Ele nunca quis machucá-la.
Levi =Painter‘ Brooks não tinha nada antes dele se juntar ao clube de motoqueiros Reapers. O dia em que ele ganhou seu patch, eles se tornaram seus irmãos e sua vida. Tudo o que eles pediram em troca foi um braço forte e lealdade incondicional - uma lealdade que é testada quando ele é preso e condenado à prisão por um crime cometido em seu nome.
Melanie Tucker pode ter tido um começo difícil, mas ao longo do caminho, ela aprendeu a lutar por seu futuro. Ela escapou do inferno e começou uma nova vida, mas todas as noites ela sonha com um motoqueiro cujo toque ela não pode esquecer. Tudo começou tão inocentemente - apenas uma série de cartas para um homem solitário na prisão. Amigável. Inofensivo. Seguro.
Agora Painter Brooks está voltando para casa... e Melanie está prestes a aprender que não há espaço para inocência nos Reapers MC.
.....
CALLUP, IDAHO
DIAS ATUAIS
PAINTER
— Porra, — Horse disse, olhando para o lado de fora através do
clube lotado. Fiz uma pausa, cerveja a meio caminho da minha boca e
me virei para seguir o seu olhar. — Painter, irmão, você tem que ficar
calm-
Foi quando eu a vi.
Melanie Tucker.
Não.
Isso não estava acontecendo. Talvez eu estivesse tendo
alucinações, porque eu não poderia imaginar uma realidade onde ela
realmente seria tão malditamente idiota. Larguei minha garrafa de
cerveja, o vidro se estilhaçando enquanto eu atravessava a sala. Tudo se
estreitou, a minha visão se tornando vermelha.
— Calma aí, filho, — Picnic rosnou. Eu o respeitava pra caramba,
o amava como um pai... mas não havia uma maldita coisa que o
presidente dos Reapers MC poderia ter dito para me abrandar naquele
instante. Isso porque a mãe do meu filho estava na porta do clube, os
olhos arregalados e assustados. Ela sabia que tinha fodido tudo.
De pé ao lado dela estava um homem. Um
motoqueiro. Nômade? Ele colocou o braço ao redor dela como se ela
pertencesse a ele.
Sim. Ele colocou as mãos na minha Melanie.
Exceto que ela não era minha e não tinha sido por um longo
tempo. Escolha dela, então foda-se ela. Mas a tal liberdade que ela
queria tanto veio com uma regra e ela tinha acabado de quebrar essa
merda. Sem motoqueiros. No entanto, aqui estava ela com este idiota
~ 6 ~
fodido, um panaca que pensou que se vestir de couro lhe dava o direito
de existir.
Em um clube MC, não menos que isso.
Isso foi um problema. Um grande problema da porra. Aquele
terror em seu rosto foi totalmente justificado, porque ela estava prestes
a testemunhar um maldito assassinato. E não, isso não era apenas em
modo figurado. Em dez segundos eu tinha toda a intenção de arrancar
seu pau, o dar para comer com uma ponta de faca, e depois enfiar de
volta em sua bunda antes de repetir o processo.
Uma mão se envolveu em meu braço, silenciosamente me
advertindo - meu presidente, que tentava me acalmar. Eu me livrei dela,
dispensando o que inferno Pic estava tentando dizer enquanto eu me
lançava para frente, pegando o merdinha pela frente de sua camisa. Eu
o puxei selvagemente até o centro do salão. Um som abafado encheu
meus ouvidos e ao longe escutei a Mel gritar. Então meu punho se
conectou com seu rosto, uma doce dor rasgando entre as juntas dos
meus dedos enquanto o tempo parava.
Eu amo lutar.
Não apenas vencer, mas a onda de energia, a doçura da dor, e o
incrível foco que bate quando sua existência inteira se limita a um
momento de propósito terrível. É primitivo e lindo, e nunca foi tão bom
quanto o instante em que o novo namorado da Melanie caiu.
Eu o segui, socando seu rosto até virar hambúrguer e saboreando
a fonte de sangue explodindo de seu nariz. Era purificante pra caralho -
sua vida tinha acabado. Mais gritos cortaram a névoa de violência.
Isso mesmo, porra, ela deveria estar gritando. Ela deveria
estar com um medo do caralho.
— Seu babaca!
Eu sorri, porque vindo de Mel isso soou doce como o inferno. Ela
já me chamou de babaca de dez mil maneiras diferentes ao longo dos
anos, variando de um ódio enfurecido aos insultos sussurrados entre
beijos. Isso funcionava para mim, também. Eu era um completo babaca,
mas por apenas uma vez ela teria que engolir tudo e lidar com as
consequências.
Ela quebrou as malditas regras o trazendo aqui.
Nada de motoqueiros.
~ 7 ~
Simples, não? Uma condição que eu tinha dado a ela. Sem.
Fodidos. Motoqueiros. Tudo o que tinha a fazer era manter a bunda dela
longe do meu mundo, porque desde que eu não tivesse que ver ela
chupando o pau de outra pessoa, eu poderia fingir que aquilo não
estava acontecendo.
Não era um conceito complicado.
Braços vieram ao redor de mim, braços fortes me separando da
minha vítima antes que eu pudesse terminar de matá-lo. Então eu ouvi
a voz de Puck no meu ouvido.
Puck.
Meu melhor amigo. Puck, quem esteve cobrindo minhas costas
por um ano e meio na prisão. Eu confiava minha própria vida a ele, e eu
confiei nele agora. Eu deveria estar ouvindo, mas eu realmente,
realmente queria acabar com a vida deste fodido.
Eu me livrei de Puck, determinado a terminar com aquilo.
— Ele não vale a pena, mano, — disse Puck entre dentes. Melanie
ainda estava fazendo barulho. Entre nós, o maricas do seu namorado
gemeu e chorou, choramingando sobre como ele não queria
morrer. Sim, é melhor você implorar por sua vida, vadia. — Você o mata
aqui, você nunca mais verá sua filha novamente. Seja qual for a merda
entre você e a Mel, você tem que pensar na Izzy.
Porra. Respirei fundo, me forçando a acalmar enquanto eu estava
sobre o homem, olhando entre ele e Melanie.
Preciso me focar.
A imagem da minha linda bebê loirinha do cabelo bagunçado
passou pela minha cabeça. Izzy. Eu faria isso por Izzy. Corri a mão pelo
meu cabelo, segurando a ira ardente dentro de mim.
— Tire-o daqui, — eu finalmente consegui rosnar. Ninguém se
mexeu enquanto o homem rolava para o lado, choramingando como o
maricas que ele era. A bichinha não tinha sequer conseguido dar um
golpe. Uma parte distante de mim notou que ele usava couro com
patches da Harley Davidson, mas nada de MC. Quem ele pensava que
ele era vindo ao clube dos Silver Bastards? Isso não era um jogo. —
Tire-o daqui antes que eu o mate!
— Porra, — Horse murmurou, avançando para pegar o idiota
pelas axilas. Um caminho se abriu quando ele começou a arrastar o
~ 8 ~
homem para a porta. Melanie gritou comigo de novo, e eu me virei para
ela, a enfrentando. Era isso - eu tive o suficiente da sua merda. Ela
queria jogar? Perfeito, porque eu amava jogar, e ela sabia muito bem
que eu gostava de jogar duro.
Melanie estava prestes a ter um choque de realidade.
Picnic entrou na frente dela, os braços cruzados enquanto ele me
olhava.
— Não vai acontecer, filho.
— Não é da sua conta, — eu rosnei. Eu estava certo, também - e
daí que sua old lady amava a putinha? Ele tem se metido entre mim e
Melanie por muito tempo, e esta ceninha de hoje à noite não era da
conta clube. Melanie era minha para lidar. Não havia um homem na
sala que tinha o direito de dizer o contrário, incluindo o meu presidente.
— Foi ela quem veio aqui, — eu o lembrei.
— Eu nem mesmo sabia onde estávamos indo! — Melanie gritou
atrás dele. — Foi apenas um encontro, seu babaca!
Minha visão se encheu de vermelho novamente. Minha mandíbula
se apertou, e eu senti o cheiro do sangue em minhas mãos. — Ele é um
fodido motoqueiro. Você quebrou as regras, Mel. Venha aqui.
— Não vai acontecer, — disse Pic, com o rosto sombrio. — Eu não
vou lidar com isso esta noite. Painter, arraste sua bunda para
casa. Melanie, você vem comigo.
O ar ao nosso redor congelou. Os irmãos - Silver Bastards e os
Reapers – estiveram assistindo o tempo todo, mas agora havia uma
nova silenciosa intensidade no ar. Isto tinha acabado de ser apenas um
confronto entre mim e uma mulher a um embate entre dois membros de
pleno direito, e nós não costumávamos expor essa merda fora da sala
de reuniões. Pic pode ser o presidente, mas como eu disse, isso não era
da conta do clube.
Ele precisava se afastar. Agora.
De repente Mel o empurrou para fora do caminho, embora como
ela fez isso eu não tinha ideia - ela pesava talvez um centavo e meio, a
bruxinha.
— O que eu faço não é da sua maldita conta! — ela gritou.
~ 9 ~
Eu observei os olhos de Pic e ele deu de ombros, sabendo que
tinha sido dispensado. — Foda-se isso. Eu estou farto de vocês dois.
Já era hora. Eu dei à Mel um sorriso preguiçoso, saboreando o
momento em que ela percebeu o que tinha acabado de
acontecer. Poderíamos estar na casa de outro clube, mas os Silver
Bastards eram como irmãos para os Reapers. Pic havia falado porque
Mel era próxima de sua old lady, mas ele estava passando dos
limites. Se ela tivesse mantido a porra da boca fechada, ela poderia ter
saído daqui. Agora? Nem tanto.
— Eu vou te dar uma carona para casa, Mel, — eu disse, em uma
ameaça suave, apreciando o choque repentino em seu rosto. — Podemos
conversar quando chegarmos lá. Privacidade, sabe?
Ela olhou ao redor, os olhos arregalados. Ela conhecia metade dos
homens presentes esta noite, mas eles poderiam ser estranhos e nada
mudaria. Ruger. Gage. Horse. Puck. Todos olharam de volta para ela, os
olhos frios. Nenhum deles iria levantar um dedo para protegê-la - não
de mim.
— Porra... — ela sussurrou. Sim, aproveite seu choque de
realidade, baby.
— Talvez nós vamos fazer isso também, — eu disse, pensando na
buceta quente e doce dela. Não tinha sentido ela por anos agora, mas eu
ainda sonhava com ela todas as malditas noites.
Eu a alcancei, puxando-a em meus braços enquanto ela
gritava. Ninguém se mexeu. Segundos depois, eu a tinha sobre meu
ombro, levando-a noite afora. Suas mãos batiam em minhas costas, o
que era adorável, porque ela não tinha a menor chance.
A pequena Melanie estava toda crescidinha.
Eu passei cinco anos dançando o ritmo dela, mas essa merda
acabou. Na minha cabeça, ela tinha perdido sua liberdade no instante
em que ela jogou a perna por cima da moto de outro homem.
Agora tudo que eu tinha que fazer era por algum sentido nela.
~ 10 ~
Capítulo
01
CINCO ANOS ANTES
SOUTHERN CALIFORNIA, INSTITUIÇÃO CORRECIONAL
Caro Levi,
Sabe, um dia você devia realmente me contar como você iniciou o
seu trabalho artístico. Parece que eu compartilho tudo com você, mas você
nunca me disse nada real sobre si mesmo. É meio estranho. Eu continuo
pensando que eu deveria parar de escrever para você, porque não é como
se nós realmente nos conhecêssemos. (Eu ainda não entendo muito bem
por que você me emprestou seu carro por todo esse tempo, mas eu
realmente aprecio isso - eu me certifico que o óleo seja trocado e outras
coisas.) Então, alguma coisa acontece e eu me encontro querendo falar
com você sobre ela, daí eu escrevo novamente.
De qualquer forma, você não precisa escrever de volta se você não
quiser. Eu sei que você acha que eu sou apenas uma criança, mas eu
tenho vinte anos agora e eu já vivi minha própria merda.
Ok, eu tive que parar de escrever por um tempo. Jessica passou por
aqui - estamos procurando uma casa juntas esse semestre. (Hum, só
para você saber, ela me contou. Sobre você e ela, quero dizer. Ela disse
que não significou nada, mas eu não consigo evitar me perguntar se você
ainda pensa sobre ela assim.) Ela está indo muito bem, por falar
nisso. Acabamos de terminar o período escolar de verão, e ela conseguiu
uma pontuação de 3,00 GPA 1, o que meio que foi um arraso. Estou super
orgulhosa dela, porque ela tem dificuldades de aprendizagem, então não
é como se tivesse sido fácil. Tenho uma boa notícia, também - me
disseram hoje que eu estou recebendo uma bolsa de estudos integral das
mensalidades/livros, o que significa que eu posso usar o resto do meu
financiamento para viver. Eu não vou ter que trabalhar este ano, então eu
estou acumulando créditos. Se tudo der certo, eu vou me transferir para a
Universidade de Idaho, em janeiro, um semestre inteiro mais cedo!
Então... aconteceu algo que eu queria contar a você. Eu conheci um
1 Nos EUA a sigla GPA significa Grade Point Average, e se refere ao rendimento
estudantil do aluno. No caso, uma nota 4 = A, 3 = B, 2 = C, 1 = D e F = 0.)
~ 11 ~
cara. Ele é bonito, e nós fazemos aniversário no mesmo dia - não é
engraçado? Nós fomos a uma festa em uma casa no centro da cidade e
eles estavam cantando ‘Parabéns’ para ele e, em seguida, Jessica
começou a cantar ‘Parabéns’ para mim e as coisas meio que se
desenrolaram a partir daí. Nós já fomos em alguns encontros, e ele
acabou me perguntando se poderíamos ser exclusivos.
O que você acha sobre isso?
Quero dizer, você acha que um cara deveria estar pedindo
exclusividade depois de tão pouco tempo? Eu sei, eu provavelmente
deveria conversar com Loni sobre isso, mas ela se preocupa tanto o
tempo todo, e... de qualquer maneira... eu só queria saber a sua opinião.
Eu devo começar a namorar ele pra valer? Algum motivo porque
não deveria?
Melanie
PS – Obrigada pelo desenho que você enviou - quase parece como
se eu estive lá. Toda vez que vejo um de seus esboços eu fico louca. Eu
não consigo imaginar ser capaz de criar algo parecido.
Eu dobrei a carta com cuidado, e dei uma olhada pelo pátio. O ar
estava quente – realmente, perfeito - e eu pensei em Idaho, onde você
não poderia sentar do lado de fora desse jeito pela maior parte do ano.
A única coisa boa sobre a prisão era que eu não tinha congelado
minha bunda no inverno passado. As pessoas lá de casa aguardavam o
ano todo para tentar achar algum sol durante os meses frios, mas eu
consegui minhas =férias de imigração‘ de graça. Ao longe, Puck apareceu
para mim, caminhando aparentemente sem rumo. Eu sabia melhor. Ele
tinha merda para distribuir, e era meu trabalho cobrir suas costas e me
certificar que ninguém notasse nada enquanto ele fazia suas rondas.
Foi aí quando o Prince Fester dos Fuckwits correu ao meu
encontro, com um sorriso irônico.
— Você recebeu uma nova carta da Melanie? — ele perguntou, os
olhos brilhando. Dei de ombros, tentando ignorá-lo. Esse idiota era o
companheiro de cela meu e de Puck, e eu pensava seriamente em dar
um pé na bunda dele pelo menos duas vezes por dia.
— Ela mandou alguma foto? — ele perguntou, lambendo os
lábios. Eu lutei contra um grunhido.
~ 12 ~
— Cala a porra da boca. Se eu pegar você tocando na foto dela de
novo, eu vou matar você. Isso não é uma piada, Fester. Puck e eu já
planejamos exatamente como vamos fazer isso.
Seu sorriso desapareceu, seus sentimentos obviamente
feridos. Jesus me ajuda, apenas um pedacinho... isso é tudo que eu
quero. Apenas um golpe de faca para tirar sua língua. — Você não está
falando sério.
Eu não respondi, porque o homem tinha o cérebro de uma
criança de oito anos de idade. Um menino de oito anos viciado e
perigoso, que tinha cometido assalto à mão armada durante metade da
sua vida, mas confie em mim - ele tem uma séria deficiência na área de
QI. Puck sempre me dizia para ser paciente com ele, e eu tentava. De
verdade. Eu tentava pra caralho, mas às vezes levava tudo de mim para
não cortar sua língua de verdade.
— Então, eu tive uma ideia, — disse ele, se inclinando contra a
parede ao meu lado.
— Cala a boca e vai embora.
Ele franziu a testa. Eu o ignorei até que ele foi embora como um
cachorrinho chutado, mantendo os meus olhos em Puck enquanto ele
se desviava para um grupo de skinheads. Sempre achei isso
engraçado. Eles o chamavam de vira-lata por trás das costas, mas
quando ele tinha produto, eles estavam felizes em perdoar o Sr.
Redhouse por seus muitos pecados contra a raça ariana. Eu teria rido
se eu não estivesse tão ocupado em me certificar de que ninguém o
matasse.
Apenas mais duas semanas.
Mais duas semanas nesse buraco de merda, então eu estarei indo
para casa em Coeur d'Alene. Voltando para a minha moto e meu
clube. Meus irmãos.
Melanie.
A linda Melanie, dirigindo por aí no meu carro porque eu me
sentia culpado por deixá-la sozinha e sem meio de transporte aquela
última noite... Cristo, pensei que estaria emprestando a ela por alguns
dias, e agora que ela estava com ele por um ano. Ridículo, mas quem eu
estava enganando? Eu gostei da ideia dela no meu carro - dela
pensando em mim todos os dias. Dela me devendo uma.
Não é como se eu precisasse da maldita coisa na prisão.
~ 13 ~
Me abaixei, sentindo a carta no bolso, perguntando o que diabos
eu deveria dizer a ela sobre o idiota tentando entrar em suas
calças. Queria dizer que ela deveria dar o fora nele - ele não era bom o
suficiente para ela. Ela era muito jovem, muito afável, e muito bonita
para alguns filhos da puta de vinte e poucos anos querendo dar uma
gozada. Ele não se importava com ela também - ele só queria
transar. Todos eles são assim. Talvez ele desaparecesse algum dia,
embora comigo já se passaram cinco e eu ainda não desapareci.
Eu não tinha direito a uma opinião, no entanto. Ela mal me
conhecia. Havíamos passado talvez oito horas juntos no total, e acredite
em mim quando eu digo que não houve nenhum final feliz. Eu lhe dei
uma carona para casa, assisti a um filme com ela. A levei para jantar
para tirá-la do caminho do clube - não foi nem mesmo um jantar
particularmente agradável, não como ela merecia. Ela não era nada
para mim.
Puta que pariu.
Puck olhou na minha direção, dando um aceno com seu
queixo. Negócio feito. Eu me afastei da parede, andando lentamente em
direção a ele. Fester tentou me seguir, mas eu o cortei com um olhar
estreito. Apenas outro dia, exatamente como todos os outros que eu
passei aqui nos últimos treze meses.
Só que não era.
Hoje eu descobri que algum pentelho estava farejando sobre a
Mellie, e não havia uma maldita coisa que eu pudesse fazer sobre
isso. Por tudo que eu sabia que ele estava fodendo ela agora, dizendo a
ela o quanto ele a amava.
Jesus.
Ela provavelmente se apaixonaria por ele também.
Mel,
Você sabe, eu escrevo essas fodidas cartas para você, mas elas
são falsas. Eu pergunto sobre seus amigos e sua escola e se você está
conhecendo pessoas. É baboseira, Mel.
Aqui está a minha realidade.
~ 14 ~
Ontem eu esfaqueei alguém antes que ele pudesse me
esfaquear. Puck e eu vendemos alguma merda para um grupo de
supremacistas brancos e que se viraram e venderam a mesma maldita
coisa para alguns mexicanos. Tivemos pudim com o nosso jantar para a
sobremesa.
Então eu me masturbei três vezes pensando em você.
Esses são os pontos altos. Como um conto de fadas, certo?
Me lembrar de você me faz continuar, o que não faz a porra de
sentido nenhum. Eu mal toquei em você. Eu ainda penso sobre como você
cheirava quando se sentou ao meu lado no sofá, no entanto. Você era
apenas esta coisinha e você estremeceu debaixo do meu braço. Eu sabia
que você estava com medo do filme e eu poderia ter escolhido outra coisa,
mas eu queria uma desculpa para te abraçar.
Foi quando eu comecei a pensar seriamente sobre nós trepando.
Eu tive a visão de empurrar você de cara nas almofadas, em
seguida, arrancar o sua calça jeans e empurrar tão profundo que você
sentiria isso no fundo da sua garganta. Esse é o tipo de cara que eu sou,
Mel, e é por isso que você deve ficar longe de mim.
Me dê a chance, e eu vou te prender embaixo de mim e continuar
bombeando, não importa o quão duro você tente fugir. Eu sonho com isso
toda noite, eu bato uma com isso, e hoje eu pensei seriamente em matar
um homem porque ele tem as mesmas fantasias sobre você que eu
tenho. Naquela primeira noite, eu prometi a London que eu não tocaria em
você, mas meu pau já estava duro por horas. Ainda bem que ela
apareceu naquela hora – ela salvou a sua bunda. Não foi uma sorte?
Quando eu te levei para jantar, eu ia ser bom. Eu tentei ser bom. Eu
sabia que você não entendeu por que eu te chamei para sair ou o que
aquilo significava. Eles precisavam de você fora do caminho, Mel. Esse
era meu trabalho – te manter ocupada. E eu prometi a London que eu não
jogaria merda em você, mas ela estava mentindo para nós o tempo todo e
eu ficava me perguntando se isso significava que a minha promessa não
contava mais.
Tenho a maldita certeza de que não tem contado faz tempo.
Você estava falando e sorrindo e corando. Meu pau estava tão duro
que quase quebrou ao meio quando tentei me levantar. Levou tudo que eu
tinha para não jogá-la na minha moto e fugir com você... eu quero te
amarrar e gozar em sua bunda e enfiar meu pau garganta abaixo até
~ 15 ~
você engasgar. Eu quero seu cabelo em pequenas marias-chiquinhas de
menininha para que eu possa segurar firme enquanto eu foder a sua
cara. Eu quero que você chore e grite e me dê tudo. Eu quero POSSUIR
você, porra. Como é a realidade disso, Mel? Você ainda quer o meu
conselho sobre meninos?
Estarei voltando para casa em breve. Você deveria fugir enquanto
você ainda pode, Mel. Eu vou te deixar suja, tão suja que você nunca vai
ficar limpa novamente. Eu vou fazer você me pagar de volta da maneira
mais difícil. Você acha que você está crescidinha, mas você não está. Há
tanta coisa que eu poderia te ensinar... fazer com você. Jesus, se você
soubesse, você nunca escreveria para mim novamente.
Você deve se mudar para o Alasca.
Mudar o seu nome.
Boa sorte, no entanto, porque eu vou encontrá-la e tomá-la e-
Puta que pariu.
Eu soltei meu lápis, me perguntando por que eu pensei que esta
era uma boa ideia. Eu não iria enviar isso, é claro. Eu lhe enviaria
alguma pequena nota amigável e diria que ela deveria estar namorando
e se divertindo. Mas uma parte de mim pensava que escrever meus
verdadeiros pensamentos poderia acabar com minha obsessão. Em vez
disso, meu pau estava como uma rocha. Mais uma vez.
Ainda.
Sempre.
Eu comecei a rasgar o papel em pedacinhos, porque de forma
alguma eu queria que Fester lesse essa porra. Ele sempre vasculhava
nosso lixo como um rato. Puck não precisava ver isso, tampouco. Ele
era meu irmão - melhor irmão que eu poderia ter, e ele provou isso em
milhares de formas, desde que nos prenderam - mas maldito seja se ele
precisava saber quão pau-mandado eu tinha me tornado.
Certo... a quem eu estava enganando?
Puck provavelmente estava rindo pra caralho sobre isso agora.
Eu peguei outro pedaço de papel, pensando que eu deveria
escrever a ela uma carta de verdade. Parabenizá-la quanto às suas
notas e, em seguida, dizer que ela deveria encontrar um namorado
~ 16 ~
decente. As palavras não vieram, no entanto. Estava ocupado demais
pensando em seus lábios, eu acho. Eles eram redondos e
cheios. Criados por Deus expressamente para chupar um pau. O meu
pau. Logo em seguida, ele passou de dolorosamente duro para um pilar
de concreto em minhas calças, desesperado por alguma ação.
— Eu te desenhei algo, — Fester disse, me oferecendo um sorriso
bobo de seu beliche. Ele ergueu um pedaço de papel coberto de laranja
brilhante e lápis vermelho. O vermelho era sangue escorrendo da figura
dos corpos que ele tinha desenhado. Eu não tinha nenhuma fodida
ideia do que as espirais de laranja deveriam ser. Talvez as vozes em sua
cabeça?
Ele gostava de falar sobre sua arte comigo, como se tivéssemos
algo em comum. Às vezes eu quase podia ver de onde ele estava
vindo. Pensamento assustador da porra.
— Deixe meu irmão em paz, — disse Puck à Fester, sua voz
dura. Ele já estava deitado para a noite, lendo algum livro de
história. Atiradores da Segunda Guerra Mundial - ele amava essa
merda. — As luzes serão apagadas logo de qualquer maneira. Larguem
seus lápis e vão para a cama, filhos da puta.
Fester riu, e eu permaneci dolorido. Meu beliche estava há apenas
três passos de distância, mas cada passo era uma dor pior do que a
última. Senti que meu pau poderia se dividir ao meio, havia muito
sangue preso lá dentro. Desabei em minhas costas, esperando que as
luzes apagassem.
Isso é quando eu me masturbo.
Mais uma vez.
Todos nós fazemos isso.
Melhor Fester não gozar nas minhas fotos da Mel. Eu
realmente iria matá-lo. As luzes se apagaram com um ruído
ensurdecedor, como algo saído de um filme. Nunca entendi isso - o
apertar um botão não deveria ser tão alto.
Sinistro.
Segundos depois, minhas mãos estavam em minhas calças,
empurrando-as para baixo quando eu levantei meus quadris. Meu pau
saltou livre e eu me perguntei pela milésima vez como eu seria capaz de
manter minhas mãos longe dela quando chegasse em casa.
~ 17 ~
Fester grunhiu na escuridão enquanto eu pegava o meu pau.
Cristo.
Mais duas semanas.
Se eu tivesse algum tipo de decência, eu a deixaria em
paz. Sim. Eu poderia fazer isto. Eu provavelmente já imaginei o quão
linda ela era de qualquer forma. Os homens constroem todos os tipos de
fantasias loucas interiormente - sempre caindo na merda quando eles
voltam à realidade. Mel era apenas mais uma vadia, uma com muita
bagagem. E eu não queria ela realmente. Com certeza não precisava
dela.
Certo. Quem diabos eu estava enganando?
~ 18 ~
Capítulo
02
UM MÊS DEPOIS
COEUR D'ALENE
MELANIE
— Então, ele nunca ligou para você? — Kit perguntou, os olhos
arregalados. — Quero dizer, eu entendo que os caras podem ser
confusos, mas emprestar o carro dele para você pela porra de
um ano, te escrever toneladas de cartas da prisão e depois pedir para
você devolver as chaves ao meu pai para que ele não precisasse ver
você? Isso é bizarro.
— Eu não quero falar sobre isso, — eu murmurei, lançando um
olhar de morte através da mesa para Jessica, a traidora. Minha melhor
amiga prestes-a-se-formar parecia profundamente despreocupada com
o fato de que ela tinha me traído.
Piranha.
— Eu não culpo você, — Em anunciou, estendendo a mão para a
garrafa de vinho. — Eu não gosto de falar sobre Painter, tampouco. Ele
fodeu com a minha cabeça por muito tempo. Eu tinha a maior queda
por ele quando ele era um prospecto.
— Você o deixou mexer com você, — disse Kit, o copo na frente de
Em para que ela reabastecesse. Em deu um tapa na mão dela, e de
repente as irmãs estavam brigando pela garrafa como crianças do
jardim de infância brigavam por um cookie.
Olhei para Jessica me perguntando como a nossa tarde de sexta-
feira tinha se transformado em uma festa de bebedeira aleatória com
duas mulheres que eu mal conhecia, porque Kit e Emmy Hayes eram
meio doidas. Jess me deu um encolher de ombros tipo =não olhe para
mim‘ antes de beber o seu próprio copo de vinho. Estendi a mão para
pegar alguns biscoitos da bandejinha redonda de queijo/carne que Em
trouxe quando ela apareceu em nossa casa do nada. (Kit tinha sido
encarregado da bebida).
~ 19 ~
— Ha! — Em comemorou, levantando a garrafa triunfante. —
Chupa essa, Kit. De volta aos negócios - nós temos que descobrir a
coisa perfeita para a festa de despedida de solteira de London. Até agora
nós temos uma noite para dançar e strippers surpresa.
— Eu não acho que Reese vai gostar dela com strippers, — eu
murmurei, derrubando algumas migalhas porque eu tinha esquecido do
biscoito que tinha acabado de colocar em minha boca. Eca. Peguei meu
copo de água, bebendo avidamente. Fogo líquido se derramou na minha
garganta. Engasguei e, em seguida, Jess bateu nas minhas costas
enquanto todas olhavam para mim. Lentamente, eu recuperei minha
respiração, sabendo que meu rosto devia estar vermelho como uma
beterraba.
— Isso era vodca pura, — eu engasguei, olhando para o copo de
plástico verde. Eu tinha pego o copo de Kit no lugar do meu -
obviamente ela não era das que bebiam apenas água.
— Eu sei, — disse Kit, balançando a cabeça seriamente. — É mais
eficiente dessa forma.
— Então você está misturando vodka com seu vinho? —
perguntou Em.
— Não, eu estou misturando vinho com minha vodka, — Kit
explicou. — Economiza tempo. Falar sobre papai se casando novamente
é estranho - a bebida ajuda.
Me recostei na minha cadeira, olhando entre as duas irmãs,
ponderando a situação. Jessica e eu acabamos de nos mudar pra cá há
uma semana. Nosso novo apartamento era na realidade um dos lados
de uma construção mais antiga, uma casa histórica no centro da
cidade. O lugar estava caindo aos pedaços, e mais cedo ou mais tarde
alguém iria derrubá-lo e construir algo moderno e espetacular. Até
então, ela havia sido dividida em quatro apartamentos - dois no subsolo
e dois dividindo a casa ao meio, no estilo casa geminada.
Eu amei.
Nós temos uma varanda gigante na parte frente, e havia uma
porta ao lado da cozinha que dava para um jardim sombreado cercado
~ 20 ~
por árvores. Nós encontramos um velho carretel de madeira 2 em uma
caçamba para usar como uma mesa de piquenique. E é aí onde nós
estávamos agora - aglomeradas em torno dela, sentadas em velhas
cadeiras de acampamento. Conveniente, visto que ainda não
possuíamos uma mesa para a sala de jantar. Talvez a gente leve ela
para dentro de casa quando o tempo esfriar... assim como a nossa nova
casa, consideramos a mesa uma conquista enorme. London - a tia de
Jessica, que criou e me acolheu, também - e seu old man, Reese Hayes,
insistiram que o lugar era uma merda.
Tecnicamente, eles provavelmente estavam certos.
A casa tinha cem anos de idade, pelo menos, com a pintura
descascada e um declive no telhado da varanda tão perturbador que eu
fiz uma decisão consciente de não pensar muito sobre isso -
especialmente desde que o meu quarto (um antigo alpendre que tinha
sido fechado) estava logo acima da estrutura frágil. A água quente
estava disponível por apenas metade do tempo normal, e se tornava
super fria caso alguém abrisse uma torneira em qualquer lugar na casa
durante o banho. As paredes eram finas, tão finas que mal podiam
segurar os preguinhos que usávamos para pendurar os pôsteres, e a
geladeira fazia um chiado tão assustador que soava como a respiração
fria de um assassino durante noite. (Não que eu já tivesse escutado a
respiração fria de um assassino durante noite, mas eu tinha uma
imaginação fértil).
Mas ainda era nosso, apesar de tudo.
A nossa primeira casa de verdade como adultas.
Nós tínhamos bons vizinhos em sua maior parte, também. Na
outra metade da casa morava três rapazes que estudaram na Faculdade
de North Idaho, assim como nós. Eles eram barulhentos e mal
educados, mas até agora estavam dispostos a dividir a grelha que eles
tinham na varanda, e eles mataram uma cobra para a menina que mora
em um dos apartamentos do subsolo. No segundo apartamento no
andar de baixo morava um cara que parecia ser um pouco mais
desajustado que o resto de nós. Jessica achava que ele poderia ser um
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~ 21 ~
traficante de drogas. Eu odiava julgar, mas nós estávamos aqui há uma
semana agora e eu nunca tinha visto alguém ter tanta companhia indo
e vindo tarde da noite - havia carros parando para visitas rápidas até as
duas ou três horas todas as manhãs.
Nós tínhamos decidido não contar à Reese - ele provavelmente
mataria o cara... bem, menos se ele estivesse na folha de pagamento do
Reapers MC ou algo assim. Reese era o presidente do clube MC, e eu
nunca tinha entendido totalmente o que ele fazia para viver.
Às vezes é melhor não saber.
Kit e Em eram suas filhas, e, aparentemente, agora elas eram
nossas novas melhores amigas. Jess tinha mencionado que elas
estariam na cidade - os Reapers estavam tendo algum tipo de grande
festa para o Dia do Trabalho, e as pessoas viriam de Washington,
Oregon, Idaho e Montana para as festividades. Elas até nos convidaram,
por causa de London... mas o que diabos nós éramos dela, afinal?
Jessica era sobrinha de London, o que a fazia parte da sua
família. Eu tenho sido amiga de Jessica durante anos e London tinha
me criado por metade da minha vida, então eu acho que de alguma
forma eu era parte da família também.
Não havia um nome rápido e fácil para uma configuração como a
nossa, embora isso não a tornasse menos substancial. Isso realmente
meu bateu quando Loni me pediu para ser uma das suas damas de
honra. Agora que ela tinha se juntado com o presidente dos Reapers
MC, eu percebi que isso significava que o clube de alguma forma agora
fazia parte do nosso mundo. Mesmo sob outras circunstâncias, eu
realmente poderia ter considerado ir a essa festa. No entanto, eu não
podia ir - Jess odiava o clube e ela se recusava totalmente a visitá-
lo. Alguma coisa ruim aconteceu com ela lá no ano passado. Eu não
tinha certeza sobre os detalhes, e eu não me importava, tampouco. Se
ela não queria ir, então eu não queria ir também. Nós simplesmente
ficaríamos em casa e adiantaríamos nossa lição de casa enquanto todos
eles festejavam. Ou, pelo menos, era nosso plano antes de Kit, Em e sua
bebida aparecessem do nada para falar sobre planos para festa de
despedida de solteira.
— Ok, nós estamos completamente fora de sintonia aqui, — disse
Jessica. Eu pisquei para ela, sentindo o mundo ao meu redor girar um
pouquinho. Aquele último gole de vodka me bateu forte. — Será que
London quer uma festa de despedida de solteira? Eu simplesmente não
consigo vê-la gostando de algo assim.
~ 22 ~
— Toda mulher quer uma festa de despedida de solteira, — Kit
falou. — E nós vamos fazer isso direito. Eu admito - eu não estava
concordando com eles juntos no início. Ainda fico injuriada pensando
que ela está dormindo com o meu pai, noite após noite...
— Antes ela do que as meninas aleatórias que ele costumava levar
para casa, — disse Em, franzindo o nariz. — Metade delas eram mais
novas do que eu. Uma vez ele até mesmo fodeu uma menina vestida de
cenoura. London é um grande passo à frente.
Jess e eu nos entreolhamos. Cenoura?
Pergunte a ela sobre a cenoura! Eu murmurei para Jess.
De jeito nenhum, ela murmurou de volta, os olhos arregalados.
— Ok, então eu posso ver duas maneiras de fazer isso, —
declarou Kit. — Nós podemos fazer o que for preciso para fazer London
feliz ou podemos fazer o que for preciso para fazer a cabeça do papai
explodir, o que me faria feliz. Então, eu voto por explodir a cabeça dele.
— A chave é planejar algo que ela vá gostar e que ainda vá fazer a
cabeça dele explodir, — eu declarei, caindo no espírito da coisa. —
Deveríamos trazer alguns strippers para ela e, em seguida, mandar
fotos deles se esfregando nela para ele.
— Podemos usar A Linha? — Jessica perguntou intrigada. A
Linha era um clube de strip de propriedade dos Reapers. Eu tinha
passado de carro em frente a ele, mas nunca entrei.
— É uma opção, — disse Kit. — Eles não vão querer fechá-lo e
perder dinheiro, mas talvez nós possamos pedir uma programação
especial para uma noite das mulheres. Eu sei que eles fizeram isso
antes. Dessa forma, eles ainda fazem algum dinheiro, podemos fazer
uma festa para London, e a cabeça do papai vai explodir. Todo mundo
sai ganhando.
Me levantei devagar, cambaleando.
— Preciso fazer xixi, — falei gravemente, mais bêbada do que eu
imaginava. Deveria ter comido mais biscoitos..., exceto que o último
tinha tentado me matar. Bastardinhos sorrateiros.
— Você precisa de ajuda? — perguntou Jess, e eu comecei a rir
da sua piada, porque é claro que eu não precisava de ajuda. O que ela
pensava que eu era, uma criança da pré-escola? Ninguém mais riu,
embora, e eu percebi que ela estava falando sério. Isso foi ainda mais
~ 23 ~
engraçado, então eu comecei a gargalhar ainda mais. Tão forte que eu
caí, derrubando todas também.
— Você tem certeza que não precisa de ajuda? — perguntou
Kit. Eu balancei a cabeça, o que me deixou tonta novamente.
— Não, eu acho que posso lidar com isso.
* * *
Foi preciso muito mais tempo para terminar do que eu esperava,
principalmente porque eu acidentalmente tranquei a porta do banheiro
por dentro, então não consegui descobrir como destrancá-la.
Eu realmente precisava parar de beber do copo de Kit.
— Então tudo o que ele fez foi olhar para ela e dizer 'ei', — Jess
estava dizendo a elas quando voltei. Merda. Ela estava falando sobre
Painter novamente, possivelmente o meu assunto menos favorito do
mundo.
Ele tinha voltado da cadeia há duas semanas agora. Eu esperava
que ele me ligasse. Em vez disso, eu recebi uma mensagem texto de
Reese me dizendo para deixar o carro e as chaves na casa dele, e em
então, nada. Não que eu achasse que Painter me devia algo - é claro que
ele não devia - mas eu queria pelo menos o agradecer. (Ok, isso não é
verdade - eu queria pular em cima dele, porque eu tinha uma grande
queda por ele, mas eu também tinha alguma dignidade Eu teria
resolvido tudo com um breve =obrigada‘ e talvez fizesse alguns cookies
pra ele).
— Vamos falar sobre outra coisa, — eu declarei.
— Não, eu quero ouvir isso, — disse Kit, pronunciando as
palavras dela ligeiramente. — Você me distraiu antes, mas agora que
temos a coisa toda dos strippers resolvida, podemos nos concentrar.
Eu suspirei, me perguntando se eu poderia simplesmente
estrangular Jessica. Não, provavelmente não. Ela não era muito grande,
mas era magra e anormalmente forte. Isso não terminaria bem para
mim. Poderia muito bem me render ao inevitável e contar tudo pra elas.
~ 24 ~
— Então, eu conheci Painter no ano passado, — eu comecei,
franzindo a testa. Eu realmente não queria falar sobre isso. — Quer
saber? Estou com fome. Vamos pedir uma pizza.
— Nós vamos deixar você comer assim que contar a história toda,
— disse Kit, farejando sangue. — Cuspa. Eu quero ouvir tudo.
Que saco. Eu nem mesmo conhecia as filhas de Reese Hayes
muito bem - nós só tínhamos nos encontrado algumas vezes antes de
hoje, nos feriados. Eu já me sentia como uma intrusa na casa de Reese,
e com suas filhas lá, tinha sido pior. No Natal do ano passado, eu me
retirei logo depois do jantar para o meu dormitório, inventando uma
história estúpida sobre ter me voluntariado em algum lugar apenas
para me afastar.
— Então eu conheci Painter ano passado, — eu comecei de
novo. — O vi apenas algumas vezes, na verdade. Então, ele foi para a
prisão e eu comecei a escrever cartas.
— Eu disse a ela que era uma má ideia, — disse Jessica
piedosamente. — Ele não é um cara legal, apesar da coisa toda de
emprestar o carro dele.
— Isso é verdade, — Em entrou na conversa. — Ele não é nada
legal.
— Vocês querem ouvir a história ou não? — perguntei, enchendo
minha taça de vinho. Pensar em Painter estava acabando com minha
diversão. Não deveria fazer isso.
— Conte a história, — disse Kit, estreitando os olhos.
— Então, quando ele foi embora para a Califórnia, ele me deixou
com o carro dele - que supostamente era apenas por uns dias. Então ele
foi preso e disse a Reese que eu poderia continuar usando o carro. Eu
escrevi para agradecê-lo, e eu acho que eu apenas comecei daí, — eu
disse. — As cartas de Painter eram tão doces, mesmo que eu só o
tivesse encontrado algumas vezes antes dele ser preso. Ele nem mesmo
me tratou como uma garota, não de verdade. Mas ele foi tão...
protetor. Eu me senti estúpida ao escrever para ele no começo, mas
quando ele continuou a escrever de volta, eu me senti especial. Então,
um dia - logo antes deles libertarem ele - eu recebi uma carta dele
dizendo que era estranho eu não ter um namorado, e que talvez eu
devesse ir a mais encontros. Eu senti como se tivesse levado um chute
no estômago. Eu acho que me enganei sobre o quão grande a minha
paixonite por ele era.
~ 25 ~
— Eu tentei avisá-la, — disse Jessica tristemente. — Ela não me
escutou.
— Elas nunca escutam, — Kit respondeu, sua voz cheia de
sabedoria triste. — Eu juro, se as pessoas simplesmente seguissem as
minhas instruções, elas seriam muito mais felizes.
Olhei de relance para Em, que revirou os olhos.
— Poderia muito bem cuspir o resto da história, — Jess
ordenou. Eu suspirei.
— Ok, então depois disso eu nunca mais ouvi falar dele
novamente - ele não me ligou quando ele voltou para a
cidade. Nada. Então nós nos mudamos para cá na semana passada e
Reese apareceu com alguns dos caras do clube para nos ajudar...
As palavras sumiram enquanto eu me lembrava. Foi tão
humilhante. Reese e Loni apareceram com uma grande caminhonete, e
logo atrás deles estava Painter, montando sua moto, juntamente com
alguns outros motoqueiros, caras jovens não muito mais velhos do que
eu. Eu assisti - hipnotizada – quando ele cuidadosamente estacionou
sua Harley no lugar, em seguida, cruzou uma perna sobre o assento,
procurando o meu olhar.
Ele estava mais bonito do que eu me lembrava.
Maior, também. Eu acho que ele passou algum tempo levantando
peso na prisão. Seu cabelo tinha crescido um pouco. Quando eu o
conheci, seu cabelo era curto e espetado, e um loiro tão descolorido que
machucava os olhos. Ele ainda não era longo, mas não era mais o
branco descolorido brilhante. Era desgrenhado. Natural. Suas maçãs do
rosto estavam definidas, seus traços esculpidos e mais fortes do que eu
me lembrava, e havia algo assustador em seus olhos azuis pálidos.
Ele não estava olhando para mim - ele estava olhando através de
mim. Até aquele momento eu tinha a esperança de que ele estava
apenas ocupado ou algo assim. O quão estúpido foi isso?
— Tudo o que ele disse foi =hey‘, — eu disse às meninas. — Como
se eu fosse uma estranha, e era óbvio que ele não queria
conversar. Apenas assentiu com cabeça quando eu o agradeci e fui
embora. Ele ajudou a carregar as nossas coisas, mas eu juro, ele foi
mais amigável com Jessica do que comigo.
Essa parte particularmente me machucou, porque eu sabia o
segredo deles. Jessica e Painter tinham dormido juntos. Ou brincaram
~ 26 ~
por aí. Tanto faz. Ela nunca me deu todos os detalhes, mas eu sabia que
os lábios dela tinham estado em contato com o pau dele em algum
ponto, logo antes dela ter resolvido a merda dela e se estabelecido.
— Mellie, isso não quer dizer nada, — minha melhor amiga disse
suavemente. — Você sabe que ele não está interessado em mim.
— Em você? — Kit perguntou, sua voz afiada. — Eu pensei que o
problema era entre ele e Melanie?
Minha boca se fechou, porque não era a minha história para
contar.
— Eu costumava ser selvagem, — disse Jess, respirando fundo. —
No ano passado eu fiquei bêbada e fui ao Arsenal para uma festa. Eu
transei com Painter e outro cara chamado Banks. Então London
apareceu e me arrastou para fora e um monte de outras merdas
aconteceram.
— Uau, — Em disse, os olhos arregalados. — Ele não deve gostar
muito de você, Jessica. Ele nunca dorme com as garotas que ele
realmente gosta.
Eu fiquei boquiaberta quando Kit se inclinou e bateu na cabeça
dela.
— Isso é uma coisa de merda a se dizer, — ela retrucou. Meu
peito estava apertado - Jess já tinha tido o suficiente, ela não precisava
ouvir coisas assim.
— Ei, não é minha culpa que ele tem um complexo Madonna-
prostituta 3, — Em protestou.
— Cala a boca! — Kit assobiou. — Jesus, Em, o que diabos está
errado com você?
— Está tudo bem, — disse Jess, balançando a mão para elas. —
Eu sinto muito, mas apenas o pensamento da coisa toda é tão
ridícula. Acredite em mim - eu não dou a mínima se Painter gosta de
mim ou não. É só que... ele não fode as meninas que ele gosta? O que
infernos há de errado com ele?
3 Na literatura psicanalítica, o complexo de Madonna-prostituta é a incapacidade de
manter a excitação sexual dentro de uma relação de compromisso, amoroso. Este
complexo psicológico é dito se desenvolver em homens que veem as mulheres como a
Santa Madonna ou prostitutas degradadas).
~ 27 ~
— Quanto tempo você tem? — perguntou Em, séria. — Pode
demorar um pouco para esclarecer tudo.
Eu levantei a mão.
— Eu tenho o direito de votar?
— Não, — disse Kit. — Em, conte a história curta e suja.
— Eu passei mais de um ano correndo atrás de Painter, — disse
Em. — Ele estava afim de mim - todo mundo dizia que ele estava. Mas o
clube sempre veio em primeiro lugar, e é como se ele esperasse que eu
fosse algum tipo de perfeitinha, um anjo precioso enquanto ele fodia por
as prostitutas do clube. Finalmente eu me cansei dele e fugi com
Hunter.
— Sério? — perguntei. Ela corou.
— Ok, é um pouco mais complicado do que isso, — ela admitiu. —
Mas definitivamente havia algo entre nós, mas ele nunca saiu da sua
própria bunda e fez algo sobre isso. O cara tem problemas.
— O problema de Painter é que ele gosta da ideia de um
relacionamento, mas ele é muito covarde para prosseguir, — disse Kit,
rindo.
— Não, o problema de Painter é que ele é complicado, — disse
Jess, sua voz mais grave. — Eu diria que ele era um completo idiota,
mas ele ajudou a salvar a minha vida no verão passado. Ele acabou na
prisão por causa disso. Isso não muda a realidade, embora - Painter é
um cara bom para se ter por perto se sua vida está em perigo e você
precisa de alguém para salvá-la. Mas algo além disso? Ele não é um dos
bons, Mel. Você não deve falar com ele, porque ele é perigoso. Todos eles
são.
Kit e Em tinha ficado quietas - agora que o nível de estranheza
tinha mudado de direção.
— Você percebeu que está falando sobre meu pai e o old man da
Em, também? — Kit perguntou gentilmente. Jess encarou sua olhadela
de cabeça erguida.
— Eu acho que sei o que estou falando, — ela respondeu, sua voz
dura. — Melanie deveria ficar bem longe dele.
— Algum dia você vai ter que me contar toda essa história, — eu
finalmente disse, minha voz macia. Jess ofereceu um sorriso triste.
~ 28 ~
— O clube me salvou, — disse ela novamente. — Eles podem fazer
coisas boas, Mel. Só não deixe que te enganem e te façam pensar que o
mundo deles é um bom lugar, porque não é. Coisas ruins acontecem lá.
O silêncio caiu sobre o grupo enquanto nós contemplávamos suas
palavras.
— Nós deveríamos beber mais, — Kit anunciou de repente. — E
onde está a música? Como você pode planejar uma festa de despedida
de solteira sem música?
— Boa ideia, — disse Jess, claramente aliviada por mudar de
assunto. — Eu vou colocar algo. — ela se levantou, atravessando a
metade grama/metade sujeira que era nosso quintal em direção à
varanda da cozinha. Em e Kit olharam para ela.
— Ela está bem? — perguntou Em.
— Ela sempre está bem. Jess tem muita coisa acontecendo, mas
ela tem tocado a vida. Ela é durona.
— Porra, — Kit explodiu.
— O quê?
— Estamos sem álcool, — anunciou ela, tristemente virando a
garrafa de vinho de cabeça para baixo. Seu copo de vodca estava vazio
também. — O que vamos fazer agora?
— Nós vamos conseguir mais, — disse Em. — Só que eu estou
muito bêbada para dirigir... porra, o que vamos fazer agora?
— Isso é um problema, — respondeu Kit. — Um grande problema.
— Nós poderíamos parar de beber, — eu apontei. Ambas as irmãs
me encararam sem expressão. — Ok, nós poderíamos caminhar até o
Peterson‘s e comprar um pouco mais. É apenas seis quarteirões daqui.
— Eu gostei disso, — disse Kit, séria. — Ela é uma pensadora.
~ 29 ~
— Aham. Nós deveríamos mantê-la, — disse Em. — Então, quem
está vindo junto? Eu quero alguns salgadinhos. E talvez um pouco
daquele merda de queijo de apertar que vem na latinha 4.
Kit franziu os lábios. — Isso é nojento. Você vai morrer comendo
aquilo.
— Você vai morrer de comer pau, — Em zombou de volta para ela.
— Você só está com inveja porque eu tenho alguma variedade na
minha vida, — disse Kit, despreocupada. Ela olhou para mim. — Você é
virgem? Em era virgem quando ela ficou com Hunter. Ela nem mesmo
percebeu que há outros paus por aí. Pelo que sabemos, ele tem dez
centímetros de pau. Nunca se acomode, Mel.
Eu ri.
— Eu vou manter isso em mente.
* * *
— Podemos precisar de um pouco disso, — disse Kit, levantando
uma embalagem de salsichão do refrigerador, pensativa. A coisa tinha
que ter cinquenta centímetros de comprimento, e uns bons oito
centímetros de espessura.
— Quem sou eu para julgar, — Em respondeu
cuidadosamente. — Mas isso não parece muito higiênico para mim. Eu
acho que você deveria simplesmente comprar um vibrador.
Engoli em seco, olhando em volta para ver se alguém nos
escutou. Estávamos em pé no corredor de carne. O Peterson‘s não
vendia bebidas alcoólicas fortes, mas nós tínhamos um carregamento
de vinho, juntamente com algumas frutas frescas para fazer
sangria. Por que precisávamos de sangria. Por que nós precisávamos de
sangria eu não estava totalmente certa, mas Kit tinha sido
4
~ 30 ~
insistente. Ela ficou rolando um limão cuidadosamente entre os dedos e
murmurando algo sobre escorbuto.
Claramente, as irmãs Hayes eram loucas de pedra.
— Vamos apenas pegar alguns salgadinhos e ir embora, — eu
disse, começando a me preocupar com o com o valor da conta. Eu tinha
conseguido auxílio financeiro suficiente para que eu não tivesse que
trabalhar neste semestre, mas apenas se eu economizasse nas minhas
contas. — Se você realmente quer uma rola de carne, eu tenho certeza
que você pode encontrar um cara que compartilhe o dele com você
gratuitamente lá no Ironhorse.
Jess ficou boquiaberta para mim.
— Melanie, você realmente disse isso?
— O quê? — perguntei. — Você parece pensar que eu sou algum
tipo de virgem amedrontada. Eu não sou - eu apenas me preocupo mais
com a faculdade e com o meu futuro do que com transar. Não significa
que eu sou uma puritana.
— É claro que ela não é uma puritana, — declarou Kit, jogando
seu braço sobre meu ombro com orgulho. — E esta noite nós vamos
mostrar a Painter o que ele está perdendo por ser um maricas
chorão. Alguns irmãos de Hunter de Portland estão na cidade - eu vou
apresentar você a eles. Você vai se divertir. Painter pode sentar e assistir
se ele não vai dar nenhum passo.
— Nós não vamos à festa, — eu disse a ela. Kit balançou a cabeça
lentamente.
— Não, você definitivamente vai, — disse ela. — Alguém tem que
colocá-lo em seu lugar.
Jessica e eu olhamos uma para a outra de olhos arregalados. Ela
balançou a cabeça para mim, murmurando, Não faça isso!
— Eu realmente tenho um monte de coisas para estudar...
— Você vai à festa, — Kit repetiu, os olhos ficando duros. — Não
se preocupe - não vamos te deixar na mão. Mas essa merda precisa
acabar. Eu não vou deixar outra garota ficar presa àquele panaca
durante anos só porque ele quer. Lidar com a situação de Em já era
ruim o suficiente. A garota era inútil. Totalmente inútil.
— Eu estou bem aqui, — Em apontou.
~ 31 ~
— Eu estou ciente disso, — Kit respondeu, seu tom de repente
suave. — Você sabe o quanto eu te amo, mana. Agora devolva a minha
salsicha.
* * *
Duas horas mais tarde, eu ainda não tinha certeza de como eu
acabei olhando para mim mesma no espelho, tentando descobrir o que
vestir. Eu não queria ir à festa, mas eu estava aqui, me ajeitando e
arrumando, sentindo vontade de vomitar cada vez que eu imaginava
encontrar Levi =Painter‘ Brooks em sua própria casa.
Jessica apareceu em meu quarto, franzindo a testa.
— Eu ainda não posso acreditar que você está indo, — disse
ela. — Eles vão te comer viva no Arsenal. Você não tem ideia de como
aquelas festas são.
— Kit e Em prometeram manter um olho em mim, — lembrei-a. —
E esta é uma festa de família - não uma festa-da-foda louca como as
que você foi.
— Não deixe que elas te enganem, — disse Jess sombriamente. —
merdas acontecem na sede do clube dos Reapers. Não importa se eles
salvaram a minha bunda ou não, os Reapers são perigosos e eu ficaria
muito mais feliz se você apenas ficasse em casa e fizesse os deveres de
casa comigo.
Eu me virei e olhei para ela, mais uma vez maravilhada com o
quanto minha melhor amiga tinha mudado em relação ao ano
passado. Na época do colégio ela era obcecada com sua aparência, com
festas e com garotos. Agora era uma sexta-feira à noite e ela estava
encostada no batente da minha porta vestindo um moletom detonado,
uma regata manchada e o cabelo em um coque bagunçado. Não era um
daqueles coques lindos e sensualmente desarrumados, tampouco. Este
parecia um crescimento capilar mutante na cabeça dela.
Voltando onde eu estava, estudei meu reflexo no espelho.
— Bem, eu vou de qualquer maneira, — eu disse a ela,
estendendo a mão para pegar o meu copo de geleia com sangria. —
Então faça o seu dever como amiga e me ajude a ficar pronta. Isto me
deixa gorda?
~ 32 ~
Jessica lambeu o picolé que segurava pensativamente.
— Não, mas faz você parecer que tem quarenta anos. E não uma
quarentona gostosa - mais como um tipo de mulher sem-teto indo a
uma entrevista de emprego, eu acho.
Olhei para ela. — Eu não sei como vou interpretar isso.
— Leve como um sinal de que você deve usar outra coisa, — disse
ela, balançando a cabeça. — Agora, não interprete isso como a minha
bênção para ir a essa festa hoje à noite, porque eu ainda sou cem por
cento contra. Mas, falando sério, Mel. Você é linda. Todo esse cabelo
chocolate escuro e o bronze permanente da sua pele? Porra, se eu
tivesse que trabalhar com o que você tem eu... bem, eu não estaria
sentada aqui assistindo você se arrumar para sair enquanto eu vou
ficar presa em casa estudando durante toda a noite. Não vejo nenhuma
razão para disfarçar toda essa beleza se vestindo com uma mendiga.
— Primeiramente, essas são as grandes palavras de uma mulher
cujo cabelo está tão confuso que parecem dreads, — eu respondi,
franzindo a testa. — E em segundo lugar, você é a única que está se
recusando a sair, lembra? Eu quero que você venha comigo.
— Tanto faz. Troque suas roupas.
Revirando os olhos, eu estudei meu reflexo. Ela estava
certa. Totalmente certa. Estas eram roupas de entrevista de emprego,
não roupa de festa. — Eu não tenho ideia o que vestir - você pode me
emprestar alguma coisa?
Jessica ponderou, caminhando lentamente em volta de mim, os
olhos afiados e críticos.
— Eu posso ajudar, — disse ela. — Mas eu exijo obediência total,
gafanhota.
— Não se preo-
— Silêncio! — ela retrucou, levantando uma mão, com a palma
virada para mim. — Não me distraia. Eu tenho uma imagem...
precisamos de algo bem especial. Algo para fazê-lo se arrepender de ter
te dispensado. Só não seja idiota e volte rastejando para ele.
— Eu nunca estive com ele em primeiro lugar.
— Mais uma razão para fazer isso direito, — disse ela. — Se você
vai lá, você tem que estar gostosa. Realmente gostosa. Ele vai melar as
~ 33 ~
calças quando vir você, eu juro. Depois, você pode fazê-lo rastejar e
voltar para casa.
Ecaaa.
— Eu não quero que ele mele as calças.
Ela inclinou a cabeça para mim, sorrindo.
— Agora quem está vivendo em negação?
Eu suspirei, porque a cadela estava certa.
* * *
Jessica trabalhou rápido, e quinze minutos mais tarde, eu estava
me olhando no espelho novamente, mas desta vez eu definitivamente
deixei a entrevista de emprego para trás. Eu estava bonita, eu tinha que
admitir. Jess me vestiu com um sutiã preto e uma blusinha preta
folgada e sem alças, uma pulseira de prata em torno dos meus pulsos e
grandes brincos de argola. Ela tinha combinado com uma saia curta
xadrez, uma espécie de cruzamento entre um escocês e uma das
sainhas que meninas vestiam nas escolas católicas. Ela finalizou com
coturnos.
— Você pode usar elas para chutar Painter nas bolas se ele disser
algo estúpido, — disse ela, sorrindo para mim.
— Mas eu não deveria estar calçando algo mais... eu não
sei. Mais. Salto alto ou algo assim?
— Confie em mim, você não precisa de sapatos =me foda‘. Você
tem lábios =me foda‘ e uma comissão de frente fantástica. Não só
isso, Painter, — ela zombou quando ela disse seu nome, — é um idiota,
então eu quase posso garantir que ele vai precisar de um soco nas bolas
e você não quer quebrar uma unha ou algo assim. Qualquer sapato com
um salto de verdade fica preso na grama de qualquer maneira, e
sapatilhas simplesmente não são uma opção. Isso nos deixa com
anabelas ou rasteirinhas, e alas arruinariam totalmente a ideia da
roupa. Isto é o que você precisa usar.
Olhei meu reflexo novamente. Não era eu mesma, mas eu tinha
que admitir, as roupas totalmente trabalharam em conjunto com o meu
~ 34 ~
cabelo escuro e os olhos esfumados. Metade skatista sexy, metade... o
inferno que eu sabia. Algo não Melanie, algo quase ousado.
— Eu acho que sim. Só que me sinto estranha.
Jessica parou ao meu lado, envolvendo o braço em volta dos meus
ombros.
— Quando você me ajudou a escrever o meu primeiro relatório de
literatura inglesa, eu escutei você, — disse ela, sua voz grave. — Eu
escutei porque você entende essas coisas melhor do que eu. É no que
você é boa. Aqui está a coisa - eu posso ter feito um voto de celibato
temporário, mas sei sobre rapazes e sexo. Isso ficou bem em você. Você
é linda. Eu gostaria que você pudesse se ver da maneira que eu vejo.
Eu pisquei rapidamente, ficando inesperadamente
emocional. Então Jess se inclinou para frente e sussurrou em meu
ouvido: — Se você fosse uma prostituta, eu pagaria qualquer preço para
você, baby. E você sabe que eu não pago qualquer preço por nada.
Eu me afastei e ela começou a rir.
— Você é louca, sabe?
— Sim, — ela respondeu. — Eu sou a louca, você é aquela que é
boa nos estudos e essas merdas. Portanto, esta noite vamos trocar de
lugar. Você vai sair e se divertir - apenas fique perto de London, está
bem? Vou ficar em casa e fazer minha lição de casa. Isso deve foder com
a cabeça deles.
— Foder cabeças é um objetivo nobre, — Kit declarou, entrando
no quarto para se juntar a nós. — London vai estar aqui em breve - ela
é a nossa carona. Ela foi até o Costco para comprar mais gelo e
salgadinhos - é o tipo de coisa que você nunca tem demais. Bom
trabalho com a roupa, Mel.
— Foi ideia de Jessica.
— Tinha que ser. Agora vamos. Estamos sem sangria de novo e
Em está com sede. Só Deus sabe o que ela vai fazer quando perceber
que eu bebi tudo enquanto ela estava falando com o amante dela no
telefone. Essa cadela é violenta quando está sóbria. Precisamos de mais
para beber - segurança em primeiro lugar, sabe?
* * *
~ 35 ~
— Esta é a Mel, — Kit anunciou orgulhosamente, me empurrando
em direção a um cara alto com cabelo escuro puxado em um
coque. (Coques masculinos sempre me confundem - eles realmente não
deveriam ser sexy, mas em alguns caras eles apenas funcionam). Ele
usava um colete jeans do Devil‘s Jacks MC, e eu teria ficado interessada
em estudar seus patches se ele não estivesse com o peitoral
completamente nu por baixo dele... e que peitoral. Caramba.
Eu sei que é superficial, mas se você me pedisse para descrever o
rosto dele em uma identificação policial, eu não saberia como
descrever. Esses peitorais? Eu acho que eles ficaram queimados na
minha alma.
— Mel é amiga de London, a old lady do meu pai, — Kit
continuou. — Ela é legal, então tente não quebrá-la.
— Ei, Mel, — disse ele, sua voz suave com apenas um toque de
humor. — Eu sou Taz. Vim de Portland.
— Taz é da mesma facção de Hunter, old man de Em, — Kit
informou. — Ele é um cara legal, não é, Taz?
— A porra de um príncipe, — ele concordou. — Você quer uma
bebida, Mel?
Eu balancei a cabeça, hipnotizada. Taz era muito, muito
bonito. Não, =bonito‘ era a palavra errada. Gostoso. Sim, isso é
melhor. Taz era gostoso - tipo, no alfabeto de gostosura eu lhe daria um
=H‘ de Hemsworth 5. Eu queria lambê-lo, para ver se ele era tão delicioso
como ele cheirava, apesar de que isso poderia ser a sangria falando...
seus olhos eram verdes e brilhantes, seus lábios estavam curvados num
meio sorriso adorável, e quando ele colocou a mão contra a parte baixa
das minhas costas, me guiando suavemente em direção aos barris, eu
quase desmaiei.
Foda-se Painter - ele teve sua chance.
Para ser justa, eu normalmente não era tão superficial... mas eu
estive na festa por quase duas horas agora, e enquanto eu tinha visto o
Sr. Brooks à distância, ele ainda não tinha se incomodado em me
reconhecer com uma aceno amigável, muito menos falou comigo. Ele
olhou por um minuto, em seguida, pisou em direção à Reese sem uma
segunda olhada.
5 Ela faz menção a um ator gostosão.
~ 36 ~
Pelo menos London ficou feliz em me ver, embora eu pudesse
dizer que ela estava desapontada por Jess não estar aqui. Eu sabia que
ela tinha sido banida do Arsenal por um tempo no verão passado depois
que ela se meteu em problemas numa de suas festas. Mas ela realmente
se reajustou desde então. Reese tinha até começado a convidá-la para
alguns dos eventos familiares do clube no inverno passado.
Até onde eu sabia, ela nunca tinha voltado aqui, e eu só tinha
vindo uma vez, ajudando a London com alguns mantimentos. Hoje, Loni
tinha me avisado para ficar do lado de fora no pátio com o grupo
principal e deixá-la saber quando eu quisesse ir embora para que ela
pudesse me conseguir uma carona. Então ela me deu um abraço e um
beijo antes de me deixar livre para andar com Kit.
Em já nos havia abandonado até então, grudada ao seu old man,
Hunter.
— Ela é uma pau-mandada, — Kit confidenciou. — Patético. Se
eu alguma vez me apaixonar por um cara como esse, por favor, me dê
um tiro. Meu pai tem muitas armas - você pode pedir uma emprestada,
se precisar.
Nós passamos as próximas duas horas andando juntas. Kit tinha
crescido brincando no Arsenal e ela me contou algo sobre todas as
pessoas que nós víamos. Ela pareceu concordar com London sobre ficar
do lado de fora com o grupo principal no pátio, em vez de explorar o
edifício grande de três andares atrás de nós. Parecia como um castelo
para mim - aparentemente eles tinham comprado da Guarda Nacional.
Surpreendentemente, a festa realmente era para família/amigos.
Principalmente.
Havia música alta e muita bebida alcoólica, mas também havia
crianças correndo, rindo e gritando, roubando biscoitos e bebendo
limonada sem parar.
Não era tudo certinho, no entanto. Havia muitos caras grandes e
assustadores cercados por mulheres vestindo muito menos roupa do
que eu estava acostumada a ver. Algo me disse que toda a vibe
familiar/amigável iria acabar assim que o sol se posse. Pelo menos Jess
fez a escolha certa com as botas - as poucas mulheres que eu tinha
visto usando saltos de vagabunda estavam tendo dificuldade ao se
locomover, dada a mistura de concreto rachado, cascalho e grama que
cobria a área.
~ 37 ~
Minhas botas fizeram eu me sentir forte, alta e capaz.
É por isso que - quando Taz me serviu uma bebida e deu um
grande sorriso para mim - eu nem sequer notei Painter nos
observando. Eu também não o notei após a segunda bebida, que era
mais como a minha... bem, eu meio estava desnorteada, para ser
honesta. (Vamos apenas dizer que eu estava me sentindo festiva). Por
isso também que eu me esqueci completamente do que London disse
sobre ficar no pátio. Para ser justa, eu tinha praticamente esquecido
tudo até então - eu tinha estado bêbada antes, mas nunca desse jeito.
Foi divertido. Não é de se admirar que Jessica tinha feito isso
tantas vezes.
— Você quer dar um passeio? — Taz me perguntou depois que
conversamos pelo que parecia ser para sempre e também há pouco
tempo. Olhei em volta, percebendo que o sol tinha começado a se
por. Havia muito menos crianças correndo. Alguém tinha acendido uma
fogueira e a música estava mais alta.
— Claro, — eu disse, me sentindo aventureira. Talvez ele me
beijasse. Isso mostraria ao fodido Levi Painter Brooks uma coisa, não
é? Só porque ele não estava interessado em mim não significava que eu
não era sexy e divertida.
Taz pegou minha mão, me levando ao longo da grande parede de
cimento em torno do pátio em direção a um portão na parte de
trás. Estava aberto, mas um cara vestindo um colete de prospeto
montava guarda, observando todos os que iam e vinham. Eu não o
reconheci, mas quando ele me viu, seus olhos se arregalaram. Então ele
pegou o telefone e começou a mandar mensagens de texto.
— Isso é muito lindo, — eu disse, olhando para a vasta campina
que encontramos do outro lado do muro. Além dela, o chão subia em
uma encosta íngreme coberta de árvores, mas desse lado parecia como
um parque. Lindo. Havia algumas barracas e até mesmo outra fogueira.
— Nós estamos acampados ali, — disse Taz, apontando para o
extremo do prado. — Me deixe te mostrar.
Eu fiz uma careta enquanto suas palavras penetraram meu
cérebro enevoado. Meu senso de autopreservação apitou, apontando
discretamente, mas com insistência que sair com um cara estranho no
escuro em um uma festa MC poderia não ser a mais brilhante das
decisões.
~ 38 ~
Merda. Eu realmente estava me transformando em Jessica.
— Mel, venha aqui.
Eu conhecia aquela voz. Me girando lentamente, vi Painter em pé
atrás de nós, os braços cruzados na frente dele.
Ele não parecia feliz.
* * *
Em retrospectiva, meu erro foi deixar Kit entrar na minha casa
naquela tarde. De verdade, daquele momento em diante o dia inteiro
tem sido fodido, um trem desgovernado indo trilhos abaixo até um
buraco negro de... bem, principalmente um motoqueiro muito irritado.
Por que Painter estava chateado, eu não tinha ideia.
Não era como se ele tivesse falado comigo pelo menos uma vez
durante a porcaria da festa. Eu tinha estado lá por horas, mas as
únicas vezes que eu o vi ele estava conversando com algumas vadias
meninas vestindo jeans desbotados e tops de biquíni estampado.
Não que eu me importasse. Não mesmo. Ele podia foder por aí
com quem ele quisesse, porque... duas vezes, merda. Seu olhar
encontrou o meu, queimando através de mim, e eu juro - o mundo
começou a girar. Eu esqueci tudo sobre Taz enquanto caia nos olhos de
Painter, hipnotizada. Então eu percebi que estava fazendo e me forcei a
olhar para baixo, o que não era muito melhor. Eu juro, o homem era
feito inteiramente de músculos - deliciosos músculos que eu podia ver
muito claramente porque ele só usava uma camiseta colada por baixo
de seu colete de couro dos Reapers. Calças jeans desbotadas cobriam
suas pernas, se agarrando as coxas de uma forma que fez eu corpo
apertar. Botas pretas gastas cobriam seus pés. O conjunto era
demais. Durante toda a festa, eu tentei me convencer de que ele não era
tão forte - ou sexy - como o homem que eu fantasiava todas as noites.
Ninguém poderia ser.
Só que ele totalmente era.
O olhar de Painter se alternou entre mim e Taz, calculista e frio
enquanto vinha em nossa direção, porque, aparentemente, não era o
~ 39 ~
suficiente ser tão sexy que meu coração quase explodia. Não. Ele tinha
que caminhar sexy também. Respirar sexy.
Me lembrei de cada segundo que eu passei com ele no ano
passado, cada toque, cada vez que eu me enrolei em torno de seu corpo
grande, forte, enquanto sua Harley pulsava abaixo de nós. Ele tinha me
levado a três passeios. Menos de trinta minutos no total... e aquele beijo
- foi o suficiente para me marcar para sempre.
Eu queria muito mais.
— Painter, — disse Taz, me assustando. Eu tinha esquecido que
ele estava lá.
— Taz. Você deveria deixar essa passar. Ela está protegida.
— Ela é sua? — perguntou Taz, parecendo surpreso. — Acho que
ela não recebeu a mensagem. Não é como se eu tivesse a arrastado até
aqui.
— Ela é uma criança. Desista.
— Ei, eu não sou uma criança, — eu protestei, indignada. — Eu
vou fazer 21 anos daqui a quatro meses.
Taz deu uma risada baixa. — Você ouviu. Foda-se, Brooks.
Painter deu um passo em minha direção, sua expressão mais fria
do que eu jamais vi. — Mel, leve o seu rabo de volta para a festa.
Eu me acalmei, sem saber o que deveria fazer. Eu realmente
queria voltar para a festa... mas eu também não queria que Painter
ganhasse.
Merda.
Agora me encontrei presa entre ele e Taz, e porque eu era uma
maldita idiota eu queria esquecer sobre Taz e saltar sobre Painter, bem
ali no meio do quintal. Era só colocar minhas pernas ao redor da sua
cintura e me esfregar em cima dele como uma prostituta. Uma
muito, muito feliz prostituta.
Onde está o seu respeito próprio?
~ 40 ~
Capítulo
03
PAINTER
Mel estava olhando para mim como um coelho assustado.
Ela não pertencia a esse lugar e ela sabia disso, a pequena
sorrateira. Ela devia saber - ela estava evitando o Arsenal durante todo
o tempo em que eu estava na cadeia. Ela me escreveu tudo sobre isso,
entre mil outras coisas. Você acha que um cara como eu iria ficar
entediado ouvindo sobre a vida dela. Houve algumas prostitutas do
clube que me escreveram também - cartas cheias de sexo, promessas e
imagens que deveriam ter levado Mel diretamente para fora da minha
cabeça. Nunca parei de pensar nela, no entanto. Nenhuma vez. Ela se
tornou minha âncora. Então ela parou de escrever depois que eu disse
para ela ir encontrar um namorado. Quando cheguei em casa, eu fiz
uma decisão consciente de ser um idiota sobre o carro também. Eu
tinha fazer isso.
Era a coisa certa a fazer.
Eu tinha conseguido ficar uma semana inteira em Coeur d'Alene
sem procurar por ela, resistindo contra a tentação. Então Pic tinha
mencionado que as meninas precisavam de ajuda em sua mudança no
último sábado e tudo estava acabado. Eu mantive minhas mãos longe
dela naquele dia - não fiz nada mais do que dizer =oi‘ - mas tinha sido
uma tortura. Ela era mais bonita do que eu me lembrava. Seu corpo
tinha se preenchido, indo de linda para maravilhosa, toda macia, a pele
bronzeada, cabelos escuros e pernas longas desenhadas por Deus
especificamente para se enrolarem ao redor da minha cintura.
Quando ela se inclinou na minha frente para pegar uma caixa de
papelão, eu quase explodi a frente da minha calça.
Meu caralho de presidente estava rindo pra caramba de mim,
enquanto London entrou no modo de mãe super-protetora. Eu prometi
a ela uma vez que eu iria deixar Mel em paz - uma promessa que já não
contava mais, dada a forma como ela tinha mentido para o clube e nos
enganado. Uma coisa era certa, porém. De jeito nenhum eu passei um
~ 41 ~
ano inteiro com bolas azuis para Taz simplesmente aparecer e roubar o
prêmio.
— London está procurando por você, Melanie, — eu menti
suavemente. — Ela te disse para não vir pra cá, lembra? Há uma razão
para isso. Não é seguro.
— Perfeitamente seguro comigo por perto, babe, — disse Taz, os
olhos dançando. Eu não acho que ele estava seriamente interessado
nela, mas ele definitivamente estava começando a me irritar. Filho da
puta. Ele era um dos irmãos de Hunter e eles nunca gostaram de
mim. Em pode ser a old lady de Hunter agora, mas houve um ponto que
ela era minha. E ele me odiava por isso.
Eu o odiei, também - ele a roubou de mim. Olhando para Mel,
embora... porra, o que eu tinha visto em Em?
— Eu provavelmente deveria voltar para a festa, — disse ela
lentamente. Sim. Não brinca.
— Fantástico, — eu disse, pegando o braço dela e puxando-a para
mim. Taz riu atrás de nós enquanto eu a arrastava, não em direção ao
portão na parte de trás do muro, mas ao redor da parede do pátio, na
escuridão. Ela tropeçou ao meu lado por um tempo, e então puxou meu
braço enquanto entravamos num canto.
Ninguém podia nos ver aqui.
— Ei, — disse ela. Eu a ignorei, minha pressão arterial já muito
alta. Eu podia sentir o cheiro dela na escuridão. Realmente, sentir o
cheiro dela. Ela não estava usando um perfume forte ou qualquer outra
coisa, mas ela cheirava a laranjas, especiarias e bem... o que diabos
havia de errado comigo?
— Ei, — disse ela de novo, empurrando meu braço mais forte
desta vez. Eu parei, girando em sua direção abruptamente. Ela deu um
passo para trás, batendo na parede. — Este não é o caminho de volta
para a festa.
— Você não vai voltar para a festa.
Ela inclinou a cabeça, e eu vi a confusão em seu olhar alcoolizado
enquanto ela torcia o nariz para mim. Que gracinha, como um coelho.
— Você parece um coelho.
~ 42 ~
— Você parece o assassino do machado, — disse ela, franzindo a
testa. — E eu pensei que London estava procurando comigo. Não
estamos indo na direção errada?
— Eu menti. Eu faço muito isso, — eu disse a ela, olhando para
seus lábios. Eu estendi a mão, pegando seu queixo, correndo o polegar
em seus lábios. Nossos olhos se encontraram, e eu não sei se seu pulso
começou a correr, mas o meu certeza sim. O que diabos eu estava
pensando, escrevendo para esta menina? Ela era tão bonita e perfeita e
tinha essa vida incrível e mágica esperando por ela e tudo que eu
conseguia pensar era em dobrá-la na terra e empurrar meu pau em
cada buraco que ela tinha.
Ela iria gritar quanto eu fizesse isso também, os mesmos gritos
doces que martelavam em minha cabeça todas as noites, enquanto eu
me masturbava.
Eu me odiava.
— Por que você mentiu? — ela perguntou, sua voz num sussurro.
— Para te afastar de Taz. Não é seguro com ele.
A testa de Mel se franziu em confusão, seu cérebro se movendo
tão lentamente que eu podia praticamente ver as rodas girando atrás de
seus olhos. Ela pode ser inteligente pra caralho a maior parte do tempo,
mas ela estava bêbada esta noite. Kit. Kit e Em. Elas haviam feito isso
com ela.
Me inclinei mais perto, sentindo seu perfume. Por um instante,
fiquei balançado, tão tentado...
— Eles me contaram tudo sobre você, — ela sussurrou.
— Quem?
— As outras meninas. Kit, Em. Jessica. Eu sei como você opera,
— continuou ela. Uma de suas mãos levantou, tocando meu peito. Fogo
irrompeu através de mim, porque se eu queria ela antes, eu estava
desesperado para ela agora. Ela era tão suave, tão doce... tão perfeita.
Então suas palavras afundaram em mim.
— O que você acabou de dizer?
— Elas me contaram tudo sobre você, — disse ela, os olhos se
voltando aos meus lábios. — Elas me disseram que você tem um
complexo de Madonna-prostituta.
~ 43 ~
Eu congelei.
— Um o quê?
— Um complexo Madonna-prostituta, — ela repetiu, sua voz
séria. — Você gosta de comer as meninas vadias e coloca as meninas
puras em pedestais, onde podem permanecer perfeitas e intocadas. Isso
é uma merda, Painter. Não existe isso de Madonnas e prostitutas. Nós
somos todas apenas pessoas.
As palavras me surpreenderam. O que diabos ela estava
falando? Só porque eu não queria ela se arrastado para o drama e
besteira dessa vida não significava que eu tinha algum complexo de
merda. E quem diabos eram as irmãs Hayes para opinar? Eu não
poderia dizer o que me irritava mais - o fato de que elas tinham falado
com Mel sobre mim ou que não tinham feito um trabalho melhor ao
assustá-la.
Ela não deveria estar aqui.
— Kit e Em são loucas, e aquela sua amiga - Jessica? Ela é como
um acidente de carro. Você não pertence aqui, Mel.
— E onde eu pertenço?
— Com um garoto bom que vai te tratar como uma rainha e
trabalhar muito para te dar tudo de perfeito para o resto de sua vida. —
as palavras eram praticamente um grunhido.
Seus olhos se arregalaram.
— E se eu não quero o perfeito?
— É a porra de uma pena, porque é isso que você estará
recebendo.
— O quê? — ela disse, a voz endurecendo. Eu vi um flash de raiva
em seus olhos - que bom. Talvez isso iria clarear sua cabeça o suficiente
para puxá-la para fora de sua bunda.
— Vou levá-la para casa e você não vão voltar pra cá
novamente. E você pode ficar longe da Em e de Kit. Merda, você deve
ficar longe de Jessica também. Por que vocês duas estão morando
juntas, de qualquer maneira?
— O que você quer de mim? — ela perguntou suavemente, seus
lábios se movendo contra o meu polegar, o que, de alguma forma
começou a deslizar para frente e para trás sem a minha permissão. Eu
~ 44 ~
respirei fundo, olhando para o rosto dela. Cristo, mas ela era linda. Pele
parda, grossos e escuros cílios marrons e todo aquele cabelo que eu
queria envolver em torno das minhas mãos enquanto eu fodia o crânio
dela.
Se ela tivesse o cortado enquanto eu estava na prisão, não tenho
certeza se eu poderia lidar com isso...
— Eu quero que você saia e nunca mais volte, — eu disse. Ela se
encolheu e por um instante eu pensei que ela poderia se virar e
correr. Então sua língua pincelou para fora e lambeu meu
polegar. Quente. Era quente e molhado, e quando ela o pegou com os
dentes e depois o chupou em sua boca, minha cabeça começou a
latejar. Ok, mais do que a minha cabeça. Eu podia sentir meu pau
pulsar, eu estava duro com pedra e empurrando contra a frente da
minha calça jeans.
Os olhos de Mel seguraram os meus enquanto ela me chupava
profundamente, rodando sua língua enquanto seus dedos cravaram em
meu peito. Aqueles lábios dela... eles eram macios e inchados e estavam
fantásticos pra caralho envolvidos em torno do meu polegar, mas
estaria muito melhor envolvido em torno de outra coisa. Então ela
pegou meu pulso com a outra mão, me puxando lentamente para fora
de sua boca, mesmo quando sua língua sacudiu para fora para uma
última provocação lúdica.
— Painter, eu quero que você me escute com muita atenção, —
disse ela, segurando meu olhar como o rosto endurecido. Inferno, se eu
não amava o jeito que meu nome soava em seus lábios. — Eu pensei
que você era meu amigo, mas você me abandonou. Você me tratou como
se eu fosse uma praga irritante quando eu tentei te agradecer por me
emprestar seu carro. Você agiu como se todas aquelas cartas entre nós
não significassem nada. Isso me machucou, Painter. Me machucou
muito. Talvez eu me arrependa de dizer isso quando estiver sóbria, mas
agora parece certo dizer as palavras, então me escute.
Meus olhos se arregalaram - quem diabos era essa garota? Mel
não tinha descolada, não assim. Mas, aparentemente, ela era, porque
ela ainda não tinha terminado de falar.
— Até onde me cabe, você não tem o direito de me dizer o que
fazer, — disse ela, as palavras cuidadosas e deliberadas quando ela
estendeu a mão para cutucar meu peito. — Nunca. Eu estava me
divertindo até que você me interrompeu, e eu vou deixar você agora e
~ 45 ~
voltar a me divertir sem você. Se você não gosta disso, você pode ir se
foder.
MELANIE
Eu tinha perdido a cabeça.
Era a única explicação possível para o que acabou de sair da
minha boca. Espera - havia mais. Eu tinha sido possuída por um
demônio. Eu pisquei lentamente, agradecida pela parede atrás de mim,
porque eu não tinha certeza se eu poderia ter ficado de pé sem ela.
Isto é como ficar bêbada era, eu percebi. Eu pensei que eu estava
bêbada antes, mas eu só estava animadinha ou algo assim, porque esta
noite foi totalmente diferente. Olhe toda esta situação com Painter. Eu
sabia que ele era um cara grande e assustador. Eu sabia que o desafiar
- sozinhos, no escuro - foi uma má ideia.
Eu simplesmente não me importei.
Por falar em libertação... o rosto de Painter se escureceu, e eu
ri. Não consegui evitar, isso era muito engraçado. O Sr. Grande
Motoqueiro Malvado não sabia o que diabos dizer porque eu estava
certa e ele estava errado e-
— Você não tem a fodida ideia de com o que está mexendo, — ele
rosnou. Ele estendeu a mão, enterrando ela no meu cabelo e torcendo-o
apertado, inclinando minha cabeça em sua direção. Se inclinando para
mim, seus olhos procuraram meu rosto quando sua mandíbula
apertou. — Você acha que isso é um jogo, Mel? Nem mesmo Em e Kit
seriam estúpidas o suficiente para sair na noite com um cara que elas
não conhecem.
— Você quer dizer como Jessica saiu com você? — perguntei, me
sentindo corajosa. — Você é um hipócrita.
— Mais uma razão para ficar longe de mim. Você precisa ir para
casa e ficar lá.
— Você por acaso escuta as palavras que saem da sua boca? —
perguntei, frustrada porque ele estava cheio de merda e eu tinha
~ 46 ~
acabado de chupar o polegar dele... Em tinha razão - Painter tinha um
complexo. Eu não tinha interesse em ficar presa encima de algum
pedestal estúpido, no entanto. Eu queria lambê-lo todo, não me sentar
em uma plataforma inspirada de virtude feminina. — Agora me deixe ir
e vamos terminar com isso. Eu vou voltar para a festa e me
divertir. Você pode ir foder uma puta se você estiver com tesão ou fazer
algumas orações à Virgem Maria, se você está se sentindo culpado por
alguma coisa. Me deixe em paz.
Seus dedos apertaram no meu cabelo, a mão do outro braço se
estendendo para me empurrar com força contra seu corpo. Então eu
estava grudada contra ele, nossos rostos a centímetros de
distância. Caramba. De alguma forma, ele era ainda maior de perto...
— Você deveria me escutar, — disse ele, as palavras baixas e mais
intensas do que eu já tinha ouvido ele falar. — Você percebe que Taz
podia fazer qualquer coisa com você aqui fora? Ele não é parte deste
clube e você não é propriedade de ninguém. Não há nenhuma proteção
para você, se você não usar algum senso comum do caralho.
— Taz me pareceu ser muito legal, — eu sussurrei, cercada por
seu calor, força e a percepção de que não havia absolutamente ninguém
que sabia onde eu estava agora. Ok. Painter pode estar certo em alguma
coisa - sair no escuro com Taz tinha sido estúpido, porque eu conhecia
Taz ainda menos do que eu conhecia Painter, e eu tinha a sensação de
que ficar no escuro com minha chave de cadeia não iria terminar
bem. De repente, sua mão agarrou a minha bunda, me levantando e me
batendo contra a parede. Meus braços agarraram seus ombros e
minhas pernas enrolaram em sua cintura.
Puta. Merda.
Má ideia ou não, eu não achava que eu já tinha estado mais
excitada na minha vida. Quantas vezes eu sonhei com algo parecido
com isto? A boca de Painter caiu para minha orelha, pegando-a em seus
dentes apenas apertando o suficiente para machucar. Eu senti a dureza
entre as pernas dele se moendo em mim enquanto necessidade explodia
pelo meu corpo. Ele cheirava tão bem... meus quadris torciam,
desesperada por mais. Painter gemeu.
— Caralho, — ele murmurou, quase para si mesmo. — Você
percebe o que eu poderia fazer com você aqui fora? Cristo, Mel. Não há
ninguém para ouvir se você gritar. Eu posso tirar as suas roupas e foder
seus miolos você querendo ou não.
~ 47 ~
Eu não consegui respirar por um minuto - ele poderia tirar as
minhas roupas e foder meus miolos. Algo apertou, bem no fundo. (Minha
buceta. Foi minha buceta que apertou).
— E se eu não quiser gritar?
Ele gemeu de novo, puxando sua cabeça para trás para olhar
para mim. Em seguida, ele lambeu os lábios e eu queria tanto beijá-lo
que eu pensei que poderia morrer.
Então o beije agora, porra.
Eu não me dei a chance de pensar sobre isso - eu apenas agarrei
sua cabeça e esmaguei minha boca na dele. Ele congelou por um
instante e então senti sua mão torcer meu cabelo mais apertado,
inclinando a cabeça para o lado quando ele assumiu o controle do beijo.
Agora é a parte em que eu vos digo que um coro de anjos desceu
dos céus, enquanto unicórnios brincavam e eu tive um orgasmo
espontaneamente contra a parede do pátio do Arsenal. É assim que
sempre lemos nos livros, mas o que posso dizer? Não havia nenhum
unicórnio. Quase certeza que ouvi os anjos cantando, embora, e eu
estava definitivamente trabalhando o meu caminho em direção a um
orgasmo. Os quadris de Painter moeram nos meus e os meus mamilos
estavam duros como pedras, o peito dele me esmagando enquanto sua
língua tomou conta do meu mundo.
Então ele mudou de posição, seu pau encontrando exatamente o
ponto certo. Eu queria tanto ele dentro de mim, mas isso era incrível,
também, porque eu sentia cada músculo do meu corpo se
apertando. Meus dedos tremeram em seu cabelo e meus quadris
pularam e, em seguida, sua mão apertou minha bunda forte e eu caí
sobre o limite.
Porra. PORRA.
Não tenho certeza, mas acho que tive um vislumbre de um
unicórnio. Poderia ter sido apenas o álcool. Lentamente eu voltei a mim
mesma. Painter ainda estava me beijando, de forma mais suave agora,
embora eu soubesse que ele não tinha gozado. Não, o pau dele de ainda
estava duro e pronto para mais. Em seguida, ele se afastou e me baixou
para o chão, respirando com dificuldade. Eu oscilei quando abaixei
entre nós, encontrando a protuberância coberta pela calça jeans entre
as suas pernas e apertei.
~ 48 ~
— Não, — ele disse, os dentes cerrados. — Precisamos levá-la
para casa.
Seu corpo não concordou, entretanto, porque seus quadris
estavam empurrando de volta contra minha mão, implorando por
mais. Eu apertei novamente, correndo minha mão com força para cima
e para baixo pelo seu comprimento considerável, imaginando qual seria
o gosto dele.
Eu decidi descobrir e caí de joelhos.
Isso pareceu estalar algo nele, porque ele agarrou meus braços,
me sacudindo e me empurrando para longe em um movimento
brusco. Eu cambaleei para trás e tropecei numa raiz de árvore,
cambaleando por um instante antes de cair de bunda em um arbusto.
— Você já ouviu a frase =Não significa não?‘ — ele rosnou, olhando
para mim com algo tão próximo ao medo como eu nunca tinha visto em
seu rosto antes. — Tenho certeza que eu li isso em um cartaz em algum
lugar. Eu não quero você dessa forma, Mel.
A queda não tinha sido suficiente para me tirar o ar, mas aquela
frase com certeza conseguiu. Merda. Eu o tinha atacado e caído
encima. Ele não queria que eu fizesse isso e eu tinha feito de qualquer
maneira. Havia um nome para as pessoas que fazem essas merdas.
Não foi um protesto que você sentiu moendo contra você, garota. Foi
um pau e ele queria entrar de uma maneira ruim.
Não. Isso não importava, porque o que seu corpo poderia dizer,
seu cérebro não estava concordando. Eu tinha me ajoelhado para dar a
ele um boquete e ele nem sequer queria isso.
Patético pra caralho.
— Sinto muito, — eu sussurrei, sentindo como se eu pudesse
vomitar. Deus, por que eu bebi tanto? O álcool me transformou em uma
idiota. Painter estendeu sua mão, me oferecendo.
— Vem, vamos embora, — disse ele, sua voz ainda tensa. — Não
quis te derrubar. Cristo, mas que bagunça.
— Tudo bem, — eu murmurei, me perguntando se eu poderia
apenas escapar para algum lugar. Sentar e chafurdar em meus próprios
sucos patéticas por um tempo antes de chamar London e pedir por uma
carona para casa. — Eu realmente sinto muito por ter te beijado.
~ 49 ~
— Eu tenho que te tirar daqui. Jesus. Você precisa ficar longe de
mim, Mel. Eu não posso lidar com esta merda. Da próxima vez apenas
venha para mim com uma arma - vai ser muito mais fácil para nós dois.
* * *
O que se seguiu foi um exercício de humilhação, misturado com
giros bêbados horríveis e coberto com uma hilaridade absoluta. Por
quê? Porque ele decidiu me dar uma carona para casa em sua moto? Eu
tinha esquecido o quão grande e intimidadora sua Harley preta e
dourada era. Quer dizer, eu a tinha visto estacionada na rua no último
fim de semana durante a mudança e sabia que não era uma motozinha
suja... mas parecia ainda maior de perto - de alguma forma mais
real. Assustadora.
Sexy.
Por que isso tem que ser sexy?
Painter jogou a perna por cima da moto e se sentou, gesticulando
para que eu me juntasse a ele. Subi, deslizando para baixo até sua
bunda enquanto eu tentava enfiar minha saia em algum lugar. Ele
pegou as minhas mãos, envolvendo-as firmemente em torno de sua
cintura. Santo inferno.
Eu abri minhas mãos, sentindo seus músculos do estômago
rígidos pressionados sob a camisa quando eu descansei minha cabeça
contra as costas dele. Sua jaqueta dos Reapers estava contra o meu
rosto e dava pra sentir o cheiro de couro.
Como era possível estar tão envergonhada e excitada ao mesmo
tempo?
Então Painter ligou a moto e a Harley rugiu para a vida entre as
minhas pernas, e apenas para registras - quem disser que uma moto
não é uma máquina fálica obviamente nunca esteve em uma. Antes do
beijo, eu teria dado qualquer coisa para andar com ele em sua
moto. Infelizmente, esta noite tinha ido à merda e voltado - tudo o que
eu queria era rastejar na minha cama e puxar as cobertas sobre minha
cabeça.
Se eu tiver muita, muita sorte, talvez essa coisa toda viria a ser
apenas um pesadelo louco.
~ 50 ~
O passeio passou em um borrão. Em um segundo estávamos
saindo do Arsenal e no próximo paramos em frente à minha casa. Eu
desci da moto e caminhei para casa bem rápido, rezando para que
Jessica tivesse deixado um picolé para mim, porque eu precisava de um
no momento. Puramente medicinal.
— Mel, — ele chamou atrás de mim.
— Obrigada pela carona, — eu respondi, me recusando a olhar
para ele ou diminuir o passo.
— Mel! — disse ele, erguendo a voz no comando. Relutantemente
eu parei e me virei para olhar para trás, quase caindo de bunda
novamente. Eu não gostava de estar bêbada, eu percebi. Nada estava
funcionando direito e tinha parado de ser divertido.
— O quê?
— Você precisa mandar uma mensagem para London e Kit, —
disse ele, sua voz quase amável. — Deixe elas saberem que você está
bem. Diga que eu trouxe você para casa.
— Oh, — eu disse, me sentindo envergonhada porque isso não
tinha me ocorrido. (Definitivamente não mais ficar super bêbada - eu
não era muito boa nisso). Eu peguei meu telefone e vi várias
mensagens. Droga. A primeira era de London, cerca de 45 minutos
atrás.
LONDON: Divirta-se, mas tenha cuidado, Mel. Taz é bonito... mas
ele também é um galinha.
Então, quinze minutos mais tarde.
LONDON: Eu não vi para onde você foi - você está bem?
E finalmente...
LONDON: Eu estou preocupada com você, Mel. Por favor, me
mande uma mensagem e diga se você está bem.
Ugh. Eu tinha que ser a pior quase-filha de todas. Logo depois
disso havia uma mensagem de Kit.
KIT: London está pirando e alguém disse que você saiu com Taz.
Tenha cuidado. Beijo
Porcaria porcaria porcaria...
~ 51 ~
EU: Desculpe, eu fiquei cansada e decidi voltar para casa. Peguei
uma carona com Painter e está tudo bem. Vejo você mais tarde e
obrigada pelo convite.
Eu olhei de volta para a rua, onde Painter ainda estava sentado
em sua moto, me observando. Eu lhe dei um pequeno aceno com dedo -
por que você fez isso? Você parece uma completa idiota fazendo
isso! Ugh - em seguida, caminhei até a porta, retirando a minha
chave. Fiquei ali, considerando, em seguida, me virei e caminhei de
volta pelo gramado até ele antes que eu perdesse a coragem, porque nós
ainda tínhamos assuntos inacabados.
Painter inclinou a cabeça, questionando.
— Muito obrigada por me emprestar seu carro enquanto você
estava na prisão, — eu disse com cuidado, segurando seu olhar. — Foi
muito legal da sua parte e me ajudou muito.
— Não tem de quê, — respondeu ele, alguma emoção estranha
passando por seu rosto. Balancei a cabeça, me virei e voltei para a
porta, retirando a minha chave novamente. Eu ouvi o rugido da moto
dele atrás de mim quando eu entrei.
Jessica estava certa sobre uma coisa. Sair de casa para ir ao
Arsenal tinha sido um grande erro.
~ 52 ~
Capítulo
04
Eu encontrei Jess no sofá, trabalhando em seu laptop e comendo
um alcaçuz. Seu cabelo ainda estava com o coque parecendo uma
ameba de forma estranha e ela tinha uma lata de Red Bull no braço do
sofá desbotado ao lado dela. Música tocava ao fundo, sua habitual
mistura de músicas animadas e boy bands. Por mais que eu amasse
Jess, suas playlists me faziam querer arrancar meus ouvidos da minha
cabeça.
Quando ela me viu, seus olhos se arregalaram e ela apontou
acusadora.
— Você transou, sua putinha!
— O quê? — perguntei, totalmente confusa. Deus, eu devo estar
ainda mais bêbada do que eu pensava.
— Você. Transou. — ela repetiu, apontando seu dedo em minha
direção para dar ênfase. — Todo o seu batom está borrado. Você
conheceu um cara e chupou o pau dele, não é? Ele chupou você
também? Eu estou supondo que ele te comeu - há um brilho em seus
olhos...
— Não, eu não chupei o pau de ninguém. Quer dizer, nós...
Então eu parei, engolindo em seco. Espera aí, mas o quê? Por que
nós estávamos tendo essa conversa? E mais importante, eu queria dizer
a ela o que aconteceu com Painter? Eu pisquei lentamente, tentando
descobrir o que dizer quando Jess começou a rir.
— Mellie, você é muito fácil, — disse ela, revirando os olhos. — Eu
sei que você não transou - mas você pode me culpar por te encher o
saco? Você sempre fica tão corada. É muito engraçado porque você
nunca iria transar em uma festa. Você é sempre a boa menina.
Eu fiz uma carranca, em seguida, caí ao lado dela no sofá. Eu não
podia decidir se estava ofendida que ela achava que eu não poderia
arrumar uma transa ou grata que ela não suspeitava de nada. Me
inclinando para baixo, eu tentei desamarrar minhas botas. Isto provou
~ 53 ~
ser mais difícil do que deveria ser, porque meus dedos não estavam
funcionando muito bem.
— Só porque eu sou boa na escola não significa que eu não possa
transar, — eu lembrei a ela. — Não é como se eu fosse virgem.
— Você dormiu com três caras, certo? — ela perguntou,
arqueando uma sobrancelha. Eu balancei a cabeça, estremecendo
enquanto eu pensava sobre o último... com nenhum deles tinha sido
bom, mas o John tinha realmente me machucado. Terrível, que pontaria
terrível que o cara tinha.
— E quando foi a última vez que você transou? — ela continuou.
— Faz um bom tempo, — eu admiti.
— Desde que você conheceu Painter.
Dei de ombros, me recusando a dignificar suas perguntas com
uma resposta. Isso só iria incentivar a vadia.
— Isso é um beco sem saída e você sabe disso, — disse ela,
batendo a mão em rejeição. — Eu preciso que você saia da sua própria
bunda e tenha alguma ação - desde que eu jurei ficar sem sexo,
eu estou contando com você, Mel. Você é tudo que eu tenho.
Ela olhou para mim com olhos adoradores de cachorrinho
abandonado.
Ignorando-a, cai para trás nas almofadas do sofá, apoiando os pés
sobre a mesa de café que tínhamos pechinchado no brechó do St.
Vinnie. Ela era acabada e horrorosa, mas era sólida o suficiente para
segurar uma pizza e um engradado de cerveja, o que era tudo o que
importava (pelo menos de acordo com Jess).
— Você não é tão inteligente como você pensa, — eu murmurei. —
Não nada disso.
— Estou surpresa que Loni não veio dizer oi quando ela trouxe
você, — ela disse, se jogando de volta ao meu lado. — Ela geralmente
vem.
— Eu não vim de carona com Loni, — eu fui vaga, ainda me
sentindo sensível e envergonhada com o que aconteceu. Eu não gostava
de mentir para Jessica, mas eu não estava pronta para isso. Ainda
não. Especialmente desde que eu sabia que ela tinha ido a uma festa no
~ 54 ~
Arsenal - não uma festa de família - e ela conseguiu muito mais de
Painter do que eu tinha conseguido.
Acho que eu era boa o suficiente quando ele estava entediado na
cadeia e queria cartas. Agora? Não muito. Olhei para Jess, perguntando
exatamente o que foi que aconteceu entre eles. Ela disse que eles
tinham =fodido por aí‘, mas o que isso realmente significava? Ela disse
para não me preocupar com isso, que não era importante... mas Jessica
era linda. Maravilhosa. E mesmo ela sendo mais jovem do que eu, ela
era décadas mais velha em termos de experiência. Não é de se admirar
que Painter não estava realmente interessado em mim.
Eu não era o tipo dele.
— Então, quem te deu uma carona? — ela perguntou, franzindo a
testa. — Em e Kit estavam bêbadas. Foi Hunter? Ou será que eles te
mandaram com um prospecto?
Pensei em mentir... inventar um nome ou algo assim. Jess tendia
a ter um curto período de atenção, então ela provavelmente iria
esquecer tudo sobre isso, a menos que eu fosse estúpida o suficiente
para dizer a ela...
— Oh meu Deus, você pegou uma carona para casa com Painter!
— ela acusou de repente. — Eu posso ver a culpa escrita por todo o seu
rosto. Como diabos isso aconteceu?
Merda.
— Sim, — eu admiti lentamente. Poderia muito bem contar a ela
toda a história feia. — Ele não está interessado em mim - apenas me
ignorou, como fez no dia em que nos mudamos. Mas então eu conheci
outro cara e...
— O quê? — ela perguntou. Eu fechei meus olhos, tentando
pensar e, em seguida, abri porque a sala estava girando
loucamente. Por um instante eu pensei que eu poderia
vomitar. Felizmente passou.
— Então ele me arrastou para fora e me disse que eu não
pertencia àquele lugar, — eu admiti. — Nós estávamos discutindo sobre
isso e ele estava encima da minha cara, e então ele estava segurando
meu cabelo e aí eu o beijei.
Jess fez uma careta.
~ 55 ~
— Ele não é um cara bom, — disse ela. — Quero dizer, ele fez
algumas coisas boas, eu vou dar isso a ele. Mas esses motoqueiros são
perigosos, Mel. Eu disse a você o tempo todo - você tem que ficar longe
dele.
Esta não foi a primeira vez que tivemos essa conversa - ela tinha
ficado furiosa quando ela descobriu que tínhamos escrito um para o
outro. De repente, um pensamento terrível me ocorreu. Eu tinha feito
isso antes, mas eu nunca perguntei a ela sobre isso, porque parecia
errado.
Eu não estava me sentindo tão inibida esta noite, no entanto.
— Então, eu tenho que saber... — eu comecei, me perguntando
como deveria questioná-la. E aí, Jessica, você ainda quer ter relações
sexuais com o meu estranho e desagradável chave de cadeia? Hmm. Isso
não soou bem. Qual era exatamente a maneira mais delicada de
perguntar a sua BFF se ela tinha esperança de dar para o cara que você
estava secretamente apaixonada, mas que não tinha nenhum interesse
em você, porque ele a vê como uma criança indefesa?
Meu relatório de literatura inglesa não falava sobre isso.
— O que foi? — ela perguntou, fechando seu laptop e se
inclinando contra o lado do sofá. — Me deixe adivinhar - você está
tentando demais descobrir uma boa maneira de me perguntar se eu
ainda estou cobiçando Painter, porque esse é o tipo de garota que eu
sou? Sempre perseguindo caras?
Tossi, me sentindo como uma cadela completa por sequer pensar
nisso. Mas esse era o problema - isso tinha me comido viva por um
tempo, o que, no entanto, não era justo de várias maneiras, porque Jess
tinha mudado seu jeito de ser. A maior parte. (Foi o fato de ser apenas a
=maior parte‘ que causou a minha preocupação).
— Pode ser. Notei que ele te puxou de lado para falar com você
por alguns minutos durante a mudança...
— Eu não posso decidir se isso é engraçado ou humilhante como
o inferno.
— Engraçado? — perguntei fracamente. Jessica inclinou a cabeça
no meu ombro e suspirou.
— Um, eu fiz um voto temporário de celibato.
~ 56 ~
— Sim, mas você nunca disse por quanto tempo e até mesmo você
tem que admitir que é impulsiva como o inferno, — eu indiquei,
descobrindo assim que eu poderia muito bem desabafar, agora que
tínhamos começado essa conversa. — Pelo que eu sabia, o voto
terminou hoje mais cedo.
— Bom ponto, — disse ela, rolando a cabeça para sorrir para
mim. Oh, graças a Deus. Ela não estava muito chateada. Mas ela
também não tinha respondido a minha pergunta ainda. — Não se
preocupe. Eu nunca tocaria em Painter, Mel, mesmo que ele estivesse
interessado - e ele não está. Ele não dá a mínima para mim. Não só isso,
você é muito mais importante para mim do que algum motoqueiro
imbecil. E eu estou realmente trabalhando em toda essa coisa de
controlar meus impulsos. Eu sei que eu tenho um longo caminho a
percorrer, mas estou indo realmente muito bem. Admita - houve pelo
menos um vinte e cinco por cento de redução de drama.
Eu ri, me sentindo quase tonta de alívio. — Dê a si mesma um
pouco de crédito - eu diria que trinta por cento. Você ficaria com
quarenta, se não fosse pelo incidente no Tire Iron.
Jessica suspirou.
— Sim. Não foi o meu melhor momento. Mas você quer saber um
segredo? — ela perguntou e se inclinou para trás para me oferecer um
sorriso perverso.
— O quê?
— Eu sei que eu disse à Reese e Loni que eu estava arrependida,
mas eu com certeza faria tudo novamente. O idiota merecia tudo o que
aconteceu. Eu juro, eu quase gozei quando quebrei o para-brisa do
carro do filho da puta. Vou preferir vingança à sexo qualquer dia
desses.
Ela balançou as sobrancelhas para mim de novo, e eu dei a ela
um falso olhar severo, imitando Reese.
— Isto não é a porra de uma piada, Jess, — eu disse, imitando o
tom de voz dele e as palavras que ele disse. — Sua bunda estaria na
cadeia agora se esse desgraçado não estivesse com tanto medo dos
Reapers. Da próxima vez eu vou deixá-los rebocar você também.
— Eu sinto muito, Reese, — ela respondeu, abaixando a cabeça e
mordendo o lábio. — Eu acho que eu perdi o controle. Eu vou ter que
falar com o meu conselheiro sobre isso...
~ 57 ~
Isso foi o suficiente para nós duas rirmos sem parar, o que
realmente não foi muito legal, porque Reese era um bom homem - não
só porque ele era louco por Loni, ele tratava a mim e a Jess como suas
próprias filhas.
— Eu tenho um segredo para você, também, — eu admiti quando
nossos risos finalmente diminuíram.
— O que é?
— Loni disse que ele tinha merecido também. Eu a ouvi dizendo a
Reese que se você não tivesse quebrado o para-brisa dele, ela
teria. Ele ficou puto, também.
— Sério? — perguntou Jess, obviamente surpresa. — Puta merda.
— Sim, ele disse que se ela precisasse de janelas quebradas, ela
deveria falar com ele. Ele enviaria um prospecto para fazer isso por ela,
porque ele não queria que ela se cortasse. Então eles começaram a se
beijar de novo e eu fugi antes que toda aquela demonstração pública de
afeto me fizesse vomitar.
Sua boca caiu.
— Ele é realmente um bom homem, — disse ela calmamente. Eu
balancei a cabeça, agradecida de que as coisas estavam bem entre nós
novamente.
— Me desculpe por ter perguntado.
— Eu sei.
Ela me deu um sorriso triste, e havia segredos em seus olhos que
eu ainda me perguntava o que eram. Havia uma conexão lá, entre o que
aconteceu com ela e Painter ter ido para a cadeia. Eu tinha escrito para
ele, perguntando o que ele queria que eu fizesse com seu carro. Ele me
disse para guardá-lo, e me enviou um esboço engraçado de um desenho
animado dele estudando uma bandeja de comida da prisão, parecendo
confuso e revoltado.
Inclinando minha cabeça, eu olhei para o teto, contemplando a
situação. Nós alguma vez realmente fomos amigos?
— Jess, eu sei que todo mundo diz que os Reapers fazem algumas
merdas fodidas, — eu disse suavemente. — Você acha que os rumores
são verdadeiros? Quero dizer, se Reese é um cara tão bom...
Jessica suspirou profundamente.
~ 58 ~
— Os rumores são verdadeiros, Mel, — ela disse, a voz sombria. —
O que quer que seja a merda que você acha que eles estão fazendo, é
pior. Muito pior. Confie em mim sobre isso.
Eu pisquei rapidamente, perguntando por que diabos meus olhos
subitamente marejaram, porque eu tinha passado por muita coisa na
minha vida para estar chorando por um garoto.
Não, não um garoto. Painter Brooks era definitivamente um
homem. Jess pegou o controle remoto e ligou a TV que nós ganhamos
como presente de inauguração de Loni, juntamente com três grandes
sacos de mantimentos. Algum reality show estúpido estava passando, e
depois de alguns minutos, me lembrei que eu precisava de um picolé
então eu fui para a cozinha procurar por um.
Que merda pra mim, porque Jess já tinha comido o último. Peguei
um iogurte grego em vez disso, em seguida, me sentei para assistir um
grupo de mulheres ricas e mimadas discutindo sobre qual vida era a
mais difícil.
Ha. Talvez eu devesse deixar uma delas com o meu pai - isso sim
seria um reality show.
~ 59 ~
Capítulo
05
PAINTER
Eu não me incomodei em voltar para a festa.
Taz precisava ter seu traseiro chutado e eu tinha a sensação de
que eu não seria capaz de me parar se eu visse sua cara maldita. Isso
não seria bom - os Devil‘s Jacks podem ser nossos aliados neste
momento, mas a história entre os dois clubes não era bonita. Pic ainda
=fazia piada‘ sobre matar Hunter, o old man de sua filha, o tempo
todo. A última coisa que ele precisava era que eu jogasse gasolina no
fogo.
Então lá estava eu, sozinho em uma noite de sexta-feira, as bolas
azuis como a bunda de um Smurf, apesar do fato de que eu recebido
um boquete mais cedo, antes de Mel aparecer. Agora que eu tinha visto
ela - a sentido contra mim - eu não podia negar a realidade. Ela era
diferente. Especial. Apenas tocá-la era melhor do que foder qualquer
outra pessoa e eu não queria me estabelecer ainda. Parecia uma coisa
real.
Porém, mais cedo ou mais tarde esta paixão iria passar.
Eu me conhecia. Eu pensei que Em era a mulher para mim. Então
eu demorei muito tempo e a perdi. Pensei que meu mundo estava
acabado. E ele não acabou. Eu não sinto nem uma maldita coisa
quando eu olho para ela nos dias de hoje, apesar do fato de que eu
estava 100 por cento convencido de que eu nunca conseguiria esquecê-
la.
Tudo o que eu sentia por Mel passaria também.
Eu puxei a moto para o beco atrás do meu novo lar, uma casa
antiga que tinha um apartamento em cima e uma garagem embaixo. O
lugar alugado era apenas cerca de quatro quarteirões da casa de Mel,
algo que foi uma completa coincidência. O fato de que eu decidi
procurar algum lugar para morar no centro da cidade depois dela se
mudar não queria dizer nada - era pura coincidência.
~ 60 ~
Abri a porta e entrei, acendendo as luzes da garagem. Elas
estavam amarradas ao longo do teto em ganchos, conectadas uma a
outra em uma longa corrente. Subi as escadas, peguei uma cerveja, em
seguida, desci novamente, porque eu estava excitado demais para
dormir.
Em vez disso eu fui até a placa de carvalho que eu estava
preparando, testando a superfície para ver ela tinha secado. Seca. Eu
tinha trabalhado nela por cerca de uma semana. Agora estava
finalmente pronta, o que significava que eu poderia começar a pintar
pela primeira vez desde que eu tinha saído da prisão. Entre trabalhar -
na loja de tunagem e resolver assuntos para o clube, ambos legítimos -
e encontrar um lugar para viver, eu estive muito ocupado.
Esta noite foi exatamente o que eu precisava.
Tirei meu colete do clube, agarrando minha cadeira mecânica e
puxando-a para a mesa de trabalho. Minhas pinturas estavam
esperando, junto com os pincéis que eu tinha comprado para substituir
os que eu tinha perdido quando eles me prenderam. Algumas old ladies
foram ao meu antigo apartamento e encaixotaram minhas coisas depois
que fui preso, mas elas não souberam como embalar os pincéis. Estes
não tão bons quanto os antigos, mas eles eram o melhor que eu poderia
bancar por agora e eu não queria esperar mais.
Uma hora depois, fiz uma pausa, terminando minha cerveja
enquanto estudava o contorno do símbolo dos Reapers que eu tinha
começado. Eles me pediram para fazer um tipo de mural para a sala de
reunião. Originalmente eu tinha planejado pintá-lo na parede, mas Pic
sugeriu que eu fizesse em um quadro para que eles pudessem movê-lo
por aí Foi uma boa ideia – um quadro como este pode durar décadas.
Porra, mas era bom poder pintar novamente.
Então, talvez eu não pudesse ter a Mel - mas pelo menos eu ainda
tinha isso. Eu era bom nisso também. Eu tinha feito alguns trabalhos
de design personalizado para alguns caras ainda na prisão. Agora que
eu estava livre de novo, eu já tinha falado com alguns deles sobre pintar
a mão suas motos. Um deles trabalhava só nos fim de semana, tinha
muito dinheiro e não se importava se eu segurasse sua moto por
algumas semanas enquanto eu fazia a arte.
Acho que alguns de nós vive para montar mais do que outros.
Não que eu me importasse de qualquer maneira, contanto que
eles trouxessem o dinheiro.
~ 61 ~
Colocando um pouco de música, me inclinei para a placa
novamente. Parecia bom. Muito bom. Talvez eu levasse em consideração
a sugestão do meu irmão Bolt e criasse um site para divulgar o meu
trabalho. Ver se eu poderia conseguir mais alguns trabalhos. Me
ocorreu que um cara com um negócio próprio - um artista comercial -
pode ser o tipo de cara que uma garota como Mel poderia se
estabelecer. Cristo, eu precisava parar de pensar nela.
Não ia acontecer.
Era hora de superar isso.
* * *
Justin Bieber estava cantando no meu quarto.
Que porra é essa?
Piscando, eu olhei para o teto, tentando acordar. Talvez descobrir
quem eu precisava matar para fazer um final perfeito. Depois de uma
eternidade, o ruído morreu e eu rolei, puxando o travesseiro sobre a
minha cabeça, tentando descobrir qual crime havia cometido para
merecer esse pesadelo.
Foi quando começou novamente.
Porra, era o meu telefone. Estendi a mão para pegá-lo, uma foto
do dedo médio de Puck estava piscando na tela... e sim, eu reconheci o
dedo porque eu tinha visto ele apontado para mim por pelo menos dez
vezes ao dia há mais de um ano. Como se fosse sua saudação matinal
na prisão... eu fiz uma careta, atendendo.
— Que tal o seu novo toque? — perguntou o meu melhor amigo.
— Coma merda e morra, filho da puta, — eu consegui rosnar,
mas o insulto não foi dos melhores - meu cérebro ainda estava
nebuloso.
— Alguém não transou ontem à noite, — respondeu ele, e eu
praticamente podia sentir o cheiro dele se regozijando. Idiota. — Vi que
você saiu com Mel e não voltou. Estou decepcionado com você, mano.
Eu desliguei o telefone, deixando-o cair ao meu lado na
cama. Porra, eu me sentia como merda. Virar a noite pintando pode ser
~ 62 ~
pior do que beber, pelo menos em termos de ressaca. Eu finalmente
desmaiei por volta das seis da manhã, o que - de acordo com o relógio,
era apenas nove horas agora. Eu costumava cheirar algo para me
acordar, mas eu fiquei limpo durante meu tempo na prisão e planejava
continuar dessa maneira, portanto, sem diversão para mim.
Justin começou a uivar novamente. Peguei o telefone, resignado.
— Como diabos você conseguiu entrar no meu telefone? —
perguntei.
— Adivinhei a senha, idiota, — disse Puck. — Conheço você muito
bem - você não pode esconder merda nenhuma de mim. Tenho uma
razão para ligar, embora, então não desligue na minha cara como uma
adolescentezinha pau no cu desta vez, ok?
— Você tem trinta segundos.
— Temos reunião em uma hora - todos os três clubes, — ele me
disse, a voz ficando séria.
— Pensei que era esta tarde.
— Eles mudaram. Aconteceu alguma coisa. Acho que Boonie
precisa sair mais cedo, então nós estaremos conversando às dez.
— Ótimo, — eu disse, esfregando os olhos. Merda, eu estava
cansado. — Vejo você depois.
Desligando, deixei cair o telefone de volta na cama, olhando para
o teto. As manchas de água estavam sobrepostas umas às outras em
padrões circulares e eu tinha a sensação de que as coisas poderiam
ficar úmidas aqui quando o tempo fechasse. Não que eu me importasse
– a garagem na parte de baixo fazia um estúdio perfeito, e isso é tudo o
que me importava.
Bieber explodiu cantando novamente, poluindo o meu espaço
sonoro. Eu realmente deveria matar Puck, eu decidi. Serviço
comunitário.
— E agora? — perguntei, respondendo.
— Só pensei que você gostaria de ouvir novamente a música.
— Eu te odeio.
— Eu sei.
~ 63 ~
* * *
Uma vez que eu estava acordado, o caminho para o Arsenal não
foi tão ruim – o ar fresco me fazia bem. Este foi o primeiro grande
encontro com o clube desde que eu tinha saído. Eles tinham me dado
uma festa quando cheguei em casa, é claro, mas nós tínhamos mantido
tudo pequeno. Parecia mais seguro assim, dado o drama de Puck com o
sul.
Hoje tivemos representantes dos Devil‘s Jacks, os Reapers e os
Silver Bastards. Entre os clubes que poderiam reivindicar a maioria
vinda de Idaho, Montana, Oregon e Washington. Eu não estava ciente
de qualquer assunto urgente, mas eu tinha estado fora de circuito por
um bom tempo.
O Arsenal estava lotando com pessoas, embora como diabos eles
estavam todos de pé tão cedo, logo após a festa de ontem à noite, eu
não tinha ideia. Eu estacionei minha moto na fileira e caminhei em
direção à porta principal. Do lado de fora estava um grupo de Silver
Bastards, incluindo Puck. Ele parecia ridiculamente saudável e bem
descansado. Até onde eu sabia ele não tinha festejado direto a noite
passada – o cara ainda estava com a cabeça fodida por causa do que
aconteceu com uma garota em Cali.
Não poderia culpá-lo por isso... a merda foi feia.
Nessas duas últimas semanas desde que tínhamos chegado em
casa, eu tinha sentido falta dele, especialmente à noite. Meio estranho,
mas é que tinha sido só eu e ele no ano passado. Nós tínhamos mantido
um ao outro seguros, montando guarda, nos
apoiando. Sobrevivendo. Esse tipo de irmandade não simplesmente
terminava quando seu tempo era servido.
— Como vai? — perguntei, andando até ele.
— Emoções e empolgação sem parar, — ele respondeu, sua voz
seca. — Tirei uma nova licença de motorista ontem. Tive que esperar
uma eternidade e a vadia do meu lado não calava a boca. Ainda é a
coisa mais empolgante que aconteceu comigo desde que cheguei em
casa, então talvez devamos explorar nossas opções.
— Callup é uma boa cidadezinha para se estabelecer, — eu disse
a ele, sorrindo. — Você vai se acostumar a acordar às sete todas as
noites, eu juro. Claro, você poderia simplesmente voltar para
~ 64 ~
Montana. Adoro ter você apor perto e toda essa merda, mas se você não
está feliz aqui, por que ficar?
Ele deu de ombros. — Sinto como se eu tivesse assuntos
inacabados.
— Sim, mas se o assunto for a garota chave de cadeia, então você
poderia muito bem esquecer sobre ele. A menos que seja amor
verdadeiro, é claro, — eu disse, insultando-o. — O verdadeiro amor vale
qualquer sacrifício, certo? Inclusive as suas bolas?
— Vá se foder, — disse ele, socando meu ombro. Eu dei um soco
de volta, mas não toquei mais no assunto. Tanto quanto eu amava
brigar com ele, agora não era o momento.
— É bom ver você de novo, — disse Boonie, presidente dos Silver
Bastards. — Puck já nos disse tudo o que você fez por ele na prisão.
— Foi de ambas as partes, — eu admiti. — Teria sido muito pior
lá sem ele. Apenas fico feliz que ambos saímos de lá vivos.
— Bem, nós agradecemos.
— Ele é um bom irmão.
Olhei para cima e vi BB a passos firmes vindo em nossa
direção. O prospecto gigante já deveria ser um membro de pleno direito
por agora, mas ele caiu fora por um tempo quando sua mãe estava
morrendo. Câncer.
— Prez diz que é hora de ir, — ele nos disse. — Eles estão prontos
para começar. Lá em cima na sala de jogos.
Todos nos embaralhamos ao entrar, passando pela sala principal,
que servia como um lounge, bar e sala de visita. Ela compreendia a
metade da frente do piso inferior, com uma cozinha na parte traseira do
lado esquerdo, escritórios no centro, e uma oficina que espelhava o
quarto principal na parte traseira.
O lugar não estava tão ruim assim, considerando o quão grande a
festa tinha sido. Haviam garrafas vazias enfiadas aqui e ali, e um sutiã
que tinha ficado preso na luz pendurada sobre a mesa de bilhar. Eu vi
algumas meninas vagando ao redor, limpando a sujeira. Não reconheci
nenhuma delas, o que não foi uma grande surpresa. Eu ainda não
estava totalmente integrado na vida do clube, e nenhuma delas parecia
uma old lady. Em seguida, avistei aquela que tinha me feito um boquete
ontem à noite. Ela me ofereceu um pequeno aceno. Devolvi com um
~ 65 ~
aceno de cabeça, mas não fiz contato visual - não havia razão para
incentivá-la.
A sala de jogos era subindo as escadas no segundo andar, do lado
direito. No momento em que chegamos lá em cima, a maioria dos
irmãos já estavam esperando. Puck e eu encontramos um local na parte
de trás, encostados na parede para assistir. Ele ganhou o seu patch há
apenas três semanas e eu sabia que ele planejava ser discreto. Eu
também.
Picnic inspecionou o quarto, ladeado pelos presidentes das outras
facções que vieram para o fim de semana. Incluindo Deke, Hunter e
Boonie.
— Obrigado a todos que vieram. Ao longo dos últimos dois anos
nós tivemos vários conflitos. Merda já aconteceu, irmãos foram presos,
— ele assentiu respeitosamente para mim e Puck, — e nós perdemos
alguns ao longo do caminho. É bom ter algum tempo apenas para a
socialização. Mas não podemos desperdiçar esta oportunidade para
falar de negócios também. Deke e Hunter vamos nos atualizar sobre a
situação com o cartel, e, em seguida, nós temos uma nova
situação. Deke?
O presidente da facção dos Reapers de Portland deu um passo à
frente, cruzando os braços enquanto olhava através da sala.
— Os Jacks têm resistido no sul, — disse ele. — Nós pegamos
alguns envolvidos do cartel na área de Portland, mas, até onde eu sei,
eles não estão atuando mais em Washington. La Grande se manteve
firme, abrangendo o corredor central. Por mais que eu odeie admitir, os
Jacks têm sido firmes. Não há muito o que relatar. Hunter, você tem
alguma coisa a acrescentar?
O old man de Em deu um passo à frente. Estudei-o pensativo,
tentando decidir se eu o odiava um pouco menos nos dias de hoje. Eu
tinha superado Em há um tempo atrás - não tinha pensado sobre ela
há algum tempo. Você poderia achar que isso suavizaria as coisas entre
mim e Hunter, mas isso não aconteceu - eu ainda queria alegremente
cortar sua garganta, apenas pra começar. Cuzão arrogante.
Ele olhou diretamente para mim, os olhos duros.
— Tenho que agradecer a aqueles que cumpriram pena por todos
nós, — disse ele, me oferecendo um pequeno aceno
zombeteiro. Chupador de pau. — Nós todos sabemos que o cartel vai se
recuperar e vir atrás de nós novamente em algum momento, mas por
~ 66 ~
enquanto eles estão em sua maioria ao sul da fronteira do estado de
Oregon. O sul de Cali é um pouco mais difícil - não estamos no controle,
mas eles não estão tampouco. Em algum momento, provavelmente
teremos que tomar uma decisão difícil sobre se queremos ou não
continuar lutando pelo território. Isso cabe ao clube decidir, e agora nós
estamos adiando organizar quaisquer planos concretos. Nossos aliados
do sul estão se infiltrando. Não tenho certeza se podemos confiar neles
a longo prazo.
Puck e eu compartilhamos um olhar - nós vimos muito disso na
prisão. Os nossos =aliados‘ eram inúteis.
— Painter, você quer compartilhar o que me contou sobre o seu
tempo na prisão? — Pic perguntou, aparentemente lendo minha
mente. Eu balancei a cabeça, fazendo uma pausa para considerar antes
de falar.
— Bem, todos sabem que tínhamos irmãos de clubes aliados com
a gente, — eu disse. — Alguns Longnecks, Bay Brotherwood e um cara
dos Nighthawk Raiders. Os Longnecks são uma merda, lamento
dizer. Não foi possível confiar neles lá dentro, e agora que eu já visitei
uma de suas facções, eu diria que o mesmo vale para toda a porra do
clube. A Irmandade parecia séria, mas eles estão tendo um momento
difícil lidando com os próprios problemas. O cara dos Nighthawks era
interessante...
Puck e eu compartilhamos um olhar rápido quando eu pausei,
tentando pensar na melhor maneira de explicar sobre Pipes, nosso
contato do presídio.
— Puck, você quer me ajudar a explicar? — perguntei.
— Claro, — disse ele. — Pipes estava sozinho e nós nos ligamos
até muito rápido, dada a história entre os nossos clubes. Ele estava em
um carregamento de armas também. Mas aqui é a parte interessante -
todos nós sabemos que eles estiveram trazendo os produtos pela
fronteira canadense por um tempo, certo? Bem, entendam... de acordo
com Pipes, seus contatos mudaram para o lado do Canadá.
Picnic e Boonie não ficaram surpresos com isso, mas Hunter
obviamente ficou. Interessante - Pic não tinha informado a ele antes do
tempo. Acho que a família Hayes não era tão grande e feliz assim. Não é
uma grande surpresa - eu tinha todos os tipos de razões para não
gostar do cara, mas eles eram nada comparadas às razões de Pic. Tanto
quanto eu poderia dizer, o próprio Cristo não seria bom o suficiente
para as filhas de Reese Hayes, pelo menos não aos seus olhos.
~ 67 ~
Rance, o presidente da facção dos Reapers de Bellingham,
interviu. Ele já sabia o que Puck e eu tínhamos a dizer, é claro. Nós
contamos a Pic e Boonie tudo sobre ele, e eu sabia que Reese tinha
entrado em contato com Rance depois, vendo como sua facção era a
mais próxima de Hallies Falls, onde os Nighthawks foram
localizados. Agora eu estava curioso para ouvir sua opinião sobre a
situação.
— Nós ouvimos rumores, — disse ele. — Eu já suspeitava que algo
estava acontecendo há algum tempo. Eles diminuíram seus
pagamentos, o produto desapareceu, esse tipo de coisa... eles colocaram
a culpa em alguns policiais locais por estarem indo mal - consequência
de fazer negócios - mas nunca pareceu ser verdade. Agora temos uma
ideia melhor do que está acontecendo. Diga a eles o resto, Painter.
— Então, há algo novo na jogada em British Columbia, — eu
continuei. — Eles se chamam de clube, mas Pipes diz que eles são
apenas um bando de pés no saco que se compraram motos e
distribuíram alguns patches - não uma irmandade de verdade. Parecido
como aquela merda que aconteceu em Quebec, sabe? Agora eles estão
brigando com os Nighthawk Raiders pelo controle do tráfico na
fronteira. Ele está preocupado se o clube vai cair, com todos perdendo
seus patches.
— Por que eles mesmos não vêm até nós? — perguntou Hunter,
franzindo a testa. — Parece o tipo de coisa que você gostaria de discutir
diretamente, mas não ouvimos merda nenhuma da parte deles.
— Pipes acha que seu presidente - Marsh - tem aliança com os
caras de BC, — expliquei. — Ele não só tem trazido novos irmãos que
são leais a ele, ele também está cortando os irmãos mais velhos do
circuito. Eles votaram em merda nenhuma e não houve eleições
administrativas, tampouco. Pipes diz que tentou conversar com
Marsh. Teve sua bunda chutada e, em seguida, eles o sacrificaram em
uma corrida. Ele não está contando nada aos policiais, mas ele está
buscando a nossa ajuda. Desesperado por ela. Sabe que se o clube cair,
ele vai perder a sua proteção lá dentro.
— Péssima situação, — Boonie murmurou. — Ideias, alguém?
— Devemos ir dar uma olhada, — disse Bolt, o vice-presidente de
Coeur d'Alene. O homem tinha a idade de Picnic, e eles tinham sido
amigos durante toda a vida. Se não fosse por Bolt, eu não estaria aqui.
Eu o conheci quando eu tinha dezenove anos de idade, novato em
minha primeira prisão e um merdinha assustado. Ele teve piedade de
~ 68 ~
mim, me ensinou como permanecer vivo e me protegeu quando eu
precisei. Eu tinha uma moto antes de ser preso, mas não conhecia nada
sobre a cultura MC. Quando eu saí de lá dois anos mais tarde, eu
estava pronto para os Reapers. Bolt moveu algumas peças e a próxima
coisa que eu sabia, eu estava hospedado no Arsenal, fazendo trabalhos
estranhos e ganhando o meu caminho para o clube.
Melhor maldita coisa que já me aconteceu, nenhuma porra de
dúvida.
— Eu vou, — Gage anunciou, dando um passo à frente
calmamente. Não fiquei surpreso - até o ano passado, Gage tinha sido o
nosso sargento das armas e ele nunca deu para trás por nada. Ele tem
gerido a Linha pelos últimos dois anos e eu sabia que ele estava
inquieto. — Entramos sem alarde, conseguimos um ideia de como as
coisas estão indo. Talvez apenas alguns de nós?
— Ideias? — perguntou Pic, olhando para os outros presidentes.
— Parece bom para mim, — disse Boonie. — Não há necessidade
de alarmá-los – se não for nada, eles nunca vão saber que nós os
interrogamos, e se tivermos de agir, eu não quero que eles alarmados
antes do tempo.
Rance assentiu. — Você tem alguém em mente para levar com
você, Gage? Eles conhecem a maioria dos irmãos Bellingham, portanto,
podemos não ser muito úteis para você.
Gage olhou para mim, os olhos especulativos. — E você,
Painter? Você já ouviu falar sobre a situação em primeira mão, e você
esteve fora de circulação por um tempo. É menos provável que eles vão
reconhecê-lo. Eu sei que você está em liberdade condicional, mas eu
acho que nós temos cobertura.
— Claro, — eu disse, reorganizando mentalmente minha
semana. Eu tinha turnos na loja de tunagem, mas como Pic era o chefe,
isso não era um problema.
— Ótimo, vamos conversar depois que nós terminarmos aqui, —
respondeu ele.
— Prosseguindo, vamos discutir a situação perto de Whitefish, —
disse Pic. Eu só o ouvia com uma orelha, enquanto pensava em todas
as conversas que eu já tive com Pipes na prisão, me perguntando se eu
deixei passa alguma coisa ao longo do caminho.
~ 69 ~
— Você quer ajuda? — perguntou Puck, sua voz um sussurro. —
Sei que você está na sua zona de conforto, mas nunca é demais ter
reforço.
Eu gostei da ideia - parecia natural ter Puck comigo. — Me deixe
falar com Gage. Ver o que ele acha.
* * *
Uma hora mais tarde terminamos todos os nossos assuntos a
tratar. Não havia uma tonelada dessa vez - este fim de semana foi mais
um evento social do que qualquer outra coisa. Segurei o olhar de Gage
ao sair, e ele acenou para mim.
— Puck se ofereceu para vir com a gente, — eu disse a ele. —
Estamos apertados, e provavelmente não faria mal ter alguém dos
Bastards junto para o passeio.
Gage franziu a testa.
— Eu prefiro que não. Eu sei que ele é um bom garoto, mas se
levarmos membros de um segundo clube já complicaria as
coisas. Levamos um dos Bastards com a gente, então os Jacks vão
querer incluir um deles também e de repente há dez de nós chegando
na cidade. Até agora isso está contido em nosso território e eu gostaria
de manter desse jeito.
— Justo o suficiente, — eu disse, vendo sua lógica, mesmo não
gostando dela. Puck era um bom homem para ter à sua volta. Claro,
Gage também era. Ele era o sargento das armas por um motivo - o
homem era um tijolo. Sólido, perigoso, absolutamente leal ao clube. —
Então, quando você quer ir?
— Eu estou pensando sobre irmos em breve, — disse ele. — Já
falei com Pic sobre colocar outra pessoa no meu lugar na Linha. Pode
levar algum tempo, e eu não quero deixá-los esperando. Agora eu estou
tentando pensar em algo que vai me deixar ficar lá por um tempo, mas
também me dar uma desculpa para ir embora sempre que eu precisar...
eu não gosto de ir disfarçado, mas é para o melhor agora.
— Eu te entendo. Então você acha que vai demorar um pouco?
~ 70 ~
— Não tenho ideia, — respondeu ele. — Você é flexível? Eu não
preciso de você lá o tempo todo, mas eu vou querer você me apoiando
por pelo menos parte do tempo.
— Claro, eu posso fazer isso, — eu disse, imaginando que eu
levaria alguns cadernos de desenho ou algo assim. Eu tinha ficado há
mais de um ano sem fazer qualquer arte séria - não havia razão para
começar a trabalhar nisso agora. — E se a gente disser que você é um
caminhoneiro? Isso lhe permite ir e vir, ter distância da vida do clube,
enquanto ainda lhe dá uma desculpa para andar de moto quando você
estiver na cidade. Não só isso, Pic está com suas mãos em um grande
equipamento de Pace Howard agora - ele pode o deixar estacioná-lo por
trás da loja, enquanto ele está implantado, o tendo prometido que iria
mantê-lo em funcionamento. Talvez possamos usar isso.
Gage assentiu com a cabeça, pensativo.
— Não é uma má ideia, — disse ele. — Eu vou falar com Pic, ver o
que ele tem a dizer sobre isso. Como você está indo? Duas semanas fora
agora, certo?
— Bem, — eu disse, percebendo que era verdade. Apesar da
situação com Melanie, eu estava feliz com as coisas em geral. — Meu
agente de condicional - eu estou com o Torres, e ele está na folha de
pagamento - parece saber o seu lugar. Não deveria estar saindo do
estado, mas ele vai me cobrir.
— Tudo bem, então, — disse ele. — Eu vou falar com Pic. Me deixe
saber se houver quaisquer complicações da sua parte, e vamos nos
planejar para sair amanhã ou na segunda-feira.
Eu balancei a cabeça, em seguida, desci as escadas em direção ao
piso principal do Arsenal. Havia mais pessoas agora. Eu podia sentir o
cheiro de café da manhã vindo da cozinha e percebi que eles estavam
fazendo o de sempre - cozinhando dentro de casa e servindo a comida
do lado de fora no pátio.
Poderia muito bem pegar algo para comer.
Do lado de fora peguei um prato e em seguida, o enchi com ovos,
presunto e bolinhos de batata. Eu tinha acabado de me sentar em uma
mesa com Ruger, Horse e Duck quando Kit Hayes - a irmã do mal de
Em, e eu não uso essas palavras de ânimo leve - se sentou ao meu lado.
— Nós estamos indo para a exposição hoje à noite, — ela
anunciou. — Alguns de nós quer ver o rodeio e talvez comer alguns
~ 71 ~
daqueles pequenos donuts que eles jogam nos sacos com
açúcar. Sophie e Marie querem ir, mas suas old ladies não vão se vocês
não forem. O que vocês acham?
— Observe como ela finge como se nossa opinião importasse, —
Duck murmurou, se inclinando para mim. Eu tinha que sorrir. O
velhote estava em seus sessenta anos e enquanto ele estava
demonstrando respeito, ele tendia a ficar perto do clube a maior parte
do tempo.
— Não olhe para mim, — eu disse a ele. — Ela está aqui para
recrutar Horse e Ruger.
Kit olhou para mim.
— Não estrague tudo, — disse ela, arqueando uma
sobrancelha. — Queremos que todos vão conosco, mas eu sei de fato
que Marie não vai se Horse não for e o mesmo para Sophie e Ruger. Elas
se sentem como houvesse trabalho a ser feito aqui no Arsenal.
— Há trabalho a ser feito aqui fora, — Horse disse, sua voz
seca. — Nós temos hóspedes acampando. Eles vão precisar de jantar.
— O que eles podem comprar na feira, — disse Kit, seu sorriso
ficando severo e duro. — Não só isso, há uma abundância de outras
mulheres que não vão. E não é como se o rodeio fosse até tarde. Todos
vocês podem voltar aqui e festejar quando acabar... e não é como se
sentar ao redor desse pátio e beber fosse algo especial. Vocês fazem isso
o tempo todo. O rodeio só vem uma vez por ano.
Ruger suspirou. — Vai ser mais fácil ceder agora.
— Frutinha, — eu disse, embora o homem realmente nunca
tivesse tido uma chance. Ninguém podia se levantar contra as meninas
Hayes quando fixavam suas mentes em algo e, aparentemente, suas
mentes estavam fixas em ir à exposição.
— Oh, e Painter? — Kit perguntou, e eu juro que ela bateu a porra
dos cílios para mim. — Estamos levando Melanie com a gente, então, se
você quiser ficar aqui seria ótimo. Tenho certeza que ela não quer você
por perto.
Aquela putinha. Agora eu tinha que ir.
Eu dei uma mordida nos meus ovos, fingindo ignorá-la. Ela riu,
em seguida, saiu em direção ao pátio, presumivelmente procurando
novas vítimas.
~ 72 ~
— Estou muito contente que a menina se mudou para Vancouver,
— disse Duck, suspirando. — Eu a amo como se fosse minha própria
filha, mas dane-se se ela não joga merda em todo lugar que ela passa.
Eu suponho que todos vocês vão ir à exposição hoje à noite?
Fiquei olhando para minha comida, fingindo estar fascinado pelo
padrão de ketchup em todo o meu bolinho de batata.
Duck riu.
MELANIE
— Porfavooor... — Kit choramingou, ajoelhada no chão à minha
frente. Ela pegou eu e Jess no jardim da frente - nota pessoal: nunca ir
para o lado de fora ou até mesmo abrir a porta novamente quando as
meninas Hayes estiverem na cidade - e dramaticamente exigiu que
fôssemos ao rodeio com ela, porque: — Aqueles cowboys não vão
beliscar suas próprias bundas.
Por mais que eu tenha certeza que isso era verdade, eu ainda não
estava planejando ir com ela - eu tinha um relatório para fazer, e eu já
tinha me feito de boba na noite anterior. Evitar os Reapers estava no
topo da minha lista de prioridades, mas ainda assim aqui estava Kit, de
joelhos em toda a sua glória inspirada em Bettie Page 6.
Estacionados atrás dela na rua onde estavam nada menos que
cinco motoqueiros dos Devil‘s Jacks liderados por Hunter, old man da
Em.
Nenhuma pressão, certo?
Com o canto do meu olho, eu vi Taz descer de sua moto e começar
a caminhar em minha direção. Gaw. Eu senti minhas bochechas
esquentarem com as lembranças da noite passada me inundando.
Álcool. O álcool era o inimigo aqui. O álcool e a família Hayes.
Taz veio para perto de mim, enlaçando seu braço sobre o meu
ombro.
6 Bettie Page era uma Pin-Up dos anos 50.
~ 73 ~
— Tem certeza de que as senhoras não querem sair com a gente?
— ele perguntou. — Comida frita. Cocô de cavalo. O que não há para
amar?
Jess olhou para ele, levantando uma sobrancelha.
— Não é um fã do rodeio? — ela perguntou. Taz riu.
— Motos não deixam pilhas de excremento em todos os lugares
que vão. Eu acho que isso resume os meus sentimentos sobre o
assunto.
Jess sorriu, me surpreendendo, porque ela não era exatamente
um fã de motoqueiros.
— Eu sou Jessica, — disse ela. Oh-Oh. Essa era a sua voz
bonitinha de =eu estou disponível‘. Só lamento para o voto de celibato.
— Você está vindo com a gente, não é? — Kit perguntou
esperançosamente, investindo em Jess. A menina podia sentir o cheiro
da fraqueza.
— Acho que poderíamos sair um pouco, não podemos Mel? —
perguntou Jess inocentemente. Apertei os olhos para ela.
— Claro, — eu respondi, a minha voz seca. — Mal posso esperar.
Taz bufou, dando em meu ombro um apertão.
— Não fique tão animada, — ele murmurou em meu ouvido. —
Você pode forçar alguma coisa.
— Ok, vão pegar as suas coisas, — disse Kit, saltando para cima e
sorrindo para nós com orgulho. Ela estava realmente levando essa coisa
de =nova família‘ muito a sério agora que eles definiram uma data para o
casamento. Após este fim de semana, eu não poderia esperar para tudo
acabar. Dezembro não poderia vir rápido o suficiente. — Todo mundo já
está lá fora.
— Tudo bem, — Jess disse alegremente, agarrando o meu braço e
me empurrando para longe de Taz. — Nós vamos estar prontas em cinco
minutos, no máximo.
* * *
~ 74 ~
— Eu pensei que você odiava motoqueiros, — eu a lembrei, uma
vez que estávamos de volta para dentro. — E cinco minutos não é muito
tempo para ficarmos prontas. Sem mencionar que eu tenho um relatório
para entregar ainda esta semana, você sabe.
— Você pode fazer um relatório como esse em meia hora, — disse
ela. — E você está ótima. Basta colocar um pouco de brilho labial e
pegar suas coisas. Eu tenho de repensar minha posição sobre
motoqueiros...
— Sério? Desde quando?
— Desde que vi Taz - esse cara é completamente e totalmente
fodível. Agora aqui está o que eu preciso saber - há alguma coisa entre
você e ele? Eu sei que você chegou em casa com Painter, mas Taz estava
todo sobre você lá fora. Normalmente eu diria que isso significa alguma
coisa, mas esses caras são tão malditamente imprevisíveis que é difícil
dizer
— Eu sai por aí com ele por um tempo ontem à noite, — eu
admiti. — Mas eu não estou procurando por algo mais – minha cabeça
já está bagunçada o suficiente desse jeito com Painter. Eu não preciso
de outro motoqueiro correndo por ela também. Ele é todo seu.
— Perfeito, — disse ela, lambendo os lábios. — Eu fui uma
menina muito boazinha faz um longo tempo agora. Eu acho que é hora
de me colocar de volta no mercado.
Pobre Taz.
O homem estava fodido. Literalmente. De alguma forma eu tinha a
sensação de que ele não se importaria muito.
Exatamente quatro minutos e cinquenta e nove segundos depois,
estávamos de volta ao lado de fora. Eu não estava parecendo o meu
melhor, mas também não estava mal: shorts desfiados, uma blusa de
alcinha bonitinha e um par velho de botas de cowboy que minha mãe
tinha deixado para trás quando ela foi embora.
Não era um legado, mas seria útil hoje.
— Então, vamos de carona com quem? — perguntou Jess
timidamente quando voltamos para fora.
— Eu tenho espaço, — disse um rapaz alto, magro, com cabelos
escuros e tatuagens por cima e em volta do pescoço. Eu sorri para ele,
~ 75 ~
imaginando que eu deveria aceitar a oferta, mas Taz deixou cair o braço
sobre meus ombros novamente.
— Ela está comigo, — disse ele. Em e Kit trocaram olhares, e
Jessica conseguiu esconder a sua decepção, passando a mão para cima
e ao longo do ombro do Sr. Tatuagem.
— Eu adoraria ir com você, — disse ela, voltando com tudo a jogar
charme. Era quase assustador a rapidez com que ela deixava cair a
fachada de boa menina. Eu tinha esquecido o quão rápido ela
trabalhava.
Jess poderia ser mais velha e mais inteligente, mas ela ainda era
a Jess.
Levou apenas cerca de cinco minutos para chegarmos ao recinto
da exposição, embora tenha sido tempo suficiente para perceber que
Taz tinha um abdômen muito bom. Voluntários a cavalo nos ajudaram
a estacionar em um grande campo vazio do lado de trás dos celeiros dos
cavalos. Já havia, pelo menos, trinta motos lá, guardadas por
prospectos dos Reapers, Silver Bastards e Devil‘s Jacks. Taz pegou a
minha mão enquanto caminhávamos em direção ao portão,
casualmente possessivo de uma forma que me emocionou e me
assustou ao mesmo tempo. Em última análise, ele não era o cara que
eu queria, e eu não queria levá-lo a diante... mas que tipo de mulher
não gosta de um cara gostoso segurando a mão dela em público? Eu
poderia ser mais superficial? Duvidoso. Porcaria. Eu provavelmente
deveria acabar com isso antes que se transformasse em alguma coisa,
eu decidi. Eu puxei sua mão.
— Podemos conversar por um minuto? — perguntei.
— Claro, — disse ele, dando um passo para o lado para que os
outros pudessem passar. Jess levantou uma sobrancelha para mim,
mas eu a ignorei.
— O que foi? — perguntou Taz. Eu olhei para ele, absorvendo as
suas feições quase perfeitas, o cabelo sexy ainda puxado para trás, e a
maneira como seus olhos escorriam a sexo. Será que eu perdi a cabeça
dando o fora nesse cara?
Provavelmente.
— Hum... eu acho que não há nenhuma maneira fácil de dizer
isso, mas eu estava realmente bêbada ontem à noite, — eu comecei. Ele
me deu um sorriso gentil.
~ 76 ~
— Percebi isso.
Me senti corar – eu nunca mais deveria beber daquele jeito de
novo. Eu sabia que em comparação com algumas pessoas, não tinha
sido tão ruim assim, mas eu odiava me sentir tão fora de controle. Meu
pai estava sempre fazendo coisas estúpidas quando estava bêbado.
Eu era melhor do que isso... pelo menos, eu queria ser melhor do
que isso. Logo depois que de fazer essa viagem até a exposição.
— Então, eu realmente não estou à procura de um
relacionamento, — eu comecei. O sorriso de Taz ficou mais amplo.
— Funciona para mim. Eu só estou tentando transar, — disse ele
sem rodeios, e quando você acha que suas palavras teriam sido
ofensivas, de alguma forma – vindo dele – parecia como se ele estivesse
apenas sendo direto comigo. — E eu já sei que eu não estou chegando a
lugar nenhum com você. Mas sua amiguinha que mora com você está
afim e ela está ficando louca que eu estou com você. Painter
provavelmente estará aqui mais tarde, então você pode irritá-lo por ficar
andando comigo. Tenho certeza que quando ele perder a cabeça e te
levar embora, ela vai estar pronta e disposta a me confortar em minha
tristeza. Na verdade, nós dois saímos ganhando.
Eu fiquei boquiaberta.
— Eu não posso acreditar que você acabou de me dizer isso, — eu
disse finalmente. — Isso é muito sem vergonha.
— É uma pena que não é realmente minha praia, — disse ele,
irradiando confiança arrogante. — Apenas deixe rolar, babe. Nós vamos
nos divertir, e então você vai voltar para casa com Painter, enquanto eu
como a sua colega de quarto.
Eu pisquei.
— Você percebeu que eu totalmente vou avisá-la sobre você, né?
— eu finalmente consegui dizer. Ele sorriu, o pecado puro em um
espeto. Ou isso seria o pecado com um espeto? Heh.
— Estou contando com isso, — disse ele. — Ela gosta de
problemas - eu posso dizer. Isso vai excitá-la, desafiá-la. Quanto mais
você avisá-la, mais fácil será.
Eu fiz uma careta, tentando decidir como isso me fazia sentir.
~ 77 ~
— Vamos, — disse ele. — Eu estou com fome e Em diz que o
churrasco daqui é incrível. Eu vou até mesmo te pagar um
jantar. Parece bom?
Eu balancei a cabeça, ainda confusa. Eu não tinha certeza de
como lidar com isso, mas ele estava certo sobre uma coisa... o
churrasco era bom pra caralho, e dane-se se eu não estava com fome.
~ 78 ~
Capítulo
06
PAINTER
A exposição estava uma bosta.
Taz tinha aparecido com Melanie ao seu lado, e eu tinha passado
as últimas duas horas vagando pelas tendas de exposição, os
observando, porque ele estava fazendo tudo que podia para se meter
comigo.
Filho da puta.
Sempre que ela se virava, ele empurrava seus quadris na direção
dela ou fingia agarrar a sua bunda. Esfregar a língua. Apertando o pau
dele. Nada além de um maldito pervertido. Hunter estava nisso,
também, me provocando em silêncio sempre que tinha a chance. Meus
próprios irmãos eram inúteis pra porra. Horse apenas revirou os olhos,
e quando finalmente se dirigiu para a barraca de churrasco para jantar,
Ruger salientou que, se eu não tivesse a coragem de reclamá-la, eu
deveria deixá-la ir.
Deus me ajude, se esses filhos da puta supostamente eram o meu
apoio, eu ficaria melhor sozinho. A noite não chegava ao inferno do
fim. Eu poderia dar a mínima para o rodeio - pensei que era um
entretenimento decente, mas eu não estaria aqui se não fosse por
Melanie. Fiquei tentando chamar sua atenção, mas ela não quis olhar
para mim. Eu sabia que ela estava consciente, embora, porque ela se
manteve corando. Provavelmente envergonhada sobre a noite
passada. Justo o suficiente... mas quanto mais eu a olhava com Taz,
mais difícil era manter minha distância.
Ela merecia um homem que fosse perfeito, e aquele filho da puta
não estava classificado.
Pelo menos a comida era boa. Havia uma centena de diferentes
lugares para comer em torno do recinto da exposição, mas o churrasco
tinha que ser o melhor. Se eu precisava de uma prova que eu estava
fodido da cabeça, ela veio quando eu cheguei ao meu limite. Havia uma
coisinha linda na minha frente que se manteve esbarrando em mim
=acidentalmente‘. Eu estaria todo em cima dela se não estivesse
~ 79 ~
completamente focado em Mel e o fato de que Taz não conseguia manter
a porra das mãos longe dela.
Dez minutos mais tarde eu fui em direção às longas mesas do
lado de fora da tenda carregando um prato com costelas, salada de
batata e pão de milho. Encontrei um lugar em uma extremidade, onde
Horse se sentou ao meu lado, ladeado por Marie. Ruger e sua old lady
Sophie, se sentaram de frente para nós, deixando muito espaço para os
outros. Logo Kit, Em, e Hunter se juntaram a nós, e, em seguida, Taz e
Melanie se sentaram ao lado deles. As meninas começaram a rir juntas
enquanto Jessica se juntava a elas.
Ela parecia ter dado uns pegas com o melhor amigo de Hunter,
Skid. Ela pode não ser a minha pessoa favorita, mas ela merecia coisa
melhor do que esse filho da puta. É melhor manter um olho nela.
Olhando em volta, eu peguei Horse observando Jess e Skid também. Em
seguida, ele pegou meu olhar e nós compartilhamos uma conversa sem
palavras - Jess era jovem. Nós dois manteríamos um olho nela. Taz se
levantou.
— Alguém quer uma bebida? — ele perguntou, olhando
diretamente para mim. — As senhoras parecem estar sedentas - pensei
que talvez eu pudesse comprar uma rodada.
Oh, aquele idiota. Ele estava tentando deixar a Mel bêbada de
novo.
— Eu estou bem com água, — ela insistiu, e eu mordi de volta um
sorriso. Chupa, filho da puta. Ela está acima de você.
* * *
O jantar durou muito tempo. Entre o tagarelar sem fim de Kit e as
pequenas provocações de Taz, eu não tinha certeza se eu aguentaria
muito tempo. Em seguida, todos se espalharam para ir aos banheiros
depois que limpamos nossos pratos.
Taz estava ao meu lado - assobiando alegremente - enquanto nós
mijávamos e foi aí que eu decidi que eu tive o suficiente da sua
merda. Quando saímos, eu acenei para ele para me seguir para trás da
barraca de exibição mais próxima para uma conversa particular. Pena
que foi o estande da Kootenai County Sheriff – não era um local ideal
para assassinar um homem. É uma merda ser eu.
~ 80 ~
— Que tipo de jogo você está jogando? — eu perguntei a ele,
forçando o meu tom para ficar firme e relaxado.
— Me divertindo, Brooks? Eu estou gostando daquela garota, a
Mel. Ela tem uma buceta muito boa. — Taz estalou os dedos,
pensativo. — Mais tarde - você sabe, quando eu estiver fodendo ela,
enquanto você estiver fazendo amor com sua mão? Eu vou ter a certeza
de tomar algumas notas, deixá-lo saber como ela é.
Um ano atrás eu teria acabado com ele, independentemente do
fato de que apenas uma parede da lona nos separava de seis policiais. A
prisão tinha me ensinado autocontrole, no entanto. Puck e eu tínhamos
estado quase completamente sozinhos em Cali - não podíamos ter luxos
como agir de acordo com a nossa raiva. Não se queríamos viver.
Agora eu usei meu duramente conseguido autocontrole para me
segurar.
— Isso acaba agora, — eu disse a ele secamente, me recusando a
jogar o seu jogo. Taz levantou uma sobrancelha.
— Isso?
— Não seja idiota, você sabe o que quero dizer, — eu respondi,
cansado de todas as suas besteiras. — Ela não é nada para você, então
quando ela voltar, ela está comigo.
— Como você sabe?
Eu sorri lentamente, levantando a mão para tocar a faca de
sobrevivência que eu sempre mantinha presa à bainha no meu
quadril. — Se você tocá-la, eu vou estripar você aqui e agora, na frente
das testemunhas. Você vai ser morto e a paz entre nossos clubes vai
acabar - tudo porque você não iria soltar uma garota que você não dá a
mínima. Isso é realmente como você quer que isso aconteça?
Seu rosto ficou sério.
— Você está blefando. Eu sei que você está em liberdade
condicional – eles te mandariam de volta para a cadeia e nós te
pegaríamos lá dentro, — disse ele lentamente. Dei de ombros, quase
esperando que ele me chamasse para a briga. Não que eu queria acabar
com a minha vida apodrecendo em uma cela, mas matar esse filho da
puta poderia valer a pena.
— Talvez, — eu respondi, oferecendo a ele um sorriso doce. —
Acho que há apenas uma maneira para você descobrir.
~ 81 ~
— Você realmente começaria uma guerra por essa garota?
Fiz uma pausa, considerando. — Aham.
Taz balançou a cabeça lentamente, levantando as mãos em sinal
de rendição. — Fique com ela, porra. Eu estou atrás da companheira de
quarto dela de qualquer maneira. Estou apenas implicando com você,
isso é tudo.
Senti meus ombros relaxarem, porque eu realmente estava pronto
para fazer isso - eu teria o matado se ele a tocasse novamente. Jesus.
— Você deve procurar alguma ajuda profissional, — disse Taz,
soando quase perplexo.
— Como um psiquiatra? — perguntei, segurando uma risada. —
Sim, eu conheci um desses na prisão. Nós não nos demos muito bem.
— Eu estava pensando uma boa puta, — respondeu ele, sorrindo
com relutância. — Você se o que uma buceta é uma buceta,
certo? Quente, molhada e apertada é tudo o que importa.
Porra. Por que ele tinha que dizer isso? Agora eu estava pensando
na buceta dela, a qual eu estava 100 por cento certo que era perfeita em
todos os sentidos. Meu telefone tocou. Eu o segurei, encontrando uma
mensagem de texto de Horse.
HORSE: Tudo bem? Todos estão de volta às mesas de comida.
ME: Estarei aí em um segundo.
Olhei para Taz novamente. — Estamos bem?
Ele assentiu.
— Claro, o que quiser, — disse ele. — Mas, falando sério - você
pode querer ir em frente e reclamar a garota. Este tipo de loucura pode
ficar perigosa se você bater de frente com o cara errado. Apenas deixe o
resto de nós saber exatamente onde estão as coisas antes da hora.
Eu fiz uma careta, porque eu não estava pronto para fazer
isso. Eu ainda queria o melhor para ela. Alguém legal, que iria trabalhar
em um emprego estável, talvez levá-la para o Havaí a cada dois
anos. Lavasse seu carro nas manhãs de sábado. Infelizmente, cada vez
que eu tentei imaginar esse cara, ele estava morto aos meus pés.
Talvez eu tivesse um complexo.
~ 82 ~
* * *
No momento em que cheguei até o grupo, o rodeio estava prestes
a começar. Embora eu não fosse um grande fã, eu não podia negar que
havia algo sobre ver um cara ficar o total de oito segundos em cima de
um daqueles touros enormes. As rainhas do rodeio não estavam nada
mal em seus jeans apertados, de jeito nenhum. Eu andei em direção a
Melanie, oferecendo a ela um sorriso triste.
— Taz está ocupado, — eu disse a ela, descaradamente ignorando
o fato de que Taz estava parado a menos de três metros de nós, fazendo
exatamente merda nenhuma. — Você está comigo pelo resto da noite.
Ela tossiu, engasgando um pouco, e eu dei a ela um tapinha nas
costas enquanto o resto do grupo nos observava, obviamente
desfrutando do nosso pequeno drama.
— Vocês não têm as suas próprias vidas para cuidar? —
perguntei, irritado.
— Não, — disse Kit, os olhos arregalados. — Continuem.
Menina endiabrada do caralho.
Mel olhou para ela, a mandando cair fora. Porra, isso era sexy. Os
autofalantes estalaram para a vida encima de um poste erguido no alto
do recinto da exposição.
— Gente, vamos começar nosso rodeio em cerca de quinze
minutos. Isso significa que agora é a hora de pegar uma bebida ou um
lanche e fazer o seu caminho para os seus lugares.
Todo mundo se virou para as arquibancadas, felizmente perdendo
o interesse em nós. Taz foi em direção a Jessica, e notei que Mel não
parecia particularmente surpresa por este desenvolvimento.
Interessante. E se Taz se pegasse com Jess, era uma coisa a menos com
que me preocupar - Taz pode ser um pé no saco, mas ele não era a
porra de um sociopata como Skid era.
Chegamos atrasados demais para conseguir bons lugares, mas
ainda havia muito espaço no topo das arquibancadas
cobertas. Ignorando sua carranca, eu deliberadamente levei Mel para
perto do final, depois me sentei entre ela e o resto do grupo, olhando
para a bunda dela o tempo todo.
~ 83 ~
— Eu vou pegar um pouco de cerveja, — Horse anunciou. —
Alguém quer?
Eu balancei a cabeça, levantando meus quadris o suficiente para
tirar minha carteira que eu usava ligada a uma corrente. Peguei
algumas notas e os entreguei. Então Horse e Marie começaram a descer
as escadas em direção ao bar, juntamente com Kit, que se aproximou
trazendo bebidas para as massas com algo perto de um zelo
religioso. Isso deixou uma lacuna considerável entre nós e o resto do
grupo, o que funcionou muito bem para mim.
— Você sabe que Taz é um jogador, certo? — eu disse a Mel, os
olhos na arena onde as rainhas e princesas do rodeio andavam em
círculos, aquecendo seus cavalos. Ela corou, se recusando a olhar para
mim. Sim, definitivamente ainda envergonhada sobre a noite passada.
— Realmente não é da sua conta... mas sim, eu estou ciente, —
ela sussurrou. — Eu admito - eu estava bêbada e estúpida lá no
Arsenal, mas estou sóbria agora e normalmente eu não sou uma
completa idiota.
— Eu não acho que você é uma idiota, — eu disse. — Eu só queria
avisá-la.
— Eu acho que tive aviso o bastante ontem à noite. Eu só estou
aqui porque Kit me arrastou. Ela é do mal.
Meu pau pulou com memória do tal =aviso‘, — e eu respirei fundo,
me lembrando que saltar sobre uma menina em público era,
provavelmente, uma violação da liberdade condicional.
— Suas amigas não deveriam estar todas juntas nisso? —
perguntei, empurrando através da onda de luxúria. — E só para
constar, eu acho que ela é a encarnação do diabo. Vinda para fazer da
minha vida um inferno por anos, bruxinha.
Melanie deu uma risadinha bonitinha, me lançando um olhar
tímido por debaixo de seus cílios. — Se esse é o caso, como é que ela te
fez vir à exposição?
Limpei a garganta, não querendo entrar em detalhes. Dane-se se
ia admitir alguma coisa.
— Não importa, — eu disse, olhando para trás em direção à
arena. Onde diabos estava Horse com a cerveja de qualquer maneira?
~ 84 ~
— Ei, eu realmente sinto muito sobre a noite passada, — disse
Mel, tão baixinho que eu quase perdi.
— O quê? Não, não se preocupe com isso, — eu disse, desejando
que eu não tivesse sido tão duro com ela. Porra, e agora eu estava
pensando em me abaixar e colocar a cabeça entre suas pernas. Eu
tenho estado com esse tesão maldito e ela estava bem ali, de joelhos na
grama como mil fantasias para as quais eu tinha batido uma na
escuridão... eu tinha que fazer algo para acabar com isso, mesmo que
isso significasse machucá-la.
— Eu estava muito bêbada. Eu não tive a intenção de me
aproveitar de você.
Porra, eu era um idiota.
— Você não se aproveitou de mim, — eu disse. — Vamos apenas
deixar isso pra lá. Nenhum dano, nenhum problema.
— Ok, — ela sussurrou. Um silêncio constrangedor caiu entre nós
novamente. Eu queria perguntar a ela sobre a faculdade, sobre como as
coisas estavam indo com Jess e sua vida juntas... eu também queria
saber se ela continuou saindo com o filho da puta sobre o qual ela tinha
escrito para mim - aquele que queria ficar sério rápido demais.
O mesmo que eu a disse que pensava que ela devia dar uma
chance, porque eu sou a porra de um masoquista.
— Cerveja, — Horse disse, me entregando duas latinhas de
Bud. — Aproveitem.
Ele se sentou ao meu lado, e eu olhei para ver Marie se
aconchegar ao lado dele. Cristo, mas eles eram fofos juntos. Me fazia
querer vomitar. Tirei a tampa de uma das cervejas e entreguei a latinha
para Mel. Ela olhou para mim, surpresa.
— Eu estava super bêbada noite passada, — ela me lembrou. —
Eu pensei que você estava chateado com isso.
Oh, eu estava chateado, tudo bem. Chateado principalmente com
Taz tocando o que pertencia a mim, exceto que ela não pertencia a mim
e ela nunca pertenceria. Eu abri minha própria bebida e mandei para
baixo.
— Como quiser, — eu disse, encolhendo os ombros. — Eu não me
importo de qualquer maneira.
~ 85 ~
Seu rosto se fechou e ela desviou o olhar. Pare de ser um babaca,
idiota. Estendi a mão e peguei a dela. Eu queria dar um pequeno aperto
tranquilizador ou alguma merda assim. De alguma forma, o toque de
sua pele fez um curto-circuito no meu cérebro, no entanto. Ela era
quente e macia. Eu queria rastejar para dentro dela, e não do jeito que
você esta pensando, seu maldito pervertido.
Ok, talvez eu quisesse fazer isso também.
— Me desculpe, — eu disse a ela, as palavras suaves. — Eu não
dou a mínima se você beber a cerveja ou não Mel, isso é tudo o que eu
quis dizer. Eu sou um idiota, mas eu não estou tentando fazer a noite
ruim para você de propósito.
Ela me deu um leve, quase vacilante sorriso enquanto seus dedos
se envolveram ao redor dos meus, dando um pequeno aperto, que eu
juro que eu o senti todo o caminho até o meu pau.
Os alto-falantes crepitaram à vida.
— Por favor, fiquem de pé para Josina Bradley de Coeur d'Alene,
que vai cantar o hino nacional, — o locutor disse quando os vaqueiros
começaram a surgir na arena em pleno galope, bandeiras americanas
amarradas em ganchos apoiados contra seus estribos. A nosso redor
chapéus de cowboy foram abaixados, enquanto a trupe de meninas em
cavalos - jovens rainhas e princesas do rodeio - faziam uma longa fila
no centro, se intercalado em direção a plateia com tanta precisão
quanto o clube fazia nas rondas.
A música começou, e eu segurei a mão de Melanie - amigos dão
as mãos, certo? - por toda a canção, e depois por todo o hino nacional
canadense que se seguiu. Ao nosso redor as pessoas estavam torcendo,
mas ficamos quietos. Acho que eu poderia te dizer sobre o quão estava
difícil não armar uma barraca em minhas calças na frente de todo
mundo ou sobre todas as diferentes maneiras que eu estava
imaginando transar com ela. Aqui e agora. Sob as arquibancadas. No
banheiro.
Na tenda do xerife... Legal.
Era tudo verdade, é claro. Mas isso não era o que mais importava
para mim. Mais do que tudo, eu me lembro de estar de pé ao seu lado,
segurando sua mão. Sentindo seu cheiro e sabendo que ela estava
segura, perfeita e bela.
E por esta noite, ela era toda minha.
~ 86 ~
MELANIE
Parecia um sonho estar apenas sentada ao lado de Painter,
segurando sua mão enquanto observávamos o rodeio. Eu ainda estava
envergonhada com o que aconteceu no Arsenal, é claro. Mas sua
presença parecia preencher esse estranho desejo que eu tinha sentido
desde o momento que eu o conheci - como uma coceira dolorida dentro
de mim que estava finalmente satisfeita. (Bem, não totalmente
satisfeita, mas você sabe o que quero dizer).
Do outro lado dele, as pessoas do clube estavam rindo,
conversando e torcendo. Ficamos em silêncio. Eu não sei sobre ele, mas
eu estava com medo de dizer alguma coisa errada, de quebrar esse
feitiço estranho que tinha caído sobre nós... então eu me sentei para
assistir aos cavalos sendo laçados e à corrida entre os barris,
saboreando cada segundo de sua presença. Estava doendo o lado da
perna de Painter que estava pressionada contra o lado da minha, cada
polegada dele quente, duro e tão perto que eu poderia apenas estender
a mão e cavar os dedos fundo, se eu tivesse coragem. De alguma forma
eu consegui me controlar - eu já tinha me humilhado uma vez nas
últimas vinte e quatro horas.
Ainda assim, quando Painter colocou seu braço em volta de mim,
eu disse a mim mesma que eu poderia muito bem aproveitar, visto que
estava ficando escuro e começando a esfriar. (Ok, estava pelo menos
uns trinta graus e eu estava suando, mas o que uma mulher pode fazer
sob essas circunstâncias?)
O rodeio já estava rolando quando seus dedos começaram a se
mover em meu ombro. Eu podia sentir o cheiro dele ao meu redor - suor
masculino, o que era estranhamente sexy. O couro de seu colete. Uma
sugestão de cerveja, embora não muito. Ele só bebeu algumas ao longo
da noite.
Eu queria me inclinar e cheirar o seu pescoço como uma
trepadeira.
Os Devil‘s Jacks e os Reapers que tinham vindo com a gente
ficaram mais barulhentos com o tempo, embora não ao ponto de
estarem sendo desagradáveis. Eu tinha visto a forma como as pessoas
se esquivavam de nós, no entanto. Eu entendi o motivo também. Eu
ainda me lembrava de como eu me senti na primeira vez que eu vi
London com Reese - ele parecia um monstro para mim. Em seguida, o
monstro tinha me levado e me deu uma casa, então eu acho que não
poderia apontar o dedo para ninguém exatamente.
~ 87 ~
Minha cabeça caiu para o ombro de Painter, e eu me encontrei à
deriva enquanto ele continuava a esfregar meu braço. De alguma forma,
ao longo do caminho, a minha mão caiu em sua coxa, apesar das
minhas melhores intenções. Eu não estava sentindo-o, exatamente, mas
eu definitivamente estava o sentindo. Forte, os músculos grossos e
tensos sob o meu toque. E eu quero dizer realmente tensos - ele não
estava nada relaxado. Nem um pouco. Painter estava todo travado e
parecia estar apenas esperando para se libertar em uma explosão de
violência ou... alguma coisa. Melhor não pensar nisso.
Deus, mas eu o queria.
No momento em que a montaria nos touros começou, eu tinha
caído em um estado de mormaço induzido por Painter. Eu assisti
preguiçosamente as grandes caminhonetes Dodge Ram puxando para a
arena para deixar o barril para o palhaço de rodeio.
— Senhoras e senhores, agora é a hora que todos estavam
esperando - alguém gosta de montaria em touro? — perguntou o
locutor.
A multidão foi à loucura, gritando com a música alta estourando
pelos autofalantes.
— Nós sempre guardamos o melhor para o final aqui no Rodeio de
North Idaho e esta noite vocês irão ver dez homens enfrentarem os oito
segundos mais perigosos de todos os esportes. O primeiro é James
Lynch, vindo de Weezer, Idaho. Este é o seu terceiro ano no circuito, e
ele está em busca de levar para casa um prêmio esta noite. Querem lhe
dar um pouco de incentivo?
Ao nosso redor, as pessoas gritaram novamente quando a música
ficou mais alta. Me sentei um pouco mais ereta, observando enquanto
dois homens vieram para ficar de cada lado de um portão contra o muro
de trás, já destrancado e pronto para a ação. Um deles parecia quase
familiar, embora fosse difícil dizer de tão longe. Segundos depois a porta
se abriu, e o touro explodiu. Lynch agarrou às suas cordas, uma mão
erguida no ar enquanto o animal enorme tentava derrubá-lo. Eu me
encontrei esquecendo de respirar enquanto os oito dos segundos mais
longos da história passavam lentamente, em contagem regressiva na
grande placa de exposição.
Ele quase conseguiu quando o touro girou, e então ele estava
voando pelo ar. Um dos homens que estava flanqueando o portão
disparou entre o touro e o cavaleiro caído, usando seu corpo para
distrair a besta. O outro cara pegou o cowboy, puxando-o de pé.
~ 88 ~
Puta merda.
Lynch correu para a cerca, pulando contra as grades de metal
enquanto homens que esperavam do outro lado o puxavam. Montadores
correram na a arena para o touro, levando-o em direção ao portão.
A coisa toda tinha levado talvez 20 segundos, no máximo.
— Mais sorte da próxima vez, James, — o locutor disse. — Agora
vamos ter um momento para colocar nossas mãos juntas para nossos
toureiros esta noite, pessoal. Vocês irão vê-los em ação agora - estes
atletas têm uma tarefa difícil aqui, porque cabe a eles proteger nossos
cowboys quando caírem no chão. Eles fazem isso da maneira mais
difícil, também. Hoje é uma noite especial para um deles... ele está
atuando para o público local pela primeira vez neste fim de
semana. Chase McKinney é um menino de Coeur d'Alene, nascido e
criado aqui nesta comunidade. Chase, como é a sensação de estar aqui
esta noite?
Ao meu redor as pessoas explodiram de emoção quando um dos
toureiros levantou a mão, acenando para as arquibancadas antes de
dar um aceno para o locutor. Não me admira que ele parecesse familiar
- ele tinha estudado alguns anos antes de mim na escola. Não que eu
realmente o conhecesse, mas eu o tinha visto por aí. Tenho certeza que
ele era um veterano quando eu era caloura... além de Painter, eu vi
tanto Em quando Kit em seus pés, torcendo e gritando como macacos
enlouquecidos.
— O próximo é Gordon Gallagher, um montador de touros
experiente vindo de Calgary, Alberta, — continuou o locutor enquanto
Chase voltava em direção ao portão. — Ele está à procura de pontos e o
prêmio em dinheiro, e ele tem certeza que seria ótimo se ele pudesse ir
para casa com ambos. Deem a ele uma recepção calorosa North Idaho!
Nós todos aplaudimos de novo, e então eu assisti como um
montador atrás do outro tentava segurar pelo período de tempo
completo. Apenas cerca da metade deles conseguiu, o que significava
que os toureiros estavam ocupados. Mais e mais, eles pularam entre os
touros e os seus cavaleiros, protegendo os cowboys com seus
corpos. Por que diabos alguém iria fazer isso de propósito?
Loucura.
Claro, eu estava enlouquecendo um pouquinho enquanto Painter
passava os dedos em meus ombros e meus braços, ao mesmo tempo em
que pressionava a perna contra a minha. Até o último competidor da
~ 89 ~
noite, eu tinha caído em uma névoa quente de desejo que simplesmente
não ia embora.
— Senhoras e senhores, vamos aplaudir Cary Hull, — disse o
locutor. — Deixamos o melhor para o final, já que Cary foi o nosso
maior vencedor do rodeio do ano passado. Desde então, ele passou a se
tornar um finalista do circuito. Ele esteve esperando pacientemente
durante toda a noite para mostrar o que ele tem.
Lá em baixo na arena, Hull havia subido em cima da calha,
pronto para cair sobre o touro para o passeio. Em seguida, a buzina
soou e o par explodiu no centro da arena.
No começo eu não sabia que alguma coisa estava errada – os
touros deveriam girar em um rodeio. Mas este parecia mais selvagem,
mais louco do que qualquer um dos outros. Quero dizer, seus olhos não
estavam literalmente vermelhos - nada sinistro, ou algo assim, - mas a
coisa era assustadora. O cowboy estava segurando por sua vida,
ladeado por Chase e o outro toureiro, próximos a ele enquanto
tentavam antecipar o próximo movimento do animal.
Foi quando a merda aconteceu.
Sem aviso, o touro quicou o mais alto que eu já tinha visto. Tão
alto que quase parecia irreal. O corpo do montador voou, girando pelo
ar acima dele. Foi quando ele deveria saído, mas ele não o fez. O touro
pulou novamente, e desta vez o cowboy caiu do lado dele, o que pareceu
irritá-lo ainda mais.
Até aquele momento, eu tinha assumido que Hull continuava no
touro por pura teimosia. Agora eu podia ver que ele estava preso,
agarrado impotente enquanto o touro tentava matá-lo. A multidão ficou
em silêncio enquanto o monstro pulava para trás - mais alto desta vez -
se afastando dos toureiros que desesperadamente estavam tentando o
conter. Chase correu para o lado, tentando alcançar o montador,
enquanto seu parceiro distraía o animal.
Não funcionou.
Em um instante, o touro girou para pegar Chase. Quando a besta
abaixou a cabeça para um golpe mortal, Chase estendeu a mão e pegou
seus chifres, se atirando para cima de suas costas em um movimento
que eu não conseguia acreditar ser humanamente possível. Ele bateu
forte no animal - ao lado de sua coluna vertebral - de alguma forma
pegando a corda e segurando o cowboy prisioneiro. Todos assistimos,
horrorizados, quando a besta pulou novamente.
~ 90 ~
Hull se libertou, saltando quando ele bateu no chão.
Enfurecido, o touro voou para cima, torcendo em pleno ar para
pousar pesadamente em seu lado.
Bem em cima de Chase.
~ 91 ~
Capítulo
07
O toureiro estava morto.
Ele tinha que estar morto - nenhum ser humano poderia
sobreviver a algo parecido.
Nós assistimos em horror e choque enquanto o touro se debateu
em seus pés, em seguida, se virou para ele, ainda deitado na terra. Em
um instante, o outro toureiro se lançou entre eles, chamando a atenção
da fera. A grande cabeça girou enquanto o homem saiu do outro lado da
arena, meros metros à frente dos chifres mortais, saltando alto quando
atingiu a barreira de metal. Mãos se estenderam para pegá-lo, puxando-
o para cima e para o lado.
Ele distraiu o monstro, mas por apenas um instante. Agora ele se
voltou para o corpo mole de Chase, bufando e pisando. A multidão ficou
em silêncio, e logo abaixo de mim uma mãe puxou uma criança para o
colo, forçando a cabeça em seu peito para que ele não visse. Se por
algum milagre Chase tinha sobrevivido ao primeiro ataque, não havia
nenhuma chance dele sobreviver depois desse.
Foi quando o palhaço do rodeio entrou em ação.
Pela maior parte da noite, ele tinha interagido com a multidão
junto ao locutor, fazendo piadas e truques entre os eventos, flertando
com as meninas e geralmente se fazendo de estorvo. Agora, o palhaço
estava mortalmente sério, apesar de suas roupas flexíveis e brilhantes
cobrindo seu rosto. Ele correu para o touro, batendo e gritando,
insultando-o até que ele se virou para ele.
Em direção a ele, mas longe de Chase.
O touro investiu, e agora o palhaço tinha ido embora novamente,
levando o animal para o centro da arena. Ele alcançou o barril e saltou
por cima dele, segundos antes do touro se chocar contra ele com um
berro, lançando o barril rolando pelo chão. Em seguida, chegaram os
homens em seus cavalos, perseguindo o touro para longe do palhaço
preso. O touro tentou voltar, mas não importava em que direção ele
fosse, os vaqueiros estavam à espera.
~ 92 ~
Eu me concentrei em Chase, deitado no chão, ainda mole. Além
dele estava Hull, rolando em pura agonia, mas claramente ainda
vivo. Paramédicos estavam correndo até a arena agora, enquanto os
cavaleiros formavam uma parede viva entre o animal e as suas
vítimas. Eles conduziam o touro para o extremo oposto da arena, onde
um portão se abriu, criando um caminho seguro. Ele investiu
novamente e eu esperava muito que eles estivessem prontos para isso lá
atrás – pessoas o suficiente já haviam sido feridas. Em seguida, uma
ambulância apareceu do outro lado, e a voz do locutor veio pelo alto-
falante.
— Senhoras e senhores, esse foi o último da noite. Normalmente
nós anunciamos os vencedores e entregamos os prêmios, mas os
funcionários do Rodeio de Norte Idaho decidiram que dadas às
circunstâncias, é melhor terminarmos o evento agora. Me foi dito que os
organizadores da exposição irão dar as atualizações sobre a condição de
Chase McKinney assim que estiverem disponíveis. Nós estaremos
limpando a arena em breve. Até então, por favor, mantenham todos os
nossos atletas do rodeio em seus pensamentos e orações.
Eu assisti em silêncio enquanto os paramédicos trabalhavam em
Chase. Hull já estava amarrado à uma maca e eles estavam levantando-
o para a ambulância. Ao contrário do toureiro, ele estava claramente
vivo e consciente do que estava acontecendo ao seu redor. Painter
deslocou ao meu lado, e eu percebi que eu me ancorei contra ele,
cavando minhas unhas em sua coxa.
— Desculpe, — eu sussurrei, soltando meu aperto. Eu esfreguei
um pouco sua perna para fazê-lo se sentir melhor. Sua mão pegou a
minha, a contendo – merda, eu estava massageando-o há apenas
centímetros de distância do seu pau. Que classe.
— Você acha que ele vai sobreviver? — eu perguntei a Painter
calmamente. Ele me apertou ainda mais.
— Não sei, — disse ele. — Acho que vamos ter de esperar para
ver.
— Senhoras e senhores, nós pedimos que vocês voltem para suas
casas agora. Normalmente eu diria que espero que tenham gostado do
show, mas em vez disso eu vou pedir novamente para manter Chase e
sua família em suas orações. Deus abençoe a todos e cada um de vocês,
e que Deus abençoe os cowboys e cowgirls que vieram hoje à noite.
~ 93 ~
* * *
Demorou cerca de 45 minutos para sairmos das arquibancadas e
voltássemos para as motos. As multidões estavam tranquilas em sua
maior parte. Em e Kit seguraram a mão uma da outra apertado,
sussurrando entre elas enquanto verificaram seus telefones.
Quando finalmente saímos das arquibancadas e da área
principal, Hunter veio até mim e Painter, os dois homens se olhando de
cima a baixo. Por um minuto eu estava preocupada, porque havia uma
tensão óbvia entre eles.
— Você vai levá-la para casa? — Hunter finalmente perguntou a
Painter, apontando para mim. — Ela veio aqui com Taz, mas acho que
ele está dando uma carona para Jessica. Em e Kit querem ir para o
hospital - eu acho que vai ter uma vigília à luz de velas. Em diz que ela
não o conhecia bem, mas ele foi para a escola com Kit e ela está muito
chateada.
— Eu a levo, — disse Painter, apertando a minha mão. — Você vai
para o hospital também?
Hunter acenou com a cabeça firmemente, olhando para Kit com
uma careta. — Vai ser uma longa noite, eu acho.
Tremi, pensando sobre Chase deitado na terra. Eu tinha visto ele
em por aí na escola, mas não conseguia me lembrar de ter falado com
ele.
— Sim, — concordou Painter. — Entendo - vou me certificar de
Mel esteja bem. Não se preocupe, ok?
Hunter acenou com a cabeça, os olhos passando rapidamente
através de mim quando ele se virou para Em e sua irmã. — Tenho
certeza.
O observei ir embora, me apoiando contra Painter.
— Você quer ir para a vigília, também? — perguntou. Eu
considerei a questão.
— Não, — eu disse finalmente. — Iria parecer falso. Eu realmente
não o conheço... mas eu definitivamente quero sair daqui. Há muitas
pessoas aqui que não viram o rodeio, e todos eles estão se divertindo e
andando à cavalo. Não parece certo.
~ 94 ~
— Vamos nos despedir, então.
Ele segurou a minha mão enquanto fazíamos as rondas por seus
irmãos do clube e suas old ladies, quase como se fôssemos um casal de
verdade. Deveria ter sido estranho, mas isso não aconteceu. Jess estava
agarrada a Taz, sussurrando-lhe em voz baixa. Quando eu lhe dei um
abraço de despedida, ela sussurrou em meu ouvido: — Tudo bem se eu
levá-lo para a casa esta noite?
Não tinha certeza de como eu me sentia sobre isso - é claro, ela
tinha todo o direito de levar alguém para casa. Eu só esperava que ela
não fizesse algo estúpido.
— Você tem certeza? — eu sussurrei de volta. — Eu pensei que
você fosse feliz em apenas manter as coisas simples.
— Eu não quero ficar sozinha agora, — ela respondeu, me
apertando com força. Sim, eu poderia entender isso. Pena que eu não
tinha ninguém interessado em ir para casa comigo.
* * *
Eu mantive meus braços apertados em volta de Painter enquanto
nós íamos de volta ao centro. Ele cheirava bem e eu me sentia bem com
ele... segura, de alguma forma. Em circunstâncias normais, eu estaria
em cima dele, mas agora eu estava muito ocupada imaginando o corpo
mole de Chase na terra – ele sobreviveria?
Eu nunca tinha visto alguém morrer antes.
Nós descemos a minha rua e eu me preparei para dizer boa
noite. Eu não tinha ideia de em que pé estávamos ou mesmo se eu veria
Painter novamente. As coisas tinham mudado esta noite? Obviamente,
ele não estava mais fingindo que não éramos amigos... mas o que
seríamos exatamente?
Então eu vi a moto de Taz estacionada na frente da casa. De todas
as noites para Jess abandonar seu voto de celibato, por que agora? Eu
precisava falar com alguém e ela não estava disponível... Painter rodou
até parar, e eu comecei a balançar a perna por cima da moto, quando
ele colocou a mão na minha coxa.
~ 95 ~
— Taz vai estar lá por muito tempo? — ele perguntou, sua voz
baixa e calma.
— Sim, Jess disse que ela o convidou para ficar mais, — eu
respondi, me sentindo desconfortável. Ele franziu a testa.
— Tá afim de um passeio? Eu não estou pronto para encerrar a
noite.
— Isso soa bem, — eu sussurrei. Talvez eu não era a única que
não queria ficar sozinha.
— Espere, — disse ele. — É uma noite bonita, apesar do que
aconteceu. Devemos tentar aproveitar o máximo dela.
* * *
Fomos para o sul em direção a Moscou e, em seguida, desligamos
no Plummer para dirigir a moto em torno da extremidade sul do
lago. Eu não tinha ideia de quão tarde era quando ele desacelerou a
moto e parou em um estacionamento de cascalho cercado por
árvores. O grande motor da Harley morreu, nos deixando a sós com o
suave coaxar dos grilos e sapos.
— Você quer ir até a água? — ele perguntou. — É por entre as
árvores.
— Certo.
Desci da moto e nós caminhamos pela encosta gramada para uma
longa praia de areia situada entre as árvores. A lua brilhava, pintando
um rastro de prata através das ondas suaves do lago. Aqui e ali, formas
escuras quebravam a água. Levei um minuto para descobrir o que
eram: troncos flutuantes.
— Você quer se sentar por um tempo e ver as estrelas? —
perguntou Painter. Olhei em volta, vendo um pedaço de grama inclinada
para baixo em direção a areia, o que parecia perfeito.
— Que tal ali? — perguntei. Silenciosamente nós nos sentamos
próximos um do outro, sem nos tocar - eu podia senti-lo, no
entanto. Sentir seu calor, sua presença e a tensão inquebrável que
corria entre nós o tempo todo, quer nós escolhamos a reconhecê-la ou
~ 96 ~
não. — Eu nunca vi nada assim. Eu não consigo imaginar como uma
pessoa pode sobreviver depois de um touro pular sobre ela.
Ele não respondeu por um minuto. — As pessoas podem
sobreviver há um inferno de coisas. Não parecia promissor, embora.
Não havia muita emoção em sua voz, o que me derrubou. Minha
cabeça estava nadando, imagens do rodeio passando por ela uma e
outra vez. Eu assumi que Painter estava tão chateado quanto eu
estava... que talvez ele precisasse falar também.
— Você não está incomodado com isso? — eu perguntei, minha
voz macia.
— Eu já vi um monte de merda, algumas não tão boas. Eu não
levaria de ânimo leve e eu não gosto de ver um homem sofrer, mas você
não pode se dar ao luxo de se envolver emocionalmente.
— Você quer dizer, na prisão?
— Sim, — ele disse depois de um minuto. — Na prisão.
Nenhum de nós falou por um momento. Olhei para as estrelas,
observando quando um satélite piscou em seu caminho através do céu.
— E no clube, — acrescentou ele em voz baixa. — Merda ruim
acontece lá também. Embora até agora ninguém começou a jogar touros
em seus inimigos.
As palavras me pegaram desprevenida, e uma pequena risada
surgiu. Mordi minha bochecha, me sentindo horrível. — Eu não posso
acreditar que eu ri disso.
— Está tudo bem - você tem que rir quando as coisas
desmoronam. Caso contrário, você vai ficar louca. Melhor não pensar
muito sobre isso, pelo menos é assim que eu faço.
Rolei e me inclinei sob meu cotovelo para olhar para ele.
— Então, você simplesmente desliga o seu cérebro quando algo te
incomoda? — perguntei, estudando seu rosto à luz do luar. Suas feições
foram atenuadas pelas sombras, deixando-o bonito, mas menos
intimidador do que o habitual. Ele encontrou meu olhar, não me dando
nada. — Isso deve ser bom - gostaria de poder fazer isso. Às vezes eu
fico acordada na cama durante horas me perguntando por que minha
mãe foi embora e me deixou.
~ 97 ~
— Eu mantenho a minha atenção focada onde ela precisa estar
focada, — respondeu ele, chegando a tocar o lado do meu rosto. Levou
tudo que eu tinha para não me virar em direção a mão e me esfregar
contra ela como um gato. Fiquei lá sem fôlego, na expectativa...
esperando um pouco. Por que ele estava me tocando dessa forma? Não
fazia sentido - ele tinha deixado malditamente claro que ele não queria
nada mais do que amizade.
— Você não deveria estar fazendo isso, — eu sussurrei. — Somos
apenas amigos, lembra? Você deixou isso muito claro na noite passada.
— Amigos podem se tocar, — ele sussurrou de volta. As palavras
pairaram entre nós, me provocando. Eu queria me inclinar e beijá-
lo. Rastejar para cima dele, me esfregar, contorcer, arquear e fazer
coisas que eu tinha quase certeza de serem qualificadas como abuso
sexual desse lado do estado de Idaho. — Pare de me olhar assim.
— Assim como? — perguntei.
— Como se você quisesse...
Ele parou de falar, lambendo os lábios enquanto seus olhos se
desviaram para os meus. Ele ia me beijar. Meus olhos começaram a se
fechar. Em seguida, o telefone tocou, quebrando o feitiço.
Painter piscou - ele tinha estado tão perdido no momento quanto
eu estava.
— Eu deveria atender isso, — disse ele. — Pode ser uma
atualização sobre Chase.
Chase. Como eu poderia ter esquecido sobre Chase? Um homem
estava morrendo, mas tudo que eu conseguia pensar era em
transar. Um homem que eu tinha ido para a escola. O que havia de
errado comigo?
Eu caí para trás quando Painter pegou seu telefone, a tela
obscenamente brilhante na escuridão.
— Mensagem de grupo da Em, — disse ele. — Ele está vivo. Há
cerca de trezentas pessoas na vigília até agora, e estão aparecendo mais
a cada minuto. Ele está em cirurgia.
Eu tremia, tentando imaginar o que sua família estava
passando. Que horrível seria sentar e esperar para saber se o homem
que você amava iria morrer? Como você se sentiria se fosse Painter? O
~ 98 ~
pensamento me gelou e eu fechei meus olhos, desejando que ele
desaparecesse.
— Está com frio? — ele perguntou. — Venha aqui. Eu vou mantê-
la aquecida.
Eu não estava com frio, e tocá-lo era uma ideia muito ruim. O que
quer que fosse essa coisa que estava entre nós, nos tocar não
ajudaria. Mas, então, eu imaginei o calor de seu corpo ao redor do
meu. A força de seus braços, sem mencionar seu peito largo. Eu o
queria. Eu o queria tanto.
E ele fez a oferta...
— Obrigada, — eu sussurrei, deslizando em direção a
ele. Segundos depois, eu estava dobrado contra o lado de Painter, seu
braço debaixo da minha cabeça. Meu corpo tinha se transformado no
seu, e não havia um lugar fácil para apoiar meu braço. Mudei ele de
posição sem jeito, e então ele estava pegando minha mão e colocando-a
em seu peito, próxima à sua.
Nossos dedos não estavam se tocando, mas eles iriam se eu
deslizasse meu dedo mindinho alguns centímetros.
A cabeça de Painter se inclinou em direção a minha - ele estava
cheirando o meu cabelo? Oh Deus, eu acho que ele estava. Isso ia me
matar. Minha perna se mexeu inquieta, porque eu queria colocá-la
sobre ele e escarranchar em sua coxa. Forcei-a a permanecer no
lugar. E agora o quê? Eu precisava puxar alguma conversa ou algo
assim, porque isso era muito estranho e estressante.
— Então, as coisas vão indo bem, agora que você está de volta? —
perguntei. — Como estão as coisas no trabalho? Você tinha mencionado
que eles tinham um trabalho para você na loja de tunagem.
— Está tudo bem. Eu faço o design personalizado lá, — disse
ele. — Você sabe, motos, carros e coisas assim. Um monte é para
homens de clubes, mas temos alguns playboys também – caras da
cidade que brincam de motoqueiro nos fins de semana, procurando
fantasiar suas motos. Também um monte de filhos da puta ricos que
querem restaurar carros antigos. Eu fiz algumas pinturas de motos e
carros que estão nas paredes - as pessoas parecem gostar delas. Tem
dois caras esperando para eu pintar retratos deles. Mas agora eu estou
trabalhando em algo para o clube, apesar de tudo. Uma espécie de
presente de bom-estar-em-casa-novamente para o Amory.
~ 99 ~
— Você nunca ficou chateado com o que aconteceu? — perguntei.
— Pelo quê?
— O clube - quero dizer, eu não compreendo totalmente como
você acabou sendo preso na Califórnia, mas, obviamente, tem algo a ver
com os Reapers. Você alguma vez ficou puto por ter sido colocado nessa
posição?
Ele não respondeu de imediato, e eu me perguntava se eu tinha
ultrapassado os limites com a minha pergunta. Eu tinha acabado de
abrir minha boca para pedir desculpas quando ele falou de novo,
respondendo.
— Sim e não, — disse ele. — Eu odeio o fato de que algo precisava
ser corrigido e eu levei um golpe por isso. Mas eu não estou chateado
com meus irmãos. Eles fizeram a sua parte, eu fiz a minha. Má sorte do
caralho eu ter sido pego, mas isso é apenas parte do jogo, você
sabe? Poderia ter sido qualquer um de nós.
Eu ponderei suas palavras.
— Então, você faria isso de novo?
— Bem, eu seria mais cuidadoso em seguir no limite da
velocidade, — disse ele, dando uma risada baixa. — Eu e Puck só fomos
pegos porque estávamos a quarenta em uma zona em que o máximo era
vinte e cinco. Os policiais nos pararam e então encontraram as
armas. Mas diferente disso? Sim, eu faria tudo de novo. Isso precisava
acontecer, e sua amiga Jess não estaria viva hoje se não tivéssemos
feito isso. Você acha que o resto da vida dela valeu a pena um ano da
minha?
Puta merda.
— Então você estava lá para salvá-la? — perguntei. — Quero
dizer, eu meio que suspeitava de algo, mas ela nunca realmente
explicou o que aconteceu. Ninguém fala sobre isso.
Painter suspirou.
— Eu estou muito confortável em torno de você, — ele admitiu. —
Parece seguro, mas eu preciso tomar cuidado com a minha maldita
boca. Já falei demais. Lamento ter sido pego, nada mais. Isto é o que
é. Só espero que eu nunca tenha que voltar.
~ 100 ~
— O que quer dizer, voltar? — perguntei, endurecendo. — Você
não vai voltar - eles te deixaram sair. Você já cumpriu sua pena.
Ele deu uma risada, e eu senti seu braço subir, esfregando
minhas costas para me acalmar. — Não se preocupe, babe. Eu não
estou planejando isso. Mas eu estou em liberdade condicional,
lembra? Isso significa que eles me deixaram sair mais cedo, presumindo
que eu vou me comportar e fazer boas escolhas. Eles me pegam fazendo
algo como ultrapassar o sinal vermelho, minha bunda estará em uma
cela novamente. Isso é tudo.
Eu empurrei contra seu peito, me levantando para ver seu
rosto. Eu nunca tinha pensado que ele poderia voltar para a prisão -
apenas o pensamento me fez sentir quase em pânico.
— Você tem que prestar atenção em si mesmo — eu disse a ele,
muito séria. — O clube está fazendo você fazer coisas que poderiam te
levar para a prisão? Você não tem que fazer o que eles dizem, Painter.
Ele sorriu para mim, esfregando minhas costas quando ele
balançou a cabeça.
— É bom saber que você se importa, — disse ele. — Mas
eles não me forçam a fazer nada, Mel. Eu sou um cara crescido - eu
posso cuidar de mim mesmo. Não é desse jeito.
— Desse jeito como?
— Eu não sou um peão com que eles podem jogar. Qualquer coisa
que eu fizer é por minha escolha. Eu sei que há clubes lá fora onde os
homens seguem cegamente as ordens e se sacrificaram como
amigos. Mas os Reapers são meus irmãos - nós nos levantamos pelos
outros, nós votamos em tudo, e se eu não quisesse estar aqui, eu não
estaria. Eu sou um Reaper, também, você sabe. Este é o meu
mundo. Estou orgulhoso deste patch e eu faria qualquer coisa para
protegê-lo.
Seus olhos perfuraram os meus, frios e duros. Até mesmo a mão
nas minhas costas apertou, como se estivesse se preparando para a
ação.
— Mas você é cuidadoso, certo? — perguntei. Painter assentiu.
— Sim, é claro que eu sou cuidadoso, — disse ele. — Mas eu
também sou um dos novos membros que acabou de receber o patch há
menos tempo, e eu não tenho uma família ou qualquer coisa. Quando
~ 101 ~
há uma merda que precisa ser feita, eu me ofereço. Todos os irmãos
fazem isso, mas alguns de nós têm menos a perder do que outros.
Fechei os olhos contra o aperto doloroso dentro de mim,
colocando a minha cabeça de volta para baixo, então eu não teria que
olhar para ele.
— Você quer dizer os caras com old ladies? — perguntei, já
sabendo qual seria a resposta.
— Old ladies, famílias... os homens com crianças fazem a sua
parte, sem dúvida. Mas eu não vou ficar para trás e assistir enquanto
um irmão com esse tipo de responsabilidade assume riscos que não
precisa. E um monte de caras fazem o trabalho que é importante - eles
nunca pulam para fora de nada, mas não podemos simplesmente
substituí-los se algo acontecer. Horse é a porra de um gênio com o
dinheiro e Ruger pode construir qualquer coisa. Precisamos dessas
habilidades. É o meu trabalho proteger o clube, e parte disso é proteger
os irmãos que mantêm o clube vivo.
— Isso é loucura, — eu disse. — E sobre a sua vida? Isso não
importa?
— O clube é a minha vida, Mel.
Ixi, muita lavagem cerebral? Sua mão me esfregou suavemente
enquanto ele falava, que era uma merda porque eu queria bater nele,
gritar com ele ou, pelo menos, dar a ele um sermão, embora eu não
soubesse sobre o que seria. Talvez o top cinco de razões pelas quais a
prisão é uma porcaria?
Mas eu acho que ele já sabia disso muito melhor do que eu.
Em vez disso, fiz do jeito dele, me forçando a não pensar sobre o
que ele tinha dito - haviam muitas outras coisas para me concentrar. O
ar quente da noite. Os sapos. A maneira como sua mão sentia, ainda
esfregando para cima e para baixo em minhas costas, me acalmando e
me perturbando. Em seguida, seus dedos se prenderam na parte de
baixo da minha regata, deslizando apenas alguns centímetros, até que
eu senti sua pele nua contra a minha. Meu estômago revirou.
— Por que você está fazendo isso? — perguntei, me sentindo
quase desesperada.
— Fazendo o quê?
~ 102 ~
— Me tocando. Você está enviando alguns sinais mistos muito
sérios para um cara que não está interessado.
Ele congelou, a mão no peito dele chegou para pegar a minha.
— Eu nunca disse que não estava interessado, — ele respondeu,
sua voz calma, com uma pitada de tensão. — Eu disse que você merecia
algo melhor.
— Deus, você é frustrante pra caralho, — eu disse, me
empurrando para cima para encará-lo. — Você me ignorou quando você
saiu, você me fez gozar ontem à noite, e agora você está enfiando a mão
por baixo da minha blusa enquanto você está me dizendo que eu
mereço melhor. Você já considerou consultar um psiquiatra? Porque eu
acho que você poderia precisar de um.
Ele deu uma risada baixa, deslizando a mão da minha blusa para
baixo em toda a parte inferior das minhas costas.
— Não, mas mais cedo esta noite alguém me disse que eu deveria
falar com um profissional.
— Bem, talvez você deva, — eu bufei, olhando para ele. — Porque
você está brincando comigo e isso não é legal.
— Eu nunca fingi ser legal, — disse ele, sua voz endurecendo. —
E eu nunca lhe prometi nada, Mel. Lembre-se disso. Ninguém fez você
andar de moto comigo esta noite - não é como se eu tivesse colocado
uma arma na sua cabeça. Que porra você quer de mim?
— A verdade, — eu rebati. — Vamos começar com isso. O
que diabos você quer de mim?
Ele deu uma risada baixa e sombria.
— Nós não vamos falar sobre isso.
— Ah, sim, nós vamos, — eu informei a ele, cutucando seu peito
com um dedo. — Porque eu estou cansada de joguinhos mentais com
você - nós vamos esclarecer tudo, aqui e agora. Caso contrário, você vai
me levar para casa. Ou eu posso ligar para alguém e pedir uma carona.
Os olhos de Painter se estreitaram, em seguida, sua mão pegou a
minha, segurando-a apertado.
— Você não vai ligar para ninguém - eu vou te levar para casa
quando eu estiver pronto. E você acha que você quer respostas? Que tal
isso para a sua resposta do caralho. Eu quero isso.
~ 103 ~
Ele arrastou a minha mão para baixo de seu estômago em direção
à frente de suas calças. Minha pulsação aumentou. Então, ele estava
empurrando minha mão em todo o comprimento de seu pau, que estava
duro e pronto. Seus quadris se levantaram sob o meu toque e ele
apertou os dedos ao redor da minha mão, agarrando forte.
Necessidade torceu através de mim.
— O que eu quero é te foder, — disse ele, sua voz um sussurro
áspero e intenso. — Eu quero foder sua buceta, eu quero foder sua
cara, e eu tenho pensado seriamente em foder a sua bunda também. Eu
quero te trancar e brincar com você... às vezes eu penso a respeito de
possuir você, e o que eu faria se você tentasse fugir. Cristo, você não
tem ideia.
Ele empurrou minha mão com força na parte superior de sua
ereção, os quadris torcendo sob o meu toque. Sua outra mão se abaixou
para pegar a minha bunda, apertando com força. Minha perna foi para
cima e se apoiou na dele, o que foi perfeito, pois trouxe meu clitóris em
contato com sua coxa.
Deus, por que estávamos vestindo tantas roupas?
— Oh merda, — eu sussurrei, deixando cair a minha cabeça em
seu ombro enquanto seus dedos trabalhavam entre as minhas nádegas,
encontrando a virilha do meus shorts. Por que eu não tinha mantido
minha boca fechada? Espere, porra. Por que diabos eu não tinha usado
uma saia?
O tempo todo ele mantive meus dedos ao redor de seu pau,
içando-o lentamente através do tecido, enquanto seus dedos dançavam
entre as minhas pernas. Suas mãos eram grandes, fortes, trabalhando
em mim enquanto o mundo começou a girar. Em seguida, sua mão
largou a minha, chegando para pegar a parte de trás da minha cabeça,
me obrigando a encontrar o seu olhar.
— Aqui está a verdade feia, embora, — ele sussurrou. — Eu vou
querer tudo isso – tudo de você - por cerca de uma semana. E então eu
vou ficar ocupado, entediado ou o que for, e eu vou parar de te ligar. É
assim que eu sou, Mel. Eu sou o cara que não liga e eu nem mesmo me
arrependo, porque eu realmente não dou a mínima para quem eu
machuco. Exceto que por alguma razão fodida, eu me preocupo com
você. Se algum cara tratar você do jeito que eu sonho todas as noites,
eu o mataria. Eu não estou afim de um suicídio, o que significa que não
podemos ir lá. Entendido?
~ 104 ~
Nossas mãos tinham parado de se mover enquanto ele falava,
embora seu pau ainda pulsasse sob a minha mão. Seus dedos cavados
em minha bunda, me segurando em cativeiro contra o seu corpo,
mesmo enquanto eu processava suas palavras.
— Você realmente faria isso comigo?
A boca de Painter apertou.
— Sim, Mel. Eu realmente faria isso com você. Nós teríamos
alguns dias ótimos, talvez uma semana. Então eu ficarei entediado e
vou te dispensar, porque é isso que eu sou. Mas você é a única amiga
que eu já tive e eu realmente me importo com você, então eu não quero
machucá-la assim. Não é uma coisa terrível?
Minha respiração ficou presa, dividida entre o lapso de alegria ao
ouvi-lo nos chamando de amigos e absolutamente chateada e enojada
por ele dizer que ele tinha o poder de me quebrar. Eu optei por lidar
com o desgosto e a raiva - muito mais poderosos.
— Você sabe o quê? — eu disse. — Eu entendo que nós não temos
um longo relacionamento romântico à nossa frente... mas não me trate
como uma criança. Eu sou uma adulta e eu posso tomar minhas
próprias decisões. Se eu me machucar, é da minha conta, não sua. Você
não tem esse tipo de poder, seu babaca.
Os olhos de Painter se arregalaram, e um lento sorriso insinuou
em sua boca, me confundindo completamente.
— Deus, você é incrível, — disse ele, soltando seu aperto no meu
cabelo. — Eu preciso de você, Mel. Eu preciso de você demais como
amiga para arriscar tudo. Eu sei que eu tenho feito um péssimo
trabalho tentando conversar com você sobre isso, mas se você tivesse
alguma ideia de como você é importante para mim... Cristo, você é uma
das poucas coisas que me manteve são. Pensar em você, receber suas
cartas. Nós temos que encontrar uma maneira, babe. Nós não podemos
fazer isso.
— Eu odeio homens, — eu murmurei, me livrando dele e ficando
de costas, olhei para o céu. Como poderia um cara ser tão mal e tão
doce ao mesmo tempo? Porque ele era doce. Eu juro, meu coração
estava derretendo mesmo quando eu queria estrangulá-lo.
Eu não estava pronta para perdoá-lo, no entanto. Ainda não.
— E tire a porra do seu braço debaixo da minha cabeça. Carinho é
para os íntimos.
~ 105 ~
Capítulo
08
PAINTER
A viagem de volta para a cidade durou para sempre, cada minuto
foi uma tortura porque Mel estava apertada em volta do meu corpo,
totalmente fodível e completamente fora dos limites.
Às vezes eu queria que eu não me conhecesse tão bem. Seria fácil
mentir, fingir que ela seria diferente das outras. Mas ela não seria, e me
odiar por ser quem eu sou não mudaria o fim do jogo aqui. Se eu a
queria em minha vida por mais do que algumas semanas, eu não podia
transar com ela. Esta era a minha realidade.
No momento em que chegamos a cidade, eu ainda estava
absolutamente decidido a manter as mãos longe dela... mas Taz estava
em sua casa, e eu não confiava naquele imbecil por merda nenhuma. É
por isso que a levei de volta para o meu apartamento... e você pode
fechar essa boca sobre isso.
Eu já sei que eu sou um idiota.
* * *
— Imaginei que você não gostaria de ficar sozinha esta noite, —
eu disse, desligando o motor. Mel lentamente se desgrudou do meu
corpo, deslizando para fora da moto. Eu a esperei protestar, talvez cair
em cima de mim porque eu não a tinha levado para casa. Em vez disso,
ela me surpreendeu com um sorriso hesitante. Acho que ela tinha tido
tempo o bastante para pensar na viagem de volta e resolver sua própria
merda.
— Obrigada. Eu não estou a fim de lidar com Jess e Taz
rastejando um sobre o outro. Eu não sei sobre ele, mas ela é uma
gritadora.
~ 106 ~
As palavras caíram entre nós como um tijolo, porque eu saberia
disso, não saberia? Só que eu não sabia, porque a boca de Jess estava
cheia o tempo em que nós... oh merda. Isso não era bom.
— Olha...
— Eu sei.
Tossi enquanto Mel deu uma risada nervosa, olhando para
qualquer lugar, menos para mim.
— Vamos botar tudo pra fora de uma vez por todas, — eu disse,
decidindo que era inevitável. Eu balancei minha perna para fora da
Harley e me dirigi para a porta lateral da garagem, pegando minhas
chaves.
— Botar o que =pra fora‘? — perguntou ela. Eu me virei para olhar
para ela, levantando uma sobrancelha. Era difícil dizer no brilho
ofuscante da luz da varanda, mas eu acho que ela estava
envergonhada. Tanto faz. Já tínhamos merda o suficiente para resolver,
nós não precisávamos da sobrinha de London entre nós também.
— Você sabe - eu e Jess. Eu vou te dizer o que aconteceu, porque
você está obviamente se perguntando. Será que ela não te contou os
detalhes?
— Hum, não realmente, — admitiu ela, franzindo a testa. Abri a
porta, estendendo a mão para acender as luzes. Eu encontrei o
interruptor e o quarto se encheu com as seis luzes de trabalho que eu
tinha pendurado ao longo do teto. — Eu sei uma parte, mas eu não
tenho certeza se eu quero saber o resto. É uma espécie de - oh, uau...
Ela deu um passo para dentro, olhando em volta do meu
estúdio. Revestindo as paredes tinham bancadas estreitas, um lado
coberto com peças da moto e outro com os meus materiais de
arte. Havia o mural que eu tinha começado para o Arsenal lá, mas eu
tinha esquecido sobre outra pintura metade-terminada que estava
encostada na parede. Eu estava trabalhado nela quando estava
preso. Não estava nas melhores condição (as meninas tinham feito o seu
melhor, mas elas não sabiam como lidar com isso), e eu estava tentando
decidir se ia pendurá-la ou não.
Agora eu assisti Mel andar para estudá-la, os olhos
arregalados. Eu cheguei por trás dela e ela olhou para mim.
— Você é bom.
~ 107 ~
Eu ri. — Não fique tão surpresa. Eu faço essa merda para viver,
você sabe.
Ela deu um sorriso triste.
— Desculpa. Acho que pensei que você só pintava chamas em
motos e coisas assim, mas isso é a arte de verdade. Como você
aprendeu a fazer isso?
— Eu peguei algumas coisas aqui e ali, — eu disse. — Embora só
para constar, dependendo do projeto, o que você vê em motos é arte de
verdade também. Não é qualquer um que pode fazer isso.
— Desculpe, — disse ela. — Não quis insultar ninguém.
— Não se preocupe, eu entendo. Só queria esclarecer, — eu disse,
me perguntando como ela ficaria nua e coberta de tinta. Bonita pra
caralho, provavelmente. — Então, eu tive um monte de aulas de arte
quando eu estava no reformatório. Elas eram bastante básicas, mas os
professores sempre pareciam querer me ensinar mais - eu aprendi
muito com eles. Então eu tomei mais algumas aulas quando eu saí. Eu
praticamente só fazia alguns esboços em Cali. Eles não têm aulas de
arte ou qualquer coisa.
— Bem, eu realmente gosto deles, — disse ela, e eu senti o meu
orgulho inchado. Ok, algo estava inchado - não há necessidade de
entrar em detalhes.
— Obrigado, — eu disse a ela, indo em direção as escadas. —
Minha casa é aqui em cima. Não é nada extravagante, mas é tranquila.
Eu não tinha estado no apartamento tempo o suficiente para
deixá-lo realmente sujo, obrigado porra. Não que eu me preocupasse
muito em impressionar alguém, mas por alguma razão eu não queria
que ela pensasse que eu era um porco total.
— Então, é isso, — eu disse, acendendo a luz. Mel olhou em volta,
e eu me perguntei o que ela achava. Não era grande - apenas uma
pequena sala de estar e uma pequena cozinha sob o beiral. Havia um
quarto separado e um banheiro atrás de nós também, mas
considerando que eu estava vivendo em um cubículo com outros dois
caras pelo último ano, parecia um palácio para mim. — O espaço do
estúdio embaixo é o que realmente me conquistou...
— É ótimo, — disse ela, se virando para mim com um sorriso
tímido que foi direto para o meu pau. — Quer dizer, é um depósito, mas
é seu e eu gosto disso.
~ 108 ~
Comecei a rir e ela se juntou a mim, vagando para se sentar no
sofá.
— Legal, — disse ela, passando as mãos em todo o sujo e
desbotado estofado marrom. — Vintage. Eu tenho certeza que eu vi isso
no Brechó de Idaho Youth Ranch semana passada.
— Eu não vou confirmar nem negar isso. Você quer algo para
beber? Tenho água e cerveja.
— Que tal uma cerveja? — ela disse. Peguei um par de geladas e
voltei a me sentar ao lado dela no sofá. Era bom tê-la aqui. Bom,
estranho e errado, tudo ao mesmo tempo.
— Você quer assistir a um filme ou algo assim? — ela perguntou,
apontando para a TV. Eu tinha uma TV decente também. Uma gigante
de tela plana - presente de boas vindas do clube.
— Claro, — eu disse, estendendo a mão para o controle
remoto. Eu não tenho TV a cabo, mas Ruger tinha criado uma espécie
de box de programação para mim para que eu pudesse transmitir as
coisas. — Tá no clima de assistir o quê?
— Nada de terror, — disse ela rapidamente, e eu ri novamente,
lembrando a primeira noite que passei com ela na casa de Pic. Ela era
tão jovem, assustada e vulnerável... eu queria comê-la.
Eu ainda queria comê-la.
— Eu não posso acreditar que você e Puck deveriam estar me
vigiando, e então você colocou um filme de terror. Isso não é como você
faz uma garota se sentir segura.
— Nada de terror, — eu concordei, embora o pensamento de
segurá-la por algumas horas, enquanto ela estava assustada me tentou
mais do que deveria. Cuidado, idiota. — Que tal Star Wars?
— Você gosta de Star Wars?
Eu dei de ombros. — Todo mundo gosta de Star Wars. Você sabe,
eu tenho certeza de que Han Solo foi um motoqueiro.
Ela deu uma risadinha. — Um motoqueiro do espaço?
— Olha, quando você fala assim soa estúpido.
— Eu queria ser princesa Leia. Ela é durona, — disse Mel,
tomando um gole de sua cerveja. Eu assisti como seus lábios enrolavam
~ 109 ~
em volta do gargalo, a garganta engolindo. Isso foi um pouco sexy
demais para o meu conforto. Ela colocou a cerveja sobre a mesa do café
com um tilintar e em seguida soltou o maior arroto que eu já ouvi.
— Puta que pariu, — eu disse, atordoado. — Eu não achava que
as meninas poderiam arrotar assim. Merda. Impressionante, Mel. Muito
impressionante.
Ela sorriu.
— Nós somos amigos, — ela me disse. — E os amigos não
precisam se preocupar com essas coisas. Me deixe adivinhar - você
nunca teve uma amiga antes?
— Na verdade não, — eu admiti. — Eu acho que estou um pouco
assustado.
Assustado e excitado, o que era uma pena.
— Você deveria estar. Eu posso fazer o alfabeto inteiro.
Droga. Eu meio que queria ver isso.
— Então, nós vamos assistir a esse filme ou não? — perguntou
ela.
— Hum, vamos assistir, — eu disse, folheando as opções de
pesquisa para encontrar Star Wars. Eu cliquei na opção, me recostando
contra o sofá quando as palavras começaram a rolar em toda a tela. Mel
estava há quinze centímetros abaixo de mim. Perto o suficiente para
chegar mais, enfiar as mãos em seu cabelo e beijá-la pra caralho.
Em vez disso eu apenas fiquei lá, excitado como o inferno,
observando Luke Skywalker se lamentar sobre conversores de energia.
— Ei, você está bem? — perguntou ela.
— Bem pra caralho.
MELANIE
A luz do sol machucou os meus olhos.
Pisquei, tentando me lembrar onde eu estava, porque eu
definitivamente não estava em casa no meu quarto. A cama parecia
~ 110 ~
estranha, e o teto manchado de água acima de mim não era familiar,
tampouco. Virei a cabeça para encontrar Painter dormindo ao meu lado,
seu rosto há centímetros do meu, e tudo voltou.
Ele parecia mais suave dormindo.
Quero dizer, ele ainda era o mesmo grande motoqueiro malvado,
mas não havia nada de zombeteiro ou calculista em seu rosto
agora. Não só isso, ele parecia mais jovem. Ele era mais velho do que eu,
mas não muito, e agora ele quase poderia passar por um estudante do
ensino médio.
Meus olhos arrastaram para baixo, e, infelizmente, eu descobri
que ele ainda estava completamente vestido. Eu também,
aparentemente, porque o meu sutiã estava me cutucando demais. Eu
também precisava fazer xixi urgentemente. Isso era um problema,
porque se eu me movesse, Painter iria acordar e voltar a ser um
motoqueiro assustador para mim.
Eu queria me aproximar e traçar seu rosto com o meu dedo,
sentir as pequenas cerdas de sua barba matinal. Mas estávamos na
friend-zone, e apesar do que nós fingimos ontem à noite, pessoas na
friend-zone não se tocam dessa forma.
Seus olhos se abriram.
— Ei, — eu disse.
— Ei.
Olhamos um para o outro por alguns segundos, ficando quietos.
— Você dormiu bem? — ele perguntou. — Eu carreguei você até
aqui, achei que você ia ficar desconfortável no sofá. Então eu deitei aqui
também, porque o sofá é uma merda. Espero que você não se importe.
— Não, está tudo bem, — eu disse, querendo fazer o melhor das
coisas. Então, talvez nós não fôssemos feitos para ser um casal. Não
significava que eu tinha parado de gostar dele como pessoa - ele ainda
era o mesmo cara que tinha me enviado desenhos animados, piadas e
conversas estimulantes quando eu estava frustrada com uma das
minhas aulas. — Como amiga, eu odiaria que você tivesse um sono de
merda.
Ele sorriu. — Aprecio o pensamento. Você quer ir tomar café da
manhã?
~ 111 ~
Olhei em volta, me perguntando que horas eram. Onde estava o
meu telefone? Algo tocou, e ele estendeu a mão, pegando o seu do chão
- a cama era realmente apenas um colchão, eu percebi.
— Eu tenho que ir, — ele me disse, franzindo a testa. — Alguma
coisa está acontecendo.
— Não se preocupe, — eu disse, pensando melancolicamente no
café da manhã. Eu tinha decidido que um benefício de se estar na
friend-zone era que você poderia por para fora tudo o que você quisesse,
e eu estava com fome de biscoitos e molho de carne. Tudo o que eu
tinha em casa era cereal.
— Eu vou te dar uma carona para casa, — disse ele, rolando para
fora da cama.
— Eu posso simplesmente ir andando, — eu disse a ele. — É
apenas há alguns quarteirões.
Ele balançou a cabeça, me oferecendo uma mão para cima.
— Eu vou te dar uma carona, — ele insistiu. — Apenas me dê dez
para um banho rápido.
— Tudo bem - você quer café ou algo assim? Eu posso fazer
enquanto você toma banho.
— Não, eu tenho que ir.
* * *
Foram longos dez minutos, principalmente porque eu tinha
esquecido de fazer xixi antes que ele começasse seu banho. O
apartamento parecia ainda menor à luz do dia, e o som de água
corrente não ajudava. Um lado bom? Era difícil se sentir excitada
enquanto você está fazendo a dança do xixi, embora eu soubesse que
ele estava provavelmente nu no outro lado da porta estreita e
frágil. Levou toda a minha energia para não ter um acidente em minhas
calças.
Eu encontrei meu telefone ao lado do sofá, então eu o peguei,
procurando uma distração. Eram quase dez da manhã. Uau. Jess tinha
me mandado uma mensagem cerca de uma hora mais cedo.
~ 112 ~
JESS: Você está viva? Parece que alguém não precisou voltar para
casa ontem à noite. Painter? Nós precisamos conversar.
Eu suspirei, em seguida, enviei uma mensagem de volta.
EU: Eu fiquei na seu casa dele, mas não como você pensa. Nós
somos apenas amigos. Como foi com Taz?
JESS: Útil. Ele me fodeu forte e, em seguida, consertou a pia
porque estava pingando e não queria parar. Agora ele está fazendo o
meu café da manhã.
EU: Wow. Soa como um para se manter por perto.
JESS: Eu não estou a fim de manter ninguém por perto. Eu decidi
que a partir de agora eu vou ficar mentalmente celibatária. Dessa forma
eu posso ficar com alguém, mas ainda me manter firme aos meus
ideais. Você vindo pra casa logo?
EU: Sim, daqui a pouco.
JESS: Ha! Você disse =vindo‘. Eu quis dizer =vem‘. Merda, seria
ainda mais engraçado sem o auto corretor para atrapalhar tudo 7.
— Do que você está rindo? — perguntou Painter, saindo do
banheiro. Eu teria lhe respondido, mas eu tinha perdido
temporariamente a capacidade de respirar ou formar palavras. Isso
porque ele colocou uma calça jeans, mas sem camisa. Adicionando o
fato de que seu cabelo estava molhado e despenteado, e pequenas gotas
de água corriam por seus peitorais e em seu abdômen?
Injusto. Profundamente injusto.
Eu consegui me recompor, e em seguida, fiz uma careta para ele.
— Coloque algumas roupas, — eu disse, apontando para seu
quarto. — Se nós vamos ser amigos, você precisa ficar decente.
Ele levantou uma sobrancelha.
— Homens ficam sem camisa o tempo todo, — ele apontou
razoavelmente. Cruzei os braços, olhando para baixo.
— A friend-zone só funciona se você permanecer nela, — eu
declarei. — Você está fora dos limites. Coloque uma camisa, ok?
7 Vindo no sentido de ?gozando?. Em inglês, cumming quer dizer ?gozando? e na
grafia/sonoramente se parece muito com coming, que significa ?vindo?.
~ 113 ~
Ele sorriu para mim, então voltou para o quarto, deixando a porta
aberta atrás dele.
Cara idiota.
* * *
Naquela tarde, eu ainda tinha esperanças de que o nosso novo
estatuto de friend-zone significava que eu poderia sair para jantar com
ele, dado que tínhamos perdido o café da manhã. Então, meu telefone
tocou.
PAINTER: Ei - eu tenho que sair da cidade por uma semana ou
algo assim. Não tenho certeza quanto tempo. Você pode falar comigo por
mensagem de texto se você quiser, ou ligar se alguma coisa acontecer.
MEL: Desde quando nós nos mandamos mensagens de texto?
PAINTER: Desde quando eu estive autorizado a ter uma
comunicação por escrito que não foi conferida por um guarda
primeiro. Você sabe, para se certificar de que você não estava me
mandando mensagens de código secretos sobre a dominação global ou
algo assim em suas cartas
MEL: Quer dizer que você não entendeu as mensagens? Mas eu
pensei que elas eram tão claras. Primeiro você pega as armas, então
você pega as mulheres...
PAINTER: Não me admira que a revolução não tenha dado
certo. Provavelmente foi o melhor. Conhecendo minha sorte, eu seria o
primeiro a ser colocado contra a parede.
Ok, então eu não estava saindo para jantar. Mas, pelo menos, as
coisas não estavam estranhas mais. Essa coisa de friend-zone não era
tão ruim assim.
~ 114 ~
Capítulo
09
PAINTER
— Então me diga mais sobre esse tal de Pipes, — Gage perguntou,
olhando em frente para a rodovia. Nós tínhamos dirigido durante quase
quatro horas, e eu sabia que estávamos perto de Hallies Falls
agora. Isso era bom também, porque eu estava mais do que pronto para
estar fora da porra da gaiola desse caminhão. Quando eu sugeri que
fôssemos como um caminhoneiro, parecia ser uma boa ideia. Deu a ele
uma desculpa para ir e vir, um lugar na parte de trás do caminhão para
dormir se ele precisar, tudo ótimo. Eu não pensei sobre o quão pequeno
espaço para dormir era, ou que eu poderia ficar preso nele também.
Pequenos espaços me fazem pensar na prisão.
É claro, falar sobre Pipes também.
— Então, ele estava no mesmo bloco que nós, — eu disse. —
Provavelmente com cerca de 30 anos de idade, e com as alianças entre
nossos clubes, a parceria com ele parecia natural. Ele foi um prospecto
quando tinha dezoito anos – o pai dele tinha um patch. As coisas
começaram ficar ruins quando seu antigo presidente morreu há cerca
de dois anos. Marsh tinha sido seu VP até esse momento - ele é o
presidente agora. Parece estranho que nós nunca o encontramos em
uma corrida ou qualquer coisa.
— Isso é o suficiente para levantar bandeiras vermelhas ali
mesmo, — Gage concordou. — Nós deveríamos ser aliados, mas eles
nunca vieram a qualquer um de nossos eventos. Eu sabia que Rance
estava nisso, por isso eu nunca dei muita atenção. Sempre foi uma
parceria rentável. De uma forma estranha, eu estou contente que vim -
me deu uma desculpa para ficar longe da Linha.
— O que há de errado com isso? — perguntei, curioso. Gage
coçou o queixo, pensativo, em seguida, respondeu.
— Acho que eu estava entediado, — disse ele. — Tenho estado a
procura de uma razão para me afastar faz um tempo. Tão divertido
~ 115 ~
quanto parece estar cercado por bundas e peitos todo o tempo, os peitos
estão ligados a um monte de drama. Estava de saco cheio.
Eu dei uma risada, porque você não podia discutir com isso.
— Tenho a sensação de que vamos estar envolvidos aqui por um
tempo, — continuou ele. — Esta situação terá que ser acompanhada de
perto, e eu queria uma mudança de ritmo. Timing perfeito.
Ele diminuiu a velocidade do caminhão quando chegamos na
periferia da cidade. Edifícios começaram a aparecer ao lado da
estrada. Não havia muito mais além da parada de caminhões onde nós
planejamos nos estabelecer pela noite. As motos foram colocadas na
parte de trás do caminhão, juntamente com alguns móveis básicos -
apenas o suficiente para formar um pequeno apartamento ou algo
assim. Nós tínhamos debatido como faríamos a abordagem inicial,
porque aparecer com as motos iria nos destacar. Mas estar fora não era
necessariamente uma coisa ruim. Precisávamos fazer contato com o
clube, mais cedo ou mais tarde. Nosso disfarce era Gage como um
caminhoneiro a procura de um novo lugar depois de um divórcio
feio. Eu era seu primo, e estava aqui para ajudá-lo a encontrar um novo
lugar e me instalar.
Se nós jogássemos certo, eles ouviriam sobre nós estarmos
chegando na cidade, mas não iriam pensar duas vezes. Apenas alguns
motoqueiros independentes - nenhuma ameaça para o clube.
Lá na frente eu vi as luzes da parada de caminhões. Ela não era
tão grande como eu esperava – mas parecia um posto de gasolina que
qualquer outra coisa, embora eu soubesse por seu site que eles tinham
uma loja de conveniência com chuveiros. Gage manobrou o veículo,
estacionando atrás do edifício, onde tinha um estacionamento para os
caminhões. Nós paramos e, em seguida, saímos para olhar ao redor.
— Não há nada aqui, não é? — comentei.
— A população é de cerca de três mil, — ele respondeu. —
Pequeno, mas não tão pequeno para eles não notarem pessoas
estranhas ocasionais. Rance me colocou a par de tudo. Ele virá a cada
semana para verificar Marsh.
Eu balancei a cabeça - Rance foi inteligente. Nós poderíamos
confiar nele.
~ 116 ~
— Rance acha que a melhor maneira de entrar é através da irmã
de Marsh, Talia. Aparentemente, ela está sempre trazendo um novo cara
para casa. Ela e Marsh são próximos. Ele permite que ela vá na sede do
clube, o que parece errado de alguma forma.
— Não me diga, — eu disse. — Você está planejando transar com
ela, ou seria eu?
Gage bufou.
— Ir logo direto ao ponto, não é?
— Economiza tempo, — eu respondi. Meu telefone tocou, e eu
olhei para baixo para ver o nome de Melanie na mensagem texto.
MEL: Jess trouxe Taz para casa novamente esta tarde. Vou
estrangulá-la - acontece que ele é um gritador também...
Eu suspirei, não entusiasmado com o fato de que Taz estava em
sua casa, mas pelo menos ela não parecia interessada nele.
— O que é? — perguntou Gage.
— Melanie, — eu respondi. — Diz que Taz grita durante o sexo.
— Sério... eu precisava saber disso?
Eu ri. — Provavelmente não. Taz ficou com Jessica no rodeio -
imagina como Pic se sentiu sobre isso?
— Eu acho que ele desistiu de controlar as meninas em sua vida,
— respondeu Gage. — Por que Mel está mandando mensagens de texto
para você? Achei que você ia deixar isso pra lá.
— Nós somos amigos, eu acho, — eu respondi, desconfortável
com a palavra.
— Se vocês são apenas amigos, você se importaria se eu pegasse
ela?
Eu quase mordi a isca, então eu saquei a merda – vi o sorriso que
ele estava tentando esconder.
— Vá se foder. Então, qual é o plano agora?
— Vamos verificar as coisas, — disse ele. — Veja se podemos fazer
uma visita. Esse trabalho está ok para você?
~ 117 ~
— Claro, — eu disse, tentando não pensar quanto tempo isso iria
significar estar longe de Mel. — Mas eu prefiro não foder a irmã se eu
não precisar.
Gage bufou. — Você não a viu ainda.
Ele pegou seu telefone, limpando-o e, em seguida, me entregou
para que eu pudesse ver uma foto. Porra - a garota era linda. Longos
cabelos ruivos, olhos verdes brilhantes. Sorriso branco brilhante. Ah, e
seus seios eram enormes aparecendo do minúsculo biquíni com a
bandeira americana que ela usava. Cobrindo suas pernas estavam
shorts Daisy Dukes 8 desbotados. O botão superior ainda estava aberto.
Inferno.
— Peguei essa do Instagran, — disse Gage. — Ela gosta de postar
fotos de si mesma. Você ainda quer passar o trabalho?
Eu estudei a foto novamente. Ela era gostava,
definitivamente. Mas o cabelo ruivo não me chamava a atenção, não
realmente. Eu preferia as morenas. Cabelo castanho chocolate era o
melhor, sem mencionar a pele lisa e bronzeada mais escura do que essa
menina tinha e que ela nunca iria conseguir nem com bronzeamento
artificial.
— Ainda passo, — eu disse. — A menos que você não esteja
pronto para isso? Eu sei que você é mais velho que eu, então se você
precisar de algumas daquelas pequenas pílulas azuis...
— Você é um idiota, — disse ele, rindo enquanto ele parava o
caminhão sobre uma das vagas de estacionamento do velho centro da
cidade. — Tudo bem, aqui vamos nós. Tente não estragar tudo.
— Vá se ferrar! Pensei que estávamos aqui apenas para dar uma
olhada.
— Só aja normal.
Eu suspirei, abrindo minha porta. Nós veríamos se eu poderia ou
não.
* * *
8 Aquele que aparece a poupa da bunda.
~ 118 ~
Não demorou muito tempo para descarregar as motos, e então
nós estávamos estrada abaixo em direção à velha cidade, que tinha sido
ignorada pela rodovia anos atrás. Parecia estranho estar andando por aí
sem meu colete dos Reapers. Antinatural. No pequeno centro tinha
duas lanchonetes, claramente uma em concorrência com a outra. Em
uma das extremidades estava Clare, o que parecia ser uma espécie de
cafeteria hipster. Do outro lado tinha o Hungry Chicken com sua
comida gordurosa. Nós estacionados na rua entre eles.
— Ali, — disse Gage, acenando com a cabeça em direção ao lugar
do frango. — Nós vamos conseguir fofocas melhores lá.
— E mais comida também, — eu disse, notando a placa na
calçada anunciando seu grande prato de café da manhã, servido todos
os dias. Agradável.
Nós demos mais uma verificada nas motos antes de começar a
descer em direção ao final da rua e me perguntei se Gage estava tão
perturbado com o estado atual do nosso passeio como eu estava. Eu
tinha retirado qualquer coisa que poderia me identificar como um
Reaper. Me senti meio nu sem minhas coisas... precisávamos ficar
disfarçados, mas parecia errado. Eu estava acostumado a usar meu
colete, orgulhoso e foda-se qualquer pessoa que tivesse um problema
com isso.
A porta do restaurante deu uma rangida de boas-vindas quando
eu abri. Estava apenas no meio da tarde, então não havia muitas
pessoas no interior. Apenas alguns caras mais velhos que estavam
sentados no balcão bebendo seu café e uma mesa cheia de meninas
rindo e bebendo milk shakes.
— Vocês estão com fome meninos? — perguntou uma mulher de
meia idade, andando ao redor do balcão e vindo em direção a nós. Me
obriguei a não reagir, mas eu juro que ela parecia uma paródia de
garçonete dos desenhos animados. Cabelo loiro grande, que parecia um
tipo de colmeia. Lábios vermelhos brilhantes e sombra de olho tão azul
que poderia ser neon. Coloque tudo isso dentro de um uniforme rosa
que ela usava e ali estava literalmente a fêmea menos atraente que eu
já conheci na minha vida. Quero dizer, ela não era apenas nada-sexy,
mas relativamente assustadora. Eu meio que queria tirar uma foto dela,
só para provar a mim mesmo depois que ela era real.
~ 119 ~
— Nós temos o nosso especial de café da manhã, — disse ela. — É
um prato de café da manhã. Três ovos, uma carne de sua escolha,
batatas fritas, torradas, e uma xícara de café. Melhor comida da cidade.
— Parece ótimo, — disse Gage sem pestanejar. Ela sorriu para ele,
a expressão transformando seu rosto até que ela parecia menos
caricatural.
— Sentem-se, — disse ela. — Não é como se nós tivéssemos falta
de espaço.
Eu balancei a cabeça em direção a uma mesa perto da janela que
nos daria uma boa vista para a rua, nos mantendo ao lado da
lanchonete. Gage sentou de costas para a parede, me deixando exposto
- o que eu odiava pra cacete - mas ele tinha sido sargento do clube por
quase uma década. Não é um cara que você quer irritar, se é que você
me entende.
Eu me acomodei, olhando para outro lado da rua. Os prédios aqui
eram velhos. Um em frente a nós foi construído com algum tipo de
arenito, e acima das janelas lia-se =Farmácia Reimers‘ com o símbolo
Rx. Os Reimers pareciam estar muito longe, porque essa foi a fachada
mais mulherzinha que eu já vi. Havia porcelana chinesa, merdas
antigas e até mesmo alguns velhos brinquedos na frente da janela,
juntamente com algumas pequenas cadeiras extravagantes que as
pernas não pareciam fortes o suficiente para manter o peso de um
homem. Como uma espécie de velha sorveteria.
Do outro lado da janela, um letreiro =Tinker Teahouse,
Antiguidades & Chocolates Finos‘.
Eu balancei a cabeça em direção a ela.
— Você está vendo isso? — perguntei a Gage. Ele olhou para a
loja.
— Huh. Isso é diferente.
— Você meninos querem o especial? — nossa garçonete
perguntou, e eu sou homem o suficiente para admitir que ela me
assustou pra caralho. Ela se aproximou lentamente sem que eu visse e
sem fazer nenhum som. Eu olhei para a sombra neon, hipnotizado.
Merda. Talvez ela não fosse humana.
~ 120 ~
— Nós vamos querer dois especiais, — Gage disse, oferecendo a
ela um daqueles sorrisos que fazia as calcinha das mulheres caírem. —
Pode trazer o café agora. Foi um dia longo.
Ela ofereceu a ele um sorriso doce e sinistro e eu suspirei,
desejando estar em Coeur d'Alene com Mel.
* * *
No momento em que a garçonete terminou de trazer nosso pedido
- demorou um pouco, dada a forma como ela era falante - um Mustang
vermelho cereja conversível tinha parado do lado de fora do
restaurante. O carro era uma beleza, mas era a motorista que realmente
me chamou a atenção quando ela saiu para a rua com seus longos
cabelos escuros e óculos de sol. Batom vermelho escuro, pele pálida...
eu não poderia adivinhar sua idade a partir daqui, mas com base
nessas curvas ela não era uma adolescente.
Então, ela deu a volta até a parte de trás do carro e se inclinou
para abrir o porta-malas, delineando claramente a silhueta de uma
bunda perfeita embrulhada lindamente em uma saia com uma fenda
até a coxa e na altura do joelho.
— Porra! — disse Gage, sua voz suave. — Quem é aquela?
— Essa é Tinker Garrett, — disse a nossa garçonete, se
esgueirando atrás de nós novamente. — Ela é proprietária da pequena
loja de chá em frente.
Havia algo sarcástico e desagradável em seu tom. Gage e eu
compartilhamos um olhar.
— Ela não se parece com uma proprietária de uma loja de chá, —
disse Gage, levando-a diante. A garçonete fungou.
— Ela se mudou para Seattle depois do colégio, — disse ela. —
Ela se achava o máximo. Então, o marido a abandonou e ela veio
rastejando de volta para a cidade. Aquela loja dela não pode fazer
dinheiro o suficiente para continuar aberta - não com o número de
pessoas que passam por aqui. Se você me perguntar, ela está envolvida
em alguma coisa.
~ 121 ~
Gage olhou para mim, a boca se contraindo. Eu me inclinei para a
mulher, pedindo uma continuação - perguntando num sussurro tenso.
— Em que tipo de coisa você acha que ela está envolvida? —
perguntei, os olhos arregalados. — Você acha que é nefasto...?
Gage se engasgou com uma tosse. Legal... esconder o riso estava
provavelmente o matando.
— Eu tenho minhas suspeitas, — ela fungou. — Ela se veste como
uma puta, você sabe. E eu ouvi dizer que ela vai dançar às vezes em
Ellensburg. Gosta de pegar os meninos da faculdade. O que eles
chamam disso? Uma cafetina? Vergonhoso.
Gage se virou, os ombros tremendo.
— Bom saber, — eu disse a sério. — Nós vamos ficar longe dela.
— Façam isso, — a garçonete respondeu, acenando com a cabeça
sabiamente. — Deus sabe que tipo de coisa que se vende naquele
lugar. Aposto que esses chocolates têm drogas neles. Maconha.
Olhei pela janela novamente, observando o balançar perfeito da
bunda de Tinker Garrett, enquanto se afastava.
De alguma forma, ela não me parece ser uma traficante. Pegadora
de meninos? Isso eu podia ver.
MELANIE
Na semana após o acidente de Chase tudo ficou estranho. Ele
sobreviveu, mas ele tinha uma longa recuperação pela frente. Todos na
cidade pareciam pesarosos e infelizes, e eles realmente estavam todos
juntos apoiando-o. Houve até algumas crianças que montaram uma
banca de limonada na rua para recolher fundos para a caridade. Às
vezes eu me cansava de viver em Coeur d'Alene - não era uma cidade
grande e não era excitante como Seattle ou Portland, mas quando algo
como isto acontecia, todos nós gostávamos de ajudar. Kit tinha até
organizado uma daquelas campanhas on-line para ajudar com as
despesas médicas dele.
~ 122 ~
Contribuindo para o pessimismo estava o fato de que eu não
tinha ouvido de Painter por vários dias. Eu o tinha enviado uma
mensagem de texto no início, mas parei depois que ele não respondeu.
— Você acha que ele perdeu o telefone dele? — eu finalmente
perguntei a Jessica. Era quinta-feira à noite, e tínhamos construído um
ninho de estudo na sala de jantar. Ela tinha encontrado uma mesa
velha na terça-feira, arrastando-a para casa para me mostrar,
orgulhosa como uma criança com seu primeiro brinquedo.
Agora estava tão coberta de livros que você nunca teria imaginado
que não tinha estado aqui há meses.
— Sim, eu tenho certeza que ele perdeu o telefone, — disse ela,
digitando agressivamente em seu laptop. — Ele
está totalmente pensando em ligar - você sabe, porque ele tem uma
grande história de se manter em contato - mas ele está completamente
por fora de como usar mensagem de texto, e-mail, mídias sociais, ou
qualquer outro tipo de telecomunicação.
— Merda, você não tem que ser uma cadela sobre isso, — eu
rebati, olhando para ela. Ela suspirou, se recostando na cadeira.
— Desculpe - Taz não me ligou ou qualquer coisa também. Acho
que eu estou me sentindo hostil para com os
homens. Motoqueiros. Foda-se todos eles.
— Ele disse que ligaria para você? — perguntei.
Ela assentiu com a cabeça. — E eles todos não dizem?
* * *
Na sexta-feira eu estava chateada e resolvi caminhar até o
apartamento de Painter. Sem sinal de vida. Eu estava sentindo pena de
mim mesma, então depois eu fui para um café mergulhar em um de
seus brownies com todo creme possível. Eu estava no meio do caminho
olhando para o meu telefone, desejando que ele me mandasse uma
mensagem quando eu tive a minha grande revelação.
Isso era ridículo pra caramba.
~ 123 ~
Lá estava eu, uma mulher de vinte anos, com todo o potencial do
mundo, sentada em um café enchendo minha barriga por causa de um
homem. Tudo que eu precisava era começar a cantar =All By Myself‘ e
comprar um gato para completar o estereótipo.
Que diabos havia de errado comigo?
Minha vida tinha sido uma merda antes de eu morar com London,
mas ela me deu uma segunda chance. Eu tinha dado a volta por cima,
trabalhando constantemente para construir uma vida para mim. Não
era perfeita, mas era ótima - eu tinha uma bolsa integral na faculdade e
todo o potencial do mundo, ainda assim, aqui estou eu, sentada
comendo chocolate.
Foda-se.
Peguei meu telefone, e mandei uma mensagem para Jessica.
EU: O que você está fazendo agora?
JESS: Trabalhando em coisas para o carnaval amanhã. Você
ainda é voluntaria, certo? Kit está aqui e disse que iria ajudar, mas vou
precisar de mais gente do que apenas ela.
Ah merda. Eu tinha me esquecido totalmente devido aos meus
pensamentos nebulosos sobre Painter. Oops.
EU: É claro que eu ainda sou voluntaria - mal posso esperar. O
que você quer que eu faça?
JESS: Pintura de rosto.
EU: Hum, você se lembra o quão artística eu não sou?
JESS: Eu quero que você pinte alguns patos, joaninhas, lagartos
e outras coisas. Você sabe, nas bochechas das crianças. Quão difícil
isso pode ser?
EU: Eu sou uma merda como pintora...
JESS: Eu tenho um livro que você pode usar com as
instruções. Super fácil.
EU: Não posso ficar na máquina de pipoca ou algo assim?
JESS: Covarde.
~ 124 ~
EU: Sim, eu sou uma covarde. Eu posso admitir...
JESS: Pare de ser uma bundona. Vou lhe dar o livro e as tintas
hoje à noite e você pode praticar. Fácil.
Eu olhei para o telefone, porque ela me forçou a fazer algo chato e
desconfortável que eu não queria fazer. Menina detestável.
EU: Ok, mas você fica me devendo.
JESS: Ponha na sua lista ;)
A porra de uma carinha piscando, ela queria me provocar... eu
suspirei e comi o meu brownie. Eu não iria me deixar ficar patética
novamente, eu já tinha decidido. Mas eu não podia simplesmente ir
embora e deixar meio brownie para trás. Para ser justa, não havia
sequer o suficiente para embrulhar e levar para casa.
EU: Se eu ficar toda gorda nós vamos culpar Painter.
JESS: Você é louca. Eu te amo cara de bunda.
E assim, eu estava sorrindo novamente. Agarrando meu celular e
bolsa, comecei a caminhar até a faculdade. A aula não começou por
mais uma hora, mas eu poderia adiantar algum trabalho na biblioteca
então eu me apressei.
Não ia mais deixar Painter ficar no meu caminho. A vida era
muito curta.
* * *
Eram onze horas naquela noite de sexta-feira, e eu estava sozinha
(no escuro) tendo minha bunda chutada por uma joaninha.
Nem sequer era uma joaninha de verdade.
Fiquei olhando para o pequeno manual de instruções, tentando
descobrir como algo tão simples como pintar um inseto inofensivo em
seis etapas - era completamente grego para mim. Eu tinha tentado por
quarenta e cinco minutos agora, com rabiscos pouco atraentes, gotas de
tinta escorrendo em tons de vermelho, preto, e branco e mais uns sobre
os outros em um ciclo interminável de incompetência. Algumas
~ 125 ~
pareciam aliens e outras pareciam trolls mutantes, mas nenhuma delas
poderia ser apontada com uma joaninha.
Nem mesmo uma joaninha esmagada. (E talvez atropeladas
algumas vezes).
Jess ia me encher tanto por causa disso, eu sabia, porque as
instruções eram tão simples, que qualquer idiota deveria ser capaz de
segui-las. Porcaria. Soltei o pincel, entrando na cozinha para pegar um
copo de água. À distância, eu ouvi um barulho fraco do lado de fora
seguido de um chiado estranho da geladeira. Me virei, convencida de
que eu estava prestes a ser assassinada.
Nada.
Eu lentamente voltei na ponta dos pés para a sala de jantar, onde
os cadáveres das minhas joaninhas mal feitas esperavam em um
silêncio acusador.
Então eu ouvi a batida de novo, desta vez de forma mais
clara. Alguém estava na porta... é claro que eu estava aqui sozinha,
porque Jessica saiu com Taz quando eu mais precisava dela, me
deixando para ser assassinada. O mesmo Taz que depois de não ligar
por toda a semana - de repente tinha uma merda urgente para resolver
no Arsenal. Uma merda tão fácil de lidar que ele levou apenas uma
hora, o que lhe deu tempo de sobra para levar Jess para sair. Certo. Eu
não acreditei nisso nem por um instante, e eu disse isso a
ela. Obviamente, ele estava tramando algo. Mas ela insistiu que ela era
uma menina grande, e que ela sabia o que estava fazendo.
Fui até a porta, desejando pela milésima vez que tivéssemos um
olho mágico. Em vez disso, tive que olhar pela janela para ver a pessoa
do lado de fora. Me apoiando, eu afastei a cortina para o lado para vê-lo.
Painter.
Por um instante eu estava estupidamente animada, então eu me
lembrei que eu tinha parado de gostar dele na semana
passada. Podemos não ser um casal, mas nós éramos bons amigos o
suficiente que eu pensei que merecia, pelo menos, algum
reconhecimento ou contato. Os dedos dele estavam quebrados para que
ele não pudesse retornar uma mensagem de texto amigável?
— O que foi? — perguntei friamente, abrindo a porta.
~ 126 ~
Ele olhou para mim, os olhos traçando meu rosto em silêncio,
tempo o suficiente para ser desconfortável. Uma parte de mim queria
tagarelar nervosamente, mas eu consegui ficar quieta e a partir de
agora, eu iria definir as regras.
— Me desculpe, eu não entrei em contato, — disse ele.
— Parece ser um padrão seu, — eu indiquei, tentando ser
durona. — Eu sei que éramos apenas amigos, mas você sumiu da face
da terra. Por quê?
Ele deu de ombros e, em seguida, ofereceu um sorriso tão doce e
encantador que quase me pegou. Quase. Mas não é bem assim.
— Meu telefone quebrou, — disse ele. — Eu estava fora da cidade,
negócios do clube, então eu só peguei um telefone simples para
usar. Nem sequer têm mensagens de texto de verdade, e eu não tenho o
seu número de qualquer maneira.
Ah... olha, ele tinha uma boa explicação! A parte mais estúpida,
mais crédula do meu cérebro estava totalmente pronta para cair em
suas desculpas. Não. Não não não não.
— Você não tem o número de Pic? — perguntei razoavelmente. —
Ele sabe como entrar em contato comigo.
O sorriso de Painter ficou envergonhado. — Ele não iria dar para
mim - disse que eu sou uma má influência e eu deveria ficar longe de
você.
Bem, eu certamente poderia ver isso. Painter era uma má
influência. Aqui estava ele na minha porta depois de quase uma
semana de silêncio, e em menos de um minuto, ele já estava corroendo
meu senso de autopreservação.
— Vamos lá, — eu disse, dando ao inevitável. — Eu ainda acho
que você é um merda, mas aqui está sua chance de compensar isso. Eu
tenho que descobrir como pintar pequenos animais em crianças até
amanhã.
— O quê? — ele perguntou, olhando para o vazio.
— Jessica tem um carnaval acontecendo no seu trabalho amanhã
de manhã, — eu expliquei. — Ela trabalha com as crianças no centro da
comunidade - no programa de necessidades especiais. Ela perguntou se
~ 127 ~
eu poderia ajudar, e porque eu sou uma idiota eu concordei sem fazer
ela me dizer exatamente para o que eu me ofereci. Agora eu tenho que
pintar rostos e eu não tenho nenhuma ideia de como fazer isso. Se você
realmente quer entrar, entre e me ajude.
Ele me seguiu até a sala de jantar, parando ao lado da mesa para
estudar meus esforços patéticos.
— Que diabos é isso? Um esquilo fodendo um dinossauro?
Eu suspirei, me forçando a olhar para o papel. Eu meio que
queria estrangulá-lo, mas para ser honesta, parecia muito mais como
um esquilo fodendo um dinossauro do que eu queria admitir.
— É uma joaninha.
Silêncio.
Ignorando-o, me sentei na cadeira, cutucando o pincel detestável
com um dedo.
— Isso é terrível, — disse ele.
— Eu sei.
— Não, é muito ruim. Tipo, eu não sei como uma pessoa pode ser
tão ruim em pintar alguma coisa. Qualquer coisa.
— Você acha que eles vão chorar, — eu perguntei, me sentindo
um pouco doente - eu acho que alguma parte secreta de mim esperava
que eles não fossem tão terríveis quanto pareciam.
— Quem, as joaninhas? Elas não tem olhos, babe. Elas não
podem chorar. Embora seja seguro presumir que elas estejam chorando
por dentro...
Dei de ombros para ele, dando uma risada relutante. — Não, as
crianças. Como é que eu vou pintar seus rostos se eu não posso nem
mesmo pintar o maldito papel?
Ele se sentou na ponta da mesa, perto de mim.
— Bem, não é realmente difícil, — ele começou a dizer, mas eu
levantei a mão.
— Olha essas bichinhas, — eu sugeri. — Será que elas
parecessem fáceis para você?
~ 128 ~
Seu lábio se curvou e ele balançou a cabeça. — Eu estou tentando
realmente não fazer uma piada sexual sobre bichinhas fáceis.
— Não, — eu disse, lutando contra o meu próprio sorriso. — Além
disso, isso não está anatomicamente correto. Então, você acha que pode
me ajudar? Amigos ajudam uns aos outros.
Eles também respondem a mensagens para que as pessoas
saibam que não foram assassinados ou algo assim.
— Eu tenho certeza que posso ajudar, — disse ele, estendendo a
mão para correr seu dedo pelo meu nariz. Eu esqueci de respirar por
um instante. — Vamos começar com a pintura. Sente-se e vamos passar
por isso passo a passo.
Meia hora depois eu estava pintando melhor. Quero dizer, não é
como se pintar rostos fosse tão difícil assim, mas por alguma razão eu
estava misturando as tintas de maneira muito aguada, então elas
continuaram escorrendo.
— Você está indo muito bem, — disse Painter, me olhando pintar
no papel. — Isso definitivamente se parece com um lagarto.
Pensei em contar a ele que era suposto ser uma flor, mas decidi
apenas adicionar olhos em vez disso. Ainda assim, eu tinha uma
agradável folha com arco-íris, joaninhas e nuvens. Pensei em fazer tudo
certo com as crianças oferecendo a eles algumas opções.
Olhando para cima, eu sorri, porque ele estava perto de mim e
estar perto dele sempre me fazia feliz, mesmo que provavelmente não
deveria fazer.
— Então, você pode me dizer onde estava na semana passada?
Seu rosto fechou. — Por que você quer saber?
— Não seja tão desconfiado - estou apenas puxando conversa, —
eu disse, decidindo que eu ia ficar louca e tentar pintar um Pokémon da
próxima vez. Jess me tinha advertido que as crianças eram exigentes, e
o pequeno Pokémon amarelo não parecia ser tão difícil
assim. Preenchida com uma súbita inspiração, eu coloquei minha
palma da mão esquerda em cima da mesa, delineando um Pikachu na
minha pele, em vez de no papel.
~ 129 ~
— Uau, é diferente desse jeito, — eu disse, olhando para ele. — é
mais difícil, porque a pele se move mais do que o papel. Então, onde
você esteve? A menos que você não possa me dizer.
— Eu provavelmente não deveria, — admitiu ele, os olhos fixos em
minha mão. Mordi o lábio, com foco em fazer os pequenos pontos pretos
na orelha direita. Legal! — Negócios do clube, esse tipo de coisa. Mas só
para você saber, eu vou estar fora da cidade muitas vezes nas próximas
semanas, talvez mais. Não tenho certeza de como as coisas vão ser.
Franzindo a testa, eu mergulhei meu pincel no vermelho para as
bochechas.
— Você não está em liberdade condicional? — perguntei. — Você
não pode ficar em apuros por viajar por aí?
Ele me assustou, pegando meu queixo e virando meu rosto para o
dele.
— Você sabe que eu não sou como esses caras que você saia na
escola, — disse ele com uma intensidade calma. — Minha vida não é
como a deles. Eu não quero que você se preocupe comigo, Mel, porque
eu estou tomando cuidado - mas eu também nunca vou seguir as
regras.
Engoli em seco, hipnotizada por seu olhar.
— Mas você não quer voltar pra lá, não é?
— Claro que eu não quero, — disse ele. — Mas eu não vou deixar
o medo ficar no caminho do que eu preciso fazer também. Se isso faz
você se sentir melhor, eu não estou fazendo nada particularmente louco
e eu não estou sozinho nisso. Nós só precisamos ser observadores em
uma situação. Se nada de grave acontecer, eles vão me manter fora
disso, porque os meus irmãos não querem que eu volte, tampouco. Para
sua informação, você está cheia de tinta em todos os lugares.
Eu me afastei, olhando para baixo para ver que eu deixei meu
pincel deslizar da minha mão e cair por toda a folha com pequenos
animais que eu trabalhei tão duro para fazer.
— Isso é uma merda, — eu disse, e eu não estava falando sobre a
pintura...
~ 130 ~
— É o que é, — disse ele, dando de ombros. — E eu não posso
compartilhar com você. Diga a palavra e eu vou sair, te deixar em
paz. Eu não estou tentando foder com a sua cabeça, Mel, mas eu não
posso mudar quem eu sou, tampouco.
Engoli em seco, tomando a decisão de ignorar essa realidade
particular para agora.
— Você pode me mostrar como fazer uma flor?
Ele balançou a cabeça, puxando o pincel dos meus dedos
lentamente.
— Primeiro, você precisa de uma superfície limpa, — disse ele,
pegando meu queixo novamente, virando meu rosto na direção dele. Ele
mergulhou o pincel para o verde, elevando-o para o meu rosto. A tinta
estava gelada onde ele tocou minha pele, mas eu ainda queimava por
dentro.
— Longos traços suaves irão manter a cor, — continuou ele,
quando o pincel deslizou pelo meu rosto, todo o caminho até o meu
queixo. Estudei sua expressão, intenção e propósito quando ele
começou outra linha. Seus olhos eram tão azuis, tão claros e cheios de
luz. Intelectualmente, eu sabia que ele era um dos caras maus. Eu
simplesmente não conseguia conciliar isso com o homem sentado aqui
ao meu lado.
— Você vai me ajudar amanhã? — perguntei. Ele arqueou uma
sobrancelha. — Com a pintura de rosto, quero dizer. Você quer ir para o
carnaval comigo? Você é muito melhor nisso do que eu sou.
Um olhar estranho cruzou seu rosto.
— Eu sou um criminoso, Mel, — disse ele. — Eu não acho que
eles me queiram lá.
— Um monte de pessoas são criminosas, — eu disse
sinceramente. — Passar um tempo na prisão não significa que você não
pode fazer qualquer trabalho voluntário pelo resto da sua vida. Bem,
além dos criminosos sexuais, eu acho, mas isso não é você. Por que
você não poderia se oferecer? Você não é amigo de Bolt? Sua old lady
Maggs é quem coordena o programa. Ele ajudou um monte de vezes. O
clube ainda fez um levantamento de fundos para o programa no ano
passado.
~ 131 ~
Um olhar pensativo cruzou o rosto de Painter.
— Eu conheci Bolt na prisão, já te disse isso? — ele
perguntou. Eu balancei minha cabeça. — A primeira vez que eu estava
lá dentro. Ele me ajudou, me introduzindo ao clube. Ele é um bom
irmão.
— Bem, seu bom irmão vai estar lá amanhã, então eu acho que se
ele está bem, provavelmente você também estará bem. E eu sei que eles
podem precisar de alguma ajuda - quero dizer, se eles estão
desesperados o suficiente me fazer pintar, você sabe...
Ele deu uma risada baixa.
— Bom ponto. Você ganha. Feliz agora?
Sim. Sim, eu estava.
— Obrigada, — eu disse, sorrindo amplamente. Então eu perdi o
sorriso quando ele fez uma careta para mim.
— Não mova o seu rosto - eu estou trabalhando.
— Sim, senhor, — eu disse, tentando relaxar. Eu não sabia o que
ele estava pintando em mim e eu não me importava. Cada curso era
como um dedo correndo sobre minha pele, enviando calafrios através de
mim enquanto provocava uma lenta e profunda necessidade
interior. Ele se inclinou para mais perto, olhos fixos e em seguida,
correndo de volta para baixo em direção às cores, totalmente absorvido
em seu trabalho.
Isso parecia um pouco injusto, porque dez minutos depois ele
cobriu a maior parte do meu rosto (não que eu tenha um problema com
isso) e minha calcinha estava seriamente encharcada (grande
problema). Tanto quanto eu poderia dizer, Painter nem sequer percebeu
que eu não era apenas uma folha de papel.
— Levante seu queixo, — disse ele, sua voz suave. Eu levantei,
tremendo quando o pincel fresco acariciou o comprimento do meu
pescoço.
— O que você está fazendo?
— Expandindo a pintura, — ele disse. — Isso é divertido e eu não
estou pronto para parar ainda. Na verdade, por que você não desabotoa
sua camisa e tira? Me dá mais espaço para trabalhar.
~ 132 ~
Me afastei, olhando para ele.
— Isso soa como o roteiro de um pornô ruim, — eu disse, dividida
entre o riso e frustração, porque no fundo eu não queria nada mais do
que de tirar a roupa na frente dele.
Bem, na verdade o que eu queria era ele sem roupa na
minha frente, mas você sabe o que quero dizer.
— Você queria que eu te mostrasse como pintar, — disse ele,
franzindo a testa. — Eu estou fazendo isso. E você está de sutiã - confie
em mim, eu saberia se você não tivesse - então não é como se você fosse
ficar nua. E você deve parar de assistir pornografia ruim. As coisas boas
são difíceis de encontrar, mas vale a pena.
Eu abri minha boca para responder, em seguida, a fechei, porque
nenhuma coisa infernal vai me fazer querer discutir a qualidade de
filmes pornôs. Mas ele fez um bom ponto sobre o sutiã... eu não tinha
problemas em vestir um top de biquíni na praia durante o verão.
(E sim, eu sabia que eu estava racionalizando - eu estava com
calor, não era estúpido).
Eu comecei a desabotoar a camisa, fingindo que seus olhos não
estavam seguindo meus dedos como se sua vida dependesse disso,
porque se eu tivesse que sofrer, parecia justo que ele devesse sofrer
também.
A respiração de Painter parou quando eu puxei a minha camisa
mostrando uma parte, depois, lentamente, empurrando-a para trás de
meus ombros. Eu tinha um corpo decente - eu sabia disso. Não era tão
grande como Jessica. Mesmo assim, eu não estava acostumada com o
tipo de apreciação que eu vi em seus olhos.
A camisa caiu atrás de mim, e eu me vi sentada ereta. Felizmente,
eu tinha colocado um sutiã decente naquela manhã. Preto e com
lacinhos, se prendia entre os meus seios. Não era totalmente sexy - mas
também não era dos de algodão branco liso comum.
Painter estendeu a mão, rodando o pincel no meu pescoço e ao
longo da minha clavícula, enviando calafrios através de mim. Quando
ele fez o outro lado, eu senti os primeiros arrepios ao longo de meus
braços.
— Você está com frio? — ele perguntou, sua voz um sussurro
rouco.
~ 133 ~
— Não.
Seus olhos ardiam em mim, e eu pensei que eu vi a mesma
necessidade dolorida neles que havia em mim.
— Ok.
As coisas ficaram meio nebulosas depois disso. Ele manteve a
cabeça erguida, se recusando a me deixar ver enquanto ele traçava
padrões em meu peito e para baixo ao longo da minha barriga. Fora o
dedo ocasional no meu queixo, ele nunca tocou minha pele uma vez...
somente a suave passagem do pincel frio em toda a minha pele, mais e
mais, profundo e forte.
Depois do que pareceram horas, ele tive que me afastar dele,
empurrando a cadeira para que ele pudesse começar as minhas costas.
Até este ponto o meu corpo inteiro estava cantarolando com a
necessidade, mas também com uma estranha sensação de calma. Como
se tivéssemos em uma realidade paralela, onde havia apenas eu, ele, e o
traço da tinta contra a minha pele.
Ele começou a descer meu ombro, fazendo uma pausa para
deslizar minha alça do sutiã para o lado. Ouvi um som de frustração,
então ele estava esfregando minha pele com uma toalha de papel
úmido.
— Você quer que eu tire? — perguntei, as palavras pouco mais
que um sussurro.
~ 134 ~
Capítulo
10
PAINTER
Olhei para trás de Mel, me perguntando se eu realmente tinha
ouvido direito. Claro que sim, eu queria que ela tirasse.
Para a pintura, é claro.
Isto era sobre a arte, não sobre ser um pervertido que queria
transar. Nem um pouco.
— Sim, isso seria bom, — eu disse casualmente, estendendo a
mão esquerda para desenganchá-lo antes que ela pudesse mudar de
ideia. Merda. Deveria ter soltado o pincel e usado as duas mãos - não há
nenhuma necessidade de demonstrar quantas vezes eu já tinha feito
isso. Ela não disse nada, apenas permaneceu sentada calmamente
enquanto eu abaixava cada uma das tiras, estendendo a mão para
alcançar a frente contra seus seios.
Suas costas estavam nuas diante de mim, uma tela perfeita. Ela
era ligeiramente musculosa, afinando em sua cintura antes de pular
para seus quadris. Ela usava shorts jeans que estavam esticados e
soltos, ligeiramente na parte baixa das costas, me dando um vislumbre
do cetim preto abaixo. Deus, eu esperava que combinasse com o sutiã
que ela tinha tirado. Aquela coisa era perfeita - sexy, mas também uma
espécie de doce e quase virginal em comparação com o que a maioria
das mulheres que eu conhecia usava. Não que Mel era virgem... eu
tinha verificando para saber que ela já tinha alguma experiência.
Não importava para mim - eu tinha zero intenção de dormir com
ela - mas sabendo que ela tinha estado com outros caras foi um alívio,
de certa forma. Menos pressão para não foder com as coisas, o que era
uma loucura porque absolutamente não íamos fazer qualquer coisa
juntos.
Puta que pariu. Pela primeira vez eu admiti para mim mesmo que
essa coisa de friend-zone não estava dando certo.
Jesus, o que aconteceu idiota? – foi a camisa sendo tirada ou você
desenganchando o sutiã?
~ 135 ~
Mergulhei de volta o pincel na tinta, observando que eu teria que
me levantar cedo e ir comprar mais amanhã de manhã. Eu usei a maior
parte da tinta verde e vermelho, e tinha feito bom progresso com o
amarelo e o roxo também. Eu estava pintando flores. Montes e montes
de flores, um emaranhado delas como algo que você veria em uma
floresta tropical. Exuberante e doce, madura e mortal, assim como
Melanie. Os caules deveriam me amarrar e me aprisionar até que eu
nem me importasse mais...
Ela levantou um braço, puxando seu cabelo para fora do caminho
quando comecei a volta de seu pescoço.
— Você tem uma daquelas pequenas coisinhas? — perguntei.
— Prendedores?
— Prendedores para seu cabelo. Eu posso colocá-lo para você.
— Oh sim. Deve haver um na mesa de café.
— Volto logo.
Eu entrei na sala e encontrei um elástico roxo ao lado do telefone
dela, que tinha acabado de se iluminar com uma mensagem de texto.
Eu juro que eu não li de propósito.
JESS: Eu acabei de ouvir que Painter está de volta na cidade e
que ele foi até a nossa casa procurando por você. Não deixe ele entrar
ou eu vou te matar com minhas próprias mãos. Bj
Franzindo a testa, eu desliguei o telefone, em seguida, joguei-o
para o sofá. Poderia ter caído para trás das almofadas - difícil dizer.
Mel podia ler a mensagem mais tarde.
Sim.
Não precisava se preocupar sobre algo que provavelmente não iria
mesmo ser um problema.
~ 136 ~
MELANIE
Isso foi estúpido.
Muito, muito estúpido.
Sentei-me no centro da sala de jantar, temendo cada pincelada,
porque mais cedo ou mais tarde eu ia acabar explodindo e as coisas não
iriam acabar bem... mas me senti tão bem, e não era como se nós
estivéssemos fazendo algo ruim. Estávamos somente pintando. E seu
trabalho era realmente belo - eu dei uma olhadinha enquanto ele estava
prendendo o meu cabelo com o elástico, atordoada pela explosão
desenfreada de trepadeiras e flores que ele tinha pintado usando minha
pele como uma tela.
Foi incrível. Quase irreal. Como algo como isso poderia ser criado
pelos mesmos pinceis responsáveis pelas joaninhas mortas e
desmembradas era quase impossível de compreender. Talento cru, eu
acho.
Isso e técnica.
Eu me perguntei se ele tinha alguma ideia do quão bom ele
realmente era. Inferno, o que ele estava fazendo para o clube, se ele
vendesse essas pinturas para as pessoas certas, ele seria capaz de fazer
mais dinheiro dessa forma. Exceto que provavelmente não era sobre o
dinheiro. O que eles tem o feito fazer, e como isso poderia o jogar de
volta na prisão?
— Me deixe pegar seu cabelo, — disse ele, sua voz suave enviando
arrepios por todo meu corpo. Eu ainda tinha as taças do meu sutiã
contra o meu peito, como se elas pudessem me proteger.
Supondo que eu quisesse ser protegida.
— Obrigada, — eu sussurrei enquanto seus dedos começaram a
vasculhar o emaranhado. Demorou mais tempo do que deveria. Eu
gostaria de pensar que ele estava tão fascinado como eu estava, devido
a toda sua insistência de que só poderíamos ser amigos, até eu era
inteligente o suficiente para saber que os caras não se sentam e passam
as noites de sexta pintando flores em sua amiga platônica seminua. Sua
cabeça abaixou ao meu lado - ele estava cheirando meu cabelo?
— Quase terminando, — ele sussurrou, o ar quente tocando
minha orelha.
~ 137 ~
Então, meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo bagunçado
– ele levantou o pincel, pronto para começar a me torturar novamente.
PAINTER
Eu terminei muito rápido.
As cores originais tinham acabado, me obrigando a misturá-
las. Acho que fiz melhor no fim, os verdes eram mais escuros,
projetando algo sombrio e quase com raiva.
Frustração.
Muito justo, porque isso era exatamente como eu estava
sentindo. Eu passei mais de duas horas pintando o corpo perfeito de
Melanie. Agora meu pau estava como a porra de um diamante, tão duro
que poderia cortar vidro. Eu quero empurrá-la por sobre a mesa e
trepar até que a tinta manchasse com o nosso suor...
Cristo. Meu pau ia explodir.
— Você pode ir olhar agora, — eu disse, me levantando. Ela se
levantou da cadeira sem jeito, ainda segurando a seda preta na frente
de seus seios, o que não fazia nenhum sentido.
— Há um espelho no quarto de Jessica, — ela disse. Ela passou
por mim, e eu estremeci quando seu braço tocou o meu. Eu tendia a
ficar muito focado, enquanto trabalhava, mas apenas estar perto dela
era uma espécie de transe. Ela começou a subir as escadas, então se
virou para olhar para mim, uma expressão intrigada no rosto.
— Você não vem?
Ir? Ainda não. Não até que você enrole os lábios em torno de mim.
— Hum, claro, — eu consegui dizer. — Não sabia que você me
queria.
Ela olhou para mim, sua expressão tão intensa que eu juro que o
ar entre nós chiou. Ok, não chiou exatamente, porque isso era ridículo,
mas aconteceu algo e eu senti que havia uma corda apertando - não,
~ 138 ~
uma tecla de piano - que se estendia entre nós, tremendo e pulsando
com cada batida do meu coração.
Mel começou a subir as escadas e eu a segui, os olhos grudados
no suave balanço feminino de sua bunda. Essas pernas não eram nada
ruins, e vendo meu trabalho por todo o corpo me fez sentir algo
estranho... eu não tinha ideia de como descrevê-lo, mas eu
gostei. Eu gostei muito. Senti como se fosse minha propriedade. Agora se
eu pudesse apenas tatuar minhas marcas em toda a sua forma
permanente.
Não, provavelmente não era uma boa ideia cobrir o seu rosto,
mesmo que eu tenha que admitir isso. Mas o pensamento de meu
trabalho por todo o seu corpo, de forma que eu pudesse olhar para
baixo e contemplar enquanto eu envolvia minhas mãos em volta de sua
cintura e fodia sua bunda?
Isso sim era uma boa ideia.
— Aqui é o banheiro, — disse ela, apontando para uma porta no
topo da escada. — E aqui é o quarto de Jessica. O meu é no final do
corredor, sobre a sacada.
Olhei em direção a porta. Eu queria ver onde ela dormia, mas ela
entrou no quarto de Jessica. O lugar tinha roupas empilhadas e jogadas
por todo o tapete verde desgrenhado e cartazes metade caídos nas
paredes. Eu tive um sentimento ruim, o gesso estava tão fraco que não
poderia aguentar... o lugar parecia tão sólido como um ninho de vespa.
— O espelho é na parte de trás da porta, — disse Mel, fechando-a
atrás de nós. Ela ficou parada, estudando sua imagem, e eu fiquei atrás
dela. As linhas de verde torciam através de seu corpo, salpicada de
flores que desabrochavam e desbotavam em um padrão que eu desejei
poder manter para sempre.
Não, eu queria ficar com ela para sempre.
Deus, eu merecia ser fuzilado, porque eu queria a
deflorar. Deflorar e, em seguida trancá-la de forma que nenhum outro
homem poderia até mesmo vê-la, muito menos tocá-la.
— É lindo, — disse ela baixinho, tocando seu rosto. Estendi a
mão, colocando a mão em seu ombro. Ela a cobriu com sua própria,
enrolando nossos dedos juntos. Seus olhos ardiam nos meus pelo
espelho, e é aí que o meu mundo mudou.
Eu tinha me apaixonado por Melanie Tucker.
~ 139 ~
Não era uma =paixão‘ de adolescente carente como eu tinha
sentido por Emmy Hayes – não era nada perto disso. Isso era profundo,
quase doloroso, profano em sua intensidade. Era como se ela tivesse
enviado ramos de galhos cavando no fundo em mim e nos ligando com
tanta força que eu morreria se eu alguma vez eu tentasse puxá-los para
fora de mim.
Eu estava verdadeiramente, profundamente, e totalmente fodido,
porque eu amava essa menina, porra... e ela não sentia o mesmo por
mim.
— Ei, — eu sussurrei.
— Ei... — ela sussurrou de volta.
— Eu acho que devemos-
De repente, a porta voou para trás, batendo Mel direito em
mim. Meus braços voaram para pegá-la quando Taz deu uma guinada
para dentro do quarto, com Jessica montada em suas costas.
Ele parou, os olhos rastejando sobre Mel quando eu percebi que
ela tinha perdido o sutiã quando ela tinha caído.
— Legal essa arte... — ele disse, sorrindo amplamente. — Mas eu
acho que você esqueceu de alguns lugares.
Enrolei um braço sobre o peito de Mel, fazendo o meu melhor
para cobri-la. Ela deu um grito. Então, ela estava correndo para fora da
porta do quarto quando Jessica se lançou para mim, batendo no meu
rosto enquanto Taz ria.
— Você não tem permissão para tocá-la, — Jess gritou. Eu
levantei a mão para proteger os olhos, me perguntando como diabos eu
já tinha considerado esta menina sexy o suficiente para uma noite de
prazer. Você poderia até mesmo chamar aquilo assim? Tinha sido uma
noite de semi-prazer.
— Tire sua mulher de cima de mim, — eu gritei com Taz, que riu
mais. Finalmente consegui me livrar da rainha do drama, empurrando-a
para Taz para que eu pudesse ir atrás de Mel.
— Eu vou te matar! — Jessica gritou atrás de mim. Bruxa do
caralho. Primeiro Kit, agora ela. Eu estava cercado por mulheres do
diabo. A p orta de Mel estava totalmente fechada, e eu podia ouvir seus
soluços.
~ 140 ~
Puta que pariu.
Eu tinha já tinha quebrado e eu ainda não tinha nem tocado nela.
MELANIE
Me deitei na minha cama, rindo tanto que realmente doeu minha
barriga. Deus, o olhar no rosto de Jessica. A hipocrisia louca, a
estranheza e o jeito que eu tinha deixado meu sutiã cair... foi demais. E
como eu a tinha deixado louca também. Ela esteve me enlouquecendo
por anos.
— Mel, você está bem? — perguntou Painter, batendo na minha
porta. Engoli em seco, tentando recuperar o fôlego para responder. Ele
saiu em um soluço, e cada vez que eu tentei dizer a ele que eu estava
bem, as palavras não saíam e eu começava a rir de novo.
Finalmente, ele abriu caminho através da porta, caindo no futon
ao meu lado para me puxar para seus braços. Então ele me rolou para
cima, envolvendo seu corpo em torno de mim.
— Ei, está tudo bem, — ele sussurrou, soando todo doce e
terno. Eu suspirei, ainda incapaz de retomar minha respiração. —
Mellie, não importa o que ele viu. Você está bem.
Agarrei no seu colete de couro, empurrando minha cabeça para
que eu pudesse vê-lo.
— Eu estou bem, — eu engasguei, embora eu tinha certeza que
havia lágrimas escorrendo pelo meu rosto, provavelmente, tudo
misturado com tinta. Atraente. Ele e sfregou as mãos para cima e para
baixo das minhas costas e minhas pernas caíram para os lados de seus
quadris. Oh inferno. Eu podia senti-lo lá - exatamente onde eu
precisava dele - e ele estava mais duro do que qualquer homem tinha o
direito de estar.
— Eu estou bem, — eu repeti, fungando. — Eu estava rindo,
Painter, não chorando. Foi tão engraçado. O olhar no rosto de
Jessica. E la acha que nos pegou enroscados em sua cama. E para
constar, eu a peguei fazendo sexo na minha cama duas vezes antes,
então ela não tem direito de reclamar mesmo se tivéssemos...
~ 141 ~
Minha voz sumiu quando cada uma de suas mãos cravaram em
minha bunda, me puxando duro em sua pélvis.
— Você estava rindo? — perguntou ele com muito cuidado.
— Sim. Foi divertido. Você não achou engraçado?
Um sorriso lento começou a roubar seu rosto, em seguida, ele
balançou a cabeça. — Bem, sim. Mas as meninas não costumam rir
sobre merdas como essa.
Eu sorri, deixando meu rosto cair contra seu peito.
— Eu não sou como a maioria das meninas.
O colete de couro do clube era áspero contra os meus mamilos, e
eu pensei sobre o olhar no rosto de Taz e como ele gostou do que viu.
Apreciação, embora não de uma forma assustadora. Me fez sentir bem,
na verdade. Agora, eu tinha essas seções não pintadas empurrando
contra o peito de Painter. Ok, eu não tinha exatamente esquecido... mas
de repente eu estava mais consciente de como meus seios estavam
esfregando contra o tecido e o colete. Então as mãos de Painter
encontraram minha bunda, agarrando-a e dando um aperto, enviando
emoções correndo através de mim.
— Você sabe, Taz estava certo sobre uma coisa, — disse ele em
voz baixa.
— Sobre o que? — eu sussurrei, sentindo o feitiço cair sobre nós
novamente.
— Eu realmente deveria ter tirado o seu sutiã antes - eu teria
adorado a pintar esses peitos.
Isso me pôs rindo novamente.
— Você é todo cheio de papinho, não é? — eu consegui
suspirar. Painter deu de ombros, sorrindo para mim.
— Nunca pretendi ser, — disse ele. Senti-o se esfregar por cima e
por toda minhas costas, e, em seguida, sua mão estava no meu cabelo,
me pegando e me puxando para um beijo. Eu abri para ele, saboreando
a sensação de sua língua deslizando pela minha.
Tinha crescido um fogo lento em mim durante toda a noite... cada
pincelada tinha sido uma doce tortura, e agora o fogo explodia. Meus
quadris se moveram e moeram lentamente contra ele. Sua grande mão
~ 142 ~
em concha me apertava quando um joelho levantou, empurrando sua
coxa entre as minhas.
De repente, ele se soltou do beijo, ofegante e olhando para mim.
— Você realmente quer fazer isso? — ele perguntou, suas
palavras me oferecendo uma fuga, mesmo enquanto suas mãos me
mantinham prisioneira. Eu sorri para ele.
— O que você acha?
Ele deu uma risada curta, apertando os dedos na minha
bunda. Seu pau cavado obscenamente em meu estômago.
— Isso poderia estragar nossa amizade, — ele sussurrou.
— Nossa amizade já está fodida, — eu o lembrei. — Não há
nenhuma boa razão para nós estarmos juntos, você sabe. Não temos
nada em comum... nada faz sentido, mas funciona. Por que não
aproveitar isso?
Ele balançou a cabeça lentamente, então sua boca tomou a
minha novamente.
PAINTER
Porra, ela tinha um gosto tão bom. Eu tentei me segurar, me
manter suave, mas quando ela começou a moer em mim eu meio que
me perdi. Em um instante, eu a tinha de costas e então eu estava
chupando seus seios, uma mão rasgando o seu short. Eu deveria ter
sido gentil, mas meus dedos encontraram seu buceta como um ímã,
empurrando profundamente dentro sem qualquer aviso.
Molhada.
Tão molhada. E quente. Cristo, ia ser incrível em volta do meu
pau. Sugando forte seu mamilo, eu saboreava cada gemidinho e suspiro
ela dava enquanto meu polegar roçava seu clitóris.
— Oh meu Deus, — ela gemeu, empurrando seus quadris contra
minha mão. — Puta que pariu, Painter. Isso é muito bom.
~ 143 ~
Me afastei, olhando em seus olhos. — Você me assustou para
caralho, Mel.
Ela engasgou e eu torci meus dedos até que suas costas
arquearam. Meu pau estava espesso e pesado, um prisioneiro doloroso
nos meus jeans. Ele queria estar dentro da buceta dela de qualquer
forma. Eu tinha planejado tirar minhas calças antes de transar com ela,
mas se continuasse assim eu iria explodir dentro delas. Dando-lhe um
último beijo, eu me afastei.
— Tire, — eu pedi a ela, arrancando minha camisa. Então eu
estava chutando as minhas botas e arrancando meu jeans para voltar
para ela de novo, pegando sua coxa com uma mão e puxando-a para
cima e em volta da minha cintura. Isso trouxe sua buceta molhada em
meu pau, a ponta deslizando através de seus sucos, nossos corpos em
perfeito alinhamento.
Eu deslizei para trás e para a frente em seus grandes lábios,
saboreando o toque de sua pele nua. De alguma forma, eu tinha que
pegar uma camisinha sem perder o contato. Quebrando o beijo, eu
fechei os olhos por um segundo, respirando profundamente.
— Camisinha, — eu resmunguei.
— Eu tenho algumas, — ela me disse, e eu fiz uma careta. Por que
diabos ela deveria precisar de preservativos? E que tipo de porra de
hipócrita era eu, afinal? Eu carregava camisinhas o tempo todo.
— Eu vou pegar uma, — eu disse. De jeito nenhum eu iria usar
uma borracha que ela tinha comprado para outro homem. Alcancei o
meu jeans, peguei a carteira e tirei o preservativo, rasgando o pacote
com os dentes.
— Me deixe fazer isso, — disse Mel, estendendo a mão para
ele. Eu a deixei pegar e, em seguida, sua mão estava no meu pau,
cobrindo-o com um golpe longo e sexy de seus dedos. Então eu estava
sobre ela outra vez, empurrando a cabeça em sua abertura.
Apertada.
Muito apertada.
Apertada, úmida e quente para mim de uma maneira que
nenhuma outra mulher jamais havia chegado perto de se igualar... ela
engasgou enquanto eu empurrava profundamente, me movendo
lentamente, mas de forma constante até que eu cheguei ao limite. Seus
~ 144 ~
músculos internos tencionaram em torno de mim e minha visão
começou a ficar nebulosa.
Então eu puxei de volta e empurrei novamente.
Eu tive mil fantasias diferentes de nós juntos durante o ano
passado. Na minha mente, eu pensei em todas as formas que um
homem poderia foder uma mulher. Duas vezes. Eu sempre soube que
seria bom - como poderia a porra de uma mulher como Mel não ser
boa? - mas de jeito nenhum eu poderia ter imaginado isso. Claro, sua
buceta estava quente. E a maneira como ela apertou meu pau foi para
mim um grande evento, não me interpretem mal. A melhor parte,
porém, foi o jeito que ela olhou para mim, os olhos grandes e largos e
cheios de emoção, surpresa porque éramos mais do que bons juntos.
Ela tinha transado com outros caras. Eu sabia disso. E eu tinha
estado com uma porrada de outras mulheres... de alguma forma eu
senti como se fosse a primeira vez, no entanto. Como se eu nunca
tivesse me masturbado antes.
Deixando cair a minha cabeça, eu a beijei enquanto bombeava
ainda mais profundamente.
Isso não duraria para sempre, mas eu queria que pudesse.
MELANIE
Eu nunca tinha experimentado nada parecido como o sexo com
Painter. Parecia errado de alguma forma, pela maneira como ele me
esticava que me levava até o ponto de dor a cada estocada, como se isso
não pudesse ser tão bom assim.
Mas de alguma forma funcionou - como se nossos corpos
estivessem em sintonia um com o outro, mesmo que nossas vidas
fossem tão incompatíveis. Eu nunca tinha realmente gozado durante o
sexo tradicional antes, mas eu sabia no instante em que ele me
preencheu que eu ficaria satisfeita. Não só ele tinha me pegado de
jeito (Deus, que pegada!), mas ele havia inclinado meus quadris para
que cada estocada se chocasse contra o meu clitóris.
~ 145 ~
Até o momento que ele começou a me beijar de novo, eu já estava
perto do limite. A necessidade e desejo cresciam em uma espiral através
do meu corpo como se eu estivesse saindo dele. Um pouco mais... tudo
que eu precisava era de um pouco mais e, então toda a energia que iria
explodir para fora e me libertaria.
Eu já estava sobrecarregada quando ele estendeu a mão,
deslizando debaixo da minha bunda para nos rolar outra vez. De
repente eu estava no topo e no controle, perfeitamente posicionada para
tirar exatamente o que eu precisava dele.
Finalmente.
Eu estava esperando por esse momento por mais de um ano... me
inclinando para frente, eu apoiei a minha mão contra os seus ombros,
empurrando meus quadris para trás e para frente, montando-o por
tudo o que valeu a pena. Seu aperto firme na minha cintura me
amparava, me permitindo concentrar em apenas subir e descer.
Em seguida, bateu - meu corpo apertou quando toda necessidade
torceu sobre mim, me destruindo no processo.
— Porra, — ele gemeu quando eu tremi em torno dele. Senti seu
pau inchando dentro de mim, pulsando enquanto ele ia ao limite
também. — Jesus, porra... Mel.
Desmoronando sobre o seu corpo, eu o deixei me puxar para seus
braços. Aninhado em seu ombro, eu decidi que não iria pensar sobre o
que isso poderia significar no grande esquema das coisas.
Melhor apenas saboreá-lo enquanto durava.
Com esse meu último pensamento, adormeci.
~ 146 ~
Capítulo
11
Acordei lentamente, me estendendo em toda a minha cama como
um gato satisfeito.
A luz do sol encheu o quarto e os cacos de luz colorida que
vinham dos prismas que pendurei na janela brilharam contra a madeira
da parede. Eles pertenciam a minha mãe, e quando ela foi embora tinha
deixado para trás. Estendi a mão para o meu telefone, tendo um
vislumbre dos resquícios secos e descascados de tinta.
A memória me inundou.
Painter.
Eu tinha feito sexo com Painter. Um sexo muito bom. Eu olhei para
o travesseiro ao meu lado, encontrando a marca que ele
deixou. Nenhum sinal dele, no entanto... ele foi embora? Ele tinha me
avisado que ele não era o tipo de se comprometer, mas será que a nossa
amizade tinha acabado assim tão facilmente?
Não, eu deveria dar a ele o benefício da dúvida. Por tudo que eu
sabia, ele deveria estar lá embaixo me fazendo o café da manhã.
Me levantei lentamente - não é que tinha uma dorzinha
interessante entre as minhas pernas? - encontrei o meu roupão de
banho e, em seguida, me dirigi ao banheiro, tentando não pensar sobre
quantas vezes ele deve ter fodido outras garotas e saído de fininho. Não
é como se ele tivesse me feito alguma promessa.
Deus, eu era estúpida.
Eu havia deixado meu telefone lá embaixo, então eu não tinha
certeza de que horas eram. Ainda era cedo. Talvez ele tivesse me
deixado uma mensagem.
Fiz uma parada rápida no banheiro - puta merda, eu precisava de
um banho para tirar a tinta seca - e comecei a descer para encontrá-lo.
Meu telefone não estava na mesa de café ou na sala de jantar, o
que não me importou nem um pouco. Eu podia ouvir barulhos na
~ 147 ~
cozinha, e senti cheiro de bacon. Eu tive uma breve e intensa fantasia
de que era Painter. Eu encontrei Jessica e Taz em vez disso. O irmão
Devils Jack estava recostado contra o balcão bebendo uma xícara de
café, que ele levantou com uma saudação.
— Bom dia, — disse ele. — Se divertiu ontem à noite?
Pena que eu não o conhecia bem o suficiente para retrucar,
porque essa era a minha vontade. Jess se virou do fogão, levantando a
minha espátula vermelha favorita como uma arma em uma das mãos,
enquanto a outra estava apoiada em seu quadril.
— Você parece uma merda, — disse ela, sacudindo os olhos em
cima de mim. Isso não era novidade. Eu tinha visto o meu reflexo no
espelho do banheiro - a tinta havia secado em minha pele e eu parecia
um lagarto com escamas, então eu não podia realmente culpá-la por
suas palavras. — Por que você o deixou entrar? Você não recebeu
minha mensagem de aviso? Eu não posso acreditar que você dormiu
com ele, você está totalmente lou...
— Ei, Jessica, — Taz disse, cortando-a. — Cale a boca. Não é da
sua conta.
A boca de Jessica se abriu. Em seguida, seus olhos se estreitaram
quando ela se virou para ele. — Você é apenas meu amigo de foda,
então você não tem o direito de palpitar.
Taz estendeu a mão e casualmente a pegou por trás do pescoço,
puxando-a para ele para um beijo. De alguma forma, ele conseguiu me
mandar os polegares para cima por trás de suas costas enquanto eu
tentava segurar o meu riso. Jess tinha sido tão fraca por um tempo
depois do que tinha acontecido com ela na Califórnia. Eu estava feliz em
vê-la mostrando sinais de vida novamente, mas essa coisa comigo e
Painter? Sim. Não era da sua conta.
Andei de volta para a sala de estar, procurando em volta pelo meu
telefone. O de Jessica estava ao lado da TV, e eu peguei para ligar para
o meu. (ela vem usado o mesmo código de acesso desde que ela
conseguiu seu primeiro telefone - eu tinha descoberto anos atrás). O
sofá tremeu com a ligação recebida. O telefone deve ter caído entre as
almofadas.
Puxei-o para fora para encontrar uma série de mensagens de
Painter.
~ 148 ~
PAINTER: Mel - você ainda estava dormindo, então eu sai para
comprar o café. Vejo você em breve.
PAINTER: Não sei o que você gosta, então te comprei um latte.
PAINTER: Volto em cinco minutos.
Sorri, sentindo uma tensão que eu não tinha sequer plenamente
reconhecido se formar no meu peito - ele não tinha fugido. Não só isso,
ele estaria aqui em menos de cinco minutos... e eu ainda parecia
um lagarto doente!
Ah não. Isso não ia acontecer.
— Eu estou indo tomar um banho! — eu gritei no topo dos meus
pulmões, esperando que Jess não estivesse muito ocupada se
enroscando em Taz para deixar Painter entrar. Era um risco que eu
teria que correr, porque de jeito nenhum eu estaria abrindo a porta toda
pintada desse jeito.
Nosso banheiro era um dos melhores cômodos da casa - grande e
velho. Uma cortina de chuveiro oval pendia do teto, e eu sempre me
sentia vagamente elegante e exótica dentro dela. Bem, pelo menos eu
me sentia assim até que eu abria a água do chuveiro... então as coisas
de vez em quando ficavam feias. A nossa água quente não era confiável,
porque nós compartilhamos encanamento com todos os outros na
casa. Isso significava que, se alguém nos outros apartamentos dava a
descarga, ou abria a torneira da pia, água gelada explodia sobre o infeliz
que tinha o azar de estar no chuveiro naquele momento. Pela primeira
vez eu tive sorte - a água correu quente e forte, liquefazendo a pintura
correndo pelo meu corpo em córregos.
Eu tinha limpado grande parte dos meus braços e frente e estava
tentando descobrir como limpar as minhas costas quando uma mão
entrou pela cortina de chuveiro. Eu dei um grito quando Painter entrou,
cobrindo minha boca para abafar o ruído. O beijo foi duro e quente e
desesperadamente voraz, me levando de zero a cem em um instante.
Sim, meus namorados do ensino médio não tinham me beijado
assim.
Nem perto disso.
Tão bom como era, no entanto, o beijo não foi o suficiente. Eu me
vi correndo minhas mãos para cima e para baixo, em seguida, atingindo
~ 149 ~
a sua bunda. Era esculpida e apertada, tencionando sob o meu
toque. Isso fez seu pau esfregar contra o meu estômago, ainda
escorregadio do sabão que eu tinha usado para me livrar da pintura.
Painter se soltou do beijo.
— Santo Inferno, você é linda, — ele engasgou, me levantando e
envolvendo minhas pernas em volta de sua cintura em um movimento
suave. O contraste entre a nossa pele - ele todo pálido e eu bronzeada
de sol - era impressionante. Nós faríamos lindos bebês juntos.
O que? De onde tinha vindo isso?
Antes que eu pudesse explorar esse pensamento perturbador
ainda mais, sua boca tomou a minha novamente. Eu estava me
contorcendo em cima dele, e, em seguida, seu pau estava empurrando
contra a minha abertura e eu estava deslizando sobre ele.
Doeu mais do que antes, o que me assustou.
Era uma dor boa - mas eu estava definitivamente dolorida da
noite anterior. Em seguida, seus quadris se afastaram para outro
impulso, e ele me surpreendeu o quão forte ele deve ser para me
segurar assim. Quero dizer, quem faz isso na vida real?
Cada golpe o empurrava mais fundo. Beijar era muito complicado
agora - eu precisava me concentrar nas sensações construindo entre as
minhas pernas. Eu mordi um pouco o seu ombro em vez disso, sentindo
e ouvindo-o gemer, ao mesmo tempo. Tudo estava se movendo tão
rápido, mas eu estava quase lá. Tudo que eu precisava era de um pouco
mais-
Gelo - água fria nos atingiu com a força de um caminhão.
— Filho da puta! — Painter gritou, deslizando. Minhas pernas
estavam emaranhadas em torno dele e, depois, foram caindo em direção
a banheira e tudo que eu conseguia pensar era o quanto aquela cadela
da Jessica iria rir de mim. Fechei os olhos, me preparando para um
golpe que nunca veio porque Painter de alguma forma conseguiu ficar
entre mim e a água, me protegendo. Em seguida, colidimos com a
lateral da banheira juntos, em um emaranhado de partes do corpo e
água muito fria.
— Você está bem? — engoli em seco, tentando me empurrar para
cima. Painter piscou, parecendo um pouco atordoado.
~ 150 ~
— Sim, acho que sim, — disse ele, levantando um braço para o
lado da banheira. — Você sabe, isso foi muito bom até o jato de água
fria.
Jessica irrompeu o banheiro, parando na frente da banheira, Taz
bem atrás dela.
— Vocês estão bem?
— Nós estávamos tomando uma chuveirada, — disse Painter, sua
voz seca. — Agora, estamos tomando um banho.
— Banheiro legal, — Taz entrou na conversa.
— Pervertido, — eu rebati, tentando puxar a cortina do chuveiro
na minha frente. E foi quando o aro oval que estava no teto desabou,
enviando cortina de metal e as barras para baixo e em torno de nós em
um barulho gigante.
Então, a água passou de fria gelada ao quente escaldante e eu
gritei. Eu não estou inteiramente certa o que aconteceu depois, mas eu
sei que envolveu Taz rindo, Painter envolvendo uma toalha em volta de
mim, e Jessica sendo carregada para baixo sobre o ombro de Taz.
PAINTER
Bem, pelo menos Taz se divertiu.
Idiota.
Eu segui com Mel em direção a seu quarto após a nossa tentativa
de foda desastrada no banheiro, ela embrulhada em uma toalha e eu
totalmente nu, as roupas na mão. Apesar do episódio do chuveiro
congelante entrando em colapso sobre nossas cabeças, eu ainda estava
com um tesão do inferno e pronto para ir para lá novamente.
Tanta coisa para manter as coisas na friend-zone.
Isso poderia ser um problema, porque eu tinha a sensação de que
Mel não era o tipo que era amiga com benefícios e eu não era
exatamente o rei dos relacionamentos amorosos... ainda assim o
pensamento de sair daqui e deixá-la livre não funcionava muito bem
~ 151 ~
para mim. Nós provavelmente precisávamos ter uma conversa séria
para resolver esses problemas, mas eu tinha recebido uma mensagem
há uma hora atrás de Gage, dizendo que ele precisava de mim em
Hallies no início da tarde. Isso me deixou cerca de vinte ou trinta no
máximo antes de eu ter nenhuma ideia de quando eu estaria de volta.
Então temos que conversar rápido.
Claro, eu poderia apenas transar com ela de novo em vez de
conversar.
Poderia ser minha última chance.
Eu processei tudo isso quando entramos em seu quarto. Parecia
outro mundo aqui, o nosso próprio lugar onde a realidade não poderia
nos tocar e as coisas eram perfeitas.
— Ei, — disse ela, se virando para mim e sorrindo, brincando com
as bordas de sua toalha, onde ela a colocou em cima de seus peitos. —
Então, nós temos que sair para o carnaval em cerca de 45
minutos. Tem alguma ideia de como podemos passar o tempo até lá?
Tanta coisa antes de transar de novo, porque eu estava prestes a
irritá-la ainda mais do que eu tinha percebido. Eu tinha esquecido que
tinha prometido ajudá-la, embora eu tenha me lembrado de comprar
mais tinta facial, ainda bem.
Eu suspirei. Hora de pegar o saco e fazer a conversa.
— Meus planos mudaram, — eu disse, me sentindo como um
idiota. Esta não era uma sensação nova para mim, mas a culpa que veio
com ela foi. Não que eu nunca deixasse aflorar meu jeito idiota - ele
vinha naturalmente, sabe? Melanie franziu a testa, apertando a toalha.
Definitivamente não ia conseguir transar. Fodido Gage.
— O que aconteceu? — perguntou ela com cuidado. — Quero
dizer, eu sei que você não fez nenhuma promessa sobre nós, mas eu
meio que pensei-
— Não, isso é sobre o clube, — eu disse. — Você sabe como eu
tenho viajado para o clube? Eles apenas me ligaram e disseram que eu
preciso para voltar para a estrada. Então, eu preciso sair em meia hora
e fazer as malas. Então, eu não posso ir ao carnaval com você.
Mel inclinou a cabeça para mim.
~ 152 ~
— Você está me chutando? — perguntou ela, a voz muito grave. —
Porque eu realmente prefiro que você tenha a decência de fazer isso
diretamente, em vez de ficar me enrolando.
— Não, eu não estou te chutando, — eu disse, desejando que eu
tivesse palavras para explicar como eu me sentia sobre tudo isso. —
Olha, eu sou um idiota. Entendi. Mas eu realmente tenho que ir e eu
nem tenho certeza de por quanto tempo eu vou ficar fora. Prometo que
vou entrar em contato e mandar mensagens de texto tanto quanto eu
puder. Eu espero que você espere para fazer qualquer julgamento sobre
o que aconteceu entre nós para quando eu voltar. Eu sei que Jess está
apenas esperando para encher sua cabeça com merda sobre mim, e eu
tenho certeza que um monte do que ela disser vai ser verdade. Mas isso
é entre você e eu, ninguém mais.
Ela assentiu com a cabeça lentamente.
— Eu posso fazer isso, — disse ela.
O alívio que senti foi o suficiente para me assustar - eu nunca me
preocupava com ninguém assim. Inferno, o que eu sentia por Em não
era nada. Por que eu tinha sido tão obcecado por ela?
— Eu não estava apaixonado pela Em, — eu soltei.
— O quê?
Sutil, imbecil. Realmente sutil. Mas era tudo agora, e não ia correr
sem falar.
— Elas provavelmente lhe disseram que eu sou um idiota que
enrolou Em por um longo tempo. Eu fiz isso, e então eu a perdi. Mas
você deve saber que eu não estava apaixonado por ela. Acho que gostei
da ideia de me casar no clube. Pic tem sido como um pai para mim -
acho que eu só queria que fosse oficial.
— Tudo bem... — ela disse devagar, obviamente confusa. Cristo,
eu estava estragando tudo.
— Olha, eu sei que eu não tenho nenhum direito de pedir isso,
mas eu quero que você fique longe de outros caras enquanto eu estiver
fora.
Eu vi um flash de algo atravessar seu rosto - satisfação? Difícil
dizer. — E se eu ficar? O que você vai fazer?
~ 153 ~
— Eu?
Mel revirou os olhos, cruzando os braços sobre o peito. — Você vai
estar namorando outra pessoa?
— Eu não namoro, — eu disse. A partir do olhar em seu rosto, eu
não estava ajudando minha causa. — Mas eu não vou foder ninguém,
se é isso que você está perguntando.
Eu pensei sobre a irmã de Marsh e nosso plano. Eu poderia
cumprir essa promessa? Será que até mesmo contaria se eu fizesse isso
pelo clube?
— Tudo bem, — disse Mel depois de uma longa pausa, me dando
um sorriso tímido. Eu olhei em seus olhos por um momento, e então eu
estava um passo à frente, puxando-a para um beijo. Seus braços em
volta do meu pescoço enquanto eu a empurrei para a cama. Isto foi
mais complicado do que você pensa, porque ela estava usando uma
dessas toalhas de banho grandes que estava em volta dela pelo menos
umas três vezes. Fiquei tentando chegar debaixo dela, mas eu não
poderia entrar através das malditas camadas – porra, essa coisa era
melhor do que um cinto de castidade.
— Isso é como tentar desenrolar um burrito, — disse eu,
finalmente, frustrado. Mel começou a rir, o que não ajudou, porque
agora ela estava chacoalhando e eu não podia nem mesmo encontrar a
borda da maldita coisa.
— Me solte, — ela engasgou. — Isso nunca vai funcionar.
Ela estava certa. Eu a soltei, me deitando de costas na cama para
ver como ela estava. Ela se virou, olhando por cima do ombro para mim,
o que era ao mesmo tempo adorável e sexy como o inferno, uma
combinação que normalmente não andam juntos. Quer dizer, eu acho
que coelhos são bonitinhos, mas eu não quero foder um. O que diabos
está errado com você? Mellie vai tirar a toalha e você está pensando
sobre coelhos!
Verdade - eu realmente precisava de ajuda profissional.
Mel tinha a toalha completamente aberta agora, embora ela ainda
segurasse frouxamente ao redor dela. Ela parecia uma pinup, toda
provocante com curvas e gotas de água.
~ 154 ~
— Você é a coisa mais linda que eu já vi, — eu consegui dizer, e
eu quis dizer cada palavra. — Eu não tenho nenhuma ideia de como eu
tenho a sorte de estar aqui com você agora, mas saiba, por favor, que
você tem o meu eterno apreço.
Cristo, que eu acabei de virar uma bicha?
Eu dei uma rápida olhada para verificar, porque a merda que saiu
da minha boca soou como a porra de um cartão da Hallmark. Não, isso
foi definitivamente o meu pau lá em baixo, e ele estava saudando a
toalha de Mel.
Ela deu aquele sorriso tímido novamente, deixando a toalha cair
lentamente no chão. Esperei que ela se virasse e viesse a mim - eu tinha
planos para a buceta dela, e enquanto eu estava com pressa, eu
também estava fodido com o tempo. Podia muito bem tirar proveito do
momento.
Melanie não se virou, no entanto. Não. Em vez disso, ela se deixou
cair lentamente de joelhos, ainda de costas. Eu empurrei em meus
cotovelos para encontrá-la esticada para trás e empurrando sua bunda
em direção a mim. Meu cérebro entrou em curto circuito. Então ela se
arrastou lentamente em um círculo no chão em minha direção. Como a
mulher gata, mas totalmente nua e muito, muito mais gostosa.
Meus joelhos ficaram pendurados do lado da cama. Ela se
levantou, agarrando os peitos dela e os espremia conforme ela lambia os
lábios.
Talvez eu tenha desmaiado por alguns instantes.
Se Deus realmente existir, eu estava prestes a sentir aqueles
peitos em torno do meu pau. Em vez disso, ela se inclinou e veio até
mim com a sua boca. Eu provavelmente devia uma vela acesa na igreja
ou algo assim, porque eu pedi uma foda com os peitos e o Cara lá de
cima havia me dado a chance de ser chupado.
Então eu perdi a capacidade de pensar, porque seus lábios
estavam embrulhados apertados em volta do meu pau.
~ 155 ~
MELANIE
Painter parecia maior durante o dia.
Me ajoelhar diante dele foi um impulso que veio do nada, mas eu
nunca me senti tão sexy - ou tão poderosa - do que eu me senti no
instante em que eu envolvi os meus lábios em torno de seu
comprimento duro pela primeira vez. Ele soltou um gemido que estava
meio implorando, meio exigindo quando lambi a parte inferior de seu
pau fazendo um movimento que imaginei ser de uma expert no
assunto. Com base nos ruídos que ele fazia, eu estava indo muito bem
para uma iniciante. A primeira e única vez que Jess tinha me
convencido a fumar maconha, ela acabou me dando uma lição de
boquete usando uma banana na sala de estar de London. Ela me
mostrou como lamber e sugar, mas eu estava com fome e antes de fazer
a garganta-profunda, eu já tinha comido a banana.
Provavelmente tão bem quanto, porque aquele monstro de Painter
não caberia na minha garganta nem em um milhão de anos de qualquer
maneira.
Eu segui o movimento súbito com um redemoinho da minha
língua, correndo ao redor do cume na cabeça de seu pau.
— Merda, Mel, — ele murmurou, estendendo a mão para segurar
meu cabelo em sua mão. Virando a cabeça para o lado, eu lambi de
cima para baixo em seu comprimento, explorando os cumes e as veias
dele com meus dedos e língua. Então eu comecei a trabalhar o meu
caminho de volta novamente, olhando para cima para encontrar seu
olhar quando eu abri minha boca, passando os lábios em torno dele.
Salgado.
Essa foi a minha primeira impressão. Ele parecia salgado, mas
não de uma maneira desagradável. Apertando minha boca, eu comecei
a sacudir minha cabeça para cima e para baixo, tomando cuidado para
não arranhá-lo com meus dentes. Ele era muito grande para ir fundo,
então eu usei uma mão para agarrá-lo firmemente, bombeando com a
minha cabeça.
— Isso é irreal, — disse ele, e as palavras foram tensas, como se
isso lhe causasse dor física. Eu gostei disso, eu decidi. Eu gostei da
sensação de controle que me deu, porque não importa o quão grande e
duro ele era, neste instante Painter era todo meu.
~ 156 ~
Meus mamilos apertaram com o pensamento e o desejo que eu
senti por ele no banheiro voltou com força total. Eu poderia me
tocar. Me dar exatamente o que eu queria, enquanto eu o chupava. O
pensamento parecia sujo, o que deveria ter me brochado. Em vez disso,
me excitou ainda mais. Abaixando a minha mão livre, eu encontrei o
lugar entre as minhas pernas com fome para ser tocado.
Wow... Oh, uau.
Isso era muito bom. Deve haver algo sobre prová-lo que aumentou
as minhas próprias sensações, porque eu nunca me senti assim
antes. Fazendo uma pausa, eu recuei para lambê-lo como uma
casquinha de sorvete. Seu corpo inteiro tremeu. Sua mão apertada no
meu cabelo, me empurrando ao longo de seu comprimento.
Algo mudou depois.
Até aquele momento, eu tinha estado no controle. Agora com
ambas as mãos na minha cabeça, eu percebi que ele poderia fazer
qualquer coisa comigo e eu não seria capaz de detê-lo. Ele deveria ter
me assustado. Em vez disso, meus dedos trabalharam mais rápido,
porque eu o queria muito mais.
— Mel, eu quero gozar nos seus peitos, — ele murmurou,
puxando o meu cabelo. Levou um instante para me desprender, e então
eu estava livre. Foi quando ele viu minha mão entre as minhas
pernas. Seus olhos se arregalaram e ele gozou com um suspiro, sêmen
jorrando de seu pau e pulverizando em meu peito. Então ele me pegou
sob as axilas, me arrastando para cima de seu corpo. Um instante
depois sua mão se estendeu entre minhas pernas por trás,
mergulhando em minhas profundezas.
O mundo explodiu.
Fechei os olhos, com a sensação de que as estrelas dançavam
atrás de minhas pálpebras. Caralho. Quem diria que chupar um cara
poderia ser tão bom?
— Você é linda quando você goza, Mel, — disse ele, sua voz quase
reverente enquanto ele corria as mãos para cima e para baixo em
minhas costas. Suspirando, eu me aconcheguei em seu calor, desejando
que ele não tivesse que sair. Estávamos ali em silêncio, e eu não sabia
nada sobre ele, mas eu poderia fingir que o tempo não passava.
~ 157 ~
— Babe, eu tenho que ir, — ele sussurrou depois de um
tempo. Eu esfreguei meu nariz contra seu ombro, em seguida, dei uma
mordida. Ele riu. — Para que foi isso?
— Essa é a sua punição, — eu disse, fingindo estar brava com
ele. — Você arruinou o meu banho, sabe. Eu estava tentando ficar
limpa para esse cara gostoso que estava vindo.
Ele riu novamente. — Sim, desculpe por isso. Ele não vai vir, no
entanto. Eu o coloquei para correr com a minha moto. Eu comprei café
da manhã - não queria que esfriasse.
Isso me fez rir.
— É uma merda, mas eu realmente tenho que ir, — disse ele,
beijando o topo da minha cabeça. Dando a ele um último aperto, eu
rolei para o lado, vendo como ele sentava e puxava as calças.
— Me deixe adivinhar - você não pode dizer onde você está indo,
— eu perguntei. Painter sacudiu a cabeça.
— Não, — disse ele. — E mesmo sendo chato, é hora de ir. É
importante.
— Tudo bem, — eu disse, me sentindo desapontada. Ele se
inclinou sobre mim, me dando um último beijo nos lábios antes de
passar um dedo pelo meu nariz.
— Eu vou manter contato desta vez, — ele murmurou. —
Prometo. Se você não ouvir de mim, é porque eu estou trabalhando e
não posso arriscar.
— Me deixe adivinhar... isto não é como a pintura do mural dos
Reapers que você está fazendo para o Arsenal? Você sabe, eu aposto
que você poderia fazer um bom dinheiro com sua pintura. Aqueles
retratos em sua casa eram realmente bons, mesmo que não estejam
acabados.
— Sim, porque a arte é tão lucrativa... — disse ele, revirando os
olhos. — É divertido, mas o clube tem merda mais importante que
precisa ser feita. Eu vou agora - tome cuidado, ok?
Então ele me deu um beijo e saiu do quarto. Cinco minutos
depois, Jess abriu a minha porta sem bater e eu me mexi para me
~ 158 ~
cobrir com um cobertor. Pelo menos Taz não estava atrás dela desta
vez...
— Você e eu teremos uma conversa mais tarde, — disse ela —
Mas agora eu preciso de você no térreo e pronto para o carnaval em dez
minutos.
Eu fiz uma carranca.
— Quando você está tentando recrutar voluntários, é uma boa
ideia ser agradável. Você sabe, o oposto de você normalmente?
Ela suspirou e balançou a cabeça.
— Eu não estou sendo cruel - eu só estou preocupada com
você. Este é um jogo perigoso que você está jogando.
Oh, ela estava tão fora da linha. Muito fora da linha.
— Hipócrita você, não? Pelo menos eu sei o nome verdadeiro de
Painter. Você arrastou Taz para casa e eu aposto que você nem sabe o
nome dele. Sabe?
Os olhos dela se estreitaram. Ha! Pega essa, cadela.
— Isso é diferente, — respondeu ela após uma longa pausa.
— Como - exatamente - é diferente?
— Eu não me importo com quem eu durmo, — ela disse,
encolhendo os ombros. — Talvez isso faça de mim uma puta, mas eu
não me envolvo emocionalmente quando eu fodo alguém. É apenas
sexo... mas eu não acho que é só sexo para você e Painter, e isso
significa que você vai ser realmente magoada quando ele estragar
tudo. E ele vai estragar - ele é como eu, Mel. Um sacana. Ele não se
importa de magoar ninguém e ele já bateu o recorde para provar
isso. Você merece mais do que um cara que vai te usar e depois
desaparecer.
Uau. Isso era pesado.
— Eu acho que é, simultaneamente, a coisa mais bonita e mais
desagradável que você já me disse, — eu admiti, frustrada. Estendi a
mão para uma camiseta, puxando-a para cima da minha cabeça antes
de me inclinar em direção a minha cômoda para algumas calcinhas
limpas. (Uma das alegrias de ter um quarto muito pequeno - você
~ 159 ~
sempre pode alcançar tudo). Ela suspirou, se deixando cair ao meu lado
na cama.
— Melanie, você é a melhor amiga que eu já tive, — disse ela,
pegando e segurando meu olhar. — Você é a única que nunca me julga
ou me odeia pelas merdas que eu fiz-
— Oh, eu odiei você algumas vezes.
Ela revirou os olhos, batendo em mim com seu ombro. — Você
sabe o que eu quero dizer. Não é um segredo que eu tive problemas. O
aconselhamento tem ajudado, mas você esteve comigo depois de tudo,
antes mesmo de eu desenterrar a minha cabeça para fora da minha
bunda. Você é sempre a inteligente, a que faz as boas decisões. Você me
mantem na pista e me diz quando eu estou fazendo algo estúpido que
vai me machucar. Agora é a minha vez. Painter e Taz são caras
divertidos - eles são sexys e excitantes, e estou certa de que Painter é
realmente bom na cama. Taz com certeza é. Mas não pense por um
instante que eu acredito que o que ele diz ou que eu estou contando
com ele para estar por perto quando você precisar dele.
— Ei, só porque você teve uma experiência ruim com Painter não
significa que ele é incapaz de fazer coisas boas, — eu rebati. — E o que
há com este =Aposto que ele é bom de cama?‘ Eu pensei que você tivesse
dormido com ele no ano passado, no Arsenal.
O pensamento deles juntos ainda me consumia. Eu sempre jurei
que eu não queria saber os detalhes. Agora eu quero. Eu totalmente
quero.
Jess olhou para longe.
— Não foi uma má experiência por causa dele, não realmente. Eu
estava fodida naquela noite, bêbada e estúpida. Passamos cerca de meia
hora juntos em um quarto no andar de cima, eu, ele e outro cara,
Banks. Foi quando London apareceu para me resgatar, junto com
Reese.
— Mas como é que você vai de bêbada e estúpida para transar
dois caras? — eu perguntei sem pensar. Merda, como era
inadequada essa pergunta? — Desculpa.
— Nós já descobrimos esse lance de eu ser uma piranha, — disse
Jess, parecendo envergonhada. — Então, continuando. Fiquei
humilhada e chateada e eu provavelmente o culpei por um tempo, o que
~ 160 ~
é ridículo, porque a coisa toda foi minha ideia em primeiro lugar. Não só
isso, ele salvou a minha vida na Califórnia e passou um ano na prisão
por isso. Eu devo a ele mais do que eu devo a você. Mas aqui está a
realidade - ele não está interessado em ser uma pessoa com
relacionamento a longo prazo e a menos que você tenha sido
sequestrada e reprogramada por alienígenas nas últimas vinte e quatro
horas, você não quer ser uma prostituta do clube. Eu simplesmente não
consigo ver o que de bom pode vir de vocês dois dormindo juntos.
— Talvez eu só queira me divertir, — eu disse a ela, ficando
ressentida. — Você já pensou nisso? Eu tenho me reprimido por anos,
tentando lidar com o meu pai, minha vida, a faculdade e tudo
mais. Talvez seja a minha vez de ter a porra de algum divertimento,
então você deveria parar de encher o saco.
Jess olhou para mim, atordoada.
— Mel...
— Não, — eu continuei. Eu estava desenrolando. Talvez
devêssemos botar essa merda pra fora de uma vez por todas. — Eu amo
você e eu aprecio o fato de que você estar preocupada comigo. Você fez o
seu dever como uma amiga. Estou te concedendo uma estrela de ouro e
um bolinho, mas agora é hora de você sair daqui e me deixar tomar
minhas próprias decisões.
Jess se levantou devagar, ainda parecendo infeliz. — Tudo bem
então. Vou deixá-la fazer isso. Mas Mel?
— Sim?
— Quando tudo desmoronar ao seu redor e você estiver
assustada? Eu quero que você se lembre de uma coisa.
— O quê? — perguntei, estreitando meus olhos.
— Lembre-se que eu sempre estarei aqui para você, porque eu te
amo, — disse ela calmamente, sua voz quebrando. — Assim como você
sempre esteve aqui para mim.
— Merda, Jessica... — eu disse, os olhos cheios de lágrimas. Eu
dei um passo na direção dela quando ela andou na minha direção e,
depois, estávamos nos abraçando e eu não conseguia lembrar por que
eu estava tão chateada. Ficamos assim - abraçadas - por longos
segundos. Finalmente ela quebrou o silêncio.
~ 161 ~
— Mel?
— Sim?
— Não pense por um minuto que você está liberada de pintar
alguns rostinhos.
Eu me afastei, tentando olhar feio para ela, mas eu comecei a rir
em vez disso, e então ela começou a rir e tudo estava bem.
* * *
Dez minutos mais tarde, eu vim correndo escada abaixo, meu
cabelo molhado puxado em um coque frouxo em cima da minha
cabeça. Eu tinha conseguido me limpar novamente, m vestir, escovar os
dentes, e até mesmo passar algum brilho labial.
Eu cheguei na sala de jantar, descobrindo as ruínas da nossa
maratona de pintura na noite anterior. Merda. Eu tinha esquecido que
eu precisava ir comprar tinta. Jessica ia me matar.
— Procurando por isto? — perguntou ela, um saco de compras
balançando ao seu lado.
— Tintas de rosto? — perguntei, esperançosa. Ela assentiu com a
cabeça.
— Painter saiu e comprou esta manhã.
— Tá vendo, ele não é assim tão mau!
Ela arqueou uma sobrancelha para mim. — Sério? Ele pode te
comprar com quinze dólares de tinta?
— Não seja uma cadela.
— Mas eu faço isso tão bem, — disse ela, com um sorriso
relutante vindo em seu rosto. — Ele foi atencioso. Eu posso admitir
isso. Ele deixou um bilhete também.
— Me deixe ver, — eu disse. Ela cavou um pedaço de papel
dobrado, entregando-o.
~ 162 ~
— Eu vou lhe poupar algum tempo. Ele pediu desculpas por não
poder ajudar com o voluntariado, mas que ele não queria deixá-la na
mão depois que ele usou toda a tinta. Ele vai entrar em contato o mais
rápido que puder.
Abri a nota, e com certeza - ela citou quase perfeitamente. De
repente, tive um pensamento feio.
— Jess?
— Sim?
— Você sabe que você tem o mesmo código de acesso no seu
telefone desde o colégio, e eu sei o código?
— Uhum.
— Você sabe o meu código de telefone?
Ela olhou para mim, levantando uma sobrancelha.
— Claro.
— Eu nunca iria ler seus e-mails ou mensagens de texto. Só para
você saber.
— Fico feliz em ouvir isso.
— Jess?
Ela piscou para mim inocentemente. — Sim?
— Será que é mesmo remotamente possível você não ler as
minhas mensagens?
Minha melhor amiga me deu um sorriso lindo, amoroso.
— Qualquer coisa é possível, Mellie. Agora mexa essa bunda -
aquelas crianças vão ficar irritadas se eles tiverem que esperar muito
tempo para o carnaval começar.
~ 163 ~
Capítulo
12
PAINTER
Cinco horas depois eu cheguei até a merda do hotel que Gage e eu
nos hospedamos na semana passada, perguntando por quanto tempo
eu estaria preso aqui... eu já estava pronto para voltar pra casa. Mel
tinha deixado uma marca em mim, não havia dúvida. Nunca dei a
mínima antes de onde o clube me enviava ou me preocupava quanto
tempo levaria.
Quando me virei para o estacionamento de cascalho - sim, o hotel
era assim tão elegante... - eu vi o Mustang vermelho cereja conversível
que tínhamos visto na cidade na semana passada estacionado ao lado
do caminhão de Gage. Bem, e não é que o interessante... é que a
escandalosa Senhorita Tinker Garrett estava recostada contra ele, rindo
de algo que Gage tinha acabado de dizer. Ele estava de pé apenas um
pouco perto demais.
Filho da puta sujo.
Eu mordi de volta um sorriso, parando minha moto para o lado
deles.
— Ei você, — eu disse. — Você não vai me apresentar, Coop?
— Você chegou aqui mais cedo do que eu esperava, — disse ele,
estreitando os olhos um pouco, embora sua voz fosse amigável o
suficiente. — Esta é Tinker - parece que eu vou alugar um imóvel
dela. Eu preciso de um lugar e ela tem um, então funciona
perfeitamente. Tinker, este é Levi, um bom amigo meu.
Ela se virou para mim, sorrindo brilhantemente. Deus, ela
realmente era uma pinup. Todo o cabelo brilhante, inocente, e um corpo
perfeito. De perto pude ver que ela era mais velha do que eu tinha
percebido - provavelmente por volta dos trinta. Lanço a Gage um olhar
especulativo, eu tive que morder de volta um sorriso.
Ele tinha uma queda por ela, - legal.
~ 164 ~
Era lamentável como o inferno, dado o fato de que ele tinha
passado a última semana perseguindo a irmãzinha de Marsh, Talia. Ela
tinha um corpinho lindo, mas não era mansa. Não, aquela garota era
uma cadela de primeira classe. Não ficaria nem um pouco surpreso se
ela tivesse uma buceta cheia de dentes. Dentes afiados.
A coisa boa é que não seria eu a fodê-la. Talia gostava dos caras
mais velhos.
— Prazer em conhecê-lo, Levi, — Tinker disse, me dando um olhar
tão doce como esse que ela tinha dado a Gage. Oh, isso iria irritá-lo. —
Não vejo a hora de você se mudar, Cooper. Eu preciso ir, - estou indo
para Ellensburg essa noite. Até mais tarde!
Nós recuamos, observando enquanto ela subia em seu carro,
saindo descuidadamente para fora do estacionamento antes de lançar
um spray de cascalho.
— Porra, ela lida com esse carro como uma profissional, —
murmurei.
— Coma merda, Levi, — disse Gage. — Jogue limpo ou eu vou te
dar a Talia. Ela perguntou sobre você na noite passada - acho que uma
de suas amigas está afim de você.
— Sim, mas não estou interessado. Não quero que meu pau caia
podre. Nunca vi tamanho bando de putas doentes.
— Isso não foi muito legal de se dizer, — disse ele, jogando um
braço sobre meu ombro. — Especialmente desde que você é uma puta
maior do que todas elas juntas.
Porra, eu odiava quando ele estava certo.
— Há alguma razão pela qual você me fez dirigir por todo o
estado? — perguntei. — Eu estava no meio de uma coisa.
— Fodendo alguma vadia? Temos vadias também. Você vai
superar isso.
— Na verdade, eu estava com Melanie, — eu confessei. — Passei a
noite na casa dela.
Gage levantou uma sobrancelha.
~ 165 ~
— Eu pensei que ela era a sua nova princesa, — disse ele. —
Desde quando você toca nelas?
— Desde ontem à noite, aparentemente, — eu admiti. — Ela é
boa, Gage. Muito boa. Acho que isso pode ser a coisa real.
— Te dou uma semana e você estará de saco cheio dela. Vamos lá
para dentro. Eu preciso te contar algumas coisas.
Ele era somente negócios agora, e eu o segui para o quarto,
perguntando o que foi que aconteceu.
— Cerveja? — perguntou. Eu balancei a cabeça, me jogando para
o sofá, apoiando minhas mãos atrás de meu pescoço. Não tinha
conseguido dormir muito na noite passada - descansei enquanto eu
podia. Porque de acordo com o olhar no rosto de Gage, teríamos uma
tempestade de merda para lidar em breve.
— Nós estamos indo para uma festa do clube dos Nighthawks em
poucas horas, — disse ele, se sentando à minha frente. — Talia estava
no bar novamente na noite passada. Nós dançamos por um tempo e eu
comprei algumas bebidas. Então seu irmão apareceu com sua
tripulação e eu finalmente consegui me apresentar. Começamos a
conversar e contei a minha história sobre ser um motoqueiro
independente. Comprei um par de rodadas e a próxima coisa que eu sei,
eu estaria levando Talia para a festa hoje à noite. Ela quer que você
conheça a sua amiga.
— Eu não vou transar com ela, — eu disse a ele sem pensar duas
vezes. Huh.
— Virou uma bicha? — ele perguntou, sua voz grave. — O clube
precisa de você para isso, Painter. Você acha que eu quero estragar
tudo com a cadela da Talia? Porra, não, não com um pedaço doce como
Tinker ao redor. Todos nós temos que fazer a nossa parte, mano.
Eu balancei a cabeça, franzindo a testa.
— Estou falando sério sobre Mel.
— Ela não precisa saber.
— Que tal isso - eu vou dar um passo de cada vez, ver como a
coisa se desenrola.
Gage inclinou a cabeça. — Você vai fazer o que precisa ser feito?
~ 166 ~
— Não faço sempre?
— Sempre fez antes. Tem mais.
— O quê?
— Esta manhã eu vi alguém que eu reconheci, — disse ele, em
tom sombrio. — Alguém que vai me reconhecer.
— Isso não é bom. De passagem por aqui?
— É possível, — disse ele. — Ele estava sozinho. Poderia ser uma
coincidência.
— Quem foi? Alguém que eu conheço?
— Não - esta merda aconteceu antes de você. Há alguns anos
atrás tinha um nômade cuja a namorada trabalhava na Linha.
Aconteceu que ele era um rato, e é por causa dele e daquela vadia que o
Bolt foi preso. Ela armou pra ele - eles estavam trabalhando com os
federais. O rato saiu correndo. Ele se chamava de Hands, mas não
tenho nenhuma ideia do seu verdadeiro nome.
— Você não acha que é uma coincidência ele aparecer por aqui?
— Eu tenho um mau pressentimento sobre isso, — admitiu. —
Não consigo pensar em uma boa razão para ele estar em Hallies
Falls. Se ele ainda está trabalhando com os policiais, ele pode ser alvo
de Marsh e seus meninos agora. Tanto quanto eu odeio o filho da puta,
a última coisa que precisamos é de policiais farejando por aqui. Além do
fato de que ele poderia estragar o meu disfarce e nós teríamos um
grande problema.
Que merda.
— Você não me chamou só por causa de uma festa, — eu disse
sem rodeios, forçando meu corpo a ficar relaxado. Gage balançou a
cabeça, parecendo quase arrependido.
— Espero não chegar a esse ponto, mas não podemos deixá-lo
falar. Pode ser que ele esteja de passagem. Mas se ele está atrás de
Marsh, as chances são boas que ele vai estar na festa hoje à noite.
— Pic sabe?
— Ele sabe que tem uma complicação, — respondeu Gage. — Não
foi possível arriscar dar quaisquer detalhes - quando Bolt souber, ele
~ 167 ~
vai perder a cabeça, então eu gostaria de lidar com isso antes que
qualquer coisa aconteça. É apenas você e eu. Se ele estiver na festa,
você vai ter que encontrar uma maneira de tirá-lo de lá sem levantar
suspeitas. Pelo lado positivo, Rance está pronto e esperando - se
conseguirmos pegar Hands, vamos levar sua bunda para Bellingham
para o interrogatório. Depois de obter tanta informação quanto
pudermos, eles vão cuidar dele para nós.
— Nunca é simples, não é?
— Nunca foi, então não há razão para esperar que comece agora,
— disse ele, dando de ombros. — Eu preciso te perguntar uma coisa.
— O quê?
— Tem certeza que você está pronto para algo tão pesado? Eu sei
que você está assumindo um grande risco cada vez que você vem aqui,
mas se eles te pegarem, você vai passar um longo tempo na prisão. Não
importa quanto dinheiro nós damos a Torres, ele não seria capaz de
encobrir algo tão sério.
— Então eu não serei pego, — eu disse. — Quem faz o trabalho
leva o mesmo risco, e não é como se eu tivesse filhos.
— Sim, mas parece que você tem alguma coisa acontecendo com
Melanie.
— Eu não vi Horse ou Ruger pegando leve quando eles
conheceram suas old ladies.
— Eles não estão neste quarto de hotel...
— Eu estou aqui, — eu disse a ele, minha voz firme. — O clube
vem em primeiro lugar - é assim que as coisas funcionam. Nós vamos
lidar com esta situação, não se preocupe.
— É isso aí, irmão.
* * *
A amiga de Talia - uma menina morena chamada Sadie - estava
envolta de mim, gritando enquanto nós pegávamos a rodovia. Suas
unhas eram longas e vermelhas como garras, e elas estavam
~ 168 ~
atualmente cavando profundamente em meu estômago. Por razões
completamente fora de mim, ela parecia pensar que era sexy.
Gage estava à frente de nós, liderando o caminho para clube dos
Raiders Nighthawk, Talia na parte traseira de sua moto. As meninas já
estavam bêbadas quando chegamos em sua casa. Sadie tinha feito o
seu melhor para rastejar dentro da minha calça enquanto Gage
desapareceu no banheiro com Talia para uma rapidinha. Eu podia ouvi-
la gritando =mais forte, papai!‘ através da porta o tempo todo, então eu
acho que foi bom enviámos Gage para ela em vez de mim - de acordo
com Sadie, Talia achava que caras =mais velhos‘ eram gostosos.
Eu tinha toda a intenção de compartilhar este pequeno petisco
com todos os irmãos em casa também.
Agora nós chegamos ao clube dos Nighthawk, um prédio
comercial antigo, no extremo norte da cidade. Uma corrente revestida
com arame farpado o cercava e havia um estacionamento aberto ao lado
do edifício.
Nós estacionamos nossas motos na rua, longe da linha de motos
do clube na frente do edifício. Dois prospectos estavam à espreita do
lado de fora. Eles particularmente não me impressionaram. Nem as
motos do clube, para falar a verdade. A maioria delas estavam imundas
e outras estavam caindo aos pedaços. Em nossa casa, os prospectos
limpariam todas elas até que o cromo ficassem brilhando e garantiriam
que tudo permanecesse limpo.
Nenhum fodido orgulho.
A música alta derramava enquanto nós caminhamos em direção à
grande porta de rolamento na área cercada. Talia arrastava Gage com
orgulho, como um gato que caçou um rato particularmente
suculento. Sadie estava rindo e pendurada em cima de mim. Tanto
quanto eu queria odiá-la, ela não me parecia desagradável como Talia -
apenas jovem e estúpida. Eu já podia vê-la em poucos anos, jogada fora
e quebrada. Meninas como ela não duram muito tempo nesta vida, não
se elas não encontrarem um bom old man.
Talia foi direto para os prospectos. — Marsh está aqui?
— Ele está por ai.
~ 169 ~
— Este é meu amigo Cooper, — disse ela. — E seu amigo
Levi. Fiquem de olho em suas motos. Se eu encontrar um risco vocês
vão pagar, entendeu?
Que porra é essa? Eu mal podia acreditar no que eu tinha
acabado de ouvir... de jeito nenhum ela deveria estar falando com um
prospecto desse jeito – isso era o negócio dos membros do clube. Gage
me lançou um olhar rápido, como se quisesse dizer ‘eu te avisei’. Os
Nighthawk Raiders tinha realmente caído para a merda.
O prospecto me deu um olhar mortal quando ele se virou em
direção à porta, e eu não poderia culpá-lo. Nós éramos de fora.
A festa não estava muito melhor. Houve a habitual confusão de
prostitutas do clube, todas doidonas com sabe Deus o que. Algumas old
ladies aqui e ali, uma música alta. Os irmãos estavam um pouco
misturados - havia um casal que parecia bastante sombrio para mim,
que combinava com o que tínhamos ouvido falar de Pipes. A maioria dos
outros estavam chapados.
Não me admira que eles continuem correndo com pouca
mercadoria.
Quando nós fomos pegar um pouco de cerveja, Talia começou a
nos apresentar. Notei os irmãos Nighthawk em dois grupos
distintos. Aqueles com coletes mais recentes e mais brilhantes estavam
puxando o saco dela - enquanto um grupo mais velho, com coletes mais
surrados mantiveram distância. Eu peguei alguns deles me olhando de
cima a baixo, e os olhares não eram amigáveis. Os rumores sobre o
recrutamento violento de Marsh deveria ser verdade, porque não
haviam muitos prospectos. Eu queria saber como as coisas tinham ido
tão longe. Algo estava profundamente, profundamente fodido neste
clube.
Nós chegamos perto do barril e derramamos um pouco de cerveja,
o que Sadie bebeu como se sua vida dependesse disso. Depois de um
tempo eu comecei a trocar copos com ela, deixando-a beber a minha
parte também. Eles tinham alguns barris e fogueiras acesas do lado de
trás do edifício - também cercado - e Talia nos levou em direção a um
grande homem de pé no centro de um grupo.
Ele tinha cabelo loiro escuro comprido puxado em um rabo de
cavalo, com uma menina debaixo de um braço e uma garrafa de tequila
na outro. Seu colete o identificou como o presidente. Marsh.
~ 170 ~
Hora do Show.
Talia deslizou até ele, e notei como a outra menina se esquivou de
Marsh, abrindo espaço para sua irmã. Ele colocou seu braço em torno
de Talia, dando um aperto.
— Como está a minha menina hoje à noite? — ele perguntou, sua
voz forte.
— Ótima, — disse ela, na ponta dos pés para beijar sua
bochecha. Ele parecia mais perto de idade de Gage do que da minha,
então ela deve ser dez, quinze anos mais jovem do que
ele. Interessante. — Você se lembra de Cooper? Nós o encontramos no
bar na noite passada - ele é que o motoqueiro independente que eu
estava te falando. E esse é seu amigo, Levi.
Marsh nos examinou, apontando para Gage.
— É bom ver você de novo, — disse ele. — Você encontrou as
bebidas?
Gage ergueu o copo em saudação. — Obrigado pelo convite. Eu
sou novo na área, ainda tentando encontrar meu caminho.
— Você tinha mencionado isso. O que um caminhoneiro está
fazendo em Hallies Falls? Não é um pouco fora do caminho para você?
Gage deu de ombros.
— Tive que ficar longe de minha ex cadela, — ele mentiu
suavemente. — A desgraçada quer me tirar os meus filhos. Ela tem um
novo homem em Ellensburg - descobrir que aqui é perto o suficiente
para ir vê-los, mas não tão perto que eu tenha que ver sua bunda gorda
todos os dias. Você tem filhos?
— Não, mas eu criei essa aqui, — disse ele, sorrindo para Talia
com orgulho. Huh. Isso explicava muita coisa. — Ela tem sido minha
pequena sombra por toda a sua vida.
Talia riu, beijando-o de novo... só um pouco perto da boca. Eu
mantive meu rosto em branco. Marsh olhou para mim.
— Então, qual é a sua história?
~ 171 ~
— Coop é meu primo, — eu disse a ele. — Eu estou em liberdade
condicional - tentando descobrir o meu próximo passo. Ele está me
ajudando.
Marsh acenou com a cabeça, pensativo, e eu sabia que ele tinha
engolido a isca. Dois motoqueiros independentes com antecedentes
questionáveis poderiam ser úteis para ele.
— Você monta também?
Eu sorri - não teria de mentir sobre esta parte.
— Vivo para montar, — eu disse. — Pior parte sobre estar preso
era não poder montar a minha moto. Agora eu estou na estrada todos
os dias. Parece que eu posso respirar de novo.
Marsh concordou.
— Divirtam-se, nós fazemos uma boa festa, e há sempre espaço
para independentes por aqui, contanto que eles saibam o seu lugar.
— Agradeço a hospitalidade, — disse Gage. — Nós vamos manter
nossos olhos abertos, deixá-lo saber se virmos qualquer coisa que você
deva saber.
— Parece bom.
Marsh deu a Talia um último aperto, em seguida, se virou,
claramente satisfeito com a gente. Eu compartilhei um olhar com Gage -
tínhamos ido bem.
— Mais cerveja, — Sadie gemeu, mas Talia queria beber doses e
nos puxou para outra direção. A irmã de Marsh pode ser gostosa como
o inferno, mas graças a Deus que Gage teve de lidar com ela. Colocando
todos os problemas com Mel de lado, não havia nenhum jeito de eu
querer enfiar o meu pau nesta vadia.
Dentes, eu estou lhe dizendo.
A cadela provavelmente o arrancaria a mordidas.
* * *
Horas se passaram - parecia como se a festa fosse interminável.
~ 172 ~
Nós tínhamos bebido a noite toda, embora eu tivesse repassado a
maior parte da minha bebida para Sadie, que agora estava tão bêbada
que eu não tinha certeza de como eu iria levá-la para casa. Era certo
que ela não seria capaz de ficar sentada em uma moto. Aparentemente
Sadie fazia a mesma coisa todo fim de semana com um novo cara (ou
dois, ou seis) e, por vezes, ela simplesmente caia no clube, onde
qualquer um poderia dar umazinha com ela. Boa amiga que era, Talia
me garantiu que ela sempre deitava Sadie de lado antes de deixá-la
para trás.
Você sabe, para que ela não se afogasse no próprio vômito.
Geralmente eu tento manter a mente aberta quanto às pessoas -
quem sou eu para julgar - mas Talia dificultava as coisas. Quanto a
Sadie, eu senti mais pena dela do que qualquer outra coisa. Quero
dizer, ela era uma adulta fazendo suas próprias decisões, mas merda
como essa não acontece por acaso. Algo tinha a fodido ao longo do
caminho. Como o ser humano horrível que eu sou, a maior parte de
mim apenas se sentiu aliviada que não era o meu trabalho resgatá-la.
Nós não tínhamos visto Hands ainda - até parte da noite. Talvez
sua passagem pela cidade tenha sido uma coincidência aleatória depois
de tudo. Geralmente eu não acredito, mas eu acho que tudo é possível.
Como se viu, eu estava certo.
Não há tal coisa como coincidência.
* * *
Estávamos de pé ao lado dos barris conversando com alguns dos
irmãos - os mais novos, os fantoches do Marsh - quando Gage coçou o
nariz. Esse era o nosso sinal. Eu segui a linha de seu olhar para ver um
cara pequeno, dificilmente mais alto do que Sadie, conversando com
Marsh. Seu cabelo estava raspado, com uma tatuagem de uma suástica
na parte de trás de sua cabeça. Ariano. Porra, Gage não tinha
mencionado isso. Esses caras eram loucos como merda, com suas
bombas e seus bunkers 9.
9 Buracos feitos para manter os ocupantes a salvo de guerras ou desastres que
estejam pegando na superfície.
~ 173 ~
Teríamos que cuidar desse filho da puta e fazer isso de uma forma
que não levantaria quaisquer perguntas. Gage já estava se afastando, se
certificando de que Hands não pudesse dar uma olhada em seu rosto.
Eu precisava de uma distração.
Até este ponto, eu tinha achado Sadie chata e lamentável, mas ela
escolheu esse momento para se fazer útil.
— Eu vou vomitar! — ela lamentou, se voltando para Talia
freneticamente. Sua amiga - também tinha bebido todas a este ponto -
começou a rir e, em seguida, Sadie explodiu.
Literalmente.
Eu nunca vi tanto vomito sair de um ser humano, o que inclui
quando seis dos irmãos tiveram uma intoxicação alimentar de alguma
salada de macarrão estragada. Ela estava pulverizando tudo e a todos,
incluindo Talia, que passou de rir a gritar em um instante, apontando e
gritando como a porra de um demônio.
Empáticos fodidos que eles eram, os caras do Nighthawk tiveram
a sorte de estar fora de alcance e pareciam achar isso divertido, Marsh e
Hands incluídos. Eu me movi em direção a eles, mantendo um olho em
Hands - quando o prospecto veio correndo com uma mangueira. Ele
passou por mim e eu aproveitei a oportunidade para tropeçar sobre a
mangueira, colidindo com ele tão duro quanto eu podia. Nós batemos
no chão com força, e eu não vou mentir - doeu pra caralho.
Os filhos da puta em torno de nós riram ainda mais.
— Jesus, — eu gemi, rolando para o meu lado enquanto eu
tentava recuperar o fôlego. Mãos se moveram ao rosto bem próximo ao
meu, para uma boca frouxa. Eu vi quando alguém estendeu a mão,
verificando o pulso em seu pescoço.
— Desmaiado, — um homem disse, soando vagamente satisfeito
com esta notícia. Olhei para cima para ver um dos irmãos mais velhos -
uma parte do grupo de Marsh, eu acho, porque ele não estava usando
um novo colete brilhante - ajoelhado próximo a nós.
— Ei, eu realmente sinto muito sobre isso, — eu gemi, tentando
soar inofensivo e sincero ao mesmo tempo. — Eu não sei o que
aconteceu.
— O prospecto tropeçou em você, — disse ele. — Você está bem?
~ 174 ~
— Sim, eu estou bem, — eu disse, embora meu lado doía pra
cacete. Se eu tiver quebrado uma costela, Gage ia me pagar. — Ele vai
ficar bem?
Hands escolheu aquele momento para gemer, piscando
lentamente.
— O que aconteceu? — ele perguntou, sua voz um sussurro
rouco. Tempo para trazê-lo para casa.
— Eu tropecei sobre a mangueira e cai no chão, — eu disse a ele,
esperando que eu não parecesse muito satisfeito comigo mesmo. —
Estou realmente sinto muito por isso. Aqui, me deixe ajudá-lo.
Lentamente, eu me levantei, descendo para puxá-lo atrás de
mim. Ele oscilou, obviamente, ainda um pouco atordoado. Droga, eu
bati forte.
— Como está a cabeça? — perguntou o irmão Nighthawk. — Você
vai ficar bem?
Hands começou a assentir, então ele fez uma careta. Troquei um
olhar com o homem mais velho, os olhos passando rapidamente para
seu patch. Cord. Huh.
— Você acha que ele precisa ir para o Hospital? — perguntei.
— Hospital não, — Hands disse rapidamente. — Eu só tenho que
descansar por um tempo.
— Sinto muito, — eu disse novamente. — Sem ressentimentos?
Hands olhou para mim, e eu pude ver que ele estava tendo
problemas de memória. Eu realmente precisava comprar algumas flores
para Sadie, porque isto não poderia ter acontecido de um jeito
melhor. Às vezes, os mocinhos realmente ganham.
— Uh, não prov... porra...
— Vamos levá-lo para casa, — disse Cord. Ele se virou para olhar
em volta, vendo outro prospecto. — Traga sua bunda aqui!
O garoto hesitou, se perguntando se ele deveria ouvir Cord. Isso
se confirmou - eram definitivamente duas facções, e esse cara não
estava do lado de Marsh. Bom saber. O grande homem estalou os dedos
~ 175 ~
e voltou a falar. — Traga seu traseiro aqui. Você não está na porra do
clube ainda, filho da puta.
Interessante - como diabos Marsh tinha chegado ao poder com
esse cara aí? Não se somam.
— Leve este perdedor para casa, — disse Cord, apontando para
Hands. — Você pode usar a caminhonete.
O prospecto se inclinou, agarrando Hands sob os braços para
arrastá-lo para fora.
— Quer ajuda? — perguntei. — Me sinto meio responsável.
O prospecto olhou para Cord de novo, silenciosamente pedindo
permissão desta vez. Melhor. Já estava claro que nós teríamos que
limpar a casa, em algum momento, mas este irmão em particular me
deu alguma esperança de que não seria uma causa totalmente perdida.
— Qual é seu nome? — perguntou Cord.
— Levi, — eu disse a ele. — Apenas vim para a festa com o meu
primo, Cooper. Talia - a menina lá - ela nos convidou.
Cord balançou a cabeça, parecendo ligeiramente enojado.
— Tenho certeza que ele poderia precisar de alguma ajuda com
este pedaço de merda, — disse ele. — Obrigado.
E foi isso. Eu ajudei o prospecto a levar Hands para uma
caminhonete velha estacionada do outro lado do edifício. Ele estava
consciente, mas não particularmente atento quando foi lançado para o
banco traseiro. Perfeito.
— Obrigado pela ajuda, — disse o jovem prospecto, ligando o
motor enquanto eu tomava o assento do passageiro. — Ele é pequeno,
mas ele é pesado. Eu sou Cody.
— Prazer em conhecê-lo, — disse eu. — Desculpe por isto.
— Não é sua culpa. Eu sou muito novo, mas esse tipo de coisa
acontece o tempo todo. Essa menina sempre vomita também. Não faço
ideia por que eles continuam deixando ela vir aqui - nós sempre temos
que limpar depois que ela vai embora.
~ 176 ~
Essa é a porra do seu trabalho, prospecto. Esse cara iria durar
cerca de dez minutos no Arsenal.
— Sim, isso é estranho. Então, há quanto tempo você está com o
clube?
— Apenas algumas semanas, — ele admitiu. — Eles estão
procurando por novos membros. Estou economizando para minha moto
agora.
Demorou um minuto para reconhecer suas palavras.
— Você não tem uma moto?
— Bem, eu tenho uma moto simples, mas nada legal. Marsh disse
que estava tudo bem, desde que eu comprasse uma no próximo mês.
Eu não tinha literalmente um lugar em minha cabeça para
colocar esta informação. Puta que pariu, o clube não era apenas
disfuncional... não era nem mesmo um verdadeiro clube. Não me
admira que Pipes teve problemas. Ele deve estar perdendo a cabeça,
ouvindo falar merda como esta, impotente para fazer uma maldita coisa
para pará-los. Nós passamos pela cidade e entramos em uma estrada de
cascalho fora da estrada principal, parando depois de meia milha em
um trailer isolado. Eu segurei um sorriso satisfeito - não poderia ter
pedido um cenário melhor. Eu viria aqui mais tarde esta noite e
cuidaria desse filho da puta, fácil.
Quase fácil demais. Seria algum tipo de armadilha?
— Aqui vamos nós, — disse Cody. — Hands, você tem a chave?
— Está destrancado, — o homem no banco traseiro conseguiu
dizer. — Não se preocupe.
Cody me deu um olhar preocupado.
— Você acha que ele vai morrer aqui, se nós o deixarmos? —
perguntou. Eu dei de ombros.
— Você tem uma ordem para levá-lo para casa, — eu disse. —
Isso significa que nós o trazemos para casa. Ele vai ficar bem, eu tenho
certeza.
— Ok.
~ 177 ~
Dez minutos mais tarde deitamos Hands em seu sofá, e eu o cobri
em um antigo cobertor que eu tinha encontrado nas costas de uma
cadeira.
— Vai voltar para a festa agora? — perguntou Cody. Eu balancei a
cabeça.
— Sim, tenho que descobrir como levar o meu encontro em
casa. Ela está meio que fodida.
— Com quem você foi? — ele perguntou, os olhos brilhando. Eu
poderia ter rido, o pobre garoto parecia tão desesperado.
— Sadie, — disse eu brevemente.
— Sadie a pulverizadora de vomito? — ele perguntou, franzindo o
nariz. Porra, nem mesmo os prospectos a querem.
— Sim. Sadie a pulverizadora, — eu admiti.
— Espero que você goste de vomito, — disse o garoto, bufando. —
Ela é gostosa, mas é nojenta.
Cristo. Não é de admirar que ela precisasse Talia para arrumar
seus encontros.
* * *
Eu não fui capaz de acordar Sadie até quase três da manhã. A
boa notícia foi que eu consegui levar a princesa do vomito em casa sem
ela cair ao longo do caminho. Ela até ficou mais sóbria, provavelmente
porque nenhuma das bebidas conseguiu ficar em seu estômago por
muito tempo.
Puta que pariu, o clube me devia um presente.
Eu voltei para o hotel primeiro, então me contentei em assistir um
pouco de TV e esperar por Gage. Ele apareceu em torno das quatro
horas, parecendo acabado.
— Se divertiu com Talia? — eu zombei baixinho, me sentando
para pegar minhas botas. Ainda tinha muito trabalho pela frente -
Hands estava esperando.
~ 178 ~
— Vá se ferrar.
— Você sabia que eles chamam de Sadie de a pulverizadora?
Gage balançou a cabeça, e ele teve a graça de parecer
envergonhado. — Só a vi uma vez antes, e ela não estava tão
bêbada. Desculpe por isso - eu não tinha ideia do que você estava se
metendo.
Eu balancei a cabeça, aceitando o seu pedido de desculpas.
— Qual é a história com Hands? — perguntou
— Levei ele para casa com o prospecto, então sabemos onde ele
vive agora. Nós podemos ir lá e falar com ele, então levá-lo para
Rance. É bom ter uma testemunha de que eu o deixei seguro horas
atrás. Nada me liga a ele quando ele desaparecer. Você está pronto para
ir?
Gage suspirou, alcançando o frigobar. Ele puxou um Red Bull, me
oferecendo em silêncio. Eu balancei a cabeça, sabendo que a adrenalina
me acordaria uma vez que chegamos para trabalhar em nossa
vítima. Esperávamos que ele estivesse alerta o suficiente para
falar. Gage abriu sua latinha.
— Talia te cansou, velho?
Ele me ignorou, em seguida, pegou uma mochila e tirou uma
pistola.
— Vamos lá.
* * *
Dez minutos depois nós estávamos dirigindo em direção ao trailer
de Hands em um pequeno SUV que Cage conseguiu do nada. Eu não
tinha certeza de como ele conseguiu isso, mas eu tinha certeza que eu
não iria perguntar. Eu também não perguntei sobre a lona, a fita
adesiva, os dois bastões de metal, ou o alicate - eu confiei que ele sabia
o que estava fazendo e que ele não tinha deixado um rastro para trás.
Esperávamos que não houvesse quaisquer complicações, mas se
houvesse, a nossa desculpa era que eu tinha perdido meu telefone e nós
~ 179 ~
saímos para procurá-lo. Eu tinha mencionado a Sadie, e ela ainda me
ajudou na caça quando estávamos saindo da festa.
— Lugar legal, — Gage disse secamente, estacionando o
carro. Não havia luzes no interior, nem sinais de vida.
— Porra, eu espero que ele não esteja morto ou algo assim, — eu
disse enquanto caminhávamos na direção da porta.
— Nah, ele não bateu tanto assim. Você entra e eu te cubro.
Hands não atendeu a porta quando eu bati, mas eu a tinha
deixado destravada. Abrindo-a lentamente, eu vi o filho da puta ainda
deitado no sofá, dormindo como um bebê. Um bebê nazista realmente
feio.
Eu esperava mais um desafio.
— Está aqui dentro, — eu disse a Gage. Ele me seguiu, mantendo
a arma por perto enquanto ele fazia uma busca rápida no trailer. Eu
não estava armado estes dias - isso significaria uma viagem de volta
para Cali. Meu agente da condicional pode estar na folha de pagamento
do clube, mas ele não fazia milagres.
Gage voltou para a sala, em seguida, empurrou o queixo em
direção ao nosso destino. Está pronto?
Sim, eu disse a ele com um aceno de cabeça, ocupando uma
posição de fora de sua linha de fogo, mas próximo o suficiente que eu
poderia saltar se filho da puta tentasse algo estúpido.
— Acorde, idiota, — disse Gage. Hands não se mexeu. Merda, ele
tinha danos cerebrais ou algo assim? A queda tinha o derrubado
mesmo... isso seria um problema. Quero dizer, não era como se o cara
tivesse muito futuro pela frente ou qualquer coisa - não depois do que
ele fez para Bolt - mas precisávamos de respostas primeiro.
— Hands, nós estamos falando com você, — eu disse, chutando o
sofá. O homem se agitou e franziu a testa enquanto abria os olhos. Eu
cronometrei o instante em que ele viu a arma apontada para ele, porque
todo o seu corpo estremeceu. Hands estava dormido antes, mas ele
estava bem acordado agora.
— Oh merda, — ele disse, olhando para Gage. Acho que resolveu
a questão de saber se ele iria reconhecê-lo. — Porra!
~ 180 ~
Em um instante, Hands se lançou através da sala em direção
Gage, obviamente consciente de que Cage não iria sair do seu caminho
tão facilmente. Eu pulei sobre ele, nocauteando antes que ele pudesse
chegar perto. Não houve verdadeira questão de quem ia ganhar, é
claro. Eu era um cara grande, e o pequeno rato não tinha a menor
chance. Isso não o impediu de lutar como se sua vida dependesse disso,
o que fazia sentido. Dependia.
Nós rolamos pelo chão, colidindo com a mesa de café. Eu ouvi o
som de alguma coisa quebrando, isso é ruim porque você não quer
deixar rastros em momentos como este. Agora teríamos de queimar o
lugar. Isso me irritou, então quando eu tive a chance, eu empurrei meu
joelho em suas bolas.
Hands gritou, ficando mole quando eu montei nele, pegando a
frente de sua camisa para empurrar sua cabeça para cima.
— Seus gritos não vão adiantar de nada, — eu rosnei. — Jogue
limpo e não vai doer tanto.
Ele me deu uma cabeçada e eu senti o meu nariz se
partir. Grunhindo, eu bati a cabeça dele contra o chão, em seguida,
acertei um soco em seu rosto. Ardor rasgou através de meus dedos,
equilibrando a dor do meu nariz e limpando minha mente. Eu bati nele
mais duas vezes, em seguida, bati sua cabeça contra o carpete fino
antes de perceber que Gage estava gritando.
— Jesus, Painter! Ele está apagado de novo - solta ele!
Eu me virei para olhar para ele, rosnando.
— Pare, — Gage disse, sua voz como gelo. Ele cortou a neblina e
eu soltei meu braço.
— Merda, — eu disse, voltando para mim mesmo. Olhei para o
homem com o todo rosto ensanguentado. — Porra. Ah. Me desculpe por
isso.
— Você tem alguns problemas de controle de raiva, — Gage
observou, franzindo a testa.
— Ele quebrou a porra do meu nariz, — eu disse, o
cutucando. Ái. Então eu olhei ao redor. Puta que pariu - havia sangue
por todo o chão, merdas quebradas... — Isso é péssimo.
~ 181 ~
— Sim, — disse Gage, franzindo a testa. — Vou ter que queimar
tudo. Eu vou fazer com que pareça um acidente, apesar de tudo.
— Me desculpe por isso.
Ele balançou a cabeça. — Não se desculpe - sair limpo era o
objetivo, e uma vez que você começou a sangrar, estava tudo
acabado. Isso é sobre ele. Não se preocupe.
Levantei devagar, depois olhei de Gage para o homem
inconsciente, quebrado e deitado no chão. — Sem ofensa, irmão, mas
me dizer =não se preocupe‘ quando vamos queimar a casa de um cara
antes de matá-lo é meio fodido.
Gage riu, então eu o empurrei. O que o fez rir de verdade e então
me juntei a ele, porque realmente foi meio engraçado de uma forma
doentia.
— Eu vou pegar a lona, — eu disse a ele, de pé rigidamente. — E
a fita adesiva. Conhecendo a nossa sorte, o fodido pode acordar no meio
do caminho para Bellingham e tentar bater o carro.
— Não posso culpá-lo por estar lutando, — disse Gage,
encolhendo os ombros. — Quero dizer, ele sabia no minuto em que ele
viu meu rosto que nós teríamos que matá-lo. Ele é um dedo-duro, mas
ele não é estúpido.
— Filhos da puta inteligentes não deduram.
— Justo.
* * *
— Para quem você está trabalhando?
Eu estava no fundo da sala, observando quando Rollins - o
sargento de Bellingham - sorriu para Hands. Eu o encontrei algumas
vezes e ele nunca me pareceu excessivamente são, mas vê-lo trabalhar
em Hands?
Sim, isso era algo fodido - merda!
~ 182 ~
Eu tinha voltado as nove da manhã, e o interrogatório tinha
durado até as cinco agora. Ele não tinha quebrado, o que me
surpreendeu. As coisas que Rollins poderia fazer com uma lâmina de
barbear... vamos apenas dizer que o filho da puta me assustou, e eu
não me assusto fácil.
Hands era durão - ele obviamente sabia que teríamos que matá-lo
assim que ele falasse, o que significava que não poderia obter as
informações com falsas promessas de segurança. Isso era para fazê-lo
sofrer o suficiente para que ele quisesse morrer. Nós não iríamos deixar
que isso acontecesse até que tenhamos conseguido o que queríamos e
ele tinha que saber isso.
É evidente que o informante queria viver. Muito.
Ele gritou novamente quando Rollins cuidadosamente removeu a
pele em seu braço. Por um instante, eu me senti mal do estômago, mas
eu consegui estabilizar. Ele mandou Bolt para a prisão. Não é como se
ele não merecesse isso.
— Jesus, apenas fale de uma vez, — Rance murmurou, franzindo
a testa. — Odeio essa merda.
A gritaria continuou, e em seguida, terminou
abruptamente. Porra. Ele desmaiou.
— Até onde você quer ir com este, chefe? — perguntou Rollins,
recuando e estalando seu pescoço. O sangue escorria das luvas
cobrindo suas mãos. — Você sabe que eu posso quebrá-lo, mas eu acho
que vai levar tempo. Ele é forte.
Rance inclinou a cabeça, pensando. Ele tinha todo o tempo do
mundo, mas eu estava sob um relógio. Pic me disse para ficar por perto,
ouvir o que Hands tinha a dizer... mas nós ateamos fogo no lugar do
filho da puta, o que significava que eu realmente deveria levar minha
bunda de volta para Idaho, mais cedo ou mais tarde. Eu não estava
muito preocupado com eles me conectando a Hands, mas nunca se
sabe... melhor jogar pelo lado seguro - especialmente agora que eu
tinha Melanie esperando por mim.
— O que você está pensando, Painter? — perguntou
Rance. Considerei minhas opções. Para complicar tudo foi o fato de que
eu tinha estado acordado por quase 30 horas agora, o que significava
que eu poderia ter um colapso em breve.
~ 183 ~
— Eu preciso dormir, — eu admiti. — Talvez você possa continuar
tentando, enquanto eu tiro um cochilo... eu sei que Pic quer que eu
ouça ele derramar, mas eu estou morto aqui. Vou levar umas boas seis
horas para chegar em casa e eu preciso para voltar para lá hoje à noite.
— Há um quarto no andar superior, — disse Rance. — Você pode
descansar um pouco e vamos ver como correm as coisas aqui. Eu não
tenho certeza se as informações deste filho da puta valem a pena
mantê-lo vivo por muito tempo. Quanto mais cedo nos livrarmos das
provas, melhor.
— Funciona para mim.
Eu dei um último olhar em Hands, em seguida, saí pela porta. Os
Reapers de Bellingham não tinham um clube completo como o Arsenal,
apenas uma casa fora da cidade em alguma área cultivada. Agora
estava quase deserto, mas no andar de cima eu encontrei Jamie, a old
lady de Rance. Ela tinha por volta de 35 anos e era linda. Eu a tinha
visto a primeira vez quando a conheci há alguns anos atrás. Então eu
assisti como Rance assassinou um prospecto que tinha ido visitá-la, o
que praticamente matou qualquer interesse que eu poderia ter tido.
Ela me deu um sorriso simpático. Eu não sei o quanto do clube
Rance disse a ela, mas ela tinha que ter ouvido os gritos. Ela era uma
maldita old lady - o que ela poderia estar pensando, ela não estava
dando a mínima.
— Você deveria me deixar lavar essas roupas, — disse ela,
apontando para minha camisa e calças. Eu olhei para baixo, surpreso
ao ver que elas estavam cobertos de sangue seco. Porra. Devo estar
mais cansado do que eu percebi - não tinha sequer me ocorrido que eu
poderia precisar me limpar.
— Eu realmente gosto destes jeans.
Ela deu uma risada suave, revirando os olhos.
— Me deixe encontrar algo limpo para você vestir, — disse ela. —
Então vá lá em cima e tome um banho. Deixe suas coisas no banheiro e
eu vou cuidar delas. Há um quarto em frente ao hall - apenas fique
confortável. Parece bom?
Soou como o céu.
* * *
~ 184 ~
Meia hora mais tarde, eu estava limpo. A roupa que Jamie me deu
encaixou surpreendentemente bem, e ela até deixou um sanduíche,
batatas fritas, e uma maçã (cortada e tudo, como se eu fosse uma
criança) na mesa de cabeceira para mim. Eu devorei tudo, em seguida,
deitei na cama para um muito necessário descanso.
Eu comecei a dormir quando meu telefone soou.
MELANIE: Como está indo?
Eu considerei apenas desligá-lo e dormir. Mas então eu pensei
sobre seus lábios macios e seios doces, e eu acordei novamente.
EU: Bem. Fiquei acordado até tarde na noite passada. Como foi o
carnaval?
MELANIE: Eles não vão me pedir para pintar rostos no próximo
ano. Eu decidi contar isso como uma vitória.
Eu sorri, pensando naquelas pobres joaninhas dela. Dizem que o
amor te deixa cego, mas ninguém poderia ser tão cego. Um dos meus
primeiros professores de arte me disse que todo mundo tem o poder de
pintar algo belo - obviamente ele nunca teve Melanie Tucker em uma de
suas aulas.
EU: Ufa que bom!
MELANIE: Ei - pensei que você estava do meu lado
EU: Eu não vou denunciá-la por crimes contra a humanidade,
ok?
MELANIE: Ha ha. Muito engraçado.
EU: Você não tem ideia... eu estou voltando para a cidade,
provavelmente chegarei tarde esta noite. Quer que eu te mostre o
engraçadinho que eu posso ser?
Ela não respondeu, e eu sorri... então meu celular soou.
MELANIE: Você deveria me avisar antes de você enviar
mensagens assim. Jessica tentou roubar meu telefone quando ela me
viu corar.
EU: Você está em casa?
MELANIE: Sim. Trabalhando em um relatório.
~ 185 ~
EU: Vá para o seu quarto.
Será que ela mordeu a isca? Longos segundos se
passaram. Nada. O telefone tocou novamente.
MELANIE: Eu estou em minha cama...
EU: O que você está vestindo?
MELANIE: Você está querendo fazer sexo pelo telefone?
EU: Você quer?
MELANIE: Eu quero tudo.
E de repente os jeans emprestados não estavam encaixando tão
bem assim. Me abaixei, desabotoando.
MELANIE: Eu estou vestindo calcinhas azuis com lacinhos na
lateral. Azul bebê.
EU: O que mais?
Por favor, diga nada, por favor, diga nada...
MELANIE: Isso é muito fácil ;) Você primeiro.
Eu olhei para minhas roupas emprestadas, considerando como
responder. Dizer a ela que tudo o que eu tinha eram roupas emprestada
porque as minhas próprias roupas estavam cobertas de sangue de um
homem morto. Parecia tudo menos romântico.
EU: Jeans e uma camisa. Não vou mentir - eu abri o meu zíper
quando você disse que queria tudo.
MELANIE: Você está duro?
Se eu não tivesse antes, eu estava certamente agora.
EU: Toda vez que eu falo com você.
MELANIE: Você não é romântico.
EU: Então, o que mais você está vestindo?
MELANIE: O que é que vale a pena para você?
EU: Jantar na minha casa quando eu voltar - eu faço um miojo
muito bom.
~ 186 ~
MELANIE: Que tal um jantar em sua casa, mas eu cozinho? Eu
faço comidas muito boas que não são miojos.
EU: Combinado. Agora me diga o que você está vestindo.
MELANIE: Nada... e meus mamilos estão duros. Eu estava
rolando um deles entre meus dedos, mas então eu tive que
parar. Trocar mensagens com vc com uma só mão é difícil...
Oh Jesus. O sangue estava correndo para baixo, levando a minha
capacidade de pensar com ele.
EU: Voê pod manda uma foto dissi prs mijn
Porra. Eu tinha perdido a capacidade de digitar também, e nem
mesmo o corretor poderia me salvar. Esta menina era
perigosa. Alcançando dentro de minhas cuecas, eu peguei meu pau,
dando a ele um aperto forte. Se eu fechasse meus olhos, eu poderia
quase imaginar que era a mão dela em vez da minha. Eu nunca faria
isso - para o resto da minha vida - esquecer o instante em que sua
língua me tocou pela primeira vez. Ela estava tão hesitante, tão
cuidadosa... me deixou com tesão e me deixou louco, porque não era o
suficiente. Eu tenho que ensiná-la a fazer isso mais forte.
Minha menina aprendia rápido também.
MELANIE: Eu não envio fotos para homens estranhos.
Maldição. Ela estava certa, é claro. Era estúpido enviar fotos,
especialmente para um idiota como eu.
EU: Acho que vou ter de usar minha imaginação. Eu sei um jeito
que você não terá que parar de tocar a si mesma para falar comigo... Me
liga?
Era isso. Esperei por um minuto, em seguida, outro, imaginando
Mel brincando com seus mamilos... dedilhando sua buceta... agora
havia uma imagem bonita. Liguei meu polegar sob o cós da minha
cueca, levantando meus quadris para que eu pudesse empurrá-la para
baixo. Então eu pegava meu pau novamente, içando-o lentamente
enquanto eu esperava ela ligar.
O telefone tocou.
— Ei, — eu disse, minha voz rouca. — Por favor, me diga que você
ainda está nua?
~ 187 ~
Melanie deu uma risadinha. — Bem, eu não estou totalmente nua
- ainda tenho minha calcinha. Eu me sinto meio boba fazendo isso.
— Não, — eu disse a ela, falando sério. — Isto está no topo das
minhas fantasias sujas na Lista Melanie.
— Você tem uma lista de fantasia sobre mim? — ela perguntou, a
voz presa. Merda, ela pensava que eu era um
pervertido? Provavelmente. Fazia sentido que ela iria, porque eu era
definitivamente qualificado.
— Enquanto eu estava na prisão, — eu admiti. — Pensei em você
o tempo todo. Pensei em você desde o primeiro dia em que nos
conhecemos, embora eu tentasse manter sob controle. Então eles me
prenderam e você começou a escrever. Uma vez que você me enviou
uma foto, eu estava fodido. Decidi que iria deixar rolar nesse ponto.
— Então, que tipo de fantasias você tem? — perguntou ela, com a
voz mais baixa. Rouca. Meus dedos abrandaram, deslizando para cima
para pegar a pele sensível logo abaixo a cabeça do meu pau. Merda, isso
era bom. Sua língua seria ainda melhor.
— Lista longa, — eu disse a ela, afundando de volta no
travesseiro. — Costumava pensar muito sobre a sua boca.
— Sério? E o que eu estava fazendo com a minha boca?
— Vamos apenas dizer que eu gostei do que você fez com sua
língua em mim, — eu respondi, optando por não compartilhar a
fantasia completa envolvendo foder seu rosto com as maria
chiquinhas. Viu? Eu não sou um tarado total.
— Bem, isso parece uma boa ideia no momento. Sexta-feira foi
incrível, por sinal. Só de pensar nisso me deixa tão... — ela riu. — Ok,
falando desse jeito eu me sinto em pornô ruim.
— Melanie, acredite em mim quando eu digo que o jeito que você
fala é de alta qualidade da produção pornográfica, — eu respondi,
pegando meu pré-gozo com os meus dedos para usar como
lubrificante. — Eu gosto tanto que eu tenho o meu pau para fora e eu
estou me masturbando enquanto você fala. Não tenho certeza quanto
tempo vou durar aqui, mas provavelmente não mais do que alguns
minutos, então por favor termine a porra dessa frase.
— Tudo bem, — disse ela, e eu ouvi o sorriso em sua voz. — Só de
pensar nisso me deixa tão molhada.
~ 188 ~
Eu engoli um gemido.
— Como é que você sabe que está molhada? — perguntei, pouco
mais que um sussurro.
— Porque eu estou me tocando, — disse ela. — Eu comecei com o
meu clitóris, em seguida, comecei a me mover mais baixo. Agora eu
estou indo e voltando entre o meu clitóris e minha...
Sua voz sumiu quando uma queimação torceu em necessidade e
rasgou através de mim. A mão no meu pau se moveu mais rápido.
— Jesus, eu quero estar dentro de você, — eu admiti. — Você tem
a buceta mais apertada que eu já senti, Mel. Nunca estive com outra
garota que se me fizesse sentir tão bem.
— Você não é tão ruim assim, — ela sussurrou, sua voz
começando a soar tensa. — Eu costumava pensar em você
também. Antes, quero dizer. Eu costumava deitar na minha cama e ler
suas cartas, e então eu faria exatamente o que eu estou fazendo agora.
Me tocar.
Meus quadris se arquearam. Ah, merda. Falta pouco agora. Só
tinha de imaginar que na fantasia eram os dedos dela fazendo o
trabalho, e não os meus.
— Será que você gozava - quando você estava pensando em mim,
eu quero dizer?
Ela não respondeu por um minuto, mas eu ouvi um pequeno
suspiro.
— Sim, — ela disse, com voz áspera. — Eu gostava de me tocar e
eu gozava tanto, pensando em você. Imaginando como que você seria
dentro de mim... o que eu iria sentir quando você me pegasse por
trás. Se você me amarrasse. Oh, meu Deus, eu não posso acreditar que
eu acabei de dizer isso.
Puta que pariu. Mel tinha um lado bizarro. Eu devo ter feito algo
absolutamente incrível em uma vida passada para merecer isso, porque
eu tinha certeza como a merda que não ganhei isso assim de presente.
— Eu poderia fazer isso, — eu disse, minha voz rouca. — E muito
mais.
— Oh, — ela disse, a voz ofegante e incerta. — Painter?
— Sim?
~ 189 ~
— Você gosta, de submissão? Porque eu sei que eu disse que eu
tenho pensado sobre você me amarrar, mas eu não sou realmente-
Comecei a rir. Ela ficou em silêncio e então eu percebi que ela
estava provavelmente envergonhada. Merda. Precisava ser mais
cuidadoso.
— Mellie, eu te entendi, — eu disse a ela. — Nós podemos jogar
todos os jogos que você queira, mas toda essa coisa de submissão não é
minha praia. Há uma grande diferença entre se divertir amarrando uma
garota e chicoteá-la. Nós vamos fazer o que você quiser, e eu garanto
que enquanto você estiver nua, eu vou estar feliz.
— Isso parece bom, — disse ela, ainda ofegante. — Só para você
saber, se você estivesse aqui eu estaria lambendo a parte inferior do seu
pau agora. Você sabe aquele lugarzinho? Eu não cheguei a explorá-lo
tanto quanto eu gostaria ontem de manhã... e eu nunca tentei levar um
cara profundamente antes, mas eu não me importaria em tentar com
você.
Melhor.
Do que.
Natal.
— Você ainda está se tocando?
— Sim, — ela sussurrou. — E eu estou chegando mais
perto. Parece que eu estou tensa lá embaixo, como se houvesse uma
corda dentro de mim entre as minhas pernas... bem apertada... dói,
mas é tão bom e eu realmente, realmente não quero que pare.
Eu ia ficar com calos na minha mão a este ritmo. Meu Deus, isto
era demais, mas eu queria que ela me masturbasse ao invés de
mim. Eu estava perto, embora - a pressão estava apertando em minhas
bolas, tornando difícil pensar. Tornando tudo difícil.
— O que está fazendo com os dedos? — perguntei.
— Eu estou movendo um em um círculo, bem sobre o meu
clitóris... eu estou empurrando para baixo e indo mais rápido, porque
eu estou perto. Estou tão molhada que eu posso sentir escorrendo pelas
minhas pernas - ugh. Isso soa vulgar?
Lambi meus lábios, segurando um gemido.
~ 190 ~
— Não, isso soa sexy pra caralho, — eu admiti. Minhas bolas
estavam uma panela de pressão, quentes e pronta para gozar para
ela. Eu iria enchê-la, mantê-la prisioneira na minha cama, só para
mim.
De repente, toda a coisa de submissão estava soando mais
interessante.
— Eu estou tão perto, — ela sussurrou. — Me fale sobre-
Ela gritou abruptamente. Ouvi gritos e um barulho alto.
Em seguida, a linha ficou muda.
MELANIE
Kit Hayes entrou em meu quarto, seguida por Jessica. Elas
estavam gritando, alheias ao fato de que elas tinham me pego no
ato. Eu gritei com horror, chocada, deixando cair o telefone. Graças a
Deus eu estava sob um cobertor - não tinha certeza de que eu poderia
sobreviver se elas me pegassem sem calças, me masturbando como
uma pervertida total.
Não depois de toda aquela coisa com o chuveiro... sem mencionar
os meus peitos não pintados vistos por Taz.
Oh, Deus. Já era tarde demais.
— O que há de errado com vocês? — perguntei, agarrando as
cobertas ao meu peito. — Vocês estão loucas?
— Meu pai e London se casaram! — Kit gritou, os olhos
arregalados. A face sombria de Jessica assentiu com a cabeça,
confirmando a declaração.
— Casaram? Mas eles estavam planejando um casamento para
dezembro...
— Meu pai disse que não confiava em mim para organizar uma
festa de despedida de solteira, — Kit cuspiu. — Fizemos um grande erro
ao perguntar se poderíamos usar a Linha. Ele diz que ele e London não
queriam qualquer problema, então eles foram ao tribunal e tiraram uma
~ 191 ~
licença. Eles fizeram isso, esta manhã, se casaram na
capela. Ninguém estava lá. Em está em outro estado.
— Eu não posso acreditar nela, — acrescentou Jess. — Loni não
tinha o direito de fazer isso sem nós - tão irresponsável e egoísta. Ela só
estava pensando em si mesma.
Oh, sério? Agora Jessica estava ensinando as pessoas sobre a
responsabilidade? Isso era ridículo em muitos níveis diferentes.
— Isso é injusto, — eu insisti, embora eu estivesse um pouco
ofendida também - eu estava ansiosa para a coisa toda de dama de
honra. — Loni está sempre cuidando de outras pessoas. Ela trabalha o
tempo todo, ela aguenta a nossa merda... ela já fez a coisa toda do
casamento uma vez e não terminou bem. Não podemos culpá-la por
querer cuidar dela e seguir em frente.
— Claro que você ficaria ao seu lado, — Jess estalou. —
Você sempre fica ao seu lado. Eu não me esqueci de que você é a única
que me dedurou para ela no verão passado. Se não fosse a minha briga
com Loni, eu não teria fugido para a Califórnia e talvez-
Me sentei, estreitando os olhos para ela.
— Você é muito cara de pau, tentando me culpar por isso, — eu
disse friamente. — Não é minha culpa que você...
Minha voz sumiu quando eu percebi que ambas estavam olhando
para mim. O quê? Uma brisa bateu no meu mamilo nu, e eu percebi
que eu deixei o cobertor cair.
Bem, que grande merda.
— Você estava no telefone com Painter, não estava? — Kit
perguntou, os olhos indo de raiva para um olhar de coisas sacanas em
questão de segundos. Como ela fez isso? — Oh meu Deus, olhe para ela
corando! Você estava fazendo sexo por telefone quando chegamos aqui!
— Sexo por telefone! — Jess gritou, esquecendo completamente
seu discurso. — Quanta sacanagem! Estou tão orgulhosa de você -
primeiro você está transando com ele no chuveiro e agora você está
usando o telefone. Só pra registrar, eu ainda não acho que ele é uma
boa esco...
— Espere, você fodeu Painter no chuveiro? — Kit
perguntou. Tateei para o cobertor, me perguntando o que eu fiz para
~ 192 ~
merecer esse tormento. — Então isso significa que vocês estão juntos
agora?
Eu dei de ombros.
— Eu não tenho certeza, — eu admiti, franzindo a testa. — Ele
está ocupado fazendo coisas para o clube em algum lugar, mas somos
exclusivos. Pelo menos, isso é o que combinamos antes dele viajar.
Kit franziu a testa, se sentando ao meu lado.
— Painter não é realmente bom em toda essa coisa de
exclusividade, — disse ela. — Eu sei que eu te avisei sobre ele, mas isso
é obviamente um ponto discutível e eu quero que você se divirta... ainda
assim, você precisa ter cuidado. Você não pode levá-lo a sério.
Ótimo, agora Kit se sentia qualificada para me repreender
também.
— Você sabe, eu estou realmente cansada de todo mundo me
dizendo o que fazer o tempo todo, — eu anunciei, não me preocupando
em esconder minha raiva e frustração. Kit se afastou, os olhos
arregalados. Eu olhei para ela. — Vocês precisam aprender alguns
limites. Ambas.
— Me desculpe, eu não quis dizer nada-
— Você entra no meu quarto sem bater, me diz com quem posso
ou não dormir, e está chateada com Loni e Reese se casando. É o
casamento deles, não o seu, e eu entendo perfeitamente por que eles
não te disseram. Você não poderia ficar apenas feliz por eles. Não, você
tinha que tentar forçá-los a fazer coisas que eles não queriam. Não é de
admirar que eles se casaram sozinhos!
Jessica foi saindo, a boca aberta.
— Eu sinto muito, Mel.
— Não se desculpe, — eu disse, balançando a cabeça. — Apenas
talvez tentem pensar sobre como as outras pessoas se sentem de vez em
quando. Ambas. Eu estou cansada disso. E isso era uma ligação
privada, o que significa que não é da maldita conta de vocês com quem
eu estou falando, ou por que.
Kit olhou para baixo. — Você está certa. Devíamos ter batido.
Eu não pude deixar de notar que o pedido de desculpas não
cobria sua tentativa de discurso ou reconhecer que talvez seu pai
~ 193 ~
tivesse o direito de tomar suas próprias decisões. Esse era o seu
problema, - eu já tinha dito a minha opinião.
— Nós vamos estar lá embaixo, — disse Jess. — E você
provavelmente deve arrumar uma chave para a sua porta...
especialmente se você for fazer sexo aqui. Realmente, nós duas sabemos
que eu vou esquecer de bater a próxima vez que eu estiver toda
animada.
Música explodiu do telefone de Kit e ela o agarrou, olhando para
baixo.
— É Em, — ela disse, me atirando um olhar furtivo. — Vamos,
Jess. Temos planos para fazer. Ela já começou a dirigir de Portland e
temos muito a ser feito antes que ela chegue a Coeur d'Alene.
— Você está organizando a despedida de solteira, não é? —
perguntei. Kit teve a graça de parecer culpada.
— Uma festa de despedida surpresa, — ela admitiu. — Esta
noite. Sinto muito. Eu sei o que você disse sobre limites e é
provavelmente verdade, mas não há nenhuma maneira que Em e eu
possamos deixar isso passar. Temos que dar as boas-vindas a London
para a família da forma certa. É o nosso trabalho.
— Vocês vão dar as boas vindas a ela chateando o seu pai?
Kit deu de ombros. — Se você soubesse o que meu pai já fez
comigo e Em quando éramos mais jovens, você faria a mesma
coisa. Não podemos deixá-lo fugir com isso. É uma questão de
princípios.
— Isto parece uma loucura.
Kit suspirou. — Sim, eu sei. Mas ele começou.
Elas deixaram o quarto e eu comecei a olhar ao redor, procurando
o meu telefone. Ele tinha saído voando, e eu levei uns bons cinco
minutos para encontrá-lo encravado entre a cama e a parede.
Seis chamadas não atendidas de Painter e uma de Reese.
Merda.
Ele atendeu ao primeiro toque.
— Você está bem? — ele perguntou, sua voz lacônica.
~ 194 ~
— Eu estou bem, — eu disse, e eu ouvi seu suspiro de alívio.
— Ok, me dê um minuto para mandar uma mensagem de texto
para Pic - eu enviei mensagens para ele que algo estava errado em sua
casa. Ele já está em seu caminho para salvá-la.
— Ah, merda. Eu sinto muito. Eu posso explicar - foi Jess e Kit, e
elas-
— Claro que foi Jess e Kit, — ele murmurou. — Me dê um
segundo e já te ligo de volta.
Ele desligou, e eu peguei o meu sutiã. Eu não sabia sobre ele,
mas para mim o clima foi certamente cortado. Eu apenas vesti a minha
camisa quando o telefone tocou de novo.
— Eu sinto muito, — eu disse novamente. — Elas entraram para
dentro do quarto e me assustaram para caramba, e então eu não
conseguia encontrar meu telefone e eu acho que nós estamos tendo
uma festa de despedida de emergência esta noite para London, porque
ela se casou.
Silêncio.
— Você que correr de mim de novo? — ele finalmente disse.
— Aparentemente, não tiveram tempo de te dizer... Reese e Loni
se casaram esta manhã. Sozinhos - eu acho que eles não gostaram de
como as pessoas continuavam a fazer planos para eles, então eles
apenas se casaram sem dizer a ninguém.
Painter começou a rir.
— Eu aposto que Kit e Em estão furiosas como o inferno, — disse
ele. — Elas têm todos os tipos de merdas loucas em mente.
— Eu não sei sobre o Em, mas Kit parece bastante chateada. Ah,
e só para você saber, as meninas descobriram o que você e eu
estávamos fazendo e começaram a me dar uma lição de moral, então eu
gritei com elas. Agora elas estão se escondendo lá embaixo.
Ele começou a rir de novo.
— Isso quase vale o ataque cardíaco que você me deu.
— Eu realmente sinto muito sobre isso, — eu murmurei. — Elas
me assustaram.
~ 195 ~
— Elas são meninas assustadoras, — disse ele. — Eu suponho
que você quer recomeçar de onde paramos?
Eu considerei isso, mas o pensamento de Jess e Kit lá embaixo...
não estava funcionando para mim.
— Nada de sexo por telefone até eu conseguir uma chave para a
porta do quarto. Eu não acho que eu posso tomar outro susto como
esse.
— Eu vou fazer disso a primeira coisa a ser feita amanhã.
Ele parecia tão determinado que eu não pude deixar de rir.
— Será que me faria parecer uma namorada louca se eu
perguntar que horas você estará de volta hoje à noite? — eu queria levar
as palavras de volta logo que saíram da minha boca. Eu quis dizer isso
como uma piada, mas caras como Painter não tinham namoradas. Ele
me disse que ele não namorava. Agora, ele provavelmente pensou que
eu achava que ele era meu namorado e... — Eu não quis dizer isso
dessa maneira.
— Mel?
— Sim? — perguntei, fechando os olhos contra o que ele pode
estar prestes a dizer.
— Eu não me importaria de ter uma namorada como você.
Meu pulso acelerou quando eu passei de assustada para
exultante. Eu queria pular, talvez dar um soco no ar ou dois. Em vez
disso, eu de alguma forma consegui manter a minha voz casual.
— Eu não me importaria de ter um namorado como você também.
— Se eu pedir Pic para te dar uma chave, você iria dormir na
minha casa hoje à noite? — ele perguntou. — Eu vou demorar um
pouco a chegar. Muito tarde, provavelmente não até o início da manhã
seguinte, mas eu gostaria de saber que você está na minha cama,
esperando por mim.
— Claro, — eu disse, me sentindo quente e feliz. — Eu gostaria
disso também.
~ 196 ~
Capítulo
13
— Jess parece estar se recuperando bem do choque, — disse
London, sua voz seca. Estávamos do lado de fora da casa de Bam Bam e
Dancer - um dos outros casais do clube - porque as meninas Hayes não
tinham sido capazes de reservar a Linha em um prazo tão curto. Minha
teoria particular era de que não importa o quão cedo elas tentassem
fazer a reserva. Uma coisa que eu aprendi observando os Reapers por
esse ano que passou era que, se Reese não estava de acordo, nada
aconteceria.
Exceto que esta festa estava definitivamente acontecendo.
Kit, Jessica, e Em tinha feito o melhor possível, arrumando tudo
enquanto Em vinha de Portland. Elas tentaram me colocar na
organização, mas de jeito nenhum eu queria me envolver. Reese e
Loni tinham que amá-las - pois elas eram parentes de sangue. Vendo
como eu era uma espécie de agregada, eu não arriscaria. (Não só isso,
como uma pessoa com uma alma, eu odiaria colocar Loni em uma
situação como essa).
Eu passei a tarde a trabalhando no meu relatório em vez disso, e
até o momento em que Jessica me enganou ao me levar para o
=supermercado‘ com ela. Ela me arrastou para a festa em vez disso, que
eu tive que admitir que estava começando a ficar divertida. Ou, pelo
menos, teria sido divertida até que os strippers apareceram.
Agora Jess estava esparramada no colo de um stripper com um
braço em volta de seu pescoço, rindo como uma mulher louca. Um
segundo cara estava fazendo o mesmo com uma old lady - Marie -
enquanto Kit tirava fotos com uma alegria na fronteira com o
obsceno. Em seguida, um terceiro dançou até Jess, balançando sua
=banana‘ em seu rosto.
(Ok, então talvez nós não estávamos na fronteira da linha da
obscenidade, estava mais pra dançar encima do seu caixão).
— Agora é a vez da London! — gritou Darcy, uma das old ladies
da idade de London. Seu homem fazia parte dos Silver Bastards, o
mesmo clube de Puck. Eu só a encontrei algumas vezes, mas com base
no que era seguro dizer era que os Silver Bastards eram tão
~ 197 ~
assustadores quanto os Reapers. O d ançarino e Kit agarraram London
pelos braços, arrastando-a. Jess pulou do seu cara para abrir espaço
para Loni.
— Sorria, London! — Kit gritou, tirando uma foto enquanto a
jogavam em seu colo. Loni saltou pra cima novamente, pegando uma
almofada e jogando-a em Kit. Jessica pulou em sua defesa, lançando
outro travesseiro em direção a London, e depois tudo começou.
Batalha real.
(Vale a pena mencionar neste ponto que nós tínhamos ingerido
uma grande quantidade de álcool. Algum tipo de batida de martini de
romã servidos em uma grande tigela. Tinha gosto de doce, mas eu parei
de beber depois do meu segundo copo, quando meu rosto começou a
ficar dormente. Infelizmente isso ainda foi o suficiente para me deixar
bêbada).
Um travesseiro bateu na minha cabeça, me derrubando no
chão. Eu cai em cima do cara da =banana‘, colocando a mão em seu
peito musculoso e depilado para me empurrar para cima, confusa como
o inferno.
— Ei, — ele disse, me dando um sorriso sexy. — Você quer dar
um perdido nelas debaixo da mesa?
— Sorriam! — Jessica gritou do nada. O quê? Eu olhei para cima
para encontrá-la tirando fotos de mim em cima dele.
— Oh, sua puta! — eu gritei, lutando. Ele deu um grito agudo de
dor. Merda. Eu tinha acabado de derrubá-lo, pobre homem. — Eu sinto
muito.
Ele gemeu lamentavelmente, rolando sobre o seu lado. Enquanto
isso, Jessica estava pulando pelo chão, agitando o telefone dela
triunfante.
— Jessica, você vai excluir essas malditas fotos agora mesmo! —
eu gritei.
Ela correu por toda a sala e para um conjunto de portas francesas
que se abriam para um deck. Em seguida, ela foi para o lado, correndo
através do prado que ficava ao lado do clube.
— Eu vou matar você! — eu gritei, ignorando o riso daqueles nos
observando. Ela virou a cabeça para me insultar, enquanto corria.
~ 198 ~
— Venha me peg... - merda! — as palavras foram cortadas quando
de repente ela desapareceu. Não desapareceu, como tropeçar e
cair. Quero dizer, desapareceu. Um minuto ela estava lá e no outro ela
tinha ido embora.
— Jess! — eu gritei novamente, a raiva se transformando em
medo. Ela não tinha estado tão longe de mim. Eu mantive meus olhos
abertos, parando exatamente onde ela tinha estado, me aproximando
lentamente. Parecia improvável que ela tivesse sido raptada por
alienígenas, mas nunca se sabe...
— Jessica? — eu chamei, hesitante.
— Aqui embaixo.
Olhando em volta, tudo que vi foi o prado. — Eu não vejo nada.
— Há um buraco no chão, — disse ela. — Você está encima de
mim - eu posso ver você. Olhe para baixo.
Eu olhei para baixo, e com certeza, havia um buraco no chão,
talvez com um metro de largura... um metro e meio, no máximo. Caí de
joelhos, olhando para baixo. Estava escuro, muito escuro. Eu mal podia
vê-la, mas ela parecia estar lá. Merda.
— Que diabo é isso? Parece uma caverna.
— Sim, parece com uma caverna.
— Você vê uma saída? — perguntei, olhando de volta para a casa,
ansiosa. Nossos observadores tinham perdido o interesse em nós. Cavei
no meu bolso pelo o meu telefone, esperando que tivesse sinal.
— Se afaste, — Jessica me disse. Franzindo a testa, eu segui as
instruções dela, quando vi sua cabeça e os ombros saltando para fora
acima do solo.
— Como você fez isso?
— Eu só me levantei, boba, — ela respondeu. — Eu teria
levantado mais cedo, mas eu precisava mandar esta mensagem.
Ela me deu um sorriso malicioso enquanto segurava o celular
dela, mostrando a foto de mim em cima do Sr. Quadris Dançantes.
— Se você me disser que você enviou para Painter, eu vou chutar
sua cabeça como se fosse uma erva daninha, — eu assobiei, olhando
para a minha melhor amiga. Ex melhor amiga.
~ 199 ~
— Acalme suas calcinhas, — disse ela, revirando os olhos. —
Como eu poderia enviar isso para Painter? Não, eu mandei para Hunter,
o cara da Em. Eu posso ter enviado para Reese também. Difícil de
lembrar. Eu sei que o enviei uma de London.
Um olhar suspeito passou pelo seu rosto.
— Jessica...
— Sim? — ela disse, batendo os cílios para mim inocentemente.
— Você e Kit usaram a festa para chantagear todas as mulheres
no clube? — eu perguntei, minha com um tom cuidadoso. Jessica
franziu a testa, eu jurei que ela parecia quase magoada.
— Claro que não, — disse ela, se levantando e saindo do
buraco. — Chantagem significa que você quer dinheiro ou algo assim,
certo? Nós estamos fazendo isso por diversão, Mel. Eu não estou
tentando tomar o seu dinheiro. Eu nunca iria chantagear você
ou qualquer das outras meninas.
Ela balançou a cabeça para mim, infelizmente, transmitindo
profunda decepção na minha falta de confiança.
— Eu vou encontrar Dancer. Ela deve saber alguma coisa sobre
essa caverna - eu consegui sair, mas alguma criança poderia ficar presa
lá em baixo.
* * *
A guerra de travesseiros tinha terminado no momento em que
voltamos, e aparentemente virou uma guerra de água. Ou isso, ou
Dancer estava usando uma mangueira como uma tentativa de controlar
o rebanho de mulheres embriagadas que estavam dançando em seu
quintal.
— Jessica! — Kit gritou quando voltamos. — Você está aqui - uma
boa notícia! Nós já estamos recebendo respostas de nossas fotos!
Porra, para quantas pessoas elas enviaram?
— Reese vai me estrangular, — disse London, parando ao meu
lado. Sua camiseta branca estava totalmente transparente, exibindo um
sutiã preto lindo.
~ 200 ~
Um spray de água me bateu no rosto, em seguida, salpicou pelo
meu peito.
— De nada! — Dancer gritou, rindo. Eu balancei minha cabeça
como um cão, tentando sacudir um pouco da água. Péssima ideia,
porque eu ainda não estava totalmente firme em meus pés. Que porra
elas colocaram naquela bebida? Dancer e London me pegaram, uma em
cada braço.
— Obrigada, — eu consegui dizer, observando quando Dancer
apontou a mangueira outra vez, encharcando outra mulher que eu não
conhecia.
— Por que você está molhando todo mundo com essa mangueira?
— Controle de danos, — disse ela, suas palavras enrolando
levemente.
— Controle de danos?
— Sim, as meninas enviaram fotos de nós com os strippers para
os homens. Eu tenho uma dica: Bam Bam, Horse, e Reese estão vindo
acabar com a festa. Acho que quando começamos a passar as mãos em
homens nus aleatórios já era mais que suficiente para esta festa de
despedida de solteira.
— Então você está jogando água em todo mundo todo porque...?
— Porque os caras adoram meninas em camisetas molhadas, —
disse ela, como se a resposta fosse óbvia — Não há um homem vivo que
não deseje ter mulheres juntas em brigas de travesseiro? Seguido por
mulheres com camisetas molhadas como num concurso? Bam tem uma
tara com luta na lama também, mas eu estou pondo um limite aqui -
temos que manter a classe. No momento que os caras chegarem aqui
para reivindicar suas old ladies, nós estaremos prontas para eles. Eu já
paguei os strippers. Se eles forem inteligentes, eles já foram embora.
Uau. Apenas, uau.
— Isso é impressionante, — eu admiti. Ela assentiu com a cabeça
sabiamente, aceitando o meu louvor como o seu justo valor.
— Não é o meu primeiro rodeio, menina.
Jess veio atrás de mim, jogando os braços em volta para um
grande abraço.
~ 201 ~
— Você vai entender esse lance de old lady também, não se
preocupe, — disse ela, despenteando meu cabelo molhado.
Calma aí. Eu não sou uma old lady.
Eu não quero ser. Ainda.
Empurrando Jess, eu me virei para Dancer, mas ela já tinha ido
molhar mais alguém. London estava sumida também. Marie estava por
perto, no entanto.
— Ei, — eu disse, balançando em sua direção.
— Ei, — disse ela de volta, sorrindo como uma idiota. Seus olhos
eram grandes e brilhantes e suas bochechas estavam coradas. Pelo
menos eu não era a única bêbada aqui.
— Eu sou uma old lady agora? — perguntei. Ela piscou.
— O quê?
— Painter me pediu para ser sua namorada, então isso me torna
uma old lady?
Os olhos de Marie se arregalaram. — Painter te pediu isso? Puta
merda. Ei, Soph – Painter perguntou para Mel se ela quer ser sua
namorada!
A old lady de Ruger, Sophie, se virou para nós. Seus longos
cabelos estavam grudados contra sua cabeça e nas costas. Totalmente
encharcados. Ela olhou entre mim e Marie, obviamente surpresa.
— Sério? — perguntou Sophie. — Uau, nunca vi isso
acontecendo. Tipo, ele usou a palavra =namorada‘? Isso é hilário!
Eu fiz uma careta, porque não era realmente engraçado, muito
menos hilário. Não é de se admirar que Painter saia sempre da cidade a
negócios para o clube-
— Ele é um cara muito legal, você sabe, — eu disse, olhando para
elas. Eles olharam uma para a outra e começaram a rir. — Ei!
Eles riram mais alto. Pela primeira vez na minha vida eu refleti
seriamente sobre socar a cara de alguém. T eria feito isso se o mundo
não tivesse começado a girar em torno de mim.
— Desculpe, — Marie finalmente conseguiu dizer. — Eu posso
pensar em mil descrições diferentes para os nossos rapazes, mas =legal =
geralmente não é uma delas. E não, você não é uma old lady ainda - ser
~ 202 ~
old lady de alguém é mais do que ser sua namorada. Isso significa que
todo o clube aceitou você como uma parceira oficial, e eles apoiam o
relacionamento. Talvez você seja uma old lady em algum momento, mas
isso é algo que Painter iria conversar com o clube primeiro.
Sophie assentiu. — Eles têm algum tipo de votação supersecreta
para isso. Ruger nunca me disse nada sobre isso, mas eu acho que
envolve principalmente um anúncio e, em seguida, beber cerveja
juntos. Mas eles não podem nos dizer, você sabe? Tem que manter o
mistério...
— Oh, — eu disse, balançando. Cadeira. Eu precisava de uma
cadeira ou algo assim. Ficar em pé estava muito difícil. Olhei em volta,
vendo uma cadeira dobrável vazia perto da parede. Andei em direção a
ela, caindo como o meu telefone tocou.
PAINTER: O que diabos está acontecendo? Hunter acabou de me
mandou uma mensagem com uma foto de você subindo encima de um
cara pelado.
Oh merda.
EU: Não é o que parece.
PAINTER: Você tem uma mão no peito e outra no pinto dele.
EU: Eu juro, Kit e Jessica armaram para mim. Em também está
envolvida nisso. Kit e Jess juntas são como algum demônio
desagradável maior do que elas mesmas. Elas se reúnem e coisas como
esta acontecem. Acho que precisamos de um desses sacerdotes aqui
para exorcizar essas garotas.
Ele não respondeu de imediato. Finalmente meu telefone tocou
novamente.
PAINTER: Bêbada?
EU: Havia algo na bebida...
PAINTER: Onde você está?
EU: Na casa da Dancer. É uma festa de despedida de solteira.
PAINTER: Entendi. Para sua informação, nunca mais beba o
ponche da Dancer novamente. Vou mandar alguém para pegar você,
ok?
EU: O k
~ 203 ~
— Babe! — Marie gritou, me distraindo. Ela correu para a porta
da frente, pulando para cima e envolvendo suas pernas em torno de um
homem gigante que tinha acabado entrar. Horse era um cara grande -
ainda mais alto do que Painter - e Marie parecia um pequeno macaco
pendurada nele.
Reese entrou olhando toda a cena.
Kit estava sentada no chão, rindo enquanto olhava seu
telefone. Em lhe deu fez um sinal com o polegar enquanto ela terminava
um grande copo de ponche. Jess tinha desaparecido
completamente. Reese caminhou até o aparelho de som e desligou a
música com um toque de seu dedo. Fez-se silêncio, e depois Em deu um
arroto alto.
— Me desculpe, — disse ela, limpando a boca delicadamente com
a parte inferior de sua camisa.
— Caralho meninas, — disse Reese, balançando a cabeça. —
Vocês vão me matar.
— Ei, — London disse, chegando a envolver os braços ao redor
dele. Ela beijou o lado de seu rosto, o que parecia acalmar Reese. Kit se
levantou lentamente, em seguida, caminhou até ficar bem na frente de
seu pai.
— Isto é o que acontece com as pessoas que se casam em segredo,
— disse ela, cutucando um dedo em seu peito. — Não faça isso de novo.
Um sorriso curvou os cantos da boca de Reese. Então ele abaixou
sua mão para dar a bunda de Loni um aperto. Ecaaaaa... Kit e eu
trocamos um olhar, e eu poderia dizer que ela estava pensando
exatamente a mesma coisa que eu. As pessoas mais velhas não
deveriam ter relações sexuais.
— Se eu prometer que não vou casar novamente sem dizer a você,
você vai parar de destruir a vida das pessoas em busca de vingança?
Kit considerou suas palavras com cuidado.
— Eu vou tentar, — disse ela, balançando a cabeça. — Eu
suponho que você esteja perdoado. Desta vez.
— Uau, eu estou tão aliviado ao ouvir isso, — respondeu ele. —
Agora eu não vou ter que chorar até dormir esta noite.
~ 204 ~
PAINTER
Eu precisava desacelerar.
Toda vez que eu pensava sobre Mel e a porra do stripper, eu
aumentava velocidade da minha moto. Não conseguia decidir o que eu
devia fazer primeiro quando chegasse em casa - estrangular as meninas
Hayes ou cortar a garganta do =Sr. Banana‘.
A foto deles juntos estava queimado em meu cérebro. Hunter
enviou para foder comigo, claro. O bastardo ainda me odiava pelo que
eu tinha feito com Em. É justo, porque eu o odiava também.
Quase tanto quanto eu odiava o stripper.
Mas não é bem assim.
A mão dela tinha estado no pinto dele.
Reese tinha me enviado mensagens algumas horas atrás, me
deixando saber que ele tinha saído e deixado Mel na minha casa para a
noite. É bom saber que ela estava a salvo. Eu tinha dormido por um
tempo em Bellingham, mas eu ainda estava bastante esgotado e foi um
maldito longo passeio todo o caminho de volta para Coeur d'Alene. Eu
tinha que ter cuidado, também - deixar o estado sem permissão foi uma
violação da liberdade condicional. Isso significava nenhum excesso de
velocidade... eu nem sequer parei em áreas de descanso, apenas parava
nos estacionamentos quando eu precisava de uma pausa.
A última coisa que eu precisava era de uma violação da
condicional que me colocaria no mesmo estado de uma vítima de
assassinato. Torres deveria ser capaz de me cobrir em casa, mas se um
policial me parasse em Washington, haveria uma papelada que nem
mesmo ele poderia fazer desaparecer. Nunca costumava me preocupar
com essas merdas, mas sabendo que Mel estava quente e esperando na
minha cama? Tudo mudou. E m grande forma.
Eu tinha acabado de passar o aeroporto de Spokane - ainda
estava a uns bons trinta quilômetros da fronteira de Idaho - quando
aconteceu. Eu tinha acelerado sobre o topo da colina para a cidade e
mudei de pista para passar outro carro quando vi as luzes atrás de
mim. Por um instante eu me convenci que eles estavam atrás de
alguém, porque, juro por Deus - eu não tinha feito nada de
errado. Nada.
Então, ele estava bem atrás de mim e estava tudo acabado.
~ 205 ~
Eu parei e esperei o policial...
Porra.
* * *
— Boa noite senhor. Você sabe por que eu o parei?
— Não - eu não estava em alta velocidade, — disse eu, tentando
descobrir como uma mulher que tinha um metro e meio, no máximo,
teve a coragem de parar um motoqueiro com dobro do tamanho
dela. Ela era uma gracinha, embora fosse difícil de distinguir muito de
sua roupa o que eu assumi que era um colete à prova de balas.
— Você não sinalizou quando você estava passando a minivan
branca, — disse ela.
De maneira nenhuma. Eu tinha sinalizado... a cadela estava
brincando comigo? Seu rosto estava sério, em branco. Eu não tive essa
vibe hostil que eu recebo de tantos policiais do sexo masculino, no
entanto. Provavelmente uma parada informativa. Ainda assim, isso ia
complicar as coisas se eles me tomarem como suspeito na situação com
Hands.
Mas quais eram as chances? Os únicos que sabiam eram os meus
irmãos Reapers, e se os Nighthawks descobrissem, os policiais seriam a
menor das minhas preocupações.
— Eu não duvido do que você está dizendo, mas eu tenho certeza
que eu sinalizei, — eu disse, dando a ela um sorriso agradável enquanto
eu entregava os meus documentos. — Talvez haja um problema com a
moto.
Ela sorriu de volta - legal. Mordeu a isca. Pode ser uma deixa para
eu voltar para o meu caminho...
— É possível. Você gostaria que eu olhasse enquanto você testa as
luzes?
— Isso seria ótimo, — eu disse a ela. — Obrigado.
— Claro, — disse ela, dando um passo para trás. Me virei na moto
e liguei o sinal.
— Está ligado.
~ 206 ~
— Não é bom, — respondeu ela, sacudindo a cabeça. — Não está
funcionando. Eu preciso registrar na sua licença e seu registro. Por
favor, fique sentado na moto com as mãos no guidão enquanto você
espera.
Puta que pariu - deve ter queimado um fusível. Eu assisti um
carro ocasional passar enquanto ela conferia minha licença, me dizendo
que eu iria levar uma multa. Levou uns bons dez minutos antes dela
voltar, sua expressão mais fria desta vez.
— Senhor. Brooks, aqui diz que você está sob supervisão, — disse
ela. — Seu oficial de condicional está ciente de que você está fora do
estado?
— Sim, — eu menti. Se alguém ligasse para Torres, ele iria
confirmar. Claro, sua recompensa teria que aumentar - este é o custo
de fazer negócios.
— Eu vou te deixar com um aviso. Mas eu não quero que você
pilote por mais tempo esta noite sem luzes.
— Tem que ser um fusível, — eu disse a ela. — Eu tenho alguns
extras. Se estiver tudo bem com você, eu provavelmente posso trocá-lo
muito rápido.
— Parece bom, — disse ela. — Eu vou segurar uma luz para você.
Com certeza, o fusível tinha explodido. Trocá-lo foi fácil e dez
minutos depois eu estava no caminho de casa novamente.
Voltando para Melanie.
MELANIE
A primeira luz do amanhecer tinha infiltrado através das janelas
quando eu acordei. Levei um minuto para descobrir onde eu estava - na
cama de Painter. Cheirava bem. Como ele. Eu sorri, rolando para o lado
enquanto eu me esticava.
Reese tinha me dado uma carona ontem à noite, juntamente com
Kit, Em, Jess e London. Ele tinha ficado irritado como o inferno, embora
estivesse claro que eu não era o seu alvo. Nem Loni - ele tinha dado
~ 207 ~
uma olhada em seus peitos com a camisa molhada e tudo foi
perdoado. (Dancer era um gênio). Ele tinha me dado uma carona para a
casa de Painter, abrindo a porta para garantir que eu estivesse sã e
salva antes de ir para a casa de Jessica.
Minhas roupas estavam encharcadas, então eu tinha trocado
para uma camisa de Painter para dormir. Porque ser uma stalker, eu
peguei uma que ele tinha pendurado na parte de trás da porta do
banheiro. Cheirava a ele, o que me fez sentir quente e segura.
Pelo menos, essa foi a minha lógica bêbada ontem à noite.
Agora eu notei que havia listras pretas e gordurosas em meus
braços. Elas estavam por toda a cama também, e meu estômago se
contraiu em um nó.
Talvez a camisa suja tinha sido pendurado para que ela não
tocasse em qualquer outra coisa... oopsie.
A porta do quarto se abriu e eu olhei para cima para encontrar
Painter me observando. Merda, ele tinha hematomas desagradáveis sob
ambos os seus olhos, e seu nariz parecia um pouco fora dos eixos. Ele
entrou em uma briga?
— Você está bem? — perguntei, me esquecendo da bagunça
gordurosa enquanto eu caminhava até ele. Ele me puxou para os seus
braços e, em seguida, sua boca cobriu a minha, a língua mergulhando
profundamente. Não era um beijo doce. Nem um pouco - esta era uma
marca, um lembrete de que, mesmo quando estávamos separados eu
ainda pertencia a ele. Em seguida, suas mãos estavam na minha bunda
e minhas pernas estavam envolvendo em torno de sua cintura. Ele se
virou, me empurrando contra a parede enquanto seus quadris moíam
em mim.
Eu nunca tinha ficado excitada tão rápido - claramente meu
corpo o reconheceu e queria dar as boas-vindas. Ainda bem, porque ele
puxou seus quadris para trás apenas o suficiente para soltar a
braguilha, e então ele estava enfiando no fundo, tão duro e rápido que
pairava entre o prazer e a dor. Então ele foi mais fundo e eu ofeguei,
agarrando seus ombros para me equilibrar.
— Jesus, Mel, — ele suspirou, puxando sua cabeça para trás. —
Eu gosto de ver você na minha casa, vestindo minha camisa.
Eu abri minha boca para me desculpar pela bagunça na cama,
mas ele girou seus quadris, moendo dentro de mim e eu esqueci tudo
~ 208 ~
sobre ele. Seus quadris giraram novamente, empurrando seu osso
pélvico duro contra o meu clitóris, e eu gemi. Oh, Deus. Como poderia
uma menina parar para pensar nestas circunstâncias?
Depois de uma eternidade e que não parecia muito, Painter
começou a aprofundar seus golpes, atingindo novos lugares dentro de
mim. A tensão crescia, mais rápido e mais forte do que nunca. Em
algum lugar no fundo da minha mente, eu estava ciente dos pássaros
cantando, do cheiro do café, e o fato de que eu estava uma bagunça
gordurosa de sua camisa e logo ele estaria também.
Nada disso importava, no entanto.
Tudo o que importava era o fato de que eu estava perto - tão
perto - de quebrar em mil pedaços. Eu peguei a parte de trás de sua
cabeça, puxando sua boca até a mina para outro beijo. Sua língua
mergulhou profundamente novamente e todo o meu corpo se apertou,
pairando no limite.
Em seguida, ele puxou de volta antes de me encher novamente,
seguido por uma moagem dura que me jogou diretamente para o meu
limite. Eu fiquei rígida e estremeci quando ondas de liberação explosivas
caíram através de mim.
Painter se afastou de mim e então eu senti o jorro quente bater
em minhas coxas.
Ficamos assim por um minuto, tentando recuperar o fôlego. Então
ele se virou e me levou para o colchão, me abaixando e me cobrindo
com seu corpo. Minhas pernas ainda estavam enroladas na sua cintura
enquanto ele olhava para baixo, tocando o meu rosto suavemente com
um dedo. Então ele se levantou, mostrando um traço de preto sujo.
— Mel?
— Sim?
— Alguma razão especial porque você está coberta de óleo de
motor?
Mordi o lábio, oferecendo um sorriso suave.
— Festa de despedida de solteira, — eu sussurrei suavemente. —
Elas lambuzaram aqueles strippers de óleo, sabe? Alguma razão
especial para você ter grandes contusões desagradáveis por todo o seu
rosto?
~ 209 ~
— Festa de despedida de solteiro, — ele sussurrou de volta. — Eu
fico muito irritado quando eu vejo a mão da minha menina no pau de
outro cara. Então eu meio que colidi com uma parede.
— Você sabe que eu não toquei naquele cara de propósito, certo?
— perguntei. — Quero dizer, ele era muito nojento.
— Fico feliz em ouvir isso, — resmungou Painter, então me
beijou. Eu esqueci tudo sobre os strippers.
* * *
Uma hora mais tarde, eu tinha gozado mais duas vezes, uma vez
com ele me chupando e outra quando ele me fodeu por trás, tocando o
meu clitóris.
Agora nós estávamos abraçados, nus e cobertos de marcas de óleo
preto que pareciam não incomodá-lo nem um pouco, então eu decidi
que não iria deixá-las me incomodar também. Eu segui o meu dedo
através das marcas em seu peito, vendo que um lado tinha sido
escurecido por uma contusão.
— Como foi a viagem? — perguntei. Ele franziu a testa.
— Eu não posso falar sobre os de negócios do clube, Mel.
Revirei os olhos. — Como se eu me preocupasse com os
detalhes? Eu só queria saber se as coisas correram bem, apesar destas
marcas em cima de você. Você sabe, porque eu me importo com você?
Seu rosto se suavizou.
— Desculpa. Eu acho que foi tudo bem, mas ainda foi uma merda
porque eu não estava aqui com você. As contusões são por causa de
uma briguinha estúpida, não significa nada, então não se preocupe com
isso. Eu fui parado por um policial em Washington, no entanto. A luz do
pisca não estava funcionando direito.
— Isso não é bom, — eu disse, franzindo o nariz. — Foi uma
multa cara?
— Sim e não, — disse ele, se inclinando para beijar meu
pescoço. — Eu saí com um aviso - apenas um fusível estourado e eu fui
capaz de trocar no local. Mas tecnicamente é uma violação da liberdade
~ 210 ~
condicional. Eu tenho um entendimento com o meu Oficial, mas ele
provavelmente vai me dar uma bronca por ter que cobrir o meu
rabo. Talvez alguns dias na cadeia do condado. Nada demais.
Sua língua sacudiu para fora, traçando minha clavícula, mas eu o
empurrei de volta - precisávamos falar sobre este negócio de cadeia.
— Como assim, ele pode simplesmente trancar você de novo?
Painter suspirou, em seguida, rolou de cima de mim para olhar
para o teto. Me virei do meu lado, olhando-o com cuidado.
— O juiz ordenou até trinta dias de prisão arbitrária no caso de
eu sair da linha, — disse ele, sua voz cuidadosa. — Meu Oficial pode
usá-lo sempre que ele quiser. Mas eles não podem me mandar de volta
para a prisão sem uma audiência do conselho de liberdade condicional.
A cadeia é tranquila de se levar.
Olhei para ele, atordoada.
— Você acha que ir para a cadeia é fácil?
— Comparado com o tempo que eu deveria cumprir na
prisão? Não é nada. Eu ainda tenho dois anos para cumprir, Mel.
As palavras me atingiram como um golpe.
— Dois anos? — eu sussurrei. — Eles poderiam te enviar de
volta por dois anos?
— Babe, eu poderia ser assassinado por ninjas também, — ele
disse com uma risada. — Não significa que vai acontecer. O clube tem
uma grande influência no departamento de liberdade condicional aqui
na cidade - com as minhas condições eu seria solto rápido. Eu não
deveria ter deixado o estado, mas cabe ao Oficial quando ou como eu
serei punido por isso. Nós o temos na folha de pagamento. Confie em
mim, vai ficar tudo bem.
Olhei para ele, perguntando o que estava acontecendo na cabeça
dele, porque nada disso fazia sentido para mim.
— Então, a única coisa entre você e a prisão é um cara? E se você
irritá-lo? Será que realmente vale o risco estar viajando quando você
tem uma espada pairando sobre sua cabeça?
Ele estremeceu e começou a esfregar o queixo. Ele começou a
esfregar a nunca e por um instante eu senti minha atenção vagar. Eu
~ 211 ~
queria tocá-lo. Talvez esfregar meu rosto contra ele... Chupá-lo. Porra
Mel, isso não é o recreio.
— Isto é tudo novo para mim, — disse ele, com uma mão em
minha bochecha. — Eu nunca me preocupei realmente com o risco de
ser pego antes.
— Você nunca se preocupou em ir para a cadeia?
— Prisão. A cadeia é para sentenças com menos de um ano, a
prisão é por mais tempo - um termo fodido.
— Você não respondeu a minha pergunta, — eu rebati. — Se você
não quer falar a verdade, então não fale. Mas não faça joguinhos
comigo.
— Ok, você quer a verdade? Estive dentro e fora de reformatórios,
cadeias e prisões desde que eu tinha doze anos. É o que é - você joga o
jogo, às vezes você perde. Eu não vou deixar a minha vida inteira para
trás e ficar refém do conselho de liberdade condicional.
Me sentei, olhando para ele. — Está falando serio? Você não se
importa em ficar na prisão? Painter, você é esperto, divertido e um
artista incrível, então por que você está vivendo assim se você não
precisa? Por força do hábito?
Ele se sentou também, olhando de volta para mim.
— Você não tem direito a uma opinião. Esta é a minha vida e eu
vou fazer o que tenho de fazer, pelo meu clube. Só porque eu te amo
não significa que você tem um voto. Eu e meus irmãos votamos. Old
ladies ouvem e fazem o que a gente manda.
Nós piscamos um para o outro, suas palavras caindo entre nós
como granadas carregadas. Tantas coisas naquela frase. Eu não podia
decidir se eu estava chateada ou...
— Você me ama? — eu perguntei lentamente, inclinando a
cabeça.
— Sim, eu amo, — disse ele, ainda alarmado. — Você é tudo que
eu penso e você está na minha cama - e eu não sou assim, Mel. Eu não
faço merdas assim. Vou falar para Pic sobre você, levá-la para o
clube. Eu quero que você seja minha old lady.
Eu não conseguia pensar no que dizer - ele me pegou totalmente
desprevenida - então eu cuspi a primeira coisa que veio à minha mente.
~ 212 ~
— Mas eu não sou velha 10.
Painter deu um sorriso relutante, estendendo a mão para o meu
peito, aprisionando meu mamilo no processo. Engoli em seco quando
sua mão deslizou mais baixo entre as minhas pernas.
— Você não é sempre uma dama também, — ele sussurrou, se
movendo em mim. — Mas você é minha. Isso é tudo o que importa,
certo? Me deixe preocupar com o resto.
Em seguida, ele estava em cima de mim de novo e meu cérebro
desligou.
Eu nunca nem reparei como ele finalizou as questões
prisionais. Isso é como ele era bom.
PAINTER
Eu fui até o Arsenal pouco antes das seis naquela noite. Pic tinha
chamado a todos para uma reunião para discutir a situação em Hallies
Falls e obter uma atualização sobre Hands. Retirando meu celular, eu o
deixei cair sobre o balcão antes de me dirigir para a Capela. Todos os
irmãos estavam lá, até mesmo Duck. Ele havia tido problemas de saúde
com suas articulações - Ruger me disse baixinho que eles estavam
preocupados que ele poderia não ser capaz de montar por muito mais
tempo.
Ele sempre seria um irmão independentemente, mas quando um
homem para de montar a sua moto, ele normalmente não vive muito
tempo depois.
— Pegue uma cadeira, — Pic disse, apontando para um ponto no
centro que tinha deixado aberto para mim. Normalmente eu tento ficar
para trás, mas vendo como Pic convocou a reunião para discutir o que
aconteceu no fim de semana, eu esperava ter um monte para falar. —
Então, Painter tem um relatório completo para nós - vamos começar
com os Nighthawks e depois passar para a outra questão. Está com
você agora, irmão. Bem-vindo de volta à nossa casa.
10 Ela responde velha se referindo ao termo utilizado old lady, que significa velha
senhora no sentido literal.
~ 213 ~
Eu dei a ele um aceno com o queixo, em seguida, contei a
história.
— Gage está fazendo um bom progresso, — eu disse a eles. —
Marsh - que é o presidente - tem uma irmã que é fodida da cabeça. E o
relacionamento deles como irmãos é estranho. De qualquer forma, a
irmã - Talia - que está saindo com Gage, foi quem nos fez um convite
para uma festa lá.
— Como é essa Talia? — perguntou Horse.
— Ela é uma cadela total, — eu disse a ele. — Mas ela é mais
gostosa do que o inferno. Gage não gosta dela, mas pelo menos ele pode
fodê-la sem um saco sobre a cabeça.
Duck deu uma risada. — Ele sempre gostou das selvagens.
— Sim, bem, eu não acho que ele vai muito longe, não mais do
que ele precisa. Em uma nota mais grave, porém, as coisas não são
boas nesse clube. Eles estão divididos ao meio entre as pessoas de
Marsh e os irmãos mais velhos - os que vieram antes de Marsh
assumir. Eu tenho a impressão de que Marsh estava nos escoltando,
como se ele tivesse um trabalho para nós.
Horse e Ruger trocaram um olhar, e vi rostos surpresos ao redor
da mesa.
— Oh, isso fica ainda pior, — eu continuei. — Os prospectos são
ridículos. Eles estão recrutando bem rápido. Conheci um garoto que
nem sequer possui uma moto ainda.
— Porra, — Duck resmungou. — Nós não podemos deixar isso
acontecer.
Difícil de argumentar com isso.
— Sim, — eu concordei. — Mas nós queremos ter cuidado no
momento - não podemos deixar toda rede cair enquanto nós cortamos a
cabeça
— Justo, — disse Pic, se inclinando na cadeira. Ele cruzou os
braços, o rosto cada vez mais grave. — Portanto, agora que nós
descobrimos isso, vamos falar sobre a questão real. Nos conte sobre o
rato.
~ 214 ~
— Ele era um cara chamado Hands, — eu disse. Bolt se sentou
abruptamente quando nossos olhos se encontraram do outro lado da
mesa.
— O mesmo Hands que armou para Bolt? — perguntou Ruger,
sua voz fria.
— Sim, — eu disse, minha voz sombria. — Pelo menos de acordo
com Gage. Essa merda aconteceu enquanto eu estava fora. Nós vimos
ele na festa. Eu consegui nocauteá-lo no que pareceu ser um acidente,
e, em seguida, eu ajudei um dos prospectos a transportá-lo para
casa. Ele nunca pôs os olhos em Gage, e não teve oportunidade de
avisar a Marsh.
— Você deveria ter me ligado, — Bolt disse, sua voz fria.
— Gage disse que não poderia arriscar uma ligação, não quando
nós planejamos acabar com ele, — eu disse sem rodeios. Eu não
mencionei a parte sobre Bolt perder a cabeça.
— Você acha que eles suspeitam que você armou pra ele? —
perguntou Pic. Eu balancei minha cabeça.
— De jeito nenhum - pareceu como se um dos prospectos tivesse
me dado uma carona. Não só isso, eu tenho uma testemunha de que ele
estava são e salvo dormindo quando o deixei. Não acho que vai ser um
problema. De qualquer forma, voltamos depois da festa e peguei ele,
então eu o levei para Bellingham em um carro que Gage conseguiu em
algum lugar. Eles o interrogaram lá.
Bolt estreitou os olhos.
— Rollins? — perguntou.
— Rollins, — eu confirmei. Bolt sorriu lentamente, um sorriso tão
sombrio que eu mal podia sustentar seu olhar.
— Aposto que foi feio.
— Sim, — eu disse a ele. — Foi muito ruim. Lamento que não
pudemos te ligar, irmão, mas eu te prometo isso - nós cuidamos dele
para você. Hands não falou de primeira. Acho que ele ainda tinha
esperança de que ele poderia sair vivo desde que ele protegeu a
informação. Depois de algumas horas, fiz uma pausa para dormir um
pouco. Eventualmente, ele quebrou, e eles me acordaram para que eu
pudesse ouvir o que ele tinha a dizer.
~ 215 ~
— E?
— Bem, ele está alimentando as informações aos federais sobre os
clubes da região, — disse eu. — Aparentemente, isso não é informação
nova. Ele está trabalhando com Marsh.
— Marsh sabia o que ele estava fazendo?
— Acho que sim, — eu disse. — Não tenho certeza do quanto
Marsh confia nele, mas ele sabe que Hands é um delator. A real questão
é se Marsh está usando ele ou ele está usando Marsh.
Ou estava usando Marsh... Rollins acabou com ele, não muito depois
disso.
Pic acenou com a cabeça, pensativo. — Rance cuidou da
bagunça?
— Ele cuidou de tudo, — eu disse. — Eles me deram uma carona
para Hallies Falls para que eu pudesse pegar minha moto, e então eu
voltei para casa. Falando nisso, eu tive uma complicação.
— O quê? — perguntou Pic, franzindo a testa.
— Um fusível queimado me complicou quando eu estava voltando,
— eu admiti. Todos olharam para mim, então Ruger deu um pequeno
bufo. Horse riu abertamente, e eu vi sorrisos em volta da
mesa. Fodidos.
— Você recebe uma multa? — perguntou piquenique.
— Não, só um aviso. Ela ainda segurou uma lanterna para eu
troc...
— Ela? — perguntou Duck, sorrindo. — Então, nas últimas vinte
quatro horas, você sequestrou e ajudou a assassinar um rapaz,
atravessou o estado duas vezes... e você foi quase preso por não dar
seta por uma garota policial? Cristo, Painter. Só você.
Me virei pra ele.
— Então ela me deu um aviso - vou ter que compartilhar isso com
Torres na próxima vez que eu for lá, eu acho.
— É melhor, — Picnic disse, franzindo a testa. — Ele
provavelmente vai te jogar na cadeia por alguns dias por estar fora do
estado, porque se souberem que você deixou Idaho e ele não fez nada,
vão começar a vigiá-lo. Não podemos permitir esse tipo de atenção.
~ 216 ~
— Não é grande coisa. — eu dei de ombros.
— Outras perguntas para Painter? — Pic perguntou para a mesa
em geral.
— A policial era gostosa? — perguntou Horse, sorrindo para
mim. — Ela te deu uma revista completa lá embaixo?
— Quaisquer outras reais perguntas para Painter? Não? Ok, então
isso é tudo por agora, a menos que alguém tenha mais alguma coisa
para levar para a mesa.
Era isso, eu percebi. Hora de falar sobre Mel. Porra, eles iam me
zoar tanto...
— Eu tenho uma coisa.
Pic levantou uma sobrancelha. — Matar um cara não foi o
suficiente para você?
Eu dei de ombros. — Tem sido um par de dias ocupados. Sério -
eu quero falar sobre Melanie.
O silêncio caiu sobre a mesa. Olhei para encontrar o grande
sorriso de Duck para mim.
— Então, eu quero que ela seja minha old lady, — eu disse,
observando o rosto de Pic. Se alguém me desse problemas, seria ele.
— Tem certeza? — perguntou Pic. — Ela é uma boa garota, mas
ela não conhece realmente a nossa vida. Talvez seja melhor dará a ela
um pouco mais de tempo primeiro. Isso está acontecendo rápido
demais.
— Mas isso não aconteceu rápido, — eu o lembrei. — Eu a
conheço há mais de um ano e nós escrevemos cartas o tempo todo. Ela
é bonita, inteligente - todo o pacote. Vou ficar com ela.
Pic olhou em volta, e eu esperei alguém dizer alguma coisa.
— Eu gosto dela, e não é como se fosse uma grande surpresa, —
disse Ruger. — Quero dizer, ela ficou com seu carro por um maldito
ano. Ela fez dele a putinha domesticada dela à distância - isso precisa
de um certo talento.
Horse riu, e eu respirei fundo, me perguntando quanto tempo eles
estariam arrastando isto.
~ 217 ~
— Ela provavelmente vai ser boa para ele, — Bolt disse mais a
sério. — Você é inteligente, Painter, mas você está sendo
imprudente. Você não pode fazer nada para o clube na prisão - talvez
ter uma old lady irá motivá-lo a ser mais cuidadoso. Lhe daria algo a
perder.
Ele sabia - ele tinha perdido sua mulher, Maggs, por um
tempo. Eles estavam de volta agora, mas não tinha sido fácil.
— É um bom ponto, — disse Pic. — Você pode achar que é
imbatível, mas você não é. Não faria mal se você fosse um pouco mais
cuidadoso. Está bom para mim.
— Agora, o que, um abraço coletivo? — perguntou Horse,
revirando os olhos. — Aproveite a sua menina, tente não quebrá-la. Eu
não acho que você deve reivindicá-la ainda, lhe dê algum tempo para se
adaptar. Se acostumar a todos nós. Salve vocês dois de um monte de
problemas.
— Ele está certo, — disse Pic. Eu fiz uma careta, não gostando
onde isso estava indo. — Seria provavelmente melhor se você for
devagar. Eu sei que isso é só da sua conta, mas se você se importa com
ela, você vai dar a ela tempo para se ajustar. Qualquer outro assunto?
Ninguém falou, então ele levantou o martelo, batendo na mesa
com um ruído afiado.
— Fantástico. Vamos sair daqui. Loni tem o jantar me esperando
em casa e eu estou com fome. Não só isso, Kit vai ficar na casa de um
amigo esta noite, o que significa que eu vou finalmente conseguir algum
tempo a sós com ela. A menina do mal está em casa há uma semana,
mas parece que é um ano. Painter?
— Sim? — eu disse.
— Espero que você e Mel vivam felizes para sempre e toda essa
merda, mas não tenham filhas. Isso vale para todos vocês - nada de
filhas neste clube. Eu não posso lidar com isso.
— Ela nunca mais vai voltar para Vancouver? — perguntou
Duck. Pic deu de ombros.
— Não sei, — admitiu. — Ela disse que todas as suas aulas são
on-line neste semestre. Eu acho que há alguma merda acontecendo e
ela não me contou sobre isso e eu não vou perguntar. Ela tem visto
bastante aquele cowboy. Aquele que o touro pisou em cima e quase o
matou.
~ 218 ~
— Qual é a história aí? — perguntei. — Ela está com ele ou algo
assim?
— O inferno se eu sei. Duvido mesmo que até ela mesma
saiba. Tanto faz. Pelo menos o cara ainda está vivo. Agora, se vocês não
se importam, eu quero ir. Loni fez bolinhos, e se eles estiverem frios no
momento em que eu chegar em casa, eu vou matar um de vocês. Eu
vou deixar vocês decidirem quem.
Duck bufou, e era isso.
~ 219 ~
Capítulo
14
UM MÊS DEPOIS
PAINTER: Quer me encontrar para jantar?
MEL: Claro
PAINTER: Minha casa - eu vou comprar se você cozinhar.
MEL: Então você não quer se encontrar para jantar a menos que
eu cozinhe para você.
PAINTER: Não - quero transar com você, também. Viu? Muito
mais do que comer.
MEL: Indivíduo complicado!
PAINTER: Pode apostar. Te vejo na minha casa
MELANIE
— Painter nunca saiu com ninguém por mais de uma semana,
muito menos um mês, — Em disse no meu ouvido. Eu estava do lado de
fora de seu apartamento, segurando o telefone apoiado contra meu
ombro enquanto buscava a chave na minha bolsa. — Eu acho que ele
fala realmente sério sobre você.
— Ele age como se fosse sério, — eu disse. — Ele ainda diz que
me ama, mas ele nunca mencionou nada sobre eu ser sua old lady ou
qualquer coisa. E ele não me diz onde ele está indo ou quando ele sai
em viagens, apenas diz que são negócios do clube, como eu se eu
devesse saber o que isso significa.
Meus dedos encontraram algo sólido e pontudo. Ha! Eu puxei
meu chaveiro triunfante.
— Eu continuo esquecendo o quanto você não sabe sobre a vida
do clube, — Em respondeu, suspirando. — Eles não falam sobre seus
~ 220 ~
negócios. Nunca. É apenas a maneira que é, e não algo pessoal que
tenha a ver com você.
— Nunca? — perguntei, achando isso difícil de acreditar. — Mas e
sobre você e Hunter? Você quer dizer que ele viaja o tempo todo e você
não tem ideia de pra onde?
— Isso é... uma coisa complicada, — disse ela lentamente. —
Vamos falar hipoteticamente. As mulheres não devem saber essas
coisas. Nós devemos ser boas old ladies, apoiar nossos homens e
apenas confiar que eles sabem o que estão fazendo e que eles têm
nossos melhores interesses no coração. Na realidade, eu acho que um
monte de caras conversam com suas mulheres - certeza que minha mãe
estava a par da maioria dos negócios do clube, apesar de eu não saber
sobre Loni. Quanto eles compartilham depende da relação e como ela
está envolvida com a vida do clube. Considerando isso, você realmente
quer estar em uma posição onde você teria que testemunhar contra
Painter?
— Droga. Nunca pensei nisso.
É evidente que eu nunca tinha pensado em um monte de
coisas. Abrindo a porta, eu andei através do estúdio para as escadas
que levam para cima.
— Bem, mantenha isso em mente, — disse ela. — A menos que
você seja casada, eles podem obrigar você a testemunhar. Você poderia
mentir para protegê-lo - é o que se espera de uma old lady, por sinal,
mas não seria melhor se você realmente não soubesse de nada? Dessa
forma, eles não podem forçá-la a prejudicá-lo.
— Isso nunca te incomodou?
Ela riu.
— Resuma pra mim - o que nunca me preocupou?
— O fato de que você pode ter que mentir para proteger Hunter?
— Não, tenho certeza que crescer nesta vida ajuda, mas eu confio
em tudo o que Hunter faz, ele tem uma boa razão para fazer isso. Eu
aprendi a confiar em seus irmãos também, o que significa que, quando
ele recebe um telefonema no meio da noite de um deles, eu sei que é
importante. Mas eu saber todos os detalhes só poderia machucá-lo, e eu
quero que ele fique seguro. Viu como funciona?
~ 221 ~
— Eu confio em Painter, — eu disse lentamente. — Mas eu não
tenho certeza se eu confio no clube. Sinto muito - eu sei que nós
estamos falando sobre o mundo de seu pai aqui, mas isso é realmente
estranho para mim. Eu continuo me sentindo como se eu tivesse que
desligar um pedaço do meu cérebro para estar com Painter.
— Você não tem que desligar seu cérebro. Você só precisa saber o
que é realmente importante, e como ajustar as coisas que não são.
— Espere - você não pode me dizer que o seu homem
desaparecendo no meio da noite e não te ligando por dias não é
importante.
— É claro que é importante, — disse ela com uma risada. —
Quando Hunter viaja, eu me preocupo com ele. Eu penso sobre ele e eu
sinto falta dele. O que eu não faço é gastar muito tempo tentando
descobrir o que ele está fazendo, porque nada de bom pode vir
disso. Em vez disso, eu coloco a minha energia nas coisas que
importam. Meu trabalho. Cuidar das coisas de casa. As pessoas sempre
falam sobre como os caras em clubes estão no controle, mas eu pago
todas as contas e controlo o nosso dinheiro. Ele não tem tempo.
Larguei minha bolsa sobre a mesa, em seguida, entrei no quarto
de Painter. Minha camisa favorita - sem o óleo de motor neste momento
- estava do lado de fora e estava esperando por mim. Ao longo das
últimas semanas, eu aprendi que me vestir com suas roupas era um
grande gesto - por Painter. Isso funcionava, porque era uma coisa boa.
— É muito no que pensar, — eu disse para Em — Mas eu deveria
ir - ele estará aqui em breve, e eu quero ficar pronta.
— Divirta-se, — disse ela com um sorriso cúmplice. — E se
proteja. Eu não tenho certeza se eu poderia lidar com um mini Painter
correndo por aí.
— Retire o que disse, — eu assobiei. — Deus, você pode
imaginar? Eu nem tenho 21 ainda. Ficar grávida seria péssimo.
Ela não respondeu de imediato, e eu fiz uma careta. — Em?
— Ei, desculpe, — disse ela. — Eu apenas me distraí. Tenha um
bom tempo com Painter esta noite, ok? E não se preocupe com coisas
que você não pode mudar. O clube é o que é. Na superfície, eles às vezes
não parecem tão bons assim, mas com o tempo eu acho que você vai vir
a apreciar tê-los atrás de você. Tchau!
— Tchau.
~ 222 ~
Liguei uma música e, em seguida, tirei minha roupa para que eu
pudesse vestir sua camisa. Ela ficava grande em mim - quase como um
vestido. Visões encheram minha cabeça, eu cozinhando enquanto ele
vinha por trás, pegando o tecido, lentamente elevando-o... oh,
bom. Muito bom.
A porta bateu lá embaixo.
— Mel, você até aqui?
Apressei meu passo para fora do quarto, mas parei
imediatamente. Painter estava carregando um grande buquê de rosas
vermelhas. Tipo assim, enorme. Meus olhos se arregalaram.
— Tivemos um bom dia hoje, — disse ele, sorrindo para mim. —
Guy me chamou - um cliente para customização da Bay Area. Ele quer
um retrato em tamanho real de sua moto e ele me ofereceu a porra de
uma fortuna para fazer isso. Mas isso não é mesmo a melhor parte. Ele
é dono de uma galeria. Diz que ele poderia estar interessado em fazer
uma exposição do meu trabalho. Estive correndo esta tarde comprando
material.
— Sério? — eu gritei. — Oh meu Deus, isso é incrível! Eu estou
tão feliz por você.
Eu corri para abraçá-lo, quase derrubando-o no processo. Os
mantimentos e as rosas caíram no chão quando ele me beijou com força
e profundidade.
— O quarto? — eu sussurrei quando ele finalmente me deu uma
pausa.
— Comida, — disse ele, oferecendo um sorriso triste. — Hoje foi
louco, e no fim, meu telefone ficou sem bateria e eu não pude enviar
mensagens para você - eu não comi nada além de um donut no café da
manhã.
Suspirando, dei um passo atrás, porque o homem realmente
merecia comer. As rosas chamaram minha atenção.
— Você não tem por acaso um vaso ou qualquer coisa, não é? —
eu disse timidamente, pegando-as. Não houve muito dano por causa da
queda - um par de pétalas caídas aqui e ali...
— O que faz você pensar que elas são para você?
Eu congelei. — Sinto muito - eu pensei que-
~ 223 ~
Ele começou a rir, então pegou meu rosto em suas mãos
grandes. — É claro que eles são para você.
Então ele me deu um beijo suave, doce.
— Eu vou me trocar, — disse ele. — Há ingredientes para tacos na
sacola. Acho que eu lembrei de tudo...
* * *
Sabe aqueles raros momentos na vida em que tudo é perfeito? A
primeira metade da noite foi um daqueles belos momentos... não há
nenhuma maneira real para descrevê-lo, porque nada de especial
aconteceu. Jantamos juntos e depois ele me levou para o estúdio para
que ele pudesse me esboçar em sua camisa e nada mais. Naturalmente
que levou a outras coisas, e nós estávamos apenas começando a parte
boa quando alguém bateu na porta.
— Merda, — Painter murmurou, estendendo a mão para suas
calças. Ele me jogou um lençol que ele usou como um pano e eu o puxei
sobre a minha metade nua enquanto eu caminhava até a porta. — Sim?
— Sou Kandace Evans, — uma voz de mulher ecoou. — Eu sou
sua nova oficial de condicional. Por favor, abra a porta.
— Eu pensei que o seu agente de condicional era um cara, — eu
sussurrei.
Painter franziu a testa. — Era. Esteja pronta para ligar para Pic,
ok? Eu tenho um mau pressentimento sobre isso.
Ele passou a mão pelos cabelos, em seguida, olhou pelo olho
mágico.
— Eu estou abrindo a porta, — ele anunciou, girando a
maçaneta. Uma mulher alta com cabelo escuro puxado para trás de sua
cabeça esperava do lado de fora. Atrás dela estavam dois policiais. O
olhar em seu rosto não era amigável.
— Levi Brooks? — ela perguntou, olhando-o de cima a
baixo. Painter cruzou os braços sobre o peito nu.
— Eu sou Levi.
Ela olhou ao seu redor para olhar para mim. — E ela?
~ 224 ~
— Melanie Tucker. Minha namorada.
Ela entrou, me encarando.
— O que você está escondendo sob o lençol?
Tossi, desviando o olhar. — Hum...
— Ela está nua, — Painter disse sem rodeios. — Você nos pegou
no meio de alguma coisa. Eu não conheço você. Onde está Torres?
A mulher se virou para ele, sem expressão.
— Chris Torres está de licença administrativa enquanto se
aguarda uma investigação mais aprofundada.
— Por quê? — perguntou Painter, franzindo a testa. Isso não
poderia ser uma boa notícia para ele... merda. Eu precisava me vestir e
encontrar o meu telefone. Ligar para Reese. Havia algo seriamente
fodido acontecendo aqui.
— Ele e outros quatro foram acusados de aceitar subornos,
incluindo o seu supervisor, — ela disse, a voz fria. — Seus arquivos
foram realocados para mim. Eu revi o seu, e é muito claro que ele está
facilitando as coisas para você. Onde você estava esta manhã, Sr.
Brooks? Por volta de onze horas?
— Trabalhando.
— Não, você não estava, — disse ela, e eu peguei uma dica de
triunfo em sua voz. — Eu chequei. E você mentiu para mim sobre isso -
isso é uma violação da liberdade condicional. Sua segunda violação,
porque de acordo com seu arquivo, você foi pego fora do estado sem
permissão, e Torres não te enviou para a cadeia no fim de semana. Você
estará por mais do que alguns dias nela desta vez. Eu ainda tenho
quase um mês de tempo de detenção e eu pretendo usá-lo. Agora. Os
oficiais estão aqui para levá-lo sob custódia.
— Você vai levá-lo embora? — perguntei, atordoada. — Você não
pode simplesmente fazer isso - ele estava trabalhando, ele simplesmente
não estava na loja. Ele estava comprando materiais para um trabalho.
— Liberdade Condicional é um privilégio, não um direito, — ela
respondeu, a voz presunçosa e satisfeita. — Os Reapers se mantiveram
acima da lei por muito tempo. Já é hora disso ter um fim, começando
com o Sr. Brooks. Nós vamos fazer uma revista em todo o apartamento
também. Você vai precisar sair.
~ 225 ~
— Mas... — eu olhei para Painter, me sentindo quase em pânico.
— Ligue para Picnic, — disse ele, a voz firme e reconfortante. —
Ele vai ter tudo planejado. Vá para cima, se vista e pegue suas
coisas. Eu perdi o meu direito a uma busca sem mandado, mas você
não.
— Vou mandar um oficial com você, — disse a oficial de
condicional. Apertei os olhos para ela. Eu não gosto dessa mulher. Nem
um pouco.
— Eu gostaria de ver alguma identificação primeiro, — eu disse.
Ela desfilou para mim, segurando um crachá.
Kandace Evans, com certeza.
— Esse nome parece familiar, — eu disse, franzindo a
testa. Kandace inclinou a cabeça.
— Você provavelmente já leu sobre meu irmão, Nate, — ela disse,
com voz fria. — Ele desapareceu um pouco mais de um ano atrás. Nós
não sabemos o que aconteceu, mas ele estava investigando os Reapers e
então de repente ele se foi. Não é uma coincidência interessante? Agora
pegue suas coisas e saia daqui. Corra e vá dizer a Reese Hayes que eu
tenho o seu menino, e ele não será o último do grupo a cair. Então eu
sugiro que você encontre um novo namorado. O futuro deste um não
está parecendo muito bom.
QUATRO SEMANAS MAIS TARDE
Corri para o banheiro, esperando desesperadamente que Jessica
ainda estivesse dormindo para que ela não ouvisse o som do
vômito. Mais uma vez. Hoje era a quinta vez que eu tinha acordado
vomitando...
No começo eu estava em estado de negação.
Talvez fosse apenas o stress - o meu namorado estava na cadeia,
afinal de contas. Ela o arrastou para fora e o trancou e não havia uma
maldita coisa que alguém pudesse fazer para detê-la. Esse tipo de
estresse reduz a capacidade do seu sistema imunológico para combater
~ 226 ~
as doenças. Tinha que ser por isso que eu estava tão cansada o tempo
todo e por isso que eu estava tendo estranhas oscilações hormonais... e
nenhum menstruarão... e vomitando...
Infelizmente, depois de uma vida como a minha (pai bêbado, mãe
desaparecida) você não pode permitir negação a longo prazo. Não se
você quiser sobreviver. É por isso que eu parei em Walgreens na noite
passada e comprei vários testes de gravidez (duas marcas diferentes,
porque se eles carregavam notícia que iria explodir minha vida, eu
queria ser condenada com certeza). Eu planejei usá-los assim que eu
parasse de vomitar tempo suficiente para fazer xixi.
Dez minutos depois eu sentei encostada na banheira, olhando
para as duas varetas no chão. Um delas tinha um sinal de adição azul
brilhante. O outro tinha uma imagem de um bebê nele, como se eles
achassem que eu não fosse inteligente o suficiente para ler os
resultados sem ilustrações.
Isso não poderia estar acontecendo. Me recusei a aceitar isso
como a minha realidade. É verdade que nem sempre usamos camisinha,
mas ele nunca tinha de fato gozado dentro de mim também. Quero
dizer, quais eram as chances?
As varetas apontaram para mim em tom acusador.
Ok, no meu caso, aparentemente, as chances eram de 100 por
cento.
— Ei, você já terminou? — Jess gritou através da porta. — Eu
tenho um teste esta manhã - eu preciso entrar. Não resta muito tempo.
Eu a ignorei porque eu não me importava com o seu teste. Eu não
me importava com a escola ou amizade ou qualquer coisa, porque eu
estava de fato grávida e não havia uma maldita coisa que eu pudesse
fazer sobre isso... só que eu podia. Eu poderia apenas fazer
esse problema desaparecer.
Ninguém nunca teria que saber.
Poderia ser o meu pequeno segredo, apenas uma rápida visita ao
médico e o problema puf! Resolvido. Passando a mão sobre minha
barriga, eu tentei imaginar um bebê lá dentro. Eu não conseguia senti-
lo ainda, mas definitivamente havia um pouco mais de um feijão ao
redor da minha barriga ultimamente. Eu tinha uma criança lá
dentro. De verdade. Um bebê real, vivo, dentro de mim.
~ 227 ~
Naquele instante, eu sabia que eu absolutamente não poderia
matá-lo.
De maneira nenhuma.
— Abra a porta, Mel! — Jess chamou novamente.
Fechei os olhos e inclinei minha cabeça contra a banheira,
tentando resolver meu pensamento em torno da situação. Ok, então eu
iria ter um bebê. Contando os meses, eu descobri que ele viria neste
verão, após o semestre terminar. Isso era algo... a porta sacudiu
novamente.
— Mel, se você não disser algo agora eu vou quebrar esta porta —
Jessica me disse, parecendo preocupado.
— Não seja boba, — eu respondi calmamente. Isso foi tudo tão
irreal... — Há uma chave em cima da borda sobre a porta. Isso deve
funcionar.
Ouvi mais barulhos irritantes, então a porta se abriu e Jessica
entrou. Ela olhou para mim, franzindo a testa.
— Que diabos você está fazendo?
— Sentada no chão do banheiro.
— Hum, Mel?
— Sim?
Ela se ajoelhou lentamente na minha frente, pegando uma das
varas.
— É isso que eu acho que é? — ela perguntou, sua voz um
sussurro.
— Isso depende do que você pensa que é, — eu disse a ela, me
sentindo distante e isolada. Eu estava em choque? Eu devo estar em
estado de choque. Fascinante.
— Parece que dois testes de gravidez que deram positivo.
— Oh, sim. Então é definitivamente o que você pensou que era.
— E estes são seus? — perguntou ela com cuidado, olhando para
mim como se eu fosse um vidro muito frágil que poderia quebrar a
qualquer minuto. Eu suspirei, depois virei minha cabeça para encontrar
seus olhos.
~ 228 ~
— Eles são meus, — eu sussurrei, sentindo lágrimas começam a
correr pelo meu rosto. — Merda, Jessica. Como eu pude ser tão
estúpida? Eu sou mais esperta do que isso.
Lançando-se para perto de mim, ela me puxou para os seus
braços, passando a mão sobre o meu cabelo. — Oh, Mellie. Nós vamos
passar por isso - eu prometo. Nós vamos passar por isso juntas... tudo o
que você decidir fazer.
— Eu não vou matá-lo, — eu disse rapidamente. — Eu não quero
matá-lo.
— Então você não vai matá-lo, — ela me disse, com voz firme. — E
se alguém tiver um problema com isso, envie eles para mim. Eu sou a
louca, lembra? Eu vou acabar com ele - problema resolvido.
Em seguida, ela cruzou os olhos e mostrou a língua para mim.
De repente eu me senti melhor.
Isto foi assustador - aterrorizante - mas eu não tinha que fazer
isso sozinha. Jessica estava aqui, e apesar de suas maneiras loucas,
esquisita, havia uma coisa que ela amava mais do que
tudo. Crianças. Ela adorava aquelas crianças no centro comunitário,
colocava seu coração e alma no ensino
Se eu tivesse Jess para me ajudar, eu ficaria bem.
— Eu vou para a cadeia hoje, — eu disse calmamente. — Você
acha que eu deveria dizer a ele agora?
Jessica fez uma careta.
— Você tem alguma ideia de como ele vai reagir?
— Nenhuma. Nós nunca falamos sobre crianças ou qualquer
coisa.
— Bem, talvez você possa sondá-lo hoje, — disse ela. — Ter uma
noção de onde ele se encontra sobre o assunto. Se for o momento, diga
a ele. Caso contrário, basta esperar até que você esteja pronta. Eu sei
que isso provavelmente parece como o fim do mundo, mas você tem
meses e meses para resolver as coisas. Você não tem que fazer tudo
hoje.
Ela estava certa.
— Obrigada, Jess.
~ 229 ~
— Não se preocupe, — ela respondeu, se aproximando de mim. —
Você sabe, eu sempre imaginei que essa conversa iria por outro
caminho.
— O que você quer dizer?
— Eu sempre achei que eu seria a pessoa que acidentalmente
ficou grávida, — ela disse com uma risada. — Embora eu esteja feliz que
é você. Eu não estou pronta para passar por gravidez e nascimento e
toda essa merda.
— Como você sempre consegue dizer exatamente a coisa certa e
exatamente a coisa errada, tudo ao mesmo tempo?
— Apenas um dom, eu acho. Todo mundo tem seus talentos.
* * *
Não importa quantas vezes eu fui ver Painter na cadeia do
condado, eu nunca me acostumei a ser revistada – me fazia sentir
suja. Como se houvesse algo de errado comigo, porque eu estava
visitando alguém dentro daquele lugar onde as pessoas decentes não
deveriam ir.
Nas semanas desde que ele tinha sido preso, eu sabia que o clube
estava trabalhando para descobrir o que diabos tinha acontecido com
seu oficial de condicional. Se eles tinham a história completa, ninguém
disse nada. Oficialmente, ele ainda estava em licença administrativa,
embora eu tinha ouvido rumores de que eles poderiam estar
pressionando as acusações contra ele.
Eu só esperava que Painter não fosse pego nela.
Pelo lado positivo, hoje foi a minha última visita aqui fora - eles
estariam liberando-o amanhã. De acordo com Reese, isso era normal e
não deveria me preocupar com Painter.
É claro que ele não era a pessoa grávida.
No momento em que finalmente ele foi levado para me ver, eu
estava tão nervosa que eu tinha começado a tremer.
— Ei, babe, — disse ele, sua voz quente quando ele veio se sentar
à minha frente em uma mesa laranja brilhante e banquetas. Eles eram
~ 230 ~
todos aparafusados no chão, presumivelmente para nenhum deles fosse
utilizado como armas.
Adorável.
— Ei, — eu sussurrei, sorrindo para ele. Nós não deveríamos nos
tocar, mas às vezes ele esticava o pé para fora em direção ao meu
debaixo da mesa. — Como está indo?
— Eu estou pronto para sair daqui, — disse ele, me piscando um
sorriso. — Eu sinto sua falta. Da minha querida moto também. Inferno,
eu mesmo sinto falta daquele imbecil do Puck. O fodido vem me ver
duas vezes por semana. Dá pra aguentar?
Dei uma risada, porque eu sabia o quanto essas visitas
significavam para ele.
— Então, eu queria falar com você sobre algo, — eu comecei.
— E aí?
— Sobre a vida do clube. — hmm... como dizer isso? — Todo
mundo diz que esta não é a maneira como as coisas normalmente
funcionam - que há um oficial de condicional para cobrir o clube ou
algo assim. Mas eu também sei que você tem irmãos que já cumpriram
pena. E quanto as suas famílias? Eu sei que a maioria deles tem old
ladies e crianças. O que os caras fazem se eles têm que ir para a cadeia?
— O que for preciso, — disse ele, inclinando a cabeça. — Por que
você pergunta?
— Eu estava na casa de Dancer no outro dia, — eu disse a ele. —
E eu estava olhando para as fotos de seus filhos. Eles têm uma família
muito legal. Como o Bam Bam consegue conciliar a paternidade e ainda
fazer o que precisa ser feito para o clube? Parece que seria um equilíbrio
tão difícil.
Painter estreitou os olhos para mim.
— Por que você não me pergunta a verdadeira questão, — disse
ele, sua voz grave. Eu respirei fundo.
— Você quer ter uma família algum dia?
Painter se recostou na cadeira, os olhos estudando meu
rosto. Então, ele balançou a cabeça lentamente.
— De jeito nenhum.
~ 231 ~
Algo torceu por dentro. Eu gostaria de dizer que foi o meu coração
partido, mas as probabilidades eram azias. O que eu tenho tido muito
ultimamente.
— Nunca? — eu perguntei, minha voz baixa.
— Mel, eu cresci no sistema de assistência social. Eu fui um dos
sortudos, porque eu apanhei, mas eu nunca fui estuprado. Eu vi
Crianças Assistidas serem estupradas, no entanto. Crianças Assistidas
serem jogadas para fora. Fugi quando eu tinha onze anos com alguns
outros meninos e vivi nas ruas depois até o ponto que eles me jogaram
no reformatório. Quer adivinhar o que eu fiz para ser preso?
Engoli em seco. — O que você fez?
Um sorriso amargo torceu o rosto. — Nada! Eles te jogam na
prisão se eles não têm outro lugar para te colocar. Eu tinha uma má
reputação - encrenqueiro. Nenhuma das famílias de acolhimento me
queriam. Passei seis meses lá antes deles encontrarem um novo lugar,
mas a esta altura eu já tinha percebido algo...
Ele se inclinou mais perto, os olhos intensos.
— Se você vai ser preso de qualquer maneira, poderia muito bem
fazer o crime.
Então ele se sentou de volta, cruzando os braços na frente dele.
— Eu não iria trazer uma criança ao mundo. Não correria o risco
de fazer isso com ele, e eu já sei que eu seria um pai de merda. Eu nem
gosto de crianças. Eles cheiram estranhos, eles fazem coisas loucas, e
elas estão sempre pulando do nada. Se você quer um pai de família, é
melhor procurar em outro lugar.
Engoli em seco novamente, olhando para ele.
— Ok, então. Bom saber.
Ele sorriu para mim, e isso chegou a seus olhos. — Mal posso
esperar para vê-la amanhã, babe. Abraçar você. Vai ser ótimo.
— Claro, — eu disse fracamente. — Ótimo. Nós vamos nos
divertir. Se você puder me dar licença, eu preciso ir ao banheiro.
Painter franziu a testa. — Está tudo bem?
— Fabuloso, — eu disse, sorrindo com força. — Mas eu realmente
preciso fazer xixi. Vejo você amanhã, ok?
~ 232 ~
Então eu saí correndo de lá.
~ 233 ~
Capítulo
15
UM DIA DEPOIS
PAINTER
Mel não estava me esperando do lado de fora da prisão.
Ok, eu não estava exatamente esperando que ela estivesse... eu
sabia que ela tinha aula, e eu não queria que ela faltasse na
faculdade. Ainda assim, uma parte de mim, obviamente desejava que
ela tivesse jogado tudo para o alto, porque eu me encontrei procurando
por ela, mesmo quando Picnic caminhou em minha direção, ladeado por
Horse.
— É bom vê-lo vestir algo que não seja laranja, — disse Pic, me
puxando em seus braços para um abraço esmagador. — Está tudo bem
aí?
— Tudo bem, — eu disse, olhando para trás em direção à porta,
onde um oficial de correções ficava observando. — Você chegou a
descobrir o que diabos aconteceu com Torres?
— Falaremos sobre isso na Capela, — disse ele, baixando a voz. —
Os irmãos estão todos esperando por você. Oh, e as meninas estão
planejando uma festa para você hoje à noite -- vai ser legal. Mel tem
sido forte enquanto você estava aqui. Talvez seja hora de ir em frente e
falar com ela sobre a coisa de old lady.
* * *
Quarenta minutos depois estávamos todos na Capela. Levou mais
dez para começarmos a reunião com todos os abraços.
— Ok, vamos prosseguir, — Picnic finalmente disse. — Painter,
pegue um cadeira. Há muita coisa acontecendo e temos que lhe
atualizar.
~ 234 ~
Para minha surpresa, Duck puxou sua cadeira habitual para
mim, me dando tapinhas no ombro.
— Aproveite o momento, irmão, — ele me disse. — Há um
caminho difícil pela frente, sem dúvida.
— Cristo, nada de jogos mentais com ele, — Ruger estalou. —
Você é um Bastardo, Duck.
— Não, Boonie é um Bastardo 11. Eu sou um Reaper. — Duck
respondeu, rindo da própria piada. Horse revirou os olhos e Bolt bufou.
— Chega, — disse Pic. — Vamos começar com isso, ok? As
meninas estão fazendo comida e o cheiro está bom demais para eu ficar
sentado aqui o dia todo. Não é só isso, recebi uma mensagem de
London. Ela está vindo pra cá com Melanie, e algo me diz que Painter
está interessado em vê-la novamente.
— O pau vai dentro da menina, — Horse disse solícito. — Não é a
sua mão. Entendeu?
— Cale a boca, — eu disse, sorrindo. Eu tinha toda uma nova
lista de fantasias com Melanine agora que eu estive fora novamente.
— Ok, aqui vai a história, — disse Pic. — Aparentemente, eles
estavam vigiando Torres por um tempo. A cadela da Evans está de olho
em nós - sempre suspeitou que o clube era o motivo de seu irmão
desaparecer - e quando ela soube da investigação, então ela focou
nisso. Ela tinha estado vigiando ele e vários outros por pelo menos seis
meses antes de dar o bote.
— Torres ainda está de licença administrativa, mas tem
acusações contra todos eles. Aparentemente, eles tinham um sistema de
recompensa armado. A boa notícia para nós é que Torres é estúpido,
mas nós não somos. Isso significa que não há nenhuma pista que nos
conecta e eles já tem o bastante para condená-lo sem os Reapers. Ele
sabe bem que não pode mexer conosco, então eu penso que nós
estamos ok.
— Acho que é alguma coisa, — eu disse. Pic deu de ombros.
— Bem, o verdadeiro problema é o resto de sua liberdade
condicional. Você está sem chances agora - ela está à procura de
sangue dos Reapers, e você está vulnerável. Ela está convencida de que
o clube matou seu irmão.
11 Se referindo a Boonie ser um Silver Bastard. Bastard = bastardo.
~ 235 ~
Vários dos rapazes trocaram olhares. Tecnicamente, não tinham
matado o cara... só o entregamos aos líderes do cartel que ele ferrou,
para que eles pudessem matá-lo. Essa merda estava sobre ele fazia
tempo - não era como se nós tivéssemos mandado ele tentar passar a
perna em um cartel de drogas do caralho.
— Qualquer coisa que possamos fazer sobre ela? — perguntei.
— Nós estamos trabalhando nisso, — disse Bolt. — Mais cedo ou
mais tarde vamos encontrar uma maneira, mas até então você precisa
ser cuidadoso. Entendeu?
— Sim, eu entendi, — eu respondi. — Só pra registrar, isso é uma
merda.
— É o que é, — disse Pic. — Agora para outros negócios. Queria te
dar uma atualização sobre Gage. Sua situação é boa. Ele está andando
com os Nighthawks, tanto que eles já estão dando dicas sobre ele ser
um prospecto. Não só isso, eles deram dois coletes de prospecto
enquanto você estava trancado.
— Não é uma grande surpresa, eu acho, — eu murmurei. — Ainda
é uma maldita vergonha ver um clube ir para baixo assim. Acha que
eles estão se preparando para a guerra?
— Parece que sim, — afirmou. — Gage está fazendo muito bem lá,
mas eles estavam perguntando sobre você. Ele disse a eles que você foi
preso novamente, de modo que se encaixou perfeitamente.
— Ainda acho que deveríamos apenas dar um passeio lá e
assumir, — Duck resmungou. — Eles são um clube de apoio. Já é hora
de afirmarmos alguma autoridade do caralho.
— Não até que tenhamos informação sobre a situação ao norte da
fronteira, — disse Pic. — Os Nighthawk Raiders são apenas um sintoma
do problema real. Nós vamos tirar Marsh uma vez que tivermos o
mercado garantido. Levamos cinco anos para construir esse
comércio. Não podemos nos dar ao luxo de começar de novo - muitas
pessoas estão esperando para tomar o nosso território. Se formos atrás
de Marsh sem nos preocupar em assegurar a fronteira, poderíamos
muito bem entregar Hallies Fall em uma bandeja para o cartel.
Duck resmungou. — Você se preocupa demais com o
dinheiro. Esta é uma questão de respeito.
Picnic suspirou, apertando a ponte do nariz entre dois dedos.
~ 236 ~
— Alguém mais?
— Desculpe, Duck, — disse Bolt. — Mas eu estou com Pic sobre
este assunto. Você está certo - é uma questão de respeito. Mas é
também sobre negócios.
— Painter, o que você acha? — perguntou Pic. Isso me
surpreendeu - eu dei meus relatórios e ocasionalmente ofereci um
comentário, mas reuniões como esta eram geralmente sobre os caras
mais estabelecidos que tomam decisões.
— Os Nighthawks são podres, — eu disse lentamente. — Nós
podemos tirá-los a qualquer hora que quisermos, facilmente. Se f izermos
isso direito, nós deslizamos para o vazio e assumimos o seu comércio, o
que seria bom para nós. Concordo que temos de manter o respeito, mas
mais algumas semanas não vão fazer muita diferença. Dê a Gage tempo
para ele trabalhar.
— Todos a favor? — perguntou Pic. Todos, mas Duck resmungou
uma afirmativa. Ele apenas rosnou para nós, então se levantou da
cadeira para ir em direção ao bar.
— Ele parece mais mal-humorado do que o habitual? —
perguntou Horse.
— Tem sido um momento difícil, — disse Pic, em voz baixa. — Ele
tem ido ao médico muito ultimamente. Algo está acontecendo, mas ele
não me diz o que. Estúpido idiota teimoso. Painter, você tem um
minuto? Quer falar com você. No escritório.
— Claro, — eu disse, me levantando e seguindo para o
corredor. Seu escritório estava do outro lado da clube, e algo sobre ser
chamado me lembrou de quando eu tinha ficado em apuros na
escola. Houve uma sensação se estar sendo chamado à diretoria,
embora as paredes estivessem forradas com cartazes publicitários da
Linha.
— O que foi? — perguntei, me acomodando na cadeira em frente a
sua mesa grande. Ele s entou em uma velha e estilosa cadeira de madeira
atrás da mesa.
— Só queria saber de você, — disse ele. — Agora que nós falamos
as coisas. Você está bem?
— Tudo bem, — eu disse. — Quero dizer, Mel estava um pouco
estranha ontem, quando ela veio me ver, mas isso tem sido muito para
ela digerir. Nós vamos resolver isso hoje à noite.
~ 237 ~
Picnic franziu a testa.
— Há algo acontecendo com essa menina, — ele admitiu. — Jess
chamou Loni na noite passada. Ela passou metade da noite em sua
casa, e ela não me disse o porquê. Ela insistiu que não há nada de
errado com Jessica, então eu perguntei a ela sobre Mel e ela ficou
quieta. Loni não mente para mim - não depois de toda a merda que
aconteceu - mas às vezes ela simplesmente não diz nada. Não sei o que
está acontecendo, mas você precisa descobrir isso e cuidar dela. Me
deixe saber se você precisar de alguma ajuda.
— Sim, claro, — eu disse. Meu telefone tocou, e eu o puxei para
fora, vendo uma mensagem de Mel.
MELANIE: Estou chegando. Você está por aqui?
EU: Estou saindo
— É a Mel, — eu disse, sentindo um sorriso estúpido atravessar
meu rosto. Deus, eu estava virando um idiota. — Ela está lá fora.
Picnic deu uma curta, e bufada risada.
— Vá buscar sua garota, — disse ele. — Já é hora de colocar um
patch nela de qualquer forma. Isso vai acalmá-la.
* * *
Provavelmente eu parecia um idiota, mas levou tudo que eu tinha
para não correr para o estacionamento. Eu estava ansioso para transar,
é claro, mas era mais do que isso. Eu queria ver Mel. Abraçá-la... queria
saber se ela estava segura e que ela ainda me pertencia.
Consegui não arrancar em todo o cascalho como uma criança
quando eu a vi, mas eu andei rápido. Porra, mas ela era linda. Ela
estava maravilhosa quando eu a tinha visto dentro da cadeia também,
mas a iluminação estava uma merda. Toda mundo ficava amarelado,
até mesmo a minha menina bonita.
Ela me deu um sorriso suave, hesitante, como se ela não tivesse
certeza se eu ficaria feliz em vê-la ou algo assim. Nunca estive mais feliz
em ver alguém na minha vida.
~ 238 ~
— Melanie, — eu disse, puxando-a para perto com um daqueles
beijos profundos que eu sentia que poderiam ser para
sempre. Vagamente eu sabia que as pessoas estavam olhando para nós,
mas eu não dava a mínima. Eu nunca dei a mínima, realmente - nós
gostamos de viver a vida ao ar livre aqui na sede do clube. Mellie ainda
era nova, no entanto. Não queria assustá-la.
Suas mãos estavam ao redor do meu pescoço, enterrando no meu
cabelo enquanto ela subia até o meu corpo. Eu adorava quando ela fazia
isso, por uma variedade de razões – a não menos importante delas era
que eu sou muito mais alto do que ela e que nem sempre nos
encaixamos muito bem. É mais fácil impulsioná-la para cima do que me
debruçar cada vez que ficamos juntos.
O beijo foi incrível, mas mais cedo ou mais tarde nós teríamos que
respirar.
— Ei, — ela sussurrou, emoldurando meu rosto com as mãos
enquanto ela procurava meus olhos para algo. Eu não sabia o que, mas
ela parecia quase assustada. Pic estava certo - algo estava errado
aqui. — Eu sou louca por você, você sabia disso?
— Muito louco por você, — eu murmurei, beijando lentamente
seu pescoço. Ela estremeceu e meu pau fez uma tentativa séria de
rastejar para fora da minha calça.
— A qualquer hora, — disse ela. — Mas há algo que
provavelmente devemos falar primeiro...
Aquelas não eram boas palavras. Aquelas nunca foram boas
palavras. Eu me afastei, estudando seu rosto.
— O quê?
— Há algum lugar que poderíamos ir que seja privado?
— Claro, — eu disse, pensando rapidamente. — Temos quartos no
andar superior, você sabe. Quer usar um?
— Tudo bem, — disse ela, com um sorriso apertado. Eu a deixei
deslizar lentamente pelo meu corpo, provocando meu pau. Nem isso foi
o suficiente para me distrair da sombra que eu tinha visto em seus
olhos.
* * *
~ 239 ~
Nós escutamos algumas merdas enquanto eu atravessava o clube
com ela. Os irmãos sabiam por que eu estava tão impaciente para ficar
sozinho com ela, e por um minuto pensei que Horse poderia tentar algo
- como me bloquear, porque ele é um idiota assim. Aparentemente, o
olhar no meu rosto foi o suficiente para mantê-lo em seu lugar.
No terceiro andar havia uma série de quartos que qualquer um
poderia usar. Na maioria das vezes eles eram para os hóspedes durante
a noite, mas alguns caras daqui usavam os lugares. Também era bom
para quando queriam privacidade com uma mulher, embora ninguém
se preocupasse com isso. Não era como se tivéssemos quaisquer
segredos um do outro neste momento com sexo, bem como em todo o
resto.
No momento em que atingi o terceiro andar, eu mal conseguia me
segurar, eu estava tão excitado por ela. Nós paramos no meio do
corredor quando eu me perdi nela, pegando-a e levantando-a contra a
parede. Então nossos lábios estavam entrelaçados e eu estava moendo
meu pau em sua buceta na parede. Ela estava usando esse pequeno e
lindo vestido de verão amarelo que apenas implorava para ser
empurrado para cima e sobre a sua cabeça.
Golpeado com a inspiração, baixei-a, em seguida, girei-a em torno
dela até que ela ficou de frente pra parede, com as mãos apoiadas para
se segurar. Um instante depois, despindo-a eu descobri seu pequeno
traseiro com uma calcinha vermelha brilhante, provando que Deus
existe e ele obviamente quer que eu seja feliz. Eu rasguei meu jeans,
sacando o meu pau para fora eu empurrei a calcinha com um dedo
para o lado.
Então eu estava lá dentro.
Mel estava melhor do que eu me lembrava. Quer dizer, eu sabia
que ela estaria quente, úmida e apertada em torno de mim, mas hoje
ela estava incrível. Batendo fundo, ouvi seu suspiro quando ela
empurrou sua bunda de volta para mim. O tempo todo que eu estava lá
dentro, eu tinha nos imaginado fazendo amor lentamente, quando eu
saísse. Eu tinha planejado explorar cada polegada de seu corpo, adorá-
la e mostrar a ela o quanto eu me preocupava com ela.
Isso não estava sendo o que eu pensava.
Minhas mãos estavam apertadas em torno de sua cintura
enquanto meus quadris colidiam com os seus, nos levando rápido e
~ 240 ~
forte em direção a explosão profunda em minhas bolas. Eu esperava
que ela estivesse perto como eu estava, porque eu não acho que eu
poderia abrandar e eu tenho certeza que eu não ia durar muito. Mel
estava ofegante com cada estocada, porém, empurrava de volta para
mim apertando com força. Ou ela era estava simplesmente tão próxima
como eu ou ela era uma atriz muito boa.
— Esta vez provavelmente vai ser uma rapidinha, — eu consegui
dizer em um suspiro, batendo nela profundamente. Ela me apertou, e
eu congelei, desesperadamente tentando me segurar.
— Não se preocupe comigo, — disse ela. Eu balancei minha
cabeça, mesmo que ela não pudesse me ver. Eu estaria ferrado se eu
gozasse antes dela. Deslizando minha mão para baixo e em torno de seu
estômago, eu encontrei o clitóris, capturando-o entre meus dedos. Seu
corpo inteiro tencionou, apertando meu pau com tanta força que quase
doía.
Quase.
— Perto, baby? — eu sussurrei. Mel acenou com a cabeça
freneticamente, balançando os quadris em torno de meu pau como uma
borboleta presa. Cristo, como era bom. Poderoso. Adorava esse controle
que eu tinha sobre ela, a minha própria mulher para manter para
sempre.
Meus quadris começaram a empurrar novamente, e eu tentei me
manter lento. Eu tentei de verdade, mas não havia nenhuma maneira
que eu pudesse me controlar, dadas as circunstâncias, não quando ela
dava aqueles gemidinhos. Meus dedos se moviam mais rápido, até que
ela começou a ofegar. De repente, todos os músculos do seu corpo
apertaram e, em seguida, Mel gemeu alto e em bom som.
Finalmente.
Ela caiu enquanto eu segurava seus quadris, me deixando ir,
batendo tão duro quanto eu podia, sentindo-o construir no fundo até
que eu não conseguia segurar a explosão por mais um minuto. No
último instante me puxei para fora, espalhando meu gozo em sua
bunda. Pensei que minha cabeça fosse explodir, me senti tão
bem. Lentamente eu voltei a mim, olhando para suas costas.
Minha menina, coberta de mim.
Me abaixei, passando o dedo por ela para pintar um padrão nas
costas dela.
~ 241 ~
Propriedade de Levi Brooks.
Minha. Toda minha.
MELANIE
Isso. Foi. Incrível.
Me empurrando para cima, senti o braço de Painter me envolver
em torno de minha cintura, me puxando para o seu corpo. Em seguida,
ele estava beijando o topo da minha cabeça, correndo as mãos para
cima do meu estômago para meus seios.
— Senti sua falta, — ele sussurrou em meu ouvido.
— Senti sua falta também, — eu consegui responder. Era difícil
pensar, como se ele tivesse de alguma forma dado um curto circuito em
meu cérebro com prazer. Abri os olhos, olhando para o corredor,
perguntando se tínhamos uma audiência.
Não, apenas nós.
Bom. Este momento ia ser bastante difícil.
— Nós temos que conversar, — eu engasguei enquanto seus
dentes circulavam minha a orelha.
— Fale mais tarde, — ele sussurrou. — Eu quero comer você de
novo.
Meu corpo todo tremia, mas eu consegui me puxar longe
dele. Virando, eu olhei para ele.
— Nós temos que conversar, — eu disse de novo, com
firmeza. Seus olhos brilharam, um olhar cauteloso sobre seu rosto.
— Ok.
* * *
~ 242 ~
O quarto era pequeno - apenas uma cama de casal e uma mesa
velha. Fui até lá e puxei a cadeira, porque eu precisava estar de frente
para ele quando eu fizesse isso.
Precisava ver o olhar no seu rosto.
Painter se sentou na cama, de frente para mim, se inclinando
sobre suas longas pernas, cotovelos nos joelhos.
— O que foi?
Engoli em seco. Eu tinha ensaiado isso em minha cabeça a noite
toda. Então eu tinha praticado com Loni e Jessica, que tinham me
abraçado e me prometendo que não importa o que, eu não estaria
sozinha. Eu sabia que elas estariam lá para mim, mas Painter estaria?
Respirando fundo, eu coloquei pra fora.
— Estou grávida.
Seu rosto não se alterou por um instante. Em seguida, seus olhos
se estreitaram, olhando para o meu estômago, como se ele esperasse
ver alguma coisa.
— Tem certeza? — ele perguntou lentamente.
— Sim, — eu disse logo. — Eu fiz quatro testes, eu estou com a
menstruação atrasada e eu vomitei quase todos os dias.
Os olhos de Painter estreitaram.
— É meu?
Eu pisquei. — O quê?
— É uma pergunta justa - é meu?
— Sim, é seu, — eu disse, sentindo meu coração quebrar. Eu
sabia que ele não queria filhos, então eu não esperava que ele ficasse
todo feliz com isso. Ainda assim, nunca me ocorreu que ele
reagiria dessa forma.
— Tem certeza?
Isso não estava indo bem. Merda. Merda. — Vendo como você é o
único cara que eu estive desde o ano passado, sim, eu tenho certeza. E
é uma merda você pensar que eu poderia me confundir.
~ 243 ~
Ele suspirou, em seguida, estendeu a mão, esfregando a ponte de
seu nariz.
— É por isso que você estava falando de crianças ontem. Quanto
tempo você tem escondido isso de mim?
— Eu não estava escondendo nada, — eu lati. — Eu confirmei na
manhã de ontem. Eu planejei falar com você quando eu fui te visitar,
mas você estava sendo realmente negativo. Achei que deveria esperar
até que nós tivéssemos tempo para falar sobre as coisas.
— Já decidiu o que você quer fazer?
— Se eu quero um aborto, você quer dizer?
Ele olhou diretamente para mim, seu rosto ilegível. — É uma das
opções.
— Não, eu vou ter o bebê, — eu disse a ele em breve. — Sozinha
se tiver que ser assim. Eu só sei sobre o bebê há um dia, mas eu já o
amo. Ele. Ela. Seja o que for, eu vou ser a melhor mãe que posso. Eu
não vou ser como a minha própria mãe - eu vou ficar por aqui e fazer
isso direito .
— E o que você espera de mim? — ele perguntou, ainda sem
expressão. Fechei os olhos, sentindo uma torção em meu coração.
Ele tinha me avisado.
Ele me avisou que ele machucou meninas antes, que estarmos
juntos era uma má ideia.
Todo mundo tinha me avisado.
— Nada, eu acho, — eu disse, me levantando
lentamente. Caminhando em direção a porta, me virei para olhar para
ele. Todo grande e esguio. Sexy. Belo.
Tóxico.
— Eu acho que eu não espero nada. Vai brincar de motoqueiro
com seus irmãos, Painter. Vá fazer o seu negócio do clube, porque eu
acho que é muito mais importante do que a criança que você ajudou a
fazer. Foda-se.
Assim eu saí pela porta.
Ele não me seguiu.
~ 244 ~
Capítulo 16
PAINTER
Grávida.
Melanie estava grávida.
Me sentei na cama, com a cabeça para baixo entre as minhas
pernas, me perguntando como diabos isso tinha acontecido. Ok, eu
sabia exatamente como isso aconteceu... eu não era um idiota. Eu
percebi o quão estúpido foi transar com ela sem camisinha, mas eu
sempre tinha puxado para fora antes de gozar e ela estava sempre tão
sexy.
Eu precisava ir atrás dela, dizer a ela que ia ficar tudo bem e que
eu ia cuidar dela e que viveríamos felizes para sempre - mas eu não
sabia nem o que o =felizes para sempre‘ significava. Tudo o que eu sabia
era que eu seria um pai de merda e ela era muito jovem para esta
merda.
Ela merecia uma vida mais fácil.
De pé lentamente, eu comecei a andar para baixo, tentando
descobrir o meu próximo passo. Eu simplesmente não conseguia
envolver minha cabeça em torno disso. Melanie saiu correndo. Com
uma criança. Minha criança.
Uma criança que eu tinha deixado claro que não queria.
Por que diabos eu tinha dito isso? Eu queria tomar de volta as
minhas palavras dez segundos depois que elas saíram da minha boca,
mas o estrago estava feito. O olhar em seu rosto tinha sido pior do que
um soco no estômago.
Havia algo de errado comigo. Profundamente errado. Eu precisava
ser um homem agora, me resolver e enfrentar isso.
Certo.
Eu poderia fazer isso.
~ 245 ~
Saindo do quarto, eu me dirigi para as escadas. Não tenho certeza
o que eu esperava encontrar quando cheguei ao bar, talvez London
vindo em minha direção com uma faca ou algo assim. Elas tinham
planejado uma grande festa para mim, e London estava no comando da
comida - suponho que ela poderia simplesmente me envenenar.
Em vez disso eu encontrei Banks no meio da escada, o rosto
sombrio.
— Capela. Agora, — ele disse. — Nós temos uma emergência.
Seu tom cortou através da névoa na minha cabeça. Capela. Ok, eu
poderia lidar com isso. Eu tinha fodido as coisas com Mel, mas eu
poderia consertá-las. Eu só precisava de um pouco de tempo para fazer
um plano.
Algum tempo e algum espaço.
Sim. Eu iria trabalhar.
Um pouco de tempo e espaço, e então eu iria encontrá-la.
* * *
— Ligação de Gage, — disse Pic, de pé na cabeceira da
mesa. Havia uma tensão no ar, uma sensação de iminente violência que
infectou todos nós. Me senti bem, porque uma crise significava que eu
tinha uma desculpa para não pensar sobre Melanie fugindo. Nada como
uma boa luta para limpar a cabeça - a sabedoria que tinha me servido
bem ao longo dos anos.
Pelo menos até que eu fui preso.
— Ele está indo para Ellensburg esta tarde com os Nighthawks, —
disse ele. — Marsh aparentemente, está criando um tumulto - ele está
convencido de que Hands o traiu com os federais. Alguém deu uma dica
a Marsh de que Hands estaria em algum show de carros clássicos hoje
à noite, e ele está determinado a encontrá-lo e acabar com ele.
Eu fiz uma careta.
— De onde diabos isso veio? Não faz sentido.
— Foda-se se eu sei, — disse Pic, com o rosto tenso. — Mas eu
acho que Marsh tem feito isso cada vez mais. Gage diz que ele é
~ 246 ~
paranoico pra caralho. Apenas entrou no clube e ordenou a todos que
pegassem suas motos, Gage incluído. Ele conseguiu ligar quando eles
fizeram uma parada, mas só tinha cerca de um minuto para falar -
disse que eles estão perguntando sobre você, Painter. Marsh quer
reforços, queria saber se você poderia ir.
— Que porra é essa? — perguntei, confuso. — Eu só o encontrei
uma vez. Por que diabos ele iria me querer?
— Por que diabos ele iria arrastar Gage para isso? — perguntou
Pic em troca. — Não é como eles tivessem algum tipo de laços fortes,
também. Obviamente o cara está perdido. Nós temos um grande
problema, no entanto, porque se ele fizer merda, a polícia vai buscá-lo
e, em seguida, toda a nossa rede estará em apuros. Nós estamos
lidando com alguma merda perigosa aqui - Gage precisa de reforço .
— Podemos ir todos juntos, — disse Horse. — Como se nós
estivéssemos indo para ver o show. Ele pode ser fodido, mas ele não
sabe que estamos em cima dele. Apenas uma visita amigável entre dois
clubes.
— Provavelmente é a melhor ideia, — disse Pic.
— Isso cobre o show, — disse eu. — Mas o que faremos sobre a
proteção de Gage depois? Se Marsh está paranoico, pode ser que ele
decida que é um risco e coloque uma bala na parte de trás de sua
cabeça?
Ninguém na mesa falou.
— Vamos buscá-lo, — disse Ruger. — dar a ele cobertura no
show, em seguida, trazê-lo para casa.
— Marsh poderia mandar alguém atrás dele, — Duck apontou. —
Precisamos dar a ele uma escolta. Ou isso, ou acabar com seu disfarce,
que corre o risco de um confronto.
— Marsh me conhece, — disse eu, pensando rápido. — Ele
perguntou sobre mim. Posso entrar, ficar com Gage, e não vai detonar
os alarmes. Então, aconteça o que acontecer, Gage não estará sozinho.
Todos eles ficaram em silêncio.
— A cadela da Evans está determinada a enviar o seu rabo de
volta para a prisão, — disse Bam Bam lentamente. — É um grande
risco, Painter. Era uma coisa te enviar quando tínhamos Torres em
~ 247 ~
nossos bolsos, mas isso... o show estará cheio de policiais, eventos
como esse sempre tem. Eles podem pegá-lo - talvez você deva ficar fora.
O rosto de Mel brilhou na frente dos meus olhos. Eu precisava ir
encontrá-la, resolver a situação... mas o que diabos eu ia dizer? Eu
tinha muita energia presa dentro de mim, muita frustração, medo e
uma sensação de mal estar, tudo misturado com a certeza do naufrágio
que eu estava indo sofrer com essa merda de paternidade.
Você vai ser um pai terrível e você sabe disso.
— Nós todos sabemos que eu sou a melhor pessoa para ir, — eu
disse, empurrando-a para fora da minha mente. Eu não poderia pensar
em tudo isso agora - ela ficaria bem. Teremos que descobrir isso mais
tarde. — Ele não deveria ter que fazer isso sozinho e eu sou o único que
pode chegar lá sem estragar o nosso plano. Temos que proteger o
mercado.
Meus irmãos compartilharam olhares sobre a mesa.
— Isso tem alguma coisa a ver com o que diabos está acontecendo
com Melanie? — Pic perguntou sem rodeios. — Vi ela sair correndo pra
fora daqui. Loni foi atrás dela. Você quer morrer ou algo assim?
— Não, — eu disse, balançando a cabeça. — Quero dizer, sim. Eu
e Mel temos um problema... mas acredite em mim, ele não vai a lugar
nenhum. Eu preciso de algum espaço para limpar a minha cabeça e não
há maneira de deixarmos Gage em perigo. É um risco, mas todos nós
assumimos riscos todos os dias. Não é isso que significa o 1%?
Picnic suspirou.
— Ok, acho que é a sua vez, — disse ele. — Alguém mais?
Ninguém mais disse nada, e pela primeira vez ninguém me falou
merda. Estávamos todos muito ocupados imaginando o que poderia
estar à frente de nós e se Gage tornaria Ellensburg segura.
Era uma preocupação legítima.
Se Marsh queria executá-lo, ele provavelmente iria atraí-lo com
uma história como esta. Fazia sentido, também - é o que faríamos em
seu lugar. E eu falaria com Melanie assim que eu voltasse. Talvez eu
não queira filhos, mas a vida era sinuosa assim. Teremos descobrir isso.
Eu amava ela.
Isso seria o suficiente. Tinha de ser.
~ 248 ~
— Ok, eu quero sair nos próximos vinte minutos, — disse Pic. —
Festa cancelada, obviamente, mas eu quero todas as meninas seguras
no Arsenal. Duck, você vai manter as coisas funcionando aqui. Nós
vamos deixar você e os prospectos, — ele lançou um olhar ao redor da
sala. — Banks. Você fica aqui, se certifique de que estão todos a
salvo. Parece paranoia, mas se eles quisessem nos atrair para um
ataque, isso seria uma ótima maneira de fazer isso.
— Se importa se eu chamar de Puck, para ficar por aqui? —
perguntei. — Ele estava indo para a festa. Eu gostaria que ele
mantivesse um olho em Mel.
— Bom plano, — disse Pic. — Não apenas ele - vou falar com
Boonie, também. Eu sei que alguns deles estavam esperando para fazer
isso hoje à noite de qualquer maneira. Eu ficaria mais confortável
sabendo que London está segura. Vou ligar para ela, e dizer a ela para
trazer sua bunda de volta aqui, junto com Jess e Mel. Agora, qualquer
outra coisa?
Ninguém falou.
— Ok, então. Peguem suas merdas, irmãos. Não vamos foder com
isso.
MELANIE
— Vamos começar com palitos de dente, — disse Jessica mexendo
seu café. — Debaixo das unhas, um por um... então eu vou usar o
alicate para arrancar as unhas antes de nós esfolarmos suas
bolas. Tudo que eu preciso é de vinte e quatro horas. Ele vai estar
implorando por sua vida, e depois bam! Eu vou cortar seus rins com a
sua própria faca de merda, nós vamos vendê-los no mercado negro e
criar um fundo de faculdade para o bebê. Problema resolvido.
Peguei um lenço de papel, desejando que eu estivesse até um
pouco surpreendida pela forma como ela era sanguinária.
— Você não pode matar Painter, — eu disse, soprando meu nariz
ruidosamente. — Mesmo que ele mereça. Ele é pai do bebê. Eu não vou
odiá-lo, porque isso não é o que importa aqui. O bebê é importante. Eu
~ 249 ~
preciso descobrir um plano, me certificar de que tenho tudo o que
preciso porque se eu não-
— Pare, — disse Loni, chegando do outro lado da mesa para pegar
minha mão. Ela deu um aperto. — Mellie, olhe para mim.
Eu olhei em seus olhos, desejando que a minha verdadeira mãe
estivesse aqui. London tentou o seu melhor, mas no fundo eu só queria
engatinhar nos braços da minha mãe até que ela fizesse tudo
melhorar. Por que ela me deixou?
Minha mão baixou para o meu estômago, esfregando
suavemente. Eu nunca faria isso com meu bebê. Nunca. Eu morreria
antes que eu a abandonasse.
Eu já amo você, meu bebê. Mamãe está aqui.
— Você vai ficar bem, — disse London, a voz firme e forte. O
telefone tocou de novo, mas ela ignorou, cem por cento focada em
mim. — Aconteça o que acontecer com o Painter, eu e Jessica somos
sua família. Nós estaremos aqui para você. Eu prometo. Você entendeu?
Eu balancei a cabeça, sentindo-me um pouco mais forte.
— Eu sou muito boa com crianças, — Jess interrompeu. —
Provavelmente porque eu penso como elas... o que é uma bênção. Mas
Loni está certa - você não está sozinha nessa. Espero que ele puxe a
cabeça para fora da bunda e faça a coisa certa, mas se não o fizer você
estará melhor sem ele.
— E o que é a coisa certa? — perguntei. — Como se ele devesse se
casar comigo ou algo assim? Eu não estou pronta para me casar.
Não estava pronta para ser mãe, de qualquer jeito.
— A coisa certa é ele cair na real e ser um pai para o seu filho, —
disse Loni sem rodeios. — Eu sei que você está preocupada com a
criação de uma criança no clube, mas Reese fez isso, e ele fez isso
bem. Bam Bam e Dancer são ótimos pais. É possível, mas apenas se
Painter fizer essa escolha - que é sobre ele, e mais ninguém. Eu
adoraria se você dois conseguissem resolver as coisas romanticamente,
mas mesmo isso não é o problema aqui. Cuidar do seu bebê é o
problema e você não precisa dele para fazer isso.
Ela estava certa.
~ 250 ~
— Eu posso fazer isso, eu não posso? — eu sussurrei, olhando
entre elas. Jessica sorriu e acenou com a cabeça.
— Você é a pessoa mais inteligente e forte que eu conheço, —
disse ela. — E mesmo quando as coisas ficam difíceis, você continua
lutando. Isso é muito mais do que nossas mães fizeram.
O telefone de Loni tocou pelo que parecia ser a décima vez.
— Você sabe, se eu quisesse atender a porra desse telefone eu já
teria atendido, — disse ela, sua voz suave, mas de alguma forma
mortal. Como se para zombar dela, o telefone tocou novamente. De
repente, ela pegou e jogou do outro lado da sala, estilhaçando-o contra
a parede.
Que diabos?
Jess e eu ficamos boquiaberta. Loni olhou para nós, então deu de
ombros.
— Só porque eu não estou ameaçando as bolas de Painter não
significa que eu estou em meu lugar feliz. Vou ligar para Reese quando
estiver pronta.
— Loni, você é do tipo de chutar traseiros, — eu sussurrei. Ela me
deu um sorriso triste.
— Eu tenho meus momentos.
Um barulho alto encheu o ar – alguém batendo na porta.
— Se ele tem mesmo um pingo de sentido, acho que é Painter com
duas dúzias de rosas e um anel, — Jess resmungou. Loni e eu
compartilhamos um olhar.
— Eu não estou pronta para casar, — eu a lembrei.
— Não é sobre você dizer sim, é sobre ele oferecer.
As batidas vieram de novo, então eu arrastei meu traseiro da
cadeira e caminhei até a janela. Eu não sei o que eu estava esperando -
talvez Painter, ou mesmo Reese.
Em vez disso eu vi BB, um cara grande que era um prospecto.
— O que foi? — perguntei, abrindo a porta.
— Precisamos de todas vocês de volta ao Arsenal, — disse ele. —
Picnic tentou ligar, mas ninguém atendeu.
~ 251 ~
Loni veio para ficar atrás de mim. — Estamos ocupadas.
Ele balançou a cabeça. — Não, senhora. Algo está acontecendo e
eles querem todas as mulheres lá dentro, onde é seguro. Vocês tem que
vir comigo.
— Oh merda, — disse Loni, seu rosto vai pálido. — Ok, meninas,
peguem uma muda de roupa. Eu vou dirigir.
PAINTER
Eu pilotei para Ellensburg em vinte minutos atrás dos outros,
imaginando que seria mais seguro. Eles estariam mais propensos a
atrair a atenção da polícia do que um motoqueiro solitário. Não só isso,
se eles chegassem primeiro eles poderiam verificar a situação com
Marsh, me avisando se Gage não conseguiria. Esperamos que ele não
chegasse a esse ponto - quando eu mandei uma mensagem para ele
dizendo que eu estava a caminho, ele não me deu nenhum sinal de que
ele estava em apuros e também não respondeu quando eu liguei,
tampouco. Somente uma mensagem dando um ok... mas poderia ter
sido qualquer um a enviá-lo.
As três horas de viagem me deram muito tempo para pensar
sobre a situação com Melanie, no entanto. Eu estraguei tudo. Uma
grande merda - e ela certamente se tornou pior comigo indo para
Ellensburg ao invés de lidar com ela agora. Eu não podia deixar Gage
em apuros, embora... tanto quanto Mel significava para mim, falar com
ela agora ou falar com ela amanhã não era uma questão de vida ou
morte.
Gage pode não ter esse luxo.
Quando eu finalmente cheguei em Ellensburg, eu encontrei uma
série de mensagens no meu celular de Gage, e Pic.
GAGE: Estou no Centro no Banner Bank Tavern. Eles têm um bar
em uma das ruas laterais - fechada para tráfego. Marsh e sua
tripulação estão bêbados pra caralho e ele está
piorando. Paranoico. Tem seis policiais nos observando. Preocupado que
Marsh possa ferrar tudo.
~ 252 ~
PIC: Do outro lado da rua. Não queremos ir a menos que nós
precisamos. Acho que pode levar Marsh para fora?
GAGE: Estou indo agora. Painter você está em qualquer lugar por
perto?
PIC: Ele está atrás de nós, deve estar aqui em breve.
GAGE: Ok.
Essa última mensagem era há dez minutos, então as coisas ainda
devem estar sob controle... ou então tudo tinha dado errado e eles
estavam muito ocupados para me enviar uma mensagem. De qualquer
maneira, eu precisava chegar lá o mais rápido possível.
Ellensburg era uma cidade relativamente pequena, por isso não
foi tão difícil de encontrar o bar. Levou um tempo para chegar lá porque
as ruas estavam cheias com o que pareciam milhares de hot rods 12. Eu
tive que deixar minha moto estacionada na rua, também - não gostava
muito disso. Embora, para ser justo, a moto era, provavelmente, a
menor das minhas preocupações hoje.
Andando a pé em direção ao bar, eu vi Pic e os outros do outro
lado da rua, olhando através de uma linha de carros tunados. Eles
f icaram fora da multidão, é claro - um clube de motoqueiros sempre
chamava a atenção - mas eles estavam se mantendo discretos. Pic e eu
nos olhamos, mas fingimos não reconhecer um ao outro. Então cheguei
ao velho edifício Banner Bank, feito de tijolo e pedra cortada um dos
primeiros da cidade. O bar ocupava a maior parte do ambiente
histórico, feito para se parecer com um velho salão. Passei todo o
caminho e sai pela porta lateral para o jardim de cerveja, uma área
cercada que eles tinham criado na rua.
A música estava alta e algumas pessoas estavam dançando no
centro das mesas. Uma menina me chamou a atenção, pulando para
cima e para baixo, acenando para mim.
Sadie.
Caralho.
— Levi! — ela gritou, correndo para me conhecer. Atrás dela eu vi
Talia pendurada em Gage. Marsh e os outros foram para um lado,
ocupando a maioria das mesas. Pelo menos eles estavam um pouco
isolados... um rápido olhar me mostrou que um grupo de policiais
12 Carros customizados.
~ 253 ~
estava do lado de fora da área cercada, acompanhando de perto os
Nighthawks. Mais alguns pareciam estar no interior, embora eles não
estivessem de uniforme. Eu vi o jeito que eles me cronometraram no
instante em que eu entrei.
Não bastava que Marsh estivesse bêbado, o filho da puta estava
fazendo isso em um bar lotado de policiais.
Cristo.
— É bom ver você, — eu disse a Sadie, puxando-a para um
abraço. Ela tentou me beijar, mas eu consegui virar a cabeça apenas o
suficiente para que ela errasse os meus lábios. Mesmo se não fosse por
Mel, eu não acho que eu poderia tocá-la - não depois de vê-la jorrando
vomito como uma fonte. — Gage disse que ele estaria aqui, sugeriu que
eu viesse me juntar a vocês.
— Onde você estava? — ela perguntou, franzindo a testa. — Você
simplesmente desapareceu naquela noite.
— Cadeia, — disse eu brevemente. Poderia muito bem ficar com a
verdade. — Violei os termos de minha liberdade condicional, então eles
me trancaram para me ensinar uma lição.
Ela estendeu a mão, esfregando uma mão para cima e para baixo
do meu peito.
— Parece perigoso.
— Levi! — Gage gritou, acenando. Obrigado por isso. Eu fui para
ele, com Sadie atrás de mim. Ele me acolheu com um abraço,
aproveitando a oportunidade para sussurrar um aviso. — A merda está
ficando feia. Temos que conter Marsh ou ele vai explodir tudo.
Recuando, eu examinei o grupo, acenando para os Raiders e o
presidente do Nighthawk.
— É bom ver você de novo, — eu disse. — Parece que estão se
divertindo.
Marsh sorriu para mim, mas eu vi algo escuro por trás de seus
olhos. Talia deslizou para cima, então se sentou em seu colo.
— Você realmente estava na cadeia? — ela me perguntou,
estendendo a mão para a bebida de Marsh, tomando-a.
— Sim, — eu disse. — Saí esta manhã. Violação de liberdade
condicional.
~ 254 ~
Seus olhos se arregalaram.
— Porque você foi preso?
— Posse de armas, — disse eu. Marsh franziu a testa.
— Quanto tempo durou a sua sentença?
— Três anos.
— Isso é muito tempo para posse de armas, — disse ele,
estreitando os olhos.
— É complicado, — eu disse, o que era a verdade. — Vamos
apenas dizer que poderia ter sido muito pior. Tinha antecedentes,
também.
Uma garçonete sobrecarregada veio se apressando para nós.
— Vocês precisam de alguma coisa? — perguntou ela.
— Precisávamos de algo há meia hora, — disse Talia, que estava
de pé novamente. Ela deu um passo adiante para o espaço da mulher,
empurrando seu peito. — Onde diabos você estava?
— Sinto muito, — disse ela. — Estamos muito cheios hoje. Tenho
certeza de que podemos-
— Nós merecemos uma rodada, — disse Talia. — Isso é culpa sua,
não nossa.
Gage me lançou um olhar.
— Baby, vamos dançar, — disse ele, pegando sua mão. — Eu
quero sentir você contra mim.
— Eu estou ocupada, — disse Talia. Ela olhou para a
garçonete. — Você vai nos trazer as bebidas?
A mulher olhou para Marsh, então balançou a cabeça
rapidamente. — Claro, eu já volto.
Ela se afastou, voltando para a porta do bar.
— Tá vendo, é tudo sobre como você fala com eles, — declarou
Talia, e Marsh começou a rir. — Eu estou pronta para a dançar agora.
Ela agarrou a mão de Gage, arrastando-o para a pista de
dança. Meus olhos os seguiu. Ah porra. Havia um cara grande vestindo
~ 255 ~
uma camisa apertada conversando com o grupo de policiais a paisana,
apontando para o nosso grupo. Bouncer.
Os homens se levantaram e começaram a andar em direção a
nós. Eu precisava fazer alguma coisa. Rápido.
— Marsh, — eu disse em voz baixa, me inclinando para o homem
sentado. — Temos que sair daqui.
Ele se levantou lentamente, entrando no meu espaço.
— Você acabou de me dar uma ordem?
Sério? Os policiais estavam chegando e ele queria jogar jogos de
merda?
— Não, mas esses caras são da polícia, e eles estão vindo para cá,
— eu disse com urgência. — Isso não é o maior dos nossos problemas.
Marsh estreitou os olhos. — Como você sabe que eles são
policiais? Você está trabalhando para eles, não é?
A partir dos cantos dos meus olhos, vi sua tripulação invadir. Em
seguida, Marsh estava em mim, me dando um soco duro no
estômago. Corri para ele, uma súbita onda de adrenalina me
empurrando com a dor quando as pessoas começaram a gritar em torno
de nós. Os irmãos Nighthawk saltaram, socando e me chutando de
todos os lados. Eu estava vagamente consciente de Gage gritando,
tentando me alcançar. Mais socos e, em seguida, eu fui para baixo, com
um pé no meu rim.
Em um instante, os policiais estavam encima de nós e Marsh
esqueceu tudo sobre mim. Eu vi quando ele puxou uma faca, em
seguida, se lançou em um deles. Ah, porra. De repente, Gage estava ao
meu lado, me pegando pelo braço para me arrastar de volta. Um corpo
voou, derrubando-o. Eu vi um flash de spray de sangue vermelho
brilhante através do ar. Agarrei uma cadeira, e comecei a me levantar
quando alguém me atingiu na parte de trás da cabeça.
Eu cai para a frente, e no instante antes de eu atingir o chão eu
pensei sobre Melanie. Sobre o nosso bebê.
Sobre o fato de que eu estava quase certo que ia voltar para a
prisão.
Eu tinha fodido tudo.
~ 256 ~
Capítulo
17
DUAS SEMANAS DEPOIS
Caro Painter,
Recebi sua carta me pedindo para ir vê-lo antes de você ser
enviado de volta para a Califórnia. Eu tenho pensado muito sobre isso, e
eu mesma fui até a prisão uma vez. Me sentei no carro por meia hora e
depois dei meia volta, porque eu simplesmente não estou pronta para
falar com você.
Eu não sei quando eu estarei pronta.
Eu entendo que você entrou em pânico - quando eu descobri sobre o
bebê eu entrei em pânico também. Eu chorei no chão do banheiro, porque
eu estava tão assustada. É uma coisa terrível, de repente, descobrir que
você vai ser pai. Mas aqui está o problema... você não só entrou em
pânico. Você caiu fora e fez algo que você sabia que poderia te enfiar de
volta na prisão. Essa foi uma escolha que você fez e teve consequências
graves. Agora eu vou ter um bebê sozinha e você vai ficar longe por dois
anos. Você percebe que nós só passamos algumas semanas juntos no
total em todo o tempo que eu te conheço?
Você perguntou se eu consideraria esperar por você. Não. Eu tenho
uma pessoa na minha vida agora que realmente importa, e ela é quem
está crescendo dentro da minha barriga. As quatro semanas que
passamos juntos, cheias de perguntas não respondidas e viagens
secretas para longe de mim, não são o suficiente para se construir uma
vida. Não é justo para mim ou para o nosso bebê que eu me sente e
espere por um homem que fugiu de nós. E sim, você diz que se arrepende,
mas você também fez algo que garantia que nós nos separássemos. Você
não tem que sequer optar por ignorar o seu filho. Você fez o que sempre
faz.
E eu acho que isso é o que você realmente queria de qualquer
maneira... que este problema desaparecesse.
Agora ele se foi.
~ 257 ~
Eu não odeio você. Por tudo o que significou, e u estou triste. Eu
diria que você quebrou meu coração, mas isso não é verdade - eu não
posso me dar ao luxo de ter um coração partido. Eu sou uma mãe agora,
ou eu vou ser em breve. Se eu vou cuidar desse bebê, eu não posso
perder mais tempo e energia com um homem que sempre colocou sua
moto e seu clube em primeiro lugar.
Eu mereço alguém que me coloque em primeiro lugar. O mesmo
acontece com o nosso filho.
Melanie
DOIS MESES DEPOIS
Cara Melanie,
Espero que você esteja bem. Fiquei desapontado que você não veio
me ver enquanto eu estava esperando na cadeia do condado de Kootenai
para minha audiência de condicional, mas eu também entendo. Agradeço
a carta que você enviou, e eu concordo com você. Você tem todo o direito
de ficar longe de mim e eu não culpo você por estar chateada.
Eu estou chateado comigo mesmo também.
Eu tive muito tempo para pensar sobre o que eu fiz. Você pode não
estar interessada em ouvir, mas eu sinto muito. Sinto muito por tudo. Eu
deveria ter sido solidário quando você me disse sobre o bebê. Não há
nenhuma desculpa, mas eu queria explicar. Eu tive uma infância de
merda e as crianças me assustam. Mas quanto mais eu penso sobre um
bebê com os seus olhos, mais eu o quero. Eu espero que você me dê a
chance de ser um pai quando eu sair daqui.
Eu também sinto muito que eu tenha me jogado de volta na prisão
quando você mais precisava de mim. Me desculpe, eu não vou estar com
você quando o bebê nascer, e quando você estiver cansada e precisando
de ajuda eu não vou estar por perto.
Eu nunca vou me perdoar por isso.
Puck me diz que Jessica e Loni estão te ajudando e que você está
indo bem. Ele está vendendo a minha moto e irá levar o dinheiro para
você assim que ele puder. Eu espero que você considere usar um pouco
~ 258 ~
dele para vir me ver quando o bebê nascer - talvez trazê-lo para eu
conhecer. (Ou ela, se for uma menina. Eu acho assumi que seja um
menino, mas eu não me importo de qualquer forma. Eu só quero conhecê-
lo.) Se não puder, eu espero que você me envie fotos.
Talvez a minha vida tivesse sido diferente se eu tivesse um
pai. Talvez eu não seria tão fodido. Eu prometo a você que se você me der
uma chance, assim que eu sair, eu vou ser um pai de verdade para o
nosso filho.
Ainda te amo,
Painter
SETE MESES DEPOIS
Painter,
Então, eu aposto que você não esperava ouvir de mim, huh? Hunter
ficou com raiva quando eu lhe disse que queria escrever para você, mas,
então ele e eu conversamos sobre isso um pouco mais, e quando eu
expliquei o porquê, ele entendeu.
É porque nós dois sabemos como é perder um filho.
Eu sei que a sua situação é diferente, porque seu bebê está vivo e
bem, mas provavelmente você sente como se tivesse perdido ela. Talvez
ouvir mais sobre ela de mim vai ajudar. (Espero que você já saiba tudo
isso de qualquer maneira, mas eu não me senti confortável em perguntar
a Melanie sobre isso, dadas as circunstâncias).
De qualquer forma, a bebê Isabella é linda. Eu estou enviando
algumas fotos do hospital. Kit e eu estamos muito animadas -
perguntamos a Melanie se poderíamos ser suas tias e ela disse
sim. Quando soubemos que ela estava em trabalho de parto eu queria
estar lá, embora não estivéssemos no quarto. Esperamos lá fora no
corredor, onde haviam algumas pessoas muito interessantes
esperando. Um monte de vovós animadas, esse tipo de coisa. Jessica e
London estavam lá dentro com ela.
Eu não sei o quanto você já ouviu, mas as coisas ficaram
assustadoras por um tempo. Izzy (assim que estamos chamando-a) não
~ 259 ~
estava progredindo bem e depois ocorreram algumas complicações. Eles
tiveram que fazer uma cesárea de emergência e o bebê acabou ficando
com um pouco de mecônio (que é cocô - eu provavelmente escrevi errado)
em seus pulmões. Ela terminou na UTI por mais de duas semanas e teve
pneumonia. Até mesmo agora nós temos que manter um olho nela e
estamos todos alternando turnos para vigiá-la.
Ela tem apneia, o que significa que ela às vezes para de
respirar. (Há um alarme que deveria disparar caso isso acontecer, mas é
difícil confiar em uma máquina com algo tão importante). É realmente
assustador. A boa notícia é que eles acham que ela vai crescer sem isso e
não vai haver maiores complicações. Melanie tem sido incrivelmente
forte. No mesmo dia da cirurgia, ela saiu da cama, subiu em uma cadeira
de rodas e em seguida, nos fez levá-la até a UTI neonatal para ver
Izzy. Não deu a mínima que ela tinha acabado de ser operada ou que o
médico lhe disse para não ir.
Essa menina é uma lutadora, e ela vai ser uma boa mãe.
Eu tenho que ir agora, mas eu espero que você esteja bem. Hunter
diz que espera que você se foda e que você é um imbecil, mas ele estava
sorrindo, enquanto ele disse isso. Ele também envia seu respeito.
Se cuide,
Em
SOUTHERN CALIFORNIA, Instituição Correcional
MELANIE
Eu não estava pronta para vê-lo.
Eu estive me torturado por semanas - eu mesma liguei para
Jessica mais cedo naquela manhã para uma última conversa de antes
de eu deixar o quarto de hotel. Ela me fez lembrar de todas as razões
que eu queria que Izzy soubesse quem era seu pai, mas agora que nós
estávamos realmente aqui, na área de visitação, eu não conseguia me
lembrar de nenhuma delas.
~ 260 ~
Tudo o que eu conseguia pensar era no quanto ele me machucou
na última vez que conversamos.
Olhei ao redor em pânico, imaginando se eu deveria apenas
sair. A guarda em pé ao meu lado me escoltando chamou a minha
atenção.
— Eles estarão aqui em um minuto, — disse ela em voz baixa,
oferecendo um sorriso tranquilizador. Ela não parecia estar trabalhando
em uma prisão. A mulher tinha provavelmente a idade de Loni, não era
uma modelo maravilhosa, mas era atraente. Ela olhou para Izzy, o rosto
suavizando ainda mais.
— Me desculpe ter tido que revistar a bolsa de fraldas, —
acrescentou. — Você não acreditaria quantas pessoas tentam esgueirar
contrabando.
— Eu entendo, — eu disse calmamente, embora a realidade era
que eu mal conseguia manter minha mente lúcida. Como eu havia caído
em um mundo onde as pessoas achavam que eu carregava drogas junto
com as fraldas da minha filha?
— Você está pronta? — perguntou Puck, seu rosto sombrio e
vazio como sempre. O melhor amigo de Painter me deixava
desconfortável, mas eu não podia negar que ele tinha sido uma grande
ajuda. Às vezes parecia que eu não podia me virar sem encontrar algum
motoqueiro me verificando. Isto era bom e ruim - eu precisava de ajuda,
mas eu odiava me sentir dependente. Por mais que eu culpe Painter
pelo que aconteceu, eu culpei os Reapers também.
Eles o arrastaram para isso.
Eles e seu =clube de negócios‘.
Ficamos ali sem jeito com o resto dos visitantes, que vão desde
outras jovens mães com crianças, até pessoas em seus cinquenta e
sessenta anos. Algumas das mulheres poderiam ter passado por
prostitutas e pelo que eu sabia, elas eram.
Prostitutas visitavam seus cafetões na cadeia?
Esse era um pensamento sombrio, mas mais sombrio ainda, era
pensar em quantas mulheres foram forçadas à prostituição para
sustentar seus filhos quando seus pais foram presos. Olhei para Izzy,
dormindo pacificamente em meus braços, e soube que eu faria qualquer
coisa para cuidar dela. Qualquer coisa.
~ 261 ~
A porta no fim da sala se abriu, e, em seguida, homens usando
macacões laranja começaram a andar e um pequeno menino ao meu
lado gritou quando ele arrancou em direção a um cara assustador. —
Papai! — um cara hispânico coberto de tatuagens de gangue. Ele sorriu,
balançando o menino em seus braços, segurando-o firmemente
enquanto beijava seu cabelo.
Em seguida, veio Painter.
Minha respiração ficou presa, mil emoções diferentes lutavam
pelo controle. Raiva. Amor. Dor... uma parte de mim notou que ele
parecia melhor, embora seu rosto estivesse mais sombrio do que
nunca. Seu cabelo tinha crescido um pouco, caindo até os ombros
vagamente. Os olhos azuis procuraram por nós, se deixando cair
instantaneamente para o pacote precioso da vida em meus braços.
Ele parou de andar, então engoliu.
— Vamos, — Puck disse, estendendo a mão para tocar meu
cotovelo, me pedindo para ir mais à frente. Dei um passo em direção a
Painter, os nossos olhos fixos um no outro. Então eu estava de pé na
frente dele, tensa e desconfortável. Puck não estava comigo, eu
percebi. Ele recuou, oferecendo a privacidade que podia sob as
circunstâncias.
— Ei, — eu disse suavemente.
— Ei, — Painter respondeu. — Obrigado por ter vindo.
Isto era ainda mais difícil do que eu imaginava.
— Eu queria que você a conhecesse, — eu disse a ele, me
sentindo incerta. — Você deve conhecer sua filha.
Ele olhou para baixo, olhando para o pequeno rosto
dormindo. Ela tinha nascido com uma cabeça cheia de cabelo loiro
pálido. Eu coloquei uma flor branca na cabeça dela que combinava com
seu vestido de verão, um presente de Loni.
— Posso... posso segurá-la? — ele perguntou suavemente.
— Sim.
Ele estendeu os braços e eu a entreguei com cuidado,
recuperando o fôlego quando a nossa pele se tocou. Ela ainda estava lá,
a consciência entre nós. Intensa e elétrica. Izzy acordou, suas pequenas
mãos levantando quando seus olhos se abriram.
~ 262 ~
Azul claro, tal como os olhos dele.
Eles olharam um para o outro, pai e filha, e algo dentro do meu
peito quebrou. Ele estendeu um dedo em sua direção e Isabella agarrou
com força, fazendo um leve barulho borbulhante.
— Ela é perfeita, — ele sussurrou, e mesmo que nós estivéssemos
cercados por outras pessoas, parecia que éramos os únicos na sala. Só
eu, ele, e nossa filha...
— Você quer se sentar com ela? — perguntei.
— Sim.
Olhei em volta, encontrando uma mesa vazia. — Vamos lá.
Painter se aproximou devagar e com cuidado, segurando Izzy
como se ela fosse feita de vidro. Ele parecia estar sussurrando para ela,
e quaisquer dúvidas que eu tinha de se ele a amaria desapareceram. Ele
já tinha se apaixonado por ela - se apaixonado por ela tão forte e rápido
como eu a primeira vez que a vi na UTI.
— Em me enviou fotos, — disse ele, uma vez que sentamos na
mesa. — Ela me contou sobre quando ela nasceu também. Parece que
você fez um trabalho incrível.
— Eu tentei. Tive que fazer uma cesárea - eu realmente queria
fazer tudo natural, sabe? Eles disseram que era melhor para o
bebê. Mas eu simplesmente não podia. Eu tentei e tentei, mas ela não
estava vindo.
Ele olhou para mim, os olhos intensos.
— Ela é perfeita, — disse ele de novo, enfatizando a palavra. —
Você fez tudo certo, Mel. Me d isseram sobre tudo o que você passou,
lutando por ela. Eu não posso imaginar ninguém fazendo melhor.
Piscando rapidamente, eu lutei contra as lágrimas que ardiam
nos meus olhos.
— Eu queria que você estivesse lá, — eu sussurrei.
— Eu queria ter estado lá também.
Izzy deu um pequeno grito. Seus olhos voaram de volta para ela,
ampliando em algo como pânico. Ela levantou os braços, esticando-os
alto quanto ela bocejou. Então seus olhos se estreitaram quando seu
nariz franziu. Eu conhecia aquele olhar.
~ 263 ~
— O que há de errado com ela? — ele perguntou rapidamente,
sua voz quase em pânico.
— Ela deve estar com gases, — eu disse. — Basta dar a ela um
minuto.
Izzy não precisou de um minuto, no entanto. Uma série de altos
ruídos molhados e esmagados explodiram. O rosto de Painter torceu,
uma combinação de choque e horror - como se ele meio que esperava
que sua cabeça girasse em torno do seu corpo ou algo assim. Ele olhou
para mim.
— O que nós fazemos?
Eu ri - não poderia me conter.
— Só dê a ela alguns minutos, — eu disse a ele. — Depois que ela
terminar eu vou trocá-la.
PAINTER
A bunda de Melanie balançava enquanto ela se afastava com
Isabella. A minha filha - quão irreal era isso? Eu podia ver as diferenças
no corpo de Mel desde a gravidez - ela tinha preenchido. Seus peitos
eram maiores também. Eu tinha saudades dela pra caralho, desde que
eu tenho estado preso. Desta vez era diferente do que tinha sido
antes. Pior. Não que o tempo gasto em uma cela fosse bom, mas saber
que eu estava perdendo algo tão incrível - tão importante – transformou
isso em pura tortura.
E dessa vez eu não tinha sequer as cartas dela para passar o
tempo.
Eu esperava que não levasse muito tempo para trocar Izzy. Temos
um tempo limitado para visitação, e eu não queria perder nada
disso. Só Deus sabia quando - ou se - ela iria querer fazer isso de
novo. Cristo, eu amava a garota mais do que eu jamais pensei que fosse
possível, e agora eu não poderia vê-la novamente por meses.
— Como vai? — perguntou Puck, sua voz baixa quando ele sentou
no banco na minha frente. Eu dei de ombros.
~ 264 ~
— Bem, além do fato de que eu estou na prisão e eu perdi os
primeiros cinco meses de vida da minha filha, está tudo bem pra
caralho. Como estão as coisas com você?
Puck deu um sorriso lento. — Melhor do que com você. Estive
mantendo um olho nela para você.
— Obrigado, — eu disse. — Eu fodi tudo desta vez, irmão. Muito.
Ele assentiu. — Aham.
Eu mordi de volta um sorriso, me inclinando sobre as minhas
pernas.
— Adoro como você sempre tenta me fazer sentir melhor.
Puck levantou uma sobrancelha. — Você gostaria que eu tapasse
o sol com a peneira?
— Justo. Como foi a viagem?
— Boa, — disse ele. — Estranho, viajando com um bebê, mas ela
foi tranquila. Chorou um pouco durante a partida. Mel teve que dar de
mamar à ela no avião. Ela ficou um pouco desconfortável.
Franzindo a testa, eu dei a ele um olhar duro. — Você olhou para
os peitos dela?
— Sim, porque eu tenho um fetiche por leite, — disse ele,
revirando os olhos. — Você é um filho da puta doente, você sabia disso?
Isso me fez rir de novo, e ele se juntou a mim.
— Então você está se mantendo seguro aqui sem mim? — ele
perguntou finalmente.
— É mais difícil desta vez, — eu admiti. — Mas eu tenho Pipes
nas minhas costas. Esta merda que aconteceu em Hallies Falls tem lhe
preocupado e um monte de alianças caíram. Nós nos apoiamos uns nos
outros um pouco. E, claro, há Fester... ele está muito feliz de me ter de
volta.
Puck bufou. — Como está o Príncipe dos pervertidos?
— Você vai ficar chocado ao ouvir que ele ainda é um porco
nojento, — eu disse. — Mas olha só isso - eles começaram um novo
programa de arte. Estou ensinando e ele é um dos meus alunos. Ele não
é de todo ruim, contanto que você o mantenha focado. Um pouco mais
interessado em anatomia do que eu gostaria. Meio que obcecado com a
~ 265 ~
forma como os músculos e articulações ficam juntos... e como eles se
parecem rasgando.
— Divirta-se com isso, — ele respondeu, sorrindo. Me virei e nós
dois nos sentamos, olhando para o outro. Não havia muito mais que eu
poderia dizer, mas qual seria o ponto? Nada nunca mudou por
dentro. — Não vou mentir - estou feliz que eu não estou aqui com você.
— Justo.
— Temos algumas atualizações para você, — disse ele
calmamente. — Eu sei que você ouviu alguma coisa, mas percebi que eu
deveria falar com você sobre o resto. Te contaram que Marsh estava
carregando uma porrada de metanfetamina?
— Sim, Pic mencionou, tive reforços em Coeur d'Alene, — eu
disse.
— Bem, ele finalmente confessou. Entre esfaquear o policial e as
drogas que ele estava carregando, ele vai ficar preso por pelo menos três
anos. Talvez mais, dependendo de seu comportamento – o cara não é
exatamente conhecido por se segurar sob pressão.
— Essa é uma boa notícia. E o resto deles?
— Eles trancaram os outros dois. Talia sumiu, ninguém sabe
onde ela está. Marsh está chateado - ele está culpando você pelo o que
aconteceu, não que isso importe.
— Boa sorte.
— Sim. Gage ainda está em Hallies Falls. Ajudando aqueles que
foram deixados a se reconstruir. Aqueles que valem a pena manter...
houve alguma conversa sobre eles se juntarem aos Reapers.
— Pode ser melhor, — disse eu, pensando em Cord e os outros
irmãos que tinham sido infelizes sob o comando de Marsh. — Pipes me
contou algumas coisas, mas o que ele sabe é limitado. Estamos muito
longe para manter contato, sabe?
Puck assentiu.
— Bem, eu tenho uma boa notícia também, — disse ele. — Pic
queria que eu repassasse isso para você, na verdade. Eles ainda têm o
seu trabalho pendurado na loja, e aquele cara que falou com você sobre
a pintura de sua moto apareceu mais algumas vezes. Aparentemente,
~ 266 ~
ele é amigo de um negociante de arte, e ele mostrou algumas fotos de
seu trabalho. Eles estão interessados em fazer uma galeria.
— Huh, — eu disse, não completamente certo sobre o que fazer
com essa informação. Puck inclinou a cabeça.
— Pensei que você ficaria mais animado.
— Eu estou. Quer dizer, eu acho que eu estou. Mas eu não tenho
certeza de como eu iria trabalhar... não tenho muitas peças, e não é
como se eu pudesse fazer mais daqui. E ele sabe que eu estou preso -
eu já escrevi pra ele dizendo que eu teria que devolver o dinheiro.
Puck tossiu. — É aqui que fica estranho. Eu acho que você estar
na prisão - você sabe, criminoso durão, moto clube e toda essa merda –
te tornou mais interessante. Guy diz que o comerciante gostou disso, o
chamou de =perigoso‘.
Eu bufei.
— Esta porcaria é verdade?
— Aparentemente sim. Ele quer vir te ver. Pic disse que iríamos
conversar com você primeiro. Não quero que você lide com algum tipo
de aberração, sabe? Mas poderia ser um bom dinheiro - Mel não está
exatamente esbanjando dinheiro. Você conseguiria um dinheiro que
faria uma grande diferença.
— Pode fazer, — eu disse brevemente.
— Fazer o quê? — perguntou Mel, vindo até nós. Izzy estava bem
acordada e alerta, e ela tinha sido trocada por roupas limpas.
— Tem um cara que quer colocar em uma mostra de arte alguns
dos meus trabalhos, — eu disse a ela. Seus olhos se arregalaram.
— Essas são ótimas notícias.
— Pode ser. Eu não vou ficar muito animado até vermos como ele
joga. Eu posso segurar Izzy de novo?
— Claro, — disse ela. Estendi a mão para o bebê, a palma da
minha mão escovou o lado inferior de seu seio. Seus olhos voaram para
os meus, e ela piscou rapidamente. Lágrimas? Não, não era bem assim,
mas seus olhos estavam vermelhos e definitivamente tristes. Puxei Izzy
para perto, me inclinando para sentir seu cheiro suave de bebê.
~ 267 ~
Eu me dei conta que depois de hoje, eu nunca mais poderia ter a
experiência desse cheiro de novo. Cristo. Isso era muito pior do que eu
jamais imaginei na minha vida... senti como se minhas entranhas
estivessem sendo arrancadas, cada segundo com ela era precioso e
perfeito e tudo estava acabando mais rápido do que deveria ser possível.
— Puck, você pode nos dar um minuto? — eu perguntei a ele. Ele
balançou a cabeça, andando em direção às máquinas de venda
automática. Melanie se sentou do outro lado da mesa. Eu tinha
esperança que ela se sentasse ao meu lado, mas não tive sorte.
— Eu já pedi desculpas em minhas cartas, — eu comecei. Ela
levantou uma mão.
— Isso é difícil o suficiente sem ouvir suas justificativas, — disse
ela, a voz cuidadosamente em branco. — Eu não quero ouvir isso.
— Eu vou ser um bom pai.
— Você não pode ser, — ela respondeu asperamente. — Você não
está lá e você não vai estar por mais um ano e meio.
Respirando fundo, eu me forcei a ficar calmo.
— Eu percebo que, — eu disse lentamente. — uma vez que eu
voltar, isso mude.
— Nós veremos.
— Não, eu falo sério. Eu vou estar lá para vocês duas. Eu
prometo.
Ela me olhou de forma constante, então olhou ao redor da
sala. Outras famílias se sentaram em mesas, outros pais segurando
seus filhos, brincando com eles ou colorindo. Lendo histórias juntos.
— Quantos deles fez essas mesmas promessas? — perguntou ela,
a voz triste. Porra.
— Palavras não podem corrigir isso - eu entendo. Mas uma vez
que eu estiver fora, você vai ver. Eu vou cuidar de você e de Izzy.
Ela desviou o olhar por longos minutos. O bebê gorgolejou
novamente, em seguida, estendeu seu corpinho e chutou o ar com as
pernas. Em seguida, Izzy sorriu para mim e todo o mundo desapareceu.
Sim, soa estúpido, mas é a porra da verdade.
~ 268 ~
— Eu vou cuidar de você, — eu sussurrei, me inclinando para
beijar sua bochecha macia. — Eu prometo. Sua mãe não acredita em
mim ainda, mas eu vou mostrar a ela. Vou mostrar a você. Papai está
aqui, menina.
— Por agora, — murmurou Melanie. Eu não disse nada - afinal, o
que diabos eu poderia dizer?
Ela estava certa.
MELANIE
Izzy começou a chorar quando finalmente se afastou da prisão. A
visita tinha tido quatro horas de duração, mas pareceu quarenta
minutos. Isso é o quão rápido tinha acabado. Eu não podia culpá-la por
isso - eu tive vontade de chorar também.
— Ela está bem? — perguntou Puck, uma grande mão estendida
sobre a parte superior do volante.
— Tudo bem, — eu disse. — Embora ela provavelmente vá querer
comer em breve.
— Também estou com fome. Nós podemos parar e pegar algo no
caminho de volta para o hotel. A menos que você queira fazer algo
enquanto nós estamos aqui? Tenho algum tempo de folga esta tarde.
— O que, como ir passear?
— Se quiser.
Considerei a ideia, mas o pensamento de fazer as coisas turísticas
com o melhor amigo de Painter e uma recém-nascida não me pareceu
exatamente como diversão. — Não, vamos apenas ir para o hotel. Izzy
precisa dormir um pouco e eu gostaria de algum espaço.
— Você que sabe.
Ele ligou o rádio e dirigiu para o hotel. O olhar no rosto de Painter
estava me assombrado. Eu queria odiá-lo pelo que ele tinha feito, mas a
dor que ele sofreu quando ele entregou Izzy de volta para mim era real.
Ele a amava.
~ 269 ~
Eu não tinha certeza se ele amaria - ele não queria filhos. Ele
tinha escolhido a prisão ao invés da nossa filha. Não que ele tivesse
escolhido a opção prisão em vez de paternidade em um teste, mas ele
sabia muito bem que a sua agente de condicional estava em busca de
sangue quando ele deixou o estado.
Mas ele realmente amava Izzy. Eu tinha visto isso.
— Eu vou começar a enviar fotos, — eu disse a Puck
abruptamente. Ele me lançou um olhar rápido, em seguida, assentiu.
— Ele provavelmente gostaria disso.
E foi isso.
Eu gostava de Puck, eu decidi. Ele era grande e assustador, com
uma cicatriz desagradável em seu rosto e todas as habilidades sociais
de um assassino, mas ele sabia quando manter sua boca fechada.
— Obrigada. Obrigada por nos trazer aqui.
Ele olhou para mim novamente.
— A qualquer hora, Mel. A qualquer hora.
~ 270 ~
Capítulo
18
COEUR D'ALENE
SEGUNDA FESTA DE ANIVERSÁRIO DE IZZY
MELANIE
— Bolo? — perguntou Izzy, sua voz esperançosa. Eu olhei para a
pirâmide de bolinhos rosa com pequenos recortes de princesas em cima
deles e suspirei.
London e Jessica pareciam determinadas a me enterrar em uma
montanha de rosa, algo que minha filha estava muito feliz em
incentivar. Não foram só os cupcakes rosa, mas a toalha de plástico, os
copos, os pratos, os guardanapos, e os balões também eram todos
rosa. Especificamente, o tipo de rosa néon que quase fazia seus olhos
sangrarem, com princesas e unicórnios, porque Deus é cruel.
Pior ainda foi o vestido perturbadoramente bufante que Painter
tinha dado a ela. Ok, por isso mesmo que eu tinha que admitir que era
bonito, uma coisa com um tutu de tule brilhante anexado a uma malha
de algodão leve. Tinha até a palavra =princesa‘ escrito na frente em
glitter prata. Teria sido mais bonito se não fosse tão malditamente rosa,
no entanto. Às vezes, me sentia como se um coelhinho da Páscoa tivesse
vomitado por toda a minha vida, que antes era toda em tons pasteis.
Essas são as alegrias de se ter uma filha.
À distância, eu ouvi o rugido dos motores das Harleys e olhei para
cima para ver Painter e Reese Hayes virando a esquina para o
estacionamento. O som era o bastante me tirar do transe induzido de
Izzy, algo que eu não teria apostado ser realmente possível.
— Papai! — ela gritou, correndo todo o gramado em direção a
eles. Era um dia lindo para uma festa de aniversário no parque - teria
sido perfeito se ele não tivesse vindo. Mas eu também sabia o quanto ele
estava ansioso para compartilhar um aniversário com ela.
~ 271 ~
Pena que isso significava que eu não podia relaxar e desfrutar da
festa como eu queria. Idiota. Desde que ele tinha voltado, ele tinha sido
bom. Muito bom. O que ele fazia era como um jogo, um show que ele
estava fazendo para provar que ele realmente mudou e eu deveria
perdoá-lo. Isto era bom e fofo, mas em última análise, isso não
significava porra nenhuma, porque Painter ainda dançava no lado
errado da lei, e nós dois sabíamos disso. Eu não podia me dar ao luxo
de me acostumar a ter ele por perto, ou depender dele. Ele ia me
destruir - Izzy não merecia eu estar quebrada.
Só porque ele não estava na prisão agora não significa que não
poderia em alguma parte de seu futuro.
— Você está pronta para isso? — perguntou Jessica, chegando
próximo a mim. Ela sabia exatamente como eu me sentia sobre a
situação - eu não podia exatamente falar com Loni sobre os Reapers,
mas Jess era uma história diferente.
— Sim, — eu disse, colando um sorriso feliz no rosto. — Vai ser
ótimo. Uma explosão. Muito divertido.
— Você está exagerando, — respondeu ela, batendo meu ombro
com o dela. — Apenas tente relaxar. Vão ser só algumas horas e, então
você estará novamente de volta para casa com Izzy.
Fechei os olhos, lutando contra uma onda de pânico.
— Não, eu não vou.
— O que você quer dizer?
— Painter vai levá-la para uma festa do pijama esta noite, — eu
disse, sentindo meu sorriso endurecer em algo que não poderia ter sido
bonito. — Ele quer isso já faz alguns meses, então eu coloquei uma
série de condições. Ele concordou com elas. Eu nunca esperava que ele
concordasse.
Seus olhos se arregalaram. — Por que não eu ouvi sobre isso
antes?
Eu dei de ombros.
— Nunca pensei que ele fosse realmente fazer isso, — eu
admiti. — Quando ele me pediu para ir e verificar a casa dele, eu fiquei
atordoada. É totalmente boa para crianças. Ele até tem uma cama de
~ 272 ~
criança para ela, e ele comprou todos as comidas favoritas dela. Loni
está na lista de emergência do celular, se ele precisar de ajuda, e é claro
que eu vou estar do lado do meu telefone. Izzy está toda animada sobre
isso - nós fizemos uma mala cheia de animais de pelúcia para ela levar
para casa do pai.
— Uau, — disse ela. — Nunca achei que isso fosse acontecer.
Eu assisti como Painter puxou Isabella para cima da moto com
ele, deixando-a fingir dirigir. Deus, ela parecia mais com ele todos os
dias. O cabelo loiro dela brilhava no sol como um farol, e o azul de seus
olhos tinha ficado mais brilhante. Não só isso, ela gostava de pintar com
o dedo. Ok, todas as crianças amam pintar com o dedo, mas até mesmo
o professor pré-escolar em sua creche disse que ela mostrou sinais de
talento. Não tinha certeza de como eu me sentia sobre isso.
— Relaxe, — disse Loni, envolvendo um braço em volta do meu
ombro e me dando um abraço. — É só uma festa do pijama. Ele vai ser
bom.
— Isso é o que me assusta, — eu admiti. — E se ela gostar mais
dele que de mim? Tudo que ele faz com ela é divertido. Eu sou o única
presa fazendo o trabalho de verdade e dizendo não a ela. A este ritmo,
ela vai me odiar quando tiver doze anos, e então ele vai se casar algum
dia e ela vai querer ir viver com ele e sua nova madrasta e eu estarei
sozinha e... -
— Mel! — disse Jess, estalando os dedos na frente do meu
rosto. Eu olhei para ela. — Calma. Ela só tem dois anos.
Eu pisquei para ela.
Merda, ela estava certa. Você está perdendo a cabeça.
— Eu tenho um encontro hoje à noite, — eu admiti. — Estou um
pouco assustada com isso também...
— Um encontro? — perguntou Loni, olhando para mim. — É
sério?
— Ei, não é tão estranho, — eu disse, franzindo a testa. — Eu já
fui em encontros.
— Duas vezes, — disse Jessica. — Você foi para um encontro
duas vezes desde que Izzy nasceu, e ambas as vezes você os cortou para
~ 273 ~
chegar em casa e ver como ela estava. Não é saudável - você merece
uma vida. E Painter deve assumir uma parte da responsabilidade. Ela é
a filha dele também.
À distância, eu ouvi Izzy gritando animadamente enquanto
Painter colocava ela sobre seus ombros. Então ele e Reese começaram a
atravessar a grama em direção a nós, rindo e conversando ao longo do
caminho. Reese tinha sido bom, eu tinha que admitir. Ele e suas filhas
me acolheram como se eu fosse da família, tanto que eu tive que
trabalhar duro para manter a distância ou eu teria começado a ser
sugada para a família Reapers.
Não teria sido de todo ruim, eu sabia... as meninas se ofereceram
para tomar conta de mim e eu sabia que tinham boas intenções. Mas
cada vez que eu via os coletos dos Reapers, eu pensava sobre a falta de
Painter no nascimento de Isabella. Sobre as intermináveis noites
sentada com ela na UTI, ainda me recuperando de uma cirurgia. Então
nós finalmente chegamos em casa, e eu passei semanas sozinha no
escuro, segurando-a, aterrorizada demais para dormir porque a única
coisa permanente entre o meu bebê e a morte era um monitor eletrônico
que deveria apitar se ela parasse de respirar.
Eu não confiava no monitor.
Não depois da noite que eu acordei com vontade de fazer xixi,
apenas para descobrir que Izzy tinha ficado azul por falta de oxigênio. A
máquina do caralho era inútil. Eu nunca estive tão sozinha ou com
medo em minha vida. Reconstruir minha vida não tinha sido fácil, mas
eu tinha chegado lá. Eventualmente eu fiz novos amigos. Eu não era a
única mãe solteira no curso de enfermagem da faculdade. Izzy tinha
atrasado minha faculdade em alguns meses, mas eu tinha feito muito
bem.
Melhor do que bem, na verdade.
Agora eu tinha meu próprio apartamento, um emprego decente e
seguro de saúde. Não dependia mais da ajuda do Estado, o que foi uma
boa mudança. A maior parte da minha infância tinha sido beneficiada
por programas sociais, e me lembro muito bem como as pessoas
olhavam para mim e minha mãe por isso. Eles olhavam para o meu pai
também, mas eu não me importava com isso. Ele era apenas o bêbado
na sala de estar.
~ 274 ~
— Então, qual é o plano? — Reese perguntou quando chegaram
ao local do piquenique.
— Bolo! — Izzie gritou. — Bolo, bolo, bolo, bolo! Izzy bolo!
— Parece que nós iremos ter que comer bolo, — eu disse
secamente, sacudindo os meus pensamentos mais escuros. — Eu vou
pegar os fósforos.
— Eu tenho aqui, — disse Reese, tirando um isqueiro. Ele não
fuma, então eu nunca entendi muito bem por que ele carregava um -
acho que a capacidade de produzir incêndios em qualquer momento é
útil. Ele entregou a Loni, que acendeu as velas quando eu retirei o meu
telefone para registrar o momento. Painter colocou Izzy no chão e a
posicionou na frente ao bolo.
— Parabéns pra você... — todos nós cantamos, com Isabella
cantando mais alto. Ela bateu palmas, e quando terminou, ela se
lançou para o bolo, agarrando-o com as velas ainda em chamas.
— Merda, — disse Painter, saltando para frente para pegá-lo. Izzy
se virou para ele com raiva, batendo em seu braço.
— Meu!
— Isabella, assim não, — eu disse com firmeza. Ela olhou para
mim.
— Izzy bolo.
— Você pode comer o bolo quando você pedir desculpas, — eu
disse a ela. Seu olhar ficou escuro e ela parecia ainda mais parecida
com o pai dela, só que desta vez era engraçado e assustador. Jess
bufou. — Não comece, por favor.
Painter me lançou um olhar. — É o aniversário dela, Mel. Não seja
uma chata...
Ah não. De jeito nenhum - ele não chegou aqui para me
desautorizar assim. Já não basta a sua linguagem...
— Izzy pode comer o bolo quando ela pedir desculpas por bater
em você, — eu disse. Ele colocou o bolo na frente dela,
deliberadamente. Eu levantei minha cabeça, olhando para ele.
~ 275 ~
— Isabella, peça desculpas, — disse Jess, que tinha a sua
atenção. — Diga junto com a Tia Jess?
A menina olhou para Jessica e sorriu. — Desculpeee.
Eu suspirei de alívio, percebendo que isso poderia ser um sinal
das coisas que estavam por vir - Izzy era uma garota esperta. Muito
inteligente. Se ela perceber que poderia jogar seus pais um contra o
outro, estaríamos ferrados até ela chegar no ensino médio.
Eu senti outra onda de pânico me atingindo - se eu não podia
controlar uma criança de dois anos, como eu iria controlar uma
estudante do ensino médio?
— Tudo bem, princesa. É hora do bolo, — disse Painter,
balançando uma perna para sentar no banco ao lado dela. Ela sorriu
para ele, empurrando-o na boca, sem prestar a mínima atenção em
mim. Era sempre assim... Izzy era a menininha do papai.
Eu odiava isso, e eu meio que me odiava também.
Que tipo de mulher é louca de ciúmes de sua própria filha?
* * *
— Ela vai ficar muito bem, — disse Painter, me dando um
olhar. Ficamos parados um ao lado do outro, observando Izzy jogar
pega-pega com Jessica no parquinho. Ele havia perdido todos os
sorrisos agora que estávamos sozinhos. A prisão o tinha afetado ainda
mais profundamente agora. Ele tinha ficado mais sombrio ainda. Sua
arte era mais sombria também. Do que eu tinha visto em seu estúdio,
havia um novo poder em sua pintura, mas também um novo senso de
perigo.
Não é de admirar que as suas obras estejam vendendo como um
louco.
Parecia um pouco injusto, na verdade. Painter cometeu crimes e
foi para a cadeia, e tudo o que fez foi excitar os potenciais
compradores. Eu estudei muito e trabalhei duro, mas eu ainda não
podia comprar um carro novo. O fato de que ele se ofereceu para me
comprar um só piorava as coisas ainda mais.
~ 276 ~
Idiota.
— Você promete que vai me ligar se ela fica com medo? — eu
disse, odiando toda essa situação.
— Claro, — respondeu ele. — Mas ela não vai. Ela adora a minha
casa, e não é como se ela nunca tivesse dormido fora de casa - ela
passou a noite com London e Reese. Ela vai ficar bem. Você precisa
parar de se preocupar.
— Ok, — eu sussurrei, derrotada. — Eu vou estar fora esta noite,
mas eu ainda realmente apreciaria se você a deixasse me ligar na hora
de dormir. Eu quero dizer boa noite.
— Vai sair com quem? — ele perguntou casualmente. Eu atirei a
ele um olhar.
— Com um amigo.
— Encontro?
— Não é da sua maldita conta, — eu lati. Merda. Por que eu tinha
feito isso? Muita na defensiva, o que foi não foi uma coisa boa.
— Alguém que eu conheço? — ele perguntou, sua mandíbula
apertada. Eu virei para ele, levantando uma sobrancelha.
— Você fode tudo o que anda, — eu cuspi. — Como se atreve a me
questionar?
— Tá com ciúmes? — ele perguntou, os olhos duros. Carrancuda,
eu o olhei sutilmente. Ele levantou uma sobrancelha.
— Se você quer que eu pare de trepar por aí, venha com Izzy hoje
à noite e eu vou estar feliz em foder apenas você, Mel. Sempre que você
me quiser, a porta está aberta.
As palavras enviaram uma onda de calor através de mim, e eu
tenho certeza que meus mamilos ficaram duros como rochas. Ele deu
um sorriso zombeteiro.
— Ainda me lembro do teu gosto, baby - sem mencionar como eu
lembro da sua buceta envolvida apertada em volta do meu
pau. Não brinque comigo, Mel. Eu não sou um garoto que você pode
brincar.
Eu dei um passo para trás, os olhos arregalados.
~ 277 ~
— Você não pode falar assim, — eu consegui dizer. Seu sorriso se
tornou desagradável.
— Mel, eu fiz tudo o que você pediu, — disse ele. — E não há uma
maldita coisa na terra que eu não faria por Isabella. Mas eu estou
cansado de fazer as suas vontades quando eu quero ver a minha
filha. Ela é minha filha também.
— Você fica noites acordado tentando pensar em novas maneiras
de ser um idiota? — perguntei. — E eu nunca te pedi para fazer
qualquer coisa para mim. Eu ficaria feliz se você desaparecesse. Eu e
Izzy estávamos indo muito bem antes de você voltar e decidir brincar de
papai.
Algo brilhou em seus olhos, e então ele entrou no meu
espaço. Tentei recuar, e senti a mesa de piquenique bater minha bunda,
me bloqueando.
— Eu não estou brincando de nada, — ele disse, as palavras
baixas e duras. — Eu fodi tudo. Eu sei que eu fodi tudo, e eu pedi
desculpas, e eu fiz o meu melhor para compensar isso. Eu nunca vou
ter esse tempo com ela de volta, e eu lamento pelo resto da minha vida
de merda. Mas de jeito nenhum eu vou deixar você ou qualquer outra
pessoa ficar entre eu e a minha garota, Mel. Eu aprecio tudo que você
passou e eu sou grato que você é a mãe de Izzy, mas não ache que você
vai se livrar de mim. Você nunca vai se livrar de mim, Melanie. Para o
resto de sua vida de merda, eu vou estar aqui, porque nós
compartilhamos uma criança. Então pare de ser tão desagradável o
tempo todo.
Eu estava de pé, tremendo, quando ele levantou a mão para o
meu cabelo, empurrando uma mecha atrás da minha orelha. Seus
dedos traçaram a pele, enviando calafrios por todo o caminho da minha
espinha e entre as minhas pernas. Memórias surgiram entre nós,
pesada e doce.
— Eu gostava dele mais comprido, — ele sussurrou.
— Dava muito trabalho cuidar dele, — eu consegui responder,
desejando como o inferno que eu não pudesse sentir o calor irradiando
de seu corpo.
~ 278 ~
— Se você transar com ele hoje à noite, pense em mim, —
respondeu ele, os olhos ardendo. — Lembre-se de como era quando eu
era a pessoa dentro de você.
Como poderia alguém tão vil ser tão sexy?
— Certo, porque você está sempre pensando em mim? — eu
zombei. Ele lambeu os lábios com fome, então se inclinou para
sussurrar no meu ouvido.
— Toda vez, eu finjo que é você debaixo de mim. Não importa
quem é, eu fecho meus olhos e é sempre o seu rosto que eu vejo, Mel. É
só você falar e eu venho correndo saciar a sua fome.
Fechei os olhos, desesperada por um pouco de espaço.
— Você não pode falar assim.
Ele traçou seu nariz ao longo do lado do meu rosto, me cheirando.
— Quase um ano, — ele sussurrou. — Há quase um ano eu estou
livre, fazendo tudo que posso para te ajudar. Financeiramente,
ajudando na casa. Eu disse algo estúpido quando você me contou sobre
Izzy, e então eu fui imprudente. Eu pago caro por perder a primeira
parte da vida da minha filha. Eu não vou perder mais. Estou cansado
de tentar fazer você feliz, Mel, então aqui estão as novas regras. Você
pode foder por aí com quem você quiser, mas fique fora do meu
mundo. Quebre a regra e eu vou assumir. Entendeu?
Meus olhos se abriram novamente, e eu recuei tanto que eu teria
caído sobre a mesa se ele não tivesse me pegado.
— O quê?
— Você me ouviu, — disse ele, o rosto como pedra. — Novo jogo,
Mel. Eu cansado de fazer tudo para que você possa se sentir
bem. Considere-se avisada.
Com isso, ele se virou e foi embora.
~ 279 ~
Seis meses mais tarde
KOOTENAI MEDICAL CENTER URGÊNCIAS
— Todger, — disse Sherri, me cutucando com o ombro. —
Bêbado, fora de si e sem tomar banho desde a última vez que ele esteve
aqui. Pedra, papel, tesoura para ver quem vai ter que lidar com ele.
Eu balancei a cabeça e contei até três. Ela foi com o papel, eu
lancei a pedra. Porcaria.
— Puta sortuda, — eu disse, revirando os olhos. Ela riu, me
oferecendo um pequeno aceno. Todger era bastante inofensivo, mesmo
com cheiro de peixe morto. O cara tinha estado dentro e fora do Pronto
Socorro durante anos, apenas um dos muitos rapazes doentes mentais
sem-abrigo que nós vimos regularmente. Cerca de seis meses atrás, ele
encontrou algum alojamento temporário, mas a última vez, ele me
confidenciou que a CIA plantou escutas no apartamento e que ele não
estava seguro lá. Até onde eu sabia ele tinha voltado a dormir debaixo
das arquibancadas do Memorial Stadium. — A polícia o trouxe?
— Não, a estação de aquecimento chamou uma ambulância, —
disse ela. — Ele começou a ter uma convulsão no chão, soa como uma
crise de abstinência para mim.
Eu levantei uma sobrancelha. — Sério? Ele está tentando ficar
sóbrio?
— Quem sabe o que acontece com Todger? De qualquer forma, é
melhor você ir lá e ver como ele está. Nós o colocamos em um quarto,
mas o Dr. Ives está ocupado com um caso de verdade e Dra. Baker foi
pegar um pouco de comida. Disse que Todger ainda estaria lá quando
ela voltasse.
Justo o suficiente - Todger era frequente no pronto-socorro, mas o
que ele realmente precisava era de um longo tratamento. Quando eu
comecei, eu tinha incomodado o hospital com assistentes sociais até
que eles encontraram alguma coisa, e eu me senti orgulhosa de mim
mesma. Eles me avisaram que ele não iria ficar, e isso aconteceu. Ele
durou menos de uma semana antes dele se afastar do programa,
dizendo que ele não gostava das drogas psiquiátricas ou das pessoas
dizendo a ele o que fazer.
~ 280 ~
Baseado em seu cheiro, eu percebi que ele não gostava de ser
forçado a tomar banho também.
— Eu vou ver como ele está, — eu disse, suspirando. Tomando
um gole de meu café, eu deixei o posto de enfermagem e me dirigi para
o seu quarto.
— Eu te devo uma! — Sherri riu, e levou tudo que eu tinha para
não virar e mostrar o dedo. Conhecendo minha sorte, algum
administrador iria me ver e eu seria delatada.
Senti o cheiro dele antes que eu o visse. Para um pequeno
hospital da cidade, temos mais do que o nosso quinhão de sem tetos,
então eu tinha me acostumado com os doentes que cheiravam a fezes e
álcool. Francamente, era melhor do que o cheiro de sangue e podridão,
o que me assustava como o inferno. Pelo menos você pode lavar a
merda. Entrei no quarto e abri a cortina.
— Todger, eu ouvi que você está de volta-
Ele me bateu por trás.
Levou um segundo para eu me orientar e então eu estava
lutando. Infelizmente, isso foi apenas tempo suficiente para ele colocar
as mãos em volta da minha garganta. Oh meu Deus, isso está realmente
acontecendo? O doce e fedorento Todger estava me atacando, me
sufocando e eu não conseguia nem gritar por ajuda. Ele bateu minha
cabeça contra o chão, enviando rajadas brilhantes de dor explodindo
através do meu crânio.
Eu chutei para fora, desesperada para afastá-lo. Meus pés
pegaram o carrinho do computador, empurrando-o para cair sobre o
piso liso. Ele bateu em alguma coisa e depois o metal caiu no chão,
fazendo barulho alto.
— Eu vou matar você, cadela, — ele sussurrou em meu ouvido,
batendo minha cabeça no chão mais uma vez. — Eu entendi. Você
esteve alimentando eles com informações sobre mim por muito tempo,
mas agora você vai pagar. Você vai morrer!
As últimas palavras foram em alto e bom som, e então ele
começou uma longa e alta lamentação enquanto seus dedos se
apertavam ao redor do meu pescoço. Gritos penetraram a névoa na
minha cabeça, e então houve uma avalanche de pessoas na
sala. Atendentes estavam puxando ele, erguendo seus dedos da minha
~ 281 ~
garganta enquanto o arrastaram para longe. De alguma forma eu
encontrei força para me levantar, me aconchegando contra a parede
enquanto eu observava Sherri em ação, um anjo vingador com uma
agulha hipodérmica. Ela correu e injetou rápido e forte.
Todger continuou a lutar, mas eu sabia que os medicamentos
entrariam em ação rapidamente. A realidade ao meu redor parecia
distante e difícil de seguir. Então Sherri estava ao meu lado, friamente
avaliando enquanto eu pegava pedaços da conversa.
— Verifique ela.
— Restrições... nunca vi isso acontecer.
— Ele foi ficando pior com os meses... chame a psiquiatria...
— Melanie?
Me concentrei no rosto de Sherri, piscando.
— Você está em choque, querida. Fique comigo, ok?
— Eu estou bem, — eu consegui sussurrar, tentando me
concentrar. Minha cabeça doía... muito. Mas nada mais. Nenhum osso
quebrado, nada disso. — Eu vou ficar bem. Não se preocupe.
Sherri deu uma risada curta.
— Sempre a heroína, não é? — ela disse, embora eu tenha pego
uma pitada de medo em sua voz. — Pelo lado positivo, talvez nós vamos
finalmente conseguir uma cama hospitalar para Todger. Pelo menos por
enquanto.
— Ele estará de volta nas ruas, — eu consegui sussurrar,
oferecendo a ela um sorriso fraco. — Provavelmente não vai nem
lembrar do que aconteceu.
Isso a fez rir.
— Triste, mas é verdade, — disse ela. — Só observe, eles vão dar
alta para sua bunda cinco minutos após ele acordar.
— Tudo em um dia de trabalho, — eu disse com tristeza,
balançando a cabeça. Grande erro. Rolando, eu vomitei por todo o chão.
Eu não estava tão bem - ele me deu uma concussão.
Merda. Os próximos dois dias iam ser ruins.
~ 282 ~
PAINTER
Me debrucei sobre a mesa de bilhar, alinhando a minha tacada. O
jogo tinha começado como uma desculpa para me envolver em torno da
ruiva bonitinha que estava flertando comigo em frente ao bar pela
última meia hora, mas ela acabou por ser uma surpreendentemente
boa jogadora. De repente eu me encontrei com um desafio real. Me
excitou, eu tinha que admitir.
Já era hora. A maioria das mulheres que conheci esses dias eram
chatas. Eu gostei de ter meu pau chupado, não há dúvida, mas eu
ainda tendia a fechar os olhos e imaginar Melanie em seu lugar. Meu
pau parecia nunca chegar a entender a mensagem de que ela não
estava interessada em nós mais, não importa quantas vezes meu
cérebro explicasse esta realidade.
Fodidamente ridículo. Tudo.
Recuando, eu dei minha tacada. A bola bateu com um estalo
satisfatório, enviando o sólido verde para a caçapa do canto. A ruiva
amuou lindamente, em seguida, escorregou para me dar um beijo. Eu
apenas cobri sua boca com a minha, agarrando sua bunda, quando o
telefone no bolso de trás tocou.
Eu considerei ignorá-lo.
Cristo, mas como eu queria ignorá-lo. Infelizmente, uma das
desvantagens da vida do clube é sempre atender o maldito telefone,
porque um irmão poderia estar em apuros. Dando um generoso aperto
na bunda das ruiva, eu me afastei para atender meu telefone.
Melanie.
Ela nunca ligava, não a menos que fosse sobre Izzy, e eu não
conseguia pensar em uma única razão pela qual ela entraria em contato
à meia-noite na sexta-feira se não fosse uma emergência.
A ruiva deixou de existir.
Chamando a atenção de Puck, eu sussurrei Melanie e sai para o
pátio aberto do bar, longe da música.
— Ei, o que está acontecendo? — eu perguntei, me sentindo
ansioso.
— Painter? Você está aí?
~ 283 ~
— Aguarde um segundo, — eu disse a ela. — Estou saindo, onde
está quieto.
— Ok.
Levou um minuto, mas eu finalmente encontrei um pouco
privacidade. — Ei o que está acontecendo? Izzy está bem?
— Ela está bem, — disse Melanie, sua voz soando
estranho. Rouca, como se tivesse tossido. — Olha, eu preciso da sua
ajuda.
Bem. Isso foi diferente.
— Certo...
— Aqui está a situação - meu turno deveria terminar às oito, mas
houve um acidente no hospital. Izzy está com a babá e eles vão me
manter aqui durante a noite. London está fora da cidade e-
— Não, está tudo bem, — eu disse, minha mente mudando os
modos instantaneamente. Eu tinha ouvido algumas caras reclamando
que suas ex-namoradas sempre despejaram as crianças sobre eles, mas
Mel não era assim. Se ela ligava, era porque ela estava sem opções. —
Eu posso pegá-la. Qual é a situação?
Ela não respondeu por um minuto, e eu fui comecei a suspeitar.
— Melanie? O que está acontecendo?
— Um paciente me atacou, — ela admitiu lentamente.
— Que porra é essa? — perguntei, friamente. — Por quê?
— Ele é mentalmente doente, — disse ela rapidamente. —
Provavelmente nem se lembra de ter feito isso. Olha, não é grande coisa,
mas eles querem me manter durante a noite para garantir que o
ferimento na cabeça não é grave. Eu disse a eles que não é, mas você
sabe como é. Responsabilidade.
— Estou indo para o hospital, — eu disse. — Eu quero ver por
mim mesmo.
— Não, não é nada, — disse ela. Eu poderia ter acreditado nela se
ela não tivesse soado como se tivesse engolido um caminhão de
cascalho. — Eu estou bem, mas a babá de Izzy tem trabalho pela
~ 284 ~
manhã e ela realmente precisa chegar em casa, para dormir. Ela está na
minha casa. Vou ligar pra ela e deixá-la saber que você está a
caminho. Izzy está dormindo - ela não vai nem perceber o que
aconteceu.
Eu considerei discutir com ela, então decidi que era um
desperdício de tempo.
— Tudo bem, eu vou lá agora.
— Obrigada, Painter, — ela respondeu, parecendo cansada. —
Tem sido uma noite difícil. Saber que você vai ficar com Isabella é um
grande alívio.
* * *
— Obrigada por ficar com Iz, — disse a Marie, a old lady de Horse,
cedo na manhã seguinte. — Ela provavelmente vai acordar por volta das
sete, e se ela ficar chateada que Mel não está aqui, você pode me ligar
que eu falo com ela.
Marie assentiu com a cabeça, sorrindo para mim e me
tranquilizando. Não houve queixas por parte dela, apesar do fato de que
nós a arrastamos para fora da cama às cinco da manhã e Horse era um
homem de sorte. — Não se preocupe - nós vamos nos divertir
juntas. Basta ir e se certificar de que Melanie está bem e eu te cubro
neste fim de semana.
— Obrigado.
Agarrando minha jaqueta de couro, eu corri para a porta,
sabendo que era muito cedo para ir ver Mel, mas eu não conseguia me
segurar por mais tempo, eu precisava vê-la. Puck me seguiu. Ele
abandonou as meninas da noite passada para vir comigo, porque esse é
o tipo de amigo que ele era. Horse se ofereceu para vir também, mas eu
percebi que dois motoqueiros eram o suficiente para manter as pessoas
do hospital alertas com a gente, e não teríamos que nos preocupar com
eles chamando a segurança.
Nós nos dirigimos até Kootenai Medical Center e estacionamos,
parando por informações para encontrar o quarto do Mel. A velhinha da
recepção provavelmente não deveria nos dar essa informação, mas
~ 285 ~
algumas palavras doces e ela caiu em nosso papo. Às vezes me
assustava como as mulheres eram fáceis de manipular.
Menos Melanie - ela via através da minha merda.
Nós seguimos as placas no andar de cima e entramos no corredor
direito. Uma garota negra, alta e sexy com tranças estava no posto de
enfermagem, e eu deixei Puck flertar com ela enquanto eu procurava o
quarto do Mel. A porta estava fechada. Eu dei uma batida fraca, em
seguida, entrei para encontrá-la dormindo em uma cama.
Ah, merda.
Ela parecia como o inferno. Havia hematomas por todo o rosto e
pescoço. Não havia monitores conectados a ela, embora - isso tinha de
ser um bom sinal, certo? Havia uma cadeira não muito longe da cama,
um pedaço estranho de mobiliário que provavelmente era para parecer
normal.
Me sentei, me inclinando para estudá-la. Havia marcas de dedo
em sua garganta. Dedos. Alguém tinha colocado as mãos sobre minha
mulher, tentou matá-la, e eu nem sequer sabia o que estava
acontecendo. Senti raiva fervendo, começando no fundo do meu
estômago, torcendo e apertando cada músculo do meu corpo enquanto
eu me preparava para a violência.
Exceto que não havia ninguém para defendê-la. Apenas Melanie,
pálida e quebrada em uma cama de hospital.
Que porra tinha acontecido?
Vinte minutos se passaram, e, então a porta se abriu. A menina
com as tranças entrou, me olhando.
— E você é...? — ela perguntou.
— Eu sou o pai do bebê, — eu disse, mantendo a voz firme, sem
nenhuma quantidade de esforço. — A garota de Mel é a minha filha. Ela
me ligou na noite passada, disse foi um acidente e ela precisava de mim
para cuidar de Isabella. Alguém está me cobrindo, então agora eu estou
aqui para me certificar de que ela esteja bem.
Seu rosto se suavizou um pouco.
— Mellie está bem, — disse ela. — Ela pode te contar os detalhes
quando ela acordar, mas estamos apenas mantendo um olho nela.
~ 286 ~
— Ei, — Mel sussurrou. Ela estava lutando para abrir os olhos,
levantando a mão para sua cabeça. Alívio me inundou, embora não
pudesse acalmar completamente a violência no interior. — Jesus. Eu
me sinto como se tivesse morrido.
— Como vão as coisas, Mellie? — perguntou a enfermeira. — Você
se lembra o que aconteceu?
Mel balançou a cabeça lentamente. — Sim. Todger - nunca previ
isso acontecendo.
A menina de tranças bufou.
— Nenhum de nós previa. Você tem companhia.
Melanie olhou para mim, e eu inclinei minha cabeça, forçando
meu rosto para manter a calma.
— Onde está Izzy? — ela perguntou, franzindo a testa.
— Passei a noite com ela, e, então Marie veio esta manhã, — eu
disse, minha voz mais dura do que eu pretendia. — Ela e Horse vão
levá-la para comer panquecas ou algo assim que vai explodir sua
cabecinha. Agora me diga o que está acontecendo aqui.
— Mellie, você quer ele fora do quarto? — perguntou Tranças. —
Ele está aqui com um amigo, mas eu posso chamar a segurança.
Seu olhar era um desafio, deixando claro que ela estava lá para
sua colega enfermeira, sempre que necessário - aparentemente o flerte
de Puck nos levaria apenas até certo ponto. Inconveniente, mas também
é bom de se ver. Eu gostei da ideia das colegas de trabalho de Mel
estando lá para ela.
— Não, está tudo bem, — disse Melanie. — Eu quero chegar em
casa o mais rápido o possível. Não quero Izzy surtando.
— Eu ouvi isso, — disse Tranças. — Logo que tivermos sua alta,
nós vamos levá-la para casa. Me deixe conferir seus sinais vitais e
depois eu vou ver se eu posso encontrar um médico para te dar alta.
Eu provavelmente deveria ter oferecido para sair para o corredor
enquanto ela fazia o seu trabalho, mas de jeito nenhum eu iria deixar
Melanie longe da minha vista até que eu soubesse de toda a
história. Esta situação parecia muito como na manhã que eu a
~ 287 ~
conheci. Ficamos no hospital também, depois que a casa de London
tinha explodido, e Mel tinha ficado presa na explosão.
— Aperte seu botão de chamada se precisar de mim, — disse
Trança, fazendo um ponto ao entregar a ela o controle. Eu tomei uma
respiração profunda, e calmamente lhe ofereci um sorriso doce e ela
suavizou, assim como a velhinha lá embaixo. Muito fácil.
— Por que você está aqui? —perguntou Melanie depois que
Tranças saiu. Acho que ela estava tentando soar dura, mas saiu mais
patética do que qualquer outra coisa.
— Para saber o que diabos aconteceu, — eu disse a ela,
estudando as contusões. — Você parece uma merda.
— Vá se foder.
— A qualquer hora, embora você provavelmente não esteja bem
para fazer isso hoje. Agora me conte toda a história.
Ela olhou para mim por um segundo, então eu cruzei os braços e
esperei ela falar.
— Um dos frequentadores do PS - um sem-teto - me atacou.
— Por quê?
— Ele é mentalmente doente, — disse ela, encolhendo os
ombros. — Paranoico. Provavelmente, decidiu que eu estava tentando
fazer algo com ele. Ele parou de tomar seus remédios.
— Então, o que aconteceu com ele?
— Oh, eles o sedaram e o levaram para a Psiquiatria. Eles vão
estabilizá-lo e, então ele provavelmente vai estar lá fora de novo.
— Sério? — perguntei, assustado. — Nenhuma acusação, nada?
— Não faria nenhuma diferença, — disse ela, suspirando. — O
sistema não foi criado para pessoas como ele. Ele está doente, não é
mal. Eu não os quero pressionando por acusações.
— Então, eles simplesmente o deixarão sair de novo?
— Não até que ele esteja estabilizado. Quem sabe, talvez ele vá
perceber o que ele fez e tomar seus remédios desta vez. É uma situação
fodida, mas eu acho que tudo é possível.
~ 288 ~
Eu não gosto dessa merda. Não gosto de nada disso.
— Então, o que impede dele voltar e atacar você de novo?
— Esperamos que a medicação, — ela respondeu. — Nós
veremos. Tomo muito cuidado, Painter. Este foi apenas um acidente
aleatório, não é como ele estivesse lá fora para me pegar. Ele
provavelmente nem vai se lembrar do que fez. Só deixe isso pra lá, ok?
Eu estava de pé, andando em toda o quarto enquanto eu tentava
envolver minha cabeça em torno da situação. — Então eu tenho que
explicar para a nossa filha que a sua mãe apanhou de um cara louco, e
quando ela perguntar se isso poderia acontecer novamente, eu digo que
talvez? Não. Você precisa encontrar um trabalho melhor, Mel. Isto aqui
é fodido.
— Eu vou dizer a ela que foi um acidente, eu estou bem, e isso
não vai acontecer novamente. Não há nenhuma razão para assustar
Izzy.
— Há mil maneiras diferentes de ser uma enfermeira. Eu não
entendo por que você quer estar em torno de pessoas loucas,
esfaqueamentos e acidentes. Por que alguém iria escolher isso?
— Porque é desafiador e excitante? — ela retrucou. — Porque
essas pessoas precisam de mim, e todos os dias eu sou empurrada ao
limite das minhas habilidades? Qualquer coisa pode acontecer e eu
gosto disso - nunca é chato. Você de todas as pessoas deveria entender,
Sr. Reapers MC. Pelo menos sou eu que conserto os buracos nas
pessoas em vez de fazê-los.
Me virei, olhando para ela. — O quê?
— Você é um viciado em adrenalina, Painter, — disse ela. — Você
faz um bom dinheiro com a sua arte, mas você gasta todo o seu tempo
em uma fodida moto. Paciente cíclico, que é o que nós chamamos aqui,
você sabia disso? Você se envolve em brigas, você vai para a cadeia,
tudo isso para não ficar fora da corrida.
— Eu tenho sido um maldito santo desde que eu saí, e você sabe
disso. Eu não sou imprudente, eu cuido bem da nossa filha, e eu não
estou me colocando em qualquer risco maior do que você está. Claro, eu
estou em um clube de moto, mas você é a única que bateu a merda no
ventilador ontem à noite. Você é tanto uma viciada em adrenalina
quanto eu, admita.
~ 289 ~
Nós encaramos um ao outro, e apesar dos olhos negros e as
contusões, meu pau foi ficando mais duro. Seu peito arfava e seus
mamilos apontaram para mim através do vestido fino do hospital.
— Vá se foder, — ela finalmente disse. Eu ri.
— A qualquer hora - nós fizemos isto antes, — eu disse, me
sentindo estranhamente aliviado. Se ela era forte o suficiente para
brigar comigo, ela ficaria bem. — Você vai me prometer uma coisa, pelo
menos?
— O que é?
— Se você vai trabalhar neste lugar, eu quero que você tenha
algum curso de autodefesa, ok? Ruger pode te ensinar, e ele é bom no
que faz. Talvez você possa aprender sobre armas também.
Ela franziu a testa para mim. — Por que eu deveria saber como
atirar?
— Por que você deve precisar saber como se defender? Porque o
mundo é perigoso e você foi atacada. Isso vai me fazer sentir muito
melhor. Faça.
Os olhos de Mel estreitaram.
— Por favor. — eu adicionei, revirando os olhos. Ela encolheu os
ombros.
— Certo. Embora eu estivesse planejando isso de qualquer
maneira. Fazer uma aula, quero dizer. Eu nunca mais quero me sentir
que impotente de novo.
Eu sorri, sabendo que eu tinha ganhado, ela admitindo ou não. —
Quanto tempo mais você está presa aqui?
— Só até eles me darem alta.
— Eu vou esperar e te dar uma carona para casa. Podemos
explicar a Izzy juntos. Parece que você precisa dormir. Quer que eu
fique com ela a noite?
Os olhos de Melanie se estreitaram.
— Sim, isso seria adorável. Babaca.
— Cadela.
~ 290 ~
— Eu diria para vocês arranjarem uma cama, mas você já tem
uma. Quer que eu fique de guarda do lado de fora?
Nós dois nos viramos para encontrar Puck nos observando, seu
rosto escuro e sombrio. Eu peguei um toque de riso em seus olhos, no
entanto. Próximo a ele estava Tranças.
— O médico estará aqui em cinco minutos, — disse ela. — Talvez
o pai do bebê deva esperar lá fora?
Eu ri.
— Sim, eu vou fazer isso. Você estará na minha moto indo para
casa, Mel. Vai ser como nos velhos tempos.
Ela me fulminou com os olhos e Puck caiu na gargalhada. O segui
para o corredor, me recostando contra a parede, me sentindo
estranhamente satisfeito comigo mesmo.
— Você caiu na isca dela, não é?
Dei de ombros, me recusando a reconhecer o ponto, mesmo que
fosse a verdade. Inferno, era melhor do que ficar fora.
~ 291 ~
Capítulo
19
Um mês após o quarto aniversário de Izzy
MELANIE
— Você é tão gostosa, Mel, — Greg sussurrou, passando as mãos
pela minha bunda. Ele me puxou apertado contra seu corpo,
balançando sem jeito junto a música, e eu me perguntava se ele era
realmente o jogador que Sherri insistiu que ele era.
Todos os bombeiros são jogadores, ela me disse. Então se divirta
com ele, mas não alimente esperanças. Você precisa de alguém
estável. Esse novo guarda de segurança continua flertando com você...
Eu não queria acreditar nela, no entanto. Eu e Greg seríamos
perfeitos um para o outro - como em um livro de conto de fadas. Ele era
um paramédico, e eu tinha visto ele dentro e fora do trabalho há
meses. Bonito, construído, de um jeito rústico que eu não gostava de
admitir que me deixava totalmente excitada. Ah como deixava.
Ele me lembra à Painter, meu cérebro sussurrou insidiosamente.
Cale a boca, cadela! Minha vagina sussurrou de volta. Ele
provavelmente tem um pau muito bom.
Você está bêbada. Pare de ser tão puta.
Você é uma empata foda – faz séculos que não transamos!
Pisquei, percebendo que meu cérebro não estava cem por cento
certo - eu estava definitivamente bêbada, senão por que diabos eu
estaria imaginando uma discussão com minha vagina no meio de uma
pista de dança?
Guarde sua merda pra você mesma, Mellie.
Greg tinha me chamado para ir ao Ironhorse para tomar uma
bebida (o que tinha se transformado em muitas bebidas) e agora era
quase meia-noite. A música não era grande coisa, mas a multidão
estava embalada e eu estava me divertindo - me divertindo tanto que eu
tinha pensando seriamente em ir para casa com ele. =Pensado‘ pode não
~ 292 ~
ser a melhor palavra, vendo como as coisas tinham começado a ficar
embaralhadas desde a última rodada de bebidas. Mas eu estava
definitivamente com tesão e tinha sido um longo tempo desde que eu
tinha ficado com alguém assim. Não desde o dentista... ugh. O que
tinha sido um erro.
Ele era tão... limpinho.
Greg se aninhou em meu pescoço, então eu senti algo quente e
gosmento. Oh. Meu. Deus. Ele estava me lambendo? Ele
estava. Ele estava me lambendo, como um cão. Ok, então talvez ir para
casa com ele não seja uma boa ideia.
Tudo isso estava sendo processado pela minha cabeça bêbada
quando de repente Greg tinha ido embora. Eu quase caí quando um
braço forte veio em volta da minha cintura, me empurrando de volta em
um corpo alto e forte que cheirava a couro e apenas uma leve sugestão
de óleo de linhaça.
— Hora de ir embora, Greg, — disse uma voz familiar. Pisquei,
tentando descobrir o que estava acontecendo. Greg olhou para mim,
algo parecido com horror cruzando seu rosto.
— Ela é a sua? — ele perguntou.
— Mãe do meu filho, — Painter respondeu, sua voz dura. — Você
está procurando alguém para transar, Greg? Você quer foder a mãe da
minha Izzy? Me deixe adivinhar - você quer fazer todos os tipos de
putaria com minha garota. Como você acha que vai terminar para você?
Os olhos de Greg estavam cheios de terror, e então ele estava
recuando tão rápido que eu fiquei surpresa de eu não conseguir ouvir
sua frequência cardíaca.
— Desculpe, Painter. Não estou desrespeitando ninguém.
De repente, ele tinha ido embora, me abandonando na pista de
dança como uma doença sexualmente transmissível. Eu me afastei de
Painter, tocando um dedo em seu peito.
— Quem diabos você pensa que é?
Ele olhou para mim, seu rosto sombrio.
— Qual é a regra, Mel?
— O quê?
~ 293 ~
— Temos uma regra - qual é?
— Que você é um idiota?
— Você fica de fora do meu mundo, — disse ele. — Eu recuei, dei
espaço a você. Mas você fica longe do meu mundo, e isso significa nada
de motoqueiros.
— Greg não é um motoqueiro.
Painter levantou uma sobrancelha. — Ele anda com os
Reapers. Ou, pelo menos, ele andava. Agora que eu vi as mãos dele
apalpando a sua bunda, eu tenho uma sensação de que ele não vai
estar por perto mais. Nunca gostei daquele filho da puta de qualquer
maneira.
Pisquei, tentando trazer as coisas em foco, literal e
figurativamente. Isso teria sido muito mais fácil se eu não tivesse bebido
tanto álcool. Merda.
— Como eu poderia saber isso? — perguntei, frustrada com o
quanto as minhas palavras estavam arrastadas. Eu não conseguia me
segurar contra este filho da puta, se eu não conseguia nem falar direito.
— Você deveria ter perguntado, — disse ele. — E agora você vai
pagar por isso.
Pisquei, tentando processar tudo, então mais rápido do que você
poderia dizer: — Eu odeio motoqueiros, — Painter pegou meus quadris
e me empurrou junto ao seu corpo. Ele me tocou bastante ao longo dos
anos e eu estava bem ciente de que a atração travada entre nós nunca
tinha morrido. Agora ela rugiu para a vida, nublando meu pensamento,
quase tanto quanto a vodca. Começamos balançando ao som da
música, com uma de suas mãos esfregando lentamente para cima e
para baixo em minhas costas. A outra pegou minha cabeça, apoiando-a
contra o peito.
Essa dor familiar rodou através do meu estômago e, enquanto eu
deveria ter dito a ele para se foder, eu não tinha certeza de que eu seria
capaz de ficar de pé se eu não estivesse me segurando a ele. Se ele
dissesse qualquer coisa eu poderia ter convocado força de vontade para
detê-lo. Em vez disso, apenas dancei lentamente.
Me senti cair na dele.
Foi legal. De uma maneira muito agradável.
~ 294 ~
A música mudou, outra canção lenta. Painter me abraçou. Não
importa o que tinha acontecido entre nós ao longo dos anos, isso nunca
mudou - a necessidade que eu sentia por ele, o desejo de me esfregar
contra ele e espalhar minhas pernas e... Oh Deus. Isso dói. Ele
realmente me machucou e eu o queria tanto. Eu deveria estar me
afastando, mas ao invés disso eu enterrei meu nariz mais fundo em seu
peito, levando o seu cheiro incrível, meus mamilos apertando.
Uma de suas mãos deslizou mais para baixo, pegando a minha
bunda e apertando obscenamente. Seu pau endureceu contra o meu
estômago, o balanço de seus quadris ficou mais agressivo. Nós
tínhamos passado de dançando para se esfregando e amei cada
segundo disso.
Claramente tinha sido muito tempo desde que eu tinha me
esfregado com alguém.
— Jesus, Mel, — ele sussurrou, se inclinando para acariciar meu
pescoço. O calor de sua respiração, a suavidade de seus lábios
contrastando com a dureza de seu corpo... era quase mais do que eu
poderia aguentar. A dor entre as minhas coxas estava aumentando, se
transformando em uma necessidade além da minha capacidade de
conter.
Esta foi uma ideia muito ruim.
Eu nem percebi quando ele começou a me levar em direção a uma
mesa mal iluminada na parte de trás do bar. Puck estava lá, junto com
um par de meninas que eu não reconheci. Painter pegou a cadeira no
canto contra a parede, me puxando para seu colo, pegando a minha
boca com a sua antes que eu pudesse sequer protestar.
Esse beijo não era apressado.
Não era quente, desesperado ou perigoso, apenas construía um
fogo lento até que eu esqueci completamente sobre todos ao nosso
redor. Quando ele mexeu meus quadris para ficar por cima, eu não me
importei com quem poderia estar assistindo. Eu estava muito bêbada, e
não era apenas sobre a bebida.
Seu pau empurrou entre as minhas pernas, uma grande mão me
guiando e meus quadris lentamente esfregaram contra o dele. A outra
mão estava enterrada no fundo do meu cabelo, me segurando
prisioneira enquanto sua língua mergulhava profundamente. A pressão
começou a se construir, e tudo que eu conseguia pensar era no quanto
eu queria o resto dele dentro de mim também.
~ 295 ~
Desesperadamente.
— O que diabos está acontecendo aqui!
Jessica. Era a voz de Jessica. Eu congelei. Lá estava eu, em um
bar com Painter, e Jessica tinha acabado de nos pegar e... Oh Deus. Eu
tinha perdido a minha fodida cabeça - não havia outra explicação
possível para o que eu tinha acabado de fazer. Eu tentei me afastar,
mas Painter me segurou firme. Então eu ouvi a voz profunda de Puck.
— Vá para o inferno, Jess, — disse ele. — Não é da porra da sua
conta o que eles estão fazendo.
Consegui trazer minhas mãos para cima, empurrando Painter tão
forte quanto eu podia. Seus braços se soltaram, embora ele ainda não
tivesse me soltado inteiramente. Olhando para Jessica, eu vi
exatamente o quanto eu tinha fodido tudo escrito em rosto.
— Você perdeu a cabeça? — perguntou ela, os olhos
arregalados. — Ambos! Então você fica bêbada e dá um rapidinha...
onde é que isso deixa Izzy? O que diabos está errado com você?
Oh, Deus. Eu era uma puta.
— Caia fora daqui, Jess, — disse Painter, estreitando os olhos. —
Não é da sua conta.
Puck se levantou, empurrando a menina sentada no seu colo
enquanto ele dava um passo para a minha melhor amiga de uma forma
que só poderia ser descrito como ameaçadora.
— Não! — eu disse, empurrando contra Painter novamente, mais
forte desta vez. Ele me soltou, relutantemente, as pessoas se virando
para olhar para nós. Ah merda. Eu era aquela garota – o tipo que
causava ceninhas em bares.
Álcool da porra. Eu não tinha aprendido nada observando meu
pai?
— Jessica está certa, — eu disse, me levantando. Topei com as
mesas no processo, uma impressionante coleção de bebidas se
movimentando. — Isso é um grande erro.
— Vamos, — disse Jess, pegando meu braço. Painter surgiu em
cima, me pegando pela cintura e me puxando de volta para ele.
— Pare, — disse ele, a voz embargada como um tiro. Todos nós
congelamos. — Isso é entre mim e Melanie, então nenhum de vocês tem
~ 296 ~
direito a uma opinião de merda. Mel, nós precisamos conversar. Em
algum lugar tranquilo. Particular. Puck, cuida da minha moto e eu pego
mais tarde. Pode ser?
— Claro, — disse Puck. Jess abriu a boca para protestar e, em
seguida, Banks entrou em seu espaço, serpenteando um braço ao redor
de seus ombros e puxando-a em seu corpo. Quase parecia um abraço
casual, mas quando ela empurrou contra ele com raiva, ele não fez
nada. Um sorriso de lobo cruzou o rosto de Banks quando ele se
inclinou para baixo, sussurrando algo em seu ouvido. Eu não conseguia
ouvir o que ele disse, mas a expressão no rosto dela me assustou - era
antecipação ou medo?
Painter me colocou no chão, mãos grandes em meus ombros para
me guiar. Então estávamos passando pela porta, para o ar fresco da
noite, a música derramava para fora do bar atrás de nós.
— Que diabos, Painter? — eu consegui perguntar enquanto ele
me arrastava pela rua, andando tão rápido que eu mal podia seguir.
— Vamos conversar sobre esta merda.
Eu tropecei em um fio. Ele me pegou e eu olhei para ele.
— Suas pernas longas vão me matar, — eu cuspi. — Devagar,
babaca.
Painter respondeu, me colocando sobre o ombro. Eu gritei, e em
frente a um grupo de rapazes bêbados que começaram a rir de nós.
— Jesus, o que há de errado com você? — eu gritei, não
inteiramente certa se eu estava gritando com Painter ou os caras. Ele
podia ser um assassino.
Chegamos a sua SUV, ele me equilibrou como um saco de batatas
quando ele cavou as suas chaves. O alarme soou alegremente, e então
ele estava abrindo a porta e me deixando cair no banco do passageiro.
— Fique, — disse ele, se esticando para pegar o cinto de
segurança. Fiz uma careta enquanto ele caminhava para o lado do
motorista, tentando decidir se eu deveria correr para fora. Era tarde,
porém, e eu precisava de uma carona para casa.
Poderia muito bem conversar e acabar logo com isso. Ele subiu e
ligou a SUV com um rugido reconfortante. Os assentos eram de couro
macio e exuberantes. Aparentemente, o mundo da arte está tratando-o
bem.
~ 297 ~
— Para um babaca que eu odeio, você tem um carro muito bom,
— eu disse a contragosto. Painter deu uma risada curta e amarga.
— Fico feliz de ouvir você aprova. Agora eu vou ser capaz de
dormir à noite.
— Por que você tem que tirar sarro de tudo?
— Porque minhas bolas estão azuis e meu pau tão duro que dói,
— ele rosnou, se virando para me encarar. — Isso é ridículo, Mel. Por
que continuamos brigando assim? Eu quero você, você me quer, nós
temos uma criança juntos. Qual é o segredo aqui?
— Você me deixou! — eu gritei, olhando para ele. —
Izzy estava tão doente, Painter. Eles não tinham certeza se ela ia
sobreviver. Você não tem a mínima ideia de como era, sentar ali,
esperando ela dar mais uma respiração, esperando que não fosse a
última. Nós precisávamos de você. Eu precisava de você. Eu deveria
apenas fingir que nada aconteceu? Que você não escolheu a prisão a
nós quando mais precisei de você?
— Isso não é verdade! — ele gritou de volta. — Sim, eu fodi
tudo. Eu admiti que fodi tudo umas mil vezes. Umas mil e uma,
contando agora. Mas não é como se eu tivesse a porra da escolha de vir
aqui e te ajudar, Mel. Por favor, Sr. Warden, me deixe sair, porque a
minha menina precisa de mim, — eles não deixam você sair da prisão
porque você quer.
— Isso é besteira! — eu gritei para ele. —
Você tinha uma escolha, Painter. Você estava em liberdade condicional,
você sabia que eles estavam atrás de você, e você ainda se virou e fugiu
com o seu clube como um covarde quando eu te disse que estava
grávida. Não me diga que você não teve escolha. Você sempre tem uma
escolha.
Painter piscou rapidamente, em seguida, olhou para a frente, as
mãos segurando o volante com tanta força os nós dos dedos ficaram
brancos.
— Você está certa.
Suas palavras me chocaram. Painter se virou para mim, os olhos
ardendo com intensidade.
— Eu estava com medo quando você me contou sobre Izzy, —
disse ele. — Você estava com medo, também - você me disse que ficou
sentada, chorando no chão em seu banheiro quando você descobriu,
~ 298 ~
pelo amor de Deus. Você me contou e eu não sabia o que dizer. Eu
nunca quis uma criança, e então você estava chateada e você saiu e eu
fiz a minha escolha. Eu não queria enfrentar essa realidade, então eu
escolhi o clube ao invés de você. Eu pensei que a corrida iria limpar a
minha cabeça, que iríamos resolver tudo quando eu voltasse. Em vez
disso, fui preso e eu vou ter que viver com isso pelo resto da minha
vida.
— Painter...
— Eu ainda tenho com medo, as vezes, quando eu olho para ela,
— continuou ele, balançando a cabeça lentamente. — Ela é esta
coisinha pequena e há tantas maneiras diferentes que podemos quebrá-
la, Mel. Mesmo se não o fizermos, há um maldito mundo inteiro lá fora
apenas esperando para machucá-la quando ela crescer. O ensino médio
está cheio de meninos e meninas com tesão, doenças e isso é apenas o
começo. O melhor que podemos fazer é apenas ir em frente, um dia de
cada vez. Eu não estava com você, mas eu estou com você agora e eu
estou me esforçando, construindo a minha carreira, ganhando algum
dinheiro para te ajudar - dinheiro legal, por sinal, - mas você quer que
eu volte no tempo e mude a história. Eu não posso fazer isso,
Melanie. Nem mesmo para você.
Piscando, eu olhei para ele, tentando processar suas palavras.
— Você não deveria ter nos deixado, — eu sussurrei.
Painter sacudiu a cabeça, engatando o SUV, e saindo para a rua.
— Porra, mas você guardar rancor.
— Eu fiz o que tinha que fazer, sozinha. Você desapareceu. Eu
nunca tive essa opção, nem mesmo quando as coisas estavam no seu
pior.
Painter bateu no freio, o SUV derrapando para o meio-fio.
— Que diabos? — engoli em seco, segurando a porta.
Ele se virou para mim.
— Você tinha opções, — disse ele, a voz mais intensa do que eu já
ouvi. — Assim como eu tinha. Eu já admiti - eu escolhi a prisão. Você
escolheu a nossa filha. Você poderia ter abortado, mas não fez. Você
tomou o caminho difícil, e você criou uma criança ao longo do
caminho. Eu nunca, nunca me perdoarei por deixar você sozinha, mas
dou graças a cada dia de merda que você foi a pessoa forte, Melanie. Eu
~ 299 ~
não posso imaginar uma vida sem Izzy. Ela é a melhor coisa que já me
aconteceu. Obrigado por isso.
Minha respiração veio rápido quando nos olhamos fixamente um
ao outro. Ele estava certo. Eu tinha sido forte, e eu tinha sido
recompensada por essa força com uma criança incrível, bonita que
merecia o melhor de tudo na vida.
— De nada, — eu consegui dizer, engolindo. Painter se inclinou,
pegando a parte de trás da minha cabeça e me puxando para um beijo
áspero. Esta não era uma sedução - não totalmente. Ele enfiou a língua
na minha boca, e eu senti cada pedacinho de sua raiva e frustração. Eu
queria socá-lo, beijá-lo e trepar com ele até que ele admitisse que... eu
não sei.
O que eu quero que ele admita?
Ouvi o clique do meu cinto de segurança, e então ele me pegou
sob os braços, me empurrando do outro lado do console central. Em
seguida, o volante estava em minhas costas enquanto o beijo se
aprofundada. Agora era a minha vez de ficar agressiva, agarrando seu
cabelo e empurrando-o de volta - em parte para machucá-lo e, em parte
para que eu pudesse atacá-lo com a minha língua. O fogo que eu senti
no bar não era nada comparado com o calor correndo por mim
agora. Eu me mexia, tentando encontrar alguma maneira de chegar
perto o suficiente dele para mais contato, mas não foi possível.
Finalmente nos separamos, ofegantes, nossas testas descansando
contra a outra.
— Isso é ridículo, — disse ele. — Venha para casa comigo. Nós
somos bons juntos, Mel. Você sabe que nós somos.
Eu pensei sobre isso. O que poderia atrapalhar apenas uma noite
juntos? Seja lá o que tinha dado errado entre nós, nunca houve nada de
errado com nossa química. Ele pegou minha mão, elevando-a aos lábios
para beijar meus dedos. A luz do poste iluminou seu patch - um
Reaper.
Seu clube.
Meu cérebro reafirmou lentamente o controle quando eu corri
meu polegar por dele.
— É por isso, — eu disse, desejando que eu pudesse me desligar
da realidade e simplesmente ir com ele. — Eles sempre vêm em primeiro
lugar. Você é um bom pai para Iz, mas o seu clube é mais importante do
~ 300 ~
que qualquer outra coisa. Eu quero mais do que isso para mim,
Painter. Eu mereço mais. É por isso que eu não posso ir para casa com
você.
Com isso, eu me afastei dele, deslizando de volta através do
console sem jeito. Ele olhou para mim no escuro, o silêncio entre nós
tão pesado que eu senti como se estivesse sufocando.
Finalmente, ele falou.
— O que é que isso deveria ser, uma espécie de ultimato da
porra?
— Não, — eu disse, me sentindo mais lúcida do que eu tinha
estado por toda a noite. — De modo nenhum. Eu nunca vou te pedir
para deixar o Reapers por mim, Painter. Assim como eu nunca vou ficar
com um homem que não é cem por cento meu. Queremos coisas
diferentes. É por isso que tudo isso é um grande desperdício de tempo.
— Isso é besteira.
Eu não sei o que eu esperava que ele dissesse, mas não era isso.
— Você é uma hipócrita, Melanie, — ele continuou. — Você é toda
contra o clube, mas quem está cuidando da sua filha agora para você
pode sair para uma festa?
— Dancer, — eu admiti, desejando como o inferno que eu tivesse
contratado uma garota da minha rua. Mas ela tinha convidado o
namorado da última vez, e eu tinha certeza que Izzy não tinha visto
nada e eu não sentia que eu poderia confiar em dois adolescentes com
tesão para cuidar dela...
— Sim, e quem a ajudou a se mudar para a sua casa?
— Você e Reese.
— Eu, Reese, Horse e os prospectos, — disse ele. Eu estava
começando a ficar com a sensação de que eu não ia vencer essa
discussão. — Quando o carro quebrou, quem rebocou e consertou?
— Reese, — eu sussurrei.
— Sim, e qual de nós acabou no hospital depois que o filho da
puta sem-teto partiu para o ataque? Me chame de louco, mas se bem
me lembro era você, Mel. Você sabe, com seu trabalho onde você vê
mais sangue, tripas e mutilação em uma noite do que eu vejo em um
ano?
~ 301 ~
— Isso é injusto e você sabe disso, — eu rebati. — Você esqueceu
um ponto-chave - o meu trabalho é curar essas pessoas, ajudá-las.
— E tenho certeza que Izzy ficará muito confortável com fato de
que enquanto você gira acima dos mortos, um cara
chamado Todger embosca você no estacionamento, — ele rosnou. —
Mas a boa notícia é que ele provavelmente nem vai se lembrar o que ele
fez, então eu acho que vai ficar tudo bem, certo?
— Eu te odeio. Eu queria que você tivesse ficado na prisão, — eu
assobiei. — Então eu nunca teria que lidar com a sua merda.
— É isso o que você realmente quer? — ele perguntou. — Me diga
- porque eu sou o único que aparece na sua casa para consertar a porra
da pia quando ela está vazando? E o secador – lembra quando a sua
máquina quebrou? Eu encontrei um novo motor, o arrastei até a sua
casa e o conectei. Acho que você esqueceu essa parte. Mas se você
realmente não me quer, eu posso lidar com isso. Me ofereceram uma
bolsa de arte em Nova York na semana passada - a oportunidade de
estudar com pessoas que sabem o que fazem. Pessoas que podem me
ensinar. Eles estão à espera de uma resposta, Mel. É tudo que eu
sempre sonhei, ali mesmo em uma fodida bandeja esperando por
mim. É isso o que você realmente quer?
— O quê? — eu engasguei, atordoada. — Te ofereceram uma
bolsa?
— Sim, uma bem boa, — disse ele, o rosto ainda duro. — Você
sabe que as minhas artes vendem mais e mais... todas as pessoas da
cidade amam meu material, porque é cru. Poderia ser um grande
negócio.
Eu senti como se tivesse levado um soco no estômago. Izzy...
como eu poderia dizer a ela? Oh, Deus. Eu não saberia como falar sobre
isso.
— Ainda me odeia, Mel? — ele perguntou em voz baixa. Eu
balancei minha cabeça, porque eu não odiava. Claro que eu não
odiava. O pensamento dele me deixando novamente me machucou, me
machucou tanto quanto machucou da primeira vez. Esse era o
problema, é claro... não que eu não me importava com ele, eu me
importava muito. — Você realmente quer que eu vá embora?
— Não, — eu sussurrei, e eu quis dizer isso. — Quer dizer, eu
quero que você tenha a oportunidade, mas... Deus, isso mataria Izzy. E
o clube?
~ 302 ~
— Apesar do que você parece pensar, eles são meus irmãos. Eles
realmente se importam com a minha felicidade. — ao contrário de
alguns. Ele não tem que dizer as palavras. — Posso tirar uma licença a
qualquer hora que eu precisar, você percebe isso? BB tirou quando sua
mãe estava morrendo. Eu admito - eu costumava me preocupar que eles
poderiam me chutar para fora se eu não fosse útil. Mas eles são minha
família, Mel. Você já deveria entender por agora. Negócios são negócios,
mas isso é realmente sobre família. Andar de moto com meus irmãos. O
lado dos negócios é apenas um meio para um fim.
Oh, Deus. Eu tremi, apesar do calor explodir através da SUV.
— Você vai aceitar, não é? Você vai nos deixar.
Painter riu, mas não havia humor no som.
— Não, Melanie, — ele disse suavemente. — Eu não vou.
— Por que não?
— Porque eu prefiro morrer do que perder a minha filha. Esta é a
minha casa, Mel. Minha vida era uma merda quando eu era
criança. Sem pai. Minha mãe não era nada e uma vez que eu estava no
sistema estava tudo acabado. Você acha que eles podem me oferecer
alguma coisa em Nova York mais valioso do que o que eu já tenho
aqui? Eu tenho uma segunda chance com Izzy, e eu nunca vou deixá-
la. Nunca. Eu preferia estar morto do que perdê-la novamente.
Funguei, percebendo que meus olhos estavam começando a
derramar. Ah, inferno. Eu odiava quando eu chorava. Odiava. E como
ele ousa jogar tudo isso em cima de mim? Eu o odiava também.
Graças a Deus ele não estava nos deixando.
— Estou feliz que você vai ficar, — eu consegui dizer. Painter
bufou, em seguida, mudou a SUV de volta na engrenagem. Eu funguei
um pouco quando ele começou a dirigir em direção a minha pequena
casa em Fernan. Não era muito, mas tinha um quintal cercado que Izzy
amava. Não só isso, algum dia seria nosso.
Não haveria proprietários para nos preocupar. Não haveria
concessões para negociar ou aumento do aluguel.
Nunca mais.
— Foi uma oferta lisonjeira, — Painter admitiu, virando para
Sherman. — Mas eu já perdi muito da vida de Izzy. Sem mencionar que
~ 303 ~
eu odeio cidades grandes. Muitas pessoas no caminho. Assim como
estar na prisão novamente.
Isso me fez rir, um som patético, mas ainda melhor do que
chorar.
— Me desculpe ter te chamado de babaca, — eu disse depois de
um longo silêncio.
— Está tudo bem, — ele respondeu. — Eu sou um babaca. E o
que você passou com Izzy e tudo, isso nunca vai ficar bem. Mas eu
cresci desde então, e eu sou um filho da puta leal. Um dia você vai
descobrir que eu estou falando sério quando digo que estou aqui para
ficar.
Deus, mas eu queria acreditar nele. Queria muito.
* * *
Nós não falamos depois disso, e dez minutos depois nós chegamos
em minha casa. Loni tinha crescido aqui e viveu aqui até que ela foi
morar com Reese. Não nesta mesma casa, é claro. Aquela que tinha
queimado a partir de um vazamento de gás. Ela usou o dinheiro do
seguro para reconstruir, e o manteve em aluguel. No ano passado eu
tinha ido até ela e feito uma oferta, perguntando se eu poderia comprá-
la com um contrato.
Quando ela disse que sim, eu mal pude acreditar.
— Não se esqueça, eu vou levar Izzy para a festa da família no
clube amanhã, — disse Painter dirigindo até parar na garagem.
— Eu não esqueci. Ela e eu vamos fazer biscoitos amanhã de
manhã. Ela quer levar algo como as meninas grandes fazem, — eu disse
a ele. Ele sorriu.
— Você poderia vir com a gente, você sabe.
Eu suspirei, fechando os olhos.
— Eu provavelmente vou estar de ressaca, — eu admiti. — Eu
acho que vou ficar em casa. Há um monte de roupa para lavar.
— Covarde.
~ 304 ~
Pela primeira vez eu não discuti.
— Obrigada pela carona, — eu disse, olhando para ele. Ele olhou
para mim, pensativo na escuridão.
— Isso ainda não acabou.
Eu não conseguia pensar em uma maldita coisa a dizer em
resposta, porque eu sabia que ele estava certo.
Nunca estaria acabado entre nós.
~ 305 ~
Capítulo
20
TARDE DE DOMINGO
UM MÊS DEPOIS
— Mais rosa? — Jessica perguntou a Izzy. A menina riu
loucamente, agarrando o recipiente de cristais rosa de açúcar e
sacudindo-o sobre os topos dos cupcakes. Eu li um artigo há algumas
semanas que a ciência provou que não há conexão entre crianças que
comem açúcar com o comportamento enlouquecido.
A ciência mente.
— Tem mais açúcar do que bolo, — eu indiquei, encostada no
balcão da cozinha. Sherri bufou.
— Essa é a melhor parte, — disse ela. — O bolo existe para
colocarmos o açúcar - que é a única razão para você assá-lo.
— Você não é quem vai estar presa com uma garota acordada a
noite toda por causa do açúcar.
— Nem você, — disse Jess incisivamente. — Esta é a bomba
relógio do Painter. O que significa que você tem uma noite livre, e ainda
algo me diz que você não tem um encontro quente. Por que você não
tem um namorado, Mel? Você é bonita, é inteligente, você faz um bom
dinheiro, e você realmente não deveria estar sentada em casa sozinha.
Ela levantou uma sobrancelha sugestivamente. Eu ampliei meus
olhos, olhando para Izzy, sem palavras insistindo que nós não falarmos
na frente dela.
— Não pense que você vai sair assim tão fácil, — disse Jess, sua
voz escura. — Izzy, você está quase pronta?
— Sim, — disse Izzy, sorrindo para nós amplamente. Toda a
metade inferior do seu rosto estava manchado de açúcar. Ela ainda
tinha um pouco em seu cabelo.
— Você precisa de um banho antes do papai chegar aqui, — eu
disse a ela. — Vamos lá!
~ 306 ~
— Papai disse que eu posso comer chips! — ela anunciou
orgulhosa, escorregando de sua cadeira e caminhando até o banheiro.
— Nós vamos conversar sobre isso, — Jess me avisou. — Você
tem 25 agora. Se você não usar suas partes femininas, elas vão ficar
enrugadas. Quer suas partes femininas enrugadas??
— O que são partes femininas? — perguntou Izzy.
— Tia Jessica está falando besteira, — eu disse a ela
afetadamente. — Vá para a banheira. Eu estarei lá daqui a pouco.
Izzy parecia confusa, em seguida, se sacudiu como um
cachorrinho e decolou em direção ao banheiro.
— Você não pode dizer coisas como essa na frente de Izzy! — eu
disse. — Agora, observe - ela vai me perguntar sobre isso na frente de
Reese. Ou do Painter.
Jess levantou uma sobrancelha em desafio.
— Se você parece com isso e encontrasse um homem, eu não teria
de dizer coisas assim.
Olhei para Sherri, à procura de um aliado. Ela estava cavando
através da geladeira, em seguida, puxando uma cerveja triunfante.
— Não me importo - eu estou apenas assistindo o show, — disse
ela com um sorriso.
Eu ouvi a banheira ligar no banheiro. — Você não tem um
namorado, Jess.
— Não, mas eu saio. Eu transo. Inferno, eu tive uma noite com
Banks na semana passada. Eu estou no jogo, Mel. Assim como Sherri.
Sherri levantou a garrafa, me brindando.
— Aquele novo guarda de segurança estava me perguntando
sobre você de novo, — disse ela, balançando as sobrancelhas. — Ele te
acha bonita. Quer levá-la para jantar. Eu peguei o número dele para
você - vamos ligar para ele.
— Mamãe! Meu patinho cagou algo preto e nojento! — Izzy gritou
do banheiro. Jess levantou uma sobrancelha.
— Isso não parece bom.
~ 307 ~
Eu suspirei. — Já volto. Tentem não fazer nada de mal enquanto
eu estiver fora.
Jessica revirou os olhos e Sherri riu.
Eu encontrei uma Izzy nua em pé na banheira, olhando para
aglomerados de algum tipo de mofo desagradável flutuando na
superfície da banheira.
— Eca, — eu disse, levantando-a para fora. — Onde está o
patinho?
— Eu coloquei ele de castigo, — ela me disse, a voz muito
grave. Ela apontou para um pequeno Pato Motoqueiro sentado na borda
da banheira. Painter tinha dado a ela - ele trouxe de uma de suas
corridas com o clube. Algo em Seattle.
Peguei o Pato e estudei. Com certeza havia um pedaço de algo
desagradável pendurado para fora do buraco na parte inferior.
Mofo.
— Baby, eu realmente sinto muito, mas esta ave tem que ir
embora, — eu disse, me preparando para uma birra. Izzy me
surpreendeu, balançando a cabeça em concordância firme.
— Eu não gosto do Pato Cagão.
— Há muito para não gostar sobre eles, — eu concordei.
Pegando um pedaço de papel higiênico, eu pesquei os pequenos
pedaços da superfície da água e coloquei no ralo. Agora eu teria que
lavar a maldita banheira, o que sempre foi um prazer, pelo menos eu
era uma especialista. Izzy pode ser toda princesa quando se tratava de
roupas e cores, mas quando se tratava de sujeira ela poderia competir
com qualquer garoto.
— Vamos tomar uma ducha rápida em vez disso, — eu disse a
ela, pegando um par de toalhas. Izzy observava cuidadosamente
enquanto eu as colocava no fundo da banheira vazia. Levantando-a, eu
a coloquei sobre os panos, em seguida, levantei e peguei o chuveiro. Ele
tinha uma mangueira longa e agradável especificamente para
momentos como este. Painter tinha instalado depois que ela tinha
tomado um banho de lama, e nós tínhamos lavado ela no lado de fora.
— Feche os olhos, — eu avisei a ela, gentilmente despejando a
água entre os aglomerados de açúcar. Não demorou muito tempo - um
~ 308 ~
shampoo e enxágue rápido. Envolvendo-a em uma toalha, eu dei a ela
uma massagem rápida antes de enviá-la para se vestir.
— Eu quero saber para onde o cocô do pato foi? — Jessica
perguntou quando eu voltei para a cozinha. Elas estiveram ocupadas –
o açúcar foi limpo, a mesa tinha sido lavada, e ela estava pondo
cuidadosamente os cupcakes em uma bandeja de bolo retangular.
— Mofo, — disse eu. Jessica fez uma careta. — Pois é!
— Deus, você se lembra daquele cara velho com prisão de ventre?
— perguntou Sherri. — Eu nunca vi tanta merda na minha vida. Ela
apenas não parava de sair...
— Vocês tem o trabalho mais repugnante da terra, — declarou
Jess. — Sério, não consigo entender como vocês fazem isso.
— Falando nisso, você pode pegar o meu turno na quinta-feira à
noite? — Sherri me perguntou. — Há um chá de bebê de uma menina
com quem eu estudei.
— Eu não sei, — eu disse. — Eu vou ter que encontrar alguém
para ficar com Izzy nesta noite - a babá regular está fora da cidade esta
semana. Talvez Loni possa, mas ela já vai cuidar dela na quarta-feira
também.
— Eu tenho certeza que ela vai ficar com ela nesse dia também, —
disse Jess rapidamente. — E se ela não puder, eu vou ficar.
— Perfeito, — disse Sherri. — E eu vou cobrir o seu turno na
quarta-feira à noite.
Eu fiz uma careta. — Eu não preciso de você para cobrir meu
turno - Izzy já planejou uma festa do pijama com Loni e Reese.
— Mas você ainda precisa de cobertura, — disse ela, sorrindo
maliciosamente. — Porque você tem um encontro. Com Aaron. Ele vai
levar você para jantar em Callup e, então para uma festa, visto que
nenhum de vocês estão ocupadas na quinta-feira de manhã.
— Que diabos você está falando? — perguntei, recebendo uma
sensação de frio no fundo do meu estômago.
— Você mandou uma mensagem para ele enquanto Izzy estava
tomando seu banho, — disse Jessica. — Você disse a ele que Sherri
sugeriu que vocês entrassem em contato. Ele te pediu para sair. Foi
tudo muito doce - ele realmente gosta de você e eu acho que você
~ 309 ~
realmente gosta dele também. Pelo menos, essa é a impressão que você
deu com sua mensagem, sua namoradeira danada.
— Fiquei impressionada, — confirmou Sherri. — Não sabia que
você tinha isso em você.
Olhei entre elas, perguntando se poderia pedir a Painter para
sumir com dois corpos sem deixar qualquer evidência.
Provavelmente.
— Me dê o meu telefone.
Jess me entregou uma das monstruosidades rosa fosco.
— Junte-se ao lado escuro, Melanie. Temos bolo.
— Eu não vou sair com ele - e foda-se, porque o bolo é rosa e eu
odeio rosa.
— Você não tem que ir ao encontro, — disse Sherri
rapidamente. — Claro, vai provavelmente ser um pouco estranho como
o inferno voltar atrás neste ponto. Realmente machucar seus
sentimentos, você sabe? Ele acha que você está interessada. E vamos
ser justas, Mel. Ele é bonito.
Olhei para o cupcake, pensando no guarda de
segurança. Aaron. Aaron Waits. Ele parecia um cara bastante agradável,
e Sherri estava certa - ele era realmente bonito. Não tão grande e forte
como Painter, mas não todo limpo e brilhante como aquele maldito
dentista, tampouco.
— Não tome isso como um sinal de que o que vocês fizeram é
bom... — eu disse finalmente, alcançando o cupcake.
— Claro que não, — disse Jess, se esforçando para não tripudiar
e falhando miseravelmente. — É aquele terrível impulso - problema de
controle, sabe? Tão difícil de superar. Eu vou falar com o meu terapeuta
sobre isso.
— Não ouse jogar essa merda em cima de mim, — eu disse,
mordendo a monstruosidade rosa. Ele estava realmente bom - apenas a
proporção certa de açúcar. Eu odiava quando o açúcar não era grosso o
suficiente. — Você não foi à terapia por anos, e você é perfeitamente
capaz de controlar seus impulsos quando quer.
Era verdade, teria soado muito melhor se eu não tivesse
pulverizado migalhas junto com as minhas palavras.
~ 310 ~
— Tharam! — Izzy gritou, correndo para a cozinha. Ela estava em
seu vestido mais novo de princesa, um verde brilhante, graças a
Deus. Ela parecia uma princesa completa com os cachos loiros. Vendo
como Painter e eu tínhamos cabelo liso, eu nunca descobri de quem ela
puxou, mas era adorável.
— Você está ótima! — disse Sherri, puxando-a para cima e
balançando-a ao redor. — Por que você está vestida assim? Você tem
um baile para ir?
— Não, papai vai me ensinar a atirar arco e flecha, — disse ela
com orgulho. — Eu estou pronta. Ele diz que uma garota precisa saber
como se defender neste mundo.
— Ele vai armar uma criança? — perguntou Jess, em voz
baixa. — Por que não estou surpresa com isso?
Eu balancei a cabeça, desejando que eu tivesse um arco e
flecha. Eu não tinha certeza em quem eu preferia usá-lo - Jessica ou
Painter.
Ou talvez Sherri.
Eu só esperava que eu não tivesse necessidade de usá-lo em
Aaron.
QUARTA À NOITE
— Você tem certeza que está tudo bem? — perguntei a Loni. — Eu
me sinto estranha pedindo para você ficar com ela, enquanto eu estou
em um encontro, porque esta noite era para ser sobre o trabalho. Eu
não quero importunar você.
Loni revirou os olhos.
— Está tudo bem, — disse ela. — Reese tem alguma coisa
acontecendo no clube, de qualquer maneira. Ele não vai estar em casa
até tarde. E eu estou feliz que você está saindo - você é jovem. Você
deveria estar se divertindo, e você sabe o quanto eu amo brincar de
avó. E Reese provavelmente vai levantar cedo com ela e fazer
panquecas. Definitivamente uma situação perfeita para mim.
~ 311 ~
Isso me fez sorrir, porque para um homem que se queixava tanto
sobre ser cercado por meninas, Reese estava suspeitosamente
disponível sempre que eu precisava de uma babá. Izzy tinha ele
envolvido em torno de seu dedo mindinho e ela sabia disso.
Deus me ajude quando ela for uma adolescente.
O rugido de uma Harley veio de fora, e eu dei uma olhada rápida.
— É Reese chegando? — perguntei. Ela balançou a cabeça.
— Painter? — ela sugeriu.
— Eu não estou esperando por ele.
— Papai! — Izzy gritou, correndo para a sala. — Eu posso ouvir a
moto.
Ela saltou sobre o sofá e olhou para fora pela janela da frente. —
Não é o papai.
Me inclinando sobre ela, eu olhei para fora para ver Aaron - meu
encontro - descendo de uma grande e preta Harley.
— Ah merda, — eu murmurei. — Ele é um motoqueiro.
Loni e eu compartilhamos um olhar rápido. Ela sabia tudo sobre a
regra de Painter =nada de motoqueiros‘, embora ela achasse que era
tudo besteira. Eu sabia disso porque ela me disse mais de uma vez.
— Eles têm uma coisa de clube hoje à noite, — disse ela
rapidamente. — Você deve ficar bem.
Esperemos.
Aaron tocou a campainha e eu fui atender, me forçando para
sorrir. Com essa coisa toda me senti estranha e desconfortável, como se
eu estivesse mentindo para ele. O olhar satisfeito em seu rosto não
ajudava também.
— Você está pronta? — ele perguntou. — Eu trouxe a minha moto
- o passeio até Callup é lindo nesta época do ano. Vamos parar ao longo
do caminho e jantar no Moose Bitter. Você já esteve lá?
— Não, — eu admiti. — Nunca sequer ouvi falar dele.
— Você vai adorar, — disse ele, e algo sobre seu tom de voz me
acalmou. Talvez fosse o jeito que ele nem se incomodou em me dizer que
tipo de comida tinham ou perguntar se eu queria ir. — E depois nós
~ 312 ~
vamos em uma festa com alguns dos meus amigos. Você está ótima, por
sinal, mas eu acho que você deve trocar essa saia.
— Obrigada, — eu disse, olhando para a minha saia. Seria legal
um aviso antes da hora, idiota. Ugh. Agora eu estava apenas sendo mal-
intencionada - a maioria das meninas ficariam encantadas de ter um
cara aparecendo em uma moto. Pelo que eu sabia, Sherri tinha dito a
ele que eu amava motoqueiros. — Hum, eu já volto. Esta é Loni, ela é
tipo... uma minha mãe, eu acho. E minha filha, Izzy.
Aaron se ajoelhou, olhando Izzy. — A amiga da sua mãe, Sherri,
me contou tudo sobre você. Ela disse que você gosta de coisas cor de
rosa. Eu trouxe uma coisa.
Com isso, ele enfiou a mão no bolso e tirou um unicórnio de
pelúcia rosa com uma juba macia e cauda.
— É lindo! — Izzy suspirou, alcançando-o. Aaron piscou para
mim, e eu senti minha indignação evaporar, junto com as minhas
dúvidas.
— Eu já volto, — eu disse. — Izzy, como dizemos?
— Obrigada!
Talvez esta noite não fosse tão ruim, afinal.
* * *
Aaron tinha razão - era realmente uma noite perfeita para um
passeio, e a viagem até Silver Valley foi impressionante. Apesar das
minhas dúvidas, o encontro estava indo bem. Melhor do que qualquer
outro que eu tinha em um longo tempo. Eu ainda não estava sentindo o
mesmo tipo de química instantânea com ele que eu senti com Painter,
mas que seja. Ninguém é perfeito.
Nós tínhamos chegado no restaurante - que era realmente mais
um pub do que qualquer outra coisa - às sete e meia e tivemos um
jantar decente. A Moose Bitter não era nada extravagante, mas o lugar
tinha muita atmosfera. Mais ou menos como um daqueles restaurantes
históricos temáticos, mas este era definitivamente o negócio real. De
acordo com o artigo impresso nos menus de papel pequenos no centro
de cada mesa, ele remontava aos dias da corrida do ouro, quando era
~ 313 ~
um bordel. Mais tarde, foi um hotel e agora o proprietário morava no
andar de cima.
No momento em que terminamos de comer eram quase nove. As
luzes tinham diminuído e a música tinha ficado mais alta. Vários casais
se levantaram e começaram a dançar. Para minha surpresa, Aaron me
convenceu a me juntar a eles. Não foi quente, intenso e suado como um
verdadeiro clube, mas foi divertido e quando eu verifiquei a hora, uma
hora inteira havia passado.
— Você quer fazer uma pausa? — perguntou Aaron. Eu balancei a
cabeça. — Quer água ou algo mais pesado?
— Água está ótimo.
A nossa garçonete já tinha recolhido nossos pratos, mas ela tinha
deixado a água na mesa e tomei um gole, apreciando o quão tranquilo o
encontro tinha sido. Era bom relaxar. Aaron parecia menos tranquilo,
mas ele sorria o suficiente para que eu decidisse não me preocupar com
isso.
— Então, você deve ter tido Izzy quando você tinha quinze anos
ou algo assim, — disse ele, se inclinando para que eu pudesse ouvi-lo
sobre a música. — Porque você parece muito jovem para ser mãe.
— Eu tinha 21, — eu disse, me sentindo vermelha. — Eu admito,
que não foi planejado, mas eu acho que tem funcionado muito bem. Eu
não posso imaginar a vida sem ela. Você tem filhos?
Ele balançou a cabeça.
— De jeito nenhum. Eu estava casado assim que saí da escola, no
entanto, — ele disse. — Éramos muito jovens - finalmente nos
separamos no ano passado, embora eu ainda seja amigo dela. Isso
parece estranho para você?
— Eu não posso imaginar ser amigo do meu ex, — eu admiti. —
Nós brigamos o tempo todo - duvido que poderíamos concordar com a
cor do céu. Mas eu tenho que admitir, ele é um pai fantástico para Izzy,
e ele me ajuda muito também.
— Você ainda sente alguma coisa por ele? — perguntou Aaron.
Sim.
~ 314 ~
— Não, — eu disse com firmeza. — Absolutamente não. Eu
apenas tento ficar fora do seu caminho. Ele é... intenso. Mas como eu
disse, ele é um bom pai para Izzy. Ele é um artista.
Aaron tem um olhar engraçado em seu rosto. — Isso é estranho.
— Não, não é, — disse eu, estranhamente ofendida. — Ele é
incrível, um talento natural - ele vende todos os seus quadros para todo
o país, e as pessoas contratam para fazer exposições também.
Ele ergueu as mãos em sinal de rendição simulada.
— Eu não estava tentando te chatear.
Merda. O que havia de errado comigo?
— Desculpe, eu acho que só me atingiu de forma errada.
— Não se preocupe, — disse ele, embora o olhar em seus olhos
fosse especulativo. — Tem certeza que você não está presa a ele?
— É complicado, — eu admiti sem jeito.
— Bem... tudo bem então. Acho que vou pagar a conta, — disse
ele. — Nós provavelmente deveríamos ir de qualquer maneira. Eu vou
encontrar alguém na festa em torno das 22h30 - tem algo que eu
preciso pegar.
— Eu quero usar o banheiro antes de ir, — eu disse, desejando
que eu tivesse mantido minha boca fechada sobre Painter. O homem
nem estava aqui, mas de alguma forma eu não podia olhar para Aaron
sem comparar os dois.
— Parece bom. Por que você não faz isso enquanto eu pago? —
disse Aaron, estendendo a mão para pegar a minha. — Ei, nós estamos
bem?
— Claro, — eu disse, dando a ele um sorriso que não era bem
real. — Vou encontrá-lo no estacionamento - beleza?
— Perfeito.
Ele me deu um sorriso que eu acho que era suposto ser
sedutor. Meu retorno foi significativamente menor. Merda, o quão
estranho era isso? Lá estava eu com um homem perfeitamente
decente. Por que eu não sentia algo a mais por ele?
Merda.
~ 315 ~
Jessica e Sherri iam ficar tão decepcionadas, eu percebi, porque
não havia nenhuma maneira que eu estaria indo para casa com Aaron
Waits esta noite. Esperemos que as coisas não fossem ficar estranhas
no trabalho.
Ele realmente era um cara legal.
Claro que, o dentista tinha sido bom também. Ugh.
* * *
Callup era uma pequena cidade pitoresca.
Pequena. Tipo, tão pequena, com uma rua principal alinhada com
todos os tipos de edifícios de pedra. Parecia algo saído de um noticiário
muito antigo, você sabe, o tipo que você pode ver alguns carros, mas
principalmente cavalos e nenhum barulho?
Atravessamos lentamente e, em seguida, continuamos ao longo de
uma estrada velha por um par de milhas antes de eu ver alguma
construção que tinha tido seus melhores dias. Estacionados em frente
havia uma longa linha de motos, juntamente com vários rapazes
usando coletes de couro. Então eu vi um mural na parede exterior, que
parecia suspeitosamente o trabalho de Painter. Havia uma imagem de
um crânio usando um chapéu de mineiro e as palavras =Silver Bastards
MC‘.
Não.
Oh merda. Isso era ruim – muito ruim.
Temos que sair daqui, porque esse era o clube de Puck, e ele era o
melhor amigo de Painter.
Sem saber disso, Aaron parou na extremidade do estacionamento
de cascalho, bem longe da linha do que parecia ser motos do clube. Um
cara usando um colete de prospecto caminhou para nós e eu percebi
que eu tinha cerca de trinta segundos antes do meu mundo explodir em
torno de mim.
— Temos que ir embora, — eu disse a Aaron, sem descer da
moto. Ele se virou para olhar para mim, franzindo a testa.
— Acabamos de chegar aqui, — disse ele, confuso.
~ 316 ~
— Não, você não entende, — eu disse, me sentindo quase em
pânico. — Este é um clube MC. Eu não posso ir lá.
Aaron me deu um doce e condescendente sorriso. — Não se
preocupe - eu tenho amigos aqui. Você não precisa ter medo. Eu
protegerei você.
— Meu ex é um membro dos Reapers MC, — eu disse a ele. — Se
ele descobrir que eu estou aqui, vai haver problema.
Ele franziu a testa. — Você não mencionou isso antes.
— Não parecia relevante antes. Agora parece. Vamos lá.
— Não, — ele disse, sua voz endurecendo. — Eu tenho que achar
o meu amigo e pegar uma coisa.
— Então me leve de volta para a cidade e me deixe lá. Eu vou
esperar por você.
— Ei, — o prospecto disse, vindo até nós. Ele olhou entre eu e
Aaron. — Nós temos um problema aqui?
— Não há problema, — disse Aaron rapidamente. — Eu sou amigo
de Gunnar. Meu encontro está um pouco tímida sobre o clube. Acho
que ela não está acostumada a estar perto de motoqueiros.
Deus, que idiota. Eu abri minha boca para chamá-lo de cuzão,
então a fechei novamente. Claramente Aaron não ia me levar de volta
para a cidade, o que significava que eu tinha que jogar este
jogo. Poderia até funcionar - eu realmente não conhecia os Silver
Bastards, com exceção de Puck. Se eu tiver muita sorte, ele não iria
estar aqui esta noite.
Ou se ele estivesse, talvez eu pudesse me esconder no banheiro
ou algo assim... eu ligaria para Painter quando chegasse em casa, e
explicaria o que foi que aconteceu. Não que eu lhe devesse explicação,
mas tirando as besteiras de lado, eu realmente não queria entrar nisso
com ele sobre algo tão estúpido. Não depois de todo o problema com
Greg. O fato de que eu era inocente não fazia absolutamente nada para
me salvar se Painter soubesse.
Aaron sorriu para mim com força. Obviamente, ele me queria
mantendo a minha boca fechada. T ínhamos nos divertido até agora,
mas eu estava começando a pensar que talvez Aaron não fosse um cara
tão legal, afinal. Sherri ouviria muito sobre isso.
~ 317 ~
Não haverá mais encontros às cegas.
— Gunnar está lá dentro, — disse o prospecto, ainda nos
olhando. Eu desci da moto, então estava lá como uma boa mulher
quando Aaron saiu também. Ele pegou minha mão, dando a ela o que
eu suspeito que deveria ser um aperto reconfortante quando
caminhamos em direção à porta. Vários grandes homens de pé ao redor
olhavam para nós e eu achei que eu tinha reconhecido um deles.
Oh, porcaria!
Esse era um prospecto dos Reapers, e onde havia prospecto dos
Reapers, haviam Reapers. Olhei as motos mais de perto, começando a
sentir um pouco mal do estômago. Estavam lá as de Reese e
Horse. Então eu vi uma azul feita sob encomenda, uma obra-prima
pintada, e sabia que eu estava completamente e totalmente fodida.
Painter estava aqui.
Meus pés pararam, e eu tentei empurrar minha mão da de Aaron.
— Nós temos que ir embora, — eu assobiei, os olhos arregalados.
— Não até eu pegar o que vim buscar, — disse ele, e enquanto eu
acho que ele estava tentando soar calmante, sua mão apertou a
minha. — Se o seu ex está realmente com um clube, você sabe que é
uma má ideia discutir comigo na frente deles. Basta fazer o que eu digo
e você vai ficar bem - você está totalmente exagerando aqui.
— Eu sinto muito, Aaron, mas você não tem ideia do que está
falando. Ele está lá dentro, e ele não pode me ver com você, — eu
disse. — Aquela é a moto dele, bem ali.
Aaron franziu a testa, e pela primeira vez eu pensei ter visto
compreensão em seus olhos.
— Ok, nós vamos fazer isso rápido, — disse ele. — Mas eu não
posso deixá-la aqui fora - é uma coisa se você está comigo, mas de jeito
nenhum eu deixaria um encontro sozinha em um lugar como
este. Vamos sair assim que eu encontrar Gunnar.
Por um instante, pensei em chutá-lo na canela e correr para as
árvores que cercavam o edifício, mas a coisa mais idiota do que
aparecer em uma festa dos Silver Bastards com um cara estranho era
fazer uma grande cena. Em vez disso eu me forcei a respirar fundo
várias vezes, em seguida, segui para o bar. Talvez eu pudesse me
~ 318 ~
esconder no canto, me misturar de alguma forma. Deus, eu esperava
que eu pudesse.
O lugar estava lotado.
Havia meninas em todos os lugares - meninas em tops pequenos
e até mesmo algumas sem seus tops. Eu ainda me lembro quando meus
peitos estavam empinados assim. Antes do bebê, é
claro. Suspirei. Algumas estavam carregando bandejas de bebidas,
enquanto outras estavam em volta dos maiores motoqueiros, mais
corpulentos do que eu jamais queria ou precisava ver na minha vida.
A maioria deles usava coletes dos Silver Bastards, mas aqui e ali
eu vi coletes dos Reapers. Lá estava Reese, de pé, não muito longe de
mim. E u assisti com horror, quando uma menina que tinha de ser mais
jovem do eu se aproximava dele, envolvendo o braço em volta da sua
cintura e acariciando seu peito.
Por um instante, meu coração gelou.
Ele estava traindo London?
Porra, porra, porra, isso era ruim.
Reese fez uma careta, empurrando a garota a uma distância mais
ou menos suficiente para deixar claro que não estava interessado. Ela
deve ter sido apedrejada ou algo assim, porque ela imediatamente se
virou para um outro homem, fazendo exatamente a mesma coisa com
ele. Eu não o reconheci, graças a Deus.
Isto era um pesadelo.
— Gunnar! — Aaron gritou, e um homem enorme vestindo apenas
o colete dos Bastards se virou para nós. Ele tinha cabelo escuro puxado
em um rabo de cavalo, uma barba escura e ricos olhos sensuais que me
digitalizaram rapidamente antes de me oferecer um sorriso que enviou
um arrepio na espinha.
Oh meu Deus.
Ele não era tão gostoso como Painter, mas ainda assim... por que
Sherri não poderia me arranjar um encontro com alguém como ele? O
pensamento era ridículo, é claro, porque eu já tive muitos motoqueiros
em minha vida. Aaron começou a caminhar em direção a ele.
Ainda nenhum sinal de Painter. Talvez eu viveria para outro
encontro, mais um dia depois de tudo.
~ 319 ~
Eu baixei minha cabeça, cruzando os dedos. Talvez nós
passaríamos por isso, afinal de contras...
— É bom ver você, — disse Gunnar. — Quem é a garota?
Aaron colocou o braço em volta do meu ombro possessivamente, e
eu praticamente pude sentir o cheiro presunçoso que ele irradiava. Ah,
não era tão doce - ele estava orgulhoso de me ter como um
encontro. Ele era do tipo suicida. Deus. À distância, eu ouvi o som de
vidro quebrando, cortando a música e a conversa ao nosso redor. Olhei
para cima, percebendo o perigo. Então a voz de Reese soou.
— Contenha-se, filho.
Eu olhei para ele, em seguida, segui seu olhar do outro lado da
sala para ver Painter.
Enfurecido.
Ele estava marchando em nossa direção, os olhos assassinos.
~ 320 ~
Capítulo
21
Em um instante, Reese estava se empurrando através da
multidão, agarrando o braço de Painter. Eu me concentrei no gesto -
Reese estava tentando me salvar. Afastando-se de Aron, eu assobiei com
urgência, — Nós temos que sair daqui agora.
Ele estava muito ocupado assistindo o show, no entanto, estúpido
demais para perceber o quanto ele estava em perigo. Assim como um
grande filhote de cachorro mudo. Deus, Painter estava indo para o
abate com Aaron. Ele voltaria para a cadeia, e tudo seria minha
culpa. Pelo lado positivo, eu provavelmente não iria sobreviver ao meu
encontro idiota por muito tempo, então eu acho que eu tinha que ir
sozinha. Aaron não tinha escutado quando eu lhe disse que
precisávamos sair?
Painter empurrou Reese, então ele estava na frente de nós antes
que pudesse sair uma palavra de explicação. Eu gritei quando ele pegou
a frente da camisa de Aaron, empurrando-o para o centro da sala
quando seu punho bateu em seu rosto. Ele bateu nele novamente, e eu
comecei a gritar ainda mais alto quando Aaron caiu no chão, Painter em
cima dele como um cão raivoso, chovendo vingança.
— Seu imbecil! — eu gritei, chocada e horrorizada, porque isto
era o inferno. Tinha que ser. Eu tinha caído através de um buraco no
mundo, direto para o inferno, onde todos os meus piores temores
estavam se tornando realidade. De repente Puck estava lá, arrastando
Painter de cima do meu encontro, que estava gemendo e
choramingando no chão.
Puck deixou Painter ir, e agora ele se deteve sobre Aaron,
respirando fundo, se esforçando para parar de lutar quase mais do que
podia suportar.
— Tire ele daqui, — ele rosnou. — Tire ele daqui antes que eu o
mate.
— Porra, — Horse disse, agarrando Aaron sob os braços. Um
caminho se abriu entre ele e a porta, e eu gritei palavras para Painter,
mais irritada do que eu jamais estive antes. E se Aaron prestasse
queixa?
~ 321 ~
Como ele se atreve a fazer este tipo de merda?
Ele se virou para mim, o rosto cheio de um propósito terrível
quando Reese entrou entre nós, bloqueando seu caminho.
— Não vai acontecer, filho, — disse ele.
— Não é da sua conta, — Painter estalou. Diabos, não era da
conta de ninguém. Fodidos motoqueiros estúpidos, dizendo às pessoas o
que fazer. Eu era uma adulta, livre para namorar quem diabos eu
queria. Painter precisava ir direto para o inferno. Eu iria levá-lo até lá,
também - ele poderia ser um cara grande e duro, mas eu era uma
enfermeira filha da puta que sabia exatamente como matar um homem,
matá-lo de forma tão terrível que ele estaria implorando para a morte
antes de eu terminar..
— Ela é a única que veio aqui, — acrescentou Painter com um
sorriso de escárnio. Ah, foda-se ele. Foda-se ele.
— Eu nem sabia onde estávamos indo! — gritei. — Era apenas um
encontro, seu imbecil!
— Ele é um fodido motoqueiro. Você quebrou as regras,
Mel. Traga seu traseiro aqui.
— Não vai acontecer, — disse Reese, sua voz como um trovão. —
Eu não vou lidar com isso esta noite. Painter, leve sua bunda para
casa. Melanie, você vem comigo.
Algo escuro encheu a sala, algum tipo de tensão que eu não
entendi e não me preocupei, porque eu tive o bastante dessa
merda. Painter e eu precisávamos resolver isso de uma vez por
todas. Usando um pouco da minha força, eu empurrei Reese para fora
do caminho, me lançando para Painter.
— O que eu faço não é da sua maldita conta!
Painter olhou para mim, um sorriso lento e terrível abrindo em
seu rosto.
— Porra, — disse Reese. — Eu estou de saco cheio de vocês.
Eu senti um momento de triunfo, então Painter deu um passo em
minha direção, o inferno em seus olhos.
— Eu vou te dar uma carona para casa, Mel, — disse ele, em voz
baixa e ameaçadora. — Podemos falar quando chegarmos
lá. Privacidade, você sabe?
~ 322 ~
Ah merda. Olhei em volta freneticamente, mas a parede de
homens ao meu redor não quebrou. Eles estavam todos lá - Ruger,
Horse, Banks. Seus rostos eram duros, e eu percebi naquele instante
que esses homens - homens que tinham sido tão úteis para mim ao
longo dos anos - não eram meus amigos.
Eles eram irmãos do Painter.
— Vão se foder... — eu sussurrei, de repente aterrorizada.
— Talvez nós devemos fazer isso também.
Em um instante ele me pegou, me jogando por cima do ombro e
caminhando em direção à porta. Eu gritei novamente, a minha garganta
doendo quando ele empurrou através da multidão, me carregando pelo
estacionamento. No começo eu pensei que estávamos indo para sua
moto, mas ele passou por ela, atravessando a estrada em vez disso.
Ergui a cabeça, olhando sem ver os prospectos. Dois deles tinham
colocado Aaron no chão ao lado do edifício, obviamente tentando
descobrir quão gravemente ferido ele estava. Um terceiro se levantou e
olhou fixamente, algo como choque em seu rosto enquanto Painter me
arrastava para as árvores.
Então nós estávamos na floresta, cercados pela escuridão. Sua
mão desceu sobre a minha bunda, me golpeando duramente antes que
ele me colocasse no chão. Se ele não tivesse me firmado eu teria caído.
— Acabou, Mel. Está tudo acabado. Você é minha agora.
Me firmando, eu bati em seu peito, porque dois podem jogar esse
jogo. — Você não tinha a porra direito de machucá-lo - ele não fez nada
com você.
— Ele tocou na minha mulher, — rosnou Painter. — Eu já estou
cheio disso. Eu te dei tanta merda de espaço que você poderia construir
um maldito reino, mas eu lhe disse o que aconteceria se você viesse de
volta ao meu mundo. Tanto quanto eu estou preocupado, isso significa
que você é minha. Eu estou cansado dessa merda. Venha aqui.
Com isso, ele me agarrou, me empurrando em seu corpo para um
beijo duro que eu queria odiar, tanto quanto eu queria odiá-lo. Mas
ainda havia aquele fogo entre nós que eu nunca conseguia matar. Agora
ele estava rugindo para a vida.
Eu queria ele.
~ 323 ~
Não, eu precisava dele. Dentro de mim. Sobre mim. Me enchendo
e me machucando e me mantendo segura, porque o meu corpo tinha
decidido que eu pertencia a ele, mesmo que minha mente pensava uma
merda completa e absolutamente diferente. Uma mão estava apertada
no meu cabelo, segurando minha cabeça quando ele devastou minha
boca. A outra deslizou para baixo em minhas calças, apertando minha
bunda tão apertado que eu sabia que haveria marca de suas mãos na
parte da manhã. Meus braços foram ao redor de seu pescoço e, em
seguida, Painter me levantou, envolvendo minhas pernas em volta de
sua cintura.
Ele estava tão duro.
Me lembrei do seu pau e como me senti como quando tínhamos
feito Isabella. Como ele me reivindicou e eu me senti tão protegida e
amada e, tudo se desfez e de repente eu estava sozinha e assustada. Eu
queria este sentimento novamente - e Painter era o único que poderia
dá-lo a mim. Eu tentei encontrar outra pessoa, mas era como se ele
tivesse me quebrado, destruindo todas as chances para a felicidade
longe de seu toque.
Deus, mas eu o odiava por isso.
Ele me empurrou contra uma árvore, rangendo os quadris
profundamente no meu. Isso dói. A casca nas minhas costas e seu pau
empurrou contra mim tanto que eu sentia cada costura da minha calça
jeans, mas eu não me importei. Eu queria mais. Cavando meus dedos
em suas costas, eu estava agarrada a ele, porque se ele ia me marcar,
então eu estaria muito bem marcando-o também.
Seus quadris ficaram mais frenéticos e de repente não era
suficiente. Eu quebrei, gemendo. — Me foda.
Se afastando da árvore, ele me empurrou para o chão. Em
seguida, suas mãos estavam rasgando minha blusa e empurrando os
meus jeans para baixo. Ele ficou preso. Eu chutei descontroladamente,
tentando tirá-los, mas era muito lento para ele. Me empurrando pela
cintura, ele me virou e me empurrou para baixo na frente dele. Eu cai
com força em minhas mãos. Então ouvi o barulho de seu zíper e ele
agarrou meus quadris, firmando meu corpo como ele, alinhando a
cabeça de sua ereção no espaço vazio entre as minhas pernas.
— Eu sou o último homem que você vai foder, — ele rosnou,
empurrando para dentro de mim. Seu pau bateu com um movimento,
me esticando enquanto eu gritava de necessidade agonizante.
~ 324 ~
Isso dói.
Eu queria mais.
Eu o odiava.
— Faltou isso, — ele gemeu, empurrando os quadris para trás, só
para bater em mim novamente. Suas mãos em volta da minha cintura,
me segurando firme enquanto ele me fodia mais duro do que qualquer
coisa que eu já tinha experimentado. — Jesus.
Apoiando em minhas mãos, eu empurrei minha bunda de volta
para ele, imaginando como algo tão odioso poderia ser tão
bom. Como ele poderia me fazer sentir tão bem, com suas mãos grandes
e violentas e seu desejo de homem das cavernas. Eu nunca tinha estado
tão excitada na minha vida, cada impulso me batendo em um espaço
interior profundo enviando necessidade dolorosa através do meu corpo.
Isto não era sexo.
Foi uma luta pelo domínio, uma luta que eu sabia que não
poderia vencer, mas eu estava amaldiçoada se eu não tentasse. Toda
vez que ele me preenchia, eu apertava, esperando machucá-lo ou
segurá-lo ou eu não sei o que. Ele gemia de satisfação agonizante e,
depois, faria tudo de novo, mais e mais e mais até que eu senti como se
meu coração fosse explodir.
De repente, sua mão alcançou em torno de mim, encontrou meu
clitóris, e então eu explodi.
Explodi e morri.
Minha visão estava despedaçada, meu pulso corria e todos os
músculos do meu corpo estavam tensos, levando-o comigo quando ele
gritou em sua própria libertação. Semente quente jorrou profundamente
dentro do meu corpo quando eu caí para frente na terra,
esgotada. Painter caiu em cima de mim, nós dois com falta de
ar. Lentamente a realidade voltou e eu senti seu pau amolecendo, seu
sêmen correndo pelas minhas pernas.
Foi quando me dei conta.
Esquecemos o maldito preservativo.
De novo.
~ 325 ~
PAINTER
Mel parecia uma merda.
Ela estava coberta de terra, sua camisa estava rasgada, e ela
tinha este perdido e assombrado olhar. Cristo. Picnic iria olhar para ela
e assumir que eu tinha batido nela.
Ele não iria assim tão longe.
Pic não estava esperando por mim na sede do clube quando
voltamos, no entanto. A maioria das motos dos Reapers tinham ido
embora, e não havia qualquer sinal do fodido, tampouco. Os prospectos
do Silver Bastards foram espertos o suficiente para manterem a boca
fechada, embora eu tenha visto Duck no clube.
Segundos depois Boonie saiu, seguido por Gunnar.
— Posso falar? — ele perguntou, os olhos cintilando para Mel.
— Claro, — eu disse. — Nos dê um segundo.
Mel acenou com a cabeça, quase como se estivesse em estado de
choque. Acho que ela provavelmente estava. Inferno, eu me sentia em
choque, então eu suponho que era bastante justo.
— O que foi? — Boonie levantou uma sobrancelha, então acenou
para ela. — Ela está bem?
— Ela está bem.
— Você a machucou?
— Não, — eu disse, desafiando-o a me desafiar. Ele franziu a
testa, depois assentiu. — Eu tenho algumas informações para você,
sobre o cara com que ela veio.
Eu relaxei.
— O que é?
— Ele é um traficante, — disse Gunnar, cruzando os braços sobre
o peito. — Eu não tenho certeza se ele estava namorando com ela de
verdade ou apenas usando ela para se esconder, mas ele estava aqui
para pegar um carregamento. Temos trabalhando com ele por cerca de
seis meses. Faz encomendas especiais, esse tipo de coisa. Ele é uma má
notícia.
~ 326 ~
Eu balancei a cabeça lentamente, olhando em direção a
Melanie. Ela estava em pé ao lado da minha moto, se abraçando de
forma protetora. Por um instante me senti culpado, em seguida,
balancei minha cabeça. Ela era minha. De jeito nenhum eu deveria me
sentir culpado sobre a reivindicação de minha propriedade.
— Nós temos um problema?
Boonie balançou a cabeça.
— Ele não é nada. Quero dizer, ele era um trabalhador decente,
mas ele nunca seria mais do que isso. Ele vai ficar de boca fechada - ele
já viu o suficiente para saber que é melhor não falar. Eu tive uma
pequena conversa com ele também. Acho que ele trabalha no hospital
com ela. Sugeri que ele encontrasse outro emprego - e rápido. Ele
parecia pensar que isso foi uma ideia sólida. Você não vai vê-lo
novamente.
— Obrigado, — eu disse. — Desculpe a confusão.
— Merda acontece, — disse Gunnar, olhando para Mel
novamente. — Você tem certeza que ela está bem?
— Ela vai ficar bem, — eu disse. — Não é o que parece.
— Isso é bom, porque parece que você a estuprou, — disse
Boonie. Eu balancei minha cabeça.
— Isso é mais como nós odiamos foder o outro. Confie em
mim. Doente e distorcido, mas não foi estupro.
— Darcy ficará aliviada, — disse Boonie. — Acha que você
chateou minha old lady - ela saiu logo depois que você saiu. Tô achando
que eu não vai transar hoje a noite.
Eu mordi de volta um sorriso, porque Darcy era inteligente.
— Me desculpe por isso.
Ele deu de ombros, então me deu um sorriso malicioso.
— Tenho sexo de reconciliação pra fazer. Boa sorte com a sua
menina.
— Obrigado. Tenho a sensação de que vou precisar.
Ele bateu em minhas costas e nós nos despedimos, então eu
comecei a voltar para Melanie. Ela olhou para mim o tempo todo, o que
eu achei quase reconfortante. Eu poderia lidar com praticamente
~ 327 ~
qualquer coisa, menos o estranho vazio que ela teve logo depois que eu
a peguei.
Isso foi um pouco assustador.
— Você está pronta para ir para casa? — perguntei.
— Eu já estava pronta para ir para casa toda a noite. Eu ainda te
odeio.
— Você precisa encontrar novos insultos. Isso está ficando velho.
— Vá se ferrar.
Sorrindo, subi na minha moto. Ela subiu por trás de mim, se
dobrando e envolvendo os braços em volta da minha cintura, os seios
pressionados contra minhas costas. Pela primeira vez desde sempre as
coisas em meu mundo pareciam certas, mesmo soando distorcidas.
Ela era minha. Ela sempre foi minha. Eu estaria ferrado se
compartilhasse isso com outro homem.
* * *
Nós chegamos até a casa dela um pouco antes da meia-noite. Pic
havia mencionado anteriormente que Izzy estava dormindo em sua
casa, mas eu achava que era porque Mel tinha que trabalhar. Por mais
que vê-la com o fodido me irritava, o resultado final estava trabalhando
em meu favor. Desliguei a moto e esperei ela saltar, em seguida,
seguimos para casa.
— Você não precisa entrar, — disse ela.
— Sim, eu tenho certeza que preciso, — eu respondi. — Nós
precisamos nos limpar, e então nós precisamos conversar.
— O que há para falar? — ela perguntou, cavando em seu bolso
para achar a chave. Ela se atrapalhou e quase deixou cair, então eu
estendi a mão e peguei dela, abrindo a porta. Olhei ao redor da casa
acolhedora quando entramos. Izzy tinha arrumado todas as almofadas
do sofá, alinhando-as ao longo da parede. No topo haviam todas as suas
bonecas e bichos de pelúcia, incluindo um pequeno esqueleto de
Halloween do ano passado que ela tinha se apaixonado. Eles estavam
cobertos de cobertores, panos, e até mesmo alguns tecidos.
~ 328 ~
— Ela colocou seus bebês na cama antes de ir para London, — eu
disse, sentindo a mesma sensação de paz que eu sempre tenho quando
eu penso sobre Izzy. Deus, eu amava aquela garota. Mel sorriu, olhando
para mim com um olhar de orgulho compartilhado em nossa menina.
— Ela sempre faz. Cobre cada um deles e, em seguida, ela conta
uma história. Ela faz isso na sua casa também?
— Sim.
— Fizemos uma boa garota.
— Eu quero que nós vivamos isso juntos, — eu disse
abruptamente, passando a mão pelo meu cabelo. — Nós somos uma
família, Mel.
Ela olhou para mim, coberta de terra, cabelo desarrumado como
se ela tivesse sobrevivido a um tornado.
— Nós estamos fodidos, — disse ela. — Olhe para nós. Há algo
errado aqui, Painter.
— Esse foi o melhor sexo que já tive, — eu disse a ela. — Me olhe
nos olhos e me diga que não foi o mesmo para você.
Mel olhou para mim, mas ela não disse nada. Eu refreei um riso.
— O sexo é bom. Nós temos uma garota. Você já admitiu que me
queria por perto - não ache que eu esqueci isso. Tanto quanto eu posso
dizer, a única razão pela qual não estamos juntos é que você é tão
teimosa que você não pode se deixar aceitar e ser feliz.
— E sobre Aaron? — ela perguntou. — Está tudo errado,
Painter. Você o teria matado. Eu vi isso na sua cara.
Ela estava certa. Quase.
— Mas eu não o matei, — eu a lembrei.
— Isso porque Puck parou de você.
— Talvez, — eu admiti. — Mas ele estava comigo por um
motivo. Essa é a coisa sobre ter irmãos, Mel. Temos alguém para nos
cobrir quando você não pode se cobrir.
— Sim, eu notei, — ela disse, sua voz cada vez mais dura. — Em
particular, a forma como todos eles fingiram que você não estava me
arrastando para fora contra a minha vontade. Eu estava gritando por
ajuda e eles só assistiram. Isso é doente.
~ 329 ~
— Ele é um traficante, — disse eu, descarregando ela. Ela piscou.
— Quem?
— Aaron. Ele estava usando você como disfarce para entrar no
clube dos Silver Bastards para pegar um carregamento. Drogas - ou
talvez armas. Eu não recebi os detalhes e eu não me importo. O que eu
me importo é que, se ele tivesse sido preso, você teria ido junto como
cúmplice. Tanto quanto eu estou preocupado, eu acho que eu não o
machuquei o suficiente.
Ela se acalmou.
— Você está falando sério?
— Sim. Isso é o que Boonie estava me dizendo.
— Merda, — disse ela, caindo no sofá. Ela deixou cair a cabeça
para trás, olhando para o teto. — Ele conheceu Izzy. Ele deu a ela um
unicórnio de pelúcia... eu achei fofo.
— Idiota do caralho. Cadê?
Ela olhou em volta. — Não tô vendo - ela provavelmente o levou
para London. Não se preocupe, eu vou suborná-la ou algo assim, levar
pra longe dela. De jeito nenhum eu quero isso nesta casa sabendo como
ele me usou.
Me sentei ao seu lado, apoiando os pés sobre a mesa de café. Nós
dois precisávamos de um banho, mas precisávamos resolver esta merda
ainda mais. Ela estava no limite, no entanto. Eu podia ver. Cristo, as
mulheres são complicadas.
— Posso te perguntar uma coisa? — perguntou ela.
— Claro.
— Você faria isso?
— Fazer o quê?
— Algo ilegal perto de mim ou Izzy?
Eu suspirei, querendo saber como responder. Porra, poderia
muito bem contar a ela toda a verdade.
— Eu tenho uma arma na minha moto. Isso é ilegal - eu sou um
criminoso não autorizado a possuir uma arma de fogo.
~ 330 ~
— Onde ela está? — ela perguntou.
— Tem um compartimento escondido para isso, — eu disse a
ela. — Ruger fez. Você quer ver?
Eu não sei por que eu ofereci, mas por alguma razão parecia a
coisa certa a fazer - talvez se ela visse por si mesma, ela acreditasse em
mim quando eu prometi que eu não estava contrabandeando nada pior.
— Sim, — ela disse, parecendo um pouco surpresa que eu estava
tão confortável com isso - ótimo. Talvez ela acredite que eu estava
falando sério, porque eu estava. Eu nunca a colocaria nesse tipo de
perigo. — Eu acho que eu quero ver.
— Ok, então.
Voltamos lá fora. Não havia muita luz, mas eu carregava uma
pequena lanterna em um dos meus alforjes, junto com um kit de
primeiros socorros, um kit de costura, algumas ferramentas, e outras
coisas - nunca se sabe o que pode acontecer na estrada.
— Você é como um escoteiro, — disse ela, e eu ouvi um sorriso
em sua voz.
— Sim, eu sou, — eu respondi, rindo. — Aqui está.
Eu abriu o compartimento usando a trava escondida, mostrando
a pequena pistola semiautomática lá dentro. Estava carregada e pronta
para uso, e havia um cartucho de munição sobressalente também.
— Note a ausência total e absoluta de drogas, — eu apontei
secamente. — Só pra registrar - não é ilegal você estar segurando essa
arma, só eu. Não há perigo se acontecesse de ser pega com isso.
— Você vai me mostrar como funciona?
— A arma? — perguntei, surpreso. Ela deu uma risadinha.
— Não, seu compartimento supersecreto.
Fechei de volta, olhando para ela.
— O que é isso, algum tipo de teste?
— Eu não sei. Você precisa de testes? — ela desafiou. Eu suspirei,
porque ela provavelmente queria me testar.
— Me dê sua mão.
~ 331 ~
Guiando-a, eu a deixei sentir a pequena trava por si mesma, em
seguida, vi como ela abriu e fechou várias vezes o compartimento. Em
seguida, voltou para a casa, mas na porta Mel me parou, colocando a
mão no meu peito.
— Você deve ir agora, — disse ela. — Eu não posso lidar com
nada mais esta noite. Preciso tomar um banho e dormir um pouco, e eu
vou fazer isso muito melhor se você não estiver por perto. Mais seguro
para você também. Agora que eu sei onde conseguir uma arma, eu
poderia ser tentada a matá-lo enquanto dorme.
— Tudo bem, — eu disse, e enquanto eu quis argumentar, eu
podia ver que ela estava dizendo a verdade - Mel estava
acabada. Gasta. — Eu não tenho nada para fazer amanhã. Nenhuma
merda importante. Ou negócios do clube. Mas quando eu terminar, nós
vamos conversar. Eu virei para você amanhã à noite.
Ela balançou a cabeça.
— Eu te ligo quando eu estiver pronta para falar, — ela protestou.
— De maneira nenhuma. Vou te dar esta noite, mas amanhã nós
vamos acertar isso. De verdade.
— Vá se foder.
Eu me inclinei para frente, beijando-a nos lábios. Ela amoleceu
por um instante, então ela estava empurrando meu peito.
— Eu já fiz, — lembrei a ela. Mel franziu a testa.
— Huh?
— Eu já fodi você. Foi incrível. Mas parece melhor fodermos para
sempre, certo?
Seu rosto endureceu, e ela bateu a porta na minha cara.
Eu não pude evitar - eu ri.
~ 332 ~
Capítulo
22
SEXTA-FEIRA DE MANHÃ
MELANIE
— Ele simplesmente pediu demissão, — eu ouvi Brit dizer a outra
enfermeira. — Sem aviso prévio, nada.
— Quem? — perguntei, encostada ao balcão. Eram quase oito
horas da manhã, quase na hora do relatório de mudança de
turno. Ainda bem, porque eu estava exausta. Eu tinha conseguido
dormir pouco ontem à noite, e então eu passei o dia com Izzy. Porque
London era um anjo, ela concordou em levá-la para uma segunda noite,
mas quando eu tentei tirar uma soneca a tarde depois dela ir pro
Arsenal, não deu certo.
Eu ficava pensando sobre a promessa de Painter de voltar ontem
à noite.
Eu deveria ter ligado para ele. Deveria ter avisado que eu estava
trabalhando e que teríamos de conversar em um momento
diferente. Mas tinha havido alguma parte minha desafiante e com raiva
que queria que ele ficasse esperando, perguntando onde diabos eu
estava, porque foda-se ele e suas ordens.
Doze horas mais tarde, eu estava exausta e mal-humorada e
desejando como o inferno que eu não tivesse feito isso porque ele iria
me encontrar, mais cedo ou mais tarde, e quando fizesse, eu estaria
cansada demais para lutar com ele.
— Esse guarda de segurança bonito, — disse ela. — Aaron
Waits. Um saco, porque ele fazia noites como esta muito mais
divertidas.
Bom, pensei ferozmente. Eu não quero ver aquele filho da puta
novamente.
— Você é casada, — eu apontei. — Não é como se você pudesse
fazer qualquer coisa com ele.
~ 333 ~
— Casada, não morta, — ela respondeu, me dando uma
piscadela. — Eu posso apreciar a paisagem sem tocá-lo. Só mais dez
minutos até a mudança de turno - eu mal posso esperar. Eu odeio
noites como esta noite. Tão chato.
Ela estava certa. Alguns turnos eram infernais - terríveis
acidentes de carro, pessoas morrendo. Esses eram o tipo de noite que
ficava com você, assombrando seus sonhos. Mas esta noite tinha sido o
completo oposto. Apenas quatro pacientes, e dois deles tiveram
resfriados. Eu nunca tinha visto o lugar tão vazio.
— Turno diurno é um saco, — eu disse. — É bem mais
movimentado.
Ela acenou para mim, concordando. Mais cedo ou mais tarde, os
pacientes viriam.
Mas não para nós. Não essa noite.
— Vamos fazer o relatório, — disse a enfermeira encarregada,
vindo em nossa direção. — Não há muito o que falar.
Enchemos o dia sobre nossos pacientes e, em seguida, dez
minutos depois estávamos todos cronometrando o tempo para
sairmos. Não havia muito a compartilhar com eles. Hora de ir para casa
e dormir um pouco antes de eu ter que lidar com Izzy novamente. Se eu
tivesse sorte, Reese e London iriam mantê-la algumas horas extras,
deixá-la assistir alguns programas de TV. Eu poderia até dar uma
soneca.
* * *
A grande harley azul de Painter estava estacionada em frente a
minha casa.
Eu pensei sobre a arma escondida lá dentro. Sobre o jeito que ele
tinha espancado Aaron. O que poderia ter acontecido se Aaron e eu
tivéssemos nos aproximado mais.
Que bagunça.
Respirando fundo, eu abri a porta, sem me preocupar em
questionar como Painter tinha entrado. Ele era um Reaper - tanto
quanto eu poderia dizer, coisas como fechaduras e paredes não se
~ 334 ~
aplicavam a eles. Quero dizer, ele já tinha furados outros bloqueios,
então por que isso seria diferente?
Ele não estava na sala de estar, mas eu ouvi a música tocando de
um dos quartos. Deixando cair as minhas chaves e bolsa em cima da
mesa, eu chutei meus tênis e fiz uma xícara de café antes de enfrentá-
lo. Claro, isso significava que eu teria problemas para dormir.
Eu meio que esperava encontrá-lo no meu quarto, talvez
remexendo na minha gaveta de calcinhas. O som vinha do quarto de
Izzy, no entanto. Franzindo a testa, eu caminhei até a porta,
empurrando-a para abrir lentamente. Ele estava lá dentro, pintando
uma de suas paredes. O chão estava coberto de lonas, e a cama tinha
sido empurrada para o centro do quarto. Ao longo da parede ele tinha
feito um céu azul sobre a grama verde, deixando um grande buraco
vazio no centro. Agora ele estava desenhando nele com um lápis de
carvão vegetal, embora eu não conseguisse dizer o que ele estava
desenhando.
— Ei, — eu disse, hesitante, não tendo certeza do que esperar. Ele
se virou para olhar para mim, os olhos cintilando sobre os meus.
— Ei.
Eu me esgueirei para dentro do quarto. Eu esperava estar
brigando com ele até agora - isso era estranho. — O que está fazendo?
— Projetando um mural para Izzy, — disse ele. — Eu espero que
você não se importe - nós conversamos sobre isso um tempo atrás. Eu
estava esperando por você na noite passada e percebi que eu poderia
muito bem começar.
Hesitante, cheguei mais perto, tentando ler o seu humor. Seu
rosto estava vazio, porém, então estudei o contorno na parede em vez
disso. Parecia...
— Isso é uma princesa montando uma moto com um chifre de
unicórnio em seu capacete? — perguntei, confusa. Painter assentiu.
— Sim, é o que Izzy queria, — disse ele. — odeio desapontá-la,
mas ela queria que a princesa e a moto rosa. Estou fazendo isso com
tinta látex. Eu acho que ela vai querer mudar isso em algum momento.
— Esperamos que logo, — eu disse. — Eu estou realmente
cansada de rosa e eu tenho certeza que eu poderia vomitar unicórnios.
Ele riu. — Sim, eu também.
~ 335 ~
Pisei até a parede, eu segui o meu dedo ao longo do esboço,
pensando como ficaria quando estivesse terminado. — Ela vai amar.
— Esse é o objetivo, — disse ele. — Ela me disse que ela quer
olhar para ele e se lembrar que ela tem um pai quando eu não estou por
perto.
Ái.
— Ela ama você.
— Eu sei.
Virando-se para olhar para ele, eu inclinei minha cabeça.
— Estou muito cansada, — eu disse. — Então, eu não tenho
energia para conversar agora. Vamos brigar?
Ele balançou a cabeça. — Não. Eu estava chateado com você na
noite passada. Por um tempo eu percebi que você estava provavelmente
fora transando com outro cara, então eu percebi o quão estúpido
era. London não quis me dizer onde você estava - Reese deve ter
mencionado o que aconteceu em Callup, porque ela me tratou como um
serial killer. Apenas no caso de você se perguntar de que lado ela está...
Eu sorri.
— Eu tive sorte com ela, — confessei. — Quando a minha própria
mãe ficava hospitalizada ela cuidava de mim, como ela cuidava de
Jessica. Ela tem sido uma avó para Izzy, uma mãe para mim... mas eu
nunca vou entender por que a minha mãe me deixou. Eu olho para
Isabella e não consigo entender, porque eu morreria antes que eu
estivesse sem ela.
Como você fez na prisão.
— Você nunca vai me perdoar? — ele perguntou baixinho,
pegando meu queixo, me forçando a olhar para ele. — Às vezes parece
que você me odeia por força do hábito. Existe química entre nós. O sexo
não é problema. E eu sou um bom pai para Isabella. Eu te ajudo tanto
quanto você me deixa. Eu odeio seu trabalho no PS, mas eu não vou
dizer para você parar de fazer isso porque eu sei que é importante para
você. Então por que sempre temos que brigar, Mel?
Balançando a cabeça, eu me inclinei para frente em seu
peito. Seus braços vieram ao redor de mim, esfregando minhas
costas. Me senti bem. Segura.
~ 336 ~
— Isso me assusta, — eu confessei.
— O quê?
— Que eu posso me importar com você. Você é um mistério para
mim - você brinca com nossa filha, você pinta motos rosa. Você até a
deixa se vestir como uma fada e faz festa de chá com ela.
Ele gemeu.
— Como foi que você descobriu sobre isso?
— Ela me disse, — eu disse, reprimindo um sorriso. — E ela fez
um desenho. Levei para o trabalho e mostrei a todos. Mas eu acho que
você deveria me agradecer, porque eu considerei seriamente dar isso
para Reese.
Ele gemeu de novo, a mão correndo pela minha espinha na parte
de trás do meu pescoço. Os músculos estavam tensos por causa de uma
longa noite de trabalho, e quando ele cavou seus dedos no fundo, eu
suspirei de prazer.
— Então qual o problema?
— Você bateu em Aaron, — eu disse suavemente. — Você
realmente o machucou.
— Você poderia ter ido para a cadeia como cúmplice dele. Ele
mereceu.
— Você não sabia quando você o atacou - isso era sobre você
estar com ciúmes. Isso é fodido, Painter.
— Provavelmente, — ele admitiu. — E eu estava chateado com
você na noite passada também, mas eu me controlei. É verdade que eu
perdi a cabeça, mas também é verdade que eu me controlo muitas
vezes.
— Você pode voltar para a cadeia.
— Você poderia ter sido esfaqueada por um cara louco na sala de
emergência.
Me afastando, eu fiz uma careta para ele. — Isso é diferente. Eu
estou fazendo algo que ajuda as pessoas, lembra? Você está passando...
drogas ou algo assim. Eu nem sei o que você faz - você nunca me disse.
Seu rosto ficou sério.
~ 337 ~
— Mel, eu não vou mentir para você sobre quem eu sou, — disse
ele lentamente. — Eu nem sempre sigo a lei, e quando meus irmãos
precisam de mim, eu estou lá para eles. Mas eu sou um artista - isso é
o que eu faço para viver. Eu não estou contrabandeando armas, eu não
estou vendendo drogas. Eu pinto fodidas imagens, e então eu as vendo
para idiotas ricos para que eles possam se gabar da minha =arte
primitiva‘ em suas festas. Aceito o dinheiro deles com um sorriso, pago
minhas dívidas do clube, e então volto para casa para você e Izzy. Eu te
amo.
Fechei os olhos, saboreando as palavras. Nós nos conhecíamos há
tanto tempo, passamos por tanta coisa. Ele sempre esteve lá, mesmo
quando ele não estava. Minha vida tinha girado em torno de Painter por
seis anos.
— Eu também te amo, — eu admiti lentamente, abrindo meus
olhos para olhá-lo.
Ele inclinou a cabeça, estudando meu rosto.
— Normalmente as pessoas não parecem tão infelizes quando elas
dizem isso pela primeira vez, — disse ele.
— Normalmente as pessoas chegam a dormir em algum momento,
mas tem sido vinte e quatro horas, — eu respondi calmamente. — Como
eu disse, eu estou muito cansada de brigar, eu poderia muito bem
deitar aqui agora mesmo.
— Isso significa que você vai me dizer que tudo isso foi algum tipo
de sonho ou alucinação?
Eu considerei a pergunta, então balancei a cabeça.
— Não, eu te amei por um longo tempo. Eu tentei seguir em
frente, mas eu não posso. Ainda meio que me irrita, porque há todo tipo
de coisa que eu não gosto em você... mas é o que é.
— Alguns caras ficariam ofendidos por uma declaração como
essa, — disse Painter. — Mas eu acho que eu vou contar isso como uma
vitória.
Eu dei a ele um sorriso, depois me afastei, olhando ao redor do
quarto. Havia latas de tinta em todos os lugares, grandes e
pequenas. Todas as cores diferentes.
— De onde veio tudo isso? — perguntei, acenando com a mão em
direção a bagunça.
~ 338 ~
— Oh, eu escolhi, — disse ele, dando de ombros. — Planejo este
mural há um tempo. Ontem à noite eu estava chateado, e quando eu
fico chateado eu costumo brigar ou pintar. Eu já briguei o suficiente
esta semana.
— Como você descobriu que eu estava trabalhando?
— Jessica, — disse ele. — Eu liguei para ela.
Isso me surpreendeu. — Jessica te odeia.
— Eu sei, — disse ele. — Ela não queria falar comigo. Eu posso
ter ameaçado um pouco.
Meus olhos se arregalaram. — Você quis machucá-la?
Ele deu uma risada baixa, balançando a cabeça.
— Não esse tipo de ameaça.
— Que tipo de ameaça? — perguntei, os olhos arregalados.
— Eu ameacei chamar alguém, — disse ele. — Talvez mandar pra
ele algumas fotos, isso é tudo. Você não quer saber. Confie em mim
— Isso é sobre todos esses anos atrás, quando você e Jess-
— Não, — ele disse com firmeza, me cortando. — Não há nada
para se preocupar. Basta esquecer - quando ela estiver pronta para te
dizer, ela vai. Ou não. De qualquer maneira, eu usei isso contra ela na
noite passada, e eu não me arrependo de nada disso. Eu ainda estava
chateado com você, por sinal, - mas depois de algumas horas de
pintura eu estava apenas aliviado que você não estava com outro cara.
Eu estudei seu rosto, as maçãs do rosto altas, o seus olhos azuis
e pele pálida. — Temos muita sorte de Izzy ter a minha pele. Você nunca
fica bronzeado.
Ele riu novamente. — Você tá cansada mesmo.
Dei de ombros, em seguida, me sentei de repente. Ok, =sentei‘ era
um eufemismo - era mais como minhas pernas cederam, um pouso
controlado. Painter se sentou ao meu lado.
Olhando para as latas de tinta, eu vi um pote vermelho não muito
longe e o agarrei.
— Você se lembra daquela noite que você me ensinou a pintar
joaninhas?
~ 339 ~
— Vividamente. Uma das melhores noites da minha vida.
— Você acha que eu poderia pintar uma parede de Izzy?
Painter olhou para mim, avaliando. — Você sabe, com qualquer
outra pessoa eu diria que sim, mas eu tenho medo de que você vá
causar pesadelos nela. Joaninhas mutantes ou algo assim. Talvez se
nós fizemos isso juntos?
Eu fiz uma careta, mas ele estava certo.
— Ok, me mostre.
— Claro, — disse ele, olhando ao redor. Havia uma pilha de
pincéis menores perto da parede. Ele se inclinou sobre os joelhos para
pegar um, em seguida, se sentou. Retirando a tampa, ele abriu a lata e
me entregou o pincel.
— Me deixe encontrar algo para você praticar.
Mergulhei o pincel na tinta, deixando a tinta vermelho brilhante
pingar lentamente das cerdas de volta na lata. Tanta coisa havia
acontecido ao longo dos anos juntos – era difícil envolver minha cabeça
em torno de tudo isso.
— Eu faria isso de novo, você sabe, — eu disse de repente. Painter
olhou para mim, uma pergunta em seus olhos.
— Tudo isso, — esclareci. — Eu faria tudo de novo. Nós. Eu não
posso imaginar a vida sem Izzy. Tê-la me fez mais forte - eu não acho
que eu teria chegado tão longe se não fosse por ela. Valeu a pena,
mesmo toda a briga com você.
Painter sorriu e balançou a cabeça. — Você teria realizado todos
os tipos de coisas, não importa o quê.
Eu levantei a escova, estudando a cor. Ele estava certo sobre as
joaninhas - se eu tentasse pintar algo na parede, eu daria a Izzy todos
os tipos de pesadelos. Mordendo meu lábio, eu estudei seu rosto. Então
eu inclinei e desenhei uma linha vermelha brilhante do comprimento do
seu nariz.
Painter piscou.
— Por que diabos você acabou de fazer isso?
~ 340 ~
— Você me pintou, — eu disse. — Lembra? Você praticou em mim
todos esses anos atrás. Agora eu acho que você deveria me deixar
praticar em você.
Calor flamejou em seus olhos, e então ele baixou as mãos para a
barra da camiseta, puxando sobre a cabeça.
— Todo seu, babe.
Retraindo uma risada, eu mergulhei meu pincel de novo e
desenhei um círculo em torno do primeiro um mamilo, depois o
outro. Eu segui este com um amplo semicírculo em seu estômago.
— Olha, é um rosto sorridente.
Ele revirou os olhos, mas ele não me parou quando eu mergulhei
o pincel novamente, desta vez pintando uma linha no comprimento do
seu braço. Eu amava seus braços - eles eram fortes, com grandes
músculos. Se eu tivesse de me apaixonar pelo idiota, pelo menos, ele era
um imbecil gostoso.
— Que bom que você me acha gostoso, — disse Painter, e eu
pisquei.
— Eu não sabia que eu tinha dito isso em voz alta.
Ele se inclinou e me beijou lentamente. Oh, isso era bom... eu o
beijei de volta e ele me pegou pela cintura, me arrastando ao longo do
seu corpo. Eu aprofundei o beijo, saboreando seu gosto. Como eu tinha
me convencido de que eu poderia viver sem isso? Então Painter estava
puxando meu top por cima da minha cabeça. Alcançando atrás das
minhas costas, eu tirei meu sutiã sem deixar os seus lábios, me
lançando de volta para dele com força suficiente para empurrá-lo para
trás com um baque.
Nós dois rimos, o que não o impediu de agarrar a minha calça,
empurrando-as para baixo também. As chutei, me sentando e
estendendo a mão para a sua braguilha. Ele me ajudou, e então seu
pau saltou para fora, duro e pronto.
Isso era o que eu queria.
Era o que faltava o tempo todo. Painter. Admitir isso foi um
alívio. Abaixando minha cabeça, eu lambi o sua barriga, em seguida,
deixei a minha língua descer pelo seu comprimento.
— Jesus, isso é bom, — ele murmurou. — Mas se...
~ 341 ~
Eu lancei um olhar rápido para ele. — Menos conversa. Se você
não falar, você não pode dizer algo estúpido e foder com isso.
— Você tem razão. — ele fechou a boca assim que eu abri a
minha, sugando-o quando eu comecei a bombear seu pau com a
mão. Sua cabeça caiu para trás e ele colocou um braço sobre os olhos,
gemendo. Sua outra mão enterrou no meu cabelo, me guiando
enquanto eu acelerava meus movimentos.
Eventualmente não foi o suficiente - eu o queria dentro de
mim. Não que eu não desfrutasse das preliminares, mas agora eu
precisava montá-lo rápido e forte. Deslizando para cima de seu corpo,
meu joelho bateu em alguma coisa e caiu com um baque.
— Merda, — eu disse, percebendo que eu derrubei a lata de tinta
vermelha. — Ah merda!
Eu o empurrei enquanto ele tentava se sentar, o que nos fez
perder o equilíbrio. Agarrando seu ombro, eu me desequilibrei, e depois
eu cai de lado, bem na piscina vermelha brilhante.
Painter começou a rir.
Eu tentei me levantar novamente, mas a lona estava escorregadia
como o inferno e minhas mãos deslizaram por debaixo de mim. Painter
riu mais forte, então eu peguei tanta tinta quanto que pude e joguei em
direção ao seu rosto.
Ela o acertou com um som molhado.
Agora eu era a única rindo enquanto ele tentava limpar. Pegando
mais, joguei em cima dele novamente, atingindo sei peito. Ele se lançou
para mim e eu gritei, caindo na bagunça. Então ele estava em cima de
mim, e nós estávamos brincando. Ele era mais forte, mas eu estava
escorregadia como o inferno e as calças estavam envolvidas em torno
dos joelhos, fazendo com que ele mancasse. Eu ficava limpando a tinta
e tentando esfregá-la em seu rosto, até que finalmente ele me pegou, me
rolando debaixo dele para um beijo profundo.
Infelizmente, nem mesmo um beijo de alguém que é sexy o
suficiente pode superar o sabor de tinta. Por outro lado, seu pau ainda
estava duro, e se eu tivesse que escolher entre beijar ou foder, os beijos
não eram minha primeira opção. Me abaixei, o agarrando. Eu queria ele
dentro de mim...
Merda.
~ 342 ~
Até mesmo seu pau estava coberto de tinta e isso não iria impedir
uma gravidez.
— Camisinha, — eu consegui ofegar. — Você tem uma?
— Sim, na minha carteira, — disse ele, pegando um pano. Ele
limpou a mão, então pescou a carteira do bolso de trás. Puxando um
preservativo, ele jogou a carteira de couro do outro lado do quarto,
supostamente para salvá-la da tinta. Eu assisti ansiosamente enquanto
ele rolava a borracha sobre sua ereção, pensando na noite anterior.
— Nós esquecemos de usar um preservativo de novo ontem à
noite, — eu apontei. — Eu não acho que é o momento certo do meu
ciclo de engravidar, mas...
Painter olhou para mim, seus olhos ferozes.
— Se você estiver grávida de novo, vamos nos casar.
Meu queixo caiu.
— Você se casaria comigo só porque eu estava grávida?
Ele balançou a cabeça, me dando o que eu acho que era suposto
ser um sorriso tranquilizador, mas mais parecia um zumbi, dado ao
vermelho manchando seu rosto.
— Não, nós vamos nos casar de qualquer maneira, — disse ele. —
Mas se você estiver grávida, nós provavelmente devemos fazer isso
enquanto você ainda pode caber em um vestido de noiva.
— Puta merda.
Ele deu de ombros, então me empurrou de volta para baixo, se
centrando entre as minhas pernas. Engoli seco quando ele empurrou,
saboreando. Eu percebi que teria que ir devagar desta vez - eu ainda
estava dolorida.
— Cuidado, — eu avisei. — Você parece um vampiro, você
sabia? A pintura em seu rosto é como sangue.
— Todo este lugar parece uma cena de crime, — disse ele,
piscando para mim.
— Oh, Deus. Essa é uma metáfora para a nossa relação.
Ele riu. — É melhor tomarmos um banho juntos assim que
terminarmos aqui. Não temos o que fazer.
~ 343 ~
— Eu acho que nós podemos fazer isso acontecer, — eu respondi,
passando os braços e as pernas em torno dele. Ele torceu seus quadris,
moendo em mim lentamente, e eu suspirei.
Isto era bom. Muito bom. Pena que tinha destruído o quarto de
Izzy para chegarmos aqui...
— Você acha que esta lona será suficiente para proteger o tapete?
Ele se afastou, então empurrou em mim novamente, com força.
— Absolutamente não, — disse ele alegremente. — Eu
provavelmente vou ter que substituir. Com certeza vale o esforço, sem
dúvida. Agora menos conversa e mais foda. Por favor?
— É isso aí, — eu sussurrei, fechando os olhos e deixando a
sensação me levar.
Eu não estava pronta para casar com ele - ainda não. Eu queria
ter certeza de que poderíamos ficar mais de uma semana sem tentar
matar um ao outro... mas tínhamos potencial. Não só isso, eu nunca
teria que ir em um encontro as cegas novamente.
Perdoar tinha valido a pena.
PAINTER
Eu estava na ponta dos pés na sala usando apenas minha cueca,
porque os meus jeans estavam encharcados. A tinta ainda estava
manchada em todo meu corpo também, mas eu tinha conseguido
limpar meus pés. Agora eu estava em uma missão para encontrar
toalhas de papel.
Foi quando a porta se abriu e Isabella correu para dentro, seguida
por Reese e London.
Todos os três congelaram.
— O que você fez? — perguntou London, sua voz um sussurro
rouco. Eu fiz uma careta - um pouco de tinta nunca matou
ninguém. Izzy gritou e começou a chorar. London a pegou, olhando para
mim com horror.
~ 344 ~
— Onde ela está? — Reese perguntou, sua voz sombria.
— Mel? Ela está no quarto. Eu estava apenas procurando algumas
toalhas para começar a limpar a bagunça. Nós provavelmente vamos ter
que tirar o tapete, no entanto.
— Jesus fodido Cristo, — disse Reese. — Loni, leve a garota para
fora daqui.
Eu fiz uma careta, então peguei um vislumbre do meu braço...
pingando vermelho.
— Espere! — eu disse. — isto é a tinta, não sangue. O que diabos
você acha, que eu a matei?
London balançou a cabeça lentamente, e eu percebi que ela
estava falando sério.
— Não, — eu disse a eles, indignado. — Eu amo Melanie - eu
nunca a machucaria.
— Dada a forma como você a tratou na outra noite...
— Não, de jeito nenhum porra, — eu respondi, levantando a
minha voz. — Ela pode me matar, mas eu nunca a mataria. Mel, venha
aqui. Izzy está em casa e ela precisa ver que você está bem.
— Aguarde um segundo, — ela gritou de volta, e eu vi Loni
visivelmente relaxar. Então Mel entrou na sala de estar, envolvida
firmemente em um roupão de banho. Seus pés tinham sido lavados,
mas o resto dela ainda estava coberto de vermelho. Ainda tinha uns
emaranhados em seu cabelo. Eu estremeci - nós provavelmente
deveríamos ter ido para uma parte mais limpa da lona.
— Oi, — disse ela, oferecendo um sorriso fraco. Reese suspirou,
depois olhou para Izzy.
— Vamos pegar um pouco de sorvete. Acho que mamãe e papai
precisam de um pouco mais de tempo.
Mel acenou com a cabeça, e eu vi que ela corou. Difícil dizer, dada
a situação. — Isso é provavelmente uma boa ideia.
— Sim, nós definitivamente precisamos de sorvete, — anunciou
London. — Estaremos de volta em uma hora. Isso deve dar aos dois
tempo suficiente para se limpar. Eu... nunca vi nada como isso.
~ 345 ~
Então ela se virou e saiu pela porta, Izzy nos escancarado por
cima do ombro. Reese suspirou novamente.
— Divirtam-se, crianças, — disse ele, seguindo-a.
Mel riu de novo, e eu balancei minha cabeça. Eles iam me
crucificar na sede do clube por isto.
Acho que eu deveria apenas ficar feliz que ele não tinha tirado
fotos.
~ 346 ~
Capítulo
23
OUTUBRO
MELANIE
— Você parece adorável, — disse Duck, se ajoelhando ao lado de
Isabella. Ela estava vestida como uma princesa, é claro, e a pequena
bolsa que ela carregava já estava recheada de doces.
Nós estávamos no Arsenal para a sua festa de Halloween
anual. Mais tarde ela iria se transformar na festa anual de Halloween
para adultos, e eu tinha a sensação de que os trajes seriam um pouco
mais ousados. Por enquanto, porém, estávamos cercados por uma
multidão de crianças insanas comendo o seu peso em açúcar
processado.
— Eu sou uma princesa motoqueira, — disse Izzy com orgulho. —
Assim como na minha parede. Papai me ajudou a pintar.
— Bem, aqui está, princesa, — disse Duck, tirando um dólar de
seu bolso e entregando a ela. Ele olhou para mim e encolheu os
ombros. — Tio Duck não lembrou de comprar doces.
— Não parece haver falta deles, — eu disse secamente, olhando
em volta do pátio. O ar estava fresco, mas era uma dessas tardes
perfeitas de Outubro, ensolarada, com o cheiro de chuva enchendo o
ar. Fileiras de mesas estavam cheias de comida, e eles já tinham
acendido a fogueira. Eu não pude deixar de notar que havia um número
desproporcional de pequenos motoqueiros vestindo seus próprios
coletes MC. Painter veio atrás de mim, deslizando a mão na minha
cintura enquanto beijava a minha nuca.
— Você está com a minha menina? — ele perguntou a Duck. O
velho deu de ombros.
— Talvez, — respondeu ele. — Mas eu não posso decidir qual
delas. Mel é bonita, mas esta pequena princesa de vocês provavelmente
será ainda mais bonita quando ela crescer.
~ 347 ~
— Se você esperar por mim, eu vou me casar com você, — Izzy
disse a ele gravemente. — Mas só se você me deixar trazer meus
unicórnios para viver em sua casa. E vou fazer uma operação ainda esta
semana, assim você deve me trazer picolés também. Papai disse que eu
posso ter quantos eu quiser.
Duck me lançou um olhar. Amígdalas, eu sussurrei. Ele fingiu
considerar sua oferta, depois assentiu.
— Nós temos um acordo, — disse ele, oferecendo a ela a mão. —
Vou começar a construir para você um estábulo de unicórnios
imediatamente.
— Ei, Melanie! — London gritou. Olhei para cima para encontrá-la
acenando para mim a partir das mesas de comida. Ela estava em seu
posto, mandando em todos para que a refeição ficasse pronta. — Você
pode me dar uma mão? Eu preciso de alguém para cortar as tortas.
— Claro, — eu gritei de volta, em seguida, olhei para Izzy. — Você
pode manter um olho no papai para mim, ok? Certifique-se de que ele
faça boas escolhas.
Painter beliscou a parte de trás do meu pescoço. Então eu fui
para London, que me entregou uma faca.
— Isto é para Painter ou a torta? — perguntei.
— Eu não o perdoei ainda. Poderia ser para ele de qualquer
maneira, — disse ela, piscando. — Corte cada uma em oito pedaços,
exceto as grandes. Podemos fazer doze daquelas.
Eu comecei com as tortas, observando que uma delas era de
huckleberry - eu queria saber quem tinha trazido isso? Eu precisava
fazer amizade com eles o mais rápido possível.
— Pode me passar essa toalha? — alguém perguntou. Olhei para
cima para encontrar uma garota com a pele um pouco mais escura do
que a minha e uma cabeça cheia de cachos negros. — Eu queria limpar
esta caçarola.
— Claro, — eu disse, sorrindo para ela. — Eu sou Melanie - qual é
seu nome?
— Deanna. Eu sou nova por aqui, acabei de me mudar para a
cidade.
~ 348 ~
— Oh, — eu respondi, perguntando se ela estava com alguém no
clube.
— Mel, você pode me ajudar a pegar as bandejas de vegetais? —
perguntou Loni. Dando a Deanna um rápido aceno, eu segui Loni pela
porta de trás para a cozinha, onde ela fez um caminho mais curto para
uma das geladeiras. Retirando três grandes bandejas de vegetais, ela as
entregou para mim e, em seguida, pegou uma caixa de papelão do
balcão, e carregou com os pacotes de cachorros-quentes.
— Nós temos varas para as crianças poderem assar sua comida,
— disse ela.
— Isso é um monte de cachorros-quentes apenas para as
crianças.
Ela riu.
— Sim, bem uma vez que as crianças começam, os caras vão
querer também. Normalmente eu odeio cachorros-quentes, mas até eu
desfruto de um assado na uma fogueira de vez em quando.
— Então, quem é Deanna? — perguntei. — Eu acabei de
encontrar ela lá fora - nunca a vi aqui antes.
— Nova prostituta do clube, — disse Loni sem rodeios. — Ela
parece bastante amigável - Reese disse que ela apareceu algumas
semanas atrás. Duck deu a ela um lugar para ficar.
Eu levantei minhas sobrancelhas.
— Ela e Duck?
Ela assentiu com a cabeça. — Aparentemente.
— Uau, bom para ele.
* * *
Uma hora depois, Izzy tinha rastejado no meu colo e estava
começando a bocejar.
— Você está pronta para levá-la para casa? — perguntou
Painter. Eu balancei a cabeça.
~ 349 ~
— Acho que sim. Tem sido um longo dia. Você vai ficar na festa?
— mais pessoas foram chegando constantemente, alguns eu conhecia e
outras não. Entre elas, muitas meninas usando =fantasias‘ do tamanho
de selos postais.
— Eu vou voltar para casa com vocês, — respondeu ele, e eu
sorri. Melanie: um. Vagabundas do Halloween: zero.
— Puta que pariu! — alguém gritou. Olhei para cima para ver um
grupo de homens se reunindo em torno de algo perto da fogueira. —
Ligue para a emergência!
Painter e eu compartilhamos um olhar, então eu empurrei Izzy
para ele. Ela gritou em protesto, mas eu a ignorei enquanto eu corria
em direção ao fogo, empurrando com força através da multidão de
homens.
Duck estava no chão, de olhos fechados.
— O que aconteceu? — eu cai, me ajoelhando ao lado dele,
sentindo o pulso. Nenhum. Sem respiração, tampouco.
— Ele disse que seu peito estava doendo, — disse Reese. —
Estávamos pegando uma cadeira, e então ele caiu.
— Reese, ligue para emergência, — eu pedi. Todos eles fizeram
uma pausa, e eu percebi que eles não estavam acostumados a uma
mulher dando ordens ao presidente. Rolei Duck para ele ficar de costas,
e olhei para o círculo de homens rosnando, — Eu sou uma enfermeira
de pronto socorro, e isso significa que agora eu estou no
comando. Ligue para emergência, e alguém chame Painter. Eu preciso
da minha chave. Você tem um desfibrilador?
— Não, — Horse disse sem rodeios. — Nunca nos ocorreu.
Claro que não.
Subindo de joelhos, tracei meus dedos sobre o peito de Duck,
encontrei o fundo do seu esterno. Centrando o calcanhar de minha mão
esquerda logo acima dele, eu preparei o meu em cima da minha
esquerda e empurrei para baixo, usando todo o meu peso.
Seu esterno rachou em um barulho alto. Senti a fratura das suas
costelas quando eu comecei as compressões torácicas. Um. Dois. Três -
todo o caminho até trinta, e rápido também.
~ 350 ~
— Onde está minha chave? — eu gritei, olhando ao redor. Painter
caiu ao meu lado, me entregando. Eu achei uma bolsa pequena que eu
sempre mantinha nele e tirei uma máscara de bolso colocando sobre a
boca de Duck para me proteger de qualquer doença que ele possa
ter. Então eu dei a ele duas respirações poderosas, prestando atenção
para o seu peito subindo e descendo.
Hora de iniciar novamente as compressões. Olhei para Painter.
— Me ajude, — eu disse a ele. — Eu vou fazer trinta compressões,
então você vai dar a ele duas respirações profundas. Me observe na
próxima vez, então faça exatamente o que eu faço. Após cinco ciclos,
vamos ver como fica - caso contrário, nunca vou conseguir fazer isso.
Ele assentiu.
Um. Dois. Três. Quatro...
Eu podia me sentir cansada, o que não foi uma
surpresa. Ressuscitar não era tão suave e fácil como eles mostram na
televisão, e as compressões tem que ser profundas para elas
funcionarem. Seus órgãos precisavam de todo oxigênio necessário, e
cada minuto que passava, mais o músculo cardíaco estava morrendo.
No momento em que nós trocamos, meus braços e costas
doíam. Eu verifiquei seu pulso. Ainda nada.
— Ligaram para a ambulância? — eu gritei.
— Sim, — disse Reese. — Mas eles vão demorar ainda uns 10
minutos.
Porra. O velho estúpido teve um ataque cardíaco no meio do
nada. De repente Duck vomitou e eu recuei, agarrando o braço de
Painter. — Temos de rolá-lo, caso contrário ele vai se afogar em seu
próprio vômito.
Empurrando Duck para o lado dele, deixei o fluido nojento
misturado com pedaços de cachorro-quente saírem de sua boca, em
seguida, viramos ele para trás. Nós ainda não estávamos seguros.
— Ok, você pode começar de novo.
O tempo parecia desfocar depois disso - um ciclo interminável de
compressões e ventilações, pontuadas com checagem de pulso. Nós
trocamos de lugares novamente, e mais uma vez, mais e mais, até que
finalmente eu verifiquei o pulso e-
~ 351 ~
— Pare! — eu gritei. — Eu tenho alguma coisa.
Painter caiu para trás, ofegando enquanto eu ouvia a respiração
de Duck. Lá estava ele. Larguei a minha bunda, exausta, mas
triunfante.
— Ele está vivo, — disse eu, me sentindo tonta de alívio.
— Estamos passando, — a voz de um homem gritou. Reese
empurrou as pessoas para fora do caminho quando os paramédicos
vieram em nossa direção, carregando seus equipamentos.
— Eu sou uma enfermeira de PS, — eu disse a eles. — Ele
desmaiou...
Inferno. Eu não tinha ideia de quanto tempo ele tinha desmaiado.
— Vinte minutos, — Reese entrou na conversa, sua voz sombria.
— Ele tem uma história de doença cardíaca? — perguntou o
paramédico.
— Não tenho ideia, — respondeu Reese. — Ele tem ido no médico
muito ultimamente, mas não contou a ninguém o porquê.
Eu senti alguém pegar meu braço, me puxando para longe do
corpo de Duck. Painter.
— Bom trabalho, — disse ele em voz baixa. Eu balancei a cabeça,
porque ele estava certo - nós tínhamos feito um bom
trabalho. Envolvendo um braço em volta da minha cintura, ele me
ajudou a deitar na grama, onde eu deixei um braço cair sobre meus
olhos. Ele desabou ao meu lado, então Izzy veio correndo, rastejando
entre nós.
— Tio Duck está morto? — ela perguntou, obviamente com
medo. Eu a abracei.
— Não, querida. Mas o coração dele está doente. Eles vão levá-lo
para o hospital e ver se eles podem consertar.
— Quais são suas chances? — perguntou Painter. Eu considerei a
pergunta.
— Depende, — eu admiti. — Eu não tenho nenhuma maneira de
saber o quanto de dano ele teve ou porque ele teve um ataque cardíaco,
em primeiro lugar. Se eles levarem ele ao hospital em tempo útil - eles
devem ser capazes de correr um cateter até sua virilha e checá-lo. Se
~ 352 ~
eles encontrarem um bloqueio, eles devem ser capazes de limpá-lo e
colocar uma prótese. É um procedimento comum - ele poderia estar de
volta em casa amanhã. Isso é o melhor cenário, no entanto. E vai doer
como o inferno, não importa o quê. Eu provavelmente quebrei metade
de suas costelas.
— É sempre assim? — ele perguntou.
— Assim como?
— Isso... violento?
Eu ri. — CPR? Sim. Não é algo que você faz para se divertir.
— Estou cansada, — Izzy anunciou. Ambas.
— A maioria do clube vai para o hospital, — disse Painter. — Mas
eu acho que nós precisamos ir para casa. Eu estou apagado.
— Me parece um plano. Eu vou fazer algumas ligações quando
chegarmos lá, ver se eles vão me dão qualquer informação. Você acha
que poderia deixar a sua moto aqui, e talvez nos levar de volta?
— Sim, — disse ele, rolando em seu cotovelo para olhar para
mim. — Eles estão todos querendo agradecer a você - você é uma
heroína, Mel.
Eu ofereci a ele um sorriso fraco, então balancei a cabeça.
— Não, eu sou apenas uma enfermeira. Mas lembre-se desta noite
na próxima vez que tivermos uma briga, ok? Porque eu sei sobre uma
centena de diferentes maneiras de matar você enquanto dorme, trazê-lo
de volta, e depois fazer tudo de novo.
Seus olhos se arregalaram, e Izzy riu, batendo palmas.
Melhor. Criança. De. Sempre.
~ 353 ~
TRÊS DIAS DEPOIS
PAINTER
— Que diabos você está fazendo aqui? — perguntei. Eu acabei de
chegar no Arsenal para uma missa de emergência, apenas para
descobrir Duck parando ao meu lado. Eu tinha ido visitá-lo um dia
depois de seu ataque cardíaco, então eu sabia que ele estava indo bem,
mas ainda me assustou vê-lo aqui.
— Temos misse, — disse Duck, franzindo a testa enquanto ele se
arrastava em direção ao prédio. — Eu sempre venho para as
reuniões. Embora eu tive que dirigir uma gaiola para chegar aqui.
— Mel disse que ela não queria que você andasse de moto por
algumas semanas, — eu o lembrei. — Nada extenuante, lembra?
— Eu sei, — Duck rosnou. — E isso está me matando. Mas essa
nova garota está cuidando bem de mim. Parece injusto que quando ela
me dá um banho de esponja eu não posso ter o meu final feliz, no
entanto.
— Você não precisa de banhos de esponja - você poderia
simplesmente tomar um banho, — eu apontei razoavelmente. Duck
sorriu.
— Ela não sabe disso. Agora, vamos entrar - Pic disse que era
importante. Melhor ouvir o que ele tem a dizer.
* * *
— Recebi um telefonema de Hallies Falls, — Picnic disse, olhando
ao redor da mesa. — Não é uma boa notícia. Gage foi atacado hoje
cedo. Os detalhes são nebulosos, mas sua old lady o encontrou no chão
da sala meio morto - todo cortado. Ele está em uma cirurgia de
emergência no momento.
— Algo a ver com o clube? — perguntou Ruger.
— Cord acha que sim, — disse Bolt, compartilhando um olhar
com Pic. — Eles pegaram seu colete. Alguém quer começar uma guerra.
~ 354 ~
As palavras ficaram penduradas sobre a mesa. Eu não conhecia
todos os outros, mas eu estava passando uma lista mental de
potenciais suspeitos. Quem era forte o suficiente para nos desafiar
agora?
— Você acha que é o cartel? — perguntou Horse.
— Provavelmente, — disse Pic. — As coisas podem estar se
aquecendo de novo ao norte da fronteira. Acho que devemos ir e
verificar as coisas por nós mesmos. Rance está a caminho, também. Ele
tem ouvido rumores em seu território, então as chances são boas de
que isso esteja conectado com a merda que aconteceu em
Vancouver. Sugestões?
— Eu vou com você, — disse Ruger. — Nós poderíamos andar por
lá, visitar Gage, e fazer algumas rondas ao longo do caminho. Eles ainda
são uma fação pequena - podemos ajudá-los a dormir um pouco melhor
esta noite, sabendo que eles têm reforços.
— Qualquer pessoa discorda? — perguntou Pic. Ninguém. — Ok,
então. Duck você fica. Vamos querer mais um par de gente aqui apenas
para cobrir os nossos traseiros também.
— Eu preciso ficar, — eu anunciei. — Izzy está tirando suas
amígdalas amanhã. Esperamos que isso não seja um grande negócio,
mas eles têm que colocá-la sob anestesia. Prometi a ela que estaria lá
quando ela acordasse.
Esperei alguém protestar, me julgando sobre não querer ir.
— Entendido, — disse Pic. — Vamos deixar os prospectos com
você. Eles podem ficar aqui no Arsenal, se certifique de que ninguém
tente foder com a gente aqui. Eu vou sair em uma hora - se você
precisar correr para casa e pegar alguma merda, agora é a
hora. Assumam que as coisas podem ficar feias, então nós estaremos
armados. Fale com Ruger se você precisar de uma arma extra ou mais
munição.
Ele deu uma batida na mesa com o martelo, em seguida, se
levantou. O segui para fora, pegando o braço dele.
— Desculpe pela corrida.
— Não, é melhor tê-lo aqui, — respondeu ele. — Não precisamos
de um irmão na estrada com a gente que esteja focado, de qualquer
maneira. E é bom o suficiente deixar os prospectos - estou mais
preocupado com Duck do que qualquer outra coisa. Eu disse a ele para
~ 355 ~
não vir para a missa, mas ele veio mesmo assim. Ele está forçando, e
odeia a mostrar qualquer tipo de fraqueza. Os prospectos e Deanna não
tem chance de mantê-lo na linha.
— Cristo, e você acha que eu tenho? — perguntei, mordendo uma
risada. — Duck faz o que quer. Sempre fez.
— Sim, e em duas semanas ele pode voltar, — respondeu Pic. —
Mas o médico disse que se ele não se acalmar, ele poderia explodir a
artéria da virilha direita - a que eles empurraram o cateter. Uma vez que
você começar a sangrar em um lugar como esse, você não para até estar
morto. Mel trabalhou muito duro para salvar essa bunda desagradável
para nós o perdermos tão estupidamente.
— Certo, e o que é que eu vou fazer para detê-lo? — eu disse,
balançando a cabeça. — O bastardo matou mais caras no Vietnã do que
do todo este clube. Ele não vai me escutar.
Pic bufou.
— Ele mata mais caras no Vietnã toda vez que ele conta a
história, — respondeu ele. — Eu acho que se ele lhe der trabalho
suficiente, você pode por Mel na cola dele. Ou amarrá-lo - eu não
sei. Basta manter um olho nele, ok?
— Você está me recrutando para uma missão impossível, — eu
falei lentamente. Picnic levantou uma sobrancelha. — Todos vocês tem
que descobrir quem está atacando o clube e detê-los. Eu tenho que
controlar Duck.
— Note que eu não fui voluntário para ficar em Coeur d'Alene, —
ele disse presunçosamente. — Boa sorte.
— Painter, traga seu traseiro aqui fora! — Duck gritou do bar. —
Vamos falar com os prospectos – nos certificar de que eles entendem o
que é esperado deles.
— Você planejou que eu ficasse aqui? — eu perguntei com um
súbito lampejo de dúvida. — Por causa de Mel?
Pic deu de ombros. — Você ouviu o cara - leve seu traseiro lá
fora. Duck está esperando.
Então Pic me ofereceu uma saudação alegre. Me virei e saí, foda-
se ele.
~ 356 ~
Capítulo
24
MELANIE
— Você quer assistir TV? — perguntei Izzy, me aconchegando com
ela na cama, a nossa cama. Minha e de Painter. Isso ainda parecia
muito estranho, mesmo após um mês que todos nós estávamos vivendo
juntos.
— Sim, — disse Izzy, sua voz baixinha. A cirurgia tinha corrido
bem, e agora ela estava chupando um picolé azul como se sua vida
dependesse disso. Ela já tinha chupado dois, mas as crianças são
advogados, e ela tinha levado a cláusula de =ilimitado‘ a sério. Em algum
momento eu teria que cortar - não queria correr o risco de uma dor de
estômago. Alcancei o controle remoto e liguei a pequena TV em cima da
minha cômoda. Izzy suspirou de prazer, e eu beijei sua testa.
— Olha quem veio ver você, — disse Painter da porta. Atrás dele
estava Sherri, carregando outra caixa de picolés. London tinha trazido
alguns mais cedo, e Painter tinha comprado cerca de mil deles também.
Aparentemente Isabella tinha cobrado a promessas de todos.
— Como você está? — perguntou Sherri. Izzy, hipnotizada pela
televisão, deu a ela um polegar pra cima. Sherri levantou uma
sobrancelha e eu dei de ombros. Ela riu. — Eu acho que eu só vou
colocá-los no congelador.
O telefone de Painter tocou e ele saiu para atender. Eu me
aproximei da minha menina, descansando meus olhos por um
segundo. Eu não dormia desde ontem à noite - eu sabia muito bem que
uma amigdalectomia não era grande coisa, mas quando é o seu próprio
filho, você tende a se preocupar.
— Mel? Você pode vir para a sala? — perguntou Painter,
estalando sua cabeça para trás. — Nós precisamos conversar.
Beijei Izzy novamente, eu o segui.
— O que foi? — perguntei.
~ 357 ~
— Duck, — disse ele com a voz sombria. — Aparentemente, ele
decidiu que quer fazer algum esforço. Era Deanna no telefone - Pic disse
a ela para me ligar se ele tentasse fazer qualquer coisa.
— Você está brincando comigo? É muito cedo após o ataque
cardíaco - não só as costelas dele estão fodidas, mas a artéria na virilha
não pode ter esse tipo de pressão. Se estourar, ele vai sangrar em
poucos minutos. Não haverá tempo para salvá-lo.
— Não me diga, — disse ele, suspirando. — Eu vou correr até lá,
ver como ele está. Você vai ficar perto do telefone no caso de eu precisar
de algum conselho médico?
— Claro. Você sabe, se ele está sendo tão idiota, você deve deixá-
lo falar comigo. Eu tenho visto pessoas sangrarem - e não é bonito. Há
uma grande quantidade de sangue no corpo humano, e uma vez que ele
começa a vazar de uma artéria, você está em um riacho, a menos que
você tenha sorte. Ele não pode foder com isso.
— O que está acontecendo? — perguntou Sherri, saindo da
cozinha.
— Duck.
— Duck?
— Um dos irmãos do clube, — disse Painter. — A pessoa que teve
o ataque cardíaco - ele decidiu que quer fazer algum trabalho no
gramado.
— Você está brincando comigo? — perguntou ela. — Isso foi a
que, três dias atrás?
— Sim, eu sei, — respondeu Painter, segurando as mãos em sinal
de rendição. — Ok, estou indo lá. Fique perto do telefone.
— Me ligue depois de vê-lo. Eu quero saber se ele está bem.
— Tudo bem.
Ele deu um beijo na minha testa, em seguida, pegou as chaves e
saiu pela porta. Segundos depois, ouvi o rugido de sua moto.
— Isso é loucura, — Sherri rosnou. — Os homens são tão
estúpidos. As costelas por si só deveriam ser suficiente para convencê-lo
a ficar de repouso...
— Nem me fale. Eu vou dar uma olhada em Izzy.
~ 358 ~
De volta ao quarto, encontrei Isabella dormindo no meio da
cama. O picolé azul tinha caído ao lado dela, derretendo sobre a minha
colcha. Parecia que um Smurf tinha morrido lá. Agarrando o tecido, eu
peguei e levei de volta para a cozinha.
— Ela está dormindo, — disse Sherri. — Quer uma xícara de café?
— Sempre, — respondeu ela. — E nós devemos conversar. Tenho
uma fofoca quente - se lembra que estávamos contratando um novo
cardiologista? Bem, eu ouvi...
* * *
Uma hora mais tarde eu sabia mais sobre o novo cardiologista do
que eu gostaria de saber, incluindo o seu tipo de
sangue. Literalmente. Ele era O negativo - um doador universal - que,
aparentemente, ele gostava de se gabar.
O que eu não sabia era como Duck estava indo. Painter deveria
ter levado quinze minutos para chegar lá, no máximo.
— Eu vou ligar para ele.
— O cardiologista? — perguntou Sherri. — Ok, o número é-
— Não, Painter, — eu disse, revirando os olhos. — Embora talvez
você devesse ligar para Dr. Bolas do Amor e pedir a ele para sair em um
encontro. Você está obviamente obcecada com ele.
Peguei meu telefone e liguei para o número de Painter e esperei
ele atender.
Nada.
Aquilo foi estranho.
Desligando, eu mandei uma mensagem para ele, pedindo uma
atualização. Então eu fui verificar Izzy novamente, que ainda estava
dormindo. Até o momento que eu voltei, Sherri estava vasculhando a
geladeira, e eu percebi o quão tarde estava ficando - quase sete.
— Eu tenho um mau pressentimento sobre isso, — eu disse a
ela. — Painter deveria ter entrado em contato - ele prometeu que ia me
deixar saber como Duck estava. Agora eu estou preocupada que algo
esteja errado.
~ 359 ~
Sherri balançou a cabeça lentamente.
— Se ele fosse estúpido o suficiente para fazer o trabalho no
gramado, esta seria uma possibilidade, — ela admitiu. — Você quer ir
até lá?
Olhei para o telefone novamente, então pensei na minha filha.
— Eu não quero deixar Izzy, mas eu estou preocupada.
— Vá lá ver como esse cara idiota está-
— Duck.
— Tanto faz. Você vai ver como ele está e eu vou manter um olho
em Izzy.
— Eu não deveria deixá-la - ela fez a cirurgia esta manhã.
— Você se lembra que eu sou uma enfermeira de emergência? —
disse Sherri. — Não só isso, eu a conheço metade de sua vida. Ela está
tão segura comigo quanto ela está com você. Provavelmente mais
segura, porque eu tenho mais distância emocional. Se ela ficar com
medo, eu vou aconchegá-la. Se ela tiver uma complicação, eu vou lidar
com isso. Ela provavelmente nem vai acordar enquanto você estiver
fora.
Peguei meu telefone, discando para Painter novamente.
Nada ainda.
— Sim, eu acho que eu vou, — eu disse finalmente. — Painter
deveria ter ligado.
— Isso, — ela me disse, batendo a mão para mim. — Vá. Eu cubro
você.
* * *
Duck vivia em Rathdrum, em uma casa velha que tinha sido
bonita. Ela tinha cerca de vinte acres, a maior parte da pradaria. Eu
tinha conseguido o endereço com London, que me disse para ligar
assim que eu tivesse notícias.
~ 360 ~
Tinha chovido naquela manhã e, para minha sorte, a calçada
estava um completo poço de lama. Painter estacionou sua moto perto do
portão, ao lado do velho e enferrujado Chevy que Duck tinha. Decidi
estacionar do lado dele.
Quando saí, meu Converse desbotado afundou na lama. Painter ia
me pagar por isso.
Duck também.
A casa estava longe o suficiente da estrada o que me levou uns
bons dez minutos para caminhar até lá, incluindo o tempo que perdi
escorregando e caindo, tentando me levantar, e, então caindo
novamente - desta vez de cara. Eu chequei meu telefone. Ainda nada. Se
eu for lá e encontrar Painter e Duck sentados na varanda
compartilhando uma cerveja, eles não precisam se preocupar com sua
ferida do cateter para matá-lo.
Eu faria isso com as minhas próprias mãos.
A casa ficou à vista, e eu tinha cerca de dez metros de distância
quando ouvi os gritos.
— Quando for a hora de matá-lo, eu quero fazer isso! — gritou
uma mulher. Que diabos - era Deanna?
Uma voz estranha de um homem respondeu na parte de trás da
casa, embora eu não conseguia distinguir as palavras. Puta
merda. Retirando meu telefone, eu mandei a London uma mensagem
rápida.
EU: Há algo errado aqui em na casa de Ducks. Eu não sei o que é
ainda, mas eu acho que você deve ligar para Reese.
Silenciei o telefone, eu o escorreguei de volta no bolso, em
seguida, comecei a fazer o meu caminho para a parte de trás da
casa. Não demorou muito tempo para encontrar uma janela, que
felizmente tinha sido deixada aberta. Caindo, eu me arrastei através da
terra molhada, então, levantei lentamente a cabeça para espiar lá
dentro.
Ah, porra.
Isso era ruim. Muito ruim. Painter estava sentado no centro da
cozinha de Duck em uma cadeira de madeira, as mãos algemadas atrás
das costas. Suas pernas tinham sido amarradas às pernas da cadeira e
havia uma bandana amordaçando sua boca. Além dele, Duck estava
~ 361 ~
deitado no chão. Seus olhos estavam fechados e havia um hematoma
enorme se formando em seu rosto. Pior ainda, eu vi uma mancha
escura perto de sua virilha.
Sangue ou urina.
Eu tinha a sensação de que era sangue, embora não fosse o
suficiente para sangrar. Ainda não. Isso pode mudar a qualquer
momento, no entanto. Olhei para Painter novamente. Desta vez, seus
olhos encontraram os meus. Ele deu a sua cabeça uma sacudida
rápida, dura, em seguida, empurrou o queixo para mim. A mensagem
era clara - ele queria que eu saísse. Eu levantei minha mão ao meu
ouvido, fingindo que era um telefone, deixando-o saber que eu estava
pedindo ajuda. Cai de volta, peguei meu celular e enviei para London
outra mensagem, copiando para Reese.
EU: Painter está sendo mantido prisioneiro na casa de Ducks. Eu
estou do lado de fora olhando para dentro. Duck está desmaiado. Envie
ajuda. Agora
A porta da sala de jantar para a cozinha se abriu, e, em seguida,
um homem grande que eu não reconheci entrou na sala, seguido por
Deanna. Ela parecia diferente de alguma forma. Ela caminhou com mais
ginga e apontou uma arma. Ficou sob Duck, e casualmente chutou
suas bolas.
Minha respiração ficou presa enquanto eu observava a mancha de
sangue aumentar - o quanto poderia sua artéria aguentar?
— Eu tive vontade de fazer isso por muito tempo, — disse ela. O
grandalhão deu um passo para ela, puxando-a para um abraço.
— Desculpe, Talia, — disse ele. — Eu sei que não foi fácil.
— Deus, sua respiração era tão nojenta no período da manhã,
Marsh, — ela disse, soando estranhamente infantil, uma menina
chorona. — Eu juro, chupar ele foi melhor do que beijá-lo.
— Agora acabou, — respondeu ele, dando a ela mais um
aperto. Então ele a soltou, recuando até Painter. Ele estendeu a mão,
batendo em seu rosto tão forte que abalou a cadeira. — Você me
fodeu, Levi. Cinco malditos anos eu me sentei em uma cela por causa
de você. Eu já matei seu amigo, e agora é a sua vez. Você não tem ideia
do quanto eu gostaria de te cortar. Vai ser muito divertido jogar com
você.
~ 362 ~
Com isso, ele tirou uma faca do bolso e abriu, lentamente
cortando na testa de Painter, ao longo da linha do cabelo. O sangue
jorrou para a superfície, deslizando pelo seu rosto. Porra, porra,
porra! De jeito nenhum eu poderia sentar aqui e vê-los matá-lo. Até
parece.
— Achei que eu poderia começar escalpelando você.
Talia grunhiu em aprovação e eu me abaixei, perguntando o que
diabos eu deveria fazer - Reese iria enviar ajuda, mas quanto tempo isso
levaria? A maioria dos caras estavam fora da cidade... devo chamar a
polícia?
Não. Painter não gostava de policiais. Mas Painter estava prestes
a ser morto. Mas que inferno, mesmo se eu chamasse a polícia, eles
iriam chegar aqui a tempo de salvá-lo? Se ao menos eu tivesse algum
tipo de arma... a arma escondida em sua moto. Eu poderia salvá-lo e
Duck com ela? Eu não tinha certeza, mas eu sabia uma coisa - eu não
iria salvá-los se eu ficasse aqui sem fazer nada.
Passei ao longo do lado da casa, deslizando na lama aos
poucos. Então eu estava fora e correndo em direção aos veículos
estacionados. A lama afundou em meus sapatos e eu caí duas vezes ao
longo do caminho. Nada disso importava. O tempo estava passando -
tempo demais - e por tudo o que eu sabia, eles já poderiam estar
mortos. Depois do que pareceu um ano, eu finalmente cheguei à moto,
derrapando até parar ao lado dela. No começo eu não conseguia
encontrar o trinco porque meus dedos estavam lamacentos e dormentes
do frio. Em seguida, ela se abriu e eu estava segurando a arma. Com as
mãos trêmulas, eu puxei o gatilho, grata que eu tinha feito as aulas de
defesa após o ataque de Todger no ano passado.
Você consegue fazer isso.
Agarrando munição extra, comecei a voltar para a casa, rezando
para que não fosse tarde demais. Até o momento eu estava
completamente coberta de lama, e eu perdi um dos meus sapatos. Nada
disso importava, no entanto. Tudo o que importava estava ficando para
trás no tempo.
Salvá-los.
Mas como?
De alguma forma eu me forcei a abrandar, a rastejar em direção à
janela sem fazer barulho - não foi fácil. Adrenalina maninha meu
~ 363 ~
coração disparado e meus pulmões bombeando fortemente. Cada
respiração parecia mais alta do que a última, mas eu me forcei a me
acalmar. Foco.
Finja que você esta no PS, executando um código, eu disse a mim
mesma. Você está bem, você é profissional. Nada pode tocar em você.
O pensamento me acalmou.
Alcancei a janela e olhei para cima lentamente. Oh, Deus. O rosto
de Painter era uma massa de sangue, feridas na cabeça sangram muito -
não entre em pânico. Marsh estava sobre ele. Então ele olhou para
Deanna.
— Você quer fazer o próximo? — ele perguntou. Ela encolheu os
ombros, e eu tentei ler sua expressão. E la parecia quase entediada.
— Eu acho que você deve apenas matá-lo, — disse ela, puxando a
arma. — Eu sei que você gosta de jogar com eles, mas não temos uma
tonelada de tempo. A cadela dele provavelmente vai sentir falta dele,
mais cedo ou mais tarde. Devemos sair daqui - eles estão esperando por
nós na fronteira.
— Cinco anos, Talia. Cinco anos eu estive esperando por esse
momento. Me dê um tempo, ok?
— Que seja, — disse ela, fazendo beicinho. — Quer uma cerveja?
— Não, — disse ele, se virando para Painter. — Eu quero cortar a
cara dele.
Eu agarrei a arma mais apertada. Devo tentar matá-lo? Mas havia
dois deles, e Deanna - não, Talia - tinha uma arma também. Será que
eu iria causa mais mal do que bem?
Talia foi em direção à geladeira e vi algo se mover no chão perto
de seu pé.
Duck.
Seus olhos estavam abertos, e ele estava seguindo
ela. Recuperando o fôlego, eu assisti como o velho bateu mais rápido do
que uma cobra, pegando o tornozelo e puxando-a para o chão. A arma
saiu voando e ele mergulhou para ela, levantando-a sem problemas. Ele
saiu com um rugido e Marsh veio para cima.
Na verdade para baixo - já que a metade superior de seu crânio
estava faltando.
~ 364 ~
Talia gritou, se apressando para Duck. Ela começou a chutá-lo
enquanto ela lutava para pegar a arma, e enquanto eu assistia com
horror chocado, a mancha em sua calça começou a aumentar.
Rapidamente.
O sangue foi escorrendo pelo seu pé, correndo pelo chão. Uma
inundação dele - sangue arterial vermelho brilhante. Ele nem sequer
pareceu notar que ele estava sangrando, ele continuou lutando até que
seu corpo caiu no chão, um navio afundando em um mar de
vermelho. Talia arrancou a arma de suas mãos, elevando-a
triunfalmente quando ela atirou no peito dele. Então ela se virou para
Painter, elevando-a para um outro tiro.
Eu levantei minha arma mais rápido.
Minha primeira bala pegou no ombro dela, quebrando a janela
entre nós em uma explosão de vidro. A segunda saiu ligeiramente ao
lado, e a terceira atingiu sua perna. A quarta acertou o chão, cerca de
quinze centímetros do pé de Painter, e eu quase deixei cair a arma,
chocada com o quão fácil seria matá-lo acidentalmente.
Talia estava gritando e gemendo, rolando no chão. Me
arremessando para a parte de trás da casa, cheguei à porta, rezando
para que não estivesse trancada. Não estava, graças a Deus. Correndo
para a cozinha, eu me lancei em Talia, batendo sua cabeça contra o
chão tão duro como Todger tinha batido a minha.
Ela ficou em silêncio.
Com cautela, procurei a arma que ela derrubou - ela tinha
deslizado pelo chão, parando ao lado do fogão. Agarrando-a, eu o joguei
para fora da janela quebrada, na lama. Então eu tropecei até Painter,
puxando a mordaça da sua boca.
— Você está bem? — engoli em seco, correndo os olhos sobre seu
ferimento. Não parecia grave, graças a Deus.
— Sim, é apenas um corte, — disse ele. — Isso foi incrível, Mel.
— Eu tenho que soltá-lo. Você sabe onde as chaves das algemas
estão?
— Amarre ela primeiro, — disse ele. — Verifique se ela tem outra
arma. Então dê uma olhada em Duck.
~ 365 ~
Duck estava mais morto do que um tapete - eu sabia sem
verificar. O velho se foi no minuto que sua artéria explodiu, pensei com
distanciamento profissional. Eu ia surtar mais tarde, mas agora eu
tinha trabalho a fazer.
— Duck se foi, — eu declarei sem rodeios. — Ele sangrou -
ninguém sobrevive isso. Com o que devo amarrá-la?
— Há provavelmente uma corda debaixo da pia, — disse ele. —
Duck mantém essas coisas lá em baixo.
Cruzando a cozinha, eu tinha que percorrer o sangue de Duck
para alcançar a pia. Quando passei, me ajoelhei por um instante,
verificando seu pulso por hábito, embora eu soubesse que era inútil.
Nada.
Não era uma surpresa. Respirando fundo, eu empurrei para longe
a emoção, fingindo que ele era apenas outro paciente na sala de
emergência. Perdemos gente todos os dias - se eu pirasse cada vez que
isso acontecesse, não teria como trabalhar.
Sob a pia havia uma lona, uma corda, uma grande caixa de sacos
de lixo preto, fita adesiva, e um serrote. Pisquei. Não pense sobre isso
agora. Não pense. Basta pegar a corda e amarrá-la. Eu peguei o que eu
precisava, me movendo na direção do corpo de Talia. Eu amarrei as
mãos e depois as pernas antes de verificar o pulso.
Estava lá - fraco, mas definitivamente presente.
Rasgando sua camisa, eu examinei o ferimento de bala em seu
ombro, em seguida, olhei ao redor para aplicar pressão. Uma toalha,
uma almofada. Qualquer coisa.
— Ela pode sobreviver a isso, — eu disse com firmeza. — Mas nós
vamos ter que levá-la para um hospital rapidamente. Vai ser difícil a
ambulância chegar aqui, mas
— Não, — disse Painter. Eu parei, me virando para ele. O sangue
ainda escorria pelo seu rosto, e seus olhos eram frios - como um
monstro saído de um filme de terror. — Olhe o que ela fez com Duck.
Seguindo seu olhar, eu olhei para o velho deitado morto no chão.
— Pense nisso – matá-lo não era suficiente para ela, — ele
continuou. — Primeiro, ela transou com ele, usou ele para me atrair
para cá. Você os viu - eles planejaram me torturar, e eles já admitiram
~ 366 ~
que fizeram isso com Gage. Se você chamar uma ambulância, nós
vamos ter que explicar tudo isso, e eu não sei como isso vai acabar.
Eu olhei para Talia, observando mais sangue escorrer. Se eu não
fizesse algo muito em breve, ela ia morrer.
Eu poderia sentar e assistir?
Duck deu a sua vida para nos salvar. Ela queria atirar em Painter
- ela estava entediada com seu sofrimento. Fechei os olhos
e tentei pensar. Tentar descobrir o que deveria fazer...
— Se ela sobreviver, ela vai vir atrás de nós de novo, — disse
Painter suavemente. — E quanto a Izzy?
Não, ele estava errado. Ela não faria mal a uma menina inocente,
faria?
Sim.
Eu estava lentamente recuando.
— Você sabe onde as chaves das algemas estão? — perguntei,
engolindo. — Eu deveria te soltar.
— Provavelmente no bolso de Marsh, — disse ele, fazendo uma
careta. — Você vai ter que pegá-las.
Passando por cima do corpo do homem grande, me abaixei e cavei
minha mão em seus jeans. Ele cheirava a ferro e carne, com um cheiro
de merda. Deus, quantas vezes eu tinha sentido esse cheiro no PS?
Muito.
Eu encontrei um conjunto de chaves, puxando-os para fora. —
Esses pequenos aqui?
— Parecem ser esses, — resmungou Painter. Me arrastei até ele e
um minuto depois as suas mãos estavam fora das algemas. Olhando ao
redor, eu encontrei a faca de Marsh e entreguei a ele. Ele cortou as
cordas que prendiam seus pés, e então ele estava livre.
— Puta que pariu, — ele murmurou, de pé lentamente. — Venha
aqui.
Eu caí em seus braços - cobertos de sangue e lama – quando a
minha adrenalina começou a se desvanecer. Que bagunça. Que uma
enorme bagunça, nojenta, e eu não tinha ideia do que nós deveríamos
~ 367 ~
fazer a respeito. Painter esfregou para cima e para baixo em minhas
costas, me acalmando.
— Você fez bem. Está tudo bem, — ele sussurrou. — Nós vamos
consertar isso. Preciso ligar para o clube.
— Eu já fiz, — eu disse a ele. — Quero dizer, eu mandei uma
mensagem para eles. London e Reese.
— Eles vão mandar alguém, — disse ele. — Vamos lá para fora e
esperar. Vai ficar tudo bem, eu prometo.
Movendo-se lentamente, voltamos até a casa e para a
varanda. Menos de cinco minutos depois, um Jeep Wrangler saiu da
estrada principal e começou a descer o caminho longo em direção a nós.
— Esse é um dos carros de Reese, — disse Painter. — São eles.
O Wrangler parou na frente da casa, e dois prospectos dos
Repears saltaram para fora, ambos carregando armas. Logo atrás deles
estava London. Não era a versão dela que eu conhecia, mas uma mulher
que você não gostaria de mexer.
— O que aconteceu? — perguntou ela, a voz entrecortada.
— Duck está morto, — disse Painter, soando tão exausto quanto
eu me sentia. — Foi Marsh - ele costumava ser o presidente em Hallies
Falls e foi ele que atacou Gage. Longa maldita história. Sua irmã, Talia,
está lá dentro. Eu não sei se ela está morta ou não. A cadela se
chamava Deanna, e a coisa toda era uma armação. Eu não a reconheci
com a pele escura e o cabelo crespo. Quero dizer, ela parecia uma
garota negra. Um bom disfarce, mas quando eu a conheci há cinco
anos, ela era definitivamente branca. Não faço ideia de somo ela fez isso.
— Eu vou ver como ela está, — um dos melhores prospectos
disse. Eu tentei lembrar o seu nome, mas tudo estava em
branco. Choque.
— Mellie, você está ferida? — perguntou Loni, vindo até nós. Sua
voz era mais suave agora, mais delicada. Eu balancei a cabeça,
agradecida por ter Painter me segurando.
— Não, eu estou bem, — eu disse. — Mas eu acho que eu sou
uma assassina agora. Ou não. De qualquer maneira, eu preciso de um
banho.
~ 368 ~
Loni e Painter trocaram um olhar, e eu fui golpeada novamente
por ver quão firme seu rosto estava. Resistente. Loni tinha um
semblante que eu nunca tinha visto antes... olhando para ela agora, eu
podia vê-la como um dos caras maus.
— Boonie está a caminho, — disse London calmamente. — Reese
e os outros também. Nós vamos lidar com isso. Painter, você pode levá-
la até a estrada e para nossa casa? Você pode se limpar lá, depois ir
para casa para Izzy.
— Eu posso ficar e ajudá-la, — disse ele. Ela balançou a cabeça.
— Não, Mellie e Izzy precisam mais de você agora. Eu vou manter
Reese a par - tenho certeza que ele vai querer falar assim que ele
voltar. Vá se limpar. Vai ficar bem, eu prometo.
Deus, eu esperava que ela estivesse certa.
PAINTER
Nós enterramos Duck naquela noite.
Cremamos ele, na verdade. Reese e Boonie conversaram sobre
isso, e o veredicto foi que tudo deveria desaparecer, juntamente com
todas as provas. De jeito nenhum nós seríamos capazes de obter uma
certidão de óbito real para ele, muito menos enterrá-lo em um
cemitério.
Nós levamos ele e os outros para a floresta e os queimamos, em
seguida, enterramos em dois locais distintos, Talia e Marsh
compartilharam uma cova sem marcação. Nós rodeamos a de Duck com
rochas e derramamos uma garrafa de uísque sobre ele.
Em seguida, levamos seu colete de volta para o clube e o
penduramos na parede da capela.
Nós achamos que ele gostaria disso.
~ 369 ~
Epílogo
DOIS ANOS E MEIO MAIS TARDE
MELANIE
Eu levantei meus braços, tentando esticar minhas costas. Eu
definitivamente poderia dizer que eu estava sofrendo mais com esta
gravidez - coisas aconteciam que não tinham acontecido com a gravidez
de Isabella. Não só isso, eu tinha uma fração da energia.
Só mais duas semanas, então você pode ter o seu corpo de volta
novamente.
Bem, exceto as refeições da meia-noite, a falta de sono, e o
volume geral de cocô para limpar. Agarrando o meu tablet, eu entrei na
sala de estar, me sentando no sofá. Izzy estava na casa de Reese e
London. Painter estava trabalhando em um mural no quarto do
bebê. Era um menino. Eu tinha certeza que Painter já tinha um colete
para o bebê dos Reapers feito por ele. Ele comprou uma moto de
brinquedo também. Eu falei que teríamos pelo menos um ano antes da
criança poder usá-lo, mas Painter não se importava. Ele tinha contraído
a =febre de bebê‘. Sério. Eu até mesmo o peguei lendo O Que Esperar
Quando Você Está Esperando e anotando coisas.
Tivemos uma pequena intervenção depois disso.
Me sentando, eu folheei as manchetes locais online. Havia uma
nova pizzaria abrindo na Sherman Avenue. A imposição da segurança
pública passou, mas a campanha de angariação de fundos para o show
de fogos de artifício de quatro de julho era um de seus objetivos. Um
carro tinha sido encontrado no lago, e restos humanos estavam lá
dentro - eles estavam no processo de identificação do corpo, mas os
policiais suspeitavam de assassinato. O Departamento de Polícia de
Post Falls tinha um novo policial, e seu nome era Peaches.
O bebê começou a chutar, e eu baixei o tablet, esfregando minha
barriga lentamente, admirando meu anel de casamento de
diamantes. Eu não queria nada extravagante, mas Painter insistiu que
eu merecia o negócio real.
~ 370 ~
Agora que seu filho estava batendo em meus rins, eu meio que
tive que concordar.
— Como vão as coisas aí? — eu perguntei ao garoto. — Você está
quase pronto para sair e nos conhecer?
Ele me chutou novamente, mais forte. Merdinha
persistente. Rolando de lado, eu fechei os olhos e dormi.
Poderia muito bem desfrutar de um cochilo enquanto eu ainda
podia.
* * *
A campainha me acordou.
Eu pisquei rapidamente, ouvindo passos de Painter quando ele se
aproximou para abrir a porta.
— Posso ajudá-lo? — ele perguntou, com um toque de desafio em
sua voz. Piscando, eu me levantei para encontrar um policial na
porta. Isso foi o suficiente para me acordar - o corpo de Duck passou
pela minha mente, juntamente com uma imagem de Talia sangrando no
chão da sua cozinha.
— Sou o detetive Sam Grebil, — disse ele. — Eu estou procurando
por Melanie Tucker.
— Eu sou o marido dela, — Painter desafiou. — Por que você quer
falar com ela?
— Eu só posso falar diretamente com a Sra. Tucker, — ele
disse. Me levantei sem jeito com minha barriga grande.
— Eu sou Melanie, — eu consegui dizer. — Melanie Brooks, agora.
— Posso entrar?
— É sobre o quê?
Ele suspirou. — Sra. Brooks, eu posso ter notícias sobre sua mãe.
Isso chamou bastante a minha atenção. Fazia quase nove anos
desde que ela e meu pai tinham me abandonado, e eu não tinha ouvido
~ 371 ~
nada dela desde então. Eu rolei para fora do sofá, lutando para me
levantar.
— O quê?
— Trata-se de sua mãe – já falei com seu pai, mas ele falou que
não estão em contato com você.
— Ele é meio que um filho da puta, — eu disse sem rodeios. —
Nós não falamos em anos.
— Um carro foi encontrado no lago por um mergulhador
recreativo no início desta semana, — disse Grebil. — Restos de uma
mulher foram encontrados lá dentro. O corpo estava em decomposição,
mas ela tinha a bolsa de Nicole Tucker e carteira de motorista no carro
com ela. As janelas estavam fechadas, e encontramos restos de
mantimentos no banco de trás - caixas de iogurte, esse tipo de
coisa. Ainda estamos investigando, mas parece que ela saiu da estrada,
capotou com o carro para dentro do lago. A vegetação rasteira é grossa o
suficiente para que ninguém percebesse. Alguém já apresentou um
relatório de pessoas desaparecidas?
Eu balancei a cabeça lentamente, tentando processar suas
palavras.
— Não, ela foi embora, — eu disse. — Quero dizer, ela e meu pai,
eles não se dão bem. Ele costumava bater nela algumas vezes. Um dia
ela se encheu - nós achamos que ela tinha fugido dele.
— Nós gostaríamos de pegar uma amostra de DNA, — disse ele,
me olhando com compaixão. — Assim podemos identificá-la
positivamente. Até lá, não saberemos com certeza se é a sua mãe, mas é
o carro dela, a identidade dela e a altura e peso também. Eu não acho
que ela fugiu e deixou você, Sra. Brooks - eu acho que ela morreu em
um acidente.
Eu oscilei e Painter colocou um braço em volta de mim,
oferecendo sua força.
— Eu não posso acreditar nisso, — eu sussurrei. — Ela... ela foi
embora.
Grebil apenas olhou para mim, o rosto cansado, mas compassivo.
— Como eu disse, nós não saberemos com certeza até recebermos
o DNA.
~ 372 ~
— Não há nenhuma chance de que meu pai... a machucou... não
é?
— Não há provas para isso, — ele me disse. — Pelo menos não
ainda. Ainda estamos investigando, mas não há nenhum sinal de
trauma. O médico legista acha que ela provavelmente se afogou.
— Eu posso vê-la?
Ele tossiu, parecendo desconfortável.
— Sra. Brooks, seus restos mortais são esqueléticos. Eu não acho
que é uma boa ideia.
— Sou enfermeira. Estou acostumada a ver corpos.
— Não como este, — disse ele com firmeza. — Você vai me
permitir recolher uma amostra?
Balançando a cabeça lentamente, eu me afastei, deixando-o
entrar em casa. Ele fez uma série de perguntas sobre o dia em que
minha mãe me deixou - não que eu tivesse muito a oferecer, uma vez
que não foi como se ela tivesse dito adeus - e ele ergueu um cotonete
bucal. Então ele me deu seu cartão.
Era isso.
Toda a entrevista demorou menos de trinta minutos, e no
entanto, mudou meu mundo inteiro. Ela não tinha me abandonado -
tinha sido um acidente. Além de seu controle. Eu me senti quase tonta,
dividida entre a tristeza e uma estranha sensação de conforto que ela
não tinha me abandonado.
— Como você está? — perguntou Painter, me estudando
cuidadosamente. Estávamos sentados no sofá e eu me inclinei para ele,
segurando meu estômago.
— Eu não sei, — eu admiti. — Isto é provavelmente vai soar
errado, mas eu acho que eu estou aliviada.
— Porque ela não abandonou você?
— Sim, — eu disse. — Eu não estou feliz que ela está morta, é
claro. Mas... ela não me abandonou. Foi um acidente – isso muda
muito.
Ele esfregou o meu cabelo, beijando o topo da minha cabeça.
— Isso muda tudo.
~ 373 ~
Nós nos ficamos lá por um tempo, ele brincando com o meu
cabelo e me fez pensar sobre o que o detetive tinha me dito. Então eu
olhei para o relógio e vi que horas eram.
— Merda, — eu disse, me sentando rapidamente. — Nós
deveríamos estar no Arsenal agora. Prometi a Loni que eu estaria lá as
quatro para pegar Izzy. Ela tem comida para organizar para a festa.
— Eu mandei uma mensagem para ela, e contei sobre o que
aconteceu, — Painter me disse. — Nós podemos ignorar a festa - eles
vão entender.
Considerei suas palavras. Será que eu gostaria de visitar as
pessoas hoje à noite? Em e Kit estavam na cidade... e Marie tinha um
lugar no carro que ela se ofereceu para me levar. Não só isso, eu tinha
prometido a Dancer que eu daria a seus meninos uma carona para casa
mais tarde para que ela pudesse ficar na festa com Bam Bam.
— Não, — eu disse, balançando a cabeça. — Nós devemos ir. Eu
quero ver todo mundo - estar perto das pessoas.
— Tem certeza? — ele perguntou. — Esta é uma responsabilidade
muito grande. Ninguém iria te culpar.
— Não é sobre eles me culparem, — eu respondi lentamente. —
Mas ouvir algo como isso - é muito para processar. Ela era minha mãe,
minha família... mas Loni era meio que minha mãe também. E agora
temos uma nova família. Não apenas você e eu e Izzy, mas o resto
deles. Eu realmente acho que eu prefiro estar perto dos nossos amigos
esta noite.
Se inclinando, ele me beijou.
— Tudo bem, — disse ele. — Mas se você precisar de algum
espaço, me deixe saber.
Eu sorri.
— Eu irei. Eu acho que eu estou bem, apesar de
tudo. Realmente. Você é minha família agora. Eu ainda sinto falta da
minha mãe e eu sempre vou sentir, mas vou superar isso. E eu te amo.
— Eu também te amo.
Eu ficaria bem. Nós ficaríamos bem.
E viveríamos felizes para sempre.
~ 374 ~
De verdade.
~ 375 ~
NOTA DO AUTOR: Este e pílogo bônus ocorre em Hallies Falls, no
dia seguinte ao confronto de Painter com Marsh em Ellensburg.
Bônus
TINKER
— Você está sentada? — minha melhor amiga, Carrie, parecia
sem fôlego ao telefone. — Você tem vinho? Eu tenho novidades. Grandes
notícias.
Minha mão parou, o copo de vinho a polegadas da minha
boca. Maldição, ela me conhecia muito bem... Você está ficando
previsível com a idade avançada.
— Sim, eu estou sentada na varanda com o meu vinho, assim
como todo domingo à tarde, — eu admiti. — Apenas metade de uma
garrafa, no entanto. Tem sido uma semana de merda. Será que eu vou
precisar de mais?
— Talvez, — disse ela, a voz muito grave. Uh oh. — Você sabe o
seu inquilino sexy? A pessoa que está fazendo todo o trabalho ao redor
do edifício, e cortando a grama sem camisa?
— Eu estou ciente, — eu respondi secamente, tomando mais um
gole de vinho. — Eu sou aquela que te convidou para assisti-lo comigo,
lembra?
Não era algo que eu estava orgulhosa, mas eu tinha desenvolvido
uma queda pelo meu mais novo inquilino, Cooper Romero. Ele tinha
vivido no apartamento bem atrás da minha casa, que ficava de frente ao
apartamento do bloco em forma de C que meus pais possuíam desde
sempre. Ele era lindo, simpático, agradável, e tinha uma namorada que
não só era mais gostosa do que o inferno, ela era, provavelmente,
quinze anos mais nova que eu. Vendo o como ele estava atrelada a ela,
obviamente, eu não era o tipo dele.
Não significa que eu não poderia apreciar a vista.
~ 376 ~
— Bem, alguma coisa grande aconteceu em Ellensburg ontem, no
show de carros. Você sabe que ele está saindo com o clube de
motoqueiros, certo?
— Sim, eu tinha notado, — eu disse, minha voz azedando. Eu não
era uma fã do clube, pelo menos não nos últimos anos. Eles sempre
tinham sido uma parte da cidade, mas ultimamente eles tinham saído
do controle. As pessoas estavam com medo deles hoje em dia, e com
razão.
— Bem, eles entraram em algum tipo de grande briga e acabaram
com um bar. Então os policiais prenderam todos eles. Não apenas os
caras no clube, mas qualquer pessoa com eles, e Cooper estava bem no
meio deles.
— O quê? — eu perguntei, me sentando. Cooper não parece ser do
tipo violento. Quero dizer, ele era grande e duro e tudo isso, mas ele
sempre foi tão gentil comigo. Eu pensei que o tempo que ele gastava
com os Nighthawks era apenas por causa da sua namorada, Talia.
O presidente deles era um idiota e um valentão, e sua irmã - a
namorada odiada, e sim, eu estou dizendo isso por inveja mesquinha -
não era flor que se cheire. Ela me pegou olhando para ele um tempo
atrás e me ameaçou. Seriamente me ameaçou. Com uma faca.
Disse que ia me cortar se eu tocasse no seu homem.
Apesar de tudo isso, eu tinha esperança em Cooper. Quero dizer,
ele era definitivamente um motoqueiro, mas ele tinha sido fantástico em
fazer o trabalho em torno do lugar em troca de um aluguel
reduzido. Confiável. Amável, até. Jantamos algumas vezes, assistimos a
um filme uma noite. Eu teria pensado que ele estava interessado em
mim se Talia não passasse quatro ou cinco noites por semana na casa
dele.
Namorar a pequena bruxa magra já era ruim o suficiente, mas
esse negócio de ser preso... era um grande negócio.
— Acho que eu não o conhecia tão bem como eu pensei, — eu
admiti, o estômago revolto. — Embora ninguém possa ficar preso por
causa de em uma briga de bar. Só porque o prenderam não significa-
— Havia drogas, — acrescentou ela, e eu ouvi um genuíno
arrependimento em sua voz. — Muitas drogas. Meth 13,
13 Metanfetamina.
~ 377 ~
aparentemente. Eu acho que um monte de caras estavam
transportando isso.
Tossi. — Meth?
— Sim, — disse ela. — Eles não estão dizendo o que vai acontecer
com eles, mas não é bom. Este pode ser o fim do clube aqui em Hallies
Falls. Eu me pergunto se ele tem drogas no seu apartamento. Você deve
ir checar - se tiver, você precisa tirar. Você não pode confiar em um cara
só porque ele é gostoso e corta a grama sem camisa.
Levantando o meu copo, eu engasguei. Meu nariz arrepiou, e eu
espirrei. Merda, por que isso me incomoda tanto? Não era como se eu
realmente o conhecesse.
— Obrigada por me dizer, — eu disse. — Acho que é um homem
que eu posso riscar da lista.
— Sinto muito, — ela respondeu. — Mas é para o melhor. Se ele é
um cara ruim, é melhor descobrir agora para que você possa despejar
sua bunda. Esse clube ficou pior e pior, todo mundo sabe disso.
— Eu não posso expulsar alguém por ser preso. Isso é ilegal.
— É mensal? Locação mensal, certo? — perguntou ela. — Você
não precisa de um motivo. Basta dar a ele aviso prévio de trinta dias e
se livrar dele. Você não quer esse tipo de lixo perto de você, Tinker. Você
já tem o suficiente.
Carrie era uma grande amiga, mas ela sempre tinha sido
mandona, desde o jardim de infância. Ela tinha me dado informações, o
que eu aprecio, mas eu queria processar sozinha.
— Eu tenho que ir, Carrie. Há alguém vindo, um dos outros
inquilinos. Falo com você mais tarde.
Desliguei o telefone e olhei através da varanda vazia em direção à
calçada igualmente vazia, me perguntando por que a notícia sobre
Cooper me incomodou muito.
Eu realmente tinha sido estúpida o suficiente para realmente me
apaixonar por ele?
Talvez um pouco.
Porcaria.
~ 378 ~
Cheguei até a garrafa de vinho, e recarreguei meu
copo. Devo expulsá-lo? Parecia que era certo se livrar de um causador
de problemas em potencial, mas uma das principais razões que eu
tinha deixado Hallies Falls dez minutos depois da minha formatura do
ensino médio foi a de ficar longe de fofocas. Esta cidade estava cheia de
gente desocupada, pessoas críticas que não hesitariam em julgar
alguém por causa de um erro estúpido.
Não, eu não iria expulsá-lo.
Cooper tinha sido preso, mas ele não tinha sido
condenado. Inocente até que se prove o contrário - é como eu iria
abordar isso. Eu daria a ele o mesmo respeito que eu desejei que as
pessoas tivessem me dado.
* * *
Era logo depois das dez naquela noite. Me inclinei para o meu
espelho, esfregando hidratante no rosto e me perguntando se as
pequenas linhas nas bordas dos meus olhos ficaram maiores do que
eram ontem. Claro que não, isso era ridículo... mas eu estava
definitivamente ficando mais velha, não havia dúvida.
Trinta e seis.
Apenas quatro anos dos quarenta, o que significava que eu seria
oficialmente de meia idade em breve. Eu não estava pronta para ser de
meia idade - metade do tempo eu mal me sentia uma adulta. Não era
justo. O rugido de uma moto lá fora chamou a minha atenção, e eu
caminhei até a janela do meu quarto para olhar para fora.
Lá estava ele - Cooper.
Eu vi quando ele apoiou a moto no meio-fio, em seguida, passou a
perna por cima, olhando para minha casa. As luzes exteriores que ele
tinha instalado para mim uma semana antes criavam sombras longas
na escuridão, e eu inclinei minha cabeça. Alguma coisa estava
diferente. Estudei-o, tentando descobrir o que era. Ele usava botas de
couro usuais e jeans desbotados. O cabelo escuro puxado em uma
trança, colete de couro com... espere. Este não era o que ele estava
usando as outras vezes que eu o vi. Tinha um patch da Harley Davidson
na parte de trás, mas isso parecia mais com o que o Nighthawk Raiders
MC usava. Não é a mesma que a deles, mas o mesmo estilo.
~ 379 ~
Esperei ele andar pela entrada do seu apartamento, uma pequena
porta no piso térreo não muito longe de onde ele havia estacionado. Ao
contrário, ele deu a volta do lado do prédio em direção a minha
varanda. Merda, ele estava obviamente vindo falar comigo, e lá estava
eu, sem qualquer maquiagem, meu cabelo em um rabo de cavalo, e
vestindo pijama. Pijamas não sensuais, tampouco, apenas um par de
shorts e uma velha camiseta que tinha sido lavada tantas vezes que eu
tinha esquecido do seu desenho original.
Lá embaixo, a campainha tocou.
Por um instante, pensei em fingir que não estava em
casa. Brilhante, Tinker. Seu carro está estacionado do lado de fora e as
luzes estão acesas, mas eu tenho certeza que ele não vai notar que você
está se escondendo. Em vez disso, peguei um longo e esvoaçante manto
de cetim e vesti sobre o meu pijama antes de amarrar o laço em volta da
meu cintura - isso sempre tinha me lembrado de algo que uma estrela
de um filme dos anos 40 usaria. Esperemos que ele me dê confiança ao
me deparar com ele.
Ele deveria mencionar a prisão? Deus, que estranho. A
campainha tocou novamente, e eu desci as escadas correndo, abrindo a
porta rapidamente.
— Desculpe, — eu disse sem fôlego. — Eu estava no andar de
cima, e...
Minha voz sumiu quando eu percebi que algo estava
errado. Realmente errado. O rosto de Cooper estava duro, e seus olhos
ardiam com intensidade estranha. Ele também parecia maior de alguma
forma, como se eu estivesse vendo-o ficar de pé pela primeira vez. Este
era o homem que eu conhecia, apenas diferente. Ainda sexy como o
inferno, mas com uma pontada de perigo que eu nunca senti antes.
Olhei para ele, perguntando por que ele estava aqui e esperando
que ele não notasse que meus mamilos tinham acabado de ficarem
duros. Eu tinha começado a investir em um novo conjunto de sutiãs
desde que ele se mudou... mas eu não estava usando um agora.
— Oi, é um pouco tarde-
— Hora de conversar, Tinker, — disse ele sem rodeios,
empurrando para dentro da casa. Ele pegou meu braço, me
empurrando para longe da porta antes de fechar de repente e trancar
com um clique decisivo. Então ele atravessou a frente do quarto da
~ 380 ~
minha mãe como se fosse dono do lugar, parando ao lado de seu
aparador de mogno antigo.
— O que está acontecendo? — perguntei. Ele ignorou a pergunta,
chegando atrás seu colete para tirar um revólver, que pousou no
móvel. Em seguida, ele pegou a ponta de seu cinto, e
desafivelou. Aguardei. Por que ele estava fazendo isso? Falar não exigia
tirar o seu cinto. Oh, e lá estava a arma. Isso não era exatamente
reconfortante.
Eu pensei sobre o que Carrie tinha me dito. Isso era um erro, um
grande erro. Eu devia ter escutado ela, mantido minhas portas
trancadas. E daí se ele achasse que eu estava me escondendo?
— Cooper, acho que-
— Gage, — disse ele rapidamente, tirando o sinto, liberando uma
grande faca que eu nunca tinha notado que ele estava usando antes de
hoje. Ele a deixou cair ao lado de sua arma.
— Gage? — perguntei, hesitante. Meus instintos gritavam para eu
correr, porque ele parecia louco. Talvez eu não o conhecesse muito bem,
mas se Cooper queria me machucar, ele teve muitas oportunidades
antes de hoje à noite. A parte de trás do colete me chamou a atenção –
havia um patch no centro com um crânio nele. Acima dele estava outro
patch que dizia =Reapers‘, e abaixo um que dizia =Idaho‘.
Eu não sabia merda nenhuma sobre moto clubes, mas até mesmo
eu tinha ouvido falar dos Reapers MC. Porra, o que estava acontecendo
aqui?
— Meu nome é Gage, — disse ele, se virando e espreitando para
mim.
— Seu nome é Gage? — eu repeti fracamente, dando um passo
para trás. — Mas eu vi a sua identidade no contrato de aluguel.
— Falso, — disse ele sem rodeios. — Tudo isso era falso. Um
monte de merda já foi por água baixo nos últimos dois dias. As coisas
mudaram, então é hora de conversarmos.
Cooper - não, Gage - invadiu meu espaço, me prendendo contra a
minha própria porta da frente. Uma mão surgiu, embalando minha
garganta por um instante. Eu senti a força resistente em sua mão
calejada e outra onda de medo me atingiu. Infelizmente, uma onda de
luxúria me pegou também, porque os nossos corpos oficialmente se
tocaram mais do que tinha sido antes. Pareceu tão bem como eu tinha
~ 381 ~
imaginado. Em seguida, sua mão deslizou para cima, e ele enfiou os
dedos em meus cabelos, puxando a faixa que prendia o meu
cabelo. A penas o suficiente para ele embalar a parte de trás da minha
cabeça.
— Há um monte de informação, então eu vou te dar a versão
curta por agora, — disse ele asperamente, me encarando. Engoli em
seco quando uma de suas coxas pressionou entre minhas pernas. Ele
me cercou, levando todo meu oxigênio. Ele me deixou tonta. — Eu não
tenho sido livre desde que cheguei aqui. Agora que eu sou, significa que
eu vou pegar o que é meu.
Eu guinchei, piscando rapidamente enquanto tentava decidir se
eu estava com medo ou excitada. Ele se inclinou para mim, o nariz
escovando meu ouvido quando ele respirou fundo.
— O que quer dizer, você está tomando...? — eu estava tão
confusa que eu não tinha certeza que pergunta fazer. Nada disso fazia
sentido. Ele nunca me tratou como qualquer coisa além de uma amiga,
então o que diabos estava acontecendo aqui?
— Vou tomá-la, — disse ele com força silenciosa. Sua perna
separou a minha, e eu senti algo longo e duro contra o meu
estômago. Meus hormônios subiram, porque eu sabia o que era aquilo,
e eu sabia o que eu queria também.
Oh, uau.
Isso não poderia estar acontecendo. Poderia? Eu tive tantos
sonhos com ele ao longo dos últimos dois meses. Talvez eu estivesse
dormindo. Sim, era isso. Eu acordaria em um minuto, e então eu seria
capaz de rir de quão tola eu tinha sido.
— Você é minha agora, — continuou ele, esfregando o nariz ao
longo da minha bochecha. Em seguida, ele se afastou, pegando o meu
olhar novamente. — Muita coisa aconteceu, mas agora a informação
crítica é que você pertence a mim. Você é minha propriedade. Você não
entende o que isso significa, e está tudo bem. Eu vou te ensinar. Mas
quando você olhar para trás neste momento, eu quero que você se
lembre que havia eu antes de alegar você e agora sou outra
pessoa. Agora é depois. Você entendeu?
Eu nunca tinha entendido menos. Engoli em seco, depois mordi
meu próprio lábio. Eu precisava acordar, porque este sonho estava
ficando menos sexy e mais assustador. Ái. Ok... olhando para ele, eu
percebi que ele ainda estava na minha frente. Isto era real.
~ 382 ~
— E a sua namorada?
— Primeiro, Talia nunca foi minha namorada - aquela cadela não
é nada. O meu clube me enviou aqui para verificar os Nighthawks, e ela
era a maneira mais fácil de entrar. Transar com ela era como foder um
louva-deus. Ela se foi, ou ela irá em breve. De qualquer maneira, eu
terminei com ela.
Eu fiz uma careta, balançando a cabeça, porque isso era uma
coisa desagradável de se dizer. Só de ouvir enviou uma emoção através
de mim, porém, aparentemente, eu sou uma pessoa terrível. Ainda
assim, isso era demais, então eu empurrei contra seu peito, tentando
conseguir algum espaço. Em um instante, ele pegou ambos os pulsos e
os levantou sobre a minha cabeça. Em seguida, ele estava os segurando
com uma mão enquanto a outra deslizava no meu cabelo novamente,
desta vez segurando-o apertado o suficiente para machucar, virando
minha cabeça em direção a sua. Ele se inclinou para frente, os lábios
pairando sobre os meus, e falou.
— Eu estive observando você contorcer essa bunda sua por muito
tempo, — ele sussurrou, lambendo os lábios. — Você se senta em sua
varanda com suas amigas. Você finge que você não está me olhando,
mas você está. Você me queria por um longo tempo, e agora você vai me
ter.
Então sua boca tomou a minha, a língua empurrando para
dentro. Você pertence a mim agora, ele tinha dito. Lembre-se deste
momento.
Meu deus. Porcaria.
Onde eu fui me meter?
~ 383 ~
NOTA DO AUTOR: Esta é uma história curta sobre o primeiro
encontro de Melanie e Painter. É um ano antes do início dos Reaper’s Fall
(quando Painter é libertado da prisão), na mesma época do livro Reaper’s
Stand. Achei que você talvez goste de ler isso.
Açucar e Pimenta
MELANIE
Eu me apaixonei por Levi =Painter‘ Brooks a primeira vez que o vi,
embora com toda a justiça, eu tinha um ferimento na cabeça no
momento.
Foi um começo estranho para um relacionamento também.
Você vê, eu explodi uma casa.
Não foi de propósito, e em minha defesa eu tive um dia realmente
ruim. Minha mãe tinha sumido no início da semana. Apenas levantou e
foi embora enquanto eu estava no trabalho na segunda-feira, e ela
nunca mais voltou. Nem eu ou meu pai ouvimos qualquer coisa dela, e
mesmo que ela fosse esquisita, ela nunca tinha feito nada parecido
antes. Na quarta-feira à noite, eu cansei e perguntei a ele se deveríamos
denunciar seu desaparecimento à polícia.
Ele tinha jogado a garrafa de cerveja em mim, gritando sobre
como =a prostituta‘ deveria ter fugido com um novo homem. Ela me
deixou porque eu não era nada, assim como ela não era nada.
Então ele me disse para ir comprar mais cerveja.
Eu decidi ligar para Loni.
Não muito tempo depois, eu explodi a casa dela.
* * *
~ 384 ~
London Armstrong era tia da minha melhor amiga. Jessica e eu
tínhamos sido próximas por anos, e enquanto minha própria mãe
derivara mais e mais longe da realidade, elas se tornaram a minha
segunda família. Ela me disse para relaxar em sua casa e que ela me
veria mais tarde naquela noite. Eu fui lá e fiz macarrão com queijo em
seu fogão a gás.
Algumas horas mais tarde, a casa explodiu.
Vazamento de gás.
Ninguém disse que era culpa minha, mas eu sabia que tinha que
ser. Eu tinha sido a última a usar o fogão. De qualquer forma, o destino
tem um senso de humor estranho, porque é assim que eu conheci
Painter. No dia seguinte, eu quero dizer. No hospital.
Ele me deu uma carona em sua moto, e eu me apaixonei.
Deus, eu era jovem. Jovem e estúpida.
* * *
— Eu meio que pensei que você tivesse um carro quando você
disse que ia me dar uma carona para casa, — eu sussurrei, olhando
para o alto homem bonito e assustadoramente perfeito em pé na frente
de uma preta e brilhante Harley com pintura dourada
personalizada. Ele tinha sido apresentado a mim como Painter, e,
aparentemente, ele era parte do mesmo clube de motos que o novo
namorado de Loni, Reese.
— Ela machucou a cabeça, — London apontou. Ela segurou meu
braço protetoramente, olhando entre mim e Painter com preocupação
escrita por todo o rosto.
— Eu pensei que o carro estava implícito, — disse Reese,
suspirando.
— Você não disse e não é como se ela estivesse realmente
machucada, — Painter respondeu com um encolher de ombros. Ele
olhou para mim. — Você está com a cabeça doendo?
Estava, mas ele era tão bonito e perfeito e eu não queria azarar
isso. Cabelo loiro, espetado. Fortes maçãs do rosto e braços musculosos
~ 385 ~
que eu só sabia que seria forte o suficiente para pegar uma garota como
eu e levar para onde eu precisava ir.
— Não, na verdade não, — eu disse, me sentindo nervosa, mas
animada também. Eu olhei para a moto, imaginando qual seria a
sensação de me sentar atrás dele, segurando-o enquanto voávamos pela
rodovia. — Embora eles disseram, sem movimentos bruscos.
— Então segure firme, — disse Painter, me encarando. Ele lambeu
os lábios e eu senti minhas entranhas se contorcerem.
Ohmeudeuseleétãogostoso!
— Oh, pelo amor de Deus, — disse Reese, enfiando a mão no
bolso para seu telefone. — Vou ligar para alguém.
— Não, está tudo bem, — eu disse rapidamente, esperando que o
Sr. Tesão não mudasse de ideia sobre me dar uma carona. — Eu vou
tentar ir de moto.
Vou tentar montar com você, gostosão...
Uau. Esses tipos de pensamentos pervertidos não eram minha
praia. Painter piscou e eu teria desmaiado. Vergonha, também, porque
ele tinha totalmente me carregado com aqueles braços musculosos. Eu
podia sentir isso. Eu dei a ele um pequeno sorriso, esperando que eu
não estivesse me saindo como uma idiota.
— Você tenha muito cuidado com ela, — retrucou London,
cruzando os braços. Olhei para ela, chocada - não parecia com Loni. Ela
tinha acabado de arruinar isso para mim?
Painter levantou uma sobrancelha.
— É uma fodida princesa, prez, — disse ele, depois sorriu para
mim de novo, um sorriso tão bonito que me deixou tonta. Você está
tonta, porque você tem uma concussão, meu senso comum apontou.
Eu levantei a ela o dedo do meio, porque foda-se o senso comum.
— Você vem ou não? — perguntou ele de forma arrogante,
subindo em sua moto. Deliberadamente evitando o olhar de London, eu
o segui, pulando atrás antes que ele tivesse a chance de mudar de ideia.
— Segure-se firme, babe, — ele me disse, a voz baixa e
suave. Como o uísque. Não que eu bebesse muito uísque, mas eu bebi
alguns na nossa festa de formatura do ensino médio, no início do
verão. Levantando minhas mãos, eu toquei os lados de seus quadris,
~ 386 ~
hesitante. Ele pegou minhas mãos e apertou em torno de seu
estômago. Eu podia sentir seu abdome duro através do tecido fino de
sua camisa, e sentir o cheiro do couro de seu colete. Toda a minha
frente estava encostada em suas costas, e eu me senti tonta
novamente. Então ele estendeu a mão e tocou meu joelho, dando um
aperto rápido.
Oh. Meu. Deus.
* * *
O passeio levou cerca de dez minutos. Dez minutos gloriosos, que
incluiu um curto trecho da rodovia, então ele estava parando e
estacionando em frente a uma antiga fazenda que tinha um poço. Ele
desligou a moto, e a súbita ausência de ruído e vibração deixou meus
ouvidos zumbindo. Nós nos sentamos lá por um minuto enquanto eu
coletava meus pensamentos. Ele tocou meu joelho de novo.
— Tem que me soltar se quiser descer da moto, babe, — disse ele
em voz baixa.
Eu puxei as minhas mãos instantaneamente, me perguntando
quão boba que eu tinha sido. Então eu estava lutando para sair, me
esforçando, mas eu não queria ver o rosto dele porque eu não podia
suportar vê-lo parecendo enojado, ou pior ainda, com pena de mim.
— Vamos lá, — disse ele, tocando o inferior das minhas costas
gentilmente, me guiando em direção à varanda. — Eu tenho o código
para você entrar. Você pode ir, descansar um pouco.
— Obrigada, — eu disse, ousando olhar para ele. Seus olhos
estavam por toda parte, digitalizando o quintal para o quê, eu não tinha
ideia. Cinco minutos depois, estávamos lá em cima, olhando para o que
tinha que ser o quarto de uma menina.
— Você pode ficar aqui, Em não vai se importar, — ele me
disse. — Eu vou estar lá embaixo, se você precisar de alguma coisa.
— Quem é Em? — perguntei.
— Filha do presidente, — respondeu ele, sua voz com uma pitada
de algo. Não tristeza, mas... alguma coisa. — Ela é um pouco mais velha
do que você, da minha idade. Descanse um pouco.
~ 387 ~
Eu esperei até que eu ouvi seus passos descendo as escadas
antes de tirar minha calça jeans e subir na cama. Minha cabeça estava
doendo muito agora, e mesmo que eles tinham me dado analgésicos no
hospital, eu não seria capaz de tomar outra dose por mais algum
tempo. Deitada lá, eu olhava para o teto, perguntando o que Painter
estava fazendo lá embaixo.
Será que ele tem namorada?
Certo, como se ele se importasse. Ele tinha sido doce comigo, mas
ele era provavelmente doce com velhinhas também. Caras como ele não
davam a mínima para garotas como eu.
As meninas não eram nada.
Com uma tristeza só de pensar, eu adormeci. Quando acordei já
eram quase cinco horas. Vagando lá embaixo, eu encontrei Loni e Reese
sentados na sala de estar, ela empoleirada em seu colo enquanto eles
conversavam em voz baixa.
— Desculpe, eu não queria interromper vocês, — eu disse, me
sentindo como uma intrusa.
— Não se preocupe com isso, — Reese respondeu, parecendo
resignado. Loni se afastou dele, em seguida, veio para me estudar
cuidadosamente. Ela era menor do que eu, e eu me senti estranha e
desajeitada ao lado dela.
— Como está se sentindo? — ela perguntou, seus olhos afiados.
— Bem, minha cabeça dói menos, — eu disse, e desta vez era
verdade. — Embora eu esteja morrendo de fome.
Então eu fechei minha boca porque parecia que eu estava
implorando por comida, o que eu acho que eu estava. Quer dizer, eu
meio que estava presa aqui, em uma casa estranha de um homem que
eu nem conhecia e cujo laço comigo era que ele estava dormindo com a
tia da minha melhor amiga.
Isso era pouca coisa.
Loni sorriu. — Se você está com fome, isso significa que você está
saudável. Peguei algumas roupas novas para você mais cedo. Elas estão
na bolsa.
~ 388 ~
Ela apontou para uma bolsa no chão ao lado da escada. Eu tinha
acabado de me inclinar para agarrá-lo quando Painter saiu do quarto
da parte de trás da casa.
— Como você está se sentindo? — ele perguntou.
— Melhor, — eu consegui responder, me sentindo tímida.
— Troque-se e nós vamos sair para jantar, — Reese anunciou. —
Tem sido um longo dia.
— Ok, — eu disse com gratidão, em seguida, corri para cima para
colocar minhas roupas novas. Espero que Loni tenha trago algo bonito.
* * *
Painter se convidou para ir junto com a gente, e isso tinha irritado
Loni por razões que eu não conseguia entender. Eu sabia que ela era
protetora, mas não era como se ele tivesse feito alguma coisa.
Claro, ele insistiu que eu fosse com ele para o restaurante. E ele
estava sentado ao meu lado na mesa, sua espessa coxa masculina
pressionada contra mim, me dando pequenas vibrações e
calafrios. Algumas vezes ele se inclinava para perguntar se a minha
comida estava boa, e quando terminou, ele passou o braço nas costas
da cadeira, logo atrás da minha cabeça.
Eu fiquei lá, o querendo tanto que levou tudo que eu tinha para
não tremer. Eu teria dado qualquer coisa para beijá-lo. Em um ponto,
ele até mesmo se abaixou e deu ao meu joelho outro desses pequenos
apertos, quase me dando um ataque cardíaco.
Loni olhou para ele o tempo todo.
Reese revirou os olhos e pediu outra cerveja.
Depois, Painter me deu uma carona de volta para a casa de
Reese, e eu juro que se ele tivesse me perguntado, eu teria feito
qualquer coisa por ele. Para ele. Mas ele não o fez... não, ele só me
deixou.
Mas quando eu desci de sua moto, ele colocou uma mecha do
meu cabelo atrás da minha orelha e passou os dedos pela minha
bochecha. Eu realmente tremi, como não poderia?
~ 389 ~
* * *
Dois dias depois, eu estava entediada.
Eu me encontrei em um limbo estranho na casa de Hayes, porque
eu não tinha transporte ou qualquer maneira de ir trabalhar. Não havia
ninguém para conversar, e Reese e Loni ficavam longe a maior parte do
tempo, ela com o seu trabalho e ele fazendo coisas do clube. Houve
alguma grande festa na noite anterior, mas não fui convidada.
Em vez disso eu apenas ficava lá, esperando que algo
acontecesse. Reese ainda me deixava nervosa, mas eu confiava em
London e não era como se eu tivesse quaisquer outras opções. Até
mesmo o dinheiro que eu tinha conseguido esconder do meu pai se foi,
queimado na explosão. Agora tudo que eu tinha eram as roupas que
Loni tinha me dado.
Dois pares de calcinha. Um sutiã. Um par de shorts e um par de
jeans, duas camisolas de alças e um moletom.
Era isso - a soma total de todas as minhas posses.
Eu precisava tomar uma atitude, descobrir como resolver as
coisas... mas quando eu tentei falar com Loni e Reese sobre o próximo
passo, nenhum deles tinha tempo para mim. Loni tinha que trabalhar,
Reese tinha o clube, e ambos só ficavam me dizendo para descansar e
deixar a minha cabeça se curar.
Parece que uma menina só pode descansar.
É por isso que eu estava apenas sentada na varanda no sábado à
tarde, tentando ler quando ouvi as motos se aproximarem. Eu aprendi
que sempre haveria motos indo e vindo da casa de Reese Hayes, então
eu não dei muita bola quando eu vi as moto vindo na entrada. Então eu
reconheci um dos motoqueiros como Painter, e meu coração se
apertou. (Ok, não era o meu coração, era algo centrado muito mais
baixo do meu corpo, mas não me julgue. Painter era o tipo gostoso que
nenhuma mulher em sã consciência pode resistir. Nunca me ocorreu
tentar).
— Oi, — eu consegui dizer enquanto ele se aproximava em direção
à varanda - e sim, ele tinha uma arrogância, confie em mim.
~ 390 ~
— Ei — ele respondeu, me dando um sorriso lento que tinha me
derretido no hospital. (E em casa. E no restaurante...) — Este é
Puck. Vamos ficar por aqui esta noite.
Eu lancei um olhar para o amigo dele, que era um cara alto,
solidamente construído com a pele escura, cabelo escuro, e uma cicatriz
desagradável em seu rosto. Ele não parecia muito mais velho do que eu,
mas o os seus olhos eram assustadores.
— Reese não disse nada sobre alguém vindo, — eu respondi. Eu
queria Painter ao redor, mas seu amigo? Não muito. — Eu
provavelmente deveria verificar com Loni.
— Sinta-se livre, — disse Puck. — Mas nós temos
ordens. Presidente diz que estamos vigiando a casa e mantendo um olho
em você, então isso é o que estamos fazendo.
Painter fez uma careta para ele. — Não precisa assustá-la,
imbecil.
Puck não disse nada, apenas cruzou os braços sobre o peito,
deixando claro que ele estava aqui para ficar. Ok. Isso estava ficando
estranho.
— Por que vocês não entram? — eu disse rapidamente. Eu odiava
quando as pessoas brigavam. Mamãe e papai brigavam o tempo todo,
pelo menos até que ela parou de se importar e começou a fumar
maconha constantemente. — Eu acho que há costeletas de porco na
geladeira. Vou fazê-los para o jantar, ok?
Painter sorriu para mim novamente, e desta vez havia algo tenso
sobre sua expressão. — Parece perfeito, babe. Mal posso esperar.
* * *
O jantar foi estranho. Por um lado, nós não
conversamos. Nenhum de nós. Comemos na mesma sala juntos, o
clique das nossas facas e garfos quase dolorosamente alto. Painter não
era nada como ele tinha sido antes... ele ainda era bom comigo, mas
distante. Não houve pequenos toques no joelho, nem olhares
demorados.
Nada sussurrado em meu ouvido.
~ 391 ~
A situação com Puck era estranha também. Eu tinha assumido
que eles eram amigos, mas logo percebi que eles mal se conheciam. Não
que isso importasse - eles tinham sido enviados para a casa com ordens
para cuidar de mim, e isso é o que eles planejavam fazer. Isto estourou
minha bolha, porque eu estava secretamente esperando que Painter
quisesse me ver novamente. Na realidade, eu era uma tarefa. Eu não
sabia por que Reese pensava que precisava de uma babá, mas ele
obviamente achava isso.
Eu tinha acabado de terminar a minha bisteca de porco quando
Painter sugeriu assistir a um filme.
— Vai ajudar a passar o tempo, — Puck concordou, mas nada
amigável. — Vou ver o que está disponível. Boa comida - obrigado.
Ele se levantou e levou seu prato para a cozinha, em seguida,
passou por nós novamente em seu caminho para a sala de
estar. Painter se recostou na sua própria cadeira, me olhando por cima.
— Como você está indo? — ele perguntou, e parecia que ele estava
realmente interessado na resposta. Eu dei de ombros.
— Bem, — eu disse. — Embora seja um pouco estranho... eu não
me sinto segura indo para casa. A casa de Loni está queimada. Eu não
tenho certeza do que eu ainda estou fazendo aqui, mas eu não tenho
outro lugar para ir, de qualquer maneira. Eu não posso nem ir ao meu
trabalho porque eu não tenho um carro. Loni e Reese nunca estão
aqui. É difícil pensar no que fazer depois, sabe?
Huh. Isso era muito mais do que eu tinha planejado dizer. Olhei
para o meu prato, me perguntando se eu soava como uma menina
chorona. Painter não respondeu, então eu lancei um olhar sob meus
cílios. Ele estava me estudando atentamente, embora eu não
conseguisse ler sua expressão.
— Queria ter uma resposta para você, — ele finalmente disse. — É
uma situação fodida e eu não tenho ideia do que vai acontecer.
Isso me pegou desprevenida, porque era tão honesto. Sempre que
eu conseguia encurralar Loni, ela me dizia que tudo ficaria bem, e que
ela cuidaria de mim. Reese disse para me acalmar, que tudo iria dar
certo.
Ouvir a verdade era assustador, mas refrescante também.
— Obrigada, — eu disparei.
~ 392 ~
— Por quê? — ele perguntou.
— Por ser honesto. Todo mundo está me dizendo que as coisas
estão bem, mas elas não estão. Eu não tenho casa, não tenho família,
nem transporte e se eu não encontrar uma maneira de começar a
trabalhar logo, eu vou perder o meu emprego. Nem mesmo sei se eu fui
demitida, porque meu telefone explodiu com o resto da casa. E eu
provavelmente tenho um milhão de dólares em contas médicas
também. É uma situação fodida, então por que todo mundo está
fingindo que não é?
Ele parecia assustado com a minha súbita explosão do
discurso. Eu me assustei também.
— Você sabe, a casa provavelmente não foi culpa sua, — disse ele
lentamente. Eu balancei a cabeça, desejando que fosse verdade.
— Eu acho que deixei o gás ligado depois que eu fiz o meu
macarrão e queijo, — eu admiti. — O que mais poderia ter causado
isso?
— Melanie, deixar o gás ligado por algumas horas não explode
uma casa, — ele me disse, as palavras gentis. — Quero dizer, não é algo
que você quer fazer, mas o que aconteceu, foi por causa de algo maior
do que você fazer macarrão. Não é sua culpa. E o seguro de Loni
provavelmente vai cobrir suas contas médicas também.
— Eu realmente espero que seja verdade sobre a casa, — eu
disse, embora eu soubesse no fundo do meu coração que não era. Eu
tinha sentido o cheiro de gás mais cedo naquela noite e tinha a intenção
de investigar. Em vez disso, eu tinha ficado distraída pensando em
minha mãe. — E eu acho que as contas médicas realmente não
importam de qualquer maneira. Não é como se eles pudessem cobrar.
Ele balançou a cabeça, pegando a cerveja que ele pegou na
geladeira antes. Tomando um longo gole, ele olhou para a sala de estar,
onde eu podia ouvir Puck se remexendo.
— Você não tem que assistir a um filme com a gente se você não
quiser, — disse ele calmamente. — Você pode ir lá pra cima descansar.
— Eu vou assistir, — eu insisti, e não apenas porque eu queria
passar mais tempo com ele. Eu tive minha cota de descanso ao longo
dos últimos dois dias. Só de ter outro ser humano por perto para
conversar que era um alívio - o fato de que ele era um ser humano
super sexy era muito melhor. — Aqui, me deixe levar o seu prato.
~ 393 ~
— Não, está tudo bem, eu vou levar, — disse ele, levando nossos
pratos para a cozinha juntos. Ele se levantou e observei enquanto
carregava a máquina de lavar louça. Toda vez que eu passava por ele,
eu sentia o seu cheiro. Couro e algo estranho... como tiner.
— Painter é seu verdadeiro nome? — perguntei, evitando seus
olhos.
— Não, meu verdadeiro nome é Levi Brooks, — disse ele. — Mas
eu gosto de pintar, e a maioria dos caras no clube usam um nome de
estrada, então.
— Tipo pintar casas?
Ele riu. — Não, imagens. Gosto de arte.
Isso me surpreendeu. Eu devo ter mostrado no meu rosto, porque
ele deu outra risada baixa. — Me deixe adivinhar, você assumiu que
motoqueiros não são sofisticados o suficiente para apreciar a arte?
Tossi, desviando o olhar. Eu estaria ferrada se eu respondesse.
— Você fica bonita quando você se envergonha, — disse ele,
estendendo a mão para pegar uma mecha do meu cabelo, puxando-o
com cuidado. Ele me chamou de bonita! Meu coração parou por um
instante, e era difícil de seguir o resto de suas palavras. — E sim, eu
gosto de arte. Eu faço um monte quando costumo trabalhar na
loja. Toda pintura na minha Harley é minha também. Às vezes eu faço
projetos maiores. Normalmente pinto em quadros para clientes que
querem retratos de suas motos, acredite ou não.
— Uau, — eu disse. Deus, ele era tão fora do meu alcance –
gostoso e talentoso.
— E você? — ele perguntou. — O que você faz?
— Bem, agora eu estou servindo mesas, — eu disse a ele,
desejando que eu tivesse um trabalho mais interessante. — Mas eu vou
começar a faculdade no outono, na North Idaho College. E uma vez que
consiga todos os meus pré-requisitos, eu vou estudar
enfermagem. Gosto de cuidar das pessoas.
— Sim, eu posso ver isso. Você é amiga de Jessica, certo? A
sobrinha de London?
Eu balancei a cabeça.
~ 394 ~
— Você cuida muito dela? — dei de ombros, porque eu cuidava
dela o tempo todo, mas ele não precisava saber disso. Pelo menos, eu
tinha tomado conta dela até que ela fugiu para a Califórnia para viver
com sua mãe. Ela tinha ficado super chateada com London por arrastá-
la para fora de uma festa na sede do clube dos Reapers, que foi minha
culpa de uma maneira.
Eu era a única que a mantinha sã.
Eu tinha ouvido um monte de boatos sobre essas partes, sobre
como eles eram selvagens. Como uma garota pode entrar em
apuros. Olhando para Painter, eu acreditava nesses rumores também -
se ele entortasse seu dedo para mim, eu viria correndo como um tiro.
O pensamento me pegou desprevenida, e eu fiz uma careta. Desde
quando eu ia correndo para um cara?
— Você está bem? — perguntou Painter.
— Claro, — eu disse, embora eu estivesse me sentindo mais do
que um pouco fora de equilíbrio. Não fisicamente, mas mentalmente,
porque nos últimos dois dias, eu tinha ido de levantar o dedo do meio
para um motoqueiro para realmente gostar de um deles em especial.
Quantas meninas tinham esperado por ele no clube?
Olhei para cima para encontrá-lo olhando para mim, o rosto
pensativo.
— Vamos ver o que Puck encontrou, — disse ele. — E Mel?
— Sim?
— As coisas não estão bem, mas elas ficarão. Você vai superar
isso.
— Obrigada, — eu sussurrei, e para meu desgosto eu senti
lágrimas quentes me enchendo os olhos. Eu odiava chorar, odiava o tipo
de meninas que choravam. Odiava parecer e me sentir fraca, mas
Painter apenas me puxou para os seus braços, me segurando firme
enquanto os soluços começavam a tremer em meu corpo.
Eu perdi minha mãe, e eu estava com medo.
Ele esfregou minhas costas, sussurrando em meu ouvido, embora
eu não tivesse ideia do que ele estava dizendo. Tudo o que eu sabia era
que, pela primeira vez desde sempre - talvez anos - eu me senti segura.
~ 395 ~
* * *
Uma hora depois, toda aquela coisa de =segura‘ já tinha passado.
Eu estava sentado na sala de estar, amontoada em um cobertor
no sofá enquanto eu observava um homem cheio de cicatrizes
carregando uma motosserra rastejando acima de uma mulher jovem e
inocente.
Ele iria matá-la.
Eu sabia disso porque eu já o viu matar pelo menos dez outras
pessoas com sua arma horrível, e o filme não estava nem na metade
ainda.
Por que diabos eu não tinha ido lá pra cima quando tive uma
chance?
Agora eu não podia, é claro. Não só pela escuridão da escada -
nem mesmo se eu ligasse todas as luzes do lugar. Minha mente poderia
me dizer que não havia ninguém à espreita para matar, mas meu
instinto sabia melhor - no instante em que enfiasse os pés para fora do
cobertor, eles teriam me cortado.
Isso era uma porcaria, porque eu realmente tinha que fazer xixi.
— Você está bem? — Painter murmurou, se inclinando para perto
de mim. Eu pulei, assustada, e então ele estava passando o braço em
volta dos meus ombros, me puxando para mais perto dele. A serra rugiu
através do sistema de som, e eu fechei os olhos com força quando a
garota começou a gritar. A mão de Painter esfregou meu ombro, e ele
me deu um aperto. — Você quer que a gente desligue?
Balançando a cabeça, eu me enterrei no calor de seu corpo.
A serra rugiu novamente e eu gemi.
— Sério, podemos desligar, — ele sussurrou, perto o suficiente
para o lado do meu rosto que eu podia sentir o calor de sua respiração,
e sentir um cheirinho de cerveja.
— Eu estou bem, — eu insisti, perguntando se iria dormir
novamente. Eu odiava filmes de terror. Odiava. Jessica tirava sarro de
~ 396 ~
mim por isso o tempo todo, mas eu estaria ferrada se eu admitisse que
eu estava com medo. Não para Painter.
— Ok, então, — ele disse, e eu senti algo escovar meu cabelo. A
mão dele?
— Boa notícia, — Puck anunciou, soando quase alegre. Ele estava
sentado em uma cadeira do outro lado da sala, nos observando com
algo parecido com humor em seus olhos. — Esta é uma série
inteira. Podemos fazer uma maratona.
Eu gemi novamente, perguntando se eu poderia apenas rolar em
uma bola e morrer, aqui.
Seria melhor do que passar a noite assistindo jorros de sangue.
Isso iria acabar?
* * *
Eu acordei na cama, completamente vestida sob a roupa de cama.
Olhando para o teto, eu pisquei, tentando descobrir como eu
tinha chegado aqui. Lembrei da maratona de filmes horríveis. Painter
me segurando, o que foi significativamente menos detestável. London
voltou para casa, falando com ele na cozinha e, então se trancou no
quarto.
Eu tinha adormecido ao lado do Painter no sofá?
Talvez ele me levou lá para cima e me cobriu. Deus, quão sexy era
isso?
Não tão sexy como ele rastejando na cama ao seu lado...
Uma onda de calor se espalhou através de mim. Qual seria a
sensação de dormir com ele? Ou talvez nós não iríamos dormir, só
passar a noite-
Pare com isso, eu disse a mim mesma com firmeza. Pare com isso
agora. Se ele quisesse fazer qualquer coisa, ele teria feito. Ele não o
fez. Supere, logo.
~ 397 ~
* * *
— Mel, quanto tempo até que eu possa colocá-la na escala de
novo? — perguntou Kirstie, parecendo impaciente. Ela era minha
gerente no restaurante e eu estava falando com ela com o meu novo
telefone. Ela tinha ficado horrorizada ao ouvir sobre a explosão e até
agora não tinha se queixado sobre o meu tempo todo fora, mas isso não
duraria para sempre. Ou eu precisava me mudar para algum lugar que
eu poderia caminhar até o trabalho, ou eu precisava de um carro.
Pelo menos eu poderia fazer ligações novamente.
O telefone foi um presente de Reese. Ele o atirou casualmente
através da mesa para mim no café da manhã no domingo de manhã,
não muito tempo depois de eu ter arrastado a minha bunda
traumatizada pra baixo. Puck estava sentado à mesa do café, e eu olhei
ao redor, esperando ver Painter.
Não tive essa sorte.
Depois que terminei de comer, eu tentei conversar com Loni
novamente, mas ela não quis falar. Nem Reese. Todo mundo só parecia
pensar que eu deveria me sentar calada no canto e ficar fora de seu
caminho - mas como eu era reconstruiria minha vida presa em um
canto?
Havia uma desconexão de realidade aqui, e parecia que eu era a
única pessoa que poderia ver isso.
Eu passei o domingo de mau humor, e até segunda-feira - ainda
outro dia sozinha em casa - eu estava à beira de surtar. London voltou
para casa no final da tarde e começou preparar o jantar, ainda mais
distraída e fora de foco do que tinha estado antes. Tentei ajudá-la, mas
eu continuei recebendo sua desatenção, eventualmente, eu fui lá para
cima.
Sozinha.
Mais uma vez.
Eu estava deitada na cama, lendo um livro de ficção científica que
eu tinha encontrado no armário. Não era realmente minha coisa, mas
vendo como este era o meu quarto dia consecutivo de fazer merda
nenhuma, eu decidi expandir meus horizontes.
~ 398 ~
Uma batida veio na porta.
— Está aberto, — gritei, e olhou para cima, esperando ver
Loni. Em vez disso eu encontrei Painter. Ele me deu aquele sorriso
super sexy dele, caminhando em direção à cama com longos, passos
soltos. Depois se sentou ao meu lado, e eu juro por Deus, meu
batimento cardíaco dobrou.
— Ei, Mel, — disse ele, estendendo a mão para puxar lentamente
o livro das minhas mãos. — Você quer sair para uma noite?
— Como em um encontro? — engoli em seco, então poderia ter me
batido, porque o quão desesperada isso foi? Painter não parecia
incomodado, embora.
— Sim, um encontro, — disse ele, parecendo confuso. — Eu
pensei que poderíamos jantar, talvez ir ver um filme.
Isso soou incrível, irreal... exceto a parte do filme. Eu não poderia
fazer isso novamente, eu percebi. Não com seus braços em volta de
mim.
— Nade de horror, — eu disse. Painter sorriu.
— Eu vou deixar você escolher, — respondeu ele. — Eu quero que
você se divirta. Está pronta?
Eu pensei sobre o meu cabelo, que não havia sido penteado todos
os dias. Talvez as minhas roupas não eram grandes coisas e eu não
tinha nenhuma maquiagem, mas eu ainda queria me enfeitar um pouco
antes de sairmos. Inferno, o que eu realmente precisava era de um
momento a sós para recuperar o fôlego.
Levi ‘Painter’ Brooks estava me levando para um encontro!
— Me dê cinco minutos, — eu disse a ele. — Então eu vou estar
pronta para ir.
— Parece ótimo, — disse ele, se levantando novamente. Ele
estendeu a mão, me oferecendo. Eu a peguei, e ele me puxou para cima
e para ele. Ficamos ali nos tocando por um instante, antes dele dar um
passo trás.
— Desculpe por isso, — disse ele, mas ele realmente não soou
muito arrependido. Eu tentei me manter casual quando ele se virou, me
deixando sozinha para me arrumar. Era quase impossível. Eu queria
~ 399 ~
pular e dançar e gritar como uma menina. Isso era como eu estava
animada.
Em vez disso eu espirrei um pouco de água fria no meu rosto e
escovei meu cabelo, desejando que eu pudesse ficar mais
bonita. Infelizmente, as opções eram limitadas.
Teria que ser bom o suficiente.
* * *
Ele me levou para um bar e grill em Midtown, e para minha
surpresa eles não me pediram minha identidade quando ele pediu uma
cerveja para cada um de nós. Eu acho que quando o seu encontro é um
motoqueiro lindo de quase dois metros de altura, a garçonete não está
prestando muita atenção na idade de ninguém.
O primeiro gole era amargo, nada como a Bud Light Barris em
nossas festas do ensino médio. Tomei tudo rapidamente, e no momento
em que a nossa pizza chegou, eu estava levemente tonta. Obviamente,
ela era muito mais forte do que Bud Light também.
— Eu realmente preciso encontrar um lugar na cidade para que
eu possa ir andando para o trabalho, — eu disse a ele, tentando não
aborrecê-lo enquanto eu comia. A pizza aqui era boa. Muito boa. Eles
tinham trazido quente do forno, e havia queijo derretido correndo por
todo o lugar. Ela tinha um sabor incrível, mas não tinha como ser
delicada para comer.
— Ou isso ou um carro, — disse ele, acenando com a cabeça. —
Eu vou falar com o prez - talvez ele tenha algo que você pode pegar
emprestado.
— Você tem alguma ideia de qual o plano deles? — eu perguntei a
ele. — Loni e Reese, eu quero dizer. Eles ainda não estão falando
comigo, mas eu fico lá sentada como um vaso de plantas. Amanhã eu
estou indo para o trabalho mesmo se eu tiver que andar.
Um olhar estranho cruzou o rosto de Painter, e ele suspirou. —
Você pode pegar meu carro.
Recuei, atordoada.
~ 400 ~
— Eu não iria implorar, — eu disse a ele, de repente
desconfortável.
— Olha, eu não estou usando muito de qualquer maneira, —
respondeu ele. — É verão - eu prefiro andar de moto. Vou sair da cidade
por alguns dias, mas eu vou mandar um dos melhores prospectos trazê-
lo e deixá-lo para você. Dessa forma, você pode começar a trabalhar de
novo, voltar a seus pés.
Eu não sabia o que dizer.
— Isso pode ser a melhor coisa que alguém já fez para mim, — eu
sussurrei. O sorriso de Painter ficou tenso e algo sombrio cintilou
através de seus olhos.
— Não me agradeça muito, — disse ele. Ele desviou o olhar,
acenando em direção à garçonete. Ela empurrou seu traseiro sobre ele e
eu não poderia culpá-la. Eu ficaria assim também se ele estivesse
sentado em uma das minhas mesas. — Posso pegar a conta?
— Claro, — ela balbuciou para ele. Vi quando ela se inclinou,
piscando seu decote. Ele não estava olhando para ela, no entanto.
Ele estava olhando para mim.
— Sinto muito, — disse ele calmamente.
— Pelo quê?
A garçonete voltou, entregando nossa conta. Painter pegou a
carteira e pegou várias notas, colocando-as na pequena pasta preta. Em
seguida, ele se levantou e era na hora de ir.
Ele nunca me disse do que ele sentia muito.
* * *
Eu escolhi um filme de ação.
Houve uma comédia romântica que parecia boa, mas depois que
ele se ofereceu para me emprestar seu carro parecia quase cruel. Ele
comprou os bilhetes e partimos em direção ao cinema. Estávamos quase
lá dentro quando ele parou para verificar o seu telefone. Então seu rosto
ficou sombrio.
~ 401 ~
— O que foi? — perguntei.
— Nada, — disse ele rapidamente. Isso foi a maior mentira que eu
já ouvi.
— Não, alguma coisa está errada. Você precisa ir?
Ele hesitou, e eu sabia que ele precisava ir.
— Devemos ir, — eu disse com firmeza. — Você pode me levar
para casa, e depois lidar com o que quer que seja. — eu balancei a
cabeça em direção ao telefone.
— Sim, é melhor, — ele admitiu. — Sinto muito - eu não tive a
intenção de cortar as coisas.
— Está bem. Eu me diverti muito. Só lamento os bilhetes
desperdiçados.
— Não se preocupe, — respondeu ele. — Vamos lá.
A volta foi diferente. Eu tinha perdido o senso de expectativa
ofegante que tinha me enchido no início da noite. O corpo de Painter
estava tenso. A mensagem que ele tinha recebido não era boa. Nós
fomos até a casa de Reese para encontrá-la toda escura. Eu desci da
moto e olhei em volta, surpresa ao ver que a moto de Reese se foi,
juntamente com van de London.
— Onde está todo mundo?
— Vamos entrar, — disse Painter, se esquivando da minha
pergunta. O segui, em seguida, me virei, olhando para ele com
expectativa por uma explicação. Alguma coisa estava acontecendo, isso
era óbvio. Ele sabia o que era também.
— E aí? — perguntei quando ele não respondeu minha pergunta.
— Reese e Loni estão deixando a cidade, — disse ele. — A maioria
do clube está indo com eles. Nós temos alguns negócios a tratar em
Portland. Você pode ficar aqui por enquanto, ok? Eu vou fazer o
prospecto trazer meu carro para você de manhã.
Ele se abaixou e pegou a carteira, abrindo-a e contando uma
pilha de dinheiro. — Você pode usar isso para conseguir um lugar se...
bem, se as coisas não derem certo aqui.
Olhei para o dinheiro sem expressão - eram notas de cem dólares.
— Eu não posso aceitar.
~ 402 ~
Ele pegou o telefone, checando novamente. — Eu não tenho
tempo para discutir com você. Pegue a porra do dinheiro.
Com isso, ele agarrou minha mão, despejando as notas. Em
seguida, ele se dirigiu para a porta, algo quase irritado com a maneira
como ele se movia.
— Painter, — eu o chamei, confusa. Ele se virou para mim.
— Você pode fazer isso, Mel.
— O quê?
— Você pode superar isto. Aconteça o que acontecer, não se
esqueça disso.
— Painter, o que diabos está acontecendo? — eu exigi. Havia um
sentimento ruim na boca do estômago. Ele balançou a cabeça, dando
um passo em minha direção. De repente, suas mãos estavam no meu
cabelo, me empurrando em seu corpo quando seus lábios tocaram os
meus.
Não foi um beijo de cinema.
Ele não enfiou a língua lá dentro, e doeu mais do que qualquer
coisa. Apenas um encontro de nossos lábios como se ele não pudesse
evitar, até que ele me empurrou para longe.
— Vá para a cama, — ele rosnou, limpando a boca com as costas
da mão, como se ele estivesse com nojo. Algo doloroso me corroeu por
dentro.
— Por quê?
— Só vá para a merda de cama, Melanie. Amanhã você pode pegar
o carro e você pode começar a procurar um lugar.
Então ele se virou e saiu pela porta.
* * *
Na manhã seguinte eu acordei e encontrei um SUV Toyota azul
escuro na garagem e um conjunto de chaves na mesa da sala de
jantar. Eu fui trabalhar com ele e depois do meu turno eu fui à
biblioteca para que eu pudesse usar a Internet.
~ 403 ~
Eu precisava encontrar um apartamento.
Isso era terça-feira.
Na quarta, eu estava sentada sozinha na varanda, me
perguntando se alguém iria voltar. Na quinta-feira eu tinha tomado
uma decisão. Loni tinha ido embora, assim como a minha mãe, e ela
tinha levado Painter com ela. Trabalhei um turno duplo, e conversei
com uma das minhas colegas garçonetes sobre um quarto na casa que
ela alugava com amigos.
Ela disse que um deles estaria se mudando em algumas semanas.
Sexta de manhã acordei ao som de uma grande caminhonete a
diesel na garagem. Me apressando para o andar de baixo, eu abri a
porta da frente para ver London descendo do veículo, parecendo
exausta. Reese já estava do lado de fora, e, então outra pessoa deslizou
para fora da cabine. Minha melhor amiga, Jessica - a mesma garota que
tinha feito birra e fugido para a Califórnia há pouco tempo. Sua mão
estava enfaixada e amarrada a seu corpo em uma tipoia. Contusões
cobriam seu rosto.
Não havia nenhum sinal de Painter.
Reese se aproximou de mim lentamente, olhando para o SUV
estacionado na garagem.
— Ele disse que você pode pegar emprestado até quando você
quiser, — disse ele sem rodeios.
— Por que ele não está com você? — perguntei, mas eu já podia
ver a resposta escrita em seu rosto. Alguma coisa tinha acontecido. Algo
ruim.
— Ele está na cadeia, — disse Reese. — E eu acho que ele vai
estar lá por bastante tempo. Ele disse para te dizer que está
arrependido.
— Do que?
— Eu não sei. Talvez você devesse escrever e perguntar a ele.
Joanna Wylde
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