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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


REIVINDICADA PELO HIGHLANDER / Paula Quinn
REIVINDICADA PELO HIGHLANDER / Paula Quinn

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Enquanto fazia pesquisas para o livro LAIRD OF THE MIST – O lorde da Névoa, eu me apaixonei pelo Clã MacGregor. Sua firme determinação de superar provações e incontáveis tribulações durante uma proscrição de trezentos anos rendeu-lhes um lugar muito especial em meu coração. Então, quando tive a chance de escrever uma nova série com os filhos crescidos de Callum e Kate MacGregor, fiquei em êxtase.
A primeira de minha nova série de cinco livros, RAVISHED BY A HIGHLANDER — Reivindicada pelo Highlander, — é estrelada por Robert MacGregor, que você conheceu brevemente em A HIGHLANDER NEVER SURRENDERS — Um Highlander nunca se rende. Ele era um bebê então, e as coisas não mudaram. Ele ainda é um bebê, mas de uma maneira totalmente diferente!
Meu tipo favorito de herói é um trapaceiro que consegue levantar uma moça de seus pés com uma inclinação de seus lábios. Ou um bruto frio e carrancudo com um ponto fraco que ninguém vê além de sua mulher. Rob não era nenhum desses homens quando comecei a escrever sua história. Ele era mais. Eu não achava que poderia amar um personagem que eu criei, tanto quanto eu amava o seu pai, mas eu estava errado, e não tenho vergonha de dizer isso.
Rob não é descuidado com o coração das mulheres. Seu sorriso não é imprudente, mas um pouco estranho. É a única coisa que ele não pratica todos os dias de sua vida. Nascido para dar seguimento de seu pai como Laird e protetor de seu clã, Rob leva a vida e os deveres que acompanham seu direito de primogenitura a sério. Ele é inflexível em sua lealdade a seus parentes e implacável em suas crenças. Ele é um guerreiro confiante na habilidade de seu braço, mas não imprudente em sacar sua espada. No entanto, uma vez que é saca, a cabeça de alguém vai rolar. Sim, ele é alto e bonito, com cachos escuros e olhos da cor do pôr do sol em um lago azul de verão, mas sua beleza pode ser melhor vista em sua devoção a quem ele ama.
Ele é... exatamente o que uma mulher precisa em sua vida se uma frota holandesa inteira estiver atrás dela.
Vou contar um pouco sobre Davina Montgomery, a moça que não apenas suaviza o coração firme de Rob, mas também o reivindica com seus dedos delicados. Mas não vou contar muito, porque não quero revelar o segredo que afastou todos os que ela amava. Ela veio a mim cheia de tristeza, acorrentada pelo dever, e precisando de coisas muito básicas, mas sempre além de seu alcance: segurança e o amor de alguém que nunca a trairia ou a abandonaria ao perigo.
Vi Rob através dos olhos de Davina no momento em que ele a arrancou de sua abadia em chamas. Um herói: capaz, corajoso e muito quente.
Nós duas sabíamos que Rob era perfeito para ela e, pela primeira vez, vi esperança nos olhos de Davina e sua beleza pode ser melhor vista quando ela olha para ele.
Viaje de volta às Terras Altas da Escócia com Rob e Davina e descubra o que acontece quando o dever e o desejo colidem.

 

 

 

 

Capítulo Um

No alto da abadia de Saint Christopher, Davina Montgomery estava sozinha na torre do sino, envolta no silêncio de um mundo que ela não conhecia. A escuridão caíra horas atrás e no andar abaixo dela as irmãs dormiam em paz em suas camas, graças aos homens que haviam sido enviados para cá para protegê-las. Mas havia pouca paz para Davina. O vasto céu índigo que preenchia sua visão estava cheio de estrelas que pareciam próximas o suficiente ao ponto de as tocar se ela esticasse a mão. O que ela deseja? Seu olhar assombrado se deslizou para o sul em direção à Inglaterra e, com um desejo igualmente poderoso, em direção aos picos das montanhas iluminadas pela lua no Norte. Que vida ela escolheria se esta escolha fosse sua? Um mundo onde ela havia sido esquecida, ou um mundo onde ninguém a conhecia? Ela sorriu tristemente contra o vento que chicoteou suas vestes de lã para noviças. De que adianta refletir quando seu futuro já foi decretado? Ela sabia o que estava por vir. Não houve variações. Ou seja, se ela vivesse além do próximo ano. Ela desviou o olhar do lugar que nunca poderia ir e da pessoa que nunca poderia ser.

Ela ouviu a suave queda de passos atrás dela, mas não se virou. Ela sabia quem era.

— Pobre Edward. Imagino que seu coração deve ter falhado quando você não me encontrou na minha cama.

Quando ele ficou quieto, ela sentiu pena de provocá-lo sobre a seriedade de seu dever. O capitão Edward Asher havia sido enviado para cá para protegê-la há quatro anos, depois que o capitão Geoffries adoeceu e foi dispensado de seu comando. Edward se tornou mais do que seu guardião. Ele era seu amigo mais querido, alguém em quem podia confiar aqui dentro das grossas paredes que a protegiam dos planos de seus inimigos. Edward conhecia seus medos e aceitava seus defeitos.

— Eu sabia onde te encontrar, — ele finalmente disse, sua voz logo acima de um sussurro.

Ele sempre soube. Não que houvesse muitos lugares para procurar. Davina não tinha permissão para se aventurar do lado de fora dos portões da abadia, por isso vinha frequentemente à torre do sino para deixar seus pensamentos vagarem livremente.

— Minha dama

Ela se virou diante de sua voz suave, afastando seus sonhos e desejos por trás de um sorriso terno. Aqueles que ela guardava para si mesma e não compartilhava, nem mesmo com ele.

— Por favor, eu... — ele começou, encontrando o olhar dela e depois tropeçando no que ia dizer, como se o rosto que ele olhava todos os dias ainda o atingisse tão forte quanto na primeira vez que a vira. Ele estava apaixonado por ela e, embora nunca tivesse falado abertamente, não escondia como se sentia. Tudo estava lá em seus olhos, em seus atos, em sua devoção; e um profundo pesar que Davina suspeitava ter mais a ver com ela do que ele jamais teria a ousadia de admitir. Seu destino havia sido traçado para outro curso e ela nunca poderia ser dele. — Lady Montgomery, saia daqui, eu lhe peço. Não é bom ficar sozinha.

Ele se preocupava com ela e desejava que ele não o fizesse.

— Eu não estou sozinha, Edward, — ela o tranquilizou. Se sua vida continuasse como estava agora, ela encontraria uma maneira de ser feliz. Ela sempre achava. — Eu recebi muito.

— É verdade, — ele concordou, aproximando-se dela e depois se detendo, percebendo que ela sabia dos seus sentimentos. — Você foi ensinada a temer a Deus e amar seu rei. As irmãs te amam, assim como meus homens. Sempre será assim. Nós somos sua família. Mas não é suficiente. — Ele sabia que ela nunca admitiria, então disse isso por ela.

Tinha que ser o suficiente. Era mais seguro assim, enclausurada e longe daqueles que a machucariam se a descobrissem após o tempo determinado.

Chegou a hora.

Davina sabia que Edward faria qualquer coisa para salvá-la. Ele lhe dizia frequentemente, cada vez que a avisava de seu perigo. Diligentemente, ele a ensinou a não confiar em ninguém, nem mesmo naqueles que afirmavam amá-la. Suas lições frequentemente a deixavam um pouco desesperada, embora ela nunca tivesse dito isso a ele também.

— Gostaria que eu pudesse matar seus inimigos, — ele jurou para ela agora, — e seus medos junto com eles.

Ele pretendia confortá-la, mas, Deus do céu, ela não queria discutir o futuro em uma noite tão deslumbrante.

— Graças a você e a Deus, — disse ela, deixando a parede para ir até ele e lançando um sorriso brincalhão, — eu mesma posso matá-los.

— Eu concordo, — ele se rendeu, seu bom humor restaurado quando ela o alcançou. — Você aprendeu bem suas lições de defesa.

Ela descansou a mão no braço dele e deu um tapinha suave.

— Como eu poderia desapontá-lo quando você arriscou a consternação da abadessa para me ensinar?

Ele riu com ela, ambos confortáveis em sua familiaridade. Mas cedo demais ele ficou sério de novo.

— James deve ser coroado em menos de uma noite.

— Eu sei. — Davina assentiu e virou-se para a Inglaterra novamente. Ela se recusava a deixar que seus medos a controlassem. — Talvez, — ela disse com um pouco de desafio, provocando seu olhar triste, — deveríamos comparecer à coroação, Edward. Quem pensaria em me procurar em Westminster?

— Minha lady... — Ele a alcançou. — Nós não podemos. Você sabe

— Estou brincando, querido amigo. — Ela inclinou a cabeça para falar com ele por cima do ombro, escondendo cuidadosamente a luta que mais pesava sobre seu coração, uma luta que não tinha nada a ver com medo. — Realmente, Edward, devemos falar sobre isso?

— Sim, acho que deveríamos — respondeu ele sinceramente, depois prosseguiu rapidamente, antes que ela pudesse argumentar. — Perguntei à abadessa se podemos levá-la à abadia de Courlochcraig, em Ayr. Eu já enviei uma mensagem para...

— Absolutamente não, — ela o interrompeu. — Não vou sair de casa. Além disso, não temos motivos para acreditar que meus inimigos me conhecem.

— Só por um ano ou dois. Até termos certeza

— Não, — ela disse novamente, desta vez se virando para encará-lo completamente. — Edward, você gostaria que deixássemos as irmãs aqui sozinhas para enfrentar nossos inimigos, caso eles viessem me procurar? Que defesa elas teriam sem seus braços fortes e de seus homens de armas? Eles não vão deixar St. Christopher, nem eu.

Ele suspirou e balançou a cabeça para ela.

— Não posso argumentar quando você se mostra mais corajosa do que eu. Rezo para não viver para me arrepender. Muito bem, então. — As linhas de seu belo rosto relaxaram. — Farei o que você pede. Por enquanto — acrescentou ele, oferecendo-lhe o braço, — permita-me acompanhá-la ao seu quarto. A hora é tarde e a Reverenda Madre não lhe mostrará piedade quando o galo cantar.

Davina apoiou uma mão na dobra do braço e afastou a preocupação com a outra.

— Eu não me importo de acordar com o sol.

— Não sei por que, — respondeu ele, sua voz tão leve agora quanto a dela quando a levou para fora do campanário, — quando você pode simplesmente voltar a dormir no Salão de Estudos.

— Apenas uma única vez eu realmente dormi ali, — ela se defendeu, batendo no braço dele suavemente. — E você não tem coisas mais importantes a fazer com o seu dia do que me seguir por aí?

— Três vezes, — ele corrigiu, ignorando a carranca que sabia ser falsa. — Uma vez, você até roncou.

Os olhos dela, enquanto desciam as escadas, eram tão arregalados quanto a boca.

— Eu nunca ronquei na minha vida!

— Economize essa desculpa de pelo menos uma vez, então?

Ela parecia querer negar o ataque dele novamente, mas mordeu o lábio.

— E uma vez durante o recital de piano da irmã Bernadette. Eu tive penitência por uma semana. Você se lembra?

— Como eu poderia esquecer? — Ele riu. — Meus homens não cumpriram suas tarefas o tempo todo, preferindo ouvir à sua porta enquanto você falava em voz alta com Deus sobre tudo, menos sua transgressão.

— Deus já sabia por que eu adormeci, — explicou ela, sorrindo para dele. — Não queria falar mal do talento da irmã Bernadette, ou da falta dele, mesmo em minha própria defesa.

Sua risada desapareceu, deixando apenas um sorriso que parecia doloroso quando a caminhada terminou e eles chegaram na porta dela. Quando ele estendeu a mão para pegar a dela, Davina fez o possível para não deixar a surpresa em seus olhos dissuadi-lo de tocá-la.

— Perdoe minha ousadia, mas há algo que devo lhe dizer. Algo que eu deveria ter lhe contado há muito tempo.

— Claro, Edward, — ela disse suavemente, mantendo a mão na dele. — Você sabe que sempre pode falar livremente comigo.

— Primeiro, gostaria que você soubesse que passou a significar...

— Capitão! — Davina se inclinou sobre a escada para ver Harry Barns, o segundo em comando de Edward, passar pelas portas da abadia. — Capitão! — Harry gritou para eles, o rosto pálido e a respiração pesada por correr. — Eles estão vindo!

Por um momento paralisante, Davina duvidou de seus ouvidos. Ela foi avisada desse dia há quatro anos, mas sempre rezou para que isso não acontecesse.

— Edward, — ela perguntou à beira do pânico, — como eles nos encontraram tão rápido após a morte do rei Charles?

Ele fechou os olhos com força e balançou a cabeça para frente e para trás como se também se recusasse a acreditar no que estava ouvindo. Mas não havia tempo para dúvidas. Girando nos calcanhares, ele agarrou o braço dela e a arrastou para o quarto.

— Fique aqui! Tranque a sua porta!

— Que bem isso nos faz? — Ela saltou para a aljava e arco e voltou para a porta, e Edward a bloqueou. — Por favor, querido amigo. Eu não quero me esconder sozinha no meu quarto. Dispararei da torre do sino até que não seja mais seguro fazê-lo.

— Capitão! — Barns subiram as escadas correndo, saltando de três degraus de cada vez. — Nós precisamos nos preparar. Agora!

— Edward — A voz de Davina o puxou de volta para ela — você me treinou para isso. Precisamos de todos os braços disponíveis. Você não vai me impedir de lutar pela minha casa.

— As ordens, capitão, por favor!

Davina olhou para trás uma vez enquanto corria em direção aos degraus estreitos que levavam de volta à torre.

— Harry! — Ela ouviu Edward gritar atrás dela. — Prepare as cubas e ferva o alcatrão. Quero que todo homem esteja alerta e pronto ao meu comando. E Harry...

— Capitão?

— Acorde as irmãs e peça para elas orarem.

Nas primeiras horas da manhã que se passaram após o massacre em St. Christopher, os homens de Edward conseguiram matar metade do exército inimigo. Mas as perdas da abadia foram maiores. Bem maiores.

Sozinha na torre do sino, Davina olhou para os corpos espalhados pelo grande pátio. O fedor de piche queimando e carne queimada picou suas narinas e ardeu seus olhos enquanto ela os descolocava além dos portões para o prado, onde homens a cavalo ainda atacavam um ao outro como se seu ódio nunca pudesse ser satisfeito. Mas não havia ódio. Eles lutaram por causa dela, embora nenhum deles a conhecesse. Mas ela os conhecia. Seus sonhos foram atormentados por seus assassinos sem rosto desde o dia em que Edward lhe contou pela primeira vez.

Lágrimas provocadas pelo ar pungente se deslizaram por suas bochechas, caindo muito abaixo de onde seus amigos... sua família, estavam mortos ou morrendo. Arrastando a palma da mão sobre os olhos, ela procurou nos corpos por Edward. Ele voltou por ela uma hora depois do início da luta e a ordenou que fosse para a capela com as irmãs. Quando ela se recusou, ele a jogou por cima do ombro como um saco de grãos e a levou para lá. Mas ela não permaneceu escondida. Ela não podia, então ela voltou para a torre e com seu arco enviou mais de uma dúzia de seus inimigos para encontrar o Criador. Mas havia muitos ou talvez Deus não quisesse o restante, pois matavam os homens com quem ela comia e ria, diante de seus olhos.

Ela temia esse dia por tanto tempo que se tornara uma parte dela. Ela pensou que tinha se preparado. Pelo menos para sua própria morte. Mas não para a da abadessa. Não para a de Edward. Como alguém poderia se preparar para perder aqueles a quem amava?

O desespero a devastou e por um momento ela pensou em passar por cima do muro. Se ela estivesse morta, eles parariam. Mas ela orou pedindo coragem muitas vezes para não decepcionar Deus ou Edward agora. Alcançando a aljava nas costas, ela pegou uma flecha, levantou o arco e fechou um olho para mirar.

Abaixo dela e fora de sua linha de visão, um soldado vestido com roupas militares não pertencentes à Inglaterra rastejava ao longo da parede da capela com um machado no punho e uma espada no outro.

 

Capítulo Dois

Uma brisa fria, úmida pela chuva caída, levantou um cacho negro da testa de Robert MacGregor. Olhando para cima, ele viu as nuvens de estanho como se desafiasse o céu a se abrir novamente. Era ruim o suficiente que ele e sua família tiveram que deixar Camlochlin durante uma tempestade que prometia rasgar o velho telhado de Tamas MacKinnon fora de sua cabana. A longa jornada através da Escócia na lama não facilitou a viagem.

Rob ainda não tinha certeza se concordava com o raciocínio de seu pai em deixar o clã para comparecer à coroação de James de York. O que as leis feitas por nobres imponentes, usando perucas com pó e colarinhos com babados, tinha a ver com os MacGregors? Apenas um punhado deles conhecia os MacGregors de Skye, e nenhum deles ousaria se aventurar nas montanhas para fazer cumprir suas leis, mesmo que soubessem onde estavam. Que lealdade seu clã devia a um rei inglês?

— Rebelião nem sempre é necessária, — as palavras de seu pai invadiram seus pensamentos perturbados. — Proteger o clã deve sempre vir primeiro.

Como primogênito e herdeiro aparente do título de Callum MacGregor, como Laird do Clã dos MacGregors de Skye, Rob tinha sido ensinado a entender as maneiras de pensar de seu pai. Ele sabia que mostrar civilmente seu apoio ao novo rei era a coisa mais inteligente a se fazer. Por mais que ele não se importasse com a política tão ao Sul, havia muitos no Parlamento que acreditavam que os modos de vida das Highlands, com um Laird com autoridade exclusiva sobre seu clã, estavam desatualizados e deveriam ser abolidos. Se beijar o traseiro do rei mantivesse seu clã seguro e intacto, Rob o faria.

Ele não se importava se seu pai era Laird ou se ele seria. Ele assumiria todas as responsabilidades como líder e muito mais. Ele lavrava a terra, pastoreava e tosquiava as ovelhas, reparava telhados em queda e, mais do que nunca, negava seu prazer físico pelo trabalho duro. Ele tomou decisões pelo bem-estar de seus parentes ao lado de seu pai e aprimorou diligentemente suas habilidades com a espada por sua própria escolha, sabendo que qualquer fraqueza de corpo ou vontade poderia destruir o que lhe pertencia. E estava em seu sangue por gerações nunca permitir que isso acontecesse.

Mas ainda o irritava que ele tivesse que deixar seu clã para beijar os traseiros de homens que provavelmente se esquivariam de qualquer campo de batalha.

— Diga-me novamente por que você insistiu em seguir esse caminho, Will? — Rob perguntou a seu primo, e puxou as rédeas para conduzir sua montaria para longe de uma vala enlameada no caminho. Seu grupo deixou a estrada principal pouco antes da fronteira inglesa. O desvio foi ideia de Will, e Rob estava começando a questionar por que o ouvira ou por que concordara em deixar que mais alguém os acompanhasse.

— Abadia de St. Christopher — Will gritou por cima do ombro. — Eu disse a você, a irmã Margaret Mary mora lá.

— Quem diabos é a irmã Margaret Mary? —Angus MacGregor rosnou, esfregando as costas dele. — E por que uma filha de Deus tem interesse em um coração negro como o seu?

— Ela foi minha babá por seis anos após a morte de minha mãe.

— Acho que ouvi Tristan falar sobre ela, — Colin, o irmão mais novo de Rob, falou pensativo, conseguindo dirigir sua montaria em torno de uma ladeira musgosa sem incidentes. Rob ficou dividido entre agradecer por seu irmão Tristan não ter vindo com eles principalmente por causa das irmãs de St. Christopher e ficar com raiva de si mesmo por deixar Colin ter vindo. Claramente, Will não tinha noção de onde diabos estava a abadia. Ele os estava conduzindo mais fundo nas colinas. Um bando de bandidos poderia atacá-los de qualquer direção invisível. Não que Rob se preocupasse demais com uma briga ou com a capacidade de Colin sair ileso. Ele apenas preferia que, se houvesse algum tipo de conflito, seu irmão mais novo não estivesse lá.

— As irmãs da Inglaterra rezam tanto quanto as da Escócia?

— Ainda não estamos na Inglaterra — murmurou Rob, impaciente, olhando para Finlay Grant por cima do ombro. O rapaz pareceu abalado por um momento, como se tivesse acabado de provar que estava em falta aos olhos de seu líder. Inferno, o que ele faria com Finn se eles fossem atacados? O rapaz podia lutar muito bem, mas ele sempre demonstrou mais interesse em tocar flauta e recitar histórias de heróis do que em espadas. Todo Laird tinha um bardo, e Finn estava determinado a se tornar um. Por mais irritante que fosse às vezes ter o rapaz sempre sob seus calcanhares, observando o que ele fazia e o que dizia no caso de alguma ação heroica que ele realizasse precisar ser recontada, Rob gostava do filho mais novo de Graham e Claire Grant. Ele era um rapaz respeitoso, de natureza curiosa, e, como não era a fonte da frustração de Rob, ele não deveria suportar o peso disso. — E nae1, — Rob disse a ele em um tom mais suave, — freiras escoceses oram mais.

— Eu não me importo se os joelhos dela estiverem gastos através de suas vestes, — Angus resmungou, pegando uma bolsa de cerveja escondida em seu plaid. — Se ela trouxe Will e Tristan a este mundo, eu não tenho nenhum desejo de conhecê-la.

— Silêncio, Angus. — Rob levantou a mão para silenciar o guerreiro mais velho. — Você ouviu isso?

Seus amigos ficaram calados por um momento, ouvindo.

— Parece o choque de espadas, — disse Angus, sua mão caindo imediatamente ao punho da sua. — E odor de carne queimando.

— A Abadia! — O rosto de Will ficou pálido quando ele girou sua montaria para a esquerda e enfiou os calcanhares nos flancos do cavalo. Ele desapareceu no topo de uma pequena elevação antes que Rob pudesse detê-lo.

Jurando que seu primo e amigo algum dia iria se matar e a todos ao seu redor correu para o desconhecido, Rob correu para segui-lo, alertando os rapazes mais novos para ficarem para trás.

Rob e Angus pararam logo depois da crista da colina, onde Will também parou o cavalo e olhava com choque e horror a cena à sua frente. Quando Colin e Finn os alcançaram, Rob xingou violentamente seu irmão por desobedecê-lo, mas seu olhar já estava sendo desviado para o pequeno convento aninhado nas dobras das colinas baixas.

A abadia estava sob ataque. Pelo jeito, o cerco já durava mais de algumas horas. Centenas de cadáveres estava espalhados pelo chão. Apenas um punhado do que parecia ter sido dois exércitos separados permaneceu enquanto uma linha de fumaça negra subia no ar, o resíduo de alcatrão em chamas. A asa esquerda da estrutura estava completamente envolta em chamas.

— Querido Deus, quem faria isso?

Will não se deu ao trabalho de responder à pergunta assombrada de Finn, mas soltou seu arco e arrancou uma flecha da aljava.

— Will, Nae! — Rob parou. — Não é nossa luta. Não vou trazer quem fez isso direto para o nosso clã! Não para aqueles que já...

O restante de suas palavras foi interrompido por uma forte dor no ombro esquerdo e o apito de duas flechas de Will cortando o ar no instante seguinte. Atordoado, Rob olhou para o fino fio de madeira que se projetava em sua carne. Ele foi atingido! Filho da... Lutando contra uma onda de náusea, ele fechou os dedos em torno da flecha e quebrou a ponta emplumada do seu plaid. Colocando seu olhar assassino na escaramuça, ele agarrou a flecha quebrada em uma mão e arrastou a claymore de sua bainha com a outra.

— Agora, é a nossa luta. Colin — ele rosnou antes de avançar a montaria. — Você e Finn se protegem ou deixarei os dois sem sentar por uma quinzena.

Finn assentiu obedientemente, mas Colin ficou com raiva.

— Rob, eu posso lutar. Eu quero lutar.

— Hoje não — alertou Rob, com a mandíbula rígida da fúria prestes a ser desencadeada. Dessa vez, Colin obedeceu.

Rob havia lutado em ataques antes. Ele até matou alguns Fergussons, mas essa era o tipo de luta que fluía em suas veias, que ele havia sido treinado por seu pai. Proteja a si mesmo e àqueles sob seus cuidados a qualquer custo. Ele não se importava com quem atirou a fecha nele. Todos iam pagar por isso. Atingindo o ponto da luta, ele baixou a espada com uma satisfação selvagem, matando rapidamente, enquanto Will e Angus lutavam a alguns metros de distância. Ele estava prestes a atacar novamente quando seu alvo gritou com ele.

— Espere, escocês! Encontre-a pela misericórdia de Deus! — Por um instante, o homem parou na sela, olhando nos olhos de Rob e depois na espada ensanguentada acima de sua cabeça. Ele falou rapidamente, reunindo a força de vontade que a tempo o havia deixado. — Sou o capitão Edward Asher, do exército real do rei. Fomos atacados pouco antes do amanhecer. Eu não sou seu inimigo.

Rob rapidamente olhou para o homem. Seus cabelos escuros estavam molhados de sangue e suor que escorriam sobre sua testa, criando estrias em seu rosto sujo. Sua roupa também estava ensanguentada, mas pertencente ao regimento do rei.

Sua fúria por levar um tiro de flecha ainda inabalável, Rob começou a virar sua montaria para derrubar outra pessoa.

— Espere. — O capitão pegou o braço de Rob para detê-lo. — Você é um Highlander. Por que você está aqui? Alguém te enviou?

— Você faz muitas perguntas em vez de agradecer que estou aqui.

— Você tem meus agradecimentos por sua ajuda.

Rob assentiu.

— Atrás de você.

O capitão Asher girou em seu cavalo e mal conseguiu evitar um golpe na cabeça que o mataria.

Parando por um momento para garantir que nenhum outro soldado inimigo estivesse a uma distância de combate, Rob observou com um olhar de pouco interesse enquanto o capitão derrubava seu atacante no chão.

— Eu te devo minha vida, — disse Asher, ofegante.

— Certo. Nós terminamos aqui? Ou há mais por vir.

Os ombros de Asher caíram pesadamente, como se ele tivesse o suficiente e conhecesse seu destino. Ele não se incomodou em olhar para trás, mas limpou a sobrancelha úmida.

— Seu nome por favor.

Inferno, o homem estava meio louco. Era a perda de sangue, Rob decidiu, e com pena dele, deu-lhe o que ele pediu.

— Robert MacGregor, se eu morrer hoje, você deve salvar Lady Montgomery. — Antes que Rob pudesse consentir ou recusar, o capitão avançou. — Por favor, eu imploro, salve-a. Ela ainda vive, eu sei. — Seus olhos foram para flecha quebrada na mão de Rob.

Seguindo seu olhar, Rob suspeitou quem atirou nele. Sua mandíbula apertou, assim como seus dedos.

— Você vive. Você a salva.

— MacGregor! — Gritou o capitão Asher, enquanto Rob se afastava. — Eles queimaram a capela. Todas as irmãs estão mortas. Elas eram tudo o que ela tinha. Ela fez apenas o que você ou eu teríamos feito. Salve-a antes que as chamas a reivindiquem. É o que eles querem.

Rob olhou para a abadia em chamas. Inferno. Ele deveria encontrar Will e mandá-lo nas chamas para encontrar a moça, já que foi ideia dele vir aqui. Uma dama. Inferno maldito, ele não poderia deixar uma moça nas chamas, mesmo que ela tivesse tentado matá-lo. Com a espada erguida, ele derrubou outro cavaleiro que vinha na sua direção e não olhou para trás para ver o que havia acontecido com Asher. Ele examinou o pátio enfumaçado em busca de qualquer sinal de uma mulher e murmurou uma série de juramentos quando não a encontrou. Com um olhar de ressentimento e determinação sombrio no rosto, ele matou mais dois soldados, e montou seu cavalo bufando direto para a entrada ardente. Só havia uma maneira de entrar e não havia tempo para hesitar. Empurrando com força as rédeas, ele enfiou os calcanhares nos flancos do cavalo e levantou o garanhão sobre as patas traseiras. As portas carbonizadas se abriram e racharam sob o peso dos cascos da frente de sua montaria. A fumaça espessa ardeu em seus pulmões e tornou quase impossível ver. Ele gritou:

— Milady! — Seu garanhão relinchou e resistiu às chamas rugindo ao redor deles, mas a mão de Rob era forte e a fera foi forçada a continuar. Ele chamou de novo e estava prestes a desistir e a procurar entre os mortos quando a viu. Para sua surpresa, a moça estava tentando desesperadamente apagar as chamas com um cobertor.

— É tarde demais, moça. Dê-me sua mão!

Ao som da voz dele, ela se virou, trazendo o cobertor para o rosto para impedir que a fumaça a sufocasse.

— Edward? — Ela tossiu, tentando ver através da névoa sufocante. — Edward, eu... — O cobertor escorregou de seus dedos e suas pernas cederam debaixo dela.

Rob avançou, inclinando-se na sela. Antes que o corpo dela atingisse o chão, ele a arrancou das cinzas.

Estou morrendo. Obrigado pai. Davina esperava que fosse menos doloroso do que isso. Não era a fumaça que chamuscava seus pulmões, ou a dor de sua cabeça, mas a lembrança dos gritos das irmãs quando se queimaram na capela que a fez desejar o céu.

— Respire agora, moça. — A voz de um homem, forte em comando era o suficiente para ser de Edward, mas infinitamente mais profunda, a puxou de volta.

Ela tossiu, arrastando apenas um pouco de ar mais fresco para os pulmões. O fogo atravessou seu peito. Fogo. Ela não estava morrendo. Ela abriu os olhos para o borrão de ervas enegrecidas e cascos grossos rasgando a terra debaixo dela. Tossiu novamente e uma mão, grande o suficiente para cobrir a parte de trás da sua cabeça, afastou os cabelos da sua bochecha. Ela estava montada em um cavalo, arremessada no colo de um homem para ser exata. Eles a procuraram exatamente como Edward temia que fosse, e agora eles a tinham encontrado. Ela queria gritar, mas sua garganta estava ferida. Ela teria pulado dos dois animais, mas o braço que a segurava pendurada nos flancos do cavalo era duro como granito. Um corpo passou por sua visão no chão, trazendo de volta o horror completo do que aconteceu neste dia.

Eles estavam mortos.

Não.

— Não! — O terror e a fúria a agarraram e ela se levantou das coxas de seu sequestrador. A visão acima e além do ombro ensanguentado a acalmou um instante. A Abadia de St. Christopher... sua casa, estava queimando até o chão. Todos se foram. — Não, Deus, por favor... não minha família, — ela choramingou. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e ela temia que elas nunca parassem. Elas não pararam, mesmo quando ela se lembrou de quem a segurava.

— Monstro, — ela gritou, batendo nele com socos no peito, lutando contra sua força na loucura de sua dor. — Desgraçado! O que você fez?

— Lady. — Sua voz era tão suave que ela caiu contra ele, precisando de misericórdia. — Fique quieta — ele disse suavemente contra a orelha dela enquanto ela segurava o braço dele, encarando as paredes em ruínas de sua casa. — Você está segura agora.

— Eu vou te matar, — ela prometeu tão suavemente, deixando para trás os corpos daqueles que amava.

— Você quase já o fez, mas não fui eu quem fez essas coisas repugnantes.

Não foi a declaração dele, mas a profunda corrente de simpatia que quase a convenceu a acreditar nele. Ela empurrou o ombro dele e o encarou. Ele não era um deles. Seu sotaque era espesso e sua aparência muito mais primitiva do que qualquer homem que ela já vira, inglês ou não. Um Highlander. Ela não estava esperando um desses. A abadessa havia lhe contado sobre os homens do Norte em suas lições e como eles usavam cobertores envoltos em torno de seus corpos, em vez de casacos curtos e calças. Os olhos de Davina mergulharam na grande manta com cinto que cobria um de seus ombros e a camisa manchada de sangue embaixo. Este era grande. Seus cabelos escuros eram mais longos do que ela já vira em um homem e estavam presos afastando-os de seu rosto, exceto por uma mecha perdida, solta pelos olhos movendo-se pelo vento que soprava. Ele cheirava a terra e couro... e fumaça.

— Quem é você então? — Ela perguntou através dos lábios trêmulos. — O que você está fazendo aqui? — Ela esperou enquanto ele a encarava como se suas perguntas simples confundissem seus pensamentos. Harry Barns disse a ela que os Highlanders eram de origem grosseira, mais interessados em batalhas do que em livros. Este parecia que poderia derrubar todo o regimento de Edward.

— Edward, — ela sussurrou, e uma nova onda de tristeza a inundou. — Deixe-me ir! — Ela lutou novamente. — Eu preciso encontrá-lo. Por favor — ela implorou quando seu captor a puxou para mais perto para segurá-la. — Você não entende. Ele pensará que eles me levaram.

— Quem ele acha que a levou? — O Highlander se inclinou apenas o suficiente para olhar em seus olhos. — Quem fez isso, moça?

Ela estava pensando em Edward, não em si mesma ou em sua segurança, quando contou a ele.

— Eram os homens do duque, ou os do conde. Não tenho certeza. Agora, por favor, eu imploro, me leve de volta. Preciso encontrar o capitão Asher.

Foram os olhos do estrangeiro que lhe disseram o que ele não queria dizer. Lapis lazúli2 que perderam seu brilho quando ele finalmente desviou o olhar. Edward estava morto. Lágrimas encheram seus olhos, mas ela não disse nada quando se virou nos braços dele, estava longe de tudo que sabia, de todos em quem confiava.

Cavalgaram em silêncio, juntaram-se enquanto fugiam entre dois Highlanders montados e depois mais dois esperando no cume que dava para a abadia. O homem que cavalgava com ela falou com os outros, mas Davina não ouviu o que ele disse. Quando um deles perguntou por que a Abadia foi atacada, ela disse que não sabia e depois não disse mais nada. Ela estava sozinha. Quem quer que fosse este homem atrás dela, fosse ele enviado por seus inimigos ou por Deus para salvá-la, não importava. Ela estava sozinha e não tinha para onde ir além dele. Por enquanto.

 

Capítulo Três

O ombro de Rob doía. Por duas vezes, Angus insistiu em parar para poder remover a ponta da flecha que ainda se projetava nas costas de Rob, mas era perigoso demais acampar tão perto da fronteira. Alguém teria muito trabalho se tentasse matar a moça em seus braços. Era por ela que eles procuravam. As palavras do capitão Asher soaram como alarmes em seus pensamentos. Salve-a antes que as chamas a reivindiquem. É o que eles querem. Eles. O conde ou o duque. Quais dos dois e por quê? Por que alguém a quereria morta? Quem era ela? O capitão a chamara de Lady Montgomery. Ela era a filha de um nobre visitando a Abadia com sua família? Se sim, por que diabos ela estava vestida com roupas de noviças? Quem atacou a abadia queria que ela queimasse. Ela acreditava ser uma bruxa? Rob não duvidou que ela pudesse ser, pois sua beleza quase perfurou sua alma quando o olhou. Ela tinha uma aparência quase felina; com olhos grandes e largos, alongados, tão grandes e azuis quanto os céus insondáveis atrás dela. Suas sobrancelhas claras brilharam em direção a suas orelhas um pouco grandes demais. A silhueta perfeita de seu nariz terminava em uma pequena aba manchada de fuligem. Seus lábios eram carnudos e naturalmente tão atraentes quanto o inferno.

Rob ouvira histórias de fadas de seus vizinhos, os MacLeods. Seres mágicos tão bonitos, que com um olhar poderia deixar cair o coração do guerreiro mais resoluto. Como se acrescentasse à aparência sobrenatural de Lady Montgomery, seus cabelos, embora riscados de fuligem cinza, brilhavam sob o sol em tons de ouro pálido e prata cintilante. Ele inclinou a cabeça para ela para inalar seu perfume. Ela cheirava a fumaça e fuligem, mas então, ele imaginou que todos sentiam esse cheiro.

Não era difícil entender por que um capitão inglês imploraria por sua segurança. Mas o que os homens do Exército Real estavam fazendo em St. Christopher? Uma dúzia de perguntas incomodava os pensamentos de Rob. A moça não ofereceu respostas, embora ele estivesse certo de que ela poderia fornecê-las. Com exceção de um suspiro de vez em quando, na velocidade de seu cavalo, ela não pronunciara uma única palavra há mais de uma hora. Ela mal se moveu contra ele, seu corpo suave se pressionando contra seu peito, deixando-o mais desconfortável do que quando ela lutou com ele. Era o choque, ele imaginava. Ele podia sentir a tristeza em seu respirar pesado e teve que lutar para impedir que seu coração doesse por ela. Se ele perdesse todos que amava, enlouqueceria de dor. Ela parecia pequena e vulnerável na dobra do braço dele e a necessidade de protegê-la queimava em suas veias, mais poderosa do que qualquer coisa que ele já sentira antes.

Inferno, não era exatamente o que ele precisava, outra responsabilidade em sua vida. Pelo menos, seria até que ele a entregasse ao novo rei da Inglaterra. Uma parte dele já não queria desistir dela, mas era óbvio que quem a queria morta tinha poder o suficiente para combater os soldados do rei. A segurança do clã de Rob vinha primeiro. Se ela pertencia ao rei, deixaria que o rei a protegesse.

Movendo-se na sela, Rob conteve um leve gemido através de uma mandíbula firmemente cerrada. Seu braço estava latejando e ficando mais rígido a cada respiração. Seria inútil se eles fossem atacados.

— Você descobriu quem atirou em você, Rob? — A pergunta foi feita por Finlay Grant. Rob deveria saber que o rapaz estava chegando perto o suficiente para ver seu desconforto.

— Sim, — foi tudo o que ele respondeu.

— Seu pai vai ter nossas cabeças quando souber da ferida, — murmurou Angus em voz alta quando finalmente diminuíram a velocidade da montaria para um ritmo mais lento.

Will aceitou o pequeno odre que Angus estendeu para ele e lançou ao velho guerreiro um sorriso desafiador.

— Me dá muito humor saber que você está tão assustado com o Laird quanto as mulheres da vila. — Ignorando os protestos fervorosos de Angus, ele deu um gole forte no uísque potente, estremeceu na sela e passou a bolsa para Rob. — É veneno.

Balançando a cabeça, Rob recusou a oferta.

— Meu pai entenderá por que lutei. A ferida não é tão ruim e estará quase curada quando chegarmos a Westminster

A moça girou tão rapidamente que quase escorregou do colo dele.

— Você está me levando para Westminster?

Inferno, o efeito dela sobre ele era pior do que qualquer bebida letal que Angus carregava nas dobras de seu plaid. Rob queria olhá-la novamente desde que saíam da abadia, para que seu olhar permanecesse sobre o coral claro e bonito de seus lábios, para se dedicar algum tempo a estudar a simetria perfeita de seu semblante, a pureza de sua tez leitosa. Mas foi o medo e o desespero em seus olhos quando ela olhou para ele que tocou mais forte em seu coração. Maldição, o que aconteceu com ele?

— Para a coroação do duque de York, sim — ele disse, cortando o olhar. Ele se recusava a permitir que uma moça, mesmo uma tão fascinante quanto ela, o fizesse esquecer seu primeiro dever. — Vamos nos encontrar com meus parentes e...

— Não! Eu não posso ir para a Inglaterra. Você não deve me levar até lá.

O terror em sua voz arrastou seus olhos de volta para os dela. O lábio inferior dela tremeu e Rob resistiu à vontade de levantar o dedo.

— Por quê? Você estava sendo protegida pelo exército real, não? Você estará segura sob os cuidados do rei.

Ela balançou a cabeça e agarrou a manta dele.

— Eu não estarei segura lá.

Deslizando o olhar para os outros, Rob capturou suas expressões perturbadas. Ele sabia o que eles estavam pensando. Diabos, se eles retornassem ao seu pai, MacGregor suspeitaria do pior. Ele iria partir para Inglaterra com Graham no seu encalço; talvez até tomando as cabeças de quem tentou matá-los e derrubar a lei sobre as cabeças de seu clã mais uma vez. Rob não poderia correr esse risco. Ainda...

— Onde você estará segura então?

— Nae, Rob...

Rob levantou a palma da mão para interromper a objeção de Angus e esperou que ela falasse.

— Onde?

Tudo pelo que ela passou parecia atingi-la de uma só vez enquanto olhava em volta, como se procurasse algo familiar. Ela tremeu contra ele, em seguida, soltou seu plaid e baixou os olhos para as mãos.

— Lugar algum.

— Ela é uma fora-da-lei. — Angus tomou outro gole de seu odre e lançou um olhar fulminante para o céu. — Tive o suficiente deles para durar dez vidas.

— Soldados ingleses não dão a vida por bandidos. — Will se inclinou para a frente na sela e bateu no odre da mão de Angus. — Esse uísque vai te matar. Vejam como você já ficou tolo — acrescentou ele quando Angus ficou boquiaberto e depois com a bebida infiltrando no chão.

Rob não se importava se ela era uma fora-da-lei, uma bruxa ou algum ser mágico que obrigava os exércitos a entrar em guerra por ela. Levou apenas um instante para decidir o que fazer com ela. Ela não tinha para onde ir, onde poderia se refugiar, mesmo em sua dor. Ele não a entregaria a seus inimigos apenas para se livrar dela.

— Vou deixar você em algum lugar seguro, — disse ele, ignorando a voz mais responsável em sua cabeça e as blasfêmias se derramando dos lábios de Angus.

A moça não parecia aliviada. De fato, ela parecia pronta para saltar de seus braços e sair correndo. Ele apertou o braço apenas um pouquinho ao redor da cintura dela.

— Angus, você vai até minha casa e conta o que aconteceu aqui, mas em particular.

— Precisamos pensar melhor — começou a dizer Angus, mas a autoridade na voz de Rob o deteve.

— Eu já pensei, e é isso que você fará. Garanta a ele que estamos bem para que que não venha atrás de nós. Levantaremos suspeitas se ele for embora cedo demais. O rei descobrirá sobre isso em breve por conta própria e até que eu saiba o que está acontecendo, não quero que ele pense que estamos envolvidos. Se os inimigos da moça residem na corte, no momento em que souberem da fuga dela, eles virão atrás de nós. Precisamos de todo o tempo que conseguirmos. Diga ao meu pai que fui encontrar um refúgio para ela e o encontrarei em Camlochlin. Vá e leve os rapazes com você.

— Não, vou para a Inglaterra. — Rob girou para fixar em seu irmão um olhar assassino. Colin encolheu os ombros como se não ligasse. — Se você me mandar com ele, — disse ele, sua voz baixa e com determinação, — vou me afastar e segui-lo sozinho.

— Eu vou ficar também, — Finn anunciou, afastando o gorro de lã do seu cabelo. — Rob, — ele acrescentou quando os olhos de Rob se escureceram, — nossos pais não nos deixaram sob os cuidados de Angus, mas sim no seu, confiando que nos veríamos em segurança retornando a eles. Não se ofenda, Angus. — Ele lançou um olhar triste ao velho Highlander antes de voltar sua atenção para Rob.

Droga, mas o rapaz estava certo. Se Colin se afastasse de Angus, e Rob não tinha dúvidas de que seu irmão faria exatamente o que havia prometido, pois o rapaz possuía mais coragem e arrogância do que era bom para ele, e se algo lhes acontecia...

Encarando-os com um último olhar abrasador, Rob apertou a mandíbula e assentiu. Ele derrubaria a ambos em seus traseiros no chão mais tarde. Por enquanto, eles tinham que seguir em frente.

— Vá, Angus, e diga aos seus pais que seus filhos estão a salvo comigo. — Rob deu as rédeas uma pressão forte e girou a montaria na direção oposta. Inferno. Ele não precisava disso.

— Vamos cavalgar por mais alguns quilômetros e depois acampar, — sugeriu Will, observando Angus virar para o sul. — Meu traseiro está me matando.

Finn lançou-lhe um olhar de reprovação antes de proteger o olhar sob os cílios. Will pegou a repreensão sutil e virou-se para a moça.

— Perdoe-me a falta de boas maneiras, milady. — Ele ofereceu a ela um sorriso culpado misturado com um pouco de imprudência e perigo que atraía mulheres como abelhas para o mel.

O braço de Rob estava deixando-o irritado. Essa era a razão pela qual ele queria socar a cara de seu primo.

— Como você se chama, moça? — Will trotou sua montaria para mais perto. Ele estava em uma boa distância.

— Davina, — ela disse a ele em voz baixa.

— Davina, — Will repetiu como se fosse o som mais profundo que ele já ouvira escapando de seus lábios.

Isso era realmente.

Quando seu primo pegou o odre de água pendurada na sela e entregou a ela, Rob se xingou por não pensar em sua sede. Ele a observou beber, com breves olhares para Will, que também a observava. Rob nunca se importou que as moças geralmente preferissem Will a ele. Ele não as culpava. O objetivo de Will na vida era causar o mesmo estrago no coração de uma donzela que ele fazia no campo de ataque, enquanto o de Rob era manter a ordem.

— Obrigada.

— Will, — o canalha ofereceu seu nome como se ela tivesse pedido a ele. O que ela não tinha, — filho de Brodie Mac...

— Will, — Rob o interrompeu, nem mesmo tentando parecer indiferente. — Deixe-a agora. — A moça estava cansada e não precisava ser intimidada, e para o inferno se Will gostasse ou não.

— Certo, então. — Seu primo lançou-lhe um sorriso que Rob respondeu com uma carranca ainda mais sombria. — Eu vou explorar adiante. Venham, rapazes — ele chamou, levando Colin e Finn com ele.

Quando estavam sozinhos, o olhar de Rob voltou para a nuca de Davina. O que ele tinha acabado de dizer para afastá-los? Ele tinha que questioná-la mais sobre o que havia acontecido, mas depois, depois que ela descansasse. Ele se sentia irritado por não oferecer água a ela antes, mas não era uma maldita babá. Ele era um guerreiro, treinado para ser compassivo, mas sempre duro. Embora tivesse crescido para a idade adulta na companhia de muitas mulheres, ele não sabia nada sobre acalmá-las quando choravam.

Curvando-se perto de sua orelha, Rob ofereceu a ela a única coisa que sabia dar. A proteção dele.

 

Capítulo Quatro

Vou mantê-lo segura, moça. A promessa sussurrada do Highlander ecoou nos pensamentos de Davina enquanto ela observava Will, arrancar a ponta de uma flecha do ombro dele.

A suave luz dourada do sol poente filtrou-se pelo dossel escasso acima do pequeno acampamento e caiu sobre o homem que Davina supôs ser o líder da tropa, o homem que a puxou das chamas, que jurou protegê-la. Seus amigos o chamavam de Rob. Ele era mais alto que os outros, ou talvez fosse seu ar de controle, mesmo quando o cabo de madeira rasgou sua carne, o fez parecer maior, mais forte e capaz de qualquer coisa.

Mas ele poderia... ele realmente a protegeria? Ela queria acreditar que ele estava falando sério, porque todas as pessoas que conhecia em sua vida estavam mortas, e se Rob era seu inimigo disfarçando seu propósito, então não havia mais nada a esperar.

Mas ela não era boba. Edward e mais de cem de seus homens não foram capazes de protegê-la, apesar de terem tentado. Certamente quatro Highlanders, dois deles ainda nem eram homens, cairiam ainda mais rápido. Ou eles conseguiriam? Santos, mas eles tinham a aparência selvagem, joelhos nus e espadas enormes penduradas nos quadris. O que eles estavam fazendo em St. Christopher? Eles a estavam realmente levando para algum lugar seguro ou para seus inimigos? De qualquer maneira, ela não podia ficar com eles. Se eles fossem inocentes, ela provavelmente os mataria. Ela poderia perguntar corajosamente se o inimigo os havia enviado, mas eles não contariam a verdade.

A tristeza nublou seus pensamentos, mas não o suficiente para fazê-la confiar em quem poderia ou não tê-la resgatado. Como seus inimigos a encontraram antes mesmo da coroação? Alguém os informou. Mas quem?

As irmãs nunca esconderam a verdade dela. Davina sabia por que havia sido tirada dos braços da mãe quando bebê, abandonada pelo pai e enviada para St. Christopher. Ela entendia o valor de sua existência, pois, por duas vezes agora, isso lhe custara tudo o que amava. Quando Edward chegou à abadia da corte do rei Charles, ele contou a ela sobre os homens que procuravam sua morte. E meu Deus, havia muitos. Embora seus avisos tivessem colocado um medo quase palpável em Davina, ela entendia as razões dele para contar. A ignorância do inimigo era tão perigosa quanto enfrentá-lo no campo de batalha. E assim, ela vivia em incerteza e desconforto, sempre consciente do perigo ao seu redor.

À luz fraca, ela viu Rob caminhar em direção ao riacho de seixos e se curvar até a beira da água, onde antes lavara a fuligem do próprio cabelo. Ele pegou um pouco de água nas mãos para lavar o rosto. Sua ferida precisava de limpeza, mas Davina estava agradecida por não ter tirado a roupa para tomar banho. Ela viveu entre muitos homens em sua vida, mas nenhum deles emanou uma força tão poderosa como esta, nem nenhum deles era tão musculoso quanto ele. Ela tinha certeza de que era a manta com cinto primitivo, que balançava sobre os joelhos nus, quando ele se levantou que ajudou a acentuar as peles empoeiradas da bota ao redor da panturrilha, com o punho de uma adaga saindo dela que dava testemunho de seu vigor. Esse homem passava os dias fazendo mais do que ficar ocioso com seus amigos, bebendo e esperando a batalha chegar até ele. Seguindo-o com o olhar enquanto ele se afastava do riacho e se movia pelo acampamento, ela achou sua marcha calma e confiante com o tipo de orgulho que as gerações anteriores carregavam. Quando ele inclinou a cabeça para olhá-la e a encontrou o olhando, ela desviou o olhar para uma árvore próxima.

— Sabe, moça, — disse ele, e ela estava ciente dele se movendo em sua direção. — Se minha irmã pudesse ficar tão quieta quanto você, um quarto de hora, ela provavelmente já teria encontrado um marido.

Agachado diante de uma pilha de brasas à sua direita, Will soltou uma risadinha baixa. Ele era a tentação encarnada, Davina pensou quando a olhou e piscou. Tão sombriamente intrigante quanto um lobo, com olhos cinza claro e um conjunto de presas a condizer.

— Deixe Mairi fora disso, — disse o garoto que havia desafiado Rob com ousadia quando lhe dissera para não ir para a Inglaterra. Ele tinha dezenove anos, o corpo magro e bastante à vontade em sua montaria no caminho para cá. Ondas escuras e sedosas eclipsavam os olhos que eram uma dúzia de diferentes tons de verde e marrom dourado, olhos que ardiam com um senso de propósito quase tão intenso quanto o de Rob. — Vocês dois sabem por que ela não se casou.

— Sim, Colin, — Will riu, espalhando galhos sobre as chamas do edifício. — Os homens têm medo dela.

— Eu acredito que Colin está se referindo ao meu irmão Connor.

— Eu estou me referindo a ele também, Finn. Embora eu não culpe Connor por fugir para a Inglaterra. — Os olhos de Will brilharam acima das chamas, brincalhões e provocantes no jovem cujo rosto por si só fez Davina quase esquecer por um instante os horrores do dia.

Quando ela pôs os olhos pela primeira vez em Finn, ela pensou que seria possível que Deus tivesse enviado um de seus mais belos anjos, sem dúvida escocês, para salvá-la. Seu cabelo era liso e quase tão claro quanto o dela, sob o gorro cor de esmeralda, da mesma cor dos olhos. Ele cantava quando falava e seus olhos brilhavam e dançavam como estrelas através dos pântanos da Irlanda. Só de olhá-lo a fez se sentir melhor. Ao contrário de Colin, que possuía o mesmo lado sombrio, e perigoso como Rob, Finn era tão bonito que Davina sentiu pena de qualquer jovem lady que caísse de amor por ele.

— Connor não tem medo de nada, — Finn corrigiu, descansando as costas contra uma árvore e jogando um punhado de frutas na boca. — Por que você acha que o rei Charles fez dele um capitão?

Davina não ficou surpresa com esta notícia. O rei morto era conhecido por ter levado muitos escoceses, mesmo os Highlanders, para o seu exército. Ela se perguntou se Edward conhecia o irmão de Finn. Tinha conhecido, ela corrigiu, lutando contra outra onda de emoção que ameaçava derramar de seus olhos.

Ela se afastou dos homens e encontrou Rob agachado diante dela. Querido Deus, mas ele fazia todos os outros homens, incluindo os que a cercavam, parecerem comuns. Na luz fraca, ela não conseguia ver as manchas douradas que davam fogo aos vívidos olhos azuis, mas sabia que elas estavam lá. Seu nariz era reto e cortado de forma clássica, a mandíbula larga e sombreada apenas o suficiente para dar uma aparência dura. Sob os lábios trabalhados, ela tinha certeza, com o único objetivo de desviar as mulheres do caminho do bem, a sugestão de uma covinha definia a força inflexível de seu queixo.

— Você está com fome?

— Eu devo ajudar, — disse ela, levantando-se do chão.

— Você deve continuar sentada — corrigiu Rob, pegando suas vestes e puxando-a de volta para baixo. — Precisamos conversar, — disse ele, ficando mais sério, — e, por mais que possa nos desagradar, estará fazendo a maior parte do tempo da viagem conosco.

Involuntariamente, Davina sentiu seus lábios se apertarem. Não era seguro para ela falar, pois tendia a continuar com um tópico muito além do seu fim natural. Era porque ela não tinha ninguém com quem conversar ou ouvir falar das coisas do mundo há quatro anos, que era menos cautelosa quando falava. Ela não queria conversar com esse estranho, mas teria que encontrar uma maneira de evitá-lo sem despertar sua curiosidade. Se seus inimigos não o enviaram, ele poderia facilmente entregá-la a eles se descobrisse seus segredos.

— O que você quiser, senhor, — disse ela, relaxando a boca. — Mas antes que o façamos, eu imploro que me deixe cuidar da ferida no seu braço.

Ele a olhou com uma avaliação lenta e silenciosa que fez seus dentes se apertarem. A força de seu olhar, o puro poder de vontade que ele possuía para recusar se ele decidisse que ela estava simplesmente adiando a conversa, enviou uma fissura de pânico através dela. Naquele momento, ela admirou Colin imensamente por enfrentar seu escrutínio desaprovador.

— Senhor, eu não gostaria que você ficasse doente e com febre por minha causa, — acrescentou ela, sinceramente, para encorajar sua anuência.

— Muito bem, — ele finalmente admitiu, com dúvidas claramente gravadas em suas feições. — Mas não me chame de senhor. — Ele sentou-se, dando-lhe permissão para tocá-lo. — Não sou um cavaleiro do reino e nunca fui considerado um cavalheiro.

Davina não sabia o que fazer com essa declaração, ou por que o timbre rouco de sua voz quando ele falava enviava um tremor estranho por sua espinha.

— Vou precisar de água, — ela disse, mal olhando para ele, as mãos cruzadas no colo. Ela não estava prestes a ser a vítima de uma tentação que sempre lhe seria negado.

— Will. — Ele se virou brevemente para os outros. — Ela precisa de água.

— Você precisa se mover um pouco, — Davina instruiu, tentando pensar no que ele poderia lhe perguntar e o que ela poderia ou não responder.

— Sim, isso ajudaria. — Ele sorriu quando se virou, espalhando os pensamentos de Davina como folhas secas ao vento. Como sua virilidade podia ser tão tangível quanto um toque e, no entanto, seu sorriso ser tão inocente e desajeitado, muito mais honesto e aberto do que o de seu amigo, que apareceu neste momento diante deles?

— Você está suando e tem o rosto vermelho como um pássaro de-faces-rosadas3, — disse Will, com um sorriso que parecia ruim para Rob. — Você tem certeza de que a febre já não o atingiu?

Davina pegou o odre de Will pouco antes da bota de Rob bater no seu peito. Um homem menor teria voado uma polegada ou duas do chão, mas Will só caiu com força sob o traseiro e riu.

— Vá devagar com ele, moça, — disse Will, voltando a ficar de pé. — Ele é suave, — acrescentou por cima do ombro quando estava a uma distância suficientemente boa para descansar em segurança a noite.

Suave? Davina duvidava disso enquanto examinava as costas de Rob. Mesmo envolto em metros de lã, ele parecia tão sólido quanto as montanhas ao longe.

— Depois de limpar a ferida, vou precisar da sua adaga para cortar algumas tiras de tecido para que eu possa...

— Você não vai pegar minha adaga, moça. Embora eu entenda por que você me flechou.

— Essa flecha era minha? — Os olhos dela se arregalaram e qualquer esperança que ela tinha de ele ajudá-la desapareceu.

— Ela atirou em você? — Gritou Finn, expressando a descrença que marcou os rostos de seus amigos.

— Sim — respondeu Rob, dando um suspiro pesado como se fosse a última coisa que ele queria admitir. — E eu não me sinto à vontade com ela segurando uma adaga nas minhas costas.

— Isso é ridículo, — argumentou Davina. — Eu nunca esfaquearia um homem... — Algo que ele disse de repente a atingiu. Ele mencionou anteriormente que ela quase o matou, mas ela estava muito triste para entender. — Como você sabe que a flecha veio da minha aljava? — Quando ele não respondeu imediatamente, outra realização a atingiu como um canhão no peito, dificultando a respiração. — Como você sabe que Edward está morto, ou quem ele era? Você não estava familiarizado com ele, estava?

— Não, eu não o conheci, — ele disse calmamente, evitando o olhar dela.

— E você sabia que eu estava dentro da abadia. — Tudo estava começando a fazer mais sentido agora. Meu Deus, ele era um deles! Não importava que ele fosse um Highlander. Seus inimigos eram homens poderosos com aliados em quase todos os países e bolsas gordas o suficiente para contratar mercenários se seus soldados fracassassem. Não confie em ninguém. Seus dedos se fecharam em punhos e seus olhos brilhavam com lágrimas. Aqui ela estava preocupada com o homem que provavelmente tirou a vida de Edward. Ela não pensou nos outros três a observando. Ela não se importava se a matassem.

— Bastardo! — Ela se inclinou sobre ele e pegou a adaga da bota.

Seus reflexos eram muito rápidos e ele segurou o pulso dela com força esmagadora. Antes que seus amigos tivessem tempo de levantar-se para ajudá-lo, ele a jogou completamente por cima do ombro, derrubando-a no chão com tanta força que expeliu o ar de seus pulmões. Antes que ela pudesse rolar e correr, ele a prendeu com seu peso e deteve os outros com um golpe da mão.

— Você está enfeitiçada? Possuída por um demônio? — Ele exigiu uma resposta, seus olhos nela tão impiedosos quanto seus dedos ainda apertando seu pulso. — É por isso que eles querem você morta?

— Você sabe a resposta para isso, — ela gritou, depois balançou a mandíbula dele com a mão livre. Ele bloqueou o punho dela com o antebraço e fez uma carranca quando a dor subiu pelo braço até o ombro ferido. — Você matou Edward para me pegar.

— Quem diabos é Edward? — Colin perguntou, pairando sobre os dois. Ele deu uma olhada na adaga de seu irmão agarrada nos dedos de Davina e se inclinou para arrancá-la de suas mãos.

— Capitão Edward Asher — Rob informou, segurando-a contra seus esforços renovados para se libertar. — Ele foi atingido depois que me implorou para salvá-la. Sim. — Rob voltou seu olhar duro para o dela quando a luta cessou. — Foi seu capitão que me contou sobre você.

Isso era verdade? Foi por isso que ele a salvou?

— Edward não teria lhe dito que eu atirei em você.

— Seus olhos viraram em sua direção quando ele viu sua flecha na minha mão.

Meu Deus, Edward teria reconhecido suas flechas emplumadas.

— O que mais ele disse a você? — Davina perguntou, ofegante com a briga e ainda cautelosa com ele.

— Por enquanto, basta somente isso, mas você vai tratar de mim assim que me der sua palavra de que não estará tentando me matar.

— Primeiro eu ouvirei tudo o que Edward disse a você.

Ele olhou diretamente nos olhos dela e enganchou um canto da boca em um sorriso que a fez seu coração se acelerar.

— Você não está em posição de barganhar.

— Nem você, — ela respondeu, tentando igualar sua confiança. — Você está pingando sangue por todas as minhas vestes. Quando você perder a consciência, nenhum de nós receberá nossas respostas.

O sorriso presunçoso de Rob desapareceu quando Will riu acima deles.

— Ela é esperta.

Davina esperou embaixo de seu captor enquanto ele pesava suas opções. Ele poderia matá-la facilmente agora e levar seu corpo para os homens que a queriam morta, mas se ele já conhecia seus segredos e por que ela estava escondida em St. Christopher, por que ele insistia em interrogá-la? Ele realmente a salvou porque Edward havia pedido a ele? E se Edward tivesse contado mais sobre ela? Esse guerreiro das Terras Altas poderia tê-la resgatado com boas intenções, mas talvez quando e se Edward dissesse a verdade... Oh, ela não sabia em que acreditar, e certamente não conseguia pensar com ele em cima dela. Santos, ele era pesado e teimoso como um touro. Bem, ela poderia ser tão inflexível. Ela se mexeu, tentando puxar mais ar para os pulmões e ficou desconfortavelmente consciente de todos os músculos que o formavam. Embora a abadessa tivesse franzido o cenho, Davina frequentemente tocava os homens do regimento de Edward; um toque suave e leve em um braço enquanto ela falava, um empurrão brincalhão quando eles a provocavam sobre sua lamentável falta de habilidade no xadrez. Ela sentiu seus corpos, mas nunca em cima dela. O peso de Rob e o calor de seu corpo tiveram um efeito vertiginoso em seus sentidos. Ela o teria machucado em suas regiões inferiores se suas vestes não estivessem enroscadas nas pernas.

Ele deve ter sentido seu desconforto, porque seu olhar penetrante sobre ela suavizou, enviando uma vibração através de sua barriga.

— Eu não sou seu inimigo, — disse ele de forma rude, significativa.

Mas todo mundo era seu inimigo em potencial. Edward e até a abadessa queriam ter certeza de que ela entendia isso. Ela nunca teve um amigo, porque nunca houve filhos em St. Christopher além dela. Não havia aldeões e nem a chance de alguém visitá-la, ou ouvir um boato de sua existência. Ninguém além de Davina, as irmãs, e um pequeno regimento do exército real do rei que sabiam quem era e onde ela estava. Todos poderiam ser comprados com moedas... ou medo. Qualquer um era capaz de traí-la.

— Você está me machucando. — Ela rompeu o olhar e virou o rosto para longe dele, com medo de que ele pudesse influenciá-la por sua cautela.

Felizmente, ele não era um bárbaro completamente indiferente e a rolou de cima dela. No instante em que estava livre, Davina ficou de joelhos e se arrastou para trás alguns centímetros, os olhos arregalados em todos eles. No momento, Colin era o único que a olhava furioso, como se ele desconfiasse tanto dela quanto ela deles. Will estava observando-a com algo parecido com a admiração em seus lábios, enquanto a expressão querubim de Finn pousava suave nela.

— Asher era seu marido? — Rob perguntou, segurando o ombro enquanto se sentava. Sua expressão nela era mais difícil de ler, pois não era nem zangada nem com perdão.

— Não, ele era meu amigo. — Ela sentiu uma pequena pontada de alívio que, obviamente, Edward não tinha dito nada de grande importância. Mas isso ainda não explicava o que Rob e seus homens estavam fazendo na abadia na manhã em que foram atacados. — O que você estava fazendo em St. Christopher? — Ela perguntou e queria que alguém respondesse.

— Eu conheci uma das irmãs de lá.

Davina olhou para cima e captou o brilho prateado nos olhos de Will por trás de sua mecha de cabelo liso. Conhecia de fato. Eles a achavam tão simplória a ponto de acreditar que uma das irmãs teria algo a ver com um patife tão diabólico?

— A irmã Margaret Mary foi minha babá — disse o moço bonito, vendo a dúvida no seu rosto e em suas sobrancelhas se juntando.

— Agora vou fazer a mesma pergunta, — disse Rob, chamando a atenção de Davina de volta para ele. — O que você estava fazendo lá? — Ele puxou a manta que envolvia seus ombros e os olhos dela seguiram a lã que escorregou em seu peito.

— Eu morava lá.

— Mas Asher a chamou de Lady Montgomery.

— Meus pais eram amigos. Eles morreram quando eu era criança e as irmãs de St. Christopher me criaram.

Ele não disse nada, mas deixou seus olhos pairarem sobre suas vestes. Então, com uma voz mais severa, ele perguntou:

— De que duque e conde você falou antes?

Ela o viu tentar puxar a túnica sobre a barriga, usando apenas um braço e falhando.

— O conde de Argyll e o duque de Monmouth. — Não fazia mal em dizer isso a ele, pois ele provavelmente já sabia.

Ele parou de se mover e olhou para ela, a surpresa e um lampejo de alarme fazendo seus olhos brilharem como joias no crepúsculo. Ele olhou para Will.

— Monmouth? Sobrinho do rei James?

— James ainda não é rei, — Davina lembrou.

Os Highlanders olharam para ela ao mesmo tempo, mas foi Rob quem falou.

— E você não é uma noviça da Ordem.

— Mas eu sou. Vou fazer meus votos na próxima primavera.

Os olhos de Rob escureceram brevemente enquanto a decepção deslizava por suas feições. Com a mesma rapidez, sua determinação endureceu, junto com o queixo. Mas o lampejo de algo suave nele era mil vezes mais perigoso do que o charme passivo de seu amigo.

— Monmouth e Argyll foram exilados para a Holanda, — disse Colin sobre o crepitar das chamas.

Davina assentiu.

— E foi o exército holandês deles que nos atacou.

— Por que eles querem você morta?

Ela se virou para Rob quando ele fez a pergunta. E se ele realmente não soubesse? Ela queria acreditar que ele não sabia, que a salvara por nenhuma outra razão senão que era um homem decente. Ela não conhecia o mundo ou como se manter viva sozinha e precisava de alguém para ajudá-la, só por um tempo. Aquele momento de vulnerabilidade que ela viu nele a levou a confiar nele.

— Eles estavam atrás de você, não é, moça? — Ele continuou quando ela permaneceu em silêncio. — Todas as irmãs foram mortas com a esperança de que você estivesse entre elas.

Davina limpou uma lágrima da bochecha com a dura verdade de suas palavras. Elas estavam mortas por causa dela.

— Por quê? Quem é você?

— Eu não sou ninguém.

Oh, como ela desejava que fosse verdade. Ela daria qualquer coisa, qualquer coisa para que fosse verdade.

 

Capítulo Cinco

— Por mais impressionante que você seja, moça, não acredito que tantos homens perderam a vida por ninguém.

Não era o jeito que os olhos duros de Rob se aqueciam em Davina ou a cadência baixa e rouca de sua voz quando ele a chamou de impressionante que a fez desviar o olhar. Embora, na verdade, ela não sabia como reagir a tanta ousadia, ou por que isso aqueceu as palmas das suas mãos. Ela desviou o olhar do dele porque o que ele disse depois disso estava correto, e ela não conseguia esconder sua dor.

Ele se aproximou dela, o calor de seu corpo se infiltrando no dela.

— Muito bem, então, Davina. Você é ninguém. Por enquanto.

Ele apenas torceu a boca quando ela o olhou novamente, mas isso a fez querer contar tudo. Ela sorriu de volta e pegou o ombro dele.

— Perdoe-me por atirar em você... se você for inocente.

— Eu sou, e tento. — Sua respiração parou ao longo de sua mandíbula quando ela o ajudou a sair de sua túnica, que enviou uma faísca quente na espinha de Davina. A luz do fogo saltando sobre a extensão dourada de suas costas nuas a assombrava. Não precisava confiar nele para apreciar seu esplêndido físico masculino, algo que certamente teria que pedir perdão mais tarde. Ele parecia tão torneado quanto parecia.

— Eu não gostaria que você me considerasse insolente ou desaprovadora do que você fez por mim hoje. — Oh, por que ela não podia simplesmente calar a boca? Porque ela precisava de algo para manter sua mente longe dos ângulos de seda dele debaixo dos dedos. Ela nunca tocou a carne nua de um homem antes e ao senti-lo fez seu rosto corar. — Não desejo mentir para você, por isso, se continuarmos viajando juntos, considere silêncio, um reembolso por salvar minha vida.

— Você está me protegendo? — Seu meio sorriso retornou, desta vez doce e com indulgência.

— A todos nós.

— Você deve saber algo de grande consequência sobre esses dois homens que eles não querem que seja ouvido, — disse Will, contornando o fogo para se sentar à sua frente. Depois de lhe dar um último olhar cauteloso, Colin o seguiu.

Davina balançou a cabeça e observou Finn dobrar as pernas ao lado dela.

— Não sei nada sobre eles, exceto que eles têm muitos apoiadores protestantes aqui e na Holanda que não são a favor de um governante católico romano. Monmouth estava envolvido no projeto de lei de exclusão...

— O projeto de lei que dividiu o país em dois partidos, — concluiu Colin, ignorando o olhar curioso que Will apontou para ele e depois para Rob. — Os Whigs4 que o apoiaram e os Conservadores que se opuseram. James foi convencido a se retirar de todas as decisões tomadas no governo e foi exilado por seu irmão, rei Charles, por muitos anos.

— Está correto, — Davina disse a ele, surpresa e intrigada com seu conhecimento de política. Havia algumas coisas que ela nunca contaria a esses homens, ou a qualquer outra pessoa, mas que perigo havia finalmente em poder compartilhar suas opiniões sobre questões de estado e religião? — Ao contrário do homem que está prestes a ser coroado rei, Monmouth e Argyll, e muitos outros, se opõem firmemente à liberdade religiosa.

— Sim, nós sabemos, — disse Colin, observando-a sobre as chamas. — É a nossa religião que os protestantes querem extinguir. Sabemos onde Charles estava sobre o assunto, mas ouvimos pouco sobre James de York. O que você sabe dele?

Davina decidiu que a atenção total desse jovem era apenas um pouco menos assustadora que a do guerreiro ao lado dela. Procedendo com cautela, ela encontrou seu olhar.

— Ele é um homem que representa aquilo em que acredita.

— É mesmo? — Ele perguntou, sua voz era uma mistura de curiosidade e ceticismo.

— Sim, — respondeu Davina, aceitando o desafio. — Ele se recusou a renunciar sua fé quando a Lei de Testes5 foi introduzida há vários anos, até mesmo abandonando seu posto como Lorde High Admiral6. Ele enfrentou uma oposição que faria outros homens desmoronarem, e tudo por causa de suas crenças.

Colin assentiu e, embora suas feições se suavizassem à luz do fogo, seus olhos ardiam por dentro.

— Conheço um homem assim, mas ele não teria casado suas filhas com protestantes.

Davina lançou-lhe um último olhar comedido antes de se virar para pegar o odre de água que Will jogara para ela. Ela suspeitava que Colin sabia mais sobre o duque de York do que ele iria admitir. Ainda assim, ele não sabia de tudo, e suas perguntas eram inocentes o suficiente.

— Isso foi o que o rei Charles fez na tentativa de convencer os inimigos de James de que ele não havia se convertido, — disse ela, pegando o odre e voltando sua atenção para o ferimento de Rob.

— Como você sabe tudo isso?

Ela piscou com a pergunta suavemente falada de Finn. Sua mão, no processo de arrancar a tampa do odre, parou no meio do puxão. Como ela sabia de tudo isso, de fato? Uma pergunta curiosa e a mais mortal. Ela estava tão empenhada em vangloriar-se do conhecimento da Casa de Stuart que não considerou se algum de seus ouvintes se perguntaria como ela sabia. Maldita seja, ela não tinha habilidades quando se tratava de enganar!

— Eu leio todos os dias, — disse ela à Finn, desviando o olhar do dele. Não era uma mentira. — Parte das minhas instruções no Abbey incluía a leitura de velhos pergaminhos e livros sobre a história da Inglaterra.

— Bem, eu não me importo com quem está atrás de você, moça, — anunciou Will, felizmente colocando um fim à conversa. Ele puxou uma parte do plaid do ombro, ajeitou-o embaixo da cabeça e fechou os olhos. — Você está com MacGregors agora.

— E um Grant, — Finn acrescentou, erguendo os ombros com tanto orgulho e oferecendo a ela um sorriso que ficou tentada a sorrir de volta antes que ele também se acomodasse para noite.

Eles eram MacGregors. Pouco se sabia sobre eles na abadia. A Reverenda Madre só falou deles uma vez enquanto Davina estudava suas lições no Parlamento. Após séculos de batalhas sangrentas com os Campbells e os Colquhouns, os MacGregors haviam sido proscritos pelo rei James VI em 1601. Tornaram-se foras-da-lei que desafiavam reis e massacravam nobres em suas camas. Se esses Highlanders eram verdadeiros embaixadores de seu clã, Davina duvidava que os MacGregors seguissem quaisquer leis, mesmo agora. Eles eram mercenários então? Não, eles eram inimigos dos Campbells protestantes. Certamente eles não iriam trabalhar do lado de Argyll. Mas por que eles deveriam obedecer ao trono quando fora um rei que tentara aboli-los?

— Vocês são três irmãos então? — Ela perguntou a Rob, esperando descobrir mais sobre ele enquanto dirigia a conversa para longe de si mesma.

— Colin é meu irmão. Will poderia muito bem ser, e Finn é sobrinho da minha tia por casamento.

Davina assentiu e se aproximou um pouco dele para examinar seu ferimento.

— Por que seu pai viajou para a coroação do rei? — Ela cortou um pedaço do manto e o saturou com água.

— Todos os Lairds das Highlands e Lairds do Norte de Edimburgo concordaram em comparecer para mostrar apoio ao novo rei Stuart.

Davina olhou para ele e o viu olhando para trás.

— Então, — disse ela, um pouco sem fôlego pela maneira como ele deixou seu olhar frio percorrer seu rosto. — Você é filho de um Laird. — Ela entendia agora o ar de autoridade e arrogância dele. — Um Laird cujo nome chegou perto da extinção sob o reinado de James VI.

— Sim, — ele disse em voz baixa, — um Laird que sofria com inimigos ainda mais hostis do que o duque de York por causa disso.

Ela tocou levemente as bordas do ferimento dele com o pano, considerando o que ele disse. Esse homem sabia o que significava lutar pelo que se acreditava, não importando o custo. Mas quais eram suas crenças?

— E, no entanto, seu pai oferece sua lealdade ao trono agora?

— As leis contra nós, — ele lembrou, — foram levantadas pelo rei Carlos II.

Davina assentiu. Ela leu que Charles tinha sido um soberano simpático. Alguns simpatizavam, alguns acreditavam. Ele suspendeu as proibições que os puritanos haviam estabelecido sobre a Inglaterra. Ele reabriu os teatros e trouxe de volta a celebração de Natal. Sob seu governo, as roupas coloridas haviam retornado à moda e todas as formas de arte foram novamente vistas.

— Você também apoia a sucessão do duque de York no trono? — Perguntou ela.

— Isso vai depender dele.

Uma resposta admirável, isso era. Provava que, qualquer que fosse o motivo pelo qual Rob MacGregor a possuísse, ele pelo menos não era guiado pelas convicções de outros homens até que não tivesse uma própria.

— Agora tenho uma pergunta a fazer, moça.

Ela fechou os olhos, rezando para que Deus a perdoasse se fosse forçada a mentir para ele novamente.

— Você o amava?

As mãos dela tremiam, empurrando o pano no ombro dele e fazendo-o estremecer.

— Como eu poderia amar um homem que nunca conheci? Eu só ouvi...

— Falo do capitão Asher, — ele interrompeu.

— Oh. — Ela abriu os olhos, depois desejou que não tivesse visto a curiosidade arquear sua sobrancelha. Ela teria que ter mais cuidado com suas respostas. — Claro que eu o amava. Edward era como um irmão para mim. — Ela voltou toda a atenção para o ferimento dele, esperando que sua resposta o satisfizesse.

Aparentemente, porque ele a deixou terminar de enrolar o ferimento sem dizer mais uma palavra. Quando ela terminou, ele agradeceu, ordenou que Will vigiasse primeiro, depois se esticou ao lado dela e disse-lhe para dormir um pouco. Ela ficou sentada enquanto ele jogava o braço ferido sobre a barriga nua e fechava os olhos.

O que ela deveria fazer agora? Ela olhou ao redor da luz do fogo, captando o sorriso de Will. Ela não sorriu de volta, mas afundou-se no cotovelo, e depois de lado, e fechou os olhos ao som da respiração lenta e constante de Rob as suas costas.

 

Capítulo Seis

O capitão Edward Asher estava doente. Cada respiração que ele inspirava nos pulmões estava saturada pelo cheiro de carne carbonizada. Ele ousava se mexer? Eles finalmente foram embora? O silêncio se apegou à escuridão como escória em um lago, de alguma forma ainda mais irritante do que as vozes acima dele antes. Eles chegaram algum tempo depois do massacre, enquanto ele estava despertando da inconsciência. Ele permaneceu parado, sabendo que provavelmente era o único vivo a quem eles poderiam questionar.

— É o capitão do regimento, — disse um deles, virando-o com a bota para cima.

— Eu posso ver isso, — respondeu o outro homem, o tom frio de sua voz alertando que sua paciência estava chegando ao fim.

Edward conhecia a voz e o homem por trás dela e desejou não respirar. O almirante Peter Gilles, a quem o duque de Monmouth havia trazido de Utrecht alguns anos atrás, estava aqui para garantir que Davina estivesse morta. Edward quase esperava que ela estivesse, pois se Gilles a encontrasse com um único suspiro, ele teria prazer em cortá-la. Conhecido por muitos como “O Diabo” Gilles era o bastardo mais cruel que usava uma espada. Seu pai, Cornelius Gilles, era um corsário que lutou ao lado do almirante Piet Hein, capturando a famosa Armada Espanhola de Prata em 1628, em Cuba. A vitória foi conquistada sem derramamento de sangue e os prisioneiros espanhóis foram libertados. Mas Peter Gilles não era nada como seu pai. Bastava olhar nos seus olhos frios para saber que ele gostava de matar.

— Meu lorde ficará satisfeito, — Gilles falou. — Depois, verifique a abadia.

— Mas, almirante, não resta mais nada, — o primeiro homem apontou, sem saber que sua observação quebrou o coração de Edward.

— Faça-o, Edgar — ordenou Gilles, com um rosnado baixo e assassino, — ou eu vou te matar aqui.

Nada na vida de Edward tinha sido mais difícil do que ficar deitado ali, aparentemente sem vida aos pés de Gilles. Nada, exceto saber que Davina estava morta. Ele falhou com ela. Meu Deus, como ele se perdoaria? Ele ainda não conhecia Davina quando lhe disseram há quatro anos, que ela fora enviada para St. Christopher para se proteger. Ele era jovem e ambicioso e ainda não ouvira o riso dela ecoar pelos corredores sombrios, ou suas orações de misericórdia sussurradas pelos lábios cor de mel por seus inimigos. Ele sabia quão facilmente ela poderia matá-lo com a língua afiada e um sorriso suave e provocador. Ele queria dizer a verdade. Ela merecia isso, mas justamente quando ele finalmente reuniu coragem para contar a ela, os homens de Gilles haviam chegado. Agora era tarde demais.

— Hendrick, — o almirante chamou por outro de seus homens. — Olhe dentro da capela. Quero contagens de corpos, independentemente do que resta deles. O mesmo para os soldados ingleses espalhados aqui. Quero que ela seja encontrada.

Ele sabia que não tinha o direito, mas Edward orou a Deus para manter Davina escondida se ela vivesse.

— Reúna nossos caídos e empilhe-os lá. Depois da nossa busca, queime-os.

— Almirante? — Outra voz à direita de Edward perguntou inquieta, como se ele duvidasse do que acabara de ouvir.

— Anunciaremos a toda a Inglaterra que estávamos aqui, Maarten? — Respondeu Gilles, o tom de irritação em sua voz interrompendo qualquer outra pergunta.

Edward não tinha ideia de quanto tempo ele ficou ali, na terra e nas cinzas, temendo um grito que a haviam encontrado. Ele esperou pela quietude da morte enquanto os soldados caídos que atacaram a abadia naquela manhã foram arrastados para algum lugar à sua esquerda. Ele estava começando a sentir o calor do fogo quando ouviu um homem gritar sobre as chamas crepitantes.

— A abadia está vazia pelo que podemos dizer, almirante. Nenhum corpo, carbonizado ou não.

— Vazia? Vinte e sete mulheres residiam aqui e você não encontrou nenhuma? — Silêncio enquanto algo estalava no fogo. — Todas devem ter ido à capela. Vá e ajude Hendrick em sua busca. Se ele encontrar uma, me avise.

Edward quase abriu os olhos. Encontrariam corpos na capela, mas nenhum deles era de Davina. Ela estivera na abadia. Ele sabia disso com certeza porque reconheceu sua ponta de flecha de penas azuis apertada no punho do Highlander pouco antes dele...

MacGregor.

Pela primeira vez desde o amanhecer, um lampejo de esperança despertou no coração de Edward quando ele se lembrou do guerreiro gigante. Talvez MacGregor a salvou? Ele não parecia interessado em fazê-lo quando Edward implorou, mas parecia em forma o suficiente para acabar com o que restava dos homens de Monmouth e galopar com o prêmio. Seria possível que sua Davina ainda estivesse viva e segura? Para onde MacGregor a teria levado? Sua barriga arfava quando o cheiro de carne e cabelo queimando encheu seus pulmões. Ele cerrou os dentes e imaginou o sorriso dela para não vomitar. Ela sorria para ele com frequência, aqueles olhos enormes e gloriosos ficando suaves com carinho, derretendo seus ossos. Ele sabia que ela não estava apaixonada por ele, mas isso nunca o impediu de amá-la com todo o coração.

Algum tempo depois, Hendrick voltou ao pátio com notícias de sua descoberta. Havia corpos na capela, mas todos foram queimados além do reconhecimento.

— Não tenho interesse em como elas eram, Hendrick, seu tolo, já que nunca vi a garota. Diga-me, quantos corpos você encontrou?

— Difícil dizer, senhor, mas Edgar contou vinte e seis.

Edward quase podia ouvir Gilles deduzindo que, de alguma forma, Davina havia escapado. Seu coração afundou antes mesmo do almirante falar novamente.

— Vamos terminar aqui. Vamos procurar pistas pela manhã.

Quanto tempo se passou desde que Edward ouviu essas últimas palavras? Dez respirações doentias ou cinquenta? Ele os ouviu pegando suas montarias e saindo. Ele estava certo disso. Ou foi apenas o bater do seu coração? Isso não importava. Ele tinha que encontrar Davina antes de Gilles. Ele abriu os olhos devagar. Um e depois o outro, apenas para fechá-los um instante depois, queimando e rasgando pela fumaça acre. Ele se permitiu tossir e depois vomitou até que todos os músculos e articulações de seu corpo doíam. Levantando-se, ele procurou, o melhor que pôde, entre seus homens caídos até encontrar uma espada.

Ele falhou com ela, mas talvez Deus estivesse lhe dando outra chance de salvar a vida dela. Ele se virou em direção aos portões. Ele tinha uma ligeira vantagem. Gilles e seus homens teriam que esperar até de manhã para encontrar rastros. Edward não precisava delas, pelo menos ainda não. Ele sabia quem a havia levado, e os habitantes das montanhas viviam no Norte.

Rob acordou na manhã seguinte ao som do alegre relato de Will sobre o momento em que ele e Rob invadiram as terras dos MacPherson com o irmão mais novo de Rob, Tristan, e Connor Grant. Não era um conto para os ouvidos de uma lady... ou uma quase freira. Ele quase suspirou alto com arrependimento quando ela lhe disse que era órfã criada no convento e não a filha de um rico inglês. Ela era realmente uma noviça? Sua vida havia sido entregue a Deus?

Se tivesse, ela não deu nenhuma indicação durante a interpretação de Will... até agora. Ela parecia imperturbável enquanto se sentava com Colin e Finn, mordiscando as últimas frutas restantes que haviam colhido na noite anterior.

— Estávamos quase livres com meia dúzia de gado quando Tristan viu Brigid MacPherson e suas seis irmãs caminhando pelo vale a caminho de casa, após o banho matinal.

Finn sorriu e Colin xingou baixinho, ambos deduzindo para onde a história estava indo e cada um compartilhando uma opinião muito diferente.

— Eu suspeito, — continuou Will, — que as MacPherson reconheceram o gado de seus parentes, mas, diabos, vocês sabem que Tristan tem um jeito com moças que as fazem esquecer tudo, ou não se importam com mais nada.

— Sim, — disse Finn, sua voz tingida de veneração. — Juro que um sorriso de Tristan poderia roubar o coração até da amante do rei.

— É verdade, — Will riu, — e as moças MacPherson não eram diferentes. Ora, juro pela minha espada, demorou menos de dez respirações para Brigid se despir e...

Rob pigarreou quando se levantou e lançou a Will um olhar de aviso. Ele tinha sido imprudente naquele dia, arriscando ferir a si mesmo e a seus amigos por algumas horas de prazer físico. Ele não se orgulhava de contá-lo, apesar do ataque vitorioso.

Will respondeu com um sorriso brilhante, ofereceu-lhe bom dia e depois voltou para a plateia para terminar a história.

— Todos nós tivemos...

— Will, é o suficiente, — Rob disse mais severamente desta vez. Ele não queria Davina ouvindo o resto.

Ele não precisava ter se incomodado, pois ela não estava mais ouvindo. O olhar dela estava fixo nele enquanto ele caminhava em sua direção. Por um instante, ela pareceu assustada, como se a respiração estivesse presa em algum lugar entre a garganta e os lábios. Suspeitando que ela raramente via homens seminus vagando pela abadia, ele puxou as dobras de seu plaid pendurado na cintura nua e jogou uma extremidade por cima do ombro que ela enfaixara na noite anterior.

Ela piscou e depois levantou o olhar para encontrar o dele e corou.

— Como está o seu braço?

— Melhor.

— Eu orei por você ontem à noite.

— Você tem meus agradecimentos por isso. — Ele ficou tentado a sorrir para ela. Inferno, quantas vezes ele fez o mesmo na noite passada? Era inquietante pensar em quão facilmente ele perdeu o controle sobre a própria boca quando ela o olhou. Ele ficou acordado decidindo o que havia nela que se apegava às cordas de seu coração antes que ele tivesse tempo de se proteger. Ela era bonita, com certeza, mas havia muitas moças bonita em Camlochlin. Talvez, fosse a doce vulnerabilidade dela, ou a centelha da vida que, apesar da tragédia que lhe ocorrera, não tinha sido extinta. Parecia que um vento leve poderia carregá-la, mas ela ficava de pé, com as pernas apoiadas e encarava a natureza primeiro. Ela era forte. Sim, ela era isso. Atirando flechas em seus inimigos em vez de fugir por sua vida. Perdendo tudo e todos e chorando baixinho enquanto descansava a cabeça durante a noite, em vez de lamentar sua dor. Ele dormiu pensando que ela era o tipo de mulher com quem ele poderia perder o coração e que deveria levá-la para casa.

Mas ele acordou esta manhã com a cabeça limpa. Tristan ainda carregava uma cicatriz na sua coxa da flecha de Donald MacPherson, quando o Laird e seus filhos os encontraram naquela manhã agradável de verão. A lição de Rob naquele dia foi aprendida e não esquecida. Ele ajudaria a Davina, mas isso era tudo. Ele encontraria um refúgio rapidamente e retornaria à sua vida. Ele nunca mais deixaria uma moça roubar-lhe os bons sentidos e pôr seus parentes em risco. Especialmente uma moça que era responsável pela morte de mais de cem homens.

O que o levou a outro dilema. Por que Monmouth ou Argyll a queriam morta? Will estava certo quando a chamou de inteligente. Ela evitou as perguntas dele, contando a todos, o que alguém que estivesse meio interessado em James de York, poderia querer saber. Mas nada disso tinha a ver com o massacre em St. Christopher. Por que o exército do rei Charles estaria guardando uma noviça? O que mais ela sabia que não tinha lido em um livro? A tentativa contra a sua vida teve algo a ver com a coroação do novo rei? Ela se recusava a dizer qualquer coisa, mas isso não importava. Ele sabia tudo o que precisava saber. Davina Montgomery era perigo e risco, e Rob nunca foi descuidado.

— Existe uma abadia em Ayrshire, — disse ela, como se estivesse lendo a profunda preocupação que encolhia sua testa. — Eu estarei segura lá.

Rob estudou o rosto dela em silêncio. Ela não queria ir para lá. Não era o medo que ele via nos olhos dela que lhe dizia isso, mas a resignação como se ela não tivesse outra escolha a não ser aceitar seu destino.

— Você disse que não estaria segura em lugar algum.

— Eu tinha esquecido de Courlochcraig. Eu não estava pensando claramente.

Era uma solução. Ele poderia deixá-la na nova abadia e manter seus inimigos longe de seus parentes.

— Muito também. Vamos acompanhá-lo até Ayrshire.

— Eu ficarei grata por isso, — disse ela, levantando-se. Ela mal alcançava o peito dele, mas reuniu coragem ao seu redor como um manto. — Minha vida já custou muito. Não vou arriscar a sua.

— Nem eu. — Ele se afastou dela antes de ser tentado a refletir sobre a extraordinária beleza de seus olhos. Foi a luz solar filtrada que fluía através do dossel das folhas verdes de verão que mudaram de cor para cerúleo profundo? Maldição, ele poderia encontrar satisfação olhando para eles para sempre, tirando todos os seus segredos e...

— Vamos nos mover e sair daqui. — Ele andou a cavalo, puxou uma túnica nova do alforje e passou-a pela cabeça. Ele desapareceu atrás de uma árvore para esvaziar a bexiga e depois pensou um pouco melhor. Ele tinha que supor que poderiam ser seguidos por qualquer soldado que tivesse sobrevivido ao ataque à abadia e talvez o tenha visto cavalgando com Davina. Um bom rastreador localizaria ou cheiraria o que fosse descuidado o suficiente para deixar para trás.

Olhando ao redor da árvore, ele viu Davina compartilhar uma palavra com Finn enquanto eles selavam os cavalos. Ela não possuía ares de superioridade, como uma nobre dama. Ela falava suavemente e parecia calma, exceto quando tentou matá-lo com sua própria adaga. Ela rezou por ele... Ele estudou as roupas pesadas que escondiam grande parte de sua forma e se viu imaginando como ela seria por baixo. Ela era magra, isso ele podia dizer. A lã grossa pendia dos ombros esbeltos em dobras e amontoava-se na cintura, mal definida pela corda que ela amarrava ali. Ela precisava comer algo além de frutas, mas não havia tempo para caçar. Ele rezou para que não estivessem sendo seguidos.

— Se cavalgarmos rápido, — ele disse a todos, saindo de trás da árvore, — podemos chegar a Ayrshire em algumas horas.

— Cavalgar rápido? — A moça virou-se para ele, os olhos arregalados de medo.

— Você está dolorida? — Ele perguntou, notando a mão dela se deslizando atrás dela para esfregar suas coxas.

— Eu vou ficar bem. — Ela ofereceu um sorriso rápido, então se virou.

Rob olhou para ela por mais um momento, amaldiçoando o efeito que seu sorriso mais casual teve sobre ele.

— Precisamos cobrir nossos rastros daqui em diante, — ele chamou os outros. — Nós não paramos por aqui. Will, você e Colin varram com galhos e encubram a fogueira. Finn, atire alguns galhos pelo lugar. — Seus olhos encontraram os de Davina novamente. — Ir a pé ajudará a aliviar sua dor. Procure a sujeira dos cavalos e cubra o que encontrar com folhas.

O nariz dela enrugou antes dele se virar para a tarefa. Desta vez, ele não pôde deixar de sorrir.

 


Capítulo Sete

Ele cavalgou com Davina por quase uma hora antes que ela relaxasse no garanhão de Rob. Ela não tinha percebido que suas unhas estavam pressionadas no pulso do Highlander, ou que seus olhos estavam cerrados enquanto viajavam para o noroeste ao longo de riachos de seixos e vales orvalhados cheirosos de urze. Ela nunca tinha cavalgado em um cavalo antes. Para onde ir? O tamanho da fera, a circunferência, os sussurros repentinos que ela tinha certeza eram avisos de que o cavalo gigante estava prestes a jogá-los de costas... eram completamente novos e aterrorizantes para ela. Ela suspeitava que estivesse muito entorpecida ontem para apreciar completamente a força do vento que as pernas finas e ósseas da montaria produziam.

Mas Davina havia aprendido como conter seus medos, para que eles não a consumissem; então, depois de uma hora, ela se forçou a afrouxar o aperto e abrir os olhos.

O que ela viu a fascinou. Ao redor dela, o mundo irrompeu em cores radiantes de vermelho, verde e roxo, um mundo que ela nunca tinha visto antes. Quantas vezes ela se perdeu em seus devaneios, imaginando uma vida diferente? Uma sem trancas, com uma mãe e um pai que a acolhessem em suas vidas, um marido e filhos que tornaram sua vida vital por outras razões mais puras. Uma vida sem medo do que o amanhã poderia trazer. Se ao menos pudesse abandonar-se à alegria de se sentir livre tão facilmente quanto desafiava seus medos. Ela poderia descansar contra o peito largo e em forma atrás dela e aproveitar o vento nos cabelos e o sol no rosto. Mas toda a sua vida foi construída em torno de avisos e perigos. Ela não podia tão descuidadamente abandonar suas lições. Nem mesmo aninhada no abraço de um homem cujo corpo assombraria seus sonhos nos próximos anos. Por tudo o que era sagrado, ela entendia agora por que Eva cedeu à tentação no Jardim. Davina sabia que Rob MacGregor estava duro e esbelto por tocá-lo na véspera, mas ver todo aquele homem caminhando em sua direção à luz da manhã provocou um desejo de querer pertencer a ele. Era o que a abadessa chamava de “um desejo básico” primitivo, profano. Rob MacGregor era profano por certo, com um peito largo e cheio de pelos, com cabelos escuros e uma barriga esculpida em pequenos sulcos apertados. O mais pecaminoso de todos, porém, foi a curva sensual dos músculos em V abaixo do abdômen, como se eles surgissem de algum lugar embaixo de seu kilt. Foi essa imagem que invadiu seus pensamentos quando ele a levantou em sua sela acolchoada naquela manhã e depois pulou atrás dela. O cheiro dele subiu à cabeça dela, intensificando o calor de seus músculos, a intimidade de seus braços se fechando em volta dela.

Um desejo básico, mas que mulher de sangue quente não gostaria que um homem assim ficasse ao lado dela quando o mundo que ela conhecia se desfez? E não era apenas a força dele que a tentava, mas seu completo domínio sobre a situação. A maneira como ele garantiu que nada parecesse antinatural no acampamento, o caminho cuidadoso em que os colocou, deixaria menos pistas. Ele foi deliberado em seu pensamento, nenhum segundo adivinhando se ou o que os outros ao seu redor pensava de suas decisões. Isso despertou a esperança de que este Highlander fosse capaz de protegê-la. Que ele realmente poderia querer isso, pelo menos por enquanto. Mas ela não confiava na esperança. Não mais.

— Diga-me, moça. — O barítono naturalmente profundo da voz de Rob atrás dela enviou um calor indesejado e desconhecido pela sua espinha. — Por que uma dama inglesa tem um nome escocês?

Suas costas se endureceram com o retorno da cautela.

— Por que você acha que eu sou inglesa? — Ela perguntou, mantendo os olhos firmes à frente.

— Você fala como eles, e você é bem-educada.

O forte tom de voz dele tocava uma melodia no ouvido dela, acalmando seus nervos, mas não o suficiente para relaxar completamente a guarda. Ele era esperto. Ele já havia provado isso no acampamento e do jeito que a enganou com sua pergunta sobre amar Edward.

— Fui criada por freiras inglesas. Você esperava que eu fosse problemática?

— Eu não sabia que elas eram inglesas, — disse ele, pensativo, dando a ela um momento de verdadeiro medo de que ela pudesse, mais uma vez, falar demais. — Mas você foi criada com mais homens que mulheres e ainda possui toda a propriedade de uma moça bem-educada.

Agora ela se virou para olhá-lo nos olhos, com dúvidas sobre ele claramente aparecendo nos dela.

— E quem lhe informou que fui criada com homens? Esses soldados podem estar visitando St. Christopher, como você afirma estar fazendo.

— Sua flecha me perfurou de dentro da abadia, me informou. — Sua voz mergulhou com a sugestão do que poderia ter sido humor. Ela não tinha certeza, já que ele não lhe ofereceu o menor traço de sorriso desde que acordou esta manhã. — Uma garota não domina esse tipo de habilidade, a menos que tenha sido ensinada por muitos anos.

Sim, ele era esperto... e sem dúvida, o homem mais bonito que ela já viu. Por um instante vergonhoso, ela se perguntou como ele ficaria com aqueles cachos de obsidiana se soltando ao redor do rosto, em vez de ficar preso com cuidado. Ele sempre foi tão sério, tão no controle? Deus a perdoasse, por que ela estava curiosa sobre o lado selvagem de seu caráter? Ela sabia que uma parte dele existia em algum lugar além de sua rígida compostura. Ela viu uma faísca de algo puramente selvagem nos olhos dele quando o atacou na véspera. Isso a assustou e aumentou sua consciência de sua virilidade ao mesmo tempo. Ela realmente precisava rezar.

— Quem a nomeou assim?

Ela piscou, limpando seus pensamentos impuros.

— Meu pai, — ela disse e sentou-se à frente, longe do corpo dele.

— Seu pai é um escocês, então?

Embora seus dias estivessem frequentemente preocupados com pensamentos sobre sua verdadeira família, e se eles a reconheceriam se a vissem, Davina nunca havia falado deles com ninguém, e ela não queria fazê-lo agora.

— Ele era.

— E sua mãe? — Seus dedos tocaram suavemente através de sua barriga.

— Ela... — Davina limpou a sobrancelha que de repente ficou quente ao seu toque. Ela tentou se afastar mais dele, mas não havia outro lugar para ir. — Ela morreu quando eu tinha dez anos, pelo que me disseram. — Ela tentou relaxar a respiração, com medo das perguntas que ele faria a seguir e com que facilidade ela poderia responder, implorando sua proteção. Mas se ele não era seu inimigo, então ele era o inimigo de seus inimigos. Se ele não sabia quem ela era, era melhor que nunca descobrisse. Ela não deixaria mais pessoas morrerem por causa dela.

— Como eles se chamavam?

Suas perguntas não eram casuais, nem seu toque. Ela duvidava que ele fizesse algo sem propósito e estava cansada de ter que ser tão vigiada ao seu redor.

— Eles eram Lorde e Lady Whithorn, — disse ela, esperando que isso o satisfizesse. — Eu não desejo pensar neles.

Quando ela não ofereceu mais nada, seus músculos ficaram tensos atrás dela, a coluna dela reagiu igualmente, talvez com raiva ou frustração, ela não sabia, nem se importava. Ela só estava agradecida por ele não falar novamente.

Normalmente, Davina apreciava o silêncio. Não era porque ela estava acostumada. Enquanto as abadias tendiam a ser lugares tranquilos geralmente, pelo tempo que ela conseguia se lembrar, os salões de St. Christopher costumavam trovejar com o som de espadas e o bater de martelos, em vez de orações sussurradas. Sempre havia reparos a serem feitos e as irmãs usavam os homens que receberam para consertar quase tudo. Os soldados não se importaram. Não havia mais nada a fazer senão praticar, brigar e compartilhar histórias sobre seus entes queridos. Talvez em outro lugar Davina tivesse acalentado o clamor ao seu redor, mas na maioria das vezes esses sons de normalidade serviam apenas como um lembrete do que nunca poderia ser dela.

Como ela sentia falta daqueles sons agora. Uma lágrima escorreu por seus cílios com a lembrança de espiar por cima do muro da torre e ver os homens cujos rostos... vozes... haviam se tornado tão familiares para ela quanto os dela, sem vida e silenciosos. E as irmãs... seus gritos da capela em chamas a assombrariam por dez vidas.

Dando um toque na bochecha, Davina lutou para afastar sua dor, mas agora seu amado silêncio apenas intensificava sua solidão.

Ela notou que Finn os havia alcançado e estava mantendo sua montaria em um ritmo uniforme ao lado deles. Ela olhou para ele através dos olhos enevoados. Ele sorriu suavemente e, mais uma vez, ela imaginou que ele voara do céu, talvez nas asas que ele escondia sob seu plaid.

— Onde fica sua casa? — Ela perguntou calmamente, desesperada por uma distração de sua tristeza.

— Está em Skye.

Ela teve que sorrir com isso. Ela estava certa sobre ele o tempo todo.

— É muito longe?

— Longe o suficiente, — respondeu Rob por trás.

Para quê? Davina se perguntou. Longe o suficiente para se esconder e nunca ser encontrado? O que isso importava? Se falasse a verdade sobre tudo até agora, ele realmente a levaria para Ayrshire e a deixaria lá. Ela deveria se sentir aliviada, agradecida por Deus tê-lo enviado para ajudá-la. Mas primeiro ela tinha que ter certeza de que foi Deus quem trouxe esse homem para ela, e não seus inimigos.

— Diga-me como você veio a conhecer Edward.

Ele se moveu atrás dela, uma onda de músculos afiados que enviaram seus pensamentos perturbados aos quatro ventos, apenas para serem substituídos por outros ainda mais escuros quando sua mão pousou na curva de seu quadril. Nenhum dos soldados ingleses em sua companhia jamais a tocou com intimidade. Era proibido, embora Edward a tivesse abraçado uma vez. Ela não sabia como reagir a esse Highlander meio vestido que a segurava como se ela fosse dele.

— O Capitão Asher estava brigando por sua vida. Ele me disse que você ainda estava viva quando viu sua flecha na minha mão, e me pediu para salvá-la.

Davina sorriu e fechou os olhos, lembrando-se do seu melhor amigo. Mesmo com sua morte em mãos, Edward procurou protegê-la.

— Ele me disse que seus inimigos queriam que você queimasse, — continuou Rob. Na frente dele, o sorriso de Davina desapareceu. Então, seu capitão havia lhe dito mais do que Rob havia admitido. O que mais ele sabia?

— Ele te guardou sob as ordens do rei Charles?

— Não, — ela disse com sinceridade.

— Ele te guardou porque estava apaixonado por você, então?

Toda sua cautela não poderia tê-la preparado para a pergunta de Finn. Sem saber como responder, ela se virou para ele e soube pela expressão envergonhada em seu rosto que Rob também o estava encarando.

— Ele me amava, — revelou ela, desejando mentir o mínimo possível. Ele ia dizer a ela naquela noite na porta dela, mas ele nunca teve a chance. Talvez fosse melhor que ele tivesse voltado para casa, para Deus, sem saber que ela não sentia o mesmo que ele. — Ele era um homem bom e nunca o esquecerei.

— Um capitão não tem autoridade para manter todo o seu regimento escondido em uma abadia para proteger uma moça, quer a ame ou não, — Rob disse aos dois com um pouco de rudeza em suas palavras. Davina sentiu-o inspirar profundamente, como se estivesse tentando controlar o que estava sentindo. — Eu deixei você escapar das minhas perguntas por tempo suficiente. Eu saberei a verdade de tudo isso agora, Davina.

Ele estava com raiva. Ele queria respostas e não as estava conseguindo. Ainda assim, o nome dela nos lábios dele parecia terno, estranhamente profundo. Quanto tempo se passou desde que um homem falou assim? O último foi o capitão Geoffries quando ele a estava deixando. Antes disso, talvez o pai dela...

— Se eu devo levar a guerra ao meu clã por ajudá-la, eu quero saber por quê.

Com suas palavras, Will, cavalgando um pouco à frente deles, virou-se e deu um olhar curioso em seu primo. Rob ignorou e abaixou a voz para que apenas ela e Finn, os próximos, pudessem ouvir.

— Diga-me por que você foi enclausurada como se fosse uma esquecida, mas protegida como uma rainha?

Como uma esquecida. Suas palavras cavaram profundamente o núcleo da tristeza de Davina. Sua verdadeira família sabia que ela existia e, embora uma legião dos melhores homens do rei tivesse ajudado a criá-la, a verdade era que ela havia sido abandonada. Sua infância foi solitária, e seu futuro, se ela vivesse para vê-lo, estava cheio de sorrisos frios e falsos afetos.

Mas ela também havia recebido tanto de Deus, as irmãs que a amavam e homens que haviam dado a vida por ela. Ela não tinha o direito de murmurar e reclamar de coisas que deveriam ser dela, e nunca foram. Mas estar nos braços desse homem, cavalgando com seus homens pelas colinas cobertas de urze, como se ela não fosse nada além de uma moça das Highlands voltando para casa com o marido, despertou seus desejos mais do que nunca.

— O que você tem a ver com o rei, Davina? Por que Argyll ou Monmouth quer vê-la morta?

Ela se virou para ele, querendo que ele visse a verdade em seus olhos e procurasse o mesmo nos dele.

— Você realmente não sabe, Rob MacGregor?

— Nae moça, eu realmente não sei.

Sua resposta não a fez tão feliz quanto ela esperava. Se ele não sabia, ainda havia tempo para mantê-lo fora disso e manter seus desejos egoístas sob controle. Ela nunca poderia lhe pertencer, ou a qualquer homem como ele. A vida que ela queria era simplesmente um sonho. Ela sabia disso desde criança e não estava prestes a despertar aquela garotinha solitária.

— Então, por favor, entenda, — disse ela, virando-se entre as coxas dele. — Prefiro que você não saiba mais nada. Sou grata por sua ajuda e não peço mais nada a não ser sua liberação quando chegarmos a Courlochcraig.

Ele não se moveu atrás dela. De fato, Davina tinha certeza de que ele não respirava. Então, com um estalo de suas rédeas que instaram sua montaria a se mover mais rápido, ele se afastou da orelha dela e rosnou.

— Como você desejar.

Cada momento passado entre eles em silêncio ecoava como um tambor nos ouvidos de Rob. Quaisquer que fossem os segredos que Davina conhecesse, ela deixou claro que não iria contar para ele. Ele sabia que ela não podia estar feliz em ir para outro convento, um sem exército, mas ela preferia isso a dizer a verdade. Ele teria achado tanta coragem admirável se não estivesse tão ofendido. No acampamento, ele achou agradável que ela mentisse para ele por sua “segurança”. Mas a verdade estava sempre ali nos olhos dela, sempre presente quando ela falava com ele. Ela não confiava nele, mesmo que ele tivesse arriscado sua vida para salvá-la. Ele ficou surpreso que isso pudesse irritar sua raiva. Ela não tinha motivos para confiar nele, mas ele queria que ela confiasse.

Ainda assim, como ela poderia, quando ele a estava entregando a mais freiras, em vez de levá-la ao único lugar em que estaria verdadeiramente segura? Inferno, ele não poderia levá-la para Camlochlin. Isso provavelmente levaria seus inimigos para lá.

Ele apertou os dentes contra o vento forte com todas as incertezas agitando dentro dele. Ele sabia o que deveria fazer para deixá-la e se afastar dela antes que houvesse um exército em seu traseiro. Mas como ele poderia fugir e ainda reivindicar o direito de ser chamado Laird algum dia? Fugir do desconhecido era covardia. Mas mais do que isso, Rob não queria deixá-la. O pensamento, a sugestão disso, o fez querer envolvê-la em seu plaid e seguir para Camlochlin.

Asher a tinha amado? Deus ajude o homem se ele tiver, pois perder o coração dessa moça custaria muito a um homem. Ela o amava em troca?

Por que diabos ele deveria se importar? O homem estava morto, afinal. Além disso, mesmo que dois exércitos não tivessem brigado por ela, mesmo que ela não tivesse prometido sua vida a Deus, e agora ele acreditava que ela tinha feito isso, a última coisa que Rob precisava em sua vida naquele momento era uma moça. Ele trabalhava o dia todo com o pai e praticava suas habilidades de luta à noite. Ele não tinha tempo para cortejar e ainda menos inclinação para fazê-lo. Mas, maldição, a maneira como sua expressão se suavizava com carinho quando falou do capitão fez com que a mandíbula de Rob se apertasse. Ciúme era uma emoção inútil e que Rob nunca tinha desperdiçado seu tempo nisso. Ele poderia muito bem ter ciúmes de Deus por ligar Davina a Ele. Que o Todo-Poderoso o matasse, se ele se tornasse tão patético.

Asher era um tolo por se apaixonar por ela e pagara o preço por isso. Rob não cometeria o mesmo erro.

 

Capítulo Oito

A cruz acima da torre do sino da abadia de Courlochcraig erguia-se no alto da velha cidade de Ayr, projetando sombras nos cinco rostos olhando para ela.

Rob examinou o perímetro cuidadosamente, enquanto Colin desmontava e abria o pesado portão de ferro que barrava a entrada deles. A abadia estava no alto de uma antiga fundação do motte e bailey7, provavelmente construída nos dias anteriores à invasão normanda. Do ponto de vista ao longo da torre, era possível ver em todas as direções, desde os majestosos picos de Arran até o Mull of Kintyre atrás. Havia poucas árvores para obscurecer a presença de um inimigo, e a velha ponte, sendo o principal cruzamento para a cidade portuária, estava bem à vista. Elas não tinham um exército, mas pelo menos podiam ver um vindo para atravessar.

— Rob?

Ele dirigiu o olhar afiado para o irmão em pé ao lado do portão, esperando que ele trouxesse Davina.

— A abadessa se aproxima. — Colin apontou para uma mulher alta e magra saindo do convento com outras quatro freiras correndo para acompanhar. Todas estavam vestidas do pé à coroa, de hábito cinza e branco, braços cruzados sobre a cintura, mãos enfiadas nas mangas largas.

Mulheres, Rob lembrou-se tristemente. Quem as protegeria se os inimigos de Davina a encontrassem aqui?

— Bom dia, madre, — Colin cumprimentou com uma reverência.

A abadessa passou pelo jovem Highlander sem olhar em sua direção. Seus olhos cinzentos eram tão claros e frios quanto as paredes de pedra atrás dela, e eles estavam fixos em Davina enquanto Rob a ajudava a desmontar. Envolto em dura lã branca, o rosto magro da abadessa permaneceu impassível enquanto seu olhar roçava as vestes de Davina, a cabeça descoberta e a mão segurando o braço do gigante Highlander ao seu lado. Os olhos dela permaneceram no toque deles por tempo suficiente para Davina deixá-lo ir.

— Lady Montgomery — disse a abadessa, sem a menor mudança sutil de seu tom para sugerir que conhecia Davina de outro lugar e que a estava esperando.

Ao mencionar seu sobrenome, Rob sentiu Davina ficar rígida ao seu lado antes dela acenar com a cabeça. Ele olhou para ela a tempo de pegar o olhar cauteloso que ela lançou à abadessa.

— Onde está o capitão Asher? — Perguntou a abadessa, voltando sua atenção para Rob pela primeira vez e validando sua primeira suposição. — Eu acreditava que ele estaria escoltando minha convidada até Courlochcraig.

— St. Christopher foi atacada, Reverenda Madre. O capitão Asher morreu.

Apenas um indício da dor que ele acabara de causar a ela brilhou em seus olhos antes que ela os abaixasse no chão.

— E as irmãs?

— Lamento informar que elas também estão perdidas. — Rob suavizou sua voz por amor a Davina, bem como da abadessa.

A abadessa se cruzou, fez uma pausa, provavelmente em oração, e depois ergueu o olhar seco para o de Rob.

— Quem é você?

— Eu sou Robert MacGregor, do clã MacGregor. Esses homens são...

Ele não teve a chance de terminar sua introdução. A abadessa, levantando a palma da mão, o deteve.

— MacGregors. Deus esteja conosco. — Se ela pretendia insultá-los ainda mais, deve ter decidido fazê-lo mais tarde, pois seu rosto finalmente se suavizou quando alcançou Davina. — Entre, criança. Você encontrará refúgio aqui. — Ela juntou Davina nos braços e depois se virou para Rob. — Tem comida e bebida lá dentro. Você e seus homens podem descansar antes de me contar como ela entrou em seu poder.

A abadessa esperava Davina, pensou Rob, enquanto subia os degraus atrás das mulheres. Asher ou a abadessa de St. Christopher devem ter escrito uma missiva para ela. Isso significava que eles sabiam que seus inimigos estavam a caminho. Mas como eles sabiam, e por que todos não fugiram antes que fosse tarde demais? Quem diabos era Davina Montgomery e por que ela deveria ser protegida não apenas pelo exército real, mas também pela Igreja? Quaisquer que fossem as respostas, ela estava em grande perigo. Como ele poderia deixá-la aqui, indefesa? Quando ela se virou para olhá-lo por cima do ombro, como se quisesse ter certeza de que ele ainda estava com ela, Rob sabia que não iria a lugar nenhum.

O capitão Edward Asher era um homem cheio de recursos. Se Davina ainda estava viva, ele tinha que encontrá-la antes de Gilles. E o almirante a encontraria... eventualmente. Finalmente exposta ao mundo, as pessoas notariam Davina Montgomery. Eles questionariam por que uma mulher com tanto esplendor estava vestida com as vestes de uma freira. Embora ela nunca contasse ao mundo seus segredos, ela era gentil e extrovertida, e aqueles que a conheciam se lembrariam dela, talvez o suficiente para descrever para Gilles, caso ele os questionasse.

Edward tinha que encontrá-la. Ele tinha que avisá-la e a MacGregor se ela estava com ele que seus inimigos não a acharam morta e que agora a estavam caçando.

Ele não podia fazer isso a pé, e como o estábulo e a abadia haviam sido completamente queimados, ele teve que encontrar um cavalo e um riacho para se lavar do sangue da batalha antes de procurar em cidades e vilarejos por ela.

Ele não demorou muito para encontrar quando se deparou com uma pequena cabana situada dentro de um grupo de árvores. O poço fornecia água fresca e o corcel amarrado ao portão baixo da frente daria velocidade. Ele lavou-se rapidamente, enchendo o balde do poço e afundando a cabeça duas vezes. Ele saltou sobre o cavalo no momento em que a porta se abriu. O homem que gritava rapidamente deu a Edward uma pausa, apenas o tempo suficiente, para deslizar o anel pesado do dedo indicador esquerdo e jogá-lo para o homem.

— Pagamento pelo seu cavalo, bom homem.

Ele não era digno de usar o selo real de qualquer maneira. Todo mundo na abadia estava morto. Os homens dele... as irmãs. Ele rezou para que Davina o perdoasse. Ele rezou por apenas mais uma chance de provar sua devoção a ela.

 

Capítulo Nove

Rob encostou o ombro na porta da igreja. Estava escuro lá dentro, exceto pelo suave brilho âmbar de algumas dúzias de velas de cera dançando ao longo dos bancos polidos. Ele não precisava de luz para dizer que Davina estava aqui. Suas orações sussurradas ecoavam como cordas de harpa sob o teto pintado de querubins.

Fazia três dias desde que chegaram a Courlochcraig. Três dias a mais do que Rob pretendia ficar. A Reverenda Madre insistiu que ele e seu grupo partissem na noite em que chegaram, especialmente depois que duas jovens aprendizes os viram e riram durante o jantar. Quando Rob se recusou a ir até ter certeza de que não haviam sido seguidos, foi Will quem discutiu com ele primeiro, insistindo que, se ele fosse forçado a permanecer em um convento por um período prolongado, ele não poderia ser responsabilizado, por qualquer voto quebrado das irmãs. Seu aviso quase fez com que a abadessa perdesse a compostura e Rob, as boas graças de Deus.

Discutir com uma Reverenda Madre era um pecado, com certeza, mas Rob havia se decidido e apenas um ato de Deus mudaria isso. Enquanto isso, ele prometeu manter seu primo sob controle. As irmãs, ele dissera à abadessa, eram responsabilidade dela. Ela não estava satisfeita, mas havia parado de discutir com ele. Ela também se recusou a esclarecê-lo sobre Davina, alegando que sabia tão pouco quanto ele. Quando ele perguntou como ela reconheceu Davina quando a viu, a abadessa disse que tinha visto Davina uma vez quando visitou St. Christopher em retirada muitos anos atrás, e que era difícil esquecer a criança. Como era a mulher, Rob pensou silenciosamente e deixou o assunto cair. Ele não obteria respostas, mesmo que a abadessa as conhecesse.

Um movimento ao longo dos bancos da igreja chamou sua atenção agora e ele observou enquanto Davina se cruzava e se afastava do altar.

Ele estava se familiarizando com os hábitos dela. Ela orava duas vezes por dia na igreja, uma vez pela manhã com as outras irmãs e depois do jantar, sozinha. No meio, consertava as roupas, cuidava do jardim, picava legumes e olhava para ele com frequência.

A princípio, Rob tentara fingir que não a estava observando com outro objetivo, além de mantê-la em sua linha de visão, caso Colin ou Finn chamassem da torre do sino que os cavaleiros estavam se aproximando. Mas depois do primeiro dia, ele não podia mais negar que havia outras razões muito mais perigosas pelas quais ele não conseguia tirar os olhos dela. O jeito que ela mordia um canto do lábio inferior, dando-lhe toda a atenção ou aparecendo a sua costura, fê-lo por muito tempo para sentir como se seus lábios pressionassem ao dele. A maneira como seu olhar se desviava para outro lugar, capturando a luz do sol em tons vívidos de azul e prata deslumbrante, apesar da profunda tristeza que os assombrava, o levou a se aproximar, a olhar mais de perto e a encontrar uma maneira de confortá-la. Sua beleza etérea o hipnotizava, mas era o jeito que ela o procurava com frequência, como se se convencesse de que ele não a deixaria, que o tentava a puxá-la a seus braços e jurar por sua vida mantê-la em segurança. Ela mal falava com ele à noite enquanto colocava bandagens no ferimento dele na companhia das outras freiras. Ela não sorria quando seus olhos se encontravam sobre uma mesa ou uma cama de gerânios. Ela havia perdido muito e logo o perderia também. Ambos sabiam disso. Ele não poderia ficar aqui com ela para sempre, embora o pensamento não fosse desagradável, e ele não colocaria em risco a vida de todos em Camlochlin, levando-a para lá. Ainda assim, ele não conseguia deixá-la. Ainda não.

Quando Davina o viu na porta, ela parou nos passos por um momento. Presa entre sombras e luz, ela parecia uma visão revivida dos sonhos de um moribundo. Rob engoliu em seco, depois empurrou a porta e esperou que ela o alcançasse.

— Você tem medo por minha segurança, mesmo aqui? — Ela perguntou com aquela voz doce que ele estava ficando tão acostumado a ouvir. Não que ela falasse com frequência, mas sim que isso não fazia Rob inclinar a orelha dele sempre que falava com alguém.

— Deus me designou para a tarefa.

— Então, isso parece. — Ela inclinou a cabeça e antes que ele pudesse se proteger contra isso, sorriu para ele.

Rob tinha certeza de que ouviu o bater do coração reverberando através do silêncio. Ele teve o desejo de arrancar o fino véu que cobria seus cabelos loiros prateados da cabeça, um lembrete de que ela pertencia a outro. Alguém que conhecia todos os seus segredos, todos os seus medos, forças e desejos. Um com quem ela falava todos os dias e confiava além do que estava disposta a oferecer a mais alguém.

Antes que ele pudesse se conter, estendeu a mão e passou os dedos pelo pulso dela. Um toque proibido, e mais ainda aqui na casa de seu Noivo.

Ela se aproximou como se ele a tivesse puxado para ele.

— Por que você ora, Robert MacGregor?

— Meu clã, — ele disse a ela e, em seguida, porque nunca teve tempo para considerar a mulher que iria escolher para passar o resto de seus dias, até que conheceu aquela que ele nunca poderia ter, cruzou as mãos atrás das costas e desviou o olhar. — E você.

— Você tem meus agradecimentos por isso. — Ela continuou a confundir seus bons sentidos quando colocou a palma da mão em seu braço. — Mas mesmo Deus não espera que você fique aqui, esquecendo seus deveres para com sua família.

Ela estava certa, é claro. Deveria deixá-la e retornar aos seus parentes, onde ele pertencia.

— Eu não cumpri meus deveres. — Ele voltou seu olhar para o dela e se maravilhou com a inocência em seus olhos depois de tudo que ela tinha visto, e a força neles para afastar sua única proteção. — Estou dividido por eles.

— Mais um motivo para ir, — disse ela, afastando-se para voltar ao local onde a havia encontrado.

Rob a observou se sentar e depois a seguiu, sentando no banco atrás dela.

— Por que você não deixou St. Christopher quando sabia que seus inimigos estavam chegando? — Ele queria a verdade dela sobre isso, pelo menos.

Ela encolheu os ombros sob as vestes.

— Não tínhamos certeza de que eles estavam vindo. As irmãs não teriam partido, e eu não poderia abandoná-las.

Atrás dela, Rob avançou um pouco para inalar a doce fragrância de seus cabelos sob o véu.

— Será que uma moça pequenina que cresceu em um convento tem mais coragem do que um homem criado para batalha, então?

— Oh, não, eu não quis dizer isso! — Ela virou-se e quase bateu o nariz no dele antes que ele se afastasse. — Não duvido que você seja corajoso. Mas eu não sou sua responsabilidade. Não há razão para colocar sua vida em risco por mim.

Havia mais razões do que Rob queria admitir para ela... ou para si mesmo. Ele se recostou e cruzou os braços sobre o peito.

— Minha vida não está em risco, Davina. É provável que os homens que a queriam morta, possam ter morrido no incêndio. Eles não virão por você aqui.

— Então por que você ordenou que Colin e Finn vigiassem a torre do sino, e por que Will está fazendo guarda no portão dia e noite?

Rob mordeu a mandíbula, não gostando da rapidez com que ela percebeu a contradição e o questionou.

— É minha natureza estar vigilante.

— Você está meditando novamente.

Ele lançou um olhar sombrio para ela.

— Mulher, eu não estou pensando.

— Mau humor?

— A mesma coisa, — ele murmurou baixinho.

Ela deu de ombros, virando-se para a frente na cadeira.

— Desagrado, então.

Rob olhou para a nuca dela. Ela brincava com ele? Se sim, era a primeira vez que via esse lado dela. Ele não tinha certeza do que gostava nela por provocá-lo, mas era muito melhor do que acusá-lo com seriedade. Quando ela inclinou o olhar por cima do ombro e lhe lançou um sorriso, ele decidiu que poderia viver com algumas provocações.

— A abadessa sabe que você não é tão inocente quanto parece?

Ela se virou para encará-lo novamente com uma risada nos olhos e segurou o dedo na boca.

— Vou ter penitência por uma noite.

— E será bem merecido.

Contra a luz das velas, seus olhos brilhavam com malícia, e sua boca estava aberta com um sorriso tão bonito que Rob não teve dificuldade em entender por que Deus a havia escolhido como sua. O que causou essa mudança nela? Deus ouviu suas orações e levantou sua dor? Rob pensou que ele nunca poderia vê-la sorrir, nunca ouvir sua risada. Mas aqui estava, tão inesperado quanto a chuva do verão e tão refrescante.

— Se eu soubesse o quanto os Highlanders eram sensíveis, teria segurado minha língua.

Ele sorriu.

— Por mais afiada que seja, moça, eu receio ser cortado por seus lábios.

Davina pareceu agradavelmente surpresa. Rob percebeu um instante depois que fazia parte do caráter dela quando disse docemente:

— Você não é tão grosso como eu pensava.

Estreitando os olhos para ela, ele balançou a cabeça.

— Oh, moça, você é tão cruel quanto Mairi.

— Sua irmã, — disse Davina, descansando o braço nas costas do banco e dando-lhe toda a atenção. — Aquela que não pode ficar calada, senão já teria encontrado um marido?

Rob assentiu, um pouco surpreso que ela se lembrasse da conversa deles sobre Mairi tão claramente.

— Ela é venenosa.

— Mas você a ama.

— Sim, eu a amo.

O sorriso dela ficou melancólico.

— Conte-me sobre sua família, — ela perguntou, colocando a mão sob o queixo e ficando mais confortável para o conto.

Uma hora depois, Davina sabia mais sobre os MacGregors de Skye do que provavelmente jamais supôs. Ela gostava mais de ouvir sobre Maggie, o que agradou a Rob, já que a tia dele ocupava um lugar especial em seu coração. Quando ele contou como seu pai salvou sua mãe dos MacColls e depois a levou para Camlochlin, ela suspirou de alegria, fazendo Rob querer lhe provar que ele era tão valente quanto seu pai.

— Aqueles eram tempos perigosos para meus pais. Minha mãe é uma Campbell, e...

— Uma Campbell? — Davina o interrompeu, com aquele brilho cauteloso voltando aos olhos. — Então o conde de Argyll é seu parente. Por que você não me contou isso antes?

— Porque eu não o considero parente, — explicou Rob em voz baixa. — Meu tio Robert foi o décimo primeiro conde, mas ele foi morto há quase uma década pelos Fergusson. Ele morreu sem filhos e o título foi para Archibald. Eu não conheço o conde exilado, nem quero. Você não tem nada a temer de mim, Davina. Eu juro.

Ela assentiu, mas não parecia totalmente convencida.

— Mas seu tio era protestante. Todos os Campbells se opõem fortemente à autoridade real e à sucessão legítima, especialmente quando a sucessão ao trono envolve um monarca católico.

— E o que isso tem a ver com você?

— Nada, — ela se apressou a dizer a ele. — Não tem nada a ver comigo, exceto que eu apoio meu rei e suas crenças. Sua família não apoia os protestantes, apoia?

— Nae, — Rob garantiu a ela, curioso de seu conhecimento apurado de coisas que nenhuma outra moça se importaria nem um pouco em saber. — Nós somos católicos.

Seus traços tensos relaxaram um pouco.

— É bom saber.

Ele queria perguntar a ela por que era bom saber? E o que a levou a aprender muito sobre o funcionamento do reino e as crenças dos homens que o controlavam? Era sua fé, sob a ameaça de se tornar um crime, ou seu novo rei que despertou a paixão em seus olhos quando ela falava de qualquer um? Mas ele não perguntou. Não importava mais para Rob por que os homens estavam querendo matá-la, só que eles estavam. Ele garantiria que eles não tivessem sucesso.

— Você está meditando novamente.

Ele piscou, percebendo quando suas sobrancelhas relaxaram. Bem, ele tinha suas razões, e olhar para ela era uma delas.

— É Deus.

Ela deu a ele um olhar assustado e questionador, inclinando a cabeça para segui-lo quando ele se levantou.

— O que você quer dizer?

Rob olhou para a enorme cruz no altar, depois para o véu que cobria seu cabelo glorioso.

— Ele escolheu um homem mais patético para cuidar de você.

 

Capítulo Dez

Rob saiu da igreja e buscou a abadessa. Ele sabia por sua postura rígida e consideração fria que ela estava com raiva. Ele procurou por Will, suspeitando que seu primo fosse a causa. Rob não tinha estranhado o jeito que a jovem noviça Elaine corou e depois concedeu a Will seu sorriso mais radiante naquela manhã enquanto ele cortava lenha.

— Robert MacGregor, eu não pretendo conhecer ou entender o modo de vida das Highlands, se suas mães não se preocupam em ensinar seus filhos a... — Seu sermão parou abruptamente quando viu Davina saindo da igreja escura atrás dele. Seus olhos se arregalaram de surpresa para glacial quando ela os deslizou de volta para Rob. Ela o avaliou pelas peles empoeiradas ao redor das panturrilhas até os ombros largos e cobertos de plaid, depois puxou um pequeno pano das dobras da manga e enxugou a bochecha. — Você entende que ela é filha de Deus, não é?

— Garanto-lhe que sim. — Rob não pôde deixar de encará-la, embora soubesse que deveria se arrepender pelos pensamentos que o atormentavam sobre Davina Montgomery.

— Madre — Davina correu para negar a óbvia acusação tácita da abadessa — estávamos falando apenas de...

O grito de Colin da torre do sino pôs fim ao restante de suas palavras.

— Rob, um cavaleiro se aproxima! Estou descendo!

— Fique aí! — Rob rugiu para ele.

O rosto da abadessa ficou mortalmente pálido quando Rob puxou sua pesada claymore da bainha.

— Entre, — ele ordenou por cima do ombro para Davina. Quando ele se voltou para a abadessa, seu tom a advertiu para não discutir. — Você também. — Pelo canto do olho, ele viu Will saindo do estábulo, prendendo o plaid em volta da cintura. Um momento depois, Elaine emergiu, ajustando o véu.

Felizmente, a abadessa não os viu. Ela estava preocupada em ficar boquiaberta com Rob e sua espada.

— Você não pode querer... Ele pode precisar de ajuda.

— Você não vai dar a ele entrada.

— É meu serviço a Deus fazer isso, — argumentou ela, dando um passo para trás quando ele puxou Davina para frente, em direção às portas da abadia.

— Não hoje, — disse Rob, empurrando Davina para dentro. Ele acenou para Will, já a caminho do portão, arco e flecha na mão.

— Não! — A abadessa gritou, mas depois ficou em silêncio, as mãos agarradas à cruz pendurada no pescoço enquanto Will inclinava o arco, mirava e deixava a flecha voar.

— Querido Deus, você o matou! — A abadessa saltou para a frente, procurando na estrada além do portão o visitante morto.

Sabendo que Will mirara nos pés do cavaleiro e não em seus órgãos vitais, Rob a puxou para fora do campo de tiro em potencial e a empurrou contra a parede externa de pedra com ele.

— Segure seu fogo!

Ao som da voz do cavaleiro, assustado, mas forte, Rob deu um sorriso para a Reverenda Madre.

— Fui ensinado a interrogar um homem antes de matá-lo. A maior parte do tempo.

Ela piscou para ele, alívio e raiva disputando preeminência interior.

Rob não esperou para ver o que ela ofereceria a ele.

— Declare seus negócios aqui. — Sua voz ecoou através da distância que os separava de seu possível inimigo.

— Eu venho da parte do rei, — o cavaleiro gritou de volta. — Sou o capitão Edward Asher, da sexta divisão da cavalaria real.

Impossível. Rob soltou a abadessa e deu um passo cauteloso para longe da parede para ver melhor o homem. Do outro lado do portão, Will arrancou outra flecha da aljava. Asher estava morto. Era uma armadilha. Alguns dos homens do duque de St. Christopher devem tê-los seguido até aqui. Por um breve momento, Rob teve a satisfação de saber que estava certo em ficar na abadia. Mas o irmão dele estava aqui, e Finn também, esperando pelo menos no campanário, e era melhor que estivessem. Quantos homens estavam lá fora? Talvez ele e Will pudessem matar dez ou mais antes dos soldados chegarem ao portão. Mas Colin não ficaria escondido por muito tempo.

Preparando a claymore, Rob apontou para o primo. Eles teriam que matar o maior número possível antes que os rapazes chegassem. Ele observou Will puxar sua corda e mirar. Dessa vez, Will não erraria intencionalmente. Todos haviam sido bem treinados, mas ninguém conseguia atirar com tanta precisão ou rapidez quanto Will.

Um grito de mulher atrás dele pouco antes de Will disparar sua flecha fez Rob virar em seus calcanhares. Quando ele viu Davina correndo em direção ao portão de ferro, seu sangue gelou. Quem quer que estivesse do lado de fora podia atravessar as grades e matá-la sem sequer chegar perto. Rob correu em sua direção, sabendo que se o cavaleiro tivesse uma pistola ou uma flecha, ele nunca a alcançaria a tempo.

— Edward! — Ela gritou novamente, ignorando Will à sua esquerda quando ele largou o arco e se lançou para ela.

Rob alcançou-a primeiro e, abraçando-a, jogou os dois no chão. Davina caiu torta em cima dele. Quando ela tentou, sem sucesso, se libertar de seu abraço, ela olhou para ele, cada apreensão que sentira desde o início claramente gravada em seu rosto.

— Você mentiu para mim.

Rob abriu a boca para negar a acusação, mas outra voz no portão alcançou seu ouvido primeiro.

— Lady Montgomery! Graças a Deus eu te encontrei! MacGregor, é você?

Era Asher. Ele não estava morto, e os olhos de Davina disseram a Rob exatamente o que ela pensava dele. Ele não apenas mentiu para ela, mas deixou seu único amigo para morrer sozinho na batalha.

— Solte-me, — ela exigiu friamente.

Rob fez o que ela pediu e ficou de pé. Davina e a abadessa já haviam aberto o portão quando as alcançou. Ele assistiu em silêncio enquanto Asher pulava do cavalo e parecia prestes a cair de joelhos diante dela. Ele poderia ter caído se Davina não o tivesse puxado a seus braços.

O capitão sobreviveu, mas como? Mal tinha forças para segurar sua espada quando Rob o deixou. Rob não procurou sobreviventes quando saiu do pátio com Davina. Seu único pensamento tinha sido afastá-la com segurança. Ele acabou por assumir...

— Asher, pensei que você tivesse morrido, — disse ele, sem realmente saber o que mais dizer. Um pedido de desculpas não seria suficiente.

O capitão ergueu os olhos do rosto manchado de lágrimas de Davina.

— Eu quase morri, mas nem a morte pode me impedir de vir por ela. — Ele sorriu para Rob antes que seu rosto desaparecesse mais uma vez na curva do pescoço de Davina. Seu herói havia retornado para ela, e Davina se agarrava a ele como se fosse tudo o que ela precisava para sobreviver.

Rob não sorriu de volta.

A alegria de ver Edward novamente foi tão avassaladora que Davina quase se esqueceu do homem atrás dela. Mas ela não conseguia esquecer. Rob mentiu para ela. Embora seu coração cauteloso resistisse, ela passou a gostar dele. Deus a ajudasse, era mais do que isso. Ela estava atraída por ele, seduzida pela confiança ousada em seu olhar e em seus passos, atraída pela paixão que ele tinha por sua família. Sem mencionar as vibrações estranhas que ele produzia quando a olhava. E ele olhava para ela frequentemente. Quer ela estivesse arrancando ervas daninhas no jardim ou ajudando a abadessa a preparar o jantar, os olhos dele estavam sempre nela, nos cabelos, no rosto e na cintura. Ela até o pegou curvando-se em torno de sua cadeira na mesa do jantar para observar o balanço de seus quadris enquanto servia. Por mais decadente que fosse, ela gostava.

Mas ele a deixou acreditar que Edward estava morto. Não lhe dissera que Archibald Campbell, conde de Argyll, era seu parente. Sobre o que mais ele era mentiroso? E porquê? Sua mente correu com mil incertezas e ela se agarrou à única coisa certa que conhecia. Edward.

— Nós devemos entrar na abadia, — disse Rob, puxando a manga dela. — Ele poderia ter sido seguido.

— Sim, — Edward concordou, olhando por cima do ombro. — Eles estão a apenas alguns dias de distância.

Davina olhou para ele, com o coração batendo forte no peito. Rob se aproximou.

— Quem e quantos?

— Almirante Gilles e cerca de quarenta de seus homens da frota holandesa, — disse Edward, voltando-se para Rob. — Ele não tem certeza de que a dama está morta, e até que ele esteja...


Rob levou os dois em direção à abadia e gritou para Colin e Finn para manter os olhos abertos. Davina ouviu-o gritando ordens para Will colocar seu traseiro dentro do pátio, enquanto Edward a conduzia e a abadessa para dentro.

No momento em que as portas foram fechadas e trancadas, Rob assumiu o comando como um general no campo de batalha. A abadessa deveria chamar suas curandeiras mais habilidosas e levá-las ao refeitório, onde o capitão Asher esperava por um refresco e para cuidar de seus ferimentos. Na felicidade de vê-lo, Davina não olhou para as roupas manchadas de sangue.

— Obrigado por salvá-la, — disse Edward, seguindo Davina pelo corredor.

Quando Rob não respondeu, Davina virou-se para olhá-lo. Ele estava olhando para ela, e se a salvou com a intenção de lhe causar dano, não estava em nenhum lugar em seu olhar firme.

— Eu só queria poder ter feito isso.

— Oh, Edward. — Ela parou e apertou as mãos dele. — Você está vivo, — disse ela, trazendo as mãos para sua bochecha. — Isso é mais do que eu jamais poderia ter esperado. No entanto, como você conseguiu escapar?

— Sim, — disse Rob, parando atrás deles enquanto eles se abraçavam mais uma vez. — Quando eu te vi, você mal tinha uma respiração em seu corpo.

Havia um desafio em sua voz? Uma acusação? Ridículo, Davina pensou, olhando-o por cima do ombro de Edward. Ela deveria estar questionando-o!

— Fui derrubado do meu cavalo logo depois que você saiu, MacGregor. — Se Edward ouviu a suspeita no tom grave de Rob, ele não se ofendeu. Claro que ele não se ofenderia. Edward não era bobo. Ao vê-lo melhor agora, Davina pôde ver claramente que ele não estava em condições de lutar. Especialmente com um homem que era pelo menos duas cabeças mais alto do que ele, um homem que parecia em forma e pronto para enfrentar qualquer exército que aparecesse no portão, apenas ele e o habilidoso arqueiro vigilante ao seu lado.

— Felizmente, — Edward continuou, retomando a curta caminhada até o refeitório com Davina levando-o pela mão. — Eu caí desmaiado e não despertei até algum tempo depois que o almirante Gilles chegou com seus homens. — Ele contou a eles o que havia acontecido. Depois disso, tudo o que ouvira, como jazia nas cinzas como se estivesse morto até que eles se foram. — Eu sabia que como eles não tinham encontrado o corpo dela, você a tinha salvo.

— Como você nos encontrou? — Davina ouviu Rob perguntar por cima do ombro quando eles entraram no refeitório. — Tomei cuidado com os rastros.

— Sem rastros, — Edward suspirou quando caiu em uma cadeira e fechou os olhos. — Suspeitei que você fosse para o Norte e Courlochcraig estava a caminho. — Ele abriu os olhos e se moveu para detê-la quando Davina caiu de joelhos para tirar as botas. Ela o silenciou com um olhar na direção de Rob. — Eu precisava parar para comer e descansar, e sabia que a abadessa não me afastaria. — Com seu olhar ainda fixo em Davina, ele levantou os dedos em direção a uma mecha de cabelo que escapara de seu véu. — Deus me trouxe aqui. Ele queria que eu a encontrasse, minha dama.

— Conte-me sobre Gilles. — A ponta afiada na voz de Rob venceu o sorriso terno que Davina estava prestes a dar a seu amigo mais querido e parou a mão que a alcançava.

— Ele é o almirante do duque de Monmouth. — Todos se viraram para a abadessa, que havia entrado no refeitório carregando uma xícara em uma mão e uma pequena bandeja de comida na outra. — Um homem muito desagradável.

— Então, foi Monmouth quem o enviou e não Argyll, — disse Rob.

— Talvez sim, talvez não. — A abadessa encolheu os ombros. — Os dois homens passaram os últimos anos na Holanda. Só Deus sabe quem detém a lealdade de Gilles.

— Esse seu erro não é desaprovado pelo seu Altíssimo Marido, Reverenda Madre? — O olhar de Rob a esfriou. — O que mais você sabe sobre isso que se recusa a me dizer?

— Bem, — a Abadessa disse uniformemente enquanto ela entregava a xícara a Edward. — Desde que entrei nesta sala, sei que o almirante Gilles é o culpado pelo massacre de minhas irmãs. Mas se você quiser me questionar mais do que já fez sobre o motivo pelo qual a abadia foi atacada, minha resposta será a mesma.

Não havia nada amável no lento sorriso de Rob antes que ele voltasse a atenção para Edward e esperasse.

— Eu vi o almirante apenas uma vez, — Edward disse a ele, — e depois rezei para que nunca mais o visse. Ele é impiedoso... e determinado.

— Por que esses homens a querem morta?

Edward balançou a cabeça e desviou o olhar quando Rob se moveu ao redor da mesa em sua direção.

— Eu não sei.

— Você me acha idiota por acreditar nisso, Asher?

— Não, — Edward suspirou profundamente em seu assento e colocou seu olhar triste em Davina. — Mas arrisco a vida dela dizendo a você, e não farei isso. Porém, vou lhe dizer: não podemos permanecer aqui. Ele a encontrará.

— Edward, — Davina disse suavemente, cobrindo a mão dele com a dela como se ele fosse o único que precisava de conforto com a verdade. — Não há mais para onde ir.

O refeitório ficou em silêncio, exceto pelos passos suaves de quatro jovens irmãs que vieram cuidar do capitão. Davina pensou ter ouvido Rob fazer um juramento murmurado que certamente lhe renderia penitência sob o olhar atento da Reverenda Madre mais tarde. Ela se virou para ele, ainda de joelhos, e o encontrou fazendo uma carranca pior do que quando a viu pela primeira vez em seu véu.

Isto é, até que ele olhou para ela e seus traços tensos, ficaram um pouco suaves.

— Sim, existe.

Ela soube instantaneamente aonde ele pretendia levá-la, e parte dela queria ir. A ilha de Skye. Talvez, se seu nome contasse alguma coisa, existia nos céus um lugar que esse terrível almirante Gilles jamais ousaria ir. Mas poderia confiar sua vida a Robert MacGregor? Ele a deixou acreditar que Edward estava morto. Por outro lado, Edward havia dito a eles que estava caído e Davina não podia culpar Rob por não checar antes que eles fugissem de St. Christopher. Não, ele não estava ligado aos inimigos dela, e pensar em tudo o que tinha feito por ela até agora a fez se sentir tola por considerar isso.

— Não colocarei sua casa em perigo, — disse ela calmamente, apesar de recusar a ajuda de um homem, pois ele estava entre as coisas mais difíceis que ela já teve que fazer. Desejar que ele pudesse ficar com ela em Courlochcraig, enquanto sabia em seu coração que nunca poderia haver nada entre eles, era uma coisa; morar com ele em sua própria terra, sob seus cuidados enquanto ela precisasse estar era outra. — Eu me recuso a...

— Will. — Ele se virou para seu primo como se ela não tivesse falado. — Pegue os rapazes; nós estamos partindo para casa.

— Hoje à noite? — Davina levantou-se, lançando um olhar nervoso para Edward. — Mesmo se eu concordar com isso, o capitão Asher não pode viajar novamente tão cedo.

— Você não precisa se preocupar — Rob disse bruscamente, encontrando o olhar dela por apenas um momento e um momento foi o suficiente para convencê-la de que discutir seria infrutífero. — Não tenho intenção de fazer o capitão Asher viajar hoje à noite. Quando ele puder, pode voltar para a Inglaterra e...

— Voltar para a Inglaterra sozinho? — Ela o interrompeu, os olhos arregalados em descrença.

— Sim. — Rob assentiu, já buscando a atenção da abadessa. — Vamos precisar de provisões, — ele começou com um tom de voz que exigia obediência. — Qualquer coisa que você puder dar será apreciado. Além disso, alguma de suas irmãs tem uma saia extra que a moça poderia usar durante a jornada? Gilles está procurando uma noviça e será bom que qualquer pessoa que encontrarmos na estrada a veja sem essas suas vestes. — Ele olhou para Davina em seguida. — Isso terá que ficar aqui também. — Ele apontou para o véu dela.

Ainda cambaleando com a ideia de que ele pretendia que Edward ficasse para trás, Davina sentiu a falta de satisfação no ligeiro enrolamento de seus lábios quando ele falou do véu dela.

— Não vou embora sem o capitão Asher. — Ela ergueu os ombros e inclinou a mandíbula para parecer menos intimidada quando Rob a encarou. Ela gostava que ele pudesse tomar decisões rápidas e assumir o comando de todos, até da abadessa, com a autoridade de um líder nato. De alguma forma, fazia tudo ao seu redor estar mais seguro. Mas ela não estava disposta a se intimidar com ele, grande e pensativo sendo Highlander ou não. — Você não pode esperar que ele viaje sozinho para a Inglaterra. Olhe para ele! Ele será atacado na estrada antes de chegar à fronteira!

— Quem está indo para a Inglaterra sozinho?

Davina se virou e viu Finn entrando no salão com Colin ao seu lado, o último já olhando Edward causticamente. Will se afastou, descascando a pele de uma maçã que ele havia furtado em algum lugar ao longo do caminho de volta ao refeitório.

— Ninguém, Finn, — respondeu ela, voltando seu olhar inabalável para Rob. — Ele é meu amigo.

Rob enfrentou o desafio nos olhos dela com um olhar determinado.

— Ele é um soldado inglês, Davina. Ele não será bem-vindo em minha casa.

— Meu irmão é um soldado inglês, Rob, — apontou Finn, depois ficou em silêncio quando Rob se virou para encará-lo com um olhar incrédulo.

— Isso é diferente, — disse Colin, atravessando a sala em direção a Edward. — Connor é parente. — Quando ele alcançou o capitão, ele o olhou como um gato poderia medir um rato antes de atacá-lo. — Por que ele ainda está na posse de sua espada?

— Calma, primo, — gritou Will, inclinando o quadril contra a mesa e mordendo sua maçã. — Ele não é um Covenanter8. — Ele parou de mastigar e olhou para Asher. — Você é?

— Não, eu não sou, — Edward disse a ele, parecendo um pouco desconfortável ao redor dos quatro homens do Norte, todos olhando para ele agora.

Will foi o primeiro a sorrir para ele, ou talvez, Davina se corrigiu, foi para irmã Elaine, logo atrás de Edward, que recebeu seu favor, pois ela corou dois tons mais escuros.

— Não leve a mal o jovem Colin, capitão — cantou o patife Will. — Ele é um pouquinho sedento de sangue quando se trata de seus inimigos. Muito parecido com o pai dele, com quem você se encontrará em breve se vier conosco.

— Ele está ficando, — Rob resmungou e se virou para sair. — E estamos perdendo tempo.

Davina olhou em volta para os outros em busca de ajuda, mas ninguém teve coragem de detê-lo. Nem mesmo a Reverenda Madre. Isso causou estragos nos nervos de Davina. Quem ele pensava que era, ordenando a um capitão do Exército Real do rei, ele que não passava de um camponês? Dispensando tudo o que ela disse como se nem estivesse lá! Bem, ela estava cansada de ser invisível. Isso significava muito para ela. Ela perdeu tudo, todo mundo que importava em sua vida. Mas Deus trouxe Edward de volta para ela, e não estava por perdê-lo novamente.

— Eu estava errada sobre você, MacGregor, — ela gritou, seguindo-o para fora do refeitório. — Eu pensei que você poderia me manter segura, mas eu estava errada. — Quando ele girou lentamente, ela reuniu coragem e caminhou até ele. — O que você acha que acontecerá se Edward for capturado pelo almirante Gilles? Heimmm? Quanto tempo um homem aguenta se for torturado? Quanto tempo você acha que Gilles levará para descobrir onde os MacGregors moram? Seus homens queimaram freiras vivas. Acha que ele não matará todos os MacGregor que encontrar até encontrar você? — Ela tinha o ouvido dele agora e, por um momento, ele pareceu poder ceder. Ela mergulhou à frente. — E mesmo que Edward chegue à Inglaterra, você espera que ele minta para o rei sobre o que aconteceu comigo? Só será uma questão de tempo até que o exército do rei entre em Skye.

— Por quê? Por que ele virá atrás de você?

— Eu não posso te contar. Eu não vou.

— Então Asher fica.

Ah, ela fumegou, olhando para ele, chantagem não era nada atraente.

— Muito bem, eu vou lhe dizer! O rei Charles me prometeu a um homem que... aonde você está indo? — Ela exigiu quando ele começou a se afastar dela. — Eu não terminei. Quando ele morreu, ele ordenou ao seu irmão James que...

— Eu não acredito em você, Davina.

— O que você quer dizer com não acredita em mim? — Ela o perseguiu quando ele subiu os degraus. Maldição, por que ela se incomodava em mentir quando era tão pobre nisso? — Rob — ela pegou a manga e puxou-a — não importa no que você acredita. Edward não pode voltar. Ele faz parte disso agora.

Ele parou e, quando balançou a cabeça, ela cerrou os punhos ao lado do corpo. Ele simplesmente não podia ser tão teimoso!

— Não vou levar um soldado inglês para Camlochlin. Já é ruim o suficiente que esteja levando você.

— Bem, eu vou remediar isso para você agora! — Ela prometeu com os dentes cerrados. Nenhum homem jamais a deixou tão brava e ela precisava se afastar dele antes que tivesse que passar quinze dias em confissão. — Você tem meus agradecimentos por me trazer até aqui, — disse ela, girando nos calcanhares, — mas eu vou ficar com Ed...

Os dedos dele se fecharam ao redor do pulso dela e a puxaram de volta para ele, colocando um fim rápido em seu discurso. Pressionada contra seu peito duro e olhando para seu olhar ainda mais duro, ela achou difícil respirar, muito menos falar quando ele arrancou o véu da cabeça dela e o deixou cair no chão.

— Você fica comigo, moça. — A boca dele desceu sobre a dela como uma marca quente e possessiva, enchendo seus sentidos com o gosto, a sensação e o cheiro dele. Ele a moldou em seus músculos inflexíveis, beijando-a até que ela ficou mole em seus braços.

Davina nunca havia sido beijada antes, e nunca em sua vida ela poderia imaginar que fosse assim. Seu corpo parecia estar pegando fogo, derretendo todas as suas defesas, minando sua vontade de desafiá-lo e tentando-a a levantar os dedos no rosto dele e agarrá-lo para sempre. Uma parte dela ansiava pela segurança de ser segurada nos braços dele. Protegida, não por quem ela era, mas por outro motivo. Mas Robert MacGregor simplesmente queria que ela aceitasse sua decisão, e ele esperava que beijá-la loucamente atingisse seu objetivo. Por mais que ela gostaria de continuar beijando-o, ela não desistiria de Edward. Então, com o último traço de força que ela conseguiu reunir, ela o agarrou pelos ombros e bateu o joelho na virilha dele, exatamente como Edward havia lhe ensinado.

Recuando, ela assistiu Rob se ajoelhar.

— Eu pediria seu perdão, — disse ela, olhando para a cabeça inclinada, com a respiração ofegante, — mas você provavelmente recusaria isso também.

Deixando-o sozinho com sua dor, ela voltou ao refeitório. Em vez de ir para Edward, ela se afundou na cadeira mais próxima e rezou pedindo perdão por depositar qualquer parte de sua confiança em um homem, e pela força para enfrentar os próximos dias sem Robert MacGregor ao seu lado.

Rob não estava ciente de que Davina o havia deixado, e quando ouviu a risada suave acima de sua cabeça, pensou que ela não apenas era espirituosa como o inferno, mas também sem coração.

— Não se levante, eu imploro. — Felizmente ou talvez não, era Will. — Esta, talvez, pode ser a única vez na minha vida que posso vê-lo de joelhos. Deixe-me ter o prazer por mais um momento.

Rob olhou para ele enquanto se endireitava, fazendo uma carranca no ombro latejante e na virilha dolorida.

— Talvez?

— Se você ficar com ela, sim — Will riu, não oferecendo ajuda ao primo ferido. — Eu acho que você, sendo o bastardo teimoso que é, não cedeu ao pedido dela de levar seu capitão conosco.

Rob não gostava da maneira como seus defeitos estavam sendo discutidos hoje, mas não gostava de como Will chamava Asher do “capitão dela” ainda mais. Mas era verdade, não era? Ela não tinha acabado de escolher seu capitão sobre ele?

— Você está certo — ele disse rigidamente, esfregando a parte inferior do abdômen uma última vez.

— Então vamos deixá-lo? — Will perguntou quando Rob se virou e se dirigiu para as portas da abadia.

— Sim, e ela fica com ele.

Davina estava sozinha na torre do sino, vendo Rob e os outros deixarem Courlochcraig. Ela não chorou, pois, as lágrimas nunca trouxeram as pessoas de volta ou as afastaram. Por que Robert MacGregor deveria voltar por ela de qualquer maneira? Ele já havia feito muito por ela. Ela não esperava ficar com ele. Ela até queria que ele fosse antes que alguém viesse buscá-la. Mas então ele a beijou. Ela quase se despedaçou em seus braços, e não teve nada a ver com força, embora a força bruta de seu abraço tenha transformado seus ossos em líquido. Ela não queria que ele a deixasse, e vê-lo atravessar a ponte abriu um buraco solitário e terrível na boca do estômago, pior do que nunca, nada, na vida havia aberto.

 

Capítulo Onze

— Você não deveria tê-la deixado. — Finn, como sempre fazia, manteve seu cavalo perto de Rob enquanto cavalgavam para fora de Ayrshire.

— Foi escolha dela — Rob disse pela terceira vez desde que eles deixaram a abadia.

— Mas ela não teria vindo se tivéssemos trazido o capitão Asher conosco?

Rob fechou os olhos e se amaldiçoou, também pela terceira vez, por não amarrar Finn ao cavalo de Angus quando ele enviou o velho guerreiro para a Inglaterra. A última coisa que ele queria fazer agora era pensar em Davina. Foi melhor assim. Ele estava errado ao oferecer trazê-la para casa. Só porque Asher os encontrou, não significava que Gilles o faria. Davina não era parente dele. Inferno, ele tinha dúvidas sobre ela ser escocesa. Ele não tinha lugar na vida dela, não apenas porque a vida dela pertencia a Deus, mas porque provavelmente faria com que ele e aqueles que ele amava fossem mortos. Homens queriam matá-la e ela e seu capitão estavam com muito medo de lhe dizer o porquê. Ele certamente não era tolo o suficiente para acreditar que uma frota holandesa inteira a procurara por causa de quem ela estava comprometida, a menos que tentassem converter sua fé. Inferno, ele estava louco por considerar levá-la para casa! Ele odiava deixá-la, mas ela não era sua responsabilidade, sua esposa ou sua amante. Ele tinha certeza de que ela não gostava dele e com certeza não confiava nele, especialmente depois que Asher apareceu dentre os mortos. Então, que dever ele tinha com ela? Nenhum. Ela e Asher estariam bastante seguros em Courlochcraig. Sem um exército no gramado da frente para alardear sua presença, era mais fácil esconder-se, e havia dezenas de velhos buracos monastérios na abadia se Gilles viesse.

— Diga-me novamente por que não podíamos trazê-lo?

— Ele é inglês, — Rob rosnou.

Finn limpou a garganta e olhou por baixo do gorro esmeralda.

— Eu sou metade inglês.

— Sim — disse Rob, — mas metade de você nunca liderará um exército através dos penhascos de Elgol para nos causar danos ou mudar nossos costumes e crenças.

— E você acredita que o capitão Asher faria?

— Ele pode. Não posso me arriscar.

Finn assentiu, finalmente se virando totalmente para a frente na sela, afastando-se de Courlochcraig, e, esperançosamente, colocando um fim às suas perguntas.

Não era que Rob se importasse com a natureza curiosa de Finn. O rapaz estava ansioso para aprender e isso era uma coisa boa. O ajudaria a se tornar um guerreiro melhor. Mas o filho mais novo de Graham Grant não era tão inocente quanto parecia. E agora, ele sabia perfeitamente o que estava fazendo. Mas Rob não seria persuadido a mudar de ideia. A moça escolheu ficar com o capitão.

— Rob?

— O quê? — Ele suspirou, preparando-se para uma jornada atormentada por Finn sempre ao seu lado.

— Connor é capitão do Exército Real do rei... e meu tio Connor Stuart é um almirante, não é?

Rob lançou-lhe um olhar letal, sabendo o que estava por vir.

— Sim, asno inocente.

— Bem, eu estava simplesmente me perguntando... se meu irmão arriscou sua vida para encontrá-lo para avisá-lo sobre o perigo, você o enviaria de volta à Inglaterra, sabendo que o mesmo inimigo que ele avisou que o mataria estava à vista?

Oh, inferno, o que ele deveria dizer sobre isso? Ele nunca teria mandado seu amigo embora. Ele também não teria partido sem ele. O estômago de Rob agitou-se com a vergonha que subitamente explodiu em sua garganta.

— Que diabos eu estou fazendo? — Ele se perguntou em voz alta. Em vez de admirar a lealdade de Davina, que era uma virtude que ele valorizava acima de qualquer outra, ele deixara sua raiva por sua afeição a Asher controlá-lo. Raiva que ele não tinha o direito de sentir; controle, ele detestava perder qualquer emoção, especialmente para o ciúme. Maldito seja o Hades, como ele poderia ter deixado isso acontecer? Era por isso que o amor sempre foi o último em sua lista de objetivos. Fazia coisas horrendas para os homens, como fazê-los se comportarem de maneira irracional, imprudente. Não que ele gostasse de Davina Montgomery. Ele certamente não era dessa tolice, e era melhor que começasse a se comportar como ele.

— Vamos lá, — disse Rob, girando o garanhão.

— Para onde estamos indo? — Finn gritou, já dez respirações atrás. Sem esperar pela resposta, ele chutou os flancos de sua montaria e avançou, voltando para a abadia com Will e Colin logo atrás.

— Você sabe perfeitamente bem aonde estamos indo, seu bastardo, — Rob disse a ele quando Finn o alcançou. — Mas se você é tão esperto, como diabos você poderia ter me deixado deixá-la à segurança daquele buraco?

— Bem, eu... — O rosto de Finn ficou pálido, olhando por cima do ombro de Rob. — Que são aquelas chamas?

Rob se virou para ver e seu sangue esfriou. Um pequeno grupo de homens cavalgava sobre a ponte a oeste, todos vestindo o mesmo estilo de uniforme que ele vira nos homens que atacavam St. Christopher. Eles estavam indo para Courlochcraig. Para Davina.

— Galope! — Rob gritou com um lampejo de sua longa lâmina. — Vamos interceptá-los antes que eles entrem na cidade!

Ele não se preocupou se Colin e Finn pudessem suportar a batalha. Ele ia matar todos os soldados antes que seus rapazes entrassem na briga. Ele dirigiu sua montaria com mais força, pois imagens do que aqueles soldados teriam feito a Davina se ele não estivesse lá invadiram seus pensamentos. Ignorando a dor do ombro ferido, Rob estalou as rédeas mais rapidamente, ganhando velocidade até que a espada estendida em sua mão cortou o ar com um som mortal.

Não demorou muito para que ele se aproximasse do último homem do grupo. O soldado virou-se e, vendo a enorme claymore acima da cabeça, abriu a boca para gritar um aviso aos camaradas. Sua cabeça voou pelo ar, para sempre silenciada. No tempo que levou o próximo cavaleiro a decidir parar e lutar ou tentar fugir do assassino respingado sangue atrás deles, a lâmina de Rob encontrou sua marca limpa em seu crânio. Um terceiro soldado gritou uma palavra estrangeira um instante antes que a espada de Rob afundasse até o punho em sua barriga. Os outros arquearam agora, cavalgando de volta para ele, suas espadas finas preparadas para a batalha. Arrancando a lâmina das costelas da última vítima, Rob virou-se para enfrentar o ataque e agarrou o cabo grosso da claymore com as duas mãos.

O primeiro cavaleiro a alcançá-lo deu um golpe selvagem na direção da cabeça de Rob e depois olhou aterrorizado para o conteúdo de sua própria barriga se derramando sobre o cavalo. O próximo perdeu o braço quando Rob girou para a esquerda e depois para a direita, dividindo mais um no meio.

A claymore de Will cortava os ossos como manteiga quando ele se juntou ao corpo a corpo, deixando mais dois mortos. A espada de Colin provou ser dez vezes mais brutal na batalha do que na prática. A luz do sol brilhou em sua lâmina quando desceu sobre o ombro do cavaleiro principal, cortando seu pescoço e matando-o instantaneamente. O último soldado vivo estava trancado em batalha com Finn, suas espadas cruzadas acima de suas cabeças. Rob partiu na direção deles, seus olhos brilhando com as chamas profanas da raiva. Mas antes de alcançá-los, o punho de Finn bateu no rosto do oponente, jogando o soldado da sela. Quase sem pausa, Finn pulou do cavalo e enfiou a espada profundamente no peito da vítima.

Ele olhou para cima quando Rob o alcançou, ofereceu um sorriso valente e depois vomitou.

A abadia de Courlochcraig estava estranhamente quieta quando Rob e os outros chegaram aos portões. Suas mãos, firmes na batalha, tremiam agora. Aqueles homens a teriam matado e possivelmente todas as outras mulheres lá dentro, e teria sido culpa dele. Ele a deixou. Ele deixou suas emoções controlá-lo e isso quase custou a vida de Davina. Saltando de sua montaria, ele abriu os pesados portões e correu para as portas.

— Davina! — Ele gritou, precisando vê-la, e não se importando com o porquê.

As portas da abadia se abriram e ele teve um vislumbre de um véu cinza, depois os longos cabelos loiros prateados de Davina, enquanto ela passava pela abadessa. Por um momento eterno, ela ficou no batente da porta, delicada e aterrorizada quando seus grandes olhos se arregalaram no tecido manchado de sangue. A necessidade de segurá-la com força estava em suas entranhas, mas ele ponderaria sobre o perigo disso mais tarde. Ele deu um passo em sua direção, mas ela o alcançou primeiro, percorrendo a curta distância que os separava e se jogando nos braços dele.

Rob a levantou e a abraçou, preocupado que ele nunca mais encontraria prazer em outra coisa que não fosse a sensação dela.

— Eu vi você, — ela respirou contra o pescoço dele. — Vi o que você fez com eles da torre.

Ele não pediu desculpas por isso, mas parecia que ela não esperava por isso. Não havia censura em sua voz, apenas gratidão.

Ele queria sorrir para ela, mas seus olhos pegaram Asher saindo da abadia, enfaixado, mas se movendo rapidamente.

— Nós devemos partir. Agora. Eu devo levá-la para casa. É o único lugar em que ela estará segura.

— Os homens de Gilles? — Perguntou o capitão, com os olhos fixos em Davina, ainda apertada nos braços de Rob.

Rob assentiu enquanto a colocava de pé. Quase por reflexo, ele estendeu a mão, fechando a mão em torno da dela, muito menor.

— Quantos?

— Dez, — Rob respondeu ao capitão. — Nós os vimos cavalgando em direção a Ayrshire e os interceptamos.

— Rob matou seis deles, — Finn informou-os com uma certa dose de orgulho em seus ombros e seus olhos verdes e claros fixos em Davina.

— Eu quero ver seus corpos.

— Isso não será possível, Asher, — Rob disse a ele. — Nós os jogamos no rio Ayr, junto com suas selas, e expulsamos seus cavalos. Ninguém usava os ornamentos do almirante, então devo assumir que Gilles não estava entre eles. Ele provavelmente procurará por eles e eu não queria que os encontrasse aqui.

— Brutal e inteligente. — Asher o avaliou com uma pitada de ansiedade nos olhos que picaram os instintos de Rob. Por que o capitão deveria temê-lo? Tão rapidamente quanto parecia, no entanto, desapareceu e foi substituído por um sorriso genuíno de gratidão. — Devo-lhe minha vida mais uma vez, MacGregor.

— Eu também — Davina disse suavemente, arrastando o olhar de Rob de volta para ela.

Pela primeira vez em sua vida, as pesadas responsabilidades do propósito de Rob pareciam mais um grande presente. As intermináveis horas de prática nos campos com seu pai e outros guerreiros experientes, como Brodie e Angus MacGregor, Jamie Grant e seu irmão Graham, valiam neste momento todas as feridas. Rob queria proteger essa moça de qualquer coisa que lhe causasse dano, e era satisfatório saber que ele podia.

— Deus me designou para a tarefa.

Ela sorriu para ele, inconsciente de como isso feria seu coração.

— Assim parece.

— Isso é tudo muito emocionante, — Will se moveu em sua sela, — mas é hora de ir. Pode haver mais por vir.

Rob endireitou os ombros abruptamente, sem perceber até que seu primo falou que estava encarando Davina como um rapaz apaixonado.

— Por que não esperamos pelo resto e os matamos quando eles chegarem aqui? — Colin perguntou com uma pitada de ameaça brilhando em seus olhos.

— Não. — Rob fez uma carranca para seu irmão mais novo sedento de sangue. Ele teria que conversar com ele de como encontrar uma maneira mais produtiva de canalizar sua energia.

— Ela vai precisar dessa saia agora. — Rob virou-se para a abadessa.

Felizmente, a Reverenda Madre não discutiu, mas correu de volta para a Abadia para cuidar da tarefa. Quando ela se foi, Rob conduziu Davina em direção ao cavalo dele. Ele parou e olhou por cima do ombro quando Asher não a seguiu.

— Você vem?

O capitão não tentou esconder o alívio em sua expressão quando assentiu, mas seu sorriso desapareceu quando Davina colocou o pé no estribo de Rob.

— Ela está cavalgando comigo. — Rob fez o possível para aliviar a dor ao ver a emoção crua que Asher sentia por ela se derramar de seus olhos. Rob não gostava, mas agora entendia mais depois do medo de quase perdê-la. — É mais seguro.

Lamentou suas últimas palavras no instante em que as pronunciou e o capitão baixou o olhar ferido para as botas. Inferno, Rob se amaldiçoou interiormente. Davina certamente acrescentaria insensibilidade à sua lista de falhas.

— O que eu quis dizer é...

— A segurança dela significa tudo para mim, — disse Asher sem levantar os olhos. O peso do fracasso em salvá-la em St. Christopher ficou evidente em seu tom calmo.

— Eu sei que sim, — disse Rob honestamente, lembrando o quão bravamente o capitão havia lutado na primeira abadia. — Mas ela ainda estará cavalgando comigo.

Sabiamente, Asher assentiu, sem dizer mais nada, e caminhou em direção ao estábulo para recuperar seu cavalo.

A abadessa voltou carregando uma saia verde-escuro e uma bata lançadas sobre o braço. Quando Rob os alcançou, ela o parou, colocando a mão sobre a dele. Seus olhos nele eram tão duros quanto no primeiro dia em que a conheceu, suas palavras foram breves e cautelosas.

Sem resposta, Rob pegou as roupas dela e as entregou a Davina. Ele esperou enquanto a abadessa lhes dava sua bênção, depois montou na sela atrás de Davina e se afastou de Courlochcraig com seus homens e Asher logo atrás.

O barulho do portão de ferro forjou a gravidade do que Rob pretendia fazer, mas ele não tinha outra escolha. Parecia que Deus realmente o designara para a tarefa de guardar Davina Montgomery. Ela estaria segura, escondida nas brumas de Camlochlin. O perigo, ele sabia quando a abraçou, estava no que ela já havia feito com ele e continuava a fazer a cada momento que passava com ela.

— Ela não é sua, Highlander. Você faria bem em lembrar disso.

Ele fechou os olhos, sabendo que as palavras da abadessa o atormentariam por muito tempo.

 

Capítulo Doze

Davina olhou para superfície manchada em ouro do grande Firth of Clyde9. Ela lera sobre sua importância durante a Batalha de Largs, quando os vikings foram expulsos de suas ambições brutais, mas nunca esperara vê-lo e nunca tão perto. Às vezes, era difícil andar ao longo da costa, Rob lhe dissera, mas a maré, na maioria dos lugares, lavava as trilhas. Davina certamente não teve objeções. Ela nunca tinha visto um corpo tão grande de água antes, ou o céu envolto em fitas escarlate e dourado enquanto o sol descia lentamente. Ela deveria ter ficado sonolenta contra a almofada dos músculos flexíveis de Rob atrás dela, especialmente quando ele a aconchegou perto dele, por baixo das camadas de seu plaid, mas seu coração bateu violentamente em seu peito com as visões e sons ao seu redor. Sua respiração ficou presa em um grupo de golfinhos na enseada distantes, quebrando a superfície para voar no horizonte. A liberdade deles a tocou com uma pungência que embaçou sua visão e fez sua garganta queimar, pois ela compartilhava a alegria deles. Trovejando ao longo da costa arenosa, Davina deixou o vento frio se derramar no peso de sua existência, seu passado, seu futuro. Ela estava deixando para trás com a ajuda de um homem que havia lutado contra chamas e seis soldados inimigos para resgatá-la. Pela primeira vez em mais anos do que ela conseguia se lembrar, se sentia segura. Verdadeiramente segura. Sua mente tentou argumentar que aqueles que a queriam morta ainda poderiam encontrá-la, mas quando ela expressou suas preocupações sobre a família dele para Rob, ele prometeu que Gilles morreria por sua mão se o almirante ousasse pisar em terras MacGregor. Ele jurou protegê-la, e ainda mais significativo que isso, ele a queria. Era uma maravilha que ela nunca ousara esperar.

Claro, estava preocupada que o pobre Edward acreditasse que ele falhou com ela. Ela ofereceu a ele seu sorriso mais terno e agradecido cada vez que o encontrava olhando para ela naquele dia. Seu querido amigo havia caído no campo de batalha porque ele lutou contra muitos sozinho e por muito tempo. No entanto, mesmo ferido e exausto, ele ressuscitou das cinzas para encontrá-la. Não, Edward nunca tinha falhado com ela, mas nunca havia lhe dado esperança antes.

Rob lhe dera.

Ela sorriu e soltou um suspiro suave fechando as pálpebras quando o sol se pôs.

Ela acordou pouco tempo depois, embalada contra o peito de Rob enquanto ele caminhava a pé em direção a uma pequena clareira. Ela não podia vê-lo, mas sabia que seus braços fortes a seguravam, seu coração firme batia perto do dela. Somente quando ele a colocou no chão e o fez tão gentilmente quanto seu tamanho permitia, ela se sentiu exposta aos elementos ao seu redor.

Ela se sentou, pretendendo fazer sua parte e ajudar a construir o acampamento, mas ele a deteve com uma ordem rouca.

— Durma, moça.

Ela não podia, não quando a liberdade de se preocupar com o que o amanhã poderia trazer havia sido despertada. Ela até sorriu para Will quando a primeira faísca da casca de bétula se tornou uma chama. Ele piscou para ela em resposta e ela revirou os olhos.

— Você está se saindo bem com tudo isso, minha dama. — Edward cruzou as pernas aos pés dela e lhe entregou um pequeno embrulho amarrado com barbante.

— O que eu tenho que temer quando estou sob os cuidados de uma pessoa tão corajosa, — ela abriu o saco e puxou um pedaço generoso de pão preto — e homens prestativos?

— É agradável que você pense assim de mim, — disse ele, depois abaixou a voz para que só ela pudesse ouvir. — Mas há algo que eu sinto que deve ser dito entre nós.

Ele parecia doente e Davina suspeitava do que ele queria lhe dizer. Ela sabia que ele a amava. Ela sabia o quão difícil deve ser para ele vê-la cavalgando com Rob. Mas Edward a conhecia bem, e talvez ele visse ainda mais. Ela não suportava o pensamento de machucá-lo e estendeu a mão para confortá-lo.

— Edward, eu...

— Isso é pão preto? — Finn se inclinou para dar uma olhada em seu colo.

— É, jovem senhor, — Edward respondeu. — E há mel para acompanhar.

À luz do fogo, os olhos de Finn brilharam com uma pitada de maldade quando ele os virou contra Edward.

— Você roubou das freiras, então?

— Não. — Edward retornou o sorriso do garoto, parecendo esquecer a conversa sombria que ele queria ter com Davina. — Você tem uma aparência familiar, rapaz — ele disse enquanto Davina arrancava um pedaço de pão e o entregava a Finn com o saco.

— Meu irmão é o capitão Connor Grant, — disse Finn, aproximando-se de Davina e apertando o favo de mel sobre o pão. — Talvez você o conheça.

Edward pensou sobre isso, então balançou a cabeça.

— Eu não conheço. Mas não saí de St. Christopher nos últimos quatro anos. Não conheço muitos outros capitães.

Encolhendo os ombros, Finn olhou para Rob, prestes a se sentar à direita de Davina.

— Eu não me pareço com Connor, não é, Rob?

Davina olhou para Rob e o encontrou encarando Edward com uma carranca tão perigosa que teria assustado a lua se ele olhasse para ela.

— Rob?

Ele piscou o olhar para Finn e seu queixo tremeu antes de falar.

— Sim, sim, mas se assemelha mais à sua mãe.

— Sim, — Finn concordou e deu o saco a Colin quando seu amigo se juntou a eles. — Connor se parece mais com nosso tio. Provavelmente já ouviu falar dele, capitão Asher.

— Ah? Por quê?

— Porque ele era o Alto Almirante do rei Charles, e agora é do rei James.

— Uma palavra de cautela, Asher. — Will deslizou pelo tronco de um carvalho grosso e pegou a fatia de queijo que Rob jogou. — Quando Finn começa a falar de seus parentes no exército do rei, ele provavelmente continuará a noite toda.

Mas Edward não estava ouvindo Will. Ele estava olhando para Finn, seus olhos escuros arregalados de descrença.

— Seu tio é o almirante? — Ele balançou a cabeça levemente, como se duvidasse dos seus ouvidos ou da língua por procurar confirmação. — Mas não pode ser.

— Por que não pode? — Finn perguntou, parecendo um pouco insultado.

— Porque o almirante do rei é Connor Stuart.

— Sim, eu sei. — Finn mordeu o pão e fechou os olhos. — É como o céu.

Davina podia sentir os olhos de Edward nela, desejando que ela olhasse para ele. Mas ela não podia. Finn era um Stuart. O olhar dela percorreu as feições dele, os cabelos claros e sedosos aparecendo por baixo do gorro; o nariz reto e régio. Claro, por que ela não tinha visto isso antes?

— Você é primo do rei? — Ela se ouviu perguntando.

O garoto lindo abriu os olhos e os colocou nela.

— Sim, algumas gerações afastadas do lado da minha mãe. Meu pai era amigo íntimo do falecido rei Charles. Ele ajudou a restaurar Charles no trono com a ajuda de...

— Och, inferno, não de novo. — Will encostou a cabeça na árvore e fechou os olhos.

Finn lançou-lhe um olhar ferido.

— Ela não conhece a história. E o que há de tão errado em contar isso? Espero que um dia seja tão forte quanto meus parentes.

— Eu acho que você é muito forte, — Davina disse a ele, estendendo a mão para a dele. Ela sorriu quando ele olhou para ela e se aproximou um pouco mais dele. — Eu gostaria de ouvir a história.

— Inferno, — Will murmurou. — Vou dormir. Colin, vigie esta noite.

— Mas eu...

— Colin, — Rob o interrompeu quando seu irmão tentou protestar. Ele não disse mais nada enquanto se aproximava de Davina. Ele não precisava. Colin apertou a mandíbula, lançou um olhar frio para Will e assentiu.

Uma hora depois, Edward se juntou a Rob e Will em seu sono. Davina não sabia como eles poderiam dormir durante uma história tão maravilhosa. Mal podia esperar para conhecer a mãe de Finn. Oh, que coragem levou uma mulher a aprender a empunhar uma espada e a lutar como os homens! E Connor Stuart, preso na Torre de Londres e torturado por meses. No entanto, ele também possuía a coragem e a determinação de ocultar as informações que seus inimigos haviam tentado obter dele. Não era de admirar que Finn tivesse tanto orgulho de sua família. Ele tinha todos os motivos para isso.

— O que aconteceu com o homem que traiu seu tio Connor? — Ela perguntou a Finn, apoiando-se em todas as suas palavras e impaciente pela próxima.

— James Buchanan se tornou um fora-da-lei. Meu tio procurou por ele por dois anos e finalmente o encontrou morando em Suffolk com um nome falso. Ele foi enforcado em Londres com a bênção do rei Charles.

— Certamente justificado, — proclamou Davina, para grande satisfação de Finn. Ela o estudou mais um momento à luz do fogo. Oh, como ela gostava desse jovem. Seu grande sorriso aberto era como um abraço, convidando-a a entrar em seu calor. E ela queria ir. Ela queria contar a ele sobre sua família e como ansiava por eles todos os dias de sua vida. Mas finalmente Deus respondeu à sua oração mais fervorosa. Como ela não soube disso antes?

Ela piscou, subitamente mortificada por quanto tempo ela estava sorrindo para ele. Quando ele corou, ela se virou e olhou diretamente nos olhos atentos de Colin.

— Você é uma moça estranha, — disse ele, agachado sobre as pernas além das brasas crepitantes. Davina queria desviar o olhar, mas o poder em seu olhar a manteve imóvel. — Por que você tem tanto interesse em coisas que não lhe interessam?

— Mas elas me preocupam, — ela respondeu, tentando reunir o controle que agora sabia que corria por suas veias. Ela julgara mal aquele rapaz quieto e despretensioso. Primeiro, pensando que ele era menos impressionante do que um garanhão escuro, prestes a atacar. Segundo, esquecendo que ele estava lá, falando pouco e observando mais. — Elas dizem respeito a todos nós, não é? — Ela forçou um sorriso, ciente de que tinha que estar mais vigilante com ele.

— Não, não de tudo. A maioria das moças que conheço se preocupa em cozinhar e costurar. A maioria das moças que eu conheço — ele a olhou com a desconfiança queimando seus olhos verdes em ouro — exceto minha irmã e você.

— Rob me falou de Mairi. Ela...

— Eu sei por que a política a preocupa. — Colin a deteve antes que ela pudesse influenciar a conversa em outro sentido. — Mas por que para você?

Ela desviou o olhar para Finn e descobriu que ele também estava esperando por sua resposta.

— Com o que mais você gostaria que eu me importasse? — Ela perguntou aos dois em voz baixa e olhou para o colo. — Eu vivi todos os dias sabendo que as pessoas que eu amava provavelmente morreriam por minha causa. Nada que eu já tive era tangível. Tudo poderia mudar em um instante horrível. E mudou. — Ela olhou para eles e agora foi a vez de Colin desviar o olhar. — Eu li, Colin. Mergulhei nas minhas lições porque o que aprendi me pertence e meus inimigos não podem tocá-lo. E aprendi sobre o rei porque não tinha pai. — Oh, droga, por que ela iria chorar agora? Ela estreitou os olhos para Colin, zangada com ele por fazê-la pensar em seu passado. — Só mais uma coisa, — ela disse antes de terminar essa conversa. — Eu sei cozinhar e costurar, assim como qualquer mulher.

Deixando os dois olhando para ela, ela virou na direção de Rob, enfiou as mãos sob a cabeça e fechou os olhos.

Rob a observava sob o luar. Ela estava tão perto que seus dedos doíam para estender a mão e enxugar as lágrimas que escapavam debaixo de suas pálpebras. Ele ouvira tudo o que Colin perguntara e a resposta dela. O vazio em sua vida o machucou até a medula. Ele teve a sorte de ter crescido com tanto, tantos que o amavam e que ele amava em troca, sem medo de perdê-los. Olhando para ela enquanto seus doces lábios se moviam em oração e, em seguida, enquanto ela dormia, Rob não tinha certeza de qual dos dois era uma perda maior em sua vida: a ausência de sua família ou qualquer senso de permanência.

— Eu vou remediar tudo, Davina, — ele sussurrou, finalmente levantando os dedos na curva de sua bochecha. —Deus me designou para isso.

 

Capítulo Treze

Rob acordou com um sobressalto, instintivamente alcançando Davina. Ela não estava lá. Ele ficou de pé. Seu sonho de um almirante sem rosto arrancando-a de seus braços ainda estava fresco em sua mente. Ele olhou ao redor do acampamento procurando por Asher, esperando que Davina estivesse com ele. Ele desejava que não, mas fervia seu sangue saber que o capitão havia passado os últimos quatro anos com ela conhecendo seus segredos, sabendo o que a fazia rir, o que a assustava. Quantas vezes ele a confortou, a abraçou e talvez a beijou?

Felizmente, ela não estava com o capitão agora, mas os olhos de Asher estavam fixos em algo à sua direita, logo além das árvores. Rob seguiu seu olhar e logo encontrou Davina em pé com Will, o arco e flecha de seu primo na frente do rosto dela.

Rob observou enquanto ela ampliava sua posição sob as saias. Saias? Droga! Ele olhou para todos os homens ao seu redor, imaginando onde e quando ela havia trocado suas vestes para a bata e a saia que a abadessa havia lhe dado e se algum dos bastardos ousara olhá-la enquanto ela o fazia. Nenhum deles parecia culpado, mas todos estavam de olho nela. Ele não conseguia encontrar nenhuma falha nisso, não quando ela parecia tão bonita em seu novo traje íntimo e feminino. Apoiando o ombro em uma árvore, ele cruzou os braços sobre o peito e se juntou aos outros que a observavam.

Seus dedos eram finos e graciosos, serpenteando ao redor da flecha de Will. Seus ombros, retos e relaxados, enquanto ela puxava a corda do arco. Ela fechou um olho, mirou e depois atirou.

Rob não ficou surpreso quando a flecha acertou o alvo improvisado de Will a cinquenta passos de distância. Seu ombro era testemunha de sua habilidade. Os outros aplaudiram, e Will, o bastardo desonesto, ele sussurrou algo em seu ouvido que a fez rir através da clareira.

Rob estava considerando a melhor maneira de esfolar seu primo vivo quando Davina se virou, como se o sentisse ali, com os olhos ardentes e semicerrados nela, e apontou seu sorriso para ele. De repente, nada existia no mundo além dela.

— Você dorme até tarde, — ela o cumprimentou, curvando a arma debaixo do braço e se movendo em direção a ele.

Rob teve que invocar cada último fragmento de força que possuía para não sair da árvore e arrastá-la para seus braços.

— Fiquei acordado a maior parte da noite.

O sorriso dela desapareceu quando ela o alcançou e inclinou o rosto para ele, causando estragos em seus sentidos.

— Não é seu ombro, eu espero.

Ele balançou a cabeça, mas não disse mais nada enquanto seu olhar flutuava sobre as feições dela, estabelecendo-se no beicinho cheio de seus lábios. Ele a assustou na primeira vez que a beijou e pagou o preço por isso. Mas ele desejava prová-la novamente, não como um animal possessivo e temperamental, mas como um amante, terno e apaixonado.

Quando o olhar dele voltou para o dela, ele a encontrou olhando em seus olhos como se ela vislumbrasse algo mais gentil, suave e o desejasse tanto quanto ele.

— Muito bem, minha dama. — Asher apareceu ao lado de Davina, quebrando o que acabara de passar entre eles. — Você é tão mortal quanto bonita. — A reverência em seu sorriso desapareceu quando ele virou para Rob. — Você não concorda, MacGregor?

— Sim, — Rob concordou, mas ele não estava disposto a deixar elogios floridos aos pés dela toda vez que ela estivesse na presença dele, como Asher fazia. O homem era capitão do exército mais poderoso do mundo. Onde estava seu orgulho, pelo amor de Deus?

Em vez de responder à pergunta que ele já supôs, não foi feita por curiosidade amigável, Rob abriu os braços e se afastou da árvore.

— Nós precisamos ir.

A mão de Davina em seu pulso o deteve.

— Ah, mas você não quer tentar?

— O quê? — Rob perguntou, surpreso por um momento que ela procuraria com tanta ousadia um elogio dele.

— O arco. — Ela segurou o dela até ele. — Eu gostaria de ver se você é tão bom com isso quanto com uma lâmina. — O sorriso dela se alargou. — Será divertido.

Rob balançou a cabeça, pensando em milhares de coisas diferentes que ele preferia fazer com ela por diversão.

— Não temos tempo para prazer. Temos que seguir em frente. — Ele olhou por cima do ombro dela, e não para a decepção em seu rosto. — Will, se livre desse alvo e vamos limpar este lugar.

Ele não olhou para Davina novamente enquanto se afastava. Era melhor não, senão ele poderia acabar como o capitão dela, definhando por algo proibido. Inferno, ele já tinha dificuldade em lembrar que ela era uma noviça quando estava envolta em suas vestes da Ordem. Suas curvas suaves, tão delicadamente definidas agora em seu kirtle10... Ele parou e voltou para onde ela ainda estava de pé com o capitão.

— Onde você mudou sua roupa?

Ela apontou para uma fileira espessa de árvores ao longe e depois olhou para si mesma.

— É um pouco confortável. Deve ter pertencido a uma das noviças mais jovens.

Ele sabia que estava carrancudo, mas não conseguia se conter, assim como não conseguia parar de pensar que nenhuma moça em todo o mundo jamais pareceu tão bem em algo tão simples.

— Parece... você parece bonita nele. — Ele apertou a mandíbula para não sorrir para ela como um enlouquecido idiota. Mas ele sabia que já era tarde demais.

Os próximos dias foram um inferno para Rob. Mais difícil do que qualquer ataque ou tempo de treinamento já havia tido com o pai. Comia pouco e dormia menos, lutando consigo mesmo noite e dia contra sentimentos que ameaçavam controlá-lo. Ficou feliz por Davina ter deixado de lado sua tristeza e estar se divertindo em sua jornada. Embora ela às vezes caísse em um silêncio tão profundo que ele pensava que quase podia ouvir seus pensamentos, era o riso dela que enchia o ar e o coração dele, enquanto ela praticava arco e flecha todas as manhãs com Will ou tentava aprender a andar a cavalo próprio sob cuidados e instrução de Colin. Mas, apesar de seus esforços para provar a Davina que ele também era de boa índole, Rob se viu ofendendo os outros por pequenos delitos. O fato de que ele estava tentando provar alguma coisa para ela irritava seu temperamento, mas cavalgar com ela era a verdadeira causa de seu mau humor. Não era a sensação dela pressionada contra o peito dele e agarrada em seus braços que o fez mal-humorado, embora ele estivesse certo de tê-la tão perto, como se ela fosse dele, ajudou a acender as chamas.

Era Asher. O capitão cavalgava ao lado deles constantemente, usurpando o lugar de Finn. A princípio, ele fingiu interesse pelos MacGregors, mas logo seu verdadeiro objetivo de esfregar os estribos com Rob ficou claro. Ele conversava com Davina incessantemente, impedindo-a de falar demais com Rob, ou com ele. A princípio, Rob disse a si mesmo que não se importava. Davina e seu capitão eram amigos. Eles compartilharam um passado juntos. Isso não significava nada. Ele certamente não deixaria alguma emoção infantil nublar seu raciocínio. Mas Asher não fez nada para esconder o fato de que estava apaixonado por ela. Davina sabia disso e lançou todos os seus sorrisos para Asher. Ela até riu quando ele a lembrou de um dia, dois verões atrás, quando ele tentou cortar uma das ovelhas de St. Christopher e o animal lanoso o mordeu no traseiro.

Rob queria dar um soco na boca dele. Que tipo de homem não podia cortar uma maldita ovelha? Não era melhor quando eles pararam para comer ou dormir. De fato, era pior. Cada passo que dava, encontrava Asher logo atrás dela. Por duas vezes Rob teve que bloquear seu caminho quando ela saiu para se aliviar. Isso quase custou a Rob seu temperamento, mas sua determinação se manteve firme... e ele estava muito orgulhoso disso.

Enquanto Asher não tinha ouvido, Finn costumava ter, e se o garoto não fosse tão jovem, Rob teria se preocupado mais com o efeito que aquele homem em particular tinha em Davina. Por duas vezes, Rob teve certeza de que a tinha visto enxugar lágrimas dos olhos enquanto ela olhava para o rapaz, pensando que não era observada.

Os olhos de Rob estavam sempre nela, absorvendo todos os gestos, todos os sorrisos, todas as curvas perfeitas que a moldavam. Ele sabia como ela respirava porque ficava acordado à noite, observando-a dormir, desejando abraçá-la, beijá-la, fazê-la dele. Ela era criada de poeira estelar e segredos e ele estava perdido. Ele sabia disso e não gostava.

Infelizmente, seu irmão Colin também sabia disso e fez o possível para tranquilizá-lo para não se preocupar com isso, todos estavam um pouco perdidos por ela, uma verdade que só deixava Rob mais irritado. Ainda assim, ele não tinha rachado nenhuma cabeça ainda. Ele trabalhou mais do que nunca em sua vida para aproveitar suas emoções. Quando ele não fazia isso, coisas ruins geralmente aconteciam; como quebrar o braço de Donald MacPherson depois que ele atirou em Tristan com sua flecha, ou quando ele deixou Davina em Courlochcraig e depois teve que matar seis homens para tirá-la de lá.

Havia uma luz brilhante em sua escuridão, no entanto. Ficou satisfeito ao descobrir que Davina realmente notara seu temperamento equilibrado quando pararam para passar a noite nos arredores de Dumbarton.

Ele estava compartilhando uma palavra com Will depois que eles acamparam quando ela apareceu atrás dele.

— Você tem sido muito paciente com Edward.

Rob não estava totalmente feliz em ouvi-la chamar o capitão pelo nome, já que era a primeira vez em dias que seu guardião não estava ao seu lado, mas ele se recusava a se comportar como um menino de mau humor.

— Por que eu não devo ser paciente com ele?

Ela encolheu os ombros e ofereceu o sorriso habitual a Finn quando ele se sentou do outro lado da lareira. Ela não sorria para Rob há dias.

— Eu apenas pensei que ele não incluí-lo em nossas conversas poderia ter te irritado.

— Por que deveria? — Perguntou Rob, dando-lhe um breve olhar desinteressado antes de se voltar para Will. Ele não tinha certeza absoluta de que, se continuasse olhando para ela acima da luz do fogo, não quebraria e confessaria já ter pensado em uma solução para o capitão Asher.

— Você poderia, — ela disse com uma picada marcada em sua voz, — porque pode parecer um pouco rude e você pode ter rosnando como um urso com um espinho em sua pata.

Rob virou-se para ela, um sorriso de diversão destacada estreitando os olhos.

— Você acabou de me dizer como tenho sido paciente.

— Eu estava sendo agradável, — ela sorriu de volta para ele para provar isso — com a esperança de que isso pudesse passar para você.

Inferno, a última coisa que ele queria fazer era sorrir para ela como se um coração estivesse com falta de humor, mas ele gostava dos flashes de temperamento dela, mesmo à custa de Will rindo dele. Ela tinha força nela, que nem sabia, uma paixão que ele queria alimentar.

— Eu simplesmente queria que você soubesse, — ela disse, tentando parecer tão desinteressada quanto ele, — que Edward não quer ofender. Ele está ao meu lado há muito tempo e é difícil para ele entregar meu bem-estar a você, especialmente quando me abraça como se...

— Como se o quê? — Ele cutucou quando ela ficou em silêncio.

— Como se eu pertencesse a você. — Ela não parecia nem de longe tão brava quanto tentava soar. — Eu não pertenço, caso você tenha esquecido.

Ele não tinha, e isso fazia parte do problema. Ele queria que Deus o perdoasse, mas estava ficando cansado de lutar contra isso.

Com um juramento nos lábios, que tinha certeza de que lhe custaria um mês de confissão, Davina voltou ao fogo e sentou-se em frente a Finn. Ela tentou manter os olhos na lebre assada no espeto, mas eles continuavam voltando para Rob. Santos, mas o homem era tão rígido quanto uma flecha. Ela sabia o quão perto Edward havia chegado em várias ocasiões diferentes de ser golpeado pelo urso rosnando. Ela sentiu o aperto dos músculos de Rob atrás dela sempre que Edward tomava toda a atenção dela. Por que ele estava tentando convencê-la de que não se incomodava com isso? Por outro lado, e se ela estivesse errada? E se ele realmente não se importasse nem um pouco se Edward a jogasse sobre o braço e a beijasse loucamente como Rob fez em Courlochcraig? E, meu Deus, por que ela não conseguia tirar isso da cabeça? Toda vez que ela olhava para a boca dele, queria que ele a beijasse novamente. Ele não o fez. E se ele não gostasse dela e estivesse apenas seguindo algum senso de dever? Isso explicaria por que ele fazia uma carranca sempre que ela chamou sua atenção. Ela realmente não deveria ter sido atrevida com ele. Se ele admitisse ou não, ele não gostava de Edward. Se ele também não gostasse dela, não haveria nada para impedi-lo de deixar os dois onde estavam sentados enquanto ele voltava para casa.

— Por favor, Deus, não deixe que ele faça isso.

— Não deixe que quem faça o quê? — Edward apareceu por cima dela, segurando um punhado de frutas vermelhas e usando um sorriso terno que deveria ter sido reconfortante. Não era. Como ela poderia lhe dizer que estar perto de Rob a fazia se sentir segura e cuidada sem ferir Edward em seu coração?

Em vez de mentir para ele, ela pegou as frutas que ele ofereceu e bateu no chão ao lado dela, convidando-o a se sentar. Quando ele o fez, ela se aproximou um pouco para que os outros não pudessem ouvi-la.

— Gostaria que você se desse bem com Rob. Ele não está tentando tomar seu lugar.

Ao contrário de Rob, que era tão difícil de ler quanto os pergaminhos latinos queimados até cinzas, junto com tudo o mais em St. Christopher, as emoções de Edward tocavam abertamente em seu rosto.

— Ele pode tomar o meu lugar?

— Claro que ele não pode, mas ele não está tentando, Edward. — Ela pegou a mão dele, tentando convencê-lo. — Eu acho que ele nem gosta de mim. — Ele certamente não a olhava como Edward, com todo o coração exposto aos pés dela.

— Ele se esforça para alguém que não gosta. Você não acha? — Edward riu tristemente.

— Na verdade não — Davina disse com um suspiro suave que ela não sabia que havia sido expulso. — Ele é um homem nobre, com um profundo senso de dever para com os que o rodeiam. Isso é tudo. Will me disse que Rob é o primogênito e um dia liderará seu clã. A tarefa de protegê-los cairá sobre seus ombros. Ele está apenas fazendo o que lhe foi ensinado do mesmo modo que eu.

— Você parece decepcionada por não ser mais do que isso, — Edward disse suavemente, olhando para longe do olhar dela.

— Edward, por favor, não seja tolo. — Ela silenciou a voz quando Colin e Finn a olharam sobre a lebre escaldante. — Você sabe que minha vida não é minha.

— Sim, eu sei, — Edward sussurrou e olhou através das chamas para Rob. — Mas ele sabe?

— Ele não sabe quem eu sou, Edward, — disse ela seguindo o olhar de seu amigo. — Por alguma razão, eu não acho que ele se importe. — Ela sorriu, olhando para as chamas. — É estranho, mas me faz sentir como se eu também não me importasse. — E oh, como ela poderia explicar a Edward como era maravilhoso não se importar? — Eu deveria contar a ele, — disse ela, olhando nos olhos de seu querido amigo novamente. — Ele merece ser informado. Quero dizer a Finn que é seu primo.

— Você não pode dizer a verdade a eles, — Edward a alertou, voltando o olhar para Rob mais uma vez quando o Highlander começou a caminhar em direção a eles. — Você acha que ele ainda a levará a Skye sabendo que ele pode derrubar todo o reino em cima de sua família mais uma vez? — Lá estava, seu medo falado em voz alta. Ela balançou a cabeça. — Ele está certo. Skye é provavelmente o único lugar seguro para você, minha dama — Edward disse rapidamente. — Lembre-se de quem você é.

Davina olhou para ele até que a picada atrás de seus olhos começou a doer. Então ela desviou o olhar para o colo. Ela não queria se lembrar. Pela primeira vez, ela só queria ser Davina, e não a verdadeira filha primogênita de James de York e herdeira do trono dos três reinos.

 

Capítulo Quatorze

John Henry Frasier sorriu quando sua esposa se abaixou para beijar sua bochecha, e depois continuou contando as moedas empilhadas na palma da mão.

— Trinta e três... — Suas grossas sobrancelhas cinza se juntaram em um momento de esquecimento. — Ou eram trinta e quatro?

— Vinte e nove, — sua esposa falou por cima do ombro, desatando o avental pelas costas quando ela o deixou.

— Vinte e nove? — Ele balançou a cabeça e soltou um longo suspiro. — Foi outro dia lento na taverna.

— Eu sei, mas em breve as festividades na Inglaterra terminarão e nossos clientes voltarão.

Ele ergueu os olhos do pequeno embrulho e sorriu para a generosa garupa de sua esposa balançando sob as saias, enquanto ela subia as escadas para os quartos acima da pequena taberna. O que ele faria sem sua Millie, sempre lembrando-o de coisas mais brilhantes?

— Venha para a cama agora, John. É tarde.

— Em um momento, meu amor. Deixe-me afundar na minha pobreza.

Ela riu do segundo patamar, arruinando sua memória fraca mais uma vez.

— Você nunca se afunda, John. Não se esqueça de trancar a porta — acrescentou ela, desaparecendo na esquina.

— Sim. Agora, onde eu estava? — Ele pegou uma moeda nos dedos carnudos e lançou um olhar pensativo. — Trinta e quatro, trinta... — Ele parou de contar quando uma rajada de ar fresco da noite varreu seus cabelos prateados sobre a testa.

— Minhas desculpas, — disse ele, virando-se na cadeira em direção à porta. — Estamos fechados.

A figura emoldurando a porta enviou um calafrio ainda mais gelado em sua espinha. O homem não fez nenhum movimento para sugerir que ele ouviu as palavras de John, mas se afastou lentamente para permitir que quatro homens atrás dele entrassem.

John levantou-se e enfiou as moedas no bolso do avental.

— Eu tenho apenas algumas moedas se você quiser me roubar.

Uma risada baixa veio da porta quando a figura entrou na luz suave da taverna. John estreitou os olhos, olhando melhor para o homem. Ele usava calças e um casaco que pendia dos joelhos. Um chapéu de abas largas sombreava metade de seu rosto, mas seus olhos brilhavam de um cinza claro à luz do fogo.

— Pareço um ladrão, velho? — A voz retumbou de algum lugar no fundo de seu peito largo. — Meus amigos e eu estamos na estrada há muitos dias e poderíamos querer uma cerveja forte para aquecer o sangue.

John olhou cautelosamente para os outros quatro, esperando que o homem falasse a verdade, pois eram todos grandes demais para ele lutar, mesmo com o bastão pesado que ele mantinha apoiado no canto.

O tilintar de moedas vindas da porta chamou sua atenção. O homem levantou uma pequena bolsa e a sacudiu novamente antes de jogá-la para John.

— Cinco jarras de sua melhor cerveja. Ou melhor ainda, traga uísque. Eu sempre quis provar o que é considerado a melhor bebida dos três reinos. — Ele entrou na taberna, sua capa se balançando em torno de suas botas. Quando ele alcançou John, seus lábios se curvaram em um sorriso fino. — Quero dizer, a menos que você se recuse a pegar meu ouro?

— Ouro? — Os olhos de John se arregalaram, assim como seu sorriso. — Ora, eu não sonharia em mandar homens sedentos para longe. Sentem-se. Sentem-se. — Ele fez um gesto para todos eles, até puxando uma cadeira. — Eu tenho o desejo dos bons cavalheiros, como vocês mesmos disseram, fabricando pessoalmente. — Ele passou os dedos pelos cabelos ralos e alisou as rugas do avental. — Sintam-se em casa enquanto eu pego suas bebidas.

Que boa sorte! Oh, espere até Millie ouvir isso. Ele beijou a bolsa e a enfiou no bolso com o resto de suas moedas. Ouro! Ele parou de repente a caminho do porão, retirou a bolsa, desamarrou-a e olhou para dentro, depois fechou os olhos e beijou o couro fino novamente.

Ele voltou para seus generosos clientes pouco tempo depois e pousou uma bandeja com cinco jarras e uma garrafa marrom escura de seu melhor uísque na mesa diante deles.

— Preparem-se para encantar seu paladar, senhores, — disse ele, servindo as bebidas.

Ele observou, sorrindo de uma orelha para a outra, enquanto o homem que o pagava tirava o chapéu e levantava a jarra para os amigos.

— Pelo príncipe.

— Você quer dizer o rei, sim? — John perguntou, ainda sorrindo.

— Não, eu quero dizer o príncipe. — O homem levou a jarra aos lábios. Ele tomou um gole e depois olhou para John. — Você fala a verdade, Tavernier11, nunca provei nada tão bom.

John não podia estar mais feliz e curvou seus agradecimentos, ouvindo o tilintar suave que vinha do bolso.

— Há muito mais.

— Isso será suficiente.

John lançou os olhos ao redor da mesa para os outros. Eles permaneceram em silêncio e estoicos e nenhum deles olhou para ele. Colocando a bandeja debaixo do braço, ele coçou a têmpora.

— Você não é daqui.

Aqueles frios olhos cinzentos deslizaram para ele.

— Por que você diz isso?

— Seu discurso tem um som peculiar. Como nada que eu já tenha ouvido antes.

— Diga-me, velho. — O consumidor pousou sua jarra e virou-se para olhar diretamente para ele. — Uma senhora parou aqui em busca de comida ou abrigo? Ela é a esposa do meu mestre e fugiu sem deixar rasto. Ela poderia estar sozinha. Talvez vestida com roupas de freira?

— Uma freira? Viajando sozinha? — John riu baixinho e apoiou a mão na barriga, depois parou e torceu a sobrancelha. — Não vi freira, mas vi cavaleiros. Eu não pensava em nada de estranho na época, os homens cavalgavam em direção à Inglaterra há quinze dias, mas agora que você mencionou uma freira...

— Sim? — O consumidor pousou a bebida lentamente e estreitou os olhos em John.

— Bem, os cavaleiros estavam indo para o outro lado, em direção à abadia.

O estrangeiro levantou-se e voou em sua direção como um falcão que acabara de avistar sua presa.

— Abadia? Onde?

John esfregou a testa com a palma da mão suada. Algo no estranho tinha ficado terrivelmente frio e ameaçador. Até o ar parecia pulsar com presságios ao redor dele.

— Courlochcraig em Ayrshire, — disse John e lançou os olhos para as escadas. Não precisa temer, ele se tranquilizou. Ele já lidara com mercenários antes. Ele os serviria, diria o que eles queriam, se pudesse, e depois os veria sair pela porta.

O consumidor se aproximou; seu sorriso genial retornou.

— Você tem sido muito útil, — disse ele e virou-se para um de seus homens. — Maarten, vá para o sul e colete o resto dos meus homens que nos deixaram na nossa última parada. Diga a eles que a pesquisa terminou e leve-os com você para Ayrshire. Encontro você lá.

John estava prestes a respirar novamente quando o consumidor parou e olhou para cima.

— Existem quartos acima das escadas?

— Só o meu, e tenho medo de estar cansado. Se você não se importaria de terminar o seu...

— Você não está mentindo para mim, meu amigo? — O homem passou o braço em volta do ombro de John. O hálito dele escorria quente pelo pescoço de John. — Não depois que eu te paguei tão generosamente.

— Claro que não.

— Quem está no quarto?

— Só... só minha esposa, Millie, bom senhor.

— Eu acredito em você, — disse o homem gentilmente contra sua orelha.

John não viu o flash da adaga que afundou em sua barriga, mas ele sentiu. Sua boca se abriu quando ele olhou para o sangue ensopando o avental e o ouro se derramando no chão recém-varrido. Ele queria gritar. Ele pensava que sim. O homem ainda estava perto, observando-o quando o último suspiro borbulhante de John deixou seu corpo.

O almirante Gilles arrancou a adaga do estômago do Tavernier e pôs os olhos na escada enquanto o velho desmoronava no chão. Empurrando o corpo com a bota, ele ordenou que Hendrick coletasse seu ouro e esperasse por ele com os outros do lado de fora enquanto procurava no quarto acima.

— Millie? — Ele chamou, virando o punho da adaga nos dedos. — Você está sozinha?

— Não acho que ela entenda a propensão para o mal correndo pelas veias de Gilles.

Asher estava com Rob e Colin às margens do lago Awe, ao sul do castelo Kildun. Apesar do riso vindo da beira da água, ou, ao que parecia ser, o capitão passou os dedos pelos cabelos.

Rob não conseguiu deixar de sorrir quando Davina, agachada ao lado de Finn, enquanto lavavam as mãos, jogou água no rosto do rapaz. Ela mudou muito desde que ele a arrancou das chamas. De fato, parecia que quanto mais longe eles viajavam da Inglaterra, melhor o humor dela se tornava e o dele também. Suas orações eram preenchidas com agradecimentos e todos os dias suas risadas soavam como música enchendo os prados e vales enquanto passavam por eles. Rob adorava o som e a maneira como fazia seus olhos dançarem. Ele gostaria de ser a causa da alegria dela, mas tinha dificuldade em se entregar a prazeres sem sentido, como perseguir perdizes ou se esconder atrás de árvores enquanto ela tentava encontrá-lo. Ele se perguntou se o coração dela tinha sido tão leve em St. Christopher e se ela havia encantado os homens de Asher com seus movimentos graciosos e a melodia de sua alegria como fazia com os amigos dele. Ela parecia mais viva, porém, quando falava sobre o novo rei e sua determinação em defender o que ele acreditava, em um tópico que Colin, pelo menos, nunca se cansou de discutir com ela tarde da noite e todas as noites, quando pensavam que todo mundo estava dormindo. Ainda assim, houve momentos em que ela não falava com ninguém, retirando-se para um lugar que ainda assombrava seus olhos.

— Ela entende bem o mal, Asher, — Rob disse ao capitão sem desviar o olhar de Davina. — Acho que ela ainda sonha com o massacre em St. Christopher.

— Não, ela está esquecendo. Ela não o conhece.

— E você conhece? — Rob perguntou, virando-se para ele. Ele quase desejou que Asher continuasse desinteressado por ele. O homem se preocupava como uma mulher com uma dúzia de bairns12 e não tinha como alimentá-los. E, por alguma razão, que Rob suspeitava que era para Asher deixar Davina feliz, ele estava se esforçando ao máximo para fazer amizade com Rob.

— Eu sei o suficiente, — disse Edward. — O homem é chamado 'O Diabo', pelo amor de Deus.

— Meu pai foi chamado a mesma coisa por muitos anos. Agora, esse é um homem que você deve temer.

— Certo, — Colin concordou, depois gritou para Davina. — Olhe para trás!

Ela riu e gritou quando Will, escondido atrás dela, a agarrou nos braços dele e a segurou sobre a água.

— Juro pela minha espada que vou vencê-lo qualquer dia desses, — Rob rosnou, sem entusiasmo.

— Um único golpe deve fazer isso. — Colin sorriu e piscou para ele antes que também fosse atraído pelas risadas vindas do lago.

— A propósito — Edward lançou seu olhar ansioso em torno da linha de árvores esparsas atrás deles — você está ciente de que estamos na terra de Campbell, não é? Eles não gostam muito dos Highlanders.

Rob apertou a mandíbula e rezou por paciência.

— Minha mãe é Campbell, não tenha medo. Estaremos seguros aqui esta noite.

Mas o capitão não estava ouvindo.

— Deus nos proteja, — ele murmurou, parecendo horrorizado com Colin atacando Finn. — Temo que esse barulho alerte os mortos.

Rob estava prestes a se virar e perguntar como, no inferno, ele alcançara o posto de capitão quando temia tanto um homem e o som de uma risada que o fazia tremer nas botas, mas Davina se afastou de seu captor e veio correndo em direção a ele, capturando sua atenção.

Instintivamente, Rob abriu os braços para ela, satisfeito por ela ter procurado a proteção dele, em vez de Asher. Ele a pegou em um braço e com o outro esticado diante dele, com palma da mão aberta, parou Will, que estava em perseguição, formando uma barreira. O primo caiu como uma árvore derrubada, apertando o nariz, o sangue já escorrendo pelos dedos.

Imediatamente, Rob se inclinou para ajudá-lo. Ele não tinha a intenção de bater no rosto dele, mas Will correu direto para a mão dele.

— Oh, inferno, está quebrado? — Ele perguntou enquanto colocava o primo em pé.

Ainda presa no outro braço, Davina se contorceu para se libertar e deu um tapa firme no seu peito.

— Como você pôde fazer isso com ele?

Rob inclinou a cabeça para ela, surpreso pelo flash de raiva em seus olhos azuis.

— Ele estava apenas fazendo alguma brincadeira comigo!

Se ela estava tentando fazê-lo se sentir pior do que ele estava, deveria ter dito qualquer coisa, menos isso.

Ela empurrou o braço dele e foi diretamente para Will.

— Oh, coitadinho, — ela murmurou como uma esposa cujo marido havia acabado de voltar da batalha. — Sente-se e mantenha a cabeça inclinada para a frente.

Rob revirou os olhos para o céu. Inferno, era apenas um nariz sangrando. Will havia recebido pior do que isso no treinamento com ele. Quando olhou para Davina novamente, ela estava olhando para ele. Suas bochechas estavam coradas, suas narinas dilatadas e seus cabelos úmidos caíam em desordem selvagem em volta dos ombros. Inferno, ela era bonita.

— Qual é o seu problema? — Ela cobrou. — Tudo o que você faz é franzir a testa para todos. Você nunca se diverte. Você não é nada divertido!

Antes que ele pudesse responder, ela girou nos calcanhares, abanando suas longas madeixas em um amplo arco ao seu redor, e disparou para a beira da água.

Ele a seguiu, determinado a corrigi-la. Havia muitas coisas que ele gostava, como exercitar-se bem no campo de treino, incursão e jogar xadrez. Ele gostava de jogar xadrez.

— Davina, eu...

— O que aconteceu com Will? — Finn se soltou de Colin e olhou para o homem que cuidava de seu ferimento como uma moça.

— Robert deu um soco no rosto por perseguir a moça, — Edward informou.

Rob olhou para ele por cima do ombro.

— Eu não dei um soco nele, e por que diabos você está bem atrás de mim?

— Claro, agora ele vai morder a cabeça de Edward, — Davina praticamente sibilou enquanto molhava alguns juncos na água.

— Talvez nosso primo desonesto tenha mais sentido agora, sim, irmão?

Rob encontrou o olhar conhecedor de Colin e depois fechou os olhos. Ele sabia a verdade. Ele não gostava de Will ou Asher dando tanta atenção a Davina, mas isso não significava que ele desejava mal ao seu melhor amigo. Ou ele desejava? O que diabos estava acontecendo com ele? Davina era a culpada, é claro; sua pequenina deusa das fadas que encantava todos os homens ao seu redor. Ele se afastou quando ela passou no caminho de volta para Will.

— Eu acho que você deveria...

— Cale a boca, Finn, — disse Rob, e partiu atrás dela novamente. Quando a alcançou, esperou enquanto ela limpava o rosto de Will com os juncos molhados, paciente mesmo quando seu primo lhe deu um sorriso furtivo no canto da boca. Rob não seria atraído.

— Pobre Will — Davina acalmou, dando uma olhada completa no nariz de Will. — Eu não acho que está quebrado.

— Não seria a primeira vez. — Rob só pretendia aliviar a preocupação dela. Ele percebeu tarde demais que foi um erro.

— Pela sua mão? — Davina se endireitou, limpando as mãos no vestido e ficou boquiaberta.

— Não, não por mim. Eu... eu só quis dizer... — Rob apertou a mandíbula. Por que nas chamas ele estava tropeçando em suas palavras? Ele podia admitir quando estava errado, embora essas ocasiões raramente surgissem. Principalmente porque ele nunca agiu precipitadamente. Ele era geralmente paciente, deliberado, nunca deixando verdadeiramente nada perturbar sua calma. Mas tudo isso mudou desde que ele conheceu Davina. Ele podia culpar sua disposição pensativa ultimamente por uma dúzia de coisas, mas sabia que ela era a causa. Ele a queria. Apesar do perigo que ela poderia ou não trazer para o clã dele, apesar de suas promessas a Deus, ele a queria, e não poder tê-la o enrolava mais do que uma corda de arco. Ele mal se reconhecia e não gostava. Ele olhou para o primo. — Eu não quis bater em você, — disse ele, tentando fazer as pazes.

Ainda apertando o nariz, Will, que enfrentara sua parte de Highlanders que brandiam as espadas, empenhados em cortar um membro, soltou um suspiro seco.

— É compreensível, primo. Eu sei como você desaprova os jogos. — Ele finalmente soltou o nariz e se levantou, tão novo quanto em pé. — Mas talvez com ela, é mais do que isso, não é? — Ele piscou e saiu com um sorriso vitorioso no rosto.

Rob lutou contra o desejo de jogar seu primo no Loch Awe.

— Você desaprova os jogos? — Davina parecia mais magoada do que quando o rosto de Will se chocou sob a mão dele. — E por que seria mais do que isso comigo? É a minha felicidade que te deixa com raiva, Rob?

Oh, inferno, ele não queria que ela pensasse isso. Ele pegou a mão dela para detê-la quando ela se afastou dele.

— Davina, eu... — Ele olhou para cima e fez uma carranca ao encontrar Asher e Finn por perto, assistindo e ouvindo o que ele tinha a dizer. — Eu gostaria de falar com você. Sozinho. — Ele estendeu o braço para parar o capitão quando se aproximou deles. Asher parou, tomando cuidado para não fazer contato com a palma de Rob. — Fique aqui. — Rob suavizou o tom de sua voz, compreensivo, embora odiasse admitir, de que levou o capitão a segui-la, pois ele estava igualmente lamentável. — Ela estará segura comigo.

Edward lançou um olhar hesitante para Davina, e depois assentiu e assistiu em silêncio enquanto Rob a levava para a sela, pulava atrás dela e depois corria em direção à floresta além do acampamento.

 

Capítulo Quinze

O que ele poderia dizer para ela? O que ele deveria dizer? Rob não fazia ideia. A única coisa com quem ele nunca passou muito tempo treinando foi com as moças. Ele nunca teve tempo para elas. Pelo menos, não por algo mais significativo do que algumas horas de prazer. Depois disso, ele se jogou no que era mais importante. Seus deveres para com seu clã. Deveres que se desviara do caminho desde que segurara Davina Montgomery nos braços. Todos os dias, enquanto lutava contra seus sentimentos por ela, ele também lutava contra sua lógica por trazê-la para casa, por não questioná-la mais sobre por que um conde e um duque a queriam morta. Era o suficiente para enlouquecer seu coração racional. Mas quanto mais ele cavalgava com ela, mais ele a conhecia, e menos se importava com isso. Eles cobriram uma boa distância de léguas com ela empoleirada de lado no colo dele, e nenhuma vez ela reclamou. Ela havia perdido quase todo mundo que amava, mas achava alegria em coisas tão simples como o pôr do sol, ou sorria esperançosamente para as árvores curtas de espinheiro à frente como um dossel de pequenas flores cor de rosa.

Sim, ele pensou, levando-os para as árvores. Que chance seu coração sensato tinha contra as doces emoções que ela encontrava no mundano?

Limpando a garganta, ele baixou o olhar para o topo da cabeça dela. Ele estava feliz por ela não estar de frente para ele. Olhar para ela tinha um jeito de atrapalhar seus pensamentos. Então, novamente, o mesmo fez as pequenas flores que caiam em seus cabelos. Ele afastou um de seus cabelos loiros prateados, um ato inofensivo que o deixou ansioso por tocá-la mais.

— Davina, eu quero...

— Sim?

Condenação. Ela se virou.

— Eu... — começou a dizê-lo, mas quando ela sorriu com as flores caindo em torno de suas cabeças, ele esqueceu tudo o mais no mundo e deixou seus olhos se deleitarem no puro êxtase dela. E havia outra diferença, ainda, ela era uma sedutora a ponto de distraí-lo, e era completamente e deliciosamente inconsciente disso. — Davina, fui um tolo e, embora não possa prometer, farei o possível para evitar ser um no futuro. — Seu olhar caiu para o dele e seu sorriso permaneceu, encorajando-o a continuar. Seu perdão, assim como sua alegria, vieram facilmente. — Posso não participar das coisas que você gosta de fazer com os outros, mas nunca vou impedi-la de fazê-las. Eu sei que você precisa.

Sim, ele sabia que ela precisava mais em sua vida do que proteção. Ela precisava de alegria e liberdade para ser quem ela quisesse.

— Obrigada. — Sua voz sussurrada era suave enquanto ela olhava para ele, uma mistura de surpresa e esperança mexendo algo dentro dela que fez seu coração apertar. — Minha vida mudou muito desde... desde que você entrou nela. — Ela não se afastou quando ele levantou os dedos na curva de sua mandíbula, mas inclinou a cabeça para o toque dele. — Sinto como se tivesse renascido. Eu sempre quis ver o que havia além dos muros da abadia, mas estava sempre com medo. Não tenho medo quando estou com você. — Rob engoliu uma vez, duas vezes. Ele não achava que ela poderia tê-lo feito mais feliz naquele momento. Mas ele estava errado. — Seus amigos se tornaram meus amigos, minha família.

— Sim, isso me agrada, — disse ele, enxugando uma lágrima debaixo dos cílios dela e temendo o tambor de seu próprio coração que lhe dizia que ele lutaria com qualquer exército por ela; de um duque, de um conde ou até de um rei.

Não, ele não podia. Ele já tinha jurado outro dever. Ele queria que ela entendesse.

— Enquanto meus irmãos e minha irmã caçavam ovelhas nos prados, eu estava sendo moldado em um homem que um dia usaria o plaid de meu pai. Quando você conhecer Callum MacGregor e o que ele fez com seu clã, o que está fazendo para eles agora, entenderá o quanto devo trabalhar para garantir que seu plaid se adapte a mim.

Ela o estudou em silêncio, com cuidado, procurando profundamente dentro de seus olhos.

— Parece que você teve uma infância muito parecida com a minha, — disse ela finalmente. — Um destino foi definido para você e não terá escolha em alterá-lo.

— Eu nunca quis mudar isso.

Ela sorriu para ele com tristeza, parecendo entender a batalha que estava sendo travada dentro dele, a escolha que ele não havia pedido para ser “moldado” a fazer.

— Na verdade, Rob, a última coisa que quero fazer é trazer perigo para você ou seu clã.

Ele não disse nada, se sentindo pior do que antes.

— Você nunca quis perseguir ovelhas nos prados? — Os olhos dela brilhavam de brincadeira, tentando-o a esquecer a batalha.

— Nae, — ele sorriu.

Sua alegria desapareceu observando-o. Ela piscou, parecendo nervosa com algo que apenas passou por seus pensamentos.

— Você perseguiu muitas mulheres?

— Nae, — ele respondeu, mergulhando o olhar nos lábios dela.

— Nem mesmo uma daquelas garotas MacPherson que Will contou?

Ele teria preferido que ela não soubesse daquele dia, mas a terrível antecipação, arregalando os olhos, enquanto esperava a resposta dele teve o efeito mais estranho e satisfatório sobre ele. Ele se batia todos os dias dizendo a si mesmo que não estava com ciúmes do capitão dela, e aqui ela estava com um pouco de ciúmes das irmãs MacPherson. Seu sorriso se aprofundou, seus olhos azuis provocando.

— Ela me perseguiu.

Quando ela respirou chocada, separando os lábios sob seu toque curioso, Rob inclinou a cabeça para a dela. Ele sabia que não deveria beijá-la, mas estava cansado de lutar contra o que sentia por ela. Deus o ajude. Deus ajude todos eles.

Davina ficou imóvel, exceto pelo coração batendo violentamente no peito. Ela teve tempo de perceber o que ele ia fazer, mas não se afastou. Ela não queria se afastar. Depois de dias empoleirados em seu colo, ciente do comprimento poderoso de seus dedos diante dela, sua respiração atrás dela, seus braços em volta dela, ela queria algo mais. Pecado ou não, ela não conseguia parar seus sonhos à noite, sonhos que Rob havia invadido, substituindo todo o resto. Ela acordava quase todas as manhãs sem fôlego com seu toque fantasmagórico e sensual e um pouco envergonhada pelo prazer que sentia em tocá-lo de volta. Sabia que deveria detê-lo agora, quando os dedos dele deslizaram atrás de sua nuca, puxando-a para mais perto, inclinando a cabeça mais alto para recebê-lo, mas ela queria demais. Nunca tendo sido beijada antes, ela estava assustada com a necessidade forte do primeiro beijo dele, mas desta vez os lábios dele roçaram os dela, uma carícia suave e sedutora, tão íntima que ela ficou feliz por estar sentada no colo dele, caso contrário ela teria derretido em um lago líquido a seus pés. O golpe suave de sua língua persuadindo seus lábios enviou fogo por suas veias. Muito melhor do que seus sonhos. Ele pegou a boca dela com requintado rigor, moldando seus lábios nos dele, sentindo-a com uma fome que ele fazia tudo que podia para controlar. Quando ele a abraçou, puxando-a para mais perto e aprofundando o beijo, ela teve a sensação de cair profundamente em um abismo onde só ele existia, pronto e esperando para pegá-la.

Então ele a soltou.

Sua libertação foi tão repentina que deixou Davina buscando-o com uma mão e segurando o coração com a outra. Como se deixá-la livre o machucasse tanto quanto a ela, ele apertou os dedos dela que segurava seu plaid e os levou contra a boca.

— Me perdoe, — sua voz quebrou em uma respiração irregular e arrependida. — Temo não poder resistir a você, mesmo sabendo que pertence a Deus.

Ela observou os lábios dele enquanto ele falava, extasiada com seus contornos sensuais, lembrando-se de como eles eram pressionados com tanta ternura contra os dela, como ele tinha gosto de frutas e desejo. Sempre tão no controle. Ela começou a temer que ele não gostasse dela, mas era com Deus que ele estava preocupado. Ela queria contar a ele toda a verdade, mas não agora. Ela poderia lhe dizer mais tarde e rezar para que ele não a afastasse. Agora, porém, ela queria que ele a beijasse novamente.

Ela o puxou para baixo devagar, sabendo por suas próprias palavras que ele não podia resistir. Ele era o primeiro homem na vida dela que não conseguia. Até o pai dela ficou longe.

Timidamente, ela testou a rendição flexível da boca dele, arrastando os lábios sobre os dele, inalando a doçura quente do seu hálito. Ele gemeu como se ela tivesse lhe causado dor, e então fechou os braços em volta dela, pressionando-a em todos os seus ângulos duros. Ela abriu a boca na dele, segurando o plaid com as duas mãos enquanto ele a esmagava nos braços. Ela sentiu a língua dele contra os dentes, suave, emocionante, sondando enquanto seu cheiro e do tamanho dele a envolvia como fumaça. Ela queria se refugiar nele, esconder-se no abrigo de seu abraço, sentir-se desejada como agora pelo resto de sua vida. Mas a sua vida não era dela e muitos avisos estavam em sua cabeça, embora agora eles não tivessem nada a ver com seus inimigos.

— Não. — Ela apertou as mãos no peito dele e o empurrou. — Não devemos.

Dessa vez, ele não pediu perdão, mas a encarou, com a respiração curta e pesada e os olhos ardendo nela como aço reluzente.

Ela desviou o olhar, fechando os braços em volta de si mesma, numa tentativa fútil de expulsar o desejo frio que deixara invadir.

— Vai escurecer em breve. Deveríamos voltar para os outros.

— Sim. — Sua voz era baixa e rouca quando ele sacudiu as rédeas e virou a montaria.

Eles voltaram em silêncio. Davina tentou se concentrar nos sons da vida que a cercava, e não na verdade de que sua vida não era mais a mesma de Courlochcraig, quando seu coração ainda estava guardado, suas expectativas, realistas. Agora, depois de dias longe de tudo, nada havia mudado. Edward estava certo, ela ainda era filha de James VII. Não havia lugar para o amor em seu futuro. Se seus inimigos não a encontrassem, seria arranjado um casamento para ela, ou para Deus, ou um que melhor servisse ao reino. Ela nunca teria uma família verdadeira e, enquanto seu coração ansiava por uma, ela se preparara para os anos solitários à frente. Ela desejou que Rob a tivesse no poder indomável de seu abraço, depois de conhecer a paixão de seu beijo, o pensamento dele deixá-la a fez tremer com um medo muito maior do que por sua segurança... ou pela dele.

Peter Gilles puxou as pontas dos dedos enluvados antes de soltar as mãos. A cadela era um gato selvagem, ele pensou, atravessando o pátio da abadia de Courlochcraig. Ele levou os dedos ao rosto e estremeceu com as marcas ardentes que a abadessa havia deixado lá enquanto a estrangulava. Ela lutou muito e se agarrou ao seu silêncio, mesmo com a ameaça de morte. Não que ele a tivesse deixado viva ou qualquer uma de suas noviças depois que o vissem. Todas elas tiveram que morrer, mas o resto ele deixou para seus homens. Matar a abadessa foi satisfatório o suficiente.

Ele gostaria de ter demorado um pouco mais de tempo com ela. Ele gostava de quebrar mulheres corajosas, mas tinha ficado impaciente, um de seus muitos defeitos, aos quais admitia livremente. No final, porém, a morte dela serviu ao seu propósito, como a morte costumava fazer. Ao ver sua sagrada Madre suspirar, uma jovem noviça bastante impressionante gritou o que ele queria saber. Uma noviça em viagem chamada Davina havia chegado a Courlochcraig, mas não havia chegado sozinha.

Chegando ao portão da frente, Gilles montou no cavalo e fez uma carranca para a tranquila abadia. Ele odiava os Highlanders e, de acordo com a bela irmã Elaine, a convidada fora escoltada por quatro deles e um capitão inglês que chegou mais tarde e precisou da curandeira. O capitão não podia ser Asher, como Gilles o viu morto. Se ele não estivesse morto, logo estaria. Os Highlanders poderiam provar ser um incômodo mais desgastante. O que Gilles sabia deles desde seus anos na corte holandesa era que eles lutavam com propósito e paixão, principalmente por suas crenças religiosas. Fanáticos. O almirante cuspiu no chão. Não havia nada pior.

Ele bateu a bota no flanco da montaria. Quanto tempo levava para matar algumas mulheres? Eles estavam perdendo um tempo precioso. Se tudo corresse como planejado, o exilado conde de Argyll já deveria ter desembarcado e aportado seus navios no oeste da Escócia para garantir apoio. Monmouth chegaria à Inglaterra logo depois disso para se declarar rei. Gilles não achava que o duque seria um líder satisfatório, mas realmente, a preocupação não era dele? Ele só tinha que ter certeza de que não havia mais ninguém para reivindicar o trono depois que ele matasse Monmouth e Argyll e abrisse caminho para o verdadeiro rei.

Elaine disse que os Highlanders eram do clã MacGregor, mas não sabia mais nada sobre eles ou para onde estavam indo quando partiram. Seus rastros provavelmente já haviam desaparecido agora, mas pelo menos ele sabia que direção tomar, isto é, se eles pudessem dar o fora de Ayr.

— Maarten! — Ele gritou em direção à abadia. Clicando em sua língua, seu olhar ficou mais escuro com o silêncio ao seu redor. Ele estava prestes a atravessar as portas da abadia e terminar com as freiras quando o capitão saiu, seguido pelo resto de seus homens.

— Por que o atraso? — Ele perguntou quando Maarten o alcançou.

O capitão olhou para cima, mas apenas por um momento, depois afastou o olhar enojado e jogou a adaga manchada de sangue no chão.

— Nada. Está feito.

— Bom. Agora vamos embora. Com alguma sorte, Edgar e seu grupo estão na trilha da dama e nos deixaram marcadores. Nós...

— Não, a menos que a moça tenha se afogado no rio que atravessamos quando chegamos aqui, — Hendrick informou, pegando suas rédeas. — Uma das irmãs teve o grande prazer em me dizer que os Highlanders mataram nossos homens e os jogaram no rio. O líder, ela disse, matou seis sozinho.

O rosto de Gilles se contorceu de raiva e, embaixo dele, sua montaria empinou-se com o aperto das coxas do cavaleiro.

— Então, a filha de James tem um campeão. Vou me certificar de matá-la enquanto ele assiste.

Maarten observou o almirante girar o cavalo e trovejar para longe do portão da frente.

— O Diabo, — ele sussurrou para si mesmo, horrorizado com o que ele e os outros tinham acabado de fazer... de novo. — Talvez Deus finalmente tenha enviado um guerreiro para nos entregar a todos no inferno, onde pertencemos.

 

Capítulo Dezesseis

Davina sabia que algo estava errado pouco antes de chegarem à linha das árvores. Estava quieto demais. O sol ainda não estava se pondo, então os homens não podiam estar dormindo. Ela se virou nervosamente para Rob e o encontrou estudando o parque de campismo e diminuindo sua montaria para uma parada silenciosa.

Ele segurou o dedo nos lábios para acalmá-la enquanto espiava através dos troncos finos das árvores.

Um momento depois Davina ouviu o rugido dos cascos batendo na margem do Norte. Um exército! Seu coração quase saltou no peito. Onde estava Finn... Colin? Ela agarrou o plaid de Rob para impedir-se de chamá-los. Em algum lugar a sua esquerda, um pássaro assobiou baixinho, aparentemente imperturbável pelos intrusos que se aproximavam. Quando Rob assobiou de volta, seu coração ficou mais lento, sabendo quem era o pássaro. Ela ainda estava com medo de olhar para quem estava vindo. E se fossem os homens de Gilles ou os de Argyll? Eles a encontraram antes do seu destino.

— Perdoe-me, — ela sussurrou, olhando para Rob em vez de por cima do ombro para os cavaleiros que se aproximavam.

— Por que, Davina? — Ele perguntou baixinho.

— Por colocar sua vida e a dos outros em perigo. Temo que nunca acabe.

O nome dela, caindo tão suavemente dos lábios dele, fez seu pulso acelerar novamente. Ele levou os dedos ao rosto dela e traçou o contorno de sua bochecha.

— Não importa quem venha, eu não vou a lugar nenhum.

— Mas se você estiver machucado... ou morto

Ele sorriu diretamente para ela e aproximou o rosto do dela.

— Confie em mim. — Sua respiração caiu suavemente em seus lábios. — Você não tem nada a temer.

A confiança, forjada a gerações atrás, iluminou seus olhos como fornos de fogo, acendendo sua fé nele. Permitindo-se ceder, ela exalou o ar preso em seus pulmões e assentiu.

— Connor!

Ela e Rob se viraram ao mesmo tempo para ver Finn atravessar as árvores a pé.

— É Connor! Connor! — Ele gritou novamente, acenando com os braços para os cavaleiros.

— Não se mexa daqui — Rob a avisou e desceu da sela. Ele tirou a claymore da bainha e a segurou ao seu lado enquanto entrava na clareira.

Davina quis chamá-lo, mas em vez disso cobriu a boca com a mão. Ele sabia o que estava fazendo. Ele não iria morrer. Com esse pensamento firmemente em sua mente, ela finalmente voltou os olhos para o exército. Não era tão grande quanto ela temia, e os homens estavam vestindo o mesmo traje militar vermelho e branco que Edward.

Finn alcançou os soldados primeiro, arrancando o gorro e acenando sobre a cabeça.

— Irmão, sou eu, Finn!

O cavaleiro da frente reduziu a velocidade e saltou antes que parasse completamente. Ele levantou a mão para parar seus homens enquanto avançava em direção a Finn, seu sorriso largo e os raios de sol marcando os cabelos por baixo de um chapéu de abas largas erguido de um lado.

— Connor, o que diabos você está fazendo aqui? — Rob jogou a espada no chão e abraçou o alto capitão.

— Meus homens e eu fomos enviados para Glencoe no mês passado para reprimir uma pequena revolta entre os MacDonalds e os Campbells. Estamos voltando para a Inglaterra para a coroação.

— Você está um pouco atrasado, — Rob ressaltou.

— Sim, — o outro admitiu com um sorriso covarde, tão lânguido quanto sua voz. — Quando soube que a maioria dos Lairds das Highlands estavam presentes, adiei minha partida. — Ele inclinou a cabeça em torno do ombro de Rob e olhou diretamente para onde Davina ainda estava escondida. — Sua família está com você?

Rob riu e balançou a cabeça.

— Nae, Mairi está na Inglaterra.

— Então eu não estou atrasado o suficiente.

Todos do lado de Rob estavam sorrindo, exceto Colin, cuja carranca havia ficado mais negra que a de Rob em seu dia mais irritado. Ainda assim, parecia seguro o suficiente para Davina desmontar e se juntar a eles.

O sorriso irônico do capitão Connor Grant se aprofundou em algo tão masculino, tão naturalmente sedutor que quase a deteve.

— Quem é? — Ele perguntou a Rob sem tirar os olhos dela.

— Nae, ela.

— Davina, — Finn tirou o gorro do chão, colocou-o de volta nos cabelos despenteados e correu para o lado dela. — É meu irmão, capitão Connor Grant.

Connor contornou Rob e caminhou em sua direção. Ele se moveu com poder absoluto e a graça ágil e lenta de um leão, confiante em sua capacidade de pegar sua presa se ela fugisse. Davina resistiu ao desejo de recuar e avaliou-o com a mesma ousadia que ele fez.

Ele usava o mesmo casaco curto de estilo militar que Edward, mas o de Connor era mais nítido, botões prateados polidos contra o escarlate e se encaixavam mais confortavelmente na cintura e ombros quase tão largos quanto os de Rob. Como o de Finn, seu cabelo, quando ele tirou o chapéu para cumprimentá-la, estava ausente de qualquer cacho, cortado um pouco mais curto e riscado em tons ousados de linho e mel. Mas foi aí que a semelhança terminou. Seu nariz era mais agudo, seus surpreendentes olhos azuis sombreados por mais experiência, e seu sorriso, acentuado por uma covinha profunda e malandra de cada lado, bania qualquer vestígio de inocência.

Ele pegou a mão dela e depois olhou para Edward quando o outro capitão deu um passo à frente e se apresentou.

— Posso apresentar Davina Montgomery, que está sob meus cuidados, — Edward acrescentou e baixou o olhar para os dedos de Connor em volta dos dela.

— Aos seus cuidados? — Connor perguntou ceticamente, lançando o olhar para Rob.

— Nós a encontramos na abadia de St. Christopher, perto de Dumfries, — disse Rob, empurrando Edward para fora do caminho.

— Eles estavam queimando tudo, — acrescentou Finn, entrando na conversa. — Quando chegamos, havia pouco, e então Rob ficou com raiva.

— Quem estava queimando? — Connor deixou cair a mão de Davina e deu toda a atenção a Rob.

— Os holandeses — disse Rob, sobriamente, — não temos certeza de quais ordens eles estavam seguindo, se do duque de Monmouth ou do conde de Argyll. Eles mataram as irmãs e o regimento de homens de Asher.

A mandíbula de Connor ficou tensa e quando ele olhou para Edward novamente, tristeza e raiva disputavam o domínio sobre suas feições.

— O que seus homens estavam fazendo na abadia?

Quando Edward não respondeu imediatamente, ele voltou a olhar para Davina, mas ela desviou o olhar. Ela não iria dizer nada a ele. O capitão Grant poderia ser seu primo, mas ela sabia em primeira mão que, nas cortes nobres, a família às vezes significava muito pouco.

— Connor. — Rob voltou a atenção do capitão para ele. — Está ficando escuro. Acampe aqui esta noite e eu lhe direi o que sabemos.

— Sim, meus homens poderiam descansar — Connor concordou. — Vamos sair à primeira luz. Se os holandeses chegaram à Inglaterra e mataram nossos soldados, devo informar o rei.

Davina mordeu o lábio, preocupada com o que Rob poderia lhe dizer, e depois lembrou que ele não sabia muito.

— Então, você tem certeza de que os homens que atacaram a abadia eram holandeses? — Connor caminhou pela margem iluminada pela lua com Rob ao seu lado. Eles não se aventuraram muito longe do acampamento, mas ficaram longe o suficiente para que os outros não pudessem ouvi-los. — Você os viu?

— Sim, eu vi o que restava deles. Eu não sabia quem eles eram até a moça me contar.

— Ela poderia estar enganada?

Rob encolheu os ombros. Ele não considerou que ela estivesse.

— Poderia Asher também se enganar?

Connor olhou de volta para o acampamento e para o capitão de cabelos escuros, observando-os de seu lugar junto ao fogo.

— De acordo com ele, — continuou Rob, — os homens eram liderados pelo almirante Peter Gilles.

— Gilles? — A atenção de Connor voltou para Rob.

— Sim. Você o conhece?

— Eu o conheço. É o traseiro maldito de Satanás, Rob — disse Connor, passando a mão pelos cabelos. — Isso não é um bom presságio para o rei. Embora Gilles seja o homem do duque de Monmouth, há rumores de que ele tem afiliações com William de Orange13.

Rob pensou nas implicações enquanto eles caminhavam.

— Então, — disse ele depois de um momento, — o rei pode ter inimigos mais poderosos do que suspeita.

— Sim, ele pode, — disse Connor densamente. — Depois que Monmouth foi exilado, o príncipe William negou firmemente qualquer afiliação a ele, ou a Argyll, Gilles ou qualquer um dos Exclusionists14 que se opunham a uma sucessão católica. Embora meu tio jure ter visto o príncipe com Monmouth e Gilles quando ele estava na Holanda, William é o filho de James por lei e sem outra prova contra ele, permanece em boa posição com o novo rei.

— Eu entendo por que William planejaria uma rebelião contra o rei, — disse Rob, sabendo em primeira mão por que a política da Inglaterra era importante para seu clã. — Com James fora, a esposa do príncipe, Mary Stuart, é a próxima na fila do trono. Mas no que Monmouth se beneficiará dessa traição?

— O duque de Monmouth é o filho ilegítimo de Carlos II.

Rob parou e olhou para ele. Não fazia sentido. Se Monmouth depusesse o rei, Mary Stuart reivindicaria o trono como filha legítima de James. Por que William daria seu apoio a um homem que disputava a sucessão de sua esposa? E por que, depois de tudo o que Davina lhes contou sobre o novo rei e suas políticas, ela não contou a ele que Monmouth reivindicou a titularidade do trono?

— Os partidários de uma sucessão protestante, incluindo o príncipe de Orange, se uniram a Monmouth para ser nomeado herdeiro de Charles antes do Projeto de Exclusão, — disse Connor. — O rei Charles chegou muito perto de legitimar Monmouth em várias ocasiões diferentes, mas nunca o fez.

O que isso tem a ver com Davina?

— Foi James quem foi formalmente reconhecido e Monmouth falou severamente contra ele na Câmara dos Lorde, — continuou Connor. — Quando Charles começou a enforcar alguns dos apoiadores do duque, Monmouth fugiu para a Holanda com o já exilado Argyll. Havia rumores de que ele voltou há alguns meses, mas não sabíamos com certeza.

— Então Monmouth odeia James por motivos religiosos e pessoais. Por que não atacar James? — Rob perguntou. Ele não tinha tentado descobrir nada disso antes. Ele não se importava, mas agora, sentindo como se estivesse no limiar de descobrir os segredos de Davina, ele se importava.

— Sim, — Connor concordou. — E por que uma abadia cheia de freiras?

— Foi por Davina que eles vieram — Rob disse com sinceridade. Connor pode ter dado lealdade ao rei, mas ele morreria antes de trair os MacGregors.

Connor olhou para ele, depois por cima do ombro novamente para o acampamento.

— Porque ela?

— Ela não vai me dizer o porquê. De qualquer maneira, não a verdade. — Os olhos de Rob encontraram Davina quando ela riu de algo que Finn disse. — Nem Asher. — Seus olhos se endureceram quando se estabeleceram no capitão de Davina entre os homens. — Ele está apaixonado por ela.

— Você está?

Rob desviou o olhar para o amigo.

— Ela é uma noviça da Ordem.

— Och, Rob. Ela é obviamente mais do que isso — Connor apontou secamente. — O que ela disse a você?

— Não muito, exceto que ela é órfã. Seus pais eram nobres de Whithorn. Ela se recusa a me contar mais.

Connor sorriu e balançou a cabeça para ele.

— Talvez ela não tenha lhe dado respostas, porque é óbvio que você realmente não as quer.

— Você está certo. Eu não me importo — Rob disse em um tom baixo de aviso. — Eu não vou deixá-la morrer.

— Bem, eu não acredito que a família dela seja de Whithorn, — disse Connor, observando-a passar o braço pelo de Finn. — Parece que ela é mais que a filha de um barão.

Rob suspirou, cedendo à sua própria curiosidade. Ele também não acreditava. Ele sabia em seu coração que ela era alguém muito importante para o reino, mas ele não queria saber mais do que isso. Ele não queria uma boa razão para não... não poder levá-la para casa.

— Ela poderia ser irmã de Monmouth, — Connor se aventurou em voz alta. — O rei Carlos era conhecido por ter sido pai de muitos bastardos. Ela é bonita o suficiente para ser uma Stuart. — A voz de Connor ficou suave quando a luz do fogo bateu nos cabelos de Davina e os fez brilharem como nuvens enevoadas ao redor da lua cheia. — É claro que sim, — acrescentou ele, inquieto, — isso a faria minha prima.

Prima dele. Seus amigos se tornaram meus amigos, minha família. Não, ela não poderia ser. Rob olhou para ela e depois para Finn. Eles podem ser irmãos. Oh, inferno, ela não poderia ser uma Stuart. Mas, mesmo quando sua mente rejeitou essa noção assustadora, tudo parecia fazer mais sentido agora. Ele lutou contra a onda doentia que tomou conta dele. Ele não queria acreditar. Esconder uma noviça de um duque era uma coisa; sequestrar a filha do rei era outra coisa completamente diferente.

— Ainda não explica por que Monmouth ou alguém tentaria matá-la, — disse Rob, esperando que eles estivessem errados. — Mesmo que ela seja uma dos bairns ilegítimos de Charles, ela não é uma ameaça. Um filho sempre precede uma filha. A menos que... — A menos que ela não fosse ilegítima e Charles não fosse seu pai. Rob parou e fechou os olhos quando tudo de repente ficou claro. Inferno, se ele estivesse certo, estava prestes a derrubar todo o exército real em Camlochlin e talvez todo o exército holandês com ele. — Connor, ela poderia ser filha de James?

Por um momento, Connor simplesmente o encarou, como se não pudesse compreender essa possibilidade.

— James é um grande oleiro de mulheres, com certeza, mas eu não ouvi falar de nenhum filho nascido dele salvo por Mary e Anne de seu casamento com Anne Hyde. Ele não tem filhos de seu segundo casamento com Mary de Modena. E por que diabos a filha do rei estaria morando em um convento?

Por proteção, Rob pensou. Proteção que James conseguiu prover para suas outras duas filhas que foram forçadas a se casar com protestantes. Sua filha mais velha, Mary, era a esposa de William de Orange e a próxima na fila do trono. Rob teve outro pensamento que drenou a cor do rosto. E se Mary não fosse a primogênita do rei?

Rob não percebeu que ele falou alto até Connor agarrar seu ombro.

— O que?

Davina não estava morando numa abadia? James havia escondido sua verdadeira herdeira para garantir uma sucessão católica, caso ele perecesse, o que gerou uma nova pergunta. Se Connor não a conhecia, provavelmente ninguém mais sabia. Como seus inimigos a encontraram? Ela tinha sido guardada por mais de cem homens. Qualquer um deles poderia tê-la traído para seus inimigos. Eles não eram mais uma preocupação. Mas alguém mais era. Monmouth, Argyll ou William de Orange estavam tentando matar a herdeira do rei... e a única razão para isso era que eles estavam planejando expulsar o rei também.

— Rob, o que traz tanto terror à sua cara? Você deve me dizer.

— Sim, eu vou, — disse Rob, colocando seus ardentes olhos azuis em seu amigo. — E então você deve jurar fazer algo por mim.

Davina não demorou muito para decidir que gostava de Connor Grant quase tanto quanto de Finn. Depois da conversa com Rob, ele parecia mais sombrio, até gritando para seus homens estarem acordados no raiar do dia. Mas depois de uma hora compartilhando suas rações e suas memórias de Camlochlin, a alegria que ele compartilhou com seu irmão mais novo voltou aos seus olhos e seu riso inevitavelmente contagioso a aqueceu mais por dentro do que as chamas que crepitavam diante dela. O pegou olhando para ela do outro lado do fogo. Isso a deixou desconfortável, porque ele a olhava da maneira que ela frequentemente olhava para Finn, como se tentasse reconhecer semelhanças entre eles. Mas quando os olhos deles se encontraram, ele piscou e lhe deu um sorriso leve antes de voltar a rir com os homens ao seu redor.

Ela encontrou Rob olhando para ela também, e algo em sua consideração silenciosa agitou seu sangue, suas emoções. Seu sorriso não era frívolo quando ele a agraciou, mas terno, um tanto doloroso e absolutamente bonito.

Davina sabia, aninhada em um círculo de familiares e amigos, escondida sob um cobertor de estrelas, que nada em seu futuro seria tão difícil quanto resistir a Robert MacGregor. Se ela tivesse quarenta anos, nunca esqueceria como era a boca dele contra a dela ou os estremecimentos que a enfraqueciam quando ele a pressionava contra seu corpo. Oh, ele a fez se sentir tão viva. Mesmo agora, sentado perto dele, perto o suficiente para o braço dele roçar o dela, seu perfume almiscarado masculino invadindo seus sentidos, sua coragem diminuiu, sua respiração parou e suas terminações nervosas queimaram por algo que ela não entendia completamente. Ela fechou os olhos para rezar, mas o som da risada dele a levou a olhá-lo. Quando o fez, esqueceu o que estava pedindo a Deus. Para mudar seu caminho? Deixá-la ficar com Rob para sempre? O que era uma meia noite de meditação em comparação com um sorriso tão cativante que sugou seu fôlego, ou um beijo tão sedutor que apenas a memória dele a arrebatava? Queria ser a pessoa que trouxe alegria à sua vida e fogo aos seus olhos; o único a par de suas expressões íntimas, seus pensamentos e desejos mais particulares.

E ela queria confiar nele com os dela.

— Como vai Tristan? — Connor perguntou a Rob, trazendo os pensamentos de Davina de volta ao presente.

— Ele ainda é um bastardo desonesto e descuidado, — Colin respondeu por seu irmão, sua voz pingando com a raiva que ele estava segurando desde que Connor chegou. — Muito parecido com você.

A cintilação alegre nos olhos de Connor afiou como punhais com ponta de gelo no irmão de Rob.

— Você deseja me acusar de alguma coisa?

— Sim, de rasgar o coração da minha irmã, — Colin rosnou de volta para ele. — A conversa de seus mergulhos casuais no lago inglês da promiscuidade chegou até a nossa parte remota do mundo, capitão Grant.

O olhar de Connor era duro. Quando ele falou, o tom profundo e arrastado de sua voz provocou um tremor no ar.

— Você fala com a ousadia de um homem. Tenha cuidado, senão serei obrigado a lembrá-lo de que você ainda é um moço.

Colin recebeu o aviso com um rosnado lento e desafiador.

— Meça suas próprias palavras, capitão, senão serei obrigado a fazê-lo comê-las.

Em vez de acabar com o que, Davina tinha certeza, estava prestes a se tornar uma briga, Rob apenas trocou um sorriso com Will. Connor Grant sorriu também e, olhando para ele, Davina podia imaginá-lo momentos antes de uma batalha que ele sabia que ia vencer.

Quando os dois se levantaram, ela lançou um olhar preocupado para Rob e recebeu uma piscada tranquilizadora em troca.

— Rapazes, — Will chamou os homens de Connor, depois deu uma mordida em uma maçã que ele roubou de um de seus alforjes, — vocês estão prontos para ver seu capitão de joelhos.

— Nunca, — um dos soldados ingleses chamou de volta quando Connor e Colin se afastaram a uma distância segura. — O garoto está prestes a ser ensinado a respeitar melhor.

— Os MacGregors não têm nada melhor. — Olhando divertido para o soldado, Will cuspiu uma semente de seus lábios. — Sim, Rob?

— Sim — concordou Rob, ainda sorrindo, para grande satisfação de Davina. — Colin, mostre a esses ingleses como um Highlander luta.

A longa claymore de seu irmão mais novo caiu sobre a espada de Connor com um confronto que fez metade dos homens, incluindo Will, se encolherem com o impacto. Connor enfrentou o golpe com um impulso para cima tão forte quanto possível. Davina estremeceu ao lado de Rob, depois congelou quando ele tirou o plaid do ombro e a cobriu com ele. Ela fez o possível para ignorar o calor da proximidade dele, e a memória de todo aquele músculo duro se fechando ao seu redor quando ele a beijou, observando Colin aparar e espetar com precisão brutal. O corpo magro do garoto emprestava sua agilidade, mas a força em seus golpes irrompia de algum lugar mais forte que tendões. No final, no entanto, foi a experiência de Connor e talvez sua própria educação nas Highlands que se mostrou vitoriosa. Ele não se alegrou com isso e até acalmou seus homens quando eles começaram a animá-lo.

— Inferno, MacGregor, — disse ele, sem fôlego quando colocou as mãos nos ombros de Colin, — minhas palavras foram realmente amargas. Venha para a Inglaterra comigo. O novo rei precisa de homens como você.

— O rapaz prefere ser esfolado sem pele e jogado no óleo quente, — Will riu, jogando o caroço de maçã por cima do ombro.

— Eu só lutarei pela Escócia, Connor, — Colin disse a ele, colocando a espada na bainha. Will assentiu e encostou a cabeça na árvore em que estava sentado. — Mas eu irei para a Inglaterra com você.

— O quê? — Will sentou-se e lançou-lhe um olhar atordoado.

— Quero conhecê-lo, este novo rei. — Colin não tirou os olhos de Connor, exceto quando olhou para Davina. — O que ouvi falar dele despertou meu interesse.

— Só não volte com o uniforme inglês, — Will o avisou, depois fechou os olhos novamente.

— Finn virá também, — Connor disse a seu irmão quando ele retornou ao seu lugar na fogueira em frente a Davina.

— Nae! — Finn protestou. — Eu não quero ir para a Inglaterra. — Ele se virou para Rob, os olhos arregalados em suplica. — Eu quero ir para casa.

Davina também não queria que ele fosse com Connor. Ela não sabia quanto tempo ficaria em Skye ou se o veria novamente. Ela não percebeu que seus ombros estavam rígidos até Rob esfregar a mão sobre eles.

— Você é um Stuart, rapaz — Rob disse gentilmente, sua afeição por Finn evidente em sua voz. — A Inglaterra provavelmente será sua casa um dia, como do seu irmão.

— Eu também sou um Grant. E minha casa é Camlochlin.

Rob sorriu, assim como Davina, mas ambos por diferentes razões.

— Ele ficará, — Rob disse a Connor em um tom que pôs fim ao tópico.

Davina não sabia se Mairi MacGregor tinha alguma coisa a ver com Connor deixar Skye, ou se ele deixou por lealdade ao lado real de sua família, mas ficou claro que a conversa entre Rob e Finn o machucou.

— Capitão Grant? — Ela disse, esperando devolvê-lo ao seu humor agradável. — Finn me contou histórias maravilhosas sobre sua mãe. Ela é realmente tão corajosa quanto ele diz?

Connor olhou para cima, seu sorriso fácil retornando.

— Provavelmente mais.

— Mal posso esperar para conhecê-la — disse Davina, sinceramente ansiosa por esse dia. — Conte-me mais sobre sua família, sim?

Connor olhou para Rob e algo secreto e cauteloso passou entre eles. Então ele contou tudo o que ela queria saber, e as risadas duraram muito pela noite, enrolando os fios de felicidade e esperança em torno do coração cauteloso de Davina.

 

Capítulo Dezessete

Rob caminhava ao longo da margem sozinho, sem se importar com o nascer do sol espetacular que caía no lago com brilhantes tons de ouro e laranja queimado. Era apenas a segunda vez que ele deixava Davina desde Courlochcraig, mas havia homens suficientes com ela naquela manhã. Ela estaria segura sem ele pelo tempo que levasse para tomar banho. Mas logo ele descobriu que sua necessidade de pensar claramente prevalecia sobre sua necessidade de estar limpo. Então ele caminhou devagar, descalço sobre os juncos e as rochas cobertas de musgo, as botas penduradas na mão ao lado. Ele tinha bom senso suficiente para saber que ser atormentado por pensamentos de Davina Montgomery ou Stuart não levaria a nada. Mas o que bom senso fazia quando todos os outros sentidos eram consumidos por ela? Como ele seria capaz de tomar decisões sábias para seu clã se visse Davina, conversasse com ela todos os dias em Camlochlin, sem poder tocá-la novamente? O mais importante, quando seus deveres com o clã deixaram de ter importância em comparação com a segurança dela? Como ele podia ser tão imprudente e ainda considerar levá-la para casa sabendo quem ela era? Deus tenha piedade de todos eles, ela era filha do rei! Sim, ele estava certo disso agora. Ele a olhou cuidadosamente na noite passada e o jeito que ela olhou para Connor e Finn como se fossem os irmãos que ela procurou por toda a sua vida e finalmente encontrou. Agora, a emoção que ele viu nos olhos dela quando ela falou do rei fazia sentido. Ela era filha dele. Inferno, ele estava se apaixonando pela filha do rei! Já era ruim o suficiente ter decidido arriscar a ira de Deus beijando-a, desejando-a tanto que nada mais importava. Mas o maldito rei...

Quando chegou a uma enseada de areia, largou as botas e olhou para o lago. Ela era herdeira do trono! Ela nunca poderia ser dele e o perigo que representava para o povo de Camlochlin aumentara dez vezes. Ainda assim, agora mais do que nunca, ele sabia que tinha que protegê-la. Ele já havia decidido continuar com ela quando contou a Will e aos outros na noite passada quem ele acreditava que ela fosse. Camlochlin era a casa deles e eles tinham o direito de saber que decisões ele estava tomando que poderiam afetar o futuro deles. Como ele suspeitava, os rapazes concordaram em levá-la para casa, apesar do perigo. Sim, todos enlouqueceram.

Como diabos os homens de Gilles a encontraram? Como seus inimigos sabiam que ela existia quando parecia que ninguém mais sabia? Obviamente, Asher sabia quem ela era, e a abadessa de Courlochcraig também. Rob entendia agora por que os dois se recusaram a dizer qualquer coisa. Mas e Davina? Quando ela confiaria nele o suficiente para lhe compartilhar a verdade? Talvez William de Orange a conhecesse através de sua esposa, a irmã de Davina. Monmouth e Argyll estavam planejando uma rebelião com o príncipe de Orange? Qual deles havia ordenado a morte de Davina?

Nenhuma dessas perguntas importava quando comparada ao fato de que ela era filha do rei. Mesmo que seus inimigos nunca a encontrassem, seu pai certamente a procuraria. O que Rob faria então? Ele lideraria seu clã na guerra por uma moça? E se ela quisesse ir? E se ela soubesse seu dever e, como ele, estivesse determinada a cumpri-lo?

Ele deveria mandá-la embora agora, antes que ele perdesse seu coração, e tudo completamente para ela. Ele deveria, mas não iria. Não depois que ele a beijou e sentiu seu coração bater freneticamente contra seus seios redondos. Especialmente depois que ela o beijou de volta, seus lábios carnudos e quentes curiosos a princípio, e depois com tanta fome quanto os dele. Ela era inocente, mas sua boca era tão docemente devassa que ele ficou tentado a desistir de tudo em sua vida apenas para prová-la novamente.

Ele puxou a camisa por cima dos ombros, jogou-a no chão e entrou na água. A picada gelada que entorpecia suas panturrilhas era exatamente o que ele precisava para conter o fogo furioso que Davina incitava nele. Agachado, ele usou um pedaço de seu plaid para se esfregar. Ele colocou as mãos em concha para recolher a água e jogou-a no rosto, depois soltou o cabelo e passou os dedos molhados por ele. Ele a levaria para Skye, a manteria segura e se contentaria com isso por enquanto. Sim, ele poderia fazer isso. Enquanto ninguém tentasse machucá-la, ele poderia estar contente. Ele se preocuparia com o rei e seu próprio pai mais tarde.

Ele se endireitou, sentindo-se melhor e sacudiu a água do cabelo.

— Eu estava procurando por você.

Ele levantou a cabeça e sabia que era um tolo por pensar que qualquer coisa poderia apagar o que Davina agitava nele. Só de olhar para ela, seus músculos se contraíram com a necessidade de tê-la, abraçá-la, protegê-la. Ela estava sozinha, com os dedos entrelaçados na frente dela, descansando na suave lã verde de suas saias. Ela prendera o cabelo nas têmporas, expondo as orelhas um pouco grandes demais, os contornos doces do rosto. Ela era tão leve quanto um véu, totalmente indefesa contra a tempestade que espreitava à distância. Como alguém poderia querer machucá-la?

Ela estava procurando por ele.

— Não tenho medo quando estou com você. — Sim, valia a pena cada hora atormentadora gasta na frente da espada de seu pai para ouvi-la dizer isso.

Ele pigarreou com um pouco de água para não sorrir para ela, como a desculpa trêmula para um capitão inglês.

— Eu estava prestes a começar de novo a marcha.

— Por quê? — Ela bloqueou o caminho para impedi-lo de ir. — Rob, eu não quero que você pense que precisa...

— Mas eu quero. — Ele se aproximou dela, atraído pela força que ela ocultava em torno de si e seduzido pela vulnerabilidade que tentava esconder por baixo. Então ele lembrou quem ela era e parou. — Eu devo.

— Não. — Ela deu um passo à frente. Um rubor suave percorreu suas bochechas quando seu olhar atravessou seu peito e barriga nus, seus cabelos molhados riscando seu rosto, dando mais profundidade à necessidade surpreendente em seus olhos. — Não, Rob. Eu vou deixar você. Você fez muito por mim sem saber por que sou caçada. Um dia, você entenderá por que eu não contei a você.

Ele já sabia. Ela não confiava nele.

— Não vou arriscar sua vida até então. — Quando ele abriu a boca para falar, ela levantou a palma da mão, parando-o. — Eu já pedi a Connor para me levar embora.

Rob não tinha certeza se ria ou iria encontrar Connor e socá-lo quebrando alguns dentes.

— Ele não está te levando a lugar nenhum, — ele disse a ela, não se importando com o quão duro estava olhando para ela.

— Não, ele não estará, — ela concordou, aproximando-se perigosamente dele. — De repente, ele está muito ansioso para voltar à Inglaterra. Mas ele me garantiu que é um homem tão galante quanto você e concordou em que seus homens me escoltassem para a Irlanda sem questionar. Ninguém vai me encontrar lá.

Ela estava brava? Ah, Deus o ajude, não estava?

— Eu vou te encontrar se me deixar, — prometeu. Ele não esperava que os olhos dela ficassem suaves e líquidos nele, ou o efeito que as lágrimas teriam no último fragmento de seu bom senso.

— Não, Rob, por favor. — Lentamente, ela levantou os dedos na ferida no ombro dele. A ferida que ela lhe dera. Estava quase completamente curada agora. Ela tocou e seus músculos se contraíram sob as pontas dos dedos. — Você não entende.

— Então me ajude a entender, Davina. — Ele poderia ter dito a ela que sabia a verdade e que Connor também sabia. Mas ele queria que ela lhe dissesse que confiasse nele com sua vida.

— É muito perigoso, — disse ela suavemente. — Eu não vou te machucar... ou pior por minha causa. Eu estarei segura na Irlanda.

Suas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo. Foi tudo o que ele pôde fazer para mantê-las lá e não a arrastar para seus braços. Ele não podia tê-la, mas ele a manteria viva.

— Você estará segura comigo.

Quando ela olhou para ele, seus olhos estavam cheios de arrependimento.

— Mas ninguém mais estará.

Rob sabia que ela entendia o que protegê-la significava e mais uma vez, ela estava tentando protegê-lo, encontrando alguma força interior para afastá-lo. Isso o fez sofrer ainda mais por protegê-la. E ele protegeria. Seus inimigos não a encontrariam em Skye, e se a encontrassem, Rob cortaria suas gargantas antes de chegarem a Kylerhea.

— Meu clã ficará por trás das minhas decisões. Eles são MacGregors e, se precisarem lutar, irão. E nós venceremos.

— Você parece ter tão certeza, — ela disse, aproximando-se ainda mais até que pôde sentir a respiração no queixo dele quando ela olhou para ele. — Tanta certeza de que tudo ficará bem. Você me faz acreditar nisso também. Mas eu... — Ela fechou os olhos e se afastou agora. — Não posso...

Ele a agarrou de volta, puxando-a para seu peito com uma força que a deixou sem fôlego. Ele não se importava com quem diabos ela era. Ele nunca se importou com a Inglaterra ou seus reis antes, e não ia começar agora.

— Confie em mim, Davina. — Ele se inclinou para ela e roçou a boca sobre a dela. — Confie em mim, — ele se viu implorando, querendo dela mais do que tinha percebido, mais que desejo, mais que posse.

O sorriso dela era toda a resposta que ele precisava, mas quando ela passou os braços em volta do pescoço dele, ele sorriu de volta e cobriu a boca dela.

— Muito bem então, — ela sussurrou... rompendo o beijo. — Há algo que eu gostaria de lhe dizer. Mas depois. — Ela sorriu de novo, corou, e então conheceu a paixão em seu beijo quando ele a levantou.

— Rob. — A voz de Connor arrancou a boca de Davina quando ela se virou, escarlate até suas raízes. Sua mortificação foi completada pela visão de Edward parado ao lado de Connor e com um olhar de descrença esmagado no seu rosto.

Connor, por outro lado, não pareceu surpreso com o abraço apaixonado do casal, mas poupou a Rob um olhar medido antes de falar.

— Srta. Montgomery, ficamos alarmados quando você não voltou, mas vejo que está em boas mãos.

Quando Davina escorregou de seu corpo e saiu de seus braços, o instinto inicial de Rob foi agarrar a mão dela e puxá-la de volta, mas ela já estava a meio caminho de Asher. Apertando a mandíbula para não chamá-la de volta, Rob observou o capitão levá-la embora.

— Vamos sair em breve.

Rob voltou o olhar glacial para o velho amigo.

— Então siga seu caminho, Connor. — Ele passou por ele e se inclinou para recuperar as botas. — Mas ela fica comigo.

— Você ainda a está levando para Camlochlin?

— Sim.

— Você já pensou nisso, Rob?

— Sim, eu pensei. — Quando Rob se endireitou, seus olhos, eclipsados por seus cabelos úmidos e escuros, estavam no nível dos de Connor. — E eu não vou mudar de ideia.

— Eu entendo que você tomou um apego à garota, — disse Connor, correndo para alcançá-lo quando Rob se afastou. — Mas nada pode resultar disso. Se estivermos certos sobre quem ela é, o rei nunca concordará com uma união entre vocês dois.

Pausando, Rob virou-se para ele, sua voz rígida com o controle.

— Inferno, você acha que não sei disso?

— A julgar pelo que acabei de ver, acho que não se importa.

Rob raramente perdia a paciência. Ele descobriu, graças ao seu treinamento constante, que, quando perdia, era muito difícil recuperá-la e um nariz geralmente se partia. Ele fez o possível para não perdê-la agora com um amigo.

— Se eu não me importasse, eu teria... — Ele apertou sua mandíbula em torno das palavras grosseiras que não estavam em seu caráter de pronunciar. — Eu não sou Tristan.

— Eu sei, — Connor disse sinceramente, vendo a tempestade passar. — E é isso que me preocupa. Não é imprudente.

Rob se virou, sabendo para onde a conversa estava indo e preferindo não ouvir mais nada. Davina e Asher estavam logo à frente e ele manteve os olhos neles enquanto caminhava.

— Farei o que você me pediu na noite passada, — disse Connor, alcançando-o novamente. — Vou avisar os planos de Monmouth ao rei e, possivelmente, de William de Orange, mas guardo dele a verdade sobre o resgate da filha até sabermos mais, mas você não pode levá-la para Camlochlin, Rob. É muito perigoso.

— Eu não tenho escolha, Connor, — Rob disse a ele. — E enquanto você não disser ao rei onde ela está, ela estará segura. Quem quer que que a queira morta, não a encontrará lá.

— Talvez você esteja certo, mas e se não estiver? O almirante já a encontrou uma vez.

— Sim, e estou curioso para saber como ele fez, — disse Rob. Algo surgiu na borda de sua memória, mas quando o alcançou, sumiu. — Deve haver alguém na corte que saiba de sua existência. Por isso peço que não diga ao rei que ela vive.

— Rob, — Connor o deteve pouco antes de chegarem ao acampamento. — Embora tenha passado meus anos em Camlochlin com Mairi e Tristan, considero-o meu irmão. Não concordo com o que você está fazendo, mas vou apoiá-lo. Vou deixar seis dos meus homens com você para acompanhá-lo até Oban. Eu tenho um pequeno navio atracado lá e meus homens irão levá-lo para Sleat. É mais rápido do que viajar a cavalo, os homens são confiáveis, e não vão revelar seu paradeiro, se alguém os questionar.

Rob assentiu e sorriu pela primeira vez naquela manhã.

— Você tem minha gratidão, Connor. Sei que peço muito de você mantendo a verdade longe do rei. — Connor respirou fundo, provando que a tarefa seria difícil. — Quando você chegar à Inglaterra, tente não... se meter em problemas com Tristan e lembre-se de quantos punhais que Mairi mantém sob suas saias.

Connor riu, depois olhou por cima do ombro de Rob para Davina.

— Mantenha seguro meu primo e seu coração no peito, velho amigo.

— Eu vou, — prometeu Rob, sabendo que ele poderia realizar pelo menos uma das duas tarefas.

 

Capítulo Dezoito

— Eu não sei qual dos dois me decepciona mais, milady. — Edward não olhou para Davina todo o caminho de volta ao acampamento. Ela estava agradecida por ele não ter olhado, pois suas palavras e o tom em que ele as falou doía bastante. — Que você entregou sua virtude a um homem como ele, ou que você é tola o suficiente para confiar a ele os seus segredos.

— Como você se atreve a falar da minha virtude, Edward? — Ela não percebeu o estalo de sua voz até que ele piscou como se ela o tivesse atingido. No passado, ela teria se sentido péssima por falar tão severamente com ele, mas não agora. Não depois de tal insulto, não só por ela, mas também por Rob. Ela sabia que tinha errado em beijar o Highlander, mas Deus tenha piedade dela, a visão de seu corpo duro pingando e seminu era impossível de ignorar. Ainda assim, ela poderia ter encontrado forças para fazê-lo se ele não a tivesse olhado com tanto desejo... se ele não tivesse jurado encontrá-la se ela o deixasse... se ele não tivesse pedido que confiasse nele de novo. Ela não tinha ideia de que tipo de homem seu pai havia planejado casá-la se ela vivesse, mas ela conhecia homens suficientes para convencê-la de que ninguém jamais poderia se comparar a Rob MacGregor. Ela queria lançar seu título aos quatro ventos e viver uma vida normal e tranquila com um homem que a abraçava como se sua própria vida dependesse dela. Ela queria ser dele. Apenas dele e nada mais.

— Isso me decepciona, Edward, que, em vez de ser grato por tudo que um homem como ele fez por nós, você o despreza como se fosse muito melhor.

Os olhos de Edward finalmente encontraram os dela quando eles entraram no acampamento. Ele parecia muito menos arrependido do que ela esperava. De fato, a centelha de raiva em seus olhos a fez querer recuar.

— Embora minhas falhas, sem dúvida, se tornem mais claras para você ao longo desta jornada, eu ainda estarei ao seu lado, mesmo depois que ele a abandonar.

Davina piscou para ele, depois olhou para o outro lado quando Finn a chamou. De todos os homens de lá, ela não queria que um Stuart visse sua coragem desmoronar. Ela se perguntou como seria, mas agora ela percebia todo o peso do medo com o qual havia vivido por tanto tempo e que Edward constantemente perpetrou. Quaisquer que fossem os motivos por todos esses anos, isso a despojara de tanto. Com todo o coração, ela queria dar a Rob o que ele pedia, sua confiança. Mas a verdade era imensa demais. Ela aprendeu bem o valor de sua vida como herdeira de sucessão do trono. Rob também vira o custo disso nos gramados da frente de St. Christopher. Ele estaria disposto a lutar por ela, se tivesse que lutar com mais homens do duque de Monmouth?

Quando ele entrou no acampamento com Connor, ela não pôde deixar de olhar para ele. A presença dele fez seus nervos formigarem com a vida. A visão de seu peito esculpido, braços cintilantes e barriga apertada lembrou-lhe como tinha lutado com habilidade com os homens de Gilles perto da ponte em Ayrshire. Ele andava como se nada pudesse ficar no seu caminho. Ele a abraçou, tanto a cavalo quanto fora, como se ela fosse sua mulher. Seu beijo a fez esquecer seu passado e seu futuro.

Quando passou por ela, seus olhos, como duas joias de fogo, se deslizaram para os de Edward e escureceram com o que Rob viu olhando para ele. Davina se virou a tempo de pegar o desafio no olhar de Edward e fez uma carranca para ele. Ele estava bravo? Uma briga entre os dois homens certamente terminaria em favor de Rob. Felizmente, a confiança de Edward em uma vitória não conseguiu aguentar a de Rob e ele baixou os olhos para as botas.

Logo, a atenção de Davina foi atraída para as despedidas alegres dos homens. Ela foi engolida pelo abraço surpreendentemente quente de Connor primeiro. Quando ela encarou Colin, ela sorriu sem jeito. Ela havia compartilhado muitas conversas noturnas com o irmão mais novo de Rob, mas ele escondeu bem suas impressões sobre ela e seus pontos de vista por trás de suas feições duramente esculpidas e olhos atentos de lobo. Como ela esperava, ele não sorriu de volta.

— Eu vou falar com ele, — Connor prometeu, caminhando em sua direção. — E vou descobrir se ele tem sua estima.

Davina sabia a quem ele se referia e assentiu.

— Eu rezo para que ele tenha.

Milagre dos milagres, sua boca se curvou em um sorriso que Davina tinha certeza de que muitas moças cairiam, mais do que os sorrisos de Finn.

— Eu também, moça bonita.

Davina deixou Finn segurar sua mão quando os homens finalmente saíram, e então ela o ouviu quando ele tomou seu lugar nos flancos do cavalo de Rob e orgulhosamente lhe disse tudo o que havia para saber sobre o corajoso capitão Connor Grant.

Edward cavalgava a uma distância atrás deles, mas Davina podia sentir seus olhos nela, ouvir seu aviso em seu ouvido tão claramente como se ele estivesse falando sobre isso.

Não diga nada, senão ele vai deixar você.

E assim, apesar do desejo de contar seu segredo mais terrível a Rob, ela não disse nada a ele enquanto viajavam para Oban e se odiava por isso. Oh, quando ela se tornou tão egoísta, miserável e covarde? Ela temia que ele a deixasse, mas seu medo não tinha mais nada a ver com sua segurança. Ela estava se apaixonando por ele desesperadamente, enlouquecidamente apaixonada por ele, e o pensamento de nunca mais ver seu rosto, nunca mais sentir seus braços ao redor dela, nunca mais beijá-lo novamente a deixava doente de desespero. Ela não queria que Rob, ou qualquer outra pessoa morresse por causa dela, mas graças à habilidade e confiança de seu campeão, não acreditava que alguém o faria. Era uma desculpa fraca, mas convencer-se disso tornava mais fácil permanecer em silêncio enquanto embarcavam no navio inglês que os levaria a Sleat.

Normalmente, Rob não gostava de viajar sobre a água. Ele preferia seus pés firmemente plantados em solo firme. Ele não podia negar que o navio inglês era o melhor, se não o maior navio em que ele já estivera, mas ainda assim era demais para o seu gosto. Para se manter firme, ele encostou as costas no mastro e apoiou as pernas embaixo dele. Seus olhos se fixaram, como sempre faziam quando ela estava longe dele, em Davina. Contra o pano de fundo de um vasto céu azul, ela estava como Calypso na proa, os ombros empurrados para trás contra a ventania, suas madeixas claras chicoteando atrás dela como uma flâmula.

Os olhos de Rob suavizaram-se sobre ela, assim como seu coração cada vez que a via. E quanto mais perto eles chegavam de Camlochlin, mais ela se deslumbrava. Era como assistir uma borboleta se libertando de seu casulo e lentamente desdobrando suas asas para voar. Inferno, ele queria que ela voasse. Ele queria voar com ela. Ele não a pressionou sobre o que ela queria lhe contar na manhã em que Connor partiu. Ele não podia forçá-la a confiar nele com esse segredo. Ele só podia esperar que com o tempo ela confiasse.

Quando ela se virou e acenou para ele, com suas bochechas rosadas e seu sorriso largo, seus joelhos quase cederam. Obviamente, poderia ter sido uma onda de quatro metros batendo contra o casco. Ela riu, sem pensar nas ondas abaixo. Ela poderia ter passado muitos anos com medo de um inimigo invisível, mas ser lançada sobre ondas agitadas lhe dava prazer.

— Aquela é Skye? — Ela chamou, apontando para uma pequena ilha à esquerda dele.

— Nae, é Eig, — ele gritou de volta, então agarrou o mastro acima da cabeça quando o navio mergulhou para a esquerda. Sua risada foi arrebatada pelo vento agitado quando ela o convidou para se aproximar. Ele balançou a cabeça, não se importando se ela o considerasse tolo ou com medo de ficar tão perto das ondas. Ele não estava disposto a exagerar por nenhuma moça, a menos que fosse absolutamente necessário.

Ela parecia tão insignificante quanto uma pena quando soltou a grade e se moveu em direção a ele. Naquele instante, a haste do navio subiu, elevando o gurupés15 em direção aos céus. Instintivamente, Rob a alcançou com o braço livre e a puxou contra seu peito. Ela aterrissou com um baque que lhe roubou o fôlego e o dele por um motivo completamente diferente. Ele olhou nos olhos dela, perdido em suas profundezas azuis prateadas, morto por um sorriso despreocupado, tão radiante quanto o sol espreitando sobre as colinas de Cuillin.

— Cuidado, moça, — ele disse suavemente, profundamente enquanto seus longos cabelos se enrolavam ao redor dele. — Eu não quero te perder.

— Nem eu, — ela disse a ele com o mesmo significado e, em seguida, passou o lábio inferior entre os dentes, como se tivesse falado demais.

Maldita fosse sua vontade de resistir a ela. Ele desistiu dessa luta quando ela jogou os braços em volta do pescoço dele na manhã em que Connor e Asher os encontraram juntos. Ele sorriu, mergulhando a boca na dela e a mão nas suas costas. No recuo sedutor logo acima das nádegas dela, ele abriu a palma da mão e a empurrou mais profundamente contra a dobra de suas coxas. Ele a abraçou enquanto pegava sua boca e as ondas empinavam e balançavam embaixo deles. Suavemente a princípio, a língua dele roubou sua boca, provando, acariciando-a até que ela estremeceu em seus braços. Nenhum homem a beijou antes dele, e ninguém jamais a beijaria depois dele. Cada dia que ele a segurava nos braços era outra prova a sua vontade de não acariciá-la, reivindicá-la e matar qualquer um que tentasse machucá-la. Mas ele estava perdido e não lutaria mais.

A doce devassidão de sua resposta fez com que cada centímetro dele se apertasse e, quando ele passou os lábios sobre os dela, devorando-a agora com necessidade, ele roçou seu membro rígido contra o calor de seu ninho.

Ela se afastou, os olhos arregalados, as bochechas coradas. Rob apertou a mandíbula, pelo pedido de desculpas que ele teria oferecido a ela se não fosse banal e insincero. Ele não estava arrependido. Mesmo agora, ele queria mais dela.

— Minha dama?

Rob e Davina se viraram juntos para Asher, a poucos metros de distância, com as mãos em punhos ao lado do corpo.

— Você está bem?

Olhando para ele, Rob puxou Davina para mais perto em um gesto possessivo, e para ajudar a esconder o efeito dela sobre ele. Ele tinha sido paciente e tão compreensivo quanto qualquer homem sobre os sentimentos de Asher em relação a Davina, mas estava cansado do capitão dela se firmar constantemente entre eles e se recusou a ser insultado por um inglês.

— Ela não foi e não será machucada estando aos meus cuidados, capitão.

O tom rígido de Rob alertou Will que a cabeça de alguém estava prestes a rolar. Asher inclinou o olhar em sua direção quando Will começou a avançar.

— Você não tem ideia, — disse ele, voltando-se para Rob, — da força que virá contra você.

Uma força provavelmente liderada por você, Rob pensou, empurrando o mastro e se movendo em direção a ele. Com que facilidade ele podia atirar Asher pelo lado do navio e acabar com ele de uma vez por todas. Davina o odiaria por isso, se o fizesse. Rob sabia que Asher estava com ciúmes, mas algo nele mudou quando com Connor os encontrou, trancados nos braços um do outro. Antes, havia cautela e preocupação constante nos olhos do capitão, mas desde aquela manhã havia apenas raiva negra e, pela primeira vez, Rob o via como uma ameaça. Ele alertaria o rei sobre o paradeiro de Davina para mantê-la longe dele?

— Deixe-os vir, — Rob disse a ele, com a mandíbula esticada e o olhar duro como granito, — e deixe que eles me temam.

Asher ofereceu-lhe um sorriso de pena.

— Você pode ser habilidoso com uma espada, MacGregor, mas algumas dezenas de Highlanders contra um exército não são páreo.

Rob devolveu o sorriso cheio de arrogância.

— Nenhum exército jamais nos alcançará vivos.

— Um exército? — Perguntou o capitão.

Rob balançou a cabeça e deu um sorriso frio.

— Canhões16.

O grito de Finn do alto perfurou o silêncio atordoado que desceu no convés.

— Terra! A bonita Skye está à frente!

Asher e Davina viraram-se para olhar para o Norte na península Sleat, erguendo-se das ondas. Mas o olhar de Rob se dirigiu para o oeste, além de Loch Slapin, em direção aos picos enevoados de Sgurr Na Stri e as montanhas Cuillin. Casa. O lugar do seu coração. A coisa que ele amava acima de tudo Seus olhos se voltaram para Davina correndo de volta para a grade, exceto por ela.

 

Capítulo Dezenove

Eles ancoraram em Tarskavaig Bay, na costa ocidental da península e viajaram para o Norte ao longo da costa rochosa. Finn ficou feliz em conversar com Davina (cavalgando no flanco dela, é claro), Tarskavaig era um dos maiores assentamentos de artesanato em Skye e tinha uma longa história mergulhada nas origens nórdicas.

Mas, em vez de apreciar a beleza singular das dezenas de pequenas casas espalhadas pelo vale raso diante dela, os pensamentos de Davina se apegaram ao homem sentado atrás dela em seu cavalo. Ela sonhava em ver o mundo fora dos portões de St. Christopher, havia perdido seus dias em outros lugares onde mães e pais não precisavam abandonar seus bebês. Mas agora, quando se encontrava em um desses lugares, nada disso importava. Edward estava certo quando disse que Rob não tinha ideia do que viria contra ele, mas ela sabia, e isso a atormentava até que se sentia doente. Se os MacGregors disparassem seus canhões no exército do rei, haveria guerra. Ela não podia deixar isso acontecer. Ela teve tempo de sobra para pensar no navio e sabia que Edward estava errado sobre uma coisa. Rob não a abandonaria, mesmo que soubesse que era o exército do rei que ele poderia estar enfrentando. Seu coração estava certo disso agora, pois ela provou em seu beijo, sentiu na força de seu abraço e na prova tentadora de como ele queria possuí-la.

A lembrança de sua masculinidade entre suas coxas aqueceu seu interior e a fez ciente de cada curva dura pressionada contra suas costas agora. Ela poderia ter sido criada em um convento, mas não ignorava completamente o que acontecia entre homens e mulheres. A abadessa de St. Christopher tinha dito a ela, preparando-a para o dia de seu casamento, se algum dia acontecesse. Além disso, ela já tinha visto ovelhas, gado e até cavalos para saber o que era o ritual de acasalamento. Por mais primitivo que fosse, o pensamento dela e de Rob presos na dança antiga da natureza a fez formigar desde as solas dos pés. Ela se perguntou como seria dormir com ele, segurar todo aquele corpo masculino e forte em seus braços, ouvi-lo sussurrar palavras de amor enquanto a fazia dele. Nunca, Davina, ela se forçou a pensar logicamente. Isso nunca acontecerá. Você não nasceu para esta vida. Alguém a encontraria, ou os homens do duque, ou Deus, ou o pai dela.

Ela nunca deveria ter deixado Rob trazê-la para Skye. Não era tarde demais. Ela tinha que dizer a verdade e reunir forças para solicitar que ele a levasse de volta ao navio antes que os homens de Connor deixassem Sleat. Eles ainda poderiam levá-la para a Irlanda. Tinha que ser assim. Ela não suportava a ideia de alguém morrer por causa dela.

Edward parecia tão infeliz quanto ela, enquanto eles trotavam por campinas acarpetadas de bluebells17, passando por morros com ovelhas que se perdiam de vista. Davina afastou o amigo de seus pensamentos. Ela sabia por que ele estava com raiva. Ele fora honrado com ela e por seu rei, deixando de lado o amor por ela e vendo-a render-se ao Highlander. Ela falaria com ele sobre isso mais tarde. Mas, por enquanto, Edward teria que esperar.

Determinada a seu propósito, ela se virou o colo de Rob e olhou para ele. No momento em que o fez, sentiu sua coragem murchar. Um sorriso espreitava nas bordas de sua boca e, como se ele soubesse as preocupações dela antes que as falasse, essa confiança invencível que ele possuía brilhava como brasas no azul esfumaçado de seus olhos, murchando seu coração ansioso também.

Deus e todos os seus Santos a ajudem, ela amava esse homem. E porque amava, tinha que dizer a verdade.

— Rob?

— Sim, moça?

— Há algo que devo lhe dizer.

— O que é? — Ele perguntou com indiferença e ergueu o olhar para as colinas acima da cabeça dela.

— Eu tenho medo de que você fique com raiva de mim por esconder isso de você, por ter mentido.

Ele desviou os olhos brevemente para os dela.

— Não vou ficar com raiva, mas espero que você seja sincera a partir de agora.

— Eu vou. Eu vou — ela prometeu, erguendo os ombros para finalmente contar a ele. Ele não a deixaria ir, então seria ela tinha que deixá-lo. — Rob? — Ela puxou a manga dele para sua total atenção. Quando ela o pegou, seguiu em frente antes que seus nervos a abandonassem. — Eu sou filha do rei James. — Pronto, ela disse. Não foi realmente tão difícil. Ela nunca falou essas palavras em voz alta para ninguém antes e foi bastante libertador, finalmente compartilhando esse peso com alguém que não era Edward. Ela percebeu com a respiração seguinte que Rob não tinha dito uma palavra. Curiosamente, ele voltou a sorrir.

— Talvez você não tenha me entendido, — ela tentou novamente. — Eu sou a filha do rei... — O restante da declaração dela parou abruptamente quando ele diminuiu a velocidade da montaria e se deslizou para fora da sela.

— Fora de suas montarias, homens, — ele chamou por cima do ombro por Will e Finn sem tirar os olhos dela. — E prestem a sua princesa a homenagem que lhe é devida.

Davina assistiu, estupefata, enquanto os três Highlanders caíram sobre um joelho. Eles não estavam com raiva, nem sequer um vinco de preocupação aparecia em suas sobrancelhas. Eles deviam pensar que ela estava brincando, ou louca. Sim, ela pensou ter visto o sorriso brilhante de Finn sob sua cabeça inclinada. Ela não tinha ideia do que lhes dizer, ou como reagir. Ela se preocupou com muitas possíveis reações diferentes, mas a descrença não era uma delas.

Escorregando da sela, ela se virou para eles e para Rob.

— Vocês não acreditam em mim novamente, mas estou sendo sincera. Edward atestará minha reivindicação. Você não vai, Edward? — Ela não esperava pelo apoio dele, mas continuou, torcendo as saias nos dedos. — Sou a primogênita de James Stuart, o que infelizmente me faz a próxima na fila ao trono. Eu não acho que você...

— Eu sei o que isso faz de você, Davina, — disse Rob, ainda de joelhos e olhando para ela com olhos de lápis lazúli. O som do nome dela nos lábios dele quase a fez sorrir. Ela balançou a cabeça para limpá-la.

— Mas eu... Oh, por favor, levantem todos vocês. — Os três homens obedeceram e, ao se endireitar, Finn piscou para ela.

Os olhos de Davina se arregalaram quando ela percebeu por que nenhum deles estava surpreso. Ela piscou de volta para Rob.

— Você já sabia?

— Isso não importa.


— Certamente importa! — Ela se afastou de seu toque quando ele a alcançou. — Você está louco? Você sabia quem eu era e ainda me trouxe para Skye?

— Sim. — Isso, e seu sorriso profundo foram toda a resposta que ele deu a ela.

— Eu não posso deixar você me levar! Eu não vou! Você viu o que os homens de Gilles fizeram em St. Christopher.

— O almirante não é mais sua preocupação, Davina, nem Monmouth ou Argyll.

Ela não tinha certeza se era a convicção teimosa de Rob ou sua própria esperança tola que tentava acreditar nele. Oh, se fosse verdade.

— E meu pai? Se ele vier atrás de mim, e você...

— Ele acha que está morta e continuará com essa crença enquanto eu puder ajudá-la.

Era verdade. A abadia e todos os habitantes de St. Christopher eram apenas cinzas. Gilles poderia acreditar nela viva, mas ele nunca iria ao rei com suas suspeitas. Ela estava realmente livre? Ela poderia realmente se afastar de tudo que preparara para toda a sua vida?

— Você acha que pode me manter escondida do mundo, então?

Seus olhos percorreram a vasta paisagem, em direção aos penhascos irregulares e altos picos de montanhas geladas bem além da baía, e ele assentiu.

— Sim, — disse ele, voltando seu olhar para o dela. — Eu acho. O que é necessário para confiar no que eu digo, moça?

Antes que ela pudesse parar, a esperança surgiu no coração de Davina como uma fonte. A esperança oferecida a ela por mais ninguém em sua vida, exceto por esse homem. Ela confiava em Rob, mais até do que em Edward. Poderia finalmente desfrutar de uma vida em que era simplesmente Davina e não herdeira do trono nem por um determinado tempo? Oh Deus, por favor. Só por um tempinho. Ela sorriu enquanto permitia que essa esperança se derramasse.

— Então vamos embora.

Como se ele estivesse parado na beira da terra esperando por ela e neste momento em que ela lhe entregou todos os seus medos, ele fechou a brecha entre eles em dois passos e a abraçou.

— Antes do anoitecer, estaremos longe, desaparecidos, Davina. Esqueça o passado e não olhe para trás.

Ela se agarrou a ele enquanto a respiração dele contra sua orelha provocava faíscas em sua espinha. Desaparecidos. Perdida em seus braços, seu beijo, seus olhos às vezes pensativos, sempre de tirar o fôlego. Mas e seu dever para com a Inglaterra e sua fé católica? Algum dia, caberia a ela defender tudo o que seu pai acreditava. Ali estava novamente, a pergunta que ela ponderara tantas vezes sozinha na torre do sino de St. Christopher. Que vida ela escolheria se a escolha fosse sua?

— Eu não vou olhar para trás, — ela sussurrou quando seus lábios se encontraram.

— Por mais atraente que seja o seu cavalheirismo, MacGregor — Quebrando o feitiço entre eles, Edward galopou o cavalo para frente e lançou a Rob um olhar de desculpas. — Você deve saber que o rei nunca deixará de procurá-la no momento em que souber que ela está viva.

— Quem estará lá para contar a ele, Asher? — Rob o olhou curiosamente, ameaçadoramente. — Não saberá pelo capitão Grant, porque ele me deu sua palavra de não falar dela.

O cavalo de Edward empinou e relinchou embaixo dele.

— Se os homens com quem navegamos para Sleat forem interrogados

— Eles não sabem quem ela é, — Rob lembrou e levantou Davina de volta à sela. — E mesmo que soubessem, eles não sabem para onde estamos indo.

— Eles nos trouxeram aqui! — Edward riu.

— Mas não vamos ficar aqui, — Rob o informou, pulando na sela em seguida. — Muitos sabem que os MacGregors vivem em Skye, mas a maioria não sabe onde. Preferimos manter as coisas assim.

— Bem, — Edward perguntou, um pouco impaciente. — Como chegamos lá?

Passando por eles, o sorriso diabolicamente bonito de Will desmentia o tremor de ansiedade que marcava sua voz.

— Uma curta viagem de ferry18 pelo Loch Eishort e uma caminhada cuidadosa pelo abismo do inferno, e lá estaremos.

Montando atrás de Will, Finn riu e balançou a cabeça com perplexidade.

— Como é que você pode enfrentar uma horda de MacPhersons empenhados em matá-lo, mas você tem medo de altura?

A única resposta de Will foi um rápido tapa na parte de trás da cabeça de Finn quando o rapaz passou por ele.

Davina não estava preocupada com o “abismo do inferno” de Will. Ela já esteve lá quando os homens de Gilles a atacaram em casa, e ela sobreviveu, graças ao homem atrás dela que não temia nada, é claro, exceto por algumas ondas se agitando debaixo de suas botas. Sorrindo com a lembrança de seu bravo campeão preso ao mastro do navio, Davina se aninhou mais perto dele.

— Camlochlin é tão bonita assim? — Ela perguntou baixinho, finalmente vendo o esplendor da costa carregada de cachoeiras aparecendo à medida que viajavam para o Norte.

— Ainda não, — Rob respondeu perto da orelha. — Mas em breve será.

 

Capítulo Vinte

Depois de atravessar Loch Eishort, Will tornou-se cada vez mais agitado, mesmo jurando contra Finn quando o rapaz conversava interminavelmente com Davina sobre os Vikings que morreram muito tempo atrás quando tentaram atravessar as falésias de Elgol. Davina achou bastante divertido ver o guerreiro confiante se desfazer pela paisagem. Ele não se deu ao trabalho de esconder o medo, mas garantiu a Davina, enquanto esfregava a testa suada com a manga, que logo ela se agarraria a Rob da mesma maneira que uma criança aterrorizada se apegava à mãe.

Quando eles contornaram o fim do lago Slapin, seguindo a margem sul, Davina entendeu a causa da ansiedade de Will MacGregor, pois os penhascos pontilhados de cavernas e musgo subiam tão alto quanto os céus e desapareciam em um manto flutuante de pura névoa branca.

— Você não espera que cruzemos isso a cavalo, não é? — Edward gemeu, oscilando em sua sela enquanto esticava o pescoço para a vista. — Tem de haver outro jeito.

— Há sim; pelas colinas — Rob disse com um estalo suave de suas rédeas. — Mas é o caminho mais longo e confie em mim, assim é mais seguro se você não quiser uma flecha no peito. Mantenha seu cavalo sob seu controle. Fique atrás de mim e ficará bem.

Inclinando a cabeça em volta do ombro de Rob, Davina ofereceu a Edward um sorriso suave quando ele relutantemente trotou para a frente com um rosto pálido, com Will atrás dele e Finn mais atrás.

— Você não tem medo, então?

Apontando seu sorriso generoso para Rob, Davina balançou a cabeça e depois voltou-se para a glória na vista. Ela não tinha sido totalmente sincera com ele, pois seu coração batia loucamente em seu peito. Quem não teria medo empoleirada na extremidade do mundo? Nenhum sonho, nem fantasia ociosa poderia prepará-la para este lugar. Respirando, ela olhou sobre o gigante cinzelado dos montes Cuillins que pairava das nuvens do outro lado do lago. Mas ela não tinha mais tempo para o medo e com Rob ao seu lado, não havia mais motivo para isso.

— Quão alto estamos indo?

— Para o topo.

O desejo de cravar as mãos ao peito dele passou quando eles subiram o precipício estreito acima do Lago Scavaig, com as pontas caídas na rocha abaixo. Ela olhou para baixo, curvando-se o suficiente sobre o cavalo de Rob para fazer Will xingar.

Jogando-lhe um pedido de desculpas apressado, ela se acomodou no peito de Rob e inclinou seu sorriso curioso para ele.

— Você não tem medo de cair na água?

— Eu cruzei essas bordas muitas vezes para temer cair delas. E eu não tenho medo da água. Eu apenas prefiro meus pés em terreno sólido.

— Para ter certeza, você é um homem firme e inabalável, Robert MacGregor.

Ele agradeceu e, em seguida, inclinou a boca no ouvido dela quando ela riu.

— Você acha que há falhas nessas qualidades, princesa?

Ao longo de sua jornada juntos, a voz profunda e melódica de Rob começou a parecer como se viesse de dentro dela, e não de trás. O toque do corpo dele nas costas dela, a carícia de seus braços enrolados frouxamente em sua cintura se tornaram familiares para ela, reconfortantes e profundamente mais íntimos do que até mesmo o beijo. Ela não tinha ideia de que tipo de vida a esperava além desse limiar antigo que nem os vikings podiam penetrar e, embora estivesse empolgada por começar a viver, não queria que a jornada terminasse.

— É claro que não encontro falhas em você, exceto se for me chamar de princesa a partir de agora. Mas acredito que você poderia ter um pouco mais de prazer em sua vida.

— Você tem agora?

— Sim. — Ela se virou para olhá-lo completamente e ficou surpresa por encontrar algo mais bonito que a paisagem. — Gostaria de ajudá-lo... — Seus olhos eram da cor da paisagem, mas infinitamente mais ternos. — ...a encontrar prazer.

— Eu mal posso esperar. — Seu sorriso lento e indecente a fez queimar abaixo do umbigo e ela corou, percebendo tarde demais o quão vergonhosa sua oferta soava.

Oh, ao Hades com pretensões! Ela mal podia esperar também. Ela queria que ele a beijasse. Não, ela queria mais do que isso. Ela queria lhe render tudo e confiar nele com o resultado. Ela queria se perder nesse sonho e nunca mais voltar. Ela fechou os olhos e abriu os lábios, mas apenas o hálito quente dele tocou sua boca.

— Mais tarde, Davina, — prometeu com voz rouca. — Devo manter meu juízo, ou então nós vamos cair. Mas depois...

Ela abriu os olhos para ele e sorriu.

— Eu faço você perder a cabeça, então?

— Ah, sim, moça. — Ele assentiu, a verdade de seu encantamento quente em seus olhos. — Sim.

Era um paraíso aninhado confortavelmente dentro de colinas roxas que dançavam na brisa da primavera e cordilheiras irregulares envoltas em nevoas. Davina teve tempo de sobra para admirar Camlochlin enquanto desciam a cordilheira dos penhascos e atravessavam os vales cobertos de urze em direção ao castelo esculpido na montanha negra atrás dele. O castelo de Camlochlin era uma visão assustadora, com suas torres irregulares e montanhas como patrulhas nas paredes, mas Rob morava lá, então Davina sabia que devia haver calor lá dentro.

Em direção ao Norte, todo o caminho até as rochas de Bla Bheinn, com pequenas cabanas e ovelhas brancas e lanosas corriam pelas colinas. As capas espumosas do Lago Scavaig rolavam suavemente em direção à baía de Camas Fhionnairigh19, a oeste, acrescentando música suave ao ar.

— Rob? — Ela disse enquanto o vento, doce com a fragrância de urze e turfa, chicoteava em seus cabelos. — Se Gilles tentar me tirar deste lugar, eu o mato.

— Guarde seus sentimentos ternos até conhecer minha tia.

Ela se virou e torceu a testa para ele.

— Eu pensei que você disse que ela era muito gentil e amorosa... e o que há de terno em mim ameaçando matar Gilles?

— Maggie MacGregor é muito gentil e amorosa comigo, — Rob corrigiu com um sorriso que a deixou tonta o suficiente para desmaiar um pouco — e é terna porque mataria por Camlochlin.

Ele fez a cabeça girar, mas ainda não fazia sentido. Ela encolheu os ombros, desistindo e voltou-se para o castelo que se aproximava. As portas estavam abertas e as pessoas estavam saindo, inclinando a cabeça para os guardas acima e depois de volta para os cavaleiros. Uma mulher abriu caminho através da multidão cada vez maior, protegeu os olhos do sol por um momento para ver se os guardas estavam corretos e depois partiu em um ritmo acelerado na direção deles.

— Robbie? — Ela gritou com uma voz dominante que não combinava com sua pequena estatura. Quando os alcançou, Davina ficou impressionada com sua beleza e depois com o pânico em seus vívidos olhos azuis. — O que você está fazendo aqui? Onde está seu pai, e por que você está viajando com um soldado inglês?

Saltando de sua sela, Rob entrou em seu abraço, embora impaciente.

— Meu pai está na Inglaterra, seguro e ileso.

A mulher ficou visivelmente relaxada. Aparentemente, Rob sabia que resposta ela precisava ouvir primeiro.

— Vou explicar tudo para você depois que eu tiver...

— E quem pode ser você?

O sorriso que Davina exibia desapareceu de seu rosto sob o exame palpável da mulher. Ela só podia ser Maggie, a tia de Rob, a irmã cabeça-quente do diabo MacGregor. Davina não precisou tomar conhecimento do corpo pequeno e levemente curvado da mulher, pois ela própria não era muito alta. Era a sinceridade dela, e o momento em que o fazia, segundo Rob, quando ele lhe disse de sua família naquele dia na igreja de Courlochcraig, que às vezes pegava as pessoas desprevenidas.

— Ela é Davina, — Finn respondeu alegremente por ela enquanto caminhava em direção a eles. — E ela é uma princesa, — acrescentou, beijando sua tia por casamento na bochecha, — então seja agradável com ela.

Davina empalideceu, mas quando Finn chamou sua atenção, ele deu um sorriso de menino. Rob não parecia satisfeito, mas não disse nada para refutar a introdução de Finn enquanto ajudava Davina a desmontar. Ele ia contar a todos quem ela era? Por que ele iria? A probabilidade era mais do que um pouco perturbadora. Era absolutamente aterrorizante. A importância de manter sua identidade secreta sempre fora vital para sua existência. Ela não tinha certeza de que estava pronta para que se tornasse de conhecimento comum.

— Onde está Jamie? — Rob perguntou à tia enquanto ela seguia Finn com uma carranca cética por cima do ombro.

Maggie lançou seu olhar cáustico para Edward em seguida.

— Ele foi para Torrin com Brodie por... — Ela fechou a boca e seu olhar culpado voltou para Rob, que estava esperando pacientemente que ela continuasse. — Tudo bem, por flores! — Ela praticamente estalou para ele.

Imperturbável por sua leve explosão, Rob sacudiu a cabeça em descrença e proferiu uma blasfêmia abafada.

— Will, mostre ao capitão o castelo e coloque-o no quarto de Colin por enquanto. — Quando se voltou para a tia, ele parecia ter acalmado seu temperamento. — Tia Maggie, — ele conseguiu dizer com bastante calma, — seu marido não deve deixar o clã desprotegido para buscar flores.

— Mas olhe em volta, Robbie — apelou ela, esticando os braços ao lado do corpo. — Você vê orquídeas? Você sabe que elas são as minhas favoritas e quando Aileen parou aqui há uma noite com os MacLeods, ela disse que as orquídeas estavam florescendo em um tom profundo de roxo este ano em Torrin.

— Bem, agora eu entendo, — Rob admitiu benignamente. Davina não pôde deixar de sorrir para ele. — Você vai me dizer por que os MacLeods estiveram aqui depois que eu tiver visto o clã, — disse ele, voltando a ser o líder formidável que treinou a vida inteira. — Agora, você levará Davina para um quarto e dará o que ela quiser?

— O que ela quiser? — Maggie MacGregor arqueou uma curiosa sobrancelha preta para ele e cruzou os braços sobre o peito. Dessa vez, porém, ela não discutiu com o filho de seu irmão. Em vez disso, virou-se para Davina, avaliando-a mais uma vez dos pés à cabeça. Ela estudou o rosto de Davina com intensidade persistente antes de chegar a alguma conclusão que não tinha certeza de ter saído a seu favor.

— Bem, vamos lá, princesa. — Maggie acenou com a mão e se virou para o castelo.

— Vá, moça — Rob insistiu quando Davina fez uma pausa e lançou-lhe um olhar ansioso. — Vejo você em breve.

Davina não queria entrar sem ele. Não era o castelo agourento que a deixava desconfortável, mas a mulher diminuta à sua frente que havia olhado por cima do ombro a tempo de ver Rob pegar a mão dela e fez uma carranca mais sombria do que Rob e Colin juntos.

— Você é a razão pela qual meu sobrinho não está na Inglaterra com o pai dele? — Maggie perguntou a ela quando elas estavam fora do alcance dos outros.

Davina inalou profundamente antes de responder. O que eles pensariam dela quando descobrissem quem ela era? Quando percebessem quanto perigo Rob tinha colocado sobre todos eles, e como ela foi junto. Ela percebeu naquele momento se comportara até agora como uma princesa. A família de Rob a veria como nada além de uma criança mimada e egoísta.

— Receio que sim, — ela respondeu com sinceridade.

— Bem, você é adorável o suficiente para virar algumas cabeças, — disse Maggie, olhando para ela pelo canto do olho. — Mas um rosto bonito não é suficiente para manter Robert longe de seus deveres.

— Nunca foi minha intenção...

— Você é uma Stuart?

Davina quase tropeçou nos pés diante da pergunta inesperada. Os braços de Maggie a pegaram, embora apenas por pouco tempo.

— Sim, isso eu pensei, — disse a mulher menor, lendo nos olhos de Davina tão facilmente como se estivesse lendo um pergaminho gaélico. — O irmão do meu Jamie é casado com uma Stuart. Pensei que você fosse ela quando te vi pela primeira vez no cavalo de Rob.

Davina olhou por cima do ombro procurando por Rob, mas ele se fora. O que ela deveria dizer? Quanto ela deveria contar a essa estranha que desvendou seus segredos com menos esforço do que era preciso para descascar uma cebola? Ela fez a única coisa que pôde sem ter que admitir quem ela era para mais ninguém, exceto Rob. Ela evitou a pergunta.

— Robert e Finn me contaram sobre Lady Claire. Estou curiosa para conhecê-la.

— Sim, querida, — Maggie lançou-lhe um olhar gentil e perspicaz quando entraram no castelo. — Tenho certeza que você está.

Davina nunca tinha estado dentro de um castelo antes. Ela tinha visto muitos desenhos de seus gloriosos salões e escadas de pedra em seus livros, mas entrar em Camlochlin parecia voltar no tempo e entrar em um sonho. Ela olhou em volta, girando um círculo completo para absorver todo o tamanho de tudo ao seu redor, desde as portas de trinta centímetros de grossura e rebitadas em ferro forjado até os corredores cavernosos iluminados por candelabros e arandelas de parede de ferro esculpido. Havia muitas pessoas correndo, cada uma olhando para ela, muitas sorrindo.

Enquanto Maggie a conduzia para as escadas, emitindo pedidos para essa pessoa ou para as necessidades de seus convidados, os olhos de Davina estavam fixos nas grandes tapeçarias que davam calor ao salão. Ela nunca tinha visto tanta obra e sentia vergonha de suas próprias habilidades de bordar.

— Vou colocá-la nos aposentos de Mairi por enquanto, até limparmos outro.

Davina mal ouviu Maggie, mas assentiu. Ela dormiria no chão sem reclamar se não houvesse outras câmaras disponíveis. Ela inalou, tentando descobrir o perfume estranhamente agradável que envolvia o ar. Cheirava a colinas, só que mais forte e mais espesso. Fosse o que fosse, ela adorava e tudo mais sobre Camlochlin. Era como Rob, ameaçador e formidável, até que alguém conseguia entrar em seu núcleo quente e acolhedor.

Ela achava que nada poderia afetá-la mais do que a casa de Rob, até que ela entrou no quarto de Mairi. Não foram as paredes pintadas ou os ricos móveis escuros que fizeram suas emoções brotarem quentes e pesadas, mas os confortos menores, como o delicado pente de latão colocado ao lado de outras bugigangas femininas em uma mesinha ao lado da cama de Mairi, os ramos secos de urze dispostos em um vaso de barro pintado em outra mesa perto da janela. Até as espadas gêmeas cruzadas acima de uma lareira prestavam testemunho de algo que Davina nunca teve. Um pai que a amava e se entregava a ela.

Ela limpou uma lágrima do olho quando Maggie tocou sua mão. A mulher menor não a questionou, mas simplesmente pegou a mão dela e deu um tapinha nela.

— Você gosta de coelho? Para comer? — Maggie esclareceu quando Davina piscou para ela.

A pergunta era tão inesperada que Davina deixou escapar a verdade antes que pudesse se conter.

— N... não. — Ela se encolheu, esperando não ter insultado sua anfitriã em uma refeição que estava preparando. — O que eu quero dizer é... eu prefiro não comer carne... mas ficaria feliz em compartilhar qualquer coisa... — Suas palavras cessaram e ela não pôde deixar de sorrir para a mulher sorrindo para ela.

 

Capítulo Vinte e Um

Davina não viu Rob novamente até várias horas depois naquela noite. Enquanto isso, ela desfrutara de um banho quente, uma série de servas que lhe trouxeram comida, algumas saias coloridas e informações sobre os homens MacGregor de Camlochlin e tirou uma soneca curta em um colchão macio e divino.

Seu Laird, ela descobriu com duas das mulheres que prepararam seu banho, era justo e paciente, e de acordo com Agnes, que derramou mais água no chão do que na bacia quando falou sobre ele, era tão impressionante quanto a cordilheira de Cuillin no inverno.

Quando Caitlin MacKinnon lhe trouxe uma bandeja de sopa de alho-poró quente, Davina deu uma risadinha e ofegou quando a beleza de cabelos escuros lhe contou sobre o malandro Tristan, e como ele gostava de incitar a fúria de seus irmãos mais novos, tanto quanto ele gostava de livrar garotas de sua virtude.

— Ele é astuto, e às vezes insensato, — confidenciou Caitlin. — Mas você não se importará com essas coisas quando ele sorrir para você. Aliás faria bem em se afastar dele — acrescentou ela, olhando para as madeixas compridas e loiras de Davina com um brilho de inveja nos olhos. — Will é tão bonito quanto, e nem a metade perverso.

Davina achou um pouco difícil de acreditar depois de passar tanto tempo com Will. Mas ela gostava de Caitlin e suspeitava que a garota se importava com Tristan e estava tentando mantê-la fora da cama dele.

— E Rob? — Davina perguntou, tomando um gole de hidromel e tentando parecer o mais indiferente possível. Ela acreditava que já sabia muito sobre ele, mas estava curiosa para saber o que as mulheres do castelo pensavam dele.

Caitlin a seguiu até a cama e sentou-se com ela como se fossem amigas íntimas compartilhando fofocas da cozinha.

— Ah, não perca tempo com ele. Ele tem pouco uso para qualquer coisa que não beneficie o clã. Além disso, acho que o pai dele quer que ele se case com Mary MacDonald. A mãe de Mary é a esposa de um dos quatro principais Lairds de Skye e...

Mary MacDonald? O coração de Davina ficou em sobressalto. Rob não mencionara seus planos de tomá-la como esposa. Mas como ela poderia culpá-lo por guardar segredos? Como ela podia ficar brava com ele por beijá-la enquanto estava ligado a outra pessoa, quando ela tinha feito a mesma coisa? Ainda assim, seu coração parecia ter acabado de partir em dois.

Felizmente, Maggie entrou pela porta antes que Caitlin pudesse lhe dizer qualquer outra coisa que ela não suportasse ouvir.

Quando a tia de Rob viu Caitlin, ela lhe deu o tipo de olhar que alguém poderia avisar a um rato de cozinha que estava entrado. Ao vê-la, Caitlin saiu da cama e correu para fora do quarto sem outra palavra ou olhar na direção de Maggie.

-— O que essa prostituta está lhe dizendo que trouxe tanta tristeza para o seu rosto? — Maggie perguntou, arrastando os pés em direção à cama para afofar os travesseiros de Davina. — Inferno, você parece pior do que quando chegou aqui.

Davina suspirou baixinho e entregou a Maggie o copo de hidromel quando ela lhe estendeu a mão. Ela não se incomodou em mentir, já que era tão pobre nisso e Maggie já havia provado que podia ver através dela de qualquer maneira. E até agora, a mulher não a tinha considerado como se tivesse uma praga. Davina queria continuar assim.

— Ela me falou do noivado de Rob.

— O quê? — Maggie deu um soco suave no travesseiro e fez sinal para Davina se deitar. — Com quem?

— Mary MacDonald.

— Que bobagem, — Maggie soprou. — Mary é um rato que se esconde atrás do traseiro bastante grande de seu pai toda vez que meu Robbie olha para ela. Ele nem gosta dela.

Davina olhou nos enormes olhos azuis de Maggie e teve vontade de abraçar seu pescoço. Ela poderia ter feito isso também se Maggie não a estivesse protegendo como uma mãe.

— Você gosta de flores?

Sorrindo, Davina assentiu, já se acostumando com a maneira como Maggie passava de um tópico para outro.

— Bom, porque meu Jamie voltou de Torrin com um monte de orquídeas. Vou pedir à Agnes que traga um pouco depois da soneca. Elas são adoráveis. Juro que o homem tem um dom para escolher as melhores. Nenhuma delas está murcha.

Quando a tia de Rob fez sua próxima pergunta, Davina suspeitou que o objetivo por trás de suas diversões peculiares era pegar as pessoas completamente desprevenidas.

— Então, você tem sentimentos ternos por Robert?

— Sim, — Davina admitiu, incapaz de esconder a resposta já suavizando suas feições. — Eu acho que ele é um dos melhores homens que eu já conheci.

—- Como você sabe? — Maggie perguntou curiosa e sentou na cama ao lado dela. — Ele pode ser bastante intimidador quando quer ser. Você não tem medo dele, então?

— Oh, céus, não, — Davina sorriu e fechou os olhos. Ela não tinha percebido o quanto estava exausta ou o quanto sentia falta de ficar deitada em uma cama até que a cabeça bateu no travesseiro. — Ele me salvou, sabe. Ele entrou direto pelas portas da abadia e me salvou das chamas.

Ela mal ouviu Maggie sair do quarto pouco tempo depois. Ela estava dormindo em minutos e já sonhava com seu campeão.

Rob entrou no Salão Principal com Will, Asher e Finn logo atrás. Ele olhou em volta à procura de Davina e viu sua tia. Ela torceu o dedo chamando-o quando quase alcançava sua cadeira e o beijou na bochecha quando ele se inclinou para ela.

— O que foi isso?

— É por ser tão parecido com seu pai.

Como costumava acontecer, Rob não fazia ideia do porquê de Maggie trazer isso à tona agora no jantar. Ele não a tinha visto o dia inteiro, tendo retornado apenas alguns momentos atrás, vendo os aldeões. Em vez de pedir que ela o esclarecesse, ele riu baixinho, puxando a cadeira para se sentar. Havia apenas uma pessoa que sua tia amava tanto quanto ele e seu tio, e era seu pai. Se Maggie viu semelhanças entre eles e desejou deixar escapar isso quando a ideia a atingiu, tudo bem para Rob.

— Ela estará presente a qualquer momento agora, — disse Maggie conscientemente quando ele ergueu o olhar para a entrada do Salão Principal. — Ela acordou da soneca um pouquinho de tempo atrás. Enviei Alice e Agnes para ajudá-la a se preparar para o jantar. Você sabia que ela não gosta de comer carne?

Rob olhou mais uma vez para a entrada e sorriu. Portanto, não foram apenas os homens que ficaram desamparados com o encantamento natural de Davina.

— Eu notei que ela comia uma boa quantidade de nozes e frutas no caminho para cá, — disse ele, sabendo o quanto sua tia desprezava a prática de comer carne. Davina a conquistara facilmente. — Você tem meus agradecimentos por ver seu conforto. — Quando o olhar de Maggie se suavizou como se ela pudesse ver seu coração nos olhos dele, ele desviou o olhar, voltando a atenção para o marido da tia

— O que os MacLeods estavam fazendo aqui?

Jamie Grant olhou para cima e sorriu para o servo colocando a trencher20 em cima da mesa.

— Padraig MacLeod está atuando como Laird enquanto sua família está na Inglaterra. Ele parou por aqui, no caminho de volta, depois de encontrar-se com o filho de Alisdair MacKinnon em Torrin, para reforçar a aliança deles conosco nesses tempos de incerteza. Eu tinha uma missiva escrita para os MacDonalds em Portree, jurando o apoio dos MacGregors, caso precisassem.

— Bom, — disse Rob, levando o copo à boca. Ele se sentiu um pouco culpado por pensar que Jamie havia deixado Camlochlin para colher flores. Ele deveria saber que havia outra razão para ele ir para Torrin. Embora muitos clãs das Highlands lutassem um contra o outro, se o novo rei pensasse em derrubar suas leis inglesas, eles permaneceriam juntos.

— Os MacKinnons estão conosco então?

— Claro. Skye sempre estará segura contra influências externas. Nossa esperança é que o rei James... Rob? — Jamie fez uma pausa até Rob desviar o olhar da entrada e se voltar para ele. — Ela deve ser uma moça extraordinária para poder distraí-lo de suas paixões.

Ela era sua paixão, e ele não se importava com quem sabia disso. Inferno, o que nas chamas estava demorando tanto? Ele não a via desde a tarde e sentia tanto a falta do rosto dela que estava tentado a ir buscá-la.

— Eu me acostumei a tê-la por perto, — disse Rob, seu olhar já sendo puxado de volta para as escadas.

— Fui informado de que ela é uma princesa, talvez até uma deusa. — Jamie piscou para Finn, sentando-se em frente a ele, e depois mergulhou o pão no ensopado. — Mas duvido que você aceite a divindade como uma razão suficientemente boa para não estar ao seu lado.

— Eu fiz minha escolha, tio.

— E não poderia ter escolhido levá-la para a Inglaterra com você? — Normalmente, nesse momento de qualquer conversa com esse sobrinho em particular, Jamie nunca teria insistido. Rob um dia iria liderar esse clã e ele aprendeu bem a não ser precipitado com seu pensamento. Ele pesava e media cada decisão que tomava antes de agir sobre ela, e uma vez que ele tomou sua decisão, não havia mais mudanças de ideia. Mas ele nunca seguia suas ideias se fosse um caminho diferente do pai, e nunca para uma moça que se apegou a um soldado inglês.

Rob apertou a mandíbula, decidindo a melhor forma de começar. Ele pretendia contar a verdade a seus parentes sobre Davina, mas exatamente como ele poderia fazê-lo sem parecer um filhote impetuoso governado por suas emoções?

— A vida dela está em grave perigo, — disse ele, sabendo em seu coração que essa era a emoção que o dominava primeiro. — Prometi protegê-la, e este é o lugar mais seguro que conheço.

— Por que ela está em perigo? — Jamie perguntou a ele uniformemente.

— Porque ela é... — Eles tinham o direito de saber, escolher se deveriam ou não ficar do lado dele, se alguém viesse a Camlochlin para removê-la. — Ela é a filha primogênita do rei James e herdeira do trono.

Todos na mesa ficaram imóveis e mudos, exceto Finn, Will e Asher. Rob esperava choque e consternação e estava prestes a fechar os olhos para esperar o silêncio.

— Eu pensei que a filha de James, Mary, fosse a princesa real, — disse sua tia, também aparentemente não se incomodando com a notícia.

— O mesmo pensam todos na Inglaterra.

— Como ela chegou a estar em sua posse? — Jamie perguntou calmamente, embora ele tivesse jogado o pão na comida e deixado lá.

Rob contou a eles sobre o ataque a St. Christopher, quem estava por trás e por quê.

— É provável que haja uma rebelião envolvendo o duque de Monmouth, o conde de Argyll e, possivelmente, William de Orange. Connor concordou em não dizer nada ao rei sobre ela

— Ela é filha dele, — Jamie interrompeu.

— Uma filha que ele enclausurou em um convento e nunca viu, — Rob disse.

— Se você não planeja dizer ao pai que a possui, — perguntou Maggie, — o que você pretende fazer com ela?

Aqui estava a parte da história que provaria todas as outras emoções que posteriormente o haviam direcionado.

— Eu pretendo mantê-la.

— Por quanto tempo? — Jamie o encarou tão imóvel que Rob se perguntou se ele estava respirando.

— O tempo que ela me quiser.

Seu tio ficou de pé, assustando Maggie, que então o encarou para mostrar sua desaprovação.

— Você trará todo o reino sobre nossas cabeças!

— É isso que eu tenho tentado dizer a ele — Asher interrompeu presunçosamente, mas depois desviou o olhar quando os olhos de Rob o cortaram como ferros quentes na manteiga.

— Robert, — Jamie continuou como se o capitão não tivesse falado nada. — Diga-me que você não pretende reivindicar a filha do rei. Diga-me que não está disposto a jogar fora tudo o que trabalhou para proteger esta moça?

— Não sei se posso lhe dizer isso, tio — disse Rob, olhando para a entrada onde Davina estava, as mãos pequenas torcendo o vestido verde e a faixa escarlate pendurada nas saias. Seus cabelos foram retirados das têmporas por dois pequenos broches de pérolas, enquanto o resto caia como um manto dourado nas costas. Quando os olhos deles se encontraram, ela sorriu levemente, como se a própria visão dele a tranquilizasse. Rob ficou de pé quando a necessidade de ir até ela o dominou. Atrás dele, ele ouviu os outros empurrarem suas cadeiras também.

— Boa noite, sua Alteza Real.

Rob virou o sorriso para Jamie, entendendo muito bem a reverência substituindo a raiva na voz de seu tio. Ele sabia que todos os homens no salão estavam dominados pela beleza sobrenatural de Davina. Ele não gostou, mas aprenderia a viver com isso.

Quando ele olhou para ela novamente, seu sorriso desapareceu.

 

Capítulo Vinte e Dois

Querido Deus, ele lhes disse. Ele disse a todos eles. Por um momento doentio, apesar da gentil cutucada de Alice atrás dela, Davina ficou imóvel em seu lugar. Seu olhar ansioso passou pelo homem que se dirigira a ela como ninguém antes dele. O que ela deveria fazer além de resistir ao instinto de se virar e fugir de volta para o quarto? Ela não faria isso. O tempo para se esconder acabou. Esta era a família de Rob. Se ele confiava neles o suficiente para dizer quem ela era, ela também confiaria que eles não a trairiam. Ela percebeu, quando aquele momento passou para outro, que não era o medo que a paralisou quando as pessoas na mesa de Rob estavam em sua entrada, mas a dura realidade.

Ela era Lady Davina Stuart, princesa real, herdeira dos três reinos. Não importava quão longe ela fugisse, quão bem se escondesse, ou quão perfeita se sentisse em sua nova roupa das Highlands, ela nunca escaparia. Seja aqui em Skye ou em um castelo inglês, nenhum sorriso seria sincero.

Mas o de Rob era. Seu batimento cardíaco cansado vacilou quando ele se moveu em sua direção, seu sorriso íntimo e tranquilizador. Ele não se importava com quem ela era. Ele a beijou, tocou-a como se ela fosse sua. Ele a observou com olhos que ardiam por tocá-la mais, que esquentavam ao vê-la e dançavam ao som de sua risada. Ela queria que ele a beijasse, a tocasse, a possuísse. Ela queria ficar com ele aqui nesta fortaleza movimentada, cercada por pessoas comuns enquanto ficasse pesada com o bebê dele e se tornava a mãe que queria ser.

Quando ele a alcançou, colocou a mão dela na dele.

— Venha, — disse ele em uma respiração tão irregular quanto a dela. — Conheça meus parentes antes que a sua visão os deixe de joelhos em seguida.

Ela foi com ele, caminhando ao lado dele até chegarem à mesa com os homens ainda de pé. Ele a apresentou ao tio e aos outros que a viam pela primeira vez, simplesmente como Davina.

Ela gostou de Jamie Grant vinte respirações depois que se sentou. Não era o charme inocente de seu sorriso ou o olhar preocupado em seus olhos que ele tentou tanto esconder quando falou com ela que aqueceu seu coração para ele tão rapidamente, mas a maneira como seu sorriso se ampliou com amor quando olhou para a esposa dele.

-— Como Connor está? — Ele perguntou a Rob, enquanto Maggie lançava um olhar de aprovação à sopa de couve de Davina e bolo de aveia.

— Ele está bem, — disse Rob, e lavou a boca cheia de pão com um gole de cerveja. — Mas temo que ele não seja tão corajoso quanto você ou Graham esperavam.

— E como pode ser isso?

— Mairi, — Rob disse a ele, levando uma colher cheia de ensopado de coelho à boca. — Ele quase molhou as calças quando eu disse que ela ainda estava na Inglaterra.

Will concordou com uma risada calorosa, ignorando o olhar insultado de Finn.

— Isso não é medo, rapaz — Jamie corrigiu, menos ofendido. — É sabedoria.

Rob assentiu, concordando com o argumento e voltou a comer. Davina o observou sob a sombra de seus cílios. Comparado com Edward e os homens que moravam com ela em St. Christopher, Rob comia como um urso faminto. Ela gostava da falta de etiqueta na mesa e da paixão de seu apetite e depois lembrou que ele não fazia uma refeição quente há semanas.

— Capitão Asher. — Jamie virou-se para Edward em seguida, fazendo o possível para manter a conversa leve. — Você sabe que Connor Grant e o jovem Finlay aqui são sobrinhos do sumo-almirante?

— Eu não estava ciente disso até recentemente, — Edward respondeu, levando sua jarra aos lábios. Ele tomou um gole e estremeceu em seu assento. — Isso é bastante potente, — disse ele com voz rouca.

Brodie, pai de Will, lançou-lhe um olhar desdenhoso.

— Inglês.

— Você o conhece então? — Continuou Jamie.

— Quem? — Edward pigarreou atrás do punho.

— Connor Stuart?

— Eu o vi apenas uma vez, brevemente. Espero ter o prazer de conhecê-lo um dia.

— Você o achará menos amável que seu sobrinho com o mesmo nome, — disse Will, pegando o pão. — O almirante Stuart está um pouco menos preocupado com o fato de ter um homem baseado principalmente em suspeitas.

— Eu não sabia que você o tinha visto, — Finn disse a Edward enquanto os homens ao redor da mesa concordavam que Stuart era um bastardo cauteloso.

Davina voltou a observar Rob quando ele lançou um olhar curioso para Finn. Ele parecia estar prestes a dizer algo, mas a voz suave de Maggie o deteve.

— Robbie, — ela ofereceu a ele um olhar um pouco menos satisfeito do que aquele que Davina estava dando a ele — o coelho é macio o suficiente?

A colher de Rob parou no caminho para a boca. Ele lançou um olhar culpado na direção de Maggie e murmurou:

— Sim, está ótimo.

— Isso é bom, querido. Tenho certeza de que sua aprovação seria um grande consolo para mãe dele se ela não estivesse sendo assada sobre o fogo com o resto de sua descendência.

Will riu por trás de sua caneca. Brodie deu uma cotovelada forte nas suas costelas, e Rob, olhando para a colher com certa aversão, largou-a na trencher e empurrou a ceia para longe. Maggie sorriu para ele, depois lançou um olhar crítico ao marido.

— Você faria bem em mostrar tanta sabedoria quanto meu sobrinho um dia desses.

— Isso não é sabedoria, meu amor — defendeu Jamie. — É medo.

Logo, a conversa fluiu para outros tópicos menos apaixonados. Davina se deliciava com a alegria ao seu redor, especialmente a de Rob. Sua risada era bela e robusta quando Jamie lhe contou sobre o porco que escapou das flechas e mordeu Brodie no traseiro com força suficiente para mantê-lo dormindo por duas noites. Eles compartilharam brindes ao desaparecimento dos odiados Fergusson e à derrota dos MacPherson no próximo ataque, mas foi só após o jantar terminar e um pequeno grupo deles se retirar para o solar privado que discutiram o relacionamento de Davina com o rei.

Eles fizeram as perguntas com vinho quente, cadeiras almofadadas e o crepitar de uma lareira ardente. Por que ela estava escondida desde o nascimento? Ela conhecia alguém fora de St. Christopher que a conhecia? Ela teve contato com o rei? Quais eram os planos finais de seu pai para ela? Cada pergunta tirou Davina de outra camada de sua guarda. E, respondendo a cada um com a verdade, ela entendeu como deve ser a sensação de um soldado finalmente tirar sua armadura pesada depois de uma batalha.

Quando terminaram, Rob ergueu o copo para ela e reivindicou o coração dela de uma vez por todas com uma inclinação da boca e um suave aceno de cabeça.

— Então. — Maggie, sentada perto dela, inclinou-se para que apenas Davina pudesse ouvi-la. — Você foi presa e libertada de suas grades. Agora entendo melhor como você se sente em relação ao meu sobrinho.

Davina olhou para ela e achou que Maggie MacGregor era a mulher mais bonita que já vira e, naquele momento, a mais triste.

— Rob — A voz de Jamie impediu Davina de refletir sobre o motivo do tom de arrependimento de Maggie. — Não tenho que lhe dizer o quanto estou preocupado com tudo isso. Mas discutiremos isso mais tarde, em particular. — Ele se virou para Edward sem esperar pela resposta de Rob. — Conte-nos o que sabe sobre o almirante Gilles. Quantos homens estão à sua disposição?

Edward balançou a cabeça.

— Não sei muito. Ele é um aliado próximo do príncipe William e comanda uma frota de mais de mil homens.

— Não quer dizer que ele é um aliado próximo do duque de Monmouth? — Os olhos de Rob brilharam como uma noite de neve estrelada quando ele pousou a caneca.

— O quê? — Edward parecia visivelmente abalado quanto na manhã do ataque de Monmouth. — Foi isso que eu disse.

— Edward, querido, você disse o príncipe William. — Davina ofereceu a ele seu sorriso mais terno, simpatizando com seu lugar tênue aqui entre homens que consideravam o inglês tão detestável quanto a praga.

— Eu? — Sua respiração quebrou em uma risada tensa. — Temo que seu uísque forte atrapalhe meus pensamentos.

— É o uísque de Angus, culpe-o, — disse Brodie de seu assento. — E você não dirá a ele que eu desperdicei algo quando ele voltar.

Jamie fez outras perguntas e Brodie fez algumas, mas Rob permaneceu quieto como o ar da noite, pouco antes de uma tempestade. Davina olhou para Edward. A tempestade estava se aproximando dele.

Quando o vinho terminou e o fogo cessou, Davina estava em ruínas. O que Edward disse para produzir um brilho tão assassino nos olhos de Rob? Quando ela tentou perguntar a Rob, ele a empurrou suavemente para o lado e subiu as escadas atrás de Edward.

— Algo está o incomodando, — disse Finn, aparecendo ao seu lado e seguindo seu olhar. — E a mim também.

Davina voltou-se para ele, esperando que ele pudesse lançar alguma luz sobre o mau humor de Rob.

— Bem, o capitão Asher nos disse hoje à noite que tinha visto meu tio uma vez. Mas na noite seguinte à nossa saída de Ayrshire, ele me disse que não saía da abadia de St. Christopher há quatro anos.

— Isso é verdade. Ele não tinha saído.

— Mas quando ele viu meu tio? — Os olhos verdes de Finn se arregalaram, como se ele soubesse a resposta. — O almirante Stuart está na França há quatro anos. Antes disso, ele estava na Holanda.

— Holanda? — Davina repetiu suavemente, seu olhar subindo as escadas. Edward estava na Holanda antes de procurá-la? Isso explicaria como ele sabia que um duque exilado e um conde banido eram seus inimigos. Mas por que ele não teria dito a ela que estava lá entre eles? E por que ele não disse a ela que tinha visto Connor Stuart? Ele sabia que o almirante era primo dela. Por que ele escondeu tanto dela? Ela podia sentir o sangue saindo ao seu rosto e esfriando em suas veias quando sua confiança em Edward caiu em pedaços aos seus pés. Ela sentiu seu coração parar com a clareza do por que Rob tinha ido atrás dele. Não, não! Tinha que haver uma explicação que não envolvesse traição. Edward nunca a teria traído. Ele não poderia. Edward, não. Nunca.

 

Capítulo Vinte e Três

Rob orou a Deus para que ele estivesse errado. Caso contrário, o novo rei da Inglaterra estava prestes a perder um de seus capitães. Ele descobriu que, uma vez que Davina parou de segui-lo para o solar, seus passos perderam o fervor. Ele queria alcançar Asher antes que ela pudesse detê-lo, mas desejava não ter que fazê-lo. Suas mãos se fecharam em punhos enquanto ele subia as escadas. Ele rezou para estar errado. E daí que Asher era o único homem na guarnição do rei, incluindo o próprio rei, que sabia dos laços de Gilles com o príncipe holandês? Isso não significava nada. Certamente, isso não significava que o amigo mais próximo de Davina a tivesse traído. Mas havia outra coisa, que de repente, fez sentido quando Asher falou de William de Orange.

Quando Rob alcançou a porta do capitão, ele lutou para aproveitar sua fúria e a abriu sem bater.

— Eu tenho algumas perguntas minhas para colocar, Asher, — ele anunciou da porta.

— Eu suspeitava disso, — disse o capitão, saindo da janela estreita com o cansaço marcando suas feições. — Se isso é sobre o príncipe William, garanto que eu...

— É sobre a abadessa de Courlochcraig.

— A abadessa? — Perguntou Asher, perplexo. — Eu não...

— Ela estava esperando Davina, — Rob disse a ele, entrando e fechando a porta atrás de si.

— Isso mesmo. — O capitão sorriu, o alívio claramente marcado em suas feições. — Enviei-lhe uma mensagem perguntando se eu poderia levar Lady Montgomery para ela.

— Sim, eu penso que sim. — Rob não sorriu de volta enquanto andava pela sala. — O que incomodava meus pensamentos na época era como você sabia que os homens de Gilles estavam chegando.

Asher quase cambaleou na virada inesperada que a conversa havia tomado. Com isso, Rob teria sorrido se não quisesse matar o homem diretamente na frente dele agora.

— Mas agora acredito que descobri o grande mistério. Você sabia que Gilles estava vindo porque lhe dissera onde encontrá-la quando se encontrou com ele e William na Holanda. Foi onde você viu o almirante Stuart, não é?

Asher abriu a boca, provavelmente para negar a acusação, mas a palma da mão de Rob diante de seu rosto o deteve.

— Eu poderia amarrá-lo nos porões até Stuart visitar Camlochlin, mas isso pode ser daqui a alguns anos e duvido que ele reconheça o que resta de você até então.

— Eu ainda não a conhecia, — admitiu Asher, surpreendentemente composto, como se ele tivesse guardado seu segredo por muito tempo e estivesse aliviado por finalmente ser libertado dele. — Eu era jovem e você não conhece o almirante Gilles. Ele é cruel e desumano.

Rob sentiu-se enojado ao vê-lo. Ele teve que invocar todo o controle que possuía para não sacar a espada e atravessar o bastardo traidor.

— Então, você não disse a eles onde encontrá-la por uma bolsa, mas porque é um covarde.

— Eu fui um tolo. Eu não o fiz...

— Você se defenderia disso? — Rob estalou a mão para fora, fechando os dedos em volta do pescoço de Asher. — Nada do que você disser poderá justificar o que fez com ela. Você liderou aqueles que a matariam direto à sua porta!

Asher engasgou e virou uma sombra profunda de vermelho quando Rob usou a parede para ancorá-lo do chão. O capitão chutou os pés e apertou os dedos de aço que esmagavam seu pescoço.

— Sim, eu... fiz isso e tive que viver... com... MacGregor, por favor, imploro, deixe-me... deixe-me buscar seu perdão primeiro.

— Você não merece! — Rob rugiu em seu rosto, agora nivelado com o seu.

— Rob! Solte-o!

A ordem veio de Davina, parada na porta aberta, os dois braços rígidos ao lado do corpo, uma poça de lágrimas não derramadas brilhando contra a luz do fogo. Finn estava atrás dela e contornou-a para entrar primeiro na câmara, com os olhos fixos no homem perdendo a consciência na mão de Rob.

— Solte-o, Rob, — ela exigiu novamente, mas ainda não se moveu da entrada.

Rob não sabia o quanto ela ouvira, mas vê-la, vendo a angústia em seu rosto inocente, tentou-o a tomar o último suspiro do corpo de Asher. Não, ele não queria que ela o visse fazer isso. Por mais que ele quisesse, sabia que ela nunca esqueceria tal visão.

Soltando o capitão, ele se virou para ela. Inferno, ele não queria que ela descobrisse dessa maneira.

— Davina, me escute...

Mas quando ela finalmente se afastou da porta, ela foi diretamente para Asher.

— Buscar o meu perdão por quê, Edward?

Embora ele tivesse acabado de enfrentar a morte nas mãos de um guerreiro enfurecido, foi uma moça leve e trêmula que fez com que o capitão se desfizesse.

— Foi minha culpa, — confessou, segurando uma mão em volta da garganta e a outra sobre o rosto. — Eu disse a eles onde a encontrar. — Ele soluçou, incapaz de olhar para ela.

Rob não conseguia desviar os olhos dela. Ele queria ir até ela, afastá-la da verdade que ele sabia que estava despedaçando seu coração em dois. O único homem a conquistar sua confiança a havia traído.

— Você disse a eles onde me encontrar? — Ela ecoou em um fôlego quebrado e caiu de joelhos na frente de seu melhor amigo. — Por quê?

— Foi antes que eu te conhecesse. — A mão de Asher se afastou do seu rosto e seu olhar triste encontrou o dela. — Ainda não tinha me apaixonado por você. Eu...

A palma da sua mão estalou no rosto dele com força suficiente para dividir o lábio.

— Todo mundo morreu por sua causa! — Ela gritou, sua voz tão cheia de tristeza que Finn quase a alcançou antes de Rob.

— Vamos embora, meu amor — Rob sussurrou contra a têmpora dela enquanto a pegava em seus braços. Ela não chorou contra ele, mas continuou a encarar Asher com olhos incrédulos enquanto Rob a carregava até a porta. De alguma forma, o silêncio dela rasgou seu coração mais do que as lágrimas. Ele se perguntou como ela confiaria em alguém novamente.

— Ele não deve deixar esse quarto, — Rob disse a Finn antes de sair dos aposentos. — Voltarei de manhã.

— Você pode me colocar no chão, — Davina disse calmamente quando eles entraram no corredor e Finn fechou a porta atrás deles.

— Não, moça, quero abraçá-la. — Rob a puxou para mais perto e fechou os olhos quando as lágrimas começaram a cair.

Eles não pararam quando, alertados pelo grito de Davina alguns momentos antes, Will, Jamie e Maggie subiram correndo as escadas.

— O que aconteceu? — Maggie correu para frente quando viu Davina embalada nos braços de seu sobrinho.

— Finn vai lhes dizer. Ele está nos aposentos de Asher. — A mandíbula de Rob ficou tensa enquanto Davina fazia o possível para abafar seus soluços emocionantes em seu plaid.

— Pobre garota, — sua tia murmurou, esticando o braço para acariciar a cabeça de Davina. — O que quer que seja não é tão terrível. — Quando Davina não levantou os olhos, Maggie lançou um olhar preocupado a Rob. — Você me dirá depois o que aconteceu. Traga-a para o quarto agora. Vou segui-lo e ficar com ela esta noite.

— Não, ela ficará comigo. — O tom da voz de Rob não deixou espaço para discussão. Ele não esperava por isso, mas voltou seu olhar ardente para Will. — Asher é seu à noite. Faça o que quiser. Terminarei amanhã.

Os olhos de Will permaneceram no rosto de Davina, enterrado no ombro de Rob. Suas feições endureceram e ele assentiu antes de deixá-los, furioso com o homem que a fez chorar e se preparando para puni-lo por isso.

A mão pequena de Maggie no braço de Rob o deteve quando ele se moveu para sair.

— Robbie, ela é a filha do rei.

Era fácil ignorar o apelo de advertência em seu olhar suave. Rob havia decidido antes de trazer Davina para cá o que ele pensava do pai dela. Sua mente estava decidida, e agora mais do que nunca, ele sabia que nunca deixaria o rei levá-la dele.

— O rei desistiu de sua reivindicação há muito tempo. Ela é minha agora.

Ele não se importava com o que sua tia disse em seguida. Ele não se importava com o que o seu pai diria quando voltasse para casa ou quantos exércitos viesse contra ele. Ele lutaria por ela. Ele morreria por ela.

Ele a levou para seu quarto, sua cama, onde ele queria que ela dormisse todas as noites e acordasse em segurança em seus braços.

— Não me deixe, — ela chorou, agarrando-se ao pescoço dele quando ele se inclinou para colocá-la no colchão.

— Eu nunca vou deixá-la, — ele prometeu, deitando-se ao lado dela e puxando-a para seu abraço.

Suas lágrimas caíram duras e longas na noite, puxando as fibras mais profundas do coração de Rob. Ele não sabia o que dizer para confortá-la, então permaneceu em silêncio, acariciando seus cabelos e mantendo-a perto. Ela havia perdido tudo no massacre de St. Christopher, mas mantinha sua dor interior, junto com seus segredos. Esta noite, porém, a flecha de luto finalmente perfurou sua armadura e tudo o que ele pôde fazer foi segurá-la enquanto o rio de lágrimas se derramava.

— Elas eram minha família, — ela sussurrou, finalmente fazendo uma pausa, sua voz quase inaudível contra o pescoço dele. Ela balançou a cabeça com as lembranças que eram dolorosas demais para lembrar, mas sempre estavam lá. — Eu ouvia os gritos das irmãs vindo da capela e não podia sair para salvá-las.

Rob beijou o topo de sua cabeça e sentiu seus próprios olhos ardendo do tormento trazido a ela por um homem que alegava amá-la.

— Eu rezei para Edward viver. Eu rezei tanto. Eu o amava e a seus homens como se fossem meus irmãos. Como ele pôde ter feito essa coisa terrível?

— Eu não sei, meu amor.

O corpo dela relaxou nos braços dele e ela aconchegou o rosto no pescoço dele. Seus músculos reagiram, apertando-se com a necessidade de provar sua boca, suas lágrimas, sua dor, e tomar sobre si mesmo. Deus o ajude, ele nunca amou ninguém ou nada tanto quanto a amava. A percepção não o chocou, pois ele sabia há algum tempo que ela reivindicou seu coração. Mas isso o assustou ao pensar no que ele estava disposto a desistir por ela. E como ele poderia lhe dizer que Asher havia provado que o amor não era confiável?

Ela se moveu um pouco, moldando suas curvas suaves nas dele e confundindo seus pensamentos até que apenas o desejo permanecesse. Ele beijou sua têmpora, murmurando promessas suaves que rezava para que ela pudesse acreditar. Quando ela inclinou o rosto, ele traçou beijos ao longo de sua testa, pálpebras molhadas, bochechas. Os lábios dela se separaram e seu hálito quente caiu sobre o queixo dele.

— Rob, — ela sussurrou, sua voz trêmula com um desejo tão forte quanto o dele. Ele mergulhou a boca na dela e encontrou o doce ardor dos seus lábios.

Ele não a esmagou contra si para satisfazer a necessidade física que grassava dentro dele, embora isso lhe custasse toda a força de seu autocontrole, mas abriu os dedos sobre o rosto dela, depois atrás da nuca, suavemente, lentamente, atraindo-a para ele como a língua dele a assaltava dentro da boca dela. Ela tinha gosto de vinho fino e lágrimas quentes, e ele a beijou como um andarilho sedento que descobrira seu oásis.

Ele queria provar cada centímetro dela, saciar sua fome nas pontas firmes de seus seios, o veludo trêmulo de seu ventre e além. Ele queria olhar para o belo rosto dela enquanto reclamava seu corpo e, mais ainda, seu coração.

Mas ele não podia fazer assim, não quando seu coração estava tão quebrado. Não quando a confiança que ela tinha guardado tão diligentemente acabava de ser jogada a seus pés, usada e abandonada. Ele faria o que fosse necessário para trazê-la de volta à vida e provaria, como precisava, que a valorizaria. Então ele se retirou dos lábios doces e famintos que também tinham sede dele.

— Você sabe o quanto você significa para mim, Davina? — Ele perguntou, e olhando profundamente em seus olhos, ele não pôde deixar de sorrir.

Seus braços emaranhados, tocando o rosto um do outro, ela sorriu de volta para ele.

— Sim, eu sei.

Como ela podia não duvidar dele depois que o homem em que acreditou por quatro anos se provou falso? Mas era quem ela era, um anjo perdoador e inocente, girado das cordas da harpa do céu.

— Vocês têm o tipo de coragem que os homens rezam no campo de batalha. Sua prima Claire vai amar você.

— Diga-me qual é tipo de homem que ela ama? — Ela perguntou, suas lágrimas finalmente cessando.

— Graham Grant é um homem paciente, — ele disse, lavando seu hálito quente, completamente perdido no azul cintilante de seus olhos. — Ele é inteligente e convincente, e não tem nenhum problema em dobrar a vontade de sua esposa com a dele.

— E ele? — O sorriso dela suavizou enquanto ela passava as pontas dos dedos sobre os lábios dele. — Ele é teimoso também?

— Não, com ela. Com ela, ele se curva como a urze nas colinas.

— Eu acho que vou gostar dele.

— Você não estará sozinha. A maioria das moças daqui gosta. Mas ele é leal à esposa e ama somente a ela.

— É o que eu sempre quis, — disse ela em um suspiro melancólico e vazio. — A vida de Claire... Maggie... e, se seu pai é como você, a de sua mãe.

Rob também queria. Ele não quis uma antes, não com nenhuma das moças de Camlochlin.

— É uma vida boa. Uma vida completa. — Ele disse, pensando em seu pai. — Mas você pode ser rainha.

— Acho que prefiro ser uma serva.

Rob pensou no véu que cobria seu cabelo glorioso em Courlochcraig. Em vez de entrar em uma batalha que ele estava fadado a perder, ele se deixou esquecer da reivindicação de Deus sobre ela. Mas agora, sabendo quem ela realmente era, ele questionou se havia alguma afirmação verdadeira.

— Você teria desafiado sua fé em Deus?

— Por Deus eu desafiaria o mundo, — ela disse a ele. — Mas eu não teria que desafiar meu pai. Eu sempre soube quem eu era e o que seria de mim. Meu pai deixou documentos com a Reverenda Madre no momento do meu parto, decretando que, caso ele tivesse um filho depois de mim, eu seria entregue a Deus. O que mais ninguém no mundo sabe, exceto eu, a abadessa que me criou, e agora você, é que, se ele se tornasse rei sem herdeiros, ele deixaria abertamente esse título para mim. Ele esperaria um ano inteiro após sua coroação, e se, depois desse período, ainda não tivesse filhos, eu seria devolvida a ele e me prepararia para o casamento com um homem de sua escolha. — Ela olhou para Rob solenemente e deixou seu coração nu apenas para os olhos dele. — Eu não quero ser cercada por pessoas que sorriem para mim enquanto planejam minha morte. Eu nem conheço minhas verdadeiras irmãs, Mary e Anne, mas sei que não teremos nada em comum, exceto casamentos sem amor. — Novas lágrimas se derramaram sobre seus cílios e ela os limpou. — Agora que meu pai é rei, meu destino aparece diante dos meus olhos, Rob. Se ao menos eu o conhecesse... se, pelo menos um dia, sentisse seu amor por mim, acho que meu dever para com ele não fosse tão desolador.

O coração de Rob torceu no peito. O dever dela. Como ele poderia culpá-la por seguir o que ela nasceu para fazer? Como ele a deixaria ir se ela escolhesse seu dever sobre ele?

— Ainda há tempo para rezar para que sua jovem esposa lhe dê um filho. — Ela sorriu, vendo a angústia em seus olhos. Ele não conseguiu sorrir para ela.

E sobre o dever dela para com Deus? Foi a sua fé que a moldou, não uma imponente corte inglesa. Era Deus que ela conhecia e confiava. Ele não queria perguntar a ela. Ele não queria ouvir a resposta dela, mas tinha que saber.

— E se o rei tiver um filho, você desafiaria a Deus por mim, Davina?

— Eu não precisaria, — ela respondeu suavemente, inclinando a boca na dele. — Lembre-se, foi Deus quem designou você para mim.

 

Capítulo Vinte e Quatro

Nenhum homem nos três reinos ou além jamais se compararia àquele nos braços de Davina. Se ela fosse casada e viúva centenas de vezes diferentes, e cada um de seus maridos a amasse, sempre saberia que seu coração pertencia apenas a Rob.

Ah, Deus, o Senhor o enviou para mim sabendo que eu o amaria além da razão.

Seu coração batia em um ritmo frenético quando ela fechou os olhos para beijá-lo, rezando para que Deus não o tivesse enviado apenas para pedir que ela o abandonasse.

Moldando seus lábios nos de Rob, ela sabia em seu coração que nunca iria abandoná-lo. Ela sabia o que significava para ele não por causa de terras ou seu nome, mas simplesmente por causa dela. Ele disse a ela toda vez que seus olhos se encontravam. Rob era um homem intimidador, mesmo quando não estava meditando, mas não com ela. Nunca com ela. Ela não conseguia se lembrar de uma única vez em que ele não parecia derreter ao vê-la. Ele a fez se sentir querida, adorada e viva. Ah, sim, ela sabia o que significava para ele. Ele provou isso quando a trouxe para Camlochlin.

Enquanto passava as mãos pelos braços esculpidos, ficou maravilhada com o fato de uma mulher vestida com roupas largas ter conquistado o carinho de um homem tão magnífico. Quando ela arrastou as pontas dos dedos sobre o cinto nos quadris dele, seu corpo ficou rígido, seu beijo, mais apaixonado.

Só ele poderia ter recolhido os pedaços do coração dela do chão e devolvido a ela novamente. Só ele poderia fazê-la esquecer tudo e todos em sua vida, tornando-se vital para ela. Ela era dele e queria lhe dar tudo; seu amor, sua confiança, seu corpo.

Ela perdeu o fôlego quando os dedos trêmulos dele se deslizaram de suas orelhas ao ombro. Ela não pensou no que eles estavam fazendo, ou estariam fazendo em breve. Ela reagiu à boca faminta, à demanda sedosa de sua língua e à necessidade crua em seu toque puramente por instinto. Ela o amava e queria compartilhar essa intimidade mais profunda e sagrada com ele. Consumida em seu perfume de urzes, ela o deixou intoxicá-la ainda mais quando ele a rolou de costas, seu lábio inferior capturado entre seus dentes e colocou a mão em volta do seio dela. Ele apertou o mamilo dela entre o polegar e o indicador e enviou uma carga ardente ao ponto crucial entre suas coxas.

— Rob, eu... — Ela se contorceu embaixo dele quando um calor estranho e excitante percorreu seu sangue.

— Quero que você seja minha, Davina.

Ela também queria. Ela queria ver sua restrição desaparecer, a disciplina que ele praticava todos os dias ao seu lado se desfazer. Ela não tinha medo do que estava sob o controle de ferro de Rob. Ela não tinha medo de nada com ele.

Com um gemido que esticou seus músculos, ela soltou o cinto e o deixou cair no chão. Ele interrompeu o beijo apenas o tempo suficiente para abrir a boca em um rosnado sinuoso e sensual que a fez doer por dentro e seu rosto esquentar.

Mas claramente ele gostava da ousadia dela.

O restante de suas roupas saiu entre um emaranhado de braços e pernas que os deixaram ofegantes, mas quando Rob levou o mamilo à boca e chupou, ela percebeu que tinha ido além do ponto de retornar. Ele iria tomá-la. Sua excitação quente e pesada pressionada contra a barriga dela atestava isso. Uma parte dela que ela não entendia tremeu por isso, mesmo quando sua mente começou a protestar. Ela não se importava com as leis e estar com ele parecia muito certo, como se tivesse nascido para amá-lo. Ela estava assustada com o tamanho dele e subitamente envergonhada por suas inadequações.

— Eu não sei o que fazer.

Sua voz era um gemido apertado ao longo de seu peito.

— Vou ensiná-la.

— E se eu não gostar? — Ela perguntou com um pouco mais de pânico em sua voz.

— Você vai gostar, — ele prometeu e passou a língua sobre o mamilo, uma carícia lenta e lânguida que a fez abrir mais as pernas antes que ela pudesse detê-las. Ele não a montou, embora a visão dele, sombria e selvagem para ela, crivasse seus pensamentos com garanhões prontos para acasalar.

Seus olhos brilhavam nela como chamas de ouro azul, aproveitando o que via. Erguendo-se sobre ela, seu pênis duro e muito longo sobre sua carne úmida, ele baixou apenas o rosto para sua boca, sua garganta, beijando e lambendo entre o inchaço de seus seios até chegar a sua barriga.

O corpo dela estremeceu com a intimidade do beijo dele. Ela ofegou com o toque proibido de seus dedos e depois de sua língua quando ele a abriu e a acariciou até que ela se contorcia debaixo dele. Fugazmente, ela se perguntou se o que ele estava fazendo era pecaminoso, ou se enrolar os dedos pelos cabelos dele e libertar seus cachos escuros era uma parte aceitável da dança da natureza. Mas até Salomão, do Bom Livro, se deleitava com sua amada. Com cada lambida lasciva da língua de Rob, ele afastava todo pensamento consciente da cabeça dela e a deixava tremendo com uma necessidade que a queimava até o âmago. O arranhar suave de seus dentes sobre o broto dela enviou ondas de espasmos escaldantes através de seus músculos, e quando ele a chupou em sua boca, passando a língua sobre sua paixão inchada, ela gritou à beira do pináculo do prazer.

Os dois poderiam ser mortos pelo que estavam fazendo, mas Davina não se permitia pensar nisso agora, assim como não pensara em cair do navio ou sobre os penhascos irregulares de Elgol. Ela deixou de ser covarde. Ela amava Rob e queria mais dele, tudo dele. Seu coração ficaria para sempre vinculado ao dele e, se ela tivesse apenas uma noite, apenas esta noite, para se entregar a ele livremente, plenamente, ela aceitaria.

— Venha para mim, — ela sussurrou, sua voz rouca e desconhecida para seus ouvidos.

Ele foi, abaixando-se sobre ela e envolvendo-a em seus braços.

— Eu não quero te machucar, meu amor.

— Eu te perdoaria mil vezes se você o fizesse.

— Och, moça, mas você mata minha alma com seu sorriso. Vou me tornar uma flor lamentável, um escravo empenhando em sua felicidade.

— Mas você também será feliz. — Ela sorriu e abriu a boca na dele.

Ele fez amor com ela lentamente, levando tempo para preparar seu corpo não experimentado para recebê-lo. Quando ela passou a língua pelos lábios e arqueou as costas, apenas o suficiente para esfregar-se sobre seu eixo inchado, sua paciência o deixou. Colocando o braço por baixo da cintura dela, ele ergueu seus quadris para cima com um grunhido de pura demanda masculina. Estendendo-a bem embaixo dele, ele avançou contra ela, da ponta de sua cabeça brilhante até a base espessa e latejante, mais dura que o aço.

Ela estremeceu, com medo do que ele estava prestes a fazer, mas alcançou-o enquanto a expectativa se misturava à trepidação e ao desejo ardente e vergonhoso. Ela se agarrou a Rob enquanto ele rompia sua barreira da virgindade com lenta e tenra persistência. A dor a atravessou como uma explosão de chamas e ela gritou, certa de que ele a rasgou.

— Davina. — Ele estava lá, acima dela, seu hálito quente contra a boca dela. Ela abriu os olhos para ele, envergonhada por suas lágrimas e, em seguida, espantada ao vê-las se derramando dos olhos dele também. — Eu amo você, moça, — ele sussurrou profundamente, passando os dedos sobre a bochecha dela. — Você sempre virá primeiro e será sempre mais importante para mim.

Ela acreditou nele. Oh Deus, graças Senhor, obrigada, obrigada.

— E você para mim, — ela jurou quando ele beijou sua boca, seu queixo, o inchaço de seu seio, se afundando um pouco mais profundamente nela a cada onda sensível.

A dor aumentou quando Rob a esticou, mas ainda assim ele se empurrou, mergulhando dentro dela com movimentos lentos e ardentes que começaram a ser deliciosamente bons. Como ela poderia ter medo de alguma coisa com esse homem? Ela confiava nele totalmente, totalmente com sua vida, sua felicidade e seu coração. Ela adorava estar nos braços dele, a sensação de seu corpo duro em cima do dela, cobrindo-a, acalentando-a. Ele era mais do que ela jamais poderia ter sonhado.

Os músculos dela se apertaram ao redor do membro dele e ele gemeu de prazer e enterrou todo seu comprimento nela.

— Espero que você queira esta vida comigo, Davina. — Sua voz era grossa e pesada de desejo.

Sim, ela queria.

Ele puxou seu comprimento quase totalmente de sua bainha apertada e se levantou acima dela.

— Porque hoje à noite... — Ele deslizou a mão atrás de sua nuca e a arrastou em direção a sua boca faminta enquanto empurrava profundamente dentro dela, empalando-a novamente, e depois novamente. — Eu quero deixá-la com meu filho dentro de você, e amanhã, — ele a reivindicou com mais força, mais rápido, olhando nos olhos dela enquanto atirava a recompensa de sua semente dentro dela. — Eu quero me casar com você.

Rob acordou de um sonho e passou a palma da mão sobre o recuo suave onde Davina havia adormecido em seus braços. Seu sonho desapareceu e deixou a terrível sensação de perdê-la. Ele se sentou em sua cama, pronto para tomá-la de novo.

A escuridão substituiu o brilho doce do fogo da lareira. O silêncio se apegou às grossas paredes de pedra e penetrou profundamente na medula de Rob, atraindo seu olhar para a única fonte de luz no quarto.

Ela estava na janela. Seu rosto, inclinado em direção ao céu, estava banhado pela carícia perolada do luar. Seu coração acelerou ao vê-la perdida em sua grande túnica. Os braços dela estavam cruzados sobre o peito, as mãos invisíveis sob as mangas compridas dele, enquanto o vento assobiando sobre as colinas levantava suas madeixas claras suavemente dos ombros. Meu Deus, ela parecia tão vulnerável, tão sozinha e tão linda de pé ali que ele quase pulou da cama.

A necessidade de ir até ela era enlouquecedora, mas seu silêncio era o conforto que ela dava a si mesma, o conforto que ninguém mais podia lhe dar. Rob relutava em atrapalhá-la, embora quisesse oferecer isso a ela.

Ele sussurrou o nome dela, incapaz de controlar sua própria boca, ou a necessidade de segui-la onde quer que ela fosse.

Ao ouvi-lo, ela virou a cabeça, concedendo-lhe uma visão completa do rosto enquanto sorria.

— Adoro quando você diz meu nome.

— Sim? — A voz de Rob pulsou junto com seu coração enquanto ele jogava as pernas para o lado da cama. De pé, ele passou o cobertor pelos ombros e foi até ela. — Chamá-la de “esposa” está fora de questão, então?

— Não, se eu tiver algo a dizer sobre isso. — O sorriso dela cresceu tão largo quanto o dele quando ele a alcançou.

— Nem eu, — prometeu, dando um passo atrás dela e fechando os braços em volta dela, debaixo do cobertor. Ele queria carregá-la de volta para a cama e fazer amor até a manhã seguinte, mas ela voltou seu olhar pensativo para o mundo fora da janela dele. Para onde ela estava indo? O que às vezes a afastava, deixando-a tão séria e retraída?

— Eu não vou deixar nenhum mal acontecer com você, — ele respirou em seu ouvido.

— Eu sei disso. — Ela cobriu a mão dele no seu seio com a sua. — Eu estava pensando no meu pai, — disse ela depois de um momento. — Fiz o mesmo muitas vezes ao longo da minha vida. Pensando se ele lembrava de mim, se alguma vez sentira o vazio a seus pés onde Mary e Anne brincavam. É tolice insistir nessas coisas, eu sei...

— Isso não é tolice. — Ele apertou os lábios na parte de trás de sua cabeça e fechou os olhos, seguindo-a para um lugar onde ninguém tinha pisado antes dele, e amá-la ainda mais por permitir-lhe ir.

— Você sabe o quão difícil é saber que sua família existe, vivendo suas vidas todos os dias sem você, sem querer você nela? Eu costumava rezar para que ele viesse por mim, ele e minha mãe. Mas ele nunca o fez. Mais tarde, entendi o porquê, mas não diminuiu o isolamento. Enchi meus dias com sonhos de ser outra pessoa. Alguém que não era vital para o reino. Apenas eu lá fora, vivendo, amando, sem medo do amanhã. Defendi o fato de como minha vida teria sido diferente se eu não fosse filha do herdeiro católico ao trono, até que finalmente odiei que eu era e aceitei meu destino sem lutar. — Ela se virou nos seus braços, nas sombras, algo saiu de seus olhos quando ela olhou para ele. — E então você me arrancou das cinzas e agitou meus sonhos de volta à vida.

Rob sorriu, puxando-a para mais perto.

— Você não tem necessidade de sonhar mais, meu amor, — disse ele, beijando-a na boca. — Vou dar-lhe tudo o que precisar, tudo o quiser, e muito mais.

Ele a levantou e a levou de volta para a cama. Dessa vez, eles fizeram amor devagar, curiosamente, como se tivessem a vida inteira para desperdiçar com nada mais premente do que fazer o outro gemer de prazer ou sorrir em êxtase.

Mas eles não tinham uma vida inteira. Rob sabia que seu pai viria buscá-la eventualmente, e agora, sabendo o quanto Davina sempre o desejara em sua vida, seu medo de que ela fosse com ele à Inglaterra para cumprir seu destino quase o dominava. Não, ele a tomaria como esposa e a ajudaria a esquecer tudo o que ela perderia, daria a ela tudo como havia prometido e rezaria para que o rei nunca os encontrasse. Mesmo se encontrasse, James não a conhecia. Ele nunca tinha visitado St. Christopher. Não havia mais ninguém vivo da abadia para identificá-la como a filha do rei. Ninguém além de Asher... e isso seria remediado pela manhã.

 

Capítulo Vinte e Cinco

Rob não estava na cama quando Davina abriu os olhos na manhã seguinte, mas Maggie MacGregor estava. Ela estava sentada na beira do colchão, seus brilhantes olhos azuis fixos na grogue pessoa que despertava, com uma mistura de pavor e intenso interesse.

Davina se levantou, segurando o cobertor para se cobrir. Ela sentiu as bochechas queimarem quando o olhar de Maggie passou por cima dos seus ombros nus.

— Eu... eu... — Oh, meu Deus, o que ela poderia dizer? Envergonhada, lembrou-se do que Maggie havia chamado Caitlin MacKinnon. Uma prostituta. Davina era pior que isso. Ela era uma garota sensual e lasciva que caiu na cama de um homem no dia em que a trouxe para casa. Ela queria chorar ou puxar o cobertor sobre a cabeça e rezar para que Maggie se fosse quando espiasse novamente. O que ela estava fazendo aqui e por que não estava dizendo nada?

— Onde está Rob? — Davina finalmente conseguiu perguntar, arrastando o cobertor até o queixo.

Maggie olhou para ela por mais um momento antes de suspirar e balançar a cabeça como se estivesse tendo problemas para conseguir fazer as palavras saírem da sua boca.

— Ele viajou para Portree algumas horas atrás para buscar um padre.

O alívio inundou Davina. Então ele realmente iria se casar com ela. Ela realmente não duvidou disso. Até agora, Rob mantivera sua palavra em tudo o que lhe dissera, mas ela tinha medo de esperar que tudo isso fosse real. Que ele era real. À noite, ela pertenceria a um clã. Ela teria marido, irmã, irmãos, primos, tios e... tias.

— Eu sei o que você deve estar pensando de mim, — disse ela suavemente, olhando para longe dos olhos penetrantes de Maggie. — Mas juro a você que Rob foi o primeiro... — A voz dela sumiu. Prometida ou não, ela ainda estava com vergonha de falar em voz alta de sua virgindade.

Maggie emitiu um pequeno som, como se uma lâmina cega tivesse acabado de raspar seu coração. Ela se levantou da cama e começou a andar na frente dela.

— Não importa o que eu penso. Robert deixou isso claro antes de partir. — Ela encontrou o olhar vergonhoso de Davina e suspirou novamente. — Eu não penso mal de você. Robert não é descuidado com sua afeição como Tristan. Eu sei que há uma emoção profunda envolvida aqui, e é isso que me aflige.

— Por quê? — Davina perguntou em um sussurro.

Maggie lançou-lhe um olhar incrédulo.

— Porque você é filha do rei! Você consegue entender isso, moça?

Na verdade, ela entendia. Finalmente ela entendia.

— E se dormir com você e o casamento não fossem ruins o suficiente, — Maggie continuou, andando mais rápido, — ele pensa em enganar o rei sobre sua identidade. Ele vai dizer que você é uma noviça chamada Elaine, e que afirmou ser a filha do rei porque pensava que Robert era o inimigo da princesa Real e esperava ter tempo para que ela escapasse. Mas é claro que ela não o fez. — Davina levantou a sobrancelha, confusa, mas Maggie mal percebeu o suficiente para esclarecer mais. — Oh, mas meu irmão vai esfolá-lo vivo, se seu pai não fizer isso primeiro.

Davina ficou sentada na cama enquanto seu mundo desmoronava ao seu redor. Maggie estava certa. Ela não poderia se casar com Rob sem que isso lhe custasse a vida se o pai dela viesse aqui. Oh, como eles poderiam ter sido tão tolos, tão imprudentes? Até a noite passada, ela sabia em seu coração que nunca poderia escapar de quem ela era. Mas esmagada contra seu coração forte, ela achara que podia fingir... Lágrimas escorreram por seu rosto e ela as varreu, não querendo que Maggie visse sua fraqueza. Mas eles ainda vieram, até que finalmente ela cobriu o rosto com o cobertor e chorou.

— Pronto, querida. — Maggie correu para ela e a puxou para seus braços. — Não há necessidade disso.

— Devo partir daqui antes que seja tarde demais, — gritou Davina. — Will pode me levar embora.

— Will conhece o coração de Robbie e nunca irá contra isso. Não, você não pode ir.

— Mas eu devo. Não vou deixar Rob morrer por mim. Não queria que me trouxesse aqui, mas ele nunca seria influenciado.

— Sim, esse é o meu Robert, tão teimoso quanto o pai dele.

— E então, quando vi Camlochlin e conheci todos vocês, fiquei feliz por ele não ter escutado. Oh, Maggie, o que devo fazer? Eu amo-o.

— Eu sei, criança, eu sei, — acalmou Maggie, limpando os olhos de Davina e os dela também. — Talvez, nem tudo esteja perdido. Afinal, o rei Charles deu Claire a um Highlander.

— Era só uma prima dele — Davina apontou, limpando o nariz. — Eu sou a filha do rei.

— Nae. — Maggie segurou seu rosto e sorriu para ela, ocultando assim as dúvidas que atormentavam seu coração. — Você é Elaine, uma jovem noviça que enganou meu sobrinho por amor a filha do rei. Vou garantir que todos em Camlochlin se lembrem bem disso.

Davina balançou a cabeça.

— Isso não vai funcionar.

— Irá, se eu disser que sim. Lembre-se, eu sou a irmã do diabo MacGregor e posso ser tão assustadora quanto ele.

Por entre as lágrimas, Davina não pôde deixar de sorrir para a pequena mulher à sua frente.

— Eu não duvido disso.

— Você faria bem em não duvidar. Além disso, o esquema de Robert pode ser bem-sucedido. Segundo ele, ninguém sabe como você é. Mesmo que o rei a encontre, ele não pode provar que é sua filha, e nunca irá nomear uma possível plebeia ao trono. — Maggie acariciou-lhe a mão. — Então, você não deve se preocupar com mais nada. Agora seque as lágrimas. Você já ganhou parte da batalha. Eu gosto de você, moça. Se Deus quiser, acredito que você pode fazer Robert muito feliz. Mas é melhor que você saiba que ser esposa de um MacGregor não é tarefa fácil, como Kate certamente atestará quando a encontrar.

— Conte-me sobre ela, — disse Davina, precisando de algo para tirar sua mente da posição perigosa em que colocara Rob. — Ouvi falar muito sobre o pai de Rob, mas apenas um pouco sobre Kate.

O rosto de Maggie ficou suave, provando que a mãe de Rob ocupava um lugar especial em seu coração.

— Ela amou meu irmão em um momento em que houve um crime, punível com a morte. Você terá uma aliada nela.

Deus a ajudasse, Davina pensou, quando a possibilidade de uma vida aqui surgiu mais uma vez. Como ela se comparava às mulheres de Camlochlin? Ela tinha que decidir o que fazer de uma vez por todas e cumprir isso, independentemente do resultado.

Sua decisão veio facilmente quando a porta se abriu e Rob mergulhou dentro do quarto. Soprado pelo vento frio e levemente sem fôlego, como se ele tivesse corrido o caminho todo para casa para ficar com ela novamente, ele arrebatou sua alma e venceu seus medos. Memórias proibidas de seu corpo nu invadiram seus pensamentos e ela sentiu suas bochechas se esquentarem. Deus, ele era bonito, duro, esbelto, e muito... grande.

Ela quase riu alto quando ele fez uma carranca para Maggie e ela fez uma carranca de volta.

— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou, claramente preocupado com o que sua tia poderia ter dito a Davina. — Eu disse a você nesta manhã o que decidi. Eu não vou mudar de ideia.

— O que você está fazendo aqui? — Maggie respondeu igualmente ameaçadora.

— É o meu quarto.

— Bom, então você está familiarizado com a saída.

Quando ele teimosamente se manteve firme, Maggie levantou-se da cama abanando o dedo para ele.

— Você ainda não está casado e, até que esteja, não a verá mais! Agora saia por onde entrou para que eu possa ajudá-la a se vestir.

Rob olhou por cima da cabeça para Davina agarrada ao cobertor. Tudo o que ele queria dizer a ela estava em seus olhos, sua expressão terna. Ela sorriu para ele, sentindo o mesmo, e ele procurou a porta.

— O padre está aqui.

— O arrastou de sua cama, não foi? — Provocou Maggie, colocando a mão nas suas costas para ajudá-lo a sair. Antes que o sobrinho tivesse chance de responder, ela fechou a porta na cara dele.

— Ele te ama muito, — Davina disse a ela quando estavam sozinhas novamente.

— Sim, e você também. — Maggie sorriu para ela, depois levantou o nariz no ar e cheirou. — Sou só eu que percebi, ou ele cheirava a flores?

O castelo estava cheio de atividades quando Davina desceu as escadas com Maggie algumas horas depois. Pessoas agitadas de um lado para o outro, preparadas para as tarefas que as apresentaram em seu caminho. As mulheres sorriam quando passavam por ela e os homens olhavam-na com aprovação enquanto levavam cestos de vários alimentos para a cozinha.

Hoje haveria uma celebração em Camlochlin. O casamento dela. Davina respirou fundo, mas suas mãos ainda tremiam. Ela ia fazer isso. Ela ia desafiar o rei, negar seu reino e arriscar as consequências. Ela não tinha outra escolha. Ela iria murchar e desaparecer sem Rob em sua vida. Pela primeira vez em sua vida, ela rezou para que, se seu pai colocasse os pés em Camlochlin, ele não a conhecesse. Seus dias de desejo por ele, de desejo de uma vida normal, terminaram. Tudo o que ela sempre quis, e mais, estava prestes a ser dela.

Ela sorriu para Alice do outro lado do salão que levantou a mão para ela prender o cabelo para cima.

— Eu pareço aceitável? — Ela perguntou a Maggie, tentando reprimir o trovão do seu coração.

— Você parece mais encantadora do que os montes Cuillin no inverno.

Davina se virou e deu a Will o sorriso mais feliz. Ela sentia falta dele e de seus flertes brincalhões que faziam Rob refletir e rosnar.

— Eu escolhi o vestido prata. — Maggie deu um passo para trás e observou seu trabalho com orgulho curvando seus lábios. — Complementa bem a sua coloração. Olhe, ela tem mechas prata no cabelo.

Will levantou o olhar para os cachos suaves caindo ao redor do rosto dela e sorriu.

— Sim, eu notei.

Davina corou e olhou em volta, esperando ver Rob atrás dela parecendo querer quebrar Will em dois com as próprias mãos.

— Você o provoca, — ela acusou com humor, erguendo a voz.

— Eu gosto de vê-lo perder a cabeça. Isso me lembra que ele é apenas um homem, como todos nós.

Sim, Davina pensou não encontrando Rob na multidão o que poderia ser difícil.

— Ele está na igreja?

— Ele estará lá quando chegar a hora.

Davina assentiu. Essa era a única coisa que ela tinha certeza.

— Ele está... — Os olhos de Will refletiram o brilho de seu vestido quando ele viu uma garota rechonchuda correndo em direção ao Salão Principal — preparando algumas coisas.

— Ele é um lobo, — Davina sorriu, balançando a cabeça quando ele partiu em busca da pobre garota.

— Ele é um filhote manso comparado a Tristan, — Maggie soprou, então pegou sua mão e puxou-a pelo salão. Eles foram parados por uma mulher adorável, com uma juba de cachos dourados e profundos olhos azuis. O sorriso dela era quente, assim como a mão dela quando ela apertou a de Davina.

— Então, esta é Elaine, a moça que conquistou o coração firme de Robert! Eu sou Aileen, a irmã de Graham e Jamie.

— Santos, ajude-nos, ele trouxe os MacLeods. — Maggie olhou para o céu e bateu no quadril.

— Claro que sim, — disse Aileen, ainda sorrindo para Davina. — Nós somos praticamente parentes.

Davina viu a ligeira semelhança com Jamie e compartilhou uma palavra com ela até Maggie as interromper.

— Onde está Jamie?

— Ele está com o Padre Matheson nos porões, rezando por alguém, eu acho. Ouvi Brodie dizer que estavam fazendo o último ritual.

A cor sumiu do rosto de Davina. Meu Deus, ela se esqueceu de Edward! Ele estava trancado nos porões? Ele ia morrer no dia do casamento dela? Ele traiu sua confiança e partiu seu coração, mas ela não queria que ele morresse por isso.

— Maggie, eu preciso encontrar Rob!

— Nós o encontraremos, querida. Não se preocupe com isso.

— Não! — Davina apertou o braço dela. — Eu quero dizer agora. Neste momento. Antes que seja tarde!

— Antes que seja tarde demais? — Maggie fez uma carranca e puxou o braço livre das garras de Davina. — O que está acontecendo agora, moça?

— Ali está ele.

Davina seguiu o dedo de Aileen e partiu em direção ao seu futuro marido. Eles se encontraram no meio do salão e a respiração de Rob pareceu prender em sua garganta quando ele alcançou as mãos dela.

— Eu não pensei que você poderia ser mais bonita do que no dia em que a tirei de St. Christopher, mas eu estava errado.

— Rob, onde está Edward?

O calor em seus olhos desapareceu junto com seu sorriso.

— Não se preocupe mais com ele, Davina. Eu cuidei disso.

— Matando-o?

— Ele não está morto, mas é o que ele merece. — Ele ergueu a voz uma oitava e depois apertou a mandíbula. — Vamos discutir isso mais tarde.

— Vamos discutir isso agora! — Ela afastou as mãos dele e escapou por pouco quando ele a alcançou novamente. Ele estava carrancudo com força total agora. — Solte-o, — disse ela, no entanto.

— Você está brava? Você acha que eu também não estou?

— Por favor, Rob.

— Nae.

— Eu imploro, por favor.

Ela viu sua determinação vacilar por trás de sua expressão sombria. Mas com a mesma rapidez ele a pegou de volta.

— Davina, você não pode pedir isso a mim. Ele vai deixar Camlochlin e ir diretamente para seu pai.

— Ele não vai. Eu sei que ele não vai. Ele fez o que fez, mas foi há muito tempo. Muito mudou desde então.

— Sim, ele a ama, — Rob rosnou para ela.

— Sim, ele ama, e é por isso que não vai me trair novamente. Poupe-o, por favor. Não suporto o pensamento dele morrendo por minha causa. Muitos já o fizeram.

— Eu não posso

Ela entrou nos braços dele e pegou o rosto dele, cortando sua recusa.

— Eu não te pedi nada até agora. Conceda-me isso, Rob. Não suporto aceitar diante de Deus um homem impiedoso.

Olhou-a nos olhos dela enquanto seu coração batia furiosamente contra ele, até que ela pensou que iria negar.

— Muito bem, — ele disse finalmente e a segurou na dobra de seu braço quando ela jogou os braços em volta do seu pescoço e agradeceu profusamente com beijo após beijo.

— Ele nunca deve deixar Skye, no entanto, — ele disse a ela no meio de seus beijos. — Vou matá-lo se ele tentar.

— Sim, sim, qualquer coisa que você quiser.

Ele se afastou dela lentamente, e com olhos que ardiam como brasas, ele disse:

— Eu quero que você seja minha, e então eu a quero na minha cama.

A cerimônia ocorreu sem problemas, apesar do bater da bota de Jamie no chão frio da igreja e sua constante virada para olhar por cima do ombro, como se esperasse que a guarnição inteira do rei entrasse pela porta.

Davina mal se lembrava da suave bênção do padre. Seu olhar estava fixo no de Rob o tempo todo. Sua visão se enchia de seu belo rosto e sorriso amoroso, enquanto seus pensamentos transbordavam de novas esperanças para o futuro. Ela o faria feliz, este homem forte e determinado que lhe deu seu coração, sua casa e tudo o que ela sempre desejou.

No Salão Principal, eles festejavam com cordeiro assado (do qual Davina e Maggie se abstiveram), pães frescos e bolos de frutas, uma variedade de sopas e caldos e a melhor cerveja e uísque de Camlochlin. Rob se movia entre os convidados com uma facilidade que foi criada para ele como o futuro Laird do clã. Mas não importava com quem ele falasse, ou com qual tópico eles se envolvessem, seu olhar encontrava o dela do outro lado da sala. Seu sorriso era íntimo e ansioso.

Davina sabia que ele a queria e, embora suas partes íntimas ainda doessem, ela o queria tanto. Ela queria ficar sozinha com ele, tocá-lo, explorá-lo, respirá-lo, prová-lo e dizer-lhe o quão desesperadamente o amava.

Ela não estava preparada quando, de repente, ele largou a última bebida, a alcançou e traçou seus lábios com a ponta do polegar.

— Dê boa noite aos nossos convidados. — Seu comando era baixo, gutural e cheio de desejo.

Ela corou e desviou os olhos das dezenas de pessoas assistindo enquanto ele a beijava. Quando ele se inclinou para pegá-la em seus braços, a alegria do grito de Will ecoou em suas veias e a fez cobrir o rosto com o plaid de Rob.

Sua mortificação foi logo substituída pelo temor e pelo ardor de lágrimas alegres quando Rob a levou para seus aposentos. Centenas de velas iluminavam o quarto como estrelas em uma noite de verão. Buquês luxuriantes de urze roxa enchiam todos os cantos e permeavam o ar com o suave aroma doce das Terras Altas.

— Você colheu tudo isso sozinho, — disse ela, lembrando o quão bom ele cheirava naquela manhã.

— Finn e Will me ajudaram. — Ele mergulhou a boca na dela e a levou para a cama. — Para você, agrada-lhe Davina?

Ela assentiu, incapaz de formar as palavras sem chorar. Sim, sim, isso a agradou. Oh, Deus, sim! Tudo o que ele fazia a agradava. Todos os botões de seu vestido que ele afrouxava, cada beijo carinhoso que pressionava em sua carne exposta a agradavam. Ele salvou a vida dela e a protegeu na segurança de seus braços capazes. Ela não achava que nada poderia fazê-la amá-lo mais até que ele escolhesse flores para ela!

— Eu te amo, — ela sussurrou quando o corpo dele a cobriu e ele se afundou profundamente dentro dela. — Sou sua até eu morrer.

 

Capítulo Vinte e Seis

O rei James estava sentado sozinho no solar real, olhando fixamente para o fogo da lareira, uma taça de vinho prateada pendurada em seus dedos. Ele não prestava atenção à música ou a alegria flutuando, vindo do salão de banquetes abaixo. Sua coroação atraíra todos os nobres da Inglaterra e Escócia para o Palácio Whitehall, assim como muitos Lairds das Highlands, todos ansiosos para prestar homenagem ao novo rei e beijar seu traseiro real. Mas nenhum deles era confiável. De fato, era mais do que provável que um ou mais deles fossem responsáveis pela tragédia que o deixava em sua condição atual, bêbado e doente do coração.

Ela estava morta.

Logo após a cerimônia proclamando-o rei, Lorde Dumfries chegou com a notícia de que a Abadia de St. Christopher havia sido completamente queimada. Ninguém foi deixado vivo.

Davina.

Sem testemunhas, era impossível saber quem havia cometido o terrível crime.

Durante mais de uma noite após a celebração ter se mudado de Westminster para sua nova casa em Whitehall, James fingia ter bom humor durante o dia. Ele cumprimentava seus convidados, comia, bebia e sorria quando o momento exigia, mas seus pensamentos estavam sempre nela. À noite, como esta, ele se sentava sozinho em seu solar, cheio de tristeza e raiva para fingir qualquer outra coisa. Quem foi o responsável por matá-la? Ele atormentava seu cérebro enquanto afogava todos os seus arrependimentos com o melhor vinho da Inglaterra. Ele tinha muitos inimigos, mas nenhum deles sabia que Mary não era sua primogênita.

Charles sabia, é claro. James disse ao irmão logo depois que Davina nasceu. A princípio, o rei anterior criticou a noção de que sua sobrinha estava sendo criada como católica. Mas, eventualmente, Charles ficou ao seu lado, como ele havia feito em muitas outras ocasiões, sabendo que seu irmão mais novo era um tipo de rebelde e um homem de segredos. Na verdade, James se casou com Anne Hyde, uma plebeia, em segredo. Ele renunciou o anglicanismo e manteve sua conversão oculta por muitos anos, uma tarefa que odiava, mas que servia ao trono. Quando Davina nasceu, ele sabia que ela seria criada na fé protestante, mesmo contra seus desejos, então ele a retirou da corte. Um ato que poderia ter sido de rebelião a princípio, mas depois de anos se passando sem Charles produzir filhos legítimos, e com a oposição à fé católica crescendo constantemente, tornou-se imperativo manter sua primogênita escondida do mundo.

As freiras da abadia de St. Christopher sabiam quem ela era, assim como o capitão Geoffries e, depois dele, o capitão Asher e seus homens. Sua querida esposa Anne clamou por sua filha antes que ela expulsasse seu último suspiro. Quantos estavam presentes no seu leito de morte? Mary e sua filha mais nova, Anne, tinham estado lá, juntamente com o Bispo e Lorde Covington e Allen do Parlamento. Além deles, James não fazia ideia de quem suspeitava que a filha por quem sua esposa chorara não morrera ao nascer.

Ele tomou outro gole da taça e deixou-a cair no chão. A pequena Davina. Ele a vira apenas duas vezes na vida após o nascimento, uma vez quando ela tinha apenas dois anos de idade e outra vez quando ela tinha onze anos, um ano depois que sua mãe deixou a terra. Era muito perigoso visitar a abadia, mas providenciou para que a abadessa levasse sua filha para os jardins enquanto ele e sua tropa passavam por St. Christopher a caminho de Edimburgo. James queria levá-la para a Espanha, ou até mesmo a França, onde ele passou muitos anos antes da Restauração, e onde pela primeira vez havia sido introduzido à fé católica. Mas Anne queria mantê-la por perto, então a mantiveram na Escócia e a deixaram sob os cuidados das freiras. Anne nunca mais vira a filha.

Davina se tornou outro segredo em meio aos muitos que ele foi forçado a manter durante sua vida. Agora ela estava morta, e ele sofria, não como um rei cuja esperança de seguir suas crenças se perdia com sua herdeira, mas como um pai que nunca teve a chance de conhecer ou amar sua filha.

Alguém bateu à sua porta. Ele permitiu a entrada e olhou para cima quando sua jovem esposa Mary entrou no solar com três guardas ao seu redor.

— Meu lorde. — Ela fez uma reverência e inclinou a cabeça obedientemente, os cachos escuros ao redor de suas orelhas balançando. — Um de seus capitães voltou da Escócia e solicita uma audiência com você.

Ele não podia contar a ela. Ele não podia contar a ninguém por que estava aqui sozinho no solar, bebendo até ficar inconsciente, em vez de apreciar as festividades no Salão de Banquetes.

Davina poderia muito bem ter morrido no nascimento como os outros quatro bebês depois dela. Anne chorara que seus natimortos eram o castigo de Deus pelo que haviam feito. Mas sua verdadeira primogênita não havia morrido no útero. Ele a vira, tão pequena, tão inocente, sorrindo para o capitão Geoffries, como se fosse o pai dela, ao invés do homem que trotava do lado de fora dos portões da abadia com uma pedra no coração. Certamente, Deus não o perdoou, e nunca o perdoaria.

— Não quero ver ninguém. Mande-o embora. — James acenou para a esposa com uma mão pesada.

— Suas filhas, Mary e Anne, perguntam por você, assim como seus maridos. — Ela se afastou dos guardas e correu para a frente, caindo de joelhos quando o alcançou. — Rezo para que você venha ao Salão de Banquetes, para que eles não vejam sua ausência como um sinal de medo de seus inimigos.

Ah, sim, William de Orange, seu filho na lei, que tinha feito tudo ao seu alcance para impedi-lo da sucessão ao trono. Agora este era um homem capaz de matar. Ao contrário do seu sobrinho e arqui-inimigo de James, James Scott, duque de Monmouth, que se opôs a ascensão de James ao trono abertamente, William sorria enquanto afundava a adaga, negando, mesmo que alguém sangrasse, que a arma era dele.

— Marido. — Mary apertou a mão dele quando ele fechou os olhos, cansado demais para pensar no resto de seus inimigos. — O que quer que esteja incomodando você, deve deixar isso de lado. Você é o rei e tem muitos apoiadores. Eu sou uma que lhe apoia.

James olhou nos olhos escuros e suplicantes dela. Ele nunca pensou que poderia cuidar de uma mulher do jeito que ele cuidou de sua amada Anne, mas Mary de Modena provou que ele estava errado. Levou alguns anos para se adaptar ao marido significativamente mais velho, mas ele acreditava que ela se importava com ele. Ela era obediente e quieta na plateia, mas à noite compartilhava com ele, não apenas seu corpo, mas seus pensamentos e opiniões. O que ela pensaria dele se soubesse que ele havia abandonado a filha?

— Há coisas que eu preciso lhe dizer, esposa.

— Mais tarde. — Ela deu um tapinha na mão dele e depois a beijou. — Primeiro, fale com esse capitão. Ele diz que o assunto é urgente. Depois disso, sente-se ao meu lado e mantenha calada as línguas que falam contra você.

Ele sorriu com a fé dela nele, sua força. Anne teria gostado dela.

— Muito bem, traga-o e informe meus convidados que eu irei me juntar a eles em breve.

Ele a observou sair, os três guardas seguindo logo atrás. Quando a porta se fechou novamente, ele fechou os olhos e viu o rosto da filha. Ela tinha sido uma querubim aos dois anos, com bochechas roliças e rosadas, cabelos do tom loiro claro e olhos tão grandes e azuis quanto o céu. Quando ele a viu novamente nove anos depois, foi à distância; mas o olhar dele absorveu todos os detalhes de sua forma, a maneira como ela se movia pelo pátio a caminho da igreja e como ela fazia uma pausa tão breve e olhava além dos portões, como se ela pudesse senti-lo ali.

Ele tomou todas as precauções. Ele achava que ninguém a conhecia e ainda assim enviara um exército para protegê-la, caso seus inimigos descobrissem seu segredo. Mas não foi suficiente.

Uma batida na porta quebrou a imagem de seu rosto. James permitiu a entrada e olhou brevemente para cima quando dois homens entraram no solar. Um deles, ele reconheceu como capitão Connor Grant, sobrinho do alto almirante Stuart. O amigo de Grant, era um homem mais jovem vestido à moda das Highlands, pôs seu olhar arrojado nele e depois no copo descartado por perto.

— Vossa Majestade, — disse Grant, se deixando cair em um joelho. Seu amigo permaneceu de pé.

— Como você se chama, jovem? — James perguntou, genuinamente divertido pela primeira vez em quinze dias. Agora, aqui estava algo fora do comum. Ele não sabia se devia fazer uma carranca para o convidado audacioso ou sorrir para ele.

— Eu sou Colin MacGregor, Sua Majestade.

— MacGregor... — Sim, ele deveria ter adivinhado, pensou o rei, avaliando o rapaz das pontas de suas botas enlameadas aos olhos, iluminados por dentro com uma calma confiança. — Você é de Rannoch?

O rapaz balançou a cabeça.

— Skye, — disse ele, olhando ao redor do solar. Ele não parecia muito impressionado com a elegância ao seu redor, mas surpreso ao encontrar o rei sozinho.

— Ah, seu Laird está entre os meus convidados.

— Sim, ele é o meu pai.

O orgulho em sua voz agradou James. Ele conhecera o infame Diabo MacGregor e sua família após a cerimônia e os convidara para Whitehall. O Laird era um homem que James queria do seu lado. Ele era um pouco secreto, MacGregor não divulgava a ninguém onde exatamente vivia em Skye. Ah, seria simples o suficiente descobrir, pois a prima de James, Claire, morava entre eles, casada com o pai de Connor Grant e com a aprovação de Charles quando ele estava vivo. Mas James não perguntou. Enquanto os MacGregors nunca mais se voltassem contra o reino, ele os deixaria ter seus segredos. Alguns homens precisavam deles.

— Por que você não chegou com ele?

— Foi sobre isso que eu vim falar, senhor — disse o capitão Grant, levantando-se do joelho. Ele olhou atentamente para o Highlander por sua falta de submissão antes de voltar sua atenção para o rei.

— Sim, sim, sente-se. — James ofereceu. — Qual é a notícia urgente que você tem para mim?

— É sobre o ataque à abadia de St. Christopher.

O coração de James parou em seu peito. Levou cada grama de vontade que ele possuía para permanecer em sua cadeira e manter a voz firme quando perguntou ao capitão o que sabia sobre isso.

— Eu sei quem é o responsável por isso.

— Quem? — James perguntou oco. Seus dedos torcidos agarraram os apoios de braços da cadeira até que os nós dos dedos ficaram brancos. Finalmente... finalmente, um nome...

— O almirante Peter Gilles, senhor. O braço direito do duque de Monmouth.

Agora o rei ficou de pé. A raiva assassina que o corroera noite após noite finalmente encontrara direção.

— Se o que você diz é verdade, os dois morrerão embaixo das rodas21. Que prova você tem de sua acusação?

Grant olhou para as mãos. Quando ele falou, sua voz era baixa e tensa com relutância.

— Colin estava lá quando aconteceu.

James virou-se para o jovem Highlander, incapaz de esconder a pergunta ou a tristeza familiar de seus olhos. Ele a viu? Ele viu sua filha morrer?

— Conte-me tudo, MacGregor. Não deixe nada de fora.

Ele ouviu enquanto Colin lhe dizia por que ele e seu irmão tinham ido a St. Christopher e o que viram quando chegaram: A Abadia estava em chamas, um número escasso de soldados ingleses em batalha com os holandeses. O irmão mais velho de Colin e dois de seus amigos avançaram do lado dos ingleses, mas tiveram a sorte de escapar com vida. Seu irmão foi ferido por uma flecha e decidiu voltar para casa em vez de seguir para a Inglaterra.

— Nos encontramos com o capitão Grant em Inverary e contamos o que havia acontecido na abadia.

— E Gilles? Ele foi morto?

— Ele não estava lá, — MacGregor disse, seu olhar afiado, sua voz firme. — Antes de morrer, um dos seus homens disse ao meu irmão quem comandou a matança.

— Senhor, — O capitão Grant, desviou a atenção do rei da mensagem: — o duque de Monmouth é culpado de matar seus homens, meus irmãos de armas. Eu não sei se o conde de Argyll também está envolvido, mas eu gostaria de lembrar-lhe que o meu tio tem dúvidas sobre William de Orange, e compartilhou isso com o falecido rei Charles.

— Sim, eu conheço a história. Connor Stuart era o aliado mais próximo de meu irmão e desde então se tornou o meu. Ele é leal a sua família e sem nenhuma falha. Ele ficará satisfeito quando eu lhe contar do seu grande serviço ao trono. Quanto a William, estou bem ciente de sua posição em relação a uma monarquia católica, mas não posso me opor a ele até ter provas de sua traição.

O capitão assentiu e James se aproximou da porta.

— Agora, se não houver mais nada a dizer, eu gostaria de alguns momentos para pensar no que você me disse antes de retornar aos meus convidados. — Ele esperou enquanto Grant se curvava para ele novamente e deixava o solar com seu jovem amigo seguindo atrás.

— MacGregor. — O rei o parou na entrada. — Uma palavra antes de você ir. — Ele conduziu o jovem de volta para dentro e fechou a porta atrás dele. — Diga-me, você viu... uma mulher... uma noviça... — Ah, Deus, ele não tinha falado dela com ninguém desde que Anne morreu. Mas o que importava agora quem sabia? Se Colin MacGregor tinha visto Davina antes de morrer, James tinha que saber. Ele tinha que saber com certeza que sua filha estava realmente morta. — Ela teria... — Ele fez uma pausa novamente, lutando para manter suas emoções sob controle — cabelos como o sol e olhos como o céu.

Algo... algo se registrou nos olhos do garoto, pena, talvez, ou curiosidade melancólica. O que quer que tenha sido desapareceu instante depois.

— Não havia sobreviventes.

— Um corpo então? — O rei pressionou, bloqueando a porta quando seu convidado a alcançou. — Alguém combinando com a descrição dela, talvez? Eu devo saber.

— Por quê?

James deu um passo para trás, desacostumado a tanta ousadia... e a ser estudado com tanta atenção. O garoto tinha um rosto estoico e nervos de aço, mas a labareda de fogo em seus olhos desmentia sua aparência externa de calma.

— Não é com desrespeito que eu falo, — disse o jovem Highlander. — Pois não a conheço, mas por que você se importa tanto com uma noviça que não conhece?

James ergueu os ombros, pronto para lembrar aquele filhote com quem ele estava falando e o que poderia acontecer se o rei ordenasse castigá-lo. Mas ele descobriu que, quando abriu a boca, não tinha estômago para se auto engrandecer.

— Porque ela era minha filha, — ele finalmente admitiu, embora isso não o fizesse se sentir melhor, — e eu a sacrifiquei por minha fé. — Ele riu de si mesmo, mas não havia alegria no som. — Eu não sei por que estou lhe dizendo. — Ele encolheu os ombros pesados e se afastou da porta. — Isso não importa mais. — Ele voltou para a cadeira e caiu nela.

— Ela é a razão pela qual você está aqui sozinho, tão bêbado que não pode segurar seu próprio copo?

James olhou por baixo da mão. Ele não poderia deixar de gostar da sinceridade desse garoto quando tantos ao seu redor ofereceram-lhe falsa reverência.

— Você é muito corajoso ou extremamente tolo.

— Ambos, senhor, — disse Colin e deu-lhe um sorriso confiante. — Sou extremamente corajoso. — Sem convite, ele sentou na cadeira em que Connor estivera sentado alguns momentos atrás. — Disseram-me que você possui a mesma qualidade.

— E quem te contou isso? Seu pai?

— Nae, alguém que passou a significar muito para mim. Essa pessoa me disse que você sacrificou muito por sua fé católica, até mesmo renunciando a sua posição como Lorde High Admiral. Você se arrepende de tudo porque perdeu sua filha? Desistiria de sua fé agora ou pediria aos outros para fazê-lo?

— Não, nunca. Minha fé é tudo o que me resta.

O garoto sorriu, parecendo mais com o pai do que James percebeu. Ele se levantou do banco e atravessou a sala até a porta. Quando ele chegou, parou e se virou para olhar James mais uma vez.

— Abraão sacrificou sua criança por sua fé.

James assentiu e voltou o olhar sombrio para o fogo da lareira.

— Mas Deus deixou Isaque viver.

— Sim, Ele deixou, — disse o garoto e deixou o solar.

 

Capítulo Vinte e Sete

Davina olhou para o teto, observando a luz minguante das chamas das velas tremeluzindo nas sombras. Ela e Rob não deixaram seus aposentos desde que o padre os casou três dias atrás, exceto para visitar o quarto de necessidades básicas. Seus banhos foram preparados no quarto por criados e Alice levou suas refeições para a mortificação de Davina toda vez que a mulher batia e entrava. A criada não olhava para eles, exceto uma vez em que Davina a pegou olhando apreciativamente para Rob deitado na cama com o cobertor passando pelos quadris.

Felizmente, quando os olhos de Alice se deslizaram sobre ele, era um dos raros momentos em três dias que Rob não estava com o membro tão duro quanto um aríete. Davina corou com quantas vezes haviam feito amor durante o dia e durante a noite. Nos primeiros dois dias, o corpo dela estava dolorido e ele a tomou devagar, com ternura. Mas nessa manhã, oh Deus, sua ousadia ainda a chocava, ela acordara com a ereção rígida que se projetava para cima enquanto ele dormia e subiu em cima dele.

Ele não se importou que ela perturbasse seu sono, mas sorriu-lhe, enquanto tomava seus músculos por completo. Seus beijos eram quentes, sua língua exigente quando ele segurou o traseiro dela em suas mãos e a colocou sobre seu pênis inflexível. Ah, mas era bom montá-lo, olhando para o prazer sensual em seu rosto, o prazer que ela lhe dava enquanto descia os quadris ao longo de seu comprimento, depois para cima novamente, ofegando com sua própria liberação até que sentiu que ele jorrava seu precioso néctar nela repetidamente.

Mais tarde, ele a tomou por trás, curvou-a sobre a cama com muito menos ternura do que usara anteriormente. Depois dormiram nos braços um do outro, acordaram, comeram, fizeram amor novamente e depois voltaram a dormir.

Quantas horas atrás isso aconteceu? Davina havia perdido a noção do tempo. Ela estava com fome e, embora adorasse passar seus dias com Rob, de repente se sentiu cansada das mesmas quatro paredes.

— Rob. — Ela cutucou-o suavemente ao seu lado para acordá-lo. — Eu estou com fome. Rob? — Desta vez, ela deu uma pequena sacudida.

— Alice estará aqui em breve, — disse ele sonolento, sem abrir os olhos.

— Ela não vai vir. Eu acho que é o meio da noite. Eu só vou a cozinha...

— Nae. — Seu braço pesado caiu sobre sua cintura e ele a puxou para ele com quase nenhum esforço. — Fique aqui.

Ela esperou até que ele começasse a roncar novamente, e então ela cuidadosamente levantou o braço dele e saiu da cama. O chão estava frio. Ela procurou os chinelos, mas não conseguiu encontrá-los sob a luz fraca. Sua barriga roncou, coagindo-a em direção à porta em nada além da túnica pesada de Rob.

Ela espiou. Os corredores estavam escuros e silenciosos. Ela esperou alguns momentos, esperando que Alice aparecesse nas escadas carregando uma bandeja de algo delicioso.

Todos estavam dormindo? Esperava se afastar da porta rapidamente. Ela teria que atravessar o Salão Principal para chegar à cozinha, mas frequentemente roubava a despensa no St. Christopher no meio da noite e tinha muita experiência em pisar perto em corpos adormecidos.

Sua barriga roncou novamente, ecoando pelos corredores vazios. Ela desceu as escadas, espiando à esquerda e à direita. Felizmente, havia luz suficiente das velas altas no primeiro andar para ver em qual direção ela estava indo.

Ela saiu das sombras e parou quando dois homens contornaram o salão, vindo em sua direção. Eles estavam rindo e ainda não a tinham visto. Davina virou-se para fugir de novo pelas escadas, mas parou obedientemente quando um dos homens chamou seu nome.

Era Will. Ela deu um suspiro de alívio e virou-se para lhe dar uma explicação do que estava fazendo nos corredores a essa hora, descalça. Mas quando ela olhou para ele, seu olhar prateado passou por seus longos cabelos soltos, pela túnica de Rob, até suas panturrilhas nuas. Ela ouviu a respiração dele parar e, quando finalmente encontrou o olhar dela, tinha uma expressão de dor que o fazia parecer mais vulnerável do que ela já o vira. De alguma forma, isso a fazia sentir-se mais autoconsciente do que quando ele deu sorrisos escandalosos para ela.

O homem ao lado dele deu um passo adiante, em seguida, parou com o punhal em sua garganta.

— John, — Will disse, sem tirar os olhos dela, — vai encontrar um plaid para a esposa de Rob. Agora.

Embainhando sua adaga, Will a estudou à luz das velas enquanto John partia em direção ao Salão Principal sem olhar para trás.

— Saudações, moça bonita. Eu estava começando a ficar preocupado com você. — Sua boca se curvou em um de seus familiares e leves meio sorrisos enquanto suas bochechas ficaram coradas. — Eu sou grato por você parecer bem melhor. Onde está Rob que não deveria deixar você passear sozinha pelo castelo a essa hora?

— Ele está dormindo, — Davina disse, cruzando os braços desajeitadamente sobre o peito. — Eu estou com fome e estava a caminho da cozinha. Não vi nenhum perigo nisso.

— Aparecendo assim? — Seus olhos a percorreram uma última vez antes dele desviar o olhar, evitando-a por completo. — Você pode ser da casa agora, moça, e nós, seus parentes. Mas nem todo homem é seu irmão.

John voltou com um plaid longo e esfarrapado, entregou a Will e foi prontamente enviado embora.

— Coloque-o, — disse Will, jogando o plaid para ela. — Então volte para o seu quarto e faça seu marido buscar alguma comida.

— Sim, bons conselhos. — Os dois se viraram para ver Rob descendo as escadas, segurando o plaid em volta da cintura. — Você deveria ter me acordado, — ele disse a Davina quando a alcançou.

— Eu tentei, — disse ela, envolvendo o plaid em volta dos ombros.

Ele lhe ofereceu um sorriso arrependido e depois encarou Will quando seu primo lhe deu um olhar de pena.

— Vamos. — Rob beijou o topo de sua cabeça. — Vou buscar algo para você comer.

— Algumas frutas e talvez um pouco de pão e mel — sugeriu Davina, agradecida, enquanto Rob a incentivava. — Boa noite, Will, — ela falou por cima do ombro, sorrindo para o melhor amigo de Rob quando ele lhe lançou uma piscadela lasciva. Ele poderia ser um lobo, mas a deixava tão segura quanto um filhote. — E obrigado pelo plaid.

— Você terminou de olhar para ela, então?

Will piscou a reverência de seus olhos e voltou seu sorriso imprudente de sempre para Rob.

— Sim, até amanhã. Inferno, ou sempre que você deixá-la sair da cama.

Rob deu a ele um olhar desagradável e sorriu quando Will bateu no ombro dele. Eles eram mais que primos. Eles eram amigos desde o nascimento e não havia ninguém em quem Rob confiasse mais do que William MacGregor.

— Venha, beba comigo — ofereceu Will, levando-o pelo corredor. — Sua esposa não se importará se você estiver um pouco fora do quarto. Descobri onde está escondida a bebida de Angus. — Na penumbra, seus olhos brilhavam com problemas. — Não resta muito, e se terminarmos, certamente haverá uma boa luta quando Angus voltar.

Rob olhou para as escadas e colocou a maior parte do plaid sobre o ombro, mas o calafrio repentino que o percorreu permaneceu. Seu pai chegaria em casa dentro de duas semanas.

— Aqui, — Will sussurrou, levando-o para uma pequena câmara de armazenamento adjacente ao da manteiga.

Rob esperou enquanto Will vasculhava engradados e prateleiras empoeiradas, cheias de tudo, desde velas usadas e lâminas de cisalhamento enferrujadas a baldes de madeira vazios velhos demais e rachados para serem de alguma utilidade.

— Ah, aqui estamos nós. — Will girou com um punhado de velas em uma mão e duas jarras na outra. — Abra espaço na mesa para mim, e para você?

Rob varreu o antebraço pela superfície, limpando a mesa de detritos.

— Está mantendo um olho em Asher? — Perguntou ele, enquanto seu amigo acendia as velas e soprava o pó das jarras.

— Sim. — Will se inclinou para uma pequena alcova atrás de um dos caixotes, enfiou a mão dentro e sorriu. — Ele percorre o castelo durante o dia com os olhos fixos no chão. — Endireitando-se, ele ergueu uma garrafa grande, com uma rolha no gargalo e ofereceu a Rob um sorriso vitorioso. — Eu não acho que o capitão vai tentar partir, mas a porta permanece fechada durante a noite.

— Bom, — disse Rob, ainda indeciso se ele tinha feito a coisa certa, deixando Asher viver. — Coloque-o para trabalhar amanhã. Ele precisa se sustentar para ficar aqui.

— Sim, vou mandá-lo limpar as baias do estábulo. Ele deve se sentir em casa ali.

— Vai?

— Sim. — Seu amigo ergueu os olhos, puxando a rolha.

— Como vou explicá-lo ao meu pai?

Will sorriu e jogou a rolha por cima do ombro.

— Nesse momento, o que é um soldado inglês traidor no seu castelo em comparação com a filha do rei na cama do seu filho?

Rob gemeu e passou a mão pela mandíbula enquanto Will servia as bebidas.

— Fiz do homem que meu pai viajou até a Inglaterra para apoiar um inimigo.

Sentindo pena dele, Will entregou sua bebida e deu um tapinha em seu ombro.

— Ele é seu pai. Pelo menos você sabe que ele não vai te matar. Agora. — Ele ergueu a caneca. — Vamos beber por você e sua felicidade por tão curta quanto pode ser.

Ele sorriu para o olhar duro de Rob antes de ambos beberem o uísque.

— Och, inferno! — O corpo inteiro de Rob tremeu com o fogo líquido queimando suas entranhas. — Como eles bebem esse veneno?

Will agarrou a borda da mesa e fechou os olhos com força.

— Droga, como se eu soubesse. — Ele levantou a garrafa e derramou o líquido restante no chão. — O quê? — Ele perguntou para o olhar incrédulo de Rob. — É veneno. Hoje em dia, acabamos matando alguém.

— Sim, — Rob riu. — Provavelmente você não estará vivo quando Angus descobrir que sua bebida acabou.

— Nae, — Will disse, substituindo a garrafa vazia. — Meu pai pode lidar com aquele bastardo maluco. — Ele soprou as velas e seguiu Rob para fora da sala.

Rob abriu a porta e fixou o olhar em Davina dormindo em sua cama. A filha do rei. Ele arriscou muito por ela e duvidava que seu pai entendesse. Mas Rob não se importava. Ele atravessou o quarto silenciosamente e colocou a bandeja na parte inferior do colchão. Como ele poderia levá-la a qualquer lugar, menos aqui? Em Camlochlin, as leis da Inglaterra não importavam. Não era nisso que ele acreditava? Ele subiu na cama ao lado dela e a observou enquanto ela dormia. Como ele poderia se impedir de se apaixonar por ela? Era como pedir a um homem faminto que resistisse a uma mesa de banquete com os pratos mais deliciosos. Ele beijou sua têmpora e sorriu quando ela se mexeu. Seus cabelos, como prata e ouro, caíam sobre a bochecha cremosa. Com ternura, ele a beijou. Seus lábios, como pétalas macias da rosa mais rara, se curvaram em um sorriso lânguido. Ele lutaria com um rei por ela, desafiaria seu pai e deixaria de lado o direito de primogenitura, se fosse necessário. Ele inclinou a cabeça e provou o buquê glorioso de sua respiração. Ela abriu os olhos e Rob se sentiu caindo, impotente para parar, sem vontade de salvar a si mesmo. Ele a amava. Deus, ele a amava.

— Eu estava sonhando com você, — ela sussurrou, alcançando o rosto dele acima do dela. — Você estava segurando nosso bebê.

— Sim? — Ele mal podia falar, mal respirava olhando para ela, vendo o que ela tinha visto. — Ela se parecia com você?

Os olhos dela se arregalaram.

— Como você sabia que era uma garota?

— É o que eu quero. Uma filha tão bonita e tão corajosa quanto sua mãe.

Ela enrolou os braços em volta do pescoço dele e beijou o sorriso da boca dele. Quando sua barriga roncou em resposta, os dois riram.

Retirando-se dela, Rob sentou-se, puxando-a com ele.

— Eu trouxe seus alimentos. Venha aqui, moça, e deixe-me alimentá-la.

Ele esticou as pernas longas enquanto ela montava nele, enlaçando as pernas em volta da cintura dele. Ela o observou enquanto ele mergulhou um pedaço de pão de aveia em um pouco de mel e o levou até sua boca. Ela deu uma mordida, fechando os olhos e suspirando de prazer.

— É assim que você me provoca. — Sua voz era profunda de desejo, rouca com a restrição necessária para não empurrá-la de volta e ouvi-la suspirar daquele jeito quando ele a penetrava. Em seguida ele deu as maçãs cortadas e apertou a mandíbula quando ela levou a língua sobre os dedos para chupá-los. Ele trouxe algumas frutas também, e ofereceu cada uma de seus próprios lábios, beijando-a quando ela aceitava. Seu coração parou, arrebatado pelo riso dela quando ele derramou um pouco de mel pelo queixo. Ele lambeu, ficando com o pênis duro embaixo dela. Logo, ele não se importava mais com a comida, nem ela enquanto eles puxavam e rasgavam suas roupas, famintos por outra coisa.

Ele a levantou sobre sua excitação pesada, gemendo quando ela dobrou os joelhos e o mergulhou profundamente. Ela estava úmida, apertada e disposta. Tão disposta. Ela jogou a cabeça para trás, cobrindo as mãos nas mechas grossas de seus cabelos. Ele passou os dedos pelos cabelos dela e puxou-a gentilmente, arqueando as costas e levando o mamilo firme à boca dele. Ele chupou, puxando suaves e doces gemidos de seus lábios abertos enquanto a guiava sobre sua ereção rígida.

Ela era o paraíso, quente, molhada e cintilantemente confortável quando se levantou sobre a inchada cabeça de seu pênis e depois voltou para a base. Ele fechou as mãos ao redor de seu traseiro, deslizando-a para cima e para baixo, girando seus quadris até que sua respiração ficou pesada e ofegante. Ele queria saturá-la, preenchê-la com sua paixão, mas ainda não. Ainda não.

Aproximando-a, ele chupou o pulso em sua garganta, misturando seus gemidos com os dela enquanto seus seios esfregavam seu peito, seu coração assumindo o ritmo dele.

Quando ela enterrou o rosto em seu pescoço brilhante de suor, ele a agarrou, nunca querendo soltá-la. Os músculos de sua vagina ficaram mais apertados, mais úmida ao redor dele, deixando-o selvagem. Ele empurrou com mais força, mais rápido, levantando-a de suas coxas até que ela jogou a cabeça para trás e gritou seu nome. Ele observou a beleza de seu arrebatamento quando ela estremeceu e convulsionou em seus braços, sobre seu eixo, montada nele, ordenhando sua semente em onda após onda torrencial de êxtase febril.

Ah, ele era dela, e o sorriso satisfeito em seu rosto quando ele caiu na cama provou que ela sabia disso.

 

Capítulo Vinte e Oito

Davina estava com o tornozelo no fundo da água gelada da baía de Camas Fhionnairigh, as mãos cobrindo a boca enquanto se dobrava de tanto rir.

— Qual de vocês rapazes fez isso? — Finn fez o possível para parecer ameaçador, o que teria sido uma tarefa difícil de alcançar, mesmo sem um bocado de água, mas a horda de crianças pulando para cima e para baixo ao redor dele a deixava ocupada demais rindo para perceber.

Finn enxugou os cabelos pingando dos olhos e os estreitou no pequeno Hamish MacGregor.

— Corra, Hamish! — Davina gritou quando Finn correu atrás dele. — Vamos, crianças, precisamos ajudar nosso amigo! — Subindo as saias e chutando água nos calcanhares, Davina conduziu seu exuberante exército em direção ao inimigo.

Ela bateu palmas e aplaudiu quando a jovem Marybeth MacDonnell arrancou uma pequena pedra da margem e a jogou nas costas de Finn, dando-lhe uma parada por tempo suficiente para que seu irmão mais velho o alcançasse e lançasse o pé em torno do tornozelo de Finn.

Com o inimigo abatido, o poderoso exército não perdeu tempo cercando-o e jogando água nele.

— Finn, o que tem a dizer por estar perdendo uma luta?

Davina ergueu os olhos do rosto encharcado de Finn e encontrou Will em pé sobre ele, balançando a cabeça com fingida decepção.

— Você deve deixar todas as vitórias para mim? — Ele deu um suspiro de sofrimento, em seguida, deslizou seu olhar cintilante sobre Davina e seus amigos.

— Senhora, crianças, preparem-se para serem seriamente derrotados.

Davina sabia que Will a amava quando ele a abordou agora, em seguida decolou atrás do pobre Hamish. Finn também a amava, evidenciado pela maneira como ele ficou ao lado dela quando ela deixou os aposentos de Rob há uma noite atrás e mal a abandonara desde então. Ela também os amava. Ela amava Maggie, Jamie e até Brodie, que resmungava com ela da mesma maneira que ele fazia com todos os outros. Ela amava Camlochlin e a magia de suas crianças rindo e rodopiando pelas montanhas enevoadas.

Torcendo sua trança, ela caminhou através das ondas rasas, rindo e tremendo de frio quando Finn passou por ela correndo a caminho de ajudar Will ou sabotá-lo. Ela olhou para as vastas colinas e sorriu quando viu a que mais amava, trazendo um rebanho de ovelhas de lã de volta ao pasto, com Jamie e Brodie circulando os flancos do rebanho. Rob trabalhava duro todos os dias, cuidando do bem de seu clã, sua terra e seu gado. Jamie estava frequentemente ao seu lado, assim como Will, quando algo mais interessante não o distraía.

Mas Will não era o filho primogênito do Laird do clã de Camlochlin. O dever de ver seu clã continuamente alimentado, confortavelmente protegido e aquecido nas noites frias das montanhas era de Rob... ou seria, e sua dedicação a ele lhe rendeu a fé e a confiança de Davina. Ela desejava que ele passasse algumas horas aproveitando os frutos de seu trabalho, em vez de sempre estar suando por eles. Seria um pouco difícil de convencer, mas Davina era paciente. Ela nem mesmo se importava de ver tão pouco dele durante o dia, mas sua resistência durava muito tempo depois que ele voltava para ela a cada noite, afiado e duro de seu trabalho e faminto dela como tinha sido em sua primeira noite juntos.

Ela quase acenou, mas Rob não a viu de onde estava. Olhando em volta, ela sentiu uma onda de satisfação tomar conta dela. Ela pertencia aqui, cercada por nada além de beleza e liberdade. Tudo antes de Camlochlin parecia um sonho distante, e a cada dia ela esquecia mais.

— Você parece feliz. — Ela parou e olhou para Edward, menos preocupado com a proximidade de Finn ou Will. — Por favor, deixe-me falar. — Quando ela assentiu, ele continuou. — Eu queria ter a chance de dizer que me odeio há quatro anos. Eu odiava o que fiz com você e muito mais por nunca ter tido a coragem de lhe dizer.

A verdade de suas palavras estava em seus olhos. Davina acreditava nele. Agora entendia por que ele passava quase todos os dias com ela, com medo do dia seguinte. Ele não a libertou daquela vida quando o inimigo que sabia que estava chegando finalmente o fez, mas lutou contra um exército e implorou a um estranho que a salvasse.

— Eu te perdoo, Edward.

Sua culpa em sua expressão vacilou e ele se permitiu sorrir para ela.

— Ele tem razão. Eu não mereço o seu perdão. Eu o odiava pelo jeito que vocês dois se entreolharam. Mas ver você realmente feliz nos últimos dias me ajudou a ver as coisas de maneira menos egoísta.

— Ela ganhou a misericórdia dele por você uma vez, Asher, — Will disse, ficando ao lado de Davina. — Não espero que ele a conceda novamente.

— Você não deveria falar com ela, capitão, — Finn lembrou, aparecendo à sua esquerda.

— Ele pode falar comigo, se quiser, — Davina corrigiu, depois seguiu o olhar nervoso de Finn por cima do ombro de Edward. Ela deu a todos um sorriso tranquilizador. Rob ainda estava muito longe para vê-los claramente. Ela falaria com ele mais tarde sobre Edward e diria que o havia perdoado. — Se não mostrarmos misericórdia aos outros, nada será perdoado para nós. Todos fazemos coisas das quais lamentamos. Nenhum de nós é perfeito. — Ela voltou seu sorriso brincalhão para Will. — Apesar do que dizemos a nós mesmos todas as noites, quando coloca a cabeça no travesseiro.

Finn riu, no momento que Caitlin MacKinnon veio correndo na direção deles, seus cabelos escuros saltando ao redor de suas bochechas coradas.

-— Aí está você, capitão Asher. Eu estava procurando por você.

Edward abriu um pequeno sorriso, depois desviou o olhar do sorriso crescente de Davina.

— Você foi de muita ajuda ontem levando aqueles pesados sacos de aveia para mim, — Caitlin praticamente murmurou e passou o braço sem esforço pelo dele. — Eu esperava que você pudesse me emprestar seus braços fortes mais uma vez.

— Claro, — Edward prometeu com rubor em suas bochechas.

Pobre homem, Davina pensou ao vê-lo partindo com Caitlin. Ele não tinha uma mulher sorrindo para ele com intenções tão descaradas em quatro anos.

— Eu acho que ela gosta dele, — disse ela, estranhando os sorrisos que passaram entre Will e Finn. — Tristan vai ficar com raiva?

Desta vez, ela não perdeu a risada.

Rob bateu com a vara no traseiro da ovelha atrasada e voltou a apertar os olhos. Será que Will estava perseguindo sua esposa na beira da água? Os joelhos nus foram expostos enquanto ela corria dele? Inferno, ele iria causar sérios danos ao rosto bonito de Will mais tarde. E Finn... o que diabos ele estava fazendo correndo nas ondas como um garoto de cinco verões quando havia ovelhas a serem cortadas?

— Ela se acostumou muito rapidamente.

— Hmm? — Rob virou-se para Jamie. — O que?

— Sua esposa. — Seu tio apontou para os bancos com sua vara. — Ela parece muito feliz aqui.

Rob assentiu e olhou para o vale. Sim, ela estava. Ela dizia isso todas as noites. Que direito ele tinha de reclamar quando sua esposa amava sua terra e seus parentes tanto quanto ele? Era o que ele queria, o que ele esperava dela. Ele só queria que ela não se divertisse tanto sem ele.

— Claire levou quase meio ano para se acostumar a viver em Camlochlin depois que Graham a trouxe para aqui. Ela só se estabeleceu verdadeiramente depois que Connor nasceu.

— Claire levou uma vida diferente da que Davina tinha, — Rob apontou e bateu em outra ovelha. — A única aventura que Davina teve enquanto crescia estava nos livros dela. — Ele estreitou os olhos enquanto duas ovelhas gordas vagavam de volta pela colina. -— Com quem é que ela está falando? — Ele quase não reconheceu Asher sem o uniforme e envolto em um plaid das Highlands. As costas do bastardo traidor estavam viradas para ele, mas Rob conhecia todos os corpos em Camlochlin... e esse não pertencia a nenhum conhecido. Sua mandíbula se apertou em um juramento abafado e ele deu um passo à frente.

— Will e Finn estão com ela, rapaz, — Jamie apontou quando Rob pegou sua claymore. — Ela não está em perigo do capitão aqui.

— Eu lhe disse, você deveria tê-lo matado quando teve a chance. — Brodie falou lentamente, uma haste de urze presa entre os dentes. — Ainda não é tarde demais.

Sim, uma morte lenta serviria bem, pensou Rob, abrindo caminho através do rebanho. O fato de ele ter permitido que Asher vivesse ainda o irritava, mas a ousadia do bastardo em falar com Davina era demais.

— Olhe lá, Robert, — Jamie gritou para ele. — Ele está indo embora com Caitlin, e sua esposa está sã e salva em seu caminho de volta ao castelo. Não é preciso ir atrás dela. Precisamos de três para levar as ovelhas.

Para o inferno com as ovelhas. Rob tinha uma raposa para lidar. Ele estava a meio caminho do castelo quando uma flecha de fogo atravessou o céu, seguido por um grito das ameias da muralha.

Rob ainda estava longe demais para ouvir claramente, mas não precisava. A flecha significava que havia cavaleiros se aproximando. Acelerando o passo, ele lançou um olhar para as colinas que saíam de Camlochlin. Gilles não poderia tê-los encontrado. Não tão cedo, de qualquer maneira. Quando ele não viu ninguém à distância, seu coração bateu forte no peito. Os penhascos. Oh, inferno, era pior que Gilles.

— É o Laird!

Ele ouviu o grito claramente agora e parou totalmente. O pai dele estava em casa. E ele chegou cedo demais.

 

Capítulo Vinte e Nove

Rob viu seu pai subir a colina de Camlochlin, quando o céu escureceu com a chuva e, talvez pela primeira vez em sua vida, ele se sentiu criança. Era desconfortável saber que, mesmo sendo um homem de vinte e sete anos, tinha um pouquinho de medo de seu pai, não de sua raiva, mas de sua decepção.

— Por que ele está adiantado? — Jamie soprou, alcançando-o.

— Quem diabos se importa por quê? — Brodie o alcançou e jogou sua vara fora. — Ele está aqui.

Inferno. Inferno.

— Olhe para ele, — disse Maggie, aparecendo ao lado de Rob. — Deve ter assustado os nobres homens ingleses quando o viram chegar.

Rob reuniu coragem para a tarefa que estava pela frente. Aqui estava o verdadeiro guardião de Camlochlin, pai de todos neste vale. Proteger seus filhos dos danos era dever do Laird, mas para Callum MacGregor, era sua paixão, uma paixão que queimava em algum lugar de seu pai que Rob nunca conseguiu entender. Como Rob diria que ele colocara todo o seu clã em risco extremo na ausência de seu pai? E como se isso não bastasse, que ele se casou com a filha do rei?

Mas, mesmo odiando o que tinha a dizer ao pai, Rob não se arrependia de suas decisões, nem mudaria nada.

Sua mãe acenou para ele, aliviando seus pensamentos perturbados. Rob estava feliz por ela estar em casa. Camlochlin não estava completa sem ela.

— Bem-vindo, Callum. — Maggie foi a primeira a cumprimentar seu irmão, felizmente dando a Rob um pequeno alívio. — Como foi sua viagem?

— Mais monótono do que para outros, assim me disseram. — Callum escorregou da sela, beijou a cabeça da irmã e tirou as luvas. — Como está tudo aqui? — Ele deliberadamente se virou para Rob, esperando.

— Tenho certeza de que Rob tem muito a lhe dizer, meu amor. —Kate MacGregor passou o braço pelo de Rob e apontou seu sorriso para o marido. — Mas pode esperar até depois de termos desfrutado do nosso regresso a casa, não pode?

Sem esperar pela resposta, ela girou o filho e o puxou em direção ao castelo.

— Angus contou a ele um pouco do que aconteceu no início de sua jornada, — Kate se aproximou e contou. — Seu pai queria vir embora naquele momento, mas Angus disse que isso alertaria os inimigos da garota.

— Ouvi dizer que temos uma convidada muito interessante, — disse Tristan, sorrindo para ele quando Rob se virou para encontrá-lo mantendo o ritmo ao seu lado. — Onde ela pode estar?

— Você tinha que trazê-lo para casa? — Rob perguntou à mãe com raiva, depois lançou um olhar sombrio para o irmão quando Tristan acelerou o passo e entrou no castelo diante dele.

— Ela é realmente a filha do rei James, Robert?

— Sim, mãe, ela é. Colin disse a vocês então? — Ele olhou por cima do ombro, mas viu apenas Angus e seu pai. — A propósito, onde ele está?

— Colin ficou na Inglaterra com Graham e Claire, assim como Mairi. E foi Connor quem nos contou.

— Onde está a nossa convidada, filho? — Perguntou o pai atrás dele quando eles entraram no castelo.

— Ela deve estar se secando.

— Secando? — Sua mãe levantou uma sobrancelha curiosa para ele.

— Sim, ela estava correndo no lago com Will e Finn.

Seu pai olhou para ele por um momento, como se estivesse esperando algo mais. Quando não chegou mais nada, ele deu um suspiro rápido à esposa quando ela balançou a cabeça para ele.

— Você também explicará isso mais tarde. — Ele apertou o ombro de Rob. — Venha, vamos esperá-la no Salão Principal. Eu estou com fome e quero algo quente. — Ele esfregou sua barriga lisa e olhou ansiosamente pelo salão. — Pelo menos me diga se há carne na cozinha.

Rob sorriu. Talvez seu pai não o matasse, afinal. Por outro lado, ele não sabia que a filha do rei agora também era filha dele.

Tentando desesperadamente secar as grossas mechas diante da lareira, Davina esfregou as mãos pelos cabelos até as palmas das mãos coçarem. Ela ouviu o guarda gritar que o Laird havia retornado. Sem perder um momento para olhar pela janela, ela correu pelo quarto, tirando suas roupas molhadas para vestir algo seco, quente e apresentável.


Ela já estava demorando muito. Que impressão horrível ela estava causando a cada momento, mas seus cabelos molhados não secavam!

Preparando-se para a umidade, ela finalmente se levantou, afastou o punhado de cabelos que caíam sobre os olhos, prendeu-o no lugar, acima da testa, e saiu correndo do quarto.

Ela e Rob deveriam saber que seus pais voltariam mais cedo do que o esperado. Colin provavelmente tinha dito a eles quem ela era. Ela deveria estar melhor preparada. Agora, ela parecia...

Ela colidiu direto no peito de alguém. Instintivamente, as mãos subiram e se fecharam em torno de seus braços para impedi-la de cair.

— Oh, desculpe-me! — Ela olhou para cima e sorriu para um homem que nunca tinha visto em Camlochlin antes. — Eu não estava olhando por onde andava... — Suas palavras sumiram quando o sorriso largo e deslumbrante a invadiu como uma chuva fresca e refrescante. Por um momento, ela esqueceu para onde estava indo.

— Você deve ser Lady Davina — ele disse, deslizando a palma da mão pelo braço dela e pegando sua mão. — Agora eu entendo aquele sorriso tolo no rosto de Colin quando ele falou de você.

Tristan. Não era sua forte semelhança com Colin que convenceu Davina quem ele era, mas era preciso apenas examinar os ângulos cinzelados de seu rosto com a cabeça mais clara para ver as semelhanças, até a covinha no queixo, uma característica que ele compartilhava com os dois irmãos. Foi o magnetismo sem esforço que ele exalava, a sugestão de algo perigoso e inatingível sob o verniz quente de seus belos olhos castanhos, a promessa de uma rápida derrota na sensualidade de seus lábios, que fez Davina sentir pena de Caitlin MacKinnon e até Brigid MacPherson... e qualquer outra mulher em Camlochlin.

— Você deve ser Tristan.

— Ah, você já ouviu falar de mim, então? — Ele lhe deu um sorriso que não era vaidoso nem modesto, era a ausência de ambos, de alguma forma, emprestava algo de mistério. Seus cílios eram longos e exuberantes, assim como seus cabelos, mas ele foi salvo da perfeição por uma ligeira curvatura em seu nariz forte. Ele se inclinou um pouco mais para perto e se inclinou para ela de forma conspiratória. — Não acredite em tudo o que foi dito. É apenas meia verdade.

— É sobre essa metade que eu fui avisada. — Davina sorriu de volta para ele, apreciando seu magnetismo forte e masculino, mas menos afetada por isso com o passar dos segundos. Ninguém poderia se comparar com Rob.

Rob! O pai dele! De repente, ela se lembrou para onde estava indo e puxou a mão da dele.

— Oh, querido, devo ir. Eu deveria estar lá fora para cumprimentar seus pais há muito tempo.

— Tenho certeza que eles concordarão que a espera valeu a pena. Venha, vamos encontrá-los juntos. — Ele ofereceu seu braço e um sorriso mais suave e tranquilizador quando ela parou. — Asseguro-lhe que não há metade de mim que não deseja incorrer a ira de meu irmão por que coloquei uma das minhas mãos traiçoeiras sobre você.

— Bobagem, — disse ela, aceitando o braço dele. — Rob nunca o machucaria demais.

— Eu estava falando de Colin. — Ele tremeu um pouco embaixo do plaid para enfatizar. — Isso pode parecer despretensioso, mas quando se trata de mim, ele é um déspota impiedoso. Eu não tenho ideia do porquê.

Ela riu, puxando-o junto. Ela gostava de Tristan e seu jeito descuidado, tão diferente de Rob ou Colin. Ela esperava que seu pai compartilhasse sua natureza fácil.

— Você não deve se preocupar em fazer uma boa impressão ao meu pai, — Tristan disse, enquanto ela praticamente o puxava para baixo, pelas escadas. — Você é a princesa real. O que importa o que alguém pensa de você?

Ela parou tão rapidamente que ele quase continuou o próximo passo sem ela.

— Então você sabe? Todos sabem?

— Claro. Por que você acha que apressamos nosso retorno?

— Seu pai está com muita raiva de Rob por me trazer aqui? — Ela perguntou, mordendo o lábio inferior.

Tristan sorriu, traçando seu olhar sobre as feições dela.

— Ele entenderá quando vir você.

Ela não acreditou nele nem por um momento. Respirando fundo, ela continuou seu ritmo apressado.

— Estou ansiosa para conhecer a esposa de Graham, Claire. Diga-me, ela é fácil de se conviver? Ela é minha prima, afinal, e eu...

— Ela não está aqui. Ela ficou na Inglaterra com minha irmã e Colin.

Davina parou novamente.

— Colin permaneceu na Inglaterra?

— Sim.

— Com o rei? — Ela se virou para olhá-lo.

— Sim.

— Isso é muito interessante, — disse ela, pensando no que isso significava. Colin achou o rei digno de elogios? Ou ele permaneceu para examiná-lo ainda mais? De repente, ela tinha que saber. Ela sempre se perguntou que tipo de homem seu pai realmente era além do que havia sido dito pelas irmãs. Se Colin gostava dele, isso era bom.

— Colin gosta dele então?

— Eu não sei. Mas pai parece gosta bastante dele. Ele nos convidou a sentar com ele no estrado na noite em que Colin chegou.

Hmmm, o que isso significava? Colin não era a alma mais amigável da Escócia; isso era certo.

— E o que você achou dele?

— O rei?

Davina assentiu enquanto se aproximavam do Salão Principal. Tristan encolheu os ombros.

— Achei-o um pouco quieto e reservado. Não era o que eu esperava na verdade.

Davina estava prestes a perguntar o que ele esperava quando Tristan abriu as portas do Salão Principal.

Seus olhos pousaram imediatamente na mesa da família, em Rob primeiro, sua pedra, sua âncora, e ela tirou força do amor em seu olhar terno.

Ela olhou para o homem sentado à sua frente e sentiu as pernas tremerem um pouco sob as saias. Ele parecia mais perigoso do que qualquer homem na mesa maior, mais áspero, como se tivesse nascido para empunhar uma espada e fazer chover terror sobre seus inimigos. Seus olhos eram de um tom surpreendente de azul, mesmo de onde ela estava podia ver, e eles tinham o poder de imobilizar.

— Pai, — Tristan gritou, confirmando sua presunção de quem era o homem e movendo-a em direção à mesa onde o Laird agora estava se levantando. — É um grande prazer apresentar Lady Davina Stuart.

O olhar de Callum MacGregor se fixou na curva do braço de Tristan, onde a mão dela descansava levemente. Quando ele levantou os olhos para o filho, ele não precisou falar uma palavra. O aviso neles estava completo. Ela era uma princesa, e ninguém tinha permissão para tocá-la, especialmente o filho mulherengo.

Imperturbável pelo olhar penetrante do pai, Tristan ofereceu a ela um sorriso impenitente antes de soltá-la.

— Agora está claro por que Rob a trouxe aqui. Não é, pai? — Ele murmurou, dando-lhe um último olhar antes de ir para a cadeira.

Davina captou o olhar desconfortável de Callum, mudando para Rob quando a implicação de Tristan se instalou. Ela quase podia ouvi-lo rezando para que Rob não a tivesse tocado... ou pior. Antes que Davina tivesse tempo de se preocupar com o que eles precisavam dizer, o Laird alto e de ombros largos voltou sua atenção para ela.

— Minha lady. — Ele caiu de joelhos, e os outros ao redor da mesa que ela não conhecia fizeram o mesmo. — Estamos honrados por...

— Ah, não, eu imploro, não façam isso. — Davina tocou o Laird com uma mão, acenando com a outra. — Fiquem de pé. Por favor, meu Laird. — Ele olhou para ela e Davina se amaldiçoou pela emoção em seus olhos. — Por favor, não se curve para mim.

Ele se endireitou e Davina viu Rob em seu sorriso suave.

— Oh, não é apenas a mais bela e jovem lady para enfeitar os salões de Camlochlin. — O elogio veio de uma mulher que estava à direita de Callum. Seus olhos eram da cor de ônix, grandes e redondos e rodeados por luxuriantes pestanas negras. Seu cabelo era tão escuro e caía em ondas brilhantes pelas costas. — Eu sou Kate, mãe de Robert. — O sorriso dela era tão amplo e convidativo quanto o de Tristan enquanto ela passava pelo marido e segurava as mãos de Davina. — Céus, você parece mais a filha de Claire do que do rei. Confio em que nosso filho tornou sua estadia aqui confortável?

— Oh, sim, minha dama, obrigada. Todo mundo aqui tem sido maravilhoso.

Kate deu um tapinha na sua mão e ofereceu a Rob um sorriso satisfeito.

— Estamos encantados por tê-la aqui, não estamos, querido?

— Sim, — disse o marido com um pouco menos de entusiasmo. — Rob disse-nos sobre os homens que vieram por você em Courlochcraig.

— Mas isso pode esperar até depois de você comer — insistiu Kate, oferecendo-lhe uma cadeira.

Talvez isso não fosse tão terrível, Davina pensou, caminhando ao redor da mesa para Rob. O Laird não parecia tão assustador quanto Will e os outros a levaram a acreditar. Kate MacGregor era certamente uma das pessoas mais calorosas que ela já conheceu e tão agradável quanto Tristan. Talvez eles aceitassem as notícias do casamento de seu filho com mais facilidade do que ela pensava. Ela acenou para Finn e Jamie quando passou por eles e se inclinou para beijar a bochecha de Maggie quando a alcançou. Ela pegou o olhar surpreso que o Laird lançou à esposa quando Maggie levantou da cadeira e tocou a bochecha de Davina com carinho. Mas suas esperanças caíram no chão quando ela se sentou ao lado de Rob. Ela não tinha certeza se era o sorriso docemente íntimo de Rob ou seu próprio suspiro ofegante em resposta a isso que fez o belo sorriso de Callum MacGregor desaparecer. Por um instante aterrorizante, Davina temeu que tudo o que amava estivesse prestes a ser tirado dela novamente e, desta vez, ela não sobreviveria.

 

Capítulo Trinta

— Minha Lady.

— Davina, por favor, meu Laird.

— Davina, — o pai de Rob corrigiu com um leve aceno de cabeça. — Acabei de dizer a Robert que você tem um inimigo a menos para se preocupar.

— Oh? — Ela ergueu as sobrancelhas, agradecida por algo para tirar sua mente do inevitável. Eles eram tolos em acreditar que um dos pais permitiria o amor entre eles, muito menos o casamento. Mas já era tarde demais. Estava feito, e por Deus, ela não deixaria ninguém tirar a felicidade dela novamente.

— Depois que o rei descobriu os nomes por trás da tragédia em St. Christopher, — continuou o pai de Rob, todo estoico e sério, como o Laird, — não demorou muito para descobrir o que Argyll estava fazendo. Confiante de que os Campbells ficariam com ele em uma revolta, o conde retornou à Escócia para construir seu exército. Quando parti, o rei já estava fazendo planos para impedi-lo. Argyll nunca chegará vivo à Inglaterra.

Davina não sabia como deveria se sentir. Era errado se alegrar com a morte de alguém, mas ela estava feliz que o rei logo teria um inimigo a menos. E ela também, graças a Rob. Se ele tivesse ido à coroação com o pai, ela estaria morta e o pai nunca teria descoberto sobre Argyll até que fosse tarde demais.

— Monmouth e Gilles não serão difíceis de encontrar com um exército atrás deles, — Rob disse a ela, aproximando-se.

Ela o olhou e saboreou a esperança que ele sempre despertou nela.

— O rei te deve muito, — disse ela, olhando nos olhos dele, desejando afagar sua mandíbula, passar os dedos pelos lábios dele.

— O rei — a voz de Callum estava fria o suficiente para esfriar a sopa que Agnes acabara de colocar na frente de Davina, — pelo que meu filho Colin me disse, está inconsolável com a suposta morte de sua filha.

Davina ficou quieta, inconsciente e desinteressada em sua comida ou em qualquer outra coisa, exceto pelo que o pai de Rob havia acabado de lhe dizer. Por que ele diria uma coisa dessas? O pai dela... inconsolável... por ela? Não poderia ser verdade. Ele tinha que estar mentindo, talvez esperando tocar em alguma parte do coração que doía por um homem que ela não conhecia, para que ela quisesse ir até ele.

— O rei não tem o direito de sofrer pela filha que abandonou em seu nascimento, — Rob disse, a raiva em sua voz puxando o olhar duro de seu pai para ele.

— Você presume conhecer os direitos de um rei agora... ou de um pai?

— Um pai? — Rob riu oco. — Ele nunca quis saber dela. Talvez ele sofra porque sabe que ficou sentado passivamente enquanto sua segunda filha estava casada com um protestante que planejava obter seu título.

Davina inclinou o rosto na direção de Rob, mas se absteve no último momento de defender as razões do rei por permitir que Mary se casasse com William de Orange.

— Robert. — O tom de irritação na voz de seu pai foi enfatizado pelo trovão que de repente sacudiu as paredes, e Tristan, que até aquele momento parecia completamente entediado com o assunto, sentou-se com um sorriso curioso inclinando sua boca. — Eu não sei o que você tinha em mente para...

— Callum. — Kate tocou o braço de seu marido. — Você está incomodando a nossa convidada. Olhe, ela ainda não tomou um gole da sopa.

— Sim — Maggie entrou na conversa. — Vamos falar de coisas mais agradáveis à mesa. Diga-me, Kate, Mairi ficar na Inglaterra teve algo a ver com Connor?

— Esperamos que sim, — disse Kate. — É por isso que a deixamos ficar com Claire quando ela pediu.

— Você não disse ao rei que sua filha vivia, não foi?

Kate deu um suspiro exasperado a Rob e voltou a comer.

— Você acha que quero um exército sobre essas colinas? — Seu pai respondeu secamente.

— Eu não tive escolha, a não ser trazê-la aqui.

— Claro que não, Robert — a mãe dele concordou. — Seu pai sabe disso.

Callum virou-se para lhe conceder toda a força de sua carranca, o que ela ignorou para a admiração de Davina.

— Eu não estou questionando seus valentes esforços para mantê-la segura, — o Laird disse, voltando sua atenção para seu filho. — Mas agora precisamos decidir o que fazer com ela.

— Eu já decidi, — disse Rob corajosamente, despertando o interesse de Tristan mais uma vez. — E minha decisão não o agradará.

A mandíbula de Callum saltou com o esforço necessário para não falar as palavras que Davina suspeitava que ele se arrependeria mais tarde. Ele respirou fundo antes de falar novamente, admitindo ligeiramente o que estava claro diante de seus olhos.

— Você cuidou bem dela. Mas, apesar do que você acredita, Robert, existem leis que devemos cumprir.

— E se nós não quisermos aceitá-las? — Rob perguntou, combinando a intensidade do olhar de volta para ele. — O que então, pai? Você obedeceu à lei quando era crime falar seu próprio nome? Ou quando tomou uma Campbell por esposa?

— Não, filho, mas...

— Não, ele não obedeceu. — Kate pousou a colher e pegou o guardanapo para secar os cantos da boca. — E não estamos pedindo para você fazer algo que não pode suportar. Entendemos que a princesa está em grande perigo e que o lugar mais seguro para ela agora é em Camlochlin. Não está correto, marido.

A julgar pelo flash de fogo em seus olhos, quando ele os colocou em sua esposa, Callum MacGregor estava perdendo sua batalha e o controle da situação rapidamente. Felizmente, antes que ele pudesse responder, Rob respondeu.

— Ela sempre estará em perigo em qualquer lugar, menos aqui.

Callum abriu a boca para dizer algo, mas mais uma vez, sua esposa o venceu.

— Mas o rei nunca vai deixar sua...

— Katie. — Com uma palavra, o Laird silenciou a mesa inteira, incluindo sua esposa. — Se você continuar a me interromper toda vez que eu abrir a boca, levarei nosso filho para as ameias e falarei com ele sozinho.

— Perdoe-me, — Kate respondeu, embora um pouco rígida, e afastou o olhar ferido dele.

Ficou claro para Davina naquele momento o quanto o diabo MacGregor amava sua esposa. Pois os olhos dele se demoraram demais nela, como se quisesse que ela olhasse para ele. Quando ela não o fez, ele murmurou um juramento, enquanto pegava a mão dela e a cobria com a sua.

O gesto carinhoso foi suficiente para lhe render o perdão que procurava, quando Kate girou o pulso e entrelaçou os dedos nos dele.

Aqui estava o que Davina queria. Ela queria estar sentada aqui daqui a vinte anos com um marido que a amava mais do que seu orgulho, um homem que fazia uma carranca para o resto do mundo, mas se derretia ao seu menor toque. Ela queria Rob e estava cansada dos outros que ditavam sua vida.

Com a cabeça limpa e um coração determinado, Davina deslizou a mão para a de Rob e fechou os dedos em torno dos dele, assim como a mãe dele havia feito com o pai. Ela não se afastou quando os olhos de Callum se ergueram do toque proibido para encontrar seu olhar.

— Meu Laird, eu quero ficar aqui. Amo seu filho e nunca desejarei me separar dele. Não cumprirei nenhuma lei do rei ou do pai que tente me tirar dele.

Callum não disse nada por um momento que pareceu eterno que se estendeu de um para o outro. Davina tinha certeza de que Kate havia parado de respirar. De fato, todos na mesa tinham.

— Pai — Rob quebrou o silêncio e deu um aperto tranquilizador na mão dela: — ela é minha esposa.

Kate fechou os olhos quando o marido saltou da cadeira e lançou seu olhar incrédulo sobre Maggie e seu marido primeiro.

— Isso é verdade? — Quando sua irmã assentiu, ele bateu com o punho na mesa com força suficiente para agitar os copos. — Ele será enforcado por isso!

— Não, Callum, — Maggie defendeu rapidamente. — Não se o rei não souber onde ela está ou quem ela é. — Ela contou-lhe cuidadosamente sobre o plano de Rob de reivindicar Davina como uma noviça chamada Elaine, mas enquanto falava a expressão de seu irmão ficava mais negra, Davina teve que admitir para ela mesma o quão ridículo o esquema parecia.

O Laird concordou e, fixando o olhar abrasador no filho, falou com os dentes cerrados.

— Você não percebe o que fez, ou talvez saiba, e está cego de coração para se importar. De qualquer maneira, eu lhe direi. Seu casamento não significa nada para o rei. Ele será anulado antes dela ser arrastada de volta para a Inglaterra. Você, meu filho, será enforcado por violá-la. Ou talvez, se ele estiver em seu lado mais misericordioso, jogado em uma masmorra escura em algum lugar. Eu... — as palavras dele sumiram quando Davina cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar. — Me perdoe, moça, se minhas palavras cortarem seu coração — ele disse, suavizando um pouco o tom, — mas você precisa ouvi-las. Vocês dois precisam. — Ele olhou para o filho como se não o conhecesse. — Rob, como você pode não ter pensado nisso? Que diabos você pensou que estava fazendo? O casamento não a manterá com você. Ele virá buscá-la e, quando o fizer, não deve dizer a ele que a tomou como esposa. Você entende? — Ele olhou para Davina. — E você entende que isso vai custar a vida do meu filho?

Davina acenou com a cabeça, sabendo que ele estava certo. Os dois sabiam o tempo todo, mas escolheram viver como se estivessem dormindo, a salvo do mundo, perdidos em um sonho. Ela se virou para olhar para o homem que a resgatara e a levou para um lugar onde o amor significava mais do que seu nome. O homem que se tornara o sonho dela em carne e osso.

Mas agora era hora de acordar.

Ao lado dela, Rob ficou de pé lentamente. Quando ele falou, sua voz era dura e afiada como aço. As palavras dele foram direto para o coração dela.

— E se ela carrega o meu bairn, pai? O que devemos dizer a ele então? Você terminou o que tinha a dizer e agora eu direi o que preciso dizer. Vou fazer o que precisar ser feito quando chegar a hora. Mas não vou negá-la. E se você ou mais alguém deste clã estiver ao meu lado, ou não, não vou deixá-lo levá-la de Camlochlin.

Rob pegou a mão dela e começou a se afastar do pai, mas a mão forte do Laird o deteve.

— Eu te conheço bem o suficiente para saber quando você não será demovido. — O sorriso de Callum parecia dolorido quando ele se virou para olhar para sua esposa e depois para seu filho. — Nós vamos descobrir alguma coisa e quando chegar a hora, seu clã ficará ao seu lado.

— Seu pai ama muito a família, — Davina disse suavemente ao lado de Rob enquanto subiam as escadas. — Você é como ele em muitos aspectos.

Ela não ia contar o que havia decidido. Ele apenas tentaria convencê-la a não temer. Uma tarefa que ela já havia alcançado, por causa dele. Mas isso era diferente. Desta vez, não era a vida dela que estava em perigo. Era a dele. Desta vez, ela tinha o poder de detê-lo.

— Não devemos dormir juntos novamente.

Ele riu, mas não havia um traço de alegria no som.

— Para o inferno que não vamos. Você é minha esposa e nada vai mudar isso... ou a nós.

— Mas e se...

— Tudo vai ficar bem, Davina, — Rob a interrompeu. — Seu pai pode nunca vir aqui. Ele pode nunca precisar. Angus me disse que a rainha parece muito apaixonada por ele. Talvez ele tenha seu filho.

— Ele está inconsolável por mim, Rob. — Dizer isso pareceu ainda mais estranho para seus ouvidos do que quando ouviu Callum falar. — Eu me pergunto por que ele ficaria triste com a minha morte.

Ela não percebeu que eles chegaram ao topo da escada até Rob pegar a mão dela para caminhar junto dela pelo corredor.

— Talvez ele mereça o que sente... por alguma razão, ele está sentindo isso.

— Ele me deixou para me proteger de um dever que algum dia seria meu para herdar.

Rob parou, arrastando-a para uma parada abrupta com ele.

— Uma herança que você não quer.

— Um dever, como o seu, — ela lembrou.

— Não, Davina, — argumentou. — Não é nada como o meu. Eu tenho treinado toda a minha vida com meu clã. O que você sabe sobre liderar um reino?

— Por que você está gritando comigo?

— Por que você está considerando esse destino? — Ele respondeu. Então, tentando recuperar seu temperamento que é sempre composto, — ele colocou as mãos atrás da cabeça e se afastou dela. Mas não antes que Davina visse o flash de alarme em seus olhos. Ele tinha medo de perdê-la. Ela entendeu e queria confortá-lo da mesma maneira que ele havia feito por ela tantas vezes.

— Rob, — ela sussurrou, chegando perto dele. — Não há outra vida para mim, além de você.

Ele se virou, juntando-a em seus braços, levando-a para longe com um beijo que trouxe lágrimas aos olhos dela e depois para o quarto deles, chutando a porta e trancando-os do resto do mundo lá fora.

 

Capítulo Trinta e Um

Nuvens enormes e agitadas escureceram o que restava do sol escasso e do calor que ele proporcionava. O céu retumbou como mil cavalos correndo pelos céus com Thor na frente. Raios crepitantes atravessaram o crepúsculo, lançados pelo deus raivoso nas montanhas arrogantes. Mas eles permaneceram, impermeáveis e inflexíveis contra o ataque. Nada na terra ou no céu se moveu na quietude que esperava antes que o céu se abrisse e as nuvens derramassem gotas de chuva gelada em um clarão violento para o qual o corpo não teve tempo de se preparar.

O almirante Peter Gilles odiava as Highlands.

Ele amaldiçoou os Stuarts e todos os seus descendentes mais uma vez, enquanto se agachava embaixo dos galhos esparsos que arrancara das árvores antes. Mas não havia alívio ao se encontrar a chuva forte.

Ele estava acostumado ao clima frio, mas esse era o tipo de frio gelado que se infiltrava na medula dos seus ossos e o deixava totalmente infeliz. O tipo de frio que fazia qualquer um querer se enrolar em algo quente e dormir. Para sempre.

— É perto do amanhecer? — Hendrick perguntou através dos dentes batendo quando a chuva finalmente parou.

— Como diabos eu devo saber? — Maarten respondeu, parecendo igualmente desanimado por seu abrigo improvisado.

Gilles olhou para o céu. Através da névoa sombria, ele conseguiu distinguir as estrelas pela segunda vez nas últimas quatro horas. A calada da noite passou rapidamente e a manhã chegaria em breve. Era a única coisa agradável sobre esse lugar miserável. A luz do dia estava ficando mais longa, dando-lhe mais tempo para caçar.

Mas ele teria que encontrar seu prêmio em breve ou correr o risco de perder seus homens em um motim. Ele teria que matá-los, é claro. De qualquer maneira, ele seria um exército de um homem só contra os MacGregors. Probabilidades não favoráveis.

Os dias estavam ficando mais longos e seu tempo estava se esgotando.

Eles estavam progredindo, apesar de tudo estar molhado aqui. O tempo todo. Tornava difícil e perigoso manobrar sobre as colinas cobertas de musgo. Mas havia pelo menos um Tavernier em todas as aldeias, por onde ele e seus homens haviam viajado, que conheciam os MacGregors, levando-os para o Norte. Gilles não encontrou com os MacGregors de Stronachlacher, mas um amigo muito útil em Breadalbane foi bom o suficiente para lhe falar de um clã de MacGregors que morava em uma das ilhas a noroeste. Exilados do resto, eles viviam na névoa, raramente vistos ou ouvidos.

Ela estava com eles. Gilles sabia disso em suas entranhas, mas onde? Qual ilha? Ninguém sabia, e se eles sabiam, não diriam.

Ele também odiava os Highlanders.

Algo chamou sua atenção e ele olhou em volta, percebendo o que era. Chilrear dos pássaros. O amanhecer finalmente chegara.

— Hendrick — ele ordenou, saindo de seu abrigo e batendo com o chapéu encharcado na coxa, — encontre algo para comer. Nozes, frutas, eu não ligo. Maarten, reúna o resto dos homens e — Ele parou de repente e inclinou a cabeça para o sul. — O que é esse som?

— Mais trovões.

— Não. — Ele ouviu por mais um momento, depois chamou Hendrick de volta para ele. — Cavalos. Diga aos homens para se esconderem.

Pouco depois, eles observaram a estrada estreita do outro lado de uma colina enlameada.

— Parece um pequeno exército, — Hendrick murmurou, esperando os cavaleiros aparecerem.

— Vinte, talvez trinta, não mais.

— Covenanters, talvez, — Maarten ofereceu.

O som ficou mais alto até que sacudiu o chão e silenciou os pássaros acima. Gilles prendeu a respiração quando os cavaleiros apareceram. Eles não usavam roupas militares, mas sua formação rígida e seu tamanho sugeriam o contrário. Eles poderiam pertencer a qualquer um dos barões das terras baixas, mas o que eles estavam fazendo nas montanhas? O ritmo deles não era urgente, mas também não era de lazer. Quando passaram por ele, Gilles viu um homem mais jovem, jovem demais para pertencer a um exército, vestido com as roupas feias de um Highlander. Mas foi o cavaleiro ao lado dele, com o rosto parcialmente escondido atrás da capa com capuz, que sustentou o olhar frio de Gilles.

— Homens, — disse ele com um sorriso, mantendo os olhos em James de York. — Nós a encontramos.

— Onde? — Hendrick olhou para os cavaleiros através das pálpebras estreitas.

— Pronto. — Gilles puxou seu lóbulo da orelha, direcionando a linha de visão de Hendrick na direção certa. — Esse homem é o pai dela.

— O rei?

— Sim, o rei. — Gilles zombou da tropa enquanto eles se afastavam. James foi inteligente por não viajar com todo o exército, para que não chamasse mais atenção, mas também era arriscado.

— Por que não o matamos agora então?

— Porque, imbecil, James ainda tem muitos apoiadores. Se o matarmos primeiro e depois matar dois dos homens que reivindicaram seu título, a suspeita recairá sobre o príncipe e sua sucessão será difícil, se não impossível. Meu lorde tem um plano maior, que trará mais apoio ao seu lado, não menos.

— Um rei holandês, — Hendrick sorriu.

— Sim, se fizermos isso direito. — Gilles sorriu de volta para ele e deu um tapinha em sua bochecha. O homem não conseguia igualar a inteligência com um grilo, mas ele podia disparar uma pistola com precisão quase perfeita e não se importava em matar mulheres ou crianças quando surgisse a necessidade.

— O amigo de James, o Highlander, obviamente disse a ele que sua filha vive e o está levando para onde ela está escondida. Tudo o que precisamos fazer é segui-los.

— E depois o quê? — Maarten perguntou enquanto Gilles se endireitava e cavalgava a cavalo. — Como a matamos com os MacGregors a protegendo, mas também os homens do rei?

— Vamos encontrá-la primeiro, Maarten. — Gilles sorriu para ele enquanto colocava o chapéu na cabeça e abaixava a borda sobre a testa. — Podemos discutir maneiras de matá-la depois disso.

Seria possível que ele finalmente a veria? Conhecê-la-ia? Talvez até beijar suas bochechas abençoadas? James tentou se lembrar de quantas vezes havia orado pela misericórdia de Deus nos últimos dias. Deus, o único que podia entender como um rei podia chorar assim sobre a perda de sua filha. Mas não, Colin MacGregor também havia entendido. Como poderia um mero garoto demonstrar tanta compaixão quando homens com o dobro de sua idade e cem vezes mais cultura do que ele, pensaria que fosse estranho um rei com a sua tristeza?

— Eu tenho algo a dizer, — o jovem MacGregor lhe tinha dito quatro dias depois que seu pai tinha ido para casa. — Mas deve jurar primeiro pelo seu reino e depois por sua fé que depois do que eu lhe disser, meus parentes sempre vão encontrar misericórdia convosco. Você deve jurar que nunca lhes causará dano, nem qualquer vergonha.

James gostava de Colin desde que chegara a Whitehall. Ele ficou quieto e concentrado enquanto o rei respondia a muitas perguntas sobre tudo, desde suas batalhas na França e na Espanha até seus pontos de vista sobre os Covenanters. Suas conversas ajudaram James nos piores dias de sua dor. O rei até se viu sorrindo enquanto observava Colin praticar no pátio com Connor Grant e alguns de seus melhores homens. Ele não era apenas rápido com a mente, mas com o braço também. O garoto seria um bom soldado, se James pudesse convencê-lo a permanecer em sua guarnição.

— Você tem meu juramento solene, — o rei prometeu com facilidade, já confiando no estrangeiro mais do que em qualquer homem em seu Salão Principal.

O que MacGregor disse a ele a seguir provou que ele confiava em seu rei também.

— Sua filha está viva.

Eram palavras que James nunca esqueceria de ouvir, embora não conseguisse se lembrar do que disse em resposta. O que aconteceu? Onde ela estava? Como era ela? Seria possível que ela tivesse sido devolvida a ele como Isaque havia sido devolvido a Abraão?

Colin contou tudo enquanto James ria de alegria e depois chorava, depois ria de novo. Ela foi resgatada... resgatada no último momento pelo irmão de Colin, Robert MacGregor. Ela falara do rei com frequência e não com raiva ou ressentimento, mas com admiração. Admiração! Oh, o que ele fez para merecer tanta misericórdia? As irmãs foram gentis com ela, mas isso fez o rei chorar ainda mais. Colin disse a ele que havia um vazio em seus olhos, assombroso e tão silencioso que quase partiu todo o seu coração.

— Onde? Para onde seu irmão a levou? — James perguntou, e foi aí que o garoto parecia que poderia mudar de ideia e não dizer mais nada.

— Nós não sabíamos quem ela era a princípio, mas meu irmão sabia que quem a queria morta poderia estar aqui com você. Ele queria mantê-la segura. Todos nós queríamos.

— Onde filho?

— Robert a levou para casa.

E era para onde eles estavam indo agora. Para uma parte remota de Skye, escondida nas brumas, um lugar chamado Camlochlin, um lugar que o garoto pediu ao rei para esquecer no momento em que o deixou na sala. Colin havia assegurado a ele que a única maneira de chegar vivo a sua casa era se ele acompanhasse o rei e seus homens. Mesmo que James encontrasse Camlochlin sozinho, os MacGregors não os esperavam, e como o rei não levava sua bandeira para que seus inimigos não o encontrassem na estrada com apenas um número escasso de seus homens em sua companhia, os MacGregors poderiam atacar antes que eles percebessem quem ele era. Então, James trouxe Colin quando ele e seus homens deixaram a Inglaterra na calada da noite. Ele não disse a ninguém para onde estava indo, nem mesmo a esposa, para que ninguém a questionasse. A pedido de Colin, ele também não contou ao capitão Grant. Ao pensar sobre isso agora virou-se para seu jovem amigo.

— Devo confessar que estou decepcionado com meu capitão por não me contar sobre Davina.

— O capitão Grant deixou tudo o que ama para servir-lhe, — Colin disse a ele e lançou aos céus escuros um olhar ainda mais negro. — Ele ainda magoou o coração da minha irmã, e é por isso que nunca o perdoarei.

O rei sorriu. Ele era um rapaz tão sério.

— Meu irmão lhe pediu que não o dissesse até ter certeza de que não havia traidores em seu meio. Se soubessem que ela morava e estava viajando com os MacGregors, seria apenas uma questão de tempo até que a encontrassem.

— E ainda assim você me disse.

Colin assentiu, mas não disse mais nada. Estava claro para James que o garoto tinha dúvidas sobre o que ele havia feito. Ele estava preocupado que seu pai estivesse bravo com ele por trazer o rei para sua casa enevoada? Ou era algo mais? Alguém?

— Seu irmão se esforçou muito para garantir a segurança da minha filha, — disse James vagamente, olhando a paisagem. — Como ele não sabia quem ela era no começo, devo assumir que ele não fez isso por mim. — Ele desviou o olhar para Colin quando o garoto permaneceu em silêncio. — Ele gosta dela, então?

— Todos nós gostamos, — Colin murmurou entre os dentes, desviando o olhar do rei.

— Entendo, — disse James com o coração quase tão pesado quanto quando ele acreditava que Davina estava morta. As promessas que Colin pedira para ele fazer tinham mais sentido para James agora. Este Robert MacGregor cuidou dela. Talvez ele até se apaixonou por ela, e todos os reis antes dele sabiam em primeira mão o quanto os Highlanders eram possessivos.

Querido Deus, ele deveria ter trazido mais homens.

 

Capítulo Trinta e Dois

Apesar dos sorrisos de Callum MacGregor estarem sempre carregados de preocupação quando ele sorria, Davina estava feliz que o Laird estivesse em casa. Rob teve um alívio de cuidar de tudo, dando-lhe mais tempo para ajudá-la a se divertir e menos tempo para ela pensar em seu pai sempre vindo por ela.

Infelizmente, seu marido era um péssimo aluno.

Ele sabia nadar, mas se recusava a segui-la até a água. Ele até mesmo tremeu quando ela pegou um pouco de água gelada em suas mãos e jogou nele. Ele não abriu um sorriso também. Quando um dos leitões amados de Maggie escapou do cercado, Rob simplesmente observou, os braços cruzados sobre o peito, enquanto ela, Finn e o pequeno Hamish o perseguiam em círculos até colidirem um com o outro e caíram no chão rindo. Ele fez um esforço valioso na dança durante a celebração do nascimento da pequena Alasdair MacDonnell, mas depois de pisar no pé de Davina e enviá-la para Tristan, decidiu que era mais seguro para todos os envolvidos se assistisse de seu assento. Ele tentou ensiná-la a jogar xadrez, mas depois que ela bocejou uma dúzia de vezes, ele desistiu.

Quando Davina tentou assistir que esporte ele praticava, acabou perdendo metade dele com os olhos fechados. Ela já tinha visto homens praticando com a espadas antes, mas nenhum dos homens de St. Christopher usara uma lâmina com tanto poder que podia sentir a picada do metal a centenas de passos de distância. Rob era brutal em campo, impiedoso contra seus oponentes, incluindo Will. Ele aparou com impressionante velocidade e destreza para um homem do seu tamanho e manejou a claymore gigante com um único objetivo: devastar. Foi somente quando seu pai brandiu sua lâmina contra ele que Rob ficou sem fôlego. O resto ela não podia assistir e se esgueirou, sem aviso prévio de Finn, para colher algumas flores.

Graças às frequentes chuvas de primavera, as colinas estavam repletas de cores. Acima dela, o sol competia com as nuvens pela supremacia, lançando a grama alta em luxuriantes tons de verde dourado.

Ela quase pisou em Tristan, deitado de costas no meio das urzes roxa e narcisos silvestres. Seus olhos estavam fechados, as mãos inclinadas para trás da cabeça, enterradas sob a juba sedosa de ondas despenteadas, botas cruzadas nos tornozelos. Ele parecia um príncipe bonito que tropeçara em um gramado de fada e caíra sob o feitiço do sono para que uma rainha travessa pudesse ter o seu momento com ele. Na verdade, ele parecia estar esperando por isso. Davina ergueu a sobrancelha para ele e apoiou a flor na mão. Ela mal o viu fazendo algum trabalho nesses poucos dias que ele voltou para casa. Agora que pensou nisso, ela quase não o viu. Ele não estava passando seus dias ou noites com Caitlin. Esse privilégio tinha caído para Edward, e Davina não poderia estar mais feliz. O patife malvado, como muitas das jovens de Camlochlin costumavam chamar Tristan, não tinha perseguido uma saia, até onde Davina sabia.

— Tristan, você está doente?

Seu sorriso brilhou, mas ele não se mexeu nem abriu os olhos.

— Você pensaria melhor de mim se eu estivesse?

Que coisa estranha de se perguntar.

— Claro que não. Por que eu deveria?

Ele encolheu os ombros.

— Deveria me fornecer uma razão adequada por fazer qualquer outra coisa.

— Bem, agora que você mencionou, ouvi seu pai mencionar que tinha a madeira necessária para se cortar.

— Rob cuidará disso.

— Como ele cuida de todo o resto? — Ela perguntou, com um pouco de picada na voz.

Tristan bocejou.

— É seu dever como primogênito.

Ela pensou em dar-lhe um bom tapa com suas flores. Poderia não machucar seu senso de responsabilidade, mas pelo menos ele abriria os olhos e lhe daria a cortesia de sua atenção.

— Entendo, — ela disse suavemente, decidindo pelo decoro ao invés de violência. — E seu dever como segundo filho é dormir... — Sua gentil advertência parou abruptamente quando ele abriu os olhos e finalmente olhou para ela. Havia um desafio em seu olhar quando ele se apoiou nos cotovelos, que ela não tinha certeza de que queria se envolver. Mas enquanto esperava que ela continuasse, algo em seu sorriso ousado mudou. Ele sabia o que ela estava prestes a dizer. Ele já ouvira um milhão de vezes antes e sabia exatamente como responder; só que hoje... hoje a acusação penetrou um pouco mais fundo.

— Perdoe-me, — disse ela contrita, olhando para as flores. — Não é meu lugar falar com você.

Ele a encarou em silêncio até que ela se virou, pronta para descer a colina.

— Considere-se com sorte por eu não ser como meu pai, moça.

Ela parou e girou sobre os calcanhares para encontrá-lo sentado e olhando agora para a fortaleza que seu pai havia construído.

— Como você pode dizer uma coisa dessas? Seu pai é...

— Teimoso, impiedoso e muito difícil de agradar, e não sou exatamente como ele. — Tristan desviou o olhar perturbado do castelo e dos pensamentos que o provocavam. Ele ofereceu um sorriso que a afastou. — Parta agora. Eu tenho um sonho para terminar.

Ele começou a se deitar, mas Davina caiu de joelhos na frente dele, derramando suas flores aos seus pés. Meu Deus, ela não podia negar o quão bonito ele era quando sorria. Ela suspeitava que era quase fácil demais para ele ter qualquer moça que desejasse, mas a tristeza que ele escondia tão bem arrancou finas cordas do coração. Ele estava certo. Ele não era nada como seu pai, nada como Rob ou mesmo Colin. Ele era o ladino, o filho pródigo que passava o dia dormindo na urze ou na cama das filhas de outros Lairds.

— Você pode mudar.

— Sim, e me encaixar no molde de orgulho, arrogância e vingança dos MacGregor. Não, moça — seu sorriso era pura sedução. — Prefiro fazer amor.

— Isso não é verdade! Eu posso ver nos seus olhos.

— Sim, acredite, é isso. — Ele riu e depois ficou sério de novo quando seu olhar varreu as feições dela. — E me agrada saber que isso também é verdade para Rob.

Davina olhou para ele e seu sorriso se aprofundou.

— É terrível da sua parte ter prazer no fato de Rob ter decepcionado seu pai ao me aceitar como esposa.

— Lass, — ele disse mais gentilmente, — meu pai pode ter ficado bravo, mas não ficou desapontado com Rob. Ele não é um cego, e não odeia seus parentes do jeito que ele odeia... — Ele parou, se desviado do que estava prestes a dizer. — Você foi bem recebida aqui por todos, e é fácil entender o porquê.

— Quem seu pai odeia? — Davina perguntou, não deixando que ele mudasse de direção. — É Caitlin? Eu sei que Maggie não gosta dela, mas...

Ele riu de novo, desta vez jogando a cabeça para trás enquanto as nuvens passavam e varrendo o sol dos seus cabelos e dos ombros.

— Caitlin é uma moça bonita com certeza, mas ela quer o que eu não posso lhe dar. Talvez o seu Capitão Asher lhe dê. Espero que ele possa.

— Ele não é meu capitão.

— Sim, então eu ouvi errado. Me perdoe — ele se arrependeu sinceramente.

— Então quem? — Ela pressionou.

Ele arrancou um narciso do chão e o estudou por um momento.

— Prefiro flores silvestres às delicadas.

Davina o observou, sem saber o que ele queria dizer. Finalmente, ele encontrou o olhar dela.

— O nome dela é Isobel. Isobel Fergusson. Eu a vi novamente na coroação. O irmão dela fez isso quando eu era garoto. — Ele apontou para a pequena curva no nariz, onde havia sido quebrada muitos anos antes.

Fergusson. Onde Davina ouvira o nome antes?

— Davina! — A voz alegre de Finn subindo a colina a interrompeu. — Você deveria ter visto! Rob quase cortou o dedo do Laird!

Deus, ela estava feliz por ter perdido, pensou, virando-se para cumprimentar seu primo. Antes dela, Tristan chamou sua atenção e franziu os lábios, fazendo um sinal silencioso para que ela mantivesse a conversa em segredo.

— Eu quase mutilei meu pai para impressioná-la, e você nem estava lá.

Ela devolveu o sorriso de Rob quando ele subiu os últimos metros atrás de Finn para alcançá-la. Toda a beleza ao seu redor empalideceu em comparação a ele, e quando Rob finalmente a alcançou e cruzou as pernas longas para se sentar perto dela, ela deixou seu olhar faminto beber em cada centímetro dele. O único cacho preto que sempre escapava de seu lugar estava úmido pelo esforço que ele gastara no campo de treino. Seu rosto estava um pouco vermelho, dando cores ainda mais vivas aos olhos. Seu sorriso desapareceu, mas não completamente quando ele olhou para o irmão.

— O que você está fazendo aqui sozinho com minha esposa?

— Tentando convencê-la a deixar Camlochlin comigo, mas ela se apaixonou por Will e não quer ir.

— Ela sabe quem é o melhor homem entre todos, então?

Davina estava prestes a dizer ao marido para não ser cruel, especialmente agora que ela sabia o quão inadequado Tristan se sentia, mas os olhos de Rob brilharam com humor e seu irmão respondeu rapidamente e com a mesma medida.

— Sim, ela sabe, e foi depois de compartilhar sua cama.

Rob estava prestes a responder, mas pensou melhor e virou-se para Davina.

— Agora você sabe por que Colin o odeia.

— Falando em Colin, — disse Finn, fechando os olhos e ficando confortável de costas no outro lado de Tristan. — Por que ele quis ficar na Inglaterra?

— Eu não sei, — disse Tristan, arrancando pétalas de um narciso e jogando-as no cabelo de Finn sem que ele notasse. — A atração da guarnição do rei, talvez? A ideia de seus odiados Covenanters espreitando nos corredores sombrios de Whitehall? Nunca se sabe que noções se passam na cabeça desse rapaz.

Finn se moveu quando ele se sentou e Tristan recolheu a mão de volta. Mas o garoto mal se mexeu, acomodando-se mais profundamente na urze. Tristan sorriu para Rob e Davina e colocou outra pétala amarela na coroa de cabelos de Finn.

— Como é? — Finn perguntou com uma voz grogue.

— Como é o quê? — Tristan perguntou, deslizando um ramo de urze nas mechas de Finn em seguida.

— Inglaterra.

— É sombria e não é muito limpa. Mas o Palácio Whitehall é grandioso, de fato.

— Conte-nos sobre isso, — insistiu Finn.

Davina ouviu atentamente a descrição de Tristan da casa de seu pai. Era realmente possível que uma estrutura pudesse ser construída tão grande que abrigasse mil quartos? Quando Rob deslizou os dedos entre os dela, ela ofereceu um breve sorriso, feliz por ele estar com ela, contente em fazer nada além de sentar aqui na cama de flores. Mas as palavras de Tristan a deixaram admirada e brevemente ela devolveu o sorriso para ele. Uma estátua forjada no jardim quase tão grande quanto Camlochlin? Um teatro particular? Quadras de tênis?22 O que no mundo era tênis?

— As mulheres de lá são tão esplêndidas, — Tristan disse a eles, seus olhos castanhos dourados se aquecendo nela. — Mas você, bonita lady, superaria cada uma.

Quando seu sorriso se aprofundou em um rubor, Rob apertou a mão dela e a levantou com um salto, arrastando-a com ele.

— Vamos vê-los mais tarde rapazes.

Davina mal teve a chance de se despedir deles antes de Rob puxá-la pela mão descendo a colina. Ela quase perdeu o equilíbrio tentando manter o ritmo e finalmente enfiou os calcanhares no chão para detê-lo.

— Qual é o seu problema?

— Nada, — disse ele, dando-lhe outro puxão.

Ela o puxou de volta e depois deu um tapa na mão dele quando ele não parou.

— Você está incomodado com a amizade de Tristan comigo? Porque se estiver, então está sendo um tolo, um bobo.

Ele finalmente parou e se virou para olhar primeiro para a mão e depois para ela.

— Mulher, você sabe que eu não sofro dessas falhas de menino.

Ela fez o possível para não sorrir, lembrando-se da constante carranca dos dias de viagem com Edward.

— Claro. Perdoe-me — ela concordou. — Mas você me dirá por que partimos com tanta pressa. Eu estava gostando de ouvir sobre... Ah, entendi. — Ela desviou o olhar, percebendo finalmente a causa do descontentamento dele. — Fiquei curiosa, só isso.

Sua mandíbula dançou em torno das palavras certas para dizer.

— Davina, duvido que qualquer jardim possa ser mais bonito do que o que está diante de você aqui. E diabos, se você quiser uma quadra de tênis, eu a construirei.

Agora ela sorria olhando para ele.

— Você já viu uma?

— Não, mas eu...

Ela se aproximou e segurou o dedo na boca dele, interrompendo o restante de suas palavras.

— Eu não desejo essas coisas. Você é o meu paraíso na terra, Robert MacGregor.

Sua boca sexy se curvou em um sorriso que a arrebatou. Quando ele segurou o rosto dela em suas mãos e a puxou para beijar suavemente sua boca, ela respondeu com um suspiro sonhador. Deus tenha piedade, mas o homem sabia o que fazer com a boca e a língua. O gosto de seu desejo queimou seus nervos e enfraqueceu seus joelhos. Ela o queria e, por um instante, esqueceu onde estava. A voz de Tristan, chamando a eles que a chuva estava prestes a chegar, trouxe de volta sua memória.

— Venha, se apresse, — ela sussurrou contra a boca de Rob quando ele se retirou lentamente. Quando ele se moveu para beijá-la mais uma vez, indiferente às nuvens negras, ela riu e pulou de seus braços. — Me pegue, — ela sorriu para ele, dando um passo para trás, descendo a colina — e eu sou sua até a chuva terminar.

Ela chiou de surpresa quando seu marido sempre pragmático decolou atrás dela. Girando na ponta dos pés, ela correu, ganhando velocidade e rindo enquanto disparava. Ela estava prestes a abrir as portas do castelo quando elas se abriram por conta própria. Ela se deteve pouco antes de colidir com o peito de Callum MacGregor. Rob estava logo atrás. Ela sabia disso porque os olhos de seu pai se fixaram nela primeiro e depois no homem alto atrás dela.

Ninguém falou uma palavra por um momento eterno, então o Laird se afastou, passando a mão enfaixada pelo limiar.

— Está vindo a chuva, — Rob explicou, passando por seu pai depois que Davina o fez.

— Sim, eu posso ver isso, — respondeu o pai, mas Davina e Rob mal o ouviram enquanto subiam as escadas, deixando suas risadas e um sorriso no rosto do poderoso Laird.

 

Capítulo Trinta e Três

Rob a pegou antes que Davina chegasse à porta do quarto. Os braços dele se fecharam ao redor dela e, girando-a para encará-lo, ele deu uma risada curta e vitoriosa que pôs seu sangue em chamas.

— As nuvens são pesadas, meu amor. Acho que vai chover muito e forte.

— Espero que nunca pare, — ela prometeu, sorrindo sem fôlego no rosto dele.

A boca dele desceu com força sobre a dela, devorando sua suavidade, provando-a com os lábios, a língua e os dentes. Empurrando a porta com a bota, ele a levou para a cama e caiu, trancada em seu abraço, sobre o colchão macio. Movidos pela corrida e pela paixão que os atacava tão implacavelmente quanto a chuva do lado de fora da janela, rasgaram as roupas um do outro, banqueteando-se com a carne exposta. Nus e selvagens, Davina traçou os músculos do peito dele com as pontas dos dedos, os lábios luxuriantes e molhados. Ele pegou o mamilo entre os lábios e ela arqueou as costas quando um nó de pura excitação surgiu entre suas pernas.

Ele levantou o rosto dos seios, os olhos escuros e brilhando juntos.

— Eu quero você desde que deixamos nossa cama esta manhã.

Ela riu, sem conhecer essa sedutora perversa que a possuía quando estava sozinha com Rob, mas gostando dela.

— E foi por isso que você não brincou comigo hoje?

— É assim que eu quero brincar com você, esposa. — Sua voz era como o estrondo baixo do trovão do lado de fora quando ele subiu o corpo dela e passou a boca sobre a pulsação na garganta dela.

Enrolando as pernas ao redor dele, ela se contorceu muito deliberadamente debaixo dele, deliciando-se com o efeito que teve sobre seu corpo. Ela amava o que fazia com ele, esse homem de aço e seriedade. Ela afastou seu controle, sua restrição, até que a paixão que corria através de seu sangue por ela não podia mais ser contida.

— Você é tão forte e másculo, — ela falou como uma sereia lânguida contra seu ouvido. O gemido atormentado que ela puxou dele quando a boca aberta dele encontrou a dela a fez querer chorar de alegria. Cada dama em Camlochlin desmaiaria com o seu sorriso encantador. Ela conquistara o amor de um homem que compartilhava seus sorrisos mais íntimos apenas por ela.

— Eu te amo, — ela sussurrou várias vezes, deslizando as mãos pelo rosto dele enquanto ele a beijava.

Ele se separou do beijo e olhou nos olhos dela enquanto a empalava profundamente. Ela respondeu arqueando a coluna para encontrar o impulso lento e úmido. Ele fechou os olhos quando o êxtase o tomou, um sorriso pecaminosamente decadente franzindo seus lábios e deixando-a mais molhada. Ela amava o peso dele e se empurrou contra ele. Ele se retirou e empurrou com força, a boca descendo com desejo na garganta dela. Seu hálito estava quente em sua pele quando ele apertou seus quadris contra os dela, firmando-se tão profundamente em sua bainha apertada quanto ela poderia tomá-lo.

Espasmos de êxtase assolaram seu corpo e ela deslizou as mãos sobre os montes firmes das nádegas dele para levá-lo ainda mais fundo.

— Você é má. — Ele roçou os lábios dela. — E você vai levar isso para um fim mais rápido.

— Você quer dizer a sua derrota, — ela sorriu na sua boca.

— Sim, minha derrota.

Ela abriu a boca e a língua dele roçou a sua enquanto seu clímax apertava suas paredes internas ao redor de sua ereção dura e escaldante. Ele se retirou e depois afundou mais profundamente nela, torturando, provocando, satisfazendo-a com cada impulso lento, até que ela gritou, agarrando-se a ele.

Dirigindo-a com mais força, ele engoliu os sons do prazer dela com gemidos apertados e grossos enquanto sua semente se derramava quente e molhada dentro dela.

Relaxando, ele caiu ao lado dela e a puxou para seus braços. Ela fechou os olhos, apoiou-se nos rígidos ângulos dele e agradeceu a Deus pela milionésima vez por Rob trazê-la à sua vida.

— Rob?

— Hum?

— Você está me transformando em uma garota devassa.

— Bom. — Seu hálito quente contra a orelha dela mexeu seu sangue, provando seu ponto para si mesma.

Ela sorriu e se aninhou mais perto.

— Você acha que seus pais gostam de mim?

— Sim, amor, — ele sussurrou grogue, seu sorriso visível em sua voz.

— Estou feliz, — ela suspirou, entrelaçando os dedos nos dele. — Eu quero que eles gostem de mim.

Ela achava que sim, apesar do perigo que algum dia representaria para o clã deles. Kate era gentil com ela e tinha feito tudo ao seu alcance para fazer Davina se sentir em casa no castelo. Callum teve o cuidado de não discutir sobre o rei em sua presença e ela estava agradecida por isso. Todo dia que passava em Camlochlin, afastava seus pensamentos do pai e do que poderia acontecer se ele a encontrasse. O rei não veio atrás dela, assim como ele nunca foi quando ela era criança.

— Rob, quem são os Fergusson?

Ele se moveu um pouco atrás dela.

— Por você pergunta sobre eles agora?

Ela ficou rígida, tentando encontrar uma razão que não envolvesse o irmão dele.

— Ouvi alguém mencioná-los hoje e lembrei-me do nome, mas não consegui lembrar de onde.

— Davina, você não mencionará esse nome em torno de meus parentes, especialmente minha mãe.

— Mas por que? Quem são eles?

— Eles mataram meu tio. Irmão da minha mãe. Lembra-se, eu lhe disse na igreja de Courlochcraig.

Oh, meu Deus, sim, ela se lembrava agora. O que Tristan estava pensando? Ela teria que encontrá-lo e falar com ele mais tarde.

— Quem os mencionou?

Davina fechou os olhos com força e rezou pedindo perdão pela mentira que estava prestes a contar ao marido. Quando ela não respondeu imediatamente, ele perguntou novamente.

— Oh, eu não me lembro, — disse ela e se virou nos braços dele. — Ainda está chovendo.

Ele entendeu seu significado imediatamente e sorriu tão sedutoramente que ela quase esqueceu por que estava tentando distraí-lo.

Puxando-a em cima dele, ele retirou os cabelos da bochecha.

— Você é boa em guardar segredos, meu bonito amor. — Seu sorriso se aprofundou, junto com o azul de seus olhos. — Mas eu sei o que vai fazer você falar.

Ele deslizou as pontas dos dedos para baixo ao longo dos lados dela e depois fez cócegas até que ela se dobrou sobre ele. Ele rolou sobre ela e capturou seu riso em sua boca antes de fazer amor novamente.

Davina sentou-se na janela da alcova na manhã seguinte e observou Rob enquanto ele dormia. Sua trança se soltara e cachos pretos se espalharam pelo rosto, suavizando seus traços cinzelados. Ele respirava suavemente com um braço jogado acima da cabeça e o outro apoiado no quadril nu. O cobertor o cobria apenas o suficiente para tentá-la a subir em cima dele e acordar a besta adormecida.

Ela corou para si mesma e sorriu, virando-se para o arco-íris que arqueava no céu lá fora. Ela não tinha vergonha de seu desejo por seu amado, mas agradecida por conhecer o Deus em que confiava, o Pai que ela amava e que queria o melhor para os seus filhos, e então Ele lhe enviou Rob. Ela ainda tinha muito a lhe ensinar sobre desfrutar de recreação ao ar livre, mas eles tinham tempo de sobra para isso.

— A chuva parou?

— Sim. — Ela se virou para Rob, saindo da janela. — E há um arco-íris magnífico lanceando os céus. — Ela subiu na cama com ele e beijou sua boca sorridente. — Vamos cavalgar embaixo dele em seu cavalo. Sinto falta de cavalgar com você.

— Eu posso levá-la a Torrin esta tarde, — disse ele, passando as mãos pelas costas dela.

— Não. O arco-íris. — Ela o empurrou e atravessou o quarto procurando seu kirtle e seu vestido. — Se você não vier, — disse ela, quando ele não se afastou da cama, — vou pedir a Will ou talvez... Tristan.

Curvando-se para o vestido, ela sorriu quando ele afastou o cobertor e jurou algo que não repetiria.

Eles voltaram ao castelo logo após o término da refeição da manhã. Algumas dezenas de habitantes ainda estavam nas mesas do Salão Principal quando Rob e Davina entraram. Finn foi o primeiro a cumprimentá-los.

— Você perdeu a hora de quebrar o jejum e tinha veado e bannocks! — Ele pegou seu erro rapidamente e lançou a Davina um olhar envergonhado sob seus longos cílios. — E tinha uma saborosa salada de ervas com bolos de aveia tostados.

— Oh, querido. — Davina fez beicinho e olhou ansiosamente para a cozinha. — Estou faminta. Vou ver se ainda restam duas porções, para mim e Rob.

Finn a seguiu como um filhote ansioso, enquanto Rob se juntou aos outros.

— Gostou da sua cavalgada? — Will perguntou do outro lado da mesa com um arco malicioso de sobrancelha.

— Sim, — Rob rosnou para ele.

— Onde você foi então? — Tristan tomou um gole de sua caneca e sorriu para o rosnado de seu irmão.

— Lugar algum. Nós apenas cavalgamos.

— Apenas cavalgou? — Angus entoou, depois arrotou.

Brodie lançou um olhar de nojo para o primo corpulento e depois olhou para Rob.

— Em nenhum lugar, hein? Eu disse a vocês rapazes que ele ficou louco.

— E suave como o traseiro de um bebê. — Angus se levantou como uma montanha, empurrando a cadeira para trás e balançando a cabeça com pena enquanto atravessava passando por Rob para sair do salão. — Esta tarde era Finn com flores em seu cabelo, e hoje é você cavalgando sob o arco-íris. Quem diabos é o próximo, Robbie, a perseguir borboletas no prado?

— Ela disse a você, — disse Rob, olhando para Will primeiro e depois para Tristan. Ele sabia quando era derrotado, mas não gostou de ser chamado de mole como o traseiro de um bebê.

— Ela disse a Finn antes de sair, — Will informou, fazendo o possível para controlar o sorriso rastejante ao longo de sua boca. — Finn nos disse.

— Então? — Rob pegou a taça de hidromel que seu irmão ofereceu-lhe e bebeu-o. — Isso fez minha esposa feliz e, na verdade, eu também gostei. Se algum de vocês pensam que me deixou mole, vou remediar essa suposição agora mesmo no campo.

Todos balançaram a cabeça e voltaram a beber. Rob deu a todos um último olhar letal antes de ver Davina saindo da cozinha com Finn e a comida deles.

Suas bochechas ainda estavam vermelhas pelo vento batendo contra seu rosto. Inferno, ele estava feliz por ter feito o que ela pediu. Ele não se importava com o que os outros pensavam dele. Eles não ouviram sua alegria quase sem fôlego enquanto ela perseguia um arco-íris de cores pelo vasto vale verde de Camlochlin. Eles não sabiam o ela sentia em seus braços, pressionada contra seu peito, aninhada em seu colo enquanto seu cavalo trovejava sobre sua terra. Ela gostava da vida e ele queria se divertir com ela. Então, ela gostava de perseguir leitões e mergulhar no lago. O que diabos havia de errado em ter um pouco de prazer durante o dia?

Ele lhe sorriu quando ela o alcançou e depois lançou um olhar assassino por cima do ombro quando Tristan riu.

— A cozinheira teve a gentileza de me deixar escolher as melhores porções de carne para você, e os bannocks ainda estão quentes, meu amor. — Davina alegremente entregou a ele sua trencher e Rob lançou um sorriso presunçoso a seu irmão. Ele poderia ter ficado um pouco mole, mas estava comendo bem.

— Onde está meu pai? — Ele perguntou, cortando sua carne.

— Solar, — respondeu Will. — Trancou-se com sua mãe, Jamie e Maggie. Eu acho que eles...

Um rugido estrondoso ecoou pelo salão, silenciando todas as conversas no meio da frase e preocupando alguns dos homens.

— Onde no maldito inferno está minha bebida?

Imediatamente, Brodie ficou de pé, os olhos arregalados na entrada, esperando Angus aparecer. Todos ouviram seus passos pesados chegando mais perto.

Davina assistiu com o resto deles, com medo de engolir para que o som não atraísse o gigante Highlander e o trouxesse para eles.

— Brodie, seu bastardo filho da puta! O que você fez com minha bebida?

Davina captou a sugestão de um sorriso furtivo curvando os lábios de Rob quando ele olhou através da mesa para Will. O que eles fizeram?

Angus invadiu a porta, olhou furioso para Brodie e fechou os punhos.

— Você bebeu toda minha bebida e agora estou indo para bater em você até desmaiar.

— Eu não toquei na droga da sua bebida, você...

Ele foi silenciado brutalmente por um soco na sua mandíbula. Tudo aconteceu tão rápido que Davina não teve tempo de registrar tudo até mais tarde. Brodie se esparramou no colo de Will e depois levantou um instante antes que o filho mais velho de Angus, Patrick, desse um soco nele. Will não estava disposto a sentar-se quieto enquanto dois brutamontes espancavam seu pai, e mandou Patrick voando contra a parede com dois socos limpos e afiados no rosto. Rob levantou Davina, levantou as trenchers e a conduziu calmamente a uma mesa do outro lado do salão. Ela se virou a tempo de ver uma cadeira atravessando a mesa. Teria atingido Finn se Tristan não o tivesse arrancado de seu assento no último instante.

— Rob, faça alguma coisa! — Ela implorou, chamando Finn e Tristan para sua mesa.

— E estragar a diversão deles?

Ela se virou, engoliu em seco e deu ao marido um olhar incrédulo.

— Diversão?

— Sim, — disse ele, mastigando a comida como se nada estivesse acontecendo ao seu redor. — Eles gostam de brigar. É especialmente bom para Brodie. Ele vai ficar mais agradável nos próximos dias.

— É loucura!

— É o jeito MacGregor, — Tristan a corrigiu, deslizando em uma cadeira à sua direita. — Você vai se acostumar com isso em breve.

— Mas eles poderiam ter matado Finn! — Ela argumentou, passando o plaid do sorridente rapaz sobre seus ombros antes que ele se sentasse.

— Não com uma cadeira, amor, — Rob assegurou, depois fez uma carranca quando percebeu que havia esquecido o hidromel.

— Will está sangrando, — ela apontou lamentavelmente e afundou em sua cadeira. — Oh, Rob! — Ela puxou o plaid dele sem tirar os olhos do corpo a corpo. — Seamus MacDonnell bateu em Will por trás. Cuidado! — Ela se levantou e gritou na direção de Will e depois se voltou contra o marido. — Robert MacGregor, faça alguma coisa! Ele é seu amigo mais próximo!

Davina não tinha ideia de que Rob teria envergonhado Will se ele se movesse para protegê-lo contra homens que estavam bêbados demais para causar algum dano real. Porém, Rob não precisou fazer nada. Um grito das ameias acalmou a todos.

 

Capítulo Trinta e Quatro

Callum foi o primeiro a alcançar as portas do castelo, com Rob logo atrás dele. Não era todo dia que os MacGregors recebiam visitas e, embora a maioria dos que chegavam aqui costumava pertencer a clãs vizinhos, ninguém havia esquecido o pai de Davina... ou o almirante Gilles.

— Finn, — ordenou Rob, quando o garoto o alcançava, — leve Davina para minha mãe!

— Ela foi à capela.

Antes que Rob pudesse responder, seu pai puxou as portas, saiu e gritou para seus guardas de patrulha.

— Qual o caminho?

— Das colinas, meu lorde. São trinta cavaleiros. Longe demais para ver quem eles são.

Rob sentiu seu coração bater e cair aos seus pés. A menos que Gilles tivesse recrutado mais homens em sua jornada, tinha que ser o rei.

— Estandartes? — Ele passou por seu pai e chamou os guardas.

— Não vejo nenhum.

— Carregue os canhões! — Callum rugiu e virou-se para os homens que o observavam das portas. — Alerte todo mundo. Preparem-se para o pior.

Rob virou-se para Will e, sem falar uma palavra entre eles, seu amigo ensanguentado e machucado assentiu e partiu em direção à capela.

— Tio, — disse ele a Jamie em seguida. — Encontre Asher e traga-o para nós. Se o almirante Gilles estiver entre esses homens, o capitão conhecerá seu rosto.

— E se for o rei, — Brodie lembrou Rob sombriamente, — Asher poderá identificar sua esposa.

— E será a última coisa que ele fará, — Rob rosnou e pegou a claymore pesada que Angus lhe jogou.

— Laird, — um guarda gritou de cima. — Um Highlander os lidera. Eu acho que é Colin!

Rob sentiu como se alguém tivesse acabado de lhe dar um tiro no coração. Colin. Não, não poderia ser. E se fosse, quem quer que estivesse com ele provavelmente o forçara a trazê-los aqui. Mas, enquanto Rob dizia a si mesmo que seu irmão nunca o trairia com o rei, ele sabia que Colin não podia ser controlado por realeza, espada ou pistola. Se Colin não quisesse estar aqui, ele teria morrido nas mãos de seus inimigos, em vez de levá-los a Camlochlin.

A carranca letal no rosto de seu pai enquanto ele procurava nas colinas disse a Rob que Callum também sabia.

— Se ele trouxe os homens do rei aqui...

— Ainda não sabemos quem viaja com ele, Robert, ou se é ele, — foi tudo o que seu pai tinha a dizer sobre o assunto.

Eles esperaram, armados e prontos, enquanto o castelo ganhava vida com gritos atrás deles. Rob podia ouvir as pesadas rodas de canhão rangendo nas ameias acima, onde mais de seus parentes esperavam com flechas inclinadas e prontas para voar.

— É Colin — disse o pai de Rob e levantou a mão para deter os arqueiros.

Uma onda de pânico tomou conta de Rob, como ele nunca havia sentido antes. Por que o irmão dele estava aqui? O que ele fez? Se ele dissera ao rei que sua filha estava aqui, ele a indicaria também? Enjoado, Rob olhou em direção à entrada externa da capela. Eles não iam tirá-la dele.

— É o rei.

Os olhos de todos se voltaram para Asher saindo do castelo com Jamie.

— Ele viaja sem sua bandeira, mas é difícil esconder sua posição real.

— Ele está certo — disse Callum, com os olhos afiados fixos na grande tropa que descia as colinas a apenas algumas centenas de metros de distância agora. O cavaleiro principal era de fato seu filho. O homem ao seu lado empurrou o capuz para trás para revelar um rosto um tanto pálido, mas familiar, enquanto seus olhos examinavam as ameias e depois os homens embaixo deles.

— Baixem as armas! — Callum rugiu para os guardas e, em seguida, esperou enquanto os cavaleiros se aproximava. — Recuem, — ele gemeu e depois se virou para o filho. — Lembre-se, peço-lhe, do que falamos. Não diga a ele que você se casou com ela, Robert.

Asher foi o primeiro a cair de joelhos quando o rei os alcançou. Callum o seguiu, mantendo o olhar tempestuoso em seu filho mais novo enquanto ele pulava da sela.

— Pai, eu...

Mas Callum levantou a palma da mão para acalmá-lo enquanto o resto de seus homens se ajoelhava atrás dele, seguindo seu exemplo.

Quando Rob foi o único ainda de pé, o rei olhou para Colin.

— Seu irmão, eu presumo?

Colin assentiu e encontrou o olhar assassino de Rob.

— Eu disse apenas a ele, Rob. Ninguém mais sabe.

Os dedos de Rob se apertaram ao redor do punho de sua espada. Se Colin não fosse seu irmão, ele o abateria e para o inferno com o rei.

— Onde ela está?

Rob olhou para o rei quando ele falou. Rob o odiava, odiava-o por deixá-la, por sentenciá-la a uma vida sem sua família, por nunca se incomodar em vê-la.

Um fio de esperança emergiu da escuridão. Elaine. Davina era Elaine.

— Ela não está aqui, — disse Rob, dando a Colin um olhar de aviso que dizia que se ele o contradissesse, se arrependeria. — Tudo foi um...

Mas o rei não estava ouvindo. Seus olhos se fixaram em alguém atrás de Rob, e seu rosto... seu rosto disse a Rob quem era sem ter que olhar.

— Filha. — O rei mal respirou a palavra, como se o que ele estava vendo não pudesse ser real. Seus olhos brilhavam com lágrimas quando ele desmontou lentamente. — Você mudou pouco desde a última vez que te vi.

Deus, não.

Agora Rob virou-se para ela e encontrou lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Instintivamente, ele estendeu a mão para a dela para confortá-la, mas ela caiu de joelhos e baixou a cabeça.

— Levante-se, Davina. — O rei a alcançou, fez uma parada como se ela pudesse fugir e depois a puxou gentilmente pelos ombros.

Todos ao redor de Rob deixaram de existir, exceto Davina. Ele não conseguia se mexer. Ele não conseguia respirar enquanto a observava fixar os olhos cintilantes em seu pai pela primeira vez. Tudo nele queria arrancá-la do homem, estendendo os dedos para o rosto dela. Mas ela fechou os olhos, como se o momento que ela sonhava por tanto tempo finalmente tivesse chegado, e apenas o toque dele provasse ser real.

Perder Davina de repente se tornou mais real para Rob do que nunca. Era isso que ela queria. O que ela sempre quis. O pai dela. Ele deu um passo em sua direção, mas a mão de Callum em seu braço o deteve.

— Você nunca saberá o quanto eu sinto muito por não estar em sua vida.

As palavras ditas suavemente pelo rei eram como punhais no coração de Rob. Se qualquer outro pai os tivesse pronunciado a sua esposa, Rob teria se alegrado por ela, sabendo o quão desesperadamente ela precisava ouvi-las. Mas esse pai tinha o poder de levá-la embora, e Davina cobriu o rosto com as mãos e chorou, Rob duvidou que ela resistisse.

Isto é, até que ela abaixou as mãos e olhou para ele com todo o coração nos olhos.

Seguindo seu olhar triste, o rei James virou-se para Rob e avaliou-o com um vinco preocupado, enrugando sua testa real.

— Você é Robert MacGregor, — disse ele, revelando que Colin havia lhe falado muito. — Você é o homem que salvou a vida da minha filha.

Olhando para ela, Rob se lembrou daquele dia maravilhoso e todos os dias depois disso. Ele não tinha levado muito tempo para se apaixonar por seu sorriso modesto, seu riso brincalhão, seus olhos gloriosos sempre sobre ele, sempre esperando que ele pudesse deixá-la. Ele nunca faria isso. Mas seu coração estava suave, muito suave. Era mais um motivo para ele a amar. Ela perdoou Asher por traí-la. Ela também perdoaria o pai.

— Devo-lhe muito mais do que posso pagar, — continuou o rei, segurando a mão de Davina na dele. — Você devolveu minha vida.

E você pretende tirar a minha. Rob não falou as palavras em voz alta. Ele não conseguia. Ele não conseguia pensar em sua vida sem ela.

— MacGregor, — o rei virou-se para o pai de Rob, — você poderia nos convidar para sair do frio? Há muito que você e eu devemos discutir.

Callum apertou a mandíbula e lançou um olhar sóbrio ao filho mais velho antes de assentir e dar o comando para cuidar do cavalo do rei e do conforto de seus homens.

— Capitão Asher, — o rei cumprimentou, dando um tapinha no ombro de Asher antes de seguir Callum para dentro. — O jovem MacGregor também me contou de sua coragem. Você também será recompensado.

Rob observou-os entrar em Camlochlin com raiva nublando sua visão. Não foi dirigido a Asher pelos elogios que recebeu. O capitão era um covarde. Rob sabia disso, e Asher também. Ele não se importa no que o rei acreditava. Não, sua ira foi dirigida ao irmão e, quando Colin tentou entrar no Salão Principal, Rob deu um passo à frente e bloqueou seu caminho.

Eles esperaram em silêncio até ficarem sozinhos e, quando estavam, Colin falou primeiro.

— Irmão eu...

— Colin, — a voz afiada de Rob interrompeu-o, — a partir deste dia em diante, eu não sou mais seu irmão.

Colin recuou um passo como se Rob o tivesse atingido. Seus olhos se arregalaram com descrença atordoada.

— Como diabos você pode dizer isso para mim? Eu o trouxe aqui através das colinas como fomos ensinados. Eu...

— O que ele lhe ofereceu? — Rob perguntou calmamente. Calmo demais. Alguém mais teria recuado ainda mais, sabendo que o temperamento lento de Rob estava prestes a estourar.

— O quê? — Colin quase cuspiu a palavra para ele.

Rob veio até ele como um touro, agarrando a túnica de Colin na garganta e puxando-o contra a parede com uma mão e arrancando a espada de Colin da bainha com a outra antes que seu irmão pudesse alcançá-la.

— Você disse a ele! Você disse a ele, Colin! Agora, vou perguntar novamente. O que ele lhe ofereceu?

Colin olhou para ele com sua própria raiva, fazendo seus olhos brilharem como ouro derretido.

— Eu deveria matá-lo pelo que você está me acusando, irmão.

Ele não piscou ou se encolheu quando o punho de Rob subiu para seu rosto. Mas o golpe não veio.

— Deixe ele falar, Rob, — disse Tristan, segurando o pulso de seu irmão.

Rob puxou seu braço livre e se virou, não querendo ouvir o que Colin tinha a dizer.

— Por que você o trouxe aqui? — Ele ouviu Tristan perguntar.

— Eu o trouxe aqui, porque se nosso pai ou qualquer um de nós acreditasse que Mairi estava morta e ela não estivesse, gostaríamos de saber. Eu ouvi a dor de Davina de nunca ter visto seu pai. Ele também ouviu. — Ele apontou para as costas de Rob. — Ela falava dele com frequência, não era, Rob? — Ele desafiou, mas não esperou por uma resposta. — Quando eu conheci o rei, não tinha a intenção de dizer a ele qualquer coisa

— Então por que você o fez? — Rob gritou, virando-se para ele mais uma vez.

— Porque a dor dele de nunca conhecê-la também era grande! — Colin gritou de volta. — Ela é sua filha, Rob. Ele a ama.

Rob se aproximou dele, mas agora sua raiva havia passado e ele olhou silenciosamente nos olhos de seu irmão.

— Eu também, Colin. — Ele não disse mais nada e entrou no castelo sozinho.

— Eu sabia que ele a amava, — disse Colin, pensativo, cuidando de olhar para ele. — Todos nós amamos, mas...

— Ele a tomou como esposa, — Tristan disse calmamente enquanto eles se dirigiam para dentro.

— Och, não, — Colin parou e passou a mão pelos cabelos. — Ele sabia quem ela era. Ele não poderia ter feito isso.

— Ele fez, no entanto.

— Maldito tolo! — Colin xingou.

Tristan lançou-lhe um olhar sufocante por cima do ombro e balançou a cabeça.

— Eu deveria ter deixado ele te bater.

Davina estava sentada no solar privado de Callum com os pais de Rob, dois dos guardas do rei em pé atrás dela e o pai. Ele era real? Isso era real? Ela beliscou sua coxa duas vezes para se convencer de que estava acordada. Na segunda vez, ela beliscou demais e pulou um pouco na cadeira. Ao lado dela, o rei deu um tapinha em sua mão e lhe deu um sorriso terno antes de voltar sua atenção para Callum.

— Você tem uma casa impressionante, MacGregor. Foi inteligente da sua parte construir aqui. A paisagem torna praticamente invisível e impossível de chegar.

— Sim, havia essa necessidade quando eu a construí. — Callum encheu quatro copos de hidromel quente e entregou o primeiro a sua esposa.

— Ah, sim, durante a proscrição, — disse o rei, aceitando a bebida em seguida. — Você era um fora-da-lei e um rebelde na época.

Esta era realmente a voz de seu pai que ela estava ouvindo, seu calor penetrando em sua pele, sua mão cheia de cicatrizes e calejada sobre a dela? Davina queria se virar e olhá-lo, observar todos os ângulos. Ela sonhava com o rosto dele e agora aqui estava, a apenas alguns centímetros do seu.

— Sim, — disse o pai de Rob, de pé sobre ela com seu copo. — Houve necessidade por isso também.

Davina pegou seu copo com a mão trêmula, desejando que fosse algo mais forte. O pai dela a procurara e ela duvidava que ele fosse embora sem ela. Querido Deus, ajude todos eles. Por que ele veio agora? O que ela deveria fazer? Só havia uma coisa. Mas como ela poderia deixar Rob, ou Camlochlin? Todo mundo em St. Christopher morreu por causa dela. Ela não podia... ela não deixaria todos em Camlochlin morrerem por ela também. Ela olhou em direção à porta. Onde estava Rob? Ele nunca a deixaria ir se fosse forçada. Ele a deixaria ir se ela fosse de bom grado?

— Você está tremendo, minha querida. — Seu pai se inclinou para mais perto dela, lavando-a com seu perfume. — Entendo que minha chegada foi inesperada

— Estou bem, sério, — disse ela, enxugando rapidamente uma lágrima do olho. — Apenas... impressionada.

Ele sorriu para ela e Davina percebeu cada vinco, cada ruga que revestia seu rosto gracioso. Há quanto tempo ela se perguntava como ele era? Ela pensou que o cabelo dele seria claro como o dela, mas agora estava completamente grisalho. Seus olhos azuis escuros estavam sombrios, sombreados por anos de batalha, dentro e fora de campo. Seu nariz era longo e reto, e seus lábios eram finos, provavelmente não propensos a sorrir. Até hoje.

— Estou impressionado também.

Ele estava? Ela queria acreditar nele. Os reis ficavam impressionados com seus filhos? Ele disse que a tinha visto. Quando? Ele visitou St. Christopher quando ela era criança? Por que ela não tinha permissão para vê-lo se ele estava lá? Ela queria perguntar a ele, mas sorriu. Ele não a tinha esquecido.

E foi quando ela estava sorrindo, como se sua vida tivesse acabado de se completar, que Rob abriu a porta do solar e entrou. As chamas na grande lareira tremeram diante dele, pois ele trouxe o frio com ele, espalhando-o a cada um deles até que sua mãe saltou da cadeira e foi até ele. Ela falou em voz baixa contra o peito dele, mas o que disse não o confortou. Seu olhar angustiado e irritado permaneceu fixo em Davina.

Ele não disse nada, nem se sentou ou se serviu de uma bebida. Ele simplesmente ficou parado na porta, uma barricada de força bruta e determinação única.

Davina sentiu-se fraca com a necessidade de ir até ele, dizer que o amava e nada mudaria isso, mas não o deixaria morrer por ela. Mas foi o pai de Rob e não o dela quem a impediu de se mover. Com um olhar, Callum falou com ela, lembrando-a do destino de Rob, caso seu pai soubesse de seu casamento nas Highlands. Ela era a filha do rei, gostasse ou não, e o governante dos três reinos não enclausuraria sua primogênita em um convento para salvá-la e depois deixá-la levar uma vida como plebeia.

— Sua Majestade, — Callum disse, mudando seu olhar poderoso ao rei, — você já conheceu meu filho, Robert.

— Sim, — disse James, estudando a carranca de Rob com um sorriso cauteloso. — Diga-me, MacGregor, todos os seus filhos compartilham uma desconfiança comum da nobreza?

— Infelizmente, não. — O Laird o olhou genuinamente desapontado. — Você conheceu meu filho Tristan na Inglaterra, acho que se lembra dele.

O rei riu baixinho do que poderia ter sido interpretado como um insulto.

— Conhecendo a maior parte da nobreza da Inglaterra e da Escócia, eu diria que você ensinou muito bem a maioria de seus filhos.

— Sim, — Callum concordou. — É difícil quando um sobrinho conspira contra você.

O rei assentiu, levando o copo aos lábios.

— É apenas uma questão de tempo até Monmouth ser pego, e Argyll também.

Rob fez um som impaciente, puxando o olhar cauteloso de Davina para ele. Ele estava sozinho, tão alto e forte, dobrando e desdobrando os braços sobre o peito, as linhas de sua mandíbula rígidas. De repente, o sol parecia pequeno demais com ele assim. Ela estava cercada por todos os lados por homens de grande poder e habilidade, mas nenhum deles fazia seu coração se acelerar, sua boca ficou seca pela força indomável de Rob. Como as montanhas que se erguiam ao redor de sua casa, ele era insuportável, invicto pelas tempestades que se espalhavam ao seu redor. Ele a protegeu quando poderia ter escolhido não fazê-lo, prometeu mantê-la segura, e manteve. Ela se sentiu estimada em seus braços, intocável ao seu lado. Se ela o perdesse, lançaria seu coração ao mar e nunca amaria outro.

Rob ignorou o olhar de aviso de seu pai com um olhar negro e perguntou corajosamente:

— E o almirante Gilles? O que seus homens estão fazendo sobre ele?

O rei olhou para ele sem censura, mas com uma curiosidade renovada.

— Nós vamos encontrá-lo.

— Antes que ele a encontre? — O flagrante desafio na voz de Rob era inegável.

— Ele nunca a encontrará aqui, senhor — interveio Callum antes que seu filho falasse novamente. — E se ele o fizer, como sabe agora por si mesmo, vamos vê-lo se aproximando muito antes dele chegar.

— Deixá-la aqui? — Perguntou o rei. Por um momento ele pareceu considerar, mas então seu olhar se voltou para Rob. — Você tem minha profunda gratidão por salvar minha filha, mas eu receio ter que recusar.

Instantaneamente, Rob correu para frente. Com a mesma rapidez, os dois soldados atrás de Davina sacaram as espadas.

— Não! — Callum gritou juntamente com Davina e Kate, e atirou-se na frente de seu filho, protegendo-o, colocando os braços ao redor dele. — Detenha-se, Robert, ou você gostaria que sua mãe visse nosso sangue derramado diante de seus olhos? — Ele falou rapidamente, em um sussurro, sua voz cheia de emoção e contenção. — Milorde, — ele se virou para olhar o rei. — Vamos discutir isso ainda um pouco mais. A segurança da sua filha significa muito para o meu filho.

— E para minha filha também, obviamente. — O rei ficou de pé e inclinou a cabeça para olhar forte para os dois. — Eu suspeitava disso. Mas ela é minha herdeira. O futuro dela já foi decidido.

— Mas não por mim. — Todos os olhos se voltaram para Davina se levantando lentamente para encarar o pai. Ela não tremia. Ela não vacilaria e não choraria. Agora não. Se havia alguma maneira de impedir isso, impedir seu pai de levá-la ou Rob de iniciar uma guerra que ele perderia, ela tinha que tentar. — Ser sua filha tirou tudo de mim. Eu amo isso aqui, pai. Eu amo essas pessoas. Eu imploro, também não os tire de mim.

Os olhos do pai dela se suavizaram.

— Davina, juro solenemente que nunca mais você desejará nada. Eu não deveria ter deixado você com as freiras. Eu me arrependo desde o dia em que te entreguei, mas Deus te poupou com um propósito, e um dia você o cumprirá.

— Eu sei que devo, mas não é o que eu quero, — argumentou Davina através das lágrimas. — Não quero nada que sua corte tenha a oferecer. Talvez se eu tivesse sido criada nela como minhas irmãs, me sentiria diferente.

— Você se sentirá diferente — ele disse ternamente, mas quando ela balançou a cabeça, a voz dele assumiu um tom mais severo. — E ele, — disse ele, virando-se para Rob. — Você o ama também?

Os olhos dela dispararam para Rob, lembrando as palavras dele para o pai. Ele nunca a negaria. Ela olhou para Callum em seguida, lembrando claramente o aviso dele também.

— Eu... eu sei o meu dever.

Por cima do ombro do rei, Rob a encarou com um olhar de tristeza tão completa que ela estava certa de que a assombraria até o dia da sua morte. Ela teria caído nos braços dele se seus pais não estivessem entre eles.

— Reúna nossos homens, — o rei James ordenou a seus guardas sobre a cabeça dela e agarrou sua mão. — Nós estamos partindo.

 

Capítulo Trinta e Cinco

A raiva queimou o sangue de Rob e finalmente foi desencadeada com um gemido que quase o colocou de joelhos. Como se estivesse em um sonho do qual ele não podia acordar, ele viu o rei puxar Davina em direção à porta que ele estava bloqueando apenas alguns momentos atrás. Ela se virou, puxando os dedos que a seguravam, e olhou para ele pela última vez.

Rob acordou e, com um rugido que trouxe uma dúzia de soldados ingleses e Highlanders ao solar, ele saltou para o rei.

Seu pai tentou detê-lo e os dois homens quase caíram no chão. Rob encontrou o olhar horrorizado de Colin quando ele se levantou, depois olhou para baixo até as duas espadas brilhantes apontadas para sua garganta.

— Diga a seus homens para baixarem suas armas contra meu irmão, — gritou Colin. — Você me deu você palavra.

Rob mal o ouviu e levantou o braço para tirar as espadas do caminho. O grito de sua esposa o deteve.

— Por favor, por favor, Rob. Você não pode morrer.

— Estou morto se ele tirar você de mim, — Rob disse a ela através do comprimento das lâminas, o desespero endurecendo seu rosto e suavizando sua voz.

— MacGregor, — o rei advertiu Rob com um rosnado baixo. — Eu poderia tomar sua cabeça agora por isso.

— Oh, pai, por favor, não deixe isso acontecer. — Davina fechou os olhos manchados de lágrimas e rezou das profundezas de sua alma.

— Filha, — respondeu o rei, pensando que ela estava falando com ele. — Eu entendo que você se sente em dívida com esse homem por...

— Não, não, — ela argumentou entre lágrimas. — É mais do que isso. Por favor, não o machuque. Perdoei você por me deixar, mas nunca vou perdoá-lo se você o matar.

A expressão severa de seu pai desmoronou com o voto dela e ele pareceu, por um momento, como se estivesse doente. Ele levou a mão à bochecha dela e um pequeno e triste som lhe escapou quando ela afastou o rosto.

— Me dê um ano. Um ano para conhecer a filha que não pude conhecer há mais de vinte e quatro anos. Deixe-me lhe dar tudo o que nunca pude antes, e se depois desse tempo você ainda estiver infeliz, discutiremos um caminho diferente para você.

Quando ela assentiu, Rob moveu-se contra as pontas das lâminas até que duas gotas de sangue quebraram a superfície.

— Davina, não concordo com isso, você é minha...

— Rob! — Davina levantou a mão trêmula para silenciá-lo antes que ele selasse os dois destinos. — Eu decidi. Você vai me deixar ir.

— Não! — Os olhos de Rob escurecido sobre os guardas por mantê-lo ainda sob laminas. Ele ia lhes quebrar os crânios ao meio e depois passar por cima dos cadáveres e matar qualquer outra pessoa que estivesse em seu caminho. Mas no instante em que ele se moveu, Jamie e seus irmãos jogaram seus corpos nos dele e o seguraram com a ajuda de seu pai.

— Eu deixo você viver, Robert MacGregor, — disse o rei James, apontando para seus guardas baixarem as armas. — Minha dívida com você está paga. Se você vir atrás dela, não terei escolha a não ser lhe matar.

— Por favor, não — Davina murmurou em um sussurro para o marido enquanto o rei a levava.

— Filho, ela faz isso por você, — Callum disse abafado, agarrando Rob por trás. — Ela quer que você viva.

— Rob, me perdoe, — implorou Colin. — Eu causei isso. — Seu pedido de desculpas foi interrompido por Rob jogando todos eles de cima dele.

Todos correram para a porta para impedi-lo de ir atrás dela. Angus a fechou com força e girou nos calcanhares para bloquear ainda mais a saída, caso Rob tentasse chutar a madeira. Mas Rob não se incomodou. Ela se foi. Não, ela escolheu sair, exatamente como ele temia. Em um instante ele foi trocado, derrotado, quebrado em dois. Ele deu as costas aos homens que o observavam, foi a uma cadeira e caiu nela sem dizer mais nada.

Ele não ouviu a porta se abrir novamente. Ele não se importava com quem entrava ou saía. Ela se foi. Isso era tudo que ele sabia.

Algum tempo depois, Maggie abriu a porta e disse a Rob e a seu pai que Colin deixou o solar, e tinha ido atrás do rei, prometendo consertar as coisas, e um novo medo desceu sobre ele.

— Você mentiu para mim. — Colin freou sua montaria que espumava depois de parar a tropa do rei logo além dos braços de Bla Bheinn. Ele não tinha levado muito tempo para alcançá-los, pois o rei e seus homens não tinha forçado suas montarias para os seus limites sobre as colinas íngremes e terreno lamacento como Colin tinha feito. Ele estava com raiva e queria respostas. Se ele tivesse que voltar para a Inglaterra para pegá-los, ele o faria. Ele estava ciente dos soldados do rei se movendo para cercá-lo, rapidamente para proteger seu rei. Colin lhes deu apenas metade da atenção. Se eles quisessem brigar, ele daria uma, mas primeiro ele diria suas palavras. — Você me deu sua palavra.

James levantou a mão, sinalizando para seus homens recuarem.

— E eu mantive. Sua família continua ilesa.

— Ilesa? — Colin fervia, olhando furioso para o homem que ele começara a gostar, até mesmo respeitar. — Você poderia muito bem ter cortado o coração do meu irmão!

Um som, como um gemido suave, chamou sua atenção para Davina, sentada em um cavalo manchado a alguns metros de distância. Quando ele encontrou seu olhar vermelho, desviou o olhar. Ele deveria saber que ela amava Rob. Ele deveria ter reconhecido pela maneira como ela olhava para o irmão dele enquanto viajavam de volta para Skye. O jeito que ela descansava contra o peito dele, um traço de puro contentamento curvando sua boca. Inferno, o que ele tinha feito?

— Eu não tenho controle sobre o coração do seu irmão, Colin.

— Sim, sim — argumentou Colin. — Você é a lei, não é? Você tem que levá-la embora, não? O que importa se uma Princesa Real ama um plebeu?

O rei ofereceu-lhe um sorriso triste.

— Você é jovem e tem muito a aprender.

— Sobre, amor? — Colin perguntou e depois assentiu. — Sim. Talvez eu tenha. Eu lhe trouxe aqui, porque fui um tolo e acreditava que você amava sua filha. Mas que tipo de pai poderia ignorar as lágrimas de sua filha? Você não pode ver que ela o ama? Não, você não consegue ver porque não a conhece, e coloca as leis antes dela, você nunca a conhecerá realmente.

— Dei-lhe muita liberdade para falar comigo, Colin MacGregor. Eu...

Colin não estava ouvindo. Alguém se moveu lentamente em sua montaria, à direita de Colin, e quando ele viu quem era, seus olhos brilharam como joias de fogo sob o sol da tarde.

— Oh, inferno, o que ele está fazendo aqui?

— O capitão Asher pertence à Inglaterra com...

— Ele pertence a um laço! Você arrasta sua filha dos braços do homem que teria dado a sua vida para protegê-la e exalta o homem que disse a Gilles onde encontrá-la na abadia?

— O que você está dizendo? — O rosto do rei ficou tenso de raiva, e ele se virou para Asher. — Isso é verdade?

— Sim — disse Colin antes que o capitão pudesse falar. — Ele admitiu para ela. Todo mundo em Camlochlin sabe disso.

— Eu vou te esfolar vivo.

— Pai, não! — Davina chutou o cavalo para a frente, vindo em defesa de Asher.

— Silêncio! — O rei ordenou sem olhar para ela, e parecia que até os pássaros no ar obedeciam.

Naquele momento de quietude surpreendente, outro som pôde ser ouvido à distância, e todos, exceto Davina para salvar o capitão de Colin, se voltaram para o grupo de cavaleiros que se aproximavam do vale profundo de Camlochlin.

Como Colin e Asher eram os únicos dois olhando para Davina, eles viram um brilho ofuscante da luz do sol vindo de além de uma crista rochosa à sua direita. Colin fez uma carranca, sem saber imediatamente o que havia causado sua cegueira momentânea, ou por que Asher decolou como uma bala de canhão indo direto para a esposa de Rob.

Um tiro foi disparado, ecoando através das encostas, assim que o capitão saltou da sela e colidiu com Davina, derrubando os dois no chão.

Em todo lugar ao redor de Colin, homens gritavam e se escondiam. Davina estava gritando, tentando se libertar do peso morto em cima dela. Eles estavam sob ataque, e ela era o alvo.

Puxando a espada da bainha, Colin foi até ela, mas Rob passou por ele em seu garanhão, saltou da sela e puxou o corpo de Asher para longe dela.

Colin ouviu o irmão gritar com Will quando uma pequena horda de mais homens apareceu de onde eles estavam esperando que a tropa do rei passasse. Alguns deles brandiram pistolas e acabaram rapidamente com quatro dos soldados do rei antes mesmo da batalha começar.

Colin odiava pistolas. Ainda mais, ele odiava homens que as usavam para tentar matar bonitas moças que provavelmente implorariam por suas almas diante de Deus depois que a matassem.

Graças a esse primeiro flash de luz, ele sabia onde o bastardo que atirou em Davina estava escondido. Ele viu o covarde deixar seu esconderijo para lutar ao lado de seus amigos e, com um sorriso frio e impiedoso como uma noite de inverno nas Highlands, Colin escorregou da sela e correu direto para ele. Ele não parou nem diminuiu o passo, mas girou a lâmina mortal na mão, fazendo-a dançar sob seu comando. Ao avistá-lo, seu inimigo correu para colocar mais pó e carregar sua arma, mas ele se atrapalhou, ficando mais frenético quando Colin correu para mais perto.

— Sinto que é justo dizer a você, — alertou Colin, prestes a cair sobre ele, — que não me oponho em matar homens desarmados.

O homem ergueu os olhos da pistola impotente e depois os fechou um instante antes de Colin o separá-lo da cabeça.

Depois disso, Colin virou o rosto manchado de sangue para o próximo atirador e sorriu.

Rob assistiu Will desaparecer em seu cavalo com Davina além da sombra de Bla Bheinn. Quando teve certeza de que estavam a salvo, ele arrancou a espada da bainha longa e se virou para entrar no combate que ganhava vida à sua volta. Ele olhou para baixo a tempo de ver os olhos de Asher se abrirem. O capitão havia recebido uma ferida fatal e estava prestes a morrer, mas o terror que aumentava seu olhar não era para si mesmo.

Com tiros soando ao redor deles, Rob arrastou o capitão para uma pequena inclinação e se agachou ao lado dele. Quaisquer que fossem os pecados que Edward Asher havia cometido no passado, ele amava Davina e dera a vida para salvá-la. Rob devia muito a ele.

— Ela está segura, capitão, — disse ele. — Você salvou a vida dela mais uma vez.

Edward genuinamente sorriu para ele pela primeira vez e uma gota de sangue escorreu entre seus lábios.

— Gilles, — ele murmurou.

— Sim, eu sei, — disse Rob, ficando sério. — Prometo que será minha lâmina que o matará, mas você deve descrevê-lo para mim.

Puxando seu último suspiro, Edward disse a ele.

— Cabelo escuro... olhos frios.

Rob ficou de pé quando não havia mais nada que ele pudesse fazer pelo amigo de Davina. Ele estava pronto para encontrar Gilles e matar tantos desses bastardos holandeses quanto possível que estivessem no seu caminho.

— Formação! — Ele ouviu o comando frenético de um homem atrás dele. — Levem o rei de volta ao castelo!

Rob virou-se para ver sete soldados ingleses em volta do rei, prontos para fugir.

— Não! — Gritou ele, sua voz sobressaindo aos outros. — Está muito aberto. Todos serão mortos antes de alcançarem a segurança. — Moveu-se para a frente, e embora ele estivesse a pé e os soldados a cavalos, eles se voltaram. — Para lá, — seu olhar firme encontrou o rei — além daquela colina. É mais profundo do que este local e eles não poderão atirar a esta distância. — O rei assentiu. — Espere lá até pararmos suas pistolas.

— Então é melhor se apressar, — disse o rei James, inclinando a cabeça em volta do ombro de Rob. — Seu irmão está tentando matar todos eles sem qualquer ajuda.

Rob se virou e, junto com o rei, viu seu irmão mais novo abrir caminho por mais três atiradores e sair ileso. Inferno, ele era imprudente e Rob notou isso com um orgulho aterrorizante.

— Vão! — Ele girou para os homens do rei. — Lembre-se de esperar.

De uma posição cuidadosamente guardada atrás de uma das muitas encostas rochosas que pontilhavam o terreno aberto, o rei James observou Robert MacGregor com algo parecido a uma descrença aturdida marcando suas feições. O Highlander passou de um comandante tático a um guerreiro selvagem com o primeiro arco de sua lâmina. Ele saltou no cavalo e cavalgou direto para a luta, cortando torsos e membros com velocidade, potência e precisão, garantindo que um golpe servisse ao seu propósito de levá-lo ao próximo homem mais rapidamente. James queria Rob em seu exército e seu irmão com ele. Mas ele queria algo ainda mais, algo para ela.

Ele olhou para Bla Bheinn, sabendo onde sua filha estava escondida em segurança e sabendo a quem agradecer. Ele sabia também que Gilles, que Deus não tivesse piedade da sua alma de coração negro, estava por trás desse ataque. James o queria vivo para a roda, mas onde nas chamas do inferno estava ele?

Rob sabia que a luta havia se inclinado a favor deles. Mesmo sem os ingleses ao seu lado, os MacGregors não perderiam esse dia para seus inimigos. A maioria dos homens de Gilles estavam espalhados no chão, um bom número deles, por sua lâmina. Os únicos tiros que estava sendo disparados eram dos ingleses e o rei estava voltando para o castelo. A batalha estava quase no fim e Rob ainda não havia encontrado Gilles. Nenhum dos homens que ele matou se encaixava na descrição de Asher. Seus olhos estavam aterrorizados, não frios. Onde diabos estava o bastardo? Ele já poderia estar morto? Rob esperava que não. Ele girou o cavalo para encontrar o próximo oponente e ficou cara a cara com um.

— Espere! — O homem gritou quando Rob ergueu sua lâmina. — Há algo que devo lhe dizer antes que você me mate!

— Você não tem muito tempo — prometeu Rob, circulando-o, sua lâmina estendida e pronta.

— Sou o capitão do almirante, Maarten Hendrickson. Você deve voltar ao castelo agora. Vá ao rei e à filha dele.

Rob olhou para o vale que levava a Camlochlin e à pequena tropa do rei ao longe. Ele sabia que Davina não estava com eles. Will não a teria movido até que a batalha terminasse.

— Gilles está entre eles, — disse o capitão Hendrickson, acalmando o coração de Rob. — Ele pegou um casaco do corpo de um inglês e se juntou aos soldados do rei na retaguarda quando eles...

Um tiro soou perto da orelha de Rob. Tão perto, de fato, que ele ficou momentaneamente surdo. A alguns metros dele, o capitão de Gilles escorregou de seu cavalo, sangue e fumaça saindo de um buraco no peito. Rob se virou quando o holandês caiu no chão e olhou para o irmão, subindo a colina, acenando para afastar uma nuvem de fumaça no rosto. Colin sorriu para ele através do nevoeiro, levou o cano de uma pistola aos lábios e soprou. Rob se foi antes que seu irmão enfiasse sua nova arma no cinto.

 

Capítulo Trinta e Seis

— Sua filha é uma cadela difícil de matar, James.

O rei estava em seu cavalo. Ao seu redor, os sete homens que o acompanharam no vale profundo jaziam mortos. Estavam perto do castelo quando seu primeiro soldado caiu. Depois disso, tudo aconteceu rapidamente. Os homens do rei mal tiveram tempo de reagir antes de serem derrubados por um deles, sua lâmina brilhando em vermelho sob o sol, rápida e inesperada. Mas esse assassino não pertencia ao regimento de James e, quando o rei encontrou seu rosnado profano, ele quase admirou a astúcia e determinação do homem.

— Você arruinou todos os meus planos cuidadosamente planejados. Você e aquele bastardo MacGregor.

James olhou em volta em busca de ajuda, mas o restante de seus homens estava muito longe, lutando e vencendo, com a ajuda dos MacGregors. Ele pegou sua espada, mas o homem que se aproximava a cavalo apenas riu.

— Gilles, — James cuspiu quando a ponta da lâmina do almirante cutucou seu peito. — Verei você esmagado sob a roda.

— Você verá? — O almirante riu de novo, saltando do cavalo e instruindo o rei a fazer o mesmo. — Eu acho que será você cuja vida terminará neste dia. — Ele empurrou James para fora do caminho e se escondeu atrás de uma encosta montanhosa pontilhada de ovelhas. — Pretendo cortar seu coração para abrir caminho para o verdadeiro rei. Não será como meu lorde planejou, mas não tenho escolha agora. Eu poderia atirar em você e fazê-lo rápido, mas mesmo correndo o risco de estar em perigo, quero olhar nos seus olhos enquanto você morrer. Quanto à sua filha, se eu não a matar, alguém será enviado depois que você morrer. Ela nunca estará segura enquanto estiver nesta terra.

— Ninguém vai passar pelo seu tutor. — James sorriu da mesma forma, vitorioso, lembrando a habilidade e o poder de Robert MacGregor.

— Veremos sobre isso. Bem, você não vai, mas eu posso. — Gilles deu um sorriso e deslizou sua lâmina quase amorosamente pela garganta de James, sem tirar sangue. Ele estava brincando com ele, aproveitando os últimos momentos do rei. — Agora que eu a vi — ele se inclinou para que sua respiração caísse no rosto de James — Estou um pouco mais inclinado a fazê-la gritar embaixo de mim antes de matá-la.

James fechou os olhos, enojado com o pensamento.

— Você nunca vai tocá-la. — Ele rezou para que fosse assim. Ele implorava a Deus para proteger sua filha deste diabo. Quando ele abriu os olhos novamente, Gilles deu um passo para trás. Um movimento ao longo da encosta chamou a atenção do rei. Alguém estava vindo, movendo-se silenciosamente contra o vento. A respiração do rei parou quando ele viu que era Robert MacGregor.

Ficar embaixo, imponente, do raivoso louco do solar teria sacudido os nervos de qualquer homem, mas vê-lo rastejando para a frente, a claymore ensanguentada na mão e a promessa de morte em seus olhos, era aterrorizante. O rei se perguntou se aquele homem que claramente amava sua filha estava vindo atrás de Gilles, ou dele?

Gilles pegou a direção do olhar de James por cima do ombro e começou a se virar.

Com menos tempo do que o Almirante levou para mudar a direção de seu florete, o Highlander se lançou para a frente e derrubou a lâmina em um golpe que cortou o pulso de Gilles.

O sangue espirrou no peito de James e o rei olhou horrorizado e satisfeito para a espada de Gilles caída no chão com a mão ainda presa a ela.

— Isso é por trazer homens para minha terra, — MacGregor rosnou enquanto Gilles olhava boquiaberto para o maldito cotó. — E isso, — moveu-se como uma rajada de vento, e sem perder tempo em palavras ociosas ou ameaças, afundou sua espada profundo na barriga do Almirante — é por tentar matar minha esposa.

O rei James olhou silenciosamente para o perfil duro de MacGregor, fixado na vida que desaparecia dos olhos de Gilles. A esposa dele? O pai de Davina mal teve tempo de absorver o que acabara de ouvir, ou pensou ter ouvido, quando o assassino eficiente soltou sua arma e se aproximou dele.

— Você está ferido?

James balançou a cabeça.

— Não, eu... O que você disse a ele naquele momento? — Ele provavelmente não deveria ter feito essa pergunta em particular, pois o Highlander de repente olhou para ele com o mesmo ódio inflexível que acabara de mostrar ao morto atrás dele. Ódio, e algo mais.

— Você ouviu direito. Davina é minha esposa e não posso deixar que você a tire de mim.

Naquele instante, James estava certo de que MacGregor iria matá-lo. Mas Rob não levantou a lâmina, e a raiva em seu olhar se transformou em um apelo desprezível.

— Porventura nunca amou uma mulher mais do que a sua própria vida? E por essa mulher teria sacrificado tudo?

James piscou para ele e sentiu uma onda de tristeza tomar conta dele, que não sentia desde a noite da morte de sua primeira esposa. Mesmo a suposta morte de sua filha não havia superado a angústia de perder sua querida Anne.

— Sim, devo confessar que amei uma mulher assim. Eu sacrifiquei uma futura coroa quando me casei com ela e segui sua fé.

Não era a resposta que MacGregor esperava e, por um momento, ele simplesmente olhou para James surpreso.

— Então você deve saber o quão sério eu sou. Minha esposa não voltará para a Inglaterra com você.

— Filho, — começou o rei, — falemos disso mais tarde. Eu estou... Atrás de você! — Ele gritou, os olhos arregalados e agarrou os ombros de MacGregor para empurrá-lo para fora do caminho.

Por um instante, Peter Gilles ficou imóvel, o braço inútil pressionado contra a barriga ensanguentada, a outra erguida acima do seu ombro, pronto para derrubar a espada. A flecha projetada para fora de seu pescoço o deteve. Quando ele caiu no chão, seu sangue se derramado na grama, James olhou para as encostas de Bla Bheinn. A filha dele estava de pé contra um pano de fundo de rocha impenetrável, suas longas madeixas claras estalando atrás dela quando ela deixou cair um arco e começou a correr.

— Rob! — Sua voz doce e desconhecida foi carregada através dos pântanos, voltando o olhar do pai para o homem ao lado dele. Silenciosamente, ele a viu voar para os braços do Highlander, onde, após um beijo choroso, ela o examinou em busca de ferimentos. — E você, pai? — Ela se virou para James. — Você foi ferido?

O rei balançou a cabeça negativamente. Pelo menos, não visivelmente. Mas com que direito ele esperava que esse guerreiro não viesse antes dele? James tinha dado muito pouco à filha. Ele ficou longe por muito tempo e a perdeu. Ela não disse a ele que amava Robert MacGregor, mas ficou claro que sim. Ele poderia tirar ainda mais dela?

Ele quase se encolheu com o enxame de Highlanders cavalgando pelas colinas, com as espadas ensanguentadas erguidas sobre a cabeça. Meu Deus, eles eram muito ferozes. Entre eles, o restante de seus homens parecia cansados e sem vida.

— O que aconteceu? — O Laird MacGregor exigiu quando saltou da sela ao alcançá-los. — Aquele é Gilles?

Robert contou a ele tudo o que havia acontecido e, depois do Laird ter certeza de que nenhum deles estava ferido, ele os levou para casa.

 

Capítulo Trinta e Sete

O rei estava sentado no Salão Principal do Castelo de Camlochlin, bebendo uma mistura letal que os MacGregors chamavam carinhosamente de “o melhor veneno nas Highlands”. Ele tinha que admitir que a bebida era excepcional, se não um pouco abrasadora no início. Depois de enterrar os mortos, eles beberam a vitória de uma boa luta e dos treze soldados caídos do rei que um jovem chamado Finn prometeu honrar em uma música mais tarde.

A filha de James não estava entre os que estavam na mesa. Ela estava em algum lugar na companhia da esposa do Laird e da irmã dele. Segundo Finn, Maggie MacGregor amava Davina como sua própria filha, e se o rei tentasse buscá-la antes do fim da celebração, Katie MacGregor lhe daria uma chicotada de língua que ele não esqueceria tão cedo, sendo rei ou não.

Enquanto James ouvia o riso dos homens à sua volta, ele pensou em dias passados, quando lutou na Espanha e na França, ao lado de homens que se tornaram seus irmãos.

Essa mesma camaradagem e respeito existia aqui. Esses homens sabiam que, o que quer que viesse, eles lutariam juntos para proteger sua casa. Não porque eles precisavam, mas porque eles eram como uma família. Era difícil encontrar essa lealdade na Inglaterra, e James não podia culpar Davina por não querer ir embora. Depois de ver os MacGregors brigando, ele sabia que Colin tinha sido sincero quando disse que não havia lugar mais seguro para Davina do que em Camlochlin. Como ele poderia tirá-la disso e levá-la a um lugar onde todo sorriso era falso e qualquer mão poderia estar se levantando contra ele? Quão sábio seria para ele, estar no trono por tão pouco tempo, e expor seu segredo mais precioso ao mundo? Mas ele queria conhecê-la, ouvir sobre sua vida e descobrir o que a fazia rir ou chorar. Ele queria finalmente levá-la para casa, mas havia mais para sua filha aqui do que apenas segurança e confiança.

Lá estava ele. James olhou do outro lado da pesada mesa para Robert MacGregor, olhando para o copo como se tivesse perdido as duas pernas na batalha. Ele não tinha dúvidas de que o homem amava Davina, ou que ele mataria ou morreria por ela. Ele sabia que era mais do que os maridos de suas outras duas filhas fariam por suas esposas, e não menos do que ele teria feito por Anne Hyde. Sua Anne, sua amada. O que ela teria a dizer sobre tudo isso? Eles haviam desistido de Davina para protegê-la, para garantir uma monarquia católica no futuro. Mas tinha que ser Davina? Ela não fora criada para ser rainha. Ficou claro para seus olhos que ela não tinha o desejo implacável de governar, ao contrário de sua segunda filha mais velha. Sua esposa Mary era jovem e disposta em sua cama. Se ela lhe desse um herdeiro...

— Milorde, você e seus homens são bem-vindos a ficar em Camlochlin por quanto tempo quiser.

James virou-se para Callum MacGregor e sorriu.

— Por mais que eu goste disso, receio ter que voltar à Inglaterra com pressa. Saímos sem uma palavra e eu tremo só de pensar que meus filhos em lei estão planejando na minha ausência.

Callum assentiu e olhou fixamente para o filho.

— Você ensinou seus filhos a lutarem bem, MacGregor. A habilidade deles supera a de alguns dos meus capitães. Há uma pergunta que eu colocaria para você, mas primeiro eu perguntarei a Robert.

Callum assentiu e olhou para o filho se juntar ao rei.

— Lá atrás, — James disse, apontando o queixo para o Norte, — quando meus homens estavam prestes a me trazer aqui e você os parou, não percebeu que se eu fosse baleado e morto, ela estaria livre? Ninguém sabe que ela está aqui, exceto nós e Gilles, que não é mais uma ameaça. Por que você me protegeu?

Por um momento, Robert simplesmente o olhou como se ele realmente não soubesse como responder à pergunta. James esperava que confessasse sua lealdade ao rei. A pergunta que ele queria fazer a Callum em seguida dependia disso.

— Eu simplesmente fiz o que é da minha natureza fazer.

O primeiro instinto do rapaz foi proteger. O rei não poderia culpar tal resposta, embora não fosse o que ele esperava. No entanto, ele engoliu a bebida, dando a si um momento ou dois a mais para decidir qual a melhor maneira de propor sua próxima pergunta e depois se voltou para o Laird. Ele não precisava de permissão para chamar alguém para seu exército, mas queria manter os MacGregors ao seu lado. Qualquer rei seria tolo se não quisesse.

— Gosto muito de Colin. Ele é corajoso, ousadamente honesto e bastante mortal com uma espada. Ele já sabe muito sobre a política da terra e despreza os Covenanters tanto quanto eu. Robert, eu ainda não disse, mas sua habilidade em campo hoje me impressionou. Gostaria de levar seus filhos para a Inglaterra comigo e alistá-los no meu exército. Colin é o mais novo, eu sei, mas com...

— Eu não tenho interesse na Inglaterra, — Rob interrompeu-o sem hesitação. — Meu lugar é aqui e não vou deixar esse lugar.

— Mas filho, — implorou o rei. — Você e Davina podem...

— Viver a cada dia se perguntando que mão oculta o próximo punhal planejando matá-la? — Rob terminou por ele. — Essa é a vida que você quer para ela? Inferno, ela merece mais do que isso. Eu posso dar a ela, mas não na corte. Nem eu posso protegê-la das centenas de inimigos desconhecidos.

James sentou-se na cadeira, incapaz de discutir a verdade. Ele mal estava no trono há um mês e seus inimigos já haviam tentado matá-lo. Quanto tempo Davina duraria se a próxima tentativa fosse bem-sucedida?

— Ela é minha filha, — disse ele em voz baixa.

— E ela provavelmente está carregando o meu.

Todo homem das Highlands ao redor da mesa pareceu gemer ao mesmo tempo. O Laird parecia estar gravemente doente. Atordoado pela coragem de Robert e por sua arrogância de deixar escapar uma coisa dessas, o rei começou a se levantar.

— Você entende o que posso fazer com você por isso?

— Sim, eu sei, — respondeu Robert, erguendo a palma da mão para impedir que o pai falasse em sua defesa. — Mas que tipo de pessoa eu seria para não fazer tudo o que posso para proteger meu filho? Quão diferente eu sou de você?

O rei caiu de volta na cadeira e fechou os olhos. Todas as escolhas que ele já fizera envolvendo Davina voltaram à sua mente. Ele fez tudo para protegê-la, mesmo à custa da objeção de seu irmão, o rei.

— Eu vou.

James abriu os olhos e olhou, junto com todos os outros, para Colin.

— Não, — o Laird respondeu rapidamente. — Seu lugar é aqui com seus parentes.

— Pai, eu não quero passar minha vida lutando contra os MacPhersons sobre o gado. Rob será Laird algum dia. Não há nada aqui para mim. Eu quero lutar por algo em que acredito.

— Precisarei de um homem com inteligência e habilidade para proteger meu filho, — interrompeu o rei, — caso tenha a sorte de ter um no futuro.

— Então você acredita nas causas da Inglaterra agora? — Perguntou o pai de Colin, cético.

— Eu acredito nele. — Colin mudou seu olhar para o rei. Um toque de sorriso pairou sobre seus lábios e então sua expressão endureceu. — Eu vou, Sua Majestade. Mas peço-lhe para poupar meu irmão em troca.

James colocou seu olhar frio sobre Colin e depois sobre seu irmão mais velho.

— Peça outra coisa para mim. Eu já decidi perdoar o campeão da minha filha. Quanto ao futuro dela, vou deixá-la decidir.

Surpreendentemente, James notou o olhar ansioso no rosto de Rob. Ele duvidava que Davina o escolhesse? Por quê? Quando estava tão claro que ela o amava?

— Traga-a para mim, sim, Robert? Confio que sua mãe e sua tia não se ofenderão em entregá-la a você.

Robert levantou-se da cadeira e caminhou em direção as escadas com uma carranca determinada, muito parecida com a que ele usava no campo de batalha. Observando-o sair do salão, o rei sabia que, independentemente da vida que sua filha escolhesse, Robert MacGregor não a abandonaria sem brigar.

— Colin, — disse o pai, arrastando os pensamentos do rei de volta para a mesa. — Você tem certeza isso? — Sua preocupação com seu filho mais novo ainda marcava a sua testa.

— Sim, tenho. Alguém tem que manter os protestantes à distância e nada melhor que eu e Mairi.

O pai dele não riu. Na verdade, James notou que ele ficou ainda mais pálido do que antes.

— Sua filha é tão leal à Escócia quanto seus filhos? — Perguntou o rei.

— Pior.

James riu, mas invejou o poderoso Laird por sua bela família. Foi só quando ele viu Rob trazendo sua linda filha pelas escadas que ele sentiu o favor de Deus em sua vida. Ele amava suas filhas, Mary e Anne, mas elas haviam crescido vivendo na corte, e tiveram seus casamentos arranjados com homens que não amavam. Tudo sobre Davina era delicado e gracioso, como um cisne claro deslizando em sua direção. Sua marcha carecia do ar de superioridade que suas irmãs possuíam. A inclinação do queixo de Davina foi forjada com força interior, não presunção. Observando-a, ele pensou em sua primeira esposa. Anne nunca se importou em se tornar rainha. Ser dele era suficiente e ela encheu seus salões e seus dias com sua risada. Ela gostaria da mesma vida para sua primogênita.

Quando o alcançaram, o olhar desafiador de Davina seguiu James quando ele se levantou, mas ela não disse nada e se agarrou à mão do marido.

James cruzou as mãos atrás das costas para evitar arrastá-la para ele e se alegrar com o fato dela viver.

— Você se casou sem o meu conhecimento ou consentimento, filha.

— Você não estava aqui para dar, — ela respondeu uniformemente.

— Não, não estava. Um erro imperdoável que pretendo remediar.

Ele quase sorriu quando os olhos dela se suavizaram nele. Toda a sua esperança não foi perdida por ele.

— Claramente você não foi forçada a se tornar sua esposa.

Sua boca relaxou em um sorriso espontâneo quando ela olhou para o homem ao seu lado.

— Eu estava em êxtase.

— Então eu estou preparado, — anunciou James, afastando a atenção um do outro e de volta para ele, — para permitir que você permaneça aqui com ele, se quiser.

— Se eu quiser...? — Sua voz sumiu quando seus grandes olhos se arregalaram mais e se encheram de lágrimas. — Eu escolho ficar aqui com ele.

James sorriu, finalmente capaz de conceder à filha algo que ela desejava. Ele não tinha ideia de que acabara de se tornar sua estrela brilhante no céu.

— Então aceite o primeiro dos muitos presentes que lhe darei e aceite minha bênção.

Os homens ao seu redor aplaudiram e alguém até bateu nas costas dele, mas o rei James não viu ninguém, não ouviu ninguém a não ser a garota diante dele, e então ela estava em seus braços e ele finalmente se sentiu perdoado.

— Você e eu temos muito a conhecer um sobre o outro, filha, — ele sussurrou perto do ouvido dela. — Eu a estarei visitando frequentemente.

— Eu gostaria disso, pai. Muito.

Rob puxou a túnica por cima da cabeça e subiu na cama. A luz das velas banhou seu rosto em amplos traços de luz e escuridão. Sob o cacho de cabelo charmoso caindo sobre sua testa, seus olhos brilhavam com o desejo que o consumia. Davina estendeu os braços para abraçá-lo mais.

— Quando foi o dia em que você soube que me amava? — Ela perguntou quando a boca dele caiu gentilmente na dela. — Quero agradecer a Deus por isso todos os dias e noites.

— Foi no primeiro dia que eu a conheci, — Rob disse a ela, mordendo o lábio. — Você acabara de perder tudo, e eu queria lhe devolver tudo.

— Você conseguiu e me deu ainda mais. — Ela mordeu os lábios e fechou os olhos ao senti-lo quente e grosso contra sua entrada.

— Eu nunca duvidei que sim. — Ele a penetrou com um sorriso tão inebriante quanto qualquer outro centímetro dele.

— Você não falhou em nada, então?

— Eu sou um MacGregor, — ele gemeu contra seu queixo, enviando uma onda de prazer através de seu corpo. — Há muito pouco que não fazemos direito.

— É mesmo? — Ela levantou uma sobrancelha provocadora para ele e o rolou de costas. Montando nele, ela olhou para seu peito largo e sua barriga lisa e plana e sorriu maliciosamente enquanto o enterrava profundamente dentro dela. — Sorte sua então. Agora sou uma MacGregor também.

— Sim, e você é minha.

Ela era dele, e era mais do que suficiente para manter seu salão sempre cheio de sua risada.

 

 

 

Notas

 

[1] Nae: Não. - Aye: Sim.
[2] Lápis-lazúli ou lazulita é uma rocha metamórfica de cor azul, de opaca a translúcida, composta especialmente de lazurita e calcita utilizada como gema ou como rocha ornamental desde antes de 7 000 a.C.
[3] O Agapornis roseicollis ou Inseparável-de-faces-rosadas é uma das espécies do género Agapornis, originários da África. Descoberta no sudoeste da África em 1793, os pesquisadores pensaram ser um subespécies de Agapornis pullarius, mas em 1817 foi reconhecida como uma espécie diferente.
[4] Protestantes e membros do partido constitucional e reforma britânico que buscava a supremacia do Parlamento e acabaram sendo sucedidos no século 19 pelo Partido Liberal.
[5] Ato de Prova ou Lei do Teste é uma série de leis penais inglesas do século XVII que instauravam a revogação de diversos direitos cívicos, civis ou de família para os católicos e outros dissidentes religiosos não anglicanos.
[6] O Almirantado foi antigamente o responsável pela Marinha Real Britânica. Originalmente ostentado por uma só pessoa, o título de Lord High Admiral foi desde o século XVIII colocado invariavelmente "em comissão" e exercido por um Conselho do Almirantado, oficialmente conhecido como The Commissioners for Exercising the Office of Lord High Admiral of the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland, &c. (em português traduz-se como "Os Chefes para Exercício do Cargo de Lord High Admiral do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, &c.").
[7] Motte – uma colina feita de terra para assentar o castelo. Bailey é o pátio interno do castelo, onde geralmente os homens de armas praticavam.
[8] Os Covenanters eram um movimento presbiteriano escocês que desempenhou um papel importante na história da Escócia e, em menor escala, da Inglaterra e da Irlanda, durante o século XVII.
[9] Firth of Clyde ou fiorde de Clyde, ou ainda estuário de Clyde ou mar de Clyde é um golfo de cerca de 42 km de comprimento, situado na costa ocidental da Escócia e separado do Oceano Atlântico pela península de Kintyre
[10] Um kirtle (às vezes chamado cotte, cotehardie) é uma peça de vestuário usada por homens e mulheres na Idade Média. Eventualmente, tornou-se uma peça de vestuário usada por mulheres desde o final da Idade Média até o período barroco. Entre as roupas mais comuns do final da Idade Média (entre 500 e 1500) estavam a cote e seu descendente, a cotehardie. Provavelmente uma variação da longa túnica bizantina conhecida como dalmatica, a costa era uma túnica longa usada por homens e mulheres. A roupa folgada foi puxada sobre a cabeça, e seu pescoço e mangas justos provavelmente foram presos na parte de trás do pescoço e no pulsocom botões ou atacadores.
[11] Taberneiro.
[12] Crianças.
[13] Guilherme I de Orange-Nassau (24 de abril de 1533 – 10 de julho de 1584), em neerlandês Willem bla Oranje, também conhecido como o Guilherme, o Taciturno (Willem de Zwijger), foi Príncipe de Orange, Conde de Nassau (Guilherme IX de Nassau), líder da casa de Orange-Nassau e o grande impulsionador do movimento de independência dos Países Baixos. Após um período como stadthouder (regente) das províncias da Holanda, Zelândia, Utrecht e Borgonha, ao serviço da casa de Habsburgo, deu início à revolta que marcou o princípio da guerra dos oitenta anos, sendo declarado como fora-da-lei por Filipe II de Espanha em 1567. Guilherme não assistiu ao sucesso da sua causa, que chegou apenas em 1648 com o fim do poderio espanhol na região, e morreu assassinado por Balthazar Gerardts em Delft.
[14] A Crise de Exclusão correu de 1679 a 1681 no reinado de Carlos II da Inglaterra. O Bill de Exclusão procurou excluir o irmão e o herdeiro do rei, presunçosos, James, Duke of York, dos tronos da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda porque era católico romano. Os Tories se opuseram a essa exclusão enquanto o "Country Party", que logo se chamaria Whigs, o apoiava. Retrato do Duque de York como Lord High Almirante da Inglaterra. Em 1673, o duque de York, que se converteu ao catolicismo, renunciou como Lord High Almirante em vez de tomar o juramento anti-católico prescrito pela Lei de Testes. Gravura mostrando "Uma procissão solene de simpatia do papa", realizada em Londres em 17 de novembro de 1680. Os Whigs organizaram as efígies do Papa, cardeais, frades e freiras pelas ruas de Londres e depois incendiaram uma grande fogueira. Em 1673, quando ele se recusou a prestar o juramento prescrito pelo novo Ato de Teste, ficou sabendo publicamente que o Duque de York era um católico romano. O seu secretário, Edward Colman, foi nomeado por Titus Oates durante a trama Popish como um conspirador para subverter o reino.
[15] Gurupés é um mastro que se projecta, quase na horizontal, para vante da proa de um navio. É bastante usual nos grandes veleiros.
[16] Durante o período da Idade Média, o canhão tornou-se efetivo, com funções de artilharia anti-infantaria e como ferramenta de cerco. Afirma-se que o primeiro canhão europeu foi usado no século XIII, na Península Ibérica, durante os conflitos entre islâmicos e espanhóis. Já o canhão inglês foi usado pela primeira vez na Guerra dos Cem Anos, na Batalha de Crécy, no ano de 1346. O canhão mais antigo conhecido é datado de 1282 e encontrado na Manchuria mongol. Na Europa Medieval, os andaluzes utilizaram os canhões dos mouros nos cercos de Sevilha (1248) e em Niebla (1262). O primeiro canhão de metal europeu era carregado com munições semelhantes a flechas, envoltas em couro, o que permitia maior poder de perfuração.
[17] Bluebell, flor azul-violeta típica das florestas antigas da Grã-Bretanha, parecem sinos e são confundidas com jacintos.
[18] Ferry – balsa ou barco.
[19] Em Gaélico Camas significa baia, quando se refere a lagos. Baia das espumas brancas.
[20] Trencher – tábua para carnes e frios.
[21] A roda de despedaçamento, conhecida também como a roda de Santa Catarina ou apenas a roda, era um instrumento de tortura utilizado para executar penas capitais desde a Antiguidade Clássica até o início da modernidade, principalmente em execuções públicas nas quais o condenado era preso à roda e tinha os seus ossos quebrados com maças e martelos até a morte. Como forma de punição post mortem para humilhar o condenado, a roda ainda era utilizada na Alemanha no século XIX
[22] O esporte que atualmente é conhecido como 'Tênis' originou-se no século XIX, na Inglaterra, sendo o descendente direto do que hoje é conhecido como "Ténis real" ou "Jeu de paume" (que continua a ser jogado hoje como um esporte separado com regras mais complexas). No período medieval uma forma de tênis é descrita como tênis real. O Real tênis evolui nos últimos três séculos, de um jogo primário que envolvia bola ao redor século XII na França, na qual, continha golpear uma bola com a mão uma única vez e depois com uma luva. No século XVI, a luva se torna uma raquete, e o jogo tinha-se movido para uma área fechada, e as regras começaram a ser estabilizadas. O Real tênis começou a ganhar popularidade na realeza europeia, alcançando grande fama ainda no século XVI.

 

 

                                                   Paula Quinn         

 

 

 

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