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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


RIVEN KNIGHT / Devney Perry
RIVEN KNIGHT / Devney Perry

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Genevieve Daylee não esperava estar na frente de um juiz em seu vigésimo sétimo aniversário. Mas desde que sua vida se enredou com uma antiga gangue de motociclistas, ela aprendeu a não esperar nada além de problemas.
Sua mãe, uma mulher que uma vez admirou e adorou, se foi, deixando para trás um rastro de segredos e mentiras. Ela está morando em um pequeno apartamento acima de uma garagem de propriedade de seu irmão, um homem que detesta a sua própria existência. E o pai que ela conheceu ao lado do túmulo de sua mãe é tão estranho quanto Isaiah Reynolds, o homem quebrado com olhos sem alma parado ao lado dela na frente do juiz.
Isaiah é o seu protetor do assassino à solta em Clifton Forge. Embora ele seja mais um cavaleiro quebrado em uma armadura amassada do que um príncipe em um garanhão branco. Ela não sabe quase nada sobre ele, exceto que trabalha como mecânico. E que a partir desta noite, ele estará compartilhando o banheiro dela.
E, de acordo com o juiz, Isaiah agora é seu marido.

 


 


Capítulo Um

Genevieve

— Estou decepcionado.

Eu sentiria como um tapa na cara em qualquer dia essa declaração. Era especialmente cortante e doloroso hoje, vindo do Sr. Reggie Barker, um homem que eu considerara um mentor e herói profissional.

— Sinto muito, Reggie.

Meu chefe, ex-chefe, suspirou do outro lado da linha.

— Dada a maneira que você escolheu deixar a empresa, não posso lhe dar uma referência.

Eu estremeci.

— Ah, hum... Tudo bem.

Reggie achou que dar uma semana de aviso prévio em vez de duas era um desrespeito. Não importava que eu trabalhasse como sua assistente nos últimos quatro anos, que eu fosse a primeira pessoa a chegar à empresa todas as manhãs e a última a sair todas as noites. Não importava que, embora os assistentes jurídicos da empresa pudessem estudar para os exames LSAT1 durante o horário de trabalho, eu guardei todos os meus estudos em casa, garantindo que cada minuto do meu dia de trabalho fosse dedicado a ajudar Reggie.

Eu adiei em fazer o exame quatro vezes porque ele havia me avisado para estar pronta, de uma maneira que ele não achava que eu estava.

Eu confiei nele. Eu valorizei sua opinião acima da opinião de todos os outros da empresa. Eu tinha dado a ele tudo o que tinha para dar e, aparentemente, não foi suficiente.

Eu também fiquei decepcionada.

Eu só liguei esta manhã porque tinha esquecido de deixar a chave do meu escritório. Agora eu gostaria de simplesmente enviá-la com uma nota.

— Boa sorte, Genevieve.

— Obrigada...

Ele desligou o telefone antes que eu pudesse terminar. Vinte e sete anos já estava se preparando para ser um desastre.

Feliz aniversário para mim.

Coloquei meu telefone de lado e olhei através do para-brisa da loja à frente. Eu estava estacionada em frente a uma pequena loja de roupas na Avenida Central. Era a única loja em Clifton Forge, Montana, que vendia roupas femininas, além do armazém de suprimentos para fazendas.

Clifton Forge.

Minha mãe tinha cursado o ensino médio aqui. Meus avós, duas pessoas que eu nunca tinha conhecido, foram mortos em um acidente de carro e estavam enterrados aqui. Seis semanas atrás, a cidade de Clifton Forge não passava de uma nota de rodapé na história da minha família.

Então mamãe veio fazer uma visita e foi cruelmente assassinada no motel local.

Agora Clifton Forge não era apenas uma mancha negra no passado, era também minha casa em futuro próximo.

Eu queria estar em casa, em Denver, dirigindo em ruas familiares para lugares familiares. O fascínio da estrada tinha uma forte atração. Na viagem do Colorado, eu fui tentada mais de uma vez a me virar e nunca olhar para trás. Correr e me esconder.

Exceto que eu tinha feito uma promessa a um perfeito estranho, um homem que eu conhecia apenas por algumas horas. Eu não romperia minha palavra.

Não depois do que Isaiah havia feito por mim.

Então aqui estava eu, em Clifton Forge.

Por meses. Anos. Décadas. Pelo tempo que for necessário. Eu devia a Isaiah esse tempo.

A sensação enjoativa que tive durante dias aumentou, a bile subindo na minha garganta. Engoli em seco, não querendo pensar em uma vida condenada a Montana. Não tive tempo de me debruçar sobre as possibilidades, as consequências do que estava prestes a acontecer. Eu deveria encontrar Isaiah ao meio-dia, o que me dava apenas duas horas para me arrumar. Então endireitei minha coluna, acalmei os nervos e saí do carro para fazer compras.

Recuso-me a usar jeans hoje.

Na semana passada, arrumei tudo no meu condomínio em Denver, como fiz na casa da minha mãe, embora desta vez não foi tão angustiante. Ainda assim, doía e eu chorava toda vez que fechava uma caixa. Toda essa mudança, toda essa perda, eu estava me afogando.

A maioria dos meus pertences grandes tinha sido armazenada. Alguns foram embalados para serem enviados. E o resto estava amontoado no meu Toyota Camry cinza de quatro portas, que eu dirigi do Colorado para Montana ontem.

Muito exausta, tentando arrumar as malas e terminar minha última semana no trabalho, não pensei em comprar um vestido. Talvez fosse o meu subconsciente protestando contra as núpcias de hoje.

Mas, gostando ou não, este casamento iria acontecer, e eu não estaria vestindo jeans.

Especialmente no meu aniversário.

Eu tomei cuidado extra com minha maquiagem esta manhã. Eu tinha lavado e ondulado meu cabelo castanho em cachos grossos usando o modelador de cachos caro que mamãe me comprou no ano passado.

Foi o último presente de aniversário que ela me deu.

Meu Deus, sentia sua falta. Ela não estaria aqui hoje para ficar ao meu lado, pois cometi o maior erro da minha vida. Ela não estaria aqui para mais aniversários, porque um humano vil e cruel havia destruído sua vida. Não era justo.

Mamãe havia sido assassinada, esfaqueada sete vezes, deixada para sangrar em um quarto de motel sozinha. Ela morreu, deixando para trás um rastro de segredos e mentiras que estavam arruinando sua bela memória.

Por quê? Eu queria gritar para o céu até que ela respondesse.

Por quê?

Eu estava com tanta raiva dela. Fiquei furiosa por ela não ter confiado em mim a verdade. Que ela não tinha me falado sobre meu pai. Que eu estava aqui nesta cidadezinha de merda por causa de suas más escolhas.

Mas caramba, eu sentia falta dela. Hoje de todos os dias, eu queria minha mãe.

Lágrimas brotaram por trás dos meus óculos escuros e eu os pisquei antes de entrar na loja de roupas. Coloquei no meu rosto o sorriso falso que vinha usando há semanas.

— Bom dia — A funcionária cumprimentou quando a campainha tocou acima da minha cabeça. — Por favor sinta-se livre para olhar à vontade. Há algo em particular que você está procurando?

— Na verdade sim. Eu preciso de um vestido e saltos.

Os saltos doíam. As solas dos meus pés estavam destruídas pela corrida pelas montanhas com os pés descalços, mas eu sofreria hoje.

— Oooh. Eu posso ter exatamente o que você procura. — Ela veio do balcão onde estava dobrando um suéter. — Nós recebemos este vestido verde escuro ontem. Estou encantada com ele. E ele vai combinar perfeitamente com o seu cabelo.

— Perfeito.

Contanto que não seja branco.

Trinta minutos depois, eu estava em casa, um termo que usei vagamente, porque minha residência temporária, esse apartamento de merda localizado acima de uma oficina de merda em uma cidade de merda, definitivamente não era um lar. Coloquei meu novo vestido verde sem mangas, ajustando o decote em V profundo para não mostrar muito. Então fiquei na ponta dos pés no banheiro, tentando me ver no espelho. Quem quer que tenha colocado isso no lugar não parecia se importar com a aparência da cintura para baixo.

Coloquei os saltos de cor nude que havia comprado hoje também, desejando ter tempo para uma pedicure. Havia realmente um lugar para pedicure em Clifton Forge? Em vez disso, vasculhei minha bolsa em busca do vidro de esmalte rosa escuro que havia jogado lá semanas atrás para retoques de emergência. Apliquei outra camada e deixe secar. Agora, havia tantas camadas que seria necessária uma britadeira para retirar tudo.

Afastei meu cabelo mais uma vez e passei uma nova camada de batom. O barulho da Clifton Forge Garage atravessava o chão. O barulho de metal contra metal. O zumbido de um compressor. As vozes abafadas de homens trabalhando.

Atravessando o apartamento, fui até a única janela que dava para o estacionamento abaixo. Uma fileira de motos negras reluzentes estava estacionada na beira da propriedade, alinhadas e igualmente espaçadas contra uma cerca de arame.

Meu meio-irmão possuía uma daquelas motos.

Meu pai também.

Ele era o maior segredo da mamãe, um sobre o qual eu só descobri por causa da sua morte. Ela teria me falado sobre ele mais cedo ou mais tarde? Acho que não fazia diferença agora. Exceto por algumas vezes quando criança e depois como uma adolescente malcriada, eu não tinha perguntado sobre ele. Eu não precisava de um pai quando a tive como mãe.

Ela era tudo que eu precisava e muito mais. E agora ela se foi, deixando-me para lidar com esses estranhos como minha família. Que outros segredos eu descobriria em Clifton Forge? Eles pareciam estar vazando das tábuas do caixão.

Um homem saiu da oficina, caminhando até uma moto preta que não brilhava como as outras. Era a única moto na fila que eu andara.

Isaiah. Um nome que assombrava meus pensamentos há dias.

Seu passo era longo e confiante. Ele tinha uma graça sobre seus passos, uma facilidade na maneira como aquelas coxas fortes se erguiam e seus quadris estreitos giravam. Mas então veio o baque, um peso cada vez que sua bota batia no chão.

Parecia muito assustador.

Eu poderia admitir.

Ele olhou por cima do ombro, os olhos pousando no meu carro estacionado perto das escadas que levavam ao apartamento. Ele o encarou por um longo momento, depois voltou o olhar para a janela.

Eu não me incomodei em tentar me esconder. Se ele pudesse me ver além dos pontos de terra e água, não fazia diferença. Logo, não haveria como escapar de seu olhar.

Era impossível ver a cor dos seus olhos a essa distância, mas, assim como o nome dele, eles faziam parte constante dos meus sonhos. E pesadelos.

Verde, marrom e dourado. A maioria os classificaria como avelã e passaria para suas outras qualidades de dar água na boca: pernas longas, abdômen duro como pedra, braços esculpidos decorados com tatuagens e uma bunda perfeita. Mas aqueles olhos, eles eram requintados.

A espiral de cores estava rodeada por um círculo chocolate escuro. E embora o padrão fosse intrigante, o que os tornava tão comoventes eram os demônios embaixo.

Não havia brilho. Sem luz. Eles estavam vazios.

Desde o tempo em que esteve na prisão? Ou de algo mais?

Isaiah me deu um único aceno de cabeça, depois foi para sua moto, montando na máquina enquanto ela roncava. Era a hora de ir.

Meu coração pulou na minha garganta. Eu vou ficar enjoada.

Engoli a saliva na boca e respirei pelo nariz, porque não havia tempo para vomitar. Era quase meio-dia.

Afastei-me da janela e voltei ao banheiro, arrumando as poucas coisas que havia deixado no balcão. Enquanto o resto do estúdio estava aberto, o banheiro tinha uma porta, o que era bom, já que eu estaria compartilhando esse espaço hoje à noite.

Então, com todas as minhas coisas guardadas em uma mala de viagem, arrisquei um longo olhar no espelho.

Hoje eu estava bonita, uma versão mais extravagante do meu eu normal. De certa forma, eu parecia mamãe.

Droga, mãe. Maldita seja por não estar aqui. Por me deixar fazer isso sozinha.

Respirei fundo, não permitindo que a ameaça de lágrimas arruinasse meu rímel. Enfiei esses sentimentos profundamente, em um lugar escuro onde eles ficariam até que eu pudesse me permitir ter o colapso necessário. Agora não era a hora, não importa o quão fodida minha vida tinha se tornado.

Primeiro, havia o meu trabalho. Ao sair, eu matei meu sonho para um dia me tornar advogada e trabalhar ao lado do grande Reggie Barker.

Clifton Forge tinha advogados?

Nesse caso, eu duvidava que existe qualquer especialista em trabalho pro bono2 para mulheres abusadas. Certamente não havia uma Faculdade de Direito por perto. O que significava que, se eu encontrasse um emprego, ficaria presa como assistente jurídica.

Adeus, emprego dos sonhos.

Em seguida, havia o meu condomínio, o que eu escolhi meticulosamente. O que eu tinha esgotado minha conta poupança para comprar. O que eu estava decorando lentamente, com cuidado e paciência para escolher coisas perfeitas, não apenas coisas que preenchiam espaços vazios.

Adeus, casa.

Era uma agonia pensar em vender meu apartamento, especialmente enquanto eu estava presa em um apartamento tipo estúdio, e não do tipo elegante. Não, esse era do tipo solteiro com paredes brancas e rachadas e um velho carpete marrom.

Adeus, vida.

Saí do banheiro, peguei minha bolsa e fui para a porta. Meus saltos clicavam pelas escadas de metal enquanto eu agarrava o corrimão para manter o equilíbrio. Quando meus sapatos tocaram o chão, corri para o carro, sem arriscar um olhar para a oficina.

Eu estava evitando meu meio-irmão, Dash, e sua namorada, Bryce, desde que cheguei ontem. Eles tinham perguntas sobre o que eu estava fazendo aqui. Por que eu estava morando no apartamento de Isaiah. Quanto tempo eu ficaria.

Eu tinha respostas, mas não estava pronta para dar a eles, ainda.

Quando saí do estacionamento sem ser vista, dei um longo suspiro e segui as coordenadas de navegação do meu telefone em direção ao centro de Clifton Forge.

Passei por um rio largo ao longo do caminho. Ele serpenteava pela orla da cidade, cercada por árvores que balançavam com a brisa. O sol brilhava em suas correntes. As montanhas estavam orgulhosas e azuis ao longe. Isso era... Pitoresco.

Talvez eu tenha sido um pouco dura no meu julgamento de Clifton Forge. Na verdade, a paisagem era a mesma, a sensação tranquila de algumas áreas rurais do Colorado, lugares que mamãe me levou para escapadelas de fim de semana. A oficina também não era tão ruim, era chique, como as oficinas que você vê nos programas de recuperação de carros.

Talvez, com o tempo, se eu conhecesse a cidade e seu povo, não me sentiria uma prisioneira.

Hoje não era esse dia.

Hoje era o primeiro dia da minha sentença.

Quanto mais perto chegava do meu destino, mais rápido meu coração disparava. Estacionando em um dos poucos espaços abertos em frente ao tribunal de Clifton Forge, vasculhei meu console por algumas moedas para colocar no parquímetro. Eu não conseguia me lembrar da última vez que usei dinheiro em vez do meu cartão de crédito para pagar pelo estacionamento.

Com o tempo máximo de duas horas, eu realmente esperava que isso não demorasse tanto tempo, subi as escadas que levavam ao prédio de tijolos vermelhos. Quando cheguei à porta, meus olhos avistaram uma forma familiar esperando, e eu vacilei um passo.

— Ei. — Isaiah desencostou da parede.

— Oi — eu respondi, limpando minhas mãos suadas no meu vestido.

Ele estava usando uma camisa preta de botão e jeans, o mesmo que ele estava na oficina. Eles eram jeans limpos, um pouco desbotados e se encaixavam perfeitamente nele. Ainda assim, eram jeans. Eu não tinha certeza de porquê isso me incomodou. Talvez eu devesse estar de jeans também.

— O quê? — Ele olhou para si mesmo.

Tirei meus olhos daquelas pernas longas, acenando.

— Nada.

— Você está bonita. — Ele passou a mão pelo cabelo castanho curto, evitando os meus olhos.

— Obrigada. Você também.

Sua camisa preta estava abotoada até os pulsos, cobrindo as tatuagens nos antebraços. A que passava atrás da orelha e pelo pescoço antes que desaparecesse sob o colarinho. Eu não tinha certeza se ele tinha nas costas, pernas ou peito, mas cada um dos dedos tinha um design diferente. Dez pequenas tatuagens feitas de linhas e pontos, todas situadas em seus dedos.

— Pronto? — Eu perguntei.

Ele assentiu.

— Você tem certeza disso?

— Nós não temos escolha.

— Não. Acho que não.

Isaiah abriu a porta para mim, mas por dentro ele assumiu a liderança, guiando-nos pelos corredores do tribunal pelas placas de madeira penduradas nas paredes. O chão estava recém polido e o cheiro avassalador de limão encheu meu nariz. Caminhamos por uma série de curvas até chegarmos à porta com o título Secretário do Tribunal Distrital. Por baixo havia o nome de um juiz. Abaixo disso estava Justiça de Paz.

Nós estávamos aqui. Nós estávamos realmente fazendo isso. Eu estava me casando com um estranho hoje. Eu estava casando com o homem que salvou minha vida.

Era a minha vez de retribuir o favor e salvar a dele.

Isaiah cumprimentou o recepcionista no balcão, falando por nós dois, porque eu havia esquecido como falar. Eu fiquei ao seu lado, congelada e atordoada, esperando enquanto ele preenchia o pedido de licença de casamento. Quando chegou a minha vez, minha mão tremia enquanto eu preenchia os espaços em branco.

— Vocês têm suas identidades? — O funcionário perguntou. Ela examinou os dois junto com o pedido, depois apontou para a fila de cadeiras atrás de nós. — Vocês podem se sentar.

Apertei os braços da cadeira enquanto me sentava, respirando fundo algumas vezes para impedir minha cabeça de girar. Não era assim que eu imaginava me casar. Isso não era especial. Eu estava com um vestido verde porque não queria usar branco quando esse casamento era uma farsa. Eu não sabia o nome do meio do meu noivo ou como ele gostava de ser beijado. Não sabia se ele bebia café ou em que lado da cama ele dormia.

Minha mãe não estava aqui para me levar pelo corredor.

O sangue bombeava alto nos meus ouvidos e as batidas no meu peito estavam me enlouquecendo. Eu nunca tive um ataque de ansiedade antes.

Era isso que estava acontecendo?

Eu fui sequestrada há mais de uma semana e não tive um ataque de pânico. Se eu pude sobreviver a essa experiência, isso seria moleza.

É temporário. É apenas temporário.

Cedo ou tarde, conseguiríamos o divórcio e eu estaria livre para voltar para o Colorado. Alguns anos aqui e depois eu recuperaria minha vida. Eu poderia fazer isso por Isaiah.

— Não precisamos fazer isso, — Ele sussurrou.

— Sim, — Insisti, encontrando a mesma determinação que tive quando sugeri o casamento em primeiro lugar. — Nós precisamos.

— Genevieve... — Meu nome soou tão suave em sua voz profunda. Cada sílaba foi espaçada igualmente. Ele não se apressou como muitas pessoas.

Eu olhei para ele, encontrando aquele olhar lindo, e meu coração suavizou. Isaiah era um homem legal. Um bom homem. Ele não merecia sofrer por causa dos erros de minha mãe.

— Vamos fazer isso.

— Isaiah e Genevieve? — O funcionário nos chamou, deslizando uma licença de casamento pelo balcão. — Está tudo pronto. Apenas sigam por ali.

Seguimos para onde ele apontou por uma porta à nossa esquerda, encontrando um homem mexendo em alguns papéis em sua mesa de carvalho. Seus óculos estavam pousados no nariz. Sua cabeça era careca, exceto pelo anel de cabelos grisalhos que corria de orelha a orelha.

— Futuros Senhor e Senhora... — Ele olhou um papel sobre a mesa, —...Reynolds.

Sra. Reynolds. Engoli em seco, então forcei um sorriso. Deveríamos estar apaixonados, - um casal que se conheceu e se apaixonou no mesmo dia, - então eu deslizei minha mão na de Isaiah, ficando tensa quando o calor e seus calos da palma da mão atingiram a minha.

Ele não vacilou, mas seu corpo ficou tenso.

— Podemos? — O juiz nos fez sinal para o meio da sala. Ficamos na frente dele quando ele assumiu sua posição e nos deu um sorriso gentil. Se ele sentiu nosso medo, não comentou.

— Você tem as alianças?

O pânico bateu forte. Em tudo o que fiz na semana passada, não tinha pensado em alianças.

— Eu...

— Aqui. — Isaiah pegou duas alianças do bolso da calça jeans. Uma era uma banda simples. Não ouro ou prata, mas um cinza escuro, como titânio. E a outra era uma fina faixa de platina com um halo de pequenos diamantes no centro.

Minha boca se abriu.

— Não é muito. — Isaiah engoliu em seco, constrangimento colorindo suas bochechas.

— É lindo. — Apertei sua mão e peguei a aliança. Era realmente lindo. Os diamantes não eram enormes, mas eu não precisava de nada enorme. Ele já tinha feito o suficiente. — Obrigada.

— Excelente. — O juiz sorriu. — Isaiah, Genevieve, por favor, deem as mãos.

Nós fizemos isso, encarando um ao outro. O contato visual direto foi, na melhor das hipóteses, fugaz. Concentrei-me principalmente no formato do nariz de Isaiah. Era um nariz admirável, forte e reto, perfeitamente situado entre aqueles olhos assombrados.

— Ao dar as mãos, vocês consentem em se unir. Marido e esposa. Vocês prometem honrar, amar e apoiar um ao outro. Isaiah, você aceita Genevieve como sua esposa?

Seus olhos encontraram os meus.

— Eu aceito.

— Genevieve, você aceita Isaiah como seu marido?

— Eu aceito.

Duas palavras e estava feito. Eu estava casada.

— Então, pela autoridade que me é conferida pelo grande Estado de Montana, declaro-lhes marido e mulher. Desejo-lhes boa sorte em seu casamento, Senhor e Senhora Reynolds.

Casamento.

Estava feito.

Isaiah estava seguro. Ninguém no mundo poderia me fazer contar a eles o que havia acontecido naquela cabana nas montanhas. Porque agora eu era sua esposa.

Virei-me para o juiz, pronta para agradecer e depois fugir. Mas ele abriu a boca para uma última declaração que fez toda a cor sumir do rosto de Isaiah.

— Isaiah, agora você pode beijar sua esposa.


Capítulo Dois

Isaiah


A última mulher que eu beijei foi a mulher que eu matei.

Não é exatamente o pensamento que um marido quer que brilhe em sua mente enquanto ele está em pé diante de sua esposa.

Genevieve parecia tão aterrorizada com esse beijo quanto eu. Os seus olhos estavam arregalados e cheios de apreensão. Seus lábios estavam pressionados em uma linha firme. Entrada proibida. Entendi.

Porra. O juiz estava esperando. Genevieve não estava se movendo e eu só queria acabar com isso.

Eu deixei minha boca cair na dela, fechando os olhos no caminho. Não foi... Horrível. Genevieve não tinha brilho pegajoso. Seus lábios eram macios e carnudos. Eu fiquei lá, fingindo ser seu marido amoroso por dez segundos. Isso era o suficiente?

Teria que ser. Afastei-me e deixei meus olhos caírem no chão. A culpa roeu meu interior. Eu não comia há dois dias. Eu não dormia há três. Tudo nessa situação estava errado, mas que diabos eu deveria fazer? Genevieve pensou que isso iria funcionar e que esse casamento poderia me manter fora da prisão.

E eu morreria antes de passar outro dia em uma cela.

— Obrigada, — disse Genevieve ao juiz de paz. Ainda estávamos de mãos dadas. Ela apertou a minha com força, forçando meu olhar para cima, então praticamente me arrastou para fora da sala. A recepcionista do balcão estava toda sorridente quando ela desejou parabéns.

Eu resmunguei. Genevieve assentiu.

Andamos em silêncio, nossas mãos entrelaçadas, até chegarmos lá fora, então ela soltou minha mão como um prato quente e nós dois nos afastamos.

— Então, hum... — Ela tocou os lábios, — Está feito.

— Sim. — Feito.

Nós estávamos casados.

Que porra estamos fazendo? Se isso explodisse, não seria apenas ruim para mim, poderia arruinar a sua vida. A ponta da nossa licença de casamento saiu de sua bolsa. Dúvidas ou não, não havia como voltar atrás.

— Eu vou voltar ao trabalho.

— Ok. Boa ideia. Eu acho que vou apenas... — Ela piscou algumas vezes, depois balançou a cabeça, descendo as escadas em direção à rua onde havia estacionado.

Minha moto estava cinco espaços à frente do carro dela. Esperei o tempo suficiente para ter certeza de que ela estava em seu carro, depois caminhei para a minha moto e me afastei do tribunal.

Eu sabia que Genevieve iria para a Central. Era o caminho mais rápido pela cidade e até a oficina. Peguei as ruas laterais, precisando de alguma separação, da minha esposa, para acertar minha cabeça.

Por que meus lábios ainda estavam queimando? Não importa quantas vezes eu os limpei, a sensação dela permaneceu. Talvez porque eu não beijasse ninguém há muito tempo.

Seis anos, um mês, duas semanas e quatro dias, para ser exato. Dia Memorial3. Essa foi a última vez que beijei uma mulher. Eu tinha planejado me casar com Shannon, mas então...

Pensar nela era doloroso. Cada batida do meu coração doía. Meus pulmões ardiam. Eu me casei com Genevieve quando minha alma era mantida em cativeiro por um fantasma.

Genevieve e Shannon eram como noite e dia. Shannon era uma pessoa feliz, de fala mansa, sua voz um carrilhão4 e seu rosto em um sorriso perpétuo. Genevieve tinha uma voz rouca e ressonante. Até o seu sussurro era ousado. Seus cabelos e olhos escuros não se misturavam ao sol ou flutuavam na brisa. Genevieve era uma força, alguém que mudara minha vida para sempre.

A banda de metal no meu dedo anelar mordeu minha palma enquanto agarrava o guidão. Era metal barato, a única coisa que eu podia pagar depois de comprar o anel de Genevieve.

Ela salvou minha vida hoje e, por isso, ela merecia muito mais do que a aliança simples que eu deslizei em seu dedo. Mas ela parecia gostar. Ela olhou para a aliança com pequenos diamantes em reverência.

Genevieve falava com seus lindos olhos. Toda emoção, todo sentimento brilhavam em seu rico olhar cor de café. Eu faria o certo por ela. Eu seria respeitoso e honesto. Casamento falso ou não, eu não era um cara que se desviava. Eu faria o meu melhor para facilitar as coisas para ela.

E não falharia com Genevieve, não como falhei com Shannon.

A oficina apareceu e meu estômago deu um nó.

Eu comecei a me preocupar com as pessoas na garagem. Eles eram meus colegas de trabalho, talvez até meus amigos. Deram a um ex-detento a chance de construir uma nova vida em uma nova cidade. Eu posso não ter sido sincero sobre o meu passado com eles, mas fui honesto.

A partir de hoje, eu olharei nos olhos deles e direi mentiras após mentiras. Mas era a única opção. Depois de tudo o que havia acontecido naquela montanha, naquela cabana, Genevieve e eu tivemos que mentir.

No dia da montanha, depois de levar Genevieve ao aeroporto de Bozeman para que ela pudesse voar para o Colorado e arrumar suas coisas, eu retornei a Clifton Forge e fui bombardeado com perguntas. Meu chefe, Dash, fez perguntas. Sua namorada, Bryce, que havia sido sequestrada com Genevieve, fez perguntas. Draven, Emmett, Leo, todos fizeram perguntas.

E eu não podia contar a verdade.

Então, deixei a cidade sem dizer uma palavra, me escondendo em Bozeman na casa de minha mãe por uma semana, até Genevieve chegar em Montana. Seria mais fácil mentir com ela aqui, não?

Dash estava chateado por eu ter abandonado o trabalho. Eu tive sorte que ele não tinha me demitido. Porque, caramba, eu precisava desse trabalho. Eu gostava desse trabalho, e havia poucas coisas de que realmente gostava atualmente. Eu não merecia sua benevolência, mas aceitaria.

Isso foi ontem.

O borrão da semana passada fez minha cabeça girar.

Desde que Genevieve Daylee entrou em minha vida, a ordem e a simplicidade que eu desejava e encontrei, desapareceram.

Estacionei na oficina e caminhei em direção às portas abertas da garagem. A oficina era iluminada e espaçosa. As ferramentas eram um sonho. Talvez um dia Dash me deixasse ir além das mudanças e ajustes de óleo para que eu pudesse trabalhar nas reconstruções personalizadas pelas quais essa oficina estava se tornando famosa.

— Ei, Isaiah. — Bryce acenou de uma cadeira ao lado de um caminhão. Dash estava sob o capô elevado. — Acabamos de ver Genevieve indo até o seu apartamento.

— Sim. — Olhei por cima do ombro para onde o Toyota cinza de Genevieve estava estacionado em um local ao lado do escritório, um dos três espaços próximos às escadas do apartamento acima.

— Ela está morando com você?

— Uh... Sim.

Droga. Genevieve e eu deveríamos ter conversado sobre isso. Iríamos dizer às pessoas que nos casamos? Deveríamos manter isso em segredo por um tempo? Cedo ou tarde, teríamos que compartilhar, mas eu não confiava em mim mesmo para contar as notícias hoje e não estragar tudo. Eles tinham que acreditar que estávamos apaixonados. Não havia como vender amor à primeira vista agora.

Se eu ficasse quieto, talvez as perguntas parassem. Isso funcionou para mim na prisão. Eu não tinha falado a menos que fosse absolutamente necessário. Tinha sido a melhor maneira de garantir que eu não dissesse algo estúpido e levasse uma surra por nada.

Dash ficou de pé debaixo do capô com uma chave de boca na mão.

— Ei.

— Ei. Obrigado pela folga, — falei, evitando o olhar perspicaz de Bryce.

Ela era uma repórter e uma maldita mulher inteligente nisso. Ela provavelmente estava farejando as mentiras não ditas no momento, mas não havia como eu falar. Ela poderia me encarar o quanto quisesse, disparando pergunta após pergunta. Eu tinha passado três anos na prisão excluindo as pessoas. Bryce não tinha chance.

— No que você gostaria que eu trabalhasse? — Eu perguntei a Dash.

Ele apontou o polegar para o caminhão.

— Conclua essa troca de óleo, se quiser.

— Pode deixar.

Fui até a bancada de ferramentas, olhando para o meu jeans. Era o mais bonito que eu possuía e o único sem manchas de graxa. Eu os comprei em Bozeman especificamente hoje, porque não queria me casar com jeans sujos.

Genevieve me olhou da cabeça aos pés no tribunal e, embora ela tivesse dito que eu estava bonito, percebi que jeans tinha sido um erro. Eu me senti como lixo ao seu lado, essa mulher deslumbrante em um vestido verde.

Ela merecia mais do que jeans. Genevieve merecia mais do que eu. Mas sendo o bastardo egoísta que eu era, a deixei engatar sua carroça na minha.

Provavelmente eu ia bater nós dois.

— Você está bem? — Dash veio para o meu lado e bateu a mão no meu ombro.

— Sim, cara. Eu estou bem.

Como ele reagiria à notícia de que eu não era apenas seu funcionário agora, mas seu cunhado? Ou meio cunhado? Essa dinâmica familiar era estranha.

Eu não tinha certeza do que estava acontecendo com a família Slater. Eu só me mudei para Clifton Forge neste verão para ter um emprego de mecânico na oficina. Eu estava desesperado para fugir de Bozeman, onde as memórias assombravam todas as estradas.

Um cara que estava preso comigo me colocou em contato com Draven, pai de Dash. Ele me entrevistou e me contratou, embora oficialmente eu me reporte a Dash. O salário não era muito a princípio, mas provavelmente era um período de experiência, porque rapidamente aumentaram meu salário por hora. E quando meu senhorio me ferrou, Dash me deu o apartamento acima da oficina sem aluguel.

Mudar para cá foi a escolha certa?

Se eu tivesse ficado em Bozeman, não teria me casado hoje. Eu não teria me envolvido em um sequestro. Eu não teria enredado minha vida com uma ex-gangue de motociclistas.

Os Tin Gypsies fecharam as portas do clube, mas isso não impediu os problemas, não é?

Seis semanas atrás, a mãe de Genevieve, Amina, havia sido assassinada no motel local. Ela foi brutalmente esfaqueada até a morte. Draven, a primeira pessoa que eu conheci em Clifton Forge e um homem que eu considerava decente, foi indiciado pelo crime.

Draven era o presidente dos Tin Gypsies até passar o título para Dash. Eles não usavam mais o patch ou coletes de couro, mas ainda tinham os alvos nas costas.

Eu não sabia todos os detalhes sobre o clube, nem queria. Dash e Draven ficaram calados. Emmett e Leo também, dois dos outros mecânicos que trabalhavam na oficina e faziam parte do clube.

Todos eles me protegeram dos detalhes, mas eu percebi algumas coisas. Principalmente, que Draven era inocente. Ele estava sendo acusado pela morte de Amina. Eu fiquei de fora até Bryce ser sequestrada.

Tudo mudou naquele dia.

Eu tinha ido com Dash e os caras resgatá-la. Eu gostava de Bryce e queria ajudar. Nós a encontramos nas montanhas, congelada e assustada. Foi onde eu encontrei Genevieve também.

No meio de um inferno que já havia se soltado.

Genevieve e eu precisamos combinar nossas histórias. Tivemos que descobrir quais mentiras estávamos contando e que verdades usaríamos para preencher as lacunas. Eu não tinha energia para fazer isso hoje.

Por enquanto, eu precisava da confiabilidade do trabalho.

Enquanto vestia um macacão para preservar meu jeans, Dash guardou suas ferramentas em uma gaveta. Quando estavam organizadas, ele me deu um aceno de cabeça.

— Que bom que você voltou.

— Agradeço a segunda chance.

Ele encolheu os ombros.

— Por aqui, acreditamos em segundas chances. Terceiras e quartas, na verdade. Basta perguntar a Leo quantas vezes papai o demitiu ao longo dos anos.

— Eu não vou decepcioná-lo novamente, — eu prometi.

— Bom. — Dash assentiu e desapareceu no escritório com Bryce.

Abri uma gaveta na bancada e a aliança na minha mão captou a luz fluorescente no alto. Merda. Eu olhei sobre os dois ombros para ter certeza de que os outros caras não estavam perto, então tirei a aliança e coloquei no bolso onde ela ficaria. Pelo menos eu tinha uma desculpa para não usá-la. Alianças no trabalho eram uma boa maneira dos mecânicos perderem os dedos.

Como isso aconteceu?

Eu vim para o trabalho um dia, sai em uma perseguição de moto para resgatar a namorada do meu chefe e agora tinha uma esposa.

Mamãe sempre dizia que o problema me encontrava, não importa para onde eu fosse.

Peguei algumas ferramentas e comecei a trocar o óleo. Eu não era mecânico por muito tempo, mas aprendi rápido e a mecânica de automóveis veio naturalmente. Engrenagens se encaixam com outras. Parafusos rosqueados através das porcas. Um parafuso apertava com uma volta para a direita e afrouxava com uma volta para a esquerda. Mergulhei na simplicidade de que uma parte era projetada para outra e bloqueei o caos da minha vida.

Passei o resto do dia em trocas de óleo e uma inspeção de para-choque. Mesmo depois que Dash e Bryce foram para casa, seguidos por Emmett e Leo, eu continuei trabalhando.

O último lugar que eu queria ir era para o andar de cima, onde Genevieve esperava.

— Isaiah? Você ainda está aqui?

Saí da pia enquanto a voz de Presley ecoava pela oficina.

— Sim.

— Ok. Quer que eu feche?

— Não. Deixa comigo. — Sequei minhas mãos.

Presley deixou a porta do escritório e entrou mais fundo na loja. Seus cabelos eram brancos como neve, cortados nas laterais e caídos por cima. Ela colocou as mãos nos bolsos do macacão quando se aproximou, o jeans folgado em torno de seu pequeno corpo. Emmett sempre brincava que ela não era maior que uma princesa das fadas.

— Eu sei que disse isso hoje de manhã, mas estou feliz que você voltou.

— Eu também. Como estão as coisas?

— Bem. — Ela encolheu os ombros. — Eu só estou indo para casa para terminar o dia. Você deveria também.

Eu me arrastaria para o andar de cima em breve.

— Sim.

Presley tinha que saber que Genevieve estava no apartamento, mas ela não perguntou. Ela era a única pessoa na oficina que não fez perguntas. Talvez porque ela soubesse que eu não falaria.

Nós dois formamos uma amizade rápido. Ela também não fazia parte do mundo dos Tin Gypsies, sermos forasteiros foi algo que nos uniu. Nós nos encaixamos na família da oficina, mas enquanto os outros sussurravam sobre segredos, Presley e eu nos unimos a um café no escritório.

Ela não me perguntou sobre a prisão. Ela não me perguntou sobre o meu passado. Quando conversamos, era principalmente sobre ela ou a vida em Clifton Forge. Ela me apontou o melhor lugar da cidade para comprar um cheeseburger e para onde ir para cortar o cabelo. Presley tinha sido minha ouvinte quando meu senhorio aumentou meu aluguel.

— Como está indo lá em cima? Você limpou tudo? — Ela perguntou.

Eu assenti.

— A maior parte. Precisa de pintura e algumas atualizações, mas quero verificá-las com Dash antes de fazer grandes mudanças.

Quando me mudei para a cidade, aluguei um apartamento não muito longe daqui. O proprietário não gostou do meu registro, ninguém gostava, inclusive eu. Mesmo assim, ele me deixou alugar um lugar em um contrato de aluguel mês a mês. Nem duas semanas depois, quando Dash me deu um aumento, ele veio me dizer que estava dobrando meu aluguel.

Talvez fosse porque eu era ex-presidiário e ele sabia que eu não encontraria outro lugar para morar. A teoria de Presley era que ele soube que eu estava trabalhando na oficina e sabia que Dash pagava um salário justo aos mecânicos.

Ela era uma boa pessoa para se ter do seu lado.

Pres foi até Dash, sem eu saber, e conversou com ele sobre me deixar morar no apartamento no andar de cima. Tudo o que me custou foi algum tempo para limpá-lo.

Mesmo depois de horas esfregando as paredes e lavando o tapete, não era bom o suficiente para Genevieve. Era um apartamento feito para um homem solteiro, não uma mulher elegante e refinada que entrava em uma sala e chamava a atenção de todos.

— Está tudo bem? — Perguntou Presley. — Eu sei que você e Genevieve estão sendo discretos agora e está tudo bem. Você não precisa me contar os detalhes. Não estou tentando me intrometer na sua vida amorosa. Mas... Você está bem?

— Sim, — eu respondi honestamente. Graças a Genevieve. Ela podia estar louca com essa ideia de casamento, mas se funcionasse, eu estaria mais do que bom. Eu ficaria livre. — Obrigado, Pres.

— A qualquer momento. Vejo você amanhã?

Eu assenti.

— Sim.

Presley saiu pelo escritório enquanto eu fechava tudo na loja, desligando as fileiras de luzes fluorescentes e fechando cada uma das grandes portas. Tranquei a porta lateral, fiquei no asfalto por um longo minuto e, quando não consegui mais evitar, forcei meus pés a subirem pela escada de ferro preta que levava ao meu apartamento.

Fiz uma pausa na maçaneta da porta. Devo bater? Eu morava aqui, minha cama, meus pertences estavam todos dentro. Mas como Genevieve se mudou ontem, não parecia mais minha casa.

Meus dedos bateram na porta antes de abri-la.

Genevieve estava no sofá, sentada de pernas cruzadas com o notebook equilibrado nas coxas. Suas costas endureceram quando entrei.

— Ei.

— Ei. — Fechei a porta atrás de mim e fui para a cozinha à minha esquerda, pegando um refrigerante da geladeira. — Trabalhando em alguma coisa?

— Tentando encontrar um emprego.

— Hmm. — A lata sibilou quando eu a abri. Eu tomei três goles, deixando o efervescente e o açúcar deslizarem pela minha garganta.

Genevieve fechou o notebook e deixou de lado. Os cabelos escuros estavam presos no alto da cabeça, as ondas do início do dia presas em uma fita branca. O vestido se foi. Ela trocou por um par de leggings marrom e uma camiseta que caía sobre um ombro, exibindo sua clavícula.

Apenas aquele pedacinho de pele e meu coração galopou. Meus dedos coçavam para roçar sua pele macia e leitosa. Tomei outro gole de Coca-Cola, afastando minha reação à beleza de Genevieve.

O desejo de tocá-la era simplesmente físico. O beijo de hoje provocou uma frustração sexual reprimida que estava ausente há anos. Depois de alguns dias, seria enterrado novamente e esquecido. Eu aprenderia a viver com essa mulher linda que era bonita demais para estar neste quarto sujo, mesmo em seus trajes de banho.

Sua roupa era sexy, mas não tão sexy quanto o vestido verde do tribunal.

— Nós não tiramos uma foto, — eu murmurei.

— Hã?

Fui para o sofá, sentado o mais longe dela que a peça permitia.

— Uma foto. Não tiramos uma hoje. Você acha que isso será suspeito? As pessoas vão esperar uma foto do casamento, certo?

— Oh. — Os seus ombros caíram. — Também não pensei nisso. Talvez possamos dizer que vamos tirá-las mais tarde ou algo assim.

— Sim.

Um silêncio constrangedor pairou sobre o sofá. Era o mesmo tipo de silêncio que sofremos ontem depois de tirar as caixas e malas do carro. Eu fiquei por algumas horas, mas ficou desconfortável, então me desculpei pela noite e aluguei um quarto no motel.

— Então. — Eu disse.

— Então...

Como deveríamos convencer as pessoas que nós éramos casados quando não podíamos falar mais de uma palavra entre nós?

Meus olhos dispararam para a cama ao nosso lado e eu engoli em seco. Cristo. Era a nossa noite de núpcias. Ela não esperava que consumássemos isso, não é?

Seus olhos seguiram os meus, depois se arregalaram de medo.

Isso é um não.

— Hum... Onde está sua aliança? — Ela perguntou.

— Oh. Eu não tinha certeza se iríamos contar às pessoas. Ou como você pensou que deveríamos lidar com isso. — Eu me movi para tirar a aliança do bolso e deslizei de volta no dedo. A maldita coisa era pesada.

— O que nós vamos fazer? — Ela sussurrou. — As pessoas precisam pensar que estamos apaixonados, mas não tenho ideia de como convenceremos alguém quando nos conhecermos na semana passada.

Obrigado, porra.

— Eu também.

— Isso é estranho e horrível e... Merda. — Ela balançou as mãos no ar, apagando as palavras. — Não quero dizer que você seja horrível, apenas toda essa situação. Você é ótimo e eu devo muito a você.

Eu levantei minha mão esquerda, mexendo meu dedo anelar.

— Acho que estamos quites hoje.

— Não. — Os ombros dela caíram. — Você salvou minha vida, Isaiah. Depois da cerimônia, percebi que não tinha agradecido.

— Você não precisa.

— Sim, eu preciso e eu quero. — Ela colocou a mão no meu joelho. — Obrigada.

Eu faria isso de novo, de novo e de novo, se isso significasse salvá-la.

— De nada.

— Não é para sempre. — Ela me deu um sorriso triste. — Alguns anos, talvez. Vamos garantir que tudo seja esquecido e depois podemos nos separar.

Anos. Parece muito tempo para se ficar casado com um estranho.

— Não estou pronto para contar às pessoas.

— Estou bem em esperar alguns dias. Estamos recebendo perguntas suficientes no momento, então não vamos adicionar isso por cima.

— Parece bom, — eu concordei. — Bryce saiu da garagem mais cedo? Eu a vi quando voltei do tribunal.

— Sim. — Os olhos dela caíram no chão. — Não atendi a porta. Ou os textos dela. Eu me sinto tão mal. Não a conheço há muito tempo, mas penso nela como uma amiga.

— É difícil não gostar dela.

— Tente ser trancada em um porta-malas com ela, depois arrastada por uma montanha e amarrada em uma árvore juntas. Bryce manteve o controle. Ela me fez manter o controle. Eu nunca serei capaz de recompensá-la por isso. Ela merece a verdade, mas...

Nossa segurança estava nas mentiras.

— Eu odeio mentir — ela confessou.

Genevieve Daylee era uma boa pessoa que havia sido jogada em uma situação horrível. Ou era Genevieve Reynolds agora?

Ela mudaria seu sobrenome? Era estranho que eu quisesse que ela mudasse?

— Você acha que alguém vai acreditar nisso? — Eu perguntei.

— Não. — Ela riu. — Mas talvez, se persistirmos o suficiente, eles aceitarão.

O silêncio voltou. Eu terminei minha Coca-Cola. Genevieve olhou fixamente para o outro lado do apartamento. A maldita cama ficava chamando a atenção do meu olho.

Eu me levantei do sofá, levando minha lata para a lixeira da cozinha.

— Eu vou para o motel por mais uma noite.

— Você tem certeza? — Ela perguntou, embora houvesse alívio em sua voz.

— Acho que casar é suficiente por hoje. Vamos guardar a noite de núpcias para outra hora.

O seu rosto empalideceu.

Oh, porra.

— Não, não foi isso que eu quis dizer. Quero dizer uma noite de núpcias como em nós dois sob o mesmo teto. Não, você sabe... — Joguei a mão em direção à cama. — Nós não precisamos, uh... fazer isso. Nunca.

Ela engoliu em seco.

— Vejo você amanhã. — Fui até a porta, deixando-a de olhos arregalados no sofá. Desci as escadas correndo e corri para minha moto. Somente quando estava na estrada eu comecei a respirar novamente.

Noite de núpcias? Que diabos eu estava pensando? Genevieve e eu não teríamos uma noite de núpcias. Fingir ser casado com Genevieve não significava que tínhamos que dormir juntos. Não, o beijo de hoje foi suficiente.

Especialmente porque ainda podia senti-lo nos meus lábios.


Capítulo Três

Genevieve


— Genevieve! Estou tão feliz que você esteja aqui.

Eu congelei quando a voz de Bryce ecoou as minhas costas. Merda. Tanto planejamento para o meu plano de entrar e sair do apartamento hoje.

Meus antebraços estavam carregados com sacolas de supermercado e eu estava curvada sobre o porta-malas do meu carro, pegando um galão de leite. Eu deveria ter ido ao supermercado logo de manhã, em vez de esperar até o almoço. Exceto que Isaiah estava acordado esta manhã, tomando banho e se preparando para o trabalho. Eu fiquei na cama, fingindo estar dormindo para não termos que conversar.

Quando ele saiu, eu havia arrastado minha rotina normal, ouvindo as vozes abafadas que vinham do escritório abaixo. Todos na oficina pareciam se reunir no andar de baixo da manhã, tomando café por meia hora antes de finalmente começar a trabalhar.

Eu esperei até a conversa morrer antes de descer as escadas na ponta dos pés e correr para o meu carro para que ninguém me notasse. A fuga foi fácil. Exceto que eu fui pega no retorno.

Era sexta-feira, dois dias depois que Isaiah e eu nos casamos, e mal pus os pés fora do apartamento. O medo me transformou em uma reclusa. Se não fosse a geladeira vazia e a colher final de pó de café, eu teria atrasado minha viagem ao supermercado ainda mais.

Levantei-me, pegando as sacolas e o leite, e me afastei do porta-malas. Bryce e Dash andaram na minha direção. Ambos estavam sorrindo, inclinando-se um ao outro com os dedos entrelaçados. O casal perfeito, tão feliz e tão apaixonado. Com eles por perto, Isaiah e eu pareceríamos exatamente o que éramos.

Impostores.

— Ei, — eu cumprimentei. — Como você está?

Bryce sorriu para Dash.

— Ótima.

Dash beijou sua testa.

— Tenho algumas novidades para compartilhar na oficina.

Eles pareciam felizes demais para que fossem más notícias, mas eu não estava comprando. Nas últimas seis semanas, qualquer pessoa com notícias só tinha causado mágoa.

Eu definitivamente deveria ter ficado lá dentro.

— Eu preciso levar isso lá em cima. — Eu balancei a cabeça para as compras. — Eu vou... Encontro vocês lá embaixo.

Ou tranque a porta e se esconda.

— Isto pode esperar. — Bryce soltou a mão de Dash, chegando ao porta-malas. Ela pegou uma caixa de Coca-Cola e as duas últimas sacolas. — Eu vou ajudá-la a levar isso. Vá na frente.

— Ah, hum... — Merda dupla.

Isaiah estava dormindo no sofá. Ele passou a noite de núpcias no hotel, mas nenhum de nós queria despertar suspeitas ou rumores, então ele voltou ao apartamento. Naquela manhã, ele dobrou o cobertor e o empilhou em cima do travesseiro, mas ambos estavam no sofá.

Bryce os localizaria instantaneamente e saberia que um de nós dormiu no sofá. Com as mãos cheias, eu não poderia exatamente pegar as compras dela. Eu estava prestes a tentar, carregando um carrinho inteiro de sacolas, quando uma voz profunda veio da oficina.

— Deixa comigo.

Bryce virou-se para Isaiah, entregando a Coca-Cola e as sacolas.

— Certo, ótimo. Vejo você em alguns minutos.

Forcei um sorriso tenso, depois subi as escadas e destranquei a porta do apartamento enquanto os passos de Isaiah ecoavam atrás de mim.

— O que está acontecendo? — Ele perguntou, colocando o leite na geladeira enquanto eu pegava os perecíveis.

— Eles têm novidades. — Eu entreguei a ele uma caixa de ovos. — Não sei quais são as novidades, mas estou feliz que ela não tenha vindo aqui.

Fizemos um curto trabalho nas compras e, antes de ir para a oficina, escondi as roupas de cama de Isaiah. Seu cobertor marrom foi colocado sobre as costas do sofá, cobrindo um pouco do veludo de algodão marrom. O travesseiro foi jogado na cama com os outros, como se estivesse lá o tempo todo.

— Temos que contar a eles. — Isaiah estava parado na porta. — Os caras têm perguntado o que está acontecendo conosco. Não frequentemente, mas o suficiente. Não posso continuar grunhindo ou eles pensarão que tenho uma lesão cerebral.

Normalmente, eu teria rido, mas a ansiedade não me deixou ver a graça.

— Hoje?

Ele tirou a aliança do bolso e a colocou no dedo.

Ugh.

— Deixe-me pegar a minha.

Fui até o banheiro e peguei minha aliança no armário de remédios, deslizando-a no meu dedo. O metal era legal, mas não parecia tão estranho quanto era dois dias atrás. Não seria mais necessário tirá-la após o anúncio de hoje.

— Tudo certo. — Eu me juntei a ele pela porta. — Estou pronta.

— Como você acha que isso vai acontecer?

— Não muito bem.

— Sim. Eu também acho isso. — Ele abaixou a cabeça. — Eu sinto muito.

— Eu também sinto. — Eu dei um sorriso triste para ele. — Que tal pararmos de pedir desculpas um ao outro? Nenhum de nós é culpado aqui. Vamos ficar juntos e... Viver.

Um pouco da preocupação diminuiu de seu rosto.

— Eu posso fazer isso.

Nós sobreviveríamos a isso. Nós coexistiríamos e esperaríamos nosso tempo. Em algum momento, os dias não pareceriam tão longos e pesados, certo?

— Precisamos parecer que somos casados, — eu disse. — Ao lado de Bryce e Dash, todos perceberão se ficarmos a um metro de distância.

Ele estendeu o cotovelo.

— Vamos contar a todos que você é a senhora Reynolds.

Uma estranha emoção percorreu minhas veias com o nome. Era orgulho? Ou emoção? Terror? Talvez tenha sido uma mistura dos três.

Passei meu braço pelo de Isaiah e meu coração vacilou uma batida. Um formigamento disparou do meu pulso até o cotovelo, onde sua pele nua tocou a minha. Seu braço estava quente, escaldante, e o calor penetrou nos meus ossos.

Saímos, conectados enquanto descíamos as escadas, e arrisquei um olhar para o seu perfil. O sol captou as manchas douradas em seus olhos e sua beleza roubou meu fôlego. Ele era realmente hipnotizante, esse estranho. E, no momento, o seu mundo estava ligado ao meu. Outra emoção percorreu toda a minha espinha.

Quanto mais tempo eu passava com Isaiah, mais eu me pegava olhando. Ontem, ele saiu do banheiro apenas vestindo jeans. Eu estava fingindo dormir, mas tinha olhado de relance quando seus pés descalços foram para o guarda-roupa.

Havia tantos músculos definidos em suas costas, que minha boca estava salivando. Até a força de seus antebraços era incrível. Segurar seu braço era como segurar a grade de aço para descer as escadas do apartamento.

O que era uma coisa boa. Eu precisaria emprestar parte de sua força para superar isso.

Encontramos todos na oficina, juntos de frente para a fileira de caixas de ferramentas contra a parede oposta. Larguei o braço de Isaiah para segui-lo, em fila única, através do labirinto de carros e ferramentas. Hoje, cada uma das baías estava ocupada com um veículo. As coisas na oficina sempre pareciam estar ocupadas.

— Então, quais são as novidades? — Um dos homens perguntou. Emmett. Eu tinha certeza que o nome dele era Emmett.

Ele usava um macacão, do mesmo azul desbotado que os que Isaiah vestira ontem de manhã por cima do jeans. Emmett os abriu, tirando as mangas para revelar dois braços volumosos cobertos de tatuagens. A camiseta branca que ele usava mal continha o peito. Então ele amarrou o cabelo escuro na altura dos ombros e compartilhou um olhar com Leo.

Leo era o loiro. Eu acho. Nenhum de nós foi apresentado adequadamente, mas Isaiah me falou sobre eles. Claramente, todos eles sabiam quem eu era. Leo, assim como Emmett, era bonito e também exibia algumas tatuagens coloridas. Ele me lançou um sorriso diabólico que era puro sexo e pecado.

Cheguei mais perto de Isaiah. Nós éramos as únicas duas pessoas no grupo que não sorriam. Pensando bem, nunca tinha visto Isaiah sorrir.

Por que ele não sorria? Isso era por causa da nossa situação? Se ele era tão bonito agora, solene e sério, seria como um deus com um sorriso. Eu não me importaria de ganhar um ou dois, apenas para descobrir.

O sorriso de Dash vacilou quando seus olhos pousaram em mim. Doeu. Meu meio-irmão odiava minha existência. Ele percebeu que eu não tinha exatamente controle sobre quem eram meus pais, não é? Que eu não tinha feito o pai dele engravidar minha mãe?

A sensação de entorpecimento que estou sentindo durante semanas se apoderou de minha pele, apagando a dor.

Nada disso importa. Um dia, eu deixaria esta cidade e essa família e nunca olharia para trás.

— Onde está Pres? — Dash perguntou. — Ela precisa estar aqui.

— Chegando! — Olhando atrás de Isaiah, Presley estava correndo pela porta que ligava o escritório e a oficina. Atrás dela estava Draven.

Oh inferno. Este não era o meu dia. Mas pelo menos todos eles estavam aqui e nosso anúncio só teria que ser feito uma vez. Isaiah e eu arrancaríamos o curativo, para poder voltar a me esconder.

Draven veio ficar ao meu lado no círculo. Eu senti o seu olhar, mas me mantive observando a variedade de ferramentas penduradas na parede.

Eu conheci meu pai pela primeira vez nesta semana, no dia em que cheguei a Clifton Forge.

Minha mãe foi enterrada aqui. Eu tinha realizado um serviço de memorial para ela no Colorado, mas de acordo com sua vontade, ela queria ser enterrada em Clifton Forge. Eu honrei seus desejos e fiz os arranjos. Na viagem que fiz para visitar seu túmulo, fui sequestrada.

Então, quando cheguei à cidade nesta semana, depois de dirigir do Colorado para Montana, minha primeira parada em Clifton Forge foi no cemitério. Antes de fazer qualquer outra coisa, eu queria vê-la descansando. Exceto que o medo e a solidão roubaram minha coragem. Estacionei no cemitério e não pude sair do meu carro.

Liguei para Bryce, minha nova amiga.

Ela me encontrou sem hesitar.

Exceto, atualmente, onde Bryce ia, Dash a seguia. Ele estava preocupado, por um bom motivo, que o homem que nos sequestrou estivesse à solta.

Dash veio com Bryce ao cemitério. Draven o seguiu.

Tivemos uma introdução estranha, na melhor das hipóteses. Felizmente, Draven não tentou me abraçar ou apertar minha mão. Ele acenou, se apresentou como Draven e disse:

— Acho que sou seu pai.

Então nos encaramos, até que eu não aguentei mais a tristeza e o arrependimento em seu olhar e voltei para o meu carro. Ele não tentou entrar em contato comigo desde então.

Draven pigarreou e se aproximou.

Avancei em direção a Isaiah até meu braço roçar o dele e implorei força ao universo.

— Então? Quais as novidades? — Presley perguntou a Dash.

Ele olhou para Bryce e seu sorriso era ofuscante. Seu rosto estava tão cheio de amor que fez meu coração doer. Nunca vi um homem olhar para uma mulher dessa maneira.

— Ficamos noivos esta manhã. — Bryce levantou a mão.

Eu sorri, imediatamente encantada pela minha amiga. Ela iria se casar com o amor de sua vida. Após nossa experiência de quase morte, fiquei feliz em ver que ela e Dash não estavam dando a vida como garantida. Eles mereciam um dia feliz.

E eu não iria estragar parte disso com minhas mentiras.

Isaiah estava olhando para Dash e Bryce, sem prestar atenção em mim. Eu o cutuquei com o cotovelo, e murmurei não enquanto balançava a cabeça.

Hoje não era o dia de anunciar nosso casamento. Eu não roubaria nem um pouco da alegria de Bryce. Suas sobrancelhas se juntaram, então eu murmurei não novamente. A compreensão tomou conta de seu rosto e ele assentiu, colocando a mão esquerda no bolso.

— O que foi? — Dash perguntou.

— Hã? — Meu olhar chicoteado em sua direção. — Oh nada. Estou feliz por vocês. Parabéns.

— Obrigada. — Bryce se aconchegou ao lado de Dash.

- E... Vamos ter um filho. — Dash anunciou, praticamente flutuando.

O grupo explodiu em aplausos. Draven se aproximou e estendeu a mão. Dash levou um minuto para sacudir. A tensão deles era palpável. O que era aquilo? Era por minha causa?

Eu senti como se tivesse entrado no meio da história e estava correndo para acompanhar todos os capítulos que eu tinha perdido. Minha lista de desconhecidos era três vezes maior que minha lista de conhecidos.

Draven era meu pai, mas eu não tinha ideia de como ele conhecera minha mãe. Ela veio a Clifton Forge e foi assassinada. Durante semanas, pensei que Draven era o assassino dela, mas agora sabia que ele era inocente. Então, quem matou mamãe? E por quê? Foi o mesmo homem que sequestrou eu e Bryce?

Ele viria atrás de nós novamente?

Ele teria dificuldade em encontrar Bryce sozinha, dada a maneira como Dash pairava. Ela escapou do lado dele, vindo em nossa direção.

Eu a puxei para um abraço.

— Parabéns.

— Obrigada. — Ela sorriu.

— Estou feliz por vocês, — disse Isaiah.

— Eu também. Então... Como estão as coisas? — Bryce me perguntou. — Você gostaria de ir tomar café um dia desses? Colocar a conversa em dia?

— Isso seria legal. — Seria muito mais fácil contar a ela sobre Isaiah e eu tomando café do que com todos presentes. — Estou livre em qualquer dia da próxima semana. E a semana depois dessa. E a semana depois disso. Eu ainda estou procurando emprego.

— Que tipo de trabalho? — Draven apareceu ao lado de Bryce.

Eu recuei um passo. Eram seus olhos que mais me enervaram, porque eu os via no espelho todas as manhãs.

— Eu era assistente jurídica em Denver. Eu esperava encontrar algo com um advogado, mas as empresas da cidade não estão contratando no momento, então me candidatei a outros empregos, mas quase tudo o que está aberto é em tempo parcial.

Ele passou a mão sobre a barba com sal e pimenta.

— Vou ligar para Jim.

— Jim?

— Meu advogado.

Certo. Ele tinha um advogado porque estava sendo processado pelo assassinato da minha mãe. Eu não tinha certeza se queria trabalhar para o seu advogado, isso estava chegando muito perto de casa, mas simplesmente disse:

— Obrigada.

Eu não estava com esperança. Quando Bryce e eu formos ao café, perguntarei se eles precisam de um novo barista sem experiência na área.

A porta do carro bateu e todos os olhos se voltaram para o estacionamento. Um carro estava estacionado em frente à primeira baía e seu motorista estava caminhando em direção ao escritório.

— Acho que essa é a minha deixa para voltar ao trabalho. — Presley abraçou Dash novamente, sorriu para Bryce e correu para o escritório.

— Melhor voltar também. — Isaiah pediu licença, indo para o carro diretamente atrás de nós. Ele deve ter trabalhado nisso mais cedo porque havia um macacão no capô, idêntico ao de Emmett.

Ele entrou nele, escondendo o jeans e a camiseta preta, então o fechou, depois virou de costas para nós, juntando as mãos onde não podíamos vê-las, tirando o anel.

Isaiah enfiou a mão no bolso.

— Eu vou...

— O que você acabou de fazer? — Draven o interrompeu, apontando para o bolso de Isaiah. — O que há aí?

Meu coração caiu. A oficina inteira parou quando o grito de Draven ecoou nas paredes.

— O que há onde? — Dash perguntou, se aproximando.

— Lá. — Draven apontou para o bolso de Isaiah novamente. — Você acabou de tirar uma aliança?

Deslizei minha mão atrás do quadril, mas não fui rápida o suficiente.

Os olhos de Bryce se arregalaram para mim.

— Vocês se casaram?

Estremeci com o volume.

— Sim.

— O quê? Quando? Por quê? — Ela disparou as perguntas como balas. — Vocês acabaram de se conhecer.

Isaiah e eu decidimos dizer às pessoas que era amor à primeira vista. Agimos por impulso e estávamos aproveitando. Nós dois pensamos que, quanto menos elaborássemos, menos provável que alguém nos pegaria em uma mentira.

Mas mesmo nossa simples explicação era difícil de lembrar quando eu estava sendo encarada por uma repórter famosa, meu pai há muito perdido e um trio de motociclistas enormes.

— Nós nos casamos. — Isaiah veio em meu socorro, caminhando para pegar minha mão na dele. Ele agarrou com força para esconder o tremor nos meus dedos. — Nós nos conectamos. Pedi a Genevieve para se mudar para cá. Ela concordou. Decidimos levar a sério e torná-lo oficial.

— Vocês estão casados. — Bryce olhou entre nós dois, estupefata.

Puxei força de Isaiah e encontrei minha voz.

— Estamos casados.

— Depois de se encontrar por um dia?

— Isso mesmo, — ele respondeu.

— Não. — Draven bufou. — Eu não estou bem com isso.

— Bem, não é realmente sua decisão, é? — Eu atirei de volta.

— Você é minha filha.

Raiva e frustração estavam em constante fervura sob a minha pele. Mamãe, suas mentiras e segredos, me colocaram nessa bagunça. Ela não estava aqui para suportar o peso do meu ressentimento. Draven era o último pai presente, e se ele quisesse agir como meu pai, ele receberia a força das minhas emoções.

— Considerando que o conheci há três dias, eu dificilmente diria que isso lhe dá o direito de retirar o cartão de pai. — As palavras eram duras, mas eu não as desejei de volta, mesmo quando ele se encolheu.

— Genevieve. — Bryce pegou minha mão livre. — O que está acontecendo? Eu sei que o sequestro foi extremo, mas isso? Isso também é extremo. Vocês mal se conhecem.

— Você e Dash vão se casar e ter um bebê, — disse Isaiah antes que eu pudesse responder. — E vocês se conhecem há, o que, seis semanas? Acho que você sabe tão bem quanto nós que o tempo não importa.

— Você está certo. — Dash veio ao seu lado com Emmett e Leo atrás. — E não é da nossa conta.

Bryce cruzou os braços sobre o peito e estreitou os olhos. Eu já tinha visto aquele olhar antes, quando estávamos presas na base de uma árvore enquanto nosso sequestrador estava parado com uma arma.

Ela tinha sido feroz em escapar. Assim como ela seria feroz em descobrir o que realmente estava acontecendo comigo e Isaiah. Nada que Dash ou alguém dissesse a faria mudar de ideia.

— Você pode nos dar licença? — Bryce deu um passo à frente, pegando meu cotovelo para me arrastar pela oficina até um canto mais afastado.

Olhei por cima do ombro para Isaiah. Ele ficou sozinho, encarando Draven, Dash, Emmett e Leo. Quatro contra um não eram boas chances, mas Isaiah não quebraria.

Nós tínhamos muito interesse em manter nossos segredos escondidos.

— O que está acontecendo? — Bryce sibilou. — Vocês têm agido de forma estranha a semana toda. Você volta para Denver, o que eu entendo. Fomos sequestradas, pelo amor de Deus, e quase morremos. Mas então você aparece aqui e se muda para o apartamento de Isaiah sem nenhuma explicação. Agora você está casada?

Eu respirei fundo.

— Algo aconteceu comigo e Isaiah. Ele é... Especial. Nunca senti algo assim por outra pessoa em toda a minha vida.

Era tudo verdade. Ou meia-verdade. Cada palavra era uma versão vaga do que realmente havia acontecido. Talvez se eu seguisse essas meias-verdades, seria capaz de continuar com esse show.

Ela levantou uma sobrancelha.

— Mesmo?

Eu estava suando. Por que estava tão quente aqui?

— Mesmo.

Antes de Isaiah, eu nunca devia a minha vida a outra pessoa.

— Você tem certeza de que não é como, eu não sei, estresse pós-traumático do sequestro?

— Ele me faz sentir segura. — Essa era outra afirmação verdadeira - Uma verdade completa. — Agora, é disso que eu preciso.

O momento mais aterrador da minha vida foi quando fui agarrada por trás no meu quarto de hotel.

Eu voei para Montana para visitar o túmulo de mamãe em um Sábado. Eu tinha trabalhado para Reggie naquela manhã, depois dirigi para o aeroporto e embarquei no avião com o coração pesado. Eu pensei em cancelar a viagem centenas de vezes, mas precisava ver o túmulo de mamãe com meus próprios olhos.

Eu precisava saber que o corpo dela havia encontrado um lugar de paz.

O voo para Bozeman chegou atrasado e eu me hospedei em um hotel perto do aeroporto, planejando alugar um carro na manhã seguinte e dirigir as duas horas para Clifton Forge.

Vestindo calça de pijama de seda preta e um sutiã esportivo verde por baixo de uma blusa branca de mangas compridas, saí do meu quarto por dois minutos para pegar água na máquina de venda automática, deixando a porta do meu quarto destrancada.

Quando voltei, me tranquei, pensando que estava segura e sozinha. Mas um homem vestido de preto saiu do banheiro e me agarrou pelos cabelos. Ele me empurrou para o chão e colou minhas mãos nas minhas costas. Meus pés descalços estavam amarrados nos tornozelos. Então ele me puxou por cima do ombro e levou meu corpo contorcido para o estacionamento, onde me empurrou no porta-malas de um carro, bem ao lado de Bryce.

Nós duas choramos em silêncio; as mordaças que o homem tinha colocado em nossas bocas nos impediram de gritar. Ele nos levou para as montanhas e para a floresta. Meus pés tinham incontáveis cortes sangrando quando chegamos à cabana.

Mas ele não nos levou para a cabana como eu esperava. Em vez disso, ele nos empurrou contra um pinheiro gigante, onde nos sentamos no escuro, tremendo e quase hipotérmicas, aterrorizadas por não vermos outro nascer do sol.

Quando amanheceu, ele me levantou e cortou a fita que me prendia, desamarrou minha mordaça. Então me forçou a segurar uma arma descarregada na têmpora de Bryce enquanto ele tirava algumas fotos.

Ele me amarrou de novo, renunciando à mordaça, e teve a ‘gentileza’ de remover também a de Bryce. Foi quando ela me contou sobre Draven, que ele não era o assassino de mamãe, mas de fato, meu pai. Ele estava sendo incriminado pelo assassinato de mamãe.

Em qualquer outra situação, eu não teria acreditado nela, mas lá contra aquela árvore, quando a morte pairava sobre nós, Bryce não tinha motivos para mentir.

A próxima vez que o assassino desamarrou minhas mãos, foi para segurar a arma na têmpora de Bryce novamente, só que desta vez uma bala foi carregada na câmara.

Ele planejava me incriminar pelo assassinato dela, sabendo que Dash se vingaria tirando a minha vida.

Em vez disso, Dash nos salvou. Ele me salvou. Fosse essa a intenção dele ou não, eu ainda estava agradecido por ele ter frustrado o plano do nosso sequestrador. Tudo porque Dash estava procurando Bryce.

Durante o tiroteio, corremos por nossas vidas, Bryce para as árvores e eu em direção à cabana.

Eu deveria ter corrido para o outro lado.

— Eu sei que parece loucura, — disse a Bryce. — Mas isso é a coisa certa para Isaiah e eu.

— Então por que ele estava dormindo no motel?

Fofocas de cidade pequena. Eu teria que lembrar que as pessoas nesta cidade notavam tudo.

— Não queríamos ficar juntos até sermos marido e mulher. Nós... Não transamos antes do casamento. — Ou depois. Desde que ela não tenha se aprofundado muito e descoberto que Isaiah havia ficado lá na nossa noite de núpcias, estávamos a salvo.

— Então é isso. Você está casada e mora em cima da oficina.

Eu assenti.

— É isso aí.

— Hmm. — Ela fez uma careta. — Você falou com Draven desde o cemitério?

— Não.

— Bem, se prepare. — O seu olhar passou por cima do meu ombro. — Porque aí vem ele, e ele não parece feliz.


Capítulo Quatro

Genevieve


— Eu gostaria de falar com você. — Draven não perguntou, ele exigiu.

Eu endireitei meus ombros e levantei meu queixo. Chame isso de anos perdidos pelo desafio da filha para o pai, mas ele não iria mandar em mim. Ele segurou meu olhar por um longo momento, então seu rosto se suavizou.

Ele estava abrindo um sorriso?

— Algo engraçado? — Eu perguntei.

— Você tem coragem, garota.

Não, eu tinha dor.

E, no momento, eu estava tentando desesperadamente evitar adicionar mais à pilha. Eu estava agarrada a essa fachada calma e controlada, esperando que isso mantivesse as pessoas à distância. Porque se mais uma pessoa me machucasse, eu poderia desmoronar em pedaços.

— Sobre o que você gostaria de falar? — Eu mantive minha expressão neutra. — Porque se é sobre mim e Isaiah, isso não é da sua conta.

Ele franziu a testa.

Eu duvidava que muitas pessoas dissessem a Draven que se ocupasse de seus próprios assuntos. Se não fosse a raiva ardendo em minhas veias, eu não teria coragem de enfrentar um homem que se mantinha com uma confiança e um comando tão inabaláveis.

Todo movimento que ele fez parecia deliberado. Ele não mexia com os dedos e seus olhos não vagavam. Exceto que havia algo diferente sobre como ele estava comigo, em oposição aos outros. Ele parecia... Nervoso. Sua ansiedade se agarrava ao ar.

Se eu queria a vantagem, era minha. Só que eu precisava dele. Eu tinha perguntas e ele era o homem com as respostas.

— Dez minutos, — disse ele. — Por favor.

— Tudo bem, — murmurei, depois me virei para Bryce. — Aceito o café quando estiver livre.

— Isso seria bom. — Ela colocou a mão no meu braço por um breve momento, depois deixou eu e Draven sozinhos. Ela estava a cerca de cinco passos quando parou e olhou para trás. — Parabéns pelo seu casamento.

Eu sorri.

— Parabéns a você também.

Quando ela se juntou a Dash, ele lançou um olhar direto para Draven e eu, depois nos dispensou completamente para acompanhar Bryce ao escritório.

O olhar de Isaiah encontrou o meu do outro lado da sala. O dele estava cheio de preocupação silenciosa. Dei-lhe um pequeno encolher de ombros e me preparei para me dirigir a Draven.

— Você quer conversar aqui?

— Vamos lá fora. — Ele estendeu a mão em direção ao estacionamento.

Eu balancei a cabeça, cruzando os braços sobre o peito enquanto o seguia na luz do sol e nos fundos da oficina.

O campo atrás da oficina era um cemitério para peças de carros antigos. Elas cobriram o chão, da parede externa da garagem até a cerca que delimitava a propriedade ao longe. O campo tinha potencial para ser um espaço agradável, se não fosse a grama coberta de vegetação e a abundância de metal enferrujado.

Draven me levou a um amplo bloco de cimento com duas mesas de piquenique e uma churrasqueira coberta com uma capa preta.

Olhei em volta antes de me sentar. Depois da oficina, no final do estacionamento, havia um prédio escuro e ameaçador situado em um bosque de árvores. As janelas estavam fechadas com tábuas e as portas estavam trancadas com uma corrente grossa e um cadeado. Tudo o que faltava era uma placa de neon no telhado que piscava: Fique longe.

— Essa é a sede do clube.

— Ok. — Sede do clube deveria significar algo para mim?

Ele se sentou à minha frente, apoiando os cotovelos na superfície lisa de madeira da mesa.

— Quanto você sabe sobre mim?

— Quase nada. Bryce diz que você é meu pai. Estou inclinada a acreditar nela, mas gostaria de fazer um teste de paternidade.

Ele estremeceu.

Um teste de paternidade? De onde isso veio? O pensamento não me ocorreu até agora, mas eu queria esse teste de qualquer maneira. Quebraria meu coração em pedacinhos se Draven não fosse meu pai. Não porque eu gostava dele em particular, mas porque se ele não fosse, eu nunca encontraria meu pai de verdade agora que mamãe se foi.

— Eu vou cuidar disso, — ele prometeu. — O que mais?

— Não há muito mais. Cheguei em casa do trabalho um dia neste verão, com um carro de polícia estacionado na minha garagem. O policial me disse que minha mãe havia sido assassinada em Clifton Forge, Montana.

As palavras saíram em um fluxo monótono e entorpecido. Não queria pensar em quantas lágrimas eu chorara naquele dia. Como meu coração se partiu com as palavras do policial. Então fiquei como um robô, vomitando detalhes como se estivesse falando da vida de outra pessoa, não da minha.

— Eu planejei o funeral dela, — eu disse. — Certifiquei-me que ela fosse enterrada aqui, onde ela pediu para ser enterrada. Então entrei em contato com o chefe de polícia.

— Marcus.

— Sim. — Embora eu o chamasse de chefe Wagner. — Ele me disse o que podia sobre a investigação e que um homem chamado Draven Slater havia esfaqueado minha mãe sete vezes e a deixou sangrar em um quarto de motel sozinha.

Ele engoliu em seco.

— Oh.

Eu não poupei palavras.

— Bryce veio a Denver para me fazer algumas perguntas. Conversamos principalmente sobre mamãe porque ela disse que queria escrever um artigo memorial sobre ela.

Isso era verdade? Eu tinha esquecido o memorial até agora. Bryce parecia tão genuína em seu desejo de dar um fim à mamãe. Eu me apeguei a essa ideia com um aperto de ferro e contei a ela todas as coisas maravilhosas sobre minha mãe incrível.

Isso foi antes. Agora eu não tinha tanta certeza que metade do que eu disse a Bryce era real.

Bryce comeu biscoitos comigo enquanto eu chorava por mamãe. Ela se sentou ao meu lado e olhou para as fotos e lembranças antigas que eu peguei da casa da mãe antes de colocá-la à venda.

Eu esperava que ela tivesse sido sincera.

Eu queria que ela escrevesse esse artigo para o jornal? Na verdade, não. Quando fôssemos tomar um café, eu pediria que ela adiasse o artigo, presumindo que fosse real em primeiro lugar. Além disso, o povo de Clifton Forge se importaria com uma mulher enterrada no cemitério local?

O pedido de enterro da mamãe tinha sido uma nota de rodapé em seu último testamento. Ela tinha comprado o terreno anos atrás.

Eu não sabia que ela gostava tanto da cidade onde estudara no ensino médio. Toda a minha vida, eu pensei nela no contexto de Denver. Mesmo depois que ela se mudou para Bozeman para seu trabalho, em minha mente, sua casa era no Colorado.

Eu a visitei em Bozeman algumas vezes. A cidade era mais extravagante que Clifton Forge. Atendia a turistas e estudantes universitários, mas era adequada para mamãe. Ela parecia feliz.

Então, por que ela veio a Clifton Forge e arruinou tudo?

Antes de fazer perguntas, terminei de atualizar as coisas para Draven, para que ele tivesse algum contexto para me fornecer respostas.

— Eu acompanhei o chefe Wagner, — eu disse. — Soube que você foi libertado sob fiança e eles ainda não haviam agendado o julgamento. Ele me deu o nome do promotor, com quem conversei brevemente antes de passar para o advogado vítima-testemunha5 do caso. Então, quando eu estava pronta, voei para Montana porque queria visitar o túmulo da mamãe. Isso não funcionou tão bem para mim, não é?

Os ombros dele caíram.

— Eu sinto muito. Você deveria saber que isso é tudo culpa minha.

— Oh, eu sei. — Sempre que eu precisava colocar a culpa, ela caía em mamãe e Draven.

Seu olhar encontrou o meu, implorando para eu lhe dar um tempo.

De jeito nenhum.

— Acho que é melhor começar do começo. — Ele soltou um longo suspiro. — Conheço sua mãe desde que éramos crianças. Fomos para o ensino médio juntos. Ela era um ano mais nova e melhor amiga da minha esposa, minha namorada na época.

Minha frequência cardíaca disparou. Era isso. Agora eu descobriria o porquê. Por que eu? Por que mamãe? Eu queria saber? A maneira como Draven falou, sua voz rouca e suas palavras pingando tristeza, não seria uma história alegre.

Eu já sabia o final.

Estava na hora de preencher as lacunas e descobrir por que mamãe havia sido arrancada de mim e por que mentiu para a filha por vinte e poucos anos.

— Você está pronta? — Draven perguntou.

Eu assenti.

— Continue.

— Depois do colegial, Amina deixou a cidade. Chrissy e eu nos casamos. A vida continuou e eu não pensei muito nisso quando sua mãe e Chrissy perderam o contato por um tempo. Então ela veio visitar. Fazia isso uma vez todo verão. Chrissy gostou. Ela adorava exibir os meninos e se gabar dos nossos filhos para a amiga.

— Espere. Filhos? — Meus olhos se arregalaram. Eu não sabia que Draven tinha outros filhos além de Dash.

— Eu tenho dois filhos. Dash é o mais novo. Nick é o mais velho. Ele mora em uma cidade chamada Prescott, a cerca de três horas de distância. Você o encontrará um dia.

Ótimo. Eu não precisava de dois irmãos que me odiavam.

— Sem pressa.

— Nick é um bom homem. — Draven me lançou um olhar. — Dash também. Isto é... Você os pegou de surpresa também. Eles estão se adaptando.

— Não estamos todos? — Eu brinquei, depois acenei para ele continuar falando.

Ele soltou um longo suspiro.

— Chrissy ficou em casa com os meninos. Eu dirigi a oficina e fui presidente de um moto clube.

— Como Sons of Anarchy?

— Aquele programa de merda, — ele resmungou.

Isso foi um sim? Eu esperei por mais explicações, mas ele não deu nenhuma indicação de que me daria uma. Mas o clube fazia sentido agora. Assim como algumas das informações que eu recebi do chefe Wagner quando perguntei sobre o assassino de minha mãe. As janelas estavam fechadas com tábuas porque o clube não existia mais.

— Seu clube não terminou?

Ele assentiu.

— Os Tin Gypsies se dissolveram há cerca de um ano.

— Por quê?

— Vária razões. Coisas que não vou abordar com você.

— Mais segredos. — Eu bufei, apertando minha mandíbula com força. Eu estava tão cansada dos segredos. Deles e dos meus.

— Não estou dizendo porque estou tentando esconder. A verdade é que não é seguro. Quanto menos você souber, melhor.

— Seguro? — Eu rosnei. — Dois meses atrás eu estava segura. Eu tinha uma boa vida e uma mãe que me amava. Eu não tinha... — Eu parei e respirei. — É tarde demais para segurança.

— Estou tão...

— Não. — Ele não chegou a dizer que estava arrependido. — Continue.

— O clube pressionou meu casamento. Eu amava Chrissy mais que a vida. Os meninos também. Mas eu... Eu me perdi. Chrissy e eu estávamos em uma fase difícil. Sua mãe fez uma visita, veio a uma festa na sede do clube e nós...

— Pare. Não diga isso. — Se ele dissesse em voz alta, eu não seria capaz de esquecer as palavras.

Essas pessoas estavam destruindo minha mãe. Estavam manchando sua boa memória. Minha mãe não teria festejado com um moto clube. Minha mãe não teria concebido uma criança naquele prédio imundo e podre. Minha mãe não teria transado com o marido da melhor amiga.

Mas ela tinha.

Meu coração doía pela minha mãe. Ela era a melhor pessoa do mundo. Ela era minha mentora e heroína. Ela era a mulher que eu queria ser.

Exceto que eu não a conhecia.

Cada detalhe, cada menção de seu nome parecia que ela estava sendo assassinada uma segunda vez. Alguém roubou a vida de seu corpo. Pode não ter sido Draven, mas ele estava matando-a mesmo assim. Ele estava massacrando a sua memória.

— Ela estava apaixonada por mim, — disse Draven.

— Isso faz com que esteja tudo bem?

— Não.

Não, certamente não estava bem. Nada na vida de mamãe parecia bem.

— Eu cometi o pior erro da minha vida naquela noite.

Desta vez, eu estremeci.

Essa declaração doeu mais do que eu pensava. Se não fosse por aquela noite, eu não estaria viva. Ele pode ter se arrependido, mas eu tinha certeza que mamãe não, porque ela me teve.

— Eu... Porra. — Ele deslizou a mão sobre a mesa, sem me tocar, apenas se estendendo. — Isso não saiu direito.

— Entendi. Você tinha uma esposa. Filhos. Você transou com a amiga da sua esposa e a engravidou.

— Eu não sabia. Amina nunca me falou sobre você. Não até a noite em que ela foi morta.

— Ela nunca disse nada sobre você também. — Nisso, estávamos juntos. Mamãe tinha mantido segredos de nós dois. — O que aconteceu com sua esposa?

Eu esperava que ela tivesse se divorciado dele e encontrado um homem que fosse leal.

— Ela morreu, — ele sussurrou. — Ela foi assassinada por um clube rival. É minha culpa que ela esteja morta.

— Por quê? O que você fez? — Eu perguntei, mas sabia a resposta. — Várias coisas, certo? Coisas que você não vai me contar porque é para o meu próprio bem.

— Sim.

— Foi por isso que mamãe foi morta? Por causa do seu antigo clube?

Nem o chefe Wagner conseguiu explicar o motivo por trás de sua morte. Ele suspeitava que fosse um crime passional envolvendo um criminoso conhecido, mas sem uma confissão, nunca saberíamos.

— Provavelmente. Ela veio à cidade, me ligou do nada. Ela me convidou para o motel para conversarmos. Achei que ela só queria se atualizar. Fazia muito tempo desde que eu a vi. Desde aquela noite na festa.

— Ela nunca voltou para Clifton Forge?

Ele balançou sua cabeça.

— Amina amava Chrissy. Ela se sentiu horrível com o que fizemos. Prometemos nunca contar a Chrissy e ela foi embora.

— Você contou para ela? Sua esposa?

— Não. — Ele abaixou a cabeça. — As coisas entre nós melhoraram. Nós resolvemos tudo. Ela era o amor da minha vida, mas a culpa me consumiu. Eu ia contar a ela, confessar tudo e pedir perdão, mas ela morreu antes que eu pudesse reunir coragem.

Ela morreu sem saber que o marido era traidor e a melhor amiga, prostituta. Talvez fosse melhor assim. Chrissy Slater teria odiado mamãe e eu.

As peças se juntaram.

— É por isso que Dash me odeia. Ele sabe o que você fez.

— Não sei se eu diria ódio.

— É ódio. E é por isso.

— Meu filho ama sua mãe, mesmo depois de morta. — Ele me deu um sorriso triste. — Ela era uma mulher incrível, minha esposa. Ele está me punindo por traí-la, como deveria. Você está recebendo parte dessa reação. Não é você, é...

— Minha existência. É simplesmente porque estou viva.

— Ele vai mudar de ideia. Ele é um bom homem. Não sei como, com um pai como eu, mas meus filhos são boas pessoas.

— Por causa de suas mães.

Ele fechou os olhos, absorvendo a verdade da resposta.

Eu não teria piedade para ele, não hoje.

— Voltando à minha pergunta. Por que mamãe foi morta? Encontrar-se com você não parece ser motivo suficiente.

— Não temos certeza. Amina veio naquela noite para me contar sobre você. Conversamos por horas. Fiquei furioso no começo, quando ela disse que tinha escondido você de mim, mas eu entendi. Continuamos conversando. Uma coisa levou a outra e...

— Oh, Deus. — Eu me encolhi. — Por favor, não.

Eu não queria que a imagem mental dos meus pais transando em um quarto de motel.

— Desculpe. — Ele passou a mão pelos cabelos. — Ela, uh... Me disse que eu poderia conhecer você. Que ela ajudaria nessa introdução. Nós dois estávamos nervosos, mas ela parecia aliviada também. Como se ela estivesse escondendo isso de você por tanto tempo que também a tivesse consumindo.

Talvez tivesse, mas ela ainda deveria ter me contado.

— Deixei-a no motel na manhã seguinte e vim para a oficina, — disse ele. — Sua mãe prometeu ligar depois que ela contasse a você sobre mim. Então a polícia apareceu e me prendeu por causa do seu assassinato. Não sei quem fez isso, mas alguém está armando para que eu leve a culpa.

— Quem?

— Provavelmente um clube rival. Um dos nossos velhos inimigos.

Isso explicava o colete usado pelo meu sequestrador. Era preto, como o resto de suas roupas, exceto pelo remendo branco costurado nas costas.

— Os Arrowhead Warriors?

Draven ficou rígido.

— Sim. Onde você ouviu esse nome?

— O homem que nos sequestrou. Estava no seu colete.

— Corte6.

— Tanto faz. Então, por causa do seu moto clube, minha mãe foi cruelmente assassinada e eu quase fui morta.

— Eu sinto muito. — Ele segurou meu olhar. — Quero lhe dizer que acabou, mas há uma chance de você estar em perigo. Os policiais encontraram um corpo naquela cabana na floresta depois que ela queimou. Pode ter sido o cara que a sequestrou. Pode ter sido outra pessoa.

Isso não acabou.

O homem que tinha queimado até a morte naquela cabana não era meu sequestrador. E eu ainda estava muito em perigo.

Dash estava colado a Bryce. Todos estavam sendo cuidadosos. Se, por algum motivo, tivesse a menor inclinação que não fosse o caso, diria algo para garantir a segurança dela. Até então, eu fiquei quieta.

— E se eu estiver em perigo? — Eu perguntei. — O que você espera de mim?

— Seja cautelosa em ir a lugares sozinha. Evite se puder. Leve seu marido. — Seus olhos escuros se estreitaram, sua expressão endureceu.

Draven viu através da minha fachada. Ele sabia que esse casamento era uma farsa.

— Boneca? — Isaiah deu a volta na esquina da oficina, me salvando do escrutínio de Draven.

Boneca? Oh, certo. Era eu.

— Ei, querido. — Ugh. Enquanto a ‘boneca’ de Isaiah parecia cativante e doce, como se ele me chamasse assim todos os dias, meu querido parecia forçado. Talvez porque eu nunca me importei muito com alguém antes. Eu tive três namorados na minha vida, dois amantes. Nenhum tinha sido recente, eu estava muito ocupada até agora, e nenhum havia conquistado a condição de querido.

Isaiah veio para o meu lado da mesa, ficando perto o suficiente para colocar uma mão no meu ombro.

— Só queria verificar você.

— Draven e eu estávamos conversando, mas terminamos por hoje.

Eu não tinha certeza se podia ouvir mais. Eu balancei minhas pernas sobre o assento, e fiquei de pé ao lado de Isaiah. Enrosquei meus dedos nos dele, maravilhada com a onda de força que passou de seu corpo para o meu.

Dei um passo, mas parei.

— Tchau, Draven.

— Tchau, Genevieve.

Isaiah liderou o caminho ao redor do prédio, sem parar enquanto continuávamos passando pelas portas da oficina. Ele manteve o aperto firme quando subimos as escadas para o apartamento. Era para mostrar aos outros? Ou ele sabia o quanto eu precisava dele para me manter ancorada?

Eu estava prestes a puxar meu cabelo e gritar.

Por quê? Eu ainda não tinha uma boa resposta. Por que mamãe foi morta? Por que ela esperou todo esse tempo para contar a Draven sobre mim? Por que isso estava acontecendo?

Mesmo Draven não sabia.

Isaiah abriu a porta do apartamento, apenas soltando minha mão quando estávamos dentro.

— Você está bem?

Fui para o sofá, afundando na borda e deixando cair a cabeça nas mãos.

— Não. Meu cérebro pode explodir.

O sofá moveu quando ele se sentou ao meu lado. Sua mão segurou meu joelho, mas ele não falou.

Isaiah era um homem de poucas palavras, algo que eu estava aprendendo. Principalmente, ele parecia se comunicar com gestos tão pequenos que a maioria das pessoas provavelmente os ignorava.

— Obrigada por ter vindo me resgatar. Não sei se Draven tinha mais a dizer, mas não aguentava mais. Estou confusa e oprimida e... Triste. Sinto falta da minha mãe e queria que ela estivesse aqui. Eu quero falar com ela sobre tudo isso. Não com ele.

— Foi sobre isso que você e Draven conversaram?

— A maior parte do tempo.

Passei os dez minutos seguintes dando-lhe a versão curta da minha conversa com Draven. Ele preencheu alguns espaços em branco onde podia, principalmente informações sobre o clube que aprendeu através de observações na oficina.

Depois que Draven deixou o cargo de presidente dos Tin Gypsies, Dash assumiu o papel. Emmett e Leo também eram membros. Quando o clube se desfez, eles mantiveram seus empregos na oficina. Draven havia se aposentado oficialmente, embora ainda trabalhasse no escritório na maioria dos dias.

Com exceção do sequestro, os caras haviam tentado o melhor para proteger Presley e Isaiah de qualquer coisa relacionada ao antigo clube.

— Draven suspeita que o corpo que encontraram na cabana não seja do sequestrador, — disse a Isaiah.

— Isso é uma coisa boa. Todo mundo parece estar atento.

— E ninguém foi à polícia? — Eu estava preocupada que Bryce denunciasse nosso sequestro, mas, como nenhum policial veio me questionar sobre isso, presumi que estávamos seguros.

Isaiah balançou a cabeça.

— Não que eu saiba. Eu não acho que os caras querem trazer a polícia para isso. Eles querem lidar com isso sozinhos.

— Isso é uma coisa boa. — Não precisávamos da polícia fazendo perguntas sobre aquela cabana.

Em algum momento, eu teria que ligar para o chefe Wagner e para o advogado novamente. Eu estava conversando com eles regularmente até o sequestro.

Ou talvez eu deixasse as fofocas das cidades pequenas funcionarem a meu favor. Eles tinham que saber que Draven era meu pai. Vivendo acima de sua oficina, eles acabariam percebendo que eu não pensava mais que ele havia matado mamãe.

— Se, por algum motivo, Dash parar de pairar sobre Bryce, precisamos dizer a eles. Não importa o que aconteça.

— De acordo. — Isaiah assentiu.

— Até então, nós mantemos isso para nós mesmos.

Ele baixou o olhar.

— Eu odeio isso.

— Eu também. Os segredos estão me consumindo

— O mesmo comigo.

Talvez nós dois devêssemos conversar sobre isso. Talvez devêssemos discutir, apenas para ter certeza de que fizemos a escolha certa no calor do momento. Mas eu me preocupava que, uma vez que algumas das informações fossem liberadas, elas não quisessem voltar à sua gaiola.

— É melhor eu voltar ao trabalho. — Ele se levantou do sofá e eu também, seguindo-o até a cozinha. Era a menor cozinha que eu já tinha visto, os armários em forma de L formavam uma linha minúscula. Mas servia.

Fui ao armário ao lado da geladeira, onde eu colocara meus suprimentos de panificação, e peguei um saco de farinha, um pote de açúcar e um saco de gotas de chocolate.

Isaiah parou na porta.

— O que você vai fazer?

— Eu preciso assar biscoitos. Eles são a nossa única esperança.

Ele não sorriu, mas a escuridão em seus olhos desapareceu por uma fração de segundo.

— Guarda um para mim?

Por ele, pelo que ele fez por mim, eu faria biscoitos todos os dias. Claro, eu não poderia dizer isso. Era íntimo demais e reconfortante para o início do nosso casamento.

Em vez disso, eu pisquei.

— Sem promessas.


Capítulo Cinco

Isaiah


— Temos companhia.

Eu estava deitado de costas em um rastejador, pronto para me esconder debaixo de uma plataforma, mas parei com a palavra de Draven.

Ele caminhou em direção ao estacionamento. Dash, Emmett e Leo deixaram suas ferramentas de lado para seguir. Eu pulei e fiz o mesmo.

Como Draven ouvira, eu não tinha certeza, mas o barulho de motos flutuava pela estrada, precedendo uma longa fila de motos. Os homens que as montavam usavam tons escuros e cortes de couro preto correspondentes.

Porra.

No instante em que Dash os viu, ele correu para a porta do escritório.

— Bryce! Tranque a porta. Você e Pres fiquem fora de vista.

Meus olhos dispararam para o teto. Genevieve estava no andar de cima fazendo biscoitos para acalmar seu coração partido.

Fique quieta, boneca.

Ela podia ficar curiosa com o barulho e sair, mas eu estava apostando que ela daria uma olhada nesses homens do mesmo estilo que o homem que a sequestrara e voltaria para o Colorado antes do anoitecer.

Leo caminhou até uma bancada de ferramentas. Para alguém de fora, não parecia que ele estivesse com muita pressa, mas era o dobro da velocidade do seu ritmo normal. Ele tirou as chaves do bolso e abriu uma gaveta que eu não tinha aberto antes, eu não tinha a chave e puxou três pistolas.

Meu estômago caiu. De novo não. A última vez que houve armas nesta oficina foi no dia em que subimos as montanhas e minha vida virou de cabeça para baixo.

Leo enfiou uma arma na cintura da calça jeans, cobrindo-a com a camiseta e carregou as outras, entregando-as a Dash e Emmett pelas costas. Draven havia ficado na oficina depois da conversa com Genevieve. Ele se inclinou e puxou uma pistola da bota.

Tudo o que eu tinha era uma maldita chave de 10 cm.

— Eu deveria ter tirado Bryce daqui — disse Dash. Ele normalmente não trabalhava às sextas-feiras, mas depois que eles vieram para anunciar o noivado e o bebê, ele decidiu passar algumas horas com Emmett e Leo, criando o novo projeto personalizado que eles estariam começando em algumas semanas.

Ele pode não querer estar aqui, mas eu estava feliz que ele estava. Havia muitas tardes de sexta-feira, que era apenas eu terminando o dia e Presley que estávamos na oficina. Eu não teria ideia de como lidar com treze motos entrando no estacionamento sozinho.

Os homens estacionaram em uma longa fila, ocupando toda a distância das quatro portas da oficina e efetivamente nos bloqueando dentro da oficina. O único caminho para nossas próprias motos, estacionadas ao longo da cerca, era passar por elas. O carro de Genevieve e o jipe de Presley, ambos estacionados em frente ao escritório, também não eram uma opção.

Minha pele se arrepiou.

Nós estávamos presos.

O rugido das motos era ensurdecedor. Ecoava nas paredes e pisos, ricocheteando no concreto e no metal. Nenhum dos homens desligou o motor. Eles ficaram sentados nelas, com as pernas plantadas no asfalto para se equilibrar, e nos encararam, uma parede de olhos escuros e barulho.

Era intimidador. Era disso que se tratava? Intimidação e medo? Se os outros caras estavam nervosos, eles não deixaram transparecer. Dash e Emmett estavam com os braços cruzados sobre o peito. Leo tinha uma mão no bolso, casual, como se isso acontecesse todos os dias. Draven parecia entediado.

Eu fiquei perfeitamente imóvel, todos os músculos do meu corpo rígidos. O homem fraco de um grupo não aguentava a pressão e se mexia. O homem fraco evitava contato visual e deixava seus nervos tirar o melhor de seu controle. Era por isso que o homem fraco sofria primeiro, uma lição que aprendi na minha primeira semana na prisão.

O impasse continuou e meus ouvidos palpitaram até que finalmente o homem montado na moto central levantou a mão e os motores foram desligados. O silêncio desceu quando o estrondo flutuou no ar.

O mesmo homem saiu da moto, tirando os óculos escuros e os colocando na cabeça. Apenas três outros homens desmontaram enquanto os outros permaneciam montados. Os quatro foram até Draven, sem oferecer nenhum sorriso ou saudação amigável. Suas armas não estavam escondidas atrás das costas ou escondidas sob as roupas. Elas estavam no coldre nos quadris e contra costelas, as armas em exibição para o mundo ver.

— Tucker. — Draven não estendeu a mão para o líder. — Vocês precisam de algum trabalho em suas motos? Nós lhe daremos um desconto de grupo por todas as treze.

— Tenho algumas perguntas para você, Draven.

— Você perdeu meu número de telefone?

— Eu e os caras queríamos sair. Lindo dia de verão. Não estive em Clifton Forge há algum tempo. Esqueci o quão agradável é nesta época do ano.

Draven levantou uma sobrancelha. Um gesto sutil para mostrar que Draven tinha o controle. Aparecer com treze homens, ele não se importava. Este era o seu território.

— Suas perguntas?

— Alguns fins de semana atrás, tivemos alguns problemas em nossa propriedade em Castle Creek. Fiz algumas perguntas por aí e ouvi um boato de que algumas de suas motos foram vistas indo nessa direção no momento do problema.

— Um boato? — Dash zombou.

Um dos outros homens levantou um ombro.

— Ou câmeras de trânsito.

Meu coração parou. Se sabiam que fomos lá em cima, o que mais sabiam? Quando eu ia ter uma pausa? Não tinha pensado muito em quem era o dono daquela cabana. Eu tentei o meu melhor para não pensar naquela cabana, ponto final. Só minha sorte para ela pertencer a outro moto clube.

— Ouvi dizer que você teve um incêndio. Relâmpago, não é? — Draven perguntou.

— O investigador ligou esta manhã. Incêndio criminoso.

— Má sorte. — Dash assobiou. — Alguma ideia de quem iria acender o fogo?

O suor escorria pelo meu macacão.

Tucker ergueu o olhar para Dash.

— Os Gypsies adoravam acender fogueiras. Foi você?

— Não.

— Não temos motivos para queimar uma cabana velha, Tucker, — disse Emmett, sua voz calma e firme.

— Tem certeza disso? — Tucker atirou de volta. — Nos vimos mais no mês passado do que em um ano. Vocês continuam fazendo perguntas sobre o assassinato daquela mulher. Talvez você não acreditou em mim quando eu disse que não temos nada a ver com isso.

— Não queimamos sua cabana, — disse Draven. — Fomos lá em cima porque alguém usando o colete do Warriors sequestrou minha filha e minha futura nora. Nós o localizamos lá em cima. Fomos buscar as garotas. Não coloquei os pés naquela cabana. E com certeza, porra, não a incendiei.

Tucker se aproximou de Draven.

— Um dos meus homens estava naquela cabana. Agora ele está morto e eu quero saber quem o matou.

Draven era dois centímetros e meio mais alto que Tucker e ele se levantou a toda a sua altura.

— Não fomos nós. Pegamos as garotas e as tiramos de lá. Tentamos encontrar o cara que as levou, mas ele desapareceu. Como Emmett disse, não temos razão para queimar sua cabana ou matar um de seus homens. Porque, afinal, o cara que levou as garotas não era o seu homem, certo? Assim como não foi o seu homem que matou aquela mulher no motel?

Droga, Draven era bom. Ele tinha encurralado Tucker e a única saída era recuar ou admitir que um de seus homens sequestrou Bryce e Genevieve.

— Eu quero respostas, — Tucker exigiu.

Leo zombou.

— Junte-se ao clube.

— Ouça, Tucker. — Dash ergueu as mãos. — Nós não queremos problemas. Mas alguém tirou minha noiva grávida de sua casa. Se foi um de seus homens, vamos descobrir. E ele vai pagar. Mas queimar sua cabana não resolve nada para nós. Nós não estamos em guerra aqui.

— Temos história, Dash. E não é das boas.

— Entendi. — Dash assentiu. — Você não confia em nós e nós não confiamos em você. Faça o que tiver que fazer para descobrir quem matou seu homem, mas estou lhe dizendo, qualquer trilha que encontrar não levará de volta para cá.

Sim, levaria.

Tínhamos deixado uma trilha?

Tucker atirou uma carranca para Draven e Dash, depois se virou e voltou a montar na moto. Ele saiu primeiro, o sinal para os outros seguirem o exemplo. Então, tão rapidamente quanto eles chegaram, eles se foram.

Quando o barulho do escapamento soava à distância, soltei o ar que estava segurando.

— Porra. — Dash rosnou, passando a mão pelos cabelos. — É disso que precisamos, Tucker e seus homens achando que queremos pegá-los.

— O que ele quis dizer com você adorava acender fogueiras? — Eu perguntei.

Emmett suspirou.

— Nós, os Gypsies, queimamos o clube deles há um tempo.

Merda. Não foi à toa que eles vieram aqui primeiro depois de saber que era um incêndio criminoso.

— Vou verificar Bryce e Presley. — Dash marchou para a porta do escritório, batendo nela e chamando o nome de Bryce. Ela abriu, de olhos arregalados, e se atirou em seus braços.

Dash a colocou ao seu lado e eles se juntaram ao nosso grupo. Presley seguiu logo atrás. Ele deu a Bryce e Pres uma recapitulação do que havia acontecido, sem poupá-las dos detalhes, mesmo que estivesse tão intimamente ligado aos negócios do antigo clube. Talvez Dash tenha percebido que armá-las com informações era a melhor maneira de mantê-las seguras. Tucker e seus homens estiveram aqui há apenas três minutos, mas pareciam horas. E se eles vieram uma vez, poderiam voltar.

— Todo mundo tome cuidado, — disse Draven, olhando para Presley. — Todos.

— Achamos que havia uma chance de o cara naquela cabana ser o sequestrador, — disse Dash. — Mas se Tucker está dizendo a verdade...

— Não era ele, — respondeu Bryce, olhando para Dash. — O homem naquela cabana não foi quem nos sequestrou.

Alívio correu por minhas veias. Agora que eles sabiam que o sequestrador estava lá fora, eles teriam cuidado. E Genevieve e eu não tínhamos que nos explicar.

Ainda.

— Tucker jurou o tempo todo que não foram os Warriors que mataram Amina, — disse Emmett. — Parece a verdade.

— Concordo, — Draven murmurou.

— Isso não é bom. — Dash soltou um rosnado furioso. — As coisas teriam sido mais fáceis se o cara na cabana fosse nosso assassino. Mas ele ainda está lá fora. Agora temos os Warriors farejando. Apenas o que não precisamos. Porra, estou bravo por não ter acertado aquele bastardo.

Quando fomos resgatar Bryce e Genevieve, Dash atirou no homem que mantinha Genevieve em cativeiro. Na época, ele tinha a impressão de que Genevieve iria matar Bryce. Sim, ele deixou o homem de preto escapar.

Mas ele também não acertou Genevieve.

— O fogo. — A testa de Leo franziu. — Nosso cara deve ter voltado para a cabana e matado o Warrior. Queimou o lugar. O que significa que nós e os Warriors temos o mesmo inimigo.

— Não. Significa... — Draven devolveu a pistola à bota, — que esse cara está armando para nós. Novamente. Ele está nos posicionando para cair por matar um Warrior. Isso significa que ele espera que Tucker resolva seu problema e nos mate antes que descubramos sua identidade.

Dash apertou a ponta do nariz.

— Isso realmente pode funcionar em nossa vantagem. Vamos ver que tipo de tração os Warriors têm para conseguir encontrá-lo. Porque agora, estamos presos.

— Tenham cuidado, — Draven repetiu. — Vamos voltar ao trabalho.

Todos concordamos, depois nos separamos. Mas não voltei à minha troca de óleo. Subi as escadas correndo, subindo dois degraus de cada vez, para verificar Genevieve.

A porta estava trancada.

— Genevieve, sou eu.

Passos vieram correndo. A porta se abriu e ela olhou por cima do meu ombro para o estacionamento.

— Eles se foram?

— Sim. — Eu a empurrei para dentro do apartamento, fechando a porta atrás de mim.

Não demorou mais de dois minutos para contar tudo o que tinha acontecido.

— Então todo mundo sabe que o meu sequestrador e de Bryce e o assassino de mamãe ainda está lá fora? — Ela fechou os olhos. — Graças a Deus. Eu tenho me preocupado com Bryce.

— Não há mais idas ao supermercado sozinha, ok? — Dash não deixará Bryce fora de vista. Eu também ficarei perto de Genevieve.

— Ok, não, espere. Merda. Eu consegui um emprego hoje.

— Você conseguiu?

Ela assentiu.

— Jim, advogado de Draven, me ligou. Não sei o que Draven disse a ele, mas ele me ofereceu um emprego sem uma entrevista ou qualquer coisa. Eu começo segunda-feira.

— Que ótima notícia.

— Vai tornar mais difícil não ficar sozinha. Não terei a flexibilidade de Bryce no horário comercial.

Bryce era dona do jornal e trabalhava com o pai, o editor-chefe. Ela não precisava estar no jornal para escrever. E Dash, ao contrário de mim, não estava amarrado a um cartão ponto. Aqueles dois poderiam ir e vir quando precisassem.

— Seria mais fácil se eu pudesse ficar aqui o dia todo, mas preciso desse emprego, — disse ela. — Até eu vender meu apartamento em Denver, não posso me dar ao luxo de não trabalhar.

Em algum momento, teríamos que discutir como lidaríamos com dinheiro, não que eu tivesse muito a compartilhar. Mas hoje não era o dia de dividir as contas de serviços públicos e de supermercado.

— Nós vamos resolver isso, — eu prometi.

Talvez eu a seguisse para o trabalho todos os dias. Eu poderia checar ela com mais frequência. O que for preciso.

Eu faria tudo ao meu alcance para mantê-la segura até que acordássemos desse pesadelo.

Mas caramba, ajudaria se soubéssemos com quem estávamos lutando.

No dia em que os Warriors visitaram a oficina, eu mal dormi a noite. Muitos cenários do pior acontecendo atormentavam minha mente. Acordei duro, dolorido e inquieto.

O sofá ficou confortável o suficiente por uma ou duas horas assistindo TV, mas depois de sete horas rolando e virando, eu podia identificar onde as tábuas da armação haviam desgastado o estofamento da almofada e onde os assentos cederam.

Genevieve estava com a cama e eu não iria tirá-la dela, mas o chão era muito tentador.

Normalmente, minhas manhãs de Sábado eram passadas preguiçosamente. Eu passava a manhã na cama, recuperando o sono. Eu bebia um bule inteiro de café enquanto navegava nos canais da TV. Eu não me incomodaria em me vestir.

Exceto que Genevieve estava na minha cama, e ela provavelmente não iria gostar que eu andasse apenas de cueca.

Então, o que diabos eu deveria fazer aos sábados agora? Nós deveríamos passar o dia juntos?

Tínhamos nos saído bem em breves conversas esta semana, mas a tensão era abundante no apartamento. Jantamos juntos, nós dois fazendo o nosso melhor para mastigar sem barulho. Eu reprimi vários gemidos de prazer enquanto devorava alguns de seus biscoitos. Dançamos ao redor de quem usaria o banheiro primeiro. E quando as luzes estavam apagadas, nenhum de nós ousava fazer um movimento em nossas camas.

Isso foi apenas por algumas horas todas as noites.

Um dia inteiro era assustador, e a oficina no térreo chamou meu nome.

Eu me levantei do sofá, esticando minhas costas doloridas, depois fui ao banheiro tomar um banho. Quando saí, Genevieve estava fingindo estar dormindo como fazia todas as manhãs.

Sua respiração era mais rápida do que durante a noite. Os músculos do rosto estavam tensos. E seus olhos se mexeram atrás das pálpebras. Ainda assim, fiquei agradecido quando ela se aconchegou mais profundamente no travesseiro.

Isso me deu a chance de escapar do apartamento sem o medo de fazer contato visual ou acidentalmente roçar contra ela na cozinha. Na segunda-feira de manhã, não haveria escapatória. Teríamos que descobrir uma rotina matinal para que nós dois trabalhássemos juntos.

Mas não hoje.

Eu não deixaria Genevieve sozinha, mas isso não significava que eu tinha que ficar no apartamento.

Enquanto eu estava no chuveiro, eu fiz um bule de café. Com uma caneca fumegante na mão, fui à oficina e destranquei a porta da oficina com a chave. Apertei o código para desativar o alarme e acendi todas as luzes.

O cheiro de graxa e metal encheu meu nariz. O ar estava obsoleto desde a noite, então fui até um painel na parede para abrir a primeira porta do compartimento, deixando entrar um pouco de ar fresco.

A luz natural brilhava nas ferramentas penduradas na parede. Inspirei profundamente a brisa da manhã, fechando os olhos e deixando-a espalhar-se pelos meus pulmões. A maioria das pessoas em Montana tinha como certa a abundância de ar limpo. Por outro lado, a maioria das pessoas em Montana não passara três anos na prisão.

Coloquei minha caneca de café em uma bancada e caminhei até minha moto estacionada do lado de fora. Soltei o suporte e empurrei-a para a oficina.

Eu estava consertando essa Harley desde que a comprei há mais de um mês. Tinha dez anos e o proprietário anterior não a tratara com muito respeito, mais como uma moto de motocross7 do que uma moto de estrada. Mas o preço estava razoável e a máquina tinha potencial.

Depois de semanas mexendo nela no meu tempo livre, estava quase boa, como nova. Mais alguns ajustes e ficaria perfeita. Leo me prometeu um de seus famosos trabalhos de pintura quando tudo estivesse como eu queria.

Como eu tinha um sábado inteiro livre, comecei a trabalhar.

Perdido na máquina, não ouvi Genevieve entrar na oficina até que ela limpou a garganta atrás de mim.

Olhei por cima do ombro e meus olhos esqueceram suas maneiras. Eles a rastrearam de cima para baixo em uma leitura que despertou sentimentos, e partes do corpo que estavam adormecidas por muito, muito tempo.

Eram as suas pernas. Meu Deus, ela tinha pernas sexy. Ela usava shorts brancos cortados perto do ápice de suas coxas. O algodão brilhante contrastava com o que pareciam quilômetros de pele bronzeada. Sua camiseta era de um verde pálido com um decote baixo o suficiente para dar água na boca. Seu cabelo, flutuando sobre os ombros em ondas de chocolate, não fazia um bom trabalho em esconder os mamilos, que estavam aparecendo através do sutiã e da camiseta.

— Hum... Oi. — Ela puxou o cabelo sobre os seios.

Meus olhos se voltaram para os dela, pegando o rubor de suas bochechas, antes de me virar para a moto e inclinar a cabeça. Porra. A tensão entre nós só iria piorar se eu babasse sobre ela todos os dias.

— Desculpe.

— Sem desculpas, lembra?

Eu balancei a cabeça e me levantei, e desta vez quando dei a ela minha atenção, mantive meus olhos em seu rosto. Não foi muito mais fácil manter a reação do meu corpo a ela sob controle com o brilho labial que ela passara nos lábios.

— E aí?

— O caminhão de mudanças está quase aqui com minhas caixas. — Ela acenou com o telefone. — Eles acabaram de ligar.

Não quase. Eles estavam aqui. Uma grande van de entrega entrou no estacionamento. Acenei para eles enquanto eles recuavam em direção às escadas. Depois passamos as duas horas seguintes transportando caixas para o apartamento.

Quando abrimos a van pela primeira vez, eu cometi o erro de pensar que Genevieve não havia enviado muitas coisas do Colorado. Mas agora que as caixas estavam empilhadas e amontoadas no apartamento, percebi o quão pequeno era o espaço.

— Obrigada. — Ela tirou uma gota de suor da testa. — Isso teria me levado muito tempo sozinha.

Os motoristas da van não levantaram um maldito dedo enquanto ela puxava caixas após caixas no andar de cima. Ou enquanto eu levava duas de cada vez. Eles foram contratados para dirigir, não para mover caixas. Isso não os impediu de olhar para suas pernas cada vez que ela descia as escadas. Filhos da puta.

— Vou descer e trancar a oficina. Então eu vou ajudá-la a abrir as caixas. — Embora não houvesse nenhuma maneira de tudo isso se encaixar. Estaríamos tropeçando em caixas por um ano.

— Oh, tudo bem. Eu posso fazer isso sozinha.

Ela me deu uma saída. Eu poderia sair daqui e evitá-la por mais algumas horas, mas não havia como eu conseguir me concentrar na minha moto sabendo que ela estava trabalhando sozinha.

— Vamos ter que aprender a ficar no mesmo espaço em algum momento. Talvez até nos sentirmos confortáveis um com o outro ao ponto de não fingirmos estar dormindo quando o outro está acordado

Ela estremeceu.

— Você percebeu isso?

— Somos casados. Ou fingindo ser. Esperamos que as pessoas nos tratem como um casal, então...

Ela suspirou.

— Acho que é melhor aprendermos a agir assim.

— Sim. — Começando com um sábado de desembalar.

Levei alguns minutos para trancar a oficina. Quando voltei, Genevieve estava com um biscoito de chocolate na boca e outro em um guardanapo que ela havia reservado para mim.

Eu comi em duas mordidas.

— Biscoito delicioso.

— Obrigada. — Ela foi até o prato onde estavam empilhados, tirando mais dois de debaixo do filme plástico.

— Por onde começamos? — Eu perguntei antes de engolir o segundo biscoito.

— A maioria delas são roupas. Que tal o guarda-roupas?

— Deixe-me arrumar algum espaço. — Eu não tinha muita coisa, apenas algumas camisas de botão e meu belo par de jeans. Eu os tirei do guarda-roupas para que ela pudesse ter a coisa toda.

— E quanto a você?

Dei de ombros.

— Vou dobrá-las e colocá-las em uma gaveta. Você pega o guarda-roupas.

Hoje, nós arrumaríamos para que ela não morasse aqui com as malas no canto. E depois de hoje, talvez realmente aceitasse isso.

Isso não era temporário. Eu morava com Genevieve. Eu era casado com Genevieve. Não havia sentido lamentar uma vida de solteiro ou meu próprio espaço. A realidade era que estávamos nisso juntos.

Terminei outro biscoito e então peguei a tesoura de uma gaveta na cozinha. Peguei uma caixa marcada - sapatos, suficientemente seguro, e abri a fita. A caixa estava cheia dos sutiãs e calcinhas de Genevieve.

Uma imagem dela usando o sutiã surgiu na minha cabeça. Era um de renda rosa pálido sem bojo. Seus mamilos apareceriam.

Minha boca ficou seca.

— O que foi? — Ela veio ao meu lado e espiou dentro da caixa. — Oh.

Eu balancei minha cabeça, forçando a imagem mental de lado, e limpei minha garganta.

— Segundo o rótulo, sapatos.

— Não são sapatos. — Ela riu, cobrindo a boca com a mão enquanto suas bochechas ficavam rosadas.

Sua risada deu vida ao apartamento. O mesmo fez os biscoitos. Talvez este lugar parecesse um lar com Genevieve aqui, não como uma caixa que tivesse uma estranha semelhança com uma cela de prisão, sem as barras.

Genevieve pegou a caixa de roupas íntimas e colocou-a perto de sua mala. Então abrimos a próxima caixa na pilha, desta vez encontrando sapatos. Ela guardou as coisas enquanto eu abria e retirava tudo das caixas. Comi mais cinco biscoitos enquanto ela fazia o possível para enfiar todas as roupas no guarda-roupa. Ainda faltavam dez caixas, mas o cabideiro estava cheio.

— Esta é uma desculpa lamentável para um guarda-roupa. — Ela fez uma careta. — Mas servirá por enquanto. Pelo menos eu tenho roupas para vestir no trabalho na próxima semana. Vou ter que pegar uma arara de roupas ou algo assim. O Amazon Prime funciona em Montana?

— Minha mãe usa isso o tempo todo.

— Sua mãe mora aqui? — O queixo dela caiu. — Em Clifton Forge?

— Não, em Bozeman. Foi lá que eu cresci.

— Oh. Será que ela, — sua mão se lançou entre nós como uma bola de pingue-pongue, — sabe sobre nós?

— Ainda não. — E eu não vou dizer a ela tão cedo. — Qual é a próxima?

Genevieve não parecia se importar com o fato de eu encerrar a discussão sobre minha mãe. Ela examinou as caixas, seu olhar pousando em um conjunto de caixas organizadoras empilhadas na frente do sofá.

— A maioria das coisas nessas caixas era da casa da mamãe. Fotos e lembranças. Ela adorava tirar fotos, mas isso foi antes da era digital, então são todas impressas.

A sua voz falhou. A dor que ela escondia tão bem na maioria dos dias estava presente. A raiva que ela se agarrava, caiu e seus olhos inundaram. Com tudo o que tinha acontecido, eu tinha esquecido que ela tinha acabado de perder sua mãe, o único dos pais que ela conhecia.

— Você se importaria se eu colocasse uma foto dela? — Genevieve perguntou, piscando para afastar as lágrimas.

— De modo nenhum.

Ela foi para o sofá e sentou na beira, arrastando uma caixa plástica para mais perto. Quando ela abriu a tampa, a curiosidade tomou conta de mim e eu me juntei a ela no sofá. Seu corpo se dobrou quando ela alcançou a foto em cima.

— É ela? — Eu perguntei, olhando para uma foto com duas pessoas sorrindo. Eu tinha visto a foto de Amina no jornal após o assassinato, mas nesta ela era muito mais nova. Genevieve estava sentada no seu colo, rindo enquanto Amina segurava a filha perto. — Ela é linda.

— Ela era. — Seus dedos roçaram o rosto de sua mãe. — Ela teria odiado isso para mim.

Era a realidade brutal.

Minha mãe também odiaria isso para mim.

Estiquei-me até alcançar a caixa, pegando um pacote de fotos embrulhadas em um elástico. Mas quando me inclinei, Genevieve também. Nossos braços se roçaram, o calor de sua pele irradiando através da minha. Um zumbido reverberou pelo meu peito, quente como a centelha de metal colidindo com metal.

— Desculpe. — Nós dois nos viramos para pedir desculpas. Nossos narizes encostaram.

Meu olhar caiu para aqueles lábios brilhantes. Tudo o que eu precisava fazer era me inclinar uma fração de centímetros e capturá-los. Um giro rápido e eu a teria embaixo de mim no sofá, seus seios pressionados contra o meu peito.

O desejo de beijá-la me enviou cambaleando para trás, saindo do sofá para a cozinha. Peguei outro biscoito do prato e enfiei inteiro na minha boca.

A única doçura dela que eu teria nos lábios seria desses biscoitos.

Não consegui beijar Genevieve. Eu não merecia esse tipo de beleza.

Não depois de todo o mal que eu causei.


Capítulo Seis

Genevieve


— Até mais. — Isaiah levantou o queixo quando nos separamos no final da escada.

— Tchau. — As chaves na minha mão sacudiram quando eu acenei. Dei um passo para o meu carro, mas parei quando a porta do escritório se abriu com um sopro atrás de mim.

— Indo para o trabalho?

Toda manhã era a mesma pergunta.

Eu me virei.

— Sim.

Draven esteve aqui para me ver todos os dias desta semana. Eu não tinha certeza de que horas ele chegou, nunca ouvi sua moto, mas sem falhas, ele espreitava no escritório e emergia quando Isaiah e eu dávamos o último passo.

— Seja cuidadosa. Cuidado com qualquer coisa suspeita.

A mesma pergunta. O mesmo aviso. Cinco manhãs seguidas.

— Ela é cuidadosa. — Isaiah veio para o meu lado e jogou o braço sobre meus ombros.

Depois de uma semana de treino, eu estava melhorando em derreter ao seu lado. Na primeira manhã, ele me pegou de surpresa e eu enrijeci como uma tábua.

Fingir estar apaixonada por alguém não era fácil. Uma atriz, isso, com certeza, eu não era.

— Vale a pena repetir, — disse Draven, com os olhos se estreitando. Seu escrutínio estava começando a me irritar, mas Isaiah e eu tínhamos aguentado.

Escorreguei minha mão na cintura de Isaiah, sorrindo para ele. Ele não tinha se barbeado esta manhã e a barba em sua mandíbula pegou o sol, fazendo as cerdas parecerem mais claras do que seu marrom escuro normal.

Ele era tão bonito, muito bonito. Nós dois devíamos fazer uma foto fofa, mas não a de tirar o fôlego que ele merecia. Porque não era real. Nossa falta de autenticidade sempre eclipsaria nossa imagem.

Quando Isaiah encontrasse a mulher certa, uma que ele amasse e que o amasse em troca, eles brilhariam mais do que a luz de mil estrelas.

Seu cheiro me envolveu enquanto eu me inclinava para o seu lado. Era o mesmo cheiro que encontrei nos travesseiros dele quando me mudei para o apartamento: sabão fresco, cedro e seu próprio odor natural. Esse cheiro me consolou nas duas noites em que dormi sozinha no apartamento, trancada do mundo para chorar em seu travesseiro.

Naquelas noites, eu chorei de medo. Um assassino estava solto. Ele tirou a vida de mamãe e não falharia se tivesse uma segunda chance de tirar a minha. Eu chorei de dor, porque peguei o telefone para discar o número da mamãe, só para perceber que ela nunca atenderia. Eu chorei porque simplesmente estava... Sozinha.

Até Isaiah voltar. Ele afugentava um pouco do medo com sua presença, embora a tristeza estivesse sempre presente. Seus travesseiros não cheiravam mais a ele e não mais pegaram minhas lágrimas. Nos dias em que eu precisava chorar, guardava para o banho.

Mas eu tinha o seu cheiro pela manhã, quando fizemos um pequeno espetáculo para Draven e fingíamos ser recém-casados apaixonados.

Isaiah abaixou o rosto e se aproximou. Se não fosse a escuridão e o medo em seus olhos, eu poderia acreditar que ele não estava com medo de me tocar.

— Eu a seguirei. Mande-me uma mensagem quando estiver pronta para voltar para casa.

— Ok. — Eu sorri, fortalecendo minha espinha pelo que estava por vir.

Isaiah e eu estávamos casados há mais de uma semana e nos beijamos cinco vezes. Uma vez no tribunal e uma vez a cada manhã para Draven.

Hoje eu precisaria de duas mãos para contar o número de vezes que nos beijamos. Isso pareceu monumental por algum motivo.

Normalmente, Isaiah seria o único a assumir a liderança. Ele mergulhava baixo e roçava sua boca na minha enquanto eu fechava meus olhos e me deixava fingir que era real. Que mulher não gostaria que esse homem lindo e sexy a beijasse antes de ir trabalhar todas as manhãs?

O beijo desta manhã não foi diferente. Eu fiquei na ponta dos pés, esperando enquanto ele pressionava seus lábios nos meus. E então, como todas as outras manhãs desta semana...

Isaiah se encolheu.

Os músculos de suas costas se contraíram. O seu braço em volta dos meus ombros ficou tenso. Os seus lábios endureceram. Eu duvidava que Draven notasse. Se ele o fez, provavelmente parecia que Isaiah estava simplesmente me puxando mais perto de seu peito firme ou talvez que Isaiah estivesse se segurando desde que tínhamos uma plateia.

Só eu sabia a verdade. E esse estremecimento doía mais e mais a cada dia.

Eu era realmente tão horrível?

Eu rompi o beijo, afundando meus calcanhares no chão e me soltando do aperto de Isaiah.

— Desculpe. Batom. — Eu alcancei sua boca, usando meu polegar para limpar o batom em seus lábios. Realmente, foi para limpar o beijo. Eu sabia que ele queria limpá-lo, mas com Draven parado observando, ele não poderia fazer isso sozinho.

— Obrigado. Tenha um bom dia.

— Você também, querido. — Isso ainda soa estranho. — Tchau. — Dei um pequeno aceno a Draven e fui para o meu carro.

Isaiah caminhou até sua moto e a ligou. Ele me seguia até o escritório, certificando-se de que eu chegasse em segurança. O almoço estava na minha bolsa e seria comido na minha mesa, e quando eu estivesse pronta para sair para o dia, Isaiah viria e me acompanharia para casa.

Eu me ofereci para deixá-lo dirigir meu carro para que não precisássemos usar dois veículos, o meu ficava sem uso no estacionamento o dia inteiro, mas ele insistiu em ir separadamente.

Um peso saiu dos meus ombros enquanto eu me afastava da oficina. O entusiasmo pelo dia afugentou a dor do beijo de Isaiah. Pelas próximas nove horas, eu não precisaria fingir. Minha mente estaria muito ocupada trabalhando para se preocupar com Isaiah ou contemplar as escolhas de mamãe.

Pelas próximas nove horas, eu me perderia no meu novo emprego.

Jim Thorne era um dos três advogados do condado. Dois se especializaram em negócios corporativos, atendendo às empresas da cidade, bem como à infinidade de fazendeiros e pecuaristas da região, enquanto Jim cuidava de quase todo o resto. Acordos de divórcio. Disputas de custódia. Procedimentos criminais.

Segundo Jim, o escritório estava lotado de trabalho, mas ele não estava anunciando uma posição de assistente jurídica, o que explicava por que não apareceu na minha pesquisa. Ele alegou que era porque não tinha tempo para treinar ninguém sem experiência legal. Ele disse que era mais fácil simplesmente fazer o trabalho sozinho.

Ou talvez ele estivesse esperando um assistente jurídico que não se importasse que toda uma gangue de motociclistas extinta o tivesse na discagem rápida, porque a assistente jurídica estava morando acima da oficina da referida gangue de motociclistas.

Eu odiava a ideia de ter conseguido esse emprego por causa de Draven, mas hoje em dia eu era uma indigente. Minhas contas tinham que ser pagas. E, como tudo na minha vida em Clifton Forge, isso era apenas temporário.

Então, eu aceitei o trabalho, e Jim parecia muito feliz por ter chegado a ele com muita experiência.

Eram necessários seis minutos para chegar ao escritório. Estacionei no estacionamento ao lado do prédio de tijolos, tranquei meu carro e caminhei até a porta da frente. O carrilhão ecoou acima da minha cabeça quando entrei então acenei para Isaiah parado do lado de fora, o permitindo ir embora.

— Bom dia, Gayle. — Sorri para a recepcionista na recepção enquanto atravessava o piso de carvalho escuro. Todo o espaço do escritório estava decorado com bom gosto e classe, algo que Jim fazia questão de dar crédito à sua esposa, Colleen.

— Bom dia, Genevieve. Amo esses sapatos.

— Obrigada. — Eu usava um sapato de salto scarpin vermelho. Esses sapatos eram o tempero das minhas calças pretas lisas e blusa branca.

O clique dos meus sapatos foi abafado pelo tapete do meu escritório. Coloquei minha bolsa em uma gaveta da mesa e olhei para as paredes em branco creme.

Este escritório esteve vazio por três anos, desde que o último assistente jurídico de Jim havia se aposentado. Ele me disse para decorar o espaço à vontade, mas a decoração era algo muito permanente. Eu estava secretamente rezando para que uma posição de assistente jurídico com um dos outros advogados da cidade abrisse em pouco tempo, e eu pudesse romper essa conexão com o advogado de Draven.

Eu encontraria meu próprio trabalho, muito obrigada.

Do outro lado do meu escritório havia uma sala de conferências. Ao lado estava o salão dos funcionários. Guardei meu almoço na geladeira e enchi uma caneca de café, depois caminhei pelo corredor que dividia o prédio estreito. Encontrei Jim em sua mesa no último escritório no final do corredor.

— Bom dia. — Enfiei a cabeça na sua porta.

— Oi, Genevieve. — Ele sorriu, acenando para mim. Jim provavelmente tinha quase a idade de Draven.

Seu sorriso branco contrastava contra sua pele escura bronzeada. Seus ricos olhos castanhos irradiavam calor e bondade. Ele não parecia o advogado de um motociclista mentiroso, mas minha mãe não parecia uma mentirosa adúltera, então eu estava mantendo minha guarda.

— Como você está nesta bela sexta-feira de manhã? — Ele perguntou.

— Não posso reclamar. — Bem, eu poderia, mas não para Jim.

Eu só queria trabalhar. Muito. Eu precisava da distração e da distância da minha vida pessoal. Meus problemas não chegaram a este escritório e arruinaram a maior parte do meu dia. E, embora eu ainda desconfiasse de Jim, fiquei grata por esse trabalho, por mais breve que fosse.

Até agora, Jim tinha me deixa trabalhar sozinha, o que eu gostei. Ele não gerenciava minhas tarefas e parecia gostar de responder minhas perguntas.

Advogado de motociclista mentiroso ou não, eu trabalhava para Jim Thorne por uma semana e ele me tratava com mais respeito do que Reggie há anos. Meu trabalho com Reggie fora o meu primeiro trabalho pós-faculdade, e eu não sabia o que estava perdendo.

A arrogância de Reggie estava fora de controle. Ele não era um herói, algo que ele provou quando eu me demiti.

Gayle elogiou Jim no meu primeiro dia de trabalho, certificando-se de que ela o considerava um dos melhores homens do mundo. Ela me disse que ele era um bom homem que trabalhou duro para construir sua reputação em uma cidade pequena.

O fato era que Montana não era um estado diverso. Talvez fosse mais fácil para ele em uma cidade maior, mas ele amava essa cidade e era a casa de sua esposa. E, no momento, ele era meu chefe.

— Qual é o plano para hoje? — Eu perguntei.

Jim relaxou em sua cadeira.

— Você sabe, pela primeira vez, eu posso tentar sair daqui e começar meu fim de semana mais cedo.

— Tudo certo. O que eu posso fazer?

— Exatamente o que você tem feito. Tenho que dizer, Genevieve, estou bastante impressionado. — Ele sorriu. — Draven disse que você era inteligente e que eu gostaria de você. Como sempre, ele estava certo.

— Obrigada. — Eu forcei um sorriso. Draven mal me conhecia. Como ele sabia que eu era inteligente? Por que ele estava falando de mim como se ele fosse um pai amoroso? Especialmente quando ele não estava envolvido nem um pouco com a minha educação. Se eu trabalhava duro, se sabia como usar meu cérebro, era porque mamãe havia me ensinado.

— Sente-se e vamos ver isso. — Jim passou quase uma hora me guiando pelos projetos nos quais precisava que eu trabalhasse hoje. Era bastante coisa, mas toda vez que ele perguntava se era o suficiente, eu dizia para ele adicionar mais.

Eu poderia lidar com isso. Eu precisava disso desesperadamente.

Este trabalho seria a minha salvação por enquanto.

— Tudo certo. — Levantei a pilha de arquivos que tínhamos passado. — Eu vou trabalhar.

— Obrigado. — Ele sorriu, as rugas ao lado dos olhos se aprofundando.

Jim tinha uma natureza gentil, mas Gayle havia me dito durante o meu segundo dia para não deixar isso me enganar. Para seus clientes, Jim era um buldogue e sua taxa de sucesso provou isso.

Não era surpresa que Draven o mantivesse. Buldogue era definitivamente o estilo de Draven.

— Uma última coisa. — Jim me parou antes que eu pudesse sair, seu sorriso desaparecendo. — Como você sabe, seu pai é meu cliente.

— Sim.

— O julgamento não começará por um tempo, mas, normalmente, eu gostaria que você me ajudasse a preparar moções para suprimir evidências e verificar antecedentes de qualquer testemunha que o estado chamar. Não dessa vez.

— Compreendo. É um conflito de interesses.

— Serei tão honesto com você quanto minha funcionária, assim como sou com meus clientes. Draven sabe que isso é um tiro no escuro.

— Oh. — Eu estremeci. Por que isso me chocou? Apenas algumas semanas atrás, eu pensei que Draven era o assassino.

Mas muita coisa mudou. Eu poderia saber que o verdadeiro assassino estava lá fora, mas a polícia não. Se a acusação o condenasse, passaria o resto da vida na prisão. Eu tinha esquecido que o mundo via Draven como um assassino.

— Agradeço a honestidade, — disse a Jim. — Se houver algo que eu possa fazer, me avise.

Jim apontou para a pilha de pastas nos meus braços.

— Você está fazendo isso. Quando eu tenho um grande caso, normalmente todo o resto é feito à noite ou não é feito. Pode não parecer que você está ajudando, mas, mantendo as coisas por aqui, vai me dar tempo para me concentrar no caso do seu pai. Mantê-lo na frente e no centro.

— Eu farei o meu melhor.

Passei o resto da manhã no meu escritório, dando início às tarefas que Jim me designara. Enchi todos os momentos livres, nunca dando um tempo, porque se eu parasse, mesmo por um momento, pensaria em mamãe, Draven ou Isaiah. Eu não queria pensar neles. A única exceção era quando meu cronômetro tocava no meu telefone a cada hora e eu enviava uma mensagem de texto para Isaiah.

Ok.

Ele não respondia. Mas eu sabia que se ele não recebesse o texto a cada hora, ele viria me verificar. Jim apareceu logo após o almoço.

— Estou indo embora. Obrigado novamente.

— Tenha um ótimo fim de semana.

Ele acenou, depois se despediu de Gayle, nos deixando sozinhas.

Quando a porta bateu atrás dele, puxei a lata de spray de pimenta da minha bolsa e a deixei no meu colo enquanto trabalhava. Draven me entregou na segunda-feira, quando nos encontrou antes do trabalho. Gayle era uma mulher robusta, um buldogue por si só, mas eu duvidava que ela fosse capaz de impedir um assassino se ele invadisse a empresa.

Ficar sozinha seria mais fácil? Ou passaria o resto da minha vida olhando por cima do ombro, segurando latas de spray de pimenta?

Forcei o medo para longe, concentrando-me no trabalho. Quando chegou as cinco horas, mandei uma mensagem para Isaiah que estava pronta para sair, peguei minhas coisas e encontrei Gayle na porta.

— Tenha um bom final de semana, Gayle.

— Você também. — Entramos na calçada e ela trancou a porta, enfiando as chaves na bolsa. — Que bom que você está aqui, Genevieve.

— Obrigada.

Gayle partiu na direção oposta, preferindo caminhar cinco quarteirões para casa nos meses de verão, enquanto eu ia para o estacionamento. Uma moto preta estava estacionada atrás do meu carro. Os olhos assombrados e magníficos do cavaleiro estavam escondidos atrás de óculos escuros.

— Ei.

A voz áspera de Isaiah enviou um arrepio na minha espinha.

— Oi. Como foi o seu dia?

— Bem. Você?

— Foi um dia ocupado. — Fui até o meu carro, passando a porta para me encostar no porta-malas. Eu não estava com pressa de chegar ao apartamento e me esconder. Eu queria alguns momentos para o sol beijar meu rosto. — Jim falou comigo sobre o julgamento de Draven. Eu esqueci com tudo o mais acontecendo que a maioria acha que ele é culpado. E sinto que estou sempre perdida, que todos estão dez passos à frente.

Isaiah desceu da moto e encostou-se ao porta-malas.

— Quer que eu lhe conte o que eu sei? Não é muito, mas talvez ajude.

— Por favor. — Talvez juntos, possamos entender o que estava acontecendo.

— A polícia tem a arma do crime. É uma faca de caça com o nome de Draven gravado na lateral. Tem as impressões dele. E eles sabem que ele estava no motel.

Essas foram as coisas que eu descobri no jornal de Bryce. Eu me forcei a ler as histórias sobre o assassinato de mamãe no início da semana.

— Um cara invadiu o clube e roubou a faca, — disse Isaiah. — Emmett pegou na câmera de vigilância. Bryce publicou uma história no jornal alguns dias atrás, mostrando o cara invadindo. Ela especulou que ele poderia ter roubado a faca. Ela esperava que isso causasse alvoroço, que talvez as pessoas da cidade começassem a questionar a investigação e isso forçaria o chefe Wagner a se aprofundar.

— E então?

Ele balançou a cabeça.

— Droga. — Não culpava o chefe de polícia. Ele tinha seu assassino e não havia necessidade de perseguir pistas improváveis. Especialmente quando a filha da vítima ligava do Colorado todos os dias, implorando por justiça.

— Você deve voltar e ler todos os jornais, — sugeriu Isaiah.

— Eu já li, — eu disse com um suspiro. — Ainda parece que estou perdendo grandes partes do que aconteceu. Você sabe mais alguma coisa?

— Só isso. — Ele balançou sua cabeça. — Eu também estive do lado de fora. Sei que você ainda não sabe como lidar com ele, mas a pessoa com mais informações é Draven.

— Sim, — eu murmurei. Eu ainda não estava pronta para outra discussão longa com ele. Primeiro, começaria com Bryce e veria se ela sabia mais do que aquilo que fora impresso. — O que você acha que acontecerá se Draven for para a prisão?

Ou quando?

Minha vida inteira eu não conhecia meu pai. Eu apenas o encontrei e estava... Me ajustando. Se ele fosse enquadrado com sucesso pelo assassinato de mamãe, ele desapareceria novamente.

— Dash não vai deixar isso acontecer, — disse Isaiah. — Ele não vai parar até encontrar o verdadeiro assassino.

— De que maneira?

Isaiah suspirou.

— Eu não sei, boneca.

Boneca. Não houve hesitação na palavra. Estava se tornando um hábito, um que afugentava um pouco da tensão entre nós. Talvez depois de “boneca” suficientes, nós acabaríamos com todo o constrangimento e encontraríamos uma amizade por baixo.

Isso seria mais fácil se fôssemos amigos.

— Dash está determinado, — disse ele. — Bryce, Emmett e Leo também. Eles não querem que o verdadeiro assassino fique livre, e agora que sabem que ele não era o cara que morreu no incêndio, vão se esforçar mais.

Estremeci com a imagem mental da cabana em chamas, mas a empurrei de lado.

— Eles têm alguma pista?

— Nenhuma ideia. Eu principalmente fiquei fora disso. Exceto quando... Você sabe.

Quando ele me resgatou e amarrou nossos destinos.

— Temos que conversar sobre isso em algum momento. A cabana, — eu sussurrei, olhando ao redor do estacionamento. Eu sabia que estávamos sozinhos, mas senti a necessidade de checar novamente sempre que o tópico surgia.

— Nada para falar. — Seu corpo ficou tenso. — Eu matei um homem.

— E eu comecei um incêndio.

Dois crimes que nos uniram para sempre. Embora eu desejasse que eles fossem revertidos. Matar aquele homem havia tomado parte da alma de Isaiah. Isso o assombraria junto com os outros demônios torturando seu coração.

— Eu preciso ir ao supermercado, — eu disse, mudando de assunto.

— Eu irei segui-la.

Eu desencostei do porta-malas, indo para a minha porta, mas parei antes de abri-la.

— Você me ajudaria?

— No supermercado?

— Não. Com outra coisa.

Eu queria libertar meus fantasmas. Eu queria nos libertar e dar a Isaiah a chance de encontrar uma mulher que ele beijaria por amor, não por obrigação. Uma mulher que o ajudaria a combater esses demônios e a trazer alguma luz para sua vida.

Ele merecia liberdade. Todos nós merecíamos.

— O que então? — Ele perguntou.

— Quero encontrar o homem que matou minha mãe.

— Ok. Mas podemos nunca descobrir, — ele avisou.

— Eu sei. Mas tenho que tentar.


Capítulo Sete

Genevieve


Eu me levantei da minha mesa e andei em direção à porta. O corredor estava vazio. Gayle estava sentada em sua mesa trabalhando enquanto Jim saíra para o tribunal horas atrás.

A pilha de trabalho na minha mesa estava pronta e eu tinha duas horas antes de enviar uma mensagem para Isaiah para ir para casa. Fazia três dias desde que eu disse a ele que queria encontrar o assassino de mamãe. E nesses três dias, eu criei um plano.

Um plano que eu estava mantendo em segredo por enquanto.

Eu sentei na minha cadeira, inclinando a tela do meu computador, para que, se Gayle entrasse, ela não veria o que eu estava fazendo. Então puxei um bloco de notas da minha bolsa e abri-o na primeira página, escrevendo um nome em cima.

Draven Slater

Eu virei para a próxima página.

Dash Slater

Depois o próximo.

Emmett Stone

Leo Winter

Presley Marks

Com exceção de Isaiah e Bryce, cada pessoa na oficina tinha uma página.

Eu iria preencher as linhas vazias com notas de antecedentes e verificações criminais. Eu iria retirar um relatório do banco de dados LexisNexis para obter endereços de propriedades, pseudônimos e qualquer outra coisa em que eu pudesse colocar minhas mãos. Então eu adicionaria mais nomes ao meu caderno.

Em seguida, eu iria procurar outros membros do antigo moto clube Tin Gypsy. E depois disso, eu estaria voltando minha atenção para os Arrowhead Warriors.

Porque em algum lugar, escondido, havia um assassino. A única arma que eu tinha para encontrá-lo era a informação. Então, eu estava explorando meus recursos na empresa para encontrá-lo.

Passei a próxima hora clicando em registros públicos e relatórios de banco de dados, escrevendo notas o mais rápido que pude escrever. Eu estava anotando a longa lista de propriedades de Emmett quando parei de escrever.

Emmett compartilhava a maioria das propriedades com sua mãe. Eram investimentos conjuntos? Ou Emmett os herdou quando seu pai morreu anos atrás? Se fosse o último, por que toda a propriedade não seria da mãe de Emmett? Eu não estava familiarizada o suficiente com leis de propriedade de espólio para saber como a herança era dividida após a morte.

Eu pisquei.

Eu não estava familiarizada com muitas leis de Montana.

Meus dedos mergulharam no teclado, puxando um mecanismo de busca para o código legal do estado. Então digitei ‘privilégios conjugais’.

As palavras na tela ficaram borradas quando as li uma vez e depois duas. Na terceira vez, meu estômago revirou e eu saí da cadeira, correndo para o banheiro. Meus joelhos estalaram contra o chão de azulejos quando o conteúdo do meu estômago entrou em erupção no banheiro.

Tossi, minha cabeça tonta, quando limpei a boca e afundei no chão fresco.

— Oh, meu Deus. — Passei a mão pelo meu cabelo.

Como eu pude ser tão estupida? Como eu poderia não ter visto isso? Eu presumi que a lei de Montana sobre privilégios de testemunho seguia os regulamentos federais.

Mas não era assim.

Isaiah e eu nos casamos por nada. Um tribunal poderia me chamar para testemunhar contra ele e, a menos que eu mentisse sob juramento, seria obrigada a dizer a verdade. Talvez houvesse uma brecha. Talvez se o DEA ou o FBI se envolvessem, isso caísse sob jurisdição federal, mas a probabilidade era pequena.

Meu estômago revirou novamente.

Tudo, o casamento, as mentiras, tudo tinha sido por nada.

— Genevieve? — Gayle bateu na porta. — Você está bem?

— Tudo bem, — eu ofeguei. — Meu almoço não me fez muito bem.

— Oh não, querida. Eu sinto muito. É melhor você ir para casa.

Casa? Onde eu estava em casa?

Porque a partir de agora, não tinha que ser Montana. Eu poderia me afastar disso. Eu poderia anular meu casamento com Isaiah e sair de Clifton Forge.

Eu me levantei do chão, segurando a parede enquanto me arrastava para a pia. Eu molhei meu rosto com água, e lavei minha boca. E então olhei meu anel de casamento durante um longo momento.

Era uma farsa. Essa coisa toda era uma farsa, por nada.

Eu estava em pânico depois da cabana, fiz algumas suposições para proteger Isaiah. Eu cometi um erro não as verificando antes. Mas com a morte de mamãe, a mudança e ser lançada na família Slater, eu estava muito distraída.

Meus olhos se voltaram para o espelho.

O que mamãe faria?

A mãe que eu conheci e amei, minha mãe, ficaria. Não porque a lei a prendeu em um casamento, mas porque ela fez uma promessa. Eu tinha jurado ficar ao lado de Isaiah até tudo isso passar.

Então, eu faria o que minha mãe faria. Eu guardaria isso para mim mesma, já que foi um erro meu, e cumprirei minha promessa a Isaiah.

Além disso, para encontrar o assassino de mamãe, eu precisava estar aqui em Montana. Se eu terminasse o casamento com Isaiah, todos questionariam por que eu ainda morava em Clifton Forge.

Lavei minha boca mais uma vez, depois voltei ao meu escritório, fechando meu computador e guardando meu caderno secreto na bolsa. Então mandei uma mensagem para Isaiah que estava pronta para sair.

Não demorou muito para o som do motor da moto ecoar lá fora.

— Pronta para ir para casa? — Ele perguntou quando eu o encontrei no estacionamento.

Eu olhei nos seus olhos, aqueles olhos maravilhosamente assombrados, e meu estômago parou de revirar. Esta era a coisa certa a fazer.

Por Isaiah.

— Sim. — Eu assenti. — Estou pronta.


Capítulo Oito

Isaiah


— Ai. Filho da puta. — Uma panela bateu na pia.

Saí correndo do banheiro e encontrei Genevieve na cozinha, com a mão debaixo de uma corrente de água.

— O que aconteceu?

Ela abaixou a cabeça.

— Eu queimei meu dedo.

Eu estava ao seu lado num piscar de olhos, minhas mãos mergulhando na água fria para segurar a dela e avaliar os danos. Havia uma mancha rosa no dedo indicador, mas não parecia sério.

— Está tudo bem. — Ela arrancou a mão da minha mão e a devolveu à torneira.

Eu não tinha certeza de como ela tinha queimado o dedo. Com o humor que ela estava, eu também não ia perguntar. Um mês se passou desde que Genevieve me disse que queria encontrar o assassino de sua mãe. Como eu a avisei, simplesmente não havia nada para encontrar, algo que ela estava lutando para aceitar.

Quando os dias de agosto chegaram ao fim, ela ficou cada vez mais frustrada. Nós dois passamos horas conversando com Bryce e Dash. Tínhamos repassado tudo o que eles encontraram desde que Amina foi assassinada.

Duas vezes.

Genevieve havia passado algumas horas com Draven, entendendo seu ponto de vista. Havia coisas sobre o moto clube que nenhum deles queria compartilhar. Nós não pressionamos. E no final de tudo, estávamos tão sem pistas para seguir quanto todos os outros.

Ela continuou estudando este caderno, debruçada sobre as páginas. Eu não tinha certeza do que ela havia escrito, mas ela sempre o fechava com um bufo e enfiava na bolsa, mais irritada depois de ler suas anotações do que antes.

Bryce também não ofereceu muito conforto. Se encontrassem alguma coisa, eles se juntariam e contariam uma para a outra. Elas se encontravam pelo menos uma vez por semana para tomar um café, enquanto Dash e eu nos revezávamos com a guarda. Principalmente, elas conversavam sobre o casamento de Bryce e Dash que estava próximo porque Bryce surpreendeu Genevieve e perguntou se ela seria uma dama de honra. Mas houve momentos em que a conversa se voltou para a investigação de assassinato ou sequestro. As duas saíam da cafeteria enlouquecidas.

Não importa o quanto falássemos sobre isso, não importa quantas vezes elas olhassem para os eventos de um ângulo ou de outro, não havia trilha a seguir. O homem que matou a mãe de Genevieve estava foragido. Ele se safaria de assassinato e sequestro, deixando Draven levar a culpa.

O julgamento de Draven foi marcado para a primeira semana de dezembro. Genevieve voltava para casa falando de notícias do Jim e usando o jargão legal que eu não entendia sobre moções e audiências. Eu tinha aprendido o básico durante minha própria experiência com o sistema de justiça, mas a situação de Draven era diferente, ele se declarou inocente.

Todos nós tememos o julgamento. Uma vez iniciado, seria quase impossível que a polícia e os promotores considerassem outro suspeito, a menos que entregássemos um a eles em uma bandeja de prata. Inferno, eles estavam tão certos sobre ele ser o culpado agora como estavam antes.

Genevieve estava perdendo a esperança. Estava escoando mais rápido que a água no ralo da pia. Ela manteve a cabeça baixa, olhando para a panela enquanto deixava o dedo esfriar.

— Ainda doendo? — Tirei a sua mão da água novamente. Desta vez, ela não se afastou.

— Está tudo bem. — Os seus ombros caíram. — Dói.

— O que aconteceu?

— Eu estava fervendo água para o macarrão e quando peguei a panela, a água espirrou. Foi um erro estúpido, porque eu não estava prestando atenção.

No último mês, eu a peguei olhando para o espaço uma dúzia de vezes, totalmente perdida em pensamentos.

— Estou tão... — Ela rosnou, puxando a mão livre e se afastando da pia. — Louca. Estou tão brava.

Eu preferia a Genevieve louca do que a Genevieve triste.

Quando ela se mudou para cá, houve momentos em que esteve tão perto das lágrimas. Ela tentou escondê-las no chuveiro todas as manhãs. A morte de Amina, o sequestro e esse casamento cobraram seu preço.

Mas eu não tinha visto lágrimas ultimamente. Em vez disso, seus olhos estavam fixos em um brilho constante, e ela brigava com objetos inanimados. Ontem ela repreendeu um gancho no banheiro por não segurar a toalha da maneira certa.

— Entendi. — Se eu estivesse na sua posição, também ficaria chateado.

— Eu gostaria que tivéssemos algo, qualquer coisa, para continuar.

Não havia pistas no clube sobre o homem que invadira e roubara a faca de Draven para matar Amina. Os Warriors desapareceram desde a visita surpresa à oficina. Eles estavam esperando para pegar todos nós de surpresa, ou estavam sem pistas para seguir também.

Se eles tivessem descoberto que Genevieve e eu éramos aqueles naquela cabana, já estaríamos mortos.

— Vamos sair daqui. Pare de pensar nisso por um dia.

Ela parou de andar.

— Onde você quer ir?

— Leo está vindo hoje para pintar minha moto. Nós vamos trabalhar no design. Desça e ajude. Veja como fica.

— Ok. Podemos pedir alguma coisa para almoçar?

— Sim.

— Dê-me cinco minutos para me trocar. — Ela foi até a cômoda nova e puxou um par de shorts jeans da gaveta do meio. Ela desapareceu no banheiro enquanto eu secava a panela na pia e a guardava.

Eu me inclinei contra o balcão, esperando que ela saísse, e observei o lugar. Estava apertado, com certeza, mas não desconfortável. Desde que seus pertences chegaram, Genevieve passou a maioria dos sábados organizando o apartamento. Ela organizava as coisas por horas, tentando ganhar espaço. O cara da UPS8 entregava algum tipo de caixa organizadora para empilhar todos os dias.

Mas ela fez isso. As caixas foram para a lixeira e tudo tinha seu lugar.

Suas roupas estavam penduradas no guarda-roupa e em uma prateleira colocada contra a parede ao lado da cama. Tinha uma cômoda nova que havia chegado. Ela a montou dois sábados atrás enquanto eu estava na loja. Eu tinha planejado fazer isso por ela, mas ela terminou antes que eu tivesse a chance.

Ela não precisava de ajuda ou talvez não quisesse. Era estranho viver com uma mulher tão autossuficiente. Embora minha única comparação fosse mamãe. Meu irmão mais velho, Kaine e eu estávamos sempre fazendo trabalhos para mamãe. Consertando uma calha. Pendurando uma prateleira. Cortando a grama ou retocando uma parede com tinta.

Shannon era assim também. Ela não tentaria abrir um pote de molho de espaguete. Ela acabaria o entregando com um sorriso.

Mas não Genevieve. Na semana passada, ela lutou com um pote de picles por dez minutos antes que fosse muito doloroso de assistir e eu o peguei dela, abrindo-o com um estalo.

Ela agradeceu? Não. Ela fez uma careta e me disse que quase tinha conseguido.

Genevieve era autossuficiente, uma mulher que não precisava de confidente ou companheiro. Eu suspeitava que era uma coisa nova desde a morte de sua mãe. Amina a decepcionara, epicamente. Talvez Genevieve estivesse se protegendo para evitar futuras dores. Ou talvez estivesse provando para si mesma que podia se sustentar sozinha. Que ela poderia sobreviver a isso.

Seja qual fosse o motivo, morar com ela era uma adaptação.

Não de uma forma ruim. Apenas uma adaptação.

Mas, como colegas de quarto, ela era a melhor que eu já tive, isto é, se você considerasse colegas de cela como colegas de quarto. Viver com Genevieve era mais fácil do que viver com mamãe também.

Mamãe era preocupada demais. Ela tinha muita pena de mim.

Os produtos de banho de Genevieve enchiam o chuveiro. Sempre havia resíduos de maquiagem na pia e fios de cabelo no chão. Mas eu aceitaria aquele banheiro bagunçado mil vezes ao invés de um colega de cela que roncava ou me dava um soco enquanto eu dormia por nenhuma outra razão além dele querer fazer isso.

— Pronto. — Ela saiu do banheiro não mais vestindo calça de pijama, mas shorts e uma blusa cinza lisa. Ela colocou uns chinelos e pegou sua bolsa.

Meus olhos se concentraram em suas pernas longas e eu engoli um gemido. Nós estávamos morando juntos por semanas. Não era para ficar mais fácil? Quando ela deixaria de ser aquela linda mulher nua no meu chuveiro e começaria a ser somente... Genevieve? Minha colega de quarto que tinha meu sobrenome?

Beijá-la todas as manhãs antes do trabalho não estava ajudando. Eu parei de contar porque quanto mais alto o número subia, mais frustrado eu ficava que cada um era mais insuportável do que o anterior.

Todas as manhãs eu tinha que lutar contra a vontade da minha própria língua de provar seu lábio inferior. Assim como hoje eu tive que forçar meus olhos para longe daquelas pernas.

— O que você sente vontade de comer? — Ela perguntou.

Engoli em seco.

— Sanduíche funciona para você?

— Pode ser da delicatessen do supermercado? Eu preciso pegar algumas outras coisas também.

— Por mim, tudo bem. — Eu segurei a porta para ela e enquanto descíamos as escadas, tirei as chaves da minha moto do bolso. — Vá na frente.

— Você não vai ir comigo?

— Não.

Ela piscou.

— Por que não?

Fantasmas. Mas não era algo que eu tivesse coragem de explicar.

— Eu quero pegar a moto antes que Leo chegue aqui, e verificar se todos os ajustes foram feitos, — eu menti.

— Oh. Devo ir com você?

Eu balancei minha cabeça.

— Não há espaço para as compras.

Isso, e eu não andava com outras pessoas. Eu não fazia isso há seis anos. Eu definitivamente não pilotava com outras pessoas, nem mesmo mamãe. Se mamãe e eu fizéssemos uma viagem para visitar Kaine em Lark Cove, pegávamos dois veículos, mesmo que fossem cinco horas de viagem.

A única exceção foi o dia em que conduzi Genevieve daquela montanha. Foi a única vez que outra pessoa andou comigo de moto porque não havia outra escolha.

— Tudo bem, — ela murmurou, pegando as chaves da bolsa.

Eu segui de perto atrás de seu carro enquanto ela dirigia pela cidade e estacionei ao seu lado no supermercado. Entramos, sem falar e definitivamente sem tocar. Ficamos um pouco afastados na delicatessen, avaliando as opções de sanduíches e saladas preparadas.

Minha insistência em andar separadamente não ajudou o humor de Genevieve, mas uma esposa mal-humorada era algo com o qual eu poderia lidar.

Uma morta, eu não poderia.

— Oh, ei, pessoal.

Nós dois nos viramos com a voz de Bryce. Fui em direção a Genevieve, instantaneamente fechando o espaço entre nós. Ela deslizou o braço atrás das minhas costas. Nós aperfeiçoamos esse movimento, o esmagamento de nossos corpos juntos, para que parecesse que éramos recém-casados.

— Ei. — Genevieve sorriu.

Eu olhei além de Bryce. Dash não a deixaria vir aqui sozinha, deixaria?

— Onde está Dash?

— Ele está perdido no corredor do sorvete. Vim comprar alguns vegetais para equilibrar. O que vocês estão fazendo?

— Pegando o almoço, — disse Genevieve. — Então Leo está vindo para pintar a moto de Isaiah. Nós estávamos indo assistir.

— Isso parece divertido. Que cor?

— Provavelmente preto.

— Ah. — Bryce assentiu. — Eu deveria ter esperado preto.

Todas as motos da oficina eram pretas. Algumas tinham chamas nas laterais. Outras tinham palavras. A de Leo era na verdade um bronze profundo e cintilante com um desenho de riscas douradas, mas a menos que você estivesse perto, parecia preto.

Bryce colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, seus anéis refletindo a luz.

— Vocês querem jantar no próximo fim de semana? Gostaríamos muito de receber vocês.

— Uh. — Genevieve estremeceu. Ou talvez fosse eu. — Não sei se é uma boa ideia. Dash e eu não somos exatamente... Amigáveis.

Eles também não falavam um com o outro. Dash abordava Genevieve apenas quando absolutamente necessário. Genevieve fingiu que isso não a incomodava, mas via a dor atravessar seus olhos quando ele a ignorava.

— Ele vai se comportar melhor, — prometeu Bryce. — E acho que seria bom ele conhecer você. Ele verá que você é incrível e ele está sendo um idiota.

A mulher não estava errada em ambos os casos.

— Você tem certeza? — Genevieve perguntou.

— Tenho certeza. Por favor? Adoraria receber vocês antes de ter esse bebê, e ser consumida por todas as coisas relacionadas à maternidade.

Ainda faltavam meses, mas Bryce não estava saindo desta loja sem resposta.

— Ok, — Genevieve concordou, forçando um sorriso.

— Ótimo. Vamos planejar para o sábado. Eu poderia receber do fotógrafo as fotos do casamento até lá. Ela disse que levaria apenas uma semana. Talvez você possa me ajudar a escolher qual emoldurar.

Bryce e Dash se casaram no último fim de semana. Foi o sábado que Genevieve não passou isolada no apartamento. Em vez disso, ela passou o dia com Bryce em um salão local, arrumando o cabelo e fazendo a maquiagem. Fiquei vigiando do lado de fora por horas até que emergiram, vestidas para a cerimônia.

O vestido preto sem mangas de Genevieve moldava seu torso e girava em torno de seus quadris enquanto flutuava até os dedos dos pés. Ela saiu do salão e roubou meu fôlego. Tive dificuldade em prestar atenção ao casamento com ela de pé ao lado do altar. Eu me obriguei a desviar o olhar para assistir Dash e Bryce trocarem os votos.

O casamento não foi extravagante, mas eu não tinha ido em um melhor. Foi realizado ao entardecer na margem do rio Missouri, que corria além dos limites da cidade. A recepção e a festa foram no bar favorito de Dash, The Betsy.

Genevieve e eu fizemos o nosso melhor para interpretar o casal apaixonado. Nós nos abraçamos, demos as mãos. Nós dançamos. Hora após hora fingindo. Quando voltamos ao apartamento, nós dois estávamos cansados.

E eu estava tão tenso quanto um elástico. Eu disse a ela que o cheiro do The Betsy havia me incomodado, depois tomei um banho gelado.

O jantar na casa de Bryce e Dash seria doloroso, mas poderíamos sobreviver uma ou duas horas. Aderíamos a ficar de mãos dadas, a abraços, toques simples e amigáveis que eram mais fáceis de compartimentar. Como este abraço no supermercado. Não importava que eu gostasse quando Genevieve deslizou a mão pelas minhas costas e segurou firme.

— Podemos levar alguma coisa para o jantar? — Genevieve perguntou.

— Não. Eu tenho todo o necessário.

Dash emergiu dos corredores de alimentos congelados, procurando nos dois sentidos por Bryce. Quando ele nos viu, ele levantou a mão. Dois potes de sorvete estavam na outra.

— Ok, pessoal. É melhor eu pegar meus vegetais para que possamos chegar em casa antes que derreta. Vejo você esta semana?

— Sim. — Eu assenti.

Bryce vinha à oficina trabalhar no escritório de Dash todas as manhãs. Às vezes, eles ficavam o dia todo. Outros, eles saíam à tarde para que ela pudesse passar algum tempo no jornal. Até que ela estivesse segura, Dash não a deixaria sozinha.

Dash passou por nós para se juntar a Bryce, que vasculhava os pés de alface. Ele levantou o queixo enquanto passava.

— Ei, Isaiah.

— Ei, — eu disse.

Ele não prestou atenção a Genevieve. Nenhuma. Ele não disse olá. Ele não a olhou nos olhos, embora raramente olhasse para o seu lado. Ele agiu como se ela não existisse.

Coloquei meu braço em volta dos ombros de Genevieve, puxando-a para perto, principalmente para me manter calmo. Sua atitude em relação a Genevieve não era justa, e com certeza não era merecida. Estava ficando cada vez mais difícil ficar quieto, mas se eu dissesse alguma coisa, arriscava ser demitido e despejado de nosso apartamento.

— Temos uma semana para ficar doente e podermos fugir deste jantar, — Genevieve murmurou.

— Gripe?

— Não, algo que seja mais duradouro. Precisamos evitar por pelo menos um mês.

— Ebola?

— Perfeito. — Ela riu, o som disparando direto para o meu coração. E minha virilha.

Cristo.

Depois que eu pedi um sanduíche e ela pediu uma salada, escolhemos as outras coisas na lista de Genevieve e saímos do caixa o mais rápido possível, querendo evitar outro confronto com os Slaters. O caminho para casa foi rápido. Levei apenas um minuto para abrir a oficina e nos sentamos em algumas das cadeiras para almoçar.

— O que essas tatuagens significam? — Genevieve perguntou, usando o garfo para apontar para a minha mão. — Em suas articulações.

Estiquei meus dedos, observando as tatuagens que decoravam cada dedo. Os desenhos de linhas e pontos ficavam entre as articulações da base e do meio. Eu tinha colocado cada um na prisão e tudo ao mesmo tempo. Minhas mãos doeram por dias e eram difíceis de usar. A tinta preta estava desaparecendo e os detalhes eram desleixados, mas algum dia eu os limparia e afiaria.

— São constelações. — Alguns se encaixavam entre os nós dos dedos. Outros na pele mais sensível entre meus dedos.

— Por que constelações?

Voltei minha atenção para o meu sanduíche.

— Para alguém que eu conhecia que amava as estrelas.

Shannon tentou me ensinar as constelações. Ela as apontava, e falava seus nomes, mas as duas únicas que eu já tinha conseguido encontrar eram Ursa Maior e Orion.

Eu não as procurava agora. Eu as tinha na minha pele, uma parte de mim para sempre. Era muito doloroso olhar para o céu noturno e saber que ela não estava viva para vê-lo, por minha causa. Antes que Genevieve pudesse perguntar mais sobre as tatuagens, a moto de Leo entrou no estacionamento.

— Talvez devêssemos ter pego o almoço para ele, — ela murmurou.

Ou café da manhã. Quando Leo retirou os óculos escuros, ele deu um sorriso sonolento. Ele provavelmente passou a noite no The Betsy e acordou com qualquer mulher que tivesse chamado sua atenção no bar.

— Ei. — Apertei a mão de Leo.

Ele piscou para Genevieve.

— Como estão o Senhor e a Senhora Reynolds hoje?

— Tudo bem, — eu respondi.

— Dê-me um pouco de tempo para misturar uma cor. — Ele me deu um tapa no ombro. — Então nós vamos começar.

Ele desapareceu na cabine de pintura. Era adjacente à última baia da garagem, para que pudéssemos empurrar carros e transportar peças facilmente. Aquele estande era o domínio de Leo. Como o resto da oficina, ele tinha equipamentos de primeira linha e suas ferramentas eram um sonho.

Pouco depois de Genevieve e eu termos terminado de comer, Leo saiu com um copo de plástico na mão, mexendo o líquido dentro com um bastão.

— Veja isso. — Ele se aproximou e tirou o bastão, deixando a tinta pingar no copo e a cor brilhar. — Eu sei que você disse preto, mas essa cor seria incrível para caralho.

Como a moto de Leo, a olho nu, pareceria preta. Mas na verdade era um azul sombreado. Ele adicionou um brilho, como em sua própria moto, e quando a luz captava o brilho, parecia um milhão de flocos de diamante presos ao céu aveludado da meia-noite.

— Isso é tão bonito. — Genevieve encontrou meu olhar, o dela silenciosamente pedindo que eu escolhesse essa cor.

— Eu gosto — disse a Leo.

— Legal. Vamos começar.

Passamos as próximas horas preparando as peças. Eu já tinha o tanque e outras peças que ele queria pintar preparadas. Nós os separamos da moto e os transportamos para o estande. Leo terminou de prepará-los, certificando-se de que estavam limpos e sem ondulações, depois se vestiu e nos expulsou.

Leo levou menos de uma hora para pintar a moto. Quando ele saiu com um sorriso no rosto e uma máscara pendurada no pescoço, eu sabia antes de ver que o azul tinha sido a escolha certa.

Esta moto foi a escolha certa.

Porra, eu estava orgulhoso de terminar. De fazer isso sozinho, com minhas próprias mãos. Foi bom compartilhar um pouco disso com Leo e compartilhar o dia com Genevieve.

Deixamos as peças para secar, nos despedimos de Leo e depois voltamos para o apartamento.

— Obrigada, — disse Genevieve quando estávamos dentro.

— Por?

— Por tirar minha mente das coisas hoje. Por me seguir pela cidade e ter certeza de que não estou sozinha. Especialmente no supermercado. É deprimente sempre ir sozinha.

— Fico feliz por isso. — Depois de um mês de compras com ela, eu também não gostaria de ir sozinho. Era uma aventura com Genevieve, uma corrida. Ela atravessava as portas deslizantes e se transformava em uma compradora com um objetivo. Era como se ela estivesse cronometrando para ver o quão rápido ela poderia riscar todos os itens de sua lista.

Genevieve atravessou o apartamento e caiu de costas na cama, os cabelos compridos espalhados na colcha cinza que estava em uma de suas caixas. Era muito melhor do que o edredom marrom desbotado com o qual dormi por anos.

Aquele edredom e a cama em si haviam se mudado comigo da casa da mamãe. Ela comprou para mim quando eu saí em liberdade condicional. Talvez ela só quisesse modernizar a cama no meu quarto. Ou talvez ela soubesse que eu passara três anos em um colchão apertado e sem travesseiro. Mamãe trabalhava duro por seu dinheiro, mas ela esbanjou nisso.

Genevieve a vestira com aquela colcha macia e uma pilha de travesseiros. Era convidativo, a cama e a mulher deitada em cima.

Suas pernas tonificadas pendiam sobre a borda. Ela cantarolava enquanto fechava os olhos, o rosto relaxado e tranquilo.

Ela me fascinava. A primeira vez que a chamei de boneca, foi um deslize. Eu imaginei que um apelido carinhoso, como docinho ou amor, ajudaria a convencer as pessoas de que isso era real. Eu tinha planejado um desses. Mas saiu boneca porque ela era perfeita.

Fiquei parado junto à porta, sem saber ao certo meu próximo movimento.

Os fins de semana eram difíceis para nós. Estávamos trabalhando longas horas, então durante a semana, o tempo ocioso era mais fácil. Genevieve prepararia o jantar quando chegasse em casa. Eu limparia. Ela lia por algumas horas e eu assistia TV. Então íamos dormir. Nós caímos nessa rotina e funcionou.

Mas não tínhamos encontrado uma rotina para os fins de semana. Havia mais tempo juntos e esses eram os momentos em que ficava estranho.

Genevieve apoiou-se nos cotovelos.

— Você se importa se eu assistir TV?

— Não. — Fui até minha área designada, o sofá.

Ela pegou o controle remoto na mesa de cabeceira ao lado da cama e ligou a TV, percorrendo o guia. A TV estava em um carrinho ao lado da porta, e da nova cômoda. A tela não era grande, mas nada maior caberia neste apartamento.

— Eu estava pensando em fazer uma maratona de Harry Potter. Você me odiaria se eu os assistisse? Eles são muito bons. Mamãe e eu lemos os livros juntas.

Ela olhou para a foto emoldurada de Amina na mesa de cabeceira e um flash de dor cruzou seu rosto. Genevieve ficou furiosa com Amina, mas quando deixava essa raiva de lado, havia uma dor profunda e sufocante esperando para emergir. Eu gostaria de ter alguns conselhos sobre como ela poderia superar isso, mas considerando que vivia com essa dor e culpa incapacitantes todos os dias, não tinha nada a oferecer.

Se assistir filmes de Harry Potter diminuísse a dor por algumas horas, eu não negaria.

— Continue. Eu nunca os vi.

— O quê? — Ela ficou boquiaberta. — Você está brincando.

— Não.

— Vamos assisti-los, — declarou ela. — E pedir pizza para o jantar.

— Parece bom. — A televisão era melhor que o silêncio.

Eu me inclinei no sofá onde eu podia ver a TV. Para que fosse confortável, eu precisava de um travesseiro. Mas Genevieve também começou a arrumar a cama com meu travesseiro, caso alguém aparecesse para uma visita inesperada. Eu me movi, tentando encontrar um bom lugar para relaxar. Mas caramba, minhas costas doíam. Um mês dormindo neste sofá cobrava seu preço.

— Venha aqui em cima.

— Hã? — Olhei atrás de mim para a cama.

— É mais fácil ver a TV. Venha aqui em cima.

Na cama? Mesmo para assistir a um filme, isso parecia íntimo demais. Se eu não estivesse tão rígido e dolorido, teria recusado. Como estava, eu levantei do sofá e tirei minhas botas. Então me aproximei, hesitando no colchão.

Ela revirou os olhos.

— Se você ficar parado aí, vai perder o filme.

Sentei-me, levantando minhas pernas e relaxando as costas. Oh inferno. Voltar ao sofá seria brutal.

— Melhor, certo?

— Sim. — Melhor era um eufemismo.

Vimos os dois primeiros filmes seguidos antes de parar para pedir o jantar. Os filmes eram definitivamente voltados para crianças, mas Genevieve garantiu que ficariam mais sombrios e intensos. Quando a pizza chegou, estávamos no meio do terceiro filme.

— Você leu todos os livros? — Eu perguntei quando chegamos à pausa para comer algumas fatias de pizza de pepperoni9.

— Sim. — Ela engoliu em seco. — Eles são muito bons. Você lê muito?

— Eu costumava. — Hesitei antes de adicionar a próxima parte. — Na prisão.

— Oh. — O seu olhar caiu no colchão. Não tínhamos nos incomodado em levantar, e resolvemos comer no colo. — Quanto tempo você ficou na prisão?

— Três anos.

— Estragou a leitura para você? A prisão?

— Não sei. Eu não li nada desde então.

Os seus olhos eram tão abertos e cativantes. Quando encontrei seu olhar, esperava pena ou julgamento. Pessoas que sabiam por que eu fui preso tinham pena de mim. Aqueles que não sabiam, me condenavam. Mas, em vez de qualquer um desses, encontrei curiosidade.

— Quer descobrir? Nós poderíamos ler Harry Potter juntos. Ou qualquer outro livro.

Como eu poderia dizer não àqueles olhos suplicantes?

— Sim, tudo bem.

Um sorriso transformou seu rosto. Foi o primeiro sorriso verdadeiro e desenfreado que eu tinha visto em Genevieve. Ela era deslumbrante antes, mas com esse sorriso... Meu coração saltou no meu peito.

— Devemos parar de assistir aos filmes se você quiser ler os livros?

— Não. — Eu leio os livros mais tarde. Por enquanto, eu queria continuar assistindo, porque se desligarmos o filme, eu teria que ir para o sofá. Eu não estava pronto para sair desta cama ou do lado de Genevieve.

Era a primeira vez em muito, muito tempo que eu realmente estava à vontade. Ela fez isso. Olhei ao redor do apartamento, vendo uma vela na bancada da cozinha. Havia uma pequena planta de Aloe Vera10 no peitoril da janela.

Ela fez disso um espaço seguro. Para nós dois.

Terminamos de comer e seguimos com o filme.

E quando adormeci na cama ao seu lado, enquanto o quinto filme era exibido, dormi sem grades me prendendo e o grito de uma mulher moribunda ecoando nos meus sonhos.


Capítulo Nove

Genevieve


— Lembre-me por que concordamos com isso? — Perguntei a Isaiah quando estávamos na calçada do lado de fora da casa de Bryce e Dash. Eles moravam no final de uma rua tranquila, longe dos vizinhos e cercada por um campo aberto.

— Tivemos uma escolha?

— Não. — Olhei para trás, desejando poder voltar ao meu carro.

Estava estacionado na rua junto com a moto de Isaiah. Como sempre, ele se recusou a andar juntos. Sua desculpa desta vez era seu farol. Estava tremendo ou algo assim e ele queria testá-lo. Eu tinha assado biscoitos para trazer, então andar com ele estava fora de questão. Ainda não estava escuro, mas eu esperava que no caminho para casa mais tarde, não haveria farol piscando no meu espelho retrovisor.

Por que ele não iria comigo? Eu era uma boa motorista. Eu nunca tinha sofrido um acidente e meu registro de direção era impecável. Se ele preferisse dirigir, eu entregaria com prazer o volante.

— Como está sua mãe? — Eu perguntei, esperando adiar o jantar por mais um minuto.

A mãe de Isaiah havia telefonado antes de sairmos do apartamento. Ele saiu para conversar com ela em particular.

— Ela está bem.

— Você, hum... Contou a ela sobre mim?

Ele suspirou.

— Não.

— Você vai dizer a ela cedo ou tarde, certo? — Ou eu continuaria sendo um segredo vergonhoso?

Isaiah levantou um ombro.

O que diabos isso significa?

Estávamos casados há um mês. Em breve, seriam dois. E se esse casamento durasse anos? Eu não podia imaginar que seria fácil para ele contar à família que havia se casado com uma estranha. Ele teria perguntas a responder e preocupações para aplacar. Mas eu era realmente tão ruim assim?

Meu coração, já machucado, não aguentaria se os socos continuassem chegando. Não pressionei Isaiah por uma resposta. Seus ombros estavam curvados e sua mandíbula travada. Ele era o rei de se calar e calar as pessoas. Especialmente sua ‘esposa’.

Bryce nos viu da janela e acenou. Apertei o prato de biscoitos nas mãos, sorri e caminhei em direção à porta da frente.

Eu adorava passar um tempo com ela, e se este fosse um jantar só para meninas, eu teria esperado ansiosamente por toda a semana. Ajudá-la a planejar seu casamento foi divertido. Eu não tinha estado em um casamento antes, excluindo o meu, e ela me incluiu em todos os detalhes. Eu me joguei em minhas tarefas, deleitando-me com as flores, os vestidos e as revistas de noivas. Guardei algumas ideias no canto mais distante da minha mente, caso um dia eu também tivesse um casamento de verdade.

Mas hoje à noite não éramos apenas Bryce e eu. Como eu iria evitar Dash em sua própria casa? Não apenas ele era um idiota, como era indiscutivelmente pior do que Draven em examinar nosso casamento.

— Nós vamos ter que aumentar os contatos hoje à noite. Eu acho que Dash suspeita de algo. Talvez você deva me beijar algumas vezes.

Os lábios de Isaiah se curvaram. Era fraco, um fantasma de um movimento, mas eu peguei.

Eu tentei não levar para o lado pessoal.

Não era como se eu não tivesse medo de beijá-lo também, embora eu receasse por um motivo diferente. Eu temia o quanto ansiava por aqueles beijos castos todas as manhãs antes do trabalho. Eu temia minha respiração acelerada e meu coração disparado. Eu temia o jeito que eu ansiava mais do que apenas um toque nos lábios perfeitos de Isaiah.

— Nós não nos conhecemos. Eles vão ver através de nós, — eu sussurrei, meus olhos presos na porta de madeira. Estava pintada de mel escuro, combinando com as vigas e frontões.

A casa deles era algo fora de um episódio de HGTV11, e por uma razão que eu não tinha tempo para dissecar agora, isso me deixou mais nervosa. Estávamos prestes a entrar em sua bela casa e manchá-la com nossas mentiras.

— Nós ficaremos bem. — A mão de Isaiah encontrou a minha, seus dedos entrelaçando-se nos meus. Eles eram ásperos, calejados e longos. E eram fortes. Peguei emprestada uma colher de chá da força deles quando a porta se abriu.

— Bem-vindos! — Bryce sorriu. — Estou tão feliz que vocês estão aqui.

— Entre. — Dash apertou a mão de Isaiah, depois olhou relutantemente para mim, murmurando: — Ei.

— Oi. — Entreguei-lhe o prato de biscoitos. — Estes são para você.

— Obrigado. — Ele olhou para os biscoitos como se estivessem envenenados.

Idiota.

Meu meio-irmão era um idiota.

Novamente, por que eu estava aqui mesmo? Antes que eu pudesse fugir para o carro, Isaiah me puxou pela porta. Bryce pegou o prato das garras de Dash, lançando-lhe um olhar, depois sorriu.

— Ah, eu amo esses biscoitos. Obrigada por fazê-los.

— De nada. — Soltei minha mão da de Isaiah e segui Bryce até a cozinha, observando a casa deles enquanto eu andava, o interior tão bonito quanto o exterior. — Com o que eu posso ajudar?

— Nada. Dash vai grelhar os bifes. Tenho legumes prontos e uma salada. Está tudo pronto.

Dash e Isaiah entraram atrás de nós, Dash abrindo a geladeira. Ele pegou uma garrafa âmbar, abrindo-a.

— Cerveja?

— Nada para mim, — disse Isaiah.

— Não, obrigada. — Eu não bebia se estivesse dirigindo. E hoje em dia eu estava sempre dirigindo. — Se você quiser tomar algumas cervejas, tenho certeza de que podemos deixar sua moto até amanhã. Eu dirijo para casa.

Ele baixou a voz.

— Eu não bebo.

As palavras eram para mim, mas Dash as ouviu. Ele me nivelou com seu olhar.

— Você não sabia disso?

Merda. Uma esposa deve saber que o marido se abstém de beber álcool. E a razão disso.

Três minutos para este jantar e já era um desastre.

— Dash, pare com isso, — disse Bryce, depois me enviou um olhar de desculpas.

Fiquei quieta, sem saber o que dizer. Eu não devo uma explicação a Dash, e talvez ele esqueça isso. Seu olhar castanho endureceu para granito. Ou talvez não. Minhas mãos estavam grudentas. Meu coração subiu para minha garganta. E Dash nem piscou.

Como Bryce poderia viver com esse cara? Por que ela se casou com ele? Ele era aterrorizante. Eu senti como se estivesse do lado errado de um lança-chamas.

Dash levantou uma sobrancelha, lembrando-me que ele tinha feito uma pergunta, uma que ele esperava que eu respondesse, não importa o que sua esposa dissesse.

— Não, — eu engasguei, segurando o olhar de Dash. Eu queria correr, meus sapatos estavam gritando meu nome, mas eu não deixei meu olhar cair no chão. — Nós realmente não nos conhecemos ainda.

— Ainda estamos aprendendo um sobre o outro. — Isaiah jogou um braço em volta dos meus ombros, o toque foi minha desculpa para desviar o olhar. — Aposto que vocês também. Você e Bryce se conheceram algumas semanas antes de Genevieve e eu, certo?

Bryce bufou.

— Muito verdadeiro.

Engoli uma risada. Isaiah poderia muito bem ter dito a Dash para recuar.

Isaiah não havia comentado muito sobre a atitude de Dash em relação a mim. Eu sabia que era complicado para ele como empregado de Dash, e não o culpei por ficar de fora do drama. Mas eu deveria saber que ele me protegeria.

Inclinei-me para o lado dele, olhando para sua boca.

— Obrigada.

— Gosto que não sabemos tudo um sobre o outro, — disse Bryce. — É divertido descobrir algo novo todos os dias.

Bryce estava sorrindo, mas havia uma ponta afiada, uma reprimenda silenciosa, e o corpo de Dash relaxou um pouco.

Ele se sentia em menor número, três contra um? Isso funcionaria a meu favor? Ou ele lutaria mais para sair por cima? Dash não me pareceu do tipo que aceita perder. Meu estômago deu um nó quando eu me preocupei que as coisas estavam prestes a piorar.

— Alguma palavra dos Warriors? — Isaiah perguntou a Dash, mudando de assunto.

Ele balançou sua cabeça.

— Nada. Nem um sinal também.

— Acompanho as notícias de Ashton, — disse Bryce. — Entrei em contato com o jornal de lá para me apresentar, e eles me enviaram suas edições semanais. A única notícia ligada a eles foi o funeral do Warrior.

Bryce usava sua posição como coproprietária do jornal para nos manter informados. Ela passava o tempo que o resto de nós não tinha, para ler as notícias de condados vizinhos, e ela sabia mais sobre os acontecimentos ao redor da cidade do que qualquer um de nós.

Eu estava combinando todas as informações que ela coletava com minhas próprias pesquisas. E até agora, nada me surpreendeu, mas eu não ia desistir. Eu criei arquivo para cada membro vivo do Tin Gypsy e comecei um para cada membro dos Warriors.

Era um processo lento, mas eu tinha tempo até o julgamento de Draven. Se Jim notou que todos os dias eu passava a hora do almoço colada na tela e no caderno, ele não comentava.

Acontece que ele não era um idiota bajulador.

Ele era realmente o empregador mais compreensivo e solidário que eu já tive. Ele me elogiava constantemente, agradecendo-me por fazer o trabalho que estava me pagando. Levei semanas para perceber que o homem era totalmente sincero e nada sobre sua apreciação era por causa de Draven.

O trabalho se tornou uma parte tão agradável do meu dia que eu parei de verificar o site do serviço de emprego em busca de vagas nas outras empresas da cidade.

Além disso, eu tinha todas as conexões que precisava no momento para continuar investigando.

O primeiro Warrior que eu pesquisei foi o da cabana.

Semanas após o sequestro, as autoridades divulgaram uma declaração sobre o incêndio, incluindo a identidade do homem que havia morrido na cabana. Seu nome era Ed Montgomery e ele tinha trinta e três anos. Mesmo pensar em seu nome me dava calafrios.

Ed morava em Ashton, uma cidade a cerca de três horas de distância que os Arrowhead Warriors chamavam de lar. Como o fogo na cabana havia queimado por tanto tempo, a polícia foi forçada a confirmar a identidade de Ed através de registros dentários.

Ele não estava usando um colete Warrior naquele dia. Nosso sequestrador estava, mas não Ed. Eu ainda conseguia imaginar as roupas de Ed com extrema clareza. Jeans desbotado. Moletom com capuz preto. Botas pesadas. Eu nunca esqueceria o som daquelas botas. O baque era a trilha sonora dos meus pesadelos.

Quando eu estava sozinha, quando o medo vencia o meu bom senso e deixava o terror nadar em minhas veias, aquelas botas ecoavam a cada batida do meu coração.

Mas Ed estava morto, um cadáver carbonizado. Por isso, fiquei eternamente grata.

— Faz um mês. — A testa de Isaiah enrugou. — Quais são as chances de os Warriors nos descartarem?

— É uma guerra, — disse Dash. — Os Warriors perderam um homem. Eles podem ficar quietos, mas não vão parar até que tenham justiça. Tudo o que podemos esperar é que eles percebam que não fomos nós.

Baixei os olhos para o chão de madeira, porque evitar o olhar de Dash, era a maneira mais fácil de esconder nossas mentiras.

— Alguma atualização de Jim sobre o caso? — Perguntou Bryce.

— Não. — Eu balancei minha cabeça. — Ele me mantém fora disso.

— E você deve ficar de fora disso. — Dash apontou para mim com sua garrafa de cerveja. — Jim é um bom advogado. Ele sabe o que está fazendo e não podemos deixar ninguém estragar tudo.

Minha boca se abriu.

— Você está insinuando que eu propositalmente interferiria no julgamento de Draven?

— Não sei. — Ele tomou um gole de cerveja. — Ele foi a razão pela qual sua mãe foi morta. Talvez essa seja sua vingança.

— Não. — Eu cerrei os dentes. — Eu quero que o verdadeiro assassino pague.

Por isso eu estava aqui. As únicas coisas que me mantinham em Clifton Forge eram minha promessa a Isaiah e meu desejo de encontrar o assassino de mamãe. Dash pode ser meu meio-irmão, mas ele pode ir se ferrar. E quando eu partir um dia, ele nunca mais terá notícias minhas.

— Dash, — Bryce assobiou. — Pare. Com. Isso.

— Tenho que fazer a pergunta, querida. Não sabemos nada sobre ela e ela está em posição de influência.

— Você está sendo um idiota, — Bryce respondeu.

— Está bem. — Eu fiquei mais ereta, mais alta, saindo do aperto de Isaiah. Dash precisava ver que eu podia me defender sozinha. — Minha mãe foi assassinada. Nós temos isso em comum. Você ficaria satisfeito se a pessoa que a matou escapasse?

— Não.

— Então temos isso em comum também.

Ele quase parecia mais irritado, sabendo que compartilhamos algumas semelhanças. Meu coração disparou enquanto esperava sua reação. Aqueles olhos frios de pedra não vacilaram. Então ele voltou sua atenção para sua esposa, sua raiva desaparecendo em um piscar de olhos.

— Desculpe.

Foi um pedido de desculpas a Bryce, não a mim. Ainda assim, eu experimentei a vitória.

— Vou começar a grelhar. — Dash beijou a testa de Bryce, depois assentiu para Isaiah o seguir.

Quando eles estavam fora do alcance da voz, soltei um longo suspiro.

— Uau.

— Grr. — Bryce fechou os olhos, apoiando os braços na ilha. — Sinto muito, Genevieve. Se você quiser ir embora, eu entendo totalmente.

— Mas então ele venceria. — E eu não iria deixar Dash vencer.

— Eu disse a ele para relaxar hoje à noite, para parar de agir assim. Não é... Ele não é esse cara. Mas ele ouviu? Não. E confie em mim, quando você for embora mais tarde, ele vai ter um sermão.

— Obrigada por isso.

— Sinto muito, — ela repetiu.

Eu acenei.

— Eu posso defender minha posição.

— Sim, você pode. Ele vai bater com força para ver o quanto você aguenta. Não o deixe vencer.

— Confie em mim, eu não vou. — Eu estava andando com cuidado em torno de Dash. Ele não era apenas meu irmão, ele era o chefe de Isaiah e nosso senhorio. Eu o deixei escapar com os olhares furiosos e os comentários dissimulados. Mas como hoje à noite, quando ele cruzou uma linha, eu não estava mais ficando quieta.

— Posso mudar de assunto? — Eu perguntei. — Há algo que pretendo perguntar a você.

— Claro. — Ela se aproximou.

Eu respirei fundo.

— Quando você foi ao Colorado, você disse que estava escrevendo um memorial para mamãe. Era um ardil? Ou você quis dizer isso?

A cor sumiu do seu rosto.

— Isso não era um ardil. Conheço repórteres que o usariam como desculpa para obter informações, mas não mentiria sobre isso.

— Ok. — Eu relaxei. — Você já escreveu?

— A maior parte. Eu estava esperando para publicá-lo, esperando que pudéssemos provar primeiro que Draven é inocente. Então eu ia pedir para você ler. Mas não precisamos esperar. Eu posso publicá-lo quando você estiver pronta.

— Eu não estou, — confessei. — Ainda não.

— Então, estará lá se e quando você estiver pronta. — Ela me deu um sorriso triste. — Que tal um passeio pela casa?

— Adoraria. — Suspirei, esperando que os momentos estranhos para esta noite tivessem acabado.

Passamos os próximos trinta minutos vagando pela casa. Invejei o espaço deles. Invejei as portas deles. Eu invejei que sua sala de estar também não servisse como quarto.

O porão de Bryce e Dash era maior que o apartamento de Isaiah. Ele e eu estávamos morando um em cima do outro, algo que a maioria dos noivos provavelmente gostaria. Para nós, ampliava uma situação já complicada.

— Você vai descobrir se está tendo um menino ou menina? — Eu perguntei quando estávamos em seu escritório em casa. Eles o converteriam em um berçário e moveriam o escritório para baixo.

— Ainda não temos certeza. Dash quer que seja uma surpresa, mas eu gosto de planejar. Estamos discutindo isso no momento.

— Gosto da ideia de surpresa. — Passei a mão sobre um cobertor de bebê macio e creme que ela dobrara sobre a escrivaninha.

— Estou tentando não ser intrometida, mas minha curiosidade é uma fera própria. Vocês vão ter filhos algum dia?

Eu deveria ter antecipado a pergunta de Bryce. Eu sempre ouvi dizer que quando você casava, as pessoas imediatamente começavam a perguntar se os filhos estavam próximos.

— Hum... Talvez.

Dizer a Bryce que não teríamos levaria apenas a mais perguntas. Eu não poderia exatamente dizer a ela que Isaiah e eu não fizemos e não estaríamos fazendo sexo. Talvez era uma resposta ou um desvio mais seguro. Outra meia-verdade.

Bryce me levou do escritório do outro lado do corredor até a suíte. Recusei-me a olhar para o closet, por medo de morrer de inveja. Eu deveria ter evitado o banheiro principal também.

— Estou com inveja de suas pias duplas. E um box onde você realmente tem espaço para se curvar e depilar as pernas.

Ela torceu o nariz.

— Como está indo no apartamento? Eu nunca estive lá em cima.

E eu, terrível amiga que eu era, não a convidei a entrar. Corrigiria esse erro em breve.

— Está lotado e é pequeno. Da próxima vez que estivermos na oficina, suba e eu darei a você um tour. Leva vinte e três segundos se fizermos a versão longa.

— Quanto tempo você acha que vai ficar lá? — Ela perguntou enquanto nos afastávamos do banheiro.

— Eu não sei. — Minha decisão quebrou e olhei para o armário dela. — Ugh. Seu armário é um sonho. Eu gostaria de poder colocar todas as minhas roupas em um só lugar.

— Vocês podem se mudar. Aluguem algo maior.

Isso exigiria que eu e Isaiah conversássemos sobre o futuro. Estávamos tão ocupados nos adaptando a essa nova vida que nenhum de nós pensou em nada além da próxima semana. Talvez porque ainda estávamos esperando que isso acabasse, mais cedo ou mais tarde.

— Consegui vender meu apartamento em Denver— eu disse a Bryce quando voltamos para a cozinha. — Estou finalizando na semana que vem, para nos dar mais opções.

No momento, eu não tinha nenhum desejo de comprar uma propriedade em Clifton Forge. Uma compra era muito permanente. Mas eu poderia mudar de ideia depois de mais alguns meses no apartamento.

— Opções para quê? — Dash perguntou quando os caras se juntaram a nós lá dentro.

— Um lugar maior, — Bryce respondeu por mim. — Com um armário e banheiro decentes.

— Mas não temos pressa, — corri para acrescentar. Não queria que Isaiah pensasse que estava infeliz. Talvez eu estivesse no começo, mas o sofrimento havia desaparecido. Dia após dia, estava ficando mais fácil.

— Sim. — Isaiah assentiu. — Estamos bem no apartamento por enquanto. Embora eu não me importe em fazer algumas modificações, se estiver tudo bem com você.

— Por mim tudo bem, — disse Dash. — Do que estamos falando aqui?

— Há cerca de sessenta centímetros de espaço morto ao lado do guarda-roupa. Eu estava pensando em enquadrar algumas prateleiras. Isso nos daria mais espaço de armazenamento. E todo o lugar precisa ser pintado.

Meu coração inchou. Isaiah não se importava com espaço de armazenamento ou pintura. Mas eu sim. Ele mudaria o que poderia sobre o apartamento para mim.

O jantar acabou sendo tolerável, apesar do começo difícil. Dash não falou comigo, mas a grosseria desapareceu. Talvez Bryce estivesse certa. Se eu me mantivesse firme, ele poderia não gostar, mas respeitaria isso.

Talvez a atitude tenha sido um teste para ver se eu iria embora.

Passamos a refeição conversando sobre Clifton Forge, suas lojas e restaurantes populares. Bryce não morava aqui por muito tempo, ela só se mudou no início do ano, mas com seu trabalho no jornal, ela fez um trabalho melhor saindo para explorar.

Isaiah e eu trocamos um olhar quando estávamos no meio de nossos bifes. Por ficarmos escondidos no apartamento, estávamos perdendo.

— Quem quer um biscoito? — Bryce perguntou, examinando a mesa de pratos vazios.

— Eu. Só comi dois antes. — Isaiah se levantou, levando o prato para a cozinha. Normalmente, ele comia cinco.

— Eu vou pegá-los. — Bryce o seguiu, deixando Dash e eu sozinhos.

Eu olhei para cima do meu prato, encontrando seu olhar. Eu o ignorei, olhando por cima do seu ombro e para a sala de estar além de nós. Havia fotos emolduradas na cornija12 da lareira, e eu me levantei e vaguei.

A foto maior era de Bryce e Dash do casamento. Eles estavam esmagando o bolo nos rostos um do outro. A foto seguinte era dos pais de Bryce. A seguinte era uma foto de Dash e Nick de pé ao lado de duas motos, com os braços em volta das costas um do outro. Nick tinha barba, caso contrário, ele e Dash eram parecidos. Ambos se pareciam com Draven, e todos nós tínhamos cabelo castanho escuro.

Eu conheci Nick no casamento. Eu estava preparada para outro irmão zangado e ressentido, mas Nick foi uma surpresa agradável. Ele foi gentil quando se apresentou, apertando minha mão. Sua esposa, Emmeline, me abraçou sem hesitar e me apresentou a seus dois filhos adoráveis como tia Genevieve.

Nick não passou muito tempo comigo desde que ele era o padrinho de Dash, mas ele me acompanhou pelo corredor e, quando nós dois flanqueamos Bryce e Dash, ele me dava um sorriso ou piscadela genuína, sempre que eu encontrava seu olhar.

Estar ligado à família Slater não era de todo ruim.

Quando cheguei à próxima foto, congelei. Era uma foto antiga, com as cores suaves e a qualidade da impressão opaca. Eu nunca tinha visto o rosto dessa mulher antes, mas ela não era estranha.

Era Chrissy Slater.

Ela era linda e seu sorriso iluminou seus olhos.

Droga. Como você pôde, mãe?

Amar Draven não era uma desculpa para trair sua amiga, não desse jeito. Foi por isso que mamãe não namorou ninguém em Denver? Eu não conseguia me lembrar de uma época em que fiquei em casa com uma babá para que mamãe pudesse sair com um homem. Ela amava Draven todo esse tempo?

Eu temia que a resposta fosse sim, e esse amor era a razão pela qual ela estava morta. Chrissy também amava Draven. Ela também pagou com sua vida.

— Você me odeia por ela, — eu sussurrei, sentindo Dash atrás de mim.

— Sim.

— Justo. — Eu era a lembrança viva do adultério de nosso pai. Afastei-me da foto. — Eu não sou minha mãe, mas eu a amava. Não concordo com o que ela fez, mas ela era minha mãe. Talvez um dia você veja que também sou uma vítima aqui.

Dash não disse nada. Seus olhos ficaram na foto de sua mãe quando eu passei por ele, juntando-me a Isaiah e Bryce na cozinha. Os dois estavam comendo um biscoito.

Cada um deles comeu mais dois, enquanto eu comi um.

Dash recusou.

Ele sabia que mamãe os chamava de biscoitos de Chrissy? A mãe dele havia dado a receita para minha mãe.

E agora era minha.

O humor sombrio de Dash nublou o ar, então Isaiah e eu agradecemos a eles por uma noite adorável e saímos, cada um partindo em seu próprio veículo para casa.

— Nós sobrevivemos, — eu respirei, jogando minhas chaves no balcão da cozinha do apartamento.

— Sim. — Isaiah abriu o zíper da jaqueta. Suas bochechas estavam vermelhas por andar no ar fresco da noite.

— Eu sou uma motorista ruim ou algo assim? — Eu soltei.

— Hã?

— Eu sou uma motorista ruim? Eu nunca sofri um acidente ou recebi uma multa por excesso de velocidade. Mas você não anda comigo. Você acha que eu sou uma motorista ruim?

— Oh. — Ele tirou as botas. — Não, você não é uma motorista ruim.

— Então, o que é?

Silêncio.

— Isaiah?

Silêncio novamente. Ele colocou as botas ao lado da porta e caminhou até o banheiro. Eu olhei fixamente para a porta quando ele se fechou dentro. A água ligou. O banheiro ficou vermelho. E eu esperei, imaginando o que diabos realmente tinha acontecido.

Isaiah saiu do banheiro apenas de cueca. Engoli em seco ao ver o abdômen tanquinho e depois fui até minha cômoda para pegar meu pijama.

— Você quer assistir alguma coisa? — Ele pegou o controle remoto da TV.

— Na verdade não.

Ele ligou a TV de qualquer maneira.

Fui ao banheiro e me arrumei para dormir. Quando eu saí, ele já tinha desligado as luzes e arrumado o sofá. Deslizei silenciosamente na cama e olhei para o teto.

Olá, tensão. O volume da televisão estava baixo, mas não conseguia afastar minha pergunta sem resposta. Não ousei perguntar novamente. Eu só receberia mais silêncio.

A luz da tela refletia nas paredes. Um carro correu pela rua do lado de fora.

— Desculpe, — Isaiah sussurrou, apenas alto o suficiente para eu ouvir.

— Está tudo bem, — eu murmurei. — Como eu disse antes do jantar, não nos conhecemos.

— Não, nós não nos conhecemos.

E com essas palavras, eu sabia que isso não iria mudar.


Capítulo Dez

Isaiah


— Almoço! — Presley gritou. Ela estava nos provocando sobre a compra de uma campainha, para que ela não tivesse que gritar.

Emmett colocou suas ferramentas de lado com um barulho. Dash saiu de baixo do carro na terceira baía. Leo apareceu do lado oposto, tirando as luvas.

Eu estava quase terminando de trocar a correia de um sedan Honda. Meu sanduíche poderia esperar dez minutos.

Dash, Emmett e Leo passaram a manhã trabalhando na restauração de um Lincoln Continental 1961. Eles estavam cortando o chão do carro que mais parecia um queijo suíço de tantos furos e, embora o carro inteiro estivesse enferrujado, era recuperável. O proprietário dera a Dash um orçamento enorme e rédea livre para transformá-lo no sonho de um colecionador em dois meses. Eles entraram nisso sem pensar duas vezes.

Enquanto isso, eu fazia trocas de óleo, ajustes, rotações de pneus e uma série de outras atividades de manutenção geral. Eu estava me dedicando, trabalhando de baixo para cima. Dash sabia que eu queria participar das reconstruções, e eu confiava que ele faria isso acontecer, cedo ou tarde.

Por enquanto, lidava com os trabalhos que Pres colocava no quadro e fazia o trabalho rotineiro.

— Isaiah, você vem? — Ela gritou do escritório.

— Estarei aí em alguns minutos. Estou quase terminando aqui.

— Ok.

No mês passado, o almoço havia se tornado uma espécie de evento na oficina. Quando comecei aqui, trazia o almoço. Todos os caras traziam. Comíamos sempre que tínhamos fome, geralmente em pé no meio da loja, enfiando comida na boca e limpando migalhas em nossos jeans.

Mas desde o sequestro e desde que Bryce assumiu o escritório de Dash como seu, a dinâmica na oficina mudou. Ela e Presley nos reuniram com mais frequência. Os almoços tinham começado aleatoriamente; alguém esqueceria de embalar algo, então todos nós faríamos os pedidos de qualquer restaurante que estivesse entregando. Então o aleatório tornou-se regular.

Era início de outubro e a última vez que eu trouxe um almoço, foi antes de Genevieve e eu irmos jantar na casa de Bryce e Dash, no mês passado.

Todos os dias nos reuníamos no escritório para almoçar. Não falávamos de nada enquanto comíamos sanduíches, pizza ou tacos. Pagamos nossas próprias refeições e, embora fosse mais caro que um sanduíche de manteiga de amendoim e geleia, eu podia pagar, já que não tinha aluguel e Genevieve e eu dividíamos as outras contas meio a meio.

Alguns dias, não me importava de comer dentro do escritório com todo mundo. Outros dias, era demais.

Antes da prisão, eu prosperava no centro de um grupo. Eu vivia para barulho e emoção de meus amigos turbulentos se reunindo para se divertir. A maioria deles eu conhecia desde o jardim de infância. A maioria deles, não querendo se associar a um criminoso condenado, havia esquecido meu nome antes mesmo de eu ser condenado.

Havia alguns caras que entraram em contato depois que eu fui libertado e voltei para casa da mamãe. Eu não atendia suas ligações até que pararam completamente. Eu não precisava da pena deles.

Os caras, Presley e Bryce não julgaram meu passado porque não o conheciam. Dash sabia que eu tinha sido condenado por homicídio culposo, Draven também. Mas os detalhes por trás disso não foi algo que compartilhei.

Quando estávamos trabalhando na loja, os caras não me faziam perguntas pessoais. O almoço era uma história totalmente diferente. Embora eu tivesse escapado até agora, era apenas uma questão de tempo até Bryce querer saber mais sobre a minha vida. Eu desviaria, como fiz com Genevieve.

E eu os afastaria, como fiz com Genevieve.

Meu estômago roncou e me apressei para terminar o trabalho. Enquanto eu estava lavando as mãos na pia, um vento frio soprou na garagem. Uma enxurrada de flocos de neve caiu na calçada, apenas para derreter um momento depois.

A neve já havia atingido as montanhas e, com ela chegando tão cedo, o inverno provavelmente seria uma merda.

Não que eu me importasse com a neve.

No primeiro inverno da minha liberdade condicional, passei muito tempo no terraço de mamãe, olhando para o quintal coberto de neve. Havia paz na neve. Um cobertor limpo, apagou a morte do outono. Talvez eu limpe uma mesa de piquenique na área de churrasco atrás da garagem e faça meu almoço lá fora neste inverno.

Nos dias em que o escritório parecia muito com uma gaiola.

— Ei, Isaiah.

Fechei a água, saindo da pia quando Bryce se aproximou. Ela levantou um saco de almoço com o meu nome.

— Obrigado.

— Certo. Não queria que ficasse encharcado.

Eu pedi cheesesteak e depois de cerca de trinta minutos, o pão tendia a amolecer. Eu comia de qualquer maneira. Pão encharcado era melhor do que qualquer refeição que eu tinha na prisão.

Bryce não voltou ao escritório, mas deu uma volta e pegou um banco a poucos metros de distância. Ela enfiou os dedos nas mangas do suéter.

Acho que vamos almoçar juntos.

Empurrei mais um dos bancos e rasguei minha sacola de papel marrom.

— Você comeu?

Ela balançou a cabeça.

— Eu pedi salada de frango, o que parecia uma boa ideia na hora, mas o cheiro me atingiu. Aparentemente, esse bebê só gosta de carne vermelha.

Meu cheesesteak foi dividido em duas partes envoltas em alumínio. Eu levantei uma metade.

— Você quer?

— Você se importaria?

— Traga-me sua salada de frango mais tarde e chamaremos de troca.

— Combinado. — Ela abriu o papel do sanduíche e deu uma mordida enorme, gemendo enquanto mastigava, depois engoliu. — Genevieve disse que você é de Bozeman. Eu não sabia disso.

— Sim. — Eu mergulhei no meu sanduíche, já desejando ter entrado no escritório quando Pres ligou. As perguntas eram mais fáceis de se esquivar em um grupo. Cara a cara com Bryce? Eu estava ferrado.

— Foi lá que eu cresci.

Meu queixo parou. Meus ombros enrijeceram. Ela sabia? Ela não sabia, certo?

— Mundo pequeno.

— Especialmente em Montana. Quantos anos você tem?

— Trinta e um.

— Oh. Eu tenho trinta e cinco. Nós apenas nos desencontramos um do outro no ensino médio.

Havia apenas um em Bozeman.

— Você pode conhecer meu irmão mais velho. Kaine Reynolds?

Os seus olhos se arregalaram.

— Kaine Reynolds é seu irmão mais velho?

— Uh... sim. — Merda. Por que eu disse isso? Eu sou um idiota. Eu abri a porta para o meu passado.

Um rubor subiu pelas bochechas de Bryce e um sorriso se espalhou por seu rosto.

— Kaine era um ano mais velho que eu, mas eu o conhecia. Eu acho que todas as meninas o conheciam.

Não há surpresa nisso. A maioria das meninas no ensino médio e da universidade já tinham se apaixonado pelo meu irmão. Kaine era do tipo legal sem esforço. Ele não tinha um osso estranho no corpo. Onde eu tive uma fase adolescente miseravelmente embaraçosa, Kaine a ignorou.

Ele era o garoto que não estava no grupo de ninguém porque ele tinha um grupo próprio. Ele nunca precisou de um monte de amigos como eu tinha. Ou costumava ter. Ele estava contente sozinho.

Eu fazia qualquer coisa para ser o centro das atenções no ensino médio. Eu era o garoto que aceitava todos os desafios. O garoto que começava a brigar quando necessário. Os professores da escola temiam ver na lista o engraçadinho da turma.

Isso foi antes de Shannon.

Agora eu era mais recluso do que Kaine jamais fora.

— Eu tive a maior queda por ele, — Bryce admitiu.

— A maioria das meninas tinha.

— Como ele está?

— Bem. Feliz. Ele mora em Lark Cove, no lago Flathead, com sua esposa.

— Fico feliz em ouvir isso. — Ela sorriu. — Da próxima vez que você falar com ele, diga a ele que Bryce Ryan disse olá.

— Eu farei isso. — Dei outra mordida, mastigando furiosamente, querendo manter a boca cheia para não entrarmos mais na minha vida.

Talvez eu tenha me esquivado dessa bala. Bryce parecia não saber nada sobre o acidente. Felizmente, ela não iria cavar. Eu vim para Clifton Forge para escapar do meu passado, não para falar sobre isso. Havia muitos fantasmas em Bozeman. Muitas lembranças ruins. Aqui, na maior parte, ninguém se importava.

Exceto Genevieve.

Ela estava quieta ultimamente e distante. Eu machuquei seus sentimentos no mês passado quando me recusei a responder sua pergunta e me odiei por isso.

Ela merecia saber que tipo de homem dormia no sofá ao seu lado todas as noites. Mas toda vez que a oportunidade se apresentava, eu não conseguia falar.

Ela me julgaria, com razão. O covarde que eu era, não queria ver medo ou julgamento nos seus olhos, não dela. Ou pior, pena. Genevieve sabia que eu estive na prisão, mas ela nunca perguntou por qual crime. Desde a cabana, ela me colocava em um pedestal. Ela pensou que eu era um bom homem.

Eu não era.

Mas caramba, era bom sentir-se digno pelo menos uma vez. Ser digno de uma mulher como Genevieve não era nada menos que um milagre.

Eu não estava pronto para jogar um milagre fora com a verdade.

Uma porta de carro bateu na frente. Do lado de fora, um Chevy Blazer preto havia estacionado em frente ao escritório. Provavelmente era outro trabalho simples. Talvez alguém quisesse começar a encomendar pneus de neve.

Eu engoli minha mordida e deixei meu sanduíche de lado, pronto para sair e cumprimentar o cliente, quando olhei para cima e meu coração caiu.

— Mãe?

Ela não me ouviu. Ela estava a caminho do escritório.

Eu corri pela loja, esquivando-me de peças e ferramentas no meu caminho.

— Mãe!

Sua cabeça girou e um sorriso iluminou seu rosto.

— Oi.

— Oi. — Eu a puxei para um abraço, e ela me beijou na bochecha. — O que você está fazendo aqui?

— Faz meses desde que eu o vi. Você está sempre tão ocupado trabalhando quando eu ligo. Tirei o dia de folga e pensei em vir para uma visita surpresa. Você pode me mostrar a moto em que está trabalhando. Talvez depois que seu horário de trabalho terminar, possamos sair para jantar.

— Uh... Certo. — Tudo isso normalmente seria bom.

Exceto pelo fato de que em questão de horas, minha esposa estaria em casa.

Merda. Genevieve me perguntou se eu tinha contado à minha família sobre o nosso casamento. Eu me esquivei dessa pergunta porque ainda não tinha contado a eles.

Mamãe e Kaine eram o passado. Genevieve era o presente. Eu estava fazendo tudo ao meu alcance para impedir que os dois convergissem. Seria muito doloroso para todos nós.

Quando mamãe soubesse que eu mantive meu casamento em segredo por meses, ela ficaria destruída. Que merda eu estava fazendo? Eu deveria ter ligado para ela do hotel na minha noite de núpcias. Eu não a magoei o suficiente?

Talvez se eu chegasse a Genevieve primeiro, a apresentasse como minha namorada, poderíamos poupar os sentimentos de mamãe. Genevieve ficaria irritada, mas no esquema das coisas, as balanças não estavam equilibradas. Eu poderia sofrer a decepção de Genevieve. Eu não empilharia mais sobre mamãe.

— Estou muito ocupado no momento. — Peguei seu cotovelo, virando-a de volta para o carro. — E se você fosse fazer compras? Matasse algumas horas. Vou tentar sair cedo. O centro tem alguns lugares agradáveis. Um bom café também.

— Perfeito. — Mamãe sorriu. Suzanne Reynolds era pura luz do sol. Ela era tão deixar fluir como uma pessoa poderia ser. Ela tinha a vibração calma e definitivamente a passara para Kaine.

Ela amava principalmente os filhos. Mesmo depois de tudo o que Kaine e eu a fizemos passar, ela nos adorava.

Minha missão na vida era evitar causar mais estresse a ela. Se isso significasse irritar Genevieve, eu aceitaria.

— Desculpe, mãe, — eu disse. — Eu gostaria de poder sair agora, mas...

— Não se desculpe. Eu sabia que você estaria trabalhando quando decidi visitar. Vou explorar e ver sua nova cidade. — Ela ficou na ponta dos pés para beijar minha bochecha novamente. — É bom vê-lo.

— Você também. — Passei um braço em volta dos ombros dela.

Estávamos quase na porta da Blazer, quase a salvo, quando uma voz veio da oficina.

— Olá.

Droga. Eu tinha esquecido Bryce.

Ela veio em nossa direção, com a mão estendida.

— Eu sou Bryce Slater.

As apresentações eram inevitáveis.

— Mãe, esta é a esposa do meu chefe. Bryce, esta é minha mãe, Suzanne Reynolds.

— Oh, olá. — O rosto de Bryce se iluminou. — É tão bom conhecer você.

— Prazer em conhecê-la também. — Mamãe apertou as duas mãos de Bryce. Era como ela sempre cumprimentava, como se estivesse dando um abraço em sua mão.

— Você está visitando? — Perguntou Bryce.

Mamãe assentiu, pegando meu braço e o abraçando.

— Sim. Eu pensei em surpreender Isaiah. Eu não estive em Clifton Forge antes.

— Isso é tão bom. — Bryce olhou para mim. — Você deveria tirar o resto do dia de folga. Tenho certeza de que Dash não se importará.

— Vou perguntar se posso sair mais cedo, mas preciso terminar alguns serviços antes. — E ligar para Genevieve. — Mamãe vai fazer compras e tomar um café.

— Oh, bem, se você estiver indo para o centro da cidade, você deve passar pelo escritório de Genevieve. Tenho certeza que ela adoraria.

Caralho. Minha. Vida.

A testa da mamãe franziu.

— Quem é...

— Ela está trabalhando, — eu disse a Bryce, pegando o cotovelo da mãe e empurrando-a para a Blazer.

— Isaiah, — mamãe repreendeu. — Qual o seu problema?

— Nada. Estou com pressa para concluir esse trabalho para poder encontrá-la para o jantar. E não quero que você perca nenhuma das lojas. Algumas delas fecham cedo.

— Ok. Tudo bem. — Ela fez uma careta para mim, depois olhou para Bryce. — Prazer em conhecê-la.

— Você também. — Bryce olhou para mim como se eu tivesse perdido o juízo.

Talvez eu tivesse, três meses atrás, quando me casei com uma estranha.

Mamãe estava a segundos de entrar no carro. O seu pé estava no estribo e a mão na porta para subir.

Então o Toyota de Genevieve entrou no estacionamento.

— Porra, — eu murmurei.

— O que foi? — Mamãe perguntou.

— Nada. — Baixei a cabeça, respirei fundo e olhei para cima. — Melhor descer. Genevieve está aqui.

— Quem?

— Genevieve, — falei baixinho, para que apenas ela pudesse ouvir. — Alguém que eu quero que você conheça.

Mamãe me olhou desconfiada, sem dúvida, porque Genevieve era claramente um nome de mulher. A última vez que eu apresentei mamãe a uma mulher foi anos atrás. Antes de Shannon.

Genevieve estacionou em seu lugar ao lado do escritório e saiu do carro. Quando ela acenou, havia um par de sapatos na mão e os pés estavam descalços.

— Meu salto quebrou. Voltei para casa para pegar um par novo.

Eu fiz uma careta.

— Você deveria ter me ligado.

— Estou bem. — Ela acenou com a mão para cima e para baixo em seu corpo. — Ilesa. Jim me acompanhou até o meu carro e você pode me seguir de volta.

Falaríamos sobre ela sair sem me mandar uma mensagem mais tarde.

— Venha aqui um segundo. Eu gostaria que você conhecesse alguém.

Bryce se aproximou, as sobrancelhas se unindo.

— Elas ainda não se conheceram?

— Mamãe nunca esteve aqui antes, — expliquei. — E estivemos ocupados e ainda não fomos a Bozeman.

— Ah. — Bryce assentiu. — Então isso será emocionante.

Se emocionante significava doloroso.

— O que foi? — Genevieve andou na ponta dos pés, tentando impedir que as bainhas de suas calças pretas arrastassem no chão.

Eu respirei fundo.

— Genevieve, conheça minha mãe, Suzanne Reynolds.

— Oh. — Genevieve cobriu seu suspiro com um sorriso. — Oi. — Ela estendeu a mão direita, mas havia esquecido os sapatos. — Desculpe. — Ela os jogou no chão, limpando a palma da mão na calça e estendendo-a novamente. — É tão bom finalmente conhecê-la.

— Você também. — Mamãe estava sorrindo externamente, mas seus olhos dispararam para mim. Ela não tinha ideia de quem era Genevieve. Por que ela teria?

Genevieve percebeu a confusão no olhar de mamãe. Um lampejo de dor cruzou seus olhos, mas ela piscou porque Bryce estava olhando.

— Isaiah me falou muito sobre você, Suzanne.

Uma mentira total, mas Genevieve estava fazendo o papel. Eu agradeceria a ela mais tarde se sobrevivêssemos.

— Eu sinto muito. — Mamãe balançou a cabeça. — Estou esquecendo alguma coisa?

— Não. — Coloquei meu braço em volta dos ombros de mamãe, segurando-a com força. — Mãe, esta é Genevieve. Minha esposa.

No segundo em que a palavra saiu da minha boca, o corpo de mamãe se encolheu como se tivesse levado um soco.

— S-sua esposa?

— Ela não sabia? — Bryce sussurrou para Genevieve.

— Queríamos contar a ela pessoalmente, — mentiu Genevieve.

Deus, eu poderia beijá-la por isso.

— Desculpe-me, mamãe. — Quando eu pararia de me desculpar pelos meus erros? — Eu deveria ter lhe contado no telefone, mas...

— Você está casado?

Eu assenti.

— Sim.

— Quanto tempo?

— Desde o final de julho.

— Oh. — Seu queixo caiu quando ela assimilou a notícia. Quando ela olhou para cima, havia lágrimas nos olhos.

— Não fique chateada. Queríamos contar pessoalmente e...

— Você está casado. Ah, Isaiah. — Ela pegou meu rosto entre as mãos e sorriu. — Isso é perfeito... Maravilhoso. Você está feliz?

Feliz? Nunca. Mas se mamãe pensasse que ser casado me deixava feliz, eu concordaria.

— Sim, mãe. Eu estou.

Ela jogou os braços em volta de mim e riu.

— Eu achei que nunca chegaríamos a isso. Não depois de Shannon.

Ao nome de Shannon, Genevieve ficou tensa. Todo mundo estava ficando surpreso hoje.

— Vou deixar vocês sozinhos. — Bryce sorriu para Genevieve e desapareceu no escritório. Agora ela vai embora?

Mamãe me soltou e enxugou os olhos. Ela pegou a mão de Genevieve.

— Obrigada. Do fundo do meu coração.

Genevieve simplesmente assentiu.

— Que surpresa, — disse mamãe. — Eu não esperava vir para Clifton Forge hoje e ganhar uma filha.

Outro lampejo de dor atravessou o rosto de Genevieve. Ela não estava pronta para ser filha de outra mulher, não quando ela ainda estava de luto pela mãe.

— Mamãe vai ficar por aqui para jantar, — eu disse. — Todos nós podemos sair assim que você sair do trabalho.

— Isso parece bom. — Genevieve inclinou-se para pegar os sapatos. — É melhor eu trocar isso e voltar ao trabalho. Vejo você hoje à noite, Suzanne.

— Mal posso esperar. — Mamãe acenou enquanto Genevieve se dirigia para as escadas.

— Mãe, você pode esperar um segundo?

— Você pode ir. Vou sair e fazer algumas compras. Ligue-me quando estiver fora do trabalho.

— Ok. — Eu beijei sua bochecha. — Vejo você em breve.

Subi as escadas, dois degraus de cada vez, voando para o apartamento. Genevieve estava colocando os sapatos dentro da lata de lixo.

— Desculpe, — eu respirei. — Ela me surpreendeu.

— Tudo bem. — Genevieve não olhou para mim. — Eu pensei que você já tinha contado a ela, então isso me pegou de surpresa também. Quero dizer, você nunca disse que contou à sua família, então não sei por que estou chocada. Não importa. Está tudo bem.

Não estava tudo bem.

Atravessei a sala e coloquei minhas mãos em seus ombros, girando-a para me encarar.

— Eu deveria ter contado a ela.

— Por que você não contou? Você está com vergonha? É por isso?

Cristo. Eu estraguei isso também.

— Não, de jeito nenhum. Mamãe teve alguns anos difíceis comigo na prisão. Eu não tinha certeza de como contar a ela. E eu não tinha certeza de como ela reagiria. Não quero lhe causar nenhum estresse.

— Entendi. — Genevieve suspirou. — Vai ficar tudo bem. Nós vamos jantar. Fingir ser o casal apaixonado com ela também. Não é grande coisa.

— Obrigado. Significa muito. Ela significa muito.

Mamãe era a única pessoa que sempre esteve ao meu lado. Mesmo quando isso custou seus anos com Kaine, ela ficou do meu lado.

Também não a mereço.

— É melhor eu ir embora. — Genevieve saiu do meu abraço. — Eu tenho muito o que terminar se vamos jantar. Vou tentar sair cedo.

— Vou segui-la até o escritório.

Ela assentiu, afastando-se para ir ao guarda-roupa e pegar um par de sapatos.

Fechei os olhos e deixei minha cabeça cair. No decorrer das apresentações, isso poderia ter sido muito, muito pior. Poderia ter sido o desastre que eu imaginei.

Agora eu só tinha que passar pelo jantar. Eu estava contando que mamãe não mencionasse Shannon novamente, esperando que ela estivesse muito ocupada em conhecer sua nora para falar sobre o passado.

Genevieve calçou um par de saltos pretos, fazendo-a alguns centímetros mais alta. Então ela atravessou a sala, passando por uma pilha de latas de tinta perto da cômoda.

Eu já havia construído as novas prateleiras ao redor do guarda-roupa e, neste fim de semana, iríamos pintar.

Genevieve havia escolhido quatro cores diferentes. Uma para o banheiro, outra para os tetos, outra para uma parede de destaque e o quarto, e outra para os demais cômodos.

Ela seria um anjo para mamãe durante o jantar e, por isso, Genevieve não precisaria levantar um pincel. Eu pintaria todo esse lugar para ela, duas vezes, se ela me pedisse.

— Obrigado, — repeti.

— Tudo bem. — Ela não estava olhando para mim novamente enquanto caminhava para a porta. Ela girou a maçaneta, mas parou e a soltou, a mola recuando com um clique. — Quem é Shannon?

Meu peito apertou.

— Uma lembrança.

— Você vai me falar sobre ela um dia?

Uma mentira teria sido fácil. Eu poderia dizer talvez. Mas Genevieve teve a verdade.

— Não.


Capítulo Onze

Genevieve


— Ei. — Isaiah fechou a porta atrás de si e tirou as botas.

— Oi, — eu murmurei, sem tirar os olhos do pincel.

Na semana em que sua mãe visitou Clifton Forge, a pintura se tornou minha fuga. Se eu não estava no trabalho, estava aqui com um pincel ou rolo na mão. Até agora, eu tinha pintado todos os tetos do apartamento.

Preparar as lonas todas as noites era uma grande dor de cabeça, mas eu não dormiria no Evergreen Motel, onde mamãe havia sido assassinada. Bryce havia me avisado que havia rumores de que os outros dois motéis tinham percevejos. Então eu cobria e descobria como se fosse o meu trabalho.

Dormimos com a janela e a porta abertas, ventiladores funcionando no máximo, para não sufocarmos com o cheiro. A ida ao banheiro pela manhã era gelada, mas nada que um banho quente não pudesse afugentar.

Hoje, eu comecei as paredes. A primeira foi a parede de contraste atrás da cama. Amanhã à noite eu cuidaria do banheiro. No fim de semana, o resto das paredes me daria uma desculpa para evitar Isaiah.

Eu tinha uma bolha no meu dedo indicador causada pela alça do rolo. Eu tinha manchas de tinta no rosto e nos braços. O pedaço de cabelo acima da minha sobrancelha esquerda estava manchado de azul índigo. Mas se não fosse por essa pintura, eu teria enlouquecido.

— Como foi o seu dia? — Perguntou Isaiah.

Dei de ombros, sem me preocupar em me virar e olhar para ele.

— Bem.

Jim me escoltava até o meu carro depois do trabalho todas as noites, poupando Isaiah de uma viagem ao centro. Então eu pulava minha hora do almoço a semana toda e saía uma hora mais cedo do que o normal para poder pintar. Minha pesquisa atingiu um beco sem saída. A menos que os Warrior quisessem me dar uma lista completa de seus membros, eu pesquisei todos os seus afiliados conhecidos sem nenhuma pista.

A pintura estava me distraindo disso também.

Quando Isaiah saia da oficina, eu estava no meio dela.

— O que eu posso fazer?

Eu já tinha empurrado a cama para o meio do quarto e coberto com plástico. Minha bandeja de tinta estava cheia. O acabamento do rodapé foi colado para que eu pudesse pintar as bordas hoje à noite. Eu tinha um pincel extra com meus suprimentos, mas não queria a ajuda dele.

— Nada.

Isaiah suspirou e abriu a geladeira para tirar uma Coca-Cola, assim como fazia todas as noites depois do trabalho. As latas da caixa de papelão se mexeram para preencher o espaço vazio quando ele abriu a tampa e tomou um gole.

Por que Isaiah gosta de Coca-Cola? Nenhuma ideia. Foi a única coisa que eu o vi beber além de água. Ele gostava da cafeína? Era o açúcar? Por que ele não bebia álcool?

Ele não disse.

E eu não perguntei.

— Você quer jantar? — Ele perguntou. — Eu poderia comer pizza.

Eu não queria pizza.

— Tudo bem.

— Ou cheeseburgers?

— Pizza. — Eu não tinha planos de comer aquela pizza com Isaiah. Pizza seria melhor para reaquecer do que um hambúrguer de queijo. Ou eu comeria frio. Minha pintura me salvou da conversa durante o jantar a semana toda. A última refeição que Isaiah e eu tivemos juntos foi com a sua mãe.

Suzanne Reynolds era uma mulher legal. Durante todo o jantar, ela encontrou desculpas para me tocar, como um tapinha na mão ou um toque no ombro quando eu dizia algo que ela gostava. Ela sorria muito. Ela ria com facilidade.

Como mamãe costumava fazer.

Mamãe estaria sorrindo agora? Ela estaria rindo se soubesse como suas mentiras e segredos me levaram até aqui? Ela estaria olhando para mim, vendo como eu repintava este apartamento sujo que eu dividia com um homem que nem se preocupou em contar à sua doce mãe que ele se casara? Ou um falso casamento.

Tanto faz.

— Pepperoni? — Perguntou Isaiah.

Ugh. Comemos pepperoni da última vez. Eu não aguentava mais comer isso.

— Certo.

Seu olhar estava quente no meu pescoço enquanto ele esperava por mais, mas essa era a única palavra que ele conseguiria. Finalmente, ele murmurou:

— Ok.

Por que eu deveria falar quando ele não falava?

— Você gostaria que eu pintasse enquanto você para um pouco? — Ele perguntou.

— Não.

Isaiah se ofereceu para pintar o lugar inteiro depois que sua mãe deixou a cidade. Suzanne voltou para Bozeman depois do jantar, ligando duas horas depois quando chegou em casa em segurança. Isaiah esperou sua ligação e então prometeu pintar depois do trabalho todas as noites.

Desde que cheguei em casa uma hora antes que ele terminasse no andar de baixo, comecei antes que ele tivesse a chance de me parar.

A única razão pela qual ele queria pintar era porque eu fiz sua mãe rir e a respondi pergunta após pergunta, sem hesitar. Eu não precisava de mais favores culpados. Se eu quisesse um teto branco e uma parede azul índigo, eu mesma faria.

Por que contar com as pessoas quando elas apenas decepcionavam? Ou iam embora? Ou morriam?

— Genevieve. — A voz de Isaiah era baixa, meu nome era suave e gentil quando escorria de sua língua. Ninguém falava meu nome como Isaiah.

Minha raiva diminuiu.

— O quê?

— Você pode olhar para mim?

Eu bufei e me levantei do chão onde estava agachada para pintar a borda perto do rodapé. Eu mantive meu rosto sereno, sem expressão, e me virei para encontrar seu olhar. Ele estava mais perto do que eu esperava. Eu pensei que ele ainda estava na cozinha, mas ele estava ao pé da cama.

— Você está bem? — Ele parecia genuinamente preocupado.

— Estou bem.

— Estou recebendo muito essa palavra. Você parece brava.

Eu cerrei os dentes. Por que ele estava perguntando? Não era como se ele realmente se importasse.

— Estou ocupada.

— Talvez você não estivesse tão ocupada se me deixasse ajudar a pintar.

— Eu não preciso de ajuda.

Ele pressionou os lábios.

— Tudo bem.

— Tudo bem. — Tudo bem eram as minhas palavras. Eu dizia melhor de qualquer maneira.

Isaiah colocou as mãos nos quadris.

— É assim que vai ser agora? Recebo o tratamento do silêncio todas as noites? Não podemos pelo menos ser civilizados?

Sério? Agora eu fiquei com raiva.

Meu pincel disparou em direção a sua cabeça.

Ele se esquivou do pincel, contornando-o com um balanço fácil. Mas a tinta respingou em sua camiseta preta. Ele limpou uma mecha com o dedo, manchando a pele.

— Que porra é essa?

— Você não pode me dar um sermão sobre o 'tratamento do silêncio'! — Eu gritei, fazendo aspas no ar. — Sua mãe é uma mulher doce e adorável.

— Assim? — A sua testa franziu. — Você está me ignorando porque minha mãe é doce?

— Não, eu estou te ignorando, porque você não contou a essa doce e adorável mulher sobre mim. Estou brava por ter que mentir para essa doce e adorável mulher. Estou frustrada por estar nesta posição em primeiro lugar por causa da minha mãe, que também era doce e adorável, mas agora está morta.

Os ombros dele caíram.

— Gene...

— Não.

Eu estava com raiva, e droga, eu queria descarregá-la. Pela primeira vez, eu queria libertar um pouco dessa raiva porque mantê-la presa estava me comendo viva.

— Estou brava porque estou brava. É tudo o que sinto na maioria dos dias e não posso nem lamentar minha mãe porque a raiva supera todo o resto. Bryce quer publicar um artigo memorial sobre mamãe, mas não suporto ler. Não quero me lembrar de como ela era ótima porque aqui, — toquei meu coração, — ela não é ótima. Parece... Errado. Porque se ela fosse ótima, então eu não estaria pintando este apartamento, esperando que parecesse um pouco mais com a casa que eu perdi desde que algum bastardo a matou no Evergreen Motel.

Isaiah deu um passo em minha direção, mas eu levantei minha mão, parando-o antes que ele chegasse perto demais. Se ele cruzasse a linha invisível entre nós, a raiva se dissolveria em lágrimas.

Havia mais a liberar antes que o choro começasse.

— Estou brava porque fui empurrada para a traseira de um porta-malas. Estou brava porque alguém me sequestrou. Estou brava porque ele ainda está lá fora, e estou com medo de ir a qualquer lugar sozinha. Estou louca porque esse apartamento ruim é um dos únicos lugares onde me sinto segura. Estou brava por ter ganho cinco quilos porque asso biscoitos da receita especial da minha mãe todos os dias, já que esses biscoitos estúpidos me fazem sentir como se minha mãe fosse ótima.

Minha garganta começou a fechar e meu nariz ardeu, mas eu continuei. Se eu não tirasse, ele nunca saberia. E hoje à noite eu tinha a coragem, eu precisava que ele soubesse.

— Eu estou brava. — Uma lágrima escorreu pela minha bochecha. — Estou tão brava com ela. E não posso ficar brava com ela porque ela se foi. Então, eu vou ficar brava com você. Estou brava por você ter uma mãe doce e amorosa. Estou brava por ter descoberto mais sobre ela durante o jantar do que nos meses em que estamos casados. E estou brava por você não me dizer nada.

Outra lágrima caiu e eu estendi a mão para limpá-la da minha bochecha. Eu odiava estar chorando e que Isaiah estivesse me vendo desmoronar. Meu discurso manchou o ar de um cinza pútrido e a humilhação empurrou a raiva de lado. Oh meu Deus. Eu sou uma psicopata.

Minhas bochechas queimaram.

Eu queria meu pincel. Eu queria voltar ao trabalho e esquecer que isso havia acontecido. Droga. Por que eu o joguei?

— Você vai me entregar meu pincel? — Eu sussurrei, recusando-me a encontrar seu olhar.

— Não.

— Por favor? — Minha voz soou baixa e frágil. Fraca.

— Eu não quero que você saiba sobre mim.

Eu suspirei. Ai. Acabei de derramar meu coração e ele o pegou nas mãos e o apertou, quebrando-o em pedaços. Eu era realmente um monstro? Por que confiar em mim era impossível?

Eu pisquei, outra lágrima caindo. Quanto mais eu poderia aguentar até que a dor me engolisse inteira?

— Porra. Não foi isso o que eu quis dizer. — Isaiah contornou a cama, inclinando-se para agarrar minha mão. Ele me puxou para a beira da cama. Sentamos, a lona plástica estalando sob o nosso peso.

Escolhi um ponto de tinta seca no teto.

Isaiah colocou o dedo embaixo do meu queixo.

— Olhe para mim.

Ele realmente tinha olhos bonitos.

Tão tristes, mas tão bonitos.

— Não foi isso que eu quis dizer. — Os seus ombros caíram. — Eu não quero que você saiba sobre mim, porque acho que você não vai gostar muito de mim. Quero que você goste de mim.

— Oh. — E agora eu era a idiota que estava tão concentrada em sua própria dor que não percebeu a vergonha de Isaiah. Merda. — Desculpe. Somos um par perfeito.

— Sim. — Ele baixou o olhar para o meu colo, pegando minha mão esquerda e esfregando uma mancha de tinta da minha aliança.

— Eu gostaria de conhecê-lo, — eu disse. — Pelo menos um pouco. Isso pode durar anos. Não podemos fingir que estamos casados fora dessas paredes e sermos estranhos dentro. Talvez possamos ser... Amigos.

Eu não tinha amigos em Clifton Forge. Minhas amigas do Colorado ligavam às vezes. Eu ligava para elas outras vezes. Mas a cada semana que passava, elas continuavam com suas vidas e eu continuava com a minha. Em breve, não nos falaríamos mais porque não tínhamos mais nada em comum.

Todos elas achavam que eu estava envolvida em um romance repentino. A maioria pensava que eu era louca, e embora elas nunca admitissem, acho que estavam esperando para me receber em casa quando tudo acabasse.

Elas não estavam erradas.

Isaiah assentiu.

— Amigos.

— Bom. Eu gosto da sua mãe. — Apesar do meu colapso anterior, era importante que ele soubesse disso.

— Estou feliz. Ela é... Ela é a melhor pessoa que eu conheço.

— Você vai me contar mais sobre sua família? — No jantar, sua mãe falou sem parar sobre Isaiah e Kaine, seus dois filhos. Mas não houve menção ao pai deles. — Como é seu irmão?

— Ele é um cara legal. Ele constrói móveis personalizados que mais parecem arte do que mesas e cadeiras. Ele sempre teve esse tipo de talento bruto. Eu costumava ficar com ciúmes de como as coisas vinham tão facilmente para ele. Eu provavelmente o odiaria se ele não fosse a segunda melhor pessoa que eu conheço.

— E ele mora em Montana?

Isaiah assentiu.

— Em uma pequena cidade chamada Lark Cove. É diferente de Clifton Forge. Fica mesmo no lago.

— Por que você escolheu Clifton Forge em vez de Lark Cove? Você não queria estar perto de seu irmão?

— O emprego. A oficina de Dash é bem conhecida e muitos lugares não contratam um ex-presidiário.

Eu esquecia na maioria dos dias que Isaiah esteve na prisão. Que seu registro o seguiria pelo resto da vida.

— E seu pai?

— Eu realmente não o conheci. Mamãe se divorciou dele apenas alguns meses depois que eu nasci. Eles já estavam separados. Eu fui um acidente.

— Temos isso em comum, — eu murmurei.

— Sinceramente, não me lembro muito dele. Não sei dizer como ele era. Não consigo nem pensar na última foto que vi dele. Estranho, certo?

— Não, na verdade não. — As pessoas eram esquecidas com mais facilidade do que qualquer um gostaria de pensar sobre si mesmo.

Esqueceria mamãe um dia? Eu não queria. Mesmo irritada como estava, não queria esquecer seu sorriso. Talvez se eu mantivesse fotos suficientes por perto, nunca a esqueceria.

— De qualquer forma, — continuou Isaiah, — ele trabalhava para uma empresa que desenvolvia projetos no exterior. Ele acabou se mudando para a Ásia. Ele ligava. Lembro que minha mãe me ensinou a usar o telefone quando eu era pequeno, para poder dizer oi. Mas ele não visitava mais de uma ou duas vezes por ano. Ele me mandava presentes nos meus aniversários e no Natal. Então, quando eu tinha oito anos, mamãe sentou comigo e Kaine e disse que meu pai estava doente. Ele morreu oito meses depois.

— Oh, meu Deus, — eu ofeguei. — O que houve?

— Câncer de pâncreas.

— Eu sinto muito. — Coloquei minha mão sobre a dele.

Ele levantou um ombro.

— Eu era apenas uma criança. Quando se tratava das coisas que um pai deveria ensinar a um garoto, eu tinha Kaine. Ele me ensinou a andar de bicicleta. Como jogar bola. E lutar.

Ele tinha uma família unida, assim como a minha. Dado o seu medo em relação a reação de Suzanne às notícias de nosso casamento, Isaiah deve ter esperado que eles enlouquecessem com nosso relacionamento inesperado. Eu podia ver por que ele tinha escondido isso deles. Não era sobre mim. Ele não queria decepcioná-los.

Eu bati no seu ombro com o meu.

— Obrigada.

— De nada. — Ele bateu de volta.

— Por que você achou que eu não gostaria de você? — Nada do que ele me disse parecia ruim. Não me importava qual era a situação da sua família. Olhe para a minha. A dele era tranquila comparada com a história da minha origem.

— Essas eram perguntas seguras, boneca.

— Oh.

Talvez ele esperasse que eu perguntasse sobre Shannon novamente. Mas eu recebi a dica na semana passada. Esse era um assunto não permitido.

Quem era ela? Sua ex-namorada? Ou... ex-mulher? Ele já foi casado antes?

Queria fazer todas essas perguntas, mas não pareciam seguras. E ele estava falando, finalmente falando. Eu estava preocupada que, com uma pergunta errada, ele me excluísse.

— E que tal isso? O que devo saber sobre você?

Ele se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Poucas pessoas aqui sabem que eu fiquei na prisão por três anos. Eu não escondo isso. Não vou negar. Mas também não vou ficar falando.

— Eu posso entender isso. Você vai me dizer por que você foi preso?

Ele olhou para a porta.

Segundo após segundo. A tensão que normalmente vinha quando Isaiah ignorava uma pergunta não estava lá. Isso era diferente. Ele tinha vergonha. Isso pulsava em ondas espessas e culpadas. Estava machucando-o. Ele estava suportando, porque eu pedi uma resposta.

— Você não precisa...

— Eu matei alguém.

Eu congelei.

— Quem?

— Uma mulher e seu bebê ainda não nascido.

Eu estremeci. Eu não queria, mas aconteceu involuntariamente.

Ele abaixou a cabeça.

Isso não poderia ser real. Isaiah não mataria uma mulher grávida. Tinha que ter sido um acidente, certo? O Isaiah que salvou minha vida não era um assassino.

Ele era gentil, reservado e atencioso. Recusei-me a imaginar esse homem como um assassino de sangue frio.

Espere, era por isso que ele não bebia? A morte da mulher tinha algo a ver com um vício? Ele não passou muito tempo na prisão. Três anos mais liberdade condicional eram comuns por homicídio culposo. Então tinha que ser um acidente. Talvez dirigir embriagado? Ou drogas?

Minha mente girou com as possibilidades, mas parou quando um som alto de passos ecoou pelas escadas do lado de fora. Aquela escada era melhor do que qualquer campainha. Ninguém poderia esgueirar-se aqui despercebido.

Isaiah saiu da cama rapidamente, caminhando até a porta. Ele abriu assim que nosso visitante bateu.

— Dash. — Isaiah acenou para ele entrar.

Dash entrou e examinou a sala.

Eu me levantei da cama, desejando que sua primeira visita ao nosso apartamento não fosse quando estivesse coberta com manchas de tinta. O pincel que eu joguei em Isaiah estava na beira do plástico, graças a Deus, não no tapete.

— E aí? — Isaiah perguntou, fechando a porta.

— Tenho algumas notícias, — disse Dash. — Os Warriors estão fazendo um movimento. Tucker me ligou hoje e disse que eles virão no sábado e esperam uma reunião.

Meu coração caiu. Não. Não. Não. Não. Eles descobriram que Isaiah e eu estávamos naquela cabana?

— Sobre? — Perguntou Isaiah.

— O fogo. Eles passaram um tempo tentando descobrir quem começou, mas não tiveram sorte. — Ele se virou para mim. — Eles querem conversar com você e Bryce sobre o cara que as sequestraram.

— Nós não sabemos de nada, — eu soltei. — Nós contamos tudo.

— Agora você dirá a eles.

— Por quê?

— Porque, — ele fez uma careta — estamos cooperando com eles. A última coisa que precisamos é de uma guerra que nunca venceremos. Esses caras não jogam pelas regras. Eles matam primeiro e fazem perguntas depois.

Eu engoli.

— Então, o que faremos?

— Você diz a eles o que sabe. — Ele apontou para o meu nariz. — E é melhor que seja exatamente a mesma história que você me contou.


Capítulo Doze

Isaiah


— Eu não gosto deste lugar, — Genevieve sussurrou enquanto se aconchegava mais perto do meu lado.

— Nem eu.

Tínhamos acabado de passar pela porta da frente do clube Tin Gypsy, onde nos encontraríamos com os Warriors.

Eu apertei mais forte a mão de Genevieve. Tornou-se um hábito para nós, dar as mãos. No começo, era a maneira mais fácil de mostrar ao mundo que éramos um casal, muito menos estressante que um beijo ou até um abraço. Mas então ele evoluiu. Tornou-se... Mais. Nós estávamos unidos. Nós éramos uma equipe. Nós estávamos nisso juntos, até o fim.

Depois de meses tentando alcançá-la, meses enrolando seus dedos delicados nos meus, sua mão se tornou um abrigo.

Nós dois precisávamos do conforto hoje.

Esperar dois dias por esta reunião com os Warriors foi angustiante. Genevieve estava tão ansiosa que mal dormiu. Algo que eu sabia como fato, porque mal tinha dormido. Ontem à noite, eu finalmente tive o suficiente de nós dois nos virando em nossas respectivas camas. Eu me levantei e liguei a TV. Nós já terminamos os filmes de Harry Potter, então eu os reiniciei desde o primeiro.

Eu ainda não tinha lido os livros. Talvez Genevieve estivesse certa. Talvez a prisão tivesse arruinado a leitura para mim. Se sobrevivêssemos a essa bagunça, pegaria um livro e descobriria.

Esta manhã foi estressante na melhor das hipóteses. Com nada a fazer além de esperar, Genevieve e eu havíamos pintado. Ela cedeu e me deixou ajudar. Quando Dash e Bryce chegaram, seguidos por Draven, Emmett e Leo, nós os encontramos no estacionamento e os seguimos até a sede do clube.

Eu não tinha pensado muito neste edifício. Do lado de fora, era bastante modesto. Estava abandonado no final do terreno, sombreado por um bosque. As folhas haviam virado e a maioria havia caído na grama coberta de vegetação ao redor do prédio manchado de escuro.

As janelas estavam todas cobertas com tábuas de compensado resistentes. Quem fez isso usou parafusos, não pregos, e prendeu as tábuas por dentro, não por fora. Não havia como abri-las. Para arrombar do lado de fora, primeiro você deveria quebrar o vidro sujo e depois usar uma serra para abrir caminho.

Escapar de um prédio sem janelas seria impossível. Anos atrás, eu não pensaria em nada disso, mas a prisão tinha um jeito de mudar a perspectiva de um homem.

Agora, eu sempre procurava uma fuga.

Depois de seguir Dash, nenhum de nós falou. Ficamos na sala aberta atrás das portas, esperando enquanto ele e Emmett acendiam as luzes.

Não foi o cheiro de mofo que fez minha pele arrepiar. Não foi o ar viciado, denso com uma corrente de bebida e fumaça. Não foi a poeira na mesa de sinuca ou as teias de aranha no bar. Meu coração estava acelerado e minhas mãos úmidas porque estávamos presos. Havia apenas uma maneira visível de sair deste clube, para tirar Genevieve, e isso era pela porta atrás de mim.

— Vamos nos encontrar aqui. — Leo acenou para nós através de um conjunto de portas duplas diretamente em frente ao local onde estávamos.

Genevieve apertou minha mão com a dela quando entramos na sala.

— Esta é a Capela. — Draven passou a mão sobre a mesa comprida que percorria toda a extensão do espaço. — É aqui que realizamos nossas reuniões de clube.

Os olhos arregalados de Genevieve observaram a sala, o aperto na minha mão aumentando. Parecia uma sala de conferências normal e não cheirava tão mal quanto a sala externa. O couro das cadeiras pretas de espaldar alto parecia afugentar o fedor do bar. O cheiro de polidor de verniz de limão encheu meu nariz. Enquanto o resto do lugar estava empoeirado, alguém esteve aqui recentemente para limpar a poeira da mesa e das cadeiras.

— Todos nós vamos sentar deste lado. — Dash apontou para o lado oposto da mesa. Poderíamos ver a porta da frente, mas isso dificultava a fuga. Entre nós e a saída estariam os Warriors.

Talvez Dash não esperasse uma briga. Talvez isso realmente fosse uma reunião simples. Mas os nós no meu estômago só desapareceriam quando terminasse e estivéssemos do lado de fora, respirando livres.

Genevieve tirou a mão da minha e caminhou até a parede dos fundos da sala. Estava forrada com fotos de homens em coletes de couro preto. Alguns estavam na frente de motos. Alguns estavam andando. Em todas as fotos, havia sorrisos.

Os sorrisos mexeram comigo. Essas fotos faziam os Tin Gypsies parecerem amigáveis. Isso fazia o clube parecer divertido. Talvez eles tenham sorrido até o momento em que colocaram uma bala no crânio de uma pessoa.

Havia um cara na prisão, Beetle, que estava em um moto clube. Ele foi designado para duas celas depois da minha. Ele estava o mais longe possível de um besouro13, Bear14 teria sido mais apropriado. Beetle matou três homens com um cano de chumbo em menos de cinco minutos. Beetle nunca sorria.

Minha mente não conseguia conectar esse tipo de violência e os homens com quem eu trabalhava na garagem. Dash, Emmett, Leo, eles eram bons homens. Mas eles estavam em algumas das fotos penduradas. Eles usavam o colete. Eu estava me enganando que eles não eram homens cruéis.

Talvez, apesar das máscaras de nossas vidas normais, houvesse um traço de mal em todos nós.

Depois de três anos morando em um lugar onde Beetle era um dos mais tranquilos, eu não tinha pensado duas vezes antes de aceitar um emprego em uma garagem que era conhecida por ter laços com um ex-MC. Eu sabia que não devia acreditar nos sorrisos.

Pelo bem de Genevieve, eu esperava que ela acreditasse em cada um deles.

Ela se demorou nas fotos por outro momento, então foi até uma bandeira pendurada entre as molduras. Era o patch dos Tin Gypsies. Uma caveira estava no centro. De um lado, era decorado com cores vivas e adornos de joias. Do outro lado, a costura prateada fazia o rosto parecer metal. Chamas lambiam o fundo preto.

Genevieve inclinou a cabeça para o lado, tentando entender o sentido. Se seu objetivo era causar medo no coração de seus inimigos, eu suspeitava que tivesse fracassado. Era muito artístico. Mas se fosse para fazer uma declaração, para ser algo que uma pessoa pudesse ver uma vez e se lembrar por toda a vida, eu diria que foi um sucesso.

— Sente-se. — Dash já estava em uma cadeira na cabeceira da mesa. Bryce sentou na primeira cadeira do nosso lado. Ao lado dela estava Draven, seguido por Leo e Emmett. O que colocava Genevieve e eu no final da fila.

Puxei sua cadeira, deixando-a sentar ao lado de Emmett. Eu confiava que, se algo acontecesse, ele ajudaria a protegê-la.

— Podemos repassar isso mais uma vez? — Bryce perguntou, deixando escapar um suspiro trêmulo. — Eu estou nervosa.

Dash cobriu a mão dela com a dele.

— Nada para ficar nervosa.

Ela revirou os olhos.

— Diz o homem que tem uma arma na bota e outra na cintura da calça jeans.

Porra. Eu deveria ter trazido uma arma? No dia em que fui à montanha para resgatar Bryce e Genevieve, Dash me deu uma arma. Ele não pediu de volta. Eu também não tinha devolvido, tê-la perto me fez sentir seguro, e não era como se eu pudesse comprar uma para mim. Estava escondida em uma caixa em uma das novas prateleiras que eu construí no apartamento.

— Tucker concordou em trazer apenas alguns caras, — disse Dash a Bryce. — Nada como a última vez. Aquilo foi uma cena de intimidação.

— Com certeza, — Emmett murmurou, balançando a cabeça. — Eu não gosto do jeito que ele exigiu esta reunião.

— Eu também não, — Dash concordou. — Mas não temos escolha. Quanto mais cedo ele perceber que estamos dizendo a verdade, que não sabemos nada, ele irá embora. E eu, por exemplo, realmente gostaria de me livrar de pelo menos uma ameaça.

Draven assentiu.

— De acordo.

— Não sabemos nada, — disse Bryce.

— Diga isso a ele, querida. Deixe-o ver a verdade em seus olhos.

O seu rosto empalideceu.

— Ok.

Genevieve virou a cadeira, seus olhos preocupados encontrando os meus. E se ele ver a verdade?

Eu peguei a mão dela.

A sala ficou quieta, o único movimento a subida e queda de peitos respirando. Isso me lembrou das noites na prisão, quando o ar ficava parado. Algumas noites ficava quieto e eu encontrava algumas horas de sono. Outras, eu ficava acordado a noite toda ouvindo, esperando o pior e imaginando como os outros presos conseguiam dormir.

Cerca de um ano depois da minha sentença, eu tinha ouvido um barulho algumas células para baixo. Um homem que só esteve na prisão por dez dias usou seu lençol para se enforcar. Seu companheiro de cela tinha dormido durante toda a coisa.

— Estamos autorizados a comparecer ao julgamento? — Emmett perguntou a Draven, quebrando o silêncio.

— Você está, — respondeu Draven. — Mas não vai. Você tem coisas melhores para fazer.

O tempo estava acabando. Dezembro estava se aproximando rapidamente e, uma vez iniciado o julgamento, ninguém esperava que durasse muito.

Genevieve estava hesitante em torno de Draven. Os dois não passaram tempo juntos e não conversaram sobre Amina desde o dia que a puxou de lado depois que anunciamos nosso casamento. Mas ele estava lá todas as manhãs para cumprimentá-la antes do trabalho. Ele deixou uma abertura para outra conversa, caso ela decidisse aceitar.

A menos que encontrássemos o homem que matou Amina, Draven iria para a prisão. Ela efetivamente perderia outro pai.

Se Draven fosse condenado, eu faria tudo ao meu alcance para impedir Genevieve de visitá-lo na prisão. Ela era pura demais para pôr os pés naquele lugar.

Draven provavelmente lidaria com a prisão melhor do que eu. Ele entraria endurecido. Eu estava entorpecido. Eu tinha sido presa fácil para espancamentos no pátio, porque simplesmente não me importava. Eu aguentava bem a dor física, não era nada comparada à dor interna. Eu merecia, cada golpe e chute. Cada costela quebrada e olho roxo.

A primeira vez que mamãe veio me visitar, eu estava coberto de hematomas e meu lábio partido. Ela chorou o tempo todo. Eu pedi que ela parasse de me visitar, mas ela sempre insistia, então eu fazia questão de cobrir meu rosto antes de deixar os animais se divertirem.

Os espancamentos finalmente pararam. Eu não era mais um alvo divertido e, felizmente, não havia atraído o tipo de atenção que vinha nos chuveiros. Não como o cara que se enforcou dez dias depois de ser preso, após ter sido estuprado cinco dias seguidos.

Talvez Draven tivesse sorte e estivesse em segurança máxima. Máxima era como viver no Four Seasons15 em comparação com a mínima que parecia o Super 816.

O barulho das motos cortou o silêncio. A tensão na sala aumentou e todos se moveram ao mesmo tempo.

Dash se levantou em um piscar de olhos, saindo da sala. Bryce colocou as mãos na barriga crescente e fechou os olhos. Leo tirou a arma da bota e colocou-a no colo, escondida embaixo da mesa. Emmett e Draven trocaram um olhar, endureceram suas expressões e sentaram-se mais eretos.

Em que diabos eu entrei? No que eu coloquei Genevieve?

Eu deveria ter dito a ela para fugir naquele dia. Para fugir para o Colorado e nunca olhar para trás.

Todos os olhos estavam colados na porta enquanto as botas ecoavam na sala da frente. Dash apareceu primeiro, seguido por cinco homens.

Reconheci Tucker e mais três outros homens do dia em que os Warriors nos surpreenderam na oficina. O quinto era novo.

Eles usavam o corte dos Warrior, com a ponta da flecha branca costurada nas costas. Eu peguei um vislumbre disso quando um cara se esticou sobre a mesa para apertar a mão de Emmett.

— E aí, Stone? — O homem perguntou, chamando Emmett por seu sobrenome.

Emmett se levantou.

— O mesmo de sempre.

Leo permaneceu sentado, mas tinha um sorriso no rosto.

— Bem-vindo à festa.

Se eu não o conhecesse melhor, diria que Leo parecia estar gostando disso. Ele era bom em fazer um show.

— Draven. — Tucker apertou sua mão. O gesto fez o lado de seu colete abrir, revelando uma arma no coldre nas costelas. — Ouvi dizer que seu julgamento começa em dezembro.

— Sim, — disse Draven, retomando seu assento.

— Sente-se, — ordenou Dash, assumindo sua posição na cabeceira da mesa. Ele se sentou reto na cadeira. Esta reunião não foi ideia dele, mas era sua reunião e ele estava no comando da sala. — Tucker, você queria conversar com minha esposa e irmã.

A mão de Genevieve estremeceu. Dash nunca a reconheceu como sua irmã. A única razão para chamá-la assim hoje, era exercer poder. Ele estava deixando claro que ela estava sob sua proteção.

— Sim. — Tucker colocou os dedos embaixo do queixo, coberto com um cavanhaque escuro manchado de cinza. Ele tinha que estar perto da idade de Draven. A pele de suas bochechas estava desgastada pelo sol e pelo vento. Ele provavelmente passou a vida em uma moto, andando a cada segundo da primavera, verão e outono, assim como Draven.

— Tome cuidado com suas perguntas, Tucker, — advertiu Dash.

Os olhos de Tucker brilharam aborrecidos, mas ele assentiu antes de voltar sua atenção para Bryce.

Ótimo. Era melhor se Bryce começasse. Ela era mais calma que Genevieve, talvez porque não estivesse escondendo nada. Quaisquer nervos que Bryce tivesse trazido para esta mesa estavam enterrados profundamente. Havia desafio em seu olhar agora. Ela estava enfrentando um adversário de frente e não tinha planos de perder.

— Normalmente eu faço as perguntas. — Ela sorriu. — Importa-se se eu fizer a primeira?

Tucker assentiu.

— Faça.

— Quão bloqueado você está?

Draven sorriu. Emmett ficou rígido. Dash franziu o cenho para a esposa por insultar o presidente dos Warrior.

Mas Tucker não se ofendeu. Ele sorriu, mostrando dentes brancos.

— Muito.

— Bem-vindo ao sofrimento, — disse ela. — Quem nos sequestrou foi bom em cobrir seus rastros. E acho que desde que você está aqui, você realmente estava dizendo a verdade. Você não matou Amina Daylee e não sabe quem matou.

A respiração de Genevieve estremeceu com o nome da mãe.

Tucker assentiu.

— É o que eu tenho lhe dito.

Bryce apoiou os cotovelos na mesa.

— Então o que você quer saber?

— Conte-me como ele pegou você.

— Voltei para casa depois do jantar com meus pais. Minha casa estava escura. Ele veio atrás de mim, me tirou da minha casa, prendeu meus pulsos e tornozelos, me amordaçou e me empurrou no porta-malas de um carro.

— Que tipo de carro?

— Um sedan preto. Sem inscrições. Não dei uma olhada na placa.

— Você viu? — O olhar de Tucker se voltou para Genevieve, que balançou a cabeça. Ele a olhou por um longo segundo, e maldição se ela não sustentasse o olhar.

Havia mais força nela do que as pessoas reconheciam, inclusive ela mesma. Ela não era ousada como Bryce, mas quando necessário, ela tinha nervos de aço.

— Onde ele a pegou? — Tucker perguntou a Genevieve.

— Meu quarto de hotel em Bozeman, — ela respondeu.

Os homens de Tucker ficaram em silêncio absoluto. Um deles manteve um olhar firme em Genevieve que despertou meu temperamento. Eu lancei ao bastardo assustador, um olhar de aviso. Ele apenas levantou uma sobrancelha e voltou a encarar Genevieve.

— Como ele era? — Tucker perguntou a Bryce.

— Ele estava coberto. Da cabeça aos pés. Não sei por quê. Se ele ia nos matar, por que não se revelar? Eu pensei que isso era estranho, a menos que ele estivesse preocupado que pudéssemos fugir, o que fizemos.

— Conte-me sobre isso, — ordenou Tucker. — Como você escapou?

— Ele queria fazer parecer que Genevieve tinha me matado. Então Dash a mataria. Então ele me empurrou de joelhos, desamarrou as mãos de Genevieve e a fez segurar uma arma na minha cabeça. Dash e os caras chegaram lá antes que ele pudesse fazê-la puxar o gatilho.

— Por que não matar vocês duas?

— Eu não tenho a menor ideia. — Bryce deu de ombros. — Ele disse que era para vencer uma guerra antiga.

Tucker murmurou, sua atenção voltada para Dash.

— Como isso venceria uma guerra antiga? Nós resolvemos nosso desacordo anos atrás. Eu não daria a mínima se você matasse sua irmã.

Genevieve se encolheu. O homem do outro lado da mesa sorriu.

Psicopata. Eu poderia ter levado alguns golpes na prisão, mas eu revidei também. Se ele não fosse cuidadoso, eu pularia sobre a mesa e o espancaria até matá-lo.

— Agora você sabe por que nada faz sentido para nós também, — disse Dash a Tucker. — Talvez ele tenha imaginado que presumiríamos que Genevieve estava trabalhando com os Warriors. Não vou mentir, esse pensamento passou pela minha cabeça. Talvez ele tenha pensado em retaliarmos contra o seu clube. Se ela tivesse morrido, não teria ninguém para negar.

— Retaliar? — Tucker zombou. — Vocês todos estariam mortos em um minuto. Você não pode vencer contra nós.

Draven se inclinou para frente.

— Não subestime o poder da vingança. O último clube que fez foi varrido desta terra por minhas próprias mãos.

Esse tinha sido o clube que matou Chrissy Slater, e Draven se vingou.

— Podemos voltar à discussão? Tenho alguns lugares para ir no sábado. — Leo reclinou-se mais profundamente em seu assento, fingindo estar entediado. Enquanto isso, embaixo da mesa, sua arma estava apontada para Tucker e seu dedo estava no gatilho.

— Você escapou, — disse Tucker a Bryce.

— Dash disparou contra ele. Isso me deu e a Genevieve uma chance de fugir.

— Para onde você fugiu? — Tucker perguntou.

— Longe do pirado com a arma, — ela brincou. Espertinha.

Tucker não se divertiu dessa vez.

— Seja específica.

— Você quer dizer norte ou sul? Eu não sei, porra. Eu corri ladeira abaixo. Eu estava congelada e muito ocupada tentando ficar de pé para traçar minha direção contra o sol.

— E você? — Tucker torceu a cadeira para se dirigir a Genevieve.

Ela ficou perfeitamente imóvel.

— E eu, o quê?

— Para onde você correu?

— A outra direção, para que eu não cruzasse com o cara que nos sequestrou.

— Para a cabana?

— Sim. — Sua voz era tão resoluta, sem uma pitada de medo.

— Como você entrou?

— Pela porta da frente. A maioria das cabanas tem isso. Portas.

Cristo, essas mulheres. A atitude de Bryce era contagiosa e nenhuma delas seria intimidada.

— Então o que aconteceu? — Tucker perguntou.

— Agachei-me ao lado de uma janela e observei o lado de fora. Vi o homem que nos sequestrou subindo a ladeira para as árvores. Quando o perdi de vista, saí de lá.

Ela não apressou as palavras. Sua declaração era fria e calma. E um completo disparate.

— Você viu alguém lá dentro?

— Não.

Tucker estreitou os olhos, mas ficou quieto.

— Então o que aconteceu? — O homem que estava olhando para Genevieve falou. Foi quando ela finalmente percebeu o seu olhar. Ele estava falando com os seios dela, e lambeu os lábios.

— O quê? — Ela gaguejou. Foi seu primeiro sinal de fraqueza.

— Eu a encontrei e saímos de lá, — eu respondi.

— Nada mais?

— Não. — Apertei os olhos e segurei firmemente a mão de Genevieve.

— Como sabemos que isso não é tudo mentira? — Tucker perguntou. — Talvez você não acredite em mim quando eu disse que não matamos aquela cadela no motel. Como sei que esse sequestro não é apenas uma história que você inventou para cobrir o fato de ter matado um dos meus homens?

A mão de Genevieve se contraiu quando Tucker disse cadela.

— Já chega. — A voz de Draven ressoou na sala. Dash pode estar no comando da mesa, mas Draven tinha o mesmo poder de sua cadeira. — Você vai falar sobre Amina com respeito. E o que você ouviu aqui é a verdade. Nós dois sabemos que essas garotas não estão mentindo.

— O que diabos você espera encontrar, Tucker? — Dash perguntou. — Um de vocês está morto. Nós não o matamos. Ou há algo a mais? Algo que você está escondendo? O que exatamente um de vocês estava fazendo naquela cabana, afinal?

A mandíbula de Tucker contraiu.

— Não é relevante.

— Parece relevante para mim, — disse Emmett. — Estamos sentados do nosso lado da mesa dizendo a verdade. Qual é a sua? Talvez tenhamos terminado de compartilhar até que você faça o mesmo.

— Não talvez. — Dash ficou de pé. — Já terminamos.

Draven se levantou e ficou ao lado, estendendo a mão para ajudar Bryce. Quando ela estava de pé, ela cruzou os braços. Então Leo se levantou, a arma bem firme na mão. Emmett ficou ao lado, seguido por Genevieve e eu.

No total, nós os superamos em número. Provavelmente perderíamos uma briga, mas estar do lado da linha com números maiores nunca foi um lugar ruim para se estar.

— Essa é a verdade? — Tucker perguntou, ainda sentado ao lado de seus homens.

— Sim, — Bryce e Genevieve disseram em uníssono.

— Alguma prova?

Bryce revirou os olhos.

— Não tivemos exatamente a chance de esculpir nossas iniciais em uma árvore.

Tucker bateu as juntas dos dedos na mesa e depois se levantou. Os outros se levantaram com ele.

— Agradeço pela informação.

Eles deixaram a sala em uma fila única. Nenhum de nós se moveu enquanto esperávamos que suas motos começassem a roncar.

Dash saiu primeiro, empurrando Bryce para fora da sala. Nós nos juntamos a ele lá fora na ampla laje de concreto além da porta da frente, a tempo de ver os Warriors acelerar do estacionamento em uma nuvem de preto e barulho.

— Porra. — Dash passou a mão pelos cabelos e puxou Bryce para o lado, dando um beijo na sua testa. — Bom trabalho, querida. Mas, por favor, por favor, mantenha sua ousadia sob controle?

Ela encolheu os ombros.

— Eu não posso evitar.

Dash bufou, depois olhou de Bryce para Genevieve.

— Você fez bem também.

Genevieve piscou.

— Ah, uh... Obrigada.

Ela foi incrível. Ninguém aqui sabia o quão difícil isso deve ter sido, eles nunca saberiam. A verdade estava entre nós dois e um homem morto.

— Vamos sair daqui. — Levei-a para longe da sede do clube, não afrouxando meu aperto em sua mão até estarmos seguros no apartamento.

— Ufa. — Ela colocou as mãos nos cabelos, olhos arregalados e atordoada. — Nós nos casamos para não precisar testemunhar na polícia. Acho que deveríamos ter pensado nos outros também.

— Não brinca. — Os policiais, neste momento, eram o menor dos nossos problemas. Eu coloquei minhas mãos em seus ombros. — Estou orgulhoso de você.

— Estou feliz que acabou. — Ela caiu no meu peito, deslizando as mãos pelas minhas costas. Quando nos abraçamos, normalmente era ela do meu lado. Abraços de frente eram castos na melhor das hipóteses. Isso foi duradouro, como se ela precisasse estar aqui para um abraço. Meus braços não sabiam onde ficar. Na sua cintura? Em seus ombros? Eu não queria deixá-los muito baixo, muito perto de sua bunda. Eu decidi por um em seus ombros e outro logo abaixo das costelas.

Genevieve se encaixava em mim, suas curvas suaves se moldando as minhas linhas duras. E ela estava quente. Deus, ela estava quente. Eu tinha esquecido como era segurar uma mulher. Afundar no abraço de uma mulher. Deitei uma bochecha no seu cabelo, aproveitando o conforto que ela estava oferecendo.

Terminou cedo demais. Genevieve se separou.

— Estou feliz que praticamos.

— Eu também.

— Você acha que eles acreditaram em nós? — Ela sussurrou. A atitude e confiança que ela possuía no clube desapareceram. Seus lindos olhos escuros se encheram de medo.

— Eu certamente espero que sim.

Caso contrário, isso nunca terminaria.

E tinha que terminar.

Eu tinha que deixá-la seguir em frente com sua vida. Eu tinha que libertá-la dessa obrigação. Ela precisava sair desta cidade e desaparecer, se tornar apenas uma memória.

Antes que eu esquecesse que não a merecia.


Capítulo Treze

Genevieve


— Qual é o plano para hoje? — Isaiah perguntou do sofá. — Quer fazer a base da pintura nas paredes?

— Não, — eu gemi no meu travesseiro. A última coisa que eu queria fazer hoje era pintar.

Dormir neste domingo parecia um plano muito melhor. Eu estava cansada e... Acordada. Talvez eu pudesse me esconder para uma soneca da tarde.

Depois de me encontrar com os Warriors ontem, tive dificuldade para me acalmar. Eu tinha certeza de que eles voltariam para me chamar de mentirosa.

Isaiah fez o possível para me garantir que eu era crível, mas as dúvidas me impediram de adormecer. Eles ouviram minha voz tremer? Eles ouviram meus pés batendo no chão? Eles perceberam o quanto foi difícil manter contato visual firme?

A coragem na voz de Bryce deu um impulso à minha confiança. Ela também foi assim na montanha, arrogante diante do nosso sequestrador. Dash chama isso de atrevimento. Eu chamo isso de sobrevivência, a pura vontade de viver.

Eu não era uma pessoa de mentir, mas havia praticado bastante nos últimos meses. Eu esperava que fosse o suficiente.

— Podemos pular a pintura hoje? — Eu bocejei. — Assistir filmes e não fazer nada?

— Por mim tudo bem. — Ele suspirou, se ajeitando em uma nova posição no sofá. Dado o número de vezes que ele se virou de um lado para o outro na noite passada, Isaiah também não dormiu bem. Ele tinha que estar desconfortável no sofá. Suas pernas eram muito longas e seus ombros muito largos, mas ele dormiu lá sem reclamar por meses.

— A partir de hoje à noite, eu vou dormir no sofá.

— Hã? — Ele se sentou, o cobertor caindo do peito nu. — Por quê?

— Porque não parece justo que eu fique na cama o tempo todo. — Eu estava torcida de lado com um travesseiro embaixo da bochecha. Isso me dava uma visão perfeita da pele com tatuagem de Isaiah, especialmente o padrão preto que descia pela lateral do pescoço, pelo ombro e por um dos peitorais.

Levou semanas de olhares roubados para identificar todas as tatuagens de Isaiah. Eram todas pretas. Cada uma era um padrão. Não havia rostos ou palavras. Elas se esticavam por sua pele macia, moldando-se ao músculo.

— Eu não me importo com o sofá, — disse ele.

— Por favor, vamos trocar. Isso me fará sentir melhor.

— Não posso fazer isso, boneca. Eu estou bem aqui. — Ele afundou no travesseiro, esticando os braços sobre o braço do sofá. Então ele colocou as mãos atrás da cabeça e olhou para o teto.

Eu abracei meu travesseiro mais perto, estudando a definição em seus braços. Eles eram fortes, os músculos grandes, mas com linhas longas e extensas. Um músculo subia e desaparecia embaixo do outro. Seus ombros se estendiam além da largura do sofá. Quando Isaiah levantava os braços, às vezes pareciam asas.

Asas decoradas em preto.

— Você fez todas as suas tatuagens na prisão? — Eu perguntei.

— Não, apenas meus dedos e parte deste. — Seu dedo percorreu a tatuagem em seu pescoço. — É contra as regras fazer tatuagens na prisão, mas muitos caras fazem isso de qualquer maneira. Meu terceiro colega de cela fez isso por mim à noite. Provavelmente, tenho sorte de não ter ficado doente ou algo assim, porque ele fez isso com tinta de caneta e um clipe de papel que ele afiou para parecer uma agulha.

Eu fiz uma careta. Isaiah raramente falava sobre a prisão. Quando ele fazia, eram apenas pequenas coisas. Mas os pedaços eram suficientes para eu saber que provavelmente não queria ouvir a história completa. Se ele quisesse contar, eu ouviria. Eu choraria, mas ouviria.

— A do meu pescoço não era tão grande. Costumava terminar aqui. — Ele se levantou e apontou para um ponto na clavícula. — Quando saí, fui a um artista de verdade e pedi para ele consertar. Finalmente, nós a expandimos. E eu fiz o resto.

Ele levantou os braços, esticando-os alto para que eu pudesse ver as tatuagens em seus antebraços. Ele também tinha tatuagens na panturrilha, nas costelas e no pé esquerdo.

Eu nunca desejei uma tatuagem, mas depois de passar tanto tempo com Isaiah, comecei a apreciar a arte delas. Talvez eu fizesse uma se fosse algo único, como a dele.

— Doeram?

— Sim, doeram. As que eu fiz na prisão foram as piores e levaram uma eternidade, porque ele só podia fazer um pouco de cada vez. A do meu pescoço levou quase três meses. Mas eu não me importei. Não era como se eu tivesse algum lugar para ir.

— Por que preto?

— Essa era a única cor de caneta que ele tinha. Quando saí, decidi continuar com o preto.

— O que isso significa? — Eu perguntei. — A tatuagem no seu pescoço.

— Nada realmente. É apenas um padrão. O cara queria experimentar. Ele era bom, mas não era como se ele tivesse um equipamento de tatuagem real. Portanto, são muitas coisas simples com linhas borradas. Eu retoquei tudo desde então, mas na época, eu não me importava. Eu disse a ele para experimentar.

— Por quê? — Se eu fizesse uma tatuagem, gostaria que fosse especial. Por que você faria uma tatuagem e passaria pela dor se não significasse nada?

— Dor, — Isaiah sussurrou. — Eu queria a dor.

— Oh.

Desde o meu colapso, não pedi a Isaiah mais informações sobre a morte da mulher grávida. Estávamos consumidos de ansiedade por nos encontrarmos com os Warriors. E eu fui covarde. Eu não tinha certeza se queria todas as respostas.

As tatuagens eram um castigo pelo que ele fez? Uma maneira de expiar? Porque a prisão parecia difícil o suficiente sem adicionar sofrimento auto infligido à mistura.

Embora eu suspeitasse que Isaiah estivesse se punindo até hoje.

Seus lindos olhos eram tão assombrados às vezes. Eles não piscavam ou brilhavam. No começo, eu pensava que era por causa de seu tempo na prisão ou do que havia acontecido na cabana.

Eu provavelmente estava errada em ambos os aspectos.

Houve alguns momentos recentemente em que comecei a reunir esperança. Isaiah não ria ou dava sorrisos chamativos, mas ele me mostrava um sorriso raro. Nunca havia dentes visíveis e mal era um movimento para cima de seus lábios, mas isso roubava meu fôlego toda vez.

Ele sorria sempre que eu tinha biscoitos para ele quando ele chegava da oficina. Ele sorria quando eu lavava sua roupa. Ele sorria nas noites em que aparecia e encontrava uma nova compra para o apartamento. Ele estava feliz aqui comigo?

Eu deveria estar me fazendo essa pergunta?

Isaiah não era meu para ficar para sempre. Cedo ou tarde, ele seguiria em frente para encontrar alguém que o fizesse realmente feliz. A parte egoísta de mim detestava a ideia de uma futura Sra. Reynolds que não fosse eu, e que receberia mais do que sorrisos sutis.

Eu queria muito ser a pessoa que colocaria um sorriso no rosto de Isaiah, apenas uma vez antes que isso acabasse. Antes de ser a ex-Senhora Reynolds e sentir falta dele na minha vida.

— Obrigada por ontem, — eu sussurrei.

— Pelo quê?

— Por segurar minha mão. Acho que não teria passado por isso se você não estivesse lá. — Mentir para os criminosos não era apenas aterrorizante, nunca era fácil repetir o sequestro. A imagem de Bryce de joelhos enquanto eu segurava a arma na cabeça dela era uma que me assombraria por anos.

— Não há necessidade de agradecer. — Isaiah suspirou. — Você não teria que passar por isso em primeiro lugar, se não fosse por mim.

Eu bufei.

— Não é sua culpa.

Ele sentou-se e inclinou-se sobre os joelhos. A tatuagem de uma árvore, retorcida e nodosa, corria pelas costelas. Os galhos enrolavam em seu ombro e mergulhavam em suas costas. Alguns galhos torciam através de seu peitoral.

— De quem é a culpa então?

— Minha mãe, — eu respondi imediatamente. — Se há uma pessoa para culpar, é ela.

— V. — Ele fechou os olhos.

V. Ninguém nunca tinha me chamado V.

Adorava quando Isaiah falava meu nome inteiro. Eu amava a única letra ainda mais.

Isaiah abriu os olhos e encontrou o meu olhar.

— Ela não teria vindo aqui para se encontrar com Draven se soubesse o que isso faria com você. Sei que você está brava e tem todo o direito de estar, mas não fique brava.

A culpa correu por minhas veias e fechou minha garganta. Ele estava certo. Eu estava louca. Eu fiquei furiosa E se mamãe estivesse aqui, ela se desculparia a cada minuto de cada dia.

Mas ela não estava aqui. Talvez estar com raiva e colocar a culpa nela, fosse à minha maneira de mantê-la perto. Quando não houvesse mais raiva, ela realmente iria embora.

Isaiah se levantou, esticando os braços acima da cabeça. Ele era uma bela distração da dor no meu coração. Ele torceu e virou o tronco, esticando as costas. Seus abdominais flexionaram e o V de seus quadris era definido. Eu não demorei - muito - na protuberância da sua cueca e o observei.

Quem ficasse com ele, seria uma mulher de sorte.

Isaiah dobrou os cobertores no sofá em um quadrado perfeito. Então ele os empilhou em cima do travesseiro, trazendo-os para a base da cama, onde eu coloquei um baú barato. Ele os jogou dentro, então encontrou meu olhar.

— Um dia de descanso?

— Vamos ser preguiçosos.

Ele sorriu.

Isaiah Reynolds realmente era incrível. Eu sorri de volta e deixei as borboletas vibrarem no meu estômago.

— Estou indo tomar um banho.

— Ok, — eu respirei, ignorando o pulsar no meu coração ao pensar em Isaiah tirando aquelas cuecas, empurrando-as pelos quadris e pelas coxas grossas e salientes e em pé para revelar o seu...

E já chega. Enterrei meu rosto no travesseiro para que ele não visse minhas bochechas vermelhas.

Isaiah caminhou em direção ao banheiro, mas o som de passos nas escadas o fez parar e eu me sentar como um foguete.

Não recebemos visitantes. O último tinha sido Dash e olhe o que ele havia arrastado para a nossa porta. Então, quem estaria aqui no domingo quando a oficina estava fechada?

Isaiah atravessou a sala de cueca. Ele apertou a trava e abriu a porta.

— Oh. Ei.

Meu coração se acalmou. Isso não era um ‘olá’ para alguém que não é bem-vindo aqui.

Ele abriu mais a porta, saindo do caminho para deixar Draven entrar.

— Uh, oi. — Eu tinha meu edredom agarrado ao meu peito. Eu estava vestindo apenas uma camiseta fina e shorts para dormir. Eu me acostumei com Isaiah vendo meus mamilos espreitando debaixo do pijama, mas Draven? Eu não iria me levantar para cumprimentá-lo.

— Bom dia. — Os olhos de Draven se alternaram entre mim na cama e Isaiah vestindo quase nada. Ele se contorceu.

Para as aparências, tê-lo nos encontrando durante uma manhã de domingo preguiçosa era excelente. Parecíamos um casal que passara uma manhã preguiçosa na cama. Graças a Deus por esse baú e pelo fato de Isaiah não poder começar um dia sem tomar banho.

— Algo está errado? — Perguntou Isaiah. — Você teve notícias dos Warriors?

— Ah, uh... não. — Draven olhou ao redor do apartamento. — Você está pintando? Parece legal.

— Genevieve recebe o crédito.

Draven continuou inspecionando as paredes, olhando para qualquer outro lugar que não fosse o meu rosto. Isaiah olhou para mim. Eu levantei minhas mãos. Ele apontou o queixo para Draven, pedindo que eu falasse.

Ugh.

— Tudo bem, — eu murmurei. — Você precisa de alguma coisa?

Draven olhou para as botas.

— Eu queria saber se você gostaria de sair para o café da manhã.

— Oh, ok, — eu demorei. — Por que exatamente?

— Conversar. Pensei que, enquanto eu sou um homem livre, eu gostaria de conhecê-la um pouco. Se você não se importa.

Foi interessante como ele formulou o pedido. Ele queria me conhecer. Não nos conhecemos.

Meus sentimentos por Draven eram confusos na melhor das hipóteses. Fiquei com a impressão de que ele lutava com todos os seus filhos. De acordo com Bryce, Draven e Dash foram próximos uma vez. Então Dash soube do caso de Draven com a mamãe e o relacionamento deles foi quebrado. Bryce mencionou brevemente que Draven e Nick haviam passado por um período difícil também. Mas no casamento, eles pareciam se dar bem. Draven principalmente adorava os filhos de Nick e Emmeline.

O café da manhã duraria apenas uma ou duas horas. O olhar desesperado em seu rosto, o apelo silencioso, era difícil de rejeitar.

— Tudo bem. Posso ter quinze minutos para me arrumar?

Ele assentiu.

— Não tenha pressa. Vou esperar no escritório lá embaixo.

No momento em que ele saiu pela porta, eu me joguei para trás na cama.

— Você quer ser o primeiro a tomar banho antes de irmos?

— Nós? Eu acho que esse convite foi só para você.

Sentei-me nos cotovelos.

— O quê? Você tem que ir comigo. Eu preciso de você lá.

— Você precisa de mim?

— Dã. Somos uma equipe.

Isaiah olhou para mim, pasmo. Por que ele ficou surpreso? Nós não tínhamos lidado com ninguém sozinhos até este ponto. Eu não ia começar agora.

— Então? — Joguei a mão em direção ao banheiro. — Você ou eu primeiro?

Os seus olhos se suavizaram.

— Eu vou primeiro.

Quinze minutos, na verdade, levaram trinta quando estávamos vestidos e no andar de baixo. Nossa estranha caravana de família até o restaurante no centro foi liderada por Draven em sua caminhonete, eu em meu carro e Isaiah seguindo em sua moto.

O lugar estava lotado para uma manhã de domingo. A maioria das pessoas estava vestida com roupas melhores do que minhas calças pretas de ioga e casaco roxo claro. Eles provavelmente já estavam na igreja enquanto eu estava deitada na cama, salivando pelas tatuagens de Isaiah.

Enquanto seguíamos a garçonete pelo piso de azulejos preto e branco, as pessoas por quem passamos lançavam olhares de lado para Draven. Alguns se inclinaram para sussurrar nas suas costas. Eles estreitaram os olhos. E abraçaram seus filhos mais perto.

Cerrei os dentes para manter a boca fechada.

Ele era inocente. O desejo de defendê-lo quase venceu quando ouvi um homem dizer as palavras ‘sentença de morte’ para sua esposa. Mas segurei minha língua, feliz quando chegamos a uma cabine vermelha ao longo da parede oposta.

Draven ficou de um lado, enquanto Isaiah e eu ficamos do outro. Pedimos café e água, depois nos concentramos em nossos menus.

Os sussurros misteriosos fizeram os pelos da minha nuca se arrepiarem. A conversa no restaurante quase parou.

Bati meu cardápio e olhei para quem ousasse encontrar meu olhar.

Essas pessoas não acreditavam em inocente até que se provasse culpado? Eles não tinham lido o jornal? Bryce fez o possível para mostrar que havia uma dúvida razoável no caso de Draven, mas talvez fosse tarde demais. Sem prova de que ele não havia matado mamãe, não haveria mudança de ideia.

Claramente, se eu estava sentada aqui com ele, valia a pena ponderar. Quero dizer, foi minha mãe que foi morta. As fofocas de cidade pequena sem dúvida se espalharam sobre a filha de Draven trabalhando para Jim Thorne. E aqui estava eu, prestes a compartilhar omeletes e panquecas com o acusado. Isso não faz as pessoas pensarem?

Os dois homens à mesa do outro lado do corredor estavam olhando descaradamente. O julgamento estava escrito em todo o rosto deles.

— O que foi? — Eu lati.

Seus olhos voltaram aos pratos.

Quando me virei para nossa própria cabine, Draven estava rindo.

— As pessoas precisam cuidar de seus próprios negócios, — eu disse alto o suficiente para que as mesas ao redor da nossa ouvissem. — E é rude ficar olhando.

Peguei meu cardápio novamente, virando-o para o lado do café da manhã. Levei alguns segundos para escolher meu café da manhã.

— Vou pedir panquecas. O que você vai comer? — Eu perguntei a Isaiah, qualquer coisa para não reconhecer que eu tinha acabado de atacar dois estranhos em um esforço para defender o pai que eu mal conhecia.

Quando levantei os olhos, seu vibrante olhar verde-dourado estava me observando. Ele usava um boné preto hoje. Ele cobriu seus olhos, fazendo seus cílios se destacarem e o anel de chocolate em torno de suas íris se destacou. E ele estava sorrindo.

Isso roubou meu fôlego.

— Panquecas. E uma omelete Denver.

Eu me inclinei mais perto, roçando meu braço contra o dele. Fiquei feliz por Draven estar aqui e por estarmos em público. Talvez tenha sido por causa do estresse de ontem, mas eu estava me sentindo estranhamente pegajosa com Isaiah hoje. Ele não parecia se importar. Como estávamos em público, eu poderia fingir que ele era um marido de verdade. Eu podia acreditar que aquele sorriso era para mim.

Dia após dia, eu estava me apaixonando pela mentira.

A garçonete se aproximou e entregou xícaras de café amargo fumegante. Carreguei o meu com creme e açúcar, enquanto Isaiah e Draven bebiam o deles.

— Como está o trabalho? — Draven perguntou. — Você gosta de Jim?

— Ele é o melhor chefe que já tive, — admiti. Era verdade. — Eu hum... obrigada. Por me ajudar a conseguir esse emprego.

Ele encolheu os ombros.

— Fiz apenas uma ligação. Você conseguiu o emprego.

Modéstia não era algo que Draven usava com frequência. Combinava com ele.

— Ele contou algo a você sobre o meu caso?

— Não. — Eu balancei minha cabeça. — Ele está tentando respeitar a situação pessoal aqui, o que eu aprecio. Ele espera que, se houver algo que você queira que eu saiba, você será o único a me dizer.

— Isso é justo. Jim sempre foi justo. Ele é uma das poucas pessoas no mundo em quem confio. E você sabe, eu nunca menti para ele. Ele me defendeu da melhor maneira possível, mantendo-se fiel à lei, mesmo nas poucas vezes em que sabia que eu era culpado. Ele me impediu de ter problemas com a lei.

Não era exatamente isso que eu queria ouvir sobre o meu novo mentor. Mas eu aprendi nos últimos meses que meu senso de justiça, de certo e errado, era ingênuo. Ao contrário do piso de cerâmica do restaurante, não havia uma linha clara entre preto e branco. Se houvesse, Isaiah estaria na prisão.

Eu também.

— E agora? Quais são as chances de Jim?

— Nada boas. — Draven suspirou, passando o dedo pela borda da caneca de café. — Desta vez, não há acordo para pagar. Não há brechas.

— Mas você é inocente.

— Não. — Draven abaixou a voz. — Estou longe de ser inocente.

Ele estava desistindo? Ele estava agindo como se o júri já houvesse chegado a um veredicto. Draven não parecia o tipo de homem que afundaria sem lutar.

O homem que fez isso ainda estava lá fora. Draven não queria saber quem era?

O homem que matou mamãe já pode ter desaparecido, mas havia uma chance de ele vir atrás de qualquer um de nós. Todos presumimos que enquadrar Draven era seu objetivo final, mas e se não parasse por aí? E se ele estivesse escondido, esperando que Draven fosse punido antes de reaparecer? Esse nosso inimigo desconhecido pode tentar me sequestrar novamente. Ele pode ir atrás de Bryce. Ele pode ir atrás de qualquer um dos ex-Gypsies, de Dash, Emmett ou Leo.

Se Draven for para a prisão, o bastardo venceu.

— Não é justo.

— A vida não é justa. — Falando como um pai. Draven ergueu os olhos da caneca. — Você acredita que eu não a matei?

— Eu não estaria nesta cabine de outra forma.

Debaixo da mesa, a mão de Isaiah encontrou meu joelho. Ele sabia que isso não era fácil para mim.

— Qual foi o melhor presente de aniversário que você já recebeu? — A pergunta de Draven surgiu do nada, até que me lembrei do objetivo dessa refeição. Ele queria me conhecer.

— Um daqueles carrinhos elétricos de criança. O meu era um conversível rosa que minha mãe me comprou quando eu tinha cinco anos. Eu já tinha visto na TV e implorado por um. Era a marca Barbie e provavelmente lhe custou uma fortuna na época, mas eu queria tanto.

Mamãe não tinha me mimado. Normalmente, recebia um presente da minha lista de Papai Noel, um livro e algumas roupas. Talvez fosse por isso que o conversível se destacasse de outros aniversários e outros natais. Ela exagerou.

Eu dirigi aquele carro pela nossa entrada e subi a quadra do bairro até que eu mal conseguia encaixar no banco.

— Seu aniversário é dezesseis de julho, certo?

Eu assenti. Mamãe deve ter contado a ele.

— Isso é... — Isaiah parou de falar.

Eu assenti.

O dia do nosso casamento.

Ele abaixou o queixo. Para Draven, provavelmente parecia que ele estava observando sua xícara de café. Mas eu sabia que ele estava se repreendendo por não me felicitar. Como ele poderia saber? Nós éramos estranhos.

Mais tarde, eu diria a ele que não era grande coisa. Eu não queria comemorar meu aniversário de qualquer maneira, não sem mamãe.

— Onde você fez faculdade? — Draven perguntou. — Sua mãe mencionou que você era a melhor da sua turma.

— Universidade de Denver. Eu me formei em Ciências Políticas ao mesmo tempo em que consegui um trabalho como assistente jurídica. Eu pensei que alguma experiência de trabalho me diferenciasse na faculdade de Direito. E eu precisava do dinheiro. Eu não queria estar muito endividada quando começasse a faculdade de Direito.

— Inteligente.

— Difícil. Foi difícil. Não havia muito tempo para se divertir. — E, felizmente, eu tinha uma habilidade para recorrer. Ou então eu poderia ser garçonete neste restaurante.

Conversamos mais sobre minha vida no Colorado. Draven fez pergunta após pergunta. Eu dei resposta após resposta, tanto para ele como para Isaiah, que ouviu com muita atenção durante a refeição. Finalmente, quando meu estômago estava cheio e tomamos nosso café, Draven pagou a conta e saímos para o ar do outono, caminhando na calçada.

Draven pegou o óculos de sol, mas não o colocou.

— Antes que isso acabe, antes que eu vá embora, isso pode se tornar uma coisa regular? Café da manhã de domingo?

Ele tinha tanta certeza de que seria considerado culpado. Ou talvez ele estivesse se preparando para o inevitável.

Eu assenti.

— Ok.

— Obrigado. Vejo você amanhã. — Ele acenou, virando-se para a caminhonete.

— Espere. — Eu o alcancei, mas não toquei. — Posso lhe perguntar uma coisa?

— Sim.

— Você amava minha mãe?

A pergunta estava no fundo da minha mente desde a nossa primeira conversa na mesa de piquenique. Eu não tinha certeza do por que isso importava. Talvez porque eu quisesse sentir como se tivesse vindo de algo diferente de uma festa onde eles estavam bêbados.

Os seus ombros caíram.

— Eu só amei uma mulher na minha vida. E essa era minha esposa.

Não foi um choque, mas ainda assim doeu. Eu fui um erro. Ele mesmo disse isso.

— Mas mamãe o amou de qualquer maneira.

— Gostaria de ter cuidado melhor dos sentimentos dela, mas não sabia. Não até que fosse tarde demais.

Respirei fundo, encontrando a coragem de perguntar mais uma coisa. Enquanto eu procurava nos detalhes do que havia acontecido, li as histórias do jornal de Bryce. Eu tinha preenchido páginas e páginas no meu caderno sobre pessoas relacionadas, mesmo que vagamente, aos moto clubes. Tudo o que encontrei combinava com o que ele me disse meses atrás. Não foi até eu ter tido algum tempo para assimilar tudo que uma coisa começou a me incomodar.

Draven fez sexo com mamãe antes de ela ser morta.

Por quê?

Chrissy se foi por mais de uma década. Alguma coisa floresceu entre mamãe e Draven?

Quando mamãe se mudou para Bozeman para seu trabalho, ela começou a namorar um cara, Lee. Eu estava orgulhosa dela. Eu me preocupei com ela morando sozinha em uma nova cidade e esperava que o namoro a ajudasse a conhecer pessoas novas. Ela não me contou muito sobre Lee, a não ser que era casual.

Ela tinha mantido casual de propósito? Ela sempre esteve apaixonada por Draven? Sua viagem a Clifton Forge foi um último esforço para tentar conquistá-lo novamente?

Eu nunca saberia as respostas para essas perguntas, mas podia descobrir por que Draven dormiu com mamãe.

— Por que você fez sexo com ela?

Ele passou a mão pela barba, respirando fundo.

— Estávamos conversando. Relembrando. Uma coisa levou a outra e bem... Ela me pediu.

Droga. Mamãe não tinha nenhum orgulho? Meu coração doeu por ela. Ela o amava demais. Por que ela não poderia simplesmente esquecê-lo? Por quê? Nós não estaríamos aqui se ela tivesse seguido em frente.

— Eu me importava com ela, — acrescentou Draven. — Sempre.

Mas isso não era o suficiente.

— Isso é tudo que eu queria perguntar. — Eu terminei com as perguntas e certamente com este tópico.

— Vejo você no próximo Domingo?

Eu assenti, sem arriscar outra palavra.

Draven acenou, deixando eu e Isaiah na calçada. Eu me senti tonta. Mágoa, decepção, medo e tristeza rodaram, ameaçando me desequilibrar.

— Você está bem? — O braço de Isaiah veio ao redor dos meus ombros.

— Não. — Caí em seus braços, segurando-o como uma esposa agarra o marido.

Nós ainda estávamos em público. Os clientes da lanchonete só precisavam olhar para cima para nos ver ao lado da rua.

Então, pelos próximos minutos, enquanto eu precisava do seu abraço e para acreditar que o amor nem sempre terminava em desastre, eu viveria nossa mentira ao máximo.


Capítulo Quatorze

Isaiah


— Nevou. — Genevieve olhou pela janela, olhando para o estacionamento.

Eu puxei um moletom por cima da cabeça e caminhei para ficar ao lado dela.

— Mais parece como despejou neve.

Dada a espessa camada branca no corrimão da escada, devemos ter chegado a sete centímetros. Tivemos pequenas rajadas no mês passado, mas qualquer neve que ficasse derreteu dias depois. Como sempre, havia um caminho no chão para o Halloween na semana passada.

Mas a partir desta manhã, o inverno estava aqui.

— Aposto que teremos um dia tranquilo na oficina. — Muitos não gostariam de se aventurar em ter seu veículo reparado em um dia como este. A maioria evitava as estradas, se possível, na primeira grande neve do ano.

Hoje existiriam vários reparos de para-lamas causados por idiotas que andam rápido demais em estradas escorregadias. As pessoas esquecem durante o verão o que era preciso para dirigir no gelo e na neve. A empresa de reboque na cidade ficaria ocupada até descongelar na próxima primavera.

Dash me perguntou na semana passada se eu sabia como tirar amassados e batidas. Minha experiência antes de trabalhar aqui era totalmente centrada no trabalho do motor. Esta semana, ele e Emmett me ensinariam alguns conceitos básicos. Começaria com as coisas fáceis e talvez um dia pudesse ajudar na customização.

— Acho que sua moto ficará na oficina por enquanto.

— Sim, — eu murmurei. Eu tinha uma caminhonete mais velha, não do tipo legal de velho, que dirigia no inverno. Agora que eu havia passado meses na moto, estava com medo de dirigir o Ford 96 então teria que ficar preso em um táxi pelos próximos cinco meses.

— O que seu irmão queria? — Genevieve falou com o vidro da janela, seu olhar hipnotizado pela neve lá fora.

Kaine ligou antes dela desaparecer no banheiro para se vestir para o dia. Ela usava um suéter verde-oliva que pendia sobre os ombros, mas se encaixava confortavelmente nos quadris. Ela o combinou com uma saia marrom e botas de couro que chegavam até os joelhos.

Eu nunca conheci uma mulher que se vestisse como Genevieve. Suas roupas eram sofisticadas sem serem esnobes. Ela não esbanjava, mas tinha muita classe. Esforçava-se em seu estilo, dedicando um tempo para adicionar pequenos toques, como joias ou lenços, que a diferenciavam. Quando ela entrava em uma sala, as cabeças se viraram.

E ela estava presa com um cara como eu.

Todo dia eu pensava em deixá-la ir. Tudo o que eu precisava fazer era entrar na delegacia e confessar, e ela estaria livre para viver uma vida melhor do que a que tinha neste apartamento apertado.

Mas não consegui ir embora.

A pintura foi terminada. Genevieve tornara esse lugar melhor do que nunca. Era quente e elegante, mas nunca seria bom o suficiente. Não para ela.

Nem eu.

Meus olhos correram pelas costas de seu suéter, seguindo os cachos soltos em seus cabelos que caíam em cascata até sua cintura. Meu olhar passou por sua bunda, o formato perfeito de seus quadris e a saia que afunilava nos joelhos, emoldurando suas curvas.

Porra, mas ela era sexy. Eu não tinha achado uma mulher sexy em anos. As únicas mulheres que vi na prisão eram aquelas que visitavam outros presos. E quando saí, eu estava muito ferrado para pensar em uma mulher. Inferno, levei meses para me acostumar a dormir em uma cama normal novamente.

Ou apenas dormir. Durante três anos, eu tinha guardado minhas noites, não afundando em um sono profundo. Eu figurativamente dormia com um olho aberto.

Finalmente, cerca de quatro meses depois de estar em casa com mamãe, os anos de exaustão me alcançaram, e eu me deixei realmente adormecer.

Então, eu dormi por dias.

Mamãe estava preocupada que eu estivesse doente ou morrendo, mas eu expliquei que estava cansado. O fardo das memórias da prisão era meu para carregar sozinho.

As coisas ficaram mais fáceis depois disso. Eu havia encontrado um emprego em uma loja de lubrificantes local. O proprietário era amigo de mamãe e havia violado a política da empresa de me contratar como um favor. Eu trabalhava. Eu ia para casa. Eu dormia.

Não conheci mulheres porque não queria conhecer mulheres. Shannon não estava em minha mente tantas vezes quanto antes, mas pensava nela. Lembrava-me dela, outro fardo a carregar. A beleza ou graça de nenhuma mulher se comparava à sua memória.

Até Genevieve.

Nada no mundo poderia ter me preparado para Genevieve. Ela rastejou sobre mim, consumindo mais e mais dos meus pensamentos, dia após dia. E então ela roubou meus sonhos.

Há um mês, eu acordei com um tesão furioso, sonhei que ela tinha vindo até o sofá e me montado usando uma daquelas camisas curtas que ela usava às vezes. Os sonhos não pararam desde então. Esta noite, eu sonharia em subir essa saia marrom.

Eu estava acordando mais cedo, então tive tempo de tomar banho e estancar um pouco da dor. Comecei a usar calças para dormir, qualquer coisa para ajudar a esconder minha ereção enquanto entrava no banheiro todas as manhãs. Ela não precisava saber que um homem que deveria ser seu amigo não podia controlar seu pau durante um sonho.

— Isaiah?

Minha cabeça levantou da saia dela.

— Desculpe. O quê?

— Seu irmão?

— Oh. — Esfreguei a parte de trás do meu pescoço, envergonhado por ela me pegar olhando para sua bunda. — Ele queria nos convidar para Lark Cove para o Dia de Ação de Graças. Eu disse a ele que iria verificar com você. Mas se você não se importa, eu gostaria de ir.

— Certo. — Ela assentiu. — Isso parece bom.

— Você tem certeza? Você pode ficar aqui.

As sobrancelhas dela se uniram.

— Você não quer que eu vá?

— Não. Não é isso. Eu só não tinha certeza se você queria ficar. Talvez fazer algo com Draven.

— Oh. — Ela balançou a cabeça. — Não. Eu acho que Nick e Emmeline estão vindo. Ele deveria passar um tempo com eles e seus filhos antes...

Antes do julgamento.

O caso de Draven estava se movendo no ritmo de um caracol, o que era uma coisa boa. Isso nos dava mais tempo para encontrar o verdadeiro assassino, se um milagre acontecesse e uma nova pista surgisse.

Desde a reunião com os Warriors no mês passado, não ouvimos nada. Parecia... Muito fácil. Então mantivemos nossa guarda. Eu seguia Genevieve para trabalhar todos os dias. Vinha seguindo-a para casa todas as noites. Quando a gravidez de Bryce começou a aparecer, Dash ficou ainda mais protetor e ela não ia a lugar nenhum sem ele agora.

A vibração na oficina mudou também no mês passado. Não havia tanta provocação ou brincadeira. O ar estava mais pesado. Chegava todas as manhãs com Draven e ficava muito tempo depois que ele deixava o escritório durante o dia.

A esperança estava diminuindo. O pavor estava vencendo.

Genevieve era tão firme e determinada a encontrar o assassino de Amina, mas, com o passar dos dias e nenhuma informação nova surgindo, o vento deixou suas velas. Aquele seu caderno aparecia cada vez menos. Além de não haver justiça por sua mãe, ela também perderia o pai.

No mês passado, Draven vinha todo Domingo de manhã ao apartamento para levar Genevieve para o café da manhã. Eu não tinha saído desde a primeira vez, dando desculpas para que os dois tivessem algum tempo a sós.

O coração de Genevieve estava descongelando na direção de Draven. Ela estava suavizando a cada encontro. Talvez ela estivesse começando a amá-lo. Seu encarceramento a devastaria, quer ela quisesse admitir ou não.

— É melhor eu começar a trabalhar. — Ela suspirou. — Eu tenho um dia ocupado.

Ela estava puxando para si cada vez mais trabalhos de Jim, fazendo o que podia para facilitar sua vida, para que ele pudesse se concentrar no caso de Draven.

Jim faria o possível para pintar Draven e Amina como amantes. Ele contaria a verdade. Os dois se gostavam e não havia motivo para Draven matá-la, especialmente porque eles compartilhavam uma filha.

Mas a acusação tinha a arma do crime. Eles tinham Draven no local. Eles tinham tudo o que precisavam para condenar um homem inocente.

— Deixe-me ligar os carros e aquecê-los. — Coloquei minhas botas e um casaco, depois tirei minhas chaves e as dela do gancho que ela tinha pendurado ao lado de um cabideiro. — Já volto.

Saí, a neve abafando meus passos nos degraus pelas escadas e na calçada. Liguei o carro de Genevieve primeiro, acionando o degelo e o aquecimento. Então eu fiz o mesmo para a minha caminhonete. Com eles limpos, voltei para dentro e encontrei Genevieve no sofá, com os ombros caídos para a frente.

— O que há de errado?

— Nada. — Ela ficou de pé, estremecendo ao fazê-lo. — Estou apenas dolorida hoje.

— Provavelmente porque você dormiu no sofá.

Ela insistiu por um mês. Recusei por um mês.

Então, ontem à noite, ela finalmente conseguiu o que queria. Eu estava no banheiro, escovando os dentes. Quando eu saí, ela já estava deitada no sofá, enrolada e dormindo profundamente. Ela parecia tão tranquila, e eu a deixei lá em vez de carregá-la para a cama.

Eu deveria tê-la levado.

Mas não fui capaz de pegá-la. Carregá-la para a cama parecia íntimo demais. Então eu disse a mim mesmo que ela dormiria no sofá por uma noite e depois eu dormiria nele de volta. Eu dormi na cama com o cheiro da loção de baunilha e xampu de lavanda no travesseiro.

Não era surpresa que ela estivesse nos meus sonhos.

— Vou ficar com o sofá a partir de agora.

Ela esticou as costas, colocando as mãos nos quadris e recostando-se.

— Não, eu estou bem. Vou me acostumar com isso.

Não, ela não se acostumaria. Se eu a encontrasse lá novamente, eu superaria minha própria merda e a colocaria na cama.

— Melhor usar um casaco. Está frio.

— Ok. — Ela se arrastou para o cabideiro e tirou um casaco preto de lã. Seus olhos fecharam quando ela encolheu os ombros e amarrou o cinto em volta da cintura. A mulher estava morta de pé.

— Talvez você deva ficar em casa. Dormir um pouco.

— Eu não posso. — Ela acenou. — Eu vou ficar bem.

Seus passos eram lentos enquanto ela descia as escadas. Ela cortou a neve, seguindo meus rastros até o seu carro.

Devo levá-la? Deixá-la e buscá-la? Sim. Estendi uma mão para detê-la, mas a afastei.

Porra, eu não poderia fazê-lo.

Não havia como colocá-la no banco do passageiro.

A vergonha pesou nos meus ombros enquanto eu a segui até a porta do lado do motorista. Essa era apenas uma das muitas razões pelas quais Genevieve não precisava de mim em sua vida. Ela poderia pensar que precisava de mim, mas não precisava.

Como é que íamos para Lark Cove? Eu não tinha pensado tão longe quando aceitei o convite de Ação de Graças de Kaine. Essa viagem levaria horas. Dirigir separadamente não funcionaria desta vez. Eu não tinha uma desculpa para dar.

Merda. Talvez eu devesse cancelar e culpar as estradas. Mas Kaine me pediu para ir e eu não diria não a ele. Não depois que ele finalmente me deixou voltar à sua vida. Ele queria conhecer Genevieve e não era possível para ele vir até aqui. Piper estava grávida de seis meses, tinha dois filhos gêmeos de dois anos e precisava estar em casa.

O que me deixou sem escolha. De alguma forma, eu levaria Genevieve para Lark Cove e sofreria muitos quilômetros para fazê-lo.

— Vou mandar uma mensagem quando estiver pronta para voltar para casa.

— Ok. — Fechei a porta para ela e depois caminhei até minha caminhonete.

A viagem pela cidade foi tranquila e calma. Ainda não havia muitos carros e aqueles que estavam nas estradas dirigiam com cuidado. Fiquei parado do lado de fora do escritório enquanto Genevieve estacionava. Acenei quando ela desapareceu lá dentro, depois fui para a oficina e comecei a trabalhar.

Como esperado, foi um dia lento. Emmett e eu jogamos uma moeda para ver quem faria a única troca de óleo que tínhamos no cronograma, eu perdi. Então nós assistimos Leo fazer algumas riscas de estilo livre no Lincoln na cabine de pintura. O homem tinha um maldito dom.

Eu mal pisquei quando ele criou chamas laranja e vermelhas contra o preto brilhante nas barbatanas traseiras do carro. Eu estava tão consumido com suas pinceladas que quase nem percebi meu telefone vibrando no meu bolso.

O nome de Genevieve apareceu na tela. Eram apenas duas horas da tarde.

— Ei, — eu respondi, saindo da cabine.

— Você vem me pegar? Eu não me sinto bem.

— Estarei aí em cinco minutos. — Fui até a porta do escritório, sem perder um segundo para bater. Com a neve e as temperaturas congelantes, aumentamos o calor na loja e mantivemos as portas fechadas, apenas abrindo-as para colocar um carro para dentro ou levar para fora.

— E aí? — Presley perguntou de sua mesa.

— Eu preciso ir buscar Genevieve.

— Tudo certo?

— Ela está doente. — E eu não deveria ter deixado ela sair esta manhã.

Abri a porta e entrei no frio, correndo para a minha caminhonete. A neve voltou. O vento aumentou, transformando os flocos soltos em punhais em miniatura que mordiam minhas bochechas quando eu entrei na caminhonete.

As ruas estavam mais escorregadias do que estavam nesta manhã. Fiz uma curva muito rápido e a parte traseira da minha picape derrapou. Eu aliviei um pouco o acelerador, apesar de que o que eu realmente queria era acelerar para o escritório. Estacionei na rua, deixando o motor ligado enquanto corria para dentro.

Genevieve estava encostada na mesa da recepção. O seu rosto estava pálido, os olhos vermelhos. Ela segurava a bolsa como se pesasse cinquenta quilos.

— Eu vou levar. — Tirei a bolsa do seu ombro, jogando-a sobre o meu.

— Melhoras, — disse a recepcionista a Genevieve enquanto me dava uma olhada. Eu não tinha entrado no escritório antes.

— Obrigada, Gayle, — murmurou Genevieve. — Vejo você amanhã.

— Não, ela não virá, — eu corrigi. Ela terá uma longa noite e ficará na cama amanhã. Ela estava tão fraca que mal conseguia levantar os pés. Eu pressionei a mão na sua testa. — Você está quente.

Ela me deu um pequeno sorriso.

— É por isso que você estava me checando esta manhã?

— Vamos lá. — Abri a porta para ela, conduzindo-a para fora.

— Brr. Isso é horrível. — Ela estremeceu. — Você vai pegar minhas chaves da minha bolsa?

— Eu vou dirigir.

Como eu deveria ter feito esta manhã. Não havia como ela ficar ao volante nessas estradas com ela estando doente. Eu a conduzi para a caminhonete e abri a porta para ajudá-la a entrar.

No momento em que a fechei, meu estômago caiu.

Porra, eu não poderia fazer isso. Como eu deveria fazer isso?

Você não tem escolha.

Genevieve tinha que chegar em casa. E eu com certeza não podia ligar para alguém para vir ajudar. Quantas perguntas isso levantaria? Por que eu não conseguia levar minha esposa para casa do trabalho quando ela estava doente?

Engoli a bile que havia subido na minha garganta e inspirei um pouco de oxigênio, forçando o pânico a se afastar. Então dei a volta na caminhonete, um passo de cada vez, e entrei, concentrando-me em cada ação individualmente.

Fechei a porta. Apertei o cinto de segurança. Fui ligar a chave, mas lembrei que a caminhonete já estava funcionando. Coloquei o pé no freio. Eu troquei a marcha.

Passo a passo.

Eu me concentrei em dirigir. E nenhuma vez olhei para Genevieve. Quando ela se moveu, eu bloqueei o movimento pelo canto do meu olho. Eu observei a estrada. Eu mantive as duas mãos no volante.

E no único sinal de pare no caminho para casa, fiquei sentado, olhando esquerda e direita, depois direita e esquerda novamente, apenas para garantir que ninguém iria atravessar correndo pelo cruzamento.

Finalmente, quando entramos no estacionamento e eu parei no seu espaço perto do escritório, respirei. Eu pisquei. Tirei meus dedos do volante e desliguei a caminhonete. Então, só então, olhei para Genevieve quando ela se encostou na porta, quase dormindo.

— Por que isso foi tão difícil para você? — Ela sussurrou.

Porque você é você.

Ela era importante. Ela era especial e preciosa.

E eu tinha o poder de destruí-la.

Evitei responder escapando para o frio gelado. Contornei o capô e abri a porta, pegando-a quando ela quase caiu.

— Cuidado.

— Desculpe. Estou um pouco tonta. — Ela cambaleou ao se equilibrar. Não havia como subir as escadas.

Eu a peguei e a aninhei em meus braços.

— Eu peguei você.

— Eu posso andar.

— Mentirosa, — eu provoquei.

Ela deixou sua testa cair no meu ombro.

— Eu odeio isso.

— Estar doente? — Eu perguntei, sacudindo meu queixo quando vi Presley na janela do escritório.

— Não. Ser uma mentirosa.

— Eu estava brincando, boneca.

— Eu sei. Mas ainda é verdade.

No topo da escada, eu tive que colocá-la no chão para tirar as chaves do meu bolso e abrir a porta, depois a peguei de novo.

Deixei todas as reservas voarem pela janela enquanto a carregava para a cama. Coloquei-a na beira e me ajoelhei para tirar suas botas. Ajudei-a a tirar a saia e vestir uma calça de moletom. Puxei seu suéter por cima da cabeça, deixando o sutiã enquanto pegava uma camiseta do armário e a puxava através dos cabelos.

— Vou pegar um remédio para você. — Puxei as cobertas para trás e a guiei por baixo.

— Há um pouco de NyQuil17 no banheiro. — Ela aconchegou-se no travesseiro que eu dormi na noite passada. — Debaixo da pia. Provavelmente expirou, mas vai servir.

Eu me apressei para encontrá-lo. Passava um mês do vencimento, mas devia ser melhor que nada. Voltei, ajudando-a a sentar-se para tomar um gole.

— Eca. — Ela estendeu a língua. — Água.

— Aqui está. — Peguei um copo para ela e a ajudei a tomar um gole. — O que mais?

— Você vai deitar comigo? — Os seus olhos estavam fechados. Ela estaria dormindo em minutos.

— Certo. — Tirei minhas botas e minha camiseta. Cheirava a metal da oficina e o vento lá fora. Então eu deitei em cima das cobertas enquanto ela se escondia embaixo.

— Obrigada por ir me buscar.

— Sem problemas.

— Espero que você não fique doente também. Provavelmente é contagioso.

— Eu vou ficar bem. — Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. — Durma.

Ela assentiu.

— Estou feliz que somos amigos.

— Eu também. Agora durma.

— Você é meu melhor amigo. — Ela falou com os olhos fechados, quase como se estivesse sonhando. Ela estava definitivamente delirando de febre. — Eu não tenho um melhor amigo desde a quinta série. O nome dela era Mandi. Tínhamos colares de coração de latão. Você sabe, onde uma pessoa tem meio coração e a outra pessoa tem a outra metade.

— Sim. Agora vá dormir.

— Quem é seu melhor amigo? — Ela falou.

— Você, — eu admiti. Talvez se eu respondesse seu fluxo de perguntas loucas, ela dormiria.

— Não, antes de mim.

— Kaine.

— Seu irmão não conta. Ele é da família. Caso contrário, eu teria dito minha mãe. Quem mais?

Eu engoli. A verdade levaria a mais perguntas, mas eu não mentiria, não para ela.

— Shannon.

Os cílios de Genevieve se levantaram. Aqueles olhos escuros, tão bonitos, afundaram na minha alma, sentimentos emocionantes que eu pensei que estavam enterrados em Bozeman.

— Quem é Shannon?

— Vá dormir, boneca. Por favor?

Ela assentiu e fechou os olhos. As perguntas pararam. Sua respiração nivelou. E quando tive certeza que ela estava dormindo, me movi na cama para ficar mais confortável.

Peguei meu telefone e mandei uma mensagem para Presley dizendo que tinha terminado o dia. Ela mandou uma mensagem de volta dizendo que iria me dar um tempo livre e avisaria Dash.

Genevieve provavelmente dormiria por horas. Ela ficaria bem se eu fosse à oficina, mas não a deixaria sozinha. Hoje não. Então eu fechei meus olhos e me deixei cair no sono.

Sonhei com uma mulher com cabelos castanhos escuros e um sorriso lindo que ela não usava com frequência. Sonhei com ela sussurrando no escuro que ela precisava de mim.

Até que esse sonho se transformou em um pesadelo, Genevieve estava sentada no banco do passageiro de um carro enquanto o sangue escorria pelo lado de sua boca.

E aqueles lindos olhos expressivos que eu amava, perderam toda a sua luz.


Capítulo Quinze

Genevieve


Olhei pela janela da cabana, observando a floresta ao redor. As sempre-vivas elevavam-se acima de nós. O chão da floresta estava coberto de uma fina camada de neve. E mesmo que eu não pudesse vê-lo através das árvores, imaginei o lago ao longe, comprido, largo e azul profundo.

A cidade era menor que Clifton Forge. Mais aconchegante. Vir aqui foi a fuga que eu precisava. Aqui, não havia gangues de motociclistas, antigas ou atuais. Aqui, a lembrança do assassinato de minha mãe parecia mais distante. Aqui, talvez Isaiah finalmente se abrisse para mim sobre o que o incomodava há semanas.

— Lembre-me por que você escolheu Clifton Forge? Porque Lark Cove é linda. Tipo, eu quero morar aqui, nesse lugar lindo.

— Fui onde havia trabalho. — Isaiah manteve a cabeça baixa, estudando a mesa de café. O contato visual nas últimas três semanas havia sido quase inexistente.

— Eu gosto desta cabana.

Ele levantou um ombro.

— Sim.

— Melhor do que a última em que estivemos juntos.

Isso chamou sua atenção. Ele olhou para mim no lado oposto do sofá. Meu coração disparou com um sorriso. Eu teria feito uma careta. Eu estava desesperada por qualquer reação que não fosse aquele olhar vazio.

Ah! Por quê? Eu estava prestes a pular no sofá e estrangulá-lo com minhas próprias mãos até que ele se rendesse e me contasse o que tinha acontecido quando eu estava doente.

Lembrei-me dele vindo me buscar no escritório. Lembrei-me da enorme onda de ansiedade que emanava dele quando me levou para casa. E lembrei-me dele me colocando na cama.

Minha febre desagradável levou dois dias para baixar. Quando eu saí da névoa, o Isaiah que sorria desapareceu. Em seu lugar estava a concha do meu amigo. Era pior do que tinha sido nos primeiros dias de nosso casamento.

Só piorou no caminho para Lark Cove.

Isaiah me pediu para dirigir. Fiquei feliz, pensando que talvez com algum tempo preso no carro, ele finalmente relaxasse o suficiente para me dizer o que estava errado. As viagens que fiz com mamãe quando criança eram preenchidas com conversas sem parar. Mas isso foi hora após hora de silêncio. Mesmo com o rádio ligado, o silêncio gritava.

Suas mãos permaneceram apoiadas nos joelhos durante toda a viagem, as juntas tatuadas brancas enquanto ele segurava as pernas. Cometi o erro de olhá-lo uma vez e perguntar se ele estava bem.

Olhos na estrada.

Essas foram as únicas palavras que ele falou comigo além de vire à esquerda, próxima à direita e continue em frente.

Quando chegamos a Lark Cove, eu estava quase chorando.

Onde estava Isaiah? Meu Isaiah? Pensei que tivéssemos aprendido a confiar um no outro. Ou era apenas eu apoiando-me nele o tempo todo? Eu não lhe dei nenhum conforto? Nenhuma força? Ele alguma vez confiaria em mim com a verdade? Eu não poderia tentar descobrir a verdade de tudo. Em algum momento, ele teria que confiar em mim, como eu tinha feito com ele.

Foi o feriado em si que o incomodou? Isaiah não gostava do Dia de Ação de Graças? Ele não parecia ansioso perto de sua mãe, mas havia algo acontecendo com seu irmão? Talvez essa viagem estivesse lhe causando estresse.

Eu me convenci de que Isaiah odiava peru, recheio e torta de abóbora. Afinal, eu não tinha feito nada errado, exceto pegar um resfriado. A sua atitude não tinha nada a ver comigo, certo?

Errado.

Entrei na entrada de carros de Kaine e Piper atrás do Blazer de Suzanne e nem sequer desliguei o carro quando a porta da frente da casa deles se abriu. Um homem que tinha que ser Kaine saiu. Ele segurava dois meninos nos braços, se contorcendo, acenando e rindo. Kaine sorriu.

Isaiah sorriu.

Um sorriso real e cheio, tão deslumbrante que lágrimas inundaram meus olhos. O sorriso transformou o rosto de Isaiah. Ele parecia anos mais jovem. Ele era mil vezes mais bonito. A alegria de ver seu irmão rompeu sua nuvem de tristeza, depois desapareceu tão rapidamente quanto apareceu.

Quando ele soltou o cinto de segurança e olhou para mim, o humor sombrio voltou rugindo. Eu coloquei um rosto corajoso, escondendo o fato de que ele tinha quebrado meu coração.

A viagem foi longa e chegamos ao entardecer. Corremos para levar nossas coisas para dentro antes do anoitecer, e depois fizemos uma série de apresentações com Kaine, Piper e seus gêmeos. Suzanne me envolveu em um abraço forte e apertado, que quase me esmagou. Era o abraço de uma mãe.

Ainda não estava pronta para isso, nem mesmo da minha sogra.

Então eu me concentrei nas crianças, brincando com elas no tapete antes do jantar.

Kaine estava quieto, como seu irmão. De vez em quando, ele olhava para mim com uma expressão estranha, como se não tivesse certeza de onde eu vim. Eu peguei o mesmo olhar de Piper.

Todo mundo sabia de algo que eu não sabia. Algo grande.

O quê? O que era isso? Talvez eu devesse ter adicionado o nome de Isaiah ao meu caderno de pesquisa, afinal. Mas eu queria tanto que ele fosse o único a me dizer. Eu queria que pelo menos um pedaço do nosso relacionamento fosse verdadeiro e honesto.

Exceto que este era apenas mais um fim de semana para fingir. Isaiah segurou minha mão quando eles estavam por perto, mas não havia desespero em seu aperto.

Depois de chegarmos, comemos um delicioso jantar e fugimos para esta cabana, a casa que foi a casa de Kaine antes de Piper se mudar para a porta ao lado e os dois se casarem.

Eu dormi na cama, Isaiah neste sofá. Ele fez questão de acordar cedo e guardar o cobertor e o travesseiro. Não querendo acordar a outra casa se eles ainda estivessem dormindo, passamos a última hora no sofá, tomando café, mal falando uma palavra.

Eu olhava para a floresta e, ocasionalmente, para o seu perfil.

Isaiah estava memorizando o padrão de grãos de madeira da mesa de café como se houvesse um teste mais tarde.

Meu primeiro Dia de Ação de Graças sem minha mãe seria difícil o suficiente este ano, sem os olhares em branco do meu marido. Estávamos em um lugar estranho, mas de tirar o fôlego, com pessoas que eu conheci ontem, e a dor que sentia pela falta da presença de mamãe era quase insuportável.

Os feriados seriam excruciantes este ano. Nenhuma vez em meus vinte e sete anos eu tinha passado um Natal ou Ação de Graças sem minha mãe.

O Dia de Ação de Graças era o seu favorito enquanto eu preferia o Natal, presentes e tudo. Nossa tradição do Dia de Ação de Graças era passar o dia inteiro na cozinha, preparando um banquete. Frequentemente, éramos apenas nós duas para comer e teríamos sobras por uma semana.

Hoje não haveria cozinhar para mim. Eu me ofereceria para ajudar por educação e rezar para que minha assistência fosse recusada. E eu suportaria o silêncio de Isaiah como se isso não me incomodasse nem um pouco.

Algo havia acionado um interruptor em Isaiah, mas o quê? Eu disse alguma coisa quando estava doente que o aborreceu? Eu queria poder me lembrar. Porra, minha teimosia, eu também não perguntaria. Ele só me derrubaria.

— Eu vou me vestir. — Eu me levantei do sofá. — Então você quer ir lá?

Ele assentiu, com os olhos colados na caneca vazia.

O que eu fiz? Conte-me. Por favor. O que eu fiz?

Ele olhou para a mesa.

Eu o perdi.

Meu coração se partiu. Meus sentimentos em relação a Isaiah, aqueles que eu não estava pronta para reconhecer, foram destruídos.

Eu desapareci no quarto nos fundos da casa e vesti um jeans e um suéter. Passei um pouco de desodorante, depois de tomar banho na noite passada. Com o cabelo trançado e pendurado no ombro, saí do quarto com os sapatos na mão bem a tempo de ver Isaiah abrir a porta.

— Bom dia. — Kaine deu um tapa no ombro dele e bateu as botas no tapete quando ele entrou. Quando ele me viu, ele disse: — Bom dia, Genevieve. Como você dormiu?

— Muito bem, — eu menti. — Mais uma vez obrigada por nos receber.

— Que bom que você conseguiu. — Kaine passou a mão pelos cabelos escuros, afastando-os da testa.

Havia semelhanças entre os irmãos Reynolds, mas não eram imagens no espelho. O cabelo de Kaine era mais comprido e seu rosto estava coberto por uma barba escura. Eles tinham os mesmos olhos, mas os de Kaine eram felizes e cheios de vida. Sempre que ele via Piper do outro lado da sala na noite passada, eles estavam cheios de amor. Era o mesmo quando ele olhava para os meninos.

Kaine se abaixou para olhar pela janela da sala de estar que dava para a frente da cabana. Lá fora, Gabe e Robbie estavam brincando.

Não havia tanta neve aqui como havia em Clifton Forge, mas os dois meninos estavam vestidos com roupas de neve da cabeça aos pés. Cachecol. Casacos volumosos. Botas. Chapéus com protetores de orelha. Luvas. Tudo que eu podia ver eram bochechas gordinhas, nariz vermelho, olhos e sorrisos brilhantes.

Eles eram a imagem perfeita.

Esses gêmeos me fizeram querer um par meu algum dia. Uma família que fosse minha. Um amor para preencher o vazio.

— Piper quer uma árvore de Natal, — disse Kaine. — Eu disse aos meninos que iríamos procurar uma. Quer vir junto?

— Certo. — Isaiah assentiu, ficando lado a lado com seu irmão. Ambos tinham aproximadamente a mesma altura, dois centímetros ou duas com mais de um metro e oitenta de altura.

— Genevieve?

Eu nunca tinha procurado árvores de Natal. A minha sempre vinha de qualquer igreja ou posto de acampamento da juventude instalado no estacionamento do supermercado em Denver. Sim, eu queria ir. Uma nova aventura parecia uma distração maravilhosa.

Mas a única pessoa que fez Isaiah parecer feliz era seu irmão. Talvez se eu não estivesse por perto, ele tivesse algum tempo para realmente aproveitar e não sentir a necessidade de fingir comigo.

— Vocês vão em frente. Não trouxe coisas quentes suficientes para percorrer as montanhas.

— Piper tem muitas coisas que você poderia emprestar, — Kaine ofereceu.

— Tudo bem. Vou ver o que posso fazer para ajudar.

Isaiah tirou nossos casacos do gancho ao lado da porta. Eu rapidamente calcei minhas botas, depois me levantei quando ele me ajudou a vestir meu casaco. Provavelmente parecia doce, um marido ajudando a agasalhar sua esposa.

Exceto que Isaiah teve o cuidado de não me tocar, nem mesmo escovar meu suéter com os nós dos dedos. Kaine não percebeu, mas eu percebi.

— Você quer uma árvore? — Isaiah perguntou enquanto fechava o casaco e puxava um gorro sobre a cabeça.

— Podemos levar para casa?

— Podemos prendê-la ao topo do carro.

— Isso seria legal. — Agora que meu projeto de pintura estava pronto, eu estava sem coisas para me manter ocupada à noite. Decorar uma árvore ocuparia pelo menos uma noite e me daria uma tarefa para bloquear a indiferença de Isaiah.

Kaine liderou o caminho para fora e eu o segui, Isaiah fechando a cabana atrás de nós.

— Koda! — Gabe riu quando caiu das costas do cachorro. A neve solta soprava ao redor dele.

Quando entrei na casa de Kaine e Piper na noite passada, ofeguei com o cachorro que corria pelo corredor para nos cumprimentar. Eu jurei que era um lobo.

Não é um lobo, apenas um cachorro. A menos que você pergunte aos gêmeos, que tratam Koda mais como um cavalo peludo.

No segundo em que as costas de Koda estavam livres, Robbie se lançou ao cachorro, lutando para subir. Koda desviou, fazendo Robbie cair no chão ao lado de seu irmão. Então o cachorro lambeu seus rostos minúsculos, causando um acesso de riso que ecoou pelas árvores.

Kaine riu, pegando um machado encostado a um poste no topo da escada da varanda.

— Vamos lá rapazes. Tio Isaiah está vindo conosco.

Os gêmeos gritaram em uníssono, lutando para levantar em suas roupas grossas.

Kaine caminhou até eles, deu um tapinha na cabeça de Koda e depois ajudou seus filhos a se levantarem, um por vez.

Olhei para Isaiah, abrindo minha boca para lhe desejar sorte, mas parei quando vi a expressão em seu rosto.

— Você está sorrindo. — O sussurro saiu. O sorriso desapareceu. Isso me ensinaria a manter minha boca fechada. — Você gosta de estar aqui, não é?

— Fico feliz em ver Kaine feliz. Ele merece.

— E você não?

— Não. — Isaiah subiu as escadas e se juntou a seu irmão e sobrinhos sem olhar para trás.

De pé no degrau mais alto, passei meus braços em volta da minha cintura. Ele acreditava que não merecia felicidade até a medula de seus ossos.

Ele se puniria para sempre por seus pecados? A prisão não foi suficiente? Era sobre Shannon, seja lá quem ela for? No fundo da minha mente, eu sabia a resposta.

Shannon.

Ela era a chave para a miséria dele. Quem ela era para ele? Ele ainda a amava?

Se ele apenas se abrisse um pouco, talvez eu soubesse como ajudá-lo. Talvez eu soubesse por que ele era desse jeito e aliviasse um pouco de sua dor, ou pelo menos parasse de me ressentir com ele por isso.

Eu era a sua esposa, afinal. Eu sempre pensei que outra mulher iria aparecer e ser a única a curá-lo. Ela seria a única a colocar luz nos seus olhos. Mas então meses se passaram. Os sentimentos haviam crescido. Ele não precisava de outra mulher para romper suas paredes.

Isaiah precisava de mim.

Esperei até Kaine, Isaiah e os meninos seguirem uma trilha que se aprofundava nas árvores, depois segui pelo caminho trilhado que ligava a cabana à casa principal.

Com uma breve batida na porta da frente, sorri quando Suzanne a abriu para mim.

— Bom dia! — Ela me envolveu em um abraço, praticamente me puxando para dentro de casa. — Como você dormiu?

— Muito bem, — eu menti novamente. Toda vez, era mais difícil impedir que a verdade vazasse. A mentira não deveria ficar mais fácil com a prática?

Segui Suzanne até a cozinha, inalando o cheiro de sálvia, pão fresco e peru.

— Bom dia. — Eu sorri para Piper. — Cheira incrível aqui. Posso ajudar com alguma coisa?

Diga não.

— Obrigada. — Ela sorriu, tomando um gole de uma caneca. — E não. Nós estamos fazendo uma pausa. O peru está no forno, então temos algumas horas. Depois faremos o resto.

— Você gostaria de um pouco de café? — Suzanne perguntou, indo a um armário para tirar uma caneca. — Ou chocolate quente?

— Café seria ótimo. Obrigada.

Todas nós levamos nossas bebidas para a sala de estar, e sentamos nos sofás confortáveis que enchiam o espaço.

— Estamos tão felizes que você pode vir aqui. — Piper estendeu a mão sobre a barriga grávida. — Estávamos ansiosos para conhecê-la. Eu disse a Kaine que deveríamos ir até você, mas ele está tão ocupado na loja. Ele tem pedidos para os próximos dois anos.

— Ele fez isso? — Passei a mão sobre a mesa de café artesanal de madeira.

— Sim. — O seu sorriso era mais orgulhoso que o de Suzanne.

— É requintado. — Embora a peça que realmente chamou minha atenção fosse a mesa da sala de jantar. Era nogueira, manchada de um marrom escuro que realçava o padrão natural da peça. Havia alguns lugares onde parecia que eu podia alcançar as pranchas e fazer cócegas nas estrias.

— Eu sempre esperei que Isaiah quisesse trabalhar com Kaine, — disse Suzanne. — Eles formariam uma equipe tão boa. Ambos são tão bons com as mãos. Mas...

Eu esperei que ela continuasse, mas ela simplesmente me lançou esse olhar, como se esperasse que eu soubesse o motivo de não trabalharem juntos. Ela esperava que eu soubesse do passado de meu marido quando não sabia.

A conversa se voltou para os gêmeos e a empolgação deles em ter uma irmãzinha. Reenchi meu café mais uma vez antes de pedir licença para usar o banheiro.

Eu estava descendo o corredor quando a voz de Piper chamou minha atenção.

— Ele está bem? — Ela perguntou a Suzanne. — Ele parece... Distante. Talvez seja só eu. Kaine achou que ele parecia bem, mas eu não sei. Talvez eu esteja apenas sendo hormonal.

Meu coração pulou na minha garganta. Elas tinham que estar falando sobre Isaiah. Elas poderiam dizer que não estávamos apaixonados? Piper suspeitava que nosso relacionamento era uma fraude?

— Ele tem seus altos e baixos. — Suzanne suspirou. — Ainda é difícil. Mas estou feliz que ele tenha Genevieve. Quero dizer, tem que significar algo que ele finalmente se abriu. O casamento foi uma surpresa, mas estou aceitando isso como um bom sinal. Eu nunca pensei que ele iria esquecer Shannon, mas a maneira como ele olha para Genevieve, há amor lá.

Não, nós só estávamos ficando muito bons em mentir.

Suzanne falou sobre mim como se eu fosse algum tipo de salvadora. Ela me odiaria quando Isaiah e eu terminássemos nosso casamento? Ela perceberia que eu havia causado mais mal do que bem?

Eu queria mudar isso. Eu queria ajudar.

— Você acha que ele vai superar o acidente? — Piper perguntou.

Então tinha sido um acidente, como eu suspeitava.

— Eu não sei, — disse Suzanne. — Acho que quando ele vem aqui e vê Kaine feliz, isso ajuda. Talvez quando ele perceber que Kaine o perdoou por Shannon, ele finalmente se perdoará. Estou mais preocupada com o que aconteceu na prisão. Ele não fala sobre isso. Espero que ele confie em Genevieve.

Não. Nenhuma palavra.

Espere, o que eu estava fazendo? Eu estava me intrometendo na conversa delas. Claro, elas provavelmente teriam falado mesmo se eu ainda estivesse sentada ao lado delas no sofá, porque esperavam que eu soubesse do passado de Isaiah. Elas pensavam que eu sabia sobre Shannon.

Eu odiava por continuar a escutar, esforçando-me para absorver cada palavra.

Eu odiava que Isaiah estivesse tão perdido em se punir, que ele não iria confiar em mim.

Deus, eu queria a verdade. Prometi a mim mesma que não iria me aprofundar no passado de Isaiah. Isso era melhor? Ouvindo-o em vez de lê-lo? Se eu ficasse aqui tempo suficiente, poderia descobrir a resposta. Mas a culpa penetrou em minhas veias e fez meu interior viscoso.

Isaiah confiaria em mim quando, se, ele me considerasse digna.

Dei um passo, pronta para ir para a cozinha e dar uma desculpa para mudar de assunto. Inferno, eu até cozinharia se isso as fizesse mudar de assunto. Mas então Suzanne falou novamente e meus ouvidos gananciosos devoraram cada uma de suas palavras.

— Rezo com tudo o que tenho para que ele mantenha Genevieve. Que eles durem. Quando ele e Shannon ficaram juntos, ficaram tão preocupados em esconder isso de Kaine até o bebê nascer. Então ele finalmente propôs e... Ela morreu. Não quero que ele perca o amor novamente.

Meu estômago despencou. Minhas mãos chegaram aos meus ouvidos, cobrindo-os. Foi uma sobrecarga de informações e eu não queria ouvir outra palavra.

Shannon era a mulher grávida que ele matou. Talvez eu suspeitasse por um tempo, mas saber que era verdade não tornava mais fácil ouvir.

Esse era o pesadelo de Isaiah. Ele matou sua noiva.

E o bebê deles.


Capítulo Dezesseis

Isaiah


— Ei, pessoal, — Dash chamou da porta do escritório. — Façam uma pausa. Temos que conversar.

Peguei um pano para limpar minhas mãos. Havia um pouco de graxa que só sairia com a Fast Orange18, mas como Leo e Emmett não se deram ao trabalho de parar na pia para lavar, eu também não.

Dash estava sentado na cadeira em frente à mesa de Presley. O assento dela estava vazio e o carro não estava na frente. Dash provavelmente a mandara para o banco ou para o correio antes de nos chamar. Ele parou de nos proteger dessas conversas, há muito tempo paramos de fingir que Presley e eu não estávamos em perigo ou que não sabíamos que algo ruim estava acontecendo. Embora, às vezes, ele mantivesse Presley à margem, a menos que ela estivesse em perigo.

Os cotovelos de Dash estavam equilibrados sobre os joelhos. Na cadeira ao lado dele, Bryce estava com os braços cruzados e a mandíbula travada.

— E aí? — Emmett perguntou, pegando uma das cadeiras ao longo da janela.

Leo ficou em pé. Eu também, ocupando o espaço ao seu lado para me encostar na parede.

— Papai ligou dez minutos atrás, — disse Dash. — A acusação terminou de apresentar o caso deles.

— Já? — Leo perguntou.

— Sim. — Dash suspirou. — Eles terminaram mais rápido do que Jim esperava. Agora é a vez dele de apresentar.

Merda. Genevieve sabia? Ela devia saber. Ela simplesmente não tinha me mandado uma mensagem.

Fazia duas semanas e meia desde que fomos a Lark Cove para o Dia de Ação de Graças, e nesse tempo, mal tínhamos falado uma palavra, embora ela tivesse sido uma preocupação constante em minha mente.

Eu tinha que encontrar uma maneira de libertá-la.

Deus, eu sentiria falta dela, mas esse casamento, esse casamento falso, estava matando nós dois.

Estávamos tão frios um com o outro quanto o ar de meados de dezembro. O silêncio, eu poderia viver com ele. Isso não era difícil de suportar. Exceto que de vez em quando, eu a pegava olhando para mim. Observando. Quando eu encontrava seu olhar, o dela ficava cheio de pena.

Eu odiava a pena.

Aqueles olhares lamentáveis começaram depois do Dia de Ação de Graças. Se eu tivesse que adivinhar, mamãe ou Piper haviam falado demais. Elas contaram a ela sobre o acidente? Elas contaram a ela sobre Shannon?

Por mais furioso que estivesse com elas falando com Genevieve sobre negócios da família, eu não podia exatamente culpá-las. Sem dúvida, elas pensaram que ela já sabia.

Trazer o assunto à Genevieve não era uma opção. Se elas não tivessem contado a ela, isso só levaria a mais perguntas. Eu estava cansado das perguntas. Dos segredos. Das mentiras.

Da pena.

Todas as razões pelas quais fizemos isso em primeiro lugar sejam condenadas. Viver desse jeito estava me comendo vivo. E mantê-la amarrada a um homem como eu não era justo com Genevieve. Ela merecia mais.

Estava na hora de deixá-la ir. Estava na hora de terminar com isso. Eu lidaria com as consequências.

Estava na hora de planejar uma estratégia de saída.

— E agora? — Emmett perguntou.

— Nada. — Bryce bufou. — Nós não temos nada. Sem pistas. Nenhuma informação para continuar. Quem nos sequestrou desapareceu. Quem Amina estava namorando, aquele Lee, ele sumiu. E isso me irrita.

Dash colocou a mão no seu joelho quando este saltou.

— Sempre soubemos que isso poderia acontecer.

— Isso não é bom o suficiente, Dash. — Ela se levantou da cadeira e andou pela sala. — O que acontece quando esse cara decide que é a sua vez? Ou de Emmett? Ou de Leo? Nós estamos impotentes. Ele está lá fora, assistindo como seu plano mestre se desenrola. Draven irá para a prisão. E o resto de nós olhará por cima dos ombros pelo resto de nossas vidas. Não podemos viver assim.

O seu queixo tremia, os braços apertando mais forte as costelas. Dash saiu da cadeira em um instante, puxando-a para seus braços quando sua testa caiu no ombro dele.

— Ela está certa. — Leo soltou um suspiro profundo. — Draven vai para a prisão e esse cara vence. E se realmente se trata de uma guerra antiga com os Gypsies, somos todos os próximos.

Mesmo eu não estava seguro. Eu nunca tinha sido um Tin Gypsies, mas também estava naquela montanha.

— O que podemos fazer?

— Nós tentamos de tudo. Cada maldita coisa. — Emmett passou a mão pelos cabelos.

— Acho que precisamos nos esforçar mais para encontrar o namorado de Amina. — Bryce se afastou de Dash, fungando. Ela não era uma chorona, então vê-la assim era estranho. Talvez fossem os hormônios da gravidez, mas ela estava desmoronando.

— O namorado é um fantasma, — disse Emmett. — Um beco sem saída.

— Mas ele é tudo o que existe, — insistiu Bryce. — Ele é a única pessoa na vida de Amina que não localizamos. E isso não parece suspeito? Ela estava saindo com esse cara e ela morre, então ele simplesmente desaparece?

— Talvez eles terminaram antes que ela morresse. — Amina tinha ficado com Draven naquele hotel. Pelo bem de Genevieve, eu esperava que Amina não tivesse traído. Novamente. — Isso explicaria por que ele nunca apareceu. Talvez ela tivesse terminado com ele, então ela estava livre para ficar com Draven.

Bryce assentiu.

— Talvez. Mas não saberemos nada até encontrá-lo.

— Como, querida? — Dash recostou-se na cadeira. — Tudo o que temos é um primeiro nome. Lee não é exatamente único.

— E Genevieve já se lembrou de tudo que podia, — eu disse. — Ela não consegue pensar em mais nada.

— E as coisas de Amina? — Perguntou Bryce. — Genevieve encontrou algo neles que poderia ter sido de Lee?

— Não. Nada.

— Droga, — ela murmurou.

Uma porta de carro bateu do lado de fora, chamando nossa atenção. Genevieve caminhou do carro até as escadas. O olhar em seu rosto estava em branco, seus olhos voltados para o chão.

— Volto logo. — Corri para a porta, bem a tempo de parar Genevieve antes que ela passasse do quinto passo. — Ei. Você não me mandou uma mensagem para ir buscá-la.

— Não, eu não mandei, — ela retrucou. — Pela primeira vez, eu queria voltar para casa sozinha.

— Você ouviu sobre o julgamento.

— Sim.

— O que Jim disse?

Ela suspirou.

— A promotoria tem um argumento forte e as coisas não estão parecendo boas. Eles tinham três oficiais presentes. A testemunha que viu Draven chegar e sair do motel. Um especialista em impressões digitais para a faca. Um técnico de laboratório criminal para DNA e sangue. Está feito, então decidi tirar o resto do dia de folga.

— Você está bem?

— Fantástica, — ela brincou. — Draven irá para a prisão por assassinar minha mãe. A vida é ótima.

— Estamos falando exatamente sobre isso. — Joguei meu polegar por cima do ombro para o escritório. — Entre.

— Não, obrigada.

— Por favor? Você não é a única que está chateada.

— Tudo bem. — Ela resmungou outra coisa baixinho antes de descer as escadas de mau humor. Ela me deu aquele maldito olhar lamentável quando eu abri a porta para ela, acenando para ela entrar e sair do frio.

— Sinto muito, Genevieve. — Bryce levantou-se para dar um abraço na amiga.

— Eu também. — Genevieve retirou o cachecol do pescoço e sentou-se em uma cadeira ao lado de Emmett.

— Estávamos conversando sobre o que poderíamos fazer, — eu disse a ela enquanto me sentava ao lado dela na última cadeira livre.

— Nada. — Ela balançou a cabeça, procurando na bolsa o caderno. — Não tem nada para fazer. Eu já revi repetidamente todas as coisas. Pesquisei todas as pessoas que poderiam estar envolvidas e não há nada para encontrar.

— Você esteve o quê? — Dash perguntou, compartilhando um olhar com Bryce.

— Pesquisando. — Genevieve acenou com o caderno. — Registros criminais. Verificação em segundo plano. Informação pessoal. Eu olhei para todos os associados conhecidos do Tin Gypsy Motorcycle Club, inclusive você, e quem eu pudesse encontrar ligado aos Warriors.

A sala ficou em silêncio.

Eu pisquei, meus olhos colados no caderno. Meu nome estava lá? Era assim que ela sabia de mim? Ela sabia o tempo todo?

Meu pulso disparou com uma mistura de medo e raiva por ela ter escondido isso de mim. Quando ela estava fazendo isso?

— Por que você não me contou? — Perguntou Bryce.

— Porque. — Os seus ombros caíram. — Não há nada, então o que isso importa?

Emmett estendeu a mão.

— Importa-se se eu der uma olhada?

Ela se agarrou ao caderno por um segundo, depois suspirou e o entregou.

Ele folheou as páginas rapidamente, assentindo enquanto o fazia.

— Estou impressionado. Você tem quase todo mundo aqui. Nós incluídos.

Genevieve pegou o caderno de volta e olhou para Bryce.

— Exceto você. E Isaiah.

O ar saiu dos meus pulmões. Então ela não tinha pesquisado sobre meu passado. Ela respeitava minha privacidade, embora quisesse muito saber. Ela esperou, me dando tempo, e esperando que eu me abrisse.

Droga.

— Você agiu pelas nossas costas, — disse Dash.

Genevieve levantou o queixo.

— Sim, eu agi. Porque eu não o conhecia.

Dash lançou-lhe um olhar e abriu a boca, mas Bryce falou por ele.

— Eu acho que foi inteligente. Eu teria feito a mesma coisa. Eu só queria que você tivesse encontrado alguma coisa.

— Eu também, — Genevieve murmurou.

— Eu ainda sinto que o namorado da sua mãe pode nos levar a uma pista.

Genevieve assentiu.

— Eu também. Mamãe sempre foi tão vaga sobre ele. Ela sempre o considerava casual, o que faria sentido se ele fosse um Warrior. Ela não gostaria de me puxar para isso.

E claramente Amina tinha uma queda por motociclistas.

— Você encontrou alguma menção a um cara chamado Lee? — Emmett perguntou. — Porque eu fiz minha própria pesquisa e não consigo encontrar nada.

— Nada. — Genevieve passou o polegar pelo caderno. — Talvez um de vocês possa verificar os nomes. Nenhum dos Warriors que encontrei se chama Lee, mas talvez eu tenha deixado passar alguém.

— Eu vou fazer isso. — Emmett assentiu.

— Quando você examinou as coisas dela, não viu nada que pudesse ter sido dele? — Perguntou Bryce.

Genevieve balançou a cabeça.

— Nada chamou minha atenção. Eu poderia olhar tudo de novo, só para verificar.

— Faça isso, — ordenou Dash, o cenho franzido ainda em seu rosto. — E as coisas dela? Faltava alguma coisa?

— Eu não fiz exatamente um inventário das coisas da minha mãe morta.

— Então faça isso agora, — Dash latiu.

Dei um passo à frente, pronto para intervir, mas Genevieve percebeu e estendeu a mão, me parando.

— Por quê? — Ela perguntou a Dash.

— Porque talvez ele tenha pego algo dela. Joias ou bugigangas, não sei. Algo valioso. Se ele penhorou na cidade ou mesmo em Bozeman, poderemos encontrá-lo.

— Oh, — ela murmurou. — Ok.

— Alguma notícia dos Warriors? — Leo perguntou.

— Nenhuma palavra, — respondeu Dash. — O que normalmente seria uma coisa boa, mas minha intuição diz que teremos notícias de Tucker em breve.

— Você não acha que ele acreditou em nós? — Genevieve perguntou.

— Eu acho que as suas mãos também estão amarradas. Ele quer saber quem matou seu homem. É o mesmo cara que estamos procurando. Nós não vamos parar. Ele também não.

Porra. Isso acabaria um dia?

Pelo menos duas vezes por semana, acordava com aquele maldito pesadelo se repetindo. Genevieve estava em seu carro no banco do passageiro. A grade de um caminhão esmagada contra o vidro quebrado de sua janela. Seus olhos estavam sem vida e o sangue escorria da boca.

Esse seria o destino dela? Ela também morreria se ficasse aqui? Já bastava. Era hora de libertá-la dessa merda e deixá-la seguir com sua vida.

O melhor lugar para Genevieve era muito, muito longe de mim. Ela não iria embora por vontade própria, até que soubesse que eu estava fora de perigo. Talvez se encontrássemos o homem que matou a mãe dela, poderíamos convencer os Warriors que ele também matou o homem deles. Então ela estaria segura para ir embora.

Eu a ajudaria a analisar as coisas de sua mãe e iria rezar para que encontrássemos uma pista.

— Você acha que vale a pena vasculhar as finanças de Amina novamente? — Emmett perguntou a Dash.

— Novamente? — Genevieve perguntou antes que Dash pudesse responder. — Eu quero saber como você conseguiu fazer isso?

— Provavelmente não. — Emmett deu de ombros. — Não encontrei nada na primeira vez. Pode valer a pena uma segunda olhada.

Genevieve levantou-se da cadeira, pegando o cachecol e a bolsa.

— Eu avisarei vocês, se encontrar alguma coisa.

Ela estava do lado de fora antes que alguém pudesse responder. Havia um brilho de lágrimas em seus olhos.

— Você precisa de mim o resto do dia? — Eu perguntei a Dash. — O quadro do que precisa ser feito está vazio. Eu estava apenas limpando.

— Não, vá em frente. Está tudo parado. Eu vou terminar.

— Obrigado. — Voltei para a loja, abrindo o zíper do meu macacão e tirando-o para pendurar em um gancho para amanhã. Então eu fui para a pia e esfreguei minhas mãos, fazendo o meu melhor para tirar a graxa.

Minhas cutículas estavam rachadas, as pontas dos meus dedos em carne viva. Eles eram normalmente ásperos, mas o ar nesta época do ano era tão seco que tomei um cuidado extra. Presley havia colocado uma garrafa de loção ao lado da pia para usarmos, e coloquei um pouco de espuma, peguei minha aliança no bolso e a coloquei, então me aventurei escada acima para o apartamento.

Genevieve estava no sofá quando entrei no apartamento. Os joelhos estavam encostados ao peito. Os seus braços estavam ao redor deles, abraçando-os com força.

— Você está bem?

— Sim.

Ela não ficaria bem até que isso acabasse.

Eu tirei minhas botas, empilhando-as no tapete para que a neve não me seguisse para dentro do apartamento. Então eu atravessei a sala, sentando no sofá ao seu lado, a uma almofada de distância.

— Por que você não me contou sobre sua pesquisa?

Ela levantou um ombro.

— Porque não havia nada para contar. E era algo que eu poderia fazer sozinha. Eu só precisava... Eu precisava tentar.

Fazia sentido agora por que ela estava tão frustrada. Ela estava procurando por pistas e não encontrava nada a cada passo.

— Eu estive pensando em uma coisa. — Passei a mão pela mandíbula, afrouxando-a. Eu estava pensando nisso há semanas, mas as palavras eram como melaço.

— O quê?

— Assim que o julgamento terminar, assim que soubermos o que acontecerá com Draven... — Eu respirei fundo. — Eu acho que você deveria ir.

— Ir? — Ela piscou. — Ir aonde?

— Longe. Sair desta cidade. Sair dessa vida.

— O quê? — Ela soltou as pernas e se virou para mim. — E você?

— Eu vou ficar bem. — E se eu não ficasse, não seria mais problema dela. — Os policiais não encontraram nada. Duvido que eles encontrem. Eles provavelmente nem estão procurando.

— E os Warriors?

— Se eles decidirem retaliar, seria melhor se você já estivesse longe.

A sua boca se abriu.

— Então... Nós simplesmente vamos desistir?

— Sim.

Ela olhou para mim por um longo momento. A surpresa em seu rosto desapareceu. Os seus ombros caíram.

— Eu sou tão difícil de conviver?

— A verdade? — Engoli em seco. — Sim.

Ela se encolheu.

Era insuportável estar perto dela, sabendo que ela acabaria indo embora. Era cansativo mantê-la à distância quando tudo que eu queria fazer era abraçá-la.

— Nós nunca deveríamos ter começado isso, — eu sussurrei.

Genevieve saiu do sofá e marchou para o banheiro. A porta bateu, seu estrondo agitando as paredes.

Abaixei minha cabeça para as costas do sofá. Feito. Está feito.

E eu era um bastardo por machucá-la.

Havia uma pequena mancha no teto que Genevieve havia perdido ao pintar. Não era maior que uma moeda de dez centavos, mas o esbranquiçado da tinta velha aparecia se você olhasse desse ângulo. Ela consertaria se soubesse, mas eu não diria uma palavra. Eu queria aquele local para lembrar os meses que passamos juntos.

Genevieve pode estar chateada agora, mas veria que essa era a decisão certa. Cedo ou tarde, ela ficaria aliviada que meu grilhão não estivesse mais em torno de seu tornozelo.

A porta do banheiro se abriu e a Genevieve ferida que estava no sofá desapareceu. Ela marchou pelo apartamento descalça, parando bem na minha frente.

— Qual é a verdadeira razão pela qual você está fazendo isso?

— Será melhor se acabarmos com isso agora.

— Eu não acredito em você. — Ela levantou o queixo. — Eu abri meu coração para você. Já contei tudo sobre a minha mãe. Sobre como estou realmente me sentindo. Eu coloquei tudo para fora. Eu me abri e deixei você ver a bagunça feia por dentro. Você é a única pessoa no mundo que me entende de verdade. Por que não posso ter isso de você?

Eu olhei para seu lindo rosto corado e fiquei quieto. O silêncio era minha armadura. Porque se eu me abrisse, nunca seria capaz de costurar as feridas.

— É isso? — Ela sussurrou. — Isaiah, eu quero ajudar. Eu quero estar lá para você como você está para mim. Mas você tem que falar sobre o acidente. Se não comigo, então com alguém. Eu vejo essa culpa. Essa dor nos seus olhos e isso mata...

— Quem lhe contou sobre o acidente? Ou você procurou saber?

Ela piscou. O seu rosto empalideceu.

— Você procurou saber? — Eu exigi, mais alto desta vez.

— Não. Eu não procurei. Eu estava...

Eu estava fora do sofá em um flash, meu coração batendo forte. O movimento a forçou a dar dois passos para trás.

— Alguém lhe contou. Quem? Foi mamãe? Porque ela não tinha o direito.

— Ela não me disse nada. — Genevieve levantou as mãos. — Eu ouvi ela e Piper no Dia de Ação de Graças. Eu não deveria ter escutado...

— Não, você não deveria. Isso não é da sua conta. Isso é entre mim e minha família.

— Então você não devia me levar para conhecer sua família, — ela gritou. — Não os culpe por presumir que você contaria a sua esposa sobre sua noiva. Que você ia ter um bebê. Que ela morreu em um acidente e você está se culpando.

Ela entendeu tudo errado. Ela me viu como um sofredor. Não, eu era um assassino.

— Você não sabe do que está falando.

— Exatamente! — Ela jogou as mãos para o ar. — Eu não tenho a menor ideia do que estou falando, porque você... — Ela cutucou um dedo no meu peito com força suficiente para deixar uma marca vermelha. — Você não me diz nada.

Fechei a boca com força.

Suas narinas inflaram quando ela fez o mesmo.

Ficamos ali em um impasse silencioso. Se ela estava esperando que eu falasse, tinha que saber que eu não falaria, não poderia.

Finalmente, sua respiração fumegante diminuiu. Seu olhar furioso gelou.

— Você está certo. O que estou fazendo aqui? Isso nem importa. Eu estava errada sobre a lei.

— O quê? Diga isso de novo.

— A lei. Eu estava errada. Montana não tem privilégios de depoimento como eu presumi, o que significa que esse casamento estava condenado desde o início.

Minha cabeça estava girando. Ela estava dizendo que não precisávamos nos casar? Que isso não iria nos proteger? Quanto tempo ela sabia?

Por que ela ficou?

— Devagar, eu...

— Então você está certo. — Genevieve bufou. — Nós somos estranhos. Eu lhe chamo de marido. Você me chama de esposa. Mas somos estranhos. Inferno, você até estremece quando eu o beijo.

Esta mulher não fazia sentido. Eu não estremeço quando a beijo.

— Do que você está falando?

— Eu estou falando sobre isso. — Ela pegou meu rosto em suas mãos, me puxando para baixo para um beijo.

A suavidade de seus lábios, seu gosto sutil, eu fiquei tenso.

Eu sempre ficava tenso.

Era a única maneira de me segurar.

Ela me soltou e apontou para o meu rosto.

— Aí. Isto. Parece que você está angustiado porque eu o beijei. E sabe de uma coisa? Eu o odeio por isso. Eu o odeio por isso. Porque estou ansiosa por cada um daqueles beijos de mentira, mesmo que você pareça...

Eu esmaguei seus lábios nos meus. Passei meus braços pelas suas costas e a puxei para o meu peito. Passei a língua pelo lábio inferior. Eu gemi em sua boca quando ela me deixou mergulhar dentro para provar. Eu a beijei do jeito que eu queria beijá-la por meses.

Genevieve tinha o poder de me destruir completamente. Minha vida estaria em ruínas quando ela fosse embora. Este beijo não mudaria o futuro.

Afastei esses pensamentos.

E beijei minha esposa.


Capítulo Dezessete

Genevieve


Isaiah me beijou. Ele estava me beijando.

E caramba, ele tinha um gosto bom.

Inclinei-me para o beijo, bebendo-o. Estremeci quando suas mãos ásperas percorreram minhas curvas. Eu relaxei no aperto de seus braços fortes.

A qualquer momento ele me afastaria. Ele se retirava para trás daquelas paredes altíssimas e qualquer chance que eu tivesse de ultrapassá-las evaporaria no ar. Então eu saboreei seu beijo, cada lambida molhada, cada mordida, rezando para que continuasse por apenas mais um minuto.

Isaiah soltou um gemido que zumbiu na minha boca e no meu centro. Minhas mãos estavam entre nós, meus dedos espalhados sobre sua camiseta, pressionando firme no músculo quente e tenso abaixo. Arrisquei um movimento e deixei minhas mãos descerem. Seus abdominais eram realmente tão duros quanto pareciam.

Seus lábios se separaram dos meus e meus olhos se abriram. Eu esperava ver horror ou nojo. Em vez disso, seu olhar era pura luxúria. As cores escureceram, o anel externo de chocolate penetrando nos redemoinhos verdes e dourados quando Isaiah emoldurou meu rosto.

Prendi a respiração.

Ele me beijaria? Ele me mandaria ir embora?

Eu não estava pronta para esse casamento, casamento falso, terminar.

— O que eu faço? — Ele sussurrou.

— Beije-me, — sussurrei de volta.

Ele abaixou a cabeça, inclinando a minha exatamente onde ele queria. O primeiro beijo foi uma libertação. Um teste. Mas o que veio a seguir foi tão cheio de calor e poder que me deixou tonta.

A língua de Isaiah deslizou entre meus lábios, acariciando a minha em golpes longos e lânguidos. Ele moveu os quadris para frente, deixando-me sentir a excitação atrás do zíper.

Eu gemia, meus joelhos enfraquecendo. Estávamos nos movendo lentamente, como se estivéssemos balançando até perceber que Isaiah havia nos levado para a cama.

Meu coração disparou até parar completamente.

Era para onde estávamos indo? Sexo? Meu núcleo apertou. Eu queria Isaiah mais do que eu já quis um homem na minha vida, mas isso era inteligente? Estávamos brigando minutos atrás. Ele me pediu para ir embora.

Seus dedos caíram do meu rosto e desceram pelo meu pescoço. Eles pressionaram minha pele, marcando-me com seu toque enquanto deslizavam mais baixo. Em uma mão, ele segurou meu seio através do suéter, enchendo a palma.

Minha respiração engatou. Minha cabeça balançou e eu arqueei em seu aperto. Não pense. Eu desliguei meu cérebro, o bom senso e a preocupação. Eu não pensaria demais nisso e sabotaria a única coisa boa que senti em meses.

Isaiah estava me beijando. Não tínhamos plateia. Não tínhamos motivo oculto. Esse beijo era meu.

E ele também estava participando no momento.

Peguei a barra da sua camiseta, levantando-a acima do umbigo para sentir sua pele quente por baixo. O toque fez com que os músculos de Isaiah se enrijecessem ainda mais, mas não era um estremecimento. Isso era tensão pelo toque de um amante. Era antecipação por que eu deslizaria meus dedos na cintura de seu jeans. No momento em que minhas unhas arranharam a linha de pelos abaixo do umbigo, nosso beijo assumiu uma intensidade totalmente nova, sua língua saqueando em vez de explorar. Nossas bocas se fundiram.

Eu fui para o botão em seu jeans, precisando das duas mãos para abri-lo. Isaiah usou a outra mão para espalhar minha bunda.

— Genevieve, — Isaiah advertiu, rompendo o nosso beijo.

Não.

Eu desanimei, meu espirito caiu. Eu fui longe demais. Eu tinha pressionado muito rápido.

— Eu quero, — eu soltei. Meus olhos imploraram pelos dele. — Uma vez. Só uma vez.

Isaiah estudou meu rosto, um vinco se formando entre as sobrancelhas. Então, depois do que pareceram horas, ele assentiu.

Eu fiquei na ponta dos pés, esmagando minha boca contra a dele. Minhas mãos roçaram seus cabelos curtos por um breve momento antes de me mover em um frenesi para puxar sua camiseta. Com a camiseta levantada, puxei o zíper em seu jeans. Ele me encontrou passo a passo, até que meu suéter foi tirado da minha cabeça e a renda preta do meu sutiã esfregou contra sua pele.

Ele alcançou atrás da cabeça e arrancou a camiseta antes de voltar para mim, segurando um seio enquanto a outra mão ia para o zíper lateral da minha calça. Ela caiu em uma poça aos meus pés descalços.

Então eu me levantei e me movi, meus lábios se afastaram dos de Isaiah quando ele me puxou pelas minhas coxas.

Meu centro estava pressionado contra sua ereção, a dor maçante se tornando um pulsar que não podia ser ignorado. Coloquei meus braços em volta de seus ombros, segurando-o enquanto ele me deitava na cama, seu nariz correndo ao longo do meu pescoço enquanto ele respirava fundo meu cheiro.

Então sua língua voltou ao trabalho, lambendo como se minha pele fosse feita de sorvete derretido. As mãos de Isaiah foram para seus jeans, empurrando-os sobre seus quadris. Olhei para baixo e vi aquelas cuecas boxer pretas que eu adorava. Elas continham sua protuberância, mas apenas por pouco.

Ele se levantou de mim, pegou uma das minhas mãos e me puxou sentada. Então apertou o fecho central no meu sutiã, substituindo a renda pelas mãos.

— Oh, Deus, — eu gemi, minha cabeça caindo no momento em que ele tinha beliscados meus mamilos entre aqueles dedos calejados. Eu me contorci e levantei meus quadris, desesperada por sentir seu pau grosso pressionado contra minha calcinha.

Ele nos colocou mais no centro da cama, acomodando seu peso entre os meus quadris e forçando minhas coxas a se separarem. Meu sutiã estava esticado atrás de mim, de um cotovelo ao outro. Meus joelhos estavam para cima e dobrados, minhas pernas abertas. Era uma posição arbitrária, sem restrições. Fechei os olhos e ofereci meu corpo para ele.

Isaiah traçou uma linha longa e fria com a ponta da língua pela minha clavícula e através do vale dos meus seios. Então ele se afastou, me deixando com frio e sem fôlego. A cama tremeu quando ele se retirou.

Meus olhos permaneceram fechados. Minha respiração ficou ofegante. Ele voltaria? Se ele desistisse de mim agora, eu teria que fugir deste apartamento. A mortificação exigiria que eu desaparecesse para sempre.

Seu joelho bateu na cama e um grito de alívio quase escapou dos meus lábios. Eu ousei abrir meus olhos. Eles se arregalaram quando vi um Isaiah gostoso e muito nu vindo em minha direção.

Bom Deus, ele era lindo. Ele estava com a pele toda coberta de músculos tensos e protuberantes. Uma obra de arte e beleza.

Isaiah olhava no espelho e via apenas pedaços eternamente quebrados, mas talvez meus pedaços se encaixassem nos dele. Juntos, talvez fizéssemos um todo.

Minhas mãos foram para minha calcinha, empurrando-a para baixo quando meus quadris levantaram da cama. Os olhos de Isaiah estavam colados na minha boceta enquanto eu me exibia, chutando a renda preta no chão e retirando as alças do meu sutiã.

Ele engoliu em seco, afastando os olhos para encontrar o meu olhar.

— Porra, eu não mereço você.

— Foda-me de qualquer maneira.

Nós éramos um borrão quando ele capturou minha boca em outro beijo abrasador. Eu estava tonta e tremendo quando ele se posicionou na minha entrada e nos tornou um.

Eu ofeguei com a conexão. Eu estava quase cheia demais, a emoção era demais. Sexo nunca foi assim, ameaçando me consumir inteira. Eu me inclinei também, pegando o rosto de Isaiah em minhas mãos para beijá-lo novamente quando ele começou a se mover em movimentos profundos e lentos.

A construção do meu orgasmo foi como uma tempestade torrencial, as nuvens subindo, os relâmpagos, até que não houvesse escolha a não ser saborear a chuva.

— Isaiah, — eu gemi quando meu orgasmo rompeu.

Ele gemeu meu nome, colocando a cabeça nos meus cabelos enquanto seu corpo tremia contra o meu. Um brilho de suor nos cobriu quando ele derramou sua liberação dentro de mim. E então ele desabou, caindo para me dar seu peso enquanto nós dois cavalgávamos pelos tremores secundários.

Eu me agarrei a ele. Ele se agarrou a mim. Seus braços deslizaram sob as minhas costas, me envolvendo com força.

Nós dois precisávamos dessa conexão por muito tempo.

— Nós não usamos camisinha. — Ele suspirou, deslizando para fora. Ele caiu no espaço vazio ao meu lado, olhando para o teto. Estava frio sem o seu corpo no meu. — Maldição. Desculpe. Eu nem tenho um preservativo.

— Estou tomando pílula. E estou limpa. Não estive com ninguém há muito, muito tempo.

— Nem eu.

E Shannon? Agora não era hora de pensar nela. Não aqui nesta cama. Não quando por alguns minutos, ele foi meu.

Eu rolei da cama e fui para o banheiro com as pernas bambas para me limpar. Eu esperava encontrar Isaiah no sofá quando eu voltasse, aquelas paredes voltando ao lugar. Quando saí nua, meus passos vacilaram ao vê-lo na cama, debaixo das cobertas.

A coberta do meu lado estava aberta me esperando.

— Não estou pronto para que acabe. — Ele me lançou um olhar ansioso. — Ainda não.

Nem eu. Eu sorri e caminhei até a cama para me arrastar ao seu lado.

Nós nos enrolamos juntos. Minha cabeça descansou em seu peito. Sua mão se fechou sobre a minha em seu abdômen. Nossas pernas entrelaçadas.

As peças se encaixaram.

— Oi. — Meu rosto ficou vermelho quando saí do banheiro na manhã seguinte.

— Ei. — Isaiah virou-se do assento à mesa que separava a cozinha e o sofá. Havia apenas duas cadeiras e a mesa mal continha uma pizza grande. Mas estamos compartilhando refeições lá há meses.

Ele se vestiu enquanto eu estava no chuveiro. Ele usava um jeans desbotado e uma camiseta preta normal. Os seus pés estavam descalços.

Caminhei através do apartamento, desejando que pudéssemos ter ficado na bolha de ontem. Ficamos na cama a noite toda, alternando entre sexo e sono, até que eu caí em um sono sem sonhos. Quando a luz da manhã atravessou as janelas, a realidade voltou. Eu acordei e encontrei Isaiah no sofá. Ele se mudou em algum momento da noite.

— Então... — Essa foi a manhã mais embaraçosa da minha vida. Pior que na primeira manhã em que ele ficou aqui depois que nos casamos. — Devemos conversar?

Ele suspirou, apontando para sua xícara de café.

Café. Café seria bom.

Fui até a cafeteira, me ocupando enchendo uma xícara e depois misturando um pouco de creme, usando as tarefas domésticas para evitar o contato visual direto.

Por que eu pedi para conversarmos? Eu não queria conversar. Eu queria fugir deste apartamento e ir trabalhar, onde poderia me perder na papelada e na pesquisa, onde tentaria não pensar em sexo com Isaiah.

Sexo alucinante e destruidor de casamentos.

Merda. Eu era estúpida.

A única coisa com que eu pude contar nesses últimos meses era Isaiah. Ele era minha nova constante, mesmo com seu comportamento quente e frio. Ele poderia estar sombrio e mal-humorado, mas ele estava sempre lá. A sua amizade era o relacionamento mais importante da minha vida.

Depois da noite passada, eu poderia dar um beijo de despedida em tudo isso. Mas a conversa não podia ser evitada. E antes de conversarmos sobre sexo, tínhamos que abordar tudo o que havia acontecido antes.

— Você realmente quer terminar nosso casamento? — Eu perguntei, vendo minha colher girar no líquido dentro da minha xícara.

— Sim.

Não chore. Eu não ia chorar. Ainda. Eu esperaria até estar na segurança do banheiro no escritório.

No começo, eu estava tão focada em deixar Clifton Forge, que não havia notado como isso havia se infiltrado em mim. Mas estava em casa. Este apartamento era meu santuário. Adorava o meu trabalho e ainda não estava pronta para desistir. Os encontros de café com Bryce e os cafés da manhã de domingo com Draven haviam preenchido um buraco no meu coração.

E no centro de tudo estava Isaiah.

— Por quê? — Eu sussurrei. Ele estava infeliz aqui?

— Para o seu bem.

Eu peguei aqueles olhos atormentados e meu coração apertou. O sexo tinha piorado tudo? Eu não entendo.

— Por que você se vê como um monstro?

— Porque eu sou.

— Você não é. Você acha que eu teria ficado quando não precisava, se pensasse que você era um ser humano terrível?

Eu fiquei porque havia muitas coisas boas nele, mesmo que ele não percebesse.

— Isaiah, eu fiquei por você.

— Você não deveria ter ficado. — O seu pomo de Adão balançou. — Eu matei Shannon.

— Mas foi um acidente. — Certo? Eles os chamavam de acidentes por um motivo, porque nenhuma pessoa era culpada.

— Você só ouviu um pedaço da história da mamãe.

— Então me conte a história toda. Por favor? — Eu implorei.

Isaiah se levantou e esfregou a parte de trás do pescoço enquanto passeava pelo espaço aberto em frente ao sofá.

— Eu não gosto de falar sobre isso.

— Ou você me conta, ou eu fico imaginando. Venho imaginando há meses. Você realmente acha que a verdade é pior do que qualquer coisa que eu imaginei?

Ele foi para o sofá, sentando na beira.

— Shannon era minha melhor amiga. Eu a conheci depois que ela apareceu na porta de Kaine uma manhã e disse que estava grávida.

Eu estremeci, o café deslizando sobre a borda da minha caneca.

— Kaine?

Ele assentiu.

— Eles se conheceram em um bar. Ficaram juntos. Seguiram caminhos diferentes. Ela voltou quando descobriu que estava grávida.

— Oh. — Não era o bebê de Isaiah.

— Ela foi morar com Kaine, mas eles não estavam juntos. Mas Kaine não aceitaria de outra maneira. Ele não queria perder nada da gravidez. Eles namoraram por um tempo. Ele até pediu Shannon em casamento, mas eles não se amavam, não assim. Ela recusou.

Meu coração estava na minha garganta enquanto ele falava. Sua voz estava cheia de tanta dor e arrependimento, que dificultava a respiração.

— Eles não funcionavam como casal, eram mais como colegas de quarto, as coisas eram muito boas. A empolgação pelo bebê abafou todo o resto. Mamãe estava eufórica. Eu estava ansioso para me tornar tio. E Shannon, ela teria sido uma boa mãe. A melhor. Não importa para onde ela fosse, ela tinha um livro de gravidez na bolsa. Eu acho que ela quase tinha memorizado o livro quando ela... Morreu.

— Como?

— Eu a matei.

Ele continuou dizendo isso, mas não fazia sentido. Ele não era um assassino. Ele era um protetor. Um bom homem com o coração partido.

— Como? — Eu precisava de detalhes para poder provar que ele estava errado.

— Ela estava lá o tempo todo. Na casa de Kaine. E ele era meu irmão. O meu melhor amigo. Então eu também passei muito tempo na casa dele.

— Você se apaixonou por ela?

Ele olhou fixamente para o outro lado do apartamento.

— Ela sorria o tempo todo. E ela me amava. Ela me escolheu, não ao Kaine. Muitas pessoas não fizeram isso.

— Kaine sabia?

Isaiah balançou a cabeça.

— Não. Não queríamos contar a ele até que fosse a hora certa. Ele estava tão focado no bebê, construindo um berço e ajudando a escolher nomes, que não queríamos tirar isso dele. Era o seu bebê, não meu.

Coloquei a mão sobre meu coração dolorido. Quão difícil isso foi para ele? Ver o filho de seu irmão crescer dentro da mulher que amava?

— Quando ela estava grávida de oito meses, ela me disse que queria se mudar. Que ela queria que encontrássemos um lugar para morarmos juntos. Eu ainda estava nervoso por contar a Kaine, mas Shannon tinha tanta fé que ficaria tudo bem. “Nossa linda família incomum”. Era assim que ela nos chamava.

Seus olhos estavam vidrados. Uma lágrima escorreu por sua bochecha e ele a enxugou.

— Eu não queria apenas morar juntos. Eu queria casar com ela, então a levei para jantar uma noite. Abaixei-me sobre um joelho e propus. O restaurante aplaudiu. Shannon chorou.

Meu coração trovejou. Minha garganta queimou com a imagem da cena em minha mente.

Aposto que ele riu. Aposto que ele sorriu. Era estranho pensar nele feliz e apaixonado, algo que eu não tinha visto com meus próprios olhos, mas eu podia imaginar isso tão claramente quanto o vi curvado no sofá.

Ele não era mais aquele homem.

A versão de Shannon de Isaiah havia morrido com ela.

— Tomei três cervejas para comemorar quando deveria ter parado em duas. Não estava bêbado, mas não deveria ter tomado a última cerveja. No caminho para casa, eu estava brincando com ela sobre como teria que redimensionar o seu anel depois do bebê, porque os nós dos dedos estavam muito inchados. Eles não estavam. Nós estávamos rindo. Eu tinha uma mão no volante e me inclinei porque queria beijá-la. Não conseguimos nos beijar muito porque estávamos muito preocupados que Kaine descobrisse.

Fechei os olhos, me preparando para o resto. Eu não precisava que ele continuasse. O resto era fácil de presumir quase com certeza. Mas Isaiah continuou falando, a história não mais para mim, mas para si mesmo.

Ele contou a alguém desde o acidente? Um colega de cela na prisão? Ou ele segurou para si todo esse tempo?

— Eu passei por uma placa de pare, estava a quarenta em um local de vinte e cinco por hora e fui atingido por um caminhão que passava a trinta por hora. Foi o que o relatório policial disse. Tudo o que sei é que parecia que fomos atropelados por um trem. Eu fui nocauteado. O caminhão nos empurrou pelo cruzamento. Quando eu me acordei, Shannon estava...

Morta.

Ela morreu. E o bebê também.

Uma lágrima deslizou pela minha bochecha, caindo no chão ao meu pé.

Tudo faz sentido agora. Por que ele ficou tão aliviado ao ver Kaine feliz. Por que ele não bebia. Por que ele agia tão tenso e infeliz quando estava no carro comigo.

Esse acidente alterou toda sua vida.

Coloquei meu café de lado e fui para o sofá. Isaiah manteve o olhar para a frente, mesmo quando eu coloquei minha mão em sua coxa.

— Foi um acidente.

— Não, eu os matei.

— Não, foi um acidente, — eu repeti. — Eu sei a diferença. Você matou o homem na cabana.

Ele se virou para mim, a tristeza desaparecendo em confusão.

— Hã?

— Você o estrangulou até a morte. Você o matou.

Ele piscou.

— Sim. E daí?

— E daí? Você o amava? Aquele homem?

— Não.

— Você se sente culpado por matá-lo?

Sua mandíbula ficou tensa.

— Não.

— Se você precisar reivindicar um assassinato, reivindique esse assassinato. Mas não coloque a vida de Shannon em suas mãos. Foi um acidente. E pelo que posso dizer, a única pessoa que culpa você é você mesmo.

Ele estudou meu rosto, sua expressão em branco. Ele passou muitos anos pensando que matou Shannon. Que ele matou o bebê de Kaine. Ele passou muitos dias e noites se culpando. Provavelmente não era a primeira pessoa a tentar convencê-lo de que foi um acidente.

Eu não seria a primeira pessoa a falhar.

Até que Isaiah decidisse se perdoar, ele nunca estaria livre para seguir em frente com a morte de Shannon.

— Obrigada por me dizer.

Ele olhou para frente, balançando a cabeça.

— Agora você consegue entender.

— Entender o quê?

— Por que você precisa ir. Porque eu não mereço ter você aqui. Não depois do que eu fiz. Eu não tenho nada para lhe dar.

Errado de novo. Ele tinha muito amor para dar. Podia não aparecer na superfície, mas estava lá, espreitando quando ele olhava para o irmão. Ou abraçava sua mãe. Ou brincava com seus sobrinhos. Isaiah estava me empurrando para fora da porta porque estava com medo da conexão entre nós.

— Não vou embora. Tomei essa decisão meses atrás e não vou mudar de ideia agora.

Os seus ombros caíram.

— Genevieve, por favor.

— Não. Conhecer toda a história não muda nada. Assim como ontem à noite, estarmos juntos, não muda nada.

Outra mentira.

Ontem à noite, ele baixou a guarda.

Ontem à noite, eu adormeci em seus braços.

E ontem à noite, eu parei de fingir que não estava apaixonada por meu marido.


Capítulo Dezoito

Isaiah


— É esse? — Eu segurei um colar que encontrei no fundo de uma caixa organizadora.

Genevieve ergueu os olhos da caixa que ela estava procurando e franziu o cenho.

— Não. Também não está nesta caixa.

— Droga. Desculpe, V. — Coloquei o colar de volta onde o encontrei.

— Eu odeio que Dash possa estar certo sobre isso. — Ela colocou a tampa da caixa. — Odeio não ter pensado nisso.

— Eu sei. Mas você se sentirá melhor se fizermos uma pausa.

— Acho que sim. — Ela suspirou. — É melhor irmos, ou vamos nos atrasar.

Eu balancei a cabeça, fechando a caixa para levantar e pegar meu casaco. Coloquei meu casaco e ajudei Genevieve a colocar o dela. Pegamos chapéus, luvas e cachecóis e saímos.

Estava escuro como breu. As estrelas e a lua estavam escondidas pelas nuvens que surgiram esta manhã. A previsão seria uma neve leve, adequada já que estávamos indo para o passeio de Natal de Clifton Forge no centro da cidade.

Genevieve segurou o corrimão enquanto descíamos as escadas escorregadias.

— Eu gostaria de lembrar se eu guardei esse colar na casa da mamãe. Talvez ela tenha perdido. Ou talvez eu tenha perdido. Talvez esteja com todas as minhas coisas no armazém.

— Você coloca tudo nessas caixas organizadoras?

— Sim. — Ela assentiu. — Todo o resto eu deixei na casa dela para vender mobilado.

— Lee pode ter pego.

— Bastardo, — ela murmurou. — Gostava desse colar e não quero pensar nele o tocando. Foi o que eu usei no meu baile de formatura. Tinha uma delicada corrente de ouro e um pequeno pingente da Estrela do Norte com um cristal branco no centro. Provavelmente custou dez dólares, mas ela o mantinha. Pelo menos eu tenho os que ela usava com mais frequência.

Passamos a maior parte da tarde examinando essas caixas, como prometemos a Dash e Bryce no início da semana. No minuto em que puxamos as caixas, Genevieve começou a catalogar joias. Fiquei feliz que ela tivesse a tarefa, algo concreto para focar, para que vasculhar as coisas de sua mãe não a deixasse tão triste.

Funcionou. Nenhuma vez eu a peguei com lágrimas nos olhos. Em vez disso, ela segurou o rosto em absoluta concentração, inspecionando tudo o que tocava. Ela procurou por todos os livros, todos os envelopes, todos os itens. O colar foi a única coisa que ela não conseguia encontrar. E não havia sinal do namorado de Amina, Lee. Nada que ele possa ter deixado para trás.

Chegamos ao último degrau e ela soltou meu braço para caminhar até o lado do motorista do carro.

— Você tem certeza disso?

Eu respirei fundo.

— Sim.

— Eu não me importo se você quiser dirigir separadamente.

— Eu vou ficar bem. — Abri a porta e entrei. Andar de carona era melhor do que levá-la por aí.

Ela entrou e me deu um sorriso tranquilizador.

O carro estava quente e funcionando. Eu saí dez minutos atrás para raspar o gelo do para-brisa e ligar o aquecedor. Quando ela se afastou da garagem, segurei minhas coxas e olhei pela janela. Eu esperei pela ansiedade.

Um bloco passou, depois dois. Minha frequência cardíaca estava normal. Minhas mãos não estavam suando. Eu não estava pronto para me lançar para fora do veículo em movimento. Que diabos?

Eu olhei para o perfil de Genevieve. Eu não tinha tido o pesadelo dela morrendo em um acidente de carro há dois dias. Não era exatamente uma façanha, mas considerando que eu tinha quase todas as noites desde que ela esteve doente em novembro, o intervalo era bem-vindo. E agora eu não estava em pânico por estar em um carro com ela. Algo estava errado, mas eu não iria me queixar.

— O quê? — Ela perguntou. — Eu tenho algo no meu rosto?

— Não.

Ela se esticou para ver seu rosto no retrovisor de qualquer maneira.

Eu olhei para frente, respirando novamente. Esperando por esse sentimento. Mas foi... Menos. Não desapareceu. Eu sabia muito bem que estávamos juntos em um carro. Isso não era relaxante, mas eu não estava em um pânico paralisante.

Talvez tenha sido o sexo. Talvez me masturbar no chuveiro durante anos não tenha sido suficiente para aliviar o estresse. Ou talvez os últimos dois dias de paz tenham sido por causa de Genevieve. Porque eu finalmente confessei tudo.

Seja qual for o motivo, um peso saiu dos meus ombros. Havia uma leveza no apartamento também, como se não estivéssemos caminhando na ponta dos pés. Pela primeira vez em muito tempo, eu conseguia respirar.

— Brrr. — Genevieve estremeceu. — Espero que não congelemos esta noite.

— Eu vou... — mantê-la aquecida. Engoli as palavras, cobrindo com: — Nós vamos ficar bem.

Merda. Eu estava perto de fazer esses tipos de deslizes por dois dias.

Nós não tínhamos feito sexo desde aquela primeira noite. Eu dormia no sofá. Ela na cama. Não evitamos nos tocar, mas também não nos tocamos mais do que fazíamos antes. Ela seguraria meu braço quando subíamos as escadas escorregadias. Encostávamos quando passávamos um pelo outro na cozinha.

Eu tinha medo de fazer muito mais por medo de me deixar levar. Mas, porra, eu queria tocá-la. Eu queria estar dentro dela novamente.

Não haveria como evitar o toque hoje à noite. Estávamos encontrando Dash e Bryce no passeio. Emmett e Leo também estariam lá. Estaríamos interpretando o casal feliz e amoroso, embora não parecesse mais tanto uma mentira.

Presley estava planejando ir com o noivo, Jeremiah. Em todos os meses em que trabalhei na oficina, nunca conheci o cara. Pela maneira como Dash, Emmett e Leo falavam sobre Jeremiah, ele não era muito querido, e eu queria ver por mim mesmo como ele tratava Pres.

Tive a impressão de que Jeremiah a estava enganando. Ele pediu que ela se casasse com ele, mas estava enrolando sobre o casamento real. Eu não queria fazer um julgamento com base em resmungos e rumores, mas meu instinto dizia que se um cara nunca ia ver sua noiva no trabalho, algo estava acontecendo.

Inferno, Genevieve e eu estávamos fingindo, e eu a deixava e buscava todos os dias no trabalho. Claro, isso era para sua própria segurança, mas ninguém poderia dizer que eu não estava apegado à minha esposa.

E caramba, eu já estava apegado.

— Eu não quero que você vá, — eu soltei. Filho da puta. De todos os deslizes para finalmente escapar, tinha que ser esse.

— Ir aonde? Aqui? — Ela apontou para o estacionamento do supermercado, onde estava prestes a estacionar. Era onde a maioria das pessoas deixava seus carros para passear, já que a Central seria bloqueada. — Onde devo estacionar?

— Não. Estacione aqui. — Eu a apontei para o local. — Eu quis dizer, eu não quero que você vá embora.

— Oh. — Ela me deu um pequeno sorriso enquanto estacionava o carro. — Ótimo. Eu não iria de qualquer maneira.

Eu sorri. Minha esposa teimosa.

Não havíamos conversado sobre a discussão novamente. Nós não tínhamos conversado sobre o acidente. Eu também não queria falar sobre isso. Talvez pudéssemos simplesmente deixá-lo como resolvido.

Genevieve enrolou um cachecol no pescoço e certificou-se de que as pontas das luvas estavam enfiadas nas mangas do casaco. Ela puxou o gorro que cobria seu cabelo mais para baixo sobre as orelhas.

Fechei o zíper do meu casaco até o pescoço e saí, encontrando-a na frente do carro.

— Sim, vai estar frio para caralho hoje à noite.

Ela riu.

— Precisamos de chocolate quente. Imediatamente.

Sua risada me cativou e afugentou o frio. Peguei sua mão enluvada na minha. O seu nariz já estava vermelho de frio. Ela sorriu, um sorriso cheio de dentes brancos e brilhantes.

Eu quase caí sentado. Não havia piedade em seu olhar, apenas carinho. Ela olhou para mim como se eu nunca tivesse contado a ela sobre Shannon. Como se aqueles anos na prisão nunca tivessem acontecido.

Genevieve olhou para mim e viu o homem que eu já fui. O homem que ria com facilidade. O homem que não apreciara sua liberdade. O homem que precisava de uma mulher como Genevieve para endireitá-lo, embora, aparentemente, eu ainda fosse aquele homem.

Eu não a mereço.

— Pronto? — Ela perguntou.

Eu consegui acenar com a cabeça enquanto ela me puxava.

Quando nos aproximamos da Central, ela vibrou de emoção. Seu aperto estava firme na minha mão enquanto ela me incentivava a andar mais rápido.

Acima de nós, grandes guirlandas fluíam de um lado da rua para o outro. Cinco delas criaram uma cobertura que se estendia por blocos. Os negócios e as lojas da Central estavam abertos até tarde, alguns servindo cidra quente e outros distribuindo chocolate. Grupos amontoados. Mães e pais seguravam crianças eufóricas na fila do Papai Noel para fotos.

— Uau. — Genevieve ergueu o olhar para ver as luzes envoltas em postes de luz. — Isso valeu a pena.

— Valeu o quê? O frio?

— Não. — Ela me deu aquele sorriso novamente. — Valeu a pena mudar para aqui. Talvez Clifton Forge não seja tão ruim.

Antes que eu pudesse responder, a atenção de Genevieve mudou e seu sorriso ficou impossivelmente maior. Ela acenou para Bryce e Dash, que estavam vindo em nossa direção

— Ei, pessoal, — disse Genevieve, não soltando minha mão para abraçar Bryce.

Apertei a mão de Dash.

— Como está indo?

— Bem. Melhor se Bryce parar de me pedir para tirar uma foto com o Papai Noel.

— Oh, pare. — Ela revirou os olhos. — Um dos caras do jornal, Art, é o Papai Noel. Prometi que iria passar por aqui e não vou ficar nessa fila e não tirar minha foto.

— Ou você pode vê-lo no jornal amanhã, — disse Dash. — Pule a fila completamente.

Bryce o ignorou.

— Vocês querem uma também? Todo o dinheiro é destinado à caridade.

Genevieve colocou minha mão entre as dela.

— Nós podemos?

— Por mim tudo bem.

Depois de analisar as coisas de Amina hoje, fiquei perplexo com o grande número de fotos que ela havia tirado. As caixas estavam cheias de fotos, a maioria com elásticos em pilhas apertadas. Talvez fosse coisa de mãe, querer fotos do seu filho.

Durante todo o tempo em que ela morou aqui, eu não conseguia me lembrar de Genevieve tirando uma foto.

Ela não postou selfies nas mídias sociais. Ela não tirou fotos de nada na cidade. Eu não me importaria de ter uma foto nossa juntos, algo para lembrar dela durante anos quando ela fosse embora.

Com quem ela iria acabar? Genevieve merecia um bom homem, mas eu mal podia suportar o pensamento dela nos braços de outro homem.

Eu sufoquei o ciúme, segurando sua mão com mais força enquanto passávamos pela multidão, seguindo Bryce e Dash enquanto eles lideravam o caminho.

Dash parecia conhecer todo mundo hoje à noite. Ele acenava ou acenava com o queixo para aqueles que encontrávamos. Ele acenava com a cabeça e apresentava Bryce às pessoas que paravam, mas para sua irmã, ele mal poupou um olhar.

Mordi minha língua enquanto seguíamos em direção à fila do Papai Noel, sabendo que se eu dissesse alguma coisa, arruinaria a noite para nossas esposas.

A única vez que Dash parou para ter uma conversa real foi quando um homem mais velho, com uma barriga saliente, o puxou para um breve abraço de tapinhas nas costas.

— Você já sabe de alguma coisa? — O homem perguntou.

Dash balançou a cabeça.

— Não. Nada.

— Maldição. — O cara chutou a neve com uma pesada bota preta. — Você me liga se precisar de alguma coisa.

— Ligarei, Louie. Obrigado. — Dash deu um tapa nas costas dele mais uma vez, depois assentiu para continuarmos andando.

Quando estávamos a alguns passos de distância, Bryce olhou para trás.

— É o mesmo Big Louie que costumava estar no clube?

— Sim. Ele era um Gypsie.

Inclinei-me para sussurrar no ouvido de Genevieve.

— Você o verificou?

— Sim, — ela sussurrou de volta.

— Vou ter que examinar seu caderno e me atualizar.

— Eu também, — disse Bryce, juntando-se à nossa conversa.

Ela riu.

— Com certeza.

— Louie comprou o boliche na cidade há um tempo, — Dash nos disse. — Ele não vem à oficina frequentemente, mas mantém contato com o papai.

Ocupamos nosso lugar no final da fila do Papai Noel. As crianças corriam entre as pernas dos pais enquanto brincavam. O cheiro de uma fogueira enchia o ar de onde eles haviam instalado uma estação de assar marshmallow.

— Vocês querem um pouco de chocolate quente? — Perguntei a Genevieve e Bryce, recebendo dois acenos. Dash ficou com elas enquanto eu pegava quatro xícaras de uma banca do outro lado da rua. Eu estava entregando a Genevieve o dela quando um arrepio correu pela minha espinha.

Meus ombros ficaram tensos e eu me virei para olhar para trás. Passei três anos na prisão aprendendo como era ser observado. Alguém estava me encarando, mas quem?

Eu examinei a multidão. Nada parecia estranho. As pessoas estavam se divertindo, rindo e conversando. A rua estava cheia de pessoas e nenhuma parecia se importar comigo.

Eu me aproximei de Genevieve enquanto ela falava com Bryce.

Os pelos em meus braços ainda estavam levantados, meu instinto gritando, e quando olhei para Dash, seus olhos estavam examinando a multidão. Ele sentiu isso também.

Dash passou o braço em volta de Bryce, abraçando-a.

Fiz o mesmo com Genevieve, colocando-a ao meu lado.

— Você está bem? — Ela passou o braço em minha volta, levantando o queixo.

— Sim. Apenas um sentimento estranho. Já passou.

— Dash. — A voz de Emmett carregou a multidão enquanto ele caminhava em nossa direção, Leo apenas alguns passos atrás.

Suas expressões eram geladas e não do frio.

— O quê? — Dash perguntou.

Genevieve ficou tensa enquanto eles se aproximavam para falar, para que ninguém ao nosso redor ouvisse.

— Leo e eu estávamos entrando, — disse Emmett. — Vi um grupo de Warriors.

— Porra. — Dash amaldiçoou primeiro, mas foi apenas uma fração de segundo antes do meu. — Pensei que talvez tivéssemos uma folga e eles desistissem de nós.

— Acho que não, — Leo murmurou.

— O que nós fazemos? — Perguntou Bryce.

— Nada, querida, — respondeu Dash. — Ficamos de olho. Vamos ficar juntos.

O clima leve mudou enquanto estávamos na fila. Nenhum de nós falou. Nós apenas avançamos à medida que nosso lugar na fila progredia.

— Ei pessoal! — Todos nos viramos com a voz feliz de Presley. Seu corte pixie branco estava coberto por um gorro desleixado. O seu sorriso desapareceu quando ela alcançou o nosso grupo. — O que há de errado?

— Warriors.

Presley ficou na ponta dos pés para olhar em volta. Quando seus olhos pousaram em algo atrás de nós, ela congelou.

Três homens vestindo coletes Warriors por cima de seus casacos estavam conversando com um cara magro com um cigarro preso entre dois dedos.

— Que porra Jeremiah está fazendo aqui? — Leo latiu.

Espere, esse era o noivo de Presley? Por que ele estava conversando com os Warriors?

— Esses são os Warriors? — Presley perguntou, seus olhos se arregalando quando ela se virou para Dash. — Eu não sabia. Jeremiah me disse que eram dois caras que ele conheceu jogando pôquer. Eles aparecem algumas vezes.

— Na sua casa? — Emmett perguntou.

Ela assentiu, o rosto empalidecendo.

— Eles não estavam usando esses coletes.

— Maldição. — Dash esfregou a mandíbula. — Então eles não estão sendo discretos. Eles estão aqui esse tempo todo, porra.

— Você conversa com eles? — Leo perguntou a Presley.

Ela encolheu os ombros.

— Às vezes.

— Sobre o quê?

— Nada demais. Eu não sei. Um deles me perguntou onde eu trabalhava. Eles conversaram comigo sobre o casamento. Não foi nada importante. A maioria das vezes eles vinham, ficavam um tempo e então Jeremiah saía com eles.

— Ele sabia que eles eram Warriors? — Emmett perguntou a ela.

Ela fechou os olhos.

— Eu não sei.

Genevieve ficou rígida ao meu lado. Nós fomos tolos por pensar que eles acreditaram em nós. Por mais convincente que fosse, Genevieve havia mentido na cara deles. Ou os Warriors sabiam, ou suspeitavam.

Quando eles descobrissem, eu era um homem morto.

— É a nossa vez. — Bryce cutucou Dash por sua vez nas fotos. Eles sorriram, mas nenhum deles alcançou seus olhos.

Quando chegou a hora de Genevieve e eu subirmos, eu não queria que houvesse tensão em nossos rostos. Essa pode ser a única imagem que nós dois teríamos juntos. Então, pouco antes de tirarmos nossas fotos, peguei o rosto de Genevieve em minhas mãos.

— Esqueça-os.

— Como?

Eu colei meus lábios aos dela, deixando o beijo demorar por um longo momento. Saboreei a sensação suave de seus lábios e o cheiro de seus cabelos.

Quando nos separamos para a nossa foto, ela tinha um brilho rosado nas bochechas e um pequeno sorriso no rosto. Com ou sem fotografia, eu me lembraria desse olhar até ao fim dos meus dias.

Mesmo que esse fim estivesse chegando.

— Eu sou uma estalactite de gelo. — Os dentes de Genevieve bateram enquanto corríamos para o carro.

Os assentos estavam frios por dentro, mas o vento aumentou quando deixamos o passeio e eu estava pronto para ir embora.

Nós ziguezagueamos entre os carros no estacionamento cheio do supermercado. Uma lâmpada no teto lançava um brilho no porta-malas. Genevieve acionou as fechaduras.

Meus passos diminuíram.

— Que porra é essa?

Genevieve ofegou e a sua mão voou para a boca.

— O que foi?

— Dê-me as chaves. — Eu as tirei dela. — Fique aqui.

Ela não escutou. Quando me aproximei do carro, suas mãos agarraram a parte de trás do meu casaco.

Havia um pequeno animal no porta-malas de seu carro. Morto. Um porquinho. Sua garganta foi cortada e seu sangue estava congelado no carro. Não estava lá por muito tempo, porque um pouco ainda pingava na neve.

— Oh meu Deus. — Genevieve se virou, enterrando o rosto no meu peito. — Foram eles? Os Warriors?

Tinha que ser. Quem mais faria isso? Meus olhos estavam colados ao animal quando tirei uma luva e peguei meu telefone do bolso. Eu pressionei o nome de Dash.

— Ei, — ele respondeu. — Eu não posso falar agora. Alguém quebrou a janela da minha caminhonete.

Não alguém, os Warriors. Dash e Bryce não tinham estacionado na loja. Eles estavam em uma rua residencial. Os Warriors estiveram ocupados procurando os dois veículos.

— Alguém nos enviou uma mensagem também.

Enquanto eu contava a ele sobre o porco, Genevieve me abraçava mais apertado.

— Tire uma foto, — Dash ordenou. — Limpe. Então dê o fora daí.

Encerrei a ligação sem mais uma palavra e peguei a mão de Genevieve, puxando-a em direção à loja.

— Vamos lá.

— Onde?

— Pegar alguns sacos de lixo. Limpar e depois voltar para casa.

Ela assentiu, acelerando seus passos para combinar com o meu ritmo. A cor havia sumido de seu rosto.

A loja estava deserta, exceto por um caixa solitário lendo um livro na fila do caixa. Ele nos entregou nossos sacos de lixo e nós corremos para o carro.

— Entre, — eu pedi.

— Eu posso ajudar...

— Entre. Tranque as portas.

Ela não discutiu, indo para o lado do motorista, acionando as fechaduras e se trancando lá dentro. Ela ligou o carro enquanto eu tirava uma foto, depois embrulhava o porco em dois sacos de lixo.

Limpei o máximo de sangue que pude, mas o carro precisaria de uma lavagem. Depois levei os sacos para uma lixeira ao lado do supermercado, ignorando as placas para não entrar.

Com ele descartado, corri para o carro e entrei. Minhas luvas cinza estavam molhadas e manchadas de sangue.

— O que nós vamos fazer? — Ela sussurrou, segurando o volante.

— Nós aguentamos firme. Nós ficamos juntos. — Se os Warriors soubessem a verdade, teriam feito muito mais do que matar um porco. Eles estavam nos intimidando. Eles estavam tentando forçar uma confissão. Tínhamos que permanecer fortes até que não houvesse outra escolha. — Isso é apenas uma tática de medo.

Seus olhos preocupados encontraram os meus.

— Missão cumprida.


Capítulo Dezenove

Genevieve


Era engraçado como o tempo passava em velocidades diferentes. Semanas e meses se passavam rapidamente. Os anos chegavam ao fim e novos surgiam com a inversão da página de um calendário. Mas segundos poderiam durar uma eternidade.

Parecia que Jim entrou no meu escritório com notícias eras atrás. Na realidade, havia apenas um minuto desde que ele me disse que o destino de Draven estava agora nas mãos do júri.

— Acabou?

Ele assentiu da cadeira em frente à minha mesa.

— Acabou. Eu fiz o melhor que pude. Agora vamos esperar pelo júri.

Meus olhos inundaram com lágrimas enquanto eu olhava para o topo da minha mesa.

— Quanto tempo você acha que eles vão deliberar?

— Eu não faço ideia. Quanto mais, melhor.

— E se eles voltarem com culpado? — O que eles provavelmente fariam. — Existe alguma razão para apelar?

— Eu já liguei para um amigo meu que lida com recursos criminais. Ela vai dar uma olhada. Mas, a menos que eu tenha estragado alguma coisa, o que acho que não fiz, não temos nada.

Então, depois que o júri chegasse a sua decisão, Draven iria para a prisão, presumivelmente para o resto de sua vida. Ele seria punido pelo assassinato da minha mãe enquanto ela descansava no cemitério sem justiça.

Eu enxuguei as lágrimas. Toda vez que engolia o nó na garganta, ele se arrastava de volta.

— O que nós vamos fazer?

Jim me deu um sorriso triste.

— Receio que não haja nada para fazer. Você ainda tem um tempinho. Aproveite ao máximo.

Talvez um dia. Talvez uma semana. Mas o tempo para o café da manhã de Domingo com Draven na lanchonete estava acabando. O tempo estava se esgotando para eu conhecer o homem que lentamente se tornara tão importante para mim.

— Você se importaria se eu saísse um pouco mais cedo hoje?

— Claro que não. — Jim ficou de pé. — Aproveite o final de semana.

— Obrigada. E Jim? — Eu o parei antes que ele pudesse sair do meu escritório. — Obrigada por tentar.

Ele assentiu, seus ombros caindo.

— Eu gostaria de poder ter feito mais.

— Você fez tudo o que pôde.

Jim havia trabalhado incansavelmente no caso de Draven, mas as evidências estavam contra ele e era impossível ignorar.

Não havia muito para Jim apresentar. Ele trouxe Emmett para mostrar a gravação do homem invadindo o clube. Ele especulou que a faca foi roubada e trouxe um especialista em impressão digital para discutir como as impressões digitais podem ser falsificadas.

Draven continuou me dizendo como Jim estava fazendo um trabalho incrível e esse elogio me deu um falso senso de esperança.

Todos começamos a ter esperança.

Bryce convidou Isaiah e eu para a sua casa no Natal. Draven estava lá. O juiz teve gripe e o julgamento foi adiado por alguns dias, além de terem fechado no feriado.

Nick e Emmeline vieram de Prescott com as crianças, que haviam roubado o show. Elas abriram a montanha de presentes dispostos para elas, de Draven, Dash e Bryce. Isaiah e eu também tínhamos comprado presentes para eles, um carro de controle remoto para o jovem Draven e um conjunto de brincos para Nora.

Comemos um banquete de peru e costela. E talvez pela primeira vez, eu me senti parte dessa família. Dash não tinha muito a dizer para mim, o que era seu comportamento normal. Mas o carinho e o amor de Bryce compensaram sua indiferença. Nick e Emmeline também. Por que Nick não podia ser o irmão que morava em Clifton Forge?

Conte-me tudo sobre sua vida, irmãzinha.

Ele sentou no sofá ao meu lado e não nos saímos daquele local por uma hora. Ele me encheu de perguntas, como Draven fez durante o café da manhã na lanchonete.

O Natal, como o Dia de Ação de Graças, foi difícil sem a mamãe. Eu tinha acordado e chorado no chuveiro naquela manhã. Mas Isaiah estava lá. Eu me apoiei nele, sua presença constante nunca está longe.

Nenhum de nós falou sobre os Warriors. Nenhum de nós mencionou o sequestro ou o assassinato de mamãe. Não tínhamos conversado sobre o julgamento de Draven.

Porque esperávamos que terminasse a nosso favor.

Falsa esperança.

Para o mundo, Draven era culpado. Era apenas uma questão de tempo até que um júri o oficializasse.

Lágrimas ameaçaram cair novamente enquanto eu recolhia minhas coisas e vestia meu casaco e cachecol. Procurei minhas chaves e telefone no fundo da minha bolsa. Eu busquei o nome de Isaiah, pronto para chamá-lo para me escoltar para casa, mas hesitei. Era quase hora de fechar e ele estava tão ocupado na oficina. Eu odiava incomodá-lo quando tinha certeza de que ele estava tentando terminar o trabalho dia.

Eles estavam trabalhando em um carro novo na oficina, um que Nick havia trazido no Natal.

Nick e Emmeline tinham uma oficina em Prescott chamada Slater's Station. Ao contrário da oficina de Dash aqui, a Slater's Station não era a única oficina em Prescott. As trocas de óleo e os ajustes eram feitos principalmente na outra oficina, o que significava que a de Nick era especializada em trabalhos personalizados. Trabalhos que levavam meses, não horas.

Ele se especializou em restaurar carros e motos, assim como Dash, mas com base nas brincadeiras que foram jogadas em torno da mesa de jantar de Natal, eu percebi que Nick era bom em seu trabalho. Muito bom. Então, enquanto a Clifton Forge Garage precisava de mecânicos como Isaiah para fazer os trabalhos de manutenção mais rotineiros, Nick se especializou em restaurações.

Dash também construíra esse lado de seus negócios, mas com os trabalhos regulares que apareciam diariamente, eles não conseguiam se concentrar apenas nas ‘coisas divertidas’, como Isaiah chamava.

Exceto que Nick estava com excesso de reservas. Dash já tinha uma restauração em andamento, então adicionar uma segunda significou que Isaiah era capaz de ajudar.

Ele voltava para o apartamento todas as noites com um sorriso. Um sorriso que parecia estar aumentando, milímetro por milímetro, a cada dia. Isaiah até começou a rir. Bem, não exatamente rir. Não havia dentes aparecendo. Ele não jogava a cabeça para trás e se soltava. Mas havia um forte e profundo estrondo em seu peito. Quase uma risada.

Ele provavelmente estava assistindo e observando Dash, Emmett e Leo agora, absorvendo tudo o que estavam ensinando a ele.

Eu não queria afastá-lo disso, nem por vinte minutos.

Jim poderia me levar até o estacionamento.

Coloquei minhas luvas e apaguei a luz do meu escritório. Com minha bolsa pendurada no ombro, caminhei pelo corredor.

— Ei, Jim? Você se importaria de me levar até o meu carro?

Provavelmente um pedido estranho de uma funcionária para o seu chefe, mas Jim sabia por que todos estávamos sendo cautelosos. Eu não tinha certeza do quanto Draven havia dito, mas foi o suficiente, pois ele imediatamente abandonou sua cadeira e colocou seu casaco.

Eu não tinha contado a ele sobre o porquinho. Principalmente, eu estava fazendo o meu melhor para bloquear essa imagem da minha mente, porque não havia nada para fazer.

Fomos ameaçados. Mensagem recebida. Estávamos todos em constante atenção.

— Tchau, Gayle. — Acenei para ela quando passei pela recepção.

— Tchau, — disse ela antes de atender o telefone. Ela deu sua saudação normal, depois olhou para Jim quando ele me alcançou na porta. — Oh, oi, Colleen. Deixe-me ver se ele está livre.

Jim levantou a mão.

— Eu volto já.

— Desculpe, — eu disse enquanto corríamos para a porta.

— Não tem problema nenhum. Colleen conversará com Gayle. — Ele me acompanhou até a esquina do prédio. — Vejo você na segunda-feira.

— Tenha um bom fim de semana. — Acenei e corri para o meu carro, olhando por cima do ombro para ver Jim esperando perto do prédio até eu abrir a porta, entrar e trancá-la. Jim virou-se para entrar.

Eu coloquei a chave e estava prestes a girá-la quando uma sombra apareceu na minha janela.

— Ah! — Meu grito foi interrompido quando a porta foi aberta.

Eu não tinha trancado.

Minhas mãos se atrapalharam, puxando com força a maçaneta, mas ele era muito forte. Um momento, eu estava no meu carro, no outro eu estava sendo puxada pelo meu cabelo.

— Nããão.

Ele bateu a mão enluvada na minha boca.

Eu me virei e lutei, tentando me afastar, mas ele tinha um aperto em mim tão assustadoramente familiar que eu não conseguia respirar.

De novo não. Oh, Deus, por favor, não de novo.

Joguei meus cotovelos, agitando-me para me conectar com suas costelas. Eu deixei minhas pernas frouxas, forçando-o a ajustar seu aperto no meu cabelo, esperando que eu deslizasse em seu aperto. Manchas brancas apareceram em minha visão quando ele me puxou pelas raízes.

Lágrimas escorreram por minhas bochechas, como se meu couro cabeludo estivesse se desprendendo do meu crânio. Eu não conseguia puxar ar o suficiente com sua mão sobre a minha boca e minha cabeça ficou confusa.

Mas eu lutei.

Com membros fracos e um coração acelerado, lutei, esperando e rezando para que alguém me visse dessa vez. Eu não estava em um hotel tranquilo depois da meia-noite. Eu estava em plena luz do dia, parada em um estacionamento.

Sacudi minha cabeça o melhor que pude com a mão dele segurando meu cabelo, tentando desesperadamente tirar sua mão da minha boca.

Um bom grito. Era tudo o que eu precisava. Um bom grito e talvez eu o assustasse.

Abri minha boca, pronta para morder sua palma, quando o som de uma voz rompeu o trovão do meu coração batendo.

— Genevieve!

O aperto no meu cabelo desapareceu. Meus joelhos caíram na neve e eu caí para a frente, me segurando com as palmas das mãos logo antes de meu rosto colidir com a estrutura de metal do meu carro.

Respirei fundo, meus pulmões queimando enquanto o oxigênio entrava. Minhas pernas estavam bambas. Meus braços tremiam. Eu não tinha forças para me levantar e sair da neve, mas não precisava.

O braço forte de Isaiah me agarrou pelo cotovelo quando ele me puxou para seus braços.

— Você está bem?

Eu balancei a cabeça, uma torrente de lágrimas escorrendo pelo meu rosto e em seu casaco.

— Não.

— Eu estou com você. — Ele beijou meu cabelo e me segurou mais forte. — Eu estou com você.

Meus olhos se fecharam enquanto eu segurava firme, deixando meus nervos se acalmarem. Demorou um pouco para controlar os tremores em meus membros, mas uma vez que eu estava firme, respirei fundo e afrouxei meu aperto sobre Isaiah.

Exceto que ele não me soltou.

— Estou bem.

Ele me segurou mais apertado.

— Isaiah, eu estou bem.

Ele deu um último suspiro no meu cabelo e depois me soltou. Não inteiramente. Apenas o suficiente para me inclinar para trás e me olhar de cima a baixo.

— Você está machucada?

— Meu cabelo. — Coloquei meus dedos no couro cabeludo, com a certeza de que encontraria sangue neles quando os puxasse de volta, mas eles voltaram secos. — Minha cabeça dói, mas isso é tudo. — E eu quase tive um ataque cardíaco.

— O que aconteceu?

— Nada. Eu não sei. Eu estava pronta para ir para casa e Jim me acompanhou. Entrei no meu carro. O estacionamento estava vazio. E então ele estava apenas... aqui, abrindo minha porta.

— Porra. Ele deve ter se escondido.

— Você o viu?

Isaiah assentiu.

— Apenas o lado do seu rosto. Mas eu vi o colete dele.

Meu estômago caiu.

— Os Warriors?

— Porra. — Isaiah me puxou para seu peito, murmurando a maldição novamente.

— Genevieve—. Jim estava virando a esquina do prédio. — Você está bem? Eu ouvi Isaiah gritar.

— Alguém veio atrás dela, — Isaiah respondeu por mim.

— O quê? — Jim correu. — Você está machucada? Devo chamar uma ambulância?

— Eu estou bem, — eu engasguei quando a sua mão descansou no meu ombro.

— Eu deveria ter esperado. — Ele abaixou a cabeça. — Eu sinto muito. Você entrou no carro e eu...

— Está tudo bem, Jim. Não é sua culpa. — Eu olhei para Isaiah. — Ele veio do nada. Ele devia estar observando e esperando que eu saísse. Ele tinha que saber que você normalmente vem me buscar.

A mandíbula de Isaiah ficou tensa.

— Vamos sair do frio. Conversamos em casa.

— Ok. — Eu balancei a cabeça e me virei. O abraço de Jim estava me esperando.

— Eu sinto muito.

Eu relaxei contra seu ombro.

— Estou bem. Juro.

Ele me apertou por mais um segundo, depois falou para Isaiah.

— Cuide dela.

— Eu vou morrer tentando. — A voz de Isaiah, essas palavras, acalmaram o resto da tensão em meus nervos.

Quando Jim me soltou, sentei-me no banco do motorista, hesitando em colocar minhas pernas para dentro.

— Apenas pegue sua bolsa, V. Vamos pegar o carro amanhã.

— Mas... — A última vez que ele me levou para casa, ficou distante por semanas.

Ele acenou.

— Vamos.

— Ok, — eu concordei, não querendo estar dentro do meu carro no momento. Puxei minha bolsa do banco do passageiro e peguei as chaves da ignição.

Isaiah pegou meu braço no momento em que a porta foi fechada e trancada, mantendo-me firme enquanto caminhávamos para a sua caminhonete. A porta do motorista estava aberta, o motor ligado.

— Como você sabia que devia vir aqui?

— Draven ligou para a oficina. — Seus olhos se encheram de preocupação. — Disse que o júri está fora para deliberação.

— Eu sei. Jim me disse.

— Eu não tinha certeza se ele lhe diria ou não, então vim para o caso de você precisar de mim.

Eu deixei minha cabeça cair em seu ombro.

— Eu sempre preciso de você.

E sempre precisaria.

Onde eu estaria se ele não tivesse pensado em vir aqui? Em outro porta-malas? Estremeci, o medo se aproximando. Os Warriors provavelmente não acreditavam em porta-malas. Eles pareciam mais com o tipo de enterrar vivo.

— Essa foi outra tática de intimidação? — Eu perguntei quando Isaiah abriu a porta do passageiro para mim. — Ou ele teria me levado?

Ele suspirou.

— Eu não sei boneca. Pode ter sido qualquer um dos casos.

Desde o incidente do porco, eu estava constantemente olhando por cima do ombro. Nós dois estávamos.

— Por que eu? — Eu sussurrei quando Isaiah afivelou meu cinto de segurança. — Eu não sou afiliada ao clube. Antes deste verão, eu nunca coloquei os pés em Clifton Forge. Por que eles me querem? Eu não sou ninguém para eles. A menos que...

— Eles não podem saber sobre a cabana. Não tem como. — Isaiah se inclinou para dentro da cabine e deixou a testa cair na minha. — Nós vamos resolver isso.

— Como?

— Juntos.

Fechei os olhos, relaxando no calor do seu toque. Eu puxei uma respiração da cabine e seu perfume reconfortante.

Isaiah se inclinou e segurou minhas bochechas, olhando nos meus olhos como se eu fosse algo precioso. Ele deu um beijo suave nos meus lábios, depois me fechou dentro da cabine, contornando o capô ao seu lado.

Ele colocou as mãos no volante e congelou.

— Eu posso dirigir, — eu ofereci.

— Não. — Ele apertou seu aperto. — Eu posso fazer isso.

Nós não nos mexemos. Ao meu lado, ele estava travando uma batalha interna para dar marcha à ré.

— Você não vai me machucar, — eu sussurrei.

Ele me olhou e a emoção crua em seu rosto, a vulnerabilidade em seus olhos, partiu meu coração.

— Eu poderia.

— Você não vai.

Depois de alguns longos momentos, ele deu ré na caminhonete. Então fomos para a oficina, Isaiah mal respirando enquanto dirigia.

Mas nós conseguimos. Seguros. Ilesos.

Juntos.

Nós vencemos a batalha de hoje, mas a guerra estava longe de terminar.


Capítulo Vinte

Isaiah


Tirei minhas mãos do volante e desliguei minha caminhonete. Então eu respirei.

Conseguimos.

Passei a mão pelo rosto, afastando a ansiedade.

Levar Genevieve para casa hoje foi mais fácil do que no dia em que ela estava doente, mas apenas uma fração. Mesmo que eu não tivesse esse maldito pesadelo desde o dia em que dormi na cama com ela, ainda estava mexendo com a minha cabeça.

Talvez eu devesse ter arriscado um olhar para ela, só para ver se ela estava viva e respirando. Ficaria mais fácil? Provavelmente não. Eu não merecia que isso fosse fácil.

Genevieve abriu a porta primeiro e me deu um sorriso triste.

— Vamos subir.

Eu balancei a cabeça e saí com as pernas trêmulas. A adrenalina corria pelas minhas veias, tanto do caminho quanto de ver as mãos daquele filho da puta nela. Afastei essa imagem antes de ficar furioso.

Alguém veio atrás de Genevieve. Minha esposa.

Nós nos apoiamos um no outro enquanto subíamos as escadas para casa. Ajudei-a a tirar o casaco e tirei o meu. Ela deixou os sapatos e os saltos pontiagudos cravaram no carpete enquanto ela atravessava a sala e afundava no sofá.

Porra, eu poderia tê-la perdido hoje. Aquele cara poderia tê-la levado. Ele poderia tê-la estrangulado ao lado de seu carro e deixado seu corpo sem vida na neve. Talvez ele quisesse fazer com ela o mesmo que tinha feito com aquele porquinho.

O que eu faria sem ela? Perdê-la iria me destruir. Ela era a melhor coisa que aconteceu na minha vida em anos, e se protegê-la disso significasse que eu passaria o resto dos meus dias na prisão, eu iria amanhã.

— V, — eu sussurrei.

Seus olhos estavam vidrados quando ela encontrou meu olhar. Nós dois estávamos pensando a mesma coisa.

— Não podemos mais manter isso em segredo.

— Não. — Eu me juntei a ela no sofá e minha mão encontrou a dela. — Precisamos de ajuda, boneca. Os segredos não valem a pena se eu não puder mantê-la segura.

— Todo mundo saberá o que aconteceu.

— Eles não vão contar. — Levei meses para entender completamente a lealdade que essas pessoas tinham umas com as outras. Enquanto assistíamos ao progresso do julgamento de Draven, ou compartilhávamos nossos almoços e nossas vidas, ou transformávamos velhos destroços em obras de arte, tive um vislumbre da irmandade que Dash, Emmett e Leo tinham no clube.

Eles não nos trairiam. Eu vi isso agora. Poderíamos dizer a verdade e eles a salvaguardariam com suas vidas.

Genevieve apertou minha mão.

— Eles saberão que nosso casamento não é real.

Mas era real, não era? Em algum lugar ao longo do caminho, esse casamento se tornou a coisa mais real da minha vida.

— Nós vamos lidar com isso, — eu disse. — Nós vamos descobrir o que fazer.

Ela deitou ao meu lado, a bochecha descansando no meu ombro.

Eu me mexi, passando um braço em volta dela e puxando-a para perto.

— Vamos esperar até a oficina fechar, e Pres ir para casa. Ela não sabe tudo o que aconteceu com os Warriors ultimamente, e eu acho que Dash quer manter assim.

— Especialmente se os Warriors estão tentando nos alcançar através de Jeremiah.

Embora confiássemos em Presley implicitamente, Jeremiah era uma situação diferente. E Pres não precisava ser colocada no meio disso. Nós nos preocupávamos o suficiente com ela, a deixando ir para casa todas as noites. Ela nos garantiu que os Warriors se foram e ela estava segura.

Mas ela era Presley. Nós estávamos preocupados.

Genevieve e eu nos inclinamos um para o outro, sentando-nos mais profundamente no sofá enquanto esperávamos. Fechei os olhos e bloqueei o mundo além da nossa porta. Eu abracei minha esposa. Fingi que a ilusão era verdadeira, que Genevieve e eu nos conhecemos e nos apaixonamos no mesmo dia. Que eu estava tão apaixonado por ela agora quanto no primeiro dia.

Talvez eu estivesse.

Mas estava na hora da ilusão chegar ao fim.

Eu beijei o topo de seus cabelos quando ela me inspirou. Nós dois estávamos saboreando esses últimos momentos.

Até que os sons da oficina começaram a diminuir.

E nosso tempo acabou.

Uma hora depois, quando a oficina estava fechada, todos estavam em nosso apartamento. Ninguém hesitou quando eu os chamei.

Embora fossem apenas seis horas, estava escuro lá fora. A luz do dia no inverno de Montana durava tanto quanto os telefonemas na prisão. A janela escura combinava com o clima.

Draven, Leo e Emmett estavam ombro a ombro no sofá. Bryce e Dash estavam à mesa, enquanto Genevieve e eu sentamos no final da cama. Essa era a número máximo de pessoas que eu arriscaria imaginar que já esteve neste apartamento. Não teríamos que falar alto para nos ouvirmos do outro lado da sala.

— O que estamos fazendo aqui, Isaiah? — Draven perguntou.

— Algo aconteceu hoje, — eu disse.

Dash sentou-se mais reto.

— O quê?

— Alguém atacou Genevieve.

A sala explodiu.

Não a típica explosão em que as pessoas saíram de cadeiras e começaram a andar de um lado para o outro. Nenhuma alma se moveu. Mas a tensão, a raiva e o medo que explodiram no ar eram uma explosão, no entanto.

— Quando? — Draven perguntou através de um maxilar cerrado.

— Depois do trabalho, — respondeu Genevieve, dizendo-lhes sobre sair mais cedo. Ela estremeceu ao descrever como o homem a arrastou de seu carro. Enquanto ela falava, sua mão deslizou para o cabelo dela, onde, por baixo dos cabelos castanhos, eu tinha certeza de que uma contusão desagradável estava escurecendo.

— Você deu uma olhada nele? — Dash perguntou.

— Sim. — Genevieve assentiu. — Eu nunca o vi antes. Cabelo escuro. Olhos castanhos. Mas ele não foi um dos homens que encontrei na minha pesquisa, então não sei o nome dele.

— Ele estava usando um colete dos Warrior. Eu só olhei para ele por trás. Quando cheguei lá, gritei, e ele correu para os fundos do prédio. Desapareceu. Ele não se virou para que eu pudesse ver seu rosto.

— Porra, — Dash cuspiu. — Tucker acha que fomos nós.

A mão de Genevieve encontrou a minha no meu joelho. Ela apertou e depois me deu um sorriso triste.

Era isso. Fim.

Sem mais segredos.

— Há algo que vocês deveriam saber. — Soltei um longo suspiro. — Nós mentimos para vocês. Sobre o que aconteceu na cabana.

O rosto de Dash ficou frio como pedra, sua expressão mais fechada do que eu já tinha visto antes. O queixo de Bryce caiu. Emmett e Leo trocaram um olhar de olhos arregalados. Draven franziu a testa, mas não pareceu surpreso. Talvez ele soubesse o tempo todo.

— Eu corri para a cabana. Vocês já sabem disso, — disse Genevieve. — A porta estava destrancada, então eu entrei. Eu pensei que poderia me esconder lá. Meus pés estavam doendo tanto que eu sabia que não podia correr rápido ou longe o suficiente. Estava escuro lá dentro, mas havia uma luz vindo do canto de trás. Não dava para ver, a menos que tivesse entrado, então eu andei por ali, esperando que talvez fosse uma saída dos fundos ou algo assim. Era uma escada.

Dash zombou.

— E deixe-me adivinhar, você caiu.

— Não. — Ela lançou um olhar para ele. — Eu fui para o outro lado, em direção a uma sala. Eu estava procurando uma saída, então quando vi que era apenas uma sala, quase me virei e sai. Mas então eu vi que estava cheio de sacos plásticos pequenos. E todos eles estavam cheios de algo branco.

— Drogas. — Bryce adivinhou. — Os Warriors estavam usando aquele lugar para armazenar drogas.

— Eles estão negociando agora? — Leo perguntou.

Draven balançou a cabeça.

— Não parece o estilo de Tucker. Ele quer o dinheiro dos fornecedores, mas sabe que se envolver na distribuição colocaria um alvo nas suas costas. Eles não são revendedores. Eles são a força bruta e as armas. Mas talvez eles tenham adicionado um serviço. Em vez de apenas executar rotas de proteção nas remessas, eles também estão fazendo algum armazenamento.

Rotas de proteção? Para drogas? Era algo que os Gypsies costumavam fazer?

Eu queria saber essa resposta? Não.

— Continue, — Dash ordenou a Genevieve.

Ela assentiu, apertando minha mão.

— Eu me afastei, querendo dar o fora dali. Mas quando me virei, esse cara veio do porão. Ele estava confuso. Seus olhos estavam vidrados. Ele estava alto como uma maldita pipa.

— Talvez essas drogas fossem o estoque pessoal dos Warriors, — Emmett murmurou. — E ele foi designado para vigiá-las.

Draven se inclinou para frente, os olhos fixos em Genevieve.

— O que aconteceu depois?

— Ele sorriu para mim. — Ela estremeceu. — Ele disse: 'Parece que os meninos me enviaram um presente.' E então ele veio até mim. Ele tentou me beijar. Ele lambeu minha bochecha. E colocou as mãos em cima de mim.

Eu apertei minha mandíbula, não querendo pensar sobre isso.

— Lutei com ele da melhor maneira possível, — disse ela. — Tentei correr para a porta, mas ele era forte e eu estive em um porta-malas e depois amarrada ao lado de uma árvore a noite toda. Eu estava exausta. Ele me agarrou e rasgou minha camisa.

Os outros homens na sala estavam rígidos. Bryce ofegou, olhos tristes e dor gravada em seu rosto.

Enquanto ela corria do sequestrador para os braços de Dash, Genevieve correra de um inferno para outro.

— Ele teria me estuprado. — Genevieve engoliu em seco. — Provavelmente também me mataria. Ele me deu um soco no estômago e me disse para parar de lutar. Ele me sufocou e eu desmaiei.

Foi assim que eu a encontrei. Com um homem a prendendo no chão, rasgando suas roupas. Ele tirou suas calças dos quadris. A calcinha também. Ela estava nua, exposta e desamparada.

Eu só tive um vislumbre de Genevieve quando ela correu em direção àquela cabana e tinha sido por trás. A primeira visão de seu rosto, pessoalmente, foi naquele chão.

Eu nunca esqueceria o olhar em seu rosto, o puro terror enquanto ela ofegava em busca de ar, e sua bunda nua se contorcia no chão imundo, porque ela estava tentando afastar seu lugar mais precioso de um homem que não tinha o direito de tocá-lo.

— Eu o arranquei dela, — eu disse na sala, tentando bloquear a imagem dela.

Até agora, eu consegui manter essa imagem bem afastada. Eu fiz o meu melhor para nunca pensar na cabana. Agora que estávamos divulgando nossos segredos, eu teria um novo pesadelo hoje à noite? Em vez de Genevieve morrer no banco do passageiro de um carro, eu a veria naquele maldito chão imundo?

— Eu bati nele algumas vezes, tentei mantê-lo no chão, mas ele continuou avançando. — O cara tinha conseguido dar alguns golpes, principalmente nas minhas costelas. Nada quebrou, mas doeram por alguns dias. Assim como minhas mãos, que o socaram.

— Você o matou? — Dash perguntou.

— Sim. — A palavra pairou no ar. — Ele estava furioso. Tinha que ser as drogas. Eu o derrubei e coloquei minhas mãos em volta de sua garganta.

Então eu o estrangulei.

Quando seus braços e pernas caíram frouxos no chão, eu parei.

Eu poderia ter parado antes. Eu deveria ter parado antes. Talvez Genevieve e eu teríamos sido capazes de chamar a polícia então, explicar isso como legítima defesa.

Mas eu não fiz. Eu estraguei tudo.

Eu segurei seu pescoço, tirando a vida dele, até que ele se foi deste mundo.

— Eu não sinto muito. — Eu encontrei os olhos de Draven. Eu não me arrependeria de tirar a vida daquele homem. — Ele não estava usando um colete. Eu não sabia que ele era um Warrior. Não que isso importasse. Eu o teria matado da mesma forma.

Draven assentiu.

— Você fez a coisa certa.

— Sim, — Dash, Emmett e Leo ecoaram.

Meus ombros caíram, um alívio que eu não sentia há meses. Eu precisava de alguém para me dizer que estava certo. Eu pensei que estava, mas meu julgamento era tão ferrado, o que diabos eu sabia? Genevieve nunca me culpou por isso. Ela nunca olhou para mim como se eu fosse um assassino.

— Ele teria matado vocês dois, senão naquele momento, mais tarde. — Dash passou a mão pelos cabelos. — Os Warriors se vingam. É o que teríamos feito como Gypsies também.

Genevieve mudou seu aperto, entrelaçando nossos dedos. Talvez todo mundo estivesse bem com isso sendo o fim da história, mas eles precisavam saber o resto, então eu dei a ela um pequeno aceno de cabeça para continuar.

— Isaiah estava preocupado que ele voltaria para a prisão. Na época, nem pensávamos nos Warriors. Estávamos preocupados com a polícia.

Porque os cidadãos normais não temiam que suas ações levassem à retaliação de uma gangue de motociclistas. Eles temiam a prisão, como deveriam.

A constatação de que eu havia matado um homem, de que voltaria para a prisão, tinha me jogado sentado no chão da cabana.

Não posso voltar para lá.

Eu cantei essas palavras repetidas vezes, pois minhas opções corriam pela minha mente. O suicídio estava no topo da lista. Porque eu não sobreviveria mais um dia na prisão, muito menos uma sentença de prisão perpétua.

Eu não era como Draven. A prisão não o endureceria. Não o assustaria. Ele resistiria como ele fazia na vida, com um olhar mortal que o levaria ao topo da hierarquia dos presos. Ele era frio e com força suficiente para sobreviver.

Era uma coisa boa que Genevieve tivesse um pouco da força do pai ou eu não teria me levantado daquele chão.

Ela entrou em ação, de pé e ajeitando suas roupas. Então ela correu para o meu lado, sacudindo-me do meu estupor.

Qual o seu nome?

Essa pergunta, sua voz, rompeu com o medo.

Isaiah.

Ela me olhou diretamente nos olhos.

Obrigada, Isaiah.

Porra, mas ela era boa demais para mim.

— Sabíamos que alguém acabaria por procurar e encontrar o corpo, — disse Genevieve na sala. — Minhas impressões digitais estavam por toda parte. Eu sabia que se os policiais nos encontrassem, prenderiam Isaiah por me salvar.

Talvez pudéssemos ter fugido, mas, em vez disso, eu o matei. Um ex-presidiário que foi preso uma vez por homicídio culposo não receberia uma sentença leve por outra acusação.

— Encontrei um isqueiro. Ele caiu do bolso do homem, — disse Genevieve. Ela pegou o isqueiro prateado e uma ideia tomou conta de seu rosto. — O fogo estava em minha mente. Comecei junto à lareira, pensando que um investigador pensaria que era um incêndio normal que tinha saído do controle. E estava perto do corpo.

Não fiquei surpreso quando o lugar pegou fogo como uma tocha. Era uma velha cabana de madeira com troncos para paredes. Queimou como gasolina em um churrasco.

— Assistimos por alguns minutos, certificando-nos de que estava queimando, — eu disse. — Então saímos de lá.

Corremos para onde estacionamos as motos. Eu segurei a mão de Genevieve, ajudando-a a atravessar o chão da floresta. Em um passo, ela gritou e foi quando eu dei uma boa olhada em seus pés. Eu a fiz subir nas minhas costas e a carreguei pelo resto do caminho.

Emmett, Leo e Draven estavam procurando pelo sequestrador das garotas e suas motos estavam estacionadas ao lado da minha. Eles presumiram que tínhamos deixado o lugar logo atrás de Dash e Bryce. Eles presumiram que o sequestrador havia voltado para a cabana e começado o incêndio como uma distração.

— O que você fez com o isqueiro? — Draven perguntou a Genevieve.

— Joguei-o em uma lata de lixo no aeroporto depois que Isaiah me deixou.

— Boa garota. — O orgulho em sua voz era inconfundível e ela corou.

Por mais estranho que fosse ter orgulho de alguém por encobrir um assassinato, eu também tinha orgulho dela. Se não fosse por seu pensamento rápido, eu estaria acabado.

— Paramos na metade do caminho da cabana para a cidade, — eu disse. — Esperei para garantir que o incêndio fosse relatado e não queimasse a floresta. Quando vimos um caminhão de serviço florestal passando, fizemos um plano.

Genevieve se aproximou do meu lado.

— Se o fogo não fosse suficiente para destruir o corpo, a única pessoa que poderia testemunhar contra Isaiah era eu. E a única pessoa que poderia testemunhar que eu comecei o incêndio era Isaiah. Então eu sugeri que nos casássemos. Eu arrisquei que, dependendo das evidências, um promotor teria dificuldade em provar que fizemos algo além de uma dúvida razoável.

Ela fez uma pausa, demorando um momento. Presumi que ela contaria a eles sobre a lei, que não tínhamos que nos casar, afinal, mas ela não o fez e meu coração inchou. Ela manteve esse segredo apenas para nós.

Ninguém mais precisava saber que ela ficou por mim.

Porque eu sabia.

— Você teve sorte, — disse Emmett. — Aquele fogo era quente o suficiente para queimar aquele corpo e destruir tudo, exceto os ossos. O hioide não estava quebrado, então ninguém poderia dizer que ele havia sido estrangulado.

Acenos balançaram ao redor da sala.

— Isaiah me levou para Bozeman para que eu pudesse voar para casa e fazer as malas, — disse Genevieve. — Então eu voltei e nos casamos.

Quando observei e esperei o avião decolar, imaginei que havia uma chance de cinquenta por cento de que a veria novamente. Eu não a culparia se ela fugisse e nunca mais voltasse. Mas então ela me mandou uma mensagem, como prometido, quando ela deixou Denver.

Estávamos esperando o inevitável desde então.

— Porra. — Draven passou a mão pela barba. — Gostaria que vocês tivessem nos contado a verdade.

— Eu não o conhecia, — disse Genevieve. — Qualquer um de vocês. Tudo o que sabia era que eu vim para Montana visitar o túmulo de minha mãe, pensando que você era o homem que a matou. Chego a Bozeman e alguém me sequestra. Então Bryce, uma repórter com quem eu só conversei uma vez, me diz que você é meu pai e não matou mamãe. Escapo do meu sequestrador apenas para ser enviada para outro inferno. Isaiah me resgatou e eu lhe devo minha vida. Eu não tinha certeza em quem confiar, então eu o escolhi. E eu fiz uma promessa. Se eu pudesse mantê-lo fora da prisão, eu faria. Quanto ao resto de vocês, vocês eram estranhos.

— Não estávamos preocupados com outro moto clube, — acrescentei. — Estávamos preocupados com a polícia.

Draven deixou as palavras penetrarem, depois assentiu.

— Entendi. Mesmo assim você ainda deveria ter nos contado.

Talvez. Mas era tarde demais para mudar as coisas agora.

— Isso é tudo? — Dash me perguntou. Por direito, essa pergunta deveria ter sido para Genevieve, mas Dash, aquele filho da puta teimoso, não a aceitava. E era ele quem perdia.

— Sim. Isso é tudo.

A tensão na sala havia diminuído um pouco, enquanto contávamos a história. Agora que acabou, a sala ficou em silêncio. A tensão voltou, desta vez com uma corrente de raiva, principalmente vindo de Bryce.

Ela pulou da cadeira, o mais rápido que uma mulher grávida conseguia e marchou para a porta.

— Bryce. — Genevieve se levantou. Bryce se virou. — Eu sinto muito.

— Você mentiu para nós. — A voz de Bryce tremeu. — Depois de tudo o que passamos naquela noite, você mentiu para mim. Entendo por que você fez isso naquela época, mas por que continuar fazendo isso? Você foi minha dama de honra. Nós somos amigas.

— Sinto muito, — repetiu Genevieve. — Eu não sabia se podia confiar em você.

Bryce colocou as mãos nos quadris.

— Você sabe agora?

— Sim.

— Ótimo. — Bryce mudou de direção, indo até Genevieve e puxando-a para um abraço. — Chega de segredos. Nunca sobreviveremos a isso se não ficarmos juntos.

Havia muita verdade nessa afirmação.

— Lamento o que aconteceu com você, — sussurrou Bryce.

— Eu também.

As mulheres se separaram e voltaram aos seus lugares. No momento em que ela se sentou no final da cama, juntamos nossas mãos.

Juntos. Como havíamos sido desde o começo.

Talvez esse casamento fosse falso e todo mundo soubesse agora, mas isso não significava que não estávamos lutando na mesma frente.

— Agora que todos vocês sabem o que realmente aconteceu, — olhei para Draven, — qual é o plano?


Capítulo Vinte e Um

Genevieve


Nós manteríamos nossas bocas fechadas.

Esse foi o plano que todos nós decidimos.

E na semana seguinte, fizemos exatamente isso.

Dash e Draven temiam que, se admitíssemos a verdade, Tucker retaliaria contra Isaiah e eu, talvez até mesmo em outras pessoas. Ele veria as mentiras que contamos durante a reunião no clube como algo organizado. Algo que Dash e os outros ex-Gypsies haviam feito por causa da antiga rivalidade entre os clubes.

Então ficamos calados. E meu casamento falso estava intacto.

Eu não estava pronta para desistir de Isaiah, ainda não. Especialmente com o júri dando o veredicto de Draven amanhã.

Jim ligou uma hora atrás. O júri havia tomado sua decisão e a anunciaria pela manhã.

Nenhum de nós esperava que sua deliberação durasse uma semana inteira. Eu esperava que isso significasse que eles estavam em um impasse. Que talvez, apenas talvez, houvesse uma chance de dúvida razoável.

Mas o fato era que a única maneira de libertar Draven era com um milagre. Tínhamos que provar, sem sombra de dúvida, refutando evidências para apoiá-lo, que ele não havia matado mamãe.

Até então, hoje era o nosso último café da manhã de Domingo na lanchonete.

Eu não seria capaz de comer aqui novamente depois disso.

— Parei para ver Jim na sexta-feira. — Draven colocou uma porção de panqueca na boca.

— Você fez? Quando?

Ele engoliu sua comida com um gole de café.

— Hora do almoço. Você estava fora comendo com Bryce.

— Oh. Ele não mencionou isso.

Draven deu de ombros.

— Não era grande coisa. Só queria deixar seu pagamento final.

Eu assenti.

— Entendi.

Draven esteve ocupado na semana passada, preparando-se para seu inevitável encarceramento. Uma vez que o júri anunciasse o veredicto, ele seria um homem livre ou seria imediatamente levado sob custódia até a audiência de sentença.

Ele estava esperando o último.

Draven havia basicamente liquidado sua propriedade, chegando ao ponto de limpar sua casa e colocá-la à venda. Fevereiro não era um bom momento para colocar uma casa à venda em Montana, mas Draven estava preparado para fazer isso de qualquer maneira.

Isso foi até que Dash e Nick descobriram. Meus meios-irmãos insistiram que a casa fosse mantida na família. Afinal, foi a casa da mãe deles. Chrissy Slater pode ter morrido, mas sua memória estava viva e forte com sua família.

Minha mãe também estava.

Além da casa, a vida de Draven estava encerrada. Ele era talvez, o homem mais preparado da história para enfrentar um veredicto.

— Jim com certeza está impressionado com você. Duvido que ele estivesse mais orgulhoso se você fosse filha dele.

— Tenho sorte de trabalhar para um homem como ele. Ele me ensinou muito. Dá-me responsabilidade e confiança. É o melhor trabalho que já tive.

— Já pensou em se formar em Direito? Jim disse que você seria uma advogada incrível. Até disse que, como ele e Colleen não têm filhos, você seria uma ótima sócia.

Seria um sonho tornar-se sócia de Jim em sua empresa. Mas era um daqueles sonhos distantes com os quais não estava contando ou trabalhando. Ninguém em Clifton Forge sabia que uma vez eu planejara me tornar advogada, nem mesmo Isaiah.

Eu cutuquei minha omelete com o garfo.

— Talvez algum dia.

— Por que não agora?

— Não existem muitas faculdades de direito credenciadas em Clifton Forge.

— Não há necessidade de você ficar aqui.

— E Isaiah? Não vou deixá-lo para lidar sozinho com essa confusão.

Draven se inclinou para frente.

— Quando vocês nos disseram que estavam casados, eu sabia que algo estava acontecendo. Mas depois de um tempo vocês relaxaram. Diga-me honestamente, isso se tornou algo real?

— Nada como colocar-me numa situação difícil, — eu murmurei, fazendo seus lábios levantarem.

O sorriso de Draven era algo que eu tinha visto com mais frequência ultimamente. E perto dele, eu sorria com mais facilidade também. Não houve um grande momento em que nos sentimos confortáveis um com o outro. Havia surgido sobre nós da maneira que um céu nublado se tornava azul, quando você não estava prestando atenção.

— Então? — Ele pressionou.

Peguei meu garfo, apunhalando um morango e enfiando-o na boca.

Isso era algo real? Eu amo Isaiah?

Ele era meu melhor amigo. Ele estava lá para mim todos os dias. Quando algo acontecia no trabalho que me fazia rir, ele era a primeira pessoa que eu queria contar. Quando acordava algumas manhãs de mau humor, ele me preparava café com creme, porque quase sempre me animava. Os biscoitos de chocolate que eu fazia toda semana não eram mais para mim, eram para Isaiah.

Isso era amor?

A única pessoa que eu realmente amei tinha sido mamãe. Ela me disse que me amava frequentemente. Diariamente, especialmente quando eu era criança.

Talvez não contasse como amor até que eu tenha coragem de contar a Isaiah.

— Eu não vou deixá-lo. — Minha resposta, por mais contundente que fosse, teria que ser suficiente. Além disso, Draven era inteligente o suficiente para ler nas entrelinhas.

Eu estava muito apaixonada por meu marido e, quando chegasse a hora de contar a alguém, Isaiah seria o primeiro a saber. Houve momentos em que eu imaginei que Isaiah também me amava.

Ou seu coração ainda pertencia a Shannon?

Era estranho ter ciúmes de um fantasma.

— Então você ficará aqui. Por quanto tempo? — Draven perguntou.

— Por quanto tempo for necessário.

Voltamos às refeições, limpando os pratos da maneira que fazíamos todos os domingos. Eu me amaldiçoaria em uma hora por estar muito cheia, mas as panquecas estavam deliciosas e por mais que fizessem as omeletes, o queijo era pegajoso e tão saboroso que eu não podia deixar passar.

Eu estava saboreando minha última mordida quando uma figura apareceu na beira da nossa mesa.

— Que porra é essa, Draven? — Presley gritou, chamando a atenção de todo o restaurante.

Normalmente tínhamos alguma atenção de qualquer maneira, presumidamente assassino e tudo mais, mas isso era mais do que olhares e sussurros castos.

Draven nem piscou.

— Bom dia, Pres.

Ela olhou para ele, os punhos plantados nos quadris. Presley não era uma mulher alta. Ela ficava apenas alguns centímetros acima de um metro e meio. Eu tinha um metro e setenta descalça e me elevava sobre ela sempre que ela usava salto. Apesar de seu tamanho físico, ela lançava uma sombra intimidadora sobre a nossa mesa.

Presley comandava os caras na oficina, operando como uma máquina bem oleada. Draven, embora tecnicamente aposentado, cobria a maior parte do trabalho de escritório porque Dash preferia ferramentas a canetas em suas mãos. Agora que Draven estava saindo, os dois passaram um mês ensinando-a mais sobre os negócios.

Eles adicionaram o seu nome às contas bancárias. Ela faturava clientes, pagava contas, assinava contratos e administrava a folha de pagamento. E na semana passada, eles a batizaram com o título oficial de Gerente.

Ela não queria o emprego? Aconteceu algo mais? Isaiah falou muito bem de Presley. Eu não tive muita interação com ela além da rara atividade em grupo ou de passagem, mas ela sempre foi tão controlada e equilibrada. Vê-la irritada era definitivamente uma mudança.

Fechei minha boca. Estava aberta, a comida visível.

— Tinha que ser feito, — Draven disse como se o local inteiro não tivesse os olhos em nossa direção.

O que tinha que ser feito? Sobre o que foi isso?

— Você passou dos limites, — ela retrucou.

— Fiz o que deveria ter feito no primeiro dia. Você é boa demais para ele, Pres.

Ahh!!!

Então, isso era sobre Jeremiah. Eles ainda estavam noivos, para grande desgosto de todos na oficina. Presley tinha garantido a todos que os Warriors não foram mais à sua casa. Jeremiah ainda se encontrava com eles, mas fora de casa.

E embora isso irritasse muito os caras na oficina, porque ela não terminava com dele, eles não haviam contado a ela sobre o drama com os Warriors.

Ela não sabia que eles vieram atrás de mim. Ela não sabia que eles eram uma ameaça. Então, como poderíamos culpá-la? Presley estava no escuro, tomando o lado de seu noivo.

— Não é da sua conta, — Presley retrucou.

— Ele quer se juntar aos Warriors.

Ela revirou os olhos.

— Não, ele não quer. Ele estava saindo com alguns deles por um tempo, mas eu não os vejo há semanas. Além disso, ele me prometeu que não se juntaria a esse clube.

— Suas promessas não retêm muita água. Quando ele vai comprar um anel para você? Já marcou a data do casamento?

Suas narinas se alargaram.

— Por que você está fazendo isso? Por que você está me fazendo odiá-lo agora?

Os olhos de Draven não se estreitaram como eu esperava. Eles suavizaram.

— Eu não estarei aqui para acompanhá-la pelo corredor até o altar. Estou fazendo o meu melhor enquanto posso para garantir que o homem que você encontra no final mereça estar ali.

Presley pediu a Draven que a acompanhasse pelo corredor? Uma pontada de ciúmes. Se eu tivesse um casamento de verdade, ele também não estaria lá para me entregar.

A fúria no rosto de Presley desapareceu com o brilho das lágrimas nos olhos.

— Eu sei que você não gosta de Jeremiah. Ele está apenas... Passando por uma fase. Confie em mim. Por favor? Eu vou ficar bem. E você pare de falar como se estivesse morrendo? — Ela deslizou na cabine ao seu lado, descansando a cabeça no ombro dele. — Não é como se você nunca mais fosse nos ver.

— Não. — O tom definitivo na voz de Draven fez Presley se endireitar. — Eu não vou vê-la de novo.

Minha coluna ficou rígida.

— O que você quer dizer?

— Se eles me declararem culpado, o que eles farão, eu vou embora. Vocês, garotas, não devem me visitar. — Ele me encarou com seu olhar. — Eu não quero nenhuma de vocês naquele lugar.

— Mas...

— Pergunte a Isaiah. Pergunte se ele quer você lá. Se ele disser sim, eu reconsiderarei.

Isaiah não diria sim. Havia uma sombra em seus olhos quando ele pensava naquele lugar. Enquanto ele me confidenciou sobre a morte de Shannon, eu sabia que seu tempo na prisão nunca seria um ponto de discussão para nós.

Ele me protegeria de seus horrores.

Draven faria o mesmo.

Eu não estava pronta para desistir do meu pai.

De certa forma, Draven me ajudou a amenizar um pouco do ressentimento que eu tinha pela minha mãe. Ele era carismático. Ele era brutalmente honesto, às vezes até duro. Ele não hesitava em passar por cima das besteiras e falar sobre algo desconfortável de frente.

Ele era um pé no saco.

Eu o amava por isso.

E eu pude ver como mamãe se apaixonou por ele também. Não que suas ações fossem certas, mas eu vi por que ela o amava.

Draven tinha essa atração sobre ele, essa total confiança. Poucos homens acusados de assassinato entrariam na lanchonete com sua arrogância. Ele não dava a mínima para o que as outras pessoas pensavam. As únicas opiniões que tinham algum peso eram as de sua família e amigos.

O fato de Dash não estar falando com ele estava rasgando-o em pedaços.

O amor de Draven por sua falecida esposa era eterno. Draven não falava sobre Chrissy frequentemente, mas ele a mencionava de vez em quando, quando tinha uma história para compartilhar. Ele tinha um olhar distante que continha amor eterno. Esse amor sempre foi acompanhado por um tom de arrependimento, por como ele a tratou e pelo modo como ela morreu.

E havia arrependimento no coração de Draven por minha mãe.

Eu sempre ficaria desapontada por minha mãe não ter sido corajosa o suficiente para me dizer a verdade. Mas eu entendi.

Draven foi seu erro. Sua fraqueza incapacitante.

Talvez fosse por isso que Presley era tão apegada a Jeremiah. Ele também era sua fraqueza.

— Eu vou visitá-lo na prisão. — Presley saiu da cabine e sem outra palavra, caminhou até a porta. Mas, no meio da lanchonete, ela se virou, correndo para a nossa mesa para se abaixar e dar um beijo na bochecha de Draven.

Ele olhou para ela com olhos amorosos e deu um sorriso, e então ela se foi novamente.

— O que você fez com Jeremiah? — Eu perguntei.

— Eu... Encorajei-o a terminar com Pres. Disse a ele que, se quisesse ser um Warrior, teria mais chances de conseguir se não estivesse ligado a uma mulher em Clifton Forge.

— Espere. Você quer que ele seja um Warrior?

— Quero-o fora da vida de Presley. Ela sabe que tem um bom trabalho na oficina. Ela gosta de lá e não está ansiosa para sair. Ashton e os Warriors estão a três horas de distância. Agora, talvez eles pensem que obterão informações através dela, mas não conseguirão. Eu confio nela completamente. E, cedo ou tarde, a distância os separaria. Espero que, se Jeremiah se juntar ao clube, seja o fim para eles.

Então, pelo bem de Presley, eu também esperava que ele se juntasse.

Draven deixou duas notas de vinte em cima da mesa depois que bebemos nossas canecas de café. Depois vestimos nossos casacos e gorros para nos aventurarmos do lado de fora. Ele já ligara a sua caminhonete, partida remota. Isaiah me comprou o mesmo tipo de kit para o Natal e o instalou no dia de Ano Novo.

Entramos na caminhonete de Draven e afivelei o cinto de segurança. Quando ele deu a ré, olhei para o seu perfil. Seus olhos encontraram os meus e ele sorriu.

Droga, eu sentiria falta dele. Eu não tinha percebido o quanto até agora. Não tivemos tempo suficiente. Conversamos sobre mim principalmente e não o suficiente sobre ele.

Que programas de televisão ele gostava? Qual era o seu livro favorito? Qual era sua parte favorita de Clifton Forge?

Todas perguntas estúpidas, mas eu queria as respostas. Mas, em vez de perguntá-las, optei por uma que estava em minha mente há um mês.

— Você está com medo? — Eu sussurrei enquanto ele dirigia.

— Não. — Ele deixou escapar um longo suspiro. — Estou cansado. Cansado de lutar. Faço isso há muitos anos.

Ele teria que lutar na prisão? Provavelmente. Não achei que a prisão fosse um fim fácil para a sua vida. E caramba, ele não merecia lutar lá. Isso não era culpa dele.

Enquanto ele estivesse lá dentro, eu continuaria lutando aqui fora. Minhas ligações para as casas de penhores não tinham achado o colar da mamãe, mas eu continuaria ligando. Eu começaria a pesquisar cada morador de Clifton Forge e Ashton, além disso. De alguma forma, eu encontraria as evidências para libertá-lo.

A oficina estava na nossa frente antes que eu estivesse pronta, e uma picada atingiu meu nariz. A emoção arranhou seu caminho na minha garganta porque eu não queria me despedir.

— Estou feliz por conhecê-la. — Draven estendeu a mão e a colocou no meu ombro.

Meu queixo tremia.

— Estou feliz por conhecer você também. Você vai escrever para mim?

Sua resposta foi um sorriso triste. Isso significava não? Ele realmente iria para a prisão e eu nunca mais teria notícias dele?

Soltei o cinto de segurança quando ele desligou a caminhonete. Saímos juntos, o bater de nossas portas ecoando no estacionamento silencioso. Ele me encontrou na frente da caminhonete.

— Cuide-se.

Eu assenti.

— Você também.

Ele deu um pequeno passo à frente, os braços levantando um pouco.

Eu nunca tinha abraçado Draven. Eu mal tinha tocado nele. Mas naquele momento, eu voei em seus braços, envolvendo meus braços em volta de sua cintura e o abraçando por todos os abraços que eu tinha perdido na minha vida.

— Estou orgulhoso de você, garota. — O sussurro de Draven bateu no meu ouvido ao mesmo tempo em que as lágrimas caíram pelo meu rosto. — Tão orgulhoso.

Esmaguei meu rosto com mais força em seu peito.

— Obrigada, pai.

Seus braços se apertaram com a palavra.

— Porra, eu queria que as coisas fossem diferentes.

Eu também.

Ficamos ali, nos abraçando por um longo tempo, até que o som de botas descendo as escadas nos separou. Eu sequei as lágrimas nas minhas bochechas. Draven fungou, limpando a garganta quando Isaiah se juntou a nós na caminhonete.

Um olhar para mim e eu estava ao seu lado. Então ele estendeu a mão livre para Draven.

— Agradeço tudo o que você fez por mim.

— Você cuida dela e considere a dívida paga.

Isaiah simplesmente assentiu.

Eu encontrei os olhos de Draven mais uma vez, a sombra deles era a mesma que via no espelho todas as manhãs.

— Eu não quero me despedir.

— Então não se despeça. — Ele piscou, depois girou nos calcanhares e foi até a caminhonete.

Isaiah e eu ficamos no estacionamento até as luzes traseiras desaparecerem na rua.

— Você está bem? — Perguntou Isaiah.

— Não. — Hoje eu não estava bem. O amanhã também não parecia bom.

Mas passaríamos por isso, mais cedo ou mais tarde.

Eu não me importava com o que Draven disse, o veria novamente. Eu iria até a prisão e continuaria aprendendo sobre meu pai. Eu faria as perguntas que ainda não fiz. E um dia, talvez, poderíamos libertá-lo.

Passos nas escadas lá fora acordaram Isaiah e eu de um sono profundo.

Sentei-me com um suspiro, piscando meus olhos enquanto meu coração galopava. Ele me puxou para fora da cama. Tirei as cobertas, pegando o moletom que jogara no chão. O relógio na minha mesa de cabeceira brilhava dois minutos depois das três.

Quem diabos estava no apartamento às três horas da manhã?

Isaiah correu para o guarda-roupa em busca de uma caixa de sapatos. Aquela caixa era a única coisa que ele tinha lá além de roupas. Quando eu fiz a reorganização, ele pediu para mantê-la dentro.

Porque havia uma arma dentro da caixa.

— Isaiah. — Meus olhos preocupados encontraram os dele quando uma batida soou à porta.

Ele levantou um dedo aos lábios. Então apontou para eu ficar para trás enquanto caminhava até a porta.

Porra, por que não tínhamos um olho mágico? Precisávamos de um olho mágico. Depois desta noite, iríamos comprar um.

Outra batida ecoou pelo apartamento escuro no momento em que Isaiah girou a trava. Ele espiou pela fresta quando a porta se abriu, com o pé e o joelho apoiados na parte traseira para diminuir a velocidade de quem tentasse entrar.

Os músculos de seus ombros se contraíram.

— O que você está fazendo aqui?

— Pegue.

Eu reconheci vagamente a voz do homem, mas não consegui identificá-la. Meu coração disparou.

Isaiah abriu a porta um centímetro a mais para pegar algo do homem do lado de fora.

— O que é isso?

— Justiça. Vocês dois estão livres. — Os passos do homem soaram descendo as escadas.

Isaiah bateu a porta e trancou a fechadura. Então ele foi até a janela, observando com a arma ainda na mão. O motor do lado de fora era quase inaudível, mas estava lá. Então desapareceu quando nosso visitante foi embora.

— Quem era?

Isaiah colocou a arma sobre a mesa, depois esticou o braço para o interruptor da luz. Meus olhos se estreitaram quando a sala se iluminou, e quando eles se ajustaram, vi o envelope branco na mão de Isaiah.

— Quem era? — Eu perguntei novamente quando ele abriu o envelope.

— Tucker.

Meu queixo caiu.

— Tucker, como o presidente dos Warriors, esse Tucker?

Ele assentiu e puxou uma carta do envelope.

Atravessei a sala, parando ao seu lado enquanto ele desdobrava a folha.

Isaiah era alto demais para eu ler por cima do ombro e ele continuou se mexendo, então eu não pude ler o que dizia do seu lado. Seu rosto empalideceu. Seus olhos se estreitaram com a letra na folha.

— Isaiah?

Ele continuou lendo.

— Isaiah, você está me assustando. — Eu puxei seu cotovelo.

Mesmo assim, ele continuou lendo. Somente quando ele terminou, se virou para mim. Seu rosto estava contorcido em agonia, seus olhos cheios de tristeza.

— O quê? — Eu ofeguei. — Diga-me.

Ele jogou a carta na mesa ao lado da arma, me parando quando eu a peguei. Com as duas mãos nos braços, ele me empurrou para trás, longe do papel e no sofá. Eu sentei quando ele se agachou na minha frente, seu pomo de adão se movendo enquanto ele procurava as palavras. Suas mãos permaneceram firmes nos meus braços, preparadas como se ele estivesse pronto para me pegar se eu caísse.

— É Draven.

Meu coração parou.

— O quê?

— Ele está... Morto, — ele sussurrou. — Sinto muito, boneca. Ele se foi.


Capítulo Vinte e Dois

Genevieve


Justiça...

Essa palavra estava ecoando em meus ouvidos por um mês e meio.

A morte de Draven não tinha sido justiça.

Era o meu pesadelo.

A carta que Tucker Talbot havia entregue a Isaiah e eu era de Draven. Meu pai havia escrito três, uma para cada um dos filhos.

Dash havia pego a dele e a de Nick. Tucker as deixou imediatamente depois de deixar a minha.

Nelas, Draven confessou o acordo que fez com Tucker.

Tucker descobriu a verdade. Ele sabia que Isaiah havia matado o Warrior naquela cabana. Ele sabia que eu tinha começado o incêndio que destruiu milhares de dólares em drogas.

E ele fez um acordo por tudo.

Draven pagou a Tucker pelas drogas com seu próprio dinheiro. E ele pagou a vida daquele Warrior com a sua. Meu pai se sacrificou aos Warrior para que Dash, Nick e eu estivéssemos seguros.

Segundo a carta, Tucker concordava em ficar longe de nós, e não buscar mais vingança. Nas últimas seis semanas, Tucker se manteve fiel à sua palavra. Eu tinha minhas dúvidas, mas Emmett me explicou alguns dias após o funeral de Draven que um acordo feito entre presidentes de clube, até mesmo ex-presidente, era tão bom quanto ouro.

Estávamos a salvo.

Isso nos custou nosso pai.

Não era justo. Draven lutou por nós. Ele morreu por nós. Ele roubou nossa chance de provar sua inocência.

Isaiah havia me dito que Draven se libertou.

Isso foi justiça?

Com certeza, porra, não me pareceu.

— Pronta? — Isaiah perguntou quando ele parou na porta.

Eu balancei a cabeça, pegando meu casaco e o seguindo pela porta. Março chegou com uma nevasca pior do que qualquer outra que vimos até agora neste inverno. O céu atormentado, cinza e raivoso, combinava com o meu humor.

No momento, minha raiva era a única coisa que me mantinha aterrada. Eu a envolvi em torno dos pedaços do meu coração como correntes pesadas.

Quando Isaiah abriu a porta do lado do motorista para mim, entrei sem dizer uma palavra. Acontece que um casamento pode sobreviver no silêncio. Pelo menos, o nosso fez. Eu não tinha muito o que falar, então nem tentei. Quaisquer que fossem as palavras amargas e dolorosas que estavam na ponta da minha língua cairiam na pessoa errada, então eu as segurei.

A pessoa que precisava ouvi-las estava morta.

Como Draven pôde fazer isso em segredo? Como ele pôde fazer esse acordo com Tucker?

Eu posso morrer sabendo que fiz o que precisava ser feito.

Essa foi uma das muitas frases irritantes e devastadoras em sua carta.

Bem, foda-se. Seu sacrifício não era a única opção. Poderíamos ter resolvido de outra maneira.

A única pessoa com mais raiva do que eu era Dash.

Se meu humor no mês passado era cinza, o de Dash era ônix.

Bryce disse que Dash se culpava por não ver isso acontecer. Por não falar com Draven.

Aparentemente, a carta de Dash havia explicado muito mais do que a minha. Havia peças incluídas que ficariam entre Draven e Dash, coisas relacionadas ao clube que eu nunca saberia.

Tudo se resumia a um fato: Tucker não tinha acreditado em mim. Minhas mentiras não foram convincentes.

Os Warriors foram postos em retaliação. Os Tin Gypsies, antigos ou não, lhes deviam uma vida. Eles suspeitaram que eu menti, então eles queriam a vida de Dash. Ou de Draven.

O desejo de Tucker foi atendido.

O ataque a mim no estacionamento foi outra jogada de intimidação dos Warriors. Eles fizeram isso para nos levar a uma confissão. Fazia sentido agora porque o homem tinha fugido tão facilmente.

De certa forma, o plano deles funcionou. Isaiah e eu tínhamos dito a verdade.

Mas foi no momento errado. Talvez se eu tivesse dito a verdade na reunião do clube, Draven estaria vivo. Talvez não tivéssemos que enterrá-lo ao lado de sua esposa.

Se eu soubesse que seria assim que as coisas terminariam, eu teria feito tudo de maneira diferente.

Isso não estava certo. Não era para terminar assim.

Isso não era justiça.

Isaiah encontrava Presley chorando no escritório pelo menos uma vez por semana. Emmett e Leo estavam distantes. Bryce estava triste e Dash estava, bem... Bravo. Eu poderia me identificar.

Todos eles me culpavam? Eles deviam. Minha presença em Clifton Forge havia piorado tudo.

Desde o funeral de Draven, eu fiz o meu melhor para evitar todos na oficina. Evitar os olhares perturbados e de pena. Não haveria como evitar hoje.

— Ei, — disse Isaiah enquanto eu corria para longe da oficina. — Pegue leve na velocidade. Por mim.

— Desculpe. — Soltei o pedal do acelerador, afrouxando o aperto no volante. — Eu só... Eu não quero ir.

— Eu sei. Mas sua melhor amiga teve um bebê e quer que você o visite. Não posso inventar uma desculpa desta vez.

Bryce deu à luz a um menino na noite passada e ligou, convidando-nos ao hospital para conhecê-lo.

Xander Lane Slater.

Ela me disse o nome do bebê meses atrás. Lane é o nome do seu pai. Eu acho que se ela já não tivesse contado ao pai e tivesse visto o entusiasmo dele por ser seu homônimo, ela teria mudado o nome do meio de Xander para Draven.

— Entrando e saindo, — disse Isaiah enquanto estacionávamos no hospital em um espaço marcado para visitantes.

Eu assenti.

— Entrar e sair.

O presente que eu embrulhei estava no banco de trás. Antes de eu estar pronta, estávamos na maternidade, caminhando pelo corredor do hospital para o quarto de Bryce.

— Toc. Toc. — A porta estava aberta, mas entrei cautelosamente, caso estivessem dormindo.

— Ei! Entre. — Bryce estava deitada na cama com um pequeno embrulho azul nos braços. O sorriso em seu rosto apagou qualquer hesitação por estar aqui. Isso e o fato de Dash não estar no quarto.

Eu fui para o seu lado, curvando-me para ver o bebê.

— Olá, lindo.

Seus olhos estavam fechados, seus cílios escuros formando sombras perfeitas em suas bochechas. Uma mecha de cabelo escuro aparecia por baixo do gorro azul em sua cabeça. Seus lábios eram rosados e macios e tudo que eu queria fazer era chorar.

— Ele é perfeito. — Sorri para minha amiga, que olhou para o bebê como se fosse o milagre que ele era.

Xander foi a única coisa boa desses últimos meses. Ele era um presente precioso, a ser protegido, querido e amado por sua família, mesmo que estivesse faltando um.

Uma onda de tristeza me atingiu, seguida por uma onda de entendimento. A raiva que eu mantive firme por seis semanas afrouxou seu aperto no meu coração.

Essa foi a razão pela qual Draven tomou sua decisão. Xander foi a razão pela qual ele fez seu sacrifício. Assim, seu neto viveria sua vida sem uma sombra iminente.

Isaiah deixou nosso presente de lado e veio para o meu lado, apertando o ombro de Bryce.

— Parabéns.

— Obrigada. — Bryce levantou Xander mais alto. — Quer segurá-lo?

— Sim. — Eu não tinha certeza se ela estava oferecendo Xander para mim ou Isaiah, mas não lhe dei uma chance. Peguei aquele bebê, segurando-o em meus braços enquanto eu o levava pelo quarto. Ele franziu o nariz, não satisfeito por ser embalado. — Oh, eu já amo você. Eu sou sua tia V.

Eu queria que ele me chamasse de V, como Isaiah. Além disso, não havia como uma criança pequena pronunciar Genevieve.

— Querida, tudo o que eles tinham era chocolate. — Dash entrou pela porta, um sorriso largo no rosto. Caiu quando ele me viu.

— Parabéns. — Isaiah se aproximou, com a mão estendida.

O sorriso de Dash voltou quando ele apertou a mão de Isaiah.

— Obrigado, cara.

— Ele é lindo, — eu disse, olhando para Xander.

Dash me ignorou, indo para a cama de Bryce e dando um beijo em sua testa.

— Eles não tinham morango.

— Tudo bem. — Ela pegou o que eu supus que era um milk-shake e colocou na bandeja ao lado de sua cama, sorrindo novamente para mim com Xander.

— Então, como foram as coisas? — Eu perguntei, sentando em uma das cadeiras contra a parede. Isaiah se juntou a mim, sentado perto para olhar para o bebê.

Dash se empoleirou na beira da cama de Bryce, esfregando o pé no cobertor enquanto ela nos contava sobre a chegada relativamente pacífica de Xander ao mundo. Quando ele começou a se agitar, eu o entreguei.

— Vamos deixar vocês descansarem. — Inclinei-me e abracei Bryce. — Avise-me quando você estiver em casa. Vou levar biscoitos.

— Isso seria bom. — Ela se mexeu, balançando suavemente Xander. — Obrigada por vir.

Isaiah despediu-se dos dois e me seguiu porta afora.

Estávamos a meio caminho do elevador quando percebi que não estava com minha bolsa.

— Merda. Eu esqueci...

Eu me virei e vi Dash marchando em nossa direção, minha bolsa na mão.

— Aqui.

Ele jogou-a para mim.

Eu a peguei, por pouco, virando-a para que o conteúdo não caísse no chão de linóleo.

Esse lance foi a última gota.

— Que raio foi isso? — Isaiah estalou.

Dash não respondeu. Ele fechou a mandíbula, girou e se afastou.

— Pare. — Minha voz ecoou pelo corredor. Entreguei minha bolsa a Isaiah.

Dash não parou.

— Você quer isso no corredor? — Eu falei para ele. — Ou no quarto de sua esposa com seu bebê?

Seus passos diminuíram. Ele se virou, levantando os ombros, plantando as mãos nos quadris.

— O que foi?

— Eu estou farta dessa sua atitude. Chega. Você não vai mais me tratar assim. Sem mais olhares. Sem mais grosseria. Chega de me tratar como uma cidadã de segunda categoria.

Dash não respondeu. Ele apenas mexeu os braços, cruzando-os sobre o peito.

— Eu não pedi para estar aqui. Não pedi que minha mãe fosse assassinada. Não pedi para ser sequestrada. Não pedi que meu pai morresse. Não pedi nada disso.

Dei um passo à frente, ficando na ponta dos pés para ficar mais alta. Meses e meses de raiva e frustração borbulharam à superfície. Minhas mãos tremiam, então eu as segurei ao meu lado, não querendo que ele visse. E fiz o meu melhor para manter meu coração acelerado sob controle e falar com uma voz firme.

— Não tenho família. Nenhuma. Exceto você e Nick. Isso não é um destino triste? Toda a minha família está morta por causa de um moto clube que eu não sabia que existia há um ano. Não os Warriors. O seu clube. — Eu cutuquei seu ombro. — No entanto, você age como se a culpa fosse minha. Então foda-se.

Ele estremeceu.

— Vá se foder. — Eu o cutuquei novamente, um golpe para cada palavra. — Eu não vou a lugar nenhum. Estou aqui. Você tem que aprender a viver comigo. Não pedi nada disso, mas estou aqui. Eu estou...

— Você está certa. — Ele abaixou os braços, deixando escapar um longo suspiro. Então abaixou a cabeça, esfregando a parte de trás do pescoço.

Eu tinha razão? Qual era a piada?

Eu não me mexi. Eu não respirei. Eu me preparei para ele dar um golpe que me deixaria uma bagunça caída aos pedaços. Eu tinha agido no entusiasmo, mas a verdade era que eu não tinha energia para continuar. Essa explosão secou minhas reservas.

As coisas tinham acabado de ser... Difíceis. Muito difíceis. E caramba, eu estava exausta.

— Desculpe, — ele sussurrou olhando para o chão.

Eu pisquei.

— O quê?

— Desculpe, — Dash disse, mais alto desta vez, fazendo contato visual.

— Tudo bem. — Eu olhei para ele de soslaio. O que estava acontecendo? Isso foi um verdadeiro pedido de desculpas?

— Eu amava minha mãe.

— Eu também amava a minha.

Dash assentiu, depois se virou, a conversa terminou. Mas antes que ele fosse muito longe, ele voltou a girar.

— Estou com raiva do papai.

— Eu também. Mas não desconte isso em mim.

— Ele não está aqui. Ele fez isso por mim. Para me salvar para que eu pudesse conhecer meu filho. — A voz de Dash falhou. E vi, por trás da raiva, o arrependimento que o torturava. Ele não fez as pazes com Draven. E agora Draven se foi.

Dash engoliu em seco.

— Xander nunca conhecerá seu avô.

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha.

— Não, ele não vai.

Dash rangeu os dentes e fechou os olhos. Quando os abriu novamente, ele estava sob controle.

Eu gostaria de poder dizer o mesmo. As lágrimas caíram livremente pelo meu rosto. Nenhuma quantidade de piscadas poderia impedi-las de cair.

Dash estava embaçado quando se aproximou. Três longos passos e meu irmão estava me abraçando, me apertando contra seu peito. Chocada com a mudança, levei um momento para abraçá-lo de volta. Então meus braços o rodearam.

O abraço não durou muito, segundos realmente, mas naquele momento, eu não me senti tão sozinha.

Então ele se foi. Sem outra palavra, Dash me soltou e voltou para o quarto de Bryce como se suas botas estivessem pegando fogo.

Isaiah veio e colocou as mãos em volta dos meus ombros enquanto eu batia nas minhas bochechas, secando as lágrimas.

— Vamos boneca. Vamos sair daqui.

Eu funguei enquanto íamos de elevador até o térreo. Eu usei todos os momentos do caminho até em casa para me recompor. Eu temia que, uma vez dentro do apartamento, eu me descontrolasse. O domínio que eu tinha sobre minhas emoções estava na ponta dos dedos, na melhor das hipóteses. Mas quando entramos no apartamento e eu tirei meus sapatos, senti algo que não sentia desde a noite em que Tucker entregou a carta de Draven.

Paz.

Fui até a cama, sentei-me e abri a gaveta da mesa de cabeceira. Peguei a carta e passei os dedos sobre a escrita em tinta preta.

— Ele nos amava. Foi por isso que ele fez isso.

— Sim. — Isaiah estava sentado ao meu lado com um braço em volta dos meus ombros.

— Eu gostaria que não tivesse chegado a isso.

Dissemos ao mundo que Draven havia se matado. Até Presley achou que sua morte foi suicídio. Todos acreditavam na história de que Dash encontrara Draven em casa, balançando em uma corda.

Ninguém duvidou, nem mesmo a polícia. O mundo via Draven como um covarde, um homem que tirou a própria vida em vez de enfrentar o veredicto que estava prestes a receber.

Nenhum de nós sabia qual teria sido o veredicto.

A verdade era que Tucker havia matado Draven. Ele o enforcou dentro da casa de Draven. Então ele entregou minha carta, seguida pelas outras.

Dash foi quem encontrou o corpo de Draven, pelo menos essa parte era verdadeira.

Draven já havia escrito uma nota de suicídio.

— A vida será normal? — Eu sussurrei.

— Para nós? Provavelmente não.

Fechei os olhos e caí no abraço de Isaiah. Ele passou os braços em minha volta, me segurando enquanto eu respirava o cheiro de sua camisa e me embebia no calor de seus braços. Eu corri minhas mãos pelas suas costas, depois as desci, mais e mais. Meus dedos vagaram entre nós, arrastando por uma das suas coxas.

Eu levantei meu queixo, encontrando seus olhos coloridos esperando, aqueles redemoinhos escurecidos com cada batimento cardíaco. Então seus lábios caíram nos meus e tudo estava perdido.

Minhas preocupações. Meus medos.

Meu coração.

Ele capturou todos com os movimentos de sua língua.

Nós nos despimos, jogando as roupas no chão enquanto nos movíamos mais fundo na cama. Isaiah e eu não estivemos juntos fisicamente há semanas. Não desde... Antes.

Nós éramos uma bagunça de beijos e desespero. Minhas mãos exploraram seus abdominais e seu peito firme, lembrando como era ter sua pele quente sob minhas mãos. Seus dedos cavaram minha espinha enquanto desciam para apertar minha bunda.

Nós colidimos, duas pessoas que precisavam se perder em um sentimento que não fosse o luto.

Isaiah me deitou na cama, me dando seu peso enquanto seu pau se aninhou entre as minhas pernas. Ele fez uma pausa, trancando seus olhos nos meus. Quando eu assenti, ele afundou profundamente, esticando e me enchendo até o ponto em que fui consumida.

Meus olhos estavam fechados enquanto ele se movia, entrando e saindo. Minhas mãos seguraram nele com toda a força que me restava enquanto ele nos embalava, repetidas vezes. E então eu soltei, meu orgasmo crescendo tão rápido e com tanta força que gozei com um grito silencioso. Uma lágrima escorreu pela minha têmpora. Isaiah beijou-a antes que enterrasse o rosto no meu cabelo e estremecesse com sua própria liberação.

Ficamos juntos até ele sair e nos colocar debaixo das cobertas. Então nos agarramos novamente. Nós não nos separamos. Quando muitos se afastavam, os obstáculos que a vida lançava em nós parecia apenas nos aproximar.

Oficialmente, eu estava livre para deixar Clifton Forge. Eu poderia me afastar desta vida e começar de novo. Mas eu nunca deixaria Isaiah. A vida que eu planejava voltar no Colorado não era mais o meu sonho.

Isaiah era meu sonho.

Ele me puxou com força contra o peito, beijando minha testa.

— Por que não estamos fazendo isso?

— Boa pergunta. — Eu ri, me sentindo mais leve do que em semanas. Eu levantei para ver seu rosto e o que vi roubou meu fôlego.

Isaiah sorriu.

Não um meio sorriso. Nem um levantar de canto de seus lábios. Não apenas as rugas em seus olhos. Um sorriso completo, porra, meu-marido-é-lindo sorrindo. Dentes brancos e retos e tudo.

Era uma visão que eu nunca esqueceria.

E eu coloquei isso lá. Eu. A mulher que planejara deixar a próxima na fila ter todos os sorrisos. Que tola. Ninguém iria tirar Isaiah de mim. Não haveria a próxima na fila. Eu estava mantendo ele.

Porque eu estava apaixonada pelo meu marido.

Draven devia saber. Caso contrário, ele não teria confiado a Isaiah meu coração. Eu esperava que ele tivesse encontrado sua paz. Eu esperava que ele se reunisse com sua esposa. Eu esperava que se ele visse mamãe, ele diria a ela que eu estava bem. Lágrimas caíram sem minha permissão, obscurecendo o sorriso de Isaiah. Desapareceu completamente quando ele me abraçou contra seu peito.

E ele me segurou a noite toda, enquanto eu lamentava a perda de meus pais.

Enquanto eu dizia meu adeus silencioso.


Capítulo Vinte e Três

Isaiah


— Você está bem? — Genevieve colocou a mão no meu peito arfante.

Eu balancei a cabeça, meus olhos arregalados enquanto eles olhavam para o teto escuro.

— Apenas um sonho.

Um pesadelo. Eu não tinha há meses. Quando isso desapareceria? Agora estava de volta, exatamente quando eu comecei a pensar que o passado deixaria de me visitar durante o sono.

Genevieve se aproximou, descansando a cabeça no meu ombro nu.

— Gostaria de falar sobre isso?

— Eu não sei. — Esfreguei a mão no rosto.

Talvez eu tive o pesadelo porque não fizemos sexo na noite passada. Normalmente, nos cansávamos antes de dormir, explorando nossos corpos e nos fazendo gozar até que não houvesse energia sobrando para os sonhos. Mas ontem à noite, simplesmente adormecemos, enrolados juntos.

No mês passado, desde que Xander nascera, Genevieve havia percorrido um longo caminho para fazer as pazes com as mortes de Draven e Amina. Mas ainda havia dor lá, noites em que ela choramingava tanto enquanto dormia, que isso me acordava. Eu a abraçava forte e sussurrava em seu ouvido até que ela se agarrava a mim, usando meu corpo para esquecer. Talvez eu não tivesse um pesadelo, porque estava tão preocupado com os demônios dela que os meus ficaram em segundo plano.

Os dias estavam voando e se misturando. A única coisa que os diferenciava era sexo e Genevieve. Eu conseguia me lembrar de todas as posições, todos os seus gemidos. Eu conseguia me lembrar com perfeita clareza como ela se apertava ao redor do meu pau cinco noites atrás. E na noite anterior a isso. E na noite anterior a isso.

Não era saudável que o sexo se tornasse nosso mecanismo de enfrentamento?

Provavelmente, mas eu não ia parar.

Não até que ela me deixasse e eu desistisse de tudo.

— Isaiah? — Genevieve levantou-se. — O que é que você vê?

Eu segurei seu rosto com a mão.

— Você.

— Onde?

— Em um carro, — eu sussurrei. O pesadelo era tão fresco que eu quase podia ver o fio de sangue em seu queixo. Limpei a linha invisível. — Entramos em um acidente.

— Oh. — O seu queixo caiu. — É como Shannon.

Eu assenti.

— Sim.

Genevieve moveu-se para deitar de costas. Sua mão encontrou a minha debaixo das cobertas.

— Eu tenho tido o mesmo sonho, repetidamente, sobre Xander.

Agarrei sua mão com mais força pela confissão. Cada vez que eu a acordava de um sonho, ela não queria falar sobre isso. Eu não a pressionava, presumindo que fossem sobre Draven.

— O que acontece?

— O cara que me sequestrou também o leva. Estamos aqui, estou de babá, e ele entra e o arranca dos meus braços.

— Sinto muito. — Virei meu rosto no travesseiro para encontrar seu olhar.

— Ele ainda está lá fora, — ela sussurrou. — Com tudo o que aconteceu, o sequestro, mamãe e Draven, é demais. Talvez esses pesadelos sejam um sinal de que preciso de ajuda. Que nós precisamos de ajuda.

— Talvez, — eu murmurei, voltando minha atenção para o teto novamente. — Fui a um psicólogo por um tempo, pouco antes de receber a liberdade condicional.

Esse psicólogo provavelmente me ajudou a me qualificar para liberdade condicional. Fui condenado a cinco anos e só cumpri três. Era improvável que minha sanidade tivesse sobrevivido aos últimos dois anos.

— Por que você não acha que funcionou? — Genevieve perguntou. Ela não perguntou se tinha ajudado, porque ela já sabia que não tinha. Ela sabia que eu não tinha encontrado paz com meus pecados.

— Não sei. — Contar àquele psicólogo tudo o que havia acontecido entre Shannon e eu não havia amenizado nem um pouco a minha dor ou culpa. A única vez em que senti algum alívio foi depois de confessar o acidente a Genevieve. — Talvez ele não fosse a pessoa certa para conversar.

Ela se virou de lado. Sua outra mão veio descansar sobre o meu coração.

— Foi um acidente.

— Um que eu causei.

— Você vai se culpar para sempre?

— Sim. — A palavra pairava na escuridão.

Não havia como deixar de lado esse erro. Não havia como esquecer como eu tinha causado a morte de Shannon. Pelo resto da minha vida, eu me arrependeria de minhas escolhas naquela noite.

Eu sempre me arrependeria.

— Você acha que algum dia o passado vai parar de definir quem você é?

De uma maneira diferente, Genevieve estava perguntando se eu seria feliz.

Pararia de viver a vida no automático? Eu mereço sentir alegria? Eu mereço uma vida com ela?

Eu queria isso. Eu queria esse futuro mais do que qualquer coisa na minha vida. Eu queria merecer essa mulher nesta cama. Eu queria ser um homem que sorrisse porque o meu parecia iluminar o dela.

Mas eu não tinha a menor ideia de como chegar lá.

— Espero que sim, boneca.

— Eu também espero, — ela sussurrou.

Ficamos deitados no escuro, esperando e imaginando se o sono viria. Eu duvidava que viesse para mim, mas Genevieve precisava descansar. Antes que ela se afastasse, eu me virei de lado.

— Mamãe está nos pedindo para ir a Bozeman. Você iria comigo?

Ela assentiu, suas pálpebras ficando mais pesadas.

— Quando?

— Amanhã? — Não tínhamos planos para o nosso fim de semana. Como na maioria dos sábados, Genevieve e eu os passávamos juntos.

— Certo. — Os seus olhos se fecharam. — Eu vou dirigir.

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Quando Genevieve saiu da oficina na manhã seguinte, as estradas estavam quase vazias. Levei apenas um minuto para me acomodar no banco do passageiro e respirar normalmente. Progresso. Quilômetro a quilômetro, andar com Genevieve estava ficando mais fácil. Embora eu conduzir fosse uma façanha que nunca dominaria.

A neve da cidade derretera com a chuva do início de abril. As montanhas ao longe ainda estavam cobertas de branco, e estariam até o verão. Amanhã, eu pegaria minha moto e guardaria a caminhonete até o inverno voltar.

Mal estava quente o suficiente, eu seria o único idiota de moto em abril.

Examinei as ruas enquanto atravessávamos a cidade em direção à estrada, algo que havia se tornado um hábito neste inverno.

— Dois meses e meio e nenhum sinal dos Warriors, — murmurei.

— Tucker tem sua justiça e está nos deixando livres. O plano de Drav... Papai deu certo. — Genevieve manteve os olhos na estrada. Eles estavam escondidos atrás de grandes óculos de sol pretos, dificultando a leitura de sua expressão. Sua voz era plana, exceto pela leve inflexão de dor.

Genevieve parou de chamá-lo de Draven sempre que seu nome aparecia. Ela tentou chamá-lo de pai, mesmo quando estava perto de Dash. Ainda não era natural, mas esperava que um dia fosse. E eu esperava que um dia não doesse quando ela mencionasse o nome dele.

Estava muito fresco, a ferida acabou de ser costurada. Mas ela era forte. Genevieve enfrentaria isso como fez com tudo o mais no ano passado. Ela sobreviveria, embora as coisas não fossem as mesmas. Sua raiva e frustração a ajudaram a superar a morte de Amina. Quando esses sentimentos desapareceram, um machucado permanente surgiu em seu coração. A morte de Draven havia deixado outro.

Ela ficou de luto por ele.

Todos nós ficamos.

Dash finalmente limpou o escritório de Draven na semana passada. Ele fez isso por um capricho e, com a ajuda de Bryce, transformou o espaço na área de espera. Ninguém queria ficar lá. Presley se recusou a se sentar atrás da velha mesa de Draven. Bryce também não. Então eles pegaram a mesa de Draven e doaram para a caridade. E compraram alguns sofás para que os clientes que esperavam o carro ficar pronto, não ficassem na área de recepção com Presley.

Genevieve começou a parar mais vezes no escritório quando chegou em casa do trabalho. Ela estava diminuindo a hora do almoço, saindo trinta minutos antes. Aqueles trinta minutos equivaliam a trinta minutos com Presley e Bryce todas as tardes antes da oficina fechar às cinco.

Ela não era tão próxima de Presley quanto de Bryce, mas a amizade delas estava florescendo. As três se apoiavam uma na outra, avançando através de sua dor.

— Pres escreveu uma mensagem de volta? — Eu perguntei.

Ela assentiu.

— Sim. Ela não estava com vontade de ir junto.

Droga. Esperávamos que Presley aceitasse nosso convite e deixasse a cidade no fim de semana. Estávamos todos tentando mantê-la ocupada nos fins de semana para que ela não dirigisse para Ashton. Ela provavelmente saiu sexta-feira depois do trabalho.

Como Draven incentivou, Jeremiah se juntou aos Warriors no mês passado.

O que nenhum de nós poderia esperar era Presley ficar com ele. Durante a semana, quando ela não estava na oficina, ela estava em casa sozinha. Quando as cinco horas chegavam na sexta-feira, ela estava a caminho de visitá-lo. Desde que se mudou, ele ainda não tinha voltado para Clifton Forge para visitá-la.

— Eu não entendi, — eu murmurei.

— Nem eu. Ela poderia escolher alguém muito melhor. E ele nem é tão bonito.

Eu bufei uma risada.

— É o que as pessoas dizem sobre você. Que diabos Genevieve está fazendo com aquele cara da oficina?

— Oh, por favor. — Genevieve revirou os olhos. — Você se olha no mesmo espelho que eu olho todas as manhãs. Você sabe que é o gostoso deste par.

— Você acha que eu sou gostoso?

Ela levantou os óculos escuros e os apoiou acima da cabeça, sua expressão ficando séria.

— Isaiah, você é o homem mais sexy e bonito que já vi na minha vida. E seu coração? Quando você me deixa entrar, você literalmente rouba meu fôlego.

Eu pisquei. Ela estava falando sério? Claro que parecia sério. Talvez ela não me visse como um ex-condenado perdedor tatuado.

Genevieve não esperava uma resposta. Ela voltou sua atenção para a rodovia, porque sabia que eu tremia quando ela não estava totalmente focada na estrada. Ela colocou os óculos de sol sobre os olhos, protegendo-os contra o brilho do sol da manhã.

Engoli o nó na garganta e assimilei o que ela havia dito. Ela realmente achava que eu era de tirar o fôlego? Que eu tinha um bom coração? Eu não era nada de especial, mas a convicção em suas palavras, a devoção, me fizeram repetir suas frases algumas vezes.

Eu era um monstro, não um salvador.

E ela achava que eu era o gostoso do nosso par? Cristo, ela estava enganada.

— Você é gostosa.

Ela me lançou um sorriso irônico.

— Puxa. Obrigada.

— Você é a mulher mais bonita que eu já vi. — Totalmente verdade. Parte do que tornara difícil olhá-la naqueles primeiros dias era que eu me sentia culpado. Genevieve ofuscava todos os vivos, e até mesmo aqueles que não estavam mais vivos.

— Eu não o elogiei para que você me elogiasse de volta.

— Eu sei. Estou dizendo isso porque é verdade.

Ela sorriu.

— Bem, obrigada.

— Você é linda, — eu repeti, apenas para ter certeza de que ela entendeu. — Você é esperta. Você faz os melhores biscoitos que eu já provei. E cada vez que estamos juntos, não posso acreditar que fica melhor.

As bochechas de Genevieve ficaram rosadas.

— Eu pensei que era só eu. Não estou com ninguém há muito tempo. E mesmo assim, não tenho muita experiência.

— Igualmente.

— Mesmo? — Ela franziu a testa. — Como afirmado anteriormente, você é muito sexy. Aposto que as mulheres estavam rastejando em cima de você.

Eu ri.

— Quando eu era mais jovem, sim. Talvez. Mas então...

— Certo. Shannon. Você estava com ela.

— Não. — Eu balancei minha cabeça. — Nós nunca ficamos juntos.

O queixo de Genevieve caiu.

— Mas...

— Nós não fizemos sexo. Nem uma vez. Nenhum de nós queria fazer sexo. Nós não pensamos que era certo, considerando que ela estava tendo o bebê de Kaine. Nós nos beijamos. Demos as mãos. Mas seu corpo era para aquele bebê.

Genevieve bateu as pontas dos dedos no volante como se as estivesse contando.

— Então, antes de mim, você não estava com uma mulher em...

— Anos. — Seis deles, para ser exato. Genevieve quebrou meu celibato. Eu tinha certeza que nas duas primeiras vezes que estivemos juntos, eu tive uma performance horrível. Talvez fosse por isso que eu estava tentando compensá-la, desde que paramos de fingir que não desejávamos um ao outro.

— Faz muito tempo para mim também.

— Sério?

Ela assentiu.

— Eu estava ocupada trabalhando. Eu fui a alguns encontros, mas não havia ninguém que eu gostasse tanto.

Deus, eu gostei disso. Gostava que fôssemos nós, juntos. Eu nem pensei em perguntar se ela tinha namorado em Denver. Nós nos casamos e eu apenas presumi que não havia ninguém que ela deixou para trás. Fiquei realmente feliz por não haver, porque ela não estava ansiando por alguém que eu nem sabia que poderia existir.

Ela pensava que eu ainda estava ansiando por Shannon?

— Genevieve. — Eu esperei até que ela olhasse, até ter sua atenção por um segundo. — Você se destaca. Acima de todos.

Ela olhou para frente.

— É ruim dizer que estou com ciúmes? Porque ela teve você primeiro.

— Não há nada para ficar com ciúmes. Eu amava Shannon, mas não estou apaixonada por sua memória.

Meu coração não era mais dela. Eu tinha dado a Genevieve.

— Como era Shannon? — Genevieve foi a única pessoa que disse o nome de Shannon sem medo de como eu reagiria.

— Ela era doce. Seus pais costumavam dizer que ela tinha sido uma fada em outra vida.

Ela era brilhante e ensolarada. Ela flutuava mais do que andava. Mas ela era frágil, como uma flor. Ela não tinha a força de Genevieve. Ela nunca teria sobrevivido às coisas que Genevieve suportou no ano passado.

Os pais de Shannon também eram assim. Suaves. Personalidades suaves. Eu pensava sobre eles com frequência e como eles lidaram com a perda da filha. Segundo a mãe, eles ainda moravam em Bozeman. Mamãe esbarrou neles em Costco pouco depois de eu sair da prisão. Mamãe deixou o carrinho no corredor e saiu da loja, não porque ela não aguentou o encontro, mas porque sabia que os pais de Shannon não aguentariam.

Era parte da razão pela qual minha vida em Bozeman estava tão confinada à casa de mamãe após a prisão. Tornara-se um tipo de prisão auto imposta. Eu não queria encontrar velhos amigos ou a família de Shannon.

Eu trabalhava em uma loja de lubrificantes no fim da cidade, onde as chances de encontrar alguém do passado eram pequenas. Eu gastava pouco morando com mamãe, esperando até que meus dois anos de liberdade condicional terminassem, então comecei a procurar um emprego fora de Bozeman.

Então encontrei Draven e a Oficina Clifton Forge.

E eu saí de Bozeman antes de me sufocar.

— Eu nunca pedi desculpas a eles, — eu confessei. — Para os pais de Shannon.

— Não é tarde demais. Talvez você possa escrever uma carta para eles.

O psicólogo na prisão disse o mesmo.

— Uma carta parece uma desculpa fajuta.

Eu merecia sentir a ira deles de frente, não me esconder atrás de um pedaço de papel. Não deixá-los sozinhos para sofrer minhas palavras sem a chance de retaliar.

— Você sabe onde eles moram?

Eu assenti.

— Em Bozeman.

Genevieve abriu a boca, mas fechou-a sem dizer uma palavra.

— O quê?

Ela ficou calada.

— Diga-me.

— Não. Estou tentando não pressioná-lo.

Talvez fosse isso que eu precisasse. Ela tinha esse jeito de me dar tempo. Ela me dava paciência e graça. Eu não mereço nada disso, mas o que ela disse na noite passada esteve na minha cabeça a manhã toda.

Você acha que algum dia o passado deixará de definir quem você é?

A culpa da morte de Shannon era permanente. Era tanto uma parte de mim agora quanto as tatuagens na minha pele. Mas havia uma diferença entre viver com a culpa e deixá-la controlar minha vida.

Até recentemente, não havia muito para eu viver. Culpa e vergonha eram minhas parceiras de cama. Agora, eu só queria Genevieve em meu coração enquanto dormíamos. Eu não chegaria lá sozinho.

— E se você fizer? — Eu perguntei. — E se você me pressionar?

— Então eu levo você até a casa deles e espero você no carro.

Engoli em seco.

— Ok.

— Ok?

Coloquei minha mão na sua perna.

— Ok.

Quando chegamos a Bozeman, eu não dei as instruções para a casa de mamãe. Levei-nos para a casa dos pais de Shannon.

— Você acha que eles ainda moram aqui? — Genevieve diminuiu a velocidade enquanto passávamos por um bairro tranquilo.

No final do quarteirão à frente, vi a casa verde de dois andares com o telhado vermelho-ferrugem.

— Sim.

Sim, eles ainda moravam lá. Porque no quintal havia uma cabeça familiar de cabelos loiros, curvados para puxar um pedaço de mato em um canteiro de flores.

Kathy. Mãe de Shannon.

— Estacione aqui, — eu pedi e Genevieve guiou o carro para a calçada, parando uma casa abaixo. Apontei para Kathy quando o pai de Shannon, Timothy, saiu de casa, limpando algo em suas mãos. — São eles.

— Os pais dela? — Ela perguntou, tirando os óculos escuros.

Eu assenti, incapaz de falar ou desviar os olhos. Kathy olhou para Timothy e sorriu. Não era grande nem chamativo, mas era puro. Não havia nada de tristeza em seu rosto. O que Kathy sentia era o que ela mostrava. Eu sabia porque Shannon era da mesma maneira. Ela herdou o mesmo sorriso despreocupado.

Timothy disse algo para Kathy, fazendo-a jogar a cabeça para trás e rir. Ambos fizeram. Então ele se ajoelhou ao seu lado, colocou um braço em volta de seus ombros e a puxou para um beijo na têmpora.

Kathy deu um tapinha na sua bochecha com as luvas de jardinagem. Deve ter deixado uma mancha porque eles riram novamente quando ela o limpou.

A cena me atingiu bem no peito. Não ousei piscar, caso desaparecesse.

— Eles parecem...

— Felizes, — Genevieve terminou.

Eu balancei a cabeça, meus olhos lutando para acreditar no que estava vendo. Isso poderia estar certo? Como ela estava sorrindo? Como ele estava rindo? Eu não tinha arruinado a vida deles?

Talvez tenha sido tudo uma encenação. Talvez eles estivessem infelizes e colocando um sorriso no rosto um do outro. Acho que logo descobriria.

Soltei o cinto de segurança e peguei a maçaneta, mas antes que eu pudesse abrir a porta, o braço de Genevieve disparou.

— Não. — Ela agarrou meu cotovelo.

— Hã? — Soltei a maçaneta da porta.

— Não vá.

— Mas eu pensei...

— Eles superaram. — Ela me soltou e voltou-se para Kathy e Timothy. — Eles encontraram uma maneira de serem felizes e conseguiram superar a dor. Não tire isso deles.

Meus ombros caíram.

— Eu quero um fechamento, V.

— Eu sei, querido. Mas esse pedido de desculpas, é realmente para eles? Ou é para você?

Nós dois sabíamos que era o último.

Genevieve e eu ficamos sentados congelados, observando-os enquanto eles arrancavam ervas daninhas. À medida que os longos momentos passavam, enquanto eles trabalhavam no quintal aparando narcisos e tulipas, percebi que esse era o meu fechamento.

Eles me deram isso simplesmente vivendo.

Todo momento que passou, todo sorriso que eles compartilharam, não parecia falso. Isso não era uma encenação. Eles perderam a filha. Eles haviam perdido a neta. Mas aqui estavam eles, vivendo.

Mamãe me disse uma vez que Kaine havia encontrado um fechamento com Shannon quando ele visitou seu túmulo. Eu tentei. Duas vezes. Cada vez, eu saí me sentindo pior do que quando cheguei, porque olhando para a lápide cinza, eu sabia que ela nunca voltaria. Eu a coloquei ali, no chão.

Eu não precisava de um túmulo para meu fechamento. Eu precisava disso.

Vida.

— Eles superaram, — eu sussurrei quando Timothy pegou uma flor e a entregou a sua esposa.

Aquela flor era a esperança de que talvez um dia em breve eu também pudesse deixar a dor de lado e viver minha vida com a mulher ao meu lado.

Apertei o cinto de segurança.

— Estou pronto para ir para casa.

— Para ver sua mãe?

Eu balancei minha cabeça.

— Não. Vou ligar mais tarde e me desculpar por nós. Voltaremos para vê-la outro dia. Agora, eu só quero ir para casa. Com você.

— Você está bem?

Dei uma última olhada em Kathy e Timothy. Eles estavam caminhando, de braços dados, em direção à casa. Eu gravei seus sorrisos na memória, depois me virei para Genevieve.

Ela brilhava. Se meu coração a deixava sem fôlego, o dela me dava um motivo para respirar. Ela sabia o quanto ela significava para mim?

Não. Porque eu não tinha dito a ela.

— Eu não quero mais esse falso casamento.

Ela se encolheu.

— Oh.

— Que tal você usar essa aliança de verdade?

Ela franziu as sobrancelhas.

— Eu não... O quê?

— Eu não mereço você.

— Isaiah...

— Deixe-me terminar.

Ela fechou a boca e assentiu.

— Eu não mereço você, V, mas não posso desistir de você. — Se ela quisesse ir, eu não ficaria no seu caminho. Mas se ela fosse embora, eu nunca mais seria o mesmo.

Os olhos de Genevieve encheram de lágrimas.

— Eu também não quero desistir de você.

Um sorriso se espalhou pelo meu rosto, isso apenas a fez chorar mais.

— Então você vai ser minha esposa?

Ela fungou, limpando as lágrimas nas bochechas. Então ela se inclinou, esticando para roçar um beijo nos meus lábios.

— Sim.


Capítulo Vinte e Quatro

Genevieve


— Quero comprar uma aliança melhor para você.

— Parece um desperdício de dinheiro, já que não vou usá-la.

Isaiah resmungou.

— V.

— Esta é a minha aliança. — Eu balancei meu dedo. — Eu não quero outra.

Ele murmurou algo baixinho e voltou a atenção ao notebook na mesa. Ele estava procurando um apartamento em Missoula por mais de uma hora, enquanto eu fazia as malas.

Três meses se passaram desde a nossa viagem a Bozeman, desde que Isaiah e eu nos casamos verdadeiramente. Não aconteceu da noite para o dia, mas nesses três meses, nós dois começamos a encontrar nossa paz.

Juntos.

Nossa vida não era emocionante. Isaiah e eu trabalhávamos durante o dia e passávamos a noite no apartamento. Uma aventura para nós era sair para comer no sábado à noite.

Houve noites em que ele acordou de um sonho horrível. Houve dias em que chorei pela perda de meus pais. Mas nós nos apoiamos um no outro. Reunimos nossas forças. Afinal, foi assim que sobrevivemos ao ano passado.

E agora era hora de mudar.

Após uma longa discussão, decidimos deixar Clifton Forge.

Passei um mês inteiro estudando para o exame LSAT. Felizmente, o tempo que passei estudando em Denver não foi um desperdício e as informações estavam guardadas na memória. Eu fiz o teste e passei e agora era uma futura aluna da primeira Faculdade de Direito em Montana.

Estávamos nos mudando em duas semanas, bem a tempo de chegar a Missoula antes do início das aulas.

— Venha dar uma olhada neste aqui. — Isaiah me acenou e apontou para o notebook.

Eu me levantei da caixa que acabei de fechar com fita adesiva e fui até a mesa, curvando-me sobre seu ombro para analisar as especificações e as fotos do apartamento de dois quartos.

— É um pouco mais do que planejamos, mas é muito melhor do que qualquer outra coisa que encontramos.

— Vou ligar para eles. Talvez se nos comprometermos com um contrato de arrendamento de um ano, eles baixem o aluguel em cinquenta dólares.

Meu estômago deu um salto mortal.

— Tem certeza de que é isso que você quer?

Ele olhou para mim, seu olhar suavizando.

— Onde você for, eu vou.

— Ok. — Sorri e beijei sua bochecha, depois voltei a embalar.

Hoje, eu estava tentando guardar tudo o que não precisaria imediatamente. Dash não estava com pressa de alugar este lugar depois que sairmos, mas eu não queria nossas coisas por aqui. Deixaríamos a maioria das caixas aqui até conseguirmos levar todas para Missoula.

Olhei ao redor da sala, observando o espaço que se tornou meu porto seguro.

— Vou sentir falta daqui.

Isaiah se levantou e andou até onde eu estava, passando os braços em minha volta por trás. Então se inclinou para sussurrar no meu ouvido:

— Eu também.

— Eu não achei que iria gostar daqui. — Não apenas o apartamento, mas esta cidade. Clifton Forge se tornou minha casa. Voltar a Denver era uma noção esquecida há muito tempo.

— Voltaremos, — ele prometeu.

— Sim, nós voltaremos.

Jim me encorajou a estudar para o exame de LSAT. Ele foi o único a me pressionar para finalmente fazer isso acontecer. Jim e Isaiah foram co-capitães da minha equipe pessoal de líderes de torcida.

Jim insistiu que eu tirasse um tempo no trabalho para estudar, ajudando se eu tivesse alguma pergunta. Acho que ele estava mais animado para conseguir a minha pontuação do que eu. Esperar essas três semanas foi estressante para nós dois. Mas ele não ficou surpreso por eu ter marcado uma boa pontuação. Nem Isaiah.

Eu me inscrevi na faculdade de direito e fui rapidamente aceita. No dia em que recebemos o e-mail, Isaiah começou a procurar emprego.

A única desvantagem da mudança era que ele iria sair da oficina.

Nos últimos três meses, ele se envolveu cada vez mais nas reformas de carros personalizados. Ele adorou trabalhar ao lado dos caras e deixar algo velho novo novamente. Ele amava a arte disso.

Um pouco do talento artístico que Kaine tinha para suas peças de mobiliário, Isaiah tinha para carros. Ele me buscava depois de um longo dia de trabalho energizado, não cansado. Ele mantinha um pequeno sorriso no rosto.

Aquele sorriso era a melhor parte do meu dia.

A melhor parte da minha noite era adormecer ao seu lado.

— É melhor eu terminar algumas dessas caixas. — Suspirei. — Bryce mencionou que viria hoje com o jornal. Duvido que seja produtivo depois disso.

Isaiah me segurou mais forte.

— Estou feliz que você tenha dado a ela a aprovação para o artigo.

— Já era tempo.

Bryce mandou publicar o artigo memorial para mamãe que vai sair hoje, na edição de domingo do Clifton Forge Tribune. Um ano depois, eu finalmente dei luz verde para imprimir.

Meu estômago deu outro salto mortal seguido por um salto estrela. Não sei por que estou nervosa. Eu já li.

— É um fechamento. É normal ficar ansiosa com isso.

O pequeno nó na minha garganta que esteve presente a manhã toda estava lentamente ficando maior.

— Eu apenas desejo... — Tantas coisas.

Eu desejava que não houvesse necessidade de um artigo memorial em primeiro lugar. Eu queria que não houvesse coisas como Tin Gypsies ou Arrowhead Warriors. Eu desejava que, em vez de fazer as malas esta manhã, estivesse sentada na lanchonete tomando café da manhã com Draven, papai. Eu ainda não tinha me acostumado a chamá-lo de pai, mesmo na minha cabeça.

Eu desejava tudo isso e ainda ter encontrado Isaiah. Eu gostava de pensar que talvez o universo nos colocou em caminho de colisão, e não importando o que acontecesse, nos encontraríamos cedo ou tarde.

Não estava feliz que estávamos saindo de Clifton Forge enquanto o assassino de mamãe e nosso sequestrador ainda estava solto. Mas não havia nada a ser feito, a não ser seguir em frente com nossas vidas.

Não tínhamos respostas.

E eu duvidava que algum dia tivéssemos.

— Com o que eu posso ajudar? — Isaiah perguntou, me soltando.

— Nada. Só estou arrumando algumas roupas que não vou precisar. — A maioria das minhas roupas sociais ficaria armazenada até a hora de trabalhar novamente.

Com o dinheiro que economizei com a venda do meu apartamento em Denver, Isaiah e eu teríamos dinheiro suficiente para viver durante a faculdade de Direito. Ele arranjaria um emprego, esperançosamente, e seu salário cobriria os mantimentos. Minha conta poupança combinada com o que ele economizou trabalhando para Dash cobriria o aluguel. Se eu precisasse, conseguiria um emprego de meio período em uma cafeteria ou algo assim, mas estávamos planejando que, pelo menos no primeiro ano, focasse apenas na faculdade.

— Vou ver se algo novo apareceu no serviço de emprego.

— Ok, querido. — Eu levantei meu queixo, pedindo um beijo.

Isaiah raramente me negava. Seus lábios roçaram os meus e um formigamento familiar percorreu minha espinha. Eu pressionei para aprofundar, mas quando sua língua passou pelo meu lábio inferior, uma porta de carro bateu lá fora.

Bryce estava aqui.

Eu fiz uma careta, e me afastei, depois passei por Isaiah para abrir a porta.

— Ei, — disse Bryce, um jornal na mão enquanto subia as escadas. O seu pai, Lane, acenou para mim do seu assento no carro.

Ela ainda não ia a muitos lugares sozinha. Nem eu.

— Oi. — Abracei Bryce quando ela alcançou o patamar, depois a conduzi para dentro. Sentamos no sofá e ela entregou o jornal. O sorriso de mamãe me cumprimentou na primeira página. Eu me perdi naquele sorriso. Lágrimas inundaram meus olhos, borrando a imagem e as palavras.

— Oh, Genevieve. — Bryce colocou o braço em volta dos meus ombros. — Eu sinto muito.

— Está tudo bem. — Eu pisquei meus olhos. — Eu apenas sinto falta dela.

A raiva que eu tinha por mamãe era apenas uma lembrança. Tempo e amor lavaram meu ressentimento.

Talvez porque eu tivesse me apaixonado por Isaiah, eu entendi como mamãe deve ter se sentido em relação a Draven. Ela o amava. Ela cometeu um erro. E ela fez o seu melhor para fazer as pazes. Eu gostava de pensar que se ela não tivesse sido morta, ela teria me falado sobre ele um dia.

Examinei o artigo, lendo as palavras que tinha lido antes. Bryce havia me enviado o rascunho por e-mail na semana passada. Algo sobre vê-lo impresso em papel cinza claro me fez sentir tudo mais intensamente, do que na tela do computador. Segurar o artigo, ver a receita de biscoitos de chocolate da mamãe na parte inferior da página, tornava tudo muito real.

Mamãe se foi. Ela se foi por mais de um ano.

Eu me apegava a coisas como este jornal, às fotos que guardei, para nunca esquecer a mulher amorosa e brilhante que ela tinha sido.

Meus dedos deslizaram sobre a página. Eu amo você, mãe.

Eu dei um sorriso triste para Bryce.

— Obrigada.

— Obrigada por me deixar escrever.

— Estou feliz que foi você.

Ela me abraçou mais apertado.

— Eu também. Eu só queria que pudéssemos encontrar o cara que fez isso com ela.

— Eu estava pensando a mesma coisa.

— Você acredita que já faz quase um ano desde a montanha? — Ela perguntou.

— Um ano amanhã. Às vezes parece que foi ontem. Em outros, como se nunca tivesse acontecido.

— O mesmo. — Bryce apertou os punhos. — Eu o odeio. Eu odeio que ele tenha escapado.

— Talvez ele tenha se perdido naquela montanha e tenha sido eviscerado por um urso.

Ela riu.

— Eu estou de acordo com essa teoria.

Não houve indícios de nosso sequestrador o ano todo. Nossos problemas vieram dos Warriors, que agora estavam longe de Clifton Forge. As únicas exceções eram os raros fins de semana em que Jeremiah veio ver Presley. Em meses, ele só veio visitá-la algumas vezes. Mesmo assim, ele não usava o colete na cidade e ficava principalmente perto da casa dela.

— Então, tudo bem? — Bryce perguntou, acenando para o jornal.

— Está perfeito.

Ela apertou meu joelho, depois se levantou.

— É melhor eu ir para casa. Dash está com Xander e, embora ele saiba que papai está comigo, ele ficará nervoso se eu ficar fora por muito tempo.

Dash estava mais protetor do que nunca. Dado o que aconteceu no ano passado, eu não o culpo. Isaiah era do mesmo jeito e, em vez de me rebelar contra o pairar, eu me inclinava para ele. Bryce também.

Com um último abraço, ela estava do lado de fora. Isaiah ficou olhando no topo da escada, certificando-se de que ela estava no carro com Lane antes que ele entrasse.

— Você está bem? — Ele perguntou, me puxando para seus braços.

— Não, mas eu vou ficar. — Funguei, sentindo que iria chorar mais e respirei fundo para me acalmar. — Você vai me abraçar por um minuto?

— Não precisa perguntar.

Fechei os olhos, relaxando em seu abraço. Isaiah era mais do que eu poderia esperar. Meu coração. Meu Salvador.

— Eu...

As palavras se alojaram na minha garganta como sempre. Três meses de casamento real, e eu não tive coragem de dizer que o amava.

Não havia dúvida de que eu estava apaixonado por Isaiah, e eu tinha quase certeza de que ele também me amava. Então, por que não conseguia dizer as palavras? Por que eu não conseguia dizer a ele? O que eu estava esperando?

Abri minha boca para tentar novamente, mas nada saiu. Então eu o segurei mais apertado, absorvendo esse momento de silêncio, até que chegou a hora de nos separarmos e voltarmos a fazer as malas.

Isaiah se sentou para retomar sua busca de emprego pelo notebook. Até agora, ele foi recusado em tudo o que solicitou. Seu histórico criminal era difícil de superar para a maioria das pessoas. Eles não o conheciam ou seu bom coração. Tudo o que eles tinham era uma caixa de seleção marcada ao lado de ‘criminoso’ em um aplicativo on-line.

Ele encontraria algo. Levaria tempo, mas ele acabaria encontrando um empregador que não estivesse preocupado com seu passado. Dash fez algumas ligações para algumas oficinas em Missoula e esperávamos que uma indicação de Dash Slater abrisse caminho para um emprego em que Isaiah pudesse trabalhar por alguns anos.

Até voltarmos.

Dash já havia prometido que o trabalho de Isaiah estaria esperando.

Passei a próxima hora fazendo as malas e organizando. Era quase almoço e meu estômago roncou quando outra porta de carro bateu do lado de fora. Na verdade, duas.

Isaiah olhou por cima do ombro para a porta.

— Alguém mais vem hoje?

— Não que eu saiba. — Eu levantei do chão, encontrando-o na porta.

Ele abriu bem a tempo de dois policiais subirem as escadas.

Meu estômago revirou.

A coluna de Isaiah ficou rígida e ele procurou minha mão atrás dele. Apertei-a com toda a minha força.

— Boa tarde, — disse um policial, tirando os óculos escuros do rosto. O outro desceu alguns degraus, deixando seu parceiro falar.

— Oi. — O aperto de Isaiah era tão forte que doía. Seus ombros estavam tensos. Sua respiração ficou ofegante. Ele estava prestes a surtar.

— Podemos ajudá-lo? — Eu pisei ao lado de Isaiah, forçando-o a ficar ao lado para que nós dois ocupássemos a porta.

— Você é Genevieve Reynolds?

Eu engoli.

— Sim.

— Senhora, precisamos fazer algumas perguntas na delegacia.

Eu? Oh, meu Deus. Isso não era sobre Isaiah. Era sobre mim. Eu não tinha certeza se isso era uma coisa boa ou ruim. Meu coração estava disparado, mas lutei para manter minha voz calma e inocente.

— Sobre o quê?

— Só tenho algumas perguntas a fazer, — respondeu o policial.

— Sobre o quê? — Eu repeti.

— Desculpe, senhora. Não podemos discutir isso aqui. Você poderia vir conosco?

Parte de mim queria contestar. Eles não estavam aqui com um mandado. Mas se eu fizesse, eles só voltariam com um. Talvez a cooperação fosse a melhor maneira de manter essas perguntas direcionadas para mim e não para Isaiah.

— Estou sendo presa?

— Não agora.

Não agora? Minha garganta ficou seca. Como eles poderiam saber? Não havia como, certo? Talvez isso fosse sobre o falso suicídio de Draven. Talvez eles suspeitassem de armação.

— Se eu for com você, posso ir dirigindo?

O oficial assentiu.

— Sim, senhora.

Engoli em seco.

— Por favor, me dê um minuto.

Entrei no apartamento, praticamente puxando Isaiah comigo. Quando a porta se fechou, eu respirei fundo. Minha mente estava girando, e me concentrar em qualquer coisa era quase impossível. Eu me afastei, indo para a cozinha pegar minha bolsa. Então eu coloquei os chinelos que havia deixado na porta da frente.

— V, não vá.

— Eu tenho que ir. Eles voltarão se eu disser que não. — E prefiro manter o foco em mim do que em Isaiah.

— Mas...

— Não direi nada. Confie em mim. Será melhor cooperar um pouco. Vamos descobrir o que eles querem antes de surtamos. — Muito tarde. Eu já estava enlouquecendo.

— Eu não gosto disso.

Eu encontrei seu olhar de pânico.

— Eu também não. Você acha que eles... Que eles sabem?

— Talvez. — A testa dele franziu. — Eu devo ir. Deveria ser eu.

— Não. — Corri até ele, envolvendo meus braços em torno de seu corpo. — Eles me querem. Eu vou descobrir o que está acontecendo. Talvez seja sobre Draven. Talvez eles saibam que ele realmente não se matou. Mas você não pode ir. Eles saberão que algo está acontecendo. Se eu não for, se eu recusar, isso me faz parecer culpada.

Ele me segurou tão forte que eu não conseguia respirar. Então ele me deixou ir até a porta, abrindo-a para ver os dois policiais ali, de pé, prontos para me escoltar até a delegacia.

Lancei a Isaiah um olhar por cima do ombro, depois acenei para os oficiais, seguindo-os escada abaixo.

Atrás de mim, Isaiah seguia descalço.

Deus, o que estava acontecendo? Por que eles não me disseram? Tinha que ser algo criminoso. Eu não estava sendo presa, mas era uma pessoa de interesse. Se eles tivessem algumas perguntas casuais, teriam me perguntado em casa, não me ‘convidado’ para ir até a delegacia.

Meu coração estava na garganta, meu pulso acelerado, quando descemos o último degrau da escada eu vi o carro de polícia estacionado atrás do meu, bloqueando-o.

Os policiais me ladearam, caminhando em direção ao meu carro.

Eu não estava sendo presa, mas isso com certeza parecia uma prisão.

— Espere, — Isaiah chamou. Eu torci quando ele correu. Ele não prestou atenção aos policiais quando pegou meu rosto em suas mãos e me beijou, lenta e suavemente. — Eu amo você.

E aí estava. No momento em que eu mais precisava ouvir essas palavras ele as disse.

— Eu também amo você.

Ele deixou cair a testa na minha.

— Ligue para Jim, — eu sussurrei.

— Ok, — ele sussurrou de volta. — Aguente firme.

Para mantê-lo seguro? Ele não precisava se preocupar.

— Eu vou.


Capítulo Vinte e Cinco

Genevieve


— Olá, Genevieve. Sou Marcus Wagner, chefe de polícia de Clifton Forge. — Ele entrou pela porta da sala de interrogatório, fechando-a suavemente atrás dele. Então veio para a mesa onde eu estava sentada, estendendo a mão. — Prazer em finalmente conhecê-la.

— Eu também. — Apertei sua mão.

Ele se sentou na cadeira de metal oposta à minha. A mesa era larga entre nós, grande o suficiente para que eu não pudesse alcançá-lo e tocá-lo sem ficar de pé.

— Desculpe por fazer você esperar.

Estou aqui há quase uma hora, sentado sozinha nesta sala incolor. Os policiais que me escoltaram até aqui me deram um copo de água e depois desapareceram.

— Isso é sobre o quê? — Eu perguntei.

— Eu tenho algumas perguntas para você. — Ele me deu um sorriso gentil. — Se você não se importar.

Porra sim, eu me importava.

— De maneira nenhuma.

Essa coisa toda estava errada e eu não tinha motivos para ficar, além de querer minha bunda nesta cadeira, não a de Isaiah.

E caramba, eu estava curiosa.

Estar em uma sala de interrogatório nunca era uma boa ideia, especialmente sem a presença de Jim, mas eu queria informações. Por que eu estava aqui? A maneira mais rápida de descobrir por que eu estava aqui era jogando junto.

Dei um sorriso inocente ao chefe Wagner e tomei um gole do meu copo.

Eu não tinha encontrado o chefe antes, mas conversamos por telefone após o assassinato de mamãe, quando eu estava determinada a fazer Draven pagar pela vida que ele tirara.

Oh, como as coisas mudaram.

Durante nossas conversas telefônicas, o chefe Wagner me disse para chamá-lo de Marcus. Ele me deu seu número de celular pessoal, caso eu precisasse conversar. Ele me assegurou, uma e outra vez, que Draven seria punido por seu crime. A necessidade de justiça de Marcus parecia tão forte quanto a minha.

Eu gostei disso nele. E eu gostava que sua voz sempre me deixasse à vontade. Ele tinha um timbre profundo e rico, e agora que eu o conhecia, ele se encaixava na imagem mental que eu havia construído. Ele era um homem grande, sólido e alto, com um peito largo e um estômago que podia suportar qualquer soco.

Claramente, Marcus mantinha a forma. Ele provavelmente estava no final dos cinquenta ou no início dos sessenta anos, mas não se descuidou. De certa forma, ele me lembrava Draven. Eles tinham a mesma estatura e confiança. Eles provavelmente tinham a mesma idade. Marcus era bonito, o cinza nas têmporas e nas sobrancelhas espessas apenas aumentava seu apelo.

Ele tinha um bigode largo e grosso sombreando seu lábio superior. Estava bem aparado, mas escondia o rosto o suficiente para dificultar a leitura de sua expressão. Ele poderia fazer uma careta e se confundir com um sorriso.

Marcus estudou meu rosto, mas o olhar não era intimidador, mais curioso. Era quase... Carinhoso. Ele não parecia nem um pouco zangado ou atento.

Merda. Eu tinha interpretado mal essa coisa toda?

— Os policiais que vieram não me disseram do que se tratava. Quer me ajudar aqui? Porque estou bastante confusa sobre o motivo pelo qual tive que vir à delegacia no domingo.

— Desculpe. — Ele suspirou. — Eles eram meus dois em patrulha hoje. Eu estava atrasado, caso contrário eu teria ido sozinho. Tudo o que pedi foi que eles pedissem para você descer. Espero que tenham sido educados.

— Sim. — Eu assenti. — Muito.

Marcus continuou a me estudar e um silêncio estranho permeou a sala. Ele se estendeu indefinidamente, até que meu coração trovejou em meus ouvidos e minhas mãos começaram a suar. O que ele queria? Por que ele não estava falando? Por que ele estava apenas olhando para mim? Algo sobre o olhar em seu rosto fez os pelos dos meus braços arrepiarem.

Era assim que ele conseguia suas confissões? Olhando para alguém o tempo suficiente para que finalmente derramassem suas entranhas?

O que você está olhando? O que você quer? Eu gritei as perguntas na minha cabeça. Isso era pior do que ficar sentada em frente a Tucker Talbot e sua gangue assustadora de motociclistas.

Eu quebrei.

— Você tem perguntas?

Marcus piscou, seu olhar caindo na mesa por um momento.

— Não era como eu esperava que ele pagasse. Ele escolheu a saída covarde.

Draven. Era sobre Draven, não a cabana.

O ar saiu dos meus pulmões.

Eu não tinha falado com Marcus desde o meu sequestro. Por que eu deveria? Eu tinha sido firmemente puxada para a vida dentro da Oficina Clifton Forge. Enquanto eu estava conhecendo meu pai, e trabalhando para provar sua inocência, o chefe continuara o curso de punir Draven pelo assassinato de mamãe.

Draven, papai, não foi um covarde.

Ele salvou minha vida, de Isaiah. E de Dash.

Mas eu não poderia dizer exatamente isso ao chefe, poderia? Seria ignorada. Marcus pensava que Draven era culpado. Com razão. Eles tinham a arma do crime com as impressões de Draven. Eles tinham Draven na cena do crime.

Marcus havia feito seu trabalho. Ele encontrou evidências e prendeu seu suspeito.

— Como você sabe, ele é meu pai.

Marcus assentiu.

— Eu sei.

Todo mundo sabia. Era uma cidade pequena e a filha da vítima associada ao suposto assassino se espalhou como fogo. Acrescente a isso um teste de paternidade positivo, eu fui um tópico interessante. Felizmente, pouco disso chegou à oficina. Mas tinha certeza de que chegara à mesa do chefe. Eu tinha certeza de que ele me procurou no julgamento, mas Jim achou melhor eu ficar longe. Marcus provavelmente também tinha ouvido falar dos meus cafés da manhã de domingo na lanchonete.

Jim realmente planejara usar meu relacionamento com Draven na audiência de sentença, esperando que isso ganhasse simpatia por Draven.

Bryce me disse que Marcus era reverenciado e respeitado pela cidade. Após a dissolução dos Gypsies, a taxa de criminalidade caiu para quase nada, e muitos deram ao chefe o crédito por sua comunidade pacífica. Ele deveria ser um excelente investigador que dirigia a força policial com uma mão firme e honesta.

Então, por que ele não investigou a faca? Bryce publicou um artigo pouco depois da morte de mamãe, especulando que uma arma de Draven havia sido roubada. Ele tinha ignorado? Talvez ele tivesse investigado, mas não havia nada para encontrar.

Não é surpresa, pois também não encontramos nada.

— Por que estou aqui? — Eu perguntei. E porque agora? A morte de papai foi há meses atrás. O que havia para discutir?

— Draven matou sua mãe. — Sua declaração, o tom, estava cheia de veneno.

— Eu não acredito que isso seja verdade.

Fim de discussão. Minha lealdade seria para sempre com Draven. Sim, ele era um criminoso. Claramente, ele não se dera bem com o chefe. Mas, para mim, o tópico de Draven estava fora de questão.

A mandíbula de Marcus endureceu. O clima na sala mudou. A tensão retornou quando seu olhar endureceu. Ele se mexeu na cadeira, as pernas arranhando o chão de concreto enquanto pegava alguma coisa no bolso.

A sala girou quando ele a colocou sobre a mesa entre nós.

O colar da minha mãe estava dentro de um saco plástico transparente. Era o colar que eu procurava desde a sua morte. O colar que eu descrevi em detalhes para os proprietários de uma loja de penhores em Clifton Forge e para dezenas em todo o Estado.

Como ele conseguiu? Ela estava usando quando morreu? Todo o resto daquela manhã horrível, sua bolsa, a mala que ela tinha no hotel, até a escova de dentes foram devolvidas para mim depois que a polícia considerou que não fazia parte da investigação.

Este colar era evidência? Se sim, por que não foi incluído em nenhum dos materiais de teste? Jim me deixou ver o caso de Draven no mês passado. Eu pedi para ele. Implorei, realmente. Eu precisava desse pequeno fechamento. Não houve menção ao colar.

— Você reconhece isso? — Marcus perguntou, embora ele já soubesse a resposta. Eu nem sequer tentei esconder minha reação de olhos arregalados.

— Sim. Era da minha mãe.

A delicada corrente de ouro não brilhava embaixo do plástico. Estava opaca e revestido de preto. O cristal no centro do pingente da Estrela do Norte tinha um anel de sujeira ao redor da base, como se alguém tivesse limpado apenas a parte da pedra. Apenas o centro estava limpo o suficiente para captar um pouco da luz fluorescente no alto.

— Você se lembra do verão passado quando aquele homem foi queimado até a morte em uma cabana nas montanhas?

Levei um momento para registrar a pergunta de Marcus. Então a sensação de afundamento no meu intestino quase me derrubou.

Isso não era sobre Draven ou o assassinato de minha mãe.

Era sobre a cabana.

Sempre voltava àquela maldita cabana.

— Hum, sim. Acho que sim. Aconteceu logo antes de me mudar para cá. — Eu mantive meu olhar fixo no colar da mamãe, usando tudo ao meu alcance para impedir que minha voz tremesse. Eu senti os meus dedos trêmulos.

Um ano atrás, eu havia passado inúmeras horas ensaiando o que diria se fosse presa. Repetidas vezes eu pratiquei, no chuveiro ou enquanto dirigia para o trabalho.

Nada aconteceu. Eu fiquei complacente. Onde estavam as frases praticadas agora? Onde estava a falsa surpresa?

Marcus tocou a sacola plástica, puxando-a para o lado da mesa. Eu queria agarrá-la e pegá-la de volta porque, maldição, esse colar deveria ser meu.

— Esse incêndio é um caso arquivado por quase um ano. Os investigadores julgaram o incêndio criminoso, mas não conseguimos encontrar nenhum vestígio.

— Ok. — Eu assenti.

— Havia algumas coisas na cabana que ligamos à vítima. Nós pensamos que este colar era dele também. Mas acontece...

Forcei meus olhos a encontrarem seu olhar.

— Não era.

Como o colar da mamãe acabou naquela cabana? Eu não estava usando aquela noite. Eu teria lembrado.

Eu não usava joias para dormir. A única exceção era o meu anel de casamento. Eu estava de pijama, meu rosto lavado e os dentes escovados, pronta para dormir na noite em que fui sequestrada. Além disso, mamãe nunca me deu esse colar.

A última vez que eu peguei emprestado foi, quando? Em Denver. Mamãe havia me emprestado na faculdade para um terceiro encontro. Aquele encontro foi terrivelmente terrível, porque o sujeito havia desembolsado vinte dólares por um buffet barato de pizza e pensava que era o suficiente para o sexo. Quando eu o rejeitei, ele bufou e disse: Não espere ouvir falar de mim novamente.

Mamãe me levou na noite seguinte para um encontro de mãe e filha, com pizza decente, e eu devolvi o colar para ela. Eu a provoquei, dizendo que dava azar.

Essa foi a última vez que eu usei esse colar, eu tinha certeza disso.

Eu devolvi a ela.

— Alguma ideia de como chegou lá? — Marcus perguntou.

— Não. — Merda. Eu deveria ligar para Jim. Eu precisava calar a boca e ligar para Jim. Mas como Marcus sabia que esse era o colar da mamãe?

Minha espinha formigou. Era por isso que eu estava aqui, certo? Porque ele sabia que esse colar pertencia à mamãe e ele me trouxe para interrogatório. Isso significava que ele sabia que eu estava naquela cabana?

Ou isso era uma tática, me manter esperando nesta sala por uma hora antes de chegar para fazer perguntas curtas e importantes que me encurralavam? Eu repassei nossa conversa, repetindo todas as minhas palavras e medindo-as cuidadosamente.

Se Marcus não sabia que esse colar era da mamãe, eu disse a ele.

Marcus Wagner não era amigo. O chefe não estava do meu lado.

O que significava que eu não falaria mais nada.

Quase.

— Como você sabia que era da minha mãe?

Ele segurou meu olhar, hesitando em responder. Era como se ele estivesse me avaliando, como se soubesse que eu o havia marcado como inimigo.

— Uma foto no jornal.

Porra. Uma das fotos que Bryce havia impresso no jornal de hoje era uma foto de mamãe usando esse colar.

Eu estava aqui porque Marcus tinha uma nova pista para aquele incêndio na cabana. Ele com certeza agiu rápido. O jornal não tinha nem vinte e quatro horas.

Alguém plantou esse colar. Alguém que queria me culpar por aquele incêndio e assassinato. Provavelmente foi o mesmo homem que matou minha mãe e sequestrou eu e Bryce.

A mesma pessoa ou pessoas que mataram papai.

Os Warriors.

— De acordo com os registros do seu cartão de crédito, você estava em Montana no dia em que a cabana foi incendiada. Você voou para Bozeman na noite anterior.

O ar saiu dos meus pulmões. Eu assenti.

— Por quê?

Tomei um gole de água. Estava dizendo que eu precisava de água? Apenas pessoas culpadas bebiam daqueles pequenos copos de papel? Engasguei com a água.

— Vim ver o túmulo de mamãe. Eu não estava aqui ainda.

— E você foi ao túmulo de sua mãe?

Não. Eu fui sequestrada e empurrada na parte de trás de um porta-malas.

Mas não podia contar a Marcus sobre o sequestro. Havia um motivo para eu não ter ido à polícia e esse era meu marido.

— Genevieve? — Marcus perguntou quando eu não respondi.

— Estou sendo acusada?

Ele fechou sua boca em uma linha firme. Até o bigode não conseguiu esconder sua irritação.

— Não.

— Então eu gostaria de ir embora. — Empurrei minha cadeira para trás e me levantei. — Não estou confortável falando sem meu advogado presente.

Meu palpite era que voltaria àquela cadeira em um ou dois dias como a principal suspeita de uma investigação de incêndio criminoso e homicídio.

A faculdade de Direito teria que esperar.

Meus problemas estavam longe de terminar.

Marcus levantou-se também, pegando o colar. O saco plástico voltou ao seu bolso quando ele abriu a porta, me acenando para o corredor.

A caminhada pelo corredor foi silenciosa além dos nossos passos. Todas as mesas estavam vazias, exatamente como quando eu cheguei. A única outra pessoa aqui era o oficial parado na frente.

— Dia calmo. Você trabalha aos domingos? — Não era algo que o chefe de polícia tinha que evitar?

— Normalmente não. Mas hoje é a exceção.

Descobrir essa foto foi uma surpresa para ele também.

Marcus alcançou a porta que era a saída. Ele segurou-a aberta para mim, acenando em despedida.

Então eu estava livre, poderia sair pela porta da frente. Mas por que eu senti que tudo isso era uma pegadinha? Eu tinha certeza que a qualquer momento, o chefe me chamaria de volta e me diria que nunca mais estaria livre.

Acelerei meus passos, empurrando a porta externa e entrando na luz do sol. No momento em que meus olhos se ajustaram à luz, vi a única pessoa que mais precisava.

— Você está aqui. — Eu corri para os braços de Isaiah.

— Estou aqui desde o minuto em que desliguei o telefone com Jim. — Ele apontou para a calçada onde Jim estava parado, falando ao telefone.

Ele me viu e levantou um dedo.

Eu respirei o cheiro de Isaiah. Ele estava parado ao sol, vestindo preto. Havia uma pitada de suor sob o perfume de tecido limpo de sua camiseta. Uma inspiração e meu ritmo cardíaco diminuiu.

— Você está bem? — Ele perguntou.

Eu balancei minha cabeça.

— Na verdade não.

Jim veio correndo e me puxou dos braços de Isaiah, me dando um abraço.

— O que aconteceu?

— Honestamente? — Lancei um olhar para a estação. — Não tenho certeza. Algo está errado.

Um sentimento estranho subiu pela minha pele. Os pelos da minha nuca estavam arrepiados, como se alguém estivesse me observando. Soltei Isaiah e olhei ao redor do estacionamento. Lá estava meu carro, o SUV de Jim e a moto de Isaiah, caso contrário, estava vazio, exceto por alguns carros da polícia.

Mas a sensação de arrepio não desapareceu.

Eu estava perdendo alguma coisa. Todos nós estávamos e estávamos há meses.

— O quê? — Perguntou Isaiah. — O que foi?

— Eu não sei, — eu murmurei.

— Eles acusaram-na? Fizeram perguntas? — Jim perguntou.

Eu assenti.

— Não e sim. Respondi algumas, mas depois me recusei a continuar, a menos que você estivesse presente.

— Bom, — ele disse. — Da próxima vez, não vá.

— Desculpe. Fiquei curiosa e não estava pensando direito.

— Vamos ao escritório conversar sobre isso, — disse Jim.

— Podemos fazer isso amanhã de manhã? Eu estou... Estou mentalmente cansada e eu estou um desastre emocional. — E antes de falar sobre qualquer coisa com Jim, eu queria discutir isso com Isaiah.

— Ok, — Jim concordou. — Mas isso é a primeira coisa amanhã de manhã.

— Oito horas.

— Descanse um pouco. — Ele apertou meu braço, acenou com a cabeça para Isaiah e caminhou até o carro.

Eu não tinha certeza do que estava me incomodando, mas eu não ia descobrir isso no estacionamento da delegacia. Então, peguei a mão de Isaiah e sussurrei:

— Vamos sair daqui.


Capítulo Vinte e Seis

Isaiah


Dash ficou ao lado da porta do escritório quando entramos na oficina. Seus braços estavam cruzados e seu rosto sem expressão.

Ele estava chateado.

Eu também.

Genevieve estacionou em seu espaço enquanto eu estacionava ao seu lado com minha moto. Antes que ela tivesse a chance, abri a porta e estendi a mão para ajudá-la. Seus pés tinham acabado de bater na calçada quando duas outras motos correram pela rua, enchendo o estacionamento com seu trovão quando chegaram.

As expressões de Emmett e Leo combinavam com a de Dash.

Apertei a mão de Genevieve e a conduzi à oficina. Dash já havia aberto a primeira porta do compartimento.

— Você ligou para eles? — Ela perguntou.

— Sim. — Dash foi minha segunda ligação depois de Jim. Então eu mandei uma mensagem para ele antes de Genevieve e eu deixarmos a delegacia, dizendo que estávamos a caminho.

— Você está bem? — Dash perguntou a Genevieve, descruzando os braços quando ele se aproximou dela.

Por um momento, pensei que ele a puxaria para um abraço. Ele hesitou, pensando sobre isso, e então ela foi arrancada das minhas mãos. Ele a envolveu, apertando forte.

— Sinto muito que isso aconteceu.

Ela ficou tensa, com os olhos arregalados por um segundo, mas depois relaxou.

— Estou bem. E a culpa não é sua.

Não, a culpa era minha.

Emmett e Leo me flanquearam, aguardando enquanto Dash abraçava Genevieve. Desde que ela o chamou de idiota, ele era um homem diferente perto dela. Ele começou a agir como um irmão. Eles estavam se adaptando à vida como irmãos. Eles não tinham um vínculo como Kaine e eu, mas chegariam lá.

Fiquei feliz por ela tê-lo, e a Nick também. Eles cuidariam dela se eu não pudesse.

Porque uma coisa era certa, se houvesse a chance de ela ser acusada pelo que aconteceu naquela cabana, eu confessaria em um piscar de olhos.

Genevieve não passaria um minuto na prisão.

— Entre. — Dash soltou Genevieve. — Vamos conversar.

Entramos na oficina e encontramos Bryce sentada com Xander nos braços. O bebê estava engolindo uma mamadeira.

Foi apenas esta manhã que ela apareceu com o jornal? Parecia que dias se passaram enquanto eu esperava Genevieve fora da delegacia.

Normalmente, não havia muitos lugares para sentar na oficina, apenas alguns banquinhos. Se tivéssemos que nos reunir, íamos para o escritório. Mas algumas cadeiras extras foram arrastadas e colocadas em círculo junto com os bancos.

Havia uma confusão de ferramentas espalhadas por causa do Chevy Nova de 74 que estávamos restaurando no mês passado. O capô do carro estava aberto. Dash e Bryce provavelmente tinham vindo aqui logo depois que eu liguei para eles, querendo estar aqui quando aparecêssemos. Dash deve ter mantido sua mente ocupada com o trabalho.

Assim que estávamos sentados, Leo caminhou até a parede e apertou o botão para fechar a porta da baia. Ninguém falou uma palavra até que ela foi abaixada.

— O que aconteceu? — Eu perguntei a Genevieve, minha mão firme na dela.

Ela sugou uma inspiração profunda.

— Marcus encontrou o colar da minha mãe, o que eu estava procurando, na cabana. Ele suspeita, talvez ele saiba, que eu estava lá em cima.

— Porra. — Minhas narinas se dilataram. — Então eu vou confessar.

— O quê? Não. — A sua boca se abriu. — Não tem como eu deixar você fazer isso. Você não vai assumir a culpa.

— Foi minha culpa.

— Não, não foi. Se alguém vai confessar o assassinato e o incêndio, serei eu.

— Sobre o meu cadáver.

— Isa...

— Espere. — Dash a interrompeu. — Antes que vocês terminem confessando, que tal conversarmos sobre isso?

Ela me lançou um olhar, depois se voltou para o nosso círculo.

— Boa ideia.

— Comece do começo, — ordenou Dash.

Genevieve assentiu.

— Marcus está com o colar de mamãe que estava desaparecido. Aquele que eu lhe falei. Aquele que achamos que o namorado dela roubou.

— Como Marcus sabia que era dela? — Perguntou Isaiah.

— Os policiais encontraram quando estavam investigando a cabana. Eles pensaram que era do Warrior. Marcus só percebeu hoje que era de mamãe quando o viu em uma foto no jornal.

— Ah, merda. — A boca de Bryce se abriu. — Quais são as chances?

O olhar cansado de Genevieve se voltou para mim.

— Estávamos quase livres.

Puxei o braço da sua cadeira, arrastando-a para mais perto. Ela agarrou minha mão com mais força e descansou a cabeça no meu ombro.

Livres.

Estávamos quase livres de tudo isso. Estávamos planejando nosso futuro. Eu estava ansioso pela mudança. Genevieve estava tão animada para começar a faculdade de direito. E então isso. Nosso futuro estava prestes a desaparecer antes mesmo de começar.

Esse era meu castigo? Sentir o gosto da felicidade apenas para perdê-la antes que eu pudesse afundar os dentes? Talvez eu merecesse voltar para a prisão e apodrecer o resto da minha vida em uma cela.

Genevieve me daria um tapa se ouvisse esse pensamento. Ela estava tão certa de que eu paguei pelos meus pecados e mais alguns. Sua fé sem fim me surpreendia.

Na verdade, eu comecei a acreditar que conseguiríamos.

Eu não iria afundar sem lutar. Talvez tivéssemos um milagre e saíssemos disso vivos e juntos. Eu não merecia esse tipo de felicidade, mas Genevieve merecia. E se eu fosse o homem que a fizesse feliz, se eu fosse sua escolha, passaria o resto da minha vida certificando-me de que ela não se arrependesse por um segundo.

Eu beijei a parte superior dos seus cabelos. Meu Deus, eu a amava. Mais do que eu amei outra alma.

Nós superaríamos isso. Nós precisávamos superar.

— Ele plantou. — Bryce estalou os dedos, sentando-se ereta. Xander estava por cima do ombro e ela estava dando um tapinha nas costas dele. — Isso se encaixa em nossa teoria. Se o namorado foi quem matou sua mãe e nos sequestrou, então ele estava lá em cima. Ele tinha o colar e o plantou durante ou depois do incêndio.

— Mas por quê? — Eu perguntei. — Ele escapou disso. Por que plantar evidências quando ele estava livre?

— Devia haver algo naquela cabana, — respondeu Dash. — Algo que poderia levar de volta para ele. Então ele colocou o colar ali, esperando que levasse a Genevieve ao invés dele.

— Isso é demais. — Eu balancei minha cabeça. — Marcus nem sabia que era de Amina até o jornal ser publicado hoje.

— Talvez eles esperassem que houvesse uma impressão digital ou DNA ou algo assim. — Leo passou a mão no rosto. — Eu não sei, porra.

— Acho que isso tem algo a ver com os Warriors, — disse Bryce.

Genevieve assentiu.

— Era o que eu estava pensando também.

— Desde o início, presumimos que Tucker estava dizendo a verdade. Por quê? — Era algo que sempre me incomodou. — Porque Draven pensou que ele estava dizendo a verdade. Draven acreditava em Tucker.

— Eu também, — disse Dash. — Ele disse que não tinha nada a ver com a morte de Amina e eu acreditei nele.

— E se ele estivesse mentindo na sua cara? — Eu olhei para Genevieve. — Sua mãe gostava de motociclistas, certo?

— Talvez. Ela tinha uma queda por Draven, com certeza.

— Tucker. — A voz de Emmett ecoou pela loja. — Você acha que o namorado era Tucker. Ele ficou com ciúmes quando descobriu que Draven e Amina transaram. Matou-a. E encontrou uma maneira de incriminar Draven.

— Mas por que sequestrar eu e Genevieve? — Perguntou Bryce.

— Talvez ele tenha pensado que você estava chegando muito perto. — Dash colocou a mão no joelho dela. — Fazendo muitas perguntas.

— Isso faz sentido. — Ela assentiu. — Mas por que Genevieve? Ela nunca fez parte disso.

— Ele tinha que estar preocupado que mamãe me falasse sobre ele, — disse Genevieve. — Talvez eles continuem atrás de mim porque ele acha que eu posso identificá-lo.

— Mas você não pode. — Eu bufei. — Desde o começo, você sempre conheceu esse namorado como Lee.

— Por que o nome falso? — Emmett perguntou. — Não parece o estilo de Tucker.

Não, realmente não parece. Eu não conhecia o cara, mas dar um nome falso à mulher que ele estava transando não parecia certo.

— Ele é casado?

Dash balançou a cabeça.

— Divorciado. Tem duas filhas na casa dos vinte anos. Não vejo razão para ele dar um nome falso.

Empurrei a cadeira para andar ao longo da parede dos bancos de ferramentas.

— Vamos analisar isso. Suponha que seja Tucker, vamos ver se encaixa.

— Ok. — Emmett também se levantou, passando a mão pelos cabelos. — Amina vem aqui para conversar com Draven e eles transam. Tucker deve tê-la seguido ou descoberto. Ele fica furioso, sabe que provavelmente há uma ou duas armas na sede do clube, porque é onde sempre mantivemos as armas. Aposto que o clube Warrior também está cheio de armas.

— Ele invade, — Dash continuou para Emmett. — Ele ainda tinha um colete.

— Mas não o atual, — Bryce entrou.

— Certo. — Leo assentiu. — Tucker nos disse que o colete que o ladrão usava era um desenho antigo. Um que apenas membros antigos teriam. Bem, não há muitos membros mais velhos dos Warriors do que o próprio presidente.

Estávamos chegando a algum lugar. Meu coração começou a acelerar quando eu assenti. O problema era que eu odiava onde estávamos chegando. Tucker era esperto. Nós enfrentaríamos não apenas um homem, mas um clube inteiro.

Porra. Se isso realmente deveria resolver uma guerra antiga, não gostei de nossas chances de emergir como vencedores.

— Então ele mata Amina. Incrimina Draven. — Eu continuei andando. — Sequestra Bryce e Genevieve para calá-las. Por que ele não as matou nas montanhas?

— Isso também está me incomodando. — Leo franziu o cenho. — Ele as tinha. Por que não matá-las e acabar com isso?

Meu estômago deu um nó. Não gostei da menção de alguém matando minha esposa. Eu não gostava de pensar em quão perto eu estava de perdê-la antes mesmo de ter a chance de conhecê-la. Pelo olhar assassino no rosto de Dash, ele também não gostou de ouvir o quão perto Bryce estava da morte.

— Ele queria que Dash me matasse, — disse Genevieve. — Ele estava decidido sobre isso. Por quê?

— Para punir Draven, — respondi, aproximando-me do encosto da cadeira. Eu coloquei minhas mãos em seus ombros. — Essa coisa toda foi motivada por seu ódio por Draven. Se Dash mata sua filha misteriosa, não é como se ele pudesse retaliar contra seu próprio filho.

A sala ficou em silêncio enquanto todos pensavam.

— E ele plantou o colar porque eu fugi, — Genevieve sussurrou. — Ele devia saber que a polícia encontraria. Vocês o perderam nas árvores. Ele circulou de volta e plantou o colar. Como ele não conseguiu o que queria e eu sobrevivi, ele estava contando que a polícia me culpasse por aquele assassinato e incêndio.

Se ele não pudesse fazer Draven sofrer vendo seu filho matá-la, poderia vê-la ser sentenciada à prisão. De muitas maneiras, essa punição era pior.

— Tucker poderia ter nos matado a qualquer momento, — acrescentou Bryce. — Se ele nos quisesse mortas, estaríamos mortas.

— Ela está certa. — Dash assentiu, indo até a esposa e colocando a mão na cabeça de Xander. — Quando Tucker quer alguém morto, eles estão mortos.

— E o nome dele não é Lee, — acrescentou Emmett.

— Porra, — Leo latiu. — Quase funciona, mas não completamente. Conhecemos Tucker. Ele também não é o tipo de cara que se esconde atrás de máscaras de esqui e óculos escuros.

— Meu instinto diz que não é Tucker. — Dash rosnou. — Droga. Mas você está certo sobre uma coisa, Isaiah, isso sempre foi sobre papai. Porra, eu gostaria que ele estivesse aqui. Ele tinha uma maneira de ver as coisas de um ponto de vista diferente.

— O que estamos deixando passar? — Perguntou Bryce.

— E se não for o sequestrador que plantou o colar? — A voz de Genevieve chamou nossa atenção. — Talvez eu tenha entendido errado.

— Então quem?

Ela engoliu em seco.

— Um policial. Aquele lugar estaria fervilhando de policiais.

— Qual policial? — Dash e Emmett perguntaram em uníssono.

— Marcus, — ela sussurrou. — Ele odeia Draven.

— Não, ele não odeia. — Dash balançou a cabeça. — Eles sempre se deram bem. Sim, Marcus teve que prendê-lo algumas vezes, mas as acusações nunca permaneceram. Depois que o clube se dissolveu, eles se encontravam para beber a cada dois meses no The Betsy.

Era difícil imaginar Draven sentado em frente ao chefe de polícia no bar local para comer amendoim salgado e jogar conversa fora tomando cerveja.

— Estou dizendo, — insistiu Genevieve, — havia muito veneno em sua voz hoje. Ele disse que Draven era um covarde por se matar. E o seu jeito era... Havia algo de errado nisso. Ele odeia Draven. Ele o odeia. Tenho certeza disso.

A sala ficou parada, exceto por um gorgolejo vindo do bebê.

— Você tem certeza? — Eu perguntei a Genevieve. Ir contra Tucker teria sido difícil. Fazer uma acusação contra o chefe de polícia era absolutamente impossível.

Ela não respondeu imediatamente. Seus olhos ficaram estreitados e sem foco em uma mancha de graxa no chão.

— Genevieve?

Ela levantou o rosto.

— Eu preciso ir ao escritório. Eu nunca o coloquei no meu caderno. Mas ele poderia ter plantado o colar. Ele poderia ter incriminado Draven. Tem que ser ele. O chefe Wagner é Lee.

— Emmett, qual é o nome do meio de Marcus? — Dash perguntou.

Ele encolheu os ombros.

— Nenhuma maldita pista.

— Eu posso procurar, mas preciso estar no escritório para fazer isso, — disse Genevieve.

— Deixa comigo. — Emmett pegou seu telefone, digitando com fúria. Esperamos enquanto ele procurava. — Não está listado em nenhum lugar público. Eu preciso de um dos meus notebooks.

Cadeiras rangeram quando corpos se levantaram. Seguindo a liderança de Emmett, todos corremos para a porta lateral e para o sol do verão. Então nós marchamos para a sede do clube, abrindo as portas trancadas para que Emmett pudesse desaparecer para onde quer que tenha ido e o resto de nós ficou na sala, esperando.

Xander soltou um grito alto, enchendo a sala com o barulho. O eco deve tê-lo assustado, porque seus olhos se arregalaram.

— Você pega ele? — Bryce perguntou a Dash. — Ele está ficando pesado.

— Claro, querida. — Ele sorriu para o filho, pegando-o nos braços. — Venha aqui, rapazinho.

Coloquei meu braço em torno de Genevieve, puxando-a para o meu lado.

— Você está bem?

— Está cheirando mal aqui, — ela sussurrou. — Não acredito que isso esteja acontecendo. E se não for ele? E se eu estiver errada? E se...

— V. — Eu pressionei meu dedo em seus lábios divagantes. — Vai ficar tudo bem.

— Mas...

— Você vai ficar livre disso.

Os seus olhos ficaram vidrados.

— Mas eu não quero ficar livre disso se você não estiver comigo. Prometa-me que não vai confessar.

Eu dei um sorriso triste para ela.

— Não posso fazer isso, boneca.

— Eu não vou perdê-lo também. — Ela fechou os olhos, deixando cair a testa no meu peito. — Eu amo você.

Eu passei meus braços em volta dela.

— Eu também amo você.

Eu estava tão hesitante em dizer essas palavras. A última vez que eu disse a uma mulher que a amava, eu a matei não muito tempo depois. Mas ver Genevieve ladeada por dois policiais havia acionado um interruptor.

E se eu a perdesse? E se eu não tivesse a chance de dizer essas palavras?

A vida era passageira. O acidente me ensinou isso.

O ‘eu amo você’ saiu em pânico. Eu os diria todos os dias pelo resto de sua vida.

Minha esposa.

Ela me encontrou. Ela rompeu minhas defesas. Ela me amou.

Eu não iria perdê-la. Nós resolveríamos isso ou morreríamos tentando.

Ficamos ali, nos abraçando enquanto trocávamos o peso de um pé para o outro. Esperamos que Emmett retornasse. Bryce e Dash estavam de pé junto ao bar, com a atenção voltada para o filho, enquanto Leo passeava pela sala, olhando as peças do passado.

Seus dedos permaneciam no rack de tacos de sinuca. Sua mão roçou o feltro verde na mesa.

— Devemos queimar este lugar.

Sua declaração chamou a atenção da sala, mas antes que alguém pudesse responder, Emmett voltou correndo para a sala.

— É Lee, — Emmett ofegou. — Ele tem dois nomes do meio. Marcus Ross Lee Wagner.

— Porra. — Dash estava prestes a perder a cabeça, mas ele se segurou por causa do bebê nos braços. — Ele incriminou o papai. Ele planejou tudo isso. Como? Por quê?

— Marcus disse algo para mim uma vez, — disse Bryce. — Cerca de um ano atrás. Ele disse que Draven sempre saía limpo. Eu não pensei muito nisso na época. Foi antes de eu conhecer vocês. Mas ele pareceu... Amargo. Como se ele tivesse falhado como policial.

— Isso é motivo suficiente para fazer uma vingança pessoal. — Eu assenti. — Acrescente um relacionamento com Amina, se ele era um amante ciumento, é crível. E ele é esperto. Inteligente o suficiente para conseguir.

— Não é de admirar que ele não tenha investigado quando publicamos o artigo sobre o roubo da faca. — Bryce estava furiosa, andando em um círculo rápido. — O bastardo. Ele mesmo roubou.

— O que fazemos agora? — Eu perguntei. — Não temos provas. Ele é o chefe de polícia.

E ele quase escapou do assassinato de mamãe.

— Temos que fazê-lo admitir, — disse Genevieve.

— Nunca vai acontecer. — Leo balançou a cabeça. — Nunca.

— Temos que tentar. — Ela apontou para o peito. — Eu tenho que tentar. Por minha mãe e pai. Não posso deixá-lo sair livre disso. Talvez se eu o confrontar...

— Fora de questão. — Não havia nenhuma maneira no inferno que ela estivesse sozinha com aquele homem novamente. — É muito arriscado.

— Isaiah, é a nossa única esperança. — Os seus olhos imploraram para mim. — Se Marcus está por trás disso, não haverá nenhuma evidência. Ele destruiu tudo ou fez questão de apontar para Draven. A única maneira de provar é se ele confessar.

Ela estava certa. Nós estávamos sem saídas. Sua confissão era a única maneira de nos libertarmos.

— Porra, eu odeio isso.

— Eu também. — Ela pegou minha mão. — Mas temos que tentar.

— Como? — Perguntou Bryce.

— Tortura? — Emmett levantou uma sobrancelha. — Não temos visitantes no porão há um tempo. Seria apropriado, já que era assim que Draven faria.

Dash levantou uma sobrancelha, pensando na ideia.

— Não. — Bryce olhou furiosa. — Sem mais violência. Já houve o suficiente.

Ao meu lado, Genevieve estremeceu. Seu rosto empalideceu quando ela encontrou meu olhar.

— Eu tenho uma ideia.

— O quê? — Eu perguntei.

— Nós vamos fazer o que temos feito o ano todo. Mentir como se nossas vidas dependessem disso.


Capítulo Vinte e Sete

Genevieve


— Eu odeio isso. — Isaiah segurou meu rosto, encostando sua testa na minha.

— Eu também.

— Deveria ser eu entrando lá.

Eu balancei a cabeça.

— Nunca vai funcionar. Tem que ser eu.

Nosso plano era pegar Marcus desprevenido em casa. Eu iria até sua porta e mentiria para caramba. Um plano pouco elaborado? Sim. Mas era uma chance, uma pequena chance de colocar um fim a tudo isso.

Uma chance que eu pegaria.

O chefe de polícia não ia confessar o assassinato. Eu daria a probabilidade de ele admitir ter esfaqueado minha mãe e me enfiado em um porta-malas um pouco acima de zero por cento. Mas tínhamos que tentar. Qual era a alternativa? Passar minha vida na prisão? Ou Isaiah? Ou nós dois? Claro que não.

Pelo menos, não sem lutar.

Então, depois de passarmos algumas horas, resolvendo o plano na oficina, todos nós fomos por caminhos separados. Dash e Bryce levaram Xander para casa. Bryce estaria em casa com o bebê enquanto seu pai vinha ficar com eles em casa. Emmett e Leo tinham ido fazer o que Emmett e Leo tinham que fazer.

E Isaiah e eu fomos ao apartamento.

Nos forçamos a comer alguma coisa. Eu não estava com fome no começo, apesar de ter perdido o almoço. Mas depois de algumas mordidas de um sanduíche de presunto, meu apetite voltou e eu comi tudo.

Isaiah estava nervoso demais para comer. Eu nunca tinha visto tanta preocupação e medo em seu rosto. Estávamos sentados em um apartamento silencioso, no sofá com os dedos entrelaçados, até a hora de sair. Isaiah insistiu em dirigir, algo que eu sabia que ele só fazia quando estava realmente preocupado comigo.

Dirigimos meu carro pela cidade e fomos os primeiros a chegar ao local combinado.

A dois quarteirões de distância, Marcus Wagner estava em sua casa. Talvez ele estivesse assistindo televisão com sua esposa. Talvez ele já estivesse na cama. Eram quase dez horas da noite e estava escuro. Na oficina mais cedo, decidimos que a hora de agir era agora. Não queríamos dar tempo a Marcus para conversar com um juiz e me levar de volta para mais perguntas. Não queríamos dar a ele tempo para se estabelecer ou recarregar as baterias. Se havia um momento para pegá-lo desprevenido, era hoje à noite.

Meu estômago deu um nó.

— Cuidado, — Isaiah sussurrou. — Se você perceber que ele pegou uma arma ou...

— Eu sei. — Coloquei meus braços em volta da sua cintura. — Nós já passamos por isso. Eu vou tomar cuidado. Se eu acho que ele vai me machucar, eu corro.

— Fique fora do alcance dele. Não importa o que aconteça, recue.

— Eu vou.

Ele suspirou.

— Nós poderíamos ir ao promotor. Ou outro policial. Talvez um de seus oficiais gostaria de ter a chance de destronar o chefe.

Na oficina, tínhamos pensado em ideia após ideia. Essa tinha sido uma delas. Mas sem evidências, estávamos presos, como estivemos o ano todo. Nenhum policial se voltaria contra seu chefe, se ele não tivesse nada para apoiá-lo.

— Nós conversamos sobre isso, — eu disse. — Se Marcus souber disso, nunca venceremos. Ele nunca vai falar e pressionará ainda mais sobre o colar. — E se ele conseguisse me colocar em uma cela, seria o fim. — Ele é esperto demais.

— Mas se ele não confessar, estamos ferrados.

Eu levantei meu queixo, encontrando seu olhar.

— Como você se sente em relação ao Canadá? Talvez tenhamos que fugir hoje à noite.

Ele sorriu.

— Se é isso que precisamos fazer para ter uma vida juntos, eu estou bem com o Canadá.

— Podemos mudar nosso nome e morar no Norte. Seríamos como pioneiros, vivendo fora da rede.

Seu polegar acariciou minha bochecha.

— Desde que seu sobrenome corresponda ao meu, eu também estou bem com isso.

Eu caí nele novamente, respirando fundo seu cheiro e mergulhando no calor de seus braços. Isaiah tinha um jeito com palavras simples que me faziam sentir querida. Ele me fazia sentir especial. Ele me deu um lugar para pertencer.

Faróis brilharam quando o ruído baixo de um motor flutuou pelo ar noturno.

Soltei meus braços de Isaiah quando a caminhonete preta de Dash veio pela rua tranquila. Ele estacionou atrás do meu carro, desligando o motor. Então Dash, Emmett e Leo saíram. Eles fecharam as portas com cuidado, certificando-se de não batê-las.

Todos os três estavam vestidos de preto da cabeça aos pés, como Isaiah. Dash tinha uma arma no coldre enquanto Emmett e Leo tinham as deles nas mãos.

O olhar cor de avelã de Dash era frio e mortal. Mesmo no escuro, eu podia ver a ameaça e a determinação por trás daqueles olhos. Esta noite, ele não era meu irmão ou o marido amoroso da minha melhor amiga. Esta noite, Dash era o presidente cruel e duro de uma gangue de motociclistas. E ele trouxe seus irmãos.

Leo puxou o capuz por cima da cabeça. Emmett colocou uma mecha de cabelo embaixo do gorro.

— Pronta? — Dash perguntou.

Não. Eu assenti de qualquer maneira. Então me virei para Isaiah, memorizando seu rosto bonito.

Eu não queria fazer isso. Eu não era forte o suficiente. Mas, por ele, eu encontraria coragem. Eu faria isso pela promessa da vida que teríamos se realmente nos libertássemos.

— Vamos ligar o microfone. — Emmett puxou uma pequena caixa e cordão do bolso. A caixa foi para o bolso de trás da minha calça jeans, coberta pela camisa xadrez que ele me disse para usar. O fio foi preso nas minhas costas e o pequeno microfone foi preso na minha gola.

— Diga algo? — Ele tinha um receptor pressionado no ouvido.

— Uh... Oi.

— Bom o bastante. — Ele enfiou o fone no bolso. A luz vermelha piscou que estava gravando. — Fique dentro de dois metros e meio. Evite que ele veja suas costas e você ficará bem. Tente não mexer no cabelo.

— Eu poderia prendê-lo?

Ele balançou sua cabeça.

— Solto ajudará a esconder.

— Ok. Não mexer com meu cabelo. Manter um rosto sério. — E mentir, mentir, mentir.

Que porra estou fazendo? Eu era uma assistente jurídica, não uma espiã.

— Estaremos aqui o tempo todo. — Dash colocou a mão no meu ombro. — Não se preocupe.

— E se você não puder entrar?

— Nós vamos entrar. — Leo piscou para mim, então ele e Emmett compartilharam um sorriso.

Isso era divertido? Porque eu não estava me divertindo. Talvez a confiança deles passasse para mim. Eu poderia usar um pouco, ou muito.

— Ok. — Eu respirei fundo. Eu posso fazer isso. — Vamos lá.

Dash apertou meu braço. Emmett e Leo me deram um aceno. Então Isaiah pegou minha mão quando começamos a descer a calçada. Andamos um quarteirão, nossos passos sem som no concreto.

— Emmett, eu...

Ele não estava lá. Nenhum deles estava. Examinei os gramados do bairro ao nosso redor, mas não havia sinal deles. Eles desapareceram como fantasmas na noite.

— Para onde eles foram? — Eu perguntei a Isaiah enquanto meus passos diminuíam.

— Eles estão por aí. — Ele me puxou para frente. — Não se preocupe.

Engoli em seco, forçando minhas pernas a acompanhar seu ritmo. Meus passos pareciam desequilibrados. Não havia força nos meus passos. Isaiah estava basicamente me puxando.

— Eu posso fazer isso, — eu sussurrei.

— Você consegue fazer isso. — Ele agarrou minha mão com mais força.

Continuamos em direção à casa de Marcus. Na oficina mais cedo, Dash e Emmett queriam fazer um reconhecimento do local. Eles sabiam onde Marcus morava, mas não conseguiam se lembrar de detalhes sobre a casa ou a propriedade.

Então pegamos um dos carros antigos no estacionamento dos fundos da oficina, um dos poucos que realmente rodavam, e nos amontoamos lá dentro. Cheirava a ferrugem e sujeira quando atravessamos a cidade, Dash e Emmett na frente, Isaiah e eu atrás. Leo ficou com Bryce e o bebê.

Passamos pela casa de Marcus uma vez e Dash não diminuiu a velocidade. Ele e Emmett nem sequer olharam para a porta da frente. Enquanto isso, meu rosto estava pressionado contra o vidro, memorizando tudo o que podia sobre o rancho azul-campestre em dez segundos.

Havia uma porta de madeira marrom e um balanço da varanda.

Quando nos aproximamos hoje à noite, esse balanço estava brilhando com a luz do teto.

— Eu estarei lá. Atrás daquele arbusto. — Isaiah apontou para a frente. Estávamos a quatro casas de distância.

— Ok.

Três casas

— Eu amo você, — ele sussurrou.

— Eu também amo você.

Duas casas.

Meu coração disparou.

Uma casa.

Isaiah parou, puxando sua mão livre do meu aperto antes de me empurrar para frente com um cutucão gentil.

Nenhum dos caras se aproximaria da casa até que eu já estivesse lá. Eles não queriam arriscar disparar uma luz de movimento enquanto Marcus estava dentro.

Então, enquanto eu conversava com Marcus na frente da casa, Dash e Leo irromperam pela porta dos fundos. Isaiah se recusou a me deixar fora de vista, então Dash tomou a decisão de se esconder perto da casa.

Engoli em seco, dando um passo após o outro até estar na base da calçada que levava à porta da frente. Eu apertei minhas mãos.

Eu posso fazer isso.

Eu faria isso por Isaiah. Eu faria isso pelo papai. Eu faria isso por mamãe.

Foda-se, Marcus Wagner.

Ali, em frente à sua casa, eu sabia que poderia fazer isso. Ele roubou meus pais de mim. Se havia uma chance de fazê-lo pagar, estava aceitando.

Eu queria fazer isso.

Dei um passo e peguei o movimento ao meu lado. Isaiah rastejou pelo gramado entre a casa do chefe e a do vizinho. Seu ritmo combinou com o meu, pois ele tomou cuidado para não ir muito longe.

Quando cheguei à varanda, ele se escondeu atrás de um arbusto alto, completamente escondido da vista. A única maneira de Marcus vê-lo seria se ele fosse até a metade da calçada.

Mas ele podia me ver. Isaiah estava lá, observando. Mesmo à distância, eu me apoiava na sua força.

Entrei na varanda e na luz. Então, antes que eu pudesse duvidar de mim mesma, enfiei meu dedo no botão da campainha.

Um momento depois, uma luz acendeu lá dentro, iluminando a janela da sacada da frente.

Minhas mãos tremiam. Aqui vamos nós.

A porta abriu e Marcus preencheu sua moldura. Ele usava a mesma roupa que usava na delegacia, uma camisa de botão e jeans, mas as pontas da camisa estavam desabotoadas e amassadas.

— Genevieve? — Ele estreitou os olhos e endireitou os ombros, já levantando a guarda.

Droga. Eu estava tão em desvantagem.

— Oi.

Era assim que eu estava conduzindo as coisas? Oi?

Nós estávamos ferrados.

— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou.

Não havia sentido em conversa fiada. Dash me incentivou a ir direto ao ponto. Afinal, estávamos indo para pegá-lo de surpresa. Então eu peguei o meu Oi e imaginei o rosto da minha mãe.

— Você a amava.

Ele piscou.

— Você a amava. E você a matou porque ela amava Draven.

Um passo e ele estava do lado de fora, fechando a porta atrás dele. Recuei até a beira do único degrau da varanda. Como Isaiah havia avisado, eu não podia deixá-lo chegar muito perto porque Marcus Wagner não tinha medo de bater em uma mulher.

— Do que você está falando? — Ele zombou, sua voz baixa. A sua esposa devia estar lá dentro.

Hora das mentiras.

— Depois que você me levou para a delegacia hoje, comecei a pensar. Mamãe tinha me falado sobre esse homem com quem namorava. Lee. Eu não sabia muito sobre ele, mas mamãe fez parecer que as coisas eram sérias. Você me mostrou esse colar e eu percebi que realmente não olhava suas coisas desde que ela morreu. Era muito doloroso.

Seus olhos se arregalaram, levemente, mas eu peguei. Culpado. Esse idiota era culpado.

Esse blefe iria funcionar. Tinha que funcionar. Meu coração disparou mais rápido, mas fiz o possível para manter a calma do lado de fora.

— Eu examinei as coisas dela hoje, — eu disse. — Suas joias. Os seus cadernos. As suas fotos.

— E?

— Por que ela o chamava de Lee? Era por causa de sua esposa? Você prometeu deixá-la por mamãe?

Marcus apertou os lábios.

— Eu não sei do que você está falando.

— Bryce publicará uma edição especial do jornal amanhã, expondo você como namorado de mamãe e especulando que você foi a pessoa que a matou. Ela está incluindo as fotos que encontrei de você com mamãe.

Ele zombou.

— Você está mentindo.

Sim, eu estava.

Ironicamente, nosso plano era usar uma tática policial. Eu fingiria ter provas que não tinha na esperança de Marcus confirmar qualquer coisa para provar seu envolvimento.

Ele basicamente fez a mesma coisa comigo hoje cedo. Talvez a curiosidade de Marcus também o superasse.

Eu estava contando com isso e com sua arrogância. Afinal, ele se safou disso por um ano.

— Acho que você descobrirá amanhã quando o jornaleiro jogar seu exemplar na calçada.

Seu olhar endureceu quando ele se aproximou. Ele estava chegando muito perto, algo que Isaiah estava sem dúvida amaldiçoando, mas eu me recusei a me mexer. Travei os olhos com os dele e não pisquei. Eu não respirava. Meu corpo era uma estátua, uma que ele não seria capaz de ignorar.

Mesmo que isso falhasse, mesmo que ele me levasse para a cadeia, Bryce iria publicar uma história. Não seria amanhã, mas seria assim que ela pudesse reunir tudo.

Ela faria tudo ao seu alcance para condenar o chefe. No mínimo, ela usaria o jornal para garantir que ele nunca fosse nomeado para seu cargo novamente. E ela garantiria que a esposa de Marcus tivesse dúvidas suficientes em sua mente para fazer algumas perguntas desconfortáveis sobre onde ele estava quando desaparecia nos fins de semana em que estava com mamãe.

Eu odiava que mamãe estivesse com outro homem casado, mas eu lidaria com meus sentimentos sobre isso mais tarde. Talvez ela não soubesse. Eu daria a ela o benefício da dúvida.

Eu me concentrei no olhar de Marcus, em segurar o olhar deste assassino.

— Você deveria ter me matado quando teve a chance naquela montanha.

Ele se encolheu.

Sim, imbecil. Todos sabemos que era você.

— Você não tem nenhuma evidência.

— Eu tenho algumas, — eu respondi. — E tenho certeza de que é o suficiente.

Marcus se inclinou para frente, quase como se fosse me alcançar. Mas então ele se encolheu, seus ombros caindo profundamente. Na minha frente, este homem, que eu pensara ser tão honesto e justo, encolheu.

A mudança me pegou de surpresa. Eu cambaleei para trás um centímetro, oscilando no degrau. O que ele estava fazendo? Isso era um truque? Eu mantive os dois olhos nele enquanto ele arrastava a mão pelo bigode e se retirava para o balanço da varanda.

— Estou cansado. — Ele caiu no assento, sua forma dobrada. Eu não tinha notado aquelas olheiras sob seus olhos na delegacia, mas agora que eu olhei, ele estava exausto. Cansado.

Ironicamente, essa era a mesma palavra que papai usara antes de morrer.

Uma vida inteira de luta esgotara os dois.

Marcus era culpado. Estava claro como dia para qualquer pessoa naquela varanda. Exceto que eu era a única pessoa aqui, e o que eu tinha conseguido dele não era uma confissão.

Dei um passo à frente, certificando-me de que estava fora de seu alcance, mas perto o suficiente para que sua voz fosse captada no microfone.

— Você amava minha mãe?

Ele não tinha confirmado antes, mas eu queria saber. Talvez porque um coração partido fosse mais fácil de engolir como motivo do que Marcus seduzindo mamãe apenas para chegar até Draven.

— Sim, — ele admitiu. — Eu sempre a amei.

— Por que você a matou?

Ele baixou o olhar para o chão.

— Presumo que isso esteja sendo gravado.

— Sim. — Não havia sentido em mentir. Ou ele se calava e eu ficaria no mesmo lugar que estive por um ano, ou ele desistiria e conversaria.

Desista. Por favor. Apenas desista.

Ele não estava cansado de fugir? Ele não estava cansado de se esconder?

— Por quê? — Eu perguntei novamente, então prendi a respiração enquanto esperava por uma resposta. Minha voz pingou de desespero.

Ele estudou meu rosto, como havia feito na delegacia hoje cedo.

— Você se parece com ela. E ele.

O rosto de Marcus azedou e ele desviou o olhar de mim.

— Isso foi sobre Draven, certo? — Eu perguntei.

— Por que ela não podia simplesmente ficar longe dele? Ela nunca ficou longe. Ele não a queria. Ele não a amava. Eu amava. Mas não foi suficiente. Isso nunca foi suficiente.

Ele não estava errado. Mamãe era obcecada por Draven. Aparentemente, Marcus sentia o mesmo por ela.

— Por que ela o chamava de Lee?

— Nós éramos crianças quando nos conhecemos. Adolescentes. Sua família se mudou para a cidade e para a casa ao lado. Eu nunca vi uma garota mais bonita na minha vida. Aquele sorriso dela, não havia outro igual.

Não, não havia. E ele apagou da Terra.

Eu segurei minha língua. Eu queria gritar e bater nele, amaldiçoá-lo pelo que ele tinha feito. Estrangulá-lo até que esse monstro se fosse do mundo. Mas não era suficiente. Ele merecia o sétimo círculo do inferno pelo que havia feito, na forma de uma cela de prisão.

— Eu era mais jovem que ela, — continuou ele. — Ela olhava para mim e eu fugia e me escondia. Levei semanas para criar coragem para me apresentar. Mal conseguia falar quando a conheci. Disse meu nome tão baixo que tudo o que ela pegou foi meu nome do meio. Mas ela riu e a partir de então só me chamou de Lee.

Marcus olhou para a rua escura, com um olhar de amor e desejo no rosto. Sua esposa estava presumivelmente dentro, mas aqui estava ele, desejando minha mãe.

Mesmo depois de sua morte.

Papai sabia dos sentimentos de Marcus por mamãe? Provavelmente não. Draven estava muito ocupado apaixonado por Chrissy.

— Eu a perdi por anos. Ela se formou e se afastou. Nós nos separamos. Fui à academia de polícia e voltei para casa para trabalhar na Força Policial. Casei-me e tive filhos. Pensava nela de vez em quando, imaginando o que ela estava fazendo. Mas eu a deixei lá, na minha memória. E depois... Ela estava lá.

— Onde? Em Clifton Forge? — Eu pensei que ela não tinha voltado até o dia em que veio contar a Draven sobre mim.

— Eu tive uma aula em Bozeman. Fui jantar com alguns policiais que eu conhecia e lá estava ela, comendo sozinha no meu restaurante favorito.

E foi aí que eles devem ter se reconectado e iniciado o caso.

— Eu estava me separando da minha esposa, — ele sussurrou.

Era o que todos diziam, não era? Mordi o sarcasmo. Embora uma parte de mim suspeitasse que Marcus teria deixado sua esposa por mamãe.

— Ela não me disse que estava vindo para cá. Eu não saberia, exceto que vi o seu carro e a segui até o hotel. — Ele bufou uma risada seca. — Eu pensei que ela estava aqui para me surpreender. Sempre nos encontramos em Bozeman e pensei que talvez ela quisesse me ver, então veio à cidade. Mas não. Ela não estava aqui por mim. Ela estava aqui por Draven.

Ele cuspiu o nome do papai, o lábio enrolando. Mesmo com o bigode, você podia perceber o desgosto no seu rosto.

— Ela transou com ele.

Eu estremeci com o gelo em seu tom.

— Ela transou com ele, — ele repetiu, nivelando seu olhar em mim. — Ela me tinha e o escolheu. Ela sempre o escolheu.

— Então você a matou?

Diga sim. Admita.

— Ele a matou. Ele deveria ter ficado longe dela. Se ele tivesse ficado longe dela, ela ainda estaria viva. Eu a teria feito feliz.

Talvez isso fosse verdade, mas nunca saberíamos.

— Você o incriminou. Tudo o que você fez apontava para os Warriors. Por quê?

— Não é da minha conta se um bando de bandidos motociclistas decidiram se matar.

— Então, deixe-me adivinhar, você tinha um colete velho dos Warriors. O chefe de polícia poderia tirá-lo de uma caixa de provas sem que ninguém percebesse. Talvez você tenha mantido isso à mão por anos, esperando a chance de chegar a Draven. E foi isso. Você invadiu o clube e roubou a faca de Draven. Então você voltou para o hotel e esperou que ele fosse embora. Acho que você teve sorte de ter as impressões dele. Embora você provavelmente as teria falsificado se não as tivesse, não é?

Ele não confirmou ou negou. Mesmo agachado em seu balanço na varanda, o chefe estava sendo cuidadoso com sua confissão.

— Você aproveitou?

— Aproveitou o quê? — Ele murmurou.

— Para apunhalá-la.

— Eu não sei do que você está falando.

— Ela sabia que era você? Ou você escondeu seu rosto como um covarde?

— Eu não sou o covarde. — Ele se levantou do assento, me fazendo recuar um metro. — Não fui eu quem se matou para evitar uma sentença de prisão.

Engoli em seco, não me permitindo encolher sob sua altura imponente. Ele estava com raiva, não, furioso. Foi essa a raiva que mamãe viu no leito de morte? Ele tinha perdido o controle. Talvez ele o perdesse agora. Talvez essa fosse a abertura emocional que eu precisava para conseguir algo, qualquer coisa, dele.

Eu fui para isso.

— Você me sequestrou porque sabia que eu descobriria que você era Lee.

A voz dele baixou.

— Como você disse, eu deveria ter matado você e aquela maldita repórter quando tive a chance.

Deus, eu esperava que o microfone tivesse captado isso. Não era uma confissão de assassinato, mas sequestro e tentativa de assassinato, eram quase tão bons quanto isso.

— Sim, você deveria ter feito. Mas você não fez.

E se ele não tivesse me levado para falar sobre o colar, eu nunca pensaria nele como Lee. Ele havia plantado aquele colar na cabana? Ou ele manteve aqui o tempo todo?

— Você queria que Dash me matasse. Por quê? — Essa pergunta era o ponto crucial do ano.

— Ele é filho de Draven.

Essa foi toda a resposta que ele deu.

Isso significava que ele teria incriminado Dash pelo meu assassinato? Provavelmente. Ele teria prendido Dash por meu assassinato. Ele teria roubado o filho de Draven. Ele teria feito isso para que o filho de Draven matasse sua filha.

Mas isso não funcionou, certo? Então ele desenterrou o colar, finalmente tendo uma desculpa para me levar assim que a foto da mamãe foi impressa no jornal. Ele sabia há um ano que eu estava naquela cabana. Ele esperou, pacientemente, me prender por assassinato e me silenciar para sempre.

Marcus estava amargurado com a morte de Draven. Tucker havia roubado sua vingança. Eu lutei contra o desejo de rir na cara dele.

— Como você sabia que eu estava vindo para a cidade para ver o túmulo da mamãe? — A única pessoa para quem eu disse foi Bryce. — Você estava monitorando meus registros de cartão de crédito ou algo assim? Você viu que eu havia reservado um voo para Bozeman?

Ele me deu um encolher de ombros sem compromisso.

Isso significava que sim.

— Você foi atrás de mim no Colorado?

Mais uma vez, sem resposta. Eu estava tomando isso como um sim também.

Marcus não sabia o que minha mãe tinha me dito sobre ele. Ele estava vivendo este ano com medo? Eu esperava que sim. Eu esperava que ele estivesse olhando por cima do ombro e dormindo com um olho aberto, temendo o amanhecer. Porque é assim que vivemos no ano passado.

Além do colar, que outras coisas ele havia tirado da casa da mamãe? Havia algum santuário com seus preciosos pertences que ele roubou?

— Como você sabia que eu era filha de Draven? Antes de todo mundo, quero dizer.

— O jornal. Lane sempre foi bom em me avisar antes que algo fosse impresso. Quando Bryce escreveu aquele artigo sobre a faca e seu... — seu rosto contorcido de nojo, — pai, ele me contou.

Então, eu estava no radar dele por duas razões, tanto porque eu poderia identificá-lo quanto porque eu era filha de Draven. Um homem que ele odiava.

Marcus havia implementado esse plano elaborado para garantir que nenhum de nós sobrevivesse.

Dash seria o próximo? Depois que Marcus me prendesse por assassinato e incêndio criminoso, ele teria ido atrás de Dash? E Nick? E os netos de Draven?

A busca de Marcus por vingança contra Draven provavelmente não tinha limites. Ele não pararia por nada. Tudo porque minha mãe havia quebrado seu coração.

— Você a matou.

— Prove. — Ele se virou e caminhou até a porta.

Merda. Minha gravação pode criar algumas dúvidas, mas era suficiente para condenar o chefe de polícia? De jeito nenhum.

Ele estava ganhando. O bastardo estava ganhando e ele estava indo embora. Porra.

— Você merece morrer pelo que fez, — eu soltei.

A sua mão parou na maçaneta da porta.

— Isso é uma ameaça?

— Meu pai era um grande homem. Ele era o amor da vida de minha mãe. Você não era nada para ela. Nada. Ela teria ficado com ele.

Os músculos de suas costas se contraíram. Ele girou lentamente, a porta esquecida.

— Seu pai não passava de um reles criminoso traidor.

— Mas ela ainda o queria mais do que a você. — Eu zombei. — Ela escolheu o melhor homem. O que ela disse quando você a pegou depois que ela transou com ele? Ela admitiu que ele era melhor que você?

— Porra.

— Ela lhe disse que ele era mais forte do que você jamais será?

Ele se aproximou.

— Cale a boca, porra.

— Aposto que ela viu o rosto dele quando você estava na cama com ela. Ela já chamou o nome dele enquanto estava com você? — Continuei pressionando, cada vez mais, esperando que Isaiah e Dash estivessem perto o suficiente para impedir Marcus de me matar quando eu o deixasse com raiva. — Ela chamou o nome dele quando você a esfaqueou? Ela implorou por sua vida?

— Sim! — Sua mão voou, me acertando na bochecha. A picada era ofuscante, me deixando de joelhos. — Ela implorou. Ela implorou para que ele a salvasse, mas ele não podia. E se eu não podia tê-la, ele também não.

Minhas mãos agarraram minha bochecha enquanto pisquei as manchas brancas. Minha visão voltou bem a tempo de ver Marcus alcançar algo escondido atrás das costas, escondido debaixo da camisa.

Uma arma.

Claro que ele tinha uma arma. Ele era policial e não atendia a porta depois do anoitecer sem uma arma.

Eu ignorei Marcus e desviei meu olhar para o lado. Isaiah estava correndo, sua própria arma apontada.

A mudança chamou a atenção de Marcus, mas antes que ele pudesse reagir ao meu marido, a porta se abriu e Dash voou, passando os braços em volta das costas de Marcus e o derrubando no chão. Os dois caíram um centímetro da minha perna, quase caindo na minha cabeça. Marcus lutou, lutando para se libertar, mas Dash era mais forte.

— Você está bem? — Isaiah estava ao meu lado, me puxando para cima e para longe dos homens antes que eles pudessem colidir comigo.

Eu me agarrei a ele, minha respiração ofegante.

— Ele fez isso. Ele a matou.

— Sim, boneca. — Isaiah me puxou em seus braços, falando por cima da minha cabeça. — Você gravou tudo?

— Sim, — disse Emmett, saindo da escuridão logo atrás do balanço da varanda. Eu não tinha certeza de como ele havia se escondido atrás daquele pequeno arbusto sem que eu percebesse, mas ele estava lá o tempo todo.

Leo saiu de casa com uma mulher mais velha logo atrás dele.

— Marcus? — Ela ofegou quando Dash o levantou. Ele tinha as mãos do chefe presas nas costas. — O que está acontecendo?

— Ligue para o 911, — Marcus ordenou. — E para o nosso advogado.

Ela assentiu e desapareceu na casa.

— Você será preso por isso, — disse Dash entre dentes.

— Pelo menos vou aceitar meu castigo como um homem. Não vou agir como seu pai e ser um covarde.

Dash apertou ainda mais Marcus, fazendo-o estremecer. — Você não sabe nada sobre o meu pai.

Luzes vermelhas e azuis vieram correndo pela rua cinco minutos depois. Naquele momento, Dash havia lutado com Marcus o levando até o final da calçada. A sua esposa estava parada no gramado, com as mãos agarradas ao telefone, enquanto dois carros de patrulha paravam. Emmett estava de costas, conversando com alguém no telefone.

Os policiais nos carros de patrulha saltaram e seguiram em direção a Dash e ao chefe.

Um SUV da polícia entrou correndo, estacionando atrás dos carros de patrulha. O homem lá dentro, vestido com roupas simples, pulou e puxou o telefone para longe da orelha antes de gritar:

— Parem.

Ele estava conversando com Emmett?

Os patrulheiros, que estavam prestes a arrancar Marcus do aperto de Dash, congelaram ao comando do outro homem.

— Quem é aquele? — Perguntei a Isaiah. Estávamos em pé na varanda com Leo, que apesar dos policiais pulando, ainda tinha uma arma na mão.

Ninguém estava prestando muita atenção em nós. Nós éramos o subtexto do drama principal na frente.

— É Luke Rosen, — respondeu Leo. — Ele é o segundo em comando do chefe.

Luke caminhou até Marcus, seus olhos duros e sua mandíbula cerrada. Luke não fez nenhum movimento para libertar Marcus das garras de Dash. Ele apenas ficou lá e cruzou os braços sobre o peito.

— Chefe.

— Prenda esses homens, — Marcus cuspiu. — Invasão e agressão. Agora.

Os olhos de Luke se voltaram para Emmett e ele levantou o queixo.

Ok, isso era estranho. Eu esperava que todos nós estivéssemos em uma cela até que pudéssemos mostrar a gravação para alguém.

— O que está acontecendo? — Isaiah perguntou a Leo.

— Emmett mostrou a gravação para Luke.

Meu queixo caiu.

— Já?

— Eles são amigos. Ele ligou para Luke antes de virmos aqui hoje à noite e perguntou se ele ouviria uma gravação.

— Então ele ouviu... O tempo todo?

Leo assentiu.

— O tempo todo.

Eu olhei para Isaiah.

— Isso significa que estamos livres, certo? Foi o suficiente?

— Eu não sei. — Ele piscou, sua boca caindo enquanto olhava para a calçada.

Luke acenou para Dash soltar Marcus e, mais rápido do que eu já havia visto em um filme ou programa de TV, ele colocou as algemas nos pulsos de Marcus.

— Bom trabalho. — Leo sorriu, batendo a mão no meu ombro. — Não achei que você pudesse fazer isso, mas Dash disse que se alguém pudesse, seria você. E ele estava certo. No minuto em que você começou a irritar Marcus, deixá-lo emocional, eu sabia que você o tinha.

Eu não conseguia acreditar. Eu pisquei para ele, sem saber o que dizer.

— Obrigada?

Leo assentiu e apertou a mão de Isaiah, depois enfiou a arma na cintura da calça jeans e se afastou. Ele passou pela polícia, acenou com o queixo para Dash e desapareceu no quarteirão.

Marcus gritou algo quando Luke o empurrou para o banco de trás de um carro da polícia. Sua esposa, a pobre mulher, estava chorando.

— Estamos livres. — As palavras soaram estranhas saindo da minha boca. Quando olhei para Isaiah, ele estava balançando a cabeça em descrença. — Conseguimos.

— Não, você conseguiu. — Ele sorriu. E me esmagou em seus braços. Seu peito começou a tremer e, um momento depois, percebi que ele estava rindo.

Isaiah estava rindo.

Era profundo e áspero. Sexy e real. Algo que eu queria ouvir todos os dias pelo resto da minha vida.

— Estamos livres, — Isaiah repetiu minhas palavras, me soltando.

Seu rosto estava iluminado com vermelho e azul do carro da polícia. Minha bochecha latejava e eu provavelmente teria um hematoma ou até mesmo um olho roxo esta semana. Eu ignorei tudo. Eu ignorei tudo, menos meu marido.

— Eu deveria deixar você ir, — ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, — Mas eu não vou.

— Não funcionaria de qualquer maneira. Onde você vai, eu vou, lembra?

Ele deu um beijo nos meus lábios. Não passava de uma pincelada, mas continha tanto amor e promessa. Isaiah e seus gestos simples. Ele aproveitava os momentos tranquilos, os mais esquecidos, e aproveitava ao máximo.

— Eu lembro.

Eu sorri contra seus lábios.

— Eu também.


Epílogo

Genevieve


Três anos depois...


— Uau. — Meus olhos percorreram a tenda branca. — Isso parece outro lugar.

— Eles com certeza limparam o cemitério. — Isaiah agarrou minha mão, levando-me aos nossos lugares reservados.

Estávamos sentados na segunda fila do lado da noiva, o espaço reservado para a família. As cadeiras dobráveis brancas estavam dispostas em perfeita ordem. Não havia muitas delas, mas quase todas estavam ocupadas.

A grama estava verde sob nossos pés. O terreno atrás da oficina, que antes era cheio de sucatas velhas e peças de reposição enferrujadas, havia sofrido uma transformação total. Deve ter levado meses para os caras fazerem isso.

Os carros antigos foram movidos para atrás do clube. Eles estavam escondidos pelo bosque de árvores. A grama foi cortada, surpreendendo a todos com o tapete exuberante que se escondia sob anos de negligência.

Havia vasos de flores cheios de petúnias coloridas e videiras de folhagens verde-limão. As árvores ao longo da borda da propriedade cresceram consideravelmente ao longo dos últimos três anos. Suas folhas bloqueavam alguns dos brilhantes raios de sol de junho.

— Talvez tenhamos um churrasco decente aqui. — Isaiah olhou por cima do ombro para o bloco de cimento e a mesa de piquenique ao lado da parede de aço da loja.

Eu segui seu olhar, imaginando papai sentado lá. A mesa estava no mesmo lugar de anos atrás, quando tivemos uma de nossas primeiras conversas. Fazia mais de três anos e sua memória ainda trazia a ameaça de lágrimas.

— Ele ficaria tão chateado hoje — Eu murmurei. — Mas ele teria aparecido independentemente.

— Exatamente como todos nós. — Isaiah me levou para nossos lugares. À nossa frente, Bryce estava lutando com Xander, de três anos, e Zeke, de dois.

— Sentem-se. — As suas narinas se alargaram. — Se vocês dois não pararem de brigar, eu juro...

— Tio Saiah. — Xander se jogou sobre o encosto da cadeira nos braços de Isaiah.

Isaiah o pegou.

— Ei garoto. Você está sendo bom para sua mãe?

— Não. — Ele apertou o botão da camisa branca de Isaiah.

Não tive muitas chances de ver meu marido vestido formalmente. Normalmente ele estava em seu traje de oficina de camisetas, jeans e botas de moto. Mas este fim de semana consegui duas vezes seguidas quando ele vestiu uma camisa engomada, arregaçou as mangas para mostrar as tatuagens em seus antebraços e colocou um par de calças pretas. As botas permaneceram.

Uma onda de calor floresceu no meu núcleo. Assim como no último fim de semana, hoje à noite eu poderia desfazer os botões dessa camisa e colocar minhas mãos em toda a pele com tatuagem.

— Então? — Bryce virou-se na cadeira. — Como é estar de volta?

Sorri para ela, depois para Isaiah, que estava tentando ensinar Xander a piscar.

— É bom estar em casa.

Depois de três anos em Missoula, Isaiah e eu nos mudamos para casa ontem. No fim de semana passado, eu me formei na faculdade de Direito. Segunda seria meu segundo primeiro dia de trabalho na empresa de Jim, desta vez como advogada.

Eu ainda tinha que passar no exame da Ordem, mas Jim tinha uma fé definitiva de que eu conseguiria passar perfeitamente. Por enquanto, eu estaria sob suas asas mais uma vez, aprendendo e crescendo até que um dia, talvez, ele passasse a prática para mim.

Eu me mexi na minha cadeira, procurando na multidão por seu rosto gentil. Encontrei três fileiras atrás. Ele se sentou ao lado de sua esposa, Colleen, com o cabelo loiro retorcido em um coque chique. Os dois sorriram enquanto eu acenava.

Era bom estar em casa, cercada pela família novamente.

Isaiah e eu estávamos sozinhos em Missoula. Com meu horário de aula ocupado e suas longas horas trabalhando em uma pequena oficina fazendo manutenção de rotina, não tínhamos conhecido muitos amigos. No fim de semana ocasional, íamos até Lark Cove para visitar Kaine, Piper e seus filhos. Suzanne vinha a Missoula todos os meses para uma visita. Ela dormia no pequeno quarto de hóspedes e contava histórias sobre Isaiah desde a infância.

Eu tinha perdido minha única família quando minha mãe morreu, mas a sua morte me levou a uma nova.

— Ei. — Emmett deu um tapa no ombro de Isaiah enquanto ele tomava o assento vazio ao nosso lado. — Pronto para isso?

— Não. — Isaiah franziu o cenho. — Existe alguma chance de convencê-la disso?

Emmett passou por nós e entrou na tenda.

— Dash, Leo e eu demoramos três horas para encontrar essa maldita tenda. Estou bem se ela cancelar, mas é melhor manter o bar aberto.

Eu ri, olhando em volta novamente.

— Onde está Leo?

— Atrasado, como de costume. — Emmett deu de ombros, em seguida, puxou um saco de pirulito do bolso para Xander. Os olhos do garoto se arregalaram, quando os de Bryce se estreitaram.

— Esse é o quinto. — Ela balançou a cabeça quando Emmett entregou um para Zeke também. — Quando eles estiverem pulando nas paredes pelo nível alto de açúcar, vou deixar você cuidando deles enquanto a mamãe aproveita o bar aberto.

Todos nós rimos, então Leo deslizou na cadeira ao meu lado. Ele se inclinou para beijar minha bochecha, depois se esticou no meu colo para apertar a mão de Isaiah.

— É oficial? Vocês voltaram para sempre?

Isaiah assentiu.

— Desde a noite passada.

Chegamos à cidade antes do anoitecer com todos os nossos pertences embalados na traseira de um trailer da U-Haul19. Isaiah o colocou atrás de sua caminhonete enquanto eu seguia no meu carro.

Cada mês que passava, Isaiah ficava cada vez mais confortável me conduzindo. Sempre era mais fácil em sua moto. Ainda assim, na maioria das vezes, dirigimos separadamente, ou eu dirigia com ele. Não havia pressa. Não havia razão para ele dirigir. Ele provou repetidamente que estaria presente em uma emergência.

— O que há na oficina agora? — Isaiah perguntou aos caras.

— Acabamos de trazer esse doce e velho Dodge Charger de 66, — Emmett disse a ele. — Há muito trabalho em metal a ser feito, mas será uma máquina legal quando terminar.

— Não reformo nada há algum tempo, — disse Isaiah. — Estou sem prática.

— Vai voltar, — Leo assegurou. — Vocês vão ficar no apartamento por um tempo?

— Apenas por algumas semanas, até fecharmos a casa, — eu respondi.

Graças ao salário inicial de Jim na empresa e ao aumento de salário que Isaiah teria por voltar a trabalhar para Dash, poderíamos comprar uma casa. Era uma construção nova, uma pequena casa na entrada da cidade e, em três semanas, seria nossa. Tudo o que tínhamos que fazer era esperar o construtor pintar o exterior e acabar com nossa lista de pendências.

Fomos vê-lo logo pela manhã.

Eu estava tão animada para torná-la minha, que eu mal podia suportar. Embora tenha sido divertido dormir no apartamento ontem à noite também. Dash não o alugou nos anos em que saímos. Tornara-se a nossa casa longe de casa, o lugar onde ficávamos sempre que vínhamos para visitar.

Viagens para Clifton Forge não aconteciam com frequência nos últimos três anos com minha agenda escolar movimentada, mas conseguimos visitas no Natal e duas semanas no verão. Passamos um longo fim de semana aqui logo após o nascimento de Zeke. Nós nunca perdemos uma festa de aniversário. Isaiah e eu começamos a ir a Prescott uma vez por ano, ficando com Nick, Emmeline e as crianças.

Não tínhamos começado com força, mas os laços que nos uniam estavam se fortalecendo. Dash e Nick haviam me aceitado como irmã deles. Todos os anos, nós três nos encontramos aqui em Clifton Forge no aniversário da morte de papai para brindá-lo ao lado da sua sepultura. Enquanto eles visitavam a lápide de sua mãe, eu fazia o mesmo com a minha.

Marcus Wagner havia sido condenado pelo assassinato de mamãe e obstrução da justiça. O xerife de um condado vizinho liderou a investigação e encontrou evidências escondidas na casa de Marcus. A arma que ele usou durante o sequestro. O colete dos Warriors. E um punhado de coisas que eram de mamãe. Essas coisas foram adicionadas à gravação de sua confissão que o juiz havia permitido no caso, e a promotoria não teve dificuldade em obter uma condenação. Marcus estava cumprindo uma sentença de prisão perpétua sem a possibilidade de liberdade condicional.

Desde a sentença, fiz o possível para esquecer que o homem existia.

Eu tinha justiça pelos meus pais.

A multidão do casamento ao nosso redor sussurrou, todo mundo se mexendo em seus lugares enquanto sussurros flutuavam da fileira de trás. Eu me virei, imaginando o que estava acontecendo, era muito cedo para começar a cerimônia, quando Presley marchou pelo canto da oficina.

Seu vestido branco estava erguido em seus punhos. Seu cabelo estava penteado longe do rosto e sua maquiagem era impecável. Ela estava linda. Furiosa, mas linda.

— O que está acontecendo? — Isaiah perguntou a Emmett.

— Caralho, se eu souber, — ele murmurou.

Quando Presley invadiu o pequeno corredor entre as fileiras de cadeiras, Dash correu para pegá-la. Ele estava de calça e paletó porque ela pediu que ele a acompanhasse pelo corredor.

— Pres, não.

— Não. — Ela levantou a mão, o vestido caído na grama enquanto continuava andando. — Eu vou fazer isso.

Presley caminhou até o altar, acenando com a cabeça para o oficial que estava embaixo do arco branco entrelaçado com trepadeiras verdes e flores brancas. Ela ergueu os ombros para se dirigir à multidão.

Não.

Todos odiamos Jeremiah, isso não era segredo. Ele se juntou aos Warriors e se mudou para Ashton para ficar mais perto do clube. Ano após ano, ele enrolou Presley. Ele prometeu que se casariam. Todos nós pensamos que era besteira, mas seis meses atrás, eles marcaram uma data.

Então aqui estávamos nós, prontos para vê-la se casar com um homem que nenhum de nós gostava muito. Ela já havia avisado Dash para poder se mudar para Ashton. Ele estava em negação, recusando-se a preencher sua posição na oficina até depois que ela deixasse a cidade.

Mas Presley fez sua escolha e eu fiquei do seu lado, até encontrando-a e a Bryce em Bozeman um dia, para comprar os vestidos. Eu não queria Jeremiah para ela, mas também não queria isso. Hoje não.

Presley não merecia esse tipo de humilhação.

Um rubor apareceu em seu rosto, mas ela manteve o queixo alto.

— Lamento informar a todos que o casamento foi cancelado.

Um coro de suspiros e sussurros encheu o ar.

Meu coração caiu quando procurei a mão de Isaiah. Ele segurou meu aperto com força, seus molares rangendo. Ao meu lado, Leo estalou os nós dos dedos. Os punhos de Emmett estavam com os nós das articulações brancas sobre seus joelhos. A fúria que emanava de Dash, ao lado de Presley, era como uma onda de calor.

É melhor que Jeremiah não mostrasse seu rosto em Clifton Forge por algum tempo.

— Obrigada a todos por terem vindo. — Presley acenou com a mão para a tenda. — Por favor, levem seus presentes. Eu não posso... — Ela balançou a cabeça, os olhos ficando vidrados.

— Eu cuido disso. — Dash se aproximou. — Vá.

Ela assentiu e correu para o lado, fugindo.

Isaiah me entregou Xander, levantando-se para persegui-la. Emmett e Leo estavam logo atrás dele.

Eu encontrei o olhar preocupado de Bryce.

— O que devemos fazer?

— Tirar essas pessoas daqui, — Ela murmurou. — Então, levaremos Presley de volta ao bar ou levaremos o bar até Presley.

Os caras estavam muito à nossa frente. Enquanto Bryce, Dash e eu conduzíamos os convidados para o estacionamento, Isaiah, Emmett e Leo conseguiram pegar Presley antes que ela pudesse desaparecer. Eles a levaram às pressas para o apartamento, Leo pegou uma garrafa de tequila do bar, e eles começaram a alinhar dose após dose para a noiva magoada.

Quando Bryce, Dash e eu cuidamos do pessoal do bufê, funcionários do bar e do DJ, nos juntamos ao grupo no apartamento, Presley estava murmurando frases incoerentes no sofá, minutos antes de desmaiar. Ela trocou de roupa, estava usando uma de minhas calças confortáveis e um moletom. Ela chorou e o rímel escorreu por todo seu rosto.

— Uma mensagem de texto, — ela arrastou. — Ele fez isso em uma mensagem.

Então Jeremiah tinha cancelado, como eu temia. Idiota.

— O que a mensagem de texto dizia?

— Hewanz Scarlett.

Scarlett?

— Quem é...

Os olhos de Presley se fecharam e ela desmaiou.

— Ok, não importa, — eu murmurei.

— Vamos levá-la para casa, — disse Dash, entregando seu paletó para Bryce.

— Não, eu a levo. — Emmett a pegou em seus braços musculosos. — Você tem os meninos e os assentos de carro deles.

— Eu vou encontrar Jeremiah. — Leo se levantou do sofá onde estava pairando sobre Pres. Quando ele passou por mim, o cheiro de álcool em seu hálito era impressionante.

— Não essa noite. — Isaiah o pegou pelo braço. — A última coisa que precisamos depois de três anos de paz é uma luta com os Warriors.

Leo resmungou algo baixinho, mas assentiu.

— Bem. Não essa noite. Mas vou acabar com esse cara por fazer isso com ela.

Meu rosto empalideceu, algo que Isaiah notou instantaneamente.

Não.

Ficamos tanto tempo sem problemas, e eu não queria trazê-lo de volta para nossas vidas. Por mais que eu gostaria de ver Jeremiah sofrer por partir o coração de Presley, não queria vingança o suficiente para arriscar nossa segurança novamente.

— Leo, estou levando seu traseiro bêbado para casa, — disse Dash.

Felizmente, Leo não discutiu. Ele apenas jogou um braço em volta dos ombros de Bryce e fez uma careta que fez Xander ter um ataque de gargalhadas.

Zeke adormeceu no meu ombro trinta minutos atrás.

— Vejo vocês na segunda-feira. — Dash pegou Zeke de mim, curvando-se para beijar minha bochecha. Então ele abriu a porta para que todos saíssem.

Quando ele fechou a porta atrás dele, soltei um suspiro profundo, entrando nos braços de Isaiah.

— Isso foi ruim.

— Ela ficará bem. Melhor isso do que um divórcio desagradável.

— Sim. — Fechei os olhos. — Eu estava ansiosa para dançar com você hoje à noite.

Ele levantou minha mão, segurando firme a parte inferior das minhas costas, depois nos girou em um círculo. Eu sorri quando ele diminuiu a velocidade e nos balançou para frente e para trás, a única música o som dos nossos corações que batiam.

Estava em casa. Aqui neste apartamento, em seus braços, estava em casa.

— Estou grávida.

Isaiah parou de dançar.

Eu descobri há dois dias e não contei a ele por causa da mudança. Mas agora que estávamos aqui, agora que estávamos em casa, era hora.

Isaiah e eu conversamos sobre ter filhos. Nós dois estávamos nervosos por nos tornarmos pais, Isaiah mais do que eu. Ele tinha essa dúvida persistente de que não merecia o amor de uma criança.

Mas ele sabia que eu queria ser mãe. No fundo, ele queria ser pai. Então decidimos esperar até depois da faculdade, e eu parei de tomar a pílula dois meses atrás.

— Você está grávida?

Eu assenti.

Ele pegou meu rosto em suas mãos. E sorriu.

— Eu amo você, boneca.

Os olhos de Isaiah foram tão assombrados uma vez. Tão sombrios e sem vida. Esta noite, eles eram tão brilhantes quanto estrelas.

Meu marido. Minha vida.

— Eu também amo você.


Epílogo Bônus

Isaiah

— A tradição exige que compremos uma árvore neste fim de semana. — Kaine estava com o machado na mão enquanto estava do lado de fora da porta da cabana. — Os meninos estão ocupados brincando com a mamãe e não queriam ir embora. Grace está ajudando Piper a fazer uma torta, então somos só nós.

Eu sorri.

— Deixe-me pegar meu casaco e avisar a Genevieve.

— Eu esperarei aqui. Minhas botas estão sujas.

— Ok. — Deixei a porta entreaberta, caminhando pelo corredor até o quarto. Espiei para dentro, encontrando Genevieve na cama onde a deixei.

Amelia estava dormindo ao seu lado.

Sentei no local onde eu estava deitado quando nós três retornamos a cabana para coloca-la para dormir.

— Kaine quer cortar uma árvore, — sussurrei, passando os dedos pela pele lisa do braço de nossa filha. — Tudo bem?

Genevieve assentiu e bocejou.

— Tudo bem. Quando ela acordar, iremos para a outra casa.

— Te vejo daqui a pouco. — Estiquei-me sobre nossa filha para beijar seus lábios, depois sai da cama, tomando cuidado para não bater no colchão. Fechei a porta com cuidado, dando uma última olhada em Genevieve enquanto ela sorria para nossa filha de nove meses.

Meu coração inchou. Elas eram a luz da minha vida.

Eu estava sorrindo quando me juntei a Kaine do lado de fora, vestindo um casaco, chapéu e luvas. O ar de novembro estava frio, mas ainda não havia nevado.

A viagem estava muito atrasada. Depois que Amelia nasceu, não saímos de Clifton Forge.

— Trabalhou em algum carro legal ultimamente? — Kaine perguntou enquanto caminhávamos até o cume que delimitava a parte de trás de sua propriedade.

— Alguns. Eu meio que me tornei o cara das motos na oficina. Foi divertido aprender como montá-los.

— Talvez eu peça para você montar uma para mim algum dia. Não tenho certeza de como Piper se sentiria sobre isso.

— Peça perdão em vez de permissão, certo?

Ele deu uma risadinha.

— Falou como um homem casado.

Conversamos sobre alguns dos meus projetos e alguns dos dele. Ele me contou sobre a mesa que construiu para a mamãe no Natal e a caixa de brinquedos que construiu para Grace. Contei a ele sobre uma moto que estava montando do zero e a restauração do Camaro que tínhamos na oficina. Caminhamos e apreciamos a vida, nenhum de nós com pressa para derrubar uma árvore e nenhum de nós realmente procurando uma árvore.

Quando alcançamos o topo do cume, o sol brilhava contra as montanhas cobertas de neve à distância. Os vales abaixo eram de um verde profundo, pontilhados por algumas árvores amarelas e laranjeiras agarradas às folhas.

— Você tem uma vista espetacular. — Fiquei na trilha, admirando o espetáculo.

— Nada mal, não é?

— Nada mal mesmo. — Respirei o ar da montanha. Houve momentos em que eu ainda sentia o cheiro da prisão, quando ainda me sentia preso, mas aqui em cima, livre, aqueles dias parece que foram há uma eternidade.

Os demônios estavam a cada dia, ficando quietos, após cada momento que eu passava com minha Genevieve.

Eu encontrei uma felicidade que nunca esperava.

— Não sei se mereço esta vida.

Kaine colocou a mão no meu ombro.

— Você merece, irmão. E então um pouco mais.

Lá em cima, naquele cume, deixei as palavras do meu irmão afundarem. Eram as mesmas que Genevieve me disse repetidamente, quando percebia um olhar distante em meus olhos.

Talvez eu mereça essa felicidade.

Talvez ambos estivessem certos.

Uma coisa era certa, eu nunca consideraria essa vida garantida. E eu nunca desistiria.

 

 

                                                   Devney-Perry         

 

 

 

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