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RECOMPENSA DE PRAZER / Sarah Mccarty
RECOMPENSA DE PRAZER / Sarah Mccarty

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

RECOMPENSA DE PRAZER

 

Caine Allen não era dos que se casavam. Mas depois de resgatar a uma mulher e levá-la a casa, do reverendo lhe pediu um favor que devia fazer por honra.

Do momento que se deitou com o Desi, Caine soube que aquilo ia ser complicado. Desi tinha uma vontade de ferro e, embora necessitasse de seu amparo, tinha a firme determinação de não voltar a deixar que nenhum homem a controlasse. Entre eles havia um estreito vínculo, mas a Caine isso não bastava. Queria tudo o que ela podia lhe oferecer: seus sonhos, seus gemidos, suas exigências… tudo. Mas seguia havendo uma recompensa por sua cabeça e satisfazer ao Desi sexualmente estava resultando muito mais fácil que mantê-la com vida.

 

                   Texas, 1858.

Ele não suportava ouvir os gritos de uma mulher.

Caine atirou das rédeas do Chaser.

O negro cavalo apaloosa tomou o ritmo dos cavalos do Sam e Tracker. Depois de quinze anos juntos, sempre sabiam aonde iriam. Era uma equipe.  Ouviu-se outro guincho que rasgou o ar fresco da manhã. O eco daquele alarido se fundiu com a neblina antes de desvanecer-se como um fantasma.

Tracker cuspiu a folha de erva que estava mastigando.

—Parece que os encontramos.

—Sim. —Caine tirou o rifle e deu uma olhada ao redor.

Não havia muitos lugares onde esconder-se nas terras baixas.

Sam se tornou para trás o chapéu. Seus olhos azuis brilhavam como o gelo.

—Só poderiam esconder-se entre essas árvores.

Caine já sabia o que isso significava. Se realmente eram comancheros os que levaram às mulheres, não tinham escapatória. As mulheres já deviam estar mortas, e esse grito só era uma armadilha. Entretanto, aquele seqüestro não era próprio dos sigilosos comancheros.

Mas se havia cobiça. As mulheres eram as mais jovens e formosas, mas não tinham demonstrado muita inteligência levando-se a mulher do xerife. Havia algumas costure que um homem preparado não para, e levar-se a esposa de um representante da lei era uma delas.     

Tracker desceu do cavalo, deu um passo adiante e se agachou frente a uns rastros de cascos no barro. Limpou o contorno e assinalou uma marca.

—Um sapato quebrado? —perguntou Caine.    

—Sim. —Tracker seguiu o rastro dos rastros até o bosque. Sua larga cabeleira negra aparecia por debaixo do chapéu, deixando ver uma cicatriz que lhe atravessava a bochecha; uma cicatriz que levava dês dos quinze anos. Esse tinha sido o preço que tinha pagado por vingar o homem que tinha violado sua mãe. Assinalou para as árvores da colina.

—Estão aí.

Outro grito rompeu a quietude da manhã.

—Não! —dizia aquela voz.    

—Maldita seja! —Disse Sam—. Detêm-se sabendo que vamos atrás deles? Vou dizer ao pai. É uma perda de tempo. Qualquer moço poderia apanhar a este montão de idiotas.   

Os vestígios daquele grito retumbaram contra aquelas colinas e Caine lhe puseram os cabelos de ponta. Aquilo desenterrou lembranças que deviam permanecer clandestinamente.

—Terminemos com eles e ganhamos de uma vez.

—Lhes demos o que se merecem. —Sam comprovou o tambor do revólver. Aquele sorriso sinistro delatava suas intenções, apesar de sua expressão indiferente.

Nada lhe irritava mais que um foragido estúpido.

—Mas como estão em nossas terras, merecem uma lição.

Aquela frieza desumana também corria pelas veias do Caine, agonizando seus sentidos e queimando a raiva acumulada durante quinze anos. Tinham lutado por aquele lugar ao que chamavam lar e se deixaram a pele esculpindo dois mil acres naqueles canhões. Aquela era sua casa e a única lei que valia era a sua.

E na terra dos Oito do Inferno um homem podia fazer muitas coisas, mas fazer mal a uma mulher e viver não era uma delas.

—É claro que sim.

Sam embainhou o revólver.

—vou adiantar-me.

—Quer às sentinelas, Tracker? —Perguntou Caine enquanto Sam se afastava, dando um rodeio para manter-se oculto depois da elevação.

Tracker se levantou e pôs a mão sobre o punho da faca.

—Será um prazer.

Sua silhueta se recortava na neblina matutina e fazia honra a sua reputação. Aquele homem era um enorme pesadelo feito carne. Aquele escuro olhar não se separava do bosque, antecipando a batalha que estava por vir. Muitos tinham saído correndo ao ver aquela expressão feroz depois de uma cortina de negros cabelos.

Caine colocou uma bala na antecâmara do rifle com um giro.

—Então tocam as apresentações.

Um fugaz sorriso atirou dos lábios do Tracker.

—Que te divirta.

Caine se arrastou até o bordo do precipício sob o que se estendia um pequeno claro. jogou-se o chapéu para trás e olhou para o grupo que estava à beira do rio. Aquela era uma bando de idiotas.

Um dos cinco homens aos que perseguiam apontava às três mulheres, que jaziam aterrorizadas junto à borda da água. Outros três estavam no meio do rio com a água até os joelhos, tratando de capturar a um demônio loiro que se lançou à corrente. Enquanto isso resmungava juramentos e esquivavam pedras não com muito acerto. Se a jovem tinha levado algum vestido, tinha-o perdido pelo caminho. As anáguas e a regata lhe pegavam ao corpo, deixando ver uns pequenos peitos e um monte secreto. Aquele provocador espetáculo fazia mais evidente à estupidez daqueles velhacos.

Nesse momento um deles a agarrou pelo braço e atirou para si. A jovem se tornou a um lado; seu negro cabelo lhe tampava o rosto. Em lugar de resistir, foi com ele. Quando ele tropeçou em uma pedra inundada, a jovem apoiou os pés com firmeza e, levantando o joelho, atirou-lhe um golpe nas partes nobres. Então deveria ter posto-se a correr, mas parecia ser uma lutadora que não deixava o trabalho incompleto. Quando o tipo se desabou, com as mãos sobre seu ponto débil, lhe deu outra patada no queixo. Ele se veio abaixo como um enorme boi, salpicando água por toda parte.

Caine levantou uma sobrancelha ao vê-la voltar-se para os outros, desafiante. Um sorriso apareceu em seus lábios. Se tivessem atrasado um pouco, aquela mulher lhes teria economizado o esforço. Ouviu um golpe seco à esquerda e seu sorriso cresceu. Não necessitavam que ninguém lhes fizesse o trabalho. Tracker era o melhor e já tinha derrubado a primeira sentinela. Só ficavam dois. Caine se aproximou um pouco mais ao ver que os dois foragidos trocavam de posição.

O maior lhe disse algo ao menor, mas sua entupida barba ocultou a mensagem. E então o menor respondeu tirando o chapéu, sob o que se ocultava uma cara larga e Barbuda. Aqueles dois não pareciam entender-se muito bem.

—Arrasta a de uma vez. —Impaciente, o ruivo que vigiava às outras não deixava de gritar e manejar o rifle que as apontava.

As jovens se cobriam a cabeça com as mãos, aterrorizadas.

—Se quer trazer a de volta, faz você mesmo, Rede. —Lhe disse Scraggle Beard.

— Eu gostaria de conservar a Pelotas.

—É que sempre tenho que fazê-lo? —Rede apontou aos outros dois homens, que ficaram quietos.

Com um ligeiro estalo do gatilho os fez apartar-se.

—Fora de minha vista.

Os dois se tiraram de no meio da Rede mirou à loira.

—Sal do rio.

Ela se apartou o cabelo do rosto com um movimento de cabeça. Seu pálido rosto estava cheio de determinação.

Não moveu nem um dedo; não disse nem palavra. E, entretanto, aquele queixo desafiante e olhos enormes o mandaram ao inferno.

Sobre o murmúrio da água, Caine ouviu o clique do percussor ao ficar em seu sítio.

—Agora. —Disse.

Caine nunca tinha visto tanta rebeldia em uma mulher. Em lugar de obedecer, ela ergueu os ombros. Ser valente era uma coisa, mas aquela jovem o estava obrigando a apertar o gatilho.

Caine apoiou a antecâmara do rifle entre duas pedras e apontou ao atirador.

A loira enrugou o olhar e prolongou o desafio até o segundo último antes de pôr-se a andar para a borda. A água lhe corria pelo corpo ao sair.

Com o queixo à frente e o corpo tremendo, detiveram-se uns passos da Rede.

—Vêem-no, meninos? Não há nada de que assustar-se. —Disse Rede, brincando.

Soltou o gatilho e guardou o revólver.

—Só é uma preciosa fulana com os encantos ao ar.

Os outros a agarraram pelos braços. Se os olhares pudessem matar, Rede e seus seguidores não teriam durado muito. Aqueles homens barbudos a agarraram pelo cabelo e lhe fizeram dar a volta. Rede lhe arrancou a regata do corpo e ela gritou, rasgando o bosque. Com a rapidez de uma serpente cascavel, afundou os dentes na mão de Rede e um alarido de dor estremeceu as vísceras do foragido. Scraggle Beard lhe deu um puxão, mas ela seguiu obstinada a sua carne, estirando-se como um pássaro enlouquecido.

—Maldita seja! Deixem de atirar antes que me arranque o polegar!      

Scraggle Beard ficou quieto e lhe deu um murro nas costas, fazendo-a dobrar os joelhos. Não obstante, não conseguiu fazê-la afrouxar a mordida. Apesar das ameaças e os golpes, a jovem não lhe soltava a mão.

Aquela moça era algo extraordinário.

Caine ajustou o ponto de olhe.

—Isso, moça. Entretém um pouco mais, até que Tracker se encarregue deles. —Apertou o gatilho brandamente—. Só um pouco mais e seus problemas desaparecerão para sempre.

Como se o tivesse ouvido, a mulher se aferrou ao foragido e se tomou a revanche da única forma que podia, sabendo que não tinha escapatória. Se o soltar, não teria maneira de defender-se, mas se seguia lhe mordendo seria um branco fácil para seus punhos.

O homem levantou o punho pela segunda vez e Caine fixou o objetivo. Esse golpe não daria em seu destino.

O sinal de Tracker sacudiu as colinas e então se ouviu o disparo de Caine. Uma chuva de juramentos se afogou no estrondo de três disparos. Ao quarto disparo os homens se tornaram no chão; a mulher com eles. Caine saltou por cima da cornija e se deslizou pelo lamaçal da colina. As rochas se soltavam a seu passo.

Em uns segundos chegou abaixo. Aquele covarde não tinha podido lhe atirar o golpe, pois quantas balas se haviam interposto em seu caminho. Os Oito do Inferno eram bem conhecidos por sua precisão.

Entretanto, aquele quinto disparo lhe tinha preocupado, já que não tinha vindo de nenhum dos seus.

Quanto mais se aproximava, pequena se fazia a mulher. Bons ossos... Um corpo forte... Saltou por cima do foragido que jazia a seu lado. Os lamentos das outras mulheres não eram mais que o zumbido de insetos. Aquela jovem tinha os braços fortes de sangue que não parecia dela.

Caine sentiu sua fragilidade ao agarrar os ombros através de uma massa de cabelo úmido. Havia muita decisão e valentia nela.

E caráter.. Ao tentar ajudá-la a incorporar se deu conta de que ainda seguia mordendo de proscrito.

—Já pode ir-se, senhorita.

Fez-se o silêncio e a tensão que pulsava sob as mãos do Caine diminuiu. A jovem se tornou para trás e secou a boca com ambas as mãos ao tempo que se fazia um novelo em um rincão. Então o fulminou com um olhar demolidor. Tudo o que sentia por dentro bulia nas profundidades daqueles enormes olhos azuis. Medo, vergonha, esperança, raiva...

—Quem é? —perguntou ela, chiando os dentes.

—Caine Allen, rangers do Texas.

Inclinado o chapéu com as mãos livres. Apesar de estar nua e coberta de sangue, havia algo nela que lhe impedia de esquecer as boas formas.

As apresentações não dissolveram a inquietação que ardia em seu olhar.

—O pai Gerard me pediu que a levasse em casa — acrescentou Caine.

Tirou-se o guarda-pó de couro e a cobriu com ele.

—Está morto? —perguntou-lhe com a voz entrecortada.

Era difícil de acreditar que uma mulher que tinha feito frente a três homens pudesse estar assustada.

Caine olhou ao homem que jazia a seus pés. Tinha o olhar perdido e um buraco de bala em meio dos olhos; sua cabeça nadava em um atoleiro de sangue.

—Se não ser assim, sabe fingir muito bem.

—OH! —Disse ela, estremecendo-se de pés a cabeça

Sua pele tinha uma tonalidade azulada.

O inverno tocava a seu fim, mas a primavera ainda resistia e os frios ventos de março tocando a carne de galinha.

Caine a ajudou a levantar-se e a conduziu junto às outras prisioneiras. Tinha lutado com unhas e dentes, e certamente necessitasse um momento de tranqüilidade.

Levantou a vista ao sentir uma resistência à direita: Tracker estava parado sobre um dos homens no meio do arroio.

—É o último?

—Sim. —Tracker se inclinou e tirou da água ao foragido.

A jovem se voltou para aquele horror. A umidade de seu cabelo empapava a camisa do Caine.

Um calafrio percorreu seu miúdo corpo e Caine ficou entre ela e Tracker, tratando de ocultar aquele açougue.

—Menos mal disse, tomando ao Caine por surpresa.

Levantou-lhe o queixo e a olhou fixamente. Tinha o rosto crispado e seus pálidos lábios não eram mais que linhas sem vida.

—Assim é, senhorita.

Ela se apartou brandamente, mas seus olhos desconfiados não deixaram de olhá-lo nem um instante. Caine lhe pôs a mão nas costas e sentiu o frio de seu corpo gelado.

—Tenho que me sentar um momento. Sentou-se junto a uma árvore.

—Aqui está bem.

Apesar de sua fragilidade, aquela voz era profunda e sedutora; uma voz que evocava lugares escuros e sussurros ao ouvido.

—Não passa nada, senhorita...

Em lugar de dizer seu nome vacilou um instante e enrugou o sobrecenho.

—Desi. —Disse ao final, encolhendo-se de ombros.

—Senhora ou senhorita?

Outra pausa.

—Senhorita.

Caine assinalou às outras mulheres.

—Seguro que prefere ir junto às outras.

Ela sacudiu a cabeça e, escorrendo-se de seus braços, sentou-se ali mesmo.

—Aqui está bem. Disse, fazendo um gesto de dor ao sentar-se.

—Seguro que está bem, senhorita?

Caine deslizou a mão direita por sua coluna vertebral por cima da jaqueta, lhe contando as costelas. Ao encontrar a lesão ela deixou escapar um suspiro.

—Está bem? —Perguntou Sam, parando-se junto a eles.

—Não. —Disse ele, ao tempo que ela dizia «sim».

Caine lhe pressionou a sexta costela e ela se encolheu de dor.

—Possivelmente prefira que a examine uma delas.

A jovem se encurvou dentro do pesado guarda-pó e negou com a cabeça.

—Estou bem. —Lhe disse, com essa expressão teimosa que Caine já conhecia bem.

Examinou-lhe o outro lado das costelas através da roupa.

—Negá-lo não soluciona o problema.

Seus dedos se afundavam nas mangas de couro. —Por que não?

Ele sacudiu a cabeça ante aquele disparate.

—Porque o digo.

—Não acredito que tenha a última palavra sobre isso.

—Bom, é uma pena. Agora mesmo, eu sou o que manda.

Ela levantou o queixo, desafiante. —Por agora.

—Se alguém for fazer algo, tem que ser você-Acrescentou Sam.

Caine lhe lançou um olhar e colocou uma mão por debaixo do casaco do Desi para examinar a lesão, enquanto a mantinha imóvel com a outra.

—Parece que as outras mulheres não querem mesclar-se... —assinalou à mulher que estava a seu lado

Desi se sobressaltou.

—Têm motivos. Não é assim? —Perguntou-lhe Caine.

—Pelo visto tem um comprido histórico com os homens. Disse Sam.

—Está de brincadeira, não? —Perguntou-lhe Caine.

Sem levantar a vista, Desi sacudiu a cabeça e subiu o pescoço do casaco, tremendo de frio.

—Parece que sabem o que dizem. —Acrescentou Sam.

 

As outras três mulheres pareciam protestar algo, mas Tracker não respondia a seus protestos.

—Por isso armaram tanta confusão?

—Sim. Não param. Devem acreditar que vão convencer o com palavras.     

—Tracker deve estar em seu molho.

Sam esboçou esse frio sorriso que não chegava aos olhos.

—Havia me dito que te estão dispostos a cortar umas línguas para manter a paz.

Desi deu um salto e lançou um olhar fulminante ao Tracker.

Caine lhe apartou as mechas de cabelo do rosto e as Palmas de suas mãos absorveram os tremores que a sacudiam de cima abaixo.

—Tranqüila. Está comigo. —Lhe disse sem pensar.

Sam arqueou uma sobrancelha e jogou um olhar zombador ao tempo que tirava os ingredientes para um cigarro.

Fez- um gesto a Desi com o pacote.

—Tenho a impressão de que esta poderia recitar o evangelho e essas três tomariam por versos satânicos.

Sob os dedos do Caine, os músculos daquela jovem se contraíram como pedras.

—Jesus. Sam se atou um cigarro.

—Isto fica melhor. —Disse. —O que? Tirou-se um fósforo do bolso.

—Querem que as leve a casa imediatamente.

—Esse é o plano.

Sam arranhou o fósforo contra a sola da bota.

—Mas não querem que ela venha.

—E o que acreditam que vou fazer? Deixá-la aqui?

Desi se encolheu e lhe lançou um olhar fugaz. Um relâmpago azul brilhou em seus olhos. Caine apartou a mão e ela se fechou as lapelas do casaco.  Sam acendeu o cigarro.

—Acredito que gostaria muito dessa idéia. —disse Sam.

—Maldita seja!

—Não me importa. —Disse ela.

—Bom seguro que... —Caine se deteve a tempo—. Maldita seja.

   Sam atirou ao chão o fósforo e lhe deu uma imersão ao cigarro.

—Dizem que não vai a nenhuma parte se ela vier.

—Ah, sim?

—Só queria saber que te parece. 

—lhes diga que quando lhes disser que montem, montam, ou irão a pé, atadas aos cavalos. De uma forma e outra, vão vir.   

Um grito estridente o fez voltar-se para as mulheres. Pelo alvoroço parecia que o acampamento estava sendo atacado, mas em realidade o único em perigo era Tracker. Aquelas mulheres o tinham encurralado. Mãos ao ar, dedos que assinalavam...

Tracker as fez retroceder com um movimento e um juramento que Caine não pôde ouvir. Então se deu a volta e foi para eles. Sua larga cabeleira negra ondeava na cólera do vento.

 

Ao aproximar se tocou o chapéu por deferência para o Desi. A expressão de seu rosto não delatava à ira que bulia sob sua pele. —É esta a que preocupava ao pai?

Caine entendia a surpresa Tracker. Era difícil reconhecer a frágil donzela que havia descrito o pai Gerard.

—Plantou cara, senhora.

Desi agachou à cabeça. —Obrigado. 

Tracker assinalou às mulheres.

—As senhoras querem falar com... —Levantou a voz—. O que está no comando.

—Me parece que não estão em condições de pedir nada.

—Lhes dê uma oportunidade e lhe demonstrarão o contrário.

Caine não tinha intenção de lhes dar nenhuma oportunidade. Deu um passo atrás com o chapéu, tragando-a raiva que já lhe resultava tão familiar.

—Suponho que estão com sorte. Hoje estou disponível.

Desi respirou aliviada ao vê-lo afastar-se. Aquele homem era muito. Aqueles intensos olhos verdes ameaçavam descobrindo todos seus segredos. Tudo nele era viril e selvagem. O cru das linhas que desenhavam seus lábios não pareciam dadas a sorrir.

Sob a asa daquele chapéu inclinado que não fazia mais que aumentar sua presença poderosa, ocultava-se um olhar penetrante e uns rasgos masculinos.

A jovem se estremeceu. No último ano os homens tinham destruído sua inocência e ilusão, e o único que esperava era poder encontrar sua irmã o antes possível. Só assim poderia viver em paz.

Caine foi para as outras mulheres. Não havia nada em seu garbo tranqüilo que denotasse impaciência, mas em realidade sim o estava. Desi o tinha sentido no tato de suas mãos, e uma parte dela esperava que desatasse sua fúria contra Mavis, que se acreditava o açoite da humanidade.

Desi se cobriu bem com o casaco. O calor e o aroma do Caine a envolveram imediatamente.

Acostumada a fazer sua vontade, Mavis se ergueu ao ver aproximar-se do Caine. Era uma mulher alta e tinha uma formosa figura que todos admiravam.

Seus dois amigos, Abigail e Sadie, esperavam na retaguarda e apoiavam à líder. A julgar pela expressão de seu rosto, Mavis estava a ponto de dizer-lhe umas boas ao Caine. Levavam todo um ano tentando desfazer-se dela e aquela era sua oportunidade.

Desi teria estado encantada de lhes conceder o desejo, mas não tinha podido. Até esse momento. Essa era a oportunidade que esperava e não podia deixá-la escapar. Saído de um nada, um calafrio lhe percorreu as vísceras.

—Não se preocupe senhora. —Disse o homem loiro.

Seu acento amável não encaixava com a crueldade de seu rosto.

—Não há ninguém capaz de lhe dizer ao Caine Allen o que tem que fazer. Essas mulheres podem protestar tudo o que queiram, mas você virá conosco.

Isso não era o que Desi queria ouvir.

—Não quero voltar. —Disse. O homem levantou uma sobrancelha e soltou uma baforada de fumaça.

—Não sente saudades. —Disse Tracker.

Desi ficou em pé com grande esforço. James tinha tentado matar a fome e esses foragidos lhe tinham roubado as forças.     

—Necessito um momento. —Lhes disse, ruborizada.

Tracker a agarrou por cotovelo. —Por aqui.

Desi não pôde evitar reagir ao sentir suas mãos sobre o braço, mas ele não disse nem palavra e seguiu adiante. Seu rosto impassível se voltou de pedra.

A jovem mordeu os lábios. Tivesse gosto de lhe dizer que não era por seus rasgos indígenas e suas cicatrizes, mas não podia. Não suportava que nenhum homem a tocasse.

Tinha que afogar todo vestígio de doçura antes de danificar sua última oportunidade, porque não escapava nesse momento, a única saída daquele inferno de vida seria a morte. Não importava se o faziam outros ou ela mesma. Aquilo tinha que terminar.

Tracker ajudou a saltar por cima de um tronco como se fora a mais distinguida das damas e a conduziu até o bosque onde os foragidos tinham deixado os cavalos. Os relinchos não demoraram para chegar a seus ouvidos.

Possivelmente sua sorte estava trocando.

Desi se deteve ante a espessura.

—Obrigado. Ele a soltou.

—Grite quando terminar e voltarei para ajudá-la. Não tem por que fazer-se mais danifico.

Desi agachou a cabeça ao dar-se conta de que aquele homem não a deixava prisioneira.

—Obrigado.

A jovem olhou por cima do ombro e entrou entre os arbustos, não sem antes comprovar que não a seguia.

Tracker estava onde o tinha deixado recostado contra uma árvore. Nas mãos tinha uma faca que lançava ao ar uma e outra vez.

Desi tremeu de pés a cabeça ao imaginar a fúria daquele homem, mas seguiu adiante. Não tinha intenção de chamá-lo. Essa era sua oportunidade e tinha que aproveitá-la...

—Não acreditará que vamos deixar que nos vejam com ela. Nós somos mulheres decentes.     

As palavras da senhora Hatchet lhe fizeram apertar os dentes.

—Senhora, acredito que devem calar-se e obedecer. —Assinalou para a planície que se abria a suas costas—. Se por acaso não se deram conta, estamos em território de índios. Esses disparos vão atrair a todos os comanches que há aí fora, assim aproveitem os próximos minutos para preparar-se, porque partiremos logo que registremos esses corpos.

Ides roubar aos mortos?

De haver-se tratado de um homem, Caine lhe teria dado um murro na boca, mas aquele insulto provinha de uma mulher e suas mãos estavam atadas.

—vamos tomar o que necessitarmos para sobreviver.

Caine deu meia volta. Esperava ver Desi junto a Tracker e Sam, mas não estava por nenhuma parte.

 

Sam estava perto das árvores, revisando um revólver, e Tracker estava procurando um pouco de utilidade entre as pertences dos foragidos.

—Onde está a mulher?

Sam arrojou o regato com um sorriso nos lábios.

—Com os cavalos.

—O que faz aí?

—Escapando? —Disse Tracker ao tempo que esvaziava um alforje—. Temos uns vinte minutos antes que consiga convencer a esse mustang para que abra a boca.

Caine se abriu caminho entre a ervas até chegar aos cavalos. Havia rastros do Desi por toda parte. Um dos cavalos tinha a brida média posta, e uma cadeira de montar pendurava das costas de um mustang de carreira.

Caine acariciou o musculoso peito do animal e deslizou uma mão pela suave crina de suas costas para tranqüilizá-lo enquanto colocava a cadeira.

Um rastro de pés descalços dava fé dos frustrados intentos da jovem. Seus rastros davam um rodeio antes de perder-se em linha reta. A profundidade das marcas assim como a distância entre elas indicava que tinha pressa.

Caine olhou para o alto da colina. Atirou as rédeas em cima da cadeira e montou de um salto. Um sorriso se desenhava em seus lábios enquanto examinava o rastro.

Tinha tido guelra para fugir a pé...

Caine fez girar ao cavalo e o conduziu pelo pendente. Os foragidos eram uns idiotas, mas sabiam distinguir bons cavalos. O cavalo Pinto respondia como se não viesse de uma comprida viajem, pela colina, desejoso de correr. Caine atirou as rédeas ao chegar ao topo.

Não foi difícil encontrar Desi naquele mar de erva morta. O sol se refletia em sua cabeleira dourada como a luz de um farol. Caine sacudiu a cabeça: dirigia-se para o oeste, para o território índio.

Sacudiu as rédeas e cavalgou até a planície. Estava a uns cinqüenta metros de distância quando ela se voltou. Aqueles olhos azuis se cravaram nele um instante e então se pôs a correr a toda pressa. Caine se inclinou e o cavalo saiu a galope, alcançando-a em menos de um minuto. Caine lhe agarrou o casaco e a elevou no ar. Ela lançou um grito feroz e resistiu com todas suas forças, mas ele conseguiu subi-la ao cavalo.

—Basta! Maldita seja! —Me deixe!

—Não! —Sacudiu-a. Basta já. Desi pôs um pé sobre Caine e tentou agarrá-lo pelo braço, mas terminou agarrando-se a sua boneca com desespero.

—Não vou voltar!

—Bom, certamente não vai sozinha.  —Já veremos!

A jovem retorceu a direita e a esquerda e o cavalo se cambaleou. Caine recebeu tal empurrão que quase perde o equilíbrio e cai da cadeira. Um segundo depois, tão somente sustentava um casaco vazio. O cavalo se elevou sobre as patas traseiras e deu meia volta, pondo-se a correr detrás de Desi. Ela lhes levava certa vantagem. Sua pálida pele resplandecia a luz do sol. Era como aquelas ninfas que tinha visto nos quadros do bordel de Chicago.

Por muito decidida que estivesse não era rival para aquele cavalo. Em uns segundos, Caine ficou a seu lado e foi encurralando-a pouco a pouco. A pesar do repico das ferraduras, podia ouvir sua respiração acelerada.

Caine saltou do cavalo e pôs-se a correr atrás dela. Agarrou-a pela cintura e girou sobre si mesmo para não cair sobre ela. Então a rodeou com os braços e tentou esquivar suas dentadas ao tempo que lhe sujeitava os pés com as pernas.

Mesmo assim, Desi demorou quatro minutos em dar-se conta de que não ia a nenhuma parte. Quando por fim se rendeu, caiu sobre ele como um peso morto, lhe dando uma cabaçada no pescoço.

—entraste em razão?

—Não vou voltar.

—Por que não?

Ela tampou os peitos com um braço.

—Ali morrerei.

Todo seu corpo tremia de frio.

Caine se girou e a deixou sobre o chão, sujeitando-a com firmeza.

—Essa é uma acusação muito séria.

—É a verdade.

Caine se incorporou e a fez ficar de pé.

—Me diga por que.

Desi olhou para a pradaria e seguiu o vôo de uma ave que planejava no vento. Livre... Por um instante ela tinha sido livre. Um horizonte de esperança se estendeu ante seus olhos. O pássaro desapareceu na bruma e suas asas se confundiram com a colina. Por muito que o tentasse, não podia segui-lo.

Deu um passo para o horizonte, desejando esfumar-se nele. Longe, muito longe.

Uma pressão no braço lhe fez baixar a vista. Caine ainda a sujeitava. Tinha uns dedos rústicos e o bronzeado de sua pele destacava sobre a palidez de seu antebraço. Suas mãos estavam com marcas; as unhas bem cortadas.

Aquelas mãos curtidas eram as de um homem que trabalhava duro. Nelas estavam as cicatrizes da vida. Desi reparou na faca que levava ao cinturão e voltou a olhar as marcas de suas mãos. Um homem trabalhador e, possivelmente um assassino. Todo mundo sabia que os ranges não se diferenciavam muito dos homens aos que davam caça. Talvez fosse seu dia de sorte. Se não podia contar com sua honradez para escapar, teria que encontrar seu lado mais corrupto.

Desi atirou para si, tentando liberar-se. Um golpe de vento lhe agitou o cabelo e uma mecha lhe tampou os olhos, mas ela não precisava ver a expressão de seu rosto para saber a resposta a sua pergunta silenciosa. O apertão daqueles dedos falava por si só.

Ao apartar o cabelo da cara, a jovem levantou os braços, deixando ao descoberto seus peitos nus. Então se fez um acréscimo e pôs uma expressão sedutora.

—Quero seguir adiante.

Ele a olhava fixamente.  

—Não há nada ao oeste exceto o território indígena.     

Ela se encolheu de ombros e relaxou o corpo. O punho da faca lhe cravou no flanco. As musculosas planícies de seu corpo masculino se elevavam ao chegar à cordilheira de seu membro viril.

Desi se encheu de confiança. Não havia nada mais manejável que um homem excitado. Afogando a agonia de seus machucados, jogou a cabeça para trás e deixou que o cabelo lhe caísse sobre os ombros ao tempo que se apertava contra ele. Do que serviria outro grito silencioso?

—E Califórnia? —Lhe disse, tentando soar agradável.

Ele enrugou os olhos e lhe rodeou a cintura com o braço.

—Tem a febre do ouro?

—Não conheço ninguém que não queira ser rico.    

—Melhor deveria procurar um marido.

Ela encolheu de ombros, roçando seus seios contra o musculoso peitoral do Caine.

—É igual e fácil querer a um homem rico que a um pobre. —Disse com voz rouca.

Caine lhe rodeou a cintura com o outro braço.

O calor de seu corpo a fez aproximar-se mais e mais.

—O dinheiro não cuida de uma mulher.

—Bem, não estou de acordo. —Lhe pôs a mão sobre o peito e começou a brincar com os botões de sua camisa enquanto se umedecia os lábios—. Com bastante dinheiro, uma mulher pode comprar tudo o amparo que necessite.

—Está pensando em comprar um homem?

—Eu prefiro chamá-lo... —Desabotoou-lhe um botão e lhe colocou a mão por dentro da camisa. Contratar seus serviços. —Serviços?

O ritmo galopante de seu coração lhe traía, face à aparente tranqüilidade de suas palavras. Ele a desejava.

Desi entreabriu os olhos tal e como lhe tinham ensinado relaxou os lábios de forma lhe sugiram. Desabotoou uns botões .

—Uma mulher tem necessidades que só um homem pode satisfazer.

Caine deslizou uma mão até o final de suas costas e lhe agarrou o queixo com a outra, obrigando-a a olhá-lo fixamente.

—E tem intenção de comprá-los quando os necessitar?

A jovem assentiu com a cabeça e lhe tirou a camisa por fora das calças.

—Acredito que assim é muito melhor.

—E agora estamos negociando? —Caine deslizou os dedos pelo pescoço do Desi.

O tato de seus dedos endurecidos a fez estremecer-se.

Ele não se deteve até agarrar a sua nuca. Ela se recostou junto a seu membro e lhe deixou tomar o controle.

—OH, é óbvio. —Lhe disse.

As suaves linhas que saíam dos olhos do Caine se fizeram mais profundas.

—Céus sabem que não tem nem um centavo. —Lhe disse em um tom zombador.

Essa espionagem de sorriso chegou à mulher que Desi tinha sido; a que acreditava nos finais felizes. Essa mulher tinha aprendido muito.

 

—Mas acredito que tenha algo que você precisa, deslizou uma mão até a braguilha de Caine e percorreu seu membro monumental por cima da roupa.

Caine tragou em seco.

Desi observou sua reação, fascinada. Nunca tinha tentado seduzir a um homem e a descarga de poder tomou a por surpresa.

—E vou trocar o pelo que quero. —O que?

—Sair de Los Santos.

—Me tire às mãos de cima. —Em seguida.

Com um gesto imperativo, Caine a agarrou pela nuca.

—Não era um pedido.

Fazendo ouvidos surdos, Desi lhe acariciou a ponta do membro viril, e voltou a sentir sua resposta no movimento de seus quadris e nos rápidos batimentos de seu coração.

Ela estava acostumada a homens que se equilibravam sobre ela à primeira insinuação. A contenção de Caine era... Fascinante.

—Sei, mas antes quero jogar um pouco.

—Pode jogar logo que te tampe.

Aquilo a pilhou despreparada. Queria que estivesse cômoda?

Não tinha terminado a frase quando começou a tirar a camisa. Desi ficou olhando, estupefata.

—Mas terá frio. —Lhe disse.

Levantou-lhe uma sobrancelha.

—Tive frio outras vezes. —Lhe disse ao tempo que a envolvia em sua camisa quente e suave.

Era um homem muito estranho.   

Desi agarrou a borda do objeto antes que lhe deslizasse pelos ombros e respirou com cautela.     

—Então acredito que terei que lhe esquentar. —Lhe disse.

Desi ficou frente a ele e começou a descer por seu torso nu. Nunca tinha visto um homem nu ao seu lado , e Caine estava muito bem feito. A curva de seus peitorais se estendia até uma larga cordilheira de abdominais. Desi deslizou os lábios pela fina linha que separava os músculos de seu abdômen ao tempo que contava às colinas que percorriam suas mãos. Uma, dois, três... O poço de seu umbigo era tentador...

Ao chegar à cintura de suas calças, encontrou-se com um pêlo fino e suave que a convidava a seguir a adiante. Desi agarrou um fio com os dentes e atirou dela instintivamente. Ao vê-lo ficar sem fôlego sorriu. Não era tão distinta depois de tudo.

Caine lhe agarrou a cabeça e Desi beijou com paixão seu abdômen duro, seguindo a linha de uma cicatriz com a língua até chegar a uma marca de pele curada justo à esquerda do umbigo.

Nesse momento os polegares lhe apertaram o queixo e a fizeram separar-se um pouco.

—Me desabotoe as calças?

Lambendo-os lábios, Desi lhe agarrou o cinturão. Sentia seu poderoso olhar cravado na pele.

—Deixa as armas. — Disse ele, surpreendendo-a.

Desi levantou a vista. Ele a olhava com olhos velados, cheios de desejo e de algo mais.

—Poderiam me ser úteis.

 

Foi mais difícil lhe desabotoar as calças com o peso das armas, mas ele não disse nem uma palavra, mas sim esperou com paciência. Com os dedos polegares lhe acariciava as bochechas enquanto lhe tirava a roupa.

Por fim conseguiu desabotoar os dois primeiros botões, e outros se renderam sem opor resistência. Quão único delatava o desejo de Caine, era sua respiração entrecortada e seu membro excitado.

Tanto estoicismo resultava lhe frustração.

Caine a soltou um momento para baixarem-se um pouco as calças e liberar sua enorme arma viril. Depois de uns segundos de tensão e espera, a ponta de seu membro inchado caiu na mão de Desi.

Ela tratou de esfregar-lhe enquanto se umedecia os lábios.

Então lhe pôs uma mão sobre o ombro e lhe agarrou o queixo com a outra.

—Tem fome, neném?

Ela negou com a cabeça e sua sensação de poder se desvaneceu em um abrir e fechar de olhos. Voltou a ser uma mulher débil e indefesa, de joelhos frente a um homem que a tinha em suas mãos.

—Isso. Eu pensava. —Disse e a fez olhá-lo aos olhos.

Foi então quando Desi soube o que tinha visto em seus olhos um minuto antes.

Pena. —Me parece que uma mulher tem que estar muito desesperada para estar disposta a congelar o traseiro negociando desta forma com um estranho. —Disse ele e lhe cravou as unhas nas coxas.   

Desi fechou os olhos para conter a emoção que ameaçava transbordando-se. Não sabia o que era mais forte, se o desespero ou o horror.

—Possivelmente sou uma fulana por natureza. —Lhe disse, sentindo a humilhação.

Caine inclinou a cabeça e lhe acariciou a comissura dos lábios.

—Minha experiência me diz que não existe tal coisa, a não ser mulheres que se ficaram sem opções.

—Lhe apertou o braço, empurrando-a para baixo—. Fica aquieta. Voltou-se a vestir e voltou a lhe agarrar o queixo.

—Me diga por que.  Desi não podia fazê-lo. Ele nunca a teria acreditado e embora o que fizesse, não podia ajudá-la. Uma vez soubesse a verdade, veria-se obrigado a fazer cumprir a lei.

—Não precisa saber por que.

—Sou um ranger do Texas. Se necessitar ajuda, eu lhe posso dar isso. Ela olhou para o horizonte.

—Já te tinha dito o que necessito.

—O território de índio não é lugar para uma mulher.

Mas era a única opção que tinha. Desi se umedeceu os lábios.

—Prometeu que me deixaria ir.

—Não. Prometi que te tiraria de Los Santos.

—Mas era um truque. —Disse Desi, soltando o fôlego. Só era outro truque.

—Sim. —Disse ele.

—Mas posso te prometer outra coisa.

—Que coisa?

A luz do sol se refletiu na umidade de seus olhos. Caine sabia que ela morreria antes de lhe deixar ver essas lágrimas.

 

Ele deslizou o polegar sobre seus lábios.

—Trata-se de uma promessa dos Oito do Inferno, uma promessa em que pode acreditar. De agora em diante, Desi, não tem por que seguir fugindo. Não deixarei que ninguém te faça mal.

Ela sacudiu a cabeça, suplicante.

—Deixe me ir?

—Não.

Deixá-la entrar em território de índio desprotegida seria pouco menos que um assassinato. Caine a ajudou a ficar em pé e olhou para o oeste.

—Não sei do que está fugindo, mas não será pior que o que há aí fora.

—Você não tem nem idéia.

—Sei que deve estar com a gente que te quer.

—Minha gente está morta.

—Seu tutor, então.

Os lábios de Desi desenharam uma careta.

—Não, obrigado.

   Caine a conduziu até o cavalo. Ao sentir os puxões que lhe dava na mão, voltou-se para trás. Estava mancando.

—Me deixe verte os pés.

Desi não duvidou nem um instante, mas sim levantou o esquerdo com obediência. Caine tomou em suas mãos e enrugou o sobrecenho ao ver a planta.

—De me o outro.

Desi não teve mais remedeio que fazer o que lhe pedia. Os dois pés estavam machucados, mas o direito estava destroçado. Caine se zangou imediatamente.

Pressionou a pele à direita do corte mais profundo. O sangue aflorou no momento.

— deveria haver ter dito. —Lhe disse, olhando-a aos olhos.

Ela se encolheu de ombros. —Não importa.

—Mas me importa.

Soltou as rédeas e a agarrou pela cintura. As costelas da jovem se cravaram nas Palmas de suas mãos ao montá-la sobre o cavalo. Estava tão magra...

Assim que tocou a cadeira, começou a chutar ao animal para que saísse a galope. O cavalo soltou um relinchado e moveu a cabeça de um lado a outro, mas não se moveu. Caine recolheu as rédeas do chão e o acariciou o no pescoço.

—Foi treinado para ficar quieto quando as rédeas estejam no chão.

Caine conduziu o animal até onde tinham deixado o casaco. Desi se encurvou sobre a cadeira de montar, com os braços cruzados.

Ele agarrou o pesado casaco e o ofereceu à jovem.

—Troco-te o casaco por minha camisa. —vais perder.

—Possivelmente, mas é o único trato.

Com um olhar fulminante, ela agarrou o casaco e apertou contra seu peito.

—Date a volta. —Lhe disse. Caine suspirou e lhe deu as costas.

Ouviu-se o sussurro do tecido e do couro, e de repente a cadeira rangeu. O cavalo lançou um relincho e Caine deu a volta. Desi se tinha abafado até o pescoço. A camisa estava sobre a cadeira de montar.

Caine a agarrou e a pôs com agilidade.

—As outras mulheres não lhe querem muito. —Lhe disse enquanto se grampeava os botões.

—Não. —Disse ela com o olhar no horizonte.

—E têm motivos? —Não.

—É uma rameira, tal como dizem?

Desi lhe cravou os olhos.

—Acabo de tentar... Agradar-te no meio do campo. A ti o que te parece?

—Acredito que não é primeira vez a que tenta vender seu corpo. É duro ser mulher neste país.

—Depende da mulher.

—Pode ser, mas às que estão sozinhas.

—Já não tem que preocupar-se por isso.

Caine ficou diante do cavalo. —Te levante.

—O que?

Ele pôs as mãos a ambos os lados do corno.

—Te incorpore um pouco.

Desi o olhou com cepticismo, mas se apoiou nas mãos. Caine montou de um salto e, agarrando a na cintura, sentou-a sobre seu regaço. Agarrou-lhe a mão ao tempo que ele tomava as rédeas. Suas unhas curtas se cravaram na carne do ranger.

Caine agitou as rédeas e o animal saiu ao trote. Como não estava acostumada a montar, Desi terminou expulsando como um peso morto e Caine a sujeitou com força contra seu peito.

—Te relaxe.

Ela o olhou por cima do ombro, mas fez o que lhe pedia, encurvando a coluna contra o torso do Caine.

—Não remo —Lhe disse apoiando o queixo sobre seu ombro.

Desi deu um salto e ficou erguida.

—Acaso haveria alguma diferença?

Caine não pôde reprimir o sorriso.

—Eu estou disposto a tentá-lo se quiser.

—Por quê? Ele respirou fundo.

—Porque tem guelra e é a coisa mais bonita que vi.

—Não me conhece. 

—E você tampouco me conhece, mas te prometo que ninguém te fará mal, e não tem que negociar para consegui-lo.

—Prometeu-me que me tiraria de Los Santos.

—Não se preocupe. Eu mantenho minhas promessas.

O potro tropeçou. Ela escorregou a um lado e ele a agarrou com força. O casaco se abriu, deixando ao descoberto uns peitos turgentes e algo mais. Caine subiu a mão e lhe agarrou o pulso.

 

Ele seguiu adiante e logo chegaram onde estavam os outros.

Tracker olhou com desprezo às mulheres para ouvir sussurros de indignação. Deviam pensar que Caine tinha passado um bom momento no bosque com o Desi em lugar de procurá-la por aquele terreno abrupto.

Em realidade Tracker não as acreditava muito longe da verdade, e essa suspeita fez racho em seu robusto orgulho. Sam estava cobrindo os corpos com mantas e terra quando os viu chegar. Assim teriam tempo suficiente para afastar-se da zona. Não necessitavam mais. Todo mundo sabia onde começava os Oito do Inferno, e onde terminava.

O sussurrou de um insulto voou com a brisa. Aquela voz feminina golpeou ao Desi como um punho. Se Caine não a tivesse sujeitado teria derrubado para diante. Seu rosto se acendeu de raiva.

—Sam, quer um pouco de bálsamo? —perguntou Caine.

—Está na alforja.

Sem soltar Desi, Caine desceu do potro.

—Traz, e também um pouco de água.

—Em seguida.

—Que asco. —Murmurou uma das mulheres.

—Não lhe tira as mãos de cima nem sequer diante de mulheres decentes. —Disse outra.

Caine olhou ao Desi para ouvir o barulho do potro.

—Quer que corte a língua e as deixe aqui para os abutres?

Desi não demorou nem um segundo em olhá-lo aos olhos. Aquele olhar estava cheio de raiva, mas também tinha um toque de humor.

—Os abutres adoeceriam.

—Bom, acredito que tenha razão, senhorita. —Disse Sam e foi para eles com passo desenvolto. Em seus lábios se desenhava um sorriso que deixava loucas às mulheres.

Ao ver a resposta do Desi, Caine lhe saiu ao passo a seu companheiro. A diferença do Tracker, que tinha aceitado a derrota sem mais, Sam não se deixava vencer tão facilmente. Por isso lhe chamavam «gato selvagem». Aquele homem era imprevisível, mas sempre estava em pé depois de um tiroteio.

Sam lhe lançou o poncho e Caine estendeu a mão. Seu amigo titubeou um instante e o olhou desafiante. Conheciam-se desde que eram meninos e juntos tinham sobrevivido a tudo, mas nesse momento Caine soube a verdade. Teria que lutar contra Sam por uma mulher.

Sam lhe sustentou o olhar alguns segundos mais e então lhe lançou a salvia. Depois se voltou para o Desi e a saudou com um gesto.

—Sam MacGregor. —Assinalou por cima do ombro—. Não deixe que essas arpías lhe façam mal, senhorita. Nenhum de nós crie o que dizem.  

Desi respirou profundamente. De repente sentiu um jorro de água geada sobre o pé e voltou a conter a respiração enquanto Caine lhe limpava as feridas com um lenço vermelho que levava no pescoço. Aquele homem loiro não lhe tirava olho de cima.

Era tão grande como os outros dois e também o mais arrumado dos três, mas seu olhar despejava uma frieza letal que punha os cabelos de ponta. Uma mulher não teria nada que dizer em sua cama.

Um estalo metálico lhe fez olhar Caine, que estava abrindo a lata de bálsamo.

 

Por muito que fugira seus olhares, Desi não pôde evitar olhar ao Caine quando agarrou o pé.

Os outros a assustavam, mas Caine a aterrorizava até a medula. Um helo de perigo rodeava a aquele homem sem que ele soubesse. Ela sabia que podia matar com a mesma facilidade com que se trocava de roupa, também sabia que não devia pensar muito neles depois de fazê-lo. Era como aquela terra: abrupta, mortal, indomável...  

Desi o viu lançar outro olhar fulminante a Sam e conteve a respiração. Então se deu conta de que Sam ainda a olhava com esses olhos de gelo e piscou lentamente, tentando não atrair sua atenção ainda mais.

—Obrigado. —Lhe disse.      

Cravou as unhas no pomo de couro para suportar esse olhar. Se esses homens conseguiam levar a de volta ao povo, a situação não faria mais que piorar. Ela sabia o que James faria. Era muito preparado para fazer zangar a homens como esses, assim que lhes daria o que pedissem com um sorriso.

Desi fixou o olhar na borda do rio. Tinha que impedir que a levasse de volta a toda costa.

   Sam seguia olhando-a. Podia sentir seus olhos sobre a pele. Não sabia o que procurava, mas sim esperava que desistisse em seu empenho quando antes, pois já não podia agüentar muito mais e o torvelinho de emoções que bulia em seu interior ameaçava transbordando-se. Se isso chegava a ocorrer, não sabia se poderia voltar a recuperar o controle.

Sentiu a ardência do ungüento enquanto Caine o lubrificava nas feridas. Ao ver sua expressão de dor, ele se deteve.

—Estou fazendo-o com a maior suavidade que posso.

Aquela desculpa lhe fez agachar a cabeça. Em seu tato só tinha cuidado e... Ternura. O absurdo desse pensamento a golpeou na cara. Os homens como esse não eram tenros, e embora fossem essa não era a classe de emoção que esbanjavam com uma mulher.

Sam se voltou para o Caine.

—Além dos cavalos e um par de pistolas, não havia muito recuperar.

Caine não levantou a vista.

—Um dos cavalos está arrebentado.

Inclusive Desi sabia o que isso significava. Uma vez seu irmão tinha comprado um cavalo que padecia essa doença. Tinham-no extenuado tanto e cuidado tão pouco que logo que podia correr sem ficar sem fôlego. Seu pai tinha tido que ordenar que o liberassem de seu sofrimento. Não havia piedade para os fracos nessa terra.

—Maldita seja. Qual?

—O alazão. É uma pena. Tem um bom passo e um trote agradável.

Caine lhe acariciou a coxa sem dar-se conta antes de lavar o outro pé com água fria.

—Você gosta.

Sam se encolheu de ombros.

—Eu não gosto de ver como abusam dos bons potros.

Caine deslizou um dedo pelo pé direito do Desi e ela não pôde evitar estremecer-se. Ele fez uma careta indecifrável.

—Não acredito que passe nada se o levarmos conosco. Se não nos metermos em problemas, não teria por que ficar mau. Sam assentiu.

—Isso pensava. —Olhou às mulheres—. Suponho que deveria ajudar a Tracker à montar nos cavalos.

—Melhor você que eu.

Desi baixou a vista enquanto Caine lhe tocava a borda da ferida maior.

—Não vais matar ao cavalo?

A asa do chapéu lhe ocultava a cara.

—Não se não for necessário.

Desi sentiu uma pressão no pé e então Caine lhe aplicou o bálsamo. Doeu-lhe tanto como fazê-la ferida e não pôde reprimir um grito.

—Tranqüila.

Suas carícias na panturrilha eram tão absurdas como agradáveis. Desi se atirou para trás, mas não pôde soltar-se. A palma de Caine rodeava seu tornozelo.     

Deu-lhe uma suave massagem e o calor de seu corpo lhe aliviou a dor.

—Obrigado...    

Desi relaxou o pé e ele voltou a lhe acariciar a panturrilha uma vez mais antes de lhe soltar a perna contra o lombo do cavalo.     

Caine lhe tirou as rédeas ao cavalo e a deixou no chão.

—Quieta. —Lhe disse com uma expressão risonha.

Embora tivesse querido alcançar as rédeas, estavam fora de seu alcance.

Caine se dirigiu para os outros, já montados nos cavalos. Deteve-se frente a um cavalo negro azeviche com brancas patas salpicadas e abriu as alforjas. O cavalo meneou a cabeça e ensinou os dentes. Com grande destreza e habilidade, Caine lhe deu tapa no nariz e tirou algo da alforja. Quando estava fechando a bolsa, o cavalo juntou as patas traseiras como se estivesse a ponto de dar uma patada, mas Caine fez acalmar-se com uma palmada no lombo. Caine voltou pelo mesmo caminho. Guardou-se algo no bolso antes de agarrar o que tinha sob o braço.

Quando estava perto, ensinou-lhe um pacote marrom envolto em um pouco de couro.

—Pensei que gostaria.

Tratava-se de meias três - quartos de lã e mocasin de cano médio.

—Serão muito grandes.

Ele se encolheu de ombros e ficaram os mocasins sob o braço.

—Servirão até que tenha sua própria roupa.

—Não tenho. —A confissão lhe escapou dos lábios antes que pudesse impedi-lo.

Ele a olhou de repente. Ela assinalou o que tinha nas mãos.

—Queria dizer mocasins.

—Estraguem. —Disse ele.

Deu-lhe uma massagem em um pé e então exalou seu quente fôlego sobre ele. Antes que pudesse protestar, pôr-lhe a meia três - quartos. Quando foi para o outro lado do cavalo, Desi apertou o outro pie contra o cavalo.

—Posso fazê-lo sozinha.

—Não sem te arriscar a uma queda, e acredito que já tenha muitas nódoas negras.

Agarrou-lhe o tornozelo e atirou para si.

Quando terminou de lhe pôr as meias três - quartos se jogou o chapéu para trás.

—Admite-o. Sente-se melhor.

Por muito que queria lhe levar à contrária, não podia negar aquela sensação de calor.

—Bem. Caine voltou para outro lado do cavalo e Desi flexionou a perna, pois não podia estirá-la de tudo. Colocou-lhe o mocasín.

—Não posso andar com eles.  Atou-lhe o segundo mocasín com a mesma destreza.

—Mas pode montar que é mais importante.

—E se tiver que correr?

—Se chegarmos a isso, estará morto. Tiraram-se umas luvas de couro do bolso traseiro e lhe fez estender as mãos. Os pôs e antes que pudesse apartar-se, atou-lhe as mãos com uma cinta de couro. Quando lhe pôs as mãos atadas sobre a cadeira, sua expressão zombadora era inconfundível.

Jogou-se o chapéu para diante e, tomando as rédeas, conduziu ao potro até o cavalo negro.

—No caso de te ocorre fugir de mim.

 

Caine a fez sentar de lado sobre seu regaço e lhe levantou as lapelas do casaco sobre as bochechas para protegê-la do frio.

Envolveu-se no poncho e ao olhar a Sam voltou a ter vontades de rir. Seu companheiro estava tão empapado como Desi e jogava faíscas pelos olhos. Entretanto, estava-lhe bem empregado por ter pensado que Desi tinha atirado a toalha.

Desatar-lhe as mãos ao cruzar o rio tinha sido o primeiro de seus enganos, e o segundo tinha sido pensar que o medo a morrer afogada a faria desistir da idéia de escapar. Aquela estupidez lhe havia flanco um mergulho de cabeça.

A água da roupa do Desi lhe empapava as calças enquanto observava a paisagem. Tinham economizado meio-dia atravessando os Oito do Inferno e passando pela gruta que atravessava um canhão, mas aquela calma era inquietante. Tinha os cabelos de ponta na nuca, e isso só significava uma coisa.

Não teve que procurar muito para encontrar a causa.

Aquele seqüestro improvisado não era obra de homens experimentados, o qual significava que deviam ter sido contratados por outros. Autênticos comancheros espreitavam em espera da bota de cano longo.

As coisas não pintavam bem.

Ao sentir a tensão de seu dono, Chaser soltou um bufido e deu um passo a um lado. Desi lhe cravou os dedos na camisa.

—Não passa nada.

Caine atirou das rédeas para acalmar ao cavalo, mas Desi começou a mover-se e olhou para trás.

—Quando chegarmos aos Santos deve-me um par de mocasines novos.

Para ouvi-lo se encerrou em si mesmo e ficou quieta.

—Seguro que pode abrandá-los com sabão.

—E por que teria que fazê-lo se molharam por causa de suas idéias estúpidas?

—Não foi estúpido... Foi...    

Agachou a cabeça e sua copiosa juba lhe escureceu o rosto. Levantou-lhe o queixo e Desi o fulminou com o olhar.

—Um pouco desesperado... Possivelmente seja essa a palavra que está procurando.

Só uma mulher se desesperada era capaz de conduzir a seu cavalo para águas profundas, aferrando-se ao lombo do animal com a mesma coragem temerária com que o potro obedecia a sua ama.

Os lábios do Desi estavam fechados a cal e canto. Tentou apartar o rosto, mas ele a sujeitou com força, obrigando-a a olhá-lo.

—Quanto mais nos aproximamos dos Santos, mais nervosa te põe. Por que não me diz que acontece?

O rosto da jovem se encheu de um ressentimento frio como o gelo.

—Já lhe tinha dito isso .

Caine tirou bolachas e água da alforja.

—Já que as coisas são assim, pensei que você gostaria de desfrutar de uma última comida.

O estômago de Desi rugia de fome. Estendeu os pulsos e separou as mãos para que a desatasse.

—Ah, ah! —Disse, e deixou a comida sobre as enormes luvas que levava postos—. Aprendi a lição vendo como ensinava Sam a nadar. Nem pensar.

Desi pôs as mãos sobre seu regaço, decidida a não provar o bocado. Aquele formoso perfil convidava a lhe dar um beijo.

Deu-lhe um golpe à comida, mas ela ignorou a indireta.

Um sorriso atirou dos lábios de Caine.

—Se seguir com isto, dentro de uns quantos quilômetros começarei a tomar o como uma ofensa. Não quererá ferir meus sentimentos.

Desi permaneceu impassível.

Ele a fez erguer-se um pouco e agarrou a bolacha com uma mão; a outra sujeitava as rédeas. Pôs diante da boca, mas ela não abriu os lábios. Tragou uma vez... Outra vez.

—Quando comeu por última vez? —Faz uns dias.

—Disseram-nos que lhes tinham seqüestrado ontem de noite.

Os foragidos estavam acostumados a fazer seu trabalho sujo à luz da lua que iluminava as planícies.

Ela se encolheu de ombros e lhe olhou ao peito.

Ele baixou a bolacha e sacudiu a cabeça.

—É a mulher mais teimosa que conheci.

—Se me montar em meu próprio cavalo, não terá que suportar minha companhia.

Caine sorriu.

—E por que teria que fazer isso? Fazia tempo que não tinha a uma mulher formosa nos braços, e não tenho vontades de te dar esse prazer.

Ela entreabriu os olhos e lançou um delicado bufido.

—Estou empapada. Cheiro a cavalo, sangue e outras coisas desagradáveis.

—Tem razão, mas sai ganhando se te comparo com o cervo morto que tive que levar a semana passada.

Desi se desinflou no casaco como um bolo.

Caine voltou a insistir com a bolacha.

—vou acrescentar «irritável» a sua lista de atributos.

Desi lhe cravou o olhar.

Ele sacudiu a cabeça.

—Não demonstra nada não comendo. Assim só consegue estar muito fraca para lutar.

Pelos cabelos, os dedos do Caine escaparam da dentada.

Esperou a que tivesse a boca cheia antes de voltar a falar.

—Se te disser a verdade, acredito que nunca houve uma mulher tão bonita sobre meu cavalo.

Se as olhadas matassem, Caine teria morrido imediatamente.

Desi tratou de dizer algo, mas não pôde.

Ele deixou a bolacha sobre seu regaço e desatou o cantil. Tirou a cortiça com os dentes e lhe ofereceu a bebida. Ela cuspiu o primeiro sorvo antes de tragar. Depois bebeu como se fora a morrer ao dia seguinte.

Caine apartou o cantil.

Soube-se que estava em tão más condições, a teria feito comer algo quando estavam no rio.

—Imagino que faz muito tempo que não bebe nada.

—Os seqüestradores não foram muito atentos.

—Nenhuma de nós bebeu nada por culpa dela. —Gritou Mavis.

Levava o cabelo recolhido em um coque e sua roupa mostrava os signos de um dia muito ocupado.

Caine não entendia os motivos do protesto. Tracker lhes tinha dado de comer enquanto Sam tirava Desi de Santo Antonio.

   Mavis, em troca, não opinava igual. Assinalou a Desi e seguiu destrambelhando.

—Sempre traz problemas, e vergonha sobre todos nós. Embora meu irmão trate de colocá-la em cintura, ela segue com sua promiscuidade.

Imutável, Desi fixou o olhar nas intermináveis planícies.

Sam avançou até eles. Jogou um olhar a Desi e tomou as rédeas do alazão, sacudindo a cabeça.

—Embora seja atrativa, é horrível. —Disse a Mavis enquanto levava seu cavalo.

A mulher não tomou muito bem e continuou soltando impropérios a destro e sinistro até que Tracker a fez calar dizendo que estava atraindo aos índios.

Caine esperou a que estivesse longe.

—Essa mulher te odeia com todas suas forças.

—Sim. —disse Desi depois de um momento.

—Seu irmão é seu tutor legal?

—Sim.

—E como é isso? É família?

—Não. Mas o juiz pensou que devia ter um.

—E escolheu o seu irmão?

—Sim.

—Quanto ano tem?—Vinte.

—E pensaram que uma mulher feita e direita devia ter um tutor legal?

Ela se encolheu de ombros.

—Os pais fundadores pensaram que era muito rebelde.

—Acaso pensavam que foi muito atrevida com os homens?

—Sim.

—E o que lhes fez pensar isso?

—Nada. —Disse Desi, à defensiva.

—Mas o juiz devia ter provas para tomar uma decisão assim.

—«Eles» tinham muitas provas.

—Quais são eles?

—Os pais fundadores.

—E por que quer que acredite o pior de ti?

—Assim economizo tempo. Tirou-lhe o cantil e lhe devolveu a bolacha.

—Bom, eu tenho muito tempo, assim não me importa esbanjar um pouco contigo.

Os Santos não era tão grande como Santo Antonio, mas compartilhava a mesma herança franciscana em tanto que a igreja era o centro de atenção que eclipsava ao resto de edifícios. A torre do campanário se divisava a quilômetros de distância, e o reflexo do sol sobre suas telhas servia de guia aos viajantes extraviados.

Parte de uma muralha protegia a zona mais vulnerável do povo, mas o lugar não contava com muitas defesas. Estava a umas dez milhas ao oeste do Santo Antonio, à beira do rio do mesmo nome, e tinha uns cem habitantes bem armados.

Por essa razão e também por seu grande tamanho, não estava no ponto dos olhos dos bandidos.

Estavam chegando à cidade quando soaram os sinos do templo. Os residentes alagaram as ruas.

—Aí está Bert! —Exclamou Mavis ao ver um homem fornido em meio da rua. Atirou das rédeas e começou a agitar os braços.

Um segundo depois, o homem se tampou os olhos para ver melhor e gritou algo antes de ir para eles. Uma estrela brilhava em seu peito.

Abigail e Sadie olharam para a multidão e se incorporaram sobre os estribos assim que viram seus familiares. Atirando as rédeas, choraram e saudaram até que Tracker e Sam as deixaram ir ao encontro de seus seres queridos.

Desi, em troca, nem sequer levantou a vista, mas sim agachou a cabeça contra o peito do Caine. Apartou-lhe o cabelo do rosto e deslizou os dedos pela base de seu pescoço até chegar à fenda de sua garganta. A jovem tinha o pulso acelerado. Por mais calma que parecesse, estava aterrorizada.

Tracker cavalgou até eles e assinalou a Desi com o queixo.

—Não parece muito feliz de ter voltado para casa.

Caine assentiu e lhe pôs a mão no ombro.

 

—Já sei. —Ninguém vem procurá-la.

—Só levamos um minuto aqui.

—Isto eu não gosto.

—O juiz lhe atribuiu um tutor legal.

Sam avançou até seus companheiros.

—O pai que nos mandou procurá-la?

—Não. O irmão de Mavis.

Tracker deixou escapar um bufido.

—Bom... Por que não me surpreende?

As mulheres se encontraram com seus homens. Os abraços e as exclamações de alegria atraíram a uma multidão curiosa que queria ouvir os detalhes do resgate. Havia um homem a certa distância do grupo. Levava uma impecável camisa branca que fazia contraste com um colete de casimira. Tinha os braços cruzados, as pernas separadas. Estava esperando.

Sam jogou o chapéu para trás e se apoiou no corno da cadeira de montar. Qualquer um que teria acreditado, a menos que notassem o movimento repetitivo de seus dedos. Aquele que conhecesse os hábitos de um pistoleiro saberia o que estava fazendo.

—Parece que alguém a espera.

Tracker cuspiu com desprezo.

   —Um apostador.

—Poderia ser um alfaiate de moda. —Disse Sam, revisando o revólver que tinha pacote da perna.

—Sim. —Caine desencapou o rifle e o pôs sobre os estribos, entre o pomo e os quadris de Desi. Ela o olhou de esguelha e lhe deu uma palmada no ombro.

—Esse é seu tutor?

Ela não se voltou, nem tampouco respondeu, mas sua respiração se acelerou. Finalmente assentiu com a cabeça. Tracker enrugou o sobrecenho.

—Que classe de juiz lhe concede a custódia de uma jovem a um jogador contumaz?

—Por acaso te lembra do juiz que se ocupou de seu caso, Desi?

Ela nunca o esqueceria. Aquele homem se sentou no altar da igreja como se fora a muito mesmo Deus. Nunca poderia esquecer aquela pose de sábio todo-poderoso e benevolente, nem tampouco o que tinha ocorrido depois.

—O juiz Harvey Clayton.

—Bom isso esclarece um pouco as coisas. —Murmurou Sam.

Caine apoiou o queixo sobre a cabeça do Desi e seguiu lhe acariciando o braço. Com cada passo dos cavalos se aproximavam mais e mais ao James.

Ela se atreveu a olhar pela extremidade do olho. James estava esperando e não estava contente. Só tomava essa postura quando estava furioso. Tinha que escapar.

Começou a mover as mãos dentro das luvas, atirando com tanta força que as cordas lhe cravaram na carne através do couro. Mordeu-se o lábio para suportar a dor.

Caine pôs sua mão sobre as suas e ela levantou a vista. Não via nada naqueles olhos enigmáticos.

O resplendor de meio amanhã a ajudava a esconder seus pensamentos.

Desi tirou suas mãos, mas ele as apertou com força. Com um leve gesto lhe disse que sabia o que estava fazendo. O cavalo se deteve. Desi ouviu aproximar-se de James. Tinha tido que esperá-lo em muitas ocasiões e já conhecia o som daqueles passos.  Caine ficou erguido. Girou o rifle e o canhão começou a pressionar o quadril de Desi.

—Ranger.

A voz de James era suave e estava bem modulada. Tanto que inspirava confiança. Ficou diante de Desi. Seus músculos faciais lançavam uma mensagem serena. Sua habilidade para esconder o que realmente pensava era o que o tinha convertido em um jogador de êxito. Tocou-se a asa de chapéu com o dedo. Um dedo. —Desi.

Caine apertou o ombro da jovem.

James saudou os outros dois homens, que ficaram a ambos os lados de Caine.

—Quero lhes dar obrigado por ter trazido de volta a nossa Desdemona.

Tracker foi o primeiro em falar.

—É nosso trabalho. —Disse com secura.

O sorriso de James parecia relaxada e sincera, como se realmente tivesse desejado ter a de volta. Em realidade devia ter sido assim.

—Espero que não lhes tenha causado muitos problemas.

—E por que acredita que nos causou problemas? —perguntou Caine.

—Apesar de sua beleza, certamente se terão dado conta de que não está bem da cabeça.

Desi fechou os punhos. Caine nunca acreditaria.

—Pois a verdade é que não. —Disse Caine, tomando-a por surpresa.

—Panaquices. —Disse Tracker.

—Por Deus. —Disse Sam.

   Aparentemente preocupado, James a olhou de cima abaixo. Entretanto, a expressão de seus olhos lhe delatava.

Deu um passo adiante e levantou uma mão para o Caine. Se o ranger não tivesse posto o pé sobre o tornozelo do Desi, lhe teria dado uma patada na boca.

—James Haddock. Sou o tutor da Desdemona. Alegro-me de que tenha tido um bom dia.

Caine não se incomodou em lhe dar a mão.

—Eu não diria tanto.

—Possivelmente não usei as palavras adequadas.

Desi jogou a cabeça para trás. Caine olhava James com olhos impassíveis.

—E quais são as palavras adequadas? —Perguntou Caine.

—«Estável», talvez? —disse James em um tom afável e deu um passo atrás.

Detrás deles se estava formando uma multidão. A maioria eram cidadãos aborrecidos, mas também havia outros como Bert, Bryan e Carl. Embora o negassem, tinham um grande interesse em averiguar o que acontecia. Desi se estremeceu. Nunca voltariam a tocá-la.

—Desde aquela terrível experiência-disse James, aproximando-se mais.

 

Não sabemos como pode reagir de um dia para outro.

Desi respirou fundo e conteve o fôlego. O sangue lhe ardia nas veias. Caine lhe tirou a perna de cima do pé.

—Terrível experiência?

—Isso me teme.

Desi fechou os punhos, sabendo o que estava por vir. Caine lhe deu com o queixo na cabeça e lhe roçou a orelha com os lábios.

—Respira Desi.

—Desde que está conosco seu estado mental foi... Delicado.

—Não estou louca.

   —Claro que não. —Se apressou a dizer James com um sorriso forçado—. É só que te há flanc muito tempo te recuperar daquela experiência com os comancheros o ano passado.

A vergonha e a raiva lutavam no interior da jovem. Todo mundo sabia o que os comancheros faziam a seus reféns. Todos sabiam o que faziam a uma mulher.

—Isso é verdade, Desi? —Perguntou Caine.

—Não estou louca.

—Já sei. Estava perguntando pelo comancheros.

Não tinha sentido negá-lo. O xerife e o sacerdote confirmariam as palavras de James.

Cravou as unhas nas Palmas das mãos.

—Sim. —Maldita seja. Sinto muito. Desi respirou fundo por duas vezes.

—Assim perdeu seus pais?

—Sim.

E também a sua irmã geme-a. Desi fechou os olhos ao recordar aquele suplício.

James deu um passo adiante e, ao pisar em um ramo, fez-a despertar de seus devaneios.

—Ajudamo-la em tudo o que pudemos.

—Isso é certo. —Disse o xerife Hatchet, aproximando-a garota era uma selvagem quando chegou. Ninguém podia aproximar-se dela. Íamos enviar La ao este, a um desses asilos, quando James se ofereceu a ajuda La. —Lhe deu uma palmada no ombro de James—. Não sei como o fez, mas fez milagres com essa garota. —Sacudiu a cabeça, surpreso—. Autênticos milagres.

—Fez milagres contigo, Desi? —perguntou Caine.

—Seu nome é Desdemona. —Disse James.

—A garota disse muito claro quando se apresentou. —Disse Sam.

James se aproximou um pouco mais. Caine a agarrou pelo quadril e apontou com o rifle. James se deteve a meio caminho, levantou os braços e deu meia volta. O medo que havia em seu rosto não deu nenhuma satisfação a Desi.

—Ranger. —Disse o xerife—. James é o tutor legal da jovem. Se tiver algum problema com isso terá que dizer-lhe ao juiz a próxima vez que vier por aqui.

A cadeira rangeu sob o peso de Caine.

—Acredito que o farei.

—Asseguro-lhe, ranger, que todos têm feito por seu bem.

—É que me é curioso que o juiz mais corrupto da zona lhe outorgue a custódia de uma jovem a um jogador.

—Não posso discutir, vistos os resultados. —Apontou o xerife.

—Acredito que isso depende de como se olhem os resultados. —Acrescentou Caine.

Ante o olhar atônito de Desi, Caine deslizou o rifle por debaixo de suas mãos até que o percussor ficou sob suas luvas.

—Quer te ocupar de James, Desi?

Ela o olhou aos olhos. Caine falava sério.

—Posso lhe disparar? Ele assentiu.    

—Onde queira. 

Tinha que estar de brincadeira. Desi tratou de encontrar o gatilho por dentro das luvas.

Inclinou a arma, mas esta se cambaleou em suas mãos e Caine teve que ajudá-la a estabilizá-la. Desi o apontou à cabeça e desfrutou com sua expressão de pânico ao recordar o que havia sentido a primeira noite que tinha começado a fazer milagres com ela.

A mira descendeu até o torso de James e percorreu a linha de botões de seu colete até chegar à cintura de suas elegantes calças. Só tinha que descender uns centímetros mais antes de chegar a seu destino.

James resmungou um juramento e deu um tropeção. Com a ajuda do Caine, Desi seguiu apontando ao objetivo enquanto James aterrissava no lodo. O xerife tratou de tirar o revólver, antes que pudesse desencapar, ela apertou o gatilho, sem perder de vista a seu objetivo. Queria ver o impacto da bala; queria saborear essa satisfação.

No último, a arma se moveu e a explosão de barro salpicou James. Caine lhe tirou a arma das mãos.

—Acredito que isto responde a minha pergunta.

Mas não respondia a pergunta de Desi. Ela queria que lhe devolvesse a arma; queria ver James morto. Olhou as enormes luvas que lhe cobriam as mãos e sentiu Caine ao redor. Tão somente era outro homem que a utilizava para conseguir o que queria.

—Por que me impediste isso?

Caine lhe fez olhá-lo aos olhos. A raiva que bulia em seus olhos lhe corroia as vísceras.

—Acredito que já tenham muitas cicatrizes. Não acredito que necessite de um assassinato.

—Não me importa.

Soltou-lhe o queixo e lhe afastou o rifle, apontando aos homens que se aproximava a toda pressa.

—A mim sim.

Caine chutou o lombo do Chaser e o cavalo e se voltou para a multidão.

—Deveria lhes dizer a esses homens que guardem as armas, Xerife, ou esta cidade vai ficar sem alguns de seus cidadãos mais célebres.

—Não pode entrar aqui e disparar às pessoas, Allen.

—A menos que me impeça, posso fazer o que me dê vontade.

E o que queria fazer nesse momento era procurar justiça.

—Tem razão. —Disse Tracker com um revólver em cada mão.

 

Começamos tiroteios nos povos quando nos dá vontade. Um dia vamos estar entre os mais procurados.

—Não é que me importe muito. —Disse Sam, com um revólver em uma mão e uma pistola em outra.

— Demônios, estivemos a borda da lei toda nossa vida, mas você sabe muito bem que não nos vão fazer justiça nesses malditos cartazes e não poderia suportá-lo.

—E o que sugere?

—Largar a garota?

Caine fingiu considerar a possibilidade enquanto o xerife, corrupto como o que mais, enchia-se de confiança.

—Nós somos dez e vocês são três, filho. Acredito que o melhor é render-se.

Caine não tinha intenção de abandonar. Um pequeno personagem vestido de marrom se abriu passo entre a multidão.

Caine empurrou Desi para chamar sua atenção.

—Desi, quero que baixe agora e vá junto a pai Gerard.

Não queria tê-la perto se começavam os disparos. Sujeitando os punhos, ajudou-a a baixar. Quando tocou o chão, Desi o olhou angustiado. As veias de seu pescoço pulsavam com rapidez.

—Não se ponha a correr. Esta vez não. —Caine lhe sustentou o olhar, confiando em que Tracker e Sam o cobririam. Ela assentiu com a cabeça.

—Me dê sua palavra. Disse-lhe ele.

Desi assentiu uma vez mais. —Bem.

Deixou-a ir. Ela foi mancando até onde estava o pai e ele a rodeou em seus braços. Ela levantou os braços e o ancião lhe desatou as mãos. Caine assentiu, lhe concedendo essa pequena vitória, e se voltou para o jogador.

—O Quito a custódia.

—Não pode fazer isso. —Disse um homem, irrompendo na discussão.

Outro homem o fez calar imediatamente.

Ambos estavam bem vestidos e não pareciam camponeses. Por que teria que lhes importar o futuro de uma jovem sem família nem influências?

«Ali morrerei...».

As palavras de Desi cobraram sentido. Uma horrível suspeita se apoderou de ranger enquanto encaixava as peças do quebra-cabeça. O inexplicável desprezo de Mavis... Os interesses do xerife... O juiz corrupto... As insinuações de pai Gerard, quem lhe tinha pedido que cuidasse dela pessoalmente...

A conclusão que tinha chegado não podia ser pior. Apontou ao homem gordo.

—Quem é? O indivíduo ficou pálido, mas não retrocedeu.

—Bryan Sanders. Representante de Steel, Jones e Steel.

—E quem são eles?

A julgar pela feitura de sua roupa, o homem tinha boa posição.

—Um grupo de senhores com interesses na região.

—Banqueiros. —Cuspiu Sam.

Sam gostava dos banqueiros tanto como os jogadores.

 

—Deve ter sido muito tentador para todos vocês. Uma jovem formosa sem família, traumatizada.

As mulheres se abriram caminho através da multidão. Uma delas murmurou algo; outra conteve o fôlego. O banqueiro se ergueu. Suas luvas de graxa se meneavam de raiva.

—Eu não gosto de suas insinuações.

—Sinto ter que lhe dizer que seus gostos não estão entre minhas prioridades.

—O que está jogando, Allen? —perguntou James, ficando em pé e tirando o barro das calças—. Nós lhe abrimos as portas, salvamo-la desses demônios. Demo lhe um lar. Uma família.

Chaser se tornou a um lado ao ser empurrado por outro cavalo.

—Prioridades, Caine.     

O ranger olhou a seu companheiro Tracker, que nesse momento fazia um gesto assinalando a jovem.     

Ela o olhava com o rosto pálido e o queixo à frente.

Caine tragou a raiva que ardia em suas vísceras. Tracker tinha razão.

—Vamos levar Desi e se alguém tiver algo que dizer a respeito. —Colocou uma bala na antecâmara e se deixou levar por aquele arrebatamento de raiva—. Que fale agora para que possamos terminar com isto de uma vez. Ante a surpresa de Caine, pai Gerard foi o primeiro em dar um passo adiante.

—Não posso deixar que o faça, Caine.

—Não vejo como pode me deter, pai.

A multidão rompeu em um murmúrio.

—Não posso deixar que uma mulher solteira se vá com três homens, já sejam agentes da lei ou não.

—Seja o que seja o que tenhamos planejado seguro será melhor que lhe espere aqui.

O sacerdote rechonchudo sacudiu sua calva cabeça.

—Não posso permiti-lo.

Quanto mais tempo passava, mais se encorajavam os homens de gatilho fácil.

—Embora lhes levem isso assim, seguirá sob a custódia de James e ainda será sua por lei.

Caine chutou o lombo do Chaser e o fez mover-se em semicírculo ao tempo que tirava o revólver.

—Quem me quer discutir isso já sabe onde me encontrar.

—Não vou contigo.

Não se surpreendeu para ouvir o protesto do Desi. Havia vezes em que ter uma má reputação podia resultar muito útil.

—Faz dez meses, quando lhe salvei a vida, Caine Allen —disse o pai Gerard com voz pausada—, disse-me que podia te pedir qualquer favor, e que me seria concedido.

—Assim é.

—Os direitos de um marido estão por cima de qualquer outro.

Caine apontou a um jovem que se aproximava pelo lado esquerdo da multidão.

—Não o faça, filho.

Olhou ao pai fugazmente.

—Não quererá que lhe pague o favor com algo assim.

O sacerdote se encolheu de ombros e, ao dar uns passos adiante, teve que soltar a mão de Desi. A jovem resistia a mover-se.

—Terá que me perdoar. É a primeira vez.

O vaqueiro embainhou a arma e levantou as mãos. Caine fez retroceder a Chaser.

—Pensava que mentir era pecado, inclusive para os padres.

—E eu pensava que os rangers sempre mantinham suas promessas.

—O matrimônio é para sempre, pai.

—Sim. —Mas eu não.

—Possivelmente seja hora de trocar.

—Pode ser que seja muito tarde para esse milagre.

—É então vais romper sua promessa?

Caine lançou um olhar a Desi. Ela olhava sorridente o jogador com uma expressão de horror.

O ranger estava disposto a romper sua promessa, e o único que desejava nesse momento era cavalgar até ele e lhe romper os dentes por atrever-se a olhá-la.

—Não.

—Sem minha aprovação este matrimônio não pode ter lugar. —Disse James, arriscando a vida.

Caine ouviu o estalo de um gatilho à direita.

—Então dá lhe. —Sam sabia ir ao grão.

O jogador não lhe deu seu consentimento, mas se calou de uma vez.

Caine foi para Desi. Embainhou o rifle e lhe fez levantar as mãos. Então se tirou uma faca da bota e cortou as cordas que lhe atavam os punhos.

—Uma mulher não deveria casar-se com as mãos atadas.

—Eu não quero me casar.

Ele tampouco, mas nenhum tinha eleição. A honra só lhes deixava um caminho livre.

—Prefere ficar?

—Não.

—Então estamos em um apuro.

Esperou pelo sacerdote. O religioso caminhava com passo tranqüilo, seguro. Caine não recordava a última vez que tinha sido dono de tanta serenidade.

Muito tempo atrás se deixou consumir por uma raiva que não o deixava viver em paz; uma raiva que lhe corria pelas veias nesse momento. Os homens se reagrupavam a seu redor; as vozes subiam e desciam em um murmúrio furioso.

Doíam-lhe os dedos que apertavam o gatilho. Era tão fácil eliminá-los... Era tão fácil fazê-los sofrer...

—«A vingança é minha», diz o Senhor.

Sem lhes tirar olho aos homens, atirou das rédeas para acalmar a Chaser.

—Esta vez, pai, o Senhor terá que ficar à cauda.

Desi subiu o pescoço do casaco e se aconchegou em seu calor. Caine tirou algo dos alforjes. A luz do fogo arrojava sombras sobre sua enorme figura, alargando sua silhueta até a penumbra das rochas.

Parecia maior e distante...

—Tem fome? —perguntou-lhe por cima do ombro.

—Não, estou bem.

Ele fez uma pausa e a olhou de esguelha.

—Duvido muito. Ela levantou o queixo e lhe respondeu com frieza.

—Mas é verdade.

Caine desencapou a faca. O rangido do metal sobre o couro era áspero. Abriu o pacote que estava no chão. A luz se refletiu na folha e lançou brilhos de prata. Tirou a comida e a ofereceu.

—Não está muito boa, mas te enche o estômago.

Desi reparou na carne curada e voltou a olhá-lo aos olhos. Soltou a borda do casaco e estendeu a mão. Estava faminta, mas não o bastante para fazer uma estupidez.

Deteve-se a meio caminho, apanhada entre a fome e o cansaço.

A seu redor só havia escuridão. Caine e ela estavam em meio daquele círculo de luz. Tracker e Sam tinham voltado para povo para recolher suas coisas.

Ela lhes havia dito que não era necessário, mas eles tinham insistido em que uma mulher precisava ter suas coisas à mão. Possivelmente fora certo, mas a tinham despojado de suas coisas muito tempo antes, e tudo o que ficava era orgulho, determinação e... Seu marido Caine moveu a mão e ela retirou a sua imediatamente

Respirou profundamente, com a vista fixa em suas mãos robustas.

—Deveria vigiar meus olhos.

Aquele comentário em voz baixa foi tão estranho como o tremor daqueles dedos.

Desi voltou a aferrar-se ao pescoço do casaco, sem deixar de lhe olhar a mão. O coração lhe pulsava muito rápido para poder respirar.

—O que?

—Se quer saber se me ponho teimoso, me olhe aos olhos.

Desi não teve mais remedeio que olhá-lo. Caine a observava atentamente. Detrás de um rosto hermético se escondiam seus pensamentos.

Olhava-a como se fora uma espécie de quebra-cabeças que se propunha resolver. Desi não suportava essa sensação, assim que lhe arrebatou a comida das mãos seus dedos roçaram os dele durante um instante. Entretanto, ele não se moveu.

Desi tratou de sonar normal.

—E que bem me faria te olhar aos olhos quando o que me preocupa são suas mãos?

—Isso te daria uma fração de segundo que poderia ser a diferença entre a vida e a morte.

Com a faca assinalou a comida que a jovem tinha na mão antes de cortar outra ração.

—Come.

Desi tinha a garganta tão seca que não se acreditava capaz de engolir a comida, assim permaneceu quieta, pensativa junto ao fogo, esperando a que Caine trocasse de tema.

Mas aquela espera foi inútil. Ele se levou a carne aos lábios e, ao lhe dar uma dentada, assinalou a comida que Desi tinha sobre seu regaço.

—Por muito que a aperte, não vai ficar mais suave.

Desi se levou a comida à boca e tomou um bocado, mastigando lentamente.

 

A carne estava tão dura que era como comer uma parte de madeira. Não tinha como enguli-la.

Mastigou até que lhe doeram as mandíbulas, mas a carne não se desmanchou.

Caine lhe deu as costas. As sombras da luz recortavam sua silhueta sobre o negrume. Era um homem poderoso. Desi recordava como se enfrentou o povo fácil, que dava resultado fazer sua vontade. Ela não queria encetar-se em uma batalha pela comida.

Baixou a vista e mastigou um pouco mais. Ofereceu-lhe um cantil.

—Isto poderia ajudar.

Ela aceitou a bebida com tranqüilidade. A água estava fresca. Ele devia ter enchido antes que fossem aos outros, já que não a tinha deixado sozinha nem um momento. A carne se abrandou e por fim pôde engolir. Seu estômago rugiu ao receber o bocado de carne.

Caine se pôs a rir.

—Faz muito tempo que não ouço rugir de um estômago dessa maneira.

O humor das palavras não chegou aos lábios nem aos olhos, que a olhavam fixamente.

Desi deixou o cantil em seu regaço.

—Não posso comer enquanto me olha.

Depois de uma pausa, Caine lhe deu seu pedaço de carne e se voltou para a luz.

—Não quero sua comida.

—Haverá mais.

—Posso esperar.

—Não há bastante carne sobre seus ossos para agüentar cinco minutos, e muito menos uma hora.

Embora não lhe importasse o que pensasse, Desi se incomodou um pouco.

—Sempre fui magra.

Ele se voltou.

—Pode ser que sim, mas agora precisa engordar um pouco.

—Isso não é teu problema.

—É minha esposa. Tudo o que tenha que ver contigo é meu problema.

—Não estamos realmente casados.

A jovem conseguiu chamar sua atenção.

—Fiz-lhe uma promessa ao pai e a Deus. Não acredito que se possa estar mais casado.

—Queria dizer que não tem por que seguir casado. Pode te libertar de mim quando quiser.

—Sério? E eu que pensava que era para sempre.

Desi agarrou a carne com tanta força que lhe cravou as unhas.

—Não vão deixar me partir.

—Come. —Assinalou a carne—. Seu estômago se sentirá mais feliz se te comer isso em lugar de jogar com isso. —Virão por mim. Caine lhe tirou o cantil e bebeu um pouco.

—James e seus amigos são má gente. Devolveu-lhe o cantil e lhe fez olhá-lo aos olhos, agarrando a no queixo.

—Um dia destes tem que me dizer porque foram maus.

Ela sacudiu a cabeça.

—Mas por agora deve saber que já não são uma ameaça para ti.

Desi mordeu o lábio. Tampouco podia acreditar nisso. James, Bryan e Carl tinham desfrutado de muito com ela para deixá-la ir de qualquer jeito.

—Matarão-lhe. Caine esboçou um sorriso. —Que o tentem.

—Eles não vão de frente.

Caine baixou a mão.

—Nunca acreditei que seria assim.

—Se me deixa ir, deixarão-lhe em paz.

O recolheu uma raminho e partiu em dois.

—Se te deixo ir, não terá amparo.

—Poderia me esconder.

—Céu, não importa aonde vá. Os homens lhe encontrarão e acabará na cama.

—Não necessito um homem.

Caine arrojou a madeira ao fogo.

—Não recordo haver dito que o faria por vontade própria.

Lançou outra raminho ao fogo.

—Não me apanharão de novo.

—Nisso sim que estamos de acordo. Minha esposa fica comigo.

—Eu gostaria que se esquecesse desse pequeno detalhe.

Ele a olhou de cima abaixo lentamente e Desi sentiu seu olhar sobre a pele através do casaco.

—Não tenho intenção de esquecê-lo.

Lançou-lhe um olhar colérico.

—Resistirei. Caine arqueou uma sobrancelha.

—Resistiu com eles? —Sim.

Ele inclinou a cabeça a um lado.

—E te serve de algo?

—Não.

Devolveu-lhe o cantil e colocou os dedos por debaixo do dorso da mão do Desi, convidando-a a comer a carne.

—E então o que te faz pensar que sua resistência me preocupa? —Perguntou-lhe em um sussurrou.

Desi cravou os dentes na carne e lhe deu uma dentada feroz. Fez-lhe uma bola na boca e Caine lhe ofereceu o cantil, mas ela não quis beber, mas sim cuspiu a comida.

Ele suspirou.

—Já vejo que vou ter que trocar de estratégia para que não esbanje a comida.

—É que você não gosta das mulheres fracas?

—O que eu gosto e o que não, não importa agora. Estou casado. —Assinalou a comida que ela tinha nas mãos—. Vai comer isso?

—Não poderia.

—Porque te tenho feito zangar-se?

 

Ela se encolheu de ombros.

Ele tomou a comida, envolveu-a em papel e a guardou nas alforjes. As ervas rangeram na escuridão e Desi sentiu um tombo no estômago.

—Te relaxe. —Não posso.

Caine se recostou contra uma rocha e apoiou o braço no joelho, com o rifle contra a coxa.

Ele suspirou e jogou o chapéu para diante.

—Quem te preocupa mais, eles ou eu?

—Você. —Por quê?

Desi lambeu os lábios, sem saber o que responder.

—Sei o que esperar deles.

Caine tirou algo de um bolso dos alforjes.

—E o que te faz pensar que sou distinto?

Ela voltou a umedecer os lábios, bebeu um gole de água...

—Não sei.

—Isso eu penso. Não sabe. —Tirou um pacote marrom e desatou as cordas com cuidado—. Poderia ser muito tenro na cama.

Desi bebeu um pouco mais, sem saber o que dizer.

—Me dê a mão.

Instintivamente, Desi a levou ao ventre.

Ele sacudiu a cabeça e lhe atirou a mão até estendê-la completamente, palma acima. Ela resistiu, mas ele não a soltava. Um sorriso lhe atirava da comissura dos lábios.

—Não acredito que queira fazer isso. —Lhe disse enquanto lhe punha um pequeno pacote marrom na mão. Era ligeiro e estado acostumado.

Então lhe fechou os dedos e a soltou.

Desi deixou o cantil apoiado em uma rocha e abriu o pacote. Dentro havia quatro bombons, três dos quais tinham forma de coração. Aquela era uma tentação impossível de resistir.

Chocolate. Chocolate...

Desi aproximou o pacote para aspirar ao rico aroma, e assim recordou tempos felizes; tempos nos que sua irmã e ela corriam pela mansão e jogavam sem cessar. Naquela época suas vidas eram uma aventura constante e o chocolate era o prêmio de cada dia. Eram tão inocentes que nunca tinham chegado a apreciar o que tinham nas mãos.

Desi tocou a quarta peça, que tinha uma estranha forma. Sobre a superfície do bombom havia vários cortes, como se alguém tivesse talhado pequenos pedaços.

—Minha mãe sempre tomava chocolate quando estava nervosa.

Ela levantou a vista. Era o chocolate de Caine, e, portanto devia ser quem tinha picado os pedacinhos. Aquele chocolate era algo que adorava saborear. Desi voltou a envolver aquelas delícias, mordendo-os lábios para não cair na tentação, e devolveu.

—Não posso aceitar seu chocolate.

Com toda a calma do mundo Caine lhe empurrou a mão.

—Por que não? Você não gosta?—Eu adoro.

—Eu quero que lhe tome. Onde está o problema? —Disse-lhe e voltou a abrir o pacote.

—por quê?

—Porque é minha esposa. —Lhe disse, empurrando o chocolate por volta dela—. Hoje nos casamos e talvez queira recordar este momento dentro de trinta anos.

Desi ficou estupefata, mas aceitou dois dos bombons. Tomou na mão e lhe ofereceu um.

Ele sacudiu a cabeça.

—São para ti.

Desi tocou a peça que tinha aqueles cortes irregulares.

—Você Também gosta?—sim .

— Mas não posso aceitar nada que lhe tenha avaliação.

—Por que não o prova antes de falar?

Ele estava tentando. Com chocolate. Um demônio com roupa suja, um chapéu estragado e muitos músculos. O chocolate lhe começou a derreter na mão.

—Não o quero.

—Isso é mentira.

Desi jogou faíscas pelos olhos.

—Não quero te dever nada!

A gargalhada de Caine foi de tudo inesperada.

—Está-me dizendo que só tenho que te dar guloseimas e me deverá um favor? Vá, vai ser muito fácil estar casado contigo. —Não.

Caine agarrou os dois pedacinhos de chocolate.

—Se o compartilharmos... Estaria em dívida comigo?

Desi olhou confusa. Ele sacudiu a cabeça.

—Não quero estar em guerra com minha esposa.

Tinha-lhe proposto uma trégua, lhe oferecendo algo que valorizava; compartilhando. Não era uma forma tão normal de começar as coisas. Desi tomou o pedaço menor e o substituiu pelo maior.

Caine levantou a sobrancelha esquerda. Assinalou o bombom menor.

—Está-te levando a pior parte.

Ela não pensava igual.

—Possivelmente queira que você também tenha uma boa lembrança.

Caine aceitou a guloseima. As áridas planícies de seu rosto se encheram de luz.

—Por um futuro feliz. —Lhe disse, levantando o bombom como se fora um brinde.

Ela chocou a peça rota contra a dele.

—Por um futuro feliz.

Agarrou-lhe a mão e se aproximou lentamente. Seus lábios roçaram os dedos de Desi ao tempo que provava o chocolate.

—Para selar o trato.

—Isso era meu. —Desi se umedeceu os lábios ao sentir uma comichão que lhe corria pelo braço.

 

—Me deu isso ? —Não. Isso era meu. —Tocou os bordes mordiscados—. Leva minha marca por toda parte.

—Mas segue sendo meu. Ele sacudiu a cabeça e sorriu.

—Equivoca-te de novo. Tocou-lhe a comissura do lábio.

—O que é meu, é meu para sempre.

Colocou um dos bombons frente aos lábios. Aquilo era uma ameaça ou não?

Como Desi não abria a boca, Caine começou a deslizar o bombom sobre seus lábios, pintando-se os de cacau. O sabor de sua pele se mesclou com o doce da guloseima.

—Para selar o trato. —Lhe disse, olhando-a fixamente.

Seus olhos verdes se tornaram negros à luz do fogo.

Desi deu uma dentada no chocolate e deixou que aquele rico sabor se derretesse em sua boca antes de tragar.

Sem deixar de sorrir, recostou-se contra a rocha e jogou outro ramo no fogo.

—Não sou um selvagem, Desi. O que podia responder ela?

—Obrigado. —Por muito ridícula que soasse, essa foi sua resposta final.

—Não tenho intenção de ser um marido teimoso.

Desi permaneceu em silêncio. O sorriso que se desenhava nos lábios de Caine deveria lhe haver advertido de algo, mas não o fez.

—Mas se serei um encanto na cama.

Sam e Tracker chegaram ao acampamento com o mesmo sigilo com que se foram. Duas sombras escuras e silenciosas...

Caine os saudou com um gesto e eles deixaram os alforjes do outro lado do fogo. A expressão de Tracker falava por si só. Algo tinha passado no povo.

—Algum problema?

—Nada do que não pudéssemos nos ocupar.

—Esse povo necessita de uma limpeza a fundo.

Ao outro lado da luz, Desi ficou tensa. Olhava Tracker e Sam com um pânico desproporcionado.

—E as coisas de Desi?

Tracker suspirou e tirou um pacote envolto em papel marrom. Então foi para a jovem.

—Sinto muito, senhorita. Os muito bastardos se levaram suas coisas antes que pudesse as recolher, mas lhe comprei algumas costure na loja.

Desi tomou o pacote comas mãos tremendo.

—Obrigado.

Tracker reteve o pacote mais tempo do necessário, atraindo assim o olhar da jovem.

—De nada.

Sam fez um cigarro. Tampouco lhe tirava olho.

—Pode lhe parecer incrível vindo de onde vem, mas pode relaxar-se.

—Passou algo no povo? —perguntou Caine, que já suspeitava algo.

Tracker sacudiu a cabeça e deu um passo atrás.

 

—Ocupamo-nos disso.

Caine olhou ao Sam.

—Do que lhes ocuparam?

—Pelo que terei que ocupar-se. —Jogou o cigarro recém feito no fogo.

Não era próprio de Sam esbanjar um cigarro. Caine olhou Desi, mas sua atitude lhe resultou tão pouco reveladora como a de seus companheiros. A moça apertava o pacote contra o peito, encurvada sobre ele.

—Possivelmente deveria ter sido eu quem recolhesse as coisas de minha esposa.

Tracker olhou Desi.

—Acredito que as coisas saíram como tinham que sair. —Disse.

—O que é o que eles sabem que eu não sei? —Perguntou- Caine a Desi.

Ela se umedeceu o lábio inferior.

—Não tenho nem idéia.

Consciente de que era uma mentira, agarrou-lhe o queixo e lhe fez olhá-lo aos olhos.

—Agora prova com a verdade.

—Deixa-a em paz, Caine. Caine seguiu olhando-a fixamente.

—Isto é entre minha mulher e eu, Tracker.

—Há coisas que não é necessário dizer.

—Isso o dito eu. Sam ficou de pé.

—Não. Não é assim.

Caine ficou erguido e soltou Desi.

—E quem me vai impedir isso. Sam deu um passo adiante.

—Se não poder deixar de ser um imbecil durante um momento e respeitar a sua esposa, eu te farei respeitá-la.

—Isso terá que vê-lo.

Um suave som lhe fez baixar a vista. Desi estava apoiada na rocha e seus olhos azuis estavam cravados nele e em Sam.

Entretanto, não parecia vê-los. Havia algo de outro mundo em seu olhar, algo que recordava aos homens enlouquecidos no campo de batalha. Amassava um pacote como se o fosse sua vida.

Caine se separou de Sam e este olhou a jovem.

—Deixa-o, Caine. Ao menos por agora.

—Já teve bastante. —Acrescentou Tracker.

Caine se ajoelhou diante de Desi.

—Me digam algo. Quando chegar o momento... Deixará-me algum?

—Mais que isso? —Perguntou Sam—. Deixaremos-lhe três.

—Bem. —Disse Caine, desejando ter oportunidade de dar rédea solta à raiva que o consumia—. Desi?

Ela nem sequer o Miro. Roçou-lhe os dedos da mão com os seus, fazendo ranger o pacote de papel.

—Céu não te terminou o chocolate?

Houve outra larga pausa. Desi piscou e se olhou a mão.

—OH, não.

Tanto suas mãos como o pacote estavam manchados.

—Lhe deveria comer isso antes de que manche a roupa nova.

Desi levantou as pálpebras e Caine pôde ver toda a dor que se escondia em suas pupilas da cor do mar.

—Ia guardar o.—Conseguirei-te mais.

Ela abriu a mão e olhou o chocolate derretido. Agarrou-lhe punho e lhe deu um beijo na palma da mão, manchando-os lábios de chocolate.

—Ainda está bom? —Perguntando, chupando-os lábios.

Caine lhe aproximou a mão aos lábios.

—Come enquanto preparo o jantar.

Ela olhou a carne-seca. Não era difícil adivinhar o que estava pensando.

—OH, podemos fazer algo muito melhor. —Disse Sam antes de desaparecer por um momento e voltar com duas enormes caçarolas de lata.

—O ama de chaves do pai mandaram um guisado de porco com omeletes e... —levantou uma cesta quadrada—. Bolos de bodas.

—OH! —Disse Desi.

—María disse que devia ter um banquete nupcial.

Caine agarrou a cesta que continha os bolos e a pôs ao lado de Desi.

—María cozinha como os anjos.

—Aprendeu tudo com você.

—Você? —Perguntou Desi.

— Cuidou de nós no massacre.

—Massacre?

—Todos viviam na mesma cidade. Nossas famílias foram assassinadas nessa matança e nos unimos.

—Estivemos a ponto de morrer de fome. —Disse Tracker, enquanto tirava uma cafeteira metálica.

— Melhor que fizemos foi tentar roubar essas omeletes deliciosas de Ti.

Caine se esfregou a nuca ao recordar aqueles momentos.

—Essa mulher colocou a todos em cintura.

—Assim é. —Disse Sam ao tempo que tirava uns pacotes de comida—. Fez-nos pôr em fila contra a parede e nos jogou um bate-papo de uma hora enquanto preparava a comida. Podia citar a Bíblia e soltar ameaças contra nossos encantos masculinos um momento depois.

—Aquela foi a hora mais larga de toda minha vida. —Disse Caine, recordando a fome que os tinha levado a roubar.

Aquela comida lhe tinha sabido a glorifica depois de trabalhar durante uma hora para ganhar um lugar na mesa.

—Ainda vive com vós? —Perguntou Desi.

—claro que sim.

—Leva os Oito do Inferno com punho de aço. —Sam desentupiu outra lata. O rico aroma de carne guisada alagou o ar.—É nossa família.

—Sim.

Desi pôs uma expressão defensiva.

Caine lhe tirou o pacote das mãos e o deixou de lado.

—Gostará Desi.

Depois tirou um prato e uma colher de lata do alforje.

Tracker lhe serve um pouco de guizado com uma omelete e Sam acrescentou um pouco. Caine olhou para Desi, escondida dentro do casaco. —Ponha mais um pouco.

Sam seguiu o olhar de Caine.

—Sim. Não lhe fará mal engordar um pouco.

Caine esperava que a jovem não o tivesse ouvido, mas lhe bastou um olhar para saber que não tinha sido assim. Esses olhos azuis jogavam faíscas.

Caine suspirou e lhe deu o prato.

—Não o falava sério. Só estava preocupado.

—Não passa nada. —Disse ela.

Notou o tremor de suas mãos ao soltá-la e ela demorou em agarrar a colher.

—María disse que não está muito picante, senhorita. —Disse Sam.

Embora só a tinha visto uma vez, Desi lhe estava muito agradecida.

Aquela mulher alegre, felizmente casada com o ferreiro do povo, recordava-lhe tudo o que tinha perdido.

María só lhe tinha levado a comida em uma ocasião. James se tinha encarregado de lhe impedir o passo ao ver que combinava com sua protegida.

—Pode dizer-lhe você mesma. —Disse Caine—. Vem os Oito do Inferno uma vez ao mês para te ver.

Aquilo significava que não encontraria paz na casa de Caine.

Desi apertou a colher. Tinha perdido o apetite.

Nenhuma mulher gostaria que um homem de sua família se casasse com uma rameira. Se Ti era tão piedosa como eles diziam, faria-a pagar por seus pecados contra a decência todos os dias, e Caine lhe faria fatura pelas noites. O futuro não pintava bem.

—Obrigado, farei-o. —Disse, tratando de parecer tranqüilo.

Miro além da luz, para a profundidade da noite. Aquele negrume também estava dentro dela.

Desi só queria ser livre; livre dos desejos dos homens, do desprezo da sociedade...

—Desi? —O que?

Ele pôs a mão debaixo do prato e a convidou a comer. Ela levantou o prato e se encontrou com uns olhos verdes que inspiravam toda a confiança do mundo.

—Prometo-te que nada será tão mau como imagina.

 

Não era tão mau. Era pior. Desi olhou as mantas que se estendiam ao outro lado do fogo, diante de todos outros. Aquela era sua noite de bodas. Tinha ido ficar a roupa nova e se encontrou com isso.

A alegria que sentia de poder encher o estômago se desvaneceu imediatamente. Olhou para o outro lado da fogueira. Caine estava falando com o Sam e Tracker.

 

Quinze metros de distância lhe davam toda a privacidade que necessitava.

Os homens dos Oito do Inferno faziam tudo juntos. Dizia à lenda que os fantasmas dos guerreiros voltavam procurando vingança. E outros diziam que tinham feito um pacto com o diabo e que assim tinham podido sobreviver quando os mexicanos tinham destruído seu povo. Ninguém dizia que se preocupassem com guardar ou respeitar as formas. E ela não era mais que uma rameira aos olhos de todos, por muito que não se comportasse como tal.

Com gesto distraído, agarrou a metade mais próxima das mantas e as moveu para a esquerda. As teria separado se não tivesse visto uma sombra que ocultava o fogo.

Umas botas pisaram no outro extremo das mantas.

Desi não precisava levantar a vista para saber a quem pertenciam.

—Se preocupa sair ardendo?

—Não.

Deu-lhe um puxão nas mantas e as liberou de seu pé com muita facilidade; tanto que caiu de costas e aterrissou sobre o traseiro. Também conseguiu mover as mantas um metro mais.

—O calor do fogo não vai chegar até aqui. —Disse aquela larga sombra que se estendia sobre ela.

Caine lhe ofereceu a mão e ela aceitou.

—Não me importa.

Sem soltá-la, agachou-se junto a ela e agarrou as mantas.

—A mim sim.

Ela tirou as mãos e a enrolou no braço para alisar as rugas.

—Então pode ficar ali. Não me importa. —Acrescentou sem olhá-lo à cara.

Ele voltou a lhe agarrar a mão e lhe acariciou o dorso com o polegar.

—Devo ter vontades de levar a contrária esta noite, porque a mim sim me importa.

Desi não pôde conter a raiva nem um momento mais.

—Por quê? Porque perderá a oportunidade de ensinar a seus amigos como fornica?

Caine continuou lhe acariciando a mão.

—E eu que pensava que não poderia olhar vendo minha esposa tremer de frio entre as mantas.

Ela retirou a mão de um puxão e voltou junto às mantas. Então as jogou sobre a cadeira de montar.

—Me faça um favor? Aproximou-se por detrás.

—O que?

—Não faça que pareça bonito.

—Bonito? Do que está falando?

Desi olhou para o fogo. Tracker e Sam contemplavam as chamas e fingiam não saber o que estava ocorrendo. Ela baixou a voz.

—O que vai acontecer aqui esta noite.

Os olhos de Caine estavam ocultos sob a asa do chapéu, mas seus lábios esboçaram uma careta.

—Acaso tem algo contra dormir?

Ela se voltou, furiosa.

—Basta. Deixa de fingir. Se só pensasse em dormir, não estaríamos aqui e...

 

—Recolheu o montão de mantas. — Não compartilharíamos a cama.

O fogo repicou. Desi se sobressaltou e deu meia volta. Quando se voltou de novo, Caine estava aí, tão perto que o poncho que levava lhe roçava o seu casaco. Não parecia molesto.

Então levantou o braço e ela se encolheu, esperando o golpe. Seus dedos roçaram o queixo da jovem e se deslizaram por sua mandíbula. Tocou-lhe a comissura do lábio com o polegar.

—As mantas estão aí porque pensamos que se sentiria um pouco incômoda sem intimidade, e estão juntas porque faz muito frio e já tremeste bastante por hoje. E também porque é minha esposa e minha esposa dorme comigo.

—por quê?

—Porque é meu dever te proteger.

Ela retrocedeu.

—Não necessito seu amparo.

—Que pena, pois a tem de todos os modos. —Assinalou à direita—. Tem algo que fazer antes de te deitar?

Desi se ruborizou.

—Não.

—Bem. —Se agachou e estendeu as mantas—. Porque eu estou morto.

—Não tem que fazer a guarda?

—É minha noite de bodas. Tracker e Sam vão fazer guarda como presente de bodas.

Justo o que necessitava. Desi fulminou aos outros dois homens com o olhar.

—E qual é meu presente?

Caine esboçou meio sorriso e lhe apartou uma mecha de cabelo do rosto.

—Eu. —Então saí perdendo.

Por incrível que fora, ele se pôs a rir.

—Suponho que agora o vê dessa maneira.

Sentou-se sobre as mantas e deslizou a mão por seu pescoço, ombro, braço... Agarrou-lhe o punho e atirou para baixo.

—Mas as coisas trocarão.

Desi caiu a seu lado.

Ele se recostou contra a cadeira, sem lhe soltar o punho.

—Te deite. Será de dia antes que imagina. Ouviu-se o canto de um mocho ao longe.

—Não tenho travesseiro.

Ele se tocou o ombro.

—Aqui tem seu travesseiro.

Desi se mordeu o lábio.

A brisa noturna agitou as árvores e um calafrio lhe percorreu as vísceras. O sorriso do Caine se tornou séria.

Atraiu-a para si e lhe fez lhe rodear o pescoço com o braço, sem lhe dar opção a escorrer.

 

—Se não te colocar entre as mantas, vais terminar congelada como um arroio no inverno. Ele a soltou quando ela se recostou a seu lado, com a bochecha sobre a palma da mão, que por sua vez repousava sobre seu ombro quente.

—Dormir assim me vai romper o pescoço.

Caine lhe agarrou o braço contrário e atirou dela. O ombro do Desi ficou sob o braço dele, assim que ela não teve mais remedeio que retirar a mão. Seus dedos se enredaram no poncho do Caine. Por muito que atirasse estava apanhada sob seu próprio peso, com um cotovelo contra o chão e a cabeça inclinada. Aquele enorme casaco se enrugava contra seu rosto.

Depois de uma gargalhada viril, Caine lhe deu vários puxões. O casaco se abriu pouco a pouco.

Ela franziu o cenho.

—Isto não melhorou muito.

Abriu-se outro botão e a abertura se fez maior lhe permitindo ver à expressão de Caine.

Estava sorrindo.

—Já o vejo.

Ao seguinte puxão, Desi gritou. Tinha os botões enredados no cabelo.

—Agora sei que este casaco é para homens.

Desi se retorceu, tratando de alcançar o cabelo, mas ele se adiantou.

—Isto seria mais fácil se deixasse me ajudar. —Lhe disse Caine.

—Estou tratando de não ficar calva. —Outro puxão; outra pontada de dor.

—Não se preocupe por isso. —Vais tomar cuidado?

Caine começou a sacudir a cabeça antes de ouvir o final da frase. Seu sorriso se voltou em uma careta zombadora.

—Não. —Por fim lhe soltou o cabelo—. Acredito que não há nenhum perigo. Tem suficiente cabelo para mais de duas mulheres.

Desi lhe cravou o cotovelo no flanco, mas conseguiu tirar a mão. Tinha que comprovar que ficava cabelo nesse lado. Esfregou-se a zona irritada.

—Bom, pesso que não tenha que preocupar-se por muito mais tempo , tratando de desenredar o cabelo com os dedos.

de repente se topou com um nó impossível de desfazer e lhe deu um puxão que a fez encolher-se de dor.

—Acredito que vou ter que me barbear a cabeça para desfazer os nós.

Caine lhe apartou as mãos da cabeça.

—Isso não passará.

—Vais proibir-me que me corte o cabelo?

Ele deslizou a mão por seu cabelo, alisando os nós pelo caminho. Então a olhou aos olhos.

—É claro que sim.

—Odeio-te. —Disse Desi, furiosa.

—Não me conhece o bastante para me odiar.

—me acredite. Tive tempo suficiente para me ter uma idéia.

Um sorriso enrugou a comissura de seus olhos.

—Então terei que te fazer trocar de opinião.

Desi se deu conta de que o tinha tomado como um desafio.

—Por que não é mais previsível?

Caine levantou um pouco e a fez apertar-se contra ele.

—Se me conhecesse melhor, saberia que estou sendo previsível.

Ela tratou de escorrer-se, mas ele a agarrou pela cintura com o braço que suportava o peso dela. Pôs a outra mão sobre seu quadril e a colocou por dentro do casaco, detendo-se o chegar à coxa.

Desi sentiu uma quebra de onda de pânico. Quão único a separava dele eram os compridos dobras de sua nova saia.

—Te levante um momento.

—Estou bem. —Não o está.

Desi jogou a cabeça para trás e fez provisão de toda a dignidade que ficava.

—Não vou enroscar-me ao redor de suas pernas. Não é correto.

—Ouça, se não querermos nos congelar esta noite, teremos que nos aproximar mais do que dita à decência.

—Arriscarei-me a morrer congelada.

—Bom, eu não. Antes que pudesse replicar, Caine lhe fez flexionar os joelhos. Ela começou a lhe dar tapas, mas ele conseguiu tirar a saia de debaixo de suas pernas.

Seus movimentos eram destros e certeiros.

Levantou-a uma vez mais e a fez tombar-se sobre ele. A coxa de Desi caiu sobre a dele, e seus peitos se esmagaram contra um torso de aço. Antes que pudesse apartar-se, Caine lhe agarrou a saia e a estendeu sobre suas próprias coxas, apanhando o tecido sob as pernas. Assim conseguiu atá-la a ele.

Caine recebeu as chispadas de seu olhar com um sorriso.

—Muito hábil né?

—Eu o chamaria de outra forma. Aproveitar-te de sua força. Desi atirou da saia, mas foi inútil.

Caine se encolheu de ombros.

—Tudo vale com tal de conseguir meu objetivo. —Com a mão livre jogou o chapéu para diante.

—Agarra as mantas.

Ela quis desobedecer à ordem, mas pensou melhor. As folhas secas romperam em um murmúrio ao passar do vento.

Ia ser uma noite fria, e por mais arrogante que fora, Caine podia lhe dar calor.

Desi se inclinou para as mantas, esquecendo as feridas. Seus músculos rígidos e umas costelas ressentidas não demoraram a protestar.

—Vá. Tinha-me esquecido. —Caine lhe tirou as mantas da mão e lhe acariciou as costas—. Você te ponha cômoda e eu me ocupo de nos agasalhar.

Por muito suave que fora, aquilo seguia sendo uma ordem e ele esperava obediência. Saber que não podia fazer nada corroia as vísceras da jovem. Lhe tampou o ombro com a manta.

—E o que te tem feito te pôr tão tensa?

—Nada.

 

O suspiro do Caine lhe agitou o cabelo.

—Acaso segue pensando que sou um selvagem na cama?

—Não quero falar disso. Levantou-lhe o antebraço.

—Acredito que nenhum de nós vamos poder dormir sem falar disso.

Uma gargalhada reprimida a fez olhar do outro lado do fogo.

—Cala.

—Calo-me se falas.

—Bem. O que quer saber?

—Quero saber do que tem medo.

Desi se estremeceu ao afogar-se em uma onda de lembranças.

—Eu não gosto de estar com um homem.

—Porque vai contra suas crenças. Ou é pelo que lhe ensinaram?

—Estamos casados. Não pode ir contra minhas crenças.

—Resulta que muitas mulheres acreditam que é pecado desfrutar com seu marido.

—Entende?.

Caine lhe agarrou o queixo.

—Entendo que tema a um homem que te tem feito mal, mas eu nunca te tenho feito mal.

Caine lhe roçou os lábios com o polegar.

—E esse é o problema. Não é assim, Desi? Não tem nem idéia de quem sou, e tampouco sabe o que esperar de mim, assim que sua mente passa uma horrível possibilidade a seguinte.

—É um homem.

—E você é uma mulher. Isso nos faz mais compatíveis do que você pensa.

—Possivelmente necessite um pouco de tempo.

—O tempo é algo estranho. Acredita que sou seu amigo, mas quando se trata do medo, é seu pior inimigo. Esperas que os medos se curem com o tempo, mas em lugar de fazê-los desaparecer, o tempo os faz maiores irreais.

—Pode ser que tenha razão.

—Eu sei o que é ter medo, Desi.

—Sim? —escapou dos lábios dela.

—Nem sempre fui o que vê, e houve um tempo em que sabia tão pouco de lutar que poderia me haver convexo com uma só mão.

—Não posso imaginar o Então terá que acreditar o que te digo. E também terá que aceitar que vou seguir adiante.

Desi atirou da saia e se tombou de costas. Então se levantou o vestido e estendeu as pernas.

—Então acabemos de uma vez.

Caine se inclinou sobre ela, deixando-a sem fôlego. Um ligeiro tremor lhe percorreu as vísceras.

—Isso é o que queria Desi? Que te tombasse no chão como uma boneca para jogar contigo?

—sussurrou-lhe.

—Não importa.

Houve uma larga pausa.

Algo lhe tocou a bochecha e Desi gritou.

—Para que saiba Desi, não acredito que o laço entre marido e mulher seja sagrado.

A fria voz do Sam chegou até eles do outro lado da fogueira.

Desi tirou a mão da manta e agarrou o pulso de Caine.

—Por favor.

—Fecha o pico, Sam. —Disse Caine, em um tom cortante.

—A senhorita deve saber que tem distintas opções.

—Por favor, farei o que me peça. —Sussurrou Caine, olhando para aquela sombra que espreitava do outro lado do fogo—. Não o chame. Não me faça...

—Maldita seja. Desi se aferrou com todas suas forças.

—Por favor... Caine lhe tampou a boca com a mão.

—Minha esposa não tem que rogar. Entende?

Ela assentiu lentamente e lhe tirou a mão da boca.

—Sam, se não te explicar nos próximos dois segundos, vou até ali e te darei uma patada no traseiro.

—Só dizia que a senhorita não tem por que sofrer pensando que não há ninguém para defendê-la se for preciso.

—Sam te ofereceu seu amparo. Entendeu?

—Deixaria-me ir?

—Claro que não, mas é livre de aceitar a oferta.

—Enfrentaria a seu amigo?

—Então o que vai ser?

—Não quero seu amparo. —Sussurrou, pensando que um homem possessivo nunca a compartilharia.

—Bem. —Disse ele, relaxando os músculos.

—Já decidiu? —Perguntou Sam.

—Sim. Decidi que sou o mais atrativo dos dois.

—Maldita seja. Além de uns quilogramas, essa mulher necessita uns óculos.

Sam não parecia falar a sério, nem tampouco soava decepcionado.

—Estava de brincadeira? —perguntou Desi ao Caine.

—Não.

—Não te entendo.

—Seria-te mais fácil se deixasse de me comparar com o pior.

Desi lhe soltou o punho. Uma onda de cansaço caiu sobre ela.

—Não posso evitá-lo. Não tenho outra coisa com a que te comparar.

«Não tenho outra coisa com que te comparar...».

Caine nunca havia sentido tanta desilusão por um punhado de palavras.

Deslizou a mão por debaixo de sua cabeça e apoiou a frente contra a dela. Seus cabelos eram como uma suave almofada que lhe acariciava a palma da mão. Era muito mais formosa quando ficava quieta. Essa falta de paixão só o fazia desejar encontrar a forma de lhe devolver a energia.

—Acredito que já tenha dito que isso é teu problema.

Um ramo rangeu na fogueira e Desi deu um salto. Ele a atraiu para si e lhe roçou a bochecha com os lábios.

—Tranqüila.

Desi permaneceu quieta, como se esperasse um golpe de graça. Ele deslizou as mãos entre eles e lhe agarrou a saia enrugada. Um lamento escapou dos lábios de Desi. Caine lhe alisou a saia.

—Não passa nada. Ninguém vai fazer nenhum dano —lhe deu um beijo na comissura dos lábios.

Desi não pôde agüentar mais e levantou os joelhos.

—Isto eu não gosto. —Sei. —Disse Caine ao tempo que entrelaçava seus dedos com os dela.

— Deus. Ela estava geada.

—O que?

—Acredito que não estou cuidando bem de ti.

Abriu-lhe o casaco por completo e colocou as mãos por dentro. Sua pele estava tão fria como um campo de gelo.

—Espera um momento. Tirou-se a faca da bota. O fio brilhou na escuridão e Desi o olhou horrorizada.

—Vou arrumar isto em seguida.  Rasgou o poncho por diante.

—O que está fazendo?

Deu-lhe a volta ao poncho e guardou a faca.

—Vou fazer-te um ninho. —Estendeu a mão—. Ponha-Te de joelhos.

Desi enrugou o sobrecenho, mas fez o que lhe pedia. Caine teve que agarrá-la pela cintura para que não caísse.

Levantou o poncho e o deixou cair sobre a cabeça da jovem. Com um leve puxão ela pôde aparecer pela abertura e Caine a ajudou a tirar o cabelo par fora.

Ele olhou por cima do ombro e a fez mover-se um pouco à esquerda.

—Espera um momento. —Lhe disse e, agarrando-a pelas costas, inclinou-se para trás.

Então girou sobre si mesmo e terminou de barriga para cima com Desi em cima. A cabeça dela descansava justo em cima de sua omoplata; suas pernas, enredadas.

—Melhor? —perguntou-lhe.

Ela sacudiu a cabeça. —Não.

Ele franziu o cenho.

—Dói-te algo?

—Não, mas eu gostava mais antes.

—Tinha frio.

 

Desi levantou os quadris e ele tirou o casaco de debaixo dela. Um dos botões lhe arranhou a perna e ela fez uma careta.

—Sinto muito.

—O que está fazendo?

—Quero que esteja acomodada.

—Quer que durma assim?

—Tem um plano melhor?

—O chão não estava mau.

—Amanhã seria um pedaço de gelo.

—Você está sobre o chão.

—Mas eu sou maior e tenho mais músculos para absorver o frio. Você é muito pouca costura.

—Por que não me deixa de uma vez?

—Porque tem medo de mim, o qual é uma tolice. Cortaria-me o braço antes que te fazer danos.

—Então vai A...

—Quero que esteja o bastante perto de mim para ver que não te faço mal.

—Os outros...

—Não se inteiram de nada, o qual significa que não saberão o que ocorre aqui a menos que arme uma boa confusão.

Desi escondeu o rosto contra seu peito e ele pôs as mãos contra os quadris da jovem. Então atirou dela, lhe abrindo as pernas. Ela podia sentir sua potência masculina contra a pélvis.    

—Não quero isto. —Disse, tornando-se a um lado para aliviar a tensão.

—Mas eu sim, e se não ouvi mal você prometeu me amar, me honrar e me obedecer.

—Não tinha eleição.

—Eu tampouco, mas não me jogo atrás.

—Isso é porque joga com vantagem.

—Que vantagem?

—Consegue a uma mulher que pode ter quando quiser; uma mulher em que pode descarregar sua raiva; uma mulher a que pode ter como uma pulseira. E tudo é perfeitamente legal.

—É assim como o vê?

Os dedos do Caine se aproximavam perigosamente à montanha de seu traseiro.

—Sim. —Desi meneou os quadris para fazê-lo desistir.

—Mm —Lhe sussurrou ele—. Eu gosto.

Desi não queria vê-lo desfrutar, mas esse último ano tinha aprendido uma lição inesquecível: não havia nada que uma mulher pudesse fazer para impedir o prazer de um homem. Fizesse o que fizesse, eles o encontrariam divertido.

Desi fechou os punhos sobre seu peito.

Voltou a sentir essas estranhas cócegas sobre os quadris. Estremeceu-se.

—Tem frio? —Não.

—Bem.

Deslizou as Palmas das mãos pelas nádegas do Desi até chegar a borda de suas anáguas. A jovem conteve o fôlego. Possivelmente não...

Mas o fez. Colocou os dedos por dentro daquele tecido delicado e lhe acariciou o pêlo púbico, explorando sua silhueta. Ela tratou de escorrer-se, mas uma mão forte a agarrou pela cintura.

—Tranqüila?Ela sacudiu a cabeça.

—É isto o que teme? —disse-lhe enquanto a tocava.

—Sim. —Por quê?

Porque fazia danos. Mas tudo era distinto essa vez. Aquelas carícias eram como a revoada de uma mariposa.

—Sente-se incômoda? —Perguntou-lhe enquanto deslizava o dedo médio ao longo de seus lábios mais íntimos.

—Sim.  Com um movimento sutil separou as pétalas que guardavam sua feminilidade.

—Não deveria. Sou seu marido. Que nos amemos não é nenhum delito.

—Não é um pecado agora... —Não.

—Mas ainda vai contra minha vontade.

Ele colocou o dedo mais dentro.

—É assim?

Houve um comprido silencio. —Sim.

—Os homens e suas algemas fazem o amor. Isso sabia quando nos casamos.

—Sim.—E ainda assim te casou comigo.

—Sim.

—Então me está dizendo que não tinha intenção de cumprir as promessas que fez?

—E você sim?

—Eu não faço promessas à ligeira.

—O pai Gerard me obrigou a me casar contigo.

—Ele me ofereceu uma forma de saldar uma dívida, mas não me obrigou a fazer a promessa.

—E então por que te casou comigo?

—Eu gostei do que vi.

—Sou qualquer uma.

Ele tirou a mão rapidamente e lhe atirou do cabelo.

—É minha esposa. Desi lhe cravou as unhas no peito.

—Isso não troca o que sou.

—Mas sim troca o que pode chegar a ser.

—Não posso te prometer uma vida fácil, Desi, e não posso dizer que sou um homem fácil, mas sim te posso prometer uma coisa. Eu cuidarei de ti, protegerei-te e honrarei como esposa e mãe de meus filhos.

—por quê?

—Porque faz muito tempo prometi não machucar inocentes.

—E você acredita que eu o sou?

—Às vezes uma pessoa não pode impedir as coisas que lhe ocorrem.

 

Quão único podem fazer é tirar algo do que fica.

Desi se mordeu o lábio com força.

—Isso sonha muito bem, mas...

—Mas o que? —O que quer em troca?

—Quero sua confiança e obediência quando for necessário. E também quero que me dê uma oportunidade.

—Uma oportunidade para que?

—Uma oportunidade para te demonstrar que não sou aquilo ao que está acostumada.

Seus dedos seguiam acariciando e roçando a flor de seu desejo.

Desi sentiu um calafrio pelas costas e respirou fundo. Estava a ponto de saltar ao vazio.

—Sim. —lhe disse.

— O que?

—Quero ser sua esposa.

—E me dará sua confiança?

—Farei todo o possível.

Soltou-lhe o cabelo e ela apoiou a bochecha sobre seu peito.

— Sério? —Perguntou-lhe ele.

Ela se umedeceu os lábios antes de responder.

—Sim.

—Suponho que um homem não pode pedir mais. —Disse e deslizou a mão pela suave pele de sua panturrilha.

Ela se encolheu.

—Tranqüiliza se cigana.

—Por que me chama assim?

—Porque é selvagem e doce, e apesar do que lhe fizeram esses desalmados, segue sendo fera e orgulhosa.

—OH.—Isso é tudo o que vais dizer?

—Acredito que sim.

Caine soltou uma gargalhada.

—O que quer que faça?

—Trata de te relaxar e me deixe te descobrir.

—me descobrir? —sua pergunta terminou em um suspiro.

Caine afundou um dedo em seu úmido e quente interior.

—Sim.

Ela ficou sem fôlego.

—É uma mulher muito pequena, Desi.

—Algum problema?

—Não, mas é bom sabê-lo.

Ele seguia sussurrando na intimidade da noite, mas Desi não podia esquecer aos homens que estavam ao outro lado do fogo.

 

Caine deslizou os dedos pela abertura de seu sexo até chegar à cúpula de sua feminilidade.

Ela mordeu o lábio e apartou a vista. 

—Desi? —Seus dedos apalpavam e roçavam, em busca de algo.

—O que?

—Não se preocupe com eles.

—Sabem. —Não vêem nem ouvem nada, e se estão imaginando algo, tenho muita sorte de te haver visto antes.

Ela fez todo o possível por ignorar aquele roce íntimo.

—Faça que pareça um prêmio.

—Se não for capaz de ver que o é, tem uma visão muito distorcida das coisas.

De repente estirou o dedo médio e tocou um ponto que a fez estremecer-se por dentro. Ele ficou quieto.

—Há-o sentido?

Voltou a fazê-lo e a sensação foi mais forte. Desi se ruborizou.

—Assim que esse é seu ponto débil.

Caine começou a fazer círculos sobre a zona. Relâmpagos de sensações a faziam tremer contra sua vontade, antecipando algo mais.

—Agora te relaxe e me sinta disse ele.

Mas ela não queria, assim apartou os quadris.

—Tenho as mãos muito ásperas. —Lhe disse ao ouvido.

—Não me está fazendo mal.

—Mas tampouco te estou dando prazer.

—Minha mãe diz que as relações sexuais estão para dar prazer ao homem.

—Assim é? —Caine começou a roçar seu ponto mais sensível e úmido.

—Te tornaria louca se pusesse a língua justo aí.

—Isso eu não gosto.

Caine se deteve e lhe deu tapinhas nas costas com a outra mão.

—Não acredito que pudesse esquecê-lo, mas eu gostaria que chegasse a entender que cada homem ama a sua maneira.

—Sei.

—Eu acredito que não. —Lhe atirou do cabelo—. Por muito assustada que esteja, recorda uma coisa: em minha cama só gritará de prazer. —Outro puxão lhe fez olhá-lo à cara—.Seu prazer.

—Obrigado. —Vejo dúvida em sua voz.

—Sinto muito.

—Não tem por que. Eu gosto dos desafios.

Caine voltou a acariciá-la na zona mais íntima. Com cada rechaço de Desi, seu tato se fazia mais delicado. Pouco a pouco, a jovem começou a sentir um inchaço que não podia controlar.

—OH, sim. Essa é minha garota. —Tirou a mão de entre suas pernas—. Não. Não as fechem.

Desi ficou quieta, escarranchado sobre seu peito.

Caine entreabriu os lábios e se levou o dedo à boca para provar seu sabor.

Desi piscou, perplexa.

—Não acabará de fazer... —Desi não terminou a frase e deixou cair à cabeça sobre seu peito.

—É claro que sim que sim. —Lhe disse e voltou a colocar a mão por debaixo das mantas.

— Nunca provei algo tão doce como você.

—É que não tem vergonha?

—Não muita.

—Os homens não fazem essas coisas.

—E quem demônios te falou isso?

—Todo mundo sabe.

Ele deslizou o polegar pela curva de seu traseiro até chegar à abertura de seu sexo.

—Então você e outros terão que trocar de idéia porque depois de te haver provado ninguém poderá me apartar de entre suas pernas.

—OH, Deus.

Caine seguiu acariciando-a justo aí e Desi sentiu algo até então desconhecido, algo que lhe endureceu os mamilos e lhe roubou o fôlego.

As folhas secas rangeram sob um par de botas. Acaso podiam ouvi-los os outros?

Caine abriu a mão sobre suas costas e a sujeitou com firmeza.

—Não há nada de que preocupar-se, Desi.

—Não estou preocupada.

Seus dedos deixaram de acariciá-la, mas aquela sensação seguiu pulsando no profundo de seu ser.

—Isso não vai tolerar o...

—O que?

—Está-me mentindo.

—Eu não estava...

—Não termine essa frase. Por seu próprio bem.

A ameaça extinguiu a chama.

—Ah, demônios.

Caine pôs todos os dedos sobre seu sexo úmido, pressionando seu botão do prazer.

—Danifiquei-o, verdade?

—Não havia nada que arruinar.

—Está de brincadeira.

—Acredito que esqueci como fazer brincadeiras.

Houve uma pausa e então a tensão deixou seus músculos de ferro.

—Isso não pode ser. Meu pai sempre dizia que as mulheres estavam feitas para a farra e o prazer.

Desi olhou estupefata.

—Seu pai dizia isso?

—Sim, e pelo visto falava sério porque nunca o vi sorrir como quando minha mãe estava feliz.

Desi nunca tinha vivido nada parecido. Em sua família, os homens e as mulheres viviam em mundos distintos e só se reuniam para as comidas, ou para um passeio ocasional.

—Essas lembranças devem ser muito bonitas.

—Assim é. —Os sente falta ?

—Sim. —Pôs a mão sobre seu traseiro—. Tem frio?

—Não.—Bem.

Caine rodou sobre si mesmo e ficou sobre ela.

Desi se preparou para o impacto. As pernas dele ficaram entre as suas e primeiro que sentiu foi a pressão que exercia seu membro descomunal.

Caine descendeu sobre ela. O roce de seus lábios a fez gemer.

—O que acontece cigana?

Desi sacudiu a cabeça e apertou as pálpebras, tratando de afugentar o pânico. O peso dele; a pressão de suas partes masculinas... Era muito.

Ele pôs as mãos sobre suas bochechas.

—Respira Desi.

Não podia. Por muito que o tentasse, não conseguia inalar o ar que tanto necessitava.

—Tracker! —Já vou.

Ela negou com a cabeça. Não queria que a vissem assim.

O ranger dos mocasins sobre a erva era ensurdecedor. Caine se separou dela.

—O que ocorre?

—Não pode respirar.

—O que o provocou? —ouviu dizer Tracker desde muito longe.

—Eu.

—Supunha-me isso. Mas como?

—Não lhe fiz mal.

Duas mãos lhe levantaram os braços e lhe apalparam os músculos flácidos. Outras dois a sujeitavam.

—Está seguro?

Caine o estava. Levantou o Desi enquanto lutava por respirar e viu a palidez de seu rosto. Tinha os olhos fechados e as mãos contra o peito. Estava tão aterrorizada que não podia respirar.

—Não é físico.

—Então tem medo.

—Há algo que possa fazer? —perguntou-lhe Caine.

Caine recostou Desi contra sua coxa. A jovem ofegava sem cessar, mas o ar não chegava aos pulmões.

Tracker se sentou sobre os talões.

—Pode. Cubra-lhe o nariz com as mãos.

—Mas se necessitar mais ar, não menos.

—Isso parece, mas eu vi um menino que tinha o mesmo e o curandeiro lhe tampou a cara com um saco.

—Não temos um saco.

—Talvez sirvam as mãos.

—Isso espera.

Caine fez o que Tracker dizia.

—Respira Desi. Relaxe-te e respira.

Ela ficou ainda mais tensa.

—Não passa nada, céu. Vais relaxar-te e a respirar, e então vamos dormir.

Olhou-o aos olhos.

—Juro. —acrescentou ele.

Desi arqueou o pescoço de forma tão violenta que os músculos lhe tremeram.

—Só dorme céu.

—Tracker? —disse, enquanto lhe apartava o cabelo do rosto da jovem.

Ao ver que sua respiração se estabilizava esboçou um sorriso.

—Agora respira melhor.

Desi tratou de voltar à cabeça e Caine sacudiu a sua.

—Fica aquieta e respira.

Ela o agarrou por braço.

—Não esbanje suas forças me dando ordens. Não vou tirar as mãos até que Tracker me diga isso.

Tracker se aproximou.

—Relaxe-se e deixe que Caine se ocupe senhora Allen. Os maridos estão para isso e eu sei que Caine vai mimar tudo o que possa. É teimoso como uma mula.

Desi se estremeceu nos braços do Caine e ele a envolveu na manta.

—Vê-o? Este homem nasceu para cuidar das mulheres. Queiram-no ou não.

Ela estava muito cansada para discutir.

—É a verdade, céu. Tracker tem razão.

Desi sacudiu a cabeça e respirou normalmente.

—Boa garota. —Disse Caine, aliviado.

Um momento depois Tracker lhe disse que retirasse as mãos.

Desi voltou a estremecer-se. Estava sentada no chão com o casaco aberto.

—Maldita seja, sou o marido mais torpe.

—Não passa nada.

Ele a sentou sobre seu regaço e se apoiou contra uma árvore. Os flácidos músculos da jovem falavam por si só.

—Um dia duro. Né?

A resposta de Desi não foi mais que um sussurro. Levantou-lhe o poncho por cima da cabeça e a atraiu para si.

—Temos que falar de seus medos, céu.

—Não há nada de que falar.

—Claro que sim. Para começar, posso te dizer que me vai custar te entender.

—Não posso evitá-lo.

—Terá que tentár. A próxima vez que ficar nervosa, recorda que gritar é bom. Lutar é bom. Afogar-se é a pior das opções.

—Tampouco eu gosto.

—Então estamos de acordo. Faz algo distinto quando começar a ter medo e eu aprenderei a lição.

—E o que me sugere?

—Já te feito algumas sugestões. Escolhe a que mais você goste e começa a praticar.

Ela sacudiu a cabeça com dissimulação.

—Não te entendo? —Disse, suspirando.

—Também temos que falar disso, mas por agora precisa dormir.

—Não poderia.

—Amanhã nos espera uma viagem de dez horas. Deveria descansar, ou não conseguirá.

—Conseguirei. —Bem.

Em menos de cinco minutos caiu rendida de sonho e terminou acurrucando a cabeça na palma de sua mão.

Não tinha do que preocupar-se. Não ia deixa La partir.

 

Desi não conseguiu. Levavam seis horas no caminho quando as planícies deram passo aos canhões rochosos. A jovem se desabou sobre a cadeira e Caine teve que agarrar as rédeas de seu cavalo.

Sam cavalgou até eles e olhou Desi como se o tivesse decepcionado.

—Tinha apostado uma peça de ouro que o conseguia.

—Com o Tracker?

—Sim.

—Não deveria apostar contra Tracker. Ele tem um sexto sentido.

Desi se inclinou para a esquerda quando o pony se deteve. Caine a agarrou pela cintura e a sentou em seu próprio cavalo.

Sam apagou o cigarro contra a sola da bota.

—Esperava que essa sua garra marcasse a diferença. —Disse.

—Ela tem de sobra, mas não está a pleno rendimento.

Sam atirou das rédeas de pony e o amarrou ao estribo de seu selim. Era impossível lhe ver a cara sob a asa do chapéu.

—Seguro que teve um ano muito difícil.

—Certo. —Caine lhe colocou as coxas a ambos os lados do pomo.

Ela emitiu um leve gemido, mas não despertou.

—Então me ides contar o que encontraram em sua habitação?

—Nada. Caine a cobriu com o poncho.

—Que nada?

—Isso. Nada. Não havia roupa, nem livros, nem bagatelas.

 

Só havia uma larga cadeia fina e uma cama.

Caine se imaginou a Desi encadeada na aquele beliche, esperando as visitas intermináveis que lhe tinham marcado a alma.

—Arrumado o que a cama era cômoda.

—Parecia macia.

Era de esperar. Aqueles bastardos não quereriam que um colchão duro lhes arruinasse a diversão. Sam jogou o chapéu para trás.

—O xerife deve pensar que sua situação tinha melhorado muito para ser a fulana dos comanches.

—Imagino que sim. Seguro que vem com outro conto quando os homens do Desi vão pedir lhe contas.

—Tem idéia de quando será isso?

—Dentro de duas semanas, quando ela esteja cômoda em casa. Não viria mal lhes fazer uma visita.

—Tracker e eu estaríamos encantados de te acompanhar.

—Isso não é necessário.

O frio olhar do Sam se posou nas pálidas bochechas do Desi, que nesse momento gemia em sonhos.

—Mas será muito divertido.

Caine se tornou para trás para lhe fazer sitio.

—Nesse caso, quando chegar o momento lhes agradecerei a companhia.

Um relâmpago passou pelo olhar do Sam.

—Sabe que é um filho de cadela afortunado?

—Sim. Sam assinalou com as rédeas.

—As mulheres como ela não se vêem todos os dias.

Caine era consciente de que Desi merecia algo melhor.

—Sobre tudo quando se trata de homens como nós. —Acrescentou.

—O que quer dizer, Sam?

—Seja o que seja pelo que aconteceu este último ano, nunca deveria usar-se contra ela.

—Isso são uma sugestão ou uma ameaça?

Sam ficou erguido com essa sacanagem que o caracterizava. Era uma arma letal quando defendia uma causa.

—Será o que tiver que ser.

—Eu sei muito bem que é inocente.

Um raio de sol incidiu sobre o rosto do Sam, iluminando sua expressão rígida. Depois desses olhos azuis bulia uma corrente de raiva.

—Ah, sim?

Sam estava recordando aquele dia em que o tinham perdido tudo. Caine tinha estado ali, ao seu lado. Um homem atrás de outro tinha abusado da mãe de Sam diante de seus olhos.

Ambos tinham visto como se apagava a luz de seu olhar antes que os renegados a degolassem. A mãe de Caine, pelo contrário, tinha morrido por uma ferida de bala antes de que pudessem violá-la.

—Eu estive ali contigo, Sam. Eu o vi tudo, como você.

 

E quando chegou o momento foi procurar a esses desgraçados junto com o Sam e o resto dos Oito do Inferno. Ninguém havia dito nenhuma palavra sobre a vingança de Sam. Ninguém tinha tentado detê-lo. Um a um, tinham ido depois dos homens que tinham massacrado as suas famílias, descarregando a raiva que tinham alimentado durante tanto tempo.

À idade de quinze anos já tinham criado fama, aterrorizando aos malfeitores e ajustando contas.

A última dívida os tinha levado a Santo Antonio, onde tinham encontrado um ranger esperando por eles. O homem se surpreendeu muito ao ver sua curta idade, mas isso não lhe tinha impedido de lhes dar um ultimato. Recusavam-se unir-se aos rangers do Texas, só encontrariam a forca.

Não tinham tido eleição, mas também sabiam que tinha chegado o momento de trocar, assim tinham aceitado as placas e feito um juramento para sempre.

—Um homem pode ver as coisas de forma muito distinta quando se trata de sua mulher. —Assinalou Sam.

—Possivelmente.

Mas Caine não podia; com Desi não podia.

—Estou pensando que o matrimônio nos permite começar de novo.

—Como Desi pertence aos Oito do Inferno, pode ser que esperem que vá por eles. Poderia haver-se largado do povo.

Caine não estava tão seguro disso. Os do este tinham algo no que não se podia confiar.

—Ou talvez sejam tão arrogantes que acreditam que estão por cima da justiça.

—Bom, isso não estaria mal. —Disse Sam, espectador.

—Ninguém faz nada até que consiga os nomes.

—E depois?

Desi se agachou contra seu sexo e Caine a atraiu para si.

—Então provaremos algumas das técnicas do gente Tracker.

Tracker avançou pelo outro lado.

—Estão falando de mim?

—De seus conhecimentos sobre a arte de matar.

—Algo em particular?

—Algo que faça que um homem repense sobre suas ações.

Tracker olhou Desi. Seu cabelo loiro aparecia por cima do casaco.

—Encantado de ajudar. Quando necessitaremos a informação?

—Dentro de duas semanas. —Disse Sam.

Tracker apoiou o antebraço sobre o estribo.

—Então me assegurarei de estar por aqui.

Caine assentiu com a cabeça. —Obrigado.

Tracker assinalou ao Desi com um gesto.

—Além de estar cansada e dolorida... Encontra-se bem?

—Por isso posso ver, sim.

—Tenho muitas cicatrizes, Caine. E muitas delas são invisíveis.

—Desi tem guelra e um espírito duro de cortar. —Só queria me assegurar de que sabia.

—É que vais ameaçar-me também?

—Não. —Tracker ficou direito; seus escuros olhos olhavam Desi com desejo—. Mas se quer partir, eu estou disposto a lhe dar cubro.

Sam resmungou um juramento e Caine se limitou a assentir com a cabeça.

A mãe de Tracker tinha abandonado tudo por amor, e sua vida e a de seu filho tinham sido um inferno. Ninguém olhava com bons olhos aos mestiços, nem sequer as prostitutas.

—Então acredito que depende de mim que fique.

Tracker se ergueu sem deixar de olhar ao Desi.

—Mas te vale. —Lhe disse, e olhou para o céu com um sorriso nos lábios.

—Seguro que lhe colocou o medo no corpo a esse apostador quando o apontou às Pelotas. Não?

—É claro que sim. —Disse Caine, sorrindo.

—Deveria lhe haver deixado lhe disparar. —Apontou Sam.

Caine tivesse desejado fazê-lo.

—Não podia me arriscar a ter um julgamento. —Disse encolhendo-se de ombros.

A tentação tinha sido muito forte, mas inclusive nesse momento Desi tinha sido sua primeira prioridade. Roçou os lábios sobre o cabelo da jovem.

—Estará a salvo nos Oito do Inferno. —Disse Sam ao tempo que guardava o cigarro no alforje.

— E sabe que Lhe vai encantar assim que te dê o primeiro murro.

—E o que te faz pensar que a vou fazer zangar-se?

Sam lançou um bufido.

—Está em sua natureza.

—Por não falar de sua tendência a ordenar em lugar de sugerir.

—Acrescentou Tracker. Caine se encolheu os ombros.

—Uma mulher deve obedecer às ordens de seu marido.

Seus companheiros olharam Desi e depois olhou ele. O silêncio falava por si só.

—Terá que aprender a adaptar-se. —Replicou Caine.

Sam soltou uma gargalhada.

—Você segue pensando isso. —Lhe disse. Tracker voltou olhar Desi e jogou o chapéu diante para ocultar um sorriso.

—Eu não confiaria muito. Parece-me que quando estiver recuperada, vai voltar para as andadas.

Caine lhe apartou o cabelo da bochecha e contemplou seu delicado perfil feminino. Aquele queixo bicudo revelava um espírito teimoso.

—Estou-o desejando.   —Acorda Desi. Estamos em casa.

Aquelas palavras cálidas se deslizaram sobre Desi.

Ela sacudiu a cabeça, ainda na soleira da consciência. Estava segura nesse lugar.

—Ainda não. —Sussurrou.

Algo suave e áspero lhe tocou a bochecha.

—Acordada um momento e pode voltar a deitar em uma cama quente.

Ela voltou a negar com a cabeça. Não queria uma cama. Fechou o punho sobre o duro lençol. Fazia tanto tempo que não dormia sem medo.

—Aqui estou segura.

—Dentro também o estará.

O eco daquelas roucas palavras retumbou junto a seu ouvido.

—Não.

Uns dedos se enredaram em seu cabelo e lhe atiraram da cabeça para trás.

Por fim abriu as pálpebras e se encontrou com os olhos do Caine, que brilhavam por debaixo do chapéu. Tudo estava envolto na penumbra do crepúsculo.

—É de noite.

Ela levantou a mão e se tirou o cabelo da cara. Quão último recordava era a viagem a lombos de seu próprio cavalo.

Olhou ao redor e viu o potro ao lado do cavalo de Sam.

—Dormi?

—Sim.

Tirou a mão do poncho e sentiu o ar frio.

—Sinto muito.

—Eu não.—Chegamos?

—Sim.

Desi olhou a seu redor. Tinham chegado a um claro bosque, situado ao pé de uma parede rochosa. A primeira vista, não se via nenhuma casa. Entretanto, ao longe se distinguia uma luz dourada em meio do negrume. A jovem esquadrinhou a escuridão e conseguiu ver uma casa construída na mesma parede do canhão. Feita de argila e pedra, fundia-se perfeitamente com o entorno. Não era uma estrutura grande, mas tampouco era a única. Havia outras pulverizadas ao longo da fachada do canhão. Sólidas e indomáveis... Como os homens que saíam da penumbra.

Desi tratou de incorporar-se, mas o poncho o impediu. Tratou de tirar-lhe, mas Caine lhe sujeitou as mãos.

—É melhor terminar com as apresentações. Não tem sentido pilhar um resfriado antes de chegar.

Quatro homens de olhar fera e rosto impenetrável se dirigiam a eles.

—Aconteceu-lhes isso bem no povo? —Perguntou um homem de mandíbula quadrada, pele escura e com feição de ferreiro.

—Bastante bem. —Disse Caine, fazendo girar o cavalo—. Tucker McCade, esta é minha esposa, Desi.

—Disse com um orgulho inesperado—. Esses são Ed Hayden e Caden Steele, e o que está debaixo da árvore é Shadow.

Tucker se tocou a asa do chapéu, revelando as maçãs do rosto proeminentes e uns olhos amendoados que só acrescentavam uma expressão brutal a seu formoso rosto.

—Senhora. —Disse, e voltou a olhar Caine—. Ti sabe que te trouxeste uma esposa?

—Ainda não.

—Isso pensava. Do contrário já estaria aqui, repartindo ordens.

—Seguro que tem algo que dizer a respeito.

—Sim. —Disse uma voz saída de entre as sombras—. Ela pensava que Sam se casaria primeiro, porque é um mulherengo.

Por muito que se esforçasse, Desi não podia ver o dono dessas palavras.

—Bem-vinda aos Oito do Inferno, senhora.

Como uma onda, aquela saudação tranqüila se estendeu entre os homens. Desi sabia que se estariam perguntando de onde tinha saído, mas seus rostos não deixavam ver a mais mínima especulação.

—Obrigado. —Disse a jovem ao tempo que se abria a porta.

Ouviu-se uma voz de mulher.

—chegastes filhos?

Uma silhueta feminina apareceu à soleira da porta. Uma saia ampla, ombros magros... Parecia estar envolta em uma manta.

—Tornastes de uma peça.—Como sempre, Ti.

Aquela era a indomável Ti; a mulher a que tanto respeitavam. Desi enrugou os olhos para vê-la melhor.

A mulher deu um passo adiante e a luz caiu sobre ela.

Devia ter uns cinqüenta anos, mas tinha um rosto juvenil. Tinha o cabelo negro e o tinha recolhido em um coque. Seus movimentos eram tão dignos e graciosos que tinham algo de aristocrático.

—E esta jovem é... —disse, olhando ao Desi fixamente.

Caine lhe pôs a mão no ventre.

—Minha esposa.

A mulher se aproximou um pouco mais e pôs as mãos sobre os quadris.

—E que classe de esposa me traz? Parece que o demônio a arrastou pela cabeça abaixo.

—É a que escolhi.

—E foi uma eleição querida?

—É obvio.

Desi olhou Caine por cima do ombro. Era um bom mentiroso.

—Então a deixa baixar para que possa saudá-la.

Desi conteve a respiração. Caine lhe tirou o poncho.

O olhar de Ti se deteve sobre sua roupa folgada. Tinha uns olhos muito bonitos; grandes, marrons e penetrantes.

—Passaste maus momentos?

Desi voltou a olhar Caine por cima do ombro.

—Sim. —E meus meninos lhe salvaram?

—Sim.

—Salvar? Demônios. Teria que havê-la visto, Ti —Disse Sam—. Fez-lhes frente aos bandoleiros com temperamento e garra.

Ti arqueou as sobrancelhas.

—Isso é certo?

—Quase não deixa nada para mim. —Disse Caine.

Ti assentiu com a cabeça.

—Bem. Os homens não deveriam pensar que as mulheres se deixam vencer facilmente.

—Boa essa é uma história que não me importaria escutar. —Disse um homem ruivo que parecia algo major.

—E não me importará nada lhe contar isso Ed. —Disse Caine—. Assim que ajude a instalar-se Desi. Foi uma viagem muito dura para ela.

—Quanto tempo demorou?

—Quase todo o dia.

—Está louco? Ela não é um ranger com saia! —Exclamou Ti—. Não se trata a uma esposa dessa forma.

Ti se voltou para os outros homens e deu uma palmada com as mãos.

—Shadow, saca a banheira grande e leva-a a cozinha. —Começou a dar ordens a destro e sinistro. — Ed, acende o fogo e esquenta água. Necessitamos muito. Tucker e Caden, lhes ocupe de atender aos cavalos.

Os homens se dispersaram rapidamente.

—Shadow. —Disse Caine—. Pode que nos tenham seguido.

Shadow respondeu na escuridão.

—Comprovarei-o.

—Eu irei com ele. —Disse Sam, sacudindo a cabeça ao ver aproximar-se do Tucker—. Há algo que quero fazer no povo.

Desi se rodeou a cintura com os braços, antecipando o que a esperava.

Ti esperou a que se fossem os homens antes de voltar-se para Caine.

—Estou molesta contigo. As algemas merecem melhores cuidados.

—Ti, fez todo o caminho sobre meu regaço.

—Como se isso melhorasse as coisas.

Caine se moveu sobre o selim. Desi olhou um e a outro.

—Em realidade, sim.

—Mas não tanto como se tivessem ido a um passo mais suave.

Desi sabia que não estava bem, mas essa poderia ser sua única oportunidade de tomá-la revanche, embora só fora para deixar Caine em evidencia diante de Ti.

Baixou a cabeça e falou com suavidade.

—Eu tentei que parasse.

—Não sente saudades que não te tenha escutado. Acreditam que as mulheres são tão fortes como os homens.

—Eu nunca tinha dito isso!

Ti lhe deu um tapa na coxa.

—Comporta-te como se acreditasse. E o que passa se estiver grávida?

Desi sentiu o rugido de sua risada nas costas.

—Levamos um dia casados, Ti.

—Está-me dizendo que ainda é virgem?

—Não, não estou dizendo isso.

—Então há esperança.

—Eu não a perderia ainda.

Desi olhou seu marido. Seus rasgos mostravam uma expressão divertida.

—Faz muito tempo que não tenho um menino em meus braços. —Disse Ti.

Suas palavras encerravam uma profunda tristeza que Desi não queria sentir. Ela tinha perdido a uma irmã e não podia nem imaginar o que seria perder um filho.

Era evidente que Ti tinha perdido um.

—Deixa que ponha cômoda minha esposa e te prometo que estará grávida o antes possível.

Desi sentiu uma onda de calor nas bochechas.

Ti sacudiu a cabeça.

—Não. Falando assim não o fará. Se voltar a envergonhar sua mulher dessa maneira acabará no celeiro e não haverá bebê. Agora me conte por que cavalgaste durante horas sem lhe dar um descanso a esta pobre garota.

—Era muito perigoso entreter-se.

—Há problemas?

—Um par de pretendentes que não sabem aceitar a derrota.

Desi se deu conta de que Ti não o tragava.

—Mas tudo está sob controle. Não? —perguntou Caine.

—Sim.

—Bem. Agora ajuda a desmontar a sua esposa antes. De que fique pega a esse demônio de cavalo.

—Chaser não é um demônio. É que tem muitos brios.

—Você é o único que acredita que isso é bom. —Agitou as mãos—. Vão.

Caine se pôs a rir.

—Menos mal que eu goste com brio. Do contrário te teria posto de patinhas na rua faz muitos anos.

—Possivelmente o teria tentado.

—Não acredito. —Agarrou a mão da senhora e beijou seus dedos—. É o melhor que nos passou.

—Isso é verdade. —Ti deu um passo atrás e esperou com as mãos nos quadris.

—Ponha a perna a este lado, Desi, para que possa te ajudar a baixar.

Desi estava um pouco intumescida e cruzar a perna ao outro lado não foi tarefa fácil, mas finalmente o conseguiu. Chaser se moveu e ela esteve a ponto de escorrer-se, mas se aferrou ao antebraço de Caine para não perder o equilíbrio.

Ele aproveitou para baixá-la do cavalo.

Assim que deixou o lombo do cavalo, Desi soube que estava a ponto de cair. Cambaleou-se no ar e o cavalo se tornou a um lado.

Então cravou as unhas em Caine como se o fora a vida nisso.

—Desi? —O que?

—Está a uns centímetros do chão.

Um olhar confirmou as palavras de Caine.

Desi fechou os olhos e lhe soltou as mãos. Uma pontada de dor lhe atravessou os novelo dos pés e teve que agarrar-se ao selim.

—Tranqüila senhora. —Uma mão lhe agarrou o braço.

«Apanhada...».

Essa palavra ricocheteou em sua cabeça enquanto observava os rasgos aquilinos do homem que a sujeitava. Escuro, como os que tinham assassinado os seus pais... A mesma careta cruel nos lábios. E seus olhos... Não podia apartar a vista desses olhos cinza que não pareciam deste mundo.

Desi retrocedeu e Tucker a soltou imediatamente. Esfregou-se o braço onde ele a havia meio doido e deu outro passo atrás, reabrindo as feridas que tinha nos novelo dos pés.

—Sinto muito.  

—por quê? —perguntou-lhe Tucker, com gesto imutável.

—É que me pilhou por surpresa.

Tucker esboçou uma careta de sorriso.

—A próxima vez dirá que não sabia que era índio. —Lhe disse, cheio de sarcasmo.

Desi não soube que dizer.

—Deixa-o já, Tucker. —Lhe ordenou Caine.

—Por quê?

—Porque se não o faz, sentirá-se como um completo idiota dentro de um momento.

Desi lambeu os lábios e tratou de ficar direita. A raiva de Tucker lhe roçou os nervos como o fio de uma navalha.

—Não me diga. —Disse, olhando um e a outro.

—Se te disser.

Desi foi para Caine, e lhe tocou a bota com a mão.

—Não reajo muito bem com as surpresas. —Lhe disse, a modo de desculpa.

Essa vez os olhos do Tucker a olharam de cima abaixo lentamente.

—Eu tampouco. —Lhe disse, olhando-a fixamente.

Acaso era uma advertência?

—Recordarei. —Disse Desi.

—Desi?

—O que? —Disse, sem tirar olho de Tucker.

—Me olhe.

Sem deixar de olhar o índio Desi inclinou um pouco a cabeça. Pela extremidade do olho o viu mover a mão e cobriu o rosto defensivamente.

Uma inundação de juramentos... Um grunhido animal...

Caine lhe agarrou a mão.

—Maldita seja, Boone, se não entrar em cintura, vou ter que te tirar aí fora e te pegar um tiro. —Disse Tucker.

Desi abriu os olhos. Um cão, um cão enorme de cauda vermelha e largas orelhas haviam interposto entre ela e Tucker. E não deixava de lhe grunhir... A ele.

Ela não podia ver a cara de cão, mas Tucker o estava fulminando com o olhar.

—Não pode matar a Boone, Tucker. —Gritou Caine—. Pertence aos Oito do Inferno.

Tucker não parecia muito convencido.

—Esse maldito cão é tão ocioso que não vale nada. Não rastreia, não caça e tem medo de sua sombra.

—Agora não parece muito assustado.

Desi estava de acordo. O animal intimidava.

—Se não se calar agora mesmo, lhe vou cortar o pescoço.

Desi não podia deixar que isso ocorresse, sobre tudo porque o cão tratava de protegê-la. Estirou a mão e lhe tocou a cauda. O cão olhou atrás, meneou a cauda e seguiu desafiando a Tucker.

—Lhe diga que pare Desi. —Disse Caine.

—Mas não é meu cão.

—Parece que decidiu que sim o é. —Disse Tucker.

—Boone?

O cão deixou de lati e Desi lhe deu uma palmada na coxa.

—Vêem aqui.

O cão lançou um último grunhido e deu meia volta e foi para ela. Desi lhe acariciou as orelhas.

—Bom menino.

—Bem-vinda aos Oito do Inferno, senhora.

Não ficava tensão no rosto do Tucker.

—Já não está zangado comigo.

—Não.

—Por quê?

Ele assinalou o cão.

—Boone é um cão muito particular. Nunca toma confiança com ninguém.

—Perdoa-me porque gosto de seu cão?

—É seu cão. O dou de presente. E, sim. —Se tocou o chapéu a modo de saudação—. Acredito que poderei lhe perdoar este pequeno mal-entendido.

Caine desceu do cavalo e pôs o braço sobre os ombros de Desi.

—Está brigando com minha esposa, Tucker?

—E o que passa se for assim?

Caine se se pôs a rir.

—Tenho que te ensinar a fazê-lo bem. Esse intento foi do mais patético.

Tucker lhe devolveu o sorriso.

—Não era um intento. —Voltou a olhar Desi.

Desi não tinha muita vontade de vê-lo. Muito perigo para ela.

Caine a atraiu para si e ela o olhou de esguelha. Tratou de apoiar todo o peso no pé direito, mas uma pontada de dor lhe fez enrugar o sobrecenho. Tucker a olhou com atenção.

—Está ferida? —Perguntou Ti.

Caine se apressou a responder. Deslizou as mãos por detrás de seus joelhos.

—Tem os pés destroçados.

—Por quê? —Perguntou Tucker, sentido saudades.

Caine tomou em seus braços.

—Por correr descalça.

—E por que corria? —perguntou Ti.

Desi lhe rodeou o pescoço com os braços e escondeu a cara contra seu peito.

—Porque a assustei.

Isso não era o que ela esperava que dissesse.

—E por que fez isso? —Perguntou Tucker.

—Passou tanto tempo da última vez que tratei com uma mulher decente que acredito que perdi a cabeça.

—Estraguem.

Tucker não acreditou naquilo, mas Desi não importava. Ela queria acreditar..

—A menos que tenhamos outra coisa de que falar vai leva La para dentro.

Ela deslizou as Palmas sobre seu peito e apoiou a bochecha sobre seu ombro.

—Por mim nada mais. —Disse Tucker. — Boa noite, senhora.

—Boa noite. —logo que teve tempo de responder. Caine já tinha posto-se a andar para a casa.

—Deve-me uma. Llhe disse ao pôr um pé sobre o primeiro degrau do alpendre.

—O que?

—Antes pensou que não te protegeria.

—Não tinha por que pensar que o faria.

—É minha esposa. Claro que o faria.

Desi podia sentir seu olhar, mas não levantou a vista. Estava muito cansada.

—E o que te devo?

—Uma desculpa.

—por quê? Deteve-se na porta e respirou fundo.

—Porque, Desi, é minha esposa. Humilhando ela me humilhou também. Deveria sabêr.

—Fingir que sou o que não sou não troca nada.

—E o que é, menina? —Perguntou Ti.

Desi não sabia o que responder.

—Uma consentida, muito consentida.

Caine soltou um bufido.

—Disso nada. —Disse.

Mas sim o tinha sido. Antes de encontrar-se com os comancheros e com James, tinham-na mimada muito. Tudo o que desejava lhe era concedido com um sorriso e uma palmada na cabeça, com jeito de que não incomodasse.

—Fui uma menina muito consentida.

Ti saiu à luz. Esses formosos olhos viam mais do que Desi queria ensinar.

—E agora é uma mulher exausta, acredito.

—Certamente.

Ti assinalou uma porta à direita.

—Preparei-te um banho.

Isso lhe fez levantar a cabeça. Não se tinha tomado um banho há muito tempo.

—Não tive tempo de esquentar a água, sinto muito.

Com um gesto elegante, Ti lhes indicou que fossem diante.

—Sempre mantenho uma reserva na cozinha para quando chegam os meninos.

Caine se dirigiu para a porta e Ti foi atrás deles.

—A banheira não está de tudo e cheia, mas os meninos acenderam o fogo e jogarão mais água quente.

Desi sentiu um puxão no cabelo.

—Estou pensando que custará muito trabalho te lavar o cabelo.

Desi se tocou a cabeleira enredada, cheia de nós.

—Acredito que seria mais fácil cortar tudo. —Disse.

—Não. —Disse Caine, seguido de Ti.

—Só o cabelo. Crescerá de novo.

Ti foi para o armário que estava junto à porta que tinham entrado.

—O cabelo de uma mulher é a glória. —Disse.

Caine a sentou em uma cadeira e tomou uma mecha na mão. Os cachos enredados lhe enroscaram nos dedos.

—É o orgulho de um homem. —Acrescentou Ti, olhando ao Caine enquanto agarrava um pote—. Aos homens adoram o cabelo de uma mulher.

Pela extremidade do olho Desi contemplou o matagal de cabelos que Caine sustentava.

—Pode ser que não tenha eleição.

Caine se sentou ao lado do Desi e começou a lhe desatar os mocasins.

—Já lhe tinha dito isso, sempre há eleição.

Esperava-se ter um pouco de intimidade, estava condenada a levar uma decepção.

—Tem os pés feitos um desastre. —Disse Ti quando Caine lhe tirou a última vendagem—. Como ocorreu? —Perguntou Caine.

Desi olhou a planta d de seu pé.

—Não corri o bastante.

O rosto do Caine estava oculto sob a asa do chapéu, mas a julgar pelo movimento de seus ombros, poderia ver que estava rindo. Desi quis lhe tirar o chapéu com um tapa.

—Do que fugia?

—De mim. —Disse Caine e pressionou a ferida mais profunda que tinha no pé direito.

Começou a sangrar imediatamente.

—Te tornou a abrir.

Ti ia para a banheira, mas se deteve e disse:

—Trarei um pouco de bálsamo.

Ao passar para o lado de Caine, deu-lhe um golpe na cabeça, lhe deslocando o chapéu.

—E você... Ensinei-te como cuidar de uma mulher.

Caine colocou direito o chapéu.

—Nesse momento não era minha mulher.

Ti deu meia volta e voltou a lhe dar o chapéu. Ficaram as mãos nos quadris.

—E isso te deixa isento de toda culpa?

—Acredito que não.

Essa era a resposta que Ti queria.

—Vou colocar o bálsamo. —Assinalou Desi com um gesto elegante—. Ofereça-Lhe desculpas a sua esposa. Disse e saiu de casa com um sapateio firme.

Caine voltou a endireitar o chapéu e ficou o pé de Desi sobre a coxa. Em lugar de raiva, a jovem só encontrou risada em seus olhos. Agarrou-lhe o outro pé.

—Se te oferecer uma desculpa... Vais aceitar?

O tornozelo do Desi parecia frágil e diminuiu naquelas enormes mãos.

—Terá problemas se não o fizer?

—Estraguem. —Deslizou o dedo pela planta de seu pé—. Este não está tão mal. - Disse e levantou a vista.

Desi o olhava fixamente.

—O que? —Como é que não está zangado?

—Com Ti?—Sim.

Ele encolheu os ombros.

—É difícil zangar-se com Ti. Sobre tudo quando tem razão.

—Não foi tua culpa. Não sabia que poria-se a correr.

—Céu, qualquer idiota saberia que tinha intenção de fazê-lo. —Voltou a encolher os ombros—. Tão somente me equivoquei com o «quando».

Ti retornou com a mesma rapidez com que se foi. Caine arqueou uma sobrancelha.

—Então quer ver como Ti me joga a bronca um momento mais, ou vais aceitar minhas desculpas?

Como se soubesse do que estavam falando. Ti lhes falou em voz alta.

—Desculpaste-te, filho? —Sim.

Ti se deteve detrás da cadeira de Caine. Seus sorrisos eram tão parecidos...

—E ela aceitou suas desculpas?

O sorriso de Caine não se desvaneceu nem um instante.

—Estou esperando uma resposta.

Ti olhou um e outro.

—Se está esperando é que não o tem feito bem.

—Suponho que terei que polir um pouco a técnica.

—E até que o faça, não terá comida em minha mesa.

—Demônio, Desi, te decida rápido.

Ela ignorou o seu marido e olhou a Ti.

—Deixaria-o sem jantar?

Ti encolheu os ombros.

—Não seria a primeira vez. Seu marido pode chegar a ser muito teimoso.

Desi olhou a seu marido.

—Isso parece. —Disse.

Os lábios de Caine desenharam uma careta.

—De verdade o que te impediria de te sentar à mesa? —perguntou-lhe ela.

Ele se encolheu de ombros e lhe baixou o pé.

—Ti é um osso duro de roer.

Desi se sentiu tentada durante uns segundos. Houvesse-se sentido tão bem o fazendo sofrer um pouco...

Foi então quando recordou o chocolate, e como tinha cuidado dela. Mas sobre tudo recordou o orgulho em sua voz.

«Esposa...».

—Está-lhe tirando um sarro. —Disse Desi a Ti—. Aceitei suas desculpas.

Ti lançou um bufido.

—Já está mentindo por ti. —Entregou um pote de cristal a seu filho adotivo.

—Mas isso também conta. —Disse ele.

Ti sacudiu a cabeça e lhe deu um tapa carinhoso.

—Pelo menos foi bastante sensato para te casar com uma mulher com coração.

Ti olhou Desi por cima da cabeça de Caine.

—Mas tampouco é bom que tenha muito coração. Ele é dos que se aproveitam.

—Terei-o em conta. —Muito bem.

Na cozinha fazia calor e Desi ainda levava o casaco. Desi soprou para cima para apartar o cabelo do rosto.

Ti a olhou fixamente e se voltou para Caine.

—Primeiro o banho e depois as vendagens.

—Eu estava pensando o mesmo.  Ti assinalou a roupa que Desi levava posta.

—Não pode banhar-se vestida.

—É obvio que não. —Disse Caine.

—A água não se esquenta.

Os lábios do Caine desenharam uma careta risonha.

—Entendido. Desi agarrou a borda do casaco.

—Não vou despir-me contigo aqui.

Caine se encolheu de ombros como se estivesse desculpando com Ti.

—É que é tímida. —Então vou.

—Não. —Desi não queria que Ti partisse.

Como se não tivesse ouvido nada, Ti jogou uma olhada à comida, que se cozinhava a fogo lento.

—O guisado ainda necessita um momento mais, assim não há pressa. —Se tirou um pote do bolso e o entregou a Desi ajudará com os nós. É muito melhor que as tesouras. Ponha o no cabelo antes de esclarecê-lo.

—Obrigado. Ti assentiu e lhe deu uma palmada no ombro.

—Agora é dos Oito do Inferno. Já não tem nada do que preocupar-se. Nós cuidamos dos nossos.

Desi cravou os dedos na base da cadeira. Quão único desejava era tirar do meio de Caine de uma patada e inundar-se naquela banheira. Não tinha tomado um banho em mais de um ano, e não podia deixar escapar essa oportunidade.

Um ligeiro roce na panturrilha a fez baixar a vista. Caine a olhava intensamente, mas a asa daquele chapéu estúpido velava a expressão de seus olhos.

—Alguma vez lhe disseram que pensa muito?

—Não. —É um hábito muito mau.

Com supremo cuidado lhe apoiou o pé no chão, e com a mesma delicadeza lhe tirou o casaco e o jogou sobre uma cadeira.

Agarrou-lhe a mão quando ia desabotoar lhe os botões do vestido.

—Posso fazê-lo sozinha.

—Mas isso não seria tão divertido.

—Para quem?

—Para mim. —Lhe disse com um sorriso.

Ela pôs suas mãos sobre a dele.

—Por favor, me deixe fazê-lo.

Caine se deteve um instante.

—Levo muito tempo sonhando com esta noite.

—Por quê?

Ele encolheu os ombros.

—As mulheres sonham com as bodas, e os homens com a noite de bodas.

—Mas você não me ama, e esta não é nossa noite de bodas.

   —Ontem não conta, e ainda é minha esposa. A noite não vai ser como eu esperava, mas isto sim pode sê-lo.

Por muito que lhe atirasse a mão, ele seguiu lhe desabotoando o vestido.

—O que é isto?

Quatro dos botões se abriram subitamente.

—Te prepara.

Desi sentiu o rubor nas bochechas e olhou para a janela. A noite se fechava sobre eles.

—Isso não é igual a me conhecer. Verdade?

Ele seguiu seu olhar. Agarrou-lhe as mãos e as pôs sobre seu próprio peito, que aparecia por debaixo da camisa entre aberta.

—Fique aqui. —Lhe disse.

Foi para o outro extremo da habitação e começou a baixar as persianas. Desi se estremeceu ao ouvi-las cair.

Havia algo selvagem em Caine. Uma atitude primitiva que não explicava os sentimentos de Desi nesses momentos. Era quase uma ironia chegar a pensar que ele pudesse ser seu refúgio...

 

E entretanto, no profundo de seu ser, ela sabia que assim era. Ele era tudo o que ela tinha nesse instante, e queria aferrar-se a ele com todas suas forças.

Aquela sensação era irracional, quase suicida, mas enquanto o observava sentia uma paz que nunca antes tinha conhecido.

Desi agarrou o vestido. Estava perdendo a cabeça.

Caine se voltou e a olhou intensamente.

—Em que está pensando?

—Em não sei o que pensar.

Ele foi para ela com passo tranqüilo.

—Então possivelmente deveria deixar de fazê-lo.

—Não me dá muito bem.

Um passo a mais e Caine pôde ver como lhe pulsavam as veias do pescoço. Depressa, muito depressa.

Deslizou os dedos por debaixo dos dela até lhe fazer soltar a lapela.

—Bom, nesse caso deveria me seguir à corrente.

—E possivelmente não deveria fazer nada até ter as idéias mais claras.

Caine enroscou o dedo mindinho ao redor de seu índice e tirou dela. O casaco se abriu, deixando ver o linho branco de sua camisola.

Nunca se tinha excitado tanto com uma imagem. Seu membro viril palpitava .

—Mas isso não seria divertido. Não acredita cigana?

Desi tomou o fôlego e o fino algodão se agitou sobre seu peito.

—Espero que assim seja.

—Bom, aí está o problema. Um homem e sua esposa deveriam ficar bem juntos.

—Minha mãe passou anos me ensinando o que devia esperar como esposa. Nunca disse nada de passar-lhe bem.

Caine roçou a mão de Desi contra seus lábios.

—Bom, agora que sabemos onde está o problema, podemos solucioná-lo.

—O único que acredita que é um problema é você.

—Melhor para ti. Tem sorte de ter um marido preparado com o que não te vais aborrecer.

Deslizou os dedos pelo punho de Desi, sentindo a suavidade de sua pele. Respirou fundo. Estava tão perto de seus formosos peitos...

O desejo de tocá-la-se fez mais forte, mas conseguiu contê-lo.

—Te está esfriando o banho.

—Se for, poderei me banhar por fim.

—Não pode andar.

—Não é para tanto.

—Não tem por que sofrer. Não se estiver aqui.

—Mas essa é a questão. Não te quero aqui.

—Vá. —É um homem muito teimoso.

Caine esquivou com a tapa de Desi e lhe desabotoou os últimos botões do casaco.

—Vais seguir com o mesmo?

—Não. Abriu-lhe o casaco até que lhe deslizou pelos ombros.

   —Não acreditava que fosse tão curta de mente.

Desi se agarrou ao vestido, mas Caine lhe fez soltá-lo.

—Te agarre, céu. —Lhe disse ao tempo em que se   levantavam seus braços.

Cravou-lhe as unhas na nuca, mas Caine seguiu adiante e se sentou na cadeira que estava ao lado da banheira, com ela em cima. Então lhe baixou uma das mangas do vestido, e depois a outra.

O vestido lhe deslizou pelos braços e Desi sentiu o rubor nas bochechas.

Caine nunca tinha estado com uma mulher que se ruborizasse. Era intrigante, encantador e incrivelmente excitante. Inclinou-se sobre ela e deslizou os lábios pelo ombro de Desi, seu pescoço, sua bochecha...

—Maldita seja. —Disse de repente.

—O que? Voltou-se para ela.

—É doce, cigana. Muito, muito doce. —Sussurrou contra seus lábios.

Desi não se moveu.

—Não quer saber como beijo?

Ela se mordeu os lábios e Caine os roçou com os seus. Então ela entreabriu a boca e os músculos de seu pescoço se contraíram sob a mão dele.

—Não, céu. Não fique tensa. É só um beijo. —Lhe disse ao tempo que absorvia seu fôlego entrecortado.

Face ao convite de seus lábios entre abertos, Caine a beijou com suavidade, explorando as curvas de sua boca.

   Então deslizou a ponta da língua pelo arco de seu lábio superior, fazendo-a ofegar uma vez mais.

—Vê? Não há nada do que preocupar—lhe disse, lhe acariciando a bochecha.

Desi tragou em seco.     

—Mas está esfriando o banho.

Caine sorriu; seus lábios a um milímetro dos dela.

—Um marido não é rival para um bom banho.

Ela sacudiu a cabeça. O roçar de seus lábios de veludo era uma tentação insuportável.

—Melhor será que te meta na água.

Terminou de lhe baixar as mangas e o vestido lhe caiu até a cintura. A Desi arderam as bochechas.

—Não tem por que sentir vergonha. Já te vi nua.

—Mas então estava muito ocupada para me preocupar. —Disse ela, tratando de cobrir-se com os braços.

Caine recordou quando corria nua por aquele prado.

—Isso é certo. —Disse, sorrindo.

Desabotoou-lhe os punhos do vestido e ficou e desatou a camisola. Desi não opôs resistência.

O delicado material pegou aos mamilos e Caine teve que retirá-lo com os dedos.

—Tem uns peitos preciosos, Desi. —Lhe disse.

E era certo.

Caine tocou as nódoas negras que tinha na curva interior do peito esquerdo e ela apartou a cara, mas lhe fez olhá-lo.

—Não te esconda pequena Desi. Não tem nada do que te envergonhar. Mas o bastardo que te fez isto vai pagar por isso.

—Já os mataste. Não podem pagar duas vezes.

Ele sacudiu a cabeça.

—tive suficientes maratonas para reconhecer os velhos dos novos. E este tem mais de uma semana, o qual quer dizer que o tem desde antes do seqüestro.

—Eu...

—Cigana, não tem por que te envergonhar de sua outra vida. Eu não tenho nenhum problema com isso.

—A levantou no ar—. Apóie-Te nos talões um momento. —lhe disse e terminou de despojar a da roupa.

Vestido, camisola, anáguas e branquinhas... Tudo caiu ao chão em um instante.

Então passou o braço por detrás de seus joelhos e ficou em pé, levantando-a no ar.

Caminhou até a banheira.

—Primeiro lhe vão arder os pés, mas depois se sentirá melhor. Se quiser, pode cravar esses preciosos dentes no meu braço.

Desi não fez nem o mínimo ruído quando a inundou na água e ele pensou que tivesse sido mais fácil se tivesse gritado. Não suportava vê-la sofrer.

Inclinou-se sobre a banheira e lhe deixou apoiar a cabeça sobre seu peito. Desi respirava entrecortadamente.

—Está bem? —Perguntou-lhe quando a sentiu relaxar-se.

Ela se estremeceu e Caine se deu conta de que a estava apertando muito.

—Maldita seja...

Soltou-a e Desi se agachou na água, com os joelhos contra o queixo e os braços cruzados sobre o peito.

Caine afundou os dedos na água. Apenas chegava aos quadris.

—Acredito que Ti não calculou bem.

—Não. Está bem.

—Acredito que se pode melhorar. —Ficou em pé—. Vou procurar mais água.

—Não!

Caine se girou de repente.

—Não é necessário que Ti traga mais água.

Ele se se pôs a rir.

—Nenhum homem dos Oito do Inferno deixaria que uma mulher tivesse que carregar água, e muito menos tratar de Ti. E não quererá saber o que Ti diria a respeito se algum o tentasse.

—OH. Fez-se um novelo.

Parecia tão frágil à luz da luz do quinqué. Era muito pouca   roupa, mas parecia mais feminina que nunca. Mais delicada.

Caine suspirou.

—Que tal se fizer um trato?

—O que?

—Aceita que é meu e eu estarei de costas enquanto te banha.

—De acordo.

Ele foi para a porta traseira. Tinha a mão sobre o trinco quando ouviu o murmúrio da água ao agitar-se.

—Desi? —disse sem dá-a volta.

—Que?

—Acredita que sou um homem possessivo?

—Sim. —Acredito que sei como proteger os meus?

—Sim. —E sabe que é minha?

Essa vez Desi demorou em responder.

—Sim. —Então deveria saber que não deixaria que outro homem trouxesse a água.

Voltou-se a ouvir o murmúrio da água, seguido do mais suave sussurro.

—Sinto muito. Caine girou o trinco.

—Desculpas aceitas.

 

Vinte minutos em uma banheira cheia de água quente podia fazer muito por uma mulher. Podia aliviar a tensão de seus ossos e lhe esquentar a alma. Inclusive podia chegar a lhe fazer esquecer que seu marido estava na mesma habitação.

Desi deixou a mente em branco e saboreou esse pedacinho de céu. Só Deus sabia se ia voltar a ter outra oportunidade como essa. De madeira que estou acostumado a rangeu sob minhas botas. Caine estava se movendo. Estavam a ponto de irromper em seu pequeno santuário.

O ruído de seus passos se deteve detrás da banheira. Sua voz profunda e grave a envolveu em um manto.

—É hora de lavar o cabelo, cigana. —Lhe disse o tempo que levantava seus cabelos.

Desi respirou fundo e se inundou na água aromatizada. A seu redor só via um redemoinho de borbulhas, mas os puxões de cabelo eram inconfundíveis. Caine lhe estava lavando o cabelo com supremo cuidado. Quando lhe tocou o ombro, ela se sentou sobre os joelhos.

Caine lhe secou a cara com um pano seco e ficou a lhe esfregar a cabeça com outro sabão. Agarrou-lhe a mão.

—Não. Recoste-te e me deixe fazê-lo.

Desi fez o que lhe pedia e se deixou levar por aquele prazenteiro torpor. Já teria tempo para preocupar-se depois.

Apertou-lhe as têmporas e ela suspirou de prazer. Como podia ser tão sutil?

—Te jogue para diante e fecha os olhos.

Um jorro de água temperada lhe caiu sobre a cabeça; uma toalha nas mãos.

Enquanto se esfregava o rosto, Caine agarrou sua larga cabeleira com ambas as mãos.

—Tem um cabelo precioso.

—Parece um desastre.

—Não vou deixar te cortá-lo.

—Não se pode fazer outra coisa. Está muito enredado.

—Eu me ocuparei dos nós dois.

Desi levantou a vista e piscou: não levava camisa.

Caine foi por mais água e ela colocou o pano sobre os olhos. Só estava sendo prático. Não podia lhe lavar o cabelo sem empapá-la da roupa.

A prancha está acostumada a rangeram sob seus pés e depois se ouviu o ruído metálico de uma pouca dobra costurado. Um aroma adocicado... Mais forte essa vez.

Voltou a sentir as mãos do Caine sobre o cabelo. Estava-lhe lubrificando algo nos nós, lhe esfregando o couro cabeludo, fazendo-a derreter-se por dentro.

A mão de Caine a fizeram pegarem à banheira e Desi levantou o pano que lhe cobria os olhos. Pela extremidade do olho podia ver seus fornidos peitorais e uma proeminente cicatriz no ombro esquerdo. Devia estar de joelhos, pois seus lábios lhe roçavam o cabelo.

—te relaxe. Vou demorar um pouco.

Sentiu seus dedos debaixo das orelhas, na mandíbula... Uma descarga de felicidade lhe percorreu todo o corpo. Desi deixou cair às mãos a ambos os lados e deixou de lutar contra ele, relaxando as coxas contra os lados da banheira. Os pés já não lhe doíam. A água os tinha intumescido.

—Essa é minha garota. —Disse ele, enquanto lhe desenredava o cabelo.

—Seria muito mais fácil cortá-lo.

—Não. —Disse ele, sem pensar duas vezes.

Por fim Desi sentiu o pente sobre o couro cabeludo.

—Essa nata de Ti faz milagres.

—Tracker e Tucker dão fé disso.

—Esperou que Ti lhes pusesses um aroma diferente.

Caine se se pôs a rir.

—A primeira vez saiu cheirando a flores e Ti se deu conta de que era necessário.

—Por quê?

—Porque outros não faziam mais que tomar o cabelo e eles...

—Brigavam?

Caine terminou de penteá-la. Deixou algo no chão e começou a lhe dar uma massagem no pescoço.

—Eram coisas de pirralhos, mas um dia lhe rompemos uma mesa, e essa foi à gota que encheu o copo.

—Pensa muito em Ti, verdade?

—Sim. Embora não se encontrava muito bem quando a conhecemos, abriu-nos as portas de sua casa.

—Tinham-na ferido?

—Então todo mundo resultou ferido. Ti tinha perdido a seu marido, a seu bebê e também muitas outras coisas das que nunca nos falou. Mas quando nos encontrou começou de novo, e nos converteu em sua família. —Se encolheu de ombros. — Daríamos tudo por ela.

Desi balançou a cabeça de um lado a outro.

—Não tem que me tirar isto do cabelo?

—Em um momento. —Sussurrou.

Desi pesavam as pálpebras, as extremidades... Caine tinha umas mãos divinas.

—Vale.

—A um marido gosta de saber que se valoriza seus esforços. —Disse, e pôs-se a rir.

Sua voz vinha de muito longe...

Caine seguiu massageando com movimentos suaves e sensuais, aproximando-se mais e mais à curva de seus peitos. Aquelas mãos endurecidas se abrandaram na água.

Seus dedos se estendiam e encolhiam sobre a pele da jovem. Ora alcançavam o vale que se estendia entre os peitos dela, ora retrocediam indecisos.

Caine percorreu essas curvas sinuosas uma vez atrás da outra e Desi apoiou a cabeça sobre seu ombro.

Deixaram escapar um gemido ao sentir essas mãos de seda sobre os mamilos. Abriu os olhos e olhou para baixo. A pele bronzeada de Caine destacava sobre a palidez de seus seios.

Mãos grandes, cheias de cicatrizes...

E embora não tivesse frio, Desi sentiu como lhe endureciam os peitos. Apartou-se imediatamente.

—Não, cigana.

Caine sujeitou o ombro.

—Só quero te fazer sentir bem. —Lhe sussurrou ao ouvido sem deixar de acariciá-la.

Muitos homens haviam sido meio doido no passado, mas ninguém a tinha feito sentir assim.

—Muito bem, com carinho. Fica aquieta e deixa que eu faça todo o resto.

Uma e outra vez deslizou os dedos sobre seus peitos.

Com cada carícia, Desi sentia uma comichão por dentro; uma impaciência insaciável... Queria mais.

Sacudiu os quadris e as ondas da água a acariciaram na zona mais íntima. Abriu as pernas, deixando que as ondas jogassem com as cheias pétalas de sua feminilidade.

Caine deslizou a palma da mão sobre um mamilo endurecido, desencadeando um redemoinho de sensações.

Seus dedos descenderam sobre o abdômen de Desi até chegar ao monte de Vênus...

—Eu... —Desi não pôde terminar a frase.

Caine vacilou um instante, mas finalmente agarrou seu sexo nu com avidez.

Um desejo irrefreável surgiu no profundo da jovem e antes que pudesse recuperar o fôlego, Caine começou a lhe massagear um mamilo com os dedos.

Possivelmente fora pela confusão do momento, ou possivelmente pela novidade daquela comichão, mas Desi ficou quieta e não resistiu, sucumbindo assim à magia daquelas mãos.

Depois de uns segundos voltou para a realidade: uma sensação efêmera, os mamilos inchados, uma mão que lhe acariciava a entre as pernas. Aquilo não era suficiente. Ela necessitava mais.

Desi se levantou um pouco, procurando suas carícias.

—Essa é minha cigana. —Disse ele, respondendo a seus movimentos.

—OH... —Assim, verdade?

—Nunca tinha sentido... —Desi mordeu o lábio.

—Bom, é uma pena. Todas as mulheres deveriam saber o que se sente.

Desi se meneou de prazer.

—Olhe o que tem feito. —Murmurou Caine—. Tem-me feito perder o ritmo. —Lhe pôs uma mão no ombro para que se estivesse quieta—. Nada de mover-se. Você só tem que desfrutar.

—Não posso. —Sim que pode.

Desi o tentava com todas suas forças, mas era inútil.

De repente, ele se deteve.

—Não pares. —Disse ela, sacudindo a cabeça.

—Sh. Isto você vai gostar.

Fechou os dedos sobre seu inflamado clitóris e Desi teve que morder os lábios para não gritar de prazer.

—Não. —Roçou os lábios de Desi com os seus— Me Deixe te ouvir, cigana. Sentir-te...

Roçou-se contra sua bochecha enquanto lhe beliscava o mamilo e ela começou a sacudir os quadris contra sua mão, em busca do eco daquela descarga de prazer.

—Caine. —Justo aqui.

Ele manteve o ritmo e Desi não demorou em saber o que queria. Seus quadris se moviam com frenesi; a água saltava a seu redor. Os músculos da cara lhe doíam de tanto esconder as emoções às que por fim podia dar rédea solta. As lágrimas corriam por suas bochechas.

Um lamento escapou de seus lábios.

—Maldita seja. —Caine se deteve—. Estou-te fazendo mal?

Incapaz de falar, Desi negou com a cabeça.

Um momento depois Caine voltou a pressionar seu sexo nu e um rio de lava correu pelas veias de Desi, fazendo-a gritar com paixão.

—Ah. —Disse ele.

Ela sentiu seu sorriso sobre a bochecha.

—É um pequeno vulcão, verdade?

Desi girou a cabeça e lhe mordeu o braço. Uma onda de satisfação rompia contra seus instintos mais primários, lhe fazendo perder o controle.

—Te incline para diante. —Disse ele e entrou na banheira.

Sujeitando a da cintura, fez-a incorporar-se.

—Ponha se em cima de mim.

Desi se voltou para ele e jogou os pés para diante.

—Não. Ponha se de joelhos.

Ela pôs os pés a ambos os lados do torso de Caine, apoiando-se em seus joelhos para não perder o equilíbrio.

Caine deslizou a mão entre eles e levantou seu membro viril.

—Agora se sente sobre mim.

A água saltava por toda parte.

—O chão.

—Se limpa. Agora se sente sobre mim.

Desi fez o que lhe pedia: sentou-se sobre seu pênis ereto. Suas dimensões descomunais lhe fizeram conter o fôlego.

—Isto vai ser maravilhoso. —Lhe disse ao mesmo tempo em que separava seus lábios mais íntimos com os dedos—. OH, sim. Isto é o que quero.

Voltou a lhe acariciar os seios com a mão direita e seguiu lhe massageando o clitóris com a outra, jogando e atormentando a jovem.

 

Desi se esfregou contra sua dura verga com frenesi até que já não pôde agüentar mais. Caine a fez inclinar-se para diante e a penetrou com todo seu ser. Com a mão esquerda a acariciava um seio e com a direita lhe sujeitava o traseiro. De repente colocou o polegar ali onde ninguém tinha chegado.

—Te mova.

Desi se elevou sobre os joelhos, esfregando-se contra seu pênis. Entretanto, esse dedo indiscreto, que não fazia mais que mover-se, distraía-a sem cessar. Cavalgar sobre seu membro lhe dava muito prazer, mas por muito que se esforçasse não chegava a abrangê-lo completamente. Era enorme.

—Agora te jogue para trás.

Desi titubeou um instante. Seu sexo palpitava, lhe pedindo mais.

Caine a beliscou em um mamilo e ela deu um salto, desatando ondas de prazer que a percorreram de cima abaixo. A pressão que ele exercia contra sua cavidade anal intensificava todas as sensações. Desi quase tinha chegado ao final de seu enorme membro quando se deteve subitamente. A pressão tinha trocado.

—Até dentro, com carinho.

Desi fechou os olhos e se apertou contra sua ereção, mas a temida invasão não chegou. Caine seguiu lhe pressionando o ânus como tinha feito até esse momento, sem lhe colocar os dedos.

Ondas de prazer.

Ele tomou sua profusa cabeleira e a pôs sobre o ombro. Ela podia sentir seu olhar sobre as costas; ouvia seus gemidos de satisfação enquanto se esfregava em suas vísceras.

—Você gosta?

—É obvio.

—Não estou muito fraca?

—Carinho, se voltar a te mover, dou-te um dez.

Ainda sedento de paixão, era capaz de conservar o humor.

—É muito estranho.

—E isso é bom ou mau?

Ela se levantou lentamente, saboreando a confissão que estava a ponto de fazer.

—Bom.

—Se for assim... Poderia acelerar um pouco?

Outra investida de seus poderosos quadris. Ela sacudiu a cabeça.

Ele era tão distinto. Podia fazer tudo o que lhe pedia; podia confiar nele. depois de tudo era seu marido, e possivelmente não fora tão mau.

O prepúcio de Caine lhe roçou a ponta do clitóris.

«OH, Deus. Isto!».

Desi começou a sacudir os quadris com loucura e Caine teve que sujeitá-la.

—Te deixe levar, Desi. Tenho-te.

Ela estava a borda daquele precipício de prazer que tanto lhe aterrorizava. Sacudiu a cabeça e se retorceu em seus braços. Algo a esperava a fundo daquele abismo...

—Sim! Caine pôs a mão sobre o quadril da jovem e apoiou o polegar sobre seu sexo inchado, desdobrando o clitóris sobre seu pênis ardente.

A tensão acumulada se fez pedacinhos e Desi teve que reprimir um grito. Uma explosão de foguetes lhe arrasou as vísceras. Ele a investia com frenesi, esfregando-se contra seu sexo inflamado.

De repente deixou escapar um gemido rouco e ela se desabou entre suas coxas. Então a estreitou entre seus braços e lhe acariciou as costas, murmurando uma carícia.

Desi se apoiou nos joelhos de Caine para incorporar-se e se deu a volta. As gotas de água caíam sobre a banheira. Splash, splash...

O fôlego de Caine lhe acariciava o traseiro.

A jovem se sobressaltou ao sentir seus lábios entre as nádegas.

—OH, Deus.

Agarrou-lhe a cabeça e começou a esfregar-se contra ele com as forças que ficavam. A risada de Caine lhe sacudiu as vísceras.

Então ele há levantou um pouco mais e colocou a cabeça entre suas pernas. Embora soubesse o que estava por chegar, nada poderia havê-la preparado para tanta felicidade e prazer ao sentir a língua dele sobre sua carne convulsiva.

Caine continuou lambendo e explorando o centro de sua feminilidade, fazendo caso omisso a seus protestos. Quando ela gemia de prazer, ele chupava com mais força.

Desi se meneava a um lado e a outro, esfregando-se contra seus lábios, e ele seguia massageando seu ponto mais sensível com a ponta da língua, sujeitando-a com força. A jovem se estremecia e sacudia os quadris uma e outra vez. Aquela sensação era muita...

Uma onda orgásmica lhe percorreu as vísceras e a arrastou para muito prazer.

Então lhe deu a volta e pôs os lábios sobre um mamilo sedento. Penetrou-a com seu membro ereto e se acomodou dentro de seu sexo úmido. Ela recostou a cabeça sobre o ombro dele e se rendeu de uma vez por todas, incapaz de seguir resistindo. Todos seus músculos se estremeciam sem cessar, mas uma mão nos quadris a fez manter-se firme.

—Assim, céu. Faz que me corra, assim.

E ela o fez, cavalgando com suavidade.

—Isso é. —Murmurou ele—. Assim. Com suavidade e doçura. —Lhe disse ao senti-la relaxar-se.

Em um rincão do coração de Desi havia uma voz que só sussurrava uma palavra.

—Mais...

Ela se esfregou contra ele, movendo-se de um lado a outro.

Os dentes do Caine ao redor de seus mamilos...

—Não. Assim. me esprema, Desi. Faz que queira te dar minha semente.

Sua semente. Sim. Isso era o que ela queria. Ainda sentia os vestígios do último orgasmo quando começou a lhe esfregar o membro com os músculos de seu sexo, compartilhando assim o prazer que lhe tinha ensinado.

Caine jogou a cabeça para trás e se aferrou a seus quadris com mãos de aço.

Um jorro quente banhou as vísceras da jovem, abrasando-a como uma marca de fogo.

Ele abriu os olhos, como se pudessem ouvir seus pensamentos. Apertou os dedos que a sujeitavam e voltou a alagar seu sexo ardente ao tempo que lhe acariciava o clitóris com o polegar.

   Essa vez foi ela quem se esfregou contra ele, lhe pedindo mais.

 

Caine lhe pôs as mãos sobre as nádegas, lhe negando o que ambos desejavam.

Ela o olhou fixamente, confundida.

—Minha. —Disse ele sem mais.

Alguém bateu na porta.

Desi deu um salto, mas Caine não a deixou levantar-se. Ainda não.

—O que acontece? —Disse, acariciando as costas da jovem.

—O jantar vai se queimar se não lhes dá pressa. —Disse Ti.

—De acordo.

A magia que tinha surto entre eles se desvaneceu em um abrir e fechar de olhos. Desi se tampava os peitos com ambas as mãos.

Caine lhe fez pôr as mãos sobre as costas e um seis turgente o investiram com paixão, desatando uma corrente de desejo que não demorou em reafirmar sua ereção. Quão único desejava era lhe fazer o amor até cair desfalecido.

Desi se encolheu e se tornou a um lado.

—Tranqüila. —Lhe disse.

Ela não tinha de que preocupar-se. Ele sabia muito bem quando uma mulher chegava ao limite.

—Caine? —Sei céu. Confia em mim e te levante.

E assim o fez não muito convencida. Seu potente membro a deixava vazia.

Caine também ficou de pé. Com grande destreza lhe apalpou o traseiro e introduziu o dedo médio em seu sexo inchado e úmido. Ela resistiu um pouco, mas terminou rendendo-se a suas carícias.

—Isso também eu gosto, céu. —Lhe disse ele.— Como responde a minhas carícias.

—Mas é indecente.

—É muito excitante. —a carregou nos braços e a sentou em uma cadeira.

Então lhe deu uma toalha para que se secasse enquanto lhe curava as feridas com o ungüento que Ti lhes tinha deixado.

—Dói-te o traseiro?

Ela se ruborizou e sob a vista, mas seu olhar aterrissou sobre a enorme verga ereta do Caine. Um gemido afogado fez decidir-se ao Caine.

—Tomarei como um «sim» - Se ajoelhou diante dela e lhe agarrou um pé.

Os cortes estavam limpos e não pareciam infectados.

—Estão muito bem.

Ela murmurou algo e começou a secar-se enquanto Caine lhe enfaixava as feridas.

—Estarão bem em um par de dias. —Ficou de pé.

Ela o olhou com cansaço; os olhos fixos em seu rosto.

—Obrigado. Ofereceu-lhe a mão para ajudá-la a levantar-se, mas ela deu um tropeção e se precipitou contra seus peitorais.

 

Foi então quando reparou nas profundas marcas de dentes que tinha no antebraço.

—Sinto-o muito.

Caine lhe fez dá-la volta e a tombou sobre a mesa.

—Não tem por que te desculpar.

Ela se apartou o cabelo do rosto e se apoiou sobre os cotovelos.

—Mordi-te.

—E eu me corri quando o fez. —Levantou a borda da toalha com a que Desi se tampou.

—O que está fazendo?

—Vou aliviar-te a outra ferida.

Pôr-lhe a palma da mão sobre as costas para mantê-la quieta, mas ela tratou de lhe dar uma patada.

Caine colocou os dedos no ungüento.

—Se seguir assim os terá aqui em menos de um segundo.

Desi ficou quieta e olhou para a porta.

—Cala. —Lhe ordenou.

—Então esta quieta.

Ela tinha um traseiro perfeito, suave e branco, com forma de coração.

Caine lhe aplicou o bálsamo sobre as nádegas.

—Tranqüilo céu. Dê-me uns minutos e te farei sentir como nova.

Pouco a pouco Desi começou a relaxar-se e apoiou a cabeça sobre a mesa. Um suave sussurro escapou de seus lábios.

—Onde aprendeu a fazer isso?

Esse truque o tinha aprendido de uma China com a que tinha estado, mas um homem não lhe dizia essas coisas a sua mulher.

—A gente aprende coisas novas aqui e ali.

—É imoral, mas... —outro desses suspiros, e ao Caine ardeu o sangue.

—Mas o que?

—Acredita que lhes importará esperar pelo jantar?

A risada de Caine tomou por surpresa.

—Encontrarão a forma de sobreviver até que esteja em condições de te sentar.

—Não acredito que isso seja possível.

—OH, mulher de pouca fé. -Deslizou os dedos pela base de suas costas e percorreu as montanhas de suas nádegas para terminar no vale de suas femininas curvas.

As mãos de Caine logo se toparam com a abertura de seu ânus. Melado de bálsamo, deslizou os polegares por seu vulcão posterior, acima e abaixo, uma e outra vez.

Desi se estremeceu.

—Você gostou cigana? —disse-lhe, inclinando-se sobre ela.

Ela assentiu com a cabeça, sentindo como tocava a flor de seu sexo.

Uma gota de seu próprio sêmen umedeceu as mãos de Caine.

—Sente-o? Minha semente, dentro de ti?

—Sim. —Sussurrou ela.

—Sabe como me excita saber que parte de mim está dentro de ti? —apoiou o polegar contra o ânus de Desi e colocou dois dedos em seu sexo úmido.

—Caine?

Ele deu um passo atrás e começou a esfregá-la com a ponta do pênis; o bastante para fazê-la cair uma vez mais.

—Só um pouco, neném. Um aperitivo.

Não sabia se poderia agüentar tanto tempo. Aquela pequena abertura, tenra e suave... Um rio de ebulição e luxúria lhe percorreu as vísceras.

Separou-lhe as nádegas e contemplou seu próprio membro, roçando-se contra ela, pressionando essa carne fresca e úmida.

—O jantar. —Sussurrou Desi.

Tinha razão. Não tinham tempo para isso.

Caine deslizou o pênis sobre esse orifício tentador e roçou as coxas contra as nádegas dela.

—depois de jantar, neném. —Lhe sussurrou ao ouvido—. Tenho toda a noite para te agradar.

—Tal e como te disse. Já pode te sentar.

Ela se apalpou com cuidado.

—Não sei se posso me mover.

Ele tomou em braços.

—Bom, cigana, fez bem em ter um marido para este tipo de coisas.

O jantar resultou caótico. Enormes fontes cheias de guisados, feijões, bolachas, filetes e verduras se aconteciam ao longo da mesa de cavalete.

Sam foi o encarregado de benzer os mantimentos e nada mais dizer «amém», todos começaram a comer com avidez, desfrutando de uma animada conversação. As brincadeiras e os bate-papos de negócios se fundiram em uma discordante cacofonia depois da que Desi se escondia.

A jovem provou um par de manjares para entreter-se um pouco, mas estava tão nervosa que logo que podia tragar a comida. Um nó no estômago lhe atendia as vísceras.

Ele a tinha feito sentir coisas tão maravilhosas, e imorais. Nenhuma mulher decente lhe teria permitido fazer coisas como essas.

Mas ele queria mais...

Desi desfez uma parte do pão em pedacinhos.

A seu redor, o murmúrio de vozes não cessava. Tal e como lhe tinham ensinado em outro momento de sua vida, Desi sorria quando era necessário e para algum comentário educado, mas não lhe fazia muito caso. Bem poderia ter sido um floreiro, ou parte da decoração.

Suspirou e arrancou outro pedaço de pão. Não havia muita diferença entre aquela vida e a que tinha ante seus olhos. A única diferença residia em que seus olhos já não estavam fechados.

Um silêncio repentino a tirou de seu devaneio. Levantou a vista. Todo mundo a olhava com gesto preocupado. Limpou-se a boca com o guardanapo.

—Sinto muito. Perguntaram-me algo?

—Não. Estivemos muito ocupados com a comida. —Disse Sam.

Ao Desi bastou com um olhar para dar-se conta de que tinha razão.

 

Aquelas enormes fontes estavam quase vazias e os pratos dos homens reluziam como recém lavados.

Ainda a olhavam.

Desi se voltou para Ti.

—Os meninos estão esperando pelo segundo. —Lhe disse olhando seu prato cheio.

—OH! —Disse a jovem, fingindo entender.

E seguia olhando-a.

—Com este montão de abutres, deveria escolher logo, ou não ficará nada logo.   —Acrescentou Tracker.

—Queria um pouco mais de bolacha. —Disse Ti.

Seu prato percorreu a mesa de mão em mão e retornou com duas partes de bolacha.

Ti tomou o prato e levantou uma sobrancelha ao ver a dobro da comida.

—Se por acaso tem vontades de picar logo! —Exclamou um homem maior da outra ponta.

Com as bochechas vermelhas, Ti brincou com o guardanapo um momento.

—Obrigado. —Disse finalmente, com a dignidade que a caracterizava.

Os homens voltaram a olhar Desi, impaciente.

Ela pôs o melhor dos sorrisos e lhes fez um gesto com a mão.

—Adiante. Eu já não posso comer mais.

A resposta foi imediata.

—Demônio, para comer mais, teria que ter comido algo.

—É que isso é tudo o que vai comer?

—Um golpe de vento poderia levar-lhe sem mais. Já não vai comer mais?

—Terá que comer bem para recuperar as forças.

—Sua mulher tem que comer Caine.

Todos olharam Caine e ele olhou a ela. Esses olhos de bruxo repararam em seu prato cheio.

—Suponho que necessita tempo para acostumar-se.

—E então o que gostaria de comer, senhorita? —Tucker lhe retirou o prato.

Desi não sabia o que responder.

—O guisado sempre está melhor depois de um momento. —Lhe disse.

Um murmúrio de vozes mais tarde, outra ração de guisado aterrissou no prato da jovem.

—Maldito seja, Sam, não lhe coloca feijões. São difíceis de digerir.

Desi pestanejou.

—As omeletes são mais ligeiras.

Uma omelete caiu ao lado do guisado.

—As verduras são muito saudáveis.

—ficam murchas, mas são muito boas.

Caine assentiu com a cabeça e a verdura cobriu o prato de Desi.

—A carne vermelha é boa para o sangue.

Ela odiava a carne vermelha, mas seu marido voltou a colocar um filete sobre o seu prato.

—A bolacha estava muito boa. —Disse Tucker, olhando Tracker. Havia humor no tom de sua voz.

Todos puseram os olhos sobre esse delicioso manjar e Tracker apertou a mandíbula.

—Pode tomar o meu. —Disse Ti.

Tracker duvidou um momento e sacudiu a cabeça. Uma parte de bolacha caiu em cima do prato repleto.

Desi se sentiu um pouco culpada. Era óbvio que essa era a comida favorita do Tracker. O prato seguiu seu caminho para o outro lado da mesa e terminou em mãos do Caine.

—É suficiente. —Disse e o pôs diante.

Desi jogava com a faca e o garfo, esperando.

—Me vais devolver o prato?

Ele levantou uma sobrancelha.

—A tentação é inútil se o estômago não ranger.

Antes que Desi pudesse replicar, Sam agarrou o bolo de guisado que lhe acontecia Tucker.

—Me dê isso. Caine sorriu. —Depois de mim.

—Demônio, depois de ti não fica nada.

Caine se serve um pouco. —Como deve ser.

Sam lhe arrebatou o enorme bolo e olhou o conteúdo.

—É que nem sequer me deixaste uma batata-doce?

—Não o tenho feito de propósito.

Sam pôs a fonte na mesa e agarrou a concha de sopa.

—Tome cuidado com ele, Desi. Vão muito os doces e quando começa não há quem o pare.—Serve-se um pouco de guisado—. Não deixou nada. —Disse, dirigindo-se a todos, antes de passar a fonte.

Todos outros se comportaram da mesma forma: arrebatavam-se a fonte os uns aos outros com brincadeiras e ironia. Entretanto, ninguém se serve mais do que lhe tocava. Aquela era uma competição sã. Só se tratava de quem gritava mais, ou inventava o melhor insulto.

Era uma família de verdade.

—Sempre é assim. —Disse Ti, suspirando—. Por muitas broncas que lhes dou, nunca se comportam como é devido.

—O passam bem, né?

Ti sorriu.

—Sim, mas vejo que você não está acostumada a essa classe de comportamento. Era distinto em seu lar.

—Muito distinto.

—Nada de brincadeiras e alegria?

—Não.

As brincadeiras não eram um costume nas mulheres destinadas a casar-se com importantes homens de negócios. Embora ela e sua irmã tivessem conseguido divertir-se um pouco, nunca tinham podido fazê-lo durante o jantar.

Ti olhou para o Tracker, que discutia com o homem maior pelo último pedaço de bolacha.

—Acredito que será mais fácil que você te adapte antes que fazê-los trocar.

O humor daqueles homens era contagioso. Desi esboçou um sorriso.

—Eu também acredito.

Tracker resultou vencedor.

—Agora Ed ficará a chorar.

—Dou-lhe a minha. —Disse Desi.

Ti sacudiu a cabeça.

—Esse tem que aprender que não sempre se tem o que se quer.

Desi sentiu o roçar de uma mão.

—Ti tem muito carinho por Ed. - Disse Caine quando ela o olhou.

Ti ficou em pé e olhou Caine das alturas.

—Não é tua coisa especular sobre mim.

—Não me importa. —Disse Ed—. Segue especulando.

Ti o fulminou com o olhar; os punhos sobre os quadris.

—Você não tem vela neste enterro.

—Não vejo por que não. A metade da discussão me concerne .

Ti lhe arrojou uma parte de bolacha e Ed o agarrou no ar, com um sorriso nos lábios. Ela deu meia volta e saiu da habitação com passo irado.

Ele envolveu a bolacha em um guardanapo.

—Acredito que se está abrandando, meninos.

—Sim. A este ritmo chegará à fase do cortejo quando cumprir os noventa. —Apontou Sam.

—Vá, vejo que está muito desinformado, guri. Passei essa fase faz um ano. Agora estou trabalhando na declaração de intenções.

—Bom, tenha pressa e te ponha mãos às obras. —Disse Sam—. Quando Ti se zanga, a comida sofre as conseqüências. Ed se encolheu de ombros.

—Como Caine trouxe reforços, já não temos que nos preocupar com isso.

Os homens romperam a rir e intercambiaram olhadas cúmplices.

—Não sei cozinhar.

A notícia caiu como uma bomba. Todos a olharam com a boca aberta, incluído seu marido. E o que podia dizer? Que lhe tinham ensinado a cozinhar? Mas que não sabia cozinhar?

—Mas pode aprender, não?

—Suponho.

—Claro que pode.

—Uma mulher que não sabe cozinhar é como um porco com tetas.

—Cuidado com sua linguagem, Ed. —Disse Caine.

—Sinto muito, senhora.

Desi voltou a sentir a mão de Caine sobre a sua.

—Acredito que agora deveria te pôr de minha parte.

—Por quê?

—Não acredito que queira te acontecer o dia e a noite na cozinha. Necessita uma desculpa para te liberar.

—E essa escusa é você?

—Nenhum homem vai discutir com um homem recém casado que quer acontecer tempo com sua esposa.

—Então se trata de ser amável contigo, ou ser uma pulseira na cozinha.

Caine fechou a mão sobre a dela.

—Sim. Desi não protestou essa vez.

—Sempre há uma terceira opção.

Ele arqueou uma sobrancelha.

—O que?

—Poderia ser uma cozinheira muito má.

Caine esboçou o sorriso que levava tempo escondendo.

—Querida, isso não te vai liberar. —E por que não?

—Há um refrão que diz que a esperança é o último que se perde, e quando se trata de um estômago vazio...

—Mas também há uma verdade inelutável. Se não souber cozinhar, algum de nós terá que fazê-lo.

Desi tinha chegado a essa conclusão antes de ouvir Tucker.

—Suponho que terei que aprender a cozinhar. —Disse com um suspiro.

—Ou se não pode estar com seu marido.

Desi o fulminou com o olhar e os homens puseram-se a rir.

Apartou a mão da de Caine.

—Aprenderei a cozinhar.

Caine não perdeu o sorriso.

—Bom, suponho que ganho das duas formas.

Desi esperava que Caine lhe jogasse em cima depois de jantar. O que não esperava era que a envolvesse em uma manta e a levasse em braços até a porta.

—Posso andar, sabe?

—Já falamos que isso.

—Acredito que deveríamos fazê-lo de novo.

—por que?

—Porque se pensar o bastante nisso posso encontrar a forma de te fazer trocar de idéia.

—Sempre está muito segura quando se trata dos homens.

—Não.

Caine se girou ao atravessar a porta.

—Acredito que vai um pouco desencaminhada se crie que um homem vai deixar acontecer à oportunidade de ter a uma formosa mulher em seus braços.

Palavras como essas a faziam voltar a acreditar nos contos de fadas.

—Por que saímos?

—Porque quero te ensinar algo.

—Não posso vê-lo amanhã? —Tampou-se com a manta ao sair ao exterior—. Quando fizer menos frio.

A lua enche brilhava sobre a paisagem noturna, cobrindo-o com seu manto de prata.

—Não. Havia dois cavalos selados. A seu lado estava Boone.

Outros cães aguardavam no alpendre.

—OH, não. Não vou voltar a montar a cavalo.

—Não tem por que fazê-lo. Eu te levantarei.

Ela sacudiu a cabeça. Os efeitos do banho tinham desaparecido e com apenas pensar em subir a um cavalo, doía-lhe todo o corpo.

—Não.

Caine se deteve junto ao cavalo. Boone grunhiu amigavelmente e começou a menear a cauda.

—Porque não quer ir comigo ou porque ainda lhe doem certas zonas do corpo?

—E o que passa se forem as duas coisas?

—Quão mesmo se disser outra coisa.

O qual significava que ia de todas as formas.

—Vale. O último. Não posso montar Caine.

Ele a sentou no bordo de alpendre.

—Já pensei nisso. —Olhou para os cavalos—. Tracker?

—Já estão preparados?

—Sim. Tracker saiu de entre as sombras e desatou as rédeas.

Lançou um olhar fulminante a Caine.

—Disse que não teria que montar!

—Montarei. —Caine tomou as rédeas e subiu ao cavalo—. Isso pingente.

—Senhora.

Tracker parecia estar esperando instruções. Desi olhou um e a outro. Se o alpendre não se houvesse interposto em seu caminho, teria posto-se a correr.

—Não vou montar.

—Claro que não. —Tracker a agarrou pela cintura e a deixou nos braços de Caine.

—Tem-me feito armadilhas. —Disse ela, resistindo.

Tracker se se pôs a rir.

—Pôr-me a isso é muito fácil pensando o pior.

—Bom, não tinha que te aproveitar de minha debilidade. Caine lhe tampou o ombro com a manta onde lhe tinha escorregado.

—Aqui se tira partido de todas as debilidades.

Tracker subiu a seu cavalo.

—Isso é. —Desencapou o rifle e o pôs sobre o estribo—. Preparados?

Caine assentiu com a cabeça.

Depois de deter os cães, ficou em marcha.

Desi nunca tinha dado um passeio a cavalo de noite, à luz de uma grande lua comanche. Estava um pouco nervosa, mas depois de uns minutos de trote tranqüilo de Chaser, começou a relaxar-se. Essa não era a primeira vez que os cavalos subiam a montanha.

—Aonde vamos? —É uma surpresa.

—Eu não gosto das surpresas.

—Que pena. —Caine se inclinou para diante para apartar um ramo do caminho.

—Então por que não me diz aonde vamos?

—Porque eu gosto das surpresas.

—Quando as dá você. —Disse sem querer.

Desi conseguiu lhe apagar o sorriso.

—Isso é certo. Caine soltou o ramo e deixou a mão sobre seu quadril.

—Está bem?

—Estou cômoda.

—Ainda te dói?

Desi olhou a Tracker. Não podia havê-los ouvido.

—Cala! Caine lhe pôs a mão sobre a coxa.

—Está...?

—Estou bem. —Lhe disse, a ponto de estalar.

—Não respondeste a minha pergunta. Desi escondeu a cabeça na manta.

—um pouco. —Sussurrou.

Os dedos lhe apertaram a coxa.

—Necessita um pouco mais de bálsamo.

—Não.

A risada do Caine reverberou em seu peito.

—Não me importa.

—Mas a mim sim.

—Por quê?

—Porque não é correto.

—E agora é uma esposa correta?

—Sim. —E isso quer dizer que não posso passá-lo bem?

—Não dessa forma.

Chaser começou a subir por um pendente e Desi agarrou o peito de Caine embora não fora necessário. Ele a sujeitava com força da cintura.

—Vejo que vou ter que te tirar essas idéias sobre o correto.

—Não passa nada com minhas idéias. São seus desejos os que são imorais.

—Sou um bom homem.

—E te merece uma boa mulher.

—Vá... Onde está a lógica?

Desi se relaxou um pouco quando o cavalo voltou para a planície.

—Um homem que se esforça por ser bom durante o dia se merece uma mulher indecente de noite.

—Não entendo nada. —E eu que pensava que estava sendo muito claro.

—Todos os homens querem ter a uma mulher decente que crie a seus filhos e cuide de sua casa.

—Sonha um pouco aborrecido.

—O que?

—Digo que sonha um pouco aborrecido. Nenhum homem que esteja em seu normal quer encontrar-se com uma Santa em casa.

—Está equivocado.

—Como sou um homem, acredito que tenho razão, e te digo Desi Allen, que o único homem que se merece uma mulher imoral é um homem bom. Não há melhor recompensa.

Desi se apertou a manta ao redor do pescoço. A raiva a consumia. Que fora seu marido não lhe dava direito a rir dela.

—Estarei por ali, dando uma olhada. —Disse Tracker, assinalando para as árvores.

Então girou nesse sentido.

Desi o viu afastar-se com uma mescla de alívio e alarme.

—Desi? —O que? —Olhe para cima.

—Por quê?

—Porque te vais arrepender-se por toda sua vida se não o fizer.

Desi ficou sem fôlego. Estavam a bordo de um precipício e os seus pés se estendiam... O universo. Aquele tapete de estrelas se estendia até o infinito. Aquela paisagem era intemporal, assustador.

—Vê-o? —seguiu o dedo do Caine com o olhar—. Esse é o rio Santo Antonio. Tudo o que há entre o rio e nós é a terra dos Oito do Inferno.

Desi pestanejou assombrada.

—Por que me ensina isto?

—Porque agora é parte dos Oito do Inferno, e queria que soubesse o que isso significa.

—Isto é território indígena.

—Há algumas tribos que reivindicam o direito a terra.

—E não os molesta quem estejam aqui?

—Não os incomodamos se eles não nos incomodam.

—E quando o fazem? —Arrumamos.

—Lutam. —Se for necessário.

Não era de sentir saudades de Caine não a tivesse deixado partir aquele dia. O desespero a tinha cegado, mas aquele era um lugar muito perigoso.

—Parece que há suficiente para todos.

—E assim é. —E então por que lutam?

—Porque alguns não estão tranqüilos até o ter tudo.

Desi olhou Caine por debaixo das pestanas. Ele contemplava a paisagem.

—E você tem bastante? Com o que tem?

Ele sacudiu a cabeça antes de baixar a vista.

—Nem de longe. Não temos feito nada mais que começar, jogamos raízes, mas quando tivermos terminado, todo mundo conhecerá os Oito do Inferno.

—Já o conhecem.

Com um movimento da mão, Caine rechaçou as lendas.

—Por algo mais que matar.

Desi não sabia como era possível. O Homem do saco não era ninguém quando se tratava de assustar aos meninos e as mães se desesperadas recorriam a essas lendas uma e outra vez.

—E por que quer que lhe conheçam?

Caine tocou o lombo do cavalo.

—Cavalos. —Cavalos?

—Essa expressão quer dizer que alguma vez pensaste que poderia querer fazer algo mais que sobreviver?

—Honestamente, não tinha pensado nisso.

—Entendo que tenha tido outras coisas em mente.

Sem dizer nada mais, seguiu contemplando a paisagem.

—E o que te fez te decidir pelos cavalos?

—Meu pai criou aos melhores cavalos do território. Acredito que vai ao sangue.

Tinha perdido a seus pais na infância. Tinha-o perdido tudo; seu lar, sua infância. Mas não se deu por vencido.

—Mas é um ranger do Texas.

—A maioria dos homens é mais de uma coisa.

—E as mulheres também. —Isso é um fato. E você o que quer ser?

—Útil.

Caine levantou as sobrancelhas.

—E o que te faz pensar que não está preparada?

—Segundo seus critérios, consentiram-me muito. Tudo o que queria o tinha.

—Me parece que isso é perfeito.

—Foi divertido quando menina, mas quando cresci, chegou a ser um pouco lhe exasperem.

—Sentiu vontades de te rebelar, verdade?

—Sim. Pus me um pouco teimosa.

—E assim é como terminou aqui?

—Não. —A dor daquelas lembranças a fez fraquejar—. Meu pai se apaixonou do oeste. Leu sobre isso nos periódicos.

Desi recordou a ilusão de seu pai ao lhe falar da aventura que os esperava ao outro lado do Mississipi. E então recordou sua cara a última vez que o tinha visto. Um buraco de bala lhe sangrem...

Desi cravou as unhas na manta e tratou de conter a raiva.

—Acreditava que era um lugar de oportunidades e aventura.

—Estraguem. —Caine lhe tirou a manta da cara—. E pensou que era uma boa idéia te trazer para ti e a sua mãe.

—E o meu irmão e minha irmã.

—Vá. Que idiota.

—Sim.

—O que aconteceu com sua família?

—Mataram-nos a todos exceto a mim e a minha irmã.

—E onde está sua irmã?

—Não sei.

Desi se estremeceu ao recordar a agonia de sua irmã. Nunca poderia esquecê-lo.

 

Os olhos do Ari, inchados pelos golpes e as lágrimas... Ferida nos lábios... Ajoelhada no barro.

Os comancheros a tinham a despido diante dos homens que tinham comprado a Desi para tentar dobrar o preço.

—Os homens que me salvaram não tinham suficiente para pagar o resgate de ambas.

—Resgate? Assim o chamavam?

Ela se mordeu o lábio.

—Sim.

—Então os comancheros levaram a sua irmã ao sul?

—Sim.

—Quanto faz disso?

—Trezentos e cinqüenta e seis dias.

—tiveste notícias delas? —Não.

—Poderia estar morta.

Desi se retorceu em seus braços.

—Não volte a dizer isso.

—Desi...

—Te cale! —disse-lhe, colérica.

—Sinto-o. —Lhe disse e a atraiu para si.

—Não pode dizê-lo e fazer que seja verdade. —Sussurrou ela, contemplando o firmamento.   

Possivelmente, em alguma parte, Ari contemplasse o mesmo céu.

—Não o farei. —É minha irmã geme-a.

—Maldita seja.

—Saberia se estivesse morta. —Se esfregou o punho com os dedos—. Dentro de mim, sei.

—Claro. Desi elevou a vista.

—Crie que pensa que a abandonei?

—Eu acredito que sabe a verdade, que a teria ajudado de ter podido, mas as duas estavam indefesas e não podiam fazer nada.

—Poderia ter seguido tentando-o quando me compraram.

—Como? Tinham-lhe golpeado, violado, matado com fome, e, além disso, estava exausta. Uns desalmados lhe deixavam cativa. O que poderia ter feito exatamente?

—Poderia havê-los convencido de que com um par da gema podiam ter o dobro de prazer.

—Se lhes tivessem querido as duas, eles teriam comprado às duas.

—Poderia...

Caine lhe agarrou o queixo e lhe fez olhá-lo aos olhos.

—Eles teriam violado ali mesmo e depois se teriam rido um pouco, mas a teriam deixado igualmente.

Desi levantou o queixo.

—Não sabe. —Se, sei.

—Poderia lhes haver feito levar-se Ari. —Lhe disse com olhos se desesperados.

—Ari? Sua irmã se chama assim?

—Sim. —Seja o for, seja o que lhe tenha passado, estou seguro de que ficou preocupada contigo quando James e sua turma lhe levaram com eles.

Desi se umedeceu os lábios, mas foi inútil. Tinha a boca seca.

—Mentiram. —Como?

—Disseram que só podiam salvar a uma de nós. Tínhamos que escolher.

—E você ganhou.

Desi o negou com a cabeça.

—Perdi, mas eles interpretaram mal algo pingente.

—E? —Levaram-me com eles.

—E? —Não consegui convencer os de que tinham cometido um engano. Tentei-o, mas não me escutaram.

—Ari sim o entendeu.

Ela voltou a sacudir a cabeça.

—Ouvi gritar Ari. Quando me dava à volta estava de joelhos, nua, e lutava com eles. Tinha a cara cheia de sangue.

Apertava-se o punho com tanta força que foram sair lhe cardeal.

Caine lhe abriu os dedos. Tinha que liberar toda essa dor de uma vez e por todas.

—Estavam-se rindo.

—Não poderia ter feito nada.

—Poderia ter insistido em ficar.

Assim que abriu a mão, voltou a fechá-la.

—E para que? As coisas não lhe foram muito bem.

—Não o entende! —exclamou com um grito que lhe rasgou a alma—. Eram onze, e só ficava ela.

—Filho de cadela...

A voz do Tracker chegou de entre as sombras; o eco da raiva que sentia Caine. No que estava pensando seu pai ao tomar semelhante decisão? Três mulheres indefesas naquela terra selvagem? Caine tratou de conter a fúria.

—Você mesma me há dito que Ari sobreviveu. Isso é o que importa.

Desi pestanejou. O desespero e a culpa deram passo à esperança.

—Sim. Sobreviveu.

Caine nunca se alegrou tanto de ver lágrimas nos olhos. Um rio de pranto alagou as pupilas de Desi.

—Então o que terá que fazer é encontrá-la e assim podem falar.

Ao longe se ouviu o rangido de um ramo sob os pés do Tracker, seguida de um juramento. Caine sabia o que seu companheiro estava pensando. No melhor dos casos Ari devia estar muito ferida gravemente.

Não obstante, Desi não tinha por que sabê-lo.

—Se estiver viva, há esperança.

—Crie que há possibilidade de encontrá-la?

—Sim. Desi respirava de forma entrecortada. Seu fôlego não era mais que um sussurro de dor.

—Crie que pode me trazer de volta a minha irmã?

Caine não podia lhe prometer nada. Embora estivesse viva, Ari devia estar em péssimas condições tanto físicas como mentais depois de tantos abusos e enfermidades. As brancas não tinham descanso em território mexicano.

—Eu a trarei de volta, senhora. Disse uma voz.

Caine arqueou uma sobrancelha em direção para o Tracker. O índio estava no lombo de seu cavalo; uma silhueta negra em metade da noite.

Desi ficou erguida ao tempo que Tracker emergia das sombras.

—Promete-me isso? —Sim.

Desi se voltou para Caine. Seus dedos se cravavam na boneca de ranger.

—Posso lhe acreditar?

—Se houver alguém que pode encontrar a sua irmã, esse é Tracker.

Desi o olhou nos olhos com determinação e voltou a olhar Tracker.

—Encontre-a.

O cavalo do Tracker ficou nervoso e este teve que atirar das rédeas.

—E se não quizer vir?

—E por que não quereria vir?

—Às vezes as mulheres se convertem no que lhes têm feito.

—Quer-me dizer que talvez pense que não quero vê-la mais depois do que passou?

—Poderia estar muito mal, Desi. —Lhe advertiu Caine—. Tão mental como fisicamente. Pode ser que não reconheça o que aconteceu muito com a irmã que conheceu.

A expressão de Desi se voltou de pedra.

—Você traz a de volta. Não importa como a encontre. Entende?

Tracker assentiu e tomou as rédeas.

—Não importa como. Traz a de volta.

Tracker assentiu uma vez mais.

—Trarei-a.

Desi se voltou para o Caine e lhe lançou um olhar esmagador.

—Você o obrigará a fazê-lo?

Ninguém podia obrigar Tracker a fazer nada. Caine lhe sustentou o olhar como se lhe sustentara a alma.

—Darei-lhe um tiro se rachar.

O truque funcionou e Desi voltou à se acalmar. Entretanto, Caine não sabia se sentir-se adulado ou não ao ver que ela acreditava capaz de matar a um amigo por uma promessa.

Tracker assinalou à direita com o rifle.

—Temos que retornar.

Caine seguiu a direção com o olhar. Umas luzes alaranjadas brilhavam a umas dez milhas do rancho.

Chaser deu meia volta.

O passado de Desi tinha retornado...

Ela não ficou tranqüila durante muito tempo. Assim que se aproximaram do celeiro, tratou de baixar.

—Espera um momento. —Lhe disse Caine ao vê-la tão impaciência.

—Quero chegar a casa.

—E eu não quero que lhe voltem a abrir as feridas.

—Tomarei cuidado. Caine a empurrou para diante e pôs a palma da mão contra suas costas. Ela tratou de lhe dar uma patada, mas não foi capaz.

Ele se se pôs a rir ao ver sua impotência.

—Eu não quero que tome cuidado.

—Me deixe baixar.

Tracker olhou para trás por cima do ombro e sorriu.

—Necessita ajuda? —Tudo sob controle.

Assim que essas palavras saíram de sua boca, Desi lhe cravou os dentes na coxa. Chaser relinchou e ela gritou.

—Já vejo que sim. —Disse Tracker, descendo do cavalo.

—Se não querer terminar no chão, quieta, cigana. —Disse Caine, fazendo girar Chaser em círculos pequenos para tranqüilizá-lo—. E você diz que eu sou teimoso.

Desi se apoiou sobre os cotovelos. O cabelo lhe pendurava em uma larga trança.

—E o é.

—Montem. Bom... Por que tem tanta pressa?

—Quero lhe ensinar uma foto ao senhor Tracker.

—Senhor... De sua irmã?

—Sim. —É como você?

—Sim. —Lhe disse, rindo—. Mas é muito mais doce.

Caine a agarrou pelas mãos e a ajudou a baixar. Tracker a sustentou no ar.

—Isso me resulta difícil de acreditar.

Desi era o mais doce que tinha conhecido em sua vida.

Ela olhou por cima do ombro para lhe ver a cara. Tracker deu um passo adiante para equilibrar o peso. Uma comprida mecha cor azeviche caiu sobre o peito de Desi.

—É muito boa. —Explicou Desi.

Caine desceu do cavalo e a tirou dos braços de Tracker.

—Nunca lhe tem feito mal a ninguém em toda sua vida. —Disse a seu marido.

—E você é uma gata selvagem.

—Eu sempre a protegi. —Disse Desi, olhando ao Tracker.

—Terei-o em conta quando a encontrar. —Disse Tracker, inclinando a cabeça.

Desi se retorceu nos braços do Caine; seus olhos fixos em Tracker.

—Mas a encontrará?

Tracker não respondeu. Recolheu as rédeas e levou os cavalos para as sombras.

—Ele nunca faz promessas em vão, Desi.

—Mas o tentará? —Gritou Desi, esperando que a ouvisse.

Tracker entrou na casa.

—Farei o que possa. —Sua voz chegou a um sussurro grave e longínquo.

—Tem que encontrá-la.

Caine a acomodou em seus braços e se dirigiu a casa.

—Ao Tracker lhe dá muito bem procurar coisas.

—Minha irmã não é uma coisa.

—Não, não o é. Mas tem uma promessa de Tracker e isso é quase impossível de conseguir.

—E o que o faz tão distinto?

—Tracker nunca o teve fácil. Sua mãe era uma mexicana apodreci... —deteve-se a tempo—. Uma mulher da rua. E seu pai era um índio. Uma má combinação para um menino neste lugar. Sobre tudo porque seu pai era um bêbado contumaz. Não foi tão mau enquanto viveu sua mãe, mas quando morreu... Os homens estavam acostumados a lhes dar surras a ele e a Shadow, só por diversão.

—A Shadow também?

—Shadow e Tracker são irmãos.

—Não sabia.

—Não o anunciam aos quatro ventos.

Caine recordou aqueles tempos em que Tracker e Shadow entravam pela porta de atrás, com nódeas negras e o estômago vazio. Seu pai sempre soltava um juramento e sua mãe lhes servia dois pratos repletos de comida.

—Papai tratou de protegê-los e mamãe quis ajudá-los, mas nunca foi suficiente. A única coisa pela que se salvaram é que cresceram depressa, lutaram duros e aprenderam a estar na sombra.

—Que horrível!

—Quando os mexicanos atacaram nosso povo, ninguém os viu, mas todos sabiam onde estavam pelos gritos desses demônios.

—Deviam ser muito jovens.

—Sim, mas tinham muito ódio acumulado. Quando o auto proclamado geral irrompeu em nosso lar, soltou tudo o que levavam dentro. Renegados inverificado.

Às vezes pensava que ainda o eram.

—Meu deus.

Uma inundação de lembranças infernais alagou seus pensamentos: Gritos dilaceradores de meninos e mulheres, o repico de cascos, a guerra, o sangue... O fedor do sangue...

—Não entendo como pôde ocorrer. —A guerra não é nada bonita.

Desi pôs sua mão sobre a dele. —Sinto que tenha tido que sofrê-lo.

Ele se encolheu de ombros e enterrou aquelas lembranças.

—Esta é uma terra indomável, cigana. Mas há uma grande recompensa para os que conseguem submetê-la.

Desi rugiu o estômago.

—Que tal jantar e lhe conto uma história feliz? —Disse Caine.

Inclusive à luz da lua podia ver suas bochechas ruborizadas.

Caine sorriu.

—Alguma vez te hei dito como eu gosto que te ruborize?

—Não.

—Bom, assim é. É doce, inocente e sexy.

—Não sou inocente. —Disse, aferrando-se a seu pescoço.

Caine começou a subir os degraus do alpendre.

—Está discutindo comigo? —Perguntou-lhe, deixando-se embriagar por aquele delicioso aroma de lavanda.

Ela permaneceu em silêncio.

—Porque se for assim, não vale à pena discutir por isso. Não vais fazer me trocar de idéia.

—Mas é que está equivocado.

Caine suspirou e sacudiu a cabeça.

—Tinha que voltar para esse tema. Não?

—Aonde?

—Ao mesmo tema de sempre. —Abriu a porta e ficou de lado ao passar.

O saguão estava vazio.

—E qual é esse tema?

Caine foi para a cozinha.

—O tema no que eu tenho razão e você está equivocada. —A sentou em uma cadeira frente ao fogão—. Te Leve o bálsamo.

Desi não se moveu.

—Não? —Não.

—De acordo. Buscarei-o logo.

—Acredito que me mereço algo de respeito por ser sua esposa.

Caine se jogou o chapéu para trás e ficou erguido.

—Ah, sim? —Sim.

—E pensa que não te tratei dessa forma?

—Não.

—Por alguma razão em particular, ou é que se trata de um típico insulto?

—Não sempre fui uma apodreci...

Caine pôs a mão sobre seus lábios.

—Possivelmente lhe prefira pensar isso melhor antes de terminar essa frase.

Ele apartou a mão. Ela levantou o queixo.

—Por quê? Vai dar um açoite no traseiro?

—Isso o vai fazer de todas as maneiras.

Os brios do Desi sofreram um duro golpe.

—A isso me refiro. Não pode me dizer essas coisas.

—Inclusive embora seja verdade?

—Sobre tudo se for verdade.

—Quer seguir vivendo em uma borbulha de fantasia?

Ela assentiu.

—Se for necessário, sim.

—Pensa que as coisas que te digo são uma falta de respeito?

—Não o penso, sei.

—E como?

—Antes de me encontrar em... Essas situações tão difíceis, eu era uma jovem educada, criada para ser a esposa perfeita.

—Sério? Perfeita?

Desi fechou os punhos e assentiu. A trança lhe caiu sobre o ombro.

—Sim. —Sussurrou raivosa.

Caine lhe desenredou a trança da manta e a sustentou na mão.

—E era importante para ti ser perfeita?

—Eu queria fazer felizes os meus pais.

—E o seu futuro marido?

Ela se encolheu de ombros.

—Nem tanto. Depois de tudo não existia.

—E se tivesse existido? —Enroscou-se a trança ao redor da mão—. Teria tratado de fazê-lo feliz?

Desi atirou de sua trança e a arrebatou da mão.

—Sim. —Ah.

Caine se voltou e pôs o chapéu sobre a encimera. Tirou o jantar de Desi do fogo.

—Ah. —O que?

Pôs o prato diante dela e tirou um garfo e uma faca.

—Ah, entendo. —Disse e assinalou a comida—. Come.

—Não tenho fome.

Deu-lhe a volta a uma cadeira e se sentou escarranchado.

—Isso He diga a seu estômago. —Disse.

   —Eu sei quando tenho fome.

Nesse momento algo rangeu em seu ventre. Desi se ruborizo.

—Se não recuperar as forças, pode que deixe acontecer muitas oportunidades.

—Oportunidades de escapar?

Caine não fez caso da indireta.

—Possivelmente. E também oportunidades de encontrar o que está procurando.

—Estou procurando a minha irmã.

—E hoje encontraste a alguém que pode encontrá-la.

Desi se mordeu os lábios.

—E ontem encontrei a ti.

—Acredito que em realidade fui eu quem te encontrou. —Assinalou o prato—. Come antes que se esfrie.

Ela se acomodou na cadeira com um elegante movimento que dava fé de sua alta berço. Desdobrou o guardanapo e a colocou sobre o regaço.

—Quando vai começar a procurar Ari?

—Dentro de um par de semanas. Antes temos alguma conta que saldar aqui.

Desi agarrou a faca e o garfo e pôs um pouco de guiso sobre as panquecas. Com um movimento grácil se levou a comida à boca. Abriu os lábios e tomou os mantimentos no garfo. Finalmente apoiou o utensílio contra a borda do prato com o mesmo cuidado e começou a mastigar lentamente.

Aquele processo era tão feminino que Caine se excitou imediatamente.

—Maldita seja. Comidas vão ser um pouco embaraçosas.

Ela deixou de mastigar e levantou as sobrancelhas.

Ele tomou o guardanapo do regaço de Desi e lhe limpou uma mancha inexistente na comissura dos lábios.

—Faz que comer seja todo um espetáculo.

Ela pestanejou, mas não se zangou. Não tinha nem idéia do que estava falando.

—Come com elegância.

As bochechas da jovem se tingiram de rosa. Tragou com dificuldade.

Caine voltou a lhe colocar o guardanapo e ela tomou outro bocado. Ele se voltou a sentar na cadeira e se deixou seduzir por aquelas maneiras delicadas. Bocado detrás bocado.

—Trarei-te um pouco de água. —Lhe disse quando ela começou a comer a omelete. Já não podia agüentar mais. —Obrigado.

Estava perto da porta quando pensou em lhe oferecer outra coisa.

—A menos que prefira um café.

—Não, obrigado.

Caine agarrou a jarra de água.

—Trarei-te água fresca.

Assim que saiu pela porta, Caine deixou escapar o fôlego, mas o ar fresco não esfria a luxúria que o havia possuído.

Jogou a água no pátio e se dirigiu para a bomba. Pôs em marcha o mecanismo e olhou ao redor. As provas de seus projetos estavam em qualquer parte. O rancho dos Oito do Inferno era uma fortaleza inexpugnável. As casas, construídas contra o escarpado, podiam resistir um ataque sem vir-se abaixo. Feitas de rocha e tijolo cru, podiam agüentar o passo das chamas. Os únicos luxos que se permitiram eram os celeiros, a bomba do poço e o túnel de escapamento através do canhão.

Quando voltou a entrar na casa, Desi tinha afastado o prato e se estava limpando a boca. Não o tinha comido tudo, mas era suficiente.

Ao voltar a pôr o guardanapo na mesa, limpou-se a comissura com a língua.

Caine desprendeu uma taça do gancho da parede e a pôs sobre a mesa. Como estava de pé, não havia forma de esconder sua excitação.

 

Desi se ruborizou imediatamente e lhe deu as obrigado com uma ligeira gagueira.

Caine se apoiou sobre a mesa.

—estive pensando no que me disse.

—E? como sempre, bebeu a água em pequenos goles.

—Acredito que vais ter que te adaptar ao marido que tem.

—Por quê?

Caine se sentou sobre a mesa.

—Porque tem um efeito muito forte sobre mim, e está muito maior para escondê-lo. Já não sou um pirralho que bisbilhota depois da porta de um bordel.

—Mas eu sou sua esposa.

—E tendo em conta que é a mulher com a que vou passar os próximos cinqüenta anos, não vejo onde está o problema.

—Não me importa. —O que?

—Que sinta o mesmo com outras mulheres. —Lhe disse, agitando a mão.

Caine se se pôs a rir.

—É claro que sim. Voltaria-te louca de raiva. Felizmente, não me criaram dessa forma. Juntos até que a morte nos separe.

Desi agarrou a taça de lata com mãos de ferro e os nódulos lhe puseram brancos.

—Mas esses são os casais que se querem. Entre nós não há ilusões.

—Tão somente as que surgiram que imaginações tuas.

Os olhos do Desi relampejaram.

—E quais são?

—As que dizem que vou decepcionar-te.

—Eu nunca disse isso. —Bebeu um gole de água—. Eu não tenho nenhuma expectativa sobre ti.

—Vais ter que me compensar por essa mentira.

—Não é mentira. Não espero nada de ti absolutamente

Caine lhe roçou os lábios com o dedo polegar.

—Esperas que me jogue em cima de ti como uma fera faminta. Esperas que te jogue na cara seu passado cada vez que me aproximo. Esperas que o use para te ferir e te humilhar assim que baixe a guarda.

Caine deslizou a ponta do dedo pela bochecha da jovem.

—Isso não vai acontecer, Desi.

—Tolices.

—É minha coisa demonstrá-lo, mas também necessito que me dê uma oportunidade.

Desi jogou a cabeça para trás, desafiante.

—Então as coisas serão mais fáceis para ti?

—Eu esperava que fossem mais fáceis para ti.

—Suponho. Caine soltou o fôlego.

—Vejo que está fechada a novas idéias.

Desi não respondeu. Não era necessário.

—Este é o trato. Não tenho por costume me andar com rodeios. É preciosa e não posso resistir a ti. Se antes te desejava. Desejo-te agora. E te desejarei depois. Não me ensinaram como agradar a uma esposa, mas não acredito que seja uma falta de respeito te fazer saber o muito que te desejo. Sou assim, e pelo menos comigo sempre saberá por onde vão os tiros.

—Embora eu não goste?

—É minha coisa fazer o que você goste.

—Isso não é justo.

Ele se encolheu de ombros.

—A vida não está acostumada sê-lo, mas o certo é que nada do que façamos estará mau, assim quando te pedir algo, tem muito presente.

—E o que passa com o que eu quero?

—Não há nada que não queria te dar na cama. Só me diga o que quer e o terá.

—Quero estar sozinha.

A sentença flutuou no ar durante uns segundos.

—Exceto isso.

Caine suspirou e a fez voltar-se para ele. Assim que viu o volumoso pacote que se insinuava em suas calças, Desi opôs resistência, mas ele tinha mais força no pulsos que ela no pescoço.

—Isso é o que faz comigo, carinho. Ponho-me assim com apenas verte comer.

—Não o faço de propósito.

—E isso faz que seja mais especial.

Ele jogou os quadris para diante. Todas as terminações nervosas de seu corpo pareciam acabar na ponta de seu membro poderoso.

—Ponha seus lábios sobre mim.

Desi deu um salto. A pressão de seus dedos na nuca a fez mover-se, mas se deteve um milímetro dele.

—Isso. Assim. —Lhe acariciou o cabelo com as mãos. — Me Deixe sentir esses lábios maravilhosos, cigana. Só me dê um beijo.

Desi baixou a vista e entreabriu os lábios. Ele há empurrou um pouco mais. Um feixe de prazer lhe percorreu a coluna do tempo que seu membro absorvia a suavidade dessa boca de morango. Ela abriu os lábios um pouco mais, estirando o tecido da calça sobre sua carne sensível.

«Mordendo-o...».

—Maldita seja!

Caine afundou os dedos na mandíbula do Desi, apartando a de seu membro palpitante. Quando a primeira quebra de onda de dor remeteu, abriu os olhos. Ela o olhava fixamente, com as bochechas deformadas sob seus dedos.

—Não recordo te haver pedido uma dentada.

—Improvisei um pouco.

Ele se desabotoou a braguilha.

—Agora terá que me compensar.

Desentupiu seu pênis flácido e a empurrou para diante

Surpreendida, Desi abriu os olhos, mas então enrugou o olhar e esboçou um sorriso irônico. Aproximou-se dele.

—Nem te ocorra me voltar para morder.    

Seu fôlego lhe acariciou a ponta do membro três vezes.

Ela assentiu com a cabeça.

Caine levantou seu próprio pênis com a mão e a empurrou para si.

Desi olhou para as janelas. As cortinas não estavam fechadas. Todos podiam vê-los.

—O que esperas?

Os olhos de Desi se encheram de lágrimas, mas Caine não fez conta. Ele era seu marido. Ela era sua esposa.

A jovem se tornou para diante, mas não pôde reprimir um soluço.

Foi então quando Caine se deu conta do que acabava de fazer e se apartou imediatamente.

Ela continuou olhando-o fixamente.

Ele resmungou um juramento e se fechou a braguilha.

Desi não resistiu quando ele a estreitou em seus braços.

—Sinto muito, céu.

Ela não lutou contra Caine. Seu pequeno corpo tremia sob as mãos dele.

—Está claro que tenho um lado escuro. —Disse ele, cheio de remorso.

Não obteve resposta, assim seguiu abraçando-a até ver que respirava com normalidade. Deslizou os lábios por seu cabelo.

—Dou-te minha palavra. De agora em diante farei todo o possível para me controlar.

Um tronco saltou no fogão. Ela se sobressaltou.

—Não é assim como imaginava minha noite de bodas, sabe?

Silêncio.

—Pensava que haveria uma grande celebração e que teria que raptar a minha esposa. —Acariciou as costas—. Ela estaria nervosa, mas impaciente. E eu estaria impaciente e nervoso.

Sua descrição não estava tão longe do ocorrido.

Pôs-lhe a mão sobre a nuca, e ela respirou com dificuldade.

—Mas tinha razão em uma coisa.

Ela não levantou a vista.

—Se tiver deixado que seu passado influíra em mim. Não queria te faltar o respeito, mas fui muito depressa porque pensava que não era nada novo para nenhum de nós.

Ela merecia uma noite memorável, mas ele não tinha sido capaz de dar-lhe e teria que viver com o peso da culpa durante o resto de sua vida.

—Fez bem em me morder. Toda mulher merece um marido doce e tenro.

Desi se estremeceu de pés a cabeça.

—Não sei se ficou muita ternura em mim, cigana, mas te prometo que vais desfrutar disso de agora em diante.

Desi relaxou os músculos pouco a pouco e suas mãos se posaram sobre os quadris do Caine antes de lhe rodear a cintura.

—Não quero esperar.

—Me olhe, Desi. Não havia nada em sua expressão exceto dor.

Caine tocou as lágrimas que lhe corriam pelas bochechas.

—Maldita seja, sinto muito.

Ela sacudiu a cabeça e mordeu os lábios.

—É minha culpa.

—Como? Fugiu-o olhar.

—Não devi te haver mordido.

—Eu não teria que te haver obrigado.

Desi apertou os nódulos contra as costas de Caine.

—Só estava tomando o que te pertence.

—Tive sorte de que só me mordesse, tendo em conta o muito que me passei.

Ela ficou quieta.

—Não está zangado?

—Só comigo.

Desi apoiou a palma da mão sobre seu peito.

—Não quero brigar mais.

—Então não tem por que fazê-lo.

—Não posso te prometer que não te farei zangar-se de vez em quando. Às vezes...

Cravou-lhe as unhas no peito.

—O que?

—É que tenho medo. —Sussurrou—. Todo o tempo Não pode dormir pelos pesadelos, e tampouco posso estar acordada. As lembranças me assaltam. —Se encolheu de ombros—. O passado me persegue.

—Desi... Ela sacudiu a cabeça.

—Esta é minha última oportunidade. Sei o que tenho que fazer. É que é...

—Duro.

—Necessito que o entenda. Às vezes ocorrem coisas dentro de mim.

—Entendo-o. Ela respirou profundamente e estirou a palma da mão sobre seu peito.

—Quero este matrimônio.

Ele enroscou uma mão na trança de Desi.

—E acredite que eu não?

Ela sacudiu a cabeça e pôs a outra mão sobre seu peito.

—Entendo o que quer de mim. Mas necessito de tempo.

—Desi... Disse-te sua mãe que um marido deve cuidar de sua esposa?

—Sim.

—Então o que ocorreu é minha culpa.

—Só queria um beijo. Eu o tenho feito muitas vezes... —tampou-se a boca com a mão.

Caine não se deixou levar pela raiva.

—A diferença é que esta noite se sentia o bastante segura para me plantar batalha.

 

Acredito que não começamos com mau pé.

—Fiz-te mal.

—Merecia-me isso por ser tão casulo.

Desi o olhou boquiaberto.

—Não queria me fazer danifico. —Lhe disse, fechando os punhos.

—O que queria não importa, a não ser o que consegui. E acredito que levo um tempo te fazendo danifico. Não é assim?

Ela se encolheu de ombros.

—Não é nada ao que não me possa habituar.

—Bom isso sim que dói.

—Você me perguntou. —Disse ela, empurrando-o.

—Fiz-o por mim, não por ti. Mas me diga algo. Por que o fez?

—Para te fazer danifico.

Caine se tornou para trás para ver a expressão de seu rosto.

—Era uma forma de lutar?

—Sim.

—Cigana, temos que te ensinar a lutar.

—Disse-lhe isso. Não quero brigar contigo.

—E eu tampouco, mas acredito que não vou poder pegar olho até que saiba como fazê-lo em caso de necessidade.

—Até agora me funcionou.

—Mas está muito perto. —A agarrou por braço—. Não tem suficientes músculos para fazer frente a um homem que tenha mais de oito anos.

Ela se apartou bruscamente e caiu sobre o pé esquerdo. Sua careta de dor falou por si só.

—Não sou débil. Caine a sujeitou com força.

—Não era um insulto.

—Tampouco era um completo.

—Não sabia que queria palavras bonitas.

—Quando se trata de mim só sabe de sexo.

—Tem razão.

Caine a soltou e suspirou.

—E por isso vamos começar de novo.

—Seu marido te está procurando.

Desi se apartou o cabelo do rosto e lhe deu um último meneio à penetrada com a vara de madeira. Seus exaustos músculos protestaram com o esforço.

—Para que?

Ti estendeu a mão para agarrar o pau.

—Terá que perguntar-lhe.   —Caine quero aprender a fazer isso.

Ela o teria feito de não ter temido a resposta. Caine não tinha tentado nada com ela da noite da briga, e já tinha passado mais de uma semana. Se Caine a jogava, não teria aonde ir, e Tracker não procuraria a sua irmã. Ela não podia deixar que isso ocorresse. Ari dependia dela.

Desi apertou o pau.

—Caine quer que aprenda a fazer isto.

—Mas não espera que o aprenda tudo de uma vez.

Provavelmente não. Ele não parecia ter grandes expectativas respeito a ela. Mantinha as distâncias desde aquela noite, e a observava de longe.

—Posso trabalhar um momento mais.

Ti não baixou a mão.

—Possivelmente, mas seu marido te necessita para outras coisas

Desi se voltou. Caine estava amarrando as rédeas de um cavalo diante da casa.

—Já vejo.

Quão único ela desejava era tombar-se na cama e dormir durante uma semana, mas em troca teria que lhe demonstrar ao mundo que aquele animal não lhe aterrorizava, e que podia montar nele sem necessidade de ajuda. Tivesse preferido que a devorasse um bando de pássaros.

Colocou o casaco e cruzou o pátio. Um vento fresco esfriava o suor sobre sua pele.

Caine a observou durante todo o caminho. Não podia lhe ver os olhos pelo chapéu, mas se sentia esse olhar intenso sobre o corpo.

Os homens deixaram suas tarefas durante um momento para ver o que ocorria. Certamente teriam apostado a que não demoraria muito em render-se.

Mas isso era algo que ela não ia fazer.

—Alguém apostou a que vou conseguir? —Perguntou logo que esteve bastante perto.

Caine não respondeu imediatamente, mas a olhou de cima abaixo.

—Só um. —Suponho que é melhor que zero.

—Estão-se cansando.

Desi sentiu uma pontada nas costas. Respirou fundo e conteve a respiração até aplacar a dor.

—Não na forma que imaginava.

—Sente-se mau?

—Estou bem.

—Monte. —Caine assinalou o cavalo—. Não pode montar daí.

—Sou consciente. —Não era capaz de dar um passo a mais.

—Lily se esta impacientando.

Lily não tinha feito outra coisa que não fora mover as orelhas de Desi não se confiava muito dela.

—Lhe passará.

—Não tenha medo.

—Não o tenho.

—Não minta.

Desi o fulminou com o olhar.

—Montou o Pinto com facilidade. —Disse ele.

Então estava aterrorizada e desesperada.

—Mas ele não tinha estes olhos desconfiados. —Disse Desi, olhando o único olho azul da égua.

Caine acariciou ao cavalo no pescoço.

—Ah, Lily tem olhos acordados, mas não é desconfiada.

Lily soltou um bufido e chutou com as patas dianteiras.

—Vá.

—É o cavalo mais tranqüilo de todos nos Oitos do Inferno.

Como sempre, o estribo estava a muita altura.

Desi voltou a respirar fundo e deu um passo adiante. Agarrou o estribo de madeira.

—Diz que alguém apostou que hoje o conseguia.

—Sim. —Então alguém vai estar muito contente esta noite.

Agarrou as saias de selim com a mão esquerda e levantou o pé. Lily se tornou a um lado e ela deu um tropeção, caindo junto ao cavalo.

Uma mão no ombro.

—Cigana?

Ele levava mais de uma semana sem chamá-la assim.

Fez-o apartar-se com um gesto da mão.

—Estou bem. Só estava descansando um pouco.

—Não podemos deixar acontecer outro dia.

—Não posso decepcionar ao único que acredita em mim.

—Sobreviverá.

Ela o olhou por cima do ombro e sentiu inveja desses músculos poderosos. Sacudiu a cabeça e se separou da égua.

—Talvez, mas eu não estou segura de poder fazê-lo.

—Trabalhaste muito durante a última semana.

Desi se balançou sobre os dedos dos pés, e a dor fez aflorarem lágrimas em seus olhos.

—Não sei do que está falando.

Caine se tornou para trás o chapéu.

—Não tem que provar nada. Não é necessário.

—Possivelmente não tenha que lhe provar isso a ti.

—E a quem mais lhe importa?

Desi se agarrou pela cadeira e do estribo.

—A mim.   

Assim que apoiou todo o peso em uma perna, o cavalo girou a cabeça para ela.

Desi se elevou, apartando-se desses dentes. A égua lançou um bufido e sacudiu a cabeça. Depois de dois saltos dolorosos, a jovem ficou pendurando da cadeira. Lily deu uma patada, mas Desi não se deu por vencida.

Pela extremidade do olho viu aproximar-se do Caine.

—Te aparte de mim —Lhe disse, lhe dando uma patada.

—Maldita seja, te vais fazer mal.

Desi se aferrou ao estribo como se o fora a vida nisso.

—Disse que era dócil.

—Nada é tão dócil.

—Posso... Fazê-lo...

Por uma vez, a sorte estava de seu lado. O animal voltou a corcovear e Desi conseguiu subir. Em um intento desesperado, asseguro o corno do selim com o cotovelo, e o metal lhe cravou na carne.

Depois de um grito vitorioso, cheio de dor, conseguiu apoiar todo o peso sobre o lombo do animal.

Respirou fundo. Aquela baforada de ar cheirava a cavalo e a couro. Ouviu-se o rangido de umas botas e Desi não teve que abrir os olhos para saber quem estava sussurrando ao cavalo.

—É que vais jogar te uma sesta em cima do cavalo?

—Estava pensando nisso.

—Seria uma pena esbanjar tantos esforços baixando-se em seguida. Possivelmente poderia aprender algo enquanto está aí acima.

Aprender uma lição significava inclinar-se para diante e colocar o pé no estribo direito.

—Não.

Uma larga pausa...

—É muito sensata para atirar pela amurada tanto esforço.

—E o que te faz pensar isso?

—Estive-te observando, cigana.

—Sempre me observa.

Caine a agarrou por tornozelo e lhe encaixou a ponta do pé no estribo.

—É que eu gosto de te olhar.

—É tão teimoso.

—Um pouquinho. —Agarrou as rédeas—. Incorpore-Te.

Desi fez o que lhe pedia sem protestar.

—Quando nos conhecemos não tive problemas para montar a cavalo.

—Não conseguiu subir no cavalo e teve que escapar a pé. Se Sam não te tivesse agarrado quando pôs os pés sobre o Pinto, poderia te haver quebrado o pescoço.

—Isso supõe você.

—Não o suponho, sei. —Pôs sua mão sobre a coxa de Desi—. Tira os talões.

—Bastardo. —Resmungou Desi, sem mais remedio que obedecer.

Ele deu uma volta ao redor do cavalo, examinando a postura da jovem. Com um toque no joelho lhe indicou que baixasse o pé um pouco mais.

—Melhor.

—Sádico. —Sussurrou Desi ao respirar.

Caine se girou à esquerda, deixando entrever a careta de um sorriso.

—Se segue me insultando, não terá água para o banho esta noite.

Aquela era uma ameaça séria. Ela levava toda a semana banhando-se com um cubo de água, muito cansada para encher uma banheira.

—Que classe de banho?

—Um banho em condições, na banheira. Todo o tempo que queira.

—Por quê?—Perguntou ela, receosa.

—Porque trabalhaste duro e acredito que lhe merece isso.   

Lily levantou a cabeça e ficou nervosa.     

—Mantém firme a rédea. —Lhe ordenou Caine de caminho ao celeiro.

Desi respirou fundo e fez algo mais que as manter firmes: atirou delas com todas suas forças. Lily se incorporou sobre as patas traseiras e Caine teve que agarrar as rédeas.

—Tranqüila. Tem-te feito mal na boca. —Disse, tratando de apaziguá-la.

O cavalo apoiou a cabeça no peito de Caine.

—Assustou-me.

—É que tem fome.

Caine fez deter-se o cavalo frente à porta do celeiro e Desi soltou as rédeas, aliviada.

—É tudo por hoje? —Disse Desi, preparando-se para descer do cavalo.

Deu-lhe uma palmada à égua no lombo.

—Acredito que já é suficiente para as duas.

—Não queria lhe fazer danifico.

—Ela sabe. —Disse Caine e pôs o braço ao redor de sua cintura.

Desi fechou os olhos. Sentir o tato de suas mãos era tão agradável...

Algo suave lhe roçou a mão. Acaso a tinha beijado?

Caine sorria com picardia.

—Quem foi o que apostou por mim? —Perguntou Desi, trocando de tema.

Ele se tirou o chapéu e o pôs na cabeça.

—Eu. Desi tirou os pés dos estribos e se inclinou um pouco. Nesse momento algo passou zumbindo por seu lado. Lily relinchou e girou a cabeça bruscamente, golpeando Desi no nariz. A jovem se agarrou ao pescoço da égua. Algo quente e úmido lhe manchou o vestido.

Sangue.

Tinham ferido Lily.

Desi sentiu a chicotada do couro ao rompê as rédeas e o eco de um disparo ricocheteou na parede do canhão.

O cavalo se incorporou sobre as patas traseiras e deu a volta, apartando a do Caine. O animal estava aterrorizado.

Um relâmpago de pânico percorreu as vísceras da jovem ao ver que o chão se afastava. Por um instante Lily se cambaleou e Desi não soube se cairia para trás ou se o faria sobre as quatro patas.

—Salta Desi!

Ouviu a ordem, mas não pôde obedecer.

 

A égua pôs-se a correr a toda pressa, longe do rancho, para o perigo.

Caine resmungou um juramento e Ti gritou. Desi enxugou as lágrimas e voltou a vista pra atrás. O chapéu de Caine saiu voando e Desi tratou de alcança lo, perdendo assim o equilíbrio.

A ponto de cair para a esquerda, tratou de voltar a pôr o pé no estribo, mas seus doloridos músculos não lhe respondiam. Se Lily não tivesse girado à esquerda subitamente, não o teria conseguido. Assim que conseguiu incorporar-se, agachou a cabeça sobre o pescoço da égua e se aferrou com todas suas forças. caía a essa velocidade se romperia o pescoço.

Tudo era culpa do Caine. Desi se estirou um pouco para agarrar as rédeas.

Um grito lhe fez elevar a vista para as rochas. Ali havia um homem agitando os braços.

Desi não podia distinguir seus rasgos porque levava o chapéu muito baixo. O cavalo se dirigiu para o jovem fechou os olhos. No segundo último o animal girou à direita e o homem se lançou a por sua cabeça. Lily relinchou e girou o pescoço, mas Desi conseguiu esquivar o golpe Aquele estranho a chamava por seu nome, mas ela não sabia quem era. Voltou a equilibrar-se sobre o cavalo, ou sobre ela.

Desi lhe deu uma patada, mas só conseguiu lhe roçar a bochecha. Ele a agarrou por tornozelo e Desi seguiu dando patadas. Caiu-lhe uma bota e Lily se lançou por um aterro ao galope. As árvores passavam a toda velocidade e o animal saltava e esquivava sobre aquele terreno abrupto, sem lhe dar oportunidade de recuperar o equilíbrio.

Desi se inclinava mais e mais. A queda ia ser inevitável, mas a jovem não se dava por vencida. Aferrou-se ao selim e às crinas de Lily. Caine a salvaria se agüenta se um pouco mais.

Olhou à frente e não pôde reprimir um grito. Um arroio. Muito largo para saltá-lo. Desi se aferrou com todas suas forças. Lily se apoiou sobre as patas traseiras e saltou sobre o riacho, levando a Desi consigo. A jovem sentiu que voava...

A água da geada lhe entrou pelo nariz, pelo pescoço. Não podia mover-se, nem tampouco respirar. Tinha os músculos intumescidos. Ouviu o ruído de uns cascos que se afastavam da borda, e o repico de outros que se aproximavam. Um cavalo. Só um.

Desi deu um tombo no coração. Caine não teria ido sozinho.

Tratou de arrastar-se para trás e procurou um sítio onde esconder-se na borda. Colocou a mão em um buraco e caiu na água. Os ouvidos lhe encheram de água.

Não podia ouvi-lo. Não sabia onde estava. Tinha que ser o homem que tinha tratado de detê-la.

Desi ficou de barriga para baixo e conteve a respiração ao sentir o golpe de frio. Então se apartou o cabelo do rosto e seguiu examinando a borda em busca de um esconderijo. A uns dez metros à direita havia um matagal de raízes que entravam no rio como uma fortaleza. Não era grande coisa e não a ocultaria de tudo, mas se consegui se esconder-se detrás poderia chegar a confundir-se com a paisagem.

Podia ser suficiente se aquele estranho não se esforçava muito.

Desi não sentia as mãos nem as pernas e tinha as coxas rígidas como témpanos. Os dentes lhe tocavam castanholas sem cessar e tinha a respiração entrecortada. Quão único queria era saltar e correr, mas era necessário agachar-se e arrastar-se.

Já o tinha em cima. Desi se tombou na água completamente e se meteu entre as raízes. Ao tomar o fôlego, tragou um pouco de água e não teve mais remedeio que reprimir um acesso de tosse.

 

Escondeu o rosto contra o ombro, em um intento por controlar a respiração e o pânico.

Essa vez James tinha todas as de ganhar. Só ele podia estar detrás daquilo.

O ruído dos cascos ao cair na água fez saltar Desi. A jovem se mordeu os lábios até sentir o sabor metálico do sangue. Com muito sigilo conseguiu ficar na fenda que corria paralela à borda.

Splash, splash...

O murmúrio da água marcava os passados do cavalo, cada vez mais próximos. Ele a estava procurando.

O coração do Desi retumbava com cada pulsado. A jovem mordeu o polegar para não fazer o menor ruído, e se inundou até a cabeça. Não tinha nenhum tipo de arma. Estava indefesa.

Os passos do cavalo se aproximavam mais e mais. Tinha-a visto? Acaso ia por ela?

O cavaleiro se deteve justo à direita do esconderijo de Desi. Estava esperando. Por quê?

Desi tratou de escutar algo mais, mas o único que ouvia eram os batimentos do coração, de seu coração e o murmúrio da água. Metal contra couro.

Estava tirando o rifle.

Desi se encolheu, esperando a bala, e então ouviu o ruído de uns cascos que se aproximava a toda pressa. Caine...

Desi desejou que o homem fugisse com todas suas forças.

«Corre! Corre! Maldita seja!».

O cavalo se agitou, mas não se moveu. Por que não?

Uma vez mais Desi tratou de recordar a geografia da zona. A borda era muito alta por esse lado; possivelmente o bastante para esconder a um homem com uma pistola; possivelmente o bastante alta para disparar. Caine.

Desi apalpou o seu redor e encontrou uma pedra. Com grande esforço, desenterrou-a do fundo do rio. Então avançou até o ponto mais afastado do matagal de raízes e ficou de joelhos. O homem estava entre ela e o sol poente.

Uma silhueta negra; um objetivo.

O repico dos cascos retumbava em seus ouvidos, corria por suas veias. A silhueta levantou o braço e apontou com o rifle.

Desi respirou fundo.

—Caine, cuidado!

Lançou a rocha e lhe deu ao cavalo nos quartos traseiros. O homem resmungou um juramento, tratando de controlar o animal. Então se voltou e apontou a Desi com rifle. A jovem se cambaleou e caiu à água.

Um grito comanche rasgou o ar e começaram os disparos; uma ensurdecedora cacofonia de morte. A água saltava em todas as direções com o impacto dos projéteis.

Desi se agachou tudo o que pôde e depois... Nada.

Deprimiu-se. Um pouco pesado aterrissou na água no meio do rio. O estranho. Desi tentou incorporar-se, mas só pôde apoiar-se sobre as mãos e os joelhos.

Uma chuva de água, juramentos... Umas botas fizeram saltar a água diante dela.

—Desi?

Uns braços a rodearam e a levantou.

Desi! Caine tomou a em seus braços e a levou até a borda, passando por diante do Tracker. O índio estava tirando o morto da água.

Aquele desconhecido não parecia tão grande enquanto jazia no meio do riacho. Largas correntes de cor vermelha emanavam de seu corpo sem vida e se acumulavam à beira da água.

Desi não podia apartar a vista dele. Tremores violentos a sacudiam de pés a cabeça.

Caine a apoiou no chão. Ela queria abraçá-lo, mas as extremidades não lhe respondiam.

Examinou-lhe os braços, as costelas e também as pernas, em busca de ossos quebrados ou outras feridas.

—Está ferida? —perguntou Sam, tirando o casaco.

Caine tinha uma expressão muito séria enquanto lhe examinava o tornozelo.

—Não sei. Há sangre no vestido.

—L-Lily.

—Ed foi a procurá-la. —Tucker deixou cair o casaco a seu lado.

Caine lhe tirou o seu e um vento frio lhe cortou a pele.

—Maldita seja! —Caine lhe agarrou o pescoço do vestido e o abriu pela metade.

Tinha umas nódoas negras no ombro.

Pôe-lhe o casaco de Sam e usou o seu próprio para lhe tampar as pernas geladas. Desi colocou um braço em uma das mangas, mas não teve forças para colocar o segundo.

—Caine?

—Não diga nenhuma palavra.

—Você... Insistiu em que... Aprendesse A... Montar.

—Assim é.

—Acredito que Caine quer dizer que se deu um susto de morte e necessita um momento.

Desi olhou Tracker.

—Maldita seja! —exclamou Caine, levantando-a—. Estou de saco cheio. Não tinha por que arriscar-se assim.

Ela tirou a mão pela manga do casaco e a pôs sobre a do Caine.

—Haveria-te... Disparado.

—Melhor a mim que a ti.

Tracker olhou um e outro e esboçou um meio sorriso.

—Podem arrumar esta confusão quando chegarmos a casa. —Assinalou com o dedo pra cima do ombro.

— Agora preciso saber que querem que faça com seu amigo.

—Tinha algo em cima?

—Nada.

—Reconhece-o?

—Sim.

—É um dos novos. Drake Carpenter.

Caine a sentou sobre o selim.

—Filho de cadela.

O cavalo deu uma patada com as patas dianteiras e Desi se aferrou ao corno, novamente aterrada.

—Tenho-te, cigana. —Disse Caine ao montar detrás.

Pôs-lhe o braço ao redor da cintura e ela deixou de ter medo.

O vento soprou com força e Caine se estremeceu de frio.

Desi sentiu uma pontada de culpa.

—Como o contratamos? —Perguntou Caine ao tempo que a sentava sobre suas coxas.

—Recomendou o pai. Disse-nos que sua família estava passando por momentos difíceis.

—Quando Ed traga o corpo, que o mandem a casa de sua família. —Caine a atraiu para si—. Quantos desses temos?

—Três ou quatro. —Disse Tucker e se montou no cavalo de um salto—. Se irão dos Oito do Inferno a primeira hora da manhã.

—Bem. Desi olhou o corpo do desconhecido.

—Conhece-o? —perguntou Caine.

—Não. —Disse Desi.

James podia mandar a centenas como esse. Um calafrio lhe percorreu as vísceras.

—Já falta pouco para ir a casa. —Disse Caine.

—Não... Tenho pressa.

—Suponho que não lhe entusiasmo muito em sair no galope. —Disse Tracker, aproximando-se deles.

—Não. Tucker se se pôs a rir.

—Não sente saudades, mas sim que teve guelra.

Desi se baixou o pescoço do casaco para vê-lo melhor.

—Fiz o que devia.

—Até que saiu do esconderijo. —Caine abriu a mão sobre seu ventre, apertando-a contra ele. —Teria que ter usado a cabeça para ficar aquieta até que viessem a te ajudar. Mas perdeu o sentido comum.

Desi se voltou para ele.

—Acreditava que... Não o via.

—Sou um ranger do Texas.

—E que tem isso que ver com...?

   —Isso significa que não precisava vê-lo. Sei quando as coisas ficam feias.

Ela também sabia, e as coisas se estavam pondo muito feias. Tucker se situou a um lado e Tracker ao outro, com o rifle sobre as coxas.

—E as coisas não vão bem. —Disse a jovem.

—A que te refere?

—Não posso ficar aqui.

Caine a agarrou com força.

—Não tem aonde ir.

—James sabe onde me encontrar.

—Não voltará a nos pilhar despreparados. —Disse Tracker.

—Disparou Lily.

—Ed a curará —disse Caine.

Desi reuniu a coragem necessária para dizer o correto.

—Pode que a próxima vez não seja um cavalo. Poderia ser qualquer de vós.

—Não haverá uma próxima vez.

Desi o olhou aos olhos, procurando o mais mínimo signo de debilidade.

—Você não os conhece.

—Certo —lhe acariciou os lábios com o polegar—. Mas estou desejando-o.

 

Deixou o cubo junto à porta da cozinha. Recostou-se contra o marco e a observou enquanto se banhava. Ela apoiou a cabeça contra a borda da banheira. Estava dormente.

Ele negou com a cabeça e levou o cubo até a banheira. Ela tinha o cabelo recolhido em cima da cabeça, sujeito com um montão de forquilhas.

Caine deslizou o dedo por uns saca-rolhas caprichoso e continuou pela bochecha da jovem. Ela tinha os olhos fechados e a pele avermelhada pela água quente.

Desi devia ter dormido antes de banhar-se, pois a água estava completamente cristalina.

Seus peitos turgentes e exuberantes se sobressaíam por cima da água. Os ossos dos quadris se marcavam muito em seus flancos.

Era tão pequena que podia estender as pernas com um ligeiro movimento dos joelhos, e fazê-lo sucumbir à tentação de possui La ali mesmo.

Caine colocou os dedos na água. Estava-se esfriando. Levantou o cubo e o esvaziou sobre os pés da jovem.

A cascata de água interrompeu os sonhos de Desi, que moveu a cabeça para o outro lado.

Ele não queria despertá-la, assim parou imediatamente. Pela primeira vez desde que a conhecia, parecia ter paz.

«Sonho quando durmo...».

Caine deixou o cubo no chão e se ajoelhou junto à banheira. Tirou-lhe o pano das mãos e o molhou com o sabão aromático que Ti lhe tinha dado a Desi. Aquela fragrância de lilás recordava a primavera, as flores... Desi...

Levantou o braço da jovem e começou a esfregá-la com soma delicadeza, massageando esses músculos duros. Ao chegar ao ombro se deteve, e não pôde evitar sorrir ao ver a expressão do Desi quando deixava de massagear. Era uma mulher muito sensual.

Tinha uma nódoa negra muito antiga no ombro. Parecia ser a marca de um polegar.

Caine pôs se sobre o rastro. O homem que o tinha feito era menor que ele. Deslizou o pano sobre o cardeal, ocultando-o por um momento. Uma flecha de raiva lhe cravou no coração. Desi gemeu e Caine soube que estava esfregando muito forte. Secou-lhe o pescoço. Aquela garganta suave e magra estava feita para levar jóias, e não para queimar-se com o trabalho a pleno sol. Caine sentiu uma avalanche de culpa. Ela merecia muito mais do que ele podia lhe dar. Esfregou-lhe as axilas e depois os seios com muito cuidado. Tinha a pele tão clara que podia ver as veias que corriam por debaixo.

Caine deslizou o pano pela planície de seu ventre, passando pelo Monte de Vênus.

 

Quando lhe esfregou a coxa, ela emitiu um leve gemido e relaxou a perna.

Seguiu adiante, deslizando o pano pela coxa da moça até chegar ao joelho, e depois à panturrilha. Não pôde evitar lhe agarrar o tornozelo com a mão. Essa parte de seu corpo era tão delicada como todo o resto, mas havia tanto vigor dentro dessa frágil pele... Sem dúvida devia ser um puro sangue. Espírito e estrela.

Roçou uma ruga em sua pele e ao olhar de perto viu do que se tratava. Uma cicatriz. Ele só conhecia uma coisa que deixava essas marcas.

«Nada exceto uma cama e uma cadeia...».

Caine fechou a mão sobre o tornozelo da jovem.

—Nunca mais, cigana.

Ao lhe examinar as feridas dos pés comprovou que estavam muito melhor.

Com o mesmo cuidado lhe lavou a outra perna e assim descobriu machucado e cicatrizes nas que não tinha reparado antes. Cada uma delas avivava o fogo que o consumia por dentro.

Quando terminou de lavá-la, tocou-lhe o queixo com o polegar.

—Cigana.

Ela franziu o cenho, mas não abriu os olhos. Caine lhe ensaboou as bochechas e as esclareceu com o pano molhado. Então se arregaçou a camisa e a agarrou pelas costas.

—Necessito que ponha de pé.

—Né? —Desi moveu as pálpebras.

—Te levante.

Ficou em pé com movimentos torpes e ele a envolveu na toalha. Através da camisa úmida pôde sentir a pressão de seus mamilos duros.

—Terminei que me banhar? —Perguntou ela ao abrir os olhos.

—Sim.

Ela enrugou o sobrecenho, E não se lembrava de nada. Colocou-se a toalha com toques peritos.

—Está preparada?

Desi piscou para ouvir a pergunta, ainda sonolenta.

—Para ir à cama.

Ela assentiu.

—Estou muito cansada.

—Sei.

Tomou em seus braços e ela apoiou a cabeça sobre seu ombro.

No corredor se encontraram com Ti e com o Ed.

Ti olhou para a porta do salão, que estava fechada.

—Sam tornou. Tracker, Tucker e eles querem falar contigo. —Sussurrou.

—Obrigado. Primeiro vou deitar Desi.

Ed sorriu e pôs o braço ao redor da cintura de Ti. Surpreendentemente, ela não se apartou.

—É uma boa mulher. Tão teimosa como Ti. Teve sorte ao encontrá-la. —Disse Ed, dirigindo-se a Caine.

—Isso pensou eu. Pode lhe dizer a Sam que desso agora mesmo?

—Claro.

—Obrigado.

Quando abriu a porta do dormitório, Caine sentiu o golpe de calor. Talvez jogasse muito carvão no lar, mas Desi era tão sensível ao frio que podia resfriar-se facilmente. Tirou-lhe a camisola debaixo do travesseiro e o pôs antes de colocá-la na cama.

As mãos da jovem se aferravam a seus ombros com muita força, assim Caine tomou nas suas e lhe deu um beijo no dorso.

Então ela girou para um lado e as colocou debaixo do travesseiro. Acomodou-lhe as pernas e a agasalhou com as mantas.

Desi suspirou e se agachou na cama enquanto lhe tirava as forquilhas do cabelo. Depois lhe estendeu o cabelo sobre a cama e lhe fez uma trança.

Apagou a luz e se levantou para ir-se.

—Caine? —Desi estendeu a mão.

Ele tomou nas suas.

—O que acontece? Tem frio?

Desi assentiu e lhe atirou a mão.

—Sempre tenho frio sem ti. —Voltou a lhe atirar da mão.

Ele se inclinou sobre ela e lhe deu um beijo na bochecha depois de cobri-la com a manta.

—Voltarei dentro de um momento. Depois de falar com o Sam

—Promete-o?

—Prometo-o. Ela fechou os olhos.

—Vale. Ele se deteve junto à porta e a olhou uma última vez antes de fechar a porta.

Sam, Tracker e Tucker o esperavam no salão.

Tucker lhe jogou uma olhada a sua roupa.

—É que estiveste nadando na banheira?

Caine se serve um gole de uísque.

—Desi ficou dormida na banheira.

—Eu diria que foste você o que a deixou exausta. Não pode seguir assim com ela. —Disse Tracker.

Caine lhe lançou um olhar fulminante.

—O que eu faça com minha esposa não é teu assunto.

—Só estamos dizendo que poderia deixá-la em paz e lhe dar tempo para que se acostume. —Disse Isso Sam é tudo.

Caine se sentou junto à porta e bebeu um sorvo de uísque.

—Para sua informação, deixei-a em paz desde a primeira noite.

—E então por que demônio está tão nervosa? —perguntou Sam.

—Estará esperando a que salte. —Disse Tracker, agarrando a garrafa de uísque.

Caine levantou uma sobrancelha e Tracker se explicou melhor.

—Pela tensão acumulada.

Jogou-lhe mais álcool do que Caine estava acostumado a beber.

—Obrigado.

—Seja o que seja o que está esperando... —disse Sam.

— Deveria dar-lhe porque essa garota não se pode permitir perder outro quilograma.

—Certo. —Disse Tracker. — Tal e como está, se levantar um pouco de vento, vamos ter que atá-la.

Caine apertou os dentes.

—Estou-me ocupando disso.

—Te ocupando do que? —Perguntou Ti ao passar pela porta compenetrada .

—De Desi.

—Ocupando-se de que vírgula? —Perguntou Tucker.

—Não vai comer a menos que se acalme um pouco.

Caine passou uma mão pelo cabelo.

—Sei, Ti.

—E não se acalmará a menos que saiba que está segura aqui.

—É minha esposa. Acaso não é suficiente essa segurança?

—Os homens abandonam as suas mulheres constantemente.

Caine bebeu um pouco mais de uísque.

—Um homem de verdade não faz isso.

—Sabemos filho, mas ela não. —Ti se encolheu de ombros—. Por isso se esforça tanto. Para que te fixe nela. —Eu mesmo cheguei a essa conclusão.

Ti assentiu.

—Bem. Então pode arrumar o problema.

Caine levantou uma sobrancelha.

—Tem alguma idéia?

Ti passou a roupa pra outra mão.

—Eu não quero me meter nas coisas de marido e mulher.

Todos se se puseram a rir. Ti nunca tinha tido cabelos na língua.

—Desde quando? —Perguntou Caine.

Ela o olhava fixamente. A partir de agora. Você causou o problema e você tem que solucioná-lo. Caine se levou a mão à nuca e bebeu o que ficava do gole.

—Isto não é como quando coloquei o carrinho de mão no lodo. Já não tenho doze anos.

—Não, não os tem. Isto é muito mais importante.

—Desi se criou entre algodões.

—E isso o que tem que ver?

—Eu não sei nada de mulheres, e muito menos das de sua classe.

Os lábios de Ti desenharam um sorriso picasse.

—Sabe o suficiente como para que as do povo briguem por receber visitas tuas.

—Não é o mesmo.

—As mulheres são mulheres em todas as partes. São os homens os que fazem a diferença.

Antes que pudesse responder, Ti seguiu adiante, deixando-o com a palavra na boca.

—E quanto tempo vai ser a assim? —Perguntou Tracker.

Caine se encolheu de ombros e pediu mais uísque.

—Até que se canse, ou até que aprenda.

—Te embebedar não te servirá de muito.

—Pode me ajudar com a dor de cabeça.

Sam lhe tirou a garrafa.

—Até manhã pela manhã. E depois Desi terá que lutar com seu mau humor.

Tracker agarrou a garrafa.

—E isso só pioraria as coisas.

—E quanto pode piorar?

Sam suspirou e voltou a agarrar a garrafa. —Muito.

—Averiguastes algo no povo? Sam se voltou a encher o copo.

—Não vão render se de qualquer jeito.

—Quais?

—A primeira vista, parece que é James quem a reclama, mas se arranhar um pouco verá que são os banqueiros os que a estão procurando.

—Sabe por quê?

—Não, mas tenho gente investigando.

Isso queria dizer que tinha alguma espiã feminina.

—E até que ponto quer que volte?

—Oferecem uma recompensa.

Se a quantidade era o bastante alta, todos os bandoleiros da zona iriam a eles.

—Suponho que não ofereceriam muito.

—Ofereceram mil de ouro, o qual explica por que Carpenter se tomou tantas moléstias.

—Maldita seja! —Resmungou Tucker.

—E por que diabos quereriam lhe disparar?

Sam deixou o copo na mesa.

—A resposta não te vai gostar.

Caine levantou a mão. —Espera.

Não queria escutá-lo com um gole de álcool nas veias. Com um estalo de dedos pediu outra taça e Tracker a serve imediatamente.

—Não lhes importa se estiver viva ou morta. Só querem poder identificá-la.

—Maldita seja... Teríamos que lhes haver talhado o pescoço assim que os vimos. —Disse Caine.

—Levo tempo pensando no que te dar de presente pelas bodas .—Disse Tracker ao tempo que colocava a cortiça na garrafa.

Seus lábios desenharam um sorriso letal, selvagem.

—Acredito que acabo de encontrar o presente perfeito.

—Os banqueiros estão vivendo de mais. —Disse Caine—. Mas seguirão vivendo até que averigüemos por que lhe puseram preço a sua cabeça.

Tucker tocou o fio da faca que levava no tornozelo.

—Mas James não, verdade? —Disse.

 

Caine levantou o copo e agitou o uísque; a vista fixa no líquido dourado.

—Não. James não. —Bem.

Caine olhou Tucker.

—É minha mulher. Fez-lhe mal a minha mulher. Ameaçou a minha mulher, assim será meu, a que termine com sua miserável vida.

—Maldita seja, Caine. Ela é dos Oito do Inferno. —Disse Tucker—. Todos querem jogar acabar com esses porcos.

Um rio de fúria fervente percorreu o corpo de Caine.

—Ele é meu. Sam se voltou a sentar.

—Pelo menos me diga que não vai ser rápido a sua morte.

—Não. O castigo será acorde ao crime.

—Bem.

—Ainda não sabemos por que. Não tem sentido que se tomem tantas moléstias por uma rameira.

Caine pôs o copo sobre a mesa e ficou em pé.

—Não estou insultando a sua esposa. Só falava desde seu ponto de vista. —Se apressou a dizer Tucker.

Isso a Caine não importava.

—Pois dava o de outra forma.

—Deixem já. Os dois. —Disse Sam—. Agora mesmo necessitamos de idéias, e não brigas.

Caine voltou a sentar-se e lhe deu um gole no uísque, mas não conseguiu queimar a raiva que sentia. Havia gente tratando de assassinar sua esposa por razões que desconhecia, e até que conseguisse descobri o mistério, devia passar despercebido e esperar. Mas ele não estava acostumado a isso.

—E em que estão pensando?

—Há um tema de dinheiro. —Disse Tracker, voltando-se para sentar.

—Sempre o há quando se trata de banqueiros. —Disse Sam.

—Mas por que não lhes importa que morra?

—Poderia tratar-se de uma herança. Desi disse que sua família tinha dinheiro. Seus pais morreram, mas tem uma irmã.

—Acredito que esteje implicada?

—Não.

—Podemos falar com ela?

Tracker sacudiu a cabeça.

—Não. —Maldita seja.

—Não tem sentido. —Disse Sam, exasperado—. O dinheiro se herda. Se Desi e sua irmã são ricas... Os banqueiros poderiam casar-se com elas e ficar com uma boa fatia.

—Possivelmente o proíbe o testamento —Sugeriu Tucker.

—Não vejo como. —Sam se encolheu de ombros—. Um homem toma o controle de todos os bens de sua mulher com apenas dizer «sim quero».

Caine suspirou.

—O qual quer dizer que seria mais lógico que discutissem a legalidade de meu matrimônio antes que eliminá-la.

—Pode ser que não o tenham tentado porque sabem que não durariam muito se empreenderem uma ação legal. —Disse Tucker.

—Possivelmente. Quero que todos aqueles dos que não estamos seguros saiam dos Oito do Inferno. E quero que tragam para os outros.

—Levará-me quantos dias encontrá-los?

Caine olhou ao Tucker e assentiu.

—Você te ocupasse disso?

—Sairei imediatamente. —Disse Tucker, deixando o uísque a um lado.

—Sam... Ainda tem parentes no este?

—Alguns.

—Poderia te comunicar com eles e lhes pedir um favor?

—O tio Mark tem alguns contatos. Me diga o que necessitamos e ele poderia nos conseguir a informação.

—Bem, mas não ponha em contato até que retornem os outros.

—Eu não gostaria de perder a diversão.

—Bem. E uma coisa mais.

Todos o olharam com atenção.

—Nenhuma palavra a Desi. Até que tenhamos evidências. Já teve o bastante.

—Seria difícil protegê-la sem que saiba.

—Diremos-lhe que tenho por costume me preocupar muito.

—Isso não seria nenhuma mentira.

—E enquanto isso tratará de averiguar se Desi sabe de algo que nos possa ser de ajuda. Com a máxima discrição. —Disse Caine.

Tracker se se pôs a rir.

—Bom isso terá que vê. Caine Allen tratando de ser sutil.

—Um elefante poderia fazê-lo melhor. —Disse Sam.

—Ir ao inferno. —Resmungou Caine e terminou o uísque.

Nesse momento Tucker lhe fez gestos. Caine olhou por cima do ombro e viu um brilho branco.

—Desi?

Ninguém respondeu. Ele se voltou e ela apareceu na soleira.

—O que acontece?

A jovem o olhou um instante e pôs-se a andar. Caine ia incorporar se quando ela se sentou em seu regaço e lhe pôs os braços ao redor do pescoço.

—Cigana?

—Está acordada? —Perguntou Tracker. Caine lhe agarrou o queixo. Tinha os abertos, mas desfocados.

—Não acredito.

—É sonâmbula? —disse Tucker.

—Sim.

—Por quê? —Sam sempre queria saber o porquê.

Caine suspirou.

—Não sei. —Disse e tratou de apartar-se um pouco.

Desi sacudiu a cabeça e se aferrou a ele com mais força, lhe cravando as unhas na nuca.

—Não.

Apoiou a bochecha sobre seu peito.

—Segura... —sussurrou com um suspiro.

Caine lhe agarrou a cabeça e tomou a temperatura com a mão. Tinha a pele fria.

—Me passe essa manta. Quer? —pediu ao Tucker.

Envolveu-a nela e ficou de pé.

—Então sabemos o que vamos fazer?

Os outros assentiram com a cabeça sem deixar de olhar Desi.

—Bem. Assim que a deite, entraremos em detalhe. Ele roçou os lábios contra seu cabelo de seda, aspirando ao doce aroma de lilás.

—Tenho-te, cigana.

E nunca a deixarei escapar.

 

Um deles se aproximava. Desi tirou a forquilha do ferrolho e ficou de pé, sujeitando a cadeia para que não fizesse ruído. Então se afastou do feixe de luz, aproximando-se da cama. Com supremo cuidado colocou a forquilha em uma pequena brecha no colchão e alisou a superfície para que não ficasse evidência alguma do esconderijo. Presa de pânico comprovou o fechamento dos grilhões. Tinha um ligeiro arranhão, mas ele não o notaria a menos que olhasse desde muito perto.

Desi manipulou o fechamento. Em seu interior a esperança lutava com o desespero. Estava muito perto de averiguar como funcionava o mecanismo. Conseguia abri-lo antes que se cansassem dela, seria livre. Só tinha que descobri-lo a tempo. Os passos se aproximavam. Por um momento lhe custou reconhecê-los. Acaso tinham mandado um novo?

E então foi quando o ouviu; esse ligeiro arrasto de um pé. Era ele...

Desi pensava que se esqueceu dela. Os batimentos do coração de seu coração lhe retumbavam nos ouvidos. O trinco girou. O ferrolho se abriu com um clique.

Desi ficou junto à cama bem a tempo. As dobradiças rangeram ao abri-la porta e Desi se ajoelhou, agachando a cabeça.

Ele estava na habitação. Ela podia sentir sua presença embora não pudesse vê-lo.

Não podia levantar a cabeça porque se o fazia, ele a mataria. Ele mesmo o havia dito e ela acreditava. Nunca tinha conhecido a ninguém tão frio. Assim que ele entrava na habitação a temperatura baixava, como nesse momento. Transcorreram alguns segundos de silêncio. Só se ouvia o fôlego entrecortado da jovem. Ouviu-se estalo de um fósforo e uma luz se acendeu. O aroma de querosene lhe queimava as fossas nasais. A habitação se iluminou.

—Assim que me recebe? —perguntou uma voz tranqüila, carente de emoção.

Estava contente, ou aborrecido? Desi pensou nas coisas que devia fazer. Tinha as mãos no chão, a cabeça baixa. Ele estava ali para que lhe desse prazer e ela o estava fazendo bem. Um calafrio percorreu seu corpo nu. Três passos mais e ele se deteve diante dela. As pontas de seus finos sapatos de pele ocuparam todo seu campo de visão. Um minuto depois, ele suspirou. Um rápido olhar não revelou nenhum vulto em suas calças. Possivelmente não estava ali por essa razão.

—Já vejo que se estão descuidando em seu treinamento.

Ele a tinha ficado olhando. Desi baixou a vista imediatamente e sentiu uma quebra de onda de náuseas no estômago. Muito dentro de seu ser, os tremores começaram. Possivelmente estava molesto por outra coisa. Possivelmente não a tinha surpreendido a olhando.

Ele deu um passo adiante e lhe pisou nos dedos de uma mão. Uma agulha de dor percorreu o braço de Desi, que teve que morder os lábios para reprimir um grito. O ruído era um protesto e os protestos não estavam permitidos. Queria-se economizar a dor que estava por vir, tinha que estar quieta a toda costa.

Levantou o pé. A mão de Desi palpitava de dor. Tinha-lhe quebrado os dedos? Não se atrevia a mover-se para tentar averiguá-lo. Possivelmente, com um pouco de sorte, acreditaria que era suficiente.

Ele se inclinou sobre ela e sua sombra a sumiu em um atoleiro de escuridão. O terror gelou as vísceras da jovem. Todos seus sentidos se esforçavam por adivinhar o que ia fazer. O suave roce do tecido contra o chão de madeira desvelou o mistério. O capuz não. O capuz não...

Um tecido entupido lhe caiu sobre a cabeça. Atou ao redor do pescoço e o mundo se voltou em negro. Desi começou a ofegar, tratando de respirar através da malha. Estava-se afogando.

—Por favor...

A vingança não demorou em chegar. Agarrou-a pelo capuz e atirou para cima. Ela voltou à cabeça a um lado e tentou por recuperar o fôlego.

Ela contava o tempo com os batimentos do de seu coração. Um, dois, três, quatro, cinco, seis... Pôr-lhe os braços por cima da cabeça. Sentiram sua camisa sobre as costas, as calças contra as coxas, e seu membro ereto sobre suas partes íntimas.

—Vejo que foram muito brandos contigo. —A agarrou pelo punho direito com ambas as mãos e o colchão cedeu um pouco sob o peso de seu corpo—. Necessita outra lição.

A sentença foi executada com uma voz impassível e então começou a lhe atirar do pulso em ambas as direções, lhe deslocando a articulação.

Foi nesse momento quando Desi começou há contar o tempo segundo sua habilidade para suportar a agonia, mas não agüentou muito antes de começar a soluçar. Seu membro se endurecia com cada grito.

Ao final a penetrou, mas seguiu lhe atirando do pulso, retorcendo-a até limites insuspeitaveis lhe dando uma lição exemplar até fazê-la gritar. E assim, ela continuou agüentando aquele suplício e obedecendo suas ordens perversas, sem deixar de aferrar-se a aquela pequena esperança.

—Desi?

Uma voz masculina entrou em seu sonho, que se encheu de luz. Ela sacudiu a cabeça.

—Está bem?

Caine...

Desi respirou fundo e tocou o pulso. Só tinha sido um pesadelo. Tirou-se as mantas de cima e se incorporou sobre a cama. Caine estava na soleira. A luz do hall estava acesa.

—Estou bem.

—Aquiete se. —Caine acendeu a lamparina—. Um pesadelo? —Perguntou-lhe, olhando-a fixamente.

—Às vezes as tenho.

Ele se apoiou contra o marco e então lhe abriu a camisa, deixando seu peito ao descoberto.

—Acredito que foi minha culpa.

—Não. —Depois de hoje, e o mal que lhe tenho feito passar isso, é um milagre que não grite acordada.

Tocou-se o peito com a mão e Desi não pôde evitar olhar esses músculos de aço.

—Já me acostumarei. —Lhe disse ela, agarrando os lençóis com força.

—Não se segue me pedindo ajuda e eu sigo trocando as regras do jogo.

—Estou bem.

—Não. Não o está, mas o estará. Decidi que temos que endireitar este matrimônio.

Desi olhou pela janela. A lua estava baixa. Devia ser muito tarde. Ele estava na habitação, semi desnudo.

—Decidiste voltar a te deitar comigo.

Ele levantou uma sobrancelha.

—Entre outras coisas. Isso te assusta?

Desi umedeceu os lábios e voltou a tocar o pulso.

—Não. —Desi não podia acreditar que estivesse tão nervosa.

—Bem. Isso facilitará as coisas.

O abajur chispou e Caine ajustou a mecha.

Ela respirou lentamente ao vê-lo entrar. A luz do abajur fazia crescer sua sombra sobre a parede.

Lhe intimida.

Era muito parecido ao pesadelo que acabava de ter. A única diferença era que essa vez podia lhe olhar aos olhos, o qual não fazia a não ser piorar as coisas.

Uma quebra de onda de náusea.

Desi engoliu uma, duas vezes... À terceira conseguiu acalmar as mariposas que revoavam em seu estômago. Afundou os dedos na grosa manta que lhe cobria as pernas e se recostou contra o travesseiro da cama.

—Está nervosa?

Desi se sobressaltou para ouvir as palavras.

—Não. Absolutamente. —Disse, sem sentir o que dizia.

—Me alegro em saber.

Desabotoou-se um botão da calça, e logo outro, descobrindo assim a fina linha de pêlo que levava até seu membro descomunal. Enquanto lhe via despir-se, Desi não pôde evitar pensar que tinha saído perdendo. Com o James e seus amigos, tinha compreendido que a queria viva para satisfazer seus desejos de prazer. Inclusive com ele, ela tinha entendido seu papel perfeitamente.

Mas com o Caine... Ela sabia o que queria, mas não estava segura de poder dar-lhe   Um, dois, três, quatro... O silencio parecia eterno.Ele ainda estava olhando a fixamente, e ela tentou manter sua postura..

Umedeceu os lábios e reparou na horrível cicatriz que ia da virilha até o quadril.

Aquele era um homem ao que pagavam para caçar aos piores malfeitores; um homem que vivia e respirava nesse território sem lei; um homem do que não podia escapar; seu marido... O homem em quem confiava.

Ele se sentou a seu lado e ela se apoiou em um cotovelo, mantendo as distâncias.

Um, dois, três, quatro... O silêncio parecia eterno. Ele seguia olhando-a fixamente e ela tratava de guardar a compostura.

Caine se girou para ela e pôs a mão junto ao quadril de Desi. Seus dedos pressionavam os da jovem através da manta.

—Posso fingir para ti.

—O que?

Desi não era capaz de olhá-lo aos olhos.

—Posso fingir não saber nada disto.

—Que amável de sua parte.

Ela se encolheu de ombros.

—Tenho-o feito outras vezes.

Esse era o jogo favorito de James.

—Só tem que me dizer como quer que o faça.

Ele demorou em responder.

—Quer que adivinhe ou tem várias opções para me dar a escolher?

—Sou muito boa fingindo que eu gosto.

Isso era uma mentira. Ela não tinha nem idéia de como reagia uma mulher quando sentia prazer.

—O que, mas?

—Posso gritar como se me doesse enquanto o faz.

—Maldição.

Pôs o polegar contra o queixo de Desi e ela começou a esfregar seu punho instintivamente.

—Posso gritar como uma louca todo o tempo que queira. Nem sequer terá que me fazer danos para que soe real. —Lhe agarrou o punho com força—. De verdade?

Levantou-lhe o queixo e Desi não teve mais remedeio que olhá-lo aos olhos.

—Prometo-te que não te decepcionarei. —Lhe disse em um sussurro.

Essas palavras encheram o silêncio durante um bom momento.

—E o que passa se não quiser que finja?

—Não o entendo.

—O que acontece quero algo de verdade?

—Quer que volte a ser uma virgem?

—Bom, cigana, acredito que isso esta fora de nosso alcance. —Lhe disse, a ponto de rir.

—Está jogando comigo.

—Não. Só estou tirando o sarro um pouco.

—Não me parece gracioso.

—Já vejo. Abriu a mão sobre a nuca de Desi. Seu fôlego acariciava o rosto da jovem.

—Por que não me diz o que quer? —Disse Desi, impaciente.

—Porque ao melhor não quero nada exceto o que ocorra.

—Isso não tem sentido.

—Já lhe tinha dito um par de vezes.

—E não te incomoda?

—Não. Eu gosto de levar ao contrário. —A olhou de cima abaixo—. Se te relaxar um pouco, estará mais cômoda.

—Estou bem. Ele sacudiu a cabeça.

—Se segue estando tão bem, vais ter uma cãibra permanente justa... Aqui.

Com o dedo indicador pressionou a zona onde mais lhe acumulava a tensão. Agulhas de dor percorreram o corpo de Desi, mas ele continuou acariciando-a e essa horrível sensação se converteu em prazer.

Com um movimento ágil, ele ficou em cima dela, assumo contra peito. Desi olhou a um lado. O estou acostumado a estava a poucos centímetros. Embora não pudesse incorporar-se, podia tornar-se a um lado. Como se pudesse lhe ler a mente, Caine pôs uma perna em cima das dela, ancorando a na cama. Sua ereção palpitava contra o quadril da jovem.

—Fica aquieta Desi. —Lhe disse, acariciando a bochecha com as palavras—. Deixa que cuide de ti.

—Não necessito que cuidem de mim.

—Isso não está bem, porque eu preciso cuidar de ti.

Seus lábios desceram pelo pescoço da jovem, deixando um rastro de carícias tão sutis como o roce das asas de uma mariposa. Desi lhe pôs a carne de galinha. Ele fazia que tudo fora tão fácil.

—Pior para ti.

Desi sentiu sua gargalhada no ouvido e se estremeceu por dentro. Algo tinha despertado em seu interior.

Virou o rosto.

—Não, carinho. Deixe-me te agradar? Isso é tudo o que quero. —Deslizou a coxa entre as dela e começou a beijá-la no ombro, apartando a camisola com o queixo.

Ansiosa, Desi voltou a apalpar o punho.

—Bem.

Ele se afastou um pouco. Seu sorriso se desvaneceu assim que a olhou nos olhos.

—Tranqüila Desi. Olhe-me.

Ela fez o que lhe pedia.

—Tem que te acostumar jeito de que eu gosto de te mimar.

—Mas te aborrecerá. —Isso nunca passará.

Ela não parecia muito convencida.

«Nem sequer terá que me fazer danos para que soe real...»

—Como te rompeu o pulso? —Perguntou ele de repente. Havia raiva em sua voz.

Desi se encolheu de ombros.

—Fui um pouco descuidada.

Caine se levantou e a tomou em seus braços. Então voltou a levantar-se e a colocou sobre seu regaço.

Desi respirava de forma entrecortada e se esforçava por recuperar o controle.

Outro silêncio ensurdecedor.

—Fez-o muito bem com esses foragidos. —Disse ele finalmente, agarrando-a no braço.

—Obrigado. —Disse Desi, soltando o fôlego.

Ele a soltou.

—Se as outras mulheres tivessem lutado com a mesma firmeza, essas uvas sem semente teriam saído fugindo.

Desi lhe olhava o peito, outra vez.

—Estavam esperando que as resgatassem.

—Mas você sabia que sempre é melhor ajudar-se a si mesmo.

Um tronco saltou no ar e Desi se sobressaltou, mas Caine a sujeitou com força e reatou as carícias.

—O que faz?

Ele deslizou os dedos pelo braço da jovem.

—Estou conversando com você.

—Por quê?

—Porque imagino que assim se sentirá melhor.

Ela o olhou, boquiaberta, e depois sacudiu a cabeça.

—O que? Desi não respondeu imediatamente e lhe agarrou o pulso. Seus dedos tomaram o pulso.

—Não sou uma menina.

Caine deslizou os dedos pela manga da camisola de Desi. Seus peitos se desenhavam debaixo daquele tecido delicado.

—Sou consciente disso.

Caine se inclinou sobre ela e lhe umedeceu os lábios com os seus próprios. Então lhe mordiscou a pele e ela conteve a respiração. A tensão chegou ao limite e ela tratou de retirar-se, mas ele a agarrou pela nuca, apartando os lábios dos da jovem. Ela deslizou uma mão entre seus corpos quentes e tocou o ponto onde tinham estado unidos.

Caine se umedeceu os lábios em um intento por recuperar seu sabor.

—Já lhe hei isso dito. É minha esposa. —Lhe disse, estreitando-a entre seus braços.

Desi fechou o punho.

—Ah, se?

O se aproximou um pouco mais, lhe sustentando o olhar.

—Eu não atiro a minha esposa. —Disse, agarrando a nos quadris.

Desi piscou estupefata.

—E então o que lhe faz?

Deu-lhe um beijo de seda na frente e sentiu o calafrio que percorria sua frágil constituição.

—O amor. Ela sacudiu a cabeça.

—Por que faz isto?

—O que? —Fingir que estamos casados. Fingir que isto é real, que te importa.

Atirou-lhe do cabelo e lhe fez elevar a cabeça.

—Assim é.

—Por quê?

—Porque você quer que assim seja. Desi lhe pôs a palma da mão no peito.

—Por favor. Não o faça.

Ele pôs a sua em cima. —O que?

—Não tem que fazer que pareça bonito. Não te incomode. Não há por que fingir. Eu não espero nada. Casamo-nos porque não tivemos eleição. Eu não tenho problemas com isso.

—Eu não gosto dessa forma de ver as coisas.

—Sou realista.

Ele a empurrou para trás e e tombou sobre ela, apoiando o peso no flanco.

—Então o único que quer é que acabe de uma vez.

—Por favor.

—Bom essa é uma palavra que aos homens gosta de escutar na cama.

Como podia dar beijos tão suaves um homem tão perigoso?

Desi jazia debaixo de Caine, rodeada por seu calor. A jovem continha a respiração cada vez que ele se aproximava e a soltava com um leve ofego quando lhe dava um beijo.

Embora não parecesse ter pressa, ela podia sentir seu membro potente contra um flanco. Sua boca lhe roçou a comissura do lábio com uma carícia sutil.

—O que quer de mim?   

Os lábios de Caine desceram pelo pescoço de Desi.

—Agora mesmo, ou em geral?    

Encontrou um ponto sensível junto à orelha de Desi e começou a esfregar seus lábios sobre ela. Outro relâmpago de sensações reverberou por todo o corpo da jovem, desencadeando uma comichão que chegou a cada rincão de seu ser.

—Agora... O que quer de mim? —sussurrou ela.

—Quero tudo o que sinta de bom e de mau. Nada de fingir. —Disse ele com um fio de voz que se mesclava com suas carícias. Desi cravou os talões no colchão e apertou os quadris contra ele, insatisfeita.

Ele colocou o braço por debaixo de seus quadris e abrangeu suas nádegas com a palma da mão. Vamos. Tinha que mover-se para cima.

Ela aceitou o convite e sentiu o roçar de seu membro contra seu sexo em flor. Isso era o que desejava o que tinha estado procurando. Com um movimento de quadris, colocou sua potência masculina justo no centro e o agarrou pelos ombros. Moveu os quadris para a esquerda, longe da mão dele, mas um puxão entre as nádegas a fez ficar no centro. Então ele deslizou os dedos entre aquelas montanhas cobertas de linho e saltou sobre a cordilheira de seu ânus. Ela ficou sem fôlego, apanhada entre a promessa de seu membro poderoso e a escura tentação que espreitava por detrás.

Fechou os olhos e ficou quieta.

 

Ele apoiou todo o peso no cotovelo e lhe colocou a mão entre as pernas. Então começou a esfregá-la acima e abaixo enquanto se desabotoava as calças.

Desi acreditou que morreria de prazer.

Lançou um gemido intenso ao sentir a investida de seu membro excitado sobre o clitóris. Caine lançou um grunhido animal que lhe pôs os cabelos de ponta e lhe endureceu os mamilos.

—Me olhe.

Ela fez o que lhe pedia. Os dedos do Caine jogavam entre suas nádegas a um ritmo frenético. Desi respirou com dificuldade ao tempo que arqueava as costas. A dor se mesclava com o prazer em um redemoinho de sensações elevadas.

—Alguém colocou aí antes? —Perguntou-lhe ele.

Ela sacudiu a cabeça, dividida entre a curiosidade e o medo.

Doeria-lhe. Tinha que lhe doer, mas seu corpo rechaçava toda lógica e seu sexo pulsava de desejo.

—Não vai caber. —Sussurrou ela.

Caine esboçou um leve sorriso e ela se aferrou a ele com pernas e quadris, faminta de paixão.

—Sim que o fará. Devagar e suave. Pouco a pouco, até que exploda de prazer. —Estendeu a palma da mão sobre suas nádegas, deixando-a incompleta—. Mas hoje não.

Desi se debateu entre o desespero e o alívio.

A gargalhada de Caine lhe arrancou um gemido das vísceras. Deu-lhe um beijo sutil; uma miragem do que podia ter sido. Acariciou-lhe as comissuras dos lábios...

Desi lhe cravou as unhas nos ombros, atraindo-o para si, procurando algo mais.

Outra gargalhada.

Caine deslizou a língua pela linha de seus lábios e sacudiu a cabeça.

—Monte —Disse e lhe agarrou o queixo com dois dedos.

—Abre.

Caine se desabou sobre ela, lhe selando os lábios com um beijo. As pontas de seus dedos lhe pressionavam os ombros... E seus lábios se posavam em seu pescoço, seu peito...

Desabotoou-lhe a camisola e o próximo beijo caiu sobre a base da garganta, tomando o pulso.

Caine seguiu adiante, percorrendo a curva de seu torso nu até chegar ao vale entre seus seios.

—Não há nada mais bonito. —Murmurou.

Desi olhou para baixo. Tinha os mamilos vermelhos e duros.

Ele há olhou um instante.

—Só falta uma coisa. —Abriu os lábios.

—Caine?

—Aqui estou. —Disse e Desi sentiu o comichão de seu fôlego sobre os mamilos.

Então lhe agarrou as mãos e as pôs por cima da cabeça. Ela resistiu um pouco.

—Fica quieta, carinho. —Lhe disse, sorrindo.

Ela não tinha eleição. Caine a tinha ancorada à cama com uma coxa.

Ele seguiu explorando seu corpo. Encontrou a cicatriz que lhe cortava o punho e se esfregou contra ela como se fora um talismã.

—OH, Deus. Por favor. Não. Não...

Ela não podia suportá-lo.

Caine se deteve. Seu membro pulsava em sincronia com o coração de Desi. Um segundo, dois segundos, três segundos... Parecia que tinha deixado de respirar.

Seus lábios se fecharam sobre um mamilo de Desi e ela gritou, antecipando a agonia da dentada. Começou a lhe empurrar com os braços, retorcendo-se em todas as direções. Tinha que escapar.

—Maldição! —O juramento a fez lutar com mais afinco.

Mas era inútil. Não podia escapar.

A jovem se encolheu ao tempo que ele se incorporava, em um intento por amortecer o golpe que estava por vir.

Outro juramento. Caine gritou seu nome, mas ela seguiu lutando.

Conseguiu soltar um momento, mas o voltou a lhe agarrar as mãos quando tratou de lhe cravar as unhas nos olhos. Ele a sujeitou até que o cansaço a fez render-se.

—Tranqüila Desi. Tranqüila.

Abriu os olhos. Ele a observava com uma expressão inescrutável.

Afrouxo a pressão sobre seus punhos.

—Já está melhor?

Ela assentiu com a cabeça. Como tinha pensado que podia ganhar a batalha?

Lhe soltou o punho esquerdo e se apoiou no braço direito. Então lhe apartou o cabelo da cara.

—Sou seu marido, Desi.

—Sei. 

Acredito que isso não significa muito para ti, ainda. Mas é meu dever te proteger daqueles que queira te fazer dano.

Ela não soube o que dizer.

—Dói-me apenas te olhar.

Ele pôs os lábios sobre seu punho avermelhado.

—E agora... Por que não me conta algo do homem que gostava de te ouvir gritar?

—Por favor...

—Por favor, o que?

—Não comece com isso agora.

—Ele esteve nisto desde o dia que te conheci. E já estou muito cansado.

—Sinto muito.

—Eu não quero que o sinta. Quero que seja honesta para saber quais são seus medos.

—Não o faço a propósito.

—Nunca disse que o fazer, mas tem que admitir que temos um problema.

Desi apertou os punhos.

—Farei-o melhor.

Caine suspirou. Deitou-se de barriga para cima e a fez tombar-se em cima.

Desi podia sentir os batimentos de seu coração sob o peito; entre as pernas, seu membro potente.

 

Tivesse desejado que lhe fizesse o amor, em lugar de interrogá-la.

De repente Caine lhe deu uma palmada no traseiro.

—Agora não. Temos que falar.

Desi escondeu o rosto contra seu peito.

—Não há nada do que falar.

Caine lhe agarrou as nádegas.

—Pode ser que não tenha muita experiência com as mulheres, cigana, mas sim sei que não pode fazê-lo melhor com tantas feridas abertas. Não quero voltar a pôr o dedo na chaga.

Ela apoiou a bochecha nas mãos.

—Sempre tem que levar razão?

—Se, porque me chateia muito não levá-la.

—Algum dia vou ter razão.

—Vais fazer comer couro de sapatos quando isso ocorra?

Desi esfregou a cicatriz do pulso.

—Não. —E o que vais fazer?

—Me surpreender muito.

Ele se se pôs a rir.

—Seguro que me esfrega isso na cara de alguma forma.

—Possivelmente.

—Respira carinho.

Ela sacudiu a cabeça.

—Sozinho... Quero... Terminar... Com isto.

—E eu também. Mas não quero que fique sem ar Necessita a bolsa?

Ela sacudiu a cabeça.

—Só um momento.

—Temos toda a noite.

Desi fechou os olhos e os minutos se aconteceram um após o outro. Um, dois, três... Sua respiração se fez mais pausada.

—Por isso vejo este era dos piores.

Ela assentiu.

—Gritava muito?

Desi negou com a cabeça e pigarreou um pouco.

—Os outros sempre gritavam e soltavam fanfarronadas, mas ele sempre falava com uma voz clara e educada. Nunca elevava a voz, nem sequer quando me fazia danos.

Caine lhe acariciou o cabelo.

—Então não há forma de que me confunda com ele.

—Não.

—E então por que te puseste assim?

—Te importa que eu faça as coisas bem.

—Refere a como eu gosto de fazer as coisas?

—Sim.

—Então quando te dou ordens, começa ouvir a voz de outra pessoa.

Não era tão fácil, mas ela não sabia como explicar-lhe encolheu-se de ombros.

—Isso não é uma resposta.

—Às vezes me faço uma confusão e não sei se faço o que quero fazer, ou uma parte de mim quer que faça. Às vezes não consigo distinguir o que é real do que não.

—Como quando te beijo os peitos? Ao princípio sim queria.

Ela assentiu, ruborizada.

—Sim.

—E então o que ocorreu?

—Vi-te os dentes, quando abriu os lábios.

—Maldita seja. Sou um pouco mandão, mas não faço mal às mulheres.

—Eu sei. Mas às vezes se esquece.

—Esse porco que te fez mal... Como era?

—Só recordo seus sapatos.

—Nada mais?

Desi se encolheu.

—E suas partes. —Disse com um fio de voz.

—E a cara?

Desi esfregou o punho mais uma vez .

—Não vinha muito freqüentemente e não me permitia olhá-lo à cara.

—Alguma vez?

—Não.

Caine rodou sobre si mesmo e ficou em cima dela.

Desi deixou de tocar o pulso e agarrou o lençol.

Ele a agarrou pelo braço, detendo-a.

—Não. Quero vê-lo.

Só teve que atirar um pouco e ela soltou o tecido.

—A ver se tivermos tudo claro. Não quero ver como te humilha ou o passa mal. Só quero saber que está bem. —Estou bem.

Deu-lhe um último beijo no pulso e lhe jogou as mãos para trás, por cima da cabeça.

—As deixe aí.

Ela o fez, mas mordeu os lábios.

Caine lhe tocou a ponta de um mamilo e ela reteve o fôlego.

—Mordeu-te aqui?

—Por que não o deixa?

—É minha esposa. —Lhe disse ele, olhando-a nos olhos.

—Mas então não o era.

—Não crie que o vou deixar escapar de qualquer jeito. Não?

Desi o olhou perplexa.

—Ninguém, absolutamente ninguém pode te fazer danos e sair impune.

—Não pode voltar e encontrá-los a todos.

Caine tocou o que parecia uma cicatriz sobre a auréola.

—É claro que sim.

Ela pôs sua mão sobre a dele.

—Já terminou.

Caine a olhou fixamente.

—Passei-me toda a vida matando por menos e não vou trocar quando se trata de minha esposa.

—Matarão-lhe.

—Que o tentem.

Ela enredou os dedos nos dele.

—Não, quero que faça.

Ele ficou confuso.

—Tem que entender, Caine. Esses homens são muito perigosos.

Deu-lhe um beijo nos lábios.

—Carinho não te casou com um anjo.

—Mas você não os conhece.

—Isso tem fácil solução.

—Tiraram-me isso tudo, e não vou deixar que me tirem o único que fica.

—Não se trata disso, mas sim de fazer justiça.

—Não, é uma questão de sentido comum. E se não demonstrar ter nenhum, terei eu.

Ele se apoiou sobre os cotovelos.

—Maldita seja. Não está falando sério.

—Claro que sim. —Lhe disse, franzindo o cenho.    

—Por acaso me está ordenando que o deixe tudo como está?

Ela cruzou os braços e o olhou com receio.

—Serviria de algo?  

—Não. Mas me comoveria muito que o tentasse.

—Então terei que tentar outra coisa, e você terá que te comover.

Caine não pôde evitar sorrir. Tocou-lhe a bochecha com a ponta do dedo.

—Pode tentá-lo se quiser.

—Acredita que não posso?

—Acredito que pode fazer um montão de coisas, cigana, mas me obrigar a esquecer o porco que te rompeu o pulso não é uma delas. —A beijou com doçura—. Para isso não há esperança.

Devolveu-lhe o beijo com desespero, lhe dizendo o que não se atrevia a pôr em palavras.

—Não vou deixar-te em paz, Desi .—Sussurrou ele—. E ninguém me vai separar de você, assim te relaxe e deixa que siga adiante.

—Promete-o?

Embora ambos sabiam que não poderia manter esta promessa, lhe deu o que ela necessitava nesse momento.

—Prometo.

Ela estendeu as Palmas sobre suas costas e o atraiu para si.

—Então faça que me sinta bem, Caine.

—Como de bem? Tão bem como uma senhorita ou tão bem como uma mulher?

—Há alguma diferença?

—Uma delas o passa muito melhor.

Desi franziu os lábios e inclinou a cabeça.

—Eu fui uma senhorita durante muitos anos e nunca me passei isso tão bem, assim prefiro passá-lo tão bem como uma mulher.

—Maldita seja. Eu adoro quando tira esse lado selvagem.

—Crie que tenho um lado selvagem?

—Acredito que é selvagem apaixonada... Tudo o que um homem poderia desejar.

—É um homem muito estranho.

—São essas maneiras de te referir a seu marido?

Desi lhe rodeou o pescoço com os braços e o atraiu para si. Ele pôs a mão sobre suas costas.

—Não. —Disse ele.

—Mas...

Ele sacudiu a cabeça.

—Não me recorde isso.

Desi o olhou fugazmente.

—Isso será difícil.

—Crie que sabe tudo sobre fazer o amor pelo que lhe fizeram?

Havia um «sim» definitivo em seus olhos.

Ele rodou sobre si mesmo e ficou debaixo dela. Apartou as mantas e lhe tirou a camisola. Queria vê-la livre e selvagem.

—Te levante.

Caine lhe deu uma palmada na nádega direita e lhe fez dar um salto. Então se tirou as calças e seu membro palpitante se ergueu imediatamente, procurando o sexo do Desi. Pôis-lhe as mãos sobre os quadris, sem deixar de olhá-la aos olhos.

—Agora se sente carinho. Ponha essa flor sobre mim.

Mordendo-os lábios, Desi obedeceu, mas seus músculos se contraíram, lhe fechando o passo.

Acariciou-lhe a bochecha.

—Esta noite quero que só pense em uma coisa.

 

O que passe entre nós é o que acontece marido e mulher. E é para nos dar agradar.

Ela se ruborizou e baixou a vista.

—O que? —Tocou-lhe a comissura dos lábios.

—Preocupa-me não fazê-lo bem.

—E a mim. Outra coisa mais em comum.

—Você está preocupado?

—Claro. Por que não teria que está-lo? Cada mulher é distinta e um homem que não pode satisfazer a sua esposa tem muito que perder.

—Esperas me agradar?

—É óbvio-ele deslizou seu membro viril com o passar do ninho quente que ela tinha preparado, e lhe fez mover os quadris até esfregar-se contra seus clitóris—. Você gosta?

—Está bem.

—Bem.

Esse era o adjetivo que ela aplicava a tudo o que não odiava, mas essa vez estava desfrutando.

—Quer que o faça de novo?

—Se quiser.

Claro que queria. Uma e outra vez a fez deslizar-se sobre seu membro e se banhou em seu fogo líquido.

Ela estava liberando uma batalha interior. O prazer... De render-se.

Mordia-se os lábios enquanto sua umidade melava o membro dele. Os músculos de seu corpo se contraíam, antecipando o clímax.

Caine a beijou nos lábios, sufocando seus pequenos gemidos.

—Fica comigo agora-lhe sussurrou antes de beijá-la no peito.

Abriu a boca e aceitou esse frágil presente, enroscando a língua ao redor desse topo duro.

—OH, sim... —murmurou Desi quando ele começou a chupar.

Acariciou-lhe a bochecha e o acanhamento se desvaneceu com a paixão. Ele a fez tornar-se adiante.

—Necessito-te, Desi. Não pares. —Agarrou seu próprio membro e o esfregou contra o sexo dela uma vez mais.

A trança que lhe tinha feito se desfez e uma cascata de cabelo com aroma de lilás caiu sobre seu torso nu.

Caine lhe sustentou o olhar todo o tempo, lhe mostrando seu desejo e sua paixão. Uma ligeira piscada anunciou sua chegada à cúpula. Os delicados músculos se deram um beijo íntimo e a tensão cresceu a seu redor. Ele queria que chegassem juntos.

—O que acontece com essa tua cabeça, Desi?

—Não sei quem é.

—Sou seu marido.

—Mas o que significa isso?

—Significa que já não voltará a estar sozinha.

Ela franziu o sobrecenho.

—Estou-te fazendo mal? —perguntou ele.

Ela sacudiu a cabeça, lhe fazendo cócegas com o cabelo.

—Então... O que ocorre?

—Eu...

Os músculos da jovem se renderam e o membro do Caine apareceu um vulcão em erupção.

—OH!

Ambos fecharam os olhos e uma corrente de prazer atravessou as vísceras de Caine. Ela nunca tinha estado tão excitada; tão quente e doce que se derretia por momentos. Os músculos de seu sexo se estremeciam ao ritmo das capitalistas investidas dele.

Caine empurrou um pouco mais e Desi deixou escapar um gemido.

Prazer ou dor? Era difícil sabê-lo.

—Estou-te fazendo mal, Desi?

Ela sacudiu a cabeça ao tempo que uma onda de sensações reverberava em seu corpo.

Ele retrocedeu.

—Está bem?

Ela voltou a sacudir a cabeça.

—Abre os olhos. —Lhe disse, agarrando a no queixo.

Desi levantou as pálpebras lentamente.

—Essa é minha cigana selvagem —disse Caine, sorrindo—. A ver se posso encontrar esse lugar tão especial que te faz sentir tão bem.

Ele introduziu o polegar em seu sexo úmido e apartou as pétalas com doçura até chegar aos clitóris. Ela se contraiu ao sentir o primeiro contato e Caine sentiu a revoada de seus músculos na ponta do membro. O segundo toque não provocou nenhuma reação nela. Nem tampouco o terceiro.

—Tranqüila carinho.

—Já não funciona.

—Tudo funciona bem. —Voltou a tocá-la com mais energia e ela saltou de gostou— vê?

Caine não esperava uma resposta e não obteve nenhuma. Toda a atenção da jovem estava posta na corrente de prazer que banhava seu ser.

Caine voltou a esfregá-la com o polegar. O gemido do Desi foi música para seus ouvidos. —Isso, cigana. Deixe-me te ouvir, verte. Demonstre-me o muito que desfruta com tudo o que te faço.

Ela começou a menear os quadris.

—Desi. —Sussurrou ele.

Ela se aferrava a ele com gritos e delírios de paixão.

—Me deixe entrar em ti esta vez. Cada vez que sinta a pressão, empurra para mim.

Desi o olhou aos olhos um instante e Caine pôde ver luxúria e confusão em seu olhar.

Caine a tocou uma vez mais com o dedo polegar, lenta e urgentemente, empurrando-a adiante e atrás.

—Isso. Assim. Uma vez mais.

Ele o deu tudo e ela aceitou seu presente, deleitando-se com cada erótico milímetro de sua potência masculina até não saber onde terminava o corpo de Caine e começava o seu próprio. Então lhe pressionou o clitóris com o polegar e o índice, lhe devolvendo assim o prazer que lhe estava dando ela. Quando lançou a primeira investida poderosa, massageou esse ponto sensível com frenesi, levantando a da cama.

Aquele prazer era tão intenso que a dor de reprimi lo fazia insuportável, mas tinha que conter-se, por ela.

—Vêem comigo, Desi. Deixe-te levar, céu. Deixe-te levar.

Caine tivesse querido ouvi-la dizer seu nome enquanto chegava a seu destino, mas ela ficou rígida, afastando-se mais e mais. Ele o sentiu, mas não foi capaz de impedi-lo. Ela se tinha ficado atrás.

Desi se levantou sobre ele uma vez mais e se deixou cair com todas suas forças, cavalgando de tal forma que era impossível resistir ao baile de seu corpo.

Bastaram três golpes de quadris para levá-lo a êxtase; um êxtase de tristeza que se refletia nos olhos dela.

Ele sacudiu a cabeça e a apertou com força, selando seus corpos para sempre a alagando com sua semente e lhe dando de presente seu próprio prazer...

 

Esse maldito galo devia ter vontades de conhecer seu criador.

Desi pulverizou um pouco o curral das galinhas. O galo a observava de um rincão, através de um olho frágil. A jovem arrojou mais milho a um lado, tratando de afugentá-lo, mas o animal não se moveu.

Desi agarrou a asa da cesta com ambas as mãos.

—Maldito pássaro.

Por sua culpa se passou meia noite remendando bicadas na roupa.

O galo avançou, agitando as asas. Tinha as plumas da cauda desdobradas. Havia uma atitude decidida em seu caminhar; uma confiança que tinha nascido da vitória obtida no dia anterior.

Desi baixou as mangas do vestido até cobri as mãos e deu um passo para o galo. As galinhas cacarejaram a seu redor e fugiram rumo à manjedoura.

O galo cacarejou e Desi soltou um grunhido. O animal grasnou, mas ela seguiu adiante.

Desdobrou as asas e Desi levantou a cesta.

—Esta vez não. —Lhe disse quando tirou a cabeça.

O galo chiou, mas ela não se deixou intimidar.

—Esses ovos são meus.

O galo se lançou a pelos pés do Desi e ela o golpeou com a cesta. O animal caiu ao chão feito uma bola com plumas e asas, mas ela sabia que não demoraria em contra-atacar.

Arremeteu de novo e Desi lhe deu uma patada. Conseguia-se entrar no curral das galinhas, podia fechar porta e conseguir os ovos. Com um pouco de sorte não lhe cairiam e poderia preparar o bolo favorito de Caine. Desi estava a uns passados do curral quando ouviu uma revoada. Deu-se a volta, rodando a cesta. Errou o golpe.

O galo lhe lançou à cara e Desi agachou a cabeça gritando. O animal aterrissou em suas costas e começou lhe dar bicadas, lhe cravando as unhas.

Um grunhido à esquerda...

Boone se equilibrou sobre ela e o galo saiu disparado. Boone foi atrás dele.

Desi se alisou a saia e se esfregou as bicadas que lhe tinha dado na cabeça.

 

 

 

—Vá pega ele, Boone.

Boone estava ganhando a briga quando o galo deu um salto e o pilhou por surpresa. Antes que o cão pudesse incorporar-se, o galo lhe subiu às costas, agitando as asas como um demônio. Os grunhidos do Boone se voltaram uivos. Deu meia volta e pôs-se a correr para ela com o galo nos talões.

—OH, não. —Desi agarrou a cesta e pôs-se a correr para o curral das galinhas.

Abriu a porta.   

—Vamos, Boone.    

O animal atravessou a desvencilhada rampa de um salto.

Desi freou a investida do galo com a cesta e fechou a porta. Então deu uma palmada ao Boone e foi a pelos ovos.

—Temos que fazê-lo melhor no futuro, Boone.

Percorreu a fila de ninhos e pôs os ovos na cesta.

—Se não Caine se zanga conosco.

Boone soltou um ganido e lambeu um arranhão no lombo.

O último ninho estava vazio. Desi olhou para a porta depois da que esperava o galo encorajado.

—OH, claro, tem todo o tempo do mundo para me chatear, mas quando se trata de fazer o trabalho. Ora!

Não havia mais ovos, o qual significava que era hora de voltar a sair.

—Você o distrai e eu vou com os ovos. Vale?

O cão olhou para a porta e depois a olhou a ela.

—Esta noite te darei um osso de mais.

Boone meneou a calda.

—Um muito grande.

Levantou-se sobre as patas traseiras.

Desi pôs a mão sobre o ferrolho.

—Preparado?

Boone levantou as orelhas. Desi também escutou, mas não se ouvia ruído algum. Levantou o ferrolho.

—Vamos, Boone!

Com um ganido saiu pela porta e Desi foi atrás dele. Mas de repente girou à esquerda, deixando-a indefesa frente a aquele demônio com asas.

O galo saltou e Desi teve que fazer malabares com a cesta ao tempo que se cobria os olhos.

—Te tire de cima.

Sacudiu o braço, mas o galo se aferrou à cesta com as unha. Deu-lhe um tapa.

—Só necessito seis ovos, maldito bastardo egoísta. Não necessita tantos! —Deu meia volta e pôs-se a correr, mas o galo seguiu lhe dando bicadas e golpeando-a com as asas.

Agarrou um ovo e o lançou, mas errou o branco. Aquela bola de plumas ia a por ela com suas enormes garras. O seguinte ovo lhe deu no pico.

Desi seguiu adiante e quando atravessou essa linha invisível que delimitava seu território, deu um salto de alegria e cantou vitória. Tinha-o obtido. Ao olhar na cesta viu que ficavam seis ovos. Suficiente.

—A próxima vez os conseguirei todos!

 

Ao dar a volta, tropeçou em uma pedra e caiu ao chão. O som dos ovos ao romper-se era inconfundível.    Quando ficou em pé ouviu uma gargalhada masculina.

Havia três desconhecidos junto ao Tucker e Ed, e todos a observavam com sorrisos na cara.

Desi se afogou em uma onda de humilhação. Os homens se tocaram o chapéu a modo de saudação.

—Onde esta Caine? —Perguntou ao Tucker ao incorporar-se.

Ele assinalou o celeiro.

—Esta trabalhando com o garanhão que capturamos.

—Obrigado. —Desi esfregou as mãos para tirar o pó, saudou com um gesto e deu meia volta.

—Acredito que não deveria ir —Acrescentou Ed.

—Vá.

—Quando o vir lhe diga que encontramos alguns dos lobos que andava procurando. —Disse um dos homens.

Desi o olhou de cima abaixo. Era algo mais baixo que Caine, magro e duro de cortar; uma advertência feita carne.

—Quem é?

Ele se tirou o cigarro da boca; uma boca incrivelmente sensual.

—Caden Steele, senhora.

Desi olhou ao Tucker.

—É dos Oito do Inferno?

—Sim.

—Então lhe darei a mensagem.

A porta do celeiro estava fechada. Dentro se ouviam patadas e bufidos ; um murmúrio silencioso... Desi abriu a porta com tanta força que ricocheteou contra a parede, fazendo um grande estrondo.

—Caine Allen.

Os bufidos se converteram em relinchos. Algo duro golpeou a madeira.

Caine resmungou um juramento.

—Caine!

Uma porta se abriu de repente e um corpo aterrissou no pó.

Era Caine. Desi foi para ele.

—Caine Allen!

Ele piscou, aturdido. Ela se agachou e lhe estendeu a mão.

—Tem que me ensinar a lutar. —Lhe disse.

Caine ficou em pé e deu dois passos para sua esposa. Agarrou-a por braço e lhe deu a volta.

Sacudiu-lhe o pó das costas. Tinha plumas no cabelo.

Fez-a ficar de frente, mas não a soltou.

—Nunca volte a entrar no celeiro gritando quando estou trabalhando com um cavalo. Poderia te fazer dano.

Ela arqueou as sobrancelhas.

—Você foi o único que terminou no chão.

—Porque começou a gritar.

—Vate ao inferno.

—Ultimamente o tomaste por costume.

—O que?

—Jurar.

—Ah, se?

—Eu não gosto.

—Então te agüenta porque decidi que não é justo que você te leve a melhor parte.

Caine deslizou um dedo por seus lábios.

—E o que significa isso?

—É que não me parece justo que os homens possam soltar tacos quando estão zangados e as mulheres não.

—Te ocorreu pensar que possivelmente não o necessitaria se te deixasse levar na cama?

Agarrou-a por braço e a conduziu à porta.

—Aqui não há ninguém exceto você e eu.

Ela de parou em seco e lhe fez frente.

—Deixa de fazer isso!

—O que?

Desi deu uma patada no chão.

—Saber o que estou pensando antes que eu o diga.

—Não é que tenha que me esforçar muito..

Desi ficou tensa e o brilho das lágrimas apareceu em seus olhos.

—Vate ao inferno.

Caine o teria tomado mal se não tivesse acreditado que estava se desesperada, assim suspirou e lhe soltou o braço.

—Já estive aí e não tenho vontades de voltar.

Ela retrocedeu e se esfregou o braço.

—Pode ser que seja o momento para passar-se por ali. Ao melhor dá conta de que é o lugar ideal para ti.

Ele sacudiu a cabeça.

—Tenho-te feito mal?

—Não. Não sou tão frágil como para que me deixe uma marca com apenas me agarrar.

Assinalou a porta aberta.  

—E que te tem feito entrar aqui dessa forma?  

Ela levantou o queixo.    

—Quero que me ensine a lutar.

—Agora?   

—Agora mesmo.

—Por alguma razão em particular?

Desi cruzou os braços.   

—Já estou cansada de estar a mercê de todos os deste rancho.

—É que alguém te incomodou?

Ela assentiu com a cabeça.

—Quem?

—Está-me fazendo mal.

Caine não se deu conta de que lhe estava apertando os ombros. Estava a ponto de levantá-la ao chão.

—Me diga quem é o bastardo.

Estaria morto antes do amanhecer.

—Esse maldito galo.

—Malaspulgas?

—Se. Tem muito más pulgas e é insuportável e desumano. Arruinou meus planos para o jantar.

—Quer que te ensine a lutar com o Malaspulgas?

—chama-se assim?

—Sim.

Desi assentiu.

—Então sim. Quero que me ensine a lutar com o Malaspulgas, e com o James e com qualquer que se interponha em meu caminho.

—Por quê?

—Porque estou muito cansada de perder sempre.

—Quanto tempo tem?

—Quero que seja o antes possível.

Caine assinalou uma pluma que tinha no cabelo.

—E quanto assalto agüentou com o Malaspulgas?

—Quatro.

Caine levantou as sobrancelhas.

—Ganhou algum?

—Nenhum.

—E te ocorreu pedir ajuda?

—Não. —Cravou as unhas nos braços.

Caine sacudiu a cabeça e se colocou o chapéu.

—É muito cabeçuda.

—Sou persistente quando é necessário.

—Tivesse sido mais fácil pedir ajuda.

—Não sou tão inútil.

— tirou a mão e a fez entrar no celeiro.

Levantou-lhe a manga do vestido e descobriu um montão de bicadas.

—Ti te falou que brinquedo?

—O que?

—Milho. Vamos.

Levou a manjedoura. Ali havia um frango de tecido cheio de folhas. Caine tomou nas mãos e o cheio rangeu.

—Isto é o brinquedo.

—Um frango de mentira?

—Sim. —Voltou para exterior e arrojou o brinquedo à esquerda do curral das galinhas.

Malaspulgas foi a por ele imediatamente.

—É... É... —Desi ficou sem palavras e deu um puxão para soltar-se de Caine—. O suborna com seus próprios parentes?

Ele se encolheu de ombros.

—Funciona.

—Acreditará que isso resolve tudo? .

—Pelo menos as simplifica.

—Só são animais.

—Até onde eu sei, os homens também. —Ficou as mãos nos quadris—. Não quererá que tente te seduzir para me sair com a minha.

—E o que te faz estar tão segura?

—É que...

Caine lhe tirou uma pluma da manga e a deixou cair ao chão.

—Porque isso seria vergonhoso!

—E crie que isso me preocupa?

—É óbvio.

—Por que?

Desi olhou ao redor.

—Este não é lugar para falar disso.

Caine suspirou. Agarrou-a pela mão e chamou o Tucker.

—Tucker?

—Sim.

—Pode te ocupar do Devil?

—Claro.

Deu meia volta.

—Aonde vamos?

—A um lugar mais privado.

—Por que?

—Para falar.

Desi se parou em seco.

—Do que?

—Sobre essa mania que tem de te mortificar sem motivo.

Desi escorregou e ele a agarrou pela cintura.

—Não queria te incomodar.

—Não quer me incomodar, nem me amar, nem me desfrutar... Todo isso me faz me perguntar por que demônios estas tão decidida a me satisfaze.r —A levantou no ar e a subiu no alpendre—. Em todas as partes exceto onde mais importa.

Desi se voltou de repente.

—Na cama?

Caine lhe deu um beijo nos lábios, abriu a porta e a empurrou dentro.

—Sim.

Ao ver a expressão do Desi, Ti deixou agitar o guisado.

—vou jogar-me uma sesta. —Disse com um sorriso pícaro.

Caine assentiu com a cabeça.

—Lhe agradeço. —Disse isso.

—Não é necessário. —Disse Desi, mas suas palavras se afogaram nas do Caine.

Ti saiu da cozinha com uma gargalhada. Desi se girou bruscamente e a saia lhe enroscou nas pernas Ao levantar o olhar reparou na avultada braguilha do Caine.

—Sim que é necessário. —Disse ele.

Sentou-a na cadeira mais próxima. Ela tratou de incorporar-se, mas Caine a empurrou para baixo.

—Sente-se. —Disse e agarrou duas jarras e um pano

Sempre havia café recém feito na cozinha.

Encheu a sua até acima e a de Desi até a metade pois ela o preferia com açúcar e nata. Levou as taças à mesa e jogou três cubinho de açúcares na dela. O líquido quente lhe salpicou na mão.

—Irei pega a nata.

Desi levantou a cabeça.

—Sente-se.

Desi voltou a sentar-se e o observou com atenção enquanto procurava uma colher e retirava uma fina capa de nata do cubo do leite. Também procuro o bálsamo.

A colher aterrissou na mesa com grande estrondo e Desi pegou um salto.

—Maldita seja! Basta já!

Desi se sobressaltou, mas seus olhos lhe sustentaram o olhar sem pestanejar.

—Não te dei nenhum motivo para ter medo. É minha esposa.

Ela se encolheu de ombros.

—Pelo tempo que queira.

—Se esse for o caso... Como é que não te esforçaste mais para me satisfazer?

—Nunca te hei dito que não.

—Mas tampouco fui bem-vindo.

Desi o olhou durante um minuto interminável.

—Não posso ser a mulher que você quer que seja.

—Já o é. Só tem que aceitá-lo. —Agarrou o bálsamo.

—Mas como? —perguntou ela.

Caine a viu lhe olhar a braguilha antes de mordê-los lábios.

—É ungüento para os cortes que te fez Malaspulgas. Nada mais... Não se preocupe. Quando for isso o que queira, dará-te conta em seguida.

Ele ficou em pé com o pote na mão. Ela ficou pálida para ouvir a crueldade do comentário.

—Não te surpreenda tanto. No fundo todos os homens são iguais. Só estamos à espreita, preparados para nos equilibrar sobre elas.

Desi sacudiu a cabeça.

—Você não.

—Se for isso o que crie, tem uma forma muito estranha de demonstrá-lo. Aparte-te o cabelo.

Desi se jogou a trança para trás. Tinha um arranhão profundo no pescoço. Caine o pensou duas vezes antes de lhe tocar a pele.

—Aí te deu um bom arranhão... A próxima vez pede ajuda quando as coisas não vão bem.

—Sinto-o. —Sussurrou ela.

—Passo muito tempo tratando de te proteger e não quero que arrisque nem um só cabelo por pura teimosia.

Os nódulos da jovem empalideceram. —Fiz o que me disse que fizesse.

—Que coisa?

—Disse-me que aprendesse.

—E isso significa que não pode pedir ajuda quando a necessita?

O ungüento lhe derreteu sobre a pele, ressaltando o vermelho do corte.

—Fiz-o.

—Quando?

—No celeiro.

Caine tocou uma velha cicatriz à direita. Mais de uma vez. Nada tinha sentido.

—Desi... Esse lugar... O que fazia ali exatamente?

Desi apertou a taça.

—Nada importante.

Caine lhe revisou o couro cabeludo em busca de bicadas. Malaspulgas a tinha picado cinco vezes na cabeça. Pôs o bálsamo sobre a mesa e lhe separou o cabelo.

—Importaria-te te explicar?

—Não.

Aplicou-lhe a nata na cabeça.

—Se arriscar uma hipótese... Zangará-te?

Ela assentiu com a cabeça.

—Bom, então te prepare.

—Por que faz isto? —perguntou-lhe, sem olhá-lo à cara.

—Fazer o que?

—Insistir em coisas que é melhor esquecer.

—Possivelmente porque acredito que não é melhor esquecer.

—Porque não é feliz?     

 

Caine terminou de lhe aplicar o ungüento e se limpou no pano.

—Admito que isso tenha algo a ver. Não me está fazendo feliz.

Ela se voltou e o fulminou com o olhar.

—Você tampouco.

Caine olhou a colher que sustentava nas mãos como se de uma adaga se tratasse. Havia muita raiva nessas mãos.

—Isso também. É por isso que insisto nas coisas que não me diz. —Lhe jogou a nata no café—. E por isso me atrevo a dizer que sua função fundamental era estar formosa.

Ela colocou a colher no café com um movimento brusco.

—O fazia muito bem.

—Já vejo que sim. Poderia me passar o dia inteiro te olhando. Mas me poderia haver isso dito antes.

—Para que? Para que te convença de que sou uma inútil?

Caine lhe deu a volta a uma cadeira e se sentou escarranchado. Observou-a com atenção. O rápido pestanejo de seus olhos podia dever-se à temperatura do café, ou possivelmente se tratasse de lágrimas.

Levantou-lhe o queixo com o dedo.

—Maldita seja.

—Que minha família tivesse dinheiro não significa que seja uma inútil. Posso aprender.

—Nunca acreditei que fosse uma inútil, Desi.

—Mas tampouco me acreditaste útil.

—E você quer que pense isso?

—Sim.

—Para que não me canse de ti?

Ela assentiu.

—E quando ocorrerá isso? —perguntou-lhe ele.

Ela demorou em responder. A colher aterrissou na mesa com um estrondo.

—Quando vierem a por mim.

—Esperas que o façam?

—Ele não me deixará escapar.

—Já o tem feito. Estamos casados.

—Isso não importa.

—Pode que você cria que é o homem mais malvado de todo Santo Antonio, mas na realidade só é isso, um homem. —Lhe apartou uma mecha da cara e se aproximou um pouco mais.

—E o que te faz estar tão segura de que te deixarei partir quando vier a por ti?

—Porque lhe fará mal a seus seres queridos até que o faça.

Caine lhe deu a taça de café.

—Virá a por Ti e a pelos outros?

—Seria melhor que me mandasse de volta agora mesmo.

—Acredito que passo, embora te agradeças o conselho.

Colocou a cadeira debaixo da mesa, tirou-lhe a taça e a pôs junto à sua — me dê a mão.

—Por quê?

—Preciso te abraçar.

Ela pôs a palma da mão sobre a dele.

—Não necessito que me abracem.

Caine a fez ficar em pé.

—Eu não disse que precisasse. —Disse ele e a atraiu para si—. Tiveste que lutar com uma turma de monstros, verdade, Desi?... Monstros dos que não quer falar.

Ela guardou silêncio.

—Tem medo de perder algo. —Lhe deu um beijo na cabeça.

Ela ficou rígida e lhe cravou as unhas no peito. Uns tremores incontroláveis a sacudiam de cima abaixo.

—Suponho que te levou uma alegria quando te casou comigo. Minha reputação te protege por si só, e possivelmente possa te ajudar a encontrar a sua irmã.

—As coisas não foram assim.

—E como foram?

Ela se encolheu de ombros.

—Só ocorreram. Nada mais.

Ela tratou de apartar-se, mas Caine a sujeitou com força.

—E você te aproveitou da situação.

—Não sabia o que fazer.

—Fez o melhor que podia fazer. Utilizou-me.

—Sinto muito.

Fez-lhe olhá-lo aos olhos.

—se preocupa ter ferido meus sentimentos?

—Sim.

—Bom, não o faça. A gente tentou me utilizar muitas vezes por muito menos.

—Mas eu nunca quis ser um deles.

—Mas foi, e agora me deve isso.

—O que é o que quer?

—Cinco minutos de honestidade.

  

Desi o olhou fixamente enquanto lhe dava uma massagem nas costas.

—Suponho que lhe posso dar isso.   —Não tem porque falar seus olhos dizem por si só.

Tirou uma cadeira e se sentou.

Um brilho de desconfiança apareceu nos olhos do Caine.

—Posso dizer a verdade, sabe?

—Não recordo haver dito que não pudesse.

—Não tinha por que. Seus olhos falavam por si só.

—Isso nos economizará umas quantas conversações no futuro, mas hoje, no caso de te estou interpretando mal... —deu-lhe um sorvo ao café—. Acredito que vou aproveitar meus cinco minutos.

—Agora só ficam quatro.

—Tinha começado a contar enquanto negociávamos?

—Sim.

—Não joga limpo.

—Nunca tinha dito que o faria. Você é o que tem expectativas sobre mim.

—Isso me diz sempre. —Depois de uns segundos de silêncio, Caine prosseguiu—. Veio do este?

—Sim.

—E sua família tinha dinheiro?

—Muito.

—E a quem lhe corresponde herdar agora que morreram seus pais?

—A minha irmã e a mim. —Franziu o cenho—. Possivelmente-se mordeu os lábios—. Em realidade, não sei.

—Maldita seja. Está segura?

Desi agitou o café.

—supõe-se que tinha que me ocupar de estar bela. Recorda?

Ele assentiu.

—Só queria me assegurar.

—Não se supõe que são os filhos os que herdam?

—Às vezes. Em algumas ocasione há condições. Recorda ter ouvido falar com seus pais sobre isso? Talvez mencionassem a herança em relação com seu matrimônio.

—Quão único ouvi foi que tudo estava em ordem e que seria maravilhoso.

—Maravilhoso? —Caine bebeu um pouco mais de café—. Tão boa foi sendo formosa?

—Era a melhor. —Sorriu com tristeza—. Embora para falar a verdade, ser um floreiro perfeito não era muito difícil.

—me parece que faz falta muito autocontrole. Conheci a muitos homens do este e têm a necessidade de sentir-se importantes.

—Essa necessidade é um mal muito estendido.

—Vá. —Disse Caine, assentindo.

Caine continuou bebendo café com o olhar perdido. Os segundos passavam...

—Te está acabando o tempo.

—Obrigado por me recordar isso   Espera que esse casamento dure?

—O outro homem... Que lhe fazia danos. Preocupa-se que volte?

Desi olhou o relógio. Ainda ficavam noventa segundos de confissão.

—Sim.

—Não o fará. Sabe. —Lhe disse ele, lhe pondo a mão no ombro—. Casou-te comigo para escapar dele?

—Sim.

—E esperas que este matrimônio dure?

—Não.

—Porque virá a por ti?

«A gente tentou me utilizar muitas vezes por muito menos...».

—Não.

Caine arqueou uma sobrancelha. 

—Não pensará esgotar o tempo com essas respostas...

Ela se mordeu o lábio.

—Não.

—Então responde como é devido.

—Quando se passar a novidade, não pensasse o mesmo de mim.

—E a novidade é o muito que te desejo?

Ela assentiu.

—E por isso crie que a forma mais fácil de me liberar de uma esposa a que não desejo é deixando-a em mãos de um bastardo?

—Seria o mais singelo.

—E, portanto o mais lógico.

Ela assentiu.

—Já vejo qual é sua opinião sobre mim.

Desi pôs a mão sobre seu joelho.

—Sinto-o. —Disse.

Ele flexionou o joelho, cortando a distância entre seu membro ereto e a mão dela.

—Deveria.

Ao Desi lhe secou a boca ao sentir o palpite de seu pênis.

Segundos... Desi olhou o relógio.

—Quase não fica tempo.

—Não importa. Só tenho uma pergunta mais.

Levantou-lhe o queixo com a mão.

—O que é?

—Desfruta de comigo na cama?

—Como tenho que responder a isso?

—Com a verdade.

—Talvez.

—Possivelmente é uma evasiva, não uma resposta.

Desi sentiu o açoite da raiva e tratou de escapar dele.

—Bom possivelmente esse é a melhor resposta que te posso dar.

—Não acredito.

—E você o que sabe?

—Prometeu ser franco.

—É que acredito que não está bem desfrutar.

—Isso é uma loucura.

—Está mal por meu passado, por como nos casamos, por como terminarão as coisas. Está mal porque eu sou eu e você é você, e te merece algo melhor.

—Então tenta me proteger?

Ela sacudiu a cabeça com a vista fixa em sua potência masculina.

Só ficavam cinco segundos...

—Estou protegendo a mim mesma.

—E agora... A quem está protegendo?

—Não sei o que quer dizer.

Caine pôs um dedo sobre seus lábios e a fez separá-los.

—Sei que me deseja. A quem protege tentando ocultá-lo? A mim ou a ti?

Desi se afogou em uma onda de humilhação.

—Não sei.

—Me olhe.

Desi abriu os olhos.

—No que pensava enquanto me olhava... aí? — perguntou ele.

—Disse que tinha uma pergunta mais.

—Menti. Diga-me isso Desi.

Ela deslizou os dedos até lhe tocar a ponta do membro.

—Estava pensando em quão agradável seria te dar agradar.

—É que quer provar?

—Sim.

—Como?   

—Brandamente.

—Por quê?

Desi não pôde agüentar mais e tratou de golpeá-lo em cara, mas lhe agarrou a mão.

—E isso o que importa?

—Eu quero sabê-lo.

—Só queria te satisfazer. Isso é tudo. Vale?

—Por quê?

—Não importa.

—Eu acredito que sim.   

—Não sei.

Ele a fez lhe olhar aos olhos, e leu a verdade neles.

—Ah, Desi, realmente não sabe, verdade?

—Disse-te que não mentiria.

—Assim é.

Desi baixou a vista ao sentir um comichão na mão. Estava-lhe esfregando o membro por cima das calças.

—Nunca pense que não te desejo, cigana. Nunca pense que não sei o que tenho.

—Você gosta?

—Sim.

—Por quê?

—Porque é natural, doce e estranho.

—Isso não é o que me disse minha mãe.

—Duvido muito que sua mãe te falasse disso.

—Não. Não o fez.

—Ainda quer me fazer feliz?

Ela deslizou a mão até a braguilha de suas calças.

—Não te zangará? —perguntou-lhe.

—Carinho, pode fazê-lo todas as vezes que queira e só conseguirá me fazer feliz.

Desi desabotoou o primeiro botão.

James disse que só as rameiras o faziam.

Caine a ajudou com o segundo botão.

—James é um imbecil.

Ao terceiro botão, Desi lhe apartou as mãos e roçou seu membro palpitante com a boca, sorrindo para ouvi-lo gemer de prazer.

Caine enredou os dedos em seu cabelo de seda, empurrando para si.

—Mas você não. Verdade?

—Assim é.

—E isto esta bem? —Desi precisava ouvi-lo.

—Entre nós, Desi, tudo o que queiramos fazer estará bem. —Lhe pôs as mãos sobre a cabeça—.E agora me dê esse agradar de que falou.

 

Desi desabotoou o último botão e a braguilha se abriu por completo a modo de convite. Ele baixou a perna e ela deslizou as mãos por dentro, apalpando suas nádegas fornidas antes de lhe tirar as calças.

Ele se inclinou para trás sobre a mesa, sem tirar-lhe de tudo.

—Se por acaso tenho que me vestir a toda pressa-lhe disse, sujeitando as calças ao meio de sua coxa.

Desi pensou nessa possibilidade. Alguém poderia vê-la enquanto lhe dava prazer com os lábios. Um relâmpago de luxúria lhe percorreu o corpo, lhe endurecendo os mamilos.

Ajoelhou-se diante dele.

—Isso te excita? Que alguém possa nos ver?

Ela assentiu.

—A mim também.

Desi conteve a respiração.

—Cigana?

Caine deslizou os polegares pelas bochechas da jovem fazendo círculos.

—O que ocorra entre nós é secreto. E pode confiar em mim.

Ela titubeou um instante.

—Tento-o.

—Sei, mas a próxima vez trata de recordar quem sou.

Um ranger, um pistoleiro, um assassino...

—Meu marido?

—Pode afirmá-lo.

Ela se mordeu os lábios.

—Sinto muito.

—E sabe o que isso significa?

—Sempre estará aí.

—E?

—Sempre me protegerá.

—E?

—vais ter que me ajudar.

Ele sorriu.

—Sabia que ficaria em branco. —A empurrou para frente—. Eu sou o homem que o dará tudo por ti.

Desi se ajoelhou entre suas coxas e olhou aos olhos.

—Posso fazê-lo a minha maneira?

Ele arqueou uma sobrancelha.

—É que vais ensinar-me seu lado selvagem?

Deslizou as pontas dos dedos sobre suas coxas fornidas.

—Possivelmente.

—Então adiante.

—E o que passa se o faço mal?

Ele se encolheu de ombros.

—Como você leva a voz cantante, não acredito que possa.

Ela levava a voz cantante. Desi abriu as Palmas das mãos e absorveu a tensão que irradiava o corpo do Caine.

—A que está esperando?

Desi lhe olhou sem levantar a cabeça.

—Acreditava que havia dito que eu levava a voz cantante.

Acariciou-lhe o cabelo.

—É que estou impaciente.

Os músculos de suas fortes coxas se estremeciam sob as mãos do Desi.

—Eu gosto de .—Disse ela.

—O que?

—Como responde a minhas carícias.

—Não posso evitá-lo. Tem umas mãos maravilhosas.

—Mas não tão maravilhosas como minha boca.

Desi deslizou os dedos sobre essa brecha tentadora pela que aparecia uma fina linha de pêlo, escuro e encaracolado.

Ele respirou fundo.

—Não tinha pensado esperar muito. —Disse ela.

Desi enredou os dedos naqueles cachos tentadores.

Os dedos do Caine brincavam com a base de sua trança.

Agarrou-lhe a mão.

—Eu tenho o controle.

—Sei. É que não posso evitá-lo.

Desi lhe baixou as calças um pouco mais, desentupindo a base de seu grosso pênis.

Tocou-lhe com o dedo e absorveu o calor que emanava de seu ser.

Com supremo cuidado, Desi empurrou para cima e seu grosso membro lhe caiu sobre as mãos, cheio de vida. Tudo para ela.

—Maldita seja. —Murmurou Caine—. Eu gosto.

—E só comecei.

—Pode ser que não agüente até o final.

—Não tinha pensado te dar a escolher.

—Maldição. —Resmungou Caine, fazendo-a sorrir.

Desi se tornou para diante e ficou cômoda. Pôs os dedos sobre sua ereção e o olhou aos olhos, lambendo-os lábios.

—O que está por vir você gostará de muito mais.

—Hei-te dito adoro seu lado selvagem?

Desi desejou que a adorasse a ela, mas afugento o pensamento rapidamente.

—Preferiria que me demonstrasse isso.

—Te aproxime um pouco mais e lhe demonstrarei isso.

Desi sacudiu a cabeça e se aproximou o membro aos lábios, lhe acariciando com o fôlego. Então se umedeceu o lábio inferior uma e outra vez até fazê-lo gemer de desejo.

—Tenho que te advertir... —sussurrou ele—. Não me dão bem os jogos.

Ela levantou as sobrancelhas.

—Isso é uma ameaça?

—Só estava te dando conversação.

—Eu acredito que era uma ameaça, assim deveria me falar das conseqüências antes de que siga adiante.

Ele demorou em responder. Estava sem fôlego.

—Ou melhor, posso as descobrir por mim mesma. —Acrescentou Desi.

Então deslizou a língua ao redor de seu membro viril até chegar a essa pequena abertura. lhe gostava... E esperava mais.

Desi começou a lhe esfregar com a mão e soprou sobre a ponta. Ele sacudiu os quadris.

Uma gota de líquido apareceu na ponta. Quanto mais esfregava, maior se fazia.

Desi apoiou a bochecha sobre a coxa do Caine e chupou a gota com a língua. Ele era dele.

Então abrangeu seu membro viril com a boca. Esse era o presente que esperava dele: ternura, fôlego...

Começou a chupá-lo com suavidade, lhe sustentando o olhar.

—Necessito mais. —Lhe disse ele, lhe apertando as bochechas.

Ela sacudiu a cabeça.

—Não?

Ela voltou a sacudir a cabeça e continuou sugando a um ritmo pausado.

—Necessita-o?... Então toma, carinho. Mas ela não queria tomar, a não ser dar. Precisava dar prazer. Necessitava... Relaxou-se entre as coxas dele. Isso era o que necessitava.

Uma corrente de líquido quente lhe caiu na língua e o tragou com avidez. Necessitava-o.

Os segundos se converteram em minutos, mas ele não a fez apressar-se, mas sim lhe deixou levar o ritmo.

Quanto mais se aceleravam os batimentos do coração de seu membro mais crescia o desejo nas vísceras da jovem.

Desi trocou de postura e começou a esfregá-los coxas um contra o outro, mas não conseguiu acalmar o pulso que sentia.

Outra corrente de fluido e o membro do Caine ficaram duro como uma rocha.

—Desi?

Ela não necessitava que o dissesse. Estava a ponto chegar ao clímax.

Desi começou a sugar com esforço e o apertou os dentes. Então jogou a cabeça para trás e deixou que ela espremesse até a última gota de seu espírito.

E dentro do Desi algo se desabou.

Caine sentiu algo e a atraiu para si. Seu corpo tremia de cima abaixo, incapaz de lhe dar nada mais. Ele nunca tinha deixado que uma mulher lhe roubasse as forças dessa forma. Nunca tinha deixado que uma mulher tomasse o controle.

Caine enroscou a mão ao redor da trança do Desi e atirou dela, tremendo com cada beijo. Ficou de pé diante dela.

A jovem pôs os braços ao redor de seus quadris e o abraçou com frenesi. Ele a fez incorporar-se e a recebeu em seus braços. Então lhe ofereceu seus lábios e o aceitou o presente. Queria lhe devolver toda a doçura que lhe tinha dado, mas não podia. Algo primitivo despertou em seu interior. Quão único desejava era tombá-la sobre aquela mesa e lhe fazer o amor como nunca antes o tinham feito.

Caine interrompeu o beijo.

—Maldita seja.

Desi piscou, mas guardou silêncio; seus lábios vermelhos e inchados.

—vamos tentar o de novo. —Lhe disse ele, deslizando um dedo pelo lábio inferior da jovem—. Cigana, eu também quero te dar ternura. —Apoiou a frente sobre a dela.

—Você não gosta da ternura.

Deu-lhe um beijo na frente.

—Digamos que nenhuma mulher me inspirou o suficiente para lhe tentá-lo deu um beijo na ponta do nariz—. Mas você, cigana, você faz que queira prová-lo tudo.

Sentou-a no bordo da mesa e ela abriu as coxas.

—Isso não é mau, Desi.

—Os homens têm costumes.

—Assim é. —Lhe jogou a cabeça para trás e lhe desfez a trança—. Mas-procurou seu olhar—. Alguns homens têm a sorte de ter algemas que os animam a provar coisas novas.

Desi pôs os braços ao redor de seu pescoço.

—Como eu.

Ele apoiou a frente sobre a dela e lhe levantou a saia.

—Como você.

—Porque conheci a um montão de homens?

—Merece-te um açoite por essa estupidez. —Sorriu—. Vamos-nos passar isso muito bem junto.

—Porque não tem que preocupar-se por mim?

Ele pôs as mãos sobre suas coxas.

—Porque somos dois dos afortunados...

Deslizou os dedos pelas suaves planícies de suas coxas até chegar ao bosque de seu sexo em flor.

—Que têm isto. —Lhe disse.

Então introduziu um dedo entre seus lábios inchados e apalpou seu fogo líquido.

—E isto é importante?

Agarrou-a pelas costas e colocou os dedos mais dentro.

—Você mesma o disse. Os homens têm seus costumes, e eu me estou acostumando a seu corpo.

—E isso não te faz te perguntar algo? —disse ela.

Caine a apalpou com outro dedo e não demorou em sentir sua umidade.

—Respeito a se reagir assim com outros homens?

Desi se mordeu o lábio e assentiu.

—Não sou um pirralho, Desi Allen. Sei que isto é real. —Lhe disse e deslizou a língua por seu lábio superior, absorvendo um estremecimento—. E você, algema minha, está feita para mim.

Ela ficou imóvel e esboçou um sorriso provocador que fez correr rios de lava pelas veias do Caine

—Está louco.

—E te volto louca a ti.

—Sim. Assim é.

Ela o abraçou com todas suas forças.

—Bom, sendo assim, deveria te relaxar e desfrutar de mim.

Desi lhe deu um beijo no pescoço.

—Possivelmente deveria.

Caine seguiu esfregando-a com os dedos e abrindo sua flor de caramelo.

—Possivelmente deveria... Porque tenho muitas coisas tenras que provar contigo.

—Agora? —perguntou ela.

—Agora —introduziu outro dedo que a fez estremecer—. Vou deixar que te corra em meus dedos, mas esta noite... —disse, deslizando os dedos por esse túnel de mel—. Vais-te correr em minha boca.

—Sim? —Sim.

Desi cruzou as pernas por detrás das coxas do Caine e arqueou os quadris. Estava muito perto.

—me chupar ficou quente, verdade, neném?

Ela assentiu.

—Quero ouvi-lo.

—Sim.

Voltou a lhe colocar os dedos e ela gemeu com todo seu ser.

—E beijar essa flor também me põe quente, assim pensa nisso enquanto faz suas coisas, porque esta noite vou lamber-te e te beijar até te fazer gritar de prazer.

Acentuou as últimas palavras com uma esfregação frenética e uma doce chuva de prazer caiu sobre a jovem.

Ele a apertou contra si.

—E então pensa no muito que vou desfrutar de contigo. Tanto que... —esfregou com mais força—. Pode que tenha que fazê-lo uma vez... —retirou os dedos—. E outra vez. —Colocou os dedos até dentro—. E outra vez.

Outra onda de paixão sacudiu o corpo do Desi; o eco da primeira.

Caine ficou quieto. Fez-lhe apoiar a cabeça em seu próprio peito e compartilhou seu momento de êxtase, saboreando os espasmos de seu sexo convulso.

—Assim, neném. Será doce e prazenteiro para os dois.

—Promessas, promessas.

Ele a beijou na cabeça. Ela cheirava a lilás e a plenitude.

—E todo mundo sabe que as promessas dos Oito do Inferno são para sempre.

Desi se estremeceu e ele retirou os dedos.

—Preferiria uma promessa de meu marido.

—É obvio.

Desi se apoiou em seu ombro.

—Não cria que isto te vai liberar de me ensinar a lutar.

—Mm. Pensava que me sairia com a minha. Desi desenroscou as pernas de seus quadris.

—Hoje não.

—Por quê?

—Porque amanhã tenho que aprender a ordenhar a maldita vaca.

Caine se se pôs a rir. Deu um passo atrás e lhe alisou saia. Então se levou uma de suas mãos aos lábios e lhe deu um beijo no dorso.

—Nesse caso suponho que não tenho eleição.

Agarrou-a pela cintura e a ajudou a baixar.

—Não te deixarei cair, Desi.

—Sei, - Disse ela, confiada.

Tirou-lhe uma cadeira e a fez sentar-se.

—Gosta de algo de comer? —perguntou-lhe—. Necessitará de forças se for aprender a lutar.

—Vais ensinar-me?

Ele suspirou.

—Ensinarei-te —disse.

Três dias mais tarde, Caine se deu conta de que Desi não tinha um talento natural, o qual não era de sentir saudades tratando-se de alguém do este. Mas a ferocidade com a que o tentava lhe tinha feito esperar... Não sabia o que. Algo mais. Ficou detrás dela para guiá-la.

—Sujeita a pistola como te disse.

Ela se colocou em posição.

—Suave. —Lhe ajustou o objetivo—. A idéia não é lançar a pistola, a não ser deixar que a pistola lance a bala.

—Só quero que chegue.

—Bom, quando se trata de disparar, a ajuda não está acostumada servir de muito.

Ela suspirou e ficou direita.

—Recorda o retrocesso e te prepare para isso.

Ela apontou à garrafa situada em cima do tronco.

—Bem. —manteve a mão em cima de seu punho—. E agora aperta o gatilho lentamente. Pensa que essa garrafa é a cara desse porco e dispara.

Ela fez exatamente o que lhe havia dito até que se encontrou com a resistência do gatilho. Nesse instante agachou a cabeça e o retrocesso golpeou ao Caine na mão. O disparo não alcançou o objetivo.

—Não pode fechar os olhos e lhe dar ao objetivo.

Fugiu-lhe o olhar.

—Como sabe que fechei os olhos?

—Não o fez?

Desi soltou o fôlego e voltou a empunhar a arma.

—Esta vez não o fará.

Caine pôs a mão sobre a dela bem a tempo. Essa vez não fechou os olhos e embora não deu no objetivo conseguiu estilhaçar o tronco.

—Já! —deu meia volta—.Te disse que podia fazê-lo.

Lhe tirou a arma.

—Ainda não tem feito nada, mas te está aproximando.

Ela franziu o cenho.

—Não seja desmancha-prazeres.

—Sabe o que? Se lhe der, ensinarei-te como derrubar a um homem maior que você.

—Todo mundo é maior que eu.

—Então te convém ter essa habilidade.

Ela o olhou fixamente e franziu os lábios.

—E o que passa se não lhe dou?

—Então consegue o prêmio mau.

—E o que é?

—Um beijo.

Desi se mordeu os lábios um instante. Apontou para trás e apertou o gatilho. Caine se lançou a pela pistola e desviou o disparo.

—Maldita seja. —Resmungou.

Sam saiu a toda pressa da latrina, pistola em mão. Bastou-lhe com um olhar para saber o que ocorria. deteve-se e guardou a arma.

Ao levantar a vista viu o buraco de bala no telhado da latrina.

—Maldita seja, Allen. —Gritou, arregaçando-a camisa—. Está-lhe ensinando a disparar, ou é que quer decorar o rancho?

Desi não se incomodou em olhar ao Sam. Em seus lábios se desenhou um pícaro sorriso. Caine lhe tirou o revólver das mãos.

—Os dois.

Tirou-lhe as balas e a guardou na capa.

—Não dava no branco. —Disse Desi, sem alterar-se.

Caine fez uma careta.

—Assim é.

Foi tão fácil agarrar a da nuca e beijá-la enquanto ria sem parar.

—É você um perigo, senhora Allen.

—Mas você gosta.

Uma gota de umidade brilhava em seus lábios e Caine a secou com o polegar.

—Tem seus momentos.

—Bom, eu não estou desfrutando deles. —Disse Sam, arregaçando-a outra manga—. A próxima vez que te ocorra furar a latrina, me avise.

Desi levantou a vista.

—Sinto muito. Fiz-te mal?

—Não, mas meu chapéu nunca voltará a ser o mesmo. —Sam colocou o dedo pelo buraco—. É uma pena. Eu gostava de muito.

—Caine te comprará um novo.

—Ah, sim? —disse seu marido, surpreso.

Desi lhe deu um tapa no ombro.

—Sim. —lhe disse.

—Bom, nesse caso, vou comprar-me um desses Stetson tão caros que vi no mercado. —Disse Sam.

—Faz-o e o pagará com o suor de sua fronte. —Disse Caine.

—Terá que consultá-lo com sua senhora. —Sam ficou o chapéu—. Ela me prometeu isso.

—E como eu sou dos Oito do Inferno, terei que levá-lo a banco. —Disse Desi, risonha.

—Suponho que sim —disse Caine, tratando de reprimir a risada ao ver o chapéu na cabeça do Sam

—. Disparar às cegas foi uma estupidez, Desi.

—E então por que te ri?

—É difícil não fazê-lo com o espetáculo que deu.

—Eu?

—Você tinha a arma.

—Mas você me estava ensinando.

—Você foi a que disparou.

—Porque você me animou.

—Ah, sim?

O sorriso do Desi se fez mais doce.

—Sim. —Lhe pôs a palma da mão no ombro.

—Mas podia lhe haver feito mal a alguém. Seria um marido muito irresponsável se não te chamasse a atenção.

—me chamar a atenção?

Caine deslizou a mão pelo contorno de suas costas e descobriu que não era fácil seguir a linha da coluna. Por fim estava ganhando peso. Deu-lhe uma palmada no traseiro. Desi levantou as sobrancelhas.

—E você toma suas responsabilidades conjugais muito a sério?

—Muito. Esta noite saberá quanto.

Desi se ruborizou.

—Crie que pode me controlar?

—Sei que posso.

—Porque é meu marido?

—Porque sou seu homem e você sabe que pode confiar em mim.

—Que possa não significa que queira.

Caine lhe apartou o cabelo da cara com o dorso da mão.

—Não, mas o fará.

—E o que te faz estar tão seguro?

—Porque sim que quer.

Ouviram-se passos nas escadas e um calafrio de emoção percorreu o corpo do Desi. O último degrau rangeu como sempre. Uns quantos passos mais até chegar ao dormitório... A porta se abriu. Caine entrou na habitação e ficou de pedra nada mais vê-la. Seu olhar percorreu cada centímetro do corpo da jovem, acima e abaixo.

Desi sentiu um comichão na pele e se umedeceu os lábios.

—Olá.

A porta se fechou atrás dele. Seus olhos se encontraram.

—Acreditava te haver dito que me esperasse na cama.

Desi troco de postura, arqueando as costas de forma lhe sugiram.

—Aborreci-me.

Dois passos mais e Caine ficou diante dela. —acredita que te liberaria assim? —perguntou-lhe enquanto brincava com o cós do pescoço de sua camisola.

Ela sacudiu a cabeça, incapaz de encontrar a voz. Caine deslizou um dedo ao longo de seu peito, seguindo a curva de seus seios.

—Acaso queria me desobedecer para que te castigasse?

Desi lhe agarrou pelo punho, animando-o a seguir adiante até chegar ao mamilo.

—Possivelmente queria impedir que trocasse de idéia.

—Possivelmente?

—Sinceramente?

Caine deslizou os dedos pela cordilheira de suas costelas e seguiu o vale de seu abdômen até chegar ao bosque que se estendia mais à frente.

—Sempre.

—Nunca sei o que fazer contigo. —Disse ela.

Essa vez ele sim sorriu. Deu um passo adiante e abrangeu um de seus peitos na palma da mão. Desi se estremeceu.

—Seu instinto está muito acordado. —Disse ele.

—Como sabe?

Caine lhe apertou um mamilo com o polegar e o índice e ela gemeu.

—Porque vejo tudo o que pensa em sua cara.

Desi se apartou o cabelo da cara.

—E agora o que estou pensando?

Ele não duvidou nem um instante.

—Você gosta da sensação de te sentir indefesa.

Esfregou-lhe o mamilo com soma delicadeza e ao Desi fraquejaram as pernas. Ele a sentou em suas coxas.

Ao Desi lhe pôs a pele de galinha ao sentir sua gargalhada sobre o pescoço, o ombro...

—Isso você gostou. Né?

Ela baixou a cabeça.

—OH, sim.

—E que mais você gosta?

—Não estou segura.

Desi sentiu o roce de seus lábios no pescoço, seus dentes... Um tremor percorreu suas vísceras.

—Mas tem alguma idéia?

Mordiscou-lhe o pescoço.

—Algumas. —Desi lhe agarrou pela cintura, para não cair.

Caine deu outro passo adiante e Desi sentiu a pressão de seu membro.

—Esta noite quero ser sua esposa.

—foi minha esposa durante as últimas semanas.

Desi o olhou por debaixo das pestanas e levantou os braços por cima da cabeça.

—Não quero que lhe cochibas quando estiver na cama comigo.

Ele aceitou o convite com uma gargalhada que fez vibrar os sentidos do Desi.

Agarrou os seus punhos e a derrubou sobre a cama, caindo em cima dela, enorme e escuro.

O medo chegou quando se tornou sobre ela, lhe agarrando as mãos por cima da cabeça. Outro suspiro, pânico e prazer, passado e presente.

Ela se cravou as unhas nas Palmas da mão e levantou os lábios em busca de seus beijos.

O eco de um grito espreitava em um rincão de suas lembranças.

Desi se esfregou contra ele, ancorando os tornozelos a ambos os lados de seus quadris.

—Me beije, Caine.

—Por quê?

—Porque te necessito.

—Estraguem. Que ocorre cigana?

Tudo o que saiu de sua boca foi um gemido incontrolável.

Um segundo depois estava em cima de Caine.

—Más lembranças?

Ela assentiu e se incorporou sobre ele.

—Foi só um momento.

Caine lhe deu uma palmada no traseiro.

—Não me minta.

—Não o faço.

—Tinha medo.

—E agora é justamente o contrário. —Se retorceu contra ele—. O que te interessa mais?

Caine lhe pôs as mãos sobre os quadris.

—O último. —Disse.

—Bem, porque esta noite quero ser eu mesma contigo.

—E quem é essa?

Uma boa pergunta.

Desi abriu e fechou os dedos sobre os ombros do Caine.

—Já não estou segura, mas... Não sou essa mulher assustadiça e frágil a que está acostumado.

—Não me importa que seja frágil. Em realidade eu gosto.

—Mas eu não gosto que seja sempre assim. Só me conheceste depois do seqüestro. Antes as coisas eram distintas.

—Arrumado a que foi a coisa mais doce.

—Perderia essa aposta. Era um demônio.

—Estou seguro disso.

—Há algo selvagem em meu, Caine. Isso assustava a meus pais e a muitos dos homens que me cortejavam.

—Mas não me assusta.

—Sei .—Lhe tocou a braguilha; o membro excitado saltou sob suas mãos—. Mas quando estou na cama contigo, meu problema volta.

—Que problema?

—Esse algo selvagem.

Os olhos do Caine se obscureceram. Pôs as Palmas das mãos sobre seu traseiro.

—E isso é um problema?

—Temo-me que...

—Pensava que estava começando a te sentir segura comigo.

Desabotoou-lhe os primeiros dois botões.

—Não se trata disso. —Fez uma pausa—. Bom, possivelmente sim.

Caine lhe baixou a manga esquerda da camisola.

—E então do que se trata?

—trata-se de como me sinto quando estou contigo.

—Segura?

Ela sacudiu a cabeça.

—Selvagem, mas apanhada.

Caine ficou imóvel. Sua expressão se voltou impenetrável.

—Eu quero ser o que você queira.

—É?

Ela o negou com um gesto.

—Na cama se preocupa tanto me assustar que não posso fazer o que desejas.

—E o que crie que desejo?

Ele já o havia dito. Uma inundação de lembranças alagou seu pensamento; lembranças daquele primeiro dia.

—Desejas que te obedeça e siga meus instintos.

—E eu tenho feito algo mal?

Desi assentiu.

—Não me deixa superar o medo.

—E isso é o que você deseja?

—Sim. Estou cansada de ter medo.

—Então quer que me deixe levar, que te queira minha maneira. Quer que insista embora tenha medo.

—Sim.

—Posso fazer as coisas a minha maneira?

Desi respirou fundo, mas não soltou o fôlego.

—Sim.

—Então vêem aqui.

 

Caine acentuou a ordem com um puxão de quadris. Depois do segundo, Desi soube o que queria. A jovem se tornou para diante, pondo todo o peso nas Palmas de suas mãos.

Ele se tomou seu tempo, desfrutando da vista. Seu sexo pequeno e tenro era o mais doce que tinha visto. Outro puxão e ela acomodaram os joelhos sob suas axilas. Acariciou-lhe as nádegas.

—Recorda quando te disse que queria te beijar aqui? —Disse, roçando seu sexo ardente.

—antes de te rachar?

—Eu não me rachei. Dava-te um vale que podia cobrar mais tarde. E depois sim me rache.

Pôs o polegar na parte superior dessa brecha sedutora e a fez tremer.

—O que quero agora é que ponha cômoda e me deixe fazê-lo.

—Quer que...? —Desi se ruborizou.

Caine lhe deu um último puxão e lhe fez pôr as pernas sobre seus ombros.

—Quero que ponha esse doce delicioso sobre mim e me deixe desfrutar de do festim.

Desi reprimiu uma exclamação que fez sorrir ao Caine. Os minúsculos tremores daqueles músculos femininos desencadeavam correntes de luxúria por todo o corpo dele.

Agarrou-a pela cintura.

—Não posso olhar. —Exclamou ela.

Ele não pôde evitar rir.

—Pode fazer o queira sempre e quando o sentir.

Deu-lhe um beijo suave no lábio direito da vagina e logo no esquerdo. Então afundou a língua entre as dobras de seda e começou a lamber com delicadeza.

—Ponha as mãos por cima de minha cabeça. —Lhe disse.

Desi fez o que lhe pedia depois de um momento de vacilação.

Caine levantou a vista. Ela estava olhando-o.

—Pensava que não foste olhar.

—Não posso evitá-lo. É como olhar um relâmpago.

Ele deslizou os dedos entre as nádegas dela.

—fica quente, né?

—Nervosa.

Caine soube que dizia a verdade ao ver como saltava ao contato de seus dedos com essa zona tão íntima.

—Tem medo de que te remoa?

—vais fazer o?

—A melhor uma pequena dentada aqui. —Um toque—.E ali —lhe roçou o clitóris—. Mas só se te levar bem e me pede isso, por favor.

—OH.

—Então por que está nervosa?

Desi sacudiu a cabeça.

—Crie que não me vai gostar desta maneira?

—Não é higiênico.

—É igual a quando você me fez isso.

—Não sei.

—Em realidade acredito que é melhor. Os homens são criaturas feias enquanto que você é preciosa como uma flor.

 

Deslizou os dedos pelo contorno de seu sexo e capturou uma gota de umidade que pendia do fino pêlo que cobria esse casulo em flor. Fechou os olhos e desfrutou de seu sabor. Doce.

—E sabe melhor que o chocolate.

—Você não é feio.

Caine lhe separou os lábios íntimos, deixando o clitóris ao descoberto.

—Não posso me comparar contigo, Desi. Estou cheio de cicatrizes e durezas, mas você é perfeita.

—Eu gosto de suas cicatrizes.

—Melhor, porque tenho muitas.

Desi começou a mover os quadris, aumentando a fricção de sua língua.

—E que mais você gosta? —perguntou-lhe ele.

—Eu gosto como é. Eu gosto de sua força interior. Só tenho que te olhar para saber que posso confiar em ti.

Caine a recompensou com uma esfregação intensa. Ela ficou imóvel e um tremor percorreu seu corpo até chegar ao centro de sua feminilidade.

—E que mais você gosta?

—Eu gosto que tome em braços se for preciso.

Ele deslizou a língua sobre seu sexo com frenesi, lubrificando esse pequeno bultito.

—Algo, mas?

Desi demorou em responder.

—Vamos, cigana, deixa sair esse lado selvagem.

—Eu gosto de seu aroma... —sussurrou—.E seu sabor —lhe disse, apertando-se contra sua boca—. OH, Deus, mais forte! Vamos .—Estava preparada.

Caine a empurrou para si, esfregando com mais força. Queria devorá-la, levá-la ao mais alto. Queria provar o sabor de seu orgasmo, fazê-la sua para sempre...

Desi sentiu o roce de seus dentes e se tornou para trás.

—Tranqüila neném.

—Não quero estar tranqüila.

Então deixa de lutar contra mim. te relaxe e desfruta do que te faço sentir.

—Isso não é... —conteve a respiração ao sentir a pressão de seus dentes no clitóris—. Tão fácil como o pinta.

Caine lhe deixou antecipar a dentada e então a envolveu em seus lábios.

—Carinho, deixar que seu marido te dê prazer é o mais natural do mundo.

—E o que passa se me volto louca e perco o controle?

—Então te apanharei.

—E o que passa se você perder o controle?

—Então você me apanha.

Ela se cobriu com a mão, lhe impedindo o acesso.

O lhe deu um beijo no dorso e deslizou a língua entre os dedos dela.

—Somos sócios?

—Até a morte.

Ela o olhou nos olhos.

—Realmente o acredita?

—Você não?

Depois de um prolongado silêncio, ela esboçou um sorriso.

—Sim.

Ele a beijo na mão.

—Então me demonstre isso Move a mão.

—Faz que a mova. —Disse ela; seu sorriso se tornou brincalhona.

—Nunca deveria desafiar a um ranger.

—E não o faço.

Ele arqueou uma sobrancelha.

—Estou desafiando o meu marido.

—Ainda pior.

Esfregou-lhe as nádegas com as mãos.

—Desafiar a um marido é uma questão de honra.

Ela apertou o traseiro contra suas mãos.

—Então estou de sorte.

Caine lhe deu uma palmada e ela ofegou.

—Acredito que sou eu o que está de sorte. Move a mão.

Ela sacudiu a cabeça. Estava esperando a que ele o fizesse de novo.

Caine lhe deu outra palmada no traseiro, e outra... Muito mais forte que a anterior.

—OH, Deus.

—E isso o que significa? «OH, Deus, me ajude» ou «ou Deus, faz-o outra vez»?

Um silêncio.

—Faz-o outra vez.

EI próximo açoite lhe arrancou um gritou. Desi retirou mão e se apoiou na cama, arqueando as costas e empurrando para diante. Caine aproveitou a oportunidade e lambeu seu sexo excitado com frenesi ao tempo que dava outro açoite no traseiro.   

Foi então quando sentiu seus espasmos sobre a língua. Um rio de fogo alagou seu sexo ao ritmo de gritos desenfreados.

Ela sussurrou seu nome... Caine tomou em braços e a encheu de beijos, sufocando assim os últimos tremores orgásticos.

—O que? —perguntou-lhe ele para ouvi-la suspirar pausadamente.

Tocou-lhe a bochecha.

—Agarrou-me.

—Disse-te que o faria.

Ela se rendeu em seus braços.

—E você sempre mantém suas promessas.

—Sou dos Oito do Inferno.

—E eu. —Disse ela.

Caine lhe apartou o cabelo do rosto.

—Muito melhor. —Disse e rodou sobre si mesmo, caindo sobre ela—. É minha.

Desi não pôs objeções, mas sim esboçou um sorriso enigmático.

—Mm.

Caine se apoiou sobre os cotovelos. Ela tinha a camisola enroscada ao redor da cintura e seus peitos apareciam por acima.

Ele fechou os lábios sobre um mamilo endurecido. Ela se sobressaltou e lhe agarrou pela cabeça.

—Está muito sensível? —Perguntou-lhe ele, olhando-a aos olhos.

Desi assentiu.

—Então me tomarei com calma.

Reatou as carícias e continuou lhe chupando os mamilos, sem pressa, mas sem pausa. Ela jogou os peitos para frente, lhe oferecendo mais, e ele respondeu com uma sucção mais intensa.

—Mais forte. —Disse ela de repente.

Caine sacudiu a cabeça enquanto roçava os dentes contra um mamilo endurecido, jogando, tentando...

—Desi?

—O que? —supõe-se que não tem que te coibir.

—Intento não fazê-lo.

Agarrou um mamilo entre os dentes e atirou para si muito lentamente, deixando-a desfrutar daquele momento de prazer. Então o soltou e a beijou no queixo, o nariz, as pálpebras...

Ela abriu os olhos. Neles havia desejo, confiança, preocupação...

—Quer que tome o controle?

—Faria-o?

—Embora te assuste?

Ela vacilou um momento.

—Sim.

—Por quê?

—Sempre pergunta o mesmo.

—Será porque quero sabê-lo.

Ela deslizou os dedos com o passar do braço do Caine e o agarrou Pelo punho.

—Porque acredito que me relaxar o bastante para desfrutar de tudo o que me faz sentir vai monopolizar toda minha concentração.

Ele sorriu e apoiou a frente sobre a dela.

—Bom, se for concentrar em como esconder seu lado selvagem, esquece-o.

Ela formo um «Ou» perfeita com os lábios.

—Sabia? —perguntou.

—Não só sei, mas também me alegro por isso.

—Mas você não quer me fazer danifico.

—Não, mas eu gosto que me volte louca em meus braços, te dar o que necessita para chegar à cúpula, te abraçar enquanto treme de prazer, chegar contigo... —deteve-se um milímetro de seus lábios—. Eu gosto de te dar tudo o que necessita satisfazer até o último de seus desejos.

O gemido do Desi golpeou os lábios do Caine como uma descarga elétrica. Um raio de corrente lhe atravessou o corpo até chegar a seu membro viril.

—Você gosta como sonha verdade, neném? Que seu homem tome o controle de seu próprio prazer. lhe dar o que deseja... Isso te faz vibrar.

Ela fechou os olhos e deslizou a língua sobre os lábios dele.

—Deus sabe que assim é .—Confessou.

—me acredite, cigana. Agora não necessita a Deus. Seus desejos são ordens para mim.

 

Desi sentiu o roçar da roupa enquanto Caine se baixava as calças. Ele se levantou um momento e ela ouviu o golpe da fivela do cinturão ao cair ao chão. Um segundo depois o voltava a estar entre suas coxas; sua potência masculina lhe acariciava o vale entre as nádegas.

A jovem gemeu ao lhe sentir deslizar o pênis por seu traseiro até afundar a ponta na lacuna de sua umidade.

Caine percorreu as curvas de seu corpo de mulher com os dedos até chegar ao abismo entre suas pernas, e então lhe subiu a camisola.

—E há outra coisa que tem que entender cigana. —Sussurrou—. Quando te toco, contém a respiração, só sentindo o tato de minhas mãos.

Apertou os dedos e empurrou com o membro viril. Os músculos do Desi não opuseram resistência e lhe fizeram um oco entre as dobras de seu sexo ardente.

—OH! —exclamou Desi sem querer.

—Este é o melhor presente que uma mulher lhe pode dar a um homem. Nunca finja Desi. te deixe levar.

—Caine?

—O que acontece, neném?

—me faça tua.

—Já é minha.

—Não como você quer.

—Sabe o que me está pedindo?

—Não, mas confio em ti.

Caine afundou os dedos em seu traseiro esponjoso. Seu membro rígido pugnava por entrar nela.

—Não me peça isso, Desi, se tiver alguma dúvida. Não poderei parar se te entrega dessa forma.

Desi se apertou contra ele.

—Não lhe estou pedindo isso.

—Você cresceu entre algodões. Não está feita para isto.

—E a única coisa que sempre desejei é ser tua. Faça-me tua.

Caine ficou imóvel, pensativo.      

—Não quero te assustar.

—me assuste me excite-me agrada.  

Ela deslizou a ponta do dedo ao redor de sua boca e Caine a apanhou entre os dentes.

—Como quer. —Disse ele e soltou um grunhido animal ao tempo que empurrava para ela com os quadris—. te Abra.

—me obrigue.

Caine resmungou um juramento e lhe agarrou as mãos por cima da cabeça.

—É isto o que quer Desi? Quer que te faça o amor como sonhei? Quer te sentir indefesa debaixo de mim?

—Sim.

—Será duro e violento. —Lhe separou as coxas—. Muita parecida a seus piores temores.

Um raio de luxúria sacudiu a frágil constituição da jovem.

Ela negou com a cabeça.

—Não se parecerá com nada do que vivi.

—Já não posso agüentar mais, Desi.

—Isso é o que quero.

—Não deveria te arriscar tanto. Não sabe o que é o perigo.

—Sim que sei, mas não quero que pense nisso.

—Está segura?

Não esperou para ouvir a resposta, mas sim voltou a emitir esse grunhido animal ao tempo que tentava penetrá-la com uma investida bestial.

—Te relaxe, Desi.

Desi tratou de fazê-lo, mas ao princípio sempre era igual. Seu corpo lutava contra aquilo que desejava. Fechou os punhos e apertou a cabeça contra o colchão.

—Faz o de uma vez.

Caine colocou a mão entre seus quadris e se abriu caminho através do úmido ninho de cachos até chegar à flor de seu sexo.

Ela gritou com toda a alma.

—Isso. Aí, verdade? —começou a esfregá-la com vigor e seus músculos se relaxaram pouco a pouco.

Um segundo depois seu membro ereto entrou na umidade na jovem.

Desi cravou as unhas na cama, debatendo-se entre o prazer e a comoção.

—Isso é. —Lhe disse ele, lhe massageando o clitóris—. Deixe-Me entrar.

Ela fez o que lhe pedia, abrindo-se mais e mais. Caine começou a empurrar mais depressa e chegou até onde não tinha chegado antes. Desi gemeu do mais profundo de seu ser.

Ele se deteve e retrocedeu, mas lhe cravou as unhas na coxa.

—OH, Deus, Caine, faz-o de novo.

Os espasmos enlevados de seu sexo lhe fizeram tentá-lo uma vez mais. Empurrou com todas suas forças, até dentro.

A voz do Desi se quebrou ao pronunciar seu nome.

Outra investida brutal e ela arqueou de costas. O eco de um grito reverberou por toda a habitação.

Estava perto, muito perto.

Caine saiu dela. Os músculos de seu sexo se contraíam ao redor de seu pênis, fazendo insuportável a fricção. O testículo lhe doía e o suor lhe caía nos olhos. Não sabia quanto poderia agüentar, mas não queria chegar antes que ela.

Voltou a arremeter com outra investida que a fez saltar sobre a cama. Ambos gemeram e ele retrocedeu com a mesma rapidez.

—Sim... —sussurrou ela, despertando a luxúria mais primitiva dentro dele; a luxúria que ele jamais teria querido lhe ensinar—. Mais. —Lhe suplicou.

Ele o dava tudo, mas ela não conseguia chegar.

Caine se apartou o cabelo da cara e agarrou o pote que estava em cima da mesa de noite. Tirou a tampa e se lubrificou os dedos com a suave nata.

Então lhe separou as nádegas.

—Quieta, neném. Darei-te o que necessita.

—Date pressa.

Pôs os dedos sobre esse pequeno montículo de músculo e ela se contraiu imediatamente.

—te relaxe, Desi.

Ela gemeu levemente e se estremeceu de pés a cabeça. Ele começou a introduzir um dedo pouco a pouco, abrindo-se caminho com a ajuda do lubrificante.

Seu sexo suave o engoliu com avidez e ele empurrou mais dentro, lubrificando a nata ao redor, facilitando o caminho.

Ela estava dura, quente, deliciosa... E ele a desejava com loucura. Tirou o pênis sem retirar os dedos.

—Tem um traseiro precioso, Desi.

—OH, Deus.

—É perfeito para dar prazer a um homem. —voltou a colocar o membro e se deleitou em um ninho de músculo tenro e fresco.

Então lhe agarrou o clitóris com dois dedos e começou a esfregá-la ao tempo que lhe colocava um dedo no ânus, uma e outra vez, em sincronia com as investidas de seu potente pênis. Uma, dois, três... A quarta a apalpou com outro dedo enquanto contemplava o bombeamento frenético de seu próprio membro.

—Caine...

—Não passa nada. te relaxe... Disse que seria minha.

Uma pausa.

—Assim é.

—Então te jogue para trás e me deixe te fazer desfrutar.

À quinta investida, pôde colocar os dedos até o segundo nódulo. Ambos ofegavam ao mesmo tempo.

—Agora vai ser um pouco mais duro Desi. —Lhe disse, derretendo-se em seu fogo—. Mas segue relaxada.

Cravou-lhe as unhas na coxa, atirando para si.

—OH, sim!

Então se abriu como uma flor na primavera. Arqueou as costas e fez tudo o que pôde para dar agradar a seu marido. Seu túnel secreto o espremeu até lhe fazer perder o controle.

Caine lhe pôs os lábios sobre o ouvido.

—Fica aquieta. —Sussurrou.

Tirou-lhe os dedos do traseiro e ficou um pouco mais de nata. Então voltou a lhe lubrificar esse delicioso buraco com um dedo, dois, três...

—lhe vejam comigo, Desi.

Colocou os dedos até o fundo e ela fez erupção a seu redor. Seu sexo convulso se aferrou ao pênis palpitante de seu marido; seu ânus se fechou sobre os dedos dele.

Caine retrocedeu uma última vez e a investiu com todo seu ser.

—Vamos, por favor, vamos... —dizia-lhe, desesperada.

—Ainda não. —Lhe disse ele e a beijou nessa bochecha é minha garota.

Saiu dela.

—Volto em um momento.

Levantou seu pesado membro e pressionou a flor de sua feminilidade com a ponta. Ela ficou tensa e ele se deteve um instante.

Pouco a pouco os músculos de seu sexo se relaxaram e Caine pôde empurrar um pouco mais.

—Isso. Um pouquinho cada vez e logo estarei dentro de ti.

Ela sacudiu a cabeça.

—Não posso.

—Sim que pode. Suave e devagar.

Com o último empurrão Caine ganhou a batalha e Desi gritou de prazer.

—Minha... —sussurrou enquanto a fazia sua por e para sempre.

E através dos tremores que dilatavam suas frágeis costelas, Desi deixou escapar um suspiro com forma de palavra.

—Sim...

Não tinha amanhecido quando Caine despertou. Os outros deviam estar no celeiro, preparando-se para sair.

Ele, em troca, precisava estar ali. A seu lado, Desi dormia um sonho aprazível, tombada de barriga para baixo; exausta depois dos jogos do amor. Era tão formosa...

Apartou-lhe o cabelo da cara. Uma vermelhidão no pescoço chamou sua atenção. esfregou-se a mandíbula.

Tinha que barbear-se mais freqüentemente.

Desentupiu-a por completo e seguiu a linha de sua coluna até chegar às montanhas de suas nádegas. Ela se moveu e suspirou.

Ele colocou os dedos e lhe roçou o orifício anal. Então deslizou a mão para baixo e chegou a seu sexo, úmido e tentador. Esfregou-lhe a abertura da vagina com o polegar.

Tornou-se louco com ela. Converteu-se em um selvagem insaciável e sua carne mostrava os signos da fornicação frenética. A flor de seu sexo estava torcida, sensível, úmida com sua semente... Uma esperança nasceu no interior do Caine: possivelmente estava grávida.

Introduziu-lhe os dedos e ela os aceitou sem resistência. Ainda estava aberta e tenra, e ele já estava duro e preparado.

Miro ao céu através da janela. Não havia tempo.

Desi suspirou e se trocou de postura, separando as coxas.

 

Caine o pensou melhor. Deslizou o lençol até os joelhos da jovem e ficou em cima dela.

—Sh. Não desperte. Fica aquieta.

Com um movimento de quadris colocou seu membro viril e empurrou contra ela. Os músculos de seu sexo nu lhe abriram o passo.

Quieta, neném. lhe vou fazer isso suave e devagar. Está úmida e suave, lista para mim. E eu te necessito.

Agarrou-lhe a mão e a pôs contra a bochecha. Então ele a penetrou com supremo cuidado para não despertá-la.

Para ouvi-la suspirar, começou a empurrar com suavidade, saboreando aquele doce prazer. Ela era sua esposa, a que sempre o esperaria ao chegar à casa; uma razão para retornar. Uma esposa e possivelmente um menino. Uma família...

Caine pôs os lábios sobre seu ouvido e se deixou levar pela onda do clímax. Abrangeu seus peitos com as mãos e lhe apertou os mamilos, tentando não afogar-se naquele orgasmo puxador.

—Vêem comigo, Desi. Dê-me uma lembrança que mereça a pena guardar para sempre.

Seu grito de prazer rompeu a alma do Caine em mil pedacinhos. Ela absorveu sua semente até o fundo de suas vísceras.

Desabou-se sobre ela. O queria lhe dar todo aquilo ao que estava acostumada, mas isso estava fora de seu alcance. Quão único podia lhe oferecer era a segurança de saber que os homens que a tinham ferido não foram voltar a lhe fazer danifico.  

separou-se dela e tentou conter a corrente de umidade que escapava de seu sexo.

Suspirou. Ficou de pé.

Não passaria muito tempo antes que se dessa conta da realidade, e quando isso ocorresse, iria de seu lado. Caine colocou as meias três - quartos e nesse momento decidiu que a deixaria partir sem mais quando chegasse o momento.

Tirou-a da mão e lhe deu um beijo no dorso. Aqueles dedos estilizados estavam machucados e calejados. Tocou uma ampola. Ela não estava feita para essa vida.

Colocou as calças.

Desi gemeu e se deu a volta. Ele a tampou com as mantas e lhe deu um beijo na bochecha.

—Dorme pequena. Prometo-te que quando voltar, tudo será muito melhor.

 

Tracker e Sam o estavam esperando no celeiro.

—Não parece muito contente. —Disse Sam, atando a cadeira de montar.

Caine se encolheu de ombros. Abriu a quadra de Chaser e desprendeu a brida. Ao fundo do estábulo se ouvia relinchar ao semental, e Lily soltou um bufido. Logo foram necessitar um celeiro maior.

—bom dia, amigo. —Lhe disse Caine a seu cavalo—. Preparado para dar um passeio?

Chaser o saudou com um bufido. Baixou a cabeça para receber a brida e lhe registrou os bolsos em busca de cubos de açúcar.

—Desi te esteve mimando. —Lhe disse enquanto lhe colocava a brida.

Sua esposa tinha tomado por costume lhes dar deliciosos torrões de açúcar aos cavalos em sua ausência. Caine não sabia por que o ocultava, mas como não fazia nenhum mal e se mantinha afastada de semental, decidiu não lhe dizer nada.

Essa manhã Ti lhe tinha dado a lista de compra e o primeiro encargo era açúcar, três vezes a quantidade que estavam acostumados a consumir.

Tirou o Chaser da quadra e lhe colocou o selim.

—Quem vai se ficar com o Desi? —Perguntou Tracker colocando comida na alforje.

—Shadow.

—Shadow vai fazer de canguru? —Sam sorriu e se voltou enquanto baixava o estribo.

—É o melhor quando se trata da luta corpo a corpo.

—Crie que alguém vai se aproximar o bastante aos Oito do Inferno para necessitar essa classe de defesa?

Caine assegurou a cadeira de montar.

—A julgar pelo número de bandoleiros que liquidamos esta semana, mil dólares é um incentivo muito grande para esquecer o sentido comum.

—Maldita seja.

—A final alguém com talento o tentará e não quero que ninguém se aproxime muito.  

—E por isso vamos ao este para falar com os tipos que fixaram a recompensa. —Acrescentou Tracker.

—Isso é. —Caine atou a corda restante no mesmo nó e baixou o estribo—. De todos os modos, vamos procurar a um homem em particular.

—Além de James e os banqueiros?

—Sim. —Revisou o rifle e a pistola, e comprovou que levavam suficiente munição—. É um porco psicopata com acento do este.

—Não há muito por onde começar. —Disse Sam.

—Desi nunca lhe viu a cara, mas pelo que disse, tenho a impressão de que ele é a verdadeira ameaça.

Sam e Tracker o olharam com gesto sério, tentando decifrar o que não lhes havia dito.

—E quando o encontrarmos... Vai ter uma morte lenta ou rápida?

Caine montou de um salto.

—Muito, muito lenta.

Tinha-a abandonado. Sem uma palavra, sem um adeus, sem uma explicação. Tinha abandonado. Desi estava na cozinha, fritando beicon e batatas para os homens.

—Quando se foi? —Perguntou a Ti.

—Esta manhã. —Ti assinalou a frigideira—. Se não lhe der a volta o beicon se queimará.

Caine a tinha deixado. Tinha-lhe feito o amor como se não existisse o manhã, e depois a tinha deixado. Deu-lhe a volta às fatias de beicon, tentando assimilar a verdade. Havia-lhe dito a Ti que partia, mas não lhe havia dito nada.

—Foi sozinho?

—Tracker e Sam foram com ele.

—Foi procurar James, verdade?

—Não esperava que os deixasse em paz.

—É perigoso. Um dos homens suspirou com força e Desi olhou para a mesa. Não conhecia a todos porque tinha estado um pouco distraída durante as apresentações, mas aquele desconhecido a observava por cima da taça de café.     

—Desculpe senhora, mas se esses três foram atrás de outro tipo, o único que corre perigo é o tal James.

Desi deixou cair o garfo sobre a cozinha com um estrépito. Todos se comportavam como se fossem imortais, mas em realidade não o eram.

—Conheço-o?

Ele se tocou o chapéu.

—Shadow, senhora.

Desi se voltou para Ti.

—É o irmão de Tracker? —Perguntou a Ti.

—Sim.

Desi podia ver o parecido. Constituição forte, olhar escuro, rasgos exóticos.

—Conhecemo-nos o primeiro dia.

—Brevemente.

—É um prazer vê-lo de novo.

—O mesmo digo. —Disse ele e seus lábios desenharam uma careta.

Ti lhe olhou com um sorriso.

—Ele e o resto dos meninos chegaram faz uns dias. Levam muitos meses sem estar juntos.

Desi recolheu o garfo e lhe deu a volta ao beicon.

—Por que estão todos aqui?

—Porque Caine nos pediu que viéssemos.

Desi fulminou ao homem com o olhar e fez caso omisso de suas palavras.

—Onde estão os outros três? —perguntou a Ti.

—Estão fazendo guarda entre os desfiladeiros.

Agitou as batatas com força.

—Por quê?

Em lugar de responder, Ti se limitou a dobrar um pano de cozinha. A rígida expressão de seu rosto a delatava. Havia algo que lhe incomodava.

—Por favor, se for algo que me incumbe, deveria sabê-lo.

—Caine não quer que se preocupe.

Desi se tirou o avental e o jogou sobre a mesa.

—Muito tarde.

Agarrou o xale que pendurava do perchero da entrada e saiu ao alpendre dando uma portada. Boone levantou a cabeça e foi atrás dela meneando a calda.

James iria a por ela. Caine ia tentar impedir-lhe, mas não podia. Ela sabia que não, porque James era uma serpente. E se James ia a ela, ele também o faria. O horror daquele pensamento lhe atravessou a alma.

Desi olhou a seu redor, para os escarpados que se elevavam ao longe. Viu a silhueta de um homem.

Boone uivou uma vez e lhe acariciou a cabeça.

—Não passa nada, Boone.

—Realmente não passa nada, senhora.

Ela se deu a volta para o homem que a observava. Era mais alto que Caine e de costas largas. Tinha uma cabeleira negra como a noite, mas a levava recolhida por debaixo do chapéu. Um golpe de vento lhe agitou o cabelo, ressaltando seu aspecto selvagem.

Boone grunhiu do mais profundo de sua garganta e Desi o sujeitou com força. Não tinha ouvido sair Shadow da cozinha.

—Não sente saudades que lhe chamem Shadow.

Ele se tocou o chapéu antes de olhar ao cão.

—Se não te calar, usarei-te em minhas práticas de atirou esta tarde.

O homem agarrou o rifle que levava. Desi não sabia se falava a sério ou não.

Boone fez caso omisso e continuou ladrando, assim que a jovem ficou entre o animal e o homem.

—Não vais fazer tal coisa.

Shadow a olhou fixamente e Desi se deu conta de que tinha os olhos marrons, profundos e frios, muito frios.

—E quem me vai impedir isso?

Desi se envolveu no xale.

—Eu.

Ele se jogou o cabelo para trás, descobrindo um rosto formoso.

—Pare.

Desi deu meia volta e atirou do Boone. Quando estava a certa distância dele, soltou-o, mas o cão se deteve.

—Não passa nada, Boone. —Lhe disse ela, parando um momento para lhe fazer uma carícia—. É um bom menino e sempre me defende.

O homem pôs-se a rir a suas costas.

—Esse cão é tão inútil como o primeiro dia.

Desi lhe acariciou a cabeça e lhe deu um beijo no nariz.

—Eu gosto de. —Disse e atravessou o pátio a toda pressa, mas ele a seguiu.

Desi olhou por cima do ombro.

—Não tem nada melhor que fazer?

—Não.

—Tenho uma irmã perdida.

—Tracker se ocupa disso.

—Tem que lhe pôr mais entusiasmo.

—Fará-o.

Desi se esfregou os braços com ambas as mãos.

—Não o bastante depressa.

—Não se preocupe. Ele sabe o que ela significa para você.

Ninguém sabia. Desi seguiu andando e ele ficou a seu lado.

—Aonde vamos?

Desi respirou fundo.

—Eu vou dar um passeio.

—Antes de tomar o café da manhã?

—Não tenho fome.

—Eu sim.

—Então vá comer.

Ele se encolheu de ombros.

—Não posso. Supõe-se que tenho que protegê-la.

—Não me importa.

—Está decidida a saltar o café da manhã?

—Sim.

—Bom maldita seja. —Ficou o rifle debaixo do braço—. Agora Caine vai pedir minha cabeça.

Ela suspirou.

—Por quê?

—Porque me disse que não a deixasse saltaras comidas nem tampouco zangar-se.

—Se não queria que me zangasse, deveria me haver dito que partia e por que.

—Suponho que tem razão, senhora.

—Desi. —Lhe disse ela, diminuindo o passo.

Ele assentiu.

—Desi, só é uma sugestão, mas deveria pensar na forma de ser do Caine antes de te zangar por algo que não se pode evitar.

—Não se pode evitar mentir?

—Às vezes. —Lhe disse ele, fazendo uma careta.

Tinham chegado ao celeiro. Shadow lhe abriu a porta e Desi se fez a um lado. A diferença de Caine, ele a punha nervosa. Não ia entrar em um celeiro escuro com ele. Boone se interpôs entre eles e Desi lhe deu uma palmada na cabeça, tentando dissimular a ansiedade.

Então se voltou para o outro lado, e lhe deixou sujeitando a porta. Não queria ouvir suas explicações.

Entretanto, ele a seguiu até o curral das galinhas. Desi se parou em seco e se cruzou de braços.

—Solta o de uma vez.

—O que?

—O que crie que tenho que entender com o Caine.

—Sentiria-me mais cômodo falando do café da manhã.

—Então esqueçam.

Ele a convidou a seguir adiante com um gesto de mão.

—Seguimos correndo de um lado para outro? —Perguntou-lhe.

Desi se envolveu no xale para proteger do afresco da manhã. A uns metros de distância Malaspulgas se pavoneava de um lado a outro, preparado para brigar. E mais à frente, na espessura do bosque, podia haver homens à espreita.

Desi deu meia volta e se dirigiu para a casa, ignorando a gargalhada do Shadow.

—Acredito que irei tomar o café da manhã. —Lhe disse.

Normalmente odiava matar com o estômago vazio, mas essa vez podia fazer uma exceção.

Caine subiu sobre o telhado do edifício no que estavam James e seus seguidores. O homem ao que ia fazer lhe uma visita tinha convocado uma reunião na planta alta do armazém essa mesma noite. A tarde tinha chegado a seu fim e tinha chegado a hora de ajustar contas.

Nesse momento Sam entrou no edifício por uma janela lateral do piso inferior, pistola em mão. Tracker cobria a parte de atrás e isso significava que não haveria escapatória possível.

Esses porcos estavam encurralados. Caine se desprendeu da cornija e se deixou cair no balcão do piso superior. A madeira rangeu sob seus pés e teve que agachar-se, sem baixar o revólver nem um segundo. Quando teve a certeza de que a estrutura agüentaria o peso subiu até a janela que estava junto à porta.

—Que demônios é tão importante, James? Ficamo-nos sem jantar.

Caine reconheceu a voz que chegava através do fino cristal da janela. Era Bryan, o banqueiro gordo. Caine trocou de postura para ver melhor. A julgar pelas parteleiras que se estendia ao longo das paredes, o lugar se usava a modo de armazém, o qual significava que aqueles tipos não queriam arriscar-se a ser descobertos. Desde sua posição podia ver o Bryan e ao James claramente. O outro sujeito se mantinha nas sombras que projetava o abajur.

—Possivelmente se tenha informado do da irmã. —Disse a figura misteriosa, com uma voz suave e efeminada.

—Maldita seja, não. Já deve estar apodrecendo-se ao sol.

Pela maneira de dizê-lo, estava claro que ao James trazia sem cuidado.

Caine apertou o gatilho lentamente.

—Foi uma estupidez deixá-la partir. —Disse Bryan.

—Não te vi te arranhar os bolsos para impedi-lo. —James se passou uma mão pelo cabelo. Em seu rosto não ficava nada daquele falso encanto.

—Não sabia que foste atar as coisas até o ponto de perder à primeira. —Disse Bryan com ironia, tocando-os bolsos.

Tirou um cigarro.

James o fulminou com o olhar.

—Só necessitávamos a uma.

—Mas se as tivéssemos tido as duas, teríamos conseguido o seguro.

—Se preocupa muito, Carl.

Carl era a sombra.

—depois de falar com nosso sócio, acredito que não nos estamos preocupando o bastante.

Caine se aproximou um pouco mais.

—Estava zangado? —perguntou Bryan.

—Eu não diria que estava contente. Mandamo-lhe um telegrama dizendo que tudo estava solucionado, e agora não temos à mulher que busca, e nem sequer podemos lhe confirmar que a outra esteja morta.

—Está morta. Se não a mataram antes de sair do território, fizeram-no ao chegar a Cobre-a.

Bryan esboçou um sorriso e se levou um cigarro à boca.

—Mas não tem provas, verdade? E ele quer provas.

—Então pode ir as buscar o mesmo. Cobre-a não é lugar seguro para um gringo.

—Este tampouco o será se não arrumarmos esta confusão.

A luz de um fósforo brilhou na escuridão, arrojando sombras fantasmas sobre a parede oposta.

—Mas só necessitamos a uma, e sabemos onde esta.

—A terra dos Oito do Inferno não é muito melhor que A cobre. —Disse Bryan.

—Nem todos somos tão covardes como você. —Disse James com ironia.

—E isso o que significa?

—Significa que tudo é possível pagando o preço justo, e nosso pequeno problema deveria estar solto a primeira hora da manhã.

Caine ficou tenso e se apoiou contra a parede.

—Quanto te custou? —perguntou Carl.

—Mas do que pagariam dois imbecis como vós.

Carl fez um gesto com a mão, projetando uma enorme sombra na parede.

—Não importa o que custasse. Necessitamos que volte. Nosso sócio não está contente.

—Não viria mal saber a quem contratou e quanto nos vai custar. —Disse Bryan, fazendo honra a sua profissão. Era óbvio que não confiava no James.

—Contratei a Apache Jack.

—Pensava que estava morto.

James o olhou com desprezo.     

—Pelo visto não é assim. Vai trazer La de volta por dois mil e quinhentos.

Uma onda de raiva fervente buliu no peito do Caine. Apache Jack não podia ter cansado mais baixo. Depois de ser rechaçado pelas duas raças, a branca e a apache, tinha alimentado um instinto sanguinário que o levava a torturar e matar sem piedade. Tinha desenvolvido sua própria técnica até o ponto de instruir nas artes da morte aos que se passavam ao lado escuros. Tratava-se de um matagal de nós que mantinham em pé a vitima até que já não podia agüentar mais. Quando o pobre desgraçado tratava de liberar-se, ele o estrangulava lhe causando uma agonia interminável. E tinham enviado a esse monstro a Desi? Malditos porcos.

—Viva? —Verguntou Bryan com um olhar lascivo.

—Isso me custou outros quinhentos.

—Pagou-os?

James se se pôs a rir.

—Maldita seja. Claro que sim. Tenho uma conta pendente com essa zorra.

—Pode ajustar contas quando terminar com ela.

—Tanto você gosta de nossa pequena Desdemona? —Perguntou James.

O desprezo mútuo era evidente.

—Eu gosto de tê-la disponível.

—Quão único poderia havê-lo melhorado tivesse sido as ter às duas juntas.     —Disse Bryan—. As Gemeas idênticas. Nunca tive algo assim. —Acrescentou, desfrutando-se em sua própria fantasia.

—Maldita seja, é claro que sim —Disse James.

—Quando a vai trazer o tal Apache Jack? —Perguntou Carl, impassível. Não havia o menor rastro de luxúria em sua voz.

—Teremo-la amanhã. Depois de amanhã como muito tarde, se surgirem problemas.

—Viva?

—Paguei por isso.

—Mas não está seguro.

James se encolheu de ombros.

—Conhece a Desdemona. Dá-lhe muito bem pôr à prova a paciência de um homem, e com Apache Jack, nunca se sabe. Igual gosta de mais lhe cortar o pescoço que recolher o resto da recompensa.

—Não acredito que tenha forças depois de lhes haver dado serviço aos homens dos Oito do Inferno

—Bryan se lambeu os lábios—. Crie que também se abriu de pernas para os índios?

Uma tabela está acostumada a rangeu.

Carl saiu de entre as sombras. Tratava-se de um tipo esbelto e elegante, vestido com um traje cor cinza; uma aparência muito inofensiva para um ser tão desumano.

—Bom, eu acredito que isso já não importa.

Havia algo estranho na pose daquele homem. Caine se moveu para ver o que tinha na mão. Carl se dirigiu para a porta e se tirou algo comprido e magro do bolso. Muito grande para ser um puro. Caine se deu conta do que era ao mesmo tempo em que Bryan e James.

Dinamite preparada com uma mecha curta.

—Vós já não sois imprescindíveis. —Disse de caminho à porta.

Bryan levantou os braços.

—Espera um momento, Carl. Não há necessidade disto.

James não lhe tirava olho a aquela arma mortífera.

—Esse advogado não ficará muito contente se fizer isto. Ele nos necessita.

Carl pôs o cigarro aceso contra a mecha com um estranho sorriso nos lábios. Faíscas por toda parte...

—E quem acredita que deu a ordem?

Arrojou o explosivo aos pés de seus cúmplices.

Caine assobiou com todas suas forças e saltou pelo balcão. Enquanto pendurava o passamanes pôde ver a expressão do Carl ao abrir a porta e encontrar-se com o Sam. Este esboçou um sorriso tétrico e o empurrou para o interior da habitação. A porta se fechou. Caine se deixou cair e o céu explorou em mil pedaços.

Caine deu contra o chão. Com o impacto lhe dobraram os joelhos e um dardo de dor lhe atravessou a panturrilha. Cobriu-se a cabeça e rodou sobre si mesmo até o flanco do edifício, esquivando pedaços de madeira que caíam em qualquer parte. A pesar do assobio que rugia em seus ouvidos, pôde ouvir os gritos das mulheres e os juramentos dos homens. Soou um timbre e a gente começou a correr em todas as direções.

Chocou-se contra a borda do alpendre e se desentupiu a cabeça. A gente saía das lojas em turba para contemplar o espetáculo que se elevava sobre suas cabeças.

Caine ficou em pé. Sua pistola estava a uns metros de distância. Recolheu-a e se sacudiu as calças.

—Está bem? —Perguntou-lhe Tracker.

—Sim. E você?

—um pouco chamuscado, mas bem.

Miro a seu redor.

—Onde esta Sam?

—Comprovando as coisas.

Caine elevou a vista para as chamas que devoravam o edifício.

—Jesus, ninguém poderia sobreviver a algo assim.

—Já conhece o Sam. Tinha que assegurar-se de que essa escória recebia a morte que se merecia.

—Ouviu-o?

Os homens começaram a arrojar cubos de água sobre aquele inferno.

Tracker assentiu.

—Não se mereciam uma morte tão suave.

—Não.

Sam deu a volta ao edifício e chegou até eles. Caine lhe lançou um olhar interrogante e ele assentiu com dissimulação. Estavam mortos.

Tracker jogou a um lado uma parte de madeira em chamas.

—Agora será muito difícil averiguar quem é o cabeça.

—Nem tanto. —Disse Caine—. Seja quem é esse advogado, ainda quer Desi. E agora terá que vir por ela.

—Ou enviar a alguém.

Caine se encolheu de ombros.

—Agora mesmo me preocupa mais o que esses três puseram em marcha. —Olhou Sam—. Enviaram a Apache a Desi.

Sam tossiu afogado pela fumaça.

—Ouvi-o tudo.

Caine olhou para o oeste. A incerteza lhe corroia as vísceras.

—É bom.

—Mas Shadow é melhor. —Disse Tracker sem duvidar.

—Por não mencionar que Desi tem caráter. —Acrescentou Sam, olhando para a multidão.

As chamas crepitaram com grande estrépito e a fumaça os fez retroceder.

—Só é uma mulher. —Disse Caine.

Uma mulher que se merecia algo mais que violência e perigo.

Sam sorriu.

—Já a vi praticar contigo, e se alguém pensa que vai se render de qualquer jeito, poderia levar uma grande decepção.

—Mas não é rival para Apache Jack. —Disse Tracker.

Caine seguiu o vôo de um falcão que se dirigia ao oeste e recordou o muito que ela tinha lutado contra seus captores, a força com a que aceitava os desafios, a honra que lhe tinha feito manter suas promessas... Recordou como tinha defendido ao Boone, e também sua valentia ao lhe pedir que a ensinasse a lutar. Mas sobre tudo recordou aquele dia em que tinha errado o disparo para lhe roubar um beijo, aquele sorriso...

O falcão desapareceu no horizonte e Caine chamou o Chaser com um assobio.

—Equivoca-te. Ela é rival para qualquer que se atreva a desafiá-la.

  

Aquilo era muito para o Desi. Cansada e molesta, a jovem olhou para o galinheiro. Como sempre, o galo aguardava a entrada.

Essa vez tinha o frango de brinquedo na mão.

Malaspulgas rebolava de um lado a outro com garbo desafiante. Ambos sabiam que ela podia suborná-lo.

O galo cacarejou. Boone lançou um grunhido nervoso sem lhe tirar olho a aquele demônio com plumas.

—Não se preocupe. Esta vez não terá que vir a me salvar.

O cão inclinou a cabeça para ela e lhe fez perder o equilíbrio. O vento soprou com força e Desi sentiu um calafrio na nuca. Olhou para a latrina. Shadow não tinha saído ainda.

Olhou para a casa e então se deu conta de que sair a por ovos não tinha sido uma boa idéia. Shadow lhe havia dito que ficasse na casa, mas Ti tinha ido ver o Ed, e ela não tinha sido capaz de estar-se quieta. Necessitava algo que fazer e Shadow lhe tinham proporcionado a desculpa perfeita. Era um homem atlético e sempre tinha fome. ir procurar uns ovos para lhe preparar o café da manhã lhe tinha parecido uma idéia muito bom. O curral estava no centro do rancho e Shadow estava muito perto. Podia ser tão perigoso?

O vento voltou para soprar com força e dissipou a ansiedade da jovem.

Olhou o brinquedo que tinha nas mãos.

—Que te parece, Boone? Jogamo-nos atrás ou lhe plantamos a cara?

Boone olhou ao orgulhoso galo. Shadow devia estar a ponto de sair e Desi não queria agüentar outro bate-papo de vinte minutos.

—Tem razão. Terá que lhe plantar cara. Arrojou o brinquedo ao chão e Malaspulgas foi a por ele sem pensar-lhe duas vezes. Desi sacudiu a cabeça e, sem perder de vista ao galo, dirigiu-se para o curral.

Já estava quase dentro quando uma mão invisível a agarrou pela cintura e atirou dela. Uns dedos enormes sufocaram seu grito incipiente e só teve tempo de respirar uma vez mais antes de topar-se com um corpo duro e fornido. Um fedor insuportável alagou suas fossas nasais enquanto lutava e dava patadas ao ar.

Desi piscou e gritou para dentro. Desesperada, olhou a seu redor em busca de ajuda, mas ninguém podia ver esse rincão do pátio. Mordeu os dedos que lhe tampavam a boca. Boone deu a volta à esquina e se preparou para defendê-la.

Desi viu um brilho pela extremidade do olho e o cão caiu a seus pés. Tinha uma navalha cravada no flanco.

Uns dedos lhe apertaram o pescoço. A jovem viu uma constelação de estrelas e todo se voltou negro.

O eco de um latido percorreu as planícies próximas. Caine fez deter-se o Chaser. Os únicos cães da zona eram os dos Oito do Inferno.

—Reconhece esse latido?

Tracker inclinou a cabeça.

—Não posso dizer que sim, mas está claro que esse cão está seguindo um rastro.

—O pai do Boone tinha um latido parecido. —Disse Sam.

—O pai do Boone está morto. —Disse Caine, enrugando os olhos na claridade da manhã. Tinha um nó no estômago.

—Mas Boone não.

—Vem a toda pressa do outro lado do passo.

—Quão único faz mover-se a esse cão é Desi. —Disse Sam.

—E Apache Jack quer levar-se essa recompensa.

Caine guiou Chaser para o alto da cordilheira.

—A levará quando neve no inferno.

Tracker agarrou a brida do Chaser e o fez deter-se. Caine já tinha a pistola na mão e lhe apontava com ela.

—Pensa-o, Caine. Esse cão vai depois da pista. A julgar pelos latidos, vêm nesta direção. Não podem havêr passado. O terreno é muito plano, o qual significa que devem estar escondidos entre os dois desfiladeiros.

Caine soltou o gatilho, mas não guardou a pistola. A arma tremia entre seus dedos.

Tracker a tirou das mãos.

—Traremo-la de volta, Caine.

Sam se aproximou pelo outro lado.

—Mas não o conseguiremos se subirmos por essa montanha como um punhado de idiotas. Apache Jack é um porco muito preparado e atacando desde essa colina só conseguiremos que nos mate a todos.

Caine estendeu a mão. Depois de uns segundos, Tracker lhe devolveu a arma.

—Só há dois lugares onde seria seguro esconder-se. —Disse Caine depois de examinar a cordilheira—. As covas que bordeavam a montanha e o canhão.

—Índio apache não é dos que ficam apanhados.

Sam se atou um cigarro.

—Então deve estar nas covas.

—Só uma é o bastante grande para duas pessoas.

—E felizmente... —Disse Tracker, comprovando a munição do rifle—. Tem uma entrada posterior.

Caine sorriu.

—Assim é. —Disse e seguiu escutando os latidos do Boone.

A última vez que tinha experiente tanta angústia seu pai tinha cansado sob uma chuva de balas e sua mãe tinha empunhado uma pistola para defender seu lar. O tempo jogava em seu contrário.

Chutou os flancos do Chaser e o cavalo pôs-se a andar.

«Agüenta, cigana. Agüenta...».

Um cadáver sangrento aterrissou aos pés do Desi.

—Faz o jantar.

A jovem olhou o coelho sangrado e depois levantou a vista para seu seqüestrador. Era de origem índia, mas a diferença do Tracker e Tucker, não inspirava confiança alguma. Esse homem cheirava a maldade por cada poro de sua pele. Tinha o cabelo comprido e gordurento e levava mocasins até os joelhos.

Desi olhou a oferenda a seus pés. E queria que cozinhasse um coelho.

—Não sei fazê-lo.

Uma faca se cravou na lama entre seus pés, mas a jovem se manteve impassível. Não ia lhe dar a satisfação de lhe deixar ver como a assustava.

—Então deveria aprender rápido.

Ela empurrou a manga com um dedo do pé e a faca caiu ao chão.

—vou necessitar um professor.

O olhar daquele indivíduo se iluminou um instante.

—Quer aprender de mim?

Ao Desi lhe pôs a carne de galinha.

—Não quero aprender absolutamente, mas como se que haverá um castigo por não saber, estou aberta a sugestões.

—Agarra a faca e descascamento o coelho.

Desi lhe olhou os músculos dos braços e o peito. Tinha cicatrizes por toda parte.

Incorporou-se e tomou a faca nas mãos.

—Por onde começo?

—Pelo pescoço. —Deu a volta e olhou para a entrada.

Ela fez o que lhe tinha ordenado. Quando se girou novamente havia respeito em seus olhos.

—Não tratou de usar a faca contra mim.

—Não sou estúpida. Sei reconhecer uma armadilha quando a vejo.

Ele sorriu.

—Esses banqueiros lhe ensinaram bem.

—Estavam satisfeitos.

Ele jogou a cabeça a um lado.

—Mas não o bastante. Não fala com respeito. Se me falar sem respeito te fará mal. —Lhe disse com toda a calma do mundo.

—Sei. —Disse Desi, sem mais.

Pôs-lhe o dedo sob o queixo e lhe fez olhá-lo aos olhos.

—Parece-te muito a sua irmã.

Ela moveu a mão e a faca lhe deslizou entre os dedos, lhe cortando o polegar. Soltou a arma e se apertou a ferida com a palma da outra mão.

—Está viva?

—Estava-o a última vez que a vi.

—E quando foi isso?

—Quando me estava correndo dentro dela.

Desi reprimiu as vontades de golpeá-lo e ele desfrutou com isso.

—Acredito que vais gritar tanto como ela.  

—Eu não estaria tão seguro. 

Algo frio e metálico se deslizou pela cara interna da panturrilha da jovem, lhe levantando a saia.

—Eu acredito que sim. —Lhe disse ele.

A faca. Ele tinha recolhido a faca.

Ao longe ouviu um uivo. E voltou a ouvi-lo. Um cão depois de um rastro. Ela só conhecia uma pessoa que tivesse cães, e esse era Caine. Ia procurar La.

—Não deveria estar fugindo?

O fio da faca se separou de sua pele.

—Ainda não.

—Caine te matará.

—Deveria entender algo, ou não durará muito.

—O que?

—Os homens não arriscam a vida por rameiras.

—Ele virá. E quando o fizer, não estará sozinho.

O homem lhe soltou o queixo e ficou de pé.

—Em realidade, conto com esse orgulho dele que o fará vir por ti. Tenho uma conta pendente com eles.

Deixou a faca no chão e assinalou o coelho.

—Termina de lhe tirar a pele e depois o estripa.

Desi agarrou a arma e ficaram mãos à obra.

—Como te chama?

—Jack. Por quê? Quer-te pôr carinhosa?

—Só queria saber o que vais pôr em sua tumba.

O homem pôs-se a rir.

—Se as coisas chegassem a esse extremo, não haveria nomeie na tumba. Os dos Oito do Inferno não são famosos por sua piedade.

Ela se encolheu de ombros e atirou da faca quando se entupiu contra uma das patas do animal.

—Suponho que sim.

Com um movimento ágil, o tomou a faca, curtos vários tendões e lhe tirou as tripas ao jantar.

Ela olhou o sangue que corria a seus pés.

—Obrigado.

Não lhe devolveu a faca. Limitou-se a olhá-la fixamente e ficou a cortar o corpo do animal.

Voltou-se a ouvir o latido de um cão na distância.

Um pau afiado aterrissou entre seus pés e o animal sem pele lhe caiu nas mãos.

—Atravessa a carne com isto e sujeita o sobre o fogo. Eu não gosto de lutar sem fazer uma oferenda.

—É supersticioso?

—Os espíritos recompensam aos que se lembram deles.

Desi não sabia a que deuses rezavam.

Afundou o ramo no corpo do coelho e o pôs contra o fogo.

Jack se inclinou sobre ela e lhe atou os punhos com um pouco de pele. O fino couro lhe cravou na carne e Desi esteve a ponto de deixar cair o coelho, mas conseguiu mantê-lo em alto.

Jack agarrou o rifle e ficou em pé.

—Sua irmã tinha mais força.

Desi se lembrou de Ari e agarrou o pau com tanta força que lhe dobraram as unhas.

—Como você disse me ensinaram melhor.

Os segundos se converteram em minutos, e os minutos em horas. Desi esperava na cova, maça de pés e mãos. Armado até os dentes, o foragido tinha abandonado o esconderijo várias horas antes. Levava munição sobre o peito, facas atadas a quadris e coxas, e também pistolas no cinturão.

Tinha arrojado uma oferenda ao fogo acompanhada de umas orações, comeu-se o coelho ao meio cozinhar e depois lhe tinha dado uma patada às sobras em direção para ela.

«Sirva-te», havia-lhe dito.

O latido do cão se aproximava por momentos. O ruído de um disparo reverberou através dos canhões.

Desi tratou de flexionar os dedos, mas tinha perdido toda a sensibilidade graças a aqueles nós infernais. Não demoraria muito em ficar paralisada.

Ouviu-se outro disparo e ao Desi deu um tombo o estômago.

Comprovou as ataduras. Os nós estavam dispostos em um complicado matagal. Tinha as mãos sujeitas ao redor dos quadris, mas também estavam conectadas aos nós dos pés e o pescoço. Qualquer tento de incorporar-se resultava em um estreitamento do nó que lhe apertava a garganta. Mas a pressão não diminuía embora voltasse a sentar-se, pois o nó já estava bastante apertado. Jack tinha sorrido orgulhoso de sua arma letal.

Antes de ir lhe tinha sugerido que escolhesse essa saída antes que esperar sua volta e Desi sabia que lhe trazia sem cuidado se morria de uma forma ou outra.

Aquele homem era preparado, mas não era perfeito e ela tinha empregado esse tempo procurando seu ponto débil. Atirou dos nós, sem deixar de sujeitar a corda que os apertava e o sistema cedeu um pouco. Se Jack não tivesse sido tão grosseiro para urinar-se em cima do jantar, teria perdido uma oportunidade de escapar, mas não tinha sido assim, e tudo o que necessitava nesse momento era uma oportunidade.

Voltaram a ouvir-se disparos. Jack não chegaria logo. Pouco a pouco, Desi se levantou a saia. Teve que endireitar-se em um par de ocasiões e a corda se esticou ao redor de seu pescoço, deixando-a quase sem respiração.

Mas ela ignorou a dor e seguiu adiante. Estava muito perto de consegui-lo quando se deu conta de que necessitava mais espaço e nesse momento cessou o tiroteio.

A jovem apertou os músculos do pescoço, respirou fundo e atirou do tecido da saia por debaixo dos nós.

A pele de coelho lhe cravou no pescoço, asfixiando-a, e então tratou de tossir, mas o esforço só piorou a situação. Um líquido quente lhe correu pelo pescoço.

Desi tratou de não resistir e começou a respirar lentamente. Colocou as mãos entre as pernas, mas não foi capaz de tirá-las calcinhas.

Uma bala ricocheteou contra a entrada da cova e passou zumbindo justo por seu lado. Estava claro que acabaria morta se não o fazia.

Fechou os olhos, voltou a respirar fundo e relaxou os esfíncteres. Assim conseguiu umedecer a pele de coelho, mas ao manipulá-la comprovou que não se afrouxou o bastante. Desesperada, a jovem esteve a ponto de atirar a toalha e não foi capaz de reprimir um soluço. Então apertou as mãos contra o corpo para empapar o couro. O nó se estreitou.

Já não podia soltar a respiração nem voltar a inalar um pouco de ar. O couro cedeu e ela atirou com ambas as mãos, usando o sangue que emanava dos cortes para afrouxar as ataduras um pouco mais. Conseguiu soltá-las mãos e um grito de agonia ficou apanhado em sua garganta.

Foi então quando começou a ver faíscas. O couro lhe cortava a respiração e não podia soltar-se. Ao outro lado da cova, justo ao lado do fogo, viu um brilho metálico. A faca. Jack não o tinha levado.

Desi se arrastou até ele. Fincou-se de joelhos, agarrou-o com ambas as mãos e pôs o fio contra sua garganta. Uma linha de dor derramou mais umidade sobre seu maltratado pescoço.

Atirou para fora e o couro cedeu, cravando-se o em nuca.

A jovem rezou.

Ouviram-se mais disparos. Um murmúrio de vozes masculinas...

Tudo se voltou negro. Emitiu outro grito silencioso e empurrou uma última vez.

A faca saiu voando e o couro se partiu. Então caiu sobre os joelhos e apoiou as mãos no chão, cabisbaixa.

—OH, Deus. OH, Deus.

Necessitava a faca. Outra bala atravessou a cova com um assobio ensurdecedor. Desi se arrastou até a arma, dolorida. A saia lhe enredava ao redor das pernas e lhe impedia o movimento, mas ela não se deteve nem um instante.

Sussurrava um nome uma e outra vez...

«Caine, Caine...».

Apertou a faca até que os nódulos lhe puseram brancos e então olhou para as sombras que espreitavam ao fundo da cova.

Rapidamente cortou os nós que lhe atavam os pés e a cintura. Agarrou o corpo do coelho, um par de pedras e também o pau. Voltou para lugar onde Jack a tinha pacote e se tirou o vestido e o xale. Estendeu o vestido como se cansado e colocou a parte de acima sob a sombra de uma rocha. Colocou o cadáver por uma manga e as rochas pelo torso. Rompeu o pau em dois e colocou as partes à altura dos quadris e os ombros. Então envolveu o manequim no xale e retrocedeu. Não era perfeito, mas poderia enganar durante um segundo.

Umas sucessões de disparos rasgam o ar. Alguém se aproximava resmungando juramentos e o acento o delatava. Jack estava de volta.

Um instinto de sobrevivência se apoderou de Desi, agonizando seus sentidos. Podia ouvir o som dos passos sobre a colina, o roce do metal contra a pedra... Jack estava armado até os dentes e não ia demorar em chegar. Só ficavam uns segundos para pensar.

Correu até a boca da cova. Agarrou uma pesada pedra e se pegou à parede. Os passos se aproximavam.

Para ouvir o golpe da pistola contra a parede da cova, Desi abriu os olhos e então viu sua sombra; um sinistro fantasma pela parede. Depois lhe viu os pés, o corpo, e não demorou em sentir o fedor que o precedia. Passou por seu lado e apontou ao montão de roupa com a pistola.

Desi se deslizou por detrás com grande sigilo. Jack apertou o gatilho e o disparo retumbou por toda a cavidade.

Ela se tornou para trás e lhe deu na cabeça com a pedra. Jack se cambaleou e se agachou imediatamente. Um zumbido roçou o braço da jovem e ricocheteou contra a rocha que tinha detrás. O ruído dos disparos se desvaneceu; não assim o som de seu nome.

 

Desi se enxaguou as lágrimas e olhou para a parte de atrás da cova.

Caine.

Ele saiu de entre as sombras como um anjo vingador. Tinha a pistola na mão e se movia sem fazer o menor ruído. Um passo mais e entrou em um atoleiro de luz.

—Te aparte dele, Desi.

Ela deu um passo atrás. Caine seguiu adiante e lhe deu uma patada ao revólver do Jack. Então lhe deu a volta.

Desi conteve a respiração ao ver o rio de sangue que emanava da cabeça do foragido. Caine lhe tinha dado no coração.

Os gemidos do Desi atraíram a atenção do Caine. Ele a olhou de cima abaixo e reparou nas feridas do pescoço, as cordas que lhe penduravam da cintura, o sangue sobre seus punhos..

—Fique aí. —Lhe disse.

Deu dois passos mais e se situou à entrada da cova. Então fez três disparos e se deu a volta.

Desi se encolheu ao ver a frieza de seus olhos.

—Não te aproxime. —Disse a jovem, envergonhada.

Caine se deteve.

—James, Carl e Bryan estão mortos.

—Como?

—Dinamite.

—OH.

Caine apertou os punhos ao ver o sangue que lhe jorrava do pescoço.

O tinha prometido protegê-la, mas não tinha sido capaz.

—Fez-te mal, Desi?

Ela levantou o queixo.

—E o que se o fez?

—Se for assim quero voltar atrás no tempo e matá-lo de novo, muito lentamente.

—E eu? O que passa comigo?

—te vou levar a casa e a te atar à cama.

—Já estou cansada disso.

—Então te envolverei em lã virgem, mas não estou disposto a passar por isso outra vez.

—Foi para mim a quem esse monstro atou de pés e mãos para ver-me sofrer.

Caine fechou os olhos.

—Matou ao Boone.

—Não.

—Eu vi a faca.

—Faz falta mais que uma ferida no ombro para que Boone deixe de te buscar.

Ela sorriu.

—Disse-te que era especial.

—Sim. Assim é.

—Terá que recompensar o de alguma forma.

Caine deu outro passo adiante, mas ela levantou uma mão e o fez deter-se.

—Não.

—Por que?

—Estou suja.

—Jesus. Esquece essas tolices agora mesmo. Não importa o que tenha ocorrido. Não há uma mulher mais pura em toda esta terra.

Ela piscou e fez um gesto com a mão.

—Ele não me tocou dessa forma. —Disse e pôs os braços ao redor da cintura. As sombras de seus olhos o chamavam com desespero.

—E então que demônios faço aqui?

Caine falou tão alto que não pôde ouvir a resposta dela.

—Cheiro mal. —Repetiu ela com um fio de voz.

Caine deu outro passo e ela levantou a mão, lhe fugindo o olhar. A fria pedra da parede lhe roçou as costas e a fez estremecer-se.

—O que quer dizer? —perguntou-lhe ele.

—Atou-me de forma que não podia me incorporar sem morrer estrangulada.

—O famoso nó do Jack.

—Conhecia-o?

—Sim.

—Acredito que não lhe importava como ia morrer. Só queria me fazer sofrer.

—Assim é.

Desi se olhou os dedos dos pés.

—Mas eu não lhe dava essa satisfação.

—Essa é minha garota. Está-me esgotando a paciência, cigana. Preciso te abraçar assim se precisa me dizer algo antes, faz o de uma vez.

Desi se tocou a boneca.

—Tudo o que tenha feito para sobreviver estará bem feito. Não tem que preocupar-se. —Deu outro passo adiante e ela tratou de retroceder, mas deu contra a parede—. Foge se quiser, mas faz-o em direção a meus braços.

Ela sacudiu a cabeça e respirou fundo.

—As cordas eram feitas de pele de animal. Esse tipo de couro se estira com a umidade —ela fez uma pausa e procurou compreensão em seus olhos, mas ele não entendia nada—.Tubo que urinar sobre as cordas.

—O que?

—Foi a única forma.

Caine a olhou perplexo. Ele tinha tido que enterrar a três foragidos e a um ranger que tinham morrido à mãos desse desalmado. Entretanto, nenhum deles tinha conseguido desatar esses nós infernais.

Avançou para ela com grande rapidez largas.

—OH, não. —Disse ela, levantando a mão uma vez mais.

 

Agarrou-lhe a cabeça e a atraiu para se, beijando-a com desenfreio. Ela resistiu durante uns segundos, mas deixou de lutar quando lhe pôs a mão no traseiro e a elevou no ar.

Nunca voltaria a deixá-la escapar.

—Maldita seja, Desi. Quero-te.

 

«Um homem que se esforça por ser bom durante o dia se merece uma mulher indecente de noite...».

Em uma ocasião Caine lhe havia dito essas palavras, mas ela riu dele.

Ao entrar no celeiro, Desi compreendeu essa verdade. Um homem merecia uma mulher que se entregasse totalmente, que o amasse com paixão na cama... E da mesma forma essa mulher merecia um homem que a respeitasse e acreditasse maravilhosa, inteligente, formosa...

Assim a via Caine.

Desi afugentou ao Boone e fechou a porta do celeiro detrás de si. Então se apoiou contra a parede e tratou de acostumar-se à escuridão. Tirou-se a saia de debaixo dos pés. Sem roupa interior, a cintura ficava muito abaixo, mas ela não tinha reparado nisso quando lhe tinha ocorrido o plano. Conseguia-se chegar até o Caine sem fazer o ridículo, seria todo um milagre.

arrumou-se a saia e olhou ao redor. Raios de luz se filtravam através das pranchas da parede e iluminavam um sem-fim de bolinhas de pó.

A jovem se sobressaltou para ouvir um golpe seco sobre a madeira. E então ouviu a voz do Caine através das sombras; apenas um murmúrio apaziguador. Ela sacudiu a cabeça e caminhou para seu destino. Por muito teimoso que fora o cavalo, não tinha nenhuma oportunidade. Caine não era dos que se rendiam tão facilmente.

Os passos do Desi se fizeram mais curtos e lentos.

—Te vais ficar aí espiando, ou vais entrar? —perguntou ele de repente.

—Tenho eleição?

—Sempre a tiveste.

—Levará-te uma decepção se te disser que sou muito covarde para entrar aí?

Ouviu-o murmurar algo e lhe dar uma palmada ao cavalo no lombo antes de sair pela porta do estábulo.

Caine se recostou contra a parede e cruzou os tornozelos. O chapéu não a deixava lhe ver os olhos.

—Não se me diz que tem medo do cavalo.

Desi sorriu.

—Não te tenho medo a ti.

—Então vêem aqui e me demonstre isso   Ele olhou da cabeça aos pese parou um estante em Ela sacudiu a cabeça.

—Vêem você aqui.

Ele se tornou atrás o chapéu.

—Me obrigue.

Desi inclinou a cabeça e tentou reprimir o sorriso.

 

—Não me crie capaz?

Ele a olhou dos pés à cabeça e se deteve um momento em seus peitos.

—O que acredito é que me gastei uns cem perus contigo.

—Estraguem.

Ele arqueou a sobrancelha para ouvi-la usar sua frase favorita.

—E crie que isso tem alguma importância?

Ela sacudiu a cabeça.

—Absolutamente. —Disse, sentindo um comichão no ventre que se propagou até seus mamilos, fazendo-os endurecer.

Caine voltou a reparar em seus peitos e sorriu ao ver a resposta de seu corpo.

—Não me diga.

Desi se agarrou o pescoço da blusa.

—Se te disser.

Caine guardou silêncio e se limitou a observá-la enquanto se desabotoava os botões. Um, dois, três... Quando chegou ao quarto, o membro já lhe chegava até a metade da coxa e as calças lhe apertavam.

—vais ter que te esforçar um pouco mais.

Desi abriu o sexto botão e deslizou uma mão por dentro do decote.

—Estraguem. Caine Allen fica onde está.

Desi se abriu a blusa, descobrindo um espartilho de cor azul; o favorito de seu marido. Sem deixar de olhá-lo fixamente, Desi agitou os ombros e o fino material da blusa lhe deslizou sobre os braços.

—Só espero te convencer de algum jeito. —Disse, tocando-os peitos de forma sedutora.

—Não se trata disso.

—Ah, não?

—Não. —Disse ele, observando com atenção.

Desi deixou cair às mangas um pouco mais.

—Está jogando com fogo. —Disse ele.

—Sério?

Ele jogou o chapéu para diante e ficou erguido.

—É claro que sim.

—Só trato de chamar sua atenção. —Lhe disse, fingindo inocência.

Ele assentiu.

—Tem-na.

—Bem.

Ela se voltou e se tirou a blusa lentamente. A malha delicada se deslizou sobre sua pele com um sussurro sedutor. Assim que o objeto caiu ao chão, desabotoou-se a saia.

—Sabe que os outros estão a ponto de chegar? —perguntou-lhe Caine.

Ela assentiu.

—Acredito que não gosta que lhe vejam assim.

Ela o olhou por cima do ombro enquanto se despojava da saia e ele sorriu.

—Então suponho que você te ocupará de não lhes dar um espetáculo.

A saia caiu ao chão. Não levava nada exceto o espartilho, umas botas tornozelos e uns meias três - quartos atados com uma cinta rosa justo debaixo do joelho.

Caine resmungou um juramento, escuro, profundo, sexy... Um segundo depois estava detrás dela, empurrando-a para a parede do estábulo. O áspero algodão de sua braguilha aberta abrasava as nuas nádegas da jovem. Seu membro potente entre elas.

—Isto significa que posso ficar? —perguntou ela.

—A vida é dura.

—É um desafio.

—Merecia-te algo melhor.

—Se voltar a dizer isso vou dar um puxão de orelhas. Eu fui feita para ti.

Caine se se pôs a rir.

—Um puxão de orelhas?

Ela assentiu.

—E antes que se ponha a rir, deveria saber que Ti me ensinou a fazê-lo bem.

—De verdade. —Disse ele, fingindo tremer de medo.

—Só o farei se ficar teimoso.

—Eu nunca me ponho teimoso.

Caine deslizou uma mão pelas varinhas do espartilho.

—Quanto tempo temos?

—Você mesma o disse. Cinco minutos.

Capturou um mamilo turgente entre o polegar e o índice, desatando uma inundação de sensações com cada beliscão.

—Estraguem.

A jovem sentiu que algo se derretia em seu sob ventre e um rio de umidade empapou seu sexo nu. Caine começou a esfregá-la com os dedos, primeiro com delicadeza e depois com frenesi, lhe dando o que necessitava.

—Agora me diga a verdade. —Exigiu ele.

Desi apoiou a cabeça em seu ombro, e apertou os quadris contra sua mão.

—Esta manhã o celeiro é todo nosso. —Disse ela.

Ele se deteve um instante e pegou o torso à costas dela.

—Carinho, é uma mulher indecente.

—E você o que é?

O afundou os dedos entre as pétalas de sua flor mais íntima.

—Um homem muito afortunado.

—Caine...

—Aqui estou cigana.

Ela se inclinou sobre suas mãos, confiando em sua força.

—Faz-o bem.

—Não sabia que o estava fazendo mal. —Disse ele.

—Sabe a que me refiro.

—Talvez deveria te explicar um pouco, no caso de.

Desi demorou um momento em responder. Um beijo ardente no ombro lhe arrebatou a voz.

—Está jogando comigo.

—Estou-te dando prazer. —Respondo ele.

Ela apoiou as mãos contra a parede e empurrou contra seu membro ereto, esfregando-se acima e abaixo, derramando-se sobre ele.

—Necessito mais.

—Assim? —acariciou-lhe a entrada da vagina.

Ao Desi fraquejaram as pernas, mas ainda não era suficiente. A jovem sacudiu a cabeça.

—Deseja-me, Desi? —introduziu outro dedo.

Ela se mordeu o lábio e seu sexo floresceu.

—Sim. Claro que sim... Belisque-me o mamilo, Caine. Por favor.

Ele colocou um joelho entre suas coxas e lhe separou as pernas para acessar melhor ao centro de sua feminilidade. Então lhe roçou o mamilo com a ponta do dedo.

—Como?

—Duro. OH, Deus. Faz-o duro.

—Assim?

Ele fez o que lhe pedia e ela se retorceu em suas mãos. Uma estranha mescla de prazer e dor lhe atravessou as vísceras.

—Sim...

—te relaxe, neném.

Ela o tentou, mas não resultava fácil.

elevou-se sobre os dedos dos pés e quando voltou a apoiar as novelo, seu pênis ereto a esperava. Então vacilou um instante e ele começou a lhe sussurrar ao ouvido.

A jovem empurrou contra ele e engoliu a ponta de seu pênis.

—Termina. —Disse ele.

Aquela ordem instintiva lhe fez mover os quadris para trás, relaxando os músculos para acolher seu enorme membro.

—De novo.

—Me dê um momento —Desi empurrou com mais força e abrangeu um pouco mas—. OH, se!

—Agora.

Caine a investiu uma vez, duas vezes, três vezes... Desi apoiou bem os talões e se deixou levar. Quatro vezes... A quinta não chegou por detrás, mas sim por diante. Caine apertou sua flor secreta, desatando um caudal de suco entre suas coxas.

—Maldita seja, Desi, nos vamos queimar os dois.

Ela separou ainda mais as pernas e arqueou as costas, lhe oferecendo seus peitos e seu sexo nu.

—Outra vez, carinho?

—Sim.

—Me olhe.

Ela girou a cabeça à direita e se encontrou com seu imponente membro ao sair de seu próprio corpo.

—Me olhe. —insistiu Caine.

Saco a totalidade do pênis das vísceras dela, mas a cabeça palpitante lançou relâmpagos de paixão justos à entrada de sua vagina.

—Isso, Desi. Empurra para mim.

Uma vez mais a sujeitou com mãos de aço enquanto seu membro se abria caminho para o interior de sua abertura, e lhe introduziu um dedo no ânus. Ela se recostou contra a parede e um grito a sacudiu de atrás a diante, percorrendo o atalho com o dobro da penetração.

—Tranqüila garota. Relaxe-te e desfruta.

Ela sacudiu a cabeça.

—Claro que pode. Empurra para trás e te relaxe.

Ela procurou seu olhar e ele a deixou ver tudo o que havia nela. Desejo, satisfação... Amor.

—Sabe que sou teu. Pode me ter dentro de ti.

—Não posso. —Desi o desejava com todas suas forças, mas não estava segura de poder fazê-lo.

Caine começou a arremeter contra suas nádegas com violência, investindo-a com esse membro descomunal.

—Lhe vejam comigo, Desi.

Ela conteve a respiração ao senti-lo separar seus lábios mais íntimos, abrindo-a por completo.

Então se retorceu em seus braços e gritou seu nome ao tempo que seu sexo se contraía em sincronia com os poderosos empurrões de seu pênis, que entrava mais e mais dentro até convertê-los em um sozinho.

Já nada importava, exceto os laços que os uniam.

Desi escondeu o rosto e lhe cravou os dentes na boneca. Sua alma se abria de par em par com cada chicotada de prazer.

Quando os espasmos do êxtase remeteram, lhe deu um beijo na bochecha.

—Outra vez. —Sussurrou.

Ela sacudiu a cabeça, cansada.

Caine se sentou em uma caixa de cereais e a sentou em cima. Sob os quadris do Desi seu membro palpitava de desejo insatisfeito.

Ela fechou os olhos.

—Definitivamente sim. —Disse ele.

Desi lhe tocou o antebraço e tirou voz de onde não ficava nada.

—Não posso.

—Pode fazer o que quiser.

Ele ancorou os tornozelos sobre a panturrilha dela e pôs a mão sobre seu sexo inchado.

—E isto é o que quer.

Ela lutou um pouco, mas não demorou em sucumbir a seus caprichos e deixou que a levasse uma vez mais até o precipício do êxtase. Então lhe deu a volta e lhe rodeou o pescoço com os braços, enchendo o de beijos.

Desi se sentou escarranchado sobre ele e agarrou seu membro latente, mas não demorou em dar-se conta de que não chegava ao chão.

Caine esboçou um sorriso.

—Estira as pernas e sujeita lhe. —Disse isso ao tempo que a tirava das axilas e a levantava no ar.

Ela agarrou seus bíceps e o deixou colocar-se em posição.

—OH, Deus !—Exclamou a jovem.

Ele se tornou atrás.

—te ajoelhe sobre a caixa.

—Maldita seja, cigana. —A agarrou pela cabeça e lhe plantou um beijo ardente.

—Eu gosto de te sentir. —Sussurrou ela.

—Não tanto como eu gosto de te sentir a ti. Suave, úmida e quente. —Enfatizou cada um dos adjetivos com um golpe de quadris.

—Caine...

—Ninguém mais.

Ela não queria o ter fácil. Já era hora de fazer o entender.

—Caine?

—O que?

—Não só vim para jogar.

—Ah, não?

—Vim para que me fizesse o amor... Para que você me fizesse o amor.

Caine sorriu com doçura.

—A minha esposa não faço o amor.

—E o que é o que lhe faz?

—A minha esposa a amo. —Disse e a estreitou contra seu Isso peito é tudo o que posso te dar até o último de meus dias. Será suficiente?

Lhe rodeou o pescoço com os braços.

—Será meu para sempre?

—De quem se não?

—Meu para te amar e te respeitar na saúde e na enfermidade, para o bom e para o mau.

—Para te querer e te adorar... —sussurrou ele—. Até que a morte nos separe.

Fez-a inclinar a cabeça, em espera de um beijo.

—Quero-te, Desi Allen.

—E eu a ti—Sussurrou ela, a um milímetro de seus lábios.

Seus lábios se roçaram com a mais sutil das carícias.

—Quando disse o de obedecer falava a sério?

Fez-lhe cócegas no lábio superior e confessou.

—Tinha os dedos cruzados nessa parte.

Caine se se pôs a rir e sua alegria reverberou na boca do Desi, em seu coração...

—Essa é minha garota.

 

                        5 de abril de 1858

Querida Ari:

Não sei como começar esta carta, mas acima de tudo quero te dizer que me alegro de que esteja viva.

Neste último ano aconteceram muitas coisas. Não todas foram boas, mas algumas resultaram ser muito especiais. Não tenho palavras para descrevê-lo. Estou felizmente casada com um homem ao que papai jamais lhe teria dado o visto bom. Não tem dinheiro, nenhuma boa posição, mas é tudo com o que sempre sonhei quando nos sentávamos sob a macieira e fantasiávamos sobre o futuro. Um coração sem limites, um sentido da honra sem mácula e um grande amor. Irmana minha, nunca serei pobre. Ele provém da terra dos Oito do Inferno e se ainda vive no Texas quando as esta carta, saberá o que isso significa. Se não, te vai cair uma boa em cima. Os homens dos Oito do Inferno são um mundo à parte, uma estirpe de lenda. Mas não o diga se não quiser que se burlem de ti.

Meu marido se chama Caine Allen, e foi ele o que insistiu em que te escrevesse esta carta. Ele acredita na família e em minha intuição. Embora todos pensem que está morta, lhe basta com meu pressentimento, e me prometeu que te encontrar será a prioridade numero um dos Oito do Inferno. Às vezes é um pouco teimoso, mas não o faz por maldade.

Sinto não poder te apresentar ao homem que te entregará esta carta, mas é que tenho escrito sete cópias e todas estão em mãos de homens distintos: Tucker, Sam, Tracker, Shadow, Luke, Caden e Ace. Eles também são dos Oito do Inferno, como eu, seu futuro sobrinho ou sobrinha, e você mesma. Por isso te peço Ari, que confie neles porque todos me têm feito uma promessa que nunca romperiam.

Já vê. Prometeram-me que lhe trarão para casa, Ari. A seu lar, aos Oito do Inferno. Aqui não aconteceu nem reprove, nem tampouco julgamentos. Só há paz e ar fresco. depois do que passamos, sei que sonha como uma descrição do paraíso, irreal e utópico, mas te prometo que há forma de sair do túnel e eu te ajudar a encontrá-la.

Não confie em ninguém exceto neles, Ari, porque o advogado de nosso pai, Harold Amboy, é o que preparou o seqüestro, e tem a homens te buscando. Pretende controlar a fortuna de papai através de nós. Mas sim pode confiar nos homens dos Oito do Inferno. Absolutamente e sem reservas.

Estou chorando enquanto escrevo isto. Não posso imaginar o que aconteceste e tampouco esqueci a última vez que nos vimos. Após tenho pesadelos quase diariamente e penso que essa é sua realidade. Quão único sinto é impotência. Às vezes elevo a vista para ao céu noturno e me perguntou se estará vendo as mesmas estrelas, perguntou-me se estará bem, se será feliz... Mas sobre tudo me pergunto se correr perigo.

Lembra-te do jogo ao que estávamos acostumados a jogar na casa do verão quando as coisas não saíam bem? Então procurávamos margaridas, uníamos nossas mãos e começávamos a girar até que já nada importava. Quero voltar a verte, Ari. Busca as margaridas e excursão e excursão até que a risada afugente todo o sofrimento. Embora pareça uma loucura, posto que não sei quanto tempo lhes levará te encontrar, tenho que dizê-lo.

Date pressa, Ari. Plantei margaridas e estão te esperando.

 

                                                                                Sarah Mccarty  

 

                      

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