o seu rosto quando ela balançou a cabeça.

— Não. Nada de dor de cabeça.

Aliviado, ele percebeu que a srta. Jane Doe havia ocupado a sua mente o dia inteiro.

— Levei alguns assistentes para o lugar onde a en­contrei.

Jane estava brincando com a sua garrafa. Arrega­lou os olhos de expectativa, esperando que Mac pros­seguisse.

— E?

— Ainda não temos certeza, mas existem evidên­cias de que um carro saiu da estrada cerca de dois quilômetros de onde você estava. Se esse automóvel for realmente seu, é bem provável que tenha sido rou­bado. Mas também pode não ter nenhuma relação com você.

— Só isso?

Mac balançou a cabeça.

—Gostaria de ter notícias melhores. Jane deu um gole em sua cerveja e Mac esperou pela sua reação. Ela continuou bebendo até esvaziar metade da garrafa.

—Pelo jeito, você é uma grande bebedora de cerveja.

Ela deu de ombros e olhou para baixo.

— Então eu gosto de cerveja e de banho de espuma. A idéia de Jane nua numa banheira de espuma fez a sua imaginação voar. Nenhuma mulher o havia dei­xado tão perturbado assim antes. Seus assistentes já o haviam provocado na delegacia, quando ele decidiu voltar mais cedo para casa. Aquilo só pioraria depois que eles a encontrassem pessoalmente.

Ela olhou para ele com aqueles dois olhos interrogadores.

— E agora?

Mac saiu de seus devaneios e começou a explicar seu novo plano de ação a Jane.

— Existe um procedimento padrão. Nós vamos checar os registros de pessoas desaparecidas nesta re­gião. Depois recolheremos suas impressões digitais amanhã e ver se conseguimos alguma coisa.

— Impressões digitais? Você acha que posso ser uma criminosa! — Jane sussurrou esta última pala­vra horrorizada com a idéia.

Mac balançou a cabeça. Seus instintos lhe diziam que Jane Doe não era uma criminosa. Quis estender a mão para confortá-la, mas tinha de seguir os padrões de conduta que a profissão exigia. Ele sabia que tinha de manter uma distância bem delimitada entre eles. Sabia, por experiência própria, que muitas vezes, pessoas de aparência inocente e angelical escondiam os piores segredos; afinal, já havia dedicado 15 dos seus 35 anos de vida a lidar com a lei e a ordem.

— Não são só os criminosos que tiram impressões digitais. Elas também são registradas quando alguém solicita uma licença para vender bebidas alcoólicas, por exemplo, ou ainda no serviço militar. Você vai passar pelo sistema automático de identificação de impressões digitais para verificar se seus dados ba­lem com alguma informação encontrada nos arqui­vos. O sistema destina-se a identificar as pessoas, mas se você tem algum pro...

Jane balançou a cabeça rapidamente.

— Não, estou disposta a fazer o necessário.

— Certo, então será a nossa próxima etapa. Pode levar algum tempo, por isso tente conter as expectati­vas, certo?

Ela esboçou um breve sorriso.

— Certo.

Mac pegou o seu cinturão e foi trocar de roupa. Ele sempre mantinha a arma em seu quarto, à noite, para que ela não fosse pega por um ladrão que eventual­mente entrasse na casa.

— Só mais uma coisa — disse ele, voltando-se no­vamente para Jane. — Você tem, ah, alguma marca diferente no corpo que possa identificá-la?

Ele a observou de cima a baixo, incapaz de manter o olhar apenas em seu rosto. Os poucos centímetros que os separavam já não pareciam mais suficientes. Uma coisa era entrevistar uma vítima na delegacia; outra, completamente diferente, era falar este tipo de coisa na intimidade de sua própria casa.

— Tatua­gens, piercings, alguma coisa assim? Ela balançou a cabeça.

— Não, mas eu, ah... tenho uma marca de nascença — disse ela, enrubescendo logo em seguida.

Um pouco mais esperançoso, Mac perguntou:

— Onde?

Ela mordeu o lábio e se virou de lado, apontando para uma região imediatamente acima de suas náde­gas, coberta pela calça de cós baixo que Lizzie havia lhe emprestado.

— Não sei exatamente como descrevê-la. Não a vejo com muita freqüência.

Mac engoliu em seco, maldizendo-se por ter feito a pergunta. Lá estava ele, um homem da lei pondera­do e responsável, tendo de olhar diretamente para as nádegas perfeitas de Jane.

— É muito importante? — perguntou ela. — Se for preciso, eu poderia... Quero dizer, eu deixaria você...

Mac encarou aqueles olhos azuis claros e sinceros.

— Sinto muito, Jane, mas não sou tão forte assim. Mac saiu apressadamente da cozinha, com o corpo em chamas e as orelhas ardendo por conta da risadinha de Jane.

— Juntei as minhas coisas. Se quiser dar uma olha­da... — disse Jane com uma pilha de roupas nas mãos.

Ele estava sentado confortavelmente numa espreguiçadeira branca de madeira, olhando para o jardim dos fundos do qual Lizzie tanto se orgulhava. Ela ha­via sido extremamente gentil em lavar e secar as rou­pas de Jane, exceto, é claro, pelo suéter, que estava rasgado e duro por conta da terra vermelha que se acumulara nele quando ela caiu.

Mac havia pedido a Jane que trouxesse suas coisas para ele dar uma olhada.

— Traga-as aqui para fora — disse ele. — Está uma noite deliciosa. Eu fiz café.

Havia duas xícaras de café sobre a mesa branca de vime ao lado de Mac. Ela se sentou na outra cadeira, sensibilizada por ele tê-la admitido em seu pequeno refúgio particular.

— Pode beber sem medo. Faço um café bem fraquinho.

Isso é bom, eu acho — murmurou ela, colocan­do as roupas em seu colo.

Mac estava muito bonito de banho tomado, pensou Jane. Ela havia se surpreendido ao vê-lo aquela tarde na cozinha vestindo roupas casuais: um jeans bem gasto e uma camisa pólo preta. Bronzeado e musculoso, ele parecia menos formidável sem o seu unifor­me, mas tão atraente quanto.

Jane ficou tentando imaginar quando é que aquele xerife baixava a guarda, afinal. Ela ainda não o havia visto sorrir.

— Eu gostaria de agradecer mais uma vez por tudo o que vocês estão fazendo por mim.

— É o meu...

— E não diga que é o seu dever, xerife Briggs — interrompeu ela com um dedo em riste. — Você foi muito além do seu dever trazendo-me para dentro da casa. Vocês me fizeram sentir muito bem-vinda aqui. Tive muita sorte, apesar das circunstâncias. Espero ter a chance de retribuir.

Mac olhou para ela, arqueando as suas sobrance­lhas negras. Seus lábios se contorceram e ele balan­çou a cabeça.

— Basta não se oferecer mais para me mostrar a sua marca de nascença que nós estaremos quites.

Jane ficou atônita, mal conseguindo pronunciar as palavras.

— Eu só achei que ia.... ajudar — disse ela, ele­vando o tom de voz mais uma vez até quase saltar da cadeira, segurando suas roupas com força para que não caíssem. — Nunca teria feito uma oferta dessas se não estivesse desesperada para saber quem eu era, seu idiota. — Sem conseguir conter a sua raiva, ela fez menção de dar um tapa em seu braço, mas graças nos instintos bem afiados, Mac conseguiu se esquivar a tempo.

Mac deu uma boa gargalhada. A mudança em seu rosto foi impressionante, fazendo com que Jane, por um momento, esquecesse de toda a sua raiva. Seu coração dava saltos mortais em seu peito. "Oh, meu Deus", pensou ela. "Ele é maravilhoso. Surpreen­dente."

— Não me entenda mal, Jane. Essa foi a melhor oferta que ouvi em cinco anos.

Jane sentou-se novamente e encarou-o.

— Só cinco? — disse ela com sarcasmo.

Apesar do comentário mordaz, ela ainda estava impressionada com a transformação no rosto do ho­mem da lei e com sua condição de solteiro por todo esse tempo.

Mac pegou de seu colo as roupas que ela havia tra­zido.

— Gosta de cerveja, de banho de espuma e é temperamental. Aos poucos estamos descobrindo a seu respeito.

Ela não perdeu tempo.

— E pensar que estava começando a achar que o bom xerife não era humano.

Jane envergonhou-se pelo tom cínico. As palavras haviam saltado de sua boca.

O sorriso de Mac desapareceu e ele a olhou com seus olhos escuros penetrantes.

— Pois sou humano, e aquela sua marca de nascença vai povoar meus sonhos esta noite — disse ele praticamente num sussurro.

Ele manteve os olhos focados nos dela, mas a vee­mência da afirmação e a implicação das suas palavras verteram pelo corpo de Jane como lava quente recém-saída de um vulcão.

— Oh — disse ela em voz baixa, completamente consciente da corrente elétrica gerada entre eles. Am­bos, porém, pareceram recuperar o bom senso ao mesmo tempo. Mac começou a examinar as peças de roupa.

Jane estava aliviada. Ela não precisava de mais complicações em sua vida. Mac Riggs era realmente interessante e atraente, mas permitir alguma coisa mais séria entre eles estava fora de cogitação. Ela nem se­quer sabia quem realmente era, ou de onde vinha.

— Lizzie disse que suas roupas eram de grife — disse Mac olhando a etiqueta interna. — Tamanho cinco.

Jane revirou os olhos. Será que aquele homem não sabia que não se dizia o manequim de uma mulher em voz alta?

— Por que as mulheres gastam uma fortuna com os Gucci, Guess e Ralph Laurent da vida, quando uma simples Levi's também fica bem? — disse ele, olhando para o jeans que ela usava.

— Talvez porque as mulheres não queiram ficar apenas "bem".

Mac resmungou qualquer coisa e se pôs a avaliar o relógio dela, examinando o diamante.

— É um senhor diamante. — Olhou então o verso. — Nenhuma inscrição.

Mac colocou as calças e o relógio sobre a mesa e começou a examinar o suéter.

— Por que você estaria usando um suéter em pleno mês de junho, neste calor?

Ela deu de ombros, numa frustração cada vez maior. Nada do que estava em posse dela parecia le­var a alguma pista da sua identidade.

— Não sei, mas tive a sensação de que estava com aquelas roupas há muito tempo.

— Como assim?

— Talvez tenha dormido com elas, ou feito uma viagem longa. Não estou bem certa.

Mac respirou fundo.

— Talvez. Significaria que você veio de longe. Teria precisado de roupas mais quentes se tiver real­mente viajado durante a noite, o que explicaria o suéter e o fato de não saber muito sobre o clima aqui no Colorado.

Mac tomou um gole de café, contemplando o jar­dim dos fundos e depois olhou para ela novamente.

— Não creio que você seja desta área.

— Por quê?

— Pressentimento. — Ele então voltou a sua aten­ção para o cinto largo de camurça preta. — Este não é um cinto típico do oeste. Não caberia em nenhuma presilha das calças daqui. E parece muito caro.

Jane não tinha respostas. Era como se estivesse tentando montar um quebra-cabeça onde nenhuma das peças encaixava na outra.

Ela finalmente tomou um gole do café fraco de Mac.

— Nada mau, xerife Riggs.

— Isso é um elogio?

— Tenho que admitir. Seu café é muito bom. Ele assentiu, bebendo também do café.

— Obrigado.

Mac pôs o cinto junto com o restante das coisas de Jane e se levantou. Jane havia escondido a sua roupa de baixo no quarto. Não suportaria deixar que Mac visse a calcinha minúscula que vestia quando sofreu o acidente. O xerife decididamente não precisava da­quela informação.

— Vou levá-la à delegacia amanhã de manhã para começarmos a trabalhar no seu caso.

Jane levantou-se e pegou suas coisas, abraçando-as contra o peito. Era tudo o que ela tinha no mundo naquele exato momento. A noite estava chegando ao fim e ela precisava se agarrar a alguma coisa que lhe desse um pouco de conforto.

— Certo.

— Então, boa noite — disse Mac, despedindo-se.

Jane, porém, não conseguiu se despedir sem antes pedir desculpas. Ela tinha saído da linha e ele não merecia, depois de tudo o que havia feito por ela.

— Eu queria me desculpar pelo meu comporta­mento de agora há pouco.

Mac sorriu, deixando entrever seus dentes brancos e brilhantes.

— Não se desculpe, Jane. Não dou uma boa garga­lhada como essa há muito tempo.

— Verdade? — perguntou ela, confusa. — Mas o que foi tão engraçado?

— Você — disse ele. — Ninguém ousa me chamar de idiota desde que eu tinha nove anos de idade.

— Oh — disse ela, percebendo o quanto a sua lín­gua afiada podia ter ofendido o xerife. — Agora eu estou me sentindo muito mal.

Mac apertou a mão de Jane, prestes a dizer alguma coisa quando ouviram um carro estacionar.

— Deve ser a Lizzie — disse ele, soltando sua mão e dando um passo para trás.

Pouco depois, lá estava Lizzie, roubando a atenção de ambos.

— Eu tentei adivinhar o número — disse a irmã de Mac, mostrando algumas lingeries que havia com­prado para Jane, juntamente com um pente, uma escova de cabelos e uma escova de dentes, além de uma pequena nécessaire com loção, shampoo, brilho e outros os artigos essenciais de maquiagem. — Você estava precisando de algumas coisinhas, especialmente de algo para dormir.

Jane pigarreou, olhando para os itens pessoais que Lizzie havia disposto sobre a mesa da cozinha. Mac observou de longe. Jane sentiu-se tomada por uma avalanche de emoções diferentes. Gratidão, embara­ço e uma insuportável sensação de impotência.

— Não sei o que dizer. Acho que não posso pagar por isso no momento.

— Tudo bem, Jane. Considere como um emprésti­mo. Além disso — disse Lizzie, olhando para o irmão por sobre a cabeça de Jane — eu joguei tudo no car­tão de crédito de Mac.

Jane se virou para vê-lo dando de ombros. Lizzie apertou a mão de Jane carinhosamente.

— Está tudo bem. Mac tem mais dinheiro do que o Donald Trump. A única diferença é que ele não faz muito alarde.

Jane olhou para a bela camisola rosa, o robe de tom mais claro e para as diversas calcinhas, cada uma de um estilo diferente, desde a mais simples, toda de algodão, até uma fio-dental de renda vermelha.

— Não conhecia as suas preferências — explicou Lizzie.

— Oh, Lizzie. Isto foi de uma consideração e de uma generosidade... Elas são todas perfeitas. Obriga­da — disse ela, virando-se novamente para Mac. — Vou encontrar uma maneira de pagá-lo por isso.

Ele balançou a cabeça.

— Não se preocupe com isso agora.

— Vou levá-la para fazer umas comprinhas assim que puder — disse Lizzie. — Você não pode conti­nuar dependendo das roupas que eu puder emprestar.

— Eu não me importo — disse Jane. Ela não tinha como retribuir tanta generosidade e gentileza. As roupas de Lizzie cabiam nela, apesar de estarem um pouquinho apertadas. — Pretendo recuperar a minha memória antes que haja realmente necessidade de sair comprando feito uma louca.

Lizzie sorriu calorosamente.

— Também espero, Jane, mas é sempre bom se precaver. Eu agora estou atolada com as provas fi­nais, mas assim que a escola entrar de férias, vou po­der acompanhá-la.

Jane esperava de todo o coração que aquilo não Tosse necessário, mas Lizzie estava tão empolgada que ela não quis desencorajá-la.

— Está bem. Vou ficar esperando. A irmã de Mac sorriu radiante.

— Ótimo.

— Obrigada, Lizzie. Acho que vou dormir. Tenho que acordar com as galinhas amanhã. Mac vai me le­var para a delegacia para tirar minhas digitais. — Ela se virou para ele. — Devo colocar o despertador?

Ele se aproximou dela com o olhar fixo na minús­cula calcinha vermelha no topo da pilha de novas lingeries.

— Dou uma batidinha na porta quando for a hora. — Mac finalmente ergueu o seu olhar para encontrar o dela. O inconfundível brilho nos olhos do xerife perturbou Jane profundamente.

— Já é dia, srta. Doe — disse Mac do lado de fora do quarto de Jane.

A batida a havia despertado de um sono profundo. Ela abriu os olhos devagar e ficou deitada por mais um momento, revendo os últimos acontecimentos. Apesar de ter dormido numa cama estranha, Jane ha­via adormecido quase que imediatamente depois de se deitar. Dormido e sonhado.

Ela tinha torcido para sonhar com alguma coisa re­lacionada ao seu passado, que lhe desse uma pista so­bre sua verdadeira identidade, mas não foi o que aconteceu.

Ela ficou olhando para o teto, abraçada ao traves­seiro.

— Eu sonhei com o xerife Mac Riggs! — sussur­rou Jane, incrédula. Ela se lembrava vividamente de tudo. O sonho havia sido praticamente uma repetição de como Mac Riggs a havia encontrado, deitada so­bre a terra batida, à beira do cânion. Ela sonhou com ele tomando-a nos braços e levando-a para um lugar seguro, mas foi aí que o sonho ficou nebuloso.

Ela havia acordado em chamas.

— Jane, você me ouviu?

— Ouvi — disse ela, reconhecendo a voz profunda do sonho da noite passada. — Eu me visto num mi­nuto.

— Tem café quentinho na cozinha — disse ele. — A Lizzie teve de ir mais cedo para a escola. Eu vou estar na garagem.

— Certo. — disse ela, e então acrescentou baixi­nho: — Obrigada.

Lizzie havia deixado algumas blusas e camisetas regata de várias cores na sua cômoda. Jane optou pela blusa preta com um detalhe em renda, mais apropria­da que as regatas rosa - choque ou verde-lima. Achou melhor usar as próprias botas, sentindo-se mais confortável com elas do que cornos tênis que Lizzie ha­via emprestado. Olhou-se no espelho, esperando ver ali algo mais do que dois olhos azuis-violeta e um ca­belo loiro, mas nada lhe ocorreu. Ela reconhecia o rosto que a encarava no reflexo, mas era tudo. Nada de passado, nada de história. Era como se a sua vida tivesse começado no momento em que Riggs a havia encontrado na estrada. Prometeu a si mesma que se­ria positiva e paciente. Confiava em Mac Riggs e de­positava toda a sua esperança nele.

Ela escovou o cabelo e passou o brilho e o rimei que Lizzie havia lhe dado. Depois arrumou a cama e saiu.

Jane se deteve assim que entrou na cozinha. A mesa estava posta para uma pessoa, com tudo o que se tinha direito e uma rosa vermelha num jarro fino e comprido de vidro. Havia tigelas com ovos, bacon, aveia e bola­chas, dispostas como num bufê. Jane balançou a cabe­ça. Nunca conseguiria comer tudo aquilo.

O cheiro bom de café tomou conta da cozinha. Ela se sentou e tomou uma xícara. Comeu ainda um pou­co de aveia e depois cobriu o resto da comida com pa­pel laminado e guardou na geladeira.

Ela se curvou para sentir o doce perfume da rosa. Aquele havia sido um gesto muito delicado de Mac. Decidiu então encher uma segunda caneca e seguir com as duas até a garagem.

O café entornou das canecas quando ela se deteve abruptamente, dando-se conta do seu erro.

— Desculpe. Não queria interromper.

Ela ficou olhando para as manchas de café no chão da garagem, maldizendo sua própria estupidez de ir atrás de Mac.

— Bom dia, Jane — disse ele. — Você não está in­terrompendo nada. Estou quase acabando.

Jane deu um meio sorriso, tentando não olhar fixa­mente para ele, mas era difícil. Ele estava levantando pesos, usando apenas um short cinza. Sua pele suada brilhava sob a luz da manhã que penetrava na gara­gem.

Com o coração acelerado, Jane pousou as xícaras sobre uma das pranchas de exercício. Mac era, com certeza, o homem mais bonito que ela já havia visto.

Então era isso que estava por baixo daquele uni­forme marrom?

Jane ficou excitada. Tomou o seu café, fingindo não ligar para ele, tentando manter a sua concentra­ção em outra coisa. Ela não tinha ido até lá para comer o xerife com os olhos, mas não podia negar a atração que sentia por ele.

Mac terminou os seus exercícios e se sentou numa prancha. Ele enxugou o suor de sua testa e limpou o torso com uma pequena toalha branca.

— Eu queria lhe agradecer pelo café — disse ela. —Eu comi aveia. Acho que não sou de comer muito pela manhã.

Ele a olhou de cima a baixo. Jane enrubesceu ao se dar conta de que as roupas de Lizzie estavam um pou­co apertadas nela.

— Eu deveria ter imaginado.

— Agora já sabemos.

— Certo — disse ele, elevando o olhar até alcan­çar o rosto dela.

— Pelo visto, você não precisa de café — disse ela. — Adorei a rosa vermelha. É do seu jardim?

Ele bebeu um pouco mais de água. Jane não conse­guiu tirar os olhos da sua garganta, enquanto ele en­golia.

—Isso é coisa da Lizzie. Eu cozinho e ela põe a mesa. Ela adora cuidar das suas flores.

— Oh — disse Jane, repreendendo-se por ter su­posto que a idéia poderia ter sido de Mac. Por que ele teria colocado uma rosa na mesa para ela? Ela era sua hóspede, não sua amante.

— Terei de agradecer a ela então. Esse é o seu hobby?

— É o meu trabalho — disse ele.

Jane riu ao encontrar os olhos dele.

Ele esboçou um sorriso e ela se deu conta de que tinham a sua piadinha particular.

— Tenho que me manter em forma por conta do meu trabalho e é mais fácil em casa, no meu próprio horário. Acho que gosto disso. Faço meia hora de exercício todas às manhãs antes de ir para o trabalho e uma hora ou duas quando estou de folga.

— E uma academia particular impressionante. Assim como ele.

— Obrigado. Não que você precise, mas, se qui­ser, pode usar meu equipamento quando bem enten­der. É sempre bom manter-se em forma.

— Você com certeza está — disse ela, sem pensar, para então acrescentar rapidamente. —Muito obri­gada pela oferta. Talvez experimente um dia desses.

Usar o equipamento dele. "Oh, Jane. Saia daqui antes que você acabe bancando a idiota."

— Quando você termina? — perguntou ela.

— Só preciso de uns dez minutos para uma ducha e então poderemos ir.

—Está bem. Encontro você lá dentro.

Ela prometeu a si mesma que nunca mais iria atrás de Mac quando ele estivesse se exercitando na gara­gem.

Era perigoso demais.

 

Os assistentes de Mac amontoaram-se em torno dê Jane, esperando que ele a apresentasse.

— Para trás — disse Mac. — Deixem a moça respirar.

Os assistentes não se mexeram, exceto para se tocar uns contra os outros, para apertar a mão de Jane ou puxar conversa com ela. Marion Sheaver, a Xerife-Assistente e sua colega de trabalho favorita, além de ser a mais durona de toda a força, puxou-o de lado. Faltavam apenas seis meses para a sua aposen­tadoria, mas ela sempre tinha uma opinião sobre toda e qualquer coisa.

Ela é linda — disse Marion — e está fazendo muito sucesso. Tivemos uma semana muito desani­mada. Uma moça misteriosa e desmemoriada pode ajudar a reanimar o pessoal. Deixe que os rapazes conversem um pouco com ela. Vai ser bom para ela ter novos amigos.

—Amigos? — Mac olhou para os seus assistentes, tentando conter seus sentimentos. Ela era sua respon­sabilidade, nada mais. Ver aqueles homens babando como se ela fosse um prêmio a ser conquista do na feira municipal, porém, estava mexendo com seus nervos. — Acho que a última coisa que eles têm em mente é amizade.

— E o que você tem em mente, Mac?

— Ora, Marion, ela é só mais um caso a solucio­nar.

— Você a levou para casa — lembrou ela, erguen­do as sobrancelhas grisalhas. — E está morando com você.

— Comigo e com Lizzie. E não se esqueça de que quando a encontrei, ela estava sem memória, sem di­nheiro e sem identificação. Não podia enviá-la a um abrigo nesse estado.

Marion coçou a cabeça e lhe atirou um olhar fami­liar. Mac sabia que havia um sermão à vista, ou, no mínimo, uma opinião que ele não queria ouvir.

— Ela é linda.

— Você já falou.

— Você gosta dela.

— Não a conheço. Droga, nem ela mesma se co­nhece. Jane está com amnésia, lembra?

— Mac, já está mais do que na hora de você se en­volver com uma mulher novamente. Você é jovem demais para viver sozinho.

Ele revirou os olhos.

— Essa conversa de novo, não.

— Você teve uma experiência ruim, mas já faz anos.

— Não quero tocar neste assunto, assistente Sheaver.

— Não venha bancando o superior para cima de mim, Mac. Conheço você como a palma da minha mão.

— Sim, e sua missão na vida é me ver amarrado a alguém antes de se aposentar.

— E deixar que a Lizzie tenha sua própria vida. Mac arregalou os olhos.

— Não a estou impedindo de fazer nada. Ela é uma mulher adulta. Pode fazer o que bem entender.

Marion balançou a cabeça e o olhou nos olhos por um instante.

—Se acredita mesmo nisso, está deixando de averiguar todas as pistas em contrário, o que, para um homem na sua profissão, é um verdadeiro crime.

Mac abriu caminho entre seus homens e pegou Jane pelo braço.

—Está pronta? — perguntou ele, olhando significativamente para cada um de seus assistentes que, por ironia, eram, na verdade, os únicos que estavam invariavelmente interessados na sua amizade. — Vamos cuidar das impressões digitais. Olhou então para a sua equipe e disse: — Vocês não têm trabalho a fa­zer?

Jane sorriu para os policiais.

— Foi um prazer conhecê-los.

Mac ficou resmungando enquanto os rapazes volta­vam lentamente para as suas respectivas escrivaninhas.

— Será que todos aqui em Winchester são tão gen­tis? — perguntou Jane.

Mac percebeu que ela não tinha idéia do quanto era atraente e essa qualidade o cativou. Ele ficou se perguntando se era um traço natural de sua personali­dade ou se tinha a ver com a amnésia. Quem seria a verdadeira Jane Doe? Por que era tão difícil conter a atração por ela?

— Eu diria que são uns intrometidos. Sua aparição causou um tremendo rebuliço aqui em Winchester.

— É? Por quê?

Mac deu de ombros e a conduziu até a sala de datiloscopia. Com sorte, conseguiriam descobrir alguma coisa antes do final do dia e aquela agitação que ele estava sentindo desapareceria quando Jane deixasse a cidade.

— Este é um município pequeno. Temos pequenos roubos e disputas por terra, mas nunca uma vítima de amnésia. Você é um mistério para todos nós.

— Como gostaria de não ser.

— Vamos torcer para ter sorte com as digitais.

— E se minhas impressões não baterem com ne­nhuma?

Mac se deteve ao perceber o pânico em sua voz.

— Não se preocupe, Jane. Seguimos um protoco­lo. O passo seguinte seria procurar a imprensa local. E por isso que perguntei a respeito de marcas especí­ficas que pudessem identificá-la.

Mac lembrou-se imediatamente da conversa que tivera com ela sobre a sua marca de nascença. Ele não havia sonhado com ela, mas a verdade é que aquela mulher não havia saído da sua mente.

Jane ergueu uma sobrancelha.

—Está querendo dizer que vou ter de ir à tele­visão?

—Não exatamente. Poderíamos distribuir uma foto sua para os jornais e canais de TV junto com o que já sabemos sobre você. Podemos também veicu­lar alguns spots nas rádios locais, com sua descrição e os detalhes de como foi encontrada.

— E quando faríamos isso?

— Assim que eu cuidar da parte técnica.

— O que acha que devo fazer? — perguntou ela, fitando-o com aqueles imensos olhos azuis. Ela confiava nele e ele não queria abusar.

Mac colocou novamente a mão em suas costas, pura conduzi-la até a sala onde seriam colhidas as im­pressões digitais.

—Diria para você investir nisto. Quanto mais fi­zermos, maiores as chances de resultados rápidos. Só hesitei quanto à mídia porque esse tipo de exposição tende a deixar as pessoas meio desconfortáveis. Podemos esperar para decidir a respeito e ver se você se lembra de alguma coisa, ou podemos começar a tratar disso logo.

Jane o ouviu com atenção e decidiu.


— Vamos logo à imprensa. Odeio bancar a pessi­mista, mas e se nada disso der certo?

Mac sustentou o olhar, assegurando-lhe:

— Há mais coisas a fazer, caso nenhum desses procedimentos dê resultado.

— Que tipo de coisa?

— Exames de DNA, hipnose... Mas não vamos bo­tar o carro na frente dos bois. Explicarei tudo mais tarde. Margie vai ajudar você com as digitais. Procu­re-me no meu escritório quando estiver pronta.

Mac estava preocupado com Jane, mas Marion o havia deixado com a pulga atrás da orelha por conta daquele comentário a respeito de Lizzie.

Ele não conseguiu deixar de pensar nisso pelo res­to do dia.

— Você chegou em casa mais cedo do que eu ima­ginava — comentou Lizzie, enquanto colocava uma pilha de papéis sobre a mesa da entrada e caminhava até o sofá da sala.

Jane havia passado a maior parte da tarde lendo. Tinha encontrado um romance de Dean Koontz na la­reira e achou que poderia ser uma boa maneira de passar o tempo.

— Oi, Lizzie. Você também. Aplicou provas o dia inteiro? — perguntou ela, baixando o livro, feliz por ter companhia.

— Pois é. Achei melhor trazer as provas para casa em vez de corrigi-las em sala de aula. Aqui tenho mais conforto, posso ficar de pés para cima. Acabo muito mais generosa na hora de dar as notas — disse ela, sorrindo.

—Aposto que você é sempre generosa. Que matéria você leciona?

Lizzie sentou-se ao lado de Jane no sofá e suspirou.

—Bem, já ensinei um pouco de tudo. Agora estou ensinando Inglês e História.                        

— E você tem alguma matéria favorita?

— Hummm... Adoro História Americana. Mas é muito difícil motivar os alunos a estudar o legado de nossos antepassados.

Jane não conseguia se lembrar de seus dias de escola, por isso não tinha muito a opinar.

-— Como foi o seu dia? — perguntou Lizzie, ajeitando-se no sofá. Ela tirou as sandálias e esticou as pernas, enfiando os pés por baixo de Jane. Aquela sinceridade e falta de cerimônia eram o que Jane mais agradava em Lizzie.

— Foi bom. Seu irmão está fazendo tudo o que pode por mim. Passei a manhã tirando minhas im­pressões digitais e pesquisando os registros de pessoas desaparecidas. Conheci vários dos assistentes dele. Um deles até perguntou por você. Acho que o nome dele era Lyle Brody.

Os olhos castanhos de Lizzie se arregalaram de muda presa e sua voz ficou rouca.

—Lyle perguntou por mim?

Seu comportamento mudou totalmente. Comple­tamente alerta, ela se sentou ao lado de Jane. Sua lin­guagem corporal não deixava dúvidas. Lizzie estava interessada em Lyle Brody.

— Com certeza. Ele mandou lembranças e disse para você dar uma passadinha na delegacia.

O rosto de Lizzie ganhou uma expressão sonhado­ra.

— Ele não disse isso!

Jane sorriu.

— Disse sim. E disse também que eu tinha muita sorte de estar aqui com você, porque você era a me­lhor cozinheira de Winchester. Você já cozinhou para ele?

Os olhos de Lizzie brilharam, apesar do esforço para esconder seus sentimentos.

— Não exatamente. Foi Mac quem começou com esta história lá na delegacia.. Existem tantos rapazes solteiros na equipe de Mac que ele decidiu fazer uma reunião, toda última sexta-feira do mês para garantir que pelo menos uma vez por mês eles tivessem uma refeição decente. Alguns voluntários então preparam comida suficiente para o almoço e o jantar.

— Que legal. E Lyle gosta especialmente da sua comida?

Lizzie deu de ombros com modéstia.

— Acho que sim.

Lizzie devia ter por volta de 25 anos. Era bonita e simpática e tinha muita personalidade. Devia haver uma razão séria para ela ainda não ter se casado, ou pelo menos estar namorando. Jane tinha um pressentimento que aquilo tinha alguma coisa a ver com Mac.

Por que você não prepara um jantar particular pura ele? — pressionou Jane.

— Já pensei nisso centenas de vezes, mas...

— Mas?

— É complicado.

— Então descomplique.

— Se pelo menos Mac se ajeitasse novamente — disse ela baixinho.

Jane imaginou que ela não tinha tido a intenção de fazer o comentário em voz alta.

— Mac já é um homem feito, Lizzie — disse Jane tom doçura. Ela não queria ultrapassar nenhum limi­te, mas não podia deixar de ajudar sua amiga.

— Eu sei, mas ele cuidou de mim durante 15 anos. Não posso abandoná-lo agora.

—- Você já conversou com ele sobre isso?

Lizzie balançou a cabeça.

— Não. Mac é super-protetor. Você sabe como são os irmãos mais velhos. Ele não acha ninguém sufi­cientemente bom para mim. Ainda está na idade da pedra quando se trata desse assunto.

— Talvez esteja na hora de você trazê-lo para o século XXI.

Lizzie deteve-se por um instante para pensar no assunto e então sorriu, dando um tapinha no joelho de Jane.

—Tenho certeza de que você prefere a comida de Lizzie à mi­nha.

Mac passou a mão pelos cabelos curtos.

— O mesmo restaurante com outro chef. A comida tem que ser gostosa, Jane, não refinada. Volto já para ajudar a pôr a mesa.

Mac foi ao banheiro para tomar uma boa chuveirada. Voltou à cozinha, meia hora mais tarde, depois de um banho gelado e de um sermão implacável que ha­via feito a si mesmo, bem mais aliviado e sob con­trole.

Até olhar para o rosto de Jane. Ela desviou os olhos do forno e se virou para ele com a face afogueada, pela qual rolavam lágrimas.

O alarme contra incêndio começou a soar louca­mente.

Os pedaços de frango estavam completamente car­bonizados e as batatas duras como pedra, sem falar nos biscoitos tostados. A casa estava toda enfumaça­da e cheirando mal.

Mac ficou abalado com o que viu, sentindo-se to­mado por emoções que não se via no direito de sentir. Aquilo o estava deixando preocupado. Ele nunca ti­nha se entregue assim a mulher alguma, nem mesmo à sua ex-esposa.

— O que aconteceu, Jane? Ela desatou a chorar ao ouvir o nome. Seu corpo sacudia incontrolavelmente e ela desabou, chorando baixinho. Suas lágrimas silenciosas tocaram o cora­ção de Mac.

Ele abriu a janela da cozinha, deixando a fumaça ir e se voltou para ela.

— É só um jantar — disse ele decidido. — Pode­mos pedir uma pizza.

— Eu... Eu lhe disse... Lizzie cozinha muito melhor do que eu. Eu... Eu não sei... Não sei o que faço aqui conseguiu ela finalmente balbuciar, agitando os braços no ar.

— Tudo bem. Talvez a Lizzie seja melhor cozi­nheira que você. Talvez cozinha não seja o seu forte.

— Não é só o jantar, seu... seu...

— Idiota?

— Eu não disse isso. Já aprendi a lição da outra vez.

— Mas era o que você estava pensando.

Jane conteve as lágrimas e então olhou para ele com raiva, arregalando aqueles olhos azuis-violeta.

— O que foi? — rosnou ele.

O que ele tinha feito de errado afinal?Ela jogou o pano de prato nele. Surpreso com a audácia de Jane, ele agarrou o pano antes que batesse na sua cara.

— Droga, Jane. Não entendo você.

—Então somos dois! — Ela prosseguiu com a res­piração ofegante: — Também não consigo me entender! Não sei nada a meu respeito! Só sei que não tenho talento para cozinhar. E o que mais? Nada. Abso­lutamente nada.

Mac ficou brincando com o pano de prato nas mãos. Jane tinha um temperamento difícil. Tinha também personalidade, orgulho e inteligência. Quan­to à aparência, nem era bom pensar. Com a mente em turbilhão, Mac não sabia dizer se estava mais enfure­cido ou excitado.

Nenhuma das duas emoções, porém, eram apro­priadas.

— Tudo isso só por causa do jantar que queimou? — perguntou ele, tentando achar algum sentido para aquela explosão repentina.

Ele não podia dizer que sabia o que ela estava pas­sando, mas vinha fazendo e continuaria fazendo tudo ao seu alcance para que ela recuperasse a memória.

Jane apertou os lábios e balançou a cabeça.

— Não? Então o que foi?

Ela baixou a cabeça como se olhando para a refei­ção arruinada, mas Mac sabia que ela não estava en­xergando nada à sua frente.

— O assistente Brody ligou enquanto você estava no banho. Ele disse... Ele disse que as minhas impres­sões digitais não combinaram com nenhuma outra dos registros e pediu que lhe desse o recado.

Droga. Lyle deveria ter lhe passado essa informa­ção em particular.

Quando ela olhou para ele novamente, abatida e desesperançada, Mac não se conteve. Tomou-a nos braços, puxando-a para perto de si e fazendo com que ela pousasse a cabeça em seu peito.

— Está tudo bem, Jane — sussurrou ele, roçando i is lábios em sua testa. — Você não pode perder as es­peranças.

Ela se aninhou a ele e Mac percebeu que talvez fosse isso o que ela precisava desde o começo. Al­guém para abraçá-la. Alguém que lhe dissesse que nulo ficaria bem.

Ele olhou para baixo e viu os seios dela apertados contra o seu próprio peito. O botão de cima da camisa do Jane havia se aberto, expondo a pele branca de seu rolo e o sutiã de renda igualmente branco. Ele fechou os olhos, mas a imagem dela e sua doce fragrância o tiraram do prumo. Ele sabia que ela podia sentir sua ereção, mas não estava ligando a mínima.

— Mac — sussurrou ela suavemente.

Ao encontrar seu olhar, Mac percebeu que não era só conforto o que Jane queria. Ele inclinou a cabeça dela para trás e viu aceitação e desejo em seu rosto adorável. Cobriu então os lábios de Jane com os seus, tomando sua boca num beijo lento e suave, como uma espécie de teste para saber até onde poderia ir. Um pequeno som gutural escapou dos lábios de Jane, fazendo com que Mac a puxasse mais para perto. Ele tomou o seu rosto nas mãos, para em seguida acariciar os seus belos cabelos loiros.

A boca de Jane era macia, quente e generosa. Mac aprofundou beijo, explorando completamente os seus lábios até ela suspirar de prazer.

Fazia um bom tempo que ele não se envolvia com uma mulher. Havia saído com algumas, dormido com outras, mas não se lembrava de nenhuma que o tives­se perturbado daquela forma.

Ele abriu caminho por entre os lábios de Jane e a beijou profundamente, perdendo parte do seu habi­tual autocontrole quando suas línguas se entrelaça­ram, dando início a uma dança selvagem. Lábios, lín­guas e corpos se tocavam, entrelaçavam e mescla­vam. Seus corações batiam com força. Seus corpos ansiavam por mais.

De repente, um pensamento ocorreu a Mac. Ele in­terrompeu o beijo e olhou no fundo dos olhos de Jane.

— Você pode ser casada.

Ela balançou a cabeça, erguendo a sua mão es­querda onde não havia nenhuma aliança.

— Acho que não.

— Você pode estar noiva. Talvez haja um homem esperando para se casar com você.

Jane balançou novamente a cabeça.

— Não há ninguém. Não me pergunte como, mas sei que não.

Mac não tinha tanta certeza. Jane Doe não parecia uma mulher sozinha no mundo. Ela havia demonstra­do paixão e vulnerabilidade, assim como força e inte­ligência. Era linda, sexy e animada. Como uma mu­lher assim podia ser livre e desimpedida?

Ela ainda estava com os braços ao redor do seu pescoço. Mac beijou-a mais uma vez, profunda e de­liberadamente, antes de estender a mão em direção ao lugar de onde despontavam os seus seios.

Ela esperou, com o olhar repleto de expectativa. Mac tocou no botão de cima que havia se aberto. Ela respirou profundamente, forçando o tecido ainda mais. Mac hesitou, dando-se conta das implicações do seu próximo movimento. Não havia nada que ele desejasse mais do que mergulhar a sua mão por dentro da camisa dela e acariciar seus seios fartos e macios.

Lentamente e com destreza, ele fechou o botão e se afastou dela. O impacto de deixá-la, abrindo mão do presente que mais desejava receber, chegou a dei­xá-lo tonto. Pestanejou várias vezes até se refazer do impacto de ter de se afastar dela. Ele pigarreou e er­gueu os olhos para olhar no fundo de seus olhos azuis, completamente perplexos.

— Vamos fazer compras amanhã. Você precisa ter suas próprias roupas.

 

— Chegamos — disse Mac ao parar o carro no esta­cionamento do Winchester Mall. — Não é muito so­fisticado, mas você pode encontrar algo de que goste.

Jane olhou para ele, ainda sentado no seu jipe pre­to, com uma cara de quem queria estar em qualquer outro lugar, menos lá. Ele estava usando uma calça jeans que lhe caía muito bem e uma camiseta regata branca com as iniciais DPMW em marrom — Depar­tamento de Polícia do Município de Winchester.

Mac e o seu trabalho eram uma coisa só. Seu traba­lho e seu comprometimento com o município eram o que o definiam. Ela o respeitava por esta dedicação e sabia que ela não passava de uma obrigação para ele.

Jane, porém, não havia se sentido como uma obri­gação quando ele a beijara na noite anterior. Ela esta­va com a mente repleta de dúvidas e profundamente empenhada em preparar o jantar quando o assistente Brody ligou. A decepção com as últimas notícias foi a gota d'água.

Ela não esperava cair nos braços de Mac daquela maneira, nem beijá-lo daquele jeito. Não esperava sentir-se de repente mais viva naquele momento do que em todos os últimos quatro dias, desde que havia acordado sem memória.

O beijo tinha sido maravilhoso, mas causou uma forte estranheza entre os dois durante o resto da noite. Eles dividiram uma pizza, talvez para mostrar, um no outro, que podiam lidar com o que havia aconteci­do, ou melhor, não acontecido, entre eles. Os olhares desviados, porém, e até mesmo os evitados e as conversas excessivamente formais fizeram com que Jane fosse para a cama mais cedo.

Pelo bem de ambos.

O que ela realmente queria era aninhar-se a ele nua em cama. Sentir seus braços em torno do seu corpo, confortando-a e fazendo-a sentir-se viva novamente.

— Isto está passando dos limites, Mac. Eu aposto que este é o último lugar em que você gostaria de es­tar no seu dia de folga.

Mac olhou para a camiseta regata verde-lima dela.

— É necessário.

— Lizzie disse que ficaria feliz em me acompa­nhar se eu esperasse até o fim de semana.

Mac saiu do carro e deu a volta rapidamente para abrir a porta para Jane.

—É necessário para a minha saúde, Jane — disse ele erguendo as sobrancelhas e olhando diretamente ela.

Ela olhou para baixo, tentando enxergar a si mes­ma com os olhos de Mac. Ela efetivamente se sentia apertada como numa lata de sardinhas dentro daque­las roupas, mas não tinha se apercebido até então de que poderia estar chamando a atenção dele.

— Você tem um corpo muito bonito — disse Mac, caminhando em direção à entrada principal — e pre­firo não ser lembrado disso cada vez que olho para você.

Jane quase teve que correr para acertar o seu passo com o de Mac. Ele a havia deixado furiosa com aquele comentário. Como se ela tivesse alguma escolha! Ela não tinha culpa se as roupas de Lizzie não eram do seu tamanho. Teria sido muito grosseiro se quei­xar.

— Isso não deveria perturbá-lo, xerife. Afinal, você tem força de vontade por nós dois.

Mac olhou para ela.

— Não tenha tanta certeza.

— Isso basta para despertar o seu interesse? Ele se deteve e a encarou.

— O quê?

Completamente ruborizada e quase sem fôlego Jane disse suavemente.                                            — Acho que você me ouviu.

— Não posso me interessar por você, Jane. Você não compreende? Você está debaixo do meu teto, sob minha proteção. Acredite ou não, é possível que você tenha laços importantes com outras pessoas. Pessoas que a amam e que se preocupam com você.                 — Compreendo, sim. Você deixou bem claro na noite passada.                                        

Mac balançou a cabeça com uma expressão dura.

Jane estava começando a entender o motivo de sua frustração. Ele estava protegendo seu próprio cora­ção. Sua dedicação ao trabalho não permitiria que comprometesse a sua posição por um capricho.

Ele tinha muito a perder com aquela história. E se ela tivesse realmente um passado, uma família à sua procura? E se houvesse um homem procurando por ela? Jane só conseguia enxergar os detalhes mais imediatos de sua vida atual, ali em Winchester, mas Mac tinha uma visão mais ampla.

Jane não podia culpá-lo por se retrair. Ela pegou na sua mão e a apertou com carinho.

— Sinto muito. Ficarei eternamente em dívida com você por tudo o que tem feito por mim.

— Você não me deve nada, Jane.

— Devo sim. Você está sendo muito gentil em me levar às compras. Vamos pôr uma pedra nesse assun­to. Prometo que não vou prolongar sua tortura.

Mac sorriu. Seus dentes apareceram por um se­cundo, brancos e brilhantes, e o coração dela saltou novamente dentro de seu peito. O sorriso de Mac era arrasador.

— Você não existe, Jane Doe.

Ela inclinou a cabeça.

—Você tem mesmo tanto dinheiro quanto Donald Trump? Ele riu.

— Ninguém tem o dinheiro de Trump.

—Não se preocupe. Não vou assaltar sua carteira. Ele pousou a mão nas costas dela e a conduziu para entrada do shopping.

— Aposto uma semana de lavanderia como você vai me limpar em uma hora.

— Feito.

— Ei, você não é aquela mulher sem memória? Vi sua fotografia no jornal esta manhã — disse a jovem vendedora, escrutinando o rosto de Jane. — Você foi encontrada no Deerlick Canyon. Como é não se lem­brar de quem você é?

Jane vacilou por um momento.

— Bem, uh, não é nada que eu deseje a ninguém. Mac foi até o balcão de vendas e apresentou o seu cartão de crédito.

— Está tudo pronto?

A vendedora pegou o cartão.

— Ouvi dizer que você tinha sido ferida, mas que ninguém sabe exatamente como aconteceu. — Ela olhou para o cartão de Mac e o reconheceu pelo nome. — Ah, foi você quem a encontrou. A notícia dizia para entrar em contato com o xerife, caso al­guém a reconhecesse.

— Isso mesmo — disse Jane, enquanto sua lingua­gem corporal dizia a Mac que queria dar um fim àquela conversa.

— Bem, não a reconheci — disse ela avaliando Jane novamente. — Definitivamente não. Acho que você nunca esteve aqui antes.

— Obrigada. Poderia agilizar um pouco a venda, por favor? — disse Mac, apontando para o cartão de crédito e as roupas que Jane havia posto no balcão. — Ainda temos muito por fazer esta manhã.

— Oh, claro. — Ela tirou a nota e pediu para que Mac assinasse o comprovante de pagamento. — Aposto que alguém vai reconhecê-la. Vi a sua foto na grama do meu vizinho quando estava saindo da mi­nha garagem.

— Na grama do seu vizinho? — perguntou Jane.

— Sim, na primeira página do Winchester Chroni. Cara, não posso imaginar uma coisa dessas. Deve ser estranho.

Jane sorriu sem muita convicção.

— É muito estranho.

A vendedora guardou as roupas numa sacola preta brilhante, entregou-a a Jane e devolveu o cartão a Mac.

Eles saíram rapidamente pela porta.

— Acho que vai ser assim de agora em diante.

— Como se eu estivesse num aquário e todo o mundo quisesse ver o peixe exótico?

Mac apertou a sua mão mais uma vez antes de soltá-la.

— Exótico, não, Jane. Intrigante. Você é um mis­tério por aqui, só isso. Vamos veicular essas notícias na imprensa ainda por algum tempo e se ninguém parecer com informações, mudaremos de estratégia. Você não vai ser uma celebridade por muito tempo.

—Celebridade? Parece mais para um show de horror!

Mac balançou a cabeça. Não havia nada de horrí­vel em Jane. Apesar da situação difícil, ela estava se saindo muito bem, exceto pela crise da noite anterior. Ela era uma mulher forte, que certamente sabia supe­rar adversidades.

Ele ficou observando enquanto ela experimentava as roupas, optando sempre pelas cores que enfatiza­vam a tez de sua pele e pelos modelos que valoriza­vam o seu corpo bem-feito.

Jane tinha classe e estilo. Aquele shopping recém-inaugurado não chegava aos pés daqueles dos gran­des centros urbanos, mas ela conseguiu escolher as roupas certas que mais se adequavam à sua persona­lidade.

Infelizmente para Mac, ela estava tão sexy em suas roupas novas quanto estivera com as de Lizzie.

— Para onde agora? — perguntou ela. Mac olhou para as suas botas de couro preto.

— Temos que comprar uns sapatos decentes para você. O verão já está quase chegando.

— Eu não quero parecer mal-agradecida, mas os sapatos de Lizzie machucam meus pés. São um pou­co pequenos para mim.

Eles foram até a Shoe Salon, uma loja pequena e íntima que só vendia sandálias delicadas femininas, verdadeiras obras de arte. Mac havia deduzido que ela não era o tipo de mulher que comprava em lojas de departamento e achou também que ela ficaria mais à vontade num lugar menos tumultuado.

— Essas botas não devem ser muito mais confor­táveis que os sapatos de Lizzie — disse Mac.

— Na verdade, essas botas são os calçados mais confortáveis que tenho. Elas vieram de uma cidadezinha da Itália. O sapateiro só faz dois pares por mês. Ele faz um molde do pé do cliente e projeta o sapato de acordo com ele.

Mac se deteve abruptamente.

— O quê?

Jane continuou andando.

— Eu disse que o sapateiro só faz dois...

Ela parou e se virou para ele, com os olhos arregalados em total surpresa, enquanto se dava conta do que acontecera.

— Oh, meu Deus! — exclamou ela, deixando a sacola cair. — Mac, eu me lembrei de alguma coisa — sussurrou ela, para depois repetir mais alto, com um enorme sorriso no rosto: — Eu me lembrei de alguma coisa!

Ela correu para os seus braços, surpreendendo-o mais uma vez.

— Oh,Mac!

A alegria dela era contagiante. Ele a segurou por um momento, cerrando os seus olhos e desfrutando do breve contato.

Ela se afastou rapidamente e sorriu. Isto é bom.

Muito bom. Do que mais você se lembra? A cidade da Itália? O nome do sapateiro? Quando foi que você adquiriu as botas? Foi um presente?

Jane sorriu novamente, balançando a cabeça.

— Não sei. Não consigo me lembrar de mais nada, mas acho que foi um bom sinal, não foi? Quero con­tar ao dr. Quarles. Talvez haja alguma coisa que eu possa fazer para melhorar minha memória.

— É uma boa idéia. Ligaremos mais tarde.

— Oh, Mac — disse ela, jogando-se mais uma vez em seus braços. Ela pousou a sua cabeça em seu peito e ele a recebeu, abraçando-a com força. Pareciam dois adolescentes apaixonados. — Obrigada.

Ela olhou para cima e o beijou na bochecha.

— O que foi isso? — perguntou Mac, ainda tentan­do se refazer do medo que se apoderara do seu cora­ção havia pouco, quando achou que Jane havia recu­perado a sua memória.

— Por estar sempre comigo. Por me ajudar e por me dar apoio.

— É o meu...

Uma centelha de decepção cruzou o rosto de Jane.

— Prazer. O prazer é meu, Jane.

O sorriso amplo de Jane fez com que Mac abando­nasse todas as suas reservas e preocupações. Ele fi­nalmente havia admitido para si mesmo que faria tudo ao seu alcance para ajudar Jane, fosse o seu de­ver ou não.

Aquela mulher havia conseguido abalá-lo. Mais dia, menos dia, porém, ela recuperaria a me­mória, e então partiria.

— Eu me sinto tão segura quando você me abraça. Parece que tudo vai ficar bem.

Mac sentia exatamente o contrário. Toda vez que abraçava Jane, tinha a nítida sensação de que nada mais seria como antes.

Ela se afastou e puxando-o pela mão, disse:

— Vamos lá, você me prometeu um par de sa­patos.

Jane espalhou as roupas novas sobre a cama, com­binando as peças entre si. Ficou feliz com o resulta­do. Ela havia feito uma compra inteligente sem lim­par a carteira de Mac.

Lizzie bateu na porta aberta e entrou saltando no quarto de Jane.

— Olha só! É tudo maravilhoso! Adorei o conjun­to framboesa. Vai combinar muito bem com a cor dos seus olhos e dos seus cabelos.

Jane não pôde deixar de sorrir.

— Mac foi um doce de me levar até lá. Vocês dois tem sido muito gentis.

Lizzie verificou o preço de uma das peças e então olhou para Jane com admiração.

— Que pechincha! Eles tinham esta blusa em ou­tras cores?

— Umas cinco. Lizzie sorriu.

Mac adorou, sabia? Jane franziu a testa, confusa.

— A blusa?

— Não, sua boba, o passeio.

— Ele disse isso? —perguntou Jane num tom de voz um pouco mais elevado.

Lizzie balançou a cabeça.

— Meu irmão jamais admitiria, mas — disse ela, olhando no fundo dos olhos de Jane — ele não recla­mou. Nem uma única vez. Acho que ele gosta de você.

Jane enrubesceu.

— Ele é um homem muito gentil — murmurou ela, embora pudesse descrevê-lo de várias outras formas. Forte e equilibrado. Protetor, ainda que reservado. Confiável. Um líder. E é claro, sexy como o quê. Ele havia passado a olhar para ela nos últimos dias de um jeito que a deixava completamente arrepiada cada vez que ele a segurava contra o seu corpo, fazendo um calor se espalhar por todo o seu corpo.

Lizzie empilhou as roupas e abriu espaço para se sentar na cama dela.

— Só isso? Gentil?

Jane ergueu um vestido branco de verão sem man­gas e o enfiou num cabide. Aquela havia sido uma compra de última hora, um item que Mac a encoraja­ra a comprar. Ela pendurou o cabide no armário e en­tão voltou-se novamente para Lizzie.

— Aonde você está querendo chegar? Lizzie esboçou um olhar cheio de malícia.

— Mac precisa de uma mulher em sua vida.

— Oh, Lizzie, e você acha que essa mulher sou eu?

— Você gosta dele, Jane. Posso ver no modo como olha para ele.

— É claro que gosto dele. Ele salvou a minha vida, me trouxe para casa. Até me deu roupas para vestir. Sou muito grata a ele e a você, mas não existe futuro para nós. Não sei quem eu sou. Mac está certo em se preservar.

— Então não acha que ele é um grande sujeito?

— Mac com certeza é um grande sujeito e não pre­cisa que você lhe arranje uma namorada — disse ela suavemente. — E quanto a você? Como anda a sua vida amorosa?

Lizzie suspirou profundamente.

— Que vida amorosa?

Jane sentou-se perto dela.

— Como vai o assistente Brody?

Lizzie deu de ombros, mas seus olhos se ilumina­ram com a simples menção do nome dele.

— Conte-me — disse Jane com doçura. — Eu ado­raria ajudá-la.

— É que... acho que ele tem medo de Mac.

— Lizzie, você é uma mulher adulta e tem todo o direito de fazer as suas próprias escolhas. Além do mais, Lyle Brody é um homem decente, pelo que pude perceber. Por que Mac se oporia?

Lizzie deu de ombros mais uma vez.

—É complicado. — Ela avaliou o rosto de Jane por um momento, como se decidindo se confiar nela ou não. — Mac está sozinho há muito tempo e não quero abandoná-lo. É claro que ele é meio arrogante algumas vezes, mas sei que ele seria capaz de dar a vida por mim. Ele é um ótimo irmão.

Jane compreendia a lealdade de Lizzie. Será que ela também tinha um irmão em algum lugar à sua procura? Será que havia alguém, em algum lugar, disposto a sacrificar a própria vida por ela?

Suas esperanças haviam sido renovadas naquela tarde com a lembrança do sapateiro italiano. Devia ser apenas uma questão de tempo até ela recuperar completamente a memória. Jane agarrou-se àquela esperança com unhas e dentes. Tentou falar com o dr. Quarles à tarde, mas como ele não estava no con­sultório, havia marcado uma consulta para o dia se­guinte.

— Mac quer que você seja feliz, Lizzie. Eu aposta­ria meu último dólar nisso. — Então ela sorriu. — Isso é, se tivesse um, é claro.

Lizzie sorriu de volta.

— É mais complicado do que isso, Jane. Acho que Mac não gostaria que eu lhe contasse isso.

— Compreendo — disse ela, embora estivesse morta de curiosidade para saber o que Lizzie tinha para contar.

— É claro que se você me obrigasse...

Jane sorriu novamente, percebendo por que Lizzie era a professora favorita entre os seus alunos. Ela ti­nha um jeito infantil cativante, mas tinha desejos e necessidades de mulher que não podiam ser ignora­dos. Lizzie merecia ter uma vida própria. Um homem para amar, uma casa, uma família. Jane achava difícil acreditar que Mac não concordasse com isso.

— Pois estou oficialmente forçando você a falar. Assumo toda a culpa do que vier a acontecer — disse Jane piscando para a amiga.

— Então... — disse Lizzie, remexendo nas sandá­lias de Jane. — Pergunte-me sobre Lyle.

— Por que Mac não quer que você se envolva com Lyle?

— Bem, já que está me forçando, vou contar. Mac foi casado com a irmã dele, Brenda Lee.

Jane perdeu o fôlego. Sentiu um vazio repentino e não conseguia compreender por quê. Ela sabia que Mac já havia sido casado, mas falar sobre isso, dar um nome à sua ex-mulher, fazia tudo mais real. Jane não tinha direito de sentir ciúmes exatamente, mas ora esse o sentimento que estava se insinuando pela sua espinha.

— Meu Deus! Lizzie respirou fundo.

— Entende agora? O rompimento dos dois foi muito difícil. A irmã de Lyle quis protegê-lo tanto quanto Mac a mim. Eles se respeitam profissionalmente, mas são ex-cunhados, percebe?

—E você está apaixonada por Lyle, não é?

—Acho que sim, Jane, mas não tivemos muita chance de aprofundar o relacionamento.

Jane ficou morta de curiosidade, ávida por saber mais sobre o casamento fracassado de Mac.

— E o que aconteceu com Brenda Lee?

— Oh, ela queria deixar Winchester para trás e achou que poderia convencer Mac a levá-la embora. Ela nunca compreendeu que Mac era o xerife de uma cidade pequena e que o seria para sempre. Mac gosta da vida que tem, da sua casa, sua cidade, seu trabalho. Ele não podia deixar de ser ele mesmo, nem para sal­var seu casamento.

— Você se sentiria duplamente desleal com Mac caso se envolvesse com Lyle.

— Isso mesmo. Nem posso lhe dizer o alívio que senti ao ver como Mac estava reagindo a você. Ele já não se interessa seriamente por uma mulher há muito tempo.

— Eu odeio ser portadora de más notícias, Lizzie, mas Mac me vê apenas como sua responsabilidade, nada mais.

— Sei...

Aturdida, Jane não sabia o que dizer.

— Meu irmão não traz mulheres para dentro de casa, estejam elas com amnésia ou não. Ele não leva uma mulher para fazer compras, nem lhe dá presentes se não estiver interessado nela. — Lizzie entregou uma caixa dourada a Jane. — Ele me pediu que lhe desse isso.

Jane ficou olhando para a caixa com absoluta sur­presa.

— Vamos, abra. Estou louca para saber o que tem aí dentro.

Ela abriu a caixa.

— Oh — disse ela suavemente, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas, ao ver o conjunto de brincos, colar e pulseira de prata trabalhada. — Vi este conjunto numa vitrine hoje à tarde, mas não achei que Mac tivesse percebido que eu havia gosta­do. Não esperava que ele me comprasse estas jóias. Mas ele comprou — disse Jane baixinho, abraçando a caixa com força contra peito, tentando discernir as emoções que a invadiram. — Por que ele não me deu presente pessoalmente?

— Provavelmente porque sabia que não agüenta­ria esse olhar. Você quase me fez chorar.

— Não sei o que dizer.

— Não faça muito estardalhaço quando for agra­decer. Basta usá-lo.

— Nem sei se devo aceitar, Lizzie.

— Pode ter certeza de que ele não ficou mais po­bre por causa disso, Jane. Você vai magoá-lo profun­damente se recusar.

Jane ficou brincando com as argolas do colar e ad­mirando os detalhes delicados. Aquele conjunto ha­via chamado mais a sua atenção do que todas as outras jóias caras que havia visto, e Mac tinha percebi­do com seu faro de detetive.

—Eu não devolveria por nada neste mundo. Você me ajuda a colocar? — disse ela estendendo o colar para Lizzie.

— Claro, mas com uma condição. Quando eu vol­tar de viagem, você vai me ajudar a refazer todo o meu guarda-roupa.

— Eu adoraria. Mas para onde você vai?

— Carolina do Norte. Caitlin, a minha melhor amiga, vai dar à luz antes do esperado. O marido dela está numa missão do outro lado do oceano e a Força Naval não permitiu que ele antecipasse a volta. Vou acompanhá-la no parto. Serei a madrinha.

— Isso é maravilhoso! Quanto tempo vai ficar fora?

— Vou viajar no domingo e passar quase uma se­mana fora. Tempo suficiente para você e Mac se en­tenderem.

— Mac vai achar que você está fazendo de propó­sito.

— Não tenho culpa de Caitlin ter tido complica­ções com a gravidez. Ela vai ter que fazer uma cesa­riana. Não posso deixar minha amiga na mão. Mas te­nho que admitir — acrescentou ela sorrindo — que a hora não podia ser mais adequada.

 

Jane não sabia se devia ir até a garagem à procura de Mac. Ela o havia ouvido sair da cozinha e se conde­nado veementemente por não ter levantado mais cedo para pegá-lo tomando café. Ele tinha chegado muito tarde da noite anterior por conta de um chamado de urgência na delegacia, e ela ainda não havia tido a oportunidade de agradecer pelo generoso presente.

Ela estava usando as jóias com a sua nova blusa li­lás, sem mangas, e as calças pretas. Elas completa­vam seu visual, fazendo-a se sentir mais composta. O verão do Colorado já havia começado e aquelas rou­pas mais frescas garantiam-lhe o conforto de que pre­cisava. Jane havia prendido o cabelo num rabo de ca­valo, arejando mais o pescoço. Ela ia mesmo precisar se Mac estivesse se exercitando como ela suspeitava.

Por precaução, decidiu dar uma espiadinha antes de entrar, mas não havia sinal dele por lá. Jane ficou entre aliviada e decepcionada. A voz de Mac ressoou em seu ouvido, justamente quando ela se preparava para virar.

— Procurando por mim?

Ele estava apoiado na cerca, tomando água da garrafa. Seu peito bronzeado brilhava sob o sol do Colorado.

Assim como da outra vez, ele estava apenas com um short cinza e uma toalha em torno do pescoço.

— Oh, Mac. Sim, eu estava... Eu não queria inter­romper os seus exercícios.

— Já acabei — disse ele tomando um último gole. Pousou a garrafa junto à cerca e se aproximou dela. O modo como a olhou fez o coração de Jane acelerar. Ela viu os olhos dele descerem em direção ao seu pescoço, avaliando o colar, a pulseira e as argolas que ela usava. — Você está muito bonita.

Ela enrubesceu e engoliu em seco. Levou a mão instintivamente até o colar. Era a primeira vez que Mac lhe fazia um elogio abertamente.

— Oh, hum, foi por isso que vim aqui. Queria agradecer. Adorei as jóias, mas achei que você preci­sava saber...

Ele assentiu e Jane se conteve, lembrando-se do que Lizzie havia dito.

— Foi uma bela surpresa.

— Jane — começou Mac, olhando-a nos olhos. O seu pulso acelerou até ela achar que ia desmaiar. Ela esperou que ele prosseguisse, mas ao notar que ele permanecia em silêncio, Jane se deu conta de que aquela era a primeira vez que ela o via sem palavras.

— Você queria pedir alguma coisa?

Ele ergueu o canto da boca, com uma expressão irônica no rosto.

— Não é uma boa pergunta para se fazer a um ho­mem que quer...

— O quê? O que é que você quer, Mac?

Ele se retraiu ao perceber que quase havia revela­do seus verdadeiros sentimentos. Jane agarrou as duas pontas da toalha e o puxou, recusando-se a dei­xá-lo ir.

Ela estava bem em frente a ele, olhando para o seu belo rosto.

Os olhos dele escureceram de excitação e desce­ram até a boca de Jane.

Ardendo de desejo, ela abriu os lábios numa oferta velada.

Mac gemeu, fechando os olhos por um momento.

— O que você quer? — perguntou ela novamente.

— Aqui não — disse ele enigmaticamente, dei­xando Jane ainda mais confusa.

Mac pegou-a pela mão e entrou com ela na gara­gem. Ele a prendeu contra a parede, apoiando uma mão de cada lado dela. Cobriu então a boca de Jane com a sua, num beijo longo e profundo.

Jane gemeu, suspirando de prazer. Ela acariciou a pele macia e sedosa de Mac, correndo as mãos pelo seu peito musculoso e enroscando os seus dedos nos pêlos dele. Suas carícias foram ficando cada vez mais intensas até que Mac também não pôde mais se satis­fazer apenas com o beijo. Ele pressionou o seu corpo com mais força contra o dela, roçando a barriga de Jane com seu membro rígido.

—Oh, Mac — disse ela, arfante, ansiosa por se en­tregar àquele homem de corpo e alma.

Mac abriu a sua blusa e deslizou sua mão por den­tro do tecido, até alcançar os seios de Jane.Ele roçou os mamilos com o polegar, até quase fazê-la gritar de prazer. Mac beijou-a repetidas vezes e então enveredou pela sua garganta, traçando uma trilha de pequenos beijos, lambendo sua pele quente até que ela não pôde mais se conter e arqueou o cor­po, oferecendo-se por inteiro a ele. Mac curvou-se e tomou o bico do seio em sua boca quente e úmida.

— Você é perfeita — sussurrou ele, erguendo o rosto para beijá-la novamente. — Quero você toda, querida.

Jane procurou os olhos de Mac e pôde ver o desejo e o desespero que tomavam conta dele. Ela sentia o mes­mo e queria que ele soubesse. Queria que ele fizesse amor com ela, que a penetrasse bem fundo e lá perma­necesse até que ambos se entregassem ao cansaço, exaustos e saciados. Queria senti-lo dentro de si. Pertencer a ele.

Sem interromper a conexão entre eles, Mac a trouxe consigo, até deitá-la sobre uma das pranchas de exercí­cio e logo depois cobriu o corpo dela com o seu.

Mac diminuiu o ritmo de seus movimentos, levan­do todo o tempo do mundo para beijá-la, acariciá-la e roçar o seu corpo no dela. O corpo de Jane latejava de desejo. Tudo o que ela queria era sentir aquele ho­mem dentro dela.

Ele levou a mão até o zíper da calça de Jane, quan­do foram interrompidos por uma espécie de alarme.

Mac se deteve e ficou atento ao som até compreen­der de onde vinha. Ergueu-se então, deixando-a com­pletamente perdida.

— O que é isso? — perguntou ela.

— Meu celular. Deve ter acontecido alguma coisa na delegacia ou com Lizzie.

Ela ficou embaraçada, sentindo-se subitamente exposta, mas Mac manteve os seus olhos presos aos dela, assegurando-lhe, sem palavras, que não havia com o que se preocupar.

Ele lhe deu a mão e a ajudou a levantar.

— Foi bom que isso tenha acontecido.

Ela não concordava.

— Nem me lembrei de pegar uma camisinha.

Jane abotoou a blusa.

— Isto é loucura — disse ele, recriminando-se. — Eu estava fora de mim. Você seria capaz de me per­doar?

— Cale a boca, Mac.

Ele ergueu a cabeça bruscamente.

— O quê?

— Não se atreva a me pedir desculpas. Eu sou uma mulher adulta, completamente capaz de tomar mi­nhas próprias decisões. — Virou-se então de costas para que ele não visse a angústia que tomava conta dela. — Você não tem que conferir aquela chamada?

— Jane?

— Vá embora, Mac — disse ela.

— Você está bem?

Jane sentiu vontade de gritar. É claro que não esta­va bem. Nada estava bem desde que havia perdido a memória, mas por um breve instante, naquela manhã, havia ousado acreditar que tudo se resolveria e que ela poderia ser feliz com Mac.

— Estou bem.

Mac pegou o celular e olhou o número no visor.

— É da delegacia.

— Então ligue para lá.

Ele olhou para ela, pensando em como a vida deles poderia ter mudado para sempre naquela manhã.

— Eu sint...

— Não complete a frase, Mac. Estou avisando.

Sem conseguir conter um sorriso, Mac ligou para a delegacia.

Jane saiu em disparada da garagem. Estava profun­damente abalada e precisava de um pouco de ar.

Mac tomou uma ducha e se vestiu rapidamente. Ele precisava chegar o mais rápido possível na dele­gacia e ainda tinha que falar com Jane, embora não estivesse muito disposto a passar mais tempo com ela naquela manhã. Onde estava com a cabeça? Quase haviam feito amor na garagem como um casal de adolescentes apaixonados com os hormônios à flor da pele.

Não era do seu feitio perder o controle daquela maneira. Ele costumava se orgulhar do seu discer­nimento e da sua disciplina. Já estava há muito tempo sozinho, repetia para si mesmo.

Mac achou que conseguiria lidar melhor com ela sob o mesmo teto. Afinal, teriam Lizzie como com­panhia. O pensamento de que precisava de compa­nhia por perto o deixou desconcertado. Para onde ti­nha ido toda a sua força de vontade?

Ele teve vontade de voar no pescoço da sua irmãzinha, ao pensar nas suas tramóias para aproximar os dois. Lizzie nunca havia passado tanto tempo fora de casa como então.

Lizzie não sabia que estava brincando com fogo. Mac j á havia se queimado uma vez e não era suficientemente estúpido para se jogar no meio das chamas novamente. A notícia de que a irmã passaria quase uma semana com Caitlin o deixou preocupado.

— Os bebês chegam quando bem entendem, Mac - havia explicado sua irmã. — Não posso fazer nada se esse decidiu chegar mais cedo. Você sabe que eu prometi a ela que estaria lá.

Ele sabia, mas não havia previsto passar tanto tem­po completamente sozinho com Jane. Não podia cul­par Lizzie, mas também não precisava gostar da idéia.

Havia prometido a si mesmo que manteria uma distância segura de Jane, embora não fosse nada fá­cil, já que passava parte do seu dia com ela por conta de seus deveres como xerife e as noites também, em sua casa. Não havia sentido em começar um relacio­namento com uma mulher que só estava ali temporariamente.

Ao vê-la pela manhã, porém, tão linda e radiante com suas roupas novas e as jóias que havia lhe dado, algo eclodira dentro dele. Uma urgência e uma possessividade incontroláveis. Ele só queria uma única coisa. Jane.

O que teria acontecido se o seu celular não tivesse tocado àquela hora? Sabia que a última coisa de que Jane precisava era de mais caos e incerteza. Mac nun­ca esqueceria aquele olhar magoado dela quando ele conseguiu recuperar o bom senso. Droga, ele também estava muito decepcionado, mas jamais conseguiria convencer Jane. A situação era delicada, mas tinha que encará-la e contar a ela as últimas notícias que havia recebido da equipe da delegacia.

— Jane — chamou ele, percorrendo todos os cô­modos da casa, sem resposta.

Mac deu um suspiro e continuou procurando. Cin­co minutos depois, estava em seu carro de patrulha. Seu coração batia loucamente em seu peito enquanto tentava imaginar onde ela poderia estar. Será que al­guém tinha vindo procurar por ela? Será que alguém lhe havia feito algum mal?

Não era do feitio dela sair assim tão abruptamente sem avisar. Mac saiu percorrendo todas as ruas de Winchester na esperança de encontrar aquela loira deslumbrante com um humor de cão.

Quando finalmente a encontrou, teve de se conter e aplacar seu próprio temperamento, permitindo a si mesmo um breve momento de alívio. Ela estava na rua principal da cidade, conversando, ou melhor, rin­do, com Lyle Brody, que estava de folga. Eles esta­vam em frente ao mercado e Lyle estava com uma sa­cola nos braços.

Mac estacionou o carro a alguns metros de distân­cia e ficou esperando. Como nenhum dos dois olhou na sua direção, contou até dez para se acalmar e então saiu do carro.

Ficou de pé, encostado no carro, com os braços cruzados e esperou.

Ele não sabia se Jane realmente não o tinha visto, ou se o estava apenas evitando. Depois de contar mais uma vez até dez, ele se aproximou, tentando pa­recer casual.

— Bom dia — disse ele a Lyle.

Ambos pareceram surpresos ao vê-lo, o que só au­mentou a sua irritação. O que havia de tão interessante naquela conversa a ponto de fazê-los esquecer do resto do mundo?

— Olá, xerife — disse Lyle, aprumando-se e tiran­do o sorriso do rosto. — Veja só quem encontrei, Jane eu estávamos...

—Estou aqui para tratar de assuntos oficiais. Pre­nso falar com Jane — interrompeu Mac.

—Com certeza. Vou guardar as minhas compras.

Lyle sorriu para Jane. — Foi bom vê-la nova­mente.

— O prazer foi meu, Lyle. Lembre-se do que lhe disse.

Lyle lançou um olhar para Mac, fazendo com que ele novamente se indagasse sobre o teor daquela con­versa.

— Pode deixar. A gente se vê.

Jane cruzou os braços e o olhou de forma belige­rante.

— Isso foi muito rude.

— Rude é sair de casa sem dizer aonde vai.

— Eu saí para dar uma volta, Mac. Só isso. Ne­nhum grande mistério.

Mac sabia que ela estava mentindo. Ambos tinham ficado perturbados com o que havia acontecido entre eles pela manhã, na garagem.

— Deixe um bilhete da próxima vez. Ainda sou responsável por você.

Jane balançou a cabeça.

— Ouça...

-— Tenho novidades sobre seu caso — disse ele, evitando o que certamente seria uma nova discussão. — Venha comigo.

— Novidades? A meu respeito?

Jane ergueu as sobrancelhas e seus olhos azuis bri­lharam de esperança. Mac estava torcendo para que ela fosse capaz de se lembrar de alguma coisa quando chegasse ao local do crime. Parte dele queria que Jane recuperasse a memória e deixasse Winchester, enquanto a outra sofria com a idéia da sua partida.

— Vamos — disse Mac, indo em direção ao seu carro de patrulha. — Eles estão esperando. Vou levar você para uma estrada fora da cidade.

— É aqui — disse Mac, estacionando o carro na margem do Lago Cascade. — Parece que chegamos bem na hora.

Jane olhou ao redor, com os nervos em frangalhos por conta de tudo o que havia acontecido naquela ma­nhã. Ela poderia estar prestes a obter uma pista da sua verdadeira identidade e, embora Mac a tivesse advertido para não criar muitas expectativas, não estava conseguindo conter a ansiedade.

— É lindo — disse ela, olhando para o lago. A água profunda e azul refletia o sol do Colorado. Ár­vores altas e floridas se alinhavam ao longo da mar­gem enquanto os últimos vestígios da neve do inver­no escorriam pelo glorioso Pico Pike, ao fundo.

— Este é um lugar histórico — explicou Mac. — Foi um dos primeiros assentamentos do Oeste.

O ruído de maquinaria pesada acabou com o encanto, fazendo com que ambos se voltassem na sua direção.

— Parece um Mustang vermelho.

Havia uma equipe de policiais locais em torno do carro que estava sendo içado do lago. Mac e Jane saí­ram do carro de patrulha.

—Tudo o que você precisa fazer é dar uma olhada. Ver se isto a lembra de algo. A possibilidade é remota, mas é o que temos, por enquanto. Encontramos outros dois carros por aqui sem nenhuma identifica­ção, registro ou placa, mas já conseguimos encontrar um dos proprietários.

— Os carros foram roubados?

— Sim. Temos uma idéia de quem possa estar fa­zendo isso, mas ainda não temos provas.

— Quer dizer que você acha que alguém pode ter roubado o carro que eu estava dirigindo?

Mac deu de ombros.

— É uma possibilidade. Vamos nos aproximar para vê-lo melhor.

Jane olhou longamente para o Mustang encharca­do e sujo e depois balançou a cabeça.

— Não me lembro de nada, Mac. Acho que nunca vi esse carro antes.

Pressionando levemente as suas costas, Mac propôs:

— Olhe lá dentro.

Jane o fez, mas não encontrou nenhum sinal que pudesse dar alguma pista. Ela balançou a cabeça no­vamente.

— Ainda resta a mala. Havia alguns ingredientes e uma receita na mala de um dos carros que encontramos. Foi assim que conseguimos localizar o proprietário. Eles vão dragar o carro e checar a mala na delegacia.

— Quando esses carros foram encontrados? — perguntou ela.

— Este mês. O pessoal da investigação acha que se trata de uma gangue de adolescentes arruaceiros. Mas vamos pegá-los. É só questão de tempo.

Jane olhou para o carro mais uma vez, sem ver nem sentir o que havia esperado.

— Não acredito que esse carro seja meu, Mac.

— É provável que não, mas só vamos ter certeza quando abrirmos a mala. Podemos descartar o outro carro que encontramos, já que apareceu por aqui bem antes de você chegar.

— E agora?

— Espere um instante. Tenho que falar com o sar­gento Meeker.

— Certo.

Jane olhou para o lago, respirando o ar puro e frio, desfrutando mais uma vez do belo cenário, tentando fazer com que aquela serenidade aliviasse sua tensão. Aquele lugar era especial. As flores selvagens nas cores azul, rosa, amarelo e roxo formavam um arranjo colorido em volta da água. Ela caminhou um pouco ao longo da margem, pensando que gostaria de voltar um dia, quando sua vida não estivesse tão tu­multuada. Jane?

Mac estava atrás dela, encarando-a com aqueles olhos escuros e expressivos.

— Quer caminhar um pouco?

Ela concordou.

Eles começaram a passear ao longo da margem, imersos em seus próprios pensamentos. Ao chegarem num grande agrupamento de pedras que os impediu de prosseguir, ele disse:

— Vamos sentar um pouco — disse Mac.

Eles encontraram uma pedra longa e chata e se sentaram um ao lado do outro.

— Tenho boas lembranças deste lugar — disse ele baixinho. — Costumava vir aqui para atirar pedras na água quando bem pequenininho. Foi aqui também que eu dei meu primeiro beijo, aos doze anos.

Jane riu.

— Doze? Que menino precoce!

— Eu me enrolei todo e quase caímos de cara no lago. Eu estava muito nervoso.

— Mas determinado.

— Sempre.

— Ela virou sua namorada depois disso?

— Imagina! Ela me deu o fora no dia seguinte disse Mac rindo. — Acho que não posso recriminá-la.

Jane ficou imaginando Mac ainda rapazote, com­prido e magricela, tentando impressionar a menina. Ele certamente havia aprimorado suas habilidades desde então. Jane o havia achado apaixonado, cari­nhoso e muito cuidadoso naquela manhã. Duvidava que algum homem fosse capaz de despertar seu dese­jo novamente daquela maneira.

Mac olhou-a nos olhos.

— Sobre esta manhã, Jane...

Ela ergueu uma mão.

— Não.

— Não quero pedir desculpas — disse ele rapida­mente — mas quero assumir a responsabilidade pelo que aconteceu. Eu devia ter me controlado. Aquilo foi bem mais do que um beijo inocente e nós dois sa­bemos onde acabaria.

Mac tinha razão. Se não fosse por aquele celular, elos teriam feito amor, bem ali, na prancha de exerci-nos e quem sabe onde mais, tamanha a intensidade do que estava acontecendo entre eles.

— Mas não pode acontecer, Jane. Você não conhe­ce sua verdadeira situação e, até que descubra...

— A vida nunca dá garantia de nada, Mac.

— Eu sei — disse ele com um longo e profundo suspiro. — Já me envolvi uma vez com uma mulher que não sabia ao certo quem era. Nós estaríamos nos enganando se achássemos que a sua vida, a sua ver­dadeira vida, não iria prevalecer sobre qualquer outra coisa que possamos vir a ter.

— Sei que diz a verdade, Mac, mas só tenho como saber o que sinto agora.

Mac deu um largo sorriso e o seu coração saltou novamente dentro do peito.

— Também sei o que estou sentindo.

— E o que é? — perguntou Jane com o coração batendo com força.

Ele hesitou por alguns segundos e então disse com toda sinceridade.

—Eu quero você.

Jane sentiu um calor subindo pelo seu corpo e pensou que, ao menos por enquanto, deveria se conformar com a declaração. Ela não iria pressioná-lo. Mas estava tentando ser racional e responsável.

— Já sei sobre a sua ex-esposa, Mac. Lizzie me contou.

Ele fez uma careta.

— Não fique zangado. Ela só quer sua felicidade.

— Ela é um porre.

Jane riu e o som ecoou contra a muralha de árvores ao redor do lago.

— Ela é um amor.

Mac lhe concedeu um meio sorriso.

— Também. — E então, depois de soltar longa­mente o ar, acrescentou: — Lizzie vai viajar no do­mingo. Eu não tinha planejado isso quando a convi­dei para a nossa casa. Se você não quiser ficar sozi­nha comigo...

— Você quer que eu vá embora? — perguntou Jane, direta e objetiva. Ela não queria abusar da hos­pitalidade de Mac. Se ele achava que a sua partida poderia facilitar as coisas, talvez realmente devesse ir embora.

— Não — afirmou Mac imediatamente. — Só es­tava perguntando por sua causa, não pela minha.

— Posso passar mais tempo fora de casa, se for deixá-lo mais à vontade. Lizzie me ajudou a conse­guir um trabalho no Touched with Love. Eu vou tra­balhar como voluntária na livraria todos os dias. — Jane tinha acabado de fechar o acordo. Ela mal podia esperar para começar. — Rory me assegurou que o trabalho não vai interferir na investigação. Vou poder estar disponível sempre que você precisar.

—Lizzie conseguiu isso para você?

Ela concordou com um gesto.

— Sim, ela é muito próxima de Rory Holcomb. Parece que os seus netos foram alunos dela. Além ti isso, a livraria fica perto de casa. Posso ir e voltar a pé.

Mac hesitou.

— Não tão perto assim, Jane. Acho melhor você não trabalhar à noite.

— Quer dizer que você me quer de noite em casa. Sozinha, com você?

Mac apertou os lábios e então balançou a cabeça com resignação.

— Está bem, me convenceu. Mas irei apanhá-la quando trabalhar à noite.

— Combinado. Mal posso esperar para começar disse Jane com um suspiro de felicidade. — É a única coisa positiva que tenho em vista.

— Foi para lá que você foi esta manhã?

— Sim. Tinha ouvido dizer que a livraria era muito charmosa. Queria conhecer Rory pessoalmente.

—Mas esqueceu de me avisar. Você me deixou louco de preocupação.

Jane virou o rosto para olhá-lo nos olhos.

—Você ficou preocupado?

Mac cocou a cabeça e se ergueu abruptamente, negando-se a responder.

— Tenho que voltar ao trabalho.

Jane caminhou com ele até o carro, debatendo com os seus próprios pensamentos. Ela havia achado que Mac ficara com raiva por ela ter saído sem a sua per­missão. Não tinha pensado que ele poderia ter ficado preocupado. Ele parecia se importar mais com ela do que ela havia percebido.

Os acontecimentos da manhã haviam lhe dado a certeza de que Mac a queria, mas Jane tinha achado que se tratava de uma questão puramente sexual. Ela não tinha aventurado a hipótese de ele realmente gos­tar dela da maneira íntima e pessoal com que um ho­mem gosta de uma mulher.

Jane apressou o passo e chegou ao carro antes de Mac. Entrou, bateu a porta e ficou olhando para fren­te. Ela estava com muito medo de acreditar que Mac realmente gostava dela, mas seu coração estava em chamas com idéia.

A coisa mais prudente a fazer, no momento, era manter-se distante. O trabalho na livraria a manteria afastada de Mac durante boa parte do dia.

Não era só ele que poderia sair machucado daque­la brincadeira.

No estado vulnerável em que estava, Jane certa­mente se quebraria em mil pedaços se algo imprevis­to acontecesse.

 

Na manhã seguinte, Jane entrou na Touched with a loja de livros usados de Rory, e se sentiu imensamente à vontade. Aspirou o odor almiscarado das páginas amareladas dos volumes, já tantas vezes viradas por mãos amorosas e o cheiro do couro, dispostos em semicírculo num dos cantos da loja. A "caverna da leitura" como Rory cari­nhosamente a chamava, era um lugar onde crianças e idosos se reuniam para ler. As tardes eram dedicadas às crianças que se amontoavam nos sofás para ouvir Rory ler seus contos prediletos. À noite havia um grupo formado pelas mulheres de Winchester, um grupo de estudos de História e um grupo eclético que pesquisava a paranormalidade.

Jane teve a nítida sensação de que combinava com aquele lugar. Nem mesmo as canções country que tocavam o dia inteiro na livraria poderiam abalar tranqüilidade. Ela acabou aprendendo a gostar de Toby & Marli na, Kenny & Shania, e Georges & Tim. Não ha­via lido escolha morando com os Riggs. Aquele rit­mo cadenciado e os cantores de voz anasalada haviam invadido a sua alma. Ela se flagrava freqüentemente marcando o ritmo das músicas com o pé.

No início, havia ficado um pouco atônita ao per­correr as estações e ouvir a sua própria descrição, mas acabou se acostumando. "A jovem loira de olhos azuis, vítima de amnésia, encontrada na fronteira da nossa cidade. Se alguém tiver alguma informação a respeito da Jane Doe de Winchester, favor entrar em contato com Mac Riggs, o xerife do Município de Winchester."

— Bom dia — disse Rory. Você chegou cedo.

— Olá, Rory. Eu estava ansiosa para começar.

— Só vamos abrir oficialmente daqui a uma hora. Eu ia tomar um café e comer uma rosquinha que a Marieta acabou de assar. Você me acompanha?

— Adoraria.

Duas xícaras de café e uma rosquinha depois, Jane começou a trabalhar. Ela organizou a pilha de livros de suspense, arrumando-os em ordem alfabética, não sem antes ler as informações das capas e dar uma olhada nas primeiras páginas de cada um. Aquele universo todo lhe parecia muito familiar, mas ela não tinha nenhuma lembrança ou pista do motivo.

O dia passou voando. Depois do almoço, Rory procedeu à hora da leitura das crianças e a apresentou como sua nova companheira. Ele havia agrupado as crianças em pares, de modo que uma pudesse ajudar a outra com as palavras mais difíceis. Algumas ve­zes, Jane lia uma história para as crianças, noutras, eram elas que liam para ela.

— Você não está com fome?

— Um pouco — respondeu Jane automatica­mente, com os olhos grudados num livro de suspense que ainda não havia guardado na prateleira.

Jane ergueu a cabeça e encontrou Mac ao seu lado, observando-a com interesse.

— Oh, olá — disse ela de maneira pouco convin­cente, desconcertada com sua presença. Aquele cheiro de loção pós-barba misturada com a própria essência de Mac permaneceram com ela mesmo depois que ele se afastou. — O que está fazendo aqui?

— Já são quase oito horas. Rory já foi há muito tempo. Jimmy está se preparando para fechar.

— Oh — disse Jane, lembrando-se de que já havia se despedido de Rory fazia algum tempo. — Perdi a noção da hora.

Mac pegou o livro de suas mãos para olhar o título.

— Bom?

— Não consegui largá-lo.

— Estou morrendo de fome — disse ele. — Va­mos comer alguma coisa.

Surpresa, Jane o seguiu até a caixa registradora.

— Você ainda não comeu?

— Não — disse ele, pagando pelo livro que ela estava lendo e entregando-o a ela com um sorriso.

— Por que não? — perguntou Jane.

Ele deu de ombros enquanto caminhava para a porta da frente.

— Cheguei em casa tarde. Como você não estava, resolvi passar aqui para pegá-la.

Jane finalmente olhou para o livro em suas mãos. Aconselhou a si mesma a não supervalorizar as pe­quenas gentilezas de Mac, mas aqueles gestos vindos de um xerife determinado e obstinado faziam a sua cabeça girar.

Ela concluiu que Mac havia se sentido obrigado a pegá-la na livraria por causa do avançado da hora. Odiava ser uma complicação na vida dele, mas acre­ditava que havia algo além em jogo. Ela tinha gosta­do muito do seu dia na livraria, mas nada se compara­va a estar com ele.

— Vou preparar o jantar quando voltarmos para... casa.

— Não precisa. Vamos comer fora. No melhor lu­gar da cidade.

Jane olhou para suas roupas.

Ela sabia que passaria o dia na livraria, abaixando-se o tempo todo para pegar os livros do chão, sem ninguém para ajudar, por isso havia vestido apenas uma calça jeans e uma blusa simples.

— Acha que devo passar em casa para me trocar?

Mac sorriu e pousou uma mão em sua cintura, in­sistindo para que ela seguisse com ele para o carro.

— De jeito nenhum. Sua roupa está perfeita.

— Pois ainda digo que você é muito fresca, Jane. Ela estava sentada na parte de trás do jipe de Mac,no estacionamento do Colorado Chuck, balançando os pés e comendo um Aspenburguer com picles e tomate. Mac havia optado por um Pike's Peak, um hambúrguer gigantesco com chili, queijo, cebolas e sabia Deus mais o quê. Definitivamente perigoso.

— Não sou fresca, sou é esperta. Espero que você tenha um bom antiácido em casa.

— Tenho um estômago de aço — disse ele, dando uma enorme mordida no sanduíche.

Não só o estômago, pensou Jane, Ela já o tinha visto sem camisa e lembrava muito bem do seu peito musculoso e do seu abdômen tonificado.

— Você vai precisar contar mesmo com isso. Se o hambúrguer não o matar, as batatas fritas certamente o farão.

— Ah, mas seria uma morte gloriosa — retrucou ele, abocanhando uma delas com gosto.

Jane sorriu, beliscando sua comida enquanto Mac devorava a dele.

— Você sabe mesmo como tratar uma dama —provocou ela.

— Você ainda não viu nada — replicou ele, deixando claro que não havia ficado ofendido. — É uma parva. Você não sabe o que está perdendo.

— Quem sabe na próxima, quero dizer, se voltar­mos aqui, algum dia.

Mac se deteve com o sanduíche a meio caminho de sua boca e olhou para ela diretamente. Eles mantiveram os olhares um no outro por um longo momento. Ele suspirou profundamente. Jane engoliu em seco e deu uma mordida em seu sanduíche.

— Você sabe quantas cidadezinhas e aldeias exis­tem na Itália? — disse Mac, terminando de comer e amassando o seu guardanapo. — Centenas.

— Uau! — disse Jane, feliz por ele ter mudado de assunto. Ela não queria pensar em deixar Winchester, ou Mac, tão cedo, mas estava ansiosa por recuperar a memória e descobrir a seu respeito.

— Quer dizer então que não tivemos sorte com o querido sapateiro da cidadezinha italiana?

— É, mas não vamos desistir. Acha que consegui­ria se lembrar do nome dele?

Jane terminou o seu hambúrguer, deixando as ba­tatas fritas intocadas e arrematou com um milk-shake de morango.

— Não. Sinto muito. Pensei nisso o dia inteiro. Cheguei até a sonhar com saltos agulha e couro preto, mas nada me veio à cabeça.

Mac quase engasgou com o seu milk-shake.

— Nossa, Jane. Acho que agora quem vai sonhar com saltos agulha e couro preto esta noite sou eu.

Jane ameaçou bater em seu braço, mas o calor do seu olhar a deteve. Ele não estava brincando. O dese­jo que ardia naqueles olhos escuros aqueceu o corpo de Jane rapidamente.

Bastou um único olhar apaixonado do xerife para acabar com toda a calma e moderação de Jane.

A lembrança da sensação dos lábios dele sobre os seus, das suas mãos acariciando-a e do seu corpo so­bre o dela naquela prancha de exercícios na véspera invadiu a sua mente, causando uma pontada de dor cm seu coração. Ela pegou as caixas de papelão em que viera a comida e seguiu direto para o cesto de lixo a fim de jogá-las fora. Ao voltar, viu Mac con­versando com uma mulher. Uma bela jovem com um corpo cheio de curvas e uma mão possessiva sobre o seu braço. Ela não havia perdido tempo em se aproxi­mar de Mac assim que Jane se afastara.

— Olá, sou Jane — disse ela estendendo a mão.

A mulher pegou a sua mão e a cumprimentou com um olhar curioso.

— Prazer, Lola. Sou uma... amiga de Mac. Jane sorriu.

— Então somos duas.

Mac observou-as em silêncio.

— Mac e eu nos conhecemos há muito tempo —disse Lola, sorrindo para ele. — Não é verdade, xerife?

Ele deu de ombros, terminando o seu milk-shake.

— Acho que sim. Nascemos e nos criamos aqui em Winchester.

— Vocês foram namoradinhos de escola? —perguntou Jane, embora não estivesse gostando nada daquela conversa. Estava com ciúmes, mas não queria ser um peso para Mac e impedir que ele tivesse uma vida social. A mulher riu.

— Mais ou menos, não é, Mac? — disse ela inclinando a cabeça para que seus longos e brilhantes cabelos caíssem sobre seus ombros.

— Isso já faz muito tempo, Lola. — Mac deu um passo para trás e abriu a porta do seu carro.

— Bem, não queria interromper — disse a mulher, olhando para ele com olhos brilhantes e interessados.

Jane conhecia aquele olhar. As mulheres sempre sa­bem quando uma delas está flertando com um homem, mesmo que ele seja tonto demais para perceber.

— Foi bom vê-lo novamente, Mac. Não suma.

Mac fez um meneio de cabeça e entrou no carro.

— Cuide-se, Lola.

Jane sentou-se sem falar mais nada e fechou os olhos, atônita com o próprio comportamento rude.

— Estou atrapalhando sua vida social.

Mac conduziu o carro para fora do estacionamento do Colorado Chuck. Ambos permaneceram em silên­cio até a entrada de casa. Jane fez menção de sair do carro, mas ele a interrompeu.

— Jane.

Ela se virou para ele com os olhos cheios d' água. Ela não sabia dizer ao certo o que estava sentindo, mas ti­nha certeza de que não queria que Lola, nem nenhuma outra mulher se aproximasse de Mac daquela maneira. Jane não tinha nenhum direito sobre ele. Ele era livre e desimpedido para sair com quem bem entendesse, ex­ceto com ela. Isso já havia ficado bem claro, mas a apa­rição dele na livraria havia acabado com todo e qual­quer bom senso da parte de Jane.

— Mac, não tente me convencer de que minha es­tada aqui não mudou a sua vida.

— Droga, Jane. Você não está me impedindo de nada.

— Você só está sendo delicado — falou ela suave­mente.

Mac saiu tempestuosamente do carro, batendo a porta.

— Não sou delicado — disse ele, pronunciando as palavras de maneira mecânica.

Jane também saiu do carro e subiu com ele as esca­das até a porta da frente.

— Está bem, você não é delicado. Nunca achei realmente que fosse. Sente-se melhor agora? — per­guntou ela, sorrindo.

Mac se deteve, apertando os lábios e piscando.

— Verdade?

Ela balançou a cabeça com tanta força que o seu cabelo chicoteou a sua bochecha.

Mac passou a mão lentamente pelo rosto. Ela te­meu que ele estivesse profundamente contrariado, mas assim que pôde ver novamente seu rosto, percebeu que os cantos de sua boca haviam se erguido e que ele estava rindo.

— O que vou fazer com você?

Ela riu junto com ele, feliz por ter melhorado o seu humor. Num impulso, depositou um beijo em sua bochecha.

— Converse comigo.

Mac ergueu a sobrancelha.

— Sobre quê?

— Sobre Lola e sobre eu não estar interferindo na sua vida.

Ela o ultrapassou e se plantou na sua frente, impe­dindo sua passagem.

Mac olhou-a nos olhos por um momento para en­tão baixar o seu olhar até os braços que ela havia cru­zado sobre o peito. Ela continuou firme, não queren­do se deixar intimidar, apesar da intensidade e do ca­lor do olhar de Mac. Ele foi até a janela e fitou a es­curidão da noite.

— Lola e eu somos apenas amigos, Jane. Saímos algumas vezes, depois do meu divórcio, mas não pas­sou disso.

— Ela não é casada?

Mac virou-se para ela.

— Não, ela enlouqueceria qualquer um, mas se você contar a alguém que eu disse isso, eu negarei até a morte.

Jane riu com gosto, satisfeita por Mac não achar a morena irresistível.

— Por quê?

— Não importa. Já falei demais.

— E as outras mulheres, Mac? Você não está sain­do com ninguém. Não tem namorada. Acho difícil de acreditar, já que é tão...

— Tão difícil de lidar? — finalizou ele, antes que ela pudesse concluir a frase.—Turrão, talvez? Ex­cessivamente dedicado ao meu trabalho? Assinale a resposta certa.

— Eu ia dizer atraente.

Mac sentou-se no lado oposto do sofá e olhou para ela com um brilho em seus olhos.

— Agora é você quem está sendo delicada. A ver­dade é que saio ocasionalmente com algumas mulheres, mas não dá em nada. Não estou em busca de nada permanente. Não quero mais saber de casamento.

Que desperdício, pensou Jane. Mac tinha qualida­des demais para desistir de compartilhar a sua vida com alguém.

— É uma pena — disse ela em voz alta.

— Estou satisfeito com minha vida, Jane. Por que to­das as mulheres à minha volta sentem tanta necessidade de me convencer a fazer o que não quero? Você acha que está atrapalhando a minha vida social, mas a verda­de é que eu não tenho uma, portanto chega.

— Quer dizer que você realmente não queria ficar com Lola hoje à noite?

— Estou aqui com você, não estou?

Jane se deu por vencida.

— Bem, acho que já tenho a resposta. Pode me di­zer qual a escola de charme que o senhor freqüentou, Mac Riggs?

— O quê?

Ela se levantou e sorriu para ele.

— Nada não, Mac. Acho que já está na hora de ir para cama.

Ela foi até ele para dar boa-noite, mais encantada do que devia. Mac havia sido honesto com ela. Havia compartilhado uma parte da sua vida com ela. Havia tentado se explicar para ela, da melhor maneira pos­sível.

— Não se preocupe com nada além de recuperar a memória — disse ele, tocando a ponta de seu nariz.

Dessa vez foi ela quem o beijou em cheio nos lá­bios, surpreendendo a si mesma e a Mac. Ele murmu­rou alguma coisa, mas não se afastou. Em vez disso, passou seus braços em torno dela, sem apertá-la, dei­xando que ela se mantivesse no comando.

Jane soube que estava em apuros assim que seus lábios voltaram a encontrar os dele. Como tinha dese­jado sentir novamente aqueles lábios aquecendo os dela e o calor do corpo dele contra o seu!

— É verdade, você não é delicado. É bem mais. Ela abriu os lábios e suas línguas se encontraram. Mac apertou-a com mais força contra o seu corpo, de modo que ela pudesse sentir o seu coração batendo em sincronia com o dela.

— Às vezes você me surpreende, Jane — sussur­rou ele contra a sua boca.

— Eu surpreendo a mim mesma — sussurrou ela de volta.

Lizzie irrompeu no recinto bem na hora em que seus lábios voltaram a se tocar, detendo-se assim que os viu.

— Oh, sinto muito!

Jane afastou-se imediatamente dele. O rubor colo­ria suas faces.

Lizzie estava radiante.

— Para falar a verdade, não sinto muito. Já estava mais do que na hora!

— Lizzie! — exclamou Mac, repreendendo-a. —Precisamos ter uma conversinha.

— Agora não, querido irmão. Estou toda enrolada. Vou amanhã bem cedinho para Raleigh.

— Muito bem, então conversaremos a caminho do aeroporto. A que horas sai o vôo?

Lizzie atirou um sorriso cúmplice para Jane.

— Já tenho carona para o aeroporto, Mac. Jane arranjou tudo.

Mac ficou curioso.

— Como assim?

Ela sorriu de volta para Lizzie, ignorando o olhar intenso de Mac.

— Jane? — insistiu Mac, indo até ela para olhá-la de frente. — O que você fez?

— Nada de mais — disse ela tentando diminuir a importância do fato.

Já impaciente com as evasivas, ele voltou-se nova­mente para a irmã.

— Quem vai levá-la ao aeroporto?

— Com um o queixo erguido, Lizzie pronunciou o nome que poderia deixar Mac furioso. Lyle Brody.

Alguns dias já haviam se passado. Jane estava guardando os últimos livros infantis na prateleira. Jimmy estava às voltas com a caixa registradora.

— Acabei — disse ele.

Jane gostava muito dele. Ele fazia muito sucesso com as garotas, mas era sempre muito educado e tra­balhava com afinco.

— Seu avô o adorava.

— Eu também.

Ambos seguiram para a porta da frente.

— Tem certeza de que não quer uma carona?

— Tenho. Obrigada. O xerife Riggs vem me pegar — disse Jane olhando para a rua escura à procura do jipe de Mac ou de seu carro de patrulha. Ela estra­nhou que ele não estivesse esperando por ela. Mac nunca se atrasava. — Pode ir tranqüilo, Jimmy. Eu estou bem.

Jimmy franziu as sobrancelhas e balançou a cabe­ça, mas Jane finalmente o convenceu a ir. Ela ainda esperou uns cinco minutos por Mac, mas ao ver que ele não chegava, decidiu seguir a pé para casa. O dia havia finalmente refrescado e ela tinha muito no que pensar enquanto andava.

Mac estava dando um gelo nela desde a noite ante­rior. Ele não tinha gostado nada da sua interferência na vida de Lizzie. Ela nunca esqueceria o olhar que ele lhe deu depois que Lizzie foi embora.

— Isto não é da sua conta, Jane — disse ele seve­ramente. — Você não sabe nada dessa história — acrescentou ele. — Você não tem o direito de se me­ter na minha vida.

Ela tentou se defender, mas Mac não quis ouvir mais nada.

Mac nunca a havia feito sentir como uma intrusa, mas depois dos últimos acontecimentos, ela concluiu que ele estava querendo que ela fosse embora. Talvez devesse considerar o convite do dr. Quarles; afi­nal, não havia como prever quanto tempo ela ainda demoraria para recuperar a sua memória.

Jane não havia se lembrado de mais nada depois do episódio das botas. O investimento feito na mídia também não dera nenhum resultado. Houve um rapaz que apareceu dizendo que era seu noivo, mas as investigações constataram que ele não tinha nenhum envolvimento com ela e que tinha iniciado três relacionamentos pela Internet, sem muito sucesso, atra­vés de uma agência especializada. Jane teve pena dele, mas ficou aliviada por descobrir que não era sua amiga. O único homem com quem ela queria realmente já estava atrasado. Ao dobrar a esquina da Elkwod, ela ouviu o ronco familiar de um motor.

Mac diminuiu a velocidade e se aproximou dela. Baixou o vidro e o sorriso preparado no rosto de Jane desapareceu imediatamente.

— Entre no carro, Jane — foi tudo o que ele disse, com a cara fechada.

Jane entrou rapidamente. Percebendo algo errado, ela voltou-se imediatamente para ele. — Seu rosto estava sangrando e machucado e ele estava com uma mão sobre o peito. Jane tremeu de medo.

— Mac, você está ferido.

Ele seguiu conduzindo o carro, fazendo uma care­ta de dor.

— Alguns idiotas tentaram roubar o Sullly. Tive que entrar lá e dar um jeito neles.

Jane ficou atordoada. Ela só conseguia pensar na extensão dos ferimentos de Mac. Ele não tirou a mão do peito em nenhum momento. O sangue escorria do corte em seu rosto.

— Onde eles o atingiram?

— Acho que trinquei umas costelas e levei alguns cortes e arranhões, só isso.

— Só? — Jane ficou aflita ao ver que ele estava sentindo dor. — Você precisa ir para o hospital, Mac.

— De jeito nenhum. Estou bem.

— Você não parece nada bem — disse ela elevando o tom de voz. — Parece que foi atropelado por um caminhão.

— Puxa, muito obrigado.

— Não estou brincando, Mac. Quantos eram? Que tipo de loja tem o Sully, afinal?

— Uns seis. Um bar e restaurante — respondeu ele rapidamente.

Jane teve medo de que ele tivesse quebrado as costelas e não apenas trincado.

— E vocês estavam em quantos?

— Apenas dois até conseguirmos reforço.

O coração de Jane disparou. Ela nunca havia parado para pensar no quanto a profissão de Mac era perigosa. Winchester era uma cidade pequena e pacata. Vê-lo sofrer assim, porém, mal conseguindo dirigir, mostrou a ela a exata dimensão do trabalho de Mac. Como qualquer outro homem a serviço da lei, ele punha a sua vida em risco diariamente. Jane notou que a manga da sua camisa estava enrolada.

— Parece que você fez um curativo no braço. O que aconteceu?

— É só um corte.

— Um corte? Alguém atacou você com uma faca? Ele concordou com um gesto.

— Assalto à mão armada. Os paramédicos já cuidaram disso.

Jane ficou ainda mais ansiosa. Mac poderia ter sido morto esta noite. Aquele pensamento quase acabou com ela. Seus sentimentos por Mac estavam se revelando bem mais profundos do que havia imaginava.

— Por que não o levaram para o hospital?

Mac deu de ombros enquanto chegavam em casa. Ela então que ela compreendeu. Os paramédicos o teriam levado ao hospital se ele tivesse permitido. Em vez disso, porém, ele havia decidido passar com o carro de patrulha pela Elkwood Street e apanhá-la. Ele desligou o motor e saiu do carro. Jane saiu rapidamente para ajudá-lo.

— Apóie-se em mim, -— disse ela com firmeza, segurando seu peso.

Ele apertou os lábios, pensativo, e então finalmen­te assentiu ao ver o olhar obstinado de Jane.

Eles seguiram lentamente até a porta da frente Mac lhe estendeu as chaves e se virou de lado para que conseguissem passar juntos pela abertura da porta. Jane levou-o até o seu quarto e o ajudou a se sentar na cama. Ele se deteve por um momento, respirando profundamente.

— Sua cabeça está rodando? — perguntou ela.

Ele riu ironicamente.

— E como. Eu tinha sonhado com diversas maneiras de trazê-la para o meu quarto, mas esta, com certeza, não foi uma delas.

Jane sorriu, deleitada com a sua confissão.

— Deite-se, xerife Riggs.

Ele obedeceu, fechando os olhos ao baixar a cabeça e esticar as longas pernas sobre a cama. Jane colocou um travesseiro para apoiar as suas costas e depois se ergueu, olhando para ele.

— Esta também não é exatamente a maneira com sonhei em entrar aqui.

Ele abriu um dos olhos e olhou para ela. Jane não tentou nenhum subterfúgio para amenizar o que haviam acabado de dizer. Ela não deixaria que o embaraço tomasse conta dela; afinal, a verdade precisava ser dita.

— Fique bem quietinho aí. Sua testa está sangrando novamente. Volto já.

Ela saiu do quarto, ao som do gemido de Mac. Porém, não pela dor, mas sim por causa do seu comentário. Ao menos finalmente Mac sabia como ela se sentia em relação a ele. Nada mais de duplos sentidos ou enganos. Jane o desejava, era verdade, mas, ao vê-lo, tão vulnerável, havia percebido que o seu senti­mento por ele era ainda mais profundo. Perdê-lo seria como perder a si mesma.

Jane Doe estava completamente apaixonada pelo xerife Mac Riggs.

Ela precisou de um minuto para botar seus senti­mentos em ordem e aceitar o inevitável.

Soltando um profundo suspiro, Jane pegou a caixa do primeiros-socorros no banheiro e voltou para o quarto de Mac. Ele estava deitado exatamente como ela o havia deixado, encarando-a com os olhos arre­galados.

Ela foi até ele e, muito cuidadosamente, limpou o corte acima do seu olho com um anti-séptico.

— Desculpe, isto deve arder.

Ele grunhiu uma negativa.

— Acho que você pode ter quebrado as costelas.

— Não. Já quebrei uma costela na época em que era o atacante do Wildcats. Conheço a diferença. Jane sabia que ele deveria estar desconfortável.

— Você consegue tirar suas roupas ou precisa de ajuda?

Mac deu um sorriso maroto.

— Você tira.

Jane bufou.

— Isto não é nada engraçado, Mac! Você me deixou morta de medo! Não foi nada excitante ver você todo machucado e sangrando, caído sobre o volante. Quase tive um ataque do coração.

— Desculpe, Jane. — Ele pegou a sua mão e aca­riciou a sua palma com o polegar, deixando-a com­pletamente arrepiada. — Winchester é uma cidade pacata. Não há muitos acontecimentos deste tipo por aqui. — Ele então se encolheu, apertando os olhos com força e ela pôde perceber o esforço que ele esta­va fazendo para suportar a dor. — Junho, porém, foi um mês atípico. Primeiro uma linda vítima de amné­sia surge do nada e depois um bando de arruaceiros resolveu criar problemas.

— Não se esqueça das gangues que jogam carros no fundo do lago.

— É verdade. Mas o meu trabalho é bastante cor­riqueiro na maioria das vezes. Você não tinha dito al­guma coisa sobre tirar a minha roupa?

— Tirando vantagem da situação, xerife? — disse ela sorrindo.

— Só preciso de um pouco de cuidado e carinho, Jane. — Ele roçou os seus lábios na palma da mão de Jane e com a voz um pouco mais baixa, acrescentou. — Do seu cuidado e do seu carinho.

Aquele beijo tirou Jane do prumo.

Os lábios dele se infiltraram na sua pele. Relutan­temente, ela puxou a mão para começar a abrir os bo­tões da camisa do seu uniforme. Ela abriu um a um, cuidadosamente, e então, gentilmente, fez com que a camisa deslizasse pelos seus ombros. Jane teve de conter sua própria reação ao ver de perto os ferimen­tos no seu peito e o curativo em seu braço.Jane mergulhou uma toalhinha numa bacia d'água e passou sobre a sua pele quente, acariciando delicadamente o peito. Num impulso, ela se curvou e depositou um minúsculo beijo num dos machucados mais extensos. Mac ergueu o braço sadio e acariciou a sua cabeça, afundando os dedos em seu cabelo. Puxou então a cabeça dela mais para cima e a curvou para frente, mostrando a Jane o que queria. Seus lábios se encontraram rapidamente. Um beijo suave, mas que fez o seu coração dar cambalhotas dentro do peito.

Mac sorriu.

— Você é muito boa nisso.

Jane se afastou e foi até a outra ponta da cama. Olho desencorajada para as botas dele e então, deci­dida, puxou e torceu o calçado, até conseguir tirá-la com meia e tudo.

— Nem tão boa assim — disse ela.

— Não estou reclamando.

A outra bota saiu com mais facilidade. Jane voltou então à cabeceira, e contemplou Mac por um tempo, ele, com o peito nu, vulnerável e sexy ao mesmo tempo.

— Acha que consegue tirar as calças sozinho? —perguntou ela, contendo a respiração.

Mac tentou se curvar para frente, mas se retraiu, soltando um uivo de dor. Ele pousou a cabeça no travesseiro.

— Acho que não.

— Se é assim... — disse Jane, estendendo a mão para alcançar o seu cinto. Ela o desafivelou e então levou suas mãos até o zíper. Era impossível não per­ceber os sinais evidentes da excitação de Mac. — Mac, eu pensei que você estivesse ferido.

Ele respondeu com um sorriso diabólico.

— Não da cintura para baixo.

Jane se preparou para recomeçar. Ele completou:

— Não me responsabilizo pelos meus atos se você tocar aí.

Jane engoliu em seco.

— Isso é um aviso ou um convite?

— Ambos — disse Mac. O brilho provocador em seus olhos havia desaparecido. Em seu lugar havia um calor que aqueceu todo o corpo dela. — É loucura continuar negando aquilo que nós dois queremos.

Mac também parecia ter aberto mão de todos os seus subterfúgios.

— Eu sei — sussurrou ela.

Jane sabia que nunca mais negaria coisa alguma a Mac.

E abriu o zíper.

 

Mac tinha ficado furioso com ela por conta do arran­jo que ela havia feito com Lizzie. Ele não queria que ninguém, principalmente ela, interferisse na seu relacionamento com a irmã. Jane havia acabado de chegar a Wini hoster e não conhecia sua história. Não sabia como ele havia sofrido tentando salvar seu casamento. Não sabia o quanto Lyle Brody havia interferido em sua vida, tentando interceder pela irmã, causando ainda mais conflitos entre eles.

Ao se ver ferido, porém, depois de atingido por um bandido no episódio no restaurante de Sully, depois que a lamina da faca quase ter acertado o seu peito, perfurando finalmente seu braço e não na sua barriga como queria seu agressor, tudo no que ele conse­guira pensar foi em Jane.

Queria chegar até ela. Vê-la.Desejá-la.

Mac já havia perdido tempo demais. O perigo pelo qual havia passado o fez perdoá-la sem restrições.Ele esqueceu a raiva e só conseguiu pensar em ficar bem.

Jane abriu o seu zíper lentamente, revelando aos poucos a evidência indisfarçável dos sentimentos de Mac. Seu desejo e excitação eram intensos, e só Jane poderia satisfazê-los.

Ele a observou tirar suas calças sem muita dificul­dade. Jane segurou-as de maneira protetora contra o próprio peito, olhando provocantemente para ele.

— Como gostaria de poder tirar sua roupa — con­fessou ele com voz suave.

Jane sorriu. Seus lábios se afastaram num movi­mento sutil. Ela deixou as calças de Mac caírem a seus pés e tirou a sua camiseta regata.

Mac respirou fundo.

— Uau — murmurou ele, olhando para o colar ani­nhado entre os seus seios que absorvia a luz da lua. Ela usava a jóia que ele havia lhe dado todos os dias e isto provocava nele um misto de orgulho e posse.

Ela se curvou sobre ele e disse:

— Você pode abrir o colchete para mim.

Mac passou a mãos por trás dela para abrir o sutiã. A peça de algodão branco caiu por entre os seus de­dos. Os seios saltaram para fora, cheios e fartos, e ele gemeu.

— Você está me matando, Jane.

— Não era bem que eu tinha em mente, Mac. Ela então se curvou novamente para beijá-lo, mas dessa vez ele a enlaçou pela cintura e a puxou para a cama, fazendo-a montar em suas coxas, com uma perna de cada lado dele. Ele queria senti-la. Precisava do contato da sua pele com a dele, por isso puxou-a para bai­xo até que seios pousassem sobre seu peito.

Os lábios dele encontraram os dela com urgência, selando o destino deles num beijo longo, quente e molhado que se prolongou indefinidamente. Ele se insinuou por dentro da boca de Jane em busca de intimidade. Suas línguas se entrelaçaram, provocando-'.c mutuamente numa brincadeira febril. Mac acariciou os seus cabelos loiros.

A sensação dos seios dela contra o seu peito, os sons suaves e sutis que ela fazia e a desinibida paixão com que ela se entregava era quase demais para Mac. Ele já estava no estágio máximo de sua excitação.

Ela se afastou dele lentamente, com a respiração l Ao ofegante quanto a dele.

— Estou pressionando o seu peito. Deve estar doendo.

Mac balançou a cabeça.

— Só dói quando você se afasta.

Jane mordeu o lábio, insegura.

— Estou falando sério, minha querida. Você não está me machucando.

Jane voltou para perto dele e Mac percebeu que não havia nada melhor, nem mais certo em toda a sua vida, do que aquilo.

Ele a beijou profundamente e então a ergueu com naturalidade pela cintura, trazendo-a mais para cima de modo que pudesse umedecer o bico do seu seio com a língua.

— Oh, Mac -— gemeu ela quando ele tomou o seu seio na mão e continuou a brincar com a sua língua por cima e ao redor de seus mamilos rosados até eles se enrijecerem.

Os gemidos de Jane quase o fizeram perder o con­trole.

— Quero possuir você. Agora — disse ele arfando, com a voz sôfrega de desejo.

Um pouco atrapalhado, ele tentou abrir o zíper da calça dela. Jane o ajudou e ele quase perdeu o contro­le novamente quando a viu livrar-se do jeans. Ela en­tão o ajudou a tirar a cueca e, com uma leve torção de corpo, tirou a última peça que cobria seu próprio cor­po.

— Procure no criado-mudo, querida. Precisamos de proteção.

Mac rezou para que ainda houvesse uma camisi­nha lá, afinal, já fazia tanto tempo... Mac suspirou ao vê-la com uma camisinha na mão, ajeitando-a rapida­mente no devido lugar.

Ele a segurou pela cintura e guiou o seu corpo, até posicioná-la sobre a sua ereção latejante e fazê-la descer, engolindo-o por completo num único e fluido movimento.

Jane fechou os olhos ao senti-lo dentro de si, abriu seus lábios e jogou a cabeça para trás, saboreando in­tensamente o momento. Mac nunca havia visto algo tão bonito em toda a sua vida. Ele foi invadido por sensações profundas que até então desconhecia ao ver aquela mulher sensual e misteriosa mover-se lentamente sobre ele, deixando que seus instintos naturais a guiassem, para cima e para baixo, em resposta as suas investidas.

Jane começou a arfar e Mac passou a se mover cada vez mais vigorosamente à medida que a excitação de ambos aumentava.

Ele acariciou os seios dela, roçando o polegar nas auréolas até ela gritar o nome dele em puro deleite. O olhar intenso no rosto de Jane enquanto ela o caval­gava provocou uma nova onda de intenso prazer em Mac. Para cima e para baixo, cada vez mais rápido. Ele tomou as mãos de Jane nas suas e entrelaçou os seus dedos aos dela, na ânsia de se conectar a ela de várias as maneiras possíveis.

Ela começou a tremer, repetindo o nome dele em gemidos e súplicas, levando-o à loucura.

— Oh. Mac.

Ele mergulhou nela mais uma vez, profunda e intensamente, e então ambos se renderam a um prazer forte e violento.

Mac permaneceu imóvel, completamente sem ar,

Exaustos e saciados, eles permaneceram em silêncio por algum tempo, apenas olhando nos olhos um do outro.

Mac então a beijou profundamente.

— Valeu a pena esperar.

Jane deslizou para o lado e se enroscou nele, com os braços ao redor do seu pescoço.

— Acho que eu nunca...

Mac ergueu a cabeça para olhar para ela.

— Nunca?

Ela sorriu timidamente.

— Não, quis dizer que acho que nunca foi tão bom assim antes.

Ele respirou fundo.

— Você não pode ter certeza.

— Acho que posso sim, Mac.

Uma mulher devia saber dessas coisas, pensou ele. Havia tanta coisa que eles não sabiam sobre Jane. Tanta cosia que ele queria saber mas tinha medo de descobrir.

Ele não cansava de repetir para si mesmo que a memória dela poderia voltar a qualquer momento, mas já era tarde demais para tentar proteger seu cora­ção. Ele não conseguia pensar racionalmente quando se tratava de Jane. Não mais. Não depois daquela noi­te.

Pela primeira vez na vida, Mac se arriscou a acre­ditar que o destino poderia estar a seu favor. Ele havia decidido correr o risco por ela.                          

 

O bacon e os ovos estavam fritando na frigideira. Jane olhou pela janela da cozinha ainda em estado de graça, com as lembranças da noite anterior ainda muito vivas e presentes em seu corpo. Ele ainda estava dormindo profundamente quando ela o deixou para que ele pudesse ter o descanso de que precisava. Jane tinha ficado alarmada ao vê-lo ferido e mal pôde conter o alívio ao perceber que ele não corria perigo de morte. Mal pôde conter, na verdade, o amor que via crescer dentro do seu peito. Ela estava experi­mentando emoções completamente novas. Seu coração estava transbordando alegria. Ela queria se entregar aquele sentimento sem reservas, mas parte dela se conteve, ao pensar em como Mac reagiria ao acontecido.

Ele havia decidido não se envolver emocionalmente com ela. Tinha sido sempre responsável e racional, enfrentando os fatos de frente. Só porque ela não sabia nada sobre o seu passado não queria dizer que ela não tinha um.

Jane estava rezando para que Mac não acordasse e dissesse que havia cometido um erro, quando ele surgiu por detrás dela, enlaçando sua cintura e puxando-a para si. Ela se reclinou sobre o seu corpo, pousando a rabeca sobre seu pescoço.

— Bom dia — disse ele, fungando no seu pescoço com os lábios quentes e convidativos.

— Oh, Mac — disse ela baixinho, deleitada por passar os braços dele em torno de si novamente. — É mesmo um lindo dia, não é?

— O melhor de todos — disse ele suavemente passeando, a mão pelas suas costelas com sensualidade.

O bacon estalou na frigideira e o cheiro a fez lem­brar do café da manhã que estava preparando para Mac. Ela se virou, ainda em seus braços, para olhá-lo de frente. As manchas azuladas pareciam mais acentuadas sob a luz do dia e os ferimentos mais pronun­ciados, mas seus olhos, presos aos dela, eram caloro­sos e afetuosos. Ela passou o dedo suavemente sobre um dos ferimentos, bem acima de sua têmpora.

— Como você está?

— Maravilhosamente bem, querida.

— Verdade? Achei que você ia acordar todo dolo­rido depois da noite passada. Como está o peito? Pos­so fazer alguma coisa pa...

Ele inclinou a cabeça e a beijou, dando fim a todas as palavras. Ela se entregou àquele beijo com total abandono, incapaz de pensar em qualquer outra coi­sa. Ela gostava do modo como Mac a tomava para si, sua boca, seu corpo, provocando nela as fantasia mais ousadas.

Ele suspirou e passou a mão sobre o maxilar.

— Senti sua falta na cama esta manhã.

— Queria preparar seu café. Você precisa comer direito, Mac, especialmente depois da noite passada.

Ele a olhou cheio de malícia.

— Pois acho que me saí muito bem. Foi você quem não quis uma segunda...

— Mac! — Jane estava boquiaberta. Não pôde acreditar que ele estava falando tão franca e abertamente sobre a sua noite de amor.

— Eu estava falando dos seus ferimentos.

Mac riu e se virou para apagar o fogo.

— Fico muito feliz com sua atenção, mas vou ter que deixar o café para outra vez. Estou atrasado. Ainda tenho que fazer os relatórios.

Jane tentou disfarçar a decepção. Ela esperava que ele não fosse trabalhar hoje.

— Está bem...

— Você está... bem? — perguntou ele. — Quero dizer, a respeito do que aconteceu ontem?

Jane não tinha por que fingir. Sabia que ele estava se referindo ao fato de terem passado a noite juntos.

— Foi maravilhoso, Mac.

— Foi mesmo — disse ele, suspirando mais uma vez.

— Vai à livraria hoje?

— Era o que estava planejando.

— Acha que pode tirar a tarde de folga?

— Claro. Quer que eu o ajude na investigação?

Mac balançou a cabeça.

— Não. Vou fazer o relatório e depois pego você para termos uma tarde de folga. Há uma coisa... um lugar que quero mostrar a você. Você vem?

— Que pergunta! Eu adoraria!

— Ótimo. Pego você mais tarde, na livraria. Ah, ponha roupas confortáveis. Nada muito chique. E não use aquelas botas.

— Isso tudo é seu? — perguntou Jane, olhando para a extensão de terra em torno do belo rancho. Eles estavam a 30 quilômetros da cidade, numa ex­tensa área verde e plana. O Pico Pike podia ser visto à distância.

— Cerca de 20 acres. — Ela não pôde deixar de notar o orgulho contido em sua voz. — Este lugar es­tava em ruínas quando comprei.

— Há quanto tempo? — perguntou ela, lisonjeada por ele querer compartilhar sua privacidade com ela.

— Cerca de oito anos. Trabalhei na casa no meu tempo livre.

Jane concluiu que ele havia começado a investir na propriedade depois do divórcio, na tentativa, prova­velmente, de reconstruir alguma coisa depois do fra­casso de seu casamento. Aquilo devia ter funcionado como uma espécie de terapia.

Mac lhe mostrou o interior da casa. Aquele era de­finitivamente seu refúgio.

— Ainda tenho muita coisa para fazer aqui, mas.,

— Nada de mas, Mac — disse Jane, admirando lareira de pedra, o teto de toras de madeira e as jane­las amplas da sacada, que proporcionavam uma bela vista do prado.

— Isto é incrível!

Ele sorriu.

— Fico feliz que tenha gostado.

— E como podia não gostar?

— Você poderia achar um pouco... rústico demais.

— Adorei. Quando você tem tempo de vir aqui?

— Nos fins de semana, quando não estou traba­lhando, e nas férias. De vez em quando dá para passar a noite aqui também. Duke e Daisy Mae não podem passar muito tempo sozinhos.

Jane ergueu as sobrancelhas sem entender.

— São meus cavalos. Duke é meu. Eu comprei a Daisy Mae para a Lizzie. Ela vem de vez em quando quer cavalgar comigo. A filha do vizinho os alimenta e passeia com eles quando não posso vir. Você sabe como é.

Jane pensou por um momento, sem muita certeza.

— Acho que não, mas estou disposta a aprender. Mac sorriu, emocionada, ela foi até ele.

— Estou muito feliz por você ter me trazido aqui. para fazer um passeio completo pela casa. — Ela passou os braços em torno do seu pescoço e o puxou para baixo. Ele esperava que ela o beijasse, mas ela o surpreendeu sussurrando baixinho. — Um passeio que termine no seu quarto, Mac. Você acha que os ca­valos vão se importar de esperar?

Mac puxou-a para mais perto de si. O corpo dela encaixando-se completamente ao dele, já rígido de desejo ele a beijou longamente, deixando-a quase sem ar.

— Podemos lhes dar cenouras extras.

Mac a despiu lentamente, levando todo o tempo do mundo para fazê-lo. Tirou uma peça de cada vez,com movimentos calculados que a deixaram em bra­sa. Ele a tocou acariciou e beijou tão deliberadamente e sem pressa que ela teve vontade de gritar.

— Seja paciente — disse ele de pé, ao lado da grande cama de cedro. — Quero saber tudo sobre você.

Jane estava de pé na sua frente, vendo os raios do sol de fim de tarde incidirem sobre ele, envolvendo-o num misto de luz e sombras que evidenciava a linha forte do seu maxilar e os seus olhos escuros e inten­sos. Já totalmente despida, ela estendeu a mão para começar a desabotoar a camisa de Mac.

— Ainda não — disse ele, virando-a de costas. E a puxou para perto do seu corpo, pressionando as nádegas de Jane contra o seu sexo e colando as costa dela em seu peito. Ele afastou o seu cabelo e fungou em seu pescoço, beijando-a levemente, enquanto segurava seu quadril com a outra mão, mantendo-a firmemente no lugar.

— Relaxe, Jane — sussurrou ele com uma voz sôfrega.

Com o coração acelerado, ela sabia que seria im­possível. O contato de sua pele macia com o jeans as penas da calça de Mac e o roçar constante do seu membro rígido contra o seu corpo a estavam deixando completamente descontrolada.

Ela respirou fundo sentindo o seu perfume almiscarado.

— Mac — foi tudo o que ela conseguiu pronunciar.

Mac ergueu as mãos para acariciar seus seios. Ela ansiava pelo toque. Ele os tomou suavemente em suas mãos e sussurrou em seu ouvido: Você é perfeita, querida.

Jane se sentiu desfalecer. Apoiou-se nele, arqueando o corpo em total abandono. Mac gemeu e acariciou com mais fervor.

Suas mãos passearam por todo o seu corpo, explo­dindo cada centímetro de sua pele com dedos ágeis. Então, mantendo uma mão sobre a sua barriga. ele deixou a outra deslizar até embaixo. Jane sentiu um calor abrasador entre as suas coxas. Ela não pôde mais se conter quando Mac finalmente deslizou sua mão sobre o seu sexo, gemendo de alívio e de desejo, ansiando por mais. Mac beijou novamente seu pescoço enquanto continuava a acariciá-la.

Ela começou a mover instintivamente o seu corpo em resposta aos estímulos. Os dedos de Mac foram fazendo caminho até encontrar seu ponto mais sensível, o núcleo do seu desejo, provocando uma verdadeira descarga elétrica em seu corpo. Ela acelerou o rit­mo dos seus movimentos, estimulada por suas carícias. A excitação crescia cada vez mais e ela se deixou levar. Movia-se sem pensar, sem vergonha. Mac agia instigando-a com palavras doces e sensuais ao pé do ouvido, que ela mais sentia do que ouvia.

A excitação chegou ao seu ponto máximo. Jane foi tomada por uma onda de prazer tão avassaladora que a fez fraquejar. A intensidade daquelas sensações só perdia para a intensidade de seu amor por Mac, cada vez mais arraigado em seu coração.

Ela se deixou cair em seus braços. Ele a segurou e esperou pacientemente até ela se recuperar.

Ela ouviu o farfalhar das folhas e o canto dos pas­sarinhos, lá fora, contrastando com o batimento do seu coração.

Mac permaneceu em silêncio, dando-lhe o tempo que ela precisava. Ao sentir-se pronta, ela se voltou para ele.

— Quero que me possua agora — pediu ela, sus­surrando as mesmas palavras que ele havia usado na noite anterior.

Mac sorriu enquanto fuçava em seu bolso, tirando várias camisinhas de lá. Ele as jogou no criado-mudo. Jane olhou para elas e sorriu.

Ela se deitou na cama e esperou. Mac despiu-se na sua frente e depois se deitou ao seu lado.

— Quero saber tudo sobre você — disse ela com ousadia, estendendo a mão para tocá-lo.

Mac gemeu quando ela o tomou em sua mão.

— Sempre gostei de mulheres com sede de saber.

— Verdade? — Agora era a voz de Jane que estava sôfrega. Ela começou a acariciá-lo lenta e intensamente. — Então relaxe e aproveite a viagem, Mac, porque tenho muito o que aprender.

 

Jane acariciou a crina de Daisy Mae.

—Olá, Daisy Mae. Você é muito linda. A égua pareceu feliz por sair do estábulo e passear mi ar fresco da tarde.

—Cuidado — disse Mac. — Ela é mansa, mas ainda não a conhece.

Jane sorriu.

—Acho que vamos nos dar muito bem.

—Ela é um alazão quarto-de-milha. Eram usados para o trabalho no Velho Oeste, mas agora têm vida mansa.

Jane olhou para o cavalo negro ao lado de Mac que fuçava para chamar a sua atenção.

li Duke?

É um quarto-de-milha também, castrado. — Mac acariciou o focinho do cavalo com ternura, do mesmo modo como havia feito com Jane, quando faziam amor. Havia um lado muito gentil do xerife por baixo de sua aparência rude. Ele era duro quando precisava ser, mas Jane também conhecia o seu lado meigo e as duas facetas a fascinavam igualmente.

—Quer tentar? — perguntou Mac, apontando para as selas à sua direita.

— Claro. Contanto que a gente vá bem devagar. Ele lhe deu um daqueles sorrisos de arrasar.

— Acho que sei como fazer.

Jane sentiu um calor subir pelo seu pescoço. Ela se lembrava muito bem de como ele sabia conduzir as coisas lentamente. Chegou a suspirar quando se lembrou do quanto ele havia se controlado na noite anterior só para garantir o seu prazer.

— Então está bem.

Mac selou os cavalos e lhe passou algumas instruções.

— Monte pelo lado esquerdo e mantenha as rédeas frouxas, mas com tensão suficiente para que ela saiba que é você quem está no controle. Use esta parte do seu corpo para se curvar e indicar a ela para que lado você quer ir — disse ele passando a mão pela sua coxa e fazendo o coração dela acelerar. — Os cavalos compreendem muito bem a linguagem corporal. Eles não se baseiam apenas nas rédeas.

Jane olhou no fundo de seus olhos escuros.

— Acho que entendi.

Mac a ajudou a montar e lhe estendeu as rédeas.

— Não deixe que ela perceba que você está preo­cupada. Monte com confiança. Vou estar logo atrás de você. Não vou deixar que nada de mal lhe acon­teça.

Jane respirou fundo. Aquela, provavelmente, era a primeira vez que montava num cavalo.                    

— Eu confio em você, Mac.

Jane ficou impressionada ao ver como Mac parecia mais alto montado em Duke. Ele parecia um daqueles xerifes do Velho Oeste, pronto para capturar o vilão. Ela riu para si mesma, mas ele percebeu.

—0 que foi?

Ela balançou a cabeça.

—Nada. É que você realmente parece pertencer a este lugar, Mac — disse ela, beijando-o rapidamente.

Mac orientou o caminho e Daisy pareceu seguir Duke sem nenhuma ajuda de Jane. Ela relaxou e pouco tempo depois começou a apreciar a vista, ouvindo os comentários de Mac a respeito da história daquela lugar. Eles percorreram toda a propriedade até o sol começar a se pôr.

Jane insistiu para que ele a deixasse ajudá-lo a preparar os cavalos para dormir. Daisy Mae não pareceu se importar de se deixar escovar por Jane, apesar da insegurança de principiante. Segundo Mac, aquilo servia para manter a sua pele limpa e os poros bem abertos. Ela seguiu todos os seus passos, limpando também os olhos e as narinas de Daisy Mae.

—Estou impressionado — disse Mac ao entrar em casa.

—Mesmo? Jane fez um meneio de cabeça.

—Lizzie odeia essa parte. Especialmente quando chega a hora de escovar o rabo de Daisy Mae.

Jane riu.

— Posso entender por quê. É meio perigoso lá atrás.

Mac riu também, enlaçando-a pela cintura. Ele cruzou as mãos em suas costas, prendendo-a contra o seu corpo.

— Você está imunda, Jane. Acho que precisa de uma boa ducha.

— Você também, Mac.

— Só tem um chuveiro aqui — disse ele com um brilho nos olhos.   .

— E tudo de que precisamos.

Eles já haviam tirado as roupas quando chegaram no banheiro. Mac entrou primeiro, ajustando a tem­peratura da água.

— Pode entrar. Jane entrou no box e percebeu que o corpo grande e musculoso de Mac ocupava quase todo o espaço Ela engoliu em seco, olhando para ele, enquanto água escorria pelo seu corpo.

Mac pegou o sabonete e começou a ensaboá-la. Ele deslizou as mãos cheias de espuma por todo o corpo dela. Jane foi tomada por um desejo animal, enquanto Mac a tocava em todo os lugares, possessi­vamente.

De vez em quando ela continha a respiração para então a soltar num suspiro de prazer. Mac massageou suas costas, deixando o sabonete perfumado deslizar pelo corpo. Depois virou-a para si e deslizou a mão rapidamente pelos seus seios. Os toques rápidos e breves foram suficientes para fazê-la gritar. Ele então ensaboou a sua barriga, e foi descendo cada vez mais para afastar as suas pernas e lavar a parte interna de suas coxas. De tanto em tanto ele a beijava, às vezes nos lábios e às vezes nas próprias partes do seu corpo que. estava lavando.

Quando terminou, Mac estendeu o sabonete, esperando que ela retribuísse o favor.

Jane espalhou a espuma pelo peito imponente de Mac, até ele estar ricamente ensaboado. Deslizou as mãos para cima e para baixo, enroscando seus dedos nos pêlos do seu peito e roçando seus mamilos até eles enrijecerem.

Mac estava visivelmente excitado, mas ela conti­nuou ensaboando-o lentamente como ele havia feito. Ela ensaboou as coxas fortes e se curvou para alcan­çar as panturrilhas, extraindo um gemido de Mac, logo se ergueu novamente para ensaboar a região mais sensível de todo o seu corpo.

Jane o virou de costas e massageou os seus ombros laivos. O cheiro cítrico impregnou o ambiente en­quanto ela descia cada vez mais até alcançar as suas nádegas. Antes que ela pudesse terminar, porém, Mae se virou abruptamente e disse:

—Eu não posso mais esperar, querida. Jane olhou rapidamente para baixo e teve de concordar. Mac tomou os seus lábios com urgência, in­vadindo-a com sua língua. O beijo faminto conduziu a outras carícias e a uma urgência cada vez maior. Ele

então a apoiou contra a parede do chuveiro. Fora do alcance do jato d'água, ele a ergueu e a penetrou, possuindo-a num único e fluido movimento.

— Oh, Mac — gritou ela, agarrando os seus om­bros e cruzando as pernas em torno dele.

— Isso, querida — disse ele enquanto continuava a atiçá-la com as mãos em suas costas.

Com os olhos fechados e o coração acelerado, ela se entregou às sensações excitantes provocadas pelo deslizar dos corpos, o calor e o vapor em torno deles. Jane correspondeu a cada uma das investidas de Mac, esquecendo-se do resto do mundo, até que de repente se deteve e abriu os olhos.

— Mac, espere!

Ele a olhou com os olhos arregalados.

— O que foi?

— Esquecemos da camisinha — disse ela, quase sem fôlego. Mac hesitou por um momento, para eu tão dar de ombros.

— Não importa — disse ele. A implicação era clara. Ele não estava se referindo a nenhum problema de saúde, mas à possibilidade de eles conceberem um li lho. Ele não parecia pensar nisso como um problema, o que fez com que Jane compreendesse que aquilo que estava acontecendo entre eles ia muito além de um simples caso de verão.

— Não mesmo? — reiterou ela, apenas para se certificar.

Mac balançou a cabeça.

— Não para mim — disse ele. — Eu quero que você tenha consciência disso, mas sei que você não pretende correr o risco de se ver presa a algo maior do une nós dois. Você tem outra vida fora daqui, Jane, e tenho o dever de protegê-la.

Jane puxou-o para mais perto e aproximou a sua face da dele.

—Obrigada, Mac.

Mac a pegou no colo e a levou para o quarto. Eles uniram os seus corpos mais uma vez, terminando o que haviam começado, porém mais lenta e docemen­te do que antes.

Mac acordou cedo na manhã seguinte com Jane nos seus braços. O perfume de Jane penetrou em suas narinas enquanto o sol da manhã penetrava no quarto, lançando raios de luz sobre o seu cabelo cor de mel. Ele a apertou com força contra si, aproximando mais ainda o seu corpo do dela. Ele nunca havia levado ne­nhuma mulher para o rancho além de Lizzie. Aquele era o seu refúgio, a sua segunda casa.

Mac sorriu, pensando em Jane montada sobre o ca­valo, dando o melhor de si, e mais tarde tentando escovar Daisy Mae. Ela realmente ficara feliz em aprender e ávida por participar. Mac não havia co­nhecido muitas mulheres como Jane Doe, a moça misteriosa de passado desconhecido.

Jane suspirou profundamente, virou-se em seus braços e abriu os seus belos olhos cor de alfa­zema.

— Oi.

— Bom dia — disse ele, beijando as covinhas no canto de sua boca. — Hoje é dia de trabalho, querida. Preciso ir andando.

— Hummm. .

— Vou ver o que consigo para o café. Deve ter um pouco de cereal e leite em pó no depósito.

— Não estou com fome, Mac.

— Nem eu. — Ele se jogou de costas sobre o col­chão e ficou olhando para o teto, soltando um longo suspiro. Ele tinha algo para contar a Jane. Algo que já deveria ter contado ontem.

— Qual o problema? — perguntou ela, acarician­do suavemente seu braço machucado. Ele se virou para olhá-la nos olhos e notou que ela estava preocu­pada. — Nós nos excedemos ontem? É o seu peito? — perguntou ela, passando a mão pelo seu torso.

Ele cobriu a mão dela e entrelaçou seus dedos nos dela.

— Não, estou me sentindo bem melhor. Só estou machucado.

— Então o que é? — perguntou ela novamente, preocupada.

— Soube de algumas novidades sobre o seu caso ontem, quando passei na delegacia para fazer o rela­tório. Parece que existem oito sapateiros que fazem botas sob encomenda como as suas. Vou precisar de alguns dias para obter a lista dos fregueses. Aquelas botas custam por volta de 2 a 3 mil dólares o par.

Jane sentou-se na cama, apertando o lençol contra o corpo nu. Ela estava tão bonita sentada ali com o olhar cheio de esperança que ele não conseguia tirar os olhos dela. Ele a desejava como nunca havia desejado mulher alguma antes. Sabia que era seu dever como homem da lei descobrir quem ela era e lhe de­volver sua vida antiga, aquela que tinha antes que ele a encontrasse no Deerlick Cannyon. Mas Mac se incomodara com as novidades. Ele começava a temer o dia em que Jane Doe descobriria sua identidade.

— Quer dizer que um daqueles nomes pode ser o meu?

Mac concordou e ficou observando a sua reação.

Jane sorriu e pousou a cabeça no travesseiro lentamente. com os olhos brilhando de expectativa.

— Adoraria saber meu verdadeiro nome. Onde moro...

Ela apertou a mão dele.

— Imagine só, Mac. Em alguns dias, vou saber quem eu sou.

— Talvez. Não quero que fique esperançosa de­mais. Não até termos algo mais concreto. Foi por isso que eu não contei logo para você... Mas agora... Te­mos que enfrentar os fatos.

Jane soltou o lençol e se sentou sobre os joelhos, nua e linda.

—Que fatos?

Mac permaneceu em silêncio, dividido entre o que era bom para Jane e a dor de pensar que ela poderia partir em breve.

— Não vai mudar nada entre nós, Mac. Não é pos­sível.

Ele jogou as cobertas para longe e saiu da cama.

— Tudo vai mudar, Jane. Não podemos fazer de conta que não.

Ele pegou as suas roupas e começou a se vestir.

— Eu não estava fazendo de conta... — disse ela antes de se levantar e pegar as próprias roupas.

Mac esperou até que ela terminasse de se vestir.

— Eu também não, Jane. Vamos esperar para ver o que acontece.

Ele passou o braço em torno dela para lhe transmi­tir segurança, embora ele mesmo ainda tivesse dúvi­das. Ele não devia ter se envolvido com ela. Ambos teriam de pagar o preço pela sua imprudência.

Jane pousou a cabeça em seu peito. Ele a puxou para mais perto e seus corpos se tocaram intimamente com uma familiaridade que Mac só havia experimentado uma única vez na sua vida, com a sua antiga esposa. Não havia nada que se comparasse à sensa­ção de Jane em seus braços.

— Eu nunca achei que descobrir a minha verda­deira identidade pudesse ser doloroso.

— Não será, Jane. Eu prometo que não. Você vai ficar muito feliz quando descobrir quem realmente é.

Ela ergueu o queixo e pousou os olhos sobre ele.

— Tem certeza? Ele assentiu.

— Tenho.

— E você?

— Eu? — perguntou ele, desviando o olhar. Ele não queria que ela visse o seu rosto quando ele esti­vesse contando a maior mentira de sua vida. — Tam­bém vou ficar feliz, Jane. É por isso que temos traba­lhado tanto, não é? Temos que ir agora. Pronta?

Jane olhou uma última vez para o rancho antes de responder.

— Estou. Vamos para casa.

— O que quer dizer com " estou me mudando" ? — perguntou Mac a Lizzie.

— Exatamente o que disse. Eu encontrei um lugar e estou me mudando. Já está mais do que na hora, querido irmão. Não quer dizer que não o ame e que não reconheço tudo o que fez por mim durante todos esses anos, mas já sou uma mulher adulta.

Jane ficou observando a cena se desenrolar da porta da sala. Ela não queria interferir. Na verdade, achava que nem deveria estar ouvindo, mas Lizzie havia pedido que permanecesse para servir de anteparo quando ela contasse as novidades a Mac, e Jane não podia deixar de atender a um pedido de Lizzie.

—Sei muito bem que você não é mais criança. O que isso tem a ver com o que estamos discutindo?

—Tem a ver com conquistar um pouco mais de in­dependência e de você obter o espaço de que precisa.

Ele abriu os braços, gesticulando exasperadamente.

— Essa casa é bastante grande. Tenho espaço sufi­ciente aqui!

— Então talvez seja eu que não tenha o espaço de que preciso — disse ela baixinho, olhando para Jane, que assentiu, encorajando-a.

— Encontrei um lugar a poucos quilômetros da­qui. Estou planejando algumas reformas.

Mac olhou fixamente para ela e então para Jane. Ele deu alguns passos com o rosto em fúria e balan­çou a cabeça diversas vezes, respirando com dificul­dade.

Jane estava muito incomodada com aquele con­fronto. Os últimos dias com Mac tinham sido glorio­sos. Haviam entrado numa rotina doméstica como qualquer outro casal feliz. Mac saía para o trabalho e Jane passava o dia trabalhando como voluntária na li­vraria. À noite, ela voltava para casa e preparava o jantar. Depois de comer, ambos passavam um bom tempo juntos, sentados no jardim, falando sobre amenidades até caírem na cama e fazerem amor, algumas vezes calorosa e apaixonadamente, outras vezes doce e languidamente. O único senão de toda a história era que nada ainda haviam descoberto sobre a identidade de Jane. Tinham conseguido localizar todas as mu­lheres que haviam encomendado botas com os oito sapateiros italianos da lista original. Todas haviam sido checadas. Naquela noite, Mac trouxe-lhe uma dúzia de rosas, tentando contar as novidades da ma­neira mais suave possível. Jane ficara profundamente decepcionada. Mac, porém, havia sido tão doce e ter­no, abraçando-a e fazendo amor com ela durante a noite toda que ela acordou renovada no dia seguinte. Jane suspeitava que seu novo estado de ânimo não se devia unicamente à esperança de vir a descobrir sua verdadeira identidade.

—Droga! — esbravejou Mac, trazendo-a de volta para realidade. Ele jogou os braços no ar, completa­mente irritado. — Talvez Jane possa fazer você recuperar o bom senso.

Jane foi até ele e, com as mãos sobre os seus braços, disse gentilmente:

—Tente ouvir o que ela tem a lhe dizer, Mac. Você só fez gritar desde que ela começou a tentar contar seus planos. — Jane virou-se então para Lizie e prosseguiu. — Vocês dois têm que ouvir um ao outro.

Mac abriu a boca para fazer um comentário, mas uma batida na porta o deteve. Ele foi ver quem era. Bom dia, xerife. Mac não foi muito receptivo.

—Brody! O que foi? Hoje é domingo. Problema na delegacia?

Ainda parado na porta, Lyle procurou pela casa até encontrar o olhar de Lizzie. Ele sorriu para ela. Mac voltou-se para a irmã e viu que ela estava sorrindo de volta para ele.

—Para falar a verdade, chefe, vim ver a Lizzie. Acho que esta não é uma boa...

Lizzie interveio, indo até a porta para se colocar bem ao lado do assistente de seu irmão.

— Oi, Lyle.

— Olá, Lizzie. Tem tempo para dar uma volta co­migo?

Lizzie deu as costas para Mac e respondeu:

— Claro. Adoraria.

Mac voltou-se para Jane estupefato e bateu a porta depois que os dois saíram.

— O que está acontecendo, afinal?

Jane pegou na mão dele e o conduziu até o sofá.

— Sente-se aqui.

Ele olhou para ela com um ar desafiador, mas Jane o conhecia suficientemente bem para não o temer. Sabia que aquele mau humor era apenas fachada para encobrir seu lado mais vulnerável. Ela se aproximou e lhe deu um beijinho, empurrando-o suavemente.

— Sente-se.

Ele cedeu e ela então se sentou no seu colo, pas­sando os braços em torno dele.

— As coisas estão mudando, Mac, e não há nada de errado.

— Há, sim senhora.

— Lizzie não quer magoá-lo. Não torne as coisas mais difíceis para ela. Ela o adora, Mac, mas já está na hora de seguir o próprio caminho.

— Não me venha com aquela história de "se você a ama, deixe-a livre".

A gargalhada de Jane quebrou a tensão e ele teve que sorrir.

— Você me conhece bem demais, Mac.

Ele não se moveu, mantendo a expressão mal hu­morada.

— O que ela foi fazer com ele, afinal?

— Ela gosta muito dele. E pelo jeito é recíproco. Ela só quer sua bênção. Nos dias de hoje e na idade dela, acho muito especial.

Mac suspirou profundamente e fechou os olhos.

— Ele não é a pessoa certa para Lizzie.

Jane sabia que tinha que ser cuidadosa. Mac era um homem orgulhoso que não gostava que ninguém analisasse os seus procedimentos.

— Você sempre esteve no controle da situação, Mac. Cuidou de Lizzie quando ela era pequena, acu­mulando as funções de pai e de irmão. Você traba­lhou muito e se tornou um xerife altamente respeita­do. Você é bonito, forte e perfeito em praticamente todos os aspectos.

— Não me vejo assim, Jane.

— Pois eu, sim.

Seus lábios se abriram num sorriso relutante.

— Verdade?

Ela fez um meneio de cabeça.

— Verdade.

— Está tentando me levar para a cama, querida?

Jane soltou uma gargalhada inesperada.

— Não fuja do assunto, Mac. Você não quer que Lizzie se relacione com ele porque traz à sua mente um fracasso em sua vida. Lyle Brody com certeza o faz lembrar de alguma coisa que você não conseguiu consertar. Que não pôde controlar. Você não tem nada contra ele pessoalmente. Na verdade, acho que até gosta dele. O que realmente o incomoda é o que ele representa.

Mac permaneceu sentado, ouvindo seu pequeno discurso, olhando para o vazio.

— Estou chegando perto? — perguntou ela.

Ele a tirou do seu colo, pousando-a suavemente sobre o sofá, e se levantou para fitá-la de frente. Com as mãos sobre os quadris, ele olhou profundamente em seus olhos, pensativo.

— Não sei, Jane. Tenho que pensar um pouco so­bre isso.

Jane também se levantou. Seu sorriso encorajador foi suficiente para Mac no momento. Ele não se lem­brava de ter sido tão feliz. Ela passou os braços em torno do seu pescoço e o olhou de maneira franca e aberta.

— Estava falando sério quando disse tudo aquilo, Mac. Você é um homem muito especial.

Mac tinha que encarar os fatos. Ele era louco por Jane. Ela era uma mulher especial. Tinha preenchido a sua vida e trazido uma nova alegria que ele nunca conhecera. Já estava na hora de assumir suas emo­ções e admitir os seus sentimentos.

— Jane, eu...

Uma forte batida na porta interrompeu sua confis­são. Ele olhou na direção do som, suspirando profun­damente.

— Lizzie deve ter esquecido a chave — disse ele. Sua irmã sempre chegava na hora errada, mas ele não estava mais zangado com ela. Graças a Jane. — Tal­vez, ela se mudar não seja mesmo de todo ruim — dis­so ele caminhando até a porta. — Pelo menos aqui ficará mais tranqüilo.

— Vou para a cozinha fazer um café — disse Jane,

sorrindo.

Mac percebeu que ela queria deixá-los a sós para que pudessem conversar.

Mac abriu a porta, mas para sua surpresa, não era Lizzie, e sim um homem de cabelos negros, impecá­vel mente vestido, olhando-o diretamente nos olhos.

- Xerife Riggs?

Mac assentiu enquanto um temor inexplicável in­vadia seu peito.

— Estou à procura de Bridget Elliot.

 

Mac engoliu em seco. Seus instintos lhe diziam que havia chegado o momento. O ar confiante daquele homem, a maneira como olhava diretamente em seus olhos e a sua boa aparência não deixavam dúvida. O mistério em torno de Jane Doe havia chegado ao fim. O estranho entregou uma fotografia a Mac, onde aparecia abraçado a Jane, que sorria feliz para a câmera.

— O senhor reconhece a mulher da foto? É ela que está morando aqui? — perguntou ele.

— O senhor poderia me dizer quem é e como che­gou até minha casa?

O estranho olhou para Mac com seriedade.

— Estou à procura de Bridget há 10 dias, xerife. Meus contatos me trouxeram aqui.

Mac não pôde deixou de notar o tom suave que ele havia usado ao pronunciar o nome de Bridget. Bridget? Era esse o seu verdadeiro nome?

— Que tipo de contatos? Quem é você? — pergun­tou Mac com firmeza.

— Meu nome é Bryan. Eu sou o...

— O café está pronto.

Mac avaliou a sua reação ao ouvir a voz de Jane. Seus olhos se arregalaram e ele tentou espiar dentro da casa.

—É a voz dela — disse ele decidido. — Posso?

Ele deu um passo para dentro da casa.

Mac teve vontade de bloquear a sua passagem e mandá-lo embora. Aquele homem tinha vindo levar Jane para casa.

Mac foi tomado por uma dor dilacerante. A consciência de que a perderia para sempre estava acabando com ele. Uma rápida olhada para a mão esquerda dele o fez saber que eles não eram casados. O que não ria garantia de que não estavam profundamente en­volvidos um com o outro. Talvez estivessem noivos. Todos os temores e apreensões de Mac estavam se tornando realidade, acrescidos de uma nova emoção que ele odiava ter de admitir: ciúme. Um ciúme tão profundo e selvagem que ele mal podia controlar.

Mac se forçou a dar um passo para o lado e permitir que o homem entrasse, ficando lado a lado com ele.

—O café está quente, Mac — disse Jane, saindo da cozinha com uma xícara de café fervente na mão.

Ela olhou rapidamente para ele e então voltou o seu olhar para o homem que havia dito chamar-se Bryan.

—Oi, Bryan. O que você está fazen...

Jane se deteve com a xícara na mão e começou a tremer. Ela pestanejou e Mac olhou para os seus olhos azuis-violeta e percebeu que todo o seu passado lhe estava sendo revelado naquele momento. Não havia dúvidas de que sua memória tinha voltado. Ela pousou a xícara lentamente e então sorriu para Bryan tão calorosamente que Mac ficou arrasado.

— Bryan!

Ela correu ao encontro de seus braços abertos. Bryan ergueu-a e rodopiou com ela pela sala.

— Oh, meu Deus — disse ela. — Meu Deus. Você está aqui! Você está mesmo aqui!

Bryan colocou-a no chão.

— Estou aqui, querida. Estive procurando você este tempo todo. Você nos pregou um susto enorme.

— Eu tive amnésia, Bryan. Mas tudo voltou à mi­nha mente, assim que o vi. Não posso acreditar. Eu me lembrei de tudo.

— Ótimo, querida — disse Bryan, olhando-a aten­tamente como se quisesse se certificar de que ela es­tava realmente bem.

Aquele olhar possessivo abalou Mac.

— Estou tão feliz por tê-la encontrado — conti­nuou Bryan. — O que aconteceu, afinal?

— Estou me lembrando de tudo agora — prosse­guiu ela depois de uma breve pausa. — Eu peguei um vôo para o Colorado há cerca de duas semanas, de­pois do casamento de Cullen. Meu carro de aluguel quebrou, por isso comecei a caminhar pela estrada do cânion. Caí e bati coma cabeça numa pedra. Deve ter sido aí que perdi a memória. Foi Mac quem me en­controu. Ele e a sua irmã Lizzie me trouxeram para casa. — Ela olhou para Mac, radiante. — Oh, me desculpem. Desatei a falar e nem apresentei vocês. Bryan, este é o xerife Mac Riggs; Mac, este é o meu primo, Bryan Elliot.

— Primo? — perguntou Mac sem pensar.

Atônito, ele apertou a mão que Bryan lhe oferece­ra, ainda confuso com os recentes acontecimentos, Mac sentiu um profundo alívio e, pela primeira vez, desde que aquele homem aparecera em sua porta, ele respirou tranqüilamente.

— Sim. Eu e Bryan somos primos. Temos uma fa­mília enorme em Nova York, Mac. Uma família enorme e louca. Mal posso esperar para lhe falar sobre eles.

Mac passou a mão pelo maxilar, com os lábios contraídos, enquanto ouvia Jane, Bridget Elliot, lhe contar a respeito de sua vida. Ela sorria cada vez que as lembranças surgiam em sua mente, contando-as para ele como se estivesse revivendo os momentos nobre os quais falava.

Mac maldisse sua má sorte. Bridget Elliot não passava de uma socialite rica de Nova York, cuja família tinha, nada mais, nada menos, que uma propriedade em Hamptons e uma das editoras de revistas mais prestigiadas do mundo. Bridget era a editora fotógrafa da revista Charisma, uma revista de moda cujo público-alvo eram pessoas de alto poder aquisitivo. Mac havia se envolvido com uma mulher para quem, sob outras circunstâncias, jamais teria olhado duas vezes. Bridget Elliot era de um mundo completamen­te diferente do seu.

Ele já havia tido um relacionamento fracassado com uma mulher com aspirações mais altas do que a de viver com um xerife de uma cidade pequena. Brid­get, ele nunca ia se acostumar com esse nome, pare­cia pertencer à mesma categoria. Ela podia até se pa­recer com Jane Doe, falar como ela, mas não havia como confundir uma com a outra. Bridget Elliot tinha dinheiro para fazer o que bem entendesse. Sua famí­lia provavelmente poderia comprar todo o município de Winchester num piscar de olhos.

— Bryan é dono de um restaurante muito badalado chamado Une Nuit. Eu mal posso esperar para levá-lo até lá, Mac.

Mac teve de se conter.

— Bridget — disse ele, usando o seu verdadeiro nome pela primeira vez. — Seu primo Bryan pode ter um restaurante, mas ele é bem mais do que aparenta ser.

— O que está querendo dizer?

— Sua família é rica e poderosa, mas ninguém conseguiu encontrar você, só ele. Quis saber como ele havia chegado até aqui, mas ele não quis falar so­bre os seus métodos. Ouça o que lhe diz um homem da lei experiente: seu primo não é exatamente o que parece ser.

— Ah, não seja bobo, Mac. Ele só gosta de fazer um certo mistério de vez em quando.

— Essa é uma maneira de descrevê-lo — disse Mac.

Bridget, porém, estava ávida para continuar fa­lando.

— Eu já sei por que foi que você não conseguiu me ligar ao sapateiro que fez as minhas botas. O pobre Carmello di Vincenza, um gênio na arte de fazer sa­patos, morreu há dois anos. Minhas botas foram o último par que ele fez. Não é de admirar que eu tenha tanto apego por elas. Ele nasceu, viveu, trabalhou e morreu naquela pequena aldeia ao sul de Florença chamada Micello. Eu fui até lá para produzir algumas lotos para a Charisma. Ele insistiu em criar uma bota especialmente para mim.

— Quer dizer então que você já virou meio mundo exercendo essa função que eu não sei exatamente qual é para essa revista? — Mac reclinou-se no sofá, feliz por estar novamente sozinho com ela. Lizzie ainda estava fora com Lyle e Bryan havia ido embora alguns minutos atrás para lhe dar um tempo para pôr os seus pensamentos em ordem. Ele, é claro, não dis­se onde iria ficar. Disse apenas que voltaria em bre­ve.

—Nem sempre. Trabalho num dos escritórios da editora Elliot, mas de vez em quando vou até uma lo­cação para fazer algumas fotos. Adoro a Europa. A Itália é o meu país predileto.

— Então é você quem tem o dinheiro do Donald Trump! — disse Mac, sem conseguir esconder o tom áspero de sua voz. Bridget não podia fazer nada quanto a quem era, mas ele não era obrigado a gostar.

Ela olhou diretamente para ele.

— Mac, sei o que está pensando, mas não sou uma menininha rica mimada. Na verdade, desprezo todas as coisas que minha família representa. Foi por isso que eu vim a Winchester. Minha família está cheia de segredos.

— E qual a família que não os tem?

— Mas os segredos da minha família são vários e muito graves. Eu tenho um plano de expor todos eles e desmascarar meu avô. Estou escrevendo um livro que não vai deixar pedra sobre pedra.

Mac balançou a cabeça. Aquela não era mais a sua Jane Doe e sim uma mulher cínica que só queria sa­ber de vingança e retaliação.

— Parece que você vai magoar muita gente com essa história.

— Preciso abrir o jogo, Mac. A mídia come na mão do meu avô. Ele conseguiu apagar os rastros du­rante todos estes anos. Alguém tem que detê-lo. Ele precisa ter o que merece.

— E você acha que um livro vai resolver todos es­ses problemas? — Mac se levantou e olhou-a direta­mente nos olhos. — Você vai magoar pessoas ino­centes.

— Mas ele já magoou muitas pessoas inocentes, Mac. Vim para cá porque recebi uma pista anônima de que a filha da minha tia Fiona poderia estar viven­do aqui em Winchester. Meu avô obrigou minha tia a entregá-la para a adoção quando ela foi mãe aos 15 unos de idade. Isso praticamente a destruiu. A revista Charisma é tudo o que ela tem na vida, Mac.

— Foi por isso que você veio para cá?

Ela se ergueu para encará-lo.

— Esta foi a única razão. Eu vim aqui para unir a minha tia Fin à sua filha.

— Mas isso não é da sua conta, Bridget. — Mac não conseguia se acostumar com aquele nome. Soava falso em sua boca. Era como se ele não estivesse con­versando com a mesma mulher que havia passado a ser tudo em sua vida. — Você não tem que se intro­meter nisso.

— É da minha conta sim. Lutar contra o meu avô e revelar a verdade sobre ele foi o que eu me determi­nei a fazer há seis meses, e o livro foi o meio que en­contrei para fazê-lo. Se encontrar a menina, não só farei minha tia feliz como também mostrarei ao meu avô que ele não pode mais manipular as nossas vidas, lia Fin sofreu tempo demais. Sua filha deve estar com 23 anos agora.

Mac teve um estalo. Será que Bridget estava falan­do da filha do seu amigo Trevis? Jessie tinha exata­mente essa idade e havia sido adotada ainda bebê, fi­lha de uma mãe adolescente. Trevis não falava mais muito sobre o assunto. Havia se apaixonado pela fi­lha assim que pusera os olhos sobre ela. Ninguém imaginaria que eles não estavam ligados por laços sangüíneos.

Mac e Trevis eram amigos de longa data. Ele até havia ajudado Mac a restaurar o rancho. Seu amigo não merecia ter a vida virada de cabeça para baixo por causa de um capricho de Bridget. Já havia sofrido muito ao perder a esposa, poucos anos atrás.

— Você está brincando com a vida dos outros, Bridget. — Ele se manteve firme e inflexível. — Não faça isso.

— Tenho que fazer.

— Não, não tem.

Ele deu as costas para ela e lançou os braços no ar com desgosto.

— Como eu fui me apaixonar por uma riquinha idiota decidida a destruir tantas vidas? — Virou-se então para ela e, espumando de raiva, acrescentou: — Você não é a mulher que encontrei no Deerlick Cannyon. Ela não faria uma coisa dessas. Aquela mulher não é vingativa. Ela não é tão cínica a ponto de se achar no direito de prejudicar a vida de outras pes­soas. Deixe para lá, Bridget.

— Eu não posso, Mac! Você não entende? O livro está quase pronto. A descoberta da filha da tia Fin vai ser o tema do último capítulo.

Mac se deu conta de que o destino tinha lhe prega­do uma peça. Ele finalmente havia aberto o coração para deixar o amor entrar, somente para ver tudo ruir ao seu redor no momento seguinte. Bridget Elliot não era mulher para ele. Ela havia nascido em berço de ouro e poderia fazer algo de positivo com a sua vida, mas em vez disso, preferia causar tristeza e amargura para aqueles que a cercavam.

Mac não podia permitir uma coisa dessas. Não na sua cidade, nem na sua casa. Ele não iria fazer isso com Trevis, nem consigo mesmo. Só havia uma so­lução.

— Acho melhor você ir embora com o seu primo quando ele voltar.

— Mac — disse ela quase sem voz, deixando o co­ração dele em pedaços com a sua súplica.

Ele se manteve firme, mas teve de se forçar a dizer as palavras seguintes.

— Temo que não haja mais lugar para você aqui se insistir em seguir adiante com seu plano.

Ela assentiu e Mac se contorceu por dentro. Ela mio iria desistir.

— Eu tenho de terminar o que comecei.

— Então vamos ter de dizer adeus. Volte para Nova York, Bridget. Lá é o seu lugar.

Lizzie adentrou a sala radiante.

— Lyle me chamou para sair e se ofereceu para me ajudar com a mudança! Jane, nós temos que ir às compras. Preciso da sua ajuda para achar a roupa ideal.

Mac olhou uma última vez para Jane e então diri­giu o seu olhar para a irmã.

— Ela não é Jane. Seu verdadeiro nome é Bridget Elliot e ela vai embarcar no próximo vôo para Nova York.

— Não sei como lhe agradecer, Bridget. Jamais te­ria conseguido combinar as peças tão bem sem você. Não acredito que você teve cabeça para ir às compras comigo depois do que aconteceu — disse Lizzie, jo­gando as sacolas sobre a cama de Bridget.

Bridget sentou-se na cama e Lizzie a seguiu pouco depois.

— Eu tinha prometido. Precisava retribuir tudo o que você fez por mim. Foi divertido. Acabei me dis­traindo e não pensei... nas coisas.

— Como o seu vôo que parte daqui a três horas? Eu não queria que você fosse embora — disse Lizzie com grande tristeza. — Meu irmão precisa de você.

Bridget se recostou para apoiar a cabeça no traves­seiro. Fechou os olhos e viu a imagem de Mac à sua frente. Seu sorriso raro, o jeito como ele a abraçava, a maneira terna como fazia amor.

— Mac não compreende o que estou tentando fa­zer.

— Não, e provavelmente não vai mudar de idéia. Ele sempre soube discernir entre o certo e o errado.

Bridget abriu os olhos.

— Quer dizer que você também não aprova o que estou fazendo?

Lizzie pegou na sua mão.

— Não é da minha conta. É assunto seu e do meu irmão. — Ela apertou a mão de Bridget com firmeza.

—O que sei é que Mac está sofrendo. Ele não fala muito, mas a dor está estampada em seu rosto. Pro­meta-me uma coisa, Bridget.

— Qualquer coisa.

— Não devolva nada que ele lhe tenha dado e, pelo amor de Deus, não se atreva a tentar pagar por essas coisas. Conheço o meu irmão. Ele ia querer matá-la.

Bridget assentiu.

—Obrigada por avisar, mas gostaria de fazer al­guma coisa para retribuir sua gentileza.

— Basta que seja minha amiga, Bridget. E tudo que preciso. Talvez você possa me dar algumas dicas de moda de vez em quando.

Bridget riu.

— Claro.

— Vou sentir a sua falta.

As lágrimas brotaram nos olhos de Bridget. Ela ti­nha aprendido a amar aqueles dois irmãos dentro da­quela casa. Sabia que sua vida nunca mais seria a mesma. Bridget abraçou a amiga com força.

— Eu também. Ouça, Lizzie. Não volte atrás nos seus planos por causa de Mac.

Lizzie pensou por um momento.

— Mas o meu irmão...

— Lizzie! — disse Bridget com firmeza. — Não se atreva! Você devotou a sua vida a Mac. Ele só quer que você seja feliz. Espero ter conseguido abrir a ca­beça dele, pelo menos em relação a isso.

Bridget se levantou e começou a encher a mochila que Lizzie havia lhe dado. Em pouco tempo já havia guardado tudo e estava pronta para partir.

Mac colocou a cabeça na porta.

— Seu primo chegou.

— Oh. — Tudo parecia estar acontecendo tão rápi­do. Bridget olhou uma última vez nos belos olhos castanhos de Lizzie. — Tenho que ir.

Lizzie se levantou.

— Eu sei.

— Adeus, minha amiga.

Bridget conteve as lágrimas. Chorar não iria adian­tar. O que estava feito, estava feito, e Bridget sabia que o seu tempo em Winchester havia chegado ao fim.

— Adeus — sussurrou Lizzie, dando-lhe um últi­mo abraço. — Vou entreter Bryan enquanto vocês dois se despedem.

Lizzie saiu e Bridget olhou nos olhos escuros de Mac. Agarrou as alças da mochila repleta de coisas que iam ser uma lembrança constante de Winchester e de Mac Riggs.

— Acho que é hora de dizer adeus.

Forte, alto e sempre controlado, Mac fez apenas fez um meneio de cabeça e permaneceu em silêncio. Bridget foi até ele.

— Não posso ir embora sem lhe agradecer por tudo, Mac — disse ela suavemente. — Você é um ex­celente policial e um homem maravilhoso.

Ela então lhe deu um beijo na bochecha, um beijo suave e sutil que traía seus verdadeiros sentimentos. Mas Mac não queria que ela o beijasse. Ele não a que­ria mais em sua vida, nem na sua casa. Ele havia ad­mitido que a amava mas logo em seguida a havia cha­mado de riquinha idiota, e isso a havia magoado pro­fundamente. Ele não queria amá-la e era isso o que mais doía, porque ela o amava com todos os seus de­feitos e qualidades.

— Vou sentir falta de Winchester — disse ela com sinceridade — e principalmente de você.

Ela passou por ele, torcendo para que ele a cha­masse de volta, que dissesse alguma coisa, mas ele não o fez.

— Está pronta, prima? — perguntou Bryan, pe­gando a sua bolsa e abrindo a porta da frente.

Ela se virou para olhar novamente nos olhos escuros e frios de Mac.

— Estou. Vamos para casa.

 

— Você está bem? — perguntou Bryan enquanto dirigia até a propriedade de Patrick Elliot em Hamptons.

Bridget olhou pela janela e viu os jardins bem cui­dados e a grande entrada circular da mansão. O chei­ro da maresia trouxe de volta a lembrança de dias mais felizes, quando ela brincava na areia da praia com seus irmãos e primos.

Toda aquela familiaridade, porém, não lhe trazia conforto. Sua mente e seu coração ainda estavam numa casa aconchegante do Colorado e num xerife de uma cidadezinha pequena que havia se infiltrado em sua alma.

— Vou ficar bem quando vir a mamãe. Já faz duas semanas que não a vejo.

— Ela ficou preocupada com você, Bridget.

Bridget detestava ter preocupado a sua mãe, mas não tinha culpa de ter perdido a memória e muito me­nos de se apaixonar. Mac tinha sido a coisa mais pre­ciosa da sua vida e nem todo o dinheiro do seu avô poderia proporcionar algo igual.

— Mamãe tem que cuidar da sua saúde agora.

Karen Eliot havia se submetido a uma dupla mastectomia havia cerca de quatro meses. Desde então passava muito tempo na casa de Hamptons.

— Ela é dura na queda. Nunca deixa transparecer o que sente, mas sei que ela vai ficar emocionada quando a vir.

Bryan estacionou na frente da casa.

— Não posso entrar. Tenho negócios urgentes para resolver. Mande um beijo meu para a tia Karen, está bem?

— Com certeza. Estes negócios urgentes têm a ver com o restaurante?

— E com o que mais?

— Certo — disse Bridget.

Ela ficou se perguntando se Mac poderia estar certo respeito de Bryan. Será que o seu primo era mes­mo mais do que aparentava?

Bridget saiu do carro e lhe deu um forte abraço quando ele deu a volta para passar sua mochila.

— Obrigada mais uma vez por tudo. Não sei como, nem quando teria recuperado a minha memó­ria se não fosse você.

Bryan beijou sua bochecha. Pouco antes de entrar no carro ele disse:

— Houve um momento em que eu não fiquei bem certo de que você queria recuperar a sua memória.

— Isso é conversa para outro dia, Bryan.

Ela acenou, esperando que ele partisse antes de subir as escadas da casa de seu avô. A imponência do lugar se fez presente assim que ela abriu a porta, des­de o mármore italiano do chão sob seus pés até as an­tigüidades ao longo de todo o corredor. Sua avó Maeve havia decorado a propriedade da mesma maneira como cuidava de si mesma.

Minutos depois, Bridget encontrou sua mãe tran­qüilamente sentada no terraço, olhando para o ocea­no que refletia o brilho suave do sol que começava a se pôr. Bridget ficou observando-a por um bom tem­po antes de se anunciar. Seu rosto estava pálido, de­notando a fraqueza decorrente da quimioterapia. O lenço colorido em sua cabeça era apenas mais um lembrete das conseqüências de seu tratamento.

— Oi, mãe.

Sua mãe voltou-se abruptamente ao ouvir o som da sua voz.

— Bridget, querida.

Ela se levantou com o rosto iluminado por um sor­riso radiante. Bridget correu para os braços quentes e acolhedores de sua mãe.

— Estou tão feliz de ver que você está bem. Teve algum problema mais sério por conta da queda ou da amnésia?

Ela balançou a cabeça, inalando o perfume floral de sua mãe, tão familiar.

— Nada, estou bem. Fiquei preocupada com você.

— Estou me recuperando. É um processo lento, mas vou ficar bem.

O abraço ainda durou um bom tempo. Quando fi­nalmente se separaram para se sentarem de frente para as incríveis ondas do oceano Atlântico, Bridget abriu o seu coração para a mãe e contou tudo sobre Mac e o livro.

Karen Elliot deu-lhe um bom conselho:

— Só você pode saber o que é certo para você, querida.

— Eu me propus a fazer uma coisa e vou levar até o fim. Nunca fui de abandonar o barco, mamãe.

Sua mãe sorriu calorosamente, com uma expres­são sincera em seus olhos verdes e brilhantes.

— Às vezes conseguimos exatamente o que dese­jamos apenas para descobrir que não é nada daquilo que realmente queremos. Dê um tempo a si mesma, querida. Tente descobrir o que realmente importa para você.

— Não tenho feito outra coisa desde que saí de Co­lorado.

— Então deixe-me dar-lhe mais uma coisa em que pensar. Seu pai e eu vamos ser avós. Gannon e Erika acabaram de anunciar que estão esperando um bebê.

— Que notícia maravilhosa!

— Sim, e pretendo ficar boa logo para poder cui­dar do meu neto.

— Você vai ficar, mãe — disse Bridget, suspiran­do. — Quem diria? Meu irmão, o antigo garanhão, vai ser papai!

Karen riu.

— É difícil de acreditar, mas é verdade. Acho que ele finalmente encontrou a sua cara-metade.

— Fico feliz por eles.

Sua mãe tomou as mãos de Bridget nas suas e dis­se:

— Isso é tudo o que eu desejo para meus filhos, querida. Felicidade. Às vezes ela nem é tão difícil de achar. Basta olhar na direção certa.

O quarto de Bridget era espaçoso e tinha es­tilo, mas com certeza não tinha a elegância da man­são de seus avós. Ela sorriu ao andar pelo apartamen­to, rodeado de móveis e objetos de arte que repre­sentavam muito bem a sua personalidade. A decora­ção era informal e contemporânea, com tudo o que uma jovem de 28 anos poderia querer. Ela havia pas­sado a noite no Tides e voltado de carro para a sua casa pela manhã. Ao passar pela Broadway, achou as avenidas extremamente confusas e movimentadas, repletas de lojas, restaurantes e prédios que pareciam estar lá desde o início dos tempos.

Tudo era muito familiar, mas nada parecia ade­quado.

Ela teria que se readaptar. Achou que era natural sentir-se um pouco "fora de órbita" depois de tudo o que havia passado.

Bridget ligou o rádio e ajustou o dial à procura da estação que queria. Ficou marcando o ritmo da músi­ca com os pés, matando o tempo até a chegada de sua visita. Ao ouvir a batida na porta, Bridget suspirou aliviada e acorreu para receber sua amiga.

— Trouxe as fotos do casamento — anunciou a sua nova prima Misty, com um álbum branco nas mãos.

Bridget olhou para a barriga de cinco meses de Misty. Ela parecia muito feliz.

— Que bom que veio me visitar. Entre. As fotografais já ficaram prontas?

— Só os contatos. — Misty então olhou-a de cima a baixo e depois de satisfeita, disse: — Você nos deixou terrivelmente preocupados. Minha madrinha de­saparece logo depois da cerimônia de casamento e ninguém sabe dela! Você não disse a ninguém aonde ia. Ainda bem que Bryan soube como encontrá-la.

— Foi um erro. Da próxima vez, avisarei alguém onde estou.

Misty arregalou os olhos.

— Da próxima vez?

Bridget não pôde deixar de rir.

As duas se sentaram no sofá de couro creme de Bridget numa área do loft conhecida como a grande sala. Ela havia transformado três quartos num único cômodo onde relaxava, lia, assistia TV, ou simples­mente ficava olhando para a rua através das janelas gigantes que iam do chão até o teto.

— Ainda bem que está em casa, Bridget.

— Pois é, em casa — disse ela, mordendo o lábio inferior.

— Opa! Conheço esse olhar. O que foi?

Bridget deu de ombros.

— Nada demais, exceto que me apaixonei pelo ho­mem que provavelmente salvou a minha vida. O xe­rife Mac Riggs. Ele acha que eu sou uma socialite rica e mimada que não tem mais nada a fazer do que causar problemas às outras pessoas. Ele não aprova o que estou tentando fazer.

— Entendo. — Os olhos verdes de Misty brilha­ram. — Um xerife, é? Alto, bonito? Ele deve ficar in­crível de uniforme.

A lembrança de Mac em seu uniforme, e principal­mente sem ele, nunca havia saído de sua mente.

— Você não está facilitando as coisas para mim.

— Ora, se ele é horrível, não há por que se lamen­tar, não é mesmo?

— Você tem razão. Ele é horrível. Horrivelmente turrão. Horrivelmente severo. Horrivelmente sexy e tão horrivelmente bonito que o meu coração parava de bater toda vez que ele entrava em casa.

— Uau! — disse Misty, balançando a cabeça. — O que está esperando, então? É óbvio que você é louca por ele. Volte para o Colorado e faça-o mudar de idéia.

Bridget levantou-se, foi até a janela e ficou olhan­do para a rua lá embaixo. Depois voltou-se novamen­te para Misty.

— Não acredito que possa fazê-lo mudar de idéia.

— Houve um tempo em que Cullen achou que não ia conseguir me fazer mudar de idéia também, mas aqui estou. Estamos muito felizes — disse ela, pas­sando a mão em sua barriga — ainda mais com este bebê a caminho. Bridget, se existe alguma chance, ainda que remota, de reconquistar esse homem, você tem que voltar lá e lutar com unhas e dentes.

Bridget respirou fundo. Ela estava confusa. Havia prometido a si mesma que escreveria o livro e des­mascararia Patrick Elliot. E o que dizer de sua tia 1'in? Ela também merecia ser feliz.

— Ainda não estou certa do que fazer, Misty, mas vou pensar no que me disse.

— Não pense demais, amiga. Você não deve ter sido a única a notar suas qualidades. -— Ela ficou em silêncio e então prestou atenção na música que estava locando no rádio. — Esse cara fez você ouvir música country! Isto tem que significar alguma coisa, minha querida. Bem, não vim aqui só para saber de você. Vim para obter ajuda da editora fotográfica da famí­lia. O que acha de dar uma olhada nos contatos? Pre­nso de ajuda para escolher as fotos que quero am­pliar. São quase cem fotografias.

— Meu Deus, Misty, só isso? — disse ela provo­cando a amiga, feliz por ter algo produtivo para fazer.

Amanhã ela retornaria ao seu trabalho na Charisma.

Bridget caminhou pelos corredores da revista como já havia feito milhares de vezes, calorosamente cumprimentada por todos os empregados e compa­nheiros de trabalho. Ela parou para falar com alguns deles e explicar rapidamente o que havia acontecido. Tia Fin era uma das poucas pessoas com quem es­tava disposta a entrar em detalhes. Bridget vinha tra­balhando com ela por anos e havia se ligado forte­mente a ela. Sua tia cuidava da revista como se fosse a própria filha. Todos sabiam disso. Também com­preendiam a necessidade por trás das horas e da de­voção dedicadas à revista. Havia um vazio na sua tia que Bridget esperava preencher reencontrando a filha que lhe fora tirada logo após o nascimento.

— Bom dia — disse ela, enfiando o rosto na porta do escritório da tia.

Tia Fin estava mergulhada nos papéis, como sem­pre. Ergueu lentamente o seu rosto e, ao vê-la, gritou radiante:

— Bridget!

Ela se levantou e deu a volta na mesa, encontrando Bridget no meio da sala. Abraçou a sobrinha com for­ça e deu um passo para trás para olhá-la nos olhos.

— Graças a Deus! Você está linda.

— Verdade?

Bridget não tinha conseguido dormir direito na noite anterior. Estava pálida e exausta, e não tinha ca­prichado na maquiagem esta manhã. Tia Fin, porém, sempre tinha alguma coisa agradável para dizer.

— Para mim, você está sempre linda. Eu estava tão preocupada. — Ela a conduziu até o confortável sofá que lhe servia freqüentemente de cama quando vira­va a noite trabalhando. — Sente-se aqui e conte-me tudo.

— E o prazo para a entrega das matérias?

— Isso pode esperar. Além do mais, estamos um pouco adiantados. Quero saber de tudo.

Bridget não escondeu nada da tia. Contou-lhe ludo, desde a pista anônima sobre a sua filha até o seu envolvimento com Mac. Sua tia ouviu atentamente. Quando Bridget terminou, ela pegou as suas mãos e lhe disse:

— Você é minha sobrinha querida, Bridget. Eu a amo profundamente e não posso deixar que arruíne a sua vida por minha causa. É claro que quero conhecer a minha filha. Sonho freqüentemente com isso, mas não quero que interfira na sua vida. Pode ser que ela não queira me conhecer, Bridget, mas por via das dú­vidas, decidi me inscrever numa lista de dados com gente do mundo inteiro. Todas as minhas informa­ções referentes à adoção estão lá, num site específico da Internet. Ela poderá me encontrar facilmente se desejar. Só espero e rezo para que ela tenha sido bem cuidada. Vamos nos conhecer quando chegar a hora. Escreva seu livro, se quiser, mas eu a aconselharia a não o fazer. Não vai mudar o que aconteceu e você só vai se envolver num mar de raiva e de ressentimento, além de perder algo muito mais importante: o amor. Nada é mais precioso, Bridget. Nem um best-seller — disse ela com um sorriso triste.

— Mas...

— Nada de mas, querida. Meu pai fez uma coisa horrível que arruinou minha vida, mas você não pode permitir que ele arruíne a sua também. Criar um es­cândalo em torno de Patrick Elliot não vai trazer um minuto sequer de satisfação. Ele vai sair vitorioso da situação, enquanto que você... Você vai perder o ho­mem que ama. Acha que realmente vale a pena?

Bridget apertou os lábios, pensativa.

— Não tinha pensado dessa maneira.

— Quanto vale o amor de Mac para você, Bridget? Se você for capaz de deixar o passado para trás, pode­rá ter um lindo futuro pela frente.

— É uma empreitada e tanto.

— E digo mais, minha querida. Se eu fosse você, pegaria o próximo avião para o Colorado.

Bridget acatou o conselho de sua tia e partiu o mais rápido possível. Ela estava do lado de fora da delegacia de Winchester, com um frio na barriga e o coração batendo loucamente. Já era quase meia-noi­te. Lizzie havia lhe dito que Mac estava fazendo hora extra. A irmã de Mac pareceu surpresa ao vê-la àque­la hora, mas não se retraiu. Simplesmente disse-lhe onde encontrá-lo e lhe deu um forte abraço.

Bridget estava mesmo precisando daquele encora­jamento. Ela sempre encarava seus desafios de cabe­ça erguida, mas aquele era diferente. Era o seu próprio futuro que estava em jogo. Ela estava apostando todas as fichas naquela relação.

Entrou na delegacia e foi cumprimentada por um assistente que a reconheceu.

— Ele está no escritório. Talvez você possa fazer alguma coisa para colocar um sorriso em seu rosto. Ele está mais ranheta do que nunca.

Bridget quase perdeu a coragem, mas se conven­ceu a não fugir. Ela tinha que ir até o fim; caso con­trário, jamais saberia se ainda tinha alguma chance com o homem que amava. Deu os passos que falta­vam até chegar ao seu escritório e bateu levemente na porta.

— Que é? — gritou ele.

O seu protesto a fez sorrir. Ele não a assustava. O som grave de sua voz só fez lembrá-la do quanto ela o amava. Ela abriu a porta e deu um passo para den­tro.

— Trabalhando até tarde?

Mac ergueu a cabeça abruptamente, com a surpre­sa estampada em seu rosto e uma expressão indeci­frável nos olhos, exceto por um pequeno lampejo de esperança. Ele então se recompôs e olhou para os pa­péis nos quais estava trabalhando.

— Se você veio aqui por causa da filha de sua tia, acho que sei onde pode encontrá-la.

— Não estou aqui por causa disso, Mac. Minha tia não precisa, nem quer a minha ajuda. Desisti dessa busca. Ela disponibilizou seus dados numa lista na Internet. Se a sua filha um dia quiser conhecê-la, terá como encontrá-la.

Mac apertou os lábios e manteve os olhos baixos.

— Encontramos seu carro de aluguel no lago, a cerca de um quilômetro e meio de onde encontramos os outros. Pegamos o ladrão também.

— Que bom. Sabia que você o encontraria.

— Sua bagagem não estava mais lá. Ele deu cabo dela.

— Não importa.

Mac finalmente ergueu os olhos para olhar para ela, mas seu olhar se fixou em sua garganta. Bridget brincou com o colar que ele havia lhe.dado, o colar que ela não mais havia tirado do pescoço.

— Por que está aqui, então?

Bridget sorriu e caminhou até a mesa de Mac. Ele se reclinou na cadeira, tentando manter a distância entre eles. Não podia baixar a guarda. Não até saber por que ela tinha vindo a Winchester. Ela estava linda e elegante, mesmo de jeans. Não era da Levi's, mas provavelmente de alguma outra marca famosa que custava cinco vezes mais do que deveria. A camiseta era uma das que Mac havia dado. Ela havia enrolado as mangas e dado um nó na altura da cintura. As ini­ciais identificando o Departamento de Polícia do Município de Winchester cobriam os seus seios, pro­vocando as mais picantes associações na mente de Mac.

—Céus!

Bridget remexeu no fundo da sua grande bolsa de mão preta e tirou de lá uma sacola do Colorado Chuk's.

— Um para mim e um para você — disse ela, pon­do os dois hambúrgueres Pike's Peak na sua frente.

O odor dos hambúrgueres ensopados de chilli e alho infestou o lugar, mas Mac não se importou nem um pouco. Um sorriso ergueu os cantos de seus lá­bios.

— Vim à procura de uma boa refeição e para regis­trar o desaparecimento de uma pessoa. Bridget Elliot.

Ela se sentou sobre a mesa de Mac. Ele aspirou o seu perfume e admirou os seus cabelos loiros e sedosos e aqueles enormes olhos azuis, cor de alfazema.

— Ela desapareceu?

— Sim, a parte cínica e impiedosa dela. E tenho certeza de que ela jamais será encontrada novamente. Foi-se para sempre.

— E o que mais devo colocar neste registro?

— Bem, parece que ela ainda tem o desejo de es­crever um livro.

Mac arqueou as sobrancelhas e maldisse a espe­rança que sentiu ao vê-la entrar. Ela não tinha muda­do. Ainda queria escrever aquele maldito livro.

— Um livro infantil. Parece que Bridget adorou a experiência de ler para as crianças na livraria de Rory. Ela acredita ter descoberto sua verdadeira vo­cação: literatura infantil. E é tudo o que ela planeja escrever no momento, Mac. — Bridget sorriu para ele com os olhos brilhantes. — Jane e Bridget são a mesma pessoa. Não posso negar quem sou. É verda­de, sou rica e tive privilégios com os quais a maioria das pessoas nem ousa sonhar, mas mudei, Mac. Viver aqui com você abriu meus olhos e o coração para coi­sas mais importantes. E tudo o que quero agora é seu amor, se ainda quiser dá-lo para mim.

A esperança de Mac renasceu. Ela tinha desistido da idéia de escrever aquele livro escandaloso sobre sua família. Talvez fosse mais parecida com Jane Doe do que ele tinha imaginado.

Mac levantou-se de sua cadeira e ficou de frente para ela. Apoiou as duas mãos sobre a mesa e a pren­deu numa armadilha.

— Quer dizer que está disposta a abrir mão das viagens para a Europa, das roupas de grife e de um estilo de vida com o qual a maioria das mulheres so­nha?

Bridget passou os braços em torno do seu pescoço.

— Pela chance única de comer hambúrgueres Pike's Peak, cavalgar em seu rancho montada sobre Daisy Mae e acordar com você todas as manhãs, xe­rife Riggs? Pode apostar que sim.

Mac mal podia acreditar que tinha ouvido direito. Com o coração acelerado e a cabeça rodando, ele teve de perguntar novamente.

— Tem certeza?

O sorriso de Bridget sumiu e, por um momento, ele achou que tinha imaginado tudo.

— Mac, toda a minha família mora em Nova York. Eu os amo. É claro que terei de ir para lá de vez em quando.

— Acho que podemos dar um jeito nisso.

— É mesmo? — disse ela, com uma nota de espe­rança em sua voz.

— Dê só uma olhada nisto aqui.

Ele abriu a sua gaveta e lhe estendeu um bilhete escondido no fundo.

— Uma passagem para Nova York — disse ela, um pouco confusa. Seus belos olhos azuis brilharam intensamente. — Você ia me ver amanhã?

— Estava pretendendo bancar o idiota. Queria bo­tar algum juízo na sua cabeça e convencê-la a voltar para casa.

A alegria se espalhou pelo rosto de Bridget e duas covinhas surgiram nos cantos de sua boca. Mac nun­ca havia sentido algo tão forte antes. Nunca imagina­ra que poderia amar alguém tão diferente de si mes­mo. Ele e Bridget vinham de mundos completamente diferentes, mas lá estava ele, tão profundamente apaixonado por ela, a ponto de colocar todas as sua reservas e dúvidas de lado para assumir o maior risco de toda a sua vida.

— Eu sou louco por você, querida.

Bridget jogou a cabeça para trás com os olhos bri­lhando.

— Eu também sou louca por você, Mac.

Mac vasculhou mais uma vez em sua gaveta e ti­rou de lá uma caixa de veludo. Bridget perdeu o fôle­go ao se dar conta do que se tratava.

— Bem, posso muito bem fazer papel de idiota hoje mesmo. Bridget Elliot, eu a amo do fundo do meu coração. Você...

Bridget agarrou a caixa preta e a abriu.

— Sim, sim! Oh, Mac, é lindo. Sim!

Ele soltou uma gargalhada e colocou o anel com diamante no seu dedo.

—... aceita se casar comigo? — concluiu ele, ape­sar de já ter obtido a resposta. — Ser a minha mulher?

— Oh, Mac, eu o amo tanto — disse ela num sus­surro, tão enlevada quanto ele.

Ele se curvou e beijou a sua futura esposa profun­damente, com amor e devoção. O beijo foi ficando cada vez mais longo e intenso, suas bocas e seus cor­pos ávidos uns pelos outros. Bridget deitou-se sobre a mesa de Mac, fazendo os papéis voarem pela sala.

— Mac — sussurrou ela com a voz rouca. — Você acha que é crime fazer amor no escritório do xerife?

Mac se ergueu e foi até a porta.

— Provavelmente — disse ele, trancando-a direitinho antes de voltar para a mesa e cobriu o corpo dela com o seu. Seus lábios então cobriram os dela num beijo longo e sensual. — Mas seria um crime maior ainda não o fazer, minha querida. Seria prati­camente um pecado.

 

                                                                                Charlene Sands 

 

 

                      

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