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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


RAINHA DOS ELEMENTOS 3 Lexi C. Foss e J. R. Thorn
RAINHA DOS ELEMENTOS 3 Lexi C. Foss e J. R. Thorn

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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— Já estamos na marca de duas horas? — Exos se perguntou, olhando para o pulso. — Fascinante. — Um brilho diabólico cintilou em seus olhos quando ele olhou para mim. — Tire a roupa, linda.
Fiquei boquiaberta.
— O quê?
— Você o ouviu. — Cyrus se afastou da cadeira, e suas íris azuis me observaram em uma onda sedutora de energia. — Tire a roupa.
— Minha mãe acabou de fazer uma aparição e vocês querem sexo? — Essa era a desvantagem de ter cinco companheiros homens.
— Ainda podemos discutir isso enquanto você estiver nua — Titus apontou casualmente. — Na verdade, acho que melhoraria drasticamente a conversa.
Exos assentiu.
— Exatamente o que pensei.
— Vocês são incorrigíveis — eu disse, me levantando.
Mas Sol me puxou de volta, levando a mão para minha coxa e me prendendo no sofá.
— Isso não é para nós, florzinha — ele murmurou. — É para você.
— Ficar nua é para meu próprio benefício? — Eu quase ri. — Certo.
Ele inclinou a cabeça.
— Acho que precisamos demonstrar, Vox.
O Fae do Ar segurou minha outra perna, roçando os lábios em meu pescoço.
— Você está incrível neste vestido, Claire — ele sussurrou contra minha pulsação crescente. — Se você quiser continuar, posso trabalhar com isso.
A boca de Sol percorreu minha mandíbula até que pairou sobre meus lábios.
— Bem, eu pretendia tirar seu vestido. — Sua mão deslizou até meu joelho e ele levantou o tecido com movimentos medidos e conhecidos. — Devagar — acrescentou, pontuando enquanto erguia o vestido.
— E a gente queria assistir — Cyrus murmurou. — Essa noite é do Sol e do Vox, mas nós não podíamos negar a sua beleza naquele vestido.
— Razão pela qual nós concordamos em observar — Titus acrescentou, com uma centelha de calor em suas palavras. — E talvez mais.
— Dependendo do seu humor — Exos disse. Sua força e coragem roçou meu Espírito em uma carícia terna.

 

 

 

 


Minha mãe está viva.

Repeti mentalmente e em voz alta essa frase várias vezes até que alguém me tirou do meu estupor. Alguém, não. A Terra. Sol.

Pisquei e encontrei o olhar preocupado do Fae da Terra. Ele estava completamente nu diante de mim. Sua forma musculosa chamou minha atenção por um momento antes de eu franzir a testa para os homens em pé ao meu redor.

Todos estavam nus, exceto Exos.

E ninguém parecia estar percebendo isso além de mim.

Limpei a garganta.

— Pessoal...

— O que você quer dizer com foi a Ophelia quem orquestrou o seu sequestro? — Vox questionou com os braços cruzados sobre o torso magro. Enquanto Sol se parecia com um linebacker forte, Vox tinha o corpo de um corredor. E Titus... bem, ele me lembrava um lutador. Não, um boxeador.

E por que todos eles estavam nus?

Certo. Estávamos na cama.

E então Exos veio e revelou...

— A minha mãe está viva — sussurrei. — E vocês estão nus.

Titus sorriu.

— Você não se importou com isso há algumas horas.

Honestamente, eu ainda não me importava. Mas era muito perturbador.

— Pelo que Cyrus e eu descobrimos, Ophelia está viva e usando Mortus como marionete. É a única explicação para o que aconteceu. — Exos olhou para Sol. — Isso também explica por que os Faes da Terra estão morrendo lentamente.

— Porque ela é a causa da praga — meu companheiro da Terra respondeu baixinho.

— Achamos que ela está usando magia Sombria Fae — Exos acrescentou. — E Claire vir para a Academia foi o que fez Ophelia sair do esconderijo.

— Magia Sombria Fae? — repeti.

— Vampiros — Titus murmurou, estremecendo. — Faes maus. Eles vivem de sangue humano e brincam com as artes das trevas.

— Vampiros são reais? — gritei. — Como o Drácula?

Exos suspirou.

— Não são vampiros do jeito que você conhece. Mas sim, existem outros tipos de Faes.

— Quais tipos? — questionei. — Lobisomens? Bruxas Malignas? Demônios?

— Não seja ridícula, Claire — Exos respondeu, balançando a cabeça. — O que importa é que a Ophelia está usando magia sombria para enfraquecer o Elemental Fae.

— Sério, os lobisomens são reais?

Ele apenas me olhou.

— Não.

— Demônios?

— Também não. — Ele balançou a cabeça e suavizou sua expressão. — Podemos falar sobre os tipos mais tarde. Juro que não é nada alarmante.

— Diz o Fae que acabou de revelar a existência de vampiros — murmurei.

Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

— Antes de chegarmos a tudo isso, preciso ascender. E quero você comigo, Claire. Como minha companheira.

Espere...

— Tipo... totalmente acasalados? — perguntei, sentindo meu coração disparar.

Ele assentiu.

— Sim.

— Sim — repeti sem sequer precisar pensar sobre isso. — Sim. — Porque eu me recusava a perdê-lo novamente. Nunca mais. E isso tornaria nosso vínculo permanente. Inquebrável. Impenetrável. — Sim — eu disse mais uma vez.

Seus lábios se contraíram e seus olhos azuis brilharam com diversão.

— Bem, pelo menos eu sei como te deixar bem-disposta. É só te colocar em um corredor com homens nus.

Semicerrei o olhar.

— Não estrague o momento, Exos.

— Eu não sonharia com isso, princesa. — Ele me puxou para um abraço enquanto os outros murmuravam ao nosso redor sobre minha mãe e o que tudo isso significava.

— Você acha que levá-la para o Reino dos Espíritos é uma atitude sábia? — Vox perguntou e seu tom tinha uma sugestão de algo que eu não conseguia definir. Não era exatamente ciúme, mas um toque de desejo misturado com preocupação.

— Ela estará lá comigo e com o Cyrus. Não a levaremos a nenhum lugar perto dos campos da morte. — Exos me puxou para o lado, segurando meus ombros. — Mas a decisão é dela.

Engoli em seco, me lembrando do que aconteceu na última vez que visitei o Reino dos Espíritos. A desolação total das terras, a forma como os campos da morte quase reivindicaram minha alma e aquela pequena centelha de luz na vila distante que abrigava o único Espírito Fae remanescente.

Noventa por cento deles morreram por causa da minha mãe, deixando-os com apenas dois membros restantes da realeza: Cyrus e Exos. Os meus companheiros. Meus amores. Meus Faes.

Permitir que Exos ascendesse sozinho não era uma opção.

Isso também faria de mim uma covarde.

Não. Minha mãe já havia tirado o suficiente de mim... deles. Ela não tiraria isso também.

— Eu vou — eu disse, sentindo a confiança dessas palavras dentro de mim. — É onde devo estar. Onde sou necessária. — Eu tinha que mostrar ao mundo Fae que não estava com medo. Eu podia ser filha de Ophelia, mas não era ela.

Vox, Titus e Sol me observaram com resignação nos olhos. Eles podiam sentir minha decisão através dos vínculos, a necessidade do meu Espírito de finalizar minha conexão com Exos era palpável para todos no corredor.

— Volte logo, florzinha — Sol murmurou, me dando um sorrisinho. — Vou garantir que seus pessegueiros estejam prontos.

— E vou ver o que posso fazer para limpar tudo por aqui — Vox acrescentou.

Titus piscou.

— Enquanto isso, vou supervisionar e mantê-los longe de problemas.

Sol bufou e Vox balançou a cabeça.

— Se alguém vai supervisionar, serei eu — Vox declarou.

Acho que eles vão ficar bem por alguns dias, princesa, Exos sussurrou em minha mente.

Meus lábios se curvaram em diversão quando os três começaram a brigar de brincadeira. Sim, concordei. Eu sei. Eu odiava deixá-los, mas eles não podiam entrar no Reino dos Espíritos.

Não demoraremos muito, Exos prometeu baixinho. No máximo, uma semana.

E quando voltássemos, eu teria dois companheiros completos. Água e Espírito. Com mais três por vir.

Dei um beijo de despedida em todos antes de segurar a mão de Exos.

Era hora de enfrentar meu futuro. Minha mãe. E todo tipo de Fae.

Meu nome é Claire Summers e aceito meu destino.

Seja qual for.


— Mãos acima da cabeça, princesa. — Exos pairava sobre mim, usando um terno preto que se agarrava ao seu corpo de maneiras injustas – maneiras que me forçavam a obedecê-lo.

Estiquei as mãos acima da cabeça e segurei as barras da cabeceira.

— Feliz?

Seus olhos azuis da cor do oceano percorreram meu corpo nu e sorriram.

— Sim. Muito. — Ele desfez lentamente o nó da gravata, mantendo um joelho ao meu lado no colchão e o outro pé no chão.

Deveríamos estar indo para a nossa cerimônia de acasalamento, mas ao invés disso, Exos me trouxe até aqui. Não que eu estivesse reclamando. No entanto, eu queria passar para o nível final com ele. Quase o perdi uma vez. Isso não aconteceria novamente.

— Humm... a beleza do Espírito é o quanto ele é solitário — Exos murmurou enquanto passava a gravata de seda ao longo do meu torso até a minha clavícula. — Não precisamos de público, Claire.

Fiz uma careta para ele.

— O que você quer dizer?

Ele deslizou o tecido em volta dos meus pulsos, amarrando-o com um nó resistente.

— Esta é a nossa cerimônia, Claire. — Ele se inclinou para me beijar, silenciando qualquer comentário que eu pudesse proferir em resposta. Mas ele teve que ouvir meu choque, assim como ouviu minha ponderação sobre estarmos aqui em vez de ir para a sala cerimonial.

— Cada elemento é diferente. Alguns exigem formalidade, e embora o Espírito costumasse se entregar a uma tradição semelhante à dos outros, desistimos disso há anos. Não sobrou um número suficiente de nós para encher uma sala. — Ele se endireitou, tirou o paletó e caminhou até o canto da sala para pendurá-lo em uma cadeira.

— Vamos celebrar esta noite após a coroação — ele continuou, voltando para a cama, sorrindo para mim. — Mas o resto do dia é só para nós dois. — Ele pontuou as palavras com um puxão contra a seda que prendia meus pulsos.

Olhei para cima para vê-los presos à cabeceira da cama – algo que ele devia ter feito enquanto nos beijávamos. Fae inteligente. Isso me deixou nua e amarrada diante dele.

Seu sorriso me disse que ele estava aprovando aquilo.

— Vamos nos vincular, Claire — ele disse, mantendo uma profundidade deliciosa em seu tom que espalhou arrepios pela minha pele. — Vamos nos vincular o dia todo.

Meus lábios formaram um O, mas nenhum som me escapou.

Porque ele tinha começado a desabotoar a camisa, e eu só tinha algumas células cerebrais funcionando ao redor de um Exos que se despia.

Por meses, ele explorou meu corpo sem me permitir retribuir o favor. Bem, este último mês não foi culpa dele. Minha mãe o manteve cativo no subsolo.

Porque ela estava viva, pelo que parecia.

Uma linha de pensamento que eu não ia considerar agora.

Não, eu preferia muito mais observar o homem diante de mim.

Quase engoli a língua. O corpo de Exos era como uma arte trabalhada pelos deuses Faes. Sua camisa caiu no chão e os músculos ondularam enquanto ele pousava a mão no cinto.

— Está pronta para recitar seus votos, Claire?

Ah... umedeci os lábios.

— Isso envolve dizê-los ao redor do seu pau? — Porque eu estava bem pronta para isso. Embora eu já tivesse visto Exos nu, nunca tive a oportunidade de memorizá-lo com minha língua. E gostaria muito de fazer isso agora.

Ele riu.

— A cerimônia só funciona se suas palavras forem inteligíveis, baby.

— Então você deveria nos manter vestidos.

— Qual seria a diversão nisso? — ele rebateu, o couro escorregando do passador da calça. — Achei que você gostasse de um bom desafio. Não foi assim que nos conhecemos? Você se atreveu a beijar o homem no bar?

— O homem muito bonito — esclareci, me lembrando da noite em que nos conhecemos. Parecia que havia acontecido há muito tempo.

— Você se arrepende? — ele perguntou baixinho, se ajoelhando mais uma vez na cama com a calça desabotoada. Ele segurou meu rosto e manteve os olhos fixos nos meus. — Você se arrepende de ter me beijado?

Engoli em seco e balancei a cabeça.

— Não. — Eu ainda estava de luto por Rick, meu amigo que morreu no incêndio, mas não me considerava mais responsável pelo massacre.

Dominar meus poderes me proporcionou uma nova visão do mundo, uma compreensão mais profunda do meu controle. Não havia nada que eu pudesse ter feito diferente naquela noite além de não beijar Exos. Mas mesmo assim, eu era uma bomba-relógio.

— Você é meu — eu disse, desejando que minhas mãos estivessem livres para agarrá-lo. — Nunca vou me arrepender de te reivindicar.

Ele sorriu.

— Isso é bom, Claire. Porque estou prestes a torná-la minha. Para sempre. — Ele olhou por cima do ombro. — Cyrus? Pode nos ajudar com os votos?

Arregalei os olhos quando o irmão de Exos entrou no quarto usando um terno e com o cabelo claro despenteado daquela forma que eu adorava. Ele sorriu, com as mãos enfiadas nos bolsos.

— Você tinha que superar a cerimônia de acasalamento, não é?

Exos agarrou minhas coxas enquanto respondia casualmente: — Você escolheu sua plataforma. Eu escolhi a minha. E, na minha opinião, uma cama é muito mais apropriada do que um altar. — Seu olhar cor de safira encontrou o meu enquanto ele abria minhas pernas para expor minha intimidade. — Prefiro meu método de adoração.

Cyrus bufou e parou ao lado da cama. Seus olhos azul-gelo cintilaram para mim.

— Acho que prefiro o seu método também. — Ele inclinou a cabeça. — Você está pronta para dizer seus votos, pequena rainha?

Minha boca ficou seca quando Exos se posicionou entre minhas coxas abertas. Ele não queria...

Arqueei o corpo para fora da cama enquanto seus lábios se fechavam sobre meu clitóris sem aviso.

— Puta merda — murmurei.

Cyrus fez uma careta.

— Os votos não são assim. Começa com: — Eu, Claire, aceito o poder que me liga a Exos, nascido do Espírito. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Tente novamente.

Exos passou a língua pela minha boceta e seu olhar tinha um brilho perverso enquanto me observava.

— Eu... eu... — Ah, caramba. Me contorci, incapaz de me concentrar, sentindo minhas veias inundando com fogo líquido. Isso não era justo. Como qualquer um deles esperava que eu me concentrasse...

Cyrus colocou a mão em meu peito. Seu toque provocou um gemido longo e necessitado na minha garganta.

Era oficial.

Esses dois iam me matar.

— Foco, pequena rainha — Cyrus sussurrou, roçando os lábios nos meus. Eu nem o senti se se aproximando. Meus sentidos estavam todos focados entre minhas pernas e meus seios. — Você não quer perder o Exos de novo, certo?

Estremeci, balançando a cabeça. Essas palavras se registraram em meus pensamentos. A noção de cortar minha conexão com Exos era como uma ameaça muito real. Porque quase aconteceu.

— Então repita comigo. — Ele levantou apenas o suficiente para capturar meu olhar e me encarar. E ele repetiu a primeira frase dos votos.

— Eu, Claire — comecei, apertando os dedos enquanto Exos fazia algo sensual com a língua —, aceito o poder que me liga a Exos, nascido do Espírito.

Cyrus sorriu e pronunciou a próxima parte.

— Para amar e respeitar, através de todas as eras e tempos que possam vir diante de nós, até que nossas almas nos separem. — Foi o mesmo que falei em meu acasalamento com Cyrus. No entanto, as circunstâncias eram muito diferentes. Eu fiz os votos em um estado de sonho dentro do Reino da Água. Agora... Exos estava tornando isso extremamente difícil.

Continue, ele me encorajou através de nosso vínculo. Estou só nos aquecendo.

Um pouco de aquecimento, pensei enquanto Cyrus falava a próxima parte.

— Dou a ele o centro de minha essência, o coração de meu ser, meu próprio Espírito, e o aceito em troca — recitei, minha voz muito mais ofegante agora do que quando começamos. Por causa do aquecimento de Exos? Sim, estava se transformando em algo muito maior.

Cyrus me beijou novamente antes de dizer as palavras finais.

Que eu repeti com uma voz sensual que mal reconheci.

— Meu elemento agora é dele assim como o dele agora é meu, para os céus Faes que nunca nos separemos. E eu nunca o abandonarei por outro, meu Espírito pertencendo para sempre a ele e somente a ele.

— Humm — Exos murmurou, a vibração me levando perto do limite do prazer.

E ele se sentou.

Eu meio que grunhi enquanto minhas coxas tremiam com o clímax que ele negou. Mas então ele começou a falar os votos que sabia de cor. Uma aura quente se instalou sobre nós, nossos Espíritos se misturando intimamente em um plano que só podíamos acessar juntos. Era o lugar onde nossos elementos se uniam, onde promessas eram feitas e os sentimentos realizados.

Cada palavra que ele proferiu, me fez sentir a nossa união se encaixar, me prendendo a ele indefinidamente.

Suspirei, sentindo a queimação em minhas veias diminuir sob uma onda de euforia.

Meu.

Minha, ele concordou em minha mente, apoiando a palma da mão sobre meu coração.

Cyrus colocou sua mão sobre a de Exos, criando uma poderosa explosão de energia que girou em torno de nós três.

Dois vínculos finalizados.

Água e Espírito.

Laços reais em ambas as extremidades.

Titus, Vox e Sol ganharam vida em minha mente. Seus elementos estavam cientes de meus laços mais profundos com o Espírito. Mas não sentia nenhuma animosidade ou ciúme, apenas uma sensação de compreensão e aceitação.

Eu era uma Halfling com acesso aos cinco elementos. Eu precisava de meus companheiros Faes para me fortalecer e completar o círculo elemental que começamos.

E dois desses fios agora eram absolutos.

Nada poderia se interpor entre nós.

Nem mesmo minha mãe.

Exos se esticou em cima de mim, cobrindo a minha boca com a sua. Um beijo para nos unir para sempre. Senti a força do nosso abraço até os dedos dos pés. E as boas-vindas a um novo futuro.

Minha língua encontrou a sua em uma dança cheia de promessas e intenções. Todo o calor que ele despertou entre minhas pernas rugiu de volta à vida com força e minha necessidade por ele consumiu todos os meus pensamentos.

Por favor, sussurrei para ele. Por favor, Exos.

Depois de passar meses com ele me satisfazendo sexualmente, eu precisava que ele me deixasse retribuir o favor. Ansiava por sua intensidade, seu toque, sua intimidade.

Ele segurou meu seio, o toque semelhante ao de Cyrus e ainda assim, inteiramente seu.

Cyrus, pensei, me lembrando de sua presença.

Só que ele não estava mais ao lado da cama.

Tente não matar meu irmão, pequena rainha. Ele ainda está se recuperando. Suas palavras acariciaram minha mente. Seu toque era fluido, forte e dominador.

Tenho certeza de que ele pode cuidar de si mesmo. Como Exos estava provando com sua boca.

Cyrus se afastou mentalmente com uma risada que me aqueceu por completo. Um calor que Exos parecia seguir com suas mãos enquanto traçava minhas curvas.

— Meu irmão teve você por uma semana, Claire — ele disse baixinho, mordendo meu lábio inferior. — Hoje você é minha. E só minha.

Não tive resposta para isso.

O que foi bom, porque ele não me deu a chance de tentar antes de assumir o controle da minha boca novamente.

Seus quadris se acomodaram entre os meus e sua calça era uma barreira indesejável. Mas meus pulsos ainda estavam amarrados, me mantendo refém enquanto ele demorava para me beijar. Eu podia sentir meu gosto em sua língua, um sabor que só aumentou minha excitação e necessidade por ele.

Todos esses meses de preliminares.

Culminando em um momento ardente de paixão.

Algo que ele parecia determinado a prolongar.

— Exos — gemi. — Você está me matando.

— Parece justo te dar uma dose de como me senti nos últimos meses. — Ele deu um beijo no meu pescoço antes de se inclinar para provocar meus seios. — Queimei por você, Claire. E agora, você é minha. — Aqueles olhos azuis escuros brilharam para mim. — Minha, princesa.

— Sua — concordei, arqueando os quadris em um apelo desesperado por atrito.

Ele sugou meu mamilo. O ato era quase punitivo, mas também deliciosamente apaziguador. Uma sensação distorcida e complicada.

Exos repetiu a ação com o outro seio antes de se ajoelhar para admirar meu corpo amarrado.

— Você está com um lindo tom de rosa, Claire.

— Porque estou pegando fogo — admiti, me contorcendo. Puta merda, se minhas mãos estivessem livres, eu mesma me daria prazer.

Provavelmente foi por isso que ele me amarrou.

Companheiro mau.

— Me come — exigi.

Seus lábios carnudos se curvaram.

— Ah, eu vou fazer mais do que te comer, baby. — Lentamente, ele abaixou o zíper. — Vou te devorar – mente, corpo e Espírito.

Eu não tinha ideia do que ele queria dizer com isso, mas aceitei todas as opções.

Minha aquiescência com seus planos só se aprofundou quando ele revelou seu pau perfeito. Grande e forte, assim como ele. Exos passou o polegar sobre a cabeça e trouxe a essência aos meus lábios.

Ele sequer precisava pedir.

Suguei o dedo sem dizer uma palavra e gemi quando seu sabor masculino tocou minha língua. Sim... eu o desejo há muito tempo. Tempo demais.

E finalmente ele estava nu.

Duro.

Pronto.

Mas sem se mover, com o olhar fixo no meu centro úmido.

— Exos — sussurrei, sentindo meu corpo tão tenso que parecia prestes a se quebrar.

Ele acariciou seu pau, com a expressão pensativa.

— Você está linda assim. Quente. Carente. Muito molhada.

Ah, caramba, se ele continuasse falando assim comigo, eu explodiria. E isso não seria uma façanha?

Seu sorriso me disse que ele também sabia.

— Senti sua falta, Claire — ele sussurrou, rastejando sobre mim. — Quer sentir o quanto?

— Sim. — Engoli em seco e repeti. — Sim.

Seus lábios passaram sobre os meus enquanto ele posicionava seus quadris exatamente onde eu o queria.

— Desejei isso desde o momento em que te vi pela primeira vez — ele admitiu baixinho. — Relutei no começo, porque você precisava de tempo para se aclimatar, mas não houve um segundo que eu não pensasse nisso. Em ter você.

Ele pressionou contra a minha entrada e seu corpo estremeceu sobre o meu, revelando a verdade de suas palavras.

— Nunca quis tanto alguém na minha vida. — Ele falou as palavras contra minha boca e senti seu coração batendo forte no peito. — E agora você é realmente minha.

Exos me penetrou com uma estocada tão poderosa que ofeguei.

Uma sensação de conclusão tomou conta de mim, me fazendo arrepiar. Essa era a finalidade de nossos votos, casar nossos Espíritos pela eternidade. Pensei ter sentido antes, mas esta era a consumação.

E quando ele começou a se mover, senti nossas almas se entrelaçando em um nó inquebrável, selando nossos destinos para a eternidade.

Gemi, o sentimento saudável me consumindo, me deixando leve, alegre e preenchida. Minhas mãos doíam com a necessidade de tocá-lo, algo que ele deve ter sentido, porque ele soltou as amarras enquanto capturava minha boca com a sua.

Minhas unhas arranharam suas costas, desenhando meu nome em sua pele enquanto ele reclamava meu corpo. Ele não era suave ou terno. Não. Exos era todo força, seus movimentos feitos com determinação e realização. Cada estocada me atingia profundamente, e cada flexão de seus quadris roçava meu clitóris.

Ele era a personificação da habilidade.

Experiente da melhor maneira.

Impecável, completo e incrível.

Meu Espírito pareceu se desprender do corpo, correndo em direção ao nosso plano para encontrar seu elemento, para se juntar em uma rotação de calor e intensidade.

A cada mudança e toque, cheguei mais perto do ápice, sentindo meus membros tensos e tremendo.

E então eu gozei com um grito que juro que alcançou as estrelas.

Exos capturou o som com a língua, se alimentando do meu prazer enquanto me dava mais, aumentando o ritmo enquanto ele me acompanhava no clímax.

Onde nos encontramos, gememos e nos deleitamos em um êxtase que senti com cada fibra do meu ser.

Conectada. Foi assim que me senti. Isso ia além de transar e ia direto para a arte de fazer amor. Exos o havia redefinido, adicionando seu próprio sabor ao toque, sua própria técnica ao ato de união.

Estremeci embaixo dele, nem perto de terminar.

E pelos seus movimentos contínuos, eu sabia que ele também não.

— Me leve para as estrelas, Exos — sussurrei.

Ele sorriu.

— Ah, Claire, vou te levar a uma galáxia totalmente nova.

E ele o fez.

A cada estocada, beijo, lambida e carícia, ele me apresentava ao novo mundo do Espírito. Nosso paraíso pessoal, onde apenas nós pertencíamos.

Para a eternidade.


O vestido que Exos deslizou sobre minha cabeça parecia muito pesado, muito sufocante. Eu não queria vestir nada, meu corpo todo estava vivo pelo seu toque. Mas assistir à sua coroação nua levantaria algumas questões.

Ao contrário da nossa cerimônia de acasalamento, haveria mais gente na ascensão.

Exos passou os lábios pelo meu ombro nu.

— Você está linda, Claire. — O tecido sedoso abraçava minhas curvas e a cor era do mesmo tom de seus olhos azuis.

Encontrei seu olhar no espelho e sorri.

— Você também está muito bonito.

Ele riu e ajeitou a gravata. Considerando como passamos a tarde, nós dois nos arrumamos muito bem. O banho ajudou. Mas ver Exos vestido com um terno preto só me fez querer voltar para a cama.

Ele segurou meus quadris e me puxou de volta para si.

— Depois que as formalidades forem concluídas, vamos voltar a esse pensamento. — Seus lábios roçaram meu pulso acelerado. — Talvez Cyrus se junte a nós.

Entreabri os lábios.

— Cyrus?

Exos mordiscou minha orelha e me soltou com um zumbido vago. Tentei segurar sua mão, mas ele já estava a caminho da porta. Seu irmão estava esperando no corredor usando um terno idêntico.

Apesar de passar a tarde com Exos, meus hormônios se animaram um pouco. Porque, Santo Fae, os dois homens eram gostosos demais.

E seus sorrisos idênticos diziam que eles também sabiam.

Homens arrogantes.

Ouvi isso, Cyrus respondeu, estendendo o braço. Venha aqui, pequena rainha.

Sorri e balancei a cabeça. Você é incorrigível. Mas é claro que fui até ele mesmo assim. Porque era o Cyrus. De terno. E seu perfume era divino.

Ele me abraçou com força e pressionou os lábios em minha têmpora.

— Humm, vejo que meu irmão cuidou bem de você hoje.

Exos fechou a porta do quarto e bufou.

— Cuidei mais do que bem.

Cyrus riu.

— Sim, senti através do vínculo. — Ele me beijou mais uma vez antes de passar o braço pela parte inferior das minhas costas. — Podemos ir? A multidão já começou a se reunir na praça da cidade. Feather está fazendo o assado, enquanto vários outros trouxeram uma variedade de acompanhamentos. Gale ficou responsável pelo hidromel do Espírito, o que tenho certeza que o choca.

— Gale? Hidromel? — Exos fingiu surpresa. — E eu que pensei que ele odiava todo tipo de bebida alcoólica.

Nenhum dos nomes significava algo para mim, mas o carinho nas auras de Exos e Cyrus me disse que significavam algo para eles.

— Eles são Faes do Espírito? — perguntei em voz alta. Parecia uma dedução apropriada, já que estávamos no Reino do Espírito, mas eu também sabia que mais de noventa por cento dos Espíritos Faes tinham morrido depois que minha mãe desencadeou uma praga, há pouco mais de duas décadas.

— Sim. Gale ajudou a nos criar depois que nossa mãe morreu. — Exos entrelaçou os dedos nos meus, caminhando para a minha esquerda enquanto o braço de Cyrus permaneceu confortável em volta da minha cintura. Seu calor era como um cobertor. — Feather é a matriarca mais velha do Espírito Fae, mas tem o correspondente a apenas cinquenta anos humanos. Ela parece estar perto dos vinte e cinco, como o resto de nós.

— A praga matou todos os Faes mais velhos — Cyrus esclareceu.

— E está acontecendo de novo com os Fae da Terra — acrescentei, engolindo em seco. — Pelo menos, é assim que Sol descreveu.

Exos assentiu.

— Algo semelhante está acontecendo com a espécie dele, sim. Mas, em vez de eliminá-los em um único dia, está levando anos.

— Quase como se algo – ou alguém – estivesse se alimentando da energia deles — Cyrus murmurou e sua expressão ficou séria.

— Alguém como minha mãe — comentei.

— Talvez. — Ele limpou a garganta e seu braço apertou minha cintura. — Mas isso é uma discussão para outro dia. Esta noite é uma ocasião alegre. Meu irmão finalmente decidiu crescer.

Exos bufou.

— Certo, Príncipe da Água. Se é assim que você quer jogar.

— Quem serviu como Rei do Espírito na última década porque seu irmão preferia brincar de guerreiro? — Cyrus fingiu pensar sobre isso. — Ah, certo, eu.

— Brincar de guerreiro. — Exos balançou a cabeça, mas seu sorriso dizia que ele não se importava com a zombaria. — Vou brincar de guerreiro com você mais tarde e ver como você se sai.

Franzi o cenho.

— Isso parece uma insinuação. — Algo que eu realmente gostaria de ver se desenrolar.

— Porque você tem um pau Fae no cérebro. — Cyrus olhou por cima do meu ombro enquanto descíamos uma das escadarias de pedra do palácio. — Estou começando a achar que você deixou nossa pequena rainha insatisfeita, irmão.

— Ela é insaciável — ele respondeu.

Cyrus sorriu.

— Sei muito bem disso.

— Se vocês dois continuarem falando sobre mim como se eu não estivesse andando entre vocês, vou me certificar de que os dois fiquem muito insatisfeitos.

Eles riram e a confiança dos dois era como uma nuvem palpável ao nosso redor.

— Veremos — Cyrus ponderou. Sim, ele parecia muito seguro de si. E... bem, eu não poderia culpá-lo. Não com os dois parecendo deuses com ternos iguais. Eles me deixariam nua e ofegante em segundos, se decidissem fazer isso. Especialmente se trabalhassem juntos.

Só de pensar nisso, eu estava apertando minhas coxas.

Um sanduíche de Exos e Cyrus? Ah, sim, por favor.

Vou me lembrar disso, Cyrus respondeu.

Pare de brincar na minha cabeça, murmurei, sentindo minhas bochechas aquecerem com a facilidade com que ele lia meus pensamentos.

Pare de telegrafar tão alto, ele respondeu de volta.

— Gosto de como ela é aberta para compartilhar — Exos disse em voz alta. — Algo a se considerar mais tarde.

— Podemos não fazer isso agora? — Porque se eles continuassem, eu não seria capaz de ficar séria na frente dos outros Espíritos Faes. Droga, eu nem tinha certeza se poderia ficar diante deles sem derreter de necessidade. O acasalamento com Exos tinha deixado meu corpo preparado, pronto e necessitado.

Fiquei quase uma semana na cama com Cyrus para resolver isso.

Eu só me dei ao luxo de ter uma tarde com Exos.

Dizer que eu queria mais seria um eufemismo.

Não se preocupe, princesa. Vou cuidar de nós dois, Exos sussurrou, apertando minha mão. Mas primeiro preciso ascender para estabilizar o Reino do Espírito.

Certo. Porque Cyrus basicamente renunciou ao trono quando acasalou comigo no Reino da Água. Ele era o único herdeiro do rei, deixando-o sem escolha a não ser ascender. Principalmente agora que escolheu uma companheira para seu elemento.

E Exos tinha que se tornar o Rei do Espirito.

Fazendo de mim a companheira não de um, mas de dois Faes Reais.

Apenas mais um dia na vida de Claire Summers, pensei bufando.

Meus saltos estalaram contra o chão de mármore quando chegamos ao primeiro andar e partimos em direção ao corredor principal.

O lugar era um labirinto vazio onde o som ecoava devido à falta de pessoas. Sair quase me aliviou, até que senti a atração cruel em direção aos campos da morte.

Felizmente, estávamos indo na direção oposta, para a cidade.

Cyrus parou ao lado de um veículo – ou presumi que fosse esse o propósito da estranha engenhoca de três rodas. Parecia o tipo de coisa que vi no Reino Humano, com algumas modificações distintas.

Como assentos ao ar livre.

E não tinha volante.

Parecia uma mistura de carro com moto.

— Entre, princesa — Exos disse.

— Entre — repeti. — Certo. — Um carro mágico Fae não era a coisa mais emocionante que conheci nos últimos meses, então por que não? Permiti que ele me ajudasse a me acomodar no assento macio de couro enquanto Cyrus subia atrás de mim. — Eu não sabia que os Faes tinham carros.

— Não é bem um carro — Exos respondeu enquanto se sentava ao meu lado. — É mais como um tele transportador.

— O q...

O ar deixou meus pulmões quando a engenhoca começou a girar. Lutei por algo em que me agarrar, que acabou sendo o braço de Exos, e me segurei com toda a força enquanto o cenário se transformava em uma nuvem de poeira.

Em segundos, estávamos cercados por pequenos chalés e ruas de paralelepípedos. Pisquei. Estamos na Bavária, pensei, perplexa. Pensamentos sobre minha aula de geografia no colégio povoaram minha mente, exibindo imagens do sul da Alemanha.

Não, pequena rainha. Ainda estamos no Reino do Espírito.

Parece a Alemanha para mim.

Bem, às vezes os Faes viajam para o Reino Humano e criam inspirações. De onde você acha que os contos sobrenaturais vieram? Cyrus mordiscou minha nuca antes de pular do teletransportador. Ele estendeu a mão.

— Claire.

— Cyrus — respondi, permitindo que ele me ajudasse a encontrar o meu equilíbrio. — Como você chama isso?

— Conveniência. — Ele sorriu. — Muito mais rápido do que andar.

— Mas não foi assim que viemos da Academia.

— Não, nós usamos outro método de transporte — Exos disse passava pela frente do teletransportador. — Os portais nos deixam transitar entre os reinos e as regiões. É a mesma ideia em termos de tecnologia e potência, mas execução diferente.

Ainda havia muito sobre este mundo Fae que eu não sabia ou entendia. Então eu só balancei a cabeça como se tudo fizesse sentido, quando muito não fazia.

Exos emoldurou meu rosto e deu um beijo breve e doce em meus lábios.

— Temos todo o tempo do mundo para te ensinar, Claire. — Ele roçou seu nariz no meu antes de se afastar. — Vamos apresentá-la a outro aspecto do nosso mundo – a coroação.


Dizer adeus a Claire depois que ela virou meu mundo de cabeça para baixo não foi fácil, mas fiz isso por ela. Sorri, dei a ela um beijo carinhoso e a enviei para o Reino dos Espíritos, um lugar que eu não poderia ir, mas teria tentado em um piscar de olhos se ela tivesse pedido.

Posso ter aparentado calma, mas ela havia despertado uma tempestade em minha alma. Esse sentimento aparecia com mais frequência agora, especialmente quando eu estava pensando nela... o que acontecia o tempo todo.

Os pratos que eu tinha acabado de limpar voaram do balcão se espatifaram no chão em uma cascata dramática de porcelana quebrada enquanto minha magia escorregava de minhas mãos. Uma rajada invisível girou ao redor da cozinha, sacudindo as luminárias antes que eu fechasse os olhos e suprimisse a explosão.

Quando reabri os olhos, Sol e Titus estavam olhando para mim.

Sol se endireitou e colocou o sanduíche que estava comendo na mesa.

— Tudo bem, Vox?

Dei de ombros, tentando fingir que era um acaso – algo que estava acontecendo com certa frequência nos últimos dias.

— Coloquei muito sabão — ofereci como desculpa. — Ficou escorregadio.

Titus riu.

— Sabão não espalha três quilos de arroz por todo o dormitório.

Ah, ops.

Me virei o suficiente para ver que meu deslize além de fazer os pratos voarem também arrancou a caixa com ingredientes que deveriam durar uma semana da despensa – ingredientes que agora estavam espalhados por todo o corredor.

Suspirei e fui até o armário para pegar uma vassoura.

— Por que você não usa seu elemento para jogar tudo para fora? — Sol perguntou, intrigado.

Era o que eu normalmente teria feito, mas meus poderes estavam fora de controle e ele sabia disso.

Dei de ombros mais uma vez.

— Só quero fazer um pouco de exercício.

O chão tremeu, sinalizando a irritação de Sol comigo.

— Odeio quando você se fecha, Vox. Admita logo que está frustrado com a partida da Claire. Então podemos conversar sobre isso.

Titus riu e estalou os dedos, acendendo uma chama perfeitamente azul enquanto esquentava uma xícara de chá que havia esfriado.

— Isso é tudo o que estamos fazendo há dias, Sol. Claire se juntou a Exos e não fomos convidados. O que há de novo? — Ele balançou as sobrancelhas. — Não é como se ela pudesse esquecer a noite que proporcionamos. Ela vai ficar pensando em nós o tempo todo.

Eu gostaria de possuir um grama da confiança de Titus, mas me abrir para Claire fez algo em mim que eu temia que não pudesse ser desfeito. Claire realmente sabia o impacto que tinha sobre mim? Eu estava pronto para abraçar esse sentimento?

A lembrança dela nua diante de mim fez meu estômago se apertar, e por um momento, tudo em que conseguia pensar era em seu sabor – e tudo que eu queria era mais dela. Como ela me fez sentir livre.

Não, eu nunca poderia voltar para antes daquela noite.

O que significava que eu tinha que enfrentar as consequências de me abrir para o vínculo com Claire.

Seu acasalamento com Exos e sua coroação só me puxaria mais força. Ela já era algo sem precedentes – uma Halfling com acesso aos cinco elementos. Ela foi capaz de encontrar cada segredo que pensei ter enterrado, e conforme seus vínculos forem crescendo, ela também cresceria, e isso só me forçaria a sair da minha concha.

Não era algo que eu estava pronto para lidar.

Titus me surpreendeu ao arrancar a vassoura das minhas mãos. Ele franziu o cenho e apontou para a mesa onde havia uma pilha de sanduíches.

— Sol tem razão, Vox. Estou cansado da sua tristeza. Sente-se e coma algo antes que você emagreça. — Ele avaliou meu corpo esbelto. — Bem, talvez seja tarde demais para isso.

Semicerrei os olhos. Magro? Sim, vou mostrar o que é magro a ele.

Tirei minha camisa e arqueei uma sobrancelha.

— Claire pareceu gostar na outra noite.

Titus sorriu, passando os olhos verdes sobre mim.

— Sim, acho que você não é de se jogar fora. Não há necessidade de se aborrecer.

Eu bufei.

— Tanto faz. — Segui em frente e me sentei diante de Sol, que estava sorrindo com nossa troca.

Certo, talvez essa tenha sido uma reação um pouco ousada. Mas Titus havia aumentado a temperatura do ambiente, levando o Dormitório dos Espíritos a um ponto de ebulição. Então foi bom tirar algumas peças de roupa. E sim, talvez eu também sentisse falta de Claire.

Brincar com o círculo de companheiros sempre parecia ajudar um pouco. Esses caras entendiam como eu me senti sobre a partida de Claire. Mas eles não sabiam o que realmente estava acontecendo comigo. Eu poderia contar a eles, mas não havia nada que eles pudessem fazer. O controle estava em mim. Além disso, Sol mal entendia seus vínculos reais e Titus não era da realeza. Mesmo que Cyrus e Exos estivessem aqui, eu preferia engolir uma fruta com especiarias a pedir ajuda deles.

Então, eu descobriria sozinho o que fazer.

Ou talvez com Claire, quando ela voltasse.

— O Baile do Solstício está chegando — Sol disse enquanto eu pegava um dos sanduíches.

Revirei os olhos, cansado de falar sobre isso. Ele havia tocado no assunto várias vezes nos últimos dias.

— Dá para você relaxar? O Exos disse que traria Claire de volta a tempo para o baile idiota.

— Ele está animado com isso, tá? Não destrua a única coisa boa que nosso titã tem em sua vida — Titus falou, enviando uma chama pelo corredor para queimar a comida estragada em vez de varrê-la. Franzi o nariz com o cheiro azedo e movi a mão para enviar uma rajada de ar pela porta, mas pensei melhor e curvei meus ombros enquanto suportava o mau-cheiro.

— Não entendo por que ele teve que tomá-la com tanta pressa — Sol reclamou e seus ombros caíram enquanto ele olhava para o sanduíche meio comido no prato. — Ou por que essa coroação tinha que ser no Reino do Espírito. — Ele fechou os dedos em punhos enormes e seu olhar de pedra me desafiou. — Ele é realmente confiável? Você teve que nocauteá-lo porque aquela coisa estava dentro dele. E se ainda estiver lá?

Essa coisa era a mãe de Claire. Estremeci com a memória da essência sombria que quase tirou a vida de Claire, a energia que se apossou de Exos.

Eu confiava nele? Sim.

Confiava que ele protegeria Claire contra Ophelia? Sim também.

Mas algo me disse que Ophelia tinha truques nas mangas que nenhum de nós estava preparado para enfrentar. Então entendi a preocupação de Sol.

Titus enviou outra onda controlada de chamas que manipulou o ar, empurrando os restos queimados pelo corredor com uma rajada de calor.

— Cyrus não teria deixado Exos chegar perto dela se aquela magia destrutiva ainda estivesse dentro dele. Não confio no idiota membro da Realeza da Água, mas sei que ele não cometeria o erro de colocar Claire em perigo novamente.

Essa foi uma grande coisa vinda de Titus. Levantei uma sobrancelha, me perguntando que tipo de vínculo os dois Fae formaram depois da luta na arena da Academia. Imaginei que Cyrus tinha ganhado nossa confiança depois de tudo que aconteceu, pelo menos no que dizia respeito a Claire.

Assenti em concordância.

— A Claire deveria estar presente para a coroação e fazer parte de um dia tão importante na vida de seu companheiro. Isso tornará o vínculo mais forte e também fortalecerá seu controle sobre o elemento do Espírito. — Por mais que eu não gostasse de ficar longe dela, sabia que era do que Claire precisava – e o que o círculo de companheiros precisava para protegê-la.

A mandíbula de Sol apertou.

— Você sabe de algo que não sabemos? Como arrastar Claire de volta para uma terra agonizante onde ela quase morreu é uma jogada inteligente?

Levantei a sobrancelha para o Fae da Terra descontente.

— Você sabe o que a coroação faz, certo? — Sol não estava familiarizado com sua linhagem real, mas imaginei que até ele saberia o que uma coroação realmente significava. Talvez eu estivesse errado.

Titus terminou sua “faxina” e se juntou a nós na mesa, parecendo intrigado. Ele esfregou as mãos e deixou uma nuvem de fuligem sobre a mesa que eu tinha acabado de limpar.

— Me lembro que ela ficou muito mais forte depois de acasalar com Cyrus, que é o mais real possível. É isso que você quer dizer?

Balancei a cabeça.

— Cyrus só é rei porque o Exos recusou a coroa. Não me interpretem mal, ele ainda é forte – de forma quase impressionante – mas Exos será ainda mais poderoso como rei.

— O que vai acontecer? — Sol perguntou, a preocupação transparecendo em sua expressão.

Contraí os lábios.

— Nada de ruim. O vínculo com Exos garantirá que ela nunca o perca novamente. E ao participar de sua coroação, ela está abraçando uma linhagem real de poder. Ela não terá mais que extrair dos arredores do elemento como a maioria das Faes faz, porque ela terá acesso à fonte por meio de Exos.

Esse tipo de poder era o que tornava a realeza tão respeitada e temida. Acessar o núcleo bruto de um elemento era algo que apenas os verdadeiros reis elementais podiam fazer. Como companheira de Exos, Claire seria capaz de aproveitar essa habilidade. A maioria considerava isso uma conexão perigosa – daí a razão pela qual apenas o mais forte dos Faes poderia ascender.

Estive na disputa por esse poder uma vez.

Mas o neguei.

O ar era o mais volátil de todos os elementos e poderia causar a destruição que dizimaria os Faes em mãos não treinadas. Nunca gostaria de controlar tal fonte de energia. Jamais.

— Como você sabe tanto sobre isso? — Titus perguntou, se inclinando sobre a mesa. — Sei que você tem sangue real, mas você não fala muito sobre isso.

— Por um bom motivo — murmurei, mas esses eram os companheiros de vínculo de Claire. Sol e Titus me observaram com expectativa e a preocupação era palpável. Eles estavam começando a se sentir como uma família. Como se fossem meus tanto quanto Claire.

Mantê-los no escuro parecia errado.

E então fiz algo que nunca tinha feito antes.

Contei minha história. Só um pouquinho.

— Meu avô teve acesso à fonte real do elemento Ar — admiti. A fonte não era necessariamente um segredo. Simplesmente não era do conhecimento comum como as linhagens reais eram tão poderosas. — É uma bênção que pode ser concedida pelo rei. Meu avô achou que poderia controlá-la. Mas não pôde.

Estremeci com a lembrança de tornados explodindo na cidade principal apenas um dia depois que ele se gabou para todos sobre seus novos poderes. Vários Faes perderam suas vidas naquele dia, lançando desonra sobre minha família.

— Para encurtar a história, ele abusou de seu acesso à fonte, o que rotulou minha família como fraca e sem controle. Então vocês podem imaginar porque eu quero provar que todos estão errados. — Consequentemente, me recusei a chegar perto de meus laços reais com a fonte de meu poder elemental. Fazer isso seria repetir os erros do meu avô.

— O que acontece quando Claire é exposta à fonte da magia Espiritual por meio do Exos? — Sol perguntou, arregalando os olhos.

Claire não era como eu. Vi como ela abraçou seus elementos com uma graça natural que envergonhou minhas habilidades. Ela se tornou destemida nos últimos meses e só prosperaria com o poder que vinha da fonte.

— Ela vai ficar bem — assegurei a ele. — Não tenho dúvidas sobre isso.

Outra rajada curta de ar escapou de minhas mãos e fez meu cabelo se soltar do rabo de cavalo, apagando a pequena chama que dançava nos dedos de Tito.

Sim, Claire ficaria bem.

Mas eu? Isso eu não tinha tanta certeza.


Fiquei entre Cyrus e Exos enquanto enfrentávamos cerca de cem Faes de aparência jovem na praça central. O sol poente fez com que todos estivessem vestidos com roupas mais quentes enquanto lufadas de ar frio pareciam descer sobre a cidadezinha. Isso provocou um arrepio na minha pele, me lembrando dos campos de morte que ficavam ali perto.

No entanto, todos ao meu redor estavam sorrindo.

Não para Exos ou Cyrus. Mas para mim.

Aparentemente, a decisão de Exos ascender era creditada a mim. Ele apertou minha mão enquanto Cyrus recitava algo na língua antiga. As palavras teciam uma teia mágica no ar que eu quase pude sentir.

Poder. Muito poder.

Ele zumbia no ar, se entrelaçando em nossas essências e nos unindo ainda mais. O aperto de Exos aumentou, seu corpo ficou tenso sob a cascata de energia. Vibrava em seu Espírito, intensificando sua aura.

Entreabri os lábios. Exos...

Está tudo bem, baby, ele sussurrou. Estou pronto para isso.

Pronto para quê? Parecia um tornado, girando sem parar e nos sugando para um vórtice sombrio de vitalidade.

A fonte.

Que fonte?, questionei, enquanto meu cabelo esvoaçava.

A fonte do Espírito. Ele parecia angustiado. Cyrus está renunciando a seu controle. Nós o compartilhamos por... Ele parou, contraindo suas feições.

Segurei seu rosto, esquecendo de todos. Fale comigo. Me diga como ajudá-lo.

Você já está ajudando, ele respondeu. Seus braços me envolveram enquanto ele pressionava sua testa na minha.

Fechei os olhos e abracei seu Espírito com o meu. O vento girava e rugia em meus ouvidos enquanto o universo parecia desmoronar pedaço por pedaço. Mas eu tinha meu Exos, meu companheiro, meu Rei do Espírito. Ele me beijou com ternura enquanto a magia aquecia nosso sangue e nossas almas.

O Fae da Realeza administra o acesso ao núcleo de nosso elemento, ele explicou baixinho. Sempre compartilhei a propriedade com Cyrus, mas ele está me dando tudo. Ele não consegue manter o controle sobre o Espírito e a Água. Seria demais para qualquer um suportar, mesmo alguém tão poderoso quanto ele.

Isso dói?, perguntei, passando a língua pelo seu lábio inferior. É por isso que você não queria ascender?

Não. Eu sou o herdeiro legítimo, então tudo parece natural para mim. Eu só neguei minha posição para ajudar Cyrus. Ele se recusou a abraçar seu elemento Água. Por sua causa, Claire, ele finalmente está pronto. Exos sorriu. Senti seu orgulho e gratidão acariciando meu coração. Você nos mudou para melhor.

Agora você está me bajulando, respondi, entrelaçando os dedos em seu cabelo espesso. Sabe que eu já estou comprometida para o resto da vida, certo?

Sei, ele murmurou, e seus cílios tremularam quando ele abriu os olhos.

— Minha para sempre.

— Nossa para sempre — Cyrus corrigiu em tom divertido. — Não quero me intrometer no momento, mas Gale quer saber quando podemos começar a beber.

Fiz uma careta.

— Terminou? Já?

Exos riu.

— Sim, não é uma transferência difícil quando um membro da realeza já tem acesso à fonte elemental. Tem que ser feito com base no elemento – é por isso que estamos no Reino do Espírito. Mas como eu já era o herdeiro legítimo com laços diretos com a fonte, não demorou muito. A cerimônia de Cyrus será um pouco mais grandiosa, já que ele recusou sua habilidade com a Água durante a maior parte de sua vida.

Meu companheiro Fae da Água fez uma careta.

— Prefiro não pensar nisso agora. — Ele deu um tapinha nas costas do irmão. — Esta noite é sua, Exos. Todos nós sabemos o quanto você adora ser o centro das atenções, então vamos começar?

Alguns dos Faes do Espírito que estavam perto riram, ouvindo o sarcasmo no comentário de Cyrus. Exos balançou a cabeça.

— Você é incorrigível, irmão.

— É o que você e a minha pequena rainha ficam dizendo — Cyrus comentou, piscando para mim. — Quer algo para beber, Claire? Talvez um copo de hidromel?

A boca de Exos cobriu a minha antes que eu pudesse responder. Sua língua separou meus lábios e capturou minha atenção total. Ah, seus beijos me tiraram deste plano. Envolvi os braços em seu pescoço, abraçando-o com força e dei tudo a ele. Toda minha adoração. Minha confiança. Meu coração. Minha alma.

Seu elemento acariciou o meu, provocando um arrepio na minha pele. Ri quando pequenas borboletas se materializaram com suas asas cor de rosa vibrando de excitação.

Vários Faes ofegaram ao nosso redor, maravilhados com a exibição de poder.

Mas Exos apenas sorriu.

— Sempre criando vida, minha Claire. — Ele deu outro beijo em meus lábios antes de me soltar. — Vamos tomar um pouco de hidromel antes que o Gale beba tudo.

Alguém bufou.

— É o seu irmão que vai beber tudo, rapaz.

Cyrus pressionou a palma da mão no peito.

— Eu? Nunca.

Algumas risadas ecoaram pela praça principal, fazendo com que Exos sorrisse ainda mais.

— É uma ocasião alegre — ele anunciou, olhando para a multidão. — Vamos celebrar uma nova vida, um destino renovado e beber por um futuro próspero para o Espírito Fae.

— Viva! Viva! — todos aplaudiram e os sons de conversas animadas soaram na cidade. Não demorou muito até que o hidromel fosse servido, com todos os Faes se entregando ao líquido potente. E um fogo ganhou vida – cortesia da habilidade secundária de Exos – no centro de paralelepípedos.

Fadas e outras criaturas Faes zumbiam, entregando pratos de salgadinhos enquanto uma mulher com cabelos loiros compridos cuidava do que parecia ser um javali assando.

Tudo se desenrolou tão naturalmente e foi tão lindo que me perguntei quantas vezes as pessoas da cidade se entregaram a tais festividades.

— Não é muito comum — Exos sussurrou. — Não mais, de qualquer maneira.

— As pessoas estão desanimadas — Cyrus acrescentou. — Muito desanimadas.

Sentamos em um cobertor de lã a poucos metros das chamas. Outros casais se juntaram a nós, mas se mantiveram isolados enquanto saboreavam os aperitivos trazidos pela “equipe”.

— Talvez você precise fazer isso com mais frequência — sugeri, olhando ao redor. — Eles parecem estar se divertindo.

O clima era descontraído e feliz, quase aliviado por ter um motivo para socializar. Eu não conseguia imaginar o quanto esses Faes estavam solitários com a quantidade de perdas que sofreram ao longo dos anos. E presumi que o fato de que nenhum deles podia ter filhos só piorava as coisas.

A maioria das áreas do Reino do Espírito era como o Esquadrão do Espírito na Academia – desoladas e mortas. Isso foi o máximo de vida que vi desde que visitei essas terras. Eu queria ver mais sobre o local, aprender sobre todos os Faes que sobreviveram para encontrar uma maneira de ajudá-los a crescer.

Devia haver uma razão pela qual os Faes não poderiam procriar, algum tipo de impacto duradouro no elemento do Espírito. Minha mãe saberia. Talvez fosse bom ela não ter morrido de verdade. Quando a encontrássemos, poderíamos exigir respostas.

— Uma caçada? — Cyrus perguntou, ouvindo meus pensamentos como costumava fazer. — Estou disposto a isso. — Ele bateu no meu ombro. — Mas você ainda tem aulas, pequena rainha.

— Eu acho que localizar minha mãe assassina é um pouco mais importante do que as aulas — murmurei, olhando para as chamas. — Ela tentou me matar. Machucou o Exos. Matou milhares de Faes. — Minhas declarações me deixaram cada vez mais irritada. — E ela ainda está viva em algum lugar, provavelmente planejando seu próximo movimento.

Algo covarde e malvado.

Eu podia sentir isso em meu sangue, uma condenação iminente.

Cyrus passou o braço em volta dos meus ombros e me puxou para o seu lado.

— Nada vai acontecer com você, Claire. Não vou deixar.

— Nem eu — Exos acrescentou segurando a minha mão.

Balancei a cabeça.

— Não é comigo que estou preocupada. — Mas com todo mundo. — Ela quase matou você, Exos.

Ele inclinou a cabeça, curvando os lábios.

— Não, baby. Ela nem chegou perto de me matar. Sou muito mais resistente que isso. — Ele soltou minha mão para segurar minha bochecha e se inclinou para me beijar. — E estamos acasalados agora, princesa. Você nunca mais terá que se preocupar em me perder novamente.

Os lábios de Cyrus encontraram meu pescoço e os beijos subiram até minha orelha.

— Você também está presa a mim, pequena rainha.

O Fogo correu pela minha coluna e meu estômago se apertou em antecipação.

Mas uma mulher pigarreou.

— Vossas Altezas — ela cumprimentou quando os dois a olharam.

— Feather — Cyrus respondeu, sorrindo. — Obrigado por organizar o assado. Orc é o prato favorito de Exos.

Arregalei os olhos.

— Orc? — Aquelas coisas de goblin com chifres? — Orcs são reais? — questionei, olhando para Exos.

Ele beijou minha testa.

— Não do jeito que você pensa. Mas Cyrus tem razão. Eu amo um orc carnudo. Quando vamos comer?

De repente, eu não estava mais com muita fome. Tudo que eu conseguia imaginar eram aquelas coisas nojentas daquele filme sobre o anel. Eles não eram elfos mortos ou algo assim?

— De onde vem o hidromel? — perguntei, cortando tudo o que Feather tinha acabado de dizer. — Me desculpe — acrescentei, sentindo minhas bochechas aquecerem.

Cyrus apertou um pouco meus ombros. Mel e grãos, pequena rainha. Feito pelos Faes com elementos totalmente naturais.

Tudo bem, então. Mas orcs? Vou passar.

Feather perguntou a Exos se ele queria fazer as honras de cortar o primeiro pedaço. Ele concordou, me deixando ao lado de Cyrus para assistir. Eu me encolhi, balançando a cabeça de um lado para o outro o tempo todo.

Não.

Nada disso.

Não me importo com o quanto Exos fica gostoso naquele terno. Uma garota tem que ter limites, e eu não vou comer isso.

Quando ele voltou com três pratos e uma covinha na bochecha, eu meio que me senti obrigada a pelo menos experimentar a carne estranha. Não, me senti seduzida. Compelida. Seja qual for a palavra. E eu tinha que admitir, o cheiro não era tão ruim. Me fez lembrar de rosbife.

— Você usa o embrulho de algas para comê-lo — Cyrus explicou, pegando as folhas verdes do seu prato. Ele a usou para partir um pedaço do orc e colocá-lo na boca, e em seguida balançou as sobrancelhas enquanto mastigava.

Se fosse qualquer outra pessoa, e eu teria ficado com ânsia de vômito.

Mas era Cyrus.

E de alguma forma, ele fez a coisa toda parecer elegante e sexy demais.

Exos fez o mesmo. Mas apenas sorriu depois e prometeu encontrar outra coisa para mim se eu não quisesse experimentar a carne. O que era uma iguaria, de acordo com Cyrus.

Por que orcs não seriam uma iguaria?

Quando no mundo Fae, pensei comigo mesma enquanto partia as folhas verdes. Como os tempos mudaram.

Há um tempo, eu forçaria os caras a encontrarem uma pizza para mim. Não, um hambúrguer. Talvez os dois. E sorvete. Ah, que delícia. Em vez disso, eu tinha um pedaço estranho de carne com aparência de rosbife preso entre duas folhas de grama.

Fechei os olhos e me forcei a dar uma mordida.

Quente e consistente. Não era como uma borracha. Humm.

Enrolei outro pedaço e coloquei na boca.

Tudo bem. Não é ruim. Na verdade, é muito bom.

Depois de mais algumas mordidas, encontrei Exos e Cyrus me olhando com expressões famintas.

— O que foi? — perguntei, limpando os lábios.

— Você não para de gemer — Exos respondeu.

— Em voz alta — Cyrus acrescentou, olhando para a minha boca.

— Ah. — Engoli. — O Orc é... muito bom. — Peguei o hidromel e bebi o resto da minha caneca, precisando de uma distração.

Exos o tirou da minha mão assim que terminei.

E Cyrus colocou a mão em volta do meu pescoço e me puxou para um beijo. Sua língua não perdeu tempo em explorar minha boca. Mais do que bom, ele corrigiu, se referindo ao meu comentário sobre o orc. Você tem um gosto incrível, Claire.

Ele me soltou e fiquei ofegando. Meu peito subia e descia com o oxigênio tão necessário que desapareceu quando Exos me beijou.

Certo. Tudo bem. Eu posso me acostumar com isso.

Cyrus riu, Exos grunhiu e a combinação de sons fez meu coração acelerar. Esses homens seriam a minha morte.

E que bela morte seria...

Mas a intensidade do beijo foi diminuindo até parar quando Cyrus e Exos me colocaram entre eles. Meu corpo protestou enquanto meu peito se expandia em um suspiro de contentamento. Um deles começou a me alimentar enquanto continuávamos sentados em silêncio para observar o fogo ainda crepitante.

A paz me atingiu.

Satisfação.

Sentimento de justiça.

Essa foi a vida que sempre quis. Eu só não sabia que ela existia até pouco tempo atras. Mas agora que a aceitei, não conhecia outra maneira de ser. Esta era eu. Meu mundo. Meus Faes. E eu faria tudo e qualquer coisa para protegê-los.

Mesmo que tenha que protegê-los da minha própria carne e sangue.

Conforme a tarde avançava, meus olhos começaram a se fechar e os Faes continuavam a conversar. Exos e Cyrus murmuravam ao meu redor, conversando com outros enquanto eu descansava tranquilamente entre eles.

Me senti protegida nos braços deles. Feliz. Grata.

Mas algo me incomodava lá no fundo. Uma incerteza que não consegui identificar de onde vinha. A sensação de estar sendo vigiada. Sim, todos na fogueira estavam de olho em mim. No entanto, era diferente. Uma sensação quase surreal que eu não deveria ser capaz de sentir.

E jurei por meio segundo que senti a presença da minha mãe. Mas faltava a sensação sombria. A preocupação e a urgência tomaram o lugar. Uma mensagem que não consegui ouvir. Perdida para uma conexão que nunca...

— Claire — Cyrus sussurrou, sua boca pairando sobre a minha. — Acorde, pequena rainha.

A luz incomodou meu olhar, me assustando com o novo ambiente. Estávamos de volta ao palácio, na sala de Exos.

— Como nós...? — Engoli a saliva, sentindo minha garganta seca pelo que pareceram horas de sono.

— Hidromel demais, ao que parece — ele brincou, me beijando de leve enquanto se deitava na cama ao meu lado.

Senti um calor me envolver enquanto Exos abraçava minha cintura.

Só então percebi que nós três estávamos nus.

Muito, muito nus.

Cyrus deu um beijo no canto da minha boca.

— Humm, vamos deixar você dormir. — Ele esfregou o nariz no meu. — Você está precisando.

Exos suspirou contra minha nuca.

— Pelo menos, temos algo para esperar.

— Com certeza — Cyrus concordou e seus olhos azuis brilharam com a promessa. — Bons sonhos, pequena rainha.

— Sim, bons sonhos, querida Claire — Exos murmurou no meu ouvido. — Voltaremos para a Academia amanhã.

Aconchegada entre eles, tive dificuldade em negar a atração de suas palavras. Embora meu corpo desejasse algo diferente, minha mente estava exausta de algo que não consegui identificar.

Aquela mensagem, pensei, bocejando. Tentar buscá-la me deixou cansada. Mas eu não conseguia me lembrar por que ou com quem estava tentando me conectar.

Uma dúvida para resolver amanhã.

Por esta noite, me permiti cair no porto seguro de meus dois companheiros reais. E sonhar como seria vivenciar os dois... ao mesmo tempo.


A vida sem Claire era uma merda.

Eu deveria estar na aula, mas não tinha como me concentrar. Em vez de causar problemas e começar uma briga com meus companheiros Faes do Fogo, decidi que seria mais seguro para a Academia se eu ficasse aqui e levasse minha frustração para a arena de treino empoeirada em frente ao Dormitório dos Espíritos.

Ela tinha acabado de voltar para mim.

Agora ela se foi. De novo.

Não importava que houvesse um bom motivo para sua ausência. Existia um buraco em meu coração onde sua essência deveria estar, e exigia que eu fizesse algo a respeito.

Girei um bastão mágico e fiz uma labareda correr em uma linha pela areia, deixando para trás um rastro de vidro derretido. O próprio bastão ameaçou ceder com o calor, mas aguentaria por mais algumas horas. Era o terceiro que peguei esta semana. Eu realmente precisava conseguir armas melhores.

Meu poder deveria ter me assustado. Claire estava me mudando – mudando a todos nós. Seu poder persistente me cercou nos campos de treinamento e me deu uma pequena sensação de conforto.

Deuses. Eu só queria vê-la novamente.

Me mostrei firme diante de Sol e Vox, mas sentia sua falta mais do que tudo. Cada beijo e toque reforçaram nosso vínculo. Mas essa conexão enfraquecia quando eu ficava longe dela por muito tempo.

Abri os olhos, sentindo meus instintos queimarem.

Alguém está vindo.

Não sabia como adivinhei, mas senti uma presença se aproximando. Uma mudança sutil de calor e magia, perturbando correntes elementais invisíveis que percorriam o Reino Fae. Talvez fosse Mortus tentando me recrutar para as aulas mais avançadas novamente, ou o Professor Vulcano que veio me repreender por mais uma ausência.

— Quem quer que seja, agora não é um bom momento — resmunguei. — Não estou de bom humor. — Girei o bastão de treinamento e deixei as chamas gravadas na madeira mágica ficarem mais quentes. Nada muito extravagante, excitante ou intimidante demais.

Eu realmente preciso de mais treino com armas elementais para ajudar a proteger Claire. O mundo real usava fogo e outras essências mágicas, ao contrário da Arena Sem Poder.

Uma sugestão provocante de água borrifou meu peito nu, fazendo com que o vapor nublasse o ar. Levantei uma sobrancelha.

Cyrus apareceu na minha frente com uma Claire sorridente em seus braços. Ela se soltou dele com uma risada e saltou em minha aura de chamas, fazendo minha arma cair com um estrondo no chão. Ela se fundiu com o meu elemento, fazendo a transição perfeita da Água para o Fogo enquanto a magia viva a envolvia como se fosse sua.

— Oi — ela disse com a voz rouca como se estivesse sobrecarregada de elementos e sexo.

O que, dada a maneira como Cyrus sorriu para mim, provavelmente era verdade.

— Oi — respondi, incapaz de parar o sorriso satisfeito que se espalhou pelo meu rosto quando coloquei as mãos em sua bunda perfeitamente arredondada e a puxei ao meu encontro.

Cyrus invadiu as chamas, enviando o calor para longe de si com uma onda de água sem esforço que me fez franzir o nariz. Seus lábios foram para o pescoço dela como se não pudesse parar de tocá-la.

Eu entendia esse sentimento.

— Tenho negócios a tratar, pequena rainha — ele sussurrou em seu ouvido, e em seguida lhe deu um beliscão. Seus olhos azuis se fixaram nos meus. — Espero que Titus possa cuidar de suas necessidades enquanto eu estiver fora.

Meu sorriso satisfeito se tornou sinistro. Talvez eu devesse me sentir insultado por Cyrus estar usando meu pau como uma forma de manter Claire ocupada, mas eu não me importava.

Não quando ela se mexia em meus braços assim.

— Que tipo de negócios? — Claire perguntou, com as pálpebras pesadas enquanto acariciava meu pescoço com uma linha de fogo. — Humm, porque eu me pergunto como seria misturar água e fogo — ela acrescentou, olhando para mim com um brilho malicioso enquanto uma névoa fria da sua magia descia pelo meu abdômen, provocando um vapor entre nós. Seus dedos seguiram o toque frio, trazendo calor de volta à minha pele.

O efeito foi incrível.

Cyrus riu e percebi que tinha gemido alto.

— Por que você não pratica para mim? Parece que Titus pode gostar. — Sem responder à sua pergunta, ele desapareceu, deixando Claire e eu sozinhos no pátio de treinamento.

Não dei oportunidade para ela ir atrás dele. Eu não sabia se ela poderia, mas não correria o risco de perder sua atenção novamente. Reivindiquei sua boca e a colei a mim.

— Senti sua falta — eu disse a ela.

— Senti... — ela tentou responder, mas minha língua estava explorando a sua e eu quase corri para o Dormitório do Espírito.

Ela riu quando a joguei no colchão.

— Acho que foi um novo recorde — ela comentou, segurando os lençóis e levando-os ao nariz. Ela inspirou e fechou os olhos. — Humm...

Vê-la sentir meu cheiro fez meu pau ficar ainda mais duro. O Fogo em mim era primitivo e queria reivindicá-la.

Eu já estava sem camisa, mas minha calça era como uma restrição repentina que precisava ser removida. Em vez de tirá-la, minhas chamas se acenderam e queimaram minha pele, destruindo o que deveria ser uma vestimenta à prova de fogo.

Os olhos de Claire brilharam com fogo azul quando seu elemento respondeu ao meu, e ela me olhou de cima a baixo.

— Nós realmente precisamos investir em uma roupa à prova de fogo melhor para você — ela disse enquanto inclinava a cabeça e umedecia os lábios.

Sentindo o que ela queria, me aproximei da beira da cama e gemi enquanto ela colocou os lábios carnudos ao redor da cabeça. Passei os dedos por seu cabelo lindo, pedindo a ela para me tomar mais fundo enquanto a advertia ao mesmo tempo.

— Cuidado, Claire. Não vou durar muito se você continuar fazendo isso — avisei enquanto as chamas lambiam sua camisa e deixavam um rastro de cinzas ao mesmo tempo que meu elemento brincava com seus mamilos.

Ela ofegou e passou a língua de forma desafiadora pelo meu pau, fazendo minhas pernas enfraquecerem. Seu olhar encontrou o meu, cheio de luta e desafio. As brasas em seus olhos cintilaram com um brilho de gelo, e ela soltou um longo suspiro contra meu pau, uma névoa fria que misturou um elemento estranho em nosso jogo. Ela passou a língua sobre a pele delicada, enviando uma nova explosão de calor que fez meu pau latejar enquanto meus nervos assustados voltavam à vida.

— Puta merda, Claire — grunhi. Em seguida, a agarrei pelos quadris e liberei uma onda de fogo sobre ela, queimando os restos de suas roupas. Eu a girei de forma que ela ficasse de costas para mim, envolvi um braço em seu peito e segurei o espaço entre suas pernas com a outra mão. Ela inclinou a cabeça para trás e segurou meus braços enquanto eu apertava seu clitóris. — Vou te punir por esse truque do gelo — disse em tom brincalhão.

Ela se contorceu. Sua necessidade era palpável.

— É melhor que você me puna com mais força — ela disse enquanto esfregava o traseiro no meu pau que pulsava em clara provocação.

Eu não deveria ter atendido seu pedido, ainda não, mas meus quadris se ajustaram para encaixa em sua entrada e em seguida eu estava dentro dela, estocando com força – assim como ela havia pedido.

— Titus — ela gritou enquanto seu corpo se apertava ao redor do meu.

Ela estava diferente agora que Exos havia ascendido ao trono do Espírito. Eu podia sentir a mudança, a necessidade dolorida que exigia que ela se conectasse com todos os seus companheiros. Talvez, parte de seu desejo por mim fosse porque o segundo elemento de Exos era o fogo e seria uma progressão natural para ela selar o vínculo comigo.

Com o tempo, eu a reivindicaria por completo, mas os incêndios que ameaçavam nos consumir me assustavam.

Então aproveitei e me perdi enquanto tombava com ela para o ápice feliz.

*

Bem, o quarto ficou destruído, mas não me importei. Na verdade, admirei as marcas de fogo nas paredes, seguidas por faixas permanentes de gelo que se recusavam a derreter.

Claire se acomodou em meu peito enquanto seus dedos exploravam os meus.

— Acho que precisamos transar em uma fortaleza de metal — ela comentou com uma risada. — Isso está ficando ridículo.

— Eu meio que gostei do visual — respondi, sorrindo para o padrão de destruição que era excepcionalmente belo.

Quando ela suspirou, percebi que era um som de descontentamento. Então me movi para olhar em seus olhos.

— O que há de errado?

Ela piscou para mim.

— O quê? Ah, nada. — Ela sorriu e aquele descontentamento desapareceu por trás de seu amor por mim. Ela passou os dedos pela barba por fazer do meu queixo e deu um beijo em meus lábios. — Você me deu exatamente o que eu precisava, Titus.

Afastei o cabelo de seu rosto.

— E o que é que está te incomodando a ponto de precisar de uma transa de fogo para desviar seus pensamentos? — Dei um beijo em sua testa. — Não esconda seus problemas de mim, Claire. Eu sou mais para você do que isso, não sou?

Ela arregalou os olhos.

— Claro. Você significa mais para mim do que qualquer coisa. Eu não quis dizer isso. Eu só...

Eu ri e cobri sua boca com um beijo.

— Estou brincando, linda. O que é que você está pensando?

Ela passou a língua pelo meu lábio inferior, tentando me distrair.

Estalei a língua, passando o polegar POR sua bochecha e olhei em seus olhos.

— Nada disso, Claire. Fale comigo.

Um sorrisinho apareceu no canto da sua boca.

— Teimoso — ela resmungou, então encostou a cabeça no meu peito mais uma vez. — Foi muito para absorver, sabe? Todo o Reino do Espírito e o encontro com os Faes do Espírito. — Ela fechou os olhos como se estivesse revivendo os últimos dias. — Vislumbrei como deveria ser, mas sei que a coroação de Exos foi uma causa rara de felicidade entre eles. — Seus dedos se fecharam. — A minha mãe tirou muito deles, Titus. E não sinto que ela terminou.

Passei os braços ao seu redor e a abracei com força. Eu a protegeria do que quer que viesse, daria minha vida por ela se isso tirasse até mesmo uma fração de sua dor.

— Não precisa ter medo, Claire. Vou garantir que nada aconteça com você.

Ela hesitou, então se enterrou no meu pescoço.

Ela não disse nada, mas eu conhecia seu verdadeiro medo.

Não era com sua própria vida que ela estava preocupada. Minha Claire queria salvar o mundo.

E eu a amava por isso.


Há poucos dias, eu estava no Reino dos Espíritos enquanto Exos ascendia ao trono. E agora eu estava de volta à Academia encontrando Elana para nosso treinamento quinzenal.

De alguma forma, parecia errado. Como se eu devesse fazer mais do que apenas assistir às aulas como de costume e agir como se não soubesse que minha mãe tinha tentado me matar. Mas toda vez que eu tentava dizer algo a Elana, meus lábios pareciam travar.

O que só tornou a sessão ainda mais desconfortável.

Minha graça salvadora era saber que Sol estava parado do lado de fora, esperando que eu terminasse. Pelo menos, voltar significava que eu tinha todos os meus companheiros em um só lugar novamente. Embora Cyrus continuasse saindo para seus encontros misteriosos no Reino da Água. E Exos tinha retornado ao Reino do Espírito Fae duas vezes nos últimos dias a negócios.

Isso me fez pensar como seria a vida quando todos os meus companheiros se formassem.

Eu teria que viajar entre os reinos para vê-los?

Fiz uma careta. Cyrus realmente precisa me ensinar a nebulizar.

— Está tudo bem, querida? — Elana perguntou, me avaliando com seus olhos gentis.

— Só pensando na coroação — respondi. Não era necessariamente uma mentira. Estava relacionado ao meu futuro, certo?

Mas Elana não parecia tão convencida. Sua sobrancelha estava franzida de uma forma que eu não costumava ver.

Então eu disse a primeira coisa que pude para desviar o assunto de volta para ela.

— Você não estava presente. Presumo que seja porque não é obrigatório comparecer a esse tipo de evento? — Formulei como uma pergunta, o que era totalmente idiota. No entanto, a maneira como seu rosto ficou turvo sugeriu que toquei em um tópico interessante. — Mortus também não estava lá.

Ela assentiu lentamente e a fada que ela conjurou desapareceu na névoa. Água, percebi, lutando contra outra carranca. Ela usou a Água.

Algo que eu não teria questionado, mas Elana só tinha acesso ao Espírito. Então, como ela estava usando Água agora? De alguma forma, ela manifestou o elemento e não disse a ninguém? Talvez fosse um poder iniciante. Ou...

— Odiei perder a coroação — Elana comentou, interrompendo meus pensamentos. — Mas a Academia exigia que eu ficasse aqui. Mortus também. Todos os jovens que vivem nesta escola são minha responsabilidade, e eu a levo a sério.

Franzi o cenho. A maneira como ela disse fez parecer que a Academia poderia estar em perigo.

Por causa da minha mãe?, eu me perguntei. Ela sabe que Ophelia ainda está viva?

Estava na ponta da língua perguntar, mas minha voz se recusou a sair. Literalmente. Tipo, eu não conseguia abrir os lábios. Parecia que alguém havia tapado minha boca com uma mão invisível. Sussurros urgentes inundaram meus pensamentos, todos eles ininteligíveis.

Estou ficando louca.

Era isso.

Eu precisava dormir mais. Menos sexo. Alguma coisa. Porque, aparentemente, eu não tinha mais controle sobre meu cérebro ou meu corpo.

Elana tinha dito algo enquanto eu estava perdida pensando na força invisível que controlava meu corpo. Ela me olhou com expectativa.

— Sinto muito, não prestei atenção — admiti. Minha boca pronunciou muito bem essas palavras.

Minha mentora me deu outro daqueles olhares preocupados.

— Tem certeza de que está tudo bem, Claire?

— Humm-humm. — Limpei a garganta. — Só estou um pouco cansada. Foi uma semana emocionante. — O eufemismo do século.

Seus olhos prateados me disseram que ela não acreditava em mim, mas permitiu que o assunto fosse esquecido.

— Bem, que tal nos concentrarmos em algo novo hoje? Em vez de fadas, quero dizer.

— Certo. O que você tem em mente?

Ela fez um amplo círculo com a mão e conjurou uma tigela etérea com água.

Não. Correção. Isso não era Água.

— Você estabeleceu um controle firme sobre a vida, o lado do Espírito que vem naturalmente. No entanto, há um outro lado do seu poder que você ainda precisa explorar, e acho que é hora de te ensinar o que realmente significa ser um Espírito Fae. — Elana segurou meu pulso com força, me fazendo respirar fundo.

Havia apenas um outro lado da vida em que eu conseguia pensar.

Morte.

O poder me inundou, fluindo de um lado para o outro enquanto minha mentora puxava minha essência do Espírito que não estava pronta para esta invasão.

— O que você está fazendo? — perguntei, e minha voz elevou um tom.

Elana me deu um de seus sorrisos gentis em um esforço para me acalmar, mas todos os meus pelos se arrepiaram quando a temperatura na sala despencou.

— Relaxe, Claire. Esta é uma progressão normal empara o seu treinamento. E sei que você está pronta.

Eu não me sentia pronta.

E isso certamente não parecia tão normal.

A tigela de líquido enevoado ondulou enquanto Elana se concentrava.

— Pense em seu poder e no que ele é capaz. O Espírito transcende este mundo, e isso é uma coisa linda. — Seu elemento puxou o meu novamente, apenas o suficiente para extrair um pedaço da minha conexão com Exos – com a fonte.

Um rosto translúcido se formou, alguém com olhos mortos e prateados que olharam através de mim.

Elana sorriu.

— Meu Deus, este é um dos mais velhos Espíritos Faes, com quem não tive o prazer de falar ainda. Muito bem, Claire.

Não senti como se tivesse feito absolutamente nada.

Tentando tirar minhas garras de Elana, me vi presa a ela e a um poder gelado que nos ligava enquanto o Espírito finalmente focava seu olhar em mim. Ele tentou sorrir, mas o movimento parecia forçado.

— Por que você não tenta falar com ele? — Elana perguntou. — Apresente-se.

A última coisa que eu queria fazer era falar com o Espírito de um Fae morto. Parecia inapropriado. Intrusivo. Errado.

— Hum — consegui dizer, mas minha língua ficou seca. — Oi. Eu sou a Claire. Quem é você?

O Espírito inclinou a cabeça, o movimento ligeiramente antinatural com seu olhar fixo.

— Você? — ele perguntou, parecendo não ser capaz de compreender minha pergunta.

— Use seu poder — Elana encorajou. — Os Espíritos antigos estão acostumados a descansar, não a conversar. Ele vai precisar de ajuda.

Socorro. Certo.

Meus lábios torceram para o lado. Eu não via motivo para perturbar o descanso de um Fae antigo assim, mas claramente, Elana queria que eu aprendesse algo.

Use seu poder, ela sugeriu.

Tudo bem.

Me concentrei na forma contorcida, na agonia que provocava as bordas de sua boca assimétrica. Franzi o cenho. O que será que aconteceu com você?, me perguntei, notando a maneira como ele se encolhia a cada poucos segundos, como se revivesse sua morte sem parar.

Era por isso que parecia tão errado perturbá-lo? Porque, era tortura invocar seu Espírito?

— Dor? — perguntei, usando uma única palavra com um fio persuasivo do meu poder sublinhando a pergunta. Tudo isso parecia estranho demais. Eu precisava saber se o Espírito estava sofrendo como resultado de nossa intrusão.

Elana franziu a testa. Mas eu a ignorei e foquei no rosto diante de nós.

Suas sobrancelhas – o que restou delas – se contorceram para baixo. Ele abriu a boca para dizer algo, mas Elana arrancou a mão da minha, dissolvendo o feitiço instantaneamente e enviando uma onda de choque de névoa e energia.

— Os Espíritos precisam ser consolados e persuadidos — Elana me repreendeu, claramente irritada comigo. Ela esfregou as mãos e suspirou, voltando a ser a mentora gentil e paciente. A mudança foi surpreendente. — Você é uma criatura doce, Claire. Mas seu lado humano tem muita empatia. Os Espíritos não sentem dor, te garanto. Pode parecer que sim, mas é só porque eles imitam a vida que existia antes. Quando conjurados, são ferramentas como qualquer outro poder oferecido pelos elementos.

Minha coluna ficou rígida. Ferramentas? Elementos não eram ferramentas. Pelo menos, não para mim ou para meus companheiros. Nossos dons deveriam ser respeitados e abraçados – não usados como ferramentas estúpidas.

— Entendo — murmurei, sem saber o que dizer.

Elana pareceu sentir meu desconforto e convocou algumas fadas para limpar o pó do Espírito da mesa. Calor e vida voltaram ao ar, trazendo consigo uma sensação boa. Quase suspirei de alívio, mas as garras frias da realidade pareciam estar presas ao meu coração.

Essa alma... ela sentia dor. Eu tinha certeza disso.

— Não é minha intenção te assustar, doce criança. Você tem que entender que tenho mil anos. Já vi a vida e a morte seguirem seu curso centenas de vezes e passei a aceitar sua finalidade. — Elana girou um anel no dedo. — É mais fácil assim.

A culpa cravou um buraco no meu peito.

Claro que Elana devia ter perdido muitos amigos e familiares ao longo dos anos. Eu estava sendo muito dura com ela por esperar que ela tivesse o mesmo nível de empatia que eu. O que eu realmente sei sobre perda ou Espíritos? A morte de Rick ainda tinha seu peso na minha alma, mas foi uma morte, enquanto Elana deve ter experimentado muitas.

— Me desculpe — eu disse. — Você está certa. — Dei a ela um sorriso fraco. — Foi só... inesperado. Isso é tudo.

Ela assentiu.

— Às vezes, as lições são melhor aprendidas sem aviso. — Ela se levantou e limpou o pó de Espírito de seu vestido. — Te traumatizei o suficiente por hoje. Volte para seus amigos, Claire, e pense sobre o que eu disse. Você tem um grande presente, e se escolher abraçá-lo, pode ajudar ao Espírito Fae e o resto do reino de uma forma que ninguém mais pode. Eu adoraria explorar mais a sua magia Espiritual em nossa próxima visita. Não temos que continuar a explorar este lado do seu poder se você for avessa a ele. No entanto, se você estiver disposta, há muito que posso lhe ensinar.

A esperança em seu olhar dizia que ela realmente acreditava que eu era capaz de grandes coisas. Embora eu não tivesse certeza se poderia algum dia invocar Espíritos como parte do meu treinamento.

— Vou pensar nisso — prometi. — Obrigada, Chanceler.

Elana sorriu e me guiou para o corredor da frente, falando sobre coisas sem sentido, uma conversa da qual me desliguei, consumida demais com o dia e tudo o que tinha acontecido.

Tudo que eu queria fazer era voltar para meus companheiros. Para Sol, que esperava do lado de fora e me prometia vida – não morte.

Sorri para mim mesma. Sim. Meu Fae da Terra é exatamente o que preciso agora.


Finalmente, era minha vez com Claire. Eu sabia que ter mais quatro companheiros a manteria ocupada, mas eu não tinha conseguido passar tempo com ela assim desde antes de ela partir para o Reino dos Espíritos.

Andei de um lado para o outro na frente da mansão de Elana, sem perceber que estava fazendo uma rachadura na pedra até que tropecei em uma borda irregular. Quanto tempo Elana iria manter Claire lá? Estava tudo bem? Eu deveria entrar?

Antes que eu fizesse papel de bobo e entrasse na casa da Chanceler, Claire apareceu com o cenho franzido e o olhar distante. Acenei com a mão na frente de seu rosto.

— Foi tão ruim assim? — perguntei.

Ela piscou para mim quase como se tivesse se esquecido de que eu estava lá. Admito, isso doeu um pouco, mas então ela sorriu e passou os dedos em volta do meu pescoço para me puxar para um beijo. Seus lábios roçaram os meus, e eu joguei fora qualquer noção de que ela pudesse ter me esquecido.

— Melhor agora — ela disse, então se enrolou contra meu peito. — Só não acho que a Elana foi boa para mim hoje. Eu preciso relaxar.

Sorri e envolvi um braço em sua cintura fina, com cuidado para não colocar muito peso sobre ela. Fiquei nervoso por estar tão perto de Claire sem Vox para ter certeza de que eu não a quebraria, mas não poderia usá-lo como muleta para sempre.

Passos de bebê.

— Conheço o lugar perfeito para relaxar — eu disse a ela, sorrindo.

Ela olhou para mim, com a curiosidade brilhando em seus olhos azuis. Suas íris tinham um brilho ocasional da cor do arco-íris agora que abraçou sua metade Fae, e eu adorava a curvinha de suas orelhas pontudas.

— Me deixou intrigada — ela respondeu.

Liderei o caminho em direção a um campo entre o Esquadrão do Espírito e o Esquadrão da Terra. Tentei – e falhei – fazer um oásis de pessegueiros em mais de uma ocasião. Eu finalmente descobri que era tudo uma questão de posicionamento. Muita merda acontecia em uma base constante para ter essas coisas delicadas expostas no Esquadrão do Espírito. Como Vox mandando tornados pela janela quando espirrava e Titus colocando tudo em chamas porque, bem, era exatamente isso que ele fazia.

Não, Claire e eu precisávamos de um lugar só nosso.

Apenas para Terra, céu e doçura.

O cheiro dos pessegueiros que floresciam nos atingiu antes de chegarmos ao topo do bosque escondido na floresta.

Os olhos de Claire brilharam, e ela prendeu a respiração.

— Sol, você fez isso? É lindo!

Meu coração cresceu três vezes em comparação com o tamanho normal. Criei e perdi tantos bosques na tentativa de impressionar Claire. Eles nunca me pareceram bons o suficiente ou eram destruídos antes que ela tivesse chance de vê-los. Então fiquei com receio de que ela me achasse estúpido ou que isso fosse um desperdício de energia.

Mas vendo sua expressão agora? Sim, valeu a pena todo o esforço.

Ela segurou minha mão e me arrastou para o oásis, e o triturar da floresta sob seus sapatos se transformou no tamborilar suave de seus passos sobre as pedras lisas que coloquei como caminho. Meus próprios passos estrondosos abafaram sua empolgação, mas ela não pareceu se importar.

Claire me soltou e saltou para uma das árvores, passando os dedos pelas folhas e envolvendo-os em um pêssego. Ela o colheu e o levou ao nariz. Fechou os olhos e inspirou longa e profundamente. Quando ela soltou a respiração, seus olhos se abriram e ela sorriu para mim.

— Sol, realmente, isso é lindo.

Encorajado, acenei com a mão e afastei uma parede de árvores da floresta para mostrar o resto do bosque em que ainda estava trabalhando.

— Ainda não está terminado, mas eu esperava que você pudesse me ajudar. Quer dizer, eu esperava que pudéssemos trabalhar nisso juntos.

Ela se aproximou da clareira onde pequenos montes de terra esperavam por vida. Eu ansiava por mais da sua magia, da fruta doce e do mistério que apenas Claire poderia fornecer.

Mas o lugar não parecia muito vazio, eu tinha espalhado flores Faes rosa e roxas ao redor do perímetro. Isso deu um toque de cor, e Claire sorriu enquanto passava pela fronteira.

— É como um círculo de fadas — ela comentou.

Dissemos a ela centenas de vezes que fadas não existiam, mas dei de ombros e concordei. Ela poderia chamar esse lugar do que quisesse.

— Claro.

Ela riu e me entregou o pêssego.

— No mundo humano, dizem que existem círculos de fadas. Se você ficar preso lá dentro, as fadas o levarão para o mundo delas e nunca te deixarão partir.

Mordi a doce polpa do pêssego e mastiguei enquanto considerava a ideia de um círculo de fadas. Engoli e balancei a cabeça.

— Você me pegou. Não vou deixar você partir. — Ofereci a ela a metade restante do pêssego. — Mas pelo menos você não vai morrer de fome.

Ela o pegou e passou o dedo pela minha boca, onde ainda havia um toque da fruta. Suas feições suavizaram e me inclinei para seu comando silencioso de adorá-la. Ela me recebeu com um beijo carinhoso, passando a língua pelos meus lábios, e então abriu os seus para mim quando não pude resistir a provar.

Ela era muito melhor do que um pêssego.

Levei a mão para sua clavícula em um aperto possessivo, mas me afastei. A tensão ainda estava em seu corpo, e eu não ia ignorar os sinais de que minha companheira tinha algo na cabeça.

— O que há de errado? — perguntei.

Ela umedeceu os lábios, baixando o olhar para ver a protuberância que se formava na minha virilha.

Bem, não pude evitar.

Ela era minha companheira, estávamos sozinhos e tudo que eu queria fazer era mostrar o quanto ela significava para mim, mas eu sempre colocaria suas necessidades antes das minhas.

— Eu deveria estar te fazendo a mesma pergunta — ela brincou, mas um brilho sombrio em seus olhos me disse que ela estava cansada e preocupada.

Sem dar a ela a chance de me impedir, eu a segurei, passando meu braço pela parte de trás de suas pernas, e a puxei contra meu peito. Ela gritou enquanto eu a levantava, e o pêssego em sua mão voou enquanto ela se agarrava ao meu pescoço.

— Sol!

Eu a levei até a maior árvore do oásis. Pessegueiros pontilhavam o longo caminho que fiz, mas havia uma surpresa no final.

Os Faes a chamavam de Árvore do Mundo, e seria onde Claire e eu um dia consumaríamos nossos votos. Supondo, é claro, que ela pretendesse me ter como seu companheiro um dia.

Por enquanto, seria onde eu compartilharia segredos com ela, onde ela estaria livre para se abrir para mim e onde nós dois nos sentiríamos seguros de qualquer coisa que a perseguisse.

Este era o nosso lugar.

Ela arregalou os olhos quando viu os longos galhos prateados que faziam a árvore parecer de outro mundo.

— O que é isso? — ela perguntou contra minha bochecha.

— A Árvore do Mundo — eu disse, orgulhoso da minha criação. Percorri um longo caminho em meus estudos e meus poderes desde que Claire me ensinou a não ter medo do que eu era capaz. — É apenas um ramo de muitos que vêm da fonte da minha magia.

Vox não ficou satisfeito quando mostrei a ele outro dia, dizendo que era perigoso explorar meu sangue real.

O olhar no rosto de Claire me disse que ele estava errado.

Grandes raízes se espalhavam da base, fazendo uma cama perfeita com musgo macio, e coloquei Claire ali antes de me juntar a ela, que se aninhou contra mim e passou os dedos por baixo da minha camisa, explorando os músculos do meu peito.

— Você está cheio de surpresas, Sol.

Dei um beijo no topo de sua cabeça.

— E você está cheia de preocupações. Fale, ou direi a Cyrus que você está guardando segredos.

Ela riu.

— Não vai, não.

Ela estava certa. Falar com Cyrus não estava na minha lista de atividades favoritas, e todos sabiam disso. Não era culpa minha que o Fae Real fosse um idiota pomposo. Ah, ele me deu espaço. Mas eu vi através de suas travessuras.

Merda de cachoeira.

Afastei o cabelo do rosto de Claire e pressionei minha testa na sua.

— Estou aqui com você, florzinha. — Era assim que ela me parecia – uma flor delicada que poderia voar para longe com o vento se eu respirasse com muita força. — Fale comigo. Aconteceu alguma coisa?

Seus dedos continuaram a explorar minha pele, fazendo a Terra tremer enquanto minha necessidade por ela crescia.

— É a Elana. Ela me apresentou a outra metade do meu elemento hoje, e meio que não saiu como planejado — ela admitiu e então suspirou. — Na verdade, não. Honestamente, acho que é minha mãe quem está me incomodando mais.

— Como?

Ela mordeu o lábio e o movimento me distraiu.

— Tudo parece estranho. Não sei explicar, mas sinto que há algo errado. Mas sei que tem a ver com ela.

— Estranho como?

Ela suspirou e colocou a perna sobre a minha. Não pude deixar de notar que isso colocou seus quadris perto do meu alcance. Se ela continuasse assim, eu ficaria inútil nessa conversa.

Seus olhos azuis brilhantes encontraram os meus, me mantendo cativo.

— Acho que continuo ouvindo-a. Na minha cabeça. Mas não é claro. — Ela olhou ao redor do nosso oásis. — Sinto como se ela estivesse bem aqui.

Endureci e imediatamente destranquei a porta que mantive sobre meu poder de rugir, fazendo o chão ao nosso redor vibrar. Mas só encontrei Claire e seus companheiros em feliz harmonia, nada sombrio.

— Não sinto nada.

— Eu não quis dizer aqui — ela murmurou, sorrindo. — Mas comigo, de alguma forma. — Ela balançou a cabeça. — Honestamente, acho que estou exausta de tudo. Provavelmente é o sexo. — Seus olhos brilharam com intenção quando ela deslizou a mão pela minha camisa, abrindo os botões para expor meu abdômen ao longo do caminho. Ela deixou escapar um longo suspiro de apreciação. — Às vezes, não consigo acreditar que tudo isso é real.

Não aguentei mais e passei a mão sobre seu quadril e em sua coxa, apertando enquanto colocava meu polegar perto o suficiente de suas coxas para provocá-la. Ela ofegou enquanto eu massageava seus músculos.

— É muito real, florzinha. Faríamos qualquer coisa por você.

A expressão dela brilhou de alegria, depois se tornou travessa.

— Mesmo usar um terno para o Baile do Solstício?

Fiz uma careta, mas meu coração pulou por ela ter tocado no assunto.

— Achei que tivéssemos combinado de usarmos jeans.

Ela desceu mais os dedos em meu abdômen, fazendo meus músculos se contraírem.

— Você ficaria bem usando roupa de seda. — Ela umedece os lábios e depois se inclinou, substituindo o toque pela língua.

Resmunguei meu acordo. Se ela quisesse seda, eu usaria a porcaria da seda. Puta merda, eu iria até pelado. Não me importava, não quando ela estava fazendo...

Isso.

Gemi quando sua boca chegou perto da minha cintura, e o chão tremeu enquanto meus poderes ameaçaram se descontrolar.

— Não posso, florzinha — falei com os dentes cerrados.

Deuses, eu a queria, mas senti meu controle falhar. Ou precisávamos de um vínculo de companheiro completo para me manter focado ou eu precisava de Vox aqui conosco. Independentemente disso, eu nunca faria nada que colocasse Claire em perigo.

Ela não discutiu. Sua compreensão ficou nítida.

— Você não deve ter medo dos seus presentes — ela sussurrou, se aninhando contra meu pescoço enquanto envolvia a perna NO meu quadril novamente e pressionava todo o seu corpo no meu.

Meu pau dolorido sob a fina camada DE roupas protestou quando sua coxa o pressionou, mas ela se acalmou quando segurei seu quadril para impedi-la de se mover.

— Não tenho — garanti a ela. — Só sou cuidadoso com você.

Ela riu e passou os dedos sobre meu peito. Dei um beijo carinhoso em sua boca.

— Talvez mais tarde então — ela sugeriu, deliciada. — Se precisa que os outros estejam conosco para se sentir seguro comigo, sei que eles ficarão felizes em ajudar. — Ela me deu outro beijo. — Mas me prometa que um dia podemos ficar só nós. Talvez em sua Árvore do Mundo, com nossa Terra e nosso amor. — Ela adorava todos os seus companheiros, mas saber que me queria só para ela, me fez sentir um Fae totalmente novo.

Levei a mão para seu pescoço novamente enquanto a provava.

— Essa é uma promessa que posso cumprir quando estivermos prontos. — Quando o vínculo entre nós fosse tão forte que até mesmo a Terra se movia sob meu comando.

Ela me cutucou no nariz.

— E você vai me levar ao baile.

Assenti, mordendo seu lábio inferior.

— Combinado, florzinha.


Contorci os lábios. Estou esquecendo de algo. Eu simplesmente não conseguia lembrar o que era.

Minha maquiagem era sutil, meu cabelo estava arrumado em longas ondas loiras e o vestido azul tinha um incrível decote em forma de coração. Ele acentuava minhas curvas nos lugares certos, sem ser muito justo. O tecido também combinava com meus olhos, o que era uma vantagem.

Mas algo não estava certo.

Bati no queixo, olhando para meu reflexo no espelho. Essa sensação de incerteza pesava sobre meus ombros, me mantendo cativa sobre os saltos de sete centímetros.

O que é?, me perguntei. O que estou esquecendo?

As bordas do espelho escureceram um pouco, tremeluzindo sob a luz fluorescente. Eu simplesmente não conseguia parar de me olhar e me perguntar o que...

— Você está linda — uma voz calorosa murmurou atrás de mim. Uma borboleta rosa beijou minha bochecha seguindo as palavras antes de pousar na minha orelha pontuda como um enfeite.

Pisquei para o meu reflexo, sentindo como se tudo estivesse certo de repente.

— Que estranho, mas bonito.

— Você ou a borboleta? — Exos perguntou, se aproximando. Ele usava um dos ternos que são sua marca registrada, fazendo com que nosso traje combinasse pela primeira vez. Só que, de alguma forma, ele ainda ficava melhor que eu em roupas formais. Benefícios de ser o rei.

— Tudo — respondi, balançando a cabeça e me virando para encará-lo. — Não ligue. Eu me senti um pouco estranha o dia todo.

Ele segurou minha bochecha e passou o polegar pelo meu lábio.

— Estranha como?

Eu conhecia aquele olhar. Se eu não respondesse, ele me pressionaria. E não tínhamos tempo para fazer isso agora. Além disso, Exos era meu companheiro. Ele entenderia, ou talvez até mesmo seria capaz de me deixar à vontade.

— Sinto que estou esquecendo algo — admiti. — Isso é estranho, certo? Não consigo pensar em nada de que possa precisar esta noite, além do que estou vestindo.

As íris cor de safira de Exos arderam enquanto ele revisava minha aparência e seus lábios carnudos se curvaram no canto.

— Ah, não sei. Você está usando calcinha?

Minhas bochechas esquentaram.

— Exos.

— É azul como este vestido? — ele perguntou e suas mãos encontraram meus quadris. — Devo levantar sua saia para ver?

Eu ri e balancei a cabeça.

— Mente poluída.

— Pode me culpar, Claire? — Ele olhou meu decote. — Você está incrível neste vestido. Isso me faz querer ir ao baile com você e os outros, só para ter um motivo para ficar te olhando a noite toda.

Meu coração deu um salto e umedeci os lábios.

— Então estou bonita?

— Mais do que bonita, princesa. Você está deslumbrante. — Ele se curvou para roçar sua boca na minha. — O Vox e o Sol vão ter dificuldade em não te trazer para casa mais cedo. Dou a eles duas horas antes de desistirem do baile e te desejarem nua entre eles.

Estremeci com o calor de suas palavras e o quadro que elas pintaram.

— Quer se juntar a nós?

— Se você me quiser lá, sim. — Outro beijo, este mais longo, mais sensual. — Eu faria qualquer coisa por você, Claire.

Meu sangue esquentou, acendendo uma chama no fundo da alma que queimava apenas por Exos. Meu companheiro do Espírito. Meu rei. Meu amor. Passei os braços em volta do pescoço e me aproximei, sem me importar com a maquiagem. Tudo o que importava era sua língua e a maneira como ela envolvia a minha.

Eu também faria qualquer coisa por você, sussurrei para ele.

Eu sabia o que ele sentia por me compartilhar. Ele comentou uma vez com Titus que não se importava de compartilhar meu prazer, mas me assistir com outra pessoa não era uma atividade que ele desejava experimentar.

Mas com Cyrus, ele parecia bastante aberto.

Talvez nosso vínculo tenha mudado sua visão.

Você mudou minha visão, ele corrigiu, apoiando a mão na parte inferior das minhas costas. Ver você feliz, me deixa feliz. Quando você sorri, eu sorrio. Ele se afastou apenas o suficiente para esfregar seu nariz no meu.

— Eu te amo, Claire.

— Eu também te amo — sussurrei, fechando os olhos. Tudo naquele momento parecia certo novamente. Isso era o que eu estava esquecendo – meus companheiros. Estar separada deles me fazia sentir vazia e sozinha. Eles eram minha vida agora, meu círculo, minha conclusão. Suspirei contra Exos, apoiando a bochecha em seu peito enquanto o abraçava com força. — Obrigada.

— Pelo quê?

— Por me ajudar a me sentir melhor.

— A qualquer momento. — Ele beijou o topo da minha cabeça. — Tem sido um turbilhão nos últimos meses. Tente se divertir hoje à noite. Você merece.

— Não acredito que vou a um baile — fiquei maravilhada. — Eu achei que os bailes estavam acabados depois da faculdade.

— Bem-vinda ao mundo Fae. — Ele me apertou mais uma vez antes de me soltar. — Vou levá-la para dançar algum dia, só nós dois.

Levantei uma sobrancelha para ele.

— Você dança?

Ele sorriu.

— Ah, Claire. Você não tem ideia. — Com isso, ele me soltou e me levou até a porta. — Vox e Sol estão esperando e posso sentir a impaciência dos dois.

Sim, eu podia sentir o nervosismo deles através do vínculo. Eu não conseguia falar com eles do jeito que falava com Titus, Exos e Cyrus, mas as emoções viajavam facilmente entre todos nós. Como o aborrecimento de Sol e Vox com a diversão de Titus. Meu companheiro de Fogo achou o traje formal deles cômico, algo que ele comentou algumas vezes na presença dos dois.

Me virei em direção à bancada para retocar a maquiagem, mas me vi sendo conduzido em direção à porta com a palma da mão de Exos na parte inferior das minhas costas — Não tem sentido reaplicar o batom, Claire. Os caras vão tirá-lo. — Ele colou os lábios nos meus para dar ênfase e abriu a porta antes que eu pudesse protestar.

Sol e Vox estavam no corredor. Suas expressões mudaram de nervosas para clara apreciação quando avistaram meu vestido.

— Uau — Sol murmurou, maravilhado. — Você me lembra os prados azuis no coração do Reino da Terra, só que ainda mais atraente. — Ele deu um passo à frente e segurou minha mão, levando-a aos lábios. — Oi.

Senti um frio no estômago com aquela palavrinha e a maneira como seu olhar castanho profundo cintilava quase timidamente. Fiquei na ponta dos pés para beijá-lo na boca.

— Oi. — Olhei seu smoking preto e branco impecável. — Embora eu ame você usando jeans, está muito lindo.

Ele contraiu os lábios.

— É?

— Sim. — Eu o beijei novamente antes de me virar para um Vox mudo. O tom prateado em torno de suas íris negras pareciam engrossar enquanto ele olhava para mim, dando-lhe um brilho sobrenatural régio.

Ele engoliu em seco.

Duas vezes.

E pigarreou.

— Tente usar o Ar — Titus disse há alguns passos de distância. — Ouvi dizer que isso ajuda a falar.

Exos riu atrás de mim.

— Você pode culpá-lo por estar um pouco sem palavras?

— De jeito nenhum — Cyrus comentou, se juntando a nós. Ele colocou o braço em volta da minha cintura, me puxando para si sem reconhecer os outros, e capturou minha boca em um beijo faminto que me deixou tremendo de necessidade. — Agora você está devidamente aquecida. — Ele piscou e mordeu meu lábio inferior. — Seu rubor natural é tão atraente, Claire.

— É, sim — Vox concordou, com a voz um pouco rouca. — Ela é magnífica. Você é magnífica.

Agora foi a minha vez de ficar sem palavras.

Entre o abraço de Cyrus, o calor que irradiava de Exos, os elogios de Sol e o nervosismo de Vox, me senti um pouco sobrecarregada.

O único que não parecia estar me desconcertando era Titus, mas ao ver seu olhar da outra sala, eu entendi o porquê. Ele servia como minha rocha, aquele que me ancorava no momento e me emprestava força, pois sabia que eu ia precisar.

Ele me soprou um beijo e piscou.

Todos esses homens desempenhavam um papel diferente na minha sanidade, reforçando minha coragem, cuidando de mim e me respeitando de maneiras que eu nunca poderia ter previsto.

Eu era mesmo a mulher mais sortuda do mundo. Não, em todos os mundos. Quantos pudessem haver.

Balancei a cabeça com uma risada. Isso era um assunto para outro dia.

Esta noite, eu queria me divertir, assim como Exos sugeriu.

Eu passaria a noite com dois dos meus futuros companheiros, esqueceria de tudo o mais e apenas me divertiria. Porque, a minha vida? Sim, minha vida era incrível pra caramba.

E eu tinha que agradecer a todos os meus companheiros por tudo.

— Vamos para o baile — eu disse, olhando para Sol e Vox. — Mal posso esperar para dançar com vocês dois.


— O que há de errado? — Cyrus perguntou assim que a porta se fechou atrás de Claire.

Curvei os lábios para o lado.

— Algo está para acontecer. — Senti que algo estava errado o dia todo, uma sensação de injustiça caindo sobre meus ombros e derrubando meu mundo. — Ela sentiu também.

— Daí a sua distração — Cyrus murmurou.

Concordei. Não fazia parte do acordo eu ir até ela no quarto, mas senti sua necessidade de alívio emocional.

— Ela merece uma noite de diversão sem a mãe pairando sobre sua cabeça. — Ou o que quer que esta energia sombria e condenável significasse.

— Não sinto nada — Titus disse, se juntando a nós no corredor. Ele ouviu nossa conversa, não que eu tenha tentado esconder. Como companheiro de Claire e um dos lutadores mais fortes que já conheci, ele precisava se envolver na discussão.

— É uma perturbação do Espírito. — Cruzei os braços e me encostei na parede. — Parece uma nuvem cinza persistente no horizonte que se recusa a sair. Claire confundiu com algo que ela estava esquecendo. Mas eu reconheço o que é – um mau presságio.

— Alguém está brincando com magia que não pertence a este lugar — Cyrus comentou. — Magia Sombria Fae.

Sim, foi exatamente o que senti.

— Você sente isso também?

— Só através da Claire — ele admitiu. — Mas me lembra Kols.

Eu bufei.

— Parece mais duro para mim.

— Mas você sabe o que quero dizer.

— Sim. — A assinatura de energia era semelhante em origem, marcando-a como pertencente ao infame Fae da Meia-Noite, que comumente chamávamos de Fae Sombrio.

— Quem ou o que é um Kols? — Titus interrompeu.

— Um Fae Real da Meia-Noite — Cyrus respondeu. — Um cretino arrogante, mas muito divertido em festas. Você o amaria.

Titus franziu o cenho.

— Você é amigo de um Fae da Meia-Noite?

— “Amigo” — pode ser um pouco forçado. — Não era como se eu conversasse com Kols regularmente. Nos víamos ocasionalmente em eventos políticos.

— Para você — Cyrus esclareceu. — Eu adoro o cretino.

Assenti.

— Claro que você adora. — Eles tinham personalidades semelhantes, apesar de suas claras diferenças Faes. — Você deve entrar em contato com ele, ver como as coisas estão indo por lá. — A última vez que ouvi algo a respeito, havia algum tipo de guerra estourando entre as duas classes de Faes da Meia-Noite.

— Sim, assim que resolvermos nossos problemas com a mãe de Claire, vou fazer o acompanhamento. — Cyrus enfiou as mãos nos bolsos. — A menos que você ache que tudo isso está de alguma forma relacionado.

— Não. Fae Elemental não pode usar magia sombria. — Apenas os Faes da Meia-Noite tinham acesso a isso. Alguns acreditavam que era sua afinidade com o sangue humano que os capacitava a alcançar os recessos mais cruéis do poder Fae. Mais provavelmente, estava ligado à sua geral mais do que qualquer outra coisa.

Balancei a cabeça.

— Pode parecer a energia Fae da Meia-Noite, mas não vejo como isso poderia ser possível. Independentemente de qualquer coisa, precisamos cuidar da Claire. Quero que ela tenha uma noite agradável.

— É por isso que você não disse a Vox ou Sol — Titus acrescentou. — Você quer que todos se divirtam.

— Sim. — Eu sabia que Vox não seria capaz de se divertir se estivesse muito ocupado cuidando de Claire. O mesmo para Sol. — É melhor se ficarmos de olho de longe. Não acho que nada vá acontecer, mas quero estar lá para o caso.

Titus girou o pescoço. Sua excitação era palpável.

— Por mim, tudo bem. — O Fae do Fogo nasceu para este tipo de trabalho. — Vamos fazer isso.

— Tão ansioso e pronto para lutar — Cyrus murmurou. — Alguns podem dizer que você está ansiando por isso.

— O que posso dizer? — Titus falou lentamente. — Meu último oponente não me desafiou muito, então estou tentando melhorar meu jogo.

— Humm. Talvez da próxima vez seu oponente não facilite.

Titus bufou.

— Está dizendo que perdeu de propósito?

— Você sabe que sim.

— Vocês dois lutaram? — perguntei, interrompendo a discussão. — E Titus ganhou?

— Eu o deixei vencer — meu irmão admitiu. — A Claire não teria ficado feliz comigo se eu matasse seu companheiro de Fogo.

Bem, isso era verdade. Ainda assim...

— Não posso acreditar que você o deixou vencer. — Olhei entre eles. — Quero ver uma revanche.

Titus sorriu.

— Com prazer.

Cyrus suspirou dramaticamente.

— Tão ansioso por outra surra. — Ele olhou para o Fae do Fogo. — Você caiu muitas vezes de cabeça quando era criança? Ou sempre foi burro?

Titus semicerrou os olhos.

— Você nasceu idiota? Ou todo aquele poder subiu à sua cabeça e o transformou em um idiota colossal?

Meu irmão riu abertamente.

— Definitivamente, nasci assim.

— Foi o que eu pensei. — Titus se afastou da parede. — Vamos continuar parados aqui jogando conversa fora ou vamos proteger nossa mulher?

Eu sorri.

— Eu sabia que gostava de você, Titus.

— Eu diria o mesmo, mas estaria mentindo — ele respondeu, liderando o caminho até a porta.

— Estou te dizendo, ele não é o companheiro mais brilhante do grupo — Cyrus sussurrou de forma zombeteira. — A menos que ele esteja pegando fogo, nesse caso, ele queima muito. — Uma chama irrompeu na mão do meu irmão com as palavras – algo que chiou e morreu sob um leve jato de água.

A fumaça subiu ao redor de Titus logo depois enquanto ele se defendia da retaliação de Cyrus.

E uma mistura elementar de Fogo e Água irrompeu ao nosso redor.

Suspirei.

— Sim, é assim que iremos a um baile para proteger a Claire sem sermos notado.

Os dois riram.

— Prometo que vamos nos comportar — Cyrus falou. — Na maior parte do tempo.

— Na maior parte — Titus concordou, sorrindo.

Ah, Claire.

As coisas que faço por você...


— O que é isso? — Claire perguntou, focando na carruagem Fae da Terra que esperava por nós no Esquadrão do Espírito.

— É tradição — falei, esfregando a nuca. Quer dizer, Claire merecia a experiência completa do Solstício, e eu planejei proporcionar isso a ela. O que incluía fornecer o transporte que a maioria das Faes estava acostumada a ter para o baile.

Ela deu um sorriso de lado e sua diversão era palpável.

— É uma carruagem de abóbora.

Revisei meu trabalho, tentando entender o que ela queria dizer. O material circular laranja estava aberto na parte superior com uma estrutura de videira para manter sua forma. Imagino que se assemelha a uma abóbora, mas não tenho certeza de porque ela tirou essa conclusão.

— Certo. Acho que se assemelha a metade de uma. — Eu tinha orgulho de ter feito isso por ela, apesar do trabalho necessário para criar um design tão delicado. — Se é assim que você quer chamar, então que seja. — Estendi a mão para ajudá-la a dar o primeiro passo.

Ela riu e segurou minha mão.

— Tudo que eu preciso agora são sapatos de cristal e ratos falantes.

Vox parou ao lado de Claire e me deu um olhar preocupado.

— Seria muito perigoso andar sobre cristal e ratos não falam aqui. — Seus olhos pareciam me perguntar se os ratos do Reino Humano falavam, algo que eu não sabia. Teríamos que perguntar a River mais tarde. O amigo Fae da Água de Titus parecia saber tudo sobre mortais.

— Pessoal, estou brincando. — Claire se acomodou no banco e colocou o vestido sob as coxas, deixando pouco para a imaginação enquanto o tecido abraçava suas curvas. — É de um antigo conto de fadas. — Com nossos olhares inexpressivos, ela suspirou. — Entrem.

Ela não precisava me dizer duas vezes. Saltei para o assento oposto, precisando de mais espaço no pequeno veículo e para equilibrar o peso. Vox pigarreou quando uma pequena brisa passou entre nós. Ele parecia estar nervoso e inseguro, o que não era comum.

Arqueei uma sobrancelha. Seu poder parecia estar se desfazendo como resultado do acasalamento, algo que ele não tinha admitido em voz alta. Mas eu podia ver na maneira como ele se comportava, especialmente agora. Mesmo assim, ele não disse nada. Parte de mim queria desafiá-lo. Claire era nossa companheira, e se seus poderes estavam fracos, ela precisava estar ciente disso.

No entanto, como alguém que passou uma vida inteira na posição dele, entendia sua hesitação. Ele nos contaria quando estivesse pronto. Contanto que não saísse do controle, eu permitiria. Mas no segundo que eu suspeitasse que ele poderia colocar Claire em perigo, eu o questionaria.

Ele passou as mãos na calça antes de entrar na carruagem e ficar ao lado de Claire. Seu olhar desceu por suas deliciosas curvas, e outra brisa mais forte afastou o cabelo dos ombros dela, revelando um decote que eu queria morder como um de seus pêssegos maduros.

Claire riu.

— Se vocês dois continuarem me olhando assim, não vamos chegar ao baile com nossas roupas.

O olhar de Vox saltou para o rosto dela, e ele sorriu.

— Você está linda, Claire. Todas ficarão com inveja de você.

Seu rubor natural se aprofundou.

— E vocês dois estão muito elegantes de terno. Estou feliz que decidimos usar roupas formais. — Ela olhou para nós e, desta vez, percebi como a estávamos afetando. Todos nós já havíamos tido intimidade antes, mas esta noite parecia que deveria ser especial, que precisava ser perfeito.

Limpei a garganta e me inclinei para frente, pegando uma das mãos de Claire e pressionando um beijo em seus dedos.

— Eu concordo com o Vox. Todos os Faes cairão a seus pés.

Com o momento tenso desfeito, Claire sorriu, e sua magia evocou pequenas borboletas cor de rosa. Era uma nova característica, que eu gostava e a fazia parecer ainda mais etérea. Ela inclinou a mão livre para Vox para que todos estivéssemos conectados, então ela olhou ao redor.

— Então, como vamos chegar ao baile? Eu não vejo nenhum cavalo ou algo assim.

Essa foi a deixa de Vox. Normalmente, um Fae da Terra contrataria um troll ou alguma outra criatura para nos levar ao baile. Mas não precisávamos de um com um Fae do Ar presente.

Vox sorriu, e parecia mais confiante agora que estava tocando Claire. Ela o fortalecia e o encorajava.

Uma forte rajada de vento atingiu a carruagem, fazendo-a seguir pelo caminho até o baile.

Claire se mexeu conforme as rodas se moviam, e a diversão aqueceu suas feições.

— Ah, entendi.

Vox normalmente teria que se concentrar para a quantidade de poder elemental que seria precisa para nos conduzir até o baile, mas ele foi fortalecido por sua conexão com sua companheira.

Eu sentia o mesmo com ela.

Minha energia indisciplinada encontrou raízes em sua alma, algo que só se intensificou quando ela fechou os olhos e permitiu que os três elementos se misturassem em uma teia inebriante de sinceridade.

Quase não quis sair quando a carruagem parou do lado de fora do castelo usado para eventos de entretenimento da Academia. No entanto, quando Claire ficou boquiaberta com o lugar, eu sabia que ela iria adorar cada minuto disso.

Saí da carruagem primeiro, seguido por Vox, e nós dois estendemos nossas mãos para nossa companheira.

Vários Faes pararam nas escadas para assistir, fazendo Claire paralisar. A magia do ar empurrou seus cachos dourados, fazendo-os cair sobre seus ombros em uma onda atraente. Minha terra deu a sua pele um brilho bronze, e ainda havia o imenso acúmulo de seu tempo com os outros. Seus olhos brilharam azuis com a Água de Cyrus, sua língua estalou com um toque do Fogo de Titus e havia uma sugestão de borboletas cor de rosa emaranhadas em seu cabelo como uma coroa, refletindo a ascensão de Exos e sua conexão eterna com a fonte do Espírito.

O impacto de sua aparência roubou meu fôlego, como aconteceu com qualquer Fae que parou para observar sua chegada.

Aflora foi a primeira a quebrar o momento.

— Sol! — ela exclamou, saltando até nós e dando a Claire um sorriso adorável. — Vejo que você trouxe a Halfling.

Claire riu.

— Eu tenho um nome, sabia?

Os olhos de Aflora se arregalaram.

— Ah, eu não queria ofender. Eu só... — Ela mordeu o lábio. — Eu sou péssima nisso.

Claire sorriu.

— Eu vou te contar um segredo — ela sussurrou enquanto descia da carruagem. — Eu também sou.

Sorri, satisfeito com a interação das duas.

— Ela prefere ‘Claire’ — falei baixinho.

— Prefiro mesmo — minha companheira concordou.

— Claire — Aflora repetiu, e suas bochechas pálidas ficaram rosadas enquanto ela estudava a coroa improvisada no cabelo de Claire. — Adorei seus enfeites. — Ela estendeu a mão para tocá-la e deu um pulo quando ele se moveu.

— Borboletas — Claire explicou. — São minhas favoritas.

— São lindas — Aflora respondeu, maravilhada.

— Obrigada. — Ela umedeceu os lábios e olhou para Vox, que apertou sua mão em encorajamento.

Esta deve ter sido a conversa mais longa que Claire já teve com outro Fae no campus, além de seus companheiros. Eu não poderia ter escolhido um representante melhor. Aflora não era só gentil, mas também muito querida por nosso povo. Eles veriam sua interação com Claire como um voto de confiança.

— Eu adorei seu vestido — Claire tentou.

Aflora deu uma risadinha e alisou os babados das pétalas macias.

— É mesmo? Eu mesma que fiz.

— Espere... — Claire olhou o tecido de perto. — Isso... está vivo?

Os olhos azuis de Aflora se iluminaram.

— Sim! — Ela se moveu em um círculo, apontando todas as nuances de seu vestido vermelho enquanto Claire o observava com admiração.

Vox e eu as conduzimos para o salão de baile, as duas garotas perdidas em uma discussão sobre outras roupas que Aflora havia feito para si mesma com as raízes de sua Terra. Ela era uma Fae poderosa, o que era de se esperar com sua linhagem real. Seu pai foi rei. Ela era a única herdeira do trono. Mas, como mulher, ela não poderia assumir. Somente Faes do sexo masculino poderiam acessar a fonte diretamente.

Claire respirou fundo enquanto abríamos as portas enormes do salão de baile.

— Oh...

Melodias delicadas filtradas por toda a enorme câmara, preenchiam cada canto com o melhor que a magia musical tinha a oferecer. Elana tinha caprichado muito dessa vez, assim como os outros professores e o comitê de alunos que montaram a celebração do Festivus deste ano.

Aflora voltou para as sombras da varanda com uma piscadela, totalmente ciente do que estava para acontecer. E eu dei ao homem no topo da escada do salão de baile um cartão para nos anunciar.

Ele limpou a garganta, ajustando a runa em seu colar que amplificou sua voz.

— Celebração do Solstício, anuncio o Sol, dos Faes da Terra, Vox dos Faes do Ar e sua consorte, Claire, a Halfling dos Cinco Elementos.

Um silêncio caiu sobre a multidão enquanto Claire ficava rígida sob o escrutínio.

— Você não disse que eles iriam nos anunciar! — ela sibilou baixinho.

Eu ri e coloquei meu braço em volta de sua cintura fina.

— Você teria vindo se eu tivesse dito?

Ela me encarou, mas dei um passo à frente, meu peso a forçando a me seguir escada abaixo. O outro Fae não se esquivou dela, mas se aproximou para dar as boas-vindas a todos nós.

Alguns dos Fae da Terra se aproximaram para tocar as borboletas no cabelo de Claire, todos naturalmente atraídos por sinais de vida. Os Faes do Fogo assentiram com admiração. Os Faes do Ar se curvaram quando Vox passou, prestando respeito a Claire por associação. Até mesmo os Faes da Água se revezaram para se juntar a nós e jogar conversa fora, curiosos sobre sua nova princesa.

Aflora se aproximou de Claire e baixou a voz.

— Você gostou das plantas? — ela perguntou, apontando para as vinhas e flores delicadas que alinhavam as paredes antigas e colunas em espiral que se estendiam até o topo do teto alto. — Adicionei alguns daqueles pessegueiros que você nos ensinou a fazer.

Claire sorriu, notando a fruta sendo degustada por alguns dos Faes. Glacier, que presumi ser o acompanhante de Aflora, se aproximou de nós com uma guloseima meio comida nas mãos.

— Acho que tenho que te agradecer por esta iguaria. Há mais variedades de onde você vem?

Aflora sorriu e acenou enfaticamente com a cabeça.

— Sim, eu adoraria ouvir tudo sobre as árvores humanas que você poderia nos ensinar!

— Você já experimentou? — Glacier perguntou a Aflora, oferecendo seu pedaço. — São deliciosos.

Aflora corou.

— Sim, claro. Ela produziu um pouco durante as aulas da Terra. — Ela olhou para o companheiro de Glacier, que se juntou a nós com um punhado de frutas na mão. — Vejo que River os está experimentando agora.

O Fae da Água, que eu lembrava ser amigo de Titus, se juntou a nós com um sorriso radiante no rosto.

— Isto é incrível! — Ele baixou o queixo quando notou Claire levantando uma sobrancelha para ele. — Ah, olá. — Ele olhou para Aflora. — Eu ouvi alguém dizer que a Claire iria nos ensinar mais sobre árvores humanas? — O Fae da Água tinha um vasto conhecimento dos fatos humanos, mas parecia tão fascinado quanto Aflora por ouvir da fonte.

Claire deu uma risadinha e começou a falar sobre macieiras. A discussão abrangeu outras frutas e como eram cultivadas. River parecia mais fascinado pelo fato de que os humanos levavam anos para cultivar suas árvores, sem nenhuma mágica. Uma multidão se formou, todos prestando atenção em cada palavra dela. Até mesmo o Fae do Fogo parecia extasiado.

Encontrei o olhar divertido de Vox e balancei a cabeça.

Era para ser uma noite especial para nós três. Parecia que a escola finalmente adotou Claire, e agora eles queriam saber todos os detalhes sobre ela.

Aflora ficou ao seu lado o tempo todo, oferecendo sua amizade. Teria que agradecê-la mais tarde. Eu sabia que ela fazia isso por lealdade à minha irmã, que perdemos há alguns anos. Kamsa teria ficado muito grata. Ela sempre pensou que eu terminaria com Aflora, mas ainda que a moça mais jovem gostasse de mim, só era capaz de vê-la como uma irmã. E parecia que ela estava começando a perceber que sua paixão também era infundada.

A música mudou, fazendo com que vários Faes pegassem seus parceiros e se dirigissem para a pista de dança. Tomei isso como uma dica para realmente começar a noite com minha acompanhante.

Olhei para Vox e me corrigi. Nossa acompanhante.

Glacier se curvou e ofereceu o braço a Aflora.

— Vamos dançar?

Aflora deu de ombros.

— Se você conseguir parar de encher a barriga de pêssegos.

— Por você? Qualquer coisa. — Ele beijou sua bochecha e ela me olhou de forma tímida e depois desviou o olhar.

Uma Fae da Terra e um Fae da Água. Não era uma união típica, mas não havia muitos Fae da Terra sobrando.

Claire sorriu enquanto eles se afastavam.

— Eles parecem ser legais. — Ela olhou ao redor do salão de baile. — Todo mundo na verdade.

Vox inclinou o braço da mesma forma que Glacier.

— Você pertence a este lugar, Claire. Todos sabem disso, mesmo que tenham relutado em admitir no início.

Claire relaxou e segurou no braço de Vox, em seguida olhou para mim para ver como administrar. Ela finalmente decidiu apoiar a palma da mão no meu pulso. Meu bíceps era muito grande.

— Quem ganha a primeira dança? — Claire perguntou, parecendo gostar do dilema. — Vocês não podem me pedir para escolher.

Vox afrouxou o colarinho, em seguida, pegou um copo de uma das bandejas do garçom que passava. — Talvez uma bebida primeiro. — Ele entregou a bebida espumante, em seguida, pegou uma para mim e para si mesmo.

Levantei meu copo.

— Um brinde ao melhor Baile do Solstício de todos os tempos.

Claire sorriu.

— Concordo.

Vox fez uma saudação com sua bebida, depois a virou, engolindo tudo. Eu esperava que o Fae do Ar tivesse se acalmado, mas agora que estávamos aqui, parecia que ele estava ficando todo agitado novamente.

Claire deu um gole, e as borboletas em seu cabelo vibraram.

— Humm. Isso é delicioso.

— Cuidado — avisei. — A bebida do Solstício é forte.

Ela me deu um sorriso malicioso.

— Duvido que ela possa competir com o hidromel do Espírito. Se eu posso lidar com ele, então posso lidar com um pouco de bebida da Academia.

Eu ri.

— Muito bem. Não diga que não avisei. — Toquei meu copo no dela. — Talvez te ajude a escolher com quem dançar primeiro.

Claire relaxou. Sua expressão era de alegria e felicidade, uma visão que aqueceu meu coração. Os outros Faes a estavam aceitando, o salão de baile estava incrivelmente bonito e seu contentamento iluminava o ar.

Uma noite perfeita.

Eventualmente, ela assentiu.

— Muito bem. Já me decidi. Vou dançar com o Sol primeiro. — Ela colocou a taça vazia em uma bandeja. — Afinal, o baile foi ideia sua. Parece justo.

Se Vox ficou chateado, não demonstrou. Na verdade, ele parecia aliviado quando a entregou para mim.

— Vou ficar esperando minha vez — ele prometeu, dando-lhe um beijo antes de se afastar.

Fiz uma careta para ele, mas Claire me puxou em direção à pista de dança antes que eu pudesse protestar. Algo estava acontecendo com Vox. Ele parecia preso em uma luta eterna entre sua intoxicação por Claire e suas reservas de como ela o fazia sentir.

Claire ficou na ponta dos pés para me alcançar enquanto colocava os braços em volta do meu pescoço. Ela pareceu oscilar um pouco, a bebida relaxou seus músculos e a deixou um pouco mole.

Eu ri.

— Avisei que era forte. Você vai dançar ou apenas me deixar te carregar na pista de dança?

Ela inclinou a cabeça para trás e sorriu para mim.

— De onde eu venho, isso se qualifica como dança. — Ela se moveu comigo, cantarolando com a música. — Ah, Sol, isto é perfeito. Eu me sinto como se estivesse em um sonho. — Ela olhou por cima do ombro, notando Vox, que nos observava. Ele sorriu e acenou. — Vox não está com raiva de mim, está?

Afastei o cabelo de seu rosto.

— Não, claro que não. Ele só está nervoso. — Pelo menos, eu esperava que essa fosse a causa de seu comportamento estranho. Talvez o controle sobre seu poder tenha diminuído mais do que percebi.

Claire murmurou algo com os olhos vidrados de prazer e riu quando a música se transformou em uma batida mais agitada. Não combinava com o clima, e Vox parecia temer sua vez. Não posso culpá-lo.

— Acho que vou ao banheiro. Dar a Vox algum tempo para se preparar. — Ela soluçou e cobriu a boca, sufocando uma risadinha. — Certo. Talvez aquela poção do Solstício seja um pouco exagerada.

Apontei para o corredor.

— O banheiro fica ali. Quer que eu te leve?

Ela acenou para mim.

— Estou bem. Volto já.

Esperei até que ela desaparecesse de vista antes de me aproximar de Vox.

— O que há de errado com você?

O Fae do Ar franziu o cenho, embora não parecesse surpreso com a minha raiva.

— Você não entende como é, Sol. — Ele olhou para as árvores e vinhas que revestiam as paredes. Uma brisa fresca soprou durante a última música, e até mesmo eu percebi como as folhas flutuavam no ar, as decorações se deteriorando lentamente com os ventos. — Não consigo nem me controlar aqui, durante o que deveria ser uma ocasião alegre — ele resmungou e arrancou a faixa que prendia seu rabo de cavalo, fazendo seu cabelo voar ao redor do rosto. — Estou perdendo o controle, Sol. Não estou acostumado com isso.

Bem, pelo menos ele admitiu em voz alta.

Ainda assim, não pude deixar de me sentir um pouco irritado com sua declaração.

— É mesmo? Eu não saberia nada sobre perder o controle? — Semicerrei o olhar. — Que tal você tentar de novo?

Ele revirou os olhos.

— Você sabe o que eu quero dizer. Você teve toda a sua vida para aprender como lidar com isso, mas é novo para mim e nem deveria existir. Eu deveria estar no controle.

— Você precisa da Claire — eu o lembrei. — E que se dane seu controle. Você é cabeça dura demais. Precisa superar isso.

O Fae do Ar sorriu.

— Que gentil.

Peguei outra poção do Solstício e o fiz beber. Quando ele terminou, eu o sacudi pelos ombros.

— Agora, você vai se recompor e divertir a Claire, ok? Ela está contando conosco. É importante que ela se sinta bem-vinda. Não quero que nada a faça sentir como se ela não pertencesse a esse lugar, especialmente você.

Vox riu e afastou minhas mãos.

— Sim, tudo bem. Pare de me pressionar.

Nós dois tomamos uma bebida enquanto esperávamos por Claire, mas quando a próxima música começou e ela ainda não havia retornado, tive uma sensação inquietante na boca do estômago. Só quando uma onda de medo desconhecida atingiu o vínculo que percebi que Claire poderia estar em apuros.

— Você sentiu isso? — perguntei, empurrando minha bebida para um Fae próximo a nós.

Os olhos de Vox se fixaram no corredor.

— Ela está com problemas Corremos para o banheiro feminino, ignorando os gritos das Faes quando abri a porta.

— Claire? — chamei, minha voz estrondosa aumentando.

O lugar estava vazio.

Claire sumiu.


Perfeito.

Tudo estava perfeito.

No entanto, eu ainda tinha aquela suspeita estranha e persistente de que estava deixando de notar alguma coisa. A sensação subiu pela minha coluna no caminho para o banheiro, e enquanto eu olhava para meu reflexo no espelho mais uma vez, eu a senti me atingir bem no peito.

O que é isso?, questionei.

Não havia ninguém por perto e o banheiro estava vazio.

Solucei novamente por causa da bebida que Vox me deu. O gosto de pera ainda permanecia na minha boca. Muito bom. Eu queria mais. Assim que descobrisse o que era essa sensação.

Segurando no balcão, me observei.

— Você está enlouquecendo — murmurei. — Aqui está você, em um baile com dois homens lindos, falando com seu reflexo. — Ainda bem que ninguém mais estava neste banheiro para me ouvir, ou teriam concordado.

— Claire...

Pulei ao som do meu nome, me virando e procurando pela fonte.

Ninguém.

Nada.

Nem mesmo a batida da música do salão de baile me alcançava aqui.

Que merda é essa?

Eu tinha imaginado isso?

Me abaixei para olhar por baixo de todas as portas, me perguntando se de alguma forma deixei de ver alguém, quando ouvi meu nome novamente. Ele veio em um sussurro na minha nuca e me fez girar e ficar de pé.

O lugar estava vazio.

— Que merda é essa? — questionei, sentindo meus pelos se arrepiarem.

Só podia ser algum Fae do Ar me pregando uma peça. Mas por quê?

Semicerrei o olhar para a saída e fui em direção à porta, esperando encontrar algum idiota no corredor. Mas estava tão vazio quanto o banheiro.

— Claire...

Me virei para a esquerda, em direção à fonte do murmúrio.

— Onde você está?

Sem resposta.

Bem. Alguém queria brincar comigo? A pessoa lidaria com todo o peso dos meus elementos.

A porta se fechou atrás de mim enquanto eu vagava pelo corredor de paredes de pedra em direção ao que parecia ser um terraço aberto. Terra e Fogo giraram ao meu redor, prontos para engajar meu comando em um segundo.

Mas quando saí para o pátio de paralelepípedos, encontrei uma miríade de bancos desocupados e um jardim. Os aromas florais me chamavam, hipnotizando meus sentidos e me envolvendo no conforto de lar.

Eu me lembro disso, pensei, perdida na memória do jardim da minha avó. Ela adorava lírios orientais, cuidava deles todo verão e enchia a casa com os que podava.

Quem diria que as mesmas flores cresciam aqui? Vaguei em direção a elas, curiosa. Porque eu não os tinha visto em nenhum lugar do campus.

— Claire — uma voz feminina falou.

Um arrepio desceu pela minha espinha. Eu conhecia aquela voz. A ouvi em meus sonhos.

Eu me virei e um grito se alojou na minha garganta quando a imagem fantasmagórica da minha mãe apareceu com as mãos erguidas.

— Eu não quero te machucar — ela disse com urgência. — Por favor, apenas me ouça.

— Ouvir? — repeti, minha voz rangendo no final.

Eu precisava correr.

Lutar.

Fazer algo diferente de ficar aqui e olhar boquiaberta para ela.

No entanto, meus pés se recusaram a se mover porque, puta merda, minha mãe apareceu em forma de Espírito. Tentei envolver meu próprio elemento, lutar com ela de alguma forma, mas meu coração se recusou.

Exos!

— Por favor, Claire — minha mãe sussurrou. — Tudo que você sabe é mentira. Você não pode confiar na Elana. É ela quem... — Sua essência cintilou, desaparecendo na noite, e com ela o perfume das flores favoritas da minha avó.

Eu me virei, procurando por qualquer truque que ela tivesse armado para mim, mas me encontrei sozinha sob a lua.

— Claire! — A voz de Exos trovejou pela noite enquanto ele empurrava as portas que eu havia tocado há poucos instantes. Desabei ao vê-lo, e meus joelhos bateram no chão como se qualquer feitiço que me prendesse tivesse acabado.

E gritei de surpresa.

Não por causa do impacto da minha queda, mas por causa das memórias muito reais que me assaltaram. Minha avó. Suas flores. E a sensação de medo e perda perfurando meu coração.

Minha mãe estava viva. E ela parecia estar tentando se comunicar comigo em forma de Espírito. Suas palavras reverberaram na minha cabeça enquanto todos os meus companheiros apareciam, me rodeando com perguntas, mas suas vozes se perderam no vento dos meus pensamentos.

Você não pode confiar na Elana.

Essa declaração ressoou mais alto. Porque eu senti a verdade dessa afirmação até a minha alma. Algo não estava certo com aquela mulher. Senti quando ela chamou os mortos. Uma energia assustadora e violenta que ninguém deveria possuir ou sentir.

Não senti isso da minha mãe. Suas feições, tom e palavras pareciam preocupação e medo, não raiva e maldade.

Tudo que você sabe é mentira.

Nem tudo, eu pensei, observando as expressões de horror dos meus companheiros. Eu os conheço. Conheço o amor deles.

Mas algo me disse que não era isso o que minha mãe queria dizer.

Mãos fortes em meus ombros me sacudiram. Cyrus. Encontrei seus olhos azuis cheios de irritação e semicerrei os olhos.

— Por que você está olhando assim para mim?

Ele bufou e me soltou.

— Ela está bem.

Eu me sacudi, percebendo os cinco homens novamente. Sol e Vox pareciam horrorizados. Cyrus parecia chateado – nenhuma novidade nisso. Titus parecia zangado. E Exos, bem, sua expressão irradiava paciência.

— O que aconteceu, Claire? O que fez você vir até aqui sozinha?

Arqueei as sobrancelhas.

— Você está insinuando que não posso andar por aí sozinha? — Esse não era o ponto, mas era uma pergunta que valia a pena ser feita.

Cyrus gesticulou para meu corpo no chão como se dissesse: preciso mesmo responder a isso?

Certo. Um momento de fraqueza e todos os homens me transformaram em uma donzela em perigo. Acho que eu estava um tanto ridícula no chão do pátio com este vestido. Mas eu tinha acabado de ver minha mãe. Eu estava meio apavorada.

Tudo que você sabe é mentira.

Com essas palavras ressoando em minha mente novamente, eu me levantei – sem a ajuda de meus companheiros – e passei as mãos no vestido.

— Precisamos conversar — disse a todos.

— Mesmo? — Cyrus brincou. — Eu não fazia ideia.

— Pare de bancar o idiota — eu disse, sem humor para isso.

— Pare de bancar a criança — ele rebateu.

Franzi o cenho.

— Você está falando sério?

— Claro — ele retrucou. — Você não pode ficar vagando por capricho, Claire. A menos que você tenha se esquecido da ameaça da existência de sua mãe? Que ela quase matou você e Exos?

— Não me esqueci de nada.

— Poderia ter me enganado. — Ele cruzou os braços. — Que merda você estava pensando ao vir até aqui sozinha?

Lá estava de novo, a dica sutil de que eu não poderia me proteger e precisava da ajuda deles para permanecer viva.

— Eu segui uma voz — respondi. — Que por acaso pertencia à minha mãe. Só que ela apareceu como uma espécie de Espírito fantasmagórico. E eu estou bem, a propósito, obrigada por perguntar.

— Posso ver que você está bem, Claire. Mas seu estado mental ainda precisa ser avaliado.

Entreabri os lábios. Seu insulto foi como um tapa no meu rosto.

— Cyrus — Exos murmurou.

— O quê? Vocês concordam comigo. O que ela fez foi descuidado e estúpido. Agir dessa maneira coloca não apenas a si mesma em perigo, mas a todos nós. O que aconteceria com o Reino dos Espíritos se ela morresse, Exos? — ele questionou.

— Não é hora disso, irmão.

— Não é hora — ele zombou. — Bem, é melhor escolhermos uma hora, porque nossa pequena rainha está zanzando por aí sem se importar consigo mesma ou com o impacto que sua morte teria sobre o resto de nós.

— Do que é que você está falando? — Porque com certeza ele quis dizer algo além da dor típica que acompanha a morte. — Eu estou bem. Eu posso me proteger. Obrigada.

— Pode? — ele respondeu, entrando no meu espaço pessoal, seus olhos gelados brilhando com poder. — Pode mesmo?

— Cyrus — Exos sibilou.

Mas seu irmão o ignorou, assim como eu. Enviei uma onda de poder para Cyrus, forçando-o a recuar vários passos.

Ele enrolou uma corda com líquido em volta da minha cintura para me puxar para si. Tropecei, encontrei meu equilíbrio e cortei a substância espessa com uma corrente de ar misturada com Fogo. Em seguida, chamei a Terra para romper as pedras e envolver seus tornozelos.

Cyrus reagiu criando um gêiser que o manteve a trinta centímetros do chão, a fonte termal muito poderosa para que as raízes da minha árvore quebrassem.

Então sorri, girei meu dedo e chamei minha Água e o Ar. Juntos, eles formaram um tornado que quase derrubou Cyrus. Mas ele saltou para frente, passou os braços em volta da minha cintura e me jogou de volta para o Esquadrão do Espírito, pressionando minhas costas na parede.

Grunhi quando seus lábios reivindicaram os meus. Se eu não pudesse sentir a preocupação real atravessando nosso vínculo, eu poderia tê-lo mordido. Mas sentir o peso de seu medo me fez derreter instintivamente, minha necessidade de convencê-lo de que estava bem superando todas as palavras que ele disse.

Porque ele estava certo.

Ir até lá sozinha foi uma coisa bem estúpida de se fazer.

Eu sabia disso, especialmente depois de tudo o que tinha acontecido.

Envolvi seu pescoço com os braços, segurando-o contra mim enquanto ele devorava minha boca com a sua. Os beijos de Cyrus consumiam calor e adoração, e eu devolvi cada gota dessa emoção com a língua.

Só quando senti os outros se aproximando que finalmente nos separamos, o fogo de Titus era como uma chama ardente contra minha alma enquanto ele olhava furioso para meu companheiro de água.

— Eu odeio quando você faz isso.

Cyrus passou o braço em volta dos meus ombros, me segurando ao seu lado.

— Eu pediria desculpas, mas não seria de coração.

— Eu só queria uma noite divertida no baile — Sol murmurou.

Meu coração afundou.

— Ah, Sol... — Atravessei o pátio em direção a seus braços abertos e o abracei com força. — Sinto muito. Eu não queria estragar nossa noite. Eu só... — olhei para Cyrus. — Eu não estava pensando. Ouvi meu nome e segui a voz. — O que podia ser atribuído ao álcool em parte, mas também à minha curiosidade. — Não parecia ser ela até que eu estava do lado de fora e rodeada pelos lírios.

— O que ela disse? — Exos perguntou, parecendo preocupado.

Suspirei. Decepcionei a todos, algo que jurei não fazer novamente. Não quando resultasse em todas essas expressões tristes.

— Sinto muito — eu disse novamente, desta vez para todos os meus companheiros. — Foi uma coisa estúpida de se fazer.

— Sim — Exos concordou. — Agora eu quero saber o que ela disse.

Engoli em seco, olhando ao redor, e baixei a voz para um sussurro destinado apenas aos ouvidos deles.

— Ela me disse que tudo que eu sei é uma mentira e para não confiar na Elana. Então ela desapareceu.

Cyrus bufou.

— Bem, isso é informativo. Não confio na Elana há quase vinte anos.

Arqueei as sobrancelhas.

— O quê?

— Instinto — ele respondeu. — Eu nunca acreditei em sua abordagem holística Fae. Sempre me pareceu muito artificial, e eu juro que ela está escondendo algo.

— Mas você me disse para aceitar a orientação dela. — Fiz uma careta. — Por quê?

— Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda, pequena rainha. — Ele piscou para mim. — Lembre-se disso.

— Ela está escondendo algo — Exos acrescentou. — Mas não acho que ela seja má.

— O que ela pediu que você fizesse outro dia que te deixou tão desconfortável? — Sol o interrompeu. — No dia em que fui te buscar na casa dela?

— Podemos fazer isso lá dentro? — Vox interrompeu, parecendo cansado. — O som se propaga aqui, e não quero desperdiçar energia encobrindo uma conversa que pode acontecer no dormitório.

Assenti e segui todos para a área comum dentro do dormitório. Cyrus se sentou na cadeira, Titus se acomodou em frente a ele na poltrona reclinável enquanto Vox e Sol ocuparam o sofá comigo entre eles.

Exos foi o único que permaneceu de pé.

— O que a Elana te ensinou?

Limpei a garganta e olhei para Sol, que me deu um aceno tranquilizador.

— Diga a ele.

— Ela conjurou um Espírito. Um Fae morto. — Torci as mãos no colo, estremecendo. — Eu não... — Engoli em seco e tentei novamente. — Não parecia certo, mas achei que era apenas o meu humor. Você sabe, com minha mãe e tudo mais.

O rosto de Cyrus me disse que minha reação não tinha nada a ver com minha mãe e tudo a ver com Elana.

— Ela convocou os mortos? — Seu olhar gelado focou em Sol. — E você sabia disso?

Sol parecia tão desconfortável quanto todos na sala.

— Eu só sabia que a Elana a apresentou à outra metade de sua habilidade. Eu não sabia que isso significava trazer Espíritos à tona.

— Você deveria ter me contado. — Exos parecia frustrado. — Não é assim que a magia do Espírito funciona.

— Como eu poderia saber? — rebati. Meus ombros caíram. — Ela é minha mentora e a porcaria da Chanceler. Ela deveria ser boa. Certo?

Cyrus e Exos trocaram um olhar, os dois assentindo.

— Sim, deveria, mas ultimamente, tem havido sinais de que ela está escondendo algo. — A declaração veio de Cyrus, seu olhar ainda focado no irmão. — Ela manipulou a Água na última reunião do Conselho.

As sobrancelhas de Exos se ergueram.

— E você só está me dizendo isso agora?

— Estive um pouco ocupado, irmão.

— É óbvio. — Ele passou os dedos pelos cabelos loiros, se encolhendo. — Perturbar o descanso de um Espírito... O que ela estava pensando? Disse alguma coisa para você?

Minha boca ficou seca com a lembrança da cabeça do homem aparecendo, sua forte sensação de dor.

— Na verdade, não. Ele parecia... preocupado. Como se não pudesse se concentrar. E eu acho que ele estava em agonia.

— Faz sentido — Exos murmurou. — Por que ela te ensinaria algo assim?

Se eu tivesse a resposta, teria dado, mas seu palpite era tão bom quanto o meu neste momento.

— Ela fez mais alguma coisa? Deixou você desconfortável de alguma forma? — Isso veio de Titus, que estava quieto e observando de sua cadeira.

Balancei a cabeça.

— Nada que eu possa pensar de imediato, mas nunca me senti muito confortável com ela. Sempre assumi que era sua posição de poder e o fato de que ela poderia me banir para o Reino dos Espíritos. — O que me lembrou... — O que aconteceu com a Ignis e suas amigas? — Elas eram as garotas más que tentaram fazer parecer que eu não tinha controle sobre meus elementos. — Se a Elana não é quem pensamos que é...

— Então ela pode tê-las manipulado para fazer o trabalho sujo — Exos concluiu. — Sim. Achei que podia ter sido a sua mãe depois que percebemos que ela ainda está viva, mas Elana seria mais do que capaz disso.

— O que aconteceu com elas? — pressionei, franzindo a testa.

— Não sei. Elana foi a última a ser vista com elas. — Ele franziu a testa. — E eu não senti a presença das três no Reino dos Espíritos, o que é estranho, já que limitei seu poder. Eu deveria ter uma conexão com elas, mas não tenho.

Ele trocou outro de seus olhares enigmáticos com Cyrus.

— É uma coisa boa a academia não ter aulas por algumas semanas — Cyrus refletiu. — Nos dá tempo para resolver isso.

— Sim — Exos concordou. — Mas onde? Não podemos nos dar ao luxo de nos separarmos. Não agora.

Cyrus assentiu.

— Concordo. O Reino da Água será muito caótico com meu pai em cima de mim.

— E eles não podem ir para o Reino dos Espíritos — Exos acrescentou.

Os dois olharam para Titus. Suas sobrancelhas ruivas se ergueram.

— Eu não tenho um palácio, se é isso que vocês estão me perguntando.

— O que vocês estão perguntando? — interrompi, tentando seguir a conversa enigmática. Fomos de Elana para... bem, eu não tinha certeza.

— Um lugar para passarmos as férias — Vox explicou. — Eu sou o melhor candidato.

Todos olharam para ele, mas foi Cyrus quem sorriu.

— Com certeza é, Vox. Obrigado por se voluntariar.

Senti frustração e medo florescer em meu vínculo com Vox, mas ele não deixou transparecer enquanto assentia.

— Vou fazer os arranjos.

— E quanto a Elana? — questionei. — E a minha mãe?

— Vamos descobrir o que fazer — Sol respondeu, entrelaçando seus dedos com os meus e me dando um aperto suave. — Juntos.

Os outros assentiram.

— E vamos facilitar um pouco para Ophelia entrar em contato novamente — Exos acrescentou.

Cyrus parecia tenso, mas não discutiu.

— Você acha que é uma boa ideia? — Titus perguntou, parecendo cauteloso.

— Só há uma maneira de descobrir — Exos respondeu. — Precisamos de respostas e parece que a mãe da Claire é a guardiã delas.

Meu coração se apertou. A ideia de ver sua forma fantasmagórica novamente não me atraía nem um pouco. Mas Exos estava certo. Ela poderia nos contar mais.

Como onde é que ela esteve nesses últimos vinte anos.

Ou por que tentou me matar.

Estremeci, a memória da minha quase morte muito recente para ignorar.

Sol beijou meu ombro. Seu toque foi surpreendentemente suave.

— Vai ficar tudo bem, florzinha. Eu prometo.

Senti a garganta apertar. Suas palavras eram exatamente o que eu precisava, mas também me lembrando o quanto nossa noite tinha dado errado.

— Sinto muito pelo baile.

Ele sorriu.

— Eu não. Nós dançamos, você estava linda e agora estamos em casa. A experiência perfeita, se você me perguntar. Menos por um pequeno detalhe.

— É? O quê? — perguntei, sentindo sua diversão aquecendo nossa conexão.

— Você ainda está vestida.

Essas quatro palavras chamaram a atenção de toda a sala.

E acendeu meu corpo, deixando-o em chamas e diminuindo toda a sensação de pavor que nublava meu Espírito.

— O que vamos fazer sobre isso? — perguntei em um sussurro.

— Vamos tirar o seu vestido — ele falou, segurando minha nuca. — E depois vamos te devorar, Claire.


— Já estamos na marca de duas horas? — Exos se perguntou, olhando para o pulso. — Fascinante. — Um brilho diabólico cintilou em seus olhos quando ele olhou para mim. — Tire a roupa, linda.

Fiquei boquiaberta.

— O quê?

— Você o ouviu. — Cyrus se afastou da cadeira, e suas íris azuis me observaram em uma onda sedutora de energia. — Tire a roupa.

— Minha mãe acabou de fazer uma aparição e vocês querem sexo? — Essa era a desvantagem de ter cinco companheiros homens.

— Ainda podemos discutir isso enquanto você estiver nua — Titus apontou casualmente. — Na verdade, acho que melhoraria drasticamente a conversa.

Exos assentiu.

— Exatamente o que pensei.

— Vocês são incorrigíveis — eu disse, me levantando.

Mas Sol me puxou de volta, levando a mão para minha coxa e me prendendo no sofá.

— Isso não é para nós, florzinha — ele murmurou. — É para você.

— Ficar nua é para meu próprio benefício? — Eu quase ri. — Certo.

Ele inclinou a cabeça.

— Acho que precisamos demonstrar, Vox.

O Fae do Ar segurou minha outra perna, roçando os lábios em meu pescoço.

— Você está incrível neste vestido, Claire — ele sussurrou contra minha pulsação crescente. — Se você quiser continuar, posso trabalhar com isso.

A boca de Sol percorreu minha mandíbula até que pairou sobre meus lábios.

— Bem, eu pretendia tirar seu vestido. — Sua mão deslizou até meu joelho e ele levantou o tecido com movimentos medidos e conhecidos. — Devagar — acrescentou, pontuando enquanto erguia o vestido.

— E a gente queria assistir — Cyrus murmurou. — Essa noite é do Sol e do Vox, mas nós não podíamos negar a sua beleza naquele vestido.

— Razão pela qual nós concordamos em observar — Titus acrescentou, com uma centelha de calor em suas palavras. — E talvez mais.

— Dependendo do seu humor — Exos disse. Sua força e coragem roçou meu Espírito em uma carícia terna.

Vox e Sol fizeram tudo para esta noite, o desejo de mimá-la substitui a razão. Seria uma pena não comemorar o trabalho árduo deles, princesa. Você não concorda?

Você está falando sobre a carruagem, sussurrei, gemendo alto enquanto o tecido do meu vestido subia.

Entre outras coisas. Encontrar um terno para o Sol não foi fácil.

Mas ele fica tão lindo com ele, respondi, passando a palma da mão por sua coxa grossa.

Os lábios de Sol capturaram os meus. Sua língua era uma presença bem-vinda na minha boca enquanto ele continuava a levantar meu vestido. A mão de Vox se moveu para a minha perna nua, deslizando entre minhas coxas e subindo para o meu centro aquecido.

Gemi quando ele me segurou através da renda. Meu corpo respondeu a todos de maneiras diferentes.

Fogo em minhas veias por Titus.

Calor líquido para Cyrus.

Um Espírito contorcido para Exos.

Aromas estimulados permeando o ar para Vox.

E um tremor terreno sacudindo meu corpo para Sol.

Ah, Fae...

Eles estavam certos mais uma vez. Eu precisava disso, um momento para esquecer, para ser apenas eu, para focar nos elementos e experimentar os laços que a Mãe Natureza pretendia que eu tivesse.

Meus dedos se entrelaçaram no cabelo castanho de Sol, segurando-o contra mim enquanto eu o devorava na mesma medida. Apoiei a outra mão sobre a de Vox, incitando-o a fazer mais do que apenas me segurar.

Tecido farfalhou.

Meu vestido voou sobre minha cabeça.

Rendas foram rasgadas.

Uma brisa fresca provocou minha pele exposta.

Eles me deixaram nua tão rapidamente que eu mal conseguia respirar, mas confiei neles. Eram meus companheiros. Meus Faes. Meus homens. Eles nunca me machucariam.

Não, eles queriam cuidar de mim.

Soltei a nuca de Sol e a coloquei em sua virilha. Todos estavam usando roupas demais, uma reclamação que expressei em voz alta, o que me rendeu algumas risadas.

Mas eu os ouvi concordando.

O som do zíper foi como música para meus ouvidos.

Precisava de uma chance de brincar com meus elementos, de entrelaçar nossas almas ainda mais no círculo de acasalamento, para nos levar para muito mais perto da conclusão.

Com os cinco.

Ah, isso nunca tinha acontecido antes. E eles quase me mataram de prazer. Mas eu lidaria com isso, por eles, porque eu queria. Eu os queria.

Sol se moveu. Ele tirou o terno e estava pronto. Não esperei. Nem perguntei. Apenas montei nele, levando-o para dentro de mim em um estrondo de necessidade depravada.

A sala inteira vibrou. Seu controle estava preso por um fio. No entanto, era exatamente o que ele precisava soltar. Eu podia sentir na forma como nossos corpos se uniram, no desejo subjacente de conceder sua confiança em mim, de permitir que nossa conexão se aprofundasse e de meu poder literalmente se prender a ele.

— Me come — sussurrei. — Eu aguento.

Ele apoiou a palma da mão pela base da minha coluna e roçou a boca na minha.

— Claire...

— Estou aqui — Vox disse enquanto seu peito pressionava minhas costas e ele lançava uma corrente através de nós que roubou minha capacidade de pensar e respirar. Inclinei a cabeça em seu ombro e meus seios arfaram. Ele passou um braço em volta do meu centro, me estabilizando.

A energia zumbia entre nós três, Vox e Sol se encararam e se comunicaram com palavras não ditas.

Cyrus se aproximou do sofá, vestindo apenas a calça, deixando seu abdômen forte em exibição, o que fez meus dedos implorarem para explorar. Ele pegou minha mão e a levou aos lábios, em seguida, guiou-a de volta para a virilha de Vox.

— Toque nele — Cyrus encorajou. Mostre a ele como você se sente.

Apertei o pau de Vox com a palma da mão enquanto minhas coxas apertavam em torno de Sol, fazendo com que os dois homens gemessem de satisfação.

Mas foi a aprovação no olhar de Cyrus que quase me desfez.

Ele era um enigma na minha vida, sempre me orientando à sua maneira. A ponto de eu querer matá-lo às vezes, mas em momentos como esse, eu o amava mais do que eu poderia dizer. E seu sorriso dizia que ele sabia.

Seus dedos circularam meus quadris antes de voltarem para o meu traseiro.

— Ela não está pronta para isso ainda — ele murmurou. — Mas estará algum dia, em breve.

Estremeci. A implicação de suas palavras me fizeram desejar que esse um dia fosse hoje.

Vox se ajoelhou no sofá ao nosso lado, proporcionando um acesso mais fácil para acariciá-lo.

E Sol estocou dentro de mim.

Me aconcheguei em seu peito largo, o prazer daquele único movimento me levando para mais perto do clímax.

Então Titus deu um beijo de Fogo nas minhas costas que me fez vibrar de prazer.

Todos estavam me provocando à sua maneira. Até Exos, que parecia estar usando seu Espírito para tocar o meu, me acariciando de dentro para fora.

Me perdi no êxtase, me entregando a todos os elementos, me deleitando com o grande corpo de Sol tremendo debaixo do meu e sentindo a resposta de Vox sob minha mão.

Mais... me inclinei para tomar o pau de Vox em minha boca, precisando prová-lo.

— Puta merda — ele sussurrou, passando os dedos pelo meu cabelo.

Sol nos reposicionou no sofá. Ele entrou em mim por trás com um impulso que me fez ver estrelas. Inclinei o corpo sobre a pélvis de Vox apertando meus dedos em suas coxas.

O poder ondulou ao nosso redor.

A energia cresceu e me incentivou a aprofundar nossos laços para o próximo nível.

Até que tudo se encaixou, fechando minha corrente sanguínea e alma.

Vox e Sol eram meus.

Terceiro nível do vínculo.

Comprometidos para sempre.

E foi incrível. Perfeito. Certo.

O aperto de Vox aumentou e sua bela forma atlética ficou tensa enquanto ele estocava em minha boca. A palma da mão de Sol acariciou minhas costas para cima e para baixo, seu ritmo brutal e sensual ao mesmo tempo.

O fogo lambeu meus membros, com Titus adicionando seu próprio elemento à mistura, e deslizou para o meu núcleo para acariciar meu clitóris.

Gemi. Seu toque quente me levou às estrelas em um dos orgasmos mais intensos da minha vida. Exos se juntou a mim lá. Seu Espírito pegou o meu e me embalou do nosso jeito especial.

Enquanto a Água de Cyrus cobria minha pele, resfriando meu corpo da explosão de prazer.

Tudo isso culminou em Sol e Vox explodindo dentro de mim. Suas essências era um vício do qual eu nunca me cansaria. Engoli a de Vox, sugando-o por mais tempo depois que ele terminou e minha boceta continuava a apertar Sol, se recusando a soltá-lo.

Mas meus companheiros não haviam terminado.

Titus logo tomou o lugar de Vox. Seu pau longo e perfeito se projetou orgulhosamente perto dos meus lábios enquanto Cyrus deslizava para dentro de mim por trás. Apenas Exos permaneceu de lado, com a calça bem fechada só observando com olhos famintos.

Caí na atração hipnótica de suas íris enquanto Titus e Cyrus definiam um ritmo.

Você está linda, Exos murmurou. E muito bem comida.

Minha boca apertou em torno de Titus enquanto outro orgasmo se formava rapidamente entre minhas pernas.

E você?, perguntei, delirando com o êxtase iminente.

Ah, estou muito contente em assistir, princesa. Nunca pensei que ficaria animado com isso, mas é sexy pra caramba.

Eu gemi enquanto os dedos de Cyrus faziam algo em meus seios que capturou minha atenção total. O aperto de Titus no meu cabelo aumentou e seus músculos ficaram tensos do jeito que eu amava. Ele não duraria muito assim, algo que sua expressão me disse quando procurei seu olhar.

Passei uma chama por seu pescoço e ao longo de sua mandíbula até os lábios, lhe dando um beijo ardente. Ele retribuiu enviando outra centelha de calor entre minhas pernas para acariciar meu clitóris, me fazendo pensar em sua língua.

Puta merda... Eu também não iria durar se ele continuasse assim, especialmente com Cyrus adicionando Água à mistura. Os dois elementos combinados contra o meu lugar mais sensível me empurraram com força para o penhasco e me fizeram voar alto nas nuvens.

O ritmo deles aumentou enquanto eles gozavam depois de mim, e seus gemidos foram como música para meus ouvidos.

Quase desabei entre eles, sentindo meu corpo fraco por ter sido tomado pelos quatro, deixando apenas Exos encostado na parede com os braços cruzados sobre o peito nu e a calça ainda abotoada.

Seu controle me surpreendeu.

Acenei para ele com os olhos, sentindo meu corpo exausto demais para se mover. Ele apenas sorriu. Vamos brincar mais tarde, baby, ele prometeu. Quando você estiver pronta para outra rodada.

Meu coração acelerou e minha respiração ficou ofegante enquanto eu sussurrava, eu te amo.

Eu também te amo, ele respondeu, se afastando da parede. Ele se aproximou e se inclinou para dar um beijo em meus lábios inchados.

— Você não tirou os sapatos.

Pisquei para ele.

— O quê?

Ele gesticulou com o queixo para os meus sapatos e, realmente, ainda estavam presos aos meus pés.

— A coisa mais sexy que eu já vi.

Os outros homens grunhiram em concordância, me fazendo rir.

Tudo o que pude fazer foi balançar a cabeça.

— Vocês vão me matar com sexo.

— Belo jeito de morrer — Titus comentou, flexionando a coxa debaixo da minha cabeça. De alguma forma, acabei usando seu colo como travesseiro.

Cyrus passou a palma da mão pelo meu traseiro, que estava envolto em suas pernas. Sol e Vox estavam no chão, com as cabeças inclinadas para trás contra as almofadas.

Que imagem nós fizemos.

Um bom... sexteto.

Eu ri e o som explodiu de meus lábios em uma onda inesperada de felicidade.

Titus olhou para mim, arqueando uma sobrancelha.

— Nós transamos com você com muita força, linda?

— Não. Estou bem. — Acabei de ter um sexteto. Nada demais.

Tecnicamente um quinteto, Exos corrigiu, sorrindo. Eu só assisti.

Você fez mais que isso, eu disse a ele. Eu senti seu Espírito.

Porque é seu, ele respondeu. Assim como todos os outros homens nesta sala, Claire. Somos todos seus.

— Não podemos fazer isso no Reino do Ar — Vox disse de repente, fazendo com que vários homens rissem. — Não, é sério. Meus pais já vão me arranjar problemas. Se fizermos isso... — Ele se encolheu. — Não vai dar certo.

— Ah, não sei — Cyrus falou. — Acho que deu tudo muito certo.

— Algo em que realmente concordamos — Titus respondeu.

— Sério, não podemos fazer isso no Reino do Ar — Vox tentou novamente.

— Claro — Cyrus murmurou. — Vamos manter isso em mente.

Vox suspirou, balançando a cabeça.

— Estou fodido.

— Não, a Claire está — Exos corrigiu, piscando para mim. — E vamos dar um jeito, Vox. É só uma semana de comemorações. O quanto isso pode ser difícil?

— Você não conheceu meus pais — o Fae do Ar resmungou.

Meu coração aqueceu com a ideia de conhecer seus pais e aprender mais sobre meu companheiro do Ar. Parecia uma ótima maneira de passar os feriados. Seja lá qual fosse, Fiz uma careta.

— O que estamos comemorando?

— O Fae Festivus — Titus falou.

— E o que é isso? — perguntei, curiosa.

— Ah, Claire — Exos murmurou. — Você está prestes a se divertir.


— O Fae Festivus é um momento de união entre os elementos. Fazer um brinde ao deuses lá em cima, agradecer a eles por nossos lindos presentes e sermos felizes. Saúde.


Exos


Nada mudou em casa. Não o jeito que o vento balançou meu cabelo ou como fiquei tonto quando olhei para a varanda da torre, e certamente não minha família.

— Tempest, pare com a agitação! — meu pai rugiu para minha mãe, com seu temperamento já fora de controle.

Ele não gostava quando eu o visitava, mas ao invés de dizer, descontava em todo mundo. Principalmente na minha mãe, que nunca enfrentava sua raiva de frente. Em vez disso, ela se curvava como um salgueiro se inclina com uma forte brisa, de alguma forma nunca quebrando sob a tensão.

Ignorando-o, minha mãe segurou meu rosto e me deu um beijo logo acima da linha da barba aparada.

— Vox, querido. Estou agitada?

Ela sempre gostou de me colocar no meio. Um bloqueio contra os ventos de meu pai.

Olhando para o zangado Fae do Ar, observei a carranca de meu pai enquanto ele estava no foyer cercado por bagagem para dois – Claire e eu. Sol, Titus, Cyrus e Exos chegariam em alguns dias. Essa foi a minha única condição, e Cyrus concordou.

Pela expressão no rosto do meu pai, não seria o suficiente.

— Não, mãe, você não está agitada. E mesmo que estivesse, eu não venho para casa há um bom tempo — lembrei a meu pai, não que ele parecesse se importar.

— Você poderia ter nos avisado antes — ele grunhiu, cruzando os braços sobre um terno branco perfeitamente pregueado. — Ou melhor ainda, poderia simplesmente ter feito o que sempre faz e não ter voltado para casa. — Ele semicerrou os olhos. — Você deixou claro que sua família o desaponta.

Não deixei seu olhar desafiador me deter. Sim, minha família me decepcionou. E se houvesse outro lugar onde pudéssemos ter ido no feriado, eu teria sugerido em um piscar de olhos. Mas Claire precisava de todos os seus companheiros agora, e o Reino do Ar fazia mais sentido. Os terrenos estavam protegidos e bem povoados, e estar aqui nos oferecia o espaço e a oportunidade de passar o Festivus juntos.

Nossas únicas opções eram a Academia ou a casa de Cyrus. A primeira representava um problema por causa de Elana, e a última, provavelmente teria forçado Cyrus e Claire a se concentrarem apenas no planejamento da coroação.

Não, precisávamos de um lugar para descansar, nos divertir e tirar um tempo adequado para analisar os motivos de Elana e Ophelia sem qualquer interferência. Este lugar dava a todos nós a oportunidade de determinar nossos próximos passos. Porque Elana não podia visitar o Reino do Ar sem convite, e Ophelia, bem, ela não era bem-vinda em lugar nenhum.

Sim, era aqui que deveríamos estar.

Meu pai simplesmente teria que lidar com isso.

— Seria impróprio passar mais uma temporada de Festivus no campus ou em outro reino — eu disse a ele. Quanto antes ele aceitasse que eu estava aqui para ficar alguns dias, melhor.

Minha mãe assentiu em concordância, com seus cachos brancos fluindo sobre os ombros enquanto uma onda de seu poder atingia sua forma gentil.

— Eu concordo, Notus. Termos Vox em casa será muito bom para nós.

— E sua companheira? Uma Halfling? O que é que você estava pensando? — Meu pai – Notus – explodiu, arregalando os olhos negros. Ele se importava muito com o que as outras linhagens reais de Faes do Ar poderiam pensar.

Graças aos Elementos, eu nunca trouxe para casa uma Fae do Ar privilegiada. Porque foi assim que eu sempre sonhei em acasalar. Não.

Meu pai zombou, acrescentando: — Não. É pior do que só a Halfling. Agora temos que lidar com vários companheiros de vínculo, como algum tipo de família de bárbaros do Reino dos Espíritos. Quantos você disse que havia?

— Dê um tempo ao garoto — uma voz rouca soou do corredor. Meu avô, aquele que envergonhou nossa família, entrou sorrindo. Sua notória cicatriz irregular atravessava o olho esquerdo, passando por uma íris branca que servia como um lembrete de seu pecado. — Deixei a Halfling com a melhor vista da torre.

Ele havia protegido esta torre quando era jovem, construindo-a em um dos penhascos mais desejáveis, com uma vista incrível. Ela continha ventos fortes destinados a alimentar o poço elementar de uma família – ou empurrar os hóspedes incautos para uma morte prematura.

Passei a mão no rosto.

— Você não pode deixá-la sozinha — eu disse, preocupado. — Ela não é daqui. — E minha companheira tinha a tendência a vagar sozinha.

— Claro que ela não é daqui! — meu pai gritou, seu temperamento explodindo novamente. — Ela nem é Fae!

— Ela é Meio-Fae — corrigi.

Ele zombou.

— É mais uma vergonha que você trouxe a essa família, Vox. Eu não vou tolerar isso.

Por mais barulhento que meu pai quisesse ser, esta era a casa do meu avô. Quando ele falecesse, meu pai poderia impor o que quisesse, mas até então, eu nunca dava muita atenção a ele.

— Parece que você precisa colocar um pouco de vento para fora — Malichi resmungou, afastando a raiva de meu pai. Ele passou um braço frágil em volta de mim e me puxou para si. — Venha, garoto. Seu avô sentiu sua falta.

Deixamos meus pais discutindo sobre a bagagem. Meu pai ameaçou jogar tudo pela janela, e minha mãe começou o trabalho tedioso de acalmá-lo, dizendo que Cyrus e Exos eram poderosos membros da realeza que poderiam melhorar nossa reputação. Ele mudou de ideia, mas foi precisamente por isso que eu não trouxe os outros companheiros de vínculo imediatamente. Minha família precisava de tempo para se ajustar à ideia.

— Como é? — Meu avô perguntou. Seu olho bom brilhou de alegria. — Ser acasalado com uma Halfling?

Tirando o seu braço de meus ombros, franzi o nariz para a brisa fria e nostálgica que espalhava cheiros de nuvens e névoa pelos corredores amplos. A luz do sol fluía das claraboias que alinhavam todos os corredores, fazendo com que a torre parecesse não ter lugar para se esconder dos olhos vigilantes.

Eu odiava estar em casa.

— Você já foi acasalado antes, vô — eu disse, não querendo discutir Claire com os Faes do Ar. — Não precisa que eu diga como é.

Ele deu uma risadinha.

— Não foi isso que eu quis dizer, meu garoto. — Ele girou uma brisa invisível ao redor de seu dedo. Um ato sutil de prática do que restava de seu poder e que ele insistiu em manter, embora o Rei do Ar tivesse tirado seu acesso à fonte de nosso elemento. — Ela tem acesso aos cinco elementos, pelo que ouvi. Você os sente também?

Inclinei a cabeça pensando. Sim, eu estava conectado aos outros elementos por causa de Claire e meus companheiros de vínculo, mas isso não me dava poder sobre eles da maneira que meu avô provavelmente esperava.

— Só a Claire tem esse poder — assegurei a ele. — Não tenha ideias engraçadas.

Ele dispensou a brisa, fazendo sua barba estufar com a pequena onda de choque.

— Não pode culpar um velho Fae por tentar pensar em maneiras de redimir a linhagem familiar. Se nossa própria realeza não fala conosco, então talvez seus companheiros de vinculo tenham algumas conexões.

Eu queria dizer a ele que isso era impossível. Exos e Cyrus tinham seus próprios problemas, e Sol tinha outras coisas mais importantes com que se preocupar do que minha “honra familiar”. Nossa linhagem real nunca seria nada além de um lembrete vergonhoso do que aconteceu quando os poderosos Faes do Ar perderam o controle. Era o que merecíamos até que pudéssemos provar o contrário.

A extravagante demonstração de riqueza quando chegamos à plataforma de observação me lembrou que minha família era irremediavelmente enfadonha e nunca poderia atender às minhas expectativas.

No entanto, Claire estava na borda com os braços abertos e o cabelo balançando com o vento forte.

Meu coração deu um salto e minha língua ficou seca.

— Claire? — eu a chamei, esperando que não a assustássemos com o penhasco da torre. — Você não acha que está um pouco perto do limite?

Ela se virou na ponta dos pés, balançando de um jeito que me deixou tonto. O vento girou ao redor dela, e percebi que ela se inclinou para trás, ficando no alto por fios invisíveis de poder que a impediam de cair.

— Vox! Isso é incrível!

Enquanto ela realmente estava incrível, minhas mãos se apertaram com a necessidade de agarrá-la e puxá-la para longe do penhasco.

— Claire...

Meu avô deu uma risadinha.

— Belo acasalamento que você fez, meu garoto. — Ele me deu uma piscadela obscena. — Vou deixar vocês dois curtindo a vista. — Ele acenou enquanto se virava. — E não se preocupe com seus pais. Vou falar com eles. Esta ainda é a minha casa e estamos mais do que preparados para receber alguns convidados para as festividades. Foquem apenas em se divertir esta noite.

Meu avô se afastou enquanto meu olhar permanecia preso em Claire. Estendi a mão.

— Claire, sei que você é poderosa, mas não pode voar. Venha aqui antes que caia.

— Ah, Vox — ela sussurrou, com um leve beicinho, me permitindo respirar quando ela se afastou da borda e caminhou para os meus braços. Ela se envolveu em mim e me deu um beijo carinhoso. — Você nunca me disse quanta magia havia aqui. Posso sentir em todos os lugares. É incrível.

Eu a segurei com força, sentindo meu coração bater forte com o medo muito real de perdê-la. Ela era uma verdadeira Fae às vezes – selvagem e livre. E ela não tinha ideia de como seria fácil cair das janelas desta torre.

— O Reino do Ar está localizado nas terras mais altas disponíveis no Reino Fae — eu disse e a conduzi a um banco no chão translúcido. A vista pitoresca mostrava nuvens baixas se entrelaçando com rochas e árvores. — É também o mais próximo que podemos estar da fonte do nosso elemento. Isso é o que você sente, Claire. E por meio do nosso vínculo, você poderá acessar essa fonte enquanto estiver aqui.

Coloquei a mão na nuca. Não me ocorreu que ao acasalar com Claire, ela ganharia acesso ao meu poder e linhagem. Todas as minhas paredes não iriam protegê-la. Ela teria que construir a sua própria.

Claire apoiou a cabeça no meu ombro e apertou minha mão.

— Me conte como foi crescer aqui — ela pediu, com o olhar fixo na expansão abaixo de nós. — Sua mãe parece legal.

Eu bufei.

— Ela simplesmente sabe que você está acasalada com dois reis e quer sua aprovação.

Minha companheira deu de ombros.

— Ou talvez ela se preocupe com você e queira que eu me sinta bem-vinda.

Eu duvidava muito disso, mas não debati.

— Peço desculpas por meu pai e meu avô. Os dois podem ser um pouco... demais.

Claire riu e enterrou o nariz no meu pescoço, deixando beijos carinhosos que forçaram os nós a se desfazerem dos meus ombros.

— Nenhuma família é perfeita.

Estremeci. Ninguém sabia disso melhor do que Claire.

— Sinto muito — admiti. — Eu não deveria reclamar.

Ela mordiscou minha orelha enquanto passava a mão pela minha coxa, me fazendo esquecer o porquê eu estava tão chateado para começar.

— Que besteira. Reclame. Quero saber por que você odeia tanto isso aqui, assim talvez eu possa fazer algo a respeito.

— Eu nunca disse que odiava.

— Você não precisava — ela respondeu, me olhando com conhecimento de causa. — Eu posso sentir isso.

Claro que ela podia.

Suspirei. Titus e Sol já sabiam da minha história. Mas eu ainda não tinha contado a Claire. Acho que agora era um momento tão bom quanto qualquer outro.

Então contei a ela a história de meu avô e como ele conseguiu a cicatriz. Como o Rei do Ar deu a ele acesso à fonte e meu avô tirou vantagem disso.

— Ele matou pessoas — eu disse a ela. — E não porque seja vil ou malicioso, mas porque ele foi arrogante e não teve controle.

Continuei contando a ela como isso envergonhava nossa família, como, apesar de sermos da linhagem real, não podíamos mais tocar o âmago de nosso poder.

— Minha conexão com a fonte é mais forte do que qualquer outra pessoa em nossa linhagem. Como tal, meu pai parece pensar que posso restaurar o bom nome de nossa família — concluí. — Mas conheço meus limites e não desejo seguir os passos do meu avô. Daí minha necessidade de controle.

Claire me observou por um longo momento, e eu meio que esperava que ela expressasse desapontamento com minha história. Em vez disso, ela murmurou: — Humm, mas negar o seu dom não é um jeito bom de manter o controle.

— Não estou negando.

Ela me deu uma olhada.

— Posso sentir você lutando contra ele, Vox. E se continuar a negar suas habilidades, isso acabará explodindo de você. É assim que as pessoas se machucam.

A sombra de memória em seu olhar me disse que ela estava pensando na noite em que incendiou o bar humano. Foi um pouco diferente, já que ela não sabia sobre seus dons na época, mas eu entendi sua implicação.

— Não estou lutando contra — esclareci —, só tentando encontrar novas maneiras de domá-lo.

— Parece semelhante para mim. — Ela me estudou. — Você se sentiu... estressado.

Bufei uma risada.

— Sim, essa é uma maneira de descrever.

— E vir aqui não ajudou — ela acrescentou.

— Talvez, não. Mas estou determinado a aproveitar nosso Festivus de qualquer maneira. Até pedi comida para cozinharmos juntos.

Seus olhos azuis brilharam.

— Bacon e ovos?

Não exatamente bacon...

— Sim — eu disse em vez disso, ainda sem coragem de contar a ela a verdade sobre a origem de sua preciosa carne de porco.

— Então, isso é como o Natal — ela comentou. — Certo?

— Mais ou menos. — Eu sabia que os humanos comemoravam um feriado em torno de um homem gordo com biscoitos, mas eu realmente não entendia o motivo disso. — É a mesma época do ano.

— Excelente. — Ela parecia bastante satisfeita com a semelhança, então não acrescentei nenhuma correção. — Tenho uma ideia.

— É?

Ela assentiu.

— Mas primeiro, precisamos de uma árvore. — Ela deu um pulo, batendo palmas de empolgação. — E enfeites. — Claire se virou. Sua alegria era palpável. — Ah, Vox, isso vai ser tão divertido. — Mais palmas. — Este vai ser o melhor feriado Fae de todos os tempos. Você vai ver.

— Claro — concordei. Mas por que é que você precisa de uma árvore?


Lindo, pensei, avaliando meu trabalho.

Todos os meus companheiros estavam na outra sala com instruções para não entrarem até que eu estivesse pronta para eles. Eu podia ouvir Titus rindo de algo que Cyrus havia dito. As brincadeiras deles estavam se tornando mais amigáveis a cada dia. O que era perfeito, porque eu precisava de todos de bom humor para que isso desse certo.

Puxei a guirlanda que se contorcia – um fio verde vibrante que criei usando meu elemento Terra. Meu presente foi útil também para os ornamentos em forma de flores, enquanto meu Espírito controlava as borboletas vermelhas esvoaçando ao redor dos galhos. Um tom diferente do rosa que costumava criar, mas eu queria cores de Natal.

— Certo — sussurrei. — Acho que é isso.

Enxugando as palmas úmidas contra no vestido azul – um presente antecipado de Exos – fui em direção à área de hóspedes onde os meus companheiros haviam estabelecido residência. Todos haviam chegado ontem à noite e me deram o dia de hoje para trabalhar nessa surpresa.

As janelas abertas que revestiam o corredor, me deram um vislumbre das atividades alegres lá embaixo enquanto a cidade inteira celebrava o feriado do Solstício com luzes e belas melodias. Os cheiros e sons não eram exatamente os mesmos do Natal, mas próximos o suficiente.

Minha árvore e meu brunch de feriado serviriam para fundir tudo isso.

Titus me encontrou na porta com um brilho suspeito em seus olhos verdes.

— Por que você está sorrindo assim, linda?

Soprei um beijo para ele, não me sentindo pronta para revelar minha surpresa. Eu precisava que Vox confirmasse algo primeiro.

— Seus pais saíram, certo?

Ele levantou uma sobrancelha escura.

— Sim, eles saíram para jantar com um dos comissários. — Seus lábios se contraíram para o lado, com a expressão contrita. — Lamento que não tenham te convidado, mas eles insistiram que você teria achado chato.

Eu ri.

— Tenho certeza de que foi esse o motivo. — Nós dois sabíamos a verdade. Alguns dos Faes do Ar me achavam um enigma e alguém que eles queriam conhecer. Mas outros ficaram horrorizados com a ideia de uma Halfling vagando entre eles. O fato de eu ter cinco companheiros só tornava as coisas piores.

Por mim, tudo bem. Além disso, os pais de Vox estavam certos. Eu teria achado o jantar com algum comissário esnobe terrivelmente chato e realmente queria me divertir com meus homens.

Titus me olhou de cima a baixo.

— Está entediada, linda? Posso pensar em algumas coisas que podem entretê-la. — Ele acentuou sua proposta balançando as sobrancelhas.

— Guarde essa ideia. Tenho uma surpresa primeiro — eu disse, ansiosa demais. Planejei isso por dias.

— Gosto de surpresas — Sol falou, sempre o primeiro dos meus companheiros a embarcar quando eu tinha uma ideia maluca. Ele envolveu um braço enorme no meu ombro e beijou o topo da minha cabeça. — Envolve ovos e queijo?

Eu ri.

— Não é comida... não só comida. — Eu o puxei pelo braço, levando-o em direção ao corredor. — Vamos. Eu vou te mostrar.

Cyrus e Exos trocaram um olhar interrogativo antes de darem de ombros e me seguir. Titus parecia esperançoso de que minha “surpresa” envolveria ficar nu, e o estômago de Sol roncou. Vox cutucou seu abdômen.

— Acabei de te alimentar. Como você ainda está com fome?

Meus companheiros brincaram e tentaram adivinhar o que eu estava fazendo na sala de estar o dia todo. O único com alguma ideia das minhas intenções era Vox, já que precisei de sua ajuda para reunir suprimentos. Mas ele não sabia como eu usaria tudo. Ele também não sabia dos presentes que coloquei debaixo da árvore esta tarde.

— Só quero saber o que você fez com aquela pobre árvore — Vox murmurou.

Sol o acertou no ombro, fazendo o Fae do Ar estremecer quando as pedras caíram no chão.

— Não seja rude. A Claire está animada, então estou animado. Além disso, ela disse que vai ter comida.

Vox me deu um sorriso brincalhão.

— Bem, você ouviu o ogro. Nos mostre a sua surpresa.

Sol bufou, mas pareceu satisfeito e cruzou os braços.

Sorri para todos eles e parei do lado de fora da porta.

— Prontos?

Todos me olharam com expectativa.

— Feliz Natal! — exclamei, empurrando a porta e admirando minha árvore de quase quatro metros de altura.

Pinhas adicionaram toques de cor com um fio cintilante de glamour Fae como minhas luzes piscando. Os Faes não tinha enfeites, mas encontrei itens pela casa que funcionaram, além de meus adornos florais.

Estremeci quando a grande luz no topo piscou e apagou.

Argh, a consertei três vezes hoje, e é claro que resolveu queimar agora.

Com um aceno de cabeça, estalei os dedos e acendi a chama azul novamente, apenas alguns centímetros acima da árvore. Meu elemento Água fluía logo abaixo dele, ajudando a proteger os galhos de queimar. Uma estrela, pensei. Perfeito.

Eu me virei com um sorriso, animada para ver suas reações, mas paralisei.

Horror irradiava da expressão de Sol.

— Por que você matou uma árvore perfeitamente boa e decorou o cadáver? — ele questionou, observando as luzes Faes e o fogo sinistro queimando no topo. — É um pouco mórbido, Claire.

— Eu... é que...

— Por que tem orbes de oração pendurados nos galhos? — Vox perguntou e sua voz falhou no final.

— Orbes de oração? — repeti. — O que...

— E essas são as folhas da fertilidade da minha mãe? — Vox ficou boquiaberto no meio da sala, onde coloquei um par de belas palmas vermelhas que encontrei no andar de baixo. — Isso é... isso é errado.

— Não sei — Titus falou. — É meio fofo. Ela está usando a árvore morta para proteger seus pacotes. — Ele gesticulou para os presentes embaixo da árvore. — Mas eles são meio brilhantes.

— Isso é um uso interessante para a Água — Cyrus acrescentou, olhando para o topo da árvore.

— É para ser um projeto elemental? — Sol perguntou, apoiando a palma da mão no galho enquanto lamentava a vida da árvore que se parecia com um pinheiro. — Podemos replantar lá fora? Reestruturar suas raízes?

— Hum... acho que sim, mas...

— É uma árvore de Natal — Exos interrompeu, balançando a cabeça. — Vamos lá, é um feriado popular para os humanos.

Meus ombros cederam.

— Sim.

— É linda — Exos elogiou, me envolvendo em seus braços e beijando o topo da minha cabeça. Eu o senti advertindo os outros na sala com os olhos. Seu aborrecimento era totalmente visível em nosso vínculo. — Obrigado, Claire — ele adicionou.

— Sim, obrigado — Cyrus murmurou. — É... único.

— Mas podemos plantá-la novamente mais tarde, certo? — Sol pressionou.

— Sim — falei, desistindo. — Podemos plantar após o brunch. — Porque, obviamente, eles não iam gostar da árvore da mesma forma que eu.

— Brunch? — ele repetiu.

— Comida — Vox esclareceu. — Só vou devolver as folhas de fertilidade da minha mãe ao quarto dela. Volto já.

Bati a cabeça contra o peito de Exos enquanto ele ria.

— Foi um enfeite estranho, Claire — ele murmurou no meu ouvido.

— O avô do Vox disse que eu poderia usá-los. — O homem mais velho foi jovial quando pedi emprestado. — Agora entendo o porquê.

Cyrus riu abertamente.

— Ah, aposto que ele foi totalmente a favor.

Permiti que o fogo se apagasse acima da árvore, não me importando mais com a estrela estúpida. Pelo menos, eles gostariam da comida. Eu entendia por que a tradição da árvore de Natal podia ser um pouco estranha. Especialmente para um Fae da Terra como Sol.

Eu deveria ter pensado nisso antes de criar o pinheiro e decorar seus galhos mortos.

Com um resmungo, eu me endireitei, determinada a aproveitar nosso brunch.

Que Sol já tinha encontrado na sala de jantar.

Ele estava de olho nas iguarias com um brilho faminto. As brasas que acendi mantiveram a comida quente enquanto eu terminava de decorar a árvore.

— Os humanos geralmente comemoram o Natal, então tentei organizar algo para nós aproveitarmos os dois feriados — expliquei.

— O cheiro está incrível — Sol comentou com um sorrisinho.

Bem, pelo menos fiz algo certo.

Os outros se juntaram a Sol para admirar os pratos. E Vox voltou com uma expressão aliviada e depois olhou para todos os pratos de comida.

— Uau, agora entendo por que você queria todos aqueles ingredientes.

Eu sorri.

— Obrigada por encontrar o que eu precisava. Seu avô também ajudou.

Ele me olhou fixamente.

— É mesmo?

— Sim. Ele me ajudou com os biscoitos e sanduíches. Mas o bife de dragão foi ideia minha. — Apontei para o pedaço de carne embrulhado em bacon. — Também fiz ovos e um orc assado. — Mas eu não tenho ideia de como ficou. Eu só o cozinhei e torci pelo melhor.

Todos eles assentiram e começaram a encher seus pratos.

Menos Cyrus e Exos, que pareciam estar de olho no bife de dragão com ceticismo.

Fiz uma careta para eles.

— O que há de errado?

— Nada — Exos murmurou. — É só algo que não vimos antes.

— É bacon enrolado em um pedaço de bife de dragão — Vox explicou de forma prestativa, com os olhos fixos em Exos enquanto lhe dava um sorriso tenso. — Coma. É bom.

Exos piscou para ele.

— O quê?

— Bife de dragão enrolado em bacon — esclareci. — Confie em mim, você vai adorar. — Eu já tinha comido um pedaço hoje cedo.

— Bacon — ele repetiu como se estivesse experimentando a palavra.

— É de porco — Sol falou de forma prestativa, já na metade do seu primeiro prato. — Coisa humana.

— A Claire chama isso de bacon — Vox acrescentou.

Exos olhou para ele.

— Você disse a ela que isso era bacon?

— Mas é — Vox respondeu por entre os dentes. — Coma, Rei do Espírito. A Claire preparou tudo.

Cyrus começou a rir, sua diversão era como uma onda pesada de entretenimento.

— Não vou tocar nisso — ele disse entre risadas. — Eu te amo, pequena rainha, amo mesmo, mas não vou comer.

— Então eu como — Sol respondeu, pegando todo o bife de dragão.

— Á vontade. — Cyrus enxugou as lágrimas dos olhos.

— Não entendo por que isso é tão engraçado — eu disse, olhando para todos eles. Até mesmo Titus parecia estar achando graça. — O que vocês estão me escondendo?

Exos parecia ser o único sóbrio na sala. Seu olhar era amável quando disse: — Isso não é bacon, princesa. É gordura de troll.

Outra rodada de risos saiu da boca de Cyrus. Titus se juntou a ele.

Vox parecia derrotado.

— Vocês são dois idiotas — ele sibilou, as palavras dirigidas a Exos e Cyrus.

— Não fui eu que disse a ela que gordura do troll era bacon — Exos comentou. — Isso é culpa sua.

— O River jurou que era a mesma coisa. E não é tão ruim, contanto que você não pense a respeito.

— Gordura de Troll? — repeti, ainda acompanhando a declaração de Exos. — Eu tenho cozinhado gordura de troll? — Não, não só cozinhando. Comendo. — Ah, Deus... — Eu ia vomitar.

Titus me pegou pela cintura antes que eu pudesse correr para fora da sala, e levou os lábios ao meu pescoço.

— Trolls parecem porcos, linda. São coisinhas nojentas que rolam na lama. O mesmo tipo de carne, apenas uma espécie diferente.

— Nojento — murmurei, me encolhendo.

— Agora você entende por que não vamos comer — Cyrus comentou, pegando um dos sanduíches.

— Eu gosto — Sol falou, se servindo da segunda porção de comida. — Vocês estão perdendo.

— Sinto muito, Claire. — Vox baixou a cabeça. — Não consegui encontrar o bacon para você, então improvisei.

— E me deu gordura de troll — comentei. — Que eu enrolei em um bife de dragão. Para o jantar de Natal. — Pisquei algumas vezes e depois comecei a rir do absurdo de tudo isso. Bem-vinda ao mundo Fae, onde nada combinava com a realidade humana. Como a minha triste árvore de Natal.

Eu ri e balancei a cabeça, enxugando as lágrimas dos olhos.

— Mal posso esperar que vocês abram seus presentes. Vai ser uma piada atrás da outra. — Especialmente porque o avô de Vox me ajudou. Por tudo o que aconteceu, provavelmente eu estaria dando presentes de fertilidade.

Ri de novo e meu estômago doeu com o esforço.

Mas os homens ficaram sérios e a atenção deles se voltou para as caixas embaixo da árvore.

Acenei, rindo muito para me mexer neste momento.

Vox fez as honras de distribuir as caixas. Que todos elogiaram por serem bonitas. Quando eu disse que tinham que desembrulhar, eles começaram a rir junto comigo.

Uau, vínhamos de terras diferentes.

No entanto, de alguma forma, tornou este Festivus ainda mais único e especial, porque eles estavam me ensinando sobre suas tradições enquanto eu mostrava as minhas. Não escapou da minha atenção que se minha mãe realmente estivesse por perto quando eu era criança, minha experiência teria sido completamente diferente hoje.

— Os humanos usam alianças simbólicas para indicar o status de relacionamento. — Minhas bochechas esquentaram e a incerteza atingiu meus pensamentos. — Quer dizer, não sei se é realmente como um casamento aqui, mas eu sou uma companheira ligada a vocês dois no nível mais profundo e, em breve, espero que a todos vocês. Eu só... quero mostrar isso para o mundo de alguma forma. — Dei de ombros. — Talvez seja bobo.

Cyrus me envolveu em seus braços e me beijou.

— Não é bobo, pequena rainha. É sincero e verdadeiro.

Exos concordou com um sorriso, então olhou para os outros.

— Devíamos te dar um presente também.

— O que você tem em mente? — Titus perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Ela diz que um anel simboliza o amor — Exos murmurou. — Como o metal é feito?

— Juntando os elementos — eu disse, com a cabeça apoiada no peito de Cyrus. — Ou foi assim que eu fiz. — Foi preciso muito esforço e muita tentativa e erro, mas finalmente descobri.

— Estou dentro — Titus disse. Sua mão brilhou enquanto ele estendia a palma.

— Aqui — Cyrus murmurou, desencadeando uma névoa que se juntou ao elemento de Titus.

O cabelo de Vox começou a voar enquanto ele se concentrava no redemoinho de magia, e a fundação da sala vibrou quando Sol lutava com seu próprio elemento.

Exos sorriu e colocou a palma da mão sobre a de Titus, então lentamente fechou a lacuna entre eles.

Se doeu, eles não demonstraram. Todos pareciam estar se divertindo, sua magia se misturando e se fundindo até que eles a soltaram de uma vez, me deixando sem fôlego.

E então Titus revelou o que eles criaram – um pequeno anel que brilhava com todas as cores dos elementos.

Muito mais sofisticado do que os que criei.

— Preciso melhorar meu trabalho. — Fiquei maravilhada enquanto Exos pegava o item da palma da mão de Titus.

Meu Espírito Fae sorriu, segurando o item para que eu o visse.

— Aqui está um pedaço de todos nós, Claire. Só para você.

— Sempre para você — Cyrus sussurrou, com os lábios contra meu ouvido.

Com lágrimas nos olhos, coloquei-o no dedo e sorri.

— É perfeito.

— Feliz Natal — Exos falou.

— Feliz Natal — os outros ecoaram.

Me senti em paz, em casa e viva ao mesmo tempo.

— Feliz Festivus — respondi.

Era assim que a vida deveria ser.

Feliz, amorosa, cheia de momentos de alegria.

Mas, no fundo, eu sabia que isso duraria pouco, podia sentir algo sombrio chamando minha atenção. Mesmo assim, afastei o sentimento, prometendo reconhecer outro dia.

Porque algo estava vindo.

Eu podia sentir em cada fibra do meu ser, e o olhar que Exos me lançou sobre a alegria na sala me disse que ele sentia também.


Um choro baixo me acordou.

Claire.

Me sentei, procurando por ela em nossos aposentos improvisados. Ela estava absolutamente imóvel entre Vox e Sol, com os olhos fechados e suas mãos pequenas aconchegadas ao peito.

Então ela choramingou de novo em minha mente.

Um sonho ruim, percebi, me esgueirando até ela.

Cyrus entrou no quarto com uma sobrancelha arqueada. Meu irmão decidiu ficar de guarda durante a noite enquanto os outros descansavam. Concordamos em alternar as noites. O Reino do Ar podia ser seguro, mas algo se escondia no horizonte. Os outros companheiros de Claire não conseguiam perceber, já que a falta de conexão com o Espírito impedia a capacidade de sentir as trevas pairando sobre nós.

Uma lágrima escorreu do canto do olho de Claire, mas sua expressão era suave.

Segurei seu tornozelo com gentileza, em busca de uma conexão com sua mente e encontrei a fonte de sua dor.

Ophelia.

Ela estava sozinha em uma cela fria, tremendo e murmurando palavras ininteligíveis para Claire.

Fiz uma careta para a aparição, tentando discernir o sonho da realidade quando aqueles olhos cruéis se fixaram em mim e semicerraram.

Realidade, decidi, fechando os olhos para me concentrar em entrar na mente de Claire...

— Você não pertence a este lugar — Ophelia disse com a voz aguda e fria, me lembrando de nosso ambiente árido. Onde quer que Claire estivesse, era gelado e hostil.

— Eu poderia dizer o mesmo para você — respondi, inclinando a cabeça. — O que está fazendo com minha companheira, Ophelia?

Ela franziu o cenho.

— Companheira?

— Não se faça de boba. Você sabe o que a Claire significa para mim e pode sentir nosso vínculo. O que você quer, Ophelia? — exigi.

Ela piscou para mim, a ação lenta e deliberada. Olhei ao redor da cela, notando as barras podres e pedras mofadas. Em algum lugar com água, o que fazia sentido. Ophelia era uma Fae do Espírito com acesso ao elemento Água.

Mas por que ela escolheria esse local de encontro?

— Onde está a Claire? — perguntei, procurando a fonte do choro que eu ainda sentia em minha mente.

— Ela está bem — Ophelia falou. — Era com você que eu queria falar.

Arqueei uma sobrancelha.

— Interessante. Achei que eu não pertencia a esse lugar.

— E não pertence. Ou achei que não. — Ela balançou a cabeça e uma pontada de loucura apareceu em sua expressão.

Ela parecia a Claire, só que muito mais velha e muito mais cansada. Algo que não deveria ser possível em uma Fae tão jovem. Parecia que alguém havia sugado toda a sua beleza e juventude, deixando-a frágil e esquelética.

— Por que estou aqui, Ophelia? — perguntei, trazendo seu foco de volta para mim e longe de qualquer pensamento que capturou sua mente.

— Você se preocupa... com a minha Claire? — ela perguntou, parecendo incerta.

— Ela é minha companheira.

— Não é apenas um estratagema? — Sua cabeça se inclinou de uma forma estranha. — Ela diz que você está usando a Claire para ter poder. Mas não sinto falsidade.

— Ela quem? — perguntei.

— Você sabe quem — Ophelia respondeu de forma enigmática. — Ela orquestrou tudo isso. Eu nunca deveria ter dado ouvidos a ela. Achei... achei que ela me deixaria em paz. A liberdade é um sonho, jovem rei. Ela mentiu.

— Quem mentiu? — O que começou como uma conversa coerente se transformou em confusão.

— Ela — Ophelia murmurou, sua voz assumindo um tom sonhador. — Parte Fae Sombrio. Parte Espírito. Ela está usando a minha Claire. Você vai ver. Todos vocês verão em breve. — Ela começou a cantarolar uma música, o som assustadoramente bonito. —Ela está vindo. Eu preciso de mais...

Um choque severo me fez segurar a cabeça e cambalear para trás. A nuvem escura em minha mente sugou minha energia em um jorro de som que me fez cair de joelhos.

A voz de Cyrus se elevou, com as mãos nos meus ombros enquanto ele me atacava com seu elemento Água e arrancava a sanguessuga do meu Espírito.

— Puta merda! — alguém gritou.

Mas eu estava muito ocupado me recuperando do ataque inesperado.

A vadia tentou sugar meu Espírito, me usando para se conectar com a fonte.

Agarrei meu cabelo, pronto para puxá-lo quando ouvi Claire gritando da cama. Isso me tirou do estado de sonho e me fez ir em sua direção, apenas para vê-la olhando para cima com olhos cheios de lágrimas. Ela me agarrou pelos ombros e me puxou para o colchão, com os braços em volta do meu pescoço.

— Eu pensei... eu pensei... — Ela soluçou com a voz histérica e o corpo tremendo sob o meu. — Eu pensei que ela tinha tirado você de mim...

— Estou bem aqui, princesa — sussurrei, encontrando o olhar furioso de Cyrus. — Estou bem.

— Você é um idiota — meu irmão estava irado. — Você deixou essa coisa entrar na sua cabeça de novo!

— Ela estava na Claire — argumentei. — Melhor se agarrar a mim do que a ela.

Claire balançou a cabeça.

— Não. Não. Não. Ela não estava me machucando. Estava tentando me dizer algo... algo sobre a Elana. Mas ela teve que ir e pediu energia emprestada para poder voltar.

Vox e Sol ficaram boquiabertos com Claire. Titus também. Na verdade, estávamos todos boquiabertos.

— Como sabe disso? — perguntei, minha voz um som rouco.

— Ela me contou — Claire disse. — Ela sussurrou um pedido de desculpas antes de se agarrar, dizendo que precisava de forças para fazer uma conexão no futuro.

Eu a encarei.

— Ela costuma visitar seus sonhos? — Cyrus perguntou. Sua voz soou com uma calma letal que reconheci.

Claire balançou a cabeça.

— É a primeira vez.

A tensão que irradiava do meu irmão pareceu se dissipar um pouco.

— Se ela está alcançando os planos espirituais, sua força está crescendo — ele murmurou.

— Ela estava em uma cela — eu disse, franzindo a testa. — Não nos planos espirituais.

— Qual é a diferença? — Vox perguntou, passando os dedos pelo cabelo de Claire.

Ela ainda não havia soltado meu pescoço, então me movi com ela em meus braços, me sentando e embalando-a no meu colo. Claire enterrou o rosto molhado de lágrimas em meu pescoço.

— Um Espírito Fae pode acessar os planos espirituais. É de onde puxamos vida e morte. Mas Ophelia criou um pano de fundo para sua visita, sugerindo que ela pode ter nos levado a um lugar real.

— Uma cela — Claire sussurrou. — Ela está sendo mantida lá.

— Como você sabe? — perguntei em voz alta.

— Eu só sei — ela respondeu, tremendo. — Estava tão frio lá, Exos. Tão... morto.

Encontrei o olhar de Cyrus novamente.

— Me lembrou dos campos da morte, só que com um pouco mais de vida.

Ele balançou a cabeça.

— Isso é uma loucura. Você está dizendo que a Ophelia te conduziu em seus sonhos e te levou para uma cela para quê? Compartilhar histórias? Te alertar?

— Ela queria testar o Exos — Claire murmurou. — Ela não confia nele.

— Sim, bem, o sentimento é mútuo — Cyrus garantiu.

Ele não estava errado, então não comentei. Em vez disso, emoldurei o rosto de Claire e a beijei de leve.

— Você está bem?

Ela assentiu.

— Ela não me tocou, mas senti sua energia te drenando. Eu... isso me assustou.

Assenti, entendendo e puxei-a contra mim mais uma vez.

— Estou bem, baby.

— O que ela quer? — Sol perguntou. Ele se moveu para se inclinar contra a cabeceira da cama, com o peito nu em exibição. — Qual é o objetivo dela? Por que ela precisa confiar no Exos?

— Ela parecia estar preocupada com minhas intenções com Claire — respondi, com a testa franzida. — Honestamente, não fazia muito sentido. Ela continuou falando sobre um Fae Sombrio ou alguém que era parte Fae Sombrio.

— Parte Fae Sombrio? — Cyrus repetiu. — Isso... não é possível.

Não, definitivamente não era. Faes Elementais não acasalavam com Faes Sombrios ou qualquer outro tipo de Fae. Nos relacionávamos com nossa própria espécie por um motivo. Fazer o contrário faria com que o equilíbrio do poder se alterasse.

— Precisamos falar com ela novamente.

A expressão de Cyrus transmitiu sua resposta antes de deixar sua boca.

— De jeito nenhum.

— Eu não estava pedindo permissão, Vossa Alteza — respondi. — Ah, espere... eu sou o rei agora.

Seus olhos azul gelo semicerraram.

— Não seja um idiota presunçoso.

— O sujo falando do mal lavado — atirei de volta para ele. Tínhamos uma expressão parecida no mundo Fae, mas preferi a frase humana, porque parecia ridícula. Também irritou Cyrus. Duas vantagens.

— Vocês dois são farinha do mesmo saco — Titus comentou, vestindo uma calça de moletom. — Claire, querida, o que você quer fazer?

— Quero falar com ela de novo — ela disse sem hesitar.

— Então vamos fazer isso — Titus disse, acenando para ela. — Vocês dois podem ser reis, mas ela é nossa rainha.

— Eu concordo — Sol acrescentou.

— Eu também — Vox murmurou.

Cyrus balançou a cabeça.

— Vocês estão brincando com fogo.

A palma da mão de Titus ganhou vida enquanto ele sorria.

— É muito divertido, Príncipe da Água.

Meu irmão bufou e apagou a chama com uma névoa.

— Tudo bem, posso ver que minha inteligência está em menor número aqui. Então, como vamos falar com ela de novo?

— Tenho uma ideia — admiti. — Mas vou demorar alguns dias para fazer isso funcionar. Nesse meio tempo, reforce os elementos de Claire. Ela vai precisar deles.

*

Foi difícil convencer Claire a voltar a dormir, mas era madrugada, e ela precisava descansar. Especialmente para as festividades que viriam. Os Faes não brincavam durante a temporada de Festivus. Haveria fogueira, dança e noites intermináveis de bebidas pela frente. O que a ajudaria a relaxar, pelo menos um pouco.

Embora ela parecesse bastante contente na cama com Sol, Vox e Titus.

Esses três sabiam como cansar nossa companheira.

Com um sorrisinho, entrei no corredor onde Cyrus estava esperando.

— Você perdeu a cabeça? — ele questionou, demonstrando irritação, apesar de seu sussurro baixo.

— Não acho que a Ophelia seja uma ameaça — admiti. — Ela parecia um pouco maluca, mas não cruel. Não havia nada sombrio em sua aura, apenas uma pontada de desespero que aumentou quando ela se agarrou ao meu poder. Como se ela estivesse morrendo de fome e precisasse da minha energia para sobreviver.

Cyrus semicerrou o olhar.

— Continue.

Essas duas palavras mostraram o quanto ele me conhecia. Nunca parei de analisar e teorizar, algo que ele também fazia.

Apoiei a mão na nuca, soltando um suspiro.

— Se alguém a manteve trancada todos esses anos, isso poderia explicar por que ela se agarrou a Claire nos campos da morte. Ela devia estar com tanta fome de Espírito que faria qualquer coisa para absorvê-lo. Incluindo atacar a própria filha. O que explica o esgotamento de energia da parte de Claire.

Meu irmão considerou minhas palavras e esfregou a barba por fazer no queixo.

— Isso também explicaria por que ela tentou passar pela ligação de vocês para chegar até ela.

— Elas são parentes de sangue. Isso une os Espíritos das duas.

Ele assentiu e franziu a testa.

— Mas por que matar a Ophelia de fome?

— Para se alimentar de seu próprio poder? — sugeri. — Ela parecia estar doente, Cyrus. Como uma Fae de mil anos, se não mais velha. Quando ela tem, o quê, talvez cinquenta anos? Nem isso? — Balancei a cabeça. — Algo não está combinando aqui.

— Esse algo parece apontar para a Elana — ele acrescentou.

— Metade Fae Sombrio, metade Espírito. Foi isso o que a Ophelia disse. — Claro, ela provavelmente estava louca, mas valia a pena mencionar novamente. — E se ela estiver falando sobre a Elana?

— Ela é uma Fae do Espírito.

— Com acesso apenas ao Espírito. — Um traço que era extremamente raro para nossa espécie. Embora, ultimamente, eu tenha começado a questionar se isso era ou não verdade, porque senti seu elemento Água aparecer em mais de uma ocasião. Assim como Cyrus. — Quem eram os pais dela? — Não era algo em que pensei em investigar ou saber, mas agora parecia imperativo que descobríssemos.

— Posso perguntar ao meu pai — Cyrus murmurou. — Ele quer mesmo falar comigo sobre coisas da coroação. — Ele fez uma careta ao ouvir as palavras.

— Em algum momento, precisamos dizer a Claire o que significa ser rainha — apontei. Ela meio que entendeu, mas não completamente.

Ele curvou os lábios.

— Sim, essa é uma conversa pela qual não estou ansioso.

— Ela é forte — falei baixinho. — Inteligente também. Ela vai entender.

— Ah, eu sei. Só não é algo que eu queira falar com ela. — Ele passou os dedos pelos cabelos. — Um problema de cada vez. Vamos nos concentrar em Elana e ver o que podemos descobrir sobre sua história enquanto você trabalha na ideia de entrar em contato com Ophelia novamente. Mas quero um mecanismos de defesa. E desta vez, vou com você. Porque não confio naquela mulher perto de você ou da Claire.

Eu sorri.

— Falou como um irmão mais novo protetor.

— Mais novo por dezoito meses — ele respondeu. — E alguém tem que manter o seu juízo sob controle. Entrar em sua mente assim, sem nem mesmo pedir reforços. — Ele balançou a cabeça. — Se eu não estivesse tão ocupado chutando aquela Fae da sua cabeça, teria te dado uma surra por ser tão babaca.

— Ahh, eu também te amo — falei, puxando-o para um abraço.

Ele retribuiu o abraço, apertando uma vez antes de me soltar.

— Não faça isso de novo.

Eu sorri.

— Nós dois sabemos que não posso concordar com isso.

— Idiota teimoso — ele resmungou, depois ergueu a mão. — Sim, sim – o sujo falando do mal lavado. Eu conheço os termos humanos. — Ele balançou a cabeça. — Diga a Claire que voltarei em breve.

Ele desapareceu na neblina sem outra palavra, me deixando rindo no corredor. Podíamos ser meio irmãos, mas ele também era meu melhor amigo. E falei de coração. Eu o amava. Assim como eu sabia que ele me amava.

Não conseguia pensar em ninguém melhor para me proteger.

Fique em segurança, pensei para ele. Não que ele precisasse disso. Cyrus era o mais forte de todos nós, algo que ele já sabia. Aposto que Claire um dia seria um grande desafio para ele. E isso seria ótimo de presenciar.

Com essa fantasia em mente, voltei para ela e me sentei na cadeira perto do pé da cama para guardar seus sonhos.


Isso era um absurdo.

Claire e os outros estavam perambulando para uma das fogueiras para aproveitar o solstício com hidromel e fadas brilhantes enquanto eu estava preso aqui, sendo interrogado pelos meus pais. De novo.

— Você se divertiu — minha mãe estava dizendo com uma gentileza moderada, como se eu fosse um traidor. Ela me entregou um orbe de oração, me lembrando de como Claire havia “profanado” os objetos sagrados sem nem mesmo perceber. — Está na hora de voltar à realidade, Vox. Orar aos Elementos por perdão e seguir em frente com a Halfling. Ela não tem lugar em nossa família.

Aparentemente, ela desistiu da ideia de que Claire pudesse ajudar a restaurar o nome da nossa família.

Ofensivo.

— Estou comprometido com ela, mãe — eu a lembrei pela milésima vez. — Já estamos comprometidos no terceiro nível. Não vamos interromper o vínculo. Posso ir agora?

— Pelos Quatro Ventos — meu pai grunhiu, enviando uma brisa violenta pela sala de estar. — Não me importo com o nível de vínculo que você tem com a garota, isso é uma tolice, e ela precisa ser afastada de você. — Ele tirou uma gema azul do bolso e me mostrou. — Isso vai chamar os guardas, e eles vão escoltar a Claire para fora do reino. Tudo que tenho a fazer é quebrá-lo. Você realmente quer forçar minha mão?

Minha nuca se arrepiou.

— Você realmente quer testar a ira do Rei dos Espíritos e do Príncipe da Água? — Cyrus havia retornado esta manhã depois de passar três dias no Reino da Água. A cautela em sua expressão me disse que ele suportou coisas semelhantes com seus pais. Bem, talvez não muito semelhante. Seu pai pelo menos gostava de Claire, pelo que entendi.

Meu pai me lançou um olhar severo.

— Recentemente, alguns de nossos privilégios políticos foram restabelecidos, e seu vínculo com a Halfling está ameaçando esses arranjos.

— Quais privilégios? — perguntei. Suas afirmações eram novidade para mim.

— Se a Halfling confundiu sua lealdade, então ela precisa ser tratada — ele adicionou, me ignorando como sempre fazia.

— Ela não confundiu nada — rebati, e minhas palavras agitaram uma brisa que fez com que os itens pendurados na árvore de Natal no canto tilintassem. — Eu a amo, pai. Sei que é um conceito estranho para você, mas é assim que me sinto. Vamos passar para o quarto nível com ou sem sua aprovação.

Um trovão soou distante quando os olhos negros de meu pai brilharam.

— Depois desta noite, eu te proíbo de vê-la.

— E aqui vamos nós — eu disse baixinho, irritado além da medida. — Você ouviu o que eu disse?

— Ela é meio humana, certo? — ele interrompeu, novamente agindo como se eu não tivesse voz. O que talvez fosse verdade. — Isso significa que você só terá que esperar um pouco antes que ela sucumba à sua fraqueza mortal e você possa ter uma nova companheira.

— Isso nunca vai acontecer — rebati.

Mas ele continuou mais uma vez como se eu não tivesse falado.

— Você vai parar com a loucura na Academia e se concentrar em seus estudos. E se não me ouvir, vai me forçar a fazer o que precisa ser feito.

Excomunhão.

A ironia.

— Não vou terminar meu relacionamento com a Claire — respondi, mantendo a voz calma, mesmo enquanto meu coração disparava. — Então faça o que precisa fazer, pai.

— Não seja tolo! — ele rugiu.

— Ah, então você ouviu — eu disse, falando principalmente para mim mesmo. — Ótimo.

— Você não entende, Vox — minha mãe murmurou. — Recebemos responsabilidades no reino, e isso inclui observar as ameaças – ameaças como a Halfling. É uma etapa preliminar, mas se provarmos nossa lealdade, continuaremos a subir e talvez reintegrar o nome da família.

Que era tudo com que eles se importavam.

Lutei para não revirar os olhos.

— A Claire não é uma ameaça...

— Não vou deixar você estragar tudo com essa fantasia ridícula! — Meu pai cerrou a mão em torno da joia dentada em sua palma. — Sua mãe está certa sobre uma coisa. A Halfling não tem lugar em nossa família.

— Talvez ela não seja a única que não pertença a esta família — respondi, sentindo meu próprio elemento crescer em meu peito com uma raiva incomum que apenas meus pais “bem-intencionados” poderiam incitar.

Um olhar de dor cruzou a expressão de minha mãe.

— Vox, querido. Você não quis dizer isso.

— Ah, não... na verdade, eu quero, sim. — Afastei a mão, liberando uma lasca de meu poder que fez a árvore de Natal se curvar e arremessou os orbes de oração ao chão. — Tolerei vocês dois e suas ambições ridículas por toda a vida. Mantive a cabeça baixa e fiz o meu melhor para redimir a família, subjugando meu próprio poder, mas agora eu percebo como fiz merda.

— Vox! — minha mãe gemeu, cobrindo a boca.

— Você não vai falar com sua mãe desse jeito! — Meu pai abriu o braço, enviando uma rajada com a intenção de me dar um tapa e atingir minha pele como tinha feito tantas vezes antes.

Sempre suportei sua punição.

Mas hoje, não.

Retaliei e abri as portas do meu elemento – portas que mantive trancadas por muito tempo. Foi forte o suficiente para arrancar a gema das mãos de meu pai até que se prendesse no teto.

Eu deveria ter sentido o medo, mas tudo o que senti foi alívio. Finalmente, eu estava abraçando meu verdadeiro caminho.

Chega de teias para bloquear minha habilidade.

Chega de castigo interno por liberar muita energia.

Não vou mais me curvar para aqueles que fingiam ser meus superiores.

Meu pai queria ser dono de todas as minhas ações. Bem, eu não permitiria mais.

Minha mãe gritou quando meu controle escorregou e tornados foram lançados na sala, enviando móveis e cortinas para o ar.

Meu pai bloqueou o pior dos escombros com o que restava de seu poder, suportando o ataque e mantendo ele e minha mãe seguros. Meus pais ficaram olhando, estupefatos, até que os ventos se dissolveram, fazendo os itens rebeldes caírem no chão.

A mistura de esperança e horror no rosto de minha mãe disse tudo.

Eu possuía mais poder do que eles tinham percebido, porque o escondi, o mantive guardado e me recusei a permitir que ele saísse.

Até Claire.

Ela desvendou meu poder e nosso vínculo de acasalamento fortaleceu meus laços reais com a fonte – laços reais que passei duas décadas bloqueando.

E passei as últimas semanas com medo disso.

Agora eu o abracei.

Meus pais ficaram me olhando até que uma leve batida soou na porta. Meu avô enfiou a cabeça para dentro da sala e seus olhos escuros se arregalaram com a destruição.

— Pensei ter ouvido um estrondo...

— Isto é culpa sua! — meu pai gritou, encontrando um alvo novo e adequado para sua raiva. Ele apontou o dedo para meu avô. — Você envergonhou nossa família, e agora seu único neto opta por seguir seus passos!

Nada afetado pela indignação de meu pai, o Fae mais velho passou por cima dos orbes de oração e pratos quebrados para me dar um tapinha nas costas.

— Sua linda companheira veio te ver, dizendo ter sentido uma perturbação. Prometi a ela que iria investigar. — Ele deu outra olhada para a sala, então fixou seu olhar no de meu pai. — Você deveria ter vergonha, filho. Não aprendeu nada com nossa excomunhão? Tentou tanto ganhar um lugar de volta na sociedade que esqueceu o que significa ser um Fae do Ar, ser parte de uma família.

— Não me dê sermões, velho — meu pai falou.

— Chega. — Eu estava farto. Não queria mais ter essa conversa. Não havia nada que eles pudessem dizer ou fazer para mudar minha opinião. — A Claire está procurando por mim, e a preocupação dela significa mais para mim do que a sua. Então, se desejar falar comigo novamente, deve considerar suas próximas ações com sabedoria. Eu parto para a Academia amanhã – com minha companheira e meu círculo de vínculo.

Eu esperava que meu pai arremessasse outra tentativa fraca de punição em meu rosto, ou fosse em busca da joia alojada no teto, mas pela primeira vez na vida, seus olhos escuros se voltaram para baixo.

— Se nos deixar agora, não será bem-vindo de volta — alertou.

Por mim, tudo bem.

Me virei e deixei meus pais com seus orbes de oração e julgamento. Doeu profundamente em mim ter que fazer essa escolha, e eu os odiei ainda mais por isso. Mas se aprendi alguma coisa, foi que “família” não significava perseguir a ambição cega à custa da minha alma.

A verdadeira família era onde eu poderia ser livre.

*

Meu avô me seguiu enquanto eu saía furioso da torre para a porta, onde Claire estava me esperando. Seus olhos azuis brilharam de preocupação.

— Vox, está tudo bem?

Ignorei a pergunta, precisando de mais do que palavras agora.

Entrelaçando os dedos por seu cabelo despenteado, eu a puxei para um beijo. Foi firme. Rápido. Cheio de emoções que não consegui esconder. E poderoso.

Ela se derreteu em meu abraço, envolvendo meu pescoço com seus braços esguios enquanto eu separava seus lábios com minha língua.

O calor floresceu entre nós, levado por um vento forte agitado pela mistura de nosso elemento compartilhado. Um rugido percorreu meus ouvidos, provocando uma sensação que eu adorava.

Isso.

Era isso que eu precisava.

O que eu desejava.

O que eu almejava.

Minha Claire.

Minha companheira.

— Quero que você seja minha — sussurrei. — Que fique comigo para sempre. Que me mantenha firme. E voe comigo. E me ame como eu te amo.

Sua resposta foi perdida em minha boca, minha necessidade de devorá-la substituindo todo o resto. Ela se agarrou a mim com a mesma intensidade enquanto nossos lábios estavam envolvidos em uma dança que ninguém poderia interromper. Nem mesmo meu avô, que estava atrás de nós limpando a garganta.

Eu não me importava mais com o decoro.

Não estava mais preocupado com o que minha família pudesse pensar.

Que se dane toda e qualquer reputação ligada aos meus pais. Eu era minha própria pessoa, destinada a criar meu próprio futuro.

E eu escolhi Claire.

Suas pernas envolveram minha cintura quando a levantei e pressionei suas costas na parede da casa dos meus pais.

— Vox — ela sussurrou.

— Claire — respondi, mordiscando seu pescoço.

Ela passou os dedos pelo meu cabelo despenteado, que se bagunçou durante a explosão de vento.

— O que aconteceu?

— Estou seguindo meu destino — disse a ela. — Eu escolhi você. — Meu elemento furioso instantaneamente se acalmou com a presença dela e estabilizou meu poder, mas era hora de parar de negar o que meu coração precisava.

O que ela precisava.

Titus se apoiou em uma pilastra ali perto e observou a troca. Eu dei a ele um aceno de cabeça.

— Titus, pode dizer aos outros que vou roubar a Claire pelo resto da noite?

Ele me deu um sorriso de quem entendia.

— Só se ela concordar.

— Com o que estou concordando? — Claire perguntou baixinho, com os lábios inchados pela minha atenção.

Emoldurei seu rosto e capturei seu olhar excitado.

— Quero completar nosso vínculo. Se você me aceitar.

— Hoje?

— Sim — concordei. — Aqui. Em meu reino. Com meu avô como minha testemunha. — Era por isso que eu não me importava que ele me seguisse. Eu precisava de um membro da realeza para me ajudar com os votos e, embora ele pudesse ser um proscrito, ainda mantinha sua linhagem.

O olhar que ele me deu dizia que ele entendia. E seu sorriso me disse que ele aprovava.

Ele poderia ser velho. Mas estúpido, não era.

— Mesmo? — Claire sorriu para mim. — Você quer completar nosso vínculo?

— Quero — eu disse a ela, roçando meus lábios contra os seus mais uma vez. — Nunca quis nada com tanta intensidade na minha vida.

Não era por causa dos meus pais ou de suas palavras duras. Embora, sua insensibilidade tenha provado que minha escolha era a correta. Sem o empurrão deles esta noite, eu poderia ter esperado um pouco mais.

Mas agora, não via motivo em adiar o inevitável. Eu queria a Claire. Sempre a quis. E não queria passar outro momento sem ela como minha verdadeira companheira.

— Sim — ela disse, sorrindo. — Sim.

Nossos lábios se encontraram novamente, desta vez em um abraço mais lento, preenchido com todas as emoções que compartilhávamos entre nós. Minha frustração com meus pais. Seu medo do futuro. Meu maior respeito e adoração. Sua devoção e amor. Nossa afinidade com o Ar. Nosso futuro entrelaçado com todos os outros elementos. Nossa promessa de sempre permanecermos fiéis um ao outro de nossa maneira especial.

Minha, pensei. Minha Claire.

Eu só precisava que o mundo soubesse disso. Para nos unir da maneira mais tradicional. Para apreciá-la por toda a eternidade.

— Vou avisar aos outros — Titus disse, parecendo achar graça. — Além disso, ouvi dizer que o Sol vai experimentar um pouco do famoso hidromel da sua cidade.— Ele deu uma risadinha. — É uma pena que vocês dois vão perder.

Claire sorriu contra minha boca.

— Quero ouvir as histórias mais tarde.

— Qualquer coisa por você, linda — Titus prometeu, soprando-lhe um beijo.

Ela soprou um beijo para ele, sem soltar os braços do meu pescoço e com as pernas ainda enroladas em volta da minha cintura.

Titus se afastou, cambaleando uma vez. Talvez o Fae do Fogo tenha desfrutado de um pouco do poderoso hidromel.

— Se eu sentir algo estranho, vou te encontrar. — Ele deu a Claire um olhar severo, então se afastou.

— O que ele quis dizer com “estranho”? — perguntei.

Claire balançou a cabeça.

— Eu conto mais tarde. Prometo.

Eu a encarei, mas Claire apenas sorriu.

Com relutância, deixei para lá.

Não queria viver outro momento sem Claire como minha companheira. E só havia uma maneira de garantir nosso futuro juntos para sempre.

— Vô — chamei, sem desviar o olhar de Claire enquanto roçava meu polegar sobre seu lábio inferior. — Você ainda tem status de sacerdote, certo?

O Fae idoso riu.

— Tenho. O rei não pode tirar isso de mim.

Eu concordei.

— Ótimo. A Claire e eu desejamos nos casar. Não é esse o termo humano?

Ela riu.

— É, mas eu quero saber o que aconteceu lá primeiro. Nunca senti emoções assim vindas de você. Você estava zangado. Como se alguém tivesse te traído.

— E me traíram — admiti, permitindo que meu elemento se desfizesse e girasse ao nosso redor. A melodia distante da celebração do Festivus era um contraste agradável com o trovão do meu pai.

Peguei a mão de Claire e coloquei o anel que estava pendurado no meu pescoço. Ela o criou após a nossa celebração de Natal, afirmando que queria que eu, Titus e Sol tivéssemos um símbolo de seu compromisso com todos nós. Serviu como sua promessa de acasalar com cada um de nós.

— Meu pai ameaçou tirar você de mim. Dizer que ele desaprova seria um eufemismo, mas o fato é que eu não o aprovo. Não aprovo nada que ele ou minha mãe tenham feito para tentar recuperar o poder. Eles são exatamente o que há de errado com nosso nome de família. — Olhei para meu avô. — Sem ofensa.

— Não ofendeu — ele respondeu. — Você está certo. Eles não aprenderam absolutamente nada com meus erros, mas posso ver que você, sim.

— O poder não é algo que se adquire, é algo que se aprecia, independentemente de quanto se possui, seja muito ou pouco — eu disse baixinho, pensando em Claire e sua abundância de elementos. — Mas não se trata de status ou ascensão. Isso tem a ver com amor. Trata-se de dedicar meu futuro a minha companheira, não importa as consequências. — Emoldurei sua bochecha. — Trata-se de me ligar a você em uma conexão impenetrável.

Porque eu não tinha dúvidas de que se eu voltasse para a Academia e retomasse minha vida com meu círculo de vínculo sem ter laços mais fortes, meu pai encontraria uma maneira de nos separar, com vínculo de terceiro nível ou não.

Claire piscou para mim com preocupação e admiração em seu olhar.

— Não quero te forçar a nada. Se a sua família está te pressionando, talvez eu possa falar com eles e...

— Não, Claire. — Segurei seu cabelo, forçando-a a encontrar meu olhar. — Você é minha família, entende? Não vou negar o que você significa para mim por mais tempo. Nem vou negar o poder que floresce dentro de mim.

Seus olhos se arregalaram e um sorriso apareceu em seu rosto.

— Você está falando sério?

Capturei sua boca com a minha, e ela se curvou na minha direção, se abrindo para mim e entrelaçando seus dons elementares com os meus até que minha pele formigou com seu poder sem fim.

Meu avô pigarreou.

— Certo, certo. Vocês não podem se unir bem aqui na porta da torre.

— Onde então? — Claire perguntou, sem fôlego por causa do meu beijo.

Eu sorri.

— Conheço um lugar perfeito.


— Ela está feliz — murmurei, encostando minha caneca de hidromel contra a de Exos.

— Você quer dizer distraída — meu irmão esclareceu.

— Humm — concordei, bebendo o líquido sedutor e suspirando. — Acasalar com Vox é uma boa jogada. Só vai fortalecê-la ter mais sangue real nela.

Exos assentiu.

— Sol deve ser o próximo.

Olhei para o Fae da Terra bêbado, que estava sentado a vários metros de distância com um Titus sorridente ao seu lado.

— Qualquer um serve — eu disse, considerando suas afinidades elementares. — Mas sim, ter um vínculo mais forte com a linhagem de Sol a beneficiaria.

E dado o que nós dois sentimos que estava por vir, melhorar as habilidades de Claire era mais do que necessário.

— O que seu pai disse sobre a Elana? — meu irmão perguntou baixinho, mantendo a conversa entre nós.

Não pudemos conversar muito hoje com todas as festividades, e nossa prioridade era manter Claire feliz. Ela não dormiu bem na minha ausência. No entanto, Ophelia não apareceu. Era quase como se ela continuasse tentando se manifestar, mas não pudesse.

— Meu pai não tinha coisas boas a dizer. — O que era um eufemismo. Ele praticamente se encolheu no segundo em que mencionei o nome dela e não parou de bufar até terminarmos nossa conversa. — Parece que há rumores de que a mãe dela teve um caso, mas ninguém sabe com quem. Ela não se parecia em nada com o pai. Alguns alegaram que o fato de Elana só ter acesso a um elemento era uma consequência da infidelidade da mãe. Pelo que descobri, nossos irmãos não foram gentis com ela.

— O que poderia explicar por que ela escolheu esse caminho. Ela quer unidade entre os Faes para remover a negatividade e a competição de nosso mundo.

— Ou está aprontando alguma coisa — rebati. — Que é o que meu pai afirma. Ele diz que nunca confiou nela, que sentiu sua crescente afinidade por Água por mais de uma década e sente que ela está escondendo algo.

— Ele se parece com você — Exos falou.

— Ele é meu pai. — Algo que neguei a maior parte da vida, escolhendo me aliar ao Reino dos Espíritos. Eu meio que esperava que meu pai usasse isso contra mim, mas ele disse que respeitava a lealdade porque sabia que o Espírito Fae precisava mais da minha orientação.

O velho não era ruim.

Eu poderia até gostar dele se continuasse assim.

Balançando a cabeça, voltei à nossa conversa.

— Apesar de tudo, estou inclinado a concordar que a Elana está escondendo algo. Eu simplesmente não consigo descobrir por que ela passou por todos esses problemas ou para quê.

— Então você acha que ela pode estar mantendo Ophelia cativa?

— É possível. — Esfreguei o queixo. — Só não sei por quê. — Eu olhei para ele. — Quanto tempo falta para você invocá-la novamente?

— Pouco. Estou planejando trabalhar nisso com a Claire amanhã.

Concordei.

— Tudo bem. Quero estar presente.

— Serve como uma boa lição — Exos acrescentou, dando de ombros. — Como Rainha do Espírito, ela deve saber como invocar o Espírito Fae.

— Não é exatamente um curso para iniciantes — respondi, me encolhendo. — Eu nem diria que é avançado. — Era mais como uma habilidade superior que poucos Espíritos Faes dominavam. Exigia uma grande quantidade de energia elemental, normalmente extraída da fonte. — Mesmo assim, eu concordo. Vai ser um bom exercício de treinamento. — Porque foi o mesmo método que usamos para controlar outro Fae, o que pode ser útil um dia e salvar sua vida.

— Elana sabe como fazer isso — Exos ressaltou.

— Eu sei. — Eu a vi manipular os outros inúmeras vezes. — Ela sempre faz isso pintando-a de uma forma positiva.

— Como quando ela arrancou a verdade daquelas garotas na Academia e as enviou para o Reino dos Espíritos? — Exos sugeriu.

— Sim, exatamente assim. Aparece, desempenha o papel de salvadora e livra o mundo dos malfeitores.

— Aposto um balde de hidromel com você que aquelas garotas eram inocentes. — Ele ergueu o copo, tomou um gole da bebida e relaxou em nosso banco contra o penhasco rochoso atrás de nós. — Não que eu tenha percebido na época.

— Não, pelo que os outros insinuaram, elas pareciam muito culpadas.

— Quase como se alguém tivesse armado para elas — Exos murmurou.

— De fato — concordei, me apoiando nos cotovelos com a caneca quase vazia. — Acho que temos muito trabalho a fazer, irmão.

— Gosto disso — ele comentou.

Eu sorri.

— Eu também.


As festividades ecoaram nos penhascos e o ar ficou rarefeito enquanto subíamos as escadas intermináveis até o topo. Mas o esgotamento valeu a pena, porque eu sabia que não seríamos perturbados aqui.

— Qual a distância desse lugar? — Claire bufou. Sua respiração vinha em suspiros curtos.

Eu ri e peguei sua mão.

— Preciso me aborrecer com o Titus por não te manter em forma? Ele está pegando muito leve com você se uma escada te cansa.

Ela olhou para mim.

— Fácil para você dizer. Você tem o corpo de atleta e cresceu neste Ar. Acho que você nunca ficou sem energia.

Eu sorri.

— Muito bem, Claire. Posso mandar ver a noite toda.

Ela arregalou os olhos.

— Você acabou de fazer uma piada?

— Aqui estamos! — meu avô anunciou, ignorando nossa brincadeira. Ele acenou com a mão e desfez as amarras mágicas que mantinham a câmara cerimonial sagrada trancada. As portas se abriram e revelaram uma plataforma que dava para a cidade e os penhascos lá embaixo. Proporcionava uma vista ainda mais deslumbrante do que a da casa do meu avô.

Ele soltou um suspiro longo e apreciativo.

— Não venho a este lugar há séculos. A última vez talvez tenha sido quando me tornei companheiro da sua avó. — Seu sorriso se tornou sombrio e uma brisa reminiscente girou no espaço sagrado.

— Eu também sinto falta dela — admiti e peguei a mão de Claire enquanto a guiava para a plataforma. O lugar tinha corrimãos de segurança, algo que apreciei, pois aliviou minhas preocupações sobre perder o controle do meu poder durante a cerimônia. Eu não tinha certeza do que esperar, mas sabia que este seria o momento em que teria que abraçar minha verdadeira natureza e me reconhecer como um Fae Real do Ar.

Claire se segurou em mim enquanto observava a vasta paisagem.

O reino cintilava, iluminado com celebração e alegria. A música mal conseguia nos alcançar nesta altura, mas outra melodia chamou minha atenção. Uma harmonia do vento e da natureza enquanto o elemento girava e tocava no topo da torre cerimonial.

Claire focou no céu sem estrelas acima de nós, bloqueado por um longo mar de luzes.

— É lindo — ela sussurrou, levantando os dedos como se fosse tocar a obra-prima. — O que é isso?

— A fonte do vento — meu avô disse com orgulho. Ele se mudou para um único pedestal que abrigava textos sagrados, mesmo que ele não precisasse. Nós tínhamos os votos memorizados. Se acasalar era o dia mais importante de nossas vidas como Faes, e eu estava levando isso a sério.

— Nada é mais lindo do que ver você aqui comigo — eu disse, afastando o cabelo de Claire de seu rosto. Meus dedos não tocaram sua pele, mas pairaram fora do alcance enquanto meu elemento beijava sua bochecha.

Ela sorriu.

— O que te fez mudar de ideia? — ela perguntou, parecendo confusa com a minha decisão de ter um vínculo definitivo com ela. — Não sou cega, Vox. Percebi sua hesitação desde o início. Achei que você nunca iria além do segundo estágio do vínculo, mas então, na outra noite, pensei que talvez tivesse te pressionado demais... — Seu olhar vagou para a aura novamente. — Você está realmente pronto para isso?

Não a provoquei dessa vez. Envolvi as mãos em sua cintura e a puxei para perto de mim para que eu pudesse sentir sua respiração em meu rosto.

— Eu fui um idiota. — Minha admissão ecoou por toda a grande extensão, embora eu mal tivesse pronunciado as palavras. A energia em meu peito se agitou e a antecipação fez cada centímetro meu se sentir eletrizado. — Sim, lutei contra o vínculo — continuei. — Mas não por sua causa. Lutei porque, no fundo, sabia o que significava para o meu poder. Durante toda a minha vida, eu me orgulhei de ter controle, e você, minha querida Claire, relaxou toda a minha habilidade de contenção. Isso, a princípio me apavorou, me fez sentir como se tivesse perdido uma parte importante de mim mesmo. Mas agora percebo que você estava me ensinando a viver. Como respirar pela primeira vez. Como sentir de verdade.

Emoldurei seu rosto e toquei os lábios nos seus, amando seu sabor, a sensação de tê-la em meus braços, a realidade irrefutável de ela finalmente ser minha.

— Eu te amo, Claire — eu disse a ela. — Então, sim, estou pronto. Nunca estive mais pronto para nada na vida. — E falei cada palavra de coração.

Claire me respondeu com um beijo que provocou uma tempestade dentro de mim. Uma tempestade que confirmava que este era o meu lugar.

Meu avô abriu o livro antigo com um rangido.

— Repita, depois de mim...

Claire falou as palavras primeiro, com os lábios muito próximos dos meus.

— Eu, Claire, aceito o poder que me liga a Vox, nascido dos Quatro Ventos. Para amar e respeitar, através de todas as eras e tempos que podem vir antes de nós, até que nossas almas nos separem. Dou a ele minha promessa de liberdade, minha brisa quente, minha calma antes de cada tempestade, e aceito a sua. Meu elemento agora é dele, assim como o dele agora é meu, para os céus Faes que nunca nos separemos. E eu nunca o abandonarei por outro, meu Vento pertencendo para sempre a ele e somente a ele.

Os elementos rugiram para a vida quando ela completou a última frase, e ela ofegou, passando os dedos pela minha bochecha.

— Vox, seus olhos.

Não precisei perguntar o que ela quis dizer, porque seus olhos também se transformaram. Por apenas este momento, ela era uma Fae do Ar, abraçando tudo o que significava se tornar uma comigo e se aproximar da fonte de meu poder. Suas íris brilhavam com uma faixa prateada selvagem que aumentava junto com os ventos que nos cercavam.

Senti aquele poder em meu peito e fiz o que nunca poderia ter feito sem Claire.

Eu o abracei.

Eu, Vox, aceito o poder que me liga a Claire, uma Halfling que me completa como nenhuma Fae do Ar poderia. Para amar e respeitar, através de todas as eras e tempos que podem vir antes de nós, até que nossas almas nos separem. Dou a ela minha promessa de liberdade, minha brisa quente, minha calma antes de cada tempestade, e aceito a dela. Meu elemento agora é dela, assim como o dela agora é meu, para os céus Faes que nunca nos separemos. E eu nunca a abandonarei por outro, meu Vento pertencendo para sempre a ela e somente a ela.

A explosão que nos atingiu nos tirou da plataforma. Não importava que houvesse uma grade. Claire ofegou e se agarrou ao meu pescoço.

— Achei que você tivesse dito que não podíamos voar!

Não podíamos, mas não estávamos voando.

Estávamos sendo aceitos pela fonte dos Quatro Ventos em um reino sagrado que apenas a realeza poderia ir.

— Não tenha medo — assegurei a ela e a virei para que ela ficasse aninhada ao meu peito. Nossos pés balançaram, mas uma força invisível nos levou para o ar, onde as luzes da aura nos esperavam. Tons de joias encheram o horizonte e uma cama de nuvens se formou debaixo de nós.

Baixei Claire sobre o elemento macio, achando-o tangível e real. Ela ficou maravilhada enquanto passava a mão pela substância fofa como algodão.

— Nunca vi nada assim.

Seus olhos estavam completamente prateados agora, e meu elemento chamou o seu. Meu desejo para completar o que começamos me oprimiu. Tivemos que apaziguar a energia que girava ao nosso redor para nos tornarmos um no mais sagrado dos reinos.

— Claire — sussurrei, seu nome soando como um apelo desesperado, como se eu estivesse com dor, mesmo com esta pequena separação. Precisávamos completar o vínculo.

Seus olhos prateados brilharam com conhecimento de causa. Seus dedos se curvaram, enviando um vento que emaranhou seu poder através do meu cabelo, desfazendo o rabo de cavalo e erguendo os fios escuros sobre meus ombros. Ela tirou minhas roupas enquanto eu fazia o mesmo com as dela. Toquei a pele macia com os lábios e provei seu pescoço com a língua.

— Vox — ela falou, fechando os olhos quando minha mão alcançou o véu de seu vestido para puxar o tecido que nos separava. Eu queria que estivéssemos pele contra pele para sentir cada centímetro dela com o meu.

Seu cabelo ondulou ao meu redor quando meu toque encontrou sua intimidade delicada. Toquei sua umidade e acariciei o clitóris macio que esperava por mim. Reivindiquei sua boca enquanto capturava seus gemidos.

— Vox — ela falou novamente, arqueando as costas contra o leito de vento e névoa. — Estamos em uma nuvem. Flutuando. Isso... eu deveria estar apavorada. Mas... — Ela parou de gemer.

Nós subimos acima do reino onde o ar era mais rarefeito e apenas a magia nos mantinha levitando, mas confiei na fonte mais do que jamais confiei em algo. Desejava que nos tornássemos um. Eu só tinha ouvido falar sobre esses pares no mito dos Faes do Ar, mas isso me garantiu que fiz a escolha certa sem sombra de dúvida.

Claire era minha.

— Você confia em mim? — perguntei, pressionando meu pau em seu calor.

— Sim — ela sussurrou. — Sempre.

Ela suspirou quando a penetrei enquanto meus quadris estabeleciam um ritmo para agradar e melhorar nossa união. Mordi o mamilo intumescido, arrancando um gemido chocado de sua garganta. Isso me divertiu.

— Mais — ela pediu. — Me tome, Vox.

Foi o que fiz, pegando o ritmo e entrando em seu corpo com um desejo que só ela poderia satisfazer. Meu poder nos circundou e o Vento beijou cada centímetro da sua pele conforme eu adorava seus seios e estocava mais fundo nela a cada respiração ofegante. Impulsionei os quadris de uma forma que roçou em seu clitóris, fazendo-a revirar os olhos prateados enquanto ela se aproximava da pura felicidade.

Seu corpo apertou o meu, precisando de mais uma estocada para alcançar o clímax.

Foi o que dei a ela, acariciando-a com uma brisa suave e a penetrando completamente. Ela gritou meu nome como um canto nos ventos, me levando ao orgasmo.

Nós somos um, pensei, gemendo seu nome em voz alta.

Mas a fonte não estava satisfeita com a gente ainda.

Ela queria mais.

Eu queria mais.

E Claire também.

Ela se contorceu debaixo de mim, levando as mãos ao meu cabelo enquanto me puxava para um beijo.

— O que quer que você tenha acabado de fazer, prometa que fará de novo. — Seus olhos prateados brilharam com desejo renovado.

E foi o que fiz. Meus poderes sussurraram de volta à vida, comandados por minha companheira para adorar cada centímetro dela até que não houvesse mais nada além do céu, vento e seus doces gemidos flutuando na brisa.


Meu coração acelerou ao ver Cyrus e Exos esperando por mim no corredor. A postura dos dois era relaxada, apesar da tarefa pela frente. Eles se vestiram de forma um pouco mais casual, com camisa de botões e calça comprida. Aparentemente, essa era a ideia deles de estar confortável.

Eu não poderia dizer que me importava. Os dois pareciam modelos, especialmente com as mangas das camisas enroladas até os cotovelos. Se o objetivo era me distrair, eles já começaram a ter sucesso.

Os lábios de Exos se curvaram em um sorriso quando ele colocou a palma da mão na minha nuca, me puxando para um beijo longo e sensual. Mal tive um segundo para respirar antes de Cyrus me agarrar e repetir a saudação. Sua boca me deu uma recepção calorosa que adorei.

— Bem, se é assim que essa atividade vai ser, vou ter prazer em participar — Titus falou da porta atrás de mim.

Ele estava usando uma calça de flanela, e sua expressão era de alguém que acabou de acordar.

— Eu gostaria que fosse tão agradável — Exos comentou, pegando minha mão e me puxando para o espaço entre ele e Cyrus. — Infelizmente, vai ser um longo dia.

— Você diz isso como se não gostasse de foder com os Espíritos dos outros. — Sol apareceu ao lado de Titus e sua expressão combinava com seu tom rude. — Ah, mas espere, é isso que sua espécie faz de melhor.

Ai. Fiz uma careta para ele.

— O que você quer dizer? Que eu quero entrar no reino do Espírito e machucar as pessoas? — Porque isso estava longe de ser verdade. Só estávamos fazendo isso para obter respostas de minha mãe. — Você não acha que eu tomaria outro caminho se tivesse escolha? — Minha mãe não apareceu mais desde aquela noite agitada. E, francamente, eu queria que nosso próximo contato fosse nos meus termos, não nos dela. Essa era a melhor maneira de fazer isso acontecer.

— Nem todos nós gostamos de infligir tortura aos outros — Cyrus acrescentou calmamente. — Posso ver as cicatrizes em seu Espírito. O que estamos fazendo hoje não afetará ninguém dessa maneira. Eu juro.

Sol semicerrou os olhos para meu companheiro de Água.

— Espero que não. — E com isso, ele saiu pisando duro. Sua agitação estava clara na forma como a pedra reverberava sob seus passos.

Vacilei, sentindo meu peito doer como se ele tivesse atirado uma flecha em mim.

— Ele acha que eu faria isso?

— Não, ele acha que nós faríamos. — Exos beijou minha testa. — Confie em mim, a raiva dele não é dirigida a você.

— Não foi o que me pareceu. — Ele nem olhou para mim, muito menos respondeu ao meu comentário.

— Vou falar com ele — Titus prometeu, se afastando da porta. — Sol só deve estar de ressaca por conta de todo aquele hidromel que tomou na noite passada. — Ele balançou as sobrancelhas. — Vox e eu vamos preparar um café da manhã. Ele estará como novo quando você voltar.

— Tenho certeza de que é mais do que ressaca — resmunguei. Sol sempre pareceu estar nervoso com Exos e Cyrus, mas eu nunca soube por quê. E o comentário de Cyrus sobre as cicatrizes dele era novidade para mim. Eu nem sabia o que ele queria dizer.

Como alguém deixa cicatriz em um Espírito?, eu me perguntei.

Vamos explicar hoje, Exos respondeu com outro beijo na minha cabeça. É uma das partes mais sombrias do nosso poder.

Como ressuscitar os mortos?, perguntei.

Senti sua carranca. Não. Isso seria magia sombria.

— Vamos — Cyrus encorajou, passando o braço em volta dos meus ombros. — Temos um longo dia pela frente.

Soprei um beijo para o meu companheiro de Fogo. Ele o pegou e o levou para seu coração antes de repetir o gesto. Com um sorriso, permiti que Cyrus e Exos me conduzissem pelo corredor.

— Aonde estamos indo?

Exos entrelaçou seus dedos nos meus enquanto dizia: — Vox sugeriu um lugar onde não seremos perturbados.

Sorri ao pensar no meu companheiro do Ar. Foi difícil deixá-lo na cama esta manhã, mas ele parecia tão em paz entre os...

— Você ainda está aqui? — uma voz profunda questionou quando entramos no foyer.

Exos se virou para a fonte com uma sobrancelha arqueada.

— Estamos, sim. Algum problema, Notus?

O pai de Vox semicerrou os olhos cor de ébano para mim, ignorando Exos por completo.

— Você já não fez o suficiente para desgraçar minha família, Halfling? — Ele praticamente cuspiu o nome como se fosse uma maldição. — Você já arruinou nosso nome e roubou meu filho. Acho que está na hora de você ir embora.

Franzi o cenho.

— Uau, você é charmoso. — E um idiota completo também. — O Vox me contou sobre suas reservas em relação ao nosso relacionamento, e eu realmente sinto muito por você se sentir assim. Mas não fiz nada para arruinar o nome da sua família. Quanto a roubar seu filho, acredito que ele fez essa escolha sozinho.

— Sim — Vox concordou, surgindo atrás de nós com o vento soprando ao seu redor enquanto invocava seu dom para fortalecer a postura.

Os lábios de Notus se entreabriram com a demonstração de energia do Ar.

— Você está acessando a fonte.

— Por causa da Claire — ele respondeu de forma categórica. — A minha companheira Halfling. Aquela que você escolheu menosprezar e desprezar porque não é parte da realeza que você sempre desejou. Que interessante que os elementos a favoreçam.

Minhas bochechas esquentaram quando ele me deu um sorriso indulgente.

— Sim, me parece que Claire só poderia ter ajudado com o nome da família — Exos disse, seu tom cheio de autoridade. — Mas depois da hospitalidade que recebemos aqui, posso garantir que isso nunca acontecerá. — Ele olhou para Cyrus. — Sugiro que mudemos nossa lição para outro reino, já que claramente não somos mais bem-vindos aqui.

— Tenho certeza de que meu pai nos acomodaria — ele respondeu, sem perder o ritmo. — Ele também ficará incrivelmente intrigado com esta reviravolta.

Exos assentiu enquanto Notus gaguejava tolices. Quase quis ouvir o que ele tinha a dizer. Mas não valia a pena. Ele deixou sua opinião clara e não havia absolutamente nada que pudéssemos fazer para mudá-la.

— Informarei aos outros sobre nossa mudança de planos e nos encontraremos na Academia esta noite — Vox falou, ignorando o pedido de desculpas de seu pai – ou foi o que presumi que ele estava tentando dizer. Talvez fosse apenas mais um insulto. Nesse ponto, eu não me importava mais. Vox estava feliz, e isso era tudo que importava para mim.

— Provavelmente será amanhã — Cyrus disse. — Precisamos de tempo para nos recuperar antes de viajarmos novamente. Felizmente, meu pai é um anfitrião hospitaleiro. — Esse último comentário foi lançado na direção de Notus. — Nos encontraremos lá, Exos.

O mundo se dissolveu ao nosso redor enquanto Cyrus nos envolvia com sua habilidade de nebulização e nos teletransportava com a facilidade de um Fae experiente. Eu não tinha aprendido a fazer isso ainda, mas adorava a sensação – era como nadar sem esforço em um riacho. Só que sempre chegávamos secos.

Nos materializamos no meio do quarto de Cyrus ao som acolhedor da cachoeira no canto. Eu me lembrava vagamente do tempo que passei aqui, aquela canção tranquila de Água em movimento enquanto fazíamos amor em seus lençóis de seda.

Ele capturou minha boca em um beijo, confirmando que seus pensamentos haviam se aventurado à mesma lembrança enquanto ele repassava aquelas noites sensuais com sua língua contra a minha. Me derreti em seu corpo, adorando as sensações que ele provocava dentro de mim e desejando me entregar a muito mais.

Mas uma batida forte na porta interrompeu o momento.

Cyrus suspirou, passando os dedos pelo meu cabelo.

— Exos ainda vai levar uma hora para chegar aqui. Ele está aguardando o transporte Fae.

— Porque você não pode nebulizá-lo, certo? — Não era algo que eu entendia por completo.

— Somente Faes da Água podem nebulizar, pequena rainha. — Ele me deu um tapinha no nariz e um último beijo nos lábios. Em seguida, foi abrir a grande porta de madeira, revelando seu pai do outro lado.

— Já de volta? — o rei perguntou.

— O que posso dizer? Eu amo este lugar — Cyrus brincou. Em seguida, ele informou sobre falta de hospitalidade de Notus e continuou, contando o que havíamos planejado para hoje. Seu pai não pareceu alarmado, me dizendo que Cyrus já havia revelado suas suspeitas sobre Elana.

Tudo o que o rei fez foi assentir.

— Me avise se eu puder ajudar em alguma coisa. — Seus olhos azuis – da mesma cor dos de Cyrus – focaram em mim. — É bom ver você saudável, Claire.

Não tínhamos nos encontrado adequadamente da primeira vez, resultado do meu estado de quase morte. Mas este homem não só ajudou a salvar minha vida, mas também encorajou Cyrus a se unir a mim.

— Obrigada, senhor — eu disse, sentindo a garganta ficar seca. — Pelo elogio e tudo mais.

Ótimo, Claire, me repreendi. Ótimo mesmo.

O Rei da Água sorriu. Sua diversão era palpável.

— Confie em mim, sou eu quem deveria te agradecer. — Ele olhou para meu companheiro. — Você fez o meu filho crescer.

Cyrus zombou.

— Eu cresci há muito tempo.

Seu pai assentiu.

— Bem, isso é verdade. Mas tenho que agradecer a ela por você aceitar seu lugar de direito. — Havia um tipo de insinuação nessas palavras – algo que fez Cyrus endireitar um pouco a postura.

— Agora não é o momento para isso — ele respondeu por entre os dentes.

— Eu sei. Mas vamos precisar definir uma data em breve, Cyrus. O desequilíbrio de poder deve ser corrigido. — O olhar que ele deu ao filho não foi tão amigável quanto há alguns instantes, mas sim de uma severa advertência paternal. — Logo — ele repetiu. Em seguida, se despediu com um casual: — Vou pedir a Coral para fazer os preparativos para o jantar.

— O que ele quer dizer com “desequilíbrio de poder”? — perguntei depois que a porta se fechou.

Cyrus passou os dedos pelos cabelos, soltando um longo suspiro.

— Nosso acasalamento desequilibrou a balança. — Ele deu um passo à frente, envolvendo os braços na minha cintura e olhando para mim com um sorriso nos olhos. — Somos fortes juntos, Claire. Mais fortes que todos neste reino, incluindo meu pai. Mas com essa força vem um preço.

— Sua coroação — concluí.

Ele assentiu.

— Sim, mas isso pode esperar. — Ele encostou a testa na minha. — Temos coisas mais importantes com que nos preocupar agora.

Como minha mãe, pensei. E Elana.

— Sua coroação é importante também — eu apontei. — E a ascensão do Exos não mudou muito as coisas, certo? A sua será muito diferente?

Ele deu uma risadinha e balançou a cabeça.

— Ah, pequena rainha, você não tem ideia. — Ele acariciou meu braço, pegou minha mão e me puxou para a varanda que circundava o quarto. As ondas batiam nas costas lá embaixo, desaguando em riachos que cortavam a cidade ao nosso redor.

Uma cidade gigante.

Maior que o Reinos do Espírito e o do Ar combinados.

Meus lábios realmente se entreabriram. Não tinha visto nada disso durante minha última visita. Ou, pelo menos, não me lembrava.

— Uau, Cyrus, é lindo.

— É o maior reino de todos os Faes — ele acrescentou, agarrando meus quadris e me puxando de encontro a seu corpo. — Isso tudo um dia será nosso, Claire. Mas com grande poder vem uma grande responsabilidade.

— E você nunca quis o cargo — comentei. — É por isso que escolheu o Reino do Espírito.

— Mais ou menos. Os Faes do Espírito precisavam de mim mais do que os Faes da Água, mas eles têm o Exos agora. O que me deixa assumir minhas responsabilidades aqui, com você. — Seus lábios roçaram minha bochecha antes de colocar o queixo na minha cabeça. — Ser rainha deste mundo exigirá sacrifícios, Claire.

Enrijeci, não gostando desse termo – sacrifício.

— Que tipo de sacrifícios, Cyrus?

Ele suspirou, seu cheiro refrescante provocando minhas narinas enquanto ele me abraçava.

— Por um lado, seremos obrigados a produzir um herdeiro. E como você tem vários companheiros, dividir o tempo entre os reinos será difícil. Pode haver casos em que eu tenha que permanecer aqui enquanto você se aventura no Reino dos Espíritos com Exos. Nossas vidas exigirão certas funções formais, aquelas destinadas a unir nossa espécie Fae. Não vou mentir para você, Claire. Vai ser difícil.

Eu me virei em seus braços e olhei para ele.

— Mas vamos fazer dar certo.

— Isso nunca foi uma questão — ele respondeu, com um sorrisinho curvando seus lindos lábios. — Como você se sente sobre a parte do herdeiro?

A ideia de dar filhos a Cyrus me deixou excitada, mas levantou uma questão pertinente.

— Como saberemos que é seu?

— Nós saberemos — ele murmurou.

— Como? — pressionei, realmente curiosa. E então um pensamento horrível me atingiu. — Espere, devo usar proteção?

Ele deu uma risadinha.

— Não, pequena rainha. Temos isso bem tratado do nosso lado.

— O que isso quer dizer?

Outra risada quando ele balançou a cabeça.

— Os machos Faes controlam a reprodução, pelo menos os Faes Elementais. Você não vai ficar grávida até que um de nós decida que é hora, o que, acredite em mim, será uma conversa em grupo.

Pisquei para ele.

— Machos Faes... — Sim, eu não consegui terminar a frase.

— Não somos humanos — acrescentou, passando o dedo pela minha orelha pontuda. — E nem você, minha querida.

Tudo bem. Essa parte eu aceitei.

— Mas você pode controlar isso?

Seus lábios se curvaram novamente.

— Sim, pequena rainha. Posso controlar algumas coisas. Você gostaria de uma demonstração?

Arregalei os olhos.

— Agora?

Ele riu abertamente.

— Não vou te engravidar, mas é bom saber sua posição na discussão sobre gravidez.

— Quer dizer, não sou contra. Mas... eu não... quero dizer, ainda não está na hora. Certo? Só estou...

Sua boca silenciou a minha com um beijo que parecia uma carícia sedutora, me fazendo derreter nele por instinto. Minutos se passaram. Talvez horas. Eu sempre me perdia no tempo quando Cyrus me tocava, mas de alguma forma permanecíamos vestidos, nossas línguas falando enquanto o som calmante das ondas rolava à distância.

Meu Cyrus, pensei, adorando seu toque.

Minha Claire, ele respondeu, apoiando a mão nas minhas costas. Eu te amo.

Eu também te amo, sussurrei, meus braços envolvendo seu pescoço. O que você precisar, sou sua. E falei de coração. Se ele queria um herdeiro, eu lhe daria. Se precisássemos misturar os reinos para manter todos felizes, eu também faria isso. O que quer que ele precisasse, eu proporcionaria a ele. Assim como eu sabia que ele faria o mesmo por mim e pelos outros.

Meu círculo de companheiro.

Minha vida.

Meus amores.


A Academia parecia vazia sem Claire.

Não, era errada.

Principalmente porque ela estava prestes a passar por uma jornada perigosa sem mim. Eu confiava em Exos e Cyrus, mas odiava não poder ajudar.

E pior, eles me deixaram bancando a babá de um Vox arrogante e um Sol mal-humorado. O primeiro estava agindo como um Fae que tinha acabado de descobrir seus poderes enquanto o último não parava de murmurar sobre a “porcaria do Espírito Fae”.

Por que se tornou minha responsabilidade manter este círculo de companheiros juntos e felizes?

Esfregando as têmporas, resmunguei: — Isso não é trabalho do Exos?

Vox parou de picar os ingredientes na cozinha – de sua posição na bancada – e enviou uma rajada controlada para cortar os vegetais no balcão. Ele sorriu, orgulhoso de seu novo truque, e se concentrou em mim enquanto a refeição se preparava apenas com o Ar.

Daí o arrogante Fae do Ar.

— Qual é o trabalho do Exos? — Vox perguntou. — Fazer o jantar? Por que esse seria o trabalho dele?

— Exos — Sol repetiu, curvando os lábios em aborrecimento. O solo retumbou, provocando uma nova rachadura nas colunas do Dormitório dos Espíritos. Ele cerrou e abriu os punhos enquanto seus olhos brilharam com raiva crescente.

— Qual é o seu problema? — questionei, já exausto. Não fazia nem uma hora que voltamos da Academia. — É como se você estivesse prestes a implodir. E você — apontei para Vox — não para de jogar facas invisíveis por aí. Se uma dessas me cortar...

Uma rajada de vento passou entre minhas pernas, me fazendo estremecer de surpresa. Fae do Ar filho da mãe.

Vox sorriu.

— Não tenho ideia do que você está falando.

Peguei uma bola de fogo e mirei na refeição cuidadosamente preparada por ele.

— Não me faça queimá-la para lhe ensinar uma lição.

Vox ajeitou a postura, aparentemente intrigado com o desafio. Seus olhos brilharam em tom prateados quando lancei o ataque, mas o Fogo se extinguiu no Ar antes de ter a chance de chegar ao alvo. Apenas uma leve brisa revelou que Vox havia feito alguma coisa.

Suspirei.

— Eu gostava mais quando você era taciturno. — A colisão com seu poder – e sua confiança – que a influência de Claire estava me dando nos nervos.

Sol bateu com o punho na mesa, quebrando-a ao meio enquanto ele se levantava.

— Não consigo pensar direito com vocês dois por aí — ele grunhiu e passou por mim, provocando um choque doloroso no meu ombro.

Olhei para Vox com a sobrancelha arqueada.

— Não olhe para mim. — Ele ergueu as mãos em sinal de rendição. — O Sol está de mau humor o dia todo. Provavelmente está só de ressaca.

— É mais do que isso — falei, me virando e seguindo o Fae da Terra para fora.

Sol invadiu a arena de treino enquanto rochas pontudas voavam no ar ao seu redor. O arrepio de poder que permeou o solo fez meus pelos da nuca se arrepiarem, mas eu o segui mesmo assim.

Apenas um Fae da Terra zangado... posso lidar com isso.

— Sol — eu o chamei, na esperança de tirar o Fae de qualquer depressão em que estivesse. — O que te deixou tão nervoso?

Ele rangeu os dentes e sua mandíbula flexionou. Vox se posicionou na beira do quintal para nos observar enquanto seus olhos brilhavam com uma forte faixa prateada que dizia que ele interviria se eu precisasse.

Pela forma como o chão tremeu, era provável.

Sol bateu com o pé, e outra coluna de terra rachou, espalhando poeira e pedrinhas por toda parte. Levantei a mão para proteger meu rosto com uma coluna de fogo.

— O Espírito é perigoso! — Sol rugiu. — Você não sabe. Não entende. Você não estava lá! — Ele soltou um grito gutural enquanto corria para mim com o punho cerrado.

Eu me esquivei do impacto. E notei a leve rajada de ar que me ajudou a sair do caminho na hora certa. Sem isso, poderia ter perdido a cabeça.

— Vá se foder, Sol! — Ele passou perto demais. — Você acabou de tentar me dar um soco? — questionei.

O peito do Fae da Terra arfou com tanta raiva reprimida que fiquei surpreso que ele pudesse ficar de pé. Eu já tinha visto aquele olhar. Ele indicava anos de raiva reprimida e tristeza. Era o tipo de expressão que costumava aparecer na Arena Sem Poder.

— Sol — chamei novamente enquanto recuperava o bastão que Claire tinha me dado. Eu tinha acabado de colocar o presente aqui, esperando ter a chance de brincar com ele mais tarde. Era melhor usá-lo agora. Ele se iluminou com uma onda agressiva de calor azul enquanto eu o girava na palma da mão. — Por que não me diz o que está acontecendo?

Sol olhou para mim e Vox como se houvesse respostas fora de alcance.

— Eu... — Ele segurou a cabeça e gemeu. — A Claire não pode fazer isso. Ela não pode passar pelo que passei... Ela não... Ela pode não sobreviver.

— Ela é uma Fae do Espírito — eu o lembrei. — Vai ficar bem.

— Não, não. Você não entende. Nenhum de vocês sabe. Você não... todos morreram. Cada um deles morreu. — Sol caiu de joelhos, rachando a terra com o movimento. — E isso doeu.

Olhei para Vox para ver se ele poderia me dizer do que é que Sol estava falando.

A expressão de horror no rosto do Fae do Ar me disse que sim.

— Sua família — ele sussurrou.

— Todos eles — Sol murmurou, o som falhado. — Você não sabe o que é tê-los em sua cabeça, em sua alma, e não saber o que eles fizeram. Tudo o que se sente é uma dor imensa. E eu nem sei quem fez isso. Quem me tocou. Quem me deixou com todas essas cicatrizes.

Ah, merda. Quer dizer, eu sabia que o Fae da Terra tinha alguns problemas com controle, e sim, ele era um pouco mal-humorado às vezes, mas achei que era parte de seu charme equivocado. Mas isso? Não era algo que eu teria imaginado.

Sol gemeu como se estivesse com dor, e o chão tremeu novamente, desta vez formando crateras pontiagudas que espiralaram para baixo.

— Um Espírito Fae nos dilacerou. E a praga os matou, mas de alguma forma, eu sobrevivi. E eu nem sei por quê.

A praga. Ele está falando sobre a praga. O Fae da Terra passou pelo pior de tudo – depois do Espírito Fae. No entanto, Sol parecia não ter sido tocado por ele. Daí seu tamanho, força e habilidade.

Mas o que ele descreveu soou como se ele também tivesse sido vítima. Apenas de uma variedade diferente de tortura.

Ele soltou um suspiro e seus ombros arquearam enquanto uma cascata de rachaduras corria pelo pátio de treinamento que ameaçava chegar ao dormitório.

Se o gigante continuasse assim, iria demolir todo o esquadrão.

— Certo, Sol, você precisa respirar fundo, cara. A Claire está com o Cyrus e o Exos. Sei que eles são idiotas, mas provaram ser Faes confiáveis. Ela está em boas mãos, amigo. Ou eu ficaria tão chateado quanto você. Entendeu?

Sol semicerrou os olhos para mim e rangeu os dentes novamente, enviando um estrondo para me desequilibrar.

Certo, então essa abordagem não funcionou.

Enfiei o bastão no solo e emanei meu Fogo nele, derretendo a rocha de volta no lugar.

— Olha, se você ama a Claire, tem que parar com isso. Ela é uma Fae do Espírito. Você não pode simplesmente...

Quando o calor do meu Fogo atingiu Sol, ele se levantou com uma explosão de terra e poder.

Bem, talvez o fogo fosse uma ideia ruim.

Ele rugiu enquanto corria em minha direção. Suas pernas enormes ganharam força em um borrão aterrorizante de velocidade que eu não teria creditado ao titã.

Me esquivei dele – desta vez, sem a ajuda de Vox – e girei meu bastão, criando um escudo de fogo para nos separar. Sol se contorceu enquanto tentava me alcançar, mas a posição o desequilibrou.

Humm, quanto maiores eles são, com mais força eles caem. E Sol precisava que um pouco de bom senso o atingisse. Bati com o bastão em seus tornozelos na tentativa de derrubá-lo.

O bastão encontrou panturrilhas duras como pedra, e o estalo reverberou pelo meu braço, fazendo meus dentes se chocarem.

Sol agarrou a arma, ignorando as chamas que o engoliram enquanto ele me puxava para mais perto.

Isso não é bom.

Eu me abaixei quando outro soco passou voando pela minha cabeça e bati com a palma da mão no chão, despejando meu Fogo nele. Sol cambaleou quando a rocha derreteu e solidificou ao redor de seus tornozelos, prendendo-o.

Ele se mexeu descontroladamente, desta vez me acertando nas costelas. Teria quebrado algo se o ar de Vox não tivesse suavizado o golpe, algo que eu teria que agradecer a ele mais tarde.

Outro soco, seguido de mais outro, e tudo que encontrei foi fúria e dor enquanto Sol liberava sua raiva. Os ventos não poderiam detê-lo para sempre, e os gritos de Vox ecoaram pelo pátio de treinamento, mas o Fae da Terra não estava ouvindo.

Levantei o bastão e coloquei todo o meu calor nele, pensando em Claire e na paixão de nossos Elementos juntos. O flash cegou a mim e a Sol, fazendo com que o gigante rugisse de indignação enquanto pegava o instrumento e o partia ao meio.

O impacto roubou minha respiração.

Aquilo foi um presente de Claire, e ele simplesmente... o quebrou.

Sol pareceu congelar, atordoado quando as metades da minha arma caíram no chão.

— Você o quebrou — sussurrei, incapaz de mascarar a dor em meu tom. Claire me deu aquele bastão de presente, e agora...

Eu pisquei.

— Como você pôde fazer isso? — questionei. — Como pôde fazer isso com a Claire? Comigo? Qual é o seu problema? — Eu o empurrei e a pedra cedeu aos seus pés quando ele tropeçou.

Sol parecia tão acabado quanto meu bastão. Ele olhou para o chão.

— Merda. — Ele agarrou seu cabelo e soltou um suspiro longo e rouco. — Merda.

Sim, o eufemismo da tarde.

— Sério, o que há de errado com você?

O gigante balançou a cabeça.

— Tudo e nada. — Ele segurou a nuca e finalmente encontrou meu olhar. — Você não entende o que é ver todos ao seu redor morrendo e não ter ideia do porquê você sobreviveu. Mas eu sinto as marcas disso todos os dias – seja o que for que o Espírito Fae fez à minha alma, me danificou tanto que nem mesmo a praga quis me tocar.

— Mas a Claire não é assim — Vox sussurrou. — Você sabe que não. E nem Exos ou Cyrus.

Sol estremeceu visivelmente e suas bochechas coraram.

— Eu sei. Eu... simplesmente não sei quem fez isso. Ou por quê. E agora estão ensinando a Claire como fazer exatamente o que quase me destruiu. O que estou convencido de que criou a praga entre minha espécie, não que eu tenha alguma de prova.

Ele chutou uma pedra e sua tensão cresceu novamente. Mas ao invés de me atingir, ele apenas estufou o peito com outro daqueles suspiros violentos.

— Sabe a pior parte? — ele perguntou, mais para si mesmo do que para mim. — Eu nem me lembro do que aconteceu. Exatamente o que vejo em meus pesadelos. Eu não poderia nem te dizer quem fez isso comigo. Essa pessoa ainda pode existir, pode estar perseguindo nossa Claire, e eu não tenho ideia.

Ele se abaixou para pegar os pedaços do meu bastão e seus ombros caíram novamente.

— Não é culpa dela. Sei disso. Não é de ninguém, além do idiota que fez isso comigo. É só que... é difícil. — Ele uniu as duas metades e sua magia da terra ganhou vida. — Me deem um pouco de Fogo e Vento — pediu, se concentrando nos fragmentos estilhaçados. — Me ajudem a consertar isso.

Franzi o cenho enquanto ele alisava a madeira, colando-a com uma centelha de poder que arrepiou meus pelos. Adicionei minhas chamas, ajudando a derreter o material enquanto Vox as guiava com seu Vento.

E em segundos, o bastão estava como novo. Apenas com alguns elementos adicionados à mistura, tornando-o não apenas um presente de Claire, mas um produto de nós três também.

Sol o jogou para mim.

— Você pode precisar que o Cyrus adicione um pouco de Água ao ponto que quebrou para garantir que o Fogo não o destrua novamente. Tirando isso, está firme.

— Obrigado — falei, um tanto satisfeito por ter minha arma de volta. Girei uma vez para testar o equilíbrio e infundi meu calor, observando enquanto ele cintilava sem esforço com uma sombra azul. — Vai servir.

Ele assentiu.

— Que bom. — Ele olhou para o céu e depois para nós. — Só para deixarmos claro, se alguma coisa acontecer com a Claire durante esta lição do Espírito, alguém vai pagar muito caro.

Eu sorri.

— Nisso, nós concordamos.

— Que bom — ele repetiu, tirando alguns entulhos de seu ombro e girando o pescoço. — Que tal tentarmos de novo, Fae do Fogo? Tenho muita raiva para queimar, e você parece capaz me enfrentar. Pelo menos um pouco.

— Um pouco? — Arqueei as sobrancelhas. — Quer mesmo usar essas palavras?

— Prove que estou errado e mudarei a frase — ele zombou.

Sorri e joguei o bastão para o lado. Armas não eram necessárias para uma luta amigável. E, bem, eu não confiava nele para não quebrar o bastão novamente. Especialmente porque não funcionou muito bem da primeira vez.

— Vamos lá, Fae da Terra.

Sol sorriu e, pela primeira vez hoje, foi verdadeiro.

— Vou acabar com você, Fae do Fogo.

Vox ficou sentado nos olhando com um sorriso gigante no rosto.

— Me avisem quando for minha vez. Acho que vou gostar deste jogo.

Claro que sim.

Fae do Ar arrogante.


— Muito bem, Claire. Preciso que você feche os olhos. — O tom caloroso de Exos ecoou pelo quarto de Cyrus. Sua voz soou muito mais distante devido à batida caótica em meus ouvidos. — E respire para mim — ele adicionou suavemente, passando a palma da mão para cima e para baixo no meu braço nu.

Cyrus se sentou ao meu lado, com a mão apoiada em minhas costas enquanto Exos conduzia o exercício.

Engoli a saliva e foquei no conforto da presença deles. Aqui era tão pacífico, com o fluxo suave da cachoeira escorrendo para a fonte improvisada no canto. A magia existia ao nosso redor, tocando o ar com uma névoa feliz que acalmou minha alma.

Lentamente, minha frequência cardíaca voltou ao normal.

Inspire.

Expire.

Repita.

Eu não sabia dizer de onde as palavras vinham, mas se era de mim, Exos ou Cyrus, não importava. Segui o conselho, aliviando meu Espírito e relaxando entre meus dois companheiros.

Um deles tocou meu cabelo.

O outro deu um beijo no meu ombro.

Senti as almofadas pressionarem minha coluna enquanto eles me empurravam de leve na pilha de travesseiros feita no chão.

— Olhe para dentro de você, Claire. Procure o elo do Espírito que nos une como um — Exos instruiu em voz baixa. A proximidade de sua voz me disse que ele também tinha se deitado. A palma da sua mão foi para o meu estômago e o calor da sua pele me marcava através do vestido fino sem alças.

Cyrus descansou do outro lado sem me tocar, me dando o espaço que eu precisava para me conectar com seu irmão.

Com uma respiração profunda, puxei o fio elementar que me ligava a Exos. Senti seu sorriso e suspirei quando ele roçou seus lábios nos meus.

— Siga o elo, baby. Venha brincar comigo.

Ele fazia aquilo parecer tão simples.

E na verdade, era.

Segui o elo até nosso lugar especial, aquele onde apenas nossas almas podiam alcançar.

Mas a presença de Cyrus permaneceu lá.

Uma onda azul-escura no horizonte, poderosa e silenciosa.

Exos me encontrou primeiro, seu Espírito familiarizado com o meu e alcançando minha mão como se estivéssemos um ao lado do outro. E talvez estivéssemos. Assim como nossas aparições.

Este é o plano espiritual, ele explicou baixinho. Mas é o nosso lugar seguro, Claire. Aquele que as nossas almas construíram apenas para nós. Lá fora, onde Cyrus nos espera, é o Reino do Espírito que abriga a fonte de poder.

Então vi a luz que cintilou com intensidade, acenando para nos aproximarmos. Como um raio de sol viciante que provocava nossa aura, implorando por uma chance de banhar nossa pele com energia hipnótica.

É perigoso, Exos continuou. O fascínio pode oprimir um Fae não treinado. Particularmente alguém que não está acostumado a ficar tão perto.

No entanto, Cyrus parecia imperturbável.

Assim como Exos.

Mas eu senti a atração, a sede para explorar e me entregar a uma essência proibida. Para me consumir no âmago e nunca mais soltar.

Foi inebriante.

A cada passo, meu desejo crescia. Meu coração começou a bater quase dolorosamente no peito, o desejo de me perder na vitalidade deste plano quase esmagando minha capacidade de pensar.

Até que Exos entrou no meu caminho, bloqueando minha visão. Concentre-se em mim, Claire.

Pisquei para ele como se tivesse acordado de um sonho. O desejo ainda persistia, era uma atração letal para me mover correr em direção aos raios vibrantes. Ele segurou meu rosto e seu toque firmou meus instintos. Me inclinei em sua direção, absorvendo sua força e conhecimento, confiando nele para me conduzir em direção a Cyrus e para longe da bola magnética que representava a vida.

Este é um plano que apenas os Espíritos Fae podem acessar, e a maioria só pode se mover perto do centro antes de ser atraído de volta à sua forma corpórea, Exos murmurou. No entanto, meu direito de nascença nos coloca diretamente na fonte, sempre que nos aventuramos neste reino. É por isso que você deve ter cuidado para nunca fazer isso sozinha, não até que esteja mais treinada para lidar com a atração.

Entendo, respondi. E entendia mesmo. Este não era um lugar que eu gostaria de visitar sem Exos ao meu lado. Eu podia senti-lo me firmando, tanto na mente quanto no Espírito, seu toque era um peso para me manter presa ao seu lado.

A partir daqui, você tem acesso a toda a vida, Claire. Você se lembra de nossa conversa sobre o Fae Sombrio? Não apenas Faes Elementais, mas todos os tipos de Faes. É por isso que nossa espécie é frequentemente reverenciada e temida por outros seres sobrenaturais. Porque, no final de tudo, nós controlamos a vitalidade do tipo Fae.

Tropecei com suas palavras e entreabri meus lábios. Todos eles?

Ele assentiu. Mas a maioria empregou runas protetoras para evitar que o Espírito Fae interfira em suas vidas. Não que seja realmente necessário. Apenas as linhagens mais fortes podem ultrapassar as barreiras para as outras espécies de Faes.

Exos parou no caminho e esticou o braço em direção a um fio translúcido de fumaça. Ele deu um puxão, trazendo uma aura mais escura em nossa direção.

Isso leva aos Fae da Meia-Noite, aqueles que você chama de vampiros. Eles têm proteções para identificar uma brecha em nossas terras que eu poderia contornar com muita concentração. Mas não adianta alterar suas vidas, já que são muito diferentes das nossas.

Ele soltou a corda escura e pegou outra, mais leve, da cor de um branco imaculado.

Faes Fortuna, disse. Eles preveem o futuro e não exigem nenhuma runa. Porque me veriam chegando antes mesmo de eu tentar.

Exos selecionou um punhado de linhas, nomeando os diferentes tipos e associando-os à suas cores antes de lançar seus fios. Todos pareciam acenar ao nosso redor, zumbindo perto do centro vibrante, esperando para serem manipulados.

Mas eram os elementais que pareciam se contorcer enquanto ele acariciava o ar com os dedos.

Suas almas reconhecem nosso poder, ele disse. Ao contrário dos outros, não há nada de estranho em nosso toque, e eles quase acolhem nossa interferência, nossa fonte de vitalidade. Ele pegou um que zumbia perto de mim, o fio parecendo quase puído nas pontas. Exos franziu o cenho enquanto estudava os padrões, seu olhar cintilando para Cyrus. Um Espírito Fae poderoso fez isso.

Sim, Cyrus concordou.

Fez o quê? Eu perguntei, acariciando suavemente o cordão e reconhecendo a energia da Terra vibrando de forma protetora dentro dos fios.

Você reconhece isso? Exos questionou, liberando a alma em minhas mãos e sorrindo enquanto a essência se enroscava em meu braço como uma videira amorosa, deslizando para descansar perto do meu coração.

Uma lágrima se formou em meus olhos quando o nome soprou em meu Espírito. Sol.

Humm, Exos murmurou em confirmação ao capturar um flash de luz na palma da mão. A bola se desenrolou no piscar de uma chama que ele lançou em meu ombro.

Titus, reconheci imediatamente. E o que está pairando perto de sua cabeça é o Vox.

Sim, é como se ele estivesse me supervisionando, mesmo de longe, Exos refletiu, provocando o Espírito com um sopro de Ar.

Eles podem nos sentir?

Ele balançou sua cabeça. Podem sentir que estamos perto, mas não podem acessar este plano.

Seus Espíritos são inteiramente vulneráveis à nossa influência, Cyrus acrescentou, e a palma da sua mão, embalando um fio líquido de ondas poderosas.

Seu pai, concluí.

Sim. Ele colocou a essência em seu ombro, observando enquanto Vox flutuava mais perto de mim. Aqueles da nossa linhagem gravitam para nossa presença automaticamente. E parece que seus companheiros também te encontraram.

Mas eles não podem nos sentir, eu disse, perturbada. Esse é um conceito assustador.

É, Exos concordou. É por isso que entrar neste plano deve ser feito apenas com um propósito.

Fazer o contrário seria um abuso de poder, Cyrus acrescentou. Mas é aqui que alguém manipularia outro ser, porque o acesso à alma permite que você controle a mente.

Foi assim que Elana questionou Ignis e suas amigas, Exos acrescentou. Ela entrou neste plano para acessar suas almas e forçar a verdade a vir à tona.

E foi também como ela fez todo mundo congelar no ginásio. Estremeci, me lembrando de como todos se curvaram e permaneceram assim até que ela os soltou. Ela comandou muitas almas.

Uma demonstração de poder. Exos ergueu o braço e um enxame de energia agarrou-se a ele em um instante, incluindo as almas que estavam se agarrando a mim. Requer prática, mas invocar o Espírito dos outros não é uma tarefa difícil. Ele os liberou tão rapidamente quanto os convocou, sua expressão irradiando um brilho majestoso que me tirou o fôlego.

Talvez agora você entenda por que tantos têm medo de nós, Cyrus sussurrou.

Engoli em seco, balançando a cabeça. Sim. Porque isso era assustador. Exos nem precisava pensar em chamar todas aquelas vidas para si. Então me ocorreu a facilidade com que ele poderia comandar os Faes, manipular suas mentes de acordo com sua vontade e assumir o controle de todo o mundo elemental. Talvez até mais.

No entanto, ele permaneceu equilibrado e no controle.

Sempre.

Não admira que você seja tão obstinado, fiquei maravilhada. Vocês dois.

Exos riu. Ah, Claire, poderíamos dizer o mesmo sobre você.

Ele me puxou para si e passou os dedos pelo meu cabelo, ou o que parecia ser meu cabelo. Éramos só projeções de nós mesmos, mas eu o senti me tocar no quarto de Cyrus. Seu corpo era como uma manta de calor protetor ao lado do meu.

Vamos tentar chamar sua mãe, ele sugeriu baixinho. Como Cyrus disse, nossa linhagem chega até nós automaticamente, assim como qualquer um de nossos companheiros. Então ela deve estar pairando por perto.

De alguma forma, eu duvidava que fosse tão fácil. Como faço para encontrá-la?

Pense nela, Exos respondeu. Imagine-a em sua mente. Chame-a até você.

Certo. Pensei no baile, na maneira como ela apareceu para mim, e me perguntei se isso se assemelhava ao seu estado atual. Tão idosa, frágil e nada parecida com a foto que vi quando criança. Mas nada aconteceu, as únicas almas que pairavam ao meu redor eram as pertencentes aos meus companheiros. Sorri enquanto Titus roçava minha bochecha, seu Fogo deixando uma brasa como um beijo.

Sol continuou a girar ao meu redor como se tentasse se enraizar em minha alma. Talvez ele também estivesse. Ainda não estávamos totalmente ligados. Logo, prometi a ele. Meu Sol.

E havia Vox, que continuava pairando perto de Exos, sempre vigilante.

Sorri com a perfeição deles, do meu círculo de companheiros Faes. Mesmo aqui, eles agiam como eu esperava.

Até que uma perturbação retumbou entre nós, fazendo com que todos piscassem ao meu redor em um escudo de calor protetor.

Cyrus se moveu para o meu lado, Exos se juntou a ele. Suas expressões eram duras.

Me diga que isso é normal, pedi, agarrando as mãos deles enquanto outro tremor ameaçava meus pés.

Não tenho o hábito de mentir, Claire, Cyrus respondeu, apertando os meus dedos. Sua mãe está tentando atender ao seu chamado, mas algo a está impedindo.

Algo poderoso, Exos acrescentou, erguendo o braço enquanto ordenava ao Espírito que aparecesse. Eu senti ao invés de ouvi-lo, o poder irrompendo dele severo e consumindo tudo. Isso ameaçou roubar meu fôlego, fazendo meu coração pular descontroladamente no peito.

Exos...

Deixe-o se concentrar, Cyrus murmurou. Seu aperto parecia concreto enquanto o vento soprava ao nosso redor em um violento redemoinho de energia.

Senti a luta em Exos, seu domínio assumindo enquanto ele quebrava as amarras que mantinham a alma da minha mãe cativa. Cada estalo mental me fez estremecer e o visual na minha cabeça era de agonia e desespero.

Você a está machucando, murmurei, tremendo com o ataque de sua dor. Exos, você a está machucando!

Eu sei, ele grunhiu de volta. Mas não tenho outra escolha.

Cyrus passou os braços ao meu redor antes que eu pudesse retaliar, e seu abraço foi como uma cachoeira de sinceridade e amor que me expulsou da espiral de angústia para uma de paz e tranquilidade. Pisquei em confusão. Sua névoa era uma nuvem que eu não esperava ver ou sentir. Mas, ah, como eu a adorava. Como eu precisava daquele contato com a realidade, com a lembrança de nosso vínculo.

Pronta? ele perguntou.

Para quê?

Sua boca capturou a minha por uma fração de segundo antes de tudo se evaporar para revelar um espaço branco vazio e nada mais.

Eu pisquei. Cyrus?

Nada.

Exos?

Sem resposta.

Girei em um círculo, me vendo sozinha em um mundo de branco infinito.

Ah, não. Isso não pode ser bom.

Girei novamente, abrindo e fechando os olhos descontroladamente, sentindo meu coração praticamente explodindo no peito. Exos! Cyrus!

Por que eles me deixaram?

Onde eu estava?

Como eu deveria sair daqui?

Ainda estava no plano espiritual. Podia sentir.

Mas eu estava parada no meio... da fonte? Talvez?

Corri de um lado para o outro enquanto lutava para encontrar uma saída, qualquer caminho que eu reconhecesse. No entanto, tudo parecia igual. Apenas branco. Sem almas. Sem companheiros. Sem vida.

Abri a boca para gritar, mas nenhum som me escapou.

Apenas inexistência silenciosa.

Pense, Claire, eu exigi. Tem que haver uma saída para isso. Um caminho para casa.

Para meus companheiros.

Sim.

Eu só precisava pensar neles. Eles viriam. Meus amores. Minha vida. Meu círculo.

Minha respiração se equilibrou enquanto eu os imaginava, exigindo que respondessem, que me encontrassem e me libertassem desta caverna intocada.

— Claire?

Não era a voz que eu esperava ouvir.

Eu me virei para minha mãe. Ela ficou em um estado translúcido a vários metros de distância e seus olhos azuis estavam arregalados de surpresa.

— Como você me trouxe aqui? — ela perguntou, olhando ao redor como se estivesse em um estado hipnótico. — Como você quebrou o feitiço dela? — E então sua expressão se transformou em horror e suas sobrancelhas se levantaram em alarme. — Você não fez isso. Ah, querida, não. Magia sombria não é para nossa espécie. Prometa que vai parar. Me prometa que não vai fazer de novo!

— Eu não fiz isso — respondi com a voz tensa. — Eu não toquei em magia sombria.

— Então como você quebrou as amarras?

— Não fui eu — repeti. — Exos... ele te chamou para o plano espiritual.

— Ah, não — ela sussurrou, balançando a cabeça. — Ah, não, não, não. Ela vai saber, Claire. Ela deve ter sentido a interferência! Você deve correr antes que ela te encontre. Corra, Claire! Corra agora!

— Quem vai me encontrar? — questionei. — Você não está fazendo nenhum sentido.

Mas minha mãe parecia estar morrendo, sua expressão era de terror absoluto.

— Ela está vindo. Ah, ela está vindo. Corra, querida. Não deixe ela te encontrar. Cor...

O chão rugiu para a vida, me engolindo em um buraco de som e sensação, provocando um grito enquanto eu era sugada com força por um vórtice de cores rodopiantes. Vida. Morte. Água. Rosa. Asas esvoaçantes. Tudo oscilou ao meu redor em um manto de confusão, me envolvendo no mar da realidade e me jogando de volta no chão do quarto de Cyrus.

Ganhei vida com um suspiro, sentindo meus pulmões em chamas e meu coração disparado no peito.

Cyrus e Exos soltaram um grito de alívio, passando as mãos sobre mim em movimentos protetores.

— Puta merda — murmurei com a voz rouca. — Que viagem. — Isso foi intenso. Era como se eu tivesse visto um milênio de vida naquele túnel, com tudo girando ao meu redor em um turbilhão de atividades, rápidas demais para meu cérebro compreender.

— O que é que você estava pensando? — Exos questionou.

— O quê? — Fiquei boquiaberta. — O que você quer dizer?

— Você parou de respirar, Claire — Cyrus disparou. — Por dez minutos.

Arregalei ainda mais os olhos.

— O quê?

Exos se sentou sobre os calcanhares, balançando a cabeça.

Cyrus esfregou o rosto com a mão.

Energia irritada se misturou com alívio entre eles enquanto o aperto em meus braços quase me machucavam.

— Era tudo branco — sussurrei, tentando me lembrar o que aconteceu. — E então a minha mãe apareceu. — Eu contei o que ela disse, como ela não fazia sentido algum, e eles apenas me olharam com óbvio alarme. — Digam alguma coisa.

Os dois trocaram um longo olhar.

Mas foi Exos quem finalmente quebrou o silêncio tenso.

— Você foi para o Núcleo Elemental, Claire.

— Bem no centro dele — Cyrus acrescentou, seu tom de alguma forma furioso e surpreso.

— E de alguma forma sobreviveu. — Exos agarrou meus ombros e me puxou para si. — Nunca mais faça isso comigo, Claire. — Sua boca capturou a minha antes que eu pudesse responder.

Então eu sussurrei, eu nem sei como fiz isso.

Nunca mais, ele repetiu.

Eu prometeria se soubesse como aconteceu.

Mas ele não estava ouvindo nada, seus lábios estavam ocupados demais memorizando os meus como se achasse que nunca mais me beijaria.

Cyrus agarrou minha nuca, me puxando para longe de Exos e me beijando com o mesmo vigor. Suas emoções eram como uma onda de necessidade contra meus sentidos.

Cada movimento gravou o nome deles em minha alma.

Cada mordida, um lembrete de nossos laços.

Cada carícia uma promessa de um longo futuro pela frente.

No momento em que ele me soltou, eu não conseguia formar uma frase coerente, muito menos pensar.

O que estava bem para eles.

Porque Exos já estava me provando novamente, sua língua se movendo violentamente com a minha enquanto Cyrus arrancava meu vestido.

O que está acontecendo? perguntei, minha mente girando sob o ataque de sua energia sedutora.

Quase te perdemos. Exos estava frenético. Achamos que tínhamos te perdido, Claire.

Estou bem aqui, prometi.

Prove, pequena rainha. Cyrus mordeu meu ombro, me fazendo gemer e arquear de volta para ele. Precisamos que você prove.


Ela morreu.

Claire. Morreu. Caramba.

Seu coração parou.

Seus pulmões pararam de funcionar.

Ela não se movia.

E sua alma...

Estremeci e enterrei o nariz em seu cabelo, seu pescoço, precisando senti-la, acreditar que ela realmente ainda estava aqui.

— Nunca fiquei tão apavorado em minha vida — admiti, percorrendo seu pescoço com minha boca. — Puta merda, Claire. Nunca mais faça isso comigo.

— Eu não...

A boca de Exos capturou a sua, silenciando sua resposta.

Não que isso importasse.

Nada que ela pudesse dizer aliviaria a dor de nossa perda momentânea, a agonia de tê-la arrancada de meus braços pelo que parecia uma eternidade.

Exos e eu acordamos frenéticos, incapazes de senti-la. Ela simplesmente desapareceu. Seu Espírito se foi.

Nunca me senti tão perdido e fraco ao mesmo tempo. Nenhum de nós sabia o que fazer, para onde ir, como encontrá-la e trazê-la de volta.

Minha doce Claire.

Minha pequena rainha.

Meu coração.

Eu a inspirei mais uma vez, saboreando cada centímetro de sua pele com a língua. Seus seios. Sua barriga lisa. O ápice entre suas coxas.

Puta merda, eu amava o seu cheiro. Floral e doce... ah, aquele lugar delicado que implorava por atenção. Lambi profundamente, adorando a maneira como ela gritou na boca de Exos.

Viva.

Ela está viva.

Repeti as palavras, revelando sua força, seu Espírito, a batida suave de seu coração.

— Faça-a gozar — Exos pediu. — Eu preciso ouvi-la gritar.

— Humm, com prazer — concordei, circulando seu clitóris antes de sugá-lo.

Suas costas arquearam e seus membros tremeram com o ataque de sensações se contorcendo. A confusão guerreou com desejo em suas feições, e seu corpo se curvou à nossa vontade por puro instinto e necessidade.

Mais.

Todos nós precisávamos de muito mais.

Mas ela precisava de gratificação primeiro.

Uma pequena dica da noite que estava por vir.

Porque depois de quase perdê-la, não tínhamos escolha a não ser comemorar sua vida. De esbanjá-la com nosso amor, reunir nossas almas e reacender os laços entre nós. Ah, eles ainda existiam. E floresceu depois de sua primeira respiração. Mas não era bom o suficiente.

Conforme Exos exigia, precisávamos ouvi-la gritar.

E ela gritou, o orgasmo atingindo seu corpo em uma onda excruciante de poder que eu senti através de nossa conexão.

Os outros também.

O que, eu sabia, eles precisavam tanto quanto nós, porque deviam ter sentido sua separação deste plano. Assim como teriam experimentado seu retorno.

— Mais, Claire — Exos murmurou. — Dê-nos mais.

Ela gemeu, seus seios coraram com prazer e chamando a boca de Exos. Ele lambeu seu mamilo, provocando outro som delicioso enquanto eu provocava sua excitação com a língua.

Nossa doce Claire estava muito perdida no ataque de nossos lábios para entender meu objetivo, muito molhada para perceber aonde minha boca estava indo, mesmo quando Exos a virou para o lado para me conceder melhor acesso.

Foi só quando meu toque atingiu seu traseiro que ela estremeceu. Primeiro com minha língua e depois meus dedos, preparando-a para o que todos precisávamos.

Meu nome saiu de seus lábios, seja em advertência ou pergunta, eu não poderia dizer. Mas ela logo sucumbiu ao momento, sua bela forma se contorcendo sob a boca de Exos enquanto ele adorava sua doce boceta com toda a habilidade que possuía.

A vida soprou no ar entre nós três.

A vida de Claire.

Seu Espírito se rejuvenesceu. Alegre. Vivo. Presente.

Mesmo assim, eu precisava de mais.

Ela partiu.

Parou de respirar.

Sua energia se foi.

Nunca mais. Eu não permitiria isso, entrelaçaria minha alma com a dela se precisasse, apenas para mantê-la conosco para sempre. E eu sabia que Exos sentia o mesmo, podia sentir na maneira como ele a acariciava. Frenético, alarmado e descontrolado. Calor e emoção. Excitação.

Uma ânsia por ela ter quase nos deixado por toda a eternidade.

Uma profunda tristeza.

Uma solidão perpétua.

Não. Me recusei a aceitar tal destino.

Minha, pensei, mordendo seu traseiro e sorrindo com a marca que deixei.

— Cyrus — ela gemeu, procurando por mim. Com uma mão no cabelo de Exos, ela tentou me agarrar com a outra, mas o ângulo estava errado. Mordi sua bunda mais uma vez antes de pressionar beijos por sua coluna até a nuca, com os dedos ainda encaixados profundamente dentro dela. Abrindo. Expandindo. Preparando-a para algo que eu duvidava que ela já tivesse experimentado.

Mas nossa Claire não era tímida. Não. Assim que cheguei perto o suficiente, ela agarrou minha nuca e me forçou a beijá-la.

Exos riu contra sua umidade, excitado com o gosto de seu êxtase - um sinal de vida.

Estávamos bêbados.

Abastecidos para levá-la a alturas.

Para transar com ela até o ápice de satisfação de ambos.

Compartilhar mulheres não era incomum para nós. Também não era típico. Éramos conhecidos por experimentar e brincar. Mas ter Claire entre nós agora colocava toda aquela experiência anterior no chinelo.

Porque ela era nosso coração.

Nossa companheira.

Aquela que adorávamos mais do que a própria existência.

— Nós vamos te tomar, Claire — sussurrei contra sua boca. — Juntos.

— Humm, e você vai adorar cada segundo — Exos concordou, lambendo um caminho da barriga até os seios. — Mal posso esperar para ouvir você gozar com nós dois encaixando bem fundo em você, baby. Vai ser incrível.

— Sim — concordei. Seus gritos pareciam vitalidade, garantindo a nós dois que ela ainda respirava. E o prazer dela ainda era nosso para dar.

Retirei os dedos, certo de sua prontidão, e encaixei meu pau em seu traseiro.

— Você entende, Claire? — murmurei, com os lábios em seu ouvido agora enquanto ela arqueava de volta para mim. — Você entende o que estamos prestes a fazer com você?

— Ah, caramba... — Ela estremeceu, fechando os olhos enquanto eu pressionava minha virilha mais uma vez. — Sim...

Sorri contra seu pescoço, lambendo seu pulso acelerado.

— Ótimo. — Eu me posicionei em sua entrada – aquela que ninguém ousou entrar antes – e empurrei apenas o suficiente para testar sua aceitação.

Ela estremeceu e seu corpo enrubescei.

E Exos a distraiu chupando seu mamilo enquanto seus dedos roçavam em sua boceta úmida.

Penetrei um pouco mais e senti minhas bolas tensionarem quando ela apertou meu pau em resposta.

— Calma, Claire — murmurei, beijando suavemente sua garganta. — É melhor se você relaxar.

— Hum-hum, — Exos concordou, trocando de seio e mordendo seu mamilo rígido.

Ela gritou, seu foco mudou temporariamente, e eu usei a distração para penetrar mais fundo dentro dela.

— Ah! — Ela estremeceu contra mim, me fazendo entrar, onde fiquei e permiti que ela se aclimatasse. — Puta merda...

— Nós nem começamos ainda — Exos comentou, me fazendo rir contra sua nuca.

Porque realmente não tínhamos começado.

E quando isso acontecesse? Ah, a doce Claire entraria no passeio de sua vida.

Exos lambeu um caminho do pescoço até o queixo e pairou sobre sua boca.

— Só há um companheiro com quem eu poderei compartilhar você assim, Claire. — Ele a beijou enquanto enterrei meu nariz em seu cabelo, inspirando profundamente. — Mas podemos fazer isso quando você quiser.

O que nós dois sabíamos que aconteceria com frequência.

Mas eu a deixaria admitir quando terminássemos.

Mordisquei sua orelha, expirei lentamente enquanto Exos pressionava sua excitação contra a dela.

— Pronta, pequena rainha? — perguntei, encontrando o olhar de Exos.

Ele não a machucaria.

Mas também não seria gentil.

Segurei seu quadril assim que ele empurrou em seu calor. Seu grito de surpresa estava misturado com o êxtase e talvez uma pitada de dor. Éramos grande e ter nós dois lá dentro seria um pouco opressor da primeira vez.

Um palavrão saiu de seus lábios, seguido por um gemido de prazer quando começamos a nos mover – lentamente no início, apresentando-a à experiência.

Então Exos estabeleceu um ritmo, que encontrei com facilidade. Minha boca se aconchegou em seu pescoço enquanto minha respiração ficava ofegante. Porque isso era bom. Estar dentro dela. Sentir seus tremores. Sentir o cheiro da sua excitação. Abraçar sua alma com a minha.

A cada impulso, abracei sua vitalidade. Ouvi seus gemidos. Experimentei sua gratificação. Ela apertou meu pau, gemeu nossos nomes, sussurrou comandos e nos envolveu em uma exibição hedonística que agraciaria meus sonhos por décadas.

Ela era perfeita.

Linda.

Minha.

Eu não poderia imaginar uma sensação mais requintada do que tê-la se contorcendo entre nós com abandono. As palavras que saíam de sua boca que eram tão sacanas e lindas que eu mal podia acreditar no que ouvia. Ela exigiu mais. Mais forte. Mais rápido. De novo.

Ela gozou com a mais quente onda de poder, gravando nossos nomes nas estrelas.

Mas não terminamos.

Só quando ela gozou novamente é que me permiti seguir, com Exos em nosso rastro, nós três perdidos em uma nuvem eufórica de devassidão.

Uma nuvem que continuou.

E assim por diante.

Nossa necessidade de adorar Claire, de celebrar sua existência era forte demais para apenas um clímax.

Nós transamos até que não pudéssemos nos mover, com nossos corações batendo muito forte em nossos peitos, com nossos corpos esgotados e tremendo com o esforço.

Uma selvageria havia tomado conta, conduzindo nossos movimentos, nos forçando a um ponto sem volta.

Caímos juntos, embolados, com Claire rindo entre nós.

Olhei de lado e notei sua linda pele rosada. Sorri.

Ela parecia tão animada e alegre que quase fez meu coração doer. Mas usei os últimos vestígios da minha força para puxá-la para mim para outro beijo e suspirei enquanto ela relaxava contra meu peito.

Exos envolveu seu braço na cintura dela, acariciando suas costas, nossas posições mudando em algum momento durante a transa. Afinal, eu não poderia ser o único a experimentar aquela bunda bonita.

Agora tudo parecia um borrão de sensações, sexo e felicidade absoluta.

Algo que eu voltaria a experimentar com alegria, uma vez que meu pau acordasse de uma longa soneca.

Claire se aninhou em meu peito, com as bochechas ainda rosadas. Passei os dedos por seu cabelo, desarrumando os fios.

— Nunca mais nos deixe, pequena rainha. Por favor.

— Eu não queria — ela sussurrou, com os olhos fechados. — Nem sei como fiz isso.

O que era ainda mais preocupante.

Os olhos de Exos disseram o mesmo quando ele encontrou meu olhar.

— Precisamos falar com Kols. Descobrir o que é que está acontecendo.

— Ele pode não saber — apontei. — Mas eu concordo. Se alguém pode lançar alguma luz sobre esta escuridão, é ele. — Porque foi isso que eu senti quando Exos soltou as amarras que prendiam a alma de Ophelia como refém.

Magia Sombria Fae.

Coisa do mal.

E, de alguma forma, o fato de ele cortar as amarras enviou Claire diretamente para a fonte, uma consequência que precisamos evitar no futuro. Supondo que estivessem relacionados. O que, eu estava disposto a apostar, estavam.

— Vou providenciar isso — falei, me referindo a Kols. — De manhã. — Quando eu pudesse me mover de novo.

Claire nem estava ouvindo. Seus olhos se fecharam depois de proferir sua última palavra.

Mas Exos estava alerta. Ele balançou a cabeça e beijou sua nuca.

— Boa noite, princesa.

Ela nem se mexeu.

Eu sorri.

— Sim. Bons sonhos, pequena rainha.


Quando um se tornar metade e cinco se tornarem um, uma praga descerá sobre os Faes. Só a morte é a cura.

Gina


De todos os lugares para encontrar um Fae da Meia-Noite, Cyrus escolheu uma boate em Manhattan. Tipo, em Nova York. Com humanos. Álcool. E uma música que me irritou.

Estremeci quando um baixo particularmente desagradável se elevou para o rugido da multidão enquanto todos se moviam ao som de uma melodia hipnótica. Pelo menos não estava tão alto no bar, o que permitia uma conversa.

Não pela primeira vez, olhei para minha comitiva e perguntei: — Quando esse cara vai aparecer? — Porque eu estava mais do que pronta para voltar para a paz e tranquilidade do Reino Elemental.

Cyrus deu um gole em seu Bourbon e sorriu.

— E eu que pensei que este lugar te deixaria nostálgica.

Eu bufei.

— Não é disso que sinto falta no meu mundo. — Pizza? Com certeza. Festas barulhentas? Não.

Exos passou o braço ao meu redor, me puxando mais para perto de si e beijou minha têmpora.

— Não vai demorar muito.

— Ele tem razão — uma voz feminina ressoou atrás do bar. — Ele deve chegar nos próximos minutos.

Franzi o cenho quando Cyrus e Exos irromperam em sorrisos iguais.

— Bem, você imaginaria isso? — Cyrus comentou, pegando a mão da mulher. — Uma Fae Fortuna trabalhando de barman na cidade. Eu nunca teria profetizado tal coisa.

Cyrus fez uma pausa antes de tocá-la, e a mulher lhe deu um sorriso conhecedor. Ela tirou uma carta de baralho estranha do bolso que brilhava.

— Humm.

Suas sobrancelhas escuras balançaram, e ele pegou a mão dela.

Ela riu quando ele deu um beijo em seu pulso.

— Você sempre foi encantador, Cyrus — ela disse em tom abafado e me irritou.

Não. Não era o tom. Era o pacote completo. Ela tinha curvas em todos os lugares certos. Um top justo que as enfatizava. Cabelo perfeitamente liso, quase preto. Olhos azuis. E um sorriso que chamava a atenção de metade do bar.

Incluindo a dos meus companheiros.

Eu a odiei à primeira vista.

A odiei ainda mais quando Exos pegou sua mão e a beijou no mesmo lugar que Cyrus havia feito.

— O que te traz ao Reino Humano, querida? — ele perguntou, piscando com curiosidade.

Ela suspirou e balançou a cabeça.

— Besteira burocrática. — Ela acenou com os dedos recém pintados e se concentrou em mim. — Você deve ser a Claire. — A mulher até tinha covinhas ao sorrir. Perfeita pra caramba.

— Sou — respondi. — E você é...?

— Não sou sua oponente — ela comentou e seu olhar brilhou. — Mas estou feliz por você ter domesticado esses dois. Eles causaram um grande rebuliço no Reino da Fortuna há alguns anos. Quem foi? Aurora e Cassandra, certo? — Ela deu uma risadinha. — Vocês dois são maus.

— Gina... — Cyrus lhe deu um olhar indulgente. — Não coloque ideias na cabeça da minha companheira.

— Ah, ela não precisa da minha ajuda com isso — a mulher respondeu – Gina? – piscando para mim. — Posso ver que ela já conhece bem as suas travessuras.

— Quem é você? — perguntei de novo, desta vez com um pouco mais de firmeza.

— Gina. — Ela sorriu para mim. — Estou feliz por ter você aqui. A praga está se espalhando. Mas você vai consertar tudo em algum momento. Só tem que se livrar dessa peça sombria que não te pertence.

Cyrus cruzou os braços no bar e sua diversão morreu por trás de uma máscara intensa.

— Explique.

— Ah, eu explicaria, futuro Rei da Água, mas já revelei muito. E com a minha sorte, que parece estar acabando, serei descoberta mais cedo ou mais tarde. — Ela suspirou de forma dramática. — O futuro se recusa a se curvar.

— Qual é a peça sombria? — Exos tentou novamente.

Mas Gina apenas sorriu.

— Você já sabe, Rei do Espírito. Assim como sua bela companheira. E se eu puder... — Ela fingiu deixar o baralho na mesa antes de capturar minha mão sem aviso. Seus olhos azuis piscaram em um tom claro e assustador. Ela piscou de novo e a cor voltou ao normal. — Tanta dor, Claire. Duas décadas. Mas você tem o poder de curar a todos, de restaurar o equilíbrio. Estou torcendo por você. — Ela se inclinou e baixou a voz. — Basta se lembrar quem você é, Claire. Seus companheiros não são os únicos que contam com você. — Sua atenção se desviou para um ponto distante e sua expressão se iluminou. — Ah, ele está aqui. Comportem-se. Não posso deixar que vocês chamem mais atenção para mim.

Ela se virou – e isso não era um exagero – para o outro lado do bar com um floreio de sua saia muito curta.

Como se ela realmente precisasse de ajuda para chamar atenção.

Felizmente, Cyrus e Exos não pareceram notar o comprimento ou suas pernas magníficas. Eles estavam ocupados demais cumprimentando o recém-chegado que presumi ser Kols.

E, uau, ele era lindo.

Alto. Atlético. Cabelo castanho com um toque de vermelho que brilhava sob a luz fraca do clube. E íris douradas assustadoramente bonitas que cintilaram com poder quando ele encontrou meu olhar.

Puta merda, esse cara é poderoso. Eu podia ver no sorriso que enfeitou seus lábios carnudos.

— Encante-a e eu te mato — Cyrus falou de forma categórica enquanto eu me levantava do banquinho.

Kols riu, e o som era sexy e masculino.

— Tarde demais, Príncipe da Água. — Ele estendeu a mão. — Eu sou Kols.

— Claire — respondi, encaixando a mão na dele.

— Eu sei — ele murmurou, beijando meu pulso da mesma forma que Exos e Cyrus fizeram com Gina. Desta vez, eles franziram a testa.

Exos envolveu um braço possessivo ao meu redor, me puxando para o seu lado.

— É bom te ver, Kols.

— É mesmo? — o Fae da Meia-Noite perguntou, soltando a minha mão. Ele olhou ao redor do salão e a leve inclinação do seu pescoço exibiu uma série de linhas pretas como tinta se movendo logo abaixo da gola da camisa. Como Exos e Cyrus, ele usava terno, sem gravata. No entanto, ele escolheu tudo preto, enquanto meus companheiros estavam usando camisas brancas.

Quando ele terminou sua leitura, notei o brilho faminto em seus olhos.

Vampiro, me lembrei, tremendo.

Seus lábios se curvaram como se ouvisse meu pensamento. E talvez tivesse. Esse não era um traço da sua espécie – a capacidade de ler mentes? Ou era o controle da mente? Eu teria que perguntar a Exos e Cyrus sobre isso mais tarde.

— Vamos pegar uma mesa — ele sugeriu, apontando para o lado mais escuro do clube, onde um grupo de pessoas havia acabado de sair.

Ele fez isso? perguntei, sentindo meu coração batendo forte no peito.

Sim, Cyrus disse. Kols não é apenas um Fae da Meia-Noite. Ele também é um príncipe. Como eu.

Significa que ele é poderoso, concluí.

Incrivelmente talentoso, sim. Cyrus pegou minha mão e me guiou enquanto Exos permaneceu do outro lado com o braço em minha cintura. Se algum dos humanos notou nossa pequena tríade, não reagiram. Mas Kols certamente olhou para nosso toque com diversão. Ele se acomodou na cabine primeiro, seguido por Cyrus, enquanto Exos e eu nos sentamos do outro lado.

— Era a Gina que eu vi no bar? — Kols perguntou. A curiosidade aprofundou sua voz.

— Sim. — Cyrus olhou para os bancos que tínhamos acabado de desocupar. — Ela está se escondendo de alguma coisa.

— Sempre está, não é? — Kols perguntou.

Cyrus deu de ombros.

— Pareceu um pouco mais sério desta vez, mas tenho certeza de que ela cuidou disso. Além do mais, ela parecia mais interessada em nos deixar com palavras enigmáticas.

— Típica Fae Fortuna. — Os olhos de Kols brilharam quando ele juntou os dedos na mesa. — Então, como posso ser útil? Suponho que não seja apenas uma reunião para diversão.

— Dessa vez, não — Cyrus concordou, indicando que eles se encontraram para se divertir no passado. Dada sua franqueza com Gina, eu só podia imaginar o que isso significava.

Quero dizer, meus companheiros eram experientes. E eu sabia que não era a primeira amante deles. Embora eu pudesse aceitar, não queria pensar sobre o passado. Especialmente não com uma bela Fae como Gina.

— Suspeitamos que um de nossos anciões está usando magia sombria — Exos falou, indo direto ao ponto. — E esperamos que você possa nos ajudar a confirmar isso.

Kols sorriu. Um lampejo de chamas circulou suas pupilas e morreu com um piscar dos longos e elegantes cílios.

— Certo. Você pode explicar? Ou detalhar o que sentiu?

Cyrus olhou para mim.

— Você pode descrever o que aconteceu quando a Elana convocou os mortos?

Kols arqueou as sobrancelhas.

— Um feitiço de morte?

Cyrus e Exos assentiram.

— Diga — ele murmurou, se inclinando para a frente. Sua curiosidade era palpável.

Limpei a garganta, sem saber por onde começar. Então comecei falando sobre como Elana me ensinou sobre a magia do Espírito, criando fadas e coisas dessa natureza. Contei a ele sobre nossa última sessão, sobre o Espírito se contorcendo no líquido estranho e a dor que senti em sua alma. Só a lembrança me fez estremecer. — Era como se ele não pudesse falar — acrescentei. — Mas eu senti que ele queria dizer algo.

Kols assentiu.

— Meu palpite é que ela inseriu uma mutação na magia, algo que incapacitou sua habilidade de formar frases. Porque uma convocação adequada permite que a alma fale. Também é possível que ela tenha infundido um pouco de seu elemento espiritual no ato, forçando assim o silêncio dele.

— Então você concorda que é magia sombria? — Cyrus questionou.

— Ah, com certeza. Eu nem precisava de todos os detalhes para te dizer isso. A necromancia é popular entre uma certa seita da minha espécie, embora desaprovada pelo resto de nós. Aswad é um defensor do ato de ressuscitar os mortos. — Ele fez uma careta. — Mas sim, é magia sombria, com certeza. O que significa que sua Elana deve ter alguma herança Fae da Meia-Noite, pois quem não tem não se torna necromante. É preciso ter afinidade com o chamado da morte.

Cyrus e Exos trocaram um olhar.

Eu sabia o que eles estavam pensando, porque pensei o mesmo.

— Parte Fae Sombrio, parte Espírito. Não foi isso o que a minha mãe disse a você?

Exos assentiu.

— Sim.

— Isso é impossível — Kols interrompeu. — O acasalamento entre as espécies é proibido. Isso desequilibra o poder.

— Ser capaz de ressuscitar os mortos e controlá-los também — Cyrus sugeriu, arqueando uma sobrancelha.

— Espere, o que você quer dizer com proibido? Por quê? — perguntei, franzindo a testa. — Somos todos Faes, certo?

— Sim, mas com linhagens únicas. Adulterar essas linhagens cria... abominações. — Kols se encolheu e seu olhar escureceu em uma nuvem negra que provocou um arrepio em minha espinha. — A Guerra das Trevas não é uma época que eu deseje reviver.

— Guerra das Trevas? — repeti, ainda mais confusa.

— Um ponto terrível na história dos Faes da Meia-Noite — Exos explicou baixinho. — A mistura entre os Faes alterou o equilíbrio que todos nós tiramos para sobreviver. Imagine vampiros com a habilidade de controlar Água ou Fogo.

— Bem, esse não é um truque difícil — Kols murmurou, e uma chama leve irrompeu nas pontas dos dedos. Elas desapareceu em um segundo. — Mas era pior. A magia requer um equilíbrio entre a luz e a escuridão. Se for perturbada, ocorrem mutações e a energia é distribuída de forma bastante desigual.

— O que cria o caos e permite que ditadores governem — Exos acrescentou.

— Isso explica a obsessão dela com o Conselho — Cyrus comentou, fazendo Exos arquear uma sobrancelha.

— Significando? — meu companheiro do Espírito perguntou.

— Se suas origens fossem reveladas, ela seria executada sem cerimônia. No entanto, se ela nos convencer a trabalharmos juntos e se afirmar como a líder do Conselho – o que ela tem feito – se coloca em um pedestal como a Fae que criou tudo. Se você me perguntar, é apenas uma questão de tempo antes que suas verdadeiras intenções apareçam.

Curvei os lábios para o lado.

— Então você acha que é tudo um truque e ela está usando suas conexões com todos os Faes para seu próprio benefício de alguma forma.

— Desviando energia deles — Kols disse, se recostando na cabine. — Quero dizer, se ela já está brincando com os mortos, por que não manipular a fonte de vida dos outros?

Franzi o cenho.

— Ela pode fazer isso?

Ele acendeu outra daquelas chamas e piscou.

— Brincadeira de criança, querida. Especialmente se ela for da linha da necromancia.

— Água. — Cyrus riu, o som carecia de humor verdadeiro. — Eu a senti usar Água mais de uma vez, mas ela é conhecida como um Espírito Fae com um único dom.

Kols estendeu as mãos como se dissesse: esse é o ponto.

— Ela está sugando de outro.

— Mas por quê? — Exos questionou. — Por que ela faria isso?

Cyrus coçou o queixo.

— Só há uma maneira de descobrir.

— Se ela está praticando as artes das trevas, duvido que seja tão fácil quanto conversar. Mas posso ter algo para ajudá-los — Kols disse, sorrindo. — Mas os mais velhos não vão gostar.

— O que é? — Cyrus perguntou, arqueando uma sobrancelha cética.

— Um livro. — Seus lábios se curvaram ainda mais. — Uma espécie de guia para iniciantes em necromancia. Não poderia fazer isso, mas acho que irá ajudá-los de muitas formas. — O poder irradiava dele enquanto falava, me lembrando de como os elementos pareciam nadar em torno de Cyrus e Exos.

— Um texto Fae da Meia-Noite — Exos comentou. — Exatamente quantas regras você está quebrando ao passar isso para nós?

Kols deu uma risadinha.

— Quantas você está quebrando ao aceitar?

Cyrus e Exos apenas sorriram.

— Por que haveria regras sobre um livro didático? — perguntei em voz alta.

Os três riram e o braço de Exos me puxou para um abraço.

— Política Fae, princesa — ele murmurou. — Magia sombria é puramente Fae da Meia-Noite. Assim como nós possuímos os elementos.

— Mas às vezes, você tem que quebrar as regras — Cyrus falou.

— E eu diria que agora é um desses momentos — Exos concordou. — Quando podemos pegar o livro?

— Amanhã — Kols respondeu, olhando para o clube. — Estarei ocupado esta noite.

Certo. Vampiro. Boate. Meio clichê, mas também apropriado.

— Então terminamos? — perguntei. Porque ainda que ele fosse gostoso, eu não queria vê-lo comendo humanos.

— Tão ansiosa para nos levar para casa — Exos brincou enquanto seus lábios subiam pelo meu pescoço. — Você quer que a compartilhemos de novo, princesa? — As palavras foram ditas contra meu ouvido, fazendo meu estômago se contorcer em antecipação e minhas bochechas esquentarem.

Cyrus sorriu do outro lado da mesa, claramente ciente do que seu irmão tinha acabado de dizer.

Felizmente, Kols parecia muito ocupado analisando sua próxima refeição para prestar atenção em nós.

— Certo, bem, entrarei em contato — disse, se afastando da mesa. Seus olhos dourados encontraram os meus, brilhando com malícia. — Eu diria para você ter uma boa noite, Claire, mas posso ver que Exos e Cyrus estão cuidando disso. Então só vou dizer prazer em conhecê-la, linda. Divirta-se.


— Então vocês costumam se aventurar no Reino Humano para se encontrar com outras Faes? — Claire perguntou enquanto a escoltávamos até um portal bem conhecido da cidade de Nova York.

Ela ficou bastante decepcionada com o transporte, afirmando que achava que seria mágico como pó de fada, duendes ou algum cavalo voador louco. Mas era um elevador em um prédio antigo com um teclado especial que nos teletransportava entre os reinos à vontade.

— Não com frequência — Cyrus respondeu, com o braço em seus ombros. Dei a ela meu paletó, querendo protegê-la do ar frio de Nova York. Afinal, era inverno. E ela usava um de seus vestidos com botas até o joelho em vez de um suéter e um casaco. Felizmente, ela tinha o fogo para mantê-la aquecida, mas pareceu apreciar o ato cavalheiresco enquanto abraçava meu paletó.

— Mas vocês parecem conhecer bem outras Faes — ela disse. — Como a Gina.

Eu sorri.

— Com ciúmes, Claire? — provoquei, beijando-a no pescoço antes de abrir a porta do prédio.

— Não. — Sua resposta foi rápida. Muito rápida.

Compartilhei um olhar divertido com Cyrus que queria dizer: conte a ela.

— Ela é uma velha amiga — explicou. — E não esse tipo de amiga, Claire. Transar com uma Fae Fortuna não seria agradável. Ela saberia todos os meus movimentos antes que eu os fizesse.

Uma risada escapou da minha garganta quando assenti em concordância.

— Ele tem razão. Tira toda a surpresa. — Mordi o pescoço da minha companheira novamente, pressionando meu peito em suas costas e envolvendo o braço em sua cintura. — Basta pensar em como a noite passada teria sido chata se você já soubesse o que iria acontecer.

Ela estremeceu e seu corpo se derreteu contra o meu.

— Eu... isso não seria... — Ela engoliu em seco, seu peso caindo ainda mais em mim. — Sim.


Ri enquanto Cyrus comentou: — Essa não foi uma frase completa, pequena rainha. — Ele apertou o botão do elevador no saguão. — Mas vou deixar passar.

— Quanto a nós visitarmos o mundo humano, é raro. Mas como Faes Reais, conhecemos bem os outros. É assim que conhecemos Kols e Gina. As famílias deles têm status em seus respectivos reinos Faes e, ocasionalmente, somos obrigados a nos encontrar para funções sociais.

— Para manter o equilíbrio — ela acrescentou.

— Exatamente — concordei. Ainda havia muito que Claire não entendia sobre o mundo sobrenatural, as leis que governavam a todos nós, como vivíamos em paz e nossas longas histórias de tempos em que não mantínhamos essa paz perpétua. Estávamos tão envolvidos nos problemas atuais dentro do Reino Elemental que não tivemos um momento para falar sobre os outros. Mas Kols e Gina tinham seus problemas dentro de seus reinos. Assim como os numerosos outros tipos de Faes.

Nós apenas escolhemos focar em nós mesmos, só nos juntando quando necessário.

O som do elevador tocou e Cyrus digitou a sequência de números exigidos para nos levar de volta à Academia enquanto eu conduzia Claire.

— Você pode nebulizar daqui? — ela perguntou.

Cyrus considerou ao se juntar a nós assim que as portas se fecharam.

— Posso nebulizar em qualquer lugar, mas entre os reinos é mais difícil. Em nossa casa elemental, estou mais próximo de nossa fonte. É mais fácil. Aqui, exigiria muito esforço que prefiro não despender, porque quem sabe quando posso precisar da minha magia.

Não necessariamente esgotaria, mas entendi o que ele quis dizer. Acessar o núcleo de nossos dons de tão longe exigia força e energia, enfraquecendo nossa capacidade de lutar como poderíamos em nosso próprio terreno. Era melhor reter o máximo possível do nosso elemento em caso de necessidade.

A luz cintilou ao nosso redor quando começamos nossa jornada, fazendo um baixo vuush suavizado pelo carro de metal que nos transportava para a Academia. Kols usaria essa engenhoca também, mas o levaria para a Academia Fae da Meia-Noite.

— Kols está em seu último ano? — perguntei, pensando alto.

Cyrus deu de ombros.

— Não faço ideia. Esse Fae não fala muito sobre si mesmo.

Eu bufei.

— Verdade. — Apesar de já tê-lo encontrado várias vezes, eu mal o conhecia. Ele parecia se esconder atrás de uma máscara de indiferença e elegância. Um típico membro da realeza.

Paramos e o metal tilintou, fazendo um barulho e se dissolvendo diante de nossos olhos para revelar o coração da Academia. Meus músculos relaxaram por instinto, enquanto os elementos familiares nos banhavam em uma recepção calorosa.

Claire girou em um círculo. Seu sorriso era uma das mais belas imagens que eu já vi.

Até que uma presença familiar estragou nossa diversão.

Eu me virei para ele, com a sobrancelha já arqueada.

— Mortus — falei. Seu nome pareceu mais uma maldição do que uma saudação. Eu não o via desde que ele me nocauteou e me jogou em uma gaiola. Eu sabia agora que não era ele, que alguém o estava controlando, mas isso não me deixou mais aliviado.

— Onde vocês três estiveram? — ele questionou, olhando para Claire.

— Não acredito que tenhamos que relatar nosso paradeiro — Cyrus disse friamente, envolvendo o braço em nossa companheira. — A menos que você esteja questionando as intenções do seu Rei do Espírito? — Ele acenou para mim.

— Ele está certo — concordei. — Não devemos uma explicação a você.

— Vocês dois talvez não, mas a Claire é uma aluna. E todos os alunos deveriam apresentar um relatório esta manhã. — Mortus endireitou a coluna. — A menos que você acredite que ela está acima das regras?

Eu sorri.

— Nós dois sabemos quem ela é, Mortus. Mas se você quer saber, estávamos resolvendo questões oficiais do Espírito. Não há nada com que se preocupar. Estamos bem.

Seus olhos negros semicerraram e as chamas praticamente saíram de suas orelhas. Ele se virou com um brilho dramático em seu longo casaco preto e saiu pisando duro na direção da casa de Elana.

— Filho da puta — Cyrus murmurou. — Ele vai dizer a ela onde estivemos.

— E tudo o que ela vai encontrar é a evidência de uma visita a uma boate — respondi. — Não estou preocupado. A Claire é parte humana. Ela não pode nos culpar por querer familiarizar de novo nossa companheira com seu mundo natal.

— Sim, porque ir a clubes é como eu gasto meu tempo — ela brincou.

— Eu conheci você em um bar — eu a lembrei, agarrando sua cintura e nos guiando em direção ao Esquadrão do Espírito. — É uma suposição lógica.

Ela bufou.

— Aham. — Ela cutucou a lateral do meu corpo com o cotovelo. — Eu fazia mais do que beber e festejar.

Beijei o topo da sua cabeça enquanto caminhávamos, rindo.

— Eu sei, princesa. Se você só fizesse isso, não seria tão teimosa.

— Há há. — Ela tentou me dar uma cotovelada de novo, mas eu a puxei e a peguei em meus braços, carregando-a pelo pátio.

— Nossa pobre Claire bêbada continua correndo para mim — eu disse para Cyrus.

— Não deveria ter dado aquele coquetel de cereja a ela. — Ele estendeu a mão para fazer cócegas nela, fazendo-a se contorcer em meus braços em uma risada que aqueceu meu coração. — O que faremos com ela?

— Ah, eu tenho algumas ideias — falei. — Mas acho que os outros podem querer participar.

— Humm, uma festa de boas-vindas — Cyrus comentou. — Sim, isso parece realmente divertido.

— Argh, eu juro que vocês vão acabar comigo — Claire murmurou, então riu enquanto Cyrus fazia cócegas nela novamente.

— Você ama isso — ele murmurou, arrancando mais risos dela e tornando bastante difícil continuar caminhando enquanto a carregava. Mas ouvir aqueles sons de seus lábios valia a pena.

— Tudo bem! Tudo bem! Eu amo! — Ela praticamente gargalhou as palavras, e Cyrus a tirou dos meus braços para abraçá-la.

— Eu te amo, pequena rainha — ele disse, roçando os lábios contra sua testa enquanto a deixava ficar de pé mais uma vez, desta vez com seu braço ao redor dela. — Agora, vamos voltar. Posso sentir a irritação de Titus com a nossa chegada tardia e mal posso esperar para provocá-lo.

Claire revirou os olhos.

— Vocês dois vão acabar se matando.

— Ou transando — falei, sorrindo para o meu irmão. Ainda que normalmente ele dormisse com mulheres, conheci alguns homens que ele havia entretido nos anos anteriores. Cyrus sempre experimentou e brincou.

Ele apenas deu de ombros, sem confirmar nem negar.

— Uma coisa ou outra.

— Espere... — Claire se virou para trás, seu olhar em Cyrus. — Você acabou de admitir que transaria com Titus?

Ele deu de ombros de novo.

— Ele poderia se beneficiar de uma mão dominante. — Sua expressão ficou um pouco sombria e seu olhar gelado cintilou com malícia. — Por quê? É algo que você gostaria?

Seu tropeço respondeu à pergunta sem palavras. Assim como o lindo rubor colorindo suas bochechas.

Ah, Claire.

Nossa inocente princesinha.

As coisas que ensinaríamos a ela nos anos que viriam.

Talvez nós até ensinássemos algumas coisas a ela esta noite...


Meu corpo inteiro formigou, cortesia de Cyrus e Titus. Ah, eles não transaram ontem à noite, mas definitivamente se divertiram me colocando entre eles.

Claro, passei metade do tempo imaginando o que eles fariam um ao outro.

Vox e Sol também, por razões que não consegui explicar.

Mas Exos, não. Eu suspeitava que ele nunca tocaria em nenhum deles. Algo que concluí quando chegamos em casa e ele simplesmente assistiu em vez de participar. Eu podia sentir sua excitação o tempo todo, mas ele não se aproximou, preferindo quase supervisionar como da última vez que todos nós nos envolvemos em uma orgia na sala de estar.

Caramba, quem eu estava me tornando?

Um demônio sexual, obviamente.

— O que você está pensando aí, pequena rainha? — Cyrus questionou, seus olhos azuis conhecedores. — Você está muito corada.

— Nada — menti. Eu me contorci na cadeira e tentei me concentrar nos papéis no meu colo.

Kols entregou os textos de magia sombria para Exos esta manhã, como prometido. Mas ele nos forneceu mais de um livro, dizendo que podíamos estar interessados em magia defensiva também. Então Cyrus estava com aquele texto enquanto eu folheava as artes das trevas em busca de algo parecido com o que Elana tinha feito. Exos se sentou ao meu lado no sofá, com um braço estendido nas costas sobre meus ombros e a mão na minha coxa enquanto lia comigo.

— Pronto — ele murmurou, felizmente se concentrando melhor do que eu. — Menciona invocação de líquido.

Dei uma olhada na passagem que ele apontou e assenti.

— É semelhante ao que ela fez, sim. Mas ela parecia ter mais controle.

— Talvez ela o tenha alterado com Espírito — ele respondeu.

— Parece sinistro — Titus disse enquanto se aproximava com uma bandeja. — Não sou o Vox, mas tentei o meu melhor. — Ele colocou as bebidas na mesa e me entregou uma. — Posso ter acrescentado algo especial.

Olhei para dentro para ver as brasas girando no topo.

Não eram brasas.

Eram marshmallows.

Eu sorri.

— Você fez chocolate quente.

— Ou uma versão — ele respondeu, enviando uma chama que cintilou sobre a minha bochecha em um beijo. — Tive que improvisar um pouco com a receita que Vox deixou, porque estamos com poucos ingredientes. Usei um tipo de leite de fruta em vez das coisas cremosas que você gosta.

Tomei um gole, notando o sabor picante, e suspirei.

— Está perfeito. — Não tinha gosto de chocolate quente com o qual cresci, mas não me importei. Era melhor. Mais doce, mais forte e aqueceu meu interior. Humm. Sim. — Perfeito — repeti, tomando outro gole.

— Estou feliz que você...

Uma dor aguda no meu abdômen me fez derrubar a caneca, que caiu no chão depois de espirrar o líquido quente em mim e no sofá. Mas não senti, pois a pontada dentro de mim era forte demais para sentir ou ouvir qualquer outra coisa.

Sol!, gritei, nosso vínculo tremendo incontrolavelmente enquanto sua agonia inundava minha alma.

Fiquei de pé, joguei o cobertor e o livro – que, felizmente, não molhou – e corri para o Esquadrão da Terra com Cyrus, Titus e Exos correndo de mim.

Eles estavam dizendo coisas.

Me dizendo para ir mais devagar.

Mas eu não conseguia parar, mesmo que quisesse.

Meu companheiro estava com problemas e precisava da minha ajuda. Sua angústia era diferente de tudo que já experimentei.

As aulas recomeçaram hoje e passei um tempo na aula de Fogo com Titus. Sol tinha ido para seus cursos, mas o Esquadrão da Terra era enorme. Ele poderia estar em qualquer lugar, menos nos dormitórios.

Onde? questionei, convocando meu Espírito a seguir o fio até sua alma. Lá.

Ele estava ajoelhado no meio de um pomar com uma mulher inconsciente nos braços e as lágrimas escorrendo pelo rosto.

Aflora, percebi enquanto observava o cabelo escuro e a forma delicada.

— O que há de errado? O que aconteceu? — Me ajoelhei ao lado dele, passando as mãos sobre seus bíceps protuberantes. — Fale comigo.

— Ela está... — Ele interrompeu um grunhido misturado com tanta agonia que meu coração se partiu em dois.

Vi as linhas azuis atravessando sua pele, inundando as veias com uma praga que seu corpo não conseguiu combater. Aquilo cobriu sua pele com um lençol branco coberto de suor.

— Claire — Titus sussurrou e a tensão em sua voz chamou minha atenção para ele e para o campo ao nosso redor.

— Ah, Deus... — Aflora não era a única.

Havia pelo menos vinte, todos deitados na grama como se estivessem em seus leitos de morte.

E as árvores gemiam com a perda, os galhos caindo de tristeza diante de meus olhos.

Passei as mãos sobre Sol, procurando por sinais de infecção, mas ele permaneceu saudável, sua alma florescendo sob meu toque.

— Como? — questionei. — Como você não é afetado?

Mas ele não respondeu, seu coração estava se partindo diante dos meus olhos.

— Não faça isso comigo, Aflora. Não se atreva a morrer. — Ele parecia tão angustiado, tão apavorado. E entendi que ela era a única família que ele tinha – sua raiz com os Faes da Terra. Não era uma conexão romântica, mas familiar que importava mais para ele do que eu pensava.

Sua mãe a criou como se fosse filha, um detalhe que percebi em nosso vínculo, algo que ele nunca havia mencionado antes. Não me admirava que eles tivessem um relacionamento tão próximo. Ela não era só a melhor amiga da sua irmã, mas como um irmã também.

Sol já havia perdido os pais e a irmã.

— Não faça isso comigo — ele repetiu baixinho. — Por favor, não faça isso comigo.

Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto a bela mulher começou a murchar em seus braços como uma folha seca.

Isso não pode acontecer.

Olhei ao redor do campo, observando todos os outros em posições semelhantes.

Exos e Cyrus estavam com alguns deles, oferecendo palavras de encorajamento que não ajudaram em nada.

Essa praga – ou qualquer que fosse a causa – havia atingido a Academia e estava levando todos eles.

— Não — murmurei. — Não. — Eu não aceitaria isso.

Minha mãe já se envolveu nisso uma vez, ou assim diziam os rumores. E eu tinha uma maneira de contatá-la. Ela me daria respostas.

Ela tinha que me dar respostas.

Precisava parar isso.

Sol já havia perdido muito. Ele não perderia Aflora. Hoje, não.

Onde você está? exigi, de pé, procurando, perscrutando a rede espiritual para a alma da minha mãe. Eu sei que você está aqui. Eu quero respostas. Você vai me responder.

A Academia desapareceu enquanto eu flutuava para o lugar que Exos havia me levado, perto da fonte. Mas não me importei com o núcleo desta vez. Não, eu queria minha mãe.

Venha até mim. Agora. Disse as palavras com poder, incitando-a a obedecer. Agora! eu gritei.

Não haveria como se esconder.

Ela tinha as informações de que eu precisava e não tínhamos tempo de sobra.

Claire? Meu nome era um sussurro ao vento, que segui com meu elemento Ar.

Muito longe.

Muito nublado.

Venha aqui agora!, gritei, cansada desse jogo, desses truques, do maldito esconde-esconde. Isso acabaria hoje.

A energia girou ao meu redor enquanto os elementos respondiam ao meu chamado e me empurravam para os céus em uma onda de poder tão grande que tirou o fôlego dos meus pulmões e me cegou com sua luz. Protegi os olhos, empurrando as cordas do Espírito que ameaçavam me afogar, e as coloquei para o outro lado.

Para a escuridão.

Tossi, cuspindo com o mau cheiro espalhado no ar, e pisquei uma dúzia de vezes para limpar o brilho de minhas retinas.

Mas me vi em uma cela forrada com barras de ferro que queimavam.

Literalmente.

Com fogo.

Que merda é essa? Eu me virei e meus pés tocaram um fluido indescritível. Ofeguei com o ar cheirando a sujeira e morte. Onde...

Pulei quando uma mão tocou meu braço, o toque tão frio quanto gelo.

— Claire?

A voz da minha mãe.

Foquei minha atenção nela.

E fiquei boquiaberta com a visão aterrorizante diante de mim.

Ela parecia um cadáver ambulante, seus ossos se projetando de todos os ângulos, seu cabelo de um branco medonho e seus olhos... eram tão incolores quanto a noite.

— M-mãe?

— Isso não é fofo? — uma terceira voz disse, soando cruel e muito familiar. — Finalmente uma reunião de família.

Olhei lentamente para a minha direita, através das barras de fogo, e encontrei os olhos da minha mentora.

— Olá, Elana.


— Claire! — O grito de Exos alcançou meus ouvidos, me tirando da tristeza e me apresentando um novo horror.

Uma Claire inconsciente.

Uma onda de choque da magia do Espírito se espalhou de Exos e Cyrus, batendo no meu peito e provocando uma vibração nas minhas costas.

Eles estavam ajoelhados ao nosso lado em um instante. Exos embalava a cabeça de Claire enquanto Cyrus se inclinava para ouvir sua respiração. Titus andava de um lado para o outro e as chamas queimavam cada centímetro de sua pele enquanto ele xingava.

O chão começou a tremer ao meu redor à medida que minha ira crescia.

Aflora ainda estava em meus braços, sua magia da Terra cheia de escuridão enquanto ela absorvia o peso da energia como uma praga girando no ar. Sua linhagem real forneceu a ela a fonte direta do nosso elemento, denotando-a como a guardiã perpétua de nossa magia. E ela estava fazendo sua parte, agindo como um escudo para o resto de nossa espécie.

Eu não pude ajudá-la, porque a praga se recusava a me tocar.

E minha linhagem não me permitiria entrar no lugar dela, não sem reivindicá-la como minha companheira.

O que eu não podia fazer.

Mas Claire...

— A praga a está atingindo também — falei em voz alta. A escuridão envolveu sua essência, um elemento espiritual que eu não deveria ser capaz de ver. No entanto, através do meu vínculo com Claire, estava lá. Tangível. Roubando a vida da minha companheira diante dos meus olhos.

Produzi uma cama de grama com meu elemento e coloquei Aflora nela, envolvendo-a em meu poder antes de me virar para ajudar Cyrus e Exos.

Mas eu não sabia o que fazer.

— Ela não está respirando de novo — Cyrus falou, furioso. — É a merda da fonte do Espírito!

— Então resolva isso, cacete — Titus ordenou enquanto suas chamas subiam cada vez mais.

— Não, é diferente desta vez. — Exos encostou a testa na dela, fechando os olhos e se concentrando. — Seu Espírito está aqui na Academia, só não está habitando seu corpo.

Olhei para ele.

— O que isso significa? — questionei, finalmente encontrando minha voz.

Porque era ridículo.

Tudo isso.

Por que isso está acontecendo?

— Não sei. Nunca aconteceu — Exos disse, levantando a cabeça. — Mas ela está viva. Tenho certeza.

— Claire! — Vox gritou. Sua voz carregava um apelo desesperado enquanto ele corria em nossa direção. Seu elemento girava, levantando-o do chão de forma que seus pés mal o tocassem enquanto ele corria. Seus olhos selvagens cintilaram com um anel prata quando ele caiu de joelhos ao lado de Cyrus. — Traga-a de volta — disse com urgência. — Traga-a de volta!

Exos segurou o ombro de Vox.

— Ela não está morta — ele garantiu.

— Ela não está respirando — Cyrus explicou com os dentes cerrados. — Mas Exos pode sentir seu Espírito.

— Onde? — questionei. Estávamos ficando sem tempo. Eu podia sentir a magia da terra se esvaindo do reino, ameaçando levar o que restava da minha linhagem.

Aflora podia não ser minha irmã de sangue, mas era como se fosse. Crescemos juntos. Aprendemos juntos. Sofremos com a perda da minha mãe e irmã juntos.

E agora, algo estava tentando Claire e ela de mim.

Isso era inaceitável.

Errado.

Cruel.

Não vou deixar acontecer.

Exos franziu a testa e seu olhar passou de nossa Claire para algum ponto invisível ao longe.

— Ela não está longe. Mas acho que está no subsolo.

O que significava que ela estaria fraca.

Faes Elementais não conseguiam acessar a fonte embaixo da terra. Se ficar lá por muito tempo, o Fae morreria.

— Precisamos nos separar — Exos continuou, se levantando e assumindo o comando como o rei que era. Normalmente, eu diria a ele para se foder. Hoje? Sim, hoje eu ansiava por sua liderança. Porque minha cabeça não estava boa. Estava nublada com lembranças da morte.

— Sol e Vox, vocês dois vem comigo — Exos disse.

— E quanto aos Faes da Terra? — perguntei, olhando para Aflora e depois para os outros. — Não posso simplesmente deixá-los. — Eu era o único acordado. E se um deles precisasse da minha força?

Não que eu soubesse como emprestá-la.

Mas eu descobriria.

Como eu estava tentando fazer quando Claire chegou.

— A Claire está no subsolo, Sol. Você pode ser o único a conseguir encontrá-la quando chegarmos perto o suficiente. — Exos olhou para Vox, apertando seu ombro novamente. — E você está totalmente ligado à nossa companheira. Você pode me ajudar a localizá-la.

Meus ombros caíram.

Porque ele estava certo.

Titus finalmente parou de andar, seu olhar encontrando o meu.

— Eu vou ajudar com os Faes da Terra — ele prometeu. — E o Cyrus vai cuidar da Claire.

Pela primeira vez, os dois não discutiram.

Cyrus apenas assentiu enquanto passava os dedos pelo cabelo de Claire.

— Vou continuar procurando no plano espiritual — ele falou baixinho. — Ela vai nos encontrar. Ela tem que nos encontrar.

Titus se ajoelhou ao lado de Aflora, olhando para o ninho que criei.

— Eu não vou deixar nada acontecer a ela, Sol.

Assenti, com a garganta fechada de emoção.

Nunca, nem em meus sonhos mais loucos, eu teria previsto tal decisão – minha companheira ou minha família.

Mas minha companheira era minha família também.

Uma escolha impossível. Algo pelo qual alguém pagaria, por me fazer sofrer isso. Fiquei de pé e o solo estremeceu sob o peso da minha frustração.

— Isso é fuligem? — Titus perguntou, apontando para a linha que subia pelo braço de Aflora.

Olhei para ele com uma careta. Realmente pareciam restos de um incêndio.

— Não temos tempo — Exos pressionou, chamando meu foco para si. — Temos que encontrar a Claire. Posso sentir sua agitação, o erro envolvendo seu Espírito. Ela precisa de nós. Agora.

— Vou cuidar da Claire e dos Fae da Terra — Cyrus jurou. Seus olhos azuis cintilaram com seu elemento, dando-lhes um brilho azul impressionante. Ele estendeu a mão e enviou suaves fluxos de água para alimentar as árvores que choravam e dar-lhes o alimento de que meu povo precisava para lutar contra essa doença. Ele olhou para mim cm a expressão determinada. — Não vou te decepcionar, Sol. Você não vai perdê-los. Hoje, não.

Pela primeira vez, me permiti ter fé em um membro da realeza.

Titus me deu um aceno tranquilizador.

— Vamos cuidar de tudo.

Acreditei nele.

Não por causa da severidade de sua expressão ou do jeito que ele disse, mas porque eu o conhecia. O companheiro que Claire escolheu. Membro do nosso círculo.

Como uma unidade, nós seis éramos poderosos.

E provaríamos isso hoje, uma certeza que senti em toda a minha alma. Estamos indo atrás de você, Claire.

Segui Exos e Vox através do Esquadrão da Terra, sentindo a raiva queimar em meu peito a cada passo porque não podíamos andar em linha reta, forçados a evitar os Faes da Terra que se contorciam, morrendo ao nosso redor. Meus instintos me imploraram para parar e ajudá-los, mas a prioridade da minha alma pertencia a Claire.

Minha mente vacilou por ter que enfrentar esse terror novamente, por ver os outros sofrerem enquanto eu sobrevivia. Não estava certo. Nada disso estava certo.

O chão tremia enquanto eu corria atrás de Vox e Exos.

Vox olhou para mim com preocupação, franzindo a testa.

— Guarde seu poder para quem está por trás disso.

Ele não estava me dizendo para conter meus dons, não mais. Vox havia mudado e eu também.

Mas ele estava me dizendo para ser inteligente.

As rachaduras irradiavam a cada passo pesado enquanto eu abraçava meu elemento.

— Não se preocupe — falei, com os dentes cerrados. — Há muito de onde isso veio. — Quando eu finalmente tivesse um alvo, adoraria quebrar todos os ossos do corpo do culpado.

Porque alguém tinha que estar por trás de tudo isso. As pragas não aconteciam simplesmente. Não, havia alguém provocando isso, e meus instintos me disseram que o mestre das marionetes estava atrás da minha Claire.

Exos fez uma pausa quando chegamos à mansão de Elana. Não me surpreendeu que tenha sido aqui que ele sentiu o Espírito de Claire, mas confirmou o que todos estávamos pensando.

Vinhas escuras guardavam a entrada, como um labirinto de magia de terra retorcida que estava em nosso caminho.

— Bem, isso é novo — Exos comentou.

Não compartilhei sua diversão.

— Saia do nosso caminho — ordenei, avançando contra o bloqueio da Terra. As videiras estalaram sob meu comando e a terra rugiu em favor de seu mestre que se aproximava – eu. Algumas das plantas retaliaram, me atingindo com a energia familiar, como se todo o meu povo estivesse aqui, protegendo Elana como sua rainha.

Por quê?

A magia e a energia estavam erradas aqui. Senti um poço de poder sob o solo – muito forte.

Vox e Exos me seguiram.

— Ela está aqui — Exos disse com veemência.

Mas eu não precisava que ele me dissesse isso.

Porque eu a senti também. Presa no subsolo. Assustada, mas não sozinha.

Lá.

Me ajoelhei com a intenção de rasgar o solo com meu poder quando a dor subiu e desceu pela minha espinha. Os gritos etéreos de Claire ecoaram pelas camadas de terra e me atingiram direto no peito. O solo começou a tremer, formando rachaduras.

— Voltem! — rugi no momento em que as colunas da mansão de Elana se estilhaçaram e o chão cedeu. Vox levou todos nós para a segurança da floresta com uma rajada de vento assim que as paredes da casa caíram.

— Claire! — gritamos ao mesmo tempo.

Mas nenhum de nós podia ser ouvido com o rugido de energia e poder que girava nas nuvens.

A mansão... desapareceu.


Alguns minutos antes


— Bem, isso apresenta um probleminha — Elana comentou, olhando para minha mãe. — Você tinha que se meter, não é?

— Que lugar é esse? — questionei, me virando e recuando quando mais daquela gosma tocou meu sapato. Bem, mais ou menos, de qualquer maneira. Eu não estava exatamente corpórea, mas mesmo na forma de Espírito, sentia o que estava ao meu redor.

Assim como os dedos gelados da minha mãe segurando meu braço.

— Vá, Claire — ela pediu. — Vá!

Mas não consegui.

Eu nem sabia como cheguei aqui, muito menos como sair. Então me concentrei em Elana e repeti minha pergunta a sobrancelha erguida.

Isso rendeu uma risada de Elana.

— Está querendo mandar em mim, criança? Isso é adorável. Você não conseguia nem convocar um Espírito corretamente. — Ela fez uma careta. — Ah, Claire. Eu tinha grandes esperanças para você. O que vou fazer agora?

Ir à merda e morrer? pensei. Mas sim, essa não era a melhor resposta para esta situação. Cruzei os braços e assumi uma posição casual, semelhante ao que Cyrus ou Exos fariam se estivessem no meu lugar.

— Você poderia começar se explicando — sugeri. — Quer dizer, nós duas conhecemos o mal da minha mãe. Mas você me disse que ela estava morta. — Então um pensamento me ocorreu e eu segui adiante. — Na verdade, você me disse que o corpo dela nunca foi encontrado e sugeriu que ela poderia estar viva. Por quê? Por que você a tinha sob custódia? — Inclinei a cabeça, fingindo confusão. — Por que escondê-la? Por que não contar a todos que você tem a fonte da praga?

Supondo que minha mãe tenha causado isso, acrescentei mentalmente. O que estou começando a duvidar.

A maneira como a expressão da minha mãe se desfez confirmou meus instintos, mas eu ainda queria uma explicação para tudo isso.

Respostas sobre a praga. Uma forma de ajudar os Fae da Terra. Por que está acontecendo tudo de novo agora? Meus lábios se achataram. Espere um minuto...

Por que está acontecendo de novo?, repeti para mim mesma, meus sentidos captando algo que eu tinha deixado passar.

Elana.

Ela estava cercada por Espíritos, seus tentáculos caóticos e apavorados enquanto tentavam se afastar. Como se ela os estivesse sugando com um feitiço de convocação...

— Como você chegou aqui? — Elana questionou, ignorando minhas perguntas.

Será que ela sabe que posso ver todas aquelas almas ao seu redor?, eu me perguntei. Ela deveria imaginar, já que eu estava em meu estado de Espírito. Humm, mas seria melhor não confirmar.

Então suspirei, fingindo estar agitada.

— Exos continua tentando me ensinar como alcançar os planos espirituais. — Não era exatamente uma mentira. — Ele me disse para procurar uma alma que eu conhecia, e achei que estava indo para o Sol, mas de alguma forma acabei aqui. — Bem, isso não era totalmente verdade, mas tinha alguns traços.

O suficiente para dar confiança ao meu tom, de qualquer maneira.

— Não faço a mínima ideia de como voltar para o meu corpo — acrescentei com sinceridade. — Mas já que estou aqui, adoraria saber o que está acontecendo. — Arqueei uma sobrancelha, olhando para minha mãe encolhida e de volta para Elana. — Você a encontrou espreitando pelo campus? Porque suspeitamos que ela teve algo a ver com o desaparecimento de Exos no mês passado.

Elana arqueou a sobrancelha em um exemplo perfeito de surpresa.

— Que desaparecimento?

Lutei contra a vontade de zombar. Como se você não soubesse.

Em vez disso, eu disse: — Alguém o pegou e sugou sua energia. Ele disse que parecia muito com Ophelia. — Olhei para minha mãe trêmula, e sua mão não estava mais no meu braço. — Você tentou matar meu companheiro. Vai pagar por isso. — Uma ameaça vazia, mas me imaginei dizendo as palavras para Elana, então saíram tão letais quanto eu desejava.

Minha mãe abriu a boca como se fosse responder, apenas para estremecer quando sua mandíbula se fechou.

Um fio de energia percorreu seus lábios até Elana, como se ela usasse um focinheira amarrada a uma guia. Será que consigo ver isso por causa do meu estado? Ou meus poderes aumentaram?

Elana deu um de seus sorrisos indulgentes.

— Na verdade, eu a encontrei recentemente. Só não decidi o que fazer com ela ainda.

Claro, pensei.

— O que ela estava fazendo? — perguntei, querendo ver até onde essa mentira iria.

Elana acenou com a mão como se rejeitasse a pergunta.

— O que importa é que eu a peguei e podemos buscar justiça. Eu estava tentando descobrir o que ela fez aos Faes da Terra. Isso serviria como uma lição adequada para você, se quiser se juntar ao nosso interrogatório.

Cara, ela é boa.

Ainda desempenhando o papel de mentora perfeita, apesar das óbvias bandeiras vermelhas.

Mas ei, por que não jogar junto? Não era como se eu soubesse como sair daqui, e talvez eu conseguisse pegar alguns detalhes importantes ao longo do caminho.

— Eu adoraria — eu disse, sem mentir. — Já que eu não tenho ideia do que estou fazendo.

— Não sei, Claire. Você parece estar indo muito bem. Aparecer nesta forma fora dos planos espirituais, como você está agora, requer muito poder. É algo que nem eu posso fazer. — Uma pontada de inveja passou por seu olhar, mas ela piscou, afastando-a e assumindo uma expressão carinhosa. — Tenho grandes planos para você.

Aham. Para fazer o quê?, me perguntei.

— Bem, onde estávamos, Ophelia? — Elana continuou, sua máscara escorregando apenas um fio enquanto ela se concentrava em minha mãe.

O medo irradiava dela, que estava com os dedos cerrados enquanto lutava contra o tentáculo do Espírito pairando em sua boca.

O que você quer dizer? pensei, tentado a afastar aquele fio, para revelar suas verdadeiras palavras.

Parecia fácil.

Só precisava agitá-lo com minhas garras.

— Ela está mentindo! — minha mãe gritou quando o tentáculo desapareceu e meu coração quase saiu pela boca no processo.

Merda. Eu fiz isso?

Mas não tive tempo para me preocupar, porque ELA assumiu o centro do palco, falando depressa várias verdades que perturbaram minha própria alma.

— Não é uma praga. É a Elana. Ela está se alimentando dos Faes da Terra como se alimentou do Espírito Fae. É magia sombria, Claire. Ela extrai os elementos, os pega emprestados, os mata. Não sou eu. Mas descobri o que ela estava fazendo quando ela me forçou a me vincular a Mortus, usando a compulsão de Espírito. Eu me libertei quando fui para o Reino Humano, mas conheci seu pai e então ela veio me buscar. Eu tive que te deixar, Claire. Tive que deixar vocês dois para trás. Mas ela me incriminou por tudo isso.

Tudo saiu tão rápido, com tanta intensidade que Elana não teve tempo de impedi-la.

Principalmente porque eu parecia ter seu fio preso em meu punho mental.

Algo que sua expressão me disse que ela notou.

Ops.

Desculpe, não me arrependo.

Engoli em seco quando o verniz de mentora calma desapareceu, revelando uma expressão mais sombria que fez os pelos ao longo dos meus braços se arrepiarem. Seus lábios se entreabriram em um sorriso de escárnio que me fez estender a mão para Exos. Mas não consegui encontrá-lo. Ou Cyrus. Ou Vox. Ou qualquer um dos meus companheiros.

Ah, eles estavam lá. Mas não estavam. Como se eu os tivesse deixado em meu estado atual, semelhante a quando me aventurei na luz branca.

Merda.

Eu deveria ter avaliado a situação antes, mas me distraí com minha mãe e Elana.

Mas agora ficou claro que eu estava sozinha para encontrar uma maneira de sair dessa.

— Eu poderia tentar negar, mas qual seria o sentido? — Elana deu um passo em direção às barras, focando os olhos em minha mãe. — Você tem sido uma decepção para mim, Ophelia. Várias vezes. — Ela fez um barulho com a boca e o som me lembrou de unhas em um quadro-negro.

Uma adaga de gelo disparou de sua mão em direção ao peito da minha mãe, algo que manipulei com meu Fogo para derreter antes do impacto.

Elana grunhiu, enviando outra e eu repeti o gesto antes de criar uma capa de chamas para proteger minha mãe de novos ataques.

— Você tem escondido coisas de mim — minha ex-mentora me acusou, mudando de tática e se concentrando em mim. — Se os Faes soubessem o quanto você se tornou poderosa... — Ela parou, batendo em sua mandíbula. — Bem, imagino que compartilharíamos uma câmara de execução. É o que os Faes fazem com aqueles que consideram diferentes. É tudo uma questão de equilíbrio, tentando evitar guerras entre os sobrenaturais, porque todos temem o verdadeiro poder. Que você e eu possuímos, Claire. Em abundância.

Ela deu um passo ameaçador e envolveu os dedos nas barras, completamente imperturbável pelo calor que emanava do escudo de fogo que criei.

— Eu sei como é — ela murmurou. — Não ser aceita por sua própria espécie, sendo chamada de nomes depreciativos como Halfling ou Fraca. Ser um Espírito Fae com acesso a apenas um elemento me pintou como insignificante para a maioria. Eles me provocavam ou tinham pena de mim. — Seus lábios se achataram. — Não foi uma existência fácil, sabendo que eu não poderia contar a ninguém minha verdadeira natureza. Saber que se alguém descobrisse que meu pai era um Fae da Meia-Noite, eu seria queimada viva. Não é como se eu tivesse escolhido meus pais, mas os Faes não se importam, Claire. Eles discriminam quem temem.

Engoli em seco. Porque o que ela descreveu combinava com o que Exos, Cyrus e Kols me disseram. Abominações, eles disseram. E eu estava totalmente ciente de como os outros me trataram por ser uma Halfling, como uma barata indesejada em um mar de borboletas.

Mas eles estão diferentes agora, disse a mim mesma, me lembrando do baile. Eles foram... legais.

Por que gostaram de mim?

Ou por causa de meus laços com meus companheiros?

— Você sabe que é verdade — Elana falou, lendo meus pensamentos com astúcia. — Eles queriam te banir para os campos da morte apenas por existir, Claire. Mas fui eu que me certifiquei de que isso não acontecesse. Fui eu quem te protegeu, me ofereci para ser sua mentora, dei meu aval a você. Porque não acredito em julgar alguém apenas por causa de seu nascimento. Eu valorizo seu poder, Claire. Quero ver o quanto você pode crescer.

— Não dê ouvidos a ela — minha mãe a interrompeu. — Ela só quer te usar, Claire. Como ela... — Ela parou com um gorgolejo enquanto água saía de sua boca.

Puta merda! Seus pulmões estavam transbordando de líquido. Me concentrei no elemento, chamando-o para mim e implorando para ele se dobrar ao meu controle. Mas Elana tinha uma compreensão mais firme, sua idade e experiência ultrapassando em muito as minhas.

— Ophelia, você serviu bem e ao seu propósito aqui — Elana declarou em um tom perverso que congelou o ar. — Quando eu apresentar seus restos mortais aos Faes, eles se curvarão aos meus pés em adoração, me agradecendo por encontrar aquela que atormentou a espécie deles. Talvez eu faça isso a tempo de salvar os Faes da Terra de seu destino.

Os olhos da minha mãe se arregalaram e sua expressão era de um apelo que cortou meu coração.

Não!

Não terminamos ainda.

Eu precisava de respostas.

E parecia que minha mãe possuía todas elas.

Ela começou a ter convulsões, afogando-se no líquido que obstruía suas vias respiratórias. Mas o elemento me recusou, pois o domínio de Elana sobre ele era forte.

Um elemento que ela nem deveria ser capaz de tocar, pensei, franzindo a testa. A menos que não seja Água, mas algo totalmente diferente. Algo como magia sombria.

Arregalei os olhos.

Merda.

Eu não poderia lutar contra seu lado Fae da Meia-Noite. Mas poderia usar meus próprios dons.

Como a Terra.

As raízes se moveram sob o piso de concreto, implorando por minha atenção. Peguei duas delas e as empurrei bem debaixo de seus pés para desestabilizar sua postura.

Ela tropeçou e sua concentração se perdeu por um momento.

Mentalmente agarrei mais duas raízes, enviando-as para agarrá-la, mas ela se esquivou e enviou uma centelha de fumaça para circundar o galho. Ele estalou e a agonia vindo do solo quase me colocou de joelhos.

Mas eu não tinha acabado.

Pedras, sujeira e terra responderam ao meu chamado, desmontando o chão e criando um terreno acidentado que a pegou desprevenida. Ela caiu com um grunhido.

E minha mãe cuspiu ao meu lado, finalmente conseguindo respirar.

Me ajoelhei ao lado dela, sem saber como libertá-la. As barras eram de ferro, grossas, incrustadas de magia inflamável. E não o elemento que eu adorava, mas uma essência mais dura que parecia responder somente a Elana.

Ela saltou com um rugido e uma horda de fios escuros se contorceram ao seu redor.

Faes da Terra.

Eles estavam lutando, gritando, tentando escapar.

Mas ela estava os sugando, absorvendo mais e mais de seu poder.

Sol está entre eles? me perguntei, sentindo meu coração travado na garganta. Aflora? Quantos outros?

Eu tinha que fazer algo, qualquer coisa, para parar essa loucura.

Não podia continuar.

Eu não a deixaria derrubar os Faes da Terra como ela fez com o Espírito Fae. Condenar um Fae à morte por causa de sua linhagem e habilidades era errado, sim. Mas a resposta de Elana, seu tormento, suas reações violentas, tornaram tudo muito pior.

Tinha que haver outra maneira.

Me recusei a aceitar a sua escolha, a concordar com uma mentalidade tão fodida.

Essa não pode ser a solução.

Abri os braços e meus elementos se juntaram, se debatendo dentro de mim, me pedindo para intervir, para resolver. Para ajudar os Faes da Terra presos em torno da sua aura. Libertar minha mãe. Encontrar outro método de coexistência. Derrubar a má influência que ameaçava a fonte do bem elemental.

O calor engolfou meu ser e meu Fogo cresceu, apaixonado e quente.

O gelo caiu em cascata pelas paredes e ao longo do ferro, penetrando na energia brutal e enrolando-se em anéis invernais.

As rochas retumbaram sob meus pés, respondendo ao meu chamado e vibrando com necessidade de vingança.

Uma brisa tocou meu rosto, girando em círculos rápidos para cima e para baixo no corredor, procurando uma maneira de me libertar.

E meu Espírito prosperou. Minha essência alcançou todas as almas agonizantes que flutuavam neste calabouço, emprestando força para a sobrevivência e a vida.

Vitalidade, percebi, invocando a fonte ao fechar os olhos. Eles precisam de vitalidade.

O caos estourou quando Elana entoou palavras estranhas, fazendo sua própria magia lutar contra a minha, abrindo buracos mortais ao nosso redor.

Visões de fantasmas uivando de dor pintaram o calabouço de um jeito medonho. As bocas estavam escancaradas e famintas enquanto eles começaram a rastejar em nossa realidade, a presença perturbando o equilíbrio entre a vida e a morte.

Tudo começou a tremer.

As fundações da construção ao nosso redor não conseguiram se manter por causa de tanto poder e injustiça.

Agarrei minha mãe, convocando as raízes a se inclinarem ao nosso redor para criar um domínio impenetrável e exigi que as almas sob a terra se agarrassem à minha essência.

Elas vieram em ondas, deixando Elana de fora do refúgio seguro que criei enquanto minha Água fluía em uma fonte acima de minhas raízes para afastar os destroços que caíam em nós.

Mas havia muito.

O poder era muito grande.

A energia zumbia ao meu redor e minha mãe se encolheu sob o ataque violento. Eu não podia nos segurar por muito mais tempo, tinha que fazer algo para nos salvar.

A escuridão atingiu a minha visão, me deixando perdida.

Gritei, sentindo a garganta entupida com terra. Raízes. Árvores. Flores. Plantas. A vida explodia ao meu redor, através de mim, consumindo cada centímetro do meu ser.

— Claire!

Meus companheiros estavam chamando por mim.

Minha mãe também.

Me debati violentamente, lutando contra os tentáculos que me seguravam e a nuvem de fumaça que sufocava meu Espírito. Mãos quentes agarraram meus ombros nus, me sacudindo.

Os lábios encontraram minhas bochechas, meu cabelo, meu pescoço.

Meu nome ecoou no ar.

Palavras se seguiram.

Era tudo uma confusão, meu corpo emaranhado em um frenesi de membros, calor e elementos.

Água.

Fogo.

Eu me deliciei com a familiaridade, perdida nas sensações calmantes.

Até que meus olhos se abriram para encontrar o céu.

E dois companheiros muito irritados.


A energia zumbia no ar, parecendo trazer o corpo de Claire de volta à vida.

E seus olhos se abriram.

Fiquei boquiaberto, chocado com a mudança repentina.

Mas Cyrus grunhiu baixo antes de dizer: — Preciso que você pare de fazer isso, Claire.

— Não posso concordar mais — eu disse, sem perder o ritmo. Sua falta de ar tinha me assustado pra caramba. Se Exos não tivesse certeza absoluta de que seu Espírito ainda prosperava...

Não, eu não conseguia pensar nisso agora. Tínhamos coisas mais importantes com que nos preocupar, como os Faes da Terra se movendo ao nosso redor. Uma essência terrena encheu o ar, revigorando-os e fazendo vários gemerem.

Embora Claire não fizesse nenhum som. Sua sobrancelha franziu como se estivesse confusa. Então ela se endireitou.

— Tenho que parar a Elana! — Ela tentou se levantar, sendo envolvida nos braços de Cyrus.

— Você precisa nos dizer o que está acontecendo — ele corrigiu.

Ela balançou a cabeça, empurrando-o para longe, mas desabando novamente. Seu peito arfou quando ela respirou fundo, sua pele estava um pouco pálida demais para o meu gosto.

— Calma, Claire — murmurei.

Cyrus a firmou e sua expressão suavizou em linhas de preocupação.

— Seu corpo precisa de um momento para se ajustar. Você sabe, porque seu Espírito de alguma forma se desligou. De novo. — Ele deu um beijo em sua bochecha, o ponto brilhando em azul com seu elemento enquanto ele lhe dava o poder de que ela precisava.

Me ajoelhei ao lado deles e segurei seu quadril para emprestar a ela um pouco do meu Fogo. Lentamente, a cor voltou a suas feições, aquecendo sua pele fria.

— Elana — ela conseguiu dizer, com a voz rouca. Ela limpou a garganta para tentar novamente. — Ela está com a Ophelia. E a está. Drenando a todos eles. — Ela engoliu em seco e tentou se levantar novamente. — Preciso ir. Agora.

— Você precisa absorver mais energia — Cyrus disse, envolvendo-a com mais firmeza nos braços.

Os Faes da Terra começaram a choramingar ao nosso redor, movendo as cabeças enquanto perguntas saíam de seus lábios. Nenhum deles era coerente. Todos estavam perdidos para a praga que os derrubou.

— Eles estão se recuperando — Cyrus disse, observando o Esquadrão da Terra com interesse. — O que você fez, Claire? O que você encontrou?

— Elana. — Claire se afastou de nós com muito mais força do que Cyrus ou eu prevíamos, permitindo que ela se levantasse. Ela fugiu antes que qualquer um de nós tivesse a chance de agarrá-la.

— Claire! — Cyrus gritou, sua voz ecoando ao vento enquanto eu seguia atrás dela em uma corrida mortal. Senti que ele estava me seguindo. Eu não tinha dúvidas de que ele estava tão frustrado quanto eu. Nossa companheira tinha tendência de correr em direção ao perigo sem pensar. Eu não iria deixá-la sair da minha vista.

Seguimos através dos Faes da Terra que se recuperavam. Raízes e cipós se enrolaram em seus membros e os ergueram. Os homens pareceram crescer e brotaram flores nos cabelos das mulheres.

— Isso é coisa sua? — perguntei a Cyrus. Ele estava tentando devolver a vida a eles enquanto protegíamos Claire, mas sem muita sorte.

Ele balançou a cabeça enquanto mantinha o ritmo ao meu lado.

— Não. O que quer que os estivesse infectando, desapareceu. — Ele parou e foi para a direita, seguindo Claire. — Senti a presença das trevas se dissipando um pouco antes da Claire acordar.

Brotos se formaram nos passos da nossa companheira enquanto ela corria, sugerindo que ela poderia estar curando os Faes da Terra.

Fiz uma careta, sem saber ao certo como me sentia sobre isso. Ela não poderia salvar a todos. Se ela gastasse toda a sua energia, não sobraria nada para si mesma.

Chegamos à mansão de Elana – ou o que restou dela – e encontramos Sol arrancando pedaços de rocha da terra. Uma pedra maior do que a minha cabeça passou por mim e eu me abaixei.

— Ei! — gritei. — Estamos com a Claire. Pode parar de cavar.

— Tem algo lá embaixo — Sol resmungou, jogando outra pedra por cima do ombro.

Focado em sua tarefa, Vox ajudou Sol, afastando os destroços com rajadas controladas enquanto Exos apontava para um único local.

— Lá! — ele gritou.

Paramos bem a tempo de encontrar Sol desenterrando um punhado de vinhas e raízes. Me arrepiei quando senti a magia de Claire dentro da cratera de poder elemental.

Claire mergulhou no poço e se agarrou a Sol enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto.

— Ela está viva? — Claire olhou para mim e mordeu o lábio. — Titus, você pode queimar apenas a camada superior? Por favor, seja cuidadoso. Temos que tirá-la de lá.

Ela quem? me perguntei.

Claire agarrou-se ao que restava da camisa de Sol enquanto seus olhos imploravam a mim.

— Titus. Por favor.

Tudo bem. Eu não sabia o que ela queria daquela pilha, mas claramente significava algo. E se ela não queria derrubar a cratera, era porque não confiava em seu próprio controle.

Estalando os nós dos dedos, me preparei para a tarefa. No meu estado atual, eu teria problemas para fazer isso sem fazer algo explodir. Mas faria por Claire e por quem ela protegia dentro do feixe de terra.

Respire fundo.

O suor apareceu na minha testa enquanto eu me concentrava.

Devagar agora...

Transformei minha chama em uma corda fina que enviei pelo ar com a maior precisão que pude. Ele pousou no topo do ninho como uma serra, que usei para cortar a camada superior.

Então a segunda.

E a terceira.

Até que finalmente uma mão fantasmagórica se soltou da abertura. Enviei um fogo largo, atingindo a lateral com cuidado.

E um corpo cadavérico caiu.

Claire pegou a mulher cujos ossos se projetavam de todos os ângulos e a abraçou contra o peito.

— Me ajude — ela disse, olhando para Exos. — Ajude-a.

Ele pulou na cratera que Sol havia criado e a pegou nos braços, observando atentamente seus restos mortais.

— Ela está faminta de energia. Fraca. Teremos muito trabalho, mas não é tarde demais.

Cyrus se ajoelhou ao lado do buraco para pegar Ophelia – ou quem presumi ser Ophelia, já que era difícil dizer com sua forma decrépita – nos braços.

Sol tirou Claire da caverna enquanto Exos subia por conta própria.

E o Fae da Terra saiu sozinho.

— Como está o meu povo? — ele questionou, olhando para mim.

— Se recuperando — eu disse. — Cyrus disse que a praga se foi.

— Não é uma praga — Claire interrompeu. — Era a Elana. Ela estava usando magia sombria para sugar a energia deles.

— Por quê? — Exos questionou, mantendo o foco em Ophelia e não em Claire. Mas sua pergunta era precisa, como sempre.

— Ela falou algo sobre ser uma abominação, disse que o Conselho a mataria se soubessem sobre seu direito de primogenitura. Ela disse que vão me matar também quando perceberem o quanto eu sou poderosa. — Ela engoliu em seco e balançou a cabeça. — Acho que ela estava tentando me recrutar.

Cyrus e Exos trocaram um longo olhar.

Então o Rei dos Espíritos olhou para mim, Vox e Sol.

— Cyrus, a Claire e eu temos muito trabalho a fazer. A Ophelia está por um fio. Preciso que vocês verifiquem os outros Faes na Academia, certifiquem-se de que estão todos bem. Porque, aquela onda de energia que acabei de sentir? Foi alimentada pelos Faes daquela área.

Eu concordei.

— Pode deixar. Vamos cuidar disso.

— Ótimo. — Ele olhou para Claire. — Vamos voltar para o Esquadrão do Espírito. Será um lugar tranquilo e seguro para começarmos a transfusão de energia. Mas preciso que você tenha muito cuidado, Claire. Sem mais visitas à fonte sem mim.

— Ela nem deveria ser capaz de fazer isso — Cyrus murmurou ao seu lado.

— Essa é uma conversa para outro dia, irmão — Exos disse, já se afastando. — Vamos lá.

Sol pareceu pensar duas vezes. Seu desejo de abraçar Claire estava estampado em seu rosto, mas ele respirou fundo e endireitou os ombros. — Estarei no Esquadrão da Terra.

— Vou verificar o da Água e do Ar — Vox falou.

— Isso me deixa com o Esquadrão do Fogo. — Saí correndo em direção ao caos, sem saber como ajudar de verdade, mas determinado a encontrar uma forma.

Tufos de terra estavam espalhados em todas as direções, deixando marcas no chão na minha corrida para o Esquadrão do Fogo. Faes enfraquecidos cambaleavam e seguravam as cabeças como se estivessem atordoados enquanto outros gritavam por respostas.

Insanidade total.

Mas um Fae chamou minha atenção.

Mortus.

O Fae mais velho cambaleou, dando um passo para trás, e sua expressão era de perplexidade e confusão.

Estendi a mão para firmar o professor e notei sua falta de Fogo.

— Mortus — eu o chamei. — O que há de errado?

Ele piscou, e seus olhos escuros estavam perdidos.

— Eu... não sei. — Ele se inclinou e baixou a voz. — V-você poderia me dizer...? Em que ano estamos?


Quando me deparei com o Esquadrão da Terra, parei para avaliar os danos.

Não estava tão ruim quanto eu temia. Provavelmente devido aos riachos azuis cintilantes que Cyrus havia espalhado pelos jardins. As árvores anteriormente murchas agora se erguiam em linha reta e exibiam folhas e frutos frescos, junto com galhos sólidos que alcançavam o sol. E o solo respirava com vitalidade, feliz por ter absorvido os nutrientes líquidos do Príncipe da Água.

Vi Aflora cuidando de outro Fae da Terra na sombra de uma das árvores maiores. Ela pressionou a palma da mão no tronco e puxou seu poder de cobre, brilhando enquanto ela se alimentava da fonte de nosso elemento, e presenteou a pequena Fae ao lado dela.

O alívio iluminou meu peito.

Ela está viva.

— Aflora — eu disse, e ela olhou para mim com os olhos azuis brilhando com partículas de magia esmeralda. Sorri e apoiei uma mão em seu ombro pequeno. — Você não deveria estar usando sua magia agora. Há poucos instantes, você estava inconsciente.

Quase morta.

Olhei seu pescoço, procurando por aquelas listras pretas. Além de alguma fuligem persistente, não consegui detectar a doença que a tomou de forma tão repentina.

Ela deu de ombros.

— Estou bem, Sol. — Ela me deu um sorriso confiante. — Ninguém derruba essa Fae da Terra.

Fiz uma careta, não querendo minimizar o quanto ela esteve perto da morte.

A Fae ao lado dela gemeu quando as linhas negras recuaram sob a magia de Aflora.

— Pronto — Aflora murmurou, aparentemente satisfeita enquanto apoiava a Fae da Terra contra o tronco robusto. — Aproveite seu poder — ela instruiu. — Você vai se sentir melhor em breve.

Mesmo que Cyrus tivesse apoiado os Fae da Terra, a recuperação milagrosa de Aflora não me desceu bem.

Olhei ao redor do pátio novamente, observando quantos dos outros se pareciam com a Fae que Aflora tinha acabado de tratar, todos apoiados na substância acobreada da Terra para sobreviver.

Mas alguém lhes deu um pontapé inicial.

Foi algo que Claire fez ou o domínio de Aflora sobre a fonte era mais forte do que eu imaginava anteriormente?

Aflora enxugou as mãos enquanto se levantava e revirava os olhos.

— Por que você está olhando assim para mim?

Afastei um pouco da fuligem de seu ombro e esfreguei os dedos.

— Não está certo, Aflora. Você precisa reservar sua magia, não gastá-la.

Ela deu uma risadinha.

— Olha você, todo mandão. Eu sabia que havia um membro da realeza aí em algum lugar.

Agora era a minha vez de zombar.

— Você é a princesa, Aflora. Com o tempo, será você quem conduzirá nosso povo de volta à civilização frutífera que deveria ser. — Eu sabia que ela sempre achou que faríamos isso juntos, mas eu nunca poderia acasalar com ela. Não só porque Aflora era como uma irmã para mim, mas também por causa das cicatrizes em minha alma. Eu não sabia quem ou o que as colocou lá, mas isso me manteve isolado da praga que infectou meu povo.

Não que isso importasse. Eu não era um líder. Passei minha vida inteira tentando descobrir como lidar comigo mesmo. No entanto, eu estava progredindo graças a Vox, Claire e o resto do meu círculo de companheiros. Hoje confirmei isso, pois foi a primeira vez que pude confiar em outra pessoa para carregar meus fardos comigo.

Não estou mais sozinho.

Aflora e eu seguimos através do Esquadrão da Terra, e fiquei maravilhado com como os Faes estar mais fortes do que antes, como se experimentar outra luta com a escuridão os tivesse afastado dos longos anos de supressão e agora eles podiam respirar pela primeira vez.

Contei a Aflora o que sabia até agora, sobre Elana, e como suspeitávamos que ela era uma Halfling Fae da Meia-Noite. Claire confirmou com seu comentário sobre a magia sombria, mas eu não sabia o que mais foi dito.

— Magia da morte? — Aflora questionou. — Você acha que ela vai trazer os mortos aqui?

— Não sei — admiti. — Mas precisamos estar prontos. — Examinei os Faes da Terra mais fortes, notando a vitalidade crescente, e assenti.

Pode ser o suficiente.

O suficiente para um exército.


Vou matar aquela vadia, pensei, imaginando Elana.

Ela absorveu o Ar de vários Faes. O suficiente para criar o vórtice gigante que engoliu toda a sua casa.

Deixou destroços e Faes aterrorizado por todo o campus. Eu me encontrei com vários dos professores, contei a eles o que tinha acontecido e os avisei de que isso era apenas o começo. Porque, Elana? Ela estava viva. Eu sabia porque tinha visto sua energia subir para aquela porcaria de nuvem antes de tudo desaparecer.

Um truque bacana, com certeza.

Eu adoraria replicar com fogo e vê-la queimar viva.

Uma tarefa para outro dia. Porque eu precisava de um cochilo primeiro.

Não, eu precisava da minha Claire.

Todos os Faes do Ar e da Água estavam sob controle, com a supervisão de professores, me deixando sem muito o que fazer além de voltar para casa.

Usando uma rajada de vento, me impulsionei de volta para o Esquadrão do Espírito e abri as portas.

Claire se assustou no abraço de Exos e seu olhar encontrou o meu.

Cyrus apenas bateu com a palma da mão na mesa para impedir que os papéis voassem. Seu olhar estava focado em um livro aberto.

— Necromancia nem começa a descrever o que a Elana fez hoje — Cyrus disse. Ele virou uma página e franziu a testa. — Kols nos deu uma porcaria de livro. Eu juro que essa coisa é inútil.

Com base no humor azedo de Cyrus, decidi nem perguntar o que ele queria dizer com isso e fui até minha companheira.

Claire esfregou os olhos enquanto Exos a ajudava a se levantar.

— Como foi? — ela perguntou meio grogue enquanto vinha sem esforço para os meus braços. — Os Faes do Ar estão bem?

Balancei a cabeça enquanto colocava meu queixo embaixo da sua orelha e me entregava aos seus elementos.

— Só alguns foram enfraquecidos pela sanguessuga de poder — eu disse, me afastando com relutância. — Elana parecia se concentrar principalmente nos Faes da Terra, menos nos momentos finais.

— Espero que o Sol esteja bem — minha companheira comentou. Sua dor alcançou nosso vínculo e eu a apertei contra meu peito.

— Ele vai ficar — prometi, embora soubesse que o Fae da Terra estava completamente abalado. Emoldurei o rosto de Claire. — Todo mundo está bem, Claire. Graças a você. — E seja lá o que ela fez com Elana. Eu queria ouvir mais, mas também não queria pressioná-la. Ela parecia prestes a desmaiar de exaustão.

Seus lábios se curvaram em um sorrisinho enquanto segurava minhas mãos.

— Acredito que sim.

Toquei seus lábios com os meus.

— Confie em mim.

Ela começou a assentir assim que Titus e Sol entraram no dormitório.

— O Mortus, puta merda — Titus disse como forma de saudação, esfregando sua têmpora. — Eu o deixei sob os cuidados de alguns Faes do Fogo, mas teremos que fazer algo sobre ele. O cara não se lembra de absolutamente nada desde que acasalou com a Ophelia.

Franzi o cenho.

— O quê? — Isso era novidade para mim, mas a falta de surpresa dos outros sugeria que eles já sabiam.

— Ele disse qual foi a última coisa que se lembrava? — Claire perguntou.

Titus balançou a cabeça.

— Sua última memória é de quando ele era estudante.

Exos assobiou.

— Isso foi há mais de duas décadas.

— Então ele esteve sob o controle de Elana todo esse tempo? — Claire parecia chocada. — Isso é horrível.

— É o poder de um Espírito Fae — Sol murmurou, desabando no sofá. — Como está a sua mãe?

Cyrus finalmente se afastou de seus textos e apoiou a mão na mesa. — Nós a estabilizamos por enquanto. Ela permanecerá em coma até que se recupere o suficiente para se libertar do que Elana fez. — Ele deu de ombros. — Podemos curar seu corpo, mas só ela poderá curar sua mente.

Claire estremeceu e se encostou no meu peito.

— O quanto você acha que ela pode nos dizer sobre a Elana? — Seus dedos deslizaram para baixo da minha camisa e percorreram círculos lentos no meu abdômen, como se o contato a desse conforto. Liberei um pedaço da minha conexão com a fonte no toque de Claire, tentando rejuvenescer seu poder.

— Ela terá muitas das respostas que procuramos — Cyrus confirmou. — Mas isso vai levar tempo.

— Isso se for possível — Exos acrescentou com uma carranca. — Duas décadas de tortura. Você realmente acha que ela pode se recuperar disso?

— Só há uma maneira de descobrir — seu irmão respondeu.

O que significava que teríamos que esperar, e tempo era a única coisa que não tínhamos ao nosso lado. Dei um beijo de leve no cabelo de Claire. Ela sorriu para mim, sem precisar falar nada para expressar que ela sabia que estávamos aqui para ela e que eu a amava.

— Esperamos que ela acorde logo — Titus disse, se juntando a Cyrus na mesa.

Claire franziu a testa.

— E o que planejamos fazer nesse meio tempo? Apenas esperar a Elana nos atacar novamente?

— Sim — Cyrus disse e seu tom era o de um rei. Decidido e sem espaço para discussão. — Só que desta vez, quando ela retornar, estaremos prontos para ela.

Titus sorriu com malícia enquanto uma chama cintilava nas pontas de seus dedos.

— Agora você está falando a minha língua.

Cyrus sorriu.

— Eu digo isso há anos, Fae do Fogo. Você simplesmente não era muito hábil em ouvir.

— Parece que você quer começar a lutar agora, Príncipe da Água — Titus retrucou.

— Agora você está tentando me seduzir — Cyrus respondeu, fechando seu livro. — Mas podemos nos enfrentar amanhã, Campeão Sem Poder. Ver como você se comporta com o seu elemento. — Ele balançou as sobrancelhas em desafio. — Você vai precisar.

— Assim como todos os outros — Exos interrompeu.

— Parece que temos um novo curso para a Academia — Titus disse, sorrindo. — Algo que eu adorarei liderar.

Cyrus bufou.

— Vai ser mais como coliderança.

— Certo. — Titus sorriu. — Podemos chamar assim.

— Independentemente disso — Exos se levantou, interrompendo sua pequena disputa —, quando a Elana voltar, nós vamos derrubá-la — disse, seu tom não tolerando nenhum argumento. — Juntos.

— Juntos — todos concordaram.


No centro de cada elemento existe uma luz tão brilhante que cega aqueles com intenções indignas. Só posso esperar que ela encontre meu coração puro e me presenteie com a força para sobreviver. Pois uma guerra está se aproximando. Algo que todos nós precisamos desesperadamente vencer.

Claire


— De novo — Cyrus exigiu, olhando para River enquanto ele criava um chicote de água e o balançava no ar. Quando anunciamos nossas intenções de treinar alguns dos Faes para o retorno de Elana, vários alunos e até mesmo professores aproveitaram a oportunidade para aprender.

Outros fugiram para seus reinos e a Academia fez uma pausa até que a situação aqui pudesse ser resolvida.

Aparentemente, descobrir que o principal membro do Conselho e Chanceler da Academia era uma vadia do mal transformou tudo em um show de horrores. Quem podia imaginar?

Mas Cyrus e Exos estavam confiantes de que ela voltaria. No mínimo, para buscar Claire.

Eu não tinha tanta certeza, porque não entendia os motivos de Elana. Claro, ela era uma abominação. Ela odiava a forma como as pessoas a tratavam e decidiu aumentar seu poder em busca de vingança. Pareceu um pouco extremo para mim, mas eu nunca sofri tanta crueldade.

Exos afirmou que isso realmente mexeu com a cabeça dela.

Cyrus disse que a falta de treinamento do seu lado Fae da Meia-Noite, pode tê-la levado a usar a magia da morte de forma equivocada.

Minha opinião? Ela era uma vadia sedenta por poder para controlar os Faes.

Claire parecia concordar comigo.

Bati meu bastão no dela, contra-atacando e sorrindo enquanto as chamas dançavam entre nós.

— Ora, ora, Claire — provoquei. — Não deixe essas emoções comandarem seus movimentos.

— Não sei do que você está falando — ela respondeu, enviando uma onda de líquido sobre minha arma e esfriando meu Fogo. Ela se preparou para outra posição de luta enquanto as chamas em seus olhos os deixavam vidrados com o brilho azul de seu elemento água. Uma brisa passou entre nós, agrupando a umidade do ar para formar uma barreira que deslizou pelo chão. Seus poderes aumentaram, mas notei a falta de controle quando se tratava de terra e Fogo.

Essa era sua principal fraqueza.

E as fraquezas não eram aceitáveis quando se tratava de uma batalha com Elana.

Os elementos de Claire se fortaleceram naturalmente por meio dos laços com seus companheiros. Ao chegar ao nível final com Exos, Cyrus e Vox, ela criou uma mudança em seu equilíbrio de poder. Estava quase torto em favor de seus vínculos completos. O que significava que ela precisava de mais Fogo e terra para realmente se sentir equilibrada.

Enquanto isso, Elana extraía energia de todos ao seu redor, o que significava que Claire tinha que estar pronta para tudo.

E seu estado atual sugeria que ela não estava.

O que me preocupou.

— Foco — eu disse, saltando sobre o riacho para ficar do lado dela. Fingi um golpe na cabeça, forçando-a a levantar a arma antes de puxar meu bastão e pegá-la nas costelas. Ela cedeu com o impacto, embora eu tivesse me contido. — Você está distraída.

Sua mandíbula tremeu quando uma rajada poderosa me tirou o equilíbrio. Ela se lançou em minha direção, usando seu bastão contra minha garganta para me prender no chão.

— A minha mãe está em coma. Elana sumiu e ninguém sabe o que ela está fazendo enquanto nos preparamos para um ataque que nem sabemos se vai acontecer. Não temos certeza se ela realmente pretende voltar ou fazer algo pior. Droga, nós nem sabemos do que ela é realmente capaz. Então, sim, acho que tenho todo o direito de estar um pouco distraída.

— Titus tem razão — Cyrus interrompeu, se aproximando de nós e deixando River encarregado do treinamento dos Faes da Água.

Claire franziu a testa enquanto passava a perna por cima de mim e me permitiu ficar de pé. Cyrus ofereceu um braço e eu o peguei, grato pelo apoio. Não era sempre que nos encontrávamos do mesmo lado.

O Príncipe da Água me deu um sorriso. Eu o satisfiz com nossa sessão de luta esta manhã. Admitindo ou não, trabalhamos bem juntos e nossos elementos criaram uma faísca que nunca senti com outro homem.

Por mais divertido que fosse praticar com Cyrus, Claire era quem estava se segurando, e todos nós sabíamos o porquê.

Cyrus foi o primeiro a dizer isso em voz alta.

— Você precisa completar seus laços com os elementos, Claire. Você é desajeitada quando se trata de Fogo e Terra. Treinar com Titus foi um teste, e provou que minha teoria está correta. Você está tendo que contar com os outros elementos porque são mais fáceis de acessar. — Ele deu um beijo em sua bochecha, provando seu ponto quando as gotas apareceram ao seu redor. — Você precisa completar seus vínculos, pequena rainha. Isso vai te fortalecer.

A expressão de Claire exibiu uma mistura de emoções, e ela apertou o bastão.

— Parece errado ceder aos meus vínculos quando tanto está acontecendo.

Ela olhou para Mortus. Ele deveria estar liderando os outros Faes do Fogo, mas ao invés disso, permaneceu nos arredores enquanto os alunos de alto nível se revezavam construindo bolas de fogo e lançando-as no ar. Ele ainda tinha aquele olhar distante de horror, como se não conseguisse entender as duas décadas que havia perdido.

— Como vou me concentrar quando tantos estão sofrendo? — ela adicionou, séria. — Parece egoísmo.

— Não, pequena rainha. É prático. — Cyrus pegou a mão de Claire e colocou na minha. As chamas uniram nossos dedos e nossos elementos pareciam prontos para dar o próximo passo. — Negar os laços não vai resolver nada. Só vai piorar as coisas.

— Ele está certo — eu concordei. — Você precisa dos nossos elementos para fortalecer os seus, e não é egoísmo se fortalecer, linda. É uma boa maneira de se preparar para o inevitável.

— Supondo que a Elana volte — ela murmurou.

— Se ela não fizer isso, nós vamos atrás dela. Quando estivermos prontos. — Cyrus ergueu uma sobrancelha. — E do jeito que está, você não está pronta.

Ela soltou um suspiro. Sua irritação era palpável. Então ela olhou para mim e seu olhar se suavizou.

— Não é como eu imaginei me acasalar com você, Titus — ela admitiu, cheia de pesar. — Você merece coisa melhor. — A maneira como ela disse essas palavras implicava que ela achava que eu só queria fazer isso porque precisava, não porque queria.

— Claire — murmurei, puxando-a para o meu abraço. — Não precisamos estar em uma sala chique no Reino do Fogo para que eu declare meu amor por você. — Passei meus dedos sobre seu ombro, e sua pele ficou vermelha. — Meu Fogo sempre pertenceu a você.

Para provar meu argumento, reivindiquei sua boca e entrelacei a língua na sua, desta vez sem me segurar enquanto derramava meu elemento nela. Claire poderia lidar com a verdade crua da paixão que provocava em mim.

Nós dois estávamos prontos para esta etapa há um tempo. Simplesmente não encontramos o momento certo. E talvez agora ainda não fosse perfeito, mas eu não me importava. Eu só a queria. Sempre quis, desde a primeira vez que coloquei os olhos nela.

Minha linda Claire.

Ela se derreteu ao meu toque e retribuiu o beijou. As chamas lamberam meu cabelo enquanto ela abria aquele poço em minha alma onde meu Fogo queimava. Claire alimentou essas chamas de um jeito diferente de tudo que já experimentei, e eu sabia que acasalar com ela iria dizimar meu mundo de todas as maneiras certas.

O solo tremeu sob nossos pés – cortesia de Sol. Um lembrete sutil de que ainda estávamos no pátio de treinamento e tínhamos um público muito real.

Claire riu enquanto se afastava e acenava para seu companheiro da Terra. Vários Faes da Terra praticavam a construção de escudos conforme troncos e galhos caíam no chão, embora todos tenham parado quando Sol formou uma parede de rocha sólida para demonstração. Ele sorriu para Claire.

— O Titus não é o único que tem algo a oferecer.

Talvez, mas esta noite Claire era minha. Eu me certifiquei disso enquanto enfiava meu bastão no chão, permitindo que meu Fogo avançasse lentamente pela terra para derreter o bloco de pedra de Sol. Funcionou bem durante nosso último encontro.

Mas o Fae da Terra estava pronto para meu truque desta vez.

Raízes poderosas se espalharam pelo chão, formando uma rede contra meu ataque. Ele sorriu.

— Boa tentativa, Fae do Fogo.

— Bela tática — comentei.

Os Faes da Terra ao redor pareciam concordar enquanto imitavam o movimento com sua própria magia, tentando realizar um estilo semelhante de defesa.

Eu sorri. Sol pode não se ver como um membro da realeza entre seu povo, mas ele era um líder.

Claire me bateu nas costelas com seu bastão e sorriu quando soltei um suspiro assustado.

— Quem é que está distraído agora?

Retaliei, enviando um tufo de fogo por baixo de suas roupas, atingindo seus mamilos. Ela gemeu e tentou acalmar a queimadura com Água, mas eu não ia permitir que ela trapaceasse para evitar brincar com minhas chamas desta vez. Balancei a cabeça para Cyrus e seus olhos escureceram. Ele era uma fonte de poder para Claire, mas poderia amortecer essa conexão, mesmo que precisasse de algum esforço.

A boca de Claire se abriu enquanto eu aproveitava o lapso momentâneo de seu poder. Sua pele se aqueceu e meu inferno a envolveu, formando um abraço em suas curvas sensuais.

— Não é justo — ela murmurou. Seu tom era excitado e desejoso.

— Acho que você está pronta — Cyrus murmurou, se aproximando de nós. — Como não temos um Fae do Fogo disponível para completar os votos, sugiro que usemos Exos. Seu título real e a afinidade com as chamas devem servir.

— Espere, você quer fazer isso agora? — Ela arqueou as sobrancelhas.

— Por que não? — Cyrus rebateu, já liderando o caminho. — Isso vai te dar duas oportunidades para comemorar depois. — Ele me deu uma piscadela por cima do ombro, fazendo com que meus lábios se curvassem.

— É como se você estivesse tentando cair em minhas graças, Cyrus — eu disse, puxando Claire para o meu lado.

— Talvez eu esteja — ele respondeu, com um sorriso na voz.

Claire olhou entre nós, franzindo a testa.

— Achei que vocês dois se odiavam.

— Há uma linha tênue entre amor e ódio, pequena rainha. — Cyrus abriu a porta do dormitório. — Depois de você.

Encontrei seu olhar e o encarei por um tempo antes de guiar Claire para dentro. Definitivamente havia algo entre nós, uma faísca estranha que não entendia muito bem. Na maioria dos dias, isso resultou em querer matá-lo. Mas hoje tocou um pouco no lado excitado – um lugar que só Claire podia tocar.

Uma consideração para depois. Provavelmente era apenas o círculo de acasalamento ferrando com meus instintos.

Exos estava sentado lá dentro, com o nariz enfiado em um daqueles livros de magia sombria. Seu amigo Fae da Meia-Noite tinha enviado mais alguns, junto com algumas sugestões.

Daí o treinamento externo.

Kols, que aparentemente era um Príncipe Fae da Meia-Noite, nos disse para nos prepararmos para qualquer coisa. Porque se Elana estava realmente mexendo com a magia da morte, ela era capaz de muito mais do que apenas queimar sua própria casa. Ele até mencionou a possibilidade de asseclas espirituais, que Claire imediatamente chamou de zumbis.

Cyrus ergueu uma sobrancelha quando seu irmão não reagiu à nossa entrada.

— Exos.

— Sim, eu sei. — Ele mexeu em alguns dos livros e se levantou. — Não temos um espaço cerimonial no campus, então, como você se sente sobre o seu quarto, Titus? Já está muito bem decorado por você e Claire.

Suas bochechas ficaram vermelhas com a causa daquelas decorações, e eu sorri.

— Isso significa que eu posso acasalar com ela nua?

— Eu adoraria — Cyrus comentou, olhando para o irmão. — Me faz lembrar do seu vínculo com o Espírito.

Os lábios de Exos se curvaram com a lembrança e seu olhar cintilou com malícia enquanto olhava para Claire.

— Adorei a ideia.

Ela soltou uma resposta ininteligível que rendeu várias risadas na sala. Eu me movi atrás dela enquanto acariciava a barra da sua camisa.

— Isso vai ajudar a mantê-la focada — sussurrei em seu ouvido, puxando o tecido por sua pele.

— Focada? — ela gritou. — Como?

Beijei seu pulso acelerado, puxando a camisa mais para cima e sobre seus seios.

— Confie em mim. — Porque já estava funcionando. Ela não estava pensando em Elana agora. Apenas nos dois Faes famintos que assistiam enquanto eu puxava o tecido para cima e sobre sua cabeça.

Sua pele se arrepiou, seguidos por uma onda de calor, enquanto nosso elemento vinha à tona.

Ela mal pareceu notar que eu estava tirando seus sapatos, meias e calça, muito perdida com a sensação que nós três provocávamos dentro dela. Parte de mim agradeceu a Cyrus e Exos por isso, sabendo o quanto ela precisava permanecer focada no momento, sem se preocupar com o que estava acontecendo fora ou em outro reino.

Este momento era sobre nosso acasalamento.

E eu aceitei que Cyrus e Exos eram uma parte importante disso.

Abri seu sutiã e deslizei as alças pelos seus ombros, revelando os mamilos intumescidos. Em seguida, enviei um fio de fogo pela renda de sua calcinha, chamuscando-a nas laterais do corpo e fazendo com que o resto caísse no chão.

— Perfeita — eu disse contra seu ouvido, passando as mãos para cima e para baixo em seus lados. — Pronta, linda?

Ela engoliu em seco, relaxando as costas em meu peito enquanto colocava as palmas das mãos sobre o meu aperto.

— Sim.

Eu sorri.

— Ótimo.

Exos se virou primeiro, indo em direção ao meu quarto.

Cyrus o seguiu, mas não sem antes olhar para Claire mais uma vez. Eu não poderia exatamente culpá-lo. Nossa companheira sem roupa servia como o melhor tipo de distração.

Eu a levantei em meus braços e a carreguei para o quarto, sem soltá-la até que estivéssemos ao lado da cama. Ela agarrou minha camisa, então franziu a testa.

— Espere.

Esperar? Meu coração deu um pulo. A incerteza era como uma presença maligna em minha alma, até que senti a agitação de seu poder.

Uma chama irrompeu pela minha espinha enquanto ela cortava sem esforço minha camisa supostamente à prova de fogo. Enquanto a peça se desintegrava no chão, me perguntei – não pela primeira vez na presença dela – se eu precisava investir em um novo guarda-roupa.

Minha calça foi a próxima e seu Fogo chegou terrivelmente perto do meu pau endurecido.

Ela acariciou uma centelha de calor através dele, me lembrando de um beijo, antes de provocar a cabeça e completar o trabalho.

— Se eu tenho que ficar nua, você também tem — ela disse, com as palmas das mãos apoiadas no meu abdômen e erguendo uma sobrancelha desafiadora enquanto o resto das minhas roupas viravam brasas aos nossos pés. Até meus sapatos.

— Estou começando a me perguntar se ela precisa do vínculo para ajudá-la a se concentrar ou só de sexo — Cyrus comentou em tom de conversa.

— Isso foi impressionante — Exos concordou. — Talvez sejam os dois?

Envolvi a mão em seu pescoço, puxando-a para mim.

— Sugiro que você comece os votos, Exos. Antes que nossas bocas fiquem ocupadas demais para repetir as palavras.

Os votos vieram de forma rápida e eficiente, cada declaração sussurrada contra a boca do outro.

Eu, Claire, aceito o poder que me liga a Titus, nascido do Fogo. Para amar e respeitar, através de todas as eras e tempos que podem cair antes de nós, até que nossas almas nos separem. Dou a ele meu calor, minha paixão e minha chama interna, e a aceito em troca. Meu elemento agora é dele assim como o dele agora é meu, para os céus Faes que nunca nos separemos. E eu nunca o abandonarei por outro, meu Fogo pertencendo para sempre a ele e apenas a ele.

Prometi a ela o mesmo, minha alma acendendo quando a finalidade de nosso vínculo se encaixou. A sala ficou quente com o fogo entre nós, fazendo com que Exos e Cyrus se retirassem antes que o verdadeiro inferno começasse.

Um inferno que assegurei a Claire que arderia a noite toda.

Algo que ela aceitou com alegria.

Várias e várias vezes.


Cada parte de mim doía com as atenções de Titus. Ele cumpriu sua promessa de transar comigo a noite toda. E muito mais.

Uma olhada no relógio mostrou que já passava do meio-dia, o que significa que só dormimos por algumas horas. Não que eu me importasse. Titus me proporcionou a fuga que eu precisava da realidade que pairava sobre nossas cabeças.

Me virei em seus braços, sorrindo enquanto ele arrastava uma corda de fogo derretida sobre minha coxa, subindo cada vez mais.

— Humm — gemi. — Você vai conseguir fazer com que eu não possa nem andar mais tarde. — Fechei os olhos, revivendo a transa devoradora que me deixou dolorida e fortalecida. Nossos votos foram quentes e rápidos, prometendo nossas almas uma à outra em uma cascata infinita de fogo e felicidade.

Titus beijou minha bochecha, então sorriu contra minha pele.

— Eu te cansei, linda? Ou posso te acordar direito? — Ele pontuou o pedido deslizando seu Fogo dentro de mim – lá embaixo.

— Puta merda — gemi, arqueando com seu toque. Meu corpo se iluminou por dentro em resposta à sua intrusão quente. Em vez de me queimar, me deleitei com a maneira como absorvi o poder que alimentava meu Espírito. — Mais.

Ele inflamou seu toque elementar e agarrou meu quadril para me impedir de me mover.

O vínculo com Titus era tudo que eu tinha imaginado e muito mais. Sua necessidade crua deslizou sobre mim, deixando um mar de lava derretida em seu rastro.

Uma chama eterna.

Esse era o meu Titus.

Ele não era da realeza, mas não precisava ser. Sua paixão compensava a falta de linhagem nobre.

— Você tem me segurado mesmo — acusei, sentindo seu desejo se acumular sob sua pele como fogo líquido.

— Você não tem ideia, linda. — Ele acariciou meu pescoço e seus lábios tocaram meu pulso. — Este é apenas o começo.

Minha boca se abriu quando seu calor lambeu meu clitóris inchado. Isso doeu e me acalmou, me fazendo ansiar por outro toque. Eu sempre iria querer mais do meu Fae do Fogo.

E parecia que ele sentia o mesmo, se a ereção pressionada contra minha coxa fosse alguma indicação. Titus possuía uma resistência impressionante, algo que nosso vínculo parecia fortalecer.

— Eu vou te comer muitas vezes mais — ele disse, confirmando meus pensamentos. A palma da sua mão deslizou para a parte inferior das minhas costas, marcando minha pele. — Vou consumir cada centímetro seu até nos fundirmos.

Ah, eu havia derretido há muito tempo. Fogo e calor líquido se acumularam ao nosso redor, adicionando mais marcas ao chão e às paredes do quarto. Era um milagre não termos queimado todo o prédio.

Os dedos de Titus traçaram de volta para meu quadril e desceram para a maciez entre minhas coxas. O mundo ficou vermelho enquanto suas chamas me devoravam de dentro para fora. Seu toque era como uma marca precisa de nossas promessas um para o outro.

— Sim, é isso, Claire — ele sussurrou e sua boca pairou sobre a minha. Seu beijo desmentiu a intensidade que fermentava, algo que ele reforçou me empurrando de costas e substituindo seus dedos por seu pau duro.

Ofeguei quando ele deslizou dentro de mim, sua afirmação pura, apaixonada e sexy demais.

— Mais — exigi, levantando meus quadris contra os dele e pedindo-lhe para me tomar mais fundo.

— Sempre — ele respondeu, mordendo meu lábio inferior.

E então ele estava me beijando.

Com força.

Rápido.

Perfeito.

Ele rivalizava com o ritmo da parte inferior de seu corpo, me levando ao ápice do prazer a cada estocada.

— Eu te amo — murmurei. — Eu te amo, Titus. — Talvez fosse péssimo anunciar tal coisa no calor da nossa paixão, mas era isso que nos definia – nosso Fogo.

— Eu também te amo, Claire — ele sussurrou enquanto sua língua trilhava ao longo do meu lábio inferior. — Minha companheira.

— Meu companheiro — repeti, apertando minhas coxas ao redor dele e suspirando enquanto ele diminuía o ritmo. O que tinha começado como uma transa intensa se transformou em uma relação gentil de amor enquanto seu corpo adorava o meu da melhor maneira.

Porque ele sabia.

Ele sempre soube.

Exatamente o que eu precisava e como.

Estocadas suaves.

Seguido por intensas e profundas.

Erótico e emocional.

Despertador e sincero.

Meu Titus. Meu companheiro de Fogo. Meu amor.


— Nesse ritmo, ela não será capaz de acasalar com o Sol hoje à noite — Cyrus disse, se juntando a mim na mesa. Ele examinou a página que eu tinha aberto e assobiou baixo. — Bem, olhe só para isso.

— É como se tivessem escrito sobre a Elana — murmurei, revendo todas as maneiras que um Fae da Meia-Noite poderia absorver os poderes dos outros. — Kols diz que não é praticado com frequência.

— Imagino que não. Parece doloroso para as duas partes envolvidas. — Ele ainda estava lendo. — É necessário muito sacrifício.

— O que explica a praga que acabou com nossa espécie. — Porque toda essa magia necessitava de morte, normalmente para absorver uma alma e presentear os deuses Faes da Meia-Noite como pagamento. — Ela usou esse feitiço — encontrei um livro aberto, virei na a página certa e o entreguei a Cyrus — e sua magia do Espírito para criar um vórtice de poder. Foi como ela criou os campos da morte.

— São todas as almas que ela se recusou a libertar deste plano — meu irmão terminou por mim, erguendo as sobrancelhas. — Merda.

— Sim — concordei, soltando um suspiro. — Isso prova que ela está voltando, porque essas almas ainda existem.

— E ela precisa delas para praticar a sua magia — ele supôs, tirando as palavras da minha boca – de novo.

Eu concordei.

— Exatamente.

Ele desabou em sua cadeira, encontrando meu olhar.

— Precisamos contar a Claire.

— Precisamos que a Claire termine seu acasalamento com Sol primeiro. — Porque se esses textos estivessem certos, Elana acumulava mais poder do que qualquer outro Fae em nosso reino. E nossa única esperança era que Claire pudesse usar os cinco elementos para derrubá-la. — Ela precisa da Terra para completar o círculo.

— Então eu deveria dizer a Titus para não cansá-la — Cyrus sugeriu com um sorriso.

Assenti.

— Continue flertando e ele vai retaliar.

— Ótimo — meu irmão respondeu, se levantando. — Mal posso esperar para ver como isso vai funcionar.

— Nós dois sabemos que você vai acabar por cima — eu disse, voltando aos textos.

— Mas ele não sabe disso — meu irmão ponderou.

— Quem não sabe o quê? — Vox perguntou, entrando na sala com Sol atrás.

— Sol não sabe que vai acasalar com Claire esta noite — anunciei antes que Cyrus pudesse comentar sobre o jogo sensual que ele tinha reservado para Titus.

O Fae da Terra congelou, erguendo as sobrancelhas.

— O que?

— Ela precisa completar o círculo — eu disse, me sentindo como um disco quebrado. — Ela precisa da sua Terra.

— E ela está bem com este plano? — Sol questionou, sem dúvida ciente da merda que estava acontecendo no outro quarto.

— Claro — Cyrus respondeu em um tom tranquilo e confiante. — Eu estava prestes a ir chamá-la. Mas talvez você possa me dizer e eu vou retransmitir o recado.

A boca de Sol abriu e fechou várias vezes.

Fechei meu livro e me inclinei para trás, cruzando os braços.

— O que há de errado, Fae da Terra? Com medo da competição que Titus está proporcionando no outro quarto?

O gigante fez uma careta.

— Não.

— Então qual é o problema? — questionei, sem tempo para isso. Tínhamos uma Fae híbrida à solta com uma data de retorno indeterminada.

E ela voltaria.

Esses textos provaram que ela não apenas precisava dos campos da morte, mas também precisava remover todo e qualquer poder que a impedisse de acessar esses campos. E agora, eu sou esse poder. No segundo em que soube de sua fonte de energia, usei meu Espírito para isolá-la de todas as partes externas. Só eu poderia entrar nesse campo agora. Até que alguém me removesse da equação.

Ninguém sabia que eu havia me tornado a isca. Principalmente porque eu tinha feito isso hoje de manhã. Cyrus seria o primeiro a quem eu contaria, assim que acontecesse esse acasalamento final.

— Nada está pronto — Sol resmungou. — Eu nem perguntei se é isso que ela quer.

Eu fiz uma careta.

— Por que ela não iria querer acasalar com você, Sol? Vocês já estão no terceiro nível. Isso os tornam noivos pelos padrões humanos dela.

Suas bochechas ficaram com uma tonalidade vermelha.

— Sim, eu sei, mas eu queria perguntar a ela....

Cyrus sorriu.

— O fechamento romântico. Deixe-me adivinhar – pêssegos estariam envolvidos?

O chão retumbou sob nós quando Sol estreitou seu olhar.

— Sim, bem, ao contrário de você, eu valorizo o consentimento.

E toda a diversão na sala morreu.

— O quê? — Cyrus perguntou. — Você está tentando me acusar de algo?

— Não é uma acusação. É a verdade. Você acasalou com a Claire enquanto ela estava inconsciente, sem voz.

— Para salvar a vida dela — Cyrus retrucou, dando um passo à frente. — Ou você está dizendo que eu deveria tê-la deixado morrer? Porque se for esse o caso, você não é digno dela.

— Eu sou mais digno dela do que você, Espírito Fae. — As palavras escaparam da boca de Sol, seguidas por uma vibração da fundação do edifício enquanto seu poder aumentava a cada segundo. — Pelo menos, eu nunca vou manipulá-la. Não vou ameaçar acabar com a alma dela. Mas você não pode prometer isso, pode? Príncipe da Água ou não, você ainda é um Espírito Fae no coração. E o Espírito Fae machuca.

Ótimo. Um passo para frente, vinte passos para trás.

Me afastei da mesa para ficar na frente de Cyrus antes que ele pudesse reagir fisicamente.

Não consegui parar o chicote de água que se moveu e atingiu Sol na bochecha. Ou as palavras que saíram da boca do meu irmão.

— Tenho sido paciente com você, Sol. Muito paciente. Mas seu equívoco a respeito do Espírito Fae? Termina hoje. — Ele o empurrou de novo com outro fio de líquido e o envolveu em sua garganta. — Espíritos Faes não são os únicos que podem infligir dor e dano. Devo demonstrar?

Abri a boca para dizer a ele para parar quando uma raiz explodiu no chão e circulou a cintura de Cyrus. Com força.

— Parem! — Vox gritou.

Mas os dois Faes estavam perdidos para seus elementos.

Sol já tinha conjurado outro galho grosso pela janela do lado de fora, e foi direto para o peito de Cyrus.

Enquanto meu irmão atacou com um maremoto, quebrando-o em pedaços.

O caos se seguiu enquanto Vox tentava explodi-los com Ar, e eu usei meu Fogo para incinerar tanto a água quanto as raízes que se infiltraram no dormitório.

Eles iam derrubar a porcaria do lugar.

— O que vocês estão fazendo? — Claire gritou. Seu corpo estava envolto em um lençol enquanto ela observava os destroços da sala de estar. O poder voou dela, batendo no peito de todos enquanto ela nos empurrava para diferentes pontos da sala.

Espírito, eu reconheci.

Não os outros elementos.

Mas seu Espírito.

Ela o usou para forçar nossa obediência, e o olhar no rosto de Sol mostrava o quanto isso o machucava.

Merda.

— O que há de errado com vocês? — Titus questionou, vindo atrás de Claire usando uma cueca boxer. — Temos um Espírito Fae inconsciente, que por acaso é a mãe da Claire, descansando no outro quarto, e vocês estão tentando derrubar o prédio!

Cyrus teve a graça de parecer arrependido.

Vox parecia frustrado.

E Sol estava completamente arrasado.

Suspirei, esfregando a mão no rosto. Esta não era uma equipe pronta para a chegada de Elana. Era uma confusão de emoções e passados distorcidos. Eu me concentrei no núcleo da dor – Sol.

— Não sei o que aconteceu com vocês ou quem te fez isso — eu disse a ele. — Mas posso jurar que não fui eu, o Cyrus ou a Claire. E essa animosidade que você carrega contra nossos dons? Isso tem que acabar. Agora. Ou você confia em nós ou não confia. É assim que as coisas são.

Claire congelou e a compreensão pareceu dar um soco no peito dela.

— Espere. — Ela limpou a garganta e se virou para Sol. — Você acha que nós poderíamos... não, que eu poderia usar meu poder contra você? De forma negativa? — Ela nos soltou em um instante. Seu toque contra o meu Espírito desapareceu em um flash. — Você acha que eu poderia te machucar? De forma intencional? — Ela piscou, mas não rápido o suficiente para esconder as lágrimas que se formavam em seus olhos.

Isso me fez querer dar um passo em sua direção e puxá-la em meus braços.

Mas não era um problema que eu deveria consertar.

Essa dor pertencia a Sol.

— Você não me conhece? — ela sussurrou e seu coração se partiu diante de nossos olhos.

Cyrus lançou a Sol um olhar estrondoso, como se quisesse arrancar membro por membro.

Vox apenas suspirou e balançou a cabeça.

E Titus parecia pronto para se juntar a Cyrus.

— Claire — Sol começou, dando um passo à frente.

Mas ela deu um passo para trás, balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Eu... não sei o que fazer com isso. Achei... achei que nós... — Ela parou, engolindo em seco. — Eu preciso... eu preciso de um minuto.

Seus ombros se inclinaram quando ela se afastou de todos e saiu da sala.

Titus deu um passo para ir atrás dela, mas eu gritei: — Não. Não.

Ele olhou para mim como se eu tivesse perdido a cabeça.

— Você está brincando comigo?

— O Sol precisa fazer isso — eu disse, cerrando os dentes, pois era difícil eu mesmo não seguir Claire. — Ele precisa resolver isso. — Olhei pra ele. — Ou você está em nosso círculo ou está fora, Sol. Chega de se lamentar. Chega de desconfiança. Ou você resolve o que acabou de provocar ou vai embora. A escolha é sua.

Eu não poderia ficar lá para ver o que ele faria.

Não conseguia pensar além das batidas do meu coração.

Porque se ele não fosse até Claire e curasse a dor que eu sentia irradiando de sua alma, eu o mataria.

O que significava que eu também precisava de espaço antes de fazer algo de que todos nos arrependeríamos.

Segurei meu irmão – que estava fervendo tanto quanto eu – e o forcei a me seguir para fora.

— Preciso falar com você.

— Agora? — ele questionou.

— Agora. — Estava agarrado a sua camisa enquanto quase o puxava dali. Apesar das besteiras de Sol, tínhamos Elana para nos preocupar e uma armadilha para discutir. Algo que me arrependia de inflamar, porque isso significava que ela estaria aqui mais cedo ou mais tarde.

E depois daquele show na sala de estar?

Nenhum de nós estava pronto.

O que significava que precisávamos de um plano B.

— Quero falar sobre planos de contingência — falei.

Ele bufou.

— Por quê?

Encontrei seu olhar tempestuoso.

— Porque vamos precisar deles para quando Elana perceber que eu cortei seu acesso aos campos da morte.

Ele arqueou as sobrancelhas. E um xingamento saiu de sua boca.

— Sim. Exatamente — murmurei, passando os dedos pelo meu cabelo. — Vamos precisar de reforços.

Ele bufou uma risada.

— Irmão, neste ponto, vamos precisar de um milagre.

Pela primeira vez, odiei que ele estivesse certo.


Bem, agora eu realmente estraguei tudo. Eu nunca tinha visto Claire olhar para mim assim, e fiquei como um idiota na sala de estar destruída.

Resolver isso.

Foi a última ordem de Exos para mim antes de arrastar o irmão para fora da sala, embora uma parte minha quisesse que Cyrus tentasse arrancar minha cabeça. Provasse que eu estava certo. Provasse do que os Espíritos Faes eram realmente capazes.

Ainda assim, se todos os Faes do Espírito eram maus, então isso significava que Claire também era.

No meu coração, eu sabia que não. E nem Exos ou Cyrus.

O que me deixava com uma opção: lidar com isso. E, como Exos havia dito, resolver.

Cerrando os punhos, criei coragem para ir atrás da minha companheira. Eu a magoei profundamente e as emoções cruas atingiram o círculo de companheiros. Um pedido de desculpas não seria suficiente, mas eu tinha que começar de algum lugar.

— Você vai só ficar parado aí? — Vox questionou, sem esconder seu desgosto. Ele estava acostumado com meus acessos de raiva, mas desta vez eu fui longe demais. E até eu sabia disso.

— Não sei o que dizer a ela — admiti enquanto olhava para o corredor. — Eu a amo, mas... — Ela é parte Espírito Fae.

— Mas nada — Vox falou com um sopro de vento em meu rosto. — Se você a ama, isso é tudo que você precisa saber. — Ele apontou para o corredor. — Como o Exos disse, você vai resolver isso ou vai dar o fora.

Doeu ouvir Vox me dar um ultimato como aquele. Sempre fomos próximos, mas nisso não havia espaço para negociação.

Vox estava certo.

Todos eles estavam.

Todos os seus companheiros eram mais do que capazes de acalmar Claire. Eu era o único que não estava totalmente acasalado com ela, o que me fez sentir menos qualificado para o trabalho. Ainda assim, eu criei essa confusão, então iria resolver, mesmo que eu tivesse que revelar meu Espírito repleto de cicatrizes para ela.

Se eu fosse honesto comigo mesmo, admitiria que foi o que mais me assustou – que ela pudesse ver o quanto eu realmente estava machucado.

Mas talvez fosse exatamente o que eu precisava fazer.

Mostrar tudo a ela. Confiar nela não apenas com meu coração, mas também com minha alma.

Encontrei Claire no quarto ao lado, de costas para mim, com o lençol branco enrolado em sua cintura enquanto ela segurava o tecido contra o peito. Ela olhava pela janela, para o céu.

— Claire... — Engoli em seco, principalmente porque seus ombros enrijeceram ao ouvir minha voz. Não era o tipo de reação que eu desejava ou gostava de provocar em minha companheira. Me aproximei, parando a distância de um toque. — Claire, eu...

Ela se virou para mim e grunhiu antes que eu tivesse a chance de terminar. Seus olhos brilharam com o poder bruto de seu vínculo com Titus.

— Eu não quero um pedido de desculpas — ela disse, batendo um dedo no meu peito. O minúsculo dedo continha magia da Terra suficiente para me empurrar. — Ações falam mais alto que palavras, Sol. Eu esperava que você entendesse isso, mas claramente você não entende. Ou você não acharia que, algum dia, eu te machucaria intencionalmente.

— Você está certa — sussurrei, baixando a cabeça e abrindo as mãos em sinal de rendição. — Você está certa — repeti. — Ações falam mais alto que palavras, Claire. E se eu te contar minha história, você entenderá como isso é verdade.

Isso pareceu acalmar um pouco a sua ira, apenas o suficiente para deixar entrever uma pontada de curiosidade.

— Então me diga.

— Eu poderia — sussurrei, percebendo naquele momento o que eu precisava fazer. Como eu poderia realmente ganhar sua confiança e provar meu valor para ela na mesma moeda. — Mas prefiro mostrar a você, Claire. — Ela exigia mais do que palavras. Eu entendia isso melhor do que ninguém. Então, eu daria tudo a ela.

Meu amor.

Minha confiança.

Minha própria alma.

— Existem dois lados para um Espírito Fae — continuei. — Quero te mostrar o lado mais sombrio. Não, eu preciso te mostrar, Claire. — Me ajoelhei ao lado da cama, implorando a ela. — Me ajude a parar de esconder quem sou. Me veja, Claire.

Ela me observou e sua expressão suavizou um pouco mais.

— Eu te vejo , Sol. Eu sempre te vi.

— Não estou falando sobre meu exterior. — Engoli em seco. — Estou falando sobre minha alma. — Fechei os olhos e encostei a testa no colchão. — Eu preciso que você realmente olhe, Claire. Entre no meu Espírito e testemunhe o que foi feito comigo. A dor. O tormento. As marcas que posso sentir, mas não consigo ver. Não consigo me lembrar da tortura, mas passei inúmeras noites revivendo-a em um mar de escuridão e gritos.

Minha garganta começou a queimar.

Meu coração batia forte no peito.

A memória daquela noite era uma imagem assustadora fora do meu alcance.

— Você tem ideia do que é saber que algo aconteceu, mas não ser capaz de detalhá-lo? — perguntei em voz alta, levantando a cabeça para encontrar seu olhar. — Me lembro da dor, dos gritos, da minha mãe implorando e da minha irmã chorando. No entanto, não posso te dizer como tudo se desenrolou.

Fiz uma pausa, precisando de ar.

Então segui em frente.

Porque ela precisava entender. Era a única maneira de explicar meu medo e minhas reações inerentes ao elemento dela.

— Tudo o que sei é que um Espírito Fae nos atormentou naquela noite. O Fae alcançou minha alma e a retalhou, fez o mesmo com minha mãe e minha irmã, e eu tive que vê-las morrer por mais de uma década. Ninguém acreditou em mim. Mas eu vi os sinais, Claire. Eu sabia o que estava acontecendo com elas e não podia fazer absolutamente nada para impedir.

Tremi, a dor delas enraizadas em minha mente. A imagem das duas era tão medonha e pálida no leito de morte.

— Algo aconteceu naquela noite, Claire — sussurrei. — Algo que me assombrou até o âmago do meu elemento e me deixou sem acesso à fonte, mesmo com meus supostos laços reais. E você pode ver as cicatrizes disso em meu Espírito.

Segurei a mão dela. Felizmente, ela me permitiu.

— Olhe para mim. Por dentro. Encontre meu Espírito e me diga o que você vê. Porque me mata saber que essas marcas estão lá e que não posso provar isso aos meus próprios olhos. Seja meus olhos, Claire. Por favor. Me diga o que você vê. — Levei a palma da sua mão para o meu peito e fechei os olhos, esperando.

— Sol... — Meu nome soou tão triste em seus lábios, mas me recusei a recuar. Eu não tinha percebido o quanto precisava disso.

— Por favor, Claire — sussurrei. — Estou pronto. Use o seu Espírito e me diga quem eu sou. Me diga o que você vê.

Ela levou a outra mão para o meu rosto e eu me inclinei em seu toque, desejando a verdade. Confiei nela para fazer isso, para me explorar sem danos, para conhecer meu Espírito e todos os meus pedaços destruídos.

Porque era assim que eu me sentia.

Destruído.

Sozinho.

Solitário.

Ela tinha meu coração, mas o que nós dois precisávamos todo esse tempo era que ela acessasse minha alma. Eu a mantive trancada e fora do alcance, protegendo a parte que estava ferida.

Finalmente chegou a hora de parar de me esconder.

Por ela.

Por nós.

Sua respiração tocou meus lábios um segundo antes de ela me beijar. Tão suave e hesitante quando senti os primeiros sinais de seu poder roçando o meu. Eu não recuei. Nem vacilei. Simplesmente aceitei isso como nosso destino. Eu a recebi em mim. E liberei tudo que eu possuía para ela explorar.

O calor espiralou em meu centro, florescendo em meu peito enquanto eu sentia seu Espírito roçar o meu. Sem garras de gelo ou pontadas afiadas de dor. Apenas um agradável conforto. Minha Claire, me acariciando de uma forma que eu nunca poderia ter previsto.

Roubou o ar dos meus pulmões.

Aumentou minha pulsação e a subjugou ao mesmo tempo.

Me deixou exausto e animado em um único segundo.

Vitalidade, percebi. Ela está me dando o conforto de sua vitalidade.

E isso trouxe uma lágrima aos meus olhos.

— Claire — sussurrei, sentindo minha garganta travar de emoção.

— Shh — ela murmurou, passando as pontas dos dedos pela minha bochecha até o pescoço. — Não posso curar suas cicatrizes, mas posso aliviar um pouco da tensão nelas.

Eu estremeci quando suas ações seguiram suas palavras, e um peso invisível saía dos meus ombros a cada momento que passava. A intimidade do momento aliviou todas as minhas preocupações. Me encheu de esperança. Reabasteceu todos os meus desejos. No momento em que ela se afastou, me senti tão cheio de vida que pensei que fosse explodir.

Mas outra lágrima caiu dos meus olhos, uma que ela pegou com o dedo. E suspirou.

— Ah, Sol, nem consigo imaginar a dor que você suportou para receber esse dano.

— Essa não é nem a pior parte para mim — admiti. — Eu posso lidar com a dor. Não saber como aconteceu é o que me assombra. — Meus olhos se abriram para encontrá-la olhando para mim com tanto amor que fez meu coração doer. — Eu sobrevivi, Claire. Esse é o maior castigo de todos: ter assistido a praga levar minha mãe e minha irmã enquanto me deixava saudável e vivo. E sem entender o porquê.

— Só sabia que um Espírito Fae causou tudo — ela acrescentou com a voz suave como um sussurro. — Quantos anos você tinha quando isso aconteceu?

— Sete. — Engoli em seco. — Minha irmã tinha apenas cinco. Ela viveu por mais de uma década com aquela escuridão dentro dela, atrapalhando seu crescimento e habilidades, até que finalmente morreu. E você sabe o que ela me disse naquele dia?

Doeu repetir e reviver a memória, mas Claire precisava saber. Eu tinha que dizer a ela tudo o que pudesse. Para ajudá-la a entender por que seu elemento me apavorava.

Limpei a garganta, empurrando a emoção para o meu peito, onde apodreceu e queimou.

— Ela... ela me disse que estava agradecida — consegui dizer com a voz rouca. — Estava grata por finalmente ter chegado a hora de morrer. Porque ela sabia que não doeria mais. E ela estaria com minha mãe novamente. Seu único arrependimento era me deixar.

Para viver uma existência solitária enquanto eu sempre me perguntava por que tudo isso aconteceu.

O que fiz para merecer um destino tão cruel?

— Às vezes, acho que recebi a pior punição de todas — sussurrei. — Porque eu sobrevivi. Porque eu tive que enterrar as duas. E viver. Sem elas. — Minha história foi o motivo pelo qual Aflora significava tanto para mim. Ela estava lá durante todo o tempo, vivendo a agonia ao meu lado.

Ela foi a única que entendeu.

Até Claire.

— Ah, Sol — minha companheira disse agora, envolvendo os braços em meu pescoço e me puxando para a cama. Ela não chorou ou demonstrou pena, duas coisas pelas quais eu era grato. Em vez disso, ela se enrolou em mim e me deu sua força, enquanto seu Espírito acariciava o meu em um beijo da vida.

Ficamos deitados assim pelo que poderia ter sido horas.

Afastei as memórias do meu passado.

Enquanto Claire acalmava minha alma machucada.

Relaxei em nosso abraço, me sentindo mais perto dela do que nunca, com a mão subindo e descendo na lateral do seu corpo nu. Contente, eu percebi. Estou realmente contente.

Porque ela era minha.

E eu era dela.

Mas não oficialmente. Não exatamente.

— Sei que não tenho sido o melhor companheiro — comecei, decidindo que isso poderia ser o eufemismo do século. — Confiar em Exos e Cyrus nunca será fácil para mim. Mas, no fundo, eu sei que eles não são maus. Sei que eles nunca fariam isso com uma pessoa. É apenas a mera ideia de que eles poderiam que me enerva. E você possui a mesma habilidade.

— Eu sei — ela murmurou enquanto seus dedos traçavam padrões em minha camisa e ela apoiava a cabeça em meu ombro. — Mas a ideia de machucar alguém dessa maneira me deixa doente, Sol. Eu nunca faria isso. Muito menos com você.

— Eu sei. — Apertei meu abraço ao seu redor, puxando-a para mim. — Eu sei, Claire.

— Cyrus e Exos também não.

— Sei disso também. Mas sempre que sinto a energia do Espírito em uso, isso... me deixa louco. Porque tudo que me lembro é de como isso foi usado contra mim de uma forma que não consigo me lembrar. Tudo o que ouço são as últimas palavras da minha irmã. Tudo o que vejo são os traços magros de minha mãe e seus lábios tentando formar um sorriso final. — Fechei meus olhos para conter a dor. — Eu não sei se isso vai acabar.

— Como você se sentiu quando meu Espírito tocou o seu? — ela perguntou baixinho, olhando para mim. — Isso te machucou?

Balancei a cabeça.

— Não. Parecia... — Procurei as palavras certas em meu cérebro. — Calmante. Bom. Natural.

Ela me observou por um longo momento, depois se apoiou no meu peito.

— Então talvez seja isso que você precise para se curar. Eu nunca desejaria substituir suas memórias, mas poderíamos adicionar novas, positivas, que você possa usar sempre que sentir que o Espírito está em uso.

Sua alma beijou a minha com sua declaração, de propósito ou não, eu não tinha certeza. Mas senti sua presença ali, o calor de sua proximidade e aceitação, sua energia calmante envolvendo a minha. Isso provocou um arrepio profundo, pela facilidade com que ela acessou minha alma, o toque ao mesmo tempo enervante e sensual. Um conflito de interesses que levaria anos para ser resolvido. No entanto, sua ideia tinha mérito.

— Estou disposto a tentar — falei, com a voz mais baixa que nunca. — Mas só com você. — Exos e Cyrus tinham boas intenções, algo que eu entendia em um nível fundamental, mas a noção de permitir que eles acessassem minha alma me deixava nervoso.

Ainda assim, eu poderia admitir que devia um pedido de desculpas aos dois.

Principalmente a Cyrus.

Meus comentários anteriores foram infundados e injustos. Eu sabia que ele não tinha escolha a não ser acasalar com Claire. Fiquei grato por ele ter feito isso para salvar a vida dela. E ficou muito claro para mim que ela não se arrependia de maneira alguma. Mesmo que eu não entendesse sua atração pelo idiota real.

Seus lábios se curvaram e a diversão brilhou em seus olhos.

— Posso sentir sua animosidade por Cyrus. Ele não é tão ruim.

— Eu sei. — Fiz uma careta. — Mas ele ainda é um idiota.

— É parte do charme dele — ela respondeu, sorrindo. — E ele respeita seus limites, Sol. Estive com ele no plano Espiritual, vi como ele evitou tocar no seu Espírito. O Exos também.

— Você encontrou minha alma no plano espiritual?

Ela balançou a cabeça.

— Não. Você me encontrou. Todos vocês me encontraram. Como se estivessem me protegendo de mim mesma e da própria fonte. — Ela apoiou o queixo no meu esterno. — Exos e Cyrus foram muito cuidadosos para não tocar em nenhum de vocês, ou em qualquer uma das outras almas à deriva. Não sei quem fez isso com você, mas definitivamente não foram eles.

— Eu sei — eu disse. — Logicamente, eu sei. Mas no momento...

— É difícil não cair nas velhas recordações — ela respondeu. — Sim, eu entendo. Mas é algo que podemos resolver, Sol. Juntos. Se você quiser.

Não hesitei.

— Eu quero, Claire. Quero ficar para sempre com você também. A briga começou porque Exos exigiu que eu acasalasse com você, mas parecia errado fazer algo conversarmos primeiro. Eu queria fazer o pedido formal. Eu tinha tudo planejado com pêssegos também. — Parecia ridículo agora. Infantil. Mas com todo o caos recente, eu queria dar a ela aquele momento de paz e doçura. Para fugirmos para nosso lugar especial e discutirmos sobre ficarmos juntos para sempre.

— Pêssegos? — ela repetiu, sorrindo com os olhos. — Eu amo pêssegos.— Ela subiu pelo meu corpo para pressionar as palmas das mãos nos travesseiros ao lado da minha cabeça. Seus seios nus pairavam sobre meu peito enquanto ela se inclinava sobre mim. Não parecia intencional da parte dela, mas eu estava definitivamente gostando da conotação sexual por trás de suas palavras, juntamente com o visual.

Mas sua expressão ficou séria. Seu olhar atento.

— Eu também quero ficar com você para sempre, Sol — ela disse. — Mas isso requer que você aceite tudo de mim. Incluindo meu Espírito. E Cyrus. E Exos. Preciso saber que você pode fazer isso.

Levantei a palma para segurar sua bochecha enquanto meu outro braço deslizou em torno de suas costas, abraçando-a.

— Eu já aceito, Claire. Minha mente pode lutar contra minhas intenções, mas meu coração aceitou todos vocês há mais tempo do que posso admitir. Minha alma vai demorar mais, pelo menos com Cyrus e Exos. Mas você é minha, Claire. E eu sou seu. Se você me quiser, claro.

Ela inclinou a cabeça.

— Para sempre?

— Para sempre — repeti. — Tudo o que tenho é seu, se você me quiser.

A tensão desapareceu de suas feições, e ela sorriu quando se curvou para roçar sua boca contra a minha.

— Então vou tomar você, Sol, cada pedacinho, e vou colocá-lo de volta no lugar.

Ela me beijou novamente, com mais sensualidade.

— Amanhã? — perguntei baixinho, não querendo passar mais um dia sem finalizar nosso vínculo, mas também sabendo que precisava de tempo para criar o oásis perfeito para a nossa cerimônia. Para mostrar a ela que falei de coração.

— Amanhã — ela concordou, caindo em meu abraço. — Mas por esta noite, eu quero que você me beije, Sol. Me mostre que sou sua.

Enfiei os dedos em seu cabelo, segurando-a no meu colo.

— Só se você retribuir, me reivindicando.

Seu Espírito se estabeleceu contra o meu.

— Ah, Sol, você já é meu há muito tempo.

Eu sorri contra sua boca.

— Ótimo. Eu não gostaria de estar em outro lugar.

— Pare de flertar e me beije.

— Achei que você nunca fosse pedir.

Tomei sua boca com a minha, liberando todas as minhas emoções em nosso abraço e permitindo a ela acesso irrestrito a cada parte de mim.

Minha alma nunca se sentiu mais viva.

Tudo por causa da minha Claire.

Minha florzinha, aquela que finalmente me deu a chance de florescer.


Tudo tinha que estar perfeito. Especialmente depois de toda a merda que aconteceu ontem.

Eu precisava reafirmar para Claire que a amava. Provar que ela era minha rocha. E me certificar de que ela sabia que eu estava nisso por toda a eternidade. Não apenas com ela, mas com todo o círculo.

Examinar o oásis que criei trouxe um sorriso ao meu rosto. Passei o dia todo neste projeto e ficou perfeito. Todas as plantas e árvores favoritas de Claire cobriam o terreno, produzindo notas de frutas doces no ar. Flores de todas as formas, tamanhos e cores alinhavam-se nas passarelas, e o broto da Árvore do Mundo que plantei no centro agora se erguia alto no céu.

Em frente a ela havia uma fonte – algo que Cyrus havia criado para comemorar a ocasião. Pretendia ser uma oferta de paz, que aceitei e retribuí lhe dando um cesto de pêssegos. Ele estava comento um enquanto seu olhar sorria em aprovação.

— Tudo pronto, Fae da Terra?

— Sim. — Me ajoelhei e inspirei mais algumas flores a desabrochar, depois assenti. — Estou pronto.

— Acho bom que esteja — ele concordou, batendo em minhas costas. — Ou o Exos vai te matar.

Eu bufei.

— Ele poderia tentar.— E provavelmente teria sucesso. Mas ele não faria isso com Claire.

— Vamos lá — Cyrus disse, liderando o caminho.

Deixei o bosque para trás com a sensação de que tudo iria correr perfeitamente esta noite. Claire amava a vida e a Terra, e adorava a quietude das promessas eternas que nosso elemento oferecia, tanto quanto eu. Ela me ensinou como abraçar a fonte do meu poder e agora eu compartilharia meu mundo com ela.

Eu mal podia esperar.

Voltando ao Esquadrão do Espírito, Exos ergueu uma sobrancelha.

— O nosso gigante avançou?

Vox sorriu enquanto ajustava o rabo de cavalo.

— Eu diria que sim. Por que será?

Abri a boca para mandar os dois se ferrarem, mas o som das risadas de Claire me fez parar.

Um brilho vermelho a precedeu quando ela fez sua entrada, com as chamas que formavam o vestido fino em suas deliciosas curvas enquanto Titus descansava a mão em seu quadril. Ele não tirava os olhos dela, preso, assim como eu, na beleza crua de seu poder.

— Posso apresentar nossa companheira? — Titus deu um beijo sensual em seu pescoço, em seguida balançou as sobrancelhas de brincadeira.

Claire o afastou e sorriu com timidez para mim.

— Oi, Sol.

Seu nervosismo era palpável, provavelmente resultado de ser banhada pela paixão de Titus, mas isso não me incomodava em nada. Ela era minha companheira, meu coração, minha rocha. E irradiava tanta alegria que não pude deixar de ser grato a Titus por fazê-la sorrir daquele jeito.

Ofereci a mão a ela, me sentindo enorme quando ela a pegou com seus dedinhos.

— Oi, florzinha.

Suas bochechas coraram em um tom rubi enquanto ela fazia a transição de seu poder para acomodar o meu. O fogo deu lugar ao bronze e o vestido dela assumiu um tom metálico.

Linda.

Me inclinei para provar seus lábios carnudos e Claire ergueu o queixo. Apenas um beijo rápido, destinado a...

Um calafrio atingiu o Esquadrão do Espírito, nos fazendo congelar.

Silêncio.

Seguido por um grito agonizante.

— Mãe! — Claire gritou com os olhos arregalados enquanto se virava e se afastava de mim. Seu vestido derreteu em cinzas enquanto ela corria em direção ao quarto onde mantínhamos Ophelia isolada. Titus estava logo atrás, sua camisa fluindo de seu corpo para envolver o dela ao passo que nossa companheira parecia completamente alheia ao fato de estar completamente nua.

Todos nós paramos no corredor e Claire entrou primeiro.

Ophelia gritou, se atirando para o canto do quarto, com os olhos arregalados de puro terror. Ela ainda se parecia mais com um cadáver do que com algo vivo e seu cabelo pegajoso era como um véu medonho que emoldurava seu rosto magro.

— Elana! — ela gritou e se apertou ainda mais no canto, dobrando os joelhos contra o peito enquanto se agachava.

Claire olhou para nós cinco.

— Não a assustem. Por favor.

Minha mandíbula flexionou. Claire podia acreditar que Elana estava por trás de tudo isso, mas até que eu visse uma prova substancial, Ophelia permaneceria na minha lista de culpados.

A vadia tentou matar minha companheira, algo que Claire parecia ter se esquecido. Mas ela insistiu em fazer uma abordagem gentil.

Certo.

Obedecendo, concordei e me afastei para poder ficar de olho nela caso Ophelia passasse de um cadáver encolhido a uma assassina enlouquecida.

Mas Exos deu um passo à frente, sem vontade de se esconder. Como Rei do Espírito, acho que ele tinha mais direito a essa afirmação. Esta era a mulher que destruiu sua espécie. Eu entendia.

Titus e Vox permaneceram na porta enquanto Cyrus se juntou a mim nas sombras, seu Espírito zumbindo. Entre ele e o irmão, Ophelia não seria capaz de nos enganar.

E se ela o fizesse, bem, eu sempre poderia acabar com ela.

Claire olhou para mim quando o chão rugiu, e eu puxei meu poder de volta para o meu corpo, mordendo a bochecha para me manter sob controle.

— Mãe, sou eu. É a Claire — minha companheira disse, com a voz baixa e doce enquanto a camisa de Titus ondulava em suas coxas. Ela pareceu franzir a testa, momentaneamente distraída. E meus lábios se entreabriram quando ela queimou a roupa, substituindo-a por uma série de borboletas cor de rosa esvoaçantes.

— Quando você aprendeu a fazer isso? — perguntei em voz alta.

Seus lábios se curvaram.

— Aflora me ensinou alguns truques de guarda-roupa. — Sua diversão durou pouco e seu foco voltou rapidamente para a mãe. — Mãe?

Ophelia piscou para Claire, sua expressão competindo entre terror e espanto.

— C-Claire?— Minha companheira estendeu a mão para confortar a criatura, mas o momento de lucidez passou e o rosto de Ophelia se contorceu de horror. — Não! Pare! Eu não aguento mais!

Uma onda de choque surgiu e bateu no meu peito. Exos e Cyrus estavam prontos e seguraram o ataque. Exos foi empurrado com força bruta, fazendo os olhos de Ophelia se revirarem.

— Durma — ele ordenou.

Ophelia desmaiou, e Claire a segurou um pouco antes de sua cabeça bater na parede. Ela olhou de volta para o Rei do Espírito.

— Isso era necessário?

Exos não vacilou nem respondeu à sua censura.

— É como eu temia. Sua mente não consegue lidar com as duas décadas de tortura que Elana a fez passar. Teremos que conseguir respostas de uma maneira diferente. — Ele compartilhou um olhar com seu irmão. — Poderíamos entrar na mente dela...

— Não — Claire falou de forma categórica. Exos podia ser um rei, mas o olhar de Claire queimava com uma autoridade real própria. Ela tinha poder sobre os cinco elementos, para não mencionar nossos corações. — Vamos fazer do meu jeito, Exos. Ninguém mais vai tocar na mente dela.

Quando Claire lutou para arrastar o corpo mole de Ophelia de volta para a cama, eu deixei as sombras e gentilmente tirei a mulher dos braços da minha companheira, colocando-a sobre os lençóis com o máximo de cuidado possível.

— Obrigada — Claire sussurrou, segurando na minha mão e me guiando para fora da sala. — Me chamem se ela acordar — ela gritou por cima do ombro, e as palavras soaram como uma exigência, não um pedido.

Não pude evitar o sorriso que se formou no canto da minha boca. Eu adorava ouvir Claire mandar nos irmãos reais.

E seus sorrisos de resposta diziam que eles sentiam o mesmo, mesmo que não concordassem com ela.

Vox e Titus nos seguiram até a sala de estar, onde Claire começou a andar de um lado para o outro.

— Deu tudo certo — o Fae do Fogo disse, cruzando os braços e fixando o olhar em Claire. Ele parecia querer se aproximar dela e confortá-la, mas Claire estava muito abalada para as emoções cruas desenfreadas que Titus inspirava agora.

Ela precisava de algo sólido, uma rocha na qual pudesse se segurar.

Como se ouvisse meus pensamentos, ela parou ao meu lado. Passei um braço em volta dos seus ombros, abraçando-a e beijando o topo de sua cabeça.

— Vai ficar tudo bem, florzinha.

Ela assentiu, então se derreteu em meu abraço.

— Eu sei. Mas preciso estar aqui quando ela acordar novamente. Há coisas que ela pode nos dizer, coisas que podem nos ajudar, e não sei se ela falará com mais alguém. — Ela desviou o olhar para Exos e Cyrus quando eles entraram. — E ela não será capaz se eles a nocautearem toda vez que ela gritar.

— Ela sofreu intensa dor e tormento, Claire — Exos respondeu, sem remorso. — A mente dela não está confiável, o que significa que a energia defensiva é nossa única abordagem até que possamos colocá-la em sua nova realidade.

— Ele está certo — Cyrus concordou. — Não consigo nem começar a entender o que ela suportou nas últimas duas décadas. E não posso decidir qual situação é pior: a dela ou a de Mortus.

— São igualmente ruins — Titus murmurou. — Você viu como ele está perdido? — Ele gesticulou para o campo de treino improvisado do lado de fora. Eles estavam vazios agora devido ao horário. Mas tinha razão.

— É ruim — Exos concordou. — Os dois estão em mau estado.

— O que nos deixa sem informações sobre a Elana — Cyrus acrescentou. — Felizmente, aprendemos muito com esses livros. Tal como a fonte de seu poder.

— Que é? — Claire perguntou, franzindo a testa.

— Os campos da morte — Exos respondeu, olhando para o irmão. — A energia espiritual que ela está aprisionando lá é usada para sacrifícios às artes das trevas, particularmente magia da morte. Felizmente, ela não pode mais acessá-lo.

— E, infelizmente, isso significa que o Exos é seu novo alvo — Cyrus acrescentou, semicerrando os olhos para o Rei do Espírito. — Eu te dei um dia, irmão.

— E eu disse que discutiríamos isso depois que os acasalamentos fossem feitos — ele rangeu os dentes.

— O tempo está correndo e...

— Espere — Claire interrompeu, cortando Cyrus. — Você se colocou como isca? — Sua voz falhou com a última palavra. — E não nos contou?

— Eu precisava de um motivo para garantir que ela viesse até aqui — ele explicou. — Agora ela tem.

— O que seria ótimo se estivéssemos mais preparados para receber seu ataque — Claire rebateu.

Ele não pareceu perturbado pelo tom dela.

— Minhas escolhas eram fechar o acesso ou permitir que ela continuasse alimentando sua energia sombria, e a última não era boa. Então fiz o que era melhor para o Espírito Fae – o que era melhor para todos nós.

— O que você quer dizer com “alimentando sua energia sombria” com os campos de morte? — Vox perguntou, franzindo as sobrancelhas escuras.

— A praga do Espírito Fae não era uma praga — Exos explicou. — Era uma maneira para ela prender as almas dos Faes mortos para usar como combustível – sacrifícios – para sua magia mortal.

— Você tem certeza? — perguntei.

Ele assentiu.

— E pelo que posso dizer, é o que ela tem feito aos Faes da Terra. Ela está roubando suas vidas e colocando os restos de suas almas nos campos. Se recusando a conceder-lhes acesso à vida após a morte.

Vox franziu a testa.

— Como Rei do Espírito, você não pode simplesmente liberar todos eles?

Exos balançou a cabeça.

— Não. Não sem desfazer a magia. O melhor que pude fazer foi bloquear o acesso dela às almas, colocando um escudo espiritual sobre o ponto de entrada.

— O que a fará vir atrás de você. — Claire umedeceu o lábio inferior, considerando. Então suspirou. — Você ainda deveria ter nos contado.

— Você anda um pouco preocupada com seus acasalamentos, princesa — ele respondeu baixinho. — O que era mais importante para todos nós.

— Mas como vou acasalar com Sol esta noite com a minha mãe em coma induzido por Espírito e a ameaça real da chegada de Elana? — Ela olhou para mim, com os olhos cheios de tristeza. — Não será justo acasalar com você esta noite preocupada com tudo isso.

Dei um beijo no topo de sua cabeça.

— Eu entendo, florzinha. — Partiu meu coração não completar o vínculo com Claire, especialmente quando ela precisava da minha Terra para firmá-la. Mas ela estava certa. Essas distrações amorteceriam nossa união e arruinariam o que deveria ser uma experiência alegre. — Vamos adiar o acasalamento até depois que as coisas esfriarem.

— Mas ela precisa completar o círculo — Exos interrompeu. — Isso vai fortalecê-la.

Ela estremeceu em minhas mãos como uma folha prestes a ser arrancada de sua árvore, desafiando suas palavras.

— Não neste estado — argumentei. — O acasalamento esta noite, enquanto tudo isso está pesando sobre nós irá contaminar o vínculo.

Exos olhou para nós dois, depois soltou um longo suspiro e balançou a cabeça.

— Droga. — Ele olhou para Cyrus.

— Ele está certo — seu irmão falou baixinho.

— Eu sei — Exos concordou, esfregando o rosto com a mão. — Eu sei.

— Nós vamos dar um jeito nisso — Cyrus prometeu. — Todos nós. Mas primeiro, sugiro que Claire passe esta noite com Sol para, pelo menos, absorver o que puder através do vínculo.

Eu concordei.

— Vou dar tudo o que ela precisar.

— Mas você precisa do seu elemento também. — Ela puxou minha camisa, exigindo minha atenção. — Você só deve me dar o que pode, Sol.

— Tudo bem. — Eu beijei sua testa. — Mas tenho muito poder.

Ela semicerrou os olhos.

— Sol.

— O quê? Eu tenho. — Eu a levantei em meus braços, amando a maneira como suas borboletas vibravam ao meu redor. — Vou provar isso.

— Sim, vá provar — Titus encorajou. — Mas tente descansar um pouco com Sol. Cuidaremos de sua mãe caso ela acorde novamente.

Vox, Exos e Cyrus assentiram.

— Chega de desmaios — ela disse, apontando para os dois Espíritos Faes.

— Sim, senhora — Exos falou, piscando para ela.

Comecei a caminhar em direção ao meu quarto antes que ela pudesse discutir, não querendo perder mais um momento do nosso tempo juntos. Podíamos não nos acasalar esta noite, mas podíamos nos vincular de outras maneiras.

Claire pareceu concordar, porque seu vestido se dissolveu no momento em que seu corpo se acomodou na minha cama, o colchão grande o suficiente para mim. Meu olhar a percorreu.

Ela se enrolou sob os lençóis como uma semente se fixando na terra. Seus olhos azuis pareciam brilhar na luz fraca concedida pela janela.

— Desculpe — ela murmurou. — As borboletas estavam começando a coçar.

Eu sorri, tirando as roupas e me juntando a ela, para adicionar calor aos lençóis frios.

Ela se acomodou contra meu peito e colocou uma perna sobre minha coxa.

— Estou aqui para tudo que você precisar — falei, acariciando seu ombro nu.

Ela enfiou o queixo no meu pescoço e inspirou, depois exalou, e sua respiração arrepiou minha pele.

— Puta merda, Claire, não faça isso, ou estarei aqui para mais do que você precisa agora — eu disse enquanto meu pau reagia ao que ela fez comigo.

Ela riu e se aconchegou mais perto, envolvendo os braços o máximo que pôde em volta do meu peito.

— Desculpe. — Ela não parecia sentir muito.

Respirei fundo três vezes e tentei trazer à mente imagens que acalmassem o ronco em meu peito.

Humm.

Glacier – odeio seu rosto. Ele não é bom o suficiente para Aflora. Mas eu sabia que não precisava dizer isso a ela.

Ah, Titus derretendo minha pedra em volta dos meus tornozelos. O cretino me fez parecer um idiota.

— Você acha que o Vox irá se juntar a nós? — Claire perguntou, interrompendo minha tentativa de distração mental. Porque apenas o pensamento de Claire entre eu e Vox me deixou duro como pedra.

Mudei meu peso.

— Você quer que ele venha?

Ela ponderou a questão, em seguida apoiou a cabeça no meu peito, com seu cabelo espalhado sobre mim.

— Acho que só quero descansar. Por enquanto. Já se passaram vários dias. Semanas. Meses. — Ela riu suavemente. — Você sabe o que eu quero dizer.

Eu sabia. Mas eu não mudaria nada por nada no mundo.

— Podemos descansar — concordei, passando os dedos por seus cabelos.

Ela ficou quieta por tanto tempo que pensei que talvez ela tivesse dormido.

Mas senti seus cílios se movendo contra minha pele, sua cabeça funcionando.

— O que você está pensando, Claire? — perguntei, subindo e descendo meu dedo pela sua coluna.

Sua respiração acariciou minha pele, me lembrando uma brisa quente de solstício.

— Ela estava com tanto medo, Sol — Claire sussurrou. — Eu... eu podia sentir o que a Elana fez com ela. — Ela fechou a mão e estremeceu. A sensação reverberou por todo meu corpo. Porque eu sabia o que ela queria dizer, entendia como o Espírito podia marcar a alma. — A Elana vai pagar, Sol. Por isso. Pelo que ela fez aos Faes da Terra. Por tudo.

Eu me aproximei maus, desejando protegê-la da escuridão que suas palavras evocavam.

Mas Claire estava certa.

Elana pagaria pelo que ela fez.

E muito em breve.


O fogo lambeu minha pele, queimando um caminho ao longo da minha alma, me marcando na morte.

Com as mãos presas, lutei contra as restrições.

Os elementos giraram ao meu redor. Caóticos. Frenéticos. Desequilibrados.

E os ventos rugiam lá em cima.

— Ela está vindo, nossa rainha — uma voz sombria sussurrou e a gargalhada que se seguiu provocou arrepios em meus braços. Apenas para murchar e morrer sob o fogo.

— Ela está vindo — repetiu, ecoando em meus pensamentos. Filetes de fumaça como tinta giraram ao longo das minhas narinas, deixando para trás um cheiro ruim. — Ela não está sozinha.

Outro galho se enrolou em mim, me banhando com o cheiro dos mortos.

— Estamos chegando — um eco provocou. — Corra, corra, enquanto você pode. Estamos indo atrás de você.

Me levantei com um grito, meu corpo estava encharcado de suor.

— Ela está vindo! — gritei com os resquícios do um pesadelo.

Mas não foi um pesadelo.

No fundo, eu sabia que era muito real.

Essas coisas estavam a caminho.

Um braço quente me envolveu, fazendo outro grito escapar dos meus lábios meus instintos reagirem.

— Sou eu! — Sol disse, sacudindo as chamas que lambiam meu corpo. — Merda.

Ele acenou com a mão e vi sua pele queimar com o meu descuido. Então eu o acalmei com Água e Espírito, curando sua ferida sem nem perceber minha intenção. Ele ficou boquiaberto e em estado de choque. — Como...

Exos abriu a porta, com Cyrus bem ao seu lado.

— O que está acontecendo?— meu companheiro do Espírito questionou.

— Ela está vindo — eu disse com urgência.

— Elana? — Cyrus perguntou.

Vox e Titus surgiram atrás deles, parecendo meio sonolentos.

Sim, era madrugada. Mas...

— Precisamos nos preparar. Agora mesmo.

Eles trocaram um olhar, e eu sabia o que estavam pensando: Como você sabe que não é só um sonho? Bem, eu sabia. Não conseguia explicar como. Eu simplesmente sabia.

— Confiem em mim — insisti. — Por favor. Precisamos preparar o terreno. Ela está trazendo os mortos consigo. — Eu também não conseguia explicar como sabia disso. Ou como eles seriam. Mas o mau cheiro ainda permanecia em minhas narinas.

Real.

Letal.

Coisas.

Meus companheiros assentiram, escolhendo acreditar em meus instintos.

— Certo — Cyrus foi o primeiro a falar. — Todos sabemos o que fazer. Vamos tocar os sinos. Vejo todos vocês na área principal.

E assim começou.

O começo do fim.

Senti em cada fibra do meu ser.

Esta noite seria decisiva.

Estou pronta.


A lua foi encoberta por uma nuvem incomum, confirmando as afirmações de Claire. Os elementos estavam nos alertando sobre o futuro à espreita. A morte flutuou no ar e a terra estava estranhamente silenciosa.

— Em breve — sussurrei para Vox, ciente das correntes persistentes em torno da minha boca, aguardando meu comando.

Ele assentiu do outro lado do pátio, reconhecendo que tinha ouvido meu aviso, e retransmitiu para seus companheiros Faes do Ar.

Meus braços se arrepiaram, deixando para trás uma sensação de destruição.

Os Faes da Água estava atrás de mim, esperando meu sinal.

Enquanto Sol e Titus se escondiam com suas respectivas espécies.

Tínhamos uma boa ideia do que esperar, graças aos textos de Kols e à experiência anterior de morte de Claire com Elana. Parecia que a velha Chanceler estava brincando com cadáveres animados. E pelo que Claire descreveu de seus sonhos, eram exatamente isso o que poderíamos esperar que chegassem a qualquer minuto.

Exos estava no topo de uma torre, com Claire ao seu lado.

Ele era a isca, e ela sua protetora.

Como as peças de xadrez mudaram. Mas nossa companheira exigiu um assento na primeira fila, já que seus poderes eram os mais fortes entre nós, graças ao seu acesso a todos os elementos. Se ao menos tivéssemos conseguido completar o acasalamento com Sol.

Infelizmente, não houve tempo.

Não com o exército de mortos se aproximando e vindo em busca do meu irmão.

Mortus pigarreou e eu olhei de lado para o professor em estado de choque.

— Sim?

— Posso senti-la — ele disse baixinho, fazendo uma careta. — Como uma sanguessuga procurando pelas almas que já foram tocadas.

Isso não me surpreendeu. Antes de tudo começar, concordamos que eu o nocautearia se suspeitasse por um segundo que Elana o estava usando. Daí sua posição ao meu lado.

Cutuquei seu Espírito com o meu, encontrando-o tão destroçado quanto antes, e assenti.

— Ela vai atacar rapidamente para assumir o controle ou vai deixá-lo para os lobos. — Minha aposta era na última opção. Mortus tinha servido ao seu propósito, e sua mente e corpo pareciam um fantoche quebrado após as manipulações de Elana. Não havia muitos recursos para ele oferecer a ela neste momento.

Ophelia estava no mesmo barco.

Foi por isso que a deixamos inconsciente no Esquadrão do Espírito. Alguns Faes do Fogo concordaram em protegê-la. Não que esperássemos que fosse necessário.

Não. Elana queria Exos.

E meu irmão estava no ponto mais alto, essencialmente se oferecendo para que ela o matasse.

Se fosse qualquer outra pessoa, eu o chamaria de idiota. Felizmente, eu sabia que não devia questionar a estratégia dele. Eu confiava nele. Assim como Claire.

— Titus e Sol estão prontos — River anunciou, me encontrando no campo para assumir sua posição.

— Ótimo.

Tínhamos preparado uma pequena armadilha para Elana, algo que Sol e Titus construíram juntos. O resto de nós éramos apenas a isca para garantir que seus asseclas viessem ao lugar certo.

Ela está aqui, Claire disse de repente. Não consigo vê-la, mas sinto suas trevas em todos os lugares.

Segui sua linha de pensamento até o plano espiritual e notei as trevas se aproximando da fonte. Sim, concordei, recuando para focar em nosso entorno.

— Ela está aqui.

— Onde? — River perguntou.

Balancei a cabeça. A escuridão lhe deu uma vantagem, algo com que ela brincou enquanto mais neblina e nuvens enchiam o céu, removendo a lua de nossa visão.

— Está na hora — sussurrei, acenando para Vox.

Ele baixou a cabeça em reconhecimento, se comunicando com seu esquadrão.

Os pelos em minha nuca se arrepiaram.

Um zumbido de energia estranha deslizou pelo ar.

Seguido pela acidez associada aos mortos.

Lá! Claire gritou em minha mente. Perto da linha da floresta.

Semicerrei os olhos, vendo a mudança de fumaça. Mas outro vislumbre perto da extremidade oposta do campus chamou minha atenção assim que Vox disse: — Atrás de nós.

Ela está se aproximando por todos os lados, eu disse a Claire, repetindo isso em voz alta. Ela pretende dividir nossas forças.

Uma tática inteligente. Algo que funcionaria se não estivéssemos nos comunicando de alguma maneira.

— Atrair esses monstros não vai funcionar. River, diga a Sol e Titus para seguirem com o plano B. Eles vão entender o que isso significa. Vá. Agora.

— Pode deixar — River falou, indo para o túnel de rocha fabricado pelos estudantes da Terra. Parecia levar ao subsolo, mas não. Os Faes inteligentes o esculpiram em uma colina, que ficava acima do nível do mar, permitindo assim que o Fae de dentro mantivesse seu acesso aos elementos enquanto se escondia sob um abrigo robusto.

Girei os ombros, me preparando para o inevitável. A escuridão continuou a cair enquanto a fumaça pintava sobre a luz acima, nos envolvendo em um mar de escuridão.

Mas eu tinha um plano de contingência.

E ele acenderia com o meu sinal.

Fechando os olhos, invoquei a fonte dos meus dois elementos, entrelaçando-os em uma intrincada teia de vida e ondas de tranquilidade.

Borrife e cresça, sussurrei para a mistura inebriante de magia. Envie uma nova vitalidade para o céu. E sombreie nossa terra em tons de azul.

Eu o soltei em um suspiro, sorrindo enquanto a sensação crescia em uma faísca de luz aquosa acima de nossas cabeças.

A exibição de um membro da realeza.

O poder de um rei.

— Vox — falei, abrindo os olhos e encarando-o. — Quer dançar?

Seus lábios se curvaram do outro lado do campo.

— Com certeza.

O ar se enredou em meus elementos, agitando um vórtice no céu noturno que absorveu a escuridão que ameaçava nossas terras enquanto deixava minha energia brilhar.

Esse foi o sinal.

— Vamos começar — eu disse, levantando a mão e cobrindo meus Faes com os presentes da própria fonte. — Vão!


Gotículas tocaram minha pele. O poder de Cyrus se infundiu no meu e me fez sorrir, apesar das circunstâncias terríveis. Eu te amo, sussurrei para ele.

Também te amo, pequena rainha. Agora concentre-se em proteger meu irmão.

Meu sorriso se ampliou. Já estou concentrada.

Eu estava com a mão na parte inferior das costas de Exos enquanto a nossa energia do Espírito crescia entre nós e caía em cascata sobre as terras em busca da vilã que procurávamos. Tínhamos um objetivo: desmantelar sua alma.

Mas ela permaneceu escondida, se esquivando na escuridão da morte. Nublou nossa afinidade pela vida enquanto seduzia nosso lado mais sombrio, fazendo-nos lutar uma batalha ascendente enquanto nos esforçávamos para manter a vitalidade que nos sustentava.

Exos escolheu esta posição pela visibilidade, não apenas para nós, mas também para Elana.

— Ela vai espalhar seus asseclas pelo terreno e virá até nós sozinha — ele disse enquanto subíamos a torre. — Que é exatamente o que queremos. Matando a fonte, tudo o mais morre com ela.

Seu plano dependia da nossa capacidade de eliminar Elana.

E se isso falhasse, seguiríamos para outro, que envolvia todos os meus companheiros.

Passei as mãos úmidas na calça de algodão. Titus tinha me dado, alegando que era leve e adequada para uma luta, ao mesmo tempo que era à prova de fogo graças a um tratamento mágico de superfície. O mesmo acontecia com a camisa de mangas compridas. As duas peças foram feitas para me proteger.

Assim como o bastão em minha mão e as lâminas presas aos meus quadris.

As armas não me trouxeram tanto conforto quanto meus elementos. Especialmente quando os primeiros sons de ataque flutuaram no ar.

Engoli em seco, sentindo o ar acre perturbar meu interior. Minha alma instintivamente estendeu a mão para verificar meus companheiros, preocupada com eles enquanto lutavam lá embaixo.

Mas encontrei apenas emoção em nossos laços.

O orgulho de Cyrus.

A ferocidade de Sol.

A determinação de Vox.

E uma sensação de determinação feliz de Titus enquanto ele gritava ameaças em sua mente para as criaturas mortais que rastejavam. Seu poder inflamou, aquecendo minha pele enquanto Sol desabava a terra em uma horda de seres esqueléticos que se aproximavam. O fogo queimou sobre todos eles, fundindo a terra ao redor para formar uma rocha envolvente.

— Brilhante — Exos elogiou. Sua diversão era palpável. — Sabia que os dois se reconciliariam e trabalhariam bem juntos. Agora, vamos conseguir ajuda para eles, certo?

Assenti, voltando a me concentrar na tarefa em mãos. Encontrar Elana.

Mas sua presença estava em todos os lugares e em nenhum lugar ao mesmo tempo, sua alma parecendo desaparecer do nosso alcance. Fiz uma careta.

— Como ela continua fazendo isso?

— Ela é antiga — Exos explicou. Sua presença estava mais próxima da fonte. — E ela desenvolveu alguns truques astutos ao longo dos séculos.

Grunhi, frustrada, e mergulhei de volta em meu Espírito.

Tanta escuridão.

Nem um pouco como da última vez em que me aventurei neste plano.

As sombras se escondiam nos cantos, provocando minha presença e fornecendo pistas falsas. Humm, mas aquela à distância continuava sumindo e parecendo como se estivesse se esforçando para se esconder, mas falhando. Eu a segui, determinada a identificar o mestre da criação.

Ou talvez a mestra.

Onde você está, Elana? perguntei. Saia, saia, onde quer que esteja.

O solo se moveu, balançando nossa torre. Eu me agarrei a Exos e a um poste próximo, mantendo o foco ainda no reino Espiritual e naquela forma em fuga. Você não pode escapar de mim, pensei, perseguindo-a mais rápido. Vou...

Um grito agudo me puxou de volta à realidade, e eu arregalei os olhos.

— Mãe! — gritei, reconhecendo aquele grito dos últimos dias ouvindo seus terrores noturnos.

Exos me pegou pela cintura antes que eu pudesse começar a descida.

— É uma armadilha — ele disse com a boca no meu ouvido.

— Como você sabe? — questionei. Os gritos agonizantes de minha mãe partiam meu coração. — Estão machucando-a, Exos! Temos que fazer alguma coisa!

Os braços de Exos se apertaram ao meu redor.

— Pense, Claire! Temos um plano. Não podemos nos desviar.

— Mas a estão matando! — Eu podia ver na forma como sua aura cintilou no reino do Espírito, com a sensação de sua morte pairando sobre minha alma. Tinha que ir até ela. Ajudá-la e libertá-la. Eu tinha acabado de recuperá-la, e ela morrer agora não seria certo.

Ela merecia uma segunda chance.

Precisava limpar seu nome.

Todos a odiavam, a acusavam de um pecado que ela nunca cometeu.

Se ela morresse, nos deixaria com o conhecimento de seu fracasso.

Outro grito partiu meu coração e vi sua luz piscar no plano da alma, implorando por ajuda. Eu não podia ignorá-la. Tinha que ajudá-la depois de tantos anos a deixando em sofrimento. Nunca mais. Não agora que eu tinha o poder e o conhecimento para fazer algo.

As palavras de Exos foram abafadas pela batida acelerada do meu coração. O som sibilava em meus ouvidos como se eu estivesse debaixo d'água. Seus braços caíram. Seu toque parecia passar por mim enquanto o mundo se dissolvia em um escudo de clareza e paz.

Mas foi apagado pela visão que apareceu diante de mim.

Minha mãe de joelhos.

A mão de Elana envolvendo sua garganta.

Um vórtice de energia girando em torno das duas enquanto Elana absorvia a alma dela bem diante dos meus olhos.

— Chega! — gritei, explodindo-a com todo o poder que pude reunir e mandei Elana para o outro lado do Dormitório Espiritual.

Enevoei, parte de mim percebeu.

Mas eu tinha problemas mais importantes com que me preocupar.

Asseclas esqueléticos se voltaram contra mim, furiosos por eu ter ousado tocar em sua mestra. Com uma onda de água, espalhei seus restos mortais. Em seguida, criei uma concha de fogo ao redor da minha mãe, protegendo sua forma inconsciente no chão de danos futuros. A Terra teria sido melhor, mas eu não confiava nesse elemento ainda. Não com meu vínculo de acasalamento ainda pendente.

Ar, Água, Espírito e Fogo teriam que servir.

Usei o primeiro para criar um tornado, sugando todos os pedaços dos asseclas de Elana e soprando-os para fora do Esquadrão do Espírito. Então me concentrei na própria vadia.

Mas ela não estava em lugar nenhum.

Fiz uma careta, girando ao redor, procurando por Elana.

Ela estava lá há apenas um segundo.

A noção surgiu quando a cena ondulou diante dos meus olhos, revelando a verdade pela fração de segundo que eu precisava para descobrir o que estava acontecendo.

É tudo uma miragem...

Com esse pensamento, o mundo se acalmou e revelou o verdadeiro Dormitório do Espírito. As chamas morreram ao redor da minha mãe. Ela ainda estava inconsciente – um sono ao qual Cyrus e Exos a haviam submetido apenas algumas horas antes.

E a única destruição ao nosso redor foi a que eu causei.

Nada disso era real.

Mas onde os Faes do Fogo foram colocados para proteger minha mãe?

Com uma sensação nauseante, vaguei para fora, esperando contra a esperança de que não tivessem sido eles quem eu destruí.

E eu os encontrei deitados no gramado.

— Ah, Deus... — Levei a mão à boca, caindo de joelhos.

Aquelas coisas esqueléticas eram Faes...

E eu os matei.

Meu coração bateu forte no peito.

Merda. Merda. Merda. Soquei a terra, furiosa comigo mesma por permitir que minhas emoções me derrubassem. O chão retumbou com meu golpe, rachando. Levante-se, eu disse a mim mesma. Levante-se e encontre aquela vadia. Termine isso.

Minhas pernas vacilaram com o esforço.

— Sinto muito — sussurrei e uma lágrima escorreu pela minha bochecha enquanto eu murmurava para os cinco Faes no campo. — Estou tão...

Claire! O grito de Exos rasgou meu ser e sua agonia foi como um tapa em meus sentidos.

Procurei sua torre e a encontrei oscilando na a noite, com a eletricidade piscando ao redor dele.

Exos! Saí correndo, deixando minha mãe para trás. Doeu fisicamente, mas minha alma dirigiu minhas ações, me forçando a fazer a escolha impossível. Estou chegando!

Mas ele não respondeu. Seu Espírito estava perdido em um duelo que eu deveria ter travado ao seu lado.

Como pude ser tão estúpida?

Elana jogou a única carta que ela sabia que eu não iria ignorar.

Usando minha mãe contra mim novamente.

O ódio alimentou meus passos. A vingança escureceu meu coração.

Uma névoa aquosa tomou conta de mim mais uma vez e o poder estourou em minhas veias. Cheguei em uma explosão de elementos para encontrar Exos inconsciente aos pés de Elana.

Inconsciente, mas vivo.

Porque senti sua vida prosperando ao meu redor.

Ele levou Elana para a batalha no plano Espiritual.

Mas ela parecia estar nos dois lugares ao mesmo tempo. Seus braços pareciam se abaixar em câmera lenta, a lâmina em sua mão estava em uma trajetória perfeita para atingir o peito de Exos.

— Não! — Joguei um punhado de água em seu rosto enquanto agarrava o metal com o meu Fogo e derretia direto de sua mão. Uma gota chiou contra Exos enquanto o resto se espalhou com uma brisa que atirei de lado.

Elana rugiu, vindo para mim em uma fração de segundo, mandando nós dois para o lado da torre.

O grito de Vox ecoou em meus ouvidos, seu uivo parecendo circular ao meu redor para suavizar minha queda, assim como a terra a amorteceu.

Uma queda que deveria ter matado a mim e a Elana.

Mas, novamente, ela não estava em lugar algum.

Outra miragem!

Rolei para o lado e fiquei de pé, furiosa. Me virei.

— Onde você está? — questionei. — Onde é que você está?

— Onde está o Exos? — Cyrus murmurou, depois de aparecer ao meu lado.

Apontei para cima.

Ele desapareceu, reaparecendo com meu companheiro do Espírito inconsciente em seus braços.

— O que aconteceu? — ele questionou.

Balancei a cabeça.

— Ela está criando visões.

Droga, pelo que eu sabia, Cyrus poderia ser uma. Mas senti em minha alma que não era, nosso vínculo crescendo com a nossa proximidade.

Falando nisso... pressionei a mão no peito de Exos, focando em nossa conexão para encontrá-lo no reino do Espírito. Lá.

Ele estava diante da fonte, envolto em poder enquanto Elana o explodia com magia que não pertencia a esse reino. Isso sacudiu o núcleo, perturbando o equilíbrio e fazendo Exos lutar por seu equilíbrio.

Eu me afastei lentamente, considerando nossas opções.

— Precisamos encontrar o corpo de Elana — Cyrus disse. — Ela está aqui em algum lugar. Mas precisamos encontrá-la. — Porque pelo que pude ver, Exos não tinha muito tempo até que uma de suas bolas de energia estranhas perfurasse sua armadura.

E eu não queria saber o que aconteceria.

— Talvez eu possa ajudar com isso — uma voz baixa falou.

Mortus.

Ele ergueu as mãos.

— Juro que ela não está na minha cabeça. Mas tenho certas memórias das últimas duas décadas. Ou acho que é o que elas são. Honestamente, parecem sonhos.

— O que você quer dizer? — Cyrus questionou.

Mortus pigarreou.

— Acho que sei onde ela está.


Não confio nele, Claire sussurrou em meus pensamentos.

Nem eu, admiti. Mas não sinto nenhuma compulsão de seu Espírito.

Ainda pode ser uma miragem. Ela cruzou os braços e semicerrou os olhos para Mortus.

— Onde você acha que ela está? — O ceticismo em seu tom não passou despercebido por mim ou por Mortus.

Ele se encolheu antes de responder: — Há um lugar na floresta, logo após o campus, que leva a uma série de túneis escondidos.

Franzi o cenho.

— Você quer que a gente vá para o subterrâneo? Onde nossos elementos não funcionam? — Bufei. — Ah, tá. — Além disso, eu nem tinha certeza de que esses túneis existiam. Eu nunca tinha ouvido falar de tal coisa, ou visto, e eu conhecia esse lugar como a palma da minha mão. Quando eu disse isso em voz alta, Mortus balançou a cabeça.

— Eu os encontrei na semana passada — ele admitiu com a voz baixa. — Não parava de sonhar com eles e precisava ver se eram reais. E, bem, eles são.

— E você não pensou em nos contar isso? — Claire retrucou, tirando as palavras da minha boca.

Ele ergueu as mãos como se estivesse se rendendo.

— Eu... eu não sabia que seriam importantes. Eu... você não sabe o que é não saber o que você fez, quem você é, em quem confiar ou como é acordar em um mundo que envelheceu sem você. — Seus olhos encontraram os meus. — Me lembro de sua mãe como se fosse ontem, Cyrus. Como se tivéssemos acabado de compartilhar um curso do Espírito juntos na semana passada. Eu... eu não... — Ele balançou a cabeça e uma profunda tristeza dominou suas feições tipicamente severas.

Uma pontada de pena atingiu meu peito, sendo esmagada pelo peso em meus braços.

Meu irmão ficava mais fraco a cada segundo que passava. Senti enquanto sua alma lutava com tudo o que tinha contra uma força que era muito mais poderosa do que deveria ser, especialmente quando confrontado com a ira do Rei do Espírito. — Me mostre a entrada — eu disse, ainda sem ver uma alternativa. Se as palavras de Mortus estivessem certas, então pediríamos a Sol para desenterrar todo o labirinto.

Presumindo que ele pudesse fazer uma pausa no massacre dos mortos.

Esqueletos rastejantes haviam invadido o terreno, e eram pequenos filhos da puta rápidos também. Pior, eles continuavam se recompondo. Não importava quantas vezes a equipe de Vox os destruía; os ossos pareciam se transformar em novas criaturas que continuavam a causar estragos.

Ignorando um calafrio agourento, fiz um gesto para Mortus se mexer. Levaríamos Exos conosco, porque eu não confiava em ninguém para cuidar dele além de mim e Claire, e seus companheiros estavam comprometidos.

— Diga a Vox e Titus para onde estamos indo.

— Já avisei — ela respondeu, seguindo Mortus. Ainda acho que isso é uma má ideia.

Você tem uma melhor? perguntei a ela.

Não. Ela me lançou um olhar, em seguida olhou para Exos. Seus ombros caíram enquanto a culpa atingia a nossa conexão. Eu não deveria tê-lo deixado.

O que você quer dizer? questionei. Quando você o deixou?

Ela me informou o que aconteceu com a mãe enquanto caminhávamos, sua voz mental tinha um toque de tristeza quando ela contou sobre os Faes do Fogo que ela destruiu.

As baixas são consequências da guerra, sussurrei, roçando sua bochecha com um beijo enevoado. E Faes são mais resistentes do que se poderia esperar. Eles podem ter sobrevivido.

Você acha?

Vamos descobrir depois que lidarmos com a Elana, prometi. Meus braços começaram a tremer com o peso de carregar meu irmão.

Pelo menos ele escolheu uma torre perto do limite do campus.

Isso significava que não precisávamos caminhar muito até que Mortus nos mostrasse a entrada – uma que estava misteriosamente vazia de criaturas mortais assombrando os terrenos da Academia.

O que você acha? Claire perguntou, olhando as árvores retorcidas.

Um observador veria apenas isso – dois troncos gigantes se acasalando na terra para formar um belo V com vinhas crescendo para decorar os membros.

Mas Mortus puxou o arbusto na base para revelar uma entrada grande o suficiente para uma pessoa rastejar por ela.

Acho que de jeito nenhum vou deixar você vagar por aí sozinha, respondi, franzindo a testa.

O que me deixou com um problema significativo em meus braços.

Você não pode carregar Exos por ali, ela respondeu, observando o problema que ecoava em meus pensamentos.

Eu sei. E de jeito nenhum vou deixar o Exos sob os cuidados de Mortus. Você pode entrar em contato com o Titus ou o Vox e pedir a um deles para trazer o Sol?

Claire balançou a cabeça. Não há tempo, Cyrus. E eu já tirei você da luta. Os outros precisam deles. Ela deu um passo à frente para investigar as árvores e a caverna abaixo. Só há uma escolha aqui.

Discordo.

Sei disso, ela respondeu. Mas você também está errado.

— Claire — pronunciei seu nome com um aviso.

— Cuide do Exos — ela disse, saindo do meu alcance. — Eu vou voltar.

— Claire! — Coloquei Exos no chão, preparado para agarrá-la, mas a pequena atrevida já havia deslizado para dentro da porcaria do buraco. — Puta merda!

Vou ficar bem.

Quando você voltar, não vai, não estourei, andando antes da entrada e ignorando os resmungos de Mortus. Ele se ofereceu para cuidar de Exos, o que não ia acontecer. Merda, Claire! Vou bater na sua bunda.

Isso é excitante, ela falou. Promete?

Isso não é engraçado. Volte aqui.

Estou bem, ela prometeu.

Olhei para Exos, depois para o chão e de volta para Exos.

— Explodam os Elementos! — Eu odiava a escolha que ela me deixou – deixar meu irmão e ajudá-la, ou confiar nela e protegê-lo.

Mas ela estava no subsolo.

Onde não poderia buscar os elementos.

Indo sabe-se lá para onde.

Claire, grunhi.

Fique aí, ela exigiu, me enfurecendo ainda mais. Posso precisar do seu elemento.

Que eu não poderia acessar se a seguisse pelos túneis. Eu vou te estrangular, mulher!

Promessas, promessas, ela murmurou. Agora pare de flertar e me diga como matar a Elana quando eu a encontrar.


O grunhido de frustração de Cyrus provocou um arrepio pela minha coluna.

Sim, eu o irritei.

Mas estávamos sem tempo. Um olhar para o reino do Espírito e ele saberia disso. Exos havia lutado muito, mas a escuridão ao redor de Elana estava começando a dominá-lo. Suspeitei que fosse por minha causa. Exos não poderia se tornar um Rei do Espírito completo sem comprometer meu acesso à fonte, me enfraquecendo. E o homem teimoso nunca permitiria isso.

Eu sabia, porque faria o mesmo.

Todos nós sacrificamos a sanidade por amor.

Daí minha presença neste túnel horrível.

Felizmente, ele se abriu após a entrada, me permitindo caminhar ao longo das rochas em vez de rastejar. Mas eu não tinha ideia de onde isso levava, e a luz aqui embaixo era inexistente.

Uma pequena chama cintilou nas pontas dos meus dedos. A passagem não era totalmente subterrânea. Ou talvez fosse uma ilusão, porque senti meus elementos se esgotando a cada passo.

Fiz uma pausa, franzindo a testa. Cyrus? chamei, percebendo que ele não respondeu à minha pergunta sobre como matar Elana.

A estática fluiu de volta para mim.

Isso não é bom.

Ou eu estava errada sobre a profundidade desse labirinto ou algo aconteceu.

E se Mortus se voltou contra ele? me perguntei, olhando para trás. Meus pés estavam presos entre m mover em direção a Elana para salvar Exos e recuar para verificar Cyrus. Ela é a fonte, pensei, respirando fundo. Se Mortus está sob controle mental novamente, é por causa de Elana. A melhor maneira de salvar os dois é prosseguir.

Matá-la protegeria a todos eles.

Eu só esperava que não fosse tarde demais.

Pegando o ritmo, continuei indo em frente, procurando com as oscilações da minha energia do Espírito pela assinatura de Elana.

Nada.

Como se ela estivesse morta e enterrada. Por que ela não conseguia acessar seus elementos aqui?

Contorci meus lábios. Humm, isso não estava certo. Caso contrário, ela não estaria engajada em uma batalha com Exos agora.

O que significava que ela não estava apenas usando seus dons naturais, mas eles também eram fortes.

Apressei o passo em uma corrida, determinada. Isso tinha que levar a algum lugar, um prado ou um campo. Uma fonte externa que concedesse a ela acesso aos elementos.

A menos que estivéssemos completamente errados sobre este ser seu esconderijo, caso em que estávamos todos fodidos.

Não.

Eu me recusava a pensar assim.

Meu coração aqueceu enquanto eu seguia, com meus instintos assumindo enquanto permitia que os elementos me guiassem. Uma pontada de vida aqui. Um gosto de terra ali. E um fogo que queimava mais forte a cada passo.

Sim.

Este é o caminho certo.

De alguma forma, eu simplesmente sabia. Como se fosse meu destino me levando ao duelo final.

Todos os meus companheiros ficaram quietos.

Mas eu não os estava ouvindo agora.

Era Elana quem eu procurava, assim como seu coração maldoso retorcido com energia ruim que não pertencia a esse lugar. Passando os dedos contra a parede carregada de sujeira, eu senti. Um mal florescendo na terra. Morte demorando em seu rastro.

Fechando os olhos, comecei a andar novamente, traçando os tentáculos de magia que azedaram meus elementos.

Até que entrei em uma clareira subterrânea cheia de plantas e flores e um telhado com fenda com acesso ao ar acima.

Sorri, respirando no âmago da minha força, sentindo meus companheiros imediatamente revoltados em minha mente. Acalmei sua preocupação conjunta com um pensamento para cada um deles. Estou bem. E o que era mais... eu a encontrei.

Deitada em uma pedra.

Cercada por asseclas rosnando.

Se esta for outra miragem, vou ficar louca, pensei, usando minha magia do Ar para derrubar os asseclas em pedaços. Em seguida, envolvi minha Terra para amarrá-los ao solo, proibindo-os de se recomporem.

Elana ganhou vida em um suspiro. A ameaça da minha presença puxou-a para fora do plano espiritual. Algo que Exos e Cyrus confirmaram em minha cabeça, então eu sabia que era real.

Terceira vez é o charme, pensei, sorrindo.

— Olá, Elana.

Onde você está? Cyrus questionou.

Agitei um gêiser acima de nós, atirando-o para o céu como um sinal da minha localização. Aqui. E o demônio está acordado, acrescentei enquanto Elana se levantava.

— Mortus — ela grunhiu, claramente irritada.

Eu sabia que não devia deixá-la falar ou tirar vantagem.

Então, em vez de ouvir as palavras que saiam de seus lábios, criei um picador de gelo e apontei para seu coração.

Ela diminuiu a intensidade dele com um aceno de mão. Seu controle da Água era surpreendentemente forte. Uma arma semelhante se voltou para mim, algo que mal bloqueei quando chamei meu Fogo para criar um escudo.

O líquido subiu, apagando minhas chamas em um instante, e Elana suspirou.

— Prejudicar crianças nunca foi uma atividade agradável, mas é fácil.

Meu peito doeu quando ela me atingiu com uma onda invisível de poder, me jogando para trás e quase para fora da pequena clareira. Chamei uma rajada de Ar para me forçar de volta ao centro, exigindo meus elementos, mas Elana me fez tropeçar com um fio de fumaça espessa.

Merda! Minha bunda bateu nas pedras, irradiando a dor na minha coluna.

— Ah, Claire — Elana murmurou. — Como você é jovem.

O gelo me atingiu de todos os lados, cortando minhas roupas sem preâmbulos e atingindo minha pele.

Gritei, girando para longe da sensação estranha de que ainda não era Água.

Mas não atendeu ao meu chamado.

Meu Fogo tentou queimá-lo, criando um líquido ácido que escaldou minha pele e provocou um grito em minha garganta.

Claire!

Eu não sabia qual dos meus companheiros estava gritando. Cyrus? Vox? Titus? Uma mistura de todos eles?

Me curvei, lutando contra a dor e renunciando ao meu controle sobre os elementos para ter uma chance de respirar. De alguma forma, Elana os estava usando contra mim. Transformando meus poderes em substâncias nocivas que me machucavam em vez de me oferecer proteção.

— Nós poderíamos ter sido tão boas juntas, você e eu — Elana continuou enquanto seu poder gelado me envolvia em um manto de energia estranha. — Mas agora é tarde demais para isso. Vejo que a forma de quebrar o controle de Exos é através do seu coração. Sem você, ele vai desmoronar. E eu posso pegar o que é meu.

Exos, murmurei, sentindo sua dor através do vínculo.

Elana esteve perto de destruí-lo.

Com a minha morte, ela completaria o trabalho. Senti isso no fundo do meu ser. Porque quebrar nosso vínculo o distrairia por tempo suficiente para que ela terminasse o trabalho. E então ela iria atrás de Cyrus. Dos meus outros companheiros. Da Academia inteira. Todos no Reino Fae Elemental.

Senti seus planos no poder das trevas me envolvendo.

Suas intenções malévolas de derrubar todos que pudessem estar em seu caminho.

Ela enlouqueceu com sua vingança. O que começou como um simples desejo de se proteger – não permitir que outros descobrissem sobre sua metade Fae da Meia-Noite – floresceu em uma necessidade de destruição.

Com cada alma que absorveu, ela devorou seu próprio Espírito. Diminuindo a poeira sob seu desejo por mais poder.

Quase me senti mal por ela. Esta não poderia ter sido sua intenção original, mas agora a consumia.

Ódio.

Violência.

Desejo de matar.

Tudo girava ao seu redor em ondas sombrias. Seu coração não era mais o de um Fae Elemental, mas de um ser dominado por sua própria energia negativa.

Quem quer que Elana tenha sido, não se parecia mais com aquela mulher agora. Ela usava uma fachada, sua mente era um jogo constante de xadrez enquanto planejava sua próxima jogada.

Calculado.

Astuto.

Cruel.

Não havia nem um pingo de remorso dentro dela, nem mesmo pelas vidas que ela tiraria hoje. Nem mesmo pela Academia que ela dirigiu por todos esses anos. Um meio para o fim.

Como vi simpatia em seus olhos em algum momento foi um milagre. Um conceito que seu Espírito selvagem criou para emprestar aos seus planos. O que levou à ruína da espécie Elemental Fae.

Vi tudo se desenrolar em um piscar de olhos. Seus planos devastadores. A maneira como ela usou os campos da morte como uma fonte de poder inflexível. A maneira como ela alimentou esses campos com mais almas – almas que ela pegou com o uso da magia da morte.

Isso fez minha espinha se arrepiar.

— Como você pode viver consigo mesma? — perguntei em voz alta, balançando a cabeça. — Todos aqueles Faes... você destruiu todos eles. — Vi com clareza o que aconteceu com Ignis e suas amigas, como Elana as controlou como havia feito com Mortus, forçando as meninas a me incriminar contra sua vontade. E então seus gritos quando Elana as jogou no Reino dos Espíritos, permitindo que os campos as engolisse inteiras. O tempo todo absorvendo a magia delas para si – uma magia que Exos havia vinculado e então liberado ao ser nocauteado por Mortus.

Tudo se desenrolou em detalhes.

Desvendando todos os movimentos que eu não a tinha visto fazer.

Colocar a alma decrépita da minha mãe na confusão, permitindo que ela ficasse à espera, sabendo muito bem que Cyrus me levaria lá. A risada de Elana quando Ophelia se agarrou a mim como uma fonte de vida e nossas linhagens chamaram uma à outra por instinto. Minha ex-mentora se divertiu naquele momento, gostando da maneira como sofri com o Espírito de minha própria mãe, da maneira como quase morri.

Porém, sobrevivi, fato que a intrigou ainda mais.

Cyrus e eu acasalando – uma ação que ela não esperava, mas adorou.

Enquanto isso, Exos oferecia um desafio que ela tentou quebrar colocando Ophelia na cela ao lado da dele. Permitindo que ela se alimentasse de mim através da minha conexão com ele. E o homem teimoso me cortou, um fato que Elana respeitou e odiou ao mesmo tempo.

Minha cabeça girou com a verdade de tudo, com as explicações que nenhum de nós tinha visto.

Pisquei para o demônio encarnado em horror absoluto enquanto as palavras se alinhavam na minha língua com o propósito de criticá-la. Mas ela me olhou com os olhos inexpressivos, seu corpo inteiro estava congelado e sua magia era como uma energia estagnada no ar.

Isso se dissipou em um segundo e sua raiva coloriu as bochechas em um tom vermelho.

— Como você ousa entrar na minha mente? — ela questionou, me atacando com uma onda de poder que escaldou meu interior.

Respirei fundo, sentindo o ar gelado e frio. O quê?

Minha boca não conseguia formar a palavra.

Eu entrei em sua mente?

Claro, eu percebi. Foi assim que vi todas as suas peças, o tabuleiro de xadrez perpétuo calculando cada movimento seu.

Incluindo o fato de eu saber o que ela faria em seguida.

Ativei meu Fogo por instinto, tornando-o brilhante em seus olhos para pegá-la desprevenida enquanto eu mergulhava no Reino do Espírito e diretamente para a fonte. Era a única maneira de superar seu aperto sombrio.

Eu precisava lutar contra ela com luz.

Exos roçou meu Espírito enquanto eu corria por ele e saltei para a energia benéfica que eu ansiava. Ela me banhou com um calor que poderia derreter o sol. Mas meu acesso aos outros elementos me manteve com os pés no chão.

Meu Fogo rugiu para a vida em uma onda protetora.

Meu Ar girou em um movimento que me manteve seguindo, mesmo quando tudo o mais ameaçava me parar.

Minha Água acalmou meus ossos doloridos, encheu minha alma de paz.

E minha Terra me prendeu na realidade na qual eu precisava lutar.

Os quatro combinaram com o mais poderoso de todos, me colocando de pé em uma onda de elementos que fez Elana recuar vários passos. Inclinei a cabeça, curiosa por seus olhos arregalados.

Medo, uma parte de mim reconheceu. Minha mente estava estranhamente desligada de minhas emoções de modo que parecia um conceito estranho. Mesmo assim, eu sabia que gostava. Ansiava por mais.

Eu a envolvi em uma corda de bronze atada com Fogo, não parando nem mesmo enquanto ela gritava.

O mal existia dentro dela.

Mal que precisava ser erradicado.

O Espírito Fae adora vida e vitalidade. Este ansiava pela morte. E era meu dever como Rainha do Espírito lhe dar o que ela desejava.

A fonte de todos os elementos me invadiu, me levantando da terra e para o campo lá em cima. Um campo que reconheci vagamente como o lugar onde conheci Titus.

Cheio de flores.

E felicidade.

E um sol nascendo no horizonte.

Lindo e perfeito para o enterro deste ser asqueroso.

— Espírito é a essência da vida e da morte — eu disse, sem reconhecer minha voz, mas ouvindo o poder por trás dela, percebendo que eu mesma de alguma forma habitava o âmago do Espírito.

Não, não só Espírito.

Ar.

Água.

Fogo.

Só não tinha Terra. Embora, eu a senti esperando por mim, me dando boas-vindas com pétalas de flores, calor e luz do sol.

Que lindo, pensei. Humm, mas ainda não.

Não, eu tinha outras fontes para apaziguar primeiro. Especificamente, o Espírito. Ele se enfureceu pela vida diante de mim, desejando a morte de uma Fae tão vil.

— Você abusou de nosso poder — disse, novamente sem reconhecer minha voz. Tão profunda. Ainda feminina, mas ecoando por quilômetros. Forte.

— Claire... — A incerteza naquela voz me fez olhar de lado para onde Cyrus estava. Exos estava ao seu lado. Não consegui dizer quem havia falado, mas pensei que poderia ser o Príncipe da Água.

Humm, meus companheiros, suspirei, feliz em ver os dois vivos. A energia dentro de mim ondulou em seu prazer, se curvando aos mestres de sua fonte antes de voltar a se concentrar na tarefa em mãos.

Porque hoje, eu era rainha.

E essa pobre desculpa de Fae não merecia mais viver.

— Os elementos falaram — eu disse, apertando as vinhas ao redor dela. — E você, Elana do Espírito Fae, não abusará mais de nós.

A vitalidade ondulou para fora de mim, envolvendo-a em uma nuvem branca e brilhante. Absorveu sua alma em suas profundezas, levando-a a um lugar onde ela nunca escaparia ou mesmo renasceria. Seu Espírito era muito vil para qualquer reconsideração.

E em seu rastro, deixou a sombra de um Fae da Meia-Noite.

Alguém que desabou no chão em uma pilha de cinzas escuras.

Uma brisa provocou os restos mortais, girando-os no ar enquanto as chamas irrompiam, engolfando cada partícula e removendo a existência de sua forma em todos os sentidos.

Os elementos tomaram o que lhe era devido.

Destruindo até o último pedaço.

E eliminando a magia da morte das terras.

Senti o beijo gelado do ar, a finalidade de sua passagem apagando toda e qualquer evidência de sua existência anterior.

Incluindo os campos de morte.

Exos caiu de joelhos enquanto o poder atravessava seu peito, mas a fonte garantiu que ele ficaria bem.

Cyrus também.

Todos eles sobreviveriam.

Mas os Espíritos precisavam ascender, então fechei os olhos e desejei que fosse assim. Libertando milhares e milhares de Faes do cativeiro cruel de Elana.

Voem, eu os incentivei. Voem e renasçam mais uma vez.

Pois essa era a causa da esterilidade entre os Espíritos Faes. Não era uma praga, mas uma maldição mantida por Elana. Cada Espírito que ela alimentou nas trevas não poderia renascer. E ela não permitiria que os outros seguissem em frente para completar o círculo da vida.

Uma lágrima escapou dos meus olhos com a compreensão de tudo isso. O funcionamento do universo estava disposto dentro de mim como se fosse meu destino todo esse tempo absorver cada detalhe.

Espírito.

Vida e morte.

O núcleo elemental de nossa própria existência.

Me curvei diante dele, respeitando os presentes dados a mim, agradecendo-o por minha criação e prometendo nunca abusar da energia que prosperava dentro de mim.

Cada elemento abraçou minha alma, aceitando o voto e me devolvendo lentamente à nova realidade que criei. O mundo que abençoei. O reino que acabei de salvar.

Para meus companheiros.

Meus amores.

Meus Faes.


Cyrus pegou Claire antes que ela caísse no chão e sua habilidade de enevoar me deixou com inveja e grato ao mesmo tempo. Porque ela estava desmaiada.

Os olhos azuis brilharam para mim e sua expressão rivalizava com a minha.

— Isso acabou de acontecer? — ele perguntou.

Engoli em seco antes que pudesse formar uma resposta. E não tinha nada a ver com o quanto eu me sentia fraco por duelar com Elana no plano Espiritual.

— Hum, sim. Sim, aconteceu.

Nossa companheira absorveu quatro fontes elementais. Seu corpo flamejava com uma luz que teria matado um Fae comum. No entanto, ela o tinha absorvido como uma rainha e seu cabelo brilhou em um tom branco. Avancei para acariciar os fios loiros acinzentados, a única dica de que o que tínhamos acabado de testemunhar realmente aconteceu.

Bem, junto com a vitalidade que fluía por todo o terreno da Academia.

— Ela demoliu a todos — falei, maravilhado, olhando para seu belo rosto. — Ela fez o que não podíamos.

Porque os poderes de Elana eram muito mais fortes do que qualquer um de nós poderia ter previsto. A maneira como ela usou os elementos contra mim – incluindo os meus – tinha me enfraquecido muito até a intervenção oportuna de Claire.

— Não sei como ela fez isso — continuei. — Mas ela absorveu os quatro núcleos de seus elementos vinculados e até flertou com a terra por um momento. E então eles falaram através dela.

Cyrus roçou os lábios em sua testa, sorrindo.

— Porque ela é a nossa rainha.

— Sim. — Passei os dedos pelo cabelo dela novamente, me preparando para falar mais quando Mortus entrou cambaleando na clareira. Sua expressão era de perplexidade e confusão. Parecia ser sua máscara permanente, pobre coitado.

— Obrigado — Cyrus disse a ele, acenando com a cabeça uma vez. — Sua ajuda hoje não passou despercebida.

— Ela se foi — ele sussurrou, olhando para o buraco na terra criado por nossa Claire. — Ela realmente se foi. — Ele não parecia triste. Parecia devastado. Como se esperasse que o desaparecimento de Elana o curasse de alguma forma. Seria preciso muito mais do que a morte daquela mulher má para curar as feridas que ela deixou em sua alma.

Claire começou a se mexer e sua energia zumbiu ao nosso redor em uma onda que acalmou meu coração.

— Pelo menos, ela não parou de respirar dessa vez — Cyrus comentou.

Eu ri.

— Verdade. — Dei um beijo em sua bochecha e soltei seu cabelo. — Leve-a de volta para o pátio. Os outros precisarão ver que ela está bem.

Cyrus assentiu, desaparecendo e me deixando sozinho com Mortus. Ele me olhou e uma pontada de preocupação vibrou nas profundezas de seu olhar enquanto ele engolia em seco.

— Eu deveria te punir — eu disse, caminhando em direção a ele. — Por tudo que você fez.

— Eu sei. — Ele engoliu em seco novamente. — Eu aceitaria isso também, meu rei.

Parando diante dele, considerei minhas opções pela milésima vez esta semana. Ele me sequestrou, me machucou e cometeu incontáveis pecados ao longo dos anos, tudo sob a compulsão de Elana.

Muitos pediriam sua punição, independentemente de seu controle sobre os atos.

O mesmo com relação a Ophelia que, pelo que eu poderia dizer, era completamente inocente de seus crimes. Mas duas décadas de rumores seriam difíceis de aplacar.

No entanto, isso me deu uma ideia.

— Venha comigo — eu disse, levando-o ao longo da trilha de volta ao terreno da Academia. Este lugar me trouxe lembranças dos primeiros dias com Claire, das suas emoções intensas devido à culpa por matar seu amigo e o impacto real de ser tirada de seu mundo.

Ver seu desempenho esta manhã provou o quanto ela cresceu.

O quanto ela se tornou poderosa.

Sorri, sabendo que desempenhei um pequeno papel em sua ascensão. Ou talvez eu tivesse uma grande parte. Independentemente disso, a maior responsável por seu crescimento ela era mesma. Sua determinação, força e teimosia foram o que conquistou os elementos. O fato de eles escolherem favorecê-la com seus presentes indicava o futuro poderoso à sua frente.

Um futuro do qual eu era grato por fazer parte.

Meu acesso à fonte queimou dentro de mim, satisfeito com a aceitação de minha companheira enquanto também fortalecia minha posição como rei.

Mas todos sabiam que um rei não era nada sem sua rainha.

Mortus tropeçou em uma raiz, já que o sol da manhã ainda não havia iluminado o nosso horizonte. Provoquei uma chama no ar, iluminando o chão enquanto nos movíamos, e minha cabeça girou com a ideia que me ocorreu há poucos instantes.

— Você sente alguma conexão com a Ophelia? — perguntei em voz alta.

Senti, mais do que vi, seu estremecimento.

— Sim — ele admitiu, com a voz rouca.

— Que nível? — Afastei um galho baixo e observei enquanto ele se movia pela passagem que criei.

Ele fez uma pausa para me permitir liderar mais uma vez, um sinal de submissão e reverência. Ótimo. Já estava na hora de ele me reconhecer como seu rei.

Claro, todos aqueles momentos hostis no Conselho não foram ele, mas Elana usando-o como marionete.

Quase suspirei, agitado com ela mais uma vez. A imagem de Claire destruindo-a com os elementos apaziguou minha vingança interior. Elana mais do que merecia a dor de ser destroçada pela fonte Espiritual. Se eu tivesse sido capaz de fazer tal coisa, o teria feito em um instante. Mas foi Claire quem nosso Espírito escolheu como conduíte.

— Eu... eu não tenho certeza em que nível estamos — Mortus finalmente disse, me trazendo de volta para o caminho que estávamos percorrendo. — Posso sentir nosso vínculo, mas está desgastado.

— Porque ela quebrou os votos de terceiro nível — murmurei, balançando a cabeça.

— Não. — Mortus pigarreou. — Porque foi forçado, não foi feito voluntariamente. Pelos dois lados.

— Interessante. — Pensei sobre isso por vários minutos, satisfeito em ver o terreno aparecendo através da floresta à frente – a lua escura ainda estava brilhando na grama viva. — A Elana obrigar vocês dois a se unirem desafiou os elementos, o que causou a divisão de poder. — Quase admirei a vadia inteligente. Quase. Mas eu a desprezava muito mais. — E ela usou essa distração a seu favor, sugando as almas de todos os Espíritos Faes presentes naquele dia fatídico.

— Durante a nossa cerimônia, sim — Mortus confirmou.

— Você se lembra? — perguntei, olhando para ele.

Ele balançou a cabeça.

— Não exatamente. Mas muitas pessoas me disseram o que aconteceu.

Entramos no caminho que levava de volta à Academia enquanto uma energia quente acariciavam os campos e deixavam uma sugestão do doce aroma de Claire para trás.

Ela sorriu em meus pensamentos. Nossa conexão estava ficando mais forte do que nunca. Você está bem, ela sussurrou.

Graças a você, minha rainha, respondi baixinho com um sorriso. Não perguntei se ela estava acordada. Eu já sabia, podia sentir sua vitalidade tocando o ar ao nosso redor.

O que aconteceu com “princesa”? Sua diversão tocou meu peito, fazendo meu coração bater no ritmo do dela.

Minha princesa se tornou uma rainha, eu disse a ela. Não, uma deusa dos elementos.

Não sei como isso aconteceu, ela admitiu. Simplesmente... aconteceu.

Você foi favorecida pela fonte, Claire. Completando assim a profecia que nosso Conselho temeu. Quando um se torna meio e cinco se tornam um, uma praga cairá sobre os Faes. Apenas a morte é a cura.

Por muito tempo, nossa espécie achou que isso significava o fim da raça Fae Elemental. Mas não foi nada disso. Claire era a cura – aquela que trouxe a morte sobre a praga também conhecida como Elana.

Ninguém me contou sobre a profecia. Eu podia imaginar sua carranca combinando com sua voz interior. Por que vocês a esconderam de mim?

Porque nunca importou, respondi. Você escolheu seu destino, Claire. Não alguma profecia proclamada pelos Faes Fortuna.

Podia ter ajudado saber que eu estava destinada a absorver um monte de energia e matar Elana, ela rebateu e sua petulância me fez rir.

Teria feito diferença? perguntei a ela. De verdade? Porque acho que você teria feito exatamente o que fez, independentemente de algumas palavras pairando sobre sua cabeça. Ou talvez você tivesse agido de forma diferente e mudado o destino. Dei de ombros, embora ela não pudesse ver. De qualquer maneira, você foi maravilhosa, minha rainha.

Ela parecia estar refletindo sobre meu comentário, assim como Mortus estava com minha declaração anterior sobre Elana usar seu vínculo forçado para criar uma distração.

— Quero que você ajude a Ophelia — eu disse a ele enquanto caminhávamos através dos portões de ferro da Academia. — Ajude-a a se curar e considerarei sua dívida paga.

Ele olhou para mim e sua expressão demonstrou choque.

— Você acha que posso ajudá-la?

— Acho que você pode ser um dos únicos que pode, Mortus. — Parei no precipício do pátio, admirando o caos alegre que se desenrolava entre os Faes com sua salvadora, Claire, no centro. Cyrus, Sol, Titus e Vox estavam ao redor dela como guerreiros protegendo sua rainha. Mas Claire não se intimidou. Sua magia se espalhava entre as massas para oferecer cura e aceitação a todos ao seu redor.

Assim como a rainha que eu sabia que ela era.

— Por quê? — Mortus perguntou, me trazendo de volta à nossa conversa – uma que eu estava pronto para encerrar em favor de abraçar minha companheira. — Por que você acha que posso ajudá-la?

— Por causa do vínculo — respondi. — Posso ver seus Espíritos, Mortus. Eles estão ligados de uma forma fragmentada, sugerindo que você não apenas pode ajudá-la na cura, mas ela também pode retribuir o favor e te ajudar a se curar. Se você permitir.

— Se ela permitir — ele respondeu.

Escondi meu sorriso.

— Sim, imagino que ela seja bastante teimosa. — Tal mãe tal filha. — Portanto, é uma punição adequada, você não acha? — Piscando para ele, me despedi com um casual: — Eu não poderia ser mole com você, coroa — falado por cima do ombro. — Que o destino esteja com você. — Porque ele precisaria de toda a sorte que pudesse conseguir.

O círculo se separou para mim quando me aproximei de Claire e as borboletas rosa que esvoaçavam ao redor dela. Uma beijou minha bochecha, ganhando um sorrisinho sedutor da rainha no centro.

Eu a puxei em meus braços, me deleitando com a energia espiritual que transbordava de seu centro, e a beijei com força para que todos vissem. Ela riu contra mim, envolvendo os braços ao redor do meu pescoço. Rei arrogante, ela acusou.

Rainha gloriosa, sussurrei de volta para ela, mordendo seu lábio inferior. Já te disse hoje que eu te amo?

Só uma vez.

Sorri contra sua boca. Amo você, minha Claire.

Eu também te amo.

Obrigada por ser a rainha de que todos precisamos, acrescentei, pressionando a testa na sua.

— Deusa Claire.

— Nossa futura Rainha da Água — Cyrus disse, adicionando seu próprio sabor à mistura.

— Com a realeza do ar fluindo ao seu redor — Vox falou, beijando a bochecha dela com sua brisa.

Titus pressionou a palma da mão em suas costas.

— E com um fogo que brilha mais forte que o sol.

— Tudo o que está faltando agora é a terra — eu disse, olhando para o gigante ao nosso lado.

Ele colocou a mão ao redor do pescoço de Claire e seu olhar cor de terra brilhou com malícia.

— Não por muito tempo.

Ela sorriu para ele, com o sol em seus olhos azuis.

— Não por muito tempo — ela repetiu, aceitando a boca contra a sua como uma promessa vinculativa.

E remexeu mais aquelas lindas borboletas por todo o pátio.

Ganhamos, pensei, observando a luz que brilhava no horizonte. E hoje é um novo dia para brilhar.


Após a destruição, novas vidas respiram a restauração e esperança no mais atraente dos futuros. E eu não poderia estar mais orgulhosa.


Ophelia


— Eu, Claire, aceito o poder que me liga a Sol, nascido da Terra — falei, olhando para o meu pretendente. — Para amar e respeitar, através de todas as eras e tempos que podem vir antes de nós, até que nossas almas nos separem.

Seu sorriso se ampliava a cada palavra e a Árvore do Mundo ao nosso lado parecia cantarolar sua aprovação.

Sol pressionou minha mão na base da nossa árvore, fazendo as raízes prosperarem com o poder do meu companheiro. A afluência me fez prender a respiração enquanto a vida crua corria em minhas veias.

O almíscar da terra me envolveu, explorando e glorificando nosso vínculo. Minha peça perdida. A única fonte que não consegui acessar. Minha conexão final.

Não tínhamos um sacerdote Fae da Terra para nos guiar através de nossos votos, apenas o próprio elemento. A Terra tocou meu coração e me deu as palavras que eu precisava dizer. Embora eu já tivesse memorizado a maioria delas.

Abri meus olhos e encontrei Sol olhando para mim, maravilhado enquanto as videiras cresciam ao nosso redor, brotando flores do meu mundo e também do dele em uma onda de cores. Meus outros companheiros mantiveram distância, mas testemunhariam esse vínculo conosco, o selo final em todos os elementos.

Dentro do oásis que Sol havia criado.

Com o sol da tarde brilhando acima de nós.

A energia de cura floresceu ao nosso redor, e o terreno do campus se recuperava da dor infligida a eles pelo exército morto de Elana. Perdemos vidas hoje. Elas não seriam esquecidas. Senti a respiração de suas almas aquecendo o plano espiritual, seu círculo de vida fluindo da maneira que deveria e abençoando a união que ocorria hoje.

Aquela para meu companheiro da Terra.

As flores sussurraram as palavras em uma brisa, me encorajando a continuar meus votos.

Mas eu já sabia o que era necessário. Só escolhi aproveitar o belo momento para absorver a felicidade elemental que cintilava ao nosso redor.

— Te dou minha promessa obstinada, minha vitalidade e a semente de meu coração, que, juntos, vamos nutrir e fazer crescer, e aceitarei a sua em troca. Meu elemento agora é dele assim como o dele agora é meu, para os céus Faes que nunca nos separemos. E eu nunca o abandonarei por outro, minha Terra pertencendo para sempre a ele e somente a ele.

Ele segurou minha bochecha com uma mão e a oposta permaneceu acima da minha e pressionou a base da nossa árvore enquanto nos acomodávamos no canteiro de flores que ele havia criado para este momento.

Água gotejava nas proximidades, cortesia da fonte de Cyrus.

As chamas giravam em um arco a vários metros de distância, sob o qual caminhamos para chegar a este lugar especial em nosso oásis.

Uma leve brisa cheia de amor despenteou nossos cabelos.

E o Rei do Espírito abençoou nossa união no plano que abrigava nossas almas.

Meu companheiro da Terra sorriu, e sua felicidade era como um afrodisíaco que intensificou o momento quase tanto quanto seus votos. Cada palavra foi proferida em voz baixa, com firmeza e retumbou pelo solo sob seu intenso poder.

Eu estremeci.

Ele sorriu.

Me inclinei contra ele para mais.

E fechei os olhos enquanto o doce abraço de energia da terra fluía sobre mim, me envolvendo no elemento que eu tanto desejava.

Era a peça de que precisava todo esse tempo, sua essência de cura me tornando um com este mundo.

Fogo.

Água.

Ar.

Espírito.

E finalmente, Terra.

Doce, doce Terra.

Suspirei, me deleitando com o caráter definitivo dos vínculos e meus lábios procuraram Sol com uma fome que só ele poderia saciar. Meus companheiros nos protegeriam, nos dariam este momento, nos permitiriam prosperar sob o céu azul brilhante.

Nosso vínculo se encaixou como duas peças de pedra entalhadas uma para a outra.

As borboletas que cobriam meu ser fugiram, me revelando inteiramente ao olhar de Sol.

— Não me faça esperar — sussurrei, passando meus dedos por seu cabelo grosso enquanto o puxava em minha direção e apoiava a cabeça sobre as flores que decoravam as raízes das árvores. — Me tome, Sol. Não se contenha.

Sua boca respondeu sem palavras e sua língua entreabriu meus lábios para me devorar.

Eu te amo, ele disse em minha mente. Sua voz era uma presença bem-vinda que me fez me agarrar mais a ele.

Eu também te amo.

Suas roupas pareciam desaparecer sob minhas mãos. Ou talvez fosse mágica. Eu não poderia dizer, pois estava muito ansiosa para consumar nosso acasalamento, para encaixar aquela última peça em minha alma.

Essa peça estava faltando hoje, quando dancei entre os elementos.

Minha Terra pareceu tão distante naquele momento e ainda estava assim.

Algo estava nos segurando.

Algo que estava machucado e exigia cura.

— Sol — sussurrei, abrindo minhas coxas para aceitá-lo. — Por favor.

Eu precisava de tudo dele. Seu coração. Sua mente. Sua alma.

Me abri por inteiro para ele, o encorajando a se deixar levar, a encontrar sua paz e aceitar nosso acasalamento. Mas eu podia sentir sua luta, sua parte que ainda se controlava e que precisava ser acalmada. A dor que cobria seu Espírito, causada por um Fae desconhecido.

Meu coração ansiava por acalmá-los. Suavizar as arestas e ajudá-lo a se recuperar.

Ele pressionou a testa na minha com a respiração ofegante.

— O que você está fazendo comigo?

— Te amando. — Umedeci seu lábio inferior enquanto encontrava seu olhar. — Você é meu, Sol.

Ele segurou meu pescoço e sua ereção se encaixou na entrada do meu calor que o esperava.

— E você é minha.

— Sou, sim — concordei, arqueando as costas no chão enquanto ele entrava completamente em mim, me penetrando de um jeito perfeito, exigente e muito poderoso. — Me tome — insisti novamente. — Me dê tudo.

Porque eu precisava senti-lo. Sua força. Sua vitalidade. Sua dor. Sua felicidade. Seus medos. Sem se esconder mais. Sem continuar lutando pelo controle. Estávamos nisso juntos agora, e mostrei a ele com meu elemento enquanto o chão tremia abaixo de nós.

Mais flores desabrocharam.

A vida cantou ao nosso redor.

Os pêssegos amadureceram.

Folhas novas brotaram das árvores.

E não apenas aqui, mas em todo o campus, nosso poder emprestou a energia de cura onde a Academia mais precisava.

— Se acasale comigo, Sol — eu disse a ele. Porque eu o senti se segurando. Sabia que isso não era o melhor que ele poderia fazer.

Ele estremeceu e sua restrição fez com que o chão tremesse embaixo de mim.

— Não quero te machucar, Claire.

Atraí um pouco da sua magia, misturando-a entre nós para que não houvesse apenas Sol ou Claire, mas dois ramos de uma única árvore que precisava de nutrição.

— Você não vai me machucar — assegurei a ele. — Me coma, Sol. Mostre que você confia em mim.

Ele arregalou os olhos e as íris cor de bronze ficaram manchadas com a magia esmeralda de sua vitalidade e vida.

— Você é mesmo uma deusa — ele sussurrou. Sua expressão era de reverência enquanto nossos corpos se uniam em um casamento tão antigo quanto o próprio tempo.

Me senti como uma ninfa ganhando vida.

Alojada em flores e Terra, meus gritos ecoaram nos galhos ao nosso redor enquanto as videiras cresciam e floresciam sob o poder que nossos corpos criaram como um.

Ele se retirou de dentro de mim e em seguida me penetrou de novo, com força, fazendo a Árvore do Mundo tremer com o impacto. Meu corpo floresceu de prazer quando recebi sua força bruta. Eu era tão Fae da Terra quanto qualquer outro elemento, e meu corpo sintonizou com o dele.

— Tão delicada e forte — ele elogiou enquanto estocava novamente, desta vez com mais confiança.

Arranhei seus braços, deixando marcas com minhas unhas que brilharam sob o sol. Fechei os olhos e inclinei a cabeça para trás, suportando o prazer que me preenchia por dentro.

— Mais — implorei e Sol me deu, estocando em mim até que minhas palavras se transformaram em gritos de êxtase.

Seu clímax me levou ao ápice e seu sêmen me preencheu, provocando a reivindicação final ao meu corpo que me levou ao limite.

Sol, minha base, minha rocha.

Eu te amo.

Uma momentânea quietude de paz nos dominou quando o Espírito de Sol roçou no meu, nos unindo por toda a eternidade.

Completa, pensei com um suspiro. Finalmente.

A paz se instalou dentro de mim, sendo perturbada pela quebra da essência de Sol ao meu redor. Uma parede caía sob o poder de nosso acasalamento.

Nos enviando para as profundezas de um pesadelo.

De uma sequência de eventos há muito enterrados.

Pela própria fonte.


Vários minutos antes


— Ela está embriagada com seus elementos — falei para Exos de nossos postos fora do pequeno oásis de Sol.

Nossa pequena rainha decidiu consumar seus laços com a Terra diretamente após a cerimônia, e sua energia etérea ainda no clímax flutuava ao seu redor nesta nuvem intoxicante de vitalidade.

— Quanto tempo você acha que vai durar? — continuei, pensando em voz alta. — Ou esta é uma mudança permanente?

Ele riu e balançou a cabeça.

— Não sei. Acho que vai se tornar uma mistura das duas coisas.

Eu concordei.

— Que bom. Eu odiaria que ela perdesse aquele seu temperamento explosivo.

— Não, ela só vai colocar fogo em você — meu irmão respondeu.

— E espero estar lá para assistir — Titus acrescentou, se aproximando pelo lado. Ele correu para verificar a mãe de Claire e os Faes do Fogo posicionados para protegê-la. Pela sua expressão, eu poderia dizer que tínhamos um problema. — Você mandou o Mortus ir falar com a Ophelia?

— Ah, sim. — Exos apoiou a mão na nuca. — Espero que ele consiga se aproximar dela usando o vínculo.

— Bem, ela está gritando — Titus respondeu. — Mas não por medo. — Seus lábios se curvaram apenas um toque. — Parece que ela não é a maior fã de Mortus.

— Não tenho ideia do porquê — falei.

— Sim, bem, vou dar um pouco de espaço a eles para resolverem suas diferenças.— Uma chama cintilou nas pontas dos dedos do Fae do Fogo. — Só vou intervir se necessário.

Olhei para ele de cima a baixo, divertido e um pouco excitado.

— Você se torna mais querido por mim a cada dia, Fae do Fogo.

Ele bufou.

— Nem vem, Príncipe da Água.

Exos apenas balançou a cabeça.

— Você deveria saber que não deve desafiar meu irmão. Ele sempre vence.

— Ah é? Como aquela vez no ringue Sem Poder? — Ele fingiu uma expressão pensativa. — Ah, certo, eu ganhei, não foi?

— Porque eu te deixei vencer — eu o lembrei.

— É o que você diz. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Estou pronto para uma revanche – uma real – quando você estiver.

— Podemos nos concentrar em reconstruir a Academia primeiro? — Vox interveio com uma brisa flutuando ao seu redor quando ele pousou diante de nós. Os Faes do Ar desenvolveram uma habilidade para voar, algo que me intrigou. Eu ainda preferia a minha habilidade de nebulizar, mas nunca tinha visto um Fae manipular as correntes de ar do jeito que este fazia.

— Qual é o dano? — Exos perguntou e sua expressão ficou séria.

— Dezesseis mortes. Dezenas de feridos em recuperação. — Vox apoiou a mão na nuca. — Lutar no quadrilátero principal foi inteligente, pois isolou a maioria dos danos, mas há bastante.

Exos franziu a testa.

— Achei que o encontro de Claire com a fonte tivesse liberado vitalidade suficiente para restaurar o terreno.

Vox balançou a cabeça.

— Ela livrou a Academia daqueles vestígios sombrios, mas os próprios edifícios estão em más condições. — Ele olhou para o oásis. — E, bem, o que eles estão fazendo agora é revitalizar os agonizantes elementos da Terra em todo o campus. Então acasalar com o Sol foi uma boa escolha.

— Ela fez essa escolha, não nós — falei, me divertindo com a decisão da nossa pequena rainha. Ela realmente floresceu na epítome de uma criatura Fae, que seguia seu coração elementar antes de sua mente humana. E eu não poderia estar mais orgulhoso.

— Independentemente disso, está ajudando. Mas eles vão precisar de muito mais do que Terra para restaurar a Academia. — Vox parecia cansado. — Precisamos trabalhar juntos, como uma unidade.

— Você diz isso como se fosse uma tarefa tediosa que não podemos realizar — Exos respondeu, contraindo os lábios. — Acho que provamos ser bons unidos, certo? Então, talvez devêssemos fazer um pequeno show para a Academia.

— Falou com a arrogância de um rei. — Balancei as sobrancelhas. — Quando começamos?

O sorriso do meu irmão era contagiante.

— Agora mesmo. — Ele encontrou o olhar de Vox. — Fique de guarda, se certifique de que ninguém veja a nossa companheiro no auge da paixão. Titus, Cyrus e eu vamos dar uma olhada no terreno da Academia.

— Há um esquadrão de Faes do Ar aguardando ordens. — Vox cruzou os braços. — Tenho certeza de que você não terá problemas para assumir o comando.

— Acho que posso lidar com eles — Exos concordou. — E se não, vou entregá-los a Cyrus.

Meus lábios se curvaram.

— Hoje está cada vez melhor.

Como se Claire concordasse, senti seu êxtase através do vínculo, suas ondas de prazer provocando arrepios em meus braços. Humm, minha pequena rainha. Como eu adorava seus clímax, mesmo aqueles que não eram para mim.

A pausa dos outros confirmou que eles também sentiram.

Nós quatro estávamos excitados com o que estava acontecendo sob a Árvore do Mundo.

Seria tão fácil nos juntarmos a eles, adicionar nosso toque pessoal à mistura, mas Sol merecia um tempo só dele com Claire, e nenhum de nós interromperia um momento tão lindo.

— Sim, uma distração parece ótimo — Titus disse, quebrando o silêncio. — Vamos lá.

— Sentindo um pouco de calor? — provoquei. — Me permita te ajudar com isso.

A névoa se espalhou por sua pele, chiando sob seu próprio poder.

— Não vai acontecer, Príncipe da Água — ele grunhiu entre os dentes.

Mas percebi o sutil rubor em suas bochechas.

Ah, isso seria divertido.

Se alguma coisa sairia disso, ainda não sabia. Mas provocá-lo me satisfez imensamente.

Mas era Claire quem eu adorava e amava. Se ela quisesse brincar, eu ficaria feliz em fazer isso com ela. E apesar das opiniões de Titus em contrário, suspeitei que ele também sucumbiria de bom grado.

Felizmente, tínhamos um futuro longo e próspero para resolver os detalhes mais delicados.

Outro estrondo da Terra nos empurrou para frente com uma risada.

Até que o estrondo se transformou em um terremoto.

E nossa Claire gritou.

Direto em nossas mentes.


Queda.

Dor.

Sofrimento.

A Árvore do Mundo me guiou através do caos do coração de Sol, um lugar onde vinhas sombrias e pontiagudas se enrolavam em um núcleo pulsante.

Memórias presas que infeccionavam e sangravam, deixando um cheiro ruim em minhas narinas que me lembrou muito de Elana e sua maldade.

Mesmo na morte, ela me assombrava.

Estendi a mão e toquei as trevas, sangrando minha vitalidade nelas e forçando a doença a se desfazer e liberar seu domínio sobre meu companheiro.

As memórias se desenrolaram em um tumulto de agonia, me levando em seu mar de tristeza que havia vivido no coração do meu Fae da Terra por muito tempo.

E quando abri os olhos, não era mais Claire.

Era Sol.

*

Um Espírito Fae com olhos prateados se elevou sobre mim na porta da frente, com o cabelo preso no topo de sua cabeça. Ela parecia importante. Mas não deveria estar aqui.

— Você tem que ir embora — eu disse a ela. Mamãe não estava em casa, mas ela voltaria em breve.

A senhora não sorriu.

Ela meio que rosnou.

Sua presença era sombria, perversa e parecia errada. Eu não gostava dela.

— Saia do meu caminho, criança — a mulher zombou, me atacando com magia.

Magia Espiritual.

Mamãe uma vez me avisou sobre o Espírito Fae. Ela disse que eles podiam controlar outros Faes como eu. Mas a maioria, não. A maioria era boa. Pelo menos, de acordo com minha mãe.

Mas eu poderia dizer que essa senhora era má. E não apenas pela maneira como ela me olhou. Sua capa era estranha e seu cheiro era ruim.

— Se mova — ela exigiu mais uma vez.

— Não — eu disse, cruzando os braços. — Não vou. — Minha mãe disse para não deixar nenhum estranho entrar em casa enquanto ela estivesse com minha irmãzinha. Ela me chamava de homem da casa. E esta senhora não iria entrar, não importava o que acontecesse.

Ela suspirou.

— Por que as crianças nunca ouvem? — Sua mão atingiu a lateral do meu rosto, me mandando para a parede mais próxima com um baque forte.

Gemi.

Minhas pernas tremeram.

Pontos escuros surgiram em meus olhos.

Isso dói! Muito.

Mas o grito de Aflora na sala doeu mais.

— Não! — gritei, tentando encontrá-la. Ela deveria estar se escondendo. Eu disse a ela quando vi a senhora estranha do lado de fora. Mas Aflora sempre foi tããão difícil, se recusando a ouvir. Até para minha mãe, que deveria ser sua mãe agora. Eu realmente não entendia. Mas agora não era a hora.

Mamãe me colocou no comando.

Ela era muito pequena para lutar sozinha.

Corri para a outra sala. O chão parecia vibrar embaixo de mim. Encontrei minha nova irmã contra a parede com a mão da mulher malvada em volta de sua garganta. Aflora agarrou o braço da senhora como um animal selvagem, com os olhos totalmente azuis brilhando de medo e fúria.

— Finalmente — a mulher disse. A fumaça girava em torno de seu dedo em uma espiral de magia estranha que não pertencia a esse lugar. — Seus pais fizeram um bom trabalho te escondendo, garotinha, mas agora eu te achei. A última Fae Real da Terra. Minha para devorar e destruir.

A fumaça se transformou em uma corda grossa, girando no ar e perturbando a magia da Terra na sala.

Era muito errado.

Não pertencia a esse lugar.

Eu queria que fosse embora.

Com uma batida do pé, o chão tremeu sob a mulher, deixando-a sem equilíbrio. Aflora se contorceu exatamente no momento certo, pulando para longe da senhora louca e correndo em minha direção na porta.

— Se quiser tocar na minha irmã, precisa passar por mim. — Chamei uma raiz para envolver meus pés, forçando a Terra a me manter de pé enquanto Aflora escondia seu corpinho atrás do meu. Ela agarrou meus lados e seu medo nos estremeceu como folhas na brisa.

O Espírito Fae se voltou e semicerrou os olhos.

— Você é um garotinho corajoso, mas tolo. Sem sangue real. Sem treinamento na Academia. Nada que seja digno do meu tempo. — Ela moveu o pulso, enviando uma onda de magia infundida com escuridão para atingir meu peito.

A dor me atingiu, me fazendo curvar para frente, mas minhas raízes me mantiveram de pé. A escuridão se espalhou vinda da adaga alojada em meu peito.

— Sol! — Aflora gritou. Seu aperto em mim ficava cada vez mais forte enquanto sua essência da Terra se agarrava à minha.

Aquilo queimou.

Lutou contra algo em meu nome.

E cresceu.

Demais.

Era muito brilhante.

A fonte, percebi. Aflora de alguma forma tinha acesso a ela, mesmo sendo uma menina. Nos ensinaram na escola que esse era o poder de um menino. No entanto, de alguma forma ela estava dando para mim. E eu agarrei com todas as minhas forças, precisando da energia não para me salvar, mas para salvá-la.

Porque, no fundo, eu sabia que essa senhora estava aqui para destruir minha nova irmã.

E como o homem da casa, eu não poderia deixar isso acontecer.

A senhora rugiu em desaprovação, fazendo com que meus lábios se curvassem. Porque isso significava que fiz algo certo. Ou talvez fosse Aflora.

De qualquer forma, esta senhora escolheu a casa errada para invadir.

Ela fez uma careta quando outra explosão do novo poder se formou dentro de mim, me protegendo e formando uma barreira em torno da escuridão que havia congelado sobre meu coração. Queimava e era dolorido, mas as camadas se formaram sobre minhas entranhas enquanto eu me endireitava mais uma vez.

— O que é isso? — a mulher exigiu, enviando outra onda de magia em mim novamente.

Desta vez, saiu do escudo que a fonte havia construído para mim – para mim e Aflora – uma barreira que nada poderia penetrar, nem mesmo a escuridão que o Espírito Fae enviou em minha direção.

— Você não pode ficar com a minha nova irmã — eu disse, fechando as mãos enquanto o chão ao nosso redor começou a tremer. Sempre fui forte, mas agora a energia renovada me inundou sem nenhum sinal de parar. Isso me assustou, mas não deixei o medo transparecer no meu rosto.

A senhora malvada grunhiu e suas trevas giraram ao seu redor naquele estranho manto escuro.

— Se não posso ficar com a sua nova, vou ficar com a antiga. E sua mãe também. A menos que a fonte as proteja também.

Como se tivesse ouvido as palavras da senhora, minha mãe entrou correndo em casa com minha irmãzinha ao seu lado. As duas com os olhos arregalados.

— Elana — minha mãe ofegou. — O que você está fazendo aqui?

— Eu estava tentando amarrar uma ponta solta, mas seu filho mostrou uma força extraordinária. — Ela semicerrou os olhos prateados para mim. — Muito ao custo de todos ao seu redor.

Engoli em seco. Isso soou mal. Mas tudo deveria estar bem agora, certo? Mamãe estava em casa. Ela faria essa senhora má partir.

Ela suspirou alto e suas bochechas incharam com o movimento.

— Bem, parece que a fonte dos Faes da Terra ainda está além do meu alcance. Por enquanto. — Ela acariciou sua capa preta. — Não importa. Sou uma mulher paciente e estou feliz em fazer isso da maneira mais difícil. — Ela sorriu e a expressão me deixou enjoado. Porque foi para mim que ela sorriu. Não para minha mãe. Nem para minhas irmãs. Mas para mim. — Guarde minhas palavras, garoto. Sua família. Seus amigos. Todos que você já amou irão murchar e morrer diante de seus olhos. Você nem saberá por que ou como. Você saberá apenas que tudo isso começou com você.

Ela estendeu um dedo torto, fazendo um arrepio percorrer meus ossos com a força de sua profecia. Ela não era uma Fae Fortuna, mas senti o peso de sua promessa tanto quanto qualquer premonição sombria que um Fae sinistro poderia fornecer.

Eu disse algo.

Ou pensei nisso.

Mas as palavras se perderam na escuridão repentina que tomou conta da sala.

Sendo perturbado por um grito que veio dos fundos da minha casa.

Minha concentração vacilou quando me virei. Aflora agarrou meu pulso, tremendo, enquanto o medo enchia seus olhos.

— Sol, o que está acontecendo?

Tentei responder.

Mas não consegui.

Eu... eu não conseguia lembrar.

Não esteve alguém aqui? Alguém ruim?

Me virei novamente, girando em direção àquele sentimento sombrio e pesado de magia espiritual e erro.

Nada.

O pavor tomou conta de mim em uma onda nauseante quando peguei a mão de Aflora.

— Vamos entrar — eu disse a ela, sentindo um gosto estranho na boca. Achei que já estávamos lá dentro.

Meu torso queimava como se eu tivesse sido marcado com fogo, mas me endireitei quando Aflora olhou para mim em busca de confirmação. Ela sentiu isso também. Algo terrível aconteceu, mas nenhum de nós sabia o que ou por quê.

Cocei meu peito dolorido, que parecia que ia se dividir em dois quando entrei e encontrei minha mãe e minha irmã caídas no chão com estranhas veias escuras se contorcendo sob a pele.

E congelei quando Aflora gritou.

Porque, de alguma forma, eu sabia que tudo isso era minha culpa.

Eu simplesmente não sabia o porquê.


Acordei assustado, me sentindo mais leve do que nunca, apesar do peso sombrio das memórias pressionando minha alma.

Porque me lembrei de tudo.

Cada detalhe de como me senti.

Não foi um Espírito Fae que marcou minha alma, mas a própria fonte da Terra. Para me proteger contra a magia sombria de Elana. Para me ajudar a proteger Aflora. Para me fortalecer com acesso direto ao elemento, em seguida me impedindo de assumir coisas demais.

E então bloqueou minha memória de tudo o que aconteceu para esconder a verdade de mim até que eu estivesse pronto para enfrentá-la.

Com Claire ao meu lado.

Ela piscou para mim, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Ela esteve lá, revisitando minhas memórias comigo, tendo a fonte como nosso guia. Me deixando com acesso total de um Fae da realeza. Meu elemento finalmente se sentia equilibrado dentro de mim pela primeira vez na minha vida.

Tudo por causa de Claire.

Ela era meu equilíbrio, minha companheira que poderia absorver o peso do meu passado e me guiar para o futuro. Para ajudar a carregar meu fardo, estabilizar meu poder crescente e me manter com os pés no chão.

— Você acha que a Aflora sabe? — Claire murmurou, com seus olhos azuis ainda cheios de lágrimas.

Balancei a cabeça.

— Não. Ela não tem nenhuma lembrança daquela noite. — E algo me disse que o núcleo do nosso elemento ainda não estava pronto para contar a ela.

Porque aquela noite com Elana foi apenas a ponta do iceberg do passado de Aflora.

Como eu sabia disso, não sei dizer. Eu só sabia. Cortesia da fonte, provavelmente, que diria a ela com o tempo, talvez quando ela encontrasse um companheiro para si. Eu estaria ao seu lado, como um irmão mais velho, mas senti que não seria de mim que ela precisaria quando chegasse esse momento. Ou nosso elemento teria nos contado a verdade há muito tempo.

Suspirando, aninhei minha companheira no meu peito e a segurei com força.

Videiras, flores, uma variedade de folhagens e solo endureceram ao nosso redor, formando um casulo durante a cura. Senti a preocupação emanar do círculo de companheiros. Era estranho senti-los tão claramente agora que estava totalmente ligado a Claire. Testando a conexão, enviei uma onda garantindo que estávamos bem.

Um eco de alívio voltou, mas eles estavam cuidando de nós até que estivéssemos prontos para nos desenterrar de nosso casulo de ligação.

— Isso é novo — Claire comentou, acariciando meu pescoço.

— O quê?

— Vocês cinco sendo capazes de se comunicar — ela respondeu. — Ou o que quer que seja.

— Vocês não podiam fazer isso antes?

— Ah, eu podia. Posso falar com todos vocês mentalmente. Mas o círculo nunca foi capaz de se comunicar coletivamente, pelo menos não tão claramente assim.

— Interessante. — Respirei fundo, me sentindo completo pela primeira vez. Não apenas por causa de Claire e meu elemento, mas por causa de todos eles.

Como eu estava errado sobre Cyrus e Exos. Eu podia sentir isso agora. Sua energia poderosa era como uma colmeia de força para nosso círculo de acasalamento.

Titus era o Fogo que inflamava todas as nossas paixões, intensificava nossas emoções e parecia a cola que nos unia. Mesmo que eu duvide que ele vá admitir.

E Vox representava o ramo prático, sua inteligência e astúcia fornecendo a todos nós a voz da razão e do controle. Nosso filósofo Fae do Ar pessoal. Eu gostaria de ter esse acesso próximo à sua mente.

Uma tarefa divertida para outro dia.

Porque agora, eu só queria estar com minha Claire. Para me deleitar com nosso vínculo e o elemento que nos rodeia.

— Parte de mim gostaria que Elana não estivesse morta — Claire admitiu. — Só para que eu pudesse matá-la novamente.

Eu ri e acariciei o cabelo da minha companheira, desembaraçando as pequenas flores que cresceram dentro dos fios.

— Ela se foi, graças a você. E agora eu sei o que realmente aconteceu naquele dia. — Meu peito ainda estava pesado com a lembrança, mas era bom saber, realmente lembrar.

Claire acariciou minha bochecha enquanto olhava para mim.

— A Elana estava tentando abrir caminho através das linhas da realeza. O que você acha que ela pretendia fazer? — Ela franziu o cenho. — Além de espalhar morte e doenças.

— Ela queria a fonte — falei, acariciando o ombro da minha companheira. Era a única explicação. — E ela não queria apenas um elemento. Queria todos eles. Acho que ela desejava o controle final sobre nossa espécie, o que exigiria o poder dos cinco elementos.

Claire se encolheu.

— Acho que é por isso que eu era tão atraente para ela como protegida.

Eu concordei.

— Com certeza.

Claire deixou escapar um longo suspiro enquanto se aninhava em mim e fechava os olhos.

— Ainda dói? O que a fonte fez para te proteger?

Esfreguei o peito.

— Pela primeira vez desde que me lembro, a dor diminuiu. Ainda está lá. — Sempre haveria cicatrizes. — Mas não está mais me cortando. Parece que finalmente posso me curar agora. — Principalmente porque tive meu acesso à fonte novamente, o escudo que ela havia criado não era mais uma barreira entre mim e meu poder.

— Como foi ver o que aconteceu comigo? — perguntei em voz alta. — Eu podia sentir sua presença, mas não te vi.

— Porque eu era você — ela disse baixinho. — Eu vivi a memória como se fosse o Sol de sete anos.

— É um pensamento assustador — comentei. — Não é um bom lugar para você estar, Claire.

Ela riu e balançou a cabeça.

— Duvido que seja uma ocorrência comum, a menos que haja mais memórias trancadas nessa sua cabeça.

— Espero que não — respondi. Claro, eu não tinha certeza, mas neste ponto, eu duvidava que qualquer outra lembrança importasse. — Mas acho que existem várias escondidas na mente de Aflora.

Claire olhou para mim.

— O que você quer dizer?


Balancei a cabeça.

— É um instinto despertado pelo meu contato com a fonte. Isso fez algo com ela, ou talvez os seus pais sejam os culpados. Mas há uma história aí.

— Tipo, por que ela veio morar com você?

— Sim, isso esmo. — Porque isso nunca foi realmente explicado a nenhum de nós. — Nossas mães eram melhores amigas, mas nunca conheci os pais de Aflora. Presumi todo esse tempo que eles tinham morrido por causa da peste, mas dada a luta de Elana contra mim e a fonte – como uma criança de sete anos – me pergunto o quanto isso é verdadeiro.

— E se talvez eles a tenham escondido por outra razão — minha companheira acrescentou.

— Sim. — O que significava que a história de Aflora ainda não estava terminada. Ainda não. — Mas não devemos tentar desbloquear as memórias dela. Ou mesmo insinuar isso. — Porque ela nunca havia demonstrado ter nenhum dos sinais que eu tinha. Aflora era engraçada, alegre e teimosa quando queria. Eu não queria fazer nada para mudar isso.

Claire apertou os braços em volta de mim o máximo que pôde.

— Concordo. Os elementos dirão a ela quando estiverem prontos. — Ela beijou meu queixo. — Vamos dormir, só mais um pouco, antes de você nos desenterrar.— Ela olhou para nosso telhado improvisado e um sorriso curvou seus lábios.

Eu ri, olhando para cima através do emaranhado de vinhas que bloqueava o céu.

— Ou poderíamos simplesmente ficar aqui para sempre.

Claire deu uma risada baixa.

— Meus outros companheiros podem não gostar disso.

Gemi.

— Talvez não.

Nos abraçamos, nos deleitando com nosso amor enquanto eu também me deleitava com a luz que inundava minha alma.

Tudo graças a Claire, minha companheira, meu coração, minha rocha. Ela afugentou as trevas de mim. Para sempre.


Duas semanas depois.


Observei a construção final em nossa visita e assenti.

— Está terminado.

— Sim — Exos concordou, mantendo a palma da mão na base da minha coluna. — Bom como novo.

— Sem a casa da Chanceler — acrescentei. Não tínhamos nos preocupado em reconstruir aquela monstruosidade. — E o Esquadrão do Espírito está parecendo um pouco menos empoeirado. — E muito mais vivo, pensei enquanto uma borboleta esvoaçava perto do meu nariz.

Sol me ajudou a espalhar sementes por todo o campus, criando uma nova vida em cada esquina para ajudar a melhorar a vitalidade do lugar. Ele também ajudou Cyrus a criar uma série de fontes – uma combinação das rochas de Sol como base e o elemento Água de Cyrus para a arte visual. Vox tinha administrado a reconstrução com seu esquadrão, os Faes do Ar usaram seu vento para levantar pesadas pedras confeccionadas pelos Faes da Terra para que os Faes do Fogo as unissem.

Se tornou uma aldeia, mas a Academia nunca esteve tão bonita.

— Qual é o veredito do novo Conselho? — perguntei ao meu companheiro do Espírito. Houve uma reunião de emergência entre todos os membros da realeza – novos e antigos – esta manhã para discutir o destino da Academia. Ainda que eu tivesse sido convidada, escolhi não comparecer em favor de ajudar Sol, Titus e Vox no campus. Meus elementos ansiavam mais por liberdade do que por uma reunião política.

— Vamos reabrir no próximo semestre, o que seria semelhante a um período da universidade humana no outono. — Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e deu um beijo na minha bochecha. — Eles concordaram em permitir que vocês quatro se formem antes, mas existem algumas condições que vêm com o subsídio.

Com a Academia não se reintegrando este ano, ela deixou Vox, Titus, Sol e eu no limbo. Portanto, Exos e Cyrus concordaram em pedir uma dispensa que nos permitisse considerar nossa educação completa. Parecia estranho, já que só frequentei a Academia por alguns meses, mas o propósito era dominar meus elementos. E as últimas semanas mais do que provaram que essa tarefa tinha sido cumprida.

— Quais são os termos? — perguntei.

— Bem, primeiro, eles me pediram para assumir o cargo de Chanceler e Chefe temporário do Conselho — ele disse e seu tom sugeria exatamente como ele se sentia a esse respeito. — Aparentemente, mostrei uma grande liderança na minha juventude.

Eu sorri.

— Eles não estão errados, Exos.

— Sim, isso ainda está para ser visto. — Ele respirou fundo e sua aceitação do requisito ficou evidente naquele gesto. Exos era um homem de dever. Se os Faes solicitassem sua liderança, ele a daria para proteger aqueles que amava. Como eu, Cyrus e nosso círculo de companheiros.

Pressionei a da mão em seu peito, permitindo que ele me envolvesse em seus braços.

— O que mais eles querem?

— Você — ele respondeu baixinho e seus olhos azuis da cor do oceano brilharam em desafio. — Especificamente, sua conexão com os elementos. Eles dizem que isso a torna uma ótima Assessora do Conselho – um título que eles inventaram esta manhã que essencialmente significa que você vai ser como um canal entre eles e o núcleo de nossos poderes. Qualquer decisão que eles tomem, querem que você passe pela aprovação dos elementos.

— Aprovação dos elementos — repeti, franzindo a testa. — Eles fazem parecer que eu posso falar com os elementos.

— E não pode? — Exos respondeu, apoiando a mão na minha bochecha e passou o polegar pelo meu lábio. — Você tem acesso a todas as cinco fontes. É provável que seus instintos te avisem se o Conselho tomar uma decisão que fosse contra nossos núcleos elementais.

Engoli em seco, considerando.

Um mergulho raso em meu Espírito mostrou uma série de estrelas brilhantes aguardando meu comando, todas exibindo sua aprovação, sabendo que eu nunca faria nada para abusar delas.

— Minha deusa Claire — Exos disse, tendo me seguido ao longo desse caminho, com seu Espírito bem ao lado do meu e sua boca em meu ouvido. — Como você disse, amor, eles não estão errados. — Seus lábios contra minha têmpora me puxaram de volta para o pátio, e meu olhar capturou o seu.

— O que mais eles querem? — Porque naquele breve toque de nossos Espíritos, senti que havia mais. Essas foram apenas as duas maiores concessões.

— Vox, Sol e Titus — ele murmurou. — A Academia precisa de uma forte orientação. Particularmente os Faes da Terra, é por isso que eles querem que Sol assuma um papel de professor entre sua espécie. Quanto a Vox, o professor Helios está prestes a se aposentar. Eles acham que Vox é um substituto adequado, mas querem que ele seja orientado por Helios por alguns anos. E Titus é o substituto perfeito para o professor intramuros que fugiu antes da batalha.

— Então, os três têm que permanecer na Academia. — Eu não tinha certeza de como me sentia sobre isso. — E quanto a mim, você e Cyrus?

— Pretendo residir aqui também, já tendo provado ser capaz de administrar o Reino Espiritual de maneira eficaz à distância. Sem mencionar que quero estar aqui quando o Esquadrão do Espírito for reaberto. Vai ser necessário muito para deixá-lo pronto novamente. Felizmente, temos algum tempo antes que o ciclo de vida comece novamente. — Seus olhos brilharam com as palavras e seu alívio inundou nosso vínculo.

Duas Faes do Espírito já haviam engravidado nas últimas semanas, provando que o domínio de Elana sobre os campos da morte tinha sido a causa da infertilidade.

— E Cyrus, ele pode ficar entre a Academia e o Reino da Água. Assim como você — ele acrescentou, deslizando a mão da minha bochecha para a parte de trás do meu pescoço. — Você pode morar aqui conosco e ainda ver Cyrus quando quiser. O que, eu presumo, será frequentemente, porque não o vejo passando mais de um dia sem o seu toque.

— Onde vamos ficar? — perguntei. — Nos dormitórios do Espírito?

Ele riu, balançando a cabeça.

— Não, baby. Eu estava pensando em construir um lugar para nós no campo.

— Na floresta?

Ele assentiu.

— A menos que você tenha outra ideia em mente. Mas prefiro morar fora do campus. — Seus lábios roçaram os meus antes de chegarem ao meu ouvido. — Seus gritos arrebatadores são para seus companheiros e ninguém mais, Claire. Portanto, a privacidade é uma obrigação.

Exos mordiscou o ponto da minha pulsação e o calor de sua respiração provocou arrepios na parte de trás do meu pescoço.

— O que você acha, Claire? — ele perguntou e sua voz se tornou um sussurro. — Gostaria de ficar na Academia? Ajudar a orientar alguns alunos e continuar aprendendo sobre seus elementos? — Ele beijou minha bochecha antes de pressionar sua testa na minha. — Se pensar a respeito, é o lugar perfeito para você, cercada por todos os Faes Elementais. Você prosperaria aqui.

Estremeci e meus braços se afrouxaram para me permitir segurar seus ombros.

— Quero estar onde meus companheiros estão — eu disse a ele, olhando em seus olhos. — Quero estar onde você está, Exos. E se for aqui, então é onde estarei. Se for no Reino do Espírito, então estarei lá. Se todos nós ficarmos com Cyrus no Reino das Águas, também concordarei. Só quero que todos nós estejamos juntos.

— Falou como uma deusa — ele apontou e o orgulho irradiou do seu olhar. — Acho que todos vão votar para ficar onde você está, Claire.

— Mas estar aqui os deixaria felizes — acrescentei.

Ele assentiu.

— Acho que sim. O Vox sempre quis ser professor. Sol iria prosperar com a ideia de ajudar seus companheiros Faes da Terra por meio de orientação. E não vejo Titus recusando a ideia de assumir as atividades atléticas intramurais.

Contraí os lábios.

— Não, também não o vejo rejeitando a ideia. — Na verdade, eu o imaginei amando cada minuto disso. Todos eles aproveitariam a oportunidade. — E o que eu faria o dia todo?

— O que você já faz — Exos respondeu. — Liderar todos nós.

— Para onde, para o quarto? — provoquei.

Sua diversão fez cócegas em nosso vínculo.

— Se é para lá que você quer que a gente vá, ficaremos felizes em te seguir.

— Hum-hum. — Sorri para ele. — Quero te ajudar.

— A mim?

Concordei.

— Com as responsabilidades da Academia. Além de ser o canal, ou seja lá como você me chamou, para o Conselho.

— Assistente — ele corrigiu, aumentando seu aperto. — E eu aceito, Claire. Você é minha rainha, baby. Nós pertencemos um ao outro. Para sempre. — Seus lábios tocaram os meus por um momento muito fugaz, me deixando com um desejo profundo por mais. A dureza pressionando em meu abdômen através da calça de seu terno me disse que era um desejo que ele compartilhava. Mas a seriedade em seu olhar avisou que não havíamos terminado de discutir assuntos importantes.

— Sua mãe — ele começou, levando a mão ao meu quadril enquanto a outra permanecia no meu pescoço. — Embora o Conselho esteja convencido de sua inocência, estão preocupados com seu estado mental. Essa é a outra razão pela qual eles recomendam que permaneçamos no campus. Porque eles querem manter a Ophelia aqui por enquanto.

— Por quê? — perguntei. — Ela é uma Fae do Espírito. Ela não pode viver no Reino do Espírito?

— Ela poderia, mas o medo ao redor dela é muito grande. Acreditar na verdade é totalmente diferente de aceitá-la e, infelizmente, o Espírito Fae tornou sua mãe uma vilã por tanto tempo que será preciso paciência para que a vejam sob uma nova ótica. — Seu polegar acariciou meu pescoço. — Seu estado mental é muito frágil para lidar com eles agora.

Suspirei. Ele estava certo, é claro. Quase todas as manhãs, ela acordava gritando. Depois que se lembrava de sua localização e de tudo o que tinha acontecido, ela geralmente ficava bem. Mas alguns dias, ela caminhava com um brilho distante nos olhos, que me lembrava muito a morte.

— Mortus concordou em permanecer também, em continuar tentando curá-la — Exos acrescentou.

— Porque isso está funcionando muito bem — murmurei.

Supostamente, eles eram arquirrivais na Academia, algo que ser forçado a se vincular só piorou. Porque o vínculo ainda permanecia, aguardando sua verdadeira consumação. Por anos, acreditou-se que ela havia morrido e Mortus simplesmente escolheu não tomar outra companheira. Aparentemente, era tudo uma farsa, porque o Espírito Fae não poderia se relacionar com ninguém enquanto minha mãe ainda estivesse viva.

Eles estavam vinculados para sempre.

Mortus parecia ser mais tolerante e afável do que minha mãe.

Pelo menos no começo.

Mas bastou algumas palavras dela, e sua ira aumentou, criando essa energia estranha entre eles que me deixou bem desconfortável.

— Eles vão resolver isso — Exos garantiu. — Tenho fé nisso.

— Que bom que você tem, porque acho que eles vão acabar se matando. — Quando meu companheiro me informou sobre sua decisão de juntar Mortus com minha mãe para sua recuperação, temi que isso fosse fazer mais mal do que bem. Mas a única vez que ela realmente pareceu ganhar vida foi quando brigou com ele sobre velhas feridas de duas décadas. — Eles brigam como adolescentes.

Exos riu.

— Isso me lembra um pouco de Titus e Cyrus. Toda aquela tensão e animosidade. Eu me pergunto o que vai acontecer com isso.

— Nós dois sabemos como pretendo resolver esse problema — meu companheiro de Água nos informou atrás de mim. Eu não tinha percebido sua aproximação, pois estava muito envolvida na aura de Exos. Mas suspirei quando Cyrus encostou seu peito nas minhas costas e seus lábios contra o topo da minha cabeça. — Você se importa se eu roubar nossa pequena rainha por um momento? Temos negócios de estado para discutir.

— Ah, a coroação. — Exos balançou as sobrancelhas. — Percebi a impaciência do seu pai esta manhã. Melhor não deixar o velho esperando muito mais, irmão.

Cyrus enterrou o rosto no meu cabelo enquanto murmurava seu acordo e envolveu o braço ao redor da minha cintura enquanto Exos tomava minha boca em um beijo cheio de promessas. O calor dos dois acelerou meu coração, me lembrando da noite em que nós três estivemos juntos, o que parecia ter acontecido há muito tempo.

Eu queria experimentar isso de novo.

Para me divertir com os dois.

Para me perder no toque deles.

Em breve, pequena rainha, Cyrus prometeu, sua exalação quente tocando a minha nuca e a mão de Exos. Em breve.

Por mim seria agora, respondi, enquanto a minha língua estava engajada na batalha sensual que Exos tinha acabado de iniciar. Ele queria provocar. Bem, eu retribuí com alegria, arqueando contra a sua virilha e gemendo enquanto ele aprofundava nosso abraço.

Ele sorriu contra minha boca.

— Pequena atrevida disposta — ele sussurrou, então me girou nos braços de seu irmão. — Tente mantê-la aquecida para mim, Cyrus. Eu gostaria de continuar quando você terminar.

Meu companheiro da Água apoiou a mão possessiva contra minhas costas enquanto a oposta agarrava minha nuca, assim como seu irmão havia feito.

— Ela vai estar pronta — ele prometeu e seus lábios reivindicaram os meus com carinho. Humm, precisamos conversar sobre a coroação. Mas beijar você é muito mais atraente.

Sua língua envolveu a minha em uma dança lenta e sensual que provocou um frio no meu estômago. Quando Cyrus me beijava assim, eu me sentia frágil, idolatrada e muito dele. A névoa girou em torno de nós e nosso elemento brincou em sincronia com nossas bocas. Isso me deixou tonta, provocando uma risadinha que ele engoliu com um gemido.

Como você pode ser tão perfeita? ele se maravilhou, levando as mãos aos meus quadris para me levantar no ar.

Envolvi as pernas ao redor da sua cintura e passei os braços em volta do seu pescoço. Os elementos me fizeram assim, provoquei. E eu me lembro de uma época em que você não achava que eu era tão perfeita.

Ele mordeu meu lábio inferior em repreensão. Absurdo. Eu te adorei desde o começo.

Hum-hum.

Você era minha pequena rainha teimosa então, assim como é agora. Ele deu alguns passos, parando quando minhas costas bateram no tronco de uma árvore. Isso lhe deu o apoio de que precisava para me segurar entre seu corpo e a Terra atrás de mim.

Gemi quando ele pressionou sua crescente excitação entre minhas coxas, me fazendo desejar ter escolhido usar saia hoje em vez de calças. Ou talvez fosse melhor assim. Cyrus e eu não podíamos ser confiáveis neste estado, muito consumidos em devorar um ao outro para nos preocupar com o decoro.

Com a Academia não mais em funcionamento, meu pai quer fazer a coroação na próxima semana, ele sussurrou em meus pensamentos. Ele afirma que não posso mais usar seus estudos como desculpa para atrasar isso.

Tudo bem, respondi, chupando sua língua e enfiando os dedos em seu cabelo espesso. Apenas me diga o que vestir.

Ele se afastou, erguendo as sobrancelhas.

— Isso é uma grande coisa, Claire.

— Hum-humm — concordei. — Então você precisa me dizer o que vestir. — Tentei beijá-lo de novo, mas ele me encarou com um olhar incrédulo.

— Isso vai fazer de você a Rainha da Água.

— Eu sei.

— E coisas serão esperadas de você.

— Vou precisar te dar um herdeiro — respondi. — Sim, você me disse isso.

Suas sobrancelhas se ergueram.

— Você faz isso parecer tão fácil, Claire — Não é? — rebati, arqueando uma sobrancelha de volta para ele. — Eu sou sua companheira. Você é o futuro rei. Isso me torna a futura rainha. Precisamos ter liderança sobre os Fae da Água e, eventualmente, produzir um filho. Como estou indo até agora?

— É muita responsabilidade, Claire. E mais fácil falar do que fazer.

— Todas as coisas não são mais fáceis falar do que fazer? — perguntei a ele, sorrindo. — Mas tenho certeza de que você vai gostar da parte da procriação. Podemos praticar quantas vezes você quiser, meu futuro rei. E quando estivermos prontos, vou carregar seu herdeiro e criar nosso filho com você e os outros. Você só tem que resolver com o Exos, que vai me engravidar primeiro. Me avise o que vocês decidirem.

Ele ficou boquiaberto comigo.

— Quem é você e o que fez com minha pequena rainha?

— Ela se transformou em uma deusa Fae elemental — respondi, divertida. — Agora ela ouve seus instintos elementares. — Envolvi os braços ao seu redor com mais firmeza e o puxei para mais perto de mim. — E agora, eles estão dizendo a ela para devorar seu companheiro de Água. Em seguida, segui-lo até a coroação na próxima semana e usar uma linda coroa ao seu lado.

— Puta merda — ele murmurou e seu tom me fez lembrar uma brisa do oceano. Eu queria me deleitar com isso, saboreá-lo e ficar com ele para sempre.

— Você é meu — eu disse a ele baixinho. — E serei o que você precisar em troca. É simples assim, meu Príncipe da Água. Agora me beije. Estou cansada de falar sobre política e quero transar em vez disso.

Ele soltou uma risada surpresa.

— Minha pequena rainha necessitada.

— Você prometeu me satisfazer por toda a eternidade, Cyrus.

— Prometi mesmo — ele concordou e sua boca se demorou sobre a minha. — Vou ascender na próxima semana, então.

Eu concordei.

— Vai, sim.

— Então é melhor eu começar a satisfazer minha futura rainha — ele disse. — Ela é uma coisinha teimosa.

— Exigente também — acrescentei.

Ele sorriu contra meus lábios.

— Verdade.

— Me beije, Cyrus.

— Com prazer, minha rainha — ele sussurrou, sua boca tomando a minha.

Toda a conversa sobre o futuro foi afastada por uma onda de desejo e intenção erótica. O Príncipe da Água seduzindo sua Princesa da Água sob um mar de matrimônio e felicidade.

Para sempre.

Eternamente.

Várias vezes.


— Posso apresentar a Rainha Claire? — Cyrus anunciou, abrindo o quarto para seus aposentos.

Olhei para ele com o canto dos olhos.

— Pode parar de dizer isso. — Ele tinha feito isso a noite toda, desde que aceitou a coroa do Rei da Água. — Esta deveria ser a sua noite, não a minha.

— Ah, mas é minha noite — ele murmurou, apoiando a palma da mão contra minhas costas. — E pretendo comemorar de acordo.

— É mesmo? — perguntei, permitindo que ele me guiasse através da soleira e em seu quarto. — O que você tem em mente, Sua Alteza?

— Humm, eu gosto dessas palavras da sua boca, Claire. — Ele me puxou para si, me beijando por tempo suficiente para que eu considerasse a necessidade de respirar. — Diga isso de novo.

— Sua Alteza — repeti, piscando os olhos para ele.

Ele riu, fechando a porta atrás de si.

— Isso me dá ideias deliciosas para depois, quando eu tiver você de joelhos.

— Você vai me fazer ajoelhar? — Fingi choque. — Que degradante, Rei Cyrus.

— Você vai gostar — ele prometeu, baixando a mão para baixo para bater na minha bunda. Com força. — Além disso, nós adoramos quando você fica de joelhos, pequena rainha.

— Nós?

Ele sorriu.

— Eu disse que pretendia comemorar de acordo. E eu preferiria entrar para a história como um rei generoso. — Seu olhar se ergueu sobre minha cabeça. — Que melhor maneira de começar meu reinado do que compartilhar minha noite de coroação com aqueles que mais valorizo.

— Eu amo esse vestido em você, Claire. — A voz quente de Titus acariciou minha coluna exposta, seu calor irradiando de algum lugar atrás de mim.

Estávamos esperando na varanda, Sol explicou em minha mente. O Cyrus queria que fosse uma surpresa.

Eu sorri. Me considere surpresa.

Embora todos os meus companheiros tenham comparecido à coroação, mal tive um momento para passar com eles. Exos não mentiu quando me avisou que a ascensão de Cyrus seria um grande acontecimento.

Vários Faes Elementais estavam presentes, incluindo Aflora. Ela usava um vestido de flores feito para uma Rainha Fae da Terra, mas não parecia ser ela mesma. Suspeitei que tivesse algo a ver com Glacier. Pelo que soube, ele deveria ser seu par e, em vez disso, escolheu ficar com seus pais o tempo todo.

Sol estava certo sobre ele. O idiota não merecia Aflora. Eu queria falar com ela, mas Kols me distraiu com um abraço gigante. Eu sabia que os Faes Reais da Meia-Noite estariam presentes. Sua franqueza fácil ainda me pegou desprevenida. No entanto, foi um breve encontro porque nem dois minutos depois de me abraçar como se fôssemos melhores amigos, ele me deixou para ir atrás de Exos e a amiga Fae Fortuna de Cyrus – Gina. Só a vi de passagem, apenas o tempo suficiente para receber um vislumbre de um sorriso e a aprovação irradiando de sua expressão.

Cyrus disse que era típico que Gina provavelmente passasse por aqui para garantir que o futuro que ela profetizou viria a ser concretizado. E deve ter, porque não a vi novamente depois disso. Principalmente porque estou muito envolvida em conhecer Faes de todo o mundo para notar muito mais.

Uma coisa era certa: eu ainda tinha muito que aprender sobre esse mundo Fae. Porque havia muitos reinos dos quais eu nunca tinha ouvido falar.

Mas agora não era hora para tais explorações.

Não com o calor crescente nas minhas costas enquanto todos os meus companheiros entravam na sala pela varanda externa.

As palmas das mãos de Cyrus deslizaram por meus braços até as delicadas alças azuis em meus ombros.

— Humm, não acho que Titus queira destruir seu lindo vestido, pequena rainha. Devo ajudá-la a tirá-lo para ele? Antes que a sua paixão fique fora de controle?

Estremeci e dei um beijo em sua mandíbula.

— Como você desejar, Sua Alteza.

Ele sorriu.

— Ah, Claire. — Ele enganchou os polegares debaixo do tecido safira. — Se é assim que você quer jogar, é assim que vai ser. — ele empurrou as tiras de seda para o meu braço e para baixo, fazendo com que o vestido de estilo grego caísse com seus movimentos, se amontoando na minha cintura. Seu olhar seguiu, o anel de gelo ao redor de suas pupilas diminuindo quando ele viu meus seios expostos. — Sabe por que escolhi este vestido, pequena rainha?

— Porque ele flui como um líquido sobre minha pele — respondi.

Ele sorriu.

— Sim. E porque eu sabia que você não seria capaz de usar nada por baixo dele. — Com um leve puxão, ele fez a peça cair no chão, me deixando só com um par de sapatos de salto prateado. — Saber que você estava nua debaixo desse vestido foi a última provocação para todos nós. — Ele pressionou seus lábios nos meus, então me virou para encarar meus companheiros de terno. — De novo — Cyrus murmurou bem baixinho. — Posso apresentar a Rainha Claire?

Quatro pares de olhos famintos percorreram meu corpo como se o vissem pela primeira vez.

Ficar nua em um quarto, rodeada por cinco homens em trajes formais era certamente uma forma de seduzir uma mulher. Porque eu mal conseguia suportar a necessidade me atacando de todos os ângulos.

Cyrus segurou meu quadril com uma mão, seu peito era um conforto contra minhas costas, e desceu a mão oposta no calor úmido entre minhas coxas.

— Humm. — Ele acariciou meu pescoço. — Nossa Claire está pronta, senhores. Devemos satisfazer nossa pequena rainha?

Exos se encostou na parede ao lado da fonte, com um copo de álcool cor de bronze na mão.

— Sim — ele concordou, claramente fora da fila para ser o primeiro a me tocar.

Não.

Meu companheiro do Espírito gostava de assistir.

Ele seria o último dentro de mim. Nos faria esperar pela união de nossas almas.

Titus seria o primeiro.

Vox e Sol compartilhando o segundo lugar.

E então Cyrus.

E talvez Exos se juntasse.

Uma trilha de fogo chamou minha atenção. A chama avançou lentamente para baixo para encontrar a mão de Cyrus. O Rei da Água não se moveu, em vez disso, adicionou um beijo de Água à mistura que me deixou tremendo em seus braços. Titus deu um passo à frente, tirando o paletó enquanto se movia.

— Você está me deixando com sede — ele disse de forma casual para o homem atrás de mim.

— Estou? — Cyrus perguntou, movendo o dedo com facilidade pela minha umidade enquanto a chama de Titus o seguia.

Eu tremia entre eles, perdida nas sensações. E ainda nem tínhamos começado.

Santo Fae, esses homens vão me matar, pensei, agarrando o pulso de Cyrus enquanto ele enfiava dois dedos dentro de mim. Ofeguei com a penetração firme e, ah, tão certa.

— Pobre Claire — ele murmurou nas minhas costas. — Como ela vai sobreviver a todos nós?

Sol e Vox tiraram seus paletós.

Titus tirou os sapatos.

E Exos permaneceu composto, tomando um gole da bebida e me olhando com desejo brilhando em seus olhos azuis escuros.

Uma brisa fresca tocou meus mamilos, atraindo meu olhar para Vox. Ele sorriu e inclinou a cabeça.

— Prevejo muitos gritos no futuro dela.

— Com certeza — Cyrus concordou, afastando os dedos e provocando um gemido do fundo da minha alma.

Até que Titus se ajoelhou diante de mim.

Meus joelhos dobraram quando sua boca cobriu meu clitóris, mas Cyrus me pegou com o braço em volta da minha cintura, levando a mão oposta aos meus lábios espalhando a minha excitação.

— Não lamba, pequena rainha — ele disse. — Isso é para o Sol provar, não você.

Ah, querida mãe dos elementos...

Sol deu um passo à frente, levando a mão ao meu pescoço, enquanto ele me inclinava para receber seu beijo.

E ele me beijou.

O calor da sua língua era como uma marca contra a minha, se misturando com a minha umidade que Cyrus tinha deixado para meu companheiro da Terra desfrutar.

Titus roçou os dentes em mim, me forçando a dividir meu foco entre eles.

Uma das minhas mãos foi para o cabelo de Titus, a outra para a bochecha de Sol, e o tempo todo Cyrus esteve como uma presença firme nas minhas costas, me segurando de pé enquanto meus outros dois companheiros me devoravam.

O gemido de Vox me fez abrir os olhos para encontrar seus lábios em volta dos dedos de Cyrus, sugando-os para limpar. E, puta merda, essa era a coisa mais sexy que já vi.

Meus homens brincando juntos?

Minhas coxas se apertaram ao redor de Titus em resposta.

Sim. Mais disso, por favor, pensei, gemendo contra a boca de Sol.

Uma consideração para talvez mais tarde, Cyrus respondeu, roçando os lábios em meu pescoço e mordiscando meu pulso acelerado. Esta noite é para te adorar, nossa rainha.

Enquanto você os lidera como o rei, sussurrei de volta para ele.

Ele sorriu contra meu pescoço. Sim, pequena rainha.

Entendi então que ele havia resolvido tudo isso com meus companheiros e ele colocou para fora o seu domínio da maneira que ele sabia melhor. Ele permitiu que todos nós florescêssemos sob seu comando, que nos entregássemos e desfrutássemos.

E eu não gostaria que fosse diferente.

Sol se afastou, permitindo que Vox tomasse seu lugar.

Titus permaneceu entre minhas coxas, me levando ao ápice com a língua enquanto ele brincava com minha umidade com seus dedos.

— Você se lembra do que aconteceu da última vez que estivemos neste quarto? — Cyrus murmurou em meu ouvido.

Arqueei para trás contra ele, enquanto a boca de Titus fazia algo que provocou um tremor violento em minha espinha. Vox continuou a me beijar, tornando impossível uma resposta verbal, então respondi mentalmente com um sibilar: Sim.

— Quer experimentar de novo, pequena rainha?— ele perguntou baixinho, apertando o braço ao meu redor, enquanto sua outra mão desceu do meu quadril para deslizar entre nós, até minha bunda. — Quer que ser comida por todos nós, Claire? Quer que a gente te leve às alturas? Juntos?

Engoli audivelmente e meus lábios deixaram Vox enquanto eu ofegava com a imagem que Cyrus criou.

— Isso é impossível de fazer — murmurei, considerando quantos deles havia. Eu tinhas muitas... opções.

Meu companheiro de Água riu e senti seu hálito quente contra meu pescoço.

— Teremos que nos revezar. — Ele mordiscou minha orelha. — Mas só se você quiser, Claire.

Titus inclinou a cabeça para trás, seu olhar verde-floresta estava vidrado com luxúria e seus lábios úmidos do meu núcleo. Meus membros se contraíram com a imagem e meu estômago se apertou dolorosamente com a necessidade.

— Quero todos vocês — eu disse, com a voz rouca de desejo. — Como vocês quiserem. Onde vocês quiserem. Agora. Agora mesmo.

Cyrus deu uma risadinha.

— Vocês ouviram a nossa rainha. Ela quer a todos nós. Vamos satisfazê-la.

Sol e Vox começaram a desabotoar as camisas.

Titus seguiu o caminho mais fácil e queimou suas roupas até se tornarem cinzas. Seu pau encostou em meu ventre enquanto ele parava diante de mim. Sua boca encontrou a minha e seu abdômen pressionou o braço de Cyrus.

— Segure-a — meu companheiro de Água exigiu.

Titus envolveu seu braço em minhas costas enquanto Cyrus desaparecia e levava sua mão oposta para a minha nuca. Humm, ele tinha gosto de mim e fogo combinados, sua boca era como uma brasa quente na qual eu desejava me perder. E foi o que fiz, retribuindo o beijo com tudo que eu possuía, até que algo frio e úmido deslizou entre minhas nádegas.

— Shh. — Cyrus deu um beijo no meio das minhas costas. — Só estou te ajudando a se preparar para seus companheiros.

Estremeci quando ele deslizou um dedo dentro de mim atrás e meu corpo se inclinou contra a parede de músculos que era Titus.

E eu esqueci o mundo novamente.

Meus lábios encontrando os seus em um abraço apaixonado e flamejante, que senti se espalhar por todo o meu corpo.

Mãos começaram a me acariciar.

Bocas e línguas provaram minha pele.

Vox e Sol, meus elementos reconheceram.

Gemi e Titus engoliu o som, enquanto ele e os outros me guiavam em direção à cama.

Menos Exos. Ele permaneceu tão equilibrado como sempre, ainda de terno, esperando. O calor em seu olhar parecia uma marca quando me deitei no colchão, vendo aquele copo roçar em seus lábios enquanto ele tomava mais um gole. Cyrus apareceu no meu campo de visão, sem o nó da gravata, sem o paletó, mas quase tão vestido quanto o irmão.

— Titus vai te comer, pequena rainha. O Sol quer sua boca. E o Vox vai te penetrar por trás. Acha que pode lidar com isso? — Suas palavras provocaram um turbilhão dentro de mim.

Três homens?

De uma vez só?

Ah, Fae... por que estou assentindo? Porque eu queria isso. Porque a malícia das suas palavras me incendiou. Titus traçou a chama ao longo do meu braço e sorriu.

— Boa maneira de expressar sua aprovação, linda.

Engoli em seco e encontrei seu olhar.

— Por que você ainda não está dentro de mim? — Eu parecia sem fôlego. Carente. Excitada.

— Corajosa — ele murmurou, se deitando ao meu lado, e seus olhos verdes escureceram de desejo. — Pegue o que quiser, Claire. Monte em mim o quanto quiser.

— Aqui, amor. — Vox estendeu a mão, me puxando para cima e me ajudando a montar em Titus. — Fique confortável. — Ele deu um beijo no meu ombro. Seu corpo forte se ajoelhou atrás do meu para me apoiar enquanto eu tomava Titus dentro de mim.

Meu companheiro do Fogo sibilou em resposta e suas mãos seguraram meus quadris para se guiar mais fundo e até o fim.

— Puta merda, Claire.

— Você disse para que eu te montasse — eu o lembrei, subindo e descendo nele.

Titus grunhiu meu nome, me fazendo sorrir.

Eu amo esse som, eu disse a ele.

E eu amo quando você geme, ele respondeu e seus dedos vagaram ao longo da parte inferior do meu corpo para tocar meu clitóris. Sim, bem assim.

Quase desabei sobre ele. Meu corpo estava muito tenso de todos os beijos, mordiscadas e carícias, mas Vox me segurou pelo meio com seu braço forte.

— Pronta para mim? — ele perguntou em meu ouvido. Ele apertou meu mamilo com seu elemento ar, me fazendo arquear para trás contra ele, me apresentando da maneira mais devassa.

A cabeça de seu pau se encaixou em meu traseiro. Com um braço ainda em volta de mim, ele usou a outra mão para abrir minhas nádegas e encontrar minha entrada.

Só Exos e Cyrus me penetraram atrás.

Mas Vox não o fez rápido ou forte.

Não, ele se demorou, entrando e saindo devagar. Ele estabeleceu um ritmo que fez minha respiração inspirar e expirar no seu ritmo. Me acalmando. Me tranquilizando. Me seduzindo.

Titus incitou calor e paixão Vox me banhou em sensualidade.

E Sol me firmou. Ele era minha rocha, meu gigante de sorriso terno. Ele acariciou minha bochecha, capturando minha atenção, enquanto parava ao lado da cama.

— Pode se inclinar para este lado, florzinha? — ele perguntou baixinho.

A maneira como Vox e Titus me posicionaram na cama me colocou na altura perfeita para tomar Sol em minha boca. Só tive que me curvar um pouco. Mas aquela gota de umidade na ponta de sua excitação me deixou com fome para provar.

Respondi lambendo-o, enquanto seus dedos se entrelaçavam ao meu cabelo para apoiar meus movimentos, não apressá-los.

Vox e Titus estabeleceram um ritmo, não rápido ou doloroso, mas suave e atraente. Eu me senti completa. Dominada. Absolutamente consumida.

O Ar acariciou minha pele.

O Fogo floresceu em minhas veias.

E aromas terrosos encheram meus sentidos.

Perfeição.

Os meus companheiros.

Meus elementos.

Todos se unindo como um enquanto meu companheiro da Água e o do Espírito assistiam, esperando sua vez. Os dois estavam em minha mente. Me elogiando. Me dizendo o quanto eu parecia linda entre meus companheiros. Me prometendo uma noite de prazer sem fim. E quando o primeiro orgasmo atingiu meu corpo, eu sabia que eles sustentariam tudo o que juraram e muito mais. Seus corações batiam no mesmo ritmo que o meu.

Engoli o êxtase de Sol, gemi quando a essência quente de Titus encheu meu interior e suspirei quando Vox chegou ao clímax com uma brisa que agitou todos os pelos do meu corpo.

E então Exos e Cyrus estavam lá, assumindo suas posições e me levando ao ápice alinhado com as estrelas.

Me perdi para todos eles, suas mãos, suas bocas, sua paixão desenfreada e desejo. Fizemos amor repetidamente. A noite logo se transformou em dia, quando finalmente adormecemos exaustos e apaixonados.

Nós seis.

Meus companheiros.

Formando um círculo de elementos ligados pelo amor. Respeito. Alegria. E êxtase.

Juntos em uma união em que ninguém jamais poderia penetrar.

Para a eternidade.

Em nosso próprio felizes para sempre.

 

 

                                                   Lexi C. Foss e J. R. Thorn         

 

 

 

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