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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


RENDIÇÃO TOTAL / Jan Hudson
RENDIÇÃO TOTAL / Jan Hudson

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Despertou repentinamente, com o coração golpeando suas costelas. Alargou a mão para tocá-la, mas o sítio estava vazio. Algo lhe disse que se partiu fazia momento, mas se levantou da cama gritando seu nome. O único signo de que tinha estado ali, a taça de champanha na mesinha de noite.

Amaldiçoando entre dentes, Jackson tomou o telefone e chamou recepção.

-A senhorita Emory se partiu do hotel -disseram-lhe.

-Que se foi? Quando?

-Não sei. Quer que o comprove no ordenador?

-Sim.

Jackson amaldiçoou um pouco mais enquanto esperava e de novo quando lhe disseram que se partiu às nove da manhã, com o qual lhe levava três horas de vantagem.

Eram as doze?

O nunca se levantava tarde... mas aquela noite logo que tinha dormido. Não se cansava dela. Jamais tinha conhecido a ninguém como Olivia, nunca tinha tido tal conexão com uma mulher.

Desde que a viu no jantar a noite antes das bodas soube que era alguém muito especial.

E todo mundo se deu conta da química que existia entre a dama de honra do Irish Ellison e o padrinho do Kyle Rutledge.

O problema era que sempre estavam rodeados de gente, como ela desejava. Inclusive lhe havia dito que se perdesse quando a tirou do braço para sair ao jardim. Mas Jackson não se rendeu. Deus não lhe tinha dado muito cérebro, mas sim sorte e determinação. E estava decidido a conseguir a Olivia Emory como fora.

Jackson ficou as calças do smoking e as botas jeamas e começou a lançar maldições ao não encontrar a camisa. A toda pressa, ficou uma sudadera dos Cowboys de Dallas que tirou da gaveta e entrou no elevador.

Quando saiu do hotel estava nevando. O taxista ganhou uma gorjeta por lhe economizar uns minutos, mas quando chegou ao aeroporto do Akron descobriu que o vôo da Olivia tinha saído duas horas antes e que, nesse momento, as pistas estavam fechadas pela neve até que passasse a tormenta.

Enquanto voltava para hotel, Jackson se sentia como um homem quebrado. Estava coado pela Olivia Emory. Coado como nunca.

Era estranho que se fixou nela, por bonita que fora. Olivia era uma garota muito brilhante e ele, mais parvo que Abundio. E nunca lhe tinham gostado das mulheres que se fazem as duras. Conhecia muitas com vontades de farra para perder o tempo.

Mas ela era especial. Soube desde o começo.

Tinha estado observando-a durante todo o fim de semana nas bodas de sua primo Kyle porque, apesar do que dissesse, tinha a impressão de que também ela se sentia atraída. Mesmo assim, não o deixava apertá-la na pista de baile e se comportava como uma professora de escola.

Até que, de repente, esmagou-se contra seu peito.

-me leve dançando até a saída -disse-lhe ao ouvido-. E vamos daqui.

-Está doente?

Olivia negou com a cabeça.

Jackson não questionou a repentina mudança de opinião, atribuindo-o a sua proverbial boa sorte... ou a seus encantos masculinos. Saíram do hotel e foram a um pequeno restaurante, onde tomaram champanha e falaram até as tantas.

E riram. riram muito. Gostava de sua risada, sexy como o demônio. Jackson lhe contou um montão de piadas solo para vê-la rir.

De volta no hotel, beijou-a no elevador. E quando se abriram as portas, entraram em sua suíte como se fora o mais natural do mundo. Fazer o amor com a Olivia tinha sido incrível. mais do que nunca tivesse imaginado.

E pela manhã ela tinha desaparecido. Jackson tinha o coração quebrado... e estava gelado.

Só então se deu conta de que não levava casaco. Aquela mulher havia o tornado majareta.

Quando estava pedindo a chave de sua habitação, o recepcionista lhe deu um envelope.

-O que é isto?

-Uma mensagem para você, senhor.

Jackson abriu o envelope e leu a nota, incrédulo. Depois, fez uma bola com o papel e entrou de duas pernadas no elevador.

Pensava ir a Washington embora tivesse que fazê-lo em uma máquina máquina de limpar neve.

 

 

 

 

Aquilo era um engano, pensou Olivia, sentada no banco de uma igreja de Dallas.

Não deveria haver-se deixado convencer por seu amiga Irish para ir à bodas de sua irmã. As bodas dão má sorte. Se tivesse seguido até Austin sem parar-se em casa do Irish, não estaria metida naquela confusão. Mas o estava.

Assim que o viu esperando no altar com seu irmão e outros, soube que levava um ano e meio mentindo-se a si mesmo. Os sentimentos seguiam ali. Solo vendo-o seu coração se encolhia como uma passa.

De repente, o aroma das flores lhe deu náuseas. E seu instinto de sobrevivência lhe disse que saísse correndo.

Mas quando ia levantar se começou a soar a música e a primeira dama de honra apareceu no corredor.

Notava o olhar do homem cravada nela e tentou não olhar. Mas não pôde fazê-lo. E quando seus olhos se encontraram, a música e a gente desapareceram. O tempo ficou suspenso.

Olivia amaldiçoou sua estupidez por estar ali.

Outra pessoa podia esconder-se em desculpas, mas ela não. Ela era psicóloga. Como a proverbial traça à luz, tinha acudido a Dallas para ver o Jackson de novo.

Com um tremendo esforço, obrigou-se a si mesmo a observar a cerimônia. Eve Ellison, a irmã do Irish, estava muito bonito com um singelo vestido de cetim cor marfim. Matt Crow, o irmão do Jackson, olhava a sua noiva com os olhos cheios de amor. Irish, grávida, era uma das damas de honra e Kyle Rutledge, seu marido, uma das testemunhas.

Apesar de seus esforços, Olivia logo que ouvia nada. Solo podia olhar ao Jackson Y... a porta da igreja. Mas não queria levantar-se em meio da cerimônia e tampouco queria enfrentar-se com ele.

Assim que pudesse, sairia correndo da igreja, tomaria um táxi e iria a casa do Irish...

Maldição! Não tinha chave da porta.

-Pode beijar à noiva.

Olivia levantou os olhos e viu os noivos beijando-se. E ao Jackson olhando-a. Nervosa, segurou a bolsa com as duas mãos, como se não fora com ela.

Os noivos começaram a caminhar pelo corredor, com o Jackson e Irish detrás. Quando passavam a seu lado, ela ficou olhando uma vidraça como se fora a obra de arte mais interessante do mundo.

Esperou até que tinham saído todos os convidados e depois abriu uma portinha lateral.

Ali, apoiado na parede, estava Jackson Crow.

-Foi a alguma parte?

-Eu... estava procurando o banheiro de senhoras.

-Em uma igreja?

-Ah, não. É verdade, que tola.

-Pois tiveste sorte porque nesta há um. Por essa porta -disse Jackson-. Espero-te.

-Não faz falta, obrigado. Você tem que te fazer fotografias com os noivos...

-Espero-te.

Olivia se tomou seu tempo, arrumando sua maquiagem, passando o pente... E, por fim, com a cabeça bem alta, abriu a porta. Jackson sorriu.

-Por fim. Sabe quanto tempo estive te buscando quando desapareceu do Akron?

-Parti a Washington.

-depois disso. Eu cheguei a Washington a meia-noite, mas já te tinha partido. Menos usar aos cães fiz de tudo para te encontrar.

-Fui a casa de uma amiga em Avermelhado... embora não é tua coisa.

-Claro que é minha coisa. depois daquela noite...

-Prefiro esquecer essa noite, Jackson -interrompeu-o ela-. Não sei... não sei o que me possuiu. Deveu ser o champanha. Eu não bebo muito Y... enfim, preferiria que fosse um cavalheiro e se esquecesse do que aconteceu nós.

Jackson tinha um sorriso nos lábios. Uns lábios que tinham infestado seus sonhos durante um ano e meio. Recordava seu sabor...

-Temo-me que não o esqueci, preciosa -disse ele então, levantando seu queixo com um dedo-. Embora minha mãe tentou me converter em um cavalheiro, tenho boa memória.

Embora o roce a turvou, Olivia deu um passo atrás. Não havia sitio para um homem em sua vida. E muito menos um homem como Jackson Crow.

Se não se ficou aterrorizada ao ver seu ex-marido na pista de baile, não se teria ido com ele aquela noite. Mas a assustou tanto que Thomas a tivesse encontrado que seu único pensamento era escapar.

-Tem que esquecê-lo porque não voltará a repetir-se -espetou-lhe-. E agora, se me perdoar... -Olivia tentou passar a seu lado, mas ele o impediu.

-Não tão rápido. Agora que tornaste, não penso deixar ir.

Uma porta se abriu ao outro lado do corredor e o avô do Jackson apareceu a cabeça.

-Jackson... deveria ter imaginado que estava com uma garota bonita. Perdoe, senhorita... Jackson, vêem agora mesmo ou sua mãe de esfolará vivo.

-Vou em seguida, avô.

-Por favor, vê -disse Olivia.

-Se for, sairá correndo.

O avô do Jackson, conhecido por todo mundo como Cherokee Pete, aproximou-se. Tinha

o cabelo cinza e levava duas tranças, ao estilo índio. Certamente, era um tipo peculiar.

-Mas se for Olivia Emory. Como está, bonita?

Ela sorriu.

-Olivia Moore. E estou bem, senhor Beamon.

-Moore? Casaste-te? -perguntou Jackson.

-Não me chame senhor Beamon -disse-lhe o avô-. Sigo sendo Cherokee Pete. Vê com sua mãe, Jackson. Eu me encarrego da Olivia até que terminem com as fotos.

Jackson não se moveu.

-Casaste-te?

Mentir houvesse resolvido multidão de problemas, mas não podia fazê-lo.

-Não.

-Então?

-É uma história muito larga.

-Tenho tempo.

-Não é verdade -interveio seu avô-. Já falará com ela mais tarde -acrescentou, empurrando-o sem olhares-. Quer vir comigo na limusine, Olivia? Serei a inveja de todo o mundo se aparecer no banquete com uma garota tão bonita do braço.

-De acordo -sorriu ela-. É um donjuán, Pete. Agora vejo de onde tiraram o encanto seus netos.

Lhe piscou os olhos um olho.

-Ensinei-lhes tudo o que sei. Em marcha, Olivia. Enquanto vamos a esse restaurante tão brega, pode me contar por que agora te chama Moore. Diz que não te casaste?

-Não. Levo três anos divorciada e eis decidido recuperar meu sobrenome de solteira -respondeu ela. Não era toda a verdade, mas decidiu que era a melhor explicação.

Em realidade, Moore era um sobrenome que tinha tirado da guia Telefónica no Durango. Seu verdadeiro sobrenome de solteira era Emory. o de casada, Fairchild.

Pete assentiu.

-Queria apagar o sobrenome do canalha que te tirou de cima?

-Como sabe que meu ex-marido era um canalha?

-Se não o fora, seguiria casado contigo. Em minha opinião, devia ser um completo idiota para deixar que lhe escapasse uma mulher como você.

Oxalá a tivesse deixado escapar, pensou Olivia enquanto entravam na limusine.

-Mas me alegro de que siga solteira -seguiu Pete-. Parece que ao Jackson gosta de muito e eu tenho que te fazer uma proposição.

-Uma proposição?

-Sim. Sempre quis que meus netos encontrassem uma boa esposa. Senti-me muito feliz quando Kyle se casou com o Irish e agora que Matt se casou com o Eve. Mas ficam dois mais. E creio que é hora de que Jackson, o major, sente a cabeça com a garota que o tem louco.

-Ah, sim? -murmurou ela, ficando como um tomate-. Quem é essa garota?

-Você -respondeu Pete.

-Eu?

-Sei que meu neto está coado por ti. ficou como um urso com a pata em uma armadilha quando não pôde te encontrar. Buscou-te por toda parte, né? Durante muitos meses. Eu creio que isso te converte em uma garota muito especial. E agora, vou fazer te uma proposição: se te casar com o Jackson, o dia das bodas te darei dois milhões de dólares.

Olivia ficou olhando-o, atônita. Sabia que Cherokee Pete, apesar dos acréscimos e a atitude rústica, era multimilionário. Mas não podia acreditar que estivesse lhe fazendo essa oferta.

-Dois milhões de dólares? -conseguiu dizer-. Me casar com o Jackson? Dirá-o de brincadeira.

-Não. Digo muito a sério. Acabo de lhe dar a seus Eve dois milhões por casar-se com o Matt.

-Mas isso é absurdo! Eu não me casaria com seu neto por dois milhões de dólares.

O homem deixou escapar um suspiro.

-A verdade é que Jackson não seria fácil para nenhuma mulher... não lhe falta caráter, já me entende. É um bom menino. Mas é o major de meus netos e creio que já é hora de que deixe de andar de flor em flor e forme uma família.

-O que?

-Você é psicóloga, Olivia. E me parece que é a pessoa adequada para domá-lo. Além disso, Íris me há dito que é muito lista.

-Muito lista para me casar com o Jackson Não estou interessada em domá-lo, Pete Nem estou procurando marido.

-Não faz falta que lhe ditas agora mesmo Tomate seu tempo. Mas seria muito importante para meu ver feliz a meu neto. Olhe... inclusive aumentaria a quantidade a cinco dólares.

 

Jackson não esperou à família. Assim que se fizeram as fotos, saiu como alma que leva o diabo. Devia ter transbordado o limite de velocidade entre a igreja e o restaurante umas quarenta vezes, mas lhe dava igual. Queria encontrar a Olivia.

A idéia de que voltasse a escapá-lo fazia sentir um suor frio.

Não tinha nem idéia de por que o afetava tanto, mas Olivia Emory... Monroe tinha algo que o voltava completamente louco. depois de um ano e meio seguia pensando nela todo o tempo.

Possivelmente era precisamente sua ausência o que a tinha convertido em uma deusa. Possivelmente se passava algum tempo com ela se daria conta de que era uma mulher normal, nada parecida com o anjo que recordava.

Possivelmente...

Quando entrou no salão e viu a Olivia com seu avô, os "possivelmente" se foram pela janela. Solo olhando-a seu coração pulsava como um tambor. Era preciosa. Largas pernas, lábios que pareciam estar rogando ser beijados e uns olhos nos que tivesse podido afogar-se.

Preciosa, certamente. Mas havia algo mais, algo que o agarrava pelo pescoço, algo que não podia definir nem entender.

Era a classe de mulher pela que os homens escrevem poesias... embora ele não poderia escrever uma assim o fora a vida nisso.

Cada vez que a olhava, lembrava-se de um pássaro que encontrou de menino. Um vencejo azul.

Quando tinha onze anos, deram de presente um rifle de ar comprimido e, depois das sabidas advertências sobre como usá-lo, algo que Jackson não acreditava necessitar porque levava um ano usando o rifle do Scooter Franklin, saiu com seu avô a pegar tiros.

depois de atirar sobre latas e garrafas de cerveja, olhou ao redor para ver se encontrava algo mais interessante. Então viu o vencejo sobre o ramo de uma árvore e lhe disparou sem pensá-lo.

O animalillo caiu do ramo e Jackson se sentiu como um depredador. Não tinha querido matá-lo, não queria lhe fazer danifico. Correndo, aproximou-se do animal que batia as asas no chão, ferido gravemente. Tentou tocá-lo, mas o vencejo o picava, assustado, e, ao final, acabou chorando e com as mãos cheias de sangue. Por fim, tirou-se a camisa e o apanhou com ela.

O avô Pete lhe entalou a asa e o manteve em uma jaula até que pôde voltar a voar de novo.

Após, Jackson tinha guardado o rifle em um armário e não voltou a usá-lo jamais. Nunca esqueceria a expressão de pânico nos olhos do animal, que necessitava ajuda mas, instintivamente, separava-se de quem poderia ser seu executor.

Olivia tinha a mesma expressão, como se também ela estivesse lutando por sobreviver. Lhe teriam feito mal? Jackson desejava abraçá-la, apertá-la contra seu coração e lhe dizer que ele a protegeria de tudo.

Algo absurdo, certamente. Ela era a psicóloga. E ele sozinho era um tipo com sorte, com mais dinheiro de que podia gastar e que, para que não o chamassem vago, dirigia seu próprio clube de golfe para milionários.

Mesmo assim, não pensava deixá-la escapar. Tinha que ir devagar, com calma.

Mas ela o olhou como um cervo assustado quando lhe tirou a taça de vinho da mão.

-vamos dançar.

-Não há música -replicou ela, apartando-se-. A orquestra ainda está afinando.

-Eu cantarolarei até que comecem -disse Jackson, atraindo-a para si-. O que gosta? Uma valsa, um tango? Sou um professor do tango.

Rendo, Olivia se apartou.

-te comporte.

-Prefiro não me comportar -sorriu ele, lhe piscando os olhos um olho.

-Jackson, seu avô -disse Olivia, em voz baixa.

-Meu avô se foi.

-Onde? Estávamos falando -murmurou ela, olhando ao redor.

Jackson se encolheu de ombros.

-Nem idéia. Mas Pete é preparado e sabe quando está de mais. Se não querer dançar comigo, poderíamos tomar algo. O bar está aberto.

-Só o vinho que me tiraste antes. Jackson lhe fez um gesto a um dos garçons que passavam com bandejas e tomou duas taças de champanha. -Para ti.

-Obrigado -disse Olivia, sem olhá-lo.

Ele acariciou um de seus cachos escuros. Não podia deixar de tocá-la.

-Cortaste-te o cabelo.

-Só um pouco.

-Perdeste peso?

-Um pouco.

-Por que escapou de mim?

-Não escapei.

-Não? Pois eu haveria dito que sim.

-Simplesmente fui.

-E por que tanta pressa?

-Expliquei-lhe isso em minha nota. Tinha que tomar um avião para voltar para casa.

-Mas não foi a sua casa, Olivia. Desapareceu da face da Terra. Sei porque te busquei por toda parte. Sua companheira de piso, Kim, não sabia onde estava. Nem sequer Irish, seu melhor amiga. Pensei que Kyle ia estrangular me quando interrompi sua lua de mel.

-Já te tenho dito que me Fui avermelhado, a casa de uma amiga. Ofereceram-me um trabalho e o aceitei.

-Sem deixar uma direção?

Ela se tomou o champanha de um gole.

Jackson sorriu. Tinha que ir mais devagar.

-Quer outra taça?

-Não, obrigado.

-Irish não me havia dito que vinha à bodas. É a primeira vez que vem ao Texas?

-Estive aqui várias vezes. E não sabia o das bodas. Passava por aqui e me inteirei de casualidade. Já conhece o Irish, em seguida levou minha mala à habitação e, de repente, estava me vestindo para ir à igreja.

-Passava por aqui?

-Sim.

-Onde foi?

-A Austin.

-A Austin? -repetiu ele, esperando uma explicação.

-Sim -respondeu Olivia.

lhe tirar informação era mais difícil que tirar leite de uma azeiteira.

-Jackson, amigo -escutaram uma voz atrás deles-. Deveria ter sabido que tentaria monopolizar a esta mulher tão bonita. Olá, Olivia, me alegro de voltar a verte. Sou Mitch Há-rris, conhecemo-nos nas bodas do Irish...

-Ah, sim, é verdade -murmurou ela.

-Hão-me dito que vais trabalhar com a doutora Jurney, na Universidade do Texas. Assim, vamos ser vizinhos. Posso ser o primeiro em te dar a bem-vinda?

Molesto porque Mitch Harris sabia mais sobre a Olivia que ele, Jackson o olhou com cara de poucos amigos.

-te perca, Mitch. Esta é uma conversação privada.

-Ouça, ouça, essa não é forma de lhe falar com seu governador.

-Você não é meu governador. Nem sequer votei nas últimas eleições.

Desgraçadamente, Olivia olhava ao Mitch com certa admiração. O que lhe faltava... por que tinha que lhe haver dito que era o governador?

-Agora me lembro de ti. Mas não sabia que fosse o governador do Texas -disse ela então para mais inri.

-Não o era quando nos conhecemos. Sou-o desde mês de janeiro.

-Felicidades, governador.

Mitch apertou a mão da Olivia durante um tempo que ao Jackson pareceu desnecessariamente comprido.

-A única razão pela que o escolheram é porque, na universidade, jogava futebol. A gente não sabe que tem a cabeça feita pó de tantos golpes.

-Jackson! -exclamou ela, surpreendida.

Mitch soltou uma gargalhada.

-Eu creio mas bem que foi porque meu oponente se viu envolto em um escândalo poucas semanas antes das eleições. Ninguém se surpreendeu mais que eu, mas ganhei de uma forma justa.

-Seguro que está sendo modesto -sorriu Olivia.

-Não o está sendo -interveio de novo Jackson-. Mitch Harris não foi modesto em sua vida. E se não desaparecer em segundo meio, não te deixo entrar em meu campo de golfe.

-Está tentando te liberar de mim?

-Você o que crie?

-Bom, então suponho que terei que partir. Falaremos mais tarde, Jackson. Olivia, encantado de voltar a verte -disse o governador, lhe oferecendo um cartão de visita-. Me chame quando te tiver instalado e te ensinarei a cidade. Austin tem os melhores restaurantes do estado.

Se não se foi naquele momento, Jackson lhe teria dado um murro. Em lugar disso, tirou- o cartão a Olivia e a fez pedaços.

-Jackson! por que tem feito isso?

-Fazer o que?

-Não seja idiota! por que tem quebrado o cartão do Mitch?

-Porque não quero que o chame. te afaste desse homem, é perigoso. vamos dançar.

-Perigoso?

-Sim. tinge-se o cabelo e levava cueca de corações.

Olivia soltou uma gargalhada.

-Jackson, é que alguma vez fala a sério?

-mais do que imagina, preciosa -respondeu ele, tomando-a pela cintura-. Agora mesmo estou muito sério.

-Olivia! -escutaram uma voz então.

-Kim! -exclamou ela-. Que alegria verte. Está muito bonito.

As duas amigas se abraçaram como... como se fossem dois órfãzinhas, pensou Jackson. É que não foram deixar os em paz?                                    

-por que não me tem escrito? Estávamos preocupados com ti.                                                  

Olivia se encolheu de ombros.

-Já me conhece. Venha, vamos ao banho a fofocar.

E se foi. Jackson ficou jogando fumaça. Por um momento, pensou segui-la ao banheiro de senhoras, mas decidiu que não era boa idéia.

Então se voltou procurando o Mitch. Tinha coisas do que falar com seu velho amigo.

Não quis aceitar seu oferecimento sabendo que acabaria humilhado. Jackson conhecia bem suas limitações.

Mas as coisas tinham trocado. Possivelmente terminaria com o rabo entre as pernas, mas ia arriscar se. Diria-lhe que sim e tentaria não ficar como um idiota. depois de tudo, levava anos lhe fazendo acreditar em todo mundo que não o era. E Olivia se merecia qualquer risco.

 

Olivia e Kim falaram sem parar durante vinte minutos.

-Tenho que partir, mas nos veremos amanhã em casa do Irish -despediu-se seu amiga-. Não sabe que alegria me deu voltar a verte.

-Já mim também.

Olivia ficou um momento no banheiro, atrasando sua volta ao salão.

Kim, Irish e ela tinham vivido juntas em Washington e se fizeram muito amigas. Kim estudava na universidade e trabalhava pelas manhãs para a congressista Ellen Crow Ou'Hara, a irmã maior do Jackson. Irish, que tinha herdado a casa em que viviam, trabalhava em uma clínica de estética, tentando esquecer um terrível ataque em Nova Iorque que tinha terminado com sua carreira como modelo.

Olivia estava fazendo o doutorado em Psicologia e tentando recuperar-se de seu divórcio.

Sua amizade com aquelas duas mulheres a tinha salvado. converteram-se em irmãs, o mais parecido a uma família que teve nunca.

Sua mãe tinha morrido quando ela tinha dez anos, seu irmão Jason partiu de casa assim que cumpriu os dezoito e seu pai, um famoso cardiologista do Palm Springs, tinha-a deserdado quando se divorciou do Thomas.

Embora romper a relação com seu pai não foi uma grande perda. Era um tirano cujos abusos tinham levado a sua mãe ao suicídio, a seu irmão à rua e a ela... a um terrível matrimônio com um homem que era uma réplica de seu progenitor.

-Olivia?

-Olá, Irish. As bodas foi preciosa. Eve parece muito feliz.

-É-o. Mas você parece triste.

Ela negou com a cabeça.

-Não, o que vai. É que estava me lembrando de nossos bons tempos em Washington.

-Passamo-lo bem, né? Mas venha, os noivos estão a ponto de cortar o bolo e Jackson está fazendo um buraco no chão. Pediu-me que viesse a te buscar.

-Irish, eu não quero ter nada com o Jackson. Não estou preparada para uma relação séria. Têm-me feito mal muitas vezes.

-Não se preocupe pelo Jackson. Não creio que o de "relação seria" esteja em seu vocabulário. De fato, viria-te bem alguém como ele. Tem que te soltar um pouco o cabelo e passá-lo bem. Venha, vamos.

Olivia não teve mais remedeio que segui-la.

Apesar de sua decisão de manter as distâncias, Jackson esteve a seu lado constantemente e, a verdade, passou-o bem.

Era um bailarino maravilhoso e o disse enquanto davam voltas pela pista de baile.

-Obrigado. Graduei-me em dança e pôquer na universidade.

Olivia soltou uma gargalhada.                                

-Não, sério. No que te graduou?                  

-Em nada importante. Os estudos nunca me interessaram como a meus irmãos. Nem sequer teria ido à universidade se não tivesse sido por meu avô Pete.

-Ah, sim. Lembrança que Irish me contou que tinha chegado a um acordo. Ele pagaria a universidade de todos seus netos e lhes daria um milhão de dólares quando terminassem.

-Sim. Depois tínhamos cinco anos para dobrar essa quantidade. Se o conseguíamos, não teríamos que lhe devolver o primeiro milhão. Minha irmã investiu o dinheiro em um invento de seu noivo, agora seu marido. Matt abriu uma empresa de aluguel de aviões de pequeno porte e se fez rico. Kyle se forrou lhe estirando a cara às estrelas de Hollywood. Minha primo Smith abriu uma empresa de informática quando estava na universidade e tem feito uma fortuna...

-E você? -perguntou Olivia-. Como dobrou seu dinheiro? Porque suponho que o fez.

-Sim. Meu maior talento sempre foi a sorte, assim comprei um milhão de dólares em loteria.

-Não o dirá a sério?

-Se o pensar, tinha muitas possibilidades. Ganhei onze milhões de dólares.

-De verdade?

-É obvio.

Olivia sacudiu a cabeça.

-Jackson Crow, está louco.

O sorriu.

-Certamente que sim. Estou louco por ti, Olivia Emory.

-Moore.

-Perdão. Moore. Me alegro de que já não leve o sobrenome desse idiota.

Lhe contou a mesma história que lhe tinha contado a seu avô. Era assombroso o fácil que lhe resultava mentir, especialmente porque sua vida dependia disso. Tinha trocado de sobrenome duas ou três vezes da última vez que viu o Jackson. E o engano devia estar funcionando porque Thomas não havia tornado a localizá-la.

-te relaxe -disse-lhe ele ao ouvido.

-Perdoa?

-Puseste-te muito tensa.

-Sinto muito. É que estou cansada.

-Sou eu quem o sente. Levamos dançando quase uma hora... mas era a única forma de te abraçar sem que me jogassem uma bronca. vamos sentar nos um momento... OH, não, minha mãe me está chamando. Importa-te conversar com minha família um pouco mais?

-Não, claro que não. Caem-me muito bem seus pais. São encantadores.

-Curiosos mas bem.

-Sobre mim? por que?

-Digamos que estão tentando averiguar se poderia ser uma boa nora.

-O que?

Jackson soltou uma risinho.

-Não se preocupe, preciosa. Eu não penso me casar com ninguém.

Olivia foi cordial com os senhores Crow, mas quando Jackson se aproximou de conversar com uns amigos aproveitou para apartar-se.

Não tinha intenção de voltar a cair em seus braços. O que ocorreu um ano e meio atrás foi sozinho porque Thomas apareceu no banquete.

Olivia saiu ao pátio e se sentou em um banco de pedra, esperando que não a vissem do interior.

sentia-se um pouco ridícula, uma mulher adulta escondendo-se como uma menina. Mas levava tantos anos fazendo-o para sobreviver que era uma resposta quase como a dos cães do Pavlov. Algo instintivo. Quando se sentia ameaçada, saía correndo.

Jackson Crow não era uma ameaça física para ela, mas não se confiava. Desgraçadamente parecia escolher sempre homens abusivos. Acreditou que Rick, seu noivo da universidade, era um menino carinhoso até a primeira vez que perdeu os papéis. E seu ex-marido, Thomas...

Olivia sentiu um calafrio.

Após tinha rechaçado manter uma relação séria com nenhum homem. Não tinha forças para isso.

E tampouco queria voltar a ter uma aventura com o Jackson. Embora sempre estava fazendo o palhaço, intuía que em realidade era um homem muito intenso. A primeira vez que seus olhos se encontraram, estremeceu-se. A primeira vez que a beijou, seu corpo era um incêndio. E quando fizeram o amor... perdeu a cabeça.

E esses sentimentos seguiam ali.

Jackson Crow era um problema. Felizmente, quando ocupasse seu novo posto em Austin estariam a trezentos quilômetros de distância.

 

Com um prato em cada mão, Jackson olhou ao redor.

Mitch Harris apareceu então.

-perdeste algo?

-Sim -respondeu ele.

Onde demônios estava Olivia?

-pensaste o de formar parte da Comissão?

-Tenho outras coisas em mente.

-Já me dei conta -riu seu amigo-. Uma mulher muito bonita.

-Não ponha suas sujas mãos sobre ela, Mitch. Esta garota é especial. Se tentar algo, parto-te as duas pernas.

Mitch fez um gesto com as mãos.

-Tranqüilo. Ouça Jackson, de verdade quero que pense o da Comissão. É preparado e não conheço ninguém que tenha as coisas tão claras como você.

Ele fez uma careta.

-Que mentiroso é.

-Não, sério. Você conhece o negócio do petróleo de cima abaixo e me viria muito bem na Comissão. É perfeito para o posto.

-A verdade é que o eis estado pensando. Mas teria que me mudar a Austin, não?

-Temo-me que sim. Mas não é permanente... solo até as próximas eleições, já sabe.

Além disso, em Austin temos bons campos de golfe.

-Nenhum tão bom como o meu. Além disso, os campos de golfe de Austin não são o que mais me interessa agora mesmo.

-Já -sorriu Mitch-. Mas logo teremos algo que nenhuma outra cidade do estado tem: à encantada Olivia.

Jackson não pôde evitar um sorriso.

-Isso parece.

-Se aceitar o posto, direi-te onde pode encontrá-la.

-Trato feito, amigo.

 

Olivia se deteve frente à garagem e saudou a doutora Tessa Jurney, que estava sentada no alpendre.

Agradecendo estar em casa e agradecendo mais que fora sexta-feira, saiu do forno que era seu carro. Como os assentos eram de couro, lhe pegava o vestido à costas.

-Vêem tomar um chá gelado -chamou-a Tessa-. Parece a ponto de te derreter.

-Derreti-me faz tempo -riu ela-. Sempre faz tanto calor?

-Nesta época do ano? Sempre. A gente de por aqui diz que no Texas há duas estações: verão e agosto. Graças a Deus, agosto terminou. Setembro é suportável e outubro é maravilhoso -sorriu Tessa, lhe servindo um copo de chá gelado.

Olivia tomou um comprido trago e depois se passou o copo pela cara.

-O primeiro que vou fazer quando me pagarem é arrumar o ar condicionado do carro. Em Avermelhado não me fazia falta, mas aqui... Nem sequer sabia que estava quebrado até que cheguei ao Texas.

-Eu posso te emprestar o dinheiro...

-Não -interrompeu-a Olivia-. Ed e você já têm feito muito por mim... me ajudando a conseguir o trabalho e me deixando viver no apartamento sobre a garagem virtualmente por nada. Não quero empréstimos, mas obrigado de todas formas.

-Ao menos, te leve o carro do Ed. Seguirá em Atlanta durante dez dias mais e está parado na garagem.

Com aquelas temperaturas era uma tentação, mas Olivia não queria ser uma pedinte. Não estava acostumada a depender da generosidade de ninguém nem a viver com apuros até que... até que deixou ao Thomas levando-se solo o carro, sua roupa e as poucas coisas que pôde guardar em uma bolsa.

Nem sequer pôde pedir ajuda a seu pai, embora temia por sua vida.

Durante os últimos anos, tinha aprendido a sobreviver com muito menos do que acostumava a ter... e estava mil vezes mais contente.

Durante dois anos, a doutora Jurney tinha sido a tutora de sua tese na Universidade de Washington. Ela e sua família se mudaram ao Texas pouco antes de que Olivia visse sua vida ameaçada e sempre tinham permanecido em contato.

Tessa e Irish eram as duas únicas pessoas que conheciam toda sua história. Olivia sempre tinha querido terminar o doutorado, mas com o Thomas atrás dela... teve que deixá-lo durante um tempo. Até que Tessa moveu os fios para que pudesse terminar seus estudos.

-Que tal as classes?

-De maravilha. Tenho um par de alunos realmente brilhantes e desfruto de muito do seminário com o doutor Bullock. Embora haja que ler toneladas de livros. Agora mesmo venho da biblioteca.

Enquanto Tessa voltava a encher os copos, um caminhão de mudanças se deteve diante da casa de em frente.

-Parece que já temos vizinhos.

-Sabe quem comprou a casa? -perguntou Olivia.

-Não. Jenny e seus amigas esperam que seja uma família com um filho que "esteja para morrer".

Jenny era a filha pequena dos Jurney. Tinham também um filho, Bill, de dezesseis anos. Parte do trato por ficar no apartamento era cuidar deles quando Tessa e seu marido se foram de fim de semana. Jenny e Bill estavam nessa idade tão difícil em que não podem ter babá, mas tampouco podem estar sozinhos. Sobre tudo, os fins de semana.

Um esportivo se deteve então atrás do caminhão e uma loira de largas pernas saiu correndo para a casa.

-A proprietária? -perguntou Olivia.

-Tem pinta de decoradora -disse Tessa-. E das caras.

As duas seguiram especulando enquanto os da mudança colocavam sofás, cadeiras e mesas. Nas duas semanas que levava em Austin, a questão dos novos vizinhos tinha sido um tema constante de conversação.

A casa se vendeu um dia depois de que ela chegasse e então começou o desfile de eletricistas, encanadores e jardineiros.

Era uma casa preciosa que Olivia olhava com certa inveja. Estava grafite de cor ocre, com telhas vermelhas e um enorme jardim oculto por um muro de pedra. Uma casa divina de estilo espanhol... mas seu pequeno apartamento era estupendo também. E se sentia muito agradecida pelo ter. Embora estava decorado com os móveis que não cabiam em casa da Tessa, era simpático e cheio de luz. Além disso, o primeiro fim de semana, Olivia saiu a comprar coisas nos mercadinhos e conseguiu verdadeiras gangas.

Então sorriu, pensando no Dani ou Michelle ou qualquer de seus amigas bregas de Califórnia. Se a vissem comprando móveis em um mercadinho... Mas tinha passado muito tempo desde que saiu de Califórnia e os amigos que tinha feito naquele tempo gostava de muito mais.

-por que te ri? -perguntou-lhe Tessa.

-Estava pensando em como eu gosto de Austin... e me passear pelos mercadinhos. Quer que vamos amanhã?

-Não posso. Jenny tem um partido de basquete e eis prometido ir ver a.

Outro enorme caminhão estacionou frente à casa.

-Parece que a incerteza do Jenny está a ponto de terminar. E espero que o novo vizinho seja um "tio para comer-lhe como ela diz.

 

No sábado pela manhã Olivia estava escovando-os dentes quando alguém chamou o timbre. Certamente Tessa, pensou. Foi correndo a abrir a porta...

E se encontrou de frente com o Jackson Crow. Com um sorriso nos lábios e uma taça enganchada no dedo indicador.

-bom dia -saudou-a, tocando o chapéu texano.

-O que está fazendo aqui?

-vim a te pedir um pouco de açúcar.

-vieste que muito longe para pedir açúcar, não? Como me encontraste?

-Irish me deu sua direção. E uma garota ruiva com um aparelho nos dentes me disse que vivia aqui acima. Jenny creio que se chama... Cheiro a café? Daria cinqüenta dólares por uma taça de café.

Olivia deixou escapar um suspiro.

-Vale, entra. Mas não pode ficar muito momento. Vou às compras.                                

-Como você diga, senhora.

Jackson atirou o chapéu sobre o sofá e a seguiu à cozinha.

-Com leite?

-Sim. E uma colherada de açúcar. O apartamento é muito bonito.

-Obrigado. eu gosto.

-Muito acolhedor -disse Jackson, tão perto que podia cheirar sua colônia.

Olivia tentava comportar-se como se ele fora a visitá-la todos os dias, mas estava tão nervosa que lhe caiu o açúcar no suporte.

por que tinha que ficar tão perto?

Ofereceu-lhe a taça e deu um passo atrás. Desgraçadamente, a cozinha era muito pequena e o forno lhe impedia de ir mais à frente. A presença do homem enchia a estadia e Olivia teve que tragar saliva.

-Ah, que rico. Faz um café estupendo. Não terá uma bolacha, verdade?

-Não, mas tenho barritas energéticas. Quer uma?

-Vale.

-Muito bem. Perdoa, mas tenho que ir.

-por que tanta pressa?

-Já te tenho dito que vou ao mercadinho. Se não me der pressa, as coisas boas voarão.

-O mercadinho, né? Não me pega nada que você compre coisas em um mercadinho -sorriu Jackson-. por que não vou contigo?

Olivia o tentou tudo para dissuadi-lo, mas não houve maneira. E o último que desejava era passar a manhã com o Jackson Crow e seu extraordinário sorriso.

Bom, o último não.

Em realidade, estava mais alegre desde que ele apareceu. Certamente, porque era um rosto familiar. Mas passar tempo com o Jackson não era sensato. Felizmente, ele vivia a muitos quilômetros de distância.

-por que vieste? -perguntou-lhe, enquanto baixavam à rua.

-vim a verte... a te pedir emprestado um pouco de açúcar.

Olivia levantou os olhos ao céu.

-Refiro a por que vieste a Austin.

-Por negócios.

-Não deveria estar trabalhando?

Jackson ficou os óculos de sol, sorrindo.

-Não começo até na segunda-feira. Tenho todo o fim de semana livre. Quer que eu conduza?

-Não, obrigado. Eu conduzo e você faz de co-piloto -respondeu ela, abrindo a porta do carro antes de que o fizesse o sempre cavalheiresco Jackson.

 

-Perdemo-nos outra vez! -exclamou Olivia

-Que horror. por que não pára aí?

Jogando fumaça, ela deteve o carro e tirou o plano.

-Perdemo-nos. Tenho-te dito que fizesse de co-piloto.

-Já te disse que me dava melhor conduzir.

depois de estudar o plano, Olivia comprovou que estavam a duas maçãs do mercadinho que Tessa lhe tinha recomendado.

-Aí é! Estiveste-me fazendo dar voltas -espetou-lhe, irritada.

Era a terceira vez que se perdiam. E começava a acreditar que Jackson o estava fazendo a propósito.

-Sinto muito, céu -sorriu ele-. Mas te compensarei. Convido-te a comer, vale? Você gosta da comida mexicana?

-eu adoro, mas tenho que encontrar um escritório. Se tivéssemos chegado antes ao mercadinho da rua Elm teria comprado esse tão bonito...

-A pata estava rota. Encontrará um melhor, já verá. Ao menos compraste uma ganga de torrador. Dois dólares não está nada mal.

-Conseguiu-o você -riu ela-. Não posso acreditar que pusesse a discutir por cinqüenta centavos. Pensei que nunca tinha ido a um mercadinho.

-Meu avô tem um pouco parecido em uma de suas lojas.

-Como?

-Aluga espaço em uma das lojas de Dallas para a gente que quer vender coisas de segunda mão. Ali aprendi a regatear como o melhor. Meu avô Pete é um professor nisso.

-Mas se for multimilionário.

-Certamente, mas é uma pessoa muito normal. Todos o somos. Nada o põe mais nervoso que alguém que se faz o finório.

-Finório? -repetiu Olivia, sorrindo.

-Palavras de meu avô -respondeu Jackson, descendo do carro.

Ela o viu imediatamente: um escritório modernista que tinha sido pintado de uma horrível cor verde. Mas reformando-o seria precioso. E perfeito para seu apartamento.

-Você gosta? -perguntou-lhe Jackson.

-eu adoro. Baixo essa horrível pintura verde há um bom móvel. É exatamente o que tinha estado procurando... melhor inclusive.

-Estupendo. Vamos por ele.

Quando Olivia olhou o preço, deixou escapar um suspiro.

-Creio que o proprietário sabe o que tem. Sessenta e cinco dólares. Embora siga sendo muito barato não posso comprá-lo. Eu esperava encontrar algo por trinta ou quarenta.

-Talvez podemos regatear um pouco.

 

Jackson sabia o que ia passar antes de que Olivia dissesse uma palavra. Mas se quase tinha lágrimas nos olhos... Lhe rompia o coração de vê-la assim.

Lhe teria comprado cem escritórios horríveis como aquele, mas sabia que ela era muito independente para aceitar presentes. antes de começar, tinha-lhe advertido que não tirasse a carteira ou voltaria andando a casa e ele se guardou muito muito.

Mas não podia suportar ver seu carita de pena enquanto passava a mão pelo escritório. -Não há nada a fazer, né? Olivia negou com a cabeça. -Solo consegui que me rebaixe quinze dólares... Não pensará comprar essa porcaria? Jackson olhou o tatu dissecado que tinha na mão.

-eu gosto. E a meu avô adora estas coisas. Além disso, dentro de pouco é seu aniversário. E estas toalhas de praia... Por certo, vi um abajur muito bonito por aí. Ao melhor gostaria.

Enquanto Olivia olhava o abajur, lhe fez uma oferta à proprietária dos móveis. A mulher o olhou com cara estranha, mas aceitou o trato. depois de lhe pagar, Jackson voltou ao lado da Olivia com o tatu e as toalhas sob o braço.

-Acabo de conseguir um desconto incrível. Cinqüenta e seis dólares pelo escritório, o tatu e as toalhas.

-Cinqüenta e seis dólares... -ela o olhou, receosa-. Quanto te há flanco esse inseto horroroso?

-Muito. Mas tenho feito um bom trato. Vinte e cinco pelo escritório, vinte e cinco pelo tatu e seis pelas toalhas -sorriu Jackson-. A meu avô vai encantar o inseto.

-por que não te creio?

-Pois não sei. A meu avô adora os animais dissecados. Porá-o em seu museu.

-Ah, é verdade. Irish me contou que tinha um museu.

-Está cheio de coisas estranhas. Minha mãe diz que é mais que caipira, de modo que tem estilo.

-De todas formas, sigo sem acreditar que te tenha deixado o escritório por vinte e cinco dólares.

-lhe pergunte à senhora -disse ele, ofendido.

E Olivia o fez.

Jackson teria podido beijá-la quando lhe respondeu, muito séria:

-Esse era o trato. Vinte e cinco pelo escritório, vinte e cinco pelo tatu e seis pelas toalhas. vão levar se o escritório agora?

-Viremos depois com minha caminhonete -respondeu Jackson levando-se a Olivia do braço, mais contente que umas páscoas-. Agora, a comer.

Pagar vinte e cinco dólares por um poeirento tatu dissecado que não devia custar mais de dois tinha merecido a pena.

No carro, ela insistiu em lhe pagar o escritório e Jackson aceitou o dinheiro.

-por que não põe o ar condicionado? Aqui faz muito calor.

-É que não funciona.

-O que lhe passa?

-Não sei. Nos dia quinze o levo a oficina.

-por que esperas até nos dia quinze?

-Porque é quando me pagam.

Jackson se mordeu a língua. Não lhe surpreenderia nada que insistisse em pagar também a comida. E o fez.

-Sinto muito, mas tenho dito que te convidava a comer e te convido.

-De acordo -assentiu Olivia por fim-. Encantou-me o assado de carne à mexicana.

-A melhor da cidade. Em Austin se come muito bem. Que tal se jantarmos juntos esta noite?

-Obrigado mas não, Jackson. Já te tenho dito que não quero sair com ninguém.

-Sair? Eu tenho que jantar, você tem que jantar... por que não? ficaste com alguém?

Olivia negou com a cabeça.

-Não. Penso me pôr a reformar o escritório e depois a preparar minhas classes.

Jackson não pensava render-se sem lutar, mas no momento o deixaria.

 

Olivia tinha estado louca por permitir que Jackson Crow estivesse a menos de cinqüenta metros, idiota por ir com ele aos mercadinhos e completamente desequilibrada por aceitar o convite a comer.

Conduzir com o Jackson no assento do lado era uma tortura. Não tinha esquecido nada de sua noite em Ohio, nem suas mãos, nem sua boca...

-Cuidado!

Ela pisou no freio e esteve a ponto de bater-se contra o carro que tinha diante.

-Sinto muito, não o tinha visto -disse, ficando uma mão no peito-. Perdoa.

-Não passa nada. Quer que eu conduza?

-Não.

Olivia seguiu conduzindo enquanto olhava ao Jackson pela extremidade do olho. Ele tinha um cotovelo apoiado no guichê e parecia absolutamente depravado. Se tivesse sido Thomas lhe haveria dito que era uma estúpida. Além disso, não podia imaginá-lo passando uma manhã de sábado nos mercadinhos. E desfrutando.

Sim, era melhor que Jackson vivesse tão longe. Inclusive para uma mulher que tinha jurado não voltar a ter uma relação sentimental, alguém como ele era difícil de resistir.

-Onde está sua caminhonete? -perguntou-lhe quando chegaram a casa.

-Na garagem.

-Na garagem? Estão-a reparando?

-Não, a caminhonete está perfeitamente. Está em minha garagem. Vamos pelo escritório?

-Não te entendo. Onde está sua garagem?

-Aí -respondeu Jackson, assinalando a casa de em frente.

 

-Que vive aí?

Jackson sorriu.

-Sim, mudei-me ontem à noite.

Olivia ficou pálida.

-por que?

-os da mudança já haviam o trazido tudo. Além disso, tenho que começar a trabalhar na segunda-feira, assim que me pareceu o melhor.

-Quero dizer por que precisamente aí.

-Necessitava um sítio para viver, Olivia. É uma casa muito bonita. Quer entrar em vê-la?

-Jackson Crow, deixa de te fazer o parvo! por que escolheste uma casa precisamente em frente da minha?

-Uma sorte, verdade? Já sabe que eu sempre tenho sorte.

-Jackson, não me conte histórias. Não compraste essa casa por acaso! Compraste-as para me fazer a vida impossível!

-Carinho, não te zangue comigo. Juro-te sobre a Bíblia que nunca eis querido te fazer a vida impossível. Quando aceitei o cargo que Mitch me tinha proposto estive olhando um montão de casas em Austin. Mas esta é a que mais eu gostei, de verdade -disse ele, pondo cara de inocente.

-Quando a comprou?

-Pois... faz duas semanas, creio.

-Que dia exatamente?

-Não sei... -murmurou Jackson, metendo-as mãos nos bolsos da calça-. Creio que assinei os papéis um dia depois das bodas do Matt. Conforme creio, você seguia em Dallas com o Irish, não? Nem sequer tinha chegado a Austin. vamos procurar o escritório?

Olivia deixou escapar um suspiro.

-De acordo.

-Em marcha.

Quando lhe pôs uma mão nas costas para levá-la à garagem, ela deu um coice. por que aquele gesto, que não lhe teria afetado com nenhum outro homem, com o Jackson a fazia tremer? Viver tão perto ia ser um problema, mas não podia lhe pedir que se fora de uma casa que acabava de comprar e ela não podia trocar-se de apartamento.

-Se for ser meu vizinho, teremos que estabelecer umas regras.

-É obvio, céu. Você faz a lista e a discutiremos mais tarde. Importa-te vir comigo ao supermercado? O do açúcar não era de brincadeira. Não tenho nada na geladeira.

-Pobrezinho.

Jackson ignorou o sarcasmo com um sorriso.

-Me vou morrer de fome.

Olivia tentou seguir molesta com ele, mas havia algo no Jackson Crow que a desarmava por completo.

-Que classe de posto aceitaste com o Mitch?

-Sou o novo membro da Comissão de Governo. Questões de petróleo e coisas assim. Tinham eleito a três membros, mas pilharam a um deles levando-se dinheiro.

-E durante quanto tempo vais formar parte da Comissão?

-Um ano mais ou menos. Não é esse o tempo que você vais estar em Austin?

Olivia o olhou, receosa.

-Quando te pediu o governador que formasse parte da Comissão?

-Faz seis semanas. Muito antes de que você chegasse ao Texas... embora se tivesse sabido que vinha, teria preparado uma recepção. Quer ver minha casa?

-Em outro momento. Quero começar a reformar o escritório quanto antes.

-Eu te ajudarei -sorriu Jackson-. Tirar capas é minha especialidade.

 

Olivia estava limpando as últimas capas de verde com um trapo. Sob a pintura, tinha encontrado uma preciosa madeira de nogueira. ia ser um escritório maravilhoso.

Com a lixa na mão, olhou de esguelha o traseiro que aparecia sob o capô de seu carro. Os traseiros em realidade, um do Jackson e o outro do Bill Jurney. Jackson tinha insistido em lhe jogar uma olhada ao ar condicionado e o filho da Tessa se apontou imediatamente. Era uma dessas coisas dos homens. Bill, que acabava de tirar a carteira de motorista, adorava ao alto vaqueiro que parecia sabê-lo tudo sobre carros.

-Eu creio que já está -disse então Jackson, incorporando-se-. Que tal vai a reforma?

-Quase terminei com o primeiro passo, mas tenho que limpá-lo de tudo para lhe dar verniz. De verdade arrumaste o ar?

-Creio que sim. Bill, ponha em marcha para ver se funcionar.

depois de uns minutos, Jackson anunciou que o trabalho parecia e fechou o capô com um sorriso de satisfação.

-Muitíssimas obrigado.

-De nada. Quer que te ajude?

-Já tem feito mais que suficiente. Mas insisto em pagar por quão reposições tenha comprado.

-Não me hão flanco mais de dez dólares, Olivia. me faça um bolo de chocolate e me dou por pago.

-Trato feito -sorriu ela.

Não tinha feito nunca um bolo de chocolate, mas poderia tentá-lo. Ou comprar uma na confeitaria.

Jackson insistiu em ajudá-la com o escritório e, meia hora depois, metiam-no na garagem para dar a primeira capa de verniz.

-É incrível que esta seja a mesa que compramos esta manhã. Parece nova.

-Verdade que sim? -sorriu Olivia, tirando-os luvas.

Jackson olhou seu relógio.

-Tenho tempo para me trocar antes de jantar. Volto dentro de quinze minutos.

-Não posso jantar contigo. Tessa tem uma reunião e o eis prometido fazer hambúrgueres para seus filhos e uns amigos.

-Sei -sorriu ele, lhe piscando os olhos um olho-. Bill me há convidado. E penso trazer a sobremesa.

 

Durante o jantar no jardim, Jackson deixou apaixonados a todas as crianças. Jenny e as gêmeas dos Dobson, Erin e Edie, olhavam-no como se fora Brad Pitt, rendo como solo as meninas de treze anos podem rir. Bill e seu amigo Greg levantavam os olhos ao céu, mas não perdiam palavra do que Jackson estava contando.

-Que genial -disse Greg.

-Quantos anos tinha quando foste fazer rafting pela primeira vez? -perguntou Bill.

-Estava no primeiro ano de universidade.

-Jo, eu gostaria de passar um verão fazendo isso.

-A mim também -suspirou Jenny.

-Sim, seguro. Morreria de medo -replicou seu irmão.

-Disso nada!

-Poderíamos ir fazer rafting ao rio Guadalupe. É um rio com poucas correntes -disse Jackson então-. Tem-no feito alguma vez, Olivia?

-Nem sequer sei do que está falando.

-De baixar um rio em canoa ou em lancha pneumática.

-Ah, não. Não o tenho feito nunca.

-Poderíamos ir um fim de semana. Se os Jurney derem sua permissão, claro.

-Onde querem ir? -perguntou Tessa, que acabava de aparecer no jardim.

-Olá, Tessa. Jackson quer levar-se aos meninos ao rio Guadalupe.

-E a ti também -disse ele. -Eu não...

-Por favor, Olivia -insistiu Jenny-. Por favor, por favor.

Quando outros meninos se uniram ao coro, ela levantou as mãos ao céu.

-Vale, vale. Mas solo sim seus pais estão de acordo.

-me parece muito bem -disse Tessa.

Olivia a fulminou com o olhar, mas seu amiga não se deu por aludida. Desde que conheceu o Jackson Crow aquela tarde lhe tinha metido na cabeça emparelhá-los.

-Já veremos.

-Que tal o próximo fim de semana? -perguntou Jackson então-. Se esperarmos muito, começará a fazer frio.

-Mas seremos sete, oito se vier Tessa. Como vamos? -protestou Olivia.

-Comigo não contem -disse ela-. Eu não sei nadar... mas podem lhes levar minha caravana.

-Isso não é problema -sorriu Jackson-. Direi a um de meus meninos que traga um mini-ônibus do clube.

-Que clube?

-O Ninho do Crow. Um clube de golfe que tenho em Dallas.

-O Ninho do Crow? Parece-me que meu marido jogou ali alguma vez com seus amigos -disse Tessa.

-É possível -assentiu ele.

-Bom, meninos, hora de ir-se dormir. Bill, importa-te acompanhar ao Erin e Edie a casa?

Olivia e Jackson ficaram sozinhos no jardim.

-Eu também tenho que ir -disse ela então-. Obrigado por arrumar o ar condicionado e por me ajudar com o escritório.

-De nada. Acompanho-te à porta.

-Só tenho que subir a escada.

-Pois te acompanho acima.

A escada era muito estreita, de modo que Olivia ia diante. Quando chegou ao patamar se voltou, nervosa.

-Já chegamos.

-Sim -murmurou ele, desenroscando a lâmpada.

-por que tem feito isso?

-Pelos insetos.

antes de que pudesse protestar, Jackson a beijou.

Seus lábios eram quentes, seus braços fortes, o aroma de sua colônia...

A Olivia custou trabalho apartar-se. Mas... um minuto depois encontrou forças para fazê-lo.

-Esta é uma das regras. Nada de beijos.

-Nada de beijos?

-Não.

-Nem sequer um pequeno como este? -murmurou ele, beijando-a na comissura dos lábios. Olivia negou com a cabeça

-Nem isto? -insistiu, beijando-a nas pálpebras.

-Não.

-E que tal isto? -disse Jackson então, passando a língua por seu pescoço.

-Certamente que não!

-Mas morrerei se não deixar que te beije -protestou ele, beijando-a de novo.

A Olivia lhe dobravam os joelhos. E teria seguido beijando-o se Jackson não se apartou.

-boa noite, carinho. Que durma bem. Ela ficou imóvel na escada, como se a tivesse golpeado um raio.

 

Acabava de amanhecer quando Olivia começou a dar a segunda capa de verniz. Não tinha pego olho em toda a noite, ensaiando o discurso que pensava lhe dar ao Jackson assim que o visse. Embora muitas mulheres estariam encantadas com suas cuidados, ela não tinha intenção de ser nada mais que uma amiga.

Não haveria beijos... nem nada mais. Seu objetivo era terminar a tese e depois procurar trabalho como psicóloga. Ter um homem em sua vida não figurava em seus planos. Tinha aprendido a lição e pensava ser completamente independente.

Mas, apesar de sua determinação de ignorar ao Jackson, não podia deixar de olhar para sua casa de vez em quando.

Não havia movimento.

Seguiu dando verniz e olhou de novo. Nada.

Estava quase terminando quando a caminhonete do Jackson apareceu na rua. Onde demônios tinha ido tão cedo?

Embora não era assunto dele.

-Bom dia.

Olivia levantou o olhar e o viu uns metros dela. Nem sequer o tinha ouvido chegar. Aquele homem se movia como um pantera.

-Bom dia. Levantaste-te muito cedo.

-Cedo? Carinho, já tenho feito dez covas esta manhã.  

-estiveste jogando golfe?

-Sim. O prometi ao Mitch. E me alegro de que você também esteja levantada. tomaste o café da manhã?

-Não, mas...

-Eu tampouco e estou morto de fome. vamos tomar o café da manhã ao café Magnólia. Fazem umas omeletes de cogumelo para chupá-los dedos.

-Não, obrigado. Tomarei uma torrada quando terminar com o escritório.

-Também torrou no Magnólia. Têm de tudo, mas as omeletes são incríveis.

Olivia tentou lhe explicar que não queria ir a nenhuma parte e que não pensava beijá-lo nunca mais. Disse-lhe tudo o que tinha ensaiado de noite, mas Jackson simplesmente sorriu.

-Vale, carinho. Se quiser que sejamos amigos, seremos amigos. Venha, estou morto de fome.

-Mas não posso ir assim... -Olivia assinalou a camiseta cheia de manchas. Tinha descido de seu apartamento com um acréscimo e uma calça curta, sem lavá-la cara sequer.

-me parece que está muito bonita. Além disso, em Austin ninguém se arruma.

-Já me dei conta -suspirou ela.

Tentou procurar alguma outra desculpa, mas não lhe ocorria nenhuma. E para rematar o assunto, seu estômago começou a fazer ruídos.

-Vamos, Olivia. Não seja tola.

antes de que pudesse discutir, Jackson a tirou do braço para levá-la a sua caminhonete.

 

Jackson não podia deixar de sorrir enquanto Olivia se tomava a última tortita. Estava coladinho por ela. Estar a seu lado o fazia sentir como o rei da criação. Lhe teria gostado de subir à mesa e começar a dar gritos de alegria.

Nunca havia sentido nada assim... estando sóbrio. E começava a entender por que Matt e Kyle ficavam tão parvos com o Eve e Irish.

Ela acreditava que estava horrorosa, mas ao Jackson parecia a mulher mais bonita do mundo. Gostava de sua juba escura despenteada e nem o ruge nem o carmim a fariam mais bonita. Era uma beleza natural. Inclusive com aquela camiseta velha tinha uma elegância inata... e um tremendo atrativo sexual. A metade dos homens do café estavam olhando-a de esguelha.

Olivia podia dizer que eram amigos, mas amizade não era o que ele tinha em mente. Queria-a na cama, a seu lado. Mas não era tolo. Sabia que havia algo em seu passado que a fazia recear dos homens e pensava ir devagar. Mas não retrocederia em seu empenho. Não pensava deixá-la escapar de novo e se para isso tinha que pegar-se como um marisco, faria-o.

Estava desejando tocá-la... mas se o fazia certamente lhe daria outro bate-papo sobre sua "amizade platônica". Mesmo assim, incapaz de conter-se, alargou a mão para tocar sua cara. Olivia deu um coice.

-É que tinha uma pestana.

-Ah, obrigado -disse ela, deixando o garfo sobre o prato-. Que fome tinha. É verdade, aqui a comida é muito bom. E também tinha razão sobre outra coisa: ninguém se arruma em Austin.

-A gente daqui não se preocupa por isso. Mas têm os melhores restaurantes do estado. pode-se comer em um sítio diferente cada dia e não repetir em um ano. comeste alguma vez serpente de cascavel?

Olivia soltou uma gargalhada alegre. Uma dessas gargalhadas que tanto lhe recordavam a noite que passaram juntos.

-Não, obrigado. Não estou interessada em comer cobras.

-Pois não está tão mal. Aos subúrbios da cidade há um restaurante especializado nisso e em lagartos. E também há um bar irlandês que tem orquestra os domingos de noite. Poderíamos ir um dia.

-Jackson, é que não ouviste o que te tenho dito antes?

Ele tomou sua mão, sorrindo.

-A que te refere, céu?

-Isto... isto precisamente.

-O que?

-Isto... que tome minha mão, que me olhe assim...

-Refere-te ao desejo que sinto de te jogar xarope por todo o corpo e lamber cada gota?

-Jackson!

-Perdoa, carinho.

Olivia apartou a mão.

-Por favor, deixa de me chamar carinho. E vamos. Temos que falar... em privado -disse, levantando-se.

Tinha-o quebrado, pensou Jackson enquanto tirava a carteira. Era um bocudo. Estava-o pensando, mas não devia havê-lo dito... Entretanto, por que não admitia Olivia que havia algo entre eles? Era evidente.

Mas estava muito zangada e foi lhe dando a bronca durante todo o caminho. Ele tentou defender-se, mas solo conseguia zangá-la mais, de modo que decidiu fechar a boca e esperar que passasse o temporal.

Mas não podia entender por que estava tão alterada.

 

Olivia não entendia por que estava tão zangada. passou-se muito, mas a reação do Jackson foi dizer: "Carinho, está-me rompendo o coração".

Seu ex-marido teria replicado de forma muito diferente.

Mas Olivia era psicóloga e sabia por que tinha reagido dessa forma. Era um mecanismo de defesa, puro e simples. A imagem do xarope sobre seu corpo era mais atrativa do que queria reconhecer. Jackson Crow se estava aproximando muito e isso a assustava.

Não podia negar que desfrutava de sua companhia, que o encontrava muito bonito, simpático e terrivelmente atrativo. Esse era o problema.

Seria tão fácil...

Não. Não estava preparada para confiar em um homem. Havia-lhe flanco muito chegar onde estava e não ia danificar o.

depois de tomar banho, vestiu-se e tomou uma mochila. Pensava passá-la manhã na biblioteca.

Quando estava subindo a seu carro, um esportivo vermelho estacionou frente à casa do Jackson e uma loira jovencísima, com calça curta e uma camiseta que deixava ao descoberto seu umbigo, entrou pela porta do jardim.

Olivia esperou um momento, mas a loira não voltou a sair.

E Jackson havia dito que lhe estava partindo o coração... miúdo hipócrita.

Fazia bem em estar zangada. Ao Jackson Crow não importava um nada. E enquanto estivesse ocupado com "Miss pernas largas" não a incomodaria. Melhor.

Estupendo.

Por fim, meia hora depois, conseguiu concentrar-se nos livros e se dedicou a sua investigação em corpo e alma. Quando voltava para casa, estava entardecendo.

E o esportivo vermelho seguia frente à casa do Jackson.

Mas não lhe importava.

Com a cabeça bem alta, Olivia saiu do carro dando uma portada e subiu a seu apartamento. Nada mais entrar, atirou a mochila no sofá e entrou na cozinha. Mas não porque da janela pudesse ver a casa do Jackson, mas sim porque tinha sede. Bebeu dois copos de água e depois limpou a pia. E depois o suporte e os armários.

Lhe estavam enrugando os dedos quando "Miss pernas largas" saiu da casa, com o Jackson detrás. Estavam rendamos-se e antes de entrar no carro a loira lhe deu um beijo na cara.

Olivia atirou a bucha na pia e se deu a volta, furiosa.

 

Como estava acostumado a passar depois daquelas sessões maratonianas, Jackson tinha uma horrível dor de cabeça. tomou uma aspirina e descansou um momento no sofá, com os olhos fechados. Quando por fim se sentiu um pouco melhor, saiu de sua casa e se dirigiu ao apartamento da Olivia.

antes de subir jogou uma olhada na garagem e viu que o verniz se secou, de modo que subiu o escritório pela escada.

Chamou o timbre um par de vezes, mas ela não abriu a porta.

-Sou Jackson! Quer que vamos ao cinema?

Olivia abriu então e Jackson tentou entrar, mas estava arremesso a cadeia. Não podia vê-la bem, mas tinha uma toalha ou algo na cabeça.

-Não posso. Pu-me uma máscara no cabelo e tenho que preparar as classes de amanhã.

-Que tal se pedirmos comida a China?

-Não, obrigado -respondeu ela, antes de lhe dar com a porta nos narizes.

Jackson voltou a chamar.

-Tenho-te gasto o escritório!

Olivia abriu de novo.

-Não fazia falta.

-Já sei, mas como pesa tanto...

Ela abriu a porta, com cara de poucos amigos.

-Entra.

-Onde o ponho?

-Aí, ao lado da janela.

Jackson deixou o escritório no chão e deu um passo atrás.

-A verdade é que ficou precioso. Quem teria podido imaginar que baixo essa capa de horrível pintura verde houvesse algo tão bonito?

-Obrigado por subi-lo.

-De nada -sorriu ele. Olivia levava um penhoar azul e cheirava a flores silvestres-. Seguro que não quer jantar? Eu não gosto de comer sozinho.

-Ao melhor "Miss pernas largas" quereria jantar contigo.

Jackson franziu o cenho.

-Quem?

-A ruivinha do umbigo de fora com a que passaste a tarde.

-Tami?

-Suponho que será ela. Ou Tiffany.

O soltou uma gargalhada. Se não a conhecesse bem, diria que estava ciumenta. Vá, vá, vá. Pensou fazê-la sofrer um pouquinho, mas depois decidiu que a verdade sempre vai a todas partes.

-Tami é uma de meus ajudantes.

-Ajudantes? Pois não tem pinta de ajudante. Vi-a quando ia à biblioteca e é... muito Mona.

-Sim, é Mona. E lista. Como Paulie.

-Quem é Paulie?

-Seu filho. dela e do Jimmy. Tem três anos.

-Jimmy?

-Não, Paulie. Jimmy tem vinte e cinco.

-Espera um momento. Quem é Jimmy?

-O marido do Tami. Os dois trabalharam em meu campo de golfe o ano passado. O pai do Tami e eu somos amigos. Ela acaba de terminar veterinária e está fazendo o doutorado.

-Já vejo.

Estava-o imaginando ou suas facções se suavizaram um pouquinho para ouvir a explicação?

-Posso te convencer para que troque de opinião sobre o jantar?

-Não, obrigado. ia fazer me uma sopa quando bateu na porta.

-Que classe de sopa?

-De macarrão.

Jackson sorriu.

-Meu favorita. Convida-me para jantar?

-É uma sopa de bote.

-Eu adoro nos sopas de bote. Tem pão?

 

Olivia inventou todas as desculpas possíveis para não ir ao rio Guadalupe com o Jackson e os meninos, mas não houve maneira. Sobre tudo porque Cherokee Pete se apontou à excursão. Chegou com o Buddy, um dos ajudantes do Jackson, em um microônibus na sexta-feira de noite.

-Queria ver a casa de meu neto. Além disso, não me perderia uma visita ao rio Guadalupe por nada do mundo.

Inclusive convenceu a Tessa para que fora com eles.

na sábado pela manhã, os cinco adultos mais os cinco meninos, entravam no microônibus carregados com mochilas.

A paisagem até o rio era precioso, com suas colinas cheias de cedros e carvalhos e o céu de um azul muito puro.

Ela ia sentada ao lado do Jackson, que ia assinalando os pontos de interesse, mas Olivia não podia concentrar-se tendo-o tão perto.

Podia cheirar sua colônia e sentir o calor de seu corpo enquanto assinalava alguma paragem em particular. Inclusive podia contar suas pestanas e ver o brilho de humor em seus olhos escuros.

Por fim, felizmente, Jenny e outros meninos começaram a jogar jogo das perguntas e Olivia se relaxou um pouco.

Uma hora mais tarde chegavam ao rio. Buddy se encarregou de alugar uma lancha pneumática e todos ficaram traje de banho, camisetas e sapatilhas para evitar cortes com as rochas. Inclusive Jackson trocou suas eternas botas jeamas por umas gastas sapatilhas de esporte.

Olivia não o tinha passado melhor em toda sua vida. Desceram pela corrente do rio, rendo e gritando quando era mais forte e empapando-se uns aos outros quando era mais tranqüila. Depois, pararam em um banco de areia e subiram pelo caminho para voltar a fazer a viagem.

Cherokee Pete tinha oitenta anos, mas não parecia cansado absolutamente e, depois de comer, os meninos se reuniram a seu redor para lhe ouvir contar histórias do velho Oeste.

Olivia se tornou sobre uma toalha para repousar o almoço e Jackson se tombou a seu lado, apoiando a cabeça sobre uma de suas pernas.

-Está-o acontecendo bem?

-Sim -respondeu ela, fechando os olhos.

sentia-se completamente relaxada pela primeira vez em muito tempo. O ruído da água, as risadas dos crios e o calor do sol eram como um bálsamo. A companhia do Jackson e outros lhe dava uma sensação de segurança e bem-estar que quase tinha esquecido.

 

Pouco a pouco foram deixando-os sozinhos. Os meninos decidiram ir explorar com o Buddy e Pete se afastou para o rio para dar um passeio. Tessa lhe fez uma piscada ao ver que Olivia estava dormida e também ela partiu.

Jackson não queria despertá-la. Tinha uma expressão tão sossegada, tão cheia de paz, que não o teria feito por nada do mundo. Tinha a cabeça sobre seu regaço, como uma menina. Não se tinha dado conta de sua expressão de angústia até que a viu dormida. E, por enésima vez, perguntou-se o que era o que a afligia tanto.

Começava a ter por ela sentimentos profundos, muito mais que uma mera atração física. Olivia se moveu então, pondo uma mão sob sua cara e ainda por cima da braguilha do Jackson... ou onde estaria a braguilha se não levasse traje de banho. Seus sentimentos não eram quão único começavam a alterar-se.

Jackson murmurou uma maldição, tentando concentrar-se em outra coisa, mas não podia fazê-lo. E o assunto começava a ficar... difícil.

Apanhado entre o céu e o inferno, suportou a tortura. Suportou-a com... sua espada a emano para poder matar qualquer dragão que tentasse despertar a seu Olivia.

 

Ao dia seguinte, Cherokee Pete bateu na porta da Olivia enquanto ela estava concentrada em uma leitura para suas classes.

-Entra, Pete. Acabo de fazer café.

-Muito obrigado -disse o homem-. Um apartamento muito bonito, sim senhor. Eu gosto dessa cadeira de balanço. Recorda-me uma que tinha minha mulher.

-Comprei-a em um mercadinho e tubo que arrumá-la porque parecia pó.

Pete tocou o respaldo de madeira com suas enrugadas mãos.

-Bom trabalho. A minha mulher também gostava de fazer essas coisas.

-Morreu faz muito tempo?

Ele deixou escapar um suspiro.

-Mais do que eu gostaria. Olhe, pensei que ao melhor não importava que um velho como eu te incomodasse esta tarde. Jackson está com a Comissão e não tem nem um só livro em casa que me interesse. Todos são sobre política e economia, um cilindro.

-Se está procurando algo que ler, pode olhar em meu estantes. Vá onde vá, eu sempre acabo colecionando livros.

-Eu também -sorriu Pete-. Pensava ir a uma livraria, mas Buddy se levou a caminhonete e não me faz graça conduzir o esportivo do Jackson, especialmente porque não conheço bem a cidade.

-Quer que te leve a uma livraria?

-Não, não -disse o homem, olhando as estantes-. Aqui tem dois ou três livros que me interessam. Este é de mistério, verdade?

-Sim, são histórias de fantasmas escritas pelo M.R. James, um autor do século passado.

Pete tirou também um livro do psicólogo Cari Jung.

-Eu gosto da Psicologia. Faz tempo que não leio nada do Jung, mas poderia ser interessante.

Olivia tentou esconder sua surpresa, mas deveu notar-se o na cara porque Pete soltou uma risinho.

-Surpreende-te que um velho como eu leia livros de psicologia?

-um pouco, a verdade.

-A gente fica de pedra quando vê minha biblioteca. Minha mulher era professora, sabe? Ela me ensinou a amar a literatura.

-Me alegro muito. me passa igual.

-Eu não tive uma educação acadêmica, mas sei quão importante é. Por isso insisti em que meus netos fossem à universidade. E todos foram bons estudantes. Bom... menos Jackson. Nunca gostou dos estudos, mas terminou a carreira -sorriu o homem-. Nunca eis podido entendê-lo. De todos meus netos, Jackson é o mais preparado, inclusive mais que Smith, que é um gênio. Não conhece o Smith, verdade? Tem uma empresa de informática e vive no vale de São Fernando.

-Está muito orgulhoso de seus netos, né? -sorriu Olivia.

-Me nota muito, já sei. Tenho duas filhas estupendas, cinco netos geniais, dois bisnetos preciosos... e outro em caminho.

-vamos tomar café. Assim poderá me falar de seus preciosos bisnetos.

Pete sorriu.

-Ah, por certo, tenho uma bandeja do Chile mexicano no forno. Está convidada para jantar e não aceito uma negativa.

-Então, suponho que terei que ir.

-É obvio. E já que estamos, quando vais dizer me se aceitar minha proposição?

-Que proposição? -perguntou Olivia.

Os olhos do homem brilharam, peraltas.

-a de te casar com o Jackson.

-Esquece-o, Pete. Não me casaria outra vez nem sequer por ti. Leite e açúcar?

 

Olivia não podia acreditar quão rápido passava o tempo. Possivelmente porque sua vida era tão agradável. Mas antes de que se desse conta tinha passado o mês de setembro e outubro estava a ponto de terminar.

Um sábado abriu as janelas para ventilar o apartamento e quando ia fazer se um café, alguém arranhou a porta.

Abriu, imaginando que era Jackson para convidá-la a tomar o café da manhã, ao cinema, a comer... ou a qualquer outra coisa.

Mas não era Jackson a não ser um cachorrinho dentro de uma caixa de cartão, com um sobre na boca.

-Olá, pequenino -sorriu, tomando a bolinha de cabelo marrom e branco em seus braços-. O que tem aí?

Olivia tentou lhe tirar o sobre, mas o cachorrinho sujeitava o papel com os dentes como se o fora a vida nisso.

-Ouça, anão -escutou então a voz do Jackson-. Supõe-se que deve lhe dar o sobre, não lhe comer isso Perdoa, tínhamo-lo praticado, mas é muito jovem. Quão único aprendeu é a não fazer-se pis na casa.

-É um cachorrinho precioso. De que raça é? -Que raça? Nem idéia. Creio que sua mãe era uma golden retriever e seu pai um tipo da rua. Tirei-o da canil porque Tami me convenceu. Todo mundo nesta rua terá um mascote dentro de nada. Quer um gatinho, uma cabra?

-Não, obrigado. Não creio que a Tessa fizesse graça ter cabras no jardim.

-Pois eu creio que a senhora López tampouco está muito contente com o Rowdy.

A senhora López era o ama de chaves que Jackson tinha contratado nada mais instalar-se na casa.

-por que não? É divino.

-O pobre ainda não conhece as regras de urbanidade e entra na cozinha quando está esfregando o chão. Quer vir conosco ao parque?

-ia tomar o café da manhã...

-Tem a cafeteira posta?

-Não.

-Pois vamos. Coloca ao Rowdy na caixa e vamos tomar o café da manhã. Logo quero provar meu cometa.

-Seu cometa?

-Sim. É muito bonita -sorriu Jackson.

Com as botas, os jeans e o chapéu texano parecia um profissional do rodeio, não alguém que se dedica a jogar no parque.

-Não te creio.

-Minhas primos e eu estávamos acostumados a passar os verões jogando com cometas. E a meu é de profissional, com mandos. Me deu de presente isso Matt por meu aniversário.

-Quando é seu aniversário?

-Amanhã. Venha, vamos ao parque.

Olivia duvidou um momento. Passavam muito tempo juntos. Quase todos os fins de semana e alguns dias de jornal nos que foram jantar ou ao cinema. Estava muito a gosto com ele, mas tinha decidido que aquele fim de semana o passaria sozinha, para variar.

-Sinto muito, mas hoje pensava ir à livraria.

-Vamos um momento ao parque com o Roscoe, depois te convido a comer e logo te acompanho à livraria.

-Não se chamava Rowdy?

-É que ainda não me decidi.

-Pode que esse seja o problema. O pobre cachorrinho está confuso.

-Ah, uma crise de identidade, não? -sorriu Jackson.

-Pois sim, preparado.

-Venha, lista, vamos ao parque.

como sempre, Olivia acabou rendendo-se. depois de tudo, pensou tentando justificar-se a si mesmo, ao dia seguinte era seu aniversário. E ninguém a fazia rir mais que Jackson Crow.

E ninguém a fazia, sentir tão segura e tão vulnerável ao mesmo tempo.

No parque, antes de que Jackson pudesse lhe pôr a correia, o cachorrinho saiu correndo detrás de uma pomba. Olivia e ele o chamaram, mas parecia ter vontades de explorar. Foram cada um por um lado para apanhá-lo, mas Roscoe-Rowdy, acreditando que aquilo era um jogo, escapava entre suas pernas.

Estiveram perseguindo-o durante um quarto de hora até que Jackson o pilhou por fim e se atirou ao chão, morto de risada.

-Estou esgotado. Como está você, Relâmpago?

O cachorrinho moveu a cauda.

-Parece-me que já temos nome -riu Olivia-. O que te parece, Relâmpago?

O cachorrinho lançou um latido de aprovação.

-Pois nada, Relâmpago -sorriu Jackson, lhe pondo a correia-. Mas estou muito cansado para voar a cometa.

-Disso nada! Eu quero ver como o faz.

Tiraram a cometa do carro e Olivia ficou olhando enquanto a fazia voar. Lhe dava muito bem e desfrutou observando o movimento de seus braços...

Quantas vezes tinha desejado ter esses braços ao redor de seu corpo... Embora se dizia a si mesmo que devia manter as distâncias, tinha descoberto que as advertências não valiam de nada. A realidade era que se sentia atraída pelo Jackson Crow. depois de tudo, era uma mulher adulta com desejos e necessidades. Possivelmente poderiam manter uma relação sentimental, pensou. Nada sério, é obvio. Não pensava voltar a casar-se nunca.

-Quer tentá-lo? -perguntou-lhe Jackson então.

Ela ficou tinta. Mas então se deu conta de que se referia a cometa.

-Sim, claro. O que tenho que fazer?

Olivia atou a correia de Relâmpago a uma árvore e se colocou diante do Jackson, com as costas apoiada sobre seu peito. Em tándem, sujeitaram os fios da cometa vendo-a dançar no céu. Esse era seu objetivo, mas parecia querer romper os fios e voar livremente.

Por alguma razão, a ela lhe fez um nó na garganta. Era sozinho uma cometa, mas sentia uma entristecedora e ridícula fraternidade com o artefato.

E com o Jackson.

Como se fossem uma só pessoa. Seus braços se moviam em perfeita sincronização.

Eram perfeitos juntos.

Perfeitos...

De repente tentou apartar-se, nervosa.

-O que acontece? -perguntou ele.

-Nada, me solte. Não posso respirar -murmurou Olivia.

-Espera um momento -disse Jackson, apartando os fios da cometa-. O que acontece?

-Nada -murmurou ela, com uma mão no peito. Estava sofrendo um ataque de pânico, algo que não lhe tinha ocorrido em muito tempo

-Carinho...

Para dissimular, Olivia tossiu várias vezes.

-Perdoa. É que tenho alergia ao pólen e, por um momento, fiquei-me sem respiração.

-Quer que te leve a hospital?

-Não, não. Tenho pastilhas em casa.

Isso era certo. Tinha anti-histamínicos para sua alergia.

-Pois vamos a casa -disse Jackson então, tomando-a do braço.

-Espera, não é nada urgente. Baixa a cometa enquanto eu coloco a Relâmpago no carro.

Durante o caminho de volta a casa, teve que lhe dizer duas vezes que reduzira a velocidade. A preocupação do Jackson era evidente, mas não podia lhe contar a verdade. Sabia que ele não era como Thomas e seu pai e não se sentia ameaçada, especialmente depois de havê-lo conhecido melhor durante aquelas semanas. Mas as emoções não têm cérebro, não se regem pela lógica.

Acreditava haver-se liberado de suas ansiedades, mas estava equivocada. A terapia tinha ajudado muito, mas solo o tempo cura certas feridas.

Evidentemente, ainda não estava preparada para confiar no Jackson.

De volta no apartamento, ele tomou o sobre que Relâmpago não tinha querido lhe dar antes.

-Me tinha esquecido te dizer que estamos convidados a uma recepção em casa do governador. dentro de três semanas.

-Com ocasião do que? -perguntou Olivia, entrando na cozinha.

-Para conhecer presidente e à primeira dama.

-Diz-o a sério?

-Sim. Gosta de conhecer a flor e nata do estado?

Olivia pensou dizer que não, mas rechaçar um convite assim...

-eu adoraria conhecer presidente -disse, tomando o bote de pastilhas-. Sabe uma coisa? Creio que já não necessito isto. Sinto-me muito melhor.

-Se não tomar a pastilha, não vamos comprar livros.

De modo que Olivia se tomou a maldita pastilha.

 

-Eu adoro este sítio -sorriu Olivia, respirando profundamente ao entrar na livraria-. Você não gosta do aroma?

-Sim, claro -sorriu Jackson-. Quer uma taça?

-O que?

-Que se quiser uma taça de café.

Olivia viu que, em uma esquina da enorme livraria, havia um bar.

-Não, referia-me ao aroma dos livros. As bibliotecas cheiram a tradição, a passado. As livrarias cheiram a livros novos. Mas eu adoro o aroma dos livros, velhos e novos.

-Pois me parece que eu nunca lhe emprestei atenção a isso. Está procurando algo em especial?

Ela negou com a cabeça.

-vou jogar uma olhada às novas publicações e logo quero olhar os que estão rebaixados. Você quer algo em particular? Nunca falamos que nossos autores favoritos. Quem é o teu?

-Pois... tenho vários. E você?

-Eu também tenho muitos. A lista é interminável, em realidade. Para me divertir, leio histórias de fantasmas. E você? Qual é seu tema favorito?

-Eu gosto... os de mistério. E os do oeste.

-Não me diga... Louis Murphy, verdade? Escreve as melhores cria novelas sobre o Oeste americano.

-Sim, claro.

-Parece-me que acaba de publicar uma nova. Quer que joguemos uma olhada? Por certo, dei-me conta de que em sua casa não há livros.

-Sim, bom, é que como acabo de me mudar...

-por que não nos encontramos dentro de meia hora no bar?

-Muito bem. Como você diga.

 

Jackson esperou até que Olivia desapareceu detrás da estante de novas publicações e saiu correndo para o mostrador de informação. por que demônios tinha ido a uma livraria com ela? Antes preferia caminhar descalço sobre brasas acesas. Estar rodeado de tanto livro o punha nervoso.

De todas as mulheres que há no mundo, tinha que colar-se a uma amante dos livros. Que vida.

-Ouça, necessito ajuda,

-Sim, senhor -disse-lhe o jovem que estava atrás do mostrador-. O que está procurando?

-Baixe a voz -murmurou Jackson, procurando a Olivia com os olhos-. Necessito um montão de livros... e rápido.

-Que classe de livros?

-Todo os autores que escrevam sobre o Oeste americano. E também histórias de fantasmas.

-Vitorianas ou eduardianas?

-Né? Não sei, as duas coisas.

-Quanto aos livros do oeste, quer ficção ou ensaio?

-As duas coisas.

-Coberta dura ou de bolso?

-Coberta dura -respondeu Jackson-. E lhe dou cinqüenta dólares se me ajudar para buscá-los todos em vinte minutos.

-Vamos por um carrinho.

O jovem saiu correndo para o outro lado da livraria como se lhe tivessem posto um petardo.

-Aqui estão os do oeste?

-Não, estes são os melhores relatos de fantasmas. Temos ao M.R. James, Sheridan O Fanu, Michael Scott, Matthew Lewis... quer um de cada?

-Sim.

Depois se aproximaram de outra estante, enquanto Jackson olhava por cima do ombro.

-Os do oeste... aqui temos ao Shane McMurtry -disse o jovem em voz baixa-. É um autor muito solicitado.

-Vale, vale.

-Mas são edições de bolso. Ou em cinta.

-Como?

-Em cinta, já sabe, para ouvi-los no carro.

-Em cinta? Vá, vá. Tem a esse McMurtry em cinta?

-Sim. E ao Grisham também.

-Quem é Grisham?

-Um dos autores contemporâneos mais lidos.

-Vale. Pois também o quero. Quero tudo o que tenha em cinta.

Pouco depois estiveram a ponto de chocar-se com a Olivia, mas Jackson empurrou ao jovem detrás de uma estante.

E exatamente vinte minutos mais tarde se dirigia, com o carrinho cheio até os batentes, para a caixa registradora.

-Vá, parece que gosta de muito ler -disse a cajera.

-Se você soubesse... -murmurou ele.

depois de pagar, tomou as quatro bolsas cheias de cintas e livros e se dirigiu ao bar. Estava tomando a segunda taça de café quando apareceu Olivia.

-Perdoa, é que me foi o tempo voando. Sempre me passa nas livrarias.

-Quer uma taça de café?

-Prefiro um capuchino.

-Muito bem, carinho.

Quando Jackson voltou da barra, Olivia estava olhando dentro de suas bolsas.

-compraste tudo isto.

-Sim. Você mesma há dito que devia encher meu estantes.

Olivia tirou um deles da bolsa.

-E por que compraste um livro sobre a menopausa?

Ao Jackson quase lhe caiu a taça de café.

-É... para a senhora López.

-Ah, claro -murmurou ela, tirando outro livro-. Que maravilha! Este tem que me emprestar isso -Llévatelo si quieres.

-leve-lhe isso se quiser.

-Não, não. Lhe pedirei emprestado isso quando terminar de lê-lo. Tem lido toda a série?

Jackson tomou um sorvo de café. Estava suando.

-Um ou dois, mas faz tempo. Quer outro capuchino?

-Mas se ainda não provei este... -murmurou Olivia, surpreendida-. Me diga, qual dos títulos do Grafton é seu favorito?

-Não recordo o título, mas é um autor que eu gosto de muito. Como te tenho dito, li-os faz tempo. Te ocorreu onde poderíamos ir jantar esta noite?

-Não, mas sim amanhã. Está convidado para jantar em minha casa. Inclusive te farei um bolo para celebrar a ocasião.

-Que ocasião?

-Seu aniversário. A menos que tenha outros planos.

-Nenhum -sorriu Jackson-. De verdade vais fazer me um bolo?

-claro que sim. Qual você gosta mais? -a de coco.

 

Devia ter perdido a cabeça. por que lhe tinha prometido ao Jackson lhe fazer um bolo de coco? Se logo que sabia cozinhar...

E se notava.

A primeira capa estava torcida para um lado e teve que sujeitá-la com palitos. Em realidade, tinha uma pinta espantosa, mas possivelmente com um pouco de nata...

Não estava tão mal. Quando começou a jogar o coco comprovou que não ficava pego aos lados, mas se o tocava se abria por acima e ameaçava caindo ao chão. Tentou-o tudo, inclusive esteve a ponto de usar o secador de cabelo. AJ final, jogou toda a bolsa de coco e converteu o bolo em uma espécie de iglu.

Olivia deixou escapar um suspiro. Felizmente, o resto do jantar era bastante singelo: salada grega com queijo e um assado que estava no forno.

A mesa estava posta, as velas acesas, o presente envolto sobre a poltrona. Solo tinha tempo para dar uma ducha rápida antes de que chegasse Jackson.

 

Jackson tinha uma espantosa dor de cabeça. Tinha tomado mais aspirinas do que é recomendável, mas a enxaqueca não desaparecia.

De noite tinha tentado ler o livro do Grafton e ficou surpreso ao saber que era uma mulher. Tentou-o e o tentou, mas não era capaz. Por fim, frustrado, rendeu-se e esteve até as tantas escutando a cinta. Felizmente, o menino da livraria lhe tinha falado das cintas. Sem elas estaria perdido.

E, para mais remate, no domingo pela tarde era o dia que Tami lhe dava uma sessão maratoniana sobre os casos que deviam revisar na Comissão na segunda-feira. Tinha dois ajudantes no escritório, mas repassava a maioria dos temas com ela.

Ele odiava os livros. Odiava os periódicos, as revistas e até as instruções dos eletrodomésticos. Odiava algo que estivesse impressa. Odiava-o com a raiva de trinta anos de angústia e frustração. Como podia aparentar diante da Olivia que tinha lido algum livro?

Uma vez na ducha, Jackson abriu o grifo da água fria para tentar aliviar a típica dor de cabeça dos domingos.

por que estava submetendo-se a aquela tortura? Porque era um idiota.

Então recordou o rosto da Olivia. Seus olhos, seu precioso sorriso... Por isso o fazia. Faria algo por ela.

E qualquer sacrifício merecia a pena.

Felizmente, tinha ao Tami. Stephanie também era uma grande ajuda. E Jennifer. Possivelmente poderia lhes pagar para que lhe lessem um par de tardes à semana. Isso o ajudaria muito.

 

Quando estava sentado frente a Olivia, Jackson pensou que era o homem mais afortunado do mundo. Tinha-lhe preparado um jantar delicioso... embora com ela se teria comido um sanduíche sentindo o homem mais feliz do mundo. E, além disso, havia flores e velas na mesa.

Olivia estava preciosa com uma calça de raso de cor vermelha que se pegava a suas curvas e que o estava voltando louco. Tanto que lhe custava trabalho comer. Solo queria olhá-la, tocá-la... lhe fazer o amor até o mês de abril. Aquela mulher era dinamite.

-Está riquíssimo. É uma surpresa que uma garota tão bonita cozinhe tão bem.

Ela soltou uma risinho.

-Não cozinho nada bem. E será melhor que te guarde os cumpridos até que veja o bolo.

-De verdade me tem feito um bolo?

-Bom, um pouco parecido.

Olivia entrou na cozinha e voltou com uma espécie de bola branca sobre a que havia uma vê-lita. Então começou a lhe cantar o "Aniversário feliz" com uma voz rouca e suave parecida com a da Marilyn Monroe quando o cantou ao Presidente... e Jackson se voltou louco de tudo.

-feliz aniversário, senhor Comissionado...

Então não pôde controlar-se mais. Quando Olivia deixou o bolo sobre a mesa, sentou-a sobre seus joelhos e começou a beijá-la. Tinha sabor de ameixas e a fogo e, sem poder evitá-lo, começou a acariciar seus peitos através da blusa.

-Deus, como te desejo... -disse com voz rouca.

-Mas o bolo....

-O bolo pode esperar. Deixa que te faça o amor, carinho.

Ela tentou dizer algo, mas os beijos afogavam seus protestos.

-Jackson, não -murmurou por fim, apartando-se-. Não quero isto. Não estou preparada.

Tinha as bochechas vermelhas e respirava com dificuldade.

-Carinho, não quero te chamar mentirosa, mas me parece que está tão preparada como eu.

-Sinto muito, mas este é um mau momento para mim.

-Um mal... -Jackson se deu conta do que estava dizendo-. Ah, já entendo. Não se preocupe, carinho. Que tal se provarmos o bolo?

Olivia olhou sua criação.

-É horrível, verdade?

-É o bolo de aniversário mais bonita que vi em minha vida... porque a tem feito você. vamos cortar a.

-Tem que pedir um desejo e sopro a vela.

-Muito bem -sorriu ele, dando um tremendo sopro.

-Tome cuidado com os palitos -advertiu-lhe ela, enquanto cortava duas partes-. usei quase uma caixa inteira tentando sustentá-la. Quer café?

-Sim, obrigado. Eu vou por ele...

-Sente-se. É seu aniversário -interrompeu-o Olivia-. Toma, seu presente.

-Compraste-me um presente?

-claro que sim. Espero que você goste. Venha, abre-o enquanto vou pelo café.

Jackson rompeu o papel, entusiasmado.

Um livro.

Estava olhando a fotografia da capa, uma cometa, quando ela voltou da cozinha.

-É um livro sobre a história das cometas. Você gosta?

Jackson tragou saliva.

-eu adoro.

-Me alegro de que você goste. Que tal o bolo?

Ele tomou uma parte com o garfo, tirou um par de palitos e o meteu na boca.

-Riquíssima.

-Está seguro? -perguntou Olivia, cética.

-É obvio.

E para prová-lo, tomou duas partes e se levou o resto a casa.

Em realidade, apesar de seu aspecto, o bolo estava riquíssimo. Em sua cozinha, a meia-noite, Jackson pensou que aquele tinha sido um dos melhores aniversários de sua vida. Solo uma coisa o teria feito inesquecível: passar a noite com ela.

Desejava-a com todas suas forças. Queria pôr o mundo a seus pés, lhe dar tudo o que quisesse, lhe fazer o amor até fazer que gemesse de prazer pronunciando seu nome. Queria... Paciência, disse-se a si mesmo.

 

Olivia estava na cama, pensando. Na escuridão, olhava as sombras que um raio de lua criava na parede.

por que se tinha jogado atrás?

Queria que o aniversário do Jackson terminasse ali, em sua cama. Por isso se tinha arrumado tanto. Por isso tinha trocado os lençóis e por isso escolheu sua roupa interior mais sedutora.

O cenário era perfeito, Jackson estava excitado... e ela também. E então, no último momento, voltou a ter medo. A ansiedade não era tão severo como a que sentiu no parque quando estavam voando a cometa, mas estava de novo ali. Pensava que o tinha tudo claro, mas não era assim. por que?

Não tinha detectado um pingo de crueldade, nem de extrema possessividade no Jackson. Ele não era como Thomas... nem como seu pai. Absolutamente.

Mas Thomas também foi maravilhoso durante seu noivado. Solo mais tarde descobriu que era um homem cruel e possessivo. Thomas era um mentiroso da pior índole.

Olivia odiava as mentiras e o engano com todo seu coração. E, entretanto, via-se obrigada a fazer algo que detestava.

Não tinha sido sincera com o Jackson.

Mas, tinha-o sido Jackson com ela?

Era algo sem importância, mas por que lhe havia dito que gostava dos livros do Grafton? Nem sequer sabia que era uma mulher. E também o tinha pilhado em algum outro renuncio.

Isso a punha nervosa. Assustava-a o engano.

Não, não poderiam manter uma relação até que confiasse nele por completo. E Olivia se dava conta de que com o Jackson seria impossível ter uma simples aventura.

Seu coração estava em jogo.

Mas Jackson tinha mentido sobre o livro. por que?

E sobre que mais estaria mentindo?

 

Olivia estava esfregando os pratos e viu outra das "ajudantes" do Jackson sair da casa. Pelo visto, tinha muito trabalho... fora do escritório. Aquela era alta, ruiva, jovem. Muito jovem. Tinha ido a casa do Jackson duas vezes essa semana, na segunda-feira e na quarta-feira de noite.

Embora lhe dava igual as loiras e ruivas que fossem a sua casa.

Não estava ciumenta.

Mentira podre, claro.

Sabia que Jackson tinha um posto de muita responsabilidade na Comissão e se tomava seu trabalho seriamente. De modo que estava trabalhando. Mas resultava curioso que nenhuma de seus ajudantes fosse baixa ou tivesse o cabelo cinza. Ou que fora um homem.

Mas não era assunto dele. Jackson não era seu noivo nem nada parecido.

Quando saiu da cozinha, viu sobre o escritório o livro do Grafton que lhe tinha emprestado. Passaria por sua casa para devolver-lhe pensou. antes de que pudesse trocar de opinião, Olivia tomou o livro e baixou as escadas.

Esteve um momento chamando o timbre, mas Jackson demorou para abrir. Quando por fim o fez, tinha o cabelo molhado e levava uma toalha atada à cintura.

-Jennifer, há... -assim que viu que era Olivia, apoiou-se na parede, sorrindo-. Ah, que surpresa mais agradável. Entra, entra.

Olivia o olhou, mortificada.

-Só vim a te trazer o livro -disse, antes de sair correndo.

Jackson a chamou várias vezes, mas ela não se voltou.

Que mais prova necessitava? Tinha saído a abrir a porta com uma toalha. Mas claro, Jackson Crow era um homem são e normal. O que tinha esperado, que não se deitasse com ninguém? É obvio que não. E não tinha direito a esperá-lo.

Mas se era assim, por que lhe doía tanto?

Tentando conter as lágrimas, Olivia subiu os degraus de dois em dois e entrou em seu apartamento.

 

Murmurando maldições, Jackson ficou a calça e a camisa e saiu de sua casa dando uma portada. O que era o que tinha zangado tanto a Olivia? Não tinha nem idéia.

Mas sim tinha uma horrível dor de cabeça e não podia pensar com claridade. Uma ducha fria estava acostumada ajudá-lo, mas não tinha tido tempo.

A teria ofendido saindo à porta só com uma toalha? Não lhe via nada. E ela o tinha visto em traje de banho...

-Olivia! -gritou, golpeando a porta-. Olivia!

Ela abriu uns segundos depois.

-Não grite. vais despertar a toda a vizinhança.

-Dá-me igual. por que saíste correndo?

-Porque... cheguei em um momento inoportuno.

-por que? Porque estava na ducha?

-Por isso Y...

-Venha, diga-o.

-Porque, evidentemente, Jennifer e você...

-Jennifer e eu o que?

Olivia olhou ao chão.

E então Jackson entendeu.

-Crie que Jennifer e eu...? Não me posso acreditar isso. Está ciumenta.

-Disso nada!

-claro que sim! -riu ele-. Está ciumenta!

Olivia lhe deu um murro no estômago.

-Não estou ciumenta. O que faça com o Jennifer ou quem é não é meu assunto.

-Sim o é, carinho. Não estou interessado em me deitar com ninguém, exceto contigo. Sou homem de uma só mulher. E para que saiba, Jennifer vive com um jogador profissional de futebol. Por certo, poderíamos ir ver o jogar na sábado. E logo, a dançar música country.

-Eu não sei dançar country.

-Porque nunca tiveste um bom casal. Eu sou um demônio na pista de baile -disse Jackson, tomando-a pela cintura para dar um par de voltas.

Olivia soltou uma gargalhada.

-Você é um demônio em todas partes, Jackson Crow.

-Certamente.

-Que tal uma taça de café?

-Estupendo. Tem uma aspirina?

-Sim. Dói-te a cabeça?

O se passou uma mão pela frente.

-É que tenho muito trabalho.

-Sente-se. Vou pela aspirina.

Não teve que dizer-lhe duas vezes. Tinha a cabeça como um tambor grande.

Devia notar-se o porque quando voltou da cozinha ela o olhou com o cenho franzido.

-Dói-te freqüentemente a cabeça?

-Uma ou duas vezes por semana.

-Talvez necessita óculos.

-Não, tenho muito boa vista. É a tensão.

Olivia se colocou detrás dele e começou a lhe dar uma massagem.

-Ah, que bem.

-Estava acostumado a fazer-lhe a meu pai. Ele também tinha enxaquecas.

-Nunca me falaste que sua família.

-Não.

Jackson esperou que seguisse falando, mas não o fez.

Os mágicos dedos femininos seguiam massageando seu couro cabeludo e fechou os olhos. Era como estar no céu. Seus músculos se relaxaram e a dor de cabeça foi desaparecendo pouco a pouco.

Então a sentou sobre seus joelhos.

-Carinho, vou ter que me casar contigo e te atar à pata da cama.

Olivia se levantou de um salto, nervosa.

-Nem o sonhe, Comissionado.

Outra vez a tinha zangado. Quando ia aprender?, perguntou-se, zangado consigo mesmo. Por fim tinha conseguido que Irish lhe contasse algo sobre seu passado. Pelo visto, seu ex-marido e seu pai eram dois homens muito possessivos e, ao menor signo de repressão, saía correndo.

A paciência era a chave. Paciência para que ela marcasse o passo.

Esse seu ex-marido devia ter sido um canalha. E alguém deveria lhe dizer um par de coisas por ter arruinado a vida de seu Olivia.

 

Olivia não tinha estado em um jogo de futebol em anos. Da universidade, certamente. E não sabia o que ficar, de modo que escolheu uns jeans e um discreto pulôver azul. Esperava levar a roupa adequada.

Mas não deveria haver-se preocupado. sentou-se com o Jackson e seus amigões no degrau preferivelmente, a que estava reservada para os que contribuíam economicamente com a equipe, e todos foram com jeans e camisa. Embora Jackson era o mais bonito.

Durante a partida tomaram cerveja e comeram perritos quentes, como manda a tradição, enquanto animavam à equipe do noivo do Jennifer, que ganhou por sete pontos.

-Você estudou na Universidade do Texas? -perguntou-lhe Olivia.  

-Só o primeiro ano. Mas fiz muitos amigos. É a universidade mais divertida do país. Além disso, faço doações para que me dêem bons assentos nas partidas.

-Jackson, isso é horrível.

-É a verdade. Quer que minta?

Ela negou com a cabeça, sorrindo.

-Não, claro que não.

Assim era Jackson. Não se andava com rodeios. Era uma das coisas que mais gostava dele.

Foram para jantar a seu restaurante favorito, um mexicano no centro da cidade, embora Olivia logo que podia provar bocado depois dos perritos quentes. Estavam em novembro, mas ainda fazia bom tempo para sentar-se em uma terraço.

depois de jantar foram a um edifício que parecia um estábulo e de que saía música country.

O sítio estava abarrotado e havia muitos casais dançando.

Jackson lhe deu um bilhete ao garçom, que os levou a uma mesa perto da pista. Entre a música e os pisões dos bailarinos, aquele sítio vibrava de alegria.

-vamos dançar -disse Jackson.

Ela o seguiu como pôde ao redor da pista. Não tinha nem idéia do que estava fazendo, possivelmente Jackson a levava em volandas.

-Carinho, te dá muito bem.

Dançaram durante meia hora até que a orquestra tomou um descanso. Suando pelo exercício, Olivia se abanicó com a mão e depois se deixou cair sobre a cadeira.

-Não sei se meu coração agüentará este ritmo. Estou exausta.

-Pensei que não sabia dançar country.

-E não sei, mas não é tão difícil. Sobre tudo se tiver feito doze anos de balé. Além disso, você dança muito bem.

-Obrigado, senhorita. Onde estudou balé?

-Em Califórnia. Coisas de minha mãe. E quando morreu, meu pai insistiu em que seguisse tomando classes. Segundo ele, assim aprendia disciplina.

-Ah, sim?

-Em realidade, as classes me mantinham ocupada e assim não lhe dava guerra.

Jackson tomou um gole de cerveja.

-Quantos anos tinha quando morreu sua mãe?

-Dez. Minha mãe... tomou um frasco de pastilhas. Encontrei-a na cama ao voltar do colégio.

-Céu... -murmurou ele, tomando sua mão-. Não sabe como o sinto.

-Foi faz muito tempo. E não quero falar disso esta noite. Estou-o passando muito bem. Quer que joguemos bilhar?

-Sabe jogar bilhar?

-O que tem de estranho? Seguro que ganho.

-A mim? Não lhe crie isso nem você. Tenho uma licenciatura em bilhar.

-Acreditei que era em pôquer.

-Também. Você arrumado cinco dólares.

-Dez -sorriu Olivia.

-Vale.

Deixou-o descascado na primeira ronda. Jackson a olhava apoiado na mesa, incrédulo.

-O que é, uma profissional?

-Já te disse que sabia jogar. Ensinou-me meu irmão Jason. Quando meu pai o castigava sem sair subia ao segundo piso, onde tínhamos uma mesa de bilhar. E como me dava pena, eu jogava com ele.

-Não sabia que tivesse um irmão.

-Pois sim.

-Não lhes vêem freqüentemente?

Olivia negou com a cabeça.

-Nem sequer sei onde vive. Jason se foi casa aos dezoito anos. Olhe, estão tocando outra vez. Quer dançar?

-Sim, claro.

depois de alguns endemoninhados bailes, a orquestra começou a tocar canções lentas e Jackson a envolveu em seus braços, pondo as duas mãos em sua cintura.

depois de um par de voltas, a Olivia pareceu boa idéia colocar as mãos nos bolsos de sua calça. Nunca se tinha dado conta de quão erótico era o traseiro de um homem. Bom... não o de todos os homens. o do Jackson.

Seu traseiro a voltava louca.

Escuro, sexy... Quando ele a apertou um pouquinho mais, deu-se conta de que estava muito excitado e tentou apartar-se.

-Está...

-Duro como uma pedra -terminou Jackson a frase-. Sim, senhora. Mas sobreviverei. O homem que fez os jeans estreitos era um tipo preparado.

 

Era mais de meia-noite quando decidiram voltar para casa. O baile seguia totalmente animado, mas Olivia parecia pó.

Jackson lhe aconteceu um braço pela cintura enquanto se dirigiam à caminhonete.

-Aconteceste-o bem?

-De maravilha -respondeu ela, apoiando a cabeça em seu ombro-. Mas faz frio.

-Sim, parece que se aproxima o inverno.

Nesse momento, um relâmpago iluminou o céu e, uns segundos depois, um trovão retumbava sobre as colinas.

Em seguida começou a chover e lhe pôs seu chapéu.

-Corre antes de que nos impregnemos.

Mas não o conseguiram. antes de chegar à caminhonete estava chovendo muito, como solo pode chover no Texas. Jackson tentou que não se molhasse mas foi impossível, assim entraram na caminhonete empapados e mortos de risada.

-Como faz tão frio de repente?

-Isto é Texas -sorriu Jackson, acendendo a calefação.

Nunca lhe tinha gostado tanto um homem, pensou Olivia então. Nunca a tinha excitado tanto. Tivesse querido lhe arrancar a camisa e lamber as gotas de chuva. Tivesse desejado sentir aquelas mãos grandes sobre sua pele nua...

Quando ele a olhou, deu-se conta de que estava pensando o mesmo. Jackson alargou a mão para acariciar sua coxa e o roce foi como uma descarga elétrica. Solo o cinto de segurança evitou que fizesse uma tolice. A tensão sexual que havia entre eles poderia cortar-se com uma faca.

Jackson apartou a mão e voltou a pô-la sobre o volante.

-Tenho que olhar a estrada. Não quero que nos demos um golpe.

-Não, claro.

Era essa sua voz? Tão rouca?

Conseguiram chegar a casa sem problemas e Jackson apertou o botão de abertura da garagem. Quando Olivia ia protestar, ele fez um gesto com a mão.

-Se vamos correndo a sua casa, impregnaremo-nos outra vez. Além disso, minha cama é maior -disse, sorrindo-. E vamos necessitar muito espaço.

 

-Entra. Está imersão.

-Você também -disse Olivia.

-Sim, mas eu sou duro.

-Eu também -sorriu ela, lhe dando um golpe no braço.

Jackson lhe deu um beijo no nariz.

-Não, você é como uma colherada de açúcar e não quero que te derreta.

Relâmpago, que estava na cozinha, ficou a dar saltos ao vê-los.

-Olá, pequeñajo -sorriu ele, inclinando-se para acariciá-lo-. Você fique aqui e cuida da casa. Eu vou encarregar me desta senhorita.

Como se tivesse entendido a ordem, Relâmpago lançou um latido. Jackson voltava louco a todo mundo... humanos e animais.

-Que rico é.

-vou acender a chaminé. Você vê o asseio e te tire essa roupa molhada. Há um penhoar no armário.

-Onde está?

-A terceira porta à direita.

O asseio, pintado de verde e com o chão de terracota, seguia cheirando a novo.

Enquanto se tirava o pulôver frente ao espelho, Olivia sorriu ao ver que seguia levando o chapéu do Jackson. depois de despir-se, pendurou a roupa no toallero e se envolveu em um enorme e quente penhoar branco. Logo procurou um secador de cabelo e uma escova. E os encontrou. Uma decoradora muito inteligente. Tinha que tudo para as visitas. Inclusive encontrou uma caixa de preservativos na gaveta.

Olivia a abriu e guardou um no bolso do penhoar, sorrindo.

depois de secar o cabelo, comprovou que não lhe tinha deslocado o rímel. Estava bonita. E o roce do algodão em seus mamilos, disse-lhe que se sentia definitivamente sensual. E o brilho de seus olhos, que estava preparada para o Jackson Crow.

Aquela seria a noite.

Sentindo-se travessa, guardou dois preservativos mais no bolso e sorriu enquanto tomava o chapéu para sair do asseio.

Descalça, voltou para salão. Jackson estava inclinado sobre a chaminé, jogando troncos. Também ele ia descalço.

E nu de cintura para acima.

Olivia ficou sem fôlego. Estava despenteado e levava sozinho os jeans e uma toalha sobre os ombros.

Jackson deveu sentir sua presença porque se voltou, sorrindo.

-Vêem te esquentar um pouco. pus a cafeteira... ou prefere uma taça de vinho?

-O primeiro café. Vejo que sabe como acender um fogo.

-Naturalmente. Fui boy scout.

-Seguro que estava muito bonito com sua uniforme -sorriu Olivia.

-Muito bonito.

-Toma seu chapéu.

-Fica melhor a ti -sorriu ele, estreitando-a em seus braços.

Seus lábios seguiam frios, mas sua língua estava quente. Muito.

E com vontades de farra.

Jackson seguiu beijando-a na garganta, apartando o penhoar com a boca. Olivia enredou os braços ao redor de seu pescoço e lançou um gemido quando ele começou a acariciar seus peitos através do tecido.

-OH, carinho...

Desejava-o. Desejava-o com tal força que logo que podia suportar a espera. Tinha-o desejado durante muito tempo. Apertando-se contra ele, Olivia enredou as mãos em seu cabelo, ofegando, com o coração acelerado.

-Jackson, quero... quero...

-O que quer, céu?

-Quero a ti.

-Já me tem.

Ele voltou a beijá-la, abrindo o penhoar para tocar seus peitos como um homem faminto. E quando baixou a mão para acariciá-la entre as pernas, lhe dobraram os joelhos.

-Jackson...

-O que, carinho?

-Quero... quero...

-me diga o que quer, céu.

Estava lhe fazendo coisas maravilhosas com os dedos e Olivia logo que podia encontrar palavras.

-Quero-te dentro de mim. Agora.

Jackson a tombou no sofá e se ajoelhou frente a ela, devorando-a com os olhos.

-Em um minuto, carinho. Agora quero te olhar... e te tocar -murmurou, colocando a língua em seu umbigo-. Quero estar seguro de que está preparada.

Ia deslizando a mão por suas coxas, seu estômago, seus peitos... para baixar depois e acariciar lugares mais íntimos.

-Jackson, estou preparada.

-Creio que sim -riu ele-. Em seguida volto.

-Onde vai?

-A procurar um preservativo.

Olivia colocou a mão no bolso do penhoar.

-Toma.

Ele levantou uma sobrancelha, sorrindo.

-vieste preparada?

-Já te tenho dito que sim.

-Começava a pensar que não ia ocorrer nunca -murmurou Jackson, tirando-os jeans-. sonhei muitas vezes com isto.

Seguiu acariciando-a enquanto se colocava entre suas pernas, ficando o preservativo sem que Olivia se desse conta. Ela conteve o fôlego ao sentir a investida do homem.

Ambos saborearam o momento da união, parando um segundo para respirar. Então começaram a mover-se ao uníssono, em um baile sensual que os embriagava aos dois.

Jackson a acariciava enquanto se movia, sussurrando palavras de admiração por sua beleza enquanto empurrava cada vez com mais força. Olivia se movia com ele e o prazer se incrementava com cada investida.

voltaram-se loucos, atacada-las frenéticas, até que ambos caíram do sofá.

Mais rápido, mais forte...

O espasmo a partiu pela metade e se arqueou para ele, sem fôlego. Jackson chegou ao orgasmo imediatamente depois.

Olivia podia sentir a trêmula palpitação de seu desafogo dentro dela.

Suando, com o cabelo sobre a cara, parecia um guerreiro primitivo. Forte, musculoso, viril, soberbiamente formoso.

Como o amava.

Amar?

Não, disse-se a si mesmo. Gostava de fazer o amor com ele. Era um amante experiente e a fazia sentir como se fora a mulher mais desejável do mundo.

Olivia enredou os braços ao redor de seu pescoço, emitindo suspiros de prazer.

-Está ronronando, carinho.

Ela riu brandamente.

-Tem razão. foi precioso.

-A noite é jovem. Quer um café? Veio, queijo? Meu coração em uma bandeja?

-Está louco.

-Sim, senhora. Louco por ti.

 

A tormenta seguiu sacudindo o céu durante toda a noite e sua tempestuosa união, os alicerces da casa. Seguiram fazendo-o na enorme cama do Jackson, insaciáveis. Eram os trovões os que a faziam sentir-se tão selvagem? Nunca um homem tinha despertado tão turbulentos sentimentos nela. Nunca um homem a tinha satisfeito como Jackson Crow.

Olivia dormiu segura e contente entre seus braços e despertou pouco antes de amanhecer. A tormenta tinha cessado e entrou no asseio para recuperar sua roupa. Seguia molhada e decidiu colocá-la na secadora. Melhor isso que cruzar a rua vestida sozinho com um penhoar. Assim que abriu a porta da cozinha, Relâmpago a recebeu ladrando e dando saltos.

-Cala, pequeñajo. Não quero despertar ao Jackson, teve uma noite muito dura.

Mas a Relâmpago não gostava de estar calado e seguiu ladrando até que, depois de colocar a roupa na secadora, Olivia tomou em braços.

-Bichejo.

O cachorrinho lambeu seu nariz, contente.

-Ouça, guri -escutou então a voz do Jackson-. Está tentando me roubar a noiva?

Ela se deu a volta.

-Despertamo-lhe?

-Não. É que sentia falta do som de sua respiração. O que faz acordada a estas horas?

-Secando minha roupa. Não queria voltar para casa com o penhoar.

-Volta para a cama. vamos dormir um momento mais.

-Se voltar para a cama, não dormiremos absolutamente.

Jackson soltou uma gargalhada.

-Temo-me que não há perigo. Pareço pó. Venha -disse, tomando sua mão.

Olivia o seguiu à cama. O tinha mentido, é obvio. Não estava cansado.

 

Era meia amanhã quando voltou a despertar. Sozinha.

Quando se incorporava, Jackson apareceu a cabeça na habitação.

-bom dia, carinho. Como você gosta dos ovos?

-Fritos.

-Valem revoltos?

-De acordo.

-Em seguida volto.

Cinco minutos mais tarde, voltava com uma bandeja na mão.

-O café da manhã na cama?

-É obvio. Beicon, ovos, torradas, café e geléia caseira. É de uma empresa de meu avô -disse Jackson, pondo uma torrada em sua boca.

-Que rica. Onde está seu café da manhã?

-Já tomei o café da manhã. Duas vezes.

-Gesso?

-Fiz o café da manhã faz uma hora, mas como estava tão dormida... Quer algo mais?

Olivia negou com a cabeça.

-Obrigado. Ninguém me trouxe nunca o café da manhã à cama.

-Nem sequer quando estava má?

-Não. Obrigado, Jackson. De verdade.

-De nada -sorriu ele, beijando-a na frente-. Quer que vejamos as notícias? -perguntou, tomando o mando da televisão.

-Vale. Tem lido o periódico?

-Não compro o periódico.

-Sério? Eu não posso começar o dia sem ler o periódico, é um costume. Sobre tudo, os domingos. Compro o Statesman e o New York Teme.

-Nunca me gostaram dos periódicos. Prefiro as notícias em televisão. Quer que lhe vá comprar isso -Tengo la CNN...

-Não, deixa-o. Mas não posso acreditar que não as o periódico, especialmente se te dedica à política -riu ela-. Como pode estar informado? Em televisão apenas se fala do resto do mundo.

-Tenho a CNN...

Olivia levantou os olhos ao céu.

-Jackson, isso é absurdo. A televisão não informa em profundidade. Solo os periódicos dão as notícias com detalhe.

-Também escuto a rádio -protestou ele, com cara de menino ao que pilharam com as mãos na caixa de bolachas.

-Venha já.

Ele apartou o lençol e lhe pôs um pouco de geléia em um mamilo.

-Tenho-te dito quanto eu gosto de seus peitos? -murmurou, lambendo a geléia.

-Várias vezes. Cuidado, o café... -Jackson deixou a bandeja no chão-. E o que passa com meu café da manhã?

-Voltarei a lhe fazer isso mais tarde -disse ele, apartando o lençol.

 

Mais tarde, Jackson se perguntou por que não o tinha contado. Era uma oportunidade perfeita para lhe dizer a verdade. por que não lhe havia dito que não podia suportar a leitura, os livros, os periódicos...?

por que não lhe havia dito que era um ignorante? sentia-se como um canalha por não lhe dizer a verdade. Queria que entre eles tudo fora diáfano. Mas também desejava seu respeito. E se soubesse, como poderia respeitá-lo?

Entravam-lhe suores frios ao pensar que Olivia conhecesse seu segredo. Ela era tão inteligente, tão preparada... Uma mulher com uma extraordinária formação. E não podia suportar a idéia de que o desprezasse.

Mas cedo ou tarde se inteiraria.

Possivelmente não. Possivelmente poderia seguir fingindo. depois de tudo, era um perito. Tinha enganado inclusive a seus professores da universidade.

Nem sequer sua família suspeitava que logo que sabia ler.

 

Olivia estava cantarolando enquanto terminava de fazer um bolo de coco. Não podia acreditar que quase se sentisse como um dona-de-casa. depois do desastroso bolo de aniversário, tinha jurado não voltar a tocar o forno. Mas depois de uma semana de relações com o Jackson estava de novo lhe fazendo um bolo. Devia lhe gostar de muito o menino.

Sorrindo, deu um passo atrás e olhou o resultado com expressão satisfeita.

A verdade era que tinha muito boa pinta.

Com o bolo em uma bandeja, baixou ao jardim. Aquela noite foram jantar com o Ed e Tessa. Jackson levaria as cervejas, ela a sobremesa.

Ed, um homem alto de cabelo grisalho, recebeu-a com um sorriso.

-Que aroma de chuletas... Me está fazendo a boca água.

-Cheiram fenomenal, sim. Já parecem?

-Falta uma meia hora.

-Bonito bolo -sorriu Tessa.

Olivia sorriu, contente com o completo.

-Começo a ter prática.

-Onde está Jackson com as cervejas? -perguntou Ed.

Ela se encolheu de ombros. Quando olhou ao outro lado da rua, viu que não estava o carro do Tami. De fato, cada domingo saía de sua casa um pouco antes.

E era estranho que Jackson não tivesse chegado ainda. Sempre era pontual.                       ,

-vou ver o que lhe passa.

Chamou o timbre e depois de esperar um momento sem receber resposta, decidiu entrar.

-Jackson?

Nada.

Não estava na cozinha nem no salão. Quando olhou na garagem tanto a caminhonete como o Jaguar estavam estacionados, de modo que não tinha saído de casa. Então ouviu um estrondo no despacho.

-Jackson! -gritou, abrindo a porta. O despacho estava logo que iluminado por uma lamparita.

-Maldita seja! -ouviu-o gritar, enquanto atirava um montão de papéis contra a parede. -O que ocorre?

Ele se voltou, com uma expressão absolutamente desolada no rosto.

-Não posso, Olivia. Sou uma calamidade. Você te merece alguém melhor que eu.

Então se deixou cair sobre a cadeira, com as mãos na cara.

Alarmada, ela se aproximou. Nunca o tinha visto assim. Estaria bêbado? Aquela reação violenta despertava uma corrente de lembranças terríveis.

Sua primeira reação foi ir consolar o, mas duvidou. Duvidou ao recordar as incontáveis vezes que teve que suportar a violência do Thomas. Tinha suportado a um maltratador e não estava disposta a fazê-lo de novo.

Era Jackson esse tipo de homem? Não, pensou. Não podia ser. Jackson não. Não podia acreditar que estivesse repetindo o mesmo engano, repetindo o mesmo patrão de comportamento. As mulheres o fazem muitas vezes, escolhendo casais com os mesmos defeitos, às vezes casais como seus pais.

Mas não podia acreditá-lo. Jackson não era assim. E tampouco ela era a mesma mulher. Tinha aprendido muito de seus enganos. Ou não?

Por fim, Olivia se aproximou e o envolveu em seus braços.

-Jackson, o que ocorre?

Os segundos lhe pareceram horas.

Por fim ele levantou a cara, com expressão de angústia.

-Sou um ignorante. E um mentiroso, Olivia.

-Do que está falando? Não te entendo. por que está tão zangado?

-Tudo é um desastre -murmurou ele-. O menino do Tami se há posto doente e Jennifer tampouco pode vir. Ninguém está em casa um domingo pela tarde e eu necessito ajuda. Tenho que revisar estes casos para amanhã e não posso fazê-lo. Levo horas sentado aqui, tentando ler... e sabe até onde cheguei? Duas páginas, Olivia. Solo eis podido ler duas páginas -exclamou, passando uma mão pelo cabelo-. Sou um completo tolo.

-Dói-te a cabeça?

-É como se alguém estivesse me golpeando com um martelo.

-Sinto muito. Onde tem as aspirinas?

-Já tomei um montão. Não servem de nada.

-Então, uma de minhas massagens te deixará como novo -sorriu ela, tocando sua frente. Mas Jackson a sentou sobre seus joelhos.

-Carinho, custa-me um mundo admitir isto, mas tenho que fazê-lo. Tenho que te dizer a verdade.

Olivia começou a sentir medo. O que ia dizer lhe? Estaria casado? Teria alguma enfermidade? Alguma perversão sexual?

-É algo horrível? -perguntou, tremente.

-Sim, é-o.

Tivesse querido tampá-los ouvidos, mas não podia fazê-lo.

-diga-me isso -Qué tontería. Lo que pasa es que te duele mucho la cabeza...

-Não sei ler.

Ela soltou uma gargalhada.

-Que tolice. O que passa é que te dói muito a cabeça...

-me escute, carinho. Não sei ler. Nunca eis sabido ler. Leão como um menino de dez anos.

Olivia o olhou, sem entender.

-Está tentando dizer que é analfabeto?

-Mais ou menos.

-Isso é ridículo. Tem uma licenciatura universitária. Como vais ser analfabeto?

-Sou um homem de recursos -suspirou Jackson-. Fui a quatro universidades diferentes e, por fim, graduei-me em uma muito caro... dessas nas que lhe aprovam se financiar a construção de algum edifício.

-No que te graduou?

-Em Arte Dramática.

-Em Arte Dramática? É ator?

-Bom, sempre fui o palhaço da classe. A maioria das obras clássicas está em disco e assim me aprendia os textos.

-Para esconder o fato de que não sabe ler.

Ele se encolheu de ombros.

-Não tive mais remédio.

-Seus pais sabiam?

-Não. Mas se sentiam envergonhados de mim porque sou o mais parvo da família.

-Jackson, conheço-te há algum tempo e te posso assegurar que não é tolo. De fato, Pete me contou que foi o mais inteligente de seus netos.

-Eu?

-Sim, você. Nenhum de seus professores se deu conta de que não sabia ler?

-Não. E quando começavam a suspeitar, trocava-me de colégio ou de universidade. O que fiz foi desenvolver uma memória de elefante. Os meninos de classe me liam as lições e eu as memorizava. Como te tenho dito, sou uma pessoa com muitos recursos.

-É uma forma de compensar -murmurou Olivia, abraçando-o.

-Mas esta vez não posso fazer nada. Terá que ler muitos papéis para a Comissão e não posso fazê-lo.

-Para isso tinha contratado ao Tami e as outras garotas?

-Sim. Elas acreditam que tenho um problema na vista. Já sabe, sempre tenho alguma desculpa para esconder minha ignorância.

-Tem-te feito alguma vez uma revisão da vista?

Jackson assentiu.

-Vejo perfeitamente. contratei tutores para que me ensinassem a ler, mas não funcionou. Não sou capaz de fazê-lo, Olivia. Deus, é tão humilhante te contar isto!

-Não seja menino. Eu sou psicóloga e suspeito que tem alguma dificuldade de aprendizagem, algum tipo de dislexia. Mas não saberemos até que te faça umas provas.

-O que é a dislexia?

-É um término que cobre muitos problemas de aprendizagem. Em realidade, uma disfunção cerebral.

-Estupendo. Agora sou um imbecil com o cérebro feito purê -suspirou Jackson-. Quase prefiro ser um ignorante.

Olivia teve que conter um sorriso.

-Não é um ignorante. Há muita gente com esse problema... quer acreditar que Albert Einstein era disléxico? Há muitas classes de dislexia -disse então, levantando-se-. Espera, vou acender a luz.

-Não, obrigado. Prefiro que haja pouca luz.

Ela ficou pensativa.

Pouca luz, dores de cabeça...

-Por isso revista levar óculos de sol?

-Suponho que sim. Mas todo mundo as leva. No Texas o sol é muito forte.

-Pode que isso seja uma pista. Terei que falar com a Joanna Armbruster.

-Quem é?

-Uma amiga da universidade. É a catedrática de psicologia aplicada ao ensino. Fez uma tese sobre as dificuldades de certas pessoas para aprender a ler, precisamente. Pedirei-lhe uma entrevista para te fazer provas.

Jackson parecia incômodo.

-Não sei...

-Não se preocupe, não te doerá nada. E falando de dor, que tal a cabeça?

-Melhor. Já quase não me dói. Suponho que a confissão é boa para a alma. Mas sigo me sentindo como um imbecil.

-por que? Já te tenho dito que é um problema relativamente comum. Eu pensei que tinha uma enfermidade venérea ou algo assim.

-Não. Estou são -sorriu ele.

-Me alegro. Venha, vamos jantar e depois te lerei tudo o que faça falta.

-De acordo. Agora mesmo poderia me comer uma dúzia de chuletas.

-Vamos pelas cervejas.

depois de tirar as da geladeira, Jackson a envolveu em seus braços.

-Tenho-te dito alguma vez quão especial é? Não deixa de me assombrar. suei sangue para te contar isto e você... nem sequer pestanejaste.

-por que ia fazer o? Não se preocupe, já verá como não é tão grave.

O sorriu, com uma expressão de infinita ternura.

-É maravilhosa.

-Venha, vamos. Fiz um bolo de coco.

-Sério?

-Sério. E me saiu estupenda. Onde está Relâmpago?

-Creio que está no jardim, comendo-se meu Pelotas de golfe.

-Está-o malcriando.

-Não posso evitá-lo. É um canalha, mas estou apaixonado por ele... -Olivia lhe deu um açoite no traseiro-. Senhorita Olivia, que liberdades!

-É que tem um traseiro muito tentador. Jackson ficou sério então.

-Carinho, se não te importa preferiria que não lhe contasse... meu problema aos Jurney.

-Meus lábios estão selados. Solo o contarei a Joanna.

 

Na terça-feira pela tarde Jackson perambulava pelo corredor, nervoso, esperando que terminasse a classe da Olivia. Apertava-lhe a gravata e tinha suores frios. Possivelmente tinha pilhado a gripe.

Por fim, a porta do sala-de-aula se abriu e um montão de estudantes saiu em disparada. estava-se fazendo velho ou esses meninos eram muito jovens para estar na universidade? E não podia acreditar a pinta que levavam a classe.

Olivia estava sentada frente a seu escritório, falando com um par deles. Quando Jackson se aproximou, uma garota lhe deu uma cotovelada a outra e as duas soltaram uma risinho.

Sim, devia estar fazendo-se velho.

-Está para te comer -disse-lhe Olivia quando ficaram sozinhos.

-Como?

-Bridget e Emily dizem isso de ti.

-Para me comer, né?

-Que não te suba à cabeça, Comissionado. Poderia ser seu pai.

-Não me recorde isso. A entrevista com a Joanna Armbruster segue em pé?

Olivia olhou seu relógio.

-Agora deve estar no laboratório. Nervoso?

-Não. Sempre me corto as unhas com os dentes.

-Venha. vamos ver a. E, por certo, hoje está muito bonito.

Jackson passou a mão pela jaqueta cinza.

-Venho do escritório. vais ficar te comigo durante as provas?

-Quer que fique?

-Não sei. Não sei se quiser que me veja me humilhando mesmo.

-por que não lhe perguntamos à perita?

Joanna Armbruster era uma mulher baixa de cabelo encaracolado que dava a mão como um campeão de boxe.

-Pode ficar Olivia durante as provas? -perguntou-lhe Jackson.

-Não, será melhor que volte dentro de uma hora.

-por que não vai a casa? -sugeriu ele então-. Logo passarei por ali.

-Seguro?

-Seguro. E muito obrigado.

-Tire-a jaqueta -sorriu Joanna quando ficaram sozinhos-. Asseguro-lhe que isto não vai doer lhe. Está nervoso?

-um pouco.

depois de lhe fazer um par de perguntas, pediu-lhe que lesse um montão de papéis. E a dor de cabeça apareceu imediatamente.

depois de muitas mais pergunta e provas, a mulher tirou uma pasta com vários plásticos de cores.

-Creio que Olivia tem razão. Pode que tenha sensibilidade escotópica.

-O que é isso?

-Enxaqueca oftálmica. isto leoa, por favor -disse Joanna, lhe oferecendo um texto sobre o que colocou um plástico amarelo.

Jackson tentou fazê-lo, mas as letras dançavam ante seus olhos.

-Não.

-Muito bem. Tente lê-lo agora -sugeriu ela então, colocando um plástico de cor rosa.

Nada. Tampouco podia.

depois de tentar varia combinações, a catedrática colocou um plástico de cor malva sobre uma de cor turquesa.

-Tente-o de novo.

Jackson tomou o papel Y... levantou o olhar, atônito.

-As letras não se movem. Posso as ler.

-Colocar estas transparências de cores sobre os textos que deva ler o ajudará muitíssimo. Mas também deve ir ao oculista. Necessita uns óculos especiais para pessoas com seu problema.

-Senhora Armbruster, não posso lhe dizer o que isto significa para mim -disse Jackson, com um nó na garganta-. É um milagre.

Ela sorriu.

-A diferença é tão espetacular que às vezes pode parecê-lo.

-Necessita ajuda no laboratório? Refiro a subvenções, becas ou algo assim.

-Diz-o a sério? Uma universidade sempre necessita subvenções.

Jackson tirou seu talão de cheques do bolso e escreveu uma quantidade,

-Tome, para sua cadeira.

Joanna Armbruster abriu os olhos como pratos.

-Não será uma brincadeira, não?

-Isso não é nada comparado com o que você tem feito por mim. Não sabe como o agradeço.

Quando saiu do despacho, Olivia o estava esperando no corredor.

-Ficaste-te -murmurou Jackson, com o coração loja de comestíveis de alegria.

-Qual é o veredicto?

Ele tomou em seus braços.

-Não sou um ignorante. Solo necessitava um pouquinho de cor em minha vida. Lhe pode acreditar isso? É um milagre -exclamou, dando voltas pelo corredor-. Solo tenho que pôr uns papéis de cores e as letras deixam de dançar. Olivia, posso ler. vamos a casa. Isto terá que celebrá-lo!

 

Olivia já estava vestida quando ouviu passos na escada. Haviam tornado da universidade uma hora antes e Jackson lhe disse que ficasse seus melhores ornamentos porque se foram de festa. Nunca o tinha visto tão feliz e isso a fazia feliz a ela.

-Abre a porta, jovencita! Venho carregado até os batentes!

Jackson ia carregado de rosas vermelhas, brancas, amarelas, orquídeas e lilás.

-Por Deus bendito! compraste toda a floricultura?

-Quase tudo. Tinha comprado as rosas quando recordei que você gostava das orquídeas e as lilás.

-São preciosas.

-teria te trazido mais, mas não podia com elas -sorriu ele-. Saca uns floreiros, carinho, estou-me cravando um espinho no dedo.

Olivia entrou na cozinha, perguntando-se de onde demônios ia tirar tantos floreiros. Colocou as rosas em uma vasilha de cerâmica, as orquídeas em outra e as lilás em uma jarra de cristal verde que tinha comprado no mercadinho.

Quando terminou de arrumar os Ramos, Jackson seguia sorrindo.

-São preciosas e cheiram de maravilha. Obrigado.

Ele a abraçou então.

-Sei que sou um exagerado, mas te devo muito mais que umas quantas flores. Tem idéia de quão importante é isto para mim? Não poderia te pagar embora te comprasse todas as flores do Texas -disse, tirando uma cajita do bolso-. Isto também é para ti.

-Jackson...

-Não me diga que não. Este é um dia especial. Não sabe o que significa para mim ser capaz de ler. Por favor, céu. Aceita-o, de acordo?

Sua expressão era tão tenra que Olivia foi incapaz de negar-se.

-De acordo -sorriu, abrindo a caixa. Dentro havia uns pendentes de diamantes-. Mas Jackson... não posso aceitar isto. Devem te haver flanco uma fortuna.

-O que vai, paguei-os com o cartão de crédito.

-Não, sério. Não posso aceitá-los.

-Muito tarde. Já há dito que sim. Venha, ponha os quero ver como ficam. E logo vamos jantar ao melhor restaurante de Austin.

Olivia não discutiu. Aquele era um dia muito especial para o Jackson e não queria danificá-lo. De modo que ficou os pendentes diante do espelho, sorrindo.

-Preciosa, absolutamente preciosa -riu ele, tirando outra cajita dourada do bolso-. Toma, isto também é para ti.

-Não.

-Mas carinho...

-Tenho dito que não. Os pendentes já são muito.

Jackson tomou pela cintura.

-Não sente um pouquinho de curiosidade?

-Não penso aceitar mais presentes.

-E se te digo que é uma pluma?

-Não te acreditaria. Venha, vamos jantar. Estou morta de fome.

-Vale, vale. Onde está seu casaco?

 

Jackson tirou as transparências de cores e as pôs sobre o menu.

-Olhe, posso lê-lo tudo. Quer um guisado de lagarto?

Olivia enrugou o nariz.

-Não.

-Aqui tudo está muito bom, sério. Fazem-no de uma forma incrível e nem sequer sabe o que está comendo. Que tal veado ao conhaque?

-Quer que coma ao Bambi?

-Ah, perdão. Que tal o pato?

-por que não pede você? E diga-lhe ao ouvido ao garçom para que não me inteire do que estou comendo.

Jackson sorriu... mas fez o que lhe tinha pedido. Depois, tomou sua taça de champanha para brindar.

-Pela mulher mais incrível que conheci nunca e pelo futuro.

-Pelos novos horizontes -brindou Olivia. Ele ficou olhando-a durante comprido momento-. por que me olha assim?

-Estava pensando em quão inteligente é. E em como te quero.

Ela apartou o olhar. Aquilo não devia passar. Não queria declarações de amor.

-Carinho, por que põe essa cara?

-Que cara?

-Como se estivesse a ponto de sair correndo. Solo digo o que sinto.

Olivia começou a lhe dar voltas a sua taça.

-Quando pensa ir ao oculista? Jackson deixou escapar um suspiro.

-Amanhã. Estou desejando conseguir esses óculos.

Ela se alegrou de que não voltasse a falar de amor. Nem sequer na cama.

Fizeram o amor com lentidão, desfrutando de um do outro. Depois, apoiou a cabeça sobre seu peito e ficou dormida.

 

-Carinho... -sussurrou Jackson-. São as oito. Tenho que ir.

Olivia abriu os olhos, meio dormida e lhe disse adeus com a mão.

Uma hora depois o alarme do despertador começou a soar, mas lhe deu um tapa. E quando voltou a apoiar a cabeça no travesseiro, sentiu que havia algo duro debaixo.

A cajita dourada.

Apartando o cabelo de sua cara, Olivia piscou.

atrevia-se a abri-la?

Não. Absolutamente não.

Deixou a cajita sobre a mesinha e foi ao banho para lavá-los dentes.

Mas sentia tanta curiosidade...

Mesmo assim, tomou banho e foi acender a cafeteira. Mas não podia deixar de pensar na maldita caixa...

-Por Deus bendito!

Por fim, sem poder evitá-lo, abriu-a. Era um bracelete de diamantes com uma monedita de ouro em que havia algo gravura: Quero-te.

Então, sem poder evitá-lo, ficou a chorar.

Não podia enganar-se mais. Ela também o amava.

 

Olivia estava a ponto de ir-se à universidade quando soou o telefone.

-Carinho, me alegro de te pilhar em casa -ouviu a voz do Jackson ao outro lado do fio-. Vou ao aeroporto. Tenho uma entrevista na clínica Irlen de Houston e não volto até na sexta-feira.

-Em Houston?

-Pelo visto, são especialistas em meu problema.

-Ah, claro.

-Voltarei para casa com meus óculos.

-Me alegro. Mas já sabe que o da enxaqueca oftálmica solo é parte do problema.

-Sei, sei. Joanna Armbruster me contou isso tudo. Além disso, deu-me um livro que penso ler no avião.

-Que bem -sorriu Olivia.

-Ouça, importaria-te me fazer um par de favores?

-Não, me diga.

-Importa-te dar um passeio com Relâmpago? A senhora López lhe dará de comer, mas quero que faça exercício.

-É obvio. irei jogar umas carreiras com ele.

-Outra coisa, por favor chama o Irish e lhe diga que suas habitações estão confirmadas no Driskill para o fim de semana e que tenho hora para jogar golfe com o Kyle e Matt na sábado.

-Muito bem.

-Devo ir, carinho. Quero-te.

Jackson pendurou sem que Olivia pudesse replicar. Quase tinha esquecido o do fim de semana. Era a recepção para o Presidente em casa do governador. Mas não tinha nada que ficar... Possivelmente Irish lhe daria alguma idéia.

-Eu tenho um montão de vestidos, alguns ainda com a etiqueta posta. E não me posso pôr isso porque não me cabem. Assim que te levarei dois ou três. -Obrigado.

-Estou desejando verte.

-Eu também. Podemos comer juntas na sábado, enquanto os meninos jogam golfe.

-É obvio. E na sexta-feira de noite.

-Se Jackson chegar a tempo de Houston.

-O que faz em Houston? -perguntou Irish.

-Pois... já sabe, negócios -respondeu Olivia.

-Ah, claro. Que tal vão as coisas entre vós?

-Não sei o que te dizer.

-diga-me isso tudo -riu seu amiga.

-Estamos... saindo ou algo assim. Passamo-lo bem juntos, mas nada mais. Segue tendo náuseas pelas manhãs? -perguntou Olivia, tentando trocar de conversação.

-Não, agora estou muito melhor.

-Bom, Irish, tenho que ir a classe. Vemo-nos na sextas-feiras.

 

Os dias passavam lentamente sem a presença do Jackson. Embora estava ocupada, Olivia se dava conta de quão importante era em sua vida.

na quarta-feira estava jogando com Relâmpago no jardim e o pobre cachorrinho parecia tão triste que decidiu ficar um momento vendo a televisão. Não queria ficar dormida, mas assim foi. despertou às duas da madrugada, com Relâmpago profundamente dormido em seu regaço.

perdeu-se a chamada do Jackson... Olivia marcou seu número de telefone para comprovar as mensagens.

Tinha deixado quatro. O último, à uma da manhã.

"Onde está, carinho? Tem-me preocupado. me chame quando chegar a casa".

Devia chamá-lo ou não?

Devia chamá-lo. Olivia marcou o número de seu hotel e Jackson respondeu imediatamente.

-Sei que é muito tarde, mas me fiquei dormida em seu sofá..

-Tinha-me assustado.

-Não passa nada. Estou aqui, com Relâmpago, vendo um filme.

-Do John Wayne?

-Não, tolo. Uma comédia romântica. Mas me perdi o final.

-Viveram felizes e comeram perdizes, seguro. Não é assim como terminam todas?

-Os filmes, sim -respondeu Olivia, com um nó na garganta-. A vida real é diferente.

-Não tem por que sê-lo se duas pessoas se querem. Eu quero que vivamos felizes para sempre, Olivia. Você não?

Ela se mordeu os lábios. Era isso o que queria? Tentava imaginar um futuro com o Jackson, mas era incapaz.

-Não quero te pressionar, carinho -disse ele então-. Mas eu gostaria de saber o que sente por mim.

-Eu gosto de muito, Jackson.

-E?

Olivia deixou escapar um suspiro.

-Eu creio que deveria conhecer meu passado e possivelmente algum dia lhe conte isso, mas não agora. A versão curta é que estive casada com um maltratador e por isso sou muito cautelosa.

-Eu me cortaria um braço antes de te fazer danifico, céu. Juro-lhe isso pelo mais sagrado. Quero-te muito.

Ela sabia que era verdade. Mas não podia deixar de sentir certo pânico ante a idéia de confiar nele por completo, de pôr o coração em suas mãos. Amava-o, mas não estava lista para dizê-lo nem para comprometer-se. Ainda não.

Possivelmente nunca o estaria.

-Chegará na sexta-feira pela tarde?

Ao outro lado do fio houve um suspiro.

-Espero que sim. Tami se encarregará de contratar o catering para o jantar. Quer me fazer um favor, céu?

-Sim, claro.

-É muito tarde e não quero que volte sozinha a casa. por que não dorme em minha cama?

-Jackson, minha casa está ao outro lado da rua.

-Por favor...

-De acordo, ficarei.

-Sonha comigo -sussurrou ele.

 

Enquanto se dirigiam à mansão do governador na limusine, Olivia se sentia como a Cinzenta.

Não podia acreditar que a mesma turma que a noite anterior tinha jantado frango frito no jardim, em jeans e sapatilhas, converteu-se em um grupo de gente muito elegante disposta a comer caviar com o Presidente e sua esposa. Todos menos Eve, claro. A irmã do Irish só comia verduras.

O vestido de veludo de cor azul safira que Irish tinha levado para ela era perfeito. Com decote "palavra de honra" e comprido até o chão, era um exemplo de elegância e bom corte. Seu amiga tinha insistido em lhe emprestar também um colar de diamantes e, pendentes que Jackson lhe tinha agradável, parecia recém saída das páginas de uma revista.

Mas não levava o bracelete. Era precioso, mas pensava devolver-lhe Simplesmente, não tinha tido oportunidade. Solo estiveram sozinhos quando ele foi procurar a ao apartamento... e outros estavam esperando na limusine.

-Está divina -exclamou Jackson ao vê-la-. Preciosa. Esse vestido parece feito para ti. É da mesma cor que seus olhos.

Passá-la tarde no melhor salão de beleza de Austin tinha merecido a pena, certamente. Um coque fabuloso, a pele estirada como um bebê, as unhas perfeitas... Inclusive ela estava assombrada.

Jackson lhe deu um beijo no pescoço enquanto lhe punha um xale sobre os ombros.

-Que tal se esquecermos a recepção e ficamos na cama? -disse-lhe ao ouvido.

-Não lhe crie isso nem você. Não estive toda a tarde me pondo divina para passar a noite às escuras.

-Podemos deixar as luzes acesas.

-Disso nada -sorriu Olivia, tomando a bolsa-. vamos ver o Presidente. Por certo, que tal os óculos?

-Estupendas. Melhor que os plásticos de cores. Ouça, não diga nada ao Matt Y...

-Claro que não, bobo.

Naquele momento a limusine se detinha frente à mansão do governador, com seu cuidadísimo jardim e suas colunas brancas. A casa estava maravilhosamente iluminada e rodeada por guardas de segurança.

Certamente, Cherokee Pete estaria orgulhoso de seus netos: três homens muito bonitos de smoking, jantando nada mais e nada menos que com o Presidente. E de suas noras. Irish estava preciosa com um vestido verde esmeralda que dissimulava um pouco seu embaraço e Eve com um vestido de cor rosa.

Jackson tomou o braço da Olivia, que se sentia como uma estrela de cinema com todas aquelas câmaras.

dentro da casa, apresentaram-lhe ao Presidente e à primeira dama, mas não recordava o que lhes havia dito. Esperava que fosse algo sensato.

Mitch lhe deu um abraço, que Jackson observou com cara de poucos amigos, e depois se sentaram para jantar. Ele parecia conhecer todo mundo. Era simpático com os homens e encantador com as mulheres. Um sedutor, certamente.

E os óculos lhe davam um ar muito distinto. Embora Matt e Kyle lhe tinham tirado o sarro.

Felizmente, ninguém perguntou qual era seu problema na vista. Jackson queria que fosse um segredo e ela pensava mantê-lo.

depois da festa, Irish os convenceu para tomar a última taça no hotel. A Olivia adorou o Driskill, com sua entrada palaciana e o interior Vitoriano. No bar, sofás de veludo vermelho e uma chaminé com gárgulas.

-Úy, que horror -murmurou Eve.

-Você não gosta? eu adoro -riu ela.

-Por certo, Kyle e eu vamos celebrar o dia de Ação de Obrigado em casa e espero que venha com o Jackson -disse-lhe então Irish-. vai ser um jantar completamente familiar. O avô Pete fará seu famoso pão de milho, minha irmã bolo de cabaça e o peru... entre todos. vai ser o peru maior do Texas.

-E meus pais levam o vinho -disse Matt.

-É que minha mãe já não cozinha. Desde que vivem no hotel... -sorriu Jackson.

-Não sabia que seus pais vivessem em um hotel -disse Olivia.

-No Santo Antonio. É de meu avô e eles vivem em uma suíte de dois pisos. Viajam muito, além disso. Onde estão agora, Matt?

-Creio que a última postal chegou do Japão.

-Espero que venha para o jantar, Olivia -insistiu Irish.

-Suponho que irei. O que posso levar?

-Bolo de coco! -exclamou Jackson.

-Estupendo. É a que mais eu gosto -riu Kyle.

-Você gosta de todas -disse sua mulher.

Olivia se perguntou se seria sensato passar o dia de Ação de Obrigado com a família do Jackson. Tinha a premonição de que, como mínimo, todos tentariam procurar uma data para as bodas.

depois de tomar uma taça, voltaram para casa na limusine.

-À minha -disse ele-. Minha cama é maior, já sabe. E levo toda a noite desejando baixar a cremalheira desse vestido.

Nada mais fechar a porta, Jackson começou a despi-la. O vestido acabou no chão e foram beijando-se até o dormitório, tropeçando com os degraus.

-Tolo...

-Um novo conjunto de roupa interior, né? -murmurou ele.

-Comprei-o esta manhã. Você gosta? -Eu gosto mais... tirar-lhe isso disse Jackson, atirando as braguitas sobre o abajur.

Olivia, solo com as meias e o liguero, começou a beijá-lo no pescoço. Enquanto isso, ele não parava de mover-se. Os sapatos caíram em alguma parte, a camisa terminou na mesinha e as calças sobre a poltrona.

-Nunca tenho feito o amor com uma mulher que levasse sozinho um liguero. Mas eu gosto -murmurou, passando a língua por um de seus mamilos.

-A mim também. É muito sexy. Ele enterrou a cara entre suas pernas, acariciando-a com a língua até que Olivia lhe rogou que a penetrasse. Ao princípio, Jackson se movia devagar, mas lhe pediu que fora mais rápido. O ritmo era selvagem, sensual... Quando o último espasmo terminou, ele passou a mão pelo liguero.

-Carinho, pode que ponha isto em um marco.

 

No domingo pela manhã estavam na cama tomando café e lendo o periódico.

-Sigo sem acreditar que me resulte tão fácil. É assombroso -disse Jackson, contente-. vou contratar um tutor para que me ajude com o que não pude aprender no colégio, mas de todas formas... Estou lendo! Olhe, nossa foto está na página de sociedade.

-Onde? -exclamou Olivia.

-Aqui, olhe. De esquerda a direita, Kyle... bla, bla, bla e Jackson Crow, membro da Comissão de Governo e Olivia Moore, professora da Universidade do Texas.

-Não me posso acreditar isso! Quero uma cópia desta foto. Ou melhor, comprarei todos os periódicos do quiosque -riu ela, encantada.

-Não faz falta. Os pedirei ao editor. É meu amigo -sorriu Jackson-. É incrível, com estes óculos posso ler seu nome. E é tão bonito.

A Olivia lhe encolheu o coração. Cada dia era mais bonito estar com o Jackson.

 

Olivia estava revisando exames com a televisão acesa quando as palavras "Presidente" e "Austin" pronunciadas pelo locutor chamaram sua atenção.

Passaram então umas imagens da recepção e ali apareceu Jackson... e ela também.

Então sentiu pânico. E se Thomas via essas imagens? Se era assim, saberia onde localizá-la... Olivia ficou a mão no peito, tentando controlar os batimentos do coração de seu coração.

A foto do periódico não lhe tinha preocupado muito porque era um jornal do Texas, mas a televisão chegava a todas partes... Então se deu conta de que era um canal local e respirou, aliviada. Era muito difícil que Thomas Fairchild, de Califórnia, tivesse acesso a um canal do Texas.

"Te acalme", disse-se a si mesmo. "Ele não vai encontrar te". Certamente, teria decidido deixar de procurá-la depois de tanto tempo...

Ou isso esperava.

Mas por muito que se dissesse, uma dúvida ficou plantada em seu cérebro, uma preocupação que não podia tirar-se de cima.

Aquela noite dormiu mau e despertou ao amanhecer, nervosa.

Quando soou o telefone, ficou a mão no coração.

Era Irish.

-Viu a CNN?

-Não. por que?

-Porque saímos na recepção lhe dando a mão ao Presidente -respondeu seu amiga, sem saber a ameaça que isso representava para ela-. A que é genial?

-Não, Irish. Não é genial.

Ao outro lado do fio houve um silêncio.

-Thomas.

-Thomas.

-OH não. Que horror. Mas não se preocupe. Embora o tenha visto, pode que não te tenha reconhecido. Solo foram uns segundos e não deram seu nome. Além disso, trocaste-te o sobrenome e seu telefone não está na guia, assim não pode te encontrar.

-Isso é o que me digo mesma -suspirou Olivia.

-O contaste ao Jackson?

-Não.

-Cuéntaselo, céu. Ele pode te proteger.

-Pensarei-me isso.

-Falaremos quando estiver em Dallas. A que hora lhes espero?

-Chegaremos ao hotel na quarta-feira de noite.

-por que não ficam em casa? Temos muito sítio.

Olivia sorriu ao recordar a reação do Jack-são quando ela mesma o sugeriu: "Disso nada. Ali haverá tanta gente que estaremos como piolhos em costura. Prefiro ficar no hotel, assim estaremos sozinhos".

-É melhor ir ao hotel, Irish.

-Bom, como quer. No hotel estarão sozinhos.

-Essas foram exatamente as palavras do Jackson.

 

Estava esgotada quando voltou para casa na terça-feira pela tarde. Aparentemente, todo mundo a tinha visto em televisão e os nervos e a angústia a estavam matando.

O som do telefone a fez dar um coice.

-me diga? -respondeu, nervosa. Ninguém respondeu-. Me diga?

Olivia pendurou o auricular e se levou a mão à boca.

Thomas.

O telefone voltou a soar então, mas decidiu deixar que saltasse a secretária eletrônica.

-Olá, carinho, sou eu -era a voz do Jackson-. Hoje chegarei tarde Y...

-Jackson!

-Olá, pensei que não estava em casa.

-chamaste antes?

-Não. Ficam um par de horas no escritório e não queria que me esperasse para jantar. Importa-te dar um passeio com Relâmpago?

-Não, claro. Sinto que tenha que trabalhar até muito tarde.

-Queremos terminar um montão de coisas antes do dia de Ação de Obrigado, assim andamos como loucos. Logo te chamo, céu.

Pendurou antes de que Olivia pudesse dizer nada mais... embora não lhe teria crédulo seus medos. Thomas era seu inimigo particular. Seu adversário, seu pesadelo.

Se ele não a tinha visto em televisão, estava segura de que algum conhecido o teria feito e pretender que estava a salvo era uma fantasia. Não o havia dito Thomas a última vez? Não lhe havia dito que alguma vez poderia escapar dele? Não a tinha açoitado por todo o país?

Olivia saiu correndo de seu apartamento, entrou na casa do Jackson, fechou com chave e pôs o alarme.

Mas não podia afastar as lembranças, não podia fugir de seus medos. Não podia esquecer aquela noite.

Thomas a tinha pego em outras ocasiões, uma vez inclusive teve que ingressar no hospital e mentiu aos médicos sobre a causa dos golpes porque ele estava a seu lado, atuando como o perfeito marido. Mas ele tinha ameaçado matando-a se contava a verdade. Além disso, quem teria acreditado que Thomas Fairchild maltratava a sua esposa? Era um juiz muito respeitado em Califórnia, amigo do governador, amigo de seu pai.

Ao princípio estavam apaixonados... ou isso tinha acreditado ela, mas seu matrimônio foi deteriorando-se e Thomas se voltou violento.

Olivia tentou deixá-lo muitas vezes, mas ele sempre a encontrava. Uma vez foi a casa de seu pai e o canalha o chamou para lhe dizer onde estava.

Thomas sempre parecia contrito depois de seus ataques e a alagava de presentes e promessas, mas voltava para as andadas assim que algo o tirava de gonzo.

Estava aterrorizada. E com razão. Não tinha acesso a suas contas correntes, solo um cartão de crédito que ele poderia cancelar quando quisesse. Nem sequer as jóias eram realmente delas porque estavam guardadas em uma caixa forte, das que Thomas as tirava quando queria ficar as Inclusive as que tinha herdado de sua mãe. E quando lhe disse que queria trabalhar, negou-se em redondo.

Farta, uma noite reuniu coragem para lhe dizer que queria o divórcio. Ele se voltou louco. Golpeou-a, atirou-a ao chão, disse-lhe obscenidades...

"Não me deixará nunca, Olivia. É meu e só minha", gritava-lhe. "Antes lhe Mato".

Quando tomou uma barra de ferro da chaminé, ela saiu correndo da casa e conseguiu esconder-se no jardim dos vizinhos.

Esperou ali durante horas, contendo os soluços, sangrando, aterrorizada, até que o viu sair no Mercedes. Então entrou rapidamente na casa, tomou o pouco dinheiro que tinha economizado e subiu a seu carro.

Não se deteve até que tinha saído de Califórnia.

Olivia sentiu um calafrio. Thomas a encontraria. Estava segura.

E o instinto lhe dizia que saísse fugindo dali.

 

Olivia não se relaxou até que estiveram na auto-estrada. Inclusive então, não deixava de olhar para trás para ver se os seguia algum carro.

-Carinho, o que te passa? Leva um par de dias dando coices cada vez que ouve um ruído.

-Nada. Solo estou um pouco nervosa pela reunião familiar.

Jackson apertou sua mão.

-Não tem que preocupar-se. Cai-lhes muito bem. Minha mãe incluso te trouxe um presente do Japão.

-Jackson, seus pais não pensarão que...

-O que?

-Não pensarão que estamos prometidos?

Ele ficou calado um momento.

-Não falamos que isso.

Olivia se relaxou um pouco. Durante uns dias queria esquecer-se de tudo e desfrutar. Era impossível que Thomas a buscasse em Dallas. Além disso, estaria rodeada de gente muito poderosa. Embora a encontrasse, não se atreveria a lhe fazer danifico.

Não, Thomas esperaria até encontrá-la sozinha.

 

A incrível atividade que tinha lugar na cozinha para preparar o almoço de Ação de Obrigado fez que Olivia esquecesse seus medos.

Os pais do Jackson, Anna e Sam, haviam trazido quimonos para todo mundo, incluída ela. Para os homens, com dragões bordados, para as mulheres com flores.

Gostava de muito os pais do Jackson que, apesar de ter casados quarenta anos, seguiam muito apaixonados. Eram um casal muito atrativo. Os dois altos, com o cabelo e os olhos escuros. Anna se parecia muito a sua irmã, Sarah Rutledge, a mãe do Kyle. Ambas tinham os maçãs do rosto altos e a pele bronzeada, por sua herança a Índia.

Kyle era loiro de olhos azuis como seu pai, o doutor Rutledge.

Os pais do Irish e Eve, Beverly e Ao, os dois altos e loiros como suas filhas, eram tão encantados como os Crow. adoravam Texas e Ao, sobre tudo, presumia de suas recém adquiridas habilidades como pescador.

Todos se sentaram ao redor de uma mesa larguísima no salão que presidia Pete, é obvio. Ele foi o encarregado de trinchar... os três perus.

Como Irish lhe tinha dado o dia livre ao serviço, tiveram que ir acontecendo-os pratos uns aos outros, mortos de risada.

-Me esqueceu o molho de arándanos -disse a anfitriã-. Está na geladeira.

-Vou por ela, não te mova -ofereceu-se Kyle.

Quando todos os pratos estavam servidos até acima houve uma gargalhada geral.

-Possivelmente seria melhor servir-se em bandejas -brincou Jackson.

-Pois eu penso repetir -disse Matt.

-Guarda sítio para a sobremesa -advertiu-lhe Eve-. Joguei-lhe o olho a esse bolo de coco que trouxe Olivia e te vais morrer.

A comida transcorreu entre risadas e agradável conversação. Quando Olivia olhou a mesa... com todo o clã reunido exceto a irmã do Jackson e o irmão do Kyle, pensou que era a gente mais agradável que tinha conhecido nunca. Apesar de sua riqueza, comportavam-se como uma família normal e a faziam sentir bem-vinda.

Comida-las familiares tinham sido uma tortura para o Jason e ela. comia-se em silêncio... quando não tinham que suportar uma bronca de seu pai. E quando Jason partiu de casa, Olivia se converteu no único objetivo de seus vitriólicos comentários. Seu pai não a tinha pego tantas vezes como pegava ao Jason porque Olivia tentava passar desapercebida. Mas Thomas...

Não, disse-se a si mesmo. Aquele dia não pensaria no Thomas. Então se precaveu de que havia treze pessoas na mesa. Má sorte se a gente era supersticioso.

Olivia sentiu um calafrio.

-O que acontece, céu? -perguntou-lhe Jackson.

-Nada -respondeu ela, com uma risinho nervosa-. Acabo de me dar conta de que somos treze.

-Não. Somos quatorze -sorriu Irish, tocando o ventre.

-Sabe se for menino ou menina? -perguntou-lhe sua mãe.

-Pensávamos esperar até a sobremesa para dizê-lo, mas...

-vamos ter um menino -anunciou Kyle.

Cherokee Pete se levantou com a taça na mão.

-Quero brindar por meu novo bisneto e por nossa boa amiga, a preciosa Olivia.

A ela lhe fez um nó na garganta. Era maravilhoso sentir-se parte de uma família.

Entre todos limparam a mesa e colocaram os pratos na lava-louça mas, é obvio, os homens escaparam assim que começou o jogo de futebol.

-Porcos machistas -gritou-lhes Eve.

-São impossíveis. Quando há futebol, não se pode contar com eles para nada -disse a mãe do Jackson.

-Certamente. Não foram ao estádio esta tarde porque ameacei ao Kyle de morte -assentiu Irish.

Olivia sorriu. Em realidade, Jackson se passava os domingos pela tarde lendo com o Tami, não vendo o futebol. Era um homem completamente dedicado a seu trabalho e o admirava por isso.

 

O fim de semana em Dallas foi como um sopro. Olivia o tinha passado de maravilha. Depois do dia de Ação de Obrigado, foram ver a granja que Matt e Eve estavam construindo.

Passaram tempo com a família e conseguiram acontecer algum momento sós também. na sábado de noite foram ao teatro, jantaram no hotel e fizeram o amor.

no domingo pela manhã voltaram para casa.

Os medos que tinham ficado suspensos durante o fim de semana despertaram de novo. quanto mais se aproximavam de Austin, mais angustiada se sentia.

Quando Jackson subiu a mala a seu apartamento, Olivia tinha um nó no estômago.

-O que te passa, carinho?

-Nada, estou cansada. Mas o passei muito bem, de verdade.

-Minha família está louca por ti. E eu também.

Olivia tivesse querido lhe pedir que ficasse com ela, mas sabia que tinha trabalho.

-Descansa um pouco. Chamarei-te mais tarde.

Quando partiu, Olivia se apressou a comprovar as mensagens da secretária eletrônica. Havia uma chamada da Tessa lhe pedindo que fora a vê-la assim que voltasse de Dallas para lhe contar que tal o fim de semana... e tinham pendurado sem dizer nada quatro vezes.

Quatro vezes.

Certamente se teriam equivocado de número, tentava dizer-se a si mesmo. Certamente.

Mas Thomas era juiz, amigo de muitos chefes de polícia... e poderia conseguir seu número de telefone com uma só chamada.

Fechou a porta com chave e foi pôr a cafeteira. Mas nada parecia capaz de esquentá-la por dentro.

Então soou o telefone.

Olivia duvidou um momento, mas por fim respondeu.

-me diga? -disse, com voz tremente. Ao outro lado do fio, silêncio-. Quem é, maldita seja!

-Ah, então foi você.

O coração da Olivia se deteve uma décima de segundo.

Thomas.

Seu pior pesadelo se fazia realidade.

-O que quer? -espetou-lhe, tentando conservar a calma.

-Quero o que sempre quis. A ti. Comigo, em casa, onde deve estar.

-Eu não sou tua, Thomas. Estamos divorciados.

-É minha, Olivia. É minha! Sempre será minha. Vou te buscar.

Tremendo de medo, correu para a janela da cozinha para ver se Thomas estava na rua.

-Não penso ir a nenhum sítio contigo. me deixe em paz!

-Vi-te em televisão com esse bastardo. Mas ele não pode te ter porque é minha. Sei onde vive, querida. Virá comigo ou te matarei.

Olivia pendurou o telefone e se apoiou no suporte, tremendo. Não podia ser... não podia ser...

Tinha que fazer a mala e sair correndo antes de que chegasse... Então viu a casa do Jackson. Se o chamava, chegaria correndo em um instante. Thomas não era competidor para um homem como ele.

Ou sim?

Poderia ter uma pistola e não duvidaria em usá-la. Era um homem muito ciumento e mataria ao Jackson se a visse com ela. Estava completamente segura.

De repente, uma estranha calma a invadiu. Não, não chamaria o Jackson, nem sairia correndo. Tinha deixado de correr.

Um carro muito luxuoso se deteve então frente à casa e Thomas Fairchild saiu dele.

Olivia chamou à polícia.

-Meu ex-marido me ameaçou que morte e acaba de chegar a minha casa. Venham agora mesmo, por favor!

Depois, deu seu nome e sua direção.

-Enviamos um carro agora mesmo. Não pendure o telefone e não abra a porta.

-Estou-o ouvindo subir os degraus. Por Deus, está aqui mesmo!

-O carro chegará em um minuto, senhora. Não pendure.

Thomas bateu na porta.

-Olivia! Olivia, abre agora mesmo! Se não vir comigo, matarei-te!

-Não abra a porta -advertiu-lhe de novo o policial.

-Juro que te matarei, Olivia!

A porta rangeu quando Thomas se lançou sobre ela.

-Está tentando atirar a porta abaixo... A polícia está a ponto de chegar, Thomas! Vete daqui!

-Abre agora mesmo!

A força de seu ódio era brutal, mas Olivia não se moveu. Não o tinha denunciado antes à polícia por medo, mas isso foi em outro tempo. Se conseguia entrar, lutaria por sua vida com todas suas forças.

Então a porta cedeu e Olivia tomou um pesado candelabro de bronze.

-atirou a porta abaixo! -gritou, sem soltar o telefone.

Thomas colocou a mão pelo oco para tirar a cadeia e ela o golpeou com todas suas forças.

Nesse momento ouviu uma sereia. Dois. Eram dois carros de polícia.

-Matarei-te, zorra!

-Polícia, detenha-se! Levante as mãos por cima da cabeça!

Olivia ouviu passos e empurrões pela escada.

-Já estão aqui -disse-lhe à polícia que estava ao outro lado do telefone.

-Não se mova daí. Espere até que algum oficial de polícia se identifique.

-Senhora, sou o sargento Rodríguez. Já pode abrir. Pusemo-lhe as algemas e meu companheiro o leva a carro.

Tremendo, Olivia abriu a porta.

-Obrigado. tentou me matar... Apresentarei cargos, denunciarei-o por intento de assassinato... Tenho uma testemunha, o policial que está ao telefone.

-Tranqüila, senhora. vamos levar o a delegacia de polícia. Não se preocupe, já não pode lhe fazer danifico.

Ela se deixou cair no sofá, exausta.

-Olivia, Olivia! -escutou então a voz do Jackson-. Carinho, o que passou?

-Era meu ex-marido. Viu-me na televisão e vinho a me buscar. Que medo passei. ia matar me...

Ele a estreitou entre seus braços.

-Esse canalha... Matarei-o se voltar a aproximar-se de ti. Você é minha e não deixarei que ninguém te toque!

Olivia tentou apartar-se.

-Não diga isso jamais. Eu não sou tua, não sou de ninguém. me solte!

-Céu, te acalme.

-Não quero me acalmar! Vete daqui, Jackson!

-Não penso ir enquanto esteja tão nervosa. Deixa que te cuide...

-Estou perfeitamente! Não necessito que ninguém cuide de mim, muito obrigado. Vete agora mesmo!

Estava lhe fazendo danifico com suas palavras, mas lhe dava igual. Aquele era um momento terrível para ela.

Os vizinhos tinham saído à rua e estavam observando o espetáculo, mas tampouco lhe importou.

Olivia fechou a porta como pôde e se deixou cair sobre a cama, chorando, amaldiçoando aos homens que lhe tinham feito tanto dano.

Quando por fim pôde deixar de chorar, ficou olhando ao teto. Possivelmente tinha reagido de forma exagerada com o Jackson, mas suas palavras tinham despertado o medo de novo. "Dela".

Não pertencia a ninguém mais que a si mesmo. E jamais permitiria a nenhum homem pensar que era seu dono.

Felizmente, tinha visto esse lado seu tão possessivo antes de... antes de que a relação fora mais séria.

Seu primeiro impulso foi fazer a mala, mas decidiu não fazê-lo. Estava farta de escapar.

Aquela vez ficaria. Gostava de seu trabalho, gostava de Austin e não pensava deixar que um homem arruinasse sua vida.

depois de lavá-la cara Olivia chamou a Tessa, mas estava a secretária eletrônica. Então chamou a Joanna.

Dormiria em sua casa durante uns dias até que arrumassem a porta e até que pudesse estar segura de que Thomas não ia aparecer por ali.

Mas não partiria de Austin.

 

Jackson não queria deixar a Olivia naquele estado, mas estava tão furiosa, tão histérica... e com razão. Tentou ficar em contato com a Tessa, mas os Jurney não estavam em casa.

Não queria chamar o Irish porque estava grávida e lhe daria um desgosto, de modo que chamou a sua mãe, a mulher mais sábia que conhecia.

Lhe aconselhou que fizesse todo o possível para que seu ex-marido não pudesse voltar a atacá-la e, sobre tudo, que lhe desse um pouco de tempo.

-lhe faça saber que te importa, mas não a pressões.

-De acordo.

-A seu pai e nós gostamos de muito Olivia. Em nossa opinião tiveste muita sorte.

-Sim, mamãe -sorriu ele-. Já sabe que eu sempre tenho sorte.

-Tenho a impressão de que isto vai por bom caminho -riu sua mãe.

depois de pendurar, Jackson chamou à pessoa que mais podia ajudá-lo: Mitch Harris.

-Como governador, não posso fazer nada pessoalmente, mas o chefe de polícia me deve um par de favores. Deixa que chame o George e me inteire de como vai o assunto. Agora te chamo.

Durante uma hora Jackson passeou pela casa esperando a chamada do Mitch e quando soou o telefone, desprendeu-o imediatamente. Mas não era Mitch, a não ser Tessa.

-Olivia me deixou uma mensagem me contando que está em casa de uma amiga. O que passou?

Jackson lhe contou tudo o que sabia. E lhe perguntou o que devia fazer ele.

Tessa lhe aconselhou quão mesmo sua mãe: esperar.

-chamei ao governador para lhe pedir que me dê uma mão, mas não o diga. E acabo de chamar um carpinteiro para que arrume a porta.

-te esqueça da porta. Ed se encarregará disso.

Meia hora mais tarde, chamou Mitch.

-Você sabia que Thomas Fairchild é um juiz de Califórnia?

-Um juiz? Nem idéia.

-Olivia chamou para me pedir ajuda faz quinze minutos.

-Espero que não lhe haja dito que eu também te chamei.

-Sinto muito, mas sim. Não sabia que era um segredo.

Jackson afogou uma maldição.

-Bom, o que sabe?

-Pelo visto, Fairchild estava a ponto de sair da delegacia de polícia quando George interveio. Olivia pode conseguir uma ordem de afastamento, mas às vezes não servem de nada. Me ocorreu uma idéia melhor.

-Qual?

-Harlon Swain e eu vamos visitar o Fairchild na delegacia de polícia.

Harlon Swain era um juiz muito respeitado no Texas que tinha amigos em todas partes, sobre tudo em Washington, perto do Presidente.

-A ver se podem lhe colocar medo a esse canalha.

-Harlon acredita que sim. Pelo visto, para ele ser juiz é muito importante. E as aparências também, segundo Olivia. Podemos acompanhá-lo ao aeroporto sem apresentar cargos ou mandá-lo ao cárcere, que ele escolha. Mas se o deixamos partir, tem que jurar que nunca voltará a pôr os pés no Texas.

-De todas formas, isso é algo que deve dizer Olivia.

-Sim, é obvio. Por certo, o que passou entre vós, amigo? Quando lhe falei de ti ficou fria como o gelo. Está zangada contigo?

-Não tente nada, Mitch. Segue sendo... minha noiva -respondeu Jackson. Tinha estado a ponto de dizer "minha". Mas teria que apagar aquela palavra de seu vocabulário-. Me chame quando falar com o Fairchild. E não diga a Olivia que falamos. Não pode suportar que ninguém se meta em seus assuntos.

Durante os seguintes dias, Jackson tentou ser paciente. Por isso Mitch lhe contou, Harlon Swain se havia posto sério e Fairchild tomou o primeiro avião para Califórnia. O canalha não quis desperdiçar a oportunidade de manter seu trabalho e seu bom nome... Mas Olivia tinha decidido apresentar cargos de todas formas. E segundo Swain, aquela vez teria que passar algum tempo à sombra.

Ela estava de volta em seu apartamento. A porta estava arrumada e Jackson a viu entrar e sair, mas não respondia ao telefone nem respondia a suas mensagens.

Enviava-lhe flores cada dia... inclusive lhe enviou comida a domicílio cada noite com uma nota, lhe perguntando se queria compartilhá-la com alguém.

Mas nada. Nenhuma resposta.

Nem sequer uma nota de agradecimento.

Paciência, dizia-se a si mesmo.

 

Olivia pôde ignorar a comida a China, a lagosta, o filete de linguado em molho de champanha, os tacos mexicanos... mas quando abriu a última caixa quase ficou a chorar. Dentro havia perritos quentes com mostarda e seis latas de cerveja. A nota dizia: me chame, carinho. Morro de fome.

Tinha tentado esquecer-se do Jackson, havia-se dito a si mesmo que não podia arriscar-se outra vez...

O problema era que estava apaixonada pelo Jackson Crow, assim de singelo.

Tinha sido muito dura com ele a noite do assalto, mas sua vida havia tornado a ser dela e podia pensar racionalmente. E se dava conta de que Jackson não era como Thomas absolutamente. Protetor, certamente. Não tinha chamado ao Mitch para ajudá-la? Mas não era dominante, não era possessivo.

E o jogava tanto de menos...

Olivia tomou o telefone e marcou um número que sabia de cor. Jackson respondeu imediatamente.

-Quer dever comer perritos quentes?

-Agora mesmo vou para lá. Nem sequer se despediu, simplesmente pendurou o telefone a toda pressa. Da janela da cozinha o viu sair correndo, ao tempo que ficava uma camisa. Ia descalço.

Em cinco segundos estava chamando a sua porta. Quando Olivia abriu, estava gansamente apoiado na parede, com um sorriso nos lábios.

-Entra -disse-lhe, contendo um sorriso-. Quer uma cerveja?

-Pois sim, obrigado.

-Não tem frio nos pés?

Ele olhou para baixo, surpreso.

-Anda. E eu me fazendo o gracioso...

Olivia soltou uma gargalhada.

-É um palhaço, Jackson Crow.

Incapaz de suportá-lo um segundo mais, jogou os braços ao pescoço. Jackson não necessitou mais estímulo para beijá-la nos lábios até que lhe dobraram os joelhos.

-Carinho, quase me volto louco sem ti. Quero-te muitíssimo.

-Eu também te quero, Jackson.

-Diz-o de verdade?

-Digo-o de verdade. Eu também te senti falta de.

-Promete que te casasse comigo, Olivia.

-Não posso te prometer isso. Não estou preparada para um compromisso tão sério. Pode que nunca o esteja. Há tantas coisas que não sabe de mim...

O tomou sua mão para levá-la ao sofá.

-Conta-me o Conta-me o tudo. E ela o fez. Contou-lhe como seu pai pegava a sua mãe, como seu irmão partiu de casa assim que pôde, falou-lhe de seu noivo da universidade, das surras de seu marido. Contou-lhe toda sua história.

Jackson fechava os olhos quando não podia suportar algo, mas não dizia nada. Quando Olivia terminou seu relato, apertou-a contra seu coração.

-Entende agora por que me dão medo as relações sentimentais? Não é que não te queira, Jackson. É que sou muito receosa.

-Esperarei.

-Pode que nunca esteja preparada para me casar.

-Quero-te com toda minha alma, Olivia. Esperarei. E enquanto isso, aceitarei o que queira me oferecer -sorriu ele-. contribuíste com cor a minha vida, trocaste minha forma de ver as coisas. Mas a única cor que merece a pena é a cor de seus olhos. Esperarei, carinho.

 

As estradas eram como um manto vermelho, os campos do Texas talheres de papoulas. de vez em quando, alguma margarida, alguma flor silvestre.

Olivia e Jackson foram a casa do Irish para conhecer seu filho recém-nascido, Joshua.

-Kyle parecia a ponto de deprimir-se -riu Jackson-. Mas Irish e o menino estão Estupendamente. Três quilogramas novecentos. Não está mau, né?

Olivia estava desejando ver seu amiga. Estiveram juntas em Natal, mas ardia em desejos de conhecer menino.

Naqueles meses tinha conhecido ao Jackson muito melhor. Era completamente diferente do Thomas e seu pai. Tinha caráter, mas não era absolutamente violento. Era um homem muito generoso.

Cada dia estava mais segura de poder comprometer-se com ele. Em lugar de lhe dar medo, a idéia a enchia de felicidade. Adorava ao Jackson Crow... Olivia sorriu. E estava para comer-lhe

Todo o clã se reuniu em casa do Irish, inclusive a irmã do Jackson, a congressista Ellen Crow Ou'Hara. Solo faltava Smith, o irmão do Kyle. Tampouco tinha aparecido por ali em Ação de Obrigado ou Natal.

-Não sei o que acontece com esse menino -suspirou Pete-. Jogo muito de menos.

-Oxalá estivesse para conhecer seu sobrinho -disse Irish, apartando a mantita para lhes mostrar a cara do Joshua-. A que é precioso?

-Muito bonito. Posso...? -sorriu Olivia. Quando o teve em seus braços, sentiu uma onda de calor maternal-. Que maravilha -disse, olhando ao Jackson-. por que não temos um igual?

Ele a olhou, surpreso.

-Quando você queira. Mas solo se te casar comigo.

-De acordo.

-Diz-o a sério, carinho?

-Sim, meu amor.

O grito do Jackson pôde ouvir-se em todo Dallas. Inclusive em Austin.

 

 

                                                                                                    Jan Hudson

 

 

 

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