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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


RIO QUENTE / Erskine Caldwell
RIO QUENTE / Erskine Caldwell

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

O cocheiro parou próximo da ponte suspensa e apontou-me a casa que ficava do outro lado do rio. Três quilómetros de dis­tância da estação até ali... Paguei-lhe a importância do frete e saí do carro. O homem partiu deixando-me só com a noite escura. As luzes do vale brilhavam como as estrelas, e o rio, largo e verde, e quente, corria a meus pés. Na escuridão da noite, à minha volta, as montanhas, erguiam-se como nuvens negras; só pregando os olhos no céu me era possível ver uns restos do brilho quase apagado do pôr do sol.

A cada passo que dava a ponte rangia e o ímpeto do seu baloiçar depressa excedeu o do meu andamento. Com aquele oscilar de pêndulo a descrever arcos de grande amplitude sobre o rio, para me manter em equilíbrio, era preciso andar depressa, cada vez mais depressa. Quando, finalmente, avistei na outra mar­gem o ponto onde a montanha descia abruptamente e mergulhava na água tépida do rio, segurei com mais firmeza o saco e deitei a correr com quanta força tinha.

Então, e mesmo depois de pisado o carreiro de cascalho, confesso que tive medo. Sei que se fosse dia poderia atravessar a ponte sem qualquer espécie de receio; mas à noite, numa região desconhecida, com montanhas sombrias fechando-se à minha volta e um rio largo e verde correndo a meus pés, não conseguia evitar que as mãos me tremessem e o coração me batesse com mais força no peito.

 

 

 

 

Encontrei a casa com facilidade e ri de mim próprio por ter fugido do rio. Era a primeira casa com que se dava depois de deixar a ponte e mesmo que não a tivesse reconhecido Gretchen ter-me-ia chamado. Lá estava nos degraus da porta à minha espera. Ao ouvir a sua voz tão familiar chamar pelo meu nome envergonhei-me pelo medo que tive das montanhas altas e do rio que deslizava lá ao fundo.

Gretchen desceu o carreiro e veio ao meu encontro.

- A ponte meteu-te medo, Ricardo? - perguntou, emocio­nada, segurando-me o braço com as duas mãos e guiando-me pela vereda na direcção da casa.

- Acho que sim, Gretchen; mas suponho que dominei o seu balanço, correndo.

- Toda a gente procede assim a princípio mas, depois de a ter atravessado uma vez, é como se andássemos sobre uma corda esticada. Quando era pequena costumava andar sobre cor­das tensas... E tu, Ricardo, não andaste também? Tínhamos uma corda esticada dum lado ao outro do celeiro, para praticar.

- Também eu o fiz; mas foi há tanto tempo... Agora não sou capaz...

Chegámos e subimos os degraus que davam para a entrada da casa. Gretchen guiou-me até à porta. Do interior da casa alguém se aproximava do átrio; o candeeiro que trazia na mão iluminou a entrada da casa. Então vi as duas irmãs de Gretchen, de pé, junto da porta.

- Esta é a minha irmãzinha Ana - disse Gretchen. - E esta é a Marta.

Mesmo ali, quase às escuras, lhes dirigi algumas palavras; depois entrámos no átrio. O pai de Gretchen que, junto de uma mesa, segurava o candeeiro desviou-o um pouco para o lado para melhor me ver a cara. Não o conhecia.

- O meu pai - apresentou Gretchen. - Ele receava que, com este escuro, não fosses capaz de dar com a casa.

- Quis ir lá abaixo, à ponte, esperá-lo com uma luz mas Gretchen disse-me que chegaria cá sem dificuldade. Perdeu-se? Não me custaria nada levar-lhe uma lanterna.

Apertei-lhe a mão e contei-lhe da facilidade com que tinha encontrado a casa.

- O cocheiro do carro que me trouxe apontou-ma do outro lado do rio, e nunca mais desviei os olhos da luz. Se a tivesse perdido de vista andaria a estas horas por aí às escuras, aos tropeções, sujeito a cair à água.

O homem riu-se de mim por causa de ter medo do rio.

- Não seria grande o mal. O rio é quente. Até no Inverno, quando gela, quando cai neve, o rio está tão morno como um quarto confortável. Aqui todos gostamos daquela água.

- Não, Ricardo, não terias caído - disse Gretchen juntando a sua mão à minha. - Vi-te na altura em que desceste do carro, e se tivesses dado um passo fora do caminho teria corrido imediatamente para junto de ti.

Quis agradecer-lhe estas palavras mas ela já subia as escadas que davam para o andar de cima, e chamava-me. Segui-a, levando o saco à minha frente. Ao fundo do átrio do andar de cima, em cima de uma mesa, havia um candeeiro com quebra-luz. Estava aceso, mas a luz era fraca. Gretchen levou-o e entrou num dos quartos que ficavam em frente. Estivemos, por momen­tos a olhar um para o outro, em silêncio.

- A bilha tem água fresca, Ricardo. Se precisares mais alguma coisa faze o favor de me chamar. Não sei se o consegui, mas procurei não esquecer nada.

- Não te incomodes, Gretchen. Que mais podia desejar? Basta-me estar contigo, nada mais me interessa.

Olhou-me mas depressa pôs os olhos no chão. Durante alguns minutos nem um nem o outro encontrámos que dizer e ficámos calados. Quis mostrar-lhe a minha alegria por me encontrar junto dela, embora fosse apenas por uma noite; depois pensei que podia falar nisso mais tarde. Gretchen sabia a razão porque eu tinha vindo.

- Fica aqui o candeeiro, Ricardo, e espero lá em baixo, à entrada, por ti. Vem logo que estejas pronto.

Deixou-me antes que fosse possível oferecer-me para lhe levar a luz à escada e iluminar-lhe o caminho. Quando peguei no candeeiro, já ela tinha desaparecido.

Voltei para o quarto, fechei a porta, lavei o rosto e as mãos e livrei-me da poeira do comboio, esfregando-me com uma escova e sabão. No toalheiro havia algumas toalhas bordadas à mão. Peguei numa e enxuguei as mãos e a cara. A seguir penteei-me e tirei do saco de viagem um lenço lavado. Por fim abri a porta e desci a escada para ir ao encontro de Gretchen.

O pai estava com ela à porta. Quando me aproximei levan­tou-se e ofereceu-me uma cadeira que estava entre ambos. Gre­tchen puxou a sua mais para o pé da minha, tocando-me no braço com a mão.

- É a primeira vez que vem aqui, aos montes, Ricardo? - perguntou o pai voltando-se para mim.

- Sim, senhor, nunca estive a menos de cem quilómetros deste sítio. Acho a região diferente daquelas que conheço mas estou convencido de que o senhor pensaria o mesmo a respeito da costa. Não é verdade?

- Oh, mas o pai viveu em Norfolk - disse Gretchen. - Não viveu, pai?

- Sim, vivi lá perto de três anos.

Pareceu-nos que queria dizer mais alguma coisa e ambos esperámos que continuasse.

- O pai é chefe de mecânicos - disse-me Gretchen em voz baixa. - Trabalha nas oficinas do caminho de ferro.

- Sim - afirmou ele, seguidamente. - Tenho vivido em mui­tos lugares, mas é aqui que desejo ficar.

O meu primeiro desejo foi o de perguntar-lhe porque mo­tivo preferia as montanhas às outras regiões, mas de súbito reparei que tanto ele como Gretchen se tinham fechado num silêncio opressivo. Sentado entre ambos, pus-me a cismar no caso.

Pouco depois voltou a falar mas não o fazia nem para mim, nem para Gretchen; falava para qualquer outra pessoa que estivesse junto da entrada da porta, uma quarta pessoa que, no escuro da noite, eu não podia ver. Esperei atento e cheio de emoção, que continuasse.

Gretchen aproximou a sua cadeira da minha algumas pole­gadas, e fê-lo com leveza, sem fazer barulho. O bafo quente do rio subia no espaço e vinha até nós cobrindo-nos, na noite frí­gida, como se se tratasse dum cobertor.

- Quando Gretchen e as outras duas irmãs perderam a mãe - disse ele, falando muito baixo, curvando-se sobre os joelhos e olhando as águas verdes do rio - quando perdemos a mãe dela, voltei para as montanhas. Não me foi possível continuar em Norfolk e Baltimore tornara-se insuportável. Este era o único lugar da terra onde podia encontrar a paz. Gretchen lembra-se, certamente, da mãe mas nenhum de vocês é capaz de compreen­der o que se passa comigo. A mãe, tal como eu, tinha nascido aqui nas montanhas e aqui estivemos durante quase vinte anos. Depois dela ter partido mudei de casa; acreditava estupidamente que podia esquecer. Mas enganei-me. Enganei-me cer­tamente. Um homem não pode esquecer a mãe de seus filhos ainda que saiba que nunca mais voltará a vê-la.

Gretchen chegou-se mais para mim; fiquei preso, não podia desviar os olhos do seu perfil que, a meu lado, se emoldurava no escuro. Do rio, nem sequer um murmúrio chegava até nós; só o seu bafo quente me bastava para pensar que ele corria quase a nossos pés.

O pai inclinou-se na cadeira até os braços lhe pousarem sobre os joelhos e olhava para o outro lado do rio, para o cimo da montanha, como se esperasse que aí aparecesse alguém. Os olhos estavam fixos num ponto e o feixe de luz que se coava através da porta enchia-os dum brilho estranho. E brilhavam também, como fragmentos de estrelas, as lágrimas que lhe rola­vam pela cara abaixo e que, antes de se desfazerem, lhe escal­davam as mãos trémulas e expressivas.

A seguir, sempre em silêncio, ergueu-se e entrou em casa. Parou à porta por momentos e a sua sombra enorme caiu sobre Gretchen e sobre mim. Continuou a andar. Voltei-me e olhei na direcção em que ele seguia e embora a sua imagem se fosse esbatendo o que é certo é que não conseguia fitá-la.

Gretchen inclinava-se mais para mim. Apertava nervosamente a minha mão e esfregou o rosto no meu ombro, como se pro­curasse limpar qualquer coisa. Os passos do pai foram-se apa­gando, até que, por fim, deixámos de ouvi-los.

Lá em baixo, ao longo da margem do rio, um comboio cor­reu pelo vale fora, esfarpando com silvos o silêncio da noite. As suas luzes, através das janelas, faiscaram por momentos no escuro, dançando no rio verde como luzes polares; e um eco nostálgico rolou contra as altas encostas da montanha.

Gretchen apertou, com força, a minha mão nas suas, tre­mendo até às pontas dos dedos.

- Ricardo, porque vieste ver-me?

A sua voz misturava-se com o ruído do apito metálico do comboio, que parecia perder-se na distância.

Esperava ver os seus olhos cravados no meu rosto, mas, quando me voltei para ela, vi que olhava para o fundo do vale, como se quisesse revolver as águas quentes do rio. Sabia a razão da minha visita e queria ouvi-la da minha boca.

Agora, nem eu próprio sabia, porque viera vê-la. Tinha gos­tado de Gretchen e tinha-a desejado mais do que a nenhuma outra rapariga das que conheci mas, depois de ouvir o pai falar de amor, não podia afirmar que a amava. Sim, lamentava ter vindo, depois de o ouvir falar da mãe de Gretchen como falou. Sabia que Gretchen se empolgaria, por que me tinha amor; eu é que nada tinha para lhe dar em troca. Era bela, sim, era muito bela e eu tinha-a desejado. Mas isso estava esquecido. Agora restava-me a certeza de que nunca mais voltaria a pensar nela da mesma forma e com as mesmas razões.

- Diz-me porque vieste, Ricardo.

- Porquê?

- Sim, Ricardo, porquê?

Fecharam-se-me os olhos e o que senti foi a lembrança das luzes cintilando e correndo, lá em baixo, no vale, a tepidez das águas do rio deslizando e as carícias dos dedos de Gretchen ao tocarem-me no braço.

- Ricardo, diz-me porque vieste.

- Nem eu sei porque vim, Gretchen

- Se me quisesses como eu te quero, Ricardo, saberias.

A sua mão tremia na minha. Amava-me, sabia que me amava. Nem uma dúvida no meu espírito, desde o princípio... Gretchen gostava de mim.

- Parece-me que não devia ter vindo. Enganei-me Gretchen. Sim, não devia ter vindo.

- Mas ficas só esta noite, Ricardo. Vais-te embora amanhã de manhã. Não tens pena de ter vindo por tão pouco tempo? Não tens pena, Ricardo?

- Não lamento estar aqui, mas não devia ter vindo. Não sabia o que fazia. Agora sei que não devia ter vindo. Só as pes­soas que se amam mutuamente...

- Mas tu amas-me, embora pouco, não é assim Ricardo? Não era possível quereres-me tanto como eu te quero. Mas não podes dizer que me queres, mesmo que pouco seja? Assim sen­tir-me-ei mais feliz quando te fores embora.

- Não sei - respondi a tremer.

- Ricardo, por favor...

Prendi-a firmemente, enleadas as suas mãos nas minhas; de súbito senti-me invadido por qualquer coisa que não sei expli­car, qualquer coisa que me sacudiu. Era como se as palavras que ouvira ao pai se fossem tornando claras, cada vez mais cla­ras, e fizessem luz no meu espírito. Até então não podia acreditar que existisse um amor como o de que ele falara. Sempre julguei que os homens nunca amavam as mulheres da mesma forma que uma mulher ama um homem; agora, porém, verificava que não podia haver diferença.

Permanecemos silenciosos, de mãos dadas, durante algum tempo. Passava muito da meia-noite, pois as luzes do vale come­çavam a apagar-se.

Gretchen junto de mim procurava ler-me no rosto os pensa­mentos e poisava a cabeça no meu ombro. Era tanto minha como é possível uma mulher pertencer a um homem mas, nesta altura, tinha a certeza que nada me levaria a tirar partido do seu amor e a abandoná-la, sabendo que não gostava dela como Gretchen gostava de mim. Não, não acreditava em tal quando cheguei. Percorrera a enorme distância que nos separava, unicamente para a ter nos braços durante algumas horas, e depois esquecê-la para sempre.

Quando achámos que eram horas de recolher, levantei-me e ergui-a nos braços. Gretchen tremia quando lhe toquei. Pren­deu-se a mim com a mesma violência com que a prendi e senti no bater do seu coração, pancada por pancada, a paixão que lhe transbordava do peito.

- Ricardo, beija-me antes de te ires embora.

Correu para a porta, mantendo-a aberta para que eu entrasse. Pegou no candeeiro que estava sobre a mesa, subiu as escadas que davam para o andar de cima, adiante de mim.

Á porta do meu quarto esperou que eu acendesse o seu can­deeiro e a seguir entregou-me o meu.

- Boa noite, Gretchen.

- Boa noite, Ricardo.

Baixei-lhe a torcida do candeeiro para evitar que deitasse fumo, e ela, depois, atravessou o átrio dirigindo-se ao seu quarto.

- Amanhã chamar-te-ei a tempo de tomares o comboio.

- Está bem, Gretchen. Não me deixes dormir de mais. O com­boio sai da estação às sete e trinta.

- Chamar-te-ei muito a tempo, Ricardo.

A porta fechou-se atrás de Gretchen. Entrei para o meu quarto, fechei também a porta e comecei a despir-me vagaro­samente. Deitei-me, apaguei o candeeiro mas, na agitação em que estava, não adormeci. Sabendo que era impossível dormir sentei-me na cama, fumando cigarro atrás de cigarro e deitando o fumo, através da cortina, para a janela. Mais de uma vez jul­guei ouvir sons abafados, que vinham do outro lado do átrio, que vinham do quarto de Gretchen. Sim, julguei; contudo não tinha a certeza.

Não posso precisar quanto tempo estive sentado na beira da cama, rígido, sem um movimento, direito, a pensar em Gretchen. De súbito levantei-me de um salto. Abri a porta e atravessei o átrio rapidamente. A porta do quarto de Gretchen estava fechada. Contudo sabia que ela não a tinha fechado à chave e dei volta ao puxador sem fazer ruído. Rompeu, através da aber­tura, um feixe ténue de luz. Não era preciso empurrar mais a porta porque via Gretchen, apenas a alguns passos de distância, quase ao alcance da mão. Fechei os olhos com esforço e, naquele momento, pensei nela com uma intenção igual à que me ditara a viagem que nesse dia fizera, da costa até ali.

Gretchen não tinha ouvido abrir a porta, nem sabia que eu me encontrava ali. Sobre a mesa, o seu candeeiro ardia com uma luz viva.

Não esperava vê-la acordada, tinha quase a certeza de que a encontraria deitada. Estava ajoelhada no tapete, ao lado da cama, com a cabeça apoiada nos braços. Os soluços sacudiam-lhe o corpo.

O cabelo, preso por uma fita pálida no alto da cabeça, espa­lhava-se-lhe depois pelos ombros. Vestia uma camisa de seda branca, franjada de rendas vaporosas, e a gola, aberta, desco­bria-lhe o seio.

Só então vi quanto ela era bela, embora sempre a tivesse considerado bonita. Nunca, até ali, vira uma rapariga tão bela como Gretchen.

Como não ouviu abrir a porta continuava a ignorar a minha presença. De joelhos, ao lado da cama, chorava e tinha as mãos crispadas.

Quando entrei não sabia o que iria fazer mas agora, que a via ajoelhada em oração junto do leito, ignorando que a olhava e ouvia as suas queixas e soluços, tive a certeza de que nunca mais amaria alguém como lhe queria a ela. Sim, ignorava-o até àquele momento, mas bastaram uns poucos segundos para sentir quanto a amava.

Fechei a porta devagar e voltei para o meu quarto. Peguei numa cadeira e sentei-me próximo da janela à espera do dia. E ali fiquei olhando o fundo do vale. Á medida que os olhos se habituavam à escuridão parecia-me que me aproximava cada vez mais do rio e tão próximo dele me sentia que, esten­dendo o braço, poderia mergulhar as mãos nas suas águas quentes.

De madrugada julguei ouvir alguém no quarto de Gretchen a andar cuidadosamente, a caminhar de janela para janela e, em certa altura, tive a certeza de ouvir passos lá fora, junto da porta do meu quarto.

Quando o sol despontou no alto da montanha levantei-me e vesti-me. Depois ouvi os passos de Gretchen, ouvi Gretchen descer a escada. Certamente preparava o meu almoço, à pressa, para que eu não perdesse o comboio. Esperei e, um quarto de hora depois, ela subia novamente a escada. Bateu devagar e chamou várias vezes por mim.

Abri a porta de par em par e apareci-lhe. Ficou surpreendida por me ver já pronto; esperava encontrar-me a dormir e, por mo­mentos, não pôde articular uma palavra.

- Gretchen - disse eu, tomando-lhe as mãos - não tenhas pressa por causa do comboio... não parto... não sei o que tinha ontem... Agora sinto que te amo.

- Mas, Ricardo, disseste a noite passada...

- Disse a noite passada que partia de manhã cedo, Gre­tchen; mas, acredita, não sabia o que estava dizendo. Agora só parto quando fores comigo. Dir-te-ei o que penso, depois do almoço. Mas, antes de mais nada, quero que me digas por onde se desce até ao rio. Preciso de lá ir imediatamente, quero mer­gulhar as mãos nas suas águas.

 

 

                                                                  Erskine Caldwell

 

 

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