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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


QUANDO UMA GAROTA SE APAIXONA / Elisa Braden
QUANDO UMA GAROTA SE APAIXONA / Elisa Braden

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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A senhorita Viola Darling sempre consegue o que quer. Sempre. E o que mais quer é casar-se com James Kilbrenner, o conde de Tannenbrook. Ela se apaixonou pelo gigante, taciturno, brutalmente mal-humorado conde, e não terá outro. O problema?
Ele não está interessado. Nem sequer um pouco. Mas Viola não pode se dar ao luxo de perder.
Em seu coração só tem James. Se ao menos ele se dobrasse a um pouco de persuasão.
É um conde como nenhum outro...
James Kilbrenner sabe quão decidida pode ser a muito formosa Senhorita Darling: a mulher tola o encurralou em um jantar perfeitamente respeitável e destroçou sua gravata antes que pudesse escapar. Ele não tem nenhum desejo de casar-se, menos ainda o desejo de ser açoitado, e certamente não beijará seus lábios desejáveis até que ambos estejam sem fôlego, sem importar quão tentado esteja.
E só fará o correto...
Lançado em seu caminho por uma marquesa intrometida, James se encontra sob o assédio sensual de uma pequena e coquete fada que põe tanto seu coração quanto sua promessa de permanecer solteiro em risco. E quando o escândalo se aproxima, aprende da maneira mais dura que um homem não pode resistir muito antes que a indomável Senhorita Darling consiga o que quer.

 

 

CAPÍTULO 1

“Use sua colossal cabeça para algo mais que martelar uma pedra, moço. Ou devo pensar em tudo?”

A Marquesa viúva de Wallingham ao Conde de Tannenbrook em um momento de perplexidade ante a natureza inquebrável de dito cavalheiro.

4 de junho de 1802

Netherdunnie, Escócia

— É mais duro que esse bloco, moço — queixou-se o Sr. McFadden desabando contra a porta de bordas irregulares.

— Disse-te que me deixasse isso, posso ser jovem, mas tenho os braços fortes.

Jamie se deteve enquanto se endireitava com o bloco em seus braços. Mesmo aos dezesseis anos, podia levar o dobro do que outros homens podiam com a metade de esforço. Certamente, não deixaria um homem quarenta anos mais velho que ele levantar tal carga quando poderia fazê-lo sem perder o fôlego. Levantou uma sobrancelha ao marmorista que lhe tinha ensinado tudo nos últimos cinco anos.

— Devo pô-la aqui, então, em vez de no seu banco?

McFadden grunhiu, olhou suas próprias mãos nodosas e o forte aguaceiro que havia além das janelas de sua oficina, logo suspirou e franziu o cenho.

— Não seja tolo.

Mantendo sua expressão cuidadosamente neutra, Jamie moveu o pesado bloco de arenito à mesa de trabalho do McFadden, dobrando os joelhos para colocá-lo brandamente sobre a madeira arranhada.

Todo o dia tinha lutado contra um sorriso. Deleitava-o a falsa rudeza e o orgulho obstinado do McFadden.

Olhou a superfície lisa que tinha obtido em seu próprio bloco de pedra, o começo de um jogo de mísulas para uma grande casa entre Netherdunnie e Edimburgo.

Mesmo com a chuva espessa e constante que convertia os caminhos em ensopados de lama, para ele era um dia formoso, luminoso e com brilho.

Por ela.

Hoje, ela estaria de acordo em casar-se com ele. Podia senti-lo da mesma maneira que os nódulos do McFadden podiam sentir uma tormenta que se aproximava.

— Que demônios te deixa tão feliz, moço? — Grunhiu McFadden, franzindo o cenho em direção ao Jamie.

Imediatamente, Jamie deixou de sorrir.

— Me dê o martelo — disse o ancião, assentindo com a cabeça à ferramenta perto da mão do Jamie.

Entregou o martelo ao seu antigo professor e observou McFadden começar a desossar as bordas do bloco com golpes enfáticos contra a cabeça de seu cinzel. Aparas de arenito voaram, golpeando o avental de couro de Jamie.

— Pode ir vê-la, parece que é onde tem a mente.

O sorriso se abriu de novo.

— Obrigado, senhor McFadden. — Jamie se tirou o avental com fortes puxões e o jogou na cavilha da parede antes de correr para a porta da oficina.

— Devagar, tolo, controle sua força e se abaixe.

Jamie mal ouviu a precaução, mas era desnecessária quando tinha brotado o seu tamanho atual, dominando a todos no povoado, tinha esmagado mais que uns poucos dentes com seu crânio antes de aprender a abaixar-se quando passava por uma porta. Também tinha requerido só um caso de empurrar acidentalmente a sua irmã ao chão com um golpe brincalhão de seu ombro antes de dar-se conta de que sua nova força requeria uma grande moderação, especialmente com as mulheres.

Agora, embora o coração lhe exigisse que se apressasse para encontrar-se com seu formoso amor, deteve-se o tempo suficiente para desenganchar seu chapéu e o pôs na cabeça antes de sair ao dilúvio prateado.

Não sentiu uma gota sobre sua pele, não prestou atenção a nenhum das saudações gritadas enquanto caminhava resolutamente pelos enlameados caminhos de sua aldeia, passando pela ferraria onde seu pai tinha trabalhado até sua morte, além da pequena estalagem que acolhia os viajantes no caminho a Edimburgo.

Começou a cruzar a extensão verde com apenas um pensamento: Allison. Ela seria sua esposa.

Já não era um aprendiz, agora era digno do salário de um camponês, e embora sua mãe pudesse pensar que era um garoto, em todas as medidas era um homem: converteu-se em um artesão, talvez ainda não de renome similar ao McFadden, mas um que trabalhando ganhou seu caminho. Ele poderia manter uma esposa e possivelmente uma ou duas criadas. Além disso, era mais alto e maior que todos no povoado, ou qualquer uma que tenha visto passar pelo povoado, para o caso. O largo de seus ombros o obrigou a inclinar-se através de corredores estreitos. Por último, mas não menos importante, já se tinha deitado com uma garota, sua garota, três vezes.

Ele não a tinha quebrado em pedaços, como temia. Não, tinha encontrado prazer incomparável e sua descarada e formosa Allison também o tinha encontrado, se seu gemido e sua conduta fossem uma indicação. Seu sorriso voltou. Não podia esperar a vê-la de novo.

A grama aparada ficou plaina e suave sob o ataque da chuva, fazendo com que o chão escorregasse e desacelerasse seu progresso. A urgência vibrava em seu sangue. Talvez Allison o deixaria tocá-la de novo. Suas palmas tilintaram com a possibilidade.

— Jamie!

Começaria por beijá-la, se ele se apressasse sem dúvida a apanharia atrás da leiteria de seu pai, esperando-o debaixo do robusto carvalho, seu sorriso brilhava como boas-vindas.

— Devagar, parvo — uma voz feminina ecoou atrás dele. — Não posso correr com estas saias.

Olhou por cima do ombro para ver sua irmã esforçar-se por alcançá-lo, a borda de seu gorro fazia uma queda de água quase reta.

— O que está fazendo, Nellie? — Gritou através dos dois metros que ela lutava por fechar. — Deve ajudar a mamãe a preparar o jantar.

Finalmente, ela o alcançou, com uma mão apoiada em seu abdômen enquanto lutava por respirar, sua única irmã era dois anos mais velha, alta para uma mulher, e embora compartilhassem o mesmo cabelo loiro escuro, felizmente seus traços eram muito mais agradáveis de ver que os seus.

Só recentemente, Patrick Abernathy tinha vindo à oficina vestido com sua roupa ainda que humilde, pedindo permissão para cortejá-la. Jamie tinha zombado dos elevados ares do homem. Patrick era o filho de um ferreiro, tal como o era Jamie, não um senhor de Edimburgo com um elegante pescoço e uma falsa cortesia, mas Patrick tinha insistido em que Nellie merecia tal consideração.

Tinha razão, tinha pensado secamente. Nellie era certamente a melhor flor no campo e embora tivesse outorgado sua permissão, tinha lutado para não pôr os olhos em branco ante a sincera consideração do Abernathy.

A delicada pétala que era sua irmã agora lhe golpeava o braço com seu habitual e forte golpe.

— Mamãe me enviou para te buscar, estive te perseguindo através desta maldita chuva desde que saiu da oficina. Não ouviu que te chamava? — Com as sobrancelhas retas e loiras em sinal de desgosto, Nellie esticou o pescoço e inclinou o queixo.

Encolhendo os ombros, respondeu.

— Não tenho tempo para conversar.

— Idiota, tem assuntos mais importantes que atender a filha desse leiteiro. Adverti-te que alguém soltaria sua armadilha antes que pudesse...

Suspirou, a irritação deslizando-se por sua nuca como uma chuva implacável.

— O que mais quer, Nellie?

— Um homem veio ver-te. Mamãe deseja que retorne agora.

— Que homem?

— Seu nome é Sr. Hargrave, da Inglaterra, insiste em falar contigo.

O frio da roupa empapada de chuva do Jamie penetrou sua pele. Tinha estado esperando estar nos braços de Allison para esquentar-se, mas parecia que esse conforto não era iminente.

Maldito inferno.

— Vem agora — disse Nellie, com sua voz cheia de zombaria. — Sua moça leiteira estará novamente amanhã, sem dúvida. Ele franziu o cenho, mas ela já tinha girado para o norte, caminhando para sua casa. Olhando brevemente para o leste, onde sua formosa Allison esperava debaixo de um carvalho protetor, seguiu as saias encharcadas de sua irmã, seus passos grandemente mais pesados que antes.

Em questão de minutos, puderam ver o chalé de pedra de sua família, robusta e cinza sobre uma pequena e verde elevação nos subúrbios da aldeia.

A ambos os lados da porta vermelha, os delfínios de sua mãe ainda não tinham florescido, a primavera tinha empapado as plantas em forma de lança até que suas folhas caíram abatidas. Perguntou-se como um inglês veria sua morada ordenada, mas humilde.

— O que quer de mim, Nell?

Sua irmã lhe lançou um breve olhar por debaixo de seu chapéu e encolheu os ombros.

— Não sei, possivelmente ele queira te contratar.

Duvidoso, Jamie não tinha ainda a reputação para atrair os escoceses ricos, e muito menos alguém ao sul da muralha romana, automaticamente inclinou a cabeça enquanto seguia Nellie através da porta vermelha e para o interior escuro. Ao entrar diretamente no salão, sua primeira visão do inglês foram as estreitas costas do homem vestidas com lã azul refinada e uma cabeça de cabelo castanho com nervuras brancas.

— Jamie — disse sua mãe, suas sobrancelhas loiras se arquearam no babado de seu capuz, suas mãos alisaram seu avental enquanto se levantava. — O Senhor Hargrave veio com notícias para nós.

O homem se voltou, com um chapéu negro em uma mão e um grosso pacote de papéis na outra. O pacote estava contido dentro de uma encadernação de couro atado com uma corda. Seu rosto era estreito, seu nariz afiado e seu queixo largo. — James Kilbrenner?

— Aye.

Inclinando-se, o homem mostrou ao Jamie a parte superior de sua cabeça marrom com fios brancos. Jamie piscou, perguntando-se se este estranho e estreito inglês tinha deixado cair algo, então, viu como o homem se endireitava e olhava-o aos olhos.

— Me permita ser o primeiro em saudá-lo adequadamente — disse Hargrave em voz baixa, com um discurso culto e discreto. — Meu senhor.

Se Jamie não tivesse vislumbrado o rosto de sua mãe nesse momento, teria tomado um punhado do casaco de lã azul do Hargrave e o teria jogado rapidamente à tormenta. Mas os olhos de sua mãe estavam completamente sóbrios e apontados ao Jamie. Ela tinha usado a mesma expressão no dia em que seu pai foi queimado o suficiente para produzir uma morte prolongada. Bess Kilbrenner não era alguém de levantar um tom e chorar a menos que o assunto fosse grave.

— Temo que se equivoca, Sr. Hargrave — respondeu Jamie. — Não sou mais laird que uma ovelha.

Hargrave limpou a garganta e agitou seu chapéu para as cadeiras próximas ao fogo.

— Possivelmente deveríamos nos sentar.

Jamie cruzou os braços sobre seu peito.

— Não é necessário — ele assentiu com a cabeça para o pacote de papéis agarrados na mão do homem. — O que for que tenha trazido, se houver uma reclamação de que sou qualquer outra coisa que não seja o filho de um ferreiro, é melhor que atire esses papéis no fogo.

— Está louco, Jamie? — Sibilou Nellie atrás dele. —Escuta o homem. Que dano pode fazer?

Os olhos sérios sobre um nariz afiado se encontraram com o olhar de Jamie.

— Desejará escutar o que devo dizer, juro.

Jamie olhou à sua mãe e logo a Nellie, cuja mandíbula ficou boquiaberta, com o olhar fixo em Hargrave como se o homem logo realizasse façanhas espetaculares com seu elegante chapéu.

— Tome assento — disse, assinalando as ásperas cadeiras de madeira que sua mãe havia coberto com limpas almofadas verdes. Sua mãe limpou a garganta e murmurou algo a respeito de preparar o jantar. Agarrou o braço de Nellie a caminho da cozinha e tirou a irmã de Jamie da habitação. Agradecidamente.

Jamie pendurou o chapéu no gancho de ferro ao lado da porta e se passou uma mão pelo cabelo antes de caminhar lentamente para a maior das duas cadeiras.

Deixou-se cair nela, sentado enquanto observava os cuidadosos movimentos de Hargrave quando o inglês colocou seu chapéu no chão e afrouxou a corda do pacote de papéis.

— Seu pai era ferreiro, de fato, meu senhor...

— Não me chame assim.

Hargrave se deteve e assentiu solenemente.

— Entendo, tudo isto é bastante... inesperado.

Jamie simplesmente sustentou o olhar do homem durante longos segundos, esperando que chegasse ao ponto.

— Como dizia, seu pai era ferreiro, John Kilbrenner. Seu avô era James Kilbrenner, o capitão de um navio na marinha de sua Majestade. Até que perdeu um braço, então...

— Ele era um velho azedo que bebia a metade dos lucros do meu pai, — Jamie agarrou os lados de sua cadeira e se inclinou para diante — Por que veio, senhor Hargrave?

Uma mão magra pousou sobre os papéis.

— Seu pai era ferreiro, seu avô um capitão naval, mas seu tataravô, seu tataravô foi um conde, meu senhor, o senhor Kilbrenner, um Lorde inglês especificamente, foi o primeiro conde de Tannenbrook.

O frio escorreu de sua camisa empapada, em seu peito um calafrio lhe percorreu a pele, embora o fogo sob a curva de seus dedos em suas palmas ia adormecendo.

— O que deveria importar agora? Se um homem que leva muito em sua tumba era um senhor nobre, eu sou marmorista, acabo de completar minha aprendizagem. Um título não significa nada para mim.

— Temia que isto acontecesse.

Jamie olhou ao homem.

— Por quê?

Hargrave manteve seu olhar fixo.

— Porque meu empregador, William Kilbrenner, o quinto conde de Tannenbrook, morreu e seu único filho infelizmente o precedeu na morte, o que significa que o título agora deve ascender as linhas do primeiro conde, às de seu bisavô. De cuja origem, é o único homem sobrevivente.

— Cometeu um engano.

— Não há engano, senhor Kilbrenner é o legítimo herdeiro, o título e a propriedade em Derbyshire são seus.

— Meu lugar está aqui. Não na maldita Inglaterra.

Agora, foi o turno de Hargrave de inclinar-se para frente, a lã azul se esticou sobre os ombros estreitos do homem, mas as costuras finamente costuradas não estavam enrugadas nem tensas.

— Desculpe, Sr. Kilbrenner, mas, de fato, você é o sexto conde de Tannenbrook. Aceite-o ou não, esse fato permanece.

— Encontra alguém mais.

Hargrave negou com a cabeça.

— Não há ninguém mais, mas inclusive se o houvesse, a única forma em que ele herdaria seria após sua morte, não pode simplesmente entregar seu título a outro. É seu por direito e por sangue, e depois será de seu filho.

— Não tenho nenhum filho.

— Ainda. Seu filho mais velho nascerá e um dia herdará tanto o título como o patrimônio. Casar-se e engendrar um herdeiro, é o dever de todo...

— Dever? — Jamie apertou a madeira de sua cadeira até que ouviu que começava a rachar-se. — Meu dever é cuidar de minha mãe e minha irmã. Este título inglês me ajudará muito?

Apertou os lábios, baixou os olhos brevemente e soltou um suspiro.

— O alcance de suas responsabilidades deve expandir-se necessariamente, Sr. Kilbrenner. Há pessoas cujas vidas dependem de sua participação direta no patrimônio.

Jamie franziu o cenho.

— Quem?

— Os aldeãos que vivem perto de Shankwood Hall ao seu serviço, inquilinos, muitos habitam nas terras de Tannenbrook por gerações. Se não cumprir com suas obrigações, as consequências seriam terríveis para eles.

A resposta de Jamie foi uma só palavra, mas surgiu como um grunhido desdenhoso: — Sassenachs.

— São ingleses sim, mulheres inglesas, meninos ingleses, agricultores ingleses que trabalham a terra tão duro quanto seus companheiros escoceses.

— Não são minha gente.

O olhar de Jamie se fixou em Hargrave, por isso se surpreendeu ao escutar a voz de sua mãe, suave e firme, da porta até a cozinha.

— Parece que são, Jamie.

Seus olhos voaram aos dela.

— Ele quer me afastar daqui, mamãe. — Ele engoliu. Deixar Allison? Deixar as crianças que teriam juntos, a casa de campo que ele tinha sonhado lhes construir depois do matrimônio, a oficina que McFadden lhe passaria uma vez que o velho se desse conta de que já não podia dirigir um cinzel. Não, a vida de Jamie, seu futuro, estava em Netherdunnie. Ele não o atiraria por um título que nunca tinha querido.

Sua mãe se moveu vários passos para ele, seus olhos estavam tranquilos e franzia o cenho.

— É seu dever filho. Na vida, nossos planos podem durar só enquanto tenham sentido. A morte de seu pai deveria te haver ensinado isso.

Hargrave se levantou e limpou garganta.

— Os recursos serão proporcionados pelo patrimônio para o cuidado de sua mãe e sua irmã. Sr. Kilbrenner, qualquer que tenham sido seus lucros como marmorista, não podem coincidir com a vida que agora pode proporcionar como o Conde de Tannenbrook.

— Aceita, Jamie — disse mamãe em voz baixa.

Ele empurrou sua cadeira e se aproximou de sua pequena mãe, agarrou suas mãos ásperas nas suas.

— Eu não quero isto, mamãe — murmurou desesperadamente, sentindo-se como um menino pequeno de novo, lhe rogando permissão para ir pescar em lugar de varrer pisos na ferraria.

Sua resposta, como o tinha feito então, brilhava em seus olhos fixos, a boca relaxada e sem sorrir, ela aceitou o que a vida lhe exigia, e ele devia fazer o mesmo.

Ele deixou que seus dedos se deslizassem através dos seus, sentindo que seu futuro se rachava ao longo de um enguiço que não tinha podido ver. No espaço de segundos, a vida que tinha estado forjando se dividiu e se converteu em algo irreconhecível. Não desejado.

Inevitável.

— Deveríamos partir logo que seja possível, Sr. Kilbrenner, o quinto conde sofreu uma longa enfermidade, e o imóvel tem caído em mal estado. Muitos assuntos críticos requerem sua atenção.

Apertando os dentes, baixou os olhos às botas, enrolou seus dedos em punhos.

— Weel-a-weel — murmurou. — Na primeira manhã de sol, pode ficar para jantar, se quiser.

— Oh, mas...

— Tenho assuntos que requerem minha assistência, senhor Hargrave — Não lhe importou que sua voz emergisse como um latido ou que Hargrave fosse vinte anos mais velho que ele ou que sua mãe franzisse o cenho ante sua rudeza. —Assim é como será.

Um breve silêncio foi seguido pela resposta do Hargrave, silenciosa e respeitosa, perturbadora para os ouvidos de Jamie.

— Sim, meu senhor.

***

Ela estava ali, esperando debaixo do beiral quando desceu a última colina no caminho à granja de seu pai, encharcado até os ossos, viu primeiro o algodão floreado de suas saias, logo as mechas de seu cabelo, um tom mais escuro que o arenito úmido.

— Allison — murmurou, ao ver seu rosto formoso aparecendo pelo canto do estábulo, com um sorriso acolhedor e aliviado. Percorreu os cinquenta metros restantes, esquivando um ramo baixo de carvalho. Ele golpeou as folhas molhadas com uma mão e alcançou sua cintura com a outra, inclinou-se para tomar seus lábios com os dele.

Rouca, a risada feminina o saudou. Mãos fortes e femininas se deslizaram sob seus braços para agarrar suas costas.

— Jamie — ela murmurou contra sua boca enquanto seus seios firmes pressionavam contra seu peito. — Me perguntava se viria.

Ele amava sua voz, baixa e rouca. Adorava que ela fosse alta e robusta, seus músculos macios de atender as vacas, espremer roupa e conduzir água. Cada vez que suas coxas lhe apertavam os quadris, sua força lhe afastava um pouco por temor de quebrá-la.

E agora, ele devia deixá-la para trás, embora fosse por um curto tempo, a dor de sua despedida se fez forte e fria.

— Ah, Allison — gemeu, deixando cair sua testa sobre seu largo ombro, sentindo que lhe acariciava as costas com movimentos largos e calmantes.

— Onde esteve? Esperei-te mais de uma hora. Minha mãe se perguntará por que demorei tanto em ordenhar uma vaca. O que aconteceu?

Ela sempre cheirava igual, como a erva, a terra e o leite. Não doce nem a flores, mas bom, estava bem. Ele a inspirou, esperando poder conter um pouco dela dentro dele enquanto estivesse fora.

— Tenho notícias — disse com voz áspera. — Eu não gosto, mas devo ir à Inglaterra.

Seus músculos se esticaram contra ele. Sua bochecha estava quente contra sua orelha.

— Inglaterra?

Afastou-se o tempo suficiente para explicar sobre o Sr. Hargrave e o maldito título inglês que não queria. Observou como se desvanecia a cor de suas bochechas enquanto descrevia suas novas circunstâncias.

— Há um imóvel, um que devo ver imediatamente, mas lhe juro isso, querida, formosa Alisson: voltarei aqui e quando o fizer nos casaremos. Nada nos deterá, nada mudou.

Com os olhos baixados ao seu peito, ela puxou os laços de sua camisa, seu corpo terrivelmente imóvel.

— Me olhe — exigiu.

Ela obedeceu, mas os olhos tipicamente tão quentes como o chá recém feito, brilhavam planos e solenes. Os lábios largos que geralmente se inclinavam com um sorriso torcido agora tinham uma curva agridoce.

Apertou seus ombros, passou uma mão por seu suave e liso cabelo que levava em uma trança.

— Tenho a intenção de me casar contigo, moça, um título Sassenach não muda nenhum dos meus planos para nós.

Sacudindo a cabeça, ficou nas pontas dos pés para depositar um suave beijo em seus lábios.

— Terá muito com o que preocupar-se para sentir minha falta, Jamie, é um senhor agora, cuide do que deve.

Estava-a perdendo, ele podia ver, sentir, ouvir em sua voz e sua postura e na forma em que ela evitava seu olhar.

— Escreverei todos os dias e me responderá.

Deu-lhe uns tapinhas no peito.

— Está bem.

— E quando retornar a Netherdunnie, será minha esposa, Allisson, se converterá em lady Tannenbrook, nossos filhos viverão grandes vidas.

Seu sorriso torcido reapareceu, mostrando o dente quebrado que tanto amava, mas seus olhos permaneceram tranquilos e tristes.

— Grandioso, Jamie. Grandioso.

Abraçou-a com força, logo sentindo seus braços ao redor de sua cintura, sua bochecha contra seu peito, ela duvidava dele, obviamente tinha os mesmos pensamentos que tinha tido ao escutar as notícias do Hargrave: um camponês não deveria ser conde, e a filha de um leiteiro era inclusive menos adequada para o papel de condessa.

Mas não lhe importava, Allison era a garota que amava, e ela era com quem se casaria, com título ou não.

— Voltarei — sussurrou, mais para si mesmo que para ela. — Deve esperar por mim, Allison. De acordo?

Seus braços lhe apertaram a cintura em silenciosa tranquilidade, a água brotava das nuvens e a névoa formava uma cortina sólida no beiral do celeiro. O som afogou seu suspiro, afogou o batimento do seu coração até que quase pôde acreditar que era um dia normal, um abraço comum com seu amor, não um adeus.

— Espera por mim, moça — suplicou, apertando-a com mais força. — Voltarei, essa é uma promessa que quero que recorde.

***

Um ano depois...

Nada tinha mudado. Nem a aproximação a Netherdunnie com seus campos amadurecidos e verdes e suas ovelhas tosquiadas. Nem a casinha de arenito com seu teto fundo e três freixos justo antes da última curva.

— Nem sequer o clima — murmurou James para si mesmo, golpeando um nódulo contra o marco da janela da carruagem, escutando a chuva competir com o chiado e o barulho do veículo.

— Clima horrível. — A divertida voz inglesa, pura e aristocrática vinha de seu lado. — Tome cuidado, Tannenbrook, está mostrando seu sotaque escocês.

James olhou seu amigo, Lucien Wyatt, um segundo filho de olhos escuros e cabelo negro que levava um sorriso perpétuo em seu rosto muito bonito.

— Estamos na Escócia, imbecil.

— Deixa-o estar, Luc — a reprimenda silenciosa veio de Gregory, o irmão mais velho de Lucien. Graças a um longo nariz, Gregory não era tão bonito, mas sua natureza serena e séria se adaptava ao seu papel como herdeiro de seu pai. — É a primeira vez que olha a sua aldeia em um ano.

Lucien riu entredentes.

— Duvido que o povoado seja o que ele imagina quando cai na cama cada noite — James empurrou o magro ombro de Luc, deixando que um sorriso tomasse seus lábios quando seu amigo fez uma careta e esfregou o lugar.

— É da minha futura condessa que fala. Cuidado com sua língua.

Embora só fosse um ano mais jovem que James, Luc era muito mais travesso, e tinha poucas responsabilidades além de contar as saias que conseguia levantar. Ele e Gregory eram os filhos de Lorde Atherbourne, cuja propriedade, Thornbridge Park, encontrava-se em Derbyshire.

Vizinhos. James queria rir em voz alta ante a ideia. Inclusive os nomes das duas propriedades não se podiam comparar. Thornbridge Park era um palácio dourado e brilhante composto de uma requintada simetria paladina e a pedra calcária mais fina. Shankwood Hall, por outro lado, estava composto de blocos quadrados sem frontões, sem colunas.

Só uma série de chaminés que subiam ao céu como os últimos cabelos na cabeça do velho McFadden.

Quando James viu pela primeira vez seu desmoronamento cinza, notou imediatamente a deterioração: as gretas que se alargavam debaixo do primeiro piso. Paredes de pedra descoloridas de vermelho devido ao fogo no segundo piso.

As janelas estreitas e sinuosas que salpicavam com pouca frequência lhe davam pouca elegância, de fato toda a estrutura poderia ter sido uma prisão por toda sua beleza. A casa era pouco impressionante, desgraciosa, ao seu redor tinha um pátio coberto de arbustos em geral, havia pouco que recomendar, além do tamanho e uma certa robustez. Tinha durado mais de duzentos anos, depois de tudo.

Hargrave tinha passado toda a viagem à Derbyshire explicando as reparações que deviam ser passadas e financiadas, sempre eficiente e útil, o advogado tinha feito uma lista. Tinha estimado que, com os ganhos das granjas e rendas do imóvel, as reparações levariam apenas dez anos.

Dez anos.

À sua chegada a Shankwood, James não queria nada mais que agrupar a lista de Hargrave em um maço e empurrar o papel pela estreita garganta do advogado.

Logo tinha querido deixar o caminho pelo qual tinha vindo: sair da Inglaterra e retornar à Escócia. À Allison.

Em troca, tinha aceito a contragosto reunir-se com os serventes que ficaram depois da morte do quinto conde, a maioria deles eram quase tão velhos como a sala em si, mas o tinham saudado como se fosse um filho perdido há muito tempo e seu senhor. Tinha sido um pouco embaraçoso, na verdade, mas não tinha podido rechaçar sua amabilidade, depois, tinha aceito a contragosto percorrer o povoado. Isto tinha selado seu destino de uma maneira que não poderia haver predito.

Shankwood Hall se assentava totalmente (e o fez a sério) em meio de uma pitoresca aldeia conhecida, estranhamente, como Shankwood. O lar de menos de setenta pessoas, a pequena coleção de humildes casas de campo e lojas de pedra lhe tinham recordado Netherdunnie. Encontrou-se pela primeira vez com o ferreiro Jones, cujo amplo sorriso e seus avultados antebraços lhe tinham recordado seu pai, logo conheceu as gralhas, um antigo e amável par de irmãs que costuravam quando seus dedos não lhes doíam. — A chuva, já sabe — sussurraram confiantes, já que lhe tinham servido uma taça da melhor cerveja que tinha provado em sua vida. Durante a semana seguinte, tinha conhecido todos os aldeãos, até o novo bebê nascido do Sr. e Sra. Fellowes, seu quinto filho, um menino ao qual chamaram James em honra ao seu novo senhor.

Toda a resistência natural dos escoceses se drenou dele como a cerveja de uma jarra gretada. Em todas os rostos tinha visto sua mãe, seu pai, McFadden ou Nellie, as dúzias de outras pessoas que tinha conhecido em toda sua vida. Eram familiares, estas pessoas talvez não falassem como ele, mas como Hargrave repetia incessantemente, necessitavam-no.

A ninguém mais permitiu administrar seus aluguéis ou autorizar reparações em seus tetos ou aprovar a construção de uma nova padaria. Só ele, James Kilbrenner, o sexto conde de Tannenbrook, podia fazer estas coisas, sem ele, cada servente e aldeão eventualmente se veria obrigado a abandonar seu lar, e por isso ficou.

Com o passar do verão, familiarizou-se com Gregory e Lucien, que estavam fascinados com seu sotaque e seu tamanho, suas instalações com pedra e sua forma rude.

Depois que Hargrave mostrou quanto de seu papel como Lorde Tannenbrook envolvia não só o governo de suas terras, mas também sua influência nas leis e políticas de todo o reino, James se deu conta do mal preparado que estava um camponês escocês para tomar assento na Câmara dos Lordes.

Felizmente, Gregory e Lucien tinham estado ansiosos por ajudá-lo. Tinham-lhe tomado sob sua tutela, compartilhando seus conhecimentos sobre maneiras e vestimenta adequados, compartilhando seus tutores e instrutores de dança e alfaiate.

Inclusive o tinham ajudado a polir seu sotaque até que mal pôde reconhecer sua própria voz.

Todo o tempo, durante o verão, o outono e o comprido e frio inverno, assegurou-se de que voltaria a visitar Netherdunnie em outro mês, quando se completasse a colheita. Em uma quinzena, quando o festival anual de vestimenta de Shankwood tivesse terminado. Na primavera, quando o gelo tivesse retrocedido e as reparações do teto tivessem terminado, cada semana tinha escrito cartas em cima de cartas: à sua mãe, ao McFadden, inclusive à Nellie e, sobretudo, ao Allison. Sua bonnie lass1.

Lucien tinha razão, ele tinha sonhado com ela. Recordou seu aroma, seus olhos e sua voz enquanto jazia no dormitório principal de Shankwood Hall. Mas depois do primeiro mês, ela tinha deixado de responder as suas cartas.

Ele tinha escrito para perguntar à sua mãe a respeito, ao que ela tinha respondido: — Se concentre em seus deveres aí, meu filho, depois de um tempo voltará e pode lhe perguntar você mesmo os motivos.

Tinha pressionado várias vezes mais, mas ela só lhe tinha aconselhado que se esquecesse da moça, enfatizando que sua “preocupação não pode servir de nada”. Nellie foi igualmente inútil, mas isso não foi uma surpresa, sua irmã nunca se deu bem com Allison, e frequentemente implicava que a “filha do leiteiro” estava perdida com seus favores e não o amava como ela fingia. Agora, entretanto, finalmente voltaria a vê-la, ouviria sua voz rouca e cheiraria sua pele leitosa. Lhe proporia matrimônio, seu pai estaria de acordo, dado o título que podia oferecer, e se casariam antes de retornar à Shankwood. Se ela não estivesse muito zangada com ele por manter-se afastado tanto tempo, talvez por isso não tivesse respondido suas cartas. Uma vez mais, tamborilava seus nódulos contra o marco da janela.

Gregory levantou a vista de seu livro para interromper os pensamentos de James.

— Isso não apressará os cavalos, James — disse em voz baixa.

James suspirou.

— O cocheiro é muito lento, teríamos chegado ontem se tivéssemos tomado nossas montarias.

— Ontem, por certo — comentou Lucien, assentindo ironicamente para o aguaceiro além da janela. — Se não tivéssemos afogado primeiro.

Com sua calma habitual, Gregory fechou o livro e o pôs ao seu lado no assento.

— Ambos são tão jovens.

— Só tem três anos mais que eu, oh, senhor amadurecido — disse Lucien.

Gregory sorriu.

— Um longo período de três anos, em seu caso — Seus olhos voltaram para James. — Em qualquer caso, sei isto: pouco bem resultou apressar as coisas, sua impaciência é incomum, esta garota deve significar muito para ti.

James se encontrou com os olhos de seu amigo mais velho solenemente.

— Tudo, é tudo. — Gregory assentiu como se entendesse.

Lucien soprou.

— Pura e absoluta loucura deixar que uma mulher te retorça dessa maneira. — Passaram vinte minutos agonizantemente antes que a carruagem chegasse ao chalé de sua família, abriu a porta, e antes que se detivesse derrubou suas botas no barro.

Correu através da entrada e observou como a porta vermelha se abria para revelar a sua mãe, vestida toda de marrom, além de uma boina branca, com um amplo e choroso sorriso.

— Filho — ela respirou, embora ele leu a palavra em seus lábios mais que a escutou por cima da chuva.

Em poucos passos tinha-a envolto, tinha-a levantado do chão e a tinha feito girar em um círculo, desta vez ouviu-a sussurrar.

— Jamie, meu filho.

Depois de um tempo, a opressão em seu peito se aliviou e pôde falar.

— Como senti saudades, mamãe.

Deu as boas-vindas a todos com cerveja fresca e muitas notícias: McFadden tinha começado a treinar um novo aprendiz. Patrick Abernathy tinha acompanhado Nellie à feira em Coldstream; os assuntos entre eles eram “um pouco mais sérios”, segundo a estimativa de sua mãe.

Os nódulos de James tocavam a borda da mesa da cozinha quando lhe rompeu a paciência.

— E Allison, mamãe?

Deteve-se em meio de uma palavra, com a boca aberta, e os olhos suaves e sérios se tornaram escuros e graves.

Não gostou, sua mão cobriu a sua.

— Ela está na granja de seu pai?

— Nae, Jamie.

Apertou os dentes.

— Me diga.

— Não vai gostar, filho — lhe apertou a mão como se o apoiasse. — Um mês ou mais depois que você foi, ela se casou com o menino mais velho do Campbell, Douglas, vivem com sua mãe agora na granja Campbell.

Mal escutou uma palavra além de “casou”. Ela estava casada. Sua Bonnie lass com outro homem.

— Sinto te dizer isto agora, Jamie, mas se lhe houvesse dito algo antes, teria saído da Inglaterra antes que tivesse terminado seu trabalho. E para quê? O fato, feito está.

Não recordava haver-se levantado da mesa, nem ter saído da casa, nem ter golpeado a porta vermelha e tampouco ter caminhado pela chuva para a carruagem.

Mal recordou as instruções latidas ao cocheiro do Atherbourne e subir ao interior.

Estava a menos de uma milha da granja, mas durante toda a viagem, só pôde escutar sua súplica final a ela: “me espere, moça, retornarei”. Ela não tinha respondido. Ela não tinha esperado. Ela tinha escolhido converter-se na esposa de um granjeiro em lugar dele.

Sentia-se doente, seu estômago revolto, sua cabeça flutuando e empanada, em questão de minutos estava golpeando a porta do Campbell com o punho, observando o musgo verde sobre as pedras úmidas da antiga granja. Se Douglas Campbell não podia incomodar-se em limpar as pedras ao redor de sua porta, como poderia cuidar de uma esposa? Resposta: Ele não podia.

Certamente ela se teria dado conta que James era uma opção muito melhor como marido. por que, então, ela ...?

A porta se abriu, primeiro uma greta, logo se abriu e ali estava ela: Allison.

Respirou, o movimento do ar em seus pulmões doloroso, estava mais magra que antes, com o cabelo enrolado na parte posterior da cabeça e o vestido coberto por um avental.

— Jamie? — Sua voz era a mesma, atualmente suave com assombro. — Eu... não espera ver-te... aqui. — Os quentes olhos marrons o percorreram dos pés à cabeça.

Sua gravata e seu colete de seda lhe tiravam o ar.

Deu um passo para trás, abrindo a porta mais larga para um interior escuro.

— Vem, entra, vou buscar um pouco de cerveja.

Automaticamente, tirou-se o chapéu, sacudindo a água de chuva da aba antes de entrar. Tinha visitado a granja do Campbell um punhado de vezes: ele e Douglas tinham brincado em frente à lareira nesta habitação quando eram meninos.

Allison passou uma mão pelo flanco da cabeça e o outro pelo quadril.

— Não, está tudo bem, já que você está acostumado, não tenho nenhuma dúvida.

— Allison — disse, a palavra saiu da escuridão, queimando dentro de suas vísceras. — Por quê?

Seus olhos, primeiro baixaram e logo se elevaram aos seus, viu resignação e tristeza.

— Não te pertencia, Jamie, eu pertenço aqui, em uma granja, este é meu lugar. Necessita de uma esposa que não te envergonhe com suas maneiras rudes.

— Só tinha que esperar.

— Não podia esperar.

— Por quê?

Ela engoliu em seco, seus braços se soltaram aos seus flancos como se não soubesse o que fazer com eles.

— Havia uma criança, Jamie.

Não se tinha imaginado que algo pudesse doer mais que inteirar-se de sua traição, mas isto era... uma agonia. Igual a ser destroçado com metal fundido e logo esmagado sob uma laje de granito de duas toneladas. A habitação tremeu em sua visão. Possivelmente era sua cabeça.

— Qu .. de quem?

Seus lábios se apertaram.

— Tua.

— Onde? Onde está?

— Eu sinto muito, Jamie. — Cobriu-se a boca com a mão e fechou os olhos com força antes de explicar o que tinha acontecido. Depois que ele se foi, ela tinha perdido seus ciclos mensais e, temendo que levasse seu filho, tinha convencido Douglas a se casar com ela, fingindo que a criança era do Campbell.

— Um menino — disse com voz áspera. — O nomeei John, por sua família.

— Onde está ele? — Grunhiu.

— Nas últimas semanas de gravidez uma febre se abateu sobre Netherdunnie e se apoderou de mim. Quando nasceu, era débil. Muito fraco. — Uma lágrima deslizou por sua bochecha. — Morreu três dias depois de ter nascido.

A laje de granito estava moendo seus ossos, triturando-o a pó.

— Onde está meu filho? — Não lhe importava o rugido áspero de sua demanda, ela tinha escondido isto dele. Teria retornado a Netherdunnie, teria retornado e teria se casado com ela, se ela só tivesse escrito para lhe dizer a verdade. Ele a teria cuidado adequadamente, a teria convertido em uma condessa, pelo amor de Deus. Teria a levado para longe daqui, então seu filho, seu filho, teria vivido.

— Enterramo-lo nas ruínas, debaixo do salgueiro maior há um marcador ali, McFadden o fez. Eu... plantei margaridas.

Ele se foi sem dizer adeus, deixou-a ali, com lágrimas nas bochechas, aferrando-se ao marco da porta aberta, mas isso não importou. Mal podia ver através da chuva, mas recordava a colina, a várias centenas de metros da casa de campo, coroada por um pequeno grupo de salgueiros e bétulas. No momento em que chegou, ele estava encharcado e frio, a roupa e a gravata empapada em uma pele encharcada que lhe tirava todo o calor do sangue.

McFadden o tinha feito bem, cinzelando granito cinza em uma cruz elaborada.

Gravando o nome de seu filho, seu filho, na pedra dura.

John, nome do pai de Jamie.

Os joelhos de Jamie estavam no barro, agora sua mão se aferrara à cruz até que temeu que se quebrasse. Não o fez, é óbvio. O granito era denso e duro por natureza. Resistiu.

Não, não foi a pedra que se quebrou sob o salgueiro que gotejava e seu grande punho de barro. Em troca, foi ele quem se quebrou, partindo-se para sempre em dois.


CAPÍTULO 2

“Seu engano não reside em sua admiração, senhorita Darling, mas em não a disfarçar adequadamente. A evidência é uma estratégia atroz. Um homem pode participar do que lhe serve em um travesseiro de seda, mas só um tolo se casa”.

A marquesa viúva de Wallingham à senhorita Penélope Darling depois de receber um elogio extravagante pela inteligência questionável de Lorde Mochrie.

14 de março de 1818

Bowman’s, na Bond Street

— Levantou o cavalheiro... por sua gravata? — Viola Darling piscou lentamente para sua amiga mais querida, Charlotte Lancaster, que estava ao seu lado na encantadora loja de roupas azul da senhora Bowman. A diferença em suas alturas se podia perceber pelo pescoço de Viola. Recordou de novo que não deveria estar tão perto de Charlotte, porque sempre se afastava de suas conversações com uma vaga dor na parte superior de sua coluna vertebral.

Entretanto, considerando que nesse momento estavam examinando a mesma placa de moda, e Viola não estava disposta a esperar uma resposta, havia poucas opções no assunto.

— Mmm. — Com uma mão, pendurou no senhor Maynard ficando dez centímetros acima do piso — murmurou Charlotte, distraidamente riscando um dedo enluvado ao longo das linhas do traje de montar de veludo azul. —Realmente é uma demonstração de força impressionante.

Viola piscou outra vez, redirecionando seu olhar ao esboço e reprimindo um calafrio. Estavam discutindo um incidente que tinha ocorrido em novembro passado, quando Charlotte tinha visitado Londres com sua tia e seu tio. Depois de cair sobre o gelo no Hyde Park, Charlotte tinha sido apelidada de Pernas Largas Lancaster por um punhado de jovens rancorosos, desgraçados e completamente desonestos. Mais tarde, em uma festa organizada por Lady Rutherford para a exuberância do Beau Monde na cidade durante o inverno, um valente campeão tinha escutado o Sr. Maynard zombando de Charlotte e tinha ido rapidamente em sua defesa. É certo que Viola tinha desenvolvido uma fascinação bastante repentina e alarmante com a história e com seu herói, um conde misterioso que não tinha tido oportunidade de conhecer, ainda. Pretendia retificar o descuido logo, já que tal nobreza entre a nobreza era muito mais estranha do que deveria ser.

Engolindo em seco , Viola disse, muito casualmente.

— Como pôde, uma mão? Quão... brutal de sua parte — E impressionante. — O que fez depois?

Uma só sobrancelha vermelha arqueada.

— Ele forçou os fanáticos a desculpar-se e rapidamente o jogou sobre a mesa de refrigérios, a coisa quebrou ao meio.

Os calafrios de Viola pioraram até que temeu perder o fôlego, ela não teve resposta. Tal poder físico, particularmente em meio de um salão de baile de Londres, era simplesmente extravagante. Absurdo. Fascinante.

— Crê que deveria levar isto em esmeralda? — Murmurou Charlotte. — Será custoso.

Viola limpou a garganta e se centrou no esboço, talvez uma distração fosse sábia no momento. Seu ventre estava inchando como se tivesse bebido uma garrafa inteira de champanha.

— É uma herdeira, Charlotte, seu pai poderia comprar mil trajes assim.

Um sorriso levantou os lábios de Charlotte, ainda pálidos por seu passeio pela Bond Street nesta fria manhã.

— Se pudesse justificar tal gasto certamente poderia vender novecentos e noventa e nove deles e comprar uma passagem a Boston.

Embora Charlotte tivesse passado a maior parte de sua vida na Inglaterra, inclusive sua dicção era indistinguível de qualquer outra senhorita de Mayfair, era meio americana por família e completamente americana por sentimento. O maior desejo de Charlotte era retornar à terra de seu nascimento e entrar no comércio. O pai de Charlotte, por outro lado, desejava casar sua filha com um título inglês e o resultado foram cinco temporadas em Londres durante as quais Charlotte não recebeu uma só oferta.

Francamente, Viola não podia entender o que pensavam os cavalheiros da sociedade sobre ela, mas não prestavam atenção à Charlotte, que era uma das mulheres mais formosas que tinha conhecido, honesta, amável, sensata e bondosa.

É claro, ela era absurdamente alta e salpicada de sardas e o cobre em pó não era uma cor particularmente moderna para o cabelo de uma dama e Charlotte tinha uma desafortunada tendência a pisar nos dedos dos homens ou lhes tirar os chapéus ou acotovelar o nariz. Mas isto eram insignificantes e sem sentido. Só teria que dar uma olhada aos inteligentes olhos de sua amiga quando se iluminavam.

— Por que não te propôs matrimônio? — Perguntou Viola, curiosa sobre o intrigante cavalheiro que tinham estado discutindo.

Os olhos verdes e dourados se acenderam.

— Meu pai? — Viola riu.

— Boba, seu galante Lorde Tannenbrook.

— Oh! Sem dúvida, a papai agradaria uma oferta de um conde. — Charlotte agitou uma mão com desdém, quase golpeando o nariz de Viola. — Entretanto, James e eu não... isso é, Lorde Tannenbrook, não me vê dessa maneira, é simplesmente o tipo de homem que defenderia a honra de uma mulher.

— Uma mulher que não conhecia anteriormente e em quem não tinha nenhum interesse? É estranho.

Charlotte encolheu os ombros.

— Sim, suponho, mas não se deveu a um repentino afeto. É honorável, Viola, um homem realmente bom, escutou a brincadeira vil do senhor Maynard e assumiu que era seu dever...

— Quebrar a mesa de refrigérios ao meio com a parte traseira do Sr. Maynard.

Agora ela soava aguda aos seus próprios ouvidos. Viola se encontrou franzindo o cenho. Ela nunca franzia o cenho. O que estava mal com ela?

Charlotte suspirou e revirou os olhos.

— Escuto sua implicação, sabe, e não é certo. Lorde Tannenbrook e eu somos simplesmente amigos e temos desfrutado de uma correspondência, há um sentimento mais romântico entre este traje de montar e eu — Ela elogiou a placa da moda.

Forçando a suavidade de sua testa, Viola soprou, insegura se devia acreditá-la, certamente qualquer mulher que tinha sido defendida tão heroicamente não poderia evitar apaixonar-se por seu salvador, nem que fosse apenas um pouco. Viola não conhecia Lorde Tannenbrook, mas apoiando-se na descrição de Charlotte, achou duvidosos os protestos da mera amizade, particularmente quando o Sr. Lancaster pressionava Charlotte para que se casasse.

Entretanto, Viola não tinha nenhum desejo de discutir com sua amiga mais querida sobre sentimentos românticos que podiam ou não existir.

— Bom, é um desenho muito atraente — reconheceu, olhando de novo o esboço. — Se deve tê-lo, leva-o em azul. O verde é encantador, mas previsível.

Sorrindo, Charlotte assentiu.

— Seus instintos são incomparáveis.

— Sei.

O suspiro de Charlotte foi sofrido.

— Outra vez isto, não.

— Não questione meu instinto. Nunca me levou por mau caminho.

— Nunca?

— Guiou-me a este magnífico chapéu. — Viola agitou os dedos ante a elegante confecção que pousava em sua cabeça coberto com seda azul meia-noite, o chapéu estava adornado com rosetas prateadas e diminutas plumas brancas.

Ela o tinha descoberto um dia enquanto acompanhava Charlotte a uma desmantelada casa de penhor de Oxford Street. O capuz tinha sido coberto de pó, mas seu olho tinha sido atraído como se o objeto brilhasse como um diamante. Charlotte tinha zombado da compra impulsiva de Viola, até que foi limpa e restaurada ao seu estado glorioso atual.

Viola continuou.

— Meu instinto ajudou meu pai a escolher nossa casa, que após se converteu no endereço mais moderno.

— Coincidência.

— E, não o esqueçamos, este instinto do qual zomba insistiu em que te fizesse minha amiga.

— Esse não era seu instinto, essa foi minha perpétua estupidez ao conhecer sua generosa natureza. Damo-nos esplendidamente bem, você e eu.

Sua amizade tinha começado na temporada anterior quando o cotovelo de Charlotte se chocou com a orelha de Viola durante uma quadrilha. Charlotte tinha murmurado uma desculpa ruborizada. Viola riu e uniu os braços com a ruiva alta, as girando alegremente no centro, fazendo com que todos os que estavam ao seu redor aclamassem e rissem. O rubor de Charlotte se desvaneceu, seu sorriso tinha crescido e eles foram enganados. Era uma das lembranças favoritas de Viola.

— É claro que continuamos, Charlotte. — Ofensa. Essa era a palavra para o persistente cepticismo de Charlotte, que irritava Viola, quem sorriu amplamente para dissimular sua irritação e enunciou claramente para ser entendida.

— Desde que era uma menina, sempre que segui meu instinto, recompensou-me enormemente. Cada vez que o ignorei, me arrependi, estes são os fatos.

Charlotte lhe dirigiu um olhar de consideração antes de abrandar-se.

— Sinto-o Vi, te insultar não era minha intenção.

Viola fez um gesto com a mão para desculpar-se e pôs-se a rir.

— Não pense mais nisso. Crê que eu deveria comprar um vestido novo? Se acreditar em Penélope, a festa de Lady Gattingford será maior que nunca este ano.

Charlotte olhou para a área com cortinas na parte posterior da loja.

— A Senhora Bowman sem dúvida aprovaria.

Viola suspirou.

— Ai, papai não o faria, ele insiste em que minha atual coleção de vestidos é suficiente. — Baixando sua voz até um sussurro, Charlotte se aproximou.

— Mesmo com o desconto que negociei por ti?

Assentindo, Viola lhe deu um pequeno sorriso.

— Talvez, se a Sra. Bowman criou algo para mim, e só por acaso, descobríssemos que era muito curto...

Viola cobriu a mão de sua amiga e a apertou.

— O que falta aos Darling em riqueza é mais que compensado por nosso orgulho, querida.

Uma elegante mulher de cabelo escuro abriu a cortina azul com um movimento dramático de seu braço e se deslizou para elas, atrás dela uma cadeia de ordens mistas em inglês e italiano destinadas às suas duas jovens ajudantes, que se escapuliam docilmente no rastro da costureira.

— Ah, senhorita Darling — disse a Sra. Bowman em sua versão musicalmente acentuada do idioma inglês. — Necessita de outro vestido de baile, não é? — Viola sorriu abertamente à mulher italiana, uma das criadoras de roupas mais talentosas da cidade, e se reuniu com ela à metade do piso da loja para apertar suas mãos com carinho.

— Compraria um de seus esplêndidos doces todos os dias da temporada se meu pai o permitisse, Sra. Bowman, seu talento é inigualável.

Sua resposta foi um sopro e uma elevação de seus lábios.

— Isto é verdade — a mulher se voltou para olhar às suas ajudantes, — Traga as novas placas de moda para os vestidos de gala para a senhorita Darling.

Inclinando a cabeça com pesar, Viola protestou em voz baixa: — Ai, papai insiste em que devo praticar a moderação, embora me doa muito. A seda índigo que seu marido mostrou na semana passada me faz sonhar com magníficos tons de azul.

O marido inglês de Renata Bowman era um comerciante de têxteis que ocasionalmente apresentava ofertas na loja de Bowman. Era outra razão pela qual Viola e suas amigas frequentavam o lugar: economizavam uma parada na loja, do mesmo modo, a chapelaria a várias portas da Bowman tinha chegado a um acordo com a costureira para exibir os chapéus e os turbantes selecionados dentro da loja, servindo de inspiração às damas que procuravam um conjunto completo. Ambas as associações tinham sido sugestões de Charlotte, e as medidas tinham posto a costureira em uma grande demanda, de fato.

— Além disso, — continuou Viola, sorrindo aos ardilosos e escuros olhos da mulher — Tantas damas reclamam seus desenhos, passarão meses antes que possa completar outro pedido, não é assim?

Charlotte se aproximou de Viola.

— Infelizmente para seus ajudantes, acredito que ela quer dizer que está com crédito por ajudá-la, Vi.

— Ajudá-la? A que se refere?

— Vem, agora. Usou suas criações exclusivamente tanto na temporada passada como nesta. Cada jovem em Mayfair agora escapa à porta da Sra. Bowman procurando uma mera gota de sua feitiçaria. — Com um gesto irônico em seus lábios, Charlotte dirigiu um olhar para o canto onde estava a Sra. Bowman folheando impacientemente páginas de placas de moda, empurrando este e aquele nas mãos trementes de sua intimidada assistente. — Se estiver certa, é possível que possa aumentar seu desconto. Talvez inclusive negociar um acordo que não envolva recursos, simplesmente uma recomendação de seus serviços a alguns mais de seus conhecidos. — O brilho calculista no olho de Charlotte era uma vista familiar, aparecia frequentemente durante as visitas de Charlotte ao penhorista, onde vendia suas posses para acumular suas “economias”. Viola a acompanhava de vez em quando nessas saídas, tinham sido educativas.

— Acredita que pode persuadi-la a fazer meus vestidos grátis? — Viola riu ligeiramente. — Temo que superestime minha influência.

Os olhos verde-dourados se acenderam em um silêncio incrédulo, procurando seu rosto como se estivesse desconcertado.

— Vi, sua beleza é... de outro mundo. Nenhuma recém apresentada brilhou mais. Dá-te conta disto, não é?

Como sempre, quando alguém comentava sua aparência, uma pontada de desconforto picava sob a pele de Viola.

— Boba. Sou tão humana quanto qualquer outra. Escutou-me tocar harpa? Um ruído terrível.

— O talento musical não é a razão pela qual os cavalheiros se comportam como sabujos que cheiram um bife cada vez que entra em uma habitação.

Viola enrugou o nariz e alisou o bordado branco de sua saia.

— Uns parvos, todos. Por que acha que não aceitei nenhum deles? Com apenas mais de um olhar, declaram seu carinho imortal.

— Precisamente. Estão encantados. Enfeitiçados.

— Procuram possuir uma quinquilharia brilhante para eles, sou uma novidade. Nada mais.

Charlotte suspirou e revirou os olhos.

— Acredite no que quiser, mas vi que inclusive meu primo Andrew tem caído sob seu feitiço.

Cansada do tema, Viola respondeu.

— Talvez se um dos meus admiradores tivesse elevado o Sr. Maynard no alto só com uma mão e o tivesse jogado sobre uma mesa de refrescos defendendo minha honra, levaria sua consideração mais seriamente, entretanto, não fui tão afortunada.

O sopro de sua amiga foi seguido por um movimento de sua cabeça.

— Se está tão intrigada por Lorde Tannenbrook, o apresentarei uma vez que nos vejam juntos, tudo se esclarecerá.

Um calafrio prateado percorreu a coluna vertebral de Viola.

— Está na cidade pela temporada?

— Mmm, chegou faz dois dias, pode ser que inclusive vá à reunião de Lady Reedham esta noite. Decidimos se será um jantar ou um baile? Sua nota era bastante vaga, espero que seja um jantar musical, são...

Viola não ouviu o resto. Uma sensação muito peculiar se assentou em seu ventre, como uma pedra brilhante rodeada de champanha. Algo sobre isto, Lorde Tannenbrook, acelerou sua respiração e a fez querer dançar e girar sem nenhuma razão absolutamente.

— Deveria conhecê-lo — suspirou ela.

— Bom, sim. — Uma sobrancelha vermelha se arqueou em um olhar estranho. — Pensei que tínhamos combinado esse ponto.

— Esta noite.

— Se ele for.

— Se assegurará que o faça?

— Viola...

— Por favor, desejo me reunir com ele.

Uma mão suave pousou sobre seu braço. Viola olhou ao rosto querido e sardento de Charlotte. Enrugou-se com preocupação.

— Ele não é como os outros Vi, não deve albergar noções fantasiosas...

— Me diga como é ele, tudo.

Silencio, lábios rosados franzidos e suspirados.

— Ele é... uma montanha. Uma montanha grande e sólida.

O calor em seu ventre se expandiu até que palpitou contra a parte inferior de sua carne.

— Devo me encontrar com ele.

Charlotte soltou uma risadinha afogada.

— Escutei-te à primeira vez, tenha em conta que não é um chapéu com pequenas plumas brancas que se podem comprar por capricho. Ele é um homem, e terá algo a dizer sobre esse teu instinto.

A pedra quente resistiu a cada palavra. Apertou os dedos de Charlotte com mais força e empenho.

— Por favor.

Um longo suspiro caiu entre elas.

— Muito bem. — Então o sorriso de sua amiga se voltou irônico. — Em qualquer caso, é duvidoso que possa apanhá-lo.

***

O conde de Tannenbrook não era bonito, tinha o nariz romano, a testa chata, a mandíbula dura e larga, em geral, seu rosto se parecia com o granito que tinha sido esculpido com uma machadinha. Entretanto, era duas cabeças mais alto e duas vezes mais largo que qualquer outro homem no salão de Lady Reedham.

A respiração de Viola a tinha deixado no momento que o tinha vislumbrado, inclinando-se da maneira mais estranha com os braços cruzados sobre seu peito, um enorme ombro apoiado contra a janela, como se não quisesse que o notassem, como se tal coisa fosse possível.

Usava a mesma roupa que todos os outros cavalheiros, calça preta, gravata branca, seu colete parecia ser de brocado castanho, suas calças combinavam com suas meias. As roupas eram de qualidade, bem ajustadas ao seu marco considerável, obviamente de qualidade superior.

Mas de nenhuma outra maneira se parecia com nenhum cavalheiro, desde o tamanho de seus dedos enluvados até a fenda no centro de um queixo quadrado, era... diferente.

— Ah, vejo que respondeu à minha convocação — disse uma voz por trás e por cima dela. Que inesperado.

Virou-se para saudar Charlotte, afastando os olhos do extraordinário homem com o esforço mais decidido.

— Nos apresente.

Charlotte sorriu.

— Paciência Vi, receio que está a ponto de ser abordada por meu primo. Primeiro, deve tentar dissuadir Andrew de sua insensatez, então nós...

Viola agarrou o cotovelo de Charlotte e puxou um pouco mais forte do que tinha previsto, fazendo com que Charlotte tropeçasse.

— Agora, por favor.

Talvez Charlotte protestara, talvez não. Viola a arrastou além da imagem imprecisa das damas que olhavam furiosas ou sorridentes, os homens ansiosos que murmuravam “Senhorita Darling” com diversos graus de esperança, e muitas peças de móveis de mogno. Ela não ouviu nada, não viu nada, exceto um homem que era diferente do resto.

— Oh, desculpas, lady Randall — murmurou Charlotte quando Viola puxou com força para passar a sua amiga por um par de braços particularmente acolhedores, seus ofegos desgostosos não importavam nem um ápice.

Viola estava perto, ela estava ali, passando o último obstáculo, seus passos diminuindo até deter-se quando se aproximava dos pés de sua presa. A janela estava escura atrás dele, a luz das velas se refletia ricamente dourada em seus painéis, em seu cabelo loiro escuro, espesso e sombreado. Seu rosto se voltou ligeiramente afastado, seus olhos se centraram em uma porta à direita da lareira em um extremo da habitação verde.

Sim, ele é de fato uma montanha, pensou sem fôlego, com o pescoço esticado, o olhar alargado para recebê-lo por completo.

— Eh, Viola, parece que deixei cair meu leque em algum lugar nesta paixonite. Espero que me ajude a localizá-lo, já que sua impaciência é a razão, ai! Pare com isso. — A última parte saiu como um assobio quando os dedos de Viola se afundaram sem querer no oco do braço de Charlotte.

— Sinto muito — sussurrou Viola, afrouxando seus dedos e olhando para onde estava sua amiga, ao seu lado se encontrou com olhos verdes e dourados e um sorriso exasperado. Ao devolver esse sorriso timidamente, ela reiterou. — Minhas mais sinceras desculpas, Charlotte, verdadeiramente.

— Está perdoada, vem antes que gere uma calamidade mais severa que danificar meu braço ou golpear o turbante de Lady Randall, me permita cumprir com sua gentil petição. Está preparada?

Viola engoliu em seco, apertou os lábios, assentiu com a cabeça e seguiu Charlotte enquanto se aproximava da imponente montanha loira escura. No interior, ela estava flutuando em champanha, borbulhando e borbulhando, cálida e enjoada.

— Lorde Tannenbrook — disse Charlotte alegremente.

A montanha se voltou, deixou cair os braços aos flancos e se separou da janela, embora desse a Charlotte um assentimento educado e sua expressão se suavizou ao redor dos olhos, não houve um sorriso de boas-vindas, só um olhar impassível.

— Senhorita Lancaster, um prazer.

Oh, sua voz era um estrondo, um retumbar profundo e ressonante como trovões distantes ou rochas rolantes, viajou através de sua pele em calafrios agradáveis.

Ela desejava ver seus olhos, desejava saber sua cor.

— ... apresento a James Kilbrenner, o conde de Tannenbrook. Lorde Tannenbrook, esta é a senhorita Viola Darling, uma de minhas amigas mais queridas, seu avô é lorde Redlington.

Por fim, voltou-se para ela. Verde profundo, verde escuro, as íris quase pretas na luz baixa. Esperou que esses olhos se acendessem e brilhassem ao vislumbrá-la, como acostumava acontecer com os de outros homens.

Em seu lugar, viajaram lentamente desde sua linha de cabelo até seu queixo antes que ela recebesse a mesma reverência educada que tinha dado a Charlotte.

— Senhorita Darling — disse. Sua resposta foi de cortesia, baixou as pestanas e murmurou.

— Lorde Tannenbrook — tinha a intenção de lhe dar tempo, tempo para mostrar a faísca de interesse que estava acostumada a ver. Talvez requeresse um momento mais longo que outros cavalheiros, certamente isso explicava sua estranha moderação.

Charlotte encheu o silêncio subsequente com perguntas sobre a viagem de Tannenbrook de Derbyshire a Londres, que respondeu com breves e pouco informativos murmúrios. “Úmido”, respondeu. “E longo. Como se poderia esperar.”

Não era precisamente ríspido, embora se Charlotte tivesse feito uma pergunta similar a Viola, sua resposta teria sido muito mais longa e detalhada. Por exemplo, poderia falar do hospedeiro com uma risada divertida que persistiu em oferecer “ a melhor bebida no Thropthire.” Ou compartilhar sua lembrança do orvalho que brilhava como cristais sobre os ramos em florações quando embarcaram na última manhã de sua viagem a Londres.

Mas não, lorde Tannenbrook parecia que preferia menos palavras e sílabas, talvez ele precisasse de estimulação, pensou. Algumas pessoas eram naturalmente loucas, enquanto outras necessitavam de um pouco de estímulo coloquial, ele deve ser um dos últimos.

— É verdade, Lorde Tannenbrook — interveio Viola, apanhando seu olhar. — Meu pai e eu viajamos de Cheshire cedo para a temporada e encontramos não menos que cinco tempestades. Cada uma resultou muito para os cavalos ou para o condutor, por isso nos deu a oportunidade de participar da hospitalidade dos hospedeiros em quase todos os povoados entre Warrington e Londres, embora deva lhe dizer, “hospitalidade” pode ser um pouco exagerado. — Ela riu ligeiramente.

Ele não o fez. Ela agitou suas pestanas, um cenho franzido e sutil se enrugou ao longo de sua testa chata. Charlotte limpou a garganta.

— As viagens certamente põem à prova a capacidade de qualquer um, não é assim?

— De fato — respondeu, mudando seus olhos de novo à Charlotte. — Muitas coisas necessárias o fazem, embora devam ser suportadas, apesar disso.

Viola considerou se estava fazendo uma referência oblíqua a ela dado seu óbvio e desconcertante desinteresse, era certamente possível, embora grosseiro. Antes que pudesse investigar mais, entretanto, o primo de Charlotte, Andrew Farrington, aproximou-se pela sua direita.

Com o cabelo loiro e as bochechas vermelhas, inclinou-se ante ela mais profundamente que o necessário, seus olhos pousaram em um olhar ambicioso em seu corpete.

— Senhorita Darling — sussurrou, sua língua se atrasou muito nas sílabas. —É uma visão cada vez que meus olhos caem sobre você, assombro-me com sua beleza radiante, pensando que possivelmente não possa ser real e, entretanto, aqui pode provar o enguiço em minha lógica.

Ao lhe conceder uma risadinha alegre, ela respondeu.

— Como me adula, senhor Farrington, receio que suas palavras são muito mais bonitas do que qualquer dama poderia esperar. — Ela empregou respostas similares aos cavalheiros de todas as filas e idades cada vez que pronunciaram um alvoroço nas últimas duas temporadas. Ela não duvidava de sua sinceridade. Ela duvidava de sua profundidade, decidida a mudar seu enfoque antes que o jovem se envergonhasse mais, ela perguntou. — Conhece lorde Tannenbrook?

Os olhos do Sr. Farrington finalmente abandonaram seu rosto e se moveram para o homem muito maior.

— Em efeito, Tannenbrook.

— Farrington. — Seu estrondo a atraiu de novo ao seu rosto, ainda estava franzindo o cenho para ela.

Seu coração deu um pequeno pulo, golpeando contra seu esterno por um momento, não se atreveu a respirar enquanto aqueles olhos verdes percorriam seus traços, detendo-se em sua boca.

Foi então quando Charlotte, em um momento de brilhante inspiração, interveio.

— Tannenbrook, espero que desculpe meu primo e a mim. Ele e eu devemos falar com minha tia e meu tio, porque vejo que chegaram.

Os olhos do senhor Farrington se acenderam.

— Eh, mas...

Charlotte agarrou o braço de seu primo e o puxou discretamente junto à lareira.

— Vem, Andrew — ela apertou. — A tia Fanny nos está saudando.

Então eles partiram, voltando a tecer através da abarrotada sala, deixando Viola felizmente só com o fascinante senhor que fez com que suas vísceras estivessem efervescentes e que seu sangue corresse incomodamente quente.

Ela engoliu em seco.

— A senhorita Lancaster fala muito bem de você, meu senhor.

— Me chame de Tannenbrook.

— Ela descreveu seu encontro com o Sr. Maynard.

— Ela o fez?

O ar estava espesso ao seu redor, deixando suas palavras sem fôlego.

— Achei seu encontro muito... cativante.

— Por quê?

— Você defendeu sua honra de uma maneira que a maioria dos cavalheiros não o fariam, uma maneira que pôs o Sr. Maynard e todos os outros que a insultassem firmemente em seu lugar, encontro muito para admirar em tais ações audazes.

Enormes ombros rodaram em um encolhimento de ombros.

— Nada que admirar. Maynard merecia o que recebeu.

— Gosta de dançar, lorde Tannenbrook?

— Não, senhorita Darling.

Ela se aproximou um pouco mais, perguntando-se quão quente seria ele se ela se pressionasse contra ele, certamente um corpo de seu tamanho a esquentaria até que sua pele tremesse.

— Está seguro? Talvez com o par adequado...

— Onde está sua acompanhante? — Ela piscou duas vezes. Ele a olhou esperando a resposta.

— Bom, eu... suspeito que ela pode estar dormindo a sesta.

— Isso explica muito.

— Minha tia tem uma enfermidade, frequentemente deve encontrar um canto tranquilo no qual possa descansar seus olhos sem ser notada, a pobre querida.

— Deixando-a livre para propor-se aos homens que acaba de conhecer.

Desta vez ela piscou ao menos quatro vezes enquanto se dava conta que sua desaprovação era genuína, estava indignado com ela.

— Proposição? Tolo, perguntei se gosta de dançar, chama-se conversação lorde Tannenbrook. Confio em que tenham tal fenômeno em Derbyshire.

Ele se aproximou, roubando-lhe o pouco de fôlego que ficava agora, elevava-se como um grande suporte de granito, com a cabeça inclinada. Finalmente, seus olhos se acenderam, embora a faísca de interesse se parecesse muito ao desgosto para o gosto de Viola.

— Não desejo ser grosseiro, senhorita Darling.

— Um pouco tarde para isso — suspirou ela, seus olhos devorando cada detalhe e inclinação de seu rosto cativante.

— Mas deve saber que não tenho nenhum interesse no matrimônio. E, galopou diante de mim. Milhas e milhas.

Olhos de um verde profundo brilharam com sabedoria.

— Eu? — Seus lábios se franziram em um sorriso. — Talvez eu seja simplesmente curiosa.

— Acredito que deseja o que percebe que lhe é inalcançável.

— Milhas e milhas — murmurou, em grande parte porque não tinha uma melhor resposta, ele não estava equivocado.

— Como você é amiga da senhorita Lancaster, lhe darei este conselho: paquerar com uma mulher de sua beleza é um jogo perigoso, sobretudo quando uma das acompanhantes prefere fazer uma sesta que preocupar-se com sua responsabilidade.

— Acha que sou formosa?

Ele suspirou e se endireitou longe dela.

— Sabia que não devia vir esta noite — murmurou, seu olhar passou por sua cabeça para o outro lado da habitação, com a mandíbula flexionada. — Nada bom pode sair disso.

Não gostava de ver que seu foco se afastava. Como poderia convencê-lo de sua afinidade óbvia se ele não a olhava?

— Sinto discordar, no improvável caso de que Lady Reedham tenha conseguido manter a sua terceira cozinheira francesa, espero que tenha uma excelente refeição. Isso é algo bom, não é assim?

Ah, sim, isso fez com que seus olhos voltassem para ela, exasperados e divertidos.

— Sim, uma boa refeição é uma boa coisa.

— Mas é claro, se sua cozinheira foi embora, podemos estar sujeitos a uma noite de refeição horrível, deve preparar-se para essa eventualidade.

— Sempre fala desta maneira?

— Só quando desejo conversar com alguém que me interesse. — Ela inclinou a cabeça em uma pergunta zombeteira. — Eu poderia lhe ensinar, se o desejar.

Ele soprou?

— Não. Obrigado.

Ela elevou as sobrancelhas.

— Realmente, a conversação, quando se faz bem, pode ser muito... estimulante.

Talvez ela tivesse pressionado muito, porque seus olhos verdes se estreitaram e seus enormes braços se cruzaram.

— Senhorita Darling.

— Sim?

— Sugiro-lhe que encontre a sua acompanhante e fique ao seu lado, aconteça o que acontecer.

— Está preocupado por minha virtude, Lorde Tannenbrook?

Inclinou-se para frente para murmurar perto de seu ouvido.

— Não, moça, pela minha.

Quando ele se retirou e se afastou, seus ombros gigantescos criando seu próprio caminho através da multidão ao longo de uma parede, ela só podia parar-se como um peru enjoado, sem fôlego e balançando-se sobre seus pés. Cheirava celestialmente, como os pinheiros ao redor do lago perto de sua casa em Cheshire e ele era quente, tão quente como um grande lar. Ter o fôlego tão perto de sua bochecha lhe tinha arrepiado.

Ela nunca tinha sentido o mesmo, ela o desejava. James Kilbrenner, conde de Tannenbrook. Ela o queria como nunca tinha desejado outra coisa, isto era mais que o instinto, este era o destino e ele seria dela, decidiu, ainda lutando por respirar, com sua mão enluvada roçando o lado de seu pescoço onde havia sentido suas palavras deslizando-se sobre sua pele.

De uma forma ou outra, ele seria dela.


CAPÍTULO 3

“Ah, sim. Quão rápido “atrevido” se converte em “temerário” quando a gente abandona imprudentemente todo bom julgamento para ganhar o favor do objeto de seu afeto?”

A marquesa viúva de Wallingham ao seu filho, Charles, ao inteirar-se de outra saída desastrosa que envolve uma carruagem que funciona mal, o tempo ingovernável, e uma certa viúva.

— Um pequeno conselho, James — disse o melhor amigo de James Kilbrenner quando uma rajada de vento ingovernável tentou tirá-los de suas montarias e derrubá-los no cascalho de Rotten Row. — Evite jurar que nunca se casará, só convida o destino a rir e planejar seu castigo.

James grunhiu a Lucien Wyatt, quem falou por experiência depois do matrimônio improvável de Lucien com a irmã do homem que tinha disparado sobre Gregory em um duelo, Lucien estava muito familiarizado com as perversões do destino. Em primeiro lugar, tinha herdado o título de seu irmão, então, tinha planejado vingança. Logo, apaixonou-se rapidamente pelo instrumento de sua vingança, Vitória Lacey.

James tinha comentado frequentemente que foi bom que Vitória fosse do tipo perdoador. Lucien sempre esteve de acordo.

James agora lançou ao seu amigo um olhar de soslaio, notando a alegria nos traços muito formosos, gravados ali permanentemente pela mão suave de Vitória.

— O matrimônio te assentou bem, Luc, não posso negar.

Lucien arqueou uma sobrancelha e passou ante um homem ancião que se deteve no meio do caminho para recuperar seu chapéu arrastado pelo vento.

— Mas?

Virando em sua sela, James suspirou.

— Não é para mim, sabe que tenho minhas razões.

Lucien esteve presente no dia que James retornou ao chalé de sua mãe depois de ver a tumba de seu filho. Nunca mais poderia suportar tanta dor e se ele evitasse o matrimônio, então não teria que fazê-lo. Na estimativa de James, a lógica não poderia ser mais simples.

— Dá-te conta de que seu título e o cuidado de Shankwood Hall só podem passar ao seu herdeiro, não é? -James lhe lançou um olhar.

— Por que crê que estou em Londres para a temporada?

— Não para encontrar uma esposa, claramente.

— Não, porque ela exige que eu participe, velha desgraçada.

Os lábios de Lucien se torceram.

— Me recorde outra vez por que permite que Lady Wallingham te guie como um boi precioso através do mercado matrimonial.

Desta vez, o grunhido de James foi de frustração.

— Gates chegou a um ponto morto com suas investigações. Lady Wallingham é o único vínculo conhecido com a avó do meu presumido herdeiro, ela se nega a entrar em contato com o homem até que eu satisfaça suas demandas. — De fato, James só se inteirou que tinha um presumido herdeiro dois anos antes, quando Hargrave tinha morrido. James ainda chorava pelo seu advogado, quem tinha sido seu tutor em todos os assuntos de patrimônio até que tinha alcançado sua maioridade, logo tinha sido seu assessor e amigo, sentia falta do homem como o faria com um pai.

Entretanto, durante anos, Hargrave o tinha enganado, insistindo em que não ficava outra linha da família Kilbrenner para herdar o título de Tannenbrook e encarregar-se de Shankwood Hall. James só podia adivinhar que, assim como Lady Wallingham, Hargrave tinha desejado obrigá-lo a aceitar seu dever de casar-se e procriar, um dever ao qual tinha sido decididamente resistente.

Mas ao contratar seu novo advogado, o Sr. Gates, James soube de um primo longínquo de um ramo da família que se estabeleceu na América, segundo a investigação de Gates, o tio avô de James, Robert Kilbrenner, casou-se com uma inglesa chamada Ann-Marie Roxham antes de sair da Escócia para trabalhar como impressor em Filadélfia. O neto de Robert e Ann-Marie, Elijah Kilbrenner, herdaria o título e o patrimônio se James não se casasse e engendrasse um herdeiro legítimo, sempre que o homem estivesse vivo, e os relatórios eram contraditórios nesse sentido.

— Suponho que tentou se pôr em contato sozinho com a avó de seu herdeiro — disse Lucien, tirando um casulo de sementes desencaminhadas de seu ombro e inclinando seu chapéu a um par de mulheres anciãs em um landau que passava. As mulheres revoaram e se ruborizaram como se fossem trinta anos mais jovens.

— Nega-se a responder a qualquer um, exceto à lady Wallingham, ao que parece, compartilham correspondência desde que eram meninas. Lady Wallingham afirma que Ann-Marie Kilbrenner é sua “fonte dentro das colônias”, e não deseja pressioná-la e arriscar a conexão. — James fez uma pausa enquanto outra rajada lhe passava uma folha pelo nariz. — Que é a podridão perfeita, mas não posso encontrar uma melhor opção, segundo Gates, o filho de Ann-Marie seguiu sendo um partidário britânico durante a rebelião americana, e retornou à Inglaterra depois da guerra. Gates determinou que enquanto os pais parecem ter perecido em um incêndio em uma casa, não está claro o que aconteceu com Elijah Kilbrenner, todos os rastros do menino desaparecem ao redor desse tempo.

— Mmm. Nome pouco comum, Kilbrenner — observou Lucien. — Suponho que ou ele trocou ou...

— Ou está morto. — James apertou a mandíbula. — Sim, me ocorreu que Hargrave pôde havê-lo sabido, mas só encontrei referências vagas a um herdeiro vivo em seus papéis, a menos que Gates descubra alguma nova revelação, Lady Wallingham é meu único canal à verdade.

Lucien soprou.

— Não deseja estar em dívida com o dragão, confia em mim nisto.

— Não há nada que possa fazer.

— Poderia reconsiderar...

— Não.

— Olhe, o matrimônio pode ser delicioso com o direito...

— Não.

— Imagina ter uma mulher à sua disposição, administrando seu lar, cuidando de sua comodidade, legalmente obrigada a te obedecer.

James sacudiu a cabeça.

— Vitória te obedece, é?

— Vitória é diferente.

— Mm-hmm.

— Ela é menos mulher e mais anjo. As criaturas divinas não se aderem às regras terrestres.

Inesperadamente, um rosto apareceu na mente de James, não as feições suaves e uniformes de Vitória Wyatt, mas sim uma visão de pele de marfim puro, olhos de cílios negros tão azuis como o crepúsculo, um nariz tão pequeno que não era mais que um sussurro, e lábios tão doces como pétalas de flores. Nunca imaginou que existisse tal beleza. Até há duas semanas, quando tinha aparecido, resplandecendo com malícia e fascinação, brilhando como uma gema aquecida pela luz da lua e, é claro, em cada reunião a que tinha ido após, a tola mulher o tinha perseguido com uma persistência insuperável e uma falta de precaução preocupante.

— Desista — grunhiu ele agora, perturbado por ela ter se intrometido em seus pensamentos de novo. Ela era uma fútil coquete, uma pequena flor que podia esmagar com uma mão descuidada, mesmo que ele tivesse desejado uma esposa, que ele não queria, ela era a última mulher que escolheria.

Lucien riu entredentes.

— Muito bem, não se fala mais de matrimônio por agora. Por certo, o que te levou tão facilmente à difícil tarefa de localizar seu herdeiro? Goza de excelente saúde, se sua briga no Gentleman Jackson é um indício.

O silêncio caiu entre eles durante longos minutos, o único que se escutava era o ruído de cascos sobre o cascalho, o bate-papo dos transeuntes e a implacável rajada de vento através das folhas recém brotadas.

Lucien estalou a língua.

— Sim, a resposta é terrível, por certo. Há um complô assassino em marcha? Alguém, por fim, cansou-se de suas formas onduladas e de suas pesadas sobrancelhas ou possivelmente se tornou ressentido por sua intransigência geral. — Ele suspirou teatralmente e sacudiu a cabeça. — Tinha que acontecer suponho, arrumado pelo Gibbons.

James o olhou carrancudo.

— Meu criado?

— Ele tem a paciência de um santo sem dúvida, mas todo homem tem limites, o mero feito de colocar esses teus enormes pés em botas todas as manhãs faria com que qualquer um se converta em uma loucura. Não digo nada de atar uma gravata ao redor desse pescoço grosso.

— Não seja ridículo, Gibbons e eu nos damos bastante bem.

— Seu alfaiate, então?

— Ninguém pretende me matar, tolo.

O olhar de Lucien era metade diversão sardônica, metade preocupação.

— Então o que é? — Não quis dizer, só serviria para reabrir as velhas feridas de Lucien, mas o olhar escuro de Luc não o abandonaria, balançando-se ao ritmo de seu cavalo, James apertou suas rédeas com mais força antes de afrouxar deliberadamente seus punhos.

— Gregory.

Os olhos de Lucien se escureceram e apertaram, voltou-se para olhar para frente por um momento e logo assentiu.

Gregory tinha sido o irmão de Lucien e o amigo de James e mais que isso, tinha sido honorável até o final. James tinha estado ao seu lado no dia do duelo. Tinha visto o duque de Blackmore passar uma bala pelo coração de um bom homem através dos quarenta passos.

Moveu-se em sua sela, empurrando mais à frente a lembrança para continuar explicando a natureza de sua urgência.

— Meu pai morreu de lesões causadas por um incêndio. Hargrave morreu de uma enfermidade pulmonar — Deixou escapar um suspiro e fez um gesto para o caminho que tinham ante eles. — Maldição, eu poderia ter morrido aqui no inverno passado.

Lucien fez uma careta.

— Necessitaria de mais que um ataque de faca escandaloso por parte de um par de bandidos para te matar, apostaria que seus sinos seguem soando.

— Possivelmente, mas meu dever é para com os que dependem de mim, não posso deixar os assuntos sem resolver.

Dirigindo a James um olhar de consideração, Lucien abriu a boca para falar, mas uma comoção atrás deles os fez girar em seus assentos, era um faetón, acelerando temerariamente para sua posição. Um cavalheiro de cabelos escuros e uma mulher com chapéu sentados no banco de condução da alta cabide, o homem lutava por recuperar o controle e a mulher aflita em sua angústia, agarrando o braço do homem.

Ao redirecionar rapidamente seu cavalo para perto da cerca que margeia o Row, James entrecerrou os olhos para ver o rosto do condutor, seus olhos se alargaram quando o reconhecimento se assentou.

— É Wallingham — Lucien tinha caído atrás de James em sua própria montaria. — Que diabos?

O condutor era Charles Bainbridge, o marquês de Wallingham, o filho de lady Wallingham. James compartilhou a incredulidade de Luc. Lorde Wallingham era um dos principais cavaleiros da aristocracia, seu estábulo era legendário, suas habilidades como condutor sem igual. Em sua juventude, o homem tinha ajudado a fundar um dos clubes de direção mais exclusivos de Londres. Além disso, seu ar de silenciosa dignidade e competência impedia virtualmente qualquer ato de imprudência, do qual perder o controle do faetón no Rotten Row enquanto estava acompanhado por uma mulher assustada constituía um exemplo perfeito.

— Perdeu o controle das rédeas — James chamou Lucien, enquanto a carruagem se dirigia para sua posição o par de cavalos brancos galopava como se tivessem sido mordidos, com os olhos em branco, as rédeas arrastando e batendo enquanto saltavam pelos flancos dos cavalos e das patas. Por cima do estrondo de rodas e cascos, advertências de Wallingham, gritos de angústia de sua companheira e exclamações de outros cavaleiros que fugiam do caminho da carruagem, James gritou ao Luc.

— Devemos freá-los!

Empurrando seu próprio cavalo para frente, assinalou para indicar que Luc devia tomar o lado direito e logo acelerar para que coincidisse com o ritmo da carruagem que se aproximava. Logo, o faetón se interpôs entre eles, o casal, branco acenando e golpeando como se o próprio diabo estivesse agitando uma tocha em seus traseiros ao observar o caminho que se aproximava e a passagem dos cavalos, calculando que tinha talvez trinta segundos para desacelerar o veículo antes que se movesse a toda velocidade em uma maratona tranquila, James aproximou mais sua montaria, dando tapinhas ao pescoço do animal para tranquilizá-lo enquanto se aproximavam de uns pés dos cavalos de carruagem assustados. Apoiou-se com cuidado nos estribos, apoiando-se com uma mão no pomo, logo se esticou até o meio do cavalo da carruagem e se esforçou para não os assustar mais. Lentamente, estendeu a mão, roçando a rédea com os dedos enluvados, rédeas de couro leve se moveram e se deslizaram através do laço de metal. O cavalo se assustou, seu ritmo vacilou por um momento que parou seu coração.

— Maldito inferno — murmurou antes de aproximar-se uma vez mais, reposicionando-se até que, por fim, seus dedos se deslizaram entre o metal duro e o couro retorcendo-se, pegando as cordas com seu punho.

— James! Tem-no? — Gritou Lucien.

— Sim! Freia-os agora e devagar!

Simultaneamente, ele e Lucien puxaram as rédeas. James focou em reduzir a velocidade tanto do faetón como de sua própria montaria, balançando seu peso na sela para manter seu assento. O ritmo acelerado dos quatro cavalos diminuiu gradualmente a um passeio e, finalmente, uma parada no barouche2 se encontrava a uns trinta metros de distância.

— Tannenbrook. Atherbourne — disse Wallingham, pálido, mas pelo resto notavelmente tranquilo. — Estou em dívida.

O meio sorriso de Lucien era irônico, sua respiração ainda rápida pela repentina arrancada.

— Aceitamos o pagamento em cavalo, Wallingham.

— Feito.

Rindo, Lucien negou com a cabeça.

— Uma brincadeira, meu bom homem. — Ele assentiu com a cabeça para o James. — Tannenbrook aqui tem uma inclinação pelo heroísmo.

Franzindo o cenho ao seu melhor amigo, James tocou a aba de seu chapéu e assentiu ao casal.

— É uma recompensa suficiente ver que você e sua companheira estão a salvo.

A acompanhante de Wallingham, uma loira atraente cujos lábios descoloridos coincidiam com sua pelica lavanda, encolheu os ombros contra o reconfortante braço que rodeava seus magros ombros enquanto Wallingham não a soltou, ele a apresentou.

— Cavalheiros, apresento lady Willoughby. — James observou que a mão enluvada de Wallingham apertava seu braço com suavidade, como se quisesse que ela se mantivesse tranquila.

— Nossos resgatadores são lorde Tannenbrook e lorde Atherbourne.

Enquanto se movia para devolver as rédeas ao Wallingham, James notou que o chapéu do homem tinha caído, expondo uma cabeça de cabelo escuro cheio de fios brancos nas têmporas. Recordava Hargrave, mas o nariz recordava Gregory, longo e proeminente com um leve gancho na ponta.

— O-obrigada a ambos — ofegou lady Willoughby, seus olhos se moviam freneticamente entre eles. — Salvaram nossas vidas. — Obviamente, a mulher ainda estava assustada.

— Calma, minha senhora — respondeu James, mantendo sua voz baixa e sustentando seu olhar sem piscar com o seu. — Tudo está bem, os cavalos simplesmente sofreram um susto, acalmaram-se agora.

Seus lábios se apertaram, e seus olhos brilharam por um momento antes dela piscar e assentir, sua resistência à calma de Wallingham cedeu, e seus ombros se relaxaram sob o braço protetor do marquês.

Quando James e Lucien finalmente se despediram do casal e continuaram seu curso ao longo da Rotten Row, James esperou que Luc o incomodasse por seu hábito de resgatar a todos, mas Lucien só disse.

— Localizar seu herdeiro de repente parece ser algo sensato.

Quando se aproximaram do barouche, que agora se detinha torpemente no centro da fila, James viu um de seus passageiros de pé no assento de trás, inclinado sobre um de seus companheiros, com sua mão enluvada sustentando a parte superior de um chapéu azul escuro sobre seus cachos negros. O chapéu parecia ter plumas brancas nele e debaixo de sua aba havia olhos tão azuis como o crepúsculo.

— Lorde Tannenbrook, — disse sem fôlego — isso foi... assombroso.

Ao seu lado, Lucien se inclinou para frente com interesse.

— Quem é essa? Ela é bastante...

— Ninguém — retrucou James. Lucien levantou uma sobrancelha.

— Bom, ela é obviamente alguém, ou não estaria tão deslocado.

— Ignore-a.

— Agora, isso seria mal-educado de minha parte e da tua, oferecer insultos a alguém tão encantador.

— Maldito inferno — James soltou um suspiro de exasperação. — Muito bem, falaremos com ela, mas só por um momento.

James não podia estar seguro de que sua mensagem fora recebida, porque Lucien já tinha girado sua montaria para o centro da fila onde estava estacionada a carruagem, sentiu a pontada habitual de irritação debaixo de sua pele, apertando-se e formigando ante sua presença.

Engolindo em seco, seguiu Luc e se aproximou da nova perdição de sua existência.

— Senhorita Viola — saudou-a, incapaz de dissimular a veia de irritação. Que outra coisa poderia ser este calor picante?

Rapidamente apresentou Lucien à mãe de Penélope, a acompanhante com uma tendência à sesta, antes de repetir o processo com as duas primas Darling.

Penélope, quem seguiu tentando apartar com o cotovelo o quadril de Viola de seu nariz, era mais velha, por isso a apresentou como a primeira Senhorita Darling.

Referindo-se à segunda Senhorita Darling, a senhorita Viola, obrigou-o a voltar a língua ao redor de seu nome de batismo por alguma razão, dizê-lo sempre enviava uma sensação estranha e prazerosa por sua coluna vertebral, como se estivesse cometendo um ato de intimidade desconfortável, por certo.

— Me atreveria a dizer, nunca presenciei tanta valentia, — disse a irritante Viola, seus olhos brilhando positivamente, suas pálidas bochechas se ruborizaram delicadamente, sua mão enluvada se moveu da parte superior de seu chapéu para ficar plaina sobre seu peito.

Desenhando, seu olho o fez imaginar o que havia debaixo de seu corpete.

— Qualquer um faria o mesmo — respondeu.

— Oh, mas ninguém o fez, você o fez e foi extraordinário. — Como de costume, seu olhar estava fixo nele, devorando seus ombros, coxas e rosto, mal reconheceu a presença de Lucien. Dado que Lucien quase igualava sua perfeição estética, embora em forma masculina, isto foi inesperado.

Olhou para avaliar a reação de seu amigo e queria gemer. O sorriso de Luc era amplo e consciente, já que ricocheteava entre James e a irritante senhorita Darling.

— Uma amostra admirável, de fato, meus senhores — repetiu Penélope, quem finalmente se deslocou ao outro extremo do banco, permitindo que Viola se deixasse cair no assento mais próximo a ele. Os tons nasais e os traços desajeitados de Penélope mal se comparavam com os de sua prima e tinha achado o engenho da moça aproximadamente tão afiado como uma colher de sopa, mas ela era uma pessoa de bom caráter que não mostrava ressentimento nem ciúmes por sua bela prima. Penélope se inclinou para frente para dirigir-se ao Lucien.

— Lorde Atherbourne, tive o prazer de conhecer Lady Atherbourne antes de seu matrimônio. Ela está na cidade?

Enquanto Lucien explicava que Vitória ficara em Thornbridge com seu filho, James esquivou o olhar crepuscular da muito tola que tinha posto seu olhar implacavelmente sobre ele, ela vestia-se de azul pálido, azul céu, aproximadamente o mesmo tom que o anel interior de seus olhos. Esses olhos eram mais escuros ao redor das bordas. Eram os olhos mais formosos que tinha visto, mas claro, ela era a mulher mais formosa que tinha visto.

Não é que importasse, apesar de sua persistente e desconcertante atenção, não tinha intenção de aceitar o que lhe oferecia, absolutamente.

Um silencioso ronco soou do assento oposto a Viola e Penélope. A tia adormeceu enquanto suas protegidas conversavam com dois homens, mas não olhou em direção à tia, seu olhar se enganchou nos lábios de Viola. Cheios e curvilíneos, as pétalas se separaram ligeiramente, como se ansiassem sua língua.

Ele engoliu em seco.

— Receio que Lorde Atherbourne e eu devemos seguir nosso caminho.

— Devemos?

Ignorando o tom seco de Lucien, James inclinou seu chapéu para a senhorita Darling e solenemente à senhora Darling e se despediu às cegas, dirigiu seu cavalo pelo Rotten Row sentindo um pouco como se tivesse estado olhando o sol durante muito tempo. Quinze metros depois, ouviu Lucien rir.

— Ela ainda está te olhando.

— Não importa, ela não é ninguém para mim.

O sorriso infernal de Lucien só cresceu.

— Humm, uma pessoa interessante, por certo.

***

“É perfeita para ele” se repreendeu Viola enquanto pegava seu chá e lhe jogava um pouco de açúcar “o verá de novo esta noite, por agora, se concentre em seu bordado”, mas ela não pôde. Ainda não tinha parado o formigamento, mal podia respirar, horas depois de presenciar o atrevido resgate de Tannenbrook, a força do homem, o poder puro em seus braços e suas coxas. Oh, suas coxas.

— Mamãe dormiu outra vez — disse Penélope, completando outro ponto vermelho perfeito em sua obra-prima floral bordada.

Olhando para baixo aos seus próprios esforços, Viola fez uma careta, apertando os dedos no aro do bordado, os circuitos marrons soltos formavam o que deveria ter sido um abacaxi, mas em troca se pareciam com um montão de esterco. Suspirou e deixou o aro no sofá ao seu lado sem tocar a agulha. Chá. Era perita em servir chá, recordou a si mesmo enquanto levantava sua xícara e tomava um sorvo reconfortante. Chá e conversação. E dançando, não se esqueça da dança.

Um sopro emanou do extremo do sofá onde estava a tia Marian.

— Oh! — Exclamou Penélope. — Talvez ela esteja acordada, depois de tudo.

Viola sorriu gentilmente à sua prima.

— Não, querida, ela simplesmente está respirando, acredito que nossa aventura pode ter sobrecarregado sua delicada constituição.

De fato, quando sua carruagem chegou à casa compartilhada da família em North Audley Street, a tia Marian conseguiu despertar, inclusive tinha conversado agradavelmente durante uma hora mais ou menos, antes de tomar seu chá medicinal e cair em seu estado atual.

Rindo com sua buzina distinta, Penélope concordou.

— Ela é delicada, atrevo-me a dizer. Crê que ela descansará o suficiente para nos acompanhar ao jantar de Pennywhistle esta noite?

Viola, alarmada ante a possibilidade de que as impedisse de ir a uma atração em que ele estaria presente, pensou nas características do sono da tia Marian.

— Ela nos acompanhará se você e eu a subirmos na carruagem sobre nossas costas.

— Oh, querida, não está aborrecida com mamãe, não é?

— Não. — Viola sorveu tranquilamente seu chá. — Só estou decidida. Tannenbrook estará lá.

— Você gosta dele.

Viola quase revirou os olhos ante a tendência de sua prima a dizer o óbvio, mas conseguiu reprimir o impulso, em troca, conformou-se com um tom seco.

— Bastante, muito, em realidade.

— Ele não é bonito.

Viola não estava de acordo, mas ela não discutiria o ponto.

— Nem tão divertido como meu Lorde Mochrie.

Divertida, supôs que Penélope consideraria que o barão escocês era assim, embora para Viola era um aborrecimento espantoso, além disso, sua prima não tinha presenciado a sutil faísca de humor nos olhos de Tannenbrook perfurando o verde como um raio de luz através de um dossel do bosque. Encontrava o humor em coisas estranhas, como a obsessão de Lorde Reedham pelo tabaco e o apelido de Lady Pulôver: o silêncio, em referência à conversação incessante da mulher. Viola frequentemente tinha que reprimir o impulso de sorrir e rir cada vez que via o pequeno capricho de seus lábios.

— E ele é bastante... grande.

O calor lhe subiu pela pele, suspirou silenciosamente e fechou os olhos, imaginando que ele tinha estado mais cedo esse dia, agarrando seu cavalo com suas coxas, balançando sua enorme e musculosa massa enquanto pegava habilmente as rédeas do veículo em marcha.

— Sim — suspirou ela, seu coração inclusive agora pulsava como o tinham feito os cascos dos cavalos. — Ele é.

Cada vez que o via, sua fascinação crescia. Charlotte lhe tinha advertido que não o fizesse, dizendo que não se inclinava facilmente ante a vontade de outro, e que Viola estava muito acostumada a ter o que queria.

— Bom — continuou Penélope, concentrando-se em voltar a enfiar sua agulha de bordado um fio verde. — Não se pode negar que é galante como é lorde Atherbourne, agora bonito... Oh, querida, esse sim é positivamente esplêndido, lástima que já esteja casado. Entretanto, lady Atherbourne é muito agradável, segundo lembro.

Alguns dos cavalheiros que habitualmente procuravam o favor de Viola também eram bonitos, mas ela não queria esse tipo de homem, ela não desejava elogios, nem sobrancelhas elegantes nem ombros magros. Ela queria Tannenbrook.

— Penélope — Viola colocou um brilhante sorriso em seu rosto quando sua prima levantou a vista. — Acredito que porei o vestido novo.

— Para a noite de Pennywhistle? Oh, mas é só um jantar, e esse vestido é mais apropriado para uma festa.

— É hora de que Lorde Tannenbrook compreenda a seriedade da minha apreciação.

Piscando lentamente, Penélope baixou o aro de bordado ao seu regaço.

— Viola?

— Devo convencê-lo de que somos um casal perfeito e esta noite começarei esse esforço a sério.

— Oh, deveria pensar...

A tia Marian soprou e se sacudiu quando soou um golpe nas portas do salão.

— O que... o que é tudo isso? — Disse, esfregando a umidade habitual da comissura da boca e se levantou do sofá.

Owens, seu mordomo, lacaio e camareiro, entrou na habitação acompanhado por um convidado inesperado.

— Senhora Cumberland.

A mulher era desajeitada, alta e masculina, com uma tez florida e sobrancelhas escuras que não combinavam com seu cabelo grisalho, além disso, ela sempre vestia cinza e branco, peliça cinza, bata branca. Spencer cinza, vestido branco, turbante branco, casaco cinza. Muito bem, esse tinha sido prata. Mas agora, de pé aqui no salão de Viola, a mulher estava vestida de cinza, um hábito de vestir cinza escuro com sapos no peito, para ser precisa. Viola apostaria cada xelim em sua bolsa que a senhora Cumberland usava um vestido branco debaixo da lã leve e certamente ela poderia ter eleito um chapéu em uma cor diferente ao branco.

— Senhorita Viola, espero que perdoe minha intrusão. — O enérgico e autoritário comportamento da mulher esfregou a paciência de Viola, entretanto, levantou-se para saudá-la, como era apropriado. A senhora Cumberland seria, depois de tudo, sua madrasta algum dia, logo.

— O Senhor Darling me pediu que esperasse contigo. — Deu uma olhada à sala de estar escassamente mobiliada com uma expressão cuidadosamente neutra, aos olhos de Viola. — Desejava atender seu cavalo depois do nosso passeio no parque.

Logo que a mulher pronunciou seu nome, seu pai apareceu com olhos alegres muito parecidos com os seus. Uma estrutura curta e leve com uma pequena pança no meio, duas mechas de cabelo cinza que flanqueavam sua cabeça de marfim, para ela, ele era adorável, uma imagem bem-vinda com seu casaco marrom com as lapelas negras que ela tinha selecionado para ele. Passou junto ao Owens, sorrindo e dando ao servente seu chapéu antes de pegar os cotovelos de Viola e lhe outorgar beijos carinhosos habituais em suas bochechas. Cheirava quente e reconfortante, como o Bay Rum3 e sua infância em Cheshire.

— Papai! Não esperava que retornasse tão cedo. — Viola sorriu mais amplamente e moveu os olhos para a senhora Cumberland. — Ou voltar com a encantadora senhora Cumberland, que adorável.

— Sim, sim — respondeu ele, acariciando os lados de seus ombros e apontando um raio de afeto desconcertante pela outra mulher. — Fizemos uma viagem arriscada, não é? Até o vento levou meu chapéu. — Riu e sacudiu a cabeça. — Ah, levou-me em uma perseguição feliz. Como foi seu passeio pelo Hyde Park?

Todos conversaram um pouco enquanto Viola servia o chá. A Sra. Cumberland estava sentada sobre uma cadeira pintada de amarelo e seu pai escutou a história de Penélope sobre o Grande Resgate do Faetón e a tia Marian mordiscava uma bolacha em um esforço por manter-se acordada.

— Lorde Tannenbrook, disse? — Os olhos de seu pai brilharam para Viola. — É dele que você gosta.

— Oh — interrompeu Viola, levantando-se e movendo-se para as portas. — Parece que ficamos sem bolachas, pedirei ao Owens que traga mais.

Se esperava escapar da conversação com seu pai, logo se deu conta de que ele não ia deixar, pois a seguiu ao corredor.

— Viola, querida, esperava que pudesse passar um pouco mais de tempo conversando com a Sra. Cumberland, sabe que ela e eu temos... uma relação de certa duração.

Sim, ela sabia, sabia que tinha a intenção de casar-se com a senhora Cumberland, e que tinha atrasado sua união por mais de um ano porque desejava ver Viola estabelecer-se em um matrimônio próprio antes de levar outra mulher à sua casa. Ele tinha assumido que uma partida para Viola seria um assunto simples, mas como lhe tinha explicado, nenhum dos cavalheiros que tinha conhecido na temporada passada a tinha tentado minimamente.

Então ela pediu uma segunda temporada, uma que ele tinha insinuado que não poderiam pagar, em sua forma indulgente habitual, tinha lhe concedido seu desejo e agora tinha chegado o momento de pagar sua generosidade. Podia ver em seus olhos, na avidez de sua pergunta, que seu pai, um homem imensamente paciente e amável, estava cada vez mais ansioso. Queria-a casada e a salvo para que ela se fosse de sua casa e pudesse casar-se com a senhora Cumberland e pudessem viver juntos sem ela em Cheshire.

Uma estranha e doentia sensação lhe retorceu o estômago, possivelmente eram as bolachas. Endireitando sua espinha dorsal, lhe dirigiu seu sorriso mais bonito e tomou a mão, apertando.

— Não se preocupe, papai, entendo seu dilema perfeitamente e encontrei uma perspectiva muito prometedora.

— Lorde Tannenbrook parece ser um cavalheiro de grande caráter.

O nó em seu estômago começou a afrouxar-se.

— É-o. — Ela sentiu que seus lábios se curvavam mais naturalmente, só falando dele. — O melhor dos homens. Valente, leal e desinteressado.

— Bom, nunca duvidaria de seu instinto, querida, mas considerou aquele senhor Farrington? Entendo que ele está tão interessado em ti como um bezerro à grama. É um futuro baronete, não um conde, mas não está mal. Logo, tem o filho de lorde Reedham, os dentes são um pouco desafortunados, mas os bolsos profundos compensam qualquer número de males, me atreveria a dizer.

Uma vez mais, ela sorriu como se ele houvesse dito algo parvo, de fato, esta não foi a primeira vez que lhe aconselhou a procurar em outra parte a caça de seu marido. Em realidade, não foi a primeira pessoa em sugerir alternativas. Charlotte o tinha feito fazia só uns dias. Mas, como Viola lhe tinha explicado, sua busca não era para um marido em geral, se fosse assim, poderia ter conseguido o um filho de duque na primeira saída de sua primeira temporada. Não, sua caça era por um marido em particular. Tannenbrook.

Até o momento, a caça à Tannenbrook, como a tinha apelidado, tinha tido um êxito menor, uma introdução, um punhado de encontros “casuais”, como a reunião casual de hoje, mas ela acabava de começar sua busca.

— Recorda minhas palavras, papai, serei lady Tannenbrook antes que as folhas comecem a cair. — Seu pai sorriu, seus olhos suaves e carinhosos.

— Se isso é o que quer, então tenho poucas dúvidas, teria que estar louco para resistir, minha formosa menina.


CAPÍTULO

“O tamanho não é importante. Astúcia. Personalidade. Estas são as qualidades que alguém deve procurar em um... oh, muito bem. O que importa?

Está contente, agora?”

A Marquesa viúva de Wallingham a Lady Berne depois de suportar a risada imprópria de dita dama durante uma discussão sobre possíveis coincidências e atributos desejáveis.

Ele a estava ignorando. Sentado ali, a quatro cadeiras de distância, em frente à mesa da sala de jantar de Pennywhistle, não a tinha olhado nenhuma só vez.

— O melhor é planejar uma viagem ao Angelo’s, Bennett — o filho de Lorde Reedham, que estava sentado à sua esquerda, zombou do cavalheiro à sua direita. — Seu florete poderia ser um pouco mais afiado.

— Florete? Possivelmente sua espada merece essa descrição, a minha é mais uma grande espada, me atreveria a dizer.

Viola colocou sua colher precisamente ao lado de sua pequena porção de morango e reuniu sua paciência. Tinham estado ali durante toda a refeição: duas horas de exercício incessante e insuportável, alardeando ante ela, e se sentia como um osso entre dois cães. Sentia a tentação de jogar a terrina de prata do molho bechamel sobre suas cabeças.

Não coloquei meu vestido novo para isto, pensou, não, ela tinha usado capas de seda índigo delicadamente bordada para ele. Seus olhos vagaram outra vez através da mesa até ao sombrio Tannenbrook com a mandíbula flexionada. Esta noite, se vestia de cinza. Cinza escuro e branco através daqueles largos ombros, de algum jeito, as cores não eram nem um pouco questionáveis, mas ele se negou a olhá-la, casualmente comeu outro pedaço de pescado e assentiu com a cabeça a algo que disse a senhora Pennywhistle. É claro, deu-se conta de como tinha fugido dela na hora antes do jantar, escapando do salão, até que se viu obrigada a esconder-se atrás da alta figura de Charlotte para evitar que saísse de Pennywhistle House por completo. Felizmente, sua pedreira se acalmou e ficou para o pescado e a sopa branca um pouco salgada. Ela perseguia um cervo com uma coroa de pelo menos dois metros de largura.

— Em Yorkshire um conto conhecido, por certo.

— O troféu está na biblioteca do meu pai, ali talvez encontre suas descrições persuasivas, já que estou seguro que sua post-chaise contratada faria de Yorkshire uma viagem custosa.

O golpe não muito sutil nas dificuldades financeiras do Sr. Bennett fez com que Viola desejasse uma volta da comparação da espada.

— Cavalheiros, contemplaram uma briga no salão de boxe do Sr. Jackson? Entendo que o esporte é o mais refrescante para os espíritos.

Os olhos ambiciosos de Reedham pousaram em seus lábios.

— Senhorita Darling, você diz as coisas mais divertidas. As mulheres não estão permitidas no Gentleman Jackson’s, é óbvio — Bennett tomou um gole de seu vinho. — Oxalá fossem, eu gostaria que a senhorita Darling fosse testemunha da minha vitória.

Os dois homens continuaram ignorando-a tratando de assombrá-la com descrições cada vez mais floridas de suas habilidades superiores de pugilismo.

Suspirou e tomou um sorvo de seu próprio vinho, contemplando a melhor maneira de seguir sem Charlotte, já que sua melhor amiga tinha desaparecido do salão de Pennywhistle meia hora antes do jantar. Segundo o Sr. Farrington, Charlotte tinha sido convocada por seu pai, que estava de visita da América, embora Viola esperasse que a reunião fosse amável pelo bem de Charlotte, agora devia revisar substancialmente seus planos para a seguinte fase de sua caça ao Tannenbrook. Seu plano para esta noite requeria um bom tempo, uma instalação com persuasão e um estômago para um pequeno engano. Charlotte só carecia deste último.

A segunda eleição de par de Viola, por outro lado, carecia dos três. Ela fez uma careta quando ele disse que a outra opção pôs-se a rir, e mais, zombou de algo que disse Lorde Mochrie, o som de buzinada que se estendia ao longo da habitação em tons dourados. Viola, agradecida por não estar sentada suficientemente perto para escutar o que acontecia com o humor do Mochrie, inclinou-se para frente para vislumbrar o perfil de Penélope.

Sua prima estava avermelhada, a ponta de seu longo nariz rosado pelo vinho.

Este plano poderia resultar num desastre. Examinou os homens a ambos os lados dela, agora lutavam detrás de sua cabeça. Continuando, olhou ao Tannenbrook, uma dor quente invadiu seu centro enquanto parava sobre seus ombros, que deviam ter ao menos um metro de largura. Devo falar com ele sozinha, e não posso visitá-lo em sua residência.

— Penelope vai — murmurou em voz baixa.

— Como, senhorita Darling? — Perguntou o Sr. Bennett. — Escutei sua doce voz, senhorita Darling, mas receio que as palavras não se registraram em meus ouvidos — ecoou o herdeiro de Reedham.

Deu a cada um deles um sorriso tão falso quanto sua adulação.

— Que refrescante é provar os morangos tão cedo na temporada.

A partir de então, os dois homens se dispuseram a estabelecer qual deles possuía uma compreensão superior das estufas e o cultivo de frutas, por sua parte, Viola tomou um sorvo de vinho e conspirou, contemplando seu futuro marido com crescente entusiasmo.

***

— Pegue o potro puro-sangue, Tannenbrook. — Insistiu Lorde Wallingham. — É o mínimo que posso fazer.

James franziu o cenho.

— Como está Lady Willoughby?

— Furiosa comigo. — A linha reta da boca do homem maior se curvou ironicamente. — Não é a primeira vez, mas ela está a salvo e bem, além do medo, e tenho que lhe agradecer isso.

— Não tem que me agradecer, estou feliz de que tudo terminou bem.

— Mandarei entregar o potro em seu estábulo.

Levantando uma sobrancelha ante a presunção do homem, James começou a suspeitar que Charles Bainbridge se parecia com sua mãe em algo mais que intelecto, embora seu jeito calado certamente não o indicasse.

—Se está decidido a oferecer uma recompensa, pedirei um favor. — Wallingham franziu o cenho.

— O que necessitar.

— Pode intervir em meu nome com lady Wallingham.

— Exceto isso. — Agora, ambas as sobrancelhas de James se levantaram. — É uma perda de tempo, minha mãe não escutará uma palavra do que eu diga. Leva o potro, Tannenbrook. Confia em mim nisto. — A informação do outro homem falava muito mais que suas palavras.

Suspirando, James terminou sua taça e colocou-a em uma bandeja próxima.

— Temia isso, desculpe Wallingham, mas tendo negociado com ela durante meses, estou perplexo quanto a como um homem poderia mudar suas ideias.

Wallingham colocou seu copo junto ao do James e assentiu com profunda resignação.

— Como todos, qualquer que seja seu curso, ela acredita que é correto, justo e melhor. O intento de persuadi-la do contrário só terminará em uma frustração abjeta.

— Como você administra? — James não tinha a intenção de insultar, estava realmente impressionado.

Wallingham encolheu os ombros.

— Evito-a, principalmente.

Nesse momento, o Sr. Pennywhistle anunciou que era hora de reunir-se com as damas. Wallingham seguiu James fora da biblioteca para a sala de estar, continuando sua conversação enquanto cruzavam o corredor.

— Em que tipo de atadura te tem? — Perguntou Wallingham.

— Ela tem um contato nos Estados Unidos que pode me ajudar a localizar meu herdeiro atual, o contato só se corresponderá com ela.

— O que exigiu de você?

James sentiu que o cenho franzido descia sobre seu rosto, ele assentiu com a cabeça para indicar seu entorno: a sala de estar de Pennywhistle, de paredes brancas e brilhando com a luz das velas.

— Que eu esteja aqui, entre outras coisas, ela deseja que me mescle à caça de marido durante toda a temporada.

— Ah, sim. Tem-te dançando sobre suas cordas, minhas condolências, receio que possa colher o que semeei. Minha mãe tem feito de sua vida o propósito de me obrigar a voltar a me casar e cumprir com meu dever de procriar, como é apropriado para todos os cavalheiros titulados, sem dúvida, minha resistência te pôs à vista.

— Isso não tem sentido.

— Só porque não pensa como ela, se ela pode te forçar a aceitar a convenção, e sua vontade, então é uma vitória para seu argumento. — Wallingham riu entredentes, o som surpreendentemente afetuoso. — Ela converteu a intromissão em uma arte perfeita e impressionante, em realidade, inclusive quando a gente é o objetivo de tal... determinação.

O comentário fez com que James pensasse em outra mulher decidida, uma com pele de lua e cabelo de meia-noite que simplesmente se negou a alterar seu curso. Tinha-a visto antes, revoando pelo salão, rindo e encantando seu grupo de admiradores dândis. Ainda não se aproximara dele, mas ele suspeitava que só lhe tinha concedido um breve indulto.

— Agora, Tannenbrook, não é tão mau como tudo isso — Wallingham sorriu com sua simpatia. — Tenha a segurança, minha mãe não te matará, simplesmente será miserável por um tempo, logo ela cumprirá sua parte do acordo e entregará o que quer. Resistência. Paciência, isso te manterá lúcido.

— Realmente.

— Bom, não estou lúcido, precisamente — o engenho irônico de Wallingham recordou ao James a viúva, não deveria ter sido uma surpresa, dado que ela tinha dado à luz o homem com olhos com a mesma inteligência aguda, que lhe deram um olhar avaliativo.

— Informarei que salvou a vida de seu único filho, não te fará sair do mercado matrimonial, mas pode ser que te veja com mais amabilidade, o que fará com que seu sofrimento seja moderadamente menos prazeroso para ela.

James soltou uma gargalhada.

— É muito generoso.

Durante a conversação, James se arrumou durante vários breves intervalos para esquecer-se do diminuto e encantador espinho em seu flanco. Mas a pausa só durou até que viu a prima do espinho aproximando-se, as pérolas atadas através dos cachos de Penélope se balançaram estranhamente contra sua bochecha, adicionando um elemento cômico aos traços equinos da jovem.

Ele assentiu rigidamente.

— Senhorita Darling.

— Lorde Tannenbrook. E Lorde Wallingham. Espero que tenha se recuperado depois de...

— Estou bem, senhorita Darling. Obrigado. Se me desculparem. Vejo um cavalheiro com o qual devo falar sobre um cavalo.

— Oh, eu... sim. Um prazer. — Voltou-se para o James e piscou. Era mais alta que Viola, mais quadrada. O vermelho manchou suas bochechas e a ponta de seu nariz. Muito vinho, talvez?

— Lorde Tannenbrook, graças a Deus que o encontrei.

— Se não o tivesse feito, recomendado o uso de lentes.

Lentamente, a garota piscou, carecia da faísca perspicaz que estava acostumado a ver no olhar da outra senhorita Darling.

— Lentes? — Ela murmurou escrutinadora. Provavelmente o melhor era seguir adiante, decidiu.

— Por que se alegra de me haver encontrado?

— Você é o homem mais alto aqui e tenho uma circunstância peculiar pela qual devo suplicar sua amável assistência.

Ela falou lentamente, detendo-se em cada palavra como se tivesse memorizado as orações, ao final, ela assentiu, aqueles cachos de cabelo com pérolas balançando-se contra sua bochecha.

— Qual é a circunstância? — Perguntou só porque desejava saber como Penélope poderia explicar uma solicitude que obviamente se originou em Viola.

— Uma luva. — Ele esperou. — Sobre um ramo de árvore, um ramo de árvore alto no jardim. Lá fora.

Ele olhou fixamente suas duas mãos enluvadas.

Ela seguiu seu olhar, agitando seus dedos experimentalmente, seu rubor se fez mais.

— Não é minha luva, uma amiga saiu ao terraço para tomar um pouco de ar depois do jantar. Estava pondo as luvas quando o vento tomou uma delas e a levou à árvore... — Ela engoliu em seco ao ver sua expressão. — Sim, provavelmente sabe, naturalmente, tentamos recuperar a luva, mas foi em vão.

— Senhorita Darling.

— Sim?

— O que exatamente a senhorita Viola deseja que faça?

A boca de Penélope formou um “O”. Não era sua culpa. Viola era um vento forte quando se dedicava a algo. Agora, decidiu, já era hora de a informar sem vacilar que sua busca se tornou exaustiva e, além disso, que estava perdendo o tempo porque, o mais enfático, nunca se casaria com ela.

— Ela... quer que fale com ela a sós, está esperando sob a árvore, lá fora no jardim.

— Muito bem, — ele disse — Acompanhe-me.

— Oh, mas me disseram que minha parte terminaria...

Ele colocou brandamente sua mão sobre seu braço e a saudou com a mão.

— Disparates a necessitaremos ali para nos assegurar de que não haja irregularidades.

— Minha mãe...

Ele assentiu com a cabeça a uma cadeira no canto.

— Está dormindo.

— Oh — ao final, Penélope concedeu, tendo em conta que não estava casada, correu o risco de escolhê-la como sua acompanhante. Mas apesar do aborrecido engenho da menina, não mancharia a reputação de sua família ao permitir que Viola gerasse um escândalo, já que Lorde Mochrie choraria antes que a lua se mostrasse esta noite.

Entraram no jardim da casa de Pennywhistle na planta baixa, o vento seguia soprando como tinha feito antes, sussurrando as novas folhas de um pequeno freixo. O tronco se levantou de um canteiro do jardim rodeado por um muro de pedra.

Olhou ao céu amaldiçoando as nuvens escuras que sempre pareciam envolver Londres. Daria tudo para retornar a Derbyshire, olhar para cima e ver estrelas em lugar de fumaça. Olhando através dos ramos, viu que Viola, de fato, tinha conseguido jogar sua luva sobre um ramo. Ela tinha eleito com cuidado, por isso estava muito longe da borda do terraço superior para alcançá-la e muito alta para recuperá-la do chão.

Inteligente, de mente sangrenta, intrigante e irritante.

A mão de Penélope se separou de seu braço, se inclinou para ela com sua postura mais intimidante.

— Fique.

Ela poderia ter gritado, mas não se importaria. Precisava localizar Viola, e não podia ver nada mais além dos primeiros dois metros mais ou menos, lentamente, aproximou-se da base da árvore, em busca de qualquer sinal de cabelo preto. Subiu ao muro de pedra, apoiou uma palma contra a áspera casca, esticou o outro braço e arrancou o pedaço de seda branca de sua verde prisão esfregando a coisa distraidamente entre seu dedo polegar, sacudiu a cabeça.

Ela realmente era a criatura mais extraordinária. Afastando-se da árvore, deixou-se cair sobre as lajes e retrocedeu um passo antes de enfrentar Penélope. A menina esfregava os braços e ajustava o xale sobre os ombros.

— Onde está ela?

Com os olhos bem abertos, Penélope levantou lentamente a mão para assinalar diretamente atrás dele.

— Procurava a mim, Lorde Tannenbrook?

Fechou os olhos brevemente antes de voltar-se, ela parou na parede baixa, pondo seus olhos quase ao mesmo nível que os dele.

O impacto lhe tirou o fôlego, mesmo em condições de pouca luz.

— Vejo que recuperou minha luva, muitíssimo obrigado. — Seu sorriso o iluminou como uma tocha. — Meu valente campeão.

Sem cerimônia, deixou cair o pedaço de seda em sua palma estendida.

— Do que se trata, senhorita Darling? Estou cansado de seus jogos.

— Desejava falar com você a sós. — Elegante como uma bailarina, esticou um braço e colocou a luva, a seda soprava contra a pele e diminutos dedos revoavam para encaixar.

A vista desse movimento, como uma mariposa que pousa sobre um fio de lã, fez com que sua carne se esquentasse e endurecesse, fez-lhe querer insistir em que tirasse a luva de novo, devagar, ele engoliu em seco.

— O fato de que considere meus esforços por melhorar nossa relação como “jogos” demonstra a necessidade desta conversação. — Fechou os botões do pulso com movimentos informais, como se não suspeitasse o profundamente excitado que já estava. — Sei que pensa que sou uma menina coquete.

Ele franziu o cenho.

— Eu não disse isso.

Ela deu um meio sorriso, mas seus olhos não se inclinaram nos cantos, além disso, seu nariz não lhe deu aquela ruga vitoriosa.

— Mas o pensa — ela respondeu brandamente.

Permanecer em silêncio parecia ser o único caminho razoável, considerando que não sabia como responder.

— Deve entender a sinceridade da minha consideração, meu senhor.

— Tannenbrook — ele corrigiu.

— Lorde Tannenbrook. Seu nome de batismo é James, não é assim?

— Sim.

Ela avançou lentamente até que seus lábios estavam a um mero suspiro dos dele.

Não. Não tinha sido ela quem se movera.

Olhou seus próprios pés. Engoliu em seco de novo. Inferno maldito.

— Desejo me casar contigo, James. — O doce sussurro levantou sua cabeça mais rápido que um taco de críquete. —Nunca me senti desta maneira e desejo ser sua esposa. —Pequenos e brancos dentes puxaram um lábio inferior gordinho, a metade do par mais perfeito que jamais tinha visto. — Isto não é um jogo para mim.

Alguém estava grunhindo, provavelmente ele. Pegou sua cintura com suas mãos.

Ela gritou e segurou seu peito, ou melhor dizendo, sua gravata, ele a levantou da parede e baixou os pés até as lajes. Era como levantar um pássaro, leve, delicado e suave.

Seus dedos ainda estavam enredados nas dobras de sua gravata, e ela puxou seu rosto para mais perto do dela em sua descida.

— Senhorita Darling...

— Viola — ela corrigiu. Seu aroma se dirigiu ao seu nariz: vinho, morangos e as peônias que floresciam no cemitério de Shankwood. Doce na superfície, escuro e exuberante debaixo.

Apertando a mandíbula, perguntou-se se a senhora Pennywhistle tinha baldes de água gelada perto, um homem podia esperar, supôs.

— Senhorita Darling, não quero ofendê-la...

— É claro não. É o melhor dos homens.

— O matrimônio está fora de discussão.

— Disparates, depois de que nos conhecermos melhor, também o sentirá.

— Sentir o que?

— Nossa afinidade.

Ele afrouxou brandamente os dedos em sua gravata e tratou de restaurar o trabalho de seu criado.

— Decidi nunca me casar com ninguém, seus esforços, como os descrevem, são totalmente em vão. — Ela inclinou sua cabeça, olhando-o, suas mãos enluvadas o espantaram antes de endireitar energicamente as enrugadas dobras.

— Por quê?

— Porque não pode ter êxito em seu objetivo e pode fazer muito mal à sua reputação antes que se dê conta de que falo a sério.

— Não, — ela disse, acariciando o centro de seu peito — Por que decidiu nunca se casar?

Suas costelas se apertaram ao redor de seus pulmões, seu coração se retorceu e doeu.

— Tomei a decisão faz muito tempo. As razões não são importantes. Deve deter esta busca.

— Portanto, não é que me despreze ou que me considere uma menina estúpida.

— Não.

— E não é porque me ache horrível.

Seus olhos vagavam por seu rosto, a delicadeza do nariz, os olhos crepusculares inclinados assim e seus lábios, não devia esquecer isso.

— Não.

Esses lábios se dividiram em um brilhante e deslumbrante sorriso, o crepúsculo brilhava com mil estrelas, um nariz minúsculo enrugado vitoriosamente.

— Então, estamos de acordo.

Ele responderia logo que pudesse respirar, tomou um momento, talvez dois.

— Como é isso?

— Não se casará com ninguém, casará comigo e seremos gloriosamente felizes. — Ele piscou.

— Loucura, pura loucura.

— É? — A tulipa doce do queixo se inclinou como frequentemente fazia quando o estava desafiando. Ela ficou nas pontas dos pés e deslizou as mãos pelos flancos de seus braços, arrastou os dedos por seus cotovelos e colocou seus braços em seu pescoço. — Então por que me abraça assim, James?

Seu fôlego estremeceu, sacudiu a cabeça e lhe apertou a cintura com as mãos.

Suas mãos.

Sua cintura.

Tinha estado acariciando a exuberante curva de sua cintura, estendendo-a e dando voltas com seus dedos, esfregando e aprendendo sua forma debaixo da seda índigo em capas durante a maior parte dos cinco minutos. Como se suas mãos soubessem algo que ele não sabia. Desejava-a muito para lhe obedecer a cabeça.

Uma vez mais engoliu em seco, sentindo-se queimado por ela. Desorientado, deixou cair suas mãos, a sua caiu, também.

— Deve deter isto, Viola — ofegou desesperadamente, cambaleando para trás, e suas botas soavam ocas nas lajes. — Nunca me casarei contigo, aceita-o, porque é a verdade, mude seus afetos para outra pessoa. — As palavras tinham um sabor azedo em sua boca.

Acostumado à escuridão, retirou-se para a porta da cavalaria na parte dos fundos do jardim.

— Retorne à sala de estar — gritou quando finalmente encontrou a força para afastar-se dela. — Aceite se casar com qualquer um das dúzias de outros cavalheiros que escrevem sonetos em seu nome e nunca volte a tentar uma armadilha tão tola, nós, os homens, somos uns desgraçados.

Justo antes que a porta de ferro se fechasse com um forte estrondo atrás dele, escutou sua voz em um repentino assobio. As palavras não estavam claras, mas ele juraria que ela estava zangada.

— Precisamente porque terei a ti e só a ti, James Kilbrenner, nenhum outro homem o fará jamais.


CAPÍTULO 5

“Quando a gente é mais preparado que todos outros, está obrigado a servir ao próximo. Dificilmente é minha culpa se outros perceberem minha ajuda como ‘interferência’ ou ‘intriga’. Não posso controlar tudo, apesar de tudo.”

Proposta iminente a uma certa viúva.

Ser convidada ao primeiro almoço da temporada de Lady Wallingham era uma alta honra ou um sinal de desaprovação. Viola ainda não tinha determinado o que se aplicava a ela, mesmo depois de quatro bolachas e duas xícaras de chá.

— Ela o favorece — murmurou Charlotte, assinalando com a cabeça o quadro que estava em cima da lareira, o retrato de uma mulher pequena com uma boca reta, nariz triangular e sobrancelhas arqueadas e de desaprovação. Era um de ao menos dez retratos das antepassadas femininas de Lady Wallingham que se alinhavam nas paredes amarelas do tímido e feminino salão da viúva.

Viola assentiu.

— A peruca disfarça a cor de seu cabelo, mas inclusive se não fosse assim, só estaríamos adivinhando que é ela. Duvido que sua senhoria tenha nascido com o cabelo branco. — Rindo entredentes, Charlotte suspirou e tomou um sorvo de chá, Viola examinou os sinais de tensão ao redor da boca de sua amiga, a palidez de sua pele, o que fez as sardas mais proeminentes. — Explicou ao seu pai por que não deseja se casar?

Os olhos de Charlotte se fecharam brevemente, seus lábios se apertaram.

— Sim, está convencido de que me caso com o Rutherford. Tentei tudo.

O novo Marquês de Rutherford, anteriormente conhecido como Lorde Chatham, era, como Charlotte o descrevia frequentemente, um escândalo ambulante. Alto e magro, sardônico e sensual, aos olhos de Viola, parecia dissipado e perigoso, como um lobo que tinha morrido de fome e logo liberado sobre a população feminina.

Foi amplamente considerado como uma vergonha pelo beau monde, excluído de todas as reuniões, exceto as mais luxuriosas. Em consequência, só o tinha visto duas vezes, uma vez que saía de uma loja na Bond Street e outra vez fazia quatro dias, afastando-se da casa da Grosvenor Square que se viu obrigada a vender para pagar as dívidas de seu pai e esse era o homem com o qual o pai de Charlotte desejava que se casasse em menos de uma semana.

Viola colocou seu chá em uma mesa baixa de mármore e apoiou uma mão no braço de Charlotte.

— Vem, fica comigo, querida, rogo-lhe isso, em meu dormitório há uma espreguiçadeira, dormirei ali, e pode pegar a cama, trarei bandejas para suas refeições e me assegurarei de que seu pai nunca te encontre, Penélope também ajudará, foi surpreendentemente efetiva no jantar de Pennywhistle.

Charlotte lhe deu um tapinha na mão, dando-lhe um apertão.

— Obrigada Vi, mas soube que este dia poderia chegar com o tempo, o desejo mais fervente do meu pai é que me case com um título, e ele quer se dar bem, um consolo é que estabeleceu um limite de tempo: um ano depois terei a liberdade de ir à América.

Os olhos de Viola se alargaram.

— Um ano de matrimônio com o Benedict Chatham?

Engolindo em seco visivelmente, Charlotte lhe dirigiu um sorriso tremente.

— Não se preocupe por mim, tudo estará bem, estou segura.

Seu coração se apertou dolorosamente procurando em sua mente um pouco de tranquilidade, Viola sorriu alegremente.

— Bom, não é de tudo desgraçado, é assombrosamente atraente para alguém tão dissipado, mesmo com a bengala e ele sendo tão fraco e pálido.

Charlotte tomou um sorvo de chá e decidiu não responder, agora que Viola tinha encontrado seu Tannenbrook, a ideia de casar-se com um homem que não inspirava visões noturnas de ombros largos, coxas musculosas e mãos gigantescas faziam com que seu estômago se revolvesse. Ela tinha sonhado com ele na noite anterior, seus olhos ardiam nos dela, seus lábios apertados contra os dela, sua mão embalando a dela enquanto se moviam em um elegante baile, ela suspirou, o parvo Tannenbrook, não dança, entretanto, a perspectiva de ser obrigada a casar-se com alguém, qualquer um que não fosse o homem que a fez estremecer-se e ter o calor dentro de sua pele, era insustentável, pobre Charlotte, pobre, pobre Charlotte.

A alta trombeta da voz de lady Wallingham percorreu a habitação.

— Senhorita Viola, querida!

A coluna vertebral de Viola se endireitou, e seu olhar voou para a viúva parecida com um pássaro, sentada em uma cadeira com adornos de cor rosa à direita da lareira.

— Sim, minha senhora?

— O que é isto que escutei a respeito de sua paquera com Lorde Tannenbrook?

Seis olhos a percorreram, incluídos os de Lady Gattingford, uma matrona alta e de ombros encurvados com tendência a exagerar; Lady Reedham, uma mulher mais baixa com grandes dentes e um ar de superioridade; Tia Marian, quem estava surpreendentemente alerta depois de quatro xícaras de chá; Penélope, que usava um desafortunado tom marrom, do qual Viola se havia oposto com veemência; Charlotte e, é claro, lady Wallingham.

— Paquera, minha senhora?

— Agora, não seja tímida, explique sua fascinação. É a mandíbula? Muitas mulheres jovens preferem uma mandíbula quadrada, e a sua é tão sólida como a pedra do castelo. — Viola olhou ao redor da sala, esperando que uma das outras damas pudesse resgatá-la. Por desgraça, não foi assim.

Limpando sua garganta com delicadeza, ela respondeu: — Lorde Tannenbrook é um homem de honra e galanteria.

— Besteira, é a mandíbula. — Os agudos olhos verdes da mulher se estreitaram sobre ela.

— Suponho que tem a intenção de que esta sua caça ao Tannenbrook conclua em matrimônio em lugar de escândalo.

Os olhos de Viola se abriram de par em par, logo se moveram imediatamente para estreitar-se sobre sua prima, que corou e baixou o olhar. O tola não pôde guardar um segredo, depois de tudo levantando o queixo, Viola respondeu.

— Se Lorde Tannenbrook me oferecesse matrimônio, aceitaria com prazer, ele é o melhor dos homens.

Os magros lábios de lady Wallingham se curvaram e uma sobrancelha branca se arqueou.

— Então, é seu aspecto, entendo. Penso que alguém tem mais em conta um conde, atrevo-me a dizer, que a um ferreiro ou um pedreiro. Talvez sejam os ombros.

Viola franziu o cenho.

— Seu sangue é tão nobre quanto o seu, milady e sua pessoa sem igual...

— Sim, sim, todas entendemos sua fascinação pelo bruto.

— Esse bruto salvou a vida de seu filho com um grande risco para ele.

— Se meu filho não se permitisse bobamente distrair-se, não teria perdido as rédeas, e tal derrota teria sido desnecessária.

— Talvez — continuou Viola, sem prestar atenção à agitação da viúva. — Entretanto, Lorde Tannenbrook foi em ajuda de Lorde Wallingham, e muito heroicamente, poderia adicionar, merece nossa admiração.

— Hmmm. Sua beleza pode comprar favor entre a porção masculina da sociedade, querida, mas nunca presuma que uma bênção tão aleatória de nascimento compensa sua grande boca. — Agora os lábios da mulher também estavam apertados. — Não é assim.

Viola escolheu tomar seu chá e deixar de falar, Lady Wallingham parecia satisfeita de passar a outros objetivos, felizmente para Viola.

— Senhorita Lancaster! Dão-me a entender que seu pai negociou uma união mal concebida entre você e aquele demônio, Chatham.

Charlotte se manteve notavelmente tranquila, tomando um sorvo de chá antes de responder: — De fato sim, minha senhora.

— Isto não terminará bem para ti. — A viúva farejou. —Não estava disponível o incestuoso Lorde Byron? Ele poderia usar os recursos, a poesia não paga bem.

Viola quase jogou o chá pelo nariz ante a revoltante declaração.

Charlotte mal piscou.

— Byron fugiu ao continente depois de ter amargurado seu matrimônio com a última herdeira que o aceitou, no último relatório, ele está escrevendo poesia em Roma e não, não está disponível. — Tomou outro sorvo com calma.

— Ainda é uma melhor opção que esse canalha que se faz chamar Rutherford.

Sorrindo, Charlotte pôs sua xícara no pires.

— Possivelmente, mas Byron é um simples barão, meu pai não tolerará nada menos que um conde. — Viola se maravilhou com a franqueza de Charlotte, mas então, frequentemente a assombrava e admirava a natureza franca da outra mulher.

Lady Wallingham pareceu apreciar a honesta resposta.

— Poderia aplaudir seus altos padrões, se não soubesse a quem lhe estava dando de presente com seu dote.

Ela voltou sua atenção à Penélope.

— Falando disso, que tipo de recompensa está contribuindo a este combate com Lorde Mochrie, querida?

Enquanto a viúva interrogava uma Penélope de cara vermelha, Viola se inclinou para Charlotte para murmurar.

— Quase esperava que ela oferecesse a mão de seu filho em matrimônio, dado seu interesse em seu dote.

Charlotte sorriu.

— Lady Wallingham como sogra. Pode imaginar? — Viola negou com a cabeça e riu.

Ao outro lado da sala, Lady Wallingham declarou em voz alta.

— Lady Gattingford sugeriu uma festa no castelo de Grimsgate ao final da temporada. Senhorita Darling!

Penélope se sentou mais reta.

— Sim?

— Você não, Senhorita Viola Darling, deve ir.

Viola percorreu sua memória em busca da localização da residência de campo de Lady Wallingham em algum lugar do norte, talvez pensando, não podia estar segura. Murmurou a pergunta a Charlotte.

— Onde está Grimsgate?

— Northumberland.

Freneticamente, calculou quanto poderia custar essa viagem ao seu pai, só o aluguel da casa que compartilhavam com Penélope e a tia Marian tinha esticado suas arcas.

Uma vez mais, Viola sentiu uma pontada de culpa por não ter eleito um marido em sua primeira temporada. Tannenbrook não esteve presente na primavera passada, e tampouco queria casar-se, recordou a si mesma. Lutando por uma forma educada de rechaçar, Viola ofereceu uma versão da verdade.

— Minha senhora, honra-me com seu amável convite.

— Sim, é.

— Entretanto, vacilo em aceitar...

Como as nuvens que se juntam para ameaçar o sol, os olhos de Lady Wallingham brilharam sinistramente, suas sobrancelhas brancas desceram.

Viola engoliu em seco e apressadamente continuou.

— Só porque, se tiver a sorte de receber uma oferta de matrimônio antes que termine a temporada, antecipo que estarei ocupada...

— Quantas ofertas rechaçou em sua primeira temporada, menina?

Ela piscou.

— Quatorze, minha senhora.

— E esta temporada? Tendo em conta que começou só esta semana com minha chegada a Londres, deixei dois meses para que os parvos mais néscios fizessem uma visita ao seu pai.

— Sete.

— Então, sem um dote nem um título de cortesia, conseguiu desperdiçar vinte e uma ofertas de matrimônio em pouco mais de uma temporada.

Ao seu lado, Charlotte sussurrou.

— Vinte e um? Meu Deus, Vi.

Viola endireitou sua coluna vertebral e se negou a ser castigada.

— Só aceitarei uma, minha senhora, do cavalheiro correto.

— Tannenbrook. Sim, a mandíbula é bastante monumental. — A viúva passou seus dedos na borda de seu pires. — Muito bem. Tannenbrook irá à festa de minha casa ali, agora não tem nenhuma razão para rechaçá-la.

A menos que possa persuadi-lo a se casar comigo antes. Antes que ela tivesse terminado de pensar, Lady Wallingham agitou uma onda em sua direção.

— Ele é intratável, menina, não o conseguirá antes de junho.

— Logo veremos. — Em segundos ela lamentou as palavras.

A viúva sorriu desagradavelmente.

— Faremos, por certo, querida.

***

James nunca viu uma mulher mais teimosa, obstinada, intratável e frustrante em todos seus dias de vida.

— Conhece a senhorita Viola, não é? — Perguntou ao Charles Bainbridge, quem o tinha saudado à sua chegada em casa de Wallingham em Park Lane. O lugar era o dobro do tamanho de uma casa normal e cinco vezes mais opulento. Jogou uma olhada ao redor da biblioteca, admirando a complexidade da pedra ao redor da lareira, as mísulas, as pedras se pareciam com carvalhos fantásticos nos quais cada folha parecia quase revoar na corrente ascendente do fogo.

— A senhorita Darling. — As escuras sobrancelhas de Charles baixaram pensativamente, e a mão que sustentava atualmente uma pluma se deteve sobre o papel de sua escrivaninha. — Cabelos escuros, uma rara beleza, segundo lembro, por que pergunta?

Ignorando o estranho pulsar de ira que surgiu da descrição perfeitamente razoável de Charles, James agarrou os braços de sua cadeira e se obrigou a relaxar.

— Qual é a sua conexão com sua mãe?

Uma só sobrancelha se levantou.

— Nenhuma que eu saiba.

— Lady Wallingham decidiu que irei à festa de sua casa ao final da temporada, recebi uma nota sobre isto esta manhã, ela mencionou que a Senhorita Darling também estará presente.

— Isto é significativo por que...?

Não queria dizê-lo, admitir quão ferventemente ela o perseguia, queria que ela deixasse de aparecer ao seu lado durante uma valsa, como se esperasse que ele rogasse por uma dança. Queria que ela deixasse de olhá-lo com aqueles olhos estrelados. Desejava-a...

Maldito inferno, queria que lhe desse um pouco de paz.

James apertou a mandíbula antes de responder.

— A senhorita Darling expressou seu desejo de casar-se.

— Todas as damas que participam da temporada não desejam o matrimônio? Por isso se referem a ele como o mercado matrimonial, se não me engano.

Deu ao outro homem um olhar severo.

— Comigo... ela deseja casar-se comigo.

O assentimento tranquilo de Wallingham não foi a reação que esperava.

— Entendi.

Mas ele não. Ele não podia entender a intensidade implacável, a pressão de resistir a ela uma e outra vez afastando-se daqueles olhos de adoração e lábios grossos em forma de pétala e curvas doces e com aroma a peônia o estava deixando louco.

— Não posso ir à festa. — As palavras surgiram dele como uma rocha arrastada desde o mar: pesada, baixa e relutante, uma admissão de debilidade.

— Entendi — repetiu Wallingham, terminando brandamente sua assinatura e lixando a tinta, os grãos voando longe. — Se for um consolo, Grimsgate é uma grande propriedade, uma vez me escondi do meu professor me movendo de habitação em habitação no castelo, ele esperou três dias antes de admitir à minha mãe que tinha me “perdido”, naturalmente, minha mãe me encontrou em poucas horas e nunca voltei a ver o professor, mas você vê meu ponto, centenas de habitações, junto com uma grande quantidade de terra. Além disso, as festas de minha mãe raramente duram mais de quinze dias, já que esse é o limite de sua paciência. — Um sorriso curvou a boca reta do homem. — Esquiva, Tannenbrook, a chave da prudência.

James aceitou o papel de Wallingham, a nota assinada que transferia a propriedade de um valioso potro de um dos melhores estábulos da Inglaterra para ele, James Kilbrenner, um conde inglês que deveria ter sido um trabalhador de pedreira escocês.

Charles rodeou a escrivaninha e bateu no ombro de James.

— Vem, talvez se falar com minha mãe, vocês dois possam chegar a um melhor acordo.

James se levantou e seguiu o homem para fora da biblioteca.

Vinte minutos mais tarde, arrancou seu chapéu da mão do mordomo engomado e o meteu na cabeça antes de abrir a porta principal.

Ao reunir-se com James, Lady Wallingham se tornou mais decidida a afundar seus eternos tentáculos mais profundamente em sua vida. “Se resistir mais, Lorde Tannenbrook”, tinha decretado de uma cadeira vermelha e dourada em sua guarida de cor amarela brilhante, “insistirei em vê-lo convidar sua querida amiga Darling para uma valsa no baile de Lady Gattingford, não me ponha à prova, moço.”

Tinha sufocado seu protesto logo, despediu-se dela, baixou os degraus até Park Lane, esperando que seu criado lhe trouxesse um de seus muitos serventes.

— Problemas, Lorde Tannenbrook?

Fechou os olhos, esperando havê-lo imaginado, a voz, doce e cristalina, como uma fonte. Escutava essa voz em seus sonhos e despertava dolorido.

— Me diga que tem um plano melhor que simplesmente me ignorar, odiaria pensar que lhe falta força.

Suspirou e se negou a olhá-la, mantendo seus olhos fixos no verde de Hyde Park.

— O que está fazendo aqui? — O silencioso toque de seus passos se aproximou, detendo-se enquanto ela se juntava a ele.

— Convidaram-me a ir ao almoço de Lady Wallingham. Minha prima e minha tia decidiram ir passear pelo parque depois. Escolhi ficar e falar com a senhorita Lancaster antes de levar a carruagem para casa e me liberar de uma dor de cabeça abominável.

Ele franziu o cenho, ouvindo o cansaço em sua voz, o leve tom de alguém que sofre o atraiu para ela, para enfrentá-la, usava um casaco azul que combinava com seus olhos e um vestido de musselina azul mais claro bordado com bolinhas e videiras brancas. Sobre seu cabelo negro usava o mesmo chapéu azul escuro que tinha usado quatro dias antes no Hyde Park.

Provavelmente seu favorito, pensou.

— Dói-lhe a cabeça frequentemente? — Ele murmurou, vendo como ela estremecia ante a brilhante luz do meio-dia se reposicionou para colocar-se entre ela e o sol.

Ela suspirou, o pequeno cenho franzido entre suas sobrancelhas se afrouxou.

— Graças a Deus não frequentemente, mas quando acontece, devo me deitar. — Seu sorriso era tenso. — O que o traz a Wallingham House, se posso perguntar?

Não sabia por que respondia, talvez porque seu cavalo ainda não tivesse chegado, talvez porque ela parecesse estar fraca e ele desejasse animá-la, talvez porque saboreou o som de sua voz, tão suave como um rio acariciando suas bordas.

— Lorde Wallingham assinou uma nota para transferir a propriedade de um de seus potros e documentar seu pedigree.

— Não podia ter enviado a nota?

— Também me encontrei com lady Wallingham.

— Oh, querido.

Contra sua vontade, sentiu um sorriso puxar seus lábios.

— A viúva prova a paciência de qualquer um. — Apesar de sua dor, devolveu-lhe o sorriso com um brilho próprio e inclinou a cabeça inquisitivamente.

— Também tem negócios com lady Wallingham? Ou simplesmente é um glutão pelo castigo?

Uma vez mais vacilou em responder. Ele deveria estar esquivando-se da moça, não satisfazendo sua curiosidade.

— Ela está me ajudando a localizar o meu herdeiro.

Por que havia dito isso? Um cenho franzido pousou sobre sua testa. Por que demônios estava falando com Viola Darling? Ele deveria estar trabalhando para desalentar seu interesse.

— Confiando na ajuda da viúva? Um glutão pelo castigo então. — Ela olhou por cima do ombro enquanto um familiar barouche se dirigia para eles.

— Uma coisa que admiro em Lady Wallingham é sua perseverança. Se ela prometeu ajudar, então o fará.

— Mmm — murmurou. — Não sem exigir um alto preço por isso.

— Naturalmente.

— Quanto lhe está custando sua assistência?

Minha prudência, pensou, mas não podia dizer isso, porque revelaria muito.

— Ela deseja minha presença em Londres para a temporada, diz que descuidei de minhas obrigações sociais durante muito tempo.

Viola inclinou a cabeça, lendo seus olhos.

— Isso, hummm, explica por que vai a tantos eventos quando, obviamente, preferiria estar em outro lugar, como por exemplo, em um que lhe extraiam um dente ou que lhe quebrem um braço.

— Em efeito.

Ela assentiu com a cabeça ao seu cocheiro quando o veículo se deteve.

— Não se desespere, James — disse brandamente, sua mão acariciando discretamente seu antebraço. — Deixe que lady Wallingham se ocupe de sua tarefa e satisfaça suas demandas como deve. — Seus lábios se curvaram em um canto. — Lembre de respirar, confie em que tudo chegará certo ao final.

Inexplicavelmente, sentiu que a tensão se desvanecia de seu pescoço e ombros. A doçura do azul crepuscular arrastando as frustrações do dia. A sensação lhe recordou o cair de costas na água fresca do rio depois de uma semana de transporte de pedras. Fez-lhe sentir-se enjoado, fez com que quisesse mais.

— Devo ir — disse ela, dando ao seu braço uma última carícia.

Automaticamente, ele a ajudou a subir ao veículo, sustentando sua mão enluvada um pouco mais que o necessário, sentindo a diferença em seus tamanhos, a delicadeza de seus ossos antes de soltá-la a contragosto, engoliu em seco.

— Como está sua cabeça?

Seus olhos frágeis, entrecerrados e uma careta sutil lhe responderam.

— Onde está seu lacaio?

— Ele está conduzindo.

Olhando primeiro a ela e logo ao jovem servente que dirigia as rédeas, ordenou: — Mantenha-os firmes enquanto eu levanto o capô.

O cocheiro-lacaio piscou ante os céus sem nuvens em confusão, mas obedeceu a ordem, James desdobrou rapidamente o capô na parte traseira da carruagem aberta e o assegurou em seu lugar, brindando a Viola um refúgio contra o resplendor do sol.

— Leva-a diretamente para casa, não se detenha.

— Sim, senhor.

Momentos antes que as rédeas estalassem e o coche se afastasse, ouviu-a suspirar seu nome, só isso.

— James.

Enquanto observava como a carruagem retrocedia por Park Lane, a dor mais peculiar se apoderou de seu peito justo no centro, onde vivia seu coração. Era quase como se ele... sentisse saudades.

Suas coxas ardiam ao mover-se, doía-lhe a vontade de segui-la e assegurar-se de que a pusessem sobre uma cama de plumas suaves em uma habitação escura para estar ali quando ela despertasse, seu sorriso brilhasse para ele, livre de dor.

O que era este estranho impulso?

Tolices, respondeu-se, a culpa, talvez, por rechaçar seus afetos. Todos sofremos dor de vez em quando, ela não é de sua incumbência, devia atender os assuntos que lhe preocupavam: encontrar seu herdeiro, apresentar ao homem as responsabilidades que passaria ao seguinte Conde de Tannenbrook e velar pela contínua prosperidade de quem confiava nele.

Estas eram suas tarefas, esse seria seu foco. Não havia espaço para uma moça tão formosa que doía. Jamie Kilbrenner, converta sua mente em melhores coisas, que logo se esquecerá.

Quando o lacaio com libré chegou conduzindo seu cavalo, observou que o barouche se separava de Park Lane e desaparecia da vista. Logo se perguntou se, na verdade, existia algo melhor na Terra que a senhorita Viola Darling.


CAPÍTULO 6

“Prefiro ser o portador da coerção, Humphrey, não o destinatário.”

A Marquesa viúva de Wallingham ao seu companheiro, Humphrey, ao descobrir a avidez da afeição de dito companheiro pelos esquilos.

15 de junho de1818

Northumberld

A primeira visão de Viola do castelo de Grimsgate coincidia, não inesperadamente, com a extração de sangue.

— Ouch! — Ela ofegou quando sua agulha de bordado perfurou a gema de seu polegar.

Deixando cair a coisa sangrenta em sua boca, baixou o aro ao seu regaço e voltou a olhar pelo guichê de sua carruagem.

O castelo era uma presença enorme, encarapitado em uma colina sobre uma paisagem plana e costeira, as torres quadradas ancoravam os quatro cantos de uma enorme torre central, enquanto os altos muros de pedra rodeavam todo o topo da colina, correndo ao longo, para abranger hectares a cada lado no total, a torre e as torres, as paredes e o galpão de entrada, junto com numerosas dependências de pedra, pareciam um dragão estendido vitoriosamente sobre seu trono, aconchegado contra o céu claro de Northumberland.

— Terá que tirar esse ponto se não desejar deixar um emaranhado atrás.

Viola fechou os olhos e recuperou a paciência antes de apartar-se da janela para olhar à mulher que logo seria sua madrasta. O que seu pai amava nela era ainda um mistério, mas ela era a mulher com a qual ele queria casar-se, sempre que Viola pudesse levar Tannenbrook ao final da festa. Depois de quase três meses encontrando sua incondicional resistência, ela julgou que o resultado estava longe de ser seguro.

— Obrigada, senhora Cumberland, que amável de sua parte me alertar de uma possível calamidade. — Com seu rosto avermelhado emoldurado pela borda de um chapéu cinza, a mulher robusta assentiu e voltou a costurar, uma camisa branca que estava remendando, possivelmente para seu pai, quem tinha eleito viajar com o cocheiro, deixando Viola, Penélope, tia Marian e a senhora Cumberland para ocupar a carruagem fechada.

Durante quatro malditos dias. Tinham passado as duas primeiras horas de sua viagem de Londres conversando com Penélope, quem não podia falar de nada, exceto de suas próximas núpcias com Lorde Mochrie, a conversação só tinha servido para recordar à Viola seus próprios e espantosos fracassos, então ela tinha suportado o entusiasmo de Penélope todo o tempo que pôde antes de advogar por uma dor de cabeça e pretender dormir a sesta. Depois disso, ela tinha começado a reunir um presente para o James, uma pequena amostra de seu afeto era um lenço, um quadrado de linho branco com um pouco de bordado em um canto.

É claro, um projeto deste tipo seria bastante simples se outro alguém tivesse tentado, mas ela era Viola, Mutiladora do artesanato.

No primeiro dia, ela tinha passado duas horas cortando o tecido, quando terminou, o quadrado tinha a metade do tamanho que deveria ter. Logo, tinha passado as seguintes seis horas dobrando três bordas, a quarta borda tinha demonstrado ser a mais problemática e agora estava ondeado de maneira desigual ao longo de um canto. Quando terminou, já não podia suportar a ideia de voltar a trabalhar nisso. Logo veio o bordado, devido a ela e James terem passado muito tempo juntos, o resultado natural de persegui-lo por toda parte exceto à porta de sua casa, ela tinha conseguido aprender bastante sobre ele. Por exemplo, ele preferia o café sobre o chá e a cerveja sobre o vinho, que só bebia por cortesia, além disso, era um conde de sangue, mas às vezes mostrava um desprezo sutil por seus companheiros aristocratas, particularmente os insuportáveis e, o que mais gostava de fazer quando tinha tempo suficiente para o ócio era a pesca. Ela o tinha convencido a comentar uma noite, quando o tédio de seu terceiro musical tinha levado ambos à beira do desespero.

— Que tipo de pesca? — Ela tinha sondado, agradecida de ter obtido uma resposta que não fora grunhidos desdenhosos e evasões transparentes.

— Rios, principalmente.

— Não, tolo. Que tipo de pescado?

— Importa?

— A mim sim.

— Por quê?

— Porque quero saber mais de você.

— É uma tola, mulher. Por que não me deixa em paz?

— Porque não.

— Isso não é uma razão.

— Que razão tem para não responder uma pergunta simples?

— Porque...

No silêncio tinha caído uma nota desafinada sobre o pianoforte, cortesia de uma das filhas do Pennywhistle.

— Muito bem — queixou-se. — Truta, eu gosto de pescar trutas.

Alegrou-se ao ver o primeiro raio de esperança desde o dia em que a tinha entregue em um barouche em Park Lane. Ainda sentia calor ao recordar como ele tinha levantado o capô para protegê-la do sol, tudo para lhe dar um pouco mais de comodidade.

Por isso ela o amava de maneira inequívoca, amava-o sem reservas, mas se sua frieza por volta dela durante o resto da temporada foi um indício, não lhe retribuía o sentimento, não, ele simplesmente tolerava sua presença com uma mandíbula flexionada e uma expressão pétrea, como ela tolerava os conselhos de bordado da senhora Cumberland. De vez em quando, aborrecia-se e conversava com ela, como o tinha feito com a pesca, mas esses momentos de conexão eram muito breves e incomuns enquanto ela se estremecia ante seus persistentes rechaços, ela ansiava muito sua companhia para abandonar sua caça ao Tannenbrook.

Agora, enquanto tentava costurar a cauda de uma truta em seu quadrado de tecido irregular, sentiu três meses de fracasso pesando-a até que seus ombros quiseram afundar-se com ela, até que sua garganta se inchou quase até fechar-se. Ela não podia atrasar-se mais. Seu pai merecia estar contente com a senhora Cumberland.

Merecia ver sua filha casada e a salvo depois de pagar uma segunda temporada que não podia permitir-se, para não falar do custo de viajar até Northumberland.

Se não pudesse convencer James de que a aceitasse como sua esposa antes do final da festa, então se veria obrigada a casar-se com outro, era o único curso justo para seu pai.

Cada centímetro de sua pele, cada gota de seu sangue, cada pensamento em sua mente rechaçava a ideia de tomar a outro homem como seu marido, deixar que outro homem a beijasse e a tocasse. Que fosse o pai de seus filhos. Não, ela não podia suportar.

— Se você tomar um pouco mais de cuidado com sua agulha, poderá passar os fios novamente sem fazer nós...

— Senhora Cumberland — retrucou Viola. — Obrigada, mas arrumarei isso por minha conta.

A boca da mulher se esticou, e ela assentiu com suavidade antes de retornar ao seu próprio trabalho, puxando brandamente o fio em outro ponto perfeito e invisível.

A tia Marian despertou com um sopro.

— Já chegamos?

— A entrada está bem à frente, mamãe — Penélope respondeu, sua voz surpreendentemente baixa quando lançou a Viola um olhar ácido.

— Graças ao céu.

Pouco depois, quando entraram no grande salão, Viola respirou fundo e fechou os olhos, saboreando o alívio de ter saído da pequena carruagem. Ficou sozinha no centro da habitação. Atrás dela, seu pai perguntou pela comodidade da senhora Cumberland, e Penélope soltou uma gargalhada ante o que disse sua mãe, o mordomo, um homem fraco e de cabelo avermelhado chamado Nash que conseguiu ser ao mesmo tempo altivo e obsequioso, dirigiu os lacaios na descarga de sua carruagem.

Viola se separou de todos eles no centro da habitação, abriu os olhos e olhou as paredes com painéis de madeira que se elevavam a seis metros de altura em um majestoso teto abobadado, uma enorme lareira, que nunca tinha visto, ancorava o lado direito do corredor, enquanto três aberturas arqueadas na parte posterior aparentemente conduziam a uma galeria de janelas ou portas de vidro, a julgar pela luz brilhante que fluía sobre o piso.

Ao longe ouviu o tinido, rápido e revolto, de patas sobre pedra polida girando em um círculo completo, procurou a fonte do som.

— Humphrey! Quieto! — A voz distintiva de Lady Wallingham chamou momentos antes que um cão de quadril grande e com o rosto caído atravessasse o arco esquerdo, indo diretamente para Viola. — Seu entusiasmo é muito indigno.

Ao ver as dobras e as papadas batendo as asas ao ritmo das orelhas pendentes do cão, o coração de Viola bateu forte ao ser golpeada quase por suas costas pelo salto transcendental do cão, e receber abundantes beijos com uma língua longa e úmida. Apaixonou-se.

— Humphrey! Isso é suficiente.

Viola não pôde evitar, riu e abraçou seu pescoço, afagou as orelhas e lhe beijou a cabeça marrom, os olhos escuros, comovedores, caídos, a olharam com adoração.

— Como a maioria dos homens, cai rendido aos seus pés senhorita Darling. — Rindo de alegria, Viola balançou a cabeça e gentilmente baixou as patas dianteiras do cão ao chão, ela se inclinou para frente e tomou seu doce rosto entre suas mãos, tocando sua testa com a sua.

— Mais tarde vamos dar um passeio juntos — sussurrou. — Você gostaria disso?

Sua cauda moveu seus quadris comicamente enquanto emitia um profundo gemido de acordo. Deu-lhe um último beijo na testa enrugada e se endireitou.

Então, seu fôlego a deixou em uma quebra de onda de calor. Apoiado contra a caixa do arco central estava o objeto dos desejos mais ferventes de seu coração. Largos ombros, braços grossos cruzados sobre um enorme torso, olhos de um verde profundo, conífero, que olhavam sem piscar.

— James.

O sussurro sem ar foi puro reflexo, ela não pôde evitá-lo, quando ele a olhava dessa maneira, ela queria fundir-se contra ele, sentir a enormidade de suas mãos sobre ela de novo, seu nome era a única palavra que ela sabia.

Ela piscou ao escutar a voz de Lady Wallingham ressoar contra os painéis de madeira e a pedra polida como um toque de trompetista.

— Parece que todos os homens nessa existência estão destinados a ser presa de seus encantos, senhorita Darling.

Incapaz de afastar o olhar de Tannenbrook, Viola sentiu que a curva de seu sorriso se dissolvia em uma espécie de tristeza.

— Nem todos, minha senhora.

***

Estava morrendo pouco a pouco. Primeiro, tinha-a ouvido rir, o som tinha ressoado do grande vestíbulo de entrada como uma fonte musical, prometendo socorro a um homem sedento. Ele tinha sido atraído para encontrar sua fonte, para vê-la de novo depois de dez dias agonizantes sem uma gota, então tinha-a visto, cabelo negro brilhante sem seu chapéu, curvas suaves envoltas em musselina rosa, rosada pele resplandecente como o alabastro e seu sorriso. Ah, Deus, o retorceu por dentro.

— ...já disse antes, os homens são criaturas simples, mas não necessariamente fáceis de dirigir. — O pontificado de Lady Wallingham rompeu a linha prateada que o unia a Viola. Ele piscou respirando e esperou que seu coração diminuísse seu batimento.

O mordomo passou entre eles, aproximando-se da viúva para discutir a disposição dos convidados.

James quis ir-se, precisava deixar de olhá-la, em troca, foi ela quem se deu a volta com seu peito levantando-se em uma respiração profunda.

Viola tirou as luvas com calma e começou a examinar a habitação, seus olhos curiosamente devoravam as grandes tapeçarias que penduravam de duas das paredes.

Inexplicavelmente, queria que seus olhos voltassem a olhá-lo. Uma de suas luvas caiu ao chão, Humphrey escapou do lado de lady Wallingham, onde se tinha sentado tremendo, emitindo grunhidos e olhando ofegante a Viola durante o último minuto ou dois. James podia empatizar com o sentimento do cão.

Quando o cão agarrou a pequena luva de couro em sua boca, Viola soltou uma risada surpreendida, logo, Lady Wallingham ladrou uma ordem que Humphrey ignorou, em lugar disso, fugindo alegremente com seu prêmio, as orelhas longas saltavam como grandes estandartes enquanto corria para os arcos e, presumivelmente, um lugar seguro para guardar seu tesouro capturado.

Com calma, James se moveu no caminho do cão. Patas deslizaram até que uma parte posterior canina golpeou o gentil piso de pedra calcária quando James estendeu uma mão dominante e levantou a palma de sua mão. Uma luva babosa caiu obedientemente em suas mãos e com a outra mão afagou as orelhas do cão.

— Não deve ser ambicioso, agora — murmurou, perguntando-se se estava advertindo o cão ou a si mesmo.

Limpou a luva com seu lenço e a devolveu à sua dona. Seus longos e exuberantes cílios formaram leques contra suas bochechas enquanto olhava o prêmio devolvido.

— Obrigada, milorde.

— Tannenbrook — corrigiu, embora na verdade, quisesse escutá-la dizer seu nome real de novo. James.

— Tannenbrook. — Foi uma carícia, franzindo os lábios e sussurrando as sílabas.

— Como chegou a Northumberland?

Não sabia por que respondia com seu humor oxidado, muito tempo em companhia do Lucien, talvez.

— Alguns usam um mapa, simplesmente me dirigi por volta do norte até que estava obrigado a entrar na Escócia ou no mar, felizmente, detive-me antes de sofrer qualquer dos dois destinos.

Ela pôs-se a rir, seus olhos se iluminaram como se ele houvesse dito algo brilhante e impactante ou tolo e encantador. Ele queria beijá-la, queria fazê-la rir outra vez, sobretudo, ele queria beijá-la.

— Justo quando estou segura de que não tem mais surpresas, consegue demonstrar que estou equivocada.

Cheirava a peônias, doce, cheia e rica, ele respirou seu aroma, armazenando-o em seus pulmões.

— Estou muito feliz de ver-te outra vez. — Suas palavras foram um murmúrio, suas bochechas agora ruborizando-se cada vez mais, sua respiração rápida.

Estava muito feliz de vê-la e não deveria estar. Não podia ser verdade, era tão imutável como tinha sido três meses antes, quando a viu pela primeira vez, não podia ter Viola Darling. Não a menos que ela pudesse estar feliz como sua amante, sem filhos. Impossível e, de algum jeito, profundamente equivocado, ela merecia ser uma esposa, querida. Amada.

— Peço-lhes perdão, meu senhor — disse o mordomo. — Senhorita Darling, se você está cansada, mostrarei sua câmara.

— Ah, sim — sorriu ao servente. — Obrigada, Nash. —Olhando ao James por debaixo de seus cílios , ela murmurou. — Espero ver-te de novo, milorde.

Abriu a boca para contradizê-la, mas tudo o que pôde dizer foi:

— Tannenbrook.

Lançou-lhe um olhar malicioso por cima do ombro e seguiu o mordomo para fora do corredor. Atrás dele sentiu a presença de outra mulher obstinada.

— Mesmo para um pedreiro escocês, é assombrosamente denso.

— Já enviou a carta?

A viúva respirou fundo.

— Não.

Ele a olhou aos olhos e pronunciou através de uma mandíbula apertada.

— Não volte a falar comigo até que o faça.

Logo, saiu do grande salão, cruzou a larga galeria com janelas, abriu as portas que conduziam ao jardim e as fechou de repente, quase em uma corrida. Ele devia escapar deste lugar, escapar dela antes que perdesse o sentido e perseguisse a senhorita Viola Darling em uma vida de escândalo.


CAPÍTULO 7

“Contemplou o suborno? Não é uma sugestão tão escandalosa. O suborno é um método consagrado no tempo para assegurar um combate, especialmente quando a sedução falha, como parece havê-lo feito com você.”

Viola se encolheu quando seu terceiro dedo arrancou sua quinta nota equivocada, entretanto, manteve uma expressão plácida, depois de tudo, ela estava tocando a harpa, terrivelmente, ante todos os convidados de Lady Wallingham. Penélope a acompanhou no piano, mantendo o tempo perfeito e tocando cada nota corretamente, se não com elegância. A sala de música era tão cavernosa como todas as demais salas de Grimsgate, por isso os erros de Viola ecoaram contra os painéis pintados de branco e os ricos pisos de carvalho, um aviso contundente de sua má música.

Tentou concentrar-se em sua respiração e postura, nas exigências dos pedais da harpa e na posição de seus dedos,mas sua mente voltou obstinadamente para ele, ao seu grande momento de conexão no grande salão. Tinha estado tão segura de que significava uma virada em sua caça ao Tannenbrook que tinha aceito descaradamente um dos concertos de Lady Wallingham para segui-lo em uma visita à nova casa de Charlotte, Chatwick Hall, que se encontrava junto a Grimsgate. Ali, ela tinha esperado não só descobrir como estava indo a sua amiga mais querida em seu matrimônio com Rutherford, e possivelmente passar mais tempo com James sozinho, ou, ao menos, mais só do que lhes permitia o castelo, em troca, tinha voltado para o Tannenbrook que tinha encontrado frequentemente durante a temporada: brusco, abrupto e desesperado por escapar de sua companhia.

Quando ela esteve no jardim de Charlotte e fingiu estar surpreendida ao afirmar que não o tinha notado a três metros de distância, respondeu-lhe em voz baixa.

— É claro que você não me seguiu. Tampouco é o pior espinho em meu flanco.

Logo, com fúria ardendo, tinha passado junto a ela para ir embora, detendo-se só o suficiente para grunhir.

— Talvez o seguinte que não deve fazer é me conceder cinco minutos de paz. — Suas palavras a tinham golpeado como se fora empurrada em água gelada, vindo como o fizeram um dia depois que ele a olhasse com quase reverência, pondo sua luva na mão como a oferenda de um suplicante, Charlotte tinha aconselhado a Viola que lhe desse espaço para respirar. Mas ela não podia e não podia suportar explicar à Charlotte que estava ficando sem tempo.

Agora, seus dedos se apressaram a alcançar o ritmo de Penélope, mas seus olhos se desviaram para onde ele estava parado na parte de trás da habitação, perto de uma janela, mantendo os braços cruzados sobre o peito e apoiando aqueles enormes ombros contra a parede de painéis e olhando-a.

Só para ele, ela desejava tocar bem, mas nunca tinha dominado a arte. Seu pai estava radiante, é claro, sentado ao lado da senhora Cumberland, quem naturalmente estava vestida de seda cinza. Viola lhe devolveu o sorriso, sentindo-se um pouco tremente a seguir, notou o cenho franzido de Lady Wallingham e a calma aprazível de seu filho de olhos solenes, lorde Wallingham, e as expressões raptadas de quatro jovens cavalheiros na primeira fila que pareciam estar bastante preocupados com seu vestido. Supôs que o tom lilás era bastante atraente, mas suspeitava que o corpete, em particular, mantinha seu interesse, o decote era bastante baixo.

Por fim, os acordes finais da melodia que tocavam se aproximaram, tocou-os com um gesto elegante e escutou enquanto a estranha mescla de aplausos corteses contrastava com os bravos dos admiradores do corpete.

— Supunha-se que eram as três e quatro — sussurrou sua prima quando fizeram uma reverência. — Que melodia estava tocando?

Viola suspirou

— Estava distraída.

— Obviamente estava ainda pior que o habitual.

À medida que avançavam por volta da multidão que agora se amontoava, Viola ficou nas pontas dos pés para ver Tannenbrook, mas logo se viu rodeada por cavalheiros que tentavam descrever sua atuação como “esplendorosa”, “transcendente”, “celestial” e “angélica”. Queria revirar os olhos, mas isso seria grosseiro, então em lugar disso ela sorriu e lhes agradeceu por sua amabilidade.

Sir Barnabus Malby, bastante odioso, tentou beijar sua mão nua, mas conseguiu evadi-lo dando a volta para colocar as luvas de seda e perguntar ao irmão mais novo de Lorde Underwood sobre seu compositor favorito.

Todo o tempo, debaixo de sua pele, borbulhava e ardia, doía e desejava James. Mais cedo esse dia, tinha perguntado a Charlotte sobre sua relação com Rutherford. Perguntou-lhe se o homem a tinha beijado, já que em sua correspondência Charlotte só havia descrito seu matrimônio como uma associação de negócios e, entretanto, Viola tinha sentido em suas cartas uma admiração incipiente, inclusive afeição, pelo lorde diabólico.

Nessa manhã, Charlotte tinha confirmado as suspeitas de Viola com uma descrição ruborizada do beijo de seu marido e uma admissão de que tinha perdido seu coração pouco depois, Viola tinha entendido por quê: Benedict Chatham estava muito mudado quanto ao homem que tinha sido fisicamente, era maior com respeito aos ombros e o pescoço, sua magreza agora era musculosa em lugar de deteriorada, sua cor era a de um homem que tinha começado a cultivar, de todas as coisas. Uma qualidade que não tinha mudado era o olhar em seus extraordinários olhos turquesa, o de um lobo faminto. Só que agora olhava Charlotte como se tentasse devorar as sardas de sua esposa.

Tinha-lhe dado uma ideia a Viola que possivelmente era uma tolice, mas ela estava se desesperando, devia persuadir Tannenbrook a beijá-la.

Inclusive agora, o pensamento fez com que seu coração pulsasse como um grande tambor em seus ouvidos, afogando as vozes dos cavalheiros que discutiam sobre que sala de música seria melhor para os “talentos” musicais de Viola.

Foi buscá-lo, ofereceu-lhes desculpas e se deteve brevemente para aceitar o beijo de seu pai em sua bochecha antes de cruzar a habitação para onde James se encontrava.

Mas ele se fora.

— Recomendo um passeio pelos jardins.

Virou-se para ver a viúva atrás dela, uma pluma azul balançando-se enquanto a dama se abanava com um leque azul a jogo.

— A fonte, em particular, é encantadora à luz da lua.

— Oh! Eu... quero dizer, só me perguntava...

— Os jardins, querida menina — disse Lady Wallingham, dando a volta para falar com Lady Gattingford.

Olhando rapidamente ao seu redor para assegurar-se de que ninguém a observava, Viola deslizou passando pela lateral da habitação, logo escapou através das portas a um corredor escuro iluminado com velas, recolheu a seda de suas saias e caminhou tão rápido como pôde para a galeria dos fundos onde as portas se abriam ao terraço.

Esta noite, a lua estava alta e cheia, a luz emprestava às sebes sinuosas e às plantações profusas uma magia prateada. Aqui, longe da fumaça de carvão de Londres, milhares de estrelas cintilavam como pó de diamante em um céu azul aveludado. Fechou os olhos brevemente e respirou o ar, suave como um xale de cachemira contra sua pele, cheirando ligeiramente a novas rosas e ao mar próximo, tomou os degraus do terraço rapidamente, esperando que lady Wallingham não a tivesse enganado.

Encontrou-o sentado na beira da fonte, com as mãos a ambos os lados de suas coxas, agarrando a pedra, com a cabeça para trás, como se lhe doesse.

Suas sapatilhas rangiam ligeiramente sobre o cascalho, seu coração vibrava em seus ouvidos, sua pele formigava com estranho calor.

— James — ela murmurou, tornando-se para diante sem poder fazer nada.

Sua cabeça subiu a luz prateada e as sombras negras brincavam sobre os penhascos de sua testa, nariz e mandíbula, mas tudo o que podia ver eram seus olhos, atormentados e perdidos.

Ela o alcançou em segundos, suas mãos deslizando sobre sua mandíbula, desejava ter pensado em tirar as luvas, mas não tinha tempo, ela acariciou seus lábios com seu polegar, sua mandíbula flexionada com seus dedos.

Não foi suficiente, ela inclinou-se para beijá-lo, mas ele agarrou seus pulsos e a afastou antes que sua boca tocasse a pele.

— James — ela respirou de novo. — Eu...

Seu peito funcionava como um fole, de repente ficou de pé, sua intrusão entristecedora a obrigou a retroceder, mas ele ainda lhe agarrava os pulsos, segurando-a com força.

— Por que faz isto? — Pôs as palavras em um áspero rumor. — Não posso me casar contigo, Viola, me tentar só convidará ao escândalo.

— Me beije — suplicou, sem lhe importar que soasse desesperada, estava desesperada. — Me dê esta pequena coisa.

—Não me pertence. — Ele sacudiu seus pulsos, movendo um deles em frente aos seus olhos para que não pudesse evitar ver onde sua enorme mão rodeava seu braço. — Olhe. — Seu rosto se aproximou mais ao dela. — Vê? Poderia quebrar seus ossos em dois com um movimento descuidado.

— Oh, James. Nunca temi sua força.

— Maldito inferno, moça — murmurou, surgindo uma dor inesperada. Engoliu em seco, deixou que suas mãos caíssem juntas, mas não a deixou ir. — Não me ama, não sou melhor que as pedras debaixo de seus pés.

— Como pode acreditar nisso? Desejei-te desde o primeiro momento em que te vi. — Ela riu com incredulidade. — Antes disso, quando Charlotte descreveu como a defendeu eu caí loucamente...

— Não, moça.

— ...apaixonada por ti.

Seus olhos se fecharam com força.

— É verdade, pode escolher não me acreditar, mas é o mais verdadeiro que sei e se só me beijasse...

— Não posso te beijar.

— Sim. — Ela assentiu e tratou de aproximar-se dele, mas suas mãos estavam no caminho. — Por favor, James, pus tudo aos seus pés. Meu orgulho? — Ela riu. — Não é nada, foi o primeiro em ir-se.

— Não posso me casar contigo. — As palavras estavam oxidadas e roucas.

Ela engoliu em seco, piscando para ele, seus ossos apertando seu coração até que se sentiu estrangulado.

— Só tenho até o final desta festa. — Algo quente e úmido deslizou por sua bochecha. — Então, devo escolher, por favor, não posso esperar mais para que chegue aos seus sentidos. — Um olhar feroz tomou aquela testa grossa, os olhos que já ardiam com intensidade cintilaram um sinistro branco e negro.

— Escolher?

— Sim — ela sussurrou. — Um... um marido, meu pai não tem recursos para outra temporada e ele já esperou muito para encontrar a felicidade com a Sra. Cumberland, devo aceitar uma oferta antes do outono, por seu bem.

Sua respiração se fez mais áspera, seus polegares acariciaram o interior de seus pulsos.

Ela se moveu para ele.

— É por isso que te empurrei assim. Você é... — Ela engoliu em seco de novo. — Não é só que você é o que quero, você é o único que eu quero.

— Está segura disso, não é? — Sua voz se converteu em um fio, seus olhos quase queimavam sua carne. — Tem ideia de quem sou realmente, moça?

— Você é o homem que amo.

— Não.

— Então demonstre que estou equivocada. Me beije.

Agora estava ofegando, com os olhos em seus lábios.

— Beijaram-lhe muitas vezes, sem dúvida. — Ela sacudiu sua cabeça.

— Nunca, esperei por ti.

Ele gemeu e fechou os olhos, afrouxando seu agarre em seus pulsos.

Ela aproveitou a oportunidade para entrar nele, para atrair suas enormes e maravilhosas mãos a sua cintura, para levantar sua boca para a dele.

— Me beije — sussurrou de novo.

Seus olhos se abriram sobre os dela.

— Não sou o homem para ti. — Ela não disse nada, incapaz de falar pela beleza da noite, de sentir seu calor contra ela, embora através de capas de seda e linho. — Isto não significa nada.

Uma vez mais, ela simplesmente esperou, amando a forma prateada e brilhante que brincava com seu grosso cabelo, saboreando o aroma de sua pele como pinheiros ao redor de um lago.

— Que isto seja o final, moça. — Soava como uma súplica.

Então, sua cabeça estava baixando. Seus olhos amaram seus lábios, acariciando-os como se ele a levasse à memória, mas isso não foi nada comparado com o primeiro toque de sua boca. O calor de sua pele contra a dela. A suave carícia de seus lábios, a comichão de seu queixo se arrepiou contra ela, seu nariz estava em ângulo junto ao dela.

Ela ofegou quando as sensações giraram e se uniram a ela. Tomou seu fôlego dentro dela. Pinheiro, verão, calor e James. Deslizando suas mãos por seus braços até seus ombros, logo ao seu musculoso pescoço, logo à sua preciosa mandíbula, ela o aproximou mais, o beijo mais forte.

— Mvolah. — Sua incompreensível palavra vibrava deliciosamente contra seus lábios, suas mãos agarraram mais forte sua cintura. Sua cabeça se afastou, criando uma distância intolerável entre suas bocas.

— Outra vez — ela gemeu. — Por favor.

Havia pouca advertência, só uma explosão de calor em seus olhos e um gemido baixo e retumbante em seu peito, então seu braço estava atrás de suas costas e ela estava deixando o chão de cascalho, seus seios foram esmagados deliciosamente contra seu peito e seu rosto estava quase ao mesmo nível que o dele, sua outra mão estava agarrando sua nuca, seus dedos formando sua mandíbula por trás e sua boca se apertava contra a dela e sua língua, sua língua deslizava quente, escorregadia e um pouco salgada dentro de sua boca. Oh, Charlotte tinha mencionado que os beijos envolviam línguas, mas ainda a fazia chiar de surpresa.

Sua boca estava aberta contra ela, sua língua acariciando da maneira mais intrigante, pulsando dentro e fora, explorando seus dentes e lábios, ela experimentou imitando seus movimentos, e seu abraço se apertou ao seu redor, ela voltou a gemer, mas lhe agarrou o cabelo com ambas as mãos, seus joelhos se elevaram ao longo de seus quadris, frustrada por suas saias.

Ele era delicioso, uma bebida deliciosa e vibrante, um homem ardente, duro, feroz, com aroma de pinheiro, ao qual adoraria beijar pelo resto de sua vida, com línguas e provavelmente mais emocionante.

Por sua própria vontade, seus quadris se retorceram contra sua cintura, ela o necessitava para fazer... algo, o que era isso, ela não sabia, porque seu beijo era divino.

Os suaves movimentos da língua elegante e úmida se mesclaram com a pressão firme de seus lábios. Oh, ela queria fazer isto para sempre, mas ela queria mais. Havia mais? Devia haver mais.

Enganchou-a mais alto contra seu peito, fazendo com que seus seios assinalem uma resposta. Meu Deus, ela não tinha ideia de que tanto prazer existia, seus mamilos eram pontos endurecidos, deliciosamente pressionados contra ele como se tivessem desejado isto todo o tempo. A força de seus braços e mãos era uma maravilha, a sensação, o olfato e as sensações dele como nada que ela poderia ter imaginado.

De fato, ela tinha imaginado algo doce, algo casto como a pintura de uma donzela e seu galante pretendente.

Em troca, tinham-na incendiado, o desejo era uma dor profunda no estômago e no peito, o beijo era tanto uma liberação do calor como sua fonte sempre crescente, e justo quando ela pensou que tudo poderia durar para sempre, seu braço se afrouxou ao seu redor e ela deslizou para baixo contra ele, surpreendida de sentir um estranho vulto de pedra contra seu ventre.

Então seus pés tocaram o chão e sua mão cálida e forte deixou seu pescoço para acariciar sua bochecha e sua boca aliviou sua pressão e sua língua se retirou.

Logo seu calor se foi, e logo ele se foi e todo seu fôlego se foi, de modo que o único som que podia fazer era sua boca formando seu nome.

E o único que podia sentir era uma brisa que cheirava a pinheiro rico, a rosas novas e ao mar infinito.


CAPÍTULO 8

“Uma vitória temporária é simplesmente um caminho sinuoso para a derrota. E não aceito a derrota.”

A Marquesa viúva de Wallingham a Lady Gattingford com respeito aos seus esforços para persuadir o intratável Lorde Tannenbrook de sua insensatez.

As névoas surgiram do rio Fenn quando James lançou sua isca quinze metros rio acima, justo por cima de um redemoinho prometedor viu como se colocava em seu lugar, desenhando com calma a linha entre seus dedos com pequenos movimentos e deixando a piscina frouxa aos seus pés. Em poucos segundos sentiu o puxão, deu um golpe de pulso e brandamente deu um gancho, logo observou o final de sua vara inclinar-se de forma alarmante e sacudir-se enquanto a truta lutava contra seu destino.

— Meu Deus, homem — murmurou Wallingham, sentado três metros abaixo de um murmúrio de salgueiro. — Que diabos está usando?

— Green Drake4. — James empregou primeiro sua mão e logo seu gancho para tocar o peixe, desenhando cuidadosamente o resto da linha frouxa e seguindo o curso da criatura.

— Crê que esta captura será mais pesada que sua quarta?

— Devo tirá-la primeiro. — A tensão em sua vara indicava que o peixe poderia ser de até cinco quilos, bastante grande para uma truta.

A ele não importou, pela primeira vez em seus muitos anos de pesca, não sentiu nenhuma gota de emoção, nenhuma migalha de paz por isso, culpou Viola Darling.

Minutos mais tarde, Charles o ajudou a obter o que provavelmente era sua maior captura da manhã, o comum lorde dos olhos sérios sorriu como um moço de treze anos enquanto sustentava a coisa que se retorcia no ar, tão agradado como se o tivesse apanhado ele mesmo.

— Eu digo, deve ter sessenta e cinco centímetros, notável. — Wallingham se moveu para guardá-la com os outros na cesta emprestada do James enquanto se agachava sobre a cesta, olhou por cima do ombro para onde James estava parado recolhendo sua tacha e assegurando sua linha.

— Acreditei que estaria contente, Tannenbrook.

O cenho franzido de James se aprofundou.

— Eu estou — mentiu.

Não pôde explicar seu descontentamento a Wallingham, embora a resistência de quinze anos do homem ao novo matrimônio era paralela à decisão de James de permanecer solteiro, em termos simples, Viola tinha tentado James além de sua prudência. Por um breve momento sob a lua e as estrelas, tinha tomado o que queria mais que respirar, mais que sua própria vida e não tinha conhecido um momento de paz após isso.

Como poderia um homem dormir quando seu corpo queimava mais que o fogo de um ferreiro?

A resposta: não podia, então em lugar disso, partiu ao amanhecer, acompanhado por um Wallingham surpreendentemente agradável, que tinha estado se preparando para dar um passeio pelos abundantes hectares de Grimsgate.

Queria esquecer seus lábios, seu aroma, seus doces murmúrios de necessidade.

— Quer terminar cedo, então? — Wallingham perguntou agora, levantando a cesta e ajustando seu chapéu.

James piscou, perguntando-se o que estava perguntando o homem mais velho. Sabia do beijo?

Conhecia a batalha infernal de James contra seus próprios desejos?

— Tannenbrook?

Não podia saber, porque James não o havia dito a ninguém, nem sequer Viola conhecia suas razões, e a menos que desejasse que sua admiração se dissolvesse em desgosto, nunca lhe diria a verdade.

Uma suave brisa passava junto a ele para ondular a água lenta.

— Não devo ceder — murmurou. — Eu a destruiria.

Wallingham parecia profundamente perplexo.

— A quem?

— À Senhorita Darling.

Com uma expressão pensativa, o marquês subiu à borda até onde estava James, pôs a cesta na grama junto às suas botas.

— Quanto dormiu?

— Ontem à noite?

— Sim.

— Nada. — James não podia estar seguro de porquê seguia falando, talvez porque à luz da madrugada Charles Bainbridge se parecesse muito ao Hargrave e sentia falta de ter alguém mais velho, mais sábio, que o aconselhasse. Possivelmente era um parvo.

Não, não havia dúvida a respeito. Converte-se em uma lua sangrenta cada vez que pensa nela. Um parvo, luxurioso.

Wallingham assentiu com um sorriso irônico formando-se em um canto de sua boca.

— Algumas fêmeas o farão, deixam-lhe meio louco um momento e você adora o seguinte. Considerou alterar seu estratagema com respeito ao matrimônio?

A mão de James se apertou perigosamente em sua vara, mas se deteve antes que se quebrasse.

— Impossível, não pretendo me casar.

— Sim, isso já disse. — Wallingham juntou as mãos atrás das costas e dirigiu a James um olhar avaliador. — Eu mesmo tive uma ideia similar, recentemente me reconciliei com um novo curso.

Engolindo em seco, James entrecerrou os olhos para onde o sol começava a rematar os salgueiros ao longo da sinuosa margem, desejava saber o que provocaria um homem como Wallingham, depois de resistir ao mais feroz de seus oponentes durante quinze anos, de repente mudar de opinião sobre algo tão fundamental.

— Por quê? — Grunhiu James contra seu melhor julgamento.

O sorriso de Wallingham se voltou mistérioso.

— Por que pode ser? Estou encantado e meio zangado.

— Lady Willoughby.

— Mmm, de fato. — O sorriso voltou a converter-se em um de afeto. — Agora, isto não quer dizer que deva seguir meu caminho, necessariamente, porque ainda não terminou, felizmente, como a gente esperaria. Mas, te direi isto: a ambivalência é sua inimizade, se for firme em sua decisão de nunca se casar, então explica-o brutalmente, se for necessário. Cortar seu vínculo contigo. Só pode ser uma misericórdia, e nesse caso não se arrependa depois, se não puder suportar a ideia de outro dia sem vê-la rir ou escutá-la pronunciar seu nome, não duvide em trocar de rumo e faça-o a toda pressa. — Wallingham baixou o olhar aos dedos dos pés de suas botas, voltou-se para olhar para o outro lado da água. — Somos homens, Tannenbrook, por definição os homens são criaturas de visão imperfeita, uma decisão tomada aos vinte e quatro anos é uma decisão que toma um menino, e já não somos meninos.

Para James, era aos dezessete anos, mas pegou o ponto de Wallingham, entretanto, James não estava atuando por alguma rivalidade momentânea, estava tratando de proteger Viola de uma união que ela lamentaria amargamente.

Olhando o perfil patrício do outro homem, as bandeiras brancas em suas têmporas, as dobras débeis nos cantos de seus olhos, James recordou Hargrave, olhando pela janela da biblioteca de Shankwood, explicando a um menino de dezessete anos por que seu assento no parlamento importava. Sentiu-se bem. Recordá-lo era consolador.

— Eu gostei de sua companhia esta manhã, Wallingham. — Inclinou-se e recolheu a cesta pesadamente carregada, dando-lhe uma sacudida para assentar o pescado mais firmemente no interior. — Parece que dá boa sorte.

Wallingham pôs-se a rir e seguiu James enquanto retornavam para o castelo.

A um quarto de milha ouviram latidos na distância.

— Maldição — murmurou Wallingham. — Cão do demônio, deve ter captado nosso aroma. A criatura poderia rastrear um homem daqui a Londres.

À medida que se aproximavam de uma pequena elevação com a erva que lhe chegava à altura da cintura, viram o improvável emparelhamento de um determinado Humphrey que arrastava uma pequena mulher com um vestido azul e um casaco combinando, segurando a correia do cão com uma mão e a parte superior de seu chapéu com a outra mão.

O coração de James bateu grosseiramente e seus pés se detiveram.

— Humphrey! Devagar, pelo amor do céu. — Ela riu sem fôlego, o som como uma fonte sob um céu cheio de estrelas.

Sua beleza o lavou com uma corrente de formigamento, roubou o ar do interior de seu peito, fez com que recordasse a doçura de sua boca, a suavidade de seus seios.

— Continua, Tannenbrook — disse Wallingham em voz baixa.

Foi o suficiente para começar a respirar de novo, mas ainda não podia mover-se.

Aqueles magníficos olhos azuis brilhavam sobre seus ombros e até sua boca. Fez com que ardesse dentro de sua pele.

Quando o nariz soprado do cão se aproximou uns centímetros de suas botas, Humphrey agitou a cauda e deixou escapar um uivo triunfante.

Viola voltou a rir e puxou a aba de seu chapéu.

— Bom dia, Lorde Wallingham, Lord Tannenbrook. — Ela assentiu com a cabeça para a cesta de James. — Vejo que os peixes encontram suas oferendas atrativas, deve ser terrivelmente competente com sua vara.

Mil respostas passaram por sua mente, todas elas inapropriadas, entretanto, antes que pudesse pronunciar uma palavra, Wallingham respondeu.

— Tannenbrook teve um grande êxito, oxalá pudesse dizer o mesmo.

— Oh, não é assim? — Seu sorriso era deslumbrante e se centrou em Wallingham. — Minha prima e eu fomos companheiras constantes quando crianças, recordo nossos passeios pelo lago perto da casa do meu pai em Cheshire onde coletávamos mariposas. Nunca pude entender como conseguia capturar cinco quando eu não tinha nenhuma. Mais tarde confessou ter esfregado suas flores com mel. — Ela revirou os olhos e pôs-se a rir. — Parva de mim, não tinha pensado em atrai-las com um doce. — Wallingham riu ligeiramente e assentiu.

— Receio que meus métodos de pesca podem requerer estratégias diabólicas similares, porque não tenho paciência para melhorar minha técnica.

Viola continuou conversando com Wallingham, e ignorando James por completo, durante vários minutos falaram de Cheshire e de como ela sentia saudades do aroma das campainhas que floresciam perto de sua casa na primavera. Riram do sentido do olfato muito desenvolvido de Humphrey e do carinho de lady Wallingham por suas orelhas caídas. Intercambiaram lembranças das mais notórias eleições de colete de Lorde Gattingford e todo o tempo James estava parado em suas botas, perguntando-se por que ela não o olhava, e por que não lhe falava, por que nunca lhe tinha contado sobre o lago em Cheshire ou sua afeição à limonada ou ao seu desgosto pela cor amarela, sobretudo em coletes.

Porque, imbecil, foi uma besta com ela.

Tratou-a como pouco mais que uma praga. Como ela ia responder?

Mas ela o tinha beijado, ela tinha afirmado que o amava, embora isso não pudesse ser verdade, ela não sabia nada de quem era ele.

Um nariz frio e canino esfregou o dorso da mão que estava apertada em um punho sobre a parte superior da cesta. Com um lamento, Humphrey dobrou a borda superior da cesta onde se estendiam várias caudas, o peixe muito grande para ser contido completamente no interior. James distraidamente deu uma cotovelada ao cão e voltou a seguir a conversação entre Viola e o homem que aparentemente achava terrivelmente, incrivelmente fascinante. Tanto que ela não tinha deixado de lhe falar com entusiasmo, sorrindo-lhe a cada momento durante dez malditos minutos.

Sua única advertência foi um puxão, logo Humphrey estava carregando o peixe sobre a erva, com o prêmio entre as papadas caídas, suas orelhas batendo como asas, a corrente atrás, separada do agarre de Viola.

— Humphrey! — Ela gritou, batendo suas mãos como se o maldito cão escutasse qualquer som sobre o aroma da vitória.

Logo, ela juntou suas saias na mão e lhe deu caça, inferno maldito, não lhe importava o peixe, mas não faria com que Viola corresse atrás desse estúpido cão, que poderia derrubar sua pequena forma com um salto muito forte.

Deixando cair sua vara e sua cesta na erva, gritou a Wallingham.

— Se retornar por aqui, pegue sua corrente.

Então, James estava correndo perseguindo uma garota que perseguia um cão, como um tolo e louco, observou-a deter-se de repente e girar à direita quando Humphrey rodeou o tronco de um salgueiro tomou a esquerda, antecipando a reversão do cão.

Mas não antecipou a velocidade de Viola, ela alcançou a última vantagem antes que ele pudesse chegar a ela e seu grito de triunfo sem fôlego terminou quando foi empurrada para frente, seus pés tropeçando com as raízes das árvores expostas, empurrou com mais força, envolvendo um braço ao redor de sua cintura e reunindo-a a ele um segundo antes que o maldito e estúpido cão quase quebrasse o flanco de seu crânio contra o tronco da árvore. Sua mão livre se envolveu ao redor da corrente e puxou forte, grunhindo ao cão para que se detivesse.

Usou cada grama de seu controle para não afogar a coisa descuidada e não apertar Viola Darling até que sua pele se fundisse com a dele, mas não pôde fazer nenhuma das duas, o cão não lhe pertencia e tampouco Viola.

Ele soltou sua pequena cintura, se afastado antes que ela sentisse como ele tinha reagido. Logo, mais acalmado, abriu a mandíbula do cão e recuperou seu pescado mutilado.

— T-Tannenbrook. Sinto muito, seu pobre peixe.

— Não importa. Wallingham! — Gritou.

Wallingham se aproximou através da grama alta.

James lhe entregou a correia.

— Confio em que possa dirigi-lo, pode ser que deseje informar a sua mãe que seu cão necessita de mais treinamento e que as senhoritas não devem dirigi-lo até que lhes possa confiar que não escape.

Possivelmente seu tom era severo, mas não importava.

— Farei isso — respondeu Wallingham solenemente, seus olhos abrindo muito. — Senhorita Darling, minhas mais sinceras desculpas, Humphrey não voltará a te fazer mal, prometo-o. — Puxou a correia e começou a retroceder através do clarão de grama, com um Humphrey castigado inclinando-se para trás, com a cabeça baixa e as orelhas movendo-se muito menos alegremente.

— Oh, não — protestou Viola. — Mas, ele ainda é só um cachorrinho! Ele não quis fazer nenhum dano, Tannenbrook, não o castigue realmente, Humphrey é uma delícia, estava simplesmente... preso ao momento, ele nunca me faria mal de propósito.

James apoiou uma palma contra a casca de salgueiro e se inclinou até que seu rosto estava diretamente em frente ao dela.

— Não, porque ele não terá oportunidade.

Seus olhos pousaram em seus lábios e assim ela estava muito perto, muito malditamente perto, endireitou-se, olhando o peixe que tinha na mão e afastando da árvore para retornar à sua cesta, rapidamente colocando a coisa meio destroçada, levantou sua vara e girou para sudoeste, para Grimsgate.

— Tannenbrook! — Ela o alcançou um momento depois. — Espera um momento. Eu... tenho algo que desejo te dar.

Voltou-se para encontrar um pedaço de tecido apresentado em sua palma enluvada, tinha algum tipo de bordado, púrpura e verde, não conseguia distinguir o que devia ser.

— O que é?

— Um lenço tolo, pode levá-lo contigo quando for pescar. — Seu pequeno nariz se enrugou adoravelmente. — Para limpar as mãos, se quiser.

— O manejo do pescado é uma parte esperada da pesca.

— Sim, estou segura de que é. — Com valentia, ela se aproximou, levantou a borda de seu casaco para tirá-lo de sua camisa, e colocou o quadrado de tecido dentro de seu bolso. — Aí. — Deu-lhe uns tapinhas no peito com familiaridade, logo baixou os cílios e engoliu em seco. — Seu agora, Lorde Tannenbrook.

Meu Deus, mal podia respirar, desejava-a tanto, suas coxas e seu pênis estavam como pedra, seu coração pulsava e se retorcia de necessidade.

— Eu... deveria voltar antes que estranhem — disse. — Penélope se perguntará por onde andei.

Queria rechaçar seu presente. Queria lhe dizer que não podia tentá-lo tanto desta maneira, mas tudo o que pôde pensar nesse momento foi ver sua formosa moça girar e afastar-se dele como uma mariposa que escapava de seu alcance.

Quando ela desapareceu na seguinte elevação, o suficientemente à frente para que ele já não pudesse vê-la nem cheirar seu doce aroma, cambaleou para a frente vários passos.

A ambivalência é sua inimizade, havia dito Wallingham. Se for firme em sua decisão de nunca se casar, então explica-o brutalmente, se for necessário, cortar seu vínculo contigo só pode ser uma misericórdia.

Uma misericórdia.

Cerrou os olhos. Sabia desde a idade de dezessete anos que nunca se casaria. Porque casar-se significava filhos e não merecia filhos, não depois de ter matado seu filho.

Então devia ser brutal com Viola, decidiu, tirando o quadrado branco com o estranho bordado púrpura e verde, passou um polegar sobre sua superfície.

Para liberá-la, ele deveria romper seu vínculo. Doeria como os fogos do inferno, mas o faria porque era o certo e James Kilbrenner sempre fazia o correto.


CAPÍTULO 9

“O conselho de Doling é uma arte parecida ao jogo de espadas. Enquanto os peritos deslumbram e golpeiam o coração de uma questão só com uns poucos traços, os aficionados ficam loucos, obtendo pouco mais que perfurar suas próprias calças.”

Conselho a Lorde Tannenbrook.

Ao retornar a Grimsgate, Viola tinha falado com Lorde Wallingham sobre Humphrey, rogando-lhe que tratasse o cão com amabilidade, ela não devia haver-se preocupado. O homem a tinha levado ao jardim e lhe tinha ensinado a técnica adequada para caminhar com Humphrey em um passeio.

— Não deve permitir que ele puxe, essa é a chave — tinha explicado com suavidade. — Um cão terá o final equivocado das coisas se acreditar que está ao mando. — Logo, entregou a correia a Viola e lhe mostrou como caminhar ao lado de Humphrey, corrigindo os intentos do cão por adiantar-se a ela, durante mais uma hora ela tinha praticado, com os braços e os ombros aliviados ante a alternativa de ser arrastada como um arado atrás de um boi.

Agora, depois de ter entregue um feliz Humphrey de volta a Lady Wallingham, Viola podia abraçar Charlotte, quem tinha vindo a Grimsgate para visitar a viúva. Estavam de pé no centro da cavernosa sala de estar, conversando e rindo das peculiaridades de Lady Wallingham quando Charlotte sorriu e lhe perguntou por sua estadia em Grimsgate.

Lendo a sombra de preocupação nos olhos de sua amiga, Viola respondeu.

— Está perguntando por minha caça ao Tannenbrook?

Uma sobrancelha vermelha arqueada.

— Sim.

Ela manteve seu tom leve para não causar mais preocupação.

— Ele é do mais resistente, admiro sua fortaleza, francamente. Entretanto, reconheço em certa medida que me incomoda que não me ache tão irresistível como eu o acho.

Como era de esperar, Charlotte pôs-se a rir e, entrelaçando os braços com Viola, levou ambas ao grande salão.

— Seu toque de harpa não o sacudiu? — Brincou.

— Ria se desejar, mas muitos cavalheiros disseram que pensaram que eu era um anjo, que toquei tão docemente...

— Ouvi-te tocar, Viola, com o maior afeto, devo dizer que mentiram.

Depois de dias de cansaço de uma dúzia de cavalheiros, para não mencionar as respostas contraditórias do único homem cuja opinião era importante, Viola sentiu uma espécie de liberação no carinhoso humor de Charlotte. Ela pôs-se a rir sem poder fazer nada, golpeando o cotovelo de Charlotte, se sentiu bem ser incomodada por um de seus defeitos mais óbvios.

— Sei, tola, embora admire sua honestidade, é uma das coisas que mais amo.

Estavam em frente à entrada sul, por isso não o viram entrar pelos arcos, em troca, escutaram primeiro sua voz profunda e retumbante que enviou tremores através de sua coluna vertebral, e nem sequer lhe falava.

— Lady Rutherford.

Charlotte se voltou bruscamente, puxando o braço de Viola e girando-a como se Humphrey se lançasse atrás de um esquilo. Desculpou-se com Viola e saudou James.

Entrou como uma grande tormenta imponente. Viola não disse nada, estava muito ocupada tratando de respirar depois de uma espiada nele, sua cabeça se levantou de seu ombro, ele era maravilhoso, uma montanha gigante e retorcida vestida com lã marrom e linho branco.

Ela queria beijá-lo de novo, embora ele estivesse correndo para ela com velocidade e propósito, como se tentasse estrangulá-la, mas ele não podia estar zangado, raciocinou ela, ela não tinha feito nada mau, seu coração golpeou repetidamente contra a costela ante sua expressão ensurdecedora, sua postura intimidante, seus dedos roçaram seu pescoço.

— Tannenbrook, eu...

— Acredito que isto é teu — disse bruscamente, estendendo uma mão para ela.

Seus olhos caíram com curiosidade no lenço. Sustentou-o entre seu dedo indicador e o dedo médio, como se tocar o tecido fosse desagradável, tinha passado horas pensando só no desenho, sem lhe importar o trabalho interminável de costurar e voltar a costurar e bordar e cortar os terríveis erros só para trabalhar sobre os laços uma e outra vez. Talvez não fosse um bom trabalho, precisamente, mas ela tinha pensado nele cada segundo, imaginou o tecido tocando sua pele, imaginou seu polegar acariciando a truta feia, muito amadurecida.

Um nó se formou em sua garganta, ela quis que as lágrimas não se formassem, piscou para que se mantivessem afastadas.

— Eu... o fiz para você — conseguiu dizer.

— Quantas vezes devo dizê-lo, senhorita Darling? — Sua mandíbula era um escarpado sombrio e frio, seus olhos um bosque escuro de fúria e resolução. — Não quero seus favores, nem seus presentes. Nem sua mão em matrimônio. — Cada palavra a golpeava como uma espada, com um gesto depreciativo jogou o quadrado branco ao chão. — Nem a você, cesse esta tolice agora.

Rosnou essas últimas palavras e então ele se tinha ido como uma tormenta que tinha chegado à costa, para devastar e rasgar-se, desapareceu sem preocupar-se com os danos, só o eco de suas botas que golpeavam a pedra polida deu evidência de que tinha estado ali, ah, e seu coração, é claro, destroçado dentro de seu peito, isso era uma evidência, supôs, embora ninguém pudesse vê-lo.

Seus olhos pousaram no feio lenço, lentamente ela se inclinou para recuperá-lo, seu coração tentou pulsar, mas não pôde, seus pulmões tentaram respirar, mas não puderam seu ofego foi tão feio como seu bordado, seus dedos tentaram sufocá-lo, mas lhe escapou.

Uns braços longos e magros rodearam seus ombros. Charlotte, ela ainda estava ali. Viola se deixou cair contra sua amiga.

— Oh, Viola, não chore.

Ela não se deu conta de que o fazia, então sentiu cálidas correntes em suas bochechas, ela escutou sons ofegantes como de animais, a mão fria de Charlotte lhe acariciou a bochecha e o cabelo, sua forma alta as balançava brandamente para frente e para trás.

Envergonhada de estar parada no grande salão de Lady Wallingham, reconfortada como um bebê, Viola fungou e golpeou a bochecha com os dedos.

— Eu... devo ir e lavar o rosto, estou segura de que me vejo horrível.

— Me diga o que fez para ele, Viola.

Ela supôs que não faria mal explicá-lo.

— Ele desfruta da pesca, então lhe fiz um lenço com uma truta bordada no canto.

— Uma truta? É isso, eh, arroxeado?

— Fiquei sem fio prateado.

— E o caule verde é uma... cauda?

— Também fiquei sem púrpura.

Charlotte suspirou e lhe deu um apertão.

— Talvez seja hora de considerar suspender a caça ao Tannenbrook. — Cada grama de seu corpo e alma se encheu de chumbo ante o mero pensamento de render-se. — Só por um curto tempo, Vi, só para dar a ambos o tempo para considerar... tudo. — Ela sacudiu sua cabeça. Charlotte não entendia. Não havia mais tempo, se Tannenbook se negasse a casar-se com ela antes do final da festa, Viola teria que escolher outra pessoa, alguém adulador e terrível, que a tratava como uma boneca sem sentido ou, pior ainda, como um conjunto de hastes de cervo de grande tamanho, um prêmio que se exibirá em uma casa de campo para simbolizar sua destreza de caça e sua virilidade e, entretanto, o único homem que ela queria acabava de declarar nos termos mais brutais que ele não queria ter nada a ver com ela.

Então, em lugar de discutir a gentil sugestão de Charlotte, agradeceu-lhe por sua amável amizade e fugiu do salão pela grande escada e correu por um corredor vazio bordeado por retratos de homens, que tinham o largo queixo de lorde Wallingham e, por fim, irrompeu pela porta de seu quarto.

Felizmente Grimsgate tinha tantas habitações que cada hóspede podia ter uma própria. Não acreditava que pudesse suportar explicar sua angústia à Penélope, cuja alegria pela proposta de Lorde Mochrie tinha corroído os nervos de Viola como pedras afiadas alojadas em suas sapatilhas.

Olhando para baixo, deu-se conta de que ainda sustentava o feio lenço em seu punho. Puxou o pedaço de tecido com um repentino e furioso grunhido. Não viajou muito longe, desdobrando-se à metade do voo e dirigindo-se ao tapete azul marinho como uma mariposa em uma corrente descendente.

— Ele não me quer — suas mãos cobriram sua boca. — Ele não me quer. — Seus braços se moveram para baixo para agarrar seu peito, onde a dor pulsava pior. — Ele não me quer. — Tropeçou com a cama e se derrubou sobre ela.

Logo, ela chorou como uma menina durante muito tempo, obtendo só que seus olhos se tornassem quentes e inchados, seu nariz vermelho e obstruído, e sua garganta dolorida. Eventualmente, cansou-se de sua própria miséria, então, sob o dossel azul escuro ficou de pé e se dirigiu para onde tinha caído o lenço. Usou-o para secar os olhos e, só por despeito, o nariz. Logo chamou uma criada para que lhe trouxesse água fresca.

Depois de aproximadamente uma hora, seu rosto voltou para a normalidade, embora seu coração permanecesse esmigalhado. Sentou-se na penteadeira e trabalhou na reparação de seu cabelo, que havia se tornado estranhamente torpe.

Um ligeiro golpe soou, pensando que era a criada que retornava, Viola a convidou a entrar, mas não era a criada e sim a senhora Cumberland usando cinza e branco aparecendo com o rosto vermelho e os lábios apertados, como de costume.

A Viola não ficara nada com o que fingir um sorriso.

— Agora não é o melhor momento, senhora Cumberland.

— Seu pai... — A mulher quadrada se moveu estranhamente de um pé ao outro. — Seu pai me pediu que falasse contigo.

— Quanto ao quê? — Viola espetou uma forquilha em um de seus cachos mais rebeldes.

A senhora Cumberland entrou mais na habitação e se deteve uns metros de distância.

— Ele deseja que entenda um pouco mais sobre...

Ela esperou, atando o cacho novamente dentro da bobina a que pertencia e adicionando outra forquilha.

— Sim?

— O matrimônio.

Os braços de Viola caíram sobre seu regaço.

— Sei que você e papai desejam casar-se, não precisava a enviar para me dizer isso.

Ela limpou a garganta.

— Você não entende, deseja que te fale sobre as... relações... entre marido e mulher. — A mulher ficou mais vermelha. — Para que esteja preparada para a eventualidade, em caso de que aceite a oferta de um cavalheiro, além disso, deseja que esteja em guarda se se der a... oportunidade enquanto estivermos aqui.

— Oh! Oh, céus.

Seus ombros quadrados caíram em aparente alívio.

— Bom, entende.

Viola se girou em seu assento para enfrentar a sua futura madrasta.

— Realmente, isto é muito desnecessário, Sra. Cumberland.

A mulher procurou uma cadeira e, ao não encontrar, decidiu sentar-se em uma espreguiçadeira ao pé da cama.

— Logo me casarei com seu pai.

O ácido se agitou no estômago de Viola.

— Já sei isso.

— Amo-o muito. — Os olhos escuros que sempre lhe tinham parecido inescrutáveis, suavizaram-se e brilharam inesperadamente. — Ele é a própria bondade, nunca conheci um homem melhor, nem sequer o senhor Cumberland, que Deus descanse sua alma. — A mulher piscou até que o brilho desapareceu. — Ele te ama mais que a sua própria vida.

Viola sentiu que o estalo se espessava em sua garganta, mas ela se negou a chorar de novo, simplesmente se sentiria miserável e não resolveria nada.

— Também sei.

— E você? — Agora aqueles olhos escuros estavam sondando. — Ele atrasou sua própria felicidade... para proteger-se contra o impulso de duas mulheres dentro da mesma casa, sei. — Ela levantou o queixo.

— Pode ser que me considere uma mimada e egoísta, senhora Cumberland, e não se equivocaria muito, embora nunca fomos uma família de meios, o amor de papai me estragou. — As lágrimas malditas voltaram a lhe picar os olhos, ela as engoliu. — É egoísta querer que meu marido me ame com igual devoção? Possivelmente por qualquer adiamento de sua felicidade que causei, desculpo-me, mas deve saber que tentei muito retificar a situação.

Havendo se sentado com as mãos dobradas em seu regaço, escutando o discurso de Viola, a expressão inescrutável da senhora Cumberland se levantou bruscamente em um sorriso estranhamente afetuoso.

— Eu sei — disse ela. — Vi-te com lorde Tannenbrook e seu pai também, por isso estou aqui.

A boca de Viola se abriu para falar, mas nada emergiu. Não sabia como responder. A senhora Cumberland sempre lhe tinha parecido bastante remota e difícil de ler, não era que Viola não gostasse dela, simplesmente não a entendia.

— Não sou sua mãe. — Bom não, a mãe de Viola tinha morrido três dias depois de dar à luz e durante vinte anos só tinham sido ela e seu pai. — Nunca foi minha intenção substitui-la. — Viola balançou a cabeça.

— Claro que não, eu não...

A senhora Cumberland levantou uma mão para deter seu protesto.

— Por favor. Me deixe... me deixe terminar. O que mais lamento é não ter podido ter filhos, deixou um vazio em minha vida que é difícil de explicar, entretanto, tive a bênção de ter sido amada por dois homens extraordinários. — Ela limpou a garganta de novo e cruzou as mãos sobre seu regaço. — Agora, isto pode te causar certo desconforto, mas como sua mãe já não está aqui para oferecer instrução, sinto que é justo que compartilhe o conhecimento e a sabedoria que possuo, o que pode beneficiá-la em suas... buscas.

— Sério, senhora Cumberland, isto é muito desnecessário.

— Por favor, preferiria que me chamasse de Georgina, como discutiremos assuntos de natureza íntima, possivelmente te faça sentir mais cômoda.

— Oh. Sim, Georgina, mas honestamente, eu...

Olhos escuros se encontraram com os dela com grande intensidade de propósito.

— Precisa saber estas coisas, Viola, particularmente dado tudo o que seu papai e eu presenciamos entre você e lorde Tannenbrook.

Suspirou, perguntando-se se deveria lhe explicar que Tannenbrook quase lhe tinha jogado o carinho no rosto fazia apenas umas horas, e que o matrimônio entre eles parecia pouco provável, mas isso só serviria para estender uma conversação já incômoda então, em troca, dobrou as mãos em seu regaço e respondeu.

— Muito bem.

Georgina assentiu.

— Agora, então, um homem é impulsionado por uma série de necessidades, a principal entre estas é a luxúria, porque é formosa, os homens naturalmente sentirão este impulso enquanto esteja em sua presença.

Oh, Deus. Ela não estava pronta para esta conversação, não com Georgina Cumberland, de semblante inescrutável e os ombros quadrados, e não com a futura esposa de seu pai.

— Sua tarefa como dama de virtude é resistir tanto aos seus impulsos como aos teus até o matrimônio.

— Se se refere a Lorde Tannenbrook, não estou segura de que seus impulsos ou um matrimônio entre nós devam ser motivo de preocupação.

Georgina a olhou fixamente por um momento como se houvesse dito algo absurdo.

— Receio que não entendo.

Viola fungou.

— Ele não sente nada por mim além de aflição, isso.

A outra mulher franziu o cenho.

— Isto é uma brincadeira?

Irritada pela evidente incredulidade, Viola se aproximou dela para recuperar o lenço enrugado, então ela o segurou, evidência de sua angústia.

— Atirou isto aos meus pés declarando em termos inequívocos que não se casará comigo.

Georgina disse seu nome sussurrando, Viola teria presumido que significava simpatia, mas sempre lhe tinha resultado difícil julgar as reações da senhora Cumberland. Viola pôs a coisa em uma bola e a deixou cair sobre o toucador.

— Assim, como pode ver, as preocupações de papai são infundadas. Tannenbrook não me quer.

— Sim, quer.

Franzindo o cenho, Viola negou com a cabeça.

— Não. Ele me disse isso.

— Então, mentiu.

— Tannenbrook não mentiria, ele é o melhor dos homens.

Um pequeno sorriso brincou com os lábios de Georgina.

— Você disse. — Aqueles ombros quadrados levantados em uma respiração profunda antes que ela continuasse. —Viola, os homens exibem certos sinais quando querem uma mulher, primeiro, custa-lhes afastar a vista dela. Os homens são criaturas visuais, depois de tudo, além disso, sua preocupação tende a centrar-se em características particulares.

Viola assentiu, rodando os olhos.

— Seios, sim, sei.

— Nem sempre, para alguns homens poderiam ser os lábios, os olhos, os quadris ou inclusive as mãos de uma mulher.

A curiosidade doeu, Viola esperou que ela se explicasse, talvez esta conversação valesse a pena, depois de tudo.

— O Senhor Cumberland era bastante aficionado ao meu cabelo, por exemplo, inclusive gostava que minhas sobrancelhas fossem de um tom mais escuro, embora sempre achei o contraste estranho. — Ela agitou uma mão com desdém. — Às vezes os homens nos veem de maneira diferente a como nos vemos.

— Quais são os outros sinais?

— Da atração? Bom, aí está o óbvio — Viola piscou.

— O óbvio?

— Sua dureza.

— Não entendo.

Pela terceira vez, Georgina limpou a garganta.

— O membro entre as pernas de um homem incha e se endurece quando está excitado.

Com os olhos abertos, Viola tampou a boca com a mão.

— Faz? — Ela murmurou. — Isso não é terrivelmente incômodo?

Uma vez mais apareceu o pequeno sorriso.

— Quando não se alivia, pode ser, sim, mas é necessário para a criação de filhos. — Ela descreveu como um marido se localizaria dentro de sua esposa e, ao liberar a sua semente, encontraria tanto prazer como alívio da dureza de sua carne.

Viola achou a descrição indescritivelmente fascinante, nunca ninguém tinha explicado tais coisas a ela, certamente não seu pai, nem a tia Marian, que só tinha mencionado uma vez que um marido e uma esposa devem “conhecer-se” para engendrar filhos. Logo, tomou um sorvo de seu chá medicinal e rapidamente adormeceu.

— Se um marido for gentil e amável, uma esposa também pode achar o ato prazeroso — continuou Georgina. — Entretanto, desfrutar de tais prazeres antes do matrimônio implica um grande risco para você e sua reputação.

— Porque poderia resultar em uma criança.

— Em parte, sim, para um homem é natural pressionar por intimidades, depois de tudo, a evidência de que o fez não incha sua barriga para que todos a vejam. Não o qualifica para sempre como menos que virtuoso. Por isso, deve ter mais cuidado, Viola. Se continuar tentando lorde Tannenbrook...

— Já lhe falei — disse ela, sua voz ecoando de seu repentino calafrio. — Ele não me quer.

— Sim, o faz e iria tão longe para dizer que está experimentando uma grande angústia por isso.

— Porque me olha? — Ela zombou. — Todos os homens fazem isso.

— Pela forma que a olha particularmente quando fala com outros homens.

Viola fungou.

— E como é isso?

— Como se lhe pertencesse.

Seu coração estremeceu. E se deixou cair em seu peito como um peixe em uma linha.

— Ele... você crê que ele...

— Ao seu pai preocupa gravemente que o pressione muito, Viola, e que sua reputação se perca, francamente, também lhe preocupa o possível derramamento de sangue.

— Matança? Não seja ridícula, Tannenbrook nunca me faria mal, ele morreria primeiro.

— Não você, mas outro cavalheiro, possivelmente um cujo olhar perdure muito ou que presume uma familiaridade muito grande, um homem com a força e o tamanho de Lorde Tannenbrook poderia fazer um grande dano se seu ciúme se apoderar dele.

Ciúme. Viola mordeu o lábio inferior, considerando cuidadosamente esta nova informação. Só se sentia ciúme por algo que alguém desejava, então a desejava.

Pensando bem, ela havia sentido uma dureza desconcertante contra seu ventre durante seu beijo, que se correlacionaria com a fascinante descrição de Georgina.

Mas ele negou enfaticamente tanto seu desejo como seu amor, ele lhes negou sua felicidade legítima por razões que ela não podia compreender.

Pensou que sua negação não podia sustentar-se. Devia haver uma maneira de romper sua eterna resistência.

Ela entrecerrou os olhos sobre Georgina.

— Consideraria o ciúme uma poderosa motivação, então? Para um homem, quero dizer.

— No caso de lorde Tannenbrook, é tão claro como o cristal, pisa com cuidado, Viola. Abstenha-se de paquerar com outros homens enquanto esteja na presença de Tannenbrook. É encantadora e sei que será difícil, mas tente se concentrar mais em suas companheiras. Penélope, sua tia, lady Rutherford, inclusive lady Wallingham.

— Mmm. Crê que se eu der muita atenção a outros homens, Tannenbrook sentirá um aumento em seu nível de ciúmes?

— Sim e as consequências poderiam resultar desastrosas, poderia muito bem perder o controle de si mesmo.

Sorrindo pela primeira vez desde que seu lenço tinha sido jogado aos seus pés, Viola assentiu.

— Obrigada, Georgina, foi de grande ajuda.


CAPÍTULO 10

“Em momentos como estes, uma mulher deve estar agradecida pela suscetibilidade dos homens aos impulsos luxuriosos. Faz com que certas tarefas intratáveis sejam imensamente mais fáceis.”

A Marquesa viúva de Wallingham a Lady Atherbourne ao ler dito relatório da senhora sobre o precipitado regreço de Lorde Atherbourne a Derbyshire depois de uma quinzena em Londres.

Não pareceu incomodar Tannenbrook quando Viola dançou um carretel5 com Sir Barnabus Malby, enquanto o gordinho barão de olhos salientes observava seu corpete com o mesmo rigor servil que Humphrey contemplava uma fatia de presunto. Tannenbrook tampouco se sentiu perturbado quando permitiu que o irmão de Lorde Underwood corrigisse sua postura enquanto desenhava seu arco durante uma tarde de arco e flecha, embora as mãos do homem tivessem vagado e acariciado mais que o estritamente necessário, em realidade, o conde exasperante não tinha pestanejado quando o menos objetável dos cavalheiros aduladores, o filho de lorde Gattingford, lorde Hugh, recitou um poema que descrevia seus lábios como “pétalas que se ruborizavam com o orvalho, chorando por meu beijo.”

Inclusive seu pai se havia oposto a isso, silenciosamente dizendo a Lorde Hugh que guardasse suas pétalas cobertas de orvalho para si mesmo.

De fato, na quinzena desde que tinha decidido perseguir Tannenbrook perseguindo a outros homens, tinha avançado pouco. Sobretudo, ele a evitou, e as reuniões onde poderia encontrar-se com ela, pelo que sabia, ele passava grande parte de seu tempo montando e pescando. É claro, participou de algumas refeições e fez aparições ocasionais na parte traseira de uma habitação cheia de convidados, mas ela suspeitava que Lady Wallingham tinha forçado sua mão nesses casos e agora, esta noite, tinha chegado a sua última oportunidade.

Lady Wallingham tinha esolhido lançar uma festa de máscara para celebrar o final da festa.

Viola, sentada no banco, em um extremo do grande salão de baile, debaixo de um retrato gigante de um dos Henry Tudors, suspirou e apertou o braço de Charlotte.

— Já o viu? — Ela perguntou, sem lhe importar que seu desespero estava aparecendo.

Charlotte, vestida com um magnífico vestido azul safira e com um dominó negro para emoldurar seus olhos verdes e dourados, olhou a Viola e sorriu.

— Ele estará aqui. Suspeito que Lady Wallingham se ofenderia se ele não o fizesse.

Na multidão, lorde Wallingham e lorde Rutherford, ambos vestidos com máscaras negras para combinar com seus casacos escuros, conversavam perto de uma topiaria em vaso. Lorde Hugh e Sir Barnabus riram a gargalhadas de algo que disse o ruivo Lorde Mochrie, enquanto Penélope tocava seu agradecimento.

Lady Wallingham usava um turbante de plumas púrpura e uma máscara púrpura com plumas similares. Os penachos se agitaram quando ela se desviou de Lorde e Lady Gattingford, um par animado de matronas, mas nada do Tannenbrook.

— Está linda, com certeza — disse Charlotte. — Mas, suspeito que sabe isso.

Viola suspirou, olhando seu vestido de seda rosa. Era uma das criações mais intrincadas da Sra. Bowman, com capas de cor pálidas, de rosa a vermelho intenso, todas cobertas de branco puro, rouleaux de laço rosado imitavam as videiras, que junto com o bordado de prata uniram-se em uma profusão de casulos de rosa e folhas com o passar do corpete baixo e quadrado e mangas delicadas com adição de lantejoulas artisticamente colocadas dava ao vestido requintado o aspecto de um jardim coberto de orvalho no brilho rosado do amanhecer.

— O bem que me vejo não importará nem um pouco, se ele não estiver aqui, Charlotte.

Ela odiava que parecesse uma tolice, mas tinha uma das piores dores de cabeça que tinha experimentado em meses, inclusive a sala à luz de velas parecia muito brilhante, e os músicos, embora talentosos, tocavam muito alto. Felizmente, pôde disfarçar os círculos debaixo de seus olhos com uma máscara de cor rosa que tinha comprado em Alnwick vários dias antes, também tinha lantejoulas, possivelmente o brilho de sua luz refletida, distrairia Tannenbrook da cor pouco atrativa de seus olhos.

Charlotte baixou a cabeça perto da orelha de Viola.

— Anime-se, Vi. Se tudo o resto falhar, implorarei a Rutherford que aplique sua inteligência ao problema, ele é o mais adepto — ela meneou as sobrancelhas. — Tannenbrook nunca o verá vir.

Viola tentou rir, mas só lhe doía a cabeça, suspirou.

— Obrigada, mas suspeito que tem melhores usos para as “maquinações” de seu marido que para preocupá-lo com meus problemas.

— Bom, ele é extremamente talentoso — Charlotte deu uma cotovelada no braço de Viola. — Está segura de que se sente suficientemente bem para estar aqui, Vi? Está terrivelmente pálida.

Não, não se sentia bem, absolutamente, mas ela devia estar ali, era sua última oportunidade, amanhã a festa terminaria e ela estaria comprometida com Tannenbrook, ou... seu olhar se desviou para lorde Hugh, o homem das pétalas cobertas de orvalho, supôs que era um tipo decente, cabelo loiro claro, olhos azuis, uma mandíbula bastante débil, mas então, todos tinham mandíbulas débeis em comparação com Tannenbrook. Parecia mais sincero, menos luxurioso que o resto, talvez ser sua esposa não fosse muito inconcebível.

Tudo o que tinha que fazer era deixar que Lorde Hugh lhe colocasse a língua na boca, deixar que a tocasse e se deitasse em sua cama, colocasse outras partes de si mesmo nela... Oh, querida.

— Charlotte.

— Sim?

— Acredito que vou vomitar.

— Oh, querida.

Viola se voltou para olhar os olhos alarmados de Charlotte emoldurados em negro.

— Meus pensamentos, precisamente.

Quando Viola retornou ao salão de baile depois de reunir suas contas e de enxaguar a boca com uma solução de água de rosas, Tannenbrook estava de costas contra uma parede dourada perto das portas de vidro. Seus braços estavam cruzados sobre o peito. Seus formosos olhos verdes estavam emoldurados por uma máscara de couro marrom. Ter parte de seu rosto disfarçado só servia para enfatizar o sólido quadrado de sua mandíbula. Ela suspirou ao ver aqueles largos ombros, seu cabelo loiro escuro espesso e exuberante na luz piscante.

Suspirou de novo ao ver lorde Hugh e o resto de seus admiradores aduladores dando voltas pelo centro da habitação onde outros dançavam. Embora lhe doesse a cabeça e o coração, resignou-se à sua tarefa, aproximando-se da multidão de cavalheiros com um sorriso brilhante e artificial.

Saudaram-na com sua habitual adulação, nenhum deles tinha uma voz suficientemente profunda, nenhum deles podia nomear um peixe que viajava da água do mar à água doce durante o inverno, nenhum deles a fez querer arrastá-lo ao jardim para que pudesse explorar sua boca de novo.

Mas porque devia, ela riu de suas brincadeiras, dançou com dois deles, paquerou engenhosamente com outros e todo o tempo sentiu seus olhos sobre ela, ardentes.

Lutando por parecer despreocupada, deixou que seu olhar vagasse ligeiramente em sua direção. Charlotte estava ali, de pé junto a ele. Ela estava dizendo algo.

Algo que claramente não queria escutar porque momentos depois separou-se da parede e atravessou as portas abertas de vidro, desaparecendo no jardim.

Ela queria pisar em seus pés evasivos. O que havia dito Charlotte para que ele se fosse? Ela o necessitava ali imediatamente, a dor de cabeça de Viola piorou, cavando na parte posterior de seus olhos, golpeando e apunhalando dentro de suas têmporas. O aroma que emanava do corpulento sir Barnabus Malby ameaçava fazê-la vomitar de novo.

Ficou nas pontas dos pés para ver a brilhante cabeça vermelha de Charlotte que seguia Tannenbrook através das portas. Esperou que pudesse retornar, mas não o fez.

Tampouco, para o caso, o fez Charlotte, ela engoliu em seco, seu estômago se revolveu, pondo rapidamente suas desculpas a lorde Hugo e sir Barnabus, dirigiu-se ao jardim.

Mas no meio do caminho sentiu que seu estômago se retorcia sinistramente, obrigando-a a mudar de direção, dirigindo-se para o banco e fora do salão de baile. O último que precisava era vomitar sobre as enormes calças de Tannenbrook. Correndo ao longo da galeria com janelas em um extremo do castelo, deteve-se no espaço mais fresco e escuro fora dos arcos da grande sala. Não havia gente que emitisse aromas ofensivos, não havia música que soasse dentro de sua dolorida cabeça. Só um pouco de luz da lua projetando bonitas sombras nas paredes com painéis e pedra calcária polida. Arrancou a máscara e fechou os olhos, respirando profundamente, apoiando uma mão e logo um quadril contra um dos batentes da janela, com sua mão livre esfregou-se a testa, querendo aliviar a dor.

Quando se calou, e tudo o que pôde escutar foi seu próprio fôlego, a realidade de onde se encontrava se elevava como uma grande sombra.

Ele não virá à festa, admitiu ela em silêncio, a verdade soava fria e vazia como uma fenda gelada. Perdi-o para sempre, seus dedos caíram de sua testa à sua boca, cobrindo um soluço estrangulado.

Ela devia aceitar Lorde Hugh, ela devia casar-se com um homem que não amava, ter filhos desse homem, ser a esposa desse homem... Sua cabeça se sacudiu, seus braços tremeram.

Não queria isto, ela queria James, tanto que, se lhe tivesse pedido que se ajoelhasse e suplicasse acima de tudo, no salão de baile cheio de convidados de Lady Wallingham, faria feliz.

Uma brisa cálida e úmida lhe acariciava os ombros. Uma porta se fechou com um clique, uma sombra maciça se moveu através de seus pés. Ela girou tão rápido que turvou sua visão.

Quando se estabilizou, ela o viu, grande e sólido, seus olhos brilhantes, o nariz avermelhado, sua única máscara na escuridão.

— James — ela suspirou.

Ele não disse nada, nem seu nome, nem boa noite, simplesmente a olhou, seu peito trabalhando como se tivesse deslocado para apanhá-la.

— James — disse de novo, desta vez foi um gemido, ela cambaleou para ele, todo o orgulho se foi.

Grandes e musculosos braços a apanharam, uma mão gigante cavou a parte de trás de sua cabeça, pressionou sua bochecha sobre seu coração. Seus próprios braços se aferraram a sua cintura, seus dedos afagaram suas costas cobertas de lã.

Não sabia quanto tempo ficaram dessa maneira, abraçando-se nas sombras e à luz da lua, respirando juntos. Ela só sabia que queria absorvê-lo em seus ossos para sentir seus lábios sobre sua pele, para escutar sua voz retumbar seu nome e seu coração pulsando como pedras em cascata durante uma queda ao longe, escutou outros ruídos irritantes, mais irritantes vozes aproximando-se através da escuridão, mas estava nos braços de James, e não queria abandonar sua segurança, nunca mais.

Não queria deixá-lo, não podia suportar isto, ela engoliu em seco, uma ideia abrindo passo entre seus pensamentos, uma ideia retorcida, terrivelmente imoral, nascida do desespero. Estaria lhe tirando suas opções, convertendo sua caça a Tannenbrook em uma armadilha zombeteira. Estava destinada a pô-lo furioso, mas também o faria dela e nesse momento, nada importava exceto isto, ela devia fazer com que ele fosse dela.

***

Tinha-a visto através do vidro, branca e angustiada, com a mão movendo-se da testa à boca, com os ombros encurvados, como se se preparasse contra a agonia e não sua vontade não fosse suficientemente forte, provada pelos fogos mais quentes imagináveis nas últimas duas semanas, finalmente tinha se quebrado sob seu delicado estremecimento de dor.

Ela tinha pronunciado seu nome duas vezes, tropeçou em seus braços e agora, embora pudesse escutar vozes atrás dele no outro extremo da escura galeria, embora soubesse muito bem que devia soltá-la antes que fossem descobertos, não podia mover-se.

As vozes se aproximaram, uma delas distinta e reconhecível. Lady Wallingham, inferno maldito, não podia ser apanhado ali com Viola agarrada a ele na escuridão.

Seria um escândalo. Lady Wallingham se asseguraria disso, porque não tinha feito nada mais que incomodar James durante toda a festa. Quando ia entrar em razão?, tinha-lhe perguntado, a senhorita Darling era o melhor partido que podia esperar, melhor do que merecia, tinha insistido ela. Por que era tão complicado? Não podia ver o que era evidente para todos, tinha exigido ela.

Em silêncio esteve de acordo com muito disso, suportou tudo, suportou a tortura de ver Viola paquerar e rir, e ser tocada e cortejada por outros homens até que sentiu que sua carne estava sendo fervida de seus ossos. Tudo para protegê-la, porque lady Wallingham tinha razão: Viola era melhor do que ele merecia, uma fada brilhante e deslumbrante que levava luz com ela a cada habitação em que entrava.

Lentamente, começou a retirar-se, movendo suas mãos para os diminutos e sedosos ombros de Viola, empurrou brandamente, mas ela não soltou, seus braços unidos a sua cintura como um cinturão. Suas delicadas mãos agarraram as caudas de seu casaco e se aferraram rapidamente.

— Viola — sussurrou. — Deve me liberar, não podemos ser descobertos aqui, moça, será arruinada.

Sua cabeça se inclinou para cima até que pôde ver seus olhos, brilhavam com alguma estranha emoção, determinação mesclada com... remorso? Ele franziu o cenho e em um piscar de olhos se deu conta do que pretendia, um instante antes de seu sussurro de desculpa, mas muito tarde para evitar que sua mão direita se elevasse ao redor de seu peito, apertando dedos surpreendentemente fortes ao redor das dobras de sua gravata, e puxando sua cabeça para baixo com todas as suas forças.

Então, sua boca suave e deliciosa chocou contra a dele, e seus sentidos explodiram em uma chuva de estrelas. Seu braço esquerdo lhe rodeou o pescoço, ele se levantou, mas ela tinha um agarre tão forte que só conseguiu levantá-la trinta centímetros do chão. Agora, ela pendurava ali, pendurada nele como um gato que se aferrava a uma árvore, com a boca colada à dele, com os braços estrangulados em seu pescoço, as mãos agarrando seu cabelo.

Ele envolveu sua cintura com seu braço para sustentá-la contra ele e rapidamente considerou suas opções, ele poderia soltá-la, obrigá-la a afastar-se dele, mas não sem feri-la. Decidiu que o único recurso era levá-la para fora da vista até que ela chegasse aos seus sentidos, fez rodar ambos contra o painel até que sentiu o marco de uma das entradas arqueadas ao grande salão. Sem um segundo de sobra, deslizou através da abertura e a esmagou contra a parede mais escura.

— ...evitando me repreender pelas instruções do Humphrey, deveria pensar que havê-lo mantido com vida durante quarenta anos me qualifica como suficientemente competente para controlar um cão. — A voz distintiva de Lady Wallingham ressoou na madeira e no vidro ao longo da galeria.

Viola ficou rígida contra ele, seus lábios congelaram quando ela também ouviu de repente, ela puxou sua boca, tirou um fôlego e deixou escapar um comprido e sensual gemido.

Inferno maldito, ele golpeou sua boca contra a dela.

Ela gemeu mais forte, o som vibrando através de seus lábios e queixo, maldito inferno, ele rompeu o beijo, outro erro.

— Oh, Tannenbrook — ela gemeu, sua voz soando docemente e, sobretudo, em voz alta até o teto de seis metros acima. — Sua mão deveria realmente me tocar aí?

Ele ia estrangulá-la em uns momentos, o penacho púrpura de Lady Wallingham tinha dobrado a esquina do terceiro arco, seguido pela figura mais alta de seu filho.

— Eu digo, Lorde Tannenbrook — entoou a viúva. — Para um homem que professa odiar a noção do matrimônio, a gente supõe que optaria pelos encontros da variedade menos pública.

— Oh! Lady Wallingham! E Lorde Wallingham! — Ofegou Viola, agora retorcendo-se para liberar-se de seu aperto. Seus músculos se esticaram por reflexo, não tinha intenção de deixá-la ir. — Que vergonhoso ser descoberta tão inesperadamente. — Viola cravou as gemas de seus dedos na parte de trás de seu pescoço. — Tão escandalosamente.

James baixou a cabeça até que sua boca roçou sua orelha e murmurou.

— Pagará por isso, moça. — Charles deu um passo adiante em um raio de luar e falou com sua acostumada maneira tranquila e digna.

— Senhorita Darling, tenha a segurança de que minha mãe e eu faremos todo o possível para evitar que essa... indiscrição... conduza a um escândalo...

O agudo “não!” de Viola se sobrepôs ao de Lady Wallingham.

— Certamente não o faremos!

Ao encontrar-se com o olhar de James com simpatia, Charles assentiu com a cabeça para onde Viola ainda suspendia entre seu corpo e a parede.

— Talvez devesse deixar a dama, Tannenbrook.

A contragosto, James obedeceu, girando a ambos para enfrentar Wallingham, ele manteve uma mão sobre ela, entretanto, estendeu-se por um lado de sua cintura e à parte baixa de suas costas com seus dedos.

— A levarei a Coldstream amanhã pela manhã — murmurou, apertando a mandíbula, apertando as vísceras. — Nos casaremos na Escócia e retornaremos aqui para nos despedir antes de partir para Derbyshire.

— Um plano de capital, atrevo-me a dizer — opinou Lady Wallingham. — E agora, se importaria de explicar esta abrupta mudança de sentimentos ao pai da senhorita Darling, ou terei o prazer?

— Mãe — murmurou Charles. — Dê ao homem um momento.

— Não sei por que deveria fazê-lo, dei meses para ver a razão, amplo tempo e oportunidade, em minha opinião.

Charles suspirou.

— Tannenbrook, está seguro disto? Há uma quantidade de cavalheiros no salão de baile que aceitarão felizmente a senhorita Darling como sua noiva, escândalo ou não, por acaso conheço lorde Hugh...

— Não deveria ter algo a dizer com quem me caso, Lorde Wallingham? — Viola disse indignada, com as costas rígidas contra sua mão.

— De fato, deveria — respondeu a viúva com um sopro. — A sério, Charles, o verdadeiro amor não sofre substituições.

— Não foi você quem disse que o amor verdadeiro é um conto de fantasia desenhado para confortar os meninos e as meninas?

— Sempre deve tomar tudo literalmente, moço? A gente poderia supor que não tem capacidade para matizes.

James mal escutou uma palavra de suas disputas, só escutou golpes de sangue em seus ouvidos, o clamor de sua vida foi alterado pela força reestruturada para adaptar-se a Viola Darling e sua implacável e incessante vontade. Tinha-a subestimado, depois de tudo o que ela tinha feito em um esforço por persuadi-lo, ele não tinha imaginado que ela se rebaixaria para pôr uma armadilha assim, paquerando, sim, tentadora, sem dúvida alguma, exigente, inclusive. Mas não isto, supôs que poderia tomar a sugestão de Wallingham e deixá-la ir a lorde Hugh.

Nunca.

A resposta foi imediata e veio da parte mais negra de sua alma, que tinha desejado esmagar a garganta de Lorde Hugh por atrever-se a falar sobre os lábios de Viola.

Ela tinha escolhido isto, agora ela devia pagar as consequências. É minha, e ninguém mais a tocará.

— Viola e eu nos casaremos amanhã — ladrou, interrompendo o castigo de Lady Wallingham a todos os filhos que não prestaram atenção à sabedoria de suas mães. —Falarei com o senhor Darling esta noite. Wallingham, apreciaria o uso de sua biblioteca.

— É claro — respondeu o marquês.

Tentativamente, Viola limpou a garganta. James continuou.

— Lady Wallingham, como suas manipulações finalmente obtiveram o resultado desejado, confio em que escreverá aos Estados Unidos com toda a prontidão.

A mulher fungou.

— Tomarei sua petição sob consideração.

Baixou a cabeça e a voz.

— Não. Cumprirá.

— Ora! Muito bem, suponho que cumpriu suficientemente os términos de nosso acordo, vou escrever a carta.

— Er, Tannenbrook — disse Viola fracamente, puxando seu casaco.

— O que acontece? — Retrucou.

— Eu... não me sinto bem, absolutamente. — Ela desabou contra ele, com a mão levantando-se para cobrir sua boca, a profunda e tremenda fúria que sentia por ela retrocedeu o suficiente para que o alarme o agarrasse. Sem pensar mais, inclinou-se e a levantou em seus braços, ela não pesava nada, ele olhou seu rosto pela primeira vez desde que declarou que se casaria com ela. Era de cor branca cinzenta, seus lábios pálidos, seus olhos frágeis pela dor.

— Sua cabeça? — Ele murmurou, embalando-a perto.

Ela assentiu e fechou os olhos, estreitando-lhe o pescoço com os braços.

— Receio que poderia vomitar sobre você.

Ele suspirou.

— Não seria seu pior pecado da noite. — Olhou a Charles. — A levarei para cima, à sua habitação, traga sua criada e sua prima, Penélope.

— Não — sussurrou Viola, com a cabeça apoiada em seu pescoço. — Georgina. A Sra. Cumberland. Por favor.

James assentiu com a cabeça a Charles.

— Informa ao seu pai que o encontrarei na biblioteca em vinte minutos.

— Vinte? — Soprou lady Wallingham. — Me decepciona muito, Tannenbrook, sempre te considerei como um tipo corpulento e robusto, a resistência é uma virtude, já sabe.

Charles tossiu e cavou o cotovelo da viúva.

— Mãe, deveríamos voltar para o salão de baile, seus convidados se perguntarão onde foi.

James não esperou para escutar a resposta da anciã, levou Viola à galeria iluminada pela lua, subiu a grande escada e, seguindo suas instruções até sua habitação, colocou-a brandamente sobre sua cama com dossel azul. Seus braços caíram de seu pescoço, frouxos e apáticos, seus olhos se fecharam. A única luz na habitação era o suave brilho da lua através da janela. Pintou seus deliciosos traços azul prateados com seu polegar, acariciou uma de suas sobrancelhas sedosas.

— Tem láudano?

— Não — ela murmurou. — Piora as náuseas e não alivia muito a dor, às vezes o chá ajuda, mas sobretudo, devo dormir. — Suas palavras foram um pouco confusas, como se ela tivesse tomado muito vinho.

Engoliu contra o vulto em seu peito. No dia seguinte ela se converteria em sua esposa, sua responsabilidade, seu cuidado e amparo, seus toques, beijos, carícias e prazer.

“Minha”, a voz escura da repetição anterior, enchendo suas veias com calor eufórico ante o pensamento, acelerando sua respiração. “Ela é minha.”

Resistiu durante tanto tempo, não tinha se preparado para o ataque, para que ela pudesse passar por suas barreiras auto impostas, rompendo a única coisa que se interpunha entre ela e sua necessidade por ela. Possivelmente era um tolo ou um bruto primitivo, realmente deveria incomodá-lo mais, expondo a selvageria do que ele sentia por ela, a possessividade, o feroz triunfo, mas não o fez. Nem metade do que ele pensava que outro homem tomasse o que lhe pertencia.

— Sinto muito, James — aconchegou-se brandamente antes de cair no sono.

Inclinou-se e lhe deu um beijo na testa, respirando o aroma de peônia, logo exalava palavras que não deveria sentir, e muito menos dizer, mas ela estava adormecida, por isso nunca saberia.

— Eu não, moça, na verdade, não me arrependo absolutamente.


CAPÍTULO 11

“Fiel a sua forma, minhas estratégias demonstraram ser um êxito terminante.

E sabe por quê, Charles? Porque tenho razão. Sempre tenho razão.”

A marquesa viúva de Wallingham a seu filho, Charles, durante um debate sobre os perigos de resistir ao inevitável.

O trovão sacudiu o ar ao redor da carruagem, nuvens enegrecidas se elevavam e cintilavam brancas, ainda não tinha caído nenhuma gota de chuva, mas quando Viola olhou pela janela da opulenta carruagem de lady Wallingham, um estremecimento sacudiu sua carne, possivelmente foi o vento, que uivava sua fúria ao verdadeiro estilo de Northumberland.

Olhou à sua esquerda, onde residia outra presença ensurdecedora depois de suas ações da noite anterior, James não lhe havia dito mais que dez palavras, ela não o culpava, é claro. Forçar um homem de honra a um matrimônio ao qual se havia oposto firmemente era a coisa mais baixa que ela tinha feito. Suspirando, deu a volta para ver um relâmpago e um arco com o passar do horizonte a oriente, a tormenta tinha caído em terra inesperadamente depois de uma noite clara e úmida. Viola suspeitava que sua dor de cabeça tinha sido causada em parte pela mudança antecipada do clima, já que esse era um padrão que tinha notado ao longo dos anos, felizmente, a dor era pouco mais que uma lembrança esta manhã.

Apesar de sua evidente e justificável fúria com ela, James tinha sido amável e protetor, levando-a a sua cama, acariciando sua testa com o toque mais suave, essa capacidade de bondade era uma das razões pelas quais ela o amava tanto.

Georgina também tinha sido amável, colocando um pano fresco e úmido em sua testa e ajudando-a a despir-se para poder dormir mais comodamente, mas então, Viola tinha chegado a esperar tanta amabilidade de sua futura madrasta durante as últimas duas semanas, ela tinha procurado o conselho da outra mulher em várias ocasiões, duas vezes para perguntar a respeito das estratégias para dirigir os homens, e sete vezes para melhorar suas técnicas de bordado, que eram certamente inferiores. Sobre este último tema, Georgina tinha demonstrado ser um recurso inestimável de fato, uma vez que Viola abandonou seu orgulho e confessou o muito que tinha lutado para superar a deficiência, Georgina respondeu com calidez e amabilidade, compartilhando seu conhecimento sem um indício de ressentimento pelo mal-estar anterior de Viola.

— É possível que deseje riscar seu desenho com um lápis, primeiro — tinha aconselhado em sua primeira lição. — É surpreendentemente útil saber onde vai começar. — Em sua segunda lição, ela tinha demonstrado a importância de tomar o tempo. — Segue meus movimentos enquanto completa seu ciclo. Vê? Um pouco de paciência no momento te economizará um sem-fim de trabalho mais tarde. — Sua instrução as tinha aproximado, revelando muito sobre porque seu pai a amava. Georgina deu sem pedir nada em troca. Viola não tinha conhecido muitas mulheres como ela, e frequentemente se perguntava se assim teria sido ter uma mãe.

Só essa manhã, antes que Viola subisse à carruagem de Lady Wallingham para sua viagem à Escócia, Georgina a abraçou com força, sussurrando: — Está segura de que não deseja que vamos?

Viola tinha apertado aqueles ombros quadrados em troca e tinha dado um sorriso aquoso a ela e ao seu pai.

— Obrigada, querida Georgina, mas suspeito que o clima fará com que a viagem seja menos agradável, voltaremos rapidamente e serei lady Tannenbrook. — Ela tinha tratado de soar alegre, mas sua voz se estrangulou nas últimas palavras.

Georgina lhe tinha posto discretamente um lenço na mão.

— É um bom homem, Viola, confia nele para que te cuide.

Agora, quando os trovões retumbavam fora da carruagem e reinava um silêncio mortal em seu interior, Viola apoiou uma mão no couro marrom e adornado do assento e se aproximou mais à janela, dando-lhe a pouca distância que podia no pequeno espaço.

— Não se incomode — murmurou, aumentando seu número de palavras a doze.

Ela piscou, surpreendida de escutar sua profunda voz depois de duas horas.

— Me incomodar? — Um olhar de cor verde escura se voltou para ela desde sua grande altura, inclusive sentado o homem era um gigante.

— Em escapar.

— Eu... não quero escapar, estava simplesmente...

— Estamos perto de Coldstream, esta armadilha que lançou é tão permanente para você quanto para mim. Será melhor que lhe diga isso agora, não quero nenhuma cena.

Ela franziu o cenho, completamente confusa.

— Eu? Não tenho intenção de...

De repente, seu rosto estava a centímetros do dela.

— Se correr, moça, te apanharei. Entendeu?

Um raio fendido caiu estrondosamente perto, a carruagem se sacudiu quando os cavalos se assustaram, fora podia ouvir o vento e os gritos do cocheiro. Girou a cabeça para ver um novo grupo de árvores retorcendo-se em sinal de protesto.

— Viola.

— Hmm? — Através da janela, ela vislumbrou a paisagem inquietantemente escura e ondulante, seus nervos agitados.

— Te aconselho a tirar a mão.

Sua cabeça se sacudiu ao redor, ela tinha agarrado sua grossa perna firmemente, uns centímetros por cima de seu joelho.

— Oh! Sinto muito — disse ela, dando à sua coxa dura como uma rocha uma pequena palmada de desculpa.

Ele depositou sua mão em seu regaço.

— Ainda não — disse com voz áspera. — Muito em breve.

Ela não estava segura do que queria dizer, e ele não parecia estar disposto a explicar, então ela fungou e se girou de novo para olhar enquanto dobravam em uma curva no caminho. Em questão de minutos o rio Tweed apareceu à vista, suas águas inquietas e turvas sob um céu sinistro.

— O barraco de pedágio está no extremo norte da ponte.

Seu estômago rodou.

— Nós... — Ela engoliu em seco. — Estamos lá, então. Aqui, quero dizer.

— Sim.

A carruagem começou a cruzar a ponte, com suas baixas paredes de pedra cor canela rodando por sua janela a um ritmo bastante alarmante. Parecia só um abrir e fechar de olhos antes que se detiveram em frente a uma cabana feita da mesma pedra de cor areia, colocada alegremente no lado escocês de Tweed, onde a ponte terminava e a estrada virava à esquerda para a aldeia de Coldstream.

A carruagem se deteve, seu coração pulsava de forma estranha, o enorme braço de James a alcançou e abriu a porta. O vento o açoitou, abrindo-a rapidamente.

— Deveríamos ir para dentro agora. — Ela assentiu, o movimento brusco no exterior, o lacaio de lady Wallingham a olhou com os olhos entrecerrados, sustentando seu chapéu à antiga com uma mão e lhe oferecendo a outra.

— Senhorita? — Perguntou.

Ela aceitou sua ajuda, descendo da carruagem, entretanto, antes que pudesse recuperar o fôlego, James estava ali, rodeando a parte traseira da carruagem e arrebatando sua mão do agarre do lacaio.

— Vem — grunhiu, puxando-a para frente, talvez fosse o clima, mas seu estado de ânimo tinha passado de áspero a ser absolutamente mau.

— Tannenbrook — ela protestou, sentindo que Humphrey a estava puxando de novo.

Sua mão pressionou a parte baixa de suas costas, empurrando-a mais rápido para a porta da casa de pedágio, ele abriu a porta com um puxão e a fez entrar. Várias janelas permitiram que a escassa luz do dia iluminasse o interior de madeira escura, caso contrário, a pequena habitação no lado esquerdo do chalé estaria iluminada só com um abajur. Essa luz descansava junto a uma cruz colocada sobre o suporte de uma grande lareira de pedra na parte traseira da habitação, um cavalheiro de bigodes brancos com um casaco azul e um colete branco deslumbrante se levantou de sua escrivaninha e se aproximou deles com um sorriso.

— Ah, vejo que temos um bom casal jovem com o matrimônio em suas mentes, vieram ao lugar correto.

Depois de observar atentamente o casaco verde escuro de James e suas botas finamente elaboradas, apresentou-se como o Sr. MacAfee, um alfaiate e “pároco” com sede em Coldstream, que realizava bodas por uma pequena cota, que não valia a pena mencionar.

— Quanto? — James exigiu.

Uma vez mais, aquele olhar avaliador às roupas de James.

— Três guinéus.

Os olhos de Viola se acenderam ante o preço, o lugar era chamado apropriadamente uma casa de pedágio, embora segundo Lady Wallingham, não tinha servido nessa capacidade durante alguns anos. Mas James não protestou, simplesmente tirou as moedas de uma pequena bolsa de couro e as deixou cair na palma da mão do homem com um tinido.

Os olhos do homem brilharam e logo se estreitaram em Viola.

— Agora, então, o dia especial de muitas noivas se iluminou com a adição de algumas flores formosas, e por um pouco mais...

James rodeou a cintura de Viola com seu braço, usando sua altura para aparecer sobre o homem muito mais baixo.

— Queremos nos casar, Sr. MacAfee, nada mais.

MacAfee engoliu nervosamente enquanto seus olhos saltavam entre a altura intimidante de James e o rosto de Viola.

— Sim. Bem, então vamos começar nosso negócio.

Seu “negócio” se completou em questão de minutos, MacAfee registrou seus nomes e paróquias em seu registro. Logo, chamou duas mulheres à habitação do outro extremo da casa de campo — sua esposa e filha, por acaso — para que atuassem como testemunhas. Por último, fez-lhes gestos à lareira onde a cruz de ouro descansava sobre o suporte de madeira junto ao abajur aceso.

Viola notou que a pintura dourada tinha começado a cortar-se e gretar-se, expondo a madeira debaixo e aí foi onde James lhe fez seus votos, prometendo tê-la e mantê-la para bem e para mal, na enfermidade e na saúde, até a morte, então ele a declarou sua esposa.

— Agora a menina formosa, Senhorita Violeta Denton, repita comigo por favor, querida — murmurou distraidamente, incapaz de afastar o olhar de James, seus olhos brilhavam com uma luz estranha, feroz.

— Querida — retrucou James.

— Agora, não seja tão duro com sua formosa, meu senhor. Não é estranho que uma noiva esteja um pouco nervosa — James baixou a voz a um estrondo ameaçador.

— Seu sobrenome é Darling, não Denton.

Finalmente, MacAfee pareceu entender, guiando-a a pronunciar os votos em seu divertido escocês e repetiu as palavras que a uniram a James Kilbrenner, prometendo ser sua para sempre, declarando que ele era seu marido ante três perfeitos desconhecidos.

Era a mais simples das cerimônias, realizada por um alfaiate avaro ante uma cruz pintada de dourado em uma casa escura nas bordas do Tweed. Seu pai não estava presente para entregá-la, nem Penélope nem Charlotte assistiram como suas damas de honra, a tia Marian e o tio Edward não se sentaram no banco de sua igreja paroquial, presenciando a bênção do Reverendo Sr. Insley quando prometeu sua vida ao homem que adorava, nem sequer estava na Inglaterra, pelo amor do céu.

Pensou que conseguiria lutar contra as lágrimas ao morder o lábio e vagar pela janela para olhar a tormenta enquanto James assinava o registro do alfaiate.

Agora não pode chorar, porque suas núpcias se parecem mais a uma transação em uma das casas de penhor de Charlotte que a umas bodas.

Só uma gota deslizou pelo vidro, logo se uniram dúzias mais, levantou a vista para as nuvens que pareciam estar liberando todo seu dilúvio de uma vez, e tudo sobre este pequeno ponto na fronteira da Escócia.

Ausente, retorceu o simples anel de ouro de sua mãe com sua única safira ao redor de seu dedo, o lado era o único sinal externo de que algo tinha mudado. Ainda usava a mesma peliça prateada e o vestido rosa que tinha usado quando tinha sido Senhorita Darling, entretanto, agora, ela era Viola Kilbrenner, condessa de Tannenbrook. Então uma grande sombra se elevou atrás dela, bloqueando o reflexo do abajur no vidro.

— Devemos ir, Viola. — Seu estrondo enviou doces e quentes calafrios ao longo de seu pescoço e couro cabeludo.

— De volta a Grimsgate?

— Não, as estradas estarão ensopadas antes que estejamos na metade do caminho, isso se os cavalos não escaparem.

— Coldstream, então. Há alguma estalagem?

— Sim, mas MacAfee disse que está cheia, o povoado está organizando uma feira ou algo assim. — Ela se voltou para ele, estava tão perto que se encontrou falando com sua gravata.

— Então, aonde vamos?

Sua mandíbula se flexionou enquanto seus olhos olhavam a chuva, agora soprando em lençóis formando redemoinhos.

— Um povoado a umas dez milhas ao norte, sei de uma estalagem ali.

— E se eles não tiverem nenhuma habitação tampouco?

— Encontraremos refúgio ali, pode estar segura.

— Como sabe?

Sem olhá-la, deixou escapar um suspiro e passou uma mão pelo cabelo.

— Porque é onde eu nasci.

***

A carruagem balançou em outra rajada de vento, ela não invejava o cocheiro e o lacaio em sua tarefa de conduzir na tormenta, mas estava agradecida de estar segura e seca e casada. Não precisava esquecer isso.

Lançou um olhar de soslaio ao seu marido, o da mandíbula de granito e a testa precipitada. Seu marido, que extraordinário, apesar das circunstâncias pouco gloriosas de suas bodas, Viola começava a sentir a satisfação, o prazer caloroso, brilhante e secreto de concluir vitoriosamente sua caça a Tannenbrook, por fim, a besta grande e mal-humorada era dela.

É claro, parecia haver muito que ela não sabia sobre seu novo marido, seus dentes se preocuparam com seu lábio, e retorceu o anel de sua mãe ao redor de seu dedo. Por exemplo, ela nunca tinha perguntado onde James tinha passado sua infância e isso se deveu em grande parte a que ela mal podia obter uma resposta a perguntas como “como acha Northumberland?” e “por que nunca dança?”. Descobrir respostas que requeriam mais de uma oração ou que convidavam a uma investigação adicional tinha sido similar a desenredar um enredo desastroso de seu bordado, em resumo, requeria paciência que ela não possuía.

Entretanto, já que atualmente se dirigia ao lugar de nascimento de seu novo marido, talvez fosse hora de aprofundar mais em seu passado.

Ela limpou a garganta.

— Então, é escocês. — Seu profundo zumbido devia ter sido pensado como consentimento. — Por que nunca disse?

— Meu nome é Kilbrenner. Não foi isto uma pista?

Ela fungou.

— Seu título é inglês, vive em Derbyshire, além disso, não soa escocês. — Lançou-lhe um olhar cético. — Muito bem, o uso frequente de ‘aye’ e ‘lass’ poderia ter dado alguma indicação.

Um canto de sua boca se torceu.

— Sim, moça, poderia ser.

Oh, meu Deus, ele murmurou essas palavras com um sotaque delicioso que lhe percorreu a coluna vertebral como um harpista que tira um acorde perfeito.

Combinado com o brilho do humor zombeteiro em seus olhos, a fazia débil e cálida. Porque isto deveria ser assim, quando o sotaque de lorde Mochrie simplesmente parecia distorcido e, às vezes, irritantemente incompreensível para seus ouvidos, não podia dizê-lo. Mas este era James desde o começo, ele tinha sido a exceção a todas as regras.

Ela finalmente conteve o fôlego.

— Suponho que os outros sabem de sua origem.

— Uns poucos.

— Por que nunca me disse isso?

Aqueles enormes ombros se encolheram.

— Não há razão para discuti-lo.

— Porque procurava se liberar de mim.

Ele não respondeu, simplesmente girando sua cabeça para a tormenta, mas ela não tinha terminado.

— Bom, eu gostaria de saber mais sobre você.

— Por quê?

— Você é meu marido. — De novo, não havia resposta e seu olhar ficou fixo na chuva, ela franziu o cenho. — James, me olhe.

Seus olhares se encontraram.

— Você é a mulher mais persistente que encontrei, sabe?

— Enquanto isso me serviu admiravelmente.

Ele soprou com incredulidade, mas seus olhos retornaram a ela, ao menos agora podia ver sua expressão, mesmo que fosse de uma irritação perplexa.

— Traçou sua própria ruína, pelo amor de Deus, não faz mais de uma hora encontrava-se em um barraco de pedágio para se entregar a mim, um homem do qual não sabe nada, minhas origens foram uma revelação assombrosa para você.

— Não é impressionante, precisamente, e te conheço bastante bem em todos os aspectos que importam, é o melhor dos homens. Por que crê que te persegui com tanto vigor?

— Porque é tola e irritantemente teimosa?

Ela sufocou uma gargalhada, depois de todos estes meses ainda estava indignado por sua determinação de tê-lo como dela, pensaria que se acostumaria à ideia de que uma mulher fizesse o que fosse necessário para assegurar o desejo de seu coração.

— Teimosa, talvez. — Deixou que um sorriso se desenhasse em seus lábios, notando como seus olhos seguiam e se atrasavam ali. — Te falei alguma vez do meu instinto?

Seu cenho franzido se aprofundou, mas ele não afastou o olhar de sua boca, sua língua umedeceu seus lábios automaticamente, ele engoliu em seco.

— Não.

— Meu instinto é simples, a verdade é um sentimento de... retidão. — Ela estendeu sua mão sobre seu ventre, justo debaixo de suas costelas. — Aqui o sinto cada vez que vejo algo que devo ter, nunca me levou por mau caminho, o senti contigo mais poderosamente que nunca. — Suas mãos postas onde descansavam junto às suas coxas. — Sabia, James, sabia que me pertencia e que te pertencia desde o primeiro momento que vi seu esplêndido rosto.

— Meu rosto não é esplêndido.

— É para mim.

— Enganou a si mesma, moça, caiu presa do desejo de algo além de seu alcance, não sabe nada do homem que realmente sou.

— Sei que isto é correto. — Sua mão pousou sobre seu punho, acariciando seus nódulos com seu polegar. — Sinto pelo que fiz, mas não vi outra maneira, negou-se a ver a razão.

Com um puxão, retirou a mão.

— Neguei-me a ceder à sua vontade e respondeu-me negando uma eleição que era legitimamente minha.

Ela assentiu e baixou o olhar a sua mão, estendida aberta e só sobre o assento adornado.

— Te conto sobre o homem com o qual se casou, Viola? — Sua voz era uma chicotada, aguda e fria. — Sou o filho de um ferreiro de um pequeno povoado da Escócia antes que um acidente de nascimento me concedesse um maldito título inglês de um ancestral morto fazia muito tempo, eu era pedreiro. Não um senhor, não um latifundiário, nem sequer um comerciante. — Tomou o queixo entre o polegar e os dedos, forçando seus olhos para ele. — Tomou um operário como seu marido, minha pequena bonnie lass e este é o homem com o qual viverá o resto de sua vida.

Ela piscou para ele, encantada do couro cabeludo até as sapatilhas.

— Oh — Sua voz era um gemido ofegante. — Diga-o outra vez, James, lentamente desta vez, por favor.

De repente, seus dedos a abandonaram.

— Maldito inferno, moça.

— Não, a outra parte.

— Está completamente louca. Se dá conta de que classe de homem sou?

Ela desejava que a tocasse de novo, mas obviamente ele não possuía um ardor similar, estava muito concentrado em lhe dar um desgosto dele, por que razão, ela não podia compreender.

Reunindo seu engenho sobre ela e sufocando o calor quase doloroso que tinha invadido seu interior, apertou as coxas e se acomodou no assento acolchoado.

— Suspeito que está a ponto de me dizer.

Ele ignorou sua resposta, levantando uma mão maciça para sua inspeção, seus dedos eram longos e grossos, os ossos e os nódulos grandes e visivelmente poderosos.

— Não deve permitir que estas mãos toquem sua manga, muito menos sua pele, se não tivesse um título e entrasse em uma habitação em que me encontrasse trabalhando com um pouco de pedra, não me prestaria mais atenção do que poderia dar ao lacaio de lady Wallingham. Justamente assim.

— Não seja um tolo, é o conde de Tannenbrook. Se sentir merecedor de seu título ou não é irrelevante. O homem que amo é James Kilbrenner, pedreiro ou senhor, inglês ou escocês. — Ela puxou sua lapela. — Alfaiataria fina ou não.

— Não pode me amar, porque não sabe nada de mim.

Ela estalou a língua e soltou um suspiro.

— Por que é tão difícil aceitar que te admiro? Me atreveria a dizer que a maioria dos homens se alegrariam de tal afeto tão ardente.

Ficou rígido. Retirou-se.

— Não se casou com a maioria dos homens, se casou comigo, não o esqueça nunca, Viola.

— Bom, como é muito pouco provável que ocorra, posso te dar minha promessa solene com segurança: não esquecerei que me casei contigo.

Ele continuou como se ela não tivesse falado.

— Uma vez que cheguemos a Netherdunnie, verá. — Ela inclinou a cabeça e levantou as sobrancelhas, sorrindo como se tivesse enviado um convite.

— Encantador, espero ver seu lar.

Sua expressão se obscureceu, se voltou para a janela e apoiou o queixo no punho.

— Já verá — repetiu, suas palavras baixas e silenciosas. — Muito em breve compreenderá quão profundamente errou, moça, e nenhuma quantidade de arrependimento te salvará.


CAPÍTULO 12

“Mortificante? Ora! Só mencionei que nomeou a sua manta favorita Billy. É culpa minha que Lady Willoughby supusesse que estava me referindo a uma denominação recente em lugar de uma da infância?”

A Marquesa viúva de Wallingham ao seu filho, Charles, com respeito a uma conversação recente com uma certa viúva.

— Só olha-os! — O pequeno par de calças de menino pendurava alegremente dos dedos de sua irmã. — Tão pequeno. Imagina o Jamie, Jamie grande e forte, encaixando nesta pequena roupa?

— Oh, era um menino bonito — sua mãe interveio com carinho, cheio de humilhação sobre a mortificação.

Viola riu encantada e agitou os dedos para as calças de camurça.

— Posso? — Ela perguntou cortesmente.

— É claro — gritou Nellie, entregando-lhe a pequena parte e tirando outro do baú que tinha insistido em levar com ela. De que outra maneira poderia mortificar seu irmão o suficiente se não mostrando suas posses da infância, com grande fanfarra para sua nova esposa?

Ao entrar no povoado, Viola não tinha reagido como tinha esperado. Aqueles olhos crepusculares tinham devorado as casinhas pobres, de cor marrom e cinza de Netherdunnie, como fascinada pelas choças e o barro e quando chegaram ao chalé de sua mãe, com sua porta recém pintada e o familiar jardim de delphiniums, não pôde falar pela onda de saudade e lembrança. Viola lhe tinha abraçado o cotovelo e lhe tinha acariciado o braço com movimentos delicados e calmantes, eventualmente, recuperou-se o suficiente para bater na porta. Sua mãe tinha gritado seu nome e o tinha envolto em um abraço. Arrumou-se para apresentar Viola como sua esposa, mas lutou por falar, suas emoções o afogavam, em troca, tinha sido Viola quem tinha saudado sua mãe com um sorriso de calidez e sinceridade que só tinha podido olhar.

— Sra. Kilbrenner, é a maior honra da minha vida conhecer a mulher que trouxe James a este mundo — havia dito Viola. — Ele é o melhor dos homens, e você deve ser reconhecida por seu caráter superlativo.

Sua mãe a abraçou com força, chorou um pouco pela alegria de ter uma “nova filha” e enviou a sua criada a procurar Nellie. Após, a conspiração feminina para envergonhá-lo só se tornou mais expansiva. As três mulheres se reuniram para tomar chá, rir e intercambiar histórias como se o tivessem estado fazendo durante décadas. Agora, estava parado com os ombros apoiados contra a parede no salão de sua mãe, com os braços cruzados sobre seu peito, perguntando-se se devia protestar por suas travessuras, provavelmente só pioraria as coisas.

— Senhora Abernathy, isso é um par de sapatos do James?

— Sim, de fato, me chame de Nellie, querida — disse Nellie. — Somos irmãs agora, não somos?

O olhar de Viola se fundiu em um brilho de sentimento feminino e pegajoso.

— Sempre quis uma irmã.

Nellie assentiu enfaticamente, sorrindo amplamente.

— Bem, agora tem uma e uma mamãe, também.

Sua mãe falou também.

— E se pensa em mim como tal, querida, pode me chamar de mamãe, como o faz Patrick, o marido de Nellie. Ou, se for mais de seu agrado, me chame de Bess.

Por um momento se preocupou de que sua esposa descesse a um ataque de pranto, felizmente, ela era feita de coisas mais austeras, soprando, Viola assentiu e lhes agradeceu, logo se reuniu enquanto tomava seu chá.

— Custa-me imaginar James como um menino pequeno. Já amava a pesca, então? — Suspirou e pôs os olhos em branco enquanto sua mãe e sua irmã conversavam sobre ele enquanto sua esposa arrulhava, ofegava e ria. Isto era insuportável, pensou em unir-se ao lacaio e ao cocheiro nos estábulos.

— Que assombroso deve ter sido quando soube de seu título — Viola dizia agora, com os olhos muito abertos, o anel de sua mãe brilhando em azul e ouro na luz cinza das janelas.

Seu pai lhe tinha entregue o anel na noite anterior e lhe havia dito que “recorde que ela é uma filha preciosa, assim como a sua esposa, Tannenbrook, cuide-a em consequência”. James tinha aceito o desafio de Walter Darling e guardou o anel de Viola no bolso de seu colete, prometendo protegê-la com sua vida. O voto parecia ter tranquilizado a mente do senhor Darling, já que o homem mais baixo e calvo tinha assentido, fungado e estreitado a mão estendida de James.

— Estivemos bem — respondeu Nellie à pergunta de Viola. — Mas o afetado foi Jamie, ele tinha toda sua vida planejada, não é, Jamie? Até o último e pequeno detalhe, herdar um título inglês não era parte disso.

O olhar de Viola se voltou para ele, a curiosidade brilhava.

— Quais eram seus planos?

Olhou com fúria à sua irmã, quem levantou uma sobrancelha e tomou um sorvo de chá para dizer.

— Este é seu castigo por permanecer afastado tanto tempo, Jamie Kilbrenner, saboreie a experiência — limpando sua garganta, procurou em sua mente uma resposta que fosse suficiente.

— Marmoaria.

Inclinando a cabeça, os olhos de Viola se estreitaram sobre ele com suspeita.

— Para um plano detalhado, me atreveria a dizer que tem uma simplicidade surpreendente.

— Eu sou um homem simples.

— Hmmm. Bom, talvez isso é o que te distingue dos outros cavalheiros.

Nellie voltou a intrometer-se com sua perspectiva não desejada.

— Nae, é um grande gigante vermelho, essa é a diferença.

Por alguma razão, os olhos de Viola baixaram às suas coxas, então ela se ruborizou, uma bonita cor rosa, logo ela escondeu seu rosto tomando um sorvo de chá.

Seu sorriso cresceu, já era hora de que alguém, além dele, sentisse-se incômodo.

— Ficará para o jantar, Jamie — disse sua mãe. Ele abriu a boca para responder, mas ela levantou uma mão tranquila.

— Não é uma petição.

Sentindo-se como um menino castigado, ele assentiu.

— Sim, mamãe.

Felizmente, Nellie se foi pouco depois para cozinhar para seu próprio marido e filhos. Ela o abraçou de despedida e lhe sussurrou ao ouvido.

— Volta logo da próxima vez, Jamie, grande e pesado tolo.

O jantar era o bolo de cordeiro de sua mãe, tão deliciosamente salgado e robusto como recordava. Observou Viola comer com delicadas dentadas, fechando os olhos e maravilhando-se em voz alta de que sua mãe era capaz de encontrar uma cozinheira tão talentosa. É claro, quando essa lhe informou que ela mesma o tinha feito, Viola fingiu surpreender-se e se maravilhou ainda mais dos muitos talentos de sua mãe, em particular os relacionados com a confeitaria.

Observou o rosto de sua nova esposa, a luz das velas brincando sobre sua perfeição com amor, o pequeno nariz, os longos e negros cílios, aqueles lábios delicadamente curvados.

Então deixou que seus olhos explorassem mais abaixo, os seios exuberantes, arredondados, a pele pálida...

Ele conteve o fôlego, queria tanto tocar essa pele, se pudesse, a poria sobre esta mesma mesa e a devoraria como o creme, devorá-la até que gritasse seu nome.

— Jamie!

Sacudindo-se ante a brusca e azeda reprimenda de sua mãe.

— Sim, mamãe.

— Se tiver a intenção de tomar habitações na estalagem, é melhor que se vão enquanto a luz permanece.

Ele assentiu, engolindo em seco e usando seu guardanapo para limpar a boca, na verdade, estava se atrasando enquanto seu corpo se esfriava, pelo amor de Deus, homem, na mesa de sua própria mãe.

— Oh, não ficaremos aqui, James? — Rogou Viola. — Estava tão ansiosa por uma visita mais longa com mamãe.

Não podia dizer se ela era sincera ou meramente adulava a sua mãe de novo. Seus olhos estavam suplicando.

— A casa não tem suficientes habitações para albergar o cocheiro e o lacaio — mentiu. Já era suficientemente mau fantasiar com Viola na mesa de sua mãe, fazer amor com ela sob o teto de sua mãe, com sua mãe dormindo a uma parede de distância, era horrível e faria amor com Viola esta noite, não podia esperar.

— Tem razão, Jamie — disse sua mãe, lançando-lhe um sorriso irônico, levantou-se e ajudou a criada a começar a limpar a mesa. — A estalagem lhes servirá esta noite, venham amanhã, e tragam a sua irmã aqui para um bom café da manhã antes de ir-se.

Viola seguiu seu exemplo e ajudou a criada a levar os garfos e os copos à cozinha para lavá-los, observou-a sair da habitação com os olhos fixos em seus quadris.

Para evitar envergonhar mais a si mesmo, também ficou de pé para ajudar e devolveu o sorriso de sua mãe com uma gratidão genuína.

— Obrigado.

Ela assentiu, seus olhos se encheram de compreensão, recordou-lhe o dia em que Hargrave tinha vindo por ele. Sua mãe tinha sabido inclusive então, o que significava para ele. Aproximou-se para abraçá-la.

— Obrigado — disse de novo, abraçando-a contra ele, sentindo seu corpo mais magro. — Sinto muito, mamãe, sinto muito, mantive-me afastado.

— É meu filho, Jamie e te sinto falta, mas sei que tem suas razões.

— Deveria ter retornado antes.

Ela se afastou, acariciando seus ombros com afeto e limpando sua bochecha com seu polegar.

— É meu filho e me preocupa, agora toma sua noiva e leva-a à estalagem. Ela é uma delícia, Jamie, estou muito orgulhosa de você.

Baixou o olhar e assentiu, não querendo explicar mais sobre como este matrimônio não tinha sido de sua eleição, havia pouco sentido em perturbar a evidente felicidade de sua mãe. Parecia que as circunstâncias de sua união não importavam absolutamente.

Quando ele e Viola entraram na estalagem meia hora mais tarde, James voltou a pensar no pouco que lhe importava: sua resistência ao matrimônio, a maquinação de Viola, a intervenção de lady Wallingham, nada importava mais de que estavam casados e que ela era sua esposa e esta noite, na única estalagem de Netherdunnie, a faria sua de verdade.

***

James tinha estado atuando de maneira estranha desde que chegaram a Netherdunnie. Durante a viagem em carruagem desde Coldstream, tinha sido combativo e áspero por turnos, logo, quando ela tinha comentado com entusiasmo quão encantador achava seu povoado natal, ele tinha ficado em silêncio. Mais tarde, no chalé de sua mãe, quando ela se sentia bem com as cálidas boas-vindas da senhora Kilbrenner e da senhora Abernathy, ou mamãe e Nellie, como tinham pedido que as chamasse, comportou-se como um mal-humorado, de pé com os braços cruzados e respondendo em sílabas.

Pensaria que estava ressentido de ter falado em termos radiantes e afetuosos, mas isso seria uma tolice, possivelmente tinha sido algo que comeu.

Quando o hospedeiro os levou a sua habitação, um nervosismo surgiu dentro de seu estômago. A estalagem era humilde, mas limpa, a habitação estava decorada com uma cama de madeira maciça e emoldurada na metade da largura da que tinha dormido em Grimsgate, estava coberta com mantas de lã lisas, marrons.

Uma pequena penteadeira em um canto continha uma bacia e uma jarra branca descascada e um abajur de azeite de baixa iluminação. Fora da janela, o trovão ecoou, mas era mais suave e mais longo que antes, como se a tormenta tivesse chegado ao final de sua força.

Ela o sentiu perto dela, escutou-o respirar, o rangido das tábuas de madeira debaixo de suas botas.

Um golpe na porta a fez saltar. Ela sentiu que se voltava para responder, escutou-o murmurar com o hospedeiro sobre os cavalos. Ela entrou mais na habitação, tirando o chapéu. Tinha usado o azul com as plumas brancas.

Sorrindo, passou seus dedos ligeiramente sobre a seda. Logo, colocou o chapéu na cama e começou a desabotoar sua peliça de seda prateada e leve. Era o melhor que possuía, com dobras e reluzentes bordados brancos. E debaixo, ela tinha usado seu vestido de baile da noite anterior, porque também era o melhor que possuía. Neste dia, ela tinha querido parecer bela para ele.

Encolheu a peliça, deixando que se deslizasse de seus ombros sob o resplendor do abajur.

Tirou as luvas e se transladou a penteadeira , verteu um pouco de água e umedeceu um pano e se limpou parte do pó e da chuva do dia de seu rosto e pescoço. A luz apanhou o anel de sua mãe, agora dela. Examinou a coisa no fogo cruzado de relâmpagos e um abajur estável e cálido. Era um dos poucos artigos que tinha de sua mãe, ela nunca tinha conhecido a mulher e agora representava sua união com James.

A porta se fechou com um clique e as botas rangeram pelo chão e logo se detiveram. Ela levantou a mão para começar a tirar as forquilhas do cabelo, uma por uma, e as colocou sobre a penteadeira , seus cachos baixaram.

— Maldito inferno — suspirou.

Ela o olhou por cima do ombro, olhos de cor verde escura estavam cravados no lugar onde seu cabelo se encontrava com sua parte posterior, uma mala caiu ao chão aos seus pés, sua boca se curvou em um sorriso indefeso.

— Vê algo que você gosta, meu senhor? — Brincou.

— Maldito inferno — repetiu, passando uma mão por seu próprio cabelo, o movimento esticou a fina lã verde escura de seu casaco sobre seu abdômen e destacou a magnitude de seus ombros, braços, mãos e coxas. Roubou-lhe o fôlego.

Voltou-se, apoiando as mãos e as costas contra a borda da penteadeira, por um momento, ela simplesmente se permitiu olhá-lo. James. A mandíbula quadrada, os lábios firmes e a testa grossa, os olhos da cor de um bosque ao entardecer... ela derreteu.

Fez com que lhe doesse e se suavizasse, fez subir o calor debaixo de sua pele.

— Necessita de ajuda para tirar o casaco, James? -Perguntou ela, sua voz era um ronrono rouco.

Seu peito se levantou e caiu a um ritmo rápido, seu nariz se alargou com cada respiração, então sua mandíbula flexionou e começou a passear-se de ida e volta ao outro lado da pequena habitação em dois ou três passos, alcançou uma parede, só para voltar e, em outros dois ou três, chegou à parede oposta, logo repetiu o processo.

— James?

Ele não respondeu.

— Bom, ao menos necessitarei de sua ajuda com meu vestido, saímos de Grimsgate tão rápido que esqueci de trazer uma criada, um terrível aborrecimento, mas, — suspirou com falso arrependimento — A gente suporta o que deve.

Deteve-se perto da janela, olhando brilhos distantes e a chuva suave.

— Sei do que se trata. — Ela levantou uma sobrancelha.

— Ah, sim?

— Sim. — A palavra soava como cascalho sendo moído debaixo de sua bota. — Pode deixar de me seduzir, Viola, não há necessidade disso, já que planejo me deitar contigo.

Sem saber do que falava, ela se aferrou com mais força à borda da mesa de madeira e tratou de afastar o olhar de suas coxas. Eram grossas e muito musculosas sob o tecido de suas calças, escondido junto a sua coxa esquerda havia um vulto adicional isso, supôs, era o membro masculino que Georgina havia descrito, embora o tamanho era mais largo e mais grosso do que se informou, provavelmente porque tudo sobre James era maior que dos outros homens.

— Isso... Mmm... é um alívio escutá-lo.

— É só que devo... determinar a melhor maneira de abordar a mecânica precisa... de tudo isto.

Alarmada por sua confissão e gagueira, seus olhos se dispararam para seu rosto, seu rosto avermelhado.

— Oh, querido — ela murmurou, piscando rapidamente. — Isto é bastante incomum, não é assim? — Ele suspirou e assentiu.

— Ambos estamos sem saber, quero dizer — continuou mordendo o lábio inferior, suas mãos estrangularam a penteadeira pobre e barata quando começou a aparecer uma autêntica preocupação. — Bom, sim, sei um pouco. A Sra. Cumberland foi surpreendentemente útil nesse sentido, suponho que se você e eu aplicarmos o conhecimento que possuímos e fizermos essas coisas que nos produzem prazer, então não podemos nos equivocar muito, não é?

— Viola.

— Talvez devêssemos começar por tirar a roupa.

— Viola, eu não sou...

— Ou melhor dizendo, crê que deveríamos começar com os beijos? Adoro os beijos ao menos, o fiz na primeira vez que me beijou, agora que o penso, parecia bastante hábil nessa área, segundo lembro.

— Eu sei sim...

— Sim, estou segura de que deveríamos começar a nos beijar imediatamente, tirar nossas roupas, se sentirá muito menos tolo depois de...

— Viola!

Sobressaltada com seu rápido plano de ação, seus olhos voaram aos dele.

— Oh! Sim?

— Não sou virgem, moça. — Parecia estar lutando contra a alegria, já que levava um cenho franzido e uma boca suspeitamente firme.

Ela engoliu em seco.

— Não é?

— Não.

Agora era ela que estava se avermelhando.

— Bom, que outra coisa eu podia imaginar?

— Talvez que nossos tamanhos relativos possam ser um desafio.

— Não sei por que deveria importar.

— Porque não tenho nenhum desejo de te machucar.

— Nunca me faria mal.

— Nunca quereria fazê-lo, moça, mas estas mãos — as sustentou em alto — Poderiam te machucar muito facilmente, sem mencionar que há outras partes de mim que podem ser difíceis de dirigir para seu corpo.

— Não seja tolo.

— A primeira vez que uma mulher se deita com um homem, sofre dor, inclusive sem semelhante... tiro.

Ela cruzou os braços sobre seu peito, completamente irritada com sua óbvia vacilação. O homem tinha evitado seu agarre o tempo suficiente.

— Não deve evadir seu dever de marido por esta tolice, James Kilbrenner. — Deu-lhe as costas e recolheu o cabelo sobre um ombro. — Agora, me tire o vestido, por favor, não consigo alcançar todos os botões.

Vários segundos de silêncio passaram antes que ela sentisse seus dedos puxando brandamente, habilmente na seda bordada que cobria o centro de suas costas, o formigamento resultante se estendeu até seus seios, onde seus mamilos se esticaram contra seu fechamento, baixou o corpete de seu vestido e deslizou as correias de sua camisa por seus braços, agrupando o tecido ao redor de sua cintura.

— Bem — ela disse, sua voz sem fôlego. — Agora, meu espartilho, por favor.

Uma vez mais aqueles dedos que tanto temia que poderiam machucá-la como um sussurro através dos delicados cordões de seu espartilho, a coisa se afrouxou, fazendo com que seus seios se derramassem. Ela apanhou o tecido contra ela com um braço.

— Muito melhor, agora, posso te abraçar... Oh? — A última palavra foi um gemido, ela não pôde evitar. Suas mãos grandes, fortes e capazes se moveram repentinamente, deslizando debaixo de seu espartilho afrouxado e rodeando para encontrar seus seios. Ela se recostou em seu grande corpo, arqueando seu pescoço com o espetacular prazer disso, sua pele formigando e provocando-a então, sua boca mordiscava seu pescoço exposto, suas mãos começaram a mover-se.

Acariciando, agradando seus mamilos com pequenos círculos doces de suas palmas, o calor de seu fôlego se mesclou com o ruído de sua mandíbula contra sua pele.

— James — ela suplicou. — Oh, isso é realmente encantador.

Sua língua brincava sobre um ponto entre seu ombro e pescoço quando levantou a cabeça, a mancha se esfriou deliciosamente.

— Só estamos começando, moça. — Seus dedos apertaram seus mamilos com uma pressão firme que a fez ofegar e enviou seus quadris retorcendo-se contra ele.

— Talvez agora você gostaria de me ajudar com meu casaco.


CAPÍTULO 13

“Os talentos mais chamativos de um homem podem não ser óbvios, mas uma mulher que discerne os busca diligentemente. E uma inteligente lhes dá um uso apropriado.”

A Marquesa viúva de Wallingham a Lady Rutherford sobre a notável descrição da senhora das habilidades recém adquiridas de Lorde Rutherford.

Deitada nua na cama e desenvolvendo rapidamente um calafrio, Viola se apoiou nos cotovelos e suspirou em voz alta sua impaciência.

— Que diabos está procurando?

James, agora vestido só com sua camisa branca de linho e calças de lã, cavou através do conteúdo de sua mala.

— Estava aqui, estou seguro disso.

— Isto não pode esperar?

Seus olhos se elevaram, se atrasou ao longo dela, foi quente, derretido e faminto, sua garganta se agitou em um gole.

— Não, não pode.

Freneticamente, voltou para sua tarefa, jogando punhados de artigos, roupas, o que pareciam ser fornecimentos para barbear-se, um pequeno livro, sobre o piso. Logo, o alívio divino apareceu em seu rosto, fechou os olhos brevemente, como dizendo uma oração de agradecimento. Curiosa, franziu o cenho ante a pequena caixa de madeira plana que tinha na mão.

— O que é? — Sem responder, levantou-se e se dirigiu a penteadeira, escutou o sussurro do papel e um pouco de respingos, começando a sentir-se muito visível ali estendida sem nenhum tipo de cobertura, agarrou a borda da manta de lã e a colocou sobre seu corpo. Era áspera contra sua pele, mas ao menos não se resfriaria. Voltou-se de flanco para olhar seu marido, deixando que seus olhos se detivessem sobre seus largos ombros e musculosas nádegas e, o calor voltava para sua carne, talvez fosse a manta.

Esticou-se para trás para agarrar um punhado de sua camisa, justo debaixo de seu pescoço, e tirou a camisa sobre sua cabeça, expondo um homem gloriosamente nu e divinamente esculpido ao seu ávido olhar, inexplicavelmente, seu coração começou a pulsar com força, agarrando-se à vista de tantos músculos avultados e flexionados sob sua pele. O calor tomou seu agarre, ruborizando-se, palpitando e necessitando, se virou para olhá-la e ficou pior.

— Oh, James — ela gemeu, mordendo o lábio e deslizando suas pernas contra o lençol debaixo da manta.

Ele era formoso, tão grande e musculoso, que logo podia vê-lo. Uma fascinante esteira de pelo cobria a parte superior de seu peito, diminuindo no espaço entre suas costelas, convertendo-se em um mero pó ao redor de seu umbigo. O pelo era mais escuro que em sua cabeça, girando um pouco ao redor dos mamilos planos.

— Você é... é maravilhoso.

Aqueles enormes e maravilhosos ombros se encolheram.

— Sou um bruto.

Ela levantou os olhos para ele.

Ele franziu o cenho com ferocidade.

Ela sorriu lentamente.

Umedeceu os lábios e passou uma mão pelo cabelo.

— Viola, deve me ajudar.

Sentou-se na cama, agarrando a manta, ansiosa por obedecer.

— Qualquer coisa.

— Ah, Deus. — Sua cabeça caiu para trás e olhou ao teto, os músculos de seu ventre se esticaram e ondularam da maneira mais surpreendente e sensual. — Deve... se deter, moça.

— Deter? O quê?

— Tenta-me.

— Mas te desejo.

— Que Deus seja misericordioso — murmurou, baixando a cabeça para olhar seus dedos, apertou a manta com mais força e observou como o vulto singular atrás do véu de suas calças parecia inchar e alargar, pressionando contra o tecido.

— Além disso, — continuou — Não vejo nenhuma razão pela qual devamos nos demorar mais.

— Há uma razão, moça.

Uma vez mais seu calor tropeçou ao longo de sua coluna vertebral como se tivesse arrastado as gemas de seus dedos contra sua pele. Ela queria beijar sua boca maravilhosa, queria sentir sua língua deslizar-se ao longo da dela, queria todo seu calor, tamanho e força pressionando contra ela sem uma só barreira entre eles.

— Está formosa... — Ele gemeu profundamente, seu peito agitado, seus músculos endurecidos. Passaram longos segundos enquanto ele parecia lutar dentro de si mesmo. —Inclusive a ideia de lhe tocar me excita, moça, devo ter o controle se quero evitar te causar uma dor desnecessária.

— Oh. — Ela mordeu o lábio e esfregou a lã entre as pontas dos dedos. — Significa que não podemos nos beijar? Eu adoro seus beijos.

Seu coração se afundou quando ele se virou outra vez, atendendo a uma tarefa misteriosa que envolvia tudo o que tinha tirado de sua mala, ela baixou o olhar aos seus dedos, que se preocupavam com as dobras marrons de lã em seu regaço, tinha preferido que tivesse encontrado seu beijo tão comovedor como o tinha encontrado ele, mas parecia que suas habilidades careciam tanto dessa arte amorosa como de bordado ou música.

— Sou uma novata nisto, James — disse em voz baixa à manta. — Me esforçarei por fazer o que te agrade, mas talvez logo me permita praticar um pouco os beijos, já que eu gostaria muito de fazer... mmph...

Sua boca capturou a dela, foi um assombroso prazer, seus lábios firmes a acariciaram e uma mão envolvente cavou a parte de trás de sua cabeça, mantendo-a imóvel, pressionando-a para frente, ela gemeu e soltou a manta para embalar seu lindo rosto entre suas mãos. Ela acariciou sua proeminente testa com o polegar e abriu a boca para sua língua insistente.

O colchão se sacudiu e baixou ao seu lado quando ele se sentou na beira, em frente a ela seu braço se enroscou ao redor de sua cintura e a puxou para seu corpo, esmagando seus seios em um peito quente e peludo. Tinha sabor de sal e cheirava a pinheiro. Ela gemeu, um zumbido ante as inumeráveis sensações.

Então, ela estava sendo levantada, seu fôlego deixando-se em um sussurro, sua força era uma maravilha, a mão que havia segurado sua cabeça caiu sobre sua coxa e dobrou sua perna ao longo de seu quadril. Ela ofegou impotente quando algo grande, quente e estranho pressionou bruscamente e deslizou contra sua carne mais íntima, sua cabeça girou ou talvez fosse a habitação.

Não, era James, girando-os juntos e sentados na cama, de costas à cabeceira, com as pernas esticadas atrás dela, suas mãos agora colocando-a escarranchada sobre suas coxas como se ele fosse um cavalo e ela um cavaleiro descarado, a mais descarada, por certo.

Gemendo de novo ao redor de sua língua quente e escorregadia, deixou que suas mãos deslizassem de suas bochechas a sua mandíbula, logo baixaram para segurar seu grosso e musculoso pescoço, ela não sabia o que mais fazer. Tudo era muito, havia muitas partes maravilhosas para tocar e acariciar, muitas sensações pedindo para ser notadas, cada uma delas um prazer revolucionário, suas mãos agora cavavam suas bochechas, seus dedos suficientemente compridos para entrelaçar-se na parte posterior de sua cabeça, estava completamente rodeada, acariciada e contida dentro de sua força e calor. Separou-se de seu beijo o suficiente para sussurrar.

— Poderia passar a eternidade te beijando, moça. — Beijou-a de novo para demonstrar seu ponto. — Se não sentisse tanta urgência de passar a outras coisas.

— Tais como tocar? — Perguntou esperançada, passando seus dedos sobre sua clavícula, sentindo o pelo rangente de seu peito em suas palmas. — Quis te tocar durante tanto tempo.

Um lento sorriso curvou sua boca e acendeu seus olhos enquanto suas mãos se moviam para acariciar suas costas e brincar com seu cabelo.

— Pode, agora?

Ela assentiu e sorriu.

— Há muito de ti, não sei por onde começar.

Aqueles olhos verdes se esquentaram em um resplendor. E seu sorriso se desvaneceu.

— Possivelmente na próxima vez, não sei quanto mais posso suportar.

Incapaz de ajudar a si mesmo, deixou que seus dedos vagassem para seus mamilos, perguntando as diferenças entre seu peito e o dela. Foi então quando ela vislumbrou a dureza que tinha estado cravando e deslizando-se entre eles enquanto se beijavam. Era mais comprido do que ela tinha suspeitado, completamente ereto contra seu ventre e estava coberto com uma espécie de capa, assegurada a duas polegadas da raiz com uma fita de seda azul.

Seus olhos dispararam para ele.

— Devo desembrulhá-lo?

A risada que gemia retumbou profundamente em seu peito, fazendo-a ruborizar-se e sorrir ao mesmo tempo, ele a atraiu para outro beijo.

— Não, chama-se camisinha francesa, os homens as usam para prevenir um bebê.

Confusa, ela balançou a cabeça.

— Mas, estamos casados agora. Certamente...

Suas mãos deslizaram até seus seios, assegurando-se de que todo pensamento racional desaparecesse.

— Me deixe te tocar agora, moça. — Seus polegares rodearam seus mamilos, gerando pequenas chamas de prazer que brotaram dos centros apertados para fora sobre sua pele. — Você gosta disso?

Seus dedos se cravaram em seus ombros, ela se mordeu o lábio e assentiu, apertando seus quadris contra suas coxas.

Tocou e acariciou, embalando e amontoando seus seios com suas palmas.

— Agora posso sentir quão molhada está.

Ela gemeu, fechou os olhos e tratou de controlar sua respiração, mas só conseguiu enjoar-se, entre suas coxas estendidas, os músculos profundos se contraíram e pulsaram de desejo, ela se sentia vazia, ela o necessitava.

— James — ela ofegou. — Quando se colocará dentro de mim?

— Quando estiver preparada.

— Oh, Deus, me sinto bastante pronta, pode proceder.

— Não ‘ainda’. — Aquelas mãos diabólicas continuaram a tortura de seus mamilos, que agora produziam raios crus e ardentes com cada golpe e puxão de seus dedos.

— Sim — ela grunhiu, cravando suas unhas em bíceps duros como uma rocha, apertando seus quadris contra suas coxas. — Agora.

Suas mãos caíram para rodear sua cintura, ele a levantou tão facilmente como faria com uma jarra de cerveja, e a colocou sobre a manta de lã, seu grande corpo se moveu sobre o seu. Logo, apoiou-se nos braços esticados, com os joelhos entre as coxas estendidas, sua dureza masculina flagrante e envolta como um presente que sobressaía para cima no espaço entre seus corpos.

— Ainda não. — Seu próprio grunhido foi um retumbar profundo e ressonante. Ela deixou que seus sentidos se deleitassem com ele: os músculos se flexionavam em seus ombros e braços, o calor feroz em seus olhos, o rubor em sua pele.

— Necessito-te, James — ela ofegou.

Sem outra palavra, ele se agachou entre suas pernas então, sua boca estava sobre seus seios. Seus mamilos foram amamentados em um inferno, ela cravou seus calcanhares na manta, cravou seus dedos através de mechas grossas e frias de cabelo, satisfeita no momento com a oportunidade de tocar qualquer parte dele que pudesse alcançar.

Mãos fortes e capazes acariciaram suas coxas, amassando brandamente, dedos grossos e largos a roçaram, justo no centro, fazendo com que seu ventre saltasse, e seu coração pulsasse com força.

— Deixe ir, moça — respirou contra seu seio, o ar esfriando a ponta depois do calor de sua boca. Ele beijou seu ventre, com uma mão estendida sobre suas costelas enquanto a outra brincava entre as necessitadas e úmidas dobras em seu núcleo, e, de repente, sua boca também estava ali, beijando-a aí, amando-a com sua língua, esticando-a com um só dedo.

Ela gritou seu nome, seu dedo se deslizou mais profundo, sua língua se afiançou e encontrou uma joia de ouro de prazer, ela soluçou seu nome, seu dedo a esticou ainda mais, picando um pouco.

Ela se retorceu, arqueou-se e orou para que a tortura eterna do prazer continuasse para sempre e, entretanto, de algum jeito terminasse.

— Por favor — ela suplicou. — Sinto-me tão... tão apertada por dentro.

— É porque está.

— Necessito que faça algo, estou morrendo.

Seus ombros se levantaram, seu corpo se levantou de novo sobre o dela, suas mãos a levantaram e a trouxeram uma vez mais para que se sentasse escarranchada sobre ele.

— Agora, então deve me levar para dentro, moça.

Ela assentiu enfaticamente, abraçando seu pescoço com todas as suas forças, respirando seu aroma sempre verde, movendo seus quadris para que suas dobras se deslizassem firmemente contra a dureza que permanecia entre seus corpos.

— Nae, não dessa maneira, minha menina, se levante sobre seus joelhos.

Ela assentiu de novo, mas ele teve que dirigi-la com as mãos na cintura, posicionando-a de modo que seu núcleo flutuasse por cima de sua virilidade. Ele a levantou mais alto com um braço enquanto pegava sua outra mão.

Então ela o sentiu a ponta, estava sondando dentro de onde tinha estado seu dedo. Seus olhos se acenderam quando começou a dar-se conta do muito... Oh, senhor! Quão grande era ele.

Ela engoliu e estremeceu.

— I-isto é ao que se refere — grunhiu quando a picada anterior que havia sentido estava diminuída por uma dor aguda e ardente — Por tiro, acho.

Seu rosto estava rígido, seus olhos ferozes, os músculos ao longo de sua mandíbula tão apertados que ela temia que lhe quebrasse os dentes.

— Só tome... o quanto puder — grunhiu, ofegando as palavras.

— Quero tomá-lo inteiro. — Ela se inclinou mais perto para lhe beijar a mandíbula, sentindo o formigamento de seus bigodes contra seus lábios. — Cada pedacinho.

— Ah, Deus.

Com um puxão aparentemente involuntário de seus quadris, recebeu a metade de seu desejo repentinamente e com não pouca moléstia.

Seu longo e torturado gemido acompanhou o fechamento de seu agarre em seus quadris, apertou-lhe o pescoço com mais força, tentando respirar através da impactante invasão em seus peitos.

Seus lábios amavam seu queixo, seu coração o amava das plantas de seus pés gigantes até a última mecha de cabelo loiro escuro em sua cabeça, mas isto era realmente incômodo, suas coxas se flexionaram, querendo fechar-se contra o invasor.

Seu núcleo não parecia saber se tirá-lo ou colocá-lo mais profundo. Havia mais fundo? Ela não sabia. Colocando os lábios junto a sua orelha, ela sussurrou.

— Toma o que necessite, James.

Sua cabeça e seus braços tremeram.

— Não posso — ele grunhiu, a agonia em sua voz retorcendo seu coração.

— Sim, pode, estou bem, adiante, meu amor, está tudo bem.

O grunhido que o atravessou nesse momento foi sua recompensa, seus braços se envolveram completamente ao redor dela, suas mãos pressionando seu pescoço e as costas baixas. Então, seus quadris se elevaram para cima, e a plenitude dentro dela cresceu, logo se retirou, logo retornou, logo retrocedeu. Logo começou a golpear de novo dentro e fora e dentro e fora de novo.

Uma e outra vez, empurrou-se profundamente em seu centro, seus músculos tremiam enquanto controlava os movimentos de seu corpo, sua voz retumbava contra seus seios, soando em seu ouvido.

Embora seu prazer anterior não retornou, outros prazeres sim o fizeram, sua voz, seu aroma e seu toque, a sensação das pontas de seus dedos cavando impotente em sua carne, o calor e a aspereza de seu peito esfregando-se contra ela. A luz do êxtase transcendente em seus olhos, como o sol brilhando através de folhas verdes. Ela absorveu estes prazeres, guardando-os dentro de seus sentidos enquanto ele ficava rígido debaixo dela, empurrando uma última vez e gritando seu nome uma e outra vez.

Viola. Tinha-lhe dado isto e ele era dela. Acariciou seu rosto, passando a ponta do dedo pela fenda de seu queixo quadrado, as linhas firmes de seus lábios, a ponte de seu nariz.

Ele tomou seu rosto entre suas mãos e a beijou com ferocidade, ofegando contra sua boca, apoiando sua testa contra a dela.

— Meu Deus, moça. Está... bem?

Acariciou-lhe a bochecha com o dorso dos dedos e beijou seus lábios com ternura.

— Estou bem. — A tensão em seu rosto se obscureceu, voltando-se ensurdecedora.

— Não está.

Um calafrio percorreu sua coluna ante suas palavras, sua expressão, seus mamilos transbordaram de novo sem sua permissão, sua vagina se apertou ao redor dele, onde ainda estavam unidos.

Sustentando-a com força contra ele, balançou suas pernas sobre o lado da cama e ficou de pé, girou e a colocou com o maior cuidado na cama, então ele a beijou e se retirou.

Ele estremeceu ante seu chiado, como se a dor momentânea tivesse sido dele, mas não disse nada, em lugar de recolher suas pernas e reposicioná-la na cama, colocando o lençol e as mantas sobre seu corpo nu.

— Será só um momento, moça, não se mova deste lugar.

Ela assentiu, recostada contra os travesseiros enquanto observava seu traseiro nu na luz baixa e dourada do abajur, ela suspirou, realmente era um homem magnífico. Um pouco mais peludo do que tinha imaginado, especialmente no peito, mas isso tinha resultado ser bastante benéfico, em sua opinião. Estremeceu ao sentir a ardência residual, a dor ardente onde ele tinha penetrado.

Não importava, ela estava mais que contente, ele tinha gritado seu nome quatro vezes, “quatro”, cobriu o dorso dos dedos preguiçosamente com a boca, ocultando um sorriso de satisfação, lhe tinha dado um grande prazer.

Os sons de respingos da penteadeira cessaram e seu marido se aproximou dela com um pano na mão e um membro masculino nu, não totalmente quieto, movendo-se de forma bastante estranha de um ninho de pelo entre suas grandes coxas de carvalho. Ela piscou ante a estranha aparência disso com uma espécie de cabeça arredondada e queimada, o caule parecia avermelhado, mais escuro que sua outra carne, ao menos no momento. Seu entendimento era que a coisa alterava sua aparência em grande medida dependendo da condição particular do homem. Por exemplo, segundo Georgina, um homem que tinha estado submerso em água fria poderia ter uma aparência “encolhida” que, assegurou a Viola, não devia considerar-se como indicativo de virilidade ou tamanho em outras condições.

Realmente, Georgina tinha sido muito informativa e deveria lhe agradecer de novo quando retornassem a Grimsgate.

— Viola — disse com voz rouca, sentando-se ao seu lado na cama. — Deve me deixar cuidar de você, agora.

Ela estendeu a mão para passar seus dedos sobre sua coxa.

— Por que simplesmente não se deita comigo?

Ele retirou brandamente sua mão, em silêncio por um longo momento.

— Machuquei-te, não quis fazê-lo, mas isso é o que ocorreu.

— Tolo, as virgens sentem dor, não tem importância.

Sem outra palavra, ele retirou a manta e o lençol, expondo sua nudez aos seus olhos e sua mão.

— Sua dor sempre será da maior importância para mim — disse, sua voz áspera por uma emoção que ela não entendia, logo, com surpreendente ternura, usou o pano umedecido para acalmá-la e limpá-la, acariciando-a brandamente com movimentos sutis e circulares de seu polegar e dedos. Logo, uma vez mais, ela estava quente, doía-lhe o estômago, ficava sem fôlego e precisava mover-se contra ele, sua mão se aferrou ao seu pulso, seus quadris se retorceram contra o colchão enquanto o prazer girava em espiral e formava redemoinhos como em um arroio.

Ela gemeu e se arqueou, amando a implacável pressão de seus dedos, a pulsante doçura das sensações que tirava dela. Baixou a cabeça até seu seio, levando o mamilo à boca, então, ele se amamentou. Tão forte, tão docemente que o prazer se expandiu em uma explosão aguda e crescente. Ela ofegou, gemeu seu nome, a rajada voou para fora, girando e formando um arco dentro de suas veias, apanhando-se dentro de seu núcleo, ecoando em uma onda atrás de outra, onda atrás de onda de indescritível êxtase.

Quando as ondas se suavizaram e retrocederam, encontrou seu marido deitado ao seu lado, levantando as mantas sobre ambos, ela embalou sua cabeça na curva de seu pescoço, sentiu seus poderosos braços rodeando sua cintura e a atraiu com força por volta de seu corpo e ficou adormecida segurando o único homem que sempre tinha desejado, o único homem que tinha amado, tão perto como seu próprio coração.


CAPÍTULO 14

“Tome cuidado com as indulgências, Humphrey. A gente nunca sabe quando o que é atualmente prazeroso se estragará e causará um desastre perfeito. Só um sabe que o fará.”

A marquesa viúva de Wallingham ao seu companheiro, Humphrey, em resposta a sua preferência implícita por um bolo de rim depois de um bom passeio.

Ela não parecia ter sido dividida em duas, ao menos aos olhos de James de fato, jogou a cabeça para trás e riu das travessuras dos dois meninos de Nellie, Patrick e John, enquanto se perseguiam pelo jardim dianteiro de sua mãe.

— Cuidado com as flores! — Chamou Nellie, inclinando-se para murmurar algo a Viola, quem riu entredentes e assentiu.

— Ela é encantadora, Jamie — disse mamãe, e se colocou ao seu lado, onde tinha um ombro apoiado contra o exterior de pedra do chalé. Tomou um sorvo de seu chá favorito da manhã, um dos primeiros luxos que tinha começado a comprar fazia dezesseis anos, e sorriu aos seus netos. — Ela o ama.

Ele escolheu não responder. Viola se acreditou apaixonada por ele. Um dia, logo, sem dúvida, ela voltaria para seus sentidos.

Era certo que tinha presumido erroneamente que ela reconsideraria uma vez que visse de onde vinha, uma vez que soubesse o quanto estava abaixo dela.

Então, pensou que perderia esse brilho em seus olhos quando lhe fizesse amor, demonstrando ainda mais quão absurdas eram as disparidades entre eles, como seu corpo grande e áspero não deveria estar perto de sua delicada perfeição.

Ela tinha demonstrado ser mais resistente ou mais obstinada do que ele tinha previsto, já que seu sorriso era tão impressionante como sempre. Inclusive tinha deixado que a trouxesse para que a liberasse de novo essa mesma manhã com sua boca embora tivesse sido uma tortura não haver se liberado, ele tinha considerado que era justo castigo depois da dor que lhe tinha causado na noite anterior.

Esta manhã, entretanto, estava radiante, seu cabelo negro brilhava sob um sol amarelo brilhante, sua peliça prateada fazia com que sua pele parecesse ainda mais cremosa e mais ruborizada do que o habitual ou talvez a tivesse irritado com seus bigodes, pensou, franzindo o cenho olhou de perto, deixando que seu olhar vagasse sobre seu rosto e pescoço. Não, ela simplesmente tinha um pouco de floração em suas bochechas, decidiu que talvez devesse despertá-la da mesma maneira todas as manhãs, com a cabeça entre suas deliciosas coxas brancas, poderia ser benéfico para ambos.

— Não sei se alguma vez vi outra garota tão bela — disse sua mãe.

— Não o fez — respondeu. — Não há ninguém mais formoso que Viola.

Sentiu que sua mãe afastava uma mecha de seu cabelo da têmpora, como tinha feito quando era um menino. Voltou-se para vê-la olhando-o com uma expressão peculiar.

Apertou-lhe o ombro e piscou o olhar antes que ele pudesse decifrá-lo. Ele se inclinou para beijar sua bochecha, e levantou a mão para lhe dar um tapinha.

Ela sorriu.

— Faz muito tempo, pensei que os meninos não o reconheceriam.

— Sim. — Olhou aos meninos, que tinham brotado como a cevada em maio. — Quatro anos desde que os trouxe para Shankwood para uma visita.

Ela agitou uma mão com desdém.

— Pergunte ao velho McFadden, e estará seguro de que poderia dizer que talvez sejam quatro minutos.

Rio entredentes.

— Como esta McFadden? Finalmente seu neto convenceu-o de que se mantenha afastado da oficina?

— Hmmm, não é provável, deveria havê-lo feito faz anos, mas cada vez que supomos que o tem feito, morre outro ancião. — Ela negou com a cabeça. — Está convencido de que suas lápides são as melhores.

Baixou o olhar e assentiu.

Nellie falou, aparentemente tendo escutado sua conversação.

— A última foi a velha senhora Franklin e, antes disso, Douglas Campbell, que Deus descanse sua alma.

Um golpe percorreu seu corpo, como um raio que golpeasse a parte superior de seu cabelo e o chamuscasse até as botas.

— Douglas Campbell está morto?

Sua mãe tentou comportar-se como se não tivesse ocorrido nada estranho, tranquilamente sorveu seu chá antes de responder.

— Sim, doente, faz dois anos.

— Por que não me disse isso, mamãe?

Uma vez mais ela o olhou com aquela expressão desconcertante e indefinível, parecia uma mescla de tristeza e amor, afeto e resignação, e, possivelmente, outros três ou quatro elementos que não podia decifrar.

— Sabe muito bem porquê, Jamie.

Apertou a mandíbula e encontrou seus olhos seguindo o movimento da mão de Viola enquanto ela fazia um gesto e ria.

— Deveria me haver dito — grunhiu. — Ela ainda está na granja?

— Aye.

— Ela...

— Nae. Ela não está casada outra vez.

Allison era uma viúva. O dia depois de haver se casado com Viola inteirava-se que Alison era viúva e o tinha sido durante dois anos. Não sabia por que a revelação deveria importar, por que deveria sentir que o próprio Gentleman Jackson tinha recebido um golpe no umbigo.

Mas se manteve afastado tanto tempo para evitar vê-la ou falar com ela recordando o que tinha perdido.

Uma vez mais, Viola entrou em sua visão, seus traços se animaram quando descreveu algo ao seu sobrinho mais jovem, John. De repente, James sentiu como se seu peito estivesse sendo esmagado.

— Devo ir, mamãe. Devo falar com ela.

Sua mãe parecia que poderia discutir, mas em troca, simplesmente assentiu, com um sorriso triste nos lábios.

— Faça o que creia correto, filho.

Sem outra palavra, saiu do jardim de sua mãe, afastando os olhos do pequeno cenho franzido de confusão de sua esposa, e caminhou pelas ruas enlameadas de Netherdunnie para ver Alison. Como se não tivessem passado quinze anos desde a última vez que percorreu o mesmo caminho.

***

— Aonde vai? — Viola perguntou a Nellie enquanto observavam como as amplas costas de James desaparecia pelo caminho enlameado para o caminho mais enlameado.

Nellie franziu o cenho.

— Não sei. Mam, para onde se dirige Jamie?

A mãe de James se aproximou, detendo-se brevemente para beijar a cabeça do filho menor de Nellie.

— Recorda ter mencionado o pequeno problema do Douglas Campbell? — Perguntou à sua filha.

Os olhos de Nellie se alargaram, sua mão cobriu sua boca.

— Sim — disse mamãe, como se isso respondesse bastante bem à pergunta de Viola.

— Rogo-te que me desculpe, mamãe, mas receio que não entendo — disse Viola. — O Sr. Campbell foi um amigo de James?

Mamãe tomou sua mão e a levou a casa, convidando-a a sentar-se no encantador sofá de veludo verde no salão, logo se sentou ao seu lado, colocando sua xícara de chá sobre uma mesa pequena.

— Agora, não quero que se preocupe, moça, Jamie não visitou Netherdunnie em muitos anos, surpreendeu-se ao escutar a morte de um homem que conhecia desde menino.

Viola franziu o cenho enquanto olhava aos olhos muito parecidos com os de James, solenes, profundos e ricos que revelaram preocupação, piscando entre as sombras de algum conhecimento oculto. Esticando-se contra um vago calafrio, Viola pressionou a sua sogra.

— Aonde ele foi, mamãe?

Aqueles olhos caíram, virou para olhar pela janela. Obviamente, sua mãe não queria lhe dizer o que estava acontecendo o que enviou uma onda de apreensão através dela, contendo a respiração.

Olhou à Nellie, que estava na porta aberta mordendo o lábio.

— Nellie? Por favor, me diga. — Inclusive Nellie, a impetuosa e franca Nellie, duvidou por um longo momento antes de responder. — Retornará rapidamente, não se preocupe.

Todo o calor e a segurança que havia sentido antes, o brilho ressonante que tinha experimentado ao despertar com James, vestir-se com James, rir com James sobre a quantidade de forquilhas que eram necessárias para segurar seu cabelo, estar junto a James no jardim de sua mãe enquanto sua grande mão apoiava a parte baixa de suas costas. Tudo se escorreu, substituído por um vento frio e seco.

Havia poucas razões pelas quais sua família não quereria que ela soubesse aonde tinha ido, e nenhuma delas lhe pareceu boa, ela engoliu em seco e inclinou o queixo.

— Por favor, Nellie — disse ela. — Eu gostaria de saber para onde foi meu marido.

Nellie estalou a língua e suspirou.

— Está a ponto de ir à granja do Campbell para ver a viúva do Douglas Campbell.

— Viúva? — Sua voz soava fina para seus ouvidos.

— Sim.

Mamãe olhou à sua filha.

— Não pode se calar, não é?

Nellie cruzou os braços sobre o peito em uma postura muito familiar.

— Ela é sua esposa, ela merece saber a verdade.

Viola não estava segura de querer saber a verdade atualmente, de fato, ela estava experimentando uma grande quantidade de temor.

— Bem, agora — disse mamãe com aspereza. — Então diga-o, se for prudente.

Os traços lisos de Nellie se suavizaram em um olhar de simpatia.

— Meu irmão é um homem honorável, Viola. Sabe isso, não é?

Viola engoliu em seco com força outra vez, amaldiçoando o vulto esmagado que se formou em sua garganta.

— Sim. É o melhor dos homens. — Saiu como um sussurro.

— Sim, isso, não quero que se arrependa ou que se sinta envergonhada, ou qualquer outra coisa dessa natureza. — Oh, Deus. As coisas pioravam cada segundo. — De todos os modos, ele e a Sra. Campbell, antes que ela fosse a Sra. Campbell, estiveram ligados.

— Tinham a intenção de casar-se — esclareceu mamãe, ainda franzindo o cenho a Nellie. — Isso foi antes de que ganhasse seu título — Nellie assentiu. — Tinha um grande plano para encarregar-se da oficina do McFadden, casar-se com Allison e viver em Netherdunnie pelo resto de seus dias. Os planos mudaram uma vez que o título lhe chegou e passou um tempo na Inglaterra, atendendo seus assuntos importantes. Quando retornou, Alison tinha se casado com o Douglas Campbell.

Viola levou as mãos aos olhos e se perguntou se poderia asfixiar-se enquanto estava sentada sobre veludo verde em um salão de campo.

— Allison — ela murmurou. — Esse é seu nome?

— Sim, uma leiteira, o pai dela trabalhou na vacaria...

— Não importa — disse mamãe bruscamente antes de continuar em um tom mais suave. — Os dois eram jovens, Viola. Não era nada a não ser fantasia de jovens, amor de crianças, entende?

Viola assentiu, de fato, ela entendia. Allison tinha sido o primeiro amor de James, talvez a amasse ainda.

— Quanto, quanto tempo se manteve afastado, mamãe?

Nellie respondeu firmemente.

— Quinze anos, visitamos a Inglaterra uma ou duas vezes, é óbvio, ele está muito mais ocupado, é um lorde inglês.

Centrando-se em conter o frio expandindo-se como cristais gelados através de seu corpo, Viola escovou cuidadosamente as dobras de sua peliça.

— Eu gostaria de falar com meu marido — disse em voz baixa.

— Sim, é claro, assim que retornar...

— Não, quero dizer que eu gostaria de saber onde está a granja Campbell, eu gostaria de encontrar meu marido e falar com ele. Agora.

Tanto mamãe como Nellie a olharam fixamente.

— Com sua permissão.

Mamãe respirou fundo e compartilhou um olhar significativo com Nellie.

— Nellie te levará. — As sobrancelhas de Nellie dispararam.

— Eu devo?

— Sim e seja rápida nisso, Jamie disse que logo iriam à Inglaterra, para chegarem ao castelo antes que escurecesse.

A contragosto, mas com sua habitual astúcia, Nellie conduziu Viola pelos becos da pequena aldeia, fazendo um intento transparente de demorá-la e distrai-la compartilhando lembranças sobre esta loja e essa casa de campo, esta vizinha desalinhada e esse imbecil maluco.

Assinalou a oficina onde “Auld McFadden” treinou Jamie em marmoaria. Como muitas construções em Netherdunnie, era um edifício humilde e retangular, feito de pedra de cor marrom clara. Este estava escondido atrás de uma padaria, justo ao lado do caminho para o amplo e aberto verde no extremo sul da aldeia.

— Poderíamos entrar, se quiser — ofereceu Nellie amavelmente.

— Não. Obrigada, talvez em outro momento.

Nellie suspirou, abandonando seu falatório alegre.

— Você se casou com ele, Viola, não ela, esqueça — assentiu, embora seu coração se afundasse mais no gelo com cada palavra. Nellie não entendia.

James só se casou com Viola porque era um homem honrado, e não lhe tinha deixado outra opção, ela não era a esposa que ele tinha desejado. Ela era a esposa que tinha sido forçado a aceitar.

— Bem, digo-te isto, nunca a acreditei digna dele.

Viola olhou à outra mulher, cujo cabelo loiro escuro recordava James, quem aceitou e deu as boas-vindas a sua nova cunhada com uma alegria aberta e sem um pingo de reserva.

— Por quê? — Perguntou Viola, inclusive enquanto se perguntava se a resposta resultaria ser um falso consolo. Nellie lhe deu um sorriso irônico.

— Ela o olhava da mesma maneira que o fazia com outros meninos. Não havia nenhum detalhe profundo sobre isto, só... luxúria ordinária.

Piscando ante a linguagem franca, Viola se esforçou por responder, mas sua curiosidade despertou, por isso seguiu adiante.

— E disse a ele?

— Sim, isso fiz. Jamie era diferente ao gênero comum, podia vê-lo desde quando era pequeno. Começou a trabalhar quando nosso pai morreu, não disse nenhuma palavra a respeito. Simplesmente foi ver o McFadden e disse: “Aqui estou”. — Ela riu entredentes. — Não tinha bigodes ainda, nem nenhuma outra coisa. Mas um sentido de dever e honra tão sólidos como a terra. É um homem bom, Viola e forte. — Ela acariciou sua mão sobre seu coração. — Aqui dentro.

Viola assentiu e lutou contra uma emoção de asfixia que não podia permitir-se liberar.

— É extraordinário.

— E essa é a diferença, você o vê como se fosse a lua, as estrelas e todas as doces palavras que Rabbie Burns tenha escrito. Ama-o, qualquer um pode vê-lo, tão simples como os nódulos do McFadden.

Caminharam um momento em silêncio, o som do vento empurrando as nuvens persistentes de volta ao mar, a chuva recente e o barro fresco e a erva apagada que cheiravam o ar verde, marrom e branco. Mas ela não podia ver o encanto de Netherdunnie como o tinha feito ontem, só podia sentir o temor cada vez maior que tinha começado desde o momento em que viu James passar pela porta principal de sua mãe sem uma palavra, nem sequer um olhar para ela, sua esposa.

Viola tentou tranquilizar-se, de que não a trairia, de que não havia nada do que preocupar-se, inclusive mamãe tinha insinuado que o amor de James por Allison era mais o produto da juventude do que sincera devoção. Mas ela não podia deixar de pensar que ele tinha querido casar-se com Allison, planejado casar-se com Allison e tinha tentado poderosamente evitar casar-se com Viola.

— É um pouco mais acima — disse Nellie, assinalando para onde o caminho coroava um cilindro na terra, dividindo um muro de pedra. — Recuperaremos o meu tolo irmão e verá que não há nada de que preocupar-se.

Em questão de minutos estavam percorrendo o caminho para a granja de pedra larga e estreita, a porta principal estava pintada de branco e flanqueada por bonitas flores vermelhas.

Nellie bateu na porta, elas esperaram. O coração de Viola pulsava com fúria, perguntando-se como se veria esta mulher, perguntando-se o que diria James quando visse que Viola o tinha seguido.

Nellie voltou a chamar, e de novo não houve resposta, ela encolheu os ombros.

— Parece que não tem ninguém aí...

A porta se abriu, uma velha enrugada vestida com um sujo capuz, olhava-os com olhos leitosos.

— Acaso é Nellie Abernathy?

— Sim, senhora Campbell. Como vai você?

— As tormentas causam muitos danos, além disso, não posso me queixar.

Viola rogou que esta mulher gasta com o incompreensível discurso fosse o amor da infância de James e que tivesse dado uma olhada à cara velha e enrugada, um vestido disforme e deslocado na direção oposta. Por desgraça, estava razoavelmente segura de que isso não podia ser certo, simplesmente seria muito fortuito.

Depois de um desconcertante intercâmbio de cortesia escocesa, Nellie perguntou se a mulher tinha visto o James.

— Oh, sim, ele está fora de combate.

Viola franziu o cenho, completamente frustrada ao dar-se conta de que não tinha ideia do que a mulher havia dito, ao que parecia, mamãe e Nellie suavizaram sua língua para seu benefício.

Entretanto, Nellie não teve problemas e assentiu, agradecendo à Sra. Campbell antes de voltar-se para Viola.

— Está em uma colina, justo ao outro lado da garra, é um lugar especial para o clã Campbell. — Deu a volta e abriu o caminho por um atalho que rodeava a granja, junto a uma fileira de macieiras e através de um trecho de pomar.

O vento se levantou, golpeando Viola e colando as saias às pernas quando começaram a subir, ela baixou a cabeça e se dirigiu pelo caminho atrás de Nellie, tratando de decidir o que diria quando finalmente o visse, perguntando-se se lhe diria que ela se preocupou por nada.

Perguntando-se se a proximidade que tinha sentido na noite de bodas tinha sido real ou se simplesmente o amava muito para ver a verdade.

Levantou os olhos quando viu as botas enlameadas e a saia de Nellie, deteve-se e se balançou a vários metros de distância, inclinando sua cabeça para que pudesse ver mais à frente da aba de seu chapéu, Viola seguiu o olhar de Nellie.

No topo da colina, debaixo de um grupo de velhos salgueiros, estava James, com a cabeça inclinada e o braço apoiado contra o tronco da árvore e uma mulher estava de pé junto a ele, alta e magra com cabelo castanho brilhante, com um vestido cinza escuro.

O vento soprava através da peliça de Viola, mas ela não o sentiu, não podia sentir nada, sua carne se intumesceu.

Ao longe, escutou Nellie dizer algo, seu nome, provavelmente, mas só podia escutar o tamborilar do sangue em seus ouvidos, o eco de cada vez que havia dito que não a desejava.

Porque até este momento não lhe tinha acreditado, até este momento, quando viu outra mulher, a mulher que ele amava, elevando a cabeça e baixando a cabeça para beijá-la.

Agora, Viola sabia, ele nunca a tinha enganado, não, ela se tinha feito isso por completo.

— ...Viola, querida. Não pode ser...

Ela sacudiu sua cabeça, voltou-se e vacilou de joelhos.

Agora, ela estava coberta de barro na seda prateada e bordado branco.

Tentou ficar de pé, mas suas botas deslizaram no chão escorregadio, as mãos a levantaram, os braços lhe rodearam os ombros.

— ...casa, moça, golpearei esse tolo onde não lhe dá o sol...

Se ainda tivesse uma voz, Viola haveria dito a Nellie que James não merecia sua ira. Viola havia trazido isto sobre si mesma com grande persistência e vontade indomável, ela tinha fustigado James Kilbrenner, um homem que não tinha querido ser apanhado. Ela o tinha apanhado no matrimônio, perseguiu-o diretamente a um precipício.

E se agora jazia no fundo de uma ravina, agitando-se e ofegando entre as ruínas destroçadas de seu próprio coração, só podia culpar a si mesma.


CAPÍTULO 15

“Erro! Derramar chá sobre as sapatilhas de uma dama é um erro. Pôr as cortinas ao fogo é um erro. Dally no estábulo com não um, mas dois lacaios não é um erro. Isto é um escândalo.”

A Marquesa viúva de Wallingham a Lady Gattingford sobre a abrupta demissão da donzela de outra dama por um ato muito escandaloso de mencionar.

James se sentiu tão vazio que se surpreendeu de que o vento não assobiasse entre seus ossos, tinha passado uma hora na companhia de Allison, ela tinha mudado um pouco, sua dor havia a tornado mais tranquila, mais solene, mas tinha notado que sua risada seguia sendo a mesma, seu humor quente e cômodo, sua voz só um pouco mais profunda do que era quando era uma moça, via-se bem, sua pele sem rugas, seu cabelo ainda brilhante e suave e não havia sentido nada. Não era uma pontada de saudade ou arrependimento, não era um puxão de atração ou um só fio de calor. Na verdade, tinha lutado para recordar o que tanto lhe tinha encantado aos seus dezesseis anos.

Allison era uma mulher de bom caráter, ela sorria frequentemente e possuía uma simplicidade terrestre que tinha certo atrativo, supôs.

Mas ela não levava um céu cheio de estrelas em seus olhos, ela não o prendeu só por respirar seu nome, de fato, ela era muito alta, muito angular, muito simples, não desejava ser pouco caridoso, mas aí estava.

Entretanto, ela tinha tido a amabilidade de lhe permitir ver a tumba de seu filho e ela se pôs de pé com ele, a chorar com ele, disse-lhe que não era o culpado, que muitas crianças tinham morrido da mesma febre e que não havia nada que pudesse ter feito. Não esteve de acordo, mas não tinha discutido o ponto mais tarde, ela inclusive tentou beijá-lo e lhe oferecer “consolo”, mas depois de um momento de surpresa por sua audácia, afastou-a e a informou que procuraria consolo com sua esposa, ela o olhou com tristeza, assentiu e lhe desejou o melhor.

Agora, ele só queria ver Viola, beijar Viola, sentir as mãos de Viola sobre ele e escutá-la dizer seu nome.

Quando abriu a porta da casa de sua mãe, a porta pintada de azul se abriu e Nellie estava de pé em seu oco, com os braços cruzados, a cara mais tensa do que nunca tinha visto, ele congelou.

— O que é? Mam? Ela...?

— James Kilbrenner, é um imbecil! Um homem tolo e denso, e merece tudo o que se aproxima. — Sua irmã logo caiu junto a ele, golpeando seu ombro com punhos e gritando. — Acerta o que arruinou! — Enquanto fechava de repente a porta atrás dela.

Esfregando o braço e cambaleando ante a natureza da força de Hércules das mulheres, entrou na casa. Mamãe estava sentada em seu salão, tecendo. Tirou o chapéu e o pôs em uma mesa pequena ao lado da porta, logo olhou ao redor da habitação. Tudo estava em silêncio, exceto pelo leve estalo das agulhas de sua mãe.

— Mamãe, e Viola...

— Ela está na estalagem.

Ele se estremeceu ante a frieza do tom de mamãe, ainda não tinha levantado a vista de sua malha.

— O que aconteceu, por que ela iria...?

— Ela tem a intenção de alugar uma carruagem, disse-lhe que a estalagem pode ter uma ou duas.

Passando uma mão por seu cabelo, olhou à mulher que o tinha dado à luz se perguntando se alguma substância estranha se deslizou em seu chá.

— Por que demônios lhe diria isso? E por que quereria contratar uma carruagem quando temos uma carruagem perfeitamente funcional esperando para nos levar à Inglaterra?

Mamãe fungou.

— Porque ela perguntou, à sua segunda pergunta, assumo que ela não quer passar um dia dentro de uma carruagem contigo, filho.

Moveu-se para sentar-se ao seu lado, e quando ela não levantou a vista nem deixou de tecer, pôs uma mão sobre seu pulso.

— Mamãe, me diga o que está acontecendo, fui por uma hora, volto e minha esposa decidiu que não pode suportar estar em minha presença.

Finalmente mamãe voltou seus olhos para ele, estavam cheios da dor de uma mãe, da decepção de uma mãe.

— Onde esteve durante essa hora, Jamie?

Seu coração pulsava com força, retorcido.

— Fui ver Allison Campbell, você sabe.

— E o que pensa que sua esposa pensou quando a deixou aqui só, sem uma explicação?

Ele franziu o cenho.

— O disse então, a respeito de Allison.

— Sim, porque ela merecia sabê-lo — passou uma mão pela mandíbula, agora, entendia por que Nellie se zangou, aparentemente Viola tinha reagido exageradamente ao descobrir que tinha ido ver uma mulher que uma vez tinha amado.

Nellie nunca tinha gostado de Allison, e adorava Viola, sua irmã era ferozmente leal e um pouco volátil, provavelmente ela tinha pintado um quadro bastante feio para sua esposa.

— Explicarei o assunto a Viola quando a vir. Não tem que preocupar-se, isto é simplesmente um mal-entendido.

Os olhos de mamãe se voltaram tormentosos.

— Foi um mal-entendido o que te fez beijar a leiteira em frente a sua esposa, não é? — Bom Deus. Sentiu que o sangue se afastava de sua pele. Ela o tinha visto? Viola tinha visto Allison beijá-lo? — Honestamente Jamie, pensei melhor de você. Allison Campbell é bastante agradável, suponho, mas sua esposa é bela como um amanhecer, graciosa e bondosa, ela também poderia encantar os peixes do mar. O que estava pensando?

— Devo ir, mamãe, devo encontrá-la.

— De fato deve, pode ser que deseje lhe pedir perdão, como a nós.

Ficou de pé e se dirigiu à porta, tampando a cabeça com o chapéu.

— Filho?

— Sim, mamãe.

Seus olhos nadaram.

— Não se renda, o matrimônio nem sempre é fácil, mas o amor é digno de batalha.

Saiu do chalé saltando a um ritmo indecoroso ao passar, gritou ao cocheiro que esperava no pequeno estábulo, para preparar a carruagem e encontrar-se com ele na estalagem. Os largos passos o levaram rapidamente pelo caminho para o extremo sul da aldeia, quando entrou no escuro interior da estalagem seu coração pulsava com força.

Precisava vê-la, precisava explicar tudo, se sairia bem se ela só o escutasse.

— Não aceitamos chapéus para o pagamento, senhora, não importa quão bonitos sejam.

Reconheceu a voz do hospedeiro, um homem terminante que ofegava com um estranho e oxidado chiado ao final de cada frase, ao entrar na sala comum da estalagem, viu-a. Viola. Podia respirar de novo.

Estava de costas a ele, e sua peliça prateada era particularmente brilhante no lúgubre espaço, ela estava colocando seu chapéu no peito do homem gordo.

O chapéu azul com as pequenas plumas brancas, seu favorito, se ele não se equivocava.

— Vale o dobro do que cobraria por um post-chaise — disse. — Tudo o que peço é que você...

James lhe tirou o chapéu dos dedos e falou com o terminante e sibilante homem que parecia estar perdendo a paciência.

— Obrigado, senhor Ferguson, não teremos necessidade de uma carruagem, depois de tudo.

O homem se endireitou o colete e assentiu.

— Bem, bem, milorde.

Viola tinha estranhado no momento em que James tinha falado brandamente, puxou-a pelo braço e a conduziu para fora da sala comum, através da entrada, e ao pátio da estalagem.

Quando a girou para enfrentá-lo, viu que o lodo tinha manchado seu vestido, sua pele era fantasmal.

Ela se negou a olhá-lo aos olhos, suspirou, sentindo que suas tripas se apertavam e ardiam.

— Viola... O que faz moça? Hmm... Temos uma carruagem. — Agitou o chapéu em sua linha de visão. — Não deveria estar intercambiando isto, deveria levá-lo.

Ela pegou o chapéu de suas mãos, passando seus dedos pela aba, mas não respondeu.

— O que viu... não foi... empurrei longe, Viola, foi ela me beijando, não o inverso. — Ela estremeceu como se ele tivesse pisado em seus pequenos pés. — Diga algo, moça.

Por um tempo pensou que ela nunca poderia voltar a lhe falar, nunca o olharia de novo, então ela o fez e ele queria uivar.

Com tons apagados e uma compostura admirável, ela disse.

— Se não pagar amavelmente por uma carruagem, voltarei para Northumberland por minha conta. Uma vez ali, viajarei a Cheshire com meu pai, e ele e eu encontraremos a maneira de te liberar deste matrimônio, uma anulação pode não ser possível, um divórcio causará um escândalo por um tempo, mas indubitavelmente sobreviverei.

Todos os pensamentos de explicação e desculpas fugiram dele como fumaça, não podia tolerar isto... esta farsa. A luz, aquela encantadora luz das estrelas de Viola tinha desaparecido de seus olhos, ela falou de divórcio como se fosse possível, inclusive razoável. No fundo, onde armazenava o escuro prazer de uni-la a ele para sempre, ele pegou fogo.

Ela não viajaria a Cheshire. Ela não se submeteria a tal escândalo e ela, malditamente, não o deixaria. Ele nunca a deixaria escapar tão facilmente.

Ao ver a carruagem aproximar-se pela extremidade do olho, dirigiu-se para ela e inclinou sua cabeça mais perto da dela, ela ficou rígida e segurou seu chapéu com força.

— Isto é o que acontecerá em seu lugar, moça. — Manteve sua voz baixa, mas inclusive ele podia escutar o detestável rumor de fúria que corria debaixo dele. — Subirá a esta carruagem comigo, e juntos retornaremos a Grimsgate. Logo, reuniremos nossas posses, sua criada e meu ajudante de câmara, e iremos a Derbyshire, onde viverá como minha esposa e condessa de Shankwood Hall. — Ele se aproximou mais, com a boca perto da orelha. — Não se falará mais de anulação ou divórcio, nem sequer de uma pequena separação. — Notou com satisfação que sua respiração se acelerou, bom, talvez ela estivesse sentindo o malditamente furioso que ele estava. — Queria este matrimônio, Viola, você me queria e agora que me apanhou simplesmente não pode soltar a armadilha que estendeu, está tão apanhada quanto eu, será melhor que se resigne a isso, já que não tenho a intenção de deixá-la ir.

A carruagem esperou. Atrás dela, esperou que protestasse ou expressasse sua indignação, ela não fez nem um nem o outro, em seu lugar se virou, assentiu com a cabeça ao lacaio que segurava a porta para ela, e se meteu dentro com calma real.

Ao olhá-la sua fúria deveria ter diminuído, ela tinha se sujeitado aos seus desejos, sua respiração deveria estar acalmando-se, ele devia estar tranquilo, mas não estava.

O ácido se agitava em suas vísceras e em suas veias, queria tocá-la, levar sua mão a sua bochecha e obrigá-la a olhá-lo com algo mais que uma dor surda. Ele tinha antecipado que ela lamentaria forçar este matrimônio a ambos, que se daria conta de quão mal estavam. Mas tinha esperado que ela resistisse ao descobrir suas origens humildes ou a realidade de não estar com um homem à sua altura. Não assim, golpeada, como se tivesse quebrado a luz dentro dela. O remorso, frio e amargo, converteu sua fúria em cinza, uma brisa áspera lhe açoitou, levando com ela o aroma da luz do sol esquentando o úmido barro escocês.

Ela vai voltar, tranquilizou-se, sentindo que o desespero lhe apertava as costelas e os pulmões, ela está sobrecarregada ao dar-se conta das consequências de sua busca, ela se adaptará a uma melhor compreensão quando chegar a Shankwood, ela é uma condessa nata.

Sim, isso faria, ela veria que era sua esposa, que pertencia a ele e ele a ela, certamente ela recuperaria seu bom sentido, e este lixo sobre o divórcio não seria mais que uma lembrança.

— Meu senhor? — Disse o lacaio, assinalando para o interior da carruagem.

Relaxando conscientemente seus punhos e sua mandíbula, James assentiu e se tirou o chapéu antes de meter-se dentro para sentar-se junto a sua esposa. Estava metida no canto oposto, com o chapéu junto a ela no assento, os braços cruzados no centro e o rosto longe dele.

A carruagem se balançou enquanto se acomodava no assento, a porta se fechou com um clique.

— Viola — se aventurou, com a voz quebrada. — Sinto muito, moça.

Seus olhos se fecharam, seus lábios se apertaram, uma pequena ruga de dor formando-se entre suas escuras sobrancelhas, ela engoliu em seco.

— Sou eu quem sente muito, James. — Sua voz era um fio triste e seco. A carruagem entrou em movimento, balançando a ambos.

— Não me olha? — Insistiu, sem lhe importar que soasse como uma súplica de misericórdia.

Seu suspiro se converteu em um pequeno estremecimento.

— Receio que me dói a cabeça, eu gostaria de dormir um momento.

Não querendo lhe causar outro momento de dor, ele se rendeu, guardando silêncio e depois de um tempo sua cabeça de fato caiu contra a parede adornada, seus seios doces subindo e descendo com um ritmo uniforme. Ela dormiu em sua parada em Coldstream, onde ele comprou um pouco de pão, presunto e um pouco de cerveja, empacotando em uma pequena cesta para sua esposa, em caso de que tivesse fome mais tarde, quando retornou à carruagem ela ainda estava adormecida, com o pescoço torcido de tal maneira que antecipou que encontraria mais dor ao despertar.

Colocando sua cesta no assento oposto, ele lentamente agachou-se junto à forma adormecida de sua esposa, o barro sobre seu adorável vestido de seda se secou em uma mancha poeirenta. Ela deve ter caído, pensou, doía-lhe o peito por alguma razão. Esfregou distraidamente o lugar onde o botão superior de seu colete se encontrava com sua gravata.

Precisava abraçá-la, decidiu, esse pensamento aliviou um pouco a dor em seu peito.

Tomando o maior cuidado para não a incomodar, ele deslizou seus braços debaixo de seus joelhos e atrás de suas costas. Logo, com um movimento suave, sentou-se no assento, colocando seu pequeno e precioso peso sobre seu regaço.

Ela suspirou docemente, sua cabeça descansando no oco entre seu pescoço e seu ombro, e seu traseiro pousou sobre suas coxas, ele a embalou contra ele, deixando que suas mãos lhe acariciassem as costas, os ombros e os braços deixando que seus dedos percorressem a pele ao longo de sua mandíbula, abatessem-se sobre seus lábios de pétalas de rosa. Ela respirou contra ele, umedecendo e lhe esquentando o dedo. Sua mão se levantou para meter-se sobre o lugar onde havia sentido aquele peculiar nó de dor. Antes seu toque o desenredou, suas respirações doces e suaves e o movimento do veículo acalmaram seus sentidos, acalmaram-no até que ele também adormeceu. Aconchegando-a mais perto, envolveu a sua pequena esposa em seus braços e ficou adormecido com a música do vento, as rodas girando e seu próprio coração estabilizando seu pânico por fim.


CAPÍTULO 17

“Por favor, me dê de presente outra vez seu implacável falatório. Desfruto tanto despertando com o som de uma tolice acompanhada pelo distintivo aroma da iminente demissão”.

A marquesa viúva de Wallingham à criada recentemente adquirida, a sétima em outros tantos meses.

— Esta mancha sairá em seguida, não se preocupe, minha senhora. — A alegre e simpática garota que segurava a peliça prateada de Viola não podia ter mais de vinte anos, o que a convertia na metade da idade da seguinte criada mais jovem em Shankwood Hall. — Só um pouco de barro, tive um contratempo similar com o melhor avental da minha mãe esta última primavera. — Ela pôs os olhos em branco e riu entredentes. — Oh, ela estava devidamente zangada, estava, mas lhe disse a verdade: a lavagem de barro se limpa, é claro, precisa de paciência e alvejante.

Viola deu à menina um leve sorriso e continuou desempacotando suas posses do baú que jazia aberto no piso de seu novo armário enquanto colocava a escova, os pentes e uma pequena caixa de passadores de cabelo esmaltados sobre a penteadeira de mogno, notou um pedaço de tecido branco no canto próximo do baú. Tinha sido metido debaixo da caixa de alfinetes, inclinou-se e tomou-o entre seus dedos, passando seu polegar sobre bordados púrpuras e verdes.

— Oh, minha senhora, deveria me deixar desempacotar, deve estar cansada de sua viagem. Todo o caminho desde Northumberland!, que excursão. Três dias, não é assim?

— Dois e meio, tínhamos excelentes cavalos e um clima agradável. — A viagem tinha sido um tortura, duas vezes ela e James tinham compartilhado uma cama, embora tudo o que tinham feito era dormir despertando com seus braços ao redor dela, sentindo seu calor e sua dureza contra ela, seu fôlego em sua bochecha, ela tinha querido chorar com desejo mas então, essa sensação não era precisamente nova, parecia que sempre malditamente estaria por querê-lo e lhe negaria o prazer de tê-lo como próprio.

— Tem os vestidos mais formosos, minha senhora, oh!, que esplêndido, olhe as lantejoulas como pequenas gotas de orvalho.

Viola levantou a vista do feio lenço que tinha na mão e viu a menina, Amy, se recordava corretamente, segurando o vestido de baile que Viola tinha usado para o baile a fantasia. E para suas bodas, pensar que só uns poucos dias tinham passado após, se sentia como um século. Depois que ela e James partiram da Escócia seu mundo se converteu em uma bruma cinza de agitação e primeiro desejo, ela tinha despertado em seus braços, de fato, aconchegada em seu regaço, quando a carruagem tinha passado pela porta de entrada de Grimsgate a tinha abraçado com tanta ternura, ela levantou a boca para a dele, precisando sentir seus lábios sobre os dela. Então, ela tinha recordado, não merecia beijá-lo, ela era a mulher que o tinha apanhado no matrimônio, negava-lhe a felicidade com seu verdadeiro amor, Allison, agora viúva e terrivelmente alta.

Então, em lugar disso, manteve-se imóvel e esperou que o lacaio abrisse a porta, e que James soltasse seu agarre, antes de sair da carruagem.

A partir de então tinha ido procurar seu pai, que a tinha abraçado três vezes, e lhe sorriu encantado ao ver o anel de sua mãe em seu dedo.

— Por que está tão pálida, minha doce menina? -Sussurrou durante o terceiro abraço, então ela tinha olhado com um olhar sombrio por cima do ombro para James. Sem querer uma briga entre seu pai e seu marido, deu-lhe seu melhor sorriso falso e lhe beijou a bochecha.

— Só uma dor de cabeça, papai, James me segurou enquanto dormia todo o caminho desde a Escócia, ele está cuidando bem de mim, não deve preocupar-se.

Parecia que isto solucionava bastante bem as preocupações de seu pai, mas o olhar nos olhos de Georgina, junto com um abraço prolongado e silencioso, disse a Viola que talvez não tivesse sido tão convincente como tinha desejado. Por sua parte, James tinha e parecido uma sombra, seguindo-a por toda parte, inclusive seguindo-a a sua habitação, onde tinha começado a empacotar, como se temesse que pudesse desaparecer ou paralisar em um montão histérico e choroso e humilhar a ambos. Ela não tinha feito nada disso, é óbvio que lhe tinha uma grande dívida. Casou-se com ela para salvá-la de certo escândalo e ela não mancharia esse presente fazendo um espetáculo público, sem importar quanto lhe doesse o coração.

Não importava quantas vezes revivesse o momento em que a imponente Allison tinha posto sua boca na dele e isso acontecia cada vez que ela piscava, cada vez que respirava.

Incapaz de suportar a ideia de estar sozinha com James durante três dias enquanto viajavam à sua casa em Derbyshire, tinha rogado ao seu pai, Georgina, Penélope e tia Marian que viajassem com eles a Shankwood Hall, já que sua casa em Derbyshire estava só a um dia de viagem de sua casa em Cheshire.

Para este esforço, ela tinha reunido cada truque que conhecia, cada grama de artifício que havia possuído para apresentar os rostos mais alegres a sua família. Seu pai zombou e lançou ao James um olhar cético, expressando dúvidas a respeito de que um casal de recém-casados tivesse o pai da noiva em sua lua de mel.

Tinha sido Georgina quem a tinha salvado, sustentando Viola com um olhar escuro e compassivo e observando que a viagem poderia passar mais rápido para todos com um pouco de companhia.

Eventualmente, sua família tinha aceitado. Viola tinha estado agradecida por sua presença amortecedora, já que James tinha tentado tocá-la em cada grande oportunidade, pondo uma mão em suas costas enquanto a ajudava a entrar e sair da carruagem, envolvendo um braço ao redor de sua cintura enquanto esperavam dentro das estalagens por sua refeição ou suas habitações, e seus dedos se arrastavam enlouquecidamente para cima e para baixo de seu braço quando estavam sentados um ao lado do outro, já fora na carruagem ou no meio do abarrotado salão de uma estalagem. Além disso, não deixava de olhá-la com aqueles olhos verdes solenes e enfeitiçados.

Cada vez que o olhava furtivamente, encontrava seu olhar sobre ela, às vezes acalorado, às vezes pensativo, sempre atento.

Evitá-lo tinha resultado impossível, ao menos durante o dia, tinha a desculpa de arrastar Georgina a sua carruagem para lhe ensinar mais sobre o bordado, ou ir com Penélope para ajudar a refinar os planos de bodas de sua prima, ou conversar com seu pai com uma taça de cerveja e um tigela de guisado suave.

Mas de noite não havia escapatória. Na habitação que compartilhava com James, na primeira noite, apressou-se a terminar sua toilette rapidamente e meter-se debaixo das mantas para poder fingir que dormia antes que ele entrasse.

Tinha-o obtido, apagando o abajur justo quando a porta se abria.

Depois de assear-se, sentou-se na beira da cama durante muito tempo. Ela havia sentido seus dedos peneirar através de seu cabelo. Sentiu que o colchão se afundava quando ele subiu ao seu lado, tomando-a em seus braços. Sentia-se como se fosse abraçada por um grande urso, cálida e protegida, e ela logo tinha caído em um profundo sono.

Na segunda noite ela não tinha sido tão afortunada, ele tinha entrado justo quando ela retirava uma colcha amarela. Necessitava desesperadamente de uma boa lavagem. Girou-se para enfrentá-lo, seu coração pulsava tão forte que estava segura de que ele o escutaria, ao final resultou que ele tinha querido falar e ela, sobre todas as coisas, não queria falar com ele.

— Devemos discutir como vamos seguir, Viola — murmurou, sentando-se na cama para tirar as botas. — Não pode me evitar para sempre.

Ela tinha alegado esgotamento, mas ele não acreditava em nada disso. Tinha ido ao redor da cama, com os ombros de um metro de largura, os olhos cansados e vermelhos.

— Estamos casados — tinha declarado firmemente. — Me dou conta de que te machuquei, e o lamento mais do que pode sonhar, mas não deve nos enviar para sempre a esta miséria. Você é minha esposa, dormirei ao seu lado, e você ao meu lado, isso é como deveria ser.

Depois de sua declaração, ela se abraçou e assentiu, quase esperando que ele exigisse uma repetição de sua noite de bodas. Parte dela queria isso mais que seu próximo fôlego, enquanto outra parte se desesperava por tomar seu corpo e sua luxúria dentro dela outra vez, só para ser destroçada quando ela recordava que seu coração amava outra. Não sabia se poderia sobreviver a isso.

Mas não lhe tinha exigido nada mais, simplesmente se tirou as calças e uma vez mais se meteu na cama junto a ela, apagou o abajur e a empurrou para a curva de seu corpo grande e duro. Essa noite ela não tinha dormido nada, deitada acordada durante horas escutando o batimento do seu coração, sua respiração e o ronco débil e divertido na parte superior de cada respiração.

Ela se tinha empapado em seu calor, lutando por não chorar pelo prazer de sua cercania. Doía-lhe o peito, doíam-lhe os olhos e tinha esperado que o sono a reclamasse, mas não o tinha feito.

Hoje tinham chegado a Shankwood e, nesse momento, a criada Amy, a recém atribuída à dama, estava arrulhando um par de sapatilhas que tinha comprado fazia duas temporadas. Viola nunca tinha tido uma criada dedicada só a ela. Seu pai sempre tinha sido muito pobre para tais extravagâncias.

— Fica com eles — disse à menina, assentindo às sapatilhas. Os olhos de Amy se arredondaram.

— Oh, não, minha senhora, nunca poderia...

— Insisto. Amar algo com todo seu coração e logo fazê-lo seu é uma das grandes alegrias da vida. — Olhou para baixo, ao lenço pressionado entre suas mãos, voltou a passar o polegar pelo que deveria ter sido uma truta, mas se parecia mais a uma uva amadurecida.

— Muito obrigada, lady Tannenbrook — disse a garota sem fôlego, apertando os sapatos contra seu peito e apurando-se sobre seu trabalho com um novo vigor.

A atenção de Viola voltou para o lenço, ela recordou cada ponto laborioso, cada fio que tinha cortado e reparado. Suas habilidades tinham melhorado após, felizmente. Com a amável instrução de Georgina, agora contemplava novos projetos com antecipação em lugar de temor, talvez isso fosse o que ela necessitava, um novo projeto, algo que ocupasse sua mente e lhe impedisse de viver neste desgraçado lago de tristeza.

— Amy.

— Sim, minha senhora?

— Há alguma loja no povoado que tem fio de bordar?

— Oh, sim, é claro. The Starling Sisters Scone Shop e Mercearia, você pode comprar todo tipo de fios ali. Os pães-doces também são encantadores.

— Eu gostaria de ir ali.

Amy se congelou enquanto pendurava um vestido de seda dentro de um grande armário.

— Agora, minha senhora?

Viola abriu a caixa de alfinetes esmaltada e colocou o lenço feio no interior, fechando a tampa com suavidade.

— Sim — disse, levantando-se para recolher seu chapéu do divã baixo ao longo da parede oposta. — Agora é o momento perfeito para fazer um pouco de compras.

***

Foi uma grande coisa que seu advogado e administrador de bens fosse competente, pensou James enquanto examinava a mesma página de contas pela sexta vez e ainda tivesse problemas para concentrar-se o suficiente para absorver as cifras. Gates e Strudwicke se sentaram em frente a ele, estavam discutindo a necessidade de substituir os tetos em três casas no povoado ou, ao menos, isso pensava. Tinha estado sentado em seu escritório com os dois homens durante mais de duas horas, mas sua mente estava decididamente em outra parte, preocupado e obcecado.

— Bom, isso deveria ocupar-se de duas das cabanas, em qualquer caso, a terceira pode esperar com segurança até o próximo ano, se fizermos um pouco de correções, como sugere, senhor Strudwicke. — Gates se tirou os óculos para os polir com um lenço, logo os deixou cair sobre seu nariz reto e refinado e se voltou para James.

— Vamos discutir o assunto de seu herdeiro, meu senhor?

Seu herdeiro, sim é claro, exceto que não tinha pensado em seu herdeiro nem um momento desde... bom, desde que se casou com Viola, na verdade, não tinha pensado em nada mais que em sua encantadora, zangada, sedutora e esquiva moça em quatro meses.

— Correto — continuou Gates, limpando sua garganta. — Agora que sua senhoria se casou, como gostaria de proceder em nossa busca do Elijah Kilbrenner?

James franziu o cenho.

— Proceder?

Gates olhou ao Strudwicke, quem elevou as sobrancelhas e logo olhou os papéis que tinha na mão.

— Sim. Continuarei investigando seu presumido herdeiro, agora que existe o potencial para um... eh... herdeiro?

Sua cabeça estava leve, como se tivesse dormido muito pouco ou muito, ou tivesse bebido muito do conhaque francês de Wallingham. Tinha a intenção de nunca ter filhos e resistiu a tomar uma esposa porque a esposa esperaria ter filhos, e toda a sociedade esperaria que ela tivesse filhos, e se não o fizesse, toda a sociedade a culparia pelo fracasso, tinha visto acontecer antes, e as mulheres sempre pareciam sangrentas trágicas aos seus olhos.

Depois de haver se casado com Viola, sua decisão de nunca ter outro filho, nunca submeter seus filhos aos seus enganos, começou a parecer um pouco menos acertada e um pouco mais covarde. Inclusive tinha começado a refletir sobre a observação de Wallingham de que as decisões formuladas quando era mais jovem eram as de um menino, não um homem, em seu caso, um menino destroçado pela traição e a angústia da alma.

Mas então, Viola tinha se acostumado a obrigá-lo a questionar-se desde o começo, a indomável Senhorita Darling se negou a aceitar qualquer outra coisa que não fosse sua rendição incondicional e a tinha desejado com cada centímetro de sua carne, cada pensamento em sua mente, cada gota de seu sangue. Tinha a desejado até que pensou que ficaria louco, queria o que nunca deveria permitir-se.

Queria afundar-se dentro de sua vagina apertada e úmida outra vez, sentir suas mãos acariciar seu rosto outra vez, queria vê-la revoar e girar sobre sua casa, encantando todos os que a vissem, queria vê-la iluminar-se como um céu do verão cada vez que ela o visse entrar em uma habitação.

Ah, Deus, sentia falta dela, só tinham passado uns poucos dias, mas sentia que tinha contraído uma espécie de enfermidade de desgaste para imaginar negar à sua doce moça a oportunidade de ser mãe. Sentiu-se mau, malditamente mau.

Entretanto, ao ver de novo a dor de Allison, ao ver novamente a tumba de seu filho, afirmou-se o terreno no qual se plantou seu voto original, que tinha feito todos esses anos. Recordou-lhe porque o tinha feito, como tinha falhado ao seu filho, falhado à mãe de seu filho, que tinha pago um preço alto, sem ter outro filho.

— Meu senhor? — Era Gates, esperando sua resposta.

Não podia falhar a Viola, não podia quebrar seu voto ao seu filho.

— Continue com as consultas, senhor Gates.

Depois de um breve silêncio, Gates assentiu como se James houvesse dito algo sábio que Gates não tinha considerado.

— Bastante sensato, meu senhor, certamente, a gente nunca sabe o que a sorte pode trazer, tenho um irmão que tem toda uma casa cheia de garotas. — O advogado riu entredentes. — Oito delas no total. Depois da sétima, acredito que perdeu a esperança de ter um filho.

Garotas, uma corrente de sensações corria por sua espinha dorsal, piscou, impotente para evitar a visão que dançava em sua mente. Filhas. Seu coração se apertou dolorosamente. Pequenas moças com cabelo negro e olhos cheios de estrelas, iluminando cada canto escuro de sua alma sem sequer tentar, igual a sua mãe.

Lutou contra isso, mas podia ouvir sua risada, pequenas fontes de deleite. Viu-as girando, brilhando e chiando enquanto as levantava em seus braços e o agarravam com tanta força que ele não podia respirar.

Então, imaginou essa luz desaparecendo, esses diminutos corpos jaziam frouxos, quietos e cinzas. Imaginou Viola quebrada por sua perda, ele não podia suportar inclusive agora, depois da ferida que ela tinha sofrido ao vê-lo com Allison, seu peito lhe doía constantemente por seu silêncio, por evitá-lo, o seu toque e seu olhar.

Gates estava falando agora sobre algum outro assunto, James não sabia o que porque todo seu ser estava enfocado em Viola, ele devia reparar o dano que tinha feito. Ele devia persuadi-la para que o levasse de volta a sua cama, de volta ao seu corpo e ele o faria porque esse era seu propósito: assegurar a felicidade de Viola.

Talvez não pudesse lhe dar seus filhos, mas podia restaurar a luz dentro dela que o mantinha escravizado. Devia fazê-lo logo que fosse possível, neste momento, de fato...

— ...assim, se Lady Wallingham enviou a carta há três ou quatro dias, então segundo meus cálculos, deveríamos receber uma resposta a mais demorar...

James saltou de sua cadeira e rodeou a escrivaninha.

— Eh, meu senhor. Suponho que nossa reunião acabou.

— Sim — respondeu sobre seu ombro. — Devo falar com minha esposa.

Puxou a porta para abri-la e se lançou ao corredor, tomou as escadas do oeste, que eram estreitas, mas mais rápidas, e se lançou para a habitação de Viola, e irrompeu através da porta de carvalho com painéis com uma urgência palpitante.

Um forte e feminino grito o saudou.

— Oh! É você, meu senhor, deu-me um susto para deter meu velho e débil coração. — A governanta anciã, a Sra. Duckett, agachou-se para recuperar os lençóis que tinha deixado cair quando entrou.

Apressou-se a recolhê-los e lhe entregou a pilha antes que ela tocasse algum.

— Onde está lady Tannenbrook, senhora Duckett?

Os magros e enrugados lábios da anciã se franziram, com os olhos entrecerrados como se estivesse tratando de ver um navio longe da costa.

— No povoado, acredito, lembro que Amy disse algo sobre levá-la à loja Starling Sisters, ela queria fio e bolos, o último pode ter sido ideia da Amy, a verdade deve ser conhecida, milorde, a garota gosta dos pães-doces.

— Quando planejam retornar?

— Disso não posso estar segura. — De novo, o estrabismo. — Estavam desempacotando os pertences de sua senhoria recentemente.

Ele mordeu sua decepção, queria vê-la, falar com ela, tinha alagado a necessidade, e agora devia esperar. Esfregando a parte posterior de seu pescoço com uma mão, olhou ao redor da habitação.

Era uma habitação singela, uma cama de carvalho maciço com uma simples colcha verde, duas cadeiras perto da lareira de pedra, ambas as cobertas com o mesmo tecido verde, tudo na habitação, das paredes com painéis de carvalho até os tapetes desbotados que cobriam o piso da prancha estavam completamente equivocados para Viola, muito escuro, pesado e aborrecido.

Franzindo o cenho, ele vagou pela porta contígua ao seu quarto de vestir mobiliado de maneira similar. Seus pertences se alinhavam em uma parede, algumas já se esvaziaram, outras se deixaram abertas e se encheram de mantos em todos os tons imagináveis de azul, púrpura, rosa, prata e branco, estas eram as cores que deveria ter Viola, decidiu, não verde nem marrom.

Sobre a penteadeira, uma peça de carvalho reto e resistente que se adaptava melhor à cela de um monge continha uma escova com cabo de prata e vários pentes de marfim. Também havia uma pequena caixa com dobradiças esmaltadas, primeiro passou seus dedos sobre sua escova, esfregando os longos fios negros de seu cabelo apanhados em suas cerdas, a seguir, levantou um dos pentes de marfim, tinha um desenho encravado em um lado.

Chegou à caixa com um só dedo, levantou a tampa. E viu sua própria cegueira lhe olhando fixamente. Era branco, mal costurado, tinha um peixe de formas púrpuras e verdes de formas estranhas em um canto.

Um dia, quando Humphrey a tinha arrastado pelo campo e o verão tinha brilhado em suas bochechas avermelhadas, lhe tinha dado isto, tinha-o guardado dentro do bolso de seu casaco, junto ao seu coração, agora se dava conta de que era precisamente onde tinha pertencido.

Porque este era o coração de Viola e o tinha jogado aos seus pés como se fosse um lixo.

Ele devia encontrá-la, devia lhe pedir perdão, devia lhe fazer entender quanto a desejava como sua esposa, sobretudo, devia fazê-lo agora, porque não poderia suportar outro momento agonizante sem ela.


CAPÍTULO 17

“Seu conto é absurdo. Qualquer homem que exiba um julgamento tão espantoso uma vez, e ainda mais, repetidamente, certamente teria perecido antes de chegar à sua maioridade.”

A Marquesa viúva de Wallingham a Lady Gattingford em resposta à questionável afirmação de dita senhora de que os dois coletes de Lorde Gattingford foram elogiados por Beau Brummell e Lorde Alvanley em quatro ocasiões separadas.

Encontrou-a rindo com a irmã mais nova de Starling, que tinha oitenta anos, fora da loja de Starling. Sua criada estava limpando as migalhas de um pão-doce recentemente consumido, e os olhos de Viola estavam dançando enquanto escutava a anciã explicar por que nunca se casou.

James tinha escutado a história antes, tratava-se de um pirata, dois marinheiros e um intento frustrado de obter a passagem à Jamaica. Todos no povoado tinham escutado a senhorita Tabitha Starling contar a história dúzias de vezes, adicionando um novo adorno com cada reiteração, por isso era tão desconcertante encontrar um grupo de jovens reunidos ao redor de sua esposa, todos rindo como se nunca tivessem ouvido uma só palavra.

Detendo-se poucos metros do círculo de admiradores masculinos, James cruzou os braços e a olhou.

Viola tinha trocado seu vestido, notou. Agora vestia uma musselina branca bordada, rematada com um spencer azul escuro e seu chapéu favorito. A brisa leve fez com que suas saias se engessassem contra suas pernas e parte traseira, delineando suas curvas com amoroso detalhe.

Viola riu de novo ante a escandalosa explicação de porque o amor da Senhorita Starling foi jogado pela amurada por seu segundo amor.

— Não pode ser verdade! — Protestou Viola. — O capitão Farnsworth estava usando suas anáguas?

— Bom, certamente não tinha nada mais que usar, não é? Ah, estávamos loucos um pelo outro, minha senhora, por desgraça, os piratas não são do tipo perdoador.

— O que aconteceu com ele?

— Depois que o tubarão tomou seu pé nunca foi o mesmo.

— Seu pé?

— Bom, seu dedo do pé, na verdade. Disse-lhe que deveria estar agradecido pelas anáguas que espantaram os peixes, ou os assuntos poderiam ter terminado de uma maneira muito mais espantosa.

Viola riu e os homens que a rodeavam puseram-se a rir a gargalhadas, o som como tantos cães que gritam e babam depois das sobras de carne. Fechou a distância à sua esposa em cinco largos passos, ela levantou a vista quando sua sombra cruzou seu rosto.

Um ligeiro rubor floresceu em suas bochechas, mas seu sorriso se desvaneceu.

— Lorde Tannenbrook — disse, com sua distante cortesia que era uma afronta. — A senhorita Starling estava compartilhando uma lembrança muito divertida.

— Sim — disse, a palavra que brotava de sua boca enquanto dirigia um olhar de advertência a cada homem que estava a menos de três metros dela. — Eu escutei muitas vezes, como o têm feito todos estes homens, o que me dá curiosidade por seu repentino desejo de voltar a escutar.

— Oh — ela respondeu olhando aos homens, suas sobrancelhas arqueadas em aparente surpresa. — Talvez desfrutem de um conto divertido habilmente contado.

— Talvez devessem ir trabalhar.

Todos os homens inclinaram seus chapéus e murmuraram “Senhor” antes de afastar-se como cães castigados. Seguiu seu progresso, suas tripas liberaram lentamente sua opressão ardente, seus olhos voltaram para Viola.

Ela o olhou com desgosto visível. Uma mão antiga e retorcida lhe deu uns tapinhas no cotovelo.

— Foi uma época da última vez que estes olhos se fixaram em você, Lorde Tannenbrook — disse a senhorita Starling. — Por que não se senta e come um pão-doce ou dois? Fiz um lote tal como você gosta esta manhã, um toque desse limão é o segredo.

— Obrigado, senhorita Starling, mas não tenho fome neste momento. — Não tinha fome de pães-doces, para ser preciso, tudo o que queria era levantar Viola em seus braços e levá-la de volta ao seu dormitório, onde pudesse falar com ela sem uma maldita turma de cães rondando perto, salivando sobre seus lábios e suas pernas.

Entretanto, em lugar de olhá-lo, sua esposa sorriu docemente à anciã.

— Vamos levar uma dúzia, senhorita Starling e um pote de geleia de groselha também, nunca comi uma melhor.

— É muito amável, minha senhora.

Quando a mulher se meteu na loja, Viola pinçou na bolsinha de seda pendurada em seu pulso que estava bordada com o que parecia ser uma espécie de roedor, um ouriço, talvez.

— O que está fazendo? — Grunhiu.

— Compensando a senhorita Starling por suas mercadorias e sua rudeza. — Seu tom era mais agudo que as groselhas na geleia da senhorita Starling.

— Preciso falar contigo, moça.

Seu queixo se elevou e seus olhos se moveram por toda parte exceto a ele.

— Receio que não tenho tempo, a senhorita Starling não tinha o fio que eu necessitava, por isso me recomendou visitar a casa de campo de sua irmã, Amy aceitou amavelmente me levar ali.

— Caminharei contigo.

— Não seja tolo, não quero te incomodar.

— Não é um problema.

Seus lábios estavam rígidos, as linhas de seu pescoço apertadas pela tensão.

— Faça como quer.

— Eu vou te acompanhar.

— Mas é totalmente desnecessário, os aldeãos foram muito acolhedores.

— Sim, os homens em particular, apostaria — murmurou o comentário justo quando a senhorita Starling se movia com uma cesta marrom, por isso não estava seguro se Viola o escutou, depois de deixar cair algumas moedas na mão da anciã, ela pegou a cesta e a ofereceu, ele lhe lançou um olhar inquisitivo.

Ela fungou.

— Enquanto tenha a intenção de nos acompanhar, bem poderia ser útil.

Franzindo o cenho, aceitou a carga.

— Não é para isso que serve a criada?

— Não — disse, girando-se e agitando Amy para frente com o passar do sulco que conduzia ao outro extremo da aldeia. — Se preferir não ajudar, sugiro-te que retorne a Shankwood Hall, é um homem ocupado, depois de tudo.

Horas mais tarde o sol desceu nas colinas para o oeste, jogando o povoado de pedra cinza em um rico tom dourado e James levava quatro pacotes mais.

Tinha seguido a sua esposa enquanto ela serpenteava de uma casa a outra reunindo compras, presentes e admiradores de todo tipo.

As compras lhe foram oferecidas casualmente como presentes, incluído um ramo de margaridas murchas que lhe deu um moço com os olhos arregalados e com a cabeça inclinada. As deu a Amy e os outros admiradores... tinha estado reprimindo um grunhido gutural durante a maior parte da tarde, todos os homens de quinze a cinquenta anos se detiveram para olhá-la, falar com ela, pôr o chapéu sobre o coração e quase atirar-se a beijar seus delicados pés.

Fez o melhor que pôde para dissuadi-los com seus próprios olhares duros, mas isso resultou em grande medida ineficaz, já que não afastaram seus olhos ensanguentados dela o suficiente para notá-lo. Ela encantou a todos, dos meninos pequenos aos homens mais velhos. Encantou também as mulheres, supôs, mas os homens se preocupavam mais por ela, e se comportavam como se cada uma de suas risadas e seus elogios, todos seus gestos agitados e seus graciosos giros de pés fossem uma ambrosia, era certo, é claro, ela era a mulher mais intoxicante que tinha conhecido.

Enquanto a observava falar com todos os aldeãos com os quais se encontrava, demonstrando um respeito incomum para o velho e doce afeto para os jovens, deu-se conta de que era mais que sua beleza o que encantava um homem, era seu engenho, sua graça, sua amabilidade e que encontrava alegria nas coisas pequenas: geleia de groselha, margaridas murchas e um conto colorido contado por uma mulher quatro vezes mais velha. Ela ria facilmente, frequentemente de si mesma.

Quando a mais velha das duas irmãs Starling lhe perguntou a respeito de sua bolsinha, Viola revirou os olhos e disse que pretendia que fosse um abacaxi, já que gostava das árvores de folhas vivazes.

— Mas como costuma acontecer quando meus dedos empunham uma agulha — disse — Tudo sai terrivelmente mal. — Logo, riu entredentes e afastou os protestos da anciã de que o trabalho não era irrecuperável. — Não o é — ela replicou com um brilho cativante. — Estremeço ao imaginar o trabalho que seria arrumá-lo.

Agora, caminhava ao seu lado enquanto uma esgotada Amy os arrastava pelo prado.

O sol poente pintou sua pele de marfim dourado, a brisa leve brincou com os cachos negros ao longo de sua delicada mandíbula. Suspirou e inclinou o nariz para as margaridas tristes e murchas.

— Tem um povoado encantador, James — disse com nostalgia.

Queria falar com ela todo o dia, mas esta era a primeira vez que estavam sozinhos e agora não tinha ideia do que dizer.

— Aye — foi o melhor que pôde dirigir.

— Quando vi Netherdunnie pela primeira vez pensei que devia ter sido difícil deixar seu lar, mas são muito parecidos, não? Shankwood e Netherdunnie, além dos sotaques, é claro. Imagino que sentiu uma espécie de familiaridade que não tinha antecipado.

Não tinha podido afastar a vista dela durante horas, mesmo assim, seu olhar agora se agudizava sobre ela.

— É verdade — ele respondeu, surpreso por sua visão. — Não esperava gostar da Inglaterra e sentia saudades da minha família e do povoado, mas todos aqui recordam alguém de casa.

Ela assentiu, as pequenas plumas brancas de seu chapéu se voltaram amarelas na luz minguante.

— E o necessitavam aqui, por isso ficou.

Como ela soube? Não tinha discutido esse momento de sua vida com ela. Examinou seu rosto, mas seus olhos se centraram diretamente em Shankwood Hall, uma pilha de pedra cinza e robusta ao lado de uma igreja de setecentos anos, ambos assentados no alto de uma colina no centro do povoado.

— Sim.

— É um bom homem, James.

— Moça, eu...

Voltou-se para sua criada como se ele não tivesse falado.

— Amy, acredito que o jantar será servido logo, devo trocar o vestido antes de jantar. Informará a senhora Duckett que poderia me atrasar? Só um quarto de hora mais ou menos. Não desejo causar uma interrupção.

— Sim, minha senhora.

Perguntando-se quando teria a oportunidade de falar sozinho com ela, levantou a cesta e vários pacotes e observou a distância à casa, tinha um minuto, talvez dois.

— Viola, terá que falar... tenho... coisas que devo te dizer — entretanto, ela não o olhou, a aba de seu chapéu escurecendo seus olhos.

— Talvez depois do jantar, foi um dia formoso, mas muito exaustivo.

A frustração ardia desde suas vísceras até sua nuca.

— No povoado tinha tempo suficiente para cada homem com um par de olhos e uma língua miúda — gritou.

— Por favor, James, depois do jantar. — Ela falou em voz baixa, com um tom tênue e plano, embora sua frustração só cresceu, mordeu-o com força e o engoliu pelo que tinha que dizer, necessitavam de tempo e privacidade.

— Muito bem, irei a ti em sua habitação.

Ela assentiu a contragosto quando chegaram ao caminho que conduzia à porta principal de Shankwood Hall, inclinou-se mais perto para sussurrar uma advertência final.

— E quero estar sozinho contigo, moça. Entendeu?

A isso não respondeu, mas ele estava satisfeito de que o tinha escutado, nunca tinha visto um rubor mais bonito em todos seus dias.

***

O jantar foi um assunto comprido por várias razões, primeiro, Viola sentiu que o pessoal de Shankwood Hall desejava apresentar-se ao seu senhor e dama com um esplêndido desdobramento de perfeição, nisto obtiveram-no admiravelmente. A longa mesa coberta de branco na sala de jantar com painéis de carvalho estava carregada de um extremo a outro com uma magnífica abundância: faisão assado, lucio recheado de ervas com molho de limão, um bolo de cordeiro e batata que recordava o de mamãe, junto com uma grande variedade de verduras que iam da couve-flor em um molho branco cremoso à sopa de cenoura. Durante o último curso, sentiu-se satisfeita ao descobrir que os talentos da cozinheira se estendiam também aos pratos doces, com deliciosos bolos de queijo de cor laranja, cerejas em brandy e um iogurte de framboesas. Saboreou cada pedaço desse prato em particular, porque adorava tanto as framboesas como os iogurtes, com sua justaposição de frutas e creme apresentadas cuidadosamente dentro de um copo.

A segunda razão pela qual a comida se prolongou durante várias horas foi que seu pai, Georgina, Penélope e a tia Marian planejavam partir para Cheshire cedo na manhã seguinte, e ficaram com a comida e a animada conversação, continuando com os hospedeiros e as melhores hora do dia para apanhar lucios e as renovações em Shankwood Hall que James tinha implementado ao longo dos anos. O último tema despertou o interesse de Viola, por isso fez numerosas perguntas ao seu marido. Quanto tempo tinha demorado para restaurar os painéis na sala de jantar? Os lustres eram novos? Tinha considerado acrescentar cortinas ao salão? Ou talvez uma harpa à sala de música? Depois de um tempo, sua severa resposta monossilábica sinalizou seu aborrecimento, por isso ela tinha sufocado sua curiosidade.

A razão final pela qual o jantar se estendeu até altas horas da noite foi que Viola não queria enfrentar James sozinha, atrasou-se tudo o que pôde, conversando alegremente com o criado que serviu o vinho, dando de presente a Georgina todos os detalhes de sua saída ao povoado, e implorando ao seu pai que contasse a história sobre o momento em que sentiu que lhe moviam os dentes e acusou Penélope de golpeá-la enquanto dormia. Cada vez que se produzia uma pausa na conversação, tentava introduzir um tema novo e quando comeu a última porção de seu iogurte de framboesas, a tia Marian estava roncando, a Viola lhe tinham acabado os temas e James parecia preparado para estrangulá-la, felizmente sentou-se no extremo oposto da mesa, por isso mesmo seus braços não eram suficientemente compridos para alcançá-la.

Por todos os efeitos, deveria haver-se esgotado, não tendo dormido mais de um minuto ou dois na noite anterior e logo passar o dia viajando a Shankwood e perambulando pelo povoado, mas quando beijou a bochecha de seu pai pela última vez antes que ele subisse à sua habitação, seus nervos cantaram, seu estômago se inchou como se tivesse bebido champanha em lugar de vinho.

Agora, ela estava em seu quarto vestida com uma bata rosa, retorcendo as mãos frias como uma menina nervosa. Um calafrio percorreu sua pele, por isso se transladou à enorme cômoda desta parede, tirou um xale grande branco finamente tecido e o jogou sobre os ombros, logo respirou fundo, o que não ajudou em nada, e abriu a porta de seu dormitório.

Ele se passeava em frente à lareira, seus braços estavam cruzados sobre seu peito, com uma mão cobrindo sua mandíbula, só usava um par de calças marrons e uma de suas camisas brancas de linho, podia ver um pouco de pelo aparecendo pela abertura em sua clavícula.

Meu Deus, ele é magnífico, pensou. Ele era ombros maciços, cabelo grosso que se sentia como seda entre seus dedos, lábios firmes que poderiam provocar e acariciar os seus até que ela quisesse absorvê-lo em sua pele, olhos que brilhavam com calor como um bosque que arde sob o peso do verão.

Deu a volta e ali estavam aqueles olhos, devorando-a das bochechas acaloradas aos pés descobertos e frios, o bosque era um forno, uma chama de poderosa necessidade.

— Viola, Deus, moça.

Ela engoliu em seco, seus olhos caíram reflexivamente a suas coxas, estava excitado. Muito, muito excitado, sua língua saiu disparada para umedecer os lábios repentinamente secos, doía-lhe a barriga, seus seios estremeceram como se os tivesse acariciado com seus dedos longos, grossos e capazes, seus braços caíram ao longe, sentiu a ponta do xale como uma nuvem ao redor de seus pés.

Aproximou-se dela com os olhos em chamas, então ele a estava levantando, beijando-a, tomando seus lábios e lhe dando sua língua, afagou-lhe a cabeça, gemendo em sua boca aberta.

Calor, havia muito calor e ela necessitava cada parte dele, absorvendo sua amada essência em seu coração através de sua pele de homem.

Sentiu a cama, suave e luxuosa sob suas costas, sua mão embalando sua cabeça enquanto a colocava sobre a superfície, logo respirou ar fresco sobre suas pernas nuas, ele estava levantando sua bata, podia sentir seus dedos forçando o tecido sobre suas coxas e sobre seus quadris. Suas mãos a agarraram pela cintura e a deslizaram repentinamente para baixo enquanto se movia para ajoelhar-se no chão, colocando seus ombros ao nível de seus quadris sem um momento para sua modéstia, pendurou-lhe as pernas sobre os ombros e baixou a cabeça entre suas coxas, sustentando seus quadris para cima como um frasco aos seus lábios.

Suas mãos ainda estavam emaranhadas em seu cabelo, de modo que no instante em que sua língua tocou a carne, formou os punhos e se arqueou com o raio de prazer que ele forjou, com golpes trêmulos e voltas firmes, suas mãos se deslizaram para baixo para que seus polegares pudessem estender suas dobras, expondo-a mais completamente à sua boca diabólica.

Então, um polegar se uniu à obra, rodeando o botão aberto em seu centro enquanto sua língua brincava com avidez com sua vulnerável abertura, inundando-a e torturando-a com calor e prazer e uma espiral, doce voragem que se enrolava tão forte, que estava segura que só podia terminar em uma explosão de fogo e tinha razão, gritou e se retorceu contra ele enquanto ardia através dela.

Ela puxou seu cabelo e lhe agarrou a cabeça com suas coxas, mas não se arrependeria.

Sua língua se travou dentro dela, seu polegar brincando e acariciando até que ela soluçou e se sacudiu, logo, a pressão se apoderou de uma explosão aguda tão intensa que era quase doloroso, jogou-a no coração das chamas, onde os paroxismos do calor e do prazer que a agitavam a esbofetearam com uma força impressionante. Mesmo então, ele não se deteve, gemendo contra ela, acariciando-a brandamente para expandir a cascata, deixando beijos abertos contra suas coxas internas e seu ventre. Os braços fortes a levantaram de novo, deslizaram sua cabeça para cima para que seus quadris agora descansassem mais completamente na cama, logo, com lenta deliberação, juntou-lhe as pernas atrás dos joelhos e lhe pôs os calcanhares na borda do colchão. Ao levantar-se, desfez-se de sua camisa com um só movimento, atirando-a ao chão, desabotoou sua calça, fazendo uma careta de dor quando sua dignidade completamente torcida se lançou para frente, exigindo o que tinha prometido.

— Viola — ofegou, o negro no centro de seus olhos engoliu a beleza do bosque. — Trata de pegar, moça, por favor.

Mal podia pensar, mas assentiu, agora com as mãos postas no cobertor verde, com as pernas abertas para seus quadris, elevava-se sobre ela, dobrando os joelhos para colocar a cabeça de seu eixo contra a abertura de seu centro. Ela recordou isto, a pontada alarmante dele esticando sua carne, mas ele a necessitava e ela o necessitava, então se concentrou em persuadir seus músculos para que se relaxassem.

Ele empurrou como antes, a invasão foi incômoda, formou-se uma pequena dor na abertura, que cresceu à medida que a parte mais grossa dele se afundou mais.

Mas não se comparava com a dor da primeira vez e, enquanto ele deslizava, estirava-se e a enchia, ela piscou ante as novas sensações.

De pressão.

De prazer.

De finalização.

Ele a encheu tanto que ela não tinha espaço para respirar, só para ele, em lugar disso, ela ofegou e o agarrou com força, seus músculos internos se apertaram e aferraram, caiu sobre ela, apoiou-se nos cotovelos e a protegeu de seu peso quando recolheu primeiro uma perna e logo a outra e as envolveu ao redor de sua cintura. O novo ângulo pressionava com força em algum lugar misterioso dentro dela, enviando ondas de choque de prazer ardente através de seu núcleo.

— Oh, Deus, James — ela gemeu, suas mãos deixando a colcha destroçada para segurar sua mandíbula, ela o atraiu para seu beijo, movendo seus quadris para cima para levá-lo mais fundo.

Foi então quando começou a mover-se empurrando com movimentos lentos e pesados, retirando uma polegada e devolvendo duas, era tão profundo agora, ela não sabia como ele poderia ir mais profundo, mas o fez e sua mão estava sobre seus seios, apertando seus mamilos através da seda de seu vestido e sua virilidade a estava queimando, esticando-a, agradando-a da maneira mais assombrosa.

Isto era inclusive melhor que o que tinha feito com sua boca, este era seu marido dentro dela, uma parte dela, ela o adorava com suas mãos, passando seus dedos e lábios sobre sua boca e mandíbula, acariciando o músculo que piscava ali, desfrutando de como seus braços e ombros tremiam com a tensão de seu ritmo cuidadoso.

— Devo... devo ir mais rápido agora, moça, tenha paciência comigo.

Inclusive então, nos momentos de maior tensão, mostrou moderação, por isso ela o amava, uma das razões pelo menos, havia muitas mais. Ela beijou esse músculo em sua mandíbula outra vez e logo apertou onde se uniram e esfregou seus mamilos duros e sensibilizados contra seu peito, sua cabeça caiu sobre seu ombro, e ele grunhiu, profundo e ruidosamente como ela gostava, ela sorriu.

Ele empurrou com força, sacudindo-a em um grito afogado, tirou quase por completo e deslizou para dentro em um longo e duro empurrão, ele fez de novo e outra vez jogou os braços ao pescoço e lhe arrastou a boca pelo pescoço, aferrando-se enquanto ele golpeava, golpeava e golpeava.

Logo, a fricção acumulou calor e o prazer acumulou vapor e pressão, ela explodiu em uma chuva de estrelas, a luz brilhando atrás de seus olhos à cadência comovedora dos maravilhosos impulsos de James.

Seu ritmo acelerou, estendendo os destroçados pulsos por segundos mais longos, ela soluçou em seu pescoço, acariciou seus ombros nus, querendo lhe dar o mesmo prazer.

E, ao final, ela o fez.

Ele rugiu com isso, seus músculos ficaram rígidos sob sua palmas, suas mãos agarraram seus quadris e se soltaram dela, entretanto, atraiu-a para ele enquanto estava cheia de seus gritos de liberação, seu ventre banhado em sua semente na esteira da tormenta, seus olhos apareciam na névoa, uma névoa cálida e rica de alegria que a cobria tão seguramente quanto ele. Ela o abraçou, acariciando seu pescoço e costas, enquanto a luz se obscurecia, os sons de sua respiração em seu ouvido se atenuavam, o sonho que tinha perdido à noite antes de reclamá-la.

A luz e o som retornaram por um breve momento, só o tempo suficiente para senti-lo aproximar-se dela debaixo das mantas, aconchegá-la contra seu flanco e beijá-la na testa.

Por fim, o sono a cobriu com sua capa, e ela sonhou o sonho mais doce, um que só uma criança sem esperanças poderia conjurar; ali, na escuridão, sentiu que seus lábios roçavam sua bochecha, escutou-o sussurrar com ternura dilaceradora.

— É um milagre azulado, moça.


CAPÍTULO 18

“Ganhar o favor de uma mulher é o produto de um encanto abundante, presentes apropriados e evitar uma catástrofe. Recomendo começar com este último, Charles.”

A Marquesa viúva de Wallingham ao seu filho, Charles, ao presenciar um intercâmbio muito calamitoso que envolve um guarda-chuva, dois cães, um chapéu sujo e uma certa viúva.

— Sabe algo sobre cortejar uma dama, não é assim?

Seguindo seu exemplo com estudada indiferença, Lucien levantou uma sobrancelha ante a pergunta de James, tomou seu último tiro, colocando o balão vermelho e o do Lucien para obter uma vitória.

— Maldito inferno, Tannenbrook. Não pode me deixar ganhar por uma vez? Deixa a um homem um remanescente de dignidade.

James se endireitou e deixou cair a base de seu taco no piso da sala de bilhar de Lucien com um ruído surdo.

— Responde a minha pergunta.

Agora ambas as sobrancelhas subiram, acompanhadas de um meio sorriso.

— Tinha a impressão de que já tinha se casado. — Ele sustentou uma mão ao nível de sua gravata. — Essa pequena coisa se assemelha a uma dessas ninfas dos mitos gregos, mas mais formosa.

James olhou ao seu tolo amigo antes de pôr seu taco ao longo da mesa e cruzar os braços sobre seu peito.

— Muito bem — Luc disse, lançando seu próprio taco no ar, apanhando-o na base e colocando-o cuidadosamente ao lado do de James. — Galanteio sim, sei um pouco, por que pergunta?

— Não tenho facilidade para isso.

— Bom, não posso estar em desacordo contigo nesse ponto, entretanto, é espetacular no bilhar, talvez ela desmaie ao ver-te dirigir seu taco.

— Sabia que não deveria te haver perguntado, é um idiota.

Lucien se pôs-se a rir, sacudindo a cabeça e agitando os cabelos de James.

— Só uma brincadeira, estou à sua disposição, dá a casualidade de que cortejar é a minha especialidade.

A afirmação era muito modesta, Lucien Wyatt podia seduzir uma mulher com um só arco de sua testa, sua esposa, Vitória, tinha sido sua última conquista, e agora o homem estava tão apaixonado por ela que mal reconhecia que existiam outras fêmeas, mas isso não significava que suas habilidades fossem em vão.

— Planejei nunca me casar — começou James, perguntando-se quanto revelar. — Não tive oportunidade de cortejar uma mulher, o matrimônio com Viola foi... inesperado.

— Ah, sim. Inesperado, parece-me recordar que faz uns meses, referia-se a ela como “ninguém”. — James suspirou sua frustração, inclinando-se para frente para apoiar suas mãos na mesa de bilhar. Manteve seus olhos na fina superfície marrom.

— Não posso... Ela é... — Engoliu saliva, incapaz de articular com palavras.

— Tudo.

A cabeça do James se elevou, encontrando-se com o olhar cinza escuro de Lucien.

— Sim — disse com voz áspera e então não pôde deter-se.

Precisava dizer a alguém, e Viola se negou a permitir uma conversação mais importante que o que se serve para o café da manhã.

— Ela diz que me deu uma olhada e perdeu seu coração. Perseguiu-me em cada reunião sangrenta durante a temporada, implacável. Deus, ao princípio pensei que era uma espécie de loucura.

— Ela te quer?

— Sim, então também o senti, mas não queria fazê-lo. — Ele negou com a cabeça. — Eu não queria uma esposa.

Lucien se transladou ao aparador, servindo um brandy para ele e outro para James, entregou o copo ao James e apoiou um quadril na mesa.

— O que mudou seus planos? Ou deveria me arriscar a adivinhar? — Desta vez sustentou seu copo ao nível de seu alfinete de gravata.

— Sobre isso...

James deu um gole em seu próprio brandy antes de responder.

— É suficientemente formosa para quebrar meu coração. Sim.

— Então, agora que tem a felicidade matrimonial, e tudo isso por que a necessidade de conselhos?

— Porque eu a quebrei.

— Peculiar, ela parecia em bom estado depois de sua chegada.

— Ela viu outra mulher me beijar.

Lucien franziu o cenho.

— Que mulher?

— Allison.

Sobrancelhas escuras arqueadas.

— Não foi como parece, empurrei-a longe, já não sinto nada por Allison e ficou claro nesse dia. Mas Viola só viu o beijo, ela não me olhou com os mesmos olhos após isso.

— Explicou? Desculpou-se?

James suspirou e tomou outro gole, apreciando o suave e rico calor de um bom brandy.

— Tentei, mas ela não quis escutar, inclusive se ofereceu para anular o matrimônio. Ou, pior ainda, arrumar um divórcio. — Queria cuspir o mau sabor da palavra de sua boca. — Como o inferno maldito, ela pode divorciar-se quando eu estiver frio na tumba, e nem um minuto antes.

— Mmm, para um homem que não sentia uma inclinação prévia para o matrimônio, soa bastante firme em sua oposição a romper esta união inesperada.

James deixou seu copo com cuidado na borda da mesa de bilhar, não queria esmagá-lo.

— Ela fez sua eleição, se agora ela se arrepender, isso é desafortunado, mas não vou mudar de opinião.

— Ainda assim, pergunto-me se a ideia que mais te incomoda é que, se se produzir um divórcio, então ela seria livre para casar-se com outro.

O punho de James golpeou a borda da mesa um momento antes que pudesse controlar o impulso, o forte golpe fez com que Lucien sorrisse. James lutou contra a fúria que se acendeu dentro dele, um homem de seu tamanho não podia permitir-se perder o domínio de si mesmo.

— Ela não se casará com outro, ela me pertence.

— Estou de acordo.

— Ela pode sorrir belamente a cada lacaio, comerciante e maldito senhor à vista dela, mas ao final, ela é minha.

— Naturalmente, e não te incomoda minimamente ela sorrir a outros homens.

Começou a andar, nunca tinha estado tão tranquilo até que conheceu Viola, passando uma mão pelo cabelo, James grunhiu as palavras que queria gritar.

— Sim, malditamente me incomoda.

— Pronto, agora, isso não foi muito difícil, não é? Admitir o ciúme irracional, quero dizer.

— Não posso suportar, Luc, a forma com que sorri a outros como deveria fazê-lo só a mim, deve me ajudar a cortejá-la. Me diga o que é que devo fazer.

Lucien sorveu seu brandy e fingiu refletir, então levantou um dedo.

— Primeiro, deve entender o que está acontecendo, está apaixonado por ela.

— Não.

— Sim, confia em mim neste ponto, James, é melhor se simplesmente admitir que caiu em lugar de se golpear em pedaços negando a verdade, considera-o como uma alegre rendição que terminará felizmente para todos os envolvidos.

— Não é verdade. — O que sentia por Viola não era o mesmo tipo de preocupação obsessiva e devoção sincera que Lucien sentia por Vitória. James desejava sua pequena garota, é claro, imensamente, e ele desfrutava de sua companhia, inclusive quando ela conversava muito ou fazia perguntas intermináveis. Era uma criatura fascinante, como uma mariposa composta de cores sempre variáveis, queria cuidá-la e ele queria que seu afeto, sua risada e a luz das estrelas em seus olhos retornassem, isso era tudo.

— Bobagem — Lucien zombou. — Sabe como sei? Risquei o desaparecimento de Sir Barnabus Malby aproximadamente quatrocentas e oitenta e sete vezes. Sonhei com todos os métodos possíveis de tortura e desmembramento desse sapo fedorento, agora, talvez você gostaria de entender por que isto é assim.

James franziu o cenho ao seu amigo.

— Sim.

Os olhos de Lucien brilharam, apertando sua mandíbula de uma maneira estranhamente familiar.

— Porque Sir Barnabus Malby não pode manter seus olhos de sapo avultados fora do seio da minha esposa e se o vejo fazê-lo de novo, farei... — Ele flexionou o punho e pareceu recuperar o controle de si mesmo. — Digamos que entendo o irracional que se sente um homem quando está apaixonado por uma mulher.

— O que diz Vitória sobre isto?

— Ela não sabe.

Agora foi o turno de James levantar uma sobrancelha.

— Muito bem, ela sabe, não o discutimos, controlo meus impulsos violentos, e ela me recompensa generosamente. — Lucien se aproximou de James e lhe deu uma palmada no ombro. — Agora, então, estabelecemos que está apaixonado por Viola.

— Ela me incomoda muito e desprezo vê-la sorrir a outros homens, isso não significa que esteja apaixonado por ela.

— Sim, faz.

— Não escrevo sua sangrenta poesia como fazem os outros cavalheiros, explica isso.

— Descreva-ma, eu nunca a conheci.

— Mas você a conhe...

— Me agrade, velho amigo.

James refletiu por um momento, franzindo o cenho enquanto lutava por encontrar as melhores palavras para Viola.

— Ela é formosa e wee.

Lucien riu entredentes.

— Tenta ir mais à frente do lado escocês de seu vocabulário. Como é ela?

— Uma borboleta — murmurou. — Brilhante e formosa, a mais deliciosa das criaturas, ela é como uma borboleta, toda cor que aterrissa na neve recém caída, ela lhe cega. — Se fez mais fácil, descobriu, quanto mais falava dela. — Ela tem aqueles olhos, parecem o céu, mas não um céu comum, são mais claros no centro e nas bordas há anéis de um azul mais escuro, quase violeta. No meio, se a luz se projetar assim, pode ver as estrelas ali cintilando como o fazem ao anoitecer.

Vários segundos de silêncio passaram antes que Lucien dissesse.

— Mas não está apaixonada por ela.

James sacudiu a cabeça, mais porque precisava esclarecê-la que porque não estava de acordo com o sarcasmo do Luc.

— Que tolo sou para estar apaixonado por tal criatura, Luc? Ela é uma borboleta e eu sou barro escocês.

— E se isso não for de nenhuma importância?

— Está dizendo que eu adoro a moça.

— Isso é o que estou dizendo, sim, maldito obstinado escocês.

James olhou aos olhos do Lucien e se perguntou há quanto tempo ele sabia.

— Quando notou?

— No primeiro dia, era a forma em que a olhava ou tentou não fazer, mas fracassou espetacularmente, por certo.

James soltou uma gargalhada, sacudindo a cabeça com assombro e passando uma mão pela mandíbula.

— Apaixonado, eu! Sim, agora que o menciona, tive alguns problemas para manter meus olhos longe dela. Cada vez que ela ri tenho que olhá-la, cada vez que a olho quero-a até que me doem as plantas dos pés e então, não posso pensar em nada exceto...

— Sim, sim, sei, não se preocupe, James, para isso é o cortejo.

James cruzou os braços sobre seu peito.

— Quando começam estas lições de cortejo?

Com um tapinha no ombro e um amplo sorriso, Lucien respondeu.

— Já o tem feito, meu bom homem.

***

Vitória Wyatt, a viscondessa Atherbourne, não era tão formosa como Viola tinha antecipado, dada a escura perfeição de seu marido. Embora seu cabelo fosse um tom formoso de loiro dourado, seus traços eram mais agradáveis que chamativos, com a possível exceção de seus olhos, que eram muito grandes para seu rosto, mas de uma cor bastante incomum, um equilíbrio de cerúleo e verde saxão, entretanto, Lady Atherbourne foi extraordinária em todos os sentidos, ao saudar Viola e James, ela tinha brilhado com uma cálida bem-vinda, cada uma de suas palavras era uma amabilidade. Viola se aproximou dela em seguida, entusiasmada com a elegância de Thornbridge Park e admirando a beleza do herdeiro de Atherbourne, Gregory Wyatt, quem parecia aficionado a morder sua própria mão, dizer tolices e caminhar sobre o lar no opulento salão azul. Ao bebê de cabelo negro logo lhe uniria um irmão, se o inchaço debaixo do vestido azul de Lady Atherbourne fosse uma indicação.

Nesse momento, Viola bebeu um chá forte e se inclinou para admirar a cor do colete de lorde Atherbourne.

— Seu talento é o mais assombroso, minha senhora, — disse entusiasmada, sacudindo a cabeça — É um dos melhores retratos que vi. Como arrumou isso para criar um tom azul tão maravilhoso?

— Azul ultramar — respondeu lady Atherbourne, sorrindo com prazer transparente. — Capas e capas de azul ultramar.

Viola lhe devolveu o sorriso com sua própria apreciação.

— Um trabalho de amor, claro.

— De fato, embora isso é um pouco moderado.

Rindo, Viola retornou à cadeira que tinha desocupado, tomou um sorvo de chá e observou a babá tirar Gregory da habitação fazendo uma pausa para lhe permitir um carinhoso beijo em sua mãe. O silêncio que seguiu se sentiu tão cômodo como se ela e Lady Atherbourne tivessem passado anos em lugar de horas em companhia mútua.

Entretanto, o silêncio deu muito tempo para pensar e ela não desejava pensar muito, melhor perder-se nas distrações. Por exemplo, Viola tinha despertado essa mesma manhã no topo da montanha de seu marido, com o nariz em cócegas pelo pelo no peito e a coxa roçando uma dureza surpreendentemente robusta. Ele tinha suspirado acordado, sua mão deslizando por suas costas até suas nádegas.

— Falamos? — Depois de um minuto de silêncio ela tinha escutado a pergunta, o sinistro e ameaçador problema que tinha evitado confrontar, desejava falar, mas ela não o tinha feito, então ela o tinha beijado. Felizmente, deitar-se nua sobre o marido e logo beijar sua deliciosa boca gerou uma distração de proporções poderosas.

No café da manhã tinha tido seu pai, Georgina, Penélope e tia Marian para despedir-se com abraços cheios de lágrimas. Depois, James uma vez mais tentou falar com ela, mas ela tinha interrompido para sugerir que viajassem ao imóvel vizinho de Lorde Atherbourne, ele tinha aceito a contragosto, logo, no curto trajeto, tentou de novo, e lhe pediu que contasse como tinha começado sua amizade com Atherbourne. Tinha sido uma história fascinante, mesmo contada com os habituais grunhidos e abreviações do James.

— Pensou que minha forma de falar era grandiosa — queixou-se James. — E divertida.

Ela tinha suspirado, balançando-se com o movimento de uma bonita égua cinza enquanto atravessavam um grupo de olmos até o largo arroio que dividia as duas propriedades.

— Seu sotaque é assombroso, James. Por que procurava mudá-lo?

Lançou-lhe um olhar inescrutável e murmurou.

— Um conde inglês não fala dessa maneira.

— Mas muitos senhores escoceses o fazem, Lorde Mochrie, por exemplo.

Ele reduziu a velocidade de sua montaria e a saudou com a mão enquanto se aproximavam de uma ponte de madeira que atravessava as rápidas águas do arroio.

— Sim, não soam absolutamente como o filho de um ferreiro.

A ponte tinha rangido e gemido sob o peso dos cavalos, enchendo momentaneamente o silêncio antes de cruzar uma clareira do outro lado.

— Lorde Atherbourne te ajudou, então.

— Ele fez a mesma coisa que seu irmão Gregory, seu pai também, Lucien sofreu muito com sua perda.

Ela tinha olhado atrás dela para ver os amados penhascos e os olhos atormentados sob a aba de seu chapéu.

— Como você — tinha observado em voz baixa.

Ele tinha dado um só assentimento.

— Sim.

Agora, sentada no formoso salão de Thornbridge, Viola notou as diferenças entre a obra-prima Palaciana de Lorde Atherbourne de uma casa e a solidez de Shankwood Hall em pedra cinza e carvalho marrom, um era brilhante e formoso, o outro tão incondicional como a terra, francamente, ela preferia o último.

Seu olhar viajou ociosamente do retrato de lorde Atherbourne à lareira de mármore branco, contemplando o indecoroso que podia ser desfrutado de outra sessão de relações sexuais com James antes do jantar. Supunha-se que uma esposa desejava seu marido com tanta frequência? Ela não sabia, mas era um fato que sim, apesar do estado incerto de seu matrimônio.

— Peço-lhe desculpas, lady Tannenbrook, mas alguma vez considerou sentar-se para um retrato? — A pergunta a levou a lady Atherbourne, que a olhava com a avidez de um artista.

— Meu pai encomendou uma miniatura uma vez, mas isso foi faz anos.

A mulher loira se levantou com graça do sofá de damasco dourado e se dirigiu à requintada escrivaninha de mogno colocada entre duas janelas, retornou com um grande livro coberto de couro e o que pareciam ser dois lápis e uma navalha.

— Espero que perdoe minha rabugice — disse, sentando-se no extremo do sofá, mais perto da cadeira de Viola. — É bastante formosa.

Viola riu ligeiramente.

— Como aconteceu, tive o mesmo pensamento sobre você, minha senhora.

A outra mulher sorriu e agitou uma mão com desdém.

— Me chame de Vitória, por favor, somos vizinhas e nossos maridos são os melhores amigos, espero que logo nos cansemos de tanta formalidade incômoda, especialmente se deve consentir em posar para mim — aqueles olhos largos, de cor azul esverdeada brilhavam com uma espécie de zelo suplicante. — Por favor, diga que o fará.

Com seu sorriso cada vez maior, Viola assentiu.

— É claro, seria uma honra, só me diga o que necessita.

Vitória abriu a capa de seu caderno de esboços e passou várias páginas antes que aparentemente encontrasse uma vazia.

— Nada mais que se sente como é, a luz é formosa aqui esta manhã. — Afiou seu lápis com rapidez, levantou-o para examinar a ponta e assentiu, logo passou os olhos por cima do rosto de Viola com tanta impaciência que Viola começou a sentir uma pontada familiar de desconforto, mas logo foi aliviado pelo sorriso agradecido de Vitória.

— Obrigada, lady Tannenbrook.

— Isto será um prazer, Viola.

— E o prazer é meu. — Viola piscou quando Vitória começou, sua mão voando através da página com grandes movimentos. — Seu talento é excepcional, receio que meus esforços artísticos terminem mais abominavelmente.

Enquanto trabalhava, Vitória explicou seu amor pela pintura e o desenho.

— Onde quer que vá, meu caderno de esboços também vai, não posso resistir ao impulso de capturar o que vejo naturalmente, desde o momento em que pus meus olhos em lorde Atherbourne enchi páginas e páginas.

— É assombrosamente bonito — concordou Viola.

— Mmm, sim, outra delícia que me resulta irresistível.

— Minha preocupação por Lorde Tannenbrook é similar, possivelmente haja uma poção infame escondida nas águas que transforma estes homens em objetos de fascinação.

Os lábios de Vitória se franziram, enviou a Viola um brilho malicioso.

— Uma hipótese caprichosa, mas convincente, isto requererá um exame longo e minucioso dos temas em questão, espero — depois que sua risada se acalmou, os olhos de Vitória se voltaram inquisitivos. — Como o taciturno Lorde Tannenbrook conseguiu ganhar seu coração?

Baixando os olhos à delicada xícara de porcelana em suas mãos, Viola respondeu.

— Não tinha necessidade de ganhá-lo, meu coração foi seu desde o começo.

Embora o seu sempre pertenceu a outra. A dor alagou seu peito, brotando de um poço que havia coberto mal, afogando-a sem prévio aviso. Não, ela não podia pensar nisto.

Ele não é teu, deve deixá-lo ir, Viola, deve lhe permitir sua felicidade. A xícara começou a soar em seu pires, pô-los sobre a mesa de mármore ao lado de sua cadeira. Não posso, sussurrou seu coração. Não posso, ela enroscou seus dedos dentro de suas sapatilhas, dobrou-se e dobrou suas mãos em seu regaço, flexionou os músculos de sua garganta e apertou os lábios, mordendo até que provou o cobre. Tudo para deter a estupidez, as lágrimas ridículas explodiram no meio do elegante salão azul de Lady Atherbourne.

O arranhão do lápis sobre o papel se deteve.

— Viola?

Ela não devia permitir que as lágrimas humilhantes fluíssem, não devia envergonhar nem ao James nem a ela. Sacudiu a cabeça, rindo silenciosamente de si mesma.

— Deixei-o louco, já sabe — ela sussurrou, sua voz era um fio. — O chamei minha caça ao Tannenbrook. Persegui-o por toda parte paquerando descaradamente, se ele fosse menos honorável me teria arruinado depois de quinze dias. — Havia um relógio em algum lugar da habitação. Ela podia ouvir o tic-tac. — Mas sua honra é uma das razões pelas quais o amo tanto. — Suas mãos distorcidas, nadando e vacilando sobre o cetim de suas saias. — É o melhor dos homens. — Sua voz distorcida, também, retorcendo-se e estrangulando-se. — Deve-me desprezar depois de tudo o que lhe tirei e, entretanto, ainda me protege.

Um pano foi pressionado em sua mão e um braço magro lhe rodeou os ombros.

— Protege-te do quê?

Apertou o tecido contra as bochechas e a boca, e suas seguintes palavras se apagaram.

— Ofereci-me para liberá-lo. — Ela deixou cair a mão e apertou o pedaço de tecido agora úmido. — Ele não o fará, mas devo, entretanto, não posso. — Soltou um soluço e se cobriu o rosto com as mãos. — Oh, Deus, não quero chorar, me incha os olhos e me dá dor de cabeça.

— Viola, o que disse quando se ofereceu para liberá-lo?

Meteu-se o nariz tampado no tecido, sem lhe importar o decoro, Vitória estava vendo a pior versão possível dela. Que diferença faria uma indignidade mais?

— Ele disse... — Ela se limpou o nariz e deixou cair suas mãos. — Se negou a escutar outra palavra sobre anulação ou divórcio, disse que inclusive uma separação estava fora de discussão, então me acusou de apanhá-lo.

— Apanhou-o?

— Sim, é o pior que fiz, disse que tinha atirado a armadilha sobre nós e que também me tinha aprisionado, logo, disse que não tinha intenção de me liberar.

Uma mão suave esfregou entre suas omoplatas.

— Mmm. Estava, por acaso, mostrando um pouco de temperamento nesse momento?

Viola assentiu, esfregando as bochechas com o único canto seco que ficava do pano.

— Quando se vê superado, soa mais escocês. Custou-me um pouco entender as palavras, mas tinha praticado com sua família, foram muito amáveis.

— Pareceria que ele resiste à liberdade que ofereceu, talvez esse não seja o curso correto, depois de tudo. O que deseja?

Ela não duvidou, porque a resposta surgiu por sua própria vontade.

— Quero James, quero-o desde o primeiro momento em que escutei como arrebatou um homem por sua gravata por insultar uma mulher que não conhecia.

— Sim, foi todo um espetáculo.

— Você estava lá?

— Em efeito Tannenbrook é tão honorável como diz, merece uma mulher que o entenda e o ame com todo seu coração, Viola, tenho algo para você. — Vitória se afastou para recuperar seu caderno de esboços, folheou várias páginas antes de encontrar a que procurava, logo, ela arrancou a página de seu livro e a segurou.

Viola fungou e aceitou o papel, baixando-o ao seu regaço.

— Desenhei isto faz dois anos, foi um momento difícil para o Tannenbrook, embora não soubesse nada disso, tudo o que sabia era o que via. Honra. Lealdade. Força e, sim, sua teimosia, possivelmente isso sobretudo, acredito que ser obstinado é sua maneira de fazer frente a todas as mudanças que teve que suportar, mudanças e perdas foram muitas.

O esboço era formoso, seus olhos estavam escurecidos, o sulco entre suas pesadas sobrancelhas era um duro golpe de dor, sua mandíbula era dura resolução, mas seus lábios estavam apertados com ternura e o mais leve sorriso em um canto, tudo sobre isso era seu James, seu amado.

As lágrimas vieram de novo, desta vez fluindo sem controle.

— Obrigada — ofegou, apertando o papel contra seu coração e olhando Vitória sem vergonha, sabendo que lhe dava um susto, sabendo que não deveria revelar tanto de si mesma a uma mulher que via com muita claridade.

— De nada, são bem-vindos — disse essa mulher, sorrindo e secando uma lágrima própria. — Agora, não posso te dizer o que fazer, já que deve determinar seu curso, mas se Tannenbrook se nega a te deixar ir, então é porque ele deseja te manter em sua vida. — Deu um último apertão no ombro de Viola. — Antes de uma vez mais ditar seu destino para ele, talvez devesse perguntar ao homem o que prefere.


CAPÍTULO 19

“Uma conversação que carece de qualquer forma de engenho não é impossível, é simplesmente intolerável. Isto se demonstra de uma maneira similar à saída do sol ou à decepção das mães. Quer dizer, com uma frequência previsível.”

A marquesa viúva de Wallingham a Lady Rutherford sobre o desejo expresso de dita dama de sentar-se a ao menos quatro cadeiras de Lorde Mochrie em qualquer refeição futura.

O comportamento peculiar de seu marido começou em sua viagem de volta a Shankwood Hall. Com a ajuda de Vitória, Viola tinha conseguido esfriar seu rosto o suficiente para que não ficassem sinais de seu mal-estar anterior quando James e Lucien retornaram ao salão. Sua visita tinha terminado agradavelmente, e Viola tinha aceito a ajuda de James montando à égua cinza. Ele a tinha cuidado, suas mãos se deslizavam desde sua cintura até suas pernas, seus olhos procuravam seu rosto até que ela se perguntou se seus próprios olhos ainda estavam vermelhos e inchados. Lhe franziu o cenho com confusão, logo, tinha começado a alisar suas saias sobre seus joelhos. Traços largos e persistentes.

— Meu senhor? — Perguntou o moço do estábulo, ainda segurando o cavalo de James, que tinha suspirado e se retirou.

Logo, quando cruzaram a ponte para a terra de Shankwood, ele tinha quebrado o silêncio entre eles com seu nome.

— Viola — isso foi tudo.

— Sim? — Ela tinha sugerido.

Mas só negou com a cabeça e grunhiu antes de guiá-los através da floresta quando emergiram em um pasto verde assinalou a um trio de ovelhas na distância e disse.

— Se estivessem mais limpas, sua lã seria da mesma cor que sua pele.

Foi então quando começou a perguntar-se se James tinha bebido um pouco de brandy, sentindo-se zangada por sua conversação com Vitória, e temendo a conversação que sabia que devia ter com James, retirou-se à sua habitação ao chegar ao Hall. Com cuidado, recuperou o esboço do interior de seu corpete, onde o tinha guardado para sua protecção. Alisou as dobras com a palma da mão sobre a penteadeira, tomando cuidado de não alterar a imagem de James. Só em olhar seus traços quadrados e contundentes, seu coração se retorceu e a parte inferior de seu ventre se esquentou.

Como amava o homem tolo. Colocou o esboço na gaveta inferior e convocou Amy para que a ajudasse a colocar um vestido de musselina branca de mangas compridas na cor azul. Ela o rematou com um xale brilhante, o vermelho sempre acrescenta um pouco de alegria, logo, ela examinou seu rosto no espelho, ensaiando em silêncio as primeiras linhas de sua difícil conversação com seu marido.

James, começaria, como sabe, eu sou sua esposa. Não devia indicar o óbvio, soava muito parecido a Penélope.

James, ela tentou de novo, reconsiderou a opção de me deixar de lado para se casar com seu primeiro amor? Seu estômago se contraiu, ela não podia falar tão calmamente.

Ela nunca o faria através da frase sem chorar.

James, começou sua terceira reiteração, desta vez enfatizando a persuasão. O que necessitaria para abandonar seu afeto de toda vida por uma mulher escocesa de estatura alta e pôr seu coração ao meu cuidado? Bastaria um colete mau bordado?

Ela suspirou, uma conversação difícil. Quando baixou as escadas para o vestíbulo da entrada sul, aproximou-se gradualmente. Primeiro, perguntaria a sua preferência para que dia deviam convidar lorde e lady Atherbourne para jantar. Logo, mencionaria a admiração de Lady Atherbourne por ela e a partir de então ela perguntaria sobre sua intenção de permanecer apanhado em um matrimônio com ela enquanto desejava casar-se com outra.

Colocou dois lenços na manga no caso de que as coisas não saíssem bem. Era uma conversação difícil, depois de tudo.

— Minha senhora — disse a senhora Duckett, entrando no pequeno espaço da direção à sala de jantar. — Sua senhoria solicita sua presença.

Viola sorriu à governanta anciã.

— Obrigada, senhora Duckett. Onde gostaria que o visse?

— Oh! Suponho que me esqueci dessa parte. Agora, onde disse...? Ah, sim. O cemitério da igreja.

Piscando ante a inesperada resposta, Viola repetiu.

— O cemitério. Está segura?

— De fato, minha senhora, foi o que ele disse.

Embora Viola tivesse suas dúvidas (depois de tudo, a governanta era muito velha), saiu da casa pela entrada sul, entrou no pátio e cruzou uma ampla extensão de grama para a robusta igreja da época normanda, a cem metros de distância.

À medida que se aproximava, viu que a senhora Duckett não a tinha enganado, já que James estava no canto ocidental do cemitério, com a parte de trás apoiada contra a parede de pedra e os braços cruzados sobre o peito.

Ainda tinha posto o casaco de montar marrom que tinha levado em sua visita a Thornbridge, mas se tinha tirado o chapéu, observou ela.

Levantou a vista quando ela se aproximou, endireitou-se e se passou uma mão pelo cabelo.

— Viola, a senhora Duckett te encontrou, que bom.

Protegeu-se os olhos do sol brilhante, dando-se conta de que não tinha posto um chapéu.

— Não estava completamente segura de sua mensagem — ela respondeu, passando pela porta e movendo-se por volta de onde ele estava. — Não é domingo, pediu ao vigário para reunir-se conosco?

Tinha a boca em uma linha plana, os músculos da mandíbula e o pescoço tensos.

Limpou a garganta.

— Desejo te mostrar algo.

Ela esperou.

— Sim?

Girou os ombros e saudou uma lápide no canto perto de um pequeno arbusto. O marcador em forma de cruz estava coberto de musgo, torcido e desgastado como se tivesse visto mil invernos.

— Isto recorda a você, moça.

— A mim?

Ele assentiu.

Olhou de novo para onde ele assinalava.

— Isto?

— Sim.

— Bom, eu... não sei muito bem o que dizer. — Era verdade. Ela estava completamente desconcertada. — Confesso, James, não vejo a semelhança.

— Seu aroma é o mesmo, cada vez que passar por este canto, pensarei em ti.

Ela piscou, perguntando-se de novo quanto brandy tinham bebido ele e lorde Atherbourne enquanto jogavam bilhar.

— Crê que cheiro a tumba?

Suas sobrancelhas desceram em um frustrado cenho franzido.

— Não. Não a tumba, pelo amor de Deus, a flor.

Seus olhos se acenderam.

— Oh! Refere-se a este arbusto?

— Sim, é uma peônia, a esposa do vigário a plantou aqui faz dois anos. — Inclinou-se para separar as folhas, usando seus dedos para inclinar para cima uma flor larga, frisada e rosada, cujas pétalas tinham começado a murchar-se e dourar-se nas bordas. — O teria arrancado para você, mas sua floração está quase terminada.

Ela sorriu e se agachou para cheirar a fragrância. Suspirando pelo doce e poeirento aroma, olhou ao seu peculiar marido.

— Bom, isto é um alívio James, tinha começado a me perguntar se devia pedir um banho antes do jantar.

Riu, as linhas de seu rosto se relaxaram pela primeira vez desde essa manhã, ela adorava os ruidosos e deliciosos sons. Queria que ele a beijasse, mas o não o fez, em troca, seus olhos se esquentaram e disse em voz baixa e com calafrios.

— Cheira... bem para mim, moça, melhor que qualquer outra coisa.

Soltando um suspiro emocionado, sentiu-se ruborizar e baixou os olhos à sua mão, sua mão grande, forte e capaz, que tocava pétalas com tanta delicadeza.

Talvez sua difícil conversação pudesse atrasar-se por um tempo, só o tempo suficiente para se deitar antes do jantar ou um banho.

As mãos do James poderiam proporcionar assistência crítica em qualquer cenário.

— Que circunstância fortuita, sua senhoria. — O intruso não desejado se chocou contra seus sentidos suavizados pelo calor. Era o administrador do imóvel de James saindo da igreja e fechando rapidamente, seguido por dois homens mais jovens que ela reconheceu como os moços maiores Fellowes.

— Senhor Strudwicke. — O tom de James não era hostil, precisamente, mas tinha a sensação de que tinha gostado da interrupção inclusive menos que ela.

Strudwicke e os dois meninos se inclinaram e saudaram ela e James. Logo, o administrador do imóvel se lançou a uma descrição de seus planos para o próximo festival. Aparentemente, cada ano, os aldeãos decoravam o poço localizado no lado norte com uma elaborada variedade de flores, sementes, ramos e folhas, artisticamente dispostas para formar imagens de ação de graças pelas benções da terra, o costume era antigo, segundo a Senhorita Starling datava de séculos atrás em Shankwood.

— Lady Tannenbrook, me atreveria a dizer, isto pode ser de particular interesse para você, já que o tema deste ano é ‘Ela caminha em beleza como a noite’. Foi sugerido pelo jovem Sr. Fellowes, aqui. — Strudwicke assinalou o menino mais alto, que pareciam ter dezesseis ou dezessete anos. — Uma comemoração à sua senhoria e aos céus estrelados, é claro, arrancaremos cada flor azul e púrpura que possamos encontrar para o desenho.

Viola deu aos três homens seu sorriso mais brilhante.

— Que adorável! Que escolham me honrar de tal maneira enche meu coração de alegria.

De detrás dela, uma sombra avançava.

— Seu tema é um poema de um barão desonrado? — James não parecia contente.

— Nós... esperávamos que o passasse, meu senhor — disse o menino mais jovem do Fellowes, sua voz chiando como dobradiças oxidadas. — A senhorita Tabitha Starling nos leu o poema na primavera passada.

— Acreditava que o poema dizia muitas tolices até que chegou sua senhoria, meu senhor — interveio o Sr. Fellowes, de voz mais profunda. — Então, soube que Lorde Byron devia ter tisto uma visão de Lady Tannenbrook, porque a descreve.

— James — ladrou James, fazendo com que Viola piscasse. O menino Fellowes mais velho também se chamava James? E por que seu James estava tão zangado? — No ano passado, o tema foi “Deixa que a beleza do Senhor, nosso Deus esteja conosco”, antes disso, foi “Então a terra deverá aumentar seu rendimento”. Sente uma distinção entre isto e sua proposta?

Ao ver as inundações das bochechas do jovem, Viola estremeceu.

— Bom, acredito que sua ideia é esplêndida, senhor Fellowes.

Atrás dela, James grunhiu, murmurando algo que soava como “Esplendidamente tolo”.

Ela ignorou seu marido rude.

— Além disso, eu gostaria muito de desfrutar ajudando com os arranjos para o festival, se fosse útil.

— Sim, de fato, minha senhora — exclamou o Sr. Strudwicke, com seus olhos cansados e comovedores que recordam Humphrey. — Isso seria esplêndido.

— Outra vez com o ‘esplêndido’ — resmungou o mal-humorado homem atrás dela. — Toda coisa sangrenta é esplêndida.

Viola esperou até que o senhor Strudwicke e os moços do Fellowes se despedissem para voltar-se e olhar ao seu marido, ele não a olhava, mas sim lançava um olhar ameaçador ao trio em retrocesso.

— Que diabos está mal contigo? — Ela perguntou.

Seus olhos pousaram nos dela, seu cenho franzido era feroz.

— Eu? Não sou o que cita a poesia lixo escrita por um senhor pervertido.

— Não, é o único abominavelmente grosseiro com um jovem que simplesmente deseja honrar o matrimônio do seu senhor rendendo tributo a...

— Ele bem poderia ter cantado sobre seus lábios de pétalas cobertos de orvalho. A putrefação sangrenta é o que é.

Ela levantou uma mão.

— Não posso te falar quando está assim, talvez depois do jantar, tentaremos de novo, uma vez que o brandy tenha seguido seu curso.

Com isso, girou sobre seus calcanhares e se dirigiu para o Hall, onde conforme se esperava, prevaleceu uma maior prudência.

***

James não entendeu, tinha seguido o conselho de Lucien precisamente, primeiro tinha encontrado desculpas para tocá-la, deixando que suas mãos permanecessem em suas pernas depois de colocá-la sobre seu cavalo, logo, tinha encontrado formas inesperadas de felicitá-la, notando que sua pele era de uma cor nata pálido, como a lã de um cordeiro e finalmente, ele tinha compartilhado um exemplo de como ela o agradava.

Lucien tinha especificado que apelar aos seus sentidos melhoraria a efetividade do cortejo, isso era o que lhe tinha feito pensar em lhe mostrar a peônia.

Pensou que também estava funcionando, seus olhos se suavizaram, seus lábios se abriram docemente justo antes que Strudwicke e seu par de jovens brincalhões os encontrassem para interromper o delicado processo de seduzir a sua esposa. Agora ela estava irritada com ele, toda aquela quente e doce cobertura de doçura se substituiu com a explosão da irritabilidade e decidiu desgostar-se.

Inferno maldito

Saiu do cemitério e rodeou o lado leste da casa para dirigir-se para o povoado.

Como de costume, seus admiradores arruinaram tudo.

Ele devia começar o cortejo de novo, desta vez, entretanto, teve uma nova noção destes pequenos gestos, elogios e demais, requeriam uma eloquência que ele não possuía. Adaptavam-se melhor a alguém como Luc, a quem nunca lhe tinha faltado um giro sedutor, as palavras eram fugazes e de pouca substância, em qualquer caso.

Viola merecia mais.

Ela merecia algo duradouro, algo tão formoso como ela, embora isso fosse impossível, nada comparado com ela, mas sabia que sua pequena moça aprovaria seu esforço, e talvez ajudaria a reparar a ferida que lhe tinha feito quando rechaçou o presente que lhe tinha feito. Este tipo de cortejo poderia tomar mais tempo, supôs, estava sem prática, certamente.

Ao dobrar a esquina da loja do Starling Sisters, caminhou por um caminho estreito que conduzia a um longo edifício de pedra respirando profundamente, perguntando-se se estava malditamente louco, entrou na oficina que tinha construído quatorze anos antes, esquivando o dintel. Cheirou a arenosa essência da pedra, escutou o tamborilar do martelo golpeando e, com um pequeno sorriso de lembrança curvando seus lábios, sentiu uma sensação de retidão em seus ossos. George Fellowes olhou para cima, seu cinzel flutuando sobre um bloco de pedra calcária.

— Meu senhor? O que o traz por este lugar velho e poeirento em tão bom dia?

Estava poeirento, os grãos finos flutuavam nas correntes de luz das janelas. Deu uma olhada à loja, notando as mesas de trabalho com cicatrizes, as prateleiras que tinha feito à mão junto ao George, as ferramentas perfeitamente alinhadas em uma fila. Suspirando com satisfação, James sorriu ao marmorista e disse.

— George, necessito de uma pedra.

— Meu senhor deseja que te faça algo?

— Não, o farei eu mesmo, também requererei o uso da oficina por um tempo, talvez uma semana mais ou menos, se não for muito problemático me ter aqui outra vez.

As sobrancelhas peludas do George se arquearam em surpresa, se arranhou a cabeça com o pulso da mão do martelo, espalhando uma nuvem de pó marrom sobre a mesa e o chão.

— É claro que não, passou muito tempo desde a última vez que trabalhamos juntos. Que tipo de pedra está procurando?

Fazendo uma pausa para admirar uma formosa rodada de mármore destinada a cobrir uma mesa de madeira, James sentiu que seu sorriso crescia. Viola reacenderia para ele. Ela veria o que ele tinha feito para ela e as estrelas voltariam para seus olhos, ele sabia com uma certeza que não podia explicar.

— Algo extraordinário, George — respondeu finalmente. — Para isto, só o extraordinário servirá.


CAPÍTULO 20

“Me parece que a limpeza é um atributo pouco apreciado e infelizmente subutilizado. Talvez se refletir sobre esta observação com maior parada e a uma distância maior de minha posição atual, chegará a um acordo.”

A marquesa viúva de Wallingham ao Sir Barnabus Malby depois da terceira quadrilha de dito cavalheiro.

A difícil conversação não ocorreu essa tarde, já que James desapareceu horas antes do jantar, e Viola se ocupou de consultar o pessoal da casa e de familiarizar-se mais com as rotinas de Shankwood Hall. Ela seria, depois de tudo, sua senhora, sempre que ele escolhesse permanecer casado com ela e ela não saberia se esse era o caso até que tivesse a conversação difícil.

O que, de maneira similar, não ocorreu essa noite, já que James entrou na câmara de Viola enquanto ela se encontrava no meio do vapor perfumado de um banho.

Enviou a Amy correndo e ficou a trabalhar imediatamente para assegurar-se de que a limpassem muito, muito bem. A partir de então, tirou-a da água que gotejava e a levou à cama, onde procedeu a lhe fazer amor com uma minuciosidade impressionante e atenção ao detalhe. Aquelas magníficas mãos, junto com qualquer outra parte magnífica dele, faziam bem seu trabalho.

As coisas seguiram no mesmo padrão durante a semana seguinte, com James despertando cedo e estranhamente ausente durante a maior parte do dia, só para retornar tarde para tomar seu corpo até que estivesse frouxa, saciada e adormecida. Durante as refeições conversaram sobre comida, pesca, festivais e todo tipo de temas, mas não o único que poderia mudar tudo.

Uma conversação difícil, segundo ela, era difícil de programar quando temia a ideia de fazê-lo. Quando finalmente ocorreu, chegou a ela como um touro passando através de uma porta inesperadamente aberta.

Ela estava escrevendo uma carta a Charlotte, lutando por explicar suas circunstâncias sem parecer mal-humorada, quando James entrou na sala de estar conectada às suas habitações.

Ela levantou a vista, notando a estranha capa de pó sobre sua pele, o suor com o passar da gola aberta de sua camisa, não usava gravata, nem casaco. Seu colete era de lã verde liso, suas mangas foram enroladas além dos antebraços grossos e musculosos.

De repente, ela queria saltar sobre ele, afundar seus dentes naqueles braços, seus dedos em seu pescoço, senti-lo dentro dela outra vez.

A necessidade era feroz, quase dolorosa em sua intensidade, seus olhos a encontraram esquentado e queimado.

— Aí está, moça. — Um meio sorriso curvou seus lábios.

Ela se levantou de sua cadeira, jogou a pluma sobre a escrivaninha, desviou-se para ele como se fora atirado por uma linha, enfiou suas mãos em sua camisa e puxou aquela deliciosa boca à dela.

Ele gemeu, o som vibrando contra seus lábios e língua, ela acariciou e invadiu, pulsando da forma que lhe tinha ensinado, gemeu de novo.

Mas ele não a envolveu com aqueles braços.

— Me abrace — ela ofegou, seu fôlego apanhado quando sua necessidade se acendeu. — Quero sentir suas mãos sobre mim.

— Estou sujo, moça, não desejo arruinar seu vestido.

Ela grunhiu, seus dedos cravando-se nos músculos de seu peito.

— Não dou a mínima ao meu vestido, James Kilbrenner, te necessito agora.

Ele se pôs-se a rir, o som era um retumbar sensual que fez com que seus mamilos se elevassem e suas coxas se apertassem.

— É uma pequena coisa exigente, não é?

Ela rasgou os botões de seu colete, puxando o tecido para que pudesse arrancar sua camisa da cintura de suas calças, logo foi trabalhar em sua calça.

— Baixa a velocidade, moça. Não há necessidade de apressar-se.

— Há todas as necessidades. Minha necessidade.

— E sempre não tenho te satisfeito?

O terceiro botão de sua calça lhe deu problemas, então ela resolveu o problema simplesmente alcançando dentro e agarrando firmemente seu pau. Tinha-lhe ensinado a palavra depois de muito persuadi-lo, havia sido muito resistente a compartilhar o termo com ela, como se a linguagem grosseira a corrompesse mais que os atos que seu pau realizava regularmente. Além disso, gostava da palavra, gostou do que descrevia ainda melhor agora, estava em suas mãos, exposto aos seus olhos.

Todo aquele enorme calor e dureza, pensado para ela, para seu prazer. Ela se inclinou para frente e o tomou em sua boca, a diferença em suas alturas o converteu em um assunto simples.

— Ah, Deus todo-poderoso, Viola. — Finalmente, sua mão a tocou, mas só para cavar a parte de trás de sua cabeça, seus quadris se sacudiram quando ela chupou a ponta, sua mão o agarrou pela base, sustentando-o à sua mercê. Ela o amava com sua língua, acariciando e dando voltas, encontrando um pequeno ponto sensível justo debaixo.

O rugido da vontade de seu marido finalmente penetrou sua consciência, um instante antes que ela o sentisse tomar sua cabeça e sacudir seus quadris justo o suficiente para sair de sua boca.

Justo o suficiente para atrai-la para cima e olhá-la aos olhos com tanta agitação, sentiu-o como uma dor no centro de seu peito. Suas mãos sustentaram suas bochechas, seus dedos envolveram a parte de trás de sua cabeça. Em algum momento, deu-se conta, tinha-lhe afrouxado o cabelo, ela sentiu o peso disso em suas costas.

— Quer este sujo escocês em lugar de seu vestido, não é, moça? Está muito segura?

— Estou segura. — Ela gemeu. — James, oh, Deus, James, tome-me por favor, rogo-lhe isso.

No seguinte instante suas mãos estavam sobre ela, correndo sobre os mamilos apertados e doloridos, agarrando-se às saias de seda rosa.

Rasgando o corpete da nuca até a cintura, então ele a estava girando, forçando a bata sobre seus braços, rompendo seu espartilho. Completamente aberto, cavou seus seios em mãos poeirentas, capazes.

Ela sentiu seu pau pressionando contra sua parte traseira através de suas saias, sentiu seus dedos apertando seus mamilos, sentiu seu fôlego quente, seus lábios e sua mandíbula trabalhando a um lado de seu pescoço. Então um de seus braços caiu à sua cintura, puxou suas saias e fez girar aos dois.

Levou-a ao sofá de veludo verde colocando-a de lado com os joelhos sobre a almofada, as mãos apoiadas no braço enrolado se apoiaram atrás dela, puxou seus quadris para os seus, passou a ponta de seu pau brincando ao longo de suas empapadas dobras.

Inclinado sobre ela, apertando seu mamilo com seus dedos brilhantes e fortes, lhe sussurrou algo quente ao ouvido.

— Leva o seu escocês sujo dentro de ti agora, Viola.

Ele a puxou com um só golpe impressionante, afundando-se profundamente e na verdade ela desfrutou de seu prazer, arranhando o tecido verde sob seus dedos, amando a sensação de sua carne golpeando a dela, querendo mais, exigindo mais, sua mão se estendeu para trás. Agarrou um punhado de seu cabelo, o empurrou para frente para que ela pudesse girar a cabeça e tomar sua boca de novo, ele empurrou mais forte, mais rápido.

Apertou e acariciou seus seios com uma mão apoiada, sustentando-se a si mesmo por cima dela, enquanto seus quadris e seu pau a levaram mais alto e mais alto e mais apertado e então, ele a conduzia pelo precipício.

Ela se apoderou, gritou e estremeceu, apertou seu pau voraz com avidez e prazer assombroso. Ela sentiu que seu ritmo aumentava, ficou suspenso por um momento, logo ele deu um último empurrão antes de liberar-se de seu corpo, seu pau escorregadio, uma pressão acalorada contra sua pele, sacudindo-se e explorando enquanto rompia seu beijo para rugir seu clímax. O som ecoou através de sua pele e ossos, fechou os olhos, saboreando o som de seu prazer, o aroma do pinheiro, o suor e ela e James.

Brandamente, recostou-se sobre seus calcanhares, levantando-a em seus braços e embalando-a contra ele, se sentou com ela em seu regaço, acariciou-lhe o cabelo e lhe beijou o pescoço.

— Olhe o que fiz, inferno maldito, agora é um verdadeiro desastre. — Logo esfregou uma mancha de terra em seu ombro. — Nunca devia havê-la tomado tão rudemente, sinto muito.

Ela brincou com a mão que ainda a segurava pela cintura, medindo seus dedos contra os dela, foi então que começou a difícil conversação sem sequer tentá-lo.

— Por que sempre se comporta como se eu fosse uma criatura intocada que tem que manter a salvo atrás do cristal?

Seu corpo se esticou, um comprido silêncio caiu, ele a levantou e a pôs brandamente no sofá, então levantou-se, abotoou sua camisa, foi ao lugar onde sua bata, suas anáguas e seu espartilho se juntaram no chão. Sem outra palavra, ele saiu da habitação, deixando-a sentada, aturdida, pegajosa e nua sobre um tecido verde.

Momentos depois retornou com sua bata de pêssego favorita e a entregou a ela.

Ficou de pé para envolvê-la ao redor de seu corpo.

Então ela o viu caminhar ao longo da habitação, quatro vezes. Não. Cinco.

Ele se girou para olhá-la.

— Porque isso é o que é, Viola, uma preciosidade formosa, é muito boa para estas mãos.

— Oh, isso é pura bobagem, eu adoro essas mãos, em particular, adoro quando estão sobre meu corpo ou dentro do meu corpo, para o caso.

Passou uma das mãos antes mencionadas por seu cabelo, um pouco de pó desabou.

— Aí — Assinalou o pó. — Imundo, não deveria estar te tocando absolutamente, mas sou um bruto egoísta, ambicioso e luxurioso, e não posso resistir.

— Você é meu marido.

— Sim, mas isso não significa que está bem, Viola.

Todo o calor fugiu de sua pele, o gelo subiu para substitui-lo, ela piscou lentamente, absorvendo o que acabava de dizer, tropeçando para trás, derrubou-se quando a parte de trás de seus joelhos golpeou a borda do sofá, sentando-se com um suave golpe.

— Você... — Ela engoliu em seco e tentou de novo. — Sentiria o mesmo por Allison?

Ele caminhou para ela, inclinando-se para frente e apoiando suas mãos na parte de trás do sofá, a cada lado de sua cabeça, seu rosto flutuando a centímetros do dela.

— Me escute, moça, o que viu naquele dia não foi o que parecia, fui vê-la, sim. Nós falamos, seu marido tinha morrido, era um momento de dor, ela me beijou. Surpreendi-me por um momento e não reagi, então, afastei-a de mim.

Ela olhou seus olhos, amados e verdes se queimando como um bosque em chamas.

— Porque é um homem de honra — ela sussurrou.

— Não, maldito inferno, Viola, porque não a quero. Desejo-te, entende? Quero-te até que não possa suportar outro momento, até que me dói em cada peça e parte, cada osso, cada músculo, cada centímetro de mim. A honra não tem nada a ver com isso. — Ele se afastou e lhe deu as costas para caminhar na metade da longitude da habitação dela, juntou as mãos sobre a cabeça e permaneceu assim durante longos segundos antes de continuar em silêncio. — Se eu fosse honorável, teria lhe deixado se casar com o fraco fanático do queixo estúpido, Lorde Hugh.

Ela queria falar, mas seu coração estava apertando e pulsando com tanta força que mal podia respirar finalmente, ela pôde ofegar o ar o suficiente para dizer seu nome.

— James? — A palavra era tímida e fraca, mas o atraiu para ela, com os braços caindo aos flancos. — Quer?

— Não sou suficientemente bom para você, moça.

Ela sacudiu sua cabeça.

— Essa é a coisa mais tonta que escutei, é o melhor dos homens. — Olhou as mãos.

— Não, eu sou...

— O melhor dos homens. — Ela ficou de pé, caminhou para ele e tomou suas mãos nas dela. — Se me quiser, sou tua, James, simples, e sempre foi assim.

***

Sua pequena moça tinha uma mancha em sua linda e branca bochecha, seu cabelo estava em uma desordem negra e selvagem. Seus lábios de pétalas de rosa estavam inchados por seus beijos.

Mas seus olhos, ah, as estrelas tinham retornado, brilhavam sua luz para ele, constelações inteiras de beleza incandescente.

Charlotte tinha tentado dizer-lhe no baile de máscaras, quando tinha ficado olhando Viola paquerando e dançando, quando tinha estado ardendo dentro de um agonizante inferno de raiva e desejo, Charlotte havia dito que tudo o que devia fazer era deter-se, dar a volta e deixar que Viola corresse para seus braços. Então lhe tinha aconselhado que se cuidasse para não ferir a indomável Senhorita Darling, já que nunca sabia quando esses hematomas poderiam começar a importar muito.

Como de costume, Charlotte tinha tido razão, mas não queria ouvir. Convenceu-se de que ceder ao seu desejo por Viola lhe faria mais dano que rechaçá-la, tinha-o levado a infligir feridas que só agora estava começando a ver curar.

Brandamente, acariciou as preciosas bochechas de Viola com suas grandes e imundas mãos, esfregando a mancha com o polegar.

Ele se inclinou para lhe beijar a testa brandamente, então aqueles olhos lindos, finalmente, ele beijou seus lábios, apoiando sua boca contra a dela, respirando em seus pulmões.

— É minha, moça — sussurrou. — Minha mulher, refiro-me a te cuidar, aconteça o que acontecer. — Ela assentiu, uma lágrima escapando. — Não chore.

— Estou feliz — ela respondeu, sua voz rouca e suave. — Pensei que a queria, que a amava, sabia que te tinha apanhado no matrimônio, e pensei que deixá-lo ir era o correto.

— Agora, aí é onde se equivocou. — Ele sorriu e beijou o lugar onde tinha caído a lágrima, saboreando o sal em seus lábios. — Quando me perseguia, não se importava a mínima com o que era correto, tentou e se retorceu até que eu não soube o que aconteceu, essa foi uma estratégia efetiva, por Deus.

Ela se pôs-se a rir, o som era um bálsamo para sua alma.

— Estava decidida, não é? — Ela suspirou e lhe acariciou os pulsos. — Vitória me recordou que meu erro tinha sido eliminar suas escolhas, e que te deixar antes que te perguntasse o que queria seria repetir meu erro, me alegro de havê-la escutado.

Ele a beijou de novo.

— Como eu sou, moça, se me tivesse deixado, teria custado um tempo te perseguir, mas ao final, teria tido um diabo te perseguindo. — Ela levantou uma sobrancelha.

— Oh, sim? — Baixou a voz a um grunhido brincalhão.

— Sim, encerrada aqui, nua e à minha mercê durante semanas, todos seus vestidos em pequenos pedaços.

Ela riu, como ele havia intentado, era melhor se ela não soubesse a seriedade atrás de suas palavras. Se ela o tivesse deixado, teria açoitado até os limites da Terra, faria o que fosse necessário para mantê-la, felizmente, sua esposa teve a graça de admitir quando estava equivocada e a coragem de fazer o correto, sem mencionar a persistência, ela tinha isso em abundância.

Atraiu-a para seu corpo, absorvendo o puro prazer de sua suavidade contra ele.

— James? — Sua voz era apagada e sibilante, assim afrouxou seu abraço.

— Sim.

— Está bastante sujo, e eu também.

Ele se retirou, um arrebatamento de vergonha regressando, ele lhe tinha rasgado o vestido, tomou-a em suas mãos e joelhos, em um sofá, nada menos. Tudo isso coberto de pó e suor.

— Sinto muito, moça.

— Oh, não sinta, só ia sugerir um banho. Supõe que há uma banheira suficientemente grande para os dois? — Logo, sua audaz, coquete e provocadora esposa esfregou seus doces e apertados mamilos contra ele e ronronou— Admiro tanto a forma em que me lava.


CAPÍTULO 21

“A percepção da beleza é, por sua natureza, subjetiva. Por exemplo, alguns podem considerar que seu colete é uma obra-prima, enquanto outros têm pouca necessidade de óculos.”

A Marquesa viúva de Wallingham a Lorde Gattingford em um agradável passeio pelo jardim sul.

— Maldito inferno — murmurou James enquanto subia a enorme obra de arte viva sobre o poço de pedra na borda da grama. Cada ano, os aldeãos construíam uma tela de madeira sobre uma moldura do tamanho de uma mesa. Primeiro cobriram a superfície com argila de um lago próximo, logo uniram centenas e centenas de pétalas de flores, folhas, sementes e qualquer outro fragmento estranho que se ajustasse à imagem que desejavam criar.

Este ano tinham eleito celebrar a feliz ocasião de seu matrimônio organizando cada flor azul, púrpura, rosa e branca sobre sua tela de barro para formar uma imagem de Viola de pé sob uma lua cheia e um céu cheio de estrelas, com ele.

— Minha cabeça parece um pedaço de pão — queixou-se.

Viola riu e logo o fez calar.

— E aqui temos a magnífica criação — anunciou o vigário a uma audiência absorta. — Uma comemoração a Lorde Tannenbrook, quem considerou oportuno adornar a nossa aldeia e todas as pessoas de Shankwood com uma dama mais esplêndida, virtuosa e amável. — Fez um gesto a Viola, que inclinou a cabeça em sinal de reconhecimento. — Lady Tannenbrook, você é uma bênção para todos nós, um presente enviado dos céus a...

Enquanto o vigário seguia falando, como estavam acostumados a fazer os vigários, James se inclinou para sussurrar ao ouvido de Viola.

— Inclusive o maldito vigário, não é? Há algum homem que não caia aos seus pés, moça?

Deu-lhe um sorriso reservado e sussurrou sua resposta.

— Só há um homem de quem procuro adoração, talvez poderia considerar ajoelhar-se em meu altar mais tarde.

Cobriu sua risada com uma tosse aguda.

— Te farei cantar os louvores de Deus, é claro.

— ...e orem para que os frutos do ventre de nossa senhora sejam abundantes e, pela graça de Deus, benzam Shankwood e suas terras com muitas gerações por vir.

Um forte aplauso ressoou no conjunto de aldeãos reunidos na grama.

James não pôde determinar se foi o acordo ou a gratidão que o vigário tinha deixado de falar. Viola, entretanto, ficou estranhamente imóvel.

— O que é, moça?

Embora parecesse pálida a ele à luz do sol difusa, sacudiu a cabeça e lhe deu um tapinha no braço para indicar que estava bem, e logo deu seu sorriso habitual. Mais tarde, depois que saudaram os aldeãos e falaram longamente com o vigário, ela seguia sorrindo alegremente. Só pôde concluir que tinha interpretado mal sua reação antes, enquanto a multidão se dispersava, inclinou-se para beijar Viola e lhe explicou.

— Tenho um trabalho que devo fazer, te verei na festa desta noite.

Ela sorriu de novo e assentiu.

— Prometi a Vitória que iria encontrá-la, mas devo retornar muito antes que comecem as festividades.

Beijou-a pela segunda vez e uma terceira. Ela riu entredentes contra sua boca e o afastou trotando a curta distância até a oficina, entrou para encontrá-la vazia.

Muito melhor.

Tinha trabalho a fazer, e tinha a intenção de completá-lo antes que Viola retornasse de Thornbridge esta noite, sua esposa saberia quão devoto era este fiel em particular à sua dama.

Cuidou ao máximo do trabalho, foi tão preciso e exigente como recordava cada golpe de seu cinzel de cauda de pescado, cada fina película de sua espátula, tinha que fazer-se no ângulo perfeito para obter o efeito final que desejava. O tempo passou tão rápido que mal notou a luz minguante, o trovão na distância, o tamborilar da chuva sobre o vidro. Tudo o que sabia era que, quando levantou a vista, saíam folhas de água pelas janelas, e os gritos e as risadas das crianças da aldeia tinham sido substituídos por repetidas explosões e rajadas de vento.

A repentina tormenta poderia causar um atraso no festival. Bem, esperava que se fosse rapidamente, porque Viola se deu a muito trabalho para assegurar-se de que a celebração desta noite fosse um êxito.

Franzindo o cenho, usou a luz que ficava para dar os toques finais à sua criação, limpando o último pó do trabalho, afastou-se e caminhou ao redor da mesa, examinando a peça de todos os ângulos. Pensou que era um bom trabalho, nunca tinha tentado algo tão intrincado, e por um momento, sentiu a calidez do orgulho cantando em suas veias.

Deu uma olhada ao redor da oficina, dando-se conta de que mal podia ver na luz baixa, tirou-se o avental e o pendurou na cavilha ao lado da porta antes de colocar o chapéu e o casaco. Logo, dirigiu-se à mesa que sustentava sua criação, cobriu-a com um pouco de tecido, levantou-a em seus braços e a levou à chuva.

Estava empapado em segundos. “Deus, que tormenta”, murmurou para si mesmo, olhando a um céu enegrecido embora não pudesse ser mais tarde que as cinco ou as seis, o dia se converteu em um entardecer. O trovão rodou pesadamente, o relâmpago se gretou e jogou sua fúria sobre o negro céu.

Apressou-se pelo caminho vazio e enlameado, correndo para Shankwood Hall. Quando entrou pelo corredor sul, estava empapado do chapéu às botas. Inclusive seu rosto estava escorregadio pela água de chuva, as gotas caíam de seus cílios com cada piscada.

— Me deixe lhe ajudar, meu senhor — disse a senhora Duckett, arrastando os pés no corredor enquanto ele gotejava sobre o parquet. Ela pegou seu chapéu e se ofereceu a tomar o pacote de seus braços, mas ele se negou a soltá-lo.

— Me encarregarei disso — disse. — Onde está Lady Tannenbrook?

A anciã piscou e entrecerrou os olhos.

— A senhora... Bom, assumi que ela estava no povoado com sua senhoria.

Ele franziu o cenho.

— Ela não retornou de Thornbridge?

— Não, meu senhor.

Uma pontada de alarme começou na parte superior de sua coluna vertebral.

— Possivelmente ela escolheu ficar até que passe essa tormenta, seria sensato, é uma raridade ter um aguaceiro tão vigoroso como este.

Sentindo-se frio, assentiu, mas sua mente estava inquieta. Queria tocá-la, saber que ela estava a salvo. Levou a escultura acima, colocando-a sobre sua penteadeira junto à caixa esmaltada. Com um dedo, levantou a tampa da caixa. O lenço ainda estava ali, debaixo de um punhado de forquilhas. Suspirou. Possivelmente depois de ver seu presente, ela consideraria voltar a lhe oferecer sua própria criação, um homem só podia esperar ter uma segunda oportunidade em algo tão precioso.

A porta se abriu de repente, o lacaio mais jovem, um homem de quarenta anos chamado David, ofegava, com os olhos muito abertos.

— Meu senhor, deve vir rápido, Lorde Atherbourne está aqui.

O alarme que havia sentido antes se abriu de repente e desdobrou seu peso completo e ameaçador ao longo de sua coluna vertebral e crânio. Correu como nunca tinha se deslocado, tomando a longitude do corredor e o lance das escadas em um simples batimento do coração. Mas então, seu coração se deteve no momento que viu o rosto do David.

Então, viu Lucien de pé em frente à porta. Arrasado como se tivesse cavalgado pesadamente através desta tormenta. Os olhos escuros o apanharam quando James estava à metade da escada, estavam mais tristes do que os tinha visto em dois anos.

Ah, Deus, não.

Algo rasgava o peito de James, arranhava-o e o rasgava em pedaços. O ar ao seu redor e dentro dele se congelou. Queria tempo para parar. Queria cair de joelhos e implorar. Queria que Lucien não dissesse o que ia dizer.

— Deve vir agora, James, sinto muito, mas deve fazê-lo.

***

Fulgores de luz, brancos e cinzas, brilhavam na escuridão. A dor apunhalava e golpeava ao longe. Ela escutou o som daquilo. Boom e eco. Boom e eco. Boom e eco. Embora o som se desvaneceu, a dor permaneceu.

Estava confusa na escuridão, até que de repente, fez-se a luz. Era de manhã. A luz do sol esquentava suas mãos onde descansavam sobre a escrivaninha de carvalho de sua sala de estar. O pó flutuou em um raio piscante, aterrissou sobre seus dedos e a manga índigo de seu vestido.

Tinha chegado uma carta de Charlotte. Viola tinha tentado três vezes escrever à sua amiga mais querida, para explicar sobre James, a respeito do muito que o amava, mas de como se desesperava por liberá-lo por sua felicidade. Mesmo assim, nunca tinha podido encontrar as palavras, mesmo depois que ele tinha declarado sua intenção de ficar com ela.

Agora, felizmente, Charlotte tinha escrito, aliviando sua culpa pelo lapso em sua correspondência. Trabalhou as bordas do papel entre a ponta dos dedos e o polegar, desfrutando do formoso guia da mão de Charlotte. Vertical e ordenado, elegante e eficiente. A caligrafia de Viola possuía uma inclinação impaciente e o ocasional ciclo selvagem. Ela nunca tinha dominado a elegância em nenhum ofício.

Querida Viola, começou a carta, talvez pense que estou louca e possivelmente tenha razão, mas acredito que Benedict Chatham é o melhor homem que conheci.

Viola não estava de acordo com esse ponto, James era o melhor de todos, mas concedia concessões pelo óbvio amor de Charlotte. Ela suspirou e seguiu lendo. Seu sorriso cresceu ao se inteirar do recente descobrimento da gravidez de sua amiga.

Querida, embora deva te dizer, este conhecimento constitui a maior das alegrias e o maior dos sobressaltos. Quando não se tem uma mãe própria, a perspectiva de converter-se em uma faz com que o coração se imagine totalmente desigual na tarefa, entretanto, meu querido Chatham está muito feliz e insiste em construir um novo berço para o quarto das crianças, apesar de não ter empunhado nem cinzel nem martelo em todos seus anos sobre esta Terra.

Viola sorriu de novo, mas seu sorriso logo se desvaneceu. Uma criança. James lhe tinha feito amor muitas vezes, mas se as descrições de Georgina eram corretas, ainda não tinha dado o passo final e crítico para que ela tivesse um filho.

Tinha assumido que ele tratava de lhes dar tempo para que se acostumassem ao seu matrimônio antes de tentar engendrar um herdeiro. Talvez isso fosse assim, mas as notícias de Charlotte fizeram com que lhe doesse por dentro de uma maneira que não tinha antecipado.

O papel tremeu, as palavras agora piscavam dentro e fora de sua vista, seus dedos baixaram a carta até a escrivaninha e se aproximaram de pressionar sua testa. A dor tinha começado de novo.

Tentou olhar pela janela, mas a luz era ofuscante agora, as garras da dor de cabeça se filtravam atrás de seus olhos. A escuridão cintilou então em luz, a dor retumbou e se ecoou.

Ela estava no escritório de James agora, buscando-o, o festival logo começaria e deviam ir. Doía-lhe a cabeça, mas se negou a permitir que uma indisposição tão pequena lhe impedisse o evento. Girou no centro do escritório quando escutou passos. Não era James, mas seu advogado, o Sr. Gates, um homem de aspecto inteligente que sempre levava um jornal encadernado em couro na mão e um lápis no bolso.

— Lady Tannenbrook — exclamou com um amplo sorriso e um movimento de seus óculos. — Que prazer lhe ver de novo. Por sua expressão, suponho que estava esperando lorde Tannenbrook.

— De fato, senhor Gates, é um prazer lhe ver também. -Não era precisamente uma mentira, mas ela se sentiu decepcionada. Queria James e lhe doía a cabeça.

— Eu também estava procurando a sua senhoria, fiz um descobrimento que antecipei que o agradaria enormemente.

— Oh? — Não lhe importava, mas o senhor Gates estava muito entusiasmado, então se cruzou as mãos e esperou que ele se explicasse, não esperou muito.

— O herdeiro de sua senhoria está vivo e, se minha investigação resultar correta, inclusive agora está em Londres.

— Sua senhoria tem um... herdeiro?

— Um primo, como saberá, houve algumas dúvidas sobre se o menino tinha sobrevivido, já que parece que trocou seu nome depois da desafortunada morte de sua mãe e seu pai — procurou dentro de seu casaco. — Minha investigação tinha chegado a um ponto morto antes de seu matrimônio, inclusive perguntei se sua senhoria desejava continuar o esforço. É bom que sua senhoria tenha insistido, entretanto, durante os últimos três dias se viram grandes avanços na localização de seu presumido herdeiro.

— Insistiu? Meu marido insistiu em que seguisse procurando, inclusive depois que nos casamos?

Quando o senhor Gates deixou cair seus óculos sobre seu nariz, formou-se uma pequena ruga entre suas sobrancelhas.

— Em efeito. Não o disse? Bom, talvez sentisse que o assunto era muito incerto para considerar contá-lo, minha senhora.

Ela tinha sabido sobre a busca de seu herdeiro durante a temporada, ela também tinha reconhecido sua resolução de completar sua missão auto atribuída. Um homem não se submetia às ternas misericórdias de Lady Wallingham sem uma causa convincente, depois de tudo. Mas ela tinha pensado que sua urgência se devia a sua resistência ao matrimônio, porque se nunca se casasse, nunca poderia ter um filho legítimo.

Agora, entretanto, estava casado com ela e, entretanto, tinha pedido ao Gates que continuasse a missão. Insistiu, inclusive. Sua dor de cabeça piorava, fazendo com que seu estômago se revolvesse e tremesse.

A luz vacilou e brilhou em sua vista, bloqueando o nariz do Sr. Gates como se seus óculos refletissem o olhar do sol em seus olhos, cresceu até que brilhou, brilhante e ofuscante.

Logo veio a escuridão. Dolorida e confusa, com vontade de gemer, querendo James.

De repente, ele estava aí, estavam juntos rindo e brincando um com o outro. A dor em sua cabeça não era nada quando estava com ele.

O vigário estava falando, falando de ventres e fertilidade. Isso a fez recordar a alegria ofegante que tinha tido ao ler a carta de Charlotte, a dúvida e a confusão introduzidas pelo senhor Gates.

A escuridão a alagou de novo. Estava chovendo. Não só chovendo, caíam folhas em cubos diretamente sobre ela e a bonita égua cinza. Estava retornando a Shankwood depois de visitar Vitória. Esgotada depois de horas fingindo não ter uma dor terrível, tinha esperado que a tormenta passasse rapidamente, mas não o tinha feito, em lugar de perder a boa festa que se celebraria logo, ela tinha ignorado as súplicas de Vitória de esperar, assegurando à sua nova amiga que era uma viagem curta, só um pouco de chuva...

Agora, os brilhos em sua visão iluminaram a escuridão e o eco se converteu no estalo, o rangido e o gemido da madeira escavados por um arroio.

Seu cavalo relinchava, ela estava caindo para trás, deslizando. Agarrou a crina do cavalo, aferrando-se com punhos lisos e enluvados. Os cascos da égua rasparam sobre a madeira, de repente, escorregaram. Outro estalo, outro brilho. A égua tropeçou, suas pernas dianteiras se dobraram e Viola se foi voando.

Golpeou a água com uma força assombrosa, agitando os braços para flutuar. Nada tinha sentido. A água estava em sua boca e nariz.

O frio desumano se amontoava. Arrastando e empurrando, golpeando e puxando, seu pé apanhou algo. Uma pedra. Ela chutou, tentando sair à superfície, liberou-se, lutou contra a feroz corrente, contra as águas enlouquecidas e inchadas pela tormenta.

Logo, seus músculos doíam e ardiam. Doía-lhe e lhe queimava a cabeça, ela soluçou, olhando passar a ponte. Chutou seus pés para encontrar o fundo. Por fim, ela o fez o suficiente para empurrar para a terra em lugar de água. Voltou a cabeça para olhar a ponte de madeira estilhaçada. Precipitou-se para ela, tão rápido, que só pôde levantar o rosto. A força do golpe foi brutal, a dor, uma explosão de vermelho e cinza. A curva do arroio a apanhou e tudo se voltou negro.

James. Ela devia ver James, agora. Seus joelhos caíram nas rochas, ela arranhou e raspou, a dor em seu corpo não era nada. Devia voltar com o James.

A erva fazia cócegas no nariz. Encheu sua boca. Alguém estava ofegando.

Perguntou-se se era seu cavalo, a formosa égua cinza que tinha tentado tão corajosamente se manter-se em pé.

Vermelho e cinza, negro. A luz cintilou de novo. Boom e eco. Boom e eco. Boom e eco. Logo escutou seu nome. Viola. Sussurrado e doce. Logo veio a escuridão outra vez, mas desta vez, a luz não voltou.


CAPÍTULO 22

“Não criamos a tormenta, Humphrey. Simplesmente a suportamos.”

A marquesa viúva de Wallingham ao seu companheiro, Humphrey, em resposta à sua inconfundível decepção pela natureza abreviada de seu passeio pela tarde.

Atrás dele, estavam falando Lucien e Vitória.

— Crê que ele comeria algo? Poderia pedir uma bandeja.

— Não, anjo, não pode pensar em nada mais que nela. Mandei buscar o médico, mas com a tormenta...

Lucien tinha razão. James não tinha fome. Não estava cansado, não sentia nada, absolutamente. Olhou a sua pequena moça onde jazia no dormitório azul celeste de Thornbridge. A metade de seu rosto se havia torcido e descolorido grotescamente, seu formoso cabelo negro estava coberto de barro. Sabia, por suas anteriores e terríficas explorações, que seus joelhos estavam machucados e sangrentos, com as unhas quebradas.

O cavalo tinha sobrevivido e voltara para Thornbridge, e Lucien a tinha ido procurar. Tinha encontrado Viola estendida de barriga para baixo na berma, a cem metros rio abaixo da ponte meio estraçalhada. Então, havia a trazido de volta e montado como um demônio para procurar o homem que a amava mais que a sua própria vida. O homem que deveria ter evitado isto.

James baixou os lábios à sua mão, que tinha mantido entre as suas durante horas enquanto esperava que ela despertasse para olhá-lo, para dizer seu nome.

Uma mão agarrou seu ombro.

— Não é sua culpa, James. — A voz do Luc era baixa.

— Sim, é, deveria ter vindo com ela.

— Por quê? Essa ponte esteve ali desde antes que nascesse, suportou inundações atrás de inundações. Não tinha forma de saber que o tempo mudaria, e muito menos que a maldita coisa falharia.

— Deveria ter estado com ela.

— Seja razoável, homem, foi um acidente.

James sacudiu a cabeça. Luc não entendia, lhe pertencia e lhe tinha falhado. Não era a primeira vez que tinha falhado a alguém que amava.

Lucien se afastou. Passou o tempo e James observava a sua esposa respirar à luz dourada do abajur. Vitória entrou para comprovar se tinha febre e pôs um prato de pão e manteiga na mesinha de noite.

— Come algo, James — ela sussurrou, beijando brandamente sua bochecha, então, ela também se foi.

Com o tempo sentiu que o peso do dia o arrastava, por isso se levantou da cadeira, aproximou-se do outro lado da cama e se deitou junto à sua esposa, tendo muito cuidado de não a incomodar. Sua mão lhe acariciou o braço e o lado são de seu rosto. Sentiu seu fôlego e suspirou quando o ar quente e suave lhe fez cócegas no dedo. Logo, ele moveu sua mão entre seus seios, sentindo o batimento de seu coração.

Pode ser que tenha adormecido, porque quando voltou a abrir os olhos, viu que o olhava fixamente.

— James — ela murmurou, a palavra distorcida pelo inchaço de sua bochecha e boca.

Sua cabeça agora descansava sobre seu ventre como se o tivesse eleito como seu travesseiro. Sua mão jazia entrelaçada com a dela, enquanto a outra lhe acariciava brandamente o cabelo.

— Amo-te, moça. — As palavras brotaram dele completamente formadas e sem vontade, eram tão verdadeiras como qualquer outra coisa que ele tivesse falado.

Uma lágrima percorreu sua bochecha ilesa.

— Oh, James, eu te amo mais.

— Impossível.

Ela sorriu, mas rapidamente se converteu em uma careta de dor.

— Talvez pudéssemos discuti-lo mais tarde, dói-me a cabeça abominavelmente.

Ele engoliu e se sentou, não querendo lhe causar nenhuma moléstia adicional, a luz da janela indicava que era de amanhã. Tinha dormido toda a noite?

— O médico esteve aqui faz uma hora — disse Viola com suavidade.

Passando uma mão pelo cabelo, piscando para afastar-se da névoa do sono, James franziu o cenho, perguntando-se se tinha escutado corretamente.

— O médico esteve aqui? Por que não me despertou? Maldito inferno, Viola. Quanto tempo estive dormindo? Quanto tempo está acordada?

Ela franziu os lábios, piscando seu único olho aberto, o outro estava fechado pelo inchaço e já estava negro.

— Hmm, vejamos. — Levantou os dedos para contar suas respostas. — Sim, porque estava dormindo tranquilamente, e Vitória disse que tinha estado acordado toda a noite, suponho que quatro horas, apoiada em minha lembrança dos acontecimentos e aproximadamente duas horas, embora possa ter dormido esporadicamente.

— O que disse o médico?

Lhe acariciou o braço.

— Tenho hematomas e dor que me doerão durante uma semana mais ou menos. Centrou-se principalmente na lesão do meu rosto. Depois que a inflamação diminuir, poderá avaliar melhor se houve alguma fratura ou ferimento no olho, mas por agora, não vê nenhuma indicação disso. Ele sugere láudano para a dor e muito descanso, oh, e beijos, muitos beijos.

Deveria aliviar sua mente. Ela estava acordada, ferida, mas respirando e falando. O médico a tinha visto e estava viva.

Ainda se sentia frenético, vibrando como uma corda pulsada destroçada pelas visões de sua pequena e delicada bochecha que se estrelou contra os escombros, sua pequena moça delicada se afogando e a tirando para sempre. Queria abraçá-la, mas não podia arriscar-se a lhe machucar, já tinha feito suficiente disso.

Levantando-se da cama, começou a andar.

— De agora em diante, onde quer que vá, eu vou.

— Não seja tolo.

Lhe assinalou com um dedo.

— Me escute bem, Viola, não tolerarei outro incidente, é possível que deseje seguir uma e outra vez por capricho, mas sou responsável por seu cuidado. Se fará o que eu diga, você é minha esposa.

— Precisamente, sou sua esposa não sua filha.

Seus pés se detiveram em meio de um tapete azul céu. Seu menino, seu filho.

Algo lhe estava esmagando o peito, suas mãos se moveram aos seus quadris. Uma força o inclinou para frente. Dobrou-se os joelhos justo ali, sobre um tapete ornamentado em frente a sua esposa, abriu-se com um grunhido, o som se desvaneceu até que se sentiu estranhamente como se estivesse empapado de chuva e ajoelhado no lodo sob um bosque de salgueiros.

— Ah, Deus, não posso suportar.

A roupa de cama rangeu. Uma brisa perfumada com água de chuva e peônias o roçou. Ela estava ali.

— O que não pode suportar, meu amor? — Perguntou brandamente.

— Faltar-lhe, isso, como falhei ao meu filho.

Suas mãos e seu corpo se esticaram por um momento, logo, ela aproximou sua cabeça ao seu peito e envolveu seu pescoço em seus braços, embalando-o para ela.

Impotente para deter-se, rodeou seu pequeno corpo, apertou sua suavidade com todo o desespero que não pôde reprimir.

— Me fale de seu filho, James.

***

Era uma história simples. Tinha sido um menino apaixonado por uma garota, converteu-se em conde e se ausentou um ano, e ao voltar descobria que sua garota, Allison, casou-se com outro e que tinha dado à luz o seu filho, que tinha morrido dias depois de tomar seu primeiro fôlego.

O bebê estava debilitado pela febre. Tinha sido um parto difícil que durou dois dias. Allison mal tinha sobrevivido, e nunca tinha tido outro filho e o formoso e honorável marido de Viola se acreditava responsável por plantar sua semente antes de tomar seus votos, por lhe deixar e converter-se em um “senhor inglês”, por não casar-se com Allison ou levá-la com ele ou incomodar-se em retornar por um ano inteiro.

Mas, sobretudo, por não conhecer seu filho. Não ter salvado seu filho.

Não havia dito a ninguém, nem à sua mãe, nem à sua irmã e tampouco aos seus melhores amigos. Tinha carregado a culpa e a vergonha.

Viola abraçou seu marido com força, seu peito lhe doía mais que sua cabeça. Ela os balançou juntos, tratando de acalmá-lo de qualquer forma que pudesse, pondo um beijo sobre sua cabeça, ela disse uma e outra vez.

— Não sabia. Não tem culpa, meu amor, não tem culpa.

Parecia que não podia ouvi-la, porque só a aferrava com mais força e ficava em silêncio. Com o tempo, ela o convenceu para que se deitasse com ela, e eles dormiram.

Ao despertar, Viola descobriu que sua dor de cabeça tinha diminuído e James já estava fazendo acertos para transportá-la de volta a Shankwood. Vitória a ajudou a colocar um vestido novo e emprestado, e lhe deu um pouco de chá e uma bolacha ou duas.

James a levantou em seus braços, subiu com ela à carruagem de Atherbourne e a sustentou com força em seu regaço durante toda a viagem de um quarto de hora. Logo a levou à casa, subiu as escadas e entrou em seu dormitório. Ele não a soltou até que a deitou em sua cama, colocando sobre ela o cobertor verde e liso, beijando sua têmpora e murmurando.

— Dorme, moça.

Quando voltou a despertar, Amy a ajudou a banhar-se em uma banheira que James tinha colocado em frente à lareira. Ela suspirou ao afundar-se na água quente e perfumada. Gemeu quando as diversas dores, picadas e músculos estranhamente doloridos, antes desconhecidos, em seus braços e ombros se relaxaram. Amy lhe lavou o cabelo, ensaboou duas vezes e lhe enxaguou com jarras cheias de água fresca. Ao cabo de um momento, Viola notou o silêncio inusitado da moça.

— Amy? Está tudo bem? — Ainda tinha inchaço nos lábios, o que fazia com que seu discurso fosse um pouco menos definido, mas as palavras eram suficientemente claras para ser entendidas.

— Oh! Sim, minha senhora.

— Está muito calada.

— Er... sim, minha senhora.

— Por quê?

— Sua senhoria mencionou que sua cabeça lhe dói muito, e que não deveria falar como uma gralha maldita enquanto se recupera de suas feridas, suplicando seu perdão pela vulgaridade, estou citando a sua senhoria.

— Isso é muito considerado por sua parte e muito grosseiro também.

Amy não respondeu.

— Amy, onde está sua senhoria agora?

— Em seu escritório, acredito. Vou buscá-lo para senhora?

Viola suspirou, recostando-se contra a banheira e absorvendo o calor calmante da água. Ainda não tinha força para sua próxima conversação difícil com James.

— Não, mais tarde o encontrarei.

— Muito bem, minha senhora.

Depois de seu banho sentiu-se muito refrescada, colocou uma simples bata branca de musselina, sentou-se na beira da cama e deixou que Amy escovasse o cabelo e o trançasse finalmente. Estava pronta para enfrentar a si mesma, ainda não tinha vislumbrado o dano, e temia descobrir o horrível que se via.

— Amy, seria tão amável de me trazer um espelho? Há um na gaveta superior da minha penteadeira.

A menina se foi e retornou em segundos, estendendo o pequeno espelho prateado.

— Aqui tem, minha senhora, se estiver segura.

Isso não soava prometedor. Respirando profundamente, Viola fechou seu único olho que funcionava, levantou o espelho em posição e logo contou em silêncio até três.

No último número, ela abriu seu olho e desabou. Estava horrível. Não foi pior do que ela suspeitava, mas tampouco era melhor. Todo o lado esquerdo de seu rosto estava inchado, particularmente seu olho. Parecia como se ela tivesse enchido sua pálpebra de pedras e manteiga de porco e o tivesse costurado. Do mesmo modo, sua bochecha e sua mandíbula estavam inchadas e distorcidas e as cores... ela gemeu em voz alta. Preto, azul e vermelho, inclusive um pouco de verde e amarelo.

— Estou monstruosa — gemeu ela. — Como pode sequer me olhar, Amy?

— Oh, não é tão mau, minha senhora, minha tia-avó Sophie caiu por uma escada uma vez. Isso foi muito pior. Só está um pouco inchado, isso é tudo.

— É muito amável de sua parte, mas não é verdade, vi peixes mortos e inchados muito mais atrativos.

— Bom, se quiser, possivelmente possa fazer algo diferente com seu cabelo.

Viola ficou de pé, estendendo o espelho para que Amy o retirasse de sua vista.

— Algo, sim, provemos uma nova touca, talvez sirva de distração.

Amy a seguiu ao quarto de vestir quando Viola se aproximou da penteadeira de carvalho, notou um objeto de forma estranha que descansava sobre sua superfície, justo ao lado de sua caixa de forquilhas. Reduziu a velocidade enquanto se aproximava, piscando para estar segura de que estava vendo claramente, já que um de seus olhos estava fechado pelo inchaço e o outro tinha sido recentemente submetido a um vislumbre de seu próprio rosto, mas o objeto não desapareceu.

Tinha um pouco menos de trinta centímetros de comprimento, talvez a metade de largura e altura. Parecia ser feito de pedra, mas era uma pedra extraordinária. A base era um redemoinho de marrons, de quase preto a castanho pálido, sua forma era a de uma mão torcida, com os dedos abertos e como uma concha, e o polegar como um ramo estendido. Dentro da palma da mão escura, descansando com as asas preparadas como se estivessem prontas para levantar voo, havia uma borboleta. Esta parte da escultura era tão brilhante como a mão escura, uma paleta deliciosa de azul, verde, branco e vermelho, inclusive um pouco de amarelo. Cada pequeno detalhe das asas foi esculpido com uma precisão amorosa, cada superfície da pequena criatura tinha sido polida até que ficou brilhante.

A peça em seu conjunto era surpreendentemente formosa, a borboleta uma obra de arte requintada, mas sua parte favorita de tudo era a mão. Era sua mão, ela a reconheceu imediatamente, embora a tivesse formado para parecer-se com madeira ou barro, com cortes irregulares ao longo da base.

— Amy — disse em voz baixa, lutando por recuperar o fôlego. — Pode trazer sua senhoria agora, diga-lhe que não se atrase, porque devo vê-lo imediatamente.

— Sim, minha senhora.

Trabalhou para recuperar-se enquanto esperava, ensaiando o que diria nesta nova conversação difícil. Ela passou seus dedos sobre as curvas de sua mão, sentindo saudades do calor de sua carne. Pensou em todas as maneiras de dizer o que havia em seu coração, para fazer as perguntas ela devia lhe escutar e responder ao final, ela escolheu manter as coisas simples como havia dito uma vez, era um homem singelo.

Quando entrou, foi como um touro que irrompe através da porta de seu quarto de vestir, seus olhos ardendo.

— O que é, moça? Está doente? Os médicos malditos não sabem uma maldita coisa.

Estava de pé com sua parte traseira apoiada contra a penteadeira, com as mãos apoiadas na beira de cada lado de seus quadris.

— Estou suficientemente bem, tolo, simplesmente tenho uma pergunta ou duas.

Deteve-se a noventa centímetros de distância, quadrando-se e franzindo o cenho.

— Que perguntas? Por que não está deitada na cama a qual pertence?

— Farei mais tarde, sempre que se unir a mim.

Piscando, deixou cair seus olhos ao seu seio e logo os levantou ao seu rosto como se tivesse sido surpreendido por uma acompanhante alerta.

— Eu... não estou cansado.

— Mmm. Eu tampouco. — Ela sorriu. — Agora, então, isso resolve nossos planos para mais adiante sobre essas perguntas.

Ele havia tornado a franzir o cenho.

— Viola, estou me reunindo com o Gates e Strudwicke. Isto pode esperar? Supõe-se que deve descansar e tomar láudano, se não recordar mal.

— Uma de minhas perguntas se refere ao senhor Gates.

— Ele é meu advogado.

— Sim, sei.

— Ele também esteve apaixonado por você? Maldito inferno, moça, deve encantar todos os homens dentro...

— Ontem pela manhã mencionou que tinha avançado na busca de seu herdeiro. — Silêncio, ela esperou. — Quando decidiu que nunca teria outro filho, James?

Ele congelou. Parecia como se ela tivesse golpeado uma panela de ferro gigante em sua cara e se conectou profundamente.

— Quando vi sua tumba — disse com voz rouca.

— Por isso não quis se casar, por isso resistiu a se casar comigo. Não é assim?

Seu peito estava trabalhando como se tivesse deslocado através do campo por um longo tempo, ele simplesmente a olhou, seus olhos destroçando-a.

— Sim.

— Quero filhos, James. — Mais silêncio. — Seus filhos, especificamente. Lembrei-me deste desejo cedo na manhã de ontem, quando soube que Charlotte está grávida. — Baixou os olhos para olhar suas botas. — Isto te importa?

— É claro que importa. — Sua voz era aguda, seus olhos se elevaram para ela, feroz e angustiada. — É por isso que resisti a você, mas fiz uma promessa, Viola, ao meu filho.

— Você também me fez um voto, entretanto, sem me falar a respeito, fez todo o possível por evitar que eu concebesse um filho. — Recordou a estranha capa que ele tinha usado só uma vez. — Inclusive em nossa noite de bodas, o presente francês.

— Carta. Carta francesa.

— A morte de seu filho não foi tua culpa.

— Sim, foi, eu deveria...

Ela continuou, precisando dizer aquilo tão claramente como podia antes de desmoronar-se.

— Assim como meu acidente não foi sua culpa.

— Viola...

— Você não é Deus, James Kilbrenner. Você não é um rei, nem sequer é lady Wallingham. É um homem. — Escapou-lhe uma lágrima. — O melhor dos homens. Mesmo assim, só um homem.

Piscou, franzindo o cenho.

— Eu sou responsável, é minha e devo te proteger, assim como devia ter feito com ele.

A frustração queimou dentro de seu ventre, levantando-se e quase afogando-a.

— Quero que se faça esta pergunta: se tivesse sido eu a quem amava em Netherdunnie. Se tivesse sido sua garota e fosse à Inglaterra, crê que simplesmente eu teria aceito? Ou supõe que te teria seguido?

Seu nariz se inflamou, sua cabeça tremia.

— Nunca te teria deixado. Não poderia.

Ela sorriu, seus olhos se encheram de lágrimas, distorcendo a luz.

— E não teria deixado que me deixasse. Te teria seguido à Inglaterra ou ao outro lado do mundo, porque quando uma garota ama um menino tanto como eu te amo, não se rende. Ela não o solta, não se casa com outro, não oculta seu filho até que é muito tarde.

— Allison pagou por seus pecados, moça. Qual foi meu castigo?

Ela sacudiu sua cabeça.

— Castigou-se todos os dias após até agora. E está me castigando também.

A cor abandonou sua pele. Piscou lentamente uma vez, duas vezes.

Ela falou em voz baixa, sabendo que devia dizer estas coisas e sabendo que lhe fariam mal e que queria parar, mas ela não tinha outra opção, assim como ela se negou a deixá-lo ir, agora se negava a deixar que castigasse aos dois para sempre.

— Desejaria negar a Allison a oportunidade de ter outro filho? Tiraria de mim a oportunidade de ter um?

Agora, sua respiração era superficial e rápida.

— Eu... não o faria.

— Não, não o faria porque é um homem bom e honorável.

Sua testa se enrugou.

— Desejo que seja feliz, moça.

— Quer filhos, James?

Ele engoliu em seco e passou uma mão por sua mandíbula.

— Eu não os mereço.

— Mas os quer?

Empilhou suas mãos sobre sua cabeça e começou a andar.

— Não quero voltar a falhar, nem a eles nem a você. — Ele se deteve e a olhou, deixando cair os braços aos flancos. — Está atada a mim agora, tentei deixá-la ir, moça. Não pude.

Ela engoliu em seco, apertando a borda da mesa, tratando desesperadamente de evitar que seus músculos a levassem pelo chão para ele.

— Forcei sua mão.

Ele riu, o som escuro.

— Nae. Wallingham me deu uma saída, acredito que ele sabia que eu não tomaria, mas poderia havê-lo feito. Queria malditamente estar contigo e tomei o que queria, sujo, com minhas grandes mãos de escocês embora merecesse algo melhor.

— Não há ninguém melhor — disse ela, sua voz enfraquecendo através de uma garganta apertada. — Quer ter um filho comigo, James? Queria uma resposta, por favor.

Respirou fundo e fechou os olhos brevemente antes de que aterrissassem sobre ela com um fogo verde feroz.

— Sim — ele disse. — Pequenas meninas com o cabelo negro e os olhos cheios de estrelas brilhando só por mim.

Não podia esperar mais. Ela correu e saltou sobre ele, seus braços agarrando seu pescoço.

Envolveu-a, levantou-a, cuidando de embalar brandamente sua cabeça.

— Amo-te tanto — ela ofegou em seu pescoço. — Tanto.

— Amo-te mais — disse, sua voz retumbando através de seu sangue e ossos.

— Não é possível — ela sussurrou.


CAPÍTULO 23

“O verdadeiro amor é uma noção tola. Entretanto, se persuadirá aos intrépidos de que por fim vejam a razão, então, por todos os meios, deixemos que a loucura reine.”

Ele tinha querido resistir a ela. Pretendia evitar que suas mãos acariciassem aquela formosa pele, cavando aquele lado curvilíneo, pretendia dar-se tempo para absorver a nova forma de seu coração, uma forma moldada pelas delicadas e decididas mãos de Viola.

Mas como de costume, sua pequena moça e sua luxúria tinham outras ideias.

Ela se apoderou dele com a força de um vendaval, aferrou-se e emitiu os mais doces sons enquanto corria beijos ao longo da parte inferior de sua mandíbula.

— Me beije — ela exigiu com os dentes apertados.

Ele enterrou seu rosto em seu pescoço e a apertou com mais força contra ele, seu pau levantando-se contra sua vontade.

— Não quero te machucar...

— Não o fará, agora, por favor, James, te necessito, sua língua e seus dedos e você...

Rindo e sacudindo a cabeça, maravilhou-se da diminuta mulher que conseguiu lhe dar vida novamente.

— Bem, bem, moça. — Ele a levantou em seus braços, a levou ao seu dormitório e a deixou junto à cama verde. Grunhiu ao vê-lo. — Devemos trocar esta habitação, não te reflete.

— Discutiremos a decoração em outro momento, James Kilbrenner, por agora desejo sentir suas mãos sobre mim.

Apertou os dentes contra a quebra de onda de calor gerada por suas doces demandas.

— Estou tentando p... — deteve-se lutando por um melhor controle. — Estou tentando frear, Viola, se continuar me pressionando, não posso ser tão amável como você necessita.

Ela agarrou sua mão e a tirou do lado direito de seu rosto, deixando o lado lesado exposto.

— Sou feia, não é?

— Inferno maldito .

— Pode me amar assim? Sou quase tão horrível como uma de minhas bolsinhas bordadas.

Gargalhou alto, os sons soavam antes que pudesse contê-los. Foi uma espécie de liberação, mas então, sua moça sempre tinha sido capaz de fazê-lo sorrir, desde o primeiro momento.

— Endurecerá sua carne? — Ela perguntou. — Não quero que tenhamos desconforto entre...

Ele respondeu a sua pergunta com a simples ação de agarrar sua mão e levá-la à frente de suas calças, justo sobre seu pau assombrosamente prazeroso.

— Oh — ela respirou. — Isso é encantador.

Sua respiração se acelerou ao sentir seus dedos acariciando-o.

— Essa é uma forma de dizê-lo, suponho.

Não era alguém que exercitasse a paciência quando havia uma alternativa, Viola se sentou na cama e começou a levantar as saias, com um sorriso tentador e travesso brincando em seus lábios. Suas pernas de marfim, centímetro a centímetro, revelaram-se. Logo, estava olhando o doce objeto de sua obsessão, envolto em uma mecha de seda negra brilhante e úmida.

— Ah, Deus, moça.

Ela simplesmente se negou a deixar que se atrasasse, empurrando-o além de todos seus limites, lhe fazendo querer que sua luz fosse muito para morar na escuridão, ele deslizou suas palmas por suas coxas e logo voltou a baixar, enganchando-se atrás de seus joelhos, puxando seus quadris para ele, colocando-se entre suas pernas. Seu cheiro era exuberante, rico e escuro. Peônias e mulher. Sua Viola.

Sua cabeça se inclinou para trás sobre seu formoso pescoço, ele usou uma de suas mãos para agarrá-la ali, seu polegar movendo-se através de sua mandíbula, ao lado de seus lábios que podia acariciar sem lhe causar dor, sua língua saiu disparada. Sua boca o chupou.

Ele gemeu, o calor e o cheiro dela correndo através de seu sangue como um fogo.

— Me leve — ordenou.

Ela sorriu ao redor de seu polegar e ficou a trabalhar em sua calça, aqueles dedos delicados com as unhas quebradas rasgaram seus botões. Então as pequenas coisas ambiciosas o agarraram pela raiz, apertando-o firmemente, ofegou e gemeu ante a pressão do prazer.

— Ah, Deus.

Sua língua lhe rodeou o polegar, sua boca chupou enquanto suas mãos lhe acariciavam o pau com uma dureza ainda maior, como não tinha acreditado possível.

— É um milagre, moça — ofegou, sentindo que sua cabeça ia explodir em mil pedacinhos se não se afundasse dentro dela, logo tirou o polegar de sua boca, sorrindo ante seu pequeno grunhido de aborrecimento.

Logo, moveu-o para o doce centro dela, onde o mel se reuniu para lhe chamar com seu elegante convite, o acariciou da forma que gostava, suave e lentamente, em círculos sutis ao redor de sua pequena e firme protuberância. Seu corpo inteiro se sacudiu, ela jogou a cabeça para trás e gemeu seu nome.

Ele sorriu mais amplamente, sentindo que ela se abrandava e inchava, observando seus quadris retorcer-se contra sua mão.

— Assim é, minha pequena Viola.

— James.

— Assim é, nenhum outro te verá assim. Agora, se recoste e leva este sujo escocês para dentro de você.

Ela se voltou para trás, mas se ofendeu pela última parte de sua demanda.

— Não é sujo, é maravilhoso.

— Se pudesse ver o que estou pensando neste momento, moça, não diria tal coisa.

— Oh, esse tipo de sujo, o tipo que desfruto imensamente.

Colocou a cabeça de seu pau contra seu exuberante núcleo, palpitando e pulsando com a luxúria que só tinha crescido à medida que aprendiam e se exploravam mutuamente. Tinha estado esperando que diminuísse, mas não o tinha feito.

Só uma coisa mais sobre Viola que não tinha podido predizer, afundou-se dentro de seu forte calor, mantendo a pressão circular sobre aquela pequena protuberância, torcida e brilhante. Ela o tomou mais facilmente agora, sem o desconforto das primeiras vezes, mas sua vagina ainda estava apertada como um punho. Apertou-o e o ordenhou enquanto sua cabeça se movia para trás e para frente, com os braços estendidos para os flancos, agarrando punhados de tecido verde.

Ele caiu para frente, apoiando-se sobre ela enquanto bombeava seus quadris contra os dela, saboreando cada centímetro de sua união, deu-lhe movimentos longos e lentos de seu pau, agradando a sua esposa pela alegria de ver o calafrio em sua pele, ao escutar os gritos afogados em sua garganta, sentindo o movimento de seus quadris entre a colcha e ele.

Pequenas ondulações de advertência se apoderaram dele enquanto seu gemido e ofego aumentavam, lhe permitiu ter mais de seu fogo, golpeando-a mais forte, trocando a direção de seu polegar de repente, ela se apertou e apertou contra ele, soluçando e ondeando com um êxtase explosivo. Sua beleza o sacudiu, forçou sua própria crise a agachar-se com força em sua parte inferior da coluna vertebral.

Suas bolas e seu pau estavam pesadamente dolorosos e pesados de necessidade, baixou a cabeça para acariciar seu pescoço nu, chupando um pouco de sua carne em sua boca, servindo-se dela com seus dentes enquanto aumentava seu ritmo. Queria ampliar seu prazer, queria tirar isto para que nunca tivesse que deixar seu calor embriagador.

Então, sentiu suas mãos sobre seu rosto, acariciando seus lábios com ternura, passando seus dedos sobre sua testa em passadas calmantes.

— Não tem que terminar dentro de mim, já sabe — ela sussurrou. — Temos tempo, toma o que necessite, meu amor, seja o que for.

Seu calor o acariciava, seu amor brilhava para ele, suas mãos o mantiveram firme e tudo o que tinha tido medo de imaginar com ela: beijá-la debaixo de uma lua do verão, deitado com ela em uma cama fria e escura quando a cabeça lhe doía, escutando-a rir dos contos absurdos da senhorita Starling, e sim, observando seu ventre inchar-se com seu filho, tudo paralisou dentro dele. A visão cresceu e brilhou até que não houve mais espaço para a escuridão que a tinha mantido contida, foi um milagre, era incontrolável.

Finalmente, deixou de lutar e deixou que o levasse. E liberou tudo o que tinha, sua alegria, seu amor, sua essência, dentro de sua bela esposa enquanto ela sussurrava seu prazer e seu amor em seu ouvido.

Então eles ficaram juntos por um longo tempo. Tirou o casaco, a gravata e o colete, atirou a um lado suas botas, se acomodou na cama para colocá-la na curva de seu corpo, ela estava segurando sua mão e beijando cada dedo, um por um.

— Está seguro, James? — Disse ela.

— Sim.

Observou seus lábios curvar-se em um sorriso.

— O que fez para mim é a coisa mais formosa que vi em minha vida.

Franzindo o cenho, recordou ter colocado a escultura em sua penteadeira.

— Tinha a intenção de lhe dar isso ontem, antes... antes da tormenta.

— Minha parte favorita é a mão.

Ele grunhiu.

— Louca mulher, fiz para me parecer com o barro.

— Sei, mas não sei por quê.

— Porque isso é o que sou.

— E me vê como uma borboleta?

— Sim. — Ele acariciou sua têmpora, acariciando seu calor. — Nunca soube quão escuro e frio poderia estar no barro até que uma pequena e brilhante borboleta aterrissou sobre mim e se negou a partir.

— Amo-te, James. — Sua voz estava distorcida pelas lágrimas, mas ele julgou que eram felizes.

— E eu te amo, moça, agora, devo te pedir um pequeno favor.

Uma vez mais, lhe beijou a mão.

— O que é?

— Necessito de um lenço, mas é muito particular, verá, eu era um grande tolo e o joguei longe quando deveria havê-lo guardado justo ao lado do meu coração. Tem um pequeno peixe arroxeado em um canto. Viu-o, por acaso?

Ela girou a cabeça para olhá-lo.

— Oh, James. Não é muito belo, já sabe.

Inclinou-se para beijá-la brandamente.

— Sei, moça, mas para mim é o mais belo.


EPÍLOGO

“Os que prestam atenção ao meu conselho terminam felizes. Os que o ignoram sofrem poderosamente. Deveria pensar que isto seria óbvio para ti a estas alturas.”

A Marquesa viúva de Wallingham ao seu filho, Charles, durante uma discussão bastante complicada sobre fósforos, intromissões e mães que só desejam ter um neto antes de estar muito debilitadas pela velhice e a enfermidade.

2 de dezembro de 1818

Shankwood Hall, Derbyshire

— Ela está convencida de que é um menino — disse Viola, sorrindo à carta que tinha na mão. — Chegará na primavera.

Uns lábios quentes e firmes lhe acariciaram a nuca.

— Mmm. Talvez pudesse bordar um gorro de lã para a menina, moça, o moço certamente poderia usar um para os invernos de Northumberland.

Viola riu entredentes e acariciou a dura e deliciosa mandíbula de James.

— Acredito que pode estar superestimando a tolerância de Charlotte à mediocridade.

Ele cobriu sua mão com a sua, aproximando sua palma à sua boca, seu toque enviou um formigamento através de seu corpo, embora tivesse passado apenas umas horas desde a última vez que lhe tinha feito amor.

— É o mais afastado de quão medíocre posso imaginar — sussurrou. — Estas mãos têm feito milagres.

Ela se recostou em seus braços e fechou os olhos brevemente, saboreando a força e o calor de seu marido.

— É possível que tenha melhorado um pouco meus esforços em costura, James, mas dificilmente o chamaria milagroso.

Retumbando uma risada profunda, lhe mordiscou a orelha e olhou por cima do ombro a carta.

— Como vai lady Rutherford?

— Ela formou uma amizade bastante alarmante com Lady Wallingham, mas além disso, soa... ditosa.

Deve ter ouvido o fio de tristeza em sua voz, porque seus braços se apertaram ao redor de sua cintura, atraindo-a mais profundamente em seu corpo, rodeando-a e estabilizando-a com cada respiração.

— Também o seremos nós, moça. — Suas grandes e fortes mãos se esmagaram sobre seu ventre. — Logo virá.

Ela sorriu brandamente e voltou seus lábios à sua mandíbula.

— Crê nisso?

— Tenho um indício.

Fungando, dobrou cuidadosamente a carta de Charlotte e a colocou sobre a escrivaninha, a nova escrivaninha em sua sala de estar recém reformada. James não tinha cedido até que substituiu cada cortina, cada cadeira, cada centímetro de sarja verde com uma decoração mais leve, mais curvilínea e decididamente mais feminina. Naturalmente, ela se tinha negado a transformar sua habitação compartilhada de maneira similar, embora tivesse agregado vários travesseiros bordados para suavizar o lugar, os móveis de carvalho e a colcha de tecido cruzada.

— Pode rir, mas minha suspeita me serviu bem e me levou a você, não é assim?

Ele cantarolou seu acordo antes de lhe dar um beijo final no pescoço e soltá-la para que tirasse uma carta do bolso de seu casaco de lã azul.

— Também tenho uma carta, moça, de lady Wallingham.

Seus olhos se alargaram sobre o caro papel dobrado, o selo adornado de cor vermelha escura, a escrita audaz e fluída.

— Supõe que...?

Ele moveu a coisa entre seus dedos.

— Temos que abri-la para ver. — Por muito tempo ele ficou de pé, olhando-a, seus olhos vagavam por seu rosto, corriam para seu ventre, detendo-se em seus seios.

Ela começou a perguntar-se se ele se estava atrasando deliberadamente.

— Bom, abre-a, James!

— Quão impaciente é, minha pequena moça.

— Sim, sou, pode me alimentar com vontade mais tarde. Por agora, estou morrendo de curiosidade.

Olhando como se lhe tivesse negado um prazer delicioso, ele suspirou.

— Bem, bem. — Logo, afrouxou o selo, desdobrou o papel e começou a ler silenciosamente.

— Em voz alta, por favor. — Ele sorriu, seus olhos verdes brilhavam com uma travessura que ela adorava, a alegria tinha sido muito estranha na vida de seu marido, seu coração se elevou ao vê-lo desta maneira, resplandeceu ao saber sua felicidade.

Limpou a garganta como se se preparasse para anunciar a entrada da rainha, sacudiu o papel e começou a ler em voz alta.

— Lorde Tannenbrook, desculpo-me pelo atraso em atender sua recente consulta, mas ultimamente me preocupei muito. Deve saber que meu querido filho levou a cabo uma campanha incessante em seu nome, se o som de suas súplicas não tivesse sido afligido pela cacofonia de seus miseráveis intentos de cortejar certa viúva, talvez tivesse respondido antes, por desgraça, uma mulher de meus anos deve aceitar suas limitações. Com respeito ao seu primo, Elijah Kilbrenner, agrada-me lhe informar que segue sendo corpóreo nesta Terra segundo sua avó, foi recebido por um homem amável depois da morte de seus pais. O menino foi instruído em vários ofícios, incluído a manutenção da chaminé e a inspeção dos bolsos. Não precisa dizer que ele escolheu ser chamado por um novo nome, como o requer a natureza questionável destes intercâmbios, acredito que pode ser que se conheçam, já que atualmente reside em Londres.

James se deteve, um sulco profundo se desenvolveu entre suas sobrancelhas. Viola esperou, piscando entre o rosto de seu marido e o papel que ele olhava tão ferozmente.

— E então? — Exigiu Viola.

— O nome do homem é Reaver, Sebastián Reaver.

Agora, Viola era a que franzia o cenho.

— Isso deveria significar algo? Quem é ele?

Olhos verdes se aproximaram dos dela.

— Ele é dono de um inferno de jogo fora de St. James, um bastante notório antes que Rutherford se casasse com Charlotte, frequentava o lugar quase exclusivamente.

Suas sobrancelhas se elevaram.

— Oh, querido. É um clube para os descarados, então.

James assentiu e voltou a olhar a carta.

— Ela continua explicando com mais detalhe seu raciocínio para me ocultar a informação. — Ele riu entredentes. — Ela diz: ‘Agora entende por que odiava te carregar com o conhecimento da presumida identidade de seu herdeiro, só há um tipo de homem menos merecedor de seu título que um pedreiro escocês. E esse é Sebastián Reaver, mas, agora que Lady Tannenbrook está grávida, já não acredito que seja uma preocupação, já que logo terá... — Levantou a cabeça, os olhos verdes se incendiaram. — Você, você está...

Cheia do peso luminoso do conhecimento que tinha carregado durante mais de quinze dias, dirigiu-lhe seu sorriso mais feliz e aquoso.

— Grávida, sim. Sua suspeita era certa, depois de tudo, meu amor.

O papel batia as asas ao chão, seus braços a rodearam, levantou-a e a girou até que esteve enjoada e cheia de uma alegria que não pôde conter e todo o tempo os sons cativantes de sua risada retumbaram e ressoaram. Ela beijou sua amada boca, embalou seu rosto amado em suas mãos.

Ele deixou de girar o tempo suficiente para que ela contivesse o fôlego.

— Demônios, contou a lady Wallingham antes de me dizer?

Viola riu entredentes.

— Acredito que ela adivinhou. Lady Atherbourne diz que a viúva tem numerosas fontes misteriosamente informadas em Derbyshire, simplesmente confirmei suas suspeitas, tinha a intenção de lhe dizer isso esta manhã, mas me distraiu.

— Por que não me disse isso antes, moça?

Podia escutar um fio de tristeza em sua própria voz quando respondeu.

— Já nos tínhamos decepcionado, queria estar segura.

Seus lábios acariciaram os dela branda e meigamente.

— Amo-te, Viola.

Ela sorriu.

— E eu adoro o meu pedreiro escocês. — Deu um suave beijo na testa, abraçou-o e lhe sussurrou a verdade de seu coração. — Porque ele é o melhor dos homens.

 

 


[1] The Bonnie Lass é uma canção folclórica escocesa sobre um romance frustrado entre um soldado e uma garota.
[2] Tipo de carruagem puxada a cavalo na moda no século XIX.
[3] Colônia e pós-barba.
[4] Ephemera guttulata ou Drake Green Oriental é uma espécie de efemérida do gênero Ephemera. O Drake Green Oriental é nativo dos Estados Unidos continentais e do Canadá.
[5] Dança folclórica que data do século XVII.

 

 

                                                    Elisa Braden         

 

 

 

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